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VOLUME III

VIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGENHEIROS GEOTÉCNICOS


JOVENS

ANAIS
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil

VOLUME III
VIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGENHEIROS GEOTÉCNICOS
JOVENS
Realização:

Patrocinadores Ouro:

Patrocinadores Prata:

Patrocinadores Bronze:

Patrocinadores Estanho:

Apoio:

 
   
SUMÁRIO GERAL 
 

VOLUME I – Listagem Geral de Artigos 
VOLUME II – XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica 
TOMO I ‐ Análise e Gerenciamento de Riscos, Desempenho e Segurança de Obras Geotécnicas, 
Estruturas de Contenção, Fundações, Obras de Infraestrutura 
TOMO II – Educação em Geotecnia, Geossintéticos, Geotecnia Ambiental, Geotecnia Social, 
Inovações em Geotecnia 
TOMO III ‐ Ensaios de Laboratório e Campo, Modelagem Física e Numérica, Obras de Terra e 
Enrocamento, Solos não Saturados, Expansivos, Colapsíveis e Moles 
VOLUME III – VIII Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens 
VOLUME IV – IX Congresso Luso‐Brasileiro de Geotecnia 
VOLUME V – V Simposio Panamericano de Deslizamientos 
VOLUME VI – VIII Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas 

   
DIRETORIA NACIONAL DIRETORIA NRBa
Biênio 2017/2018 Biênio 2017/2018
Presidente: Alessander C. Morales Kormann Presidente: Luis Edmundo Prado de Campos
Vice-Presidente: Alexandre Duarte Gusmão Vice-Presidente: Demóstenes de A. Cavalcanti Jr.
Secretário Geral: Maurício Martinez Sales Secretário Geral: Fabricio Nascimento de Macedo
Secretário Executivo: Paulo Cesar de A. Maia Secretário Executivo: Luciene de M. Eirado Lima
Tesoureiro: Celso Nogueira Corrêa Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira

CONSELHO DIRETOR (2017/2018)

NRBA NRRS
Luis Edmundo Prado de Campos / Hélio Machado Antonio Thomé / Felipe Gobbi / Fernando Schnaid
Baptista / Marcos Strauss / Cezar Augusto Burkert Bastos /
Luiz Antonio Bressani
NRCO
Antônio Luciano Espindola Fonseca / José NRSP
Camapum de Carvalho / Wilson Conciani / Marcia Paulo J. R. de Albuquerque / Celso Orlando / Akira
Maria dos Anjos Mascarenha / Ennio M. Palmeira / Koshima / Nelson Aoki / Urbano Rodrigues Alonso
Gilson de Farias Neves Gitirana Jr. / Jaime Domingos Marzionna / Tarcísio Barreto
Celestino / Artur Rodrigues Quaresma Filho /
NRES Frederico Fernando Falconi / Mário Cepollina /
Uberescilas Fernandes Polido Hugo Cássio Rocha / Marcos Massao Futai /
Celso Nogueira Corrêa / Ilan Davidson Gotlieb /
NRMG Luiz Guilherme F. Soares de Mello / Maria
Gustavo Rocha Vianna / Gustavo Ferreira Simões Eugênia Gimenez Boscov / Makoto Namba / Paulo
/ Cássia Maria Dinelli de Azevedo / Terezinha de Teixeira da Cruz / Mauri Gotlieb
Jesus Espósito / Ivan Libanio Vianna / Sergio
Cançado Paraiso / Lucio Flávio de Souza Villar / CBMR
Fernando Portugal Maia Saliba Lineu Azuaga Ayres da Silva / Milton Assis Kanji /
Sergio Augusto Barreto da Fontoura / Nick Barton /
NRNE Eda Freitas de Quadros / Vivian Rodrigues
Ricardo Nascimento Flores Severo / Roberto Marchesi / João Luiz Armelin / Fernando Olavo
Quental Coutinho / Karina Cordeiro de Arruda Franciss / Paulo Alberto Neme / Anna Luisa
Dourado / Alexandre Duarte Gusmão / Isabella Marques Ayres da Silva / Ricardo Antonio Abrahão
Santini Batista / Joaquim Teodoro Romão de / Reuber Ferreira Cota
Oliveira
CBT
NRNO Werner Bilfinger / Argimiro Alvarez Ferreira /
Gerson Jacques Miranda dos Anjos / Julio Carlos Eduardo Moreira Maffei / Fernando Leyser
Augusto de Alencar Jr Gonçalves / Maria Cecília Guazzelli / Denis
Vicente Perez Vallejos / Eloi Angelo Palma Filho /
NRPS André Jum Yassuda / Edson Peev / Marlísio
Luiz Henrique Felipe Olavo / Edgar Odebrecht / Oliveira Cecílio Jr. / George Joaquim Teles de
Antonio Belincanta / Ney Augusto Nascimento / Souza / Marco Aurélio Abreu Peixoto da Silva /
Luiz Antoniutti Neto / Carlos José Marques da Luis Rogério Martinati / Luis Ferreira Vaz
Costa Branco
Conselheiros Vitalícios (ex-presidentes ABMS)
NRRJ Fernando E. Barata / Alberto Henriques Teixeira /
Ana Cristina C. Fontela Sieira / Bernadete Ragoni Carlos de Sousa Pinto / Faiçal Massad / Francis
Danziger / Ian Schumann Marques Martins / Bogossian / Sussumu Niyama / Willy A Lacerda /
Fernando Artur Brasil Danziger / Mauricio Ehrlich / Waldemar Hachich / Alberto S F J Sayão / Jarbas
Manuel de Almeida Martins / Anna Laura Lopes da Milititsky / Arsenio Negro Jr. /
Silva Nunes / Denise Maria Soares Gerscovich / André P. de Assis
Paulo Henrique Vieira Dias / André Pereira Lima /
Luciano Jacques de Moraes Jr

 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
Presidente do Congresso: Luís Edmundo Prado de Campos
Presidente da Comissão Organizadora: Luciene de Moraes Eirado Lima 
Captação de Patrocínios: João Carlos B. Jorge da Silva / Celso Nogueira Corrêa 
Tesoureiro: Ronaldo Ramos de Oliveira
 

XIX COBRAMSEG 
COMISSÃO CIENTÍFICA  COMITÊ ASSESSOR DO CONGRESSO (CAC)
Hélio Machado Baptista (presidente)  Roberto Coutinho (Cobramseg 2012) 
Carlos Carrillo W. Delgado  Maurício Sales (Cobramseg 2014) 
Paulo Gustavo C. Lins  Gustavo Simões (Cobramseg 2016) 
Maurício Martines Sales  Representante da diretoria da ABMS junto ao CAC: 
Alexandre Gusmão 
 

VIII GEOJOVEM 
COMISSÃO ORGANIZADORA
Maria do Socorro Costa São Mateus (Presidente) 
Mário Sérgio de Souza Almeida 
Ronaldo Ramos de Oliveira 
 
 COMITÊ CIENTÍFICO 
Maria do Socorro Costa São Mateus
 

IX CLBG 
COMISSÃO ORGANIZADORA  COMITÊ CIENTÍFICO 
Manuel M. Fernandes (Presidente SPG)  Emanuel Maranha das Neves (IST) 
José L. M. do Vale (ex‐Presidente SPG)  Ricardo Oliveira (COBA) 
Luís Lamas (LNEC)  Pedro Sêco e Pinto (LNEC) 
Jorge Almeida e Sousa (U. Coimbra)  Ana Quintela (Tetraplano) 
Vitor Cavaleiro (Univ. da Beira Interior)  José Mateus de Brito (CENOR) 
Alessander Kormann (Presidente ABMS)  Jorge Sousa Cruz (LCW) 
Maurício Sales (Secretário Geral ABMS)  Jorge Vazquez (EDIA) 
Luis Edmundo P. Campos (Presidente COBRAMSEG)  Celso Lima (EDP) 
Alberto Sayão (PUC‐Rio)  João Marcelino (LNEC) 
António Viana da Fonseca (FEUP) 
 

V SPD 
COMISSÃO ORGANIZADORA
Marcos Massao Futai (Presidente do SPD) 
Adrian Torrico Siacara 
Carlos Carrillo Delgado 
José Orlando Avesani Neto 
Leonardo De Bona Becker 
Luiz Antonio Bressani 
Luiz Antoniutti Neto 
Roberto Bastos Guimarães 
Willy Lacerda (Presidente de honra do SPD) 
 

VIII SBMR 
COMISSÃO ORGANIZADORA
Lineu Azuaga Ayres da Silva (presidente) 
Sergio Augusto Barreto da Fontoura 
Vivian Rodrigues Marchesi 
Paulo Gustavo Cavalcante Lins 
 
COMITÊ CIENTÍFICO 
Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger
 
REVISORES DE TRABALHOS – VIII GEOJOVEM

Adriana Ahrendt Talamini – UFPR


Alexandre Cerqueira – UFBA
André Augusto Nobrega Dantas – IFG
Breno Padovezi Rocha – USP
Carlos Vinícius dos Santos Benjamim – ENG
CONSULTORIA
Célio Roberto Campos Piedade Junior –
PETROBRAS TRANSPORTE S/A
Celso Nogueira Correa – ZF & ENG. ASSOC.
Débora de Oliveira Fernandes – FUNDAÇÃO
PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPÚ
Demóstenes de Araújo Cavalcanti Júnior –
GEOTEC CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA.
Eduardo de Castro Bittencourt – UFRN
Erinaldo Hilário Cavalcante – UFS
Giana Laport Alves de Souza – UNIG
Gislaine dos Santos – UFJF
Joao Paulo Souza Silva – UFG
José Mário Queiroga Mafra – WALM
ENGENHARIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL
LTDA.
Josiele Patias – ITAIPU BINANCIONAL
Karina Retzlaff Camargo – FURG
Larissa Vieira – DER/PR
Luis Fernando de Seixas Neves – SENE
CONSULTORIA
Luiz Augusto da Silva Florêncio – UFRN
Maria do Socorro Costa São Mateus – UEFS
Mariana Bernardo Araujo – FURG
Mario Sergio de Souza Almeida – UFRB
Mario Vicente Riccio Filho – UFJF
Mauro Leandro Menegotto – UFFS/CHAPECó
Michéle Dal Toé Casagrande – UNB
Natalia de Souza Correia – UFSCAR
Paulo José Rocha de Albuquerque – UNICAMP
Rafael Ribeiro Plácido – INTERACT
Rafaela Nazareth Pinheiro de Oliveira Silveira –
UNIFESSPA
Raimundo Leidimar Bezerra – UEPB
Ray de Araujo Sousa – UFRN
Reuber Ferreira Cota – ANGLOGOLD ASHANTI
Ricardo Mendonça de Moraes – UNB
Roberto Bastos Guimarães – UFBA
Ronaldo Ramos de Oliveira – MACCAFERRI
Rubenei Novais Souza – PETROBRAS / UFF
Salim Habib Fraiha Neto – UFPA / SPE
ENGENHARIA
Sandro Lemos Machado – UFBA
Silvana Blumen Foá – FOÁ CONSULTORIA
Silvio Romero de Melo Ferreira – UFPE
Silvrano Adonias Dantas Neto – UFC
Thelma Sumie Maggi Marisa Kamiji – FRAL
Tiago de Jesus Souza – ITA
Wilber Feliciano Chambi Tapahuasco –
UNIPAMPA
MENSAGEM DA ABMS 
 
 
Temos certeza de que boas recordações ficarão na memória das 1.500 pessoas que estiveram na edição 
2018 do Cobramseg em Salvador. 
O evento, que congregou também o VIII Congresso Luso‐Brasileiro de Geotecnia, o V Simposio Panamericano 
de  Deslizamientos,  o  VIII  Simpósio  Brasileiro  de  Mecânica  das  Rochas  e  o  VIII  Simpósio  Brasileiro  de 
Engenheiros Geotécnicos Jovens, foi organizado em uma época desafiadora para a engenharia de nosso país. 
Mas a determinação e dedicação dos colegas do Núcleo Bahia da ABMS conseguiram superar os obstáculos, 
tendo nos brindado com um evento bem‐sucedido em todos os aspectos, certamente um marco na história 
da nossa associação. 
A  edição  de  Salvador  veio  para  coroar  uma  trajetória  crescente  do  Cobramseg,  que  já  é  um  importante 
acontecimento  da  engenharia  nacional.  Esse  sucesso  se  traduz  nos  números  do  evento:  946  trabalhos 
publicados,  459  apresentações  em  50  sessões  técnicas  e  pôsteres,  44  palestras  especiais  em  sessões 
paralelas e 30 apresentações plenárias. O grande público presente, que envolveu também muitos colegas 
portugueses e dos países sul‐americanos, reforça o alcance e o potencial do Cobramseg. 
Não temos dúvida de que estes anais do evento constituem um amplo retrato de desenvolvimentos práticos 
e acadêmicos, onde o leitor poderá encontrar um conjunto de referências que traduzem muito do estado da 
arte da geotecnia nacional e internacional. 
 
Saudações, 

   
Alessander Kormann  Alexandre Gusmão 
Presidente da ABMS  Vice‐Presidente da ABMS 
 
 
   
MENSAGEM DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO EVENTO 
 

Caros Colegas Geotécnicos, 
É com imensa satisfação que entregamos os Anais do Cobramseg 2018, realizado no Othon Bahia Palace 
Hotel, em Salvador‐Bahia, entre os dias 28 de agosto e 1ª de setembro de 2018. O tema principal do evento 
foi “Geotecnia e o Desenvolvimento Urbano”, com vistas à discussão sobre os problemas que afligem nossas 
metrópoles em um ambiente de crescimento muitas vezes desordenado e sem levar em consideração as 
particularidades dos solos e rochas constituintes da geologia do sítio urbano. 

Nesses volumes estão todos os artigos submetidos e aprovados pela Comissão Científica do Congresso, e 
que foram tema de discussão ao longo dos dias de evento, com apresentações dos trabalhos mais relevantes 
dispostos  nos  diversos  temas  da  Geotecnia,  com  inúmeras  sessões  paralelas  de  apresentação  oral  e  em 
formato de pôster. 

No evento tivemos recorde de inscritos, mais de 1.500 pessoas circulando pelos corredores e salas do Othon 
Bahia,  aproveitando  a  programação  científica  e  a  área  de  exposição,  onde  nossos  patrocinadores 
apresentaram seus serviços e produtos. 

Pela primeira vez foi realizada uma sessão plenária com toda a mesa e palestrantes do sexo feminino, com 
objetivo  de  homenagear  a  força  das  mulheres  geotécnicas,  e  demonstrar  que  a  Geotecnia  é  plural  e 
diversificada. Esperamos que essa singela demonstração de admiração e respeito possa disseminar o espírito 
de igualdade entre nossos colegas geotécnicos. 

Além das discussões técnicas tivemos ainda a primeira Corrida Geotécnica, a “Run Geo Run” onde os colegas 
puderam se exercitar e socializar, ao longo do percurso de 5 km na belíssima orla atlântica de Salvador. 

No jantar Luso‐Brasileiro, realizado no Restaurante Bargaço, com pratos típicos da culinária praiana da Bahia, 
foi possível congraçar os colegas, para além das discussões geotécnicas, criando vínculos de amizades entre 
os lusófonos. 
No  penúltimo  dia  do  evento,  à  noite,  teve  lugar  o  Jantar  de  Confraternização  e  a  GeoMicareta.  Ambos 
realizados em paralelo, no boêmio bairro do Rio Vermelho, onde pulsa a noite soteropolitana. 
Com o sentimento de dever cumprido, essa comissão agradece a todos que participaram e contribuíram 
para o engrandecimento do evento e da Geotecnia nacional. 
Axé! 
 
 
Luciene de Moraes Eirado Lima  Hélio Machado Baptista 
Presidente da Comissão Organizadora  Presidente do Comitê Científico 
   
MENSAGEM DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO VIII GEOJOVEM

A Geotecnia jovem ocupou um importante espaço durante a realização do COBRAMSEG 2018, por meio da
apresentação dos trabalhos desenvolvidos por jovens pesquisadores e profissionais de origem nacional e
internacional.
O VIII GEOJOVEM - VIII Simpósio Brasileiro aconteceu no dia 29 de agosto, abrindo o COBRAMSEG, maior
evento na área de Geotecnia, com apresentação de aproximadamente 200 trabalhos técnico-científicos,
resultado de pesquisas básicas, aplicadas, consultorias e experiências técnicas, com destaque para os
temas de Fundações, Ensaios de campo, laboratório e modelagem e Geotecnia ambiental.
As discussões técnicas entre os jovens geotécnicos, trazendo inovações tecnológicas, como o resultado das
diversas experiências e do conhecimento recém-adquiridos foram organizadas em 17 Sessões, que
contaram com o apoio e a parceria dos profissionais sêniors da Área, tanto na co-autoria dos trabalhos
como presidindo e secretariando as mesas.
A presença e a participação dos Geojovens superou as expectativas do Evento, deixando as salas repletas
com o brilho e a jovialidade de todos os presentes. O VIII Geojovem teve em sua abertura a Mesa Redonda,
que trouxe as lições do passado e presente, assim como as perspectivas para o futuro, brindando a todos
com experiências sólidas no desenvolvimento da Geotecnia e muito otimismo para o futuro do nosso país,
quanto ao engajamento e às responsabilidades sobre os projetos e obras geotécnicas.
Esperamos que o VIII Geojovem tenha estimulado a adesão de novos profissionais, contribuído com o tema
Central do COBRAMSEG 2018, “Geotecnia e o Desenvolvimento Urbano”, por meio do fórum de discussões
que eclodiu durante todo o dia do Evento e tenha trazido experiências para as próximas edições. Deixamos
aqui os nossos agradecimentos a todos os participantes, organizadores, patrocinadores e apoiadores pelo
sucesso do VIII Geojovem.

Maria do Socorro Costa São Matheus

Presidente da Comissão Organizadora

GeojovemGeojovem!!!
SUMÁRIO
TEMA: ANÁLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS

GJ 34473 Aplicação de uma Metodologia de Análise Quantitativa de Risco de Piping em Barragens Utilizando a Distribuição
de Weibull - Francisco Hiago de Siqueira Gomes; Vanda Tereza Costa Malveira; Silvrano Adonias Dantas Neto
GJ 36553 Comparação dos Valores de Eficiência de Aterros Estaqueados Obtidos Através de Métodos Preditivos e
Modelagem Numérica - Maria Emilia Leiva Duarte; Diego de Freitas Fagundes
GJ 34877 Evaluación de Espectros de Respuesta Mediante el Análisis Unidimensional de Respuesta de Sitio en la Ciudad de
Lima - Jorge Soto Huamán; Jorge Elias Alva Hurtado; Carmen Eleana Ortiz Salas
GJ 34978 Execução Experimental de Injeções Cimentícias em Solos Metaestáveis - Max Gabriel Timo Barbosa; André Pacheco
de Assis
GJ 34603 Influência da Sucção nos Resultados dos Ensaios de Dilatômetro de Marchetti (DMT) em um Solo Residual
Compactado - Cândida Bernardi; Orlando Martini de Oliveira; Murilo da Silva Espíndola; Gabriel Bellina Nunes;
Rafael Reis Higashi
GJ 34424 Mapeamento de Áreas Urbanas de Ocorrência de Movimentos de Massa Deflagrados pela Pluviosidade no
Município de Florianópolis, SC - Mônica Carvalho Generini de Oliveira; Rafael Augusto dos Reis Higashi; Orlando
Martini de Oliveira
GJ 36672 Modelos Conceptuales Aplicado a las Remociones en Masa - Luciana das Dores de Jesus da Silva; Mauricio Aguayo
Arias; Octavio Rojas Vilches
GJ 36674 Panorama do Mapeamento de Áreas de Risco no município de Salvador-Bahia - Jair Lopes da Silva Junior; Elaine
Gomes Vieira de Jesus; Elias Nasr Naim Elias; Rita Jane Brito de Moraes; Mauro José Alixandrini Junior
GJ 36421 Simulação Computacional de Estabilidades de Taludes em Barramentos sob Diferentes Comportamentos de
Cargas Hidráulicas - Camila Aparecida Lebron Xavier da Silva; Davidson Miguel Avelar de Oliveira; Andréa Mírian
Costa Portes

TEMA: DESASTRES NATURAIS

GJ 34455 Análise de Agentes Desencadeadores de Desastres Naturais Utilizando Simulação de Monte Carlo - Camila Vargas
Fernandes; Ilza Machado Kaiser; Anna Silvia Palcheco Peixoto
GJ 34672 Estudo Chuva Desencadeadora de Desastres Naturais na Região Administrativa de Bauru através da Simulação de
Monte Carlo - Marina Alkimin do Amaral Silva; Ilza Machado Kaiser; Anna Silvia Palcheco Peixoto
GJ 35434 Estudo Estatístico da Chuva Desencadeadora de Desastres Naturais na Região Administrativa de Marília - Mauro
Hideki Fujiyama Junior; Anna Silvia Palcheco Peixoto

TEMA: DESEMPENHO E SEGURANÇA DE OBRAS GEOTÉCNICAS

GJ 35805 Análise da Estabilidade de um Talude Rodoviário na Região de Chapecó – SC - Camila Giane Carraro; Patricia
Bortolanza; Marieli Biondo Lopes
GJ 36457 Aplicação do Sistema D+s para Controle Rigoroso da Execução de Estacas Cravadas - Eduardo C. do Val; Sérgio A.
Uemura
GJ 36487 Avaliação Funcional de Trechos da Rodovia RN-118 - Alisson Cabral Barreto; Milany Karcia Santos Medeiros; Alyne
Karla Nogueira Osterne; Ricardo Leandro Barros da Costa; Lanna Celly da Silva Nazário
GJ 35162 Caracterização das Principais Manifestações Patológicas em Pavimentos Flexíveis: Estudo de Caso de um Trecho
Crítico da Rodovia DF-001 (Pistão Sul), Taguatinga / Distrito Federal - Alexsandra Maiberg Hausser; Lucélia Lisboa
Ribeiro; Gabriela de Athayde Duboc Bahia; Rideci Farias; Haroldo Paranhos
GJ 34695 Desenvolvimento de um Programa de Controle de Qualidade para Fundações - Lauren Ane Dalmás Cereza; Maycon
André de Almeida; Vanessa Wiebbelling
GJ 36229 Dimensionamento de Drenos Horizontais Profundos para Estabilização de Pilha de Estéril - Aline de Almeida
Marques; Mateus Franco Sabadini; Jeanne Michelle Garcia Castro
GJ 36450 Modelagem Numérica de uma Estrutura de Solo Grampeado em Solo Argiloso - Fabrício Jerônimo Gonzalez Dias;
José Otávio Serrão Eleutério
GJ 35120 Pavimento Rígido: Caracterização das Principais Manifestações Patológicas Encontradas na Estrada Parque
Taguatinga-DF - Saulo Henrique Silva Bezerra; Gabriela de Athayde Duboc Bahia; Carolina de Athayde Duboc Bahia;
Neusa Maria Bezerra Mota

TEMA: EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA

GJ 34270 Apoio Pedagógico a Escolas de Ensino Básico através do Projeto de Extensão Conhecendo o Solo, desenvolvido
em cidades da Zona da Mata Mineira - Klinger Senra Rezende; Ana Carolina Dias Baêsso; Ingrid Ferreira Macedo;
Nádia Aparecida dos Santos Lopes; Guilherme Rivelli Cardoso Soares; Leonardo Roberto da Cruz Silva; Sara Macedo
Duarte; Rafael Ozório Braga; Carla Ruela Moura; Leonardo de Araujo Silva
GJ 35974 Automatização de Projetos Executivos de Fundações Superficiais com Auxilio da Ferramenta VBA nos Softwares
MS Excel e AutoCAD - Mauro Alexandre Paula de Sousa; Alan Henrique Carneiro Brito; Vanessa Silva Carvalho; José
Vicente Benevides Ribeiro; Silas Nunes Costa
GJ 34560 Benefícios Proporcionados pela Sequência Lógica de Aprendizado em Geologia e Geotecnia para Cursos de
Engenharia Civil - Christiane Ribeiro da Silva; Flávia Cauduro; Rafael Ribeiro da Silva
GJ 36475 Criação de Um "Jogo de Baralho" para o Aprendizado de Aterros sobre Solos Moles - Iago Teles Oliveira; Djalma
Theodoro da Silva; Ivo Macedo Martins; Tâmara Mariane Teixeira Mendes; Vitor Noronha Aguiar; Fabielle Rodrigues
Sena; Priscila Guimarães Miranda; Carlos Eduardo Coelho; Rafael Genaro; Alcino de Oliveira Costa Neto
GJ 36514 Desenvolvimento de Calculadora Online para o Cálculo de Recalques por Adensamento Primário - Pedro Henrique
Barbosa Guerra; Magaly Alves Fernandes; Rafael Barreiros Braga; Lucas Pereira Braga; Pedro Henrique Gomes De
Oliveira; Victor Ramalho Lustosa; Dianne Oliveira Guerson; Rafael Genaro; Alcino De Oliveira Costa Neto
GJ 36714 Desenvolvimento de Modelos Físicos de Fenômenos Geotécnicos para o Ensino de Geotecnia - Natalia De Souza
Correia; Fernando Henrique Martins Portelinha; Leonardo Vinicius Paixão Daciolo; José Wilson Batista Da Silva
GJ 36502 O Uso de Maquete como Representação do Processo de Adensamento e do Recalque do Solo - Dayhanne Isa
Langkammer Wolff; Ayandra Figueiredo; Juliana Borges dos Santos; Karina Rodrigues Oliveira; Síndia Viana
Rodrigues; Thomás Schubert Albeny; João Pedro Rabelo de Sousa Araújo; Francisco César Dalmo; Alcino de Oliveira
Costa Neto
GJ 36466 Representação em Modelo 3d de um Tubulão a Céu Aberto - Tammy Reis de Paiva Condé; Caroline Mendes Torres;
Letícia Mendonça dos Santos; Telma Dias da Costa; Gisele Monteiro de Sousa; Ana Flávia de Pinho Araújo; Leonam
Reis Calatrone; Anderson Mattos Siqueira; Iara Ferreira de Rezende Costa; Alcino de Oliveira Costa Neto
GJ 36527 Revista de Banca Como Ferramenta Auxiliar no Estudo de Solos Moles - Leonardo Henrique Lins Ramalho; Maria
Luiza Coimbra Assunção; Érica Cantão da Fonseca; Márcio Felício de Oliveira Júnior; Isabela dos Santos Cardoso;
Paula Alves Cardoso; Caroline Ferreira; Francisco César Dalmo; Iara Ferreira de Rezende Costa; Alcino de Oliveira
Costa Neto

TEMA: ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA

GJ 35171 Análise da Influência do Defloculante na Determinação de Curvas Granulométricas de Rejeitos de Mineração -


Helena Paula Nierwinski; Ana Carolina Martins; Fernando Schnaid
GJ 34747 Análise da Resistência ao Cisalhamento e Capacidade de Suporte de Solos da Formação Guabirotuba com Adição
de Resíduos de Construção e Demolição Reciclados (RCD-R) - Daniele Melezinski de Oliveira; Kelen Marczak Polli;
Pablo Fernando Sanchez
GJ 34921 Análise do Comportamento de um Solo Reforçado com Fibras de Polipropileno - Karina Silva e Castro; Aline Silva;
Eduardo Souza Cândido; Klinger Senra Rezende; Roberto Francisco de Azevedo; Ana Carolina Dias Baêsso
GJ 34973 Análise Numérica de Recalques em Fundações Rasas - Maycon André de Almeida; Beatriz Anne Bordin Zen; Eduardo
Longen Correa; Renan Everton Inacio
GJ 34523 Aplicação do Método das Pastilhas na Identificação Expedita de Solos para Uso em Pavimentação em Santa
Maria/RS - Letícia Soldera; Rinaldo J. B. Pinheiro; Lucas Eduardo Dornelles
GJ 35199 Avaliação do Comportamento Hidráulico de Dois Solos Residuais Soteropolitanos Melhorados Quimicamente -
Italo santos da silva; Paulo Henrique Amaral Fagundes; Miriam de Fátima Carvalho; Raymundo Wilson da Silva
Dórea; Antonio Felipe de Souza Machado Reis; Quislom Albuquerque da Silva
GJ 35317 Avaliação do Comportamento Mecânico de Solo Argiloso com Inserção de Politereftalato de Etileno (PET) para
Aplicação em Base de Pavimentos - Bárbara Viapiana de Carvalho; Michele Dal Toé Casagrande; Raquel Quadros
Velloso; Márcio Muniz de Farias
GJ 36215 Avaliação do Efeito da Salinidade nos Processos de Sedimentação e Adensamento de um Rejeito de Fosfato - Ayra
Mariane Ferreira Ribeiro; Iara Santana de Azevedo; Eleonardo Lucas Pereira; Romero César Gomes
GJ 36178 Caracterização Geotécnica de um solo do Estado de Mato Grosso do Sul - Adônis Salgado Froener; José Otávio
Serrão Eleutério; Fabrício Jerônimo Gonzalez Dias
GJ 36489 Caracterização Geotécnica dos Resíduos Oriundos da Lavra do Feldspato Pegmatítico - Parelhas/RN - Victor
Pinheiro da Costa; Fagner Alexandre Nunes de Franca; Maria del Pilar Durante Ingunza
GJ 35677 Caracterização Microestrutural de um Perfil de Solo Tropical - Sabrina Marques Rodrigues; Renato Cabral
Guimarães; José Camapum de Carvalho; Renato Batista de Oliveira
GJ 34900 Caracterização Preliminar Geotécnica do Subsolo do Campo Experimental de Geotecnia e de Fundações da
Universidade Federal do Ceará (CEGEF – UFC) - Alfran Sampaio Moura; Monica Rodrigues Ramos; Edno Cerqueira
Junior; Pedro Henrique Lustosa Bezerra de Menezes; Francisco Pinheiro Lima Filho
GJ 36222 Caracterização Tecnológica de um Rejeito Fino de Fosfato de Baixa Densidade - Iara Santana de Azevedo; Ayra
Mariane Ferreira Ribeiro; Eleonardo Lucas Pereira; Romero César Gomes
GJ 35098 Comparação do Limite de Liquidez Utilizando o Aparelho de Casagrande e o Fall Cone para um Solo da Formação
Barreiras do Campus da UFRJ – Macaé - Lívia Corrêa Cerbino; Graziella Maria Faquim Jannuzzi; Raquel Jahara
Lobosco
GJ 35328 Considerações Sobre Deslocamentos em Estacas Causados por Sobrecargas Assimétricas - Rebecca Pezzodipane
Cobe; Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão; Sandro Salvador Sandroni
GJ 35946 Determinação e Aplicação dos Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento de um Solo Argiloso do Município de
Goiânia a partir do Ensaio Triaxial. - Marco Aurélio Izaac de Souza; Jordana Portilho Neves; João Carlos de Oliveira
GJ 35925 Ensaio SPT - Desvios à Norma Brasileira e suas Influências - Sergio Martins de Camargo Junior; Thais Maria Leite
Paludeto
GJ 36162 Ensaios com Penetrômetro Leve - PANDA 2 - Em Campo Experimental da Escola de Engenharia Civil e Ambiental
da UFG - João Lucas da Mota Rodrigues; Breno Breseghelo Nascimento; Artur Felipe Gonçalves Cardoso de Miranda;
Leonardo Milhomem Cunha; Rômulo Rodrigues Machado; Tamara Cristina Alves; Renato Resende Angelim
GJ 34319 Estabilização de uma Areia de Fundição Substituída Parcialmente por Pó de Pedra e com Adição de Diferentes
Teores de Agente Cimentante - Lucas Quiocca Zampieri; Ana Paula Filipon; Fabiano Alexandre Nienov; Gislaine
Luvizão; José Carlos Bressan Júnior
GJ 34980 Estudo Comparativo de Diferentes Sistemas de Classificações Geotécnicas Aplicadas a Solos das Rodovias MT 206
e MT 320 Trecho entre Alta Floresta e Santa Helena – MT. - Willian Martins Dos Santos; Ana Elza Dalla Roza; Geilson
Bispo; Bárbara Gama Sales Dos Santos
GJ 35460 Estudo da Relação Diâmetro/Altura do Corpo-de-Prova em Ensaios de Laboratório para Obtenção da Resistividade
Elétrica em Solos - Beatriz Bellini Cortez; Anna Silvia Palcheco Peixoto
GJ 35989 Estudo do Comportamento de Geomembranas na Estabilidade de Barragens de Rejeito de Minério de Ouro - Ana
Luiza Mendes Halabi; Karla Cristina Araújo Pimentel Maia; Maria das Graças Almeida Gardoni; Soraya Salantiel
Sampaio
GJ 34706 Estudo Preliminar das Propriedades Elásticas e Mecânicas em Arenitos em Alta Temperatura - Igor Almeida
Sampaio; Kaio Araújo Andretta Silva; André Cezar Zingano
GJ 36378 Influência da Adição de Resíduos de Construção Civil no Módulo Resiliente um Solo Argiloso da Formação
Geológica Guabirotuba. - Eclesielter Batista Moreira; Jair Arrieta Baldovino; João Luiz Rissardi; Ronaldo Luis dos
Santos Izzo; Juliana Lundgren Rose
GJ 36426 Estudo dos Parâmetros de Resistência Utilizando o Equipamento de Cisalhamento Direto de Grande Porte - Victor
Henrique Silva Salmaso; Ana Carolina Ferreira; Wagner da Silva Stein; Lucas Deleon Ferreira; Bruno de Oliveira Costa
Couto; Eleonardo Lucas Pereira; Romero Cesar Gomes
GJ 35490 Influência das Estruturas Reliquiares em Ensaios de Erodibilidade - Lucas Henrique Vieira; Mateus Lino Leite;
Tatiana Tavares Rodriguez
GJ 35545 Avaliação da Resistência Não Drenada de Dois Solos Artificiais Adensados por Diferentes Ensaios de Laboratório
- Luiza Vargas Eichelberger; Camila Larrosa de Oliveira; Cezar Augusto Burkert Bastos; Antonio Marcos de Lima Alves;
Diego de Freitas Fagundes
GJ 35465 Isotropia a Pequenas Deformações de Solo Artificialmente Cimentados - Carina Silvani; Estéfano Menger; Nilo
Cesar Consoli
GJ 36111 Medição de Energia em Ensaio SPT Realizado no Campo Experimental da EECA/UFG - Romulo Rodrigues Machado;
Breno Breseghelo do Nascimento; João Lucas da Mota Rodrigues; Renato Resende Angelim; Maurício Martines
Sales; João Carneiro de Lima Junior; Antônio Luciano Espíndola Fonseca; Valmir Alexandre Merighi
GJ 35627 Modelagem Numérica do Comportamento de Fundações Superficiais de Torres de Linhas de Transmissão
Apoiadas em Solos Estabilizados - Julia Ré Signor; Letícia Kneipp Fernandes; Antonio Marcos de Lima Alves; Cezar
Augusto Burkert Bastos
GJ 36233 Proposta de Utilização do Granulômetro a Laser para a Determinação da Distribuição Granulométrica de Rejeitos
Finos de Mineração - Patrícia Oliveira Pinheiro; Letícia Alves Arantes; Eleonardo Lucas Pereira; Lucas Deleon
Ferreira; Romero César Gomes
GJ 36316 Reconstituição de Corpos de Prova Utilizando o Método de Deposição em Polpa em Ensaios Triaxiais e Avaliação
do Potencial de Liquefação - Mariana Martins Corrêa; Waldyr Lopes de Oliveira Filho
GJ 36545 Resistência e Deformabilidade de um Solo Laterítico da Formação Barreiras - Ray de Araujo Sousa; Olavo Francisco
dos Santos Junior; Guilherme de Oliveira Souza; Bruma Morganna Mendonça de Souza
GJ 35626 Resistência Não Drenada de Solos Artificiais Remoldados Através do Ensaio de Cone de Queda - Camila Larrosa de
Oliveira; Luiza Vargas Eichelberger; Antonio Marcos de Lima Alves; Cezar Augusto Burkert Bastos
GJ 35186 Uso do DCP Aplicado ao Monitoramento do Comportamento ao Longo do Tempo de Camadas Estruturais de um
Pavimento de RCD - Anna Marinella Carizzio Monteiro; Marta Pereira da Luz
GJ 35776 Viabilidade do Uso do Equipamento DPL para Obtenção de Parâmetros de Projeto - Kárita Christina Soares
Kanaiama Alves; Lindomar Rodrigues Valverde

TEMA: ESCAVAÇÕES SUBTERRÂNEAS

GJ 35074 Avaliação do Tempo Mínimo Necessário para Reentrada em Áreas Recém Projetadas - Mina Cuiabá, Sabara - MG.
- Túlio César Abduani Lima; Guilherme Albano Viana Costa; Felipe de Brito Pereira; Rafael Soares Pereira; Rodrigo
César Padula
GJ 34955 Comparativo de Custos Diretos entre Perfuração Direcional Horizontal e Abertura De Vala para Instalação de
Dutos - Milagros Alvarez Sanz; Yuri Daniel Jatobá Costa; Carina Maia Lins Costa; Gracianne Maria Azevedo do
Patrocínio
GJ 36148 Injeções Cimentícias para Controle de Deslocamentos em Solos Metaestáveis - Estudo de Caso do Túnel do Metrô
de Brasília - Max Gabriel Timo Barbosa; André Pacheco de Assis

TEMA: ESCORREGAMENTOS

GJ 34625 Implementação Computacional do Método de Janbu com uma Aplicação de Retro-Análise do Escorregamento de
Vajont - Vital Matos Batista; Hélio Machado Baptista; Paulo Gustavo Cavalcante Lins

TEMA: ESTABILIDADE DE ENCOSTAS

GJ 36541 A Problemática dos Taludes Urbanos: Uma Revisão Bibliográfica - Marianne Bueno dos Passos Brum; Anays Mertz
Antunes
GJ 35399 Análise de Estabilidade de Talude por Método Probabilístico - Mário Rodrigues de Oliveira Júnior; Tatiana Tavares
Rodriguez; Daniel de Andrade Faria; Roberto Lopes Ferraz
GJ 36482 Análise Probabilística da Estabilidade de Talude na Mina do Cauê - Andrea Nascimento Vecci; Ana Luiza Rossini V.
de Oliveira; Alberto S. F. J. Sayão
GJ 34555 Avaliação das Áreas com Predisposição à Movimentação de Massa no Município de Rio Paranaíba – Minas Gerais
- Carolina Naves Ribeiro; Tárick Rodrigues Almeida Fernandes; Lucas Martins Guimarães
GJ 35757 Avaliação do Comportamento de Muros de Gravidade Construídos com Solo-Pneus - Guilherme Faria Souza Mussi
de Andrade; Daniel Silva Lopez; Bruno Teixeira Lima; Ana Cristina Castro Fontenla Sieira; Alberto de Sampaio Ferraz
Jardim Sayão
GJ 34495 Estudo de Caso: Análise da Estabilidade Geotécnica de um Reservatório Escavado - Jordan Lopes Albino; Douglas
Santos Sousa; Leandro Neves Duarte; Tales Moreira de Oliveira; Guilherme de Ávila Mafia
GJ 34676 Influência da Resistência à Tração em Análises de Estabilidade em Taludes Verticais - Igor Medeiros Cardoso;
Fernanda Ferreira da Silva; Tatiana Tavares Rodriguez
GJ 35680 Projeto de Estabilização de Encosta em Área de Reserva Ambiental em Salvador/BA - Felipe Augusto Nunes Berquó
GJ 34652 Talude de Corte em Área Urbana de Risco - Jonathan do Amaral Braz; Kamila Oliveira do Carmo; Isabella Novais
Silva; Tatiana Tavares Rodriguez; Jordan Henrique de Souza

TEMA: ESTRUTURA DE CONTENÇÃO

GJ 34697 Análise Comparativa de Métodos para Dimensionamento de Estacas-Prancha em Balanço. - Gustavo Henrique do
Nascimento Ferreira; Luiz Augusto da Silva Florêncio; Carina Maia Lins Costa
GJ 34885 Análise Comparativa entre Modelo Numérico – Plaxis 2D – e Métodos Analíticos para o Caso de Estrutura de
Contenção em Obra Portuária - Marina Lopes de Andrade
GJ 34391 Análise de Estabilidade e Tensão-Deformação na Face de Escavação Estabilizada com Solo Grampeado Utilizando
Grampos Suplementares - Adileisson Gondim; Jean Rodrigo Garcia
GJ 35698 Comparativo entre Metodologias Clássicas e Análises Tensão x Deformação em um Projeto de Contenção do Tipo
Cortina - Carla Beatriz Costa de Araujo; Silvrano Adonias Dantas Neto
GJ 34730 Cortinas Atirantadas em Obras de Escavação - Modelagem Numérica e Estudo Paramétrico - Luiz Fernando
Nicodemos Rodrigues; Mario Vicente Riccio Filho
GJ 34541 Dimensionamento de Solo Grampeado Considerando a Resistência Não Saturada do Solo e da Interface
Solo/Grampo - Danilo Borges Cavalcanti; Carlos Alberto Lauro Vargas; Gilson de Farias Neves Gitirana Junior
GJ 35617 Estabilização de Talude Através da Técnica de Solo Reforçado - Estudo de Caso Ocorrido na Faculdade de
Engenharia - UFJF – Juiz de Fora/MG. - Victor Luiz Silva Guedes; Julia Righi De Almeida; Thainá Faria Oliveira
GJ 36522 Estudo Paramétrico do Comportamento Geotécnico de Estruturas de Contenção de Solo Reforçado Submetidas
ao Processo de Compactação - Rogério Gonçalves Sarmento Junior; Lucas Broseghini Totola; Katia Vanessa Bicalho;
Bruno Teixeira Dantas
GJ 34974 Influência da Coesão do Solo de Enchimento no Dimensionamento de Estruturas de Contenção em Solo Reforçado
- Gabriela Ernandes Silva Santa Fé; Carlos Rezende Cardoso Júnior
GJ 34533 Influência da Rigidez e da Inclinação da Face no Comportamento de Estruturas de Solo Grampeado - Cauê Antônio
Barreto da Rosa dos Santos; Maurício Ehrlich
GJ 36097 Modelagem de Estruturas de Contenção de Solo Reforçado no Sistema Terramesh - Taila Ester de Souza; Carlos
Alberto Simões Pires Wayhs; Alan Donasolo

TEMA: FUNDAÇÕES

GJ 35734 Análise Comparativa de Métodos Semi-Empíricos para Previsão da Capacidade de Carga Axial em Estacas do tipo
Hélice Contínua - Lucas Melo Monteiro; Carla Beatriz Costa de Araújo; Marcelle Quelve da Costa Silva
GJ 35739 Comparativo entre Soluções de Fundações Profundas em Estacas para Diferentes Métodos de Cálculo de
Capacidade de Carga - Marcelle Quelve da Costa Silva; Ana Jéssica Freitas Mendes; Maria Mariana de Sousa Rocha;
Carla Beatriz Costa de Araújo
GJ 36263 Análise da Solução Adotada para a Fundação de um Píer numa Edificação Histórica. Estudo de Caso - Museu da
Rampa, Natal – RN - Sansara Félix Pereira; Bruma Morganna Mendonça de Souza; Rafaella Fonseca da Costa; André
Augusto Nóbrega Dantas; Weber Anselmo dos Ramos Souza; Eduardo Marques Vieira Pereira; Samyr Augusto da
Silva Nascimento
GJ 34993 Análise do Desempenho de Edificação com Fundação em Estacas Metálicas no Recife - Jeovana da Silva Souto
Maior; Pedro Oliveira; Joaquim Oliveira
GJ 36223 Análise de Projeto de Fundação em Radier Estaqueado para Silos Graneleiros - Matheus Praciano Sampaio;
Humberto Laranjeira de Souza Filho
GJ 36538 Análise de Prova de Carga Estática com Célula Expansiva Hidrodinâmica Bidirecional-Arcos x Métodos Semi-
Empíricos de Estimativa de Carga - Caio Araujo Marinho; Tales Moreira de Oliveira; Higor Pena Coelho; Thiago
Brienne Gonçalves Gomes; Sabrina Andrade Rocha; Flávio Luiz de Carvalho; Leandro Neves Duarte
GJ 36469 Análise de Prova de Carga Estática em Estaca Escavada a Trado Mecânico Executada na Formação Barreiras na
Cidade de João Pessoa – PB - Safyra Hadassa Alves Gurgel; Wilson Cartaxo Soares; Gabriel Victor Barbosa Meireles;
Ewerton Felipe de França Oliveira Andrade; Hallexssandryne Drihelly Gomes do Nascimento
GJ 35153 Análise de Recalques de Estacas Metálicas Constituídas de Trilhos Ferroviários - Juliana Martins Pereira; David De
Carvalho; Rogério Carvalho Ribeiro Nogueira
GJ 34488 Análise dos Métodos de Cálculo de Recalques em Estacas do Tipo Hélice Contínua - Matheus Gonçalves Bazan;
Tiago Alves Vieira
GJ 35997 Análise Estatística da Aplicabilidade dos Métodos Semi-Empíricos de Estacas Hélice-Contínua à Luz da NBR6122 e
Eurocode 7 - Carolina Tami Kuboyama; Kurt André Pereira Amann
GJ 36323 Análise Estatística de Excentricidades das Estacas do Tipo Hélice Contínua na Região do Paiva - Ricardo de Souza
Delgado; Jeovana da Silva Souto Maior; Pedro Oliveira
GJ 34331 Análise Numérica de Aspectos Geotécnicos das Fundações de Torres de Aerogeradores Instalados na Zona
Costeira do Estado do Rio Grande do Norte. - Lucas da Silva Moraes; Lílian Oliveira Lima; Alexsandro Weyand
GJ 35614 Atrito Negativo no Projeto de Fundação Profunda: Estudo de Caso em Aracaju/SE. - André Luiz Delmondes Pereira
Filho; Carlos Rezende Cardoso Júnior
GJ 35334 Avaliação da Parcela de Atrito Negativo em Estacas Pré-moldadas - Bruna Moreira Beire; Juliane Cristina Gonçalves
GJ 34643 Banco de Dados de Obras em Radier Estaqueado na Região Metropolitana do Recife - Paulo Marcelo Cavalcanti de
Oliveira Souza; Allan Emmanuel de Araújo Machado; Rodrigo Figueiredo Roma; Pedro Eugenio Silva de Oliveira;
Joaquim Teodoro Romão de Oliveira; Alexandre Duarte Gusmão
GJ 34578 Comparação de Desempenho de Métodos de Previsão de Capacidade de Carga de Fundações Profundas para um
Caso de Obra em Balneário Camboriú – SC - Thayara Monteiro Orandes da Graça; Marcelo Heidemann; Helena
Paula Nierwinski
GJ 35889 Comparação de Metodologias de Estimativa de Recalques com os Obtidos em Prova de Carga Direta Sobre
Terreno de Fundação - Larissa Fernandes Sasso; Alexia Cindy Wagner; Rosana Wendt Brauwers; Fernanda Maria
Jaskulski; Thalia Klein da Silva; Professor Mestre Carlos Alberto Simões Pires Wayhs; Professor Doutor Cesar Alberto
Ruver
GJ 35717 Análise da Viabilidade de duas Metodologias de Projeto para Fundações Profundas em Recife - PE - Thiago Augusto
da Silva; Pedro Oliveira
GJ 35346 Desenvolvimento de um Aplicativo em VBA, de Cálculo de Recalque em Estacas e Tubulões por Meio de
Engenharia Reversa - Renato Lima dos Santos; Rose Carvalho Rocha Elias; Leandro Neves Duarte
GJ 34990 Discussão Sobre a Influência da Excentricidade Executiva de Estacas Sobre a Probabilidade de Ruína de Fundações
- Marcelo Sabino Costa; Pedro Oliveira; Joaquim Oliveira
GJ 35886 Ensaio de Placa como Instrumento de Determinação da Tensão Admissível dos Solos do Noroeste do Rio Grande
do Sul - Alexia Cindy Wagner; Larissa Fernandes Sasso; Rosana Wendt Brauwers; Thalia Klein da Silva; Fernanda
Maria Jaskulski; Professor Mestre Carlos Alberto Simões Pires Wayhs; Professor Doutor Cesar Alberto Ruver
GJ 35768 Estacas de Reforço em Solo-Cimento como Forma de Viabilizar o Uso de Sapatas em Solo Residual Mole - Thays
Car Feliciano de Oliveira; Bianca Gabriel dos Santos Dezen; Isabela de Oliveira Antonio; Renata Rauber Dahmer; Julio
Cesar Bizarreta Ortega
GJ 35849 Estudo Comparativo do Solo da Área do Campus Definitivo da Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho –
UFRPE com Adição de Cal - André Vinícius Melo Couto; Cecília Maria Mota Silva Lins; Katia Botelho Torres Galindo;
Camila Freire Nunes
GJ 35358 Estudo Comparativo entre Estacas - Ana Luiza de Assis Rezende
GJ 36536 Estudo da Influência do Sentido de Aplicação de Carga - Tamires da Silva Campos; Wallison Cardoso dos Santos;
Davi Oliveria Leonel; Paulo Sérgio dos Reis Júnior; Tales Moreira de Oliveira
GJ 36544 Estudo do Comportamento Geotécnico de Sapatas Assentes Sobre Solo Melhorado com Estaca Mini-RAP - Tales
Moreira de Oliveira; Flávio Luiz de Carvalho; Caio Araujo Marinho; Túlio Pena da Silva; Claudio Henrique de Carvalho
Silva; Gregório Luís Silva Araújo
GJ 35349 Investigação Numérica do Comportamento da Fundação de uma Torre de Telecomunicações em São Paulo - Tiago
de Jesus Souza; David Americo Fortuna Oliveira; Dimas Betioli Ribeiro
GJ 35699 Mapeamento Geológico-Geotécnico do Subsolo do Município de Chapecó/SC - Matheus Kniest Gonçalves; Marieli
Biondo Lopes
GJ 36651 Melhoramento de Solo Colapsível com Técnica DSM (Deep Soil Mixing) em um Parque Eólico na Bahia - Mateus
Gusmão Brindeiro; Alexandre Duarte Gusmão; Gilmar de Brito Maia; Ricardo José Barbosa de Souza; Hainer Bezerra
de Farias
GJ 36218 Metodologia para correção de Métodos Semiempíricos de Capacidade de Carga de Estacas Visando o Conceito de
Aplicabilidade Segundo a NBR6122 e Eurocode 7 - Caio de Oliveira Silva; Kurt André Pereira Amann
GJ 36294 Previsão da Capacidade de Carga de Estacas Hélice Contínua através dos Conceitos de Energia de Cravação de
ensaios SPT - Narayana Saniele Massocco; Bruno Andrade de Freitas; Fábio Krueger da Silva
GJ 36385 Previsão Numérica dos Recalques em Fundações Estaqueadas na Cidade de Jataí-GO. - Jean Lucas Souza de
Oliveira; Tallyta da Silva Curado

TEMA: GEOSSINTÉTICOS

GJ 34698 Análise da Aplicação de Geocélulas para Reforço de Fundações Diretas: Estudo de Caso. - Alba Rosilda Gois
Filgueira; Luiz Augusto da Silva Florêncio; Carina Maia Lins Costa; Yuri Daniel Jatobá Costa
GJ 36219 Análise da Influência da Compacidade de Solos Granulares nos Parâmetros de Resistência da Interface Areia-
Geomembrana Através do Ensaio de Cisalhamento Direto - Lorena Bosser Nepomuceno; Pablo dos Santos Cardoso
Coelho; Lucas Deleon Ferreira; Christ Jesus Barriga Paria; Eleonardo Lucas Pereira; Romero César Gomes
GJ 34646 Avaliação da Resistência à Compressão Uniaxial de Solos Argilosos com a Incorporação de Geogrelhas e
Geotêxteis Tecidos - Juliana Reinert; Raimundo da Costa Lima Júnior; Túlio César Floripes Gonçalves; Camilla Cristina
Cunha Menezes
GJ 36133 Avaliação dos Fatores de Influência no Ensaio de Cone Geotêxtil - Wesley Silva de Oliveira; Maria das Graças
Gardoni Almeida; Fernanda Taysa de Castro Moraes
GJ 35582 Resistência ao Cisalhamento Direto do Poliestireno Expandido (EPS) - Mariana Basolli Borsatto; Rogério Custódio
Azevedo; Paulo César Lodi; Beatriz Garcia Silva; Bruna Rafaela Malaghini; Caio Henrique Buranello dos Santos
GJ 36261 Revestimento com Geocélulas de PEAD Preenchidas com Concreto em Substituição a Estruturas Rígidas de
Concreto Armado para Drenagem Superficial em Pilhas de Estéril. - Wladimir Caressato Junior; Carlos Antônio
Centurión Panta
GJ 34922 Soluções em Geossintéticos na Comunidade São Rafael, João Pessoa, Paraíba - Camila de Andrade Oliveira; Hanna
Barreto de Araújo Falcão; Jorge Luiz de Souza Junior; Leonardo Ferreira da Silva; Fábio Lopes Soares; Aline Flávia
Nunes Remígio Antunes

TEMA: GEOTECNIA AMBIENTAL


GJ 36044 Análise Comparativa entre os Tijolos Cerâmicos Convencionais e os Tijolos de Adobe - João Guilherme Rassi
Almeida; Brunno Odorico Nascimento Calaça; Mharessa da Rosa Machado Cruz; Thainá Silva Santos; Yara Carina
Rodrigues Trindade Rosa; Glacielle Fernandes Medeiros; Palloma Borges Soares
GJ 35718 Análise da Resistência Mecânica de Solos de Cruz das Almas-BA Quando Contaminado com Diesel - Jennyfer Drielle
Santos Pereira; Weiner Gustavo Silva Costa; Mário Sérgio de Souza Almeida
GJ 36033 Análise de Estabilidade de Aterro de Resíduos Classe I - Sarah Kirchmaier Fayer; Júlia Righi de Almeida; Mário
Vicente Riccio Filho; Jordan Henrique de Souza; Gislaine dos Santos
GJ 36023 Análise de Misturas de Fosfogesso, Solo Tropical e Cimento em Termos de Durabilidade e Resistência - Millena
Vasconcelos Silva; David Reis Cavalcante; Lucas Alves Xavier; Lilian Ribeiro de Rezende
GJ 36390 Análise de Quebra de Grãos em Rejeito Areno-Siltoso Submetido à Ensaio de Adensamento - Thainá Pölz; Ana
Cláudia de Mattos Telles; Juliana dos Santos Fabre; Leonardo De Bonna Becker; Maria Cláudia Barbosa
GJ 35943 Análise do Comportamento de uma Amostra de Solo com Adição de Pó de Pedra - Luan Fontenelle Vieira
Rodrigues; Lívia Ingrid de Oliveira Costa; Líris Silveira Campelo Carneiro
GJ 36562 Análise do Melhoramento do Solo com Adição de Resíduo de Blocos de Concreto aplicado à Pavimentação -
Tamires da Silva Campos; Laís Vieira Romão; Caio Araujo Marinho; Tales Moreira de Oliveira; Juliane Cristina
Romualdo; Klaus Henrique de Paula Rodrigues
GJ 36394 Avaliação da Resistência do Solo Biocimentado - Igor Decol; Vinicius Luiz Pacheco; Yohan Casiraghi; Antônio Thomé
GJ 36187 Caracterização Geotécnica de Misturas de Lodo de Estação de Tratamento de Água (ETA) com Cal - Kelly Fiama
Santos Pereira; Juliana Keiko Tsugawa; Maria Eugênia Gimenes Boscov
GJ 34291 Comparação entre Envoltórias de Resistência de Pico e Residual de um Rejeito de Minério de Ouro Reforçado
Com Fibras de Polipropileno Distribuídas Aleatoriamente - Juan Manuel Girao Sotomayor; Michéle Dal Toé
Casagrande
GJ 34449 Dosagem de Pré-Misturado a Frio com Inserção de Escória de Aciaria como Agregado - Juliana de Paula Rezende;
Maicon de Ávila Fernandes; Tales Moreira de Oliveira; Leandro Neves Duarte
GJ 36373 Efeito da Adição de Resíduos de Construção e Demolição na Resistência ao Cisalhamento de um Solo Argiloso da
Formação Geológica Guabirotuba. - Eclesielter Batista Moreira; João Luiz Rissardi; Jair Arrieta Baldovino; Ronaldo
Luis dos Santos Izzo; Juliana Lundgren Rose
GJ 34609 Efeito da Contaminação por Petróleo Bruto nas Propriedades Físico-Químicas de Solos Finos Tropicais - Carolina
Trindade Paiva; Natália de Souza Correia; Simone Cristina de Jesus
GJ 35628 Estudo da Incorporação de Resíduos de Concreto na Composição de Concreto para Uso em Estacas Hélice Contínua
- Welington de Sousa Cruz; Vinícius Costa Machado; Isaque Guerreiro Lima; Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro;
Welington de Sousa Cruz; Vinícius Costa Machado; Isaque Guerreiro Lima; Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro
GJ 34629 Estudo de Propriedades Geotécnicas de Areia RCD-Bentonita como Material Alternativo para Camada de
Cobertura de Aterros Sanitários - Renan César Silva Caldas; Natália de Souza Correia
GJ 35692 Estudo do Comportamento Mecânico de um Solo Estabilizado com Cimento e Roadcem - Roberto Rosselini Ferreira
da Silva; Carlos Eduardo Neves de Castro; Cláudio Augusto de Paula Lima; Consuelo Alves da Frota
GJ 34769 Estudo do Potencial do Encapsulamento de um Solo Contaminado com Cloreto de Zinco por Meio da Adição da
Cal - Isabel Amado Perez; Rossana Gonçalves de Valadares; Maria Isabel Pais da Silva; Michéle Dal Toé Casagrande
GJ 34543 Estudo em Colunas da Migração de Água de Produção e Efluente Tratado de Petróleo em Solos Naturais do Ceará
- Ramile Gomes Uzeda Sousa; Sandro Lemos Machado; Iara Brandão de Oliveira; Gustavo Alonso Muñoz Magna;
Zenite da Silva Carvalho; André Moreira de Souza Filho; Edeweis Rodrigues de Carvalho Júnior
GJ 36497 Estudo para Aproveitamento de Escória de Ferro Cromo de Baixo Carbono em Camada de Pavimento. - Evelin
Marques de Oliveira; Lucas Silva e Rocha
GJ 35967 Influência de Insumos Agrícolas em Propriedades Físicas de Solos Tropicais - Andrea Cardona Pérez; José Camapum
de Carvalho; Renato Cabral Guimarães
GJ 34935 Influência do Teor de Cimento no Comportamento da Resistência à Compressão Simples de Resíduos de
Construção Civil (RCC) - Ligia De Araújo Moreira Preis; Fabiana Artuso; Juliana Azoia Lukiantchuki
GJ 34902 Mapeamento Geotecnico do Córrego Baixa Funda Localizado as Margens da TO 222 em Araguaína - TO - Duyllyan
Almeida de Carvalho; Mardhen Monteiro Veloso; Glacielle Fernandes Medeiros
GJ 36650 Modelo Numérico para Remediação de Aquíferos Contaminados com Solventes Clorados Através de Barreira
Reativa Composta por Reatores Sequenciais - Carolina de Araújo Gusmão; Alexandre Duarte Gusmão
GJ 36124 Parâmetros de Resistência de Resíduos Sólidos para Projetos de Aterro Sanitário - Ana Caroline Nunes de Oliveira;
Sarah Kirchmaier Fayer; Júlia Righi de Almeida; Nathália Delage Soares
GJ 35579 Estudos com Resíduos de Construção e Demolição para a Aplicação em Obras de Infraestrutura de Pavimentos -
Jéssica Horta França Menezes; Erinaldo Hilário Cavalcante; Guilherme Bravo de Oliveira Almeida
GJ 34644 Utilização de Resíduos da Mineração de Quartzo de Gouveia-MG para Reforço de Subleito de Rodovias - Juliana
Reinert; Lourdiane Gontijo das Mercês Gonzaga; Franciélle Cristina Pereira Diniz; Ádila Cecília Queiroz Gonçalves;
Mariana Saturnino Rodrigues; Vitor Hugo Coimbra Nunes da Rocha Peixoto

TEMA: GEOTECNIA SOCIAL

GJ 35663 Avenida Governador Agamenon Magalhães – Recife: da Formação Geológica ao Uso e Ocupação. - Raíza Silva
Bezerra; Silvio Romero de Melo Ferreira; Ariane da Silva Cardoso; Karlla de Albuquerque Souza Cavalcante

TEMA: INOVAÇÕES EM GEOTECNIA

GJ 35047 Desenvolvimento de Aplicativo para Auxílio no Cadastramento de Erosões Lineares em Meio Urbano - Douglas
Pose de Oliveira; Maurício Martines Sales; Pedro Henrique Matheus e Silva; Ramon Ítalo Mendonça Martins;
Wellington Santos Martins
GJ 36226 Estimativa da Capacidade de uma Cava de Mineração por Meio de Simulações Numéricas - Mariana Queiroz Pinho;
Waldyr Lopes de Oliveira Filho; Stéphanie Oliveira Moura e Sá
GJ 34486 Utilização dos Resíduos de Quartzito na Construção Rodoviária - Hemilly Cristine Lobo Fernandes; Rodolfo
Gonçalves Oliveira da Silva

TEMA: OBRAS DE INFRAESTRUTURA

GJ 35742 Adição de Material Fresado a um Solo da Região do Recôncavo Baiano para Utilização como Camada de Pavimento
Rodoviário - Luciana Negrão de Moura; Mario Sergio de Souza Almeida; Fernanda Costa da Silva Maciel; Weiner
Gustavo Silva Costa; Camilla Maria Torres Pinto
GJ 36583 Aferição da Compactação Produzida por Caminhões Foras de Estradas, sobre um Estéril Granular, Visando
Aproveitamento desta Camada como Base de Pavimento. - Thiago Brienne Gonçalves Gomes; Tales Moreira de
Oliveira; Sabrina Andrade Rocha; Higor Pena Coelho; Flávio Luiz de Carvalho; Caio Araujo Marinho
GJ 36306 Análise de Misturas de Solo Argiloso Laterítico e Resíduo de Construção Civil Estabilizado para Uso em Bases de
Pavimentos Econômicos - Gabriela Almeida Bragato; Tainara Kuyven; Leonardo Brizolla de Mello; Taciane Pedrotti
Fracaro; Jessamine Pedroso de Oliveira; Katuay Zarth; Professor Mestre Carlos Alberto Simões Pires Wayhs;
Professor Doutor Cesar Alberto Ruver
GJ 36543 Análise do Desempenho de uma Mistura Asfáltica a Quente com Adição de Escória de Aciaria - Rafael Batista
Fernandes; Elisa Zulmira Coelho Serafim; Paulo Roberto Borges
GJ 34898 Análise dos Efeitos da Estabilização Química com Hidróxido de Cálcio Sólido em Solos Provenientes de Rio Branco
- AC e Guajará-Mirim - RO para Fins de Pavimentação. - Carlos Martins Amaecing Junior; Simone Ribeiro Lopes
GJ 35404 Avaliação de Características Físicas do Pavimento Flexível de um Trecho na Asa Norte, Brasília/Distrito Federal -
Vitor Cordeiro Galvão Pereira; Rideci Farias; Haroldo da Silva Paranhos; Jairo Furtado Nogueira
GJ 36494 Efeito da Adição de Resíduos de Cerâmica Vermelha no Módulo Resiliente de um Solo Argiloso da Formação
Geológica Guabirotuba - João Luiz Rissardi; Eclesielter Batista Moreira; Jair Arrieta Baldovino; Ronaldo Luis dos
Santos Izzo; Amanda Dalla Rosa Johann
GJ 35830 Estudo da Estabilização de um Solo Residual Jovem do Recôncavo da Bahia com Cimento - Gabriel Barbosa da
Silva; Weiner Gustavo Silva Costa; Mário Sérgio de Souza Almeida; Cleidson Carneiro Guimarães; Masélia Fernandes
de Magalhães; Iago Amorim Guilhermino de Jesus
GJ 35847 Estudo de um Solo Melhorado com Cal para Cura ao Ar e Cura Isolada do Ar - Iago Amorim Guilhermino de Jesus;
Weiner Gustavo Silva Costa; Mário Sérgio de Souza Almeida; Cleidson Carneiro Guimarães; Gabriel Barbosa da Silva
GJ 36608 Estudo de um Solo Município de Cruz das Almas – BA Melhorado com Cal para Diferentes Tempos de Cura e
Métodos de Mistura - Thomas Soares Ferreira Gonçalves; Weiner Gustavo Silva Costa; Tarcio Oliveira Lopes
GJ 35547 Estudo para Emprego de um Plintossolo como Camada Estrutural de Via Não Pavimentada – Trilha do Talhamar –
Parque Nacional da Lagoa do Peixe – Tavares/RS. - Camila da Silva Martinatto; Cezar Augusto Burkert Bastos; Milton
Luiz Paiva de Lima; Christian Garcia Serpa
GJ 35546 Estudo sobre Dosagem e Propriedades do Saibro Britado – Alternativa de Material de Pavimentação na Região
Sul do Rio Grande do Sul - Regis Pinheiro Maria; Cezar Augusto Burkert Bastos
GJ 35576 Mejoramiento del Suelo Granular del Estribo 1 del Puente Sobre el Rio Magdalena del Municipio de Puerto Berrio
(ANTIOQUIA) por Medio de la Compactación Dinámica - Yohn Edison Polo Garzon; Erica Alejandra Ramirez Laverde

TEMA: OBRAS DE TERRA E ENROCAMENTO

GJ 36186 Análise da Eficácia de Dispositivos de Vedação em Fundação Permeável - Lisyanne de Vasconcelos Freire; Olavo
Francisco dos Santos Júnior; Osvaldo de Freitas Neto; Antonio Gilberto Simões de Oliveira
GJ 35771 Avaliação de Modelos Físicos Reduzidos Construídos em Laboratório para o Estudo da Percolação de Água em
Duas Barragens Homogêneas de Terra - Thays Car Feliciano de Oliveira; Bianca Gabriel dos Santos Dezen; Renata
Rauber Dahmer; Isabela do Oliveira Antonio; Julio Cesar Bizarreta Ortega
GJ 35835 Prevenção de Erosão Costeira por Meio de Contenção por Enrocamento: Estudo de Caso na Praia do Meio em
Natal/RN - Bruma Morganna Mendonça de Souza; Rafaella Fonseca da Costa; José Edson de Almeida Júnior; Andre
Augusto Nobrega Dantas; Eduardo Marques Vieira Pereira; Weber Anselmo dos Ramos Souza; Sansara Félix Pereira

TEMA: SOLOS NÃO SATURADOS, EXPANSIVOS, COLAPSÍVEIS E MOLES

GJ 34451 Análise da Colapsibilidade do Solo da Região de Cascavel- PR através de Critérios de Identificação - Maísa Negrini
Zanella; Maycon André de Almeida
GJ 35461 Avaliação das Propriedades Geotécnicas dos Solos Compressíveis de Aracaju e Região Metropolitana - Letícia
Menezes Santos Sá; Erinaldo Hilário Cavalcante; Guilherme Bravo de Oliveira Almeida; Carlos Rezende Cardoso
Júnior
GJ 35879 Características Intrínsecas de Compressibilidade de Duas Argilas Litorâneas Brasileiras - Thaís Klein Fornazelli
Martins; Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão; Sandro Salvador Sandroni
GJ 34727 Caracterização de um Solo Tipo Massapê para Verificação do seu Potencial Expansivo - Larissa da Silva Oliveira;
Stephanny Conceição Farias do Egito Costa
GJ 36379 Esforços Horizontais em Estacas da Ponte sobre o Rio Jaguaribe em João Pessoa- PB Provenientes da Ação dos
Aterros de Acesso. - Eloiza Ramalho Montenegro Soares; Wilson Cartaxo Soares; Roberto Quental Coutinho;
Alexandre Duarte Gusmão
GJ 34736 Estabilização Química de um Solo Expansivo do Município de Nossa Senhora do Socorro/SE - Rômulo Carvalho
Costa; Carlos Rezende Cardoso Júnior; Guilherme Bravo de Oliveira Almeida; Erinaldo Hilário Cavalcante
GJ 36238 Estudo da Técnica de Melhoramento de Solos Moles com Colunas de Brita em um Trecho do Sistema Viário do
Centro Metropolitano do Rio de Janeiro - Fernanda Valinho Ignacio; Bruno Teixeira Lima; Juliano de Lima
GJ 34266 Estudo de Qualidade de Amostras de Solo Mole - Ariela Rocha Cavalcanti; Joaquim Teodoro Romão de Oliveira
GJ 35462 Influência da Condição Inicial de Umidade na Expansão de um Vertissolo do Grupo Santo Amaro - Hamilton
Estevão da Costa; Luciene de Moraes Eirado Lima
GJ 34726 Potencial Expansivo de Solos da Rodovia BR 324 no Trecho entre Feira de Santana e Salvador – Uma Análise
Experimental - Oskar Pinto Oliveira; Miriam de Fátima Carvalho; Leonardo Machado Borges; Kleber Azevedo
Dourado
GJ 36692 Previsão da Resposta Sísmica de Depósito de Solo Mole Mediante Métodos Simplificados - Miguel Angel Villalobos
Bravo; Celso Romanel
GJ 34965 Relação entre a Resistência à Tração de Solo Não Saturado e a Sucção - Maria Fernanda Wamser Barra; Tatiana
Tavares Rodriguez; Nivalda Aparecida Condé de Oliveira; Juliana Santos Fabre
GJ 35470 Resistência ao Cisalhamento de um Solo Arenoso Não Saturado do Município de Bauru-SP - Amanda Leoncini
Carvalho Barros; Roger Augusto Rodrigues
GJ 35969 Utilização de Alternativas não Convencionais nas Soluções de Projeto - Fernanda Lopes Oliveira; Maruska Tatiana
N. S. Bueno
GJ 35191 Utilização de um Algoritmo Genético no Ajuste de Curvas de Retenção de Água no Solo - Gustavo Armando dos
Santos; Eduardo de Souza Cândido; Roberto Francisco de Azevedo; Ana Carolina Dias Baêsso
 

TEMA:  
ANÁLISE E GERENCIAMENTO DE RISCOS 
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Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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Aplicação de uma Metodologia de Análise Quantitativa de Risco


de Piping em Barragens Utilizando a Distribuição de Weibull
Francisco Hiago de Siqueira Gomes
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, hiago_eng@hotmail.com.

Vanda Tereza Costa Malveira


Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Brasil, tmalveira@hotmail.

Silvrano Adonias Dantas Neto


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, silvrano@ufc.br.

RESUMO: A boa gestão de barragens é essencial para uma convivência equilibrada com os
períodos de estiagem. Os proprietários desses empreendimentos frequentemente encontram-se em
situações onde decisões devem ser tomadas com base em análises das consequências devido às
falhas que, eventualmente, se manifestam. Entretanto, comumente as informações disponíveis não
permitem ao gestor executar o planejamento adequado para o gerenciamento da falha. A
quantificação do risco surge como uma opção válida e aplicável para a análise de risco, agregando
uma gravidade ao risco de falha. Este artigo apresenta uma metodologia para a quantificação do
risco de piping em barragens com o uso da confiabilidade aplicada à distribuição de Weibull.
Barragens classificadas como de alto risco, de acordo com inspeções formais realizadas, foram
escolhidas como estudo de caso para validação dos resultados obtidos. Em todos os casos estudados
o método apresenta boa adequação na representação do risco referente as anomalias constatadas.

PALAVRAS-CHAVE: Barragnes, Quantificação de Risco, Distribuição de Weibull.

1 INTRODUÇÃO dimensionamento e modelos construtivos mais


eficientes e robustos. Com isso, foi gerado mais
O início das construções de barragens no um fator incentivador a utilização da açudagem
nordeste brasileiro, em especial no estado do como mecanismo na atuação do gereacimento
Ceará, data de meados do século XIX, quando dos recurssos hídricos contra os grandes
foi entendida a necesidade de desenvolver períodos de estiagem vivenciados no nordeste
mecanismos de convivência com as secas. brasileiro.
Inicialmente, essas obras eram executadas com O estado do Ceará conta com um grande
base em experiências obtidas em obras de número de barragens espalhadas pelas 12 bacias
outras regiões, gerando, ocasionalmente, hidrográficas que abrangem o estado. Segundo
problemas de adequação ao ambiente e dados levantados em 2013 pela Fundação
materiais disponíveis. Essa deficiência de Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
adequação dos métodos construtivos (FUNCEME), o Ceará conta com um
frequentemente gerava situações de super ou quantitativo de 28.195 espelhos d’água, onde
subdimensionamento. foram considerados açudes e lagoas de, no
Com o desenvolvimento cintífico e melhor mínimo, 0,3 ha. Estima-se que grande parte seja
entendimento dos processos, a engenharia de de espelhos d’água artificiais (barramentos).
barragens fez progressos significativos, Segundo Relatório Anual de Seguança de
propiciando a criação de métodos de Barragens de 2014, publicado pela Companhia
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de Gestão de Recursos Hídricos do estado do caminho para atingingir a quantificação.


Ceará (COGERH), das 149 barragens
monitoradas pela Companhia, 64 pertenciam ao 2 CONCEITO DE RISCO E CAMINHO
Departamento Nacional de Obras Contra as DA QUANTIFICAÇÃO
Secas (DNOCS). Já o Relatório Anual de
Segurança de Barragens de 2016 da Agência Risco é a característica de cada sistema que
Nacional de Águas ANA) reafirma o DNOCS reflete a possibilidade de falha do mesmo. De
como o maior proprietário de barragens de usos acordo com Gomes et al. (2016a), pode estar
múltiplos no Brasil. relacionado à incapacidade de os elementos do
Considerando a importância e a dimensão sistema exercer suas funções com a eficiência
dessas grandes obras hídricas e a necessidade de requerida, sendo representativo das incertezas
fiscalização e auxílio aos proprietários, a relacionadas ao processo de funcionamento do
Política Nacional de Segurança de Barragens sistema em questão e às influências e
(PNSB), Lei 12.334/2010, veio a salientar a consequências agregadas a essas incertezas.
relevância da execução de inspeções de rotina e Segundo a Stamatelatos (2011), uma
avaliações de segurança, visando a manutenção definição muito comum de risco consiste em
e preservação da barragem e de todos os seus representá-lo como um conjunto de três partes:
usos. os cenários, as probabilidades e as
O protocolo instaurado fornece uma avalição consequências. Essas partes, dependentes entre
de risco que gera um grau qualitativo (alto, si, configuram a estrutura que servirá de
médio, baixo) para o mesmo. A análise é alicerce para conceber um modelo do sistema a
baseada em critérios formais, de gestão e ser analisado com a representatividade
infraestrutura. Esse tipo amplo de avaliação, pertinente. A Figura 1 ilustra o conceito de
quando inserida na tomada de decisões Risco apresentado por Stamatelatos.
gerenciais, tanto pode diluir informações
importantes como salientar itens de pertinência
menor. Os critérios de hierarquização utilizados Risco
devem, portanto, facilitar a tomada de decisões
sem que haja prejuízo na representação da
realidade.
Uma forma de tornar essas análises mais
robustas é estabelecer um valor para o risco
através da quantificação baseada em uma
Cenários Probabilidades Consequências
abordagem probabilística. A quantificação atua,
portanto, no preenchimento e complementação
do conceito de risco, permitindo a
hierarquização dos casos a partir de um critério
embasado em probabilidades.
Tendo em vista a convivência constante das Todos os Probabilidade Consequências
barragens com o risco e a importância de criar cenários de ocorrência pertinentes a
um sistema que ajude a embasar e fomentar as geradosres de dos cenários de cenários de
decisões gerenciais que devem ser tomadas risco. risco. risco.
sobre a manutenção e preservação desses Figura 1. Ilustração do conceito de risco apresentado por
empreendimentos, este artigo propõe uma Stamatelatos (2011).
metodologia de análise quantitativa de risco em
barragens de terra utilizando a distribuição de O risco geotécnico tem atraído o interesse da
Weibull e conceitos de confiabilidade como comunidade geotécnica nos últimos anos, em
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razão da frequente ocorrência de desastres


naturais e em obras de Engenharia. Ao mesmo
tempo, também está crescendo o interesse do
público em geral sobre o tema, quando ingerem
aos projetistas a indicação de informações
quantitativas a respeito dos riscos relacionados
a terremotos, deslizamentos, falhas em
Figura 2. Caminho da quantificação do risco.
geoestruturas, etc (De Araújo, 2013).
Em se tratando de barragens, em especial as
A quantificação, como apresentado na Figura
barragens do semiárido brasileiro que são
2, funciona como um caminho que transporta o
submetidas anualmente a ciclos de carga e
risco para outra realidade de utilização. É
descarga devido as variações das estações, o
fundamental a utilização um “veículo” capaz de
risco está relacionado as falhas que se
percorrer o caminho e chegar ao final com uma
manifestam durante a operação e que podem
resposta satisfatória e realista. O entendimento
gerar situações de perigo a estrutura, inclusive a
sobre confiabilidade e a aplicação da
ruptura.
distribuição de Weibull foram utilizados como
Entre as causas mais comuns de acidentes
veículo para percorrer o caminho da
em barragens de terra está o piping (erosão
quantificação.
interna). De acordo com Caldeira (2008),
frequências mais elevadas de rupturas por
3 CONFIABILIDADE E DISTRIBUIÇÃO
piping através do corpo do aterro ocorreram em
DE WEIBULL
barragens com perfis com controle pouco
eficiente da percolação, salientando-se as
Sistemas de engenharia, componentes e
barragens de terra homogêneas (com frequência
estruturas não são perfeitos. Um projeto perfeito
de ruptura cinco vezes superior ao valor médio
é aquele que permanece operacional e atende
apresentado pelo conjunto de todas as
aos objetivos sem apresentar falhas durante um
barragens). Este tipo de anomalia pode causar
tempo pré-determinado de operação. Esta é a
grande prejuízo a infraestrutura do barramento,
visão determinística de um sistema de
comprometendo a estabilidade, o sistema de
engenharia. Esta é uma visão idealística,
drenagem interna (se houver) e a segurança
impraticável e economicamente inviável
como um todo da obra e da região a jusante.
(Modarres et al., 2017).
Considerando a gravidade da anomalia
A realidade é que existem várias incertezas
piping, é imperativo que haja constante
inseridas nos sistemas e estruturas de
monitoramento e avaliação do desenvolvimento
engenharia. Segundo De Araújo (2013), o
ou não da anomalia com o tempo. Nesse
julgamento subjetivo provoca o aparecimento
estágio, o risco pode atuar como uma
de erros sistemáticos, em decorrência das
ferramenta gerencial, denotando a probabilidade
tendenciosidades dos aparelhos de medida ou de
de ocorrência desse tipo de falha na barragem
procedimentos experimentais.
para o determinado período da sua vida útil.
Incertezas são mecanismos geradores de
Para isso, é preciso utilizar o risco como um
risco, pois as falhas nos sistemas geralmente são
indicador e não um conceito. A Figura 2 retrata
originadas a partir de incertezas inerentes a
uma analogia do caminho para a passagem do
operação. A compreensão e aceitação das
risco de conceito para parâmetro.
incertezas como parte componente dos sistemas
é determinante na minimização de seus esfeitos.
Como afirma Modarres et al. (2017), para
maximizar a performance de um sistema e a
eficiência do uso de recursos, é importante
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saber com que frequência as falhas podem fadiga de metais (Reis, T.C.S., 2017).
ocorrer. A confiabilidade pode ser usada na Para com Meyer (1983), a distribuição de
definição de um protocolo de previsão de falha. Weibull representa um modelo adequado para
Segundo Smith (2017), confiabilidade pode uma lei de falhas, sempre que o sistema for
ser definida como a probabilidade de que um composto de vários componentes e a falha seja
item executará uma função requerida, em essencialmente devida à "mais grave"
condições estabelecidas, por um determinado imperfeição ou irregularidade dentre um grande
período de tempo. De acordo com Gomes et al. número de imperfeições do sistema.
(2016b), o conceito de confiabilidade está De acordo com Carnaúba e Sellitto (2013), a
relacionado à capacidade de um produto ou distribuição de Weibull é uma expressão
sistema manter-se funcional durante o tempo semiempírica muito utilizada em engenharia de
em que esteja operando, podendo ser manutenção, que modela adequadamente uma
considerado complementar ao conceito risco. ampla variedade de situações, em que unidades
Como relata Smith (2017), ao longo da apresentam funções de risco distintas. Segundo
história da engenharia, a melhoria da Reis (2017), ainda hoje, a distribuição Weibull
confiabilidade (também chamada de é uma das mais utilizadas distribuições na área
crescimento da confiabilidade), surgiu como de sobrevivência e confiabilidade.
uma consequência natural das análises de falha. Associando a confiabilidade à distribuição de
Para Modarres et al. (2017), quando os Weibull, o modelo estabelecido é expresso
mecanismos de falha são conhecidos e pelas seguintes equações:
devidamente considerados no modelo, na
 −1
manufatura, na construção, na produção e na    t − t 0    t − t0  
operação, seus impactos ou níveis de ocorrêcia f (t ) =    e −    (1)
podem ser minimizados, ou o sistema pode ser          
 −1
protegido através de cuidadosas análises    t − t 0 
econômicas e de engenharia. h(t ) =    (2)
    
A maioria dos mecanismos de falha, suas
  t − t0  
R(t ) = e − 
interações e processos de degradação, em
  (3)
particular, geralmente não são completamente     
compreendidos. Portanto, a predição de falhas
envolve incertezas sendo então inerente a um F (t ) = 1 − R (t ) (4)
problema probabilístico. Assim, análises de
confiabilidade, seja usando o processo físico de Em que:  – Parâmetro de forma ou
falha ou o histórico de ocorrências, é um intesidade;  – Parâmetro de escala ou vida
processo probabilístico (Modarres et al., 2017). característica; t – tempo até a falha; t0 – tempo
Consonante ao que afirma Gomes (2016), isento de falha; f(t) – função densidade
quando associados ao risco, os conceitos de probabilidade da distribuição de Weibull; h(t) –
confiabilidade tornam-se uma importante taxa de falha da distribuição de Weibull; R(t) –
ferramenta de quantificação, se subsidiados por função de confiabilidade da distribuição de
expressões advindas de distribuições de Weibull; F(t) – função densidade acumulada da
probabilidade. Neste trabalho, foi utilizada no distribuição de Weibull.
desenvolvimento da metodologia a distribuição A escolha da distribuição de Weibull está
de Weibull. diretamente relacionada a capacidade de moldar
Proposta por Weibull (1939, 1951, 1954) a a função a diferentes situações alterando seus
distribuição que leva o nome de seu autor, se parâmetros. A correta definição dos parâmetros
desenvolveu inicialmente em estudos de para aplicação da metodologia configura a
engenharia envolvendo tempo de falha por tarefa mais importante do processo, tendo em
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vista sua relevância no resultado final da 4.2 Definição dos parâmetros da distribuição
análise. de Weibull
Este trabalho apresenta uma metodologia
para quantificação de risco em barragens de A utilização da distribuição de Weibull
terra, considerando o desenvolvimento de justifica-se pela adequação da distribuição a
piping, que utilzia a confiabilidade associada a diferentes situações quando alterados seus
distribuição de Weibull. Essa metodologia pode parâmetros. Os parâmetros de forma () e o
ser utilzada no proccesso de hierarquizção e parâmetro de escala () são responsáveis diretos
tomada de decisões referentes ao risco. pelo comporamento da função, sendo
determinantes na forma como ocorre o
4 ESTUDO DE CASO desenvolvimento apresentado na função de
risco.
4.1 Casos selecionados para aplicação da Os parâmetros foram definidos
metodologia arbitrariamente de forma a se adequarem ao
Para aplicação da metodologia foram período da vida útil que as barragen se
selecionados três casos de barragens de médio encontram e a respectiva vulnerabilidade do
porte, segundo classificação da Resolução 143 seus materia constituintes ao desenvolvimento
(R143), localizadas nos sistemas hidrográficos de piping. A Tabela 2 apresenta a metodologia
das bacias do Rio Acaraú (Acaraú-Mirim e de determinação dos parâmetros utilizada.
Forquilha) e Coreaú (Premuoca), região norte
do estado do Ceará, ilustradas na Figura 3. Tabela 2. Definição dos parâmetros da distribuição de
Weibull

0,90 0,75 0,50
Pior cenário de Cenário de risco Melhor cenário de
risco médio risco

1 10 50
Se a barragem Se a barragem Se a barragem
possuir menos de estiver com idade possuir mais de 50
10 anos de operação entre 10 e 50 anos anos de operação
t
Idade a qual se deseja avaliar o risco
t0
Definido de acordo com o ínicio do desenvolvimento das falhas

Foi proposto como o pior cenário a situação


onde a barragem não possui plano de inspeção e
Figura 3. Localização das barragens selecionadas para manutenção periódica, não possui indícios de
aplicação da metodologia. sistema de drenagem interna funcional e o
maciço é constituído de material fino pouco
As características técnicas das barragens e o coesivo, sendo considerado mais susceptível ao
material constituinte de do maciço são desenvolvimento de piping. Foi estabelecida
apresentados na Tabela 1. para a situação de risco médio para a barragem
que não possui plano de inspeção e manutenção
Tabela 1. Resumo das características técnicas das
periódica, não possui indícios de sistema de
barragens selecionadas para aplicação da metodologia.
Altura Tipo drenagem interna funcional e o maciço é
Acumulação Idade
Barragem Máxima
(hm³) (anos)
de constituído de solo de graduação média com
(m) Solo
Acaraú-Mirim 20,0 52,0 111 SC alguma coesão. O melhor cenário foi definido
Forquilha 26,3 51,2 97 SC
para a barragem que possui plano de inspeção
Premuoca 15,4 5,2 37 SM
manutenção, sistema de drenagem interna
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funcional e um maciço feito com solo de boa Tabela 4. Resultados da aplicação do modelo de
graduação e coesão. Se houverem barragens que confiabilidade para a distribuição de Weibull.
Barragem t h(t) R(t) F(t) %
obtiverem o mesmo risco de piping, a
prioridade de intervenção deve ser definida Acaraú-Mirim 111,0 0,0143 0,3132 68,68%

considerando o cenário e o dano potencial Forquilha 97,0 0,0152 0,3849 61,51%

associado de cada barragem. Premuoca


3,0 0,8397 0,1547 84,53%

Os valores a serem aplicados nas equações 37,0 0,0792 0,0421 95,79%


de (1) a (4) para definição do risco são
apresentados na Tabela 3. Como relatado, a barragem Premuoca
apresentou sinais visíveis de desenvolvimento
Tabela 3. Parâmetros da distribuição de Weibull para
de piping em seu terceiro ano de operação,
aplicação da metodologia.
Acaraú-Mirim Forquilha Premuoca
informação que valida o risco de 84,53%
0,75 0,75 0,90 descrito na aplicação da metodologia para o
Foi assumida uma hierarquia considerando a desenvolvimento de piping. Ainda em relação a
susceptibilidade do solo constituinte do maciço a formação
 barragem Premuoca destaca-se o risco de
de piping (SM é mais susceptível que o SC). Obs.: Destaca-
se que há ocupação imediatamente a jusante da barragem desenvolvimento de piping de 95,79% na idade
Acaraú-Mirim.
50 50 1/10
atual, muito superior aos das barragens Acaraú-
Valores arbitrados para adequação ao período analisado da Mirim e Forquilha, 68,68% e 61,51%
vida útil da barragem. Obs.: O valor de  igual a 1, na

barragem Premuoca, é utilizado somente na simulação do
respectivamente.
risco em seu terceiro ano de operação, período com relatos Uma das outras vantagens do modelo está na
de sinais de desenvolvimento de piping.
111 97 3/37
previsão para o acompanhamento do
Valores assumidos de acordo com o período da vida útil a desenvolvimento da anomalia. Substituindo-se
t
ser analisado em cada barragem. Obs.: O valor de t igual a 3, os valores de “t” nas equações de (1) a (4) com
na barragem Premuoca, é utilizado somente na simulação do
risco em seu terceiro ano de operação, período com relatos as respectivas idades das barragens no ano de
de sinais de desenvolvimento de piping. 2023, é possível prever o risco de
1 50 50
Como são barragens mais velhas, com desenvolvimento de piping para esse período. A
Desenvolvimento
t0
de piping após a
materiais mais consolidados, foi Figura 4 apresenta um gráfico com as previsões
arbitrado um valor para t0 um pouco
primeira cheia.
mais conservador. de risco para o ano de 2023 (5 anos a frente).

Foi considerado que nenhuma das barragens


possui plano de inspeção e manutenção para
tentar retratar o pior cenário de cada barragem.
A barragem Premuoca foi simulada em dois
períodos de tempo para validar o modelo, pois
há relatos de sinais de desenvolvimento de
piping nessa barragem em seu terceiro ano de
operação.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 4. Previsão do desenvolvimento de piping para o
Aplicando os parâmetros apresetados na ano de 2023.
Tabela 3 ao modelo de confiabilidade para a
distribuição de Weibull, expresso nas equações A Figura 4 demonstra o comportmento
de (1) a (4), foram obtidos os resultados, esperado no desenvolvimento do risco com o
apresentados na Tabela 4, para o risco de tempo. Considerando que não hajam eventos
desenvolvimento de piping nas barragens. catastróficos e intervenções corretivas nas
anomalias das barragens , é esperado que o risco
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cresça mantendo a coerência com o diagnóstico AGRADECIMENTOS


prévio. No caso das barragens analisadas, a
barragem Premuoca permance como caso mais Agradecemos a Coordenação de
grave na previsão do risco de desenvolvimento Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
de piping para o ano de 2023, apresentando uma (CAPES), a Universidade Federal do Ceará
probabilidade de 97,20 %. Essa aplicação (UFC) e a Universidade Estadual Vale do
mostra que, se bem utilizada, essa metodologia Acaraú (UVA) pelo suporte no
pode colaborar diretamente na análise e desenvolvimento da pesquisa.
gerenciamento de risco de barragens de terra.
REFERÊNCIAS
6 CONCLUSÕES
Agência Nacional de Águas. Relatório Anual de
A correta apreciação do risco faz grande Segurança de Barragens 2016. 225p. ANA, Brasília,
2017.
diferença nas informações pertinentes ao Brasil. Lei Federal nº 12.334. Presidência da República.
gerenciamento de barragens. A barragem Brasília: D.O.U. 09.20.2010.
Premuoca, mais nova dentre os casos Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional
analisados, apresenta o pior cenário em termos de recursos Hídricos. Resolução N° 143. Brasília:
de desenvolvimento de piping no maciço. D.O.U. 11.17.2012.
Caldeira, L.M.M.S. Análises de riscos em geotecnia:
As barragens Acaraú-Mirim e Forquilha aplicação a barragens de aterro. 248 f. Tese
podem ser consideradas mais consolidadas, pois (Doutorado) - Universidade Técnica de Lisboa -
apresentam idades avançadas, tendo resistido Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2008.
bem a períodos de cheias seguidos de grandes Carnaúba, E.R.; Sellitto, M.A. Análise de confiabilidade
períodos de estiagem. Entre as duas, a barragem e evolução de uma máquina de envase de leite UHT
ao longo da curva da banheira. Revista Liberato,
Acaraú-Mirim apresenta risco maior devido à Novo Hamburgo, vol. 14, nº 22, pp. 171-185, jul./dez,
presença de ocupação imediatamente a jusante, 2013.
além de estar em idade mais avançada. Companhia de Gestão de Recursos Hídricos. Relatório
O modelo de confiabilidade para a Anual de Segurança de Barragens – Risco e
Inspeções. 428p.COGERH, Fortaleza, 2014.
distribuição de Weibull mostrou-se como uma
De Araújo, F.R. Risco geotécnico: uma abordagem
ferramenta que pode trazer grandes benefícios estocástica para análise da estabilidade de taludes da
no processo gerencial de tomada de decisões. barragem olho d’água no estado do Ceará. Dissertação
Sua adaptação à representação do (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade
desenvolvimento de piping em barragens de Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil. 2013.
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos.
terra, anomalia causadora da grande maioria de
Funceme mapeia espelhos d’água no CE com mais
acidentes em barragens desse tipo, gera detalhamento e precisão. Disponível em:
confiança sobre o modelo. <http://www.funceme.br/index.php/comunicacao/notic
Quando bem municiada de informações, a ias/744-funceme-mapeia-espelhos-
definição dos parâmetros pode ser melhor d%E2%80%99%C3%A1gua-no-ce-com-mais-
detalhamento-e-precis%C3%A3o#site> Acesso em:
executada, propiciando uma melhor adequação
30 de março de 2018.
do modelo na representação do cenário real. A Gomes, F.H.S; Furtado, F.A.; Malveira, V.T.C. Avaliação
alternativa de ponderar sobre a susceptibilidade quantitativa de risco em barragens do semiárido
de determinado tipo de solo desenvolver uma utilizando a distribuição de Weibull. Revista
anomalia é promissora e deve ser melhor Fundações e Obras Geotécnicas, nº 65, fev. 2016a.
______. Utilização da distribuição de Weibull para
estudada e compreendida. quantificação de risco em barragens. 15° Congresso
Nacional de Geotecnia, Porto, Portugal, 2016b.
Gomes, F.H.S. Desempenho e segurança em barragens do
semiárido utilizando a distribuição de Weibull.
Monografia do curso de Engenharia Civil –
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA),
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
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COMPARAÇÃO DOS VALORES DE EFICIÊNCIA DE


ATERROS ESTAQUEADOS OBTIDOS ATRAVÉS DE
MÉTODOS PREDITIVOS E MODELAGEM NUMÉRICA
María Emilia Duarte
FURG, Rio Grande, Brasil, maria.duarte@furg.br

Diego de Freitas Fagundes


FURG, Rio Grande, Brasil, dffagundes@furg.br

RESUMO: A prática de engenharia dispõe de diversas soluções para a construção de aterro sobre
solos moles em obras de infraestrutura como rodovias, portos, canais, e aterros para construções em
geral como galpões, tanques, entre outros. Dessa forma a técnica de aterro estruturado é uma
solução bastante utilizada no Brasil e no mundo, em terrenos onde a alta compressibilidade ou a
baixa capacidade de suporte não são adequadas para suportar os carregamentos da construção.
Apesar das inúmeras vantagens desta técnica, os mecanismos de transferência de carga e
deformações que ocorrem no aterro ainda não são completamente entendidos e por este motivo os
resultados obtidos através dos diversos métodos analíticos encontrados na literatura são por vezes
distintos. Assim, este trabalho apresenta uma avaliação dos métodos analíticos propostos pelas
principais normas e recomendações internacionais (HEWLETT e RANDOLPH,1988, ZAESKE,
2001, VAN EEKELEN, 2013). Para tal, uma análise comparativa foi realizada entre os valores
previstos com os métodos analítico e os resultados obtidos em modelo numérico executado com o
programa de elementos finitos Plaxis 2D. O objetivo desta comparação foi de validar os métodos
analíticos que possam prever o comportamento mais próximo do encontrado em construções deste
tipo, acarretando em projetos com melhor desempenho e menor custo. As configurações
geométricas estudadas utilizaram parâmetros que contemplam diversas características de obras
executadas no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: aterros estaqueados, modelagem numérica, altura crítica, Plaxis 2D.

1 INTRODUÇÃO estacas (ou colunas de material rígido, e.g.,


concreto, madeira, deep soil mixing, entre
Em terrenos onde a alta compressibilidade e outros), que atravessam a camada de solo mole,
baixa capacidade de suporte não são adequadas são apoiadas em um substrato de maior
para suportar o carregamento de aterro para resistência. A utilização de um reforço de
construção de rodovias, pontes, e construções geossintético no topo das estacas melhora os
em geral, a técnica de aterros estruturados é mecanismos de transferência de carga com
uma solução bastante viável. Uma vantagem, adição do efeito de membrana.
em relação a métodos construtivos A complexidade do comportamento do
convencionais é que o aterro pode ser aterro estruturado, no qual interagem materiais
construído logo após a cravação das estacas, com diferentes propriedades e comportamentos,
sem a necessidade de espera para a tais como o aterro, o solo mole, a estaca, o
estabilização dos recalques. capitel e o geossintético, faz com que o tema
Neste método construtivo o carregamento do seja amplamente estudado pela literatura
aterro é transferido para as estacas pelo efeito atualmente. Os mecanismos de transferência de
de arqueamento (TERZAGHI, 1936) e estas carga e deformações que ocorrem no aterro
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ainda não são completamente entendidos e por maior área, consegue-se um maior espaçamento
este motivo os resultados obtidos são por vezes das estacas mantendo a mesma taxa de
distintos. cobertura.
Este trabalho visa fazer um estudo dos
métodos analíticos propostos por HEWLETT e (2)
RANDOLPH (1988) utilizado na norma inglesa
BS8006 (2010), método de ZAESKE (2001),
A Figura 2 apresenta as parcelas de carga
recomendado pela norma alemã da EBGEO
atuantes em uma estaca dentro de sua respectiva
(2011), e um método mais recente, proposto por
célula unitária. A carga do aterro é definida
VAN EEKELEN (2013). Esses modelos
como o produto do peso específico do solo pela
analíticos foram utilizados como referência na
espessura da camada de aterro, γ∙H. Sendo
obtenção dos parâmetros altura crítica (Hc) e
assim, a força total Q atuando na área A pode
Eficiência (E) através de modelos numérico do
ser obtida por meio do produto da carga total
programa Plaxis 2D. Para tal foram criados
pela área de influência de uma estaca e esta
diversos modelos de diferentes configurações
força pode ser também subdividida em força
geométricas (C1, C2, C3, C4),os quais contam
atuante no solo mole e força atuante sobre a
com espaçamentos de estacas, diâmetros e
estaca.
alturas diferentes.
Célula unitária
s q
d
Q /2 Q Q/
2 GEOMETRIA DOS ATERROS AE s'
ESTAQUEADOS s
AS
s
As estacas de aterros estruturado podem ser s-d
d
d
posicionadas no solo mole em malha quadrada s/2
ou triangular. A partir desta configuração, cada (a) (b)
estaca recebe igualmente uma parcela das
cargas do aterro e define-se assim a área total de Figura 1. Configuração geométrica, vista em planta de
cada célula unitária (A). A área total se dá pela uma malha quadrada.
soma da área da estaca (Ae) e a área de solo
q
compressível (As) de uma célula unitária. Na Célula unitária
q - carga do aterro
at
Figura 1 estão identificados outros parâmetros d
s q
Q /2 q - sobrecarga
geométricos como largura do capitel quadrado A Q Q /2
s' E Q - força no solo
s
(a), diâmetro do capitel (d), espaçamento centro s Q - força na estaca
p

a centro (s), espaçamento entre a diagonal deA S


s d

estacas (sd) e a distância da metade do vão livre s-d d


s/2
da distância diagonal entre estacas (s’). A
atribuição do tamanho equivalente de capitel (a) (b)
quadrado para circular é dado por:
Figura 2. Carregamentos atuantes sobre a área de
influência de uma estaca.
√ (1)
Neste trabalho serão estudadas diversas
A taxa de cobertura (α) representa a configurações de aterros estaqueados
porcentagem da área da célula unitária de solo considerando a execução de uma malha
mole que é substituída pela estaca e é definida quadrada e parâmetros geométricos comumente
pela Equação 2. Para aterros estaqueados com utilizados na pratica geotécnica nacional. A
capitéis a área Ae é mesma a área do capitel, e Tabela 1 apresenta as configurações
por consequência adotando-se capitéis com geométricas dos quatro modelos analisados.
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Tabela 1. Configuração geométrica. A teoria do arqueamento proposta por


H s d s-d α sd TERZAGHI (1943) indica que o equilíbrio de
(m) (m) (m) (m) (%) uma fatia de solo é mantido pela camada de
1,5
solo abaixo da fatia e pelo solo nas laterais da
C1 1,75 2,00 0,80 1,20 12,57 2,83
2,00 mesma. A tensão atuante sobre o solo sobre o
alçapão (vão livre) pode ser determinada
1,5 fazendo o uso do ângulo de atrito (φ), coesão
C2 1,75 2,50 0,80 1,70 8,04 3,54 (c), do coeficiente de empuxo no repouso ( ).
2,00 Em um aterro estaqueado, define-se como
eficiência do sistema a percentagem da carga
1,50
C3 1,75 2,00 1,00 1,00 19,63 2,83 total proveniente do aterro e da sobrecarga que
2,00 é suportada pelas estacas (Figura 2). Ou seja:

1,5 (3)
C4
1,75 3,00 0,80 2,20 5,59 4,24
2,00
Assim, o aterro estruturado terá E = 100%
quando a carga total de uma célula unitária
3 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA (Figura 1) for suportada por sua respectiva
DE CARGA estaca.
Uma maneira de melhorar a eficiência do
Um dos primeiros estudos realizados sobre o mecanismo de transferência de carga é através
efeito de arqueamento foi o modelo apresentado da inserção de um reforço geossintético no topo
por TERZAGHI (1936) que consistia em uma das estacas que cria um efeito de membrana
plataforma com um alçapão e uma balança (VAN EEKELEN et al., 2012a, b). O
adaptada que permitia a medição da carga geossintético, além de transferir o carregamento
atuante sobre o mesmo. Ao colocar areia acima vertical não suportado pelo arqueamento,
da plataforma que contem a faixa de alçapão, também absorve as forças horizontais que
mostrou que, quando o alçapão se movia, a atuam para fora do aterro. Os mecanismos de
tensão vertical no mesmo decrescia, enquanto transferência de carga em um aterro estruturado
nas laterais estacionárias aumentava. estão apresentados na Figura 4.

Figura 4. Componentes de um aterro estruturado e


mecanismos de transferência de carga.

VAN EEKELEN et al. (2012a, b, 2013,


Figura 3. Esquema da teoria do arqueamento de 2015) define que a grande maioria dos métodos
TERZAGHI (1943). para o dimensionamento de aterro estruturado
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com geossintético desenvolvem seus cálculos


baseados em duas etapas, para estimativa de
dois efeitos: arqueamento (Etapa 1) e
membrana (Etapa 2), apresentados na Figura 5.
A “Etapa 1” nada mais é do que o cálculo do
arqueamento do aterro, ou seja, a estimativa da
eficiência do sistema. A carga (A) é a parcela
da carga total (γH + q) que é transferida para as
estacas através do arqueamento do solo. A
parcela da carga não suportada pelo
arqueamento, ou carga residual, é definida
como (B + C) que atua sobre o solo mole e o
geossintético.
Na Etapa 2, considera-se que a carga residual
(B + C) é aplicada sobre uma faixa de
geossintético entre duas estacas adjacentes,
tendo esta faixa a largura da estaca (ou capitel).
Esta concentração de tensões sobre uma faixa
entre as estacas só ocorre em aterros com
geossintético (VAN EEKELEN et al. 2014).
Os valores de eficiência (assim como
desenvolvimento completo do arqueamento)
são função direta da configuração geométrica Figura 5 Dimensionamento de aterros estruturados em
do aterro, altura do aterro H e taxa de cobertura duas etapas: (Etapa 1) cálculo do arqueamento e das
α. Desta forma a definição da altura crítica do tensões residuais; (Etapa 2) Comportamento tensão
aterro é de suma importância para maximizar o deformação do geossintético devido ao efeito de
membrana (adaptado de VAN EEKELEN et al. 2014).
desenvolvimento do arqueamento no solo e a
eficiência do aterro estruturado.
McGuire et al. (2012) define a altura crítica
4. MÉTODOS ANALÍTICOS PARA
(Hc) como a altura a partir da qual não se
PREVISÃO DA EFICIÊNCIA
apresentam valores mensuráveis de recalque
diferencial no topo do aterro em função dos
4.1 BS8006 (2010) e o Método de HEWLETT
recalque do solo de fundação. São diversas as
E RANDOLPH (1988)
propostas para cálculo da altura crítica em
função do espaçamento centro a centro das
O método de HEWLETT E RANDOLPH
estacas (s) e a dimensão do lado do capitel
(1988) é um dos métodos utilizados pela norma
circular (a). As referências analisadas neste
Inglesa BS8006 (2010) para estimativa da
trabalho estão apresentadas na Tabela 2.
eficiência em aterros estaqueados. Este método
foi desenvolvido para o dimensionamento de
Tabela 2. Referências de alturas críticas utilizadas. aterros estruturados sem reforço de
Referência Hc (m) geossintético, porém os autores apresentam a
ZAESKE (2011) 0,8 (sd - d) possibilidade de incluir reforço considerando
que o mesmo atue suportando toda a parcela da
HEWLETT E RANDOLPH (2010) 0,7 (s-a) carga não suportada pelo efeito de arqueamento.
VAN EEKELEN et al. (2013) 0,5 (sd) O método considera a ocorrência de domos que
transmitem grande parte do carregamento do
MCGUIRE et al. (2012) 1,15s' + 1,44d aterro para as estacas e o subsolo é carregado
somente pelo material de aterro abaixo dos
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domos. Os domos são considerados superfície do solo mole de fundação.


semicirculares e de espessura uniforme igual à Considerando o equilíbrio de forças vertical
metade da largura do capitel. para um elemento no centro do domo de
arqueamento é possível estimar a tensão vertical
que acontece no solo mole. O método de
ZAESKE et al. (2001) é utilizado pelas
recomendações alemãs da EBGEO (2011).

Figura 6. Domos e o equilíbrio limite no topo da coroa e


sobre o capitel proposto por HEWLETT e RANDOLPH.

Por meio deste método é possível estimar,


em função da altura do aterro (H), do peso
Figura 7. Equilíbrio limite dos domos não concêntricos
específico do aterro (γ), da largura dos capitéis do modelo de ZAESKE et al. (2001) e KEMPFERT et al.
quadrados (a), do espaçamento entre as estacas (2004).
adjacentes (s), do ângulo de atrito do solo usado
no aterro (φ), as parcelas do carregamento 4.3 CUR 226 (2015) E O MÉTODO DE VAN
imposto pelo aterro que são direcionadas às EEKELEN ET AL. (2013)
estacas e ao vão entre os capitéis. Neste
método, a eficiência deve ser tomada como a Um dos métodos mais recentes para
menor entre os valores para o equilíbrio limite dimensionamento de aterros estruturados
de ruptura (Figura 6) no centro do domo Ecoroa presentes na literatura é o de VAN EEKELEN
ou sobre o topo do capitel, Ecap. et al. (2013). Este método, baseado nos métodos
anteriores de HEWLETT e RANDOLPH
4.2 EBGEO (2011) E O MÉTODO DE (1988) e ZAESKE (2001), apresenta um
ZAESKE (2001) modelo de equilíbrio limite adotando o conceito
de que o arqueamento do solo ocorre por meio
O método de ZAESKE (2001), validado com de arcos concêntricos.
experimentos de laboratório e campo, admite
que o efeito de arqueamento no aterro é
formado por domos hemisféricos ocorrendo
entre estacas. Esta concepção é semelhante e
baseada na teoria de um domo único de
espessura fixa, previamente adotada por
HEWLETT e RANDOLPH (1988). A diferença
na dedução de ZAESKE et al. (2001) e
KEMPFERT et al. (2004) é que os domos são
formados arcos-múltiplos não concêntricos. O
arco mais alto com formato semiesférico tem
um raio igual a 0,5sd. No interior deste arco
superior, ocorre uma série de outros arcos com Figura 8. Componentes de um aterro estruturado e
raio superior a 0,5sd até um arco com raio mecanismos de transferência de carga VAN EEKELEN
infinito representando o arco mais baixo. Este et al. (2013).
arco mais baixo por sua vez, tangencia a
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O método considera a presença do geossintético


no desenvolvimento do arqueamento do solo.
Assim, à medida que o solo mole e o
geossintético deformam, além dos arcos que
ocorrem entre as estacas, uma série de arcos
concêntricos também se desenvolvem sobre o
geossintético. O método de VAN EEKELEN et
al. (2013) foi recentemente incluído nas
recomendações holandesas do CUR226 (2015).

5. MODELAGEM NUMÉRICA

O PLAXIS é um programa de elementos finitos


desenvolvido especificamente para a análise de
projetos de engenharia geotécnica. Com ele
foram realizadas análises bidimensionais no
estado de deformação axissimétrico. Os
problemas axissimétricos são particularizações
Figura 9 (a) Geometria do modelo utilizado no Plaxis 2D.
do estado plano de deformações em (b) Malha do modelo.
coordenadas cilíndricas. Neste caso, existe um
eixo de simetria axial em torno do eixo y
(Figura 9 a). Tabela 3. Parâmetros utilizados.
O programa permite um procedimento de Solo Parâmetros
geração de malha automática, no qual a Modelo: Mohr Coulomb Drained
geometria é dividida na forma de elementos  18(kN/m3)
básicos triangulares isoparamétricos de 15 nós c' 1(kPa)
Aterro
na sua versão 2D (Figura 9 b). ' 30º
As geogrelhas são elementos lineares esbeltos E’ 15000 (kN/m²)
que trabalham, apenas, à tração. O único
Modelo:Mohr Coulomb Undrained
parâmetro requerido na modelagem deste
 14(kN/m3)
elemento é a rigidez axial elástica (EA). Solo
c' 1(kPa)
Nas análises de elementos finitos Mole
' 30º
convencionais o deslocamento relativo entre Eu 1000 (kN/m²)
dois elementos não é possível, então, para
modelar a interação entre as estacas, os capitéis Modelo: Elástico Linear
e o solo o programa possui um elemento Estaca Não-poroso
chamado interface. E 21E9 (kN/m²)
Nas seguintes tabelas estão representadas as
Material Elástico
configurações utilizadas nos modelos Geogrelha
EA 400 (kN/m)
numéricos do Plaxis 2D, a Tabela 3 mostra os
parâmetros de cada material utilizado nos
modelos numéricos enquanto que a Tabela 4 Tabela 4. Características das interfaces utilizadas.
apresenta as características das interfaces Interface Contato EA(kPa) (º)
utilizadas no programa. I1 Geossintético/aterro 100 30
I2 Estaca/aterro 100 0
I3 Geossintético/estaca 120000 30
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7. RESULTADOS

Neste item serão apresentados os resultados da


eficiência obtidos através dos modelos
numéricos e os valores previstos através dos
modelos analíticos propostos neste trabalho.
Conforme citado anteriormente, aterros que
possuem altura superiores à altura crítica Hc,
maximizam o efeito de arqueamento. Desta
forma, a Tabela 5 mostra os valores de altura
crítica obtidos através das equações de
diferentes autores para as quatro configurações
estudadas.

Tabela 5. Valores das alturas críticas para as diferentes Figura 10 Visualização das tensões obtidas no Plaxis.
configurações estudadas.
Altura crítica, Hc
Zaeske Van Eekelen Mcguire H&R
C1 1,62 m 1,41 m 2,32 m 0,90 m
C2 2,19 m 1,77 m 2,72 m 1,25 m
C3 1,46 m 1,41 m 2,49 m 0,78 m
C4 2,75 m 2,12 m 3,13 m 1,60 m

A Figura 10 apresenta os valores das tensões


verticais desenvolvidas no modelo numérico
axissimétrico do Plaxis 2D (configuração C3 H
2,0 m) A Figura 10 mostra que após o
adensamento da camada de solo mole as tensões
verticais se concentram no topo da estaca e
reduzem na superfície do solo mole
evidenciando a ocorrência do efeito de Figura 11. Gráfico da Eficiência em função da altura do
arqueamento do aterro. Este comportamento foi modelo C1: s = 2,0 m, d = 0,8 m e α = 12,57%.
observado em todos os modelos estudados. A
concentração de tensões na estaca é maior para
maiores alturas de aterro e menores distâncias
entre capitéis (s-d). Os modelos numéricos
apresentam de maneira geral um
comportamento semelhante com o que é
proposto na literatura atual sobre o tema.
A comparação entre os valores de eficiência
previstos através dos de métodos analíticos e os
resultados dos modelos numéricos são
apresentados nas Figuras 11 a 15. O
comportamento destes valores de eficiência em
função da altura do aterro nas Configurações 1,
2 e 3 são mostrados nas Figuras 11, 12 e 13
respectivamente. Figura 12. Gráfico da Eficiência em função da altura do
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modelo C2: s = 2,5 m, d = 0,8 m e α = 8,04%. Nota-se que o aumento do vão-livre acarreta
em uma significativa redução dos valores de
eficiência (mantidos os valores de H fixos).
Nestas Figuras também são confirmadas as
tendências encontradas nas análises
comparativas entre os métodos analíticos e
métodos numéricos supracitados.

Figura 13. Gráfico da Eficiência em função da altura do


modelo C3: s = 2,0 m, d = 1,0 m e α = 19,63%.

Conforme esperado os valores de eficiência


E aumentam com o aumento da altura do aterro
para todas as configurações (Figuras 11,12 e
13). Observa-se que para valores de H
superiores à altura crítica, os valores de
eficiência têm um aumento mais moderado em Figura 14. Gráfico da Eficiência em função do vão livre
comparação às variações para alturas abaixo da para altura de aterro de 1,75m.
crítica. Comparando modelos com mesma
altura, observa-se que os maiores valores de
eficiência são obtidos para as maiores taxas de
cobertura α.
Para as configurações com o mesmo
espaçamento s (Figuras 11 e 13), quando
avaliando modelos com a mesma altura, os
valores de E são maiores para a configuração
com o maior diâmetro do capitel d.
Para todas as configurações analisadas os
valores de E previstos pelo método Van
Eekelen são sempre superiores aos demais
métodos utilizados. Por outro lado, o método de
H&R sempre apresenta os menores valores de E
em função do aumento de H. O método de
Zaeske foi o modelo que previu valores de E
mais próximo dos resultados obtidos pelo Figura 15. Gráfico da Eficiência em função do vão livre
modelo numérico do Plaxis 2D para todas as para altura de aterro de 2,0m.
configurações (Figuras de 11 a 15).
As Figuras 14 e 15 apresentam os valores da 8. CONCLUSÕES
eficiência E em função do vão livre s-d entre
estacas para modelos com alturas de aterro de O presente trabalho apresenta uma análise dos
1,75 e 2,0 m, respectivamente. mecanismos de transferência de carga que
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ocorrem em aterro estaqueados através da do aterro, tração no reforço do geossintético,


observação do comportamento do efeito de entre outros.
arqueamento que ocorre nos mesmos. Para tal,
os valores de eficiência previsto pelos métodos
analíticos propostos nas principais normas e REFERÊNCIAS
recomendações da literatura foram confrontados
com resultados obtidos através de modelos BRITISH STANDARD, BS 8006-1. Code of Practice
numéricos utilizando a ferramenta forStrengthened/Reinforced Soils and Others Fills,
British Standard Institution, ISBN 978-0-580-53842-
computacional Plaxis 2D. 12010.
Os resultados encontrados tanto para os CUR 226 (2010). Design Guideline Piled Embankments.
métodos preditivos quanto para os modelos The Netherlands
numéricos mostraram que os valores de EBGEO. “Recommendations for Design and Analysis of
eficiência E aumentam com o aumento da altura Earth Structures using Geosynthetic Reinforcements –
EBGEO”. John Wiley & Sons. ISBN 978-3-
do aterro H, diâmetro da estaca d, da taxa de 43302983-1 and digital in English ISBN 978-3-433-
cobertura α e a redução do vão-livre s-d. 60093-1.2011.
Para todas as configurações analisadas os HEWLETT, W.J., RANDOLPH, M.F. “Analysis of piled
valores de E previstos pelo método van Eekelen embankment”. Ground Engineering, v. 21, n. 3, pp.
apresentaram-se superiores aos demais métodos 12–18. 1988.
MCGUIRE, M. P. “Critical height and surface
utilizados e aos resultados dos modelos deformation of column-supported embankments.”
numéricos. Os valores de E superestimados com Ph.D. Thesis, Virginia Polytechnic Institute and State
este método podem acarretam em valores de University, Blacksburg. U.S.A. 2011.
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Ao contrário do encontrado para o método Harvard University, Cambridge, Massachusetts.
de van Eekelen, o método de H&R apresentou U.S.A. 1936.
os menores valores de E previsto dentre os VAN EEKELEN, S. J. M., BEZUIJEN, A., VAN TOL,
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métodos analisados. Desta forma, pode-se dizer embankments”. Geotextiles and Geomembranes, v.
que este é um método mais conservador e 39, pp. 78– 102. 2013.
favorável à segurança, porém pode acarretar em VAN EEKELEN, S. J. M., BEZUIJEN, A., LODDER, H.
projetos com maiores custos em sua execução. J., VAN TOL, A. F. “Model experiments on piled
Por fim, o método de Zaeske que apresentou embankments. Part I”. Geotextiles and
Geomembranes, v. 32, pp. 69–81. 2012a.
uma maior convergência com os valores obtidos VAN EEKELEN, S. J. M., BEZUIJEN, A., LODDER,
no Plaxis 2D em todas as análises feitas. H. J., VAN TOL, A. F. “Model experiments on piled
Considerando que os valores numéricos embankments. Part II”. Geotextiles and
apresentem resultados mais próximos do Geomembranes, v. 32, pp. 82–94. 2012b.
comportamento real encontrado em campo, ZAESKE, D. “Zur Wirkungsweise von unbewehrten und
bewehrten mineralischen Tragschichten ber
pode-se dizer que o dimensionamento de aterros pfahlartigen Gran dungselementen”. Schriftenreih
estaqueados utilizando o modelo de Zaeske Geotcehnik, Universitat GhKassel, Germany. 2001.
acarretaria projetos com melhor desempenho e
menor custo.
Cabe ressaltar, que neste artigo o projeto de
um aterro estaqueado foi analisado apenas pela
ótica da eficiência E do mesmo,
desconsiderando outras variáveis importantes
do projeto como recalques diferenciais no topo
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Evaluación de Espectros de Respuesta mediante el Análisis


Unidimensional de Respuesta de Sitio en la Ciudad de Lima
Jorge Soto Huamán
Universidad de Nacional de Ingenieria, Lima, Perú, josotoh@uni.pe

Jorge E. Alva Hurtado


Universidad de Nacional de Ingenieria, Lima, Perú, jalvah@uni.edu.pe

Carmen E. Ortiz Salas


Universidad de Nacional de Ingenieria, Lima, Perú, cortiz@uni.edu.pe

RESUMEN: En este trabajo se presentan los espectros de respuesta obtenidos en siete distritos de
Lima, mediante el análisis de respuesta de sitio unidimensional en el dominio de las frecuencias y en
el dominio del tiempo. Para ello se estimaron los valores de aceleraciones máximas del suelo a partir
de un acelerograma sintético mediante el método de ajuste espectral, obteniéndose como resultado
las aceleraciones máximas de 0.50 g, 0.55 g y 0.60 g para suelos muy rígidos (S1), suelos intermedios
(S2) y suelos blandos (S3) respectivamente; asi como los valores de amplificaciones de las
aceleraciones del suelo “S” de 1.10, 1.20 y 1.30 respectivamente. Asimismo se obtuvieron espectros
de respuesta normalizados y se compararon con el factor de amplificación sísmica (C) de la norma
técnica E.030 obteniéndose como resultado valores que varian de 3.0 a 3.5, superiores a C=2.5
propuestos en la norma E.030.

Palabras Clave: Espectro de respuesta, amplificación sísmica, propagación de ondas.

1 INTRODUCCIÓN convencionalmente, la onda S (componente SH)


la que produce un movimiento horizontal que
El espectro de respuesta de aceleración (Sa) es potencialmente puede causar daños (Towhata,
uno de los parámetros utilizados con mayor 2008). Para el análisis de este trabajo se
frecuencia en ingeniería sísmica para el diseño consideró la propagación vertical de las ondas
sismo resistente. El espectro de respuesta se SH a través del depósito de suelo (Figura 1). La
puede obtener mediante el registro sísmico, el ecuación de la propagación vertical de onda SH
estudio de peligro sísmico y el análisis de es:
respuesta de sitio. En este artículo se usará el
análisis de respuesta de sitio unidimensional en 𝜕𝜏 𝜕2 𝑢
= 𝜌 𝜕𝑡 2 (1)
el dominio de frecuencias y en el dominio del 𝜕𝑧
tiempo, considerando el comportamiento del
suelo lineal equivalente y no lineal Donde = esfuerzo cortante, u= desplazamiento
respectivamente. horizontal, estos dependen de la posicion (z) y
del tiempo (t) y  la densidad.
2 METODOLOGÍA
2.1 Método lineal equivalente
Cuando ocurre un evento sísmico a distancias
lejanas del sitio, en el interior de la tierra ocurre Este método considera el comportamiento de
la propagación de ondas sísmicas (Onda P y cada estrato como resorte-amortiguamiento en
Onda S), siendo la más importante, configuración paralela, es decir, usa el modelo
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Kelvin-Voigst con lo cual la ecuación de Donde [M] es la matriz de masas, [C] es la


propagación vertical se convierte en: matriz de amortiguamiento, [K] es la matriz de
rigidez, {ü} vector de aceleración nodal, {ů}
𝜕2 𝑢 𝜕2 𝑢 𝜕3 𝑢 vector de velocidad relativa nodal, {u} vector de
𝜌 𝜕𝑡 2 = 𝐺 𝜕𝑧 2 + 𝜂 𝜕𝑧 2 𝜕𝑡 (2)
desplazamiento relativo nodal, üg aceleración en
la base. La ecuación de equilibrio dinámico es
resuelta numéricamente para cada incremento
del tiempo usando el método  de Newmark.
Para esto se usará el programa de cómputo
DEEPSOIL (Hashash et al, 2010).

3. CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS
DEL SUELO DE LIMA.

La ciudad de Lima se encuentra asentada


sobre depósitos aluviales pleistocénicos (Qpl-
al), depósitos aluviales recientes (Qh-al) y
Figura 1. Propagación vertical de ondas SH a través del
depósitos eólicos pleistocénicos (Qpl-e). Las
suelo
características geotécnicas de estos depósitos
Siendo “” la densidad del suelo, “G” el
han sido estudiadas por diferentes instituciones e
módulo de rigidez, “” la viscosidad y “u” el
investigadores como el CISMID (APESEG
desplazamiento del medio; este último
1994-2005), Calderón (2012), Quispe et al.
parámetro depende de la posición (z) y el tiempo
(2014) entre otros.
(t).
La solución de la ecuación (2) es la siguiente:
Los perfiles de velocidad de onda de corte
∗𝑧 ∗𝑧 (Vs) se obtuvieron mediante ensayos sísmicos
𝑢𝑛 (𝑧, 𝑡) = 𝐴𝑛 𝑒 𝑖𝑘 + 𝐵𝑛 𝑒 −𝑖𝑘 (3) tales como los ensayos MASW (Multichannel
Analysis of Surface Waves), MAM
Esta solución es usada en los programas de (Microtremor Array Measurement) y SPAC
cómputo EERA y DEEPSOIL desarrollados por (Spatial Autocorrelation). La combinación de
Bardet et al (2000) y Hashashah y Park (2004) estos métodos permitió obtener perfiles sísmicos
respectivamente. hasta 400 m de profundidad (Calderón, 2012), a
esta profundidad se estima que se ubica la
2.2 Método no lineal formación rocosa en Lima (Arce, 1984).
Este método analiza la respuesta no lineal del La curva de reducción módulo y la curva de
depósito de un suelo, usando la integración amortiguamiento se estimaron considerando las
numérica directa, en pequeños incrementos de propiedades índices de los estratos y la presión
tiempo del modelo esfuerzo-deformación no de confinamiento a diferentes profundidades
lineal del suelo. Para este método, el depósito de (Soto, 2016).
suelo estratificado horizontalmente es discreto
en masas concentradas y se expresa por la Con la información se obtuvieron nueve
siguiente ecuación (Bardet y Tobita 2001, perfiles geotécnicos, para los distritos de Callao
Hashash y Park 2004): (DHN), Bellavista (CMA), La Molina
(MOL1,MOL2,MOL), Villa El Salvador (VSV),
[M] {ü} + [C]{ů} +[K] {u} = [M]{ I}üg (4) Rímac (CSM), Cercado de Lima (PQR) y San
Isidro (CDL), todos estos distritos pertenecen a
la ciudad de Lima, estos se clasificaron usando
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la norma E.030 (MVCS, 2016) obteniéndose Figuras 2 se muestra la ubicación de estos


suelos muy rígidos S1 (CMA, MOL, MOL1, perfiles. En la Figuras 3 y 4 se muestran dos de
CSM, PQR, CDL), suelos intermedios S2 (VSV) los perfiles usados para el análisis de respuesta
y suelos flexibles S3 (DHN, MOL2). En la de sitio.

Figura 2. Ubicación de los perfiles geotécnicos

Figura 3. Perfil del Callao (DHN). Figura 4. Perfil del Cercado de Lima (PQR)

4. SISMO DE ENTRADA de un análisis de peligro sísmico siguiendo la


metodología de Ordaz et al. (2007) y Wang
Para realizar el análisis de la respuesta de (2007). Se utilizaron fuentes sísmicas de
sitio, es necesario conocer un movimiento subducción y continentales propuestas por
sísmico en la base del depósito de suelo, para lo Gamarra (2009); los parámetros de recurrencia
cual se generó un acelerograma sintético sísmica utilizados fueron los propuestos por
mediante el método de ajuste espectral Alva y Escalaya (2005). Asimismo se ha
(Lilhanand y Tseng 1988), a partir de un espectro considerado las coordenadas geográficas de la
de peligro uniforme (EPU). El EPU se obtuvo
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estación PQR, debido a que representa el valor


promedio para los perfiles de análisis.

Figura 5. EPU y espectro del sismo 1974 Figura 6. Espectro ajustado al EPU

El acelerograma sintético se obtuvo usando similar en ambos análisis. Los análisis fueron
el algoritmo de Al Atik y Abrahamson (2009) y desarrollados utilizando los programas de
el registro del sismo de Lima de 1974, el que se cómputo DEEPSOIL, NERA y EERA.
modificó en función del contenido de
frecuencias. En la Figura 5 se muestra el espectro Los resultados muestran que en la superficie
de peligro uniforme (EPU) y el espectro del terreno, las aceleraciónes máximas promedio
obtenido de la señal sìsmica; en la Figura 6 se para los suelos muy rígidos (S1), suelos
muestra el espectro de respuesta original y el intermedios (S2), suelos blandos (S3) son 0.5g,
modificado por el método de ajuste espectral. 0.55g y 0.60g respectivamente; y las
amplificaciones del suelo “S” son 1.10, 1.20 y
5. ANÁLISIS DE LA RESPUESTA DE 1.3 respectivamente.
SITIO DE LA CIUDAD DE LIMA
Se obtuvieron los espectros de aceleración
Al realizar los análisis en el dominio del para cada uno de los perfiles (Figuras del 7a al
tiempo y en el dominio de las frecuencias, es 7i) obteniéndose los valores de aceleraciones
decir, análisis no lineal y lineal equivalente espectrales máximas, en el rango de períodos de
respectivamente, se verificó que el nivel de 0.1 s a 0.64 s, los que se presentan en la Tabla 1.
deformación cortante en todo el perfil es muy
Tabla 1. Aceleración espectral máxima, periodo de vibración
DEEPSOIL NERA EERA
Perfil
(g) (s) (g) (s) (g) (s)
CMA 1.48 0.29 1.53 0.28 1.77 0.39
DHN 1.49 0.23 1.42 0.23 1.61 0.64
PQR 2.25 0.10 1.68 0.09 1.09 0.12
MOL1 2.03 0.11 1.80 0.15 1.84 0.17
MOL2 2.19 0.29 2.48 0.28 2.95 0.28
MOL 2.03 0.11 1.80 0.15 1.84 0.17
CSM 2.6 0.29 2.48 0.28 2.95 0.28
CDL 1.21 0.09 0.99 0.23 1.01 0.21
VSV 2.07 0.20 2.22 0.13 2.68 0.14
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Figura 7a Figura 7b

Figura 7c Figura 7d

Figura 7e Figura 7f
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Figura 7g Figura 7h

Figura 7i. Espectro de respuesta de aceleración en la superficie de cada perfil.

De los espectros de respuesta obtenidos se al modelo del comportamiento del suelo.


observa que:  Las formas espectrales obtenidas en cada
 La aceleracion espectral maxima es de perfil mediante el análisis LE y NL son
2.74g para un periodo de 0.29s, este valor similares, con excepción del perfil PQR.
corresponde al perfil CSM del distrito del
Rimac (analisis no lineal). Asi mismo se compararon los espectros de
 Las amplitudes del espectro de respuesta respuesta de sitio normalizados con el factor de
obtenidas en el análisis no lineal, no amplificación de la norma E.030, para suelos
necesariamente son superiores a las muy rigidos, intermedios y blandos
obtenidas en el análisis lineal respectivamente, la comparación se muestran en
equivalente, debido al nivel de las Figuras 8a a 8i.
deformación obtenido en la superficie y
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Figura 8a Figura 8b

Figura 8c Figura 8d

Figura 8e Figura 8f

Nota:
S1= Suelo rígido
S2= Suelo intermedio
S3= Suelo Flexible
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Figura 8g Figura 8h

Figura 8i. Comparación de espectros de respuesta normalizada y la amplificación sísmica de la norma E.030.

Nota :
S1= Suelo rígido
S2= Suelo intermedio
S3= Suelo Flexible

De la comparación se aprecia que:


 Para los suelos muy rígidos, las amplitudes  Para suelos blandos, las amplitudes de
de los espectros de respuesta de sitio respuesta de sitio normalizadas, son
normalizadas son superiores a las obtenidas superiores a las obtenidas con la norma
con la norma E.030, en el rango de periodos E.030.
que define la plataforma espectral, es decir
el tramo recto, con excepción del perfil CDL De la evaluación de los espectros respuesta de
(San Isidro). aceleración normalizada se observa que para los
 Para los suelos intermedios, las amplitudes suelos muy rígidos (S1), suelos intermedios (S2)
de la respuesta de sitio normalizadas, son y suelos blandos (S3) el factor de amplificación
superiores a las obtenidas con la norma sísmica (C) varía de 3.0 a 3.5 en el rango que
E.030, en el rango de periodos que define la define la plataforma espectral.
plataforma espectral.
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evaluación del Peligro Sísmico y generación de


CONCLUSIONES Espectros de Peligro Uniforme en el Perú. Tesis de
grado. Universidad Nacional de Ingeniería. Lima,
Perú.
 Se realizó el análisis de respuesta de sitio en Hashash Y., Park D. (2004), Soil damping formulation in
la ciudad de Lima en el dominio de nonlinear time domain site response analysis, Journal
frecuencias y en el dominio del tiempo. Por of Earthquake Engineering, Vol. 8, No. 2, pp 249-274.
Hashash Y., Phillips C., Groholski D. (2010), Recent
lo tanto, los resultados de estos análisis
advances in Non-linear Site Response Analysis. Fifth
corresponden sólo a la ciudad de Lima. International Conference on Recent Advances in
 Las amplitudes del espectro de respuesta Geotechnical Earthquake Engineering and Soil
obtenidas en el análisis no lineal, en algunos Dynamics. San Diego, California.
perfiles, no son superiores a las obtenidas en Lilhanand K., Tseng W. S., (1988). Development and
application of realistic earthquake time histories
el análisis lineal equivalente, debido al nivel compatible with multiple damping response spectra,
de deformación obtenido en la superficie y al Ninth World Conf. Earthquake Engineering, Tokyo,
modelo del comportamiento del suelo. Japan, Vol 2, 819-824.
 Las amplificaciones de las aceleraciones del MVCS (2016) - Ministerio de Vivienda, Construcion y
suelo “S” obtenidas para suelos muy rígidos Saneamiento, E.030 Diseño Sismoresistente, Norma
Técnica Peruana.
(S1), suelos intermedios (S2), suelos blandos Ordaz M., Aguilar A., Arboleda J. (2007). CRISIS2007.
(S3) son 1.10, 1.20 y 1.30 respectivamente. Program for computing Seismic Hazard. UNAM.
 De la comparación entre los espectros de Quispe S., Chimoto K., Yamanaka H., Tavera H., Lazares
respuesta de sitio normalizados y el factor de F., Aguilar Z. (2014), Estimation of S-Wave velocity
profiles at Lima City, Peru using Microtremor Arrays.
amplificación sismica (C) de la norma E.030,
Journal of Disaster Research Vol. 9 N°6.
se obtuvieron como resultados valores que Soto J. (2016). Evaluación de Espectros de respuesta
varían de 3.0 a 3.5 siendo superiores a C=2.5 mediante el análisis de repuesta de sitio
indicado en la norma E.030. unidimensional en siete distritos de Lima. Tesis de
grado. Universidad Nacional de Ingeniería. Lima, Perú
Wang, Z. (2007), Understanding Seismic Hazard and Risk
Assessments: A gap between engineers and
REFERENCIAS seismologist.
Towhata I. (2008), Geotechnical Earthquake Engineering.
Al Atik L., Abrahamson N. (2009). An improved method Ed. Prentice Hall. New Jersey. USA.
for Non-Stationary Spectral Matching. Earthquake
Spectra, Volume 26, No. 3, pages 601–617.
Alva J., Escalaya M. (2005) Actualización de Parámetros
Sismológico en la evaluación del Peligro Sísmico en el
Perú. CISMID, Universidad Nacional de Ingeniería.
Arce J. (1984), Estructura Geoeléctrica del subsuelo
Rímac-Chillón. Sociedad Geológica del Perú.
Volumen Jubilar LX Aniversario. Lima, Perú.
Bardet J., Ichii K., Lin C. (2000). A computer program foe
Equivalent-Linear Earthquake Site Response Analyses
of Layered Soil Deposits. University of Southern
California. Department of Civil Engineering.
Bardet J., Tobita T. (2001), A Computer Program for
Nonlinear Earthquake Site Response Analyses of
Layered Soil Deposits, University of Southern
California. Department of Civil Engineering.
Calderón D. (2012), Estimación de velocidad de ondas de
corte profundas en Lima, Perú usando arreglo de
Sismómetros. Journal of Disaster Research Vol.8.No2.
Japan.
CISMID (2004) Estudio de Vulnerabilidad y Riesgo
Sísmico en 42 distritos de Lima y Callao. APESEG
Gamarra C. (2009), Nuevas fuentes sismogénicas para la
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Execução Experimental de Injeções Cimentícias em Solos


Metaestáveis
Max Gabriel Timo Barbosa
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, maxtimo@globo.com

André Pacheco de Assis


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

RESUMO: Em Brasília as condições geotécnicas são desfavoráveis devido ao comportamento


metaestável do solo local, que pode apresentar variação volumétrica abrupta devido a alteração no
campo de tensões. Assim, com a necessidade de soluções econômicas que tornem a execução de
obras geotécnicas viável, as soluções de melhoria do solo precisam ser mais estudadas quanto à
interação com o solo brasiliense e aos efeitos resultantes dessa melhora. Dentre essas estão as
injeções de solos. Com o objetivo de aumentar o entendimento sobre injeções em solos,
especialmente cimentícias, no maciço brasiliense, fez-se uma execução experimental de injeções
cimentícias tube-à-manchette. Este artigo descreve esta execução e os resultados advindos desta.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoria de solos, Injeções de solos, Solos metaestáveis.

1 INTRODUÇÃO toda Brasília é da ordem de 15,0 a 30,0 m, com


baixo índice de resistência à penetração na
A argila porosa de Brasília é um solo que exibe maioria das partes com (NSPT <4) e com níveis
uma estrutura metaestável. Como Brasília tem freáticos profundos.
duas estações muito distintas, uma chuvosa e Para controlar esse comportamento
outra árida, há um clima propício à formação de metaestável e possibilitar a realização de obras
solos lateríticos. A laterização é um processo de geotécnicas, foram estudados métodos de
migração das partículas submetidas à ação de melhoria de solo por meio de injeções
infiltração e evaporação, dando origem a um cimentícias, entre elas as injeções de
solo com agregações de finos e, portanto, mais permeação, de fraturamento, as injeções de
poroso. Os minerais remanescentes são ligados compactação e as injeções de substituição (Jet
por micro agregados cimentados por concreções Grouting), vistos na Figura 1.
lateríticas de argila, uma ligação frágil que,
quando quebrada, desencadeia uma súbita
redução de volume, apresentando um
comportamento semelhante a uma estrutura
telescópica (Ozelim et al., 2014). Essa frágil
ligação dá origem a uma estrutura metaestável
quando há variações de energia, que podem ser
internas (reações químicas) ou externas Figura 1. Diferentes tipos de técnicas de injeção e seus
(umidade e / ou alteração do campo de tensão), princípios de ação (modificado - Moretrench, 2016).
gerando variação de volume, denominada
colapso. Como as injeções de compactação não são
A espessura dessas camadas colapsíveis é muito difundidas no Brasil em sua maneira
bastante variável e depende de vários fatores, clássica, os trabalhos de Jet Grouting podem ser
como topografia, cobertura vegetal e rocha de caros para obras com poucas colunas e pelo fato
origem. A profundidade média estimada em da técnica tube-à-manchette conseguir obter
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resultados finais de fraturamento, compactação


ou permeação a depender das propriedades do
fluido sendo injetado e do maciço local esta
técnica foi escolhida para maiores estudos.
Assim, como início desses estudos, foram
executadas injeções tube-à-manchette, em
campo experimental, para avaliar o efeito destas
nas propriedades da argila porosa de Brasília.

2 TÉCNICA TUBE-À-MANCHETTE

A técnica tube-à-manchette é a técnica mais


utilizada tanto para as injeções de fraturamento
quanto para as injeções de permeação em solo,
mas também podendo apresentar
comportamento de compactação. No Brasil são
comumente chamadas de injeções de
consolidação (Zirlis et al, 2015). O que
determina se a injeção é de fraturamento,
compactação ou de permeação é a pressão de
injeção e o tamanho das partículas do fluido
sendo injetado.
Figura 2. Corte esquemático durante o processo de
A sequência executiva consiste em perfurar o
injeção da técnica tube-à-manchette
maciço com bit tipo NQ geralmente de 75 mm,
com espaço suficiente para a inserção de um A técnica tube-à-manchette é descrita com
tubo manchetado de PVC ou aço padrão maior detalhe em Barbosa (2018) e Camberfort
Schedule e uma mangueira de injeção paralela (1968).
ao tubo.
O tubo manchetado, tampado no fundo, é 3 EXECUÇÃO EXPERIMENTAL
denominado assim pela existência de válvulas
de borracha, chamadas manchetes, espaçadas ao 3.1 Caracterização do campo experimental
longo do tubo. Por meio da mangueira de
injeção, há o preenchimento exterior do tubo Primeiramente, fez-se a caracterização do
com calda de cimento. Este espaço anelar campo experimental. Escolheu-se o campo
preenchido de calda de cimento é chamado de experimental da empresa Solotrat Centro-Oeste.
bainha. Para injeções químicas, pode haver uma Este campo experimental foi utilizado na
bainha executada com o próprio fluido a ser dissertação de Zuluaga (2015) e na tese de
injetado, de modo que a bainha possua um Mendoza (2013), além de ser utilizado em
comportamento frágil. Há casos em que a testes de campo da própria empresa. A
bainha não é necessária. estratigrafia do campo experimental pode ser
Após 6 a 24 horas, dependendo da observada na Figura 3, que mostra uma camada
resistência característica da bainha, o maciço é de argila porosa de Brasília. Na Figura 3
injetado em cada válvula por meio de um AAMV refere-se a argila arenosa de
obturador duplo, inflável ou não. A bainha é consistência mole e cor vermelha, SAMM a
fraturada neste processo no local da válvula e o silte arenoso de consistência média e cor
fluido é injetado no maciço, geralmente de marrom, SADB a silte arenoso de consistência
baixo para cima. Injeções de cima para baixo dura e cor branca, ASSMO a argila siltosa de
são feitas usualmente em maciços rochosos consistência média e cor marrom escura e
muito fraturados. A Figura 2 ilustra o processo. SARA refere-se a silte arenoso de consistência
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rija e cor amarela. O nível d’água encontrava-se Tabela 2. Intervalo de parâmetros da argila arenosa
a 4,5 m de profundidade (Mendoza, 2013). As vermelha do campo experimental (modificado -
características da argila porosa podem ser vistas Mendoza, 2013)
na Tabela 1.
Em que w é a umidade, wL o limite de liquidez,
wP o limite de plasticidade, IP o índice de ID1(%) 7-9
plasticidade, γ o peso específico, γs o peso Φ 2 (0 ) 26 - 34
específico de sólidos, γd o peso específico seco, 3
c (kPa) 9-19
e por último tem-se as frações de areia, silte e
argilas obtidas por meio da granulometria com E2(MPa) 2,3 - 14
sedimentação, com a porosidade n. υ 0,3 - 0,4
Já a Tabela 2 apresenta os parâmetros K0 2
0,3 - 0,9
obtidos para o modelo de Mohr-Coulomb, por
OCR2 1 - 2,6
meio de correlações de Mendoza (2013).
Eeod2 (MPa) 19,2 - 21,6
1
Parâmetro obtido no ensaio SPT
2
Parâmetro obtido no ensaio DMT
3
Parâmetro obtido no ensaio triaxial

Onde K0 é o coeficiente de empuxo no repouso,


OCR a razão de pré-adensamento e Eeod o
módulo edométrico.

3.2 Planejamento da execução experimental

Por razões de custo delimitou-se que para as


injeções utilizar-se-ia cimento comum, tipo
Portland, com a hipótese de campo que o D85
do cimento com diâmetro médio de 70 µm e
D95 de 90 µm (Pitta, 2017). Mendoza (2013)
verificou na caracterização do campo
experimental que a classificação da
granulometria local se enquadrava na
Figura 3. Perfil estratigráfico do solo do campo simbologia da ASTM D 2487 (2000) como C-
experimental (Mendoza, 2013). H (C-argila, H-alta compressibilidade).
Testes preliminares, junto à Figura 4,
Tabela 1. Propriedades da argila porosa do campo confirmaram que as injeções por permeação não
experimental (adaptado – Mendoza, 2013)
seriam possíveis. Esses mesmos testes, descritos
Prof. (m) 5
w (%) 32,4 em Barbosa (2018) determinaram que o
wL (%) 42 espaçamento ótimo entre manchetes foi de 330
wP (%) 30 mm.
IP (%) 12 Segundo Camberfort (1968) o diâmetro
γ (kN/m3) 14,85 do furo de injeção tem praticamente nenhuma
γs (kN/m3) 26,69
γd (kN/m3) 11,39
influência na pressão de injeção, assim utilizou-
Areia (%) 16,4 se os equipamentos de perfuração disponíveis
Silte (%) 11,3 da Solotrat Centro-Oeste à época dos testes, que
Argila (%) 72,3 obtinham um furo de diâmetro de cerca de 75
n (%) 57,3
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Figura 4. Faixa de solos passíveis de aplicação de cada técnica de injeção (modificado - Hayward Baker, 2016)

mm. Os tubos PVC utilizados eram de 32 mm. cimento por manchete.


Os equipamentos foram escolhidos de acordo
com a disponibilidade da Solotrat e com as 3.2.2 Especificação dos materiais de injeção e
recomendações de Warner (2004) e Zirlis et al. dosagem
(2015).
A injeção de todos os furos, tanto a bainha
quanto a injeção pelas válvulas manchetes, foi
3.2.1 Método de injeção escolhida com a relação a/c aproximada de 0,5
em peso. O cimento escolhido foi o tipo
A injeção dos furos foi efetuada pelo método Portland comum (Blaine não inferior a 3.000
ascendente, a partir do fundo do furo. A pressão cm2/g), contendo menos que 5% de grãos
máxima líquida de injeção estipulada, por se retidos na peneira nº 200. A água utilizada na
tratarem de injeções de fraturamento e preparação da calda de injeção foi
compactação, foi de 600 kPa, e a pressão de supervisionada para que estivesse isenta de
abertura das manchetes limitada a 2800 kPa, quantidades prejudiciais de sedimentos, de
devido à possibilidade de tempos de cura da materiais orgânicos, álcalis, sais e quaisquer
bainha superiores a 12 h. A pressão de 600 kPa outras substâncias que interfeririam nas reações
foi determinada a partir de sugestões de Pitta de hidratação dos sólidos.
(2017) para trabalhos de adensamento de solos A mistura de cimento e água foi feita com
tropicais abaixo de 10 m. Verificou-se, nos tempo de agitação mínimo de 5 min e definiu-
testes preliminares, que a perda de carga média se que, em qualquer caso, não poderiam ser
do sistema era de 200 kPa. Assim as pressões injetadas caldas que permaneçam no misturador
líquidas, aquelas que efetivamente chegam no por tempo superior a 2 h.
solo, são iguais às pressões totais diminuídas de A Tabela 3 resume as propriedades
200 kPa. Observa-se que a vazão da calda de desejadas do fluido utilizado.
cimento não foi definida como constante a fim
de que esta dependa da heterogeneidade local
do maciço.
Além dos critérios de pressão, o volume
de calda de injeção foi limitado a um saco de
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Tabela 3. Propriedades da calda de cimento (Barbosa, saco/manchete/330 mm, seria representativa de


2018) uma obra real de injeções. Dadas essas
Tipo de cimento Cimento Portland comum
Fator a/c em peso 0,5
considerações chegou-se nos arranjos das
Figuras 5 e 6. Os furos de injeção foram
previstos de serem executados conforme visto
Pressão de injeção 800 kPa na 5, de F1 a F13.
máxima
Volume máximo 1 saco de cimento (0,04 m3)
por manchete
Exsudação 10%
Peso específico 17 kN/m3
Coesão 7 Pa
Viscosidade 150 mPa.s

3.2.3 Disposição dos furos

Uma vez que a camada de argila porosa tinha


5,0 m de profundidade e o nível de água estava
a 4,5 m de profundidade, decidiu-se dispor as
injeções estendendo-se a 1,0 m acima do nível
de água local, a 3,5 m. As injeções de
compactação e fraturamento, em obras reais da
prática europeia e brasileira, são espaçadas Figura 5. Vista superior do arranjo das injeções. Cada
primeiramente com maiores distâncias, disco vermelho é um furo em que injeções tube-à-
usualmente 2,0 m e depois, após verificação das manchette seriam executadas.
vazões em cada manchete, observa-se os locais
em que houve maiores vazões. Como
usualmente se especifica como constante o
volume sendo injetado, maiores vazões indicam
menor reação do solo sendo injetado, e,
segundo Camberfort (1968), isso indica maiores
vazios e necessidade ou de reinjeção ou de
adição de furos próximos a esses pontos de
maiores vazios.
Assim, um trabalho de injeção de solos
costuma ter várias fases até que a absorção de
calda do maciço exija baixas vazões ou os testes
de verificação indiquem que as propriedades
finais desejadas tenham sido atingidas. Figura 6. Vista da seção A-A do arranjo das injeções.
A injeção de solos é, portanto, uma Dimensões em m.
execução observacional, em que muitos dos
princípios de Peck (1969) devem ser seguidos. 3.2.4 Controle de qualidade e verificação
Entretanto, pela dificuldade logística em
realizar várias fases de execução na Solotrat, Para a aquisição de dados da execução
decidiu-se por uma disposição de furos mais experimental, fez-se o controle de qualidade e
concentrada, de 1,0 x 1,0 m (comumente a verificação dos trabalhos, etapa composta por
malha final em execução de injeções. De todo ensaios de laboratório e de campo realizados no
modo reticulados de 0,5 x 0,5 m às vezes são campo experimental da empresa Solotrat
necessários), em que se assumiu que essa Centro-Oeste Engenharia Geotécnica.
disposição, com a injeção de 1 Quanto às propriedades da calda de
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cimento, essas deveriam ser verificadas quanto optou-se pelo SPT pela rapidez de execução,
a coesão, viscosidade, densidade e exsudação. custo e o fato de ter sido realizado
Utilizou-se funil Marsh (Warner, 2004) para anteriormente no solo local. Assim poderia ser
aferir a viscosidade da calda e um Becker inferido o efeito das injeções nas propriedades
graduado junto a uma balança para do solo entre pontos de injeção. A disposição
determinação da densidade e da exsudação. dos ensaios SPT pode ser vista na Figura 8.
Já para a verificação da coesão da calda
de cimento, usou-se o reômetro de placa de
Lombardi (Lombardi, 1985). Esse instrumento
simples, de fácil manufatura, consiste de uma
placa de aço de 100 mm x 10 mm x 3 mm com
uma alça para inserção no misturador da calda,
conforme pode ser visto na Figura 7.

Figura 8. Localização em planta dos ensaios SPT


(Barbosa, 2018)

Já em relação aos ensaios de laboratório,


previu-se a realização de ensaios na calda de
cimento após esta ter atingido,
aproximadamente, sua resistência final, aos 90
dias de cura. Para isso previu-se extração de
Figura 7. Reômetro de Lombardi (Barbosa, 2018). corpos de prova por meio de sonda rotativa,
com posterior realização de ensaios de
Os sulcos são cortados em ambos os lados compressão uniaxial e ensaios de carga
da placa para dar uma superfície áspera. O puntiforme para aferição da resistência à
procedimento consistiu em pesar a placa, compressão da calda e seu módulo de Young.
mergulhar a placa totalmente na calda de Apesar de esses ensaios serem especificados
cimento e depois pesá-la novamente. Subtraiu- usualmente para rochas esses também podem
se o peso inicial do peso final para calcular o ser utilizados para a calda de cimento (Assis,
peso da calda presa à placa. Então se dividiu o 2017).
peso da calda de cimento pela área da placa Posteriormente, fez-se a escavação do
para obter o peso por unidade de área. O peso maciço tratado, entre furos de injeção, para
por unidade de área é dividido pelo peso analisar o formato final das injeções e recolher
específico da calda de cimento para determinar amostras da calda de cimento endurecida para
a espessura da argamassa presa à placa. Esta os ensaios de compressão uniaxial e de carga
espessura, quando convertida em mm, é a puntiforme. Essa extração foi prevista para ser
coesão e transforma-se esse valor para Pa realizada por meio de sondagem rotativa.
segundo ábacos presentes em Lombardi (1985). Finalmente pode-se realizar a discussão
Quanto aos ensaios de campo destrutivos dos resultados necessária para a utilização
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destes na análise. amostragem ter sido feita mais próxima ao


suposto bulbo de injeção o efeito da
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO compactação foi superior aos observados nos
ensaios SPT-2 e SPT-3. Essa ocorrência é
Observou-se que para um saco de cimento com coerente com os resultados de Shuttle &
fator a/c de 0,5 injetado por m, havia Jefferies (2000) para injeções de compactação.
inicialmente a necessidade de uma pressão de O limite inferior da melhoria do número de
injeção líquida de 200 kPa, mas no fim da golpes N foi de 44% em relação ao ensaio SPT-
execução precisou-se de 600 kPa de pressão 4. O ensaio SPT-4 em relação aos ensaios SPT
líquida, mostrando que à medida que o solo é de Mendoza (2013) apresentou melhoria
deslocado há uma menor injetabilidade e mínima de 100%, mostrando que mesmo a 1 m
melhor resistência ao cisalhamento e pressões de distância do ponto de injeção mais próximo
maiores são necessárias para se injetar a mesma houve efeitos do deslocamento e consequente
quantidade de calda de cimento por manchete. decréscimo do índice de vazios causado pelas
Em Barbosa (2018) apresenta-se as pressões injeções. De todo modo para aplicação dos
registradas em cada manchete e em cada furo resultados se recomenda utilizar a melhoria de
nos boletins de injeção. 44%, de forma conservadora.
Os resultados dos ensaios SPT indicaram Quanto à escavação entre os furos, os
uma melhoria significativa no comportamento resultados podem ser observados nas Figuras 10
geomecânico do maciço. A Figura 9 mostra os e 11. Constatou-se que houve concentração da
resultados obtidos por meio da verificação dos calda de cimento em locais de menor
ensaios SPT. O ensaio SPT-1 apresentou um compacidade, não necessariamente próximo às
acréscimo maior que do restante dos ensaios em válvulas manchete.
relação ao ensaio SPT-4 no primeiro metro. Em relação aos ensaios de laboratório na
Isso se deveu ao fato de o amostrador ter calda de cimento endurecida, pode-se resumir
intersectado calda de cimento nesse primeiro os resultados segundo a Tabela 4. Os boletins
metro, tendo um acréscimo do número de de execução dos ensaios podem ser observados
golpes da ordem de 4 vezes o valor de em Barbosa (2018).
referência do SPT-4. Além disso, pela

Figura 9. Resultados dos ensaios SPT (Barbosa, 2018)


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5 CONCLUSÃO

As injeções cimentícias são soluções versáteis,


com aplicações crescentes em metrópoles, que
sofrem escassez de localizações de condições
geotécnicas adequadas para o desenvolvimento
da infraestrutura crescente dessas cidades. Em
Brasília essa inadequação decorre do solo local
ser metaestável.
Assim, com a execução experimental em um
solo metaestável, no campo experimental da
Solotrat Centro-Oeste, de uma das técnicas de
injeções cimentícias mais utilizadas, a técnica
de tube-à-manchette, pode-se obter resultados
relevantes para estudos de viabilidade de
infraestrutura em solos metaestáveis em
Brasília.
As injeções cimentícias apresentaram um
efeito de deslocamento no solo metaestável
local, com uma mescla entre compactação e
fraturamento do maciço, com forma diferente
da prevista mas similar ao encontrado por
Figura 10. Vista frontal do furo F3, com a bainha, a Warner (2004). Durante a execução das
calda de cimento endurecida e a região de cor cinza injeções foi notado o previsto por Camberfort
devido à filtração por pressão.
(1968), que à medida que o solo é injetado as
pressões de injeção para se injetar o mesmo
volume, representando que a densidade e
características do solo local melhoram
paulatinamente com a execução das injeções de
compactação e fraturamento. De todo modo,
não houve levantamento permanente do terreno,
como esperado em aluviões por Camberfort
(1968).
Os ensaios destrutivos SPT mostraram-se
úteis para verificação dos efeitos das injeções
nas propriedades do solo metaestável, com
aferição de melhoria mínima de 44% entre
pontos de injeção, tendo-se como base um
ensaio SPT realizado a apenas 1 m do local dos
ensaios. Em relação aos ensaios de Mendoza
(2013) a melhoria mínima foi de 100%. A
Figura 11. Região entre os furos, com comportamento melhora, evidentemente, depende das
de compactação e regiões da argila com cor cinza especificações executivas e da disposição dos
devido à filtração por pressão
pontos de injeção. Os ensaios de laboratório de
Tabela 4. Resultados dos ensaios de laboratório na calda
compressão uniaxial simples e de carga
de cimento após 90 dias de cura (Barbosa, 2018) puntiforme revelaram-se cruciais para a
Resistência à compressão (MPa) 39,38 ± 5,72 previsão de comportamento de uma obra
Módulo de Young (GPa) 24,59 ± 3,57 geotécnica, com as simulações numéricas
utilizando os parâmetros obtidos nesses ensaios.
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Conclui-se que os resultados da execução Validation of Compaction Grout Effectiveness. In


experimental das injeções cimentícias Advances in Grouting and Ground Modification.
Proceedings of Sessions of Geo-Denver 2000. Edited
indicaram que a técnica de tube-à-manchette by Raymond J. Krizek and Kevin Sharp.
pode possibilitar obras em solos metaestáveis Geotechnical Special Publication No. 104. Reston,
que não seriam viáveis sem o uso das injeções VA: ASCE, 17 p.
cimentícias. Warner, J. (2004) Practical Handbook of Grouting: Soil,
Rock and Structures. Hoboken, New Jersey, John
Wiley & Sons, Inc. 632 p.
AGRADECIMENTOS
Zirlis, A. C., Souza, G. J. T., Pitta, C.A. (2015). Manual
de Serviços Geotécnicos. Solotrat, São Paulo, SP, 93
Os autores reconhecem o apoio fornecido pela p.
empresa Solotrat. Os autores também Zuluaga, F.A. (2015). Estimativa da Capacidade de
agradecem o apoio das seguintes instituições: o Carga e Recalque de Fundações Tipo Alluvial Anker
Conselho Nacional de Desenvolvimento no Solo do Distrito Federal. Dissertação de
Mestrado, Publicação G-DM- 249/2015,
Científico e Tecnológico, a Coordenação de Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Universidade de Brasília, Brasília, DF, 109 p.
e a Universidade de Brasília.

REFERÊNCIAS

ASTM D 2487 (2000). Standard Practice for


Classification of Soils for Engineering Purposes
(Unified Soil Classification System). American
Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, PA, 2000,DOI: 10.1520/D2487-00, 7
p.
Barbosa, M.G.T. (2018). Estudo do efeito de injeções
cimentícias no comportamento de túneis rasos em
solos metaestáveis. Dissertação de Mestrado,
Publicação G.DM-296/2018, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 137 p.
Camberfort, H. (1968). Inyéccion de Suelos. Ediciones
Omega, Barcelona, ES, 532 p.
Hayward Baker (2016). Jet Grouting Process. 2016.
Web. 20 Dec. 2016. Fonte: haywardbaker.com.
Lombardi, G. (1985). The role of cohesion in cement
grouting of rock. Fifteenth Congress on Large Dams.
International Commission on Large Dams. Lausanne.
Vol III, pp. 235-261.
Mendoza, C.C. (2013). Estudo do comportamento
mecânico e numérico de grupo de estacas do tipo
alluvial anker em solo poroso do Distrito Federal.
Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, 234 p.
Moretrench (2016). Moretrench. Web. 20 Dez. 2016.
Fonte: moretrench.com.
Ozelim, L., Camapum de Carvalho, J., Cavalcante, A.,
Silva, J., Muñetón, C. (2014). Novel Approach to
Consolidation Theory of Structured and Collapsible
Soils Int. J. Geomech.
Peck, R.B. (1969) Advantages and Limitations of the
Observational Method in Applied Soil Mechanics.
Géotechnique 19:2, 171-187
Pitta, C.A. (2017). Diretor Solotrat. Comunicação
pessoal. Maio de 2017.
Shuttle, D. A., & Jefferies, M. G. (2000). Prediction and
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Influência da Sucção nos Resultados dos Ensaios de Dilatômetro de


Marchetti (DMT) em um Solo Residual Compactado
Cândida Bernardi
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, candidabernardi@hotmail.com

Orlando Martini de Oliveira


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, oliveiraorlando@hotmail.com

Murilo da Silva Espíndola


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, muriloespindola@gmail.com

Gabriel Bellina Nunes


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, gabrielbnunes@gmail.com

Rafael Reis Higashi


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, rrhigashi@gmail.com

RESUMO: Com o objetivo de avaliar a influência da sucção nos parâmetros geotécnicos de solos
compactados, foi realizado em laboratório ensaios com o Dilatômetro de Marchetti (DMT) em um
solo residual compactado em seu teor de umidade ótima. Para isto foi coletado em campo uma
amostra deformada com cerca de 470kg de solo residual de diabásio, que foi compactada em um
molde de 86cm de altura e 66cm de diâmetro. Para o monitoramento da sucção durante o experimento,
foram instalados sensores de sucção de matriz granular (SMG). Em seguida foram realizados dois
ensaios DMT no molde; o primeiro logo após a compactação, na condição de umidade ótima, onde o
valor médio de sucção foi de 66,3kPa, e o segundo após a saturação da amostra, com os sensores
indicando sucção nula. Verificou-se que a presença de sucção na amostra influenciou nos valores dos
parâmetros obtidos, principalmente os relacionados a rigidez do solo, como a resistência de ponta,
ângulo de atrito e módulos de deformabilidade, além do ensaio DMT ser considerado apropriado na
identificação dessas variações.

PALAVRAS-CHAVE: Dilatômetro de Marchetti, Solos não Saturados, Solos Compactados, Sucção.

1. INTRODUÇÃO pouco se comenta sobre investigações de campo


em aterros compactados visando o
Com o aumento do número de obras geotécnicas, desenvolvimento de uma metodologia que
como barragens, estradas e aterros, e permita a verificação da qualidade dessas obras.
consequentemente, a necessidade de maior O ensaio de Dilatômetro de Marchetti (DMT)
qualidade e controle nos seus processos de apresenta-se como uma boa alternativa dentre os
construção, o conhecimento dos parâmetros ensaios de campo para a avaliação do
geotécnicos característicos dos solos comportamento de aterros, pois trata-se de um
compactados, durante e após as obras, é de ensaio relativamente simples, de fácil execução,
fundamental importância. e que permite estimar os parâmetros
A necessidade de ensaios mais precisos para geomecânicos dos solos e prever seu
o fornecimento dos parâmetros de controle dos comportamento.
solos compactados é de grande valia, porém, Determinados tipos de aterros, tais como os
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empregados para construção de rodovias, podem leitura B é a medida da pressão necessária para a
permanecer continuamente na condição não membrana expandir 1,1mm dentro do solo. A
saturada, estando relacionado aos mesmos uma leitura de pressão C é medida após 1 min. do
nova variável de estado de tensão, denominada acionamento da válvula de ventilação lenta. Esta
de sucção. leitura só é realizada em casos onde ocorrem
Foi com essa necessidade de melhor solos de comportamento não drenado.
compreender o comportamento dos solos As leituras de pressão A, B e C são então
compactados e a influência da sucção nos corrigidas por meio da rigidez da membrana, que
parâmetros obtidos, que o desenvolvimento é calibrada antes do início do ensaio, fornecendo
desta pesquisa foi motivado. Ela tem o propósito os valores de p0, p1 e p2.
de estudar a aplicabilidade do ensaio DMT em
um solo compactado em laboratório, visando a p0 = 1,05 ⋅(A − Zm + ΔA) − 0,05 ⋅(B − Zm − ΔB) (1)
obtenção dos parâmetros geotécnicos
característicos desses solos. p1 =B − Zm − ΔB (2)

p2 = C-Zm -ΔB (3)


2. DILATÔMETRO DE MARCHETTI
Onde: p0 e p1 - correção das leituras A e B; ΔA e ΔB -
Desenvolvido pelo Prof. Silvano Marchetti em leituras de rigidez da membrana DMT, realizadas antes e
meados de 1970 na Itália, o equipamento depois do ensaio; Zm - considera-se igual a zero quando ΔA
Dilatômetro Plano de Marchetti - DMT, é muito e ΔB são medidos no mesmo manômetro que A e B.
conhecido e difundido na área de investigações
geotécnicas. O ensaio apresenta instrumentação De acordo com Schnaid e Odebrecht (2012),
simples, de rápida medição e com baixo custo de considera-se que p0 seja correlacionável com a
aquisição e instalação. Tem como objetivo tensão in situ, isto é, a pressão hidrostática ou
fornecer estimativas de parâmetros do solos e neutra (u0), a diferença entre p1 e p0 é associado
previsão do desempenho de estruturas. ao módulo de Young e a pressão p2 é relaciona
Conforme Marchetti et al. (2001) o ensaio ao excesso de poropressão gerado pela cravação
DMT é adequado para uma ampla variedade de da lâmina dilatométrica.
solos, desde areias, solos moles, argilas rígidas,
até rochas brandas, em estado natural ou 2.2 Parâmetros Intermediários
compactados.
Com base nas leituras de pressão corrigidas, p0 e
2.1 Equipamento e Procedimento de Ensaio p1, juntamente com uma estimativa da tensão
efetiva vertical (σ’v0), e da poropressão da água
O equipamento DMT consiste em uma lâmina de em campo (u0), definiu-se três índices básicos de
aço inoxidável, de formato achatada plana, com interpretação do ensaio dilatométrico, ID, KD e
uma membrana circular flexível em uma das ED, os quais são descritos a seguir.
faces da lâmina. Esta lâmina é ligada a unidade O índice de material (ID), equação (4), está
de controle localizada na superfície, por meio de relacionado ao tipo de solo, podendo ser
um cabo pneumático-elétrico inserido dentro das classificado de acordo com os seguintes limites,:
hastes de cravação. Nesse cabo passam os
condutores elétricos e de gás pressurizado, ID > 3,30 – areia;
necessários para os procedimentos de ensaio. 1,80 < ID < 3,30 – areia siltosa;
A lâmina inserida no solo fornece as leituras 1,20 < ID < 1,80 – silte arenoso;
de pressão A, B e C. A leitura A é a medida da 0,90 < ID < 1,20 – silte;
pressão necessária para a membrana expandir 0,60 < ID < 0,90 – silte argiloso;
0,05mm, desconectando-se do disco sensitivo. A 0,35 < ID < 0,60 – argila siltosa;
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0,10 < ID < 0,35 – argila; Tabela 1. Ensaios de Caracterização


ID < 0,10 – turfa ou outros solos sensíveis; Correlação Autor
MDMT= RM ⋅ ED Marchetti (1980)
p1 − p0 K
= K0 ( D )0,47 − 0,6 Marchetti (1980)
ID = (4) 1,5
p0 − u0
Onde: ID – índice de material; p0 e p1 - correção das leituras OCR = 0,27K1,17
D Lunne et al. (1989)
A e B; u0 - poropressão da água. Marchetti e Crapps
φ' =25 + 0,19 ⋅ ID ⋅ RC −100
(1981)
O índice de tensão horizontal (KD), fornece a
base para várias correlações de parâmetros do
solo e está relacionado com a razão de 3. EQUIPAMENTOS DE ENSAIO
sobreadensamento (OCR), podendo ser utilizado
para compreender os parâmetros do solo, tais Para a realização do ensaio DMT no solo
como estado e histórico de tensões e resistência. compactado foi utilizado o equipamento
KD é definido pela equação (5). mecânico experimental pertencente ao conjunto
TGE (Triaxial de Grande Escala), localizado no
p0 − u0 Laboratório de Mecânica dos Solos da UFSC.
KD = (5) Este equipamento é destinado à obtenção de
σ'v0
parâmetros de resistência e compressibilidade de
Onde: KD – índice de tensão horizontal; p0 - correção das
leituras A e B; u0 - poropressão da água; σ’v0 – tensão enrocamentos de barragens, permitindo ensaiar
efetiva vertical. corpos de prova com dimensões de 66cm de
diâmetro e 165cm de altura. Mais informações
O módulo dilatométrico (ED) é derivado da sobre os equipamentos podem ser obtidas nos
teoria da elasticidade, considerando que a trabalhos de Hummes e Maccarini (2009) e
expansão da membrana no interior do solo pode Espíndola (2016).
ser associada com a carga de uma área circular Para o experimento da pesquisa foram
flexível de um semi-espaço elástico. ED é utilizados: o pórtico do TGE e o molde de
encontrado pela equação (6). compactação com dimensões de 66cm de
diâmetro e 86cm de altura, formado por 16
=ED 34,7(p1 − p0 ) (6) janelas parafusadas entre si e apoiado sobre uma
Onde: ED - módulo dilatométrico; p0 e p1 - correção das base circular de aço (Figura 1).
leituras A e B. Para o processo de inserção da lâmina DMT,
foi necessário confeccionar uma peça de aço
2.3 Parâmetros Geotécnicos maciça, de 35cm de comprimento, 10cm de
altura de 8cm de largura. Uma das extremidades
Na Tabela 1 estão apresentadas as correlações da peça foi parafusada ao êmbolo do pórtico e a
utilizadas neste trabalho para a obtenção dos outra extremidade foi conectado o anel
parâmetros geotécnicos de: coeficiente de dinamométrico, junto com as conexões para o
empuxo no repouso (K0), razão de engaste das hastes com a lâmina. A função da
sobreadensamento (OCR), ângulo de atrito (φ’) e peça foi de possibilitar a execução das cravações
módulo oedométrico (MDMT). da lâmina em várias posições dentro do molde.
A Figura 2 apresenta o desenho esquemático
das peças confeccionadas, com as dimensões em
centímetros.
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Na base do molde encontra-se instalado um


1
sistema de válvulas de retenção de fluxo que foi
utilizado para o processo de saturação da
amostra compactada, onde a água foi inserida
por pressão pela base.

3.1 Compactação do Solo


2
3
Para o processo de compactação do solo, o
interior do molde foi revestido por uma
membrana de látex, que teve como objetivo
garantir a estanqueidade do molde metálico.
Posteriormente, foi aplicado um tecido geotêxtil
4 sobreposto a uma camada de 3cm de material
britado na base no molde. Eles tiveram como
6 5 função impedir o contato direto da água com a
massa de solo compactada, (durante o processo
de saturação), além de impedir a carreamento de
partículas sólidas.
1. Êmbolo Definiu-se como forma de compactação o tipo
2. Pórtico de reação por impacto, utilizando o soquete grande do
3. Molde formado por janelas ensaio de compactação Proctor.
4. Base do molde
5. Área de compactação
O número de golpes por camada foi definido
6. Roldanas para movimentação do molde considerando a altura total de compactação de
72cm e a espessura das camadas de 3cm,
Figura 1 – Equipamentos utilizados para a realização
dos ensaios de DMT em laboratório.
resultando assim num total de 24 camadas. Por
meio de cálculos pode-se determinar que para
cada camada seria necessário um total de 293
golpes, para atingir o nível de compactação
necessário na energia normal e umidade ótima.
O controle de compactação foi garantido,
determinando o peso total de solo
homogeneizado por camada e a altura final de
cada camada após a compactação.

3.2 Monitoramento da Sucção

Com o objetivo de monitorar a sucção durante a


realização dos ensaios, foram utilizados os
sensores de sucção de matriz granular (SMG),
fabricado pela Irrometer Company, modelo
200SS, como apresentado na Figura 3. Foram
instalados 4 sensores no centro da amostra
compactada, nas profundidades de 9, 27, 45 e 63
cm.
Figura 2 – Desenho esquemático das peças
confeccionadas para a cravação da lâmina do DMT
(dimensões em cm)
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Prof. de 63cm

Prof. de 45cm

Prof. de 27cm

9cm

Figura 3 – Instalação dos sensores Figura 4 – Procedimento do ensaio DMT

3.3 Procedimentos para o Ensaio DMT


4. CARACTERIZAÇÃO DO SOLO
Logo após a instalação dos sensores, e a
estabilização das leituras de sucção, foi realizado O solo utilizado no experimento foi coletado no
o primeiro ensaio com o equipamento DMT no Bairro Itacorubi, localizado no município de
molde de compactação. O conjunto de hastes, Florianópolis/SC, com coordenadas UTM
lâmina DMT e anel dinamométrico foram (Universal Transversa de Mercator) dadas por:
conectados ao pistão do pórtico de reação
(êmbolo). Este apresenta uma extensão máxima • 747274,00 E, 6946290,00 S.
de descida de 20cm, velocidade de avanço de
0,20cm/s e capacidade para aplicação de tensão De acordo com o mapa geológico da Ilha de
de 2200kN. Santa Catarina, na exata localização do ponto de
Foram definidos os intervalos de parada da coleta encontra-se um dique de diabásio, a
lâmina a cada 10cm, sendo a primeira unidade geológica do entorno é o Granito Ilha e
profundidade de leitura realizada a 5cm da a unidade geotécnica é Argissolo Vermelho-
superfície, assim, foram realizadas 7 leituras, à Amarelo.
5, 15, 25, 35, 45, 55 e 65cm de profundidade. Foi coletado cerca de 470kg de solo para a
No instante em que a lâmina era avançada no realização de todos os ensaios de caracterização
solo, eram coletadas as medidas de reação do e compactação. Em laboratório a amostra foi
anel dinamométrico (via vídeo). Os valores das depositada em padiolas que foram dispostas ao
leituras do ensaio DMT foram medidas ar para secar.
manualmente na unidade de controle, que ficou Os ensaios de laboratório realizados tiveram
posicionada a lado do molde (Figura 4). como objetivo caracterizar a amostra coletada
Foram realizados para esta pesquisa dois para o estudo. A Tabela 2 apresenta um resumo
ensaios DMT, o primeiro logo após a dos resultados dos ensaios de análise
compactação (1° DMT), medindo os parâmetros granulométrica, limites de Atterberg, massa
para a condição de umidade ótima, e o segundo específica dos grãos, classificações e para o
(2° DMT) posteriormente à saturação da ensaio de resistência a cisalhamento direto.
amostra, ou seja, quando os sensores de sucção O ensaio de compactação indicou umidade
marcaram leituras igual a zero. ótima de 30%, correspondente a uma massa
especifica seca máxima de 1,42 g/cm³,
empregando a energia do Proctor Normal.
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Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização amostra, onde as tensões de confinamento são
Argila [%] 27,77 menores.
Silte [%] 29,83
Análise Areia Fina [%] 16,29 Sucção [kPa] qD [MPa]
Granulométrica Areia Média [%] 20,00 0 30 60 90 0 3 6 9 12 15
Areia Grossa [%] 3,94 0
Pedregulho [%] 2,17
LL [%] 47 0,1 0,09
Limites de LP [%] 44
Atterberg IP [%] 3 0,2
IG 3

Profundidade [m]
Massa Específica ρs [g/cm³] 2,797 0,27
0,3
MCT NA' - NG'
HRB/AASHTO A-5 0,4
Classificações
SUCS ML
0,45
Textural Argila siltosa
0,5
Cisalhamento Coesão [kPa] 8,15
Direto Ângulo de atrito [°] 34,7
0,6
0,63
0,7
5. RESULTADOS DO ENSAIO DMT 1° DMT 1° DMT
2° DMT 2° DMT
A Figura 5 apresenta o perfil de sucção e de
resistência de ponta qD (razão entre a força de Figura 5 – Perfil de sucção e resistência de ponta qD
cravação da lâmina DMT e a sua área de seção
transversal) para os ensaios DMT realizados. p0 e p1 [kPa]
Para o primeiro ensaio realizado na condição de 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
umidade ótima, o perfil de sucção apresentou um 0
valor médio de 66,3kPa, para o segundo ensaio,
realizado na condição saturada, a sucção 0,1
medidas nos sensores foram iguais a zero.
Os perfis de p0 e p1, resultantes da correção 0,2
Profunidade [m]

das leituras de pressão A e B obtidas durante o


ensaio DMT, são apresentados na Figura 6. 0,3
Com a realização dos ensaios DMT nas duas
0,4
condições de umidade, pode-se constatar que
para o 1° DMT, realizado nas condições de
0,5
moldagem, os valores de p0 e p1, em média,
foram de 401kPa e 1273kPa respectivamente, e 0,6
para o 2° DMT, realizado após saturação, as
leituras ficaram entre 332kPa e 888kPa, cerca de 0,7
18% menores em p0 e 30% menores em p1. pp00 - 1° DMT pp11 - 1° DMT
O processo de saturação da amostra interferiu pp0
0 - 2° DMT pp11 - 2° DMT
nos valores de p0 e p1, porém com mais ênfase
em p1, leitura que corresponde a expansão de Figura 6 – Pressões p0 e p1 para o 1° DMT e 2° DMT
1,1mm da membrana. Para a profundidade de
0,05m os valores de p0 e p1 foram inferiores, isso Para a resistência de ponta qD, na condição de
devido à proximidade com a superfície da umidade ótima, a média foi de 8,4MPa, e para a
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condição saturada foi de 4,8MPa, cerca de 42% Para o 1° DMT a amostra foi classificada
menor. Observou-se a tendência de aumento de como uma areia siltosa, e para o 2° DMT como
qD com a profundidade, isso devido ao acréscimo silte arenoso e areia siltosa. Observa-se que em
da tensão vertical. nenhum dos ensaios a amostra foi classificada
A Figura 7 apresenta a relação entre as como argila siltosa, classificação obtida pelo
pressões corrigidas p0 e p1 e a resistência de ensaio de granulometria. A justificativa para este
ponta qD. Nota-se melhor correlação para p1, comportamento está no fato de que o parâmetro
comportamento também observado por ID reflete o desempenho mecânico do solo, e
Campanella e Robertson (1991). sendo a amostra compactada, sua resistência é
relativamente maior, resultando em um ID
1600 característico de um solo mais rígido.
p1 = 0,0867qD + 511,01
R² = 0,737
Para o parâmetro KD observa-se um perfil
1200 pp00 [kPa] com redução dos valores com a profundidade,
p0 e p1 [kPa]

p1
p1[kPa] comportamento classificado por Marchetti
(1980) como sendo característico de solos
800 p0 = 0,0215qD + 225,44 sobreadensados. Porém neste caso, esse
R² = 0,296 comportamento é devido as baixas tensões
400 atuantes nas primeiras profundidades, sendo
mais coerente um perfil de KD constante, já que
a amostra é compactada.
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Na Figura 9 são apresentados os valores para
qD [MPa] o parâmetro de módulo dilatométrico ED e para
o módulo oedométrico MDMT, obtido pela
Figura 7 – Relação entre p0 e p1 e qD proposta de Marchetti (1980) que correlaciona-
se com o índice ID e KD, além de ED. Nota-se que
A Figura 8 apresenta os valores obtidos para os módulos são menores para a condição
o índice de material (ID) e índice de tensão saturada.
horizontal (KD).
Módulo ED [MPa] Módulo MDMT [MPa]
Índice - ID Índice - KD 10 20 30 40 50 60 80 100 120 140 160
0 1 2 3 4 50 50 100 150 200 0
0
Areia
Argila
Silte

0,1
0,1
0,2
0,2
Profundidade [m]

Profundidade [m]

0,3
0,3

0,4
0,4

0,5 0,5

0,6 0,6

0,7 0,7
1° DMT 1° DMT 1° DMT 1° DMT
2° DMT 2° DMT 2° DMT 2° DMT

Figura 8 – Parâmetros intermediários ID e KD Figura 9 – Valores dos parâmetros ED e do MDMT


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A Figura 10 apresenta os perfis para o interpartículas e a sucção, assim OCR foi maior
coeficiente de empuxo no repouso (K0) obtido para o ensaio que apresentava sucção.
pela correlação de Marchetti (1980), e para a Ressalta-se que as correlações utilizadas para
razão de sobreadensamento (OCR), obtido pela estimar K0 e OCR não são destinadas a solos
correlação de Lunne et al. (1989). residuais compactados, e assim apresentam
valores relativamente elevados quando
K0 - Marchetti (1980) OCR - Lunne et al. comparados aos encontrados na literatura. Porém
(1989) estes podem indicar variações nas condições de
2 4 6 8 10 0 25 50 75 100
0 compactação em aterros.
Com os dados do ensaio DMT também foi
0,1 possível estimar o ângulo de atrito efetivo (φ’),
como apresentado no perfil da Figura 11,
Profundidade [m]

0,2 utilizando a correlação de Marchetti e Crapps


(1981). A correlação resultou em valores de φ’
0,3 com média de 35° para o 1°DMT e 33° para o 2°
DMT (para as médias foram retirados os valores
0,4 da profundidade de 5cm).
Observa-se que a estimativa foi muito
0,5 próxima da encontrada pelo ensaio de
cisalhamento direto (CD) realizado na amostra
0,6 na condição inundada, que resultou em um φ’ de
34,9°. Verifica-se também que a sucção
0,7
1° DMT 1° DMT influenciou para o acréscimo nos valores de φ’
2° DMT 2° DMT no 1° DMT.

Figura 10 – Estimativa para K0 e OCR φ'DMT - Marchetti e


Crapps (1981)
Devido aos parâmetros K0 e OCR serem 30 32 34 36 38 40
correlacionados ao parâmetro KD, ambos 0
φ' CD;
apresentam o mesmo comportamento de valores
0,1 34,7°
decrescentes com a profundidade.
Profundidade [m]

Observa-se nos resultados da Figura 9 e


0,2
Figura 10 que os valores dos parâmetros ED,
MDMT, K0 e OCR são influenciados pela sucção
0,3
presente no solo para a condição de umidade
ótima (1° DMT). Estes parâmetros apresentam 0,4
redução de seus valores quando se saturou o solo
(2° DMT), eliminando assim a variável sucção. 0,5
A sucção aumenta a resistência do solo, aumenta
o seu módulo de deformabilidade e reduz a sua 0,6
deformabilidade (Oliveira, 2004; e Pecapedra,
2016). 0,7
Embora o conceito de sobreadensamento não 1° DMT
2° DMT
tenha muito significado para solo residuais, o
valor de OCR está diretamente associada com a Figura 11 – Estimativa para o ângulo de atrito
magnitude do componente de coesão de força,
relacionado principalmente a cimentação
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6. CONCLUSÕES sucção no solo, na condição de moldagem e sua


influência nos parâmetros encontrados pelas
Com a realização dos ensaios de DMT nas duas correlações.
condições de umidade, o primeiro na umidade de
compactação e o segundo na condição de
saturação, pode-se constatar nos resultados a AGRADECIMENTOS
influência da presença da sucção na amostra. Os
valores de média para as pressões p0 e p1 foram, Agradecemos ao PPGEC/UFSC (Programa de
respectivamente, 18% e 30% menores em Pós-Graduação em Engenharia Civil da
comparação com o ensaio realizado logo após a Universidade Federal de Santa Catarina) pelo
compactação. auxílio financeiro para a confecção das peças
Por meio das leituras de força de cravação, para o experimento e ao Laboratório de
realizadas pelo anel dinamométrico, pode-se Mecânica dos Solos pela disponibilidade dos
verificar a redução da força de reação após a equipamentos.
saturação da amostra. Esse dado também
apresentou boa relação aos dados de p0 e p1.
Também foi possível classificar a amostra de REFERÊNCIAS
acordo com os limites de ID, sendo esta classifica
entre silte arenoso e areia siltosa. Constatou que Campanella, R. G.; Robertson, P. K. (1991). Use and
esse dado não condiz com a real classificação da interpretation of a research dilatometer. Canadian
Geotechnical Journal, v. 28, p. 113–126.
amostra, mas sim refle seu comportamento Espíndola, M. (2016). Ensaios triaxiais de grande escala
mecânico. em amostras de enrocamentos da UHE Machadinho.
O índice de tensão horizontal (KD), Tese (Doutorado em Engenharia). Programa de Pós-
apresentou valores decrescentes com a Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal
profundidade, devido as baixas tensões atuantes de Santa Catarina - UFSC.
Hummes, R. A.; Maccarini, M. (2009). Desenvolvimento
nas primeiras profundidades. O mesmo de um Equipamento Triaxial de Grandes Dimensões
comportamento foi observado nos parâmetros de para Enrocamentos. ANEEL P&D Tractebel Energia
K0 e OCR, pois ambos são correlacionados a KD. S.A, p. 6.
Ressalta-se que as correlações de K0 e OCR não Lunne, T.; Lacasse, S.; Rad, N. S. (1989). SPT, CPT,
são destinadas a solos residuais compactados, pressuremeter testing and recent developmentes in-situ
testing. Proceedings of the 12th International
apresentando valores relativamente elevados. Conference on Soil Mechanics and Foundation
Porém estes podem indicar variações nas Engineering. p.2339–2404. Rio de Janeiro. Brazil.
condições de compactação de solos em aterros. Marchetti, S. (1980). In situ tests by flat dilatometer.
Outro parâmetro encontrado foi o módulo Journal of the Geotechnical Engineering Division, v.
oedométrico MDMT, obtido por meio de 106, n. 3, p. 299–321.
Marchetti, S.; Crapps, D. (1981). Flat Dilatometer
correlação com ID, KD e ED. Para este parâmetro Manual. Gainesville, EUA, 1981.
a influência da sucção foi mais perceptível, como Marchetti, S.; Monaco, P.; Totani, G.; Calabrese, M.
verificou-se na redução dos valores de MDMT (2001). The flat dilatometer test (DMT) in soil
para o ensaio na condição saturada. investigations. Bali, Indonesia.
Foi também aplicada correlação para a Oliveira, O. M. de. (2004) Estudo Sobre a Resistência ao
Cisalhamento de um Solo Residual Compactado Não
estimativa do ângulo de atrito efetivo (φ’), sendo Saturado. Escola Politécnica da Universidade de São
os resultados muito próximos ao encontrado no Paulo.
ensaio de cisalhamento direto realizado na Pecapedra, L. L. (2016). Estudo da Resistência ao
amostra em estudo. A presença de sucção Cisalhamento Não Saturada de Solos Residuais de
Granito e Diabásio de Florianópolis/SC. Dissertação
também influenciou no acréscimo de φ’. (Mestrado em Engenharia Civil). Programa de Pós-
Por fim, verificou-se que o ensaio DMT foi Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal
apropriado para detectar a presença da variável de Santa Catarina - UFSC.
Schnaid, F.; Odebrecht, E. (2012). Ensaios de Campo e
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suas Aplicações à Engenharia de Fundações. São


Paulo.
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Mapeamento de Áreas Urbanas de Ocorrência de Movimentos de


Massa Deflagrados pela Pluviosidade no Município de
Florianópolis, SC.
Mônica Carvalho Generini de Oliveira
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, monica.generini@gmail.com

Rafael Augusto dos Reis Higashi


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, rrhigashi@gmail.com

Orlando Martini de Oliveira


Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, oliveiraorlando@hotmail.com

RESUMO: No Município de Florianópolis é comum a ocorrência de altos índices pluviométricos


em curtos períodos de tempo, os quais acarretam na deflagração de movimentos de massa em áreas
urbanas. A disposição espacial do fenômeno permite analisar características físicas e
sócioeconômica das regiões afetadas, de modo a colaborar com a redução de riscos através do
desenvolvimento de ações preventivas e manutenção de políticas públicas. Com auxílio do software
ArcGis e Google Earth, foram mapeadas 658 ocorrências de desastres vinculados a movimentos de
massa no Município e gerados mapas temáticos que permitiram concluir que a maior parte dos
eventos estudados ocorre em regiões com infraestrutura precária, presença de fluxo superficial de
água, declividades entre 20 a 45%, ocupadas por moradores de baixa renda e tendem a ocorrer em
solo Podzólicos vermelho-amarelo de substrato granito e Cambissolo de depósito de encostas.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento, Pluviosidade, Florianópolis, Movimentos de Massa.

1 INTRODUÇÃO Os desastres naturais podem ser


classificados, de acordo com o Banco de Dados
A ocorrência de desastres naturais apresenta um Internacional de Desastres (EM-DAT), como
estreito vínculo com as ações humanas visando sendo geofísicos, meteorológicos, hidrológicos,
à tentativa de dominar a natureza, podendo climatológicos, biológicos ou extraterrestres. Os
essas ações ou omissões interferir diretamente eventos hidrológicos - enchentes, movimentos
na prevenção e magnitude do impacto dos de massa úmidos, enxurradas e outros – têm
desastres. Nas últimas décadas, em especial a chamado muita atenção em eventos recentes,
partir dos anos 80, houve um aumento uma vez que sua ocorrência aumentou em
considerável do número de eventos de desastres proporções notoriamente maiores do que as
socioambientais registrados em bases de dado outras tipologias de desastres, resultando em
internacionais. Entre os motivos principais para vultosas perdas econômicas e de vidas. A maior
essa tendência estão a maior disponibilidade de deflagração de desastres hidrológicos tem
informações por meio de fontes diversas; relação com o aumento de eventos de temporais
crescimento da população e a ocupação e pluviosidades elevadas, sendo significativos
desordenada, advinda da urbanização e tanto eventos curtos e de alta intensidade quanto
industrialização rápida e potencializadas pela os que podem se prolongar ao longo de meses
falta de planejamento urbano (Kobiyama et al., com intensidaes menores.
2006). Nesse contexto, é de extrema importância a
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utilização de ferramentas de análises espaciais dispostos na mesma. Após o mapeamento


para compreender a dinâmica dos desastres desses dados é possível avaliar o planejamento
socioambientais com o espaço geográfico e suas urbano e construir mapas temáticos. O primeiro
características físicas e de ocupação territorial. refere-se à gestão e monitoramento de áreas, de
Para concretizar tal objetivo, é de extrema modo a identificar e avaliar locais de risco ou
importãncia a integração entre diversas áreas de proteção ambiental, redes de esgoto, água e
estudo e bases de dados, a qual pode ser transportes, zoneamento e expansão urbana,
realizada através da utilização de construções irregulares e outros. O segundo
geotecnologias e ferramentas estatísticas. trata sobre a elaboração de Planos de
Assim, é possível cruzar informações e Informação através da sobreposição de
elaborar mapas com dados georreferenciados diferentes informações sobre uma mesma
com o objetivo traduzir o comportamento dos localidade, obtendo um resultado derivado.
desastres sociombientais, em cada região de Esses produtos permitem novas análises e,
interesse, de acordo com uma série de consequentemente, a elaboração de novos
condicionantes que podem influenciar a mapas, admitindo a realização de diversos
deflagração de um evento. Com essas ciclos (Fitz, 2008; Miranda, 2010).
informações espacializadas é possível avaliar
áreas de risco, elaborar planos de zoneamento
seguros e definir estratégias de prevenção. 3 CENSO DEMOGRÁFICO 2010

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


2 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES (IBGE) realiza Censos Demográficos visando
GEOGRÁFICAS analisar estatisticamente todos os domícilios do
Brasil e realiza recortes em diversos níveis. Até
Geotecnologias são ferramentas que auxiliam as o momento de realização deste trabalho, a
geociências e trazem benefícios para pesquisas, versão mais recente do Censo é a de 2010,
ações de planejamento e gestão e demandas sendo a data de referência das análises
relacionadas ao espaço geográfico (Fitz, 2008). correspondente a de 31 de julho de 2010.
Os Sistemas de Informações Geográficas As informações foram obtidas através da
(SIG) são uma das geotecnologias utilizadas resposta de questionários básicos e da amostra.
para a avaliação e mapeamento de áreas de O primeiro é realizado em todos os domicílios,
risco, em especial de movimentos de massa. com excessão das unidades abrangidas pelo
Existem diversas definições para o conceito de questionário da amostra; o segundo investiga as
SIG. Para o contexto deste estudo, SIG é a mesmas informações do questionário básico e
representação de dados geográficos outros dados sociais, econômicos e
referenciados espacialmente com atributos demográficos. Uma das inovações do Censo
(dados não espaciais) que podem ser 2010 foi a possbilidade de preencher o
armazenados, visualizados, editados, questionário de forma online, buscando alcançar
modelados, transformados, analisados e um maior número de respostas, especialmente
integrados com diferentes materiais visando da população que não podia participar da
aplicações para soluções de problemas através pesquisa no momento da visita do recenseador,
de programas computacionais (Fitz, 2008; o qual disponibilizava um código de
Burrough e McDonnell, 1998; Miranda, 2010). identificação do domicílio ao morador
Os SIG permitem a integração de disciplinas, responsável por fornecer as respostas. (IBGE,
como fenômenos climáticos, sociais e 2011).
econômicos com o espaço físico da superfície O Setor Censitário é a menor unidade
terrestre, caracterizando pontos efetivamente contínua e de tamanho apropriado para a
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realização do censo, além de apresentar pleas variações da circulação atmosférica no


características semelhantes em toda a área. Os globo e, também, pela presença de fenômenos
316.574 Setores Censitários abrangem toda a como o El Niño (Herrmann, 2001). As chuvas
extensão do País (IBGE, 2011). mais intensas concentram-se nos meses mais
De acordo com o IBGE, domicílio é “o quentes, de outubro a março, por toda a
local estruturalmente separado e independente extensão da Ilha. A média anual de precipitação
que se destina a servir de habitação a uma ou é de aproximadamente 1500mm (Climatempo,
mais pessoas, ou que esteja sendo utilizado 2018).
como tal”. Para esta pesquisa foram
considerados os domicílios particulares 4.1 Urbanização de Florianópolis
permanentes, ou seja, que atendem única e
exclusivamente à habitação, na data de A ocupação desordenada das encostas no
referência indicada. O IBGE define, ainda, Município ocorreu em três momentos
morador como “pessoa que tinha domicílio principais: a construção da Ponte Hercílio Luz
como local habitual de residência e que, na data (década de 20), a inauguração da Universidade
de referência, estava presente ou ausente por Federal de Santa Catarina (década de 60) e o
período não superior as 12 meses”. início do funcionamento da Eletrosul e outras
instituições (década de 70). Esses
acontecimentos incentivaram a vinda de
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE trabalhadores e estudantes para o Município.
ESTUDO Contudo, muitos dos trabalhadores
apresentavam baixo poder aquisitivo e pouca
O Município de Florianópolis localiza-se no instrução de modo que, ao término das
Estado de Santa Catarina, Região Sul do Brasil, atividades de construção civil e infraestrutura,
sendo a capital do Estado. A região tem área de essas pessoas não encontraram novos empregos
aproximadamente 400km² e comprimento de e, devido ao baixo preço das terras e possuírem
norte a sul de pouco mais de 52km. A poucos recursos, ocuparam as encostas.
estimativa populacional do IBGE para o (Oliveira et al., 2007). Inicialmente, apenas a
Município no ano de 2017 é de 485.838 região do Morro da Cruz era considerada
habitantes, sendo que aproximadamente 96,2% potencialmente problemática (Raimundo,
deles habitam áreas urbanas. Cabe ressaltar que 1998), porém, a expansão urbana desordenada,
entre 2000 e 2016 a taxa de crescimento da a falta de fiscalização de Áreas de Preservação
população foi superior a 2% ao ano, superando Permanente e de construções ilegais e
a média nacional e catarinense do período irregulares, aliada com a execução de obras sem
(IBGE, 2018). projetos técnicos corretos, favoreceu ainda mais
Quanto à Classificação de Köepen, a presença desse tipo de ocupação e a área que
Florianópolis pertence ao tipo Cfa, ou seja, o se encontra em risco foi expandida.
clima é mesotérmico do tipo tropica úmido, sem
estação seca, com verão quente, temperatura 4.1 Desastres em Florianópolis
média mínima entre 3 e 18º e nos meses quentes
acima de 22ºC (Raimundo, 1998). A posição Santa Catarina é um Estado constantemente
geográfica do Município, ao sul do Brasil, atingido por desastres naturais de magnitudes
favorece correntes circulatórias como as massas variadas. De acordo com a Defesa Civil
de ar tropicais Atlântica e Continental, Polar Municipal, Santa Catarina é o Estado com
Atlântica, Frente Polar Atlântica e Equatorial maior número de registros de desastres por km²
Continental. A ocorrência de precipitação e per capita. Marcelino et al. (2008) destacam
intensa e tempestade é influenciada fortemente que 85% dos desastres ocorridos entre 1980 e
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2003 foram causados por instabilidades 5.2 Coleta de Aspectos Físicos


atmosféricas. Florianópolis, a capital do
Estado, também é assolada por diversas Para este item, foram buscados mapas em SIG
tipologias de desastres, apresentando inúmeras de formato shapefile contendo diversas
ocorrências de eventos majoritariamente características físicas da região. O Modelo
hidrológicos ao longo de sua história. Os Digital Digital do Terreno (MDT) foi
eventos de precipitação intensa concentram-se disponibilizado pelo Governo do Estado de
nos meses quentes, momento no qual Santa Catarina, em escala 1:10000 e com curvas
inundações e movimentos de massa tornam-se de nível de 2,5 em 2,5m, datado de 2012. Os
mais frequentes na região. arquivos relativos à área urbana edificada e às
rodovias da região foram obtidos através do
website da Companhia de Pesquisa de Recursos
5 MATERIAIS E MÉTODOS Minerais (CPRM). O Mapa Geotécnico foi
elaborado por Santos (1997) em escala 1:25000.
O trabalho foi realizado em quatro etapas: (1)
coleta de registros de desastres naturais em 5.3 Coleta de Aspectos Sócioeconômicos
Florianópolis; (2) coleta de aspectos físicos; (3)
coleta de aspectos sócioeconômicos e (4) O IBGE disponibiliza de forma online o
integração das informações obtidas em resultado das pesquisas para os diversos níveis
ambiente SIG. de estudo. No website do órgão, foram
coletados os dados referentes ao município de
5.1 Coleta de Registros de Desastres Florianópolis e o arquivo shapefile com a
Naturais em Florianópolis divisão das zonas censitárias do ano de 2010.
Foram utilizados dados referentes às planilhas
Foram analisados os registros de ocorrências de “Básico”, “Domicílio01”, “DomicílioRenda” e
desastres disponibilizados pela Defesa Civil “Entorno01”. Além disso, foram obtidas as
Municipal de Florianópolis. A janela de análise informações de zoneamento, realizado em 2014
é de janeiro de 2012 a fevereiro de 2018. Foram pela Prefeirura Municipal de Florianópolis
considerados apenas eventos relacionados com (PMF), obtidas pelo laboratório ArqInfo da
movimentos de massa deflagrados pela Universidade Federal de Santa Catarina.
pluviosidade, incluindo movimentos de solo,
rocha ou lama e queda de muros e barreiras. 5.4 Integração das informações obtidas em
Foram contabilizados 686 registros, sendo que ambiente SIG
658 continham informação suficiene para
inserção no software Google Earth (Tabela 1). Os registros selecionados foram inseridos no
software Google Earth, a fim de georreferenciar
Tabela 1. Total de Registros e Pontos Plotados. o local das ocorrências. As fichas dos registros
Ano Total Total Pontos continham o endereço dos eventos, que
Registros Plotados
serviram como dados de entrada para o
2012 37 37
2013 139 136 software. Quando a plataforma não conseguia
2014 49 46 encontrar o logradouro ou este era duvidoso,
2015 159 152 buscou-se o auxílio da ferramente online de
2016 51 50 Geoprocessamento oferecida pela PMF, de
2017 58 55
forma a permitir a localização do local correto
2018 193 182
do evento no software Google Earth. Os pontos
foram convertidos para o formato layer e,
porteriormente, para shapefile através das
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ferramentas KML to Layer e Export Data, podzólicos vermelho-amarelos de substrato


respectivamente, no software ArcGis. granito (PVg), diabásico (PVd) e riolito (PVr)
Com suporte do software ArcGis, foram apresentam-se em declividades mais suaves e o
gerados novos mapas com o MDE de estudo. horizonte B é mais desenvolvido. O Cambissolo
Através da ferramenta Fill, realizou-se a de depósito de encostas (Cde) está presente na
correção de incoerências, preenchimento de transição entre morros e planícies se, em
sumidouros e remoção de picos. Em seguida, materiais coluviais, não ocorrer formação do
com esse novo modelo, o mapa de declividade horizonte B; já o Pde ocorre quando há
foi gerado, com o uso da ferramenta Slope. desenvolvimento de plintita devido à
Ainda, com o mesmo arquivo, com auxílio da sazonalidade do nível d’água. Em regiões
opção Flow Direction, criou-se o mapa de planas há ocorrência de Areia Quartzosa
direção de fluxo da região, o qual serviu de base substrato sedimentos quaternários (Aqsq),
para a elaboração do mapa de contribuição, hidromórficos ou não, além de Gleissolo
efetuado com a ferramenta Flow Accumulation. substrato sedimentos quaternários (Gsq),
Os dados coletados do Censo Demográfico Podzólico substrato sedimentos quaternários
2010 foram transformados em mapas temáticos (PZsq) e Solos Moles substrato sedimentos
com apoio do software Excel e da ferramenta quaternários (SMsq). Na porção leste da Ilha,
Join do ArcGis, de forma a relacionar os dados em áreas com morros, repete-se a toposequencia
da planilha com o arquivo shape das zonas anterior até a unidade PVg. Entre o morro e o
censitárias disponibilizado pelo IBGE. Da mar há presença de areias quartzosas nas
mesma forma que para as outras análises, foram rampas de dissipação, areias de dunas e areias
plotados os pontos de registros de desastres e marinhas. Mesmo com a interferência humana
extraídas as informações de cada zona censitária ainda é possível visualizar uma sequencia lógica
na qual o ponto se encontrava. da toposequência (SANTOS, 1997).
Em seguida, de posse de todos os mapas e As unidades geotécnicas com maior
informações mencionados nesta seção e pontos ocorrência de desastres são Cde (30,2%), PVg
de ocorrência de desastres, foram tiradas (15,2%), Rr (13,7%) e Cr (13,2%). As demais
conclusões geotécnicas, socioeconômicas e apresentam menos de 10% de ocorrências.
espaciais quanto à recorrência de desastres Observa-se que ao longo dos anos manteve-se a
associados a movimentos de massa na região. tendência da deflagração de eventos nas
mesmas unidades geotécnicas, apenas em 2014
esse padrão foi levemente alterado. A análise
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO também permite a constatação de que substratos
de sedimentos quaternários (sq) tendem a
6.1 Mapeamento Geotécnico aparesentar eventos. (Figura 1).
De acordo com Santos (1997), a unidade Cde
A toposequencia é a ordem em que os solos se apresenta formação coluvionar, o que significa
apresentam no relevo, em diferentes que, em depósitos de encostas, pode haver
topografias. Na parte Oeste da Ilha, em topos de problemas de estabilidade de taludes e muros de
morros, encontram-se unidades Litossolos de arrimos, variações abruptas de resistência e
substrato ganito (Rg), riolito (Rr) e diabásio problemas em fundações, uma vez que pela sua
(Rd) com horizonte A diretamente sobre a rocha própria gênese, colúvios tendem a não
ou com ocorrência de afloramentos da mesma. apresentar estrutura de qualquer tipo e a
Em seguida, há presença dos Cambissolos ocorrência de fendas, as quais formam
substrato granito (Cg), riolito (Cr) e diabásio caminhos preferenciais para a água. A
(Cd), cujo horizonte B é de menos de 50cm de geomorfologia da encosta, microrelevos e sinais
espessura e o substrato é a rocha-mãe. Os exteriores são indicativos da instabilidade da
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encosta. Além disso, a unidade pode apresentar apresentando horizonte B menor que 50cm.
matacões dispersos e conter planos de fratura, Devido à sua localização, em áreas de
definindo caminhos preferenciais de percolação topografia íngreme, o processo de formação de
da água. Para a unidade PVg, a autora concluiu camadas de solo é dificultado (SANTOS, 1997).
que, o horizonte C, em estado natural, é muito Dessa maneira, a análise concorda com o
erodível. Esse fato é mais acentuado pelo fato estudo de Santos (1997), o qual destaca alguns
dos granitos da região apresentarem textura aspectos geotécnicos que tendem a desencadear
mais grosseira e menor quantidade de máficos. eventos de instabilidade. São eles (1) o
O quartzo e o feldspato tendem a apresentar horizonte B, o qual influencia na coesão
nenhuma coesão, a qual tende a aumentar aparente dos agregados e drenagem interna; (2)
quando o feldspato transforma-se em argila, os óxidos de ferro, que são agentes cimentantes
originando o horizonte B – com maior coesão e e influenciam na porosidade da estrutura, mais
menor erodibildiade. Daí a importância da ou menos permeável, influenciando a saturação
conservação do horizonte B em obras urbanas. do solo; (3) o horizonte C, no qual deve-se
Em adição, durante a compactação do horizonte atentar ao substrato rochoso e suas
C, pode haver quebra de feldspatos, alterando a características, como expansividade, fissuras,
resistência de aterros. Em relação às amostras falhas e fraturas da rocha e a presença de argilas
inundadas, no horizonte C, o ângulo de atrito e (4) os processos de argilização, maiores,
passa de 22 a 41 graus e a coesão é nula; no normalmente no horizonte B, caracterizando
horizonte B, o ângulo atrito apresentou uma maior coesão devido à presença de óxidos de
pequena redução, porém a coesão máxima ferro e alumínio (SANTOS, 1997).
reduziu de 90 kN/m² para 16kN/m².
6.2 Altimetria e Declividade

Com o MDT do Município, é possível


visualizar que a maioria dos eventos ocorre em
altitudes de 0 a 40m (51,4%), sendo mais
recorrente até 20m. A partir de 140m a
quantidade de eventos tende a reduzir de
maneira acentuada (Figura 2). É possível inferir
que, como a população tende a se instalar,
inicialmente, em menores altitudes, a
deflagração de eventos nesses locais tende a ser
maior. Contudo, como já é observada, a
Figura 1. Registros por Ano e Unidade Geotécnica.
expansão urbana amplia-se em direção às áreas
Rr é da classe de litossolos, os quais são desocupadas de maiores altitudes e já é possível
rasos e pouco desenvolvidos. Usualmente, o notar o aumento e estabilização das ocorrências
horizonte A está em contato direto com a rocha de eventos de movimentos de massas em
matriz, rocha alterada ou, ainda, horizonte C. altitudes de 90 a 140m com o passar dos anos.
Encontra-se em relevos ondulados e escarpados A declividade das encostas pode ser medida
e no topo de morros e encostas (SANTOS, em graus ou em porcentagem. A análise da
1997). É interessante ressaltar que a classe declividade em porcentagem foi realizada
aparece em pequena quantidade na região de levando-se em conta a Classificação de
estudo, mas, mesmo assim, apresenta um dos Declividade da Embrapa (Figura 3).
maiores índices de registros de movimentos de Os eventos tem maior recorrência terrenos
massa. A unidade Cr localiza-se próximos a forte-ondulados, representando metade dos
morros e se assemelham à unidade PVg, registros considerados. Regiões montanhosas
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podem não apresentar tanta incidência de moradias, além da existência de restrições


desastres devido à menor ocupação nessas impostas pelo Plano Diretor na inclinação em
regiões, de forma que os movimentos ocorridos vias, sendo, por isso, menor a incidência de
nessas áreas não são sempre registrados. O desastres. Ressalta-se ainda, que as ocorrências
mesmo deve ocorrer para regiões forte- não foram registradas exatamente no local em
montanhosas, com pouca ou nenhuma que o movimento de massa iniciou, mas aonde
ocupação. Áreas de declividade montanhosa e o mesmo veio ao encontro da população urbana
ondulada também aparecem com quantidades e causou danos, ou seja, locais de menor
representativas de movimentos de massa. Como inclinação em relação à origem do movimento.
esperado, áreas planas e suave-onduladas
apresentam o menor índice de eventos. A
ocorrência em terreno forte-ondulado tende a
permanecer constante, enquanto as outras
classificações não apresentam um padrão bem
definido.

Figura 4. Registros por Ano e Declividade Em Graus.

6.3 Zoneamento

Em relação ao zoneamento, as Zonas Especiais


de Interesse Social (ZEIS) são as áreas com
Figura 2. Registros por Ano e Altimetria. maior ocorrência de movimentos de massa, com
38,6% do total de registros. O Plano Diretor do
Município (2014) define as ZEIS como áreas
reservadas para moradia de população de
interesse social, com regras específicas e onde
predominam famílias com renda até 3 salários
mínimos, de uso residencial, presença de
habitações de baixa padrão construtivo, alto
adensamento populacional e infraestrutura
inexistente ou precária. A Lei ainda indica que
áreas com risco geológico ou insalubres só
podem ocorrer quando é possível realizar
Figura 3. Registros por Ano e Declividade em Porcento. medidas corretivas. A declividade máxima
para as vias em ZEIS devem ser de até 25%, em
Em relação à declividade medida em graus, geral, sendo admitidas declividades de até 33%
encostas de 0 a 20 graus representam 70,4% dos em trechos. Essas informações concordam com
eventos. Somando os eventos ocorridos em a análise de declividades, a qual indica que os
declividades de 20 a 30 graus, chegamos a um eventos ocorrem, a priori, em locais com
total de 97,6% (Figura 4). É inferido que inclinação de 0 a 40 graus. Em seguida, as
declividades maiores de 30 graus apresentam Áreas Residenciais Predominantes (ARP) são as
uma dificuldade maior para assentamento de áreas com mais ocorrências, com 26,4%. As
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Áreas Residenciais Mistas (ARM), que mais facilmente registrados e sentidos do que
comportam predominantemente residências, eventos em locais desocupados e (2) a
estão em terceiro lugar, com 11,9%. As três as interferência e presença humana acarreta a
zonas tratam de áreas residenciais, de modo que deflagração de eventos, caracterizando os
é alarmante a quantidade de vidas e patrimônio chamados desastres socioambientais. Ainda, é
que estão nas áreas mais afetadas por desastres notável a presença de eventos em rodovias, o
(76,9%). Ainda com uma porcentagem que pode acarretar em prejuízos econômicos
significativa de registros estão as Áreas de comerciais e de turismo, além de criar
Preservação com Uso Limitado de Encosta transtornos em atividades diárias da população.
(APL-E), definidas pelo predomínio de
declividades entre 30 e 46,6% e por áreas acima
da cota 100 que não estejam abrangidas pelas
Áreas de Preservação Permanente (Figura 5).

Figura 5. Registros por Ano e Zoneamento.

Apenas as Áreas de Preservação com Uso


Limitado de Planície (APL-P) e as Áreas de
Urbanização Especial (AUE), áreas
urbanizáveis que visam à preservação
ambiental, não apresentaram ocorrências, uma
vez que suas características de relevo não são as
comuns para ocorrência dessa tipologia de Figura 6. Mapa de Áreas Urbanizadas com Registros.
desastres.
Não existe um padrão claro para a ocorrência 6.5 Mapa de Contribuição
de eventos em cada área, porém é notória a
predominância de registros em ZEIS e ARP. Com intuido de facilitar a visualização, o mapa
gerado através da ferramenta Flow
6.4 Áreas Urbanizadas e Rodovias Accumulation foi modificado com auxílio da
opção Focal Statistics, no software ArcGis.
Observando o Mapa de Áreas Urbanizadas Esse mapa é gerado a partir do Mapa de Direção
elaborado pela CPRM, é notável a quantidade de Fluxo, o qual indica qual a movimentação
de movimentos de massa registrados nessas preferencial da água na área de estudo.
áreas, em especial na porção oeste da Ilha, local Os eventos tendem a se localizar nas regiões
onde o adensamento populacional é maior medianas (amarelas a alaranjadas) de
(Figura 6). A razão desse fato pode ser contribuição. Assim, é possível confirmar a
explicada por (1) eventos em áreas urbanas são hipótese de que o fluxo superficial da água é
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fator condicionante para a ocorrência dos ao entorno dos domicílios urbanos. É


eventos (Figura 7). interessante analisar a presença de arborização,
calçamento, pavimentação e bueiros ou bocas
de lobo (Figura 8).

Figura 8. Registros Totais por Quesitos do Censo 2010.

Com exceção da arborização, as tendências


tendem a permanecer iguais com o passar dos
anos. No caso da arborização, houve um
crescimento ano a ano da proporção de eventos
em locais com menos árvores. Quase 60% dos
eventos ocorreram em locais com 20% ou
menos de arborização no entorno dos
domicílios. Isso significa que (1) se houver
grande quantidade de áreas impermeabilizadas,
Figura 7. Mapa de Contribuição com Registros. isso contribui para a ocorrência de grandes
fluxos de escoamento superficial de água e (2)
6.6 Censo Demográfico 2010 caso a área não seja impermeabilizada, a
arborização reduzida contribui para a rápida
A média de moradores por domicílio das infiltração de água no solo e desestabilização do
regiões com ocorrência de desastres é de 3,1 maciço, uma vez que a presença de árvores é
moradores. Esses moradores concentram-se, em capaz de reter parte de água da chuva ou
sua maioria, em domicílios do tipo casa, com retardar sua entrada no solo, e que suas raízes
ocorrência de apartamentos em diferentes podem colaborar com o agregamento de
intensidades. O rendimento nominal domiciliar partículas do solo. Sobre a pavimentação,
mensal per capita é majoritariamente entre ½ a 65,2% das ocorrências foram em zonas com
2 salários mínimos, equivalendo a valores de pelo menos 80% de pavimentação, e a
R$255,00 a R$1020,00 em 2010. Dependendo quantidade de ocorrência diminuiu com a
do ano, essa faixa pode agregar quantidade redução da porcentagem de entornos
significativa de domicílios com rendimentos pavimentados. Ademais, 31,6% das ocorrências
mensais de ¼ a ½ salário mínimo e de 2 a 5 ocorreram em locais com até 20% de
salários mínimos per capita. Assim, nessas calçamento (um caminho mais alto que o do
localidades, devido ao baixo poder aquisitivo, logradouro), e 43,5% das ocorrências foram em
as residências tendem a apresentar baixo padrão zonas com até 80% de domicílios com bueiro
construtivo e edificações sem qualidade técnica. ou boca de lobo, de modo que a conclusão é de
O Censo também disponibiliza dados quanto que a pavimentação e infraestrutura das ruas
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realmente não são projetadas e executadas de geotécnica com os tipos de eventos mais
maneira correta e eficiente, além da deflagrados.
possibildiade da existência de bueiros e bocas
de lobo entupidos e mal localizados. Vale
acrescentar, ainda, que a tendência é de redução REFERÊNCIAS
de movimentos de massa com o aumento da
presença de calçadas nas vias, possivelmente Brasil (2014) Lei Complementar n. 482, de 17 de janeiro
de 2014. Institui o Plano Diretor de Urbanismo do
porque nesses locais a presença de calçadas Município de Florianópolis. Florianópolis, SC, BRA.
ajuda a criar um sistema de drenagem. Burrough, P.; McDonnel, R. (1998) Principles of GIS for
land resources assessment, Oxford University Press,
New York, NY, EUA.
7 CONCLUSÕES Climatempo (2018) Florianópolis - SC. Disponível em
<climatempo.com.br/climatologia/377/florianopolis-
sc> Acesso em: 21 abr. 2018.
O Município de Florianópolis é afetado Fitz, P. R. (2008) Geoprocessamento sem complicação,
anualmente com eventos relacionados a altos Oficina de Textos, São Paulo, SP, BRA, 160 p.
índices pluviométricos. O banco de registros Herrmann, M. L. P. (2001) Levantamento dos Desastres
dessas ocorrências pela Defesa Civil Municipal Naturais Causados pelas Adversidades Climáticas no
tem crescido com o passar dos anos, tornando- Estado de Santa Catarina no Período 1980 a 2000,
Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina,
se cada vez mais preciso e detalhado. Florianópolis, SC, BRA, 90 p.
De modo geral, as áreas com maior IBGE (2011) Base de Informações do Censo
quantidade de eventos relacionados a Demográfico 2010: Resultado do Universo por setor
movimentos de massa apresentam maior censitário, Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão, Rio de Janeiro, RJ, BRA, 201 p.
urbanização, declividades intensas, em especial
IBGE (1028) Panorama Florianópolis. Disponível em
de 20 a 45%, presença de fluxo superficial de <cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/florianopolis/panorama
água média a alta, infraestrutura precária e > Acesso em: 21 abr. 2018.
baixa presença de vegetação, sendo ocupados, Kobiyama, J. I. et al. (2006) Prevenção de Desastres
principalmente, por moradores de baixa renda, Naturais: Conceitos Básicos, Organic Trading,
Curitiba, PR, BRA, 124 p.
em geral com renda nominal per capita mensal
Marcelino, E. V. et al. (2008) Banco de Dados de
de cada domicílio de até 2 salários mínimos e desastres naturais: análise de dados globais e
com dificuldade de arcar com as despesas de regionais. Caminhos de Geografia, v.6, n.19.
locais seguros para habitação. O aspecto Miranda, J. I. (2010) Fundamentos de Sistemas de
geotécnico também influencia a ocorrência dos Informações Geográficas, Embrapa Informação
Tecnológica, Brasília, DF, BRA, 425 p.
eventos, uma vez que as características do solo
Oliveira, M. C. G. et al. (2017). Correlação entre
e do substrato podem induzir à instabilidade do Movimentos de Massa e Precipitação no Município de
maciço, como o caso das classes Cde e PVg. Florianópolis, SC, Conferência Brasileira sobre
As tendências encontradas para o Município Estabilidade de Encostas, COBRAE, ABMS,
de Florianópolis concordam com o panorama Florianópolis, v.1.
Raimundo, H. A. (1998) Aspectos geotécnicos e
mundial discutido em estudos sobre o assunto e pluviométricos associados à instabilidade de encostas
devem ser levadas em consideração para a em Florianópolis - SC, Dissertação de Mestrado,
criação de estratégias de prevenção de desastres. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Civil,
Para trabalhos futuros, recomenda-se incluir Departamento de Engenharia Civil, Universidade
a análise da distribuição de eventos por Federal de Santa Catarina, 343 p.
Santos, G. T. (1997) Integração de informações
magnitude, de curvatura de encostas com maior pedológicas, geológicas e geotécnicas aplicadas ao
incidência de eventos, de informação de uso do solo urbano em obras de engenharia, Tese de
características do solo (natural ou aterro) e Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
drenagem em locais com maior registro de Engenharia de Minas, Metalurgia e de Materiais,
eventos, além de relacionar o tipo de unidade Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 214 p.
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Modelos conceptuales aplicado a las remociones en masa
Luciana das Dores de Jesus da Silva 1
Universidad de Concepción, Concepción, Chile, silva.luciana.7764@gmail.com

Mauricio Aguayo Arias 2


Universidad de Concepción, Concepción, Chile, maaguayo@udec.cl

Octavio Rojas Vilches 3


Universidad de Concepción, Concepción, Chile, ocrojas@udec.cl

RESUMEN: La complejidad los factores que constituyen e interactúan en las remociones en masa,
dificulta la definición de una metodología única para determinar los peligros de deslizamientos de
tierra y evaluar el riesgo asociado. Con el objetivo de relacionar las posibles causas, efectos y
afectados por riesgos en general, fueron creados los modelos conceptuales, siendo aplicables a los
riesgos de remociones en masa. La construcción de estos modelos es muy útil ya que les permiten a
los tomadores de decisiones tener en cuenta la información obtenida por los evaluadores. Este
artículo tiene como objetivo proponer al lector una breve revisión bibliográfica de los distintitos
modelos conceptuales de remociones en masa, teniendo considerando la flexibilidad de la
aplicación la tipología y los factores del riesgo. Siendo de gran importancia debido a la capacidad de
estimar el daño o riesgo potencial en función del fenómeno, fragilidad material, exposición a través
de la relación entre ambos, como medidas de gestión del riesgo, ya que este conocimiento facilita la
etapa de evaluación para estimar los posibles impactos.

PALAVRAS-CHAVE: Modelos Conceptuales, Riesgos, Factores del Riesgo, Remociones en Masa

1 INTRODUCÍON sísmicas, acciones antropogénica, eventos


espontáneos, vulcanismo y derretimiento de
En los últimos años, la gestión del peligro y del nieve. Debido a la complejidad en la que
riesgo de la remoción en masa se han tornado en interactúan estas variables, se torna difícil
temas de gran interés para investigadores y definir una metodología única para determinar
profesionales de todo el mundo, esto debido a los riesgos de deslizamientos de tierra y evaluar
las pérdidas, tanto humanas como materiales, el riesgo asociado (Guzetti 2002).
que ha generado estos fenómenos en los últimos Con el objetivo de relacionar las
años [Aleotti & Chowdhury (1999); van Westen posibles causas y los efectos de riesgos en
et al (2005)]. Para comprender sus mecanismos, general, fueron creados los modelos
se debe considerar la influencia de factores conceptuales, y estos mismos modelos son
involucrados en ese fenómeno. aplicables a los riesgos de remociones en masa,
Según Varnes (1978), la ruptura puede debido a que permiten la descripción de la
ocurrir en formatos de movimientos de flujo o fuente de daño y los procesos por los cuales los
caída, o veces las remociones en masa, son la receptores podrían estar expuestos directa o
combinación de ambos movimientos. indirectamente, Secretária de medio ambiente y
Corominas et al (2013), argumenta que los Recursos Naturales – Instituto Nacional de
movimientos pueden ser gatillados Ecologia en Chile (Introducción al análisis de
principalmente por el clima, pero no siempre es los riesgos ambientales, 2003). La construcción
esa la causa principal de los movimientos, ya de estos modelos es muy útil ya que le permiten
que también se hace presente la actividad
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a los tomadores de decisiones superponer la puede ser comprendido como una amenaza de
información obtenida por los evaluadores. peligro a determinada situación. Él nace de una
Las Naciones Unidas en 1979, después percepción de un peligro o una amenaza
de una serie de investigaciones al respecto de la potencial, que puede tener origen diverso y ser
prevención y mitigación de desastres, utilizan sentido por un individuo, de acuerdo Vevret
los términos de Riesgo de peligro Natural y (2007). El Instituto de Pesquisas Tecnológicas
probabilidad del daño, y define la (IPT) del Brasil (2014), presenta el riesgo como
vulnerabilidad (el riesgo de desastre) como el medida de amenaza y de consecuencias
producto de esos dos factores. Posteriormente (financieras, bienes, vidas) que un evento puede
esas definiciones fueron modificadas y otros causar en un determinado intervalo de tiempo.
factores surgieron, inspirando a otros Todos eses conceptos relacionan causas, efectos
investigadores a la formulación de nuevos y afectados sea de manera directa o indirecta.
modelos conceptuales. En el marco de esa Se entiende "amenaza/peligro" un
diversidad de modelos, este artículo tiene el "evento físico potencialmente perjudicial,
objetivo de presentar una breve revisión fenómeno o actividad humana que puede causar
bibliográfica respecto de los conceptos pérdida de vidas o lesiones, daños materiales,
involucrados en esa temática, incluyendo los grave perturbación de la vida social y
factores del riesgo, métodos de mediciones, económica o degradación ambiental. Las
ventajas y desventajas. amenazas incluyen condiciones latentes que
pueden materializarse en el futuro. Pueden tener
2 EL RIESGO diferentes orígenes: natural (geológico,
hidrometeorológico y biológico) o antrópico
2.1 Elementos del Riesgo (degradación ambiental y amenazas
tecnológicas)". EIRD de las Naciones Unidas,
Un desastre puede definirse como un evento o Ginebra, 2004.
suceso que ocurre, en la mayoría de los casos,
en forma repentina e inesperada, causando sobre Cardona (1993) también define el
los elementos sometidos a alteraciones intensas, peligro como la probabilidad que ocurra un
representadas en la pérdida de vida y salud de la evento físico de origen natural o antrópico,
población, la destrucción o pérdida de los pudiendo manifestase en determinado espacio,
bienes de una colectividad y/o daños severos magnitud y tiempo, y para su descripción, es
sobre el medio ambiente (Cardona, 1993), necesario aplicar un conjunto de criterios. La
sumado al deterioro económico y social de una categorización completa es la que entrega
región que requiere ayuda externa, según Olcina Ayala-Carcedo y Olcina (2002) en Rojas
(2006). Por lo tanto, un desastre es tanto (2011), la que se resume en la Figura 1.
proceso como producto. El proceso se capta en
la creación de las condiciones de riesgo,
resultado de la dinámica de las amenazas y de
las vulnerabilidades sociales (Román, 2018)
El Marco Mundial de Directrices para
reducción de riesgos y desastres, firmando en
2004 en Hyogo, define ese concepto de la
siguiente manera: El riesgo de desastre surge
cuando las amenazas/peligros interactúan con
factores de Vulnerabilidad. El marco posterior,
firmado en 2014, actualizado y más detallado,
mantiene el mismo concepto de riesgo e Figura 1 – Criterio de Clasificación de peligros: Fuente:
Modificado de Olcina y Ayala- Carcedo, 2002 en Rojas
incorpora el concepto de resiliéncia. El Riesgo (2011).
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El peligro de remociones en masa está reciente. Los direcionamientos para mejor
determinado por la interacción entre factores describir, representar o cuantificar la
precondicionantes, preparatorios, desencadenes vulnerabilidad, dependerá del elemento
y sustentadores, esquematizados en la Figura 2, expuesto, el tipo de peligro y la escala de
de acuerdo con Gutierréz (2009): analises (Corminas, 2013).
Precondicionantes - son aquellos estáticos,
concernientes que no solo influyen en el margen La vulnerabilidad es considerada, la
de inestabilidad sino actúan como catalizadores. condición de cuanto se puede dejar afectar
Ejemplo: propiedad de los suelos. materialmiente delante de un fenômeno o
Preparatórios - son dinámicos y predisponen la evento. Esse factor está estrictamente vinculado
ladera al movimiento. Ejemplo: cambio a la capacidad de resistir, y puede ser
climático, levantamiento tectónico, mensurado por médio del que esta constituído el
deforestación y acciones antrópicas. material, la edad y conservación. El Marco
Desencadenantes – son aquellos que inician el firmado en Conferencia Mundial sobre la
movimiento y la ladera llega a ser inestable. Reducción de los desastres, ciudad de Hyogo en
Ejemplo: precipitaciones intensas, sacudidas 2004, define la vulnerabilidad" por “las
sísmicas, y socavación. condiciones determinadas por factores o
Sustentadores – controlan en una ladera activa procesos físicos, sociales, económicos y
inestable la duración, forma y velocidad del ambientales que aumentan la susceptibilidad y
movimiento. exposición de uma comunidad al impacto de
amenazas".

Según Corminas (2013) diferentes


disciplinas utilizán múltiplas definiciones y
distintos modelos conceptules para
vulnerabilidad. A partir de la perspectiva de las
ciências naturales, la vulnerabilidad puede ser
definida como el grado de perdida de
determinado elemento o um grupo de elementos
dentro de una area afectada por el peligro. Él
aun considera que para la propriedad, las
perdidas serán los valores del daño referente
Figura 2 – Estructura de las Remociones en Masa: para el valor de la propriedad. Para las personas,
Fuente: Gutierrez (2009).
seran la probabilidad de fatalidades.
La vulnerabilidad presenta diversos
Cada factor tiene su relevancia en estos estudios
conceptos alcanzando las ciências sociales,
y por lo tanto deben ser considerados durante la
dependiendo de la escala y la propuesta de
investigación. En el suelo por ejemplo, los
analises. Varnes (1983) & UNDRO (1991)
parámetros de resistencia físicos modulan la
considera como el grado de perdida, a
permeabilidad del agua producto las
determinada magnitud, expressado em uma
precipitaciones. El proceso de infiltración
escala de 1 (sin daño) para 1 (perdida totales).
depende de la condición del suelo considerando
Mas Allá de la materialidad, el factor
la compactación, estructura, materia orgánica,
exposición aparece incluyedo en el concepto de
humedad, viscosidad, calidad del agua y
vulnerabilidad contribuyendo al conocimiento
urbanización.
del riesgo a través de interacciones de dichos
Mientas que hay diversas
elementos con el ambiente peligroso (Cardona,
investigaciones en como cuantificar el peligro,
1993). Cutter (1993) también considera la
los enfoques en analisis y evalución de
exposición de un individuo o grupo a
consecuencia y vulnerabilidad aún es muy
determinado peligro. Un análisis completo de
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exposición tendrá en consideración diversos cuantitativos, pues permiten una gestión más
escenarios posibles, se asume que existe una eficiente de las capacidades de administración y
variación diaria y estacional de la exposición. las comparaciones adicionales, pero muchas
No es lo mismo la evaluación de la exposición veces, la existencia de limitaciones
de personas ante un sismo, considerando el (económicas, operativas, recursos humanos) no
sector centro de una ciudad, cuando se asume permite la aplicación de esos métodos, por lo
que la población crece durante el día (población tanto se hace necesario el uso de metodologías
flotante) y disminuye durante la noche (Rojas, alternativas.
2011).
La susceptibilidad ocurre cuando el 3. LOS MODELOS CONCEPTUALES
sistema está propenso a determinada situación,
sus elementos se encuentran expuestos a los Los modelos conceptuales son una propuesta de
daños, relacionándose con las características del correlacionar las variables involucradas con el
entorno, principalmente el contexto social. riesgo, afín de cumplir con la etapa de
Otros elementos también están vinculados a la evaluación del mismo. Según Lavell (2001),
vulnerabilidad de determinando sistema social una las etapas de la gestión efectiva del riesgo,
ante un desastre (Blakie 1994, en Rojas 2011): se da por medio de la evaluación de aspectos de
- La fragilidad social: Corresponde a la la amenaza en interacción con los aspectos de la
predisposición que surge como resultado de la vulnerabilidad, ambas en un tiempo y espacio
marginalidad y segregación social de un establecido.
asentamiento humano. El alcance del desarrollo de esas
metodologías de evolución de la amenaza,
- Falta de resiliencia: Expresa las limitaciones vulnerabilidad y del riesgo, dependen de
de acceso y movilización de recursos del factores tales como: 1) El tipo de decisiones de
asentamiento humano, su incapacidad de mitigación que se esperan tomar; 2) La
respuesta y sus deficiencias para absorber el información disponible, factible y justificable
impacto. de conseguir; 3) La importancia económica y
social de los elementos expuestos; y 4) La
En general, cuando ocurre un desastre consistencia entre los niveles de resolución
natural, un complejo sistema está involucrado. posibles de acuerdo con cada etapa de
Eso significa que no es fácil, y ninguna solución evaluación (Cardona 1993 en Rojas 2011).
puede ser encontrada. Por lo tanto, para abordar Aleotti & Chowdhury (1999) definen
los problemas de fondo, los conceptos holísticos métodos cualitativos como métodos que
son esenciales (Bell, 2004). La gestión del combinan observaciones y ponderaciones para
riesgo descripto por Bell (2004), comprende tres el cálculo del peligro. Estos dependen
partes igualmente importantes: Análisis, directamente de la capacidad intelectual del
evaluación y gestión del riesgo. profesional que está evaluando la
La gestión combina los resultados del susceptibilidad al riesgo. Los métodos
análisis de riesgo y la evaluación de riesgos para cuantitativos son más confiables, pues se basan
encontrar la mejor solución. Heinimann (1999) en análisis estadísticos, métodos geotécnicos y
afirma que el análisis de riesgo puede ser de redes neurales. La fiabilidad del producto final
carácter cualitativo, semicuantitativo y/o dependerá de la calidad de los datos de entrada,
cuantitativo, esto depende de la precisión esquematizados en la Figura 2.
deseada del resultado y de la naturaleza del
problema, y debe ser compatible con la calidad
y la cantidad de los datos disponibles.
Según Michael-Leiba et al. (2000)
atribuye relevancia los análisis de riesgos
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trabajo. Definir la escala de trabajo, en función
del objetivo muchas veces puede ser un
impedimento en la evaluación del riesgo.
Para cuantificar escalas globales, no es
necesario utilizar gran nivel de detalle, ni datos
muy precisos, como el caso de la aplicación del
índice de riesgo en Cuba, descripto por
Castellanos Abella & Van Westen (2005). Este
ejemplo utiliza un método cualitativo (matriz de
ponderaciones) para generar un mapa de índice
de riesgo, donde especifica las limitaciones y
disponibilidad de datos, además no descarta la
Figura 3 – Modelo Esquemático de los métodos. Fuente: posibilidad de aplicación para menores escalas.
Adaptado de Aleotti & Chowdhury. (1999) El objetivo de esta investigación fue mapear las
de las áreas de alto riesgo de deslizamiento para
En la literatura se presentan una diversidad de alertar las autoridades locales.
modelos conceptuales aplicadas a remociones
en masa, los cuales apenas cuantifican las
variables que componen la amenaza y
vulnerabilidad. En muchos casos, el riesgo esta
definido por una expresión que considera solo
una de las dos variables anteriores, huyendo del
patrón propuesto de por la UNDRO en conjunto
con la UNESCO con el fin de proponer patrón
de definiciones que ha sido ampliamente
aceptada en los últimos años (UNDRO 1979).
Las nuevas propuestas no cuestionan el
modelo pionero, pero si son adaptaciones
realizadas de acuerdo con cada caso de estudio,
disponibilidad de datos, escala de análisis entre
otros factores a ser considerados. Algunos
ejemplos de modelos conceptuales revisados en
la literatura, con sus ventajas y desventajas,
están presentes en la Tabla 1.
Los modelos conceptuales, presentados en la
Tabla 1, son a priori, simples y generales, pero
lo que determinará la complejidad son la escala,
la disponibilidad de datos, el objetivo de la
investigación y método aplicado (cuantitativo,
cualitativo o ambos).
Aleotti & Chowdhury, (1999) se enfoca
en la descripción de los métodos utilizados para
evaluar el peligro, bien como métodos
cualitativos, como análisis de índices e mapas
geomorfológicos, y métodos cuantitativos,
como el uso de análisis estadísticos, análisis
geotécnicos y red neurales, ambos dependientes
de la disponibilidad de datos y la escala de
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Auto Aleotti; R & E. A. Castellanos Abella . & C. J. Jamaludini S. &. Uzielli M.; et al (2008) J. Corominas et al (2013) Prakriti Naswa P.R.Shukla Bell et al (2004)
res y Chowdhury., 1999. Van Westen (2005) Hussein A. N (2015) R = (H×C×E),
Mod (2006) Indice de R = P(Mi) P(Xj|Mi) P(T|Xj) VijC, Riesgo Climatico Inducido = H = probabilidad de
elos R = H * V * E Ri = Hi * Vi Vulnerabilidad fn (hazard, vulnerability) ocurrencia de un evento
R=HxC P(hazard) fn (SCV, SDV, potencialmente dañino dentro
Risk = Hazard x V=IxS CCV) (5) de un período de tiempo
Consequence. Indice de Vulnerabilidad determinado, un área
(VI)fn(CCV,SCV,SDV) determinada y con una
magnitud dada
C = (potential) resultados que
surgen de la ocurrencia de un
evento.
E = Elementos del Riesgo
(Personas en Edificaciones),
Vari R - Riesgo, Ri – Indice de Riesgo R – Riesgo V – Indice de R - es el riesgo debido a la ocurrencia de un Variables de condición del C = Ps×Pt×Vp×Vpe×Pso,
ables H – Peligro/ Amenza Hi –Indice de Amenaza H – Amenaza Vulnerabilidad deslizamiento de tierra de magnitud Mi sobre un sistema (SCV); variables de Ps = Probabilidad de impacto
que V -Vulnerabilidad Vi – Indice de Vulnerabilidad C - Consecuencia I - Intensidad del elemento en riesgo localizado a una distancia X de desarrollo sostenible (SDV); espacial dado un evento (i.e. of
comp E - Elementos en Riesgo deslizamiento la fuente de deslizamiento, variables de cambio climático Impacto generado por un evento
onen S – Susceptibilidad de P(Mi) es la probabilidad de ocurrencia de un (CCV); a un edifiio)
los elementos en riesgo deslizamiento de magnitud Mi, Perdidas Esperadas= P Pt = Probabilidad de impacto
P(Xj|Mi) - es la probabilidad de que el (hazard) * loss per hazard temporal dado un evento (i.e. of
deslizamiento alcance un punto localizado a una Horas de operación perdidas la ocupación de un edificio)
distancia X de la fuente de deslizamiento con una debido a una perturbación Vp = vulnerabilidad del edificio
intensidad j, ciclónica (CCV).: Percentagen Vpe= vulnerabilidad de las
P(T|Xj) - es la probabilidad de que el elemento de area cubierta por manglares personas
esté en el punto X en el momento de la ocurrencia (SDV). Porcentaje de activos Pso= probabilidad de ocurrencia
del deslizamiento de tierra, cubiertos por en seguridad estacional (por ejemplo,
Vij - es la vulnerabilidad del elemento a un (SCV). avalanchas de nieve solo en
deslizamiento de magnitud i e intensidad j, e invierno).
C - es el valor del elemento en riesgo.
Vent Se adapta a ambas Modelo generalista, utilizado con Modelo Considera distintas Modelo que considera metodologia cuantitativa y En casos de bajos recursos, Permite calcular el riesgo
ajas metodologias: calitativa metodo calititativo; Escala global generalista, escenários de calitativa; Propone Validaciónes, por ló tanto, permite obtener una vision causados por procesos
y cantitativa. (aplicada a todo un país); permite metodo calitativo vulnerabilidad física; mejor calidad del produto de salida;Considera las general de los fatores del específicos; Diversidade de
ser aplicado con limitación de (uso de Utiliza probabilidades; amenazas, vulnerabilidades y contabiliza los peligro; Permite cuantificar las datos de entrada; Metodologia
datos y baja disponibilidad; Se ponderaciones por Valora la consecuencia elementos en riesgo; medidas preventivas y cuantitativa y cualitativa
puede utilizar com metodos en criterios); por médio de apenas la Describre la diversidade de metodologia paleativas; Adaptado al estúdio
cantitativos, dependiendo de la Adaptavel a vulnerabilidad existentes, considerando las características del tipo de vulnerabilidad y
calidad del dato de entrada. cualquer escala de deslizamiento. infraestructura de transportes.
Desv Mayor descripción del Depende del buen senso Depende del buen No considera el peligro, En caso de limitación de datos, implicaria en la Extension de las predicciones Incertidumbre asosciada al
entaj uso de las metodologias profesional, para que las senso profesional; apenas la intensidad con calidad del producto final; La validacion em a condiciones futuras; Prioriza calculo de riesgo por riesgo;
as para cuantificar los ponderaciones y el resultado final No considera que ocurre el evento; algunos casos implica en uso de otros recursos; actuales medidas adaptativas. Incertidumbre asosciado a cada
peligros (principalmente sean cohenrentes. valorar la Considera apenas la Limitaciones Estadísticas valor; Los resultados deben ser
pendiente) y elementos vulnerabilidad. vulnerabilidad como el considerados relativos y no
en riesgo. principal factor absolutos.
determinante del riesgo
de remoción en masa.
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En la evolución de las remociones en masa en porcentaje de las áreas cubiertas por manglares,
Malasia, Jamaludini S. &. Hussein A. N (2006), perdida de horas sin operaciones cuando hay
se genero el mapa de riesgo de remociones en situación climática critica, porcentaje de áreas
masa utilizando ponderaciones para peligros y seguras cubiertas expresos por una curva de
consecuencias (factores considerados en el probabilidad. En caso de las líneas ferrocarriles,
modelo conceptual), aplicados a una escala se calculó la vulnerabilidad y peligro. El
local. Este estudio tuvo el objetivo de peligro, es expresado por un índice lo cual
considerar los factores del peligro, combinado considera las variables climáticas y áreas
con el índice de consecuencia, de vida y seguras. Ese modelo conceptual fue adaptado a
económicas. Analiza como el estado y realidad y necesidad de la investigación,
instalación de las vías, pendientes, distancia y considerando objetos y pérdidas económicas y
otros factores incrementan riesgos de no las vidas de manera directa, utilizando
deslizamiento. metodología semicuantiativa, en función de los
Uzielli M. et al (2008), propone la índices.
cuantificación del riesgo, atribuyendo mayor Bell et al (2004) presenta un modelo
importancia a la vulnerabilidad por medio de la conceptual definido como la probabilidad de
relación entre la susceptibilidad de los que ocurra un fenómeno potencialmente dañino
elementos en riesgo con la intensidad con que dentro de un período de tiempo específico,
ocurre los eventos, en una escala local. Esa dentro de un área dada y una magnitud dada,
investigación utiliza método cuantitativo, y por consecuencia que significa los resultados
lo tanto, se supone disponibilidad o capacidad (potenciales) que surgen de la ocurrencia de un
de levantamiento de datos de mejor calidad. fenómeno natural (incluida la vulnerabilidad, en
Este modelo conceptual se diferencia de los relación de la ocurrencia de un fenómeno
modelos comunes de la literatura porque no natural (incluida la vulnerabilidad, la
considera la cuantificación de las amenazas, probabilidad de impacto temporal y espacial, así
planteando el control del riesgo a través de la como la probabilidad de ocurrencia estacional)
debilidad, ya que muchas veces no se puede y los elementos en riesgo que se refieren a
impedir la ocurrencia de los fenómenos. personas y casas. Esa metodología presenta para
Corominas et al (2013) utiliza un escala local, un cálculo sumamente detallado de
modelo conceptual más robusto, y propone el cada elemento del riesgo en cuestión,
uso de métodos cuantitativos y cualitativos demostrando la disponibilidad de datos. Se
disponibles para cuantificar los elementos del recomienda en ese trabajo, considerar las
riesgo, considerando las características incertidumbres asociadas, y que los resultados
intrínsecas de cada problema. Propone la de la evolución del riesgo sea tratados como
validación de las metodologías con el objetivo relativo y no como absolutos.
de fornecer mayor cualidad de información. Entre los diversos modelos presentes en
Este caso demuestra las posibles combinaciones la Tabla 1, los ejemplos citados recién permiten
de métodos disponibles que se puede aplicar en observar que los modelos conceptuales son
un mismo modelo conceptual. flexibles, permitiendo la adaptación y
Prakriti Naswa P.R.Shukla (2015) combinación de métodos. Más allá de los
utiliza el modelo de conceptual del riesgo en modelos, las variables más consideradas en los
función del peligro climáticos y de la modelos anteriores como indicadores de
vulnerabilidad para infraestructura energética peligro, vulnerabilidad y elementos en riesgo, se
(uno de los mas grandes puertos en India y encuentran descriptos en la Tabla 2 y 3:
líneas ferrocarriles – en ese sumase los
problemas de remociones en masa). En el
puerto, el índice de vulnerabilidad fue utilizado
para calcular la debilidad del puerto basado en
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Tabla 2 – Amenazas – Remociones; Fuente: Adaptado vulnerabilidad) en dependencia del objetivo de
por la autora la investigación, escala y datos disponibles. Las
adaptaciones hechas en modelos permiten
Geologicos/ Pendiente; Sedimentación en
Geomorfologicos/ determinados tipos de cuantificar las remociones en masa, permitiendo
Litologicos formaciones (Granítica, ampliar posibilidades de aplicaciones de cada
Karsica); Erosión ; Suelos modelo conceptual, ejemplificado en el caso de
Descubiertos; Tipo de Suelo; la India (Prakriti Naswa P.R.Shukla, 2015), que
Curvatura; Uso del suelo;
investigó la situación del puerto y de los
Parametros de Resisténcia.
Parametros físicos . ferrocarriles, presentando la vulnerabilidad
Antrópicos Proyectos Abandonados; económica por medio de la cuantificación la
Corte en el talud; Incedios exposición de los transportes a los fenómenos
Climáticos Precipitaciones; Nieve. climáticos.
Sísmico y Volcánico Ruptura de Fallas Geológicas; La escala de los datos está vinculada
Terremotos; Lahares.
directamente la disponibilidad de datos y
capacidad de levantamiento (recursos
Tabla 3- Vulnerabilidad – Remociones; Fuente: Adaptado
por la autora.
económicos y humanos). Aún que estos
recursos sean limitados, el manejo profesional
Construciones Material; Estado de permite que adaptaciones sean hechas (como el
Conservación; Ubicación; caso descripto por Castellanos Abella & Van
Deformaciones; Quebras Westen, 2005), permitiendo la toma de
estructurales; decisiones por las autoridades
Vias Sin peligro; Vías peligrosas;
Material; Flujo y tipo de
gubernamentales.
vehículos; Estado de El último Marco Mundial para
Conservación. Reducción del Riesgo de Desastre valora la
Personas Desventaja Moral; Salud fisica importancia de capacidad de resiliencia de las
y mental; Sexo; Edad comunidades dentro de la gestión, por lo tanto
Vehículos Tipo de veículos; Estado de la investigaciones deben fortalecer las
Conservación
propuestas de mitigación de los riesgos de
remociones en masa, a través de la
4 CONCLUSIONES
incorporación del elemento de resiliencia como
variable a ser cuantificada en los modelos
Para gestionar el riesgo es necesario analizar y
conceptuales. La capacidad de recuperación de
evaluar. El análisis comprende la descripción
este sistema pos desastre es relevante en la
del problema, identificando las causas y los
gestión del riesgo y puede ser expresado a
factores que lo influencian. La evaluación es la
través de indicadores económicos (cantidad de
etapa de cuantificar las variables del proceso
empleados, desempleados, trabajador
anterior. Utilizar los modelos conceptuales es
autónomo, o datos de renta por sector entre
una herramienta que auxilia en la evaluación del
otros) del censo.
riesgo, porque dimensiona las variables que
influencian en las remociones en masa,
entendiéndose la amenaza, como interacción
REFERÉNCIAS
entre la pendiente, erosión factores climáticos y
actividad sísmica y otros, en función de la Aleotti, P.; Chowdhury. R. (1999). Landslide hazard
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Panorama do Mapeamento de Áreas de Risco no município de


Salvador-Bahia
Jair Lopes da Silva Junior
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, jairlsjr@yahoo.com.br

Elaine Gomes Vieira de Jesus


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, elainegomes623@gmail.com

Elias Nasr Naim Elias


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, elias_naim2008@hotmail.com

Rita Jane Brito de Moraes


Defesa Civil de Salvador, Salvador, Brasil, ritacodesal@gmail.com

Mauro José Alixandrini Junior


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, mauro.alixandrini@ufba.br

RESUMO: O aumento populacional nas grandes cidades tem levado à ocupação de áreas
inapropriadas à habitação humana. Esses locais tornam-se “áreas de risco” apresentando maior
probabilidade de ocorrência de desastres. O deslizamento de terra é o principal tipo de desastre que
atinge o Brasil e sua ocorrência está relacionada à causas naturais e interferência do homem. Desta
forma, esse trabalho tem como objetivo apresentar a metodologia utilizada para mapeamento de
áreas de risco abordada no Plano Diretor de Encostas (PDE) no ano de 2004 para o município de
Salvador e compará-la com a metodologia utilizada atualmente pelo Plano Preventido de Defesa
Civil (PPDC) do município, no que tange à definição do grau de risco das encostas. Com este
estudo percebeu-se que o documento oficial que classifica as encostas de Salvador quanto ao grau
de risco (PDE) precisa de atualização principalmente pelo fato de ter sido elaborado em 2004, o que
indica que a situação de algumas encostas sofreu alterações.

PALAVRAS-CHAVE: Áreas de risco, Metodologia de mapeamento, Plano Diretor de Encostas


(PDE), Defesa Civil.

1 INTRODUÇÃO Por este motivo, torna-se de fundamental


importância o desenvolvimento de instrumentos
Os deslizamentos de terra são exemplos de eficazes que possibilitem a identificação de
desastres que ocorrem com frequência em áreas áreas de riscos de deslizamento promovendo o
inapropriadas à ocupação humana. Estas áreas planejamento e gestão e minimizando o impacto
de risco geralmente apresentam alta destes eventos.
declividade, ocupação desordenada, lançamento É importante estudar as metodologias que
de esgoto e lixo em locais inadequados, etc. classificam o grau de risco de deslizamento das
Estes eventos podem ocasionar perdas materiais encostas, as quais estabelecem parâmetros que
e até mesmo de vidas. medem a probabilidade da ocorrência destes
deslizamentos.
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Este trabalho tem como objetivo apresentar a as condições de estabilidade são alteradas,
metodologia utilizada para mapeamento de tendo um mecanismo de causa e efeito. Para
áreas de risco abordada no Plano Diretor de Ahrendt (2005) “fatores físicos como ocorrência
Encostas (PDE) no ano de 2004 para o de chuvas e os fatores antrópicos representados
município de Salvador e compará-la com a pelo processo de urbanização e desmatamento
metodologia utilizada atualmente pelo PMRR e são os principais agentes causadores de
PPDC (Planos Preventivos de Defesa Civil) de escorregamento”.
Salvador, no que tange à definição do grau de Ações antrópicas são efeitos que advêm de
risco das encostas. atividades desenvolvidas pelo homem, como
desmatamentos, cortes nos terrenos, aterros para
2 REFERENCIAL TEÓRICO construção, retificação de canais fluviais, entre
outras, segundo Caneparo et al. (2013).
2.1 Movimento de Massa De acordo com Silva Jr. (2018), a chuva é
um fator que deve ser analisado junto com
Os movimentos de massa são fenômenos que outros fatores condicionantes, pois apenas o
envolvem tanto condicionantes antrópicos fato de haver um alto índice de chuva não
quanto naturais e que se caracterizam pelo implica que ocorrerá um deslizamento. Ela é o
transporte de material na encosta com ação da principal fator condicionante para o movimento
gravidade. de massa, visto que o Brasil tem um alto índice
Existem vários tipos de classificações de de pluviosidade, provocando saturação,
movimento de massa, que variam pelo tipo de reduzindo a resistência e assim a perda de
material, velocidade, volume, entre outros estabilidade da encosta.
fatores. Augusto Filho (1992), Faria (2011) e A vegetação pode trazer efeitos favoráveis e
Bezerra (2016) consideram que os movimentos desfavoráveis para encosta. Geralmente a
de massa podem ser de quatro tipos: vegetação atua de forma positiva na estabilidade
escorregamentos (slides), quedas (falls), da encosta, exceto algumas espécies como as
corridas (flows) e rastejos (creep). bananeiras e o capim colonião, cuja raízes não
Escorregamento, também conhecido como fixam no solo e facilitam a concentração de
deslizamento, é um movimento de massa com água da chuva, segundo Silva Jr. (2018).
velocidade rápida e volume definido, que se
desloca para baixo ou para fora do talude. As 2.3 Conceitos Relacionados ao Risco
quedas caracterizam-se pelo desprendimento de
fragmento de solo, com uma velocidade muito Existem vários termos relacionados ao
rápida. As corridas acontecem devido à perda de conceito de Risco. É necessário que estes
atrito entre as massas por consequência da alta conceitos sejam esclarecidos bem como a
presença de água no solo. Esse tipo de relação entre eles. Alheiros (1998), define risco
movimento de massa é o mais perigoso, pois o como as consequências em termos de danos e
solo pode se transformar em um fluido viscoso, perdas, e define perigo como à probabilidade de
carregando tudo pela frente. Os rastejos são ocorrência de um desastre. Segundo Bitar
movimentos de massa com velocidade lenta, se (2014) suscetibilidade está relacionada com a
comparada com os escorregamentos, e ocorre propensão ao desenvolvimento de um fenômeno
geralmente em encostas com pouca declividade. ou processo em uma dada área (voltado às
características físicas do local) e vulnerabilidade
2.2 Fatores que Influenciam os Movimentos significa o grau de perdas e danos associados
de Massa aos elementos expostos (0 a 1), quanto maior o
grau, maior a vulnerabilidade (enfoque nas
Os movimentos de massa acontecem quando características sociais).
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2.4 Plano Diretor de Encosta (PDE) etc.

Segundo a GEOHIDRO (2004), empresa 2.4.2. Módulo II – Diagnóstico


responsável pela elaboração do Plano diretor de
Encosta, o PDE “contempla estudos técnicos, Silva (2016) afirma que o Diagnóstico
econômicos e sociais, sistematizados e caracterizou-se pela compreensão dos fatores
direcionados para o enfrentamento do complexo condicionantes ao risco (sociais e/ou
problema do risco geológico associado às ambientais) e, de forma sequencial, dos
encostas da paisagem de Salvador”. problemas relacionados a instabilidade de
O PDE foi divido em quatro módulos: taludes e das encostas, além da determinação da
Módulo I - Inventário das áreas de risco; distribuição espacial do risco de acidentes em
Módulo II - Diagnóstico dos problemas das regiões ontem o assentamento é precário,
encostas; Módulo III - Prognóstico das soluções relacionados a suscetibilidade a
requeridas e o Módulo IV - Plano de ação. escorregamentos e das potenciais perdas
Mattos et al. (2005) e Silva (2016) afirmam relacionadas ao ser humano e de materiais.
que a metodologia que é empregada nos De acordo com Mattos (2005), a abordagem
estudos, faz uso dos conceitos presentes na relacionada ao Diagnóstico está relacionada aos
bibliografia de carater nacional e internacional aspectos: conhecimento dos aspectos geológico-
no que se refere a gestão em áreas de risco e geotécnicos, geomorfológicos e relacionados ao
elaboração de Cartografia Geotécnica, podendo uso do solo; diagnostico fisico-ambiental das
ser citados: Varnes, D.J. (1985); Ayala, F.J. áreas de risco onde ocorreu a investigação e
(1987); Augusto Filho, O., et al. (1990); Cerri, vistoria, na etapa relaciada a caracterização dos
L.E.S. (1993); IAEG (1976); Prandini, F.L et al. problemas de ordem física ou antrópica; e
(1995) e Zuquette, L.V. (1993); dentre outros. diagnóstico socioeconômico, onde são
abordados os apectos socioeconômicos dos
2.4.1. Módulo I – Inventário assentamentos identificados na etapa de
“varredura”.
De acordo com Mattos (2005), o inventário
diz respeito ao componente do PDE onde estão 2.4.3. Módulo III - Prognóstico
sistematizados diversos dados e informações
que dão subsidio para que sejam elaborados No que diz respeito ao prognóstico, de
trabalhos que estejam associados com a acordo com Mattos (2005), este compreendeu o
caracterização fisico-ambiental e conjunto das intervenções que são necessárias
socioeconômica dos assentamentos dispostos para que ocorra o controle do risco, bem como,
em encostas e com situação de risco de morte e a recuperação das áreas objeto do Plano,
perdas materiais. Desa forma, a caracterização permitindo garantir a segurança e,
físico-ambiental é composta pela identificação consequentemente, oferecer melhores condições
dos aspectos geológicos, geomorfológicos, de vida para as pessoas que residem nestes
geotécnicos e sobre o uso e cobertura do solo, locais, assegurando a sua integridade física.
bem como, o registro de ações antrópicas Este mesmo autor afirma que o conjunto de
responsáveis por degradações de encostas no intervenções é compostos por três grupos
municipio. Por sua vez, a caracterização diferentes de ações, sendo estes: Recuperação
socioeconomica diz respeito ao levantamento dos taludes e das encostas através de obras de
das populações que se situam nas áreas de risco, contenção, proteção e urbanização;
de acordo com parametros relacionados a reassentamento de familias residentes em locais
quantidade de pessoas, escolaridade, aspectos de risco, de forma mais especifica, aquelas que
de saúde, faixa etária, aspectos das edificações, moram em construções com riscos relacionados
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as caracteristicas geologico-geotécnicas e determinou o risco das encostas foi feita de


topográficas de uma detemina área; Projeto de caráter qualitativo. O risco foi determinado a
Educação ambiental e comunitário, onde partir dos fatores condicionantes relacionados
procura-se sensibilizar e mobilizar a população no quadro 1 seguindo os critérios apresentados
residente nas áreas de riscos, permitindo no quadro 2.
capacitar e indicar para estes questões
relacionadas aos meios de sobrevivência Quadro 1: Fatores condicionantes para determinação do
ocasionadas pelas suas condições habitacionais. grau de risco.
FATORES ASPECTOS A SEREM
CONDICIONANTES OBSERVADOS
2.4.4. Módulo IV – Plano de Ação presença de trincas no solo
existência de árvores inclinadas
1 - Instabilidade
Mattos (2005) e Silva (2016) afirmam que o comprovada
escorregamentos ocorridos no
Plano de Ação foi caracterizado pelos local
elementos diretivos para a implantação e gestão existência de casas fissuradas
2 - Efeitos e ocorrência de perdas humanas
do PDE. Então, são compostos pelo conjunto de consequências da
ações e informações que viabilizam atingir ocorrência de perdas materiais
instabilidade
metas de eficiência técnica, econômica e social talude de corte > 60º
ao longo de 10 anos. Neste sentido, os (desprotegido e/ou sem
elementos que estabelecem o plano de ação são: drenagem)
3 - Topografia
talude de aterro lançado > 45º
desfavorável
(desprotegido e/ou sem
a) Hierarquização das Intervenções que diz drenagem)
respeito a um modelo para a tomada de OBS: observar altura do talude
decisão, sendo este dado a partir do blocos de rocha instáveis
multicritério, adaptação as caracteristicas das áreas de pedreiras com mergulho
áreas de risco previstas no PDE; da rocha desfavorável
4 - Geotecnia;
presença de solo expansivo
geologia
erosão (vegetação inapropriada,
b) Cronograma fisico-Financeiro: Aborda a desfavorável
lançamento concentrado de águas)
distribuição dos investimentos para que PDE aterro lançado (solo solto)
possa ser implantado ao longo de um período lixo no talude
de 10 anos; Fonte: PDE, 2004.

c) Educação Ambiental e Desenvolvimento Quadro 2: Critérios para determinação qualitativa das


Comunitário: Caracteriza as diretrizes para classes de grau de risco
CLASSIFICAÇÃO DO GRAU DE RISCO – ASPECTO
que seja desenvolvido um trabalho de DO LOCAL
educação ambiental e de desenvolvimento Mantidas as condições
BAIXO - Presença dos
comunitário, onde, por meio do incentivo a existentes, não se espera a
fatores condicionantes 3
mudança de atitudes das pessoas que residem ocorrência de eventos
e/ou 4. Não se observam
em áreas de riscos, permite-se realizar uma destrutivos durante a época
processos de
de chuvas intensas e
tentativa para que estes riscos sejam Instabilização.
prolongadas
reduzidos; Mantidas as condições
MÉDIO - Presença dos
existentes, é reduzida a
quatros fatores
d) Arranjo Institucional: Diz respeito a estutura possibilidade de ocorrência
condicionantes. Processo
institucional que permite a implementação e de eventos destrutivos
de Instabilização
durante a época de chuvas
gestão do PDE no intuito de cumprir as Incipiente.
intensas e prolongadas
questões propostas.

No PDE (2004), a avaliação dos fatores que


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ALTO - Presença dos do solo e grau de risco.


Mantidas as condições
quatros fatores A Defesa Civil de Salvador firmou um
existentes, é perfeitamente
condicionantes, Processo
de Instabilização em pleno
possível a ocorrência de convênio com a UFBA em 2016, visando o
eventos destrutivos durante a desenvolvimento de um Sistema de
desenvolvimento,
época de chuvas intensas e
podendo-se monitorar a Informações de Riscos (SIG-R) que contribuisse
prolongadas.
sua evolução. na tomada de decião dos gestores, uma vez que
MUITO ALTO - Presença Mantidas as condições este sistema é alimentado com as informações
dos quatros fatores existentes, é grande a
condicionantes, processo probabilidade de ocorrência
de ocorrências de deslizamento de encostas e
de instabilização em de eventos destrutivos sua localização espacial, indicando a
avançado estágio de durante a época de chuvas necessidade de acionar ou não o sistema de
desenvolvimento, não intensas e prolongadas. Em alerta e alarme. Desse convênio também foi
sendo mais possível alguns casos a ocorrência do gerado um Manual de Procedimentos de adição
monitorar a sua evolução evento destrutivo é iminente.
e edição de informações geográficas, para os
SEM RISCO – Não há presença de nenhum dos quatros
fatores condicionantes Setores de Mapeamento de Áreas de Risco de
Fonte: PDE, 2004. Encostas e Áreas Alagáveis
(SEMARE/SEMARA) que tem como objetivo
2.5 Defesa Civil de Salvador - CODESAL sistematizar o processo de mapeamento de
encostas em campo (identificando feições a
A Defesa Civil de Salvador é um órgão serem mapeadas) e padronizar a simbologia
municipal, criado na década de 70, ligado à para elaboração dos mapas. Também foi feito
Secretaria da Cidade Sustentável e Inovação uma parceria com o Istituto de Pesquisas
(SECIS) e tem como missão propiciar a Tecnológicas (IPT) com o objetivo de elaborar
segurança da população, reduzindo os desastres um Plano Municipal de Redução de Riscos de
naturais na cidade de Salvador. Escorregamentos e Alagamentos de Salvador
Inicialmente a Defesa Civil de Salvador tinha (PMRR). O IPT também visou a elaboração,
como objetivo, atuar durante e após os implantação e operação de Planos Preventivos
acidentes, avaliando as áreas atingidas e de Defesa Civil (PPDC) baseados em sistemas
fazendo o atendimento social. Isso mudou em de monitoramento e alerta de chuva para
2015, quando Salvador registrou um dos deslizamentos e alagamentos no Município.
maiores desastres já ocorridos em toda sua Este plano está organizado em 4 níveis:
história, causando mais de 20 mortes. Depois Observação, Atenção, Alerta e Alerta máximo e
disso, a Defesa Civil passou por uma cada um deles descreve as principais ações a
restruturação, atuando também na prevenção e serem tomadas.
investindo na contratação de novos
profissionais como: engenheiros, assistentes 2.5.1 Programa Municipal de Redução de
sociais, geólogos, entre outros, a fim de reforçar Riscos (PMRR)
a atuação em campo.
Foram criados os Setores de Mapeamento de O PMRR de Salvador compreende dois eixos
Áreas de Risco de Encostas e Áreas Alagáveis básicos de atuação: plano para ações e medidas
(SEMARE/SEMARA) e passou-se a estabelecer de caráter não estrutural e plano de ações de
elementos que seriam identificados em campo natureza estrutural.
para mapeamento de áreas de risco, envolvendo O plano de ações não estruturais compreende
dados relacionados às encostas como: altura, medidas de convivência com as situações de
declividade, vegetação, talude de corte e aterro, risco como o PPDC, trabalhos de mobilização,
feições erosivas, feições antrópicas, feições de capacitação e treinamento de comunidades em
instabilidades, drenagem natural, geologia, grau áreas de risco, fiscalização e controle do uso e
de compactação, porosidade e permeabilidade ocupação do solo, e ações de preparação para
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situações de risco. rachaduras nas estruturas de casas e muros,


No âmbito do PMRR, foram identificadas inclinação de árvores e postes, volume
algumas áreas de risco em microbacias concentrado de águas de chuva escoando pelas
urbanizadas para o estudo de concepções de encostas, e outras anormalidades observadas nas
sistemas de drenagem, e alternativas áreas de risco de escorregamentos.
urbanísticas e habitacionais em terrenos de Estudos de correlação de chuvas e
baixada segundo o Plano de Intervenções escorregamentos realizados por Tatizana et al
Estruturais específicas de melhoria da drenagem (1987) permitiram entender a lógica da ação das
urbana, no âmbito deste outro eixo de gestão de chuvas sob o ponto de vista de condicionante
riscos do PMRR. predisponente e condicionante deflagratório. Os
A seleção dos tipos de intervenções estudos explicaram por que às vezes não há
estruturais mais apropriados à solução e/ou registros de escorregamentos, mesmo em
minimização de situações de risco, de acordo eventos de chuvas com altos valores
com o mapeamento realizado, tem como pluviométricos superiores, por exemplo, a 250
objetivo orientar a execução de um conjunto de mm; e por que os mesmos eram deflagrados por
obras de engenharia e intervenções chuvas de “apenas” 60 mm de pluviosidade
considerando-se questões econômico- total. A partir desses estudos foi possível definir
financeiras, prazo de execução, de desempenho limiares de “chuvas críticas” para serem usados
técnico, arquitetônicas e urbanísticas, como parâmetro de operação de planos de
manutenção, entre outras, a serem contingência baseados no monitoramento das
desenvolvidas a curto, médio e longo prazo no chuvas. O PPDC é assim estruturado segundo
âmbito do Plano de Intervenções essa lógica de que, a partir de um dado valor de
Estruturais de Salvador. As principais chuva predisponente e a previsão de ocorrência
tipologias, plenamente reconhecidas no meio ou continuidade de chuvas com potencial de
técnico nacional, de obras e intervenções incidir um pico de alta intensidade de chuva,
estruturais. Em uma dada localidade identificada como área
de risco de escorregamentos, os terrenos de
2.5.2 Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC) encosta dessa área de risco podem sofrer um
processo de instabilidade que evolua para uma
O PPDC específico para escorregamentos condição de ruptura durante ou logo após essas
está baseado em dois pressupostos técnicos de chuvas ditas deflagradoras.
atuação: a previsão e a prevenção. Os estudos O Plano considera as características
técnicos que embasam a lógica de operação do geológico-geotécnicas dos terrenos, a alta
PPDC são assim, a capacidade de prever com incidência de escorregamentos induzidos por
antecedência a incidência de eventos intervenções humanas e principalmente os
pluviometeorológicos adversos, e a capacidade resultados de análise de correlação de chuvas e
de se tomar ações preventivas de proteção civil, escorregamentos já desenvolvidos para
antes da deflagração de escorregamentos nas Salvador.
encostas.
Assim, o modelo lógico do PPDC para 3 ANÁLISES
escorregamentos está estruturado em 3 critérios
técnico-operacionais: no acompanhamento dos 3.1 Análise de dados do PDE
dados de chuva, em dados de previsão
meteorológica e na observação de feições de O PDE (2004) estabeleceu uma classificação
instabilidade indicativas de risco iminente de do risco geológico de Salvador com base na
ocorrência de escorregamentos tais como trincas divisão em 17 regiões administrativas. Essa
e degraus de abatimento nos terrenos, subdivisão generalizou muito o problema das
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ações de tomadas a época e se desatualisou com Defesa Civil atualmente produz os mapas da
rapidez uma vez que sua metodologia não foi área, mapa de risco, mapa de evacuação, mapa
adotada pela Defesa Civil para mapeamento de de placas, mapa diagnóstico, mapa de
novas ocupações. intervenção.
O PDE (2004) Salvador no ano de 2004 O mapa da área representa a área de risco e
classificou 436 encostas em diferentes graus de traz os seguintes itens: poligonal, representando
risco, sendo eles: 49 encostas de baixo risco, o limite da área de risco; acessos, mostrando as
135 de médio risco, 157 de alto risco e 95 de vias de dentro e do entorno da poligonal;
muito alto risco. Porém previa um plano de 10 recursos, com os principais equipamentos
anos, período pelo qual a cidade sofreu enormes sociais próximos da poligonal; drenagem
modificações urbanisticas e crescimento natural, simbolizando o curso e o sentido do
populacional com ocupações desordenadas fluxo d’agua, bem como áreas úmidas e
sendo criadas ou se expandindo. barragem.
O Mapa de Risco representa a suscetibilidade
Figura 1: Grau de Risco das Encostas do município de e vulnerabilidade aos eventos de deslizamento e
Salvador alagamento, bem como a poligonal e a
drenagem natural.
O Mapa de Evacuação indica um sistema de
elementos necessários para deslocamento das
pessoas caso haja a probabilidade de ocorrência
de um evento de alagamento ou deslizamento.
Os principais elementos desse mapa são as rotas
de fuga, pontos de encontro e a divisão dos
setores de evacuação.
Nos pontos onde são considerados mais
críticos para eventos de deslizamento e
alagamento, a Defesa Civil de Salvador instala
Fonte: Adaptado do PDE (2004) placas de sinalização. Essas placas são
georreferenciadas e representadas em um mapa,
3.2 Análise dos dados de mapeamento da chamada de Mapa das Placas de Sinalização.
Defesa Civil O Mapa Diagnóstico representa a análise
ambiental realizada na área de risco e envolve
Após a reestruturação da Defesa Civil em os aspectos geológicos, geomorfológicos,
2016, foram criados setores técnicos antrópicos e a vegetação. Os principais
responsáveis pela realização do mapeamento elementos que compõem esse mapa são as
das áreas de risco. Esses setores estruturaram feições erosivas e geológicas, as unidades
procedimentos que tornaram mais padronizado geológicas, bem como a classificação da
o processo de mapeamento. suscetibilidade e vulnerabilidade (figura 2).
A elaboração do Manual de Procedimentos de A Defesa Civil de Salvador faz o
adição e edição de informações geográficas foi levantamento de alguns problemas, pontuais ou
planejado para cumprir a função de estruturar os generalizados, que podem levar ao aumento do
elementos que devem ser verificados em campo risco de algum evento de desastre. Esses
durante o mapeamento de uma área de risco e problemas são georreferenciados e colocados
permitir a padronização destes elementos e da em um mapa, e encaminhado para os órgãos
simbologia dos produtos cartográficos responsáveis que realizam as devidas
destinados aos objetivos do setor de intervenções e compõe o Mapa de Intervenções.
mapeamento. Assim o setor de mapeamento da
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Figura 2: Exemplo de Mapa Diagnóstico da Localidade claro que o órgão considera muitos critérios
de Três Mangueiras abordados no PDE e já avançou muito em
relação a metodologia usada para o
mapeamento. Entretanto é necessária a
continuidade do uso dos materiais produzidos
durante o processo de reestruturação da Defesa
Civil que incluem principalmente o Manual de
Procedimentos de adição e edição de
informações geográficas e os Planos
Preventivos de Defesa Civil (PPDC) para que
todos os técnicos que atuam no órgão consigam
efetivar uma prática única de mapeamento.

Fonte: Defesa Civil de Salvador, 2016. 5 CONCLUSÕES

4 DISCUSSÕES Com este estudo percebeu-se que o documento


oficial que classifica as encostas de Salvador
A partir destas análises verificou-se que o quanto ao grau de risco (PDE) precisa de
PDE consiste em um material bem detalhado atualização devido ao seu ano de elaboração.
que apresenta muitas características físico- Verificou-se também que apesar dos avanços
ambientais, caracterização sócio-econômica da realizados pela Defesa Civil de Salvador em
população importantes para o estudo em relação ao mapeamento de áreas de risco no ano
questão. Percebe-se que o PDE cumpriu seu de 2016, ocorrem alguns problemas para
papel em identificar: as áreas de risco de classificar as encostas quanto ao grau de risco.
deslizamento, os problemas das encostas, as Sendo assim, este estudo mostra-se relevante ao
áreas suscetíveis e vulneráveis e ainda propôr identificar a necessidade de maior atenção à
soluções viáveis, identificando intervenções metodologia de mapeamento utilizada pela
necessárias para que ocorra o controle do risco e Defesa Civil, que permita a fixação de alguns
recuperação das áreas. parâmetros que devem ser levados em
Em relação ao grau de risco, considera-se consideração para que não haja distorções
que os critérios se mostraram claros e concisos significativas entre diferentes técnicos,
classificando o risco segundo os fatores responsáveis pelo levantamento em campo e
condicionantes em baixo, médio, alto e muito avaliação do grau de risco das encostas, criando
alto risco. assim padrões de mapeamento.
Quanto a distribuição das áreas de risco no
município de Salvador observou-se que a REFERÊNCIAS
mesma foi feita através de divisão em regiões
administrativas e que as áreas com risco são: AHRENDT, A. Movimentos de massa gravitacionais -
proposta de um sistema de previsão: aplicação na área
Rio Vermelho, Itapuã, Cabula, Pau da Lima,
urbana de Campos do Jordão - SP. Tese de
Cajazeiras, Valéria e Subúrbio, apresentando Doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos,
alto risco maiores que 50% da área. Universidade de São Paulo, 2005.
Verificou-se também que Salvador possuia ALHEIROS, M. M. Riscos de escorregamentos na região
em 2004 um grande número de encostas e que metropolitana do Recife. Tese de Doutorado, Instituto
de Geociências, Universidade Federal da Bahia, 1998.
mais da metade delas (252 encostas), BEZERRA, L. T. V. Mapeamento de risco/perigo de
apresentam grau alto ou muito alto de risco. movimentos de massa e avaliação da estabilidade das
Em relação a forma como é realizado o encostas na comunidade São José do Jacó, em
mapeamento na Defesa Civil atualmente ficou Natal/RN. Trabalho de Conclusão de Curso,
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Departamento de Engenharia Civil, Universidade


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08 -05-03-01
MATTOS, E.F.O.; GOMES, R.L.; OLIVEIRA, S.M. O
Plano Diretor de Encostas: ferramenta para gestão de
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Cubatão. 1987. In:5º Congresso Brasileiro de
Geologia e Engenharia. Anais... São Paulo: ABGE,
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Simulação Computacional de Estabilidades de Taludes em


Barramentos sob Diferentes Comportamentos de Cargas
Hidráulicas
Camila Aparecida Lebron Xavier da Silva
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
camila.lebron@gmail.com

Davidson Miguel Avelar de Oliveira


Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Ouro Preto, Brasil, eng.davidson@hotmail.com

Andréa Mírian Costa Portes


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
andreacportes@yahoo.com.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo determinar os níveis de controle de um barramento a
partir da utilização de níveis de referência e contrapor os resultados com a ocorrência de possíveis
modos de falhas. A metodologia adotada consiste: definição do modelo geológico geotécnico
hipotético e parâmetros dos materiais; análise de percolação para determinação da freática na
condição normal; variação da superfície freática através da colmatação do filtro; estabelecer níveis
de controle usuais, níveis de controle pelo método de falhas e contrapó-los; determinar níveis de
controle da instrumentação. Os resultados mostram: que a análise de segurança da estrutura,
utilizado apenas fatores de segurança de referência pode estar associada a falhas que subestimam os
níveis de controle de instrumentação; a importância de determinar níveis de leitura de
instrumentação capazes de englobar os modos de falha; a necessidade de analisar as condições
peculiares a cada estrutura para determinar os limites de controle da instrumentação.

PALAVRAS-CHAVE: Carta de Risco, Níveis de Controle, Ruptura, Análise de Estabilidade,


Piping.

1 INTRODUÇÃO finalidade estabelecer os limites de leitura em


instrumentos de monitoramento, como
Sabe-se que a prevenção de acidentes deve ser piezômetros (PZ’s) e indicadores de nível de
concebida durante todas as etapas de projeto de água (INAs), e realizar a correspondência destes
uma estrutura, indo desde a fase de estudos de com os limites de controle da barragem, a fim
alternativas para implantação do projeto, até a de sinalizar as condições de risco.
sua desativação, passando pelas fases de A carta de risco, compreende, então, uma
construção e operação. Antes da ocorrência de prática necessária no processo de gestão de
um acidente, o barramento pode sinalizar suas segurança da barragem. Segundo Velten (2016)
fraquezas por meio de patologias visuais, como a metodologia para elaboração da carta de risco
trincas e vazamentos, ou por indícios que é determinada pelo empreendedor ou pelas
necessitam ser interpretados mais a fundo, empresas projetistas ou consultoras que,
como grandes movimentações da estrutura e usualmente, utilizam como referência os
variações abruptas de poropressões no interior limites:
do maciço.  nível normal para ocorrência de fator de
A elaboração de cartas de risco tem por segurança (FS) maior ou igual a 1,50;
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 nível de atenção para ocorrência de fator Tabela 1 - Parâmetros de resistência dos materiais.
de segurança (FS) menor que 1,50 e Material Peso Coesão φ (○)
maior ou igual a 1,30; específico (kPa)
 nível de alerta para ocorrência de fator (kN/m³)
de segurança (FS) menor que 1,30 e
Aterro
maior ou igual a 1,10; compactado
20 15 30
 nível de emergência para ocorrência de
fator de segurança (FS) menor que 1,10. Fundação (Solo
Tais níveis de segurança geralmente são 20 30 40
Residual)
determinados tendo como premissa o método de
equilíbrio limite, que relaciona as forças e Filtro 18 0 30
momentos resistentes com as forças e
momentos atuantes sobre uma determinada
superfície cisalhante. Entretanto, outros modos Os parâmetros estimados a partir da literatura
de falha devem ser analisados a fim de se mencionada são típicos dos materiais indicados
determinar um plano de instrumentação que na tabela anterior.
evidencie as reais condições peculiares a cada Para tanto, considerou-se: (i) barragem
estrutura. constituida de argila compactada com
parâmetros de resistência e peso específico
estimados conforme Bowles (1997); (ii)
2 SEÇÃO TÍPICA E PARÂMETROS fundação constituida de solo residual de gnaisse
GEOTÉCNICOS com parâmetros médios estimados conforme
Viana da Fonseca e Coutinho (2008); e, filtro da
A seção hipotética utilizada nesta análise foi barragem constituida de material areia fina com
elaborada com inclinação do talude de montante parâmetros de resistência e peso específico
de aproximadamente 3H:1V, e inclinação do estimados conforme Bowles (1997).
talude de jusante de aproximadamente 2,3H:1V.
O maciço de aterro compactado possui altura e
largura da crista de 30 e 15 metros, 3 METODOLOGIA
respectivamente, e uma camada drenante de 1
metro de espessura. A seção típica de estudo As análises de estabilidade visam determinar os
pode ser observada na Figura 1. fatores de segurança mínimos requeridos pelas
normas brasileiras aplicáveis, considerando-se
as características geológico-geotécnicas dos
materiais e geometria da estrutura.
A metodologia utilizada para a elaboração da
Carta de Risco, foco deste estudo, é constituida
pela elaboração de uma seção típica hipotética
similar à condições reais de barragens com
Figura 1 - Seção típica de análise. filtro horizontal, da seleção dos parâmetros
geomecânicos baseados na literatura, e da
A Tabela 1 indica os parâmetros de resistência montagem do modelo geotécnico para análise
utilizados nas análises, que foram estimados a de estabilidade.
partir de Bowles (1997) e Viana da Fonseca e Neste estudo utilizou-se o programa
Coutinho (2008). computacional Slide 5.0, da empresa Canadense
Rocscience, versão 5.0. O Slide é um programa
de análises bidimensionais de estabilidade de
taludes que calcula o fator de segurança para
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rupturas circulares e não circulares através da Tabela 2 - Níveis de Referência de Controle e


teoria de Equilíbrio Limite. Para a busca dos Instrumentação.
fatores de segurança mínimos foram utilizados Fator de Definição
os métodos de Bishop Simplificado, Spencer e Segurança (F.S)
Morgenstern-Price, adotando-se unicamente o Nível Normal: resultado satisfatório
critério de resistência de Mohr-Coulomb. e suficiente em relação à estabilidade
≥ 1,5
Para simulação computacional de estabilidade, da estrutura.
foram determinadas as seguintes ferramentas: Nível de Atenção: resultado não
(i) 1000 iterações de ruptura; (ii) direção de satisfatório em relação à segurança
ruptura da esquerda para a direita; (iii) tipo de da estrutura, exigindo atenção
ruptura circular (devido à constituição especial e monitoramento constante
1,3 ≤ F.S <1,5
homogênea dos materiais) e (iv) função de do nível piezométrico. Poderão ser
tomadas medidas corretivas de
pesquisa de círculo de ruptura. segurança
Inicialmente foi realizada uma análise de
percolação para definição das condições Nível de Alerta: resultado não
normais de fluxo no maciço. A partir dos satisfatório em relação à segurança
resultados obtidos para esta análise, simulou-se 1,1 ≤ F.S < 1,3 da estrutura, exigindo a tomada
imediata de medidas corretivas de
a colmatação progressiva da camada drenante, segurança.
localizada na parte inferior do barramento
analisado. Optou-se por esta metodologia F.S < 1,1 Nível de Emergência: Ruptura
devido ao fato de se tratar de uma estrutura iminente.
hipotética e, portanto, não se dispor de dados de
instrumentação que possibilitassem simulação Vale lembrar que um fator de segurança de 1,0
de uma linha freática real. é indicativo de ruptura da estrutura.
Para as análises de percolação admitiu-se malha Foram alocados dois indicadores de nível
de elementos finitos contendo 9958 elementos e d’água no talude de jusante da seção em estudo
5233 nós, sendo cada elemento do tipo e, utilizando-os como referência, foram
triangular. Adotou-se as condições de contorno registradas as variações da linha freática e seus
de carga total à montante de 27 metros de respectivos fatores de segurança.
coluna d’água, e de carga total à jusante de 0 A metodologia apresentada, neste estudo,
metros. No restante da seção hipotética propõe que a estrutura seja analisada
análisada, admitiu-se condição de contorno de individualmente, e que sejam considerados
nó de fluxo igual a zero. outros possíveis modos de falha, levando em
Partindo das análises de percolação obtidas, consideração o nível freático e a variação de
foram realizadas as análies de estabilidade poropressão no maciço.
considerando o método de Mohr- Coulomb. Assim sendo, com os resultados das análises,
Os níveis de instrumentação comumente confrontou-se os níveis de controle de
determinados a partir do fator de segurança, referência com os possíveis modos de falha.
definidos por meio de análises de estabilidade,
são apresentados na Tabela 2 a seguir.
4 MODOS DE FALHA E SUAS
POSSÍVEIS CAUSAS

Segundo Foster et al (2000 citado por Vianna,


2015), os principais modos de ruptura
verificados em barragens são galgamento e
piping, conforme ilustra a Figura 2.
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ocorrência de gradientes hidráulicos elevados.


Ou seja, quando o caminho percolado pela água
não for suficiente para a dissipação de energia.

5 RESULTADOS E ANÁLISES

Inicialmente foi realizado o estudo de


percolação para uma situação considerada
Figura 2 - Estatística geral de modos de ruptura de normal, de 3 metros de borda livre, ou seja, com
grandes barragens de terra, até 1986. pressão total no talude de montante de 27
Fonte: Vianna, 2015 metros de coluna d’água. Para tanto, utilizou-se
coeficiente de permeabilidade da camada
O galgamento ocorre quando a água do drenante típico de areias 1,0x10-3 m/s, segundo
reservatório verte sobre a crista devido à Pinto (2006). Assim sendo, foram obtidos o
capacidade de descarga insuficiente do sistema fator de segurança e a freática para este cenário
extravasor. Uma vez iniciado este processo, considerado normal, como pode ser visto na
pode ocorrer erosão do talude de jusante do Figura 3.
maciço resultando em ruptura regressiva ou
global. Este modo de falha é
hidrológico/hidráulico e, por este motivo, não
será avaliado neste artigo.
O piping é o processo de erosão no interior do
maciço, com carreamento de material pelo fluxo
d’água. Os processo de formação de piping
foram descritos por Foster et al. (2000 citado
por Vianna, 2015):
 Erosão regressiva, no qual a erosão se Figura 3 - Análise de estabilidade para condição normal
inicia no talude de jusante, no ponto de de fluxo e estabilidade (FS=1,8).
saída do fluxo percolado, e progride
para montante, formando um tubo que A partir do estabelecimento da condição normal
se liga ao reservatório. de estabilidade e fluxo, repetiu-se os mesmo
 Erosão em torno de trincas existentes na procedimentos com a variação do coeficiente de
barragem. Essas rachaduras ou fissuras permeabilidade da camada drenante, a fim de
permitem a formação de um fluxo simular a colmatação da mesmo, e consequente
concentrado, que tem origem direta no elevação do nível d’água no interior do maciço.
reservatório e vai até um ponto de saída, Os resultados podem ser observados na Figura 4
o qual passa a erodir o solo, causando o a Figura 8, e os coeficientes de permeabilidade
alargamento deste caminho de água, adotados para cada condição de fluxo e
formando o tubo. estabilidade são apresentados na Tabela 3.
 Erosão devido ao carreamento de finos.
Ocorre geralmente quando os materiais
utilizados são mal graduados,
permitindo que solos finos escapem por
uma matriz granular. Esta lavagem de
finos pode desestabilizar internamente o
solo e permitir a formação do tubo.
Em suma, rupturas por piping (percolação e
erosão) também são possíveis quando há a
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Figura 4 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,7. Figura 8 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,1.

Tabela 3 - Variação do coeficiente de permeabilidade da


camada drenante (filtro) com o fator de segurança.
Fator de Segurança Coeficiente de Permeabilidade
(FS) (m/s)
1,8 1,0x10-3
1,7 1,5x10-4
1,5 4,0x10-5
1,3 1,5x10-5
1,2 5,0x10-6
1,1 1,0x10-6
Figura 5 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,5.
A partir das análises anteriores, pode-se
verificar as leituras dos indicadores de nível
d’água (INA’s) locados na seção em estudo.
Os medidores de nível d’água (INA’s) são
instrumentos desenvolvidos para medir o nível
freático no solo. Sendo, o nível freático definido
como a superfície superior de um corpo d’água
subterrâneo, na qual a pressão corresponde à
atmosférica. (CRUZ, 2004).
Figura 6 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,3. Portanto, para medição do nível freático na
barragem hipotética de estudo, foram inseridos
o medidor de nível d’água próximo a crista,
INA 01, e o medidor de nível d’água próximo
ao pé do talude de jusante, INA 02, local de
possível aumento de gradiente hidráulico. Estes
instrumentos foram locados na barragem
hipotética de estudo, a fim de determinar as
elevações de controle.
Os instrumentos foram locados a 2 e 1 metros,
Figura 7 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,2. respectivamente, acima da camada drenante.
Estes valores foram definidos a partir da
premissa de que não deveria haver leitura nos
instrumentos próximos ao talude de jusante,
indicando o funcionamento inadaqueado do
sistema de drenagem interna e aumento do
gradiente hidráulico na região do pé do talude
de jusante.
Portanto, os instrumentos INA 01 e INA 02
foram posicionados em regiões estratégicas e de
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maior interesse de monitoramento. Os


resultados das possíveis leituras nos
instrumentos são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 - Níveis d'água nos instrumentos.

FS Instrumento Nível d'água (m)

INA 01 0 Figura 9 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,7


1,8 (FS obtido de 1,5).
INA 02 0
INA 01 3.04
1,7
INA 02 0
INA 01 8,52
1,5
INA 02 0,95
INA 01 11,69
1,3
INA 02 2,43
INA 01 13,07
1,2
INA 02 Surgência
INA 01 13,65
1,1 Figura 10 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,5
INA 02 Surgência
(FS obtido de 1,3).

Tendo em vista os resultados obtidos das


análises, percebe-se que há ocorrência de
surgência no talude de jusante a partir de FS =
1,2, que ainda é considerado estável. Nota-se
também a leitura de nível d’água no INA 02,
localizado no pé do talude de jusante, a partir
do FS = 1,5, indicando que a camada drenante
opera afogada.

Foram realizadas as análises de estabilidade Figura 11 - Condição de fluxo e estabilidade para FS=1,3
(FS obtido de 1,1).
com carregamento dinâmico (sismo) para as
seções que apresentaram os fatores de
segurança de 1,7, 1,5 e 1,3 e os resultados são
apresentados, respectivamente, nas figuras 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Figura 9, Figura 10 e Figura 11. O
carregamento dinâmico utilizado foi de 0,05, Apesar das análises de estabilidade indicarem,
como recomenda as Diretrizes par Elaboração numericamente, que o barramento está estável,
de Projetos de Barragem da Agência Nacional deve-se atentar para outros possíveis modos de
de Águas (ANA). falhas que podem levar a estrutura a ruptura.
Para tanto, indica-se a análise das condições em
que cada estrutura é submetida, analisando se o
fator de segurança, por si só, garante a condição
de estabilidade da mesma.
No caso da estrutura em análise, um possível
modo de ruptura para os cenários simulados é o
piping, já que no pé do talude de jusante, uma
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região normalmente considerada crítica devido está relacionada com um conjunto de fatores e
a dificuldades de compactação, gradiente que as análises de estabilidade são apenas um
hidráulico elevado, etc., há indicação da deles.
existência de água acima da camada drenante. Assim sendo, para a estrutura hipotética deste
Sendo assim, ao invés de utilizar para esta estudo pode-se concluir que: (i) os valores
estrutura os fatores de segurança usualmente comumente utilizados para controle de
recomendados como referência de segurança de uma barragem de terra, como
monitoramento (1,5, 1,3 e 1,1), propõe-se a apresentado na
adoção de valores de referência próprios para o , estabelecem valores de referência que devem
caso particular da mesma. ser análisados como premissas iniciais.
Considerando, então, os resultados das análises Entretanto, deve-se investigar, como observado
e visando à segurança do barramento hipotético, nas simulações do barramento hipotético,
adotou-se novos níveis de controle para a possíveis modos de falha peculiares a cada
barragem em estudo. Estes valores de segurança estrutura, a fim de se verificar a consistência
da auscultação e seus correspondentes níveis de dos valores de fator de segurança adotado como
controle são apresentados na Tabela 5. referência; (ii) para a estrutura alvo deste
estudo, os novos fatores de segurança adotados
Tabela 5 - Níveis de instrumentação propostos. com finalidade de determinação das cotas de
Níveis de Operação da Barragem em monitoramento dos instrumentos são: 1,7; 1,5 ≤
Função da
F.S <1,7; 1,3 ≤ F.S <1,5; e < 1,3. (iii) Infere-se,
Leitura do Nível D'água (m)
Instrumento então, que ao realizar as medidas dos
Normal Atenção Alerta Emergência instrumentos, quando a barragem em estudo
(FS=1,7) (FS=1,5) (FS=1,3) (FS<1,3)
estiver em processo de operação, as cotas
Até Até Até Superior a
observadas na medição dos instrumentos INA
INA 01 3,04 8,52 11,69 11,70 01 e INA 02, como apresentadas na Tabela 5,
INA 02 0 0,95 2,43 2,44 indicam condições de segurança correspodente
às condições normal, atenção, alerta e
Recomenda-se, então, que ao elaborar um emergência.
documento que propõe níveis de segurança para Sendo assim, há uma correlação direta entre
uma barragem de terra, deve-se realizar uma cotas observadas nos instrumentos, nível de
análise peculiar à estrutura em estudo. Para o controle indicado pela medida da
barramento hipotético apresentado neste instrumentação e indicativo de risco associado a
trabalho, os valores de controle de auscultação cada leitura.
representam: (i) fator de segurança de 1,7
correspondente à condição normal; (ii) fator de AGRADECIMENTOS
segurança entre 1,7 e 1,5 correspondente à
condição de atenção; (iii) fator de segurança Os autores agradecem ao Núcleo de Geotecnia
entre 1,5 e 1,3 correspondente à condição de da Escola de Minas da Universidade Federal de
alerta; e (iv) fator de segurança menor que 1,3 Ouro Preto – UFOP e à CAPES.
para a condição de emergência.
Por mais que uma análise de estabilidade se REFERÊNCIAS
mostre dentro dos fatores de segurança
comumente estabelecidos, há outros fatores que BOWLES, J. E. Foundation Analysis and Design.
demandam análise crítica para, assim, concluir International Edition: McGrow-Hill, 1997.
sobre a segurança de uma estrutura. CRUZ, P. T. 100 Barragens Brasileiras, Casos Históricos,
Materiais de Construção, Projeto. Oficina de Textos,
É necessário avaliar cada estrutura de acordo
São Paulo, 2004.
com seu contexto de parâmetros e materiais, DUNCAN, J. M.; WRIGHT, S. G. Soil Strength and
assim como baseado na sua finalidade. Slope Stability. New Jersey: John Wiley & Sons,
Ressalta-se que a segurnaça de um barramento 2005.
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FOSTER, M; FELL, R; SPANNAGLE, M. The statistics


of embankment dam failures and accidents. Canadian
Geotechnical Journal, 2000. 25: 1000-1024 citado por
VIANNA, L. F. V. Metodologia de análise de risco
aplicadas em planos de ação de emergência de
barragens(manuscrito): auxílio no processo de tomada
de decisão, 2015. Dissertação (mestrado)
Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de
Engenharia.
LAFITTE, R. Probabilistic risk analysis of large dams.
International Water Power and Dam Construction, 45,
p. 13-16. 1993 citado por VIANNA, L. F. V.
Metodologia de análise de risco aplicadas em planos
de ação de emergência de barragens(manuscrito):
auxílio no processo de tomada de decisão, 2015.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de
Minas Gerais. Escola de Engenharia.
PINTO, C. S., Curso Básico de Mecânica dos Solos em
16 Aulas /3ª Edição. Carlos de Sousa Pinto. – São
Paulo: Oficina de Textos, 2006.
VIANA DA FONSECA, A. e COUTINHO, R.Q. (2008)
Characterization of residual soils. Geotechnical and
Geophisical Site Characterization – Huang & Mayne
(Eds), London,UK, PP. 195-248.
ZORZAL Velten, R., DIEGO Nascimento Santos, R.,
HADDAD Elian, L., LOBATO Ribeiro, L., ALEIXO
Lopes Dias, M. (2015). Proposição de metodologia
para a elaboração de carta de risco de barragens de
terra e terra-enrocamento. 10.20906/CPS/CB-06-
0023.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Diretrizes
Para Elaboração de Projetos de Barragens. -- Brasília:
ANA, 2016
 

TEMA:  
DESASTRES NATURAIS 
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Análise de Agentes Desencadeadores de Desastres Naturais


Utilizando Simulação de Monte Carlo
Camila Vargas Fernandes
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, milafernandes05@gmail.com

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, anna@feb.unesp.br

Ilza Machado Kaiser


Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, ilzakaiser@feb.unesp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo relacionando os agentes desencadeadores com as


ocorrências de desastres naturais. Foram escolhidos quatro municípios do estado de São Paulo com
diferentes características geomorfológicas/geotécnicas e dados de chuvas disponibilizados: São José
dos Campos, Bauru, Jaú e Sorocaba. O período analisado foi de setembro/2008 à março/2016.
Foram pontuadas as ocorrências de erosões, movimentos de massa gravitacionais e desastres
hidrológicos, quantificando as chuvas diárias e mensais, a depender do evento. Por fim, a
probabilidade de ocorrência do desastre foi realizada através da Simulação e Monte considerando
variáveis como a chuva, população, quantidade de eventos e solo. Como conclusão, esse estudo
apresentou uma metodologia para avaliar a chuva desencadeadora de desastres, considerando
diferentes cenários físicos, o que auxiliando no planejamento de medidas preventivas.

PALAVRAS-CHAVE: Banco de Dados, Simulação, Erosões, Movimentos de Massa Gravitacionais


e Inundações.

1 INTRODUÇÃO parâmetros morfológicos do terreno, que


controlam diretamente o equilíbrio das forças e
A atuação de processos antrópicos e ambientais a interferência antrópica no relevo natural.
em diferentes escalas vem desencadeando No Brasil, além dos fatores antrópicos, o
vários eventos que são popularmente principal agente desencadeador de erosões,
classificados como desastres naturais movimentos de massa gravitacionais e desastres
provocando substanciais prejuízos à sociedade. hidrológicos (inundações, enchentes e
Dessa forma, a previsão de tais desastres e seus alagamentos) é a chuva. Desta forma é relevante
agentes desencadeadores deve ser estudada para análise de desastres a quantificação da
considerando-se que diferentes fatores podem chuva nos períodos antecedentes e
intensificar a probabilidade de sua ocorrência. concomitantes. Estas precipitações podem ser
Tais situações de risco se originam da ação classificadas como fortes, fracas e moderadas,
sinérgica de vários fatores, como as dependendo de sua intensidade.
características geológicas/geotécnicas, a Para a prevenção dos desastres inicialmente
remoção da cobertura vegetal; forma deve se desenvolver um levantamento dos
desordenada da ocupação além da chuva que na eventos e seus agentes desencadeadores, como a
maioria dos casos é o agente deflagrador. chuva e seus respectivos danos causados, a fim
Dentre os condicionantes destacam-se os de prever qual chuva tem o potencial para
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desencadear tal desastre. índices pluviométricos) e está sujeito a ações do


Nesse contexto, o presente trabalho analisa El Niño e La Niña e das ilhas de calor
os dados de desastres disponibilizados pelo potencializadas pela urbanização.
banco de dados do IPMet e de dados de chuva Zuquette (2018) conceitua que erosão como
disponibilizados no Hidroweb da Agência um processo natural envolvendo o transporte de
Nacional de Águas (ANA). A partir destes partículas por ação mecânica de agentes como
dados, foi feita uma análise baseada na vento, gelo e a água. Este processo pode ser
Simulação de Monte Carlo para avaliar as acelerado em função de ações antrópicas. As
relações entre os desastres, as intensidades das precipitações pluviométricas de maior
chuvas, a geomorfologia do local e as intensidade, juntamente com a intervenção
características populacionais das cidades humana, por meio da ocupação e uso intensivo
analisadas. do solo aceleram esses processos erosivos.
Inundações, enchentes e alagamentos são
termos que podem ocorrer simultaneamente ou
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ser facilmente confundidos pelos responsáveis
da geração e alimentação dos bancos de dados.
2.1 Conceitos de Desastres Naturais
As enchentes, de acordo com Zuquette (2018),
Desastre, de acordo com UN-ISDR (2009), estão relacionadas com o canal de drenagem,
significa um colapso no funcionamento de uma onde o nível de água se eleva acima da posição
sociedade, com perdas humanas, materiais, de referência, mas não transborda; nas
ambientais e econômicas, cujos impactos inundações a lâmina de água ultrapassa a
dificultam a recuperação com recursos próprios altitude referencial do canal de drenagem, tendo
da comunidade. caráter temporário. O alagamento, por sua vez
No Brasil, o planejamento urbano muito confundido com o termo enchente,
inadequado tem intensificado os prejuízos refere-se ao acúmulo de água em depressões
causados por desastres naturais. Sendo assim naturais ou antropogênicas, podendo ser de
ações integradas entre comunidade e curta ou longa duração, de acordo com o
universidade tornam-se importantes para volume de água acumulado. Em ambientes
minimizar os efeitos dos desastres naturais. A urbanos os alagamentos estão relacionados a
universidade tem como papel, através do deficientes sistemas de drenagem.
diagnóstico, monitoramento e modelagens, Escorregamentos são processos em que
compreender os mecanismos geradores. A superfícies de ruptura bem definidas sofrem
sociedade, por sua vez, deve ter acesso a estas deslizamentos de volumes de solos. Podem
informações para que possa agir de forma ocorrer devido à adição de sobrecarga no topo
organizada, minimizando os danos. das encostas, infiltração de água de chuva,
Relatórios efetuados pelo Escritório das alteração da geometria do talude ou até
Nações Unidas para a Redução de Riscos de desmatamento e poluição. O deslizamento de
Catástrofe (UNISDR, 2018) apontam que nos tálus é um fenômeno em que a massa de
últimos 20 anos, 90 por cento dos maiores material escoa sem possuir uma linha de ruptura
desastres foram causados pelas 6457 cheias, bem definida, comportando-se quase como um
tempestades, ondas de calor, secas e outros líquido. A classificação destes eventos para
eventos meteorológicos registrados em todo alimentação dos bancos de dados também pode
mundo. ser alvo de dubiedade. (MASSAD, 2003).
De acordo com as Nações Unidas, em 2008 o Dentre os desastres naturais, os
Brasil foi o 13º país do mundo mais afetado por escorregamentos caracterizam-se pelo grande
desastres naturais. Nota-se que o Brasil potencial de destruição e por sua difícil previsão
localiza-se em uma região tropical (com altos (KOBIYAMA et al., 2006).
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2.2 A Chuva Deflagradora (Nakazawa, 1994), Mapa Geológico (IPT,


1981) e densidade demográfica (IBGE, 2010).
A chuva pode ocorrer em diferentes Estes dados foram utilizados para avaliar a
intensidades e períodos de retorno. O termo vulnerabilidade social e a suscetibilidade
chuva deflagradora é a denominação atribuída à ambiental de cada e local.
chuva capaz de desencadear, um desastre Os desastres naturais foram separados em
natural, seja ele escorregamento de encostas, duas categorias: desastres geotécnicos
inundações ou erosões. Cada um destes pode (movimentos de massa gravitacionais e erosões)
advir de intensidades e características distintas que foram analisados separadamente e desastres
de precipitações. hidrológicos (inundação, alagamentos e
As informações pluviométricas geradas pelos enchentes) que foram analisados de forma
diversos órgãos de monitoramento estão agrupada; tendo em vista as dificuldades já
centralizadas e disponíveis aos usuários no site relatadas de interpretação inserção das
da Agencia Nacional de Águas (ANA), portal informações nos bancos de dados de desastres
Hidroweb. A variabilidade espacial da chuva é naturais.
função do tipo de precipitação (frontal,
convectiva e orográfica). A representação 3.1.1 Bauru
espacial de eventos de origem convectiva exige
uma rede muito mais densa que a rede Bauru localiza-se no centro-oeste paulista,
consolidada e disponível no site da ANA. pertence ao Grupo Bauru, localizado na Bacia
do Paraná formado no período Mesozóico.
2.3 Simulação de Monte Carlo Caracteriza-se como formação Marília formada
predominantemente por Arenito de granulação
A simulação de Monte Carlo (SMC) utiliza fina a grossa. (IPT, 1986b).
números aleatórios e probabilidades para Segundo Nakazawa (1994), Bauru possui
análise e resolução de problemas. O ajuste dos alta suscetibilidade à erosão predominantemente
dados às distribuições probabilísticas são induzida por concentração do escoamento
realizados através de cálculos iterativos, que superficial. Ocorre em sua maioria por ações
usualmente são feitos com o auxílio de antrópicas que concentram o escoamento das
softwares específicos. águas pluviais à meia encosta, e fazem seu
Segundo Tabosa et al. (2011), a SMC é uma lançamento sem as devidas medidas de
ferramenta que auxilia na tomada de decisões proteção.
em processos cujas variáveis tenham
comportamento estocástico. Assim, é aplicável 3.1.2 Jaú
em problemas que envolvam riscos e incertezas.
Jaú pertence ao Grupo São Bento, localizado na
Bacia do Paraná. Caracteriza-se como
3 METODOLOGIA Formação Serra Geral, apresentando derrames
basálticos de coloração cinza a negra, textura
3.1 Área de Estudo afanítica com intercalações de arenito
intertrapeanos, finos a médios. Segundo a carta
As cidades estudadas, Jaú, Bauru, Sorocaba e geotécnica Jaú apresenta baixa suscetibilidade
São José dos Campos, foram definidas por aos diversos processos do meio físico analisado.
possuírem diferentes características (IPT, 1986b).
geomorfológicas e geotécnicas, além de Embora na Carta Geotécnica (Nakazawa, 1994)
disporem dados de chuva com discretização o município possua baixa suscetibilidade ao
diária. Foi realizada uma caracterização das processos do meio físico, a cidade apresenta
áreas, com base na Carta Geotécnica
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graves problemas de alagamentos em função do ocorridos e no Portal Hidroweb (disponível


rio Jaú que corta a cidade. através do site Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos da
3.1.3 Sorocaba Agência Nacional das Águas), obtendo os
volumes pluviométricos diários e acumulados
Sorocaba localiza-se na mesorregião Macro mensais junto às estações meteorológicas no
Metropolitana Paulista e pertence a formação de período chuvoso (Setembro à Março) de 2008 a
Sedimentos Aluvionares apresentando aluviões 2016. De posse dessas análises foi possível a
em geral, incluindo areias inconsolidadas de elaboração de gráficos e histogramas.
granulação variável, argilas e cascalheiras
fluviais. (IPT, 1986b). 3.4 Simulação de Monte Carlo
Segundo Nakazawa (1994) Sorocaba possui
alta suscetibilidade à erosão nos solos sub- 3.4.1 Dados de Entrada (Input)
superficiais, induzidos por movimento de terra.
A erosão mais comum apresentada é aquela que Para a simulação de Monte Carlo foi utilizado o
se manifesta por sulcos e ravinas, com programa @Risk. Como se trata de um software
ocorrência no domínio das rochas cristalinas do com características voltadas para análise
embasamento, a partir da retirada da camada financeira foi necessário um estudo detalhado
superficial. Porém, existem diferenças do grau do seu funcionamento para que a simulação
de erodibilidade entre os solos da região, em fosse possível. O programa @RISK executa
função da litologia e suas estruturas e também análise de risco por meio da simulação de
pelas condicionantes climáticas principalmente Monte Carlo, mostra vários resultados possíveis
em relação a pluviosidade. e sua probabilidade de ocorrência. Dessa
maneira foi necessário criar uma planilha dados
3.1.4 São José dos Campos de entrada e saída respectivamente, Tabela 1,
que foi utilizada em cada análise.
São José dos Campos localiza-se no Vale do Para o caso de ocorrência de erosões e
Paraíba e pertence ao Grupo Taubaté, escorregamentos de encostas, foram
caracterizando–se como Formação Caçapava consideradas as variáveis população, tipo de
que apresenta em sua composição depósitos solo, número de eventos e chuva acumulada
fluviais incluindo arenitos com lentes mensal.
subordinadas de folhelhos e ternos arcosianos e Para a análise dos desastres hidrológicos,
conglomeráticos restritos. (IPT, 1986b). foram considerados população, número de
Esta região apresenta problemas de eventos e a chuva diária, visto que neste caso o
estabilidade de taludes por expansão/contração volume de chuva ocorrido no dia do desastre
do material do solo. Conta também com alta tem maior influência sobre sua probabilidade de
suscetibilidade à inundação, sendo que os acontecer novamente do que a chuva mensal.
problemas mais sérios para o uso deste solo são: Estas variáveis são classificadas como inputs
inundações fluviais em terrenos situados em (dados de entrada) e participam do cálculo do
várzeas e terraços e recalques excessivos e risco final. Para que os valores pudessem ser
diferenciais por adensamento de argilas moles e melhor avaliados, cada uma das variáveis foi
turfas (NAKAZAWA, 1994). normalizada de acordo com a equação (1) e
somando-se 1 aos resultados obtidos, para que o
3.2 Análise do Banco de Dados valor final destas variasse de 1 a 2 em suas
escalas.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa no Os coeficientes que caracterizam o solo foram
banco de dados do Centro de Meteorologia de adotados conforme Tabela 2.
Bauru (IPMet) para a quantificação de desastres
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Índice = ( Vobservado - Vmínimo)/ (1) cada mês representou um output, e no caso dos
( Vmáximo- Vmínimo) desastres hidrológicos em escala diária,
considerando-se a distribuição normal para
N° de ocorrências
Input
representar a distribuição das chuvas.
Solo
População Inicial 3.4.2 Dados de Saída (Outputs)
Chuva

Cálculos Na Simulação de Monte Carlo os resultados


Mês
População
gerados são denominados outputs. A fórmula
Solo genérica de risco proposta por Ferreira (2012)
Ocorrências
Chuva
está apresentada na equação (2). Para este
Output /Risco trabalho, a mesma foi adaptada para considerar
Outpu t/Risco Normalizado
variáveis utilizadas na pesquisa, ou seja,
Tabela 1. Figura esquemática da planilha de cálculo
precipitação, número de ocorrências e fator solo
e população, equação (3). Os valores finais
foram normalizados de acordo com a
equação(1), variando assim de 0 a 1.

R = Pe x V x D (2)
R= Pe x K xC/(1/P) (3)
Em que: R= risco; V= vulnerabilidade do
elemento em risco; D= exposição (dano) do
elemento em risco; Pe= perigo, expresso pelo
número de eventos ocorridos no mês ou no dia;
K= fator do solo; C= chuva diária ou mensal
Tabela 2. Valores relativos ao solo - Classes de solos (mm); P= população mensal em habitantes
presente no Alto Parnaíba com seus respectivos valores
do fator K obtidos pelo nomograma de Wischmeier et al. Neste caso o risco representa o output da
(1971) apud Farinasso et al. (2006)
simulação, sendo então a probabilidade de
ocorrer tal evento dada as circunstâncias do
De posse desses valores, foi feito um estudo
input. Fazem parte do input: o perigo (chuva em
para saber qual seria o tipo de distribuição
milímetros), a vulnerabilidade (população e
probabilística de cada variável, pois esta deve
fator do solo) e dano (número de ocorrências de
ser informada ao se adicionar o input.
cada desastre na data analisada). Tais riscos
Para os dados populacionais foi estimada
foram então classificados conforme Tabela 3.
uma taxa de crescimento populacional por mês
com base nos dados fornecidos pelo censo dos Tabela 3. Classificação de Risco
anos de 2000 e 2010, e pela estimativa de Risco Classificação
0.00 - 0.20 Muito Baixo
população feita pelo IBGE para o ano de 2017. 0.21 - 0.40 Baixo
A distribuição que melhor se adequou aos dados 0.41 - 0.60 Médio
0.61 - 0.80 Alto
foi a distribuição inversa gaussiana, uma vez 0.81 - 1.00 Muito Alto
que a população apresentou uma inesperada
variação no período. Os dados mensais foram
obtidos por meio de interpolação linear. 4. RESULTADOS
No caso da análise de erosões e
escorregamentos de encostas foi feita uma Na Tabela 4 apresenta-se o total de cada evento
análise em escala temporal mensal, sendo que ocorrido nas respectivas cidades, para o período
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analisado. Na Tabela 6 estão apresentados os dados


referentes a SMC para os desastres
Tabela 4. Quantificação de eventos para o período
chuvoso (Setembro à Março) de 2008 a 2016
hidrológicos.
Movimentos
Desastres
Cidade de Massa Erosões
Hidrológicos Tabela 6. Classificação de Risco de Desastres
Gravitacional Hidrológicos em Bauru
Bauru 5 21 161
V P R
Jaú 0 0 35
Sorocaba 4 1 50 Data Chuva
N° de
Habitantes Mensal
São J.Campos 9 3 26 eventos Valor Classificação
(mm)
29/10/2008 349234 31.50 1 0.05 MUITO BAIXO
No caso de Jaú e Sorocaba, não foi possível 10/11/2008 349308 26.92 2 0.06 MUITO BAIXO
02/01/2009 349456 35.56 2 0.09 MUITO BAIXO
elaborar a simulação para os casos de erosão e 14/01/2009 349456 8.13 5 0.06 MUITO BAIXO
movimentos de massa gravitacional já que as 12/02/2009 349530 13.97 4 0.06 MUITO BAIXO
28/11/2009 350198 58.42 5 0.29 BAIXO
ocorrências foram poucas e em alguns casos 02/12/2009 350273 39.11 2 0.12 MUITO BAIXO
nulas. Pelo mesmo motivo, não foi efetuada a 07/10/2010 351015 24.64 6 0.18 MUITO BAIXO
30/11/2010 351089 27.93 8 0.25 BAIXO
simulação para as erosões para São José dos 08/01/2011 347783 41.15 7 0.20 MUITO BAIXO
Campos. 13/01/2011 347783 24.38 1 0.01 MUITO BAIXO
25/01/2011 347783 42.67 6 0.18 MUITO BAIXO
16/02/2011 348071 54.36 1 0.10 MUITO BAIXO
4.1 Bauru 28/02/2011 348071 21.08 1 0.00 MUITO BAIXO
15/10/2011 350376 0,0 4 0.02 MUITO BAIXO
22/11/2011 350664 7.10 2 0.01 MUITO BAIXO
Em Bauru foram avaliados os desastres de 08/12/2011 350952 19,6 2 0.06 MUITO BAIXO
erosão e hidrológicos uma vez que a quantidade 14/02/2012 351528 16,0 3 0.08 MUITO BAIXO
15/03/2012 351816 5,4 10 0.18 MUITO BAIXO
de escorregamento de encosta não foi suficiente 23/10/2012 353832 1.00 1 0.01 MUITO BAIXO
para uma análise estatística. 13/11/2012 354120 28.00 2 0.15 BAIXO
24/11/2012 354120 0.00 2 0.03 MUITO BAIXO
Ressalta-se também que a erosão foi 04/02/2013 354984 0.00 3 0.06 MUITO BAIXO
analisada somente para Bauru, onde foram 12/03/2013 355272 7.00 3 0.10 MUITO BAIXO
15/03/2013 355272 0.00 10 0.22 BAIXO
encontrados eventos em número suficiente para 04/11/2013 357576 0.00 4 0.12 MUITO BAIXO
a análise. O fator de solo considerado assumiu 21/11/2013 357576 14.00 5 0.22 BAIXO
30/11/2013 357576 0.00 8 0.21 BAIXO
um valor fixo de 0,02, obtido da Figura 2. 05/12/2013 357865 32.20 1 0.20 MUITO BAIXO
Observa-se na Tabela 5 a ocorrência de dois 23/01/2014 358153 67.40 14 1.00 MUITO ALTO
20/03/2014 358729 0.00 1 0.06 MUITO BAIXO
eventos com risco muito alto e constata-se a 05/01/2015 361609 1.20 5 0.21 BAIXO
importância da população na análise, que 07/01/2015 361609 0,3 2 0.12 MUITO BAIXO
14/01/2015 361609 17,0 3 0.25 BAIXO
justifica o risco de janeiro de 2016 ser da 21/01/2015 361609 0.00 3 0.15 MUITO BAIXO
mesma ordem de grandeza de janeiro de 2011. 09/02/2015 361897 0,0 10 0.34 BAIXO
07/03/2015 362185 0,0 2 0.13 MUITO BAIXO
17/11/2015 364489 27,2 1 0.28 BAIXO
Tabela 5. Classificação de Risco para erosão em Bauru 23/11/2015 364489 0,0 3 0.18 MUITO BAIXO
24/11/2015 364489 67.40 1 0.51 MÉDIO
V P R 10/12/2015 364777 26.00 1 0.28 BAIXO
Data 25/12/2015 364777 20.00 1 0.24 BAIXO
Chuva
N° de 28/12/2015 364777 4,0 1 0.15 MUITO BAIXO
Habitantes Mensal 13/01/2016 365065 12.75 2 0.24 BAIXO
eventos Valor Classificação
(mm)
jan/09 349456 256.0 2 0.37 BAIXO
fev/09 349530 148.8 2 0.21 BAIXO Entretanto, o risco de erosão não depende
set/09 350050 121.2 1 0.00 MUITO BAIXO exclusivamente da quantidade de chuva já que,
nov/09 350198 229.9 2 0.36 BAIXO
dez/09 350273 319.5 1 0.31 BAIXO por exemplo, em janeiro de 2016 o risco obtido
jan/10 350347 211.8 2 0.33 BAIXO foi muito alto, para uma chuva e 260 milímetros
jan/11 350787 493.8 4 0.99 MUITO ALTO com duas ocorrências em comparação com
dez/11 350952 177.2 1 0.11 MUITO BAIXO
mar/13 355272 193.4 2 0.49 MÉDIO dezembro de 2009 quando o risco obtido foi
dez/15 364777 205.8 1 0.61 ALTO baixo para uma a chuva mensal de 319,5
jan/16 365065 260.0 2 1.00 MUITO ALTO milímetros, com um evento registrado. Tal fato
fev/16 365353 129.0 1 0.47 MÉDIO
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pode indicar que a intensidade de chuva em um Tabela 7. Classificação de Risco de Desastres


determinado dia pode ter influenciado mais na Hidrológicos em Jaú
V P R
ocorrência de erosão, que o valor total de chuva Chuva
Data N° de
acumulado no mês. Também é importante Habitantes Mensal
eventos Valor Classificação
(mm)
ressaltar que o risco avalia a probabilidade de 09/01/2009 127898.58 0 2 0.17 MUITO BAIXO
ocorrência de um determinado evento, e não a 10/03/2009 128171.75 18 1 0.05 MUITO BAIXO
07/12/2009 129127.83 0 1 0.00 MUITO BAIXO
quantificação do mesmo. Dessa maneira, o risco 02/10/2009 129401.00 2.8 2 0.25 BAIXO
de ocorrer uma erosão com chuva de 260mm 29/10/2009 129401.00 41.8 1 0.19 MUITO BAIXO
29/01/2010 131199.35 72.2 2 0.82 MUITO ALTO
em 2016 era maior do que aquele com uma 03/01/2011 133111.60 101 1 0.64 ALTO
chuva de 319,5mm em 2009 em função das 08/01/2011 133111.60 83.4 1 0.54 MÉDIO
17/01/2011 133111.60 63.5 1 0.44 MÉDIO
diferentes variáveis analisadas, podendo ser a 16/01/2011 134545.79 47.3 1 0.40 MÉDIO
população e o número de ocorrências. 12/11/2011 134705.15 4.1 3 0.76 ALTO
15/11/2011 134705.15 9.7 2 0.51 MÉDIO
22/01/2012 135023.85 10.7 2 0.53 MÉDIO
4.2 Jaú 23/01/2012 135023.85 14.5 1 0.23 BAIXO
15/01/2013 136936.10 19.4 2 0.69 ALTO
06*02/2013 137095.46 0 2 0.52 MÉDIO
Como apresentado na Tabela 7, Jaú apresentou 29/11/2013 138529.65 0 2 0.57 MÉDIO
apenas desastres hidrológicos. Assim como em 07/11/2014 140441.90 0 3 1.00 MUITO ALTO
05/01/2015 142513.50 0 2 0.72 ALTO
Bauru, Jaú também apresenta alguns dias em 25/02/2015 142672.85 9 2 0.83 MUITO ALTO
que houve ocorrência de inundações ou 12/01/2016 144425.75 4.2 1 0.41 MÉDIO
09/01/2009 127898.58 0 2 0.17 MUITO BAIXO
alagamentos, mas sem o registro de chuva no 10/03/2009 128171.75 18 1 0.05 MUITO BAIXO
pluviômetro analisado. Isso se deve ao fato de 07/12/2009 129127.83 0 1 0.00 MUITO BAIXO
02/10/2009 129401.00 2.8 2 0.25 BAIXO
essas chuvas serem geralmente convectivas com 29/10/2009 129401.00 41.8 1 0.19 MUITO BAIXO
grande variabilidade espacial. Sendo assim, 29/01/2010 131199.35 72.2 2 0.82 MUITO ALTO
03/01/2011 133111.60 101 1 0.64 ALTO
provavelmente a localização do pluviômetro 08/01/2011 133111.60 83.4 1 0.54 MÉDIO
não detectou a chuva desencadeadora. Tabela 5. 17/01/2011 133111.60 63.5 1 0.44 MÉDIO
16/01/2011 134545.79 47.3 1 0.40 MÉDIO
12/11/2011 134705.15 4.1 3 0.76 ALTO
4.4 São José dos Campos 15/11/2011 134705.15 9.7 2 0.51 MÉDIO
22/01/2012 135023.85 10.7 2 0.53 MÉDIO
23/01/2012 135023.85 14.5 1 0.23 BAIXO
Na Tabela 8 estão apresentados os riscos a 15/01/2013 136936.10 19.4 2 0.69 ALTO
movimentos em massa gravitacionais. 06*02/2013
29/11/2013
137095.46
138529.65
0
0
2
2
0.52
0.57
MÉDIO
MÉDIO
Novamente existe uma contradição entre o valor 07/11/2014 140441.90 0 3 1.00 MUITO ALTO
da chuva mensal e a classificação do risco. 05/01/2015 142513.50 0 2 0.72 ALTO
25/02/2015 142672.85 9 2 0.83 MUITO ALTO
Ressalta-se a necessidade de se calcular o risco 12/01/2016 144425.75 4.2 1 0.41 MÉDIO
em estudos futuros considerando as chuvas 09/01/2009 127898.58 0 2 0.17 MUITO BAIXO

acumuladas em 3 e 7 dias.
Tabela 8. Classificação de Risco de Movimentos em
Na Tabela 9 novamente fica demonstrada a
Massa Gravitacionais em São José dos Campos
necessidade de se avaliar a chuva de maneira V P R
espacializada para comprovação de que a Data Chuva
N° de
Habitantes Mensal
interferência das outras variáveis sejam (mm)
eventos Valor Classificação
realmente relevantes. fev/09 613685 403.6 1 0.12 MUITO BAIXO
dez/09 621065 301.7 1 0.00 MUITO BAIXO
dez/12 657408 331.9 1 0.30 BAIXO
4.3 Sorocaba jan/13 658171 321.4 1 0.28 BAIXO
fev/15 677259 202.9 1 0.06 MUITO BAIXO
mar/15 678023 229.7 1 0.14 MUITO BAIXO
Na Tabela 10 está apresentado o resumo da jan/16 694057 199.4 1 0.12 MUITO BAIXO
análise de risco a desastres hidrológicos. mar/16 695584 237.6 2 1.00 MUITO ALTO
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4.5 Discussão dos Resultados


Tabela 9. Classificação de Risco de Desastres
Hidrológicos em São José dos Campos No caso dos desastres hidrológicos o fator solo
V P R
Chuva não foi considerado por não ser muito influente
Data N° de
Habitantes Mensal
eventos Valor Classificação
na ocorrência deste desastre. As cidades de
(mm)
17/11/2008 611472 0 1 0 MUITO BAIXO
Bauru e Sorocaba apresentaram na sua maioria
26/02/2009 613685 68.8 2 0.86 MUITO ALTO riscos mais baixos. Em todas as cidades
10/03/2009 614423 49.6 1 0.22 BAIXO
15/12/2009 621065 19 1 0.12 MUITO BAIXO
observa-se que nem sempre os dias com maior
14/12/2009 621066 19 1 0.12 MUITO BAIXO altura pluviométrica correspondem aos dias
31/12/2009 621067 8.2 1 0.07 MUITO BAIXO
02/03/2010 632212 28.7 2 0.70 ALTO
com risco alto, o que indica que a intensidade
11/02/2011 640610 1.9 2 0.49 MÉDIO da chuva é um fator extremamente relevante.
28/12/2012 657408 25.8 2 0.91 MUITO ALTO
09/01/2013 658171 8 2 0.69 ALTO
O número de ocorrências tem influência
11/01/2013 658172 31.2 1 0.35 BAIXO principalmente nas cidades de Jaú e São José
22/03/2013 659698 7.7 1 0.21 BAIXO
09/01/2014 667334 0 1 0.19 MUITO BAIXO
dos Campos. Para a cidade de Bauru, que
13/11/2014 684131 1 0.24 BAIXO apresenta o maior registro de ocorrências
11/12/2014 675732 5.1 2 0.78 ALTO
23/12/2014 675733 21.7 1 0.37 BAIXO
observa-se (Tabela 6) que o número de
06/03/2015 678023 0 1 0.22 BAIXO ocorrências não teve o mesmo impacto na
14/01/2016 694057 10.7 2 1.00 MUITO ALTO
16/01/2016 694058 17.7 1 0.42 MÉDIO
classificação do risco. Um fator significativo foi
a ocorrência de classificação de risco alta para
Tabela 10. Classificação de Risco de Desastres dias com chuva nula ou chuva muito baixa. Este
Hidrológicos em Sorocaba fato pode ser explicado pela característica
V P R pontual do registro dos dados do pluviômetro.
Chuva
Data
Habitantes Mensal
N° de Em 2015 foram instalados pluviômetros pelo
eventos Valor Classificação
(mm) CEMADEN na cidade de Bauru, o que permitiu
23/11/2008 538106 0.100 2 0.09 MUITO BAIXO
22/12/2008 540047 1.5 1 0.00 MUITO BAIXO
avaliar a variabilidade espacial da chuva para os
23/12/2008 540047 4.1 2 0.11 MUITO BAIXO dias 09/02 e 07/03 de 2015 nos quais não foi
02/01/2009 541987 14.8 2 0.17 MUITO BAIXO
25/01/2009 541987 0 3 0.21 BAIXO
registrada chuva no pluviômetro de Bauru
04/02/2009 543928 8.1 2 0.14 MUITO BAIXO utilizado nesta pesquisa, mas foram registradas
10/02/2009 543928 0.4 1 0.00 MUITO BAIXO
17/03/2009 545869 0 2 0.11 MUITO BAIXO
10 e 2 ocorrências de desastres hidrológicos,
05/11/2009 561395 0 1 0.04 MUITO BAIXO respectivamente (Tabela 11).
03/12/2009 563336 12.6 3 0.37 BAIXO
29/12/2009 563336 17.2 1 0.10 MUITO BAIXO
15/01/2010 565277 8.4 2 0.21 BAIXO Tabela 11 – Pluviômetros em Bauru
27/01/2010 565277 3.2 1 0.05 MUITO BAIXO Data Pluviômetros em operação (mm)
12/01/2011 596544 8.2 2 0.31 BAIXO P1 P2 P3 P4 P5
16/02/2011 597307 69 3 1.00 MUITO ALTO 09/02 11,17 0,4 32 65,4 17
28/10/2012 612566 7.8 2 0.36 BAIXO 07/03 72,63 51,2 37 19,6 41
12/11/2012 613329 74.4 1 0.48 MÉDIO
14/12/2012 614092 26 2 0.49 MÉDIO
20/12/2012 614092 6 1 0.17 MUITO BAIXO A disponibilidade de mais dados
29/12/2012 614092 18.2 1 0.22 BAIXO
31/12/2012 614092 0.8 1 0.14 MUITO BAIXO
pluviométricos é relevante para a análise da
09/03/2013 616381 3.8 2 0.34 BAIXO chuva espacializada ao invés da chuva pontual.
05/12/2013 623248 0 1 0.15 MUITO BAIXO
08/02/2014 624774 1.2 1 0.16 MUITO BAIXO
Como forma de desenvolver a análise dos
08/11/2014 631641 31.5 1 0.33 BAIXO riscos obtidos através do software foram
22/12/2014 632404 13 2 0.46 MÉDIO
21/01/2015 633167 0.2 2 0.37 BAIXO
elaborados gráficos de dispersão relacionando-
05/02/2015 633930 0.2 1 0.18 MUITO BAIXO os com os parâmetros considerados no cálculo,
10/03/2015 634693 18.8 1 0.27 BAIXO
13/01/2016 642322 30.8 1 0.36 BAIXO
conforme. Em função da disponibilidade de
21/02/2016 643085 0.4 2 0.40 BAIXO espaço apresentam-se somente as análises dos
dados de Desastres Hidrológicos da cidade de
Bauru, por conter a série mais representativa
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com maior número de dados. Nas Figuras 1, 2 e uma influência da população ou que tenha
3 apresentam-se a variação dos riscos em chovido no entorno do local onde o pluviômetro
função da população, da chuva e do número de está instalado.
ocorrências respectivamente. Na Figura 2 apresenta-se a variação dos
riscos em função da chuva diária. Nota-se que
para as chuvas mais altas foram registrados
riscos mais elevados. Na Figura 3 apresenta-se a
vinculação entre o número de ocorrências com o
risco, observa-se uma relação mais forte entre
estas variáveis.

5 COMENTÁRIOS FINAIS

Analisando as quatro cidades, foi possível notar


Figura 1. Risco vs População - Desastres Hidrológicos que somente Bauru possui, no período
Bauru analisado, o registro de ocorrência dos três
desastres naturais analisados neste estudo. São
José dos Campos não possui ocorrências de
erosão e Jaú e Sorocaba possuem apenas
eventos de inundações. Tal fator pode ser
explicado pelas características geomorfológicas
de cada cidade, citadas no início do artigo.
Outro fato que pode explicar tal fenômeno é a
população das cidades, e o modo como estas se
distribuem em todo território. Bauru possui o
maior número de habitantes, o que pode indicar
uma área impermeabilizada maior e um
Figura 2. Risco vs Chuva - Desastres Hidrológicos Bauru aumento da vulnerabilidade, além de sistema de
drenagem ineficiente. Assim, menores volumes
pluviométricos induziram a números maiores de
ocorrências e por consequência um risco maior.
Observa-se também que diversas vezes a
chuva aferida pelo pluviômetro não corresponde
àquela que desencadeou o evento, sinalizando
que o prosseguimento do trabalho deva ser
realizado com os dados espacializados de chuva
na área de interesse, principalmente para os
casos de desastres hidrológicos.
A escala temporal da precipitação também é
Figura 3. Risco vs Nº de ocorrências - Desastres
Hidrológicos Bauru relevante. Há evidências que a análise de erosão
avaliando-se as chuvas nos dias antecedentes ao
Através da análise da Figura 1 não se evento pode aprimorar os resultados; assim
observa uma vinculação entre estas variáveis. como a análise da chuva desencadeadora de
Entretanto para Jaú observou-se que eventos inundação em uma escala mais detalhada que a
mais recentes apresentaram risco alto com diária também pode interferir nos resultados.
valores baixos de chuva, o que pode significar Através das análises feitas pode-se concluir
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que a ocorrência de desastres está extremamente http://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html> Acesso


ligada à geologia do local, frequência e em 15/07/2017
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
intensidade de chuvas e ações antrópicas. Paulo. IPT. (1981) Mapa Geomorfológico do Estado
Porém, esse trabalho mostrou a dificuldade de de São Paulo. Escala 1:1.000.000. Volumes I e II.
se analisar os fatores separadamente uma vez Publicação 1183. São Paulo Brasil.
que o planejamento das cidades é muitas vezes Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
o fator preponderante, sobrepondo-se à Paulo, IPT. (1981b) Mapa Geológico do Estado de
suscetibilidade local. São Paulo. Escala 1:500.000, Volumes I e II.São
Paulo-SP. Publicação 1184.
Em Bauru, por exemplo, chuvas com baixa Instituto Geológico. (2009) Mapa Geológico do
intensidade provocaram inundações. Cabe Município de Sorocaba. Publicação em mídia
ressaltar que Bauru segundo a carta geotécnica eletrônica das cartas geológicas executadas pelo
não apresenta suscetibilidade a inundação. No Instituto Geológico (SMA/SP) para subsidiar a
ocupação e uso do meio físico na região entre
caso da Simulação de Monte Carlo, nota-se que
Sorocaba e Campinas. Programa Levantamento
a análise utilizando o programa @Risk é Geológicos Básicos. Vol. II. São Paulo.
extremamente possível e relevante, e aplica-se Kobiyama, M.; Mendonça,M.; Moreno D.A.; Marcelino
aos diversos tipos de desastres, cada um com I.P.V.O; Marcelino E.V.; Gonçalves E.F.; Brazetti l. L
suas particularidades a serem consideradas. P.; Goerl R.F.; Molleri G.S.F.; Rudorff F.M. (2006)
Prevenção de desastres naturais: conceitos
O presente artigo alerta para o fato de que a
básicos.Brasil: Editora Organic Trading..
suscetibilidade de um local não pode ser Massad, F.; (2003) Obras de Terra: curso básico de
avaliada apenas em dados geotecnia - São Paulo: Oficina de Textos.
geológicos/geotécnicos uma vez que podem Nakazawa, V. A. (1994). Carta Geotécnica do Estado de
levar a ineficientes tomadas de decisão dos São Paulo. São Paulo: Departamento de Ciência e
Tecnologia. Escala 1:500.000, Volumes I e II.São
órgãos responsáveis, gerando consequências
Paulo-SP.
severas à população. Nesse sentido a utilização Santana, M.S. (2017) Processos hidrológicos,
de um banco de dados de desastres naturais Inundações,enchentes, enxurradas e alagamentos na
tendo como análise os danos e seus possíveis geração de áreas de risco. Curso de capacitação de
eventos desencadeadores torna-se uma Técnicos municipais para prevenção e gerenciamento
de riscos de desastres naturais. Disponível em
ferramenta de extrema importância. <https://defesacivil.es.gov.br/Media/defesacivil/Capac
Esta avaliação engloba diferentes áreas do itacao >
conhecimento, sendo assim ações para que as Soriano, E. (2009) Os desastres naturais, a cultura de
nomenclaturas sejam padronizadas devem ser segurança e a gestão de desastres no Brasil. In:
incentivadas. Seminário Internacional de Defesa Civil –
DEFENCIL, 5, 2009. São Paulo. Anais. São Paulo:
Secretaria Nacional de Defesa Civil.
Tominaga, L.K.; Santoro, J.; Amaral, R. (2012) Desastres
REFERÊNCIAS Naturais:Conhecer para prevenir - 2° ed.- São Paulo:
Instituto Geológico.
Farinasso, M.; Carvalho Junior, O. A.; Guimarães, R. F.
Tabosa, C.M.; Saraiva Júnior,A.F; Costa, R.P. (2011)
(2006) Avaliação qualitativa do potencial de erosão
Simulação de Monte Carlo aplicada à análise
laminar em grandes áreas por meio da EUPS –
econômica de pedido. Produção, v. 21, n. 1, p. 149-
equação universal de perdas de solos utilizando novas
164, jan./mar. 2011.
metodologias em SIG para os cálculos dos seus
UNISDR (2018) Relatório da ONU afirma que 90 por
fatores na região do Alto Parnaíba – PI-MA. Revista
cento dos desastres tem causas metereológicas.
Brasileira de Geomorfologia, 2006.
Acessados em 20 de Abril de 2018. Disponível em
Ferreira, C. J. (2012) Análise de risco a escorregamento e
<https://www.unric.org/pt/actualidade/32072-relatorio
quantificação da degradação em apoio ao
-da-onu-afirma-que-90-por-cento-dos-desastres-tem-
licenciamento ambiental da mineração, Litoral Norte,
causas-meteorologicas> Acesso em abril de 2018.
Congresso Brasileiro sobre Desastres Naturais, 2012,
Zuquette, L. (2018) Riscos, desastres e eventos naturais
Rio Claro: UNESP/IG, p. 1-9.SP.
perigosos: fontes de eventos perigosos- 1. ed. - Rio de
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE
Jeniro: Elsevier.
(2010) Atlas do censo demográfico disponível em <
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Estudo da Chuva Desencadeadora de Desastres Naturais na


Região Administrativa de Bauru Através da Simulação de Monte
Carlo
Marina Alkimin do Amaral Silva
Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil,
marinaalkimin@gmail.com

Ilza Machado Kaiser


Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil, ilza.kaiser@unesp.br

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil, anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: Esse trabalho teve como objetivo fazer um levantamento dos desastres hidrológicos da
região administrativa de Bauru e realizar uma análise estatística que permitiu conhecer a
probabilidade de um evento meterológico desencadear um desastre natural. Para isso, foi consultado
o banco de dados do Centro de Meteorologia da Faculdade de Ciências (IPMet) para verificar as datas
em que ocorreram os desastres no período de 2009 a 2016. Depois, foi feita uma consulta aos dados
da pluviometria que desencadeou esses desastres. Assim, foi avaliada a frequência com que os índices
pluviométricos desencadearam desastres naturais, construindo um histograma de frequência em que
seus intervalos serviram como diferentes cenários para avaliação do risco calculado por meio da
Simulação de Monte Carlo.

PALAVRAS-CHAVE: Desastres Naturais de Origem Hidrológica, Chuva Desencadeadora, Análise


Estatística, Simulação de Monte Carlo.

1 INTRODUÇÃO forma isso influencia nos impactos e


consequências da ocorrência do evento
Quando um evento metereológico causa danos (CASTRO, 2017).
sociais, econômicos e ambientais à uma Assim, a Organização das Nações Unidas
comunidade, destruindo sua estrutura social e (ONU) criou o Marco de Ação de Hyogo (2005-
comprometendo funções essenciais da vida em 2015) visando, para 2015, a redução
sociedade, é chamado de desastre natural. Sua considerável das perdas de vidas humanas, bens
intensidade depende da vulnerabilidade do local sociais, econômicos e ambientais ocasionadas
em que ocorre e da preparação em receber o por desastres. Ao final do Marco de Hyogo, foi
agente desencadeador. (UGARTE, 2015) realizada a III Conferência Mundial sobre a
Na década de 90 do século passado, a análise Redução do Risco de Desastres que culminou na
de desastres naturais era feita considerando o adoção do Marco de Sendai para a Redução do
agente deflagrador como principal responsável Risco de Desastres (2015-2030), que estimula o
pelos impactos na população, ou seja, a causa de comprometimento dos governos dos países com
uma grande inundação era a intensidade da a adoção de medidas que visem a redução dos
chuva. A partir dos anos 2000, o foco do estudo desastres, diminuindo também a vulnerabilidade
de desastres naturais passou a ser a análise da frente às ameaças naturais (BRASIL, 2015).
vulnerabilidade, levando em conta o contexto No Brasil, a quantidade e intensidade dos
social do local onde ocorre um desastre e de que desastres naturais são cada vez maiores e seus
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impactos na população também estão constatado na cidade de Bauru (BERTACCHI;


relacionados com o despreparo em receber seu FARIA, 2003).
agente deflagrador. Assim, o país sofre Nesse contexto, existe a necessidade de
constantemente com alagamentos, enxurradas, realizar um levantamento dos desastres naturais
deslizamentos de encostas, que ocasionam da região administrativa de Bauru e fazer uma
grandes perdas socioecômicas. (CEMADEN, análise estatística para conhecer a distribuição de
2016). probabilidade que modela o risco de ocorrência.
A fim de minimizar essas consequências, o
Governo Federal implantou em 2011 o Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de 2 EMBASAMENTO TEÓRICO
Desastres Naturais (CEMADEN), que tem como
missão o monitoramento de ameaças naturais em 2.1 Hidrologia Estatística
áreas de riscos de municípios brasileiros que
apresentam suscetibilidade à ocorrência de A maioria das variáveis hidrológicas, como
desastres (CEMADEN, 2016). volume pluviométrico e intensidade máxima de
Os municípios monitorados pelo CEMADEN chuva, podem ser consideradas estocásticas, ou
possuem registros de desastres naturais seja, dependem de fatores aleatórios e por isso
decorrentes de deslizamentos de encosta, podem ser descritos como distribuições de
processos erosivos, que são chamados de probabilidade. Isso ocorre porque esses eventos
movimentos de massa, e também decorrentes de se sobressaem a regularidades previstas, como
processos hidrológicos como inundações, estações do ano. Além disso, embora as
enxurradas e alagamentos. Para um município tecnologias avançadas contribuam para uma
ser monitorado pelo CEMADEN, é necessário redução dessas incertezas, esses eventos
que ele possua suas áreas de risco identificadas e dificilmente serão determinísticos, ou seja,
mapeadas (CEMADEN, 2016). dificilmente poderão ser previstos em sua
Bauru, município do interior de São Paulo, totalidade (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
ficou conhecido na década de 90 como “Capital Ao definir uma distribuição de probabilidade
das Erosões”. Porém, nos últimos anos, os para uma determinada amostra, a hidrologia
desastres que mais afetam esse local são os de estatística permite concluir com que
origem hidrológica, como inundações, probabilidade a variável estudada irá igualar um
alagamentos e enxurradas. valor de referência que não necessariamente já
Tal mudança pode ser justificada de duas foi alcançado, sendo possível a previsão de
maneiras. A primeira delas é que a sociedade vários cenários (NAGHETTINI; PINTO, 2007).
civil e os órgãos tomadores de decisão estão As variáveis hidrológicas podem ser
melhor preparados para evitar o aparecimento classificadas em qualitativas, cujos resultados
desses processos erosivos. O segundo motivo é são expressos por um atributo, e quantitativas,
que nos últimos anos ocorreu uma intensificação cujos resultados são expressos por números. As
na pavimentação das ruas sem a preocupação variáveis hidrológicas quantitativas podem ser
com a adequação da infraestrutura de drenagem subdivididas em discretas e contínuas, a primeira
existente. seu resultado é expresso por um número inteiro
O aumento das áreas pavimentadas diminuiu como, por exemplo, número anual de dias sem
a infiltração das águas pluviais e aumentou a chuva e a segunda quando for expresso por
intensidade das enxurradas e por consequência números reais não negativos, como a altura
dos alagamentos. A impermeabilização dos máxima de precipitação. Cada uma dessas
ambientes urbanos intensifica o processo de variáveis terá distribuições de probabilidade
formação de ilhas de calor que podem interferir compatíveis com sua classificação
no volume de chuva. Este fenômeno já foi (MAGALHÃES; LIMA, 2008).
As distribuições de probabilidade em questão
podem ser explicitadas por meio de um
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histograma, que se baseia na construção de uma podem acentuar as consequências negativas


tabela de frequência que considera as amostras (REBELO, 2003).
coletadas. Para isso, é necessário o agrupamento A ocorrência de um evento metereológico em
dos dados em classes que seguem o critério da uma área inabitada não é caracterizada como um
Fórmula de Sturges (Eq. 1), que é responsável desastre natural. Porém, a partir do momento que
por definir o número de intervalos e é dado por: esse evento ocorre em áreas habitadas, podendo
ocasionar algum tipo de dano, esse evento
~ 1 + 3,33 log (1) metereológico é considerado um risco ambiental
(PELLEGRINA, 2011).
Em que k é o número de intervalos e n o Dessa maneira, as váriaveis que descrevem o
número de elementos que se deseja representar. risco (Eq. 3), segundo Rebelo (2003), são: perigo
Para definir a amplitude dos intervalos, e vulnerabilidade. Perigo é caracterizado por
calcula-se o quociente entre a amplitude dos qualquer ação que possa vir a causar algum tipo
dados e o número de intervalos k (Eq. 2). de dano, como inundação, alagamento,
destelhamento e até ocorrência de feridos e
á í
= (2) morte, e vulnerabilidade, que indica a
suscetibilidade de determinado local em sofrer
A construção de um histograma é um dano produto de um fenômeno natural
fundamental para a verificação da distribuição (CASTRO, 2017).
de probabilidade, consiste em retângulos com Para Marcelino et al. (2005) a análise deve
base equivalente ao intervalo de classe e altura à levar em conta a resiliência da população, ou
frequência absoluta. Quando se aumenta seja, a capacidade de uma população resistir e se
significativamente o número de intervalos recuperar de um desastre. Assim, quanto maior a
fazendo com que esse número tenda, capacidade de recuperação, menor será o risco
teoricamente, ao infinito, reduzindo a amplitude (Eq. 3), uma vez que essas variáveis são
dos valores, se obtem pontos que caracterizam a inversamente proporcionais.
função densidade de probabilidade. Assim, é
possível saber qual distribuição de probabilidade ∗
essa variável aleatória segue, podendo adotar = (3)
seus parâmetros e calcular a probabilidade de
determinados eventos que podem não estar Em que: R é o Risco; Pe é o perigo; V é a
presentes nas amostras, além de medidas de Vulnerabilidade; e Re é a Resposta que pode ser
dispersão fundamentais para eventuais análises considerada como o IDH do município a ser
(MAGALHÃES; LIMA, 2008). estudado (MARCELINO et al., 2005).
Dados hidrológicos, em geral, podem conter
grande quantidade de erros aleatórios, já que Marcelino et al. (2005) também propôs
podem trazer erros referentes à leitura por conta considerar fatores sociais para o cálculo da
imperícia do observador que a faz. Assim, se vulnerabilidade (V), conforme Eq. 4:
torna importante ter grande quantidade de
amostras para minimizar esses erros = + + (4)
(NAGHETTINI; PINTO, 2007).
Sendo DD a densidade demográfica do
2.2 Análise de Risco município (hab/km2), PI a população idosa, ou
seja, o número de cidadãos com idade igual ou
Na análise de risco associa-se a probabilidade da superior a 60 anos e IP a intensidade de pobreza,
ocorrência de um evento à suscetibilidade do sendo considerado o desvio entre o valor da
local. No caso de risco em desastres naturais, são renda média mensal da população pobre do
analisados os fatores ambientais e sociais que município analisado e o valor da linha de
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pobreza (renda mensal de 1 dólar americano por Faculdade de Ciências/Unesp (IPMet).


dia), considerando a média da cotação do dólar
do período analisado. 3.3 Levantamento de Dados de Chuva

2.3 Simulação de Monte Carlo Para cada um dos municípios com ocorrências de
desastres naturais, foi verificada a existência de
A Simulação de Monte Carlo permite simular dados pluviométricos referentes às datas dos
qualquer processo que dependa de fatores desastres hidrológicos, coletando a chuva diária
aleatórios que podem ou não sofrer com a desencadeadora e as chuvas acumuladas de 3 e 7
insuficiência de dados. Sua essência se baseia em dias anteriores aos desastres, através dos bancos
estabelecer uma distribuição de probabilidade de dados do Departamento de Água e Energia
que corresponde à uma variável aleatória para o Elétrica (DAEE) e da Agência Nacional de
risco analisado, realizando um grande número de Águas (ANA), além dos dados do IPMet para o
iterações dessa variável (FERNANDES, 2005). município de Bauru.
Assim, ao substituir intervalos de dados por
distribuições de probabilidade, é possível obter 3.4 Análise Estatística
uma visão mais realista quanto às incertezas do
cálculo do risco. Para a definição das Para cada um dos municípios com
distribuições, é necessário avaliar sua curva de disponibilidade de dados de chuva
distribuição de probabilidade, assim como os desencadeadora, foi feita a análise estatística dos
valores de parâmetros como média e desvio dados pluviométricos coletados a fim de
padrão (PALISADE, 2016). construir uma tabela de frequência.
Os índices pluviométricos desencadeadores
foram divididos em intervalos, utilizando a Eq.
3 METODOLOGIA 1, sendo possível vincular o número de
desastres por faixa de precipitação. Esse
3.1 Levantamento de Dados Censitários resultado é apresentado na forma de histograma.
Depois, utilizando esses intervalos, se
Foram levantados os dados populacionais de agrupou as chuvas do período (tendo elas
cada um dos 39 municípios que compõem a desencadeado ou não um desastre), obtendo o
região administrativa de Bauru, sendo eles: área número de dias de chuvas pertencentes aos
do município (km2); população total; população intervalos, a média e o desvio padrão dos dados
idosa; densidade demográfica (hab/km2); Índice a fim de obter a sua distribuição de probabilidade
de Desenvolvimento Humano Municipal, IDHm,
que mede, de 0 a 1, o desenvolvimento dos 3.5 Simulação de Monte Carlo
municípios, considerando educação,
longevidade da população, Produto Interno Os intervalos de precipitação obtidos nos
Bruto (PIB) per capita e Intensidade de Pobreza histogramas de chuva diária desencadeadora por
(IP). meio da Fórmula de Sturges (Eq. 1) foram
utilizados como diferentes cenários de chuva
3.2 Levantamento de Dados de Desastres para realizar a Simulação de Monte Carlo.
Na sequência, foi necessário definir os inputs
Foram levantadas as datas em que ocorreram os para cada intervalo, sendo eles:
desastres naturais hidrológicos como: - Ocorrências (O): número de ocorrências de
inundações graduais; enchentes; alagamentos e desastres naturais no intervalo, obtida através do
transbordamento de rios e córregos, no período banco de dados do IPMet;
de 2009 a 2016 para as cidades da região - Número de chuvas no intervalo (Ni): número de
administrativa de Bauru utilizando o banco de chuvas (tendo ou não desencadeado um desastre)
dados do Centro de Meteorologia de Bauru da
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no intervalo, obtido através do banco de dados 4.1 Histogramas


do IPMet e do DAEE;
- Precipitação do intervalo (Pi): distribuição de Com os dados de chuva coletados, foi possível
probabilidade da precipitação (tendo ou não contruir os histogramas para as três cidades com
desencadeado um desastre) no intervalo, quantidade suficiente de dados.
considerando média e desvio padrão dos dados
coletados no banco de dados do IPMet e DAEE; 4. 1.1 Bauru
- Vulnerabilidade social (Vs): obtida através da
Eq.4 considerando dados do Censo de 2010 Para a cidade de Bauru, foi possível observar que
(IBGE, 2011); menores índices pluviométricos desencadearam
- Vulnerabilidade ambiental (Va) obtida através grande quantidade de desastres naturais. Assim,
da Carta Geotécnica do Estado de São Paulo tanto o histograma de chuva diária (Figura 1),
(NAKAZAWA, 1994) ; quanto os histogramas da chuva acumulada de 3
- Resposta (Re): caracterizada pela (Eq. 5), dias (Figura 2) e da chuva acumulada de 7 dias
obtida através de dados do Censo de 2010 (Figura 3) são caracterizados por uma
(IBGE, 2011). Sendo V a vulnerabilidade (Eq. 6) distribuição Lognormal.
e Pe o perigo (Eq. 7).

= (5)

=( + ) (6)

= ∗ (7)

Também foi necessário definir as


distribuições para cada uma dessas variáveis, Figura 1: Histograma Chuva Diária – Bauru
levando em conta seus parâmetros.
O output Risco foi considerado utilizando a
equação (8), realizando 5000 interações para
cada um dos outputs.

∗ ∗( + )
= (8)

4 RESULTADOS
Figura 2: Histograma Chuva Acumulada (3 dias) – Bauru
Dos 39 munícipios da região administrativa de
Bauru, 20 possuíam registros de desastres
naturais, segundo o banco de dados do IPMet.
Desses 20 municípios, Bauru, Cafelândia,
Getulina, Jaú, Lençóis Paulista e Pederneiras
possuiam dados pluviométricos disponíveis
referentes aos dias em que os desastres
ocorreram. Entretanto, apenas Bauru, Jaú e
Lençóis Paulista possuíam dados suficientes
para a construção dos histogramas e análise do
risco. Figura 3: Histograma Chuva Acumulada (7 dias) Bauru
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4.1.2 Lençóis Paulista 4.1.3 Jaú

Para a cidade de Lençóis Paulista, embora Na cidade de Jaú, assim como nas cidades
tivesse menos dados que a cidade de Bauru, anteriores, se observou maior frequência de
dificultando a caracterização de sua distribuição desastres desencadeados por menores volumes
de probabilidade, também foi possível notar que de chuva, também caracterizando uma
os menores volumes pluviométricos distribuição Lognormal, conforme Figuras 7 a 9.
desencadearam maior número de desastres
naturais, conforme Figuras 4, 5. Isto porque há
mais ocorrências de precipitações com menor
volume pluviométrico. Dessa maneira, é
importante considerar a probabilidade de
ocorrência no cálculo do risco conforme Eq. 8.

Figura 7: Histograma Chuva Diária – Jaú

Figura 4: Histograma Chuva Diária – Lençóis Paulista

Figura 8: Histograma Chuva Acumulada (3 dias) – Jaú

Figura 5: Histograma Chuva Acumulada (3 dias) –


Lençóis Paulista

Figura 9: Histograma Chuva Acumulada (7 dias) – Jaú

4.2 Vulnerabilidade Ambiental


Figura 6: Histograma Chuva Acumulada (7 dias) –
Lençóis Paulista Segundo a Carta Geotécnica do Estado de São
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Paulo, Nakazawa (1994), os municípios da Tabela 2: Cálculo Vulnerabiliade Social – Lençóis Paulista
região administrativa de Bauru possuem DD Vul.
Ano IP PI
(hab/km2) Social
classificação alta à muito alta suscetibilidade
2009 74,87 46,01 6302 6423,32
para a ocorrência erosões. A áreas suscetíveis a 2010 75,88 46,01 6645 6766,90
inundações, segundo a Carta, são próximas às 2011 76,90 46,01 6988 7110,49
margens do rios e não fazem parte da área urbana 2012 77,92 46,01 7330 7454,08
onde ocorreram os alagamentos, já que a 2013 78,93 46,01 7673 7797,66
2014 81,02 46,01 8015 8142,32
ocorrência desses eventos se dá por falta de
2015 80,96 46,01 8358 8484,83
planejamento urbano e problemas de drenagem, 2016 81,98 46,01 8700 8828,42
assim, as inundações não são consequências de 2017 82,99 46,01 9043 9172,00
fatores geotécnicos e sim de fatores antrópicos. Média da vulnerabilidade social 7797,78
Dessa forma, se considerou como baixa a
suscetibilidade da região aos eventos Tabela 3: Cálculo Vulnerabilidade Social – Jaú
DD Vul.
hidrológicos estudados, adotando o parâmetro Ano IP PI
(hab/km2) Social
Va, de 1 a 2, sendo: 1 – baixa suscetibilidade à 2009 186,72 35,06 16128 16349,64
inundação e 2 – alta suscetibilidade à inundação. 2010 191,09 35,06 16852 17078,15
Para todos os municípios estudados, se adotou 2011 193,05 35,06 17576 17804,25
vulnerabilidade ambiental igual a 1. 2012 196,22 35,06 18300 18531,56
2013 199,39 35,06 19024 19258,87
2014 202,55 35,06 19749 19986,17
4.3 Vulnerabilidade Social 2015 205,72 35,06 20473 20713,48
2016 208,89 35,06 21197 21440,79
A vulnerabilidade social de cada cidade foi 2017 212,05 35,06 21921 22168,55
calculada anualmente com a Eq. 4. Foram Média da vulnerabilidade social 19259,05
adotados os dados do censo do IBGE de 2010 e
a projeção de população para 2017, considerou- Tabela 4: Vulnerabilidades Sociais Normalizadas
se um crescimento populacionl linear para os Lençóis
Bauru Jaú
Paulista
anos intermediários, conforme Tabelas 1, 2 e 3. Média 34462,28 19259,05 7797,78
O valor final da vulnerabilidade social de Valor
2,00 1,43 1,00
cada cidade foi adotado como a média das Normalizado
vulnerabilidades sociais dos anos em estudo.
A vulnerabilidade social foi utilizada de 4.4 Simulação de Monte Carlo
maneira comparativa entre as cidades estudadas,
assim, foi necessário normalizar os valores, de Para realizar a Simulação de Monte Carlo, se
forma a variarem de 1 a 2, como mostrado na considerou a chuva diária como a chuva
Tabela 4. desencadeadora dos desastres hidrológicos, uma
vez que ela se mostrou mais representativa para
Tabela 1: Cálculo Vulnerabilidade Social – Bauru esse tipo de desastre. As chuvas acumuladas são
Ano
DD
IP PI
Vul. importantes para a avaliação de desastres de
(hab/km2) Social movimentos de massa e serão analisados em
2009 523,48 26,1 30525 31074,58 estudos futuros.
2010 515,12 26,1 31369 31910,22
2011 521,05 26,1 32213 32760,15
Assim, foram adotados como input as
2012 526,98 26,1 33058 33611,08 variáveis com as seguintes distribuições:
2013 532,92 26,1 33902 34461,02 ocorrências (distribuição uniforme); número de
2014 538,86 26,1 34746 35310,96 chuvas no intervalo (distribuição uniforme);
2015 544,80 26,1 35590 36160,90 precipitação no intervalo (distribuição normal);
2016 550,74 26,1 36434 37010,84
vulnerabilidade social (distribuição uniforme);
2017 556,70 26,1 37278 37860,80
Média da vulnerabilidade social 34462,28 vulnerabilidade ambiental (distribuição
uniforme).
O output foi definido como o Risco, calculado
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de acordo com a Eq. 8, cujos dados geraram uma intervalo, a maioria delas não desencaderam
distribuição diferente para cada intervalo em que desastres (552 eventos de chuva para 36
os extremos nos gráficos representam os valores ocorrências de desatres). Dessa forma, embora
mínimos e máximos dos riscos não normalizados seja alto o número de desastres no intervalo, a
para cada um dos intervalos. Também se probabilidade de ocorrência é de 6,52%, o que
classificou o valor estático do risco normalizado diminui o risco.
para a comparação entre os intervalos e cidades, Com a simulação, é possível verificar a
conforme Tabela 5. distribuição de probabilidade que modela o
risco. Nesse caso, há 90% de probabilidade do
Tabela 5: Classificação do Risco risco não normalizado estar entre 0,33 e 3,71. Ou
Risco Classificação seja, existe 5% de probabilidade de ser menor
1,0 a 1,2 Muito Baixo que 0,33 ou maior que 3,71.
1,2 a 1,4 Baixo
1,4 a 1,6 Médio
1,6 a 1,8 Alto
1,8 a 2,0 Muito Alto

4.4.1 Bauru

Para Bauru, se realizou a simulação para todos


os intervalos obtidos na construção do
histograma de chuva diária. Na Tabela 6 são
apresentados, a título de ilustração, três dos
intervalos estudados.
Figura 10: Distribuição de Probabilidade para o Risco
(Intervalo de 2,8 mm -16,8 mm)
Tabela 6: Inputs e Outputs da Simulação de Monte Carlo
Inputs Também, analisando o intervalo de chuva
Limite
2,8 72,8 114,8 desencadeadora diária de 72,8 mm a 86,8 mm, se
Intervalo inferior
(mm) Limite obteve o maior valor estático para o risco. Nota-
16,8 86,8 128,8 se que ocorreram 17 desastres em 4 chuvas, uma
superior
Ocorrências 36 17 3 vez que uma chuva ocasionou mais de um
Número de Chuvas 552 4 3 desastre. Assim, considerando a relação entre o
Precipitação Média 8,09 75,27 119,9 número de ocorrências e o número de chuvas do
Vul. Ambiental 1 1 1
intervalo (O/Ni), se verificou um aumento
significativo do risco.
Vul. Social 2 2 2
Para a análise do intervalo de maior volume
Outputs
pluviométrico, se nota que todas as chuvas
Risco 1,98 1198,1 449,06 ocorridas desencadearam desastres, entretanto, a
Risco Normalizado 1,0016 2,0000 1,3748 frequência dessas chuvas é muito baixa, tendo
apenas 3 ocorrências dentre as 559 chuvas do
Analisando esses resultados, no intervalo de período analisado, o que diminui o valor estático
chuva diária desencadeadora de 2,8 a 16,8 mm, do risco.
o valor estático do risco normalizado obtido foi Para os demais intervalos, se obtiveram as
igual à 1,0016, considerando que o risco varia de distribuições apresentadas na Tabela 7. As
1 a 2. Assim, o risco de ocorrência para esse funções de distribuição de probabilidade tem o
intervalo é muito baixo, o que diverge dos formato da distribuição normal para a maioria
resultados obtidos pelo histograma (Fig 1). dos intervalos de precipitação.
Entretanto, esse fato deve-se à grande
quantidade de chuvas pertencentes a este
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Tabela 7: Resumo das Distribuições para o Risco – Bauru conforme os parâmetros adotados para cada um
Intervalo Gráfico dos intervalos.
Chuva / 2,8-16,8
R= 1,0016 Tabela 8: Resumo das Distribuições para o Risco –
Classificação: Muito Baixo Lençóis Paulista.
Chuva/ 16,8-30,8 Intervalo Gráfico
R=1,0330 Chuva/ 5,3-20,3
Classificação: Muito Baixo R=1,0030
Chuva / 30,8-44,8 Classificação: Muito Baixo
R=1,1096 Chuva / 20,3-35,3
Classificação: Muito Baixo R=1,0182
Chuva/ 44,8-58,8 Classificação: Muito Baixo
R=1,0998 Chuva/ 35,3-50,3
Classificação: Muito Baixo R=1,1034
Chuva / 58,8-72,8 Classificação: Muito Baixo
R=1,0767 Chuva / 50,3-65,3
Classificação: Muito Baixo R=1,0000
Chuva / 72,8-86,8 Classificação: Muito Baixo
R=2,0000 Chuva / 65,3-80,3
Classificação: Muito Alto R=2,0000
Chuva / 86,8-100,8 Classificação: Muito Alto
R=1,0000
Classificação: Muito Baixo Tabela 9: Resumo das Distribuições para o Risco – Jaú
Chuva / 100,8-114,8 Intervalo Gráfico
R=1,0000 Chuva / 2,8 - 16,9
Classificação: Muito Baixo R=1,0000
Chuva / 114,8-128,8 Classificação: Muito Baixo
R=1,3748 Chuva/ 16,9 - 31,0
Classificação: Baixo R=1,0100
Classificação: Muito Baixo
4.4.2 Lençóis Paulista Chuva / 31,0 - 45,1
R=1,0064
Para a cidade de Lençóis Paulista, realizando os Classificação: Muito Baixo
mesmos procedimentos descritos no item 3, se Chuva / 45,1 - 59,2
obtiveram as distribuições para o risco para os R=1,0190
intervalos estudados, conforme Tabela 8. Classificação: Muito Baixo
Nota-se que, assim como para Bauru, as Chuva / 59,2 - 73,3
distribuições seguiram o padrão de distribuição R= 1,1565
normal. O risco calculado para o intervalo de Classificação: Muito Baixo
50,3 mm à 65,3 mm seguiu uma distribuição Chuva / 73,3 - 87,4
uniforme, uma vez que o número de ocorrências R= 1,1946
Classificação: Muito Baixo/Baixo
para esse intervalo, durante o período analisado,
foi nulo, como pode ser observado na Fig. 4. Chuva / 87,4 - 101,5
R=2,0000
Classificação: Muito Alto
4.2.3 Jaú

Para a cidade de Jaú, as distribuições do risco


seguiram a distribuição Normal, Tabela 9, 5 COMENTÁRIOS FINAIS
variando seus valores máximos e mínimos
De modo geral, as distribuições para o risco das
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três cidades estudadas se mostraram semelhantes IBGE (2011). Censo Demográfico 2010: Características
para os intervalos apresentados. A cidade de da população e dos domicílios: resultados do universo.
Rio de Janeiro: IBGE, 2011.
Bauru obteve risco muito alto de ocorrência de Fernandes, C. A. (2005) Gerenciamento de Risco em
desastres naturais para o intervalo de 72,8 mm- Projetos: como usar o Microsoft Excel para realizar a
86,8 mm, os demais intervalos obtiveram a Simulação de Monte Carlo. Disponível em:
classificação de risco muito baixo, até mesmo os http://www.bbbrothers.com.br/files/pdfs/artigos/simul
intervalos de maior volume pluviométrico, uma _monte_carlo.pdf. Acesso em Jun. 2016. Acesso em:
Nov. 2016
vez que a ocorrência desse tipo de chuva é muito Magalhães, M. N.; Lima, A. C. P. Noções de
pequena. Probabilidade e Estatística. São Paulo: Editora da
Para as cidades de Lençóis Paulista e Jaú, se Universidade de São Paulo, 2008
obteve classificação de risco muito alto para os Marcelino, E.V.; Nunes, L. H., Kobyama, M. (2005).
intervalos com maiores índices pluviométricos, Mapeamento de Risco de Desastres Naturais do
Estado de Santa Catarina. Caminhos de Geografia .
(65,3 mm-80,3 mm e 87,4 mm-101,5 mm, Naghetinni, M.; Pinto, E. J. A. (2007). Hidrologia
respectivamente) e muito baixo para os demais Estatística. Belo Horizonte: CPRM
intervalos. Nakazawa, V. A. (1994). Carta Geotécnica do Estado de
Assim, se conclui que o método proposto para São Paulo. IPT. Publicação 2089.
a avaliação de risco é muito eficaz para a Palisade (2016). @Risk-Análise de Risco com Simulação
de Monte Carlo. Disponível em http://www.palisade-
simulação de vários cenários, além disso, ao br.com/risk/. Acesso em: Nov. 2016.
realizar a simulação, o programa permite a Pellegrina, G. J. (2011). Proposta de um procedimento
determinação da probabilidade do risco estar metodológico para o estudo de problemas
entre valores que se deseja estimar. Dessa forma, geoambientais com base em banco de dados de
é possível considerar diferentes parâmetros e eventos atmosféricos severos. Dissertação de mestrado
em Engenharia Civil e Ambiental, UNESP
situações variadas a fim de se buscar uma melhor Rebelo, D. E. Riscos Naturais e Acção Antrópica.
compreensão dos risco relacionados à ocorrência Coimbra: Imprensa da Universidade, 2003.
de desastres naturais. Ugarte, A. M. C. (2015) “Los desastres como fenómenos
socionaturales: la vulnerabilidad como fenómeno
AGRADECIMENTOS social”. Material del curso "Vulnerabilidades ante
desastres socionaturales", impartido en UAbierta,
Universidad de Chile.
Os autores agradecem ao PIBIC-ISB pelo apoio.

REFERÊNCIAS
Bertacchi, M.L.; Faria, J.R.G. (2003) Ilhas de calor na
Cidade de Bauru (SP): As diferenças de temperatura e
a Configuração do solo local. In: VII ENCAC-III
COTEDI , Curitiba. Anais. do p. 646-652.
Brasil (2015). Ministério da Integração Nacional.
Construindo Cidades Resilientes. Disponível em:
http://www.mi.gov.br/cidades-resilientes. Acesso em:
Nov. 2016
Brasil (2016). Secretaria de planejamento e gestão. Região
administrativa de Bauru. Disponível em:
http://www.planejamento.sp.gov.br/index.php?id=50
&idd=154#descricao. Acesso em: Nov. 2016
Castro, C. P. C. (2017) “Conceptos básicos”. Material del
curso "Vulnerabilidades ante desastres
socionaturales", impartido en UAbierta, Universidad
de Chile.
CEMADEN (2017). Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações. Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.
Disponível em: http://www.cemaden.gov.br/apresenta
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Estudo Estatístico da Chuva Desencadeadora de Desastres


Naturais na Região Administrativa de Marília
Mauro Hideki Fujiyama Junior
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil,
maurofujiyamajr@gmail.com

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Engenharia, Bauru, Brasil,
anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: O trabalho teve como objetivo a avaliação do risco de ocorrência de desastres


relacionados a eventos hidrológicos e geotécnicos na região administrativa de Marília. A
metodologia compreendeu o levantamento de desastres naturais no banco de dados do Centro de
Meteorologia de Bauru, IPMet/FC/UNESP, no período de 2000 a 2017, as respectivas precipitações
nos dias dos sinistros, e os dados censitários, geológicos, geomorfológicos e geotécnicos dos locais
afetados. Para avaliar a distribuição da chuva e o respectivo perigo que desencadeou o evento foi
utilizado um programa de Simulação de Monte Carlo. Dessa maneira foi avaliada a probabilidade
de ocorrência de um desastre (hidrológico ou geotécnico) para intervalos de chuva desencadeadoras,
resultando em um risco alto ou muito alto para os eventos ocorridos em dias de chuvas com maiores
volumes medidos, e baixo para as precipitações corriqueiras de baixo volume.

PALAVRAS-CHAVE: Desastres Naturais, Risco, Vulnerabilidade, Simulação de Monte Carlo.

1 INTRODUÇÃO São Paulo, sendo que para se cadastrar no


mesmo, a localidade deve apresentar histórico
Um desastre natural pode ser definido como de desastres de movimentos de massa e/ou
uma grave perturbação no funcionamento de um decorrentes de processos hidrológicos, como
sistema social, sendo gerado por fenômenos também um mapa de risco de ocorrências.
naturais e podendo ser intensificado pelas ações Dessa maneira, esse trabalho visa calcular o
antrópicas, capazes de gerar danos e prejuízos risco de ocorrência de desastres hidrológicos e
sociais, econômicos, ambientais e humanos de geotécnicos, no período de 2000 a 2017, na
larga escala. Sendo a magnitude das perdas um região administrativa (RA) de Marília, de acordo
fator diretamente relacionado ao grau de com a precipitação desencadeadora e
vulnerabilidade da comunidade afetada e a vulnerabilidade do município, com o auxílio de
intensidade do evento (TOMINAGA, 2009). um software especializado em Simulação de
O Centro Nacional de Monitoramento e Monte Carlo.
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), é um
órgão responsável pelo monitoramento dos
municípios brasileiros suscetíveis a ocorrência 2 EMBASAMENTO TEÓRICO
de desastres através de uma rede de
instrumentos meteorológicos e hidrológicos. 2.1 Hidrologia Estatística
(CEMADEN, 2017).
De acordo com o órgão, atualmente são Os eventos hidrológicos são definidos como
monitorados apenas 88 municípios no estado de estocásticos, ou seja, ocorrem aleatoriamente,
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necessitando de um estudo capaz de interpretar (índice de desenvolvimento humano municipal)


e prever essa aleatoriedade e estabelecer representa a resiliência do local.
padrões de ocorrência no espaço e tempo.
O raciocínio subjacente à hidrologia 2.3 Vulnerabilidade Ambiental
estatística inicia-se com a proposta de um
modelo matemático plausível para a Mora & Vahrson (1994), propuseram em seu
distribuição de frequências das ocorrências trabalho uma metodologia para determinação do
pluviométricas. Tal modelo matemático possui risco de ocorrência de deslizamentos de terra,
parâmetros, cujos verdadeiros valores sendo que em sua formulação consideram o
populacionais devem ser estimados a partir dos mesmo como o produto da suscetibilidade e
valores amostrais. Estimados seus parâmetros e, perigo. A suscetibilidade (SUSC), é resultante
portanto, particularizado para uma situação, o de fatores relacionados a litologia (Sl)
modelo matemático pode ser agora usado para declividade (Sr) e umidade de solo (Sh) do
inferir sobre probabilidades de cenários não local, como exposto na equação (2).
observados (NAGHETTINNI & PINTO, 2007).
De acordo com Junqueira et al. (2005), a SUSC = Sl . Sr . Sh (2)
distribuição de probabilidade Log-Normal tem-
se ajustado bem a distribuição pluviométrica O método permite determiná-los de forma
brasileira e possui maior facilidade operacional simples com base em valores tabelados. O fator
quando comparadas à outras distribuições. Sl, possui uma pontuação que transita de 1 a 5,
Diversos outros autores também utilizaram sendo 1 quando ocorrem terrenos caracterizados
desse arranjo para estudos de precipitação. principalmente por basaltos, com baixo grau de
Segundo Dornelles & Collischonn (2016) a intemperismo e alta resistência ao cisalhamento,
distribuição normal é frequentemente utilizada e 5, onde existem locais com rochas
para estimar valores de chuva total anual. extremamente alteradas, com baixa resistência
ao cisalhamento.
2.2 Risco e Vulnerabilidade Social O fator Sr, considera a declividade do local,
calculada como a máxima diferença de elevação
Segundo ISDR (2002), International Strategy em uma área de 1 km². Seus valores são
for Disaster Reduction, risco é a probabilidade apresentados na Tabela 1.
de ocorrer danos resultantes da relação entre os
perigos naturais ou induzidos pelos homens e as Tabela 1. Fator de declividade.
condições de vulnerabilidade de um sistema Decl. (m/km²) Classificação Sr
0 - 75 Muito baixo 0
social. 76 - 175 Baixo 1
A equação (1), elaborada pelo ISDR e 176 - 300 Moderado 2
orientada pelas diretrizes do Programa de 301 - 500 Médio 3
Desenvolvimento das Nações Unidas, utilizada 501 - 800 Alto 4
nos estudos de Marcelino et al. (2005) e > 800 Muito alto 5
Fonte: Mora & Vahrson (1994).
Pellegrina (2011), compara o risco (R) com o
perigo (P), vulnerabilidade (V) e resiliência (Re) Para a determinação de Sh, é preciso avaliar a
de uma comunidade. precipitação média mensal de um ano, em
relação ao potencial de evapotranspiração (ETP)
R = (P.V)/Re = [P.(DD+IP+PI)]/IDHM (1) do local. Através da Tabela 2, uma pontuação é
dada de acordo com a comparação da chuva
Onde DD (densidade demográfica), IP mensal média do local com o ETP, para cada
(índice de pobreza) e PI (população idosa), mês. Avaliados os 12 meses do ano, os pontos
compõe a vulnerabilidade social, e IDHM podem variar de 0 a 24. Por meio desse valor, é
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possível verificar pela Tabela 3, o valor de Sh. visa avalair todos os municípios do estado de
São Paulo. Sendo assim, as pesquisas foram
Tabela 2. Classificação da precipitação média mensal. divididas por regiões administrativas. A
Prec. média mensal primeira avaliada foi a RA de Bauru pelo fato do
Pontos
(mm/mês)
< X* 0
Centro de Meteorologia de Bauru se situar nela.
X - 2X 1 A RA de Marília (Figura 1) é adjacente a esta,
> 2X 2 sendo dessa forma escolhida para a continuação
*X = ETP [mm]. dos estudos.
Fonte: Adaptado de Mora & Vahrson (1994).

Tabela 3 – Fator de umidade do solo.


Soma Pontos Classificação Sh
0-4 Muito baixo 1
5-9 Baixo 2
10 - 14 Médio 3
15 - 19 Alto 4
20 - 24 Muito alto 5
Fonte: Mora & Vahrson (1994).

2.4 Simulação de Monte Carlo

Uma forma de análise desses eventos Figura 1. RA de Marília. Fonte: Adaptado de IGC (2018).
estocásticos, isto é, aleatórios, pode ser
realizada através da Simulação de Monte Carlo, 3.2 Levantamento dos Desastres Naturais
técnica matemática computadorizada, capaz de
expressar numericamente os dados de entrada O levantamento das ocorrências foi efetuado
aleatórios, através de um estudo probabilístico através de pesquisa no banco de dados do
de modelos de possíveis resultados. Centro de Meteorologia de Bauru, IPMET
Segundo, Donatelli & Konrath (2005) na (2017). Foram pesquisados alagamentos,
simulação o formato da distribuição de saída é enchentes, enxurradas, inundações bruscas e
obtido a partir da combinação de amostras graduais, transbordamento de rios e córregos,
aleatórias das variáveis de entrada, respeitando deslizamentos de terra, erosões, quedas de
as respectivas distribuições. Dessa forma, a barreira e escorregamento de encostas.
Simulação de Monte Carlo produz a propagação Dos 51 municípios pertencentes à região
das funções densidades de probabilidade das administrativa de Marília, apenas 17 possuím
grandezas de entrada através do modelo informações dos desastres hidrológicos e
matemático fornecido. geotécnicos estudados, sendo encontrados 134
ocorrências no total.
Os eventos foram contabilizados por tipo e
3 METODOLOGIA não por data (por exemplo, caso em um mesmo
dia ocorrerram alagamento e erosão, foram
3.1 Escolha do Local quantificados 2 desastres) de forma a aumentar
o número de dados para análise estatística.
A RA de Marília possui 51 municípios e está
situada na região centro-oeste paulista, com 3.3 Levantamento das Precipitações
principais fronteiras às RA’s de Bauru,
Araçatura, Presidente Prudente e o estado do O levantamento das precipitações foi realizado
Paraná. para as 134 ocorrências identificadas, as quais
Esse trabalho faz parte de uma pesquisa que foram pesquisados nos bancos de dados do
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DAEE – Departamento de Água e Energia 2009, foi utilizada interpolação linear entre os
Elétrica, ANA – Agência Nacional de Águas e dados dos censos, a fim de definir os índices, e
Cemaden. Foram coletadas as precipitações nos para os anos de 2011 a 2017, foram mantidos os
dias dos eventos e 6 dias anteriores a estes, de valores constantes do último censo, já que a
modo que em outras análises seja possível extrapolação de dados pode ser imprecisa.
identificar o risco para chuva acumulada de 3 e A população idosa, de mesma forma, foi
7 dias. obtida pelos censos de 2000 e 2010, e
Apenas 83 eventos possuíam dados de chuva interpolada entre esses anos. Após 2010, foram
disponíveis, reduzindo a análise para 9 levantadas as estimativas pela Fundação
municípios: Assis, Chavantes, Ipaussu, Marília, Sistema Estadual de Análise de Dados.
Ourinhos, Parapuã, Santa Cruz do Rio Pardo, O IDHM, da mesma forma que o índice de
São Pedro do Turvo e Tupã. pobreza, foi obtido nos dois último censos,
Para as cidades com mais de uma estação interpolado nos anos de 2001 a 2011, e mantido
pluviométrica, foram considerados as maiores constante após 2010.
chuvas como desencadeadoras dos eventos, uma
vez que o banco de dados não fornecia o 3.5 Levantamento dos Dados Geológicos,
georreferenciamento das informações, Geotécnicos e Geomorfológicos
impossibilitando a análise por área de influência
dos medidores de chuva. Através de pesquisa no Mapa Geomorfológico
(IPT, 1981), Carta Geotécnica (NAKAZAWA,
3.4 Levantamento dos Dados Municipais 1994), e Mapa Geodiversidade do Estado de
São Paulo (CPRM, 2010), foram levantadas as
Foram obtidos os dados de densidade características geológicas, geotécnicas e
demográfica, índice de pobreza, população geomorfológicas dos municípios. As
idosa e IDHM, de 2000 a 2017, correspondentes localizações dos mesmos nos mapas, ocorreram
aos locais que ocorreram desastre com dados de com base em suas coordenadas geográficas.
precipitação disponíveis. Na Figura 2 são indicadas as classificações
A densidade demográfica foi obtida pelo encontradas, de acordo com os municípios.
quociente do número de habitantes e área do De acordo com IPT (1981), os municípios
município. As áreas foram levantadas pelo estão situados na divisão geomorfológica do
censo de 2010 do IBGE (2017). Na obtenção da Planalto Ocidental, sendo resultado de relevos
população, foram utilizados os dados do último de baixa declividade (até 15%), e possuem
censo para os desastres que ocorreram em 2010, amplitudes altimétricas locais inferiores a 100
e para os demais, considerou-se as estimativas metros.
populacionais também disponibilizadas. A Carta Geotécnica, divide os municípios
O índice de pobreza da equação do risco, é estudados como locais de “Muita alta
definido como o desvio entre a renda per capita suscetibilidade à erosão por sulcos, ravinas e
dos pobres do município com a linha da voçorocas” e “Baixa suscetibilidade aos
pobreza, sendo a última, definida pelo Banco diversos processos do meio físico analisado”,
Central em 1990 como 1 dólar por dia. O valor sendo esses processos: erosões, ravinas,
do dólar utilizado, foi a média dos meses de boçorocas, recalques por adensamento de solos
2006 a 2016, disponível na Associação moles, problemas com fundação e estabilidade
Comercial de São Paulo, correspondendo a R$ de taludes, escorregamentos, inundações e
69,90/mês (valor médio de R$ 2,33/dia durante assoreamento.
30 dias). A renda per capita dos pobres foi O Mapa Geodiversidade possui um caráter
levantada em ATLAS (2017), de acordo com os mais abrangente, envolvendo características
censos de 2000 e 2010. Para os anos de 2001 a geológicas, geomorfológicas, e as limitações
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frente ao uso e ocupação. As siglas utilizadas (BS), e 35 para o grupo “Muita alta
representam as unidades geológicas de cada suscetibilidade à erosão” (AS)), sendo assim, foi
agrupamento. O índice DVMb, representa os obtido um número de dados mais adequado para
municípios que apresentam rochas com o estudo estatístico.
moderada a baixa resistência ao intemperismo Em razão do baixo número de 15 desastres
físico-químico, solos residuais pouco evoluídos geotécnicos, os mesmos não foram agrupados
e colapsíveis, bastante erosivos e com fácil de acordo com os mapas do estado.
desestabilização quando expostos à oscilações O cálculo do risco foi efetuado para
do grau de umidade superficial. intervalos de precitação, de modo a avaliá-lo de
O índice DSVMPasaf refere-se a municípios forma mais específica. Para sua determinação,
com solos favoráveis a pedogênese com porção foram construídos histogramas com base nos
superior pouco erosiva, com predomínio de quantitativos das precipitações de cada grupo. O
litologias com alta resistência ao cisalhamento. número de classes dos histogramas foi estimado
Por fim, a região DSVMPaef possui pela Fórmula de Sturges, apresentado pela
predomínio de sedimentos com baixa equação (3).
resistência ao cisalhamento e portadores de
muitas fraturas abertas, potencialmente erosivos K ~ 1 + 3,33. log(n) (3)
e sujeitos a formação de voçorocas.
Sendo K o número aproximado de classes, e
n o número de dados disponíveis. Para os dois
grupos de desastres hidrológicos, foram
consideradas 7 classes, com 28 mm de
amplitude por classe, para os municípios BS, e
17 mm de amplitude para o grupo AS. Para os
desastres geotécnicos, foram adotadas 5 classes,
com 41 mm de amplitude.
A vulnerabilidade social foi obtida pela soma
do índice de pobreza (IP), população idosa (PI)
e densidade demográfica (DD), obtidos
conforme 3.4, e normalizados de 0 a 1,
conforme estudos de Marcelino et al. (2005) e
Pellegrina (2011).
Para o cálculo da vulnerabilidade ambiental
(Va) de desastres hidrológicos, foi adotada a
Figura 2. Classificação dos mapas. Tabela 4. Dessa maneira os munícipios BS,
resultaram em um Va=1, e o grupo AS, Va=2.
3.6 Avaliação do Risco
Tabela 4. Va para desastres hidrológicos.
Devido ao baixo número de desastres Classificação Va
encontrados, não foi possível analisar cada Muito baixa 1,00
Baixa 1,25
município e desastre individualmente. Os Média 1,50
desastres hidrológicos foram agrupados em dois Alta 1,75
conjuntos, de acordo com as classificações da Muito alta 2,00
Carta Geotécnica (optou-se pela sua escolha,
devido a uma boa proporção de eventos por A vulnerabilidade ambiental para eventos
grupo: 33 para os municípios com “Baixa geotécnicos, foi calculada de acordo com a
suscetibilidade aos processos do meio físico” metodologia já apresentada. Os fatores
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litológicos Sl foram determinados de acordo probabilidade a cada variável da equação de


com as definições de CPRM (2010), o Sr foi interesse. Sendo assim, as variáveis O, Vs, Va e
adotado como 1 para todos municípios, uma vez IDHM, foram definidas como distribuições
que corrobora com as amplitudes locais discretas uniformes, já que são valores
máximas definidas por IPT (1981). Na análise constantes. A precipitação foi considerada como
de Sh, foram levantadas as chuvas mensais a distribuição contínua Log-Normal (para sua
médias no DAEE, e comparadas ao ETP caracterização no software foi preciso o cálculo
adotado de 80 mm (valor médio adotado de da média e desvio padrão das chuvas nos
acordo com Camargo & Sentelhas (1997)). intervalos).
A variável O, da equação do risco, representa As vulnerabilidades e a variável O, foram
a probabilidade de ocorrência de desastre em normalizadas de 1 a 2, de modo a possuírem o
relação a quantidade de dias com precipitações mesmo peso no cálculo. Como o IDHM é um
que aconteceram no respectivo intervalo. A valor que se situa entre 0 e 1, e na equação (4) é
variável P, indica a probabilidade de ocorrer a somado a uma unidade, também resulta em um
precipitação no intervalo, e para sua valor de mesma grandeza.
caracterização foi preciso levantar os dados de
chuvas diárias de todos municípios, de 2000 a
2017, de forma a estarem disponíves 4 RESULTADOS E ANÁLISES
informações suficientes para a adequação da
distribuição de probabilidade da chuva para 4.1 Ocorrências de Desastres Naturais
cada intervalo. A escolha das estações
pluviométricas para a obtenção dos dados, se Os 83 desastres naturais encontrados na RA de
baseou naquela que possuía menor número de Marília com dados pluviométricos, de 2000 a
falhas no período. Ao total foram encontrados 2017, se encontram na Tabela 5.
13958 dias com registro de chuva, que variaram
de 0,1 mm a 212,1 mm. Tabela 5. Ocorrências de desastres naturais.
Para o cálculo do risco, foi utilizada a Cidade A D E EX ER IB IG T DH DG
Assis 5 - - - 1 1 1 - 7 1
equação (4), baseada nos estudos de Marcelino Chavantes - 1 - - - - - - - 1
et al. (2005) e Pellegrina (2011). Ipaussu 1 1 - - - - 2 2 5 1
Marília 8 3 5 - 2 - 6 4 23 5
R = [O.P.(Vs + Va)]/(1+IDHM) (4) Ourinhos 2 1 - 2 3 2 2 - 8 4
Parapuã 1 - - - 1 1 1 1 4 1
SCR Pardo 2 - 1 - - - 2 4 9 -
Sendo, R é o risco, O é a proporção do SP Turvo 1 1 1 - - - 1 1 4 1
número de ocorrências pelo número de chuvas Tupã 3 - - - 1 - 3 2 8 1
dentro do respectivo intervalo, P é a Total 23 7 7 2 8 4 18 14 68 15
precipitação, Vs é a vulnerabilidade social A = Alagamento IB = Inundação brusca
(soma do PI, IP e DD), Va é a vulnerabilidade D = Deslizamento IG = Inundação gradual
E = Enchente T = Transbordamento de rios
ambiental (calculada conforme 2.2 para
EX = Enxurrada DH = Desastres hidrológicos
desastres geotécnicos e de acordo com a Tabela ER = Erosão/buraco DG = Desastres geotécnicos
5, para desastres hidrológicos), e IDHM é o
índice de desenvolvimento humano municipal. 4.2 Quantificação das Precipitações
O cálculo do risco foi realizado com o
auxílio do software Palisade@Risk, Na Tabela 6, são apresentados os desastres
especializado em Simulação de Monte Carlo encontrados, com suas respectivas datas de
(SMC), sendo utilizadas 5000 iterações para a ocorrência, chuvas desencadeadoras e estação
operação. Para a realização da simulação é pluviométrica utilizada, e divididas pelos
necessário a definição de uma distribuição de municípios da região.
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Tabela 6. Precipitação (mm) de acordo com desastre. 4.3 Resultados dos Dados Censitários
Data Desastre Chuva Estação
Assis
Na Tabela 7 são apresentados os índices de
25/12/2009 A 47,8 D7-055
14/10/2011 A 208,0 D7-020 pobreza (IP), população idosa (PI), em
10/02/2015 A/IB/IG 12,9 D7-055 habitantes, densidade demográfica (DD), em
17/02/2015 A 21,0 D7-055 habitantes/km², a vulnerabilidade social Vs
08/03/2015 A 24,1 D7-055 bruta, e normalizada, Vsn , utilizada no cálculo.
04/01/2016 ER 63,7 D7-020
Chavantes
Tabela 7. Vulnerabilidade social.
11/03/2016 D 7,1 E6-003
Ano IP PI DD Vs Vsn
Ipaussu
Assis
20/06/2012 IG/T 192,0 E6-007
2009 35,04 9236 213,30 1,37 1,69
23/02/2013 D 15,0 E6-007
2011 33,21 9699 206,89 1,31 1,66
05/04/2013 A/IG/T 58,0 E6-007
2015 33,21 10666 219,53 1,39 1,70
Marília
2016 33,21 11022 220,98 1,40 1,71
18/01/2005 A 46,2 D6-25
Chavantes
16/03/2005 A 48,6 D6-25
2016 35,17 1318 66,38 0,66 1,32
04/03/2006 A/ER/IG 51,9 D6-25
Ipaussu
22/03/2006 T 12,9 D7-074
2012 37,9 1301 65,99 0,75 1,37
12/12/2007 A/E/IG 21,0 D6-25
2013 37,9 1331 68,62 0,76 1,37
20/01/2008 D 36,1 D6-080
30/01/2009 D 86,9 D6-080 Marília
26/02/2009 E/IG/T 121,0 D6-098 2005 23,78 17514 187,55 1,26 1,63
08/01/2010 A/ER/IG 64,5 D6-25 2006 23,76 18139 191,03 1,29 1,65
15/10/2010 A/E 74,6 D6-25 2007 23,75 18764 190,75 1,32 1,66
13/12/2010 IG 100,0 D7-048 2008 23,73 19389 190,48 1,34 1,68
18/12/2010 D 12,0 D6-25 2009 23,72 20014 192,60 1,37 1,69
27/01/2011 A/E/IG 55,2 D6-098 2010 23,70 20639 184,76 1,38 1,69
15/03/2012 E/T 32,0 D6-25 2011 23,70 21235 186,03 1,40 1,71
13/01/2013 T 56,7 D6-098 2012 23,70 21858 187,25 1,43 1,72
27/10/2015 A 76,0 D6-25 2014 23,70 23147 196,35 1,51 1,76
Ourinhos 2015 23,70 25499 200,52 1,54 1,78
22/01/2005 D 66,7 D6-011 Ourinhos
20/06/2012 ER 211,0 D6-011 2005 26,02 7858 351,91 1,39 1,70
21/10/2012 EX 23,2 D6-083 2012 28,60 9915 351,82 1,56 1,79
05/04/2013 IG 87,5 D6-083 2013 28,60 10230 366,15 1,61 1,82
22/11/2013 A/ER 93,9 D6-011 2014 28,60 10556 368,90 1,63 1,83
25/09/2014 A/ER/IB/IG 148,0 D6-011 2015 28,60 10888 371,57 1,66 1,84
04/03/2015 EX/IB 17,4 D6-011 Parapuã
Parapuã 2015 38,59 1473 86,5 0,84 1,41
09/02/2015 A/ER/IB/IG/T 7,9 C7-001 Santa Cruz do Rio Pardo
Santa Cruz do Rio Pardo 2005 30,48 3982 39,00 0,54 1,26
16/01/2005 A/IG/T 96,7 D6-035 2012 33,87 4694 39,65 0,68 1,33
18/01/2012 T 127,0 D6-035 2015 33,87 5071 41,67 0,70 1,34
20/06/2012 E/IG/2T 165,0 D6-035 São Pedro do Turvo
08/09/2015 A 110,0 D6-102 2012 24,68 722 9,31 0,13 1,05
São Pedro do Turvo Tupã
18/01/2012 A/D /E/IG/T 119,0 D6-095 2013 20,95 8348 103,93 0,57 1,28
Tupã 2014 20,95 8472 104,02 0,58 1,28
06/04/2013 A/IG 87,1 C7-004 2015 20,95 8596 104,11 0,58 1,28
22/12/2014 A/IG/T 71,9 C7-004
03/11/2015 A/ER/IG/T 12,4 C7-066 Para a normalização das variáveis municipais
(de 0 a 1) e da vulnerabilidade social (de 1 a 2),
utilizou-se os valores máximos e mínimos dos
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dados de de 2000 a 2017, expostos na Tabela 8. 4.5 Simulação de Monte Carlo

Tabela 8. Valores máximos e mínimos - Vs. A Tabela 10 expõe as siglas utilizadas nas
Valores IP PI DD Vs Tabelas 11, 12 e 13, que apresentam
Máximo 51,05 25499 376,73 1,96
Mínimo 20,95 513 8,85 0,04
respectivamente, os cálculos do risco, para os
desastres hidrológicos dos grupos BS e AS, e
4.4 Avaliação ambiental desastres geotécnicos.

Tabela 10. Siglas das tabelas de cálculo do risco.


A Tabela 9, expõe os fatores usados no cálculo
Int. Intervalo das chuvas desencadeadoras
da vulnerabilidade ambiental (Va) para desastres
ND Número de desastres
geotécnicos, e seu valor normalizade (Van). DC Dias com chuva
M Média da chuva no intervalo
Tabela 9. Va para desastres geotécnicos. DP Desvio padrão da chuva no intervalo
Ano Sh Sl Sr Va Van P Precipitação (Log-Normal) – utiliza M e DP
Assis
O Proporção de eventos pela chuva (ND/DC)
2009 3 3 1 9 1,63
On Variável O normalizada de 1 a 2
2011 2 3 1 6 1,25
Vs Vulnerabilidade social média
2015 4 3 1 12 2,00
2016 2 3 1 6 1,25 Va Vulnerabilidade ambiental média
Chavantes IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
2016 3 3 1 9 1,63 R Risco
Ipaussu Rn Risco normalizado de 0 a 1
2012 3 3 1 9 1,63
2013 4 3 1 12 2,00 Como as simulações realizadas se referem a
Marília uma base de dados de diferentes cidades e anos,
2005 2 2 1 4 1,00
considerou-se as vulnerabilidades e IDHM
2006 3 2 1 6 1,25
2007 2 2 1 4 1,00 médios.
2008 3 2 1 6 1,25 A SMC, ao realizar as iterações do cálculo
2009 3 2 1 6 1,25 do risco, fornecem gráficos (densidade de
2010 2 2 1 4 1,00 frequência x risco) como resultado, os quais
2011 3 2 1 6 1,25
2012 3 2 1 6 1,25
permitem a avaliação da probabilidade de
2013 4 2 1 8 1,50 ocorrência do risco em certas faixas de valores.
2015 3 2 1 6 1,25
Ourinhos Tabela 11. Cálculo do risco – Municípios BS.
2005 2 3 1 6 1,25 12,9 40,9 68,9 96,9 124,9 152,9 180,9
2012 3 3 1 9 1,63 Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ
2013 4 3 1 12 2,00 40,9 68,9 96,9 124,9 152,9 180,9 208,9
2014 3 3 1 9 1,63 ND 8 4 5 5 4 4 3
2015 4 3 1 12 2,00 DC 4695 899 178 41 16 5 3
Parapuã M 23,28 51,15 80,20 107,4 134,3 159,7 196,7
2015 3 3 1 9 1,63 DP 7,66 7,43 8,10 6,66 7,01 7,34 10,38
Santa Cruz do Rio Pardo P 23,28 51,15 80,20 107,4 134,3 159,7 196,7
2005 3 3 1 9 1,63 O 0,002 0,004 0,028 0,122 0,250 0,800 1,000
2012 3 3 1 9 1,63 On 1,00 1,00 1,03 1,12 1,25 1,80 2,00
2015 3 3 1 9 1,63 Vs 1,49 1,49 1,49 1,49 1,49 1,49 1,49
São Pedro do Turvo Va 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
2012 3 3 1 9 1,63 IDH 0,76 0,76 0,76 0,76 0,76 0,76 0,76
Tupã R 33,02 72,73 116,7 170,7 237,7 407,6 557,8
2013 4 2 1 8 1,50 Rn 0,05 0,10 0,16 0,23 0,33 0,56 0,76
2014 3 2 1 6 1,25
2015 4 2 1 8 1,50
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Tabela 12. Cálculo do risco – Municípios AS. ilustrado na Tabela 14, dos municípios AS.
7,9 24,9 41,9 58,9 75,9 92,9 109,9
Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Tabela 14. Distribuições do risco – Municípios AS.
24,9 41,9 58,9 75,9 92,9 109,9 126,9
ND 11 2 8 7 3 1 3 24,9 Ͱ 41,9
DC 4913 1864 675 238 88 43 19
M 14,80 31,93 49,01 66,03 83,55 99,81 116,0 41,9 Ͱ 58,9
DP 4,77 4,84 4,72 4,90 4,63 4,90 5,98
P 14,80 31,93 49,01 66,03 83,55 99,81 116,0
58,9 Ͱ 75,9
O 0,002 0,001 0,012 0,029 0,034 0,023 0,158
On 1,01 1,00 1,07 1,18 1,21 1,14 2,00
Vs 1,56 1,56 1,56 1,56 1,56 1,56 1,56 75,9 Ͱ 92,9
Va 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00
IDH 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 92,9 Ͱ 109,9
R 29,90 64,01 105,0 156,3 202,8 228,4 465,3
Rn 0,04 0,09 0,14 0,21 0,28 0,31 0,64 109,9Ͱ 126,9

Tabela 13. Cálculo do risco – Desastres geotécnicos.


7,1 48,1 89,1 130,1 171,1 De modo a classificar o risco, foi adotada a
Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Tabela 15. Na Tabela 16, são apresentadas as
48,1 89,1 130,1 171,1 212,1 classificações dos grupos em relação as chuvas.
ND 5 6 2 1 1
DC 7407 662 76 15 5
Tabela 15. Classificação do risco.
M 20,16 60,99 103,2 142,5 195,1
Risco (Rn) Classificação
DP 10,43 10,57 10,67 10,32 16,15
P 20,16 60,99 103,2 142,5 195,1 0,0 Ͱ 0,2 Muito Baixo – MB
O 0,001 0,009 0,026 0,067 0,200 0,2 Ͱ 0,4 Baixo – B
On 1,00 1,04 1,13 1,33 2,00 0,4 Ͱ 0,6 Médio – M
Vs 1,58 1,58 1,58 1,58 1,58 0,6 Ͱ 0,8 Alto – A
Va 1,46 1,46 1,46 1,46 1,46 0,8 Ͱ 1,0 Muito Alto - MA
IDH 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77
R 34,69 109,4 200,5 326,3 671,6 Tabela 16. Classificação do risco.
Rn 0,05 0,15 0,27 0,45 0,92 Desastres Hidrológicos - Municípios BS
12,9 40,9 68,9 96,9 124,9 152,9 180,9
Como exemplo, na Figura 3, o gráfico do Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ
risco para chuva de 7,9 Ͱ 24,9 mm, do grupo 40,9 68,9 96,9 124,9 152,9 180,9 208,9
Rn 0,05 0,10 0,16 0,23 0,33 0,56 0,76
AS, possibilita verificar que há probabilidade de
Classif. MB MB MB B B M A
50% do risco estar entre 23,0 e 35,2. Desastres Hidrológicos - Municípios AS
7,9 24,9 41,9 58,9 75,9 92,9 109,9
Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ
24,9 41,9 58,9 75,9 92,9 109,9 126,9
Rn 0,04 0,09 0,14 0,21 0,28 0,31 0,64
Classif. MB MB MB B B B A
Desastres geotécnicos
7,1 48,1 89,1 130,1 171,1
Int. Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ Ͱ
48,1 89,1 130,1 171,1 212,1
Rn 0,05 0,15 0,27 0,45 0,92
Classif. MB MB B M MA
Figura 3. Distribuição do risco, AS (7,9 Ͱ 24,9 mm).

As distribuições do risco, seguiram um


padrão Log-Normal para os dois primeiros 5 COMENTÁRIOS FINAIS
intervalos de chuva de cada análise, e de
distribuição Normal para o restante. Como é Os desastres hidrológicos desencadeados por
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maiores volumes de chuva apresentaram risco Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.


alto, enquanto que os geotécnicos, muito alto. Disponível em: http://www.cemaden.gov.br/apresenta
cao/ Acesso em: Junho/2017.
Evidenciando que apesar de ocorrerem poucas CPRM (2010). Geodiversidade do Estado de São Paulo.
precipitações nesses intervalos, quando as São Paulo: CPRM - Serviço Geológico do Brasil.
mesmas acontecem, a probabilidade de sucessão DONATELLI, G. D.; KONRATH, A. C. (2005).
de desastres é elevada. Simulação de Monte Carlo na Avaliação de
As precipitações de menor volume Incertezas de Medição. Revista de Ciência &
Tecnologia. v. 13, n. 25/26–p. 5-15, jan./dez./2005.
apresentaram de modo geral um risco muito DORNELLES, F.; COLLISCHONN, W. (2016).
baixo. Apesar do número de desastres ser Hidrologia para Engenharia e Ciências Ambientais.
maior, sua probabilidade foi baixa em função da São Paulo: ABRH, p. 210.
alta quantidade de chuvas no intervalo. IBGE (2017). Banco de dados – Instituto Brasileiro de
Embora a SMC não tenha sido realizada para Geografia e Estatística. Disponível em: https://cidade
s.ibge.gov.br Acesso em Setembro/2017.
as chuvas acumuladas de 3 e 7 dias até o IGC (2018). Mapa da RA de Marília – Instituo
momento, foi notório que para deslizamentos as Geográfico e Cartográfico. Disponível em:
mesmas ocorreram e interferiram nos eventos. http://www.igc.sp.gov.br/produtos/mapas_ra.aspx?
A realização do estudo pode encontrar Acesso em Janeiro/2018.
IPMET (2017). Centro de Meteorologia da Faculdade de
empecilhos relacionados a falta de dados de
Ciências/UNESP. Banco de dados de desastres
desastres e precipitações disponíveis, podendo naturais. Disponível em: https://www.ipmet.unesp.br
gerar inadequações nas análises estatísticas. Acesso em Julho/2017.
A metodologia para o cálculo do risco IPT (1981). Mapa Geomorfológico do Estado de São
apresentada pretendeu criar parâmetros de guia Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo.
para a prevenção de desastres naturais, tomando
ISDR (2002). International Strategy for Disaster
como base, dados de fácil acesso. No entanto, Reduction. Living with risk: a global review of
um maior refinamento em seu método deve ser disaster reduction initiatives. Preliminary version.
feito, como por exemplo, na consideração da Geneva, UN/ISDR, 2002.
intensidade e do período de retorno das chuvas. JUNQUEIRA, J. A. J. et al. (2005). Precipitação
provável para a região de Madre de Deus, Alto
Rio Grande: Modelos de probabilidades e valores
característicos. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 31, n. 3, p.
AGRADECIMENTOS 842-850, maio/jun., 2007.
MARCELINO, E. V.; NUNES, L. H., KOBYAMA, M.
Os autores agradecem a bolsa de iniciação (2005). Mapeamento de Risco de Desastres Naturais
do Estado de Santa Catarina. Caminhos de Geografia
científica, processo nº 2017/07810-9, Fundação 8 (17) - 84, fev/2006.
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo MORA, S.; VAHRSON, W. G. (1994). Macrozonation
(FAPESP). Methodology for Landslide Hazard Determination.
Bulletin of the Association of Engineering Geologists,
v. 31, n. 1, 1994, p. 49-58.
NAGHETINNI, M.; PINTO, E. J. A. (2007). Hidrologia
REFERÊNCIAS Estatística. Belo Horizonte: CPRM, p. 3-7, 127-203.
NAKAZAWA, V. A. (1994). Carta Geotécnica do
ATLAS (2017). Banco de dados – Atlas do
Estado de São Paulo. Escala 1:500.000. São Paulo:
Desenvolvimento Humano do Brasil. Disponível em:
Departamento de Ciência e Tecnologia.
http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta/ Acesso em
PELLEGRINA, G. J. (2011). Proposta de um
Outubro/2017.
procedimento metodológico para o estudo de
CAMARGO, A. P.; SENTELHAS, P. C. (1997).
problemas geoambientais com base em banco de
Avaliação do desempenho de diferentes métodos de
dados de eventos atmosféricos severos.
estimativa da evapotranspiração potencial no estado
Dissertação de mestrado em Engenharia Civil e
de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de
Ambiental, UNESP. p. 19-22, 35-41, 55, 62, 85-117.
Agrometeorologia, Santa Maria, v. 5, n.1, p. 89-97.
TOMINAGA, L. K. (2009). Desastres Naturais: Por que
CEMADEN (2017). Ministério da Ciência, Tecnologia,
ocorrem? In: Desastres Naturais – Conhecer para
Inovações e Comunicações. Centro Nacional de
prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, p.13-23.
 

TEMA:  
DESEMPENHO E SEGURANÇA DE OBRAS GEOTÉCNICAS 
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Análise da Estabilidade de Um Talude Rodoviário na Região de


Chapecó - SC
Camila Carraro
Unochapecó, Chapecó, Brasil, caami_carraro@unochapeco.edu.br

Marieli Biondo Lopes


Unochapecó, Chapecó, Brasil, engmary@unochapeco.edu.br

Patrícia Bortolanza
Unochapecó, Chapecó, Brasil, patriciabortolanza@unochapeco.edu.br

RESUMO: Deslocamentos de terra em taludes rodoviários comumente acontecem nos períodos


chuvosos. Processos de erosão, inexistência de vegetação, aplicação de cargas excessivas e falta de
drenagem contribuem para o aumento dos deslocamentos. A análise da estabilidade de um talude
pode ser realizada por meio de ensaios laboratoriais aliados ao uso de programas utilizando
elementos finitos. O presente trabalho teve por objetivo a modelagem numérica de um talude,
localizado no Anel Viário Oeste, em Chapecó-SC, através do software GeoSlope, buscando obter o
fator de segurança do mesmo. Utilizou-se os métodos de Bishop e Spencer para a análise, por meio
da inserção dos dados no software GeoSlope. A seção do talude foi estudada nas condições
saturadas e não saturadas. Os resultados para a seção saturada foram de 1,8 e 1,0 para os métodos de
Bishop e Spencer, respectivamente. Na seção não saturada, os fatores de segurança para os dois
métodos foram 2,2 e 2,3. A NBR 11.682 (ABNT, 2009) estabelece o fator de segurança 1,5 como
mínimo para segurança de pessoas, bens e ambientes. Como este talude não possui proteção vegetal
nem sistema de drenagem superficial, os valores de FS podem reduzir ao longo da vida útil,
ressaltando a importância das manutenções das encostas.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Segurança de Taludes, Modelagem Numérica.

1 INTRODUÇÃO gravidade sobre as encostas e pela exposição do


solo, devido à falta de proteção vegetal.
As ocorrências de deslizamentos de terra são Na região de Chapecó/SC, os últimos
estudadas há muito tempo. Pesquisas realizadas escorregamentos de terra notáveis ocorreram em
no Brasil por Tatizana (1987) e Guidicini e 2014 quando, no mês de junho, choveu o triplo
Iwasa (1976) trouxeram maior enfoque para os do esperado para o período (GLOBO, 2014). A
escorregamentos. Estes estudos estavam alta pluviosidade aliada a fatores tais como falta
relacionados à busca da conexão entre os de cobertura vegetal, processos de erosão e
deslocamentos e suas possíveis causas, o que obras de corte e aterro mal executadas,
demandou muito tempo de monitoramento, causaram diversos problemas em rodovias e
porém, conhecendo os fatores que dentro do perímetro urbano.
desencadeiam os deslizamentos, torna-se viável Por isso, no cenário atual, a busca por novas
a criação de modelos de gestão de problemas tecnologias nos campos de prevenção,
relacionados a escorregamentos. mitigação, soluções para eventos e
Segundo Viríssimo (2011), os deslizamentos entendimento de fatores que causam
de terra ocorrem principalmente pela força da deslizamentos de massas é o que impulsiona o
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grande número de pesquisas. Além disso, o segurança, que é considerado o mesmo para
processo de urbanização é refletido no crescente todas as fatias (KNAPPETT; CRAIG, 2015).
número de obras de pavimentação, assim como, De acordo com a normativa NBR 11.682
no aumento da densidade demográfica das (ABNT, 2009), em seu item 3.6, o fator de
cidades, os quais implicam diretamente nos segurança é determinado pela razão entre a
taludes, sejam estes naturais ou não. resistência máxima ao cisalhamento e a tensão
O presente estudo tem como propósito a de cisalhamento que atua na superfície de
análise de estabilidade de um talude rodoviário ruptura. Ainda, a mesma norma, no item
localizado no Contorno Viário Oeste da cidade 7.3.7.1, explica que as análises comumente
de Chapecó/SC. realizadas em encostas e taludes desprezam
deformações que naturalmente ocorrem, e que,
a inconstância dos materiais naturais que
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA compõem o talude pode diminuir muito a
segurança, implicando em maior risco de
A região Oeste de Santa Catarina já registrou ruptura, sendo necessária a adoção de índices de
muitos casos de deslizamentos de terra que segurança maiores. A diretriz indica que o
trouxeram prejuízo. O mais recente desses índice para alta segurança contra danos
episódios ocorreu em junho de 2014, quando materiais e ambientais e a vidas humanas é na
treze rodovias municipais e cinco estaduais ordem de 1,50.
apresentaram problemas com barreiras de terra O cálculo do fator de segurança pelo método
e árvores, além disso, em alguns locais, o solo de Bishop satisfaz apenas o equilíbrio de
cedeu, levando consigo a pavimentação, criando momentos, ignorando as forças de corte entre as
trechos intrafegáveis. A estes fatores, ainda, fatias. Esse método tem como intuito inicial a
foram acrescidos os alagamentos por conta dos análise de superfícies circulares, embora possa
rios em ruas no perímetro urbano, já que o ser aplicado a superfícies não circulares também
volume de chuva medido em algumas cidades (FERREIRA, 2012). Pelo método de Spencer o
superou o valor máximo esperado para o mês cálculo do fator de segurança satisfaz todas as
em mais de três vezes (GLOBO, 2014). equações de equilíbrio (forças e momentos),
A precipitação de chuva é apontada por ser, sendo assim considerado um método rigoroso.
no Brasil, o fator climático incitante das Esse método foi desenvolvido para análise de
principais ocorrências de acidentes naturais superfícies circulares.
(TAVARES, 2009). Além disso, de acordo com
Guidicini e Nieble (1984), os fatores da
distribuição temporal e da precipitação 3 PROCEDIMENTOS
acumulada são determinantes, já que a maior METODOLÓGICOS
parte dos deslizamentos está associada a altos
índices pluviométricos em um curto espaço de 3.1 Coleta de Amostra
tempo.
Acerca da modelagem numérica do talude, A coleta de amostras foi realizada de acordo
algumas teorias são baseadas no método das com as recomendações da norma NBR 9604
fatias, o qual é descrito para deslizamentos (ABNT, 2016), retirando-se a amostra
rotacionais (KNAPPETT; CRAIG, 2015). A indeformada na face do talude, em uma altura
superfície de ruptura é admitida como um arco de 5,95 m a partir do pé.
de círculo, sendo o solo que fica sob o arco, A amostra foi levada ao laboratório e
dividido em diversas fatias de largura acondicionada em câmara úmida até a execução
independente (DAS; SOBHAN, 2015). Este dos ensaios.
método tem como base um coeficiente de
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3.2 Ensaios Laboratoriais

Os procedimentos laboratoriais iniciaram com a


preparação da amostra, de acordo com o
recomendado pela norma NBR 6457 (ABNT,
2016), para, posteriormente, realizar os ensaios
de consistência do solo, orientados pelas
normativas NBR 6459 (ABNT, 2016) e NBR
7180 (ABNT, 2016). Já o ensaio de massa
específica dos grãos foi norteado pela diretriz
NBR 6458 (ABNT, 2016), enquanto a
granulometria conjunta seguiu as indicações da a.
norma NBR 7181 (ABNT, 2016).
O ensaio de cisalhamento direto teve como
orientação a norma D 3080 (ASTM, 1998).
Foram adotados três carregamentos,
determinados pela carga devido ao peso próprio
em três cotas diferentes.
Em seguida, adensou-se cada corpo de prova
por aproximadamente 20 horas, e,
posteriormente, aplicou-se a carga de
cisalhamento a uma velocidade constante de
b.
0,125 mm/min.

3.3 Modelagem Numérica Figura 1. Coordenadas cartesianas do talude:


representação gráfica (a); inserção dos pontos no software
O talude foi modelado no software GeoSlope, (b) (BORTOLANZA, 2016)
desenvolvido pela GeoStudio®, em seu módulo
Slope/W, utilizando o método de Spencer e o de Após o lançamento dos pontos, os parâmetros
Bishop, com o número máximo de fatias que o físicos e mecânicos oriundos dos ensaios foram
software poderia processar. introduzidos no modelo de análise. Os limites
Inicialmente, inseriram-se as coordenadas da superfície de escorregamento foram inseridos
cartesianas do talude, conforme indica a Figura entre o pé e a crista do talude.
1, para definição do contorno, tendo como base O talude foi analisado em dois métodos
as medições realizadas em campo e correlações diferentes, o de Bishop e o de Spencer.
matemáticas. Considerou-se um acostamento
entre o pé do talude e a rodovia de 2,50 metros
conforme indica o DNIT (1973). 4 RESULTADOS E ANÁLISES

O talude estudado é apresentado na Figura 2.


Seus parâmetros topográficos estão resumidos
na Tabela 1.
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Tabela 3. Características físicas do solo (adaptado de


BORTOLANZA, 2016).
Granulometria conjunta
Argila (%) Silte (%) Areia fina (%)
76,0 13,0 10,0
Argila silto-arenosa

Considerando a análise textural da NBR 6457


(ABNT, 2016), o solo é classificado como uma
Figura 2. Talude adotado para o estudo (BORTOLANZA,
argila silto-arenosa. A porcentagem de areia no
2016).
solo pode ter contribuído para o IP baixo.
Tabela 1. Parâmetros topográficos do talude (adaptado de O resumo dos resultados do ensaio de
BORTOLANZA, 2016). cisalhamento direto está descrito na Tabela 4,
Dados topográficos assim como os pares de tensões das amostras.
Inicial Intermediário Final
Ponto
(1) (2) (3) Tabela 4. Características mecânicas do solo (adaptado de
Alt. inclin. (m) 3,8 10,9 6,5 BORTOLANZA, 2016).
Inclinação
60 43,70 45,5 Tensão normal Tensão cisalhante
(graus) Amostra
Alt. retilínea (m) - 7,05 - (kPa) máxima (kPa)

Comp. total (m) 336,70


1 96 80
2 64 68
4.1 Ensaios Laboratoriais
3 32 49
RESULTADOS
Os resultados dos ensaios de umidade, limites Intercepto coesivo (kPa) 35
de consistência e massa específica estão
Ângulo de atrito interno (graus) 25,5
expressos na Tabela 2.

Tabela 2. Características físicas do solo (adaptado de 4.2 Modelagem Numérica


BORTOLANZA, 2016).

Teor de Umidade (%) 16,0 O fator de segurança do solo não saturado e


saturado pelo método de Bishop é exposto pelas
Limite de Liquidez (%) 60,0
Figuras 3 e 5.
Limite de Plasticidade (%) 51,0 O fator de segurança do solo não saturado e
Índice de Plasticidade (%) 8,0 saturado pelo método de Spencer é exposto
Massa Específica dos Grãos (g/cm³) 2,57
pelas Figuras 4 e 6.

De acordo com a faixa do índice de


plasticidade e, segundo Burmister (1949 apud.
DAS; SOBHAN, 2014), o solo apresenta baixa
plasticidade.
A classificação do solo, assim como as
porcentagens mais relevantes da composição
granulométrica do solo são demonstradas na
Tabela 3.
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Figura 3. Fator de Segurança do solo não saturado através Figura 6. Fator de Segurança do solo saturado através do
do método de Bishop (1955). método de Spencer (1967).

Analisando-se os resultados, conclui-se que,


com a adição de água no talude, há aumento do
peso da cunha de solo e de sua força de reação
vetorial, porém, por consequência, inclui-se ao
conjunto de vetores a reação referente à
subpressão, resultante da poropressão,
reduzindo as forças que auxiliam na resistência
do maciço levando, portanto, à diminuição do
fator de segurança.
O talude analisado através do método de
Bishop teve uma redução no fator de segurança
de 18% do solo não saturado para o solo
Figura 4. Fator de Segurança do solo não saturado através
saturado. Já o talude analisado através do
do método de Spencer (1967).
método de Spencer teve uma redução de 56%
no fator de segurança do solo não saturado para
o solo saturado. Isso pode ser explicado pelo
fato do método de Spencer calcular o fator de
segurança satisfazendo todas as equações de
equilíbrio.
A NBR 11.682 (ABNT, 2009) estabelece o
fator de segurança 1,5 como mínimo para
segurança de pessoas, bens e ambientes. Como
este talude não possui proteção vegetal nem
sistema de drenagem superficial, os valores de
FS podem reduzir ao longo da vida útil,
ressaltando a importância das manutenções das
Figura 5. Fator de Segurança do solo saturado através do encostas.
método de Bishop (1955).

5 CONCLUSÃO

O presente estudo teve como objetivo expor as


condições reais acerca da estabilidade de um
talude rodoviário localizado no Anel Viário
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Oeste da cidade de Chapecó, sendo o talude REFERÊNCIAS


escolhido o que aparentava estar mais propenso
a sofrer movimentações de massa, devido American society for testing and materials. ASTM D
principalmente ao seu aspecto ambiental e 3080: Standard Test Method for Direct Shear Test of
Soils Under Consolidated Drained Conditions, 1998.
geológico. Associação brasileira de normas técnicas. NBR 11682:
Acerca da caracterização, percebeu-se que Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, 2009. 33 p.
apesar do solo ser argiloso, o resultado do ____. NBR 6457: Amostras de solo – preparação para
índice de plasticidade foi baixo. Porém, este ensaios de compactação e ensaios de
resultado pode ser explicado devido a caracterização. Rio de Janeiro, 2016. 09 p.
____. NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na peneira
porcentagem de areia presente no solo. de abertura 4,8 mm – Determinação da massa
Os fatores de segurança encontrados através específica, da massa específica aparente e da absorção
do método de Bishop para os solos não saturado de água. Rio de Janeiro, 2016. 10 p.
e saturado e através do método de Spencer para ____. NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
o solo não saturado ficaram em média 40% liquidez. Rio de Janeiro, 2016. 05 p.
____. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
acima do parâmetro recomendado pela plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. 03 p.
normativa. Já pelo método de Spencer, o fator ____. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio de
de segurança do solo saturado apontou um Janeiro, 2016. 12 p.
número 31% menor que o parâmetro da ____. NBR 9604: Abertura de poço e trincheira de
normativa. A diferença entre os fatores de inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas – Procedimento. Rio de
segurança do solo saturado nos dois métodos Janeiro, 2016. 09 p.
utilizados pode ser explicada pelo fato do Bortolanza, P. (2016). Análise da estabilidade de um
método de Spencer utilizar no cálculo do fator talude rodoviário na região de Chapecó – SC.
de segurança todas as equações de equilíbrio, Trabalho de Conclusão (Graduação em Engenharia
sendo considerado assim, um método rigoroso. Civil) – Curso de Engenharia Civil, UNOCHAPECÓ,
Chapecó.
Os fatores de segurança e suas respectivas Das, B. M.; Sobhan. K. (2015). Fundamentos de
diferenças em relação à normativa estão Engenharia Geotécnica. 8. ed. São Paulo: Cengace
expressos na Tabela 5. Learning Nacional. 610 p. Tradução da 8ª edição
norte americana.
Tabela 5. Diferença do fator de segurança encontrado em Ferreira, J. L. F. (2012) Análise de Estabilidade de
relação à normativa. Taludes Pelos Métodos de Janbu e Spencer,
Diferença Dissertação de Mestrado, Mestrado Integrado em
Método Condição FS em relação a Engenharia Civil – 2011/2012 - Departamento de
norma Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 144 p.
Bishop Não Saturada 2,2 > 47% Globo. (2014). Com chuvas ininterruptas, 3 cidades do
Spencer Não Saturada 2,3 > 53% Oeste de SC decretam emergência. Disponível em:
Bishop Saturada 1,8 > 20% <http://g1.globo.com/sc/santa-
Spencer Saturada 1,03 < 31% catarina/noticia/2014/06/com-chuvas-ininterruptas-3-
cidades-do-oeste-de-sc-decretam-emergencia.html>.
Acesso em: 29 abr. 2016.
Enfatiza-se que a seção de corte do talude é Guidicini, G.; Iwasa, O. Y. (1976). Ensaio de correlação
recente, portanto ainda não sofreu processos entre pluviosidade e escorregamento em meio
agressivos por parte das intempéries. Desse tropical úmido. São Paulo: IPT, 48 p.
Guidicini, G.; Nieble, C. M. (1984). Estabilidade de
modo, adverte-se acerca do fato de que, caso o
taludes naturais e de escavação. 2. ed. São Paulo:
maciço se mantenha exposto, sem proteção da Edgard Blucher, 195 p.
vegetação, o processo de erosão se agilizará, Knappett, J. A.; Craig, R. F. (2015). Mecânica dos
constituindo uma superfície de ruptura não Solos. 8. Ed. Rio de Janeiro: Ltc, 419 p. Tradução:
prevista no talude, e, por isso, podendo reduzir Amir Elias Abdalla Kurban.
Ministério dos Transportes (Brasil). Departamento
o fator de segurança.
Nacional de Estradas e Rodagem. Normas para o
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Projeto das Estradas de Rodagem. Rio de Janeiro:


Serviço de Publicações, 1973.
Tatizana, C. et al. (1987). Modelamento numérico da
análise de correlação entre chuvas e escorregamentos
aplicado às encostas da Serra do Mar no município de
Cubatão. In: Congresso Brasileiro de Geologia de
Engenharia, 5. São Paulo. Anais ABGE. Vol. 2, p.
237-248.
Tavares, R. Clima, tempo e desastres. In: Tominaga, L.
K.; Santoro, J.; Amaral, R. (Org.). Desastres Naturais:
Conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto
Geológico, 2009. 197 p. Disponível em:
<http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/D
esastresNaturais.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2016.
Viríssimo, T. (2011) Análise de deslizamentos
ocasionados por chuvas intensas, Curso Técnico em
Meteorologia, Instituto Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, Brasil.
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Aplicação do sistema D+s para controle rigoroso da execução de


estacas cravadas
Do Val, Eduardo Cerqueira
Do Val Engenharia Consultiva, São Paulo, Brasil, eduardo@doval.eng.br

Uemura, Sérgio Alexandre


Do Val Engenharia Consultiva, São Paulo, Brasil, sergio@doval.eng.br

RESUMO: Peculiaridades geológico-geotécnicas existentes no local de implantação da Arena


Grêmio causaram comportamentos inesperados das estacas cravadas em relação às suas capacidades
estimadas com base nos métodos semiempíricos usuais, revelados após ensaios de carregamento
dinâmicos de rotina. A inaplicabilidade de métodos baseados em sondagens SPT para definição das
cargas admissíveis das estacas levou à adoção de um sistema de controle executivo que assegurasse
um bom desempenho das fundações. Tal sistema contemplou a execução de “provas de carga” em
100% das estacas, utilizando-se o método de determinação de capacidade de carga “D+s”, proposto
por Aoki (2009), validadas por ensaio de carregamento dinâmico tradicionais. Dessa maneira foi
possível estabelecer as probabilidades de falha em cada bloco, subsidiando a construtora na sua
decisão sobre a aceitabilidade da fundação.

PALAVRAS-CHAVE: Fundação, prova de carga, ensaio de carregamento dinâmico, probabilidade


de falha.

1 INTRODUÇÃO 345.000 m² de área construída. O ingresso de


pedestres será feito por meio de um mezanino
Este artigo apresenta a metodologia adotada na constituído por uma estrutura metálica em anel em
aplicação de um sistema rigoroso de controle na torno do estádio, provida e rampas.
execução de fundações por estacas cravadas, O subsolo da região está inserido numa planície
composto pela combinação do método de flúvio-lagunar com banhado da Bacia Sedimentar
determinação de capacidade de carga última de de Pelotas, assim descrita por Dias et al (2009):
estaca cravada em ensaio de carregamento
crescente de energia crescente, denominado O sistema deposicional Laguna-Barreira IV
“D+s”, com o método probabilístico de falha, isolou essa área em depressão, ficando
desenvolvidos pelo Prof.º Nelson Aoki, na representada pelo sistema lagunar Guaíba-
implantação das fundações da Arena do Grêmio. Gravataí. A posterior sedimentação trazida pelos
rios transformou essa depressão em ambientes de
sedimentação fluvial, lagunar e paludal e,
2 DESCRIÇÃO posteriormente, importantes depósitos turfáceos
se desenvolveram.
A Arena Grêmio, situada na região norte de Porto De idade Holocênica, este padrão configura-se
Alegre, no bairro de Humaitá, junto à divisa com em uma extensa área plana, localizada ao norte
Canoas, é um estádio moderno padrão FIFA para do município, apresenta cotas altimétricas
60.000 espectadores. Sua estrutura principal é de inferiores aos 20 m e com declividades menores
concreto armado, provida de cobertura metálica, e do que 2%. A rede de drenagem é representada
foi dividida em dez setores: Norte, Nordeste, Leste pelos banhados e por canais retilinizados.
1, Leste 2, Sudeste, Sul, Sudoeste, Oeste 1, Oeste Este conjunto de formas de relevo é constituído
2 e Noroeste, totalizando aproximadamente por depósitos do sistema Laguna-Barreira IV,
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caracterizado como depósitos de planície Tabela 1. Dimensões e cargas das estacas.


associados a canais fluviais, apresenta areias
grossas e conglomeráticas. Os solos são
classificados como gleissolos, planossolos
localizados em áreas de acumulação de água, são
caracterizados como um ambiente que evidencia
a ausência de oxigênio propiciando processos de
acumulação de material orgânico e intensa
redução química.

Esses paleocanais citados por Dias et al (2009)


devem ter sido a origem de certa heterogeneidade
observada nas sondagens. Os setores Norte,
Nordeste, Leste 1 e 2 e Sudeste são caracterizados
basicamente por uma camada de argila mole, com
espessura variando de 5 a 7 m, sobrejacente a uma Para corrigir essas não conformidades, o
areia siltosa média que se estende até cerca de critério de paralisação da cravação das estacas foi
20 m, onde se encontra uma camada de areia com alterado, passando de comprimentos pré-fixados
pedregulhos esparsos, seguida de outras areias ora para resistências medidas ao final da cravação.
mais finas, ora mais grossas, com lentes de argilas No entanto, a aplicação do critério usual de
nas redondezas de 30 m de profundidade. Já nos nega, calculada pelas fórmulas Dinamarquesa e de
setores restantes a camada de argila mole Janbu (Poulos e Davis, 1980) levariam a
apresentou maiores espessuras, entre 12 e 14 m, e comprimentos ainda menores do que aqueles
a camada de areia com pedregulhos esparsos nem obtidos por métodos semiempíricos que se
sempre foi detectada nas sondagens. revelaram insuficientes.
O mezanino tem como fundações estacas hélice
contínua monitorada e não serão tratadas neste
artigo.
Já a fundação da Arena é composta por estacas
pré-moldadas de concreto armado e perfis
metálicos, cujas seções e respectivas cargas de
trabalho estão apresentadas na Tabela 1. Foram
cravadas 2883 estacas com comprimento médio de
25 m, 91% das quais são estacas pré-moldadas e
os 9% restantes perfis metálicos. A maioria dos
blocos é composta por quatro ou duas estacas, mas
as caixas principais são apoiadas em blocos de 16
a 40 estacas, conforme ilustrado na Figura 1.
Originalmente, o projeto pré-fixou os
comprimentos a serem cravados em cada bloco,
independentemente da nega obtida.
No entanto, os resultados dos primeiros ensaios Figura 1. Planta chave da Arena Grêmio.
de carregamento dinâmico (ECDs) executados
conforme NBR 13208:2007 como rotina do Diante de tal cenário, onde as previsões, fossem
controle de qualidade da obra indicaram alguns elas baseadas nas fórmulas semiempíricas, fossem
casos de capacidade de carga insatisfatórios, nas negas, não encontravam comparação razoável
demonstrando insuficiência de comprimento de com a realidade representada pelas ECDs, a
estacas. solução, proposta pelo Prof.º Nelson Aoki, foi
executar provas de carga em todas estacas. Isso
permitiria à Obra decidir pela aceitação ou não de
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cada bloco de estacas com base numa avaliação


criteriosa da probabilidade de falha. Obviamente,
não se cogitou em realizar tais provas de carga
utilizando-se equipamento PDA (pile driving
analyzer) e muito menos provas de carga estáticas
(PCEs), seja pelos custos, seja pelos prazos
envolvidos. Aplicou-se então o novo processo
baseado em negas e repiques sob energias
crescentes, denominado “D+s” desenvolvido
também por Aoki (2009). Nos itens seguintes são
descritos os critérios de análise e o procedimento
de controle adotado.

3 SONDAGENS

Até os primeiros ECDs acusarem insuficiência de


carga em algumas estacas, haviam sido realizadas Figura 2. Comparação de três sondagens próximas entre si,
duas campanhas de sondagens de simples no setor Norte.
reconhecimento com SPT (NBR 6484:2001), uma
pela Fundasolos em 2009 e a outra pela Geotec em
2010. Uma terceira campanha, executada pela 4 CRITÉRIOS DE ANÁLISE
Concremat em 2011 confirmou alguma paridade
nos perfis de resistência com a profundidade até Aplicando-se o método semiempírico de
cerca de 20 m, onde ocorrem as primeiras Philipponnat (1978), foram geradas curvas
camadas com pedregulhos, assim como as teóricas “carga de ruptura x profundidade”
disparidades abaixo dessa profundidade. Na baseadas nas sondagens CPTu. Essas curvas
Figura 2 são comparados os perfis de três furos foram extrapoladas abaixo da camada com
próximos, situados no setor Norte. Tais resultados pedregulho utilizando linhas de tendência
não permitiram estabelecer correlações exponenciais ou logarítmicas, conforme a
minimamente confiáveis entre comportamentos aderência observada dos pontos.
previstos e observados por meio da aplicação dos Comparando-se essas curvas com os resultados
métodos semiempíricos consagrados pela prática dos ECDs próximos foi possível calibrar a fórmula
nacional (Aoki-Velloso, 1975, Décourt- de Philipponnat introduzindo-se um coeficiente de
Quaresma, 1978, etc.). ajuste “Ck” para cada sondagem CPTu e para cada
Assim, foram executados ensaios de tipo e bitola de estaca em particular. Pôde-se assim
penetração de cone in situ conforme NBR estabelecer previsões de comprimentos mais
12069:1991 (sondagens CPTu) para estabelecer confiáveis, porém ainda estimadas, sujeitas a
um perfil de resistência com a profundidade mais confirmação.
confiável até a camada com pedregulho. Para além Tal confirmação foi feita por meio de “provas
dessa profundidade, recorreu-se a extrapolações, de carga” D+s e ECDs, recravando-se aquelas
conforme descrito a seguir. estacas cujos resultados não atendiam às
solicitações de projeto.
Na análise dos resultados dos ECDs realizados
sobre estacas de diversas idades foi constatado o
fenômeno de regeneração do solo (“set-up”), em
que a carga de ruptura aumenta ao longo do tempo
(ver item 5). Assim, na avaliação do desempenho
de cada estaca foi levado em conta o efeito de set-
up.
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Dessas considerações foi possível então se ECDs realizados sobre a mesma estaca em datas
determinar, para cada bloco, as cargas resistentes diferentes. Depois, foi feita uma comparação
características e sua variabilidade e, por estatística entre cargas de ruptura iniciais e finais.
comparação estatística com as cargas solicitantes Na Tabela 2 estão apresentadas as cargas
características e respectiva variabilidade, tal como medidas e respectivas datas e, na Figura 3, o
informada pelo projeto estrutural, a probabilidade gráfico de cargas resistentes iniciais (Rinicial) x
de falha de cada bloco. Esse procedimento foi cargas resistentes finais (Rfinal) de estacas de
adotado também por recomendação do Prof.° concreto. Como mostrado nessa figura, os pontos
Nelson Aoki com vistas a atender às exigências assim definidos estão razoavelmente alinhados ao
estabelecidas pela nova NBR 6122:2010. longo de uma reta cujo coeficiente angular é igual
a 1,25. Dessa forma, foi adotado para fins de
previsão de capacidade de carga das estacas de
5 AVALIAÇÃO DO “SET-UP” concreto um “set-up” igual a 25%.

Para definição do “set-up” a ser adotado nas


previsões de comportamento foram analisados

Tabela 2. Cargas de ruptura medidas em estacas de concreto em diversas datas


Setor Estaca Seção 1°. Ensaio 2°. Ensaio
(cm) Data Qrup. (tf) Data Qrup. (tf)
Nordeste E13 60 16/02/2011 350 01/03/2011 470
Nordeste E109 42 27/09/2010 197 01/03/2011 320
Nordeste E112 42 27/09/2010 147 15/10/2010 250
Leste 2 E169 60 15/02/2011 189 02/03/2011 215
Oeste 1 E09 60 17/11/2010 445 02/03/2011 525
Oeste 1 E172 50 03/02/2011 189 02/03/2011 230
Oeste 2 E80 50 15/02/2011 380 02/03/2011 435

Figura 3. Gráfico Rinicial x Rfinal.


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6 MÉTODO D+s
E = Pm ∙ h ∙ ef (1)
Este método tem como finalidade estimar a
capacidade de carga ao final da cravação, obtida a E = energia
partir das negas (s) e repiques (K) tomadas sob Pm = peso do martelo de cravação
energias crescentes de cravação, conforme h = altura de queda
Figura 4. ef = eficiência do sistema de cravação

R = (Z ∙ E) ÷ (s + D) (2)

R = resistência
Z = zeta
s = nega
Figura 4. Gráfico nega e repique D = deslocamento total K + s

Com os valores de K, s e E é possível gerar


curvas “resistência x deslocamento”, (Figura 5 e
6), a partir da seguinte formulação:

Rrup

Ponto de ruptura

Figura 5. Exemplo de curva D+s com ruptura bem definida.

4
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Rrup

Cruzamento reta
elástica deslocada x
curva média

Figura 6. Exemplo de curva D+s com ruptura definida pela curva média extrapolada.

Quando a ruptura é bem caracterizada na curva curvas, mede a dispersão em torno do valor médio
adota-se como resistência última aquela das variáveis independentes S e R. Esta dispersão
correspondente ao pico, tal como mostrado na pode ser expressa pelos coeficientes de variação,
Figura 5, ou aquela correspondente à reta conforme as equações 3 e 4:
aproximadamente vertical que define o platô de
escoamento. VS = σs /Sm - coef. de variação da solicitação (3)
No caso em que não foi possível identificar a
ruptura, foi adotada, de acordo com a VR = σR /Rm - coef. de variação da resistência (4)
recomendação da NBR 6122, aquela
correspondente à intersecção da curva média A distância MS, que separada a solicitação
extrapolada com a reta elástica deslocada, tal média da resistência média, pode ser diretamente
como mostrado na Figura 6. relacionada à segurança e a confiabilidade, ou
seja, quanto maior for esta distância maior será a
segurança e confiabilidade da fundação.
7 PROBABILIDADE DE FALHA Considerando que a solicitação e a resistência
sejam estatisticamente independentes, a margem
Para cada bloco da Arena Grêmio foi determinada de segurança M pode ser definida pela diferença
a probabilidade de falha, adotando o método entra as curvas de resistência R e a solicitação S,
probabilístico divulgado também pelo Prof. ver equação 5.
Nelson Aoki (2002).
A probabilidade de falha foi determinada a M = (R – S) (5)
partir das curvas de distribuição estatística de
solicitação S, representada pelo valor médio Sm e Deste modo, a falha ocorre quando M < 0, ou
o desvio padrão S, e a curva de resistência R pelo seja, quando R ≤ S, e a fundação é bem sucedida
valor médio Rm e o desvio padrão R, conforme quando M > 0. Portanto, pode-se afirmar que o
apresentado na Figura 7. afastamento entre as duas curvas, determinada
Os valores médios representam o valor mais pela margem de segurança, é uma medida direta
provável de cada variável e os desvios padrões, da confiabilidade da fundação. Neste caso a
que definem os pontos A e B de inflexão das distribuição normal de S e de R, desvio padrão M
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da função margem de segurança M vale: Comparando-se os resultados obtidos pelo método


D+s com os resultados dos ensaios de
0,5
σM = (σ2S + σ2R ) (6) carregamento dinâmico, resulta uma reta cujo
coeficiente angular é igual a 0,91, conforme
O valor mais provável de margem de segurança é apresentado na Tabela 3 e Figura 8.
o valor médio MS que vale:

MS = (Rm -Sm ) (7) 9 PROCEDIMENTO DE CONTROLE DE


CRAVAÇÃO DAS ESTACAS
Assim, a confiabilidade média pode ser
quantificada pelo quociente entre MS e M, que é Em função dos estudos elaborados para calibração
a margem de segurança, denominada índice de do método de Philliponnat para estimativa
preliminar dos comprimentos das estacas e do
confiabilidade (ou índice de segurança) :
processo D+s para determinação da carga de
ruptura ao final da cravação, foram estipulados,
β = MS /σM (8)
em comum acordo com a projetista, o consultor
especial, Prof. Nelson Aoki, e a gerência da Obra,
A probabilidade de falha pf é uma função direta
os procedimentos de controle de cravação das
do índice de confiabilidade:
estacas.
Por meio desse controle foi possível se
pF = 1 - Φ(β) (9)
estabelecer, para cada bloco, a probabilidade de
ocorrência de falha, bem como o correspondente
fator de segurança associado, os quais subsidiaram
8 RELAÇÃO ENTRE O MÉTODO D+s E O a gerência da Obra no estabelecimento dos
ENSAIO DE CARREGAMENTO critérios de aceitação de cada bloco.
DINÃMICO

Figura 7. Curva de densidade de probabilidade de solicitação e resistência.


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Tabela 3. Comparação de cargas medidas por diferentes métodos.

Figura 8. Comparação dos resultado da Metodo D+s e ECDs.

9.1 Estacas a serem cravadas depender do valor de FS, a estaca seria aceita ou
não conforme os seguintes critérios:
Para as novas estacas foram estimados os
comprimentos mínimos necessários seguindo-se • FS  2,0 – estaca boa, pode ser arrasada;
os critérios apresentados no item 4. Ao atingir tais • 1,6  FS < 2,0 – consultar a projetista e/ou o
comprimentos, cada estaca era submetida ao consultor de solos;
ensaio de energia crescente (D+s). Considerando • FS < 1,6 – prosseguir a cravação mais 2,0 m
a resistência R assim obtida e a solicitação S e refazer o ensaio.
informada pelo projetista estrutural, calculava-se No cálculo de R pelo método D+s
o fator de segurança individual FS = R/S. A diferenciaram-se as estacas de concreto das
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estacas metálicas conforme os parâmetros a • Uma ou mais estacas do bloco com FSlocal 
seguir: 1,50 – recravar essas estacas. Porém antes de
iniciar a recravação devia-se realizar o ensaio
9.2 Estacas de concreto de energia crescente (D+s) e avaliar o
resultado. Caso resultasse FS  2,00, a estaca
• Zeta =1,54; era liberada para ser arrasada; caso contrário,
• Eficiência do Martelo: deveria ser recravada conforme item 8.1.
Hidráulico de 7 tf = 0,8; • Para as estacas submetidas a ECD ou PCE
Hidráulico de 4 tf = 0,6; (prova de carga estática), FSlocal  1,60.
Queda livre = 0,4.
• Set-up = 25%
10 PROVA DE CARGA ESTÁTICA
9.3 Estacas metálicas
Para atender as prescrições da NBR 6122:2010 foi
• Zeta = 1,22; executada uma prova de carga estática no setor
• Eficiência do Martelo: Oeste 2 da Arena sobre uma estaca Ø50 cm, com
Hidráulico de 7 tf = 0,98; carga de trabalho de 100 tf, cravada conforme os
Hidráulico de 4 tf = 0,72; procedimentos descritos no item 8.
Queda livre = 0,48. A prova de carga foi realizada com
• Set-up = zero carregamento rápido, conforme NBR 12131:2006.
A ruptura do sistema ocorreu com a carga de
9.4 Estacas já cravadas 1819 kN, conforme Figura 9. Deste modo, o fator
de segurança obtido foi de 1,8, o que atende aos
Nos setores onde havia estacas cravadas foram critérios de aceitabilidade apresentados no item
feitas análises estatísticas individualizadas, bloco 8.2.
a bloco, para se determinar a probabilidade de
falha.
Para tal análise foram estimadas as cargas de
ruptura das estacas a partir dos comprimentos
cravados e da curva “carga de ruptura x
profundidade” do CPTu correspondente, calibrado
pelos ECDs com FS = 1,60.
A caracterização dos esforços solicitantes pelas
cargas características aplicadas às estacas e o
respectivo coeficiente de variação (14%) foram
fornecidos pela projetista estrutural. Foram
fornecidos explicitamente os esforços dos setores
norte, nordeste, leste 1, leste 2 e sudeste. Para os
demais setores a projetista estrutural informou ser
aplicável o princípio de simetria.
Com as cargas de ruptura e cargas de trabalho
foram determinados os fatores de segurança para
cada estaca e bloco, FSlocal e FSbloco
respectivamente e aplicados os seguintes critérios
de aceitação:

• FSbloco  1,6 e todas estacas com FSlocal  1,50


– bloco OK;
Figura 9. Gráfico carga recalque da prova de carga estática.
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11 COMENTÁRIOS FINAIS enfrentadas. A qualidade dos gráficos de nega e


repique coletados pelos apontadores de campo
O sistema de controle executivo aplicado na variava conforme o zelo de cada apontador. A
cravação das estacas pré-moldadas e metálicas da Figura. 10 ilustra dois boletins recebidos do
Arena Grêmio permitiu que as estacas fossem campo, onde se notam as marcantes diferenças
cravadas com perdas mínimas, não mais do que os para interpretação dos valores de D e s medidos.
comprimentos estritamente necessários para Diferentemente do controle usual apenas por nega
atender às solicitações específicas de cada bloco. ou mesmo repique, onde a aceitação da estaca é
Além disso, permitiu oferecer aos engenheiros decidida imediatamente ao final da cravação pelo
responsáveis pela Obra os subsídios necessários próprio fiscal de campo, com o sistema D + s é
para que eles julgassem a aceitabilidade da necessária uma análise, às vezes com algum grau
fundação, bloco a bloco, tomando por base a de interpretação, por engenheiro devidamente
probabilidade de falha e o fator de segurança. instruído. Isso demanda algum tempo e, na Obra
Note-se que, dessa forma, as responsabilidades da Arena Grêmio, essa análise era feita ao fim do
foram atribuídas a quem de direito, ou seja, à dia. Ou seja, só no dia seguinte a equipe de
projetista e aos consultores coube a cravação sabia se a estaca estava boa ou se
responsabilidade de apresentar um retrato o mais precisava ser recravada, prejudicando o bom
fidedigno possível da condição de cada bloco e, andamento da Obra. Para permitir a coleta dos
aos engenheiros responsáveis pela Obra, a valores D e s as estacas tinham que sobrar cerca de
responsabilidade pela liberação dos serviços 1 m acima do terreno, inviabilizando o emprego
executados. de “suplemento” ou “prolonga” (coluna de aço
Em que pese tais vantagens desse controle provida de capacete que permite cravar a estaca
rigoroso da execução das estacas, há que se abaixo do nível do terreno).
reconhecerem algumas importantes dificuldades

Figura 10. Exemplos de boletins de campo.


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AGRADECIMENTOS PANAMERICAN CSMFE, Buenos Aires, v.1, 367-


376p, 1975
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O desenvolvimento deste trabalho só foi possível TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de
graças à equipe de obra cujo empenho os autores fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
reconhecem. A participação da projetista das ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
fundações, Nouh Engenharia Ltda., e da projetista TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples
da estrutura, EGT Engenharia Ltda., no reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de
Janeiro: ABNT, 2001
fornecimento de dados e nas ricas discussões ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
técnicas muito contribuíram com a definição dos TÉCNICAS. NBR 12069 – Solo – Ensaio de penetração
critérios de controle executivo. E a brilhante de cone in situ – Método de ensaio. Rio de Janeiro:
atuação do Prof. Nelson Aoki como idealizador e ABNT, 1991
orientador da implantação do sistema foi vital ao ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 12131 – Estacas – Prova de carga
sucesso atingido. estática – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT,
2006
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TÉCNICAS. NBR 13208 – Estacas – Ensaios de
carregamento dinâmico. Rio de Janeiro: ABNT, 2007
AOKI, N. Probabilidade de falha e carga admissível de DÉCOURT, L. e QUARESMA, A.R. Capacidade de carga
fundação por estacas. Revista Militar de Ciência e de estacas a partir de valores de SPT.
Tecnologia, v. XIX, Resende, RJ, 48-64, 2002 COBRAMSEG VI, Rio de Janeiro, RJ, 45-53p, 1978.
AOKI, N. Palestra Dogma do fator de segurança. SEFE VI, DIAS, T.S., FUJIMOTO, N.S.V.M. e SOARES, A.Q.
São Paulo, SP , 2008. Compartimentos de relevo do município de Porto Alegre
AOKI, N. Provas de carga dinâmicas em estacas. RG. XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física
Anotações de aula, Escola de Engenharia de São Carlos, Aplicada, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG,
USP, São Carlos, SP. 2009. 2009.
AOKI, N. e VELLOSO, D. An approximate method to PHILIPPONNAT, G. Méthode practique de calcul des pieux
estimate the bearing capacity of piles - Proceedings. In à l’aide du pénétrométre statique. Informations
Techniques Bulletin, Paris, Soletanche Entreprise, 21p.
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AVALIAÇÃO FUNCIONAL DE TRECHOS DA RODOVIA


RN-118
Alisson Cabral Barreto
UFRN, Natal/RN, Brasil, alissomcb@Hotmail.Com

Milany Karcia Santos Medeiros


UFERSA, Angicos/RN, Brasil, milanymedeiros@gmail.com

Alyne Karla Nogueira Osterne


UFERSA, Angicos/RN, Brasil, alyne_osterne@hotmail.com

Ricardo Leandro Barros da Costa


UFERSA, Angicos/RN, Brasil, ricardo.leandro.22@hotmail.com

Lanna Celly da Silva Nazário


UFERSA, Angicos/RN, Brasil, lanna.nazario@ufersa.edu.br

RESUMO: Este trabalho objetiva realizar uma avaliação funcional objetiva de um trecho da RN-
118 que corta o município de Ipanguaçu/RN, uma vez que, essa rodovia liga diversos municípios do
estado, se tornando uma das principais rodovias do Rio Grande do Norte e, encontra-se em um
estado onde os defeitos superficiais no pavimento são evidentes e prejudiciais. De acordo com a
literatura, esse trecho da rodovia foi dividido em três trechos homogêneos e dentre esses, em sete
subtrechos. A partir de visitas realizadas em agosto de 2017 foi possível realizar a observação
visual, registros fotográficos e identificar a ocorrências de defeitos no pavimento de cada trecho.
Com essas informações e seguindo as premissas das normas do DNIT, foi calculado o IGG e
determinado o conceito de degradação do pavimento para cada subtrecho. Ao término dessa
avaliação foi constatada a ocorrência de diversos defeitos, como: fendas, afundamentos, desgastes,
panelas e remendos. Observou-se também que 86% dos subtrechos foram classificados
objetivamente com conceito “péssimo” ou “ruim”, o que indica um alto grau de deterioração do
pavimento. Assim, com os resultados obtidos é possível concluir que o pavimento da rodovia não
proporciona condições de conforto e segurança aos usuários, devido ao alto grau de deterioração da
sua superfície e a falta de manutenção periódica. Contudo, para aprofundar as análises no pavimento
da RN-118, seria necessário realizar uma avaliação subjetiva e a avaliação estrutural.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Avaliação funcional, Manifestações patológicas.

1 INTRODUÇÃO essa época já existia o entendimento de que as


rodovias faziam parte de sociedades
As construções de estradas começaram a ser desenvolvidas, mas que com o passar do tempo
realizadas devido à necessidade que o homem sofriam degradação e necessitavam de
tinha de ampliar se território e melhorar o manutenções (BALBO, 2007). Assim, os
acesso a fontes de água, minerais. As estradas pavimentos possuem um “ciclo de vida”, em
mais antigas são originadas na China e desde que a manutenção periódica é necessária para
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que o pavimento permaneça conservado. execução de terraplanagem, com a função de:


Uma pesquisa realizada pela Confederação resistir aos esforços verticais e horizontais
Nacional dos Transportes em 2005 relata que gerados a partir do tráfego de veículos e de
mais de 70% do sistema rodoviário do país é condições climáticas, distribuir os esforços
deficiente (BALBO. 2007). Mesmo assim, o verticais ao subleito e melhorar as condições de
sistema rodoviário no Brasil presencia rolamento sem gerar deterioração, em relação a
melhorias ao longo do tempo, mesmo que comodidade e segurança.
tardias, porém, a maioria dessas melhorias se
restringe as rodovias federais. 2.2 Classificação dos pavimentos
Devido às manifestações patológicas
presentes na superfície do pavimento, a Os pavimentos podem ser tradicionalmente
avaliação funcional é de suma importância para classificados em dois grupos: pavimentos
os usuários, uma vez que esses defeitos afetam flexíveis e rígidos. O primeiro, respectivamente,
a sua segurança e o conforto ao rolamento. Essa é constituído por um revestimento asfáltico, em
avaliação permite identificar os problemas e que a deformação elástica é significativa em
realizar uma análise preliminar das todas as camadas e a carga aplicada é
características de degradação superficial e distribuída em parcelas aproximadamente
deformação da estrada. equivalentes entre as camadas. Já o pavimento
A RN – 118 liga diversos municípios do rígido é aquele no qual o revestimento absorve a
estado, o tráfego de veículos de pequeno e maioria das tensões geradas pelo carregamento
grande porte nessa região é muito intenso. Essa aplicado, pois possui elevada rigidez, em
rodovia encontra-se em um estado onde os relação ás camadas inferiores (DNIT, 2006).
defeitos superficiais no pavimento são evidentes
e provocam prejuízos econômicos e de 2.2.1 Pavimento flexível
segurança aos usuários. Assim, o presente
trabalho tem por finalidade avaliar as condições Comumente, os pavimentos flexíveis são
da rodovia RN-118, em um trecho com associados aos pavimentos asfálticos. Conforme
extensão de aproximadamente 30 km que ligam Marques (2012), as camadas dos pavimentos
a cidade de Itajá á cidade de Ipanguaçu, através são denominadas por: subleito, leito, reforço do
de uma avaliação funcional, para conhecer as subleito, sub-base, base e revestimento. O
condições do pavimento e contribuir de forma subleito é o terreno de fundação onde
positiva para a sociedade do município de pavimento será assentado; o leito é a superfície
Ipanguaçu e da região. do subleito após terraplanagem; o reforço do
subleito é a camada executada sobre o subleito
regularizado, a fim de melhorar sua qualidade; a
2 REFERENCIAL TEÓRICO sub-base é realizada para complementar a base,
sendo executada quando não é permitido
2.1 Pavimentação realizar a base diretamente sobre o reforço do
subleito; a base é a camada em que se constrói o
Conforme o DNIT (2006), pavimento de revestimento, destinada a resistir e distribuir os
rodovias é a superestrutura constituída por esforços oriundos do tráfego; já o revestimento
camadas, formadas por espessuras finitas, é a camada que recebe diretamente a força
apoiadas sobre um semi-espaço denominado de aplicada pelo tráfego de veículos.
subleito.
De acordo com a norma brasileira de 2.3 Manifestações patológicas
pavimentação, NBR 7207/1982, da ABNT, o
pavimento é uma estrutura construída após a As manifestações patológicas que ocorrem no
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pavimento são geradas a partir da escolha dos um resumos dos defeitos presentes no
materiais utilizados, da execução do pavimento pavimento.
e da falta de manutenções preventivas e
corretivas. Essas manifestações patológicas são Quadro 1 – Resumo dos defeitos – Codificação e
consequências da ruptura estrutural e funcional. classificação
(BARRETO, 2016).

2.3.1 Defeitos do pavimento flexível

Os defeitos encontrados no revestimento


asfáltico podem ser definidos de acordo com a
norma DNIT 005:2003 como:
Fenda: descontinuidade presente na
superfície do pavimento capaz de provocar a
abertura de pequeno ou grande porte,
apresentando-se sob diversas formas. Esse
defeito pode se subdividir em fissuras e trincas.
Afundamento: deformação caracterizada
por depressão da superfície do pavimento,
podendo ser dividida em afundamento plástico e
afundamento de consolidação.
Escorregamento: ocorre quando o
revestimento sofre deslocamento em relação à
camada subjacente do pavimento causando o
aparecimento de fendas em forma de meia-lua. Fonte: DNIT 005:2003
Exsudação: defeito caracterizado pelo
excesso de ligante betuminoso na superfície do 2.4 Métodos de avaliação funcional
pavimento devido a migração do ligante através
do revestimento. A avaliação funcional é uma análise preliminar
Desgaste: defeito consequente do das características de degradação superficial e
arrancamento progressivo do agregado do deformação da rodovia e tem a capacidade de
pavimento provocado por esforços tangenciais proporcionar conforto ao rolamento a partir das
causados pelo tráfego. Geralmente pode ser condições superficiais dos pavimentos
identificado por aspereza na superfície do (MATTOS, 2014).
revestimento. Para a avaliação do pavimento é necessário à
Panela ou buraco: defeito identificado por coleta de uma série substancial de dados e são
uma cavidade que se forma no revestimento, aplicadas diversas técnicas, dentre elas estão às
capaz de alcançar as camadas inferiores do avaliações subjetiva e objetiva. A primeira,
pavimento e provocar desagregação. respectivamente, determina o estado de
Remendo: preenchimento de panela com restauração do pavimento segundo os conceitos
camadas de pavimento na operação denominada qualitativos. Já a segunda técnica reconhece que
“tapa-buraco”. Pode ser classificado em: a restauração do pavimento seja expressa por
remendo profundo, quando o revestimento é meio da quantificação (DNIT, 2006).
substituído; e remendo superficial, quando é
executada uma correção, através da aplicação de 2.5 Avaliação objetiva
uma camada betuminosa, em área localizada, da
superfície do pavimento. O Quadro 1 apresenta O estado da superfície do pavimento é capaz de
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ser avaliado através do registro de defeitos. Esse absolutas de cada defeito e uma frequência
registro utiliza uma série de defeitos relativa ao conjunto das estações de certo
quantificados e medidos de forma objetiva para segmento (Bernucci et al, 2008).
avaliar a condição superficial. Desse modo, De acordo com a norma DNIT 006:2003 –
nessa avaliação o Índice de Gravidade Global é PRO, a frequência absoluta (fa) é definida como
de fundamental importância (MATTOS, 2014). sendo o número de vezes em que determinada
O índice de gravidade global (IGG) é ocorrência é verificada. Já a frequência relativa
determinado por meio das premissas da norma (fr) é determinada através da seguinte fórmula
DNIT 006:2003 – PRO e para o emprego da 1:
norma é necessário que sejam consultadas as
fa × 100
normas DNIT 005:2003 – TER e DNIT fr =
n
007:2003 – PRO (SILVA, 2006). (1)
A determinação do IGG é realizada de forma Em que:
amostral para as estações, em que a área e o n – número de estações inventariadas.
distanciamento entre essas é especificado pelo Ainda conforme a DNIT 006:2003 – PRO,
DNIT. Em rodovias de pista simples as estações para cada estação inventariada é necessário que
são inventariadas a cada 20m, alternados entre o Índice de Gravidade Individual (IGI) seja
as faixas (40m em 40m em cada faixa); já no calculado. Esse cálculo é realizado a partir da
caso de pista dupla as estações são listadas a fórmula 2:
cada 20m, na faixa mais solicitada de cada
pista. Com a demarcação das estacas, a IGI=fr.fp (2)
superfície de avaliação equivale a 3m antes e Em que:
3m após a estaca, totalizando uma área de 6m fp – fator de ponderação.
de comprimento e largura igual a da faixa De acordo com a norma DNIT 006:2003 –
avaliada. A figura 1 ilustra um modelo PRO, o índice de gravidade global (IGG) é
exemplificando a superfície de avaliação em calculado a partir da soma dos índices de
pista simples (Bernucci et al, 2008). gravidade individuais (IGI) para cada trecho
homogêneo. Esse cálculo é apresentado na
fórmula 3.

IGG =  IGI
(3)
Dessa forma, o IGG quantifica a frequência
em que cada tipo de defeito persiste em
acontecer, e junto a isso, estabelecendo um fator
Figura 1. Demarcação de áreas para inventário de defeitos
em pista simples. de ponderação para cada defeito, determinar um
índice acumulado com o objetivo de atribuir um
Conforme Bernucci et al. (2008), com a conceito ao estado superficial do pavimento
utilização de uma planilha, os defeitos na área (MATTOS, 2014). A Tabela apresenta os níveis
demarcada são anotados de acordo com a de avaliação de degradação de acordo com o
terminologia presente na DNIT 005:2003 – IGG.
TER. De acordo com a norma DNIT 006:2003 –
Tabela 1. Conceito de degradação do pavimento em
PRO, todas as trincas isoladas devem ser relação ao IGG.
anotadas como do Tipo 1 e, os remendos Conceitos Limites
superficiais e profundos devem ser anotados Ótimo 0 < IGG ≤ 20
como R. Bom 20 < IGG ≤ 40
Esse método contabiliza as frequências Regular 40 < IGG ≤ 80
Ruim 80 < IGG ≤ 160
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Péssimo IGG > 160 Superfície Homogênea

Conforme o DNIT (2010), os segmentos


3 MATERIAIS E METÓDOS homogêneos de rodovias são definidos como
trechos que apresentem um conjunto de
A RN-118 é uma das principais rodovias do características semelhantes. De acordo com o
estado do Rio Grande do Norte, uma vez que DNIT três especificações são utilizadas para a
liga diversos municípios de suma importância classificação: se a pista é simples ou dupla,
econômica. Devido a sua importância para o ocupação da região (urbana e rural) e curvatura
estado, sobre essa rodovia trafegam diariamente vertical do segmento.
diversos veículos particulares, como também, Um segmento de rodovia é um setor de
veículos com transporte de carga elevada, forma contínua que não sofre interrupção de um
intensificando a transferência de carga para o cruzamento e possibilita a operação de duas
pavimento. vias de tráfego. Um segmento inicia-se no
O estudo foi desenvolvido no trecho da centro de certa intersecção e termina no centro
rodovia entre Itajá e Macau, no município de da próxima intersecção, ou onde ocorra uma
Ipanguaçu/RN. Esse município é localizado na mudança a partir de um segmento homogêneo
microrregião do vale do Açu, com uma área de para outro segmento homogêneo.
unidade territorial de 374,248 km², população Conforme a literatura, para o presente
estimada de 15.464 habitantes e, densidade trabalho foi considerado como subtrecho
demográfica de 37,02 hab/km² (IBGE, 2017). A homogêneo, a extensão de via asfaltada que
figura 2 ilustra o mapa do Rio Grande do Norte contenha ao longo de seu comprimento, na
e o mapa de Ipanguaçu localizado no estado. superfície do pavimento, características
semelhantes de volume de tráfego e intensidade
de defeitos. Desse modo, através de uma análise
visual, três grandes trechos foram considerados
para a realização da avaliação funcional e
dentro desses trechos foram determinados os
Figura 2. Localização de Ipanguaçu no mapa do Rio subtrechos homogêneos.
Grande do Norte. O primeiro trecho, nominado de trecho A, é
inserido na parte da rodovia de pista simples
3.1 Estudos preliminares com extensão de aproximadamente 580m. Essa
área foi escolhida por estar com um pavimento
Para gerar um conceito geral sobre a situação do em alta degradação. A figura 3 ilustra a
pavimento da rodovia foi necessário a coleta de localização desse primeiro trecho de pista
dados preliminares que fornecesse essa simples.
informação. Assim, um levantamento histórico
foi realizado junto a organização rodoviária
responsável pela construção da RN-118, o
Departamento Estadual de Rodagens (DER). A
partir de visitas realizadas ao DER foi possível
Sentido Itajá - Ipanguaçu
obter informações sobre o projeto, sobre a
estrutura do pavimento e informações a respeito
de manutenções realizadas ao longo da vida útil
da rodovia. Figura 3. Localização do trecho A.

3.2 Determinação dos Subtrechos de


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O segundo e o terceiro trecho, trechos B e C, Os trechos B e C são trechos de pista dupla,


são localizados na Av. Luiz Gonzaga no em que as estações foram determinadas a cada
município de Ipanguaçu, na parte da rodovia de 20 m na faixa de tráfego mais solicitada de cada
pista dupla, com extensão de aproximadamente pista. Esses dois trechos foram divididos em
660m. O segundo trecho é situado no sentido seis subtrechos homogêneos.
sul – norte da avenida e o terceiro trecho no Para a determinação da área de avaliação, em
sentido norte – sul. Essa área foi escolhida por cada estação foi pintado dois traços, três metros
se encontrar no centro da cidade, onde o fluxo adiante e três metros atrás. Delimitada a área de
de veículos é muito elevado e a degradação do avaliação foi realizada a ocorrência de defeitos
pavimento é intensificada. Para esses dois em cada estação com o auxílio de formulários.
trechos foram definidos subtrechos a partir da Os formulários empregados na contagem dos
mudança de característica da via (cruzamento defeitos especificados pela DNIT 005/2003 -
de vias) ou interrupção da mesma. A figura 16 TER foram construídos de acordo com a
ilustra a localização dos trechos de pista dupla. sugestão contida na DNIT 006/2003 – PRO. Os
defeitos foram classificados por tipos e foi
obtido o fator de ponderação para cada um. Para
o presente trabalho foi realizada uma planilha
em que foram anotados nas colunas a estação
inventariada e os defeitos que são presentes na
norma.
O IGG é a soma dos IGI de cada seção,
Figura 4. Localização dos trechos B e C.
assim é necessário obter a frequência absoluta e
relativa dos defeitos. Para o cálculo dessas
3.2 Avaliação superficial objetiva frequências foi utilizado os dados coletados nas
planilhas de inventário de defeitos de cada
A avaliação objetiva é realizada através da seção. Com a obtenção do IGG é possível
norma DNIT 006/2003 – PRO (Procedimento: indicar o grau de deterioração do pavimento da
Avaliação Objetiva da Superfície de rodovia.
Pavimentos Flexíveis e Semi-rígidos) em que,
classificará os defeitos presentes na superfície. 4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Para a realização da avaliação é necessário
utilizar diversos aparelhos, dentre esses, para o 4.1 Levantamento histórico e das condições
presente trabalho foi utilizado: pincel de da rodovia
demarcação para identificar a área de avaliação;
trena e GPS para a medição e determinação de De acordo com registros encontrados no DER, o
cada estação; e os formulários foram utilizados trecho da rodovia RN-118 que vai da BR -304 a
para a identificação dos defeitos. Outro aparelho Macau tem aproximadamente 72 km e teve sua
presente na norma é a treliça de alumínio construção finalizada em meados do ano de
utilizada para a medição da trilha da roda, 1983. Essa construção possui 9 metros de
porém, esse aparelho não foi utilizado nesse largura, com base de 20 cm em piçarro lacterito,
trabalho devido a sua indisponibilidade. cobertura feita de pequenas pedras servindo
O trecho A é um trecho homogêneo de pista como fundação. O material utilizado nas
simples e para a determinação das estações, os camadas do pavimento foi retirado dos
centros das superfícies de avaliação se arredores da região, realizando cortes no
encontram a cada 20 m alternados em relação terreno. O primeiro revestimento asfáltico foi
ao eixo da pista de rolamento (40 m em 40 m realizado em Tratamento superficial duplo
em cada faixa de tráfego). (TSD), camadas sucessivas de emulsão asfáltica
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e brita. internas (TRI) não foram realizadas e, a


A faixa de domínio da rodovia é de 40 ausência desses dados influencia no valor do
metros, em que são 20 metros para cada lado, IGG. Portanto o IGG de cada subtrecho pode ter
contando do eixo da rodovia. O tráfego atual da seu valor elevado caso seja calculado as
rodovia, por meio de estimativas, é em torno de medidas das flechas, mas, a altercação não seria
20 mil veículos, por dia, onde grande parte significativa. A Tabela 2 apresenta o resumo
desses veículos são de carga pesada. dos valores de IGG para cada subtrecho e seus
A primeira restauração da via ocorreu em respectivos conceitos.
1986. Inicialmente a manutenção foi realizada
com conservação rotineira e preventiva, limpeza Tabela 2. Valores do IGG para os trechos A, B e C.
de meio fio e roçada manual. Após essa Trecho Subtrecho Valores do IGG Conceito
A A1 303,33 Péssimo
restauração, apenas pequenas correções foram
B B1 155,83 Ruim
realizadas, os chamados “tapa buracos”. Em B2 138,33 Ruim
2008 a RN-118 passou por outra restauração, B3 105 Ruim
em que o revestimento da via foi realizado em C C1 45 Regular
CBUQ. C2 100,83 Ruim
C3 106,67 Ruim
4.2 Índice de gravidade global
O trecho A, situado na zona rural, é o trecho
Em todos os sete subtrechos foram realizados com maior valor de IGG e com o pior conceito
inventários de ocorrência de defeitos para que, para o pavimento, isso pode ser explicado pelo
segundo a Norma DNIT 006/2003 – PRO, o excesso de tráfego com cargas elevadas nesse
IGG de cada subtrecho pudesse ser encontrado. trecho e a falta de manutenção por parte do
Nos inventários de defeitos estão contidos: a gestor estadual. No trecho B, devido ser
frequência de ocorrência dos defeitos localizado no centro da cidade, a manutenção
especificados na Norma DNIT 005/2003_TER, do pavimento ocorre com mais frequência do
o valor do IGG e a conceituação do estado do que no trecho A. Com relação a isso e outros
pavimento. O quadro 1, mencionado fatores, esse trecho foi classificado com
anteriormente, foi utilizado para identificar os conceito ruim. O trecho C teve valores de IGG
defeitos. A Tabela 1 apresenta as informações e menores do que nos outros trechos, porém só o
o IGG para o trecho A. subtrecho C1 teve um melhor conceito,
classificado com conceito regular. Assim, esses
Tabela 1. Cálculo do IGG para o trecho A. valores demonstram o elevado grau de
deterioração que as vias estudadas apresentam.

4.2 Defeitos no pavimento

Considerando as premissas da norma DNIT


005:2003_TER foi identificado e classificado os
tipos de defeitos em cada trecho estudado.

4.2.1 Fendas

No decorrer dos três trechos foram


encontradas, com bastante frequência, fendas
É importante ressaltar que as medidas das com aberturas de pequeno porte, as fissuras, e
flechas das trilhas de rodas externas (TER) e de grande porte, as trincas. As fissuras não
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causam problemas funcionais ao revestimento, das cargas e provocando o acúmulo de água,


já as trincas enfraquecem o revestimento que pode causar risco á segurança dos usuários.
permitindo a penetração de água, causando um A figura 6 apresenta o afundamento plástico
enfraquecimento adicional da estrutura. A local no trecho B.
figura 5 ilustra a presença de trincas interligadas
no trecho A, no trecho B e no trecho C.

a)

b) Figura 6. Afundamento local no trecho B.

Em todos os trechos estudados o


afundamento se desenvolve progressivamente a
partir do inicio da ação do tráfego, e devido à
c)
presença significativa de trincas, o pavimento é
enfraquecido e a sua progressão pode ser
acelerada. Outro fator que acelera o crescimento
desse defeito é o elevado volume de tráfego
Figura 5. a) trincas presentes na rodovia no trecho A, b)
trincas presentes na rodovia no trecho B, c) trincas nessa rodovia. Para minimizar a ocorrência a
presentes na rodovia no trecho C. reperfilagem pode ser executada aplicando uma
fina camada de mistura e remendos localizados,
As fendas são causadas genericamente pelo que não requerem preparo prévio no pavimento.
conjunto de diversos fatores, são eles: o tráfego
que promove tensões na fibra interior do 4.4.3 Desgaste
revestimento, a mudança diária de temperatura
causando contração do revestimento, e reflexão Nos três trechos foi observado com bastante
de trincas existentes em bases cimentadas frequência o aparecimento de desgaste no
(DNIT, 2006). pavimento da rodovia. Esse defeito ocasiona o
Assim, de acordo com a Norma Técnica desprendimento progressivo do agregado
DNIT ISC 14/04, para minimizar a presença de podendo contribuir para o processo de evolução
fendas nos trechos da RN-118, a vedação com dos defeitos, dando origem a outras patologias.
material asfáltico deve ser executada para que a A figura 7 ilustra o desgaste nos trechos A e B.
água não penetre nas camadas subjacentes.
Segundo a norma, a emulsão asfáltica é a) b)

aplicada, o agregado é espalhado sobre a


emulsão e compactados por rolo pneumático ou
compactador manual.

4.4.2 Afundamento

O afundamento foi encontrado nos três trechos Figura 7. Desgaste nos trechos A e B
estudados, mas a frequência apresentada não foi
muito significativa. Esse defeito pode causar Para poder minimizar essa manifestação
acréscimo na irregularidade longitudinal patológica é recomendada a adoção de métodos
afetando a qualidade de rolamento, a dinâmica corretivos. Através de técnicas superficiais de
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conservação, com a aplicação de vários tipos de encontrados nos trechos B e C, com pouca
revestimentos combinados e com a profundidade, é recomendado: sinalização
incorporação de novos agregados na camada adequada e controle de tráfego; demarcar, com
superficial, a superfície desgastada é melhorada. giz e linhas retas, a área a ser reparada; realizar
Por ser um processo economicamente viável e um corte do material comprometido até atingir
com a finalidade de restaurar o pavimento toda a camada de revestimento, escavando do
desgastado, centro para os bordos do buraco. O corte deve
A capa selante é o tratamento mais adequado ser realizado até a profundidade necessária para
devido ser mais economicamente viável. Esse atingir um material estável; realizar a limpeza
tratamento é capaz de aumentar a vida útil do removendo o material escavado; realizar a
pavimento e, por ser um método básico de pintura de ligação, nas paredes e no fundo da
conservação, não acrescenta nenhuma escavação, aplicando emulsão asfáltica ou
capacidade estrutural ao pavimento, servindo asfalto diluído; lançar e espalhar a mistura
somente para evitar e combater a deterioração betuminosa na escavação no sentido dos bordos
superficial. para o centro; compactar a mistura betuminosa
das paredes verticais para o centro do remendo;
4.4.4 Panela e realizar a limpeza do local.
No caso das panelas encontradas no trecho
A panela reduz a impermeabilidade do A, em que a profundidade é maior, os remendos
pavimento, facilitando a penetração de água devem ser realizados tanto no revestimento
para as subcamadas e diminuindo a capacidade como também nas camadas subjacentes,
funcional e estrutural do pavimento. No obedecendo ao mesmo procedimento de
percorrer dos três trechos diversas panelas execução.
foram encontradas, mas, no trecho A a
ocorrência desse defeito é mais expressiva e 4.4.5 Remendos
com maiores dimensões, em que aumenta o
desgaste dos veículos e a segurança do usuário. Manifestação patológica que ocorre ao
A figura 8 ilustra a presença de panelas no preencher as panelas com emulsão asfáltica
trecho A e no trecho C. gerando irregularidades e imperfeições na
superfície do pavimento. O remendo foi
a) encontrado em todos os trechos estudados, com
mais frequência no trecho B. A figura 9 ilustra
esse defeito presente nos trecho A e trecho B.

b) a)

c)

b)

Figura 8. a) e b) panelas presentes no pavimento do


trecho A, c) panelas presentes no pavimento do trecho C. Figura 9. a) remendos presentes no pavimento do trecho
A, b) remendos presentes no pavimento do trecho B.
Os remendos devem ser adotados para
diminuir a presença de panelas. Nos buracos Para diminuir a ocorrência dessa patologia
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funcional é necessário realizar o seu processo Terminologia e classificação de pavimentos. Rio de


executivo de forma adequada, respeitando a Janeiro, 1982.
Balbo, José Tadeu. Pavimentação Asfáltica: materiais,
sequência lógica, realizando a compactação de projeto e restauração. São Paulo: Oficina de Textos,
forma apropriada, respeitando as 2007.
recomendações da norma técnica. Barreto, Sheila Souza. Estudo e abordagem da origem e
desenvolvimento das patologias em pavimento.
Revista Saber Acadêmico, São Paulo, n. 21, p.1-9,
2016.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Bernucci, Liedi Bariani et al. Pavimentação asfáltica:
formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro:
É perceptível que a degradação do pavimento PETROBRÁS/ ABEDA, 2008.
da rodovia gera novas degradações que atuam Departamento nacional de infraestrutura de transportes –
em conjunto, ocorrendo assim a cadeia de DNIT. Manual de Pavimentação. Diretoria de
Planejamento e Pesquisa. Coordenação Geral de
consequências, em que proporcionará redução Estudos e Pesquisa. Instituto de Pesquisa Rodoviárias.
funcional e estrutural do pavimento. Entre os Rio de Janeiro, 2006.
sete subtrechos analisados, os valores do IGG DNIT. Manual de Restauração de Pavimentos Asfálticos.
demonstram o elevado grau de deterioração e a Diretoria de Planejamento e Pesquisa. Coordenação
Geral de Estudos e Pesquisa. Instituto de Pesquisa
expressiva presença de defeitos que as vias
Rodoviárias. Rio de Janeiro, 2006.
estudadas apresentam. DNIT. Manual de Sinalização. Diretoria de Planejamento
Entre as manifestações patológicas avaliadas e Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e Pesquisa.
na superfície do pavimento, as fendas e o Instituto de Pesquisa Rodoviárias. Rio de Janeiro,
desgaste são as mais frequentes em todos os 2010.
DNIT – Departamento nacional de infraestrutura de
trechos. Porém, a presença de panelas,
transportes 005/2003 - TER: Defeitos nos pavimentos
principalmente no trecho A com grandes raios e flexíveis e semi-rígidos Terminologia. Rio de Janeiro,
profundidades, comprometem diretamente a 2003.
segurança e trafegabilidade dos usuários. DNIT – Departamento nacional de infraestrutura de
Comparando as atuais condições da rodovia transportes 006/2003 - PRO: Avaliação objetiva da
superfície de pavimentos flexíveis e semi-rígidos –
e o levantamento histórico, é perceptível a falta
Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
de manutenções corretivas e preventivas no IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística.
pavimento. Nota-se que o número de veículos Disponível em: <
que trafegam atualmente pela rodovia é maior https://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&co
do que no início de sua vida útil. Assim, o dmun=240470&search=rio-grande-do-
norte%7cipanguacu > Acesso em: 13 de set. 2017.
conjunto desses fatores pode comprometer cada Marques, Geraldo Luciano de Oliveira. Pavimentação.
vez mais a superfície do pavimento. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora,
Com isso, a avaliação funcional objetiva a 2012. 210 slides, color.
RN-118 juntamente com a avaliação do Mattos, João Rodrigo Guerreiro. Monitoramento e
inventario de defeitos e das condições da análise do desempenho de pavimentos flexíveis da
ampliação da rodovia BR-290/RS - a implantação do
rodovia são importantes para a comunidade e, projeto rede temática de asfalto no Rio Grande do
essenciais para informar e auxiliar em estudos Sul. 2014. 250 f. Tese (Doutorado) - Curso de
futuros sobre a rodovia. Porém, se faz Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
necessário, para trabalhos futuros que seja Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
realizada uma nova avaliação para que seja Prestes, Marilez Pôrto. Métodos de avaliação visual de
pavimentos flexíveis – Um estudo comparativo.
executado o comparativo entre os valores do Dissertação (Engenharia dos transportes) -
IGG. Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul, Porto
Alegre, 2001.
Silva, Marcelo Corrêa da. Avaliação Funcional e
REFERÊNCIAS Estrutural das Vias Asfaltadas do Campus da Ufv.
2006. 101 f. Tese - Curso de Engenharia Civil,
Associação brasileira de normas técnicas. NBR 7207: Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2006.
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Caracterização das Principais Manifestações Patológicas em


Pavimentos Flexíveis: Estudo de Caso de um Trecho Crítico da
Rodovia DF-001 (Pistão Sul), Taguatinga/Distrito Federal
Alexsandra Maiberg Hausser, B. Sc.
UniCEUB, Brasília, Brasil, alexsandramaiberg@hotmail.com

Lucélia Lisboa Ribeiro, B. Sc.


UniCEUB, Brasília, Brasil, eng.lucelialisboa@hotmail.com

Gabriela de Athayde Duboc Bahia, M. Sc.


UniCEUB, Brasília, Brasil, gabrieladuboc@gmail.com

Rideci Farias, D. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

RESUMO: As rodovias são fatores importantes para o crescimento da economia de um país, dado
que são responsáveis pelo tráfego de significante parte da produtividade. Assim sendo, é de suma
importância a preservação e ampliação da vida útil de um pavimento. Dentro desse contexto, este
trabalho objetiva apresentar um estudo de caso de patologias em um trecho crítico da rodovia DF-
001, no Pistão Sul, localizado em Taguatinga/Distrito Federal, fruto de um Trabalho de Conclusão
de Curso de Graduação em Engenharia Civil. A metodologia utilizada compreendeu na aplicação do
método de avaliação objetiva de superfície pela norma DNIT 006/2003-PRO para o levantamento
visual das ocorrências aparentes e na determinação do Índice de Gravidade Global (IGG). O trecho
avaliado apresentou um elevado valor de IGG, com considerável grau de deterioração,
classificando-o em estado de péssima qualidade, refletindo nas condições de segurança e conforto.

PALAVRAS-CHAVE: Distrito Federal, Pavimentos Flexíveis, Pistão Sul, Patologias, Avaliação


Objetiva.

1 INTRODUÇÃO rígidos (em concreto), flexíveis (asfalto) e


semirrígidos (combinação dos dois anteriores).
Bernucci et al. (2008) caracteriza pavimento No Brasil, segundo dados da Associação
como uma estrutura constituída de várias Brasileira das Empresas Distribuidoras de
camadas com findáveis propriedades e função Asfalto (ABEDA) de 2010, cerca de 95% das
de resistir, de forma viável, técnica e estradas pavimentadas são em revestimentos
economicamente as tensões provocadas pelos flexíveis.
esforços fornecidos do tráfego de veículos e as Com base nas informações da Confederação
intempéries climáticas. Nacional de Transportes (CNT) de 2015, o
As estruturas de pavimentação podem ser Brasil é um dos países do mundo mais extensos
classificadas de acordo com a rigidez em em malha rodoviária, em torno de 1,7 milhão
conjunto, de forma simplificada: pavimentos de quilômetros de estradas, sendo que apenas
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12,2% das rodovias são pavimentadas, 78,6% solicitadas (faixa do centro e faixa da direita)
(mais de 1,3 milhão de quilômetros) com por serem as mais críticas, e em somente um
carência de pavimentação, e os outros 9,2% são sentido da rodovia, localizada em frente à
vias planejadas que nem sequer saíram do Universidade Católica de Brasília, sentido
papel. Desse número de rodovias com pistão sul - pistão norte, conforme mostrado na
pavimentação, uma média de 77,2% se Figura 1.
encontram em péssimas condições de
conservação sem as devidas manutenções e
recuperações, apresentando patologias como
trincas, afundamentos, remendos entre outras.
Tais manifestações patológicas apresentadas
pela infraestrutura rodoviária brasileira são
acentuadas por um conjunto de fatores
econômicos e sociais que afetam diretamente na
situação das rodovias, são eles: má qualidade
dos materiais, falta de conservação, falhas de
construção, escassez de mão de obra
especializada, excesso de peso dos caminhões e
principalmente a inexistência de políticas
públicas eficientes.
Assim sendo, o presente trabalho consiste em
um estudo de caso de um trecho crítico do Figura 1. Trecho avaliado da DF-001 (Adaptado com
Pistão Sul, denominação local em Taguatinga base em Google Maps, 2017).
Sul da DF-001 (Estrada Parque Contorno -
EPCT), com o intuito de demonstrar a
importância de identificar as manifestações 3 METODOLOGIA
patológicas existentes nas rodovias de forma a
contribuir com os serviços de manutenção e A pesquisa baseou-se no método de avaliação
restauração, com a finalidade de garantir a objetiva da superfície proposto pelo DNIT por
durabilidade e funcionalidade. meio da Norma DNIT 006/2003 - PRO. Esse
método tem como objetivo avaliar as
manifestações patológicas em pavimentos
2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE flexíveis e semirrígidos mediante a contagem e
ESTUDO classificação de ocorrências aparentes
atribuindo indicador de Índice de Gravidade
A Estrada Parque Contorno (DF-001) é uma Global (IGG).
rodovia radial com extensão de 134 km, quase O IGG não é determinado para toda a área da
totalmente asfaltada, dispondo apenas de um pista, mas de forma amostral com área de
trecho cascalhado, por ser interno ao Parque distanciamento entre uma estação e outra, a
Nacional de Brasília. O principal trecho da DF- saber:
001 fica em Taguatinga, onde se tornou uma • Rodovias de pistas simples a cada 20m,
avenida com vias duplicadas e marginais, alternados entre faixas, ou seja, em cada faixa a
nomeadas por Pistão Sul e Pistão Norte. cada 40 m;
Considerando que o trecho selecionado para • Rodovias de pistas duplas, a cada 20 m, na
o estudo de caso tem uma extensão de 400 faixa de tráfego mais solicitada de cada uma das
metros e três faixas em cada pista, foram pistas.
utilizadas para o estudo apenas as duas mais A superfície de avaliação corresponde a uma
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seção transversal situada 3 m antes e 3 m depois ou defeitos, de forma a contabilizar as


da estaca demarcada, totalizando em cada frequências absolutas (fa), somatório da
estação uma área correspondente a 6m de quantidade de estações que apresentam o
extensão e largura igual das faixas avaliadas mesmo tipo de defeito, e a frequência relativa
(cada faixa com 3,5m), analisando assim apenas (fr), frequência absoluta multiplicada pela
aproximadamente 15% da área total do porcentagem de estações onde ocorre esse
pavimento do trecho em estudo. A Figura 2 determinado tipo de defeito, sendo 100% a
mostra um exemplo das estações para porcentagem correspondente à totalidade das
demarcação de áreas para inventário de defeito. estações de um determinado segmento.
Por fim, realizou-se o cálculo do Índice de
Gravidade Individual (IGI), o qual estabelece
um fator de ponderação (fp) prefixado pela
norma DNIT 006/2003 para os defeitos, de
acordo com a gravidade da anomalia analisada
em relação às demais. Por meio do somatório
do IGI obteve-se o IGG que possibilita a
classificação quanto à condição de qualidade da
superfície, conforme os valores da Tabela 1.

Tabela 1. Condição do pavimento em função do IGG.


Figura 2. Delimitação da área analisada. (Bernucci et al., (Norma DNIT 006/2003 – PRO)
2008). Conceitos Limites
Ótimo 0 < IGG ≤ 20
Assim, para a elaboração da pesquisa foi Bom 20 < IGG ≤ 40
realizado, primeiramente, um estudo teórico das Regular 40 < IGG ≤ 80
Ruim 80 < IGG ≤ 160
manifestações patológicas de pavimentos Péssimo IGG > 160
flexíveis com base na norma DNIT 005/2003 -
TER que define as terminologias e critérios
empregados para as referidas anomalias. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DAS
Posteriormente, foi escolhido o percurso para PATOLOGIAS
a fase de levantamento subsidiado no estado
atual da superfície do pavimento asfáltico e as As ocorrências encontradas foram registradas
faixas mais solicitadas da pista, foram por meio da planilha com o inventário do estado
consideradas as faixas do centro e da direita. da superfície do pavimento, e realizando
O levantamento in loco procedeu-se também registros fotográficos que permitiram
percorrendo um trecho de 400 m e implantando analisar minuciosamente os principais defeitos
vinte estações afastadas a cada 20 m e encontrados em cada estação.
numeradas de um a vinte. O levantamento in loco das condições do
Em seguida, procedeu-se a coleta de dados trecho apresentou uma vasta diversidade de
em cada estação de ensaio realizando o registro manifestações patológicas, algumas em maiores
das manifestações patológicas por meio de frequências e outras em menores proporções.
fotografias e por meio de planilhas de anotação As Figuras 3 a 22 apresentam manifestações
de ocorrências encontradas. patológicas encontradas em cada uma das 20
Após o levantamento dos defeitos foram estações do trecho estudado.
realizadas análises da condição da superfície do
pavimento asfáltico com o objetivo de atribuir o
IGG, procedendo-se a subdivisão da via em
segmentos que possuam mesmas características
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Figura 3. Manifestações patológicas na 1ª estação. Figura 7. Manifestações patológicas na 5ª estação.

Figura 4. Manifestações patológicas na 2ª estação. Figura 8. Manifestações patológicas na 6ª estação.

Figura 5. Manifestações patológicas na 3ª estação. Figura 9. Manifestações patológicas na 7ª estação.

Figura 6. Manifestações patológicas na 4ª estação. Figura 10. Manifestações patológicas na 8ª estação.


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Figura 11. Manifestações patológicas na 9ª estação. Figura 15. Manifestações patológicas na 13ª estação.

Figura 12. Manifestações patológicas na 10ª estação. Figura 16. Manifestações patológicas na 14ª estação.

Figura 13. Manifestações patológicas na 11ª estação. Figura 17. Manifestações patológicas na 15ª estação.

Figura 14 Manifestações patológicas na 12ª estação. Figura 18. Manifestações patológicas na 16ª estação.
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número de vezes em que a ocorrência foi


identificada no trecho analisado, assim
encontrar a frequência relativa (FR) de cada tipo
de defeito, e em seguida calcular o IGI, e por
fim o IGG para classificar o pavimento do
trecho estudado quanto à qualidade. A Tabela 2
apresenta valores encontrados no levantamento,
bem como os valores para se obter o Índice de
Gravidade Global (IGG).
Figura 19. Manifestações patológicas na 17ª estação.
Tabela 2. Planilha de cálculo do Índice de Gravidade
Global (IGG). (Adaptado com base na Norma DNIT
006/2003-PRO).
Natureza do FR Fator de
FA IGI
Defeito (%) ponderação
Fissuras e Trincas
Isoladas (FI,
17 85 0,2 17
TTC, TTL, TLC,
TLL e TRR)

FC-2 (J e TB) 9 45 0,5 22,5

Figura 20. Manifestações patológicas na 18ª estação. FC-3 (JE e TBE) 10 50 0,8 40

ALP, ATP, ALC,


6 30 0,9 27
ATC

O, P, E 8 40 1,0 40

EX 19 95 0,5 47,5

D 20 100 0,3 30

R 12 60 0,6 36

Figura 21. Manifestações patológicas na 19ª estação. NÚMERO TOTAL DE


ESTAÇÕES 20 20
INVENTARIADAS
ÍNDICE DE GRAVIDADE
260 260
GLOBAL (IGG)
CONCEITO DO PAVIMENTO IGG > 160 –
EM FUNÇÃO DO IGG PÉSSIMO

Após calculado o IGG, foi possível conferir


ao pavimento inventariado um conceito que
retrata o grau de degradação atingido, conforme
valores da Tabela 1 mostrada no item 3. O valor
Figura 22 Manifestações patológicas na 20ª estação.
encontrado para o trecho estudado foi de 260,
enquadrado na condição IGG>160, o que
Após o levantamento in loco, foi possível considera o pavimento de péssima qualidade.
verificar a frequência absoluta (FA), ou seja, o
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A situação retratada pode ser explicada pela Trinca


presença de trincas isoladas que são encontradas interligada de • Decorrentes de reflexão de
bloco com trincas em solo-cal da base.
em 85% do trecho avaliado, as trincas erosão e sem
interligadas com erosão em 50%, remendos erosão
presentes em 60%, exsudação em praticamente • Ação da repetição de cargas do
95%, enquanto que desgaste presente em todo tráfego;
trecho estudado. • Ação climática – gradientes
térmicos;
Na Figura 23 apresenta-se a proporção de
• Envelhecimento do ligante e
cada ocorrência a considerar o número de todas perda de flexibilidade seja pelo
as patologias encontradas ao longo de todo o tempo de exposição seja pelo
trecho. Nesta figura, verifica-se que as Trinca couro de excesso de temperatura na
manifestações patológicas encontradas em jacaré com usinagem;
erosão e sem • Falhas de execução;
maiores proporções são em 11,9% os remendos, erosão • Compactação deficiente do
19,8% desgaste, 18,8% exsudação e 16,8% são revestimento
trincas isoladas. • Deficiência no teor de ligante
asfáltico;
• Rigidez excessiva do
revestimento em estrutura com
elevada deflexão;
• Recalques diferenciais.
• Deficiências construtivas –
falhas de compactação;
• Problemas de drenagem;
Afundamento • Rupturas por cisalhamento
de consolidação localizadas;
Figura 23. Percentual das manifestações patológicas local • Misturas betuminosas de
encontradas no trecho estudado. estabilidade reduzida;
• Ação da repetição de cargas do
tráfego.
Pode-se destacar que o trecho estudado • Existência de trincas
apresenta um sistema de drenagem urbana interligadas;
deficiente e um intenso tráfego de ônibus e • Ação do tráfego;
• Fatores climáticos;
caminhões, constituindo fatores bastante • Falhas construtivas;
influentes na origem de patologias. • Deficiência na compactação;
Panela ou
Considerando-se as principais patologias • Umidade excessiva em camadas
Buraco
levantadas no estudo, a Tabela 3, subsidiado de solo;
pelos estudos de Bernucci et al. (2008), traz um • Desagregação por falha na
dosagem ou segregação.
apanhado com as principais possíveis causas • Falta de aderência entre as
para os problemas encontrados. camadas sobrepostas.
• Excesso de ligante;
Tabela 3. Possíveis causas para as patologias encontradas • Falhas construtivas;
no trecho estudado (Adaptado com base em Bernucci e • Falha na juntura entre camadas
al., 2008). superiores do pavimento;
PATOLOGIAS POSSÍVEIS CAUSAS • Movimentação do revestimento
asfáltico em razão de sua reduzida
• Falhas na execução; Escorregamento
espessura;
• Temperatura de compactação;
• Falha na compactação das
• Dosagem da mistura asfáltica;
Trincas isoladas misturas asfálticas ou da camada
• Recalques diferenciais;
de base;
• Envelhecimento do ligante
• Fluência plástica do
asfáltico.
revestimento na ocorrência de
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temperaturas elevadas como principais conslusões que:


a) No trecho analisado há um número
bastante elevado de ocorrências, sendo
predominantes o desgaste, a exsudação, trincas
isoladas e remendos, caracterizando um alto
grau de deterioração do pavimento. Neste
• Dosagem inadequada da mistura contexto, após realizados os cálculos e análises
asfáltica; do IGG, foi encontrado um valor de 260, o que
Exsudação • Temperatura do ligante acima da possibilitou indicar que a condição superficial
especificada. do pavimento se encontra em estado de péssima
• Diminuição da interação de liga qualidade;
do agregado com o material b) Diante do presente estudo, destaca-se a
asfáltico devido à combinação de importância de se realizar a avaliação do estado
oxidação do ligante, ação
dos pavimentos para identificação dos
intempérica e ação do tráfego;
• Pouca aglutinação entre problemas e aplicação de melhores alternativas
agregado e ligante devido à para restauração tendo em vista a grande
Desgaste presença de poeira ou sujeira no necessidade de melhorias da infraestrutura
período de obra; rodoviária brasileira por ser a mais utilizada e
• Execução do pavimento em
extremamente importante no desenvolvimento
condições meteorológicas
inadequadas; socioeconômico do país.
• Existência de água no interior do
revestimento;
• Carência de ligante asfáltico; AGRADECIMENTOS
• Ação intensa do tráfego;
• Agressividade das condições
Remendos ambientais; Ao Centro Universitário de Brasília (UniCEUB)
• Má qualidade dos materiais; com contribuições importantes que tornaram
• Erros de execução. possível a realização deste trabalho.

5 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS

Este estudo objetivou caracterizar as principais ABEDA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS


EMPRESAS DISTRIBUIDORAS DE ASFALTO.
patologias encontradas, bem como analisar e Manual básico de emulsões asfáltica: Solução para
avaliar o estado da superfície do pavimento um pavimentar sua cidade. 2ª ed. Rio de Janeiro:
trecho crítico com extensão de 400 m da ABEDA, 2010.
rodovia DF- 001 no Pistão Sul. Bernucci, Liedi Bariani et al. Pavimentação asfáltica:
O método utilizado para estudo foi o de formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro:
PETROBRAS: ABEDA, 2008.
avaliação objetiva da superfície de pavimentos Confederação Nacional do Transporte (CNT). Pesquisa
flexíveis da norma DNIT 006/2003-PRO que CNT de rodovias 2015: relatório gerencial. – Brasília:
estabelece procedimentos para avaliação da CNT: SEST SENAT, 2015. Disponível em <
condição superficial do pavimento do trecho http://pesquisarodovias.cnt.org.br/Downloads/Edicoes
escolhido por meio da mensuração de //2015/RelatórioGerencial/PES
QUISA_CNT2015_3nov.pdf>. Acesso em: 25 mai.
ocorrências mais aparentes e registros 2017.
fotográficos para a atribuição do indicador de ______. Ministério dos Transportes. Departamento
Índice de Gravidade Global (IGG) e classificar Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria
quanto à qualidade, e dentro dos estudos de Planejamento e Pesquisa. Instituto de Pesquisas
realizados com as devidas observações, tem-se Rodoviárias. DNIT 006/2003-PRO: Avaliação
objetiva da superfície de pavimentos flexíveis e semi-
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rígidos - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003a.


Disponível em:
<http://ipr.dnit.gov.br/normas/DNIT005_2003_TER.p
df>. Acesso em: 10 jul. 2017.
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Desenvolvimento de um Programa de Controle de Qualidade para


Fundações
Lauren Ane Dalmás Cereza
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, lauren.dalmas@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

Vanessa Wiebbelling
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, vanessawi2@hotmail.com

RESUMO: Sabendo da influência direta do elemento de fundação no desempenho de uma


edificação, desenvolveu-se um Programa de Controle de Qualidade direcionado a essas estruturas,
aplicado na sondagem, elaboração do projeto e execução de estacas, sapatas e tubulões. Essa
metodologia serve de instrumento para que a qualidade das construções seja garantida desde a
investigação geotécnica até o término da edificação com a correta fiscalização e registro das
atividades e assim, na ocorrência de manifestações patológicas, possibilita-se o norteamento das
causas ou fatores. Através da utilização do Diagrama de Ishikawa, formulou-se cinco folhas de
verificação de serviço, que viabilizam a orientação apurada do elemento de fundação, além de
certificar a competência da metodologia definida, já que expõe os vícios dos processos, qualifica o
elemento estudado nos critérios fixados e recomenda reparações correspondentes a cada situação,
evitando a reincidência dos erros.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações. Patologias. Controle de Qualidade

1 INTRODUÇÃO fundações têm origem em falhas na


investigação dos solos. No Brasil, não há
A relação entre as características geotécnicas e pesquisa oficial que aponte dados parecidos,
geológicas, o porte da edificação, a estrutura de mas sabendo que países europeus são modelos
fundação adotada e outras condições do de qualidade, pode-se comparar os dois
entorno, comprometem o desempenho de uma cenários (Milititsky et al., 2005).
edificação bem como a aplicação incorreta do Logo, identificar as causas dessas
modelo de cálculo e do método construtivo. manifestações patológicas e desenvolver um
Mesmo representando a fase inicial de uma mecanismo que evite ou, em alguns casos,
edificação, uma fundação mal planejada e corrija as patologias, traz consideráveis
indevidamente executada ocasiona problemas contribuições tanto para os usuários das
que se prolongam anos após sua conclusão, edificações, empreendedores e construtores, que
assim como sua identificação e tratamento. remediarão futuros inconvenientes construtivos,
Geralmente os investimentos no reparo e/ou como também no âmbito científico, já que nas
recuperação de estruturas de fundação são condições atuais os problemas são detectados à
superiores aos gastos na execução do longo prazo, impossibilitando que soluções
empreendimento, variando de 3 a 6% do valor práticas, viáveis e baratas sejam tomadas.
total, e em obras de grande porte com solos Considerando o exposto, desenvolveu-se um
ruins pode chegar a 15%. Na França mais de Programa de Controle de Qualidade para
80% das manifestações patológicas de fundações, através da aplicação da metodologia
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do Diagrama de Ishikawa. O estudo resulta na ponderando todos os processos em busca de


elaboração de Folhas de Verificação de Serviço possíveis melhorias.
para a coleta e observação de dados dos Assim, para que seja apontado o principal
mecanismos deflagradores, possibilitando uma responsável promovendo a correção da falha, as
ação mais qualificada de todos os envolvidos no patologias apuradas foram organizadas e
procedimento. classificadas por Wiebbelling (2014) de acordo
com a fase em que são cometidas, seja no
projeto, na execução ou no período após a
2 QUALIDADE NAS FUNDAÇÕES conclusão. Apontam-se todas as sub-causas
potenciais constatadas nas três fases do
2.1 Fundações e ferramentas de controle de processo, classificando-as em: mão de obra,
qualidade meio ambiente, material, método, máquina e
medida, que consiste, portanto, na aplicação do
Segundo Caputo (1988) um dos maiores riscos método do Diagrama de Ishikawa.
que pode ocorrer na construção civil é iniciar
uma obra sem conhecimento suficiente do 2.2.1 Patologias relacionadas à fase de
terreno, especificamente da rocha ou solo que o investigação geotécnica e projeto
compõe. Com base nessa afirmação, Velloso e
Lopes (2010), mencionam os elementos Para a fase de projeto e investigações
necessários para que ocorra o desenvolvimento geotécnicas, Wiebbelling (2014) apresenta que
eficiente do projeto de fundações bem como a as causas das manifestações patológicas durante
garantia mínima de qualidade: conhecimento da a sondagem podem ser atribuídas à mão de obra
topografia da área, dados geológico- utilizada, à ausência da investigação do solo ou
geotécnicos, dados sobre construções vizinhas e a sua realização em local diferente, resultado da
dados da estrutura a ser construída. falta de planejamento. Além disso, pode ocorrer
De acordo com Ishikawa (1993, apud de ser realizada quantidade insuficiente de furos
Alencar, 2008), a qualidade é definida como a de sondagem ou realização com uma
rápida percepção e satisfação das necessidades profundidade insuficiente. Há também a
do mercado, com a adequação ao uso e ocorrência de erros na interpretação dos dados
homogeneidade dos resultados de todo obtidos na sondagem, resultando na falta de
processo, possibilitando desenvolver, projetar, detalhamento das propriedades, caracterização
produzir e comercializar um produto com errônea do solo local e adoção de valores não
características mais econômicas, úteis e representativos.
satisfatórias para o consumidor. Milititsky et al. (2005), apontam que na fase
de projeto, as patologias podem resultar da
2.2 Diagrama de Ishikawa interpretação incorreta ou da falta de indicação
dos ensaios de sondagem ou do
A escolha do Diagrama de Ishikawa para o dimensionamento equivocado do elemento
estudo das manifestações patológicas nas estrutural, associado a erros na determinação
fundações se dá pela facilidade em representar das cargas atuantes, emprego de solicitações
fatores de influência sobre certo problema. superficiais para fundações profundas,
Segundo o SEBRAE (2005), esta ferramenta é utilização de diferentes elementos de fundação
muito utilizada para análise de defeitos numa mesma estrutura, uso de fundações com
organizacionais, pois possibilita visualizar as comportamento diferenciado sem avaliação dos
causas principais e secundárias de uma efeitos de carregamentos especiais, uso de
determinada falha, ampliar a visão das possíveis solução estrutural que não equilibra as forças
causas de um problema, enriquecendo a sua horizontais pela fundação ou cálculo incorreto
análise e a identificação de soluções de grupo de estaca. Dimensionamento incorreto
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das armaduras, desonhecimento dos efeitos dos 2.2.2 Patologias relacionadas à fase de
deslocamentos proporcionais ao diâmetro das execução
estacas com o emprego de valores.
As causas das patologias podem ocorrer pela Wiebbelling (2014) destaca nessa fase as falhas
atuação do próprio elemento de fundação relacionadas à falta de qualificação e/ou
quando sofre interferência de outra solicitação experiência dos responsáveis pelo serviço,
desconhecida que altera as tensões na massa de como erros no recebimento do concreto, pela
solo gerando sobreposição de esforços. falta de conferência, falta de rastreabilidade ou
Ocorrência de deformação do corpo do aterro baixa qualidade constatada no canteiro de
causado pelo peso gerado na transferência de obras, problemas na concreteira, dosagem
carga da superestrutura e influencia de incorreta do concreto, inexistência de lacre no
elementos adjacentes incorretos (Milititsky et caminhão etc.
al., 2005). No lançamento ocorrem problemas na cura,
Segundo Milititsky et al. (2005), deve-se vibração e o adensamento incorreto do concreto
considerar a ausência de equipamentos ou paralisação por longos períodos de tempo da
apropriados para o detalhamento das amostras concretagem. Locação incorreta dos elementos,
de solo bem como a utilização dos mesmos fora falta de verificação do prumo e da
da especificação, com defeito ou não profundidade, substituição do solo de sondagem
calibrados. Falta de conhecimento para a por outros solos ou outros materiais, erros na
realização dos ensaios, com a utilização de execução do aterro e do elemento de fundação
modelos simplificados indevidos, uso de projeto com dimensões e geometria incorretas
otimista desconsiderando camadas menos (Milititsky et al., 2005).
resistentes, compressíveis ou lençol d’água e Para Segundo Milititsky et al. (2005), os
uso de correlações empíricas e semi-empíricas problemas na execução das sapatas podem ser
não adequadas a cada situação (Milititsky et al., causados pelo amolgamento no fundo da vala,
2005). quando são locadas sobre canalizações, falta de
Ainda segundo os autores, a grande regularização do concreto magro ou a sua
variedade das propriedades do solo compromete execução incorreta. Ausência da adoção de uma
o sistema de fundação caso desconsiderada as solução adequada na presença de água durante a
características individuais de cada trecho. concretagem. Problemas também nas armaduras
Planejamento do aterro feito de maneira seja pela má execução, ausência de
incorreta, presença de vegetação, espaçadores, com estribos mal posicionados,
colapsibilidade, expansibilidade, zonas de insuficientes, incoerentes com o projeto ou pelo
mineração, zonas cársticas, presença de posicionamento incorreto da armadura no
matacões também são exemplos de interferência elemento de fundação.
do meio no elemento de fundação. Pode ocorrer Nas fundações profundas citam-se os erros
a existência de camadas rochosas superficiais na locação, pela presença de matacões não
insolúveis que escondem as cavidades verificados na sondagem, gerando o
inferiores. deslocamento ou desvio na execução ou
Os problemas de medição correspondem à inclinação incorreta da fundação. Ausência da
falta de monitoramento por engenheiro ou lama bentonítica ou de qualquer outro
responsável técnico na sondagem, a falta do revestimento, utilização tardia ou a ausência do
estudo e análise da área da obra, controle da tremonha, falta de proteção da
desconsiderando os efeitos gerados pela cabeça da estaca causada por obstruções e
edificação e pelo seu entorno (Milititsky et al., emendas inadequadas (Milititsky et al., 2005).
2005). Ainda segundo os autores, em estacas
metálicas, ocorrem problemas de soldagem
entre elementos, emenda mal executada, uso de
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elementos muito esbeltos em solos muito moles do operário.


e presença de obstruções. Utilização de Como verificado, muitas falhas na execução
elementos sem ter atingido a resistência são derivadas do uso do concreto inadequado,
necessária, erros no manuseio, descarga e resultando em problemas de integridade e
colocação do equipamento de cravação e continuidade. Podem ocorrer falhas causadas
armaduras mal posicionadas. pelo próprio elemento de fundação, como por
Nas estacas Franki, o estrangulamento do exemplo: compactação excessiva do solo pelo
fuste, injeção de uma quantidade inferior de próprio elemento de fundação, levantamento de
concreto na base da estaca, falta de cuidado no elementos já cravados pela cravação de outros.
levantamento do tubo, com altura de segurança Nas estacas Mega, deficiência de resistência do
incorreta do concreto, má utilização dos elemento no qual está sendo apoiada ou a má
agregados, inexistência de ancoragem da vinculação dos elementos macaqueados.
armadura da base, quando há a possibilidade de Ausência de equipamento com a substituição
levantamento da estaca pela cravação de outra da fundação por equivalente e uso de
nas proximidades. Nas do tipo Ômega, pode-se equipamentos sem capacidade. Em estacas
citar a falta de controle da execução, com cravadas, pode acontecer a falta ou o excesso de
excesso de velocidade de subida da ferramenta. energia de cravação e utilização do capacete da
Já as estacas do tipo Mega requerem uma estaca fora do centro de gravidade, causado o
equipe mais experiente, pois consistem em choque excêntrico do martelo. Em estacas
processos de reforço e a falta de qualificação escavadas, a ferramenta de escavação pode
compromete esse processo (Milititsky et al., gerar o amolgamento ou recobrimento do fuste,
2005). pela remoção do solo durante introdução do
Os principais problemas ocasionados nas trado, aliviando as tensões horizontais e
estacas escavadas são: falta de controle da reduzindo a resistência lateral (Milititsky et al.,
concretagem, dosagem incorreta do concreto, 2005).
paralisação na concretagem, armaduras Porém, a grande parte dos erros nesta etapa
posicionadas incorretamente, ausência ou está relacionada à falta de experiência e
limpeza incorreta do material excedente na qualificação dos profissionais envolvidos na
ponta da estaca, desmoronamento das paredes execução, resultando na escolha equivocada do
causado pela falta de proteção ou execução sistema adotado, uso indevido em terrenos
incorreta escavação, execução de estacas instáveis ou abaixo do nível d’água, bem como
próximas a elementos recém concretados em o uso incorreto de soluções, sem justificativa e
solos moles, escavação de muitas estacas para não padronizadas. Já os problemas causados
só depois serem concretadas, retirada pelo meio ambiente são resultados da presença
descontrolada do revestimento, falta de de água na cava, elevação da pressão neutra e
pressurização na concretagem (Milititsky et al., amoldagamento de solos argilosos saturados,
2005). alteração no diâmetro da estaca ou
Milititsky et al. (2005), relata que os erros seccionamento do fuste em razão do solo ser
que compreendem a execução de tubulões são muito mole e instável, ocorrência de rochas
causados pela falta de limpeza do material da desintegradas com baixa resistência e
base do tubulão, insuficiência de armaduras, artesianismo (Milititsky et al., 2005).
utilização incorreta de pedras de mão e ausência Segundo Milititsky et al. (2005), ainda
da armadura de fretagem. Entretanto, em razão relatam a falta de rastreabilidade do concreto,
do risco apresentado na execução dos tubulões, falta de controle dos processos de
a falta ou deficiência dos procedimentos de escavação/cravação, do posicionamento de
segurança e a não utilização de EPI’s armaduras e dos volumes concretados no
designados para esta operação geram problemas decorrer do processo, da preparação do
gravíssimos, comprometendo a saúde e a vida elemento estrutural depois de executado,
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inexistência ou falha nos processos de documentos que orientam a busca pelo


verificação de integridade estrutural de atendimento a padrões de qualidade, avaliando
fundações profundas e não realização de provas serviços, dimensões, aspectos visuais, defeitos,
de carga. etc. São tabelas, planilhas ou listas de itens pré-
definidos usados para facilitar a certificação de
2.2.3 Eventos pós-conclusão que os procedimentos foram devidamente
tomados e analisados. Schlittler (2013) afirma
Wiebbelling (2014) relata que os problemas que que as folhas de verificação tem por finalidade
surgem em uma obra já concluída podem ser inspecionar para aprovar ou reprovar um
causados pela alteração do uso da edificação e produto, monitorar para acompanhar o
reformas ou ampliações não previstas no desempenho de uma atividade e controlar para
projeto original. Oscilações no nível d’água ou minimizar as perdas.
extravasamento de grandes coberturas sem
sistema eficiente de descarga, rompimento de
canalizações enterradas, execução de 3 METODOLOGIA
escavações não protegidas ou que acabam
causando movimentação das massas de solo Com a aplicação do Diagrama de Ishikawa e
com perda de material e rebaixando o lençol analisado o comportamento das falhas
d’água. apresentadas por Silva (1993) acometidas em
Na execução de estacas ou compactação do cada etapa, elaborou-se os gráficos da Figura 1,
solo nas proximidades aponta-se o uso de que demonstram os principais agentes/fatores
equipamentos por esforço dinâmico, causadores de manifestações patológicas em
vibratórios, com grandes energias de impacto, fundações no Rio Grande do Sul.
uso de grandes alturas na queda do martelo, uso
de estacas excessivamente grandes, execução
incorreta da fundação, gerando instabilidade do
talude, escavação de túneis e realização de
explosões nas proximidades (Milititsky et al.,
2005).
Segundo Milititsky et al. (2005), ainda
relatam que pode ocorrer a degradabilidade do
elemento de fundação causada pela baixa
qualidade dos materiais utilizados na execução.
Variação das condições do lençol freático,
erosão, solapamento, presença de vazios no solo
gerada por animais. O rebaixamento do lençol
freático causa uma diminuição da pressão
neutra aumentando a pressão efetiva, provocada
pelo peso do solo e que pode gerar um aumento
na pressão do solo. Porém, o principal fator a
ser observado nesta etapa é a manutenção
correta e o controle de recalque, desaprumo e
fissuras que, se não executada, acarreta sérios
problemas futuros.

2.3 Fichas de Verificação de Serviço


Figura 1. Eventos relacionados às fases de projeto,
As Fichas de Verificação de Serviço são execução e pós-conclusão.
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Com a análise dos dados é possível concluir


Verifica-se que na fase de projeto 58% dos que o principal agente causador das patologias
problemas estão relacionados à falha na coleta e nas fundações é a mão de obra utilizada na
interpretação dos dados, erros no execução dos elementos de fundação.
dimensionamento e uso de soluções Relacionando esses dois resultados, tem-se
inadequadas, decorrentes da utilização de como objeto de estudo, o controle da mão de
modelos de cálculo genéricos adotando valores obra da execução. Como as patologias
não representativos e determinação das provenientes do projeto possuem valor
características do solo superestimando seu considerável, também faz-se o estudo para o
comportamento. O meio-ambiente está na controle das atividades desta fase.
sequência, com 15%, isso porque os fatores
naturais são, na maioria das vezes,
imprevisíveis, não sendo possível de ser 4 DESENVOLVIMENTO DO
constatado por meio de investigações. PROGRAMA DE CONTROLE DE
Na fase de execução cerca de 70% das QUALIDADE
patologias são motivadas pela mão de obra
inadequada. Na sequência, estão os problemas Para a montagem de uma Folha de Verificação
causados pela medição, oriundos da falta de de Serviço, fez-se o estudo da pesquisa
fiscalização e acompanhamento dos processos. realizada por Wiebbelling (2014) que
Com os mesmos 7% do agente medição, o desenvolveu uma árvore de falhas de patologias
material também compromete a qualidade do em fundações, sendo correlacionada às
produto final, em virtude do desconhecimento ocorrências dos agentes e fatores apontados na
da relação solo-ambiente, resultando em classificação dos eventos pela ferramenta de
movimentações ou deformações não previstas qualidade a partir do estudo de Milititisky et al.
nem consideradas no dimensionamento. (2005).
Já na fase de pós-conclusão do elemento de
fundação pode-se constatar que a maioria das 4.1 Elaboração das Fichas de Controle de
falhas nas fundações é causada pela mão de Serviço
obra. Nesta fase, porém, a mão de obra
analisada é indireta, afinal o elemento de As fichas consistem em planilhas individuais,
fundação já está finalizado. A partir dessas preenchidas no momento da realização das
constatações, direciona-se o estudo segundo os atividades por um responsável técnico presente
dados da Figura 2. (SILVA, 1993). e atuante na obra. Formulou-se 5 Fichas de
Verificação de Serviço para as etapas de
sondagem, elaboração do projeto e execução, de
acordo com o tipo de processo executivo,
podendo ser sapata, estaca ou tubulão.
Informações como local da obra,
identificação do furo ou do elemento de
fundação, nome do responsável técnico, da
equipe e da empresa contratada, data e hora da
realização, conferente, etc., deverão ter
preenchimento obrigatório. Após está etapa,
apresenta-se o questionário, disposto na ordem
de execução, com perguntas enumeradas,
Figura 2. Relação entre fase da obra e ocorrência algumas devendo atender um parâmetro
patológica estabelecido. A primeira ficha corresponde a
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fase de investigação geotécnica, conforme


apresentado na Figura 3.

Figura 5. Ficha de verificação de serviço: Estacas.

Considerando a diversidade de tipos de


estacas e a complexidade na execução, a ficha
de verificação para este tipo de fundação aborda
Figura 3. Ficha de verificação de serviço: Sondagem. de maneira abrangente as principais etapas para
a supervisão do serviço. Pode-se observar que
Já para a fase de elaboração do projeto, a há uma maior quantidade de tópicos a serem
ficha desenvolvida corresponde a Figura 4. seguidos, já que, conforme o estudo realizado
existe uma grande concentração de falhas na
mão de obra.

4.2 Critérios de elaboração e análise das fichas

Cada questão apresenta uma lacuna que indica


conformidade, inconformidade ou não aplicação
do tópico analisado, a ser preenchida de acordo
com a observação feita em relação às normas
técnicas disponíveis. Cada questão contém uma
coluna denomina SC, do inglês score, onde
estão determinadas as pontuações 1, 2 ou 3 em
relação a importância (ponderação) de cada
Figura 4. Ficha de Verificação de Serviço: Projeto. uma, conforme a Figura 6.
Nesta ficha é definido o tipo de estrutura de
fundação adotada, de acordo com os dados
obtidos na sondagem, dimensionamento e
elaboração do projeto. Depois de estabelecido o
sistema de fundação, utiliza-se uma das 3 fichas
destinadas a execução. A Figura 5 aborda a
execução de estacas.

Figura 6. Parâmetro e avaliação (sondagem).


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Esse método é baseado em outros sistemas compara-se aos valores mínimos disponíveis na
(DNIT 008/2003 – PRO) que atribuem, de Tabela 2.
modo subjetivo, um determinado peso de
acordo com a incidência ou o tipo de problema Tabela 2. Parâmetro para aprovação do elemento de
fundação.
encontrado. No caso do Programa de Controle ETAPA PONTOS RESULTADO
de Qualidade para Fundações, estabeleceu-se a Ensaio de sondagem aprovado.
≥ 27
seguinte pontuação, conforme Tabela 1. Liberada a execução das
PONTOS
próximas etapas do projeto,
Ensaio de sondagem reprovado,
Tabela 1. Peso da pontuação atribuída. pois não seguiu as mínimas
IMPORTÂNCIA DESCRIÇÃO SONDAGEM condições de dimensionamento e
Caso não executado ou executado incorretamente
< 27 execução especificadas na norma.
em relação ao parâmetro de controle de qualidade
1 (BAIXA)
e às normas técnicas, este não influenciará
PONTOS Recomenda-se a análise do laudo
diretamente na eficiência do produto final. de sondagem e estudo da
Caso não executado ou executado incorretamente possibilidade de ser realizado
em relação ao parâmetro de controle de qualidade outro ensaio de investigação.
2 (MÉDIA)
e às normas técnicas, este poderá resultar em Projeto de fundação aprovado.
problemas consideráveis no produto final. ≥ 18
Liberada a execução das
O não cumprimento ou o cumprimento PONTOS
próximas etapas do projeto.
inadequado conforme parâmetro de qualidade e PROJETO Projeto de fundação reprovado.
3 (ALTA)
normas técnicas resultará em sérios problemas, DE
comprometendo ou condenando o produto final.
Deve-se considerar a reanálise da
FUNDAÇÃO < 18
estrutura e das cargas com o
PONTOS
redimensionamento do sistema de
Depois de realizada a fiscalização e de fundação.
respondidos os questionários, somam-se os Execução da sapata aprovada.
≥ 28
Liberada a execução das
pontos dos itens em conformidade e na PONTOS
próximas etapas do projeto.
existência de irregularidade ou alguma Execução da sapata reprovada
observação específica, faz-se uma análise EXECUÇÃO provisoriamente até que sejam
SAPATA tomadas as devidas providências
rigorosa do elemento executado. Com o < 28 tanto em relação à correção das
somatório desses pontos é possível então, PONTOS medidas dos executores, bem
conferir um parâmetro de aprovação ou como a adoção de ação
reparatória ou reforço estrutural.
reprovação para cada uma das fichas.
A partir disso, padronizou-se o cumprimento Execução da estaca aprovada.
≥ 35
e monitoramento de cada etapa da fundação, PONTOS
Liberada a execução das
próximas etapas do projeto.
por meio da normalização dos procedimentos,
Execução da estaca reprovada
acompanhamento das atividades, elaboração de EXECUÇÃO provisoriamente até que sejam
documentos assegurando a rastreabilidade dos ESTACA
< 35
tomadas as devidas providências
processos, implantação de práticas corretivas e tanto em relação à correção das
PONTOS
medidas dos executores, bem
reavaliação do sistema de qualidade aplicado, como a adoção de ação
mantendo e garantindo sua competência. reparatória ou reforço estrutural.
A reunião de todos esses itens básicos Execução do tubulão aprovada.
≥ 44
Liberada a execução das
proporciona o mínimo de qualidade possível PONTOS
próximas etapas do projeto.
para a eficiência de um elemento de fundação, Execução do tubulão reprovado
resultando na aprovação ou, caso EXECUÇÃO provisoriamente até que sejam
TUBULÃO tomadas as devidas providências
descumprimento dos mesmos, na reprovação, < 44
tanto em relação à correção das
PONTOS
de acordo com a Tabela 2. medidas dos executores, bem
São determinados valores mínimos, pois, como a adoção de ação
reparatória ou reforço estrutural.
alguns sistemas de fundação apresentam
particularidades que devem ser consideradas
apenas se estes forem utilizados. A partir da De acordo com o resultado, é necessário
pontuação atribuída e da somatória realizada, verificar as informações também dispostas
nesta tabela, seja na liberação do elemento para
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as próximas etapas da obra ou na análise das Manual Simplificado para aplicação do


incoerências, redimensionamento ou suspensão Programa de Controle de Qualidade podem ser
das atividades dependendo da precariedade dos encontrados no endereço eletrônico:
resultados obtidos. <https://drive.google.com/file/d/1dsgzNkRqs
Xsc36tTVwtnTeYeeavpKU36/view>
4.3 Validação do Programa de Controle de
Qualidade
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para comprovar a eficiência do Programa de
Qualidade, os questionários de verificação Apesar do foco do estudo ser a prevenção da
foram aplicados em duas obras. Na obra X ocorrência de erros nas estruturas de fundação
aplicaram-se as fichas de sondagem, projeto e para o perfeito desempenho do produto final a
execução de estacas e na obra Y apenas a ficha ser entregue, o controle de qualidade na
de execução das estacas. construção civil está relacionado
Na obra X, o elemento de fundação principalmente com o acompanhamento e
inspecionado teve sua execução reprovada fiscalização de todos os processos executivos.
provisoriamente, pois não atingiu o mínimo Desenvolveu-se assim um Programa de
estipulado pelo Programa de Controle (35 Qualidade para Fundações para que se pudesse
pontos), onde obteve pontuação 28. mais facilmente identificar e intervir na fonte
Considerando os resultados obtidos na inspeção principal do problema.
deve-se prosseguir com a aplicação de uma Com a aplicação do Programa em duas obras
ação corretiva. Na sondagem, mesmo de fundação, pode-se verificar a eficiência do
compreendendo uma análise indireta, já que o mesmo, pois atendeu satisfatorimante os casos
conferente não esteve presente no processo de analisados, apontando as falhas no processo,
investigação geotécnica, fez-se um estudo documentando-as e sugerindo soluções
subjetivo dos dados obtidos apenas para a corretivas. O estudo foi desenvolvido para
comprovação da eficiencia do programa, suprir as necessidades de obras públicas
levando a aprovação desta fase. financiadas, onde é exigido um controle rígido
O mesmo aconteceu com a inspeção do de todas as atividades que compõe uma obra.
projeto, afinal não se teve acesso a alguns dados Mas, considerando que os programas existentes
fundamentais para a realização exata da análise (PBQP-h) somente visam a gestão das
como, por exemplo, o projeto estrutural, pois a estruturas de concreto sobre o solo, objetivou-se
empresa responsável pelo projeto de fundações a fomulação de um mecanismo para fundações.
não pode disponibilizá-lo, o que resultou na Deve-se considerar que este trabalho
reprovação desta etapa. Na prática, na consiste em um estudo inicial da elaboração e
ocorrência de uma situação parecida, posterior aplicação de um Programa de
recomenda-se a reanálise por outro profissional Controle de Qualidade para Fundações. Porém,
ou em situações extremas, o com um futuro desenvolvimento do estudo, os
redimensionamento do projeto de fundações. valores aqui definidos poderão ter alterações, a
Na obra Y foi aplicada somente a ficha da fim de se ajustarem melhor à realidade.
execução da fundação em estacas, podendo
constatar que, sendo 35 o número mínimo de
pontos para uma condição razoável de
qualidade, o elemento de fundação analisado
obteve pontuação 35, tendo sua execução
aprovada conforme o parâmetro estipulado
neste Programa de Controle de Qualidade.
As Fichas de Verificação de Serviço e o
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e Semirrígidos - Norma DNIT 008/2003 - PRO. Rio
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Milititsky, J. (2005). Patologia das Fundações / Jarbas
Milititsky, Nilo Cesar Consoli, Fernando Schnaid.
São Paulo: Oficina de Textos.
Schlittler, C.A. Ferramentas da Qualidade – Folha de
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<http://koeso.com.br/2013/10/ferramentas-da-
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<http://www.dequi.eel.usp.br/~barcza/FerramentasDa
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Silva, D. A. (1993). Levantamento de Problemas em
Fundações Correntes no Estado do Rio Grande do
Sul. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
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investigação do subsolo, fundações superficiais,
fundações profundas/Dirceu de Alencar Velloso,
Francisco de Rezende Lopes. São Paulo: Oficina dos
Textos.
Wiebbelling, V. (2014). Desenvolvimento de Uma
Árvore de Falhas de Patologias em Fundações.
Trabalho de Conclusão de Curso. Engenharia Civil.
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel/PR.
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Dimensionamento de Drenos Horizontais Profundos para


Estabilização de Pilha de Estéril
Aline de Almeida Marques
DF+, Belo Horizonte, Brasil, amarques@dfmais.eng.br

Mateus Franco Sabadini


DF+, Belo Horizonte, Brasil, msabadini@dfmais.eng.br

Jeanne Michelle Garcia Castro


VALE, Nova Lima, Brasil, jeanne.castro@vale.com

RESUMO:
O presente artigo aborda o estudo de caso em uma Pilha de depósito de estéril (PDE) de mineração
de ferro, cujo nível freático e as condições hidrogeológicas estão relacionados com o mecanismo de
ruptura. O trabalho apresenta a metodologia e o procedimento de dimensionamento de um sistema
de drenos horizontais profundos (DHP), com a finalidade de promover o rebaixamento do lençol
freático e por conseguinte elevar o do fator de segurança da estrutura, garantindo aderência à norma
de estabilidade em epígrafe.

PALAVRAS-CHAVE: Rebaixamento Freático, DHP, Pilhas de Estéril, Estabilidade.

1 INTRODUÇÃO foi ajustado de forma a se obter convergência


com a série de dados históricos de instrumentos
O rebaixamento do nível freático por meio de de monitoramento.
drenos horizontais profundos (DHP) é uma De posse das vazões de projeto, o
alternativa econômica e de baixo impacto dimensionamento do número de DHP’s foi
ambiental para a estabilização de taludes definido com base na teoria proposta por
quando comparado com técnicas comumente Manning que estabelece a capacidade de vazão
praticadas como retaludamento ou bermas de do elemento drenante.
equilíbrio. Contudo, ainda que de grande
relevância geotécnica, é um tema pouco 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
abordado em relação à metodologia de cálculo, DE CASO
aplicabilidade e casos históricos bem-sucedidos.
Este trabalho tem como objetivo apresentar A Pilha de Estéril (PDE), objeto de estudo do
uma abordagem metodológica para presente artigo, está localizada no Quadrilatero
dimensionamento de drenos horizontais Ferrifero em Minas Gerais, Brasil. Sua
profundos para estabilização de uma Pilha de construção se deu entre a década de 80 e 90
estéril. A metodologia aqui apresentada irá com a finalidade de dispor o estéril proveniente
abordar o dimensionamento do número de da lavra de minério de ferro.
drenos necessários, o diâmetro, a inclinação e a A partir de 2010 foram identificados
profundidade dos drenos. movimentos superficiais progressivos nos
As vazões de projeto foram definidas a partir bancos inferiores da Pilha. Atualmente, as
de um modelo númerico que simulou a inspeções de campo não identificam maiores
percolação de fluxo através da Pilha. O modelo movimentações.
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Foram executadas investigações geológico- Pilha. Cabe salientar que a percolação


geotécnicas que possibilitaram a identificação e observada na bancada mais inferior indica ser
intepretação do material depositado, da um ponto de convergência das outras
fundação e da bacia de sedimentos à jusante da percolações observadas nas demais bancadas
Pilha. Os materiais dispostos nas primeiras estudadas e que ainda coincide com o fundo do
etapas de construção são compostos por talvegue onde a Pilha foi implantada.
material fino, com presença de blocos. O
material mais superficial é constituído por
blocos e fragmentos compactos, associados à
uma matriz de material desagregado, cuja
granulometria varia de areia fina a grossa.
A fundação da PDE é caracterizada por solo
de alteração (solo residual a saprolito) à rocha
alterada de filito/xisto. Sotoposto ao saprolito
observa-se uma sericita Xisto com resistência
R2, com grau de fraturamento de 4 a 5, grau de
consistência de 3 a 4 e grau de alteração 3 e
espessura em torno de 10m. Com o aumento da
profundidade identifica-se um ganho de Figura 1. Resultado do levantamento geofísico (SP). (a)
resistência. Bancada 1050 (b) Bancada 1090 m (c) Bancada 1030 m.
Nos registros de construção da Pilha, não
existe menção à drenagem interna e nas 3 DIMENSIONAMENTO DOS DHP’S
investigações de campo executadas não foi
identificada a existência da mesma. 3.1 Recarga do Lençol

2.1 Levantamento Geofísico Para determinar o volume de água que entra na


região onde foram observadas rupturas, foram
A fim de verificar a espessura do estéril realizadas análises computacionais de
depositado, as regiões saturadas e pontos de percolação, baseadas no Método de Elementos
percolação de água subterrânea na Pilha, foi Finitos (MEF). As condições de contorno foram
realizado o levantamento geofísico da área por determinadas a partir da avaliação das
meio dos métodos elétricos (Eletrorresistividade condições observadas em campo e, além disso,
e Potencial Espontâneo). Foram adquiridas 3 em função dos registros de carga piezométrica
(três) seções, nas bancadas 1030, 1090 e 1150 dos instrumentos de monitoramento instalados
para a aquisição do Caminhamento Elétrico na Pilha, tais condições são exibidas na Figura
(CE) e aquisição do Potencial Espontâneo (SP). 2. Carga Carga Piezométrica
Piezométrica: dos instrumentos
Os resultados de aquisição do SP são exibidos 1129 m
na Figura 1.
Carga
Por meio da avaliação dos resultados pode-se Piezométrica: 946 m
inferir que no interior da Pilha existem duas
direções de fluxo, sendo uma de direção NE-
SW e outra de direção NW-SE. A recarga dos
fluxos observados está associada possivelmente
ao nível d’água da Cava e do Dique, estruturas
localizadas à montante da Pilha. Essas Figura 2. Modelo Numérico.
informações contribuíram para a interpretação e
entendimento das condições hidrogeológicas da O modelo numérico foi elaborado por meio
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do software Slope/W e Seep/W, versão 2012. A


análise do fluxo através de solos saturados e
insaturados usando modelos numéricos é um
problema altamente não-linear que requer
técnicas iterativas para obter soluções. A
convergência numérica é, consequentemente,
uma questão fundamental. Um modelo
numérico o é uma réplica de algum objeto ou
sistema do mundo real. É uma tentativa de levar
nossa compreensão do processo (modelo Figura 4. Percolação de Fluxo – Simulação do
rebaixamento com DHP´s – Vazão específica
conceitual) e traduzi-lo em termos matemáticos.
”National Research Council Report (1990).
Com a vazão específica total multiplicada
As seguintes hipóteses/premissas foram
pela faixa de abrangência da Pilha, que
consideradas válidas para elaboração do modelo
corresponde a 200 m de comprimento, obtem-se
de percolação:
uma vazão total igual a 0,28m³/s, a Tabela 1
• Anisotropia de permeabilidade para o estéril
resume o resultado alcançado.
(KV/ KH=10).
• Isotropia de permeabilidade para a fundação. Tabela 1. Vazão obtida do modelo numérico.
• Parâmetros de permeabilidade obtidos dos Vazão da Análise de Percolação
ensaios de permeabilidade em campo.
c Comprimento (m) 200
Depois de obtida a convergência nas
simulações de percolação de fluxo, foram q1 Vazão específica (m³/s/m) 0,0014
introduzidas, no modelo computacional, Qd Vazão na Pilha (m³/s) 0,28
condições de contorno com pressão zero para
simular os DHP’s em funcionamento ( Com a finalidade de verificar o resultado
Figura 3). O comprimento dos DHP’s foi obtido no modelo anterior, foi realizada uma
estabelecido até atingir o rebaixamento do análise de fluxo transiente para simular a
lençol freático que proporcione um fator de introdução dos DHP’s no modelo. Para isto
segurança adequado à estrutura. foram inseridas condições de contorno que
permitem especificar a vazão de saída do
Pressão Zero sistema. Para essas condições de contorno, foi
atribuída a vazão total igual a 0,0014 m³/s/m
(q1), mesma vazão obtida na análise
apresentada na Figura 4. A simulação
supracitada é exibida na

Figura 3. Percolação de Fluxo – Simulação do


rebaixamento com DHP´s – Pressão Zero.

A Figura 4 exibe a vazão específica total (q1)


obtida no modelo númerico, cuja soma total é
0,0014 m³/s/m. Figura 5, quando o nível freático não apresenta
mais variações, ao final de 15 dias.

Saída de Vazão
q1=-0,0014m³/s/m
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Tabela 2. Cálculo da capacidade de vazão de um DHP.


Características
R Raio (m) 0,038
P Perímetro (m) 0,241
n Manning 0,009
A Área (m²) 0,0046
Figura 5. Percolação de Fluxo – Simulação do
rebaixamento com DHP´s – Saída de Vazão Rh Raio Hidráulico (m) 0,0192
I Declividade 0,1
Esta análise permitiu avaliar o rebaixamento QDHP Vazão por dreno (m³/s) 0,012
do nível freático, o tempo necessário para o q Vazão específica por dreno (m³/s/m) 5,8E-05
rebaixamento, o fator de segurança de
estabilidade ao atingir o nível freático final e, Deste modo, o número de DHP’s necessários
ainda, mostrou convergência com os resultados para drenar a vazão de projeto foi calculado de
obtidos na análise anterior. acordo com a seguinte equação.

3.2 Número de drenos Qd


N= * FS (2)
Q DHP
Segundo Long (1996), o dimensionamento do
DHP pode ser baseado na teoria proposta por
Manning, que estabelece a capacidade de vazão Dado que,
do elemento de drenagem, calculada segundo a N= Número de DHP’s;
seguinte equação: FS= Fator de segurança.

Tabela 3. Número de DHP’s


2 1
A Número de Drenos
Q= * R 3 * S2 (1)
(n) F.S. Fator de Segurança 2,5
QDHP Vazão por dreno (m³/s) 0,012
Dado que,
N Número 60
Q= Capacidade de drenagem do DHP (m³/s);
A= Área da seção transversal do dreno (m²);
R= Raio hidráulico do dreno = área / perímetro O fator de segurança de 2,5 adotado no
molhado (m); projeto, conforme recomendado pela NBR
S= Declividade do dreno; 13.029, em razão das incertezas relacionadas à
n= Coeficiente de rugosidade. estimativa da vazão no tubo, a eficiência dos
furos do tubo, a permeabilidade dos materiais e
Para um dreno de PVC de diâmetro de 3” o método de cálculo. Portanto, para a vazão de
(7,68 cm), com declividade de implantação de 0,28 m3/s, será necessária a implantação de 60
10%, a vazão calculada para cada DHP foi de drenos ao todo.
0,07 m3/s, conforme detalhado na Tabela 2.
3.3 Número de Furos nos DHP’s

A partir da teoria dos orifícios, proposto por


Baptista e Lara (2010), tem-se que a vazão
gerada para um dado número de orifícios pode
ser descrita pela equação abaixo:

Q = Cd * nA * 2 * g * h (3)
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dos drenos. O modelo numérico é mais


Dado que, assertivo quando baseado em investigações e
Q= Vazão de projeto (m3/s); observações de campo.
Cd = Coeficiente de descarga; As diferentes metodologias utilizadas no
A = Área de seção do orifício; modelamento numérico para simulação do
g = Aceleração da gravidade (m/s2); rebaixamento do lençol freático se mostraram
h = Altura da lâmina de água; compatíveis devido à convergência dos
n= número de orifícios. resultados.
Com o rebaixamento do lençol freático
Adotou-se o coeficiente de descarga igual a através dos DHP’s, foi possível alcançar o fator
0,55, furos com diâmetro igual a 0,0127 m e de segurança adequado para a Pilha, em
altura da lâmina de água de 1,0 m. A vazão de aderência à norma NBR 13029:2017. A
projeto adotada é a vazão por dreno (QDHP) utilização de DHP’s proporcionaram uma
igual a 0,012 m³/s. A Tabela 4 exibe o solução eficiente e com redução no custo de
dimensionamento do número de furos. implantação, se comparada com outras
alternativas estudadas.
Tabela 4. Cálculo dos números de furos por DHP. Após executada a obra, é importante o
Características acompanhamento por meio de instrumentos,
Cd Coeficiente de descarga 0,55 como por exemplo, piezômetros e medidores de
g Gravidade (m) 9,81 vazão, com a finalidade de averiguar que foram
A Área (m²) 1,27E-04 atingidos os resultados esperados no modelo
computacional.
h Altura da Lâmina (m) 1,00
Ao longo da vida útil da Pilha é necessário o
Q Vazão por dreno (m³/s) 0,012
acompanhamento e monitoramento da estrutura,
n Número de furos 38 em função da possibilidade de colmatação dos
DHP’s a médio e longo prazo.
3.4 Estabilidade da Estrutura
AGRADECIMENTOS
As análises de percolação de fluxo foram
acopladas à análises de estabilidade por Os autores agradecem à DF+ pelo apoio e
equilibrio limite. Deste modo, o alcance dos estimulo, aos colegas de trabalho que
DHP’s foi definido em função do rebaixamento contribuíram tecnicamente para o
necessário para garantir o fator de segurança ao desenvolvimento do trabalho.
delizamento adequado á estrutura, em
conformidade com a norma técnica vigente para REFERÊNCIAS
pilhas de estéril a NBR 13029:2017, que
estabelece 1,5 como fator de segurança mínimo Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
para condições do nível freático . 13029:2017. Mineração - Elaboração e apresentação
de projeto de disposição de estéril em pilha. Rio de
Janeiro. 7p.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Batista, M. B e Lara, M. M. P. C. (2010) Fundamentos de
Engenharia Hidráulica. 3º. ed. Editora UFMG, Belo
Drenos Horizontais Profundos representam uma Horizonte, 480p.
alternativa de baixo custo para estabilização de Long, M. T. (1996). Exploration, Design, and
Construction of Horizontal Drain Systems.
taludes quando elevadas pressões piezométricas Transportation Research Record, Vol 1291, p. 166 -
devem ser reduzidas. 172.
As investigações de campo são de grande National Research Council, 1990. Groundwater Models:
importância, assim como o dimensionamento Scientific and regulatory applications. Water Science
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and Technology Board, Committee on Ground Water


Modelling Assessment. Commission on Physical
Sciences, Mathematics and Resources. National
Research Council, National Academy Press,
Washington, D.C.
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Modelagem numérica de uma estrutura de solo grampeado em


solo argiloso.
Fabrício Jerônimo Gonzalez Dias
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil,
fabriciogonzalezdias@gmail.com

José Otávio Serrão Eleutério


Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil,
otavio.eleuterio@ufms.br

RESUMO: O emprego de muros grampeados vem aumentando com o passar do tempo. A técnica
consiste em estabilizar o maciço de solo a partir do emprego de grampos que solidarizam a camada
ativa com a passiva. Hoje em dia com a facilidade ao acesso de programas computacionais a
modelagem vem ganhando espaço frente ao modelo de dimensionamento por equilíbrio limite. Este
trabalho teve como objetivo avaliar o fator de segurança global e deformações de um caso real da
cidade de Campo Grande/MS. A obra consistiu na execução de 256 grampos com variados
comprimentos e diâmetros. A análise foi feita para a contenção na sua maior altura, com 8,70
metros e 3 grampos na seção transversal. O programa computacional utilizado foi o PLAXIS 2D®.
Os resultados mostraram que a estrutura encontra-se dentro dos padrões de estabilidade e as
deformações obtidas estão em intervalos dentro dos consagrados na literatura nacional e
internacional.

PALAVRAS-CHAVE: hardening soil, análise paramétrica, deformações, estabilidade.

1 INTRODUÇÃO

A técnica de solo grampeado consiste numa


técnica simples de estabilização de taludes
naturais e escavações por meio da inserção de
reforços na massa de solo. Os reforços,
denominados grampos, tem a função de ligar a
zona resistente (zona passiva) com a zona
potencialmente instável (zona ativa) (Figura 1).
A execução dos grampos se dá por meio de
inserção de barras de aço em pré-furos
revestidos com nata de cimento, não sendo
Figura 1 - Definição das zonas ativa e passiva em
aplicada carga de protensão ao término da escavações com grampos (Lima, 2007).
execução.
Com relação ao faceamento, este apresenta Na prática da engenharia é comum a
papel secundário na estabilização do maciço, utilização de métodos de dimensionamento
sendo importante apenas na prevenção de baseados no Método de Equilíbrio Limite
erosões localizadas na face da estrutura, e varia (M.E.L). O M.E.L considera nas análises de
desde concreto projetado até cobertura vegetal estabilidade os parâmetros de resistência do
ou geotêxtil. solo (ângulo de atrito efetivo e coesão efeitiva)
e também a resistência ao cisalhamento na
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interface solo-grampo (resistência ao


arrancamento).
Análises utilizando o método de elementos
finitos (M.E.F) vêm ganhando espaço ao longo
das últimas décadas, função da capacidade de
processamento dos aspectos relacionados a
interação solo-estrutura. Análises comparativas
indicaram que o uso de análises numéricas,
como oposto aos métodos convencionais, Figura 2 - Consideração das deformações horizontais e
permite um projeto mais econômico (Gaba et verticais sendo iguais (Clouterre, 1991).
al., 2002; Ravaska, 2002).
Este trabalho tem como objetivo a análise do
comportamento de uma escavação utilizando
solo grampeado, bem como os esforços L

mobilizados nos grampos e a estabilidade


global da estrutura através de modelagem
numérica utlizando o software Plaxis 2D®, e em
seguida comparados com valores recomendados
na literatura especializada.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A seguir são apresentados os principais


aspectos recomendados pelos manuais Figura 3 – Área de influência das deformações (Lazarte et
al. 2003).
internacionais Clouterre (1991) e Lazarte et al.
(2003).
𝐷𝐷𝐸𝐹 =  . (1 – tan ) . H (1)
2.1 Clouterre (1991)
Onde, H = altura da parede (m);  = inclinação
Segundo Clouterre (1991), levando em da parede e  = coeficiente, sendo 0,8 para
consideração dados de monitoramentos de obras rochas, 1,25 solos arenosos e 1,5 argilas.
reais, a relação entre os deslocamentos
horizontais e verticais se dá na proporção de 1:1 2.2 Lazarte et al (2003).
(Figura 2). Valores típicos observados dão
conta que as deformações horizontais são da As faixas de valores para as deformações
ordem de 0,3H% para solos argilosos, 0,2H% horizontais recomendados por Lazarte et al.
para solos arenosos e 0,1H% para escavações (2003) são os mesmos constantes no manual
em rocha. Clouterre (1991). Já para a determinação da
A distância de influência (Figura 3) das distância de influência das deformações a
escavações perante as deformações no consideração se diferencia apenas no valor do
terrapleno superior pode ser calculada coeficiente adotado. As rochas entram com um
utilizando a equação 1. coeficiente “C” de 1,25, areias de 0,8 e solos
finos 0,7.

𝐷𝐷𝐸𝐹 = C . (1 – tan ) . H (2)

A definição da superfície potencial de


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ruptura é estimada considerando o trabalho de


Plumelle et al., (1990) e Byrne et al, (1998), em
que a distância do topo da contenção e a região
de tração no solo fica entre 0,3 e 0,4H (Figura
4).

Figura 4 - Definição ruptura interna da estrutura (Lazarte


et al., 2003). Figura 5 - Resultados de deslocamentos horizontais
máximos observados em taludes grampeados (Durand,
2.3 Silva (2017) 2008).

Ao contrário do observado por Clouterre Silva (2017) executou análises numéricas de


(1991), Silva (2017) observou que as uma escavação em solo residual, sendo
deformações verticais e horizontais não observada grande influência da presença de
ocorrem com igualdade entre os deslocamentos. falhas geológicas nos deslocamentos
Outro exemplo é o caso de Azambuja et al. horizontais (Figura 6). Nas análises os
(2001) com deformações horizontais de 70 mm deslocamentos atingidos foram maiores que os
e 23 mm na direção vertical. esperados, e não obedeceram a relação 1:1 entre
Em uma compilação de valores sobre altura dos deslocamentos horizontais e verticais.
da parede versus deformação do topo da parede,
Durand (2008) apresentou a Figura 5 para
diversas alturas, não considerando aqui o tipo
de solo em cada caso.
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3.1 Geometria do Local

A seção analisada (Figura 7) possui 8,70 metros


de altura com três linhas de grampos, e é o
trecho com maior altura de escavação presente
o sítio estudado. Os grampos foram executados
com comprimentos de 8,40 m e 11,40 m, com
espaçamento entre grampos de 1,90 e 2,90 m.

Figura 7 - Detalhes do projeto -corte transversal.

3.2 Caracterização Geotécnica

Na área de interesse foram executados 13 furos


de sondagem a percussão (SPT) e 1 de
sondagem mista. A partir da análise dos
Figura 6 - Deslocamentos horizontais de inclinômetros
reais e simulação numérica (Silva, 2017). boletins de sondagens foi traçado o perfil
geotécnico representativo da região (Figura 8).

3 CASO ESTUDADO

A estrutura analisada no presente trabalho


consiste numa contenção provisória de 8,70 m
na cidade de Campo Grande – MS.
A face da escavação foi feita em estacas
mistas, grampeadas ao longo da vertical e
atirantadas na viga de coroamento. A altura da
parede varia de 4,00 à 8,70 metros com área
total de aproximadamente 1600 m² em um total
de 245 grampos e 22 tirantes. Figura 8 - Camadas representativas.
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O perfil geotécnico da área de interesse é


composto por camada de argila com NSPT
variando entre 2 e 10 até a profundidade de 8 m.
Sotoposta a esta foi identificada camada de
basalto em decomposição, seguido de rocha
basaltica cinza identificada através de
sondagems mista com RQD (Designação da
qualidade da rocha) variando de 12 a 100%.
Foi executado também um ensaio triaxial na
camada de argila com consistência média e
também ensaios de caracterização completa.
Assim a camada de argila foi subdividida em
outras duas: argila média e argila mole. Figura 9 - Envoltória de resistência.

3.2.1 Ensaios Realizados no Empreendimento Tabela 2 - Resumo resultados dos ensaios realizados no
empreendimento.
Foram coletadas 3 amostras indeformadas e Parametro Valor
cerca de 2kg de solo, a uma profundidade de 3,4 rs (g/cm³) 2,71
metros, para execução dos ensaios triaxiais CIU Wnat (%) 32,31
LL (%) 57,78
(Consolidated Isotropic Undrained) e de LP (%) 28,3
caracterização. IP (%) 29,48
Solo latossolo vermelho, basáltico, bem <0,002 (%) 48,48
drenado e de alta porosidade, teve
0,002 - 0,05 (%) 16,71
características equivalentes nos ensaios de >0,05 (%) 34,81
caracterização e SPT. Sendo confirmada a j (°) 27
relação de resistência nos ensaios triaxiais. c' (kPa) 0
As tensões confinantes (3) utilizadas foram
de 50, 100 e 150 kPa. Estes apresentaram uma
saturação relativamente rápida, demonstrando
assim uma alta permeabilidade do solo. Abaixo
é apresentado o grau de saturação de cada corpo
de prova pelo parâmetro “B” de Skempton.
Tabela 1 - Saturação dos corpos de prova
Tensão (kPa) B % Saturação
50 0,9675 96,8%
100 0,9678 96,8%
150 0,9754 97,5%

Após a saturação os corpos de prova foram


Figura 10 - Curva tensão desviadora x deformação
adensados e cisalhados até 3% de deformação específica.
específica a uma velocidade constante de 0,1
milimetros/minuto. Os valores obtidos foram 3.2.2 Obtenção dos Parâmetros das Demais
plotados em um gráfico qp’ (Figura 9). Camadas
A Tabela 2 apresenta um resumo dos
parâmetros obtidos. Na Figura 10 as curvas Os demais parâmetros foram obtidos na
tensão versus deformação das três amostras literatura especializada para a modelagem
ensaiadas. numérica.
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Para a camada de argila mole foram As camadas de solo foram modeladas usando
adotados os valores obtidos por Ribeiro et al. elementos triangulares de 15 nós. Para
(2017). Os autores realizaram ensaios na cidade representar o comportamento do solo foi
de Campo Grande / MS. A camada estudada utilizado modelo Hardening Soil.
possui similaridade com relação ao SPT e Como o software PLAXIS 2D® realiza as
formação geológica (Tabela 3). análises no plano bidimensional os parâmetros
Para a camada de basalto em decomposição equivalentes foram calculados para as estruturas
foram utilizados os resultados de Ramos presentes nas análises.
(Publicação futura), referente ao trabalho de Segundo Eleutério (2013) existe duas formas
conclusão de curso do referido autor a ser de modelar os grampos, pelo elemento plate ou
publicado. Ramos realizou ensaios de por geogrid. Como é de grande valia avaliar a
cisalhamento direto em basalto em rigidez do grampo, neste caso, foi utilizado o
decomposição, próximo ao empreendimento elemento plate para a modelagem.
aqui estudado. Tomando assim esses Os cálculos da rigidez axial e a flexão da
parâmetros encontrados como similares. Tendo parede e do grampo são feitos seguindo relações
ângulo de atrito igual a 35° e coesão de equivalencia de módulo de elasticidade e
aproximadamente 0 kPa. área do elemento.

Tabela 3 - Resumo resultados argila-siltosa mole (Ribeiro 4.2 Condições de Contorno


et al., 2017)
Parametro Valor O estudo numérico foi modelado sendo o mais
rs (g/cm³) 2,65 fiel possível do processo construtivo. Para
Wnat (%) 26,64
assim poder estimar os deslocamentos e
LL (%) 40
LP (%) 28,1
esforços gerados nos elementos com uma maior
IP (%) 11,9 acurácia.
<0,002 (%) 62,5 Os comprimentos horizontais e verticais do
0,002 - 0,05 (%) 36,5 modelo foram determinados a partir das
>0,05 (%) 1 sugestões de Oliveira (2014), para modelagens
j (°) 20 numéricas. O esquema se encontra na Figura
c' (kPa) 0 11.

A rocha basaltica foi adotado o valor de 44°


para o angulo de atrito e 70 kPa para a coesão.
Esses valores foram obtidos através de
compilações feitas por Maia (2001) de
resistências de rochas a partir de ensaios
triaxiais.

4 ANÁLISE NUMÉRICA Figura 11 - Sugestão de dimensões para modelagem


numérica adaptada por Oliveira (2014).
4.1 Programa Utilizado
Onde: H = profundidade da escavação; Db =
O PLAXIS 2D® é um programa comercial 1,2H; We = 3Db; Be = 3(H + Db).
amplamente difundido no mundo, com
finalidade de determinar o estado de tensões e A partir de sugestões de Eleutério (2013)
as deformações dos solos. Isso por meio de obtemos os valores abaixo para a modelagem da
análises em elementos finitos no plano estrutura.
bidimensional.
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Em que deq é calculado automaticamente Assim a malha utilizada possui 43.858 nós,
pelo PLAXIS utilizando a expressão (6). não exigindo mais capacidade computacional
do que o necessário para um estudo de
𝐸𝐼 qualidade.
𝑑𝑒𝑞 = √12 𝐸𝐴 (6)
Tabela 6 - Porcentagem do desvio com relação à malha
Tabela 4 - Dimensões reais e equivalentes da parede de 64664 nós.
grampeada estudada. Nº de nós Desvio
Dimensões\elemento Parede Grampo 43858 0,56%
36840 1,22%
Real
26588 2,39%
Diâmetro (mm) 350 150 22822 3,46%
faço (mm) 9f12,5 20 17486 5,30%
Econcreto (GPa) 21 -
Enata (GPa) - 22
Eaço (GPa) 210 210 5 RESULTADOS
Sh (m) 1 2 5.1 Deformações
Linearizada
Eeq. (GPa) 23,2 25,3 Os resultados obtidos foram condizentes com a
EA (kN/m) 2,23 . 10^6 2,24.10^5 literatura, o deslocamento no topo da escavação
EI (kN.m²/m) 17070 314,36 ficou em torno de 0,23%H. Um total de 10 fases
deq (m) 0,303 0,1298 foi executado na simulação, representadas na
Figura 12.
A Tabela 5 resume os parâmetros utilizados na As deformações da parede em toda sua
modelagem numérica. altura se encontram na Figura 13.
Comportamento similar ao observado por Silva
Tabela 5 - Valores ajustados para tensão de 100 kPa (2017).
(modelo de referência). A relação entre os deslocamentos horizontais
Parâmetro
Tipo de solo e verticais não se comportaram
Arg. Mole Arg. Média Basalto em Dec. Rocha proporcionalmente. Os horizontais tiveram
r (kN/m³) 17 18 20 27
j (°) 20 27 40 44
valores absolutos maiores que os verticais nos
c' (kPa) 0 0 0 70 pontos do topo da cortina. O deslocamento
Eref (MPa) 19,6 21,8 28 90 horizontal foi de 17,3 mm e o vertical 11,6 mm.
Eoed (MPa) 51,8 65,4 84 270 A área de influência das deformações foi
y 0 0 0 0
maior que a considerada na literatura. Chegando
ao valor de 2,7 (C ou ) para a área de
Para os valores de módulo de
influência dos deslocamentos, ou seja, DDEF =
deformabilidade das camadas de basalto em
23,50 metros.
decomposição e rocha basaltica foram utilizadas
correlações de Teixeira & Godoy (1996),
correlacionando o tipo de solo ao SPT.

4.4 Estudos da Malha

Fixou-se um ponto de medição de


deslocamentos e variou-se o número de nós da
malha. A convergência desses valores
representa a dimunuição da variação dos
deslocamentos (Tabela 6).
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próximos a região da provável cunha (Figura


15), confirmando assim observado. Valores que
se assemelham aos observados por Lazarte et al.
(2003).

Figura 14 - Cunha de ruptura dos grampos e esforços


axiais.

Figura 12 - Deslocamentos horizontais no topo do muro


por fase.

Altura da escavação Figura 15 - Deslocamentos verticais.

Observa-se que o grampo intermediário é o


que absorve mais carga. Após sua execução este
fica sujeito a um esforço crescente durante as
fases, diferente do grampo do topo que tem uma
diminuição dos esforços com o avanço da
escavação. Isso foi observado no diagrama de
esforços normais gerados pelo software. A
Figura 14 demonstra o valor da tração ao longo
do grampo na fase com sobrecarga.
Figura 13 - Deslocamentos horizontais da cortina por
fase.
Na Tabela 7 são apresentados os valores dos
TMAX, por fase, e sua redistribuição com o
5.2 Esforços nos Grampos avanço da escavação.

Tabela 7 - Valores de 𝑻𝑴𝑨𝑿 em kN por fase de escavação.


Para a cunha de ruptura, o provável ponto de Cota da escavação q = 10
tração a partir do topo fica a 3,40 m (0,4%H) da Grampo
-3,66 -6,55 -8,67 kPa
parede da escavação (Figura 14). Observa-se 1 39,2 28,54 27,19 24,47
que os maiores deslocamentos verticais se dão 2 - 104,36 109,11 118,29
3 - - 49,13 66,36
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Os dados encontrados estão dentro de


Observa-se que, na fase com aplicação da intervalos de deformações consagrados no meio
sobrecarga, o grampo 1 teve diminuição de 10% técnico, corroborando a aplicabiliddade da
de seu esforço máximo enquanto o grampo 2 e análise numérica como estimativa do
3 tiverem aumento de 8 e 35%, comportamento de obras reais.
respectivamente.

5.3 Fator de Segurança AGRADECIMENTOS

A décima fase considera e encontra o fator de Os autores agradecem ao Laboratório de


segurança da estrutura, tendo encontrado um Geotecnia da Univerdade Federal de Mato
valor igual a 3,0. Grosso do Sul, ao Eng. José Antônio de Abreu e
Eng. Fernando Shinmi pelo acesso as
informações de projeto e à obra, e a Funsolos
6 CONCLUSÕES Construtora e Engenharia Ltda pelo apoio para
que esse trabalho fosse criado.
Os deslocamentos horizontais obtidos nas
análises numéricas ficaram próximos aos
valores apresentados na literatura especializada. REFERÊNCIAS
O comportamento perante as deformações na
face da estrutura foi similar ao encontrado por AZAMBUJA, E., STRAUSS, M., SILVEIRA, F. G.
outros autores. (2001), Caso histórico de um sistema de contenção
em solo grampeado em Porto Alegre, RS. In: Anais da
Os maiores deslocamentos verticais obtidos III Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
se deram entre a face da estrutura e o ponto de Encostas (COBRAE), v. único, pp. 435-443, Rio de
Tmáx dos grampos, corroborando o formato da Janeiro, Novembro.
superfície que separa a zona ativa e passiva BYRNE, R. J.; COTTON, D.; PORTERFIELD, J.;
nesse tipo contenção. WOLSCHLAG, C.; UEBLACKER, G. (1998).
Manual for design and construction monitoring of soil
A área de influência observada das nail wall. Federal Highway Administration, U. S.
deformações foi maior que as apresentadss na Department of Transportation. USA. v. 01, 530p.
literatura, porém observa-se que a magnitude CLOUTERRE. Recomendations Clouterre (1991). Soil
das deformações se tornam desprezíveis quando nailing recommendations for designing, calculating,
comparadas com as próximas a escavação. constructing and inspecting earth support systems
using soil nailing. French National Project Clouterre,
Apesar de não ter sido executado o English Language Translation, 1991. 302p.
monitoramento dos deslocamentos da DURAND, R. D. F. (2008). Análise Tridimensional de
escavação, não foi observado na obra trinca de Estruturas Geotécnicas Submetidas a Reforço e
tração, informação esta justificada de vez que Drenagem. Tese de D.Sc., Departamento de
pelas análises efetuadas a estrutura encontra-se Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, Brasil.
afastada da rotura. ELEUTÉRIO, J. O. S. (2013). Análise do comportamento
Observa-se também uma redistribuição dos de estruturas de solo grampeado sujeitas a
esforços dos grampos com o aumento da deformações de fundo através de modelos físicos
profundidade. Os grampos de menor cota de (escala 1:1) e numéricos. Dissertação de Mestrado,
escavação tendem a absorver menos carga (ou Programa de Engenharia Civil - COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeira, Rio de
até diminuir sua carga), isso ocorre com o Janeiro, RJ, Brasil.
aumento da escavação e adição de sobrecarga, GABA, A. R., SIMPSON, B., POWRIE, W. &
associado ao tipo movimentação encontrado BEADMAN, D. R. (2002). Embedded retaining
onde as maiores deformações ocorreram abaixo walls: guidance for economic design, RP 629.
do topo da escavação. London: Construction Industry Information and
Research Association.
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Grampeada em Solo Residual de Gnaisse. Tese de
D.Sc., DEC/PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
MAIA, P. C. A. (2001). Avaliação do Comportamento
Geomecânico e de Alterabilidade de Enrocamentos.
Tese de D.Sc., DEC/PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
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Pavimento Rígido: Caracterização das Principais Manifestações


Patológicas Encontradas na Estrada Parque Taguatinga-DF
Saulo Henrique Silva Bezerra
UniCEUB, Brasília, Brasil, saulo_henrique2@hotmail.com

Gabriela de Athayde Duboc Bahia


UniCEUB, Brasília, Brasil, gabriela.bahia@ceub.edu.br

Carolina de Athayde Duboc Bahia


UniCEUB, Brasília, Brasil, carolduboc@gmail.com

Neusa Maria Bezerra Mota


UniCEUB, Brasília, Brasil, neusa.mota@ceub.edu.br

RESUMO: Este trabalho tem o intuito de avaliar a qualidade de um trecho de pavimento rígido da
Estrada Parque Taguatinga/DF. A metodologia aplicada consistiu no levantamento das
manifestações patológicas identificadas em cada segmento analisado e no cálculo do índice de
condição do pavimento (ICP). O estudo foi realizado embasado nas normas DNIT 060/2004 – PRO,
que define o procedimento de inspeção visual; DNIT 061/2004 – TER, que apresenta as principais
anomalias do pavimento rígido e; DNIT 062/2004 – PRO, que define os procedimentos para a
avaliação objetiva e cálculo do ICP. Como resultado foi obtido um ICP de 56,5, ou seja,
classificação de boa condição geral do pavimento. Porém, foram identificados segmentos que
apresentavam anomalias com alto grau de severidade. Como a rodovia foi realizada no ano de
2010, a identificação dessas anomalias indicam falhas na execução, nos materiais empregados ou
falhas de projeto. Dessa forma, é recomendada a recuperação dos defeitos mais graves.

PALAVRAS-CHAVE: Manifestações Patológicas, Pavimento Rígido, Índice de Condição do


Pavimento.

1 INTRODUÇÃO anos. Porém, essas estradas se apresentam,


atualmente, em condições de carga superiores,
O pavimento rígido pode ser definido como devido ao aumento do fluxo de veículos.
aquele que é composto por uma camada de Uma pesquisa realizada pela CNT (2016)
revestimento de rigidez superior às camadas apontou que de 103259 km de malha rodoviária
subsequentes, a qual pode consistir de placas de analisada (considerando pavimento flexível e
concreto armadas ou não com barras de aço rígido), 58,2% (correspondente a 60096 km)
(Araujo, et al; 2016). A sua espessura é apresentam imperfeições em geral, como
determinada em função da resistência à flexão problema de pavimento, sinalização ou
das placas de concreto e das resistências das geometria viária. Esses dados mostram que é
camadas subjacentes. necessária uma melhoria urgente nas rodovias
O Brasil dispõe de estradas, ruas e brasileiras, visto que elas são o meio de
aeroportos pavimentados com concreto que transporte mais utilizado no país e a
estão em pleno funcionamento há mais de 50 conservação e manutenção das rodovias são
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fundamentais para o desenvolvimento do país. classificado teoricamente como infinito


Atualmente o pavimento mais utilizado no (infraestrutura ou terreno de fundação), o qual é
Brasil é o flexível. Porém, quando este é designado de subleito.
comparado com o pavimento rígido percebe-se Os pavimentos podem ser classificados em
que o pavimento rígido se sobressai em três grupos distintos: pavimento flexível,
determinadas situações em relação ao flexível. pavimento rígido e pavimento semirrígido.
Dentre as vantagens que o pavimento rígido O pavimento flexível é conhecido por sofrer
apresenta em relação ao flexível, podem-se deformação elástica significativa em todas as
citar: sistema construtivo de alta qualidade; suas camadas, de acordo com o carregamento
maior durabilidade, resistência e segurança; aplicado. Dessa forma, a carga é distribuída em
considerado uma tecnologia ambientalmente parcelas aproximadamente equivalentes, como
correta, por apresentar características pode ser observado na Figura 1 (DNIT, 2006).
sustentáveis. O pavimento rígido é definido como sendo
Dessa forma, este artigo apresenta uma aquele que absorve quase todas as tensões
análise das condições do pavimento rígido de resultantes do carregamento aplicado, já que o
um trecho da rodovia Estrada Parque revestimento possui uma elevada rigidez em
Taguatinga/DF, com o intuito de apresentar as relação às camadas inferiores, conforme pode
manifestações patológicas existentes no trecho ser observado na Figura 1 (DNIT, 2006).
e o seu nível atual de conservação.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Pavimentos de Concreto no Brasil

No Brasil a rodovia é a modalidade de


transporte mais utilizada, visto que por ela é Figura 1 – Distribuição de cargas
realizada a movimentação de 95% das pessoas e Fonte:
de 60% das cargas transportadas, segundo a http://edificacoes13.blogspot.com.br/2012/10/pavimentos.
html acessado em 19 de junho de 2018.
Associação Brasileira de Cimento Portland
(Silva, 2002).
Porém, mesmo diante dessa realidade Já o pavimento semirrígido é caracterizado
brasileira, a composição da malha viária é por ter uma base cimentada por algum
insuficiente apresentando um total de estradas aglutinante que possui características
que perfazem 1.700.000 km, sendo que apenas cimentícias como, por exemplo, uma camada
12% delas são estradas pavimentadas de solo cimento coberta por uma camada
(totalizando 203.599 km) e desses 12% apenas asfáltica ( DNIT, 2006).
4% são pavimentadas em concreto (Vizzoni,
2015). 2.3 Vantagens da Pavimentação Rígida

2.2 Aspectos Gerais de Pavimentação 2.3.1 Durabilidade

Segundo o Manual de Pavimentação do DNIT A ausência de recursos e a escassez de


(2006) o pavimento de uma rodovia é medidas para implantação de manutenção nas
considerado como uma superestrutura que rodovias corroboram para busca de soluções de
possui um sistema de camadas de espessuras pavimentos que sejam mais duráveis e
limitadas, dispostas sobre um semi-espaço apresentem menores custos de manutenção
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(Ferreira, L., 2015). anos. Essa economia pode variar de 30% a 60%
Para Carvalho (2012) a durabilidade é um na energia elétrica da iluminação pública em
diferencial da pavimentação de concreto em relação ao pavimento asfáltico.
relação às demais pavimentações, visto que é Dessa forma, entende-se que além da
relacionada às propriedades estruturais do economia de energia, a visibilidade do
material (elevada resistência mecânica, motorista melhora, devido a capacidade de
resistência ao desgaste e praticamente reflexão da luz e, consequentemente, eleva a
impermeável). segurança no trânsito (sobretudo nos períodos
Nesse sentido, o pavimento de concreto é o noturnos e chuvosos).
mais indicado para a construção de estradas de
tráfego intenso e pesado, que são mais 2.3.3 Segurança nas Estradas
suscetíveis ao derramamento de óleo e ações
intensas de frenagem, por resistirem com maior O concreto possui uma textura superficial,
eficácia a essas solicitações. relacionada ao acabamento, que eleva a
segurança de rolamento em condição de
2.3.2 Economia de Energia Elétrica superfície molhada (Vizzoni, 2015). Essa
qualidade proporciona maior segurança,
Outra vantagem do pavimento de concreto, auxiliando na eliminação de hidroplanagem e
segundo Vizzoni (2015), é a economia de redução da distância de frenagem.
energia elétrica. Por possuir uma característica
mais reflexiva, proporciona um menor gasto 2.4 Patologias do Pavimento de Concreto
com iluminação pública, em relação ao
pavimento flexível e, consequentemente, reduz Segundo o Manual de Pavimentos Rígidos do
o número de postes e luminárias de alto DNIT (2005), fatores como técnicas de
rendimento, conforme pode ser observado na execução e materiais inadequados, associados a
Figura 2. falta de uma manutenção rotineira, estão
normalmente associados aos defeitos mais
comuns dos pavimentos rígidos. Esses tendem a
se agravar com o decorrer do tempo, podendo
ocorrer com diferentes frequências e graus de
severidade.
Dentre as manifestações patológicas
existentes no pavimento de concreto destacam-
se: fissuras lineares, fissuras superficiais e
escamação, fissuras de canto, fissura de
retração plástica, alçamento de placas, placa
dividida, escalonamento ou degraus nas juntas,
falha na selagem das juntas, desnível no
pavimento, grandes reparos e pequenos reparos,
Figura 2 – Comparação de iluminação entre o pavimento bombeamento, desgaste superficial, quebras
rígido e o flexível
localizadas, passagem de nível, esborcinamento
Fonte: Green highways – ACPA/EUA (2007)
ou quebras de canto, esborcinamento de juntas,
placa bailarina, assentamento e buraco.
Para Di Pace e Becker (1997), em razão da
Para uma correta avaliação do pavimento
capacidade do concreto em refletir a
rígido, o DNIT se baseou na metodologia
luminosidade maior que o asfalto, existe uma
desenvolvida pelo U.S. Army Construction
economia de energia na relação kwh/m², que
Engineenrig Research Laboratory - CERL
pode ser considerada razoável ao longo dos
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(Shahin, 1979). Esse procedimento consiste na F(t,q): uma função de ajustamento para defeitos
identificação das manifestações patológicas do múltiplos, que varia com o valor dedutível
pavimento com posterior realização de um somado (t) e o número de deduções (q).
cálculo do índice de condição do pavimento
(ICP), que indica o estado de conservação do A quantidade de placas afetadas por um tipo
pavimento. de defeito e seu grau de severidade, no
É por meio deste índice que os órgãos momento em que é comparado com o total de
rodoviários e as concessionárias de rodovias placas da amostra, apresenta um porcentual,
preparam os programas de recuperação do que é denominado como densidade de defeitos
pavimento (DNIT, 2005). da placa (DNIT, 2010).
A Norma DNIT 062/2004 – Pro, em sua
2.5 Índice de Condição do Pavimento (ICP) seção 6 do Anexo A (normativo), apresenta
gráficos para cada espécie de defeito e grau de
Segundo o Manual de Recuperação de severidade, que associam a densidade de
Pavimentos Rígidos do DNIT (2010), o ICP é defeitos com o valor dedutível (CVD).
um número baseado no levantamento dos Para obter o valor dedutível total é
defeitos vistos em toda a extensão de um necessário realizar o somatório dos valores
pavimento, ou apenas em um trecho escolhido, dedutíveis de todos os defeitos e respectivos
e do grau de severidade destes defeitos. graus de severidade, presentes na amostra.
Este índice é quem determina o grau de Este valor dedutível total precisa ser
deterioração do pavimento, dessa forma, o corrigido (VDC). Segundo o Manual de
pavimento com o ICP maior ou igual a 70 não Recuperação de Pavimentos Rígidos do DNIT
necessita de um programa de recuperação, ao (2010) esta alteração é feita da seguinte forma:
passo que, aquele que possui o ICP menor que  Contam-se quantos valores deduzíveis
40 é considerado deficiente ou praticamente (CVD) são maiores que 5. Esta
destruído. Nos pavimentos com ICP entre 40 e quantidade de valores acima de 5 é
70 devem ser recuperados os defeitos mais designada pela letra “q”;
graves do trecho observado.  No gráfico do Anexo C do Manual do
DNIT (2010), encontram-se curvas para
2.5.1 Determinação do ICP diversos valores de “q”. Entra-se no
gráfico com o valor de “q” encontrado e
O cálculo do ICP é realizado por meio da com o valor dedutível total, obtém-se o
formulação abaixo (Equação 1): valor dedutível corrigido;
 O ICP da amostra é a diferença entre
(1) 100 e o valor dedutível corrigido.

Sendo: A relação de conceitos dos pavimentos em


função do ICP é apresentada na Tabela 1.
ICP: Índice de Condição do Pavimento;
Tabela 1. Conceitos dos pavimentos em relação ao ICP.
A: valor dedutível, dependente do tipo do Conceito ICP
defeito (Ti), do grau de severidade (Sj) e da Excelente 85 – 100
densidade de defeitos (Dij); Muito Bom 70 – 85
i: contador para tipos de defeitos; Bom 55 – 70
j: contador para graus de severidade; Razoável 40 – 55
Ruim 25 – 40
p: número total de placas defeituosas;
Muito Ruim 10 – 25
mi: número de graus de severidade para o tipo Destruído 0 – 10
de defeito;
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Fonte: Manual de Recuperação de Pavimentos Rígidos do interrupções no escoamento do tráfego,


DNIT (2010) devendo ser imediatamente reparado.
2.6 Tipos de Defeitos 3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE
ESTUDO
Segundo o Manual de Recuperação de
Pavimentos Rígidos do DNIT (2010), na O estudo de caso foi realizado em um trecho da
inspeção no pavimento para a caracterização do faixa exclusiva para ônibus (Figura 3) da DF-
ICP, os defeitos observados têm que ser 085, conhecida como EPTG (Estrada Parque
numerados de acordo com a Tabela 2. Taguatinga).
Tabela 2. Defeitos típicos dos pavimentos
Defeito N° Tipo
1 Alçamento de placa (Blow up)
2 Fissuras de canto
3 Placa dividida
4 Escalonamento ou degrau nas juntas
5 Defeito na selagem das juntas
6 Desnível pavimento - acostamento
7 Fissuras lineares
8 Grandes reparos (área > 0,45m²)
9 Pequenos reparos (área ≤ 0,45m²)
10 Desgaste superficial
11 Bombeamento
12 Quebras localizadas Figura 3 – Faixa esclusiva para ônibus da EPTG
13 Passagem de nível
Fissuras superficiais (rendilhado) e
14 A EPTG é uma das vias mais movimentadas
escamação
15 Fissuras de retração plástica do DF, fazendo a ligação entre as regiões
16 Esborcinamento ou quebra de canto do Plano Piloto, Guará, Park Way, SIA, Águas
17 Esborcinamento de juntas Claras, Vicente Pires, Taguatinga, Ceilândia e
18 Placa bailarina
19 Assentamento
Samambaia.
20 Buracos Em 2010 foi ampliada, sendo transformada
Fonte: Manual de Recuperação de Pavimentos Rígidos do em via expressa e tendo novos viadutos,
DNIT (2010) passarelas e vias marginais (formando a
chamada “linha verde”). Por meio dessa
Estes defeitos podem indicar um ampliação surgiu a faixa exclusiva para ônibus,
determinado grau de severidade, sendo estes feita em pavimento rígido.
graus classificados de acordo com a segurança, O trecho escolhido na EPTG (sentido
a dimensão do defeito e escoamento do tráfego, Taguatinga ao Plano piloto) possui 200 metros,
a sua condição ou a maneira como ele interfere está localizado em frente ao empreendimento
no conforto. DF Plaza (situado em Águas Claras), conforme
Estes graus de severidade são classificados, Figura 4.
como DNIT (2010):
 Baixo (B): o defeito causa pequeno
desconforto de rolamento;
 Médio (M): o defeito causa médio
desconforto de rolamento, sem causar
prejuízo ao tráfego;
 Alto (A): o defeito compromete a
segurança de rolamento e provoca
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inspeção objetiva visual.


Essas patologias apresentaram um
determinado grau de severidade, e foram
classificadas em A(alto), M(médio) e B(baixo),
de acordo com o Anexo E da norma DNIT
060/2004 – PRO.
Dessa forma, para cada defeito encontrado
visualmente na placa, era anotado na planilha
de campo o número da placa, suas dimensões, o
Figura 4 – Identificação do trecho escolhido na EPTG número da anomalia encontrada de acordo com
4 METODOLOGIA a Tabela 2 e seu grau de severidade
correspondente.
Este estudo teve como objetivo o levantamento Em seguida, foi realizado o cálculo do ICP,
dos possíveis defeitos visíveis, através de uma para avaliar a condição estrutural do pavimento.
inspeção visual, e o cálculo do ICP do Após o resultado deste cálculo, foi atribuído
pavimento. um conceito ao trecho, relacionado ao número
Para a elaboração desta pesquisa foi do ICP encontrado (de acordo com a Tabela 1).
realizado, primeiramente, um estudo teórico das
manifestações patológicas de pavimentos
rígidos, de acordo com a norma DNIT 061/2004 5 RESULTADO E ANÁLISE DOS
– TER que define as terminologias e critérios DADOS
empregados para as anomalias.
As normas DNIT 060/2004 – PRO Foram identificadas manifestações patológicas
(Pavimento rígido – Inspeção visual – em todas as placas das duas amostras. A Tabela
Procedimento) e DNIT 062/2004 – PRO 3 apresenta os defeitos encontrados na primeira
(Pavimento rígido – Avaliação objetiva – amostra e a Tabela 4, da segunda amostra.
Procedimento), foram utilizadas para
embasamento da metodologia de inspeção. Tabela 3. Defeitos da primeira amostra.
Dessa forma, foi escolhido um trecho de 200 Placa Defeito Grau de Observação
severidade
m para a realização do estudo, o qual foi
Fissura
dividido em duas partes, chamadas de amostras. 1 10/7/5 7-A/5-A
transversal
Cada amostra apresentou 20 placas (cada uma 2 10/5 5-A
com 5 metros de comprimento e 4 metros de 3 10/5 5-A
largura) numeradas de um a vinte. 4 10/5 5-A
Para essa extensão determinada, foi 5 10/5 5-A
6 10/5 5-A
escolhida, a realização da inspeção em todo o 7 10/5 5-A
trecho, ou seja, todas as amostras foram 8 10/5 5-A
analisadas. 9 10/7/5/17
7-M/5- Fissura
Para a execução da inspeção foi necessário A/17-B longitudinal
utilizar materiais de auxílio, que consistiram de 7-A/5-
Fissura
10 10/7/5/16/17 A/16-
trena, máquina fotográfica, prancheta, papel e longitudinal
M/17-B
caneta. 11 10/5 5-A
Após percorrer todo o trecho, foi feito o 12 10/5 5-A
levantamento das manifestações patológicas 13 10/5/17 5-A/17-B
14 10/5 5-A
existentes, do grau de severidade de cada uma,
15 10/5 5-A
do número de placas afetadas e da condição 16 10/5 5-A
atual de cada amostra, por meio de uma 17 10/5 5-A
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Fissura (fissuras de retração plástica), n° 16


18 10/5/7 7-M/5-A
longitudinal (esborcinamento ou quebra de canto) e n° 20
Fissura
19 10/5/7 7-A/5-A
longitudinal (buracos).
7-A/5- Fissura Os graus de severidade de cada anomalia
20 10/5/7/17
A/17-B longitudinal identificada em campo foram classificados
conforme os critérios apresentados na Tabela 5,
Observa-se por meio da Tabela 3 que os a seguir.
defeitos encontrados na primeira amostra Destaca-se que não existe uma definição de
foram: n° 5 (defeito na selagem das juntas), nº 7 grau de severidade para os defeitos 10, 15 e 20,
(fissuras lineares), n° 10 (desgaste superficial), bastando apenas relatar sua ocorrência.
nº 16 (esborcinamento ou quebra de canto) e n°
17 (esborcinamento de juntas). Tabela 5. Critério utilizado para classificação do grau de
severidade
Tabela 4. Defeitos da segunda amostra. Grau de
Critério
severidade
Placa Defeito Grau de Observação
severidade 5-A O selante está em más condições
7-A Fissura não tratada com abertura
Fissura
1 10/7/5 7-B/5-A superior a 50 mm
longitudinal
7-M Fissuras sem tratamento, com
7-A/5- Fissura
2 10/5/7/16 abertura entre 12 e 50 mm
A/16-B longitudinal
7-B Fissuras sem tratamento, com
7-A/5- Fissura
3 10/5/7/12/20 abertura menor que 12 mm
A/12-A longitudinal
10 Não há uma definição de grau de
7-A/5- Fissura
4 10/5/7/20/16 severidade
A/16-M longitudinal
12-A Número de pedaços em que a placa
Fissura
5 10/5/7 5-A/7-A está dividida de 4 a 5 e severidade
longitudinal
A das fissuras
Fissura
6 10/5/7 5-A/7-A 15 Não há uma definição de grau de
longitudinal
severidade
Fissura
7 10/5/7/15 5-A/7-A 16-B Dimensões dos lados da quebra de
longitudinal
13 x 13 a 30 x 30 cm
8 10/5 5-A
16-M Dimensões dos lados da quebra
9 10/5/15 5-A
maior que 30 x 30 cm
Fissura
17-B Todos os pedaços foram removidos
10 10/7/5/15 7-A/5-A longitudinal e
e o comprimento do
transversal
esborcinamento é menor que 0,6 m
Fissura
11 10/5/7 5-A/7-A e a largura é menor que 100 cm
longitudinal
20 Não há uma definição de grau de
Fissura
12 10/5/7 7-A/5-A severidade
longitudinal
Fissura
13 10/5/7 7-A/5-A
longitudinal A seguir apresentam-se os Gráficos 1 e 2, os
14 10/5/15 5-A quais representam a frequência dos defeitos (em
15 10/5 5-A porcentagem) na 1ª e 2ª amostras,
16 10/5 5-A
17 10/5 5-A respectivamente.
18 10/5 5-A Vale destacar que cada amostra apresenta
19 10/5 5-A um conjunto de 20 placas de concreto.
20 10/5 5-A

Por meio da Tabela 4 observam-se os


defeitos de n° 5 (defeito na selagem das juntas),
nº 7 (fissuras lineares), n° 10 (desgaste
superficial), n° 12 (quebras localizadas), n° 15
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progredir e originar a formação de buracos.


17 20% As Tabelas 6 e 7 apresentam os parâmetros
necessários para o cálculo do ICP.
Defeitos identificados

16 5%

10 100%
Tabela 6. Parâmetros para o cálculo do ICP - 1ª amostra.
N° de % de
Grau de Valor
7 30% Defeito placas placas
severid. deduzível
afetadas afetadas
5 100% 5 A - - 8
7 A 4 20 30
0% 20% 40% 60% 80% 100%
7 M 2 10 8
Porcentagem de aparecimento dos defeitos
10 - 20 100 10
Gráfico 1. Frequência dos defeitos da 1ª amostra 16 M 1 5 2
17 B 4 20 4
Tabela 7. Parâmetros para o cálculo do ICP - 2ª amostra.
20 10% N° de % de
Grau de Valor
16 10% Defeito placas placas
severid. deduzível
afetadas afetadas
Defeitos identificados

15 20%
5 A - - 8
12 5% 7 A 10 50 40
10 100%
7 B 1 5 3
10 - 20 100 10
7 55% 12 A 1 5 19
5 100% 15 - 4 20 1
16 B 1 5 3
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Porcentagem de aparecimento dos defeitos
16 M 1 5 2
20 - - - -
Gráfico 2. Frequência dos defeitos da 2ª amostra
Não é apresentado o número de placas
Observa-se por meio dos gráficos acima que
afetadas e sua respectiva porcentagem para o
os defeitos mais frequentes encontrados nesse
defeito 5 porque os defeitos existentes no
pavimento são anomalias na selagem das juntas
selante não são avaliados por densidade
(5) e o desgaste superficial do pavimento (10),
(quantidade), mas sim como um todo. Dessa
os quais se encontram em 100% das placas
forma, o valor deduzível desse defeito é
analisadas das duas amostras.
baseado no grau de severidade, sendo 8 para o
As causas para o defeito na selagem das
grau de severidade alto (A).
juntas ocorrem devido ao erro na execuçao da
O defeito 20 não apresenta valores na Tabela
selagem e a escolha de um material selante de
7, pois a norma DNIT 062/2004 – PRO não
baixa vida útil (DNIT, 2010).
aponta existência de curva para a determinação
Esta anomalia pode corroborar para a
dos valores deduzíveis deste defeito.
infiltração de água no pavimento, crescimento
Vale ressaltar, que os valores deduzíveis
de vegetação e oxidação do material.
encontrados dos defeitos 7, 10, 12, 15, 16 e 17
Já as possíveis causas para o desgaste
foram obtidos, respectivamente, de acordo com
superficial são: emprego de concreto de baixa
os ábacos representados nos itens 6.7, 6.10,
qualidade; emprego de agregados sujos ou pó
6.12, 6.15, 6.16 e 6.17 do Anexo A da norma
aderente; excesso de água de mistura no
DNIT 062/2004 – PRO.
concreto; concreto com exsudação elevada por
De acordo com as Tabelas 8 e 9 a seguir, é
deficiência de finos; descolamento da pasta ou
argamassa de cobrimento (DNIT, 2010). possível verificar o resultado do ICP da cada
amostra.
O desgaste superficial provoca um
desconforto ao tráfego, podendo com o tempo
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Tabela 8. Resultado do ICP da 1ª amostra. executivo.


Valor deduzível total 62 Erros de projeto, de execução ou falta de
“q” (quantidade de valores deduzíveis
maior que 5)
4 manutenção podem corroborar para o
Valor deduzível corrigido (VDC) 35 aparecimento de manifestações patológicas,
ICP = 100 - VDC 65 seja na época da construção do pavimento ou
Conceito BOM devido ao seu uso contínuo. Isso reduz a
qualidade da pista e diminui a vida útil,
Observa-se por meio da Tabela 8 que o consequentemente, exigindo reparos com pouco
índice de condição do pavimento encontrado tempo de uso, ou até mesmo antes da liberação
para a 1ª amostra foi considerado bom, pois o do tráfego.
valor do ICP se encontra entre 55 e 70. Na Estrada Parque Taguatinga (EPTG)
foram identificados os defeitos existentes na
faixa exclusiva para ônibus. Como anomalias
Tabela 9. Resultado do ICP da 2ª amostra. mais recorrentes foram apontadas: o defeito na
Valor deduzível total 95
“q” (quantidade de valores
selagem das juntas (defeito de nº 5) e o desgaste
4 superficial da placa de concreto (defeito nº 10).
deduzíveis maior que 5)
Valor deduzível corrigido (VDC) 52 Por meio do cálculo do índice de condição
ICP = 100 - VDC 48 do pavimento do trecho analisado foi
Conceito RAZOÁVEL constatado que o pavimento se apresenta em
boas condições. No entanto, é recomendada a
Por meio da Tabela 9 é possível observar realização de reparo das anomalias com maior
que o índice de condição do pavimento para a grau de severidade, tais como: os defeitos na
2ª amostra foi considerado razoável. selagem das juntas; fissuras lineares; e quebras
A Tabela 10 apresenta o ICP definitivo do localizadas.
trecho, considerando as duas amostras Apesar da classificação geral do pavimento
analisadas, e seu respectivo conceito. ter sido considerada boa, a implementação da
rodovia analisada é recente (comparado à vida
Tabela 10. Resultado do ICP do trecho analisado
útil do pavimento de concreto), datando de
ICP da amostra 1 65
ICP da amostra 2 48 2010. Ou seja, este pavimento não deveria
Média aritmética 56,5 apresentar manifestações patológicas com alto
ICP do trecho 56,5 grau de severidade.
Conceito BOM Dessa forma, pode-se inferir que as
manifestações patológicas encontradas no
Observada a Tabela 10 é possível notar que a trecho analisado podem ter ocorrido devido a
condição do pavimento se apresenta em bom falhas de execução ou a projeto mal elaborado.
estado, porém é recomendável a recuperação Observa-se que apenas a classificação
dos defeitos mais graves encontrados. realizada pelo índice de condição do pavimento
não representa a realidade do pavimento, ou
seja, também deve ser levada em consideração
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS a idade do pavimento para a realização dessa
análise.
A pavimentação de concreto é realizada para
apresentar uma vida útil maior que a
pavimentação asfáltica. Porém, é importante REFERÊNCIAS
salientar que isso só é possível com um projeto
bem elaborado aliado a um controle de ACPA (1998). Whitetopping – State of Practice.
qualidade rigoroso referente ao processo Engeneering Bulletin. American Concrete Pavement
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Association. Concretas, São Paulo, 107 p.


Araújo, M. A. et. al. (2016). Análise Comparativa de
Métodos de Pavimentação - Pavimento Rígido
(concreto) x Pavimento Flexível (asfalto). Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo Do Conhecimento,
Ano 1. v. 10, p. 187-196.
Carvalho, M. (2012). Vantagens e Benefícios do
Whitetopping e do Inlay na reabilitação de
pavimentos. São Paulo, p.13.
Confederação Nacional dos Transportes. Pesquisa CNT
de Rodovias 2016. Disponível em:
<http://www.cnt.org.br/Imprensa/noticia/pesquisa-cnt-
aponta-58-das-rodovias-com-problemas>. Acesso em
02 out. 2017.
Di Pace, G.; Becker, E. (1997). Costo final em
pavimentos urbanos. Disponível em: <
https://trid.trb.org/view/991088>. Acesso em 05
ago.2017
DNIT (2005). Manual de Pavimentos Rígidos. Publicação
IPR-714. Ministério dos Transportes. Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT (2006). Manual de Pavimentação. Publicação IPR-
719. Ministério dos Transportes. Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DNIT (2010). Manual de Recuperação de Pavimentos
Rígidos. Publicação IPR-737. Ministério dos
Transportes. Departamento Nacional de Infraestrutura
de Transportes.
Ferreira, L. A. R. (2015). Estudo Sobre a Durabilidade,
Sustentabilidade e Competitividade dos Pavimentos de
Concreto Utilizados nas Estradas de Rodagem
Brasileiras. Trabalho de conclusão de curso,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campo
Mourão, 62p.
Norma DNIT. (2004). DNIT 060/2004 - PRO –
Pavimento rígido – Inspeção Visual – Procedimento –
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes.
Norma DNIT. (2004). DNIT 061/2004 -TER –
Pavimento rígido – Defeitos – Terminologia –
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes.
Norma DNIT. (2004). DNIT 062/2004-PRO – Pavimento
rígido – Avaliação Objetiva – Procedimento –
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes.
Shahin, M. Y., Kohn, S. D. (1979). Development of a
pavement condition rating procedure for roads, street,
and parking lots. Champaign, III: CERL, 2v.
Silva, J. R. (2002). Relatório Anual de Avaliação PPA
2000-2003. Disponível em: <
http://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-
orcamentarias/ppa/2000-
2003/ppa20002003/ppa_rel_aval/022_transportes.PD
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Vizzoni, R. (2015). Pavimento de Concreto – Solução
Sustentável e Custo Competitivo. Apresentação Vias
 

TEMA:  
EDUCAÇÃO EM GEOTECNIA 
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Apoio Pedagógico a Escolas de Ensino Básico Através do Projeto


de Extensão Conhecendo o Solo, desenvolvido em cidades da
Zona da Mata Mineira
Klinger Senra Rezende
Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
klingers15@hotmail.com

Ana Carolina Dias Baêsso


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
aninhabaesso@hotmail.com

Carla Ruela Moura


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
carla.r.moura@hotmail.com

Guilherme Rivelli Cardoso Soares


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
rivelliguilherme@gmail.com

Ingrid Ferreira Macedo


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
ingridferreiramacedo@yahoo.com.br

Leonardo de Araujo Silva


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
leosilva336@hotmail.com

Leonardo Roberto da Cruz Silva


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
leo_roberto2012@hotmail.com

Nádia Aparecida dos Santos Lopes


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
nadiaguara@yahoo.com.br

Rafael Ozório Braga


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
rafaelozoriobraga94@gmail.com

Sara Macedo Duarte


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa – FAVIÇOSA/UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
saraduarte125@gmail.com

RESUMO: Como forma de apoio a escolas do ensino básico localizadas nos municípios de Viçosa e
cidades vizinhas da Zona da Mata Mineira, estudantes dos 6° e 8° períodos do curso de Engenharia
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Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa se mobilizaram para realizar apresentações


sobre as diferentes frações do solo, como areia, silte e argila, a fim de fornecer contato de aula
prática aos alunos e elucidar as diferenças entre estes constituintes. O projeto extensionista,
intitulado Conhecendo o Solo, foi realizado por 24 graduandos que se dividiram em equipes e
apresentaram o projeto em 11 cidades, sendo elas: Araponga, Brás Pires, Guaraciaba, Guiricema,
Ponte Nova, Porto Firme, Presidente Bernardes, São Sebastião da Vargem Alegre, Teixeiras,
Urucânia e Viçosa. Desta forma, realizou-se um total de 92 apresentações, alcançando cerca de
2910 estudantes de ensino fundamental e médio, tendo faixa etária entre 11 e 17 anos.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto extensionista, Conhecendo o Solo, Apoio Pedagógico.

1 INTRODUÇÃO Qual é o Papel do Profissional do Solo?”,


ministrado pelo professor Marcelo Ricardo de
Investimentos em educação em um país podem Lima, da Universidade Federal do Paraná,
ser realizados de diversas formas. Entre eles, apresentou dados de impacto sobre os
podem ser citados a concessão de bolsas de investimentos públicos em educação, realizados
estudos, o desenvolvimento de materiais nos últimos anos, para escolas do ensino básico,
didáticos, como livros e cartilhas, projetos de através da criação de cartilhas educacionais,
olimpíadas brasileiras, entre outros. abordando vários assuntos do ciclo básico,
Contudo, estes investimentos não têm vindo estando temas de solos entre eles.
apenas de órgãos governamentais, mas também Concomitantemente, o professor apresentou seu
têm sido realizados por instituições de ensino e projeto de extensão universitária, intitulado
empresas que tomam a educação como uma Solo na Escola.
causa primordial no país. Assim, o presente Segundo Jesus (2010), este projeto é uma
trabalho busca apresentar o projeto Conhecendo atividade desenvolvida pelo Departamento de
o Solo: uma iniciativa de estudantes de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade
graduação em Engenharia Civil do município de Federal do Paraná, o qual tem, entre seus
Viçosa-MG, a fim de fornecer auxílio em objetivos, a capacitação de professores da
educação em solos e, de certa forma, um educação básica e a produção de instrumentos
agradecimento às escolas nas quais os didáticos para a educação em solos.
integrantes do projeto estudaram em seus Ao apresentar os resultados satisfatórios
tempos de ensino fundamental e médio. deste projeto em escolas do estado do Paraná e
já alcançando outros estados, o professor
deixou, neste simpósio, um estímulo ao
2 A INICIATIVA CONHECENDO O desenvolvimento de projetos similares, com a
SOLO finalidade de universidades e faculdades
privadas fornecerem suporte educacional às
O projeto extensionista Conhecendo o Solo escolas de ensino básico e, principalmente,
surgiu da participação do professor da àquelas carentes de recursos financeiro-
Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa e pedagógicos.
coordenador do projeto, Klinger Senra Rezende, Outra iniciativa é o Programa de Educação
no IV Simpósio Mineiro de Ciência do Solo, em Solos e Meio Ambiente (PES), que vem
realizado em maio de 2017, na Universidade sendo desenvolvido junto ao Departamento de
Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Solos, na Universidade Federal de Viçosa. O
Neste simpósio, o tema “Percepção e PES é um programa de caráter interdisciplinar
Popularização do Solo na Educação Básica: que articula estudantes, professores e técnicos
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de diferentes áreas do conhecimento da UFV,


com o objetivo comum de trabalhar temas de
Solos e Meio Ambiente no contexto da
educação formal e informal, na práxis
identificada como Educação em Solos
(MUGGLER et al., 2002; 2005).
Neste âmbito, o projeto, também
extensionista, Conhecendo o Solo, mobilizado
por 24 estudantes de graduação em Engenharia
Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia de
Viçosa, foi criado a fim de fornecer apoio
didático no ensino de solos nas escolas de base,
uma vez que temas envolvendo solos também
fazem parte da área de Geotecnia, em Figura 1 - Treinamento para graduandos sobre o projeto.
Engenharia Civil.

2 METODOLOGIA

2.1 O projeto

O projeto consistiu em se preparar a primeira


aula prática de Mecânica dos Solos, Análise
táctil-visual, de forma clara e que pudesse ser
apresentada para estudantes de ensino
fundamental e médio, tendo o projeto a mesma
metodologia para todas as turmas.
Figura 2 - Preparação de material utilizado nas
Consistindo basicamente em se classificar e apresentações das escolas de Ponte Nova-MG.
diferenciar solos arenosos, siltosos e argilosos,
buscou-se elaborar uma forma de se ensinar as Preparavam-se torrões dos diferentes solos,
diferenças entre estes solos, de uma maneira moldando-os e deixando 24 horas em estufa a
simples e que não abordasse termos técnicos, 105°, a fim de realizarem os testes de análise
mas que elucidassem estas principais táctil-visual.
diferenças. Os testes realizados em cada apresentação
Assim, após treinamento realizado no foram: teste visual e táctil, teste de sujar as
Laboratório de Mecânica dos Solos pelo mãos, teste de desagregação do solo submerso,
professor coordenador (Figura 1), os teste de resistência do solo seco e teste de
graduandos se dividiam em equipes, dispersão em água.
preparavam, material necessário (Figuras 2) e Procurava-se, quando o espaço cedido
agendavam com as escolas as datas para permitia, realizar as apresentações ao centro das
realizarem as apresentações do projeto. salas ou pátios (Figura 3), a fim de se envolver
Estas equipes eram, geralmente, divididas os estudantes e incentivá-los a participar como
em grupos de até cinco graduandos, que voluntários nos testes (Figura 4).
distribuíam as funções entre si, como preparo de
material, apresentação e apoio nos testes
realizados.
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Figura 3 - Disposição de mesa e materiais em uma das


apresentações em Viçosa-MG. Figura 5 - Cidades que receberam o projeto Conhecendo
o Solo. Fonte: Google Earth (2018).

Figura 4 - Voluntários realizando o teste de sujar as mãos.

2.2 O alcance do projeto

As apresentações foram realizadas nas cidades


de Viçosa e região (Figura 5), sendo estendidas
para cidades-natal de estudantes da faculdade de
origem do projeto, sendo elas: Araponga, Brás
Figura 6 - Locação das cidades que receberam o projeto,
Pires, Guaraciaba, Guiricema, Ponte Nova, em relação aos limites do estado de Minas Gerais. Fonte:
Porte Firme, Presidente Bernardes, São Google Earth (2018).
Sebastião da Vargem Alegre, Teixeiras e
Urucânia, todas localizadas na Zona da Mata
Mineira (Figura 6). As apresentações foram 3 DIVULGAÇÃO DO PROJETO
realizadas, em sua maioria, para estudantes de
5° a 9° ano do ensino fundamental e 1° a 3° do Para divulgação do projeto, criou-se uma
ensino médio. logomarca que contivesse o título do projeto e
uma imagem de fundo que representasse uma
abordagem de solos, porém, voltada para uma
área da Engenharia Civil, uma vez que os
estudantes eram graduandos deste curso e o
foco do projeto também fosse, de certa forma,
mostrar alguns dos materiais de construção (ou
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de trabalho) utilizados no curso que Tabela 1 – Dados obtidos das apresentações em 2017.
envolvessem solos, não deixando o foco Item Quantidade
Cidades visitadas 11
educacional do projeto de lado. A logomarca do Graduandos de Eng. Civil envolvidos 24
projeto é apresentada na Figura 7. Apresentações realizadas 92
Estudantes de ensino fundamental e médio 2910
alcançados com o projeto

Os graduandos relataram que a receptividade


dos estudantes de ensino fundamental e médio
variava de escola para escola; em algumas
escolas, ambos estudantes participavam de
forma ativa, enquanto em outras escolas, os
estudantes de ensino fundamental participavam
mais.
Em muitas escolas, a direção os convidava
para retornarem em futuros eventos, como
Feiras de Ciência e Espaços Culturais, a fim de
reapresentarem o projeto aos participantes.
Outras destas escolas, ainda faziam convite para
Figura 7 - Logomarca do Conhecendo o Solo. que os mesmos dessem cursos de capacitação
para os professores locais sobre o projeto, uma
vez que muitos deles não eram especializados
Também se criou uma página no Facebook, em cursos relacionados a solos.
com o título que leva o nome do projeto (Figura
8), além de se publicar, para cada cidade em que
se realizou o projeto, uma notícia no jornal da 5 CONCLUSÕES
faculdade, o UniNotícias (REZENDE, 2017 a,
b, c). Como conclusão, considera-se o desempenho
dos graduandos satisfatório junto ao projeto,
sendo todas as apresentações realizadas entre os
meses de outubro a novembro de 2017 e
alcançando quase 3000 estudantes de ensino
básico. Os autores consideram cumprida a
missão de apoio ao ensino de base realizada em
2017 e novas equipes já se mobilizaram para o
Conhecendo o Solo 2018 (REZENDE, 2018). O
novo treinamento foi realizado no dia 08 de
Figura 8 - Página do Conhecendo o Solo, no Facebook. março de 2018 e contatos com novas escolas já
estavam sendo feitos antes de se terminar o mês
de março. Além deste novo início de atividades
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO de apresentações, um Trabalho de Conclusão de
Curso se encontra em desenvolvimento,
Os resultados deste projeto, em 2017, são buscando avaliar a influência do projeto
apresentados na Tabela 1. Conhecendo o Solo na aprendizagem de
estudantes de ensino fundamental em uma
escola do município de Guaraciaba-MG, através
de avaliações sobre solos pré e pós-
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apresentações, a fim de se analisar 2018. UniNotícias, Univiçosa, Viçosa. Disponível em:


qualitativamente a influência do projeto na https://www.univicosa.com.br/uninoticias/noticias/con
hecendo-o-solo-reinicia-os-trabalhos-em-2018.
aprendizagem dos estudantes. Acesso em 16/03/2018.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Faculdade de Ciências


e Tecnologia de Viçosa, por todo apoio ao
projeto e confiança, a todos os graduandos
envolvidos, a todas as escolas de ensino
fundamental e médio que abriram as portas e
acreditaram neste trabalho e também ao
professor Marcelo Ricardo de Lima, pelo
empenho em ajudar a alavancar o projeto e
divulgação.

REFERÊNCIAS

JESUS, O. S. F. (2010) Avaliação de ações de educação


em solos no ensino fundamental por meio do uso de
mapas conceituais, Dissertação de mestrado,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.
MUGGLER, C.C.; COSTA, M.I.E.; SOBRINHO, F.A.P.
& BEIRIGO, R.M. Educação para a conservação do
solo. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, 14.,
Cuiabá, 2002. Anais. Cuiabá, 2002. CD-ROM
MUGGLER, C.C.; SOBRINHO, F.A.P. & MACHADO,
V.A. Educação em solos: princípios e pressupostos
metodológicos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIA DO SOLO, 30., Recife, 2005. Anais.
Recife, Sociedade Brasileira de Ciências do Solo,
2005. CD ROM.
REZENDE, K. S (2017a). Conhecendo o Solo tem início
em São Sebastião da Vargem Alegre. Publicado em
23 de agosto de 2017, UniNotícias, Univiçosa,
Viçosa. Disponível em:
https://www.univicosa.com.br/uninoticias. Acesso em
16/03/2018.
REZENDE, K. S. (2017b) Conhecendo o Solo em
Guaraciaba. Publicado em 19 de setembro de 2017,
UniNotícias, Univiçosa, Viçosa. Disponível em:
https://www.univicosa.com.br/uninoticias. Acesso em
16/03/2018.
REZENDE, K. S. (2017c) Conhecendo o Solo é realizado
em Urucânia. Publicado em 19 de setembro de 2017,
UniNotícias, Univiçosa, Viçosa. Disponível em:
https://www.univicosa.com.br/uninoticias. Acesso em
16/03/2018.
REZENDE, K. S. (2018) Conhecendo o Solo reinicia os
trabalhos em 2018. Publicado em 09 de março de
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Automatização de projetos executivos de fundações superficiais


com auxilio da ferramenta VBA nos softwares MS Excel e
AutoCAD.
Mauro Alexandre Paula de Sousa
Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, Brasil, mauroapsousa@gmail.com

Alan Henrique Carneiro Brito


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil,
allanhennrique@hotmail.com

José Vicente Benevides Ribeiro


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil,
josevicente0225@gmail.com

Vanessa Silva Carvalho


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil,
wannessahcarvalho@gmail.com

Silas Nunes Costa


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil,
sillasnunnes@hotmail.com

RESUMO: O dimensionamento de elementos de fundações superficiais é um processo que pode ser


automatizado pelo uso de planilhas eletrônicas, entretanto o processo de confecção do projeto
executivo desses elementos pode-se tornar bastante dispendioso quando não há a disposição de
ferramentas que auxiliem na representação gráfica das plantas de fôrmas e/ou do detalhamento das
armaduras. Percebe-se cada vez mais que o aprendizado da programação é um grande desafio para
acadêmicos do curso de engenharia civil. Logo, essa proposta buscou mostrar quanto é importante o
ensino da lógica de programação aplicada à engenharia. Neste sentido o objetivo é fazer um programa
que auxilie no dimensionamento e detalhamento de elementos de fundações de modo que os
projetistas consigam trabalhar com eficiência e rapidez. Este programa se distingue dos demais, pois
mostra aplicação de linguagem de programação a alunos em nível de graduação. O programa foi
elaborado em Visual Basic for Applications (VBA), presente em vários softwares existentes no
mercado, como os programas do pacote Office da Microsoft e as plataformas CAD e BIM ligadas a
criação de projetos de engenharia e arquitetura fornecidas pela Autodesk. O programa permite o
projetista dimensionar fundações superficiais com inserção dos valores de tensão admissível do solo,
solicitações, geometria e os diâmetros da armadura dos pilares. Baseado nessas informações é
possível dimensionar os elementos de fundações e após a determinação das dimensões necessárias a
atender as solicitações impostas pelos pilares, o usuário ainda tem a seu dispor a opção de inserir
manualmente as dimensões dos elementos de fundações sem usar a rotina de cálculo fornecida pelo
programa, e assim fazer apenas a criação do projeto executivo, o qual será exportado para a
ferramenta CAD. Antes da criação dos elementos no CAD, o usuário deverá preencher um formulário
com os dados do carimbo que será impresso junto ao projeto. Seguido da exportação para o
AutoCAD, o usuário contará com um projeto executivo pronto para ser impresso e levado para
execução do serviço. Neste projeto, além dos detalhamentos dos elementos de fundações também
contará com uma tabela quantitativa em termos de fôrmas e armaduras especificadas por elementos
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de fundações. Esse programa além de agilizar a criação de projeto de fundações pode ser usado na
edição e modificação de projetos que estão em execução, tornando os valores dos projetos mais
competitivos visto que necessitará somente a aquisição de programas do Microsoft Excel e do
AutoCAD da Autodesk que são ferramentas corriqueiras de qualquer engenheiro civil da atualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto, Sapata, VBA, AutoCAD, Excel, Dimensionamento.

1 INTRODUÇÃO solicitantes e as características geotécnicas do


solo que as sustentarão (VARGAS, 2002). As
A tecnologia vem avançando de forma frenética fundações são dividas em dois grandes grupos,
com intuito de mecanizar e automatizar fundações profundas e fundações superficiais.
processos manuais. Na Engenharia civil As fundações superficiais também nomeadas
acontece o mesmo, para ter bons resultados e de como fundação rasa ou direta, são definidas pela
forma eficaz, são desenvolvidos programas NBR 6122 (ABNT, 2010) como componente
computacionais para executar tarefas repetitivas que transmite ao solo o carregamento por meio
complexas, gerando economia de tempo e de tensões perante a sua base, e fixada a uma
diminuindo a taxa de erro nos resultados. profundidade inferior que duas vezes sua menor
O uso de programas computacionais está no dimensão. A sapata é o elemento mais comum
cotidiano de todos. O MS Excel e o AutoCAD, entre as fundações superficiais.
ferramentas bastante conhecidas que facilitam à Nesta pesquisa foram envolvidos alunos
vida dos Engenheiros, são imprescindíveis em de graduação que em nenhum momento tiveram
seu dia-a-dia. O MS Excel é muito utilizado, mas contato com algoritmo e rotinas de programação.
não em sua integralidade, este software como os Primeiro toda a teoria por trás do
demais do pacote Office da Microsoft possui dimensionamento da sapata foram estudada e
uma linguagem integrada, chamada VBA revisada junto com os pesquisadores. Após o
(Visual Basic for Applications), tornando entendimento das equações, métodos e
possível a programação dentro do próprio prerrogativas foram descritas e automatizadas
software. A utilização do VBA permite que através de códigos em linguagem VBA.
procedimentos repetitivos possam ser
automatizados, gerando mais produtividade.
Este trabalho apresenta uma ferramenta 3 TEORIA UTILIZADA NO
computacional desenvolvida com emprego da DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO DA
linguagem incorporada ao MS Excel junto com SAPATA ISOLADA
o AutoCAD para desenvolvimento de projeto de
dimensionamento de fundações superficiais, Segundo Alonso (1983) sapata isolada é quando
onde o usuário terá acesso ao projeto completo, a mesma suporta apenas um pilar. Já no caso do
logo após a inserção de simples dados, como pilar de divisa denomina-se sapata de divisa,
valores de tensão admissíveis do solo obtidos no trabalharemos apenas com o primeiro caso no
resultado de sondagens SPT, esforços presente trabalho.
solicitantes, geometria e os diâmetros da
armadura das barras de aço. 3.1 Dimensões da Sapata em Planta

As dimensões da sapata são determinadas em


2 FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS relação à tensão admissível do solo e esforços
solicitantes provenientes dos pilares. Neste caso,
Existem diversos tipos de fundações, que são a tensão admissível do solo deve ser superior à
projetadas de acordo com os carregamentos tensão máxima solicitante, devendo atender a
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todo tipo de carga, de modo que não venha


ocasionar ruptura ao solo. L = B − bP + a P (5)
A equação 4 é utilizada com um incremento
 m áx   adm (1) de 5 cm que é adicionado a menor dimensão até
que a condição imposta pela equação 3 seja
atendida. O cálculo do lado L é feito
A tensão máxima para o caso de carga considerando que os balanços serão iguais, como
centrada pode ser definida como força solicitante ilustrado na Figura 1.
aplicada em função da área da sapata, este caso Segundo a NBR 6122 (2010) a sapata isolada
ocorre quando o centro de carga do pilar coincide não pode ter dimensões menores que 60 cm.
com o da sapata, para este caso temos a equação BASTOS (2012) recomenda que os valores das
2. dimensões das sapatas sejam multiplico de 5 cm,
isso garante uma melhor execução na prática.
F
 máx =   adm (2) Segundo Cintra et al. (2011) temos
Área Sapata correlações com resultados de ensaios de SPT
para determinação da tensão admissível em
Já no caso de carga excêntrica, isto é, quando fundações por sapatas, segue na equação 6.
os centros de carga não se coincidem, o que
N SPT
causa momentos fletores, aplica-se a equação 3.  adm = ( MPa) (6)
50

F M My
 máx = + x +   adm (3) Onde o NSPT é o valor médio dos NSPT dentro
Área Sapata W x W y
do bulbo de tensões, com 5  N SPT  20 .
No dimensionamento é necessário levar em
consideração a situação mais econômica, a fim De acordo com Simons e Menzies (1981)
de reduzir gastos, portanto, as distâncias em apud Cintra et al. (2011) o comprimento do
planta da face do pilar a borda da sapata devem bulbo de tensão (z) é determinado a partir de
ser idênticas nas duas direções, ou seja, os conceitos existentes na teoria da Elasticidade
balanços livres devem ser iguais, garantindo aplicada à Mecânica dos solos, e está
áreas de armaduras aproximadamente parecidas diretamente relacionado com a forma do
nessas direções, conforme ilustrado na Figura 1 elemento de fundação.
abaixo. Cintra et al. (2011) ressalta que para efeitos
práticos para determinação da forma do
elemento de fundação, pode-se considerar:
mm
Balanço
43,74

Sapata circular ou quadra (L=B): z = 2B


Sapata retangular (L = 2 até 4B): z = 3B
Balanço
52,10 mm
bp B Sapatta corrida (L≥ 5B): z = 4B

ap Nesse quesito, a tensão admissível do solo


será definida pelo usuário.

3.2 Altura da Sapata


L
Figura 1. Planta baixa da sapata com balanços iguais.
A altura é determinada a partir da rigidez da
sapata e dimensões da sapata e pilar. A altura da
B = 0,60 + 0,05.i (4) sapata deve obedecer à equação da NBR 6118
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(2014), em que a altura é o maior valor das


equações abaixo, em relação às duas direções. 4 DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL
 L − aP DA SAPATA ISOLADA
 3
 4.1 Armaduras Longitudinais da Sapata
h  (7)
 B − bP
 As armaduras longitudinais da sapata podem ser
 3 definidas pelas equações simplificadas abaixo:

Essa fórmula é definida para sapatas rígidas, Msda


pois o programa trabalhará apenas com este tipo ASa = (10)
de caso. 0,8.d . fyd
Destaca-se que altura da sapata deve garantir
Msdb
o cobrimento da ancoragem da armadura ASb = (11)
longitudinal do pilar, e o cobrimento das 0,8.d . fyd
armaduras do pilar e das sapatas, necessitando
por tanto realizar a verificação expressa na Para o dimensionamento a altura útil, d, é
equação 8. considerada no programa como o maior valor
entre o comprimento de ancoragem lb e a altura
h  lb + c (8) da sapata subtraído do cobrimento. Vale ressaltar
que a área de aço deve respeitar a área de aço
Onde o lb é o comprimento da ancoragem mínima que é de 0,15% em relação à área bruta
definida a partir da NBR 6118 (2014) e c é o da sapata, portanto temos a expressão 12.
cobrimento.
ASa e ASb  AS min (12)
3.2 Dimensões da Altura da Base da Sapata

Segundo Bastos (2012), a altura base da sapata Portanto o número de barras de aço é definido
(h0) deve respeitar a condição imposta pelo pela área de aço encontrada, divida pela área de
sistema abaixo: da seção da barra do aço que será utilizada na
sapata.
 h
 ASa;b
 nbarras =
h0   3 (9) (13)
A


20cm

3.2 Altura mínima do Lastro 4 RESULTADOS

Segundo a NBR 6122 (2010) todas as fundações 4.1 O Programa


superficiais que estejam em contato com o solo
devem ser concretadas sobre um lastro de O programa resultou-se em uma interface
concreto não estrutural com no mínimo 5 cm de bastante dinâmica e simplificada, nesta interface
espessura, que deve ser aplicado em toda a área há quatro abas: dados de entrada,
que terá contato solo-fundação. Já em caso de dimensionamento, distância entre os eixos e
contato diretamente com rocha, o lastro tem a projeto, estas podem ser alternadas utilizando o
função de regularizar a superfície, seguindo a comando Ctrl+Tab, a seguir será apresentada
mesma obrigação de um mínimo de 5 cm. cada uma delas. O programa foi nomeado de
FootPROJECT.
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4.1.1 Aba: Dados de Entrada My – Carga Momento em torno do eixo y (kN.m)


N°de barras – Quantidade de barras de aço do
Na página dados de entrada, como mostra na pilar;
Figura 2, o usuário seleciona o arquivo e importa Bitola – Diâmetro da barra de aço do pilar (mm);
os dados ao programa. É importante salientar que Nb em b - Quantidade de barras de aço na
direção b;
o arquivo deve ter formato de extensão que o
Nb em a - Quantidade de barras de aço na direção
Excel aceite, e deve obrigatoriamente seguir a a.
ordem de dados, caso contrário alterará os
resultados, em razão de não estarem arranjados 4.1.2 Aba: Dimensionamento
corretamente ou até mesmo recusará a sua
leitura. Nesta aba, o usuário preenche os parâmetros
utilizados no dimensionamento da sapata:
estruturais geométricos e geotécnicos. No
quadro parâmetros estruturais o usuário
seleciona o fck em MPa do concreto que utilizará
e o diâmetro da armadura em mm que empregará
no projeto, como mostra na Figura 4.

Figura 2. Janela de Dados de entrada.

Deste modo, os pilares precisam estar


ordenados na coluna A, a dimensão do pilar na
coluna B, e assim por diante, de acordo com a
figura 3, não havendo limite de números de
pilares. Figura 4. Janela de Dimensionamento.

A função da altura maior (h) e altura menor


(h0) da sapata, é caso o projetista queira
padronizar suas alturas, para isso basta marcar a
caixa de seleção e inserir o valor em cm que
Figura 3. Tabela do Excel a ser importada ao programa.
deseja, mas há uma condição, o programa
somente adotará os valores caso o valor inserido
Onde:
das alturas sejam superiores ou iguais ao
Pilar – Número do Pilar; mensurado pelo programa, ou seja, ele adotará o
bp – Menor dimensão do pilar em planta de maior valor, por motivos de segurança. Com isso
acordo com eixo horizontal (cm); o usuário poderá manter as alturas da sapata
ap – Maior dimensão do pilar em planta de constante ou variar linearmente entre as faces do
acordo com eixo vertical (cm); pilar até a extremidade da base da sapata.
N – Carga Vertical solicitante centrada (kN); Para o detalhamento da sapata o
Mx – Carga Momento em torno do eixo x (kN.m) FootPROJECT considera os valores de h, h0 e o
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diâmetro das barras longitudinais do pilar. As


armaduras da sapata são calculadas em função
dos esforços solicitantes acrescido do peso
próprio da sapata.
A Figura 5 ilustra o esquema estrutural da
sapata que é detalhada em um projeto executivo
gerado no AutoCAD.

My

Armadura Longitudinal do Pilar


Mx
ap Armadura Transversal Pilar
x

bp
Forma
Figura 6. Janela de Locação dos Pilares.

4.1.4 Aba: Projeto


ta
pa
da
Sa A ultima aba da interface do FootPROJECT
h0 do
La

M
en
or
ta
consta com um quadro resumo do
do pa
h a dur
a
do
da
Sa
dimensionamento, no qual o usuário pode
m La
Ar
Ma
ior navegar entres os elementos já dimensionados.
do

m
ad
ur
a
Nesta aba o usuário tem opção editar as
Ar
Cobrimento dimensões de cada um dos elementos de
fundação antes de fazer a exportação para o
Figura 5. Especificações de projeto da sapata.
AutoCAD (Figura 7).
O cobrimento das armaduras adotado para as
sapatas foi de 5 cm. Trata-se de um valor que não
pode ser alterado pelo usuário.
Em parâmetros geotécnicos deve ser
introduzido o valor da tensão admissível do solo,
calculado a partir do ensaio de SPT e a altura em
metros do embutimento.
Logo após inserir todos os dados necessários
e clicar em calcular, aparecerá os valores das
dimensões das sapatas de cada pilar.

4.1.3 Aba: Distância dos Eixos


Figura 7. Janela de especificações do Projeto.
A função desta guia é realizar o projeto de
locação das sapatas e ordená-las numericamente Esses itens são necessários, pois possibilitam
seguindo a NBR 6118 (2014). O usuário pode autonomia ao usuário da ferramenta, visto que
lançar os pilares de forma aleatória, mas antes de fica a critério dele uniformizar os elementos ou
manter a proposta do programa.
fazer a exportação do projeto executivo o botão
Basta clicar na linha, do quadro, referente à
arrumar (Figura 6) deve ser acionado para sapata e automaticamente os campos de lado e
ordenar os pilares seguindo as especificações da armadura serão atualizados com os dados do
norma. elemento selecionado. Se o usuário optar por
alterar os dados, basta edita-los e pressionar o
botão alterar dimensões e em seguida calcular
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armaduras. Ao fazer isso o usuário atualiza os


dados calculados previamente com o
FootPROJECT. Caso o usuário se arrependa das
alterações basta pressionar o botão restaurar
dimensões originais.

4.2 Exemplo Numérico

Para averiguar a funcionalidade da ferramenta


foi executada uma avaliação, que consistiu na
realização de um simples projeto de sapata, então
foi preenchida tabela de acordo com a ordem que
o programa exige. Segue na Figura 8 os dados
utilizados para análise do programa. Figura 10. Inserção dos parâmetros estruturais e
geotécnicos.

Ao pressionar o botão <CALCULAR> o


quadro em branco é preenchido de forma
tabulada com as dimensões dos pilares e das
sapatas, além de mostrar a quantidade de barras
e o espaçamento entre eles para os dois lados da
Figura 8. Tabela do Excel a ser importada ao programa. sapata, como mostra a Figura 11.
Após o preenchimento da tabela e salvo o
arquivo, a mesma foi importada para o
programa, como mostra na Figura 9. É
importante verificar se todos os dados estão de
acordo.

Figura 11. Resultados do dimensionamento dos elementos


de fundação.

A próxima etapa consiste em realizar a


locação dos pilares, consequentemente das
Figura 9. Importação dos dados de entrada. sapatas isoladas. Para realizar este processo
basta selecionar o pilar no quadro lançamento e
A partir daí é o momento de inserir os inserir em metros suas distâncias horizontal e
parâmetros que serão utilizados no vertical em relação à origem (0;0) e clicar em
dimensionamento, são eles: a resistência <Lançar Pilar>.
característica à compressão do concreto, Após o lançamento de todos os pilares como
diâmetro nominal da armadura a serem utilizadas mostra a Figura 11, é a vez de ordená-los de
na sapata, tensão admissível do solo e acordo com as prescrições da NBR 6118 (2014)
embutimento, como apresentado na Figura 10. que exige que a numeração dos elementos
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estruturais deva ser realizada de cima para baixo


e da esquerda para direita, para isto basta clicar
em <Arrumar>, que a operação será executada,
como ilustrado do na Figura 12.

Figura 14. Dados do Projeto.

Ao pressionar o botão <EXPORTAR> uma


janela do AutoCAD será aberta dentro de alguns
segundos com o projeto executivo calculado pelo
Figura 12. Lançamentos das Coordenadas x e y para os
FootPROJECT. A Figura 15 mostra o projeto
Pilares do projeto. executivo para o caso em estudo, nesta planta de
fôrma são descritas os eixos verticais de cada
Na Figura 13 pode-se ver que ele agrupa a sapata, que diferem por uma ordem alfabética e
ordem de lançamento dos pilares com a ordem os eixos horizontais numerados de ordem
que os pilares serão inseridos no projeto. crescente.
Além de adicionar as cotas entres os eixos dos
elementos de fundação. São descritas as
dimensões do pilar em centímetros e a das
sapatas em metros.

Figura 13. Atualização da ordem de Lançamento dos


pilares.

Neste momento chega-se a ultima etapa do


projeto. A qual consiste no preenchimento dos
dados que devem constar no carimbo do projeto,
como mostrado na Figura 14.

Figura 15. Projeto Executivo – Fôrma.


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Cada um dos elementos de fundação é


detalhado separadamente de acordo com a escala
escolhida na ultima interface do programa
(Figura 14). Como exemplo foi escolhida a
Sapata S2 (Figura 16) com dimensões de 1,60m
x 1,80m, o detalhamento dessa sapata é descrito
nas Figuras 16, 17 e 18.

Figura 18. Detalhamento S2 – Pilar de Arranque.

Assim como para a Sapata S2 o detalhamento


dos demais elementos de fundações é gerado de
forma automática e organizado na mesma
sequência que parecem no projeto de fôrma
(Figura 15).
Cada prancha consta com um carimbo igual
ao mostrado na Figura 19, no qual são
atualizados o numero de prancha de acordo
como a necessidade. Ficando apenas a critério do
usuário a configuração de espessuras de linhas e
Figura 16. Detalhamento S2 - Planta de Fôrma armaduras a inserção do logo da empresa ou do projetista
principais. responsável pelo projeto.

Figura 19. Carimbo do projeto.

O programa arruma os desenhos nas pranchas


A4, A3, A2 e A1. O próprio programa verifica
qual prancha é mais adequada para a plotagem
dos desenhos. A Figura 20 mostra o projeto de
fôrmas enquadrados em uma prancha A4 na
escala 1:50.

Figura 17. Detalhamento S2 – Corte da sapata.


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de qualquer engenheiro civil da atualidade.


O fato de não necessitar de instalação de
outros programas, facilita o entendimento tanto
profissional quanto acadêmico no correto
dimensionamento de elementos de fundações
rasas, neste caso as sapatas isoladas.
A programação desenvolveu absoluto
interesse dos acadêmicos, que viram como uma
rotina computacional pode ser aplicada diante de
um projeto complexo, tornando-o simples. Além
disso, os acadêmicos notaram como podem
inter-relacionar vários softwares para executar
tarefas em que há necessidade, por razão de suas
limitações e funções. Profissionais da
Engenharia que compreendem programação
apresenta diferencial no mercado de trabalho
perante os demais, pois consegue realizar tarefas
em curto prazo de forma automática, o que
atribuí valor ao currículo.
Todos esses resultados contribuem de forma
mais dinâmica no aprendizado dos acadêmicos
de engenharia civil, pois mostra aplicações e
soluções a tarefas repetitivas. Mesmo sabendo
que há programas similares que podem realizar o
Figura 20. Prancha com a Planta de fôrma.
processo semelhante ao FootPROJEC fica claro
a contribuição e aplicação de linguagem de
programação na vida profissional e acadêmica
CONCLUSÃO dos alunos.

Os resultados obtidos no período em estudo no


que se refere à criação do programa REFERÊNCIAS
FootPROJECT, permitem concluir que:
O programa mostrou-se ser uma ferramenta Alonso, U. R. (1983) Exercícios de fundações. São Paulo:
Edgard Blucher. 201 p.
de grande poder de síntese nos quesitos de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
dimensionamento geotécnico e estrutural de TÉCNICAS. NBR 6118 (2014). Projeto de estruturas
sapata isolada. de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 238 p.
O programa consegue confeccionar projetos ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
executivos de fundações rasas do tipo sapata TÉCNICAS. NBR 6122 (2010). Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro, 103 p.
isoladas em questão de poucos segundos. Além
Bastos, P. S. D. S. (1987). Estruturas de concreto III: notas
de configurar as linhas do projeto de acordo com de aula sapatas de fundação. Bauru, 2012.
as Layers especificas que facilita o usuário a Brito, J. L. W. Fundações do edifício. São Paulo, EPUSP.
editar o projeto posteriormente. Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Albiero J. H. (2011). Fundações
O FootPROJECT mostrou-se uma boa opção Diretas: projeto geotécnico. São Paulo, v.1, Oficinas
de Textos, 136 p.
para auxilio no projeto de edificações que
Vargas, M. (2002) Associação Brasileira De Geologia De
utilizam sapatas isoladas como fundações pela Engenharia e Ambiental. Evolução das Investigações
facilidade de inserção de dados de entrada e por geológicas: Os solos da cidade de São Paulo:
fazer uso dos programas MS Excel e AutoCAD Histórico das pesquisas. São Paulo. 152 p.
que são ferramentas bastantes básicas no arsenal
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Benefícios Proporcionados pela Sequência Lógica de Aprendizado


em Geologia e Geotecnia para Cursos de Engenharia Civil
Christiane Ribeiro da Silva
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, chribeiro.s@gmail.com

Flávia Cauduro
Universidade do Extremo Sul Catarinense/UNESC, Criciúma, Brasil, engflaviacauduro@gmail.com

Rafael Ribeiro da Silva


Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Unisinos, São Leopoldo, Brasil, rafael@gastation.com.br

RESUMO: Em cursos de engenharia civil, a disciplina de geologia é seguida pela mecânica dos solos,
mostrando que existe uma forte interação entre as duas áreas. Apesar do ensino teórico e prático de
geologia direcionado a engenharia, existe a importância de aplicar geotecnicamente tais
aprendizados. Esta aplicação vem na sequência, com a disciplina de mecânica dos solos e laboratório.
O laboratório de mecânica dos solos é o local indicado para instigar o estudante a colocar em prática
os conhecimentos adquiridos nas fases anteriores. Um dos importantes trabalhos desta disciplina é a
realização de ensaios de caracterização geotécnica de solos “desconhecidos”, aqueles sobre os quais
não se possui resultados conhecidos acerca de suas características geotécnicas. Considerando que tal
atividade seja proposta em mais de um curso de engenharia civil, além de permitir ao acadêmico um
melhor entendimento sobre caracterização geotécnica a partir do seu próprio trabalho, a disciplina
pode proporcionar para a região a chance de catalogar seus solos com esforço “compartilhado”. Com
isso, o ganho na formação do acadêmico no âmbito geológico geotécnico cresce, uma vez que o
profissional se mostra capacitado para contratar, com discernimento, profissionais específicos para
sua obra, sabendo requisitar seus serviços a partir das demandas exigidas em seus projetos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Geologia, Geotecnia, Solos, Aprendizado, Sequência.

1 INTRODUÇÃO com a geologia se mostra diário, uma vez que os


solos sofrem transformações ao longo de suas
A geologia é a ciência que estuda a Terra desde vidas.
sua origem ao mesmo tempo em que a Seguindo Costa Nunes (1983, apud FILHO &
engenharia lida com transformações, tanto no GANDOLFI, 2012, p.118) “Karl Terzaghi,
meio onde vivemos quanto nos tipos de materiais referência na área de mecânica dos solos, relatou
aplicados, e uma coisa não vive sem a outra. que um ponto enfático nos ensinamentos neste
Em cursos de engenharia civil, a disciplina de tema está atrelado à estrutura geológica”. Ainda,
geologia é seguida pela mecânica dos solos, seguindo a linha de pensamento do autor, “as
mostrando que existe uma forte interação entre feições, consideradas origem dos problemas,
as duas áreas. Na verdade, é importante entender poderiam ser utilizadas como preceptoras de
que área de geotecnia é composta por geologia soluções, já que a geometria do modelo
de engenharia, mecânica dos solos e mecânica de geotécnico provém da geologia”.
rochas. Seja na área de obras de terra quanto de Com isso, temos que, apesar do ensino teórico
engenharia sísmica ou geotecnia ambiental, além e prático de geologia direcionado a engenharia,
de obras de escavação e contenção, o contato existe a importância de aplicar geotecnicamente
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tais aprendizados. Esta aplicação vem na parcerias entre universidades sejam firmadas.
sequência, com a disciplina de mecânica dos Dados sobre a data de coleta, local, condições
solos e laboratório, sendo o local indicado para climáticas, coordenadas geográficas são de suma
instigar o estudante a colocar em prática os importância. Tendo em vista o prévio
conhecimentos adquiridos nas fases anteriores. É conhecimento geológico adquirido, a atividade
no laboratório que se percebe que as corretas também pode prever uma estimativa com relação
execuções dos ensaios atreladas a à tendência dos solos de serem transportados ou
conhecimentos prévios impactam diretamente residuais.
nos resultados. Para o desenvolvimento da metodologia são
Relacionando o aprendizado geotécnico com previstos ensaios de granulometria, índices
área da educação, este tipo de prática, no âmbito físicos e de consistência, compactação e Índice
da pedagogia, é descrita e defendida pelo de Suporte Califórnia, pelo menos. De posse dos
interacionismo. Conforme Pereira, (2012, resultados, o trabalho final contempla a
p.277), “Piaget, Wallon e Vygotsky mostraram elaboração de um artigo sobre o solo trabalhado
que o conhecimento se dá a partir do sujeito em e sua aplicabilidade, buscando aproximar o
sua ação no mundo e conferem a esse processo acadêmico com a realidade da comunidade
sujeito-mundo uma dialeticidade ímpar nas técnico científica. Isto é importante, pois um
teorizações sobre como conhecê-lo”. Conforme futuro engenheiro aprende não somente a
Vygotsky (apud PEREIRA, 2012, p.281), “toda executar, mas também a escrever e apresentar
generalização, toda formação de conceitos é o seus dados, justificando seus resultados a partir
ato mais específico, mais autêntico e indiscutível da execução de seus próprios ensaios. Com isso,
do pensamento. Consequentemente, estamos o ganho na formação do acadêmico no âmbito
autorizados a considerar o significado da palavra geológico geotécnico cresce, uma vez que o
como um fenômeno do pensamento”. profissional se mostra capacitado para contatar,
Nesse contexto, um dos importantes trabalhos com discernimento, profissionais específicos
de uma disciplina de laboratório de mecânica dos para sua obra, sabendo requisitar seus serviços a
solos é a realização de ensaios e/ou estudos partir das demandas exigidas em seus projetos.
comparativos de caracterização geotécnica ou
mecânica de solos previamente conhecidos com
solos “desconhecidos”. Como solos 2 METODOLOGIA
“desconhecidos” ficam entendidos aqueles sobre
os quais não se possui resultados explorados 2.1 Disciplina de Geologia Geral
acerca de suas características geotécnicas.
Normalmente as disciplinas propõem aos seus A disciplina tem como objetivo fornecer um
acadêmicos a coleta de materiais conforme aprendizado teórico e prático na área de
especificações previamente estabelecidas. Geologia e Geotecnia, com discussões a respeito
Considerando que tal atividade seja proposta dos fatores geológicos condicionantes aos
em mais de um curso de engenharia civil, além estudos, métodos de investigação, projetos e
de permitir ao acadêmico um melhor construções em obras de Engenharia.
entendimento sobre caracterização geotécnica a Busca, ao longo de suas aulas teórico
partir do seu próprio trabalho, a disciplina pode expositivas e práticas, estudar as características
ir além. Pode, também, proporcionar para a e a dinamicidade do interior e da superfície da
região a chance de catalogar seus solos com Terra, compreender os processos físicos que
esforço compartilhado, mostrando, ainda, que levam o planeta a ser como é, pesquisar matérias-
mesmo que estejam próximos é possível obter primas e estabelecer critérios para o seu
diferentes características entre as amostras. Tal aproveitamento racional e sustentável,
situação pode oportunizar ao país um catálogo de compreender a influência dos processos
solos a nível nacional considerando que geológicos e de transformação do meio
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ambiente, auxiliar na proposição de soluções, a teóricas expositivas semanais que fundamentam


partir de métodos investigativos, para a o estudo dos princípios básicos fundamentais
realização de projetos, construção e obras de para a Engenharia Geotécnica. A disciplina
Engenharia, de maneira sustentável e com o busca associar teoria com a prática, através de
menor prejuízo ao ambiente natural. exemplos reais do dia a dia, a partir de conceitos,
A atividade acadêmica é desenvolvida em estudos e elaboração de artigos científicos,
consonância com a proposta pedagógica do situações problemas, aulas práticas e trabalhos
curso. São ministradas aulas teóricas expositivas em equipe. As aulas contam com suporte de
semanais que fundamentam o estudo dos projeção de imagens e textos, além de prática
princípios básicos que regem a disciplina de laboratorial.
Geologia Geral, buscando associar teoria com a
prática, através de exemplos reais do dia a dia.
São utilizados estudos de textos, situações 3 RELATO DE ENSINO
problemas, aulas práticas e trabalhos em equipe.
As aulas são realizadas com suporte de projeção Lecionar a disciplina de Geologia em cursos de
de imagens e textos, além de amostras de engenharia civil pode ser visto como um desafio.
minerais e rochas. Que se dá em virtude do estilo dos acadêmicos
matriculados no curso, sendo que estes são
2.1 Disciplina de Mecânica dos Solos e adoradores de cálculos, ciência denominada
Laboratório exata. Enquanto isso, a geologia, apesar de
considerada uma ciência exata, tem
A disciplina tem como objetivo fornecer ao características de ciências humanas visto que
aluno os conceitos teóricos básicos e está baseada em estudos históricos, já que estuda
conhecimentos práticos em mecânica dos solos a evolução do Planeta Terra. Desta forma, a
com ênfase nas obras de engenharia geotécnica. necessidade de estudos teóricos sobre a
Com relação a etapa de laboratório, busca aplicar formação de nosso planeta possui grande
os conceitos básicos de mecânica dos solos por relevância.
meio da prática e suas aplicações na engenharia. No entanto, ter a oportunidade de despertar,
Busca, ao longo de suas aulas teórico expositivas em um acadêmico de engenharia civil,
e práticas, estudar as características e o curiosidade e interesse sobre como funciona o
comportamento dos solos conforme suas chão sob o qual, além de pisar, sustentará suas
solicitações, tensões no caso, e/ou perante o obras, é uma tarefa árdua, porém desafiadora e
escoamento de água nos seus vazios. incrível. Isto, pois, não existe engenharia sem
A Mecânica dos Solos como um todo é parte geologia. Não existe história do Planeta Terra
integrante de uma ciência denominada sem entender a Teoria da Deriva Continental
Engenharia Geotécnica. Sabendo que todas as nem a Teoria de Tectônica de Placas.
obras de Engenharia Civil são assentadas sobre Para engenheiros civis, conectar os tipos de
terrenos, a previsão do comportamento dos solos forças incidentes nos limites entre placas
de forma correta e coerente é de suma tectônicas com aquelas aprendidas ao longo da
importância. Com isso, a disciplina desenvolve disciplina de Resistência dos Materiais promove
um aprendizado teórico e prático na área de a aplicação de conceitos de engenharia
Geotecnia, com discussões a respeito dos tópicos aprendidos dentro da geologia. Apresentar ao
mais relevantes que devem ser entendidos por acadêmico que um solo rompe por um tipo
aqueles que desejam projetar e/ou executar obras determinado de esforço aguça a sua curiosidade.
nessa área. Paralelamente aos movimentos, temos as
A atividade acadêmica também é questões relacionadas à formação de rochas e
desenvolvida em consonância com a proposta suas estruturas que caracterizam falhas ou
pedagógica do curso. São ministradas aulas deformações.
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Quando um engenheiro civil se volta para a relação ao laboratório, especificamente, este


área geotécnica, ele automaticamente busca um simula as condições de um congresso. O
aprendizado em geologia. Querer mais geologia primeiro passo é a realização da coleta e a
é de certa forma, buscar mais cultura para nós entrega de um resumo, onde, para tal, é
mesmos. É buscar alternativas, ler, assistir necessária a pesquisa sobre os ensaios. Na
documentários, é acima de tudo, conhecimento e sequência, no decorrer do semestre, as práticas
conhecimento sempre agrega. Sobre geologia são realizadas e, por fim, seus resultados são
podemos conversar sempre, então no nosso utilizados na elaboração de um artigo científico.
momento de aula, o que precisamos, como Como as coletas ocorrem em locais
docentes desta privilegiada disciplina, é mostrar diferentes, definidos conforme os grupos de
o quão interessante e o quão fascinante ela pode trabalho, a atividade, além de permitir ao
se tornar aos olhos de quem, naquele momento, acadêmico um melhor entendimento sobre
estaria pensando em somente mais uma aula. caracterização geotécnica a partir do seu próprio
Aos acadêmicos geotécnicos, seria como trabalho, pode ir além. Considerando que tal
integrá-los num universo cultural e histórico de atividade seja proposta em mais de um curso de
suma importância para sua profissão. engenharia civil, temos não somente a
Considerando a aplicabilidade da sequência oportunidade de proporcionar para a região a
desenvolvida, a disciplina de Geologia vem na chance de catalogar seus solos com esforço
quinta fase, seguida de Mecânica dos Solos 1 e “compartilhado”. Temos, também, como
Laboratório de Mecânica dos Solos. É lá que a oportunizar ao país um catálogo de solos a nível
prática toma conta. Conforme anteriormente nacional considerando que parcerias entre
citado, um laboratório de mecânica dos solos é o universidades sejam firmadas.
local indicado para instigar o estudante a colocar Com base no exposto, motivado pela
em prática os conhecimentos adquiridos nas possibilidade de oportunizar um catálogo de
fases anteriores. É no laboratório que se percebe solos, inicialmente, a nível local/regional, o
a dependência e a aplicabilidade dos Grupo de Pesquisa em Geologia de Engenharia e
conhecimentos já obtidos. Geotecnia Ambiental da UNESC está iniciando
A disciplina de Laboratório de Mecânica dos este projeto. Inicialmente estão sendo
Solos prevê a realização de ensaios e/ou estudos compilados os dados das atividades já realizadas
de caracterização geotécnica em solos para a criação de um banco de dados regional.
“desconhecidos”. Isto ocorre a partir da coleta de Ainda, considerando o prévio conhecimento
material, um volume aproximado de 30 kg, para geológico adquirido, a atividade também prevê
ensaios. Como solos “desconhecidos” ficam estimativas sobre caracterização geológica dos
entendidos aqueles sobre os quais não se possui solos estudados. Para o desenvolvimento do
resultados conhecidos acerca de suas projeto é de suma importância à participação de
características geotécnicas. acadêmicos, que auxiliarão na elaboração dos
A disciplina usualmente propõe diretrizes mapas com as localizações de coletas e
para a coleta de materiais, seguindo montagem do banco de dados, além da análise
especificações previamente estabelecidas. crítica para compilação de dados semelhantes
Parâmetros sobre a coleta, dentre outros, devem sobre os tipos de solos.
ser criteriosamente seguidos, proporcionando ao Deste modo, o projeto visa favorecer o
acadêmico condições suficientes de desenvolvimento técnico científico do curso,
entendimento sobre localização da coleta e, promovendo, com isso, publicações em temas de
posteriormente, sobre as análises realizadas. relevância na área da engenharia civil. Isto é
Deste modo, tanto a mecânica dos solos importante, pois o acadêmico, futuro engenheiro,
teórica quanto a prática de laboratório buscam a aprende não somente a executar, mas também a
integração do acadêmico no mundo científico, escrever e apresentar seus dados, justificando
isto devido à dependência de informações. Com seus resultados a partir da execução de seus
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próprios ensaios. escrever e apresentar seus dados, justificando


seus resultados a partir da execução de seus
próprios ensaios. Com isso, o ganho na formação
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS do acadêmico no âmbito geológico geotécnico
cresce, uma vez que o futuro profissional se
Seguindo a linha de pensamento de Filho & aproxima de temas de relevância da área da
Gandolfi (2012), “não se pretende que o futuro engenharia civil. Por fim, pretende-se não
engenheiro seja um geólogo ou realize atividades somente ensinar procedimentos, mas sim
que são da competência deste, mas sim que esteja mostrar aos futuros engenheiros a conexão e a
capacitado a contatar em nível adequado de dependência das informações aplicadas como
compreensão tais profissionais, sabendo um todo.
requisitar seus serviços”.
Sabemos que a engenharia lida com
transformações, então é possível dizer que, para AGRADECIMENTOS
auxiliar a engenharia civil, está a geologia,
geociência aplicada a serviço da transformação ● Curso de Engenharia Civil e Laboratório
da natureza. Desta forma, neste artigo é possível de Mecânica dos Solos da Universidade do
perceber os benefícios proporcionados pela Extremo Sul Catarinense – UNESC;
sequência lógica de aprendizado em geologia e
geotecnia para cursos de engenharia civil.
Independente da disciplina, engenheiros são REFERÊNCIAS
pessoas práticas que precisam ou precisarão
resolver problemas, o que mostra que aulas Das, B.M. Fundamentos de engenharia geotécnica.
Thomson, 2007.
práticas são fundamentais. A diferença de Filho, C. L. F. e Gandolfi, N. O ensino da geologia de
integração e conhecimento agregado quando engenharia nos cursos de engenharia civil do Brasil.
encostamos, sentimos texturas, cheiro, Revista Brasileira da Geologia de Engenharia e
observamos características é surpreendente. Ambiental. 2012 páginas 117-123.
É fundamental que futuros engenheiros Oliveira; Brito (Org.). Geologia de engenharia. São Paulo:
ABGE, ABGE. 586 p. ISBN 85-7270-002-1
geotécnicos entendam do solo, sendo solo Pereira, C.L. Piaget, Vygotsky e Wallon: Contribuições
definido como produto de decomposição de para os estudos da linguagem. Psicologia em Estudo,
rocha, o que recorre à necessidade de Maringá, v. 17, n. 2, p. 277-286, abr./jun. 2012
entendimentos sobre geologia. No entanto, para Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São
saber geologia é preciso amá-la e, para amá-la, é Paulo: Oficina de texto, 2001.
Press, F. et al. Para entender a Terra. Tradução Rualdo
preciso ter tido um dia a oportunidade de recebê- Menegat, 4ed. Porto Alegre: Bookman, 2006, 656 p.
la com entusiasmo e com aplicabilidade. Isto, Teixeira, W. (Org.). Decifrando a Terra. 2.ed. São Paulo:
pois, como dito anteriormente, engenheiros são Companhia Editora Nacional, 2009. 623 p. ISBN
exatos, e se eles não entenderem suas aplicações, 9788504014396.
dificilmente se apaixonarão.
Considerando a sequência lógica de
aprendizado em geologia e geotecnia em cursos
de Engenharia Civil, levando para o âmbito da
disciplina de laboratório, o trabalho final
contempla a elaboração de um artigo sobre o solo
trabalhado e sua aplicabilidade, buscando
aproximar o acadêmico com a realidade da
comunidade técnico científica.
Isto é importante, pois um futuro engenheiro
aprende não somente a executar, mas também a
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Criação de um “Jogo de Baralho” Para o Aprendizado de


Aterros sobre Solos Moles
Iago Teles Oliveira
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
iagotelesoliveira@hotmail.com

Djalma Theodoro da Silva


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
djalmaths@gmail.com

Ivo Macedo Martins


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
ivo_macedo_martinsss@hotmail.com

Tâmara Mariane Teixeira Mendes


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
tamara_mariane@hotmail.com

Vitor Noronha Aguiar


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
vitinhonoronha@hotmail.com

Fabielle Rodrigues Sena


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
fabiellersena@gmail.com

Priscila Guimarães Miranda


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
prigmiranda@hotmail.com

Carlos Eduardo Coelho


Green Soil Geotecnia e Meio ambiente, Rio de Janeiro, Brasil, eng.cecoelho@outlook.com

Rafael Genaro
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
rafael.genaro@ufvjm.edu.br

Alcino de Oliveira Costa Neto


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
alcino.neto@ufvjm.edu.br

RESUMO: O presente trabalho consiste na construção de um aterro sobre solo mole. Os resultados
obtidos para a situação demonstrada foi utilizada na confecção de um produto, cuja finalidade foi à
aplicação dos conhecimentos sobre adensamento de uma maneira dinâmica e atrativa, capaz de
despertar, mesmo em pessoas sem um conhecimento prévio, o interesse sobre o assunto. O Trunfo
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dos Solos foi baseado em outros jogos já existentes no mercado e apresenta 32 cartas nas quais
foram avaliadas diferentes situações que geram diferentes resultados quanto ao emprego do pré-
carregamento. A partir das informações inicias, sendo estas: carga de edificações, altura da camada
de argila e tempo de adensamento; foi calculada a altura do aterro, o recalque devido à sobrecarga, a
tensão de sobrecarga e o acréscimo de tensão. A confecção de qualquer produto gera custos, desde a
escolha e aquisição dos materiais a mão de obra para o seu desenvolvimento e estão apresentados no
presente trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Jogo de Baralho, Aterro sobre Solos Moles, Ensino-Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO
Quando há ocorrência de um acréscimo de
De acordo com Pinto (2000) “os solos são tensão, no momento da aplicação, tensão
constituídos por um conjunto de partículas, com aplicada é suportada pela água (poropressão) e,
água (ou outro líquido) e ar nos espaços até que ocorra a expulsão da água dos vazios,
intermediários”. Portanto o comportamento do parte deste acréscimo de tensão será suportada
solo é influenciado por cada um dos seus pela água. Este efeito é denominado excesso de
constituintes, como uma combinação de poropressão. Durante a expulsão da água,
comportamentos que resulta na maneira em que causada pelo acréscimo de tensão, ocorre a
o solo vai se comportar em determinadas deformação do solo devido o aumento da tensão
situações. No campo da engenharia civil, visto suportada pelos grãos. Esta deformação é fruto
que todas as obras são assentadas sobre o solo, do deslocamento que é denominada recalque.
o conhecimento do seu comportamento é O recalque total pode ser determinado pelo
fundamental para evitar patologias ou até recalque imediato (deformação elástica, ocorre
mesmo, em determinados casos, desastres. em todos os solos), recalque por adensamento
Um solo saturado é caracterizado por possuir primário (redução do volume devido à expulsão
todos os seus espaços vazios (interstícios dos da água dos vazios, ocorre em solos coesivos
grãos ou espaços intermediários) preenchidos saturados) e recalque por adensamento
com água. Assim, o comportamento do solo secundário (devido a ajustes plásticos da
dependerá apenas dos grãos e da água que estrutura do solo, ocorre em solos coesivos).
compõe o mesmo. Na engenharia, o principal Segundo Dominoni (2011) e Pinto (2000) o
estudo do comportamento do solo está recalque imediato acontece logo após a
relacionado às tensões aplicadas, visto que as aplicação da carga e sem variação de volume de
obras necessitam de fundações e/ou escavações argila, pode ser chamado também de recalque
(construção de túneis, por exemplo). não drenado, elástico ou imediato. O recalque
“A água no interior dos vazios estará sobre primário ocorre por adensamento devido à
uma pressão que independe da porosidade do expulsão da água dos vazios do solo, sendo este
solo, depende só de sua profundidade em o único que pode ser tratado pela teoria do
relação ao nível freático” (Pinto, 2000). A adensamento.
influência da água quanto a tensões é Os solos moles, situação utilizada no
denominada poropressão expressa pela equação desenvolvimento do trabalho, são constituídos
(1) a seguir, onde u é a poropressão, γw é o peso por frações finas, composto por proporções
específico da água e h é a profundidade em variáveis de silte e argila, em condições
relação ao nível d’água: saturadas, pouco permeáveis e possuindo
elevados teores de matéria orgânica (Perboni,
(1) 2003). Assim, nestes solos, devido à baixa
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permeabilidade, ou seja, o fluxo lento da água elaboração das cartas foram: 80 e 160 dias para
dentre os interstícios dos grãos, a dissipação da variável tempo, 15 e 30 kPa para carga da
poropressão leva um longo período de tempo, edificação pretendida, valores de 6, 7, 8 e 9
devido à presença de água nos interstícios do metros para espessura da camada, 1 e 2 camadas
solo. Esta definição caracteriza o adensamento drenantes.
primário do solo. A partir das alterações nos valores das
Quando é construído um aterro sobre uma variáveis foram geradas 32 cartas para o jogo, o
argila mole saturada, os acréscimos de tensões que representa 32 situações diferentes. Jogar
são inicialmente suportados pela água e, com o sem dificuldades é possível a qualquer pessoa,
a transferência do excesso de poropressão para desde que siga as orientações, permitindo
os grãos, a pressão efetiva aumenta e o recalque àqueles que possuem conhecimento acerca do
vai ocorrendo em função do tempo (Coutinho, tema, além de jogar, também discutir e inferir
1976). Porém o tempo necessário para que o acerca dos resultados obtidos na cada carta
adensamento seja concluído geralmente é (situação).
demasiadamente longo, sendo necessária O tipo de solo em questão para todos os
utilização de técnicas que acelerem tal processo, casos possui o mesmo OCR (Overconsolidation
visto que existem prazos para a construção das ratio) igual a 1,3, cujo é possível, através da
obras de Engenharia. São utilizadas muitas equação (2), encontrar a tensão de pré-
técnicas para acelerar os recalques de aterro adensamento a partir da tensão vertical inicial
como o pré-carregamento e a utilização de em um ponto qualquer no centro da camada de
drenos verticais implantados na camada de solo mole.
argila mole (Meneses, 2004).
O presente trabalho tem por objetivo (2)
apresentar a produção de um produto atrativo,
interativo e dinâmico, de forma a despertar o
Sendo o a tensão de pré-adensamento e
interesse sobre o assunto mesmo em pessoas
a tensão vertical inicial. Os índices físicos do
sem conhecimento prévio acerca do tema.
solo foram mantidos, sendo que alterá-los
Aqueles que já têm conhecimento sobre o
dificultaria uma correlação entre as variações de
assunto, o produto será uma forma prática de
tempo, espessuras de camada mole e
visualização da técnica do pré-carregamento em
sobrecargas aplicadas ao solo. Para o OCR
algumas situações variadas, ampliando e/ou
especificado, observa-se então que a tensão
reforçando tais conhecimentos.
vertical inicial é menor do que a tensão de pré-
adensamento, tal relação indica que o solo em
2 METODOLOGIA questão é sobre adensado. Nesta situação, o
recalque por adensamento primário pode ser
2.1 Criação das Cartas encontrado de acordo a equação (3) a seguir.

O cálculo das alturas de sobreaterro foi (3)


realizado segundo orientações no livro “Curso
Básico de Mecânica dos Solos” do autor e
professor Carlos de Souza Pinto. Onde foram Onde, H é a espessura da camada, e1 é o
utilizadas em cada situação as seguintes índice de vazios inicial, Cr é o coeficiente de
variáveis: tempo, carga da edificação recompressão, é a tensão de pré-
pretendida, espessura da camada de solo mole e adensamento, é a tensão vertical inicial, Cc é
número de camadas drenantes. o coeficiente de compressão e a tensão
Os valores utilizados nas variáveis para vertical final. A porcentagem de recalque (U)
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foi obtida a partir da equação (4) e uso das Para alcançar o número de cartas suficiente, os
tabelas 1 e 2, de acordo a teoria de Terzaghi, cálculos foram realizados em uma planilha em
onde Tv é o fator de tempo, cv o coeficiente de “Excel” gerando 32 situações diferentes para se
adensamento, t o tempo e Hd a altura drenante: obter diferentes resultados.
Todas as cartas possuem um índice
(4) composto por um número de 1 a 8 seguido por
uma letra de “A” a “D”. A letra representa a
Tabela 1. Variação de Tv com Relação a U – Parte 1. “família” da carta, cujas cartas foram divididas
em famílias conforme a espessura da camada de
solo mole. Assim, todas as cartas que possuem
espessura de solo mole igual pertencem à
mesma família. As famílias A, B, C e D
equivalem às cartas com espessura da camada
de solo mole iguais a 6, 7, 8 e 9 metros. Segue
também a interpretação de que quanto menor a
espessura da camada de solo mole mais
vantajosa é a situação (carta), portanto, a ordem
da família mais desfavorável para a mais
favorável são: D, C, B e A.
Considerando então o índice relacionado à
família, é mais fácil ganhar uma rodada do jogo
com uma carta da família A do que com uma
carta da família D. O número no índice, por sua
vez, representa a “força” da carta dentro da sua
respectiva família. Sendo que a melhor
Tabela 2. Variação de Tv com Relação a U – Parte 2.
classificação equivale ao número 1 e a pior ao
número 8. Assim as cartas possuem uma
classificação geral a partir dos índices. Cartas
com classificação superior não significam
necessariamente a garantia de vencer
determinada rodada, já que não significa que a
carta vence as demais em todos os quesitos,
porém a probabilidade de vencer a rodada com
uma carta de classificação superior é maior.
É importante salientar que durante o jogo há
uma carta chamada “Super Trunfo” que
representa a situação do problema original com
um design de cor diferenciado das demais
cartas. Quando esta carta é lançada, o vencedor
da rodada será o jogador que lançou a carta
“Super Trunfo”, a menos que outro(s) jogador
(es) possua(m) carta da família A; caso tenha
cartas da família A, o vencedor da rodada será o
jogador que possui a carta de melhor
A partir das considerações descritas classificação entre a família A (independente do
anteriormente, foi possível determinar os requisito escolhido para a rodada), sendo esta a
parâmetros e resultados para cada carta do jogo. única situação em que o índice determina o
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ganhador da rodada. Nota-se que apesar da andamento do jogo.


classificação relativamente baixa 3C da carta  O vencedor do jogo será o jogador que
“Super Trunfo” ela apresenta um “poder de conseguir ganhar todas as cartas do baralho.
jogo” maior.
Os designs de todas as cartas e da caixa do 2.3 Composição de Custos
jogo foram feitos utilizando o programa
PhotoScape. O jogo foi denominado “Trunfo Um ponto de extrema importância em uma obra
dos Solos”, fazendo analogia ao jogo “Super é o levantamento dos custos. Afinal, quando
Trunfo” existente no mercado. bem-feito, permite-se ter uma visão de como o
projeto irá caminhar durante sua execução. Uma
2.2 Regras do Jogo ferramenta importante utilizada no auxílio do
processo de orçamentação é a composição de
 As cartas deverão ser embaralhadas e custos dos serviços que serão executados na
distribuídas em igual número para todos os obra (Ribeiro, 2016). Por essa razão vê-se a
participantes. importância de fazer esse tipo de composição
 Ao receber as cartas os jogadores não para o produto confeccionado nesse trabalho.
poderão olhar as cartas, fazendo um monte com A composição de custos de serviços é um
as cartas viradas para baixo. instrumento referente à engenharia de custos, e
 O jogador só pode olhar a primeira carta “são considerados os índices de produtividade
que vai jogar na rodada (primeira carta do da mão de obra e o consumo de materiais e
monte). equipamentos para a execução de uma unidade
 O jogador sentado à esquerda de quem de serviço” (Ribeiro, 2016).
embaralhou as cartas dá início ao jogo.
 A cada rodada o jogador que dá início
deverá escolher um quesito dentre os resultados 3 RESULTADOS
dos cálculos.
 O vencedor da rodada dá início a próxima O “Trunfo dos Solos” foi desenvolvido a partir
rodada. dos dados fornecidos pelo docente responsável
 Para o quesito altura do aterro, o jogador pela disciplina de Mecânica dos Solos, para a
que lançar a carta com menor valor vence a resolução da altura de sobreaterro necessária
rodada. para a situação proposta. A carta nomeada como
 Para o quesito recalque devido à 3C é a carta “Super Trunfo”. Esta é a carta
sobrecarga, o jogador que lançar a carta com correspondente ao problema inicial. A tabela 3
menor valor vence a rodada. apresenta os dados desenvolvidos em “Excel”
 Para a tensão de sobrecarga, o jogador que para esta carta.
lançar o maior valor vence a rodada.
 Para o acréscimo de tensão, o jogador que Tabela 3. Dados "Excel" Referêntes a Carta "Super
lançar o maior valor vence a rodada. Trunfo".
 Dentre as cartas, existe a carta “Super
Tensão da edificação 15 kPa
Trunfo”, esta carta vence todas as outras do
Tensão inicial 24,2 kPa
baralho (exceto as cartas da família A)
Tensão final 64,7 kPa
independente do quesito escolhido.
 O vencedor de cada rodada ganhará todas Tensão de pré- 31,46 kPa
adensamento
as cartas que foram lançadas na mesma e Espessura da camada 8 m
colocará por baixo do seu monte. Cr 0,12
 A carta explicativa e a carta de regras são
Cc 1,1
cartas de consulta em caso de dúvidas sobre o
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Índice de vazios 1,8 Figura 1. Carta do Jogo com uma Camada Drenante.
Tv 0,2
Cv 0,04 m²/dia
Camadas drenantes 2
Hd 4 m
Tempo de adensamento 80 dia
Porcentagem de recalque 50%
Peso específico do solo 17 kN/m³
Recalque (1,5m) 1,023 m
Tentativa de sobreaterro 3,2 m
Tensão vertical final 93,6 kPa
Recalque 1,527 m
ρ (sobrecarga) = 3,05 m
Tensão de sobrecarga 286,56 kPa
Acréscimo de Tensão 262,36 kPa
Altura de aterro 15,43 m
Figura 2. Carta do jogo com Duas Camadas Drenantes.
Na caixa do jogo contém o total de 34 cartas,
com dimensões de 6 cm de largura e 9 cm de Uma carta explicativa acerca do ganhador
altura, destas, 32 são as cartas utilizadas para em cada quesito comparado, mostrado na figura
jogar, conforme é mostrado nas figuras 1 e 2 a 3, e uma carta na qual contém as regras do jogo
seguir. As cartas do jogo possuem um desenho apresentada nas figuras 4 e 5.
representativo do esquema proposto, variando
entre uma ou duas camadas drenantes e ao lado
esquerdo do desenho contendo informações
referentes a cargas das edificações, altura da
camada de argila e o tempo de adensamento. Na
parte inferior das cartas encontram-se os
quesitos de comparação em destaque e no canto
superior esquerdo, a classificação de cada carta.

Figura 3. Carta Exiplcativa.


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Figura 6. Carta Super Trunfo


Figura 4. Carta de Regras do Jogo (frente).

Figura 7. Verso das Cartas do Jogo.


Figura 5. Carta de Regras do Jogo (verso).

A carta Super Trunfo, mostrada na figura 6,


possui cor diferenciada das demais, sendo
importante ressaltar que o verso de todas as
cartas é exatamente igual, conforme é
apresentado na figura 7.
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 Mão de Obra: designer e engenheiro civil.


 Equipamentos: softwares PhotoScape e
Materiais: papel couchê A3, cola e tesoura.
 Excel, impressora a laser.
Assim a composição de custos para execução
do serviço composto por baralho com 34 cartas
(6 x 9 cm) em papel couchê encaixa para o
baralho consta na tabela 4.

Tabela 4. Composição de Custos.


Figura 8. Visão Geral do Jogo “Super Trunfo”.
Custo Custo
Insumo Tipo Unidade Quantidade
Unitário Total
Engenheiro Mão de R$ R$
Hora 4
Civil Obra 30,00 120,00
Mão de R$ R$
Designer Hora 6
Obra 25,00 150,00
Cola
Branca R$
Material Unidade 0,05 R$ 1,94
Lavável 0,10
90g
Tesoura R$
Material Unidade 1 R$ 3,60
Escolar 3,60
Impressão R$
Material Folha 5 R$ 6,00
a laser A3 30,00
Custo Unitário de R$
Serviço 303,70

Figura 9. Simulação de um rodadada do Jogo “Super 5 CONCLUSÃO


Trunfo”.
Com base nos conceitos abordados no presente
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS trabalho e o objetivo proposto de aplicá-lo de
uma forma dinâmica e atrativa, pode-se concluir
Através dos resultados obtidos para altura de que o principal objetivo do trabalho foi
sobreaterro é possível verificar a viabilidade de alcançado através da criação e desenvolvimento
execução ou não da obra, considerando que para do jogo de baralho chamado “Trunfo dos
construção de um aterro é necessária uma área Solos”.
de empréstimo, o transporte do material e todo As etapas da elaboração deste produto foram
o maquinário utilizado para a compactação. descritas de forma a demonstrar o intuito do
Assim, o “Trunfo dos Solos” também pode jogo. Pois além de proporcionar diversão aos
funcionar como uma ferramenta que vise aguçar jogadores, é capaz de agregar conhecimentos
a sensibilidade dos jogares acerca das variações acerca do adensamento primário, a técnica do
dos parâmetros e a variação da tensão acrescida pré-carregamento e da modificação dos
no sistema e possivelmente discutir acerca da resultados a partir das variações das condições
viabilidade econômica de obras que se iniciais da situação.
encontrem na mesma situação.
Para a confecção do baralho “Trunfo dos AGRADECIMENTOS
Solos” os componentes necessários foram
divididos em três categorias. Os autores agradecem ao PROAPP da
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Universidade Federal dos Vales do Meneses, L. A. D. (2004) Utilização de geocélulas em


Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro. reforço de solo mole. Tese de Doutorado,
Universidade de São Paulo.

REFERÊNCIAS Perboni, J. P. (2003) Análise de Estabilidade e de


Compressibilidade de Aterros sobre Solos Moles-
Coutinho, R. Q. (1976). Características de Adensamento Caso dos Aterros de Encontro da Ponte sobre o Rio
com Drenagem Radial de uma Argila Mole da dos Peixes (BR 381). Dissertação de Mestrado,
Baixada Fluminense. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pinto, C. D. S. (2000). Curso Básico de Mecânica dos
Dominoni, C. (2011). Análise de Estabilidade e Solos. São Paulo: Oficina de Textos.
Compressibilidade de um Aterro sobre Solo Mole no
Porto de Suape, Região Metropolitana do Recife. Ribeiro, M. Composição de Custos de Serviços: Entenda
Projeto de Graduação, UFRJ, Escola Politécnica, Como Fazer. Mais Controle. Disponível em:
Curso de Engenharia Civil, Rio de Janeiro. <https://maiscontroleerp.com.br/composicao-de-
custos/>. Acesso em: 23 de fev. de 2018.
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Desenvolvimento de Calculadora Online para o Cálculo de


Recalques por Adensamento Primário
Pedro Henrique Barbosa Guerra
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
pedrobguerra@yahoo.com.br

Magaly Alves Fernandes


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
magaly.fernandes23@gmail.com

Rafael Barreiros Braga


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
raafa00@hotmail.com

Lucas Pereira Braga


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
lucaspbraga10@gmail.com

Pedro Henrique Gomes de Oliveira


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
peu82009@hotmail.com

Victor Ramalho Lustosa


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
victor_rl8@hotmail.com.

Dianne Oliveira Guerson


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
dianne-guerson@hotmail.com

Rafael Genaro
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
rafael.genaro@ufvjm.edu.br

Alcino de Oliveira Costa Neto


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
alcino.neto@ufvjm.edu.br

RESUMO: Com o desenvolvimento tecnológico e sua influência na didática atual, as escolas e


universidades estão cada vez mais introduzidas em sistemas ligados à informática e o dia a dia dos
estudantes cada vez mais dependente desse meio. O número de sites que disponibilizam serviços
online e gratuitos auxilia na formação desses alunos e aproximam fatores como tecnologia e
educação, já que com o avanço tecnológico uma boa parte da população tem acesso a computadores
e internet, ampliando assim o conhecimento. A plataforma criada neste trabalho envolve o estudo
da mecânica dos solos e foi desenvolvida com o objetivo de se tornar uma ferramenta na resolução
de problemas que envolvam solos moles. Sendo assim, a calculadora desenvolvida nesse trabalho
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exigirá que o aluno tenha um conhecimento básico sobre solos moles, visto que serão solicitados
parâmetros de entrada como peso específico natural, índice de compressibilidade, razão de pré-
adensamento, entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Calculadora Online, Adensamento Primário, Mecânica dos Solos.

1 INTRODUÇÃO expansão, antes que a edificação seja


construída, através da compactação, redução de
A construção civil é uma área que exige vários volume devido ao ar contido nos vazios do solo,
conhecimentos a fim de auxiliar o engenheiro ou pelo adensamento, no qual haverá a redução
para que o mesmo faça o melhor serviço do volume de água contido nos vazios do solo.
possível. Antes de se iniciar uma obra de De acordo com Caputo (1998), o estudo do
engenharia civil, é necessário que se faça a adensamento é de extrema importância e a
sondagem do solo para que ocorra uma teoria do adensamento constitui um dos
adaptação às condições existentes no subsolo. capítulos mais interessantes e desenvolvidos da
O processo de sondagem do solo é de história da mecânica dos solos.
extrema importância para que obtenha um
conhecimento a fundo do terreno que irá
receber as cargas provenientes das edificações. 2 METODOLOGIA
A análise dos solos e o os corretos estudos, irão
garantir informações importantes quanto ao tipo 2.1 Adensamento e Recalque
de solo e ao comportamento que esse solo
apresentará ao receber uma carga. A ABNT De acordo com Pinto (2006) o processo de
NBR 6122/2010 especifica que para qualquer adensamento dos solos ocorre lentamente, na
edificação deve ser feita uma campanha de medida em que a água sai dos vazios do solo
investigação geotécnica preliminar, constituída Esse tempo pode ser demorado devido a baixa
no mínimo por sondagens a percussão (com permeabilidade das argilas.
SPT - Standard Penetration Test) e, em função Alguns dos parâmetros de compressibilidade
dos resultados obtidos, pode ser necessária uma necessários para a execução de projetos e
investigação complementar. Com a aplicação de estudos do solo são: a pressão de pré-
técnicas e engenheiros qualificados para a adensamento, σ’vm, índice de vazios, eo, o
execução dessas obras, os frequentes problemas índice de compressão, Cc, índice de
após o término da obra, causados pelo mal recompressão, Cr, e o coeficiente de
estudo dos solos, serão amenizados, ou extintos. adensamento, cv. Esses valores são obtidos
Um dos principais problemas, em obras de através dos resultados do ensaio de
engenharia civil, relacionado ao solo, são as compressibilidade do solo.
deformações do solo. Segundo Pinto (2006) A tensão efetiva de pré-adensamento
esses recalques ocorrem principalmente devido corresponde à máxima tensão efetiva que o solo
a carregamentos verticais na superfície do foi submetido em toda sua história. O
terreno, ou em cotas próximas à superfície. Ele conhecimento do valor de σ’vm é de extrema
também afirma que as deformações podem importância para o estudo do comportamento
ocorrer rapidamente após a construção, caso dos do solo. Primeiramente se calcula a tensão
solos arenosos ou argilas não saturadas, e as que efetiva atual da camada de solo, que é dada pela
se desenvolvem lentamente após a aplicação de equação:
cargas, caso das argilas saturadas. Para não
haver esse problema, é necessário que o solo σ′𝑒𝑓 = σ − u (1)
seja sujeito ao processo de compressão, ou
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Onde σ é a tensão total das camadas de solo plataforma acessível que possibilite a execução
e “u” é a poropressão. dos cálculos de maneira rápida.
Desenvolveu-se os cálculos utilizando das
A tensão efetiva final leva em consideração linguagens JavaScript, CSS, HTML e React,
o acréscimo de tensão (△ σ) devido aos aterros que funcionam em conjunto e de maneira
e ao peso das edificações. integrada. A linguagem HTML (HyperText
Markup Language) é responsável pela marcação
σ′𝑓 = σ′𝑒𝑓 + △ σ (2) do conteúdo de uma página no navegador e a
Linguagem CSS (Cascading Style Sheets)
Como no caso proposto, a compressibilidade define a apresentação em páginas da internet
está em função dos índices de compressão e das adotando para o seu desenvolvimento a
faixas de tensões efetivas do projeto. Para o linguagem HTML.
cálculo do recalque (P) é preciso analisar Em suma o React que faz parte de uma
também o OCR, que é a razão entre a tensão de biblioteca do JavaScript atua melhorando o
pré adensamento e a tensão efetiva no campo. visual da plataforma de cálculo online
Caso o OCR, seja igual que 1 o reclaque será (calculadora soil), sendo esses desenvolvidos
calculado pela seguinte equação: em JavaScript, que é a linguagem principal por
trás da calculadora permitindo a interação entre
𝐶𝑐 σ′ todas as linguagens desenvolvidas.
𝑃 = H𝑜 × (1+𝑒 ) × log(σ′ 𝑓 ) (3)
𝑜 𝑒𝑓 A figura 1 mostra o produto final da
programação.
Caso o OCR seja maior que 1, e σ′𝑓 > 𝜎′𝑣𝑚

𝐻𝑜 σ′𝑣𝑚 σ′𝑓
𝑃 = × [𝐶𝑟 × log + 𝐶𝑐 × log ]
(1+𝑒𝑜 ) σ′𝑒𝑓 σ′𝑣𝑚
(4)

Por fim, caso o OCR seja maior que 1, e


σ′𝑓 < 𝜎′𝑣𝑚

𝐶𝑟 σ′
P = H𝑜 × (1+𝑒 ) × log(σ′ 𝑓 ) (5)
𝑜 𝑒𝑓

2.2 Plataforma Online


Figura 1. Design da Plataforma Online Desenvolvida.
A linguagem de programação é um método
padronizado que permite dar instruções ao
3 APLICAÇÃO
computador de forma que ele possa executar
dados, através dessa metodologia tem-se A calculadora online (calculadora soil)
inúmeras possibilidades, onde entre todas elas desenvolvida neste trabalho possui grande
foi criada uma calculadora online que permite a aplicabilidade no dimensionamento de aterros
entrada das variáveis referentes ao solo e sobre solos moles, uma vez que fornece o
executa o cálculo do recalque sofrido por recalque por adensamento.
adensamento. Um exemplo prático seria a construção de
A plataforma online foi desenvolvida tendo um conjunto habitacional num terreno às
como base os cálculos para o recalque em solos margens de um rio, cujo solo é composto por
moles, transferindo os mesmos para a uma camada de argila mole sobreposta a uma
linguagem de programação e criando uma camada de areia compacta. Em virtude da
necessidade de declividade para o sistema de
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esgotos, as edificações deverão ser construídas


numa cota acima do terreno. Por esse motivo,
haverá a necessidade da construção de um
aterro.
Neste caso, a altura a ser adotada no
dimensionamento do aterro deverá ser tal que
ao descontar-se o recalque total, as edificações
permaneçam na cota desejada. Como o recalque
total é função da altura do aterro, esta deverá
ser estimada por meio de tentativas, até
satisfazer a condição citada anteriormente. Figura4. Resultados obtidos com a calculadora online.
Considerando que as edificações provocarão
um acrescímo de tensão de 15 kPa e adotando Analisando os dados, observamos que a
um aterro de 1,5 m com um material de peso calculadora nos fornece o valor das tensões e do
específico natural igual a 17,0 kN/m³, fazendo o recalque por adensamento primário provocado
cálculo em função da razão de pré-adensamento pelo peso das edificações e do aterro sobre o
igual a 1,0, podemos calcular de acordo com a solo.
metodologia adotada o recalque sofrido pelo
solo. Os parâmetros utlizados para a argila mole 4 ORÇAMENTO
são observados na figura 2 e 3, bem como os
resultados que podem ser observados na figura A criação da calculadora soil contou com um
4. conhecimento prévio da matéria mecânica dos
solos, além disso teve-se um investimento para
a criação da plataforma, tansformando os
cálculos feitos a mão em linguagem de
programação, foi contratado um Mestre em
Ciênica da Computação com dominio sobre as
linguagens abordadas, segue os valores de
acordo com a tabela 1.

Tabela 1. Orçamento da Calculadora Soil.


Figura 2. Entrada de valores para o cálculo das tensões
efetivas. Custo
Custo
Parcial
Descrição Unidade unitário (R$)
(R$)

Mão de obra 3 150,00 450,00

Custo Total 450,00

A plataforma online foi disponibilizada em


um domínio teste.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 3. Entrada com parâmetros do solo.
A plataforma desenvolvida para o cálculo do
recalque se mostrou eficiente, sendo um bom
exemplo de como as ferramentas tecnológicas
podem contribuir para solução de problemas de
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engenharia, sendo para otimização do tempo,


facilitando cálculos. Outro ponto importante é o
de promover uma maior difusão do
conhecimento aplicado de uma maneira mais
interativa, podendo ser uma ferramenta
importante também no estudo acadêmico para
auxiliar alunos que cursam disciplinas
relacionadas ao tema presente.
Conclui-se que o objetivo foi alcançado e
ressaltando a importância do uso de tecnologias
disponíveis para auxílio na resolução de
problemas existentes nas diversas áreas de
conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao PROAPP da


Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


(2010). MB 6122: Projeto e Execução de Fundações.
Rio de Janeiro.

Caputo, H. P. (1988). Mecânica dos Solos e Suas


Aplicações. 6ª Edição. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editoria S.A.

Pinto, Carlos de Souza (2006) Curso Básico de Mecânica


dos Solos/3° Edição - Carlos de Souza Pinto. – São
Paulo: Oficina dos Textos.
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Desenvolvimento de modelos físicos de fenômenos geotécnicos


para o ensino de Geotecnia
Natália de Souza Correia
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ncorreia@ufscar.com

Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), fportelinha@ufscar.br

Leonardo Vinícius Paixão Daciolo


Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), leonardodaciolo@hotmail.com

José Wilson Batista da Silva


Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), josewilsonbatistadasilva@gmail.com

RESUMO: O ensino de Geotecnia abrange desde a identificação e caracterização de solos e rochas


até os principais conceitos, mecanismos e fenômenos fisicos envolvidos na engenharia geotécnica.
No entanto, a compreensão de alguns mecanismos e fenômenos geotécnicos, bem como o
comportamento dos materiais, pode ser solidificada ou melhor experienciada com o uso de simples
modelos físicos de laboratório. Esse conceito de ensino é baseado na teoria da aprendizagem
experiencial, trazendo maior benefício de aprendizagem para os alunos. Para tanto, foram
desenvolvidos na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no curso de Engenharia Civil,
modelos físicos para a explicação de fenômenos geotécnicos, tais como: fenômeno de fluxo de água
nos solos em meio confinado e não confinado, fenômeno da ascensão capilar, fenômeno da liquefação
dos solos e modelos para visualização do mecanismo de ruptura de taludes e modelo de estrutura de
solo reforçado com geossintéticos. Os modelos físicos desenvolvidos foram de simples execução e
baixo custo, além de aparatos existentes LabGeo/UFSCar. Neste artigo, serão apresentados os
procedimentos para a criação dos modelos físicos realizados pelos alunos durante as aulas. Esta
prática tornou as aulas muito mais dinâmicas e interessantes, motivando os alunos. Ainda, esta
experiência didática e pedagógica para o ensino de Geotecnia foi também motivadora para os
professores. O material final está sendo utilizado para a produção de vídeos educativos sobre os
fenômenos geotécnicos.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino em Geotecnia, Modelos físicos de laboratório, Fenômenos


Geotécnicos.

1 INTRODUÇÃO solos. Posteriomente, são apresentados conceitos


mais aprofundados de estabilidade de taludes,
No ensino curricular de Geotecnia dos cursos teoria de empuxo, contenções, barragens e
de graduação em Engenharia Civil, usualmente fundações. De acordo Shiau et al (2006), a
são primeiramente introduzidos os conceitos de transição da geomecânica básica para as análises
investigação e propriedades índices dos solos, de estruturas geotécnicas mais complexas pode
compactação, tensões, hidráulica dos solos, ser um grande desafio para os alunos, e neste
adensamento e resistência, bem como estágio, o uso de modelos físicos torna-se um
determinação das propriedades geotécnicas dos importante auxílio para o processo de
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aprendizagem dos conceitos e fenômenos. Para a execução do modelo de fluxo em meio


Atualmente, o Ensino de Geotecnia foi tema confinado, foi necessária uma caixa de acrílico
de importantes conferências, tais como a SFGE de 55,5 x 39 x 14,5 cm (C x H x L), uma seringa,
2012 – “Shaking the Foundations of Geo- um corante (tinta preta de impressão) e solo
engineering Education” e a SFGE 2016 – arenoso. O paramento foi feito com placa de
“Shaping the Future of Geotechnical acrílico de 20,5 x 14,5 cm, e a vedação feita com
Education”, onde foram discutidas abordagens e silicone. A Figura 1 apresenta o modelo físico de
pedagogias mais eficazes para cursos de fluxo de água em meio confinado. Para a
graduação sobre a engenharia geotécnica. Neste compactação da areia, foi realizado o processo
sentido, esforços vem sendo realizados por de chuva de areia. Após a saturação e escolha dos
docentes para melhorar a qualidade do ensino em níveis freáticos, iniciou-se a aplicação do
Geotecnia. corante, o qual foi arrastado pelo escoamento
Para Steenfelt (2000), no ensino de enquanto ilustrava as linhas de percolação
graduação, o uso de modelos físicos mostra-se (Figura 1a).
muito instrutivo e ajuda na compreensão dos
princípios fundamentais da engenharia
geotécnica. Injeção de corante
Modelos físicos podem ser construídos com o
uso de centrífugas, tal como nos trabalhos de Paramento
Wartman et al. (2006), porém, podem ser de alto
custo. O uso de modelos físicos de baixo custo
para o ensino em Geotecnia é apresentado nos
trabalhos de Cardoso et al. (2004), Shiau et al. Areia
(2006), Santana e Lamas (2009), Cardoso
(2009), Jaksa (2009) e Jaksa et al. (2016). Os
experimentos incluem desde demonstração de
estimativas de ângulo de atrito do solo ao
fenômeno da liquefação sísmica.
Neste trabalho, serão apresentados os (a)
modelos físicos referentes aos fenômeno de
fluxo de água nos solos (meio confinado e não
confinado), fenômeno da ascensão capilar nos
solos, fenômeno da liquefação dos solos, modelo
de visualização de ruptura de taludes e modelo
de estrutura de solo reforçado com geossintéticos
desenvolvidos na Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar).

2 MODELOS FÍSICOS

2.1 FENÔMENO DE FLUXO DE ÁGUA NOS (b)


SOLOS Figura 1. Modelo físico de fluxo em meio confinado: (a)
Injeção do corante; (b) Linhas de fluxo. Fonte: Próprios
O estudo do fluxo bidimensional de água nos autores (2018).
solos é uma importante parte da disciplina de
Mecânica dos Solos. No entanto, usualmente, os A Figura 1b apresenta o modelo físico ao final
alunos apenas representam estas redes de fluxo do ensaio, o qual durou cerca de 1h30min. Os
graficamente em sala de aula. alunos puderam visualizar as linhas de fluxo e
entender como a água se move para jusante
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através do solo em uma barragem de concreto. 2.2 FENÔMENO DA ASCENSÃO CAPILAR


Como seguimento desta atividades, os alunos
realizaram retroanálises usando o processo Para a demonstração do fenômeno da
gráfico (manual) e numérico com uso do ascensão capilar nos solos, foi construído um
Software Seep/W Student Version (Figura 2). modelo físico em laboratório com a intensão da
Foi possível trabalhar com os alunos essa nova verificação, pelos alunos, da magnitude e tempo
abordagem experimental, anteriormente da ascensão da água por capilaridade em
apresentada apenas graficamente nas aulas. diferentes tipos de solos. Para o modelo (Figura
4), foi utilizada uma bandeja preenchidas com
água e areia de construção civil, exercendo a
função de filtro e, também, para fornecer um
suporte permeável para os tubos acrílicos. Os
solos foram compactados no interior de tubos de
acrílico de diâmetros internos de 14mm (solos
finos e areias) e 19mm (pedregulho). Foram
visualizados o fenômeno de ascensão por
capilaridade para os solos da Tabela 1.

1 2 3 4 5 6 7 8

Figura 2. Modelo numérico de fluxo em meio confinado


para comparação com modelo físico. Fonte: Próprios
autores (2018).

A Figura 3 apresenta o modelo físico de


fluxo em meio não confinado. Foram utilizados
os mesmos aparatos, com exceção de um filtro
de pé feito com 20 cm de geotêxtil não tecido e
brita. Neste caso, foram instalados piezômetros
Figura 4. Modelo físico de capilaridade: (1) pedregulho;
(tubos de acrílico) de 4 mm de diâmetro para que (2) areia grossa; (3) areia média; (4) areia argilosa; (5)
os alunos pudessem visualizar e medir as cargas areia de RCD; (6) areia fina; (7) silte; (8) argila. Fonte:
hidráulicas em cada linha de fluxo. Próprios autores (2018).

Tabela 1. Diâmetro das partículas dos solos utilizados.


Tubos de acrílico # Tipo de Solo Diâmetro (mm)
(piezômetros) 1 Pedregulho 2,38 < D < 4,76
2 Areia Grossa 1,19 < D < 2,38
3 Areia Média 0,30 < D < 0,60
4 Areia Argilosa Local 0,002 < D < 1,00
5 Areia de RCD 0,10 < D < 4,00
6 Areia Fina D < 0,60
7 Silte D < 0,30
8 Argila D < 0,15
Filtro de pé
Através deste modelo, foi possível mostrar
aos alunos a diferença de ascensão capilar entre
Figura 3. Modelo físico de fluxo de água nos solos em solos granulares e finos, promovendo maior
meio não confinado. Fonte: Próprios autores (2018). entendimento do tema.
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2.3 FENÔMENO DA LIQUEFAÇÃO NOS


Sobrecarga afundando
SOLOS
Duto
O fenômeno da liquefação dos solos descreve o
comportamento de uma significativa redução da
resistência de solos granulares, na condição não
drenada, devido à geração de excesso de
poropressões durante a ocorrência de fenômenos
sísmicos.
Para a demonstração deste fenômeno, foi Afloramento da água
realizado um experimento qualitativo de um
bloco em solo arenoso saturado. Foram
utilizados: solo granular, caixa plástica, blocos Figura 6. Modelo físico de liquefação em areia após
de concreto (sobrecarga), espuma cilíndrica sismos: Fonte: Próprios autores (2018).
enterrada no solo (idealizando um duto
enterrado) e água. A Figura 5 apresenta a 2.4 MECANISMO DE RUPTURA DE
montagem do experimento. TALUDES

Nos cursos de graduação, o tópico de


Sobrecarga estabilidade de taludes é usualmente limitado a
descrição das causas de instabilização, e
métodos analíticos de cálculo de fatores de
segurança com base em superfícies potenciais de
ruptura (bilinear e circular). Com a falta de
demonstrações práticas que permitam ao aluno
Duto Areia visualizar a superfície rotacional e entender as
Enterrado formas de ruptura, optou-se pelo
desenvolvimento de modelos físicos de taludes.
Para a execução dos modelos, foi utilizada a
caixa de acrílico, um solo arenoso e pesos brutos.
A Figura 7 apresenta o modelo desenvolvido.
Figura 5. Modelo físico de liquefação em areia. Fonte: Com o auxílio dos pesos brutos, foi possível
Próprios autores (2018). chegar a ruptura do talude, visualizando-se as
trincas e a superfície de ruptura.
A Figura 6 apresenta o modelo físico após os
movimentos induzidos repetitivos aplicados
manualmente. Os alunos puderam observar a
ruptura da areia saturada devido ao excesso de
poropressões oriundos das movimentações
induzidas, que resultam na diminuição
significativa da tensão efetiva do solo, verificada
pelo afundamento do bloco. O excesso de
poropressões também possibilitou aos alunos
visualizarem a emersão do duto, evidenciando o
possível acúmulo de tensões em dutos enterrados Superfície de ruptura
reais, e a possibilidade de ruptura destes
elementos durante a liquefação.
Figura 7. Modelo físico de talude levados a ruptura. Fonte:
Próprios autores (2018).
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Nesta atividade, os alunos também uma prensa de ensaios para aplicação de


realizaram retroanálises do modelo físico usando sobrecarga e verificação de deformações na face
o processo gráfico e numérico com uso do (Figura 9c).
Software Slope/W Student Version (Figura 8).

Vala de ancoragem

Reforço não tecido

(a)

Figura 8. Modelo numérico de talude levado a ruptura para


comparação com modelo físico. Fonte: Próprios autores
(2018).

Muro vertical
2.5 ESTRUTURA DE SOLO REFORÇADO
COM GEOSSINTÉTICOS

O objetivo de confeccionar modelos físicos de


estrutura de solo reforçado é para que os futuros
engenheiros civis estejam familiarizados não só
com geossintéticos, seus tipos e funções, mas
com sistemas construtivos e concepções de
projeto envolvendo os princípios em torno do (b)
reforço de solos (PINHO-LOPES, 2016).
Especificamente no desenvolvimento deste
Deslocamento
modelo, o objetivo foi de mostrar aos alunos os de face
procedimentos para se executar um muro de
areia em solo reforçado com geossintéticos pela
técnica de solo envelopado. Para a confecção
deste modelo, foi utilizada uma caixa de acrílico,
um solo arenoso e um tecido de polipropileno do
tipo TNT (simulando um geotêxtil não tecido).
A sequência de construção teve que ser
realista, seguindo as etapas de instalação e pré-
tensionamento dos reforços, compactação do
solo (usando compactador manual), escavação
da vala de ancoragem para envelopamento e (c)
recompactação do solo em cada camada. A Figura 9. Modelo físico de estrutura de solo reforçado com
Figura 9 apresenta o modelo físico desenvolvido geossintético: (a) processo construtivo; (b) muro
pelos alunos. Ao final, o modelo foi levado a finalizado; (c) medida de deslocamento de face após
sobrecarga. Fonte: Próprios autores (2018).
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS AGRADECIMENTOS

Neste trabalho, foram desenvolvidos modelos Os autores agradecem ao apoio institucional do


físicos para a explicação de fenômenos Laboratório de Geotecnia da UFSCar
geotécnicos para o ensino de Geotecnia na (LabGEO/UFSCar) para a confecção dos
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), modelos físicos. Agradecemos a participação
no curso de graduação em Engenharia Civil. dos alunos Ana Porto, Caio Bruneli, Carolina
Através do desenvolvimento destes modelos, Goshima, Vivian Miceli e Vlademir Sciascio.
verificou-se que os alunos ficaram mais
motivados no curso e que puderam visualizar e REFERÊNCIAS
entender com mais clareza alguns dos conceitos
e fenômenos geotécnicos anteriormente CARDOSO, R.; GOMES, R. C.; SANTOS, J.; SENA
COSTA, V.; CAETANO, J. P. (2004). Equipamentos
apresentados somente em sala de aula. para experiências pedagógicas no ensino da mecânica
Para o aluno José Wilson Batista da Silva: dos solos. In: 9º Congresso Nacional de Geotecnia,
“A realização dos modelos físicos foi a Vol. II, SPG, pp. 243-254.
consolidação que faltava na compreensão de CARDOSO, R.; GOMES, R. C.; SANTOS, J.; SENA
alguns fenômenos estudados na disciplina de COSTA, V.; CAETANO, J. P. (2009). Novos
Mecânica dos solos. Durante a construção dos equipamentos didáticos no ensino da mecânica dos
modelos, eu e meu grupo trabalhamos revisando solos. In: 10º Congresso Nacional De Geotecnia,
Portugal, 8p
desde conceitos básico de caracterização de
JASKA, M. B. (2009). Use of Demonstration Models in
solos, compactação e desenvolvimento de
Undergraduate Geotechnical Engineering Education,
poropressões no solo, até conceitos mais Research Report No. R 177, November 2009, 44p.
sofisticados e teóricos como o efeito de piping e JASKA, M. B.; KUO, Y. L.; SHAHIN M. A.; YUEN, S.;
a própria rede fluxo, complementando assim AIREY, D.; KODIKARA, J. K. (2016). Engaging and
nosso processo de aprendizagem. Outro ponto Effective Laboratory Classes in Geotechnical
muito positivo durante as aulas foi o avanço no Engineering. In.: SFGE 2016 - Shaping the Future of
conhecimento sobre os tipos de geossintéticos e Geotechnical Education International Conference on
Geo-Engineering Education, Belo Horizonte, MG,
a sua aplicação na construção de taludes e Brazil
muros reforçados.”
PINHO-LOPES, M. (2016). Reinforced soil with
O trabalho de laboratório também ofereceu geosynthetics – hands-on learning (PBL) using sand
aos alunos, a oportunidade de trabalharem juntos and paper. In.: SFGE 2016 - Shaping the Future of
na experimentação e desafio da montagem dos Geotechnical Education International Conference on
modelos, bem como na interpretação dos dados Geo-Engineering Education, Belo Horizonte, MG,
e retroanálises dos problemas apresentados. Brazil
Esta prática tornou as aulas muito mais SANTANA, T.; LAMAS, P. (2009). Modelos físicos
dinâmicas e interessantes, motivando os alunos. simples de apoio ao ensino da Geotecnia. In: 10º
Congresso Nacional De Geotecnia, Portugal.
A experiência didática e pedagógica para o
SHIAU, J.; PATHER, S.; AYRES, R. (2006). Developing
ensino de Geotecnia foi também motivadora para
physical models for geotechnical teaching and
os professores. research. In.: Physical Modelling in Geotechnics – 6th
O material final está sendo utilizado para a ICPMG´06 – Ng, Zhang & Wand (eds), pp. 156-162
produção de vídeos educativos sobre os STEENFELT, J. S. (2000). Teaching for the Millenium –
fenômenos geotécnicos. Estes vídeos serão or for the Students? Proc. GeoEng 2000, Melbourne,
divulgados a toda comunidade estudantil através Australia, November 19–24, Vol. 1, 826–840.
da criação de um canal educacional um uma WARTMAN, J. (2006). Geotechnical Physical Modeling
plataforma de compartilhamento de vídeos, onde for Education: Learning Theory Approach. Journal of
trabalhos futuros serão continuamente professional issues in Engineering Education and
Practice, 2006, 132(4): 288-296
compartilhados.
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O uso da Maquete como Representação do Processo de


Adensamento e do Recalque do Solo
Dayhanne Isa Langkammer Wolff
UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, dayhannelw@gmail.com

Ayandra Figueiredo
UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, drinha_figueiredo@hotmail.com

Juliana Borges dos Santos


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, juliana.borges.santos@outlook.com

Karina Rodrigues Oliveira


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, ninarodrigues12@hotmail.com

Síndia Viana Rodrigues


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, sindia546@gmail.com

Thomás Schubert Albeny


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, thomassalbeny@gmail.com

João Pedro Rabelo de Sousa Araújo


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, jprabelo71@hotmail.com

Francisco César Dalmo


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, francisco.dalmo@ufvjm.edu.br

Alcino de Oliveira Costa Neto


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, alcino.neto@ufvjm.edu.br

RESUMO: A base teórica deste trabalho consiste no cálculo do recalque ocasionado por um aterro
lançado em um terreno às margens do Rio Todos os Santos na cidade de Teófilo Otoni – MG onde
se deseja construir um conjunto habitacional. Objetivou-se retratar na maquete o processo de
adensamento do solo, estimulando os alunos a desenvolverem a dinâmica e a oralidade na
realização de trabalhos acadêmicos. O processo de produção da maquete trata-se de uma forma
artística de representar um espaço fictício. A sequência de camadas exemplifica um perfil de um
solo que pelas suas características sofreria recalque após ser submetido às cargas das supostas
edificações e a resposta para esse problema foi realizar um aterro para antecipar o recalque e deixar
o terreno na cota desejada para a construção.

PALAVRAS-CHAVE: Maquete, Recalque, Adensamento do solo.

1 INTRODUÇÃO ilustrem a sua fala. A utilização de objetos


dinâmicos tem um papel importante na
A comunicação entre os seres é baseada na comunicação e aprendizagem, tornando–se
forma oral e escrita, ou por meio de objetos que inquestionável a necessidade de aplicação de
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atividades práticas com o auxílio de protótipos A classificação dos solos moles segundo
no ensino de diversas áreas do conhecimento. Pinto (2006) leva em consideração o índice de
Essa aplicação tem como finalidade estimular e consistência (IC), o número de golpes (NSPT)
aguçar a percepção espacial do receptor que é um parâmetro que mede a resistência do
proporcionando um entendimento mais amplo solo à penetração e a resistência à compressão
dos espaços ou objetos projetados. simples.
Diante dessa nova metodologia de ensino, O IC é determinado pela seguinte Equação 1
foram propostas, como parte da avaliação aos (PINTO, 2006):
alunos da disciplina de Mecânica dos
Solos da UFVJM, diferentes ideias e 𝐿𝐿−𝑤
𝐼𝐶 = (1)
𝐿𝐿−𝐿𝑃
demonstrações gráficas a serem aplicadas. Este
grupo ficou responsável pela confecção de uma
Onde: LL – limite de liquidez é definido pelo
maquete como produto para a caracterização do
teor de umidade para o qual o sulco se fecha
adensamento do solo de um conjunto
com 25 golpes, w – teor de umidade em % da
habitacional fictício. Dessa forma, a maquete
amostra e LP – limite de plasticidade.
possibilitaria uma visão tridimensional física
Já o NSPT, consiste no número de golpes
para desenvolver o projeto acompanhado de
aplicados necessários para cravar 30 cm do
ideias, soluções e da criatividade do grupo.
amostrador padrão. E por último, a resistência à
Através de artes fundamentais e autônomas, a
compressão compreende carga necessária para
maquete possibilita uma leitura do trabalho
levar o corpo de prova à ruptura, dividida pela
tratado como meio de ligação entre alunos e a
área da seção transversal desse corpo (PINTO,
realidade, incluindo, sobretudo as questões
2006).
relacionadas ao adensamento, utilizando o
Diante do aumento da densidade populacinal
aterro de sobrecarga como meio de minimizar
dos centros urbanos torna-se imprescindível o
os excessivos recalques que venham ocorrer,
melhoramento da sua infraestrutura. Assim,
devido às propriedades do solo do local.
existe há necessidade da construção de aterros
De acordo com Santos (2015) por meio de
sobre solos instáveis (solos moles), sendo este
uma maquete é possível ter o domínio visual de
muito comum hoje em dia nas obras de
todo o conjunto espacial representado por um
engenharia.
modelo tridimensional, favorecendo a relação
É importante salientar que o foco desse
entre o que é observado no terreno e no mapa.
trabalho não é apresentar a metodologia de
O fundamento inicial para realização deste
cálculo para o dimensionamento da altura de
trabalho foi à utilização dessa ferramenta como
aterro de sobrecarga, e sim, fazer a
modelo representativo do processo de recalque e
representação do processo que ocorrerá quando
adensamento do solo em um local fictício com a
o carregamento é empregado para acelerar o
existência de solos moles, de maneira à
recalque em solos moles através da maquete.
represetnar a construção de um conjunto
habitacional na cidade de Teófilo Otoni - MG.
Segundo Massad (2010) solos moles são
2 OBJETIVO
caracterizados pela sua baixa resistência a
penetração com valores de Standard
Objetiva-se propor a elaboração de uma
Penetration Test (SPT) que atigem no máximo
maquete para simular o solo mole e que pudesse
quatro golpes, sua natureza coesiva e
ser utilizada como material didático. A
compressével vem da parcela de argila presente
confecção dessa é uma forma prática e
nesse solo, e são representados pelas argilas
representativa do processo de adensamento e
moles ou areias argilosas fofas originadas de
recalque do solo que é ocasionado por uma
deposições recentes, mais especificamente do
sobrecarga. Além disso, foi levantado os custos
período quartenário.
para a confecção do protótipo.
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3 MATERIAIS E MÉTODOS Custo Custo


Descrição Quantidade unitário parcial
(R$) (R$)
Para demonstrar de forma empírica o uso da
Estilete plástico
maquete, essa foi confeccionada em duas etapas. 1 Un 1,45 1,45
coloriado estreito
Na primeira, foi lançado um aterro de Isopor placa 0,75
1 Un 12,90 12,90
sobrecarga no solo para que o mesmo sofresse o mm
recalque necessário a fim de evitar prejuízos e Lapiseira 1 Un 3,90 3,90
Mão de obra
alterações nas estruturas das edificações. Na
(construção da 7 pessoas 15 105,00
segunda, após alcançar a cota desejada no maquete)
terreno, é retirado o carregamento e construído Mão de Obra corte
10 minutos 0,50 5,00
as edificações pretendidas. Não foi possível na madeira
demonstrar o adensamento durante a construção Palito Churrasco 100
1 Pc 3,95 3,95
da marquete, o que representaria uma terceira Un
Palito de picolé 1 Pc 3,00 3,00
etapa da construção, devido dificuldade de Papel Camurça verde
obtenção de imagens. 2 Un 0,70 1,40
musgo
A elaboração da maquete partiu de um perfil Papel cartão brilho 2
2 Un 1,50 3,00
geológico (Figura 1) previamente disponibilzida FL x 1,50 F1
na disciplina. Papel cartão 1FL F1 1 Un 0,70 0,70
Papel Micro
1 Un 2,75 2,75
ondulado 1 PT T18
Papel Micro
1 Un 2,20 2,20
ondulado laranja
Papel Paraná N80
1 Un 5,50 5,50
0,80 X 1 M
Pedras Coloridas
1 Pc 2,00 2,00
(Rosa Claro)
Pincel 2 Un 1,90 3,80
Pó de Serra (250 g) 1 Pc 1,00 1,00
Tesoura Grande 1 Un 3,00 3,00
Tesoura Pequena 1 Un 3,00 3,00
Tinta artesanal ACR 1 Un 2,50 2,50
Figura 1 – Perfil geológico base. Tinta tecido acrilex 3 Un 2,50 7,50
Tubo de silicone
1 Un 8,00 8,00
Para a confecção da maquete, foram (50g)
utilizados os materiais apresentados na Tabela Vasilha de plástico 1 Un 3,00 3,00
Vidro 48 x 20 cm
1. Nessa, está relacionada a quantidade de cada 2 Un 15,50 31,00
(Espessura 5 mm)
material, assim como, os custos e a mão de obra Vidro 34,5x 20 cm
necessária para a construção da maquete. 2 Un 13,50 27,00
(Espessura 5 mm)
Custo total - - 279,65
Tabela 1. Tabela de materiais e custos.
Custo Custo Esses materiais foram escolhidos por serem
Descrição Quantidade unitário parcial
(R$) (R$)
de fácil acesso e por representar o processo de
Areia 5 litros 2,00 1,00 forma didática e objetiva.
Argila 5 litros 0,50 2,50 Assim, a princípio foi montada a estrutura da
Brita 5 litros 1,50 7,50 maquete, os quais foram utilizados a peça de
Caneta Preta 1 Un 0,90 0,90 madeira como base, e as placas de vidro que se
Cola branca 10 g Leo
1Un 0,90 0,90 encaixaram nesta com a aplicação de silicone
Leo
Cola quente fina 30 para fixação conforme Figura 2.
3 Un 1,00 3,00
cm Rendicola
Enfeite sintético 1 Un 5,90 5,90
Escalímetro 1 Un 15,40 15,40
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Figura 2: Fixação das placas de vidro com silicone.


Figura 5: Disposição final das camadas.
Para diminuir o peso da maquete, utilizou–se
uma peça de isopor no centro da estrutura para Para representar as edificações, foram
reduzir o volume do material mais denso e confeccionados alguns componentes como casas
posteriormente foi adicionado nessa sequência: na qual foram utilizados os seguintes materiais:
1 camada de brita representando o horizonte de papel Paraná, papel cartão, e papel micro
rocha alterada (Figura 3); 1 camada de areia ondulado. O pó de serragem com tinta verde foi
(representando a primeira camada drenante) utilizado para representar a grama e os palitos
conforme Figura 4; 1 camada de argila cinza– de churrasco na confecção dos postes de luz
amarela (representando a camada de argila conforme Figura 6 e 7.
mole, que sofrerá o adensamento), 1 camada de
areia (representando a segunda camada
drenante) e 1 camada de argila vermelha
representando o terreno e o aterro conforme
Figura 5.

Figura 6: Materiais utilizados na confecção do conjunto


habitacional.

Figura 3: Camada de brita representando o horizonte de


rocha alterada.

Figura 7: Moldes usados para representar as edificações.

Como a finalidade dessa maquete é


Figura 4: Camada de areia representando face drenante.
representar duas etapas, dividiu–se com palitos
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de picolé fixados para separar o aterro, a parte representada apenas em duas etapas, como foi
que representa o solo ainda com o aterro, onde sugerido pela atividade proposta na disciplina,
está ocorrendo o processo de compactação, da pois era uma forma de exemplicificar o antes e o
parte da camada de argila mole representada depois da construção do conjunto habitacional,
pela camada central de argila cinza–amarela que demonstrando assim que o aterro de
já sofreu o recalque. O aterro de sobrecarga foi adensamento conseguiu atingir sua finalidade.
retirado para início das edificações (Figura 8).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realização desse projeto, observou–


se a importância do uso da maquete como
incremento na metodologia de ensino.
Percebeu–se que através desse recurso
educacional houve uma renovação no contexto
que norteia o processo de ensino e
aprendizagem, pois proporcionou aos discentes
uma compressão de forma didática e simples
quanto ao assunto proposto para representação.
Figura 8: Maquete finalizada Antes/Depois. Além disso, a confecção da maquete foi capaz
de estimular a criatividade e a percepção
espacial dos discentes, contribuindo para um
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES melhor entendimento dos espaços projetados.
Por fim, a confecção da maquete demonstrou
A representatividade de um objeto ou situação ser uma ferramenta eficiente como recurso
em maquete permite ao observador a didático, pois, permitiu uma visualização mais
perspectiva de leitura, e a sequência da próxima à de uma situação real, ao representar o
construção de diferentes imagens da realidade recalque ocasionado por uma sobrecarga de
do que foi representado. Assim, a maquete pode aterro.
ser considerada uma metodologia de ensino
diferenciada e sua importância se mostra através
da sua contribuição na estruturação dos AGRADECIMENTOS
conhecimentos dos alunos.
No decorrer da confecção da maquete Os autores agradecem ao PROAPP da
surgiram algumas dificuldades relacionadas à Universidade Federal dos Vales do
distribuição das camadas para representar o Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.
perfil do solo, principalmente a da argila cinza–
amarela usada para representar a camada de
argila mole. Constatou-se que a proporção dessa REFERÊNCIAS
camada é duas vezes menor que a altura do
aterro encontrada nos cálculos que precedeu este MASSAD, F. (2010). Obras de terra: curso básico de
trabalho, porém a altura do vidro não permitiu Geotecnia. 2ª Ed. São Paulo: Oficina de Textos.
essa representação em escala. Outra dificuldade PINTO, C. S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos
solos em 16 aulas. 3ªEd. São Paulo: Oficina de
foi a confecção das casas e postes para Textos.
representar o conjunto habitacional, a dimensão SANTOS, E.F.; ISAKA, S.R. (2015). A maquete como
exigida para deixar a maquete harmônica exigiu recurso didático no ensino de solos. Revista
habilidade e paciência. Perspectiva Geográfica. v. 10, n. 12.
Vale ressaltar, que a maquete foi
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Representação em Modelo 3D de um Tubulão a Céu Aberto


Tammy Reis de Paiva Condé
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
tammyreis_92@hotmail.com

Ana Flávia de Pinho Araújo


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
anaflaviapa@hotmail.com

Anderson Mattos Siqueira


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
anderson_siqueira0@hotmail.com

Caroline Mendes Torres


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
caroliinetorres@hotmail.com

Gisele Monteiro Sousa


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
gisele_monteiro13@hotmail.com

Leonam Reis Calatrone


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
leonam.calatrone@outloo.com

Letícia Mendonça Santos


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
lele1mendonca@hotmail.com

Telma Dias Costa


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
telma.costa18@hotmail.com

Iara Ferreira de Rezende


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
iaraferreiraderezende@gmail.com

Alcino de Oliveira Costa Neto


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, Brasil,
alcino.engenheirocivil@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho trata-se de uma revisão e representação de material didático de


maneira lúdica, considerando uma maquete, para o tubulão a céu aberto, fundação profunda
moldada in loco, escavada manualmente ou mecanicamente. A maquete, mostra-se um eficiente
exercício didático ao desenvolvimento de um modelo físico real, realizado com materiais
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alternativos, que por meio reduzido, torna como representação hipotética de uma situação real. A
partir do conhecimento adquirido e da exploração do conteúdo, foi elaborado a montagem de um
protótipo de um tubulão a céu aberto sem revestimento, considerando as etapas de escavação,
construção e finalização. O poliestireno foi o material principal do produto. Logo, este artigo
corrobora com a relevância do uso do protótipo físico, como ferramenta didática, auxiliando na
compreensão da execução das fundações, em especial, do tubulão a céu aberto.

PALAVRAS-CHAVE: MODELO REPRESENTATIVO, TUBULÃO A CÉU ABERTO, FUNDAÇÕES


PROFUNDAS

1aaaaaaINTRODUÇÃO direta com a forma de representação da


realidade miniaturizada (Laurindo, 2012). Além
Na disciplina de Fundações e Obras de Terra de estimular o receptor e aguça sua percepção
foram apresentados os tipos de fundações espacial, proporciona um entendimento mais
amplo.
existentes e em quais situações cada uma
deveria ser empregada. A partir do Tem-se conhecimento da importância do uso
conhecimento adquirido e da exploração do de recursos didáticos e novas tendências, em
específico a propensão da utilização de
conteúdo, foi proposto a montagem de um
protótipo de uma fundação profunda, que seria modelagem 3D, utilizadas com finalidade
do tipo tubulão a céu aberto, com o objetivo de artística de planejamento ou comercial que
colocar em prática a teoria vista em sala de aula possibilita ao observador apropriar-se do objeto
de uma forma lúdica. através de sua manipulação e visualização bem
O presente artigo relata o processo de como uma maneira de melhorar e auxiliar os
produção de uma maquete para um tubulão a docentes nas áreas de arquitetura e engenharia
céu aberto, sem revestimento. Este texto mostra no processo de ensino e aprendizagem,
a importância da organização do trabalho na favorecendo o discente no entendimento do
construção civil para evitar vários tipos de conteúdo em questão.
desperdícios e também aumentar a Seu uso é de extrema importância nas aulas, já
produtividade. que pode proporcionar o domínio de formas
O trabalho apresenta também à importância de geométricas, proporções, escalas, noção de
espaço, disposição dos elementos e resultado
se trabalhar a maquete em sala de aula,
considerando as vivências dos alunos, propondo final. Como é possível notar uma aprendizagem
uma aprendizagem com conceitos e significativa dos discentes, sendo que os
recursos práticos, como por exemplo, visitas
significados, que permitam aproximar os
conteúdos teóricos com suas aplicações no técnicas são de difícil acesso, o auxílio do
cotidiano. desenvolvimento de atividades interativas
Ao longo da história, a maquete vem busca-se exemplificar aos mesmos o
exercendo papel importante no campo da desenvolvimento de projetos no cotidiano que
construção civil. As construções desses possam vir a acontecer na vida profissional,
protótipos agregaram características peculiares proporcionando uma melhor visualização
no que diz respeito à forma, aos materiais referente à funcionalidade de algumas etapas
empregados na sua confecção, aos usos sociais construtivas, e com isso busca apresentar o lado
e às relações com a época. A maquete como benéfico do uso de outros recursos didáticos,
modelo físico em escala reduzida é considerada para complementar a explicação de
uma ferramenta facilitadora da percepção determinados conteúdos que fazem parte das
projetil, já que se caracteriza por sua relação grades curriculares.
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A abrangência do uso de protótipos 3D em


sala de aula, não se aplica apenas ao momento
de sua apresentação como um produto final aos
alunos, pois antes da sua concretização diversas
etapas são necessárias para a sua finalização.

2aaaaaa METODOLOGIA

Após estudos e pesquisas acerca do assunto,


foram feitas propostas para definir a
metodologia a ser adotada no projeto, as
dimensões e os materiais utilizados para o
desenvolvimento do mesmo.
Estudando as possibilidades e a viabilidade
econômica para a realização de uma
demonstração em 3D, optou se pela utilização
do poliestireno expandido (também conhecido
como isopor) como matéria prima do protótipo.
O material foi escolhido devido ao fácil
manuseio, valor acessível e de fácil corte e
Figura 1. Preparação do corte no poliestireno.
moldagem.
Apesar de o poliestireno ser a principal
matéria prima utilizada para elaboração deste
projeto, outros materiais foram utilizados na sua
confecção: tubo de PVC (policloreto de vinila)
de 100 mm; armaduras de aço com 4,2mm de
diâmetro e arame recozido.
Para a concretização do projeto proposto
inicialmente a equipe, foi realizada uma
maquete de um tubulão a céu aberto sem
revestimento 3D, considerando três etapas: a
escavação, em construção e tubulão finalizado.
Após estipulados os materiais, estes foram
Figura 2. Cortes já prontos.
adquiridos para que desse início ao processo. A
placa de poliestireno foi comprada na espessura
de 10 cm e utilizada para representação da O tubulão já finalizado foi feito a partir
fundação em corte, em duas etapas. de uma base de isopor para bolo falso (Figura 3)
A primeira etapa representada foi a escavação de 200 mm de diâmetro por 100 mm de altura,
do fuste e da base, necessária para receber a que foi medida e marcada com régua e lapiseira,
armadura e o concreto do tubulão, sendo essa e recortada com o auxílio de um estilete.
feita de maneira manual. O isopor foi recortado
de maneira a representar essa etapa da
construção, como mostra as Figuras 1 e 2.
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de isopor de 100 mm, que depois de cortado e


moldado foi fixado no tubo PVC por encaixe.

Figura 3. Base para bolo falso sendo moldada para servir


de base para o tubulão.

Após os cortes e a base estarem prontos, o


tubo PVC de 100 mm foi cortado para
representar o fuste da fundação e depois lixado
para corrigir algumas imperfeições, sendo
disposto no protótipo através de amarrações
para que o tubo se mantivesse fixo à base de
isopor, apresentado na Figura 4. Figura 5. Representação do bloco de coroamento.

3aaaaaa RESULTADOS

Após os materiais cortados e moldados no


formato desejado, foi iniciada a fase final de
acabamento do modelo. Inicialmente, foi
utilizada massa corrida em toda a superfície do
isopor tanto da placa da maquete como na base
do tubulão e em seguida utilizou-se a lixa para
corrigir imperfeições. Com a superfície
regularizada, foram definidas as cores que
representariam melhor os tons do solo e do
concreto para executar a pintura.
Foi empregado corante para tinta xadrez nas
cores preta e marrom e tinta guache branca para
misturar e chegar aos tons escolhidos. A pintura
foi realizada com o auxílio de um rolo de
Figura 4. Representação da base e fuste do tubulão após pintura e de pincéis.
moldados. Para representar a escavação - primeira etapa
construtiva (Figura 6), o recorte no isopor foi
Para representação do bloco de coroamento do pintado de marrom para representar o solo e
tubulão (Figura 5) também foi utilizada a placa colocado um boneco e um balde para
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representação do trabalho manual de O tubulão completo concluido (Figura 8), teve


alargamento e limpeza da base. seu acabamento tanto da base, do fuste e do
bloco de coroamento na cor cinza representando
o concreto.

Figura 6. Escavação do Tubulão – Parte 1.

Para representar o tubulão em construção


(Figura 7), a segunda parte demonstra parte da
fundação já construída, constando de sua base e
parte de seu fuste já preenchidos com Figura 8. Tubulão Finalizado.
argamassa, representando o concreto, assim
como a locação da armação no mesmo. A
armadura, com bitola de 4,2mm, foi disposta e 4aaaaaaCONCLUSÃO
amarrada junto com o arame recozido que
representa os estribos ao longo do fuste. Após a Dessa forma, no que tange à maquete, o artigo
armadura, foi concretada a base do tubulão e demonstra a importância do uso do modelo
metade do fuste, deixando parte da armadura a tridimensional físico, como ferramenta que
mostra para melhor visualização. permite maior facilidade de compreensão do
tubulão a céu aberto. No entanto, não se pode
negar que ainda é um artefato de apresentação
insuficiente, pois a representação miniaturizada
não equivale a uma observação in loco, onde
oculta parte de informações valiosas. Ainda
assim, é uma ferramenta que, agregada a outras
estratégias, permite tornar mais próxima a
visualização de um projeto.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao PROAPP da


Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.

Figura 7. Tubulão em Construção - Parte 2.


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REFERÊNCIAS

LAURINDO, F.S, Maquete física como ferramenta de


apoio para apresentação de um projeto arquitetônico.
2012. Revista On Line IPOG Florianópolis.
Disponívelem:http://www.bussinesstour.com.br/revist
a-ipog/download/maquete-fisica-como-ferramenta-de-
apoio-para-apresentacao-de-um-projeto-arquitetonico.
Acesso em: 30 mar. 2018.
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Revista de Banca como Ferramenta Auxiliar no Estudo dos Solos


Moles
Leonardo Henrique Lins Ramalho
UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, lh.lins@outlook.com

Maria Luiza Coimbra Assunção


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, mariamaria2395@gmail.com

Érica Cantão da Fonseca


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, erica_cantao@hotmail.com

Márcio Felício de Oliveira Júnior


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, manuvi.junior@gmail.com

Isabela dos Santos Cardoso


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, isabelacardoso18@yahoo.com.br

Paula Alves Cardoso


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, paulacardosoufvjm@gmail.com

Caroline Ferreira
UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, caroline.ferr.3@gmail.com

Iara Ferreira de Rezende Costa


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, iara.ferreira@ufvjm.edu.br

Francisco César Dalmo


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, francisco.dalmo@ufvjm.edu.br

Alcino de Oliveira Costa Neto


UFVJM, Teófilo Otoni, Brasil, alcino.neto@ufvjm.edu.br

RESUMO: O estudante universitário é levado a transpor diversos desafios ao longo de sua jornada
na faculdade. Métodos avaliativos tradicionais, como provas e relatórios, não se mostram mais tão
eficazes na formação e preparação do aluno para o atual mercado profissional. O presente trabalho
tem como objetivo mostrar uma nova forma de se apresentar um problema proposto na disciplina de
mecânica dos solos, gerando um produto lúdico que auxilie na apresentação e compreensão do
mesmo. O produto em questão é uma revista de banca, contendo jogos, informativos e desenhos
ilustrativos, todos a respeito sobre o recalque, tema do trabalho, e com o diferencial de ser redigido
na língua inglesa. Para a confecção do produto foram utilizados mecanismos de tradução e o
software Canva, utilizado para a composição da parte gráfica do produto. O trabalho também
apresenta a quantificação do preço total do produto.

PALARAS-CHAVE: Revista de Banca, Inglês, Mecânica dos Solos, Ensino-Aprendizagem.


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1aaaaaaINTRODUÇÃO

A ementa da disciplina mecânica dos solos é


muito abrangente, e um importante assunto a
ser abordado é o estudo das propriedades físicas
e mecânicas dos mesmos.
Considerando que o tema principal da
atividade parte de uma proposição para a
construção de um aterro, devido à necessidade
de elevação da cota de um fictício terreno.
Sabendo-se que a construção desse aterro,
juntamente com o peso da obra a ser construída,
provocarão recalques que podem vir a causar
problemas futuros na estrutura da edificação.
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid
(2005), uma das patologias mais significativas é
o recalque diferencial. Recalque ou
assentamento é o termo utilizado na engenharia Figura 1. Capa da Revista de Banca Let’s Play.
civil para caracterizar o fenômeno que ocorre
quando uma edificação sofre um rebaixamento Por ser um produto de entretenimento, deve
devido ao adensamento do solo sob sua ser visualmente agradável, de fácil
fundação. entendimento, que aguce a curiosidade do
Para a apresentação dos resultados da leitor, mas sem deixar de levar informações
referida atividade, o professor da disciplina pertinentes a respeito do tema. A revista foi
optou por não adotar métodos convencionais, redigida na língua inglesa, a fim de
como relatórios, ou ainda apenas detalhar as proporcionar conteúdos diferenciados na
equações que resolvem o problema, e sim pela mesma, visando principalmente alunos
criação de produtos lúdicos, facilitando na universitários. O inglês é o segundo idioma
compreensão da atividade não somente por mais falado em todo o mundo, o que torna o
pessoas que tenham familiaridade com o tema, trabalho acessível não apenas no Brasil, mas
mas por qualquer pessoa que queira ter acesso com possibilidade de ser difundido fora do país,
ao mesmo. em outras comunidades acadêmicas, agregando
As bancas de jornais/revistas possuem como conhecimento aos demais.
objetivo levar informações, cultura e Para a confecção do produto foram utilizados
entretenimento aos usuários. Elas são instaladas mecanismos de tradução e o software Canva,
normalmente em lugares públicos, servindo utilizado para a composição da parte gráfica do
como mobiliário urbano, com grande circulação produto.
de pessoas, deixando seus produtos bem O trabalho também tem como objetivo
visíveis, atraindo assim os consumidores. quantificar o preço total do produto, como
Um produto de grande sucesso das bancas materiais utilizados, tempo gasto na realização
são as revistinhas, que contém jogos como: de cada etapa do mesmo, possíveis softwares
palavras cruzadas, jogo dos sete erros, imagens pagos, impressão, entre outros gastos, fazendo
para colorir e também informativos. E com que os alunos aprendam a estipular um
baseando-se nesse conceito, foi criada a revista preço justo pela tarefa desempenhada, situação
de banca deste trabalho, cujo título é LET’S habitual no dia a dia de trabalho.
PLAY, da tradução em português “Vamos
Jogar”, como mostrado na Figura 1.
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2 METODOLOGIA

Em tempos de obsolescência programada, é


necessário que as empresas estejam adeptas a
novas tecnologias e busquem reinventar
constantemente seus produtos e serviços. Para
que isso aconteça elas devem conter
profissionais criativos, dispostos a inovar e sair
da sua zona de conforto. Consequentemente, as
instituições profissionalizantes devem exigir
dos seus alunos mais do que o conhecimento
teórico propriamente dito, mas também auxiliar
no desenvolvimento do perfil do profissional
que é requisitado no mercado de trabalho.
A eficiência de um estudante depende da sua
capacidade de alterar seu posicionamento diante
das circunstâncias e apresentar atributos, como
estar envolvido, escutar, criar idéias e tomar
decisões. O produto criado pelos discentes da Figura 2. Primeira Página da Revista com Informações
UFVJM exige que eles trabalhem todas essas sobre Solos Moles e Recalque.
características. Isso ocorre tendo em vista que
os discentes, mesmo cursando engenharia, Nas páginas seguintes foram apresentados
fossem responsáveis por todas as etapas da jogos e brincadeiras elaborados exclusivamente
produção da revista, desde a parte estética, para utilização de informações e dados
gráfica, tradução e também análise dos custos referentes ao trabalho, como um jogo de
de execução do produto. palavras cruzadas (Figuras 3 e 4) contendo
A utilização do software Canva permite a termos relacionados a solos moles, e desenhos
criação de conteúdos gráficos e utiliza o modelo para colorir (Figuras 5 e 6).
de precificação conhecido como freemium,
muito popular em serviços na internet, onde o
serviço é gratuito, porém existem algumas
ferramentas específicas que precisam ser pagas
para obter o direito de uso.
A escolha de cores terrosas, como o
vermelho e marrom, para a composição da
revista, foi utilizada para fazer referência ao
solo, tema principal do trabalho e da disciplina.
A etapa seguinte foi a criação de jogos e
brincadeiras lúdicas, que utilizassem dados e
informações sobre solos moles.

3 RESULTADOS

O conteúdo da revista é introduzido com


informações sobre o tema do trabalho, como
mostra a Figura 2, colocada na primeira página
da revista, apresentando aos leitores
informações a respeito de solos moles, suas
características e também sobre recalque. Figura 3. Jogo de Palavras Cruzadas.
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Figura 6. Página da Revista para colorir, considerando


recalque na Torre de Pisa.
Figura 4. Jogo de Palavras Cruzadas.
Foi feito também um jogo de labirinto,
As Figuras 5 e 6 estão associadas a recalque, apresentado na Figura 7, no qual se deve
sendo uma delas um monumento mundialmente encontrar o caminho que levará até a
famoso, a Torre de Pisa, construída sobre um demonstração do aterro de sobrecarga.
solo mole e conhecida por possuir uma
inclinação aguda, ocasionada pelo recalque do
solo em um dos lados da torre.

Figura 7. Jogo de Labirinto.


Figura 5. Página da revista para colorir, considerando o
recalque em uma edificação de dois pavimentos. Para a quantificação da composição do
serviço levou-se em consideração o preço do
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software, da impressão, da tradução e da A gráfica na qual foram realizadas as


elaboração do texto e do design gráfico. Tanto o impressões foi selecionada por sua qualidade e
valor dos custos referentes a cada um dos eficiência. Os valores de impressão variam de
serviços quanto o valor final do produto estão acordo com as características desejadas para a
presentes na Tabela 1. revista. O material escolhido foi o papel couchê,
por possuir um acabamento melhor que os
Tabela 1- Tabela de Orçamento para a Confecção da demais e as impressões foram feitas em cores.
Revista. Cada uma das 12 páginas, com dimensões de
Custo Custo
Ferramentas Quant Unid Unitário Parcial
148,5 mm x 210 mm, custou R$3,75,
R$/unid R$ totalizando R$45,00. Os gastos com
Software acabamento do produto já estavam incluídos.
Canva 1,00 - - -
O custo de elaboração do texto foi R$2,50 e
do design foi R$5,00, ambos em relação à
Materiais quantidade de horas utilizadas na execução.
Impressão 12,00 Folha 3,75 45,00 Esses valores estão abaixo da média real dos
Mão de custos, pois se leva em consideração que não
foram realizados por profissionais qualificados
Obra
da área.
Elaboração 2,00 Hora 2,50 5,00 Por essas considerações que se chega um
do texto
custo total de R$ 165,00 pela produção
Tradução 250,0 Palavra 0,38 95,00
completa do produto. Esse valor é
Design 4,00 Hora 5,00 20,00 representativo visto que o gasto real foi apenas
gráfico
com a impressão, e os demais serviços foram
Custo
Total executados pelos discentes.
R$
165,00
4 CONCLUSÕES
Ao utilizar o Canva, foi preciso aprender a
A atividade proposta pelo docente da disciplina
utilizar suas ferramentas básicas com destreza a
foi não somente incentivar os estudantes nos
fim de obter o resultado desejado sem gerar
requisitos visados pelo mercado de trabalho,
custos extras à confecção da revista. O uso de
mas também fazer com que o conteúdo da
ferramentas específicas poderia reduzir o tempo
disciplina mecânica dos solos pudesse atingir
de trabalho e ampliar as possibilidades de
mais pessoas, fora do meio acadêmico, que
composição gráfica, porém o custo das mesmas
normalmente não teriam acesso a essas
precisaria ser repassado ao produto final
informações.
podendo tornar inviável a exposição e venda do
Como a revista de banca foi escrita na língua
mesmo em bancas de rua.
inglesa, possui associação de imagens e opções
A tradução foi realizada pelos próprios
de entretenimento, ela cumpre requisitos
alunos, utilizando principalmente palavras do
básicos para atingir um público maior, tanto
cotidiano, e alguns professores auxiliaram na
pelo fato da quantidade de pessoas que
tradução de termos técnicos. A tabela do
conseguirão compreender o conteúdo da
Sindicato Nacional dos Tradutores (SINTRA,
mesma, quanto por sua procura em
2018) foi utilizada para a quantificação do
consequência das suas atividades de
serviço de tradução, e dessa maneira admitiu-se
entretenimento.
que cada palavra gera um custo de 38 centavos
Tendo em vista os custos gerados pelo
na tradução. Como a revista para este caso,
produto, deve-se alterar a escolha do papel,
possui 250 palavras, o custo total seria de R$
selecionando outro que mantenha a qualidade,
95,00.
mas que seja mais viável economicamente para
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a produção em larga escala. Assim,


considerando ainda o fato da redução de custos
devido a impressão de grandes quantidades do
material, o produto elaborado poderá chegar às
bancas com um preço acessível.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao PROAPP da


Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

Milititsky, J., Consoli, N.C., Schinaid, F. (2005)


Patologias das Fundações, 1ª. ed, Oficina de Textos
,São Paulo, Brasil, 191p.

SINTRA, Sindicato Nacional dos Tradutores. Valores de


referência de 2018. Disponível em:
https://www.sintra.org.br/site/index.php?p=c&pag=pr
ecos > Acesso: 20 de fev. 2018.
 

TEMA:  
ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA  
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Análise da Influência do Defloculante na Determinação de Curvas


Granulométricas de Rejeitos de Mineração
Helena Paula Nierwinski
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, helnier@gmail.com

Ana Carolina Martins


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joinville, Brasil, ana.carolina-rila@outlook.com

Fernando Schnaid
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, fschnaid@gmail.com

RESUMO: A correta definição da curva granulométrica dos solos é imprescindível na avaliação de


suas propriedades. Assim, o presente trabalho objetiva a análise da influência do defloculante na
obtenção da curva granulométrica de rejeitos de mineração. Estes materiais compõem-se por
partículas de pequeno diâmetro e, podem conter elementos químicos provenientes do processo de
beneficiamento. A campanha experimental adotada baseou-se na realização de ensaios de
granulometria com sedimentação, com e sem a utilização de defloculante e, ensaios de
granulometria a laser, realizados em rejeitos de mineração de ouro, bauxita e zinco. A comparação
entre os resultados demonstrou que a presença do defloculante afeta a quantidade de partículas do
tamanho de siltes e argilas, além das distribuições encontradas sem o uso de defloculante
mostrarem-se irregulares e descontínuas. Concluiu-se tanto a presença do defloculante, quando a
presença de água pode afetar a definição da curva granulométrica de rejeitos de mineração,
exigindo-se um estudo cauteloso ao se trabalhar com estes materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Análise granulométrica, defloculante, rejeito de mineração.

1 INTRODUÇÃO diâmetro) e sedimentação (separação de


partículas de menor diâmetro, seguindo-se a Lei
Os solos são compostos por um conjunto de de Stokoes). A NBR7181 (ABNT, 2016)
partículas sólidas de tamanhos diversos, que normatiza os procedimentos que devem ser
podem apresentar vazios preenchidos por água adotados para tais ensaios.
e/ou ar. A correta quantificação das Nos ensaios de sedimentação é prática
porcentagens de cada diâmetro de grãos, que comum a utilização de defloculante para
constituem uma determinada amostra, tem auxiliar na dispersão das partículas e na correta
grande importância na sua caracterização e identificação dos diâmetros que compõe a
análise de propriedades como permeabilidade, parcela mais fina da amostra. Embora esta
compressibilidade e até mesmo na avaliação de metodologia seja amplamente difundida no
respostas de ensaios de campo, realizados no meio geotécnico, ainda existem incertezas
material. relacionadas ao seu uso (Sousa Pinto, 2006;
A curva granulométrica é a representação Lambe, 1969).
gráfica da distribuição dos diâmetros de grãos Neste sentido, o presente trabalho tem por
de um determinado solo. A metodologia objetivo avaliar a influência do defloculante na
rotineiramente utilizada para definição da definição de curvas granulométricas de rejeitos
mesma consiste na realização de ensaios de de mineração. A escolha por amostras de rejeito
peneiramento (separação de partículas de maior de mineração baseia-se no fato da eventual
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possibilidade de ocorrência de algum tipo de barragens devem possuir mecanismos de


interação química entre o defloculante e impermeabilização e drenagem. Além desses
elementos químicos provenientes do processo mecanismos, na etapa de estruturação da
de beneficiamento e, que poderiam estar construção da barragem, a escolha da
presentes nas amostras avaliadas. localização até a etapa final da obra, devem
A aplicabilidade de procedimentos rotineiros atender critérios econômicos, estruturais,
da mecânica dos solos à correta caracterização sociais, de segurança e principalmente os
de rejeitos de mineração é avaliada através da geotécnicos (ESPÓSITO, 2000; IBRAM, 2016).
análise de resultados de ensaios de A ruptura da barragem de rejeitos de ferro,
granulometria com sedimentação realizados em de Fundão, em novembro de 2015, no estado de
amostras deste material, com e sem o uso de Minas Gerais, alertou ainda mais para a
defloculante e ensaios de granulometria a laser. necessidade de um olhar geotécnico cauteloso
para as barragens de rejeitos. De acordo com o
estudo desenvolvido por Morgenstern et al
2 REFERENCIAL TEÓRICO (2016) propriedades intrínsecas a cada tipos de
rejeito podem estar relacionadas à
2.1 Rejeitos de Mineração suscetibilidade de rupturas em barragens.
De um modo geral os rejeitos são compostos
Em qualquer tipo de atividade produtiva tem-se por partículas de granulação fina, na sua
a produção de resíduos. Na atividade maioria do tamanho de grãos de silte (diâmetros
mineradora, em especial, os resíduos maiores que 0,002 mm e menores que 0,05 mm)
produzidos podem ser divididos em duas e tendem a apresentar baixa ou nula plasticidade
parcelas: o material proveniente da extração (VICK, 1983; BEDIN, 2010; NIERWINSKI,
(estéril) e o material produzido pelo processo de 2013). O coeficiente de permeabilidade dos
beneficiamento (rejeitos). De acordo com rejeitos de mineração é da ordem de 10-7 a 10-8
IBRAM (2016) o beneficiamento é o processo m/s, ou seja, uma permeabilidade intermediária
no qual ocorre a separação do material de entre argilas e areias (BEDIN, 2010).
relevância econômica, do material Sendo assim, uma das grandes preocupações
remanescente, o qual não tem valor comercial em se compreender o comportamento de
(rejeito). Em muitas situações, a divisão entre rejeitos de mineração dentro das barragens
estas parcelas somente é possível através da deve-se a possibilidade de ocorrência de
inserção de elementos químicos, que também liquefação nestes materiais, ou seja, aumento
estarão presentes nos rejeitos produzidos no repentino de poropressões provocando a
processo. anulação das tensões efetivas. De acordo com o
Em decorrência deste fato, a Lei 12305/2010 documento apresentado por Morgenstern et al
(Política Nacional de Resíduos Sólidos – (2016), a ruptura da barragem de Fundão pode
PNRS) expressa que destinação final dos ter sido desencadeada por liquefação no rejeito
rejeitos, seja unicamente a disposição do interior da barragem. Mesmo que a
ambientalmente adequada, não existindo liquefação tenha início numa camada específica
possibilidades de reciclagem ou reutilização. A de material, a ruptura global da estrutura pode
metodologia de armazenamento mais difundida ser desencadeada por rupturas sucessivas a
atualmente é a disposição por meio de partir de uma pequena instabilidade inicial.
barragens. O método de alteamento de barragens de
Estas barragens podem ser formadas a partir rejeito mais utilizado no Brasil é o método de
de um barramento maciço que pode ser solo alteamento à montante, conforme demonstrado
compactado, blocos de rocha ou até mesmo pela Figura 1. Embora seja a metodologia mais
rejeitos. Devido às exigências ambientais as economica, pois permite a diluição dos custos
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ao longo da vida útil do reservatório, os maiores ensaio consiste na combinação das análises por
acidesntes registrados na literatura estão neste sedimentação e por peneiramento (SOUSA
tipo de estrutura (DAVIES e MARTIN, 2000; PINTO, 2006).
MARTIN e MCROBERTS, 2002). De acordo com a NBR7181 (ABNT, 2016) o
ensaio de análise granulométrica pode ser
dividido de acordo com o tipo e tamanho das
partículas do solo, sendo que para os solos
grossos (areais e pedregulhos), os quais
possuem pouco ou quase nenhum resquício de
finos, a obtenção da sua curva granulométrica é
realizada através de ensaios de peneiramento. Já
Figura 1. Método de disposição à montante (adaptado de para os solos que possuem uma grande
Vick, 1983) quantidade de finos (argilas e siltes), o ensaio
de sedimentação seria mais indicado para
O método de alteamento à montante é obtenção da sua curva granulométrica.
executado a partir de um dique inicial, Como os rejeitos de mineração são
normalmente constituído por camadas constituídos por partículas de pequeno
compactadas de argila ou enrocamento. A partir diâmetro, o ensaio de peneiramento não foi
da crista deste dique é realizado o lançamento considerado necessário, sendo apenas realizado
dos rejeitos em direção à montante da linha de o ensaio de sedimentação. Segundo a NBR
eixo do dique de partida. De acordo com Martin 6502 (ABNT, 1995) a classificação dos solos de
e McRoberts (2002) na maioria dos casos, a acordo com o tamanho dos grão presentes pode
fração grosseira, separada hidraulicamente, é ser realizada conforme faixas de variação
usada para construir as chamadas praias de demostradas na Tabela 1.
rejeito (próximas à barragem) e a fração mais
fina compõe as lagoas de rejeitos. Tabela 1. Classificação de solos de acordo com faixas de
Após atingida a cota da crista do dique de tamanho de grãos (adaptado de NBR 6502 - ABNT,
partida, inicia-se o processo de alteamento. Um 1995)
novo dique, geralmente realizado com os Diâmetros dos grãos
Classificação
(mm)
próprios rejeitos, é construído sobre a praia da Bloco de Rocha d > 1000
etapa anterior. Este processo repete-se até se Matacão 200 < d < 1000
atingir a cota final de projeto. Vick (1983) Seixo 60 < d < 200
salienta que um dos requisitos para implantação Grânulo 2 < d < 60
deste modelo de barragem é que a praia de Areia grossa 0,6 < d < 2
rejeitos deve fornecer uma fundação competente Areia média 0,2 < d < 0,6
Areia fina 0,06 < d < 0,2
para o próximo dique, sendo que os materiais
Silte 0,002 < d < 0,06
depositados nesta área não devem conter menos Argila d < 0,002
de 40 a 60% de partículas do tamanho de areias.
2.2.1 Sedimentação
2.2 Análise Granulométrica
O processo de sedimentação pode ser definido
O ensaio de análise granulométrica é utilizado como a separação dos sólidos em suspensão em
na obtenção da distribuição granulométrica do um fluído, utilizando-se da força gravitacional.
solo, ou seja, através do ensaio é possível Deste modo na parte inferior da mistura ficam
determinar a percentagem em peso que cada depositados os sólidos e na parte superior da
faixa de tamanho de grãos representa na massa solução um liquído ‘’limpo’’. A técnica de
seca total de amostra. O método padrão de ensaio se baseia na Lei de Stokes, ou seja, a
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velocidade de queda das partículas esféricas aglomerados ou “flocos” em suspensões de


num fluído atinge um valor limite que depende partículas na mistura, necessitam de uma
do peso específico do material da esfera, do substância com ação defloculante para o
peso específico do fluído, da viscosidade do rompimento dos aglomerados e com isso, a
fluído e do diâmetro da esfera (SOUSA diminuição da viscosidade até o ponto de existir
PINTO, 2006). somente as partículas individualizadas para um
No ensaio de sedimentação, de acordo com a melhor resultado nos ensaios.
Lei de Stokoes, as partículas do solo cairão com Sousa Pinto (2006) afirma que o uso ou não
velocidades diretamente proporcionais ao de defloculante em um ensaio de sedimentação
quadrado de seus diâmetros. Em uma suspensão resulta em diferenças significativas em seu
genérica colocada em repouso a densidade efeito final. Essas diferenças podem ser
inicial do sistema é equivalente ao longo de observadas por meio da Figura 2, a qual
toda a sua profundidade. No decorrer do ensaio, apresenta dois ensaios de granulometria por
quando as partículas maiores vão se peneiramento e sedimentação de uma amostra
depositando no fundo, a densidade na parte de solo. Um dos ensaios é realizado de acordo
superior diminui. As densidades de suspensão com a norma NBR7181 (ABNT, 2016) e o
são obtidas através do uso de um densímetro, outro é descartada a adição de defloculante em
utilizado na realização de leituras em vários sua preparação.Observando-se a Figura 2
intervalos de tempo para a obtenção da curva verifica-se que as partículas da curva com
granulométrica (FERNANDES, 2016). defloculante sedimentaram-se mais
De acordo com Sousa Pinto (2006), a dispersamente entre si e com isso pode-se
operação mais importante da sedimentação é a identificar seus diâmetros isoladamente. Já no
separação completa das partículas, com o ensaio sem defloculante, as partículas
intuito de sedimentá-las isoladamente. Na sua agrupadas, como se encontravam na natureza,
composição natural, é comum que as partículas sedimentaram-se mais rapidamente, indicando
estejam agregadas ou em flocos, sendo diâmetros maiores, que não são partículas, mas
necessária sua total desagregação, pois a falta de das agregações.
separação na mistura acarretará nos resultados a
determinação dos diâmetros dos flocos e não
necessariamente das partículas isoladamente.
Por esse motivo, a norma NBR7181 (ABNT,
2016) recomenda que no ensaio de
sedimentação seja utilizado um produto
químico com ação defloculante junto ao solo a
ser ensaiado. A solução de solo+defloculante e
deve ser deixada em repouso por um período de
mínimo de 12 horas.

2.2.2 Ação do defloculante Figura 2. Curvas granulométricas obtidas com e sem o


uso de defloculante (adaptado de Sousa Pinto, 2006).
De acordo com Ortega et al (1997), a floculação
consiste em uma reação das partículas devido às Além da interferência do defloculante em
forças de Van der Waals, originadas a partir de ensaios de sedimentação, a caracterização
dipolos atômicos e moleculares existentes no geotécnica de um solo também pode sofrer em
material, as quais apresentam sempre caráter conjunto, variações nos resultados devido ao
atrativo o que origina a formação de “grumos” uso ou não desse líquido desagregador.
ou “flocos” do material. A presença desses Resultados de ensaios de granulometria com e
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sem o uso de defloculante podem fornecer e ensaios de granulometria a laser em três tipos
classificadas distintas de acordo com os de rejeitos de mineração: rejeito de mineração
sistemas de classificações rotineiramente de ouro, rejeito de mineração de bauxita e
utilizados: SUCS (Sistema Unificado de rejeito de mineração de zinco.
Classificação dos Solos) e TRB (Transportation Os ensaios de granulometria por
Researh Board). sedimentação seguiram as premissas normativas
da NBR7181 (ABNT, 2016) e foram realizados
2.2.3 Granulometria a laser junto ao laboratório de Mecânica dos Solos do
campus da UFSC Joinville e no Laboratório de
A granulometria a laser consiste em uma técnica Engenharia Geotécnica e Geoambiental (LEGG)
com o objetivo de determinar o tamanho das da UFRGS, Porto Alegre. Para o ensaio sem a
partículas de um material em uma ampla faixa adição de defloculante, as amostras foram
dinâmica de medições que podem variar desde deixadas em imersão em água destilada, por
nanômetros a milímetros de tamanho dos grãos. mesmo período de tempo que as amostras
A utilização desse método permite medições imersas na solução de hexametafosfato de
rápidas, repetibilidade de amostragem, alta sódio. A sequência de ensaio foi idêntica para
precisão e além de um melhor monitoramento e ambas as situações, levando-se as soluções
controle do processo de dispersão de partículas (rejeito+defloculante e rejeito+água destilada)
(YAW, 2015). ao dispersor, proveta graduada e realizando-se
O princípio básico de funcionamento do as leituras de densidade da solução, em
ensaio de difração a laser consiste na separação ambiente de temperatura controlada. Para a
do material, o qual é transportado a um correta análise e comparação dos resultados de
recipiente adequado para o ensaio, onde os densidade da solução, foi utilizado o mesmo
feixes de laser atravessam e colidem com as densímetro para os dois casos, sendo que o
partículas da amostra, causando fenômenos de mesmo foi devidamente calibrado para solução
difração, reflexão, refractação e absorção. No com e sem a presença de defloculante.
plano posterior aos feixes existem lentes com As curvas granulométricas obtidas através do
placas de detecção que permanecem acopladas a procedimento descrito anteriormente foram
um processador de sinal que emitirá as comparadas entre si e com resultados de ensaios
informações para um computador. Essas lentes de granulometria a laser, com o intuito de se ter
recebem a incidência do feixe luminoso após a também um comparativo através de uma outra
luz ser desviada pelas partículas de solo, sendo metodologia de análise de distribuição de grãos.
o ângulo da luz refratada inversamente Os ensaios de granulometria a laser foram
proporcional ao tamanho dessas partículas. realizados junto ao Laboratório de Cerâmica
Quanto maiores as partículas, menor (LACER) da UFRGS, em Porto Alegre e neste
angulosidade dos raios do laser. Após o procedimento foi feita a avaliação do pó, não
recebimento dos feixes de luz, um software sendo utilizado nenhum tipo de defloculante.
organiza as informações recebidas e emite a
distribuição granulométrica do material (YAW,
2015). 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Rejeito de mineração de ouro


3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Dentre os rejeitos avaliados neste estudo, o
Para o desenvolvimento da presente pesquisa rejeito de mineração de ouro apresenta os
foram realizados ensaios de granulometria com maiores diâmetros de grãos e apresenta
sedimentação com e sem o uso de defloculante plasticidade nula.
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Na Figura 3 estão representados os O rejeito de bauxita, ao contrário do rejeito de


resultados dos ensaios de sedimentação com e mineração de ouro apresenta plasticidade, com
sem o uso de defloculante e também a curva valores de LL e LP da ordem de 43 e 48%,
granulométrica obtida por meio de laser. É respectivamente. As partículas do rejeito de
nítido observar que a curva granulométrica mineração de bauxita apresentam diâmetro
definida com o uso de defloculante apresenta-se menor do que as partículas que compõe o rejeito
mais contínua e suave para diâmetros menores de mineração de ouro.
de partículas. Percebe-se que o defloculante A Figura 4 demonstra as curvas
provocou a dispersão dos grãos de diâmetro do granulométricas definidas por sedimentação,
tamanho de siltes e argilas, sendo que com e sem defloculante e a laser, para o rejeito
possivelmente na curva granulométrica definida de mineração de bauxita. Percebe-se que ocorre
sem o uso de defloculante ocorreu a uma disparidade acentuada entre as curvas. A
sedimentação de grumos do material. curva obtida sem o defloculante apresenta
Conforme esperado, a curva granulométrica desconrinuidades e diferenças relevantes
definida pela metodologia a laser não é principalmente para partículas do tamanho de
coincidente com as curvas definidas pela siltes.
sedimentação, além de apresentar uma Outro aspecto interessante a ser observado é a
continuidade bem mais destacada. Entretanto, a diferença entre as curvas obtidas por
tendência de distribuição dos grãos assemelha- sedimentação e a laser. Aparentemente o rejeito
se bem mais à curva definida com o uso de de mineração de bauxita tem uma variação
defloculante. muito grande de comportamento quando em
Pelas curvas granulométricas definidas por contato com a água, possivelmente em funçao
meio de sedimentação com defloculante e laser de algum elemento químico proveniente do
apresentarem similaridades, possivelmente não processo de beneficiamento.
tenha ocorrido nenhum tipo de reação química
entre o defloculante e eventuais elementos
químicos, provenientes do processo de
beneficiamento, presentes na amostra. Observa-
se que mesmo este sendo um material
proveniente de um processo industrial, o uso do
defloculante mostrou-se necessário para a
correta caracterização da distribuição
granulométrica do mesmo.

Figura 4. Curvas granulométricas obtidas para o rejeito de


mineração de bauxita

4.3 Rejeito de mineração de zinco

O rejeito de mineração de zinco apresenta uma


granulometria intermediária entre o ouro e a
bauxita, com predominância de partículas do
tamanho de siltes. O rejeito de mineração de
zinco também apresenta plasticidade. De acordo
Figura 3. Curvas granulométricas obtidas para o rejeito de
mineração de ouro com estudo realizado por Hlenka (2012) os
valores dos limites de liquidez e plasticidade
4.2 Rejeito de mineração de bauxita variam muito, entretanto, podem-se citar
valores médios de LL=60% e LP=40%.
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A Figura 5 demonstra as curvas de interação química entre os elementos


granulométricas obtidas para o rejeito de químicos presentes no rejeito e o defloculante e
mineração de zinco. Assim como ocorreu com a até com a água utilizada no ensaio de
bauxita, as curvas granulométricas do rejeito de sedimentação, uma vez que, observou-se
zinco também apresentam uma considerável bastante discrepância entre as curvas
disparidade entre si. Interessante observar que o granulométricas obtidas por sedimentação e a
uso do defloculante mais uma vez afetou na laser.
quantidade de partículas mais finas (diâmetro de Desta forma, salienta-se a necessidade de um
siltes e argilas). estudo cauteloso sempre que se for trabalhar
Em comparação com a curva definida por com rejeitos de mineração. Em estudos futuros,
laser, as curvas por sedimentação apresentam a interação com outros tipos de defloculante
bastante discrepâncias. Possivelmente, assim poderia ser explorada, além da investigação de
como ocorreu com a bauxita, o rejeito de possibilidades de utilização de outros fluídos no
mineração de zinco também tem o seu ensaio de sedimentação.
comportamento fortemente afetado pela
presença de água utilizada na sedimentação.
Possivelmente elementos químicos provenientes REFERÊNCIAS
do processo de beneficiamento sejam os
responsáveis por este comportamento peculiar. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016). NBR 7181: Solo: Análise Granulométrica.
Rio de Janeiro, ABNT.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(1995). NBR 6502: Rochas e Solos. Rio de Janeiro,
ABNT.
Bedin, J. (2010) Estudo do Comportamento
Geomecânico de Resíduos de Mineração. Tese de
doutorado em Engenharia. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
Alegre.
Espósito, T. J. (2000). Metodologia Probabilística e
Observacional Aplicada a Barragens de Rejeito
Figura 5. Curvas granulométricas obtidas para o rejeito de Construídas por Aterro Hidráulico. Tese de
mineração de zinco doutorado. Universidade de Brasília.
Davies, M. P. e Martin T. E. (2000). Upstream
constructed tailings dams - A review of the basics.
Tailings and Mine Waste 00. Colorado, USA, A.A.
5 CONCLUSÕES Balkema, Rotterdam: pp. 3-15.
Fernandes, M. M. (2016). Mecânica dos Solos: Conceitos
e Princípios Fundamentais. Volume 1. Primeira
Este estudo permitiu concluir que a influência Edição. Oficina de Textos, São Paulo.
Hlenka, L. (2012) Estudo dos efeitos da velocidade de
do defloculante e até da metodologia adotada carregamento na estimativa de parâmetros geotécnicos
para definição de curvas granulométricas de em resíduos de mineração de zinco. Dissertação de
rejeitos de mineração depende do tipo de rejeito mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
com o qual se está trabalhando. da UFRGS, Porto Alegre.
Para o caso do rejeito de mineração de ouro, IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração. (2016).
Gestão e Manejo de Rejeitos de Mineração – relatório
pode-se concluir que o uso do defloculante, disponível em:
assim como em solos naturais, mostra-se eficaz http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006222.p
na definição de curvas granulométricas por df.
sedimentação. Já para os rejeitos de bauxita e Lambe, T. W.; Whitman, R. V. (1969). Soil Mechanics.
zinco observaram-se algumas peculiaridades John Wiley and Sons.
Martin, T.E. e MCRoberts E.C. (1999). Some
que evidenciaram a possibilidade de algum tipo
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considerations in the stability analysis of upstream


tailings dams. Tailings and Mine Waste.
Morgenstern, N.R., Vick, S.G., Viotti, C.B, Watts, B.D.
(2016). Fundão Tailings Dam Review Panel. Report
on the Immediate Causes of the Failure of the Fundão
Dam. August, 2016. Available from
http://fundaoinvestigation.com/the-report/, acesso em
6/10/2016.
Nierwinski, H. P. (2013). Potencial de Liquefação de
Resíduos de Mineração estimado através de Ensaios
de Campo. Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação da UFRGS, Porto
Alegre.
Ortega, F. S.; Pandolfelli, V. C.; Rodrigues, J. A.;
Sepulveda, P. A. (1997). Defloculação e Propriedades
Reológicas de Suspensões de Alumina Estabilizadas
com Dispersantes Poliacrílicos. Cerâmica Industrial,
2.
Sousa Pinto, C. (2006). Curso Básico de Mecânica dos
Solos. Terceira edição, Oficina de Textos, São Paulo.
Yaw, A. S. (2015). Alternate Methods to determine the
microstructure of Potentially Collapsible Soils.
Dissertation presented for the degree of Master of
Engineering in the Faculty of Engineering at
Stellenbosch University.
Vick, S.G. 1983. Planning, Design and Analysis of
Tailings Dams. John Wiley & Sons, Inc., 369 p.
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Análise da Resistência ao Cisalhamento e Capacidade de Suporte


de Solos da Formação Guabirotuba com Adição de Resíduos de
Construção e Demolição Reciclados (RCD-R)
Daniele Melezinski de Oliveira
Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, dani_melezinski@hotmail.com

Kelen Marczak Polli


Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, kelen.mpolli@gmail.com

Pablo Fernando Sanchez


Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, pablosanchez@up.edu.br

RESUMO: O solo local nem sempre apresenta propriedades necessárias para atender aos requisitos
de um projeto. Uma possível solução é a adição de algum agente estabilizante pra possibilitar o uso
do solo sem a necessidade de substituição. Os Resíduos de Construção e Demolição Reciclados
(RCD-R) são materiais granulares com propriedades aglutinantes, características de grande
potencial para adição em solos, além disso o reaproveitamento desses resíduos é uma alternativa
adequada de destinação final para os mesmos. A Formação Guabirotuba é formada por solos com
argilo minerais expansivos, dificultando o seu uso em obras geotécnincas. Diante do exposto, o
presente trabalho teve como intuito analisar o impacto causado nas propriedades de resistência ao
cisalhamento e capacidade de suporte de solos da Formação Guabirotuba devido à adição de RCD-
R. Para tanto, realizaram-se ensaios laboratoriais para determinação das propriedades geotécnicas de
amostras de solo natural e solo com adição de RCD-R em diferentes idades. O RCD-R se mostrou
eficaz como adição de solos, reduzindo a expansibilidade e melhorando as propriedades de
resistência e capacidade de suporte, com melhoria nas características também ao longo do tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Resíduos de Construção e Demolição, Formação


Guabirotuba.

1 INTRODUÇÃO Existem diversos materiais que podem ser


adicionados ao solo, com a finalidade de
O solo é muito empregado como material de melhorar suas propriedades (Consoli e
construção em obras de engenharia (Caputo, Festugato, 2015). A estabilização por adição de
1987). Porém nem sempre o solo da região tem materiais aglutinantes se caracteriza pela
as propriedades necessárias para atender aos inclusão de uma substância que aumente a
requisitos mínimos dos projetos, uma possível coesão e rigidez do solo ou o impermeabilize.
alternativa é adequar as características do Além disso, as estabilizações do solo com cal e
material a tais requisitos. Para isso, muitas cimento necessitam de um período mínimo de
vezes, é preciso realizar a adição de algum cura, para que ocorram as reações lentas (ação
agente estabilizante, possibilitando assim, o uso cimentante) responsáveis pelo aumento da
sem a necessidade de substituição (Consoli e resistência. (Bernucci et al., 2006).
Festugato, 2015). O intuito das adições é, A granulometria do material a ser adicionado
basicamente, melhorar as características ao solo também interfere na resistência, através
mecânicas do material (Caputo, 1987). das frações grossas e finas. A fração grossa, por
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se tratar de um elemento inerte, contribui para o interfere no comportamento mecânico do


ângulo de atrito e, a fração fina, atua como material, visto que define o tipo predominante
elemento aglutinante, influenciando na coesão de solo (Das, 2007). A ‘ABNT NBR 7181:2016
do material (Caputo, 1987). – Solo - Análise Granulométrica’, determina os
Dentro desse contexto, o Resíduo de procedimentos e materiais necessários para a
Construção e Demolição Reciclado (RCD-R) é análise.
propenso a apresentar propriedades mecânicas Os limites de Atterberg influenciam no
importantes como aditivo de solo, por ser um comportamento de solos finos e são
material granular e possuir componentes determinados pelos ensaios de Limite de
aglutinantes em sua composição. De acordo Plasticidade e Limite de Liquidez (Pinto, 2006).
com a Resolução nº 307 de 2002 do CONAMA, Os métodos para a realização desses ensaios são
os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) apresentados nas normas ‘ABNT NBR
são oriundos das atividades de construção, 7180:2016 – Solo – Determinação do Limite de
demolição ou reforma. O RCD-R, é o produto Plasticidade’ e ‘ABNT NBR 6459:2016 – Solo
proveniente do beneficiamento do RCD. determinação do limite de liquidez’.
A Formação Guabirotuba, selecionada como
objeto deste estudo, é a principal unidade 2.1.1 Classificação ABNT
estratigráfica da bacia de Curitiba, a qual se
constitui principalmente de argilas siltosas ou Com base nos resultados da análise
siltes argilosos. O solo da Formação granulométrica, a ‘ABNT NBR 6502:1995 –
Guabirotuba possui elevada umidade natural, Solos e Rochas’ apresenta os limites para a
minerais expansivos em sua composição e alta classificação com base no tipo de solo
plasticidade, o que o torna pouco indicado para predominante da amostra. As faixas de
obras geotécnicas (Kormann, 2002). diâmetros definidas em norma, são dispostas na
Neste cenário, considerou-se a hipótese de Tabela 1.
que, o RCD-R pudesse favorecer as
propriedades de resistência ao cisalhamento e Tabela 1. Classificação do solo.
capacidade de suporte dos solos da Formação Tipo de Solo Diâmetros (mm)
Argila < 0,002
Guabirotuba. E ainda, que devido à presença de
Silte 0,002 à 0,06
materiais cimentantes na composição do RCD- Areia 0,06 à 2,00
R, o solo modificado pudesse apresentar ganho Pedregulho 2,00 à 60,00
de resistência ao longo do tempo. Além do
consequente reaproveitamento dos resíduos. 2.2 Compactação do Solo
Com isso, o objetivo desse trabalho foi
analisar a resistência ao cisalhamento e a Os ensaios de cisalhamento direto e capacidade
capacidade de suporte do solo da Formação de suporte necessitam que os corpos de provas
Guabirotuba com adição de RCD-R. sejam previamente compactados. O ensaio de
compactação determina o teor de umidade
ótima, que conduz à massa específica seca
2 EMBASAMENTO TEÓRICO máxima (Pinto, 2006). A execução do ensaio de
compactação é normatizada pela ‘ABNT NBR
2.1 Caracterização do Solo 7182:1986 – Solo – Ensaio de Compactação’.

Os ensaios aplicados para a caracterização de 2.3 Resistência ao cisalhamento


solos são a análise granulométrica e os limites
de Atterberg (Pinto, 1998). Basicamente, a resistência ao cisalhamento de
A propriedade de granulometria de um solo um solo, se constitui de duas componentes, a
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coesão e o atrito entre as partículas. (  ,  ) e, consequentemente, a envoltória de


O atrito interno de um solo abrange não só o resistência do solo (envoltória de Coulomb),
atrito físico entre as partículas, mas também o determinando assim o ângulo de atrito e a
atrito fictício resultante do entrosamento entre coesão (Caputo, 1988).
elas (Caputo, 1988).
A coesão inclui qualquer cimentação natural 2.4 Capacidade de Suporte
ou artificial ou ligações entre as partículas. O
mecanismo de coesão é presente nos solos A concepção do ensaio de Índice de Suporte
coesivos (argilo minerais) ou cimentados Califórnia (ISC), comumente chamado de CBR
(Specht, 2000). (California Bearing Ratio), tem como objetivo
O critério de Coulomb, é um dos que melhor principal medir a resistência de um solo
representa o comportamento dos solos. Esse compactado ou o valor de suporte dos materiais
critério parte da premissa de que a ruptura não empregados em pavimentação. A determinação
ocorre se a tensão de cisalhamento (  ) não do ISC é utilizada como base para o
ultrapassar um valor dado pela Equação 1, que dimensionamento de pavimentos flexíveis
representa uma envoltória linear (Pinto, 2006). (Motta, 2005).
A resistência medida no ensaio CBR, ou
 = c   f (1) ISC, é um valor que combina indiretamente o
ângulo de atrito com a coesão do material. O
Essa relação representa a equação de uma ISC é definido como sendo uma relação entre a
reta, onde a coesão ( c ) é representada pelo pressão que é necessária para gerar a penetração
intercepto da reta no eixo vertical (eixo da de um pistão em um corpo-de-prova, seja ele
tensão cisalhante). O coeficiente de atrito solo ou material granular, e a pressão que é
interno ( f ) pode ser expresso como a tangente necessária para gerar a mesma penetração no
de um ângulo, titulado ângulo de atrito interno, material referencial. Portanto, o ISC é a
e é representado pela inclinação da reta em comparação, por um valor em porcentagem, do
relação ao eixo horizontal (eixo da tensão material em análise com o material ideal para
normal  ). bases de pavimentos, designados
O traçado da envoltória de resistência do simplificadamente de “material padrão”. Os
solo é, normalmente, determinado de modo valores de penetrações e pressões padrão são
experimental. A reta é obtida a partir da união 6,90 MPa para penetração de 2,54 mm, e, 10,35
dos pontos máximos de tensões cisalhantes MPa para penetração de 5,08 mm. (Bernucci et
obtidas de ensaios de cisalhamento direto com al., 2006).
diferentes tensões normais (Caputo, 1988). Em relação à característica de
O ensaio de cisalhamento direto se baseia no expansibilidade, Pinto (2006) explica que termo
critério de Coulomb, onde a tensão cisalhante expansivo aplica-se a “solos que apresentam
de ruptura é determinada a partir de uma tensão elevada variação volumétrica, expansão ou
normal aplicada no plano (Das, 2007). O ensaio contração, quando se alteram as condições de
deve seguir os preceitos da norma da Sociedade umidade”. Segundo Felipe (2011), as
Americana de Ensaios de Materiais D-3080 características de expansão, retração e
ASTM (2004). higroscopia, que é a capacidade que uma
O resultado do ensaio é dado por um par de substância tem de absorver água, são atributos
tensões, tensão máxima cisalhante (  ) e tensão que conferem uma alta erodibilidade às argilas.
máxima normal (  ), que representam as tensão As propriedades de expansibilidade e índice
máximas suportadas antes que haja ruptura do ISC são estabelecidas pelo ensaio de Índice de
solo. Realizando ensaios com diferentes tensões Suporte Califórnia. Os procedimentos de ensaio
normais, obtém–se o conjunto de pares valores seguem a ‘ABNT NBR 9895:2016 – Solo –
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Índice de Suporte Califórnia’. segundo a Resolução 307 de 2002 do


CONAMA é: “material granular proveniente do
2.5 Formação Guabirotuba beneficiamento de resíduos de construção que
apresentem características técnicas para a
A Formação Guabirotuba é a principal unidade aplicação em obras de edificação, de
estratigráfica da bacia de Curitiba, sua infraestrutura, em aterros sanitários ou outras
superfície tem cerca de 3.000 km², com obras de engenharia. Permitindo sua utilização
espessura média em torno de 40 m (Salamuni e como matéria-prima ou produto”.
Salamuni, 1999 apud Nascimento, Brandi e
Puppi, 2012). 2.7 Trabalhos Correlatos
Esses sedimentos estão sob as rochas do
Complexo Cristalino e tem como principais Santos (2007) analisou a aplicação de RCD-R
componentes argilas siltosas e sites argilosos. em estruturas de solo reforçado, caracterizando
Na composição das argilas da Formação suas propriedades geotécnicas e verificando o
Guabirotuba há ocorrência de esmectita, que é seu desempenho, tratando o resíduo como
um mineral com alto índice de absorção de material de construção de preenchimento. Os
água, esse fator é típico de materiais ensaios realizados resultaram na melhoria do
expansivos. Devido à característica de comportamento mecânico e baixos coeficientes
expansibilidade, em obras que envolvam de variação das propriedades, justificando assim
escavações, o solo da Formação Guabirotuba a aplicação do material para o fim proposto.
tem grandes chances de apresentar Motta (2005) estudou a aplicação de RCD-R
instabilidades, com isso, acidentes em em pavimentação de baixo volume de tráfego.
escavações são bastante comuns na região. Em Analisou o resíduo puro e com adições de
casos de taludes, ocorrem problemas de cimento Portland, cal e brita, separadamente e
instabilidades mesmo com baixas inclinações concluiu que a adição tem propriedades
(Kormann, 2002). satisfatórias, semelhantes aos produtos
utilizados atualmente para a melhoria do solo,
2.6 Resíduos de Construção e Demolição – sendo uma ótima opção para uso em
RCD pavimentação. Alem disso, a autora verificou o
potencial pozolânico de amostras de agregados
A composição do RCD possui alta variabilidade recicláveis finos (dimensão máxima das
e heterogeneidade e está condicionada a partículas: 0,15mm) pelo Método de Chapelle
características da região geradora. No Brasil, Modificado. A pozolana é um material rico em
segundo Angulo et al. (2003), os resíduos de sílica reativa, e quando finamente pulverizada e
construção e demolição são formados em cerca na presença de água, reage com o hidróxido de
de 90% por materiais de natureza mineral, como cálcio à temperatura normal, dando origem a
solos, rochas naturais, concretos, argamassas e compostos com apreciável capacidade
cerâmicas. cimentante, implicando em ganho de resistência
Segundo Dyminski (2012), no Brasil, a mecânica.
reciclagem de RCD tem crescido muito na
última década. Ela pode ser feita tanto em
usinas de reciclagem como na própria planta, 3 METODOLOGIA
usando como equipamento o triturador de
pequeno ou médio porte. 3.1 Obtenção dos materiais
Desta forma surge o Residuo de Construção
e Demolição Reciclado (RCD-R), que pode ser A obteção dos materiais resume-se na coleta de
tratado também como agregado reciclado, que solo e de RCD-R. Foi coletada uma amostra
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deformada de solo, de aproximadamente 200 7181:2016 citada em 2.1.


kg, de uma área de afloramento da Formação Dado que o solo da Formação Guabirotuba
Guabirotuba, localizada ás margens da Av. trata-se de um solo siltoso/argiloso, foram
Juscelino Kubitschek de Oliveira no bairro determinadas também as propriedades de
Cidade Industrial (CIC), em Curitiba. A consistência. Sendo assim, procedeu-se com a
localização precisa da área é latitude determinação do limite de plasticidade e do
25°30'32.5"S e longitude 49°20'29.1"W. limite de liquidez, que são os teores de umidade
O RCD-R utilizado no estudo foi do tipo que determinam o ponto de mudança de estado
agregado misto, fornecido pela empresa físico do solo, de acordo com as normas NBR
Soliforte Reciclagem Ltda, localizada na Rua 7180:2016 e NBR 6459:2016, conforme 2.1.
Vicente Nalepa, 870, no município de Campo Quanto a amostra de RCD-R, apenas a
Largo - Paraná. A Soliforte trabalha com análise granulométrica é suficiente para sua a
produção de agregados artificiais, a partir da caracterização, tendo em vista que se trata de
reciclagem de RCD. O material selecionado um material padronizado do tipo agregado
para as análises foi o RCD-R do tipo agregado miúdo (diâmetros entre 0,06 à 2,00 mm), com
miúdo por ter dimensões mais próximas das poucos finos, sendo desnecessária a
partículas de solo. As características desse determinação dos Limites de Atterberg.
material, fornecidas pela Soliforte, são Com os resultados obtidos, ambos materiais
apresentadas na Tabela 2. foram classificados conforme classificação da
ABNT, que determina o tipo do material a partir
Tabela 2. Características do agregado miúdo de RCD-R. dos diâmetros das partículas da amostra e suas
Propriedades do agregado miúdo reciclado de RCD respectivas proporções, segundo a NBR
Dimensão máxima característica < 4,8mm
6502:1995, mencionada em 2.1.1.
Sulfatos < 1%
Absorção de água < 12%
Cloretos < 1% 3.3 Ensaios para determinação das
Materiais não minerais < 2% propriedades geotécnicas
Torrões de argila < 2%
Teor total máximo de contaminantes < 3% A partir desta etapa, os procedimentos foram
Teor de finos passante na malha 0,075mm < 15% realizados para ambas as amostras: solo natural
Fonte: Soliforte (2017)
e solo com adição de RCD-R. Com base nisso,
3.2 Caracterização dos materiais institui-se dois critérios de nomenclatura:
Amostra A = Solo natural; Amostra B = Solo
Após a obtenção dos materiais, as amostras com adição de RCD-R em teor de 15%.
coletadas foram preparadas para os ensaios de A adição de RCD-R ao solo foi feita em teor
caracterização conforme a ‘ABNT NBR de 15% da massa total de solo. Fixou-se esse
6457:1986 Amostras de Solo - Preparação Para teor para verificar a influência do RCD no solo
Ensaios de Compactação e Ensaios de sem utilizar uma quantidade elevada de aditivo,
Caracterização’. Devido à condição natural do deixando o solo como o elemento predominante
solo para o destorroamento da amostra, a na mistura.
mesma precisou ser imersa em água e O ensaio de compactação foi realizado tanto
submetida à secagem em estufa até um ponto para a Amostra A, quanto a Amostra B, a fim de
em que os grãos do solo se soltassem. encontrar o ponto ótimo de compactação de
A amostra de solo foi submetida à análise cada amostra, conforme procedimentos da NBR
granulométrica, que determina as dimensões das 7182:1986 apresentada em 2.2.
partículas da amostra, a partir das etapas de Com os resultados obtidos as amostras
peneiramento (fino e grosso) e sedimentação. A tiveram as umidades ajustadas para suas
análise procedeu-se de acordo com a NBR respectivas umidades ótimas, antes da
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moldagem dos corpos de prova.


Após a moldagem dos corpos de prova, para Os ensaios de cisalhamento direto e capacidade
ambas as amostras, foi realizado o ensaio de de suporte foram realizados três vezes para cada
cisalhamento direto, em equipamento de amostra.
velocidade constante (mantida Os resultados obtidos desses ensaios foram
automaticamente), no qual as leituras eram analisados através do critério estatístico de
feitas manualmente. O corpo de prova tinha Chauvenet, que é um critério consistente para
dimensões 5,1 x 5,1 cm. A velocidade adotada eliminação de valores que fogem à tendência
para o ensaio foi de 0,06 mm/min. O ensaio foi dominante em uma amostra.
de corpo de prova saturado (nível de água até o Esse critério relaciona cada número de
topo da caixa base), com o intuito de obter a leituras efetuadas com um coeficiente C, dado
pior situação em termos de resistência, de pela razão entre o máximo desvio aceitável e o
acordo com os procedimentos contidos na desvio padrão dos dados, conforme Equação 2.
norma americana ASTM - D-3080 – 2004,
citada em 2.3. D máximo
Procederam-se as leituras no equipamento C= (2)
D padrão
até a confirmação da ocorrência do ponto de
tensão cisalhante máximo, caracterizado
Para um número de leituras igual à 3 o
geralmente por um ponto de pico de tensão
coeficiente C estabelecido pela literatura é de
tangencial ou ponto de estabilização da mesma.
1,38. De posse desse valor e determinando-se o
No presente estudo, em todos os ensaios de
desvio padrão da amostra, obtem-se o desvio
cisalhamento direto, realizaram-se pelo menos
máximo que cada valor pode ter e relação a
40 marcações, pois todos atingiram o ponto de
média dos valores. Com os limites máximos e
tensão cisalhante máximo dentro deste
mínimos estabelecidos pode-se validar, ou não,
intervalo.
o ensaio.
Para a execução do ensaio de Índice de
Suporte Califórnia os corpos de prova, de
ambas as amostras (A e B) permaneceram
4 RESULTADOS
imersos em água por um período de quatro dias,
para a determinação da expansibilidade. O
4.1 Análise Granulométrica
ensaio foi realizado em prensa padrão, com
carregamento mínimo recomendado, conforme
A Figura 1 apresenta as curvas granulométricas
NBR 9895:2016, apresentada em 2.4.
obtidas para ambos materiais (solo natural e
Considerando a hipótese do aumento da
RCD-R).
resistência do solo com adição de RCD-R ao
longo do tempo, devido à presença dos
componentes cimentantes na adição, os ensaios
de cisalhamento direto e Índice de Suporte
Califórnia, foram repetidos 28 dias após a
moldagem dos CP. Os corpos de prova da
Amostra B (com adição de RCD-R) foram
moldados, embalados em papel filme e
armazenados em câmera úmida, até o momento
da realização dos ensaios.

3.4 Validação dos resultados das propriedades Figura 1. Curvas granulométricas.


geotécnicas
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Com os resultados obtidos e por meio dos Os resultados obtidos no ensaio de limite de
critérios de classificação da ABNT, verifica-se liquidez são apresentados na Figura 2.
que o solo se enquadra como 67% argila, 16%
silte e 17% areia, ou seja, solo argilo-silto-
arenoso. Verifica-se que a fração de argila
representa a maior porção do solo ensaiado,
com teor de 67%. A elevada presença de argila,
indica possível elevada plasticidade,
característica presente em solos da Formação
Guabirotuba.
No que diz respeito ao RCD-R, as frações se
distribuem em 1% argila, 18% silte, 71% areia e
11% pedregulho, classificando o material como
sendo semelhante a um solo areno-silto- Figura 2. Resultado do limite de liquidez.
pedregulhoso. Um teor mais significativo de
material granular é encontrado na amostra de Ao analisar a Figura 2, verifica-se que o teor
RCD-R, e representa cerca de 82% do material de umidade correspondente ao limite de
ensaiado, sendo 71% areia e 11% pedregulho. liquidez é de 63,5%.
Fica comprovado que o solo classifica-se Com base em ambos os limites de Atterberg,
como um material fino e o RCD-R como um tem-se que o índice de plasticidade do solo é de
material granular. Sendo assim, a adição do quase 30%, o que indica um material de alta
RCD-R no solo tende a estalibização plasticidade.
granulométrica, conferindo maior resistência ao
solo misturado. 4.3 Compactação do Solo

4.2 Limites de Atterberg O ensaio de compactação foi realizado para


amostras A e B, visando obter o ponto ótimo de
Os resultados de limite de plasticidade, são compactação para cada material. A Figura 3
expressos na Tabela 3. apresenta as curvas de compactação obtidas nos
ensaios.
Tabela 3. Resultados do limite de plasticidade.
Peso da
Peso da
Peso da cápsula + Umidade
cápsula + solo
cápsula (g) solo seco (%)
úmido (g)
(g)
16,26 18,00 17,56 33,85
13,60 14,87 14,55 33,68
16,29 17,90 17,49 34,171
16,56 18,24 17,84 31,251
16,35 17,76 17,41 33,02
20,40 21,73 21,44 27,881
Média dos teores de umidade válidos 33,52
LIMITE DE PLASTICIDADE 34,00 Figura 3. Curvas de compactação.
¹ Valores eliminados para a determinação do LP. A NBR
7180:2016 estabelece que teores de umidade que Conclui-se assim que o teor de umidade
variarem em mais de 5% da média dos teores devem ser ótima da Amostra A seria aproximadamente
desprezados da análise.
28% e o correspondente valor de peso
específico aparente seco máximo de 1,42 g/cm³.
Sendo o limite de plasticidade do solo igual
Já para a Amostra B, o teor de umidade
ao teor de umidade de 34%.
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ótima é de 23,5% e o peso específico aparente Tabela 4. Resultados de resistência ao cisalhamento.


seco máximo chegando a 1,48 g/cm³. Amostra B -
Amostra A Amostra B
28 dias
Percebe-se que a Amostra B apresentou teor
' c' ' c' ' c'
de umidade ótima 16% menor do que o teor da Dados
() (kPa) () (kPa) () (kPa)
Amostra A e um aumento de 0,06 g/cm³ em Ensaio 1 8,97 11,43 20,07 22,98 6,87 29,51
relação ao peso específico aparente seco. Essas Ensaio 2 7,82 11,36 27,36 0,00 13,92 13,58
variações mostram-se consistentes com os Ensaio 3 15,46 0,00 26,08 0,00 15,48 7,59
resultados das análises granulométrica. A Média 10,75 7,60 24,50 7,66 12,09 16,89
adição do RCD-R influencia no parâmetro de Des. Pad. 4,12 6,58 3,89 13,27 4,59 11,33
C 1,38 1,38 1,38 1,38 1,38 1,38
umidade ótima, tornando a mistura mais
Des. Máx. 5,69 9,08 5,37 18,31 6,33 15,64
granular e resultando em uma umidade ótima Lim. Máx. 16,44 16,68 29,87 25,97 18,42 32,53
menor e peso específico aparente seco maior. Lim. Mín. 5,06 -1,48 19,13 -10,70 5,76 1,25
Validação ok ok ok ok ok ok
4.4 Cisalhamento Direto
Ao comparar os limites máximos e mínimos
As curvas de tensão tangencial x deformação permitidos pelo critério estatístico com os
específica obtidas para cada amostra são resultados obtidos em cada ensaio, conclui-se
expostas na Figura 4. que nenhum dos resultados precisam ser
eliminados. Desta forma o resultado final para
os parâmetros de coesão e ângulo de atrito são
dados pelo valor médio dos três ensaios.
Analisando os resultados obtidos nos ensaios
de cisalhamento direto da Amostra A, pode-se
notar que o ajuste linear conduz a um pequeno
intercepto coesivo médio de (7,60 kPa) e ângulo
de atrito médio igual a 10,75°. Esses valores
apresentam-se baixos quando comparados com
o comportamento de outros solos argilosos e
podem estar relacionados às interações entre as
partículas de solo e a água, podendo ser
justificados por três fatores: ensaio realizado
com o corpo de prova saturado, alta
expansibilidade do material e preparação da
amostra deformada. Uma vez que a ocorrência
do aumento do teor de água conduz a
consequências desfavoráveis, como a expansão
do solo e a redução da coesão, assim como o
fato de que os efeitos alternados de contração e
expansão modificam a estrutura do solo e
consequentemente afetam a sua resistência
(Brazetti, 1998). Esse fato tem relação com os
procedimentos tomados para o destorroamento
da amostra (o solo precisou ser imerso em água
Figura 4. Curvas tensão x deformação. e posteriormente submetido à secagem em
estufa).
Os resultados finais extraidos das envoltórias Percebeu-se que em relação a Amostra A, a
de Coulomb são resumidos na Tabela 4. Amostra B apresentou aumento de 13,75° no
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ângulo de atrito e coesão similar, fato que pode Ao comparar-se os limites máximos e
ser explicado pelo fato de ser incorporado ao mínimos permitidos pelo critério estatístico com
solo um material considerado granular. Sendo os resultados obtidos em cada ensaio, conclui-se
assim, houve uma estabilização granulométrica, que nenhum dos resultados precisam ser
com redução da coesão, porém com incremento eliminados. Desta forma o resultado final para
no ângulo de atrito. os parâmetros de expasão e ISC são dados pelo
A Amostra B (28 dias) mostrou um bom valor médio dos três ensaios.
desempenho, pois o valor de ângulo de atrito foi Analisando os resultados da Tabela 5 nota-se
superior ao da amostra A, e apresentou um que a Amostra A apresenta expansão de 7,27%,
acréscimo de 9,29 kPa na coesão. O aumento da valor que caracteriza um solo altamente
coesão, e a consequente diminuição do ângulo expansível. Constata-se também que a expansão
de atrito, da amostra B de 28 dias em relação de reduz com a adição de RCD-R, enquanto o ISC
zero dias pode ser explicada devido ao tempo de aumenta. Segundo Bernucci et al. (2006), existe
cura necessário para alguns materiais uma tendência de crescimento de ISC com a
aglutinantes presentes em sua composição. redução da expansão axial.
Desta forma, há indicativo de que os Nota-se que o ISC aos 28 dias aumentou
materiais aglutinantes presentes no RCD-R com cerca de 18% em relação ao resultado obtido a
potenciais reativos sofreram reações zero dias. Verifica-se assim, que houve aumento
responsáveis pelo aumento de resistência do valor de suporte do material ao longo do
(coesão) no decorrer no tempo, provocadas tempo. Como a análise trata solo com adição de
possivelmente pela adição de água para atingir o RCD-R, há indícios de que houve reação por
teor de umidade ótima e pela compactação. As parte de partículas com propriedades
estabilizações do solo com cal e o cimento, aglutinantes que ainda possuíam potencial
materiais que fazem parte da composição do reativo.
RCD-R, necessitam de um período mínimo de
cura, para que ocorram as reações lentas (ação
cimentante) responsáveis pelo aumento da 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
resistência. (Bernucci et al., 2006).
Verificou-se ao longo do estudo que o RCD-R é
4.5 Capacidade de Suporte favorável às propriedades de resistência ao
cisalhamento e capacidade de suporte,
Os resultados de capacidade de suporte para as aumentando as propriedades de coesão, ângulo
amostras são resumidos na Tabela 5. de atrito e ISC e reduzindo a expansão. As
Tabela 5. Resultados de capacidade de suporte.
análises realizadas após os 28 dias de
Amostra B moldagem indicam que existem materiais
Amostra A Amostra B aglutinantes com potencial reativo no RCD-R
(28 dias)
Dados
ISC Exp. ISC Exp. ISC Exp. do tipo misto utilizado no estudo, pois houve
(%) (%) (%) (%) (%) (%) aumento de resistência e ISC no decorrer no
Ensaio 1 2,23 8,50 2,30 6,17 3,44 5,15 tempo.
Ensaio 2 2,58 6,02 3,65 5,52 4,28 5,17
O solo com adição de RCD-R poderia ser
Ensaio 3 2,26 7,29 4,10 4,34 4,14 4,81
Média 2,36 7,27 3,35 5,34 3,95 5,04 aplicado em obras de aterros rodoviários, visto
Des. Pad 0,19 1,24 0,94 0,93 0,45 0,20 que o solo natural da Formação Guabirotuba
C 1,38 1,38 1,38 1,38 1,38 1,38 não é adequado para essa finalidade, e são obras
Des. Máx. 0,26 1,71 1,3 1,28 0,62 0,28 geotécnicas que têm grande volume de solo
Lim. Máx 2,62 8,98 4,65 6,62 4,57 5,32 envolvido. Com o aumento da resistência ao
Lim. Mín 2,10 5,56 2,05 4,06 3,33 4,76 cisalhamento poderia-se obter taludes com
Validação ok ok ok ok ok ok
maiores inclinações, otimizando o processo de
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construção. Em relação à capacidade de suporte, Caputo, H.P. (1988). Mecânica dos solos e suas
ainda que o ISC do solo tenha aumentado com o aplicações: Fundamentos. LTC – Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A. Volume 1. 6. ed. Rio de
uso da adição, ainda não seria possivel utilizar Janeiro.
esse mateiral como camada de subleito de Caputo, H.P. (1987). Mecânica dos solos e suas
pavimentações, pois a expansão do material aplicações: Mecânica das Rochas, Fundações e
ainda se apresenta acima do limite estabeleciado Obras de Terra. LTC – Livros Técnicos e Científicos
pelo Departamento Nacional de Estradas e Editora S.A. Rio de Janeiro. Vol. 2. 6. ed.
Consoli, N.C.; Festugato, L. (2015). Solos reforçados
Rodagens (DNER). com fibras. In: Vertematti, J.C. Manual Brasileiro de
O teor adotado de 15% apresentou bons Geossintéticos. Blucher. São Paulo. 2 ed. Cap. 4.-
resultados ao longo do tempo, desta forma fica Subcap. 4.10, p. 222-231.
como sugestão para trabalhos futuros o estudo Das, B.M. (2007). Fundamentos da Engenharia
de teores mais elevados, visando ainda mais a Geotécnica. 6. ed. Thomson Leraning: São Paulo.
Dyminski, A.S. (2012). Resíduos de construção e
melhoria das propriedades do solo, podendo até demolição (RCD) e agregados reciclados em Curitiba
talvez reduzir a expansibilidade do mesmo a e Região Metropolitana. In: NEGRO, Arsenio et al.
ponto de torna-lo aceitavel para a camada de Twin Cities: Solos das Regiões Metropolitanas de São
subleito de pavimentações. Paulo e Curitiba. D’Livros. p. 387-409. São Paulo.
Felipe, R.S. (2011). Características Geológico-
A Formação Guabirotuba possui solos com
Geotécnicas na Formação Guabirotuba. Mineropar, 1
propriedades muito complexas e de difícil ed. Curitiba.
manuseio, o que dificulta a análise dos Kormann, A.C.M. (2002). Comportamento Geomecânico
resultados. Porém, de maneira geral, o estudo da Formação Guabirotuba: Estudos de Campo e
mostra que o RCD-R apresenta potencial para Laboratório. Tese de Doutorado, Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo. São Paulo.
ser explorado como adição para solos com essas
Motta, R.S. (2005). Estudo laboratorial de agregado
características. reciclado de resíduo sólido da construção civil para
aplicação em pavimentação de baixo volume de
tráfego. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica
AGRADECIMENTOS da Universidade de São Paulo. São Paulo.
Nascimento, N.A.; Brandi, J.L.; Puppi, R.F. (2012).
Fundações diretas na região de Curitiba. In: Negro, A.
A Deus, acima de tudo. Aos familiares e amigos et al. Twin Cities: Solos das Regiões Metropolitanas
pelo incentivo. À Universidade Positivo pelo de São Paulo e Curitiba. D’Livros. p. 233-245. São
financiamento e disposição de seus espaços para Paulo.
a realização deste trabalho. Muito obrigado. Pinto, C.S. (2006). Curso básico de mecânica dos solos
em 16 aulas. Oficina de Textos. 3. ed. São Paulo.
Pinto, C.S. (1998). Fundações: teoria e prática. Editora
Pini Ltda. 2 ed. São Paulo.
REFERÊNCIAS Santos, E.C.G.S. (2007). Aplicação de resíduos de
construção e demolição reciclados (RCD-R) em
Angulo, S.C. et al. (2003). Metodologia de estruturas de solo reforçado. Dissertação de
caracterização de resíduos de construção e Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos da
demolição. In: VI Seminário Desenvolvimento Universidade de São Paulo. São Carlos.
Sustentável e a Reciclagem na Construção Civil – Soliforte. (2017). Soliforte Reciclagem Ltda. Site da
Materiais Reciclados e suas Aplicações. Ibracon. São empresa. Disponível em:
Paulo. <http://www.soliforte.com.br/nossos-produtos/areia-
Bernucci, L.B. et al. (2006). Pavimentação asfáltica: 2/>. Acesso em: 03/04/2017.
formação básica para engenheiros. Petrobras: Specht, L.P. (2000). Comportamento de misturas solo-
Adbeda. Rio de Janeiro. cimento-fibra submetidas a carregamentos estáticos e
Brazetti, R. (1998). Considerações sobre a influência de dinâmicos visando a pavimentação. Dissertação de
distintos aditivos orgânicos nas características Mestrado, Escola de Engenharia da Universidade
micromorfológicas, mineralógicas, físicas, mecânicas Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
e hidráulicas de um solo laterítico. Tese de
Doutorado. Escola Politécnica de São Paulo. São
Paulo.
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Análise do Comportamento de um Solo Reforçado com Fibras de


Prolipropileno
Karina Silva e Castro
Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (Faviçosa), Viçosa-MG, Brasil,
karinacastro1503@gmail.com

Aline Silva
Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (Faviçosa), Viçosa-MG, Brasil,
alinesilva.amgs@gmail.com

Eduardo Souza Cândido


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (Faviçosa) / Universidade Federal de Viçosa (UFV),
Viçosas-MG, Brasil, eduardo.candido@ufv.br

Klinger Senra Rezende


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (Faviçosa) / Universidade Federal de Viçosa (UFV),
Viçosas-MG, Brasil, klingers15@hotmail.com

Roberto Francisco de Azevedo


Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosas-MG, Brasil, razevedo@ufv.br

Ana Carolina Dias Baêsso


Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (Faviçosa), Viçosa-MG, Brasil,
aninhabaesso@hotmail.com

RESUMO: Dentre as diversas técnicas de melhorias de material para a construção civil, tem-se a
estabilização dos solos por inclusões como as fibras de polipropileno. O objetivo deste estudo foi
verificar o teor ideal de fibra, além disso, será estabelecido um paralelo entre a influência da adição
destas fibras sobre os parâmetros de resistência ao cisalhamento. Os resultados indicaram que na
medida em que se adicionaram as fibras ao solo houve uma diminuição do teor de umidade ótimo e
pouca variação do peso específico seco máximo. Além disso, os valores máximos dos parâmetros
de resistência não foram observados para o maior teor de fibra utilizado, mas, sim, para um teor de
0,6%. Para essa combinação ótima, as fibras promoveram um aumento de 40% na coesão e de 26%
no ângulo de atrito.

PALAVRAS-CHAVE: Técnicas de Melhoramento de Solos, Estabilização por Inclusões, Fibras de


Polipropileno, Interação Solo-Fibra.

1 INTRODUÇÃO promover a retirada do material e substituí-lo


por outro de melhor qualidade, levar em
Nas obras geotécnicas, os profissionais podem consideração no projeto a sua má qualidade ou
se deparar com solos que não atendam os aplicar alguma técnica de estabilização. As duas
requisitos exigidos em projeto, neste caso primeiras alternativas geralmente acarretam em
surgem algumas alternativas, tais como um aumento no custo de projeto, sendo assim a
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estabilização do solo surge como uma boa 2 MATERIAIS E MÉTODOS


alternativa para melhoria das propriedades do
material. A amostra de solo empregada nos ensaios de
Dentre as diversas técnicas tem-se a laboratório foi obtida na região de Viçosa,
estabilização por inclusões, que consiste na Minas Gerais, oriunda de um latossolo
inserção de um material que possua resistência vermelho-amarelo de textura argilo-areno-
à tração objetivando melhorar as propriedades siltoso, com 49% de argila, 36% de areia, 7% de
mecânicas dos solos, aumentando a resistência e silte e 8% de pedregulho. A amostra foi
diminuindo a sua compressibilidade. coletada em um talude situado na sede da
Inicialmente a técnica era aplicada utilizando-se Promotoria de Justiça de Viçosa e
de fibras naturais, porém a sua fácil posteriormente transportada ao laboratório para
deterioração e o avanço das indústrias químicas, realização dos ensaios de caracterização
que passaram a produzir os materiais sintéticos, geotécnica, compactação Proctor normal e
fez com que estes caíssem em desuso. cisalhamento direto com e sem a adição de
O solo possui resistência ao esforço de fibras de polipropileno.
compressão e baixa resistência ao esforço de
tração, causando a essa massa o surgimento de 2.1 Metodologias aplicadas
deformações de cisalhamento. Quando ocorre o
melhoramento do solo com a inclusão de fibras, A metodologia aplicada será baseada nas
a tendência é reduzir os problemas causados normas definidas pela ABNT e ASTM, as quais
pelo surgimento de tensões e deformações de seguem as especificações da NBR 6457:2016;
cisalhamento. Esses materiais atuam como NBR 7182:1996; NBR 6459:2016; NBR
elemento de reforço, mas não impedem a 7180:1984; ASTMD 3080:2003; NBR:
formação de fissuras, portanto, atuam no 6508:1984 e NBR: 7181:1988.
controle da propagação. Para a compactação, devido a inclusão da
Dentre os materiais sintéticos passíveis de fibra no solo, tornou-se necessário a realização
serem aplicados, têm-se as fibras de de dois ensaios de compactação proctor normal,
polipropileno. A sua facilidade de obtenção em com e sem fibra, para a determinação dos teores
larga escala e a elevada resistência às de umidade ótimos e pesos específicos secos
intempéries faz do seu uso uma alternativa máximos de cada porcentagem de fibra
interessante na estabilização por inclusões. Para adicionada ao solo.
a sua correta utilização faz-se necessário, para
cada tipo de solo a ser estabilizado, determinar 2.1.1 Compactação Proctor Normal
em laboratório, o teor ideal de fibras.
O objetivo deste estudo foi verificar o Foram realizados ensaios de compactação para
comportamento de um solo argiloso reforçado o solo sem e com a fibra de prolipropileno.
com fibras de polipropileno distribuídas Os ensaios de compactação seguiram as
aleatoriamente na massa de solo. Além disso, especificações contempladas pela ABNT NBR
será estabelecido um paralelo entre a influência 7182:1996 com a pesagem de cinco amostras de
da adição destas fibras sobre os parâmetros de solos de 3 kg umedecidas e passado na peneira
resistência ao cisalhamento do solo argiloso e #4,8 (4,8 mm). Aplicou-se 25 golpes
de outros solos com composições distribuídos uniformemente sobre as 3 camadas
granulométricas distintas. com um soquete de 2,5 kg no cilindro.
Para o ensaio com a fibra, após a
umidificação, cada material foi passado na
peneira #4 (4,8 mm) e em seguida acrescentou
0,5%, 1,0%, 1,5%, 2,0% e 2,5% de fibras para
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cada amostra de solo, ou seja, a cada cinco 3.1 Resultados do Ensaio de Compactação
amostras de solo, foi colocada uma
porcentagem diferente de fibra. A figura 1 apresenta as curvas de compactação
Com as curvas de compactação pode-se do solo natural e dos solos com as porcentagens
determinar o teor de umidade ótimo e o peso de fibras 0,5%; 1,0%; 1,5%; 2,0% e 2,5%.
específico seco máximo para cada uma das 5
misturas e reproduzir estes pontos ótimos para
realização dos ensaios de cisalhamento.

2.1.2 Cisalhamento Direto

Após análise dos resultados dos ensaios de


compactação, moldaram-se os CPs para o
ensaio de cisamento na umidade ótima de cada
porcentagem de fibra, as massas (g) das fibras Figura 1 - Gráfico de compactação da união do
com filamentos variando entre 11 e 13 mm solo natural e com fibras.
foram misturadas ao solo nos teores de umidade
acima citados em relação ao peso seco. Observou-se que nas curvas de compactação
As amostras de solo com a fibra foram do solo natural e solo com misturas, a partir do
ensaiadas na prensa da caixa de cisalhamento momento em que se adicionam maiores
conforme ASTM D3080: 2003 com tensões porcentagens de fibra, respectivamente, 2,0% e
normais de 100, 200 e 300 kPa; sem realizar 2,5%, não houve uma boa aceitação, fazendo
repetições. com que alguns corpos de prova, a partir do
O ensaio é executado mantendo-se constante momento em que eram desformados, viessem à
a tensão vertical e medindo-se a tensão ruptura, principalmente com menores
cisalhante correspondente a cada deformação porcentagens de água para a umidificação do
horizontal imposta ao corpo de prova, gerando solo.
dessa maneira a curva tensão-deformação. O teor ideal de fibras, determinado como
sendo o ponto que coincide com o máximo da
curva, como mostrado na figura 2 e figura 3, é
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES de 0,6% em relação ao peso da amostra.
Desta forma, observou-se que a umidade
Os resultados indicaram que na medida em que ótima para a tal porcentagem de fibra, é de 23%
se adicionaram as fibras ao solo houve uma e o peso específico seco máximo é de 15,58
diminuição do teor de umidade ótimo e pouca KN/m³.
variação do peso específico seco máximo.
Além disso, os valores máximos dos
parâmetros de resistência não foram observados
para o maior teor de fibra utilizado, mas, sim,
para um teor de 0,6%. Para essa combinação
ótima, as fibras promoveram um aumento de
40% na coesão e de 26% no ângulo de atrito.
Com base nos dados apresentados, notou-se que
a adição de fibras foi responsável por um
incremento na resistência mecânica do solo
argiloso.
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Figura 2 - Relação do teor de umidade ótima (%) versus


fibras (%).
Figura 4 - Tensão cisalhante versus tensão normal do
solo com 0,5% de fibra.

Figura 3 - Relação do peso específico seco máximo


versus seco máximo (kN/m³) x fibras (%).

3.2 Resultados do Ensaio de Cisalhamento


Direto
Figura 5 - Tensão cisalhante versus tensão normal do
Analisando os resultados obtidos através do solo com 1,0% de fibra.
ensaio de cisalhamento direto, pode-se observar
os gráficos de tensão de cisalhamento x
deformação horizontal específica conforme
indicado na figura 4, 5, 6, 7 e 8.
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Desta forma, pelo critério de Mohr-


Coulomb, determinou-se os valores dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento,
coesão e ângulo de atrito, para solo natural
(tabela 1) e para as 5 (cinco) amostras de solo
com adição de diferentes teores de fibra (tabela
2).
Assim, pode-se observar que houve um
aumento nos parâmetros de resistência ao
cisalhamento no solo com adição de fibras.
Houve uma tendência inversa ao teor de fibra
com os parâmetros, a medida que se aumentou a
porcentagem de fibra no solo, aumentou-se o
Figura 6 – Tensão cisalhante versus tensão normal ângulo de atrito e diminui-se a coesão.
do solo com 1,5% de fibra.
Tabela 1- Parâmetros máximos de resistência ao
cisalhamento direto (Solo).
Coesão (kPa) Ângulo de Atrito (°)
Valores
65 27
Máximos
Valores Pós-
53 28
pico

Tabela 2- Parâmetros máximos de resistência ao


cisalhamento direto (Solo + Fibra).
Fibra (%) ϕ (°) Coesão (kPa)
0,50 25,52 69,627215
1,00 39,69 61,781895
1,50 42,72 58,8399
2,00 45,91 88,25985
Figura 7 – Tensão cisalhante versus tensão normal 2,50 50,48 0,0980665
do solo com 2,0% de fibra.

Figura 9 – Parâmetros de resistência encontrados (

Figura 8 - Tensão cisalhante versus tensão normal do solo


com 2,5% de fibra.
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4 CONCLUSÕES Associação Brasileira De Normas Técnicas. Grãos de


solos que passam na peneira de 4,8 mm -
Determinação da massa específica: NBR 6508. Rio de
Sabendo-se que o comportamento das misturas Janeiro, RJ, 1984.8p. BENTO, P.F.
pode ser influenciado por diversos fatores, tais Associação Brasileira De Normas Técnicas.
como a compactação, teor de fibra, teor de Determinação do limite de liquidez: NBR 6459. Rio
umidade, comprimento, diâmetro das fibras, de Janeiro, RJ, 2016.5p.
dentre outros, pode-se concluir que quanto Associação Brasileira De Normas Técnicas.
Determinação do limite de plasticidade: NBR 7180.
maior o teor de fibra, maior é o acréscimo de Rio de Janeiro, RJ, 2016.3p.
resistência mecânica até certo limite, a partir do Carvalho, J.C. Estudo da utilização de fibras de
qual este efeito não é mais observado. Além polipropileno como reforço de solos estabilizados
disso, os resultados obtidos reforçam a para pavimentação da região de UrucuAm. In:
necessidade de realização do estudo de dosagem Congresso Brasileiro de Mecânica dos solos e
Engenharia Geotécnica, 2006, Curitiba. Meio de
para que se consiga economia e eficiência nos divulgação: CD,2006.
processos de estabilização por adição de fibras Feuerharmel, M. R. Comportamento de solos reforçados
nos projetos de engenharia. com fibras de polipropileno. Porto Alegre, 2000.
Pode-se concluir que, no geral, se observou 128p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) –
CPGEC/UFRGS.
um aumento do ângulo de atrito e uma
Iasbicl, I. Resistência mecânica do solo-fibra:
diminuição da coesão na medida em que se caracterização via ensaios de compressão não-
acrescentaram fibras de polipropileno ao solo. confinada com vistas ao uso em estradas florestais.
Além disso, foram observadas discrepâncias Rio de janeiro: Instituto Ambiental Biofesfera, 2000.
pontuais em alguns corpos de prova, o que
levou a obtenção de valores discrepantes de
coesão e ângulo de atrito; afetando assim os
gráficos de tendência e correlações.
Para minimizar os problemas citados, deve-
se atentar em proceder a repetições dos pontos
experimentais dos ensaios e realizar estudo
estatístico de forma a garantir com segurança e
confiabilidade os resultados obtidos.

REFERÊNCIAS

American Society For Testing And Materials. Standard


Test Method for Direct Shear Test of Soils Under
Consolidated Drained Conditions: ASTM D3080,
2003.
Associação Brasileira De Normas Técnicas. Amostras de
solo – Preparação para ensaios de compactação e
ensaios de caracterização: NBR 6457. Rio de Janeiro,
2016.
Associação Brasileira De Normas Técnicas. Solo –
Análise Granulométrica: NBR 7181. Rio de
Janeiro,1984. Solo – Determinação do Limite de
Liquidez: NBR 6459. Rio de Janeiro, 1988.
Associação Brasileira De Normas Técnicas. Solo –
Determinação do Limite de Plasticidade: NBR 7180.
Rio de Janeiro,1984. Solo – Ensaio de Compactação:
NBR 7182. Rio de Janeiro,1996.
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Análise Numérica de Recalques em Fundações Rasas


Maycon André de Almeida
Centro Universitário FAG, Cascavel PR, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

Beatriz Anne Bordin Zen


Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, beatrizzen_1100@hotmail.com

Eduardo Longen Correa


Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, eduardo_correa@outlook.com.br

Renan Everton Inacio


Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, renan@poloempreendimentos.com.br

RESUMO: Fundações rasas possuem grande aplicação em solos arenosos devido à sua alta
resistência ao cisalhamento, porém, não é possível dizer o mesmo sobre o solo laterítico típico do
interior do Paraná, que apresenta uma grande porcentagem de argila, sendo suscetível a recalques
devido ao adensamento de camadas superficiais. Em virtude disso, o presente artigo teve como
objetivo analisar o comportamento de fundações rasas em Cascavel/PR, através de modelagem
numérica do sistema estrutural solo-fundação com a utilização do software Plaxis™, comparando o
com resultados de 6 provas de carga em placa realizadas no Campo Experimental de Engenharia do
Centro Universitário Assis Gurgacz. O modelo desenvolvido no software Plaxis™ previu de
maneira aceitável o comportamento do solo, apresentando uma variabilidade máxima de 10 a 30%.
Considerando a variabilidade na estimativa dos parâmetros do solo, os autores concluem que desde
que utilizado com cautela, o modelo é muito interessante de ser utilizado em solos lateriticos e
colasíveis, semelhantes aos encontrados em Cascavel/PR.

PALAVRAS-CHAVE: Recalque, Modelagem numérica, Fundações Rasas.

1 INTRODUÇÃO uma edificação.


É de conhecimento técnico que grande parte
Para projetos de fundações, uma das mais dos solos presentes no Paraná, assim como em
importantes necessidades é poder prever como outros estados do país, possuem caracteristicas
serão desenvolvidas as tensões e os de solos residuais, lateríticos e colapsíveis,
deslocamentos da estrutura ao longo do tempo. principalmente devido ao clima tropical e seu
Segundo Aoki (2000), o desempenho de uma processo de intemperismo físico-químico
estrutura ao longo da sua vida útil, acelerado. O solo residual, segundo Martinez
especialmente de sua fundação, depende (2003), é formado quando a velocidade da
diretamente do grau de alteração do maciço de decomposição da rocha mãe é superior ao
solo. transporte (pelo vento, chuva etc.) dos
O conhecimento do solo onde se executa a sedimentos provenientes da decomposição. Os
fundação é de extrema importância, sendo solos lateríticos, por sua vez, apresentam
indispensável a caracterização do mesmo. A elevada porosidade, fator este que confere ao
NBR 6122 (2010) especifica que a medição dos solo baixa resistência e baixa capacidade de
recalques é um recurso fundamental para carga (PINTO, 2006).
observação do comportamento da estrutura de Segundo Teixeira e Godoy (1998), quando
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tensões são aplicadas no solo, estes tendem a pelo sistema rodoviário (TBR) como A-7-6,
sofrer deformações cisalhantes ou de distorção, correspondendo a argila siltosa medianamente
que são as causas de recalques. Em situações de plástica, classificada com regular a mau para
sapatas assentadas sobre solos firmes, as utilização como subleito.
deformações imediatas à aplicação da carga são Na Tabela 1, observam-se os valores médios
predominantes, já em casos onde sapatas são dos principais índices físicos determinados para
apoiadas sobre solos compressíveis, verifica-se as camadas de solo identificadas no CEEF,
predominantemente recalques por adensamento. permitindo verificar que o solo em questão se
Diante do exposto, este artigo teve como trata de uma argila siltosa medianamente
objetivo avaliar o comportamento tensão x plástica, além de confirmar a caracteristica
deformação de fundações rasas apoiadas sobre laterítica e colapsível do mesmo.
solo laterítico e colapsível, comparando
resultados obtidos através de provas de carga Tabela 1. Índices fisícos do solo do CEEF
realizadas por Vieira et al (2017), no Campo CAMADA 1 CAMADA 2
ÍNDICES FÍSICOS
1 a 9 metros 10 a 15 metros
Experimental de Engenharia do Centro
w (%) 34 53
Universitário Assis Gurgacz (CEEF) em LL (%) 53 59
Cascavel/PR, e resultados de modelagem LP (%) 38 42
numérica utilizando o software Plaxis™, com IP (%) 15 17
dados oriundos de ensaios triaxiais realizados γd (KN/m³) 12 12
γs (KN/m³) 27 27
com amostras indeformadas do CEEF,
Argila (%) 70 56
realizados por Molina e Gandin (2015). Silte (%) 25 35
Areia (%) 5 9
Muito mole
Consistência Rija a dura
2 MATERIAIS E MÉTODOS a média
Índice de vazios (e) 1,22 1,55
Fonte: Zen (2016)
A primeira etapa do estudo foi a coleta de dados
a partir de bibliografias relacionadas a
O perfil geotécnico médio foi obtido através
caracterização do solo presente no Campo
de 3 ensaios a percussão do tipo SPT, e é
Experimental de Engenharia do Centro
exposto na Tabela 2. Nos referidos ensaios, o
Universitário Assis Gurgacz (CEEF), realizadas
nível d’água variou entre as profundidades de
por Molina e Gandin (2015), Zen (2016) e
12 e 15 m (ZEN, 2016).
Vieira et al. (2017), afim de que todos os dados
utilizados na modelagem numérica possuíssem Tabela 2. SPT realizado no CEEF
maior aproximação possível com a realidade do Z Nspt
Descrição do Subsolo
solo no momento das provas de carga em placa. (m) Médio
A partir daí, com todas as características do 1 1,7
2 1,7
solo, foram realizadas as modelagens numéricas 3 2,5
com o software Plaxis. 4 2,8 Argila Siltosa Marron
5 4,1 Avermelhada Muito Mole a
2.1 Caracterização do solo local 6 7,8 Média
7 6,4
8 5,6
Segundo a caracterização do solo do CEEF 9 10,0
realizada por Zen (2016), a classificação do 10 11,9 Argila Siltosa Marron
solo, conforme especificado na NBR 7181 11 12,6 Avermelhada Rija
(2016) e de acordo com a curva granulométrica, 12 16,6 Argila Siltosa Marron
é de uma argila silto arenosa. Em relação ao 13 27,0 Avermelhada Rija a Dura
14 31,3 Percolações Brancas
sistema unificado (SUCS), foi classificado
15 Limite da sondagem
como solo argiloso muito compressível (CH) e
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São apresentados também na Tabela 3, os 2.2 Provas de Carga


parâmetros de resistência ao cisalhamento do
solo do CEEF, determinados ao longo da Vieira et al. (2017), realizaram 6 provas de
profundidade e obtidos através de ensaios carga no CEEF, sendo 3 em condições normais
triaxiais realizados em amostras indeformadas, de umidade (PCN) e 3 em condições de pré-
realizados por Molina e Gandin (2015) e inundação por 24 horas (PCI), conforme
apresentado por Zen (2016). apresentado na Figura 1. Todas as provas de
carga foram realizadas conforme a NBR 6489
Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento (1984) e na cota -1 metro, utilizando chapa
Prof. Coesão Ângulo de atrito metálica de 80 cm de diâmetro.
(m) (kN/m²) ()
1 1,96 14,19
2 1,96 15,54
3 12,75 17,38
4 11,77 16,37
5 11,77 20,24
Média 8,04 16,74
Fonte: Molina e Gandin (2015)

2.2 Parâmetros obtidos por correlações

Para a determinação do coeficiente de


Poisson ( optou-se por adotar o valor 0,3, por
ser um valor recomendado por Teixeira e
Godoy (1998) para casos de argilas não Figura 1. Sistema utilizado para as provas de carga
saturadas. Já o módulo de deformabilidade do
solo (Es), foi determinado através da correlação Para a realização das provas de carga
apresentada pela Equação 1, e desenvolvida inundadas, foram utilizadas as mesmas valas
pelos mesmos autores supracitados. escavadas para realização das provas de carga
nas condições naturais. Utilizando o critério de
Es =  . K . NSPT (1) Van der Veen (1953), foram determinadas as
tensões de ruptura de todas as provas de carga,
Os valores de  e K que são variáveis para considerando uma deformação de 25 mm. Já as
cada tipo de solo, sendo retiradas da Tabela 4. tensões admissíveis foram determinadas através
da aplicação de um fator de segurança igual a
Tabela 4. Váriaveis  e K para diferentes tipos de solos 2,0 sobre o valor da tensão de ruptura.
Solos  K (MPa) Na Tabela 5 pode ser verificado os
Areia pedregulhosa 1,10 resultados obtidos e sua variabilidade.
Areia 0,90
3,0
Areia siltosa 0,70 Tabela 5. Comparativo de resultados (Vieira et al, 2017)
Areia argilosa 0,55
ρ  σult σadm Variação
Silte arenoso 0,45 PC
(mm) (kPa) (kPa) (%)
Silte 5,0 0,35
Silte argiloso 0,25 PCN1 53,10 55,22 27,61
1 16%
Argila arenosa 0,30 PCI1 46,82 46,35 23,17
7,0 PCN2 57,14 66,24 33,12
Argila siltosa 0,20 2 42%
Fonte: (Teixeira e Godoy, 1996) PCI2 50,00 38,11 19,05
PCN3 58,82 50,21 25,10
3 27%
PCI3 50,00 36,84 18,42
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Segundo os autores, comparando os ensaios da prova de carga é esperada até a profundidade


com e sem inundação preliminar do solo, de no máximo 2 m abaixo da placa (2 vezes o
verificou-se que este solo sofreu uma redução diametro), conforme indica Cintra et al. (2003).
na tensão de ruptura média de 30%, resultado A segunda etapa se iniciou com a inserção
esse já esperado pelos mesmos, conforme de placa sobre o maciço do solo, seguida das
apontado por Branco et al. (2016), já que no tensões em forma de carregamento distribuído,
solo de Londrina/PR houve uma redução de que se desejavam avaliar. Assim que o modelo
quase 60% na tensão de ruptura média. As geométrico foi concluído, iniciou-se o terceiro
curvas tensão x deformação são apresentadas na passo: a geração do modelo de elementos
Figura 2. finitos ou "malha".
No software Plaxis, a geração automática
dos elementos finitos leva em consideração
todos os pontos e linhas do modelo geométrico,
para que a exata posição das camadas, cargas e
estruturas seja reconhecida na malha de
elementos finitos. O processo de geração da
malha é baseado em um princípio de
triangulação robusta, que procura por triângulos
otimizados, resultando em uma malha não
estruturada, que não é formada por padrões
regulares de elementos. O modelo criado pode
ser visto na Figura 3.

Figura 2. Curvas tensão x recalque – Vieira et al. (2017)

2.3 Modelagem Numérica

A modelagem foi realizada com o objetivo de


verificar as deformações apresentadas pelo
perfil de solo modelado, e verificar o grau de
confiabilidade dos resultados fornecidos pelo
software. O modelo utilizado para representar o
comportamento do solo foi o modelo elástico
perfeitamente plástico com critério de ruptura
Morh-Coulomb, com o solo em seu estado
natural, não inundado.
Figura 3. Modelo de elementos finitos criado
Inicialmente, foi realizada a modelagem do
perfil do solo, realizando a inserção de todos os O software Plaxis™ pode ser utilizado para
parametros do subsolo do CEEF ao longo dos 4 diversos modelos de cálculo como
primeiros metros. Para a modelagem do perfil, carregamentos, construções ou escavações,
optou-se por dividir o perfil em camadas de 1 períodos de consolidação ou análise de
metro, inserindo os parâmetros isoladamente de segurança e, para cada modelo, múltiplas fases
cada metro, gerando assim um modelo que de cálculo podem ser definidas.
apresenta a mesma variabilidade física do solo, O manual da ferramenta, sugere a adoção de
verificada nos laudos e ensaios. A modelagem um coeficiente de interface (RINTER) na ordem
foi realizada até a profundidade de 4 metros, de 2/3 para solos onde não se tenha valores pré-
pois a influência do bulbo de tensões da chapa
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determinados. Este valor é o utilizado nas


modelagens apresentadas no presente artigo.

3 RESULTADOS

A Tabela 6 apresenta os valores que foram


inseridos no Plaxis para os 4 primeiros metros
do solo do CEEF, conforme ensaios triaxiais e
correlações apresentadas acima.

Tabela 6. Váriaveis  e K para diferentes tipos de solos


γn γsat E Figura 5. Curvas tensão x deformação obtidas pelo
Cota N método elementos finitos (47 kPa) e ensaios em placa
kN/m³ kN/m³ (kPa)
-1 m 16.2 16.8 1.7 2.380 realizados nas condições naturais
-2 m 17.0 17.1 1.7 2.380
-3 m 15.0 17.4 2.5 3.500 Na Figura 6, foi comparada a curva tensão x
-4 m 16.4 18.2 2.8 3.920 deformação na ruptura, obtido através da
modelagem, com as tensões de ruptura obtidas
Na Figura 4 são apresentadas as curvas por Vieira et al. (2017), em provas de carga em
tensão x deformação do modelo criado, com a placa com pré-inundação por 24 horas (PCI). É
deformação do solo em função das diversas verificada uma aproximação ainda maior da
tensões que foram aplicadas. Pode-se verificar curva com as obtidas em campo.
que a ruptura do solo ocorre nitidamente pelo
modelo numérico, em tensões entre 45 e 50
kPa, com deformações continuas mediante
mesmo acrescimo de carga.

Figura 6. Curvas tensão x deformação obtidas pelo


método elementos finitos (47 kPa) e ensaios em placa
realizados com pré-inundação por 24hrs

Percebe-se que o resultado obtido através da


Figura 4. Curvas tensão x recalque geradas através do modelagem apresentou uma tensão ligeiramente
método dos elementos finitos superior às obtidas pelos autores com o solo na
condição pré-inundada, que foi de
Na Figura 5 é apresentada a curva tensão x aproximadamente 40 kPa. Já comparando com
deformação obtida pelo método dos elementos as provas de carga nas condições naturais,
finitos, para a tensão de ruptura de 47 kPa, e as apresentou tensão de ruptura menor que a
curvas obtidas através dos ensaios realizados média determinada em campo de
por Vieira et al. (2017), com o solo na condição aproximadamente 55 kPa.
natural de umidade (PCN). Na Tabela 6 são apresentadas as tensões
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últimas, admissíveis e deformações máximas kPa, gerando deformações máximas de


registradas por Vieira et al. (2017) e obtidas aproximadamente 32 mm, como pode ser visto
pela modelagem numérica. Para definição da na Figura 7.
tensão admissível foi aplicado um fator de
segurança de 2,0, conforme recomendado pela
NBR 6122 (2010) em casos onde se dispõe de
prova de carga.

Tabela 6. Comparativo dos resultados


σúltima σadm ρ
(kPa) (kPa) (mm)
PCN1 55,22 27,61 53,10
PCN2 66,24 33,12 57,14
PCN3 50,21 25,10 58,82
PCI1 46,35 23,17 46,82
PCI2 38,11 19,05 50,00
PCI3 36,84 18,42 50,00
Plaxis 47,00 23,50 56,00

É possível verificar que a prova de carga,


realizada com o solo nas condições naturais,
que mais se aproxima aos determinados através
de modelagem numérica é a PCN3 com uma
variação de 6%. Já a prova de carga que
apresentou maior dispersão, com relação a
determinada pelo Plaxis, foi a PCN2.
O modelo desenvolvido no software Figura 7. Bulbo de tensões de placa com 80cm de
Plaxis™ previu de maneira aceitável o diâmetro com registro de deformações máximas de 32
comportamento do solo na condição mm e tensão aplicada de 60 kPa.
previamente umedecida, durante prova de carga
em placa, enquanto nas condições de umidade No aspecto da tensão de colapso (que indica
natural as previsões revelaram-se de menor o começo do fluxo plástico generalizado, com
qualidade e exatidão, no entanto, a favor da recalques importantes sem aumento
segurança. considerável de carregamento) as simulações
Esse erro na determinação da tensão de não mostraram valores de tensão definidos, mas
ruptura pelo modelo pode ser atribuido a curvas de transição suaves, típicas de solos que
possiveis incertezas quanto aos parâmetros do não apresentam picos de resistência.
solo, como a estimativa do Modulo de Young
(E), feita através do Nspt, ou até dos valores do
intercepto de coesão e angulo de atrito do solo, 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
determinados em ensaios triaxiais. É de
conhecimento técnico que mesmo em ensaios A presente pesquisa teve como principal
confiaveis como o triaxial há a possibilidade de objetivo analisar o comportamento das camadas
ocorrer perturbação na estrutura da amostra superficiais do solo laterítico e colapsível
durante a moldagem. existente na cidade de Cascavel-PR, através da
A titulo de verificação, constatou-se que um observação e comparação entre os resultados
acrescimo da coesão de apenas 3 kPa (de 2 kPa obtidos através de provas de carga e pela
para 5 kPa) foi o suficiente para aumentar a modelagem numérica com a utilização do
tensão de ruptura para aproximadamente 60 software Plaxis™, verificando a possibilidade
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da utilização do mesmo para a determinação do Janeiro.


recalque de fundações rasas. Aoki, N. (2000). Reflexões sobre o comportamento de
sistema isolado de fundação. In: SEFEIV, São
Com isso em mente, a opção de modelagem Carlos. Anais São Paulo: ABEF/ABMS
numérica se apresenta como excelente opção, Branco, C. J. M. C; Zambom, V. S; Cancian, V. A;
pois permite que sejam criados modelos Teixeira, R. S. (2016). Estimativa de Recalque de
semelhante as características físicas dos Sapata Apoiada em Solo Argiloso Típico de
elementos em questão, utilizando métodos de Londrina/PR. XVIII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Belo
cálculo mais refinados, que conseguem Horizonte.
representar as reais características de modelo Cintra, J. C. A.; Aoki, N. e Albiero, J. H. (2003). Tensão
elástico plástico, como o método de Mohr- Admissível em Fundações Diretas – São Carlos,
Coulomb, utilizado neste artigo. RiMa, 135p.
Verificou-se também que, através da Martínez, G. S. E. S. (2003) Estudo do comportamento
mecânico de solos lateríticos da formação barreiras.
modelagem numérica, pode-se estimar a Tese (Doutorado em Engenharia Civil) -
deformação máxima e a tensão de ruptura Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
prevista do solo da cidade de Cascavel-PR, e de Alegre - RS.
outras cidades com solos semelhantes, desde Molina M. D.; Gandin R. M. (2015). Determinação dos
que a entrada de dados seja feita utilizando parâmetros de resistência ao cisalhamento através de
ensaio de compressão triaxial rápido (cu) do subsolo
dados confiaveis e de preferência obtidos
da FAG em Cascavel/PR. Dissertação (Bacharel em
através de ensaios em laboratório. A Engenharia Civil) - Faculdade Assis Gurgacz,
variabilidade encontrada, em termos de tensão Cascavel - PR
de ruptura nas condições naturais do solo, foi de Pinto, Carlos de Souza. (2006). Curso Básico de Solos
9% a 29% inferiores as determinadas através de em 16 aulas. 3ª edição. São Paulo.
Teixeira, A. H.; Godoy, N. S. (1998). Análise, projeto e
provas de carga em placa.
execução de fundações rasas. In: HACHICH et al.
Já para o caso de situações com o solo na (eds). Fundações teoria e prática. São Paulo.
condição previamente umedecida, a tensão de Van der Veen, C. (1953) The Bearing Capacity of a Pile.
ruptura determinada através da modelagem III International Conference on Soil Mechanics and
mostrou-se próxima as determinadas a partir Foundations. Zurich, v.2, p.125-151.
das provas de carga em placa. Considerando Vieira, M. K.; Radoll, J.; Almeida, M. A. (2017) Análise
da Aplicação de Fundações Rasas a partir de
que, em solos lateriticos a resposta a ser Resultados de Provas de Carga em Solo de Cascavel-
prevista é sempre a nas piores condições, ou PR. Geocentro. Goiânia.
seja, com influência de água, a resposta obtida Zen, B. A. B. (2016) Caracterização geotécnica do
pelo software pode ser considerada satisfatória. subsolo do campo experimental do Centro Acadêmico
Ressalta-se, no entanto, que mais estudos e da FAG em Cascavel/PR. Monografia (Bacharelado
em Engenharia Civil). Centro Universitário Assis
pesquisas semelhantes devem ser realizadas, a Gurgacz. Cascavel, PR.
fim de calibrar o modelo de elementos finitos e
aumentar a confiabilidade da previsão da
capacidade de carga deste solo.

REFERENCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 6122 (2010). Projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 6489 (1984). Prova de carga direta sobre
terreno de fundações. Rio de Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
NBR 7181 (2016). Análise Granulométrica. Rio de
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Aplicação do Método das Pastilhas na Identificação Expedita de


Solos para Uso em Pavimentação em Santa Maria/RS
Letícia Soldera
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, letisoldera@yahoo.com.br

Lucas Eduardo Dornelles


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
lucaseduardodornelles@yahoo.com.br

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

RESUMO: Na engenharia rodoviária, tem-se buscado cada vez mais a utilização de técnicas de
identificação e classificação de solos que sejam práticas, econômicas e condizentes com a realidade
dos solos brasileiros. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo classificar amostras de solos
de Santa Maria/RS utilizando o Método das Pastilhas e comparar com a classificação tradicional
TRB (Transportation Research Board). Para tanto, foram utilizadas 26 amostras de uma área
pertencente a um futuro empreendimento localizado às margens da BR-392. As amostras foram
ensaiadas e classificadas através da moldagem das pastilhas de solo. A partir dos resultados, foi
possível observar divergências entre as duas classificações. Solos que na classificação tradicional
estavam dentro de uma mesma classe foram enquadrados em classes diferentes pelo Método das
Pastilhas. Desta forma, ficou evidente que os sistemas tradicionais de classificação, como o HRB,
não se aplicam de forma condizente ao comportamento peculiar dos solos tropicais brasileiros.

PALAVRAS-CHAVE: Método das Pastilhas, Metodologia MCT, Solos Tropicais, Classificação.

1 INTRODUÇÃO acordo com aquelas classificações.


A partir da necessidade de um sistema mais
A identificação e classificação dos solos são adequado às peculiaridades dos solos tropicais
essenciais em todos os tipos de obras de brasileiros, Nogami e Villibor (1981)
engenharia. Em projetos rodoviários, propuseram uma metodologia de classificação
caracterizados por grandes extensões denominada MCT (Miniatura, Compactada,
longitudinais, os solos de subleito estão sujeitos Tropical). Esta metodologia, baseada em
à comportamentos geotécnicos bem ensaios com corpos de prova em miniatura,
diferenciados. permite avaliar diferentes características dos
O estudo dos solos tropicais permite observar solos tropicais, como resistência,
algumas peculiaridades de comportamento deformabilidade e permeabilidade. Além disso,
quando comparados com solos de outras a MCT permite identificar o comportamento
regiões. Ao se realizar ensaios de classificação laterítico ou não laterítico dos solos.
pelos sistemas tradicionais SUCS e TRB (antiga Solos de comportamento laterítico
HRB), desenvolvidos para regiões de clima apresentam elevadas capacidades de suporte e
temperado, os solos tropicais brasileiros muitas pequena perda dessa capacidade quando imersos
vezes são designados com características muito em água. Assim, possuem melhor desempenho
diferentes das encontradas em campo. Solos que quando aplicados a obras de pavimentação. Já
apresentam um bom desempenho em obras de os solos de comportamento não laterítico não
pavimentação são considerados inadequados de são os mais indicados para esse fim.
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A Metodologia MCT é composta por dois 392, em Santa Maria/RS. O solo deste local
ensaios básicos classificatórios: Compactação pertence a unidade geotécnica Santa Maria –
Mini-MCV e Perda de Massa por Imersão. Membro Passo das Tropas. Conforme
Além destes, os autores propuseram ensaios Bortoluzzi (1974), este é o membro inferior da
complementares. São eles o ensaio de Mini- formação. Possui origem fluvial, coloração
CBR, Contração, Expansão, Infiltrabilidade, rosada e é composta por arenito basal, grosseiro,
Permeabilidade, Penetração da Imprimação e feldspático, poroso, podendo apresentar quartzo
Mini-CBR de campo. e argila. De uma forma geral, é estratificado e
Buscando simplificar ainda mais a pode apresentar aspecto maciço em alguns
identificação e classificação dos solos tropiais, pontos.
Nogami e Villibor (1994) propuseram o Método As amostras foram coletadas em 23 furos de
das Pastilhas. Baseado em medições realizadas sondagem, em pontos onde futuramente serão
em pequenas pastilhas de solo moldadas em construídas estradas de acesso ao
anéis metálicos. Este método permite uma empreendimento. No furo 7 foram retiradas 3
classificação rápida, prática e econômica dos amostras, sendo uma amostra retirada na
solos tropicais nos mesmos grupos da profundidade de 0 a 1 metro, outra foi retirada
Metodologia MCT. entre 1 e 2 metros e a seguinte entre 2 e 3
Diferentes aplicações da Metodologia MCT metros; no furo 14 foram retiradas 2 amostras e
na região de Santa Maria foram realizadas nos no restante dos furos foi retirada apenas 1
últimos anos. Destaca-se o trabalho de Damo amostra em cada um deles, com a profundidade
(2016), que estudou amostras de diferentes de coleta em torno de 3 metros.
unidades geotécnicas da região através dos
ensaios classificatórios e complementares da 2.2 Método das Pastilhas
MCT e do Método das Pastilhas.
Os resultados obtidos no Método das Após a coleta dos solos, estes foram levados ao
Pastilhas em geral são condizentes com a Laboratório de Materiais de Construção Civil da
classificação realizada pela Metodologia MCT. UFSM. Para realização do Método das
Dornelles et al. (2017) avaliaram de forma Pastilhas, é necessário peneirar o solo e separar
comparativa estas duas metodologias de a fração passante na peneira de número 40.
classificação em quinze amostras de diferentes A execução do ensaio do Método das
regiões do Rio Grande do Sul. A partir da Pastilhas se dá pela moldagem de cinco
comparação, foi possível identificar uma pastilhas de solo, feitas em anéis de aço de 5mm
concordância de classificação em quase todos os de altura e 20mm de diâmetro. Antes da
solos estudados. moldagem, o solo é umedecido e espatulado em
Este trabalho teve como objetivo a uma placa de vidro esmerilhado, até se obter
identificação e classificação de 26 amostras de uma consistência equivalente a uma penetração
solo da cidade de Santa Maria/RS, através do inferior a um milímetro, medida no aparelho
Método das Pastilhas. Todas as amostras foram penetrômetro. A Figura 1 mostra as pastilhas
coletadas em uma área pertencente à um futuro moldadas nos anéis de aço inox.
empreendimento no bairro Tomazetti.

2 METODOLOGIA

2.1 Identificação da área de estudo

Todos as amostras dos solos estudados foram


coletadas em uma área pertencente a um futuro
empreendimento, localizada às margens da BR-
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limite inferior da pedra porosa. O solo passa


então por um processo de reabsorção da água
durante duas horas. Esta etapa está ilustrada na
Figura 3.

Figura 1. Pastilhas de solo moldadas.

Após a moldagem, as pastilhas passam por


um processo de secagem. Nesta etapa, o solo Figura 3. Pastilhas dentro do recipiente com água.
contrai, diminuindo seu diâmetro. Essa
contração é obtida através da diferença entre o Após este tempo, mede-se a penetração nas
diâmetro inicial e o diâmetro final da pastilha pastilhas através do penetrômetro. Assim como
após a secagem, com auxílio de um paquímetro, na contração, são feitas três medidas diferentes
conforme a Figura 2. Cabe evidenciar que são e utiliza-se a média aritmética das três. A Figura
feitas 3 medidas de diâmetro e adota-se a média 4 mostra o equipamento utilizado para medição
aritmética. da penetração.

Figura 2. Medição do diâmetro após a secagem das


pastilhas.

Após a realização das medidas, as pastilhas


são colocadas sobre uma placa de pedra porosa,
Figura 4. Aparelho penetrômetro.
dentro de um recipiente com água até a altura do
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A partir dos ensaios são obtidos os valores de determinados os parâmetros de Contração e


contração (Ct) e penetração. Calcula-se, então o Penetração, que estão apresentados na Tabela 1,
coeficiente c’, conforme as Equações 1 e 2. juntamente com os resultados da classificação
obtida no Método das Pastilhas para as 26
𝑙𝑜𝑔𝐶𝑡+1 amostras estudadas.
𝑐′ = (1)
0,904
Tabela 1. Parâmetros e classificação do Método das
Pastilhas.
para Ct entre 0,1 e 0,5mm. Contração Método
Penetração
Solo diametral c’ das
𝑙𝑜𝑔𝐶𝑡+0,7 (mm)
(mm) Pastilhas
𝑐′ = (2) F1 1,95 1,98 0,72 LG’
0,5
F2 2,46 2,18 0,15 LG’
para Ct maior ou igual a 0,6mm. F3 1,72 1,87 0,35 LG’
F4 2,10 2,04 0,39 LG’
F5 2,13 2,06 5,63 NG’
A partir desses valores, é possível utilizar o
F6 2,78 2,28 1,44 LG’
ábaco classificatório do Método das Pastilhas, F7 1,57 1,79 1,83 LA
ilustrado na Figura 5. F7A 0,26 0,42 6,95 NA/NS’
F7B 0,47 0,75 7,32 NS’/NA’
F8 1,87 1,94 2,06 NG’
F9 0,52 0,84 2,3 NA’/NS’
F10 2,08 2,03 1,55 LG’
F11 2,01 2,00 0,59 LG’
F12 0,33 0,56 5,44 NS’/NA
F13 2,34 2,14 1,16 LG’
F14 0,26 0,32 0,13 LA
F14A 0,71 1,07 5,19 NS’/NA’
F15 0,47 0,75 0,64 LA
F16 0,47 0,75 3,79 NA
F17 0,49 0,78 6,80 NS’/NA’
F18 2,08 2,03 0,31 NA
Figura 5. Ábaco classificatório.
F19 0,22 0,37 4,35 NA/NS'
F20 0,24 0,38 6,81 NA/NS'
Os solos que receberem uma classificação F21 1,95 1,98 5,50 NA/NS'
cuja primeira letra for o “L” é tido como solo de F22 1,27 0,35 6,57 NA/NS'
comportamento laterítico e aqueles em que a F23 2,01 2,00 5,10 NA/NS'
primeira letra for “N” são os não lateríticos. A
segunda letra da classificação diz respeito à A Tabela 2 apresenta os resultados dos
composição granulométrica do solo, sendo A ensaios de análise granulométrica (% passantes
relativo à areia, A’ representa um solo arenoso, nas peneiras, 10, 40 e 200) e limites de
G’ solo argiloso e S’ siltoso. consistência utilizados na classificação
tradicional TRB (Transportation Research
Board) feita observando-se o Manual de
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS Pavimentação do DNIT (2006) e os resutados
RESULTADOS dos ensaios pelo método das pastilhas
(classificação simplificada MCT) para efeito de
Conforme descrito na metodologia do trabalho, comparação.
as 26 amostras foram classificadas através do O ábaco classificatório do Método das
Método das Pastilhas, proposto por Nogami e Pastilhas, com a localização dos pontos
Villibor (1994). Nesta metodologia, são estudados, está ilustrado na Figura 6.
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Tabela 2. Resultados dos ensaios de granulometria, plasticidade e classificaçao TRB e MCT.

Solo %Pp, 10 %Pp, 40 %Pp, 200 Limite de Limite de Índice de TRB IG MCT
Liquidez Plasticidade Plasticidade
(LL) - % (LP) - % (IP) - %
F1 99,6 39,3 14,8 38 22 16 A2-6 0 LG’
F2 98,0 93,1 90,7 54 27 27 A7-6 18 LG’
F3 99,9 97,4 84,8 55 32 23 A7-5 16 LG’
F4 99,7 94,1 25,8 NL NP - A2-4 0 LG’
F5 100 69,5 17,5 NL NP - A2-4 0 NG’
F6 99,8 89,8 62,2 36 21 15 A6 6 LG’
F7 99,4 30,1 7,8 NL NP - A1b 0 LA
F7A 99,8 87,0 51,2 NL NP - A4 2 NA/NS’
F7B 99,8 93,1 70,6 28 21 7 A4 6 NS’/NA’
F8 99,9 96,1 78,7 29 19 10 A4 8 NG’
F9 100 69,8 23,5 23 20 3 A4 0 NA’/NS’
F10 97,6 85,1 43,3 31 18 13 A6 2 LG’
F11 99,6 80,4 34,4 NL NP - A2-4 0 LG’
F12 99,7 97,2 52,2 NL NP - A4 2 NS’/NA
F13 99,9 85,3 48,4 24 15 9 A4 2 LG’
F14 98,9 90,3 26,8 NL NP - A4 0 LA
F14A 99,1 43,8 19,6 NL NP - A1b 0 NS’/NA’
F15 100 77,0 15,9 NL NP - A2-4 0 LA
F16 99,9 28,9 8,2 NL NP - A1b 0 NA
F17 99,0 92,7 63,4 28 18 10 A4 6 NS’/NA’
F18 99,7 98,9 71,4 NL NP - A4 7 NA
F19 99,8 89,0 22,4 NL NP - A2-4 0 NA/NS'
F20 99,3 78,6 41,5 NL NP - A4 1 NA/NS'
F21 99,9 79,4 35,7 NL NP - A2-4 0 NA/NS'
F22 99,8 91,5 63,9 22 18 4 A4 6 NA/NS'
F23 99,7 43,8 8,7 NL NP - A1b 0 NA/NS'

Figura 6. Ábaco classificatório com a localização dos pontos pela nomenclatura das amostras.
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A partir da análise dos resultados, é possível tradicional TRB, seu comportamento como
identificar que onze amostras possuem subleito é considerado sofrível a mau.
comportamento laterítico. As amostras F1, F2, Enquanto isso, solos considerados com um
F3, F4, F6, F10, F11 e F13 foram classificadas comportamento de excelente a bom como
no mesmo grupo da MCT, o dos solos argilosos subleitos rodoviários pelo sistema TRB foram
de comportamento laterítico (LG’). Já as enquadrados como solos de comportamento não
amostras F7, F14 e F15 foram enquadradas laterítico pelo Método das Pastilhas. É o caso
como areias lateríticas (LA). Todas estas das amostras F5, F14A, F16, F19, F21 e F23.
amostras possuem potencial de utilização em Outra forma de observar a incompatibilidade
camadas de pavimentos como base, reforço de entre os métodos é através do Índice de Grupo
subleito, subleito, aterro compactado e até como (IG). Este índice é calculado com base nos
revestimento primário. Cabe ressaltar que o ensaios do sistema tradicional de classificação e
Método das Pastilhas é indicado para uma determina que solos com IG baixo possuem
classificação rápida e expedita dos solos. De bom comportamento para uso em subleito
qualquer forma, é necessário a realização dos rodoviário, enquanto solos de alto IG são ruins
ensaios classificatórios e complementares da para esses fins. Assim sendo, podemos atentar
MCT para uma avaliação mais completa e exata para as amostras F1, F2, F3 e F4, ambas
do comportamento dos solos tropicais. enquadradas no grupo LG’ (lateríticas argilosas)
Das amostras enquadradas com pelo Método das Pastilhas. No sistema
comportamento não laterítico, seis foram tradicional, as amostras F1 e F4 são
classificadas como NA/NS’ (F7A, F19, F20, classificadas como A2-6 e A2-4 (areias siltosas
F21, F22 e F23), areias ou solos siltosos de ou argilosas), ao passo que as F2 e F3 são tidas
comportamento não laterítico. As amostras F16 como A7-6 e A7-5 (solos argilosos), não
e F18 foram classificadas como areias de apresentando nenhuma correlação com o
comportamento não laterítico (NA). Três Método das Pastilhas, que julga os 4 tipos de
amostras (F12, F14A e F17) foram agrupadas solo como bons para uso em obras rodoviárias.
como NS’/NA’, solos siltosos ou arenosos de Damo (2016) estudou amostras de solos da
comportamento não laterítico. Por fim, a região de Santa Maria/RS, classificadas através
amostra F5 foi classificada como um solo dos sistemas tradicionais SUCS e TRB, assim
argiloso não laterítico (NG’) e a amostra F9 como pela Metodologia MCT e Método das
como NA’/NS’, solos arenosos ou siltosos não Pastilhas. Como resultado, a autora também
lateríticos. identificou essa diferença de classificação nos
Ao comparar a classificação obtida através solos da região de acordo com diferentes
do Método das Pastilhas e a Classificação TRB, metodologias.
é possível identificar que solos enquadrados em
mesmos grupos no primeiro método possuem
diferentes classificações no segundo. Isso pode 4 CONCLUSÕES
ser explicado devido ao comportamento peculiar
dos solos tropicais. Este trabalho teve como objetivo principal a
Além disso, solos enquadrados com identificação e classificação de amostras de solo
comportamento laterítico pelo Método das da cidade de Santa Maria/RS, através do
Pastilhas são considerados inadequados para uso Método das Pastilhas. A partir desta
em pavimentação de acordo com a classificação classificação, foi possível identificar tanto solos
TRB. É o caso dos solos F6, F10, F13 e F14. De de comportamento laterítico, quanto solos com
acordo com o grupo do Método das Pastilhas, comportamento não laterítico.
estes materiais possuem comportamento Além disso, foi possível identificar que solos
laterítico, ou seja, teriam potencial de uso em classificados com comportamento laterítico pelo
pavimentação. Entretanto, conforme o sistema Método das Pastilhas foram enquadrados como
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inadequados para uso em pavimentação pelo Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia.


sistema HRB. Ao mesmo tempo, solos COPPE/ABMS, Rio de Janeiro/RJ.
Nogami, J.S.; Villibor, D.F. (1994). Identificação
classificados com comportamento não laterítico expedita dos grupos da classificação MCT para solos
no primeiro método foram classificados com tropicais. X Congresso Brasileiro de Mecânica dos
bom comportamento quando utilizados como Solos e Engenharia de Fundações. ABMS, Foz do
subleitos rodoviários no segundo método. Iguaçú/PR.
Isso evidencia que os sistemas tradicionais de Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984) NBR
6459:. Solo –Determinação do limite de liquidez. Rio
classificação, como SUCS e HRB, não se de Janeiro, 1984. 6p. Origem: MB-30.
aplicam de forma condizente ao comportamento Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984). NBR
peculiar dos solos tropicais brasileiros. Em 7180: Solo –Determinação do limite de plasticidade.
adição, destaca-se a eficiência do Método das Rio de Janeiro, 1984. 3p. Origem: MB-31.
Pastilhas na identificação e classificação de Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984) NBR
7181: Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro.
materiais para uso em pavimentação. Além de 13p. Origem: MB-32.
ser uma metodologia rápida, barata e que requer
equipamentos simples, o método permite uma
classificação dos materiais de uma forma mais
condizente com as peculiaridades dos solos
tropicais brasileiros.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos especialmente ao apoio do


LMCC/UFSM e PIBIC/UFSM que colaboraram
para que a realização desse trabalho fosse
possível.

REFERÊNCIAS

Bortoluzzi, C. A. (1974) Contribuição à geologia da


região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Pesquisas, Instituto de Geociências, UFRGS. Porto
Alegre/RS
Damo, T.P. (2016). Classificação dos solos e rochas
sedimentares da região de Santa Maria/RS segundo a
Metodologia MCT. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
Universidade Federal de Santa Maria. UFSM. Santa
Maria/RS.
Departamento de Infraestrutura de Transportes – DNIT.
(2006). Manual de Pavimentação. Publicação IPR-
719. Ministério dos Transportes, Instituto de Pesquisas
Rodoviárias. Rio de Janeiro/RJ.
Dornelles, L. E.; Correa, B. M.; Fernandes, L. P.; Damo,
T. P.; Pinheiro, R. J. B. (2017) Identificação Expedita
de Solos Tropicais no Estado do Rio Grande do Sul
Utilizando o Método das Pastilhas. Seminário de
Engenharia Geotécnica do Rio Grande do Sul –
GEORS 2017. ABMS/UCS. Caxias do Sul/RS.
Nogami, J.S.; Villibor, D.F. (1981). Uma Nova
Classificação para Finalidades Rodoviárias, Simpósio
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Avaliação do Comportamento Hidráulico de Dois Solos Residuais


Soteropolitanos Melhorados Quimicamente
Italo Santos da Silva
Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, italosantossilva5@gmail.com

Paulo Henrique Amaral Fagundes


Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, phamaralfagundes@gmail.com

Miriam de Fátima Carvalho


Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, miriam.machado@pro.ucsal.br

Raymundo Wilson da Silva Dórea


ENGPISO-Eng. & Soluções Integradas Ltda, Salvador, Brasil, rdorea@engpiso.com.br

Antonio Felipe de Souza Machado Reis


Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, felipe.m.reis2@gmail.com

Quislom Albuquerque da Silva


Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, quislom_albuquerque@hotmail.com

RESUMO: Propriedades hidráulicas de solos residuais, Barreiras e Granulito da cidade de Salvador


tratados quimicamente são avaliadas por meio de ensaios de permeabilidade a carga variável. Os
ensaios foram realizados em amostras compactadas na energia do proctor intermediário na condição
natural e tratadas com estabilizante Homy solo GB® (concentração 1:1000, 1:1500 e 1:2000),
juntamente com cal hidratada (1 e 3%). O coeficiente de permeabilidade (k) obtido foi de 1,6x10-7
cm/s e 9,5x10-8 cm/s para o Barreiras e Granulito, respectivamente. Nos dois solos tratados
quimicamente e, em todas as dosagens, observou-se aumento da permeabilidade. Para o Barreiras, o
aumento foi significativo, chegando a 29 vezes na menor dosagem de produto (1:1500) e maior teor
de cal (3%), com k médio de 4,8x10-6 cm/s. O Granulito apresentou aumento de cerca de 6 vezes
(5,5x10-6 cm/s) para a mesma dosagem.

PALAVRAS-CHAVE: Permeabilidade, Melhoramento químico; Ensaios Laboratoriais.

1 – INTRODUÇÃO ordem de 10²cm/s para pedregulhos até valores


de 10-9cm/s para argilas bem compactadas. Os
O solo é normalmente usado como elemento de primeiros estudos de permeabilidade foram
construção (barragens, aterros rodoviários), realizados pelo engenheiro Henry Darcy em
devendo este atender a parâmetros definidos 1859, a partir da realização dos seus
conforme o tipo de obra a ser utilizado. experimentos com areia, ele escreveu as
As propriedades hidromecânicas do solo são sentenças que quantificam o movimento de
as mais importantes para definir sua água no solo.
aplicabilidade. No que se refere à Darcy concluiu que a vazão (Q) é
permeabilidade, capacidade do solo para diretamente proporcional à diferença de cargas
permitir a passagem de fluido pelos seus poros, piezométricas (Δh), a área da seção transversal
tem-se grande variabilidade de valores, indo da do solo (A) e ao coeficiente de permeabilidade
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(k) e, inversamente proporcional ao resinas, cloretos, betumes, cimento e cal.


comprimento de solo (L). Como as grandezas De acordo com Loch (2013), a primeira
são simultaneamente proporcionais, a vazão reação que ocorre nos solos melhorados
também é proporcional aos seus produtos, como quimicamente é a troca catiônica, entre os íons
mostra a equação 1. disponibilizados pelo agente estabilizante e os
íons trocáveis do solo alterando o
Q = k.i.A (1) desbalanceamento de carga superficiais das
argilas. Após as trocas catiônicas, as partículas
Mantidos o gradiente hidráulico (i = Δh/L) e ficam atraídas entre si e este processo tem como
a área da seção constantes, o coeficiente de consequência a floculação do solo.
permeabilidade traduz o volume de líquido que Segundo Fontes et al (2001) as cargas
flui perpendicularmente a uma unidade de área superficiais das argilas têm, de modo geral,
de um meio poroso sobre ação de um gradiente duas origens, que estão intimamente ligadas ao
hidráulico unitário. grupo de argilomineral a qual o solo pertence.
O comportamento hidráulico do solo grosso As argilas provenientes dos grupos com
é diretamente influenciado pela sua estrutura do tipo 2:1 têm carga superficial
granulometria, uma vez que as forças negativa devido às substituições isomórficas.
gravitacionais prevalecem sobre as outras Essas substituições ocorrem geralmente
(BUENO e VILAR, 1984). Assim, seu trocando um elemento de maior valência por
comportamento hidráulico é regido pelo índice outro de menor valência, o que leva à
de vazios, estrutura do solo, densidade e insuficiência de carga positiva, gerando a carga
viscosidade do fluido (NUTTING, 1930). negativa superficial que ocorre independente do
Para solos finos, devido à interferência das pH do meio. Já nas argilas que pertencem ao
cargas superficiais elevadas, a permeabilidade grupo das caulinitas de estrutura 1:1, as cargas
depende também da relação entre o solo e o superficiais decorrem da dissociação da
fluido percolante. Diversos são os fatores que hidroxila na superfície da argila, que é
colaboram para as mudanças no coeficiente de dependente do pH do meio, gerando carga
permeabilidade, dentre os quais podemos superficial negativa.
destacar: a constante dielétrica do fluido, o teor Morandini (2014) afirma que o modo como
de argila, atividade, índice de plasticidade (IP) e solo se comporta em relação a sua
a superfície específica do solo (OLIVEIRA permeabilidade é influenciado diretamente pela
2001). sua carga superficial. As argilas com cargas
Existem casos em que o solo local não superficiais desbalanceadas atraem para sua
atende aos requisitos hidromecânicos superfície íons de carga elétrica oposta. A água
necessários ao uso, geralmente ocorrendo a sua por ser um líquido de alta polaridade é atraída
remoção e substituição por outro solo, sendo para superfície da partícula formando o que se
esta uma atividade de alto custo e elevado chama de camada dupla elétrica. Os íons que
impacto ambiental. dão origem a esta camada estão sob a influência
Uma alternativa a este processo é o da partícula de solo, de modo que, quando mais
melhoramento químico do solo utilizado próximo da superfície da partícula mais
principalmente para incrementar sua resistência firmemente atraído estará o íon, não
mecânica. Segundo França (2003) a participando do fluxo no solo e se tornando um
estabilização química de um solo remete a obstáculo à passagem do fluido pelo poro,
modificações na sua estrutura devido à inserção diminuindo a permeabilidade do solo.
de certa porção de aditivo podendo ser estes As reações geradas pelo tratamento químico
produtos industrializados, até resíduos tendem a alterar a permeabilidade na medida
industriais. Os estabilizantes químicos mais em que possibilita à redução da espessura da
utilizados no melhoramento de solos são: as camada dupla através do fornecimento de íons
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de maior valência, assim gerando a floculação e 2 – DADOS ANTECESSORES DE


aglomeração das partículas do solo, MELHORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO.
aumentando os espaços disponíveis para o fluxo
no solo e por fim alterando sua permeabilidade. Os solos utilizados na pesquisa de
Não são muitos os estudos laboratoriais comportamento hidráulico foram objeto de
sobre permeabilidade de solos melhorados caracterização geotécnica e estudo de
quimicamente. Ribeiro (2002) avaliando o melhoramento da capacidade de suporte
desempenho hidráulico de misturas solo cal e realizados por Carvalho et al 2018 (no prelo) e
solo cimento para aplicação em barreiras de Silva (2017). Amostras deformadas dos solos
proteção ambiental verificou que a adição do foram coletadas em pontos distintos da cidade
estabilizante reduziu a permeabilidade. de Salvador, onde o solo residual da Formação
Comportamento similar também foi reportado Barreiras foi coletado no talude bota-fora do
por Loch (2013), estudando o efeito da Aterro Sanitário Metropolitano Centro
aplicação da estabilização química com cal e localizado na rodovia BA-526, km 6,5 –
cimento portland em um solo da formação Salvador, coordenadas 12° 51’ 30” S 38° 22’
Botucatu. 14” E. O solo residual de Granulito, proveniente
Já Silveira (1979) estudando a variação da de rochas cristalinas metamorfizadas, com
permeabilidade e da estrutura de um solo coloração avermelhada foi coletado na Avenida
estabilizado com cal chegou a resultados Luiz Viana (Paralela) da cidade de Salvador,
divergentes dos anteriores, onde o coeficiente coordenadas 12° 56’ 18” S 38° 24’ 10”E. A
de permeabilidade aumentou para solos tabela 1 apresenta os resultados médios de
tratados; esse aumento foi mais significativo ensaios de caracterização, provenientes de
para altas umidades. Machado et al (2017) quatro determinações para cada solo. Maiores
estudando a estabilização química de materiais informações podem ser obtidas em Silva
para pavimentos através da adição polimérica (2017). A tabela 01 também apresenta, a partir
também observou aumento do coeficiente de de quatro amostras estudadas, os valores médios
permeabilidade para solo argilo-areno siltoso de massa específica seca, umidade ótima e ISC
tratado. (Índice de Suporte Califórnia) obtidos na
Neste contexto o objetivo deste trabalho foi energia do proctor intermediário para o solo in
avaliar o comportamento hidráulico de solos natura.
tratados quimicamente com produto Homy Solo
GB® e cal a partir de ensaios de permeabilidade Tabela 1 Resultados de caracterização geotécnica.
a carga variável. As especificações do produto Solo Barreiras Granulito
Pedregulho 1 4
apontam ganho de resistência (conferido pelo
Areia Grossa 8 4
aumento da capacidade de suporte e pela Composição Areia Media 39 22
redução da expansão e da sucção) e de (%) Areia Fina 28 23
impermeabilização do solo. Silte 7 24
Este trabalho é resultado de um projeto de Argila 17 23
pesquisa coordenado pela empresa Engpiso e s (g/cm3) 2,721 2,824
desenvolvido em parceria com a Ucsal e outras Limite de liquidez (%) 24 45
instituições de ensino superior, e visa a obter Índice de plasticidade (%) 6 17
informações sobre solos melhorados para uso Atividade de Skempton 0,35 0,73
em pavimentação e piso estruturais. Wót (%) 10,37 18,08
dmax. (g/cm3) 1,946 1,699
HBR A-2-4 A-7-6
Classificação
USCS SM/SC ML
Capacidade ISC (%) 55 30
de suporte Expansão (%) 0,13 0,38
Fonte: Adaptado de Silva (2017)
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O solo Barreiras (Tabela 1) possui um maior utilizadas para avaliação do comportamento


teor de areia, em torno de 75%, apresentando IP hidráulico.
= 6% e atividade de 0,35, sendo classificado
pela SUCS (sistema unificado de classificação Tabela 3: Resultados dos Ensaios ISC no Solo Granulito
de solos), como SM/SC, areia argilosa a areia tratado quimicamente.
Média Variação
siltosa. Já o Granulito possui um maior teor de Concent. Dosagem Exp. ISC Exp. ISC
finos, cerca de 47%, apresenta IP = 17% e % % % %
atividade de 0,73, sendo classificado pela SUCS - 1% de Cal 0,01 29 -97 -3
como ML, um silte de baixa plasticidade. - 3% de Cal 0,02 69 -95 130
Os resultados dos ensaios de ISC para os - 0,27 39 -29 30
solos melhorados e in natura (sem adição de 1/5000 S.A 0,23 24 -39 -20
1/2000 1/3000 S.A 0,07 28 -82 -7
produtos químicos, compactado na energia 1% de Cal 0,11 29 -71 -3
proctor intermediário e umidade ótima) são 3% de Cal -0,01 81 -103 170
apresentados nas tabelas 2 e 3. - 0,37 32 -3 7
1/5000 S.A 0,19 21 -50 -30
Tabela 2: Resultados de ensaios de ISC no Solo Barreiras 1/1500 1/3000 S.A 0,15 19 -61 -37
tratado quimicamente. 1% de Cal 0,06 27 -85 -10
Média Variação 3% de Cal -0,07 67 -118 123
Concent. Dosagem Exp. ISC Exp. ISC - 0,15 33 -61 10
% % % % 1/5000 S.A 0,11 20 -71 -33
- 1% de Cal 0,02 89 -85 62 1/1000 1/3000 S.A 0,09 21 -76 -30
- 3% de Cal 0,01 146 -92 165 1% de Cal 0,06 25 -84 -17
- 0,83 27 538 -51 3% de Cal -0,01 33 -103 10
1/5000 S.A -0,04 43 -131 -22 Fonte: Adaptado de Silva (2017)
1/1500 1/3000 S.A -0,05 35 -138 -36
1% de Cal -0,02 117 -115 113 O Homy Solo GB®, estabilizante utilizado
3% de Cal -0,04 165 -131 200 nos ensaios, foi fornecido pela empresa
- 0,78 26 500 -53 Engpiso. É um produto químico composto,
1/5000 S.A -0,07 47 -154 -15
1/1000 1/3000 S.A -0,07 32 -154 -42
líquido, orgânico-metálico, alcalino, derivado
1% de Cal -0,02 147 -115 167 de Hidrocarbonetos insaturados e de coloração
3% de Cal -0,10 192 -177 249 mel e produzido pela Homy Indústria e
Fonte: Adaptado de Silva (2017) Comércio de Produtos Químicos LTDA. De
acordo com o fabricante, o Homy solo GB® é
Os tratamentos com estabilizante Homy um aditivo que ao ser diluído em água necessita
solo GB® e cal hidratada, em todas as da incorporação de um reagente, que pode ser o
dosagens, produziram melhoria na capacidade sulfato de alumínio ou a cal para produzir o
de suporte, exceto para o Granulito quando efeito de melhoramento.
dosado com 1% de cal, em que ocorreu A cal usada foi fornecida pela empresa
diminuição do ISC. Para o solo Barreiras, Engpiso, é uma cal hidratada do tipo CH-I
obteve-se melhoria do ISC com o aumento da formada por, basicamente, hidróxido de cálcio
concentração do produto, o oposto foi ou de uma mistura de hidróxido de cálcio e
encontrado para o solo Granulito, que hidróxido de magnésio, com teor de gás
apresentou redução do ISC para as maiores carbônico igual ou menor que 5%. (produzida
concentrações do produto. pela empresa Qualitycal Indústria e Comércio
É possível observar que, para ambos os LTDA situada no estado da Bahia). O Sulfato
solos, o tratamento com o Homy Solo GB® de Alumínio também foi fornecido pela
associado ao estabilizante químico sulfato de Engpiso e produzido pela empresa Comercial
alumínio, provocou um decréscimo da Janusia de Produtos para Piscina LTDA ME.
capacidade de suporte em relação ao solo
natural. Assim estas dosagens não foram
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3 – METODOLOGIA horas foram realizadas a compactação dos


corpos de prova (CP’s) no cilindro pequeno na
3.1 – Seleção das dosagens e Preparação das energia intermediária (3 camadas e 21 golpes)
amostras os quais foram deixados em processo de
secagem ao ar, onde permaneceram até
As dosagens utilizadas nos ensaios de perderem cerca de 40% de umidade em relação
permeabilidade foram selecionadas de acordo ao valor da umidade ótima de compactação,
com o desempenho de corpos de prova permitindo a complementação das reações
submetidos a ensaios de índice de suporte químicas dos produtos com o solo, favorecendo
Califórnia (ISC) realizados preliminarmente, o processo de coesão.
conforme tabela 2 e 3. Os resultados apontaram
que quando utilizado o sulfato de alumínio, 3.2 – Ensaio de Permeabilidade.
como reagente para o estabilizante, não houve
melhora em relação à capacidade de suporte do Após o processo de cura foi iniciado a
solo em estado natural, portanto este reagente montagem do ensaio de permeabilidade,
não foi utilizado no estudo da permeabilidade. realizando uma raspagem no corpo de prova
Para o solo Barreiras foram eleitas duas para regularizar suas dimensões (altura e
concentrações do estabilizante químico Homy diâmetro) e determinar a umidade inicial do
solo GB®, de 1:1000 e 1:1500 e definidas as corpo de prova (Figura 1a).
porcentagens de 1% e 3% de cal hidratada. Depois desta etapa, o solo foi colocado sobre
Já para o solo Granulito foram escolhidas as um anel de borracha e recebeu uma camada de
mesmas porcentagens de cal hidratada, parafina em sua lateral para evitar fluxo radial e
acrescentando-se a concentrações de 1:2000 do solidarizar o corpo de prova ao anel. Em
produto estabilizante às já utilizadas no solo seguida, o solo foi colocado no permeâmetro
Barreiras. Todos os ensaios de permeabilidade sobre uma camada de drenagem, sendo utilizada
foram realizados em duplicata. bentonita hidratada para fazer a vedação do CP,
A preparação do estabilizante químico e evitar que a água percole por algum caminho
seguiu a proposta do Engenheiro Hélio Rubens preferencial externo ao corpo de prova. É de
Vieira Bussamra em seu artigo “Instrução de grande importância que esta camada esteja sem
trabalho de estabilização com DS-328”. rachaduras e bem compactada (Figura 1b).
Inicialmente diluiu-se 50 ml do produto
estabilizante em 950 ml de água destilada
formando uma solução de 1000 ml e a partir
dessa solução foram realizadas as dosagens em
relação ao peso do solo seco nas relações
supracitadas de 1: 1000, 1: 1500 e 1:2000. Nos
ensaios com a cal, ao preparar a amostra
adicionou separadamente a cal ao solo,
misturando-os bem e depois acrescentou a
solução estabilizante, homogeneizando-os,
atingindo, deste modo, a umidade ótima de
compactação. Obtendo ao final uma mistura
homogeneizada composta por solo,
estabilizante, reagente e água. a) b)
Após a preparação das misturas colocou-se Figura 1a – Raspagem do corpo de prova; 1b –
Impermeabilização lateral do permeâmetro.
cada amostra em um saco plástico, fechou-o até
o dia seguinte, para atingir a cura, para uma Logo após foi inserido o anel superior
melhor homogeneidade da amostra. Após as 24 juntamente com a parafina para promover
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efetiva vedação da parte superior. O 4. RESULTADOS E ANÁLISES.


permeâmetro foi preenchido com pedriscos e
vedado para o inicio da saturação do solo e Na Tabela 4 é possível encontrar os resultados
realização das medidas, conforme a Figura 2. dos ensaios de permeabilidade realizados no
Os ensaios de permeabilidade foram realizados solo Barreiras, tanto em estado natural como
em permeâmetro de parede rígida a carga melhorado quimicamente. Estes resultados são
variável, realizados segundo o método B da também apresentados na Figura 3 a fim de
NBR 14545/00 - Determinação do coeficiente facilitar a comparação.
de permeabilidade de solos argilosos a carga O coeficiente de permeabilidade médio para
variável, que indica a realização de ensaios para o solo Barreiras (Tabela 4), na condição natural
solos com coeficiente de permeabilidade menor é de 1,65 x 10-7 cm/s. Os ensaios realizados
que 10-4 cm/s, como é o caso dos solos com amostras tratadas com o estabilizante
estudados. Homy solo GB® e cal, em todas as dosagens
estudadas, apontam um aumento no coeficiente
de permeabilidade, variando entre 14 a 29
vezes. Para efeito de entendimento, também
foram realizados ensaios com amostras tratadas
apenas com cal, nas dosagens de 1% e 3% e,
apenas com o produto, nas concentrações de
1:1000 e 1:1500. Observa-se que a inserção
tanto do produto como da cal isolados já
produziram aumentos na permeabilidade, sendo
que inserção de cal foi a mais efetiva,
principalmente na dosagem de 3% que produziu
um aumento de 40 vezes.
a) b) Tabela 4 – Resultados dos ensaios de permeabilidade
Figura 2a – Montagem do permeâmetro. 2b – Realização solo Barreiras.
da medidas
𝑘𝑖
Dosagens e k(cm/s) k_médio
𝑘𝑛𝑎𝑡
3.3 Ensaio de pH e Condutividade elétrica 0,374 1,5x10-7 -7
In natura 1,6x10 -
0,393 1,8x10-7
Os ensaios de pH e condutividade elétrica 1% cal 0,382 1,4x10-6
2,1x10-6 13
foram realizados em amostras de água 1% cal 0,407 2,8x10-6
-
percolada dos corpos de prova, usadas para 3%cal 0,382 5,9x10-6
3,6x10-6 23
determinar a permeabilidade. As amostras 3% cal 0,364 1,3x10-6
foram coletadas após a finalização dos ensaios - 0,360 6,9x10-7
7,4x10-6 5
- 0,360 8,0x10-7
de permeabilidade, em recipientes previamente 1/ 1% cal 0,422 1,6x10-6
higienizados e reservados em baixa temperatura 2,3 x106 14
1000 1% cal 0,380 3,0x10-6
até a data realização dos ensaios. A 3% cal 0,402 1,6x10-6
3,2x10-6 20
condutividade elétrica foi obtida por meio do o 3% cal 0,411 4,9x10-6
condutivímetro modelo TEC-4MP da Tecnal, os - 0,343 5,1x10-7
6,7x10-7 4
valores de pH foram obtidos por meio do - 0,352 8,4x10-7
1/ 1% cal 0,351 4,0x10-6
Digimed phmetro DM 22, no Laboratório de 2,7x10-6 17
1500 1% cal 0,367 1,5x10-6
Estudos em meio ambiente (LEMA) da 3% cal 0,377 6,4x10-6
Universidade Católica do Salvador. 4,8x10-6 29
3% cal 0,369 3,3x10-6

O produto isolado não se mostrou tão


efetivo, aumentando a permeabilidade de no
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máximo 7 vezes. Salienta-se ainda que, para as valores de permeabilidade muito semelhantes,
amostras tratadas somente com 1% de cal, e sendo k = 2,1 x 10-6 cm/s, 2,3 x 10-6 cm/s e
com a mesma dosagem de cal nas 2,75x10-6 cm/s, respectivamente.
concentrações de 1: 1000, 1:1500 apresentaram

1,0E-4

solo natural
1,0E-5 Solo 1% cal
Solo 3% cal
Solo 1:1000 Homy solo
K (cm/s)

1,0E-6 Solo 1:1000 1% cal


Solo 1:1000 3% cal
Solo 1:1500 Homy solo
1,0E-7 Solo 1:1500 1% cal
Solo 1:1500 3% cal
Kmédio – Solo natural
1,0E-8
0,3 0,32 0,34 0,36 0,38 0,4 0,42 0,44 0,46 0,48 0,5

ÍNDICES DE VAZIOS
Figura 3 – Comparação do coeficiente de permeabilidade para o solo Barreiras natural e tratado quimicamente.

Na Tabela 5 são apresentados os resultados longo desta pesquisa.


dos ensaios de permeabilidade para solo
Granulito e a Figura 4 mostra-os de maneira Tabela 5 – Resultados dos ensaios de permeabilidade do
solo Granulito.
ilustrativa. Em condição natural, o Granulito
𝑘𝑖
apresentou um coeficiente de permeabilidade Dosagens e k(cm/s) k_médio
𝑘𝑛𝑎𝑡
médio de 9,6x10-8 cm/s. As amostras tratadas 0,664 9,7x10-8
com o estabilizante Homy solo GB® e cal, em In natura 9,6x10-8 -
0,655 9,4x10-8
todas as dosagem estudadas, apresentaram 1% cal 0,62 6,5x10 -7
4,9x10-7 5
aumento de permeabilidade, variando de 2 a 6 1% cal 0,636 3,3x10-7
- -6
vezes, de forma similar ao Barreiras, porém 3%cal 0,666 1,6x10
2,1x10-6 23
3% cal 0,704 2,7x10-6
com aumento menos significativo -7
- 0,659 6,6x10
Apenas a inserção de cal já produziu um 4,6x10-7 5
- 0,602 2,6x10-7
aumento na permeabilidade em valores 1/ 1% cal 0,613 3,9x10 -7

superiores a 5 vezes, sendo que com 3% obteve- 3,8x10-7 4


1000 1% cal 0,614 3,8x10-7
se um aumento de 23 vezes. De uma forma 3% cal 0,633 3,7x10 -7
3,3x10-7 4
geral, amostras com apenas o produto 3% cal 0,742 3,0x10-7
-6
apresentaram menores aumentos nos valores de - 0,564 1,8x10
1,8x10-6 19
- 0,595 1,8x10-6
k médio, excetuando a concentração com 1: -7
1/ 1% cal 0,670 1,6x10
1500, que parece ter resultados anômalos. 1,6x10-7 2
1500 1% cal 0,709 1,7x10-7
Curiosamente observou-se que em amostras 3% cal 0,706 4,6x10 -7
5,5x10-7 6
tratadas com o estabilizante químico ocorreu 3% cal 0,691 6,4x10-7
-7
uma diminuição no índice de vazios do corpo - 0,556 3,2x10
2,5x10-7 3
de prova, sendo mais expressiva com a - 0,523 1,8x10-7
-7
diminuição da quantidade de produto. Isso 1/ 1% cal 0,647 7,2x10
5,6x10-7 6
2000 1% cal 0,648 4,0x10-7
ocorreu para os dois solos, porém as causas 3% cal 0,690 5,5x10 -7
desse fenômeno não foram compreendidas ao 5,5x10-7 6
3% cal 0,646 5,6x10-7
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1,0E-5
solo natual
Solo 1% cal
Solo 3% cal
Solo 1:1000 Homy_solo
1,0E-6 Solo 1:1000 1% cal
Solo 1:1000 3% cal
k (cm/s)

Solo 1:1500 Homy_solo


Solo 1:1500 1% cal
Solo 1:1500 3% cal
1,0E-7
Solo 1:2000 Homy_solo
Solo 1:2000 1% cal
Solo 1:2000 3% cal
Kmédio – Solo natural
1,0E-8
0,45 0,5 0,55 0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85
ÍNDICE DE VAZIOS

Figura 4 – Comparação do coeficiente de permeabilidade para o solo Barreiras natural e tratado quimicamente.

Acredita-se que a redução no coeficiente de mais pronunciada no solo Granulito. A


permeabilidade seja resultado da troca de íons diminuição da condutividade deve-se,
entre o estabilizante (Homy Solo GB® + cal) e provavelmente, à fixação dos íons no solo e
o solo que provoca a redução de espessura da menor lixiviação dos mesmos.
camada dupla e consequentemente a floculação. As Figuras 7 e 8 apresentam os valores de
Nas Figuras 5 e 6 são apresentados os pH medidos nas amostras de água percolada no
resultados de condutividade elétrica para a água ensaio de permeabilidade. O pH médio do solo
percolada dos ensaios de permeabilidade nos Barreiras é de 7,4 e para o solo Granulito 7,3
solos Barreiras e Granulito. O solo Barreiras observa-se que em ambos os solos a adição do
apresentou condutividade elétrica de 535,1 estabilizante tende a elevar o pH do solo
scm e o solo Granulito 832,95 scm. É tornando-o básico. Resultado que era esperado
possível notar uma tendência, para os dois visto que a cal adicionada ao solo é uma base e
solos, de aumento da permeabilidade com a o produto Homy solo GB® também.
redução da condutividade elétrica, de forma

Figura 5 – Resultados ensaios de condutividade elétrica e permeabilidade solo Barreiras.


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1000

900
Efluente solo Natural
Condutividade eletrica (μs/cm)

800 Efluente solo 1% cal


Efluente solo 3%cal
700
Efluente solo 1:1000 Homy solo
600 Efluente olo 1:1000 1% cal
Efluente solo 1:1000 3% cal
500
Efluente solo 1:1500 Homy solo
400 Efluente solo 1:1500 1% cal
Efluente solo 1:1500 3% cal
300
Efluente solo 1:2000 Homy solo
200 Efluente solo 1:2000 1% cal
1,0E-08 1,0E-07 1,0E-06 1,0E-05 Efluente solo 1:2000 3% cal
k (cm/s)

Figura 6 – Resultados ensaios de condutividade elétrica e permeabilidade solo Granulito.

Figura 7 – Resultados ensaios de pH e permeabilidade solo Barreiras.

Figura 8 – Resultados ensaios de pH e permeabilidade solo Granulito.


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5. CONCLUSÃO quimicamente – uma abordagem experimental”, 19°


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Fontes, M. P. F., Camargo, O. D., Sposito, G.
O tratamento dos solos Barreiras e Granulito Eletroquímica das partículas coloidais e sua relação
com Homy solo GB® associado à cal interferiu com a mineralogia de solos altamente intemperizados.
de maneira significativa na permeabilidade do Scientia Agricola, v. 58, n.3, p. 627-646, 2001.
solo, aumentando este coeficiente. Para as França, F. C. (2003) Estabilização química de solos para
condições in natura obteve-se coeficiente de fins rodoviários: estudo de caso com o produto RBI
Grade 81. Dissertação de Mestrado em Engenharia
permeabilidade de 1,6x10-7 cm/s e 9,5x10-8 Civil, Universidade Federal de Viçosa. 104 p
cm/s para o Barreiras e Granulito, Loch, F. C. (2013) Barreiras de solos estabilizados com
respectivamente. Para o Barreiras, o aumento da cal e cimento para proteção ambiental. Dissertação
permeabilidade foi significativo, chegando a 29 (Mestrado Geotécnica), Escola de Engenharia de São
vezes na dosagem 1:1500 do Homy Solo GB® Carlos, Universidade de São Paulo, 242 p.
Machado, L. F. M., Cavalcante, E. H., Albuquerque, F.
e 3% de cal (k médio de 4,8x10-6 cm/s). Para a S., Sales, A. T. C., Adição de uma associação
mesma dosagem, o Granulito apresentou polimérica a um solo argilo-arenoso com vistas à
menores aumentos, da ordem de 6 vezes estabilização química de materiais para pavimentos.
(5,5x10-7 cm/s). Revista Matéria, v. 22, n. 3, 2017.
Os resultados encontrados foram divergentes Morandini, T. L. C. (2014) Solos tropicais e bentonita:
análise geotécnica de misturas com ênfase na
das especificações de uso do fabricante que abordagem coloidal, Tese de Doutorado, NUGEO.
garantia a impermeabilização do solo com o uso Programa de Pós-graduação, Escola de Minas. Núcleo
do produto. de Geotécnica, Universidade Federal de Ouro Preto,
O aumento da permeabilidade 240 p..
provavelmente deve-se ao fornecimento de íons Nutting, Perley Gilman. "Physical analysis of oil
sands."AAPG Bulletin 14.10 (1930): 1337-1349
de maior valência pelo produto e pela cal, Oliveira, J. C. S. (2001) Contaminação de Sedimentos
reduzindo a espessura da camada dupla e Argilosos por Combustíveis Automotivos: Problemas
desobstruindo os poros. de Avaliação da Permeabilidade. Tese de Doutorado
em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 116 p.
Ribeiro, R. A. V. (2002) Avaliação do desempenho
AGRADECIMENTOS hidráulico de barreiras de proteção ambiental
produzidas com solo lateríiico arenoso compactado
Os autores agradecem ao apoio financeiro e estabilizado quimicamente. Dissertação (mestrado),
incentivo a pesquisa, fornecidos pela UCSAL, FEIS/UNESP Faculdade De Engenharia Civil de Ilha
FAPESB, empresa ENGPISO e os Solteira, Universidade Estadual Paulista, 82 p.
Silva, Q. A. (2017) Melhoramento químico de dois solos
colaboradores do laboratório de solos da residuais da cidade de salvador: Abordagem
UCSAL. experimental. Trabalho de conclusão de curso.
Universidade Católica do Salvador. UCSAL, 51 p.
Silveira, J. (1979) Estudo da permeabilidade e estrutural
REFERÊNCIAS solo-cal. Rio de Janeiro, Dissertação (Mestrado em
Engenharia), Universidade Federal Rio Janeiro, 1979.
135 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR
14545/00: Solo – determinação do coeficiente de
lpermeabilidade de solos argilosos a carga variável.
Riode Janeiro, 2000.
Bueno, B.S.; Vilar, O.M., Mecânica dos Solos. VOL I,
São Carlos: Universidade de São Paulo – Escola de
Engenharia de São Carlos – Departamento de
Geotécnica, 1984.
Bussamra, H. R. V. Instrução de trabalho de
estabilização com DS-328. São Paulo, 2003.
Carvalho, M. F., Silva, Q. A., Fagundes, A. H. P., Dórea,
R. W. S. (2018) “Solos residuais melhorados
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Avaliação do Comportamento Mecânico de Solo Argiloso com


Inserção de Politereftalato de Etileno (PET) para Aplicação em
Base de Pavimentos.
Bárbara Viapiana de Carvalho
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, baviapiana@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, michele.casagrande@hotmail.com

Raquel Quadros Velloso


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, rqvelloso@gmail.com

Márcio Muniz de Farias


Universidade de Brasília, UNB, Brasília, Brasil, muniz@unb.br

RESUMO: A geração e consumo crescente de garrafas PET representa um grande problema


ambiental, pois estas acabam por serem descartadas inadequadamente na natureza ou ficam
simplesmente estocadas, ocupando grandes áreas. Com o objetivo de atenuar o problema ambiental
e driblar a falta de espaço para estocagem, a presente pesquisa propõe o uso de PET em pó como
material alternativo para camadas de base em pavimentos rodoviários. Para analisar o desempenho
geotécnico do material foram realizados ensaios de caracterização física, compactação e ensaios
Triaxiais Cíclicos do tipo Módulo Resiliente, no solo argiloso e nas misturas de solo com inserção
de PET em pó, nas porcentagens de 20 e 30%. Também se utilizou o programa computacional
SisPav para simular o dimensionamento das camadas do pavimento com o material pesquisado. Os
resultados indicaram que a inserção de PET conseguiu melhorar ou praticamente manter o
comportamento mecânico do solo. Conclui-se então, que a utilização de PET como material
alternativo em base de pavimentos rodoviários é tecnicamente viável e representa uma ótima
solução ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentos Rodoviários, politereftalato de etileno (PET), Ensaios traixiais


Cíclicos.

1 INTRODUÇÃO Dentre alguns materiais já pesquisados podem-


se citar: resíduo de construção e demolição,
O reaproveitamneto de resíduos oriundos de resíduo sólido urbano, borracha de pneus
diversos setores da indústria nas obras de inservíveis, cascalho de perfuração, cinza de
engenharia é uma vertente que tem ganhado carvão e escória de jateamento.
força nos últimos anos, em especial pela difusão É sabido que muitas vezes o solo natural de
do conceito de desenvolvimento sustentável. uma determinada região não atende as
Neste âmbito, a geotecnia de pavimentos vem especificações necessárias para que o mesmo
estudando também a aplicação de resíduos seja utilizado em base e/ou sub-base de um
como material alternativo para suas estruturas. pavimento, sendo necessário um melhoramento
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ou uma estabilização do mesmo. Desta forma a esse plástico amolece, se torna fluido e pode ser
inserção dos resíduos estudados busca cumprir novamente moldado. Este polímero foi
esta função (Vizcarra, 2010). Ainda que o solo desenvolvido em 1941, por John Rex Whinfield
seja apropriado para utilização em base e/ou e James Tennant Dickson, e era aplicado
sub-base, a introdução do resíduo pode ser uma inicialmente na indústria textil. Somente na
alternativa, desde que não piore as década de 70 foi que se iniciou a produção das
características mecânicas do solo, promovendo primeiras garrafas PET (Romão, et al, 2009).
outros benefícios como redução de custos e Devido a suas propriedades mecânicas,
disposição final adequada do resíduo. térmicas e custo de produção, o PET passou a
Motivada pela necessidade de oferecer uma ser um dos termoplásticos mais produzidos no
destinação mais nobre para os resíduos mundo, atingindo uma produção em torno de
compostos por garrafas PET, o qual é gerado 2,4x1010 kg (Romão, et al, 2009).
em quantidade cada vez maior por conta do Uma das principais finalidades do PET é a
aumento na produção e consumo deste material fabricação de embalagens. No Brasil 71% do
pela sociedade, esta pesquisa propõe a inserção PET é destinado para este setor, sendo 32%
de PET em pó, em um solo argiloso do Distrito pertencente à indústria alimenticia (Romão, et
Federal, para aplicação como material al, 2009).
alternativo em camada de base de pavimentos. Devido a grande produção e aplicação deste
Pesquisas na área de pavimentos utilizando o polímero, e devido ao tempo de degradação
resíduo de PET foram desenvolvidas por Arao relativamente longo, o PET é considerado um
(2016), Queiroz (2016) e por Alzate (2017), os vilão ambiental por ocupar grande parte dos
quais avaliaram o comportamento de misturas aterros. Do total de resíduos sólidos urbanos
asfálticas adicionadas com PET triturado. Arao (RSU) gerados no Brasil, 20% é composto por
analisou misturas do tipo CBUQ, Queiroz polímeros, sendo o PET o segundo mais
avaliou misturas asfálticas porosas, enquanto encontrado dentro desta porcentgem (Romão, et
Alzate estudou o desempenho de misturas do al, 2009). Sendo assim, é de extrema
tipo MSC-19. Em todas as pesquisas o PET foi importancia a reciclagem do PET, pois esta
introduzido via processo seco e resultou em oferece muitas vantagens, como por exemplo,
uma melhora nos parâmetros mecânicos da redução do volume de lixo nos aterros,
mistura asfáltica. economia de petróleo e energia de produção e
O PET foi estudado também por Louzada ainda a geração de riqueza e emprego.
(2015), entretanto, sua pesquisa não foi voltada Segundo a ABIPET (2012), a taxa de
para pavimentação. Louzada buscou avaliar o reciclagem do pet no Brasil é de 51%. Os flocos
uso do PET, em pó e triturado, como reforço de (flakes) da garrafa moída são a forma
solos. Sendo assim, sua pesquisa avaliou o preferencial para quem vai usar o material
comportamento estático de msituras de reciclado na produção de um novo artigo,
diferentes tipos de solo (areia, argila e representando 65%, seguido dos fardos de
bentonita) com diferentes teores de PET. Os garrafa, 25%, e do granulado de PET, 10%.
resultados encontrados pela autora foram Grande parte do PET reciclado é aplicada na
favoráveis a aplicaçao do resíduo para o fim indústria textil, outra parte é destinada a
desejado. produção de resinas alquídicas e o restante é
usado na fabricação de novas embalagens não
1.1 Politereftalato de Etileno (PET) alimentícias, laminados, chapas, fitas e tubos
(ABIPET, 2012). É impotante salientar que os
O Politereftalato de Etileno (PET) é um produtos fabricados com PET reciclado
polimero termoplástico, isto significa que possuem limitação de aplicação, não sendo
quando aquecido a temperaturas adequadas, utilizados em embalagens de bebidas, alimentos
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e fármacos por possibilidade de contaminação Existe também um modelo, denominado


(Romão, et al, 2009). Composto, que relaciona o módulo de
resiliência à tensão confinante e tensão desvio
1.2 Modulo de Resiliência (Equação 4). Este modelo vem sendo muito
utilizado nos últimos anos por se adaptar
Segundo Medina e Motta (2015), resiliência melhor a materiais de granulometrias diversas.
significa “energia armazenada num corpo Por esta razão também foi o modelo adotado
deformado elasticamente, a qual é devolvida nesta pesquisa.
quando cessam as tensões causadoras das k3
M R  k1 . 3 2  d
k
deformações”. Sendo assim o módulo de (4)
resiliência representa a relação entre a tensão
aplicada e a deformação resiliente ou
recuperável (Equação 1). 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

d 2.1 Materiais Utilizados


MR  (1)
r
O solo argiloso laterítico (Figura 1) é
proveniente do Campo Experimental de
Onde: Fundações e Ensaios de Campo do Programa de
MR: módulo de resiliência (MPa); Pós-graduação da Universidade de Brasília,
σd: tensão desvio cíclica (σ1 - σ3) (MPa); situado no Campus Universitário Darcy Ribeiro,
εr: deformação resiliente (vertical). na Asa Norte do Plano Piloto de Brasília, no
Distrito Federal.
O módulo resiliente pode ser determinado
por meio do ensaio de cargas repetidas, no qual
se aplica uma carga de compressão intermitente,
com frequência constante, ao corpo de prova.
Em conjunto com as cargas de compressão
também são aplicadas tensões confinantes. Este
ensaio busca se aproximar das solicitações reais
de campo.
Para cada material ensaiado o módulo de
resiliência pode ser expresso por um modelo
matemático que é função do estado de tensões Figura 1. Solo do Campo Experimental da UnB (2018).
ao qual foi submetido o corpo de prova. Solos
O pó de PET utilizado é resultante da
arenosos tendem a se comportar segundo um
moagem de garrafas PET e possue partículas
modelo dependente da tensão confinante
com dimensões inferiores a 0,42 mm (Figura 2).
(Equação 2), enquanto que solos argilosos
apresentam comportamento mais dependente da
tensão desvio (Equação 3).

M R  k1. 3
k2
(2)

M R  k1 . d
k2
(3)

Sendo:
Ki constante de regressão do modelo.
Figura 2. Pó de Pet.
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Louzada (2015) utilizou o mesmo pó de PET Com o objetivo de caracterizar o solo puro
em sua pesquisa, executando em seu estudo foram realizados ensaios de análise
ensaios de Espectrometria de fluorescência de granulométrica, segundo a norma NBR
Raios-X por Energia Dispersiva (EDX), para 7181/84, ensaio para determinação do peso
determinação da composição química do específico dos grãos, realizado por meio do
material, bem como ensaios para determinação equipamento Pentapycnometro e ensaio de
dos índices físicos. Os resultados destes ensaios Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade, de
seguem apresentados na Tabela 1 e 2, acordo com as normas NBR 6459/84 e NBR
respectivamente. 7180/84, respectivamente. Também foi
realizado o ensaio de Mini-MCV, seguindo a
Tabela 1. Composição química do Pó de PET. metodologia MCT, para classificação de solos
Elemento Químico Quantidade (%) tropicais.
Enxofre (S) 0,223
O ensaio de compactação seguiu a norma
Silício (Si) 0,198
Cloro (Cl) 0,017 DNER-ME 228/94 e foi executado na energia
Cálcio (Ca) 0,015 intermediária. Já os ensaios de Módulo de
Ferro (Fe) 0,013 Resiliência foram realizados de acordo com a
Túlio (Tm) 0,006 norma americana AASHTO T 307-99,
Cobre (Cu) 0,003 utilizando os pares de tensões (confinante e
Carbono (C) 99,524
desvio) descritos para materiais de base e sub-
Fonte: Louzada, 2015.
base de pavimentos. Estes ensaios foram
Tabela 2. Índices Físicos do Pó de PET. executados no equipamento triaxial cíclico do
Índices Físicos Pó de PET INFRALAB da Universidade Federal de
Peso específico (Gs) 100 Brasília (Figura 3).
Coeficiente de Uniformidade (Cu) 14
Coeficiente de Curvatura (Cc) 4,6
Diâmetro Efetivo (D10) 0,01 mm
Diâmetro nominal (D50) 0,12 mm
Índice de Vazios mínimo 0,69
Índice de vazios máximo 1,27
Fonte: Louzada, 2015.

2.2 Metodologia

A metodologia do projeto consistiu em avaliar


primeiramente o solo puro e depois as misturas
de solo com inserção de PET em pó, nas
porcentagens de 20 e 30%, em peso seco de
solo.
As nomenclaturas usadas neste estudo, que
descrevem os materiais e misturas, estão
apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3. Nomenclatura referente a cada material/mistura. Figura 3. Equipamento Triaxial Cíclico da marca ELE
Material Solo Pó de PET International Limited England.
Nomenclatura
ou Mistura (%) (%)
Solo 100 0 SP Nas misturas com pó de PET (S70P30 e
Mistura 1 80 20 S80P20 S80P20) foram realizados ensaios de Limite de
Mistura 2 70 30 S70P30
Liquidez e Plasticidade, Compactação e Módulo
Resiliente, seguindo as normas já citadas.
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Ao final da caracterização física e mecânica classificado como LG’, de comportamento


dos materiais procedeu-se ao dimensionamento laterítico-argiloso.
de uma rodovia, pelo método mecanístico- A curva de compactação do solo puro
empírico, com a utilização do programa indicou um valor de umidade ótima de 19,8% e
computacional SisPAV (Franco, 2007). um peso específico aparente seco máximo de
16,8 kN/m³ .
Com relação às misturas pode-se afirmar que
3 RESULTADOS E ANÁLISES a inserção de pó de PET no solo, provoca uma
redução no peso específico real dos grãos. Essa
Com base nas análises granulométricas, variação em função do teor de pó de PET pode
verifica-se que o solo estudado é composto em ser visualizada na Figura 5.
sua maior parte por fração argila, representando
47,4%, seguido por 30,5 % de areia e 22,1 % de
silte. A curva granulométrica do solo estudado
segue apresentada na Figura 4. Na mesma figura
também se encontra a curva granulométrica do
pó de PET usado na pesquisa.

Figura 5. Variação do peso específico real dos grãos com


o teor de pó de PET.

Quanto aos limites de consistência é possível


perceber que a inserção do pó de PET reduziu o
limite de liquidez para ambas as misturas
estudadas. Já para o limite de plasticidade
Figura 4. Curva granulométrica do solo puro e do pó de verifica-se que a adição de 20% de PET
PET. conduziu a um aumento deste parâmetro e que a
adição de 30% tornou a mistura não plástica.
O peso específico real dos grãos do solo As variações dos limites de consistência seguem
puro, obtido no pentapycnometro, foi de 2,70 apresentadas na Figura 6.
g/cm³. Quanto aos limites de consistência foi
encontrado um valor de Limite de Liquidez de
42% e um valor de Limite de Plasticidade de
27%, resultando em um Índice de Plasticidade
de 15%.
A partir dos resultados dos ensaios de
granulometria e limites de Atterberg, foi
possível classificar o solo de acordo com a
Classificação TRB, em um material argiloso,
pertencente ao grupo A-7-6 e com Índice de
grupo igual a 10. Este material é considerado de
comportamento regular a mau para aplicação
em pavimentos. Figura 6. Variação dos Limites de Atterberg com o teor
A classificação MCT forneceu os seguintes de pó de PET.
parâmetros: c’=1,92; d’=134; e’=0,89. O solo é
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Na caracterização mecânica é possível estudado se ajusta bem ao modelo depentente da


observar que a mistura com 20% de pó de PET tensão desviadora (σd) e ao modelo composto.
sofreu uma redução de 5,5% em termos de Entretanto, nas misturas com o pó de PET apenas
umidade ótima e de 10,7% em termos de peso o modelo composto traduz bem o comportamento
específco aparente seco máximo, enquanto que do material. As constantes de regressão obtidas
a mistura com 30% de pó de PET sofreu por este modelo estão apresentadas na Tabela 5.
redução de 9,1% em termos de umidade ótima e
Tabela 5. Valores das constantes de regressão do Modelo
de 15,5% em termos de peso específco aparente
Composto para cada material.
seco máximo. As curvas de compactação do Material ou mistura k1 k2 k3
solo e das misturas podem ser visualizadas na SP 244.503 0.100 0.263
Figura 7, assim como os valores de umidade
S80P20 181.995 0.816 -0.807
ótima e peso específico aparente seco máximo
de cada material seguem apresentados na S70P30 45.523 0.160 -0.409
Tabela 4.
Nas Figuras 8 a 10 estão apresentadas as
superfícies, no espaço tridimensional (σ3, σd x
MR), para as tensões aplicadas, que foram
geradas por ajustes baseadas no modelo
composto. Por meio destas superfícies é
possível prever o Módulo Resiliente para
diversas combinações de tensão confinante e
desvio conhecidas.

Figura 7. Curvas de compactação do solo puro e das


misturas com 20% e 30% de pó de PET.

Tabela 4. Valores de umidade ótima e peso específico


aparente seco máximo para cada material.
Material ou Mistura wotm (%) dmax (kN/m³)
SP 19,8 16,8
S80P20 18,7 15,0 Figura 8. Gráfico 3D do modelo composto do Módulo
S70P30 18,0 14,2 Resiliente do solo puro.

Para determinação do Módulo Resiliente


foram moldados inicialmente três corpos de
prova para cada material (ou mistura) na
umidade ótima e peso específico aparente seco
máximo. Devido à dispersão dos dados e
dificuldade em se encontrar boas correlações,
mais dois corpos de prova de cada material, nas
mesmas condições que os iniciais, foram
ensaiados posteriormente.
A análise dos dados obtidos nos ensaios de
Módulo de Resiliência forneceram constantes de Figura 9. Gráfico 3D do modelo composto do Módulo
regressão que permitem afirmar que o solo Resiliente da mistura S80P20.
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com 20% de pó e PET são superiores aos


módulos resilientes do solo puro.

Figura 10. Gráfico 3D do modelo composto do Módulo


Resiliente da mistura S70P30.

A Figura 11 indica os valores do módulo de Figura 12. Variação do Módulo de Resiliência versus
resiliência em função da tensão desvio. Pode-se tensão confinante.
observar que o solo puro se comporta
diferentemente das misturas, se ajustando bem 3.1 Dimensionamento do Pavimento Típico
mais ao modelo dependente da tensão desvio.
Verifica-se também que é possível ter um ajuste O dimensionamento do pavimento foi realizado
razoável da mistura com 30% de pó, sendo que utilizando o programa SisPav, desenvolvido
para esta mistura os módulos resilientes são pela COPPE/UFRJ. Para tal, foi considerada
superiores aos módulos encontrados no solo uma estrutura do pavimento semelhante à
puro para tensões desvios de até 0,6 MPa. Para apresentada na Figura 13 e com dados de
valores maiores que 0,6 MPa o solo puro tráfego descritos na Tabela 6.
apresenta Módulos Resilientes mais elevados.

Figura 13. Estrutura do pavimento adotada (Fonte:


Vizcarra, 2016).
Figura 11. Variação do Módulo de Resiliência versus
tensão desvio. Tabela 6. Dados do tráfego.
Configuração Rodas Volume/ano Carga (kg)
A Figura 12 apresenta os valores do Módulo 15000
de Resiliência em função da tensão confinante. Eixo duplo 4 8200
25000
Observa-se que menhum material se ajusta bem
ao modelo dependente da tensão confinante. Os dados de clima admitidos foram
Entretanto, nota-se, de modo geral, que os referentes ao da cidade de Brasília. Para cada
Módulos Resilientes encontrados para a mistura material estudado (solo e misturas), foi
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calculada a espessura da camada de base em mecânico do solo puro, para as mesmas


função do período de projeto, as quais seguem condições de projeto. Esta melhora é mais
apresentadas nas Tabelas 7 e 8. acentuada para períodos de projetos mais
longos, chegando a uma redução de 37% da
Tabela 7. Espessura da base em função do Período de espessura da camada de base.
projeto para cada material – Volume/ano de 15000. Também pode ser observado que a adição de
Período de Espessura da camada (cm) 30% de pó de PET, começa a resultar em
projeto (anos) Solo puro camadas de base menos espessas que as
S80P20 S70P30
(SP)
constituídas de solo puro, a partir de um dado
15 10 10 10
valor de período de projeto, ou seja, esta
16 11.15 10 10
mistura pode ser viável dependendo da vida útil
17 14.21 12.29 16.25 para a qual esta sendo dimensionando o
18 19.94 14,58 18.99 pavimento.
19 29.95 19.16 24.12 Constata-se que para um volume de trafego
20 44.97 28.33 33.09 anual menor, 15000, o pavimento pode ter um
período de projeto de até 20 anos, sendo
Tabela 8. Espessura da base em função do Período de necessários 28,33 cm de camada de base
projeto para cada material – Volume/ano de 25000. composta por mistura com 20% de pó de PET,
Período de Espessura da camada (cm) ou 33,09 cm de camada de base composta por
projeto (anos) Solo puro mistura com 30% de pó de PET, valores
S80P20 S70P30
(SP)
menores que a espessura da camada de solo
9 10 10 10 puro.
10 14.37 12.55 15.08 No caso de um volume de trafego maior,
11 25.78 24.42 23.53 25000, um pavimento dimensionado com solo
12 55.72 33.32 37.05 puro na camada de base só consegue atingir um
13 >60 46.66 53.28 período de projeto de apenas 12 anos, sendo
necessária uma camada com espessura de 55,72
O gráfico da Figura 12 ilustra os dados cm, enquanto que, pavimentos compostos por
apresentados nas Tabelas 7 e 8. mistura com pó de PET conseguiriam atingir 13
anos, sendo as espessuras da base de 46,66 e
53,28 cm, para as misturas com 20 e 30 % de
pó, respectivamente.

4 CONCLUSÕES

Os resultados da pesquisa permitem concluir


que a inserção de PET em pó ao solo argiloso é
tecnicamente viável para aplicação em base de
pavimentos rodoviários com baixo volume de
Figura 14. Variação da espessura da base em função do tráfego.
material e do período de projeto. A adição de 20% de pó de PET possibilitou
uma melhora considerável no comportamento
Nota-se que, no dimensionamento do mecânico do solo, gerando acréscimos nos
pavimento, a mistura com 20% de pó de PET valores de Módulo de Resiliência em torno de
resultou em menores espessuras da camada de 1,5 vezes. Esta melhoria, por sua vez, culminou
base, indicando uma melhora no comportamento em uma redução na espessura da camada de
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base do pavimento, quando da realização do seu Soils Reinforced with Crushed Polyethylene
dimensionamento. Também se constatou que a Terephthalate (PET) Residue. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
adição de 30% de pó de PET pode ser benéfica, Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
a denpender da vida de projeto do pavimento. PUC-Rio, 127 p.
Os resultados obtidos foram satisfatórios, Medina, J., Motta, L. M. G. (2015) Mecânica dos
sendo dependentes do teor de pó adicionado. Pavimentos. 3ª Edição. Editora UFRJ. Rio de Janeiro.
Para se chegar a um teor ótimo, a presente Brasil. 570 p.
Queiroz, B. O. de. (2016). Avaliação do Desempenho de
pesquisa prentende avaliar ainda outras misturas Misturas Asfálticas Porosas Modificadas com
com novas porcentagens de pó de PET. Politereftalato de Etileno (PET).Dissertação de
Também se objetiva estudar misturas com a mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
inserção de PET triturado (granulometria Civil e Ambiental, Universidade Federal da Paraíba,
composta por partículas de até 2 mm) e a fibra 125 p.
Romão, W. Spinacé, M. A. S. De Paoli, M. A. (2009).
de PET, em diversos de teores, de modo a Poli(Tereftalato de Etileno), PET: Uma revisão sobre
determinar o teor e tipo de material que provoca os processos de Síntese, Mecanismos de Degradação
maior influencia nas propriedades geotécnicas e sua Reciclagem. Polímero: Ciência e Tecnologia,
do solo. Vol 19, nº 2, p 121-132.
Vizcarra, G. O. C. (2010). Aplicabilidade de Cinzas de
Conclui-se que do ponto de vista ambiental,
Resíduo Sólido Urbano para Base de Pavimentos.
a utilização do resíduo como material Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
alternativo em pavimentos, representa uma Graduação em Engenharia Civil, Departamento de
excelente solução para a destinação do mesmo, Engenharia Civil, PUC-Rio, 120 p.
bem como para a mitigação de seu potencial
agressivo ao meio ambiente. Além disto, a
inserção de PET ao solo resulta em um menor
volume de solo necessário para construção da
rodovia, ou seja, menor extração de material nas
jazidas, favorecendo ainda mais o meio
ambiente e proporcionando maior economia
para a empresa construtora.

REFERÊNCIAS

ABIPET (Associação Brasileira da Indústria do PET).


(2012). 9º Censo da Reciclagem de PET-Brasil.
Alzate, A. B. (2017). Diseño y evaluación del desempeño
de una mezcla asfáltica tipo MSC-19 con
incorporación de Tereftalato de Polietileno reciclado
como agregado constitutivo. Tese de Mestrado,
Universidad Nacional de Colombia, 129 p.
Arao, M. (2016). Avaliação do Comportamento
Mecânico de Misturas Asfálticas com a Inserção de
Polietileno Tereftalato (PET) triturado. Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
PUC-Rio, 114 p.
Franco, F. A. C. P. (2007) Método de dimensionamento
mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos -
SisPAV. Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, .
Louzada, N. dos S. L. (2015). Experimental Study of
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Avaliação do efeito da salinidade nos processos de sedimentação


e adensamento de um rejeito de fosfato
Ayra Mariane Ferreira Ribeiro
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, ayra.mariane@gmail.com

Iara Santana de Azevedo


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, iarasantanaazevedo@hotmail.com

Eleonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: O conhecimento das características associadas à compressibilidade e ao adensamento


dos rejeitos finos de mineração é indispensável nos projetos de disposição por via úmida,
permitindo uma estimativa mais coerente da vida útil dos sistemas de contenção. Alguns rejeitos
apresentam características associadas ao próprio ambiente de formação da rocha de origem, que
podem influenciar nos processos de sedimentação e adensamento, como é o caso do rejeito de
fosfato, subproduto das rochas fosfáticas formadas em ambiente sedimentar marinho. Neste sentido,
a partir de um programa experimental de laboratório, foi verificada a influência da salinidade no
processo de sedimentação e adensamento de um rejeito de fosfato, oriundo da Mina de Bayóvar,
Peru. Os ensaios de coluna de sedimentação e de adensamento por fluxo induzido (HCT) foram
realizados com o rejeito na configuração original, bem como em amostras com reduzido percentual
de cloretos. O estudo mostrou que a dessalinização eleva os índices de vazios dos rejeitos, ou seja, a
presença de NaCl no líquido contribui para a otimização da sedimentação e adensamento dos
rejeitos, agindo como um floculante e tornando estes materiais mais compressíveis.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de fosfato, Salinidade, Ensaios de laboratório, Compressibilidade.

1 INTRODUÇÃO gerados. Dessa forma, a busca por mais espaço


e novos sistemas de estocagem tornou-se
A mineração é uma atividade fundamental para crucial.
a economia de um país e essencial para o seu Os rejeitos constituídos por materiais finos,
desenvolvimento. A concepção da maioria dos em geral, apresentam características como
produtos utilizados no dia a dia só é possível a difícil sedimentação, alta compressibilidade e
partir dela e, apesar disso, ainda trata-se de um plasticidade significativa, sendo geralmente
longo e oneroso processo. depositados sob a forma de lama. Na fase de
O processo de beneficiamento através do adensamento, o comportamento desse material é
qual se obtém o minério de interesse oposto ao considerado ideal para o sistema de
econômico, também origina produtos sem valor estocagem em barragens, uma vez que dificulta
comercial, os chamados rejeitos. Com a a redução do volume de vazios presentes no
crescente expansão da produção mineral, rejeito, ocupando áreas maiores e levando à
aumentou-se também a quantidade de rejeitos necessidade de construção de novos sistemas de
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contenção. 50 litros, para viabilização do transporte. O teor


Características do material relacionadas ao de sólidos original é em torno de 15 e 16%.
ambiente de formação da rocha de origem, O procedimento experimental tratou
como é o caso do rejeito de fosfato em estudo, inicialmente de caracterizar o rejeito.
oriundo das rochas fosfáticas formadas em Posteriormente, foram realizados ensaios de
ambiente sedimentar marinho, influenciam coluna de sedimentação e HCT em amostras na
diretamente na forma de disposição e configuração original e com teor reduzido de
armazenamento desses rejeitos. cloretos. Através dos dados obtidos, foi
Nesse sentido, a partir de um programa realizada uma avaliação do efeito da salinidade
experimental de laboratório, são abordados na sedimentação e no adensamento do rejeito.
ensaios com o intuito de avaliar a influência da
salinidade no processo de sedimentação e 2.2 Caracterização do Rejeito
adensamento de um rejeito fino composto por
fosfato de baixíssima densidade. Estes rejeitos 2.2.1 Teor de Sólidos
contém relativa composição de cloretos
resultantes do processo de beneficiamento e Após a chegada ao laboratório, inicialmente,
dissolvidos na própria matriz rochosa. Os foram determinados os teores de umidade
ensaios de coluna de sedimentação e de iniciais e calculados os respectivos sólidos das
adensamento por fluxo induzido (HCT) foram amostras. A determinação dos teores de
realizados com o rejeito na configuração umidade foi realizada convencionalmente
original, bem como em amostras com reduzido através da estufa, constatando-se teores de
percentual de cloretos. sólidos entre 13,1% e 15,5% (Tabela 1).
O conhecimento dos mecanismos de
sedimentação e adensamento do material Tabela 1. Teores de umidade (w) e de sólidos (ψ) das
implica na possibilidade de projetos com bombonas de rejeito
otimização de estocagem, acarretando maior Bombona w (%) (%)
economia e menor impacto ao meio ambiente. B-01 592,2 14,45
B-02 661,1 13,14
B-03 601,3 14,26
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL B-04 590,3 14,49
B-05 543,8 15,53
2.1 Local de Estudo B-06 662,1 13,12

O estudo consistiu de ensaios realizados no 2.2.2 Massa Específica dos Grãos


Centro Tecnológico de Geotecnia Aplicada
(CTGA) do Núcleo de Geotecnia da Escola de A massa específica dos grãos foi determinada
Minas (NUGEO). de acordo com a norma ASTM D-854 (ASTM,
As amostras ensaiadas são provenientes de 2014). Os rejeitos em estudo são compostos por
rocha sedimentar marinha, oriundas da Mina de uma parte de sílica, associadas a diatomitas
Bayóvar, no Peru. A polpa lançada em tanques (fosseis marinhos silicáticos), observados na
de armazenamento é constituída da parte fina do Figura 1, resultando em baixos valores de massa
rejeito e de água salgada. específica dos grãos. Com o conhecimento das
A amostragem para o presente estudo foi massas específica dos grãos, obtidas e
realizada diretamente do sistema de lançamento. calculadas especificamente para cada uma das
Dessa forma, procurou-se preservar o teor de bombonas, tornou-se possível a determinação
sólidos inicial do material. O armazenamento dos índices de vazios iniciais das amostras de
foi feito em seis bombonas com capacidade de cada um dos recipientes (Tabela 2).
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que se enquadre nesse intervalo. Com os dados


obtidos, um software específico processa os
resultados e apresenta a curva de distribuição
granulométrica do material. Estudos recentes
com o uso do granulômetro a laser têm
comprovado a sua eficiência para alguns tipos
de solos e rejeitos (OLIVEIRA ET AL., 2016).
O ensaio foi realizado considerando quatro
condições, para o rejeito da bombona B-02: sem
o uso do dispersante químico e/ou físico
(somente agitação), com o uso do dispersante
químico (hexametafosfato de sódio) somente,
com o uso somente do sonar (uma espécie de
dispersor sônico), com o uso do
hexametafosfato e do sonar, simultaneamente.
Constatou-se que os melhores resultados
foram obtidos com o uso do sonar e que a
Figura 1. MEV do rejeito de fosfato - aproximação de utilização do defloculante no ensaio não foi
2000 vezes relevante na amostra. A partir da curva
granulométrica gerada com o uso do sonar é
Tabela 2. Massa específica dos grãos (ρs) e índices de possível notar que o rejeito, foco deste estudo,
vazios de lançamento (e)
apresenta uma composição de aproximadamente
Bombona (ρs) (g/cm³) e
8% de fração argila, 86% de silte e 6% de areia.
B-01 2,370 14,04
B-02 2,306 15,67
B-03 2,434 14,25 2.2.4 Limites de Consistência
B-04 2,439 13,99
B-05 2,503 12,88 A NBR-7180 (ABNT, 2016) foi utilizada para a
B-06 2,380 15,69 realização dos ensaios de limite de plasticidade.
O limite de liquidez foi realizado de acordo
2.2.3 Análise Granulométrica com dois métodos: o primeiro com o uso do
Aparelho de Casagrande, conforme a NBR-
A granulometria foi realizada por meio do 6459 (ABNT, 2017), e o segundo pelo do Cone
granulômetro a laser. O aparelho fornece o de Penetração, baseado na BS-1377 (BSI,
tamanho das partículas por difração a laser, com 1975). Os resultados são apresentados na
precisão que pode chegar a 0,0001 mm. Os Tabela 3.
ensaios foram executados no Mastersizer 2000,
do CTGA/NUGEO. Tabela 3. Limites de consistência do rejeito
O equipamento determina a quantidade LLABNT LLBS LP IP
Ensaio
correta da concentração das partículas pela (%) (%) (%) (%)
medição da quantidade de luz do laser perdida 01 75 87 40 35
ao passar pela amostra. Tal efeito é conhecido 02 74 85 41 33
como ‘obscurecimento’, cuja saída é
apresentada em porcentagem. A faixa de Os limites de liquidez obtidos segundo a
obscurecimento aceitável para o ensaio deve norma brasileira e a norma britânica apresentam
estar contida no intervalo de 10 a 30%. A resultados diferentes. Tal fato pode ter
amostra deve ser acrescentada ao sistema até associação com a pequena quantidade de argila
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1000
presente na amostra. Os ensaios realizados com
900

Interface sobrenadante (mL)


o uso do Aparelho de Casagrande apresentaram 800
trabalhabilidade mais limitada da amostra 700
quando comparado ao outro método. 600
500
400
2.3 Ensaio de Coluna de Sedimentação 300
200
Os ensaios de colunas de sedimentação são 100
geralmente realizados em equipamentos de 0
0 5000 10000 15000 20000
grandes dimensões ou mesmo provetas Tempo (min)
convencionais, corriqueiramente usadas nos Figura 2. Curva média de sedimentação em coluna
ensaios de Mecânica dos Solos. Além das
características associadas ao processo de 2.4 Ensaio HCT
deposição dos rejeitos finos, os ensaios podem
também ser aplicados na determinação indireta O ensaio HCT (Hydraulic Consolidation Test) é
da permeabilidade destes materiais (SILVA, baseado no princípio do adensamento pela força
2008). de percolação, sendo proposto por Imai (1979).
Os ensaios de coluna de sedimentação foram O experimento consiste na submissão de um
realizados com o objetivo de avaliar a corpo de prova ao fluxo induzido, ficando este
sedimentação do rejeito de fosfato em sua sujeito a forças de percolação, que serão
configuração original, bem como visualizar as responsáveis pelo adensamento, que ocorre,
condições de deslocamento da interface água neste caso, para baixos níveis de tensão efetiva.
sobrenadante/lama. O equipamento utilizado para o ensaio do
Os ensaios foram realizados em duas Laboratório de Geotecnia da UFOP foi
provetas, concomitantemente, no teor de sólidos implementado por Botelho (2001) e modificado
utilizado na disposição dos rejeitos (entre 14 e por Cançado (2010).
15%). As colunas foram deixadas em repouso O ensaio foi realizado com os rejeitos
durante 10 dias. Os resultados demonstram que provenientes da bombona 2, com o teor de
o tempo de estabilização da interface foi sólidos original. Os parâmetros constitutivos,
alcançado somente após 7 dias, o que exprime a obtidos através da simulação computacional
baixa velocidade de sedimentação apresentada realizada no SICTA (Abu-Hejleh e Znidarcic,
pelo rejeito. 1992), são expostos na Tabela 4. A partir da
A Figura 2 destaca a representação gráfica Equação 1 (Liu e Znidarcic, 1991), construiu-se
das curvas de interface rejeito/água, baseada na a curva de compressibilidade (Figura 3).
média de sedimentação entre elas. A curva
média foi proposta em função da proximidade Tabela 4. Parâmetros constitutivos obtidos no ensaio
entre os resultados das duas provetas. HCT
Parâmetro Rejeito (bombona B-02)
A 16,13599
B -0,54376
Z (kPa) 5,74037
C (m/s) 4,6679 x10-9
D 1,12944
e = A(’ + Z) (1)
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7 (curva já apresentada). Pela impossibilidade da


6 obtenção, com precisão, dos mesmos teores de
5 sólidos utilizados na sedimentação em coluna
com as amostras originais do rejeito, foi
Índice de vazios

3
estabelecida uma relação, ajustada através de
uma função polinomial, entre os teores de
2
sólidos iniciais e as alturas finais (divisão da
1
proveta) da interface rejeito/água sobrenadante
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
(Figura 4). Os teores de umidade iniciais de
Tensão efetiva (kPa) cada proveta foram também plotados na mesma
Figura 3. Curva de compressibilidade do rejeito curva, obtendo-se um ajuste polinomial com as
alturas finais (água sobrenadante). As equações
de ajuste obtidas possibilitam a determinação
3 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA das alturas da interface rejeito/água para
SALINIDADE quaisquer teores de sólidos utilizados, dentro da
faixa analisada.
A presença de cloretos no rejeito pode causar
interferência em seu processo de sedimentação Teor de umidade inicial (%)
200 300 400 500 600 700
e adensamento. Para verificar tal fato, realizou- 1000
se um processo de dessalinização em 900
800
laboratório de uma amostra parcial da polpa de
Interface final

700
rejeitos extraída de uma das bombonas. 600
500
Esta redução foi realizada fisicamente, 400 y = 37,564x - 96,202 y = 0,0031x2 - 4,0855x + 1788,9
através da substituição progressiva, ao longo de 300 R² = 0,9969 R² = 0,997
200
vários dias, da água salina presente no rejeito 100
por água destilada. Dessa forma obteve-se uma 0
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
amostra com teor de cloretos 40 vezes menor do Teor de sólidos inicial (%)
que a medida na amostra original. Um Figura 4. Relação teor de sólidos inicial (i e teor de
recipiente foi utilizado, onde o rejeito era umidade inicial (wi versus interface final rejeito/água
deixado em sedimentação durante dias e, sobrenadante
posteriormente, a água sobrenadante era
substituída por água destilada. Este processo foi Com efeito, a literatura técnica aborda a
repetido quatro vezes (PEREIRA, 2017). influência da salinidade na floculação e,
A verificação do percentual de redução dos consequentemente, na sedimentação das
cloretos presentes na amostra foi realizada por partículas. Por exemplo, Ramos (2013), em
meio da análise do líquido presente na amostra estudo do efeito da salinidade sobre a
dessalinizada e na amostra original. O velocidade de queda de sedimentos finos de
procedimento foi realizado pelo Laboratório de uma bacia portuária, destaca que, na água
Saneamento Ambiental da Escola de Minas da salgada, encontram-se presentes íons
UFOP, considerando a metodologia proposta eletropositivos fortes de sódio, Na+. A ionização
por Greenberg et al. (1992), voltada para destes cátions adsorvidos na superfície das
análises de águas de rios. partículas de argila é muito forte e, em elevadas
Com as amostras já dessalinizadas, concentrações, pode conduzir a uma grande
inicialmente, foram realizados os ensaios de ocupação na camada Stern, reduzindo o
coluna de sedimentação para 4 teores de sólidos potencial Stern e, por sua vez, o potencial Zeta.
aleatórios, ao longo 13 dias, para posterior Neste sentido, vão existir mais forças atrativas,
comparação com o rejeito original sedimentado que formarão nuvens de íons positivos em torno
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das partículas. Ao haver colisões entre as permanece praticamente constante para todos os
partículas coesivas, estas, por sua vez, vão níveis de tensão. Desta forma, observa-se mais
flocular. uma vez que o processo de dessalinização eleva
Além do ensaio de sedimentação, foi os índices de vazios dos rejeitos, ou seja, a
realizado um novo ensaio HCT com bomba de presença de NaCl no líquido contribui para a
fluxo, utilizando a mesma amostra otimização da sedimentação e adensamento dos
dessalinizada. Os parâmetros relacionados à rejeitos, agindo como um floculante e tornando
amostra dessalinizada, obtidos através da estes materiais mais compressíveis.
simulação computacional, são expostos na
Tabela 5. Após a obtenção da curva de
compressibilidade, esta foi comparada àquela 4 CONCLUSÕES
obtida para a amostra original (rejeitos obtidos
em condições naturais, coletados diretamente no Tratando-se do efeito da salinidade, constatou-
ponto de descarga). Esta comparação é se que a presença de NaCl no líquido auxiliou
mostrada na Figura 5. na melhoria do processo de sedimentação e
adensamento dos rejeitos.
Tabela 5. Parâmetros constitutivos obtidos para a Além da influência da concentração de
amostra dessalinizada partículas, a influência da salinidade do rejeito
Parâmetro Rejeito dessalinizado foi verificada como possibilidade interferência
A 9,68521 no processo de sedimentação. O mesmo
B -0,25552 comportamento observado nos ensaios de
Z (kPa) 2,60144 sedimentação em coluna, para a amostra
C (m/s) 2,7613x10-12 dessalinizada, também foi notado nos ensaios
D 6,33697 HCT com bomba de fluxo.
Observou-se que o processo simplificado de
9 dessalinização não contribui para a otimização
Original do adensamento e compressibilidade do rejeito.
8
Dessalinizada
7 Pelo contrário, os ensaios mostraram que os
6 cloretos presentes no rejeito agem como uma
Índice de vazios

5 espécie de floculante, tornando estes materiais


4
mais compressíveis.
3
2
1
0
AGRADECIMENTOS
0,01 0,1 1 10 100 1000
Tensão efetiva (kPa)
Os autores agradecem ao NUGEO, a UFOP e a
Figura 5. Comparação entre as curvas de CAPES, pelo apoio e colaboração constantes, e
compressibilidade da amostra original e da amostra
dessalinizada - ensaio HCT à Companhia Mineira Miski Mayo do Peru, pela
viabilização dos rejeitos e apoio na realização
O mesmo comportamento observado nos da pesquisa.
ensaios de sedimentação em coluna, para a
amostra dessalinizada, também foi notado, tanto
na fase inicial da curva de compressibilidade REFERÊNCIAS
quanto para as etapas de adensamento por fluxo
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
induzido e de carregamento. Quando se Solo – Determinação do limite de liquidez. NBR
compara esta curva às curvas obtidas para a 6459. Rio de Janeiro, 2017, 9 p.
amostra original, a variação de índice de vazios ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
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Caracterização Geotécnica de um Solo do Estado de Mato Grosso


do Sul
Adônis Salgado Froener
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil, adonisfroener@yahoo.com.br

Fabrício Jerônimo Gonzalez Dias


Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil,
fabriciogonzalezdias@gmail.com

José Otavio Serrão Eleutério


Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil,
otavio.eleuterio@ufms.br

RESUMO: Este trabalho apresenta e discute os resultados da caracterização geotécnica de um solo


coletado no campo experimental de fundações da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
campus de Campo Grande - MS. Foram feitos ensaios de caracterização completa (análise
granulométrica, índices de consistência, densidade real e teor de umidade natural). Os parâmetros
geotécnicos de resistência foram obtidos por meio do ensaio de cisalhamento direto sob as condições
inundada e não-inundada, e comparados posteriormente com resultados de ensaios de compressão
triaxiais do tipo CIU (consolidated isotropic undrained) executados no mesmo local. Os resultados
preliminares indicaram valores de ângulo de atrito relativamente baixos, condizentes com o tipo de
solo identificado em sondagens de simples reconhecimento com medidas de SPT executadas na
região.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica, Ensaio de Cisalhamento Direto, Condições


Inundadas e Não-Inundadas, Ensaio Triaxial.

1 INTRODUÇÃO comportamento colapsível, razão pela qual


justifica-se uma avaliação mais completa através
O processo de formação dos solos do clima do da caracterização geotécnica, evitando, assim,
centro-oeste brasileiro é bastante influenciado possíveis equívocos na fase de projeto,
pelas características do clima da região, eliminando problemas durante e após a
resultando em solos porosos, provavelmente construção.
com natureza colapsível, e com um pequeno Resistência ao cisalhamento de um solo é o
percentual de cimentação ocasionado pelo termo usado para se referir à tensão cisalhante no
processo de laterização, comum em regiões de plano de ruptura do solo. A ruptura em si é
clima tropical. No município de Campo Grande, caracterizada pela formação de uma superfície
em específico, há a predominância de latossolos de cisalhamento contínua na massa de solo,
vermelhos, altamente porosos, além de como a que ocorre em escorregamentos de
latossolos roxos e areias quartzosas, em menor taludes. Em outras palavras, existe uma camada
escala (Ribeiro et al. 2017). de solo em torno da superfície de cisalhamento
Solos porosos superficiais, como o que perde as suas características na ruptura
encontrado no município de Campo Grande, (Gerscovich, 2010).
podem apresentar baixa resistência ao Vários são os critérios de ruptura
cisalhamento, combinado com o possível apresentados por diferentes autores ao longo do
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tempo. Estes critérios dependem da natureza do fundações da Universidade Federal do Mato


solo e dos aspectos de comportamento da Grosso do Sul (UFMS), através do ensaio de
estrutura, sobretudo na natureza das cisalhamento direto, e compará-los com os
deformações admissíveis ao longo da vida útil da mesmos parâmetros obtidos pelo ensaio de
obra. O mais frequentemente utilizado na compressão triaxial CIU, proveniente de uma
Geotecnia, por se tratar de uma abordagem mais massa de solo retirada do mesmo campo
completa, é o “critério de Mohr-Coulomb”. O experimental da universidade. Foi constatada
método é uma junção dos critérios de ruptura de diferença entre os resultados obtidos pelos dois
Christian Otto Mohr e Charles Augustin de métodos de ensaio.
Coulomb.
De acordo com Pinto (2006), a ruptura só
ocorre quando os estados de tensão arbitrários da 2 ASPECTOS GEOTÉCNICOS
camada de solo, representados pelo círculo de
Mohr, se igualam a envoltória de resistência de As amostras deformadas e indeformadas
Coulomb, geralmente representada por uma reta. utilizadas nos ensaios foram coletadas no
Desta representação, podemos destacar os dois campus da UFMS, na cidade de Campo Grande
principais parâmetros de resistência ao – MS. O local de interesse de estudo, Campo de
cisalhamento do maciço de solo: o intercepto Fundações, apresenta uma cava com
coesivo e o ângulo de atrito interno, que profundidade de 1 m, onde foram coletadas as
geralmente são expressos em termos efetivos, amostras. Os resultados preliminares obtidos
tendo em vista que a água não apresenta qualquer através de sondagens de simples reconhecimento
resistência ao cisalhamento. com medidas de SPT indicaram presença de solo
Os parâmetros de resistência de uma massa de silte-arenoso superficial, de compacidade fofa,
solo podem ser obtidos por meio de ensaios de com valores de Nspt variando entre 2 a 3 até os
laboratório, sendo os mais utilizados o ensaio de três metros de profundidade. Sotoposta a esta, foi
cisalhamento direto e o ensaio de compressão identificada camada de argila-siltosa até o limite
triaxial. Os valores obtidos por meio desses da sondagem. O perfil geotécnico e a variação do
ensaios são dependentes das condições de número Nspt com a profundidade são
contorno impostas e, para alguns tipos de solo, apresentados nas figuras em continuidade.
função do tempo de duração (Head, 1994). Na
prática corrente de engenharia, sobretudo na
engenharia de fundações, estes parâmetros de
resistência são obtidos, em sua grande maioria,
por meio de correlações que levam em
consideração o número “Nspt” obtido no ensaio
de sondagem padronizado pela ABNT NBR
6484. Uma correta abordagem desse tipo de
metodologia seria possível mediante a execução
de uma quantidade mínima de ensaios de
laboratório, com posterior confronto com os
resultados das sondagens.
Pouco se sabe das características geológico-
geotécnicas do solo estado de Mato Grosso do
Sul, sobretudo no comportamento geomecânico
desses materiais. Este trabalho possui como
objetivo principal obter os parâmetros de Figura 1. Variação do Nspt com a profundidade (Ribeiro
resistência ao cisalhamento de um maciço de et al., 2017).
solo, retirado do campo experimental de
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Figura 2. Perfil Geotécnico da região experimental da Figura 4. Caminho das tensões totais e efetivas (Ribeiro
UFMS (Ribeiro et al., 2017). et al., 2017).

Ribeiro et al. (2017) realizou ensaios de O critério de ruptura de Coulomb fornece uma
compressão triaxial CIU (Consolidated Isotropic “equação de resistência”, que pode ser
Undrained) com três amostras indeformadas do interpretada graficamente como a equação da
mesmo solo em estudo deste artigo, as quais reta envoltória de resistência. Em outras
foram submetidas a três processos: saturação, palavras, este critério pode ser entendido como:
adensamento e cisalhamento. Na fase de “não há ruptura se a tensão de cisalhamento não
adensamento, as amostras foram submetidas a ultrapassar um valor dado pela expressão”:
três pressões confinantes crescentes, de 50 kPa,
100 kPa e 150 kPa. Por fim, na fase final, de τ=c+ σ. tg φ (1)
cisalhamento, as três amostras ficaram sob
tensão confinante constante e sem drenagem de onde c representa o intercepto coesivo, ou
água, medindo-se, em intervalos de tempo, o coesão; σ, a tensão normal atuante e φ pode ser
acréscimo de tensão axial atuante, juntamente definido como o ângulo de atrito interno do solo.
com a deformação vertical do corpo de prova. De acordo com Benjamin & Cruse (1985), c e φ
Alguns gráficos resultantes do ensaio de são características intrínsecas, exclusivas dos
compressão triaxial CIU podem ser vistos a solos, e se o valor da tensão normal (σ) for nulo,
seguir: a resistência ao cisalhamento será dependente
apenas do intercepto de coesão. Essa equação
também pode ser expressa em termos efetivos,
visto que, de acordo com Terzaghi (1943),
somente as tensões efetivas mobilizam
resistência ao cisalhamento. Desta maneira, tem-
se:

τ'=c'+ σ'. tg φ' (2)

onde τ' é a tensão de cisalhamento efetiva


atuante no solo.
Ao se analisar os gráficos acima postos, é
Figura 3. Tensão Desviadora x Deformação sob as três fácil notar que o intercepto coesivo chegou
pressões confinantes (Ribeiro et al., 2017). próximo a zero e o ângulo de atrito efetivo ficou
em ~20°.
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3 METODOLOGIA

3.1 Ensaios de Caracterização

Os ensaios de caracterização foram feitos no


Laboratório de Geotecnia e Transportes da
UFMS, seguindo as recomendações da ABNT,
para os ensaios de Análise Granulométrica
(ABNT NBR 7181/2016), Limite de Liquidez
(ABNT NBR 6459/2016), Limite de Plasticidade
(ABNT NBR 7180/2016) e Determinação da
Massa Específica dos Grãos (ABNT NBR
6458/2016 – Anexo B), tendo como base para o
preparo e cuidado de amostras a norma ABNT Figura 5. Equipamento de cisalhamento direto
NBR 6457/2016. Imperioso registrar que os (Laboratório de Mecânica dos Solos, UFMS).
ensaios de granulometria foram executados sob
as condições com e sem defloculante, com o O equipamento permite a execução do ensaio
objetivo de identificar a distribuição aparente sob velocidade constante, e as leituras da força
dos grãos do solo amostrado. Os resultados tangencial são feitas através da leitura do relógio
provenientes destes ensaios são mostrados na comparador instalado em um anel
tabela 1, logo abaixo: dinamométrico de 3 kN.
Durante o ensaio de cisalhamento direto,
ocorre uma rotação dos planos principais, fato
Tabela 1. Resultado dos ensaios de caracterização. que pode, ou não, ocorrer no solo em seu estado
LL (%) LP (%) natural. Além disso, o rompimento da amostra
40 28,1 pode ocorrer em um plano que não o de menor
resistência.
Para o desenvolvimento deste artigo
Completando os resultados dos ensaios de científico, foram utilizadas seis amostras
caracterização geotécnica, na Tabela 2, logo indeformadas de solo, cada uma com diâmetro
abaixo, seguem os resultados do ensaio de de 60 mm, devidamente lacradas para evitar a
granulometria conjunta, sem o uso de perda de umidade e coletadas no campo
defloculante: experimental de fundações, da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul. Destas seis
amostras, três foram cisalhadas sob tensões
Tabela 2. Distribuição granulométrica da fração de solo. normais na ordem de 10 kPa, 50 kPa e 100 kPa
Areia (%) Silte (%) Argila (%) em seu estado natural (neste estado, as tensões
27 19 54
normais foram de 19,43 kPa, 60 kPa e 100 kPa),
e as restantes foram cisalhadas sob as tensões
normais características, de 10 kPa, 50 kPa e 100
3.2 Ensaio de Cisalhamento Direto
kPa, porém em estado inundado. Nota-se que,
para a realização deste último tipo de ensaio, as
Os ensaios de cisalhamento direto foram feitos
três amostras foram colocadas na caixa de
utilizando o equipamento fabricado pela Wille
cisalhamento e a mesma foi completamente
Geotechnik®, conforme mostra a figura 5:
enchida com água, visando a integral saturação
do corpo de prova.
O efeito de coesão nos solos é um fenômeno
um pouco complexo. Coesão verdadeira pode
surgir entre as partículas constituintes do solo,
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que se refere a tensão entre essas partículas,


resultante da pressão capilar. Contudo, coesão
aparente também pode ocorrer, principalmente
em areias, que, quando saturadas, perdem
completamente essa parcela de resistência
(Pinto, 2006). O intuito de se cisalhar três
amostras em estado inundado, neste artigo, foi o
de se evitar, justamente, o de observar e levar em
consideração o fenômeno de coesão aparente,
que, nas grandes obras geotécnicas, se não for
estudado e mensurado, pode resultar em perdas
significativas.
A seguir, no início e decorrer do ensaio, foi
Figura 6. Comparação das envoltórias de resistência dos
posicionada a devida carga normal que, dividida
estados inundado e não inundado.
pela área constante do CP, resulta em valores de
tensão normal de 10 kPa, 50 kPa e 100 kPa (salvo De acordo com o gráfico acima, é fácil notar
no ensaio em estado seco, como dito acima). Ao que o ensaio sob estado inundado apresentou
se acionar o aparelho de cisalhamento, coesão efetiva de 6,7 kPa e ângulo de atrito
acompanhou-se os valores obtidos nos três anéis interno efetivo de 29⁰. Já o ensaio em estado
dinamométricos: o de carga cisalhante atuante e natural apresentou coesão efetiva de 51 kPa e
deslocamento horizontal e vertical. O máximo ângulo de atrito interno efetivo de 46. Tal
valor de carga, ou seja, o máximo valor diferença pode ser explicada pelo efeito da
indicativo no anel, no instante de ruptura do parcela da sucção inerente aos solos não
maciço, ao ser dividido pela área do CP, indica a saturados. Como visto anteriormente, essa
maior tensão cisalhante que atua na amostra, parcela de sucção atuante em solos não saturados
conforme equação abaixo: independe da tensão normal aplicada ao maciço
𝑃 de solo, por isso a importância de se verificar o
𝜏= (3) oposto, caso de solos saturados. Imperioso
𝐴
lembrar que o mesmo solo, submetido ao ensaio
onde P é a máxima carga cisalhante, indicativa de compressão triaxial, realizado por Ribeiro et.
no anel e A é a área de seção transversal da al. (2017), apresentou intercepto coesivo
amostra, no valor de A = 0,0028 m². próximo de zero e ângulo de atrito interno
efetivo de, aproximadamente, 20⁰. Os gráficos de
“Tensão Cisalhante x Deslocamento Horizontal”
4 RESULTADOS E CONCLUSÕES e “Deslocamento Vertical x Deslocamento
Horizontal”, nos dois estados, podem ser vistos
Os resultados indicaram grande diferença nos a seguir nas figuras 7, 8, 9 e 10:
parâmetros de resistência entre as condições de
ensaio inundado e não-inundado, como pode se
visualizar no gráfico representativo da envoltória
de resistência referente aos dois estados
indicados na figura 6:
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Figura 7. Gráfico Deslocamento Vertical x Deslocamento


Horizontal, no estado seco. Figura 10. Gráfico Deslocamento Vertical x Deslocamento
Horizontal, no estado inundado.

Com isso, ao se cisalhar as três amostras de


solo completamente saturadas, pode-se ver a
importante representatividade desta parcela de
resistência, e o quão importante se faz a sua
determinação em obras geotécnicas, justamente
pela camada de solo saturada perder,
significativamente, seus parâmetros de
resistência.
Comparando-se os dados deste ensaio de
cisalhamento direto com os dados de ensaios de
compressão triaxial, do tipo CIU (Consolidated
Isotropic Undrained), executado com o solo do
Figura 8. Gráfico Tensão Cisalhante x Deslocamento mesmo local de coleta, comprova-se a ligeira
Horizontal, no estado seco. discrepância entre os mesmos, tendo em vista
que o ensaio de cisalhamento impõe,
necessariamente, um plano de ruptura ao corpo
de prova, o qual não necessariamente representa
o estado de tensão de maior fraqueza. Contudo,
ainda é muito utilizado, principalmente por sua
facilidade e praticidade quando do estudo da
estimativa de resistência ao cisalhamento de
solos, se comparado ao ensaio triaxial, que, por
ser mais confiável e completo, requer
aparelhagem mais completa e apresenta maior
grau de dificuldade.

Figura 9. Gráfico Tensão Cisalhante x Deslocamento AGRADECIMENTOS


Horizontal, no estado inundado.
Em primeiro lugar, um agradecimento especial
ao professor e instrutor, Prof. José Otávio Serrão
Eleutério, pela paciência e dedicação em fazer a
arte de ensinar se tornar simples e agradável.
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Um agradecimento especial à acadêmica


Fernanda Nandes Ribeiro, pela imensurável
contribuição e apreço pelo desenvolvimento
deste artigo científico.
A equipe do Laboratório de Geotecnia e
Transportes, da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul também não deve ser deixada de
fora, tendo em vista que disponibilizaram todo o
suporte necessário para os ensaios e realização
deste trabalho.

REFERÊNCIAS

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Caracterização Geotécnica dos Resíduos Oriundos da Lavra do


Feldspato Pegmatítico - Parelhas/RN
Me. Victor Pinheiro da Costa
UFRN, Natal, Brasil, victorpcosta@hotmail.com.br

Dr. Fagner Alexandre Nunes de França


UFRN, Natal, Brasil, fagneranfranca@gmail.com

Dr.a Maria del Pilar Durante Ingunza


UFRN, Natal, Brasil, pilarduranteingunza@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho vislumbra proporcionar uma destinação adequada aos resíduos
oriundos da lavra do feldspato pegmatítico da região de Parelhas/RN por meio da sua inclusão em
obras geotécnicas, reduzindo os impactos ambientais decorrentes de seu acumulo, bem como,
diminuir a necessidade da exploração de bens minerais comumente utilizados na construção civil.
Para tanto, submeteu-se o resíduo estéril do feldspato pegmatítico (REFP) a um processo de
tratamento granulométrico, obtendo um material com 100% passante da peneira n°4 (4,8 mm).
Posteriormente, o REFP foi submetido a ensaios de caraterização física, química, mineralógica e
mecânica em condições saturadas e não-saturadas. Destes ensaios, conclui-se, que o REFP
apresenta-se como uma fonte alternativa de matéria-prima para obras geotécnicas, exibindo bons
comportamentos mecânicos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo da mineração, solos não-saturados, pavimentação, feldspato.

1 INTRODUÇÃO feldspato no mundo. Tais depositos são


formados por rochas ígneas compostas
Os Feldspatos designam um dos grupos de geralmente por 60-70% de feldspato, 25-30% de
minerais mais abundantes na crosta terrestre quartzo, 5-10% de moscovita e 1-2% de outros
(60%), apresentando vasta distribuição minerais (Oba & Ribeiro, 2006), de granulação
geológica. Tal mineral é amplamente utilizado geralmente grossa, muitas vezes exibindo
nas indústrias de cerâmica (revestimento e cristais gigantes, permitindo fácil separação
colorifícios) e vidro, que juntas consomem mais (Luz et al., 2003). No Brasil, seus depósitos
de 90% de todo mineral produzido. Também é encontram-se distribuídos em uma larga faixa
usado como carga mineral e extensor, nas que se estende do Nordeste ao Sul do país
indústrias de tintas, plásticos, borrachas e (Figura 1).
abrasivos leves. A atividade de mineração, como em qualquer
Segundo o Departamento Nacional de processo de extração de recursos naturais,
Produção Mineral – DNPM, a produção provoca impactos ao meio ambiente, seja no
mundial do minério de feldspato cresceu de 8,2 que diz respeito a alterações de áreas naturais
para 21,6 milhões de toneladas nos anos de por meio de sua exploração ou na geração de
1988 a 2014. Atualmente o Brasil responde por resíduos decorrentes principalmente de sua
aproximadamente 1,9% da produção mundial. lavra e beneficiamento.
Os pegmatitos graníticos constituem as Os resíduos sólidos da mineração são
principais fontes comerciais do minério de constituídos por partículas com composições
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granulométricas, mineralógicas e físico- objetivo avaliar os parâmetros geotécnicos,


químicas variadas e diretamente condicionadas mecânicos, químicos e mineralógicos do
às características da jazida e ao processo de resíduo estéril do feldspato pegmatítico (REFP)
exploração e beneficiamento. Assim, os da região de Parelhas/RN, o qual foi
resíduos de mineração podem variar de granulometricamente reduzido, visando sua
materiais granulares não plásticos até solos aplicação em obras geotecnicas, em especial,
muito finos e de elevada plasticidade. aterros compactados.
Tal material se encontra comumente disposto
em forma de pilhas aos arredores da praça da
mina, e seu descarte ocorre devido à presença
de impurezas ou dificuldade de separação do
mesmo com os materiais a ele associado,
inexistindo na região técnicas de concentração
(flotação ou separação magnética) do minério
de feldspato (Luz et al., 2003). Desta forma, tais
resíduos se caracterizam como fragmentos
graníticos com presença de feldspato.

2 MATERIAIS & MÉTODOS

O resíduo analisado foi obtido em meio às


pilhas de descarte da lavra do feldspato
pegmatítico dispostas nas imediações de uma
das frentes de extração localizada na
circunvizinhança do município de Parelhas/RN,
Figura 1. Províncias Pegmatíticas do Brasil (Drummond, o qual se encontra inserido na Região Sudeste
2009). da Província Pegmatítica da Borborema (PPB)
(Figura 2), estando distante 246 km de Natal,
A rigor, o conhecimento do resíduo de
capital estadual do Rio Grande do Norte.
mineração como um material geotécnico é ainda
bastante incipiente e a modelação dos
problemas geotécnicos envolvendo esses
materiais é tipicamente estabelecida a partir de
uma generalização dos princípios clássicos da
Mecânica dos Solos (Gomes & Albuquerque
Filho, 2002).
Partindo do pressuposto que os recursos
minerais são bens esgotáveis e que o setor da
construção civil é responsável pelo consumo de
até 50% de todos os recursos minerais
explorados no planeta (Carvalho, 2013), é
imprescindível o desenvolvimento de técnicas
de reaproveitamento dos resíduos da mineração
na construção civil para que ocorra a
diminuição do uso de bens naturais e o acúmulo
de resíduos, minimizando dessa forma os
impactos causados ao meio ambiente. Figura 2. Localização da Província Pegmatítica da
Deste modo, o presente trabalho tem por Borborema (Miranda, 2012).
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O resíduo estéril do feldspato pegmatitico 2.1 Caracterização física


(REFP) se apresentava, segundo critérios
granulométricos da NBR 6502/95 (Rochas e A caracterização física do resíduo foi realizada
solos), na forma transitória de pedra-de-mão e por meio dos ensaios de determinação da massa
matacão, fragmentos de rochas com dimensões específica dos sólidos (NBR 6508/84 e DNER-
compreendida entre 60 a 200 mm e 200 a 1000 ME 093/094), análise granulométrica conjunta
mm, respectivamente (Figura 3). (NBR 7181/84), determinação dos limites de
Atterberg (NBR 6459/84 e NBR 7180/84) e
compactação do solo (NBR 7182/86)
O resíduo estudado necessitou ser reutilizado
ao longo da pesquisa, fato decorrente das
limitações quanto à quantidade de material
disponível. Dessa forma, perante tal condição,
as amostras de REFP foram submetidos a
análises granulométricas constantes até o
término do processo experimental com a
finalidade de identificar uma possível
fragmentação dos grãos ao longo dos ensaios
com presença de esforços mecânicos.
Circunstância, que pode vir a promover
alteração de suas características mecânica.
Figura 3. Fragmentos do resíduo estéril do feldspato
pegmatítico.
2.2 Caracterização química e mineralógica
A fim de disponibilizar um material
granulometricamente semelhante aos agregados Para realização desse estudo, a amostra (1 kg)
comumente utilizados na elaboração da camada foi submetida a um processo de moagem,
de base (granular) de um pavimento flexível realizada durante 4 horas em um moinho de
(DNIT, 2006), submeteu-se o REFP a um bolas, de forma que ao término do processo
processo de beneficiamento granulométrico, que obteve-se uma amostra com 100% de passante
contemplou as etapas de britagem manual e na peneira com abertura de 0,075 mm. Tal
moagem mecanizada, obtendo-se ao término prática teve como objetivo promover o aumento
deste processo um material com 100% de da área superficial dos minerais presentes na
passante na peneira n° 4 (4,8 mm) (Figura 4). amostra, diminuindo os efeitos de interpolação
destes e, consequentemente, melhorando as
leituras químicas e mineralógicas presente no
REFP.
Após tal tratamento granulométrico, o
material foi quarteado e submetido aos ensaios
de fluorescência de Raios-X e difração de
Raios-X, utilizando-se do equipamento
Shimadzu® EDX-720 e Shimadzu® XRD –
7000, respectivamente.
As análises no ensaio de DRX foram
realizadas utilizando-se radiação de cobre, com
tensão acelerada 30 kV e corrente de 30 mA,
com varredura de 2θ de 5° a 120° e velocidade
Figura 4. Amostras do REFP após tratamento
granulométrico. de 1°/min.
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2.3 Caracterização mecânica tempo determinado como suficiente para


estabilização das deformações haja visto que o
Para análise do comportamento mecânico do resíduo apresentava comportamento de um solo
REFP foram realizados ensaios de Índice de arenoso, e que os níveis de tensões aplicados
Suporte Califórnia (NBR 9895/87), e eram muito baixos para causarem o
compressão edométrica. fraturamento das partículas.
Após o término dos ensaios, o material era Devido às dificuldades operacionais, o
recolhido e armazenado em bandejas para processo de descompressão do corpo de prova
secagem até que atingisse o teor de umidade acontecia após 24h da aplicação do último
higroscópica natural (w ≅ 0,1%), e reutilizados estágio de carregamento (640 kPa). Ele é
na pesquisa, seja para execução dos demais realizado de maneira similar, em intervalos de
ensaios mecânicos ou na realização dos ensaios tempo de 30 minutos e descarregamentos
de granulometria conjunta. correspondente à metade da tensão atuante,
tendo seu término em 20 kPa ou 10 kPa.
2.3.1 Índice de Suporte Califórnia Para os ensaios realizados na condição
inundada, a imersão do corpo de prova ocorreu
As amostras foram moldadas nos teores de após aplicação da carga de assentamento, a qual
umidade equivalentes à umidade ótima e nos corresponde ao término do primeiro estágio de
intervalos acima (+2%) e abaixo (-2%) deste carregamento (5kPa). Antes da retomada da
ponto, conforme os dados adquiridos em suas aplicação dos estágios subsequentes aguardava-
respectivas curvas de compactação, obtidas se um período mínimo de 24 horas para
anteriormente na fase de caracterização física aumentar a homogeneidade do teor de umidade
do REFP. do corpo de prova.
É importante ressaltar que apesar da norma
2.3.2 Compressão edométrica mencionar que a inundação (verificação da
expansividade do solo) deva ocorrer sob
Como a norma NBR 12007:1990 “Solo - Ensaio aplicação de um carregamento de 10 kPa, ela
de adensamento unidimensional ” foi cancelada restringe-se a corpos de prova indeformados e
no ano de 2015 e não houve substituição até o não moldados. Sendo assim, elegeu-se por
presente momento, utilizaram-se como inundar as amostras a 5 kPa, pois quanto menor
fundamentação para realização do ensaio, além a carga, mais crítico será o estágio em relação à
da norma acima já citada, a ASTM expansão (condição mais desfavorável
D2435/D2435M e as indicações de Massad possível).
(2016).
As amostras foram compactadas no próprio 3 RESULTADOS
anel metálico rígido, com dimensões de 19,65
mm de altura e 71,40 mm de diâmetro, na 3.1 Analise química e mineralógica
umidade ótima e a massa específica seca
máxima determinadas pelo ensaio de Quimicamente (Tabela 1), pode-se definir o
compactação para as energias normal, REFP como um material com alto percentual de
intermediária e modificada. sílica (64,13%) e alumínio (15,08%). Apresenta
Os estágios de carregamento foram baixo teor de álcalis totais (10,62%) e elevado
realizados com tensões iniciais de 5 kPa, sendo teor de oxido de ferro (5,25%) para minerais a
posteriormente incrementada com cargas serem utilizados como matéria-prima na
suficientes para que seu valor fosse duplicado, indústria vítrea e cerâmica justificando dessa
até atingir valor de 640 kPa. O intervalo de forma seu descarte, uma vez que estes
tempo de cada carregamento foi de 30 minutos, segmentos exigem que na composição de
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porcelanas, esmaltes e vidrados tenham teores O material não apresentou plasticidade, de


de álcalis superiores a 14% e teores de ferro forma que não foi possível realizar a moldagem
abaixo de 0,08% (Bezerra et al., 1994). de corpos cilíndricos de três milímetros de
diâmetro conforme procedimentos estabelecidos
Tabela 1. Resultados da análise química. pela NBR 7180 (1984). Assim, não foi
Óxidos SiO2 Al2 O3 K2 O Fe2 O3 Na2 O CaO Outros necessário à realização do ensaio de limite de
% 64,13 15,08 7,76 5,24 2,86 2,32 2,61 liquidez e, por consequência, a amostra foi
caracterizada como um solo não plástico (NP),
Mineralogicamente (Figura 5), pode-se possuindo valores de IP (índice de plasticidade),
classificar o REFP como um material formado LL (limite de liquidez) e LP (limite de
essencialmente por quartzo, com presença de plasticidade) iguais a zero.
feldspato potássico (microclínio) e calco- A análise dos resultados (Figura 6) revela
sódicos (albita e anortita), além de mica que o REFP, após tratamento granulométrico, é
(biotita). A elevada concentração de quartzo na composto essencialmente pela fração
amostra, revelado na forma de sílica (SiO2), é granulométrica da areia (≈ 80%), apresentando
um fator positivo para determinar os possíveis baixo teor da fração granulométrica da argila.
usos do REFP, pois a presença de quartzo – Além disso, os traçados apresentados pela
mineral altamente resistente, quando média das curvas granulométricas do resíduo,
preservadas suas características – pode conferir exibiram coeficiente de uniformidade (Cu) e
propriedades satisfatórias ao seu uso como coeficiente coeficiente de curvatura (CC) nos
matéria-prima na Engenharia Civil. valores 18,2 e 1,4 para as amostras em seu
estado inicial, e 21,1 e 2,9 para as amostras com
reuso indicando um material não uniforme (Cu
> 6) e bem graduado (1 < CC < 3).

Figura 5. Ensaio de DRX.

3.2 Analise física

O resíduo apresentou massa específica dos


sólidos (ρs) igual a 2,66 g/cm³, o que está Figura 6. Curva granulométrica do resíduo.
condizente com os valores de seus componentes
mineralógicos: quartzo (2,60 – 2,65 g/cm³), Deduz-se, perante os resultados analisados,
microclínio (2,53 – 2,63 g/cm³), albita (2,63 que a reutilização das amostras ao longo dos
g/cm³), anortita (2,73 g/cm³) e biotita (2,7 – 3,5 procedimentos experimentais dessa pesquisa
g/cm³). pouco acrescentou no processo de fragmentação
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dos grãos, existindo apenas uma diferença na resultado que serve como indicativo para
média de 6% na faixa intermediaria (0,15 a 0,60 conjecturar o possivel bom desempenho do
mm) do gráfico, valor que se amplia a até 14%. resíduo ao ser utilizado em pavimentação, pois
ao comparar os limites (inferior e superior) da materiais com massas específicas aparentes
faixa de distribuição das curvas granulométricas secas elevadas tendem a apresentar elevadas
analisadas. resistências, baixa compressibilidade e bom
Perante tais resultados, o REFP se comportamento quando solicitados (Pinto, 2006
configurou, após tratamento granulométrico, & DNIT, 2006).
como uma areia siltosa não plástica (SM), sendo Atenta-se que as curvas de compactação do
designado quanto à classificação TRB REFP exibiram teores de umidade ótima
(Transportation Research Board), como A-2-4. inferiores aos valores típicos apresentados por
Os resultados dos ensaios de compactação, areias com pedregulho bem graduadas (9 a
para amostras com reuso utilizando as energias 10%) e solos arenosos lateríticos finos (12 a
normal, intermediária e modificada, além dos 14%) (Das, 2014 e Pinto, 2006). Salienta-se que
seus respectivos valores de ρd.máx e wót estão os baixos valores de grau de saturação
apresentados na Figura 7 e na Tabela 2. apresentados pelo resíduo na wót pode vir a
trazer, em condições não saturadas,
consideráveis incrementos de resistência do
material ao cisalhamento, devido ao
aparecimento de tensões superficiais atrativas
(pressão neutra negativa) oriundas de efeitos
capilares e de adsorção (sucção matricial) que
são geradas nos meniscos capilares no contato
entre as partículas sólidas (Fredlund et al.,
2012).
Para solos granulares ou arenosos, perfil
apresentado pelo REFP após tratamento
granulométrico, a vibração é o processo mais
indicado para compactação do solo, pois as
partículas permanecem justapostas pelo atrito, e
havendo a vibração, com frequência e amplitude
corretas, consegue-se o escorregamento e
acomodação das partículas, ocasionando a
Figura 7. Curvas de compactação do resíduo. diminuição do índice de vazios (DNIT, 2006).
A aplicação de tal metodo alteraria/corrigiria o
Tabela 2. Resultados da compactação na umidade ótima. traçado da curva “ ” e os valores de grau
ρd.máx de saturação, cujos resultados são incomum aos
Energia Wót (%) Srót (%)
(g/cm³) casos clássicos da Mecânica dos Solos
Normal 1,89 8,4 54,9 apresentado por solos arenosos não coesivos.
Intermediária 1,94 7,15 51,2
Modificada 1,97 6,3 47,9
3.3 Analise mecânica para fins geotécnicos
Os valores de ρd.máx obtidos mostram-se
3.3.1 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
próximos aos apresentados por materiais nobres
utilizados na pavimentação (areias com
Os valores de ISC atingidos pelo REFP em
pedregulho bem graduadas: 2,0 a 2,1 g/cm³; e
condições ótimas (ρd.máx e wót), para as energias
solo arenoso laterítico fino: 1,9 g/cm³),
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de compactação normal, intermediária e 3.3.2 Compressão edométrica


modificada foram iguais a 22%, 46% e 65%,
respectivamente. O resíduo exibiu alta taxa de Os dados referentes às condições de moldagem
perda de capacidade de suporte em relação ao dos corpos de prova e à trajetória das curvas
desvio de umidade, apresentando um “índice de vazios versus log tensão vertical”
decréscimo de resistência na ordem de 50% para condição inundada e não inundada são
para teores de umidade iguais a Wótimo ± 1, expressos respectivamente na Tabela 2 e nas
necessitando, dessa maneira, de um alto Figuras 9 e 10.
controle durante sua aplicação em pavimentos
(Figura 08). Tabela 2. – Características de moldagem dos corpos de
prova para os ensaios de compressão edométrica.
Condição não-
Índices Condição inundada
Unidade inundada
físicos
Normal Int. Mod. Normal Int. Mod.
hmédio cm 1,97 2 1,97 1,97 1,97 1,97
Dmédio cm 7,14 7,14 7,14 7,14 7,14 7,14
mcp g 205 212 209 205 208 209
w % 8,53 7,14 6,14 8,3 7,15 6,3
pd g/cm³ 1,89 1,94 1,98 1,89 1,95 1,97
einicial - 0,41 0,37 0,35 0,41 0,37 0,35
Onde: hmédio e Dmédio são respectivamente a altura e o diâmetro
médio do corpo de prova; mcp refere-se a massa da amostra
moldada;

Constatou-se, por meio dos ensaios


Figura 8. Resultados do índice suporte Califórnia.
edométricos, que o resíduo possui, quanto à
compressibilidade, comportamento típico de
O REFP não apresentou comportamento areias ou materiais granulares fabricados com
expansivo (Emáx < 0,1%) em nenhuma das quartzo e feldspato moído (Lambe & Whitman,
energias de compactação aplicadas. Esse 1969), de forma que, para os valores de tensões
aspecto é esperado, visto não apresentar aplicado neste ensaio não
argilominerais expansivos em sua composição, foram observadas variações expressivas do
atendendo dessa maneira, quanto a esse índice de vazios com o aumento de .
parâmetro, os requisitos de qualquer camada de Consequentemente, não foi possível determinar
pavimento. a tensão de escoamento ( ) do REFP, valor
Dessa forma, o REFP pode-se ser utilizado numérico que representa a tensão vertical a
quando compactado na energia modificada, em partir do qual as deformações volumétricas
condições ótimas (ρd.máx e wót) como elemento aumentam sensivelmente com o logaritmo de
de base de pavimentos quando o N (número de , e que decorrem do fraturamento de suas
operações do eixo simples padrão durante o partículas. Em vista de sua composição
período de projeto) for menor que 5x106. mineralógica e granulométrica é esperado que a
Também pode ser usado em camadas de sub- pressão de escoamento gire em torno de valores
base e reforço de subleito para as energias de superiores a 10 Mpa (Lambe & Whitman,
compactação intermediária e normal, 1969).
respectivamente.
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energia de compactação aplicada na amostra


(Figura 11).
A ausência de expansividade está em
concordância com a mineralogia apresentada
pelo REFP, a qual não apresenta argilominerias
expansivos.

Figura 9. Gráfico das amostras submetidas ao


ensaio de compressão edométrica sob condição não-
inundada.

Figura 11. Gráfico deformação versus tempo das


amostras inundadas no estágio de 5 kPa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, que o REFP apresenta-se como uma


fonte alternativa de matéria-prima para obras
Figura 10. Gráfico das amostras submetidas ao
geotécnicas ou na construção civil, exibindo
ensaio de compressão edométrica sob condição inundada. bom comportamento mecânico. Estudos
posteriores para avaliar seu custo de produção e
Percebe-se, para os níveis de tensões transporte, bem como suas zonas de influência,
normalmente aplicados aos elementos das são imprescindíveis para avaliar sua
camadas de um pavimento ( ) que o aplicabilidade nesses setores, e
REFP apresenta baixíssima compressibilidade consequentemente, reduzir os impactos
de forma que as deformações provocadas pela ambientais decorrentes de seu descarte e da
aplicação de uma sobrecarga são desprezíveis e exploração de recursos naturais.
praticamente imediatas.
Ao comparar a compressão volumétrica do REFERÊNCIAS
resíduo em diferentes níveis de energia de
American Society for Testing and Materials.
compactação, nota-se que a compressibilidade
D2435/D2435M: Standard test methods for one-
do resíduo pouco varia com seu incremento. dimensional consolidation properties of soils using
Além disso, percebeu-se que a presença da água incremental loading. Pensilvânia, Estados Unidos;
pouco influi na variação volumétrica ASTM 2011.
( ), de forma que, o resíduo não Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459:
Solo - Determinação do limite de liquidez. Rio de
apresentou comportamento colapsível ou
Janeiro: ABNT, 1984.
expansível ao ser inundado qualquer que fosse a Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
6502/95: Rochas e solos. Rio de Janeiro: ABNT,1995.
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Grãos de solo que passam da peneira de 4,8 mm – John Wiley & Sins, Inc., Sigapura, 553p (ISBN 0-
Determinação da massa específica. Rio de Janeiro: 471-51192-7).
ABNT, 1984. Luz, A. B.; Lins, F.A.F.; Piquet, B.; Costa, M.J., (2003):
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181: Pegmatitos do Nordeste: Diagnóstico sobre o
Solo - Análise granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, Aproveitamento Racional e Integrado. V. 9, Série
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Solo - Análise granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, alteração da cor por radiação gama e tratamentos
1984. térmicos de quartzo róseo-leitoso da Província
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182: Pegmatítica da Borborema. Dissertação de mestrado.
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Braja, M. Das (2014). Fundamentals of Geotechnical
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Carvalho, E.V. (2013). Utilização do resíduo da retífica
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(mestrado em Tecnologia e Inovação) – Faculdade de
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Campinas, SP. 2013.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem –
DNER. DNER-ME 093/094 – Solos: determinação da
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DNIT. Diretoria de Planejamento e Pesquisa.
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Ed. Rio de Janeiro: 2006.
Drummond, N.F. (2009). Ambientes geológicos e
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Fredlund, D.G., H. Rahardjo & M.D. Fredlund (2012).
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Gomes, R.C. & Albuquerque Filho, L.H. (2002).
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exhausted pit mine using CPTU tests. 4th
International Congess on Environmental Geotechnics,
4th ICEG, Rio de Janeiro, RJ, 1: 323-328.
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Caracterização Microestrutural de um Perfil de Solo Tropical


Sabrina Marques Rodrigues
Universidade Federal de Goiás, Anápolis, Brasil, sabrinamarques02@hotmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas e Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br e
renato.guimaraes@ueg.br

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Batista de Oliveira


Furnas, Goiânia, Brasil, renatoba@furnas.com.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o efeito causado pelo intemperismo nas
características microestruturais ao longo de um perfil de solo tropical. Além da análise
microestrutural do solo em estado natural também se avaliou a influência do tratamento dado a
amostra sobre a microestrutura do solo compactado. Complementarmente avaliou-se a
microestrutura de solo compactado com e sem reuso da amostra. Para desenvolvimento desta
pesquisa, foram coletadas amostras ao longo de um poço de 12 metros de profundidade localizado
no Distrito Federal. As amostras compactadas e as amostras naturais indeformadas foram analisadas
por microscopia eletrônica de varredura, utilizando-se o modo de operação alto vácuo e baixo
vácuo. Os resultados mostraram que quanto maior a profundidade da camada de solo menor é a
alteração estrutural, de forma que a porosidade diminui com o aumento da profundidade no perfil.
Constatou-se que a compactação causa maior alteração na macroporosidade dos solos altamente
intemperizados correspondentes aos primeiros metros do perfil, e estes também são influenciados
pelo processo de compactação.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Tropicais, Microestrutura, Intemperismo, Compactação.

1 INTRODUÇÃO materiais empregados é geralmente estudado


considerando-se suas características
Um solo tropical é produzido pela ação do macroscópicas e pouco se estuda sobre o
intemperismo que se reflete como um conjunto aspecto microestrutural desses materiais.
de modificações físicas, químicas e Entretanto, além de se analisar a
mineralógicas, onde a desintegração, macroestrutura, compreender a microestrutura
decomposição e agregação alteram as do solo se torna bastante relevante para definir
propriedades e estrutura do solo impactando suas propriedades e comportamento (LOPERA,
diretamente em seu comportamento 2016).
hidromecânico (LOPERA, 2016). Na geotecnia, uma das ações mais
As propriedades e comportamento dos solos empregadas para melhoria do comportamento
tropicais estão quase sempre associados à hidromecânico do solo é a compactação, por
microestrutura desenvolvida no processo de meio da redução do volume de vazios. Essa
formação. Nas obras de engenharia e em redução do volume de vazios pode se dar em
especial nas geotécnicas, o comportamento dos consequência do simples rearranjo estrutural
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das partículas finas ou por quebra e intemperizados constituem os solos saprolíticos,


reorganização de elementos mais grossos, como e os solos tropicais altamente intemperizados,
os agregados e microagregados. Dessa forma, independentemente de sua origem residual ou
são bastante relevantes os estudos dos transportada, compreendem os solos lateríticos.
fenômenos envolvidos na compactação e suas Segundo Fookes (1997), ao contrário dos
consequências para a macro e microestrutura do solos de regiões temperadas, os solos tropicais
solo. sofrem um intemperismo tão intenso que quase
Quanto à caracterização microestrutural do nunca apresentam as mesmas características dos
solo, a técnica que vem sendo mais materiais de origem.
frequentemente utilizada é a microscopia
eletrônica de varredura, devido sua alta 2.2 Solos do Distrito Federal
resolução e à elevada profundidade de foco.
Esses microscópios podem trabalhar a alto e a O Distrito Federal é coberto por um manto de
baixo vácuo, sendo que este último limita as solo resultante de intemperismo, principalmente
alterações estruturais oriundas do vácuo. químico, associado a processos de lixiviação e
Diante disto, este trabalho visa contribuir laterização de idade Terciária/Quaternária
para o entendimento da composição (MENDONÇA et al., 1994).
microestrutural do solo oriunda de sua formação O clima da região é tropical, marcado pela
decorrente do intemperismo atuante nas regiões forte sazonalidade, com regime pluviométrico
tropicais e da influência da compactação na bem definido, apresentando uma estação muito
microestrutura desse solo. Para isso foi seca e outra chuvosa. Essa alternância de clima
realizado, utilizando a microscopia eletrônica de faz com que os solos sofram um processo de
varredura, a caracterização de um perfil de solo lixiviação no período chuvoso e de
do Distrito Federal, abrangendo desde solos ressecamento no período seco. A evolução
profundamente intemperizados até solos pouco pedogenética que ocorre se trata da lixiviação
intemperizados. dos materiais silicosos e a fixação dos óxidos de
ferro e alumínio nas regiões mais superficiais
(CAMAPUM DE CARVALHO et al., 2015a).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este processo foi responsável pela formação
destes solos, com alto índice de vazio,
2.1 Solos Tropicais apresentando uma estrutura porosa
(GUIMARÃES, 2002).
Os solos tropicais não são apenas aqueles que se Os solos do Distrito Federal representam
localizam entre os trópicos, mas aqueles que bem os solos da região do cerrado que em
têm um comportamento hidromecânico e estado natural são bem drenados, mesmo
propriedades físico-químicas diferenciados dos quando há alta proporção de argila (até 90%),
solos sedimentares, em decorrência dos sendo a argila nestes solos na maior parte
processos intempéricos típicos das regiões agregada em grãos de tamanho de areia,
tropicais (CAMAPUM DE CARVALHO et al., apresentando alta permeabilidade, similar aos
2015a). solos granulares finos, com valores do
Nogami e Villibor (1995) destacaram dentro coeficiente de permeabilidade variando de 10-3 a
dos solos tropicais duas classes: os solos 10-4 cm/s.
lateríticos e os solos saprolíticos, mas há que se Segundo Lopera (2016), subjacente ao solo
destacar que entre esses dois solos geralmente altamente intemperizado, geralmente, se
encontra-se presente uma camada de solo de encontra um solo de transição caracterizado por
transição. Do ponto de vista da engenharia, elevada heterogeneidade de propriedades. Em
pode ser entendido que os solos tropicais pouco seguida tem-se o solo saprolítico, no qual se
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observa menor porosidade, com uma estrutura tem uma distribuição de poros uniforme a bem
marcada pela rocha de origem com presença de graduada (Camapum de Carvalho et al., 2015b).
minerais neoformados e minerais primários.
2.4 Microscopia Eletrônica de Varredura
2.3 Microestrutura dos Solos Tropicais
O termo análise microscópica refere-se à
O comportamento mecânico e hidráulico dos caracterização da microestrutura do material, no
solos está relacionado à sua estrutura, podendo que diz respeito ao tipo, quantidade, tamanho,
esta ser dividida em macro e microestrutura. A forma e distribuição de fases presentes.
macroestrutura diz respeito a observação do A microscopia eletrônica de varredura
todo e a microestrutura ao arranjo estrutural dos (MEV) se apresenta como uma técnica muito
grãos e partículas. E ainda em termos de relevante, pois permite aumentos de 300.000
microestrutura os poros dos solos encontram-se vezes ou mais, e por isso é a técnica que vem
distribuídos em macro e microporos (LOPERA, sendo mais frequentemente utilizada para
2016). Entre os macro e microporos geralmente estudos da microestrutura dos solos.
existem poros de tamanho intermediário. Uma das razões para a utilização dessa
O termo poro é utilizado para definir o técnica é a alta resolução que pode ser obtida na
espaço entre as partículas de solo. Segundo observação das amostras, com valores da ordem
Farias et al. (2011), os poros são cavidades de 2 a 5 nanômetros. Outra característica
formadas pelo arranjamento da aglomeração de importante do MEV é a elevada profundidade
minerais, de forma e tamanho irregulares, de foco, ou seja, imagens das amostras com
ocupados por ar e/ ou solução aquosa. aparência tridimensional (DEDAVID et al.,
Nos solos profundamente intemperizados o 2007).
espaço de poros em si é subdividido em No MEV um feixe de elétrons é produzido e
interagregado, que são poros entre partículas dirigido para a amostra em observação. A
agregadas e intra-agregado, poros dentro do maioria dos instrumentos usa como fonte
agregado. A forma de classificação de poros emissora de elétrons um filamento de tungstênio
mais simplificada é a que considera as duas aquecido. O feixe de elétrons, ao invés de
classes: micro e macroporos. Klein e Libardi incidir fixamente em um ponto da superfície da
(2002) consideram como macroporos, os poros amostra, varre ponto a ponto certa área. Os
de diâmetro maior que 0,05 mm e como elétrons que penetram a uma pequena
microporos poros com diâmetro menor que 0,05 profundidade da superfície são defletidos de
mm. volta a superfície da amostra, na forma de
Devido ao processo de alteração químico- elétrons secundários, com energia suficiente
mineralógica e lixiviação, os horizontes dentro para escaparem dela. Esses elétrons são atraídos
do perfil de intemperismo tropical, na zona por um coletor e transformados em energia
altamente intemperizada, são marcados pela luminosa por um cintilador. As cintilações
presença de agregados ligados por pontes de luminosas são amplificadas e convertidas em
argila ou oxi-hidróxidos de ferro e alumínio sinal eletrônico. Finalmente, o tubo de raios
(GUIMARÃES et al., 2017). catódicos reproduz a imagem da área observada
Nos solos tropicais a estrutura altera-se da amostra (CARDOSO, 1995).
através do perfil de intemperismo. As camadas Os elétrons secundários permitem a obtenção
superiores com solos altamente intemperizados de imagens de alta resolução no microscópio
apresentam uma distribuição de poros com eletrônico de varredura evidenciando a
macroporos interagregados e microporos intra- topografia da superfície observada. A interação
agregados. Entretanto, para maiores do feixe primário com a amostra gera, além dos
profundidades, os solos menos intemperizados elétrons secundários, os elétrons
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retroespalhados, que refletem variações Paranoá e a área estudada se localiza no


composicionais em função da densidade dos domínio da unidade Ardósia do grupo Paranoá.
átomos existente na amostra, de forma que os Foram coletadas amostras indeformadas para
elementos de maior densidade apresentam se evitar possíveis variações das características
maior brilho (MARTINS, 2000). estruturais do solo procedentes da manipulação
No uso do MEV convencional há e amostras deformadas que foram utilizadas nos
necessidade de baixa pressão (alto vácuo), na ensaios de caracterização e compactação. Para a
região de geração do feixe e da coluna e coleta das amostras, realizou-se um poço com
também na câmara da amostra. Em um MEV de 12 m de profundidade e 1,2 m de diâmetro,
alto vácuo as pressões em toda sua configuração retirando amostras nas profundidades de 2, 4, 6,
são mantidas em torno de 10-3 a 10-5 Pa. Outro 8, 10 e 12 m. As amostras indeformadas,
aspecto do MEV convencional é que as tomadas de forma cúbica com dimensões de
amostras de materiais que não são bons aproximadamente 30x30x30 cm, foram
condutores, como é o caso do solo, sofrem parafinadas e guardadas em câmara úmida em
acúmulo de cargas, gerando campos elétricos condição de temperatura estável. As amostras
intensos deteriorando a qualidade das imagens deformadas foram acondicionadas em sacos
formadas. Uma solução para superar essa plásticos objetivando manter a umidade natural.
dificuldade é cobrir toda superfície da amostra O material coletado foi encaminhado para
exposta com uma delgada camada de material análise nos Laboratórios da Divisão de
condutor (ouro, platina, alumínio e outros Tecnologia em Engenharia Civil da Gerência de
metais condutores), processo chamado de Serviços e Suporte Tecnológico de FURNAS,
metalização (HINRICHS e VASCONCELLOS, localizados em Aparecida de Goiânia - GO.
2014; ARAKI, 1997).
Além do MEV convencional que opera a alto 3.2 Preparação das Amostras
vácuo, existe o MEV de baixo vácuo (ou de
pressão variável). Os MEV de baixo vácuo são Foram realizadas análises com amostras em
capazes de manter a câmara da amostra com estado natural (indeformada) e com amostras
pressão mais alta do que a região de geração do compactadas. No ensaio de compactação foram
feixe e é útil em casos em que a metalização usadas amostras com sua umidade natural, seca
não é conveniente (HINRICHS e ao ar e seca em estufa a 60°C, utilizando
VASCONCELLOS, 2014). A técnica é também procedimento com e sem reuso de material. Os
útil quando o material a ser analisado sofre ensaios caracterização e compactação foram
alteração significativa das micropropriedades se realizados de acordo com os procedimentos do
submetido ao alto vácuo. Laboratório de Furnas, que são baseados nas
normas da ABNT, sendo o peso específico dos
grãos realizado no ultrapicnometro.
3 MATERIAIS E MÉTODOS As amostras naturais foram retiradas do
bloco indeformado com o cuidado necessário
3.1 Solos Estudados para não causar perturbação, realizando a
desagregação em pequenos fragmentos até se
As análises deste trabalho foram realizadas com obter um pedaço dessa amostra adequado para a
solo residual coletado no Campo Experimental análise microscópica.
do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia Para a análise microscópica do solo na
da Universidade de Brasília que se situa no condição compactada, foram obtidas amostras
Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília-DF. retirando-se pequenos pedaços da parte
Nesta região predomina as rochas do grupo intermediária do corpo de prova ao final do
ensaio de compactação (5º ponto do ensaio).
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Nas análises de microscopia eletrônica de constante a concentração dos minerais de baixa


varredura utilizou-se em todas as amostras o atividade. Até 8 m, predomina argila e areia,
modo de operação baixo vácuo. O modo de sendo que para a mudança do perfil para as
operação em alto vácuo somente foi utilizado camadas poucas intemperizadas (9 a 12 m)
em algumas amostras de forma a comparar o pedomina silte.
efeito do vácuo sobre a microestrutura das
amostras. Tabela 1. Resultados dos Ensaios de Caracterização.
No modo baixo vácuo, as amostras foram Profundidade (m)
Parâmetro
analisadas sem passar por nenhum processo de 2 4 6 8 10 12
secagem. Nas análises em alto vácuo, as n (kN/m )
3 13,18 13,72 15,53 16,75 18,34 18,65
amostras passaram pelo processo de secagem ao w (%) 21,7 28,0 29,0 24,1 27,7 29,1
ar seguido da metalização. O procedimento s (kN/m3) 26,39 26,59 26,68 27,08 27,96 27,86
utilizado consistiu em fixar a amostra em porta- e 1,44 1,47 1,22 1,01 0,95 0,93
amostra de alumínio, usando emulsão de prata, n (%) 59,0 59,5 55,0 50,2 48,7 48,2
wL (%) 47 56 54 53 42 37
fazendo a interligação da superfície da amostra IP (%) 16 24 21 22 23 18
com o porta-amostra, com a finalidade de Pedregulho
0,1 0,2 0,9 3,4 0,1 0,0
assegurar boa condutividade elétrica entre eles. (%)
Posteriormente, essa amostra foi levada ao Areia (%) 44,7 38,2 31,8 30,6 6,0 2,6
processo de metalização por aproximadamente Silte (%) 11,5 13,2 14,0 25,6 64,6 92,4
Argila (%) 43,7 48,4 53,2 40,4 0,0 0,0
60 segundos, onde se revestiu a superfície da
amostra com uma fina camada (5 – 10 nm) de Tabela 2. Ensaiso de Compactação – Sem Reuso.
ouro, afim de tornar essa superfície condutora. Natural Seco ar Seco estufa
Prof.
wotima dmax wotima dmax wotima dmax
(m)
(%) (kN/m3) (%) (kN/m3) (%) (kN/m3)
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 2 20,6 16,07 20,6 16,08 21,1 16,00
4 23,7 15,65 21,9 15,89 22,6 15,66
Na Tabela 1 são apresentados os resultados de 6 23,8 15,46 25,0 15,28 23,7 15,38
caracterização e nas Tabelas 2 e 3 os resultados 8 23,0 15,84 22,6 15,88 23,1 15,96
10 24,0 15,65 24,2 15,68 25,5 15,70
dos ensaios de compactação respectivamente 12 24,0 15,79 24,0 15,65 25,1 15,70
com e sem reuso do solo.
O perfil apresenta peso específico dos grãos Tabela 3. Ensaiso de Compactação – Com Reuso.
da ordem de 27 kN/m3, crescente com a Natural Seco ar Seco estufa
Prof.
profundidade, indicando relação com os argilo (m)
wotima dmax wotima dmax wotima dmax
minerais presentes no solo e com a eliminação (%) (kN/m3) (%) (kN/m3) (%) (kN/m3)
da gibbsita a partir de 10 m, conforme 2 19,4 16,60 19,5 16,61 20,0 16,44
4 21,8 16,11 21,1 16,21 21,5 16,18
apresentado por Rodrigues (2017). Apresenta 6 22,9 15,78 23,2 15,67 22,8 15,92
elevados valores de índice de vazios até 4 m, 8 22,0 16,14 22,7 16,09 22,8 16,18
camada mais intemperizada, diminuindo com a 10 24,5 15,75 25,0 15,74 24,2 15,90
profundidade, tendo relação com as imagens 12 24,1 15,81 24,2 15,73 25,4 15,97
obtidas no MEV e analisadas a seguir.
A plasticidade tem baixa variação com a Quanto aos resultados de compactação,
profundidade (16 a 24%), função da verifica-se que a umidade ótima aumenta com a
concentração de caulinita (20%), gibbisita profundidade e o peso específico seco máximo
(30%) e quartzo (35%) na camada superficial apresenta baixa variação. O tipo de prepração
(2 m) e com a profundidade a concentração de influênciou no valor da umidade ótima, foram
gibbisita e quartzo diminuem, no entanto há um obtidos maiores valores para a amostra seca em
aumento de caulinita, mantendo praticamente estufa, e teve baixa influência no peso
específico seco máximo. Comparando os
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resultados com e sem reuso da amostra,


verifica-se que até 8 m, o reuso provoca
diminução da umidade ótima e aumento do peso
específico seco máximo, e a partir de 10 m
baixa variação do peso especifico.
Com as imagens obtidas no MEV percebeu- Microporo
se que a microestrutura apresentada na amostra
coletada a 2 metros de profundidade representa
bem o horizonte intemperizado (1 a 7 m). A 8
metros a estrutura começa a apresentar
modificações que vão até 10 metros, e a partir
dessa profundidade tem-se o horizonte Macroporo
saprolítico, e as imagens da amostra de 12
metros representa bem esse horizonte. Figura 2. Profundidade 2 m –1000x (RODRIGUES,
Na Figura 1 apresenta-se o aspecto geral da 2017).
amostra de 2 metros de profundidade. Observa-
se um solo com uma microestrutura bastante A amostra de 8 metros de profundidade
macroporosa e as agregações de óxidos- representa o horizonte de transição, com
hidróxidos e argila, com boas ligações entre os características intercaladas do horizonte
agregados e alguns caminhos preferenciais de superior de solo laterítico e características da
fluxo. Verifica-se também certa distribuição camada inferior de solo saprolítico.
espacial homogênea de macroporos com Na Figura 3 percebe-se uma distribuição
tamanhos heterogêneos. heterogênea de poros, com macroporos na
A partir da ampliação de 1000 vezes (Figura região mais intemperizada e uma zona menos
2), pode se observar os microporos internos às intemperizada ao centro que possui uma matriz
agregações. Podem-se perceber também alguns mais fechada.
grumos que são prováveis agregações de
partículas de argila com oxi-hidróxido de ferro
e alumínio. Por se tratar de um solo maduro, as
partículas de argila não estão preservadas na
morfologia original, devido à alteração causada
pelo intemperismo.

Figura 3. Profundidade 8 m –100x (RODRIGUES, 2017).

Portanto, nessa camada de transição,


ocorrem dois tipos de estrutura, uma vinculada
à rocha de origem e outra resultante das
agregações formadas durante o processo de
Figura 1. Profundidade 2 m –100x (RODRIGUES, 2017). intemperização. Essa característica estrutural
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heterogênea dessa camada conduz à sofrido e por consequência menor a alteração


heterogeneidade de propriedades físicas e de estrutural fazendo com que a macroporosidade e
comportamento. os agregados que se fazem presentes nas
A Figura 4 correspondente a amostra de 12 camadas mais superficiais tendam a desaparecer
metros de profundidade representante do solo com o aumento da profundidade.
saprolítico. Observa-se uma estrutura Em relação à estrutura do solo em estado
homogênea com ausência da característica compactado, pode-se observar das imagens
macroporosa. Com ampliação de 1000 vezes analisadas, que independente da condição ou
(Figura 5), a estrutura mantém a distribuição forma de compactação, a porosidade do solo
homogênea de poros, e se observa partículas compactado em todas as profundidades é menor
preservadas (menos intemperizadas) com que a porosidade do solo natural.
pacotes de caulinita. A Figura 6 apresenta imagens da amostra
coletada a 2 metros de profundidade
compactada com secagem ao ar. Observa-se na
amostra com reuso uma estrutura mais fechada
que a amostra sem reuso, que apresenta
formação de macroporos distribuídos de forma
heterogênea.
Na Figura 7 são mostradas imagens com uma
ampliação de 5000 vezes da amostra oriunda de
2 metros de profundidade compactada com e
sem reuso após seca em estufa. Verificam-se em
ampliações mais elevadas os detalhes dos
microporos, observando-se mais microporos na
amostra sem reuso, pois a amostra com reuso
apresenta quase ausencia de microporos.
Figura 4. Profundidade 12 m – 100x (RODRIGUES, De modo geral, observou-se muita diferença
2017). entre as microestruturas das amostras com e
sem reutilização de material no ensaio de
compactação, de forma que as estruturas das
amostras com reuso se apresentaram mais
fechadas e com aspecto selado. Isto ocorre
devido este solo apresentar nos horizontes
superficiais muitas agregações naturais, que são
destruídas com o destorroamento e
compactação da amostra, e dessa forma é
notório que a amostra com reuso destruiu
melhor essas agregações devido ao processo de
Pacote de caulinita
sucessivos destorroamentos seguidos de
compactação.
Para a profundidade de 12 metros, que
representa o horizonte de solo saprolítico,
Figura 5. Profundidade 12 m –1000x (RODRIGUES, observou-se nas imagens de amostras
2017).
compactadas semelhança entre as estruturas
apresentadas nas amostras com e sem
As análises realizadas permitem verificar que
reutilização (Figura 8). Ambas as amostras
quanto maior a profundidade no perfil de
possuem matriz densa com distribuição de
intemperismo estudado, menor o intemperismo
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partículas de forma aleatória e distribuição de a compactação altera a microestrutura em


poros homogênea. A semelhança menor proporção.
microestrutural nas duas amostras é compatível Na Figura 9 apresentam-se análises feitas na
com o estado não agregado das partículas de amostra indeformada com modo de operação
solo nessa profundidade. alto e baixo vácuo. Verifica-se visualmente nas
Analisando as imagens das amostras análises realizadas, uma diminuição do volume
compactadas de todas as profundidades, de vazios da amostra na análise em alto vácuo, e
percebe-se que o processo de preparação uma macroporosidade acentuada nas análises
antecedente à compactação (sem secagem, seca em baixo vácuo. Nessa técnica de alto vácuo, as
ao ar e seca em estufa) não tem influência na amostras passaram pelo procedimento de
microestrutura do perfil de solo estudado. secagem e metalização. Percebe-se que este
Por meio das análises das imagens obtidas no processo alterou o estado do solo, e então sua
microscópio eletrônico de varredura para o solo análise apresenta uma microestrutura que não
em estado natural e compactado, observou-se condiz fidedignamente com aquela que o solo
que a compactação faz maior efeito na realmente possui. Dessa forma, destaca-se a
macroporosidade dos solos altamente vantagem na utilização do modo de operação
intemperizados, sendo que quanto ao solo baixo vácuo.
saprolítico, devido à inexistência de agregações,

Figura 6. Amostra de 2 m Compactada - 500x: a) Amostra com Reuso. b) Amostra sem Reuso (RODRIGUES, 2017).

Figura 7. Amostra de 2m Compactada - 5000x: a) Amostra com Reuso. b) Amostra sem Reuso (RODRIGUES, 2017).
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Figura 8. Amostra de 12 m Compactada - 500x: a) Amostra com Reuso. b) Amostra sem Reuso (RODRIGUES, 2017).

Figura 9. Amostra de 2 m - 500x com modo de operação: a) Alto Vácuo. b)Baixo Vácuo (RODRIGUES, 2017).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS compactadas com reuso de material se


apresentaram com menor porosidade em relação
Destaca-se a importância de se conhecer a às amostras compactadas sem reutilização. Em
microestrutura dos solos, a variação da macro e termos práticos, essas análises mostram que a
microporosidade com a profundidade em um recompactação dos solos lateríticos finos em
perfil de alteração em clima tropical de modo a campo deve no caso rodoviário ser evitada, mas
colaborar com a compreensão do pode eventualmente ser últil no caso da
comportamento hidromecânico desse solo, contrução do núcleo de uma barragem de terra.
dando suporte para a escolha do material A alteração da estrutura do solo através da
adequado para utilização em uma obra compactação se relaciona com o estado inicial
geotécnica. do solo e, portanto, no caso dos solos tropicais,
Constatou-se que a variação do processo de estaria fortemente ligada ao nível de
compactação (com ou sem reuso de material) intemperismo por ele sofrido. Dessa forma, é
influencia bastante na microestrutura do solo, importante analisar um perfil de intemperismo
sobretudo nas amostras dos horizontes mais como um todo, da maneira que foi feito nesta
intemperizados. As amostras deste horizonte, pesquisa, pois dependendo do nível de
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intemperização da camada o solo pode metálicos e semicondutores. EDIPUCRS, Porto


apresentar um comportamento diferente para Alegre, 60 p.
Farias, W.M.; Camapum de Carvalho, J.; Silva, G.F.;
um mesmo tipo de compactação no campo. Campos, I.C.O.; Murrieta, P.S.N. (2011). Influência
Comparando os modos de operação alto e da compactação nos micro e mesoporos
baixo vácuo do microscópio eletrônico de nanoestruturados e na área superficial específica de
varredura, observou-se nas análises em alto um solo laterítico. VII Simpósio Brasileiro de Solos
vácuo que as amostras apresentaram um menor Não Saturados, Pirenópolis-GO, Vol 1, 169-175.
Fookes, P.G. (1997). Tropical residual soils. Geological
volume de vazios. As análises mostraram que Society, London, 235p.
os procedimentos necessários no modo alto Guimarães, R.C. (2002). Análise das propriedades e
vácuo, causaram alteração da estrutura comportamento de um perfil de solo laterítico
proporcionando redução da macroporosidade. aplicada ao estudo do desempenho de estacas
escavadas, Dissertação de Mestrado, Departamento
de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 183 p.
AGRADECIMENTOS Guimarães, R.C.; Silva, H.H.A.B.; Oliveira, R.B.;
Gonzáles,Y.V.; Farias, W.M.; Camapum de
Os autores agradecem a Furnas Centrais Carvalho, J. (2017). A micromorfologia no contexto
das erosões de borda de reservatórios. In: Sales,
Elétricas S.A e ao CNPq. Este trabalho
M.M; Camapum de Carvalho, J; Mascarenha,
apresenta parte do estudo desenvolvido no M.M.A. (Orgs.). Erosão em borda de reservatório.
Programa de P&D da ANEEL – projeto Gráfica UFG, Goiânia-GO,cap. 10.
intitulado Metodologias e infraestrutura Hinrichs, R.; Vasconcellos, M.A.Z. (2014). Microscopia
tecnológica para ampliação da confiabilidade e eletrônica de varredura (MEV) em baixo vácuo. In:
Hinrichs, R. (Org). Técnicas instrumentais não
otimização de empreendimentos de energia –
destrutivas aplicadas a gemas do Rio Grande do Sul.
código ANEEL 0394-1504/2015. Porto Alegre: IGEO/UFRGS. cap. 7.
Klein, V.A.; Libardi, P.L. (2002) Condutividade
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Araki, M.S. (1997) Aspectos relativos às propriedades Santa Maria, v. 32, n. 6, p. 945-953.
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Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- comportamento mecânico dos solos tropicais
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Cardoso, F.B.F. (1995)Análise química, mineralógica e Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações,
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Microscopia eletrônica de varredura: aplicações e Engenharia Civil, Universidade Estadual de Goiás,
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Caracterização preliminar geotécnica do subsolo do Campo


Experimental de Geotecnia e de Fundações da Universidade
Federal do Ceará (CEGEF – UFC)
Alfran Sampaio Moura
UFC, Fortaleza, Brasil, alfransampaio@gmail.com

Mônica Rodrigues Ramos


UFC, Fortaleza, Brasil, monica.r1r2@gmail.com

Francisco Pinheiro Lima Filho


UFRN, Natal, Brasil, fplfilho@gmail.com

Pedro Henrique Lustosa Bezerra de Menezes


UFC, Fortaleza, Brasil, pedrolustosab@gmail.com

Edno Cerqueira Júnior


UFC, Fortaleza, Brasil, ednocjr@gmail.com

RESUMO: Este trabalho visa caracterizar, a partir da realização de ensaios geotécnicos de


laboratório e campo, o subsolo do Campo Experimental de Geotecnia e Fundações da Universidade
Federal do Ceará (CEGEF – UFC), com o objetivo de subsidiar trabalhos geotécnicos futuros. A
metodologia de trabalho consiste, inicialmente, na extração de amostras deformadas e indeformadas
em diferentes profundidades no subsolo. A partir daí, são executados os seguintes ensaios de
caracterização física: umidade natural, granulometria por peneiramento e por sedimentação,
densidade real, limite de liquidez (wL), limite de plasticidade (wP) e compactação, na energia do
Proctor Normal. Ademais, são realizados ensaios geotécnicos especiais, como o triaxial adensado e
drenado (CD), o de adensamento e o de cisalhamento direto, bem como sondagens à percussão
(SPT). Para uma melhor caracterização das camadas do subsolo em estudo, assim como de suas
propriedades, o Georadar (GPR) também é utilizado como mecanismo de execução de um ensaio
não destrutivo. A partir desses resultados, tem-se que o subsolo analisado apresenta granulometria
aberta, ou seja, mal graduada, não plástico, sendo classificado como um solo granular do tipo areia-
siltosa, do grupo SM, segundo o Sistema Único de Classificação de Solos (SUCS). Os ensaios
Oedométricos possibilitaram observar aumento da rigidez do solo com a profundidade, até a
profundidade ensaiada com esse ensaio que foi de 2 m.As determinações do ângulo de atrito efetivo
(’) do solo a partir dos ensaios triaxial e cisalhamento direto foram convergentes, com variações
máximas de 2º. Já o intercepto coesivo, apesar de baixo, variou em até cerca de 40 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica, Ensaio de Laboratório, Ensaio de Campo.

1 INTRODUÇÃO uma adequada investigação geotécnica é obter a


estratigrafia do subsolo, identificar nele algum
Para a execução de projetos de engenharia, é tipo de contaminação, quando ocorrer, obter a
necessário, preliminarmente, caracterizar solo profundidade do nível d’água (NA), e,
que receberá a obra. Dessa forma, o objetivo de possibilitar a obtenção dos parâmetros do solo
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para a realização de previsões de realizam ensaios de cisalhamento direto em


comportamento. amostras reconstituídas e, em campo,
A utilização de campos experimentais apresentam os resultados de sondagem à
destinados a pesquisas em geotecnia é de percussão (SPT) e de ensaios pressiométricos
grande utilidade já que, a partir do acúmulo de (PTM).
informações geradas, possibilita o
desenvolvimentos de outras pesquisas 2 LOCAL DE ESTUDO
aplicadas.
A literatura disponibiliza diversos trabalhos O local de estudo da pesquisa em questão é o
científicos sobre caracterização de Campos Campo Experimental de Geotecnia e Fundações
Experimentais de Geotecnia, a exemplo do que da Universidade Federal do Ceará (CEGEF –
foi feito apresentado por Cavalcante et. al UFC), localizado no Campus do Pici, em um
(2006). Os autores descreveram os aspectos área de cerca de 900 m2, situado nas
geotécnicos de Campos Experimentais de proximidades do departamento de Educação
Geotecnia e Fundações a partir de 11 Física da UFC. A Figura 1 ilustra a localização
localidades do Brasil, todos dispostos tanto em da mencionada área.
universidades federais quanto estaduais. Os Conforme ilustrado da Figura 1b), foram
estudos realizados nesses subsolos foram obtidas amostras deformadas nas profundidades
responsáveis por embasar as pesquisas de 20, 60 e 120 cm, para a realização dos
desenvolvidas em dissertações, teses e ensaios de caracterização física, e foi executada
publicações científicas. um poço de investigação para a obtenção de 2
Moura et al (2008) apresentam uma pesquisa amostras indeformadas, uma na profundidade
na qual o autor caracteriza um solo arenoso de de 60 cm e outra na profundidade de 1,1 m. Na
dunas com vista à realização de projetos de mesma figura mostra-se ainda a localização de
fundações de aerogeradores. Além dos ensaios uma sondagem à percussão (SPT) realizada.
de caracterização de laboratório, os autores

a) b)
Figura 1. Desenho esquemático do CEGEF – UFC. a) Vista geral. b) Locação da coleta de amostras e da sondagem à
percussão (SPT) realizada.
primeira delas corresponde aos ensaios de
3 MATERIAIS E MÉTODOS laboratório, de caracterização física e especiais,
e a outra bateria trata dos ensaios de campo
Nesta seção, é apresentada a metodologia realizados.
adotada para a realização dos ensaios
geotécnicos do presente estudo. Foram 3.1 Ensaios de caracterização física
realizadas 2 baterias de ensaios geotécnicos. A
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Quanto aos ensaios de caracterização, ensaios de cisalhamento direto e ensaios de


executados com amostras deformadas compressão triaxial, cuja metodologia será
realizaram-se, inicialmente, ensaios de descrita a seguir.
granulometria. A análise granulométrica, que Os ensaios oedométricos, normatizado pela
corresponde à determinação das faixas de NBR 12007 (ABNT, 1990), foram realizados
tamanhos dos grãos em um solo, compreende os em corpos de prova (cp) obtidos de amostras
processos da sedimentação e de peneiramento, indeformadas, conforme relatado no item 3.1.
que são regulamentados pela NBR 7181 Para isso, os cp’s foram moldados e
(ABNT, 2016). A partir disso, foi possível colocados na célula de adensamento entre duas
traçar a curva granulométrica do subsolo do pedras porosas. Após a saturação, o processo de
campo experimental para as profundidades de aplicação dos carregamentos foi efetuado. Os
1,0 m a 1,5 m e de 1,5 m a 2,0 m. deslocamentos verticais foram obtidos através
Com as amostras deformadas das de leituras feitas ao longo do tempo, conforme
profundidades de 20 cm, 60 cm e 110 cm, recomendações da Norma, em extensômetros.
realizaram-se ainda ensaios de densidade real, Vale mencionar que, na presente pesquisa,
conforme a Norma 093 (DNER, 1994). foram utilizados, para os ensaios oedométricos,
Realizaram-se também ensaios para a obtenção amostras indeformadas das profundidades de
dos limites de Atteberg, limite de liquidez (wL) 1,0 m a 1,5 m e de 1,5 m a 2,0 m.
e de plasticidade (wP), conforme Para a realização dos ensaios de ensaio de
recomendações da NBR 6459 (ABNT, 1984) e cisalhamento, foram moldados corpos de prova,
da NBR 7180 (ABNT, 1984). também a partir das amostras indeformadas
Além disso, para as profundidades de 20 cm coletadas, que foram colocados em uma caixa
e de 60 cm e 110 cm, determinou-se a umidade metálica bipartida e, posteriormente, submetido
natural do solo, por meio do método da estufa. aos processos de saturação e de adensamento.
Realizaram-se ainda ensaios de Em seguida, foi aplicada uma força normal
compactação, com as mesmas amostras obtidas constante, pela introdução de pesos a estrutura
nas profundidades de 20 cm, 60 cm e 110 cm, do equipamento, até que se atingisse a tensão
de acordo com a NBR 6457 (ABNT, 2016). normal definida para o ensaio. Em seguida, os
Dessa forma, adicionou-se, em uma bandeja corpos de prova foram cisalhados a partir do
cilíndrica, água ao solo até se obter, deslocamento horizontal relativo das partes da
aproximadamente, uma umidade 5% abaixo da caixa de cisalhamento.
umidade ótima. A energia aplicada foi à As tensões normais aplicadas no ensaio em
referente ao ensaio de Proctor Normal. questão foram de 50, 100 e 200 kPa. A
O processo de compactação seguiu, velocidade aplicada no ensaio foi de 1,15
rigorosamente, a NBR 7182 (ABNT, 2016), mm/min.
possibilitando obtenção de valores para o peso O ensaio triaxial foi realizado a partir da
específico aparente seco máximo (γd,máx) e a moldagem de corpos de prova cilíndricos,
umidade ótima (wót) correspondente das saturação dos cp’s, aplicação de um estado
amostras ensaiadas. hidrostático de tensões e, por fim, um
Visando ainda caracterizar o solo no seu carregamento axial. Para isso, os corpos de
estado realizam-se ainda ensaios de frasco de prova foram envolvidos por uma membrana de
areia, conforme as orientações da Norma NBR borracha antes de serem colocados na câmara.
7185 (ABNT, 1986). Após isso, a câmara foi cheia com água e foi
aplicada uma pressão confinante aos cp’s.
3.2 Ensaio especiais O carregamento axial exercido sobre a
amostra, que se deu por meio do pistão que
Os ensaios especiais utilizados neste trabalho penetrou na câmara de ensaio, gera um
foram os seguintes: ensaios oedométricos, acréscimo de tensão axial (tensão desviadora).
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A velocidade utilizada aos ensaios foi de 0,03 passagem do aparelho, munido de duas antenas,
mm/min, permitindo-se a saída d’água dos cp’s sobre trechos lineares de um terreno. No ensaio,
sem geração de excesso de poro pressão (ensaio uma antena transmissora enviou um sinal
CD). Foram ensaiados corpos de prova eletromagnético, que foi refletido e captado por
indeformados das profundidades de 60 cm e de outra antena receptora. O tempo de retorno dos
110 cm. sinais indicou a profundidade dos materiais, e a
intensidade dos sinais captados indicou as
3.3 Ensaios de campo diferenças das constantes dielétricas entre as
camadas. Desta forma, foram produzidas
Conforme relatado, em campo foram realizados imagens da qual se extraiu informações acerca
ensaios de sondagem à percussão (SPT), GPR e dos estratos de solos pesquisados.
provas de carga direta.
Na área do campo experimental de geotecnia 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
e fundações foi realizada, até o momento, uma
sondagem à percussão por ocasião do VIII Nesta seção, são apresentados os ensaios
Simpósio de solos não saturados (ÑSAT, 2015) geotécnicos realizados, até o momento, no
na posição esquematicamente representada na subsolo do Campo Experimental de Geotecnia e
Figura 1. A referida sondagem foi realizada até Fundações (CEGEF) da Universidade Federal
a profundidade de 8,45 m e com procedimento do Ceará (UFC).
em conformidade com a Norma NBR 6484
(ABNT, 2001. 4.1 Ensaios de caracterização
Já o GPR (GroundPenetrating Radar), ou
radar de penetração no solo, é um equipamento A Figura 2 mostra as curvas granulométricas
de investigação geofísica, não destrutivo, dos solos presentes nas profundidades
utilizado no imageamento de subsolo ensaiadas, ou seja, 20, 60 e 120 cm.
superficial. Seu funcionamento se baseia na

Fonte: Menezes (2018)


Figura 2. Curva granulométrica do solo nas profundidades ensaiadas.

Pela Figura 2, observa-se que trata-se de solo solos das profundidades de 20 cm, 60 cm e 110
arenoso, bastante homogêneo e com cerca de cm, forneceram resultados de 2,51, 2,54 e 2,58,
10% de finos. As amostras mais profundas respectivamente.
apresentaram um pequeno aumento da Quanto à execução dos ensaios dos limites
quantidade de finos de cerca de 2%. de Atteberg, obteve-se que o índice de
Os ensaios de densidade real executados nos plasticidade (IP) apresenta valor nulo,
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denotando características arenosas e não Tabela 1 – Umidade natural das amostras ensaiadas.
plásticas ao subsolo em análise.
A umidade natural do solo foi obtida a partir
da coleta de amostras de campo, que foram
coletadas em sacos plásticos e, no laboratório,
foram submetidas ‘a estufa. Os resultados dos Fonte: Menezes (2018)
ensaios de umidade são apresentados na Tabela
1; observa-se um aumento da umidade com a Para cada uma das amostras deformadas
profundidade, variando de 4,9% a 12,4%, coletadas realizaram-se ensaios de
comportamento típicos de solos granulares. compactação, conforme relatado anteriormente,
que permitiu a construção de curvas peso
específico aparente seco (γd) x umidade (w),
conforme está apresentado na Figura 3.

Figura 3. Curvas de compactação para a energia do Proctor Normal. Fonte: Menezes (2018)

As curvas de compactação da Figura 3 entre 1,0 e 1,5 m, o módulo de elasticidade


apresentam forma bastante abatida, típicas de oedométrico (EOED) e o módulo de Young (E)
solos granulares. Observa-se peso específicos obtidos foram 17600 kPa e 10966 kPa,
secos máximos crescentes com a profundidade respectivamente. Para a amostra correspondente
e variando de 17,5 a 20 kN/m3. Pela Figura 3 a à profundidade entre 1,5 e 2,0 m, EOED foi de
umidade ótima é de difícil definição e em torno 21600 kPa, e E foi de 13458 kPa. Nas Figuras 4
de 9 a 10%. e 5 mostram-se as curvas índice de vazios x
pressão obtidas com a realização dos referidos
4.2 Ensaios especiais ensaios.
Vale mencionar que, pelos ensaios
Os ensaios oedométricos foram executados com oedométricos realizados, observa-se um
amostradas indeformadas. Na profundidade aumento da rigidez do solo com a profundidade.
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Figura 4. Curva índice de vazios x pressão para o solo da Figura 5. Curva índice de vazios x pressão para o solo da
profundidade de 1,0 m a 1,5 m. profundidade de 1,5 m a 2,0 m.

Foram realizados ainda ensaios de curvas tensão de cisalhamento x deslocamento


cisalhamento direto em corpos de provas horizontal dos corpos de prova obtidos da
obtidos de amostras indeformadas retiradas amostra da profundidade de 60 cm são
também das profundidades de 60 cm e 110 cm. mostradas na Figura 6a e as curvas de variação
Os ensaios foram realizados até um volumétrica versus deslocamento horizontal são
deslocamento horizontal máximo de 5 mm. As apresentadas na Figura 6b.

a) b)
Figura 6. a)Tensão de Cisalhamento versus deslocamento horizontal amostra da profundidade de 60 cm b) Variação
volumétrica versus deslocamento horizontal da amostra de 60 cm.

Apresentam-se, na Figura 7, as envoltórias de 5,2 kPa. Já para a profundidade de 1,10 m,


resistência das amostras retiradas das estima-se um ângulo de atrito efetivo de 31,8º e
profundidades de 60 cm e 1,10 m. Para a um intercepto coesivo de 1,3 kPa.
profundidade de 60 cm estima-se um ângulo de
atrito efetivo de 33º e um intercepto coesivo de

a) b)
Figura 7. Envoltórias de resistência a) amostra de 60 cm b) amostra de 1,10 m.
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Com base nas envoltórias das Figuras 7a e 7b, Essa variação de ângulo de atrito está
observa-se que, praticamente, não houve inserido da faixa de areias mal graduadas de
elevação do ângulo de atrito do solo com a grãos arredondados indicada por Pinto (2006),
profundidade. Por outro lado, nota-se um que é de 28º a 35º.
pequeno decréscimo da coesão com a Aplicando-se tensões de confinamento de 50,
profundidade. Além disso, observa-se que as 100 e 200 kPa, determinaram-se círculos de
curvas da Figura 6a apresentam valores Mohr e a envoltória de ruptura para as amostras
máximos sem pico e a redução da altura dos de 60 cm e de 110 cm de profundidade,
corpos de prova com o cisalhamento é típica de conforme mostrado nas Figuras 8 e 9.
areias menos compactas.

Figura 8 - Curva (1-3)/2 versus deformação do solo da Figura 9 - Curva p x q da amostra de 60 cm.
amostra de 60 cm.

A Figura 10 apresenta a ΔV/Vo versus intercepto coesivo de 7 kPa. Comparando-se


deformação do solo, onde se observa a redução com a envoltória obtida a partir dos ensaios de
do volume durante a fase de ruptura. cisalhamento direto, observa-se concordância
A envoltória de ruptura da amostra obtida a de valores em relação a Lambe e Whitman
60 cm de profundidade é mostrada na Figura (1979), que afirmam que o ângulo de atrito de
11a, utilizando-se a referida envoltória ensaios de cisalhamento direto, em geral, supera
determina-se um ângulo de atrito de 31,6º e um os de triaxial em até 2 graus.

Figura 10 - ΔV/Vo versus deformação do solo da amostra de 60 cm.


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a) b)
Figura 11 - Envoltória de ruptura da amostra de 60 cm de profundidade.

Já a envoltória de ruptura da amostra obtida nas profundidades de 60 cm e 1,1 m, verifica-se


a 1,10 m de profundidade é mostrada na Figura uma discreta elevação com a profundidade.
11b. Neste caso, o ângulo de atrito apresentou o A Tabela 2 resume os resultados dos ensaios
valor de 33,5º e um intercepto coesivo nulo. realizados no solos estudado
Comparando-se os valores do ângulo de atrito

Tabela 2 – Resumo das principais características/parâmetros do solo estudado.

4.3 Ensaios de campo materiais: areia siltosa e silte arenoso e sua


compacidade varia de fofo a mediamente
Os ensaios de campo realizados no campo compacta. O nível da água (NA) foi
experimental da UFC até o momento foram identificado na profundidade de 7,4 m. Já a
sondagens à percussão (SPT), GPR e prova de Figura 13 mostra o radargrama correspondente
carga direta. a uma aquisição GPR de aproximadamente 28m
Foi realizada uma sondagem à percussão de comprimento realizada no Campo
(SPT) até a profundidade de 8,45 m. Verifica-se Experimental de Geotecnia e Fundações da
que, até a profundidade de até 4,0 m, o NSPT Universidade Federal do Ceará. As linhas
varia de 12 a 18, e que, para maiores verdes e vermelhas são refletores que marcam
profundidades, o valor desse parâmetro diminui variações de constantes dielétricas entre as
para, aproximadamente, 5 golpes (Figura 12). A camadas investigadas.
estratigrafia é composta pelos seguintes
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Figura 12. Resultado da sondagem à percussão realizada (SPT).

Observa-se que as ondas eletromagnéticas pelos dois métodos, pois, enquanto o GPR
atenuam quando atingiram o tempo de 60 ns, utiliza a reflexão de ondas eletromagnéticas, a
que corresponde, aproximadamente, a 3 metros sondagem geotécnica tradicional se baseia na
de profundidade, caracterizada pela ausência de identificação táctil-visual do operador do ensaio
refletores retos. A partir desse nível, devido, para descrever as características de cada estrato
principalmente, à resistividade do material, a do subsolo.
relação sinal/ruído é baixa, o que não permite Além disso, uma vez que o nível freático
mais a identificação das camadas de solo identificado pelo SPT está situado em cota
subjacentes. significativamente inferior à alcançada, com
Em um ponto contido no alinhamento pelo mais qualidade, pelo método GPR, não foi
qual foi passado o GPR, foi realizada uma possível se comparar as duas metodologias
sondagem SPT (Figura 11). Nos três primeiros nessa determinação. Também não foi
metros, partindo da superfície para cotas estabelecida nenhuma comparação entre a
inferiores, a sondagem de simples resistência do solo medida pela sondagem à
reconhecimento identificou dois estratos de percussão (SPT) e pelo imageamento produzido
solo. Já o radargrama apontou a ocorrência de pela investigação geofísica. Por fim, foi
cinco camadas, indicadas por linhas negras, realizada ainda uma prova de carga direta
contínuas e horizontais (Figura 13). Essa (PCD) lenta, de acordo com a norma NBR
divergência de resultados se atribui às 6489/84.
diferenças de características físicas utilizadas

Figura 13. Radargrama obtido do CEGEF – UFC.


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O ensaio foi executado com a utilização de do solo com a profundidade até a profundidade
uma placa metálica de 50 cm de diâmetro e dois ensaiada, de 2 m.
extensômetros posicionados em extremidades Com bases nas envoltórias obtidas dos
opostas da placa. A pressão máxima aplicada foi ensaios de cisalhamento direto, observa-se que,
de 323,7 kPa, resultando em um recalque praticamente, não houve elevação do ângulo de
máximo de 3,87 mm. A Figura 14 apresenta a atrito do solo com a profundidade. Por outro
curva pressão x recalque. lado, nota-se um pequeno decréscimo da coesão
com a profundidade que pode ser resultante do
aumento da umidade natural em profundidades
maiores.
Comparando os resultados dos ensaios de
cisalhamento direto e de compressão triaxial
observa-se convergência dos resultados.
As estimativas do módulo de elasticidade (E)
realizadas pela prova de carga direta foram
bastante superiores aos estimados a partir dos
ensaios oedométricos. Tais divergências são
Fonte: NSAT (2015) atribuídas as diferenças dos níveis de
Figura 14. Prova de placa no campo experimental.
deformação impostos nos dois ensaios, assim
como distúrbios ocorridas por ocasião da
O módulo de deformabilidade secante foi
amostragem.
estimado para 50% do recalque estimado (2,75
mm), obtendo-se o valor de 90,2 MN/m² e o
REFERÊNCIAS
mesmo foi obtido dividindo o recalque de 2,75
mm pela profundidade do bulbo de tensões, Bezerra de Menezes, P. H. L. Avaliação de métodos de
considerada o dobro do diâmetro da placa. previsão de recalque a partir da transferência de carga
de estacas escavadas em perfil de solo granular.
5 CONCLUSÕES Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018.
DNER-ME 093/94: solos: determinação da densidade
Este trabalho apresenta resultados de ensaios real. Rio de Janeiro, 1994.
geotécnicos referentes ao Campo Experimental Pinto, C.S. (2006) Curso básico de Mecânica dos Solos.
de Geotecnia e Fundações da Universidade 3. ed. Oficina de Textos, São Paulo, 354 p.
Federal do Ceará. Por meio deles, foi possível Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
(2016) NBR 6457: Amostras de solo — Preparação
identificar, por exemplo, os aspectos físicos do para ensaios de compactação e ensaios de
subsolo investigado, com características de solo caracterização. Rio de Janeiro.
granular do tipo areia-siltosa, do grupo SM, ______, (1984) NBR 6459: Solo – Determinação do
segundo o Sistema Único de Classificação de limite de
Solos (SUCS), com granulometria aberta e liquidez. Rio de Janeiro, 6p.
______, (2001) NBR 6484: Execução de Sondagens de
comportamento não plástico. Simples Reconhecimento de Solos – Método de
Quanto à estratigrafia do solo, observa-se Ensaio. Rio de Janeiro, 17 p.
que não há concordância entre a descrição ______, (1984) NBR 7180: Solo – Determinação do
obtida a partir da sondagem à percussão limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 3p.
realizada (SPT) e a efetuada a partir dos ______, (2016) NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 9p.
resultados obtidos dos ensaios com o GPR. Essa ______, (2016) NBR 7182: Solo – Ensaio de
divergência de resultados se atribui às compactação. Rio de Janeiro, 10 p.
características físicas diferentes utilizadas pelos ______, (1990) NBR 12007: Solo – Ensaio de
dois métodos. adesamento unidimensional – Método de ensaio. Rio
A partir dos ensaios oedométricos foi de Janeiro.
observado uma tendência de elevação da rigidez
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Caracterização tecnológica de um rejeito fino de fosfato de baixa


densidade
Iara Santana de Azevedo
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, iarasantanaazevedo@hotmail.com

Ayra Mariane Ferreira Ribeiro


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, ayra.mariane@gmail.com

Eleonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: Rejeitos são materiais oriundos do processo de beneficiamento de minérios, podendo ser
classificados como grossos ou finos. Geralmente, os rejeitos finos são lançados de maneira
praticamente aleatória, sem o devido controle das variáveis que influenciam o processo de
deposição. Além disso, estes materiais apresentam características peculiares, com elevadas
proporções de partículas finas (fração argila). Estas características são responsáveis por atribuir a
esses materiais comportamento geotécnico peculiar, envolvendo processos de sedimentação e
adensamento não convencionais. O presente trabalho objetivou o estudo de um rejeito fino de
fosfato de baixa densidade, oriundo de um ambiente sedimentar marinho. São apresentados os
resultados de um programa experimental de laboratório, que envolveu toda a caracterização química
e física, além de ensaios de coluna de sedimentação e de adensamento por fluxo induzido (HCT).
As análises dos resultados para obtenção dos parâmetros constitutivos do rejeito foram realizadas
através de um programa computacional específico, possibilitando a obtenção das relações de
compressibilidade e permeabilidade, que poderão ser utilizadas em futuros projetos de disposição.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeitos de fosfato, Ensaios de laboratório, Caracterização tecnológica de


rejeitos.

1 INTRODUÇÃO são gerados os rejeitos, caracterizados como


materiais remanescentes dos processos
A mineração é caracterizada como um processo extrativos, cujas características granulométricas
de extração de minerais, o qual é composto por são dependentes diretamente do tipo de minério
várias etapas. A indústria é responsável pelas bruto envolvido no processo, além das questões
atividades destinadas a pesquisar, descobrir, relacionadas ao processo industrial de
mensurar, extrair, tratar ou beneficiar e beneficiamento.
transformar recursos minerais de forma a torná- São, portanto, importantes estudos destes
los benefícios econômicos e sociais. materiais, envolvendo a caracterização física e
Esta atividade é extremamente importante química, mas, especiamente, o conhecimento
por gerar matéria prima para indústrias, das suas propriedades de compressibilidade e
movimentando assim a economia mundial. Na adensamento. O correto conhecimento do
execução das etapas associadas à mineração, comportamento dos rejeitos está especialmente
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associado ao planejamento das operações de comportamento de solos finos de alta


mina e à previsão da redução de impactos compressibilidade, tais como rejeitos finos de
ambientais associados a novas áreas de mineração e materiais dragados, dos quais são
disposição. esperadas grandes deformações em relação a
O rejeito, objeto de estudo desta pesquisa, é espessura inicial da camada em análise.
oriundo do processo de beneficiamento de Gibson et al. (1967) desenvolveram uma
rochas fosfáticas formadas em ambiente teoria específica, denominada de teoria do
sedimentar marinho, da Mina de Bayóvar. A adensamento com deformações finitas, que até
planta de Bayóvar está localizada na província hoje é aplicada ao estudo do adensamento dos
de Sechura (deserto de Sechura), a 85 km da rejeitos finos.
cidade de Piura, no Peru. A equação do adensamento associado a
O rejeito de fosfato da Mina de Bayóvar deformações finitas (Equação1) é determinada a
possui características especiais em relação aos partir das equações de equilíbrio do sistema, de
processos de sedimentação e adensamento. O equilíbrio do fluido intersticial, além da
material sedimenta-se lentamente, devido a sua continuidade das partículas. Adicionalmente,
baixa densidade e, ao ser adensado, sofre são considerados o princípio das tensões
grandes deformações (finitesimais). Ressalta-se efetivas e as leis constitutivas do material,
que estes dois processos podem ocorrer relativas às características de compressibilidade
simultaneamente. e permeabilidade (Gibson et al., 1967).
Kynch (1952), citado por Pereira (2017),
formulou a primeira abordagem do processo de
sedimentação de uma mistura, em que diversas (1)
partículas sedimentam em um líquido com
interferência entre elas, que, como mencionado, Sendo:
é mais adequado para simular o que acontece ’: tensão efetiva;
durante o enchimento de um reservatório de e: índice de vazios;
rejeitos. O autor propôs uma teoria de k: coeficiente de permeabilidade;
sedimentação restringida baseada, na hipótese t: tempo;
fundamental de que a velocidade de queda de z: coordenada reduzida;
uma partícula não é somente função das sewpeso específico dos sólidos e peso
propriedades da partícula e do líquido, como na específico da água, respectivamente.
teoria de Stokes, mas também da concentração
de partículas na sua vizinhança, ou seja, quanto
maior a concentração de partículas, menor a 2 METODOLOGIA
velocidade de queda e vice-versa. Desta forma,
a teoria de Kynch considera a continuidade das 2.1 Ensaios de Caracterização
partículas, embora não leve em conta o
equilíbrio de forças da partícula (equação de A metodologia adotada na realização dos
movimento). ensaios é comumente usada em laboratórios de
Para o adensamento, segundo Pane (1981), a mecânica dos solos. Os ensaios de limite de
teoria do adensamento unidimensional de liquidez e de plasticidade foram realizados
Terzaghi é uma representação unidimensional seguindo as normas NBR-6459 (ABNT, 2017) e
de um fenômeno tridimensional, que se baseia NBR-7180 (ABNT, 2016), respectivamente.
na ocorrência de deformações infinitesimais, na Além disso, também foi adotada a norma
validade da Lei de Darcy. Carrier III et al. britânica, com o uso do Cone de Penetração,
(1983), citados por Botelho (2001), afirmou que BS-1377 (BSI, 1975), para determinação do
esta teoria não é adequada para a previsão do limite de liquidez.
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A massa específica dos grãos (s) foi o tempo de estabilização da interface foi
determinada seguindo os procedimentos da percebido somente após 7 dias, demostrando a
ASTM D-854 (ASTM, 2014). baixa velocidade de sedimentação do rejeito.
Para realização da análise granulométrica, Além da realização do ensaio no teor de
optou-se pelo uso do granulômetro a laser. O sólidos inicial do rejeito, também foram
analisador de tamanho de partícula por difração realizadas sedimentações em amostras,
a laser utilizado foi o Mastersizer 2000. O considerando a variação do teor de sólidos, com
equipamento mede a intensidade da luz a retirada parcial da água sobrenadante, seguida
espalhada, ao tempo em que um feixe de laser, por uma nova homogeneização da lama, com a
emitido pelo sonar, interage com as partículas utilização da própria água do rejeito. Os teores
dispersas da amostra. Os dados são utilizados de sólidos obtidos foram aleatórios,
para o cálculo da distribuição do tamanho das objetivando, neste caso, avaliar a influência
partículas obtidas, a partir de um padrão de destes no tempo de sedimentação, bem como a
espalhamento gerado. concentração da camada final sedimentada
Todos os ensaios foram realizados no Centro (Figura 1).
Tecnológico de Geotecnia Aplicada do NUGEO
(Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas).
Além disso, são apresentados resultados de
ensaios de difração de raios-X e microscopia
eletrônica de varredura (MEV), realizados no
NanoLab, da Escola de Minas/UFOP.

2.2 Ensaios Especiais

Os ensaios especiais visaram o conhecimento


do comportamento do rejeito, em termos de Figura 1. Sequência de provetas dos ensaios de coluna de
sedimentação (coluna de sedimentação) e sedimentação
adensamento (HCT).
Os ensaios de colunas de sedimentação são Para o ensaio de adensamento induzido por
geralmente realizados em equipamentos de percolação (HCT) com bomba de fluxo, utlizou-
grandes dimensões ou mesmo provetas se o equipamento, pertencente ao
convencionais, corriqueiramente usadas nos CTGA/NUGEO. Imai (1979), conforme citado
ensaios de Mecânica dos Solos. Além das por Cançado (2010), afirmou que o princípio
características associadas ao processo de geral dos ensaios de adensamento HCT,
deposição dos rejeitos finos, os ensaios podem consiste na aplicação de um fluxo descendente
também ser aplicados na determinação indireta ao longo de uma dada amostra de solo que, em
da permeabilidade destes materiais (Silva, associação aos efeitos de peso próprio, induz o
2008). Na presente pesquisa, foram realizados adensamento da mesma por gradientes de
ensaios de sedimentação em coluna, com a percolação. Torna-se viável a determinação dos
utilização de provetas convencionais, de 1000 parâmetros de compressibilidade dos solos finos
mL. sob baixas tensões, algo impraticável pelos
Buscando melhor reprodutibilidade e ensaios convencionais de adensamento. O
representatividade dos resultados, os ensaios ensaio é complementado pelo incremento de
foram inicialmente realizados em duas provetas, alguns estágios de carregamento, para obtenção
concomitantemente, no teor de sólidos utilizado dos parâmetros de compressibilidade em níveis
na disposição dos rejeitos (entre 14 e 15%). O de tensões mais elevadas, obtendo-se, desta
ensaio foi realizado durante 10 dias, sendo que forma, uma curva mais abrangente da variação
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dos índices de vazios em função das tensões 3.3 Análise Granulométrica


efetivas. Os resultados são interpretados com
base na equação geral do adensamento a Foram realizados ensaio em quatro situações,
grandes deformações e para condições iniciais e para todas as amostras, com o uso do
de contorno muito bem definidas. dispersante químico e/ou físico (somente
agitação); com o uso do dispersante químico
(hexametafosfato de sódio) somente; com o uso
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS somente do sonar (uma espécie de dispersor
RESULTADOS sônico) e com o uso do hexametafosfato e do
sonar, simultaneamente.
3.1 Determinação do Teor de Sólidos Inicial Optou-se pela bombona 2 (B-02) para
comparação entre as quatro situações (Figura 2).
Foi determinado o teor de sólidos inicial das A Figura 3 destaca a representação das 6
seis amostras, armazenadas em seis bombonas, amostras, onde se percebe a pouca variação
e seus respectivos teores de umidade (Tabela 1). entre elas, em teermos de granulometria.
Os elevados valores de umidade apresentados
100
são característicos dos rejeitos finos em polpa,
90
que apresentam baixos teores de sólidos. 80
70
Tabela 1. Teores de umidade (w) e de sólidos (ψ) das
Passante (%)

60
bombonas de rejeito 50
Bombona w (%) (%) 40
30 Sem hex e sem sonar
B-01 592,2 14,45 20
Com hex e sem sonar
Sem hex e com sonar
B-02 661,1 13,14 10
Com hex e com sonar
B-03 601,3 14,26 0
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
B-04 590,3 14,49 Diâmetro (mm)
B-05 543,8 15,53 Figura 2. Curvas granulométricas da amostra B-02 sob
B-06 662,1 13,12 quatro condições de dispersão

100
3.2 Determinação da Massa Específica dos 90
Grãos 80
70
Passante (%)

60
A massa específica dos grãos (s) de cada 50 B01
amostra foi determinada e, a partir do teor de 40 B02
umidade inicial, foram obtidos os índices de 30 B03
20 B04
vazios iniciais, como mostrado na Tabela 2. B05
10 B06
0
Tabela 2. Massa específica dos grãos (ρs) e índices de 0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
vazios de lançamento (e) Diâmetro (mm)
Bombona (ρs) (g/cm³) e Figura 3. Curvas granulométricas das amostras obtidas
B-01 2,370 14,04 com o granulômetro a laser (com hexametafosfato e com
sonar)
B-02 2,306 15,67
B-03 2,434 14,25
Através da análise granulométrica, nota-se
B-04 2,439 13,99
que o rejeito em estudo apresenta uma
B-05 2,503 12,88
composição de aproximadamente de 8% na
B-06 2,380 15,69
fração argila, 86% de silte e 6% de areia.
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3.4 Determinação dos Limites de Liquidez e (BI), Quartzo (Q) fluorapatita, com óxidos de
de Plasticidade silício não superiores a 50 micras (Figura 4).

Os resultados dos limites de consistência são


apresentados na Tabela 3.
Observa-se que os valores de LL tiveram a
influência do método utilizado. Tal fato pode
ter associação com a pequena quantidade de
argila presente na amostra.

Tabela 3. Limites de consistência do rejeito


LLABNT LLBS LP IP Figura 4. Difratograma de raios-X do rejeito de fosfato
Ensaio
(%) (%) (%) (%)
01 75 87 40 35 As principais fases foram obtidas por meio
02 74 85 41 33 da difratometria de raios-X. As imagens da
microscopia, cuja aproximação de 2000 vezes é
3.5 Análise Química mostrada na Figura 5, ressaltaram a presença
significativa de fósseis marinhos silicáticos,
As análises apresentadas na Tabela 4 mostram a comuns nas camadas e intercamadas da rocha
presença majoritária de SiO2 e, em menor fosfática. Os fosseis são característicos de
escala, de P2O5, CaO e Al2O3, bem como uma plânctons (Asteromphalus).
característica inativa do rejeito, do ponto de
vista de elementos contaminantes.

Tabela 4. Limites de consistência do rejeito


Composto Teor
P2O5 % 7,2
CaO % 9,3
SiO2 % 61,6
Al2O3 % 6,9
F2O3 % 2,8
MgO % 1,7
Cd ppm 32,5
F % 0,4
Cl % 0,2
Na2O % 1,2
K2O % 1,0

3.6 Análise Mineralógica Figura 5. MEV do rejeito de fosfato - aproximação de


2000 vezes
A análise mineralógica foi realizada por meio
de microscópio eletrônico de varredura (MEV), 3.7 Ensaios de coluna de sedimentação
equipamento capaz de produzir imagens de alta
ampliação e resolução, bem como por O ensaio de sedimentação em coluna foi
equipamento de difratometria de raios-X. inicialemente realizado com duas provetas,
Através dos resultados, destaca-se a presença de sendo colunas deixadas em repouso durante 10
partículas de halita (H), bassanita (BA), biotita dias. Os resultados, plotados pela média das
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duas provetas, demonstram que o tempo de acordo com o autor, a velocidade de


estabilização da interface foi alcançado somente sedimentação de uma determinada partícula não
após 7 dias (Figura 6). depende somente de suas propriedades e do
líquido, mas também da concentração de
1000
sólidos ao seu redor. Neste sentido, quanto
900
maior a concentração de partículas, aqui
Interface sobrenadante (mL)

800
700 representada pelo teor de sólidos, menor é a
600 velocidade de sedimentação.
500
400 3.8 Ensaio de adensamento por fluxo
300
200
induzido (HCT)
100
0 O ensaio foi realizado com os rejeitos
0 5000 10000 15000 20000 provenientes da bombona 2, considerando o
Tempo (min)
teor de sólidos inicial em torno de 13%.
Figura 6. Curva média de sedimentação em coluna
Os parâmetros constitutivos, obtidos através
Além da realização do ensaio no teor de da simulação computacional realizada no
sólidos inicial do rejeito, também foram SICTA (Abu-Hejleh e Znidarcic, 1992), são
realizadas sedimentações em amostras, expostos na Tabela 5. A partir das Equações 1 e
considerando a variação do teor de sólidos, com 2 (Liu e Znidarcic, 1991), foram construídas as
a retirada parcial da água sobrenadante, seguida curvas de compressibilidade de permeabilidade
por uma nova homogeneização da lama, com a (Figuras 7 e 8).
utilização da própria água do rejeito. Os teores
Tabela 5. Parâmetros constitutivos obtidos no ensaio
de sólidos obtidos foram aleatórios, HCT
objetivando, neste caso, avaliar a influência Parâmetro Valor
destes no tempo de sedimentação, bem como a A 16,13599
concentração da camada final sedimentada B -0,54376
(Figura 7). Z (kPa) 5,74037
1000 C (m/s) 4,6679 x10-9
900 D 1,12944
Interface sobrenadante (mL)

800
700 e = A(’ + Z) (1)
600
500
k = CeD (2)
400
Teor de sólidos = 23,2% Teor de sólidos = 21,5%
300 Teor de sólidos = 20,4% Teor de sólidos = 19,2%
Teor de sólidos = 18,4% Teor de sólidos = 17,3% 7
200 Teor de sólidos = 16,5% Teor de sólidos = 15,7%
Teor de sólidos = 15,0%
100 6
0 5000 10000 15000 20000 5
Tempo (min)
Índice de vazios

Figura 6. Curvas de sedimentação para diferentes teores 4

de sólidos 3

2
Constatou-se, a partir das 9 amostras 1
avaliadas, que a estabilização da interface
0
ocorre mais rapidamente para menores teores de 0,01 0,1 1 10 100 1000
sólidos, o que é comprovado pela teoria da Tensão efetiva (kPa)

sedimentação restringida de Kynch (1952). De Figura 7. Curva de compressibilidade do rejeito


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7
Os resultados obtidos, especialmente
6 relacionados ao conhecimento das propriedades
5 geotécnicas de sedimentação, compressibilidade
Índice de vazios

4 e adensamento, poderão subsidiar a realização


3 de projetos de disposição de rejeitos e o correto
2
monitoramento das estruturas de contenção ao
longo de sua vida útil.
1

0
1,00E-09 1,00E-08 1,00E-07
Permeabilidade (m/s) AGRADECIMENTOS
Figura 8. Curva de compressibilidade do rejeito
Os autores agradecem ao NUGEO, a UFOP e a
CAPES, pelo apoio constante, e à Companhia
4 CONCLUSÕES Mineira Miski Mayo do Peru, pela viabilização
dos rejeitos e apoio na realização da pesquisa.
Em relação á granulometria do material, é
possível concluir que o dispersante químico
sozinho não teve a mesma efetividade quando REFERÊNCIAS
comparado com a sua ação em concomitância
com a dispersão por difração (sonar). ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Particularmente para este rejeito, o sonar, Solo – Determinação do limite de liquidez. NBR
6459. Rio de Janeiro, 2017, 9 p.
agindo sozinho teve o mesmo efeito da sua ação ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
em conjunto com o dispersante químico. Solo – Determinação do limite de plasticidade. NBR
Na etapa de sedimentação, o material 7180. Rio de Janeiro, 2016, 7 p.
comportou-se em conformidade com a teoria de Abu-Hejleh, A.N.; Znidarcic, D. (1992). User manual for
computer program SICTA. Department of Civil,
Kynch (1952), tendo uma menor velocidade de
Environmental and Architectural Engineering,
sedimentação, quando apresentam maior teor de University of Colorado, Boulder, Colorado, 101 p.
sólidos, além de atingirem índices de vazios ASTM: American Society for Testing and Materials.
muito próximos, mesmo possuindo teor de Standard Test Methods for Specific Gravity of Soil
sólidos diferentes. Solids by Water Pycnometer. D-854. West
Conshohocken, PA, 2014.
As análises dos resultados para obtenção
Botelho, A.P.D. (2001). Implementação de metodologias
dos parâmetros constitutivos dos rejeitos foram de ensaios para determinação de relações
realizadas através do SICTA, possibilitando a constitutivas de processos de fluxo em solos com a
obtenção das relações de compressibilidade e utilização da bomba de fluxo, Dissertação de
permeabilidade. A partir dos resultados, Mestrado, Núcleo de Geotecnia, Universidade Federal
de Ouro Preto, Minas Gerais, 254 p.
observou-se que o rejeito apresentou maior
BSI: British Standards Institution. Methods of test for
variação de volume na etapa de sedimentação, soils for civil engineering purposes. BS 1377.
quando comparada à de adensamento. Os London, UK, 1975.
rejeitos apresentaram baixa permeabilidade, Cançado, N. L. (2010). Desenvolvimento de equipamento
mesmo para maiores índices de vazios. para realização de ensaios HCT com o uso da bomba
de fluxo. Dissertação de Mestrado, Núcleo de
Os rejeitos estudados apresentaram um Geotecnia, Universidade Federal de Ouro Preto,
elevado número de partículas finas, cuja Minas Gerais, 113 p.
compressibilidade não pode ser inferida Carrier III, W.D., Bromwell, L.G. e Somogyi, F. (1983).
mediante os princípios da teoria clássica de Design capacity of slurried mineral waste pounds.
Terzaghi. Foram adotados procedimentos que Journal of Geotechnical Engineering Division,
ASCE, v. 109, n. 5, p. 699-716
levaram em consideração este comportamento, Gibson, R.E., England, G.L. e Hussey, M.J.L. (1967).
ou seja, grandes deformações. The theory of one-dimensional consolidation of
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saturated clays: I. finite non-linear consolidation of


thin homogeneous layers. Géotechnique, v. 17, n. 3, p.
261-273
Imai, G. (1979). Development of a new consolidation test
procedure using seepage force. Soil and Foundations,
v. 19, n. 3, p. 45-60
Kynch, G.J. (1952). A theory of sedimentation.
Transactions of the Faraday Society, v. 48, p. 166-176
Liu, J.C.; Znidarcic, D. (1991). Modeling one-
dimensional compression characteristics of soils.
Journal of Geotechnical Engineering, ASCE, v. 117,
n. 1, p. 162-169
Pane, V. (1981). One-dimensional finite strain
consolidation. M.Sc. Thesis. Department of Civil,
Environmental and Architectural Engineering,
University of Colorado, Boulder, Colorado, 148 p.
Pereira, E.L. (2017). Estudo das características de
compressibilidade e adensamento de rejeitos de
fosfato de baixa densidade com o uso de técnicas
experimentais de laboratório e de campo. Tese de
Doutorado, Núcleo de Geotecnia, Universidade
Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, 254 p.
Silva, W.R. (2008). Nova metodologia para
determinação de propriedades de sedimentação e
adensamento de rejeitos de mineração. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
Minas Gerais, 157 p.
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Comparação do Limite de Liquidez utilizando o Aparelho de


Casagrande e o Fall Cone para um solo de Formação Barreiras do
campus da UFRJ - Macaé
Lívia Corrêa Cerbino
UFRJ, Macaé, Brasil, livia.cerbino@hotmail.com

Graziella Maria Faquim Jannuzzi


UFRJ, Macaé, Brasil, jannuzzi@coc.ufrj.br

Raquel Jahara Lobosco


UFRJ, Macaé, Brasil, rlobosco@macae.ufrj.br

RESUMO: Os parâmetros índices dos solos são importantes para identificar e classificar os solos
argilosos. A norma brasileira NBR 6459 padroniza o ensaio de limite de liquidez (wL) com a
utilização do aparelho de Casagrande. Na Europa e na Ásia, o método mais popular empregado para
a determinação do limite de liquidez é o Fall Cone. Utilizou-se na presente pesquisa um solo da
Formação Barreiras do Campus UFRJ-Macaé, tendo sido comparados os valores de wL através dos
métodos de Casagrande e do Fall Cone. Além da comparação mencionada, pretende-se contribuir
para aumentar o banco de dados utilizando solos brasileiros no que diz respeito à comparação com
os dois métodos de ensaio para determinação do wL. Os resultados experimentais obtidos mostram
que em média wL Casagrande = 0,86wL Fall Cone, ou seja, o limite de liquidez obtido através do
aparelho de Casagrande foi 14% menor do que o obtido através do fall cone para o solo estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Limite de Liquidez, Fall Cone, Aparelho de Casagrande, Formação


Barreiras.

1 INTRODUÇÃO Esses ensaios atualmente são conhecidos como


Limites de Atterberg e são ensaios de referência
De acordo com Das e Sobhan (2014), por volta para a engenharia geotécnica e a geologia.
de 1908 Albert Mauritz Atterberg (1846-1916), Segundo Mitchell e Sitar (1982), em Bicalho
químico e cientista de solo sueco, definiu fração et al. (2017), os valores de limite de liquidez
de argila como a porcentagem de massa de são frequentemente usados nas avaliações
partículas menores que dois micra. Atterberg preliminares das argilas para uso em fundações,
percebeu o papel importante que as partículas aterros compactados na construção de estradas e
de argila representam em um solo e em sua obras de armazenamento e retenção de água ou
plasticidade. Em 1911, Atterberg explicou a contaminantes. Mencionam ainda que a
consistência de solos argilosos definindo os determinação errada do limite de liquidez pode
limites de liquidez, plasticidade e de contração. resultar na rejeição de materiais satisfatórios, ou
Também definiu o índice de plasticidade como mesmo na aceitação de materiais inadequados.
a diferença entre o limite de liquidez e o limite O método tradicional para determinar o
de plasticidade. Assim, Atterberg empregou os limite de liquidez é o método de percussão
ensaios índices de consistência que foram padronizado por Casagrande (1932), de
posteriormente desenvolvidos e padronizados invenção própria. Todavia este método
por Arthur Casagrande, auxiliar de Terzaghi. apresenta limitações como a dispersão dos
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resultados devido à influência do operador e das provenientes de variações Eustáticas, com


condições do aparelho. destaque à que foi produzida por um evento
John Olsson desenvolveu um novo aparelho erosivo ocorrido no Tortoniano (11,6 – 7,2 Ma).
para determinação do limite de liquidez entre Os estudos de Winter et al. (2007) mostram
1914 e 1922 com objetivo de aperfeiçoar a que na região norte do estado do Rio de Janeiro
metodologia anterior. O Fall Cone (ou Cone de a Formação Barreiras está inserida na porção
Penetração) foi criado de forma a obter um emersa da bacia de Campos, sendo incluída no
ensaio mais simples, rápido, menos dependente Grupo Campos e associada a sedimentos de
do operador e com maior precisão. O ensaio origem fluvial.
consiste em se medir a penetração vertical Segundo Silva e Cunha (2001), em Morais et
estática de um cone, padronizado, sob al. (2006), em um recente mapa geológico do
condições especificadas de peso, ângulo e Estado do Rio de Janeiro, os maiores depósitos
tempo de queda em uma amostra de solo da Formação Barreiras no estado do Rio de
previamente preparada. Janeiro estão situados na região da planície
No presente trabalho foram realizados vários costeira do rio Paraíba do Sul, constituindo o
ensaios que permitiram uma comparação do limite oeste desta planície, particularmente a
limite de liquidez obtido pelo método de norte da foz deste rio. Nesta região, os
Casagrande com o do Fall Cone para o caso de depósitos da Formação Barreiras abrangem o
um solo da Formação Barreiras do campus da litoral, onde, por ação direta das ondas, são
UFRJ-Macaé. esculpidas falésias. Esta unidade também incide
na região de Quissamã e próximo às cidades de
Búzios e Macaé, como pode ser observado na
2 O SOLO ENSAIADO Figura 1 que ilustra o mapa geológico desta
região. A área em cinza caracteriza o solo da
O solo utilizado na presente pesquisa foi obtido Formação Barreiras e o campus da UFRJ Macaé
no campus da UFRJ-Macaé. Segundo Porto está indicado em vermelho.
Júnior (2017), o município de Macaé,
localizado na região sudeste do Brasil, no
interior do estado do Rio de Janeiro, possui uma
área total de 1.216,846 quilômetros quadrados,
correspondentes a 12,5% da área da Região
Norte Fluminense.
No que diz respeito à formação geológica do
local, segundo Morais et al. (2006), a
denominação “Barreiras” vem sendo
empregada, com significado estratigráfico,
desde Moraes Rêgo (1930 apud Baptista et al.,
1984), para descrever depósitos arenosos e Fig. 1. Mapa geológico de Macaé e regiões vizinhas
argilosos, de cores variegadas, normalmente (Almeida et al., 2012).
muito ferruginizados, identificados nos baixos
platôs amazônicos e nos tabuleiros da costa do A Figura 2 ilustra o talude, no Campus da
norte, nordeste e leste brasileiro. UFRJ-Macaé, onde foi coletado o solo para a
Segundo Shimabukuro e Arai (2000), em presente pesquisa.
Morais et al. (2006), a Formação Barreiras é
devida principalmente à acumulação de uma
grande quantidade de sedimentos nas áreas hoje
emersas do continente, juntamente com o
retrabalhamento de sedimentos marinhos,
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A determinação do limite de liquidez pelo


método de Casagrande é padronizado e descrito
pela NBR 6459. De aordo com esse método o
limite de liquidez pode ser definido como o teor
de umidade do solo com o qual uma ranhura
nele feita com o cinzel, numa concha, requer
25 golpes (com velocidade de 2 voltas por
segundo) para se fechar, ao longo de 13 mm de
comprimento.
Este ensaio foi realizado no Laboratório de
Mecânica dos Solos da UFRJ Campus Macaé,
com o equipamento ilustrado na Figura 3.

Fig. 2. Talude no Campus UFRJ Macaé de onde foram


coletadas as amostras (Cerbino, 2018).

3 OS ENSAIOS REALIZADOS

Foram coletadas amostras em duas verticais e


três profundidades: 0,30 m e 0,45 m na vertical
1; 0,45 m e 0,70 m na vertical 2. A Tabela 1 Fig. 3. Aparelho Casagrande utilizado no Laboratório de
Mecânica dos Solos da UFRJ Campus Macaé – marca
ilustra os ensaios realizados, sua quantidade e a
Matest (Cerbino, 2018).
norma utilizada em cada ensaio
Segundo Kestler (1982), o método
Tabela 1. Ensaios realizados.
desenvolvido por Casagrande (1932) possui
Ensaio Número de Norma
ensaios limitações que podem influenciar os resultados
Umidade natural 4 NBR 16097 dos ensaios, tais como: habilidade e
Limite de Liquidez 9 NS 8002 sensibilidade do operador, condições da concha
Fall cone e do cinzel. Outra desvantagem reconhecida
Limite de Liquidez 13 NBR 6459 pelo próprio Casagrande é o fato de que o
Aparelho de
Casagrande
ensaio consiste essencialmente em um ensaio
Limite de 8 NBR 7180 dinâmico de cisalhamento.
Plasticidade Segundo Sousa (2011), a limitação que pode
Densidade real dos 4 NBR 6508 causar maior discrepância na determinação do
grãos (Gs) limite de liquidez pelo método de Casagrande é
Granulometria com 4 NBR 7181
a habilidade do operador, pois a mesma pode
sedimentação
Teor de Matéria 8 NBR 13600 variar devido à prática individual.
orgânica
3.2 Fall Cone
No presente trabalho ênfase será dada à
determinação do limite de liquidez (wL) através Segundo Garneau e LeBihan (1977), o Fall
dos equipamentos de Fall Cone e Casagrande. Cone Sueco tem sido amplamente utilizado na
Suécia para determinar a consistência e a
3.1 Aparelho de Casagrande resistência das argilas. O método do Fall Cone
foi desenvolvido por John Olsson entre 1914 e
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1922. John Olsson era membro da Comissão Campbell (1975) demonstrou que o método
Geotécnica das Ferrovias da Suécia e do cone de penetração para determinação do
desenvolveu este equipamento com intuito de limite de liquidez oferece melhorias valiosas em
determinar a consistência das argilas. A relação ao método de Casagrande, tanto em
consistência era fornecida em termos de um termos de reprodutibilidade quanto na
valor de resistência, definido como o peso de facilidade de condução do teste. Após a difusão
um certo cone requerido para obter uma do ensaio para vários países, o aparelho foi
penetração de 10 mm em uma amostra de sofrendo mudanças e cada país possui o cone de
argila. A relação entre esse valor para uma penetração padronizado com peso, tempo de
amostra indeformada e para uma amostra queda e ângulo diferentes.
amolgada foi definida como a sensibilidade da Segundo Koumoto & Houslby (2001), o K
argila. Posteriormente, os valores de resistência padronizado para o Fall Cone Sueco, com 60 g,
foram calibrados em relação à resistência não 60º e penetração no wL de 10 mm, é de 0,305.
drenada obtida em ensaios de cisalhamento Com isso, tem-se uma resistência não drenada
direto e em retroanálises de rupturas no campo. no limite de liquidez de 1,83 kPa.
Um cone padrão, pesando 60 gf, com um O método proposto por Casagrande (1932)
ângulo de vértice de 60º, foi adotado, e o valor admite que cada golpe realizado pela concha de
de resistência foi definido como uma função da Casagrande possui resistência não drenada
penetração do cone. constante de 0,1 kPa, ou seja, no limite de
Este cone também foi utilizado na Suécia liquidez o valor de su é de 2,5 kPa.
para determinar um limite de liquidez arbitrário, Pode-se observar uma diferença de 28%
que corresponde ao teor de umidade da argila entre ambos os métodos.
amolgada (passante na peneira número 40) que Segundo Koumoto & Houlsby (2001), o
proporciona uma penetração de 10 mm do cone método Fall Cone é considerado mais confiável
padrão. para se determinar o limite de liquidez do que o
A partir dos estudos de Hansbo (1957) método de Casagrande e, consequentemente, é
realizados no SGI (Swedish Geotechnical o método preferido e padronizado em diversos
Institute), a resistência não drenada da argila países.
pode ser deduzida do valor de penetração do De acordo com DeGroot & Lunne (2005),
cone pela equação 1. existem vários equipamentos para se determinar
o limite de liquidez (wL) através do ensaio Fall
Cone. A Tabela 2 apresenta um sumário das
(1) características de alguns desses equipamentos
em diferentes países. Na Tabela também são
em que: incluídas duas normas de ensaios do método
C = resistência não drenada da argila, hoje Casagrande. Devido às diferenças nos
simbolizada como su (kPa) equipamentos e procedimentos de ensaio,
K = constante que é função do ângulo do cone diferentes resultados de limite de liquidez são
de penetração e da sensibilidade da argila encontrados. A principal diferença nos
P = profundidade de penetração do cone no solo resultados diz respeito naturalmente aos
(mm) aparelhos de Casagrande e o Fall Cone.
M = massa correspondente ao cone de
penetração (g)
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Tabela 2. Equipamentos para determinação do limite de liquidez e suas respectivas normas (DeGroot & Lunne, 2005).
País / Norma Método Propriedades do Cone Profundidade da
Ângulo (°) Massa (g) penetração para wL
(mm)
EUA ASTM D4318 Casagrande - - -
UK BS1377 -2 Casagrande - - -
UK BS1377 -2 Fall Cone 30 80 20
Noruega NS 8002 Fall Cone 60 60 10
India IS 2720 - Parte 5 Fall Cone 30 80 20
França LCPC Fall Cone 30 80 17
Rússia GOST 5184 Vasilev Fall Cone 30 76 10
Japão JGS 0142-2000 Fall Cone 60 60 11,5
China SD128-007-84 "Balanced" Fall Cone 30 76 17

Leroueil e Le Bihan (1996) e Farrell et al. de 10 mm. O ensaio foi realizado no


(1997) concluíram que o limite de liquidez Laboratório de Ensaios de Campo e
determinado com o Fall Cone Norueguês/Sueco Instrumentação Professor Márcio Miranda
de 60°- 60 gf para uma profundidade de Soares, um dos Laboratórios de Geotecnia
penetração de 10mm é essencialmente igual ao Jacques de Medina da COPPE-UFRJ. Uma vez
limite de liquidez determinado pelo Fall Cone que ainda não existe uma norma brasileira que o
BS 30°- 80 gf para profundidade de penetração padronize, adotou-se a Norma Norueguesa NS
de 20mm. 8002. A Figura 5 ilustra a realização do ensaio.
Há propostas para emprego do Fall Cone
também para a determinação do limite de
plasticidade. De fato, Scherrer (1961) propôs
um método que envolve a extrapolação de uma
relação linear entre o teor de umidade e a
penetração na região do limite de liquidez,
porém admitiu que o uso de extrapolação pode
ocasionar imprecisão no método. Anos mais
tarde, Towner (1973) mostrou que, embora a
relação entre o teor de umidade e a penetração
(log) seja linear na região do limite de liquidez,
torna-se não linear quando o teor de umidade
diminui.
O equipamento de Fall Cone utilizado na
presente pesquisa é da marca Geonor (cone
sueco), ver Figura 4. Utilizaram-se os
procedimentos empregados no NGI (Instituto
Norueguês de Geotecnia) para determinação do  
wL através do Fall Cone, no qual o cone de Fig. 4. Aparelho de Fall Cone utilizado na presente
pesquisa (Cerbino, 2018).
massa 60 g com ângulo de 60° cai em queda
livre da superfície do solo. O wL, nesse caso, é
o teor de umidade correspondente à penetração
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Tabela 4. Média dos resultados dos ensaios de limite de


liquidez realizados com os dois equipamentos e relação
wLFallCone/wLCasagrande
Vert. Prof. Limite de Liquidez (wL%)
(cm)
Casagrande Fall Relação
Cone Casagrande/
Fall Cone
1 30 31 38 0,82
45 37,5 42 0,89
Fig. 5. Realização do ensaio de Fall Cone (Cerbino, 2 45 42 47,5 0,88
2018). 70 48,5 56 0,87

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS

4.1 Determinação do Limite de Liquidez


através do aparelho de Casagrande e do Fall
Cone

A Tabela 3 ilustra os valores encontrados para


wL através do aparelho de Casagrande e do Fall
Cone para as duas verticais ensaiadas.
Fig. 6. Resultado de ensaio de wL através do aparelho de
Tabela 3. Valores do limite de liquidez obtidos. Casagrande – Vertical 1 (0,30m), (Cerbino, 2018).
Vertica Prof. Limite de Liquidez (%)
l (cm) Aparelho de Fall Cone
Casagrande
1 30 30 32 37 39
45 37 38 42 42
2 45 42 42 47 48
70 48 49 55 57

A Figura 6 ilustra o resultado de um ensaio de


limite de liquidez através do Aparelho de
Casagrande para a vertical 1, profundidade de
0,30 m. Já a Figura 7 ilustra o resultado de um Fig. 7. Resultado de ensaio de wL através do aparelho de
Fall Cone – Vertical 1 (0,30m), (Cerbino, 2018).
ensaio de limite de liquidez através do Fall
Cone para a mesma vertical e profundidade.
Pode-se concluir que em média wLCasagrande =
0,86wLFall Cone, ou seja, wL obtido através do
4.2 Comparação entre os métodos
Fall Cone fornece maior teor de umidade
(menor resistência) do que o obtido através do
A Tabela 4 apresenta os valores médios do
aparelho de Casagrande. Como dito
limite de liquidez obtido com os equipamentos
anteriormente o wL obtido pelo equipamento de
de Casagrande e Fall Cone para cada vertical.
Casagrande (1932) possui resistência ao
Além disso, ilustra a relação
cisalhamento no limite de liquidez de 2,5 kPa,
wLFallCone/wLCasagrande.
já o equipamento de Fall Cone 1,8 kPa. Ou seja,
o valor da resistência obtida através do Fall
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Cone no limite de liquidez é menor do que o valor da atividade (relação entre índice de
obtido com o aparelho de Casagrande cerca de plasticidade e fração de argila), respectivamente
28%. Conceitualmente, o valor da resistência ao menor do que 0,75, entre 0,75 e 1,25 e maior do
cisalhamento no limite de liquidez deve ser que 1,25.
igual a zero. Assim, o método que mais se A Tabela 6 ilustra a classificação com o
aproxima do esperado para o solo estudado é o limite de liquidez determinado através de
do Fall Cone, que fornece um valor de ambos os métodos.
resistência menor no wL.
Tabela 6. Valores de atividade (A) e classificação de
4.3 Análise conjuta dos resultados acordo com Skempton (1948), wL de Casagrande e wL de
Fall Cone.
Verti Prof wL Casagrande wL Fall Cone
Além dos ensaios de limite de liquidez através cal (cm)
do aparelho de Casagrande e do Fall Cone, A Classe A Classe
foram também realizados os ensaios de limite 1 30 0,43 Inativa 0,66 Inativa
de plasticidade (wp), teor de umidade natural 1 45 0,39 Inativa 0,50 Inativa
(wn), matéria orgânica (MO), densidade real dos
2 45 0,71 Inativa 0,90 Normal
grãos (Gs) e granulometria com sedimentação
2 70 0,74 Inativa 1,00 Normal
(Tabela 5).

Tabela 5. Valores de limite de plasticidade, umidade   Pode-se verificar que, para a primeira
natural, matéria orgânica e densidade real dos grãos. vertical, para ambos os métodos utilizados, a
Vertica Prof. wp wn MO Gs
l (cm)
argila foi classificada como inativa. Já para a
1 30 17 11,9 5,4 2,65 segunda vertical, de acordo com o limite de
45 20 14,2 5,3 2,65 liquidez obtido pelo aparelho de Casagrande a
2 45 21 17,1 5,5 2,70 argila foi classificada como ativa e de acordo
70 28 16,1 5,2 2,90 com o limite de liquidez obtido com o Fall
Cone, normal, o que mostra uma divergência
Pode-se observar que o teor de umidade nos resultados.
natural do solo é menor do que o limite de As Figuras 8 e 9 ilustram os resultados dos
plasticidade para todas as profundides ensaios realizados para a vertical 1 e vertical 2
ensaiadas. Segundo Matos Fernandes (2016) tal respectivamente.
fato foi observado também para os solos A partir dos valores dos limites de liquidez
residuais do granito do Porto, no campus da determinados através dos dois métodos, foram
Faculdade de Engenharia da Universidade do estabelecidas correlações para as duas verticais
Porto (FEUP). estudadas. A Figura 10 mostra os valores
Verifica-se que o teor de matéria orgânica é wL Fall Cone versus wLCasagrande para as duas
de cerca de 5% para todas as profundidades profundidades estudadas da vertical 1, e a
ensaiadas. Figura 11 para as duas profundidades da
Pode-se verificar que o Gs da primeira vertical 2.
vertical para as profundidades de 0,30 m e
0,45 m foi de 2,65, dentro da faixa esperada. Na
segunda vertical, para a profundidade de 0,70 m
o valor encontrado de Gs foi de 2,90.
Provavelmente esta camada possui óxido de
ferro, por possuir um Gs maior. A presença de
óxido de ferro é típica da formação Barreiras.
Skempton (1948) classificou uma argila
como inativa, normal ou ativa, dependendo do
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Fig. 8. Resultados da vertical 1, profundidades de 30cm e Fig. 11. wL Casagrande versus wL Fall Cone, vertical 2.
45cm; a) Teor de umidade natural, limite de liquidez
Casagrande e do Fall Cone; b) Densidade real dos grãos; A partir dos dados desses gráficos foram
c) Atividade das Argilas; d) Índice de Plasticidade; e) determinadas as correlações incluídas na Tabela
Teor de Matéria Orgânica. 7.
Tabela 7. Correlações entre os valores de wL obtidos
através do equipamento de Casagrande e do Fall Cone
Vertical Prof. Correlação
(m)
1 0,30 wLCasagrande =1*wL Fall Cone – 7
1 0,45 wLCasagrande = 0.88*wL Fall Cone
2 0,45 wLCasagrande = 1*wL Fall Cone – 6
2 0,70 wLCasagrande = 0,5*wLFall Cone + 20,5

4.4 Comparação do wL obtido através do Fall


Cone e Aparelho de Casagrande no solo da
Formação Barreiras da UFRJ Macaé com outros
solos
Fig. 9. Resultados da vertical 2, profundidades de 45cm e
70cm; a) Teor de umidade natural, limite de liquidez De acordo com Bicalho et al. (2017), estudos
Casagrande e do Fall Cone; b) Densidade real dos grãos; têm mostrado que a resistência não drenada (su)
c) Atividade das Argilas; d) Índice de Plasticidade; e)
no limite de liquidez pelo método proposto por
Teor de Matéria Orgânica.
Casagrande diminui com o aumento de wL, que
cresce com o teor de argila e a plasticidade
(Leflaive, 1971; Youssef et al., 1995; Leroueil e
LeBihan, 1996). Assim verifica-se que:
wL Casagrande< wL Fall Cone, para wL< wL*
wL Casagrande>wL Fall Cone, para wL> wL*
onde wL* é o valor que define a transição entre
os valores chamados de baixo wL e alto wL que
não é bem definido na literatura (Bicalho et al.,
2014). Bicalho et al. (2014) estabeleceram
funções que correlacionam empiricamente os
valores de wL obtidos com os equipamentos de
Fig. 10. wL Casagrande versus wL Fall Cone, vertical 1.
Casagrande e Fall Cone:
wL Fall Cone=A. wL Casagrande+B,
wL Casagrande=A* wL Fall Cone-B*
onde A, A*, B e B* são constantes de ajuste
obtidas de correlações lineares.
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A Tabela 8 apresenta uma compilação de diferença significativa no que concerne à


dados para correlações lineares publicadas na dispersão dos resultados, como reportado
literatura entre wL Casagrande e wL Fall Cone. O geralmente na literatura. Esse fato pode ser
penetrômetro utilizado foi sugerido pela norma atribuído ao extremo cuidado na realização dos
britânica (Bicalho et al., 2017). ensaios no aparelho Casagrande, geralmente
não observado na prática dos laboratórios
Tabela 8. Correlações publicadas entre valores medidos comerciais. Esse extremo cuidado não foi
de wL Casagrande e wL Fall Cone (modificado de Bicalho et al., necessário na realização dos ensaios de Fall
2017).
Cone, de operação muito mais simples. O
Referência A B Variações de
LL menor tempo de realização do ensaio no caso
Budhu (1985) 1,070 4,300 20-100 do Fall Cone representa também uma vantagem
Wasti & 0,990 4,870 27-110 significativa em relação ao ensaio no aparelho
Bezirei (1986) de Casagrande.
Queiroz de 0,934 2,180 13-48
Carvalho
(1986) 1 REFERÊNCIAS
Sridharan & 1,209 10,800 29-92
Prakash ABNT. NBR 6459. (2016). Determinação do Limite de
(1998) Liquidez – Método de Ensaio.
Souza (2011) 0,707 7,124 38-40 ABNT. NBR 7180 (2016). Determinação do Limite de
– solo 12 Plasticidade – Método de Ensaio.
Souza (2011) 0,906 1,119 42-45 ABNT. NBR 7181. (2016). Análise granulométrica –
– solo 23 Método de Ensaio.
Di Matteo 1,000 2,200 20-50 ABNT. NBR 13600. (1996). Determinação do teor de
(2012) matéria orgânica por queima a 440 graus Celsius.
Fojtová et al. 1,000 2,440 20-50 ABNT. NBR 16097. (2012). Determinação do teor de
(2009) umidade — Métodos expeditos de ensaio.
Cerbino 0,860 1,000 31-49 ABNT. NBR 6508. (1984). Grãos de solos que passam
(2018) 4 na peneira de 4,8mm – Determinação da massa
1
para solos lateríticos do nordeste e norte do Brasil específica.
2
para as “argilas azuis de Xabregas” Baptista, M. B.; Braun, O.P.G; Campos, D. A.; Price, L.
3
para “argilitos carbonatados gipsíferos” localizados na I.; Ramalho, R.; Santos, N. G. (1984) Léxico
Peninsula de Setúbal em Lisboa estatigráfico brasileiro. Brasília: Departamento
4
para o solo de Formação Barreira da UFRJ-Macaé. O Nacional da Produção Mineral. 541 p.
penetrômetro utilizado foi o sueco. Bicalho, K.; Gramelich, J.; Cunha, C.; Sarmento Junior,
R. (2017). Estudo dos valores do limite de liquidez
obtidos pelos métodos de Casagrande e Cone para
diferentes argilas. 0379-9522 – Geotecnia n.º 140 –
5 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS E pp. 63-72.
CONCLUSÕES Bicalho, K. V. ; Gramelich, J.C & Cunha, C. L. (2014).
Comparação entre os valores do Limite de Liquidez
Um dos objetivos do trabalho é contribuir para obtidos pelos métodos de Casagrande e cone para
solos argilos brasileiros. Comunicações Geológicas,
difundir no Brasil o equipamento de Fall Cone, 101, pp. 1097-1099. (citado por Bicalho et al., 2017).
que ainda não tem ampla utilização, seja para a British Standard Institution. (1990). British Standard
determinação da resistência não drenada seja Methods of Test for Soils for Civil Engineering
para o limite de liquidez, abordado no presente Purposes, part 2: Classification tests – London,
estudo. England, BS 1377: Part 2.
Budhu, M. (1985). The effect of clay content on liquid
Para o solo da Formação Barreiras da UFRJ- limit from a fall cone and the British cup device.
Macaé ensaiado pode-se concluir que em média Geotech. Test. J., 8, pp. 91-95.
wLCasagrande = 0,86wLFall Cone. Campbell, R. (1975). Soil slips, debris flows and
Os valores obtidos de limite de liquidez rainstorms in the Santa Monica Mountains and
pelos dois métodos não evidenciaram nenhuma vicinity. Southern California. USGS Prof. Paper.
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Considerações sobre deslocamentos em estacas causados por


sobrecargas assimétricas
Rebecca Pezzodipane Cobe
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
re_cobe@hotmail.com

Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
sayao@puc-rio.br

Sandro Salvador Sandroni


Sandroni Engenheiros Associados, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, Brasil
ssandroni@yahoo.com.br

RESUMO: A construção de aterros sobre solos moles gera deslocamentos no solo de


fundação, podendo causar problemas não apenas relacionados à estabilidade do aterro em si, como
também nas estruturas adjacentes, quando essas encontram-se apoiadas sobre estacas. Isso porque, o
movimento horizontal do terreno na extremidade do aterro gera esforços ao longo da profundidade
das estacas instaladas na adjacência dessa sobrecarga assimétrica. Para avaliação dos esforços
gerados por esse mecanismo, existem métodos empíricos, analíticos e computacionais. Contudo, os
resultados estimados pelos diferentes métodos ainda apresentam grande dispersão, evidenciando a
importância de um melhor entendimento dos fatores que influenciam esse fenômeno. Entre esses
fatores, destacam-se o efeito da distância da estaca em relação à base do aterro e o efeito de grupo,
cujas análises de suas influências são o objetivo desse trabalho. Para isso, foram feitas análises
paramétricas com variação da geometria do estaqueamento, utilizando o programa Plaxis 2D.

PALAVRAS-CHAVE: Solos moles, aterros, deslocamentos horizontais, efeito de grupo.

1 INTRODUÇÃO restrição. Esse fenômeno pode ser especialmente


danoso no caso da presença de camadas de solos
Movimentos horizontais no solo podem ser compressíveis.
gerados por qualquer tipo de intervenção de Os principais fatores que influenciam a
engenharia que represente um carregamento solicitação lateral de estacas são: a intensidade
assimétrico para o terreno. Caso esses do carregamento, o fator de segurança, as
movimentos ocorram na proximidade de características da camada compressível, as
estruturas existentes, deve-se atentar para o características das estacas, a distância das
efeito desses movimentos em suas fundações, estacas à sobrecarga, o efeito de grupo e o efeito
pois quando existem estacas situadas em uma do tempo/adensamento. Entre os fatores
camada de solo submetida a movimentos apresentados, os que são de maior interesse nesse
horizontais, tensões horizontais são estudo são: o efeito de grupo e o efeito da
desenvolvidas entre as estacas e o solo. Isso distância das estacas em relação à sobrecarga.
porque, nessa situação, as estacas representam Com relação à distância, logicamente, quanto
um impedimento à deformação do terreno, mais afastada uma estaca estiver da borda da
ficando sujeitas aos esforços provenientes dessa sobrecarga, menores serão os deslocamentos e
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esforços aos quais a mesma estará submetida. Sucintamente, pode-se dizer que o objetivo do
Heyman e Boersma (1961) descrevem uma aterro experimental era avaliar os esforços
pesquisa realizada em Amsterdam, na qual após horizontais atuantes nas estacas adjacentes a um
a cravação das estacas, um aterro hidráulico foi aterro assimétrico. O teste consistiu na execução
construído inicialmente a 30,0m de distância e de um aterro compactado com dimensões
foi sendo progressivamente estendido em aproximadas de 30x40m, construído em etapas,
estágios de 5,0m para as proximidades das ao lado de uma malha de 9 estacas, cravadas
estacas, num total de 6 etapas, a cada duas exclusivamente para esse fim. Nos topos das
semanas. O subsolo do local era constituído de estacas foram construídos blocos de coroamento
uma delgada camada de areia seguida de cerca que foram interligados por meio de uma grelha
de 10,0m de argila/turfa mole. Com isso, os de vigas de concreto armado. No teste, foram
autores chegaram à conclusão de que em todos utilizados 3 tipos de estacas diferentes: estacas
os casos de fundações em estacas a uma distância pré-moldadas de concreto armado com
inferior a 25,0m de um futuro aterro, é diâmetros de 50cm e 60cm e estacas de perfil
recomendável a utilização de estacas com metálico duplo W410x53.
armação reforçada. A instrumentação para monitoramento desse
Raramente, as estacas encontram-se aterro foi composta por 13 inclinômetros, 16
posicionadas isoladamente. Quase sempre, as piezômetros elétricos de corda vibrante e 3
estacas são instaladas em grupos, com seus topos placas de recalque. Dos 13 inclinômetros, 7
interligados por meio de blocos de coroamento, foram instalados no interior das estacas e 6
lajes ou vigas. O efeito de grupo, como o próprio diretamente no terreno. O teste foi executado em
nome já diz, é o efeito que um grupo de estacas um terreno que apresenta uma espessa camada
exerce no aumento ou na redução dos esforços de argila mole e para avaliação do perfil do
ao longo da profundidade de uma estaca do terreno foi feita uma extensa campanha de
próprio grupo. Para avaliar a influência desse investigação geotécnica na área do teste,
efeito em estacas posicionadas em linhas composta por: 5 furos de sondagem à percussão
perpendiculares ao movimento do solo, Pan et al. do tipo SPT; 1 vertical de piezocone ou CPTu
(2002) compararam os resultados de testes de (CPTu01), incluindo 2 ensaios de dissipação; 1
laboratório realizados em estacas isoladas com vertical com 8 ensaios de palheta ou vane test
os resultados obtidos em duplas de estacas. Com (VT01), realizados metro a metro e retirada de 2
isso, os autores observaram reduções na estaca amostras indeformadas com amostradores do
traseira (ou seja, mais afastada do movimento) tipo Shelby de 4”, com a qual foram realizados
de 24% para um espaçamento entre estacas de ensaios de caracterização, de adensamento e
5B (sendo B o diâmetro da estaca) e de até 59% triaxiais. As Figuras 1 e 2 apresentam a
para espaçamentos de 3B. Além disso, os autores configuração desse teste.
também observaram que as estacas traseiras Conforme se observa na Figura 2, o terreno de
também exerciam influência nas estacas frontais, fundação do aterro é composto por uma camada
podendo reduzir seus deslocamentos em até de aterro superficial com cerca de 2m de
33%, para um espaçamento de 5B. espessura, seguida de uma camada de areia fina
a média com cerca de 3m de espessura.
Subjacente a essas camadas, encontra-se uma
2 ESTUDO DE CASO DO ATERRO espessa camada de solo mole, formada por uma
EXPERIMENTAL delgada camada de turfa e uma argila orgânica,
que totalizam cerca de 10m de espessura,
O aterro experimental que será analisado neste representando a camada crítica para análise do
estudo foi executado às margens da Avenida fenômeno em estudo. Na sequência, encontra-se
Salvador Allende, na Barra da Tijuca, Rio de uma camada de areia fina com cerca de 3m de
Janeiro. O aterro foi proposto, planejado e espessura, seguida de outra camada de solo mole
coordenado pela empresa GEOCONSULT composta por uma argila siltosa.
LTDA. França (2014) apresenta detalhadamente
a motivação que levou à realização do teste.
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Figura 1. Planta baixa do aterro experimental

Com relação à caracterização do solo mole, as em outras ilhas de investigação geotécnica


faixas de valores de OCR e de resistência ao executadas dentro da área da Vila dos Atletas,
cisalhamento não drenada foram estimadas para porém fora da área do teste, numa distância
as camadas de argila com base nos ensaios de máxima de 600m. Com isso, para a camada de
palheta, nos ensaios de piezocone e nos ensaios argila orgânica mais espessa, o OCR foi
de adensamento realizados nas amostras estimado entre 1,3 e 1,7 e o Su corrigido por
indeformadas. Vale ressaltar que buscando-se a Berrum (1972) entre 23 e 27kPa (adotando
recorrência dos parâmetros estimados, utilizou- μ=0,62).
se também os resultados de ensaios realizados
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Figura 2. Perfil geotécnico com seção transversal do teste

3 ANÁLISE DOS DESLOCAMENTOS disso, é possível notar a redução da ordem de


HORIZONTAIS MEDIDOS PELA grandeza dos deslocamentos horizontais
INSTRUMENTAÇÃO DE CAMPO máximos para os inclinômetros instalados nas
fileiras mais distantes da face do aterro. As
A Figura 3 apresenta a evolução dos estacas da segunda fileira apresentaram
deslocamentos horizontais máximos medidos em deflexões cerca de 50% inferiores às da primeira
todos os inclinômetros do teste, durante a fileira, e as estacas da terceira fileira cerca de
construção do aterro experimental. Nesse 70% inferiores às da primeira fileira.
gráfico, inclinômetros instalados numa mesma Dois fatores são relevantes para essa redução
fileira, ou seja, a uma mesma distância em dos deslocamentos nas estacas traseiras: a
relação à base do aterro foram representados pela distância da estaca em relação à base do aterro e
mesma cor. o efeito de grupo, que resulta da proteção
Na Figura 3, observa-se que os deslocamentos promovida pelas fileiras frontais (estacas mais
horizontais medidos pelos inclinômetros foram, próximas ao aterro) para as fileiras traseiras
em geral, proporcionais à altura do aterro. Além (estacas mais afastadas).
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Tempo [dias]
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Altura de Aterro [m]

8 -20

4 -10

0 0

Deslocamento Horizontal Máximo [mm]


-4 10

-8 20

-12 30

-16 40

-20 50

-24 60

-28 70

-32 80

-36 90
Haterro IV 01 (E06 - Ø60cm - 1ª fileira)
IV 02 (Solo - 3ª fileira) IV 03 (Solo - 2ª fileira)
IV 04 (Solo - 1ª fileira) IV 05 (E07 - Perfil Metálico - 3ª fileira)
IV 06 (E08 - Ø60cm - 2ª fileira) IV 07 (E09 - Ø50cm - 1ª fileira)
IV 08 (Solo - 1ª fileira) IV 09 (ER10 - Ø60cm - 3ª fileira)
IV 10 (E11 - Ø60cm - 2ª fileira) IV 11 (E12 - Ø60cm - 1ª fileira)

Figura 3. Evolução dos deslocamentos horizontais máximos ao longo do tempo/alteamento do aterro

4 MODELO NUMÉRICO

Como se trata de uma modelagem consideração o espaçamento entre as estacas,


bidimensional, a simulação das estacas e da que nesse caso foi de 4,8m. Nessa modelagem, a
grelha de vigas de travamento foi feita com a geogrelha foi representada pelo elemento
utilização de elementos de placa, ou plates, que geogrid e o aterro foi representado como um
representam cortinas contínuas. A representação material de peso próprio, utilizando o modelo
da linha de estacas normal à seção analisada por constitutivo de Mohr Coulomb.
meio da consideração de uma cortina contínua Para modelagem do terreno, adotou-se o
foi proposta por Randolph (1981). Para modelo Soft Soil Creep para as camadas de turfa,
incorporar o efeito da tridimensionalidade na de argila orgânica e de argila mole e o modelo
análise plana de deformação, adotou-se a Hardening Soil para as demais camadas do
sugestão desse autor de se considerar uma terreno. A Tabela 1 apresenta a divisão das
rigidez por metro de cortina, equivalente à do camadas e o modelo utilizado para cada uma
material composto solo/estacas, levando em delas.
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Tabela 1. Modelo constitutivo utilizados em cada camada


Profundidade (m)
Camada Descrição Modelo Constitutivo
Início Fim
1 Aterro Superficial 0,0 2,5 Hardening Soil
2 Areia fina a média 2,5 5,5 Hardening Soil
3 Turfa 5,5 7,0 Soft Soil Creep
4 Argila Orgânica 7,0 15,0 Soft Soil Creep
5 Areia fina 15,0 18,0 Hardening Soil
6 Argila Siltosa 18,0 20,5 Soft Soil Creep
7 Areia média 20,5 24,5 Hardening Soil
8 Solo residual 24,5 30,0 Hardening Soil

Para cada camada, os parâmetros necessários poropressão gerados e dissipados; e uma fase de
a seu modelo de comportamento foram definidos intervalo até o próximo alteamento, sem
dentro de uma faixa de valores mais prováveis, carregamento adicional, para a qual a análise do
limitada por um valor mínimo e por um valor tipo Consolidation calcula a dissipação dos
máximo, e possuindo um valor médio. As excessos de poropressão existentes.
estimativas dessas faixas de valores foram feitas
com base nos ensaios de campo e de laboratório
disponíveis. Sendo assim, inicialmente, foi 5 ANÁLISE NUMÉRICA
rodada uma análise 2D com os parâmetros
médios estimados para o solo. Em seguida, Para as análises que serão apresentadas a
foram realizadas várias análises 2D variando os seguir, utilizou-se o mesmo modelo de terreno
parâmetros das camadas (dentro da faixa de (divisão de camadas, modelos constitutivos e
valores estimada), buscando-se ajustar o melhor parâmetros) ajustado para o aterro experimental.
possível: os deslocamentos das estacas com Com relação à geometria, com o intuito de
aqueles medidos pelos inclinômetros e os reduzir o número de variáveis no terreno, todas
recalques do terreno com os medidos pelas as estacas foram consideradas metálicas, com as
placas de recalque. características do perfil metálico duplo
Com relação à modelagem da sequência W410x53 e com comprimento fixo de 28,0m. A
construtiva do aterro experimental, utilizou-se a estaca metálica foi adotada como padrão por
opção Staged Construction para simular as fases permitir a correta estimativa de seu
de alteamento do aterro, que tiveram duração comportamento por meio de um modelo linear
entre 2 e 9 dias. Conforme observado na leitura para faixas de tensão superiores às atingidas no
dos piezômetros, o tempo entre um alteamento e caso em estudo.
outro se mostrou insuficiente para a completa
dissipação de poropressão gerada em cada 5.1 Influência do efeito de grupo
alteamento. Para simular essa situação de
dissipação parcial de poropressão, utilizou-se Nesse trabalho, o efeito de grupo foi avaliado por
uma análise do tipo Consolidation, que calcula a meio de modelagens numéricas bidimensionais,
geração e a dissipação dos excessos de tendo como principal objetivo a verificação da
poropressão associadas ao tempo de cada fase de influência das estacas mais próximas à base do
análise. Cada etapa de alteamento foi modelada aterro nos deslocamentos horizontais nas estacas
em duas fases distintas: uma fase de construção traseiras. Para análise desse efeito, foram feitas
do alteamento, para a qual a análise do tipo análises paramétricas com a variação do número
Consolidation distribui o carregamento de fileiras de estacas. A Figura 4 apresenta as
linearmente ao longo do intervalo de tempo e geometrias utilizadas nas modelagens.
calcula concomitantemente os excessos de
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Geometria 1:
1 fileira de estaca E3

Geometria 2:
2 fileiras de estacas E3 E2

Geometria 3:
3 fileiras de estacas E3 E2 E1

Figura 4. Geometrias utilizadas para análise do efeito de grupo

Os resultados dos deslocamentos horizontais entanto, com a presença de 2 fileiras frontais, foi
obtidos para a fileira de estacas E3 (fileira observada uma redução de cerca de 20% nos
traseira) em cada uma das geometrias modeladas deslocamentos horizontais máximos da fileira de
estão apresentados nos gráficos das Figura 5, estacas E3. Já durante o estágio de alteamento
durante os estágios de carregamento com altura com altura de aterro de 6,40m, a presença de 1
de aterro de 3,05m e 6,40m. fileira de estacas frontais reduziu em cerca de
Conforme se observa nessa figura, durante o 10% os deslocamentos horizontais máximos da
estágio de alteamento com altura de aterro de fileira de estacas traseiras e com a presença de 2
3,05m, a presença de apenas 1 fileira de estaca fileiras de estacas frontais esse percentual de
frontal não influenciou nos deslocamentos redução aumentou para 14%.
horizontais máximos da estaca traseira, E3. No
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Figura 5. Perfis de deslocamentos horizontais obtidos na fileira de estacas traseiras (E3) para as 3 geometrias
modeladas, durante os estágios de carregamento com altura de aterro de 3,05m e 6,40m, respectivamente.

Além disso, em ambas as etapas de verificar se as estacas traseiras, por sua vez,
alteamento do aterro analisadas, foi observado exerciam alguma influência nas estacas mais
que, conforme já verificado por Springman e próximas à base da sobrecarga. Para isso, foram
Bolton (1990) a partir de testes em centrífuga, modeladas 3 outras geometrias similares às
enquanto os deslocamentos horizontais máximos apresentadas na Figura 4, porém mantendo-se a
em profundidade apresentam redução, os estaca dianteira fixa (E1) e acrescentando-se as
deslocamentos horizontais observados junto às estacas traseiras. Os resultados dessas análises
cabeças das estacas aumentam mostraram que a presença das estacas traseiras
proporcionalmente ao aumento do número de praticamente não exerce influência nos
fileiras de estacas dianteiras. Esse deslocamentos horizontais da fileira de estacas
comportamento faz com que essas estacas, dianteiras, podendo ser considerada desprezível.
consideradas passivas devido ao carregamento
recebido pelo deslocamento do terreno ao longo 5.2 Influência da distância da estaca em
de sua profundidade, passem a ter também relação à base do aterro
características de estacas ativas. Isso porque
recebem simultaneamente um carregamento em Para analisar a influência do distanciamento
seus topos originado do comportamento rígido das estacas em relação à base do aterro, foram
do bloco formado pelos blocos de coroamento e realizadas análises paramétricas no Plaxis 2D
vigas de travamento que se movem em conjunto com uma única fileira de estacas posicionada a
com as estacas frontais. diferentes distâncias da base do aterro. A
Além dessas análises para avaliação do efeito primeira análise foi feita com a fileira de estaca
de grupo, também foram feitas outras análises posicionada a 3,0m da base do aterro e as
paramétricas no Plaxis 2D com o intuito de análises seguintes foram feitas com a fileira de
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estacas posicionada a distâncias múltiplas de 3 também foram plotadas as curvas de tendência


até uma distância máxima de 36,0m. A Figura 6 de cada fase de alteamento do aterro. Conforme
apresenta a configuração da modelagem para a se observa, a relação entre os deslocamentos
situação em que a fileira de estaca se encontra horizontais máximos e a distância em relação à
posicionada a 3,0m da base do aterro e indica o base do aterro não é linear. A taxa com que os
sentido em que a fileira foi movida nas demais deslocamentos horizontais máximos reduzem
análises. diminui gradativamente à medida em que a
3,0m estaca é afastada do aterro. Em todas as fases de
Distanciamento
ooo alteamento, as curvas de tendência foram bem
aproximadas por equações polinomiais de
terceiro grau.
Além disso, a partir da Figura 7, observa-se
que os deslocamentos horizontais nas estacas
podem ser considerados desprezíveis somente a
partir de distâncias de aproximadamente 2,5
Figura 6. Geometria da fileira de estaca posicionada a vezes a espessura da camada de solo mole. Vale
uma distância de 3,0m da base do aterro ressaltar que nesse caso, a espessura de solo
mole, D, foi adotada como 10,0m referente ao
A Figura 7 apresenta a relação entre os
bloco formado pela camada de turfa e de argila
deslocamentos horizontais máximos e a
distância da estaca à base do carregamento, orgânica.
obtidos com base nas análise paramétricas em 5
etapas de alteamento do aterro. Nesse gráfico,

80

70
Deslocamento Horizontal Máximo [mm]

60
H=6,40m
50
H=5,80m
40
H=4,55m
30
H=3,05m
20
H=1,10m

10

0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39
Distância da estaca à base do aterro [m]
Figura 7. Influência da distância da estaca em relação à base do aterro nos deslocamentos horizontais máximos na
fileira de estaca
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6 CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
Com base nas análise paramétricas
bidimensionais reportadas nesse estudo, Aos colegas da Geoconsult, Prof.º
verificou-se que: Uberescilas Polido e Hugo França, pelo
 Os deslocamentos horizontais máximos nas fornecimento dos dados do experimento pioneiro
estacas traseiras são reduzidos com a presença no Brasil e pelo apoio técnico durante a pesquisa.
de fileiras de estacas frontais, ou seja, pelo
efeito de grupo, sendo que o aumento do REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
número de fileiras frontais aumenta o
percentual de redução dos deslocamentos BJERRUM, L. (1972) Embankments on soft ground:
horizontais máximos das estacas traseiras; State-of-Art Report. Proceeding Speciality Conference
on Performance of Earth and Earth-Sup-ported
 No caso do aterro experimental analisado, no Structures, ASCE, v. 2, pp. 1-54.
qual os deslocamentos horizontais máximos COBE, R.P. (2017) Comportamento de um aterro
nas estacas da terceira fileira foram cerca de construído sobre solo mole e sua influência no
70% inferiores aos da primeira, pode-se dizer estaqueamento adjacente. Dissertação de Mestrado
PUC, Rio de Janeiro.
que desse valor cerca de 20% se deve ao FRANÇA, H.F. (2014) Estudo teórico e experimental do
efeito de grupo e o restante de 50% se deve a efeito de sobrecargas assimétricas em estacas.
distância da estaca em relação à base do Dissertação de Mestrado, COPPE, UFRJ, Rio de
aterro; Janeiro, 2014.
 Apesar dos deslocamentos horizontais HEYMAN, L.; BOERSMA, L. (1961) Bending moments
in piles due to lateral earth pressure. Proceedings 5th
máximos serem reduzidos pela presença de ICSMFE, v. 2, pp. 425-429, Paris.
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deslocamentos horizontais no topo das Ultimate soil pressures for piles subjected to lateral
estacas traseiras sofrem um aumento devido soil movements. Journal of Geotechnical and
ao comportamento rígido do bloco formado Geoenvironmental Engineering, v. 128, pp. 530-535.
SPRINGMAN, S.M.; BOLTON, M.D. (1990) The effect
pelos blocos de coroamento e vigas de of surcharge loading adjacente to piles. Contractor
travamento que se movem em conjunto com Report 196, Transport and Road Research La-boratory,
as estacas frontais; Department of Transport.
 A influência das estacas traseiras nos RANDOLPH, M.F. (1981) The response of flexible piles
to lateral loading. Géotecnique, 31(2), pp. 247-259.
deslocamentos e esforços desenvolvidos ao
longo da profundidade das estacas frontais foi
considerada desprezível;
 A relação entre os deslocamentos horizontais
máximos e a distância da estaca em relação à
borda do aterro mostrou-se não linear,
aproximando-se de uma equação polinomial
de 3º grau;
 Em termos práticos, foi observado que os
deslocamentos horizontais ao longo da
profundidade das estacas somente podem ser
considerados desprezíveis a partir de
distâncias correspondentes a cerca de 2,5
vezes a espessura da camada de solo mole
(D).
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Determinação e aplicação dos parâmetros de resistência ao


cisalhamento de um solo argiloso do município de Goiânia a partir
do ensaio triaxial
Marco Aurélio Izaac de Souza
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Goiânia, Brasil,
gynmarco@hotmail.com

João Carlos de Oliveira


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Goiânia, Brasil,
joaocarlosifg@gmail.com

Jordana Portilho Neves


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Goiânia, Brasil,
jordanapn@hotmail.com

RESUMO: No presente trabalho foram realizados ensaios Triaxiais com um solo argiloso da região
metropolitana de Goiânia, Goiás, a fim de se obter os parâmetros de resistência ao cisalhamento em
condições drenadas e não drenadas para assim analisar a sua aplicação na construção de uma
barragem. Inicialmente foi feita a manutenção e a realização de reparos no equipamento triaxial do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG Campus Goiânia, recolocando-
o em operação. A amostra coletada foi caracterizada em laboratório, realizando-se assim os ensaios
de granulometria por peneiramento e sedimentação, massa específica dos grãos e limites de
consistência. Posteriormente à caracterização, foi feita a classificação geotécnica do solo nos
sistemas SUCS e TRB e o ensaio de compactação, empregando a energia do Proctor normal, a fim
de se estabelecer as condições de moldagem. Em seguida, foram realizados ensaios triaxiais do tipo
CU e CD e obtidos os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo, ou seja, a coesão e o
ângulo de atrito. Com os resultados dos ensaios triaxiais foi simulada a aplicação do referido solo
na construção de uma barragem hipotética mista de terra e enrocamento utilizando-se os softwares
Seep/W e Slope/W, versão estudante, da GeoStudio ou GeoSlope. As análises de fluxo e
estabilidade foram feitas apenas para a fase de operação da barragem, utilizando os dados dos
ensaios drenados. Os resultados obtidos através da análise de fluxo indicaram o caminho de
percolação da água no interior do corpo da barragem, bem como, o valor da vazão que transpõem o
núcleo de argila, igual a 2,574 x 10-9 m3/seg/m. Os fatores de segurança críticos encontrados atráves
dos métodos de Bishop e Fellenius foram respectivamente 1,805 e 1,804, valores satisfatórios,
tendo em vista os recomendados pela NBR 11.682 (ABNT, 2009).

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio Triaxial, Resistência ao Cisalhamento, Barragens, Estabilidade de


taludes, análise de fluxo.

1. INTRODUÇÃO solos em termos de resistência, deformabilidade


e permeabilidade podem sem feitas por meio de
A determinação das características de textura ou ensaios de laboratório realizados com amostras
granulometria, massa específica dos grãos e deformadas ou indeformadas ou, em alguns
plasticidade, bem como as propriedades dos cados, por meio de ensaios de campo.
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Para que os valores obtidos em laboratório câmara, exerce uma força sobre o corpo de
possam corresponder às condições de campo, prova deformando-o; neste caso denomina-se o
além da representatividade da amostra, é ensaio de ensaio de carga controlada.
preciso simular bem as condições às quais o Todavia, quando a prensa é que se desloca
solo estará submetido na obra. para cima pressionando o pistão, temos o ensaio
Um dos ensaios mais completos em termos de de deformação controlada, que é o caso mais
simulação das condições de campo e obtenção usual.
dos parâmetros de resistência ao cisalhamento Essa carga é aferida por meio de um anel
dos solos é o ensaio triaxial. dinamométrico ou por uma célula de carga,
O presente trabalho, além de recolocar em sendo que a segunda possui a vantagem de
funcionamento o equipamento triaxial do IFG – medir de forma efetiva a carga aplicada ao
Câmpus Goiânia, desativado há vários anos, corpo de prova.
objetivou identificar através dos ensaios de
compressão triaxial feitos nesse aparelho, os
valores dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento de um solo argiloso da região
metropolitana de Goiânia através dos ensaios
tipo consolidados ou adensados, não drenados
(CU) e consolidados ou adensados drenados
(CD), a fim de analisar a aplicação dos
parâmetros obtidos na análise de fluxo e
estabilidade de taludes de uma barragem
hipotética.

2. O ENSAIO TRIAXIAL

O ensaio triaxial é um dos testes geotécnicos


mais conhecidos e versáteis utilizados na Figura 1. Esquema da câmara ou célula do ensaio triaxial.
engenharia. O ensaio consiste na moldagem de Fonte Pinto (2006, p. 266).
corpos de prova que variam de 38 mm a 100
mm de diâmetro. Estes corpos de prova são Os três tipos de ensaios triaxiais mais
colocados sob confinamento em água dentro de comumente utilizados são: ensaio consolidado
uma célula e submetido a pressões variadas, ou adensado drenado (CD ou S), ensaio
denominadas de pressões confinantes. Essas consolidado ou adensado não drenado (CU ou
pressões, por sua vez, atuam em todas as R) e ensaio não consolidado ou não adensado,
direções do corpo de ficando o mesmo sob um não drenado (ensaio UU ou Q).
estado hidrostático de tensões. A relação altura: Ressalta-se que no presente trabalho foram
diâmetro dos corpos de prova usual é de 2:1 e realizados ensaios dos tipos CD e CU conforme
os mesmos são envoltos por uma membrana de descrito a seguir.
látex. Esta membrana faz a separação entre o
corpo de prova e o ambiente confinado (Figura 2.1 Ensaio Consolidado ou Adensado Drenado
1). Dessa forma, dependendo da característica (CD)
do ensaio, pode-se forçar a passagem de água
por dentro do corpo de prova, aplicar variações A sigla (CD) vem da expressão inglesa
de pressão e medir a poropressão no interior do Consolidated Drained. Este ensaio é
corpo de prova. O carregamento axial é feito caracterizado pela permanente drenagem do
por meio de um pistão, que penetrando na corpo de prova quando levado à ruptura na
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prensa triaxial. Como usualmente o ensaio é A sigla (CU) origina-se de Consolidated


realizado com corpos de prova na condição Undrained e, nesse ensaio, o corpo de prova
saturada, previamente à realização do saturado é submetido primeiramente à
carregamento axial, os corpos de prova são consolidação através do emprego da pressão
submetidos a dois processos para garantir a confinante permitindo a drenagem do corpo
saturação: saturação por percolação e saturação de prova. Após a dissipação da poropressão, a
por contra pressão. Na saturação por percolação drenagem não será mais permitida, e a tensão
a água entra por baixo e sai no topo do corpo de desviadora será aumentada de forma rápida
prova. Durante a saturação por contrapressão o sob o corpo de prova até promover a ruptura
corpo de prova é submetido a incrementos de por cisalhamento da amostra; esse ensaio é
pressão, tanto externamente como internamente. também reconhecido como ensaio rápido pré-
Os valores da pressão externa aplicada, adensado (R de rapid).
denominada aqui por e da poropressão
medida, internamente ao corpo de prova, devem
se igualar, para que se tenha garantida a 3 ALGUNS METÓDOS PARA ANÁLISE
saturação completa do corpo de prova. Segundo DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Das (2006, p. 313), “À medida que a pressão de
confinamento é aplicada, a poropressão do Determinar o fator de segurança da estabilidade
corpo de prova aumenta por (se a drenagem de um talude é de fundamental importância para
for impedida)”. Esse aumento de poropressão garantir a proteção de vidas e a integridade de
pode ser mensurado através do parâmetro de bens. Os estudos se aplicam à de estabilidade de
poropressão de Skempton, que é dado pela taludes artificiais, como os de barragens de terra
seguinte Equação: e também aos naturais. Para Massad (2000, p.
64) “costuma-se estipular o coeficiente de
(1) segurança (F) como a relação entre a resistência
ao cisalhamento do solo (S) e a tensão
cisalhante atuante ou resistência mobilizada (τ)
Onde B é o parâmetro de poropressão de esta úultima obtida por meio das equações de
Skempton e , o valor da poropressão medida. equilíbrio. isto é”.
O Quadro 1 apresenta valores teóricos do
parâmetro B, de acordo com Das (2006).
(2)

Quadro 1. Valores teóricos de B em saturação completa.


Valor Essa relação expressa o quanto a resistência
teórico
Tipo de solo ao cisalhamento do solo ao longo da superfície
0,9998 de escorregamento ou ruptura supera os
Argila mole normalmente adensada esforços solicitantes.
Argilas e siltes moles levemente adensados
0,9988 Existem vários métodos para determinação do
fator de segurança, dentre eles, o de Bishop
0,9877 modificado ou simplificado e o de Fellenius.
Argilas rígidas sobreadensadas e areias
Areias muito compactas e argilas muito
Estes métodos permitem a solução de muitos
0,9130 problemas de estabilidade de taludes de obras
rígidas sob pressão de confinamento
de terra; ambos se baseiam na comparação entre
a resistência ao cisalhamento do solo e as
2.2 Ensaio Consolidado ou Adensado não solicitações, sendo que a relação entre as forças
Drenado (CU) resistentes e as forças solicitantes deve ser
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impreterivelmente superior, conforme a Goiânia. O autor realizou a coleta de seis


literatura e a boa prática, maiores que 1,1. amostras de solos argilosos típicos da região,
O método de Fellenius admite uma superfície em bairros não pavimentados, fez a sua
de ruptura circular na qual através do equilíbrio caracterização e selecionou uma delas como
dos momentos em relação a um centro O, representativa dos solos da região.
calcula-se o fator de segurança. Nesse método A amostra selecionada foi coletada nas
não são levadas em conta as forças tangenciais proximidades da Central de Abastecimento de
ou normais à parede das fatias. Goiás S.A (CEASA), situada na região noroeste
Já o método de Bishop, conforme explica de Goiânia. A figura 3 ilustra o exato local da
Massad (2010), considera que o equilíbrio das coleta da amostra.
forças é feito na direção vertical. Considera-se
que as forças normais agem no centro da base
da fatia e que podem ser calculadas pelo
somatório das forças na vertical desprezando o
somatório das forças atuantes na horizontal.

4 MANUTENÇÃO E REPAROS DO
EQUIPAMENTO TRIAXIAL DO IFG –
CAMPUS GOIÂNIA

O equipamento triaxial do IFG Campus Goiânia


encontrava-se fora de operação há vários anos e
Figura 3 - Área de coleta das amostras. Proximidades da
tornou-se necessária a realização de uma região da Central de Abastecimento de Goiás S.A
minuciosa manutenção no mesmo. Para realizar (CEASA)
esta etapa foi feita uma solicitação de
cooperação técnica entre o IFG Campus
Goiânia e o Departamento de Engenharia Civil 6 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO E
de FURNAS S. A., localizado em Aparecida de ENSAIO DE COMPACTAÇÃO
Goiânia (GO), que disponibilizou um técnico
especializado para conduzir esta etapa. A A caracterização da amostra de solo argiloso foi
Figura 2 apresenta uma vista geral do realizada de acordo com as normas NBR
equipamento triaxial do IFG Campus Goiânia. 7181:2016 Versão Corrigida: 2017 (ABNT,
2017): solo – análise granulométrica, NBR
6508 (ABNT, 1984): grãos de solo que passam
na peneira de 4,8 mm – determinação da massa
específica, NBR 6459:2016 Versão Corrigida:
2017 (ABNT, 2017) e NBR 7180 (ABNT,
2016): determinação dos limites de liquidez e
plasticidade.

Figura 2. Vista Geral do Equipamento Triaxial.


5 SELEÇÃO E COLETA DA AMOSTRA DE
SOLO ARGILOSO

A seleção da amostra de solo argiloso utilizada


foi feita com base nos estudos realizados por
Oliveira (2007) na região metropolitana de
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estudado.
Propriedades Resultado
Limite de liquidez (wL) 42%
Limite de Plasticidade (wP) 26%
Índice de Plasticidade (IP) 16%
Massa especifica real ou dos grãos (g/cm3) 2,77

Quadro 3 - Resumo das frações granulométricas do solo


estudado, de acordo com a escala granulométrica da NBR
6502 (ABNT, 1995).
Propriedades Resultado
Figura 4. Realização do ensaio de limite de liquidez
Argila 46,1%
Para o estabelecimento das condições de Silte 14,3%
moldagem utilizadas nos ensaios triaxiais, foi
realizado o ensaio de compactação com a Areia 38,9%
amostra de solo argiloso utilizando a energia do Pedregulho 0,7%
Proctor normal. A preparação do solo para
compactação foi realizada conforme trata a
NBR 6457 (ABNT, 1986): preparação para
ensaios de compactação e ensaios de  
Curva granulométrica
caracterização. A Figura 5 ilustra a curva de 100,0

compactação obtida. 90,0


80,0
70,0
60,0
% Passa

50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 6 – Curva granulométrica do ensaio de


Figura 5 – Curva de compactação do solo estudado. caracterização do solo estudado.

Os valores de umidade ótima e massa


específica seca máxima obtidos foram 7 CLASSIFICAÇÕES GEOTÉCNICAS
respectivamente, ρdmáx = 1,554 g/cm3 e wót =
23,4%. Após realizada a caracterização do solo o
Os Quadros 2 e 3 apresentam os resultados mesmo foi classificado nos sistemas TRB
dos ensaios de caracterização do solo coletado (Transportation Research Board) e SUCS
da região do Central de Abastecimento de (Sistema Unificado de Classificação dos Solos).
Goiás S.A (CEASA) e a Figura 6 ilustra a curva No sistema TRB o solo enquadrou-se no
granulométrica de caracterização do mesmo grupo A-7-6 (IG=9); os solos desse grupo são
solo. denominados de argilas siltosas. Na
classificação do sistema unificado o solo foi
classificado como CL – Argila arenosa de baixa
Quadro 2 – Resultados de caracterização do solo plasticidade.
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realizados e as condições estabelecidas para a


aquisição dos parâmetros de resistência ao
8 REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS cisalhamento.
TRIAXIAIS Foram moldados 3 (três) corpos de prova
para cada um dos dois tipos de ensaios triaxiais
Os dados necessários para a moldagem dos realizados. As tensões confinantes adotadas
corpos de prova foram obtidos do ensaio de foram de 100, 200 e 400 kPa, em função da
compactação, ou seja, os valores de massa capacidade do compressor de ar comprimido do
específica seca máxima e umidade ótima. equipamento.
Na realização das moldagens utilizou-se um
gabarito circular (molde) padrão, bipartido, com
dimensões de trinta e oito milímetros de Quadro 4 – Ensaios triaxiais realizados na pesquisa
diâmetro interno (38 mm) e oitenta milímetros
Confinante (kPa)
de altura (80 mm), conforme apresentado na Tipo de
GC (%)
Figura 7. ensaio.
Cp1 Cp2 Cp3
(CD) 95 100 200 400
(CU) 95 100 200 400

A velocidade de aplicação da tensão


desviadora utilizada nos ensaios triaxiais do
tipo CU foi de 0,060 mm/min; para os ensaios
CD adotou-se uma velocidade de 0,032
mm/min. Velocidades estas definidas com base
nas curvas de consolidação dos corpos de
prova.
Os corpos de prova foram deformados até
20% de sua altura (Figura 8). As leituras de
tensão desviadora foram realizadas por meio do
Figura 7. Gabarito do corpo de prova. extensômetro do anel dinamométrico da prensa
triaxial; as leituras de poropressão foram
A compactação dos corpos de prova foi efetuadas com um transdutor de poropressão e a
realizada de forma estática, utilizando uma variação de volume com o uso do variômetro.
prensa hidráulica. A prensagem foi realizada
em oito camadas de 10 mm (altura após a
prensagem). Os corpos de prova foram
compactados na umidade ótima do ensaio de
compactação e cum um grau de compactação
igual a 95%. O grau de compactação é a relação
entre a massa específica seca que se deseja
moldar o corpo de prova e a massa específica
seca máxima do ensaio de compactação,
expresso em percentual. Foram realizados
ensaios em condições drenadas e não drenadas
para obtenção dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo em cada uma delas. O
Quadro 4 apresenta um resumo dos ensaios
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Figura 8. Corpo de prova rompido, ensaio CU. O Quadro 5 apresenta os parâmetros de


resistência ao cisalhamento do solo argiloso
obtidos do ensaio triaxial CD.
9 ENVOLTÓRIA DE MOHR-
COULOMB E PARÂMETROS DRENADOS
Quadro 5 - Parâmetros efetivos de resistência ao
DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO cisalhamento do solo obtido do ensaio triaxial CD
Parâmetros
Segundo Pinto (2000), ao se submeter uma
’ 24,2o
argila ao ensaio triaxial, algumas tensões
confinantes poderão estar situadas abaixo da 33 kPa
tensão de pré-adensamento e outras acima. Tal
situação implica em que a envoltória obtida das
tensões acima da tensão de pré-adensamento
10 ENVOLTÓRIA DE MOHR-COULOMB
seria uma reta cujo prolongamento passa pela
E PARÂMETROS NÃO DRENADOS DE
origem e a envoltória obtida das tensões
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO
confinantes abaixo da tensão de pré-
adensamento teria uma forma curva. Como não
há praticidade em se trabalhar com envoltórias As Figuras 10 e 11 apresentam as envoltórias de
curvas, usualmente substitui-se o trecho curvo resistência do Mohr Coulomb em termos de
por uma reta que melhor a represente. tensões totais e efetivas para o ensaio CU.
A Figura 9 apresenta os círculos de Mohr e a
envoltória de Mohr Coulomb para as três
tensões confinantes empregadas no ensaio CD,
adquiridas com a realização dos ensaios do
trabalho.

Figura 10 - Envoltória dos Parâmetros totais adquira


através de ensaio triaxial do solo estudado – Ensaio CU.

Figura 11 - Parâmetros efetivos adquiridos através de


ensaio triaxial do solo estudado. Ensaio CU

O Quadro 6 apresenta os valores de


resistência ao cisalhamento em termos de
tensões totais e efetivas obtidos dos ensaios CU
com medida de poropressão. A análise em
termos de tensões efetivas é sempre preferível,
Figura 9 - Envoltória dos Parâmetros totais adquira entretanto, em determinadas situações, como
através de ensaio triaxial do solo estudado – Ensaio CD
por exemplo, o rebaixamento rápido do
reservatório de uma barragem, o maciço
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apresenta o comportamento não drenado e a a mesma inclinação do núcleo (1:0,2); o


análise de estabilidade deve ser feita em termos enrocamento apresenta uma inclinação de 1:1,8
de tensões totais. e a borda livre adotada é de 6 m, conforme
Figura 12.

Quadro 6 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento do


solo submetido a ensaio CU.
Parâmetros
Totais Efetivos
13,9o 20,6o
139 kPa 112 kPa

11 APLICAÇÃO DOS PARÂMETROS DE


Figura 12 – Seção da barragem analisada e suas
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO dimensões
DO SOLO ESTUDADO EM UMA
BARRAGEM. Os parâmetros de projeto utilizados na análise
do fluxo de água e estabilidade do talude da
A elaboração do projeto de barragem possui barragem para os diversos materiais
muitas etapas que devem ser executadas de tal componentes do barramento encontram-se
sorte a seja feita a melhor escolha do local para apresentados no Quadro 7. Os valores foram
implantação, a melhor geometria, os melhores extraídos da literatura, com exceção dos dados
materiais, entre outros aspectos. da argila (ângulo de atrito, coesão e peso
Para avaliar o comportamento do solo específico) que foram obtidos dos ensaios
estudado com relação à estabilidade de taludes realizados na fase experimental do trabalho.
de uma barragem, adotando-se os parâmetros de
resistência ao cisalhamento obtidos em Quadro 7 – Parâmetros utilizados para a análise da
laboratório, utilizou-se o software GeoStudio estabilidade do talude hipotético
versão estudante, muito conhecido no ramo
geotécnico e utilizado em mais de cem países. MATERIAL
c Ø k
O projeto analisado adotou as dimensões e (KPa) (Graus) (m/s)
dados dos materiais de uma barragem hipotética Areia 0 37 10-04
*Argila 33 24,2 10-09
de terra e enrocamento. Primeiramente foi Enrocamento 0 45 1,00
realizada a análise do fluxo pela barragem
através do software SEEP/W; em seguida foi E mv
feita a exportação dos resultados para o MATERIAL (KN/m3)
(MPa) (KPa-1)
software SLOPE/W onde foram aplicados os Areia 25 4,00x10-5 20
parâmetros de resistência ao cisalhamento do *Argila 50 2,00x10-5 19
ensaio triaxial tipo CD, obtidos com o uso do Enrocament 150 6,67x10-6 22
o
aparelho triaxial do IFG Campus Goiânia,
*Valores obtidos em ensaios de laboratório
supondo a barragem na fase de operação.  A
crista da barragem apresenta uma largura de 10
m, pois há previsão de tráfego sobre a mesma; a
A Figura 13 apresenta o resultado da análise do
largura da base da barragem é de 392 metros e a
fluxo através da barragem, realizada no módulo
altura total é igual a 106 metros. A largura do
SEEP/W. Destaca-se no software a demostração
núcleo argiloso adotada foi igual a 50% da
do possível comportamente do fluxo é
altura da barragem e o material de transição,
representado através de vetores que podem ser
entre o enrocamento e o núcleo argiloso, possui
vistos na mesma figura. O software também
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permite traçar a linha que representa o nível


freático.

Figura 13 – Tendência de fluxo da água atraves do


nucleo de argila.

O valor da vazão que transpõem o núcleo de


Figura 15 – Fator de segurança encontrado através do
argila encontrado foi de 2,574 x 10-9 m3/seg/m2. método de Fellenius com o uso do software GeoStudio.
A Figura 14 apresenta os fatores de segurança
obtidos para a barragem estudada, pelo método A NBR 11682 (ABNT, 2009) orienta a
de Bishop. O fator de segurança crítico obtido adoção de valores limites de fator de segurança
foi igual a =1,805. em função do grau de segurança necessário ao
local, quando da utilização de modelos
matemáticos, conforme apresentado no Quadro
8.

Quadro 8 – Fatores de segurança a partir da utilização de


modelos matemáticos – NBR 11682 (ABNT, 2009)

Grau de segurança
Fator de Segurança
necessário ao local
Alto 1.50
Médio 1.30
Baixo 1.15
Figura 14 – Fator de segurança encontrado através do
método de Bishop com o uso do software GeoStudio.
A análise realizada no presente trabalho
Pelo método de Fellenius, o fator de restringiu-se apenas à fase de operação normal
segurança encontrado foi igual a =1,804, da barragem, isto é, quando o reservatório já
praticamente igual ao obtido aplicando-se o está completamente cheio e já decorrido um
método de Bishop, uma variação de apenas tempo suficiente para a instalação do regime
0,001 entre os resultados. A análise atráves do permanente da rede de fluxo, como também
softaware Geostudio, para o método em para o processo de adensamento ou
questão, resultou no que está apresentado na consolidação do corpo da barragem. Tendo em
Figura 15. vista somente a etapa analisada, bem como, os
valores de expressos no Quadro 8, pode-se
concluir que o talude de jusante da barragem
hipotética estudada encontra-se estável.

AGRADECIMENTOS
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A Deus, primeiramente. À FURNAS S.A –


Departamento Técnico de Engenharia Civil, nas
pessoas do Engenheiro Civil e Doutor Renato
Cabral Guimarães e do Tecnólogo Helmar
Antônio Cortes, pela cooperação técnica na
manutenção e treinamento para operação do
equipamento triaxial do IFG Campus Goiânia.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de Solo
Preparação para Ensaios de Compactação e
Caracterização. Rio de Janeiro, Agosto, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e Solos. Rio de
Janeiro, Agosto, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6508: Solo – Grãos de solos que
passam na peneira de 4,8 mm - Determinação da
massa específica. Rio de Janeiro, Outubro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 11.682: Estabilidade de taludes.
Rio de Janeiro, Outubro, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, Março, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro, Setembro, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7182: Solo – Ensaio de
Compactação. Rio de Janeiro, Setembro, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 9895: Solo – Índice de suporte
California. Rio de Janeiro, Outubro, 2016.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e Suas Aplicações.
6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988, 234 p.
DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica.
Tradução da 6ª edição Norte-Americana – All Tasks,.
São Paulo: Thomsom Learning, 2007. 561 p.
MASSAD, Faiçal. Curso Básico de Geotecnia-Obras de
Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 216 p.
OLIVEIRA, João Carlos de. Indicadores de
Potencialidades e Desempenho de Agregados
Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil
em Pavimentos Flexíveis, 2007. Tese de Doutorado -
Universidade de Brasília, 167 p.
PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em
16 Aulas. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006,
367 p.
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Ensaio SPT - Desvios à Norma Brasileira e suas influências


Thaís Maria Leite Paludeto
FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba, Sorocaba, Brasil, tmpaludeto17@gmail.com

Sergio Martins de Camargo Junior


FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba, Sorocaba, Brasil, sergio.mcjr10@gmail.com

RESUMO: A investigação do perfil geológico do subsolo é de grande importância antes de se


desenvolver um projeto geotécnico. Existem vários métodos de investigação para obter informações
do subsolo, os quais são classificados e utilizados de acordo com os dados que fornecem e como são
executados, mas o mais utilizado no Brasil e em grande parte do mundo é a realização de sondagem
à percussão de simples reconhecimento do solo, denominado Ensaio SPT (Standard Penetration
Test). No Brasil, esse ensaio é normatizado pela NBR 6484 (ABNT, 2001) a qual descreve o
processo de execução do ensaio, dimensões e conservação dos equipamentos necessários para
realizá-lo. O presente trabalho levanta os procedimentos e equipamentos utilizados por cinco
empresas que executam esse ensaio, em relação à Norma Brasileira, e mostra como estes, quando
divergentes à Norma, podem influenciar nos resultados obtidos. Diante dos dados obtidos, foi
possível constatar que nenhuma das cinco empresas realizou o ensaio integralmente como descrito
na Norma, sendo que algumas empresas cometeram o erros graves que afetam diretamente os
resultados.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio SPT, NBR 6484, Procedimentos, Investigação, Subsolo, Geotecnia.

1 INTRODUÇÃO Há vários fatores relacionados ao


equipamento utilizado e a forma de execução
Para elaborar um projeto geotécnico, do ensaio SPT, pois quando divergentes à
adequado e econômico, é necessário que se Norma, podem influenciar direta e
conheça o subsolo do local da implantação. significativamente o resultado final de
O ensaio SPT (Standard Penetration Test) é o resistência do solo. Portanto, para que o
mais utilizado no Brasil e em grande parte do resultado de resistência apresentado,
mundo, para investigação geotécnica, pela denominado NSPT, seja confiável, é de suma
sua execução simples, por fornecer importância executar o ensaio corretamente,
resultados de resistência do solo e sua utilizando-se os equipamentos recomendados
caracterização e por ter um custo acessível. e conservados, segundo o que descreve a
Porém, como qualquer outro ensaio que é Norma.
realizado in situ, existem diversos fatores O objetivo desse trabalho é levantar as
relacionados aos equipamentos e execução, divergências à Norma cometidas pelas
que podem influenciar os resultados finais do empresas atuantes no mercado, relacionando-
ensaio SPT. No Brasil, esse ensaio é as aos fatores estudados, apresentando o
normatizado pela NBR 6484 (ABNT, 2001), quanto, e como, estes fatores influenciam o
que regulariza os equipamentos necessários, resultado final de resistência do solo.
suas dimensões e conservação, as etapas de Diante da importância da investigação do
execução do ensaio, as quais, eventualmente, subsolo, deve-se prezar por uma execução do
não são seguidas pelas empresas executoras ensaio de forma correta e com mais
do ensaio. qualidade, para que os resultados finais
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tenham credibilidade. Nesse contexto, a quatro fases: a primeira, que vai de 1902 até
proposta é ressaltar a relevância de conhecer meados de 1920, a segunda iniciando em
e seguir a Norma Brasileira que rege o 1927 até o final da década de 40, quando
assunto. Terzaghi e Peck (1948) lançaram o livro Soil
Mechanics in Engineering Practice. Com o
lançamento desta obra, a terceira fase tem
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA início, estendendo-se até a segunda metade
dos anos 1970, sendo marcada pelas
2.1 Prospecção Geotécnica primeiras tentativas de normatização do
ensaio. Já a quarta etapa vem como uma
A prospecção geotécnica consiste na sequência da terceira, começando em 1977,
aplicação de métodos realizados em campo quando a preocupação com a qualidade dos
para a determinação das características do dados e com a execução, começou a crescer.
terreno e de seu subsolo, levantando No Brasil, o SPT foi introduzido após a
informações como: tipo de solo e suas criação do primeiro núcleo de Mecânica dos
resistências, presença de níveis d’água, Solos, a seção de Solos e Fundações do IPT,
ocorrência de materiais orgânicos e presença em 1938, com a volta de Odair Grillo, depois
de rochas. de completar seus estudos na Universidade
A investigação da estrutura do subsolo em de Harvard, nos Estados Unidos, onde teve a
obras civis é primordial para o conhecimento oportunidade de fazer um curso com o
adequado das condições do local onde serão professor H. A. Mohr, idealizador da medida
implantadas essas obras. Entretanto, quando da resistência à penetração dinâmica com
não se possui informações do subsolo, ou amostradores bipartidos com 51 mm de
quando estas são precárias, o diâmetro. Antes desse marco, a investigação
desenvolvimento de um projeto fica limitado, e a análise dos solos eram feitas apenas por
ocasionando enganos em sua concepção. Em perfuração e por teste táctil-visual, a partir
alguns casos, por incoerrencias, pode ocorrer dos quais se poderiam obter estimativas da
a necessidade de reforço de fundação e nos consistência das argilas, mas não se
mais graves, o risco de colapso da estrutura. mostravam eficazes para a determinação da
Os investimentos para a realização de compacidade das areias, surgindo então, a
métodos de investigação do solo giram em necessidade de se fazer um ensaio que
torno de 0,2% a 0,5% do custo final de obras permitisse obter características da resistência
comuns, podendo variar em obras especiais e à penetração (CAVALCANTE, 2002).
de grande porte (SCHAIND, 2012). No Até o início dos anos 70, não existia no
entanto, a ausência da investigação Brasil uma padronização do amostrador na
geotécnica gera uma aparente economia execução do SPT. Tanto a metodologia
inicial, que pode acarretar um aumento quanto a aparelhagem eram variáveis, o que
significativo do custo final da obra, se forem dava margem de erro na interpretação dos
considerados os erros e riscos gerados pela estudos feitos. Esse assunto foi pauta no 5º
falta de informação. Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos,
realizado em São Paulo, em 1974.
2.2 Ensaio SPT Porém, somente em 1977, a Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS)
2.1.1 Contexto Histórico enviou para a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) a proposta para
Segundo Cavalcante (2002), o histórico do aprovação da Norma referente ao ensaio do
ensaio SPT se divide principalmente em SPT que, posteriormente, em 1979, foi
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aprovada e denominada como “Método de cair em queda livre sobre a cabeça de bater,
Execução de Sondagens de Simples cravando, então, o amostrador no solo por 45
Reconhecimento dos Solos”, MB 1211/79, cm totais. Conta-se o número de golpes que
sendo a primeira Norma Brasileira que se foram necessários para cravar cada 15 cm
referia ao assunto. Sua numeração foi: NBR dos 45 cm totais. Cravados os 45 cm de
6484 (1980) e, em fevereiro de 2001, foi profundidade, retira-se o amostrador do furo
revisada e atualizada, sendo incorporada a e recolhe-se a amostra de solo contida em seu
ela, a NBR 7250 (Identificação e descrição interior, anotando-se os 3 resultados na
de amostras de solo obtidas em sondagens de caderneta de campo e a classificação do solo
simples reconhecimento). Após isso, foi encontrado.
denominada como NBR 6484 (ABNT, 2001). Retirada a primeira amostra, faz-se a
Desde então, todos os estudos realizados cravação do tubo revestimento com 1 ou 2
nesta área precisam ser realizados de acordo metros que servirá de guia, e continua-se a
com essa Norma. perfuração com o trado espiral ou helicoidal,
Esse documento traz regras relativas aos até a profundidade de dois metros, repetindo
equipamentos e ferramentas que são o procedimento de cravação do amostrador e
utilizados e os processos de avanço da retirada da segunda amostra. Em seguida, a
perfuração, bem como, a amostragem, a perfuração continua repetindo o mesmo
observação do nível do lençol freático, além procedimento, até o encontro com o nível
da metodologia de apresentação dos d’água do lençol freático, ou encontrem as
resultados obtidos no ensaio. Ele também condições de paralisação do furo.
permite verificar as camadas geológicas do Se o amostrador não descer livremente até
maciço e os respectivos valores do NSPT, que a cota de escavação, significa que ocorreu o
passou a ser o novo valor do IRP. fechamento do furo, portanto interrompe-se a
perfuração e prolonga-se a cravação do tubo
2.1.1 Procedimentos de Execução de revestimento, por mais um ou dois metros
abaixo da cota que o terreno se fechou.
Após a determinação da quantidade, Quando, durante a perfuração, é
locação e cota de nível dos furos, segundo o encontrado lençol freático, anota-se a cota e
programa de sondagem, inicia-se a aguarda-se aproximadamente 30 minutos,
perfuração de acordo com as diretrizes realizando-se leituras do nível d’água a cada
contidas na Norma. 10 minutos, para verificar se houve elevação
Primeiramente, é feita a montagem do do nível, pela pressão piezométrica e anota-
tripé (Figura 1) e o conjunto de roldanas por se a nova cota encontrada. No final do dia,
onde passa a corda de sisal responsável pelo deve-se esgotar o furo e novamente anotar o
levantamento do martelo. A perfuração tem nível d’água, e no dia seguinte, com
início com a retirada do primeiro metro de estabilização do nível, a cota deve ser
solo com trado concha ou cavadeira manual. verificada.
Uma parte desse solo é armazenada como a Segue-se a perfuração com o trépano de
amostra zero, sendo opcional. lavagem e os procedimentos normais de
Após a escavação do furo com o trado cravação do amostrador até que se encontrem
concha, começa o ensaio à penetração com o as condições de paralisação do furo.
amostrador padrão apoiado no fundo do furo
fixado na extremidade da haste já acoplada à
cabeça de bater. O martelo de 65 kg é
erguido a uma altura de 75 cm, com o auxílio
da corda e conjunto de roldanas, deixando-o
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Ainda de acordo com Belincanta (1998),


os fatores relacionados aos procedimentos
seriam: avanço, limpeza e estabilidade do
furo, profundidade relativa do furo e do
revestimento, intervalo de tempo entre
perfuração e a amostragem, espaçamento
entre as amostragens subsequentes, e a
profundidades de penetração do amostrador.
No que se refere ao solo, Cavalcante
(2002) menciona os principais fatores:
resistência, compacidade relativa ou
consistência, grau de saturação,
permeabilidade, sensibilidade (argilas),
forma, distribuição e tamanho dos grãos
(areia).
Figura 1. Execução do Ensaio SPT. Os principais fatores que influenciam a
obtenção do NSPT durante a realização do
2.1.1 Fatores que Afetam os Resultados do ensaio SPT no Brasil, sendo eles: desvios em
Ensaio SPT relação ao uso do martelo, tipo e altura de
queda, desvios relacionados à cabeça de
Como qualquer outro ensaio que é bater, uso de coxim de madeira, composição
realizado in situ, existem diversos fatores que da haste, utilização de roldana móvel, a
podem influenciar os resultados obtidos na execução de cravação contínua do
execução do ensaio SPT. Segundo Hvorslev amostrador e o seu tipo. (BELINCANTA,
(1949), os fatorem que podem afetar esses 1998).
resultados podem ser divididos em três
principais classes: 1) devido as condições dos 3 RESULTADOS
equipamentos utilizados, 2) pelos
procedimentos e 3) pelas condições do solo. Os levantamentos dos dados para a
Com relação aos equipamentos utilizados composição dos resultados apresentados a
em campo, os principais são: as condições da seguir nesta pesquisa foram obtidos junto a
cabeça de bater, do martelo, das hastes, e do cinco empresas do estado de São Paulo,
amostrador (BELINCANTA, 1985, 1998). sendo três delas situadas na região de
Associado ao martelo, os fatores mais Sorocaba e duas na região de Campinas. Por
importantes que podem afetar a precisão dos questões éticas, as empresas em questão não
resultados são o peso, a altura de queda, o serão citadas e sim denominadas como
uso do coxim de madeira. Quanto às hastes, empresa “A”, “B”, “C”, “D” e “E”.
osfatores são o tipo e comprimento da com
posição. O fator relevante quanto a cabeça de 3.1 Em Relação ao Amostrador
bater é relacionado a padronização do seu
peso. Quanto ao amostrador, Belincanta Comparando as dimensões encontradas
(1998) ressalta que os fatores estão ligados com a dimensão exigida pela NBR 6484
ao diâmetro, razão de área projetada, (ABNT, 2001), constata-se que nenhum
rugosidade das suas paredes internas e amostrador encontrava-se fora do desvio
externas, folgas internas e externas, área e padrão de medida.
forma das aberturas de alívio, forma e estado Em relação à conservação do amostrador,
da sapata cortante. sabe-se que o corpo, e principalmente a
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sapata, devem estar isentos de qualquer facilmente, diminuindo o valor do NSPT. O


deformação ou amassamentos que alterem a contrário ocorre quando a altura de queda é
sua seção. Observa-se que a ponta da sapata menor que a estabelecida.
da empresa “A” e “C” apresenta-se com Observou-se que nenhuma empresa apre-
maiores deformações, estando em péssima senta um martelo com haste guia com
conservação comparada a da empresa “E” marcação da altura de queda dentro do
que começa a apresentar pequenas previsto pela NBR 6484 (ABNT, 2001).
deformações. A ponta ideal, de acordo com a Além de não estarem com o equipamento de
norma, seriam as das empresas “D” e “B”, as acordo com a norma, ao executar o ensaio, as
quais não apresentam deformações empresas apresentaram variação na altura da
significativas que alterem sua seção (Figura queda do martelo, principalmente as
2). empresas “A” e “E”, que apresentaram
grande variação na altura.
Outro ponto observado é sobre os
auxiliares das empresas “A”, “C” e “E”,
ajudaram na queda do martelo, aplicando um
impulso no final da queda. O martelo (Figura
3) deve sempre cair em queda livre e, quando
(a)Empresa “A” (b)Empresa “B” (c)Empresa “C” se aplica qualquer impulso, a energia
transferida também aumenta facilitando a
cravação do amostrador.
A norma recomenda o uso de coxim de
madeira dura, porém a empresa “A” e a “D”
usam coxim de nylon. O uso ou não do
(d)Empresa “D” (e)Empresa “E”
coxim não influencia de maneira significativa
a energia transferida do martelo para a cabeça
Figura 2. Sapatas dos amostradores de bater, alterando minimamente o valor de
NSPT.
A ponta da sapata é biselada para que
penetre no solo, “cortando-o” com mais
facilidade. Quando a ponta apresenta
deformações, a penetração no solo se torna
mais difícil, sendo necessário maior número
de golpes para cravar o amostrador gerando,
assim, um aumento expressivo no valor do (a)Empresa “A” (b)Empresa “B” (c)Empresa “C”
NSPT.

3.2 Em Relação ao Martelo

O fator que mais afeta o ensaio em relação


ao martelo é relacionado à sua altura de
queda. A variação da altura de queda afeta (d)Empresa “D” (e)Empresa “E”
diretamente a energia cinética transferida Figura 3. Martelos utilizados pelas empresas.
para as hastes. Sabe-se que quanto maior a
altura de queda, o martelo ganha maior
velocidade transferindo mais energia às
hastes, cravando o amostrador mais
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3.3 Em Relação à Cabeça de Bater segmentos bem conservados são mais


eficientes ao transmitir a energia ao
A cabeça de bater das empresas “A”, “C” amostrador. Todas as empresas apresentaram
e “E” apresentaram altura e diâmetro dentro hastes em bom estado de conservação, mas
do desvio imposto pela norma. No entanto, a todas com comprimentos variáveis.
cabeça de bater da empresa “B” possuía uma
grande variação na altura e a da empresa “D”, 3.5 Em Relação à Execução
no diâmetro (Figura 4).
A cabeça de bater é a parte da composição O desvio de execução ao padrão normal
de cravação que receberá o impacto direto da que mais influencia no resultado do NSPT é a
queda do martelo transferindo-o para as cravação contínua com o amostrador, a qual
hastes. A falta de padronização das cabeças foi observada em três das cinco empresas,
de bater tem como consequência a variação pelas empresas “A”, “C” e “E”. Segundo a
da sua massa nominal, que deve estar entre Norma, na execução do ensaio (Figura 5),
3,5 kg e 4,5 kg, segundo a NBR 6484 deve-se usar o trado concha no primeiro
(ABNT, 2001). metro, seguido da cravação do amostrador.
A massa nominal interfere diretamente na Na sequência, a escavação é com o trado
energia transferida do martelo à haste. espiral, intercalado com o amostrador nos
Quanto maior o peso da cabeça de bater, metros seguintes. No entanto, essas três
menor é sua eficiência na transferência de empresas não utilizam o trado espiral nem o
energia. trado concha, sendo que o amostrador é
cravado de forma continua, desde a
superfície do terreno, utilizando o martelo
seja nos 45cm iniciais de cada metro, seja
para a escavação nos demais trechos.
O amostrador foi idealizado para a
cravação de apenas 45 cm de solo, estando
(a) Empresa “A” (b) Empresa “B” (c) Empresa “C” vazio, mas com a cravação continua fica
cheio de solo desde o primeiro 55cm
executado. Com o amostrador já cheio com
os primeiros 55 cm de solo, ele sofre uma
resistência à cravação, quando estiver para
contar o número de golpes necessários para
cravar os 45 cm iniciais de cada metro.
(d)Empressa “D” (e)Empresa “E”
Além disso, o uso do trado espiral deixa o
Figura 4. Cabeças de Bater utilizadas pelas empresas. furo com um diâmetro maior que o diâmetro
do amostrador, fazendo com que desça
3.4 Em Relação às Hastes livremente até o fundo do furo para ser
cravado. Na cravação continua não há
Todas as empresas apresentaram hastes escavação, e o amostrador corta o solo nos 55
com tamanhos variáveis, sendo que, cm, sendo forçado e até mesmo levando
nenhuma com os valores determinados pela golpes do martelo, para chegar até o fundo,
Norma. Os tamanhos variáveis das hastes saturando-se deste solo, antes de cravado os
podem interferir na medição pelo operador, 45 cm para alcançar a cota seguinte. Essa
das profundidades do ensaio. prática como observado em pesquisas recen-
De acordo com a norma, as hastes devem tes realizadas, pode alterar significantemente
estar em bom estado de conservação, pois, o valor de Nspt, podendo haver um aumento
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de até 130% em seu resultado, segundo seguiam a norma com maior fidelidade. Para
Belicanta (1998). as empresas “A” e “C” existem dois tipos de
Em realção as empresas que executaram o sondagem, uma para obras pequenas a qual
ensaio com cravação contínua, a empresa A, não é preciso execução de lavagem e outra
com 9m de profundidade encontrou um Nspt para edificações maiores sendo necessária a
de 40, a empresa C aos 5m de escavação lavagem. No entanto só há um tipo de
apresentou o Nspt de 46 e a empresa E, sondagem que deve ser seguida em qualquer
apresentou um Nspt de 35 aos 4 metros de tipo de edificação.
profundidade. De acordo com Belicanta
(1998), estima-se que os valores de Nspt 4 CONCLUSÃO
apresentados por essas empresas deveriam
ser 130% menores, nos casos mais criticos, O desenvolvimento da presente
ou seja, a empresa A aos 9m deveria pesquisa possibilitou uma análise de como a
apresentar um Nspt de 17, a empresa C, ao execução do Ensaio SPT de formas
5m de cravação deveria apresentar o valor de divergentes aos parâmetros descritos na
20 e a empresa E, com 4m de profundidade Norma pode alterar o resultado da sondagem.
deveria obter um Nspt de 15. Com base nas análises realizadas das
O critério de parada do ensaio utilizado empresas da região de Sorocaba e Campinas,
pelas empresas “A”, “C”, e “E” foi encontrar que executam o ensaio SPT, e fazendo uso da
o solo impenetrável pela cravação continua revisão bibliográfica desenvolvida, conclui-
do amostrador, ou quando ocorrerem as se que a maioria das empresas analisadas
situações descritas na Norma. Das empresas cometem erros graves durante a realização do
analisadas, apenas a “B” e a “D”, continuam ensaio em campo, como por exemplo, a
a sondagem por escavação, ou circulação de escavação do furo por cravação contínua do
água, até o impenetrável, ou ocorrerem às amostrador, sem o uso do trado espiral, o que
situações descritas pela Norma. pôde ser constatada em três das cinco
Os integrantes das equipes foram empresas analisadas, representando mais de
questionados quanto à medição do nível cinquenta por cento dos ensaios
d’água após 24 horas, como consta em acompanhados.
norma, e todos afirmaram o retorno para Outro erro constatado durante o
verificação. acompanhamento dos ensaios, foi a má
A retirada de amostra a cada metro conservação da sapata do amostrador, sobre o
investigado e sua armazenagem em sacos qual a norma traz informações claras,
plásticos etiquetados contendo as descrevendo que a sapata deve estar isenta de
informações da amostra citada na norma foi qualquer amassamento, trincas ou qualquer
realizada por todas as empresas observadas. deformação que altere a seção.
Quanto à equipe necessária prevista pela Dentre outros erros cometidos pelas
Norma, composta por três integrantes sendo empresas, pode-se destacar também a ajuda
um sondador, um auxiliar de sondagem e um na queda do martelo, sobre a qual a norma
ajudante, as empresas “A”, “B”, “C” e “D” estabelece que deva acontecer em queda
cumpriram a norma, exceto a empresa “E”, livre, isenta de qualquer ajuda ou força
cuja equipe era composta por apenas dois adicional.
integrantes (Figura 4). Todas essas divergencias citadas poderiam
A equipe foi questionada também, sobre ser evitadas, os materiais utilizados devem
como o ensaio tem que ser executado, e todas ser fiscalizados com frequência, os
afirmaram seguir a norma, mas não foi o que sondadores e os ajudantes devem ser
se observou. Somente as empresas “B” e “D” treinados para executar o ensaio e cientes da
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importância que os resultados dos ensaio tem Ciências em Engenharia Civil) – COPPE –
para a geotecnia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro. 445p.
O ensaio SPT fornece o índice de Hvorslev, M. J. (1949). Sampling Methods and
resistência à penetração do solo e Requirements, Subsurface Exploration and
características do subsolo, os quais são Sampling of Soils for Civil Engineering Purpose,
necessários para a determinação do tipo ideal 2ª ed., Oficina de textos, São Paulo, 223p
de fundação, sua cota de apoio e para os Schnaid, F. & Odebrecht, E. (2012). Ensaios de
Campo e suas Aplicações à Engenharia de
cálculos empíricos de capacidade de carga. Fundações, first ed., Chapter 4, Waterways
Dessa forma, a execução de acordo com os Experiment Station, Mississipi, USA.
padrões estabelecidos pela ABNT é de Terzaghi, K. e Peck, R.B. (1948) Soil Exploration,
extrema importância, pois os cálculos foram Soil Mechanics in Engineering Practice, first ed.,
desenvolvidos para receber valores dos John Willey & Sons, New York, NY, USA.
ensaios baseados na Norma.
Portanto, quando se tem uma sondagem
mal executada, em desacordo com a Norma
vigente, a concepção do projeto pode ser feita
de forma equivocada, acarretando gastos
maiores que os previstos, pois o solo
apresentado no relatório de sondagem não
equivale realmente ao encontrado em campo.

AGRADECIMENTOS

Gostariamos de agradecer aos nossos pais e


familiares, a Professora Mestre Bárbara
Nardi Melo, nossa orientadora, ao
Engenheiro Ferdinando Ruzzante Netto e a
Professora Karina Leonetti Lopes, nossos
coorientadores, ao Professor Doutor Erinaldo
Hilário Cavalcante e a FACENS pelo
incentivo, pacinência e suporte durante o
desenvolvimento desse trabalho.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


6484: Solo – Sondagens de simples
reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio
de Janeiro, p.17, 2001.
Belincanta, A. e Cintra, J. C. A. (1985) Energia
Dinâmica no SPT – Resultados de uma
Investigação Teórico-Experimental,Dissertação de
mestrado, Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, 222p.
Belincanta, A. e Cintra, J. C. A. (1998) Fatores
Intervenientes em Variantes do Método ABNT
para Execução do SPT, Revista Solos e Rochas,
ABMS, vol. 21, n. 3, pp. 119-133.
Cavalcante, E. H. (2002) Investigação teórico-
experimental sobre o SPT. Tese (Doutorado em
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Ensaios com penetrômetro leve - PANDA 2 - em campo


experimental da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG
João Lucas da Mota Rodrigues
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, joaolucasdamota@gmail.com

Breno Breseghelo do Nascimento


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, brenobdn@gmail.com

Artur Felipe Gonçalves Cardoso Miranda


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, artur_felipe_gcm@hotmail.com

Leonardo Milhomem Cunha


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, leonardo.milhomemc@gmail.com

Rômulo Rodrigues Machado


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, ro_mulo_14@hotmail.com

Tamara Cristina Alves


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, tamaracrisalves@hotmail.com

Renato Resende Angelim


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, tecnoeng@gmail.com

RESUMO: O ensaio PANDA 2 mostra-se um ensaio emergente e de grande potencialidade na


aplicabilidade prática da investigação geotécnica na obtenção de informações complementares na
sondagem do subsolo. Neste âmbito, o presente trabalho busca contribuir com o banco de dados de
ensaios realizados com o penetrômetro PANDA 2 no cenário local, para solos tropicais, a fim de
determinar a resistência à penetração qd do perfil de solo por ponteiras cônicas de 4 e 10 cm². Além
disso, relacionar o perfil de solo do campo experimental em questão, com os valores obtidos para a
resistência à penetração. Neste trabalho, apresenta-se um novo método de interpretação dos
resultados do PANDA 2 pela ponderação da energia proferida pelo golpe do martelo.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio PANDA 2, ensaios in situ, investigação geotécnica, solos tropicais.

1 INTRODUÇÃO A investigação geotécnica pode ser de dois


tipos: por meio de ensaios de campo e por meio
A investigação geotécnica é um pré-requisito de ensaios de laboratório. Esses ensaios muitas
essencial quando se está na eminência de vezes se complementam fornecendo um melhor
começar qualquer tipo de obra de engenharia. entendimento do comportamento do solo
Conhecer o subsolo permite a redução do custo estudado. Nesse contexto os ensaios de campo
do dimensionamento das fundações, melhorar a se mostram mais representativos, pois o
avaliação dos coeficientes de segurança e amolgamento do solo é reduzido em
contribui para o entendimento do comparação com aqueles ensaios realizados em
comportamento geomecânico do maciço de solo laboratório devido a retirada das amostras.
(ANGELIM, 2018).
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O ensaio SPT (Standard Penetration Test) é 2 PENETRÔMETROS E O ENSAIO


o ensaio mais difundido mundialmente, e PANDA 2
principalmente no Brasil. No país o ensaio é
normalizado pela NBR 6484 (ABNT, 2001), e O ensaio PANDA 2 faz parte de um amplo
consiste basicamente na determinação do grupo de equipamentos de investigação do solo,
parâmetro NSPT que é dado pela soma da chamados de Penetrômetros. Os penetrômetros
quantidade de golpes necessários dados por um também chamados de penetrógrafos são
martelo de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm instrumentos que medem a resistência à
na cravação de 30 cm de um amostrador penetração em unidades de pressão (ex. N/m²)
padronizado após a cravação inicial de 15 cm. de um cone padrão, localizado na extremidade
O desenvolvimento do ensaio teve a de uma haste de metal, quando inseridos no
contribuição de vários engenheiros como interior da massa de solo (FERREIRA et al.,
Charles R. Gow, Terzaghi e Peck (publicação 2013).
no ano de 1948 enfatizando a utilização Os penetrômetros classificam-se em estáticos
sistemática do ensaio com relação aos e dinâmicos, de acordo com a forma em que são
procedimentos e equipamentos). cravados. São considerados estáticos ou semi-
A Sondagem de Simples Reconhecimento estáticos aqueles cravados por mecanismo
está presente dentro de um amplo grupo de hidráulico, com velocidade igual ou inferior a
ensaios de campo compostos por CPT (Cone 20 mm/s para evitar o surgimento de
Penetration Test), PMT (Pressuremeter Test), poro-pressão. Dentre os estáticos estão o CPT,
DMT (Dilatometer Test) e PANDA 2 CPTU e DMT. Já os dinâmicos são cravados à
(Penetremetre Autonome Numérique percussão por martelos de acionamento manuais
Dynamique Assisté par Ordinateur – 2), esses ou mecânicos. O SPT e o PANDA 2 se
menos usuais no país. O tipo de investigação enquadram dentro deste último tipo.
mais utilizado varia conforme a tradição do Assim como os demais ensaios de
país. penetração, o ensaio PANDA 2 consiste na
Neste contexto, o presente trabalho busca inserção de uma ponteira cônica conectada a um
analisar o ensaio PANDA, na sua segunda conjunto de hastes no solo através da
versão como um ensaio emergente no campo transferência de energia por meio de uma massa
das investigações geotécnicas em solos padronizada (martelo). Assim como sua versão
tropicais. O equipamento mede um parâmetro passada, utiliza a Fórmula dos Holandeses, e
físico do solo (resistência à penetração, em conta com a particularidade de medição da
MPa), é portátil de fácil transporte, dependendo energia produzida pelo martelo. (SOL
do solo ensaiado exige apenas um operador, e SOLUTION, 2018)
possui ainda aquisição automática de dados e O operador por meio de golpes com um
visualização dos resultados concomitantemente martelo de massa de 1,726 kg, que conta com
à realização do ensaio em um gráfico de um sistema anti-repique feito por uma cavidade
resistência à penetração versus profundidade de preenchida com limalhas de ferro, golpeia uma
penetração. “cabeça de bater” que está conectada no topo do
O ensaio PANDA 2 pode ser usado como conjunto de hastes metálicas. Na “cabeça de
ensaio complementar ao SPT, e pode surgir bater” existe uma ponte de strain gages que
como opção de investigação em obras de transmite todas as informações obtidas a uma
pequeno a médio porte, que no Brasil, grande Unidade Central de Aquisição que se apóia
parte sofre com ausência de corretos sobre o chão durante a medição, e que por sua
procedimentos de conhecimento do solo vez, transmite as informações para um Terminal
(ANGELIM et al., 2016). de Comunicação, que garante a interação dos
resultados obtidos com o operador. A
profundidade é medida por meio de uma trena
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denteada que se prende em um anel na “cabeça Uma série de estudos já foi feita com o
de bater” (SOL SOLUTION, 2018). intuito de aumentar o banco de dados do ensaio
A Figura 1 mostra o conjunto montado e PANDA 2 e comparar o mesmo com outros
suas principais partes constituintes: ensaios. Azevedo e Rodrigues (2014),
1. Terminal de comunicação: possui um estudaram a relação das resistências fornecidas
software que permite definição de campos e de pelo SPT e pelo PANDA 2 e chegaram na
sondagens, arquivamento dos dados de ensaios, seguinte relação:
e transferência de dados para o computador.
!"
Interface simples e de rápido acesso; = 0,5058𝑒 -.,/012 (1)
#$%&
2. Unidade Central de Aquisição: conecta-se ao
terminal de comunicação, serve como guia para
sendo:
ajudar a manter o prumo das hastes, e possui
p = profundidade (metros),
uma trena de medição de profundidade que se
NSPT = número de golpes para cravação do
conecta à “cabeça de bater”;
amostrador nosdois últimos 15 cm do ensaio
3. Cabeça de bater: dotada de uma célula de
SPT,
carga que recebe a energia transferida pelo
qd = valor da resistência à penetração da
martelo e local de conexão de um cabo que se
ponteira cônica (MPa).
liga ao terminal de comunicação;
4. Martelo anti-repique;
Ferreira et al. (2013), realizaram comparação
5. Hastes metálicas de 50 cm de comprimento,
entre resultados de ensaios PANDA 2 e de
que se conectam umas as outras para formar o
ensaios SPT em aterros compactados de
conjunto de hastes.
barragens de terra, relacionando a variável 𝑞45.
- média dos valores qd obtidos no trecho de
30 cm do perfil correspondente ao trecho onde
se determinou o valor de NSPT - mostrando que
existe uma correlação entre os resultados dos
dois ensaios e que essa correlação varia com a
profundidade penetrada.
Angelim (2011) estimou parâmetros
geotécnicos por meio do ensaio PANDA 2 em
aterros compactados de barragens de terra,
obtendo bons resultados.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Campo Experimental

O campo experimental está situado na área


da Escola de Engenharia Civil e Ambiental
(EECA), Campus Colemar Natal e Silva
(CAMPUS I) da Universidade Federal de Goiás
(UFG), localizada na Avenida Universitária
nº 1488, Quadra 86, Setor Universitário,
Goiânia - Goiás, cujas coordenadas geográficas
obtidas via Google Earth Pro são 16°40'41" S e
49°14' 31" W.
Figura 1: PANDA 2 - Adaptado de Sol Solution (2018)
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3.2. Ensaios Realizados In Situ delas, a P4C, foi interrompida prematuramente


aos 4,0 m de profundidade. Desta forma,
Na área do campo experimental foram executou-se outra sondagem P4C* no intuito de
realizadas sondagens PANDA 2 ao redor de substituí-la.
uma sondagem de simples reconhecimento No presente trabalho, apenas os resultados
(SPT), posicionadas nos vértices de um dos ensaios executados com a ponteira de 4 cm²
hexágono imaginário de 50 cm de lado. são apresentados e discutidos. Os ensaios foram
Excepcionalmente, uma única sondagem realizados em intervalos de tempo próximos,
PANDA 2 adicional, P4C*, foi realizada no entre os dias 07/02/2018 e 22/02/2018 de tal
ponto médio entre o alinhamento do furo SPT 1 forma que eventuais variações de umidade do
e a sondagem P4C. (ver Figura 2) perfil não interferissem na resistência do solo à
Ao total foram realizadas sete sondagens penetração.
PANDA 2, sendo quatro com ponteira de seção
4 cm², que em sua maioria alcançaram a cota de
9,50 m de profundidade e três com ponteira de 4 RESULTADOS
seção 10 cm² que foram interrompidas na cota
5,50 m de profundidade. Na apresentação dos resultados, procurou-se
Foi adotada a nomenclatura apresentada na realizar três abordagens distintas de explicitação
Tabela 1, para os ensaios realizados. dos valores obtidos: i) Apresentação dos valores
de resistência à penetração qd (dados brutos
Tabela 1 – Nomenclatura utilizada. obtidos no ensaio) pela profundidade; ii)
Nomenclatura Significado Apresentação dos valores de qd10 (média dos
SPT Furo de sondagem SPT valores qd a cada 10 cm de profundidade) pela
P Sondagem PANDA 2 profundidade; e iii) Apresentação dos valores
Área da seção da ponteira de resistência à penetração qd10-E (com a
4, 10
(cm2)
ponderação da energia ou do trabalho mecânico
Identificação da sondagem
A, B, C, D realizado por cada golpe) pela profundidade.
PANDA 2
Classificar um solo é de suma importância,
para associar as características de resistência à
penetração com as partículas constituintes do
mesmo, desta forma, a classificação táctil-visual
do solo foi realizada por meio de amostragem
obtida do ensaio SPT. A Tabela 2 representa a
classificação tátil-visual realizada.
As Figuras 3 a 6, mostram os valores de
resistência à penetração qd (dados brutos
obtidos no ensaio) pela profundidade.

Figura 2: Sondagens PANDA 2 realizadas no campo


experimental da EECA/UFG e furo SPT.

Das 7 sondagens PANDA 2 realizadas, uma


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Tabela 2 – Classificação tátil-visual obtida para o solo do


campo experimental via sondagem SPT. qd (MPa)
Prof. (m) Classificação táctil-visual 0 10 20 30 40
0,0 a 1,0 Areia fina argilosa vermelha 0
1,0 a 2,0 Areia fina argilosa vermelha
Argila arenosa vermelha com 1
2,0 a 3,0
pedregulhos e fragmentos de quartzo
2
Argila arenosa vermelha com
3,0 a 4,0
pedregulhos e fragmentos de quartzo 3
Argila arenosa vermelha com
4,0 a 5,0
pedregulhos e fragmentos de quartzo 4
Areia argilosa com pedregulhos e
5,0 a 6,0 fragmentos de quartzo – Zona de 5

Profunidade (m)
Transição
Areia argilosa com pedregulhos e 6
6,0 a 7,0 fragmentos de quartzo – Zona de
Transição 7
7,0 a 8,0 Silte arenoso micáceo róseo
8
8,0 a 9,0 Silte arenoso micáceo róseo
9,0 a 10,0 Silte arenoso micáceo róseo 9

10

Figura 4 – Resistência à penetração qd em MPa versus


profundidade em metros para o furo P4B.
qd (MPa)
0 10 20 30 40
0 qd (MPa)
0 10 20 30 40
1 0

2 1

3 2

4 3

4
Profunidade (m)

6 5
Profunidade (m)

7 6

8 7

9 8

10 9

10
Figura 3 – Resistência à penetração qd em MPa versus
profundidade em metros para o furo P4A.
Figura 5 – Resistência à penetração qd em MPa versus
profundidade em metros para o furo P4C.
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pela profundidade.
qd (MPa)
0 10 20 30 40
0 qd10 (MPa)
0 5 10 15 20
1 0
2
1
3
2
4
3
5
Profunidade (m)

4
6
5

Profunidade (m)
7

8 6

9 7

10 8

Figura 6 – Resistência à penetração qd em MPa versus 9


profundidade em metros para o furo P4C*.
10
Observou-se que dentro dos primeiros 40 cm
Figura 7 – Resistência à penetração qd10 em MPa versus
de cravação houve um pico de resistência da profundidade em metros para o furo P4A.
ordem de 10 MPa presente para todos os furos
de sondagem. Essa resistência diminuiu para
valores baixos com qd da ordem de 0,6 MPa até qd10 (MPa)
o aparecimento de um novo pico em 4,5 m e 0 5 10 15 20
0
depois novamente após 6,0 m, de uma forma
mais contínua e crescente. O primeiro pico de 1
resistência foi explicado por Alves et al. (2014),
em pesquisa realizada dentro da área da 2
EECA/UFG em local próximo ao campo
3
experimental, que atribuíram o fato a tensão de
sucção do solo, após a realização de sondagens 4
PANDA 2 com níveis diferentes de molhagem
do terreno. 5
Profunidade (m)

A fim de enxugar a quantidade de dados


6
brutos do ensaio PANDA 2 e melhorar
representação do comportamento da resistência 7
à penetração do solo, no penetrograma de cada
sondagem, estabeleceu-se a variável qd10, obtida 8
pela média dos valores de 𝑞4 a cada 10 cm de
9
profundidade, posicionando-se seu valor no
ponto médio da profundidade considerada no 10
penetrograma.
As Figuras 7 a 10 apresentam os Figura 8 – Resistência à penetração qd10 em MPa versus
penetrogramas que expressam os valores de qd10 profundidade em metros para o furo P4A.
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A Figura 11, apresenta todas as sondagens


qd10 (MPa) PANDA 2 juntas, com exceção da mais rasa
0 5 10 15 20 P4C. Destaca-se a repetitividade dos resultados
0 dos distintos furos.
1
qd10 (MPa)
2
0 5 10 15 20
0
3
1
4
2
5
Profunidade (m)

3
6
4
7 Profunidade (m) 5
8 6

9 7

10 8
Figura 9 – Resistência à penetração qd10 em MPa versus 9
profundidade em metros para o furo P4C.
10

Furo P4A Furo P4B Furo P4C*


qd10 (MPa)
0 5 10 15 20
0 Figura 11 – Resistência à penetração qd10 em MPa versus
profundidade em metros para todos os ensaios feitos com
1 exceção de P4C (mais raso).

2
Usando o princípio do trabalho mecânico (t)
3 realizado por uma força (F) que produziu a
penetração da ponteira cônica, da Mecânica
4 Clássica, pode-se inferir que:
Profunidade (m)

5
t = F. ∆x. cos θ (2)
6
sendo que:
7 ∆x = deslocamento provocado pela força.
8
θ = ângulo que esta força faz com a direção do
deslocamento.
9 Aplicando-se ao ensaio PANDA 2, com a
tensão qd e a área da ponteira cônica (4 cm2) se
10 obtém a força proferida pelo martelo que está
Figura 10 – Resistência à penetração qd10 em MPa versus na mesma direção e sentido que o deslocamento
profundidade em metros para o furo P4C*. do conjunto de hastes, (θ = 0º). Logo, para o
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ensaio em questão, pode-se criar uma expressão qd10-E (MPa)


para o trabalho (t) dada por:

t = 𝑞4 . 0,0004 . ∆x (3) 0

A partir da seguinte expressão, pôde-se fazer


um gráfico ponderando os valores de qd a cada 1
10 cm de profundidade com o valor da energia
(trabalho). Foi usado o princípio da média 2
ponderada para tal, introduzindo a variável
qd10-E que corresponde à variável da resistência
à penetração a cada 10 cm, ponderando-se pelo 3
trabalho realizado pelo golpe no martelo. A
expressão usada foi:

Profundidade (m)
4
F
DGH BCD ED
q4/.-A = F E (4) 5
DGH D

Sendo EJ a energia proferida pelo golpe do 6


martelo, e n o número de golpes compreendidos
dentro do intervalo de 10 cm em questão.
A variável qd10-E foi calculada para cada 7
intervalo de 10 cm, para todos os furos
realizados com a ponteira de 4 cm². Na 8
Figura 12 está apresentado o penetrograma para
todas as sondagens, com exceção da mais rasa
9
P4C.
Observa-se que a ponderação serve como
parâmetro para saber a relação da variável qd10 10
com a energia transferida ao martelo em cada 0 5 10 15 20
golpe. Embora a Figura 12 mostra-se ainda com Furo P4A Furo P4B Furo P4C*
um aspecto bem semelhante ao da Figura 11,
tratar os resultados considerando a média Figura 12 – Resistência à penetração qd10-E em MPa
ponderada pela energia dá uma força versus profundidade em metros para todos os ensaios
representativa maior para o valor de qd10 . Desta feitos com exceção de P4C (mais raso).
forma, sendo melhor trabalhar com qd10-E.
5 CONCLUSÕES

Por fim, conclui-se que os resultados obtidos


pelo ensaio PANDA 2 foram satisfatórios para
avaliação da resistência à penetração do perfil
de solo do campo experimental da EECA-UFG,
pois os ensaios realizados com a ponteira de
4 cm² apresentaram penetrogramas muito
semelhantes demonstrando uma boa
repetitividade na determinação do
comportamento da resistência à cravação do
perfil.
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Destaca-se que a presença de pedregulhos e Ambiental, Universidade Federal de Goiás, Goiânia,


fragmentos de quartzo influenciaram no GO, 79 p.
Morais, T. da S.O. (2014). Interpretação racional de
aumento dos valores de qd10 a partir de 4,5 m resultados de ensaios SPT com base em conceitos de
profundidade. energia, Dissertação de mestrado, Programa de Pós-
Mesmo guardando boa semelhança entre os Graduação em Geotecnia, Departamento de
penetrogramas de qd10 e qd10-E , o tratamento dos Geotecnia, Universidade de São Paulo, São Carlos,
resultados pela média ponderada pela energia São Paulo, 210 p.
Santaella, A. (2018). Resistência do solo à penetração,
dá uma força representativa maior para o valor disponível em
de qd10-E . http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAbC0AD/re
sistencia-solo-a-penetracao, acessado em: 30/04/2018
Sol Solution, Handbook PANDA 2, 88p.
AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do


Estado de Goiás (FAPEG) pelo apoio na
divulgação deste trabalho.

REFERÊNCIAS

Alves, T.C., Lara, J.A.M., e Parrode, F.R. (2014). Estudo


da influência da sucção nos resultados dos ensaios
penetrométricos realizados com PANDA 2. Trabalho
de Conclusão de Curso, Escola de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade Federal de Goiás, 90p.
Angelim, R.R. (2011). Desempenho de ensaios
pressiométricos em aterros compactados de
barragens de terra na estimativa de parâmetros
geotécnicos. Tese de Doutorado em Geotecnia,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 291 p.
Angelim, R.R.; Campos, C. S.; Llobet, Y. B.; Sales, M.
M.; Cunha, R. P. (2016). Correlação entre ensaios
SPT e PANDA 2 (Penetrômetro leve de energia
variável) em aterro compactado de barragem com
solo tropical. In: 15 Congresso Nacional de Geotecnia
e 8 Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, Porto,
Portugal.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
(2001). NBR 6484 – Solo – Sondagens de simples
reconhecimento com SPT – Método de ensaio, Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 17p.
Azevedo, F.H.B. e Rodrigues, I.R.S. (2014). Estudo
comparativo entre ensaios SPT e PANDA 2 em solos
tropicais, Trabalho de Conclusão de Curso, Escola de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade Federal
de Goiás, Goiânia, GO, 71p.
Nascimento, B. B. (2018). Provas de carga em estacas
metálicas tubulares de ponta aberta em um
solotropical, Exame de qualificação de Mestrado.
Ferreira, I.P., Quirino, R. e Soares, T.M. (2013). Estudo
comparativo entre os ensaios SPT e PANDA 2 em
aterros compactados de barragem de terra, Trabalho
de Conclusão de Curso, Escola de Engenharia Civil e
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Estabilização de uma areia de fundição substituída parcialmente


por pó de pedra e com adição de diferentes teores de agente
cimentante
Lucas Quiocca Zampieri
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, lucas.zampieri@unoesc.edu.br

Ana Paula Filipon


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, a-paula95@hotmail.com

Fabiano Alexandre Nienov


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, fabiano.nienov@unoesc.edu.br

Gislaine Luvizão
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

José Carlos Bressan Júnior


Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, Brasil, jose.cj@unoesc.edu.br

RESUMO:
Buscando a redução do descarte inadequado ou oneroso de resíduos sólidos, buscou-se estudar a
esatabilização de uma areia descartada de fundição. Realizou-se a substituição parcial da areia de
fundição por pó de pedra e adição de cimento. As misturas são substituição da areia por pó de pedra
de 25, 50 e 75%, com teores de cimento de 5, 7, 9 e 11% e umidade 11%. Após a moldagem e o
período de cura, aferiu-se a resistência à compressão simples e realizou-se análise química do
extrato solubilizado da mistura. Os resultados indicaram que o teor de cimento somado ao teor de
substituição de areia por pó de pedra tem forte influência na resistência à compressão simples. A
porosidade influi na resistência à compressão da mistura, por meio da relação porosidade/teor de
agente cimentante foi possível estabelecer um modelo de cálculo para estimativa do teor de cimento
necessário para que se atinja determinada resistência. Com relação aos agentes contaminantes
analisados, observou-se que apenas o parâmetro Fenóis Totais não atende a legislação.

PALAVRAS-CHAVE: Areia de Fundição; Estabilização; Novos Materiais Geotécnicos; Metais


Pesados.
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1 INTRODUÇÃO O programa de trabalho deste estudo envolve


a estabilização química com a adição de
O processo de fundição consiste na cimento, estabilização granulométrica com a
conformação de ligas metálicas com utilização substituição parcial de areia por pó de pedra e
de moldes que permitam a materialização do estabilização mecânica, realizada com a
projeto de acordo com a funcionalidade compactação da mistura. Com isso avalia-se o
mecânica ou estética esperada. Dentre os comportamento da resistência à compressão
processos de fundição existentes, destaca-se, simples de acordo com as diversas combinações
para este trabalho, o Cold Box que utiliza areia de mistura.
para a fabricação de seus moldes. Para verificar a legalidade da aplicação da
Após obter-se a peça fundida, a areia areia de fundição em campo, realiza-se a análise
utilizada nos moldes de fundição é descartada. do extrato solubilizado de um dos corpos de
Adegas e Bernardes (2008), tratam a areia prova moldados, visando comparar os
descartada de fundição como um passivo resultados obtidos com os limites estabelecidos
ambiental que representa grande preocupação e pela NBR 10004 (ABNT, 2004).
custo para as empresas que a utilizam, visto que A reutilização desses resíduos pode reduzir
seu descarte somente pode ser realizado em os impactos ambientais gerados pelo seu
centrais de resíduos regulamentadas pelos descarte ou armazenamento inadequado e
órgãos ambientais. beneficiar as indústrias que o geram. Além
Paralelamente, o pó de pedra é considerado disso, seria possível diminuir a extração de areia
por Menossi (2004) como um rejeito da de rios, que por sua vez também gera
britagem de rochas, tornando-se um agente consequências negativas ao meio.
poluidor e problemático quando estocado em Portanto, como alternativa para a resolução
pilhas nos pátios das pedreiras, causando poeira da problemática da areia de fundição optou-se
elevada, obstrução de canais de drenagem, e por estudá-la adicionando cimento, e
assoreamento de rios. substituindo-a parcialmente por pó de pedra que
No entanto, essa destinação não deve ser também é visto como um agente poluidor, a fim
considerada como solução definitiva e sim de avaliar a resistência das misturas obtidas e
como uma postergação de solução, mesmo analisar a possibilidade de imobilizar os metais
monitorado, o aterro constitui-se como um pesados presentes nela, para posteriormente
passivo com implicações futuras imprevisíveis. aplicar em algum processo do setor de
Diante da atual busca por alternativas de Construção Civil sem gerar prejuízos
descarte dos resíduos industriais de maneira a ambientais.
evitar a agressão ambiental, uma política Além disso, obtêm-se, através da relação
adotada consiste na reutilização destes em porosidade/teor volumétrico de agente
outras atividades. cimentante (η/Civ), equações que permitem a
O setor de Construção Civil é indicado como estimativa do teor de cimento necessário para
principal alternativa para aplicação de areias de que se atinja uma resistência à compressão
fundição. Para tanto, este trabalho busca simples desejada.
analisar o comportamento dessa areia quando
estabilizada com adição de diversos teores de 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
cimento, ao mesmo tempo que substituída por
pó de pedra, a fim de avaliar sua resistência e a De acordo com Adegas e Bernardes (2008),
possibilidade de imobilização dos resíduos nela mesmo utilizando como matéria prima, em sua
existentes e que provém do processo de grande maioria, sucatas de metal, evitando a
fundição, como metais pesados e elementos de extração do minério da natureza, a indústria da
resina. fundição gera outro excedente ambientalmente
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passivo, a areia proveniente dos moldes e das propriedades da mistura e por consequência
machos utilizados nos processos de fundição. sua estabilização (BAUER, 1994).
Estima-se que no Brasil há um descarte de A estabilização do solo é fruto de técnicas que
2,8 milhões de toneladas/ano de areia de possibilitam alterações nas propriedades
fundição, o que torna um desafio encontrar uma mecânicas do solo, como aumento da
solução para esse resíduo, indiferentemente de resistência à compressão, rigidez, durabilidade,
seu tipo, sejam estas de moldagem ou macharia redução da permeabilidade (INGLES;
(GOUVEA; WINCZKIEWICZ, 2014). METCALF, 1972).
As areias de fundição, segundo a NBR 10004 Clough et al. (1981) realizaram estudos com
(ABNT, 2004), enquadram-se como classe II, amostras de areia artificialmente cimentada a
não perigoso (inerte ou não inerte). fim de verificar a influência do aglomerante e
Após esgotadas essas areias devem ser da densidade da mistura em suas propriedades.
descartadas em aterros licenciados, esse Com os resultados obtidos os autores
descarte gera um alto custo, que varia de US$ concluíram que o comportamento de uma areia
20.00 a U$ 100.00 por ton., em função do cimentada artificialmente é fortemente
tamanho da fundição e de sua localização e influenciado pelo teor de aglomerante,
portanto, há vários estudos para utilização da densidade da areia, pressão confinante e
areia de fundição como matéria prima ao invés granulometria da mistura.
de simples descarte. Como opção às areias de Devido às disparidades e semelhanças nos
fundição que não tenham sido recicladas ou processos e mecanismos utilizados para a
recuperadas existe a possibilidade de utilizá-las estabilização de solos, o critério utilizado para
em novas aplicações, como na produção de classifica-los é dado pela natureza da energia
concreto, tijolos, asfalto, entre outros transmitida ao solo. Assim, têm-se os seguintes
(SOARES, 2000). tipos de estabilização: mecânica,
Conforme Menossi (2004), o pó de pedra granulométrica, química, elétrica e térmica
caracteriza-se por ser o rejeito da britagem em (GOULARTE; PEDREIRA, 200-?).
pedreiras e por apresentar, na maioria dos casos, Santos (2012) expõe em sua pesquisa que os
diâmetro máximo característico abaixo de 4,75 métodos mecânicos são aqueles que tem a
mm. Sua curva granulométrica permite capacidade de aumentar a densidade do solo,
classificá-lo como uma areia média. melhorando sua resistência mecânica e
Atualmente, o pó de pedra não possui valor durabilidade, envolvendo a redução de volume
comercial de mercado, sendo considerado um de vazios do solo através da energia imposta e
“material marginal”, que não possui uma por consequência aumentando a durabilidade,
destinação definida, permanecendo estocado compacidade e resistência mecânica. Em geral
nos pátios das pedreiras, formando enormes estas técnicas são combinadas com a
pilhas que provocam vários impactos compactação.
ambientais (MENOSSI, 2004). Conforme Medina (1987, apud VIZCARRA,
Segundo Menossi et al. (2010), entre os 2010, p.25) na estabilização química, como o
impactos ambientais gerados pelo acumulo do nome indica, há uma reação química do aditivo
rejeito da extração de britas, estão a poeira com os minerais do solo ou com a constituição
elevada, obstrução de canais de drenagem, e de recheio dos poros pelo produto de reação
quando carregados pelas águas da chuva pode química do aditivo com a água. No solo-
causar o assoreamento de rios e canais. cimento e solo–cal existe, inicialmente, uma
Solos cimentados são resultantes de uma reação que se caracteriza melhor como físico-
mistura íntima e com proporções ideais entre química: os cátions Ca++ liberados pela
solo com aglomerante hidráulico artificial hidratação do cimento reagem com a superfície
(cimento Portland), proporcionando a melhoria dos argilo-minerais e modificam o pH da
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solução eletrolítica. Os produtos cimentantes A granulometria da areia pode ser vista no


que se formam posteriormente (reação Gráfico 1, onde, apresenta-se a areia antes e
pozolânica) acrescem a rigidez da mistura. depois de ter sido utilizada como molde.
Yoder e Witczak (1975) afirmam que para
que um material granular possua máxima
estabilidade e resistir às deformações, este deve
possuir alto atrito interno. Há uma relação direta
entre estabilização e granulometria, sendo que a
estabilização é maior para materiais ou misturas
como uma melhor distribuição granulométrica,
pois os grãos menores realizam o
preenchimento dos vazios existentes entre os
grãos maiores, gerando forças de atrito entre as
partículas da mistura, levando à sua máxima
densificação. Gráfico 1. Granulometria da areia de fundição

A areia apresenta os valores médios, da


3 PROGRAMA EXPERIMENTAL massa específica aparente do agregado seco
2,54 g/cm³, massa especificada do agregado
Utilizou-se como material principal a areia de saturado superfície seca em 2,55 g/cm³ e
fundição da Medal Fundição de Luzerna – SC. finalmente, a massa específica em 2,56 g/cm³.
Trata-se de uma areia de moldagem e macharia, O pó de pedra tem a sua granulometria
e portanto possui resíduos de resina fenólica, apresentada no Gráfico 2. E massa especifica de
que é utilizada como aglomerante para 2,94 g/cm³.
produção de moldes, e metais remanescentes do
processo de fundição das peças.
Pó de pedra proveniente da Pedreira Caldart
LTDA, localizada na BR 282, km 382, no
município de Herval D’Oeste.
E o agente cimentante utilizado nas misturas,
o cimento CP II Z-32, da marca Votoran,
adquirido em empresa especializada e
comumente empregado nas obras da região em
estudo.
Quanto à água tratada utilizada nas
moldagens, é proveniente do sistema de Gráfico 2. Granulometria da areia do pó de pedra
abastecimento público de Joaçaba – SC,
fornecida pela empresa SIMAE.
3.2 Moldagem dos corpos de prova e
3.1 Caracterização dos materiais verificação da resistência à compressão simples

A areia de fundição e o pó de pedra foram Após realizada a caracterização necessária para


submetidos aos ensaios de caracterização a areia de fundição e o pó de pedra, iniciaram-se
apropriados ao estudo, seguindo os métodos os experimentos para estabilização da mistura.
descritos pelas normas pertinentes. Realizou-se Inicialmente o objetivo era realizar misturas
os seguintes ensaios: Granulometria e massa compostas por areia de fundição, cimento e
específica para os dois materiais. água, variando-se apenas o teor de agente
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cimentante. No entanto, no decorrer do estudo


percebeu-se a necessidade de substituir parte da
areia da mistura pelo pó de pedra, buscando-se
também uma estabilização granulométrica. Para
tal, substituiu-se os teores de 25, 50 e 75% de
areia de fundição por pó de pedra.
Durante o escopo deste artigo, as misturas
serão tratadas com a seguinte nomenclatura,
50A-50P (50% de areia+50% de pó de pedra),
25A-75P (25% de areia+75% de pó de pedra) e Fotografia 2. Rompimento à compressão simples.
75A-25P (75% de areia+25% de pó de pedra).
O experimento contempla a dosagem das 3.3 Obtenção da relação porosidade/cimento
misturas por meio de testes laboratoriais, pelos
quais se definiram os teores de cimento como 5, Buscando-se realizar a adaptação de um
7, 9 e 11%, e ainda, fixou-se a umidade de procedimento de cálculo para estimativa do teor
moldagem em 11%. Com a variação dos teores de agente cimentante (cimento) em função de
de cimento e de pó de pedra, são estudadas 12 uma resistência desejada, verificou-se a
misturas distintas, para cada uma delas necessidade de aplicação da teoria da relação
moldaram-se 4 corpos de prova, somando 48 porosidade/cimento (η/Civ).
amostras. Devido à definição de duas idades de Para tal, a partir dos dados obtidos durante a
rompimento para verificação da resistência à moldagem, como teor de cimento, peso,
compressão, moldaram-se o total de 96 corpos umidade e dimensões dos corpos de prova,
de prova cilíndricos de diâmetro 5 cm e altura associados à massa específica de cada material
10 cm (Fotografia 1). seco constituinte das misturas, obteve-se a
massa e o volume de sólidos de cada mistura.
Subtraindo-se o volume de sólidos do
volume total do corpo de prova obteve-se o
volume de vazios (Vv), que nada mais é que a
soma do volume de água e ar presente na
mistura compactada.
Sabendo-se que a relação η/Civ pode ser
obtida com a seguinte relação:

Fotografia 1. Corpo de prova. (1)

Obtida a dosagem, realizou-se a mistura e


compactaram-se os corpos de prova em prensa Onde:
manual, com auxílio de um macaco hidráulico.
Em seguida, as amostras foram curadas em η = Porosidade
temperatura ambiente até 24 horas antes de seu Civ = Teor volumétrico de cimento
rompimento, momento em que, realizou-se a Vv = Volume de vazios (cm³)
inundação até o momento do rompimento. V = Volume total do corpo de prova (cm³)
Para realização do ensaio de resistência à Vcim = Volume de cimento (cm³)
compressão simples, utilizou-se a prensa
hidráulica (Fotografia 2). Por meio da equação 1 encontrou-se a
relação η/Civ fazendo-se a relação entre volume
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de vazios (Vv) e o volume de cimento,


conhecidos para cada mistura. Ou seja, para Tabela 1. Média das Resistências à Compressão Simples
cada mistura obteve-se uma relação diferente, – RCS.
RCS 14 RCS 28
em função da variação das porcentagens de Mistura
Cimento Umidade
Dias Dias
substituição de areia por pó de pedra e do teor (%) (%)
(MPa) (MPa)
de cimento aplicado. 25A-75P 5 11 1,30 1,45
25A-75P 7 11 1,93 2,58
3.4 Análise química da água solubilizada 25A-75P 9 11 3,58 4,00
25A-75P 11 11 4,55 5,80
50A-50P 5 11 0,63 0,83
Visando verificar a presença de agentes nocivos 50A-50P 7 11 1,05 1,45
ao meio ambiente na água solubilizada, 50A-50P 9 11 1,90 2,45
manteve-se um corpo de prova teste em imersão 50A-50P 11 11 2,90 3,45
em 500 ml de água por 45 dias. 75A-25P 5 11 0,30 0,30
75A-25P 7 11 0,60 0,70
Utilizou-se nesse corpo de prova a mistura 75A-25P 9 11 1,40 1,60
75A-25P com 5% de cimento, situação mais 75A-25P 11 11 1,93 2,23
suscetível a apresentar concentrações de metais
pesados ou fenóis acima dos limites Para uma análise do contexto elaborou-se o
especificados pela NBR 10004 (ABNT, 2004), Gráfico 3 que permite confrontar os resultados
ou seja, a mistura com menor teor de cimento e obtidos de acordo com a variação da mistura, do
com maior teor de areia de fundição. teor de cimento e do tempo de cura.
Passados esses 45 dias, realizou-se a coleta
de 200 ml do extrato solubilizado para análise
dos metais pesados no Laboratório de Análise
Física e Química de Solos da Universidade do
Oeste de Santa Catarina – Unoesc, Campus de
Campos Novos – SC e de outras 200 ml para a
análise de fenol no Laboratório de Saneamento
e Águas da Universidade do Oeste de Santa
Catarina – Unoesc, Campus de Joaçaba – SC.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

Neste item são apresentados os resultados


obtidos nessa pesquisa.

4.1 Análise da resistência à compressão Gráfico 3. Comportamento da resistência à compressão


simples nas diferentes misturas e tempo de cura.

Inicia-se esta seção com a apresentação e Com base na Tabela 1 e Gráfico 1, percebe-
análise dos resultados obtidos no ensaio de se que houve um ganho considerável de
resistência à compressão simples. resistência à compressão simples com o
Em virtude da grande variedade de misturas aumento do teor de agente cimentante,
e combinações, optou-se por apresentar a média independente da mistura. Isso devido à ação da
da resistência dos 4 corpos de prova de cada estabilização química conferida pelo cimento
combinação na Tabela 1. em virtude das reações de cimentação, em que
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se criam estruturas de ligação entre as partículas tomaram-se como referência os dados


de areia, aumentando a resistência da mistura. alcançados para o tempo de cura de 28 dias.
Em relação ao tempo de cura, observou-se Essa relação é apresentada a seguir, no Gráfico
um incremento na resistência em função do 4.
aumento do tempo de cura, entretanto com
menor significância que o ocorrido com o teor
de cimento. Este fato ocorreu em razão de que
as reações de cimentação que conferem maior
resistência à mistura ocorrem em sua maioria,
nos primeiros dias de cura, após esse período
elas continuam ocorrendo, porém com menor
representatividade.
Salienta-se que quanto maior o teor de
cimento, maior foi o acréscimo de resistência
em função do tempo de cura.
Quanto às diferentes misturas, constatou-se
um desempenho superior para a mistura com
maior teor de pó de pedra, ou seja, 25A-75P, Gráfico 4. RCS x η/Civ.
apresentando uma resistência à compressão
simples de 5,8 MPa. Esse comportamento A relação η/Civ se relaciona com a
justifica-se pela melhor estabilização resistência à compressão simples de modo a
granulométrica atingida nessa condição, além formar curvas de potência, que para as
de apontar que, quanto maior o percentual de pó diferentes misturas apresentam-se paralelas
de pedra, menor o teor de cimento necessário entre si e crescentes. Demonstrando que quanto
para estabilização. maior a relação η/Civ, menor a resistência à
Mediante as considerações feitas, verifica-se compressão simples (RCS) da amostra.
que o melhor teor de adição de agente Com a relação η/Civ, ainda pode-se concluir
cimentante é o de 11%, enquanto que a melhor que para misturas mais porosas faz-se
condição de substituição de areia de fundição necessário um teor de cimento maior para que
por pó de pedra foi obtida na mistura com 75% se obtenha uma mesma resistência que nas
deste material. misturas menos porosas.
As curvas de potência referem-se às três
4.2 Dosagem de misturas com areia de combinações de teores de substituição de areia
fundição e pó de pedra com adição de cimento de fundição por pó de pedra, apresentando boa
concordância com os dados obtidos. Assim,
Ainda com os resutados da resistência à obtiveram-se as seguintes equações e
compressão simples e procurando obter coeficientes de determinação:
equações pelas quais fosse possível estimar o
teor de cimento necessário para alcançar uma a) Para mistura 50A-50P
determinada resistência em uma determinada RCS=42,234 (2)
mistura em função dos resultados obtidos nessa
pesquisa encontrou-se uma relação R² = 0,998
porosidade/cimento para cada mistura,
conforme equação 1 deste artigo. b) Para mistura 25A-75P
Realizou-se então uma relação entre os
valores obtidos para η/Civ e a resistência à RCS=70,545 (3)
compressão de cada mistura, sendo que, R² = 0,997
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Com a equação 7, encontra-se o teor de


c) Para mistura 75A-25P cimento procurado para determinada mistura e
RCS = 130,62 (4) resistência à compressão simples.
Ressalta-se que as equações encontradas,
R² = 0,985
somente são válidas para este estudo e devem
ser realizadas novas pesquisas a fim de atestar-
Onde:
se sua veracidade e eficácia.
RCS = Resistência à compressão simples
desejada (MPa)
4.3 Verificação da presença de agentes
η = Porosidade da mistura
contaminantes na água solubilizada
Civ = Teor volumétrico de cimento
R² = Coeficiente de determinação
Por meio dos ensaios realizados pelos
laboratório da Unoesc, foram obtidos os
Obteve-se deste modo uma equação e um
resultados das amostras ensaiadas quanto ao
coeficiente de determinação para cada mistura
extrato solubilizado, apresentado na Tabela 2.
estudada, o que permite encontrar um teor de
cimento em função de uma resistência à
Tabela 2. Resultados ensaio extrato solubilizado.
compressão simples requerida. Parâmetro Resultado (mg/L) Limite NBR
Para isso, basta fixar-se uma porosidade para 10004 (mg/L)
a mistura e substituir a resistência à compressão Cobre 0,045 2,00
simples desejada na equação, obtendo-se o teor Cromo 0,008 0,05
volumétrico de cimento (Civ), que deve ser Manganês 0,015 0,10
Níquel 0,000 -
corrigido em função do coeficiente de Fenóis totais 0,250 0,01
determinção (R²).
Sabendo-se que: De acordo com os resultados apresentados
anteriormente, constatou-se que o extrato
(5) solubilizado do corpo de prova em análise
atendeu as exigências da NBR 10004 (ABNT,
2004) no que se refere aos metais analisados. A
norma não apresenta limite estabelecido para
Mcim = Vcim x (6) extrato solubilizado do Níquel, porém percebeu-
se que sua concentração na amostra foi nula.
Com relação ao parâmetro fenóis totais
obteve-se uma concentração de 0,25 mg/L,
(7) enquanto que o limite normatizado é de 0,01
mg/L. Mediante a situação, torna-se necessário
realizar-se novos estudos, analisando a
concentração de fenóis totais no extrato
Onde:
solubilizado das misturas com maior teor de
Civ = Teor volumétrico de cimento
cimento, a fim de verificar se o aumento do teor
Vcim = Volume de cimento (cm³)
de cimento pode influenciar positivamente na
V = Volume total do corpo de prova (cm³)
retenção desse elemento.
Mcim = Massa de cimento (g)
Portanto, quanto aos metais pesados
γcim = Peso específico do cimento (g/cm³)
analisados, observou-se que a combinação 75A-
%cim = Teor de cimento (%)
25P com 5% de cimento foi aprovada, restando
Msólidos = Massa de sólidos da mistura
os fenóis e outros metais para serem analisados
areia+pó (g)
antes de aplicar-se essa mistura em campo.
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Deve-se frisar que se estudaram apenas estes de cimento, pois por meio delas pode-se realizar
parâmetros em função de informações da o oposto, estimando-se uma resistência à
composição da areia descartada de fundição, compressão simples, ou então a porosidade.
obtidas com a empresa que forneceu o material Ressalta-se que as equações encontradas,
para o estudo e diante da possibilidade de somente são válidas para este estudo e devem
realização dos ensaios nos laboratórios da ser realizadas novas pesquisas a fim de atesta-se
Unoesc. sua veracidade e eficácia.
Quanto à avaliação de presença e
concentração de agentes contaminantes no
5 CONCLUSÕES extrato solubilizado do corpo de prova mais
propenso a apresentar concentrações acima da
A partir da metodologia experimental e da legislação, observou-se que a mistura foi
análise dos resultados, obteve-se as seguintes aprovada quanto aos metais analisados, no
conclusões: entanto apresentou resultado acima do limite
Em relação à resistência à compressão estabelecido pela NBR 10004 (ABNT, 2004) no
simples, contatou-se uma grande variação de quesito fenóis totais. Levando-se em conta que,
valores em função dos teores de cimento analisaram-se poucos parâmetros em função da
aplicados. Concluindo-se que este parâmetro é possibilidade de realização dos ensaios e que
fortemente influenciado pelo teor de agente houve um parâmetro que não atendeu a
cimentante e pelo teor de substituição da areia legislação vigente. Conclui-se que para
de fundição pelo pó de pedra, sendo que quanto confirmar os resultados obtidos e aprovar ou
maior o teor de cimento e maior quantidade de não o uso da areia de fundição nessas
pó de pedra na mistura maior será a resistência à condições, deve-se realizar novas pesquisas,
compressão simples atingida. analisando a presença de fenóis e de uma
A partir dessa análise, pôde-se concluir que o variedade maior de metais nas demais misturas.
melhor teor de adição de agente cimentante é o Portanto, antes de se aplicar as misturas
de 11%, enquanto que a melhor condição de estudadas, devem-se realizar novas pesquisas a
substituição de areia de fundição por pó de fim de avaliar a viabilidade técnica e econômica
pedra foi obtida na mistura com 75% deste do seu uso, de modo a garantir que o seu
material, ou seja, 25A-75P com 11% de emprego não cause agressão ambiental e nem
cimento, combinação em que se obteve a maior acarrete custos elevados.
resistência à compressão simples, de 5,8 MPa.
Com a identificação da porosidade das REFERÊNCIAS
misturas, pôde-se estabelecer uma relação entre
esse fator e a resistência à compressão simples ADEGAS, Roseane Gonçalves; BERNARDES, Andrea
(RCS) apresentada, assim quanto maior a Moura. Avaliação do gerenciamento das areias
geradas nas fundições de ferro do estado do Rio
porosidade e por consequência a maior a relação Grande do Sul, Brasil. Revista Fepam em Revista,
η/Civ, menor a resistência à compressão Porto Alegre: Fepam, v.2, n. 1, p. 5, jan./dez. 2008.
simples (RCS), corroborando com as Disponível em:
conclusões obtidas por outros autores. <http://www.fepam.rs.gov.br/fepamemrevista/downlo
A relação porosidade/cimento η/Civ foi ads/Revista_2008_BAIXA.pdf>. Acesso em: 15 abr.
2017.
importante na estimativa do teor de cimento ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
necessário à obtenção de uma resistência a TÉCNICAS. NBR 10004 – Resíduos sólidos –
compressão simples (RCS) requerida, obtendo- Classificação. Rio de Janeiro, 2004.
se uma equação para cada teor de substituição BAUER, L. A. Falcão. Materiais de construção. v.2 ed.
de areia de fundição por pó de pedra. As 5. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e
Científicos, 1994.
equações permitem não só a estimativa do teor
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CLOUGH, Wayne; SITAR, Nicholas; BACHUS, Robert.


Cemented sands under static loading. Journal of
Geotechnical Engineering Division, New York, 1981.
GOULARTE, Cristina Lemos; PEDREIRA, Celso L. da
S. Estabilização química de solo com adição de
cimento ou cal como alternativa de pavimento.
Universidade Federal de Rio Grande, 200-?.
GOUVEA, Carlos Alberto Klimeck; WINCZKIEWICZ,
Matheus Tischer. Processo de reuso de areia
descartada de fundição (ADF) na fabricação de
vidro. Revista da ABIFA, São Paulo: Abifa, ed. 171,
p. 62-63, ago. 2014. Disponível em:
<http://abifa.org.br/wp-
content/uploads/2014/09/ABIFA-171-agosto.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2017.
INGLES, O. G.; METCALF, J. B. Soil Stabilization:
Principles and Practice. Sidney, 1972.
MENOSSI, Rômulo Tadeu et al. Pó de pedra: uma
alternativa ou um complemento ao uso da areia na
elaboração de misturas de concreto?. Holos
Environment v. 10 n. 2, [S.l.], 2010.
MENOSSI, Rômulo Tadeu. Utilização do pó de pedra
basáltica em substituição a areia natural do concreto.
2004, 110 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) – Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira,
2004.
SANTOS, Monique N. dos. Análise do efeito da
estabilização mecânica em matrizes de terra. 2012.
Pontifícia Universidade Católica Iniciação Científica.
Rio de Janeiro, 2012.
SOARES, Glória de Almeida. Fundição: Mercado,
processos e metalurgia. Rio de Janeiro, 2000.
VIZCARRA, Gino Omar Calderón. Aplicabilidade de
Cinzas de Resíduo Sólido Urbano para Base de
Pavimentos. 2010. 120 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) – Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
YODER, Eldon Joseph; WITCZAK, Matthew. W.
Principles of pavement design. 2ª ed. New York,
London, Sydney, Toronto: John Wiley & Sons, 1975.
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ESTUDO COMPARATIVO DE DIFERENTES SISTEMAS DE


CLASSIFICAÇÕES GEOTÉCNICAS APLICADAS A SOLOS
DAS RODOVIAS MT 206 E MT 320 TRECHO ENTRE ALTA
FLORESTA E NOVA SANTA HELENA – MT.
Willian Martins dos Santos
Universidade do Estado do Mato Grosso, Sinop, Brasil, smwill95@gmail.com

Ana Elza Dalla Roza


Universidade do Estado do Mato Grosso, Sinop, Brasil, ana.roza@unemat.br

Bárbara Gama S. dos Santos


Universidade do Estado do Mato Grosso, Sinop, Brasil, barbara-gs1@hotmail.co

Geilson Bispo
Universidade do Estado do Mato Grosso, Sinop, Brasil, geilson-bispo@hotmail.com

RESUMO: A classificação dos solos é uma das ferramentas na qual o engenheiro pode contar para
prever o comportamento dos solos. Entre os métodos de classificação os mais tradicionais foram
desenvolvidos para solos de regiões de clima temperado, em decorrência de incompatibilidade de
resultados entre as classificações tradicionais e o comportamento dos solos em campo,
principalmente na área rodoviária, foi proposta uma nova metodologia para este tipo de solo, a
classificação MCT. Levando em conta as características peculiares dos solos das regiões de clima
temperado e tropical esta pesquisa visa comparar os principais métodos de classificação com a
metologia MCT. As classificações MCT a pedológica apresentaram forte relação quanto a
classificação dos solos estudados, sendo que 100% das amostras foram caracterizadas com o mesmo
comportamento nas duas classificações. Já quando compara-se a MCT com a SUCS e TRB apenas
8 amostras foram previstas com igualdade.

PALAVRAS-CHAVE: Classificação, MCT, UCS, TRB, solos lateríticos.

1 INTRODUÇÃO os dois últimos utilizados no Brasil para


classificação dos solos com vistas a engenharia
Os estudos de classificação dos solos rodoviária. A metodologia TRB e SUCS foram
possibilitam o agrupamento de solos com desenvolvidas em regiões de clima temperado,
comportamentos similares em diversas diferentemente da metodologia MCT
situações da engenharia geotécnica e desenvolvida no Brasil com solos de regiões
possibilitam a previsão de comportamento tropicais, sendo este fato uma importante
mecânico do material. diferença entre os métodos.
Existem vários métodos de classificação dos Por este fato esta pesquisa visa classificar 16
solos entre os mais utilizados estão o SUCS amostras de solo pelas três metodologias e
(Sistema Unificado de Classificação dos Solos), compará-las com relação a previsão do
TRB (Transportation Research Board), e comportamento geotécnico que cada uma
Miniatura Compactada Tropical (MCT), sendo dispõe
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2 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DOS


SOLOS

Segundo Das e Sobhan 2014, os diferentes solos


com propriedades semelhantes podem ser
classificados em grupos e subgrupos de acordo
com seu comportamento, sendo assim foram
desenvolvidos diversos sistemas
classificatórios, cada um adequado a uma
especificidade do uso ou métodos de projeto.
As principais propriedades para engenharia
de solos consideram a distribuição
granulométrica e a plasticidade – limite de
liquidez e índice de plasticidade – destacam-se Figura 1 – Ocorrência de latossolos no Mato Grosso
no uso desses parâmetros de classificação, os Fonte: SEPLAN (2001)
sistemas AASHTO e o SUCS (Das e Sobhan,
2014). Estudos realizados por Marangon e Motta
(2001) tratam a pedologia como uma ferramenta
2.1 Classificação Pedológica para a engenharia geotécnica.

A classificação pedológica dos solos é realizada 2.1 Classificação SUCS


por meio de análises das seções do solo mais ou
menos paralelas a superfície, os horizontes, a Classificação desenvolvida por Casagrande em
descrição e a classificação do solo por essa 1942 agrupa os solos em duas grandes
técnica é realizada com aberturas de trincheiras categorias de acordo com suas propriedades de
ou com perfis abertos por escavações, taludes textura, plasticidade e seu comportamento
entre outros. quando utilizados em estradas, aeroportos,
As análises realizadas são divididas em aterros e fundações.
morfológicas (cor, textura, estrutura, Nesse sistema os solos são divididos em
porosidade, cerosidade, consistência, solos de graduação grossa (% retida na peneira
cimentação, nódulos ou concreções minerais, 200> 50%) e solos de graduação fina (% retida
presença de carbonatos, manganês e sulfetos, na peneira 200 < 50%) representados por duas
eflorescências e coesão), físicas (granulometria, letras, sendo a primeira relativa à granulometria
densidade, porosidade), químicas (pH, e a segunda à plasticidade, totalizando quinze
complexo sortivo, sais solúveis, quantificação grupos distintos que estão relacionados nas
da matéria orgânica e outros) e mineralógica. Tabelas 1 e 2 .
Para o Estado de Mato Grosso a SEPLAN
(2001) disponibiliza um mapa de solos na
Escala 1:250.000 no qual foram identificados e
mapeados 23 tipos de solos no território
estadual. Sendo 43% dos solos classificados
como Latossolos. A abrangência desse tipo de
solo no Estado está ilustrada na Figura 1.
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Tabela 1 – Classificação SUCS solos de graduação grossa %pass. A-1-


A-1-B A-3 A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7
Pedregulhos % retida # Areias % retida # nº4 peneira A
nº4 > 50% < 50% 50
Nº 10
máx
Pedregulhos Pedregulhos Areias Areias
30 30 51
sem finos com finos sem finos com finos N° 40
máx máx mín
GW GP GM GC SW SP SM SC 15 25 10 35 35 35 35
Nº 200
máx máx máx máx máx máx máx
Pedregulho bem

Areias argilosos
Pedregulho Mal

Areias Siltosos
Pedregulhos

Pedregulhos

40 41 40 41
Areias bem

Areias Mal
Graduado

Graduado
graduado

graduado LL
argilosos
Siltosos

máx mín máx mín


6 6 10 10 11 11
IP NP
máx máx máx máx min min
4 4
IG 0 0 0 0 0
máx máx

Tabela 2 – Classificação SUCS solos de graduação fina A segunda com os solos A-4, A-5, A-6 e A-7:
Siltes e argilas LL≤ 50 Siltes e argilas LL >50 Acima de 35% de material passante na peneira
ML CL OL MH CH OH n°200 de padrão americano (basicamente silte e
argila) caracterizados pela chave da Tabela 4.
Siltes orgânicos

Siltes e areias
inorgânicos

inorgânicas

inorgânicas

orgânicas

Tabela 4 – Classificação AASHTO – TRB.


Argilas

Argilas

Argilas
Siltes

finas

A-7
%pass.
A-4 A-5 A6 A-7-5a
peneira
A-7-6b
Nº 200 36 mín 36 mín 36 mín 36 mín
LL 40 máx 41 mín 40 máx 41 mín
Os solos de graduação grossa são ainda IP 10 máx 10 máx 11 mín 11 mín
subgrupados de acordo com a curva de
distribuição granulométrica dada pela IG 8 máx 12 máx 16 máx 20 máx
determinação dos coeficientes de uniformidade a – Quando IP ≤ LL-30 - b– Quando IP > LL-30
(Cu) e de curvatura (Cc), como apresentados
nas equações 1 e 2 respectivamente:
2.3 Classificação MCT
2.2.Classificação AASHTO - TRB
Desenvolvida por Nogami e Villibor na busca
por uma classificação mais qualificada dos
Um sistema bastante difundido na área de
solos tropicais que se baseasse em suas
pavimentação, utiliza-se da granulometria,
propriedades mecânicas e hidráulicas
limite de liquidez (LL), índice de liquidez e o
(NOGAMI e VILLIBOR, 1995), essa rotina de
índice de grupo (IG) para classificar o solo.
ensaios permite avaliar caraterísticas
O sistema de classificação propõe 7 grupos
fundamentais pertencentes aos solos com
de A-1 a A-7 divididos em duas seções a
corpos-de-prova de dimensões reduzidas
primeira os solos A-1, A-2 e A-3: Compostos
(50mm diâmetro), como contração,
por materiais granulares dos quais no máximo
permeabilidade, expansividade, coeficiente de
35% das partículas passam pela peneira n° 200,
penetração d’água, coesão, capacidade de
classificados pela chave apresentada na Tabela
3.
suporte e famílias de curvas de compactação.
Os solos com comportamento Laterítico
(representados pela letra L) subdividem-se em 3
grupos as Areias Lateríticas Quartzosas (LA),
Tabela 3 – Classificação AASHTO – TRB. Solo Arenoso Laterítico (LA’) e Solo Argiloso
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Laterítico (LG’). A partir da MCT, permitiu-se descrever as


Já os solos com comportamento Não especificidades quanto ao comportamento
Lateríticos (representados pela letra N) apresentado, laterítico ou saprolítico,
subdividem-se em 4 grupos, as Areias, siltes e quantificando características que beneficiam o
misturas de areias e siltes com predominância emprego em serviços rodoviários.
de grão de quartzo e/ou mica, não laterítico Um aspecto negativo para execução da
(NA), misturas de areias quartzosas com finos metodologia MCT é a demanda de tempo para
de comportamento não laterítico (solos realização dos ensaios, mesmo que a
arenosos) (NA’), solo siltoso não laterítico metodologia MCT demande pouca quantidade
(NS’) e solo argiloso não laterítico (NG’). de solo e de equipamentos de porte reduzido,
Para a classificação dos solos tropicais em ela demanda de um período elevado de tempo
Lateríticos ou Não Lateríticos é realizado os para ser executada. A solução encontrada para
ensaios de Compactação Mini-MCV e Perda de tal problemática culminou no desenvolvimento
Massa por Imersão, estes dois ensaios verificam do Método Expedito das Pastilhas proposto por
se o solo ensaiado tem comportamento laterítico Nogami e Cozzolino em 1985, que além de ser
ou não e ainda determinam o grupo ao qual um procedimento rápido é de extrema
pertencem. simplicidade, principalmente para estudos
Para o procedimento exige-se que a amostra preliminares.
apresente granulometria fina (com pelo menos O procedimento prevê a confecção de
95% passando na peneira de 2,00 mm), o ensaio pastilhas de 20 mm de diâmetro e 5 mm de
consiste em compactar corpos de prova com altura com solos passante na peneira de 0,42
200 g de solo utilizando soquete e cilindro mm (# n° 40), sendo possível a identificação
padronizados. Moldam-se 5 corpos de prova, granulométrica, mas não seu agrupamento.
variando o teor de umidade e verificando a A determinação do coeficiente c’ e e’ seriam
altura do corpo de prova, que posteriormente feitos a partir das características de contração
será submetido ao ensaio de perda de massa por diametral das pastilhas após sua secagem e
imersão. através da penetração de uma agulha padrão
após a reabsorção de água das pastilhas
A realização destes dois ensaios é possível
respectivamente. Com a obtenção do valor
determinar os coeficientes c’, d’ e Pi.
destes coeficientes é possível obter através do
Posteriormente define-se o valor do coeficiente
ábaco da Figura 5 uma classificação pelo
e’, este em função de d’ e Pi, para então
método das pastilhas.
classificar o solo através do ábaco apresentado
na Figura 4.

Figura 5 - Carta de Classificação do Método das


Pastilhas. Fonte: Nogami e Villibor 1995.

Figura 4 - Ábaco classificação MCT


Fonte: Villibor et al (2009)
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3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Coleta dos solos

Nesta pesquisa foram coletados 16 amostras de


solo as margens das rodovias MT 208 e MT 320
(trecho entre Alta Floresta e Nova Santa
Helena), apresentado na Figura 6, a uma
distância de aproximadamente 10 km entre uma
amostra e outra, escavando-se a uma
profundidade aproximada de 0,80 m a 1 m. Para Figura 7 – Fluxograma das atividades
cada ponto de amostragem foi coletado cerca de
5 kg de solo que foi devidamente embalado e A classificação pedológica foi realizada por
levado ao laboratório de Geotecnia da meio de mapas pedológicos fornecidos pela
Universidade do Estado de Mato Grosso. SEPLAN (2001).
Os limites de liquidez e plasticidade foram
realizados seguindo as normativas NBR 6489 e
NBR 7180, respectivamente.
1 O ensaio de granulometria foi realizado pela
norma NBR 7181, as peneiras utilizadas para os
ensaios das amostraram foram #4 – 4,75mm; #8
– 2,38mm; #10 – 2,00mm; #16 – 0,85mm; #30
– 0,425mm; #40 – 0,250mm; #50 – 0,180; #100
– 0,150; #200 –0,075mm.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados dos ensaios realizados estão


expostos na Tabela 5.

Tabela 5 – Resultados caracterização dos solos estudados.


2 Areia Areia Areia Silte +
LL IP
Amostra Grossa Média Fina Argila
% % % % % %
AF-02 6,9 41,5 40,0 11,7 45,6 38
Figura 6 – Localização do trecho de estudo (1 – Cidade
AF-03 18,7 42,8 28,7 9,8 37,8 32
de Alta Floresta. 2 – Nova Santa Helena)
AF-04 12,0 40,1 32,5 15,5 35,0 29
A coleta de solos se deu no sentido Alta AF-05 18,2 40,8 28,3 12,7 42,1 33
Floresta – Nova Santa Helena, sendo a primeira AF-06 4,4 36,8 28,0 30,8 45,5 56
amostra denominada AF-02. AF-07 24,4 20,5 46,3 8,8 29,4 24
AF-08 39,2 10,2 42,9 7,8 25,3 NP
3.2 Procedimentos para classificação dos solos AF-09 39,5 13,4 33,4 13,7 35,1 43
AF-10 15,2 14,8 32,1 38,0 31,2 26
A classificação dos solos se deu em etapas, que AF-11 5,6 19,4 57,4 17,7 29,1 28
estão apresentadas no fluxograma da Figura 7. AF-12 7,1 15,2 56,9 20,9 29,4 36
AF-13 14,9 13,4 55,2 16,6 22,9 18
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AF-15 18,4 33,4 25,6 22,7 45,1 46 Tabela 7 – Classificação dos solos pelas metodologias
SUCS, TRB, MCT e Pedologia
AF-17 12,9 37,8 43,7 5,7 38,0 31
MCT
Amostra SUCS TRB Pedologia
Pastilhas
Verifica-se pela tabela que a textura dos
solos é fina, com predomínio da fração areia AF-02 SW-SM A-2-7 LG' Argissolo
fina, silte e argila. Não foi identificada em AF-04 SC A-2-6
LA' Argissolo
nenhuma amostra a presença de pedregulhos.
AF-05 SC A-2-6 Argissolo
Já pela classificação MCT observa-se uma LG'
baixa penetração da agulha padrão pelas AF-06 SC A-2-7
LA'-LG' Argissolo
amostras em embebição, os resultados estão AF-07 SW-SM A-2-6 Argissolo
LA'
expostos na Tabela 6. AF-08 SW-SM A-3
LA' Argissolo
Tabela 6 – Resultados pelos ensaio das pastilhas. AF-09 SC A-2-6
LA'-LG' Argissolo
Contração Penetração AF-10 SC A-6
SOLO LA' Argissolo
(mm) (mm)
AF-11 SC A-2-6
AF 02 1,70 0,32 LA'-LG' Argissolo
AF-12 SC A-2-6
AF 04 0,80 0,05 LA'-LG' Latossolo
AF-13 SC A-2-6
AF 05 1,77 1,08 LA-LA' Latossolo
AF 06 0,95 0,06 AF-15 SC A-2-7 Latossolo
LG'
AF 07 0,66 0,01 AF-17 SC A-2-6 LA'-LG' Latossolo
AF 08 0,59 0,14 Analisando as classificações observa-se que
AF 09 1,14 0,08 os solos são de textura fina, predominantemente
AF 10 0,77 0,70 siltes na classificação SUCS, para classificação
AF 11 1,00 0,03 TRB os solos são arenosos com comportamento
excelente a bom como comportamento como
AF 12 1,28 1,02
subleito. Já a classificação MCT determinou
AF 13 0,51 0,02
que os solos estudados possuem comportamento
AF 15 1,49 0,01 laterítico e são classificados, na sua maioria,
AF 17 1,10 0,03 como areias.
De acordo com Nogami e Villibor (1995) Verificando os resultados das classificações
valores baixos de penetração indicam e avaliando a previsão dos tipos de grupos de
comportamento laterítico. Este fato está atrelado solos das classificações UCS e ASSHTO-TRB
ao tipo de argilomineral que compõe o solo, de cada categoria conforme proposto por
geralmente do tipo 1:1, como as caulinitas, que Nogami e Villibor (1995) elaborou-se a Tabela
são minerais estáveis e não apresentam 8.
expansão em contato com a água.
A classificação dos solos nas metodologias
SUCS, TRB, MCT e pastilhas apresenta-se na
Tabela 7.
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Tabela 8 – Comparação entre a previsão da metodologia AF-13 LA-LA' Sim Sim


MCT e as classificações SUCS e TRB. AF-15 LG' Não Não
SUCS TRB AF-17 LA'-LG' Sim Sim
Solo MCT
Previsto Class. Previsto Class.
SW-
AF-02 MH, ML, Com relação a classificação pedológica solos do
LG' A-6, A-7-5 A-2-7
CL SM tipo Argissolos são previstos como
AF-04 SC SC A-2, A-4 A-2-6 comportamento Lateríticos pela metodologia
LA'
MH, ML,
MCT, assim como os Latossolos, indicando
AF-05 SC A-6 A-2-6
LG' CL uma forte relação entre estas classificações, pois
AF-06 SC, ML, SC A-2, A-4, A-2-7 todos os solos analisados foram classificados
LA'-LG' MH, CH A-6, A-7-5 como de comportamento laterítico.
SW- Silva e Crispim (2014), Santos (2006)
AF-07 SC A-2, A-4 A-2-6
SM realizaram comparações entre os métodos de
LA'
SW- classificação e observa-se que a classificação
AF-08 SC A-2, A-4 A-3 MCT obteve êxito na classificação dos solos e
SM
LA' previsão para as demais metodologias.
AF-09 SC, ML, SC A-2, A-4, A-2-6
LA'-LG' MH, CH A-6, A-7-5 AGRADECIMENTOS
AF-10 SC SC A-2, A-4 A-6
LA'
AF-11 SC, ML, SC A-2, A-4, A-2-6 À Universidade do Estado de Mato Grosso pela
LA'-LG' MH, CH A-6, A-7-5
disponibilização do espaço e equipamentos para
AF-12 SC, ML, SC A-2, A-4, A-2-6
LA'-LG' MH, CH A-6, A-7-5 a realização desta pesquisa.
AF-13 SC A-2, A-4 A-2-6
LA-LA' SP, SC
5 CONCLUSÕES
AF-15 MH, ML, SC A-6, A-7-5 A-2-7
LG' CL
AF-17 LA'-LG' SC, ML, SC A-2, A-4, A-2-6 A classificação MCT dos solos tropicais
MH, CH A-6, A-7-5 estudados apresentou uma boa previsão para as
classificações TRB e SUCS, sendo a
As previsões das classificações SUCS e TRB classificação de 8 amostras previstas de maneira
em função da Classificação MCT foram exata, as demais houveram divergências.
correspondentes em 8 amostras. Nas demais Já para a classificação pedológica a
amostras a previsão da SUCS da TRB ou ambas classificação MCT obteve igualdade na
foram falhas, a tabela 9 mostra esta verificação. classificação em 100% das amostras, mostrando
uma forte relação entre estas duas
Tabela 9 – Verificação da previsão da metodologia MCT classificações.
e as classificações SUCS e TRB.
Previsão Previsão
Amostra MCT Classificação Classificação
SUCS TRB REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AF-02 LG' Não Não
AF-04 LA' Sim Sim DAS, B. M.; SOBHAN; K. Fundamentos de Engenharia
AF-05 LG' Não Não Geotécnica. Tradução Noveritis do Brasil; Editora
AF-06 LA'-LG' Sim Sim Cengage Learning, 2014 - Sâo Paulo.
NOGAMI, J.S.; VILLIBOR, D.F. Pavimentação de Baixo
AF-07 LA' Não Sim
Custo com Solos Lateríticos. Editora Villibor, 1995.
AF-08 LA' Não Não
240 p.
AF-09 LA'-LG' Sim Sim NOGAMI, R.M.; COZZOLINO, V.M.N. A Identificação
AF-10 LA' Sim Não de Solos Tropicais: dificuldades e proposta de um
AF-11 LA'-LG' Sim Sim método preliminar. In: REUNIÃO ANUALDE
AF-12 LA'-LG' Sim Sim PAVIMENTAÇÃO, 1985, Fortaleza, Anais.
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Secretaria de Estado de Planejamento - SEPLAN. Mapa


de Solos do Estado de Mato Grosso. 2001.Disponivel:
<http://documents.mx/documents/a001-mapa-de-
solos-do-estado-de-mato-grosso.html>. Acesso em:
18/04/2018.
VILLIBOR, D.F et. al. Pavimentos de Baixo Custo para
Vias Urbanas. 2ª Ed. São Paulo: Arte & Ciência,
2009. 196 p.
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Estudo da Relação Diâmetro/Altura do Corpo-de-Prova em Ensaios


de Laboratório para Obtenção da Resistividade Elétrica em Solos
Beatriz Bellini Cortez
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, beatrizbcortez@gmail.com

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: Este trabalho se insere no contexto da necessidade de avaliação da relação diâmetro/altura


(D/h) dos corpos-de-prova em laboratório para ensaios de resistividade elétrica com o intuito de se
desenvolver uma metodologia de ensaio controlada. Para tanto, foram ensaiados nove corpos-de-
prova provenientes de amostra indeformada com três diferentes dimensões. A resistividade elétrica
foi obtida através de duas placas de cobre posicionadas nas extremidades de cada corpo-de-prova, de
maneira a obter os valores de corrente elétrica e diferença de potencial em cada um deles. Dessa
maneira, os valores calculados foram comparados com a resistividade elétrica obtida do piezocone
(RCPTu) realizado no mesmo local. Dos valores encontrados, se concluiu que o corpo-de-prova que
melhor se aproxima dos resultados desejados é o de relação 1:1.

PALAVRAS-CHAVE: Resistividade Elétrica, Solos Tropicais, RCPTu.

1 INTRODUÇÃO
R.S
ρ= (2)
A resistividade elétrica do solo, ρ, pode ser L
definida como a resistência, R, que o mesmo
apresenta à passagem de corrente em sua Sendo que: L = Comprimento (m);
extensão, como exemplificado na Figura 1, S = Seção (L²); e,
Equação 1 e 2. ρ = Resistividade (Ω.m).

Essa informação tem sido usada amplamente


para caracterização geológica dos solos.
Entretanto, esse processo para os solos não
saturados ainda apresenta dificuldade de
interpretação devido ao número reduzido de
estudos existentes na literatura.
Com os vários fatores que interferem na
resistividade elétrica e, em especial, nos solos
Figura 1. Representação do circuito com passagem de
brasileiros não saturados, não há como compará-
corrente. los com valores de referência. Assim, se faz
necessária a obtenção desses valores de maciços
V onde sua localização não é afetada por possíveis
R= (1) aspectos, conhecido como “valor de branco”.
A
Apesar do desenvolvimento de novos
dispositivos de investigação de resistividade,
Sendo que: R = Resistência (Ω); segundo Peixoto (2013), a rapidez e a forma
V = Diferença de Potencial (V); e, como foram desenvolvidos desde o século
A = Corrente Elétrica (A); passado, gerou dificuldades de interpretação de
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seus resultados, ocasionando em baixa aceitação Apesar de se poder ter uma grande variação
dos métodos e da aplicação dessas novas desses valores em função dos fatores
tecnologias no meio técnico-científico. intervenientes, é possível definir um tipo
Por esse motivo, para que novos métodos não litológico de solo considerando uma faixa de
sejam descartados ou denegridos, pesquisas resistividade. Na Figura 2 estão apresentadas as
devem ser conduzidas de maneira a gerar faixas de resistividade elétrica para agregados,
metodologias e processos que permitam uma por classificação litológica, segundo Rømoen et
interpretação mais acessível. al. (2010).
Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo Entretanto, Braga (2007) considera que, com
estudar a interferência da relação diâmetro/altura base nesse tipo de ensaio, uma melhor
de um corpo-de-prova de amostra indeformada caracterização dos solos deve estar atrelada ao
comparando-a com os resultados de campo conhecimento do local de origem do solo e a uma
obtidos através de piezocone de resistividade avaliação dos valores resultantes de outros
(RCPTu). Para tanto, foram estudadas três ensaios, para efeito de comparação.
relações diâmetro (D) e altura (h): D=h/2; D=h;
e, D=2h.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A resistividade elétrica, no âmbito da engenharia


geotécnica, pode auxiliar na investigação e
caracterização dos solos em campo. A partir
dessa perspectiva, se sabe que alguns fatores
influenciam na resistividade elétrica do solo.
Figura 2. Resumo dos valores de resistividade elétrica para
Segundo Pacheco (2004) esses fatores os cinco solos locais estudados. Fonte: Rømoen et al.
intervenientes podem ser a própria composição (2010).
trifásica do solo, a presença de fluido intersticial,
a temperatura, a compactação, a quantidade de A investigação de solo através de
compostos iônicos, entre outros. Considerando resistividade elétrica geralmente é realizada por
essas variáveis, algumas correlações foram meio de ensaios de campo. Essa técnica tem a
elaboradas para auxiliar na avaliação dos solos. vantagem que, além de realizar a caracterização
Entre as desenvolvidas pode-se citar Archie diretamente do local de ensaio, a coleta da
(1941), eqs. 3 e 4, aplicada a solos com amostra para continuação dos ensaios seja mais
características de baixos teor de argilominerais. rápida. Giacheti et al. (2006).

FF=n-m (3) 2.1 Ensaios de Laboratório para Obtenção da


Resistividade
Em que: FF = fator de formação de resistividade;
n = Porosidade do solo; e, Dentre os ensaios já desenvolvidos para serem
m = Constante do grau de cimentação das executados em laboratórios para obtenção da
partículas, sendo 1,6 para areias; 1,3 para esferas resistividade de solos, se tem principalmente o
de vidro e 2,0 para argilas (Jackson et al., 1978); da Caixa de Solo de Miller, o da Célula Circular
apresentado por Paz e Campelo (2005) e as
ρsat metodologias utilizadas por Boszczowski
FF= (4)
ρw (2008), Aquino (2010) e Yamasaki (2012).
O procedimento que utiliza Caixa de Solo de
Em que: ρsat = resistividade da areia saturada; e, Miller, Figura 3, consiste em uma caixa aberta
ρw = resistividade da água. em que suas laterais são de plástico e as
extremidades em metal, por onde a corrente
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elétrica irá passar (Paz e Campelo, 2005). Nessas pontos de análise, seja possível trazer valores
paredes laterais há dois furos onde foram mais confiáveis e próximos da realidade, além de
inseridos pinos dentro da amostra compactada poder utilizar valores já conhecidos de
com o intuito de obter a voltagem existente resistividade elétrica para as determinações.
durante a execução do ensaio. Aquino (2010) e Yamasaki (2012) fizeram
adaptações à proposta de Boszczowski (2008).
Nesse ensaio, o procedimento consiste em se
L
aplicar uma diferença de potencial, com auxílio
de uma fonte de alimentação, em duas placas de
cobre localizadas de forma oposta em cada
H

extremidade do corpo-de-prova. Conectado a


esses dispositivos ainda é ligado um multímetro
C
W
P para aferição dos dados de resistência elétrica
obtidos conforme a passagem de corrente pelo
corpo-de-prova, formando-se então um circuito
Figura 3. Esquema geral da caixa de solo Miller. Fonte: fechado com passagem contínua de corrente,
Paz e Campelo (2005). conforme Figura 5.
O método da Célula Circular de investigação
de resistividade, também segundo Paz e
Campelo (2005), se trata de um dispositivo
cilíndrico em que, em sua parede, estão dispostos
oito eletrodos igualmente espaçados, como
mostrado na Figura 4. Os dispositivos separados
em pares são responsáveis por coletar os dados
da passagem de corrente elétrica na amostra (o
Figura 5. Desenho esquemático de resistividade elétrica
mais externo) e para aplicação da tensão no solo para solos indeformados. Fonte: Boszczowki (2008).
(o mais interno), tornando-se possível a obtenção
de oito valores individuais de resistência. Com base na definição desse método, temos
que o procedimento de Aquino (2010) possui a
5
modificação da aplicação de um capacete
6 4
metálico e gel condutor em cada extremidade,
além de variar os valores de diferença de
7 3
potenciais aplicados ao corpo-de-prova de solo
compactado. O modelo de Yamasaki (2012) é
8 2
1
muito semelhante ao anterior, porém não há uma
variação da diferença de potencial, mas para isso
Figura 4. Desenho ilustrativo da Célula Circular de utiliza um gerador de funções com onda
investigação de resistividade. Fonte: Paz e Campelo senoidal. Além disso, aplica-se uma sobrecarga
(2005). de 500g na placa superior.
Considerando o método aplicado por
Para Paz e Campelo (2005), embora o da Yamasaki (2012), pesquisas feitas por Peixoto
Caixa de Miller tenha utilização mais fácil, esse (2013) vem mostrando que existe uma
possui a desvantagem de não ter a flexibilidade interferência da relação diâmetro (D) e altura (h)
ideal para se executar adaptações com base no dos corpos-de-prova na obtenção dos resultados
solo e nas análises que se deseja realizar. Em de resistividade elétrica. Comparando-se os
contrapartida, o método da Célula Circular resultados de Campos (2015) e Peixoto (2013),
permite essa flexibilidade de execução e coleta Tabela 1, foi desenvolvido o gráfico da Figura 6,
de medidas, de forma que, com os diferentes em que os dados dessas duas pesquisas mostram
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uma possível relação linear entre as dimensões


dos corpos-de-prova e o valor de resistividade
referente a ele. Entretanto, esse gráfico não pode
ser conclusivo uma vez que os solos utilizados
na realização dos ensaios possuíam diferentes
características, o de Campos (2015) é
compactado e o de Peixoto (2013) é proveniente
de amostras coletadas pela técnica de
amostragem direct-push.

Tabela 1. Comparação de resultados obtidos pelas


pesquisas de Campos (2015) e por Peixoto (2013).
Campos
Solo Peixoto (2013)
(2015)
Profundidade (m) 1,00 1,765 2,855 3,785
Dimensões H 13 76,8 73,1 100,2
Corpo-de- D 53 40,9 41,9 44,2
prova[mm] D/h 4,00 0,53 0,57 0,44
γ(kN/m³) 20,61 19,25 20,66 19,86 Figura 7. Foto Aérea do local da amostragem com
Índices w (%) 9,8 15,1 18,5 16,13 representação do córrego em azul (GOOGLE EARTH,
Físicos e 0,392 0,58 0,52 0,57 2018). Fonte: Barros (2018).
Sr (%) 65,42 69,1 95,0 76,2
Resistividade Elétrica Os ensaios de caracterização foram
114,1 830 466 1012 executados por Barros (2018) e os resultados se
[Ω.m]
encontram na Tabela 2. A análise da
interferência da relação diâmetro/altura do
corpo-de-prova foi realizada variando suas
dimensões em 3 diferentes relação de D/h, tendo
o diâmetro fixado em 53mm e as alturas pré-
estabelecidas de 30mm (2:1), 60mm (1:1) e
120mm (1:2), Figura 8. Foram moldados 9
corpos-de-prova (CP), três para cada dimensão,
Figura 9.

Tabela 2. Caracterização física do solo em estudo,


Figura 6. Relação entre resistividade elétrica e modificado de Barros (2018).
diâmetro/altura de corpos-de-prova retirados em solo
erosivo. Método Caracterização
Areia (%) 83
3 METODOLOGIA Granulometria Silte (%) 5
Argila (%) 12
A metodologia de ensaio para obtenção dos LL (%) 17,5
Limites de
dados de resistividade elétrica para esse trabalho LP (%) -
Atterberg
IP (%) -
foi a mesma utilizada por Yamasaki (2012).
ρs (g/cm³) 2,618
Primeiramente, foi coletado um bloco de w (%) 11,74
amostra indeformada no solo em região de ρ (g/cm³) 1,86
erosão à 1m de profundidade, localizado nas Índices Físicos ρd (g/cm³) 1,67
coordenadas 22°20'45.00"S 49°2'25.01"O e 0,57
(WGS84 – Google Earth), representado pela n (%) 36,35
Sr (%) 53,97
Figura 7.
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aderência da placa ao corpo-de-prova foi


colocado um sobrepeso de 500g. Na Figura 10 é
mostrado o esquema do circuito e nas Figuras 11
e 12, são apresentados o circuito como foi ligado
durante o ensaio e o detalhe da colocação do
sobrepeso, respectivamente.

Figura 8. Molde dos Corpo-de-prova de Dimensões


53mmx30mm, relação 2:1; 53mmx60mm, relação 1:1;
53mmx120mm, relação 1:2. respectivamente. Figura 10. Esquema da montagem do circuito para leituras
modificado de Campos (2015).

(b)
(a) (c) (d)

Figura 11. Montagem do circuito para aferição da


resistividade elétrica. Sendo (a) o voltímetro, (b) o
amperímetro, (c) o termômetro e (d) o gerador de funções.
Figura 9. Estágios da moldagem dos corpos-de-prova
(demonstração com relação 1:1).

3.1 Ensaio de Resistividade Elétrica

Para cada um dos corpos-de-prova, foi utilizado


ensaio de resistividade elétrica no solo em
amostra indeformada com a obtenção dos
valores de corrente e voltagem. Para tanto, se
ligou um gerador de funções
(Agilent/33220A/20MHz) fornecendo uma
a b diferença de potencial de 6V (3Vrms) com onda
. senoidal de 1000Hz de frequência. O circuito foi Figura 12. Detalhe da colocação do sobrepeso na amostra.
conectado a dois multímetros, um na função de
voltímetro (Agilent/U1252A) e o outro na As resistividades elétricas foram obtidas
função de amperímetro (FLUKE/87V) e as duas através da eq. 2. Após esse processo, os corpos-
placas de cobre (ϕ = 41cm). Para garantir de-prova são colocados para saturação por
capilaridade com o auxílio de uma pedra porosa
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e um papel filtro na extremidade inferior do Tabela 3. Índices físicos obtidos durante a moldagem e
molde e utilizando água de abastecimento, após o ensaio de resistividade do corpo-de-prova saturado.
Altura w γ n Sr
Figura 13. A saturação do CP não foi realizada (mm)
CP
(%) (kN/m³)
e
(%) (%)
utilizando-se o permeâmetro para evitar que o 1 6,9 16,34 0,416 29,4 44
material utilizado no ensaio de permeabilidade 30 2 7,6 16,75 0,405 28,8 49
(ex. bentonita) contaminasse a amostra e 3 7,0 16,46 0,412 29,2 45
alterasse o valor de resistividade elétrica. 4 8,3 16,61 0,414 29,3 53
60 5 7,3 16,60 0,409 29,0 47
6 6,9 16,40 0,414 29,3 44
7 7,5 17,09 0,393 28,2 50
120 8 8,8 17,13 0,398 28,5 57
9 8,3 16,92 0,403 28,7 54

Tabela 4. Índices físicos obtidos após o ensaio de


resistividade do corpo-de-prova saturado.
Altura w γ n nmédio
CP e
(mm) (%) [kN/m³] (%) (%)
1 20,4 16,34 0,481 32,5
30 2 20,7 16,75 0,470 31,9 32,2
3 19,8 16,46 0,475 32,2
4 20,9 16,61 0,475 32,2
60 5 22,2 16,60 0,481 32,5 32,5
6 22,1 16,40 0,487 32,8
Figura 13. Saturação por capilaridade dos corpos-de-
7 19,3 17,09 0,453 31,2
prova.
120 8 18,9 17,13 0,449 31,0 31,1
9 17,9 16,92 0,452 31,1
Depois de observada a saturação por
capilaridade, Figura 14, os CP’s foram Tabela 5. Valores de cálculo de resistividade elétrica para
submetidos ao ensaio de resistividade elétrica cada corpo-de-prova na situação natural.
novamente. Foram também obtidos os teores de Altura R ρ ρmédio
CP
umidade natural e após a saturação. (mm) (Ω) (Ω.m) (Ω.m)
1 78947 3451
30 2 66678 2925 3169,8
3 71440 3134
4 74099 1630
60 5 70612 1551 1641,0
6 77909 1714
7 62448 688
120 8 59366 653 700,0
9 68920 759

Tabela 6. Valores de cálculo de resistividade elétrica para


cada corpo-de-prova na situação saturada.
Altura R ρ ρmédio
CP
Figura 14. Situação dos corpos-de-prova logo antes da (mm) (Ω) (Ω.m) (Ω.m)
aferição de voltagem e corrente. 1 55528 2428
30 2 56575 2482 2496,3
4 RESULTADOS E ANÁLISES 3 58814 2580
4 23414 515
60 5 31894 701 757,0
Os resultados obtidos para os corpos-de-prova 6 47960 1055
no teor de umidade natural estão apresentados na 7 39441 434
Tabela 3 (índices físicos) e Tabela 5 120 8 34849 384 470,9
(resistividade elétrica), e aqueles após a 9 54018 595
saturação nas Tabelas 4 e 6.
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4.1 Aplicação da Fórmula de Archie (1941) b (ohm.m) qt (MPa) Rf (%) Perfil


0 1200 0 10 20 0 4 8 Interpretado
0
Aplicando as eqs. 3 e 4 aos resultados obtidos
1 areia
para os corpos-de-prova saturados, elaborou-se a siltosa
2
Tabela 7. Ressalta-se que o fluido utilizado foi
argila
água de abastecimento com ρw=100,1 Ω.m 3

Profundidade (m)
4
silte arenoso
5 argila siltosa
Tabela 7. Resultados obtidos das constantes médias do
grau de cimentação das partículas dos corpos-de-prova. 6 argila
Altura 7
CP FF n m mmédio
(mm) 8 areia
1 24,256 0,325 2,837 9 siltosa
30 2 24,795 0,319 2,810 2,828 10
3 25,774 0,322 2,867
11
4 5,145 0,322 1,445 areia e silte
60 5 7,003 0,325 1,732 1,763 12 arenoso
6 10,539 0,328 2,113 13
7 4,336 0,312 1,259 resistividade do solo direct push
120 8 3,836 0,310 1,148 1,313
9 5,944 0,311 1,533 Figura 15. Resultado do RCPTu em local de erosão fluvial
modificado de Fagundes (2011) e Campos e Peixoto
Comparando-se os valores obtidos pelos (2014).
cálculos realizados com aqueles obtidos por
Jackson et al. (1978) para solos arenosos,
encontrou-se que o corpo-de-prova que melhor
se enquadra aos dados pela análise segundo
Archie (1941), é aquele com dimensões de
53mmx60mm, relação 1:1. Ou seja, o m =1,763
é o que mais se aproxima do 1,6 sugerido por
Figura 16. Comparação dos valores obtidos pelos ensaios
aquele autor.
com os resultados do RCPTu.

4.2 Comparação com o RCPTu 5 CONCLUSÕES


O perfil RCPTu, apresentado na Figura 15, é o Para o solo arenoso analisado a relação
resultado dos ensaios nas proximidades com os diâmetro/altura que mais se assemelhou com os
pontos da amostra de direct push obtidos por valores de RCPTu foi a 1:1. Porém, ensaios em
Campos & Peixoto (2014). solos diferentes serão ainda realizados para se
Na Figura 16 estão apresentados os resultados chegar a uma análise mais conclusiva.
médios de RCPTu para os primeiros 2 metros da É importante ressaltar que, ao se analisar os
região de coleta da amostra indeformada dados segundo a equação de Archie (1941),
utilizada para execução dos moldes. Uma grande também foi a constante “m” correspondente a
variação dos resultados de resistividade elétrica relação D/h 1:1 a que mais se aproximou daquela
nesta camada ocorre em função tanto do efeito proposta por Jackson et al. (1978).
do intemperismo, como da não saturação do
solo. Sendo assim, com os resultados de AGRADECIMENTOS
resistividade elétrica em estado natural aplicados
a esse gráfico, tem-se que o resultado do corpo- Os autores agradecem à PROPe/UNESP pela
de-prova de relação 1:1 se encontra mais bolsa de iniciação científica (PIBIC) concedida
próximo do resultado obtido em campo, no ao primeiro autor. Também agradecem o apoio
segundo metro. financeiro correspondente ao processo nº
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2007/06085-7 da Fundação de Amparo à Comparativa de Métodos Laboratoriais de Medição de


Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Resistividade Elétrica do Solo: Uma Abordagem
Teórica. Solos e Rochas, Revista Latino-americana de
através do qual foram obtidos os equipamentos Geotecnia., Vol. 28 (N° 2), 223-228p.
necessários à essa pesquisa. Peixoto, A. S. P. (2013). Fatores intervenientes na medida
do torque e na medida da resistividade em ensaios de
campo. Tese de livre-docência em geotecnia
REFERÊNCIAS ambiental, Unesp/Bauru, São Paulo, 213p.
Pregnolato, M.C. (2014). Avaliação de desempenho do
dispositivo de medida de resistividade elétrica em
Archie, G. E. (1941). The Electrical Resistivity Log as an laboratório. Dissertação de Mestrado em Engenharia
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Trans. Am. Inst. Min. Eng., Vol. 146, p 54-62. Rømoen, M.; Pfaffhuber, A. A.; Karlsrud, K. e Helle, T.E.
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um solo arenoso não saturado afetado por um processo de dois solos. Dissertação de Mestrado em Engenharia
erosivo hídrico. Dissertação de Mestrado em Civil e Ambiental, Unesp/Bauru, São Paulo, 141 p.
Engenharia Civil e Ambiental, Unesp/Bauru, São
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Fagundes, L. S.; Giacheti, H. L.; Jesus, L.S. (2011).
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Paz, E. C., e Campelo, N. S. (2005). Avaliação
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Estudo do Comportamento de Geomembranas na Estabilidade de


Barragens de Rejeito de Minério de Ouro
Ana Luiza Mendes Halabi
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, halabi.analu@gmail.com

Karla Cristina Araújo Pimentel Maia


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, karla.pimentel@etg.ufmg.br

Maria das Graças Almeida Gardoni


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, gardoni@etg.ufmg.br

Soraya Salantiel Sampaio


DAM, Belo Horizonte, Brasil, soraya.sampaio@dam.com.br

RESUMO: Geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD) vêm sendo utilizadas em


sistemas de impermeabilização de barragens de rejeito de mineração de ouro. A presença da
geomembrana na fundação de uma barragem pode favorecer o desenvolvimento de uma superfície
de deslizamento na interface de contato com o maciço ou com a própria fundação. Este artigo
apresenta um estudo do comportamento da geomembrana quando submetida a tensões normais e de
cisalhamento na região de interface com o material do maciço, constituído principalmente pela
fração mais grossa da ciclonagem do rejeito (underflow). Neste contexto, foram realizadas análises
tensão versus deformação utilizando o programa de elementos finitos RS2, onde foram simulados
ensaios de cisalhamento da interface geomembrana-underflow e observada a resposta da
geomembrana aos carregamentos impostos. Os resultados apresentaram diferenças entre a curva
tensão de cisalhamento versus deslocamento experimental e as curvas obtidas com as simulações
numéricas. As diferenças observadas podem indicar algumas limitações da simulação numérica
realizada, em virtude da complexidade em representar os aspectos mais relevantes do ensaio, tais
como, a aplicação do carregamento e as condições de interface dos materiais entre si e com a caixa
de cisalhamento.

PALAVRAS-CHAVE: Geomembrana, Barragem de Rejeito, Ensaio de Cisalhamento de Interface,


Análise Numérica.

1 INTRODUÇÃO geomembrana de PEAD, hoje já bastante


aplicada em aterros sanitários e em
As barreiras de impermeabilização em reservatórios para líquidos industriais, por
barragens de rejeito de minério de ouro são apresentar coeficiente de permeabilidade muito
utilizadas, considerando aspectos relacionados à baixos, da ordem de 10-12 cm/s, excelente
segurança e aos impactos ambientais, para se durabilidade e resistência química (SAMPAIO,
evitar a contaminação do solo e do lençol 2013). O uso de geomembranas em barragens é
freático por metais pesados ou outras ainda limitado, pois esses materiais apresentam
substâncias. Dentre essas barreiras de pouca capacidade de adaptação a grandes
impermeabilização, destaca-se o uso da deformações, devido à sua rigidez (SAMPAIO,
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2013). 2 BARRAGEM DE REJEITO DE


A escolha pela utilização de geomembranas, MINERAÇÃO DE OURO
porém, pode influenciar a estabilidade do
maciço da barragem, devido à possibilidade da A barragem de contenção de rejeitos do
existência de uma superfície de ruptura ou presente estudo está sendo construída pelo
deslizamento que passa pela interface. Isso método de alteamento para jusante. O
ocorreria devido à possibilidade da interface reservatório, a fundação e o talude de montante
entre a geomembrana e o material do maciço foram impermeabilizados com geomembrana
apresentar resistência ao cisalhamento de PEAD com 1,5 mm de espessura, para evitar
possivelmente baixa (SAMPAIO, 2013). Desta acontaminação do aquífero e do solo. As
forma, torna-se necessária a realização de Figuras 1 e 2 apresentam os detalhes do sistema
análise de estabilidade do maciço para avaliação de impermeabilização no pé e no topo do talude
desse mecanismo de ruptura potencial. de montante do maciço, respectivamente.
Além das análises de estabilidade, é
importante ainda avaliar o desempenho da
barragem quando submetido às deformações de
campo. Análises numéricas de tensão versus
deformação do maciço vêm sendo utilizadas
para avaliação do comportamento do maciço, de
maneira a antevir problemas como o
aparecimento de trincas e fissuras, o
fraturamento hidráulico e o desenvolvimento de
zonas plásticas (PEREIRA, 2014). Figura 1. Detalhes da disposição da geomembrana no pé
Este trabalho apresenta um estudo do do talude de montante da barragem de rejeitos - 1ª etapa
comportamento da interface geomembrana- (SAMPAIO, 2013).
underflow de uma barragem de rejeito de
mineração de ouro. Para tanto, foi realizada a
simulação numérica de um ensaio de
cisalhamento direto da interface entre o
underfllow e a geomembrana, realizados por
Sampaio (2013), de modo a estudar o
comportamento da interface submetida a
carregamentos e ajustar a modelagem da
geomembrana e da sua interface com o
Figura 2. Detalhes da disposição da geomembrana no
underflow. Foram utilizados os dados topo do talude de montante da barragem de rejeitos - 1ª
correspondentes a uma seção de uma barragem etapa (SAMPAIO, 2013).
de rejeitos da mineração de ouro, na qual a
fundação foi impermeabilizada com uma 2.1 Parâmetros Geotécnicos dos Materiais
geomembrana texturizada de PEAD com 1,5
mm de expessura. Por fim, são apresentadas as A seção transversal da barragem em estudo é
conclusões desta pesquisa e sugestões para apresentada na Figura 3.
trabalhos futuros. Os principais materiais e componentes da
seção transversal da barragem em estudo são o
rejeito depositado no reservatório, o rejeito de
minério de ouro ciclonado (underflow) que
constitui os diques de alteamentos, com grau de
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compactação de 90% para camadas mais cisalhamento da interface realizados para três
profundas e de 95% para camadas superiores diferentes tensões confinantes.
do maciço, solo argiloso de empréstimo, dreno,
o dique de partida, e a barreira 3.1 Geometria do Modelo Computacional
impermeabilizante de geomembrana PEAD
com espessura de 1,5 mm. Os parâmetros Para a avaliação do desempenho da interface
geotécnicos dos materiais de construção da sob o efeito das tensões, foi realizada uma
barragem e da interface geomembrana- simulação computacional do ensaio de
underflow foram obtidos a partir de resultados cisalhamento da interface. Foram avaliados
de ensaios de laboratório realizados por aspectos referentes à geometria e às condições
SAMPAIO (2013). Na Tabela 1 são de contorno do problema e aos modelos
apresentados os valores dos parâmetros de constitutivos representativos dos materiais
resistência efetivos dos materiais constituintes utilizados.
da barragem, considerados como parâmetros Foram consideradas as condições de
médios para as análises nesse trabalho. contorno do ensaio de cisalhamento de
interface realizado por Sampaio (2013). O
Tabela 1: Parâmetros geotécnicos dos materiais ensaio foi realizado utilizando um equipamento
(modificado SAMPAIO, 2013).
padrão de cisalhamento direto, cuja caixa
Material γ (kN/m3) c’ (kN/m2) ϕ possuía dimensões internas em planta de
(°) 10cmx10 cm e 2 cm de altura, e amostras de
geomembranas de PEAD de 1,5 mm
Fundação 20 40 32
Rejeito 20 0 26 texturizadas em ambas as faces. Para análise da
Interface - 0 28 interface underflow-geossintético, foram
Underflow / inseridas placas de aço na base rígida inferior
Geomembrana da célula de cisalhamento, sobre a qual o
Underflow 90% 22 0 30 geossintético foi colado com silicone para
Underflow 95% 22 0 36
evitar enrugamento. O rejeito de minério de
Solo Argiloso 20 16 31
Dreno 20 0 30 ouro foi então moldado na parte superior da
Dique de 20 20 28 célula de cisalhamento, com 1 cm de altura.
partida A amostra foi submetida a uma carga
pontual de confinamento, normal à caixa, em
3 MODELAGEM NUMÉRICA uma superfície rígida que distribui o
carregamento à amostra. O ensaio, então, foi
Neste item serão apresentados os resultados da realizado a partir da aplicação de um
análise tensão versus deformação provenientes deslocamento constante da caixa inferior em
das simulações numéricas de ensaios de relação à caixa superior do equipamento, que

Figura 3: Seção Transversal da barragem em estudo.


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permanece imóvel devido a restrições de Para a simulação de uma tensão de


deslocamento. A Figura 4 esquematiza a prensa confinamento constante no modelo físico, é
mecanizada da ELE International, utilizada aplicada uma carga concentrada no centro de
para a realização dos ensaios por Sampaio uma placa de aço, o topo da caixa de
(2013). Ressalta-se, por esse esquema, que a cisalhamento, que devido a sua alta rigidez
tensão cisalhante é calculada a partir da força distribui uniformemente as tensões na
de reação no anel dinamométrico, e a partir da superfície da amostra. Para a modelagem desse
sua relação com a área corrigida da superfície, é efeito, foi simulado um material de 1 mm de
encontrada uma tensão cisalhante média sobre espessura, correspondente a um elemento do
a superfície de cisalhamento. tipo liner com rigidez bastante elevada
(TEIXEIRA, 2006). As paredes laterais da
caixa foram simuladas da mesma maneira,
tomando o cuidado de manter o topo da caixa
desvinculado das paredes para que toda a carga
confinante seja aplicada sobre o solo. Além
disso, para induzir que a superfície de
cisalhamento esteja na interface, as paredes
superiores e inferiores da caixa de cisalhamento
Figura 4: Esquema de prensa utilizada para o ensaio de ficaram espassadas em 0,1mm. A figura 6
cisalhamento direto (SILVA et. al, 2004). ilustra em maior detalhe as condições de
contorno do modelo.
Para o modelo computacional, a restrição ao
deslocamento na parte superior da caixa de
cisalhamento foi simulada como apoios que
restringem a movimentação na direção do eixo
x (horizontal). Além disso, apoios de restrição
na direção do eixo y (vertical) da superfície
inferior da caixa de cisalhamento foram
inseridos para impedir a movimentação do
modelo nessa direção. A Figura 5 apresenta o
modelo computacional simulado segundo as
condições de contorno do ensaio de
cisalhamento direto.
Figura 6: Detalhe de condições de contorno da caixa de
cisalhamento

3.2 Materiais

Os materiais presentes no estudo de caso, assim


como seus respectivos parâmetros de
resistência e rigidez, foram definidos conforme
os modelos constitutivos adotados para cada
material.
Para a realização das análises, foi adotado o
Figura 5: Condições de contorno do modelo do ensaio de
cisalhamento de interface.
modelo constitutivo linear elástico para o aço.
A geomembrana foi modelada conforme o
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modelo elasto-plástico, utilizando-se dos realização de ensaios em laboratório e,


valores de deformabilidade obtidos por portanto, não entram no escopo desse trabalho.
SAMPAIO (2013) em ensaios de tração. Para o No caso da interface colada, para que esta
underflow e a sua interface com a tivesse o mínimo de influência sobre as
geomembrana adotou-se também um modelo solicitações da interface geomembrana-
elástico-linear, cabendo-se ressaltar que esse underflow em estudo, conforme foi pretendido
modelo apresenta módulo de deformabilidade ao se colar o material no modelo físico,
constante. admitiram-se como parâmetros de
A interface estrutural foi modelada a partir deformabilidade os mesmos do aço, e limitou-
do elemento de interface do programa RS2. Para se essa junta quanto ao deslizamento relativo
isso, definiu-se primeiramente a geomembrana entre os materiais.
como um elemendo do tipo liner e, em seguida, A Tabela 2 apresenta os parâmetros de
foram definidas suas duas interfaces, com o deformabilidade dos materiais constituintes e
underflow da ciclonagem do rejeito e com o das interfaces. O módulo de elasticidade do
aço, como elementos de junta. Ressalta-se que, underflow foi considerado constante para todas
em ambos os lados da junta, assumiram-se as tensões confinantes definidas nos ensaios
como condição de contorno nós abertos, que são triaxiais realizados por Sampaio (2013). O
representados como dois nós distintos na malha ângulo de atrito da interface foi determinado a
de elementos finitos e, por isso, podem partir da envoltória de resistência, obtida pela
apresentar movimento relativo (ROCSCIENCE, interpolação dos pares de valores tensão
2015). A Figura 7 mostra o liner, com suas cisalhante versus deslocamento relativo obtidos
respectivas juntas positiva e negativa e nós nos ensaios (SAMPAIO, 2013). O módulo de
abertos, como é representado na malha de elasticidade da interface geomembrana-
elementos finitos do programa RS2. underflow foi estimado a partir da curva tensão
versus deformação obtida nos ensaios de
cisalhamento da interface a tensão confinante
de 125 kPa. O mesmo valor foi então usado
para as análises numéricas de 500 kPa e 700
kPa.

Tabela 2: Parâmetros de resistência e deformabilidade


dos materiais.

φ (°) E (MPa) fy (kPa) ν


Aço - 200000 350000 0,3
Figura 7: Representação de liner e elementos de interface
no RS2. Undeflow 95% 36,3 18 - 0,3
Undeflow 95% 36,6 18 - 0,3
Ressaltam-se as limitações das condições de Interface G-aço - 200000 350000 -
contorno apresentadas, em parte pelo Interface G-u 95% 33 80
desconhecimento do comportamento do modelo Nota: Sendo φ o ângulo de atrito pelo modelo Mohr-
real quanto ao deslizamento das interfaces nas Coulomb, E o módulo de elasticidade do material, fy o
laterais da caixa de cisalhamento e na interface módulo de plasticidade do aço e ν o coeficiente de
Poisson do material.
inferior da geomembrana, que foi colada. A
influência dos parâmetros de resistência
relativos a esses materiais na análise numérica
necessita de estudos mais aprofundados e da
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3.3 Carregamento Pode-se observar que, os resultados


numéricos se ajustam satisfatoriamente aos
Após a definição da geometria do modelo e dos resultados experimentais, apresentando um
materiais foram definidas as etapas de análise valor do ângulo de atrito de 33º próximo ao
para diferentes estágios de carregamento nos apresentado por SAMPAIO (2013), e um
quais a estrutura seria analisada. Esses estágios módulo de elasticidade de 80MPa. Porém, para
foram escolhidos de modo a simular um as pressões confinantes superiores a 125 kPa a
aumento linear do deslocamento relativo entre
curva numérica se difere bastante da curva
as caixas, em que o primeiro estágio simula as
experimental, demonstrando inadequação do
condições de contorno antes do início da
modelo, devido a limitação da modelagem ou
realização do ensaio e o último as condições na
ruptura, em que há 8 mm de deslocamento, inadequação dos parâmetros analisados.
correspondente a 20% de deformação Percebe-se a partir da maior inclinação da curva
(SAMPAIO, 2013), conforme a Figura 8. A experimental de tensão-deformação que há um
Figura 9 demonstra a aplicação destes aumento do módulo de elasticidade E, que
deslocamentos e da carga confinante no modelo portanto foi subestimado para as análises. Em
simulado. relação à adequação ao ângulo de atrito,
bastante relacionado à tensão de escoamento do
modelo constitutivo elástico perfeitamente
plástico, pouco pode ser afirmado nas
simulações numéricas para 500 kPa e 700 kPa,
uma vez que não é aparente o escoamento da
interface.

Figura 8: Deslocamento induzido no modelo para


cada estágio de carregamento simulado.

Figura 10: Gráfico de tensão-deslocamento, numérica e


experimental, para a pressão confinante de 125 kPa.

Figura 9: Deslocamento relativo entre as caixas de


cisalhamento.

4 RESULTADOS

As Figuras 10, 11 e 12 apresentam os gráficos


de tensão-deformação das análises numéricas
para três pressões confinantes, 125 kPa, 500
kPa e 700 kPa, assim como a comparação com
os respectivos resultados experimentais. Figura 11: Gráfico de tensão-deslocamento, numérica
e experimental, para a pressão confinante de 500 kPa.
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apenas 0,042 kPa, menos de 1% do valor da


tensão residual deste material, de 700 kPa
(SAMPAIO, 2013), não havendo portanto
plastificação. A Figura 14 apresenta o gráfico
comparativo da força axial ao longo do eixo da
geomembrana, para o último estágio do ensaio,
para as três pressões confinantes. Neste,
observa-se baixa variação da força axial na
geomembrana para as diferentes tensões
confinantes simuladas.
Figura 12: Gráfico de tensão-deslocamento, numérica e
experimental, para a pressão confinante de 700 kPa.

Ressalta-se a diferença entre os valores do


módulo de elasticidade E que podem ser
estimados a partir dos gráficos de tensão-
deslocamento para 500kPa e 700kPa, de
aproximadamente 250MPa. Como o valor do
módulo de elasticidade varia com a tensão
confinante, teria sido portanto mais adequado
fazer as simulações ajustando o valor de E para Figura 14: Distribuição das forças axiais na geomembrana
ao longo de seu eixo horizontal
tensões confinantes maiores.
A Figura 13 apresenta a distribuição das
tensões cisalhantes na interface geomembrana- 5 CONCLUSÕES
underflow ao longo de seu eixo horizontal.
Observa-se valores maiores de tensões de O estudo do comportamento da interface
cisalhamento em pontos na parcela central do geomembrana-underflow submetida a tensões
material, próximo à região de maior de cisalhamento foi realizada a partir da análise
confinamento. numérica dos ensaios de cisalhamento de
interface realizados por Sampaio (2013).
A análise numérica do ensaio de
cisalhamento da interface geomembrana-
underflow foi realizada utilizando-se
parâmetros obtidos na literatura, como também,
retroanalisados conforme a curva tensão-
deslocamento dos ensaios de cisalhamento de
interface disponíveis. A curva simulada
apresenta ordem de grandeza e comportamento
similar às curvas experimentais, podendo
validar seus resultados para uma faixa de
Figura 13: Distribuição das tensões cisalhantes na tensões próxima a 125 kPa. Foram observadas,
interface geomembrana-underflow ao longo de seu eixo porém, divergências de comportamento da
horizontal. curva experimental quando comparada ao
modelo numérico, em especial para tensões
Além disso, verifica-se que a solicitação
confinantes maiores, o que sugere o ajuste do
sobre a geomembrana é bastante reduzida,
módulo de elasticidade para cada tensão normal
sendo mobilizada uma tensão axial a tração de
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aplicada.
Análises adicionais devem ser realizadas
para validar a utilização do elemento “liner” na
simulação da geomembrana e do elemento de
interface do programa numérico na simulação
das condições de interface existentes no ensaio
de cisalhamento de interface, como também nas
condições de campo.

REFERÊNCIAS

ANCOLD. Guidelines on Risk Assessment. Australian


National Committee on Large Dams
Incorporated, Australia. 2003
Dias, Arilena Covalesky. Análise Numérica da Interação
Solo-Geossintético em Ensaios de Arrancamento.
2004. 102 p. Dissertação (Mestrado em Geotecnia)-
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2004.
Piimentel, Karla Cristina Araújo; Souza, Thiago Coutinho
de; Campello, Izabela; & Alfenas, Paulo. Avaliação
dos Métodos Probabilísticos Aplicados à Estabilidade
de Taludes de Barragens. XXXI Seminário Nacional
de Grandes Barragens , Belo Horizonte, p. 1-20,
maio. 2017.
ROCSCIENCE. Slide 4.0: A white paper describing our
fully featured limit equilibrium analysis program for
slope stability with integrated finite-element
groundwater analysis capabilities. 19p. 2017
Sampaio, Soraya Salatiel; Pimentel, Karla; Halabi, Ana;
& Gardoni, Maria das Graças. Stability Analysis of a
Gold Tailings Dam Lined with HDPE Geomembrane.
Geosynthetics 2017, Santiago, Chile, p. 1-10, out.
2017.
Sampaio, Soraya Salatiel. Estudo do Comportamento de
Barreiras Poliméricas em Sistemas de Disposição de
Rejeito de Minério de Ouro. 2013. 173 f. Dissertação
(Mestrado em Geotecnia e Transpostes)- Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.
Teixeira, Cristiano Faria. Análise Numérica de Ensaios
em Solo Reforçado com Geogrelhas. 2006. 171 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)-
Pontifícia Universidade Católica do rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2006.
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Estudo Preliminar das Propriedades Elásticas e Mecânicas em


Arenitos em Alta Temperatura
Igor Almeida Sampaio
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, ias97389@gmail.com

Kaio Araujo Andretta Silva


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, kaioandretta@hotmail.com

André Cezar Zingano


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, andre.zingano@gmail.com

RESUMO: Este artigo discute o efeito da alta temperatura nas propriedades mecânicas e elásticas
em arenitos. As amostras foram previamente submetidas a um tratamento térmico com temperatura
máxima de 220°C. Os ensaios não destrutivos também foram testados, propagação da onda sonora,
e testes destrutivos, resistência a compressão uniaxial e ensaio de tração Brasileiro. Os ensaios
mostram que a resistência a compressão uniaxial e a tensão a tração cresceram com o aumento da
temperatura, além disso, outras propriedades foram relacionadas como a atenuação e propagação da
velocidade da onda ultrassônica em arenitos.

PALAVRAS-CHAVE: Alta Temperatura; Ondas compressivas; Resistência a compressão uniaxial;


Ensaio Brasileiro a tração; Arenitos.

1 INTRODUÇÃO Overbey e Pasini III (1973), como descrito


anteriormente podemos observar que desde os
Para a mecânica de rocha, a influência da tempos antigos, o homem tem interesse na
temperatura é o assunto que finaliza os possibilidade da fraqueza e da baixa da
problemas da engenharia geotécnica (RAO et resistência em rocha com o aumento da
al.,2009). As evidências arqueológicas temperatura. Possivelmente os primeiros
encontradas em Grimes Graves no Sul da ensaios do fenômeno foram trabalhados com a
Inglaterra mostram que mesmo em tempos emissão de luz durante a queima da argila
antigos os mineiros construíam amontoados de descritos em 1898 (DIMITRIYEV et al., 1969
madeira para serem queimados nas faces das apud el. SYGALA, BUKOWSKA e
escavações para que sejam melhores de ser JANOSZEK, 2013).
trabalhadas(MCPHERSON, 1993) O impacto da alta temperatura em rocha é um
consequente-mente o fogo foi um dos primeiros item que tem sido abundantemente testado
métodos responsáveis pelo aumento da experimentalmente devido à importância,
produtividade, essa prática perdurou por muito relevância e aplicação na estocagem em subsolo
tempo, mesmo após o advento da pólvora negra dos rejeitos nucleares, exploração de recursos
(HERRMAN, 1972). geotérmicos, gaseificação in situ das camadas
O comportamento da rocha exposta à de carvão (Underground Gasification Coal) e
temperatura tem sido investigado na recuperação avançada do petróleo com
experimentalmente no intuito de conhecer, em combustão in situ (LINTÃO et al., 2017)
especial as propriedades mecânicas e elásticas As rochas são constituídas de minerais com
que impactam no design do método diferentes expansões térmicas, possuem
exploratório, como descrito em Komar, extensão e contração em diferentes direções e
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as mudanças de temperatura causam tensões indireta, o intuito ainda é buscar a regressão e


nos grãos minerais resultando em micro fraturas correlação entre os dados.
(RYBÁR et al., 2015) enquanto que outras
fraturas são fechadas, sendo este um fator
primordial em temperaturas acima dos 200°C 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
(TIAN et al., 2014), esse conhecimento foi e
ainda continua um importante material para a
história da humanidade, sendo evidente que as O resultado da exposição da rocha em alta
construções históricas terem sidos feito em temperatura tem feito com que a resistência em
rocha. Nos tempos primórdios as rochas eram arenitos tenha relação com a sua desidratação,
consideradas como um material eterno e não se transformação dos minerais e na expansão
desgastava, mais hoje sabemos que a rochas térmica dos minerais que constitui a rocha (LU
sofrem muitos processos de degradação que et al., 2017).
inclui basicamente o intemperismo químico e Outra abordagem descrita por NAKAO et al.
físico. (2016) refere à pré-existência das
Desde a década de 1970, o desenvolvimento descontinuidades (bandamento em rochas
da engenharia Geotécnica tem resultado em sedimentares, foliação, dobras, falhas, fraturas
inúmeros estudos em alta temperatura nas naturais, juntas.) em uma ampla gama de
propriedades mecânicas da rocha. No Brasil as rochas, como descrito pelo autor em rochas
pesquisas em alta temperatura nas propriedades sedimentares, a presença de fraturas tem
mecânicas em rocha são abaixo da expectativa e remarcado o efeito na física, no transporte,
raramente descritas. Este assunto vem tornando- tensão e na fratura da rocha. A temperatura
se popular devido o desenvolvimento da influência no surgimento de novas fraturas
tecnologia onde o efeito da temperatura em induzidas na rocha, além das já existentes.
maciço rochoso se popularizou pelo UGC De maneira geral podemos observar que o
(Underground Gasification Coal). incremento da temperatura aumenta a
Por outro lado, a temperatura tem resistência a compressão a compressão uniaxial
significativo efeito na mudança nas (RANJITH et al., 2012), mais essa afirmativa
propriedades física e química da rocha. É um não é sempre verdade como visto em SYGALA
aspecto natural e esperado essa mudança e a et al., 2013. A amplitude da mudança inclui o
quantificação da alteração dependem de muitos tipo de rocha ensaiada e mesmo em tratando de
outros fatores que vão além da temperatura corpos de prova de mesmo material litológico,
como: a composição mineral, porosidade e ela pode apresentar mudanças significativas,
densidade (SYGALA et al., 2013). como justificativa dessas mudanças de
O artigo apresenta os resultados dos ensaios comportamento. Podemos afirmar que a rocha é
não destrutivos e destrutivos em arenitos. Os o produto de diversos fatores, em especial, da
ensaios destrutivos uniaxiais e tração foram história evolutiva em escala regional e local.
realizados em 4 condições-Temperatura O efeito da temperatura nas propriedades
ambiente, aquecido com temperatura de 240°C físicas e mecânicas é um item de pesquisa no
e com 1 ciclo e 2 ciclos de resfriamento e campo de mecânica de rocha de grande
aquecimento. A curva característica tensão- importância quando se fala em estabilidade das
deformação obtida nos ensaios destrutivos da estruturas (RAO et al., 2009), esse problema na
rocha é possível determinar a resistência da mecânica de rocha que envolve a alta
rocha, podemos mencionar que os ensaios não temperatura é o início para ser desenvolvido no
destrutivos foram testados no intuito de campo da mecânica de rocha devido à
verificar a atenuação e/ou ampliação da complexidade do material envolvida que
velocidade da onda primária-compressiva- na segundo WINKLER, K.W.; MURPHY III,
resistência a compressão uniaxial e tração W.F. (1995) as rochas possuem um
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comportamento não linear, sendo que cada


projeto deve ser descrito de uma maneira única.
Vários estudos têm sido conduzidos com
foco na mudança das propriedades físicas e
mecânicas de vários tipos de rocha em alta
temperatura. As tensões a tração é um
parâmetro chave para a determinação da
Figura 1. Formação de Microcracks (em destaque) em
capacidade de suporte e reforço da rocha como
amostras submetidas a alta temperatura.
o dano, deformação, densidade das fraturas e
até na operação de britagem. Como constatado
em inúmeros artigos. Várias universidades e 2 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE
centros de pesquisa Internacionais tem obtido PROVA E METODOLOGIA PARA OS
recursos valiosos resultando nas estimativas das ENSAIOS
propriedades mecânicas e físicas em diferentes
tipos litológicos, em especial as rochas
sedimentares por se tratar de rochas em sua 2.1 Preparação das Amostras
grande maioria limitam a capa e a lapa do
minério, após o tratamento em alta temperatura Foram confeccionadas no total de 14 corpos de
(DING e SONG, 2016). prova. Os testemunhos foram obtidos por
Entre elas, podemos mencionar: DING e sondagem rotativa diamantada com diâmetro
SONG (2016) estudou a mudança da densidade NX (48 milímetros), vindas da exploração de
das fraturas, velocidade e a resistência a tração um depósito polimetálico localizado na Região
de rochas depois do tratamento térmico. Sul do Brasil. Os testemunhos foram
SRIPAI et al.(2012) investigou o efeito da submetidos ao corte utilizando o equipamento
temperatura em amostras de rochas salinas com Core Trimmer, modelo DS36, marca Control. A
a utilização do ensaio Brasileiro em cinco relação entre a altura e diâmetro entre os corpos
temperaturas variando de 20°C a 800°C. LUO, de prova submetidos aos enasiaos de
J; WANG, L. (2011) e LINTÃO et al., (2017) compressão uniaxial é de 2,10, em média. A
estudou uma série de ensaios em rochas norma ASTM D 4543-01 (Standart Practice for
arenitos e argilitos, simulou o processo de Preparing Rock Core Specimes and
deformação e o mecanismo de fratura com o Determining Dimensional and Shape
comportamento de rochas sedimentares em alta Tolerances) estabelece uma relação mínima de
temperatura para predizer o comportamento das 2,0 e máxima de 2,5 e para os ensaios a ser
cavidades pelo UGC. realizados para tração Indireta 0,68, para a
O teste de tração Indireta ou Ensaio brasileiro norma ASTM D3967-16 (Standard Test
tem sido aplicado em mecânica de rocha devido Method for Splitting Tensile Strength of Intact
ao fácil preparo e pode ser conduzido Rock Core Specimens) a relação é máxima de
facilmente pela mesma máquina utilizada nos 1,0.
ensaios de compressão uniaxial ou ainda pelo
equipamento realizado no Point Load Test. É 2.2 Tratamento térmico das amostras
importante recordar que a temperatura induz a
formação de micro fraturas intergranulares e/ou As amostras foram colocadas no forno Sanchis
intragranular na rocha de diferentes a uma taxa de aquecimento de 5ºC/minuto.
constituições minerais. Após a temperatura de pico, as amostras foram
retiradas para serem realizadas os ensaios em
temperatura e/ou deixadas para realizar os
ensaios com ciclos de resfriamento e
aquecimento. As amostras foram retiradas
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somente após o resfriamento que pode durar ensaios (tensão versus deslocamento). O
mais que 8 horas depois dos ensaios. equipamento utilizado para os ensaios
destrutivos foi a Prensa Hidraúlica, série
2.3 Medidas das propriedades acústicas 09005059, categoria c4600/FP, capacidade de
carga máxima 2000 KN, marca Control e
As propriedades físicas/acústicas são resumidas LVDT, código nº 7011SN, marca Mitutoyo.
pelo tempo de trânsito da onda característica
que chega no receptor do equipamento e que 3 RESULTADOS E DISCURSSÃO
atravessa o corpo de prova. Esse procedimento
foi realizado antes e depois do tratamento
térmico em algumas amostras, devido a Com os resultados dos ensaios foram
limitação tecnológica do equipamento para construídas duas tabelas e dois gráficos sendo o
serem medidos em temperatura com risco a índice formado na tabela sao: resistência a
perda do equipamento. O equipamento utilizado compressão uniaxial ( ), E (Módulo de
foi o Pundit, modelo PL200, marca Proceq. Elasticidade), (Velocidade da onda
Além disso, as dimensões físicas (diâmetro e compressiva antes do ensaio e (resistência a
altura) e o peso, fazem parte da análise, tração Indireta).
principalmente a altura, que é o item
indispensável para determinação da velocidade Tabela 1. Resistência a compressão dos ensaios com a
e consequentemente do tempo de trânsito. situação experimental.
O tempo de trânsito (equação 01) é o inverso Amostra σ E Vp Situação
(MPa) (GPa) (m/s) Experimental
da velocidade (Equação 02), a unidade mais
1 51,99 4,78 2.632 Temperatura
usual nos perfis geofísicos acústico ou sônico é Ambiente
o segundos/pés. Para o artigo as unidades foram 2 35,13 4,66 1.923 Temperatura
todas colocadas no sistema internacional (SI). A Ambiente
velocidade das ondas e numericamente igual ao 3 134,82 10,81 2.975 1 Ciclo
inverso do tempo de trânsito. 4 128,42 9,10 2.859 1 Ciclo
5 102,63 6,02 2.895 Temperatura
(01) de 240°C
6 125,61 6,91 2.956 Temperatura
(02) de 240°C
Sendo: 7 119,06 7,93 2.778 2 Ciclos
t: Tempo de trânsito, s/m; 8 139,35 6,74 2.944 2 Ciclos
: Velocidade da onda, m/s;
Δt: tempo entre a emissão e a recepção, Em resumo, os resultados numéricos foram
segundos; dispostos nas tabelas 1 e 2 podemos ainda
: comprimento do corpo de prova, metro. verificar a alteração da plasticidade do material
caracterizado pela resistência residual (após a
2.4 Medidas das propriedades mecânicas ruptura da rocha). As amostras 1 e 2 apresentam
um comportamento dúctil enquanto que as
Os ensaios mecânicos realizados foram os outras amostras apresentam um comportamento
ensaios a compressão uniaxial de acordo com a rúptil.
norma ASTM D2938. Em todos os ensaios As amostras submetidas ao ciclo de
foram registrados os deslocamentos axiais, resfriamento e aquecimento e os que foram
medidos pelo LVDT. ensaiados ainda em temperatura não sofreram
Para os ensaios uniaxiais a taxa de mudanças substanciais da resistência a
carregamento é uniforme de 500 N/s. Os dados compressão uniaxial destas amostras
são monitorados e gravados. As interpretações constatando somente um incremento pouco
dos dados geram as curvas características dos superior a 13% podendo afirmar que houve
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pouco aumento da densidade das fraturas da


rocha. Outro item, a ser notado é o módulo de
elasticidade ou ainda módulo de rigidez (E) que
apresentou diferença substancial em relação aos
ensaios realizados a temperatura ambiente.
Devido às limitações do equipamento de
medição das ondas ultrassônica principalmente
a elevadas temperaturas foi possível a
realização das medições somente nas amostras
que sofreram os ciclos de resfriamento e
aquecimento e antes da realização dos ensaios
foi percebido que ocorreu uma variação média
de 8,80% em relação aos resultados anteriores. Figura 3. Curva Característica dos ensaios uniaxiais com
um ciclo e dois ciclos de aquecimento e resfriamento.

Os últimos ensaios que foram realizados


foram os ensaios de tração indireta ou ensaio
brasileiro,.Os ensaios resultaram em estimativa
da tensão a tração determinada pela equação 03.
Os ensaios nõs fornecem somente a carga de
ruptura e caso seja, orientado nós fornece a
direção de fraqueza da rocha (KOMAR,
OVERBEY e PASINI III, 1973).

(03)

Onde , P, D, L é a resistência a Tração,


carga máxima, diâmetro e o comprimento,
Figura 2. Curva Característica dos ensaios uniaxiais a respectivamente.
temperatura ambiente, aquecido e com 1 ciclo de Os resultados da Tração Indireta mostram
resfriamento e aquecido. que com um ciclo de resfriamento e
aquecimento a diferença entre os ensaios não
Agora partiremos para os ensaios com dois
ultrapassam 60% dos resultados a temperatura
ciclos de resfriamento e aquecimento, esse tipo
ambiente enquanto que os resultados das
de ensaio foi realizado no intuito de verificar o
amostras ensaiados ainda em temperatura
comportamento da rocha quando submetidas,
apresentam um incremento em torno de 29,0%,
por exemplo, aos Rib Pillar e os Sill Pillar das
enquanto que a diferença entre os ensaios em
cavidades geradas pela Gaseificação UGC) ou
temperatura e com um ciclo de resfriamento e
ainda pelos aportes contínuos de material a ser
aquecimento mostram um incremento de
estocado em subsolo.
19,7%. Em relação às medidas de velocidade
das ondas compressiva temos uma variação
muito pequena entre as amostras possuindo uma
variação média de 3,15 % em relação aos dados
antes da realização dos ensaios.

Tabela 1. Resistência a tração dos ensaios com a situação


experimental.
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Engenharia de Rochas no Desenvolvimento Urbano
Conferência Especializada ISRM 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
© CBMR/ABMS e ISRM, 2018

Amostra σ Vp Situação Experimental Taylor & Francis/Balkema,729 páginas.


(MPa) (m/s) Ding, Q; Song, S. (2016) Experimental Investigation of
9 5,34 3.059 Temp. Ambiente the relationship between the P-wave velocity and the
10 7,30 3.479 Temp. Ambiente Mechanical Properties of Damaged Sandstone.
11 8,64 3.260 1 Ciclo Hindawi Publishing Corporation Advances in
12 11,68 3.267 1 Ciclo Materials Science and Engineering. Hindawi, vol.
13 8,46 3.577 Temp. em 240°C 2016, páginas.10
14 7,84 2.900 Temp. em 240°C Ekneligoda, T. C; Wanatowski, D; Marshall, A. M;
Stace, L. R; Yang, L. T (2015). Experimental Study
on the Mechanical properties of Sandstone at High
4 CONCLUSÃO Temperature. International Conference on Mining
Science and Technology, Xuzhou (China), n.7.
Herrmann, C. Manual de Perfuração de Rocha. 2ª edição:
Com o resultado dos diferentes ensaios revista e ampliada. São Paulo: Editora Polígono,
utilizados podemos perceber que as rochas 1972, 416 páginas
Lintão, Y; Marahall, A; Wanatowski, D; Stace, R;
apresentam uma diferença nas propriedades Ekenellgoda, T. (2017). Effect of high temperature
elásticas e mecânicas mesmo se tratando de sandstone: A computed tomography scan study.
uma mesma unidade geotécnica. Os ensaios a International Journal of physical Modelling in
priori tentaram simular as condições de Geotechnics, China, p.1-17.
carregamento da rocha sobre fluxo de Lu, C; Sun, Q; Zhang. W; Geng, Qi, W; J; Lu. Y. (2017)
The effect of high temperature on tensile strength of
temperaturas durante as operações ao longo e sandstone. Applied Thermal Engineering. China,
depois da gaseificação. Em alguns ensaios foi vol.111, p.573-579.
notado uma mudança das propriedades do Luo, J; Wang, L. (2011) High Temperature Mechanical
material tornando plástico ou dúctil quando Properties of Mudstone in the process of
submetido em alta temperatura Em destaque as Underground Gasification Coal. Rock Mechanical &
Rock Engineering, China, Technical Note, vol.44,
variações do módulo de elasticidade
p.749-754.
apresentando um discrepância significativa, o Lua, J.; Lianguo, W.; Furong, T.; Yan,H.; Lin,Z.(2011)
mesmo não aconteceu com os ensaios de tração Variation in the Temperature Field of Rocks
indireta, com diferenças menores que 20%. Overlying a High Temperature Cavity during
Underground Coal Gasification. Mining Science and
Technology, China, vol.21, p.709-713.
AGRADECIMENTOS
McPherson, M.J. (1993) Subsurface Ventilation and
Environmental Engineering. Estados Unidos:
Os autores agradecem a suporte técnico dado Chapman & Hall, 905 p
pelo laboratório Mecânca de Rocha da Rao, Q; Wang, Z; Xie, H; Xie, Q. (2009) Experimental
UFRGS,em especial aos alunos de Iniciação a Study of Mechanical Properties of Sandstone at High
Temperature. Science in China Series E:
docência e mestrandos do laboratório.
Technological Sciences, China, n.3, vol. 52, p.641-
646.
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Mechanical Properties of Sandstone at High
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Influência da Adição de Resíduos de Construção Civil no Módulo


Resiliente um Solo Argiloso da Formação Geológica Guabirotuba
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, yaderbal@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, izzo@utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, julrose@gmail.com

RESUMO: Os solos da Formação Geológica Guabirotuba são solos residuais localizados em uma
bacia sedimentar no Estado do Paraná. A característica predominante do solo desta Formação é a
grande quantidade de argila. Os agregados de resíduos reciclados de construção civil (RCC) são
aqueles provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil e
os resultantes da preparação e da escavação de terrenos. A presente pesquisa objetiva investigar os
efeitos do RCC quando é incorporado a um solo argiloso da Formação Geológica Guabirotuba em
quatro misturas diferentes. Os ensaios utilizados na etapa experimental desta pesquisa foram os de
caracterização, compactação na energia Proctor Normal, CBR (com imersão), expansão e módulo
resiliente. Os resultados dos ensaios de CBR e Módulo resiliente das misturas do RCC e solo,
constata-se que o CBR aumenta de 2% para 21% (mistura com 60% de RCC) podendo ser usado
como sub-base de pavimentos flexíveis, e as propriedades resilientes das misturas propostas na
pesquisa melhoram com o acréscimo de RCC na mistura, possibilitando a utilização dos resíduos
reciclados de construção civil para camadas de pavimento.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-RCC, Módulo resiliente, CBR, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO ambiental resultante da disposição irregular


desses resíduos é uma das causas da preocupação
Quase toda atividade industrial e humana produz governamentista, em função dos impactos que a
resíduos, e o incremento e acumulação destes disposição ilegal tem nas cidades e seus
causam sérios problemas ambientais e arredores (MELO; GONÇALVES; MARTINS,
econômicos ao redor do mundo (CARDOSO et 2011).
al. 2016). O crescimento urbano, bem como a A utilização de RCC pode ser uma alternativa
geração de resíduos, particularmente os de interessante aos materiais convencionalmente
construção civil (RCC), trouxeram sérios utilizados, para promover um aumento na oferta
problemas de gerenciamento às cidades de vias pavimentadas nos grandes centros
(RODRIGUEZ et al., 2007). O problema urbanos ou mesmo nas cidades de médio porte
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brasileiras, caracterizadas principalmente pelo 2004).


baixo volume de tráfego. O principal atrativo dos Em qualquer técnica de aproveitamento de
agregados reciclados é o aspecto econômico, materiais oriundos de reciclagem é fundamental
pois estes materiais normalmente são vendidos a realização de estudos preliminares,
por preços inferiores aos dos granulares contemplando principalmente aspectos da
tradicionalmente empregados em pavimentação, geometria do pavimento, à natureza e modos em
além de promover a diminuição do impacto que se realizará a manutenção necessária durante
ambiental. Pesquisas sobre reciclagem de RCC o período de vida útil do pavimento, a
são realizadas em outros países há tempos. A caracterização dos materiais reciclados, a
primeira abordagem à reciclagem de pavimentos espessura de intervenção utilizada como base e a
surgiu após a 2ª Guerra Mundial, pela delimitação de teores da mistura final dos
necessidade de recuperar infraestruturas, materiais a aplicar para o tipo de pavimento.
aplicado no Reino Unido um processo de (MOREIRA, 2005). Dessa forma, esse estudo
reaproveitamento chamado “Retread Process”, delimita tais aspectos para a utilização de RCC
ou processo de recauchutagem; que em solos argilosos em construção de bases e sub-
posteriormente na década de 1970 é largamente bases para pavimentos.
atualizado na cultura norte americana
(BAPTISTA, 2006).
A necessidade de reconstruir cidades 2 MATERIAIS E MÉTODOS
destruídas durante guerras e devido às
catástrofes naturais levou ao desenvolvimento de 2.1 Solo
técnicas de reciclagem do RCC e aplicação na
produção de artefatos, pavimentação e em O solo utilizado para o estudo foi coletado em
serviços de construção nos Estados Unidos, uma obra próximo à cidade de Curitiba, no
Japão e Europa. No Japão, dois terços do resíduo município de Fazenda Rio Grande (PR), em um
de concreto demolido já são utilizados para local de construção de casas populares com
pavimentação de rodovias, e na Europa que é localização geográfica 25°41'03.9"S e
onde mais se utiliza RCC reciclado em 49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada
pavimentação, pois há uma compreensão de que da Formação Guabirotuba, o qual é composto
se deve reservar os agregados naturais para usos por 35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte
mais nobres, como concreto de alta resistência, (0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia fina (0,074 a
concreto protendido, etc (LIMA, 1999; LEITE, 0,42 mm).
2001). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do
O setor público é o grande consumidor de solo. A umidade higroscópica encontrada do
agregados para pavimentação, com um consumo solo in situ é próxima a 40%.
de cerca de 50 milhões de toneladas por ano.
Nesse total se incluem os agregados utilizados
para infraestrutura urbana. Esse setor, no
entanto, não pode consumir todo o potencial de
produção de agregados de RCC reciclados, tanto
no Brasil quanto na Europa, onde se estima que
a pavimentação seja capaz de absorver em torno
de 50% da massa total do RCC (JOHN et al.,
2006). Destaca-se também a utilização crescente
de resíduo de construção civil em locais onde são
ausentes agregados de origem pétrea, como
forma de reduzir os problemas ambientais de
disposição destes resíduos (FERNANDES, Figura 1. Curva granulométrica do solo.
Fonte: Moreira (2018)
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RCC coletado:
A Tabela 1 apresenta as propriedades físicas
do solo estudado. Tabela 2. Propriedade do RCC.
Pedrisco Areia
Propriedade Valores Propriedade Valores
Tabela 1. Propriedades físicas do solo. Sulfatos < 1% Sulfatos < 1%
Valores Teor de fragmentos à base de > 90% Teor de combinantes > 3%
Propriedades Físicas
Médios cimento e rocha
Cloretos < 1% Cloretos < 1%
Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³
Materiais não minerais < 2% Materiais não minerais < 2%
Areia média 7,5 % Absorção de água < 8% Absorção de água < 13 %
Areia fina 25,9% Torrões de argila < 2% Torrões de argila < 2%
57,6% Teor máximo de material < 10% Teor máximo de material < 13%
Silte
passante na malha 75μm passante na malha 75μm
Argila 9%
53,1% Densidade natural Kg/m3 1.384 Densidade natural 1.323
Limite de liquidez, LL 3
Kg/m
Índice de plasticidade, IP 21,3%
Fonte: Adaptado de USIPAR (2018)
Fonte: Moreira (2018)
2.3 Água
2.2 RCC
A água empregada tanto para os ensaios de
O resíduo de construção civil utilizado foi caracterização do solo, quanto de Proctor
coletado na usina de reciclagem da cidade de Normal e de Indice de Suporte Califórnia – ISC
Almirante Tamandaré, Região metropolitana de – foi destilada, enquanto está livre de impurezas
Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou e evita as reações não desejadas.
seja, composto por resíduos cinzas (concreto,
argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e 2.4 Dosagem das misturas
brancos (cal, gesso, etc.). Foram escolhidas duas
granulometrias de RCC: areia (material ≤ Foi realizado uma estabilização granulométrica
4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo para determinar o teor ótimo da mistura do solo
realizada a granulometria do RCC, representada com RCC e tendo em consideração diferentes
na Figura 2. pesquisas sobre reforço de solos com RCC,
definiu-se para o presente estudo 4 teores de
100
Solo RCC. Para facilitar o estudo adotou-se as
90
Areia (RCD) nomenclaturas: Solo, M1, M2, M3 e M4; de
80
Pedrisco (RCD) acordo com a Tabela 3.
70
Tabela 3. Dosagem dos Insumos.
Passante (%)

60
Porcentagem de cada Insumo
50 Mistura
Solo Areia Pedrisco
40
Solo 100% 0% 0%
30
M1 60% 30% 10%
20
10 M2 60% 20% 20%
0 M3 50% 30% 20%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
M4 40% 30% 30%
Diâmetro (mm)

2.5 Ensaios de Compactação


Figura 2. Curva Granulométrica do RCC
Fonte: Moreira (2018)
A Figura 3 mostra as curvas de compactação do
A Tabela 2, mostra algumas propriedades do solo estudado e de cada mistura usada, na energia
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normal. de prova na umidade ótima encontrada no ensaio


de compactação (Proctor Normal), usando 12
17 golpes do soquete padrão para o solo e para as
quatro misturas. Na Tabela 5, é apresentado a
16 média dos três corpos de prova por mistura.
Peso Específico Seco (kN/m3)

Tabela 5. Resultados do ISC.


15
Mistura ISC 0,1' ISC 0,2'
Solo 2,06 2,90
14 M1 1,89 2,80
M2 3,86 4,89
13 M3 5,16 7,23
M4 8,40 11,57
12
10 20 30 40 2.7 Ensaios de Expansão
Teor de Umidade (%)
Ajuste Solo Ajuste Mistura 1 O ensaio de expansão obedeceu a norma DNIT –
Ajuste Mistura 2 Ajuste Mistura 3 172/2016 – ME e DNIT – 160/2012 – ME. Este
Ajuste Mistura 4 Saturação 100%
Saturação 80%
ensaio foi realizado enquanto os corpos de prova
do ISC estavam submersos, durante 4 dias, nos
Figura 3. Curvas de compactação do solo e misturas Solo- quais foram realizadas leituras para ver a
RCC. expansão diária. Na Tabela 6, são mostrados os
resultados da expansão.
Foram feitos ensaios de compactação do solo
na energia de compactação Proctor Normal, Tabela 6. Resultados da Expansão
conforme a norma DNIT – 164/2012 - ME. Mistura Expansão
A Tabela 4 apresenta a variação do peso Solo 5,61
específico seco máximo e a umidade ótima para M1 3,27
diferentes misturas de RCC: M2 2,60
M3 1,18
Tabela 4. Propriedades de compactação da argila com M4 1,00
diferentes misturas.
Peso especifico Umidade
seco máximo,
2.8 Ensaios de Módulo Resiliente
Mistura ótima,
γdmáx (kN/m3) Wot (%)
0 13,58 32,5 O ensaio para determinação do módulo de
M1 15,21 25,2 resiliência foi realizado conforme as normas ME
M2 15,12 24,0 134 (DNIT, 2010) e conforme o Manual de
M3 15,81 21,3 Pavimentação do DNIT (2006), onde os corpos
M4 16,13 20,2 de provas são submetidos à um condicionamento
inicial composto por três ciclo de 500 repetições
2.6 Ensaios de Índice de Suporte Califórnia – para 3 tensões. A finalidade desse
ISC condicionamento inicial é eliminar as grandes
deformações permanentes que ocorrem nas
Para os ensaios de ISC foram moldados corpos primeiras aplicações de cargas e reduzir o efeito
de prova conforme a norma DNIT – 172/2016 - da história de tensões no valor do módulo de
ME. Foram moldados três corpos de prova por resiliência. Na sequência do ensaio, após a
ISC a fim de ter um resultado estatístico. O aplicação das tensões de confinamento, são
ensaio foi realizado com a moldagem do corpo aplicados 18 pares de tensões, conforme as
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normas ME 134 (DNIT, 2010) e conforme o


Manual de Pavimentação do DNIT (2006). Entre a mistura M1 e M2, observa-se um
patamar, demonstrando que não houve
mudanças, no entanto, nos valores de ISC houve
3 RESULTADOS um acréscimo de 168,62%. No ensaio de ISC não
houve mudanças significativas entre o Solo (0) e
3.1 Influência do teor de RCC no γdmáx, ωót, a mistura M1, havendo acréscimo de valor na
ISC e Expansão. massa específica seca.
Observa-se um acréscimo de ISC conforme se
Foi observado que à medida que se aumenta o aumenta a granulometria do RCC na mistura.
teor de RCC no solo, tanto a massa específica Entre M3 e M1, houve um acréscimo de
seca, quanto o ISC aumentam, com exceção de 147,85%, e de 298,34% entre M4 e M3. O
um ponto, como mostra a Figura 4. aumento de M4 em relação ao solo sem mistura
foi de 743,79%. Observa-se também um
decréscimo na expansão, tornando a mistura
mais estável na presença de água, obtendo
decréscimo de até 82,17% da expansão inicial do
solo.
Tendo como base as normas brasileiras para
camadas de pavimentos, observa-se que a partir
da 1ª mistura, torna-se viável a utilização da
mistura para pavimentos, pois com a diminuição
da expansão para 3,27%, e o ISC maior que 2%
a mistura M1 pode ser utilizada como subleito.
A mistura M2 e M3, com expansões abaixo de
4%, e ISC acima de 4%, podem ser usadas para
reforço de subleito, e a mistura M4, com ISC
maior que 20% e expansão de 1% para sub-base.

3.2 Influência do teor de RCC no MR.

O valor do módulo resiliente de cada amostra


apresentada na Figura 5 é o último par de tensões
do ensaio triaxial dinâmico, que representa o
nível de tensão mais elevado: σd = 0,412 MPa e
σ3 = 0,137 Mpa. Estes níveis de tensões
correspondem, aproximadamente, às condições
em que os materiais são submetidos no topo da
camada de base logo abaixo de um revestimento
fino, entre 3 a 4 cm, sob um eixo padrão
(MARANGON, 2004).

Figura 4. Valores de Massa Específica Seca, ISC e


Expansão em Função das Misturas.
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600
500 Conforme a Figura 6, pode-se observar que
500 todas as misturas atendem aos limites mínimos
Módulo Resiliente (MPa)

de resiliência estabelecidos pela AASTHO


400 (2008) para a camada de sub-base, no entanto,
somente a mistura 4 atende aos critérios de
300
220
expansão preconizados pelo Manual de
172 Pavimentação do DNIT (2006) e pela AASTHO
200
121 (2008).
101
100

0 4 CONCLUSÕES
0 1 2 3 4
Misturas Desta forma, a adição de RCC à um solo fino da
Formação Geológica apresentada neste trabalho
Figura 5. Valores de MR no nível de tensão mais elevado traz grande contribuição para o entendimento de
do teste (σd = 0,412 MPa e σ3 = 0,137 MPa) das misturas seu comportamento geotécnico perante aos
na energia de compactação Proctor Normal.
parâmetros avaliados nesta pesquisa. A partir
dos resultados e dados presentados no presente
Observa-se que à medida que aumenta o teor
trabalho se podem fazer as seguintes
de RCC, aumenta-se o MR do material.
considerações e conclusões finais:
Chegando a valores cinco vezes maior em
O uso de RCC em solos finos melhoram a
relação ao solo sem RCC. Pode-se dizer que o
capacidade de suporte, haja vista que a
aumento do teor de RCC melhora as
granulometria do material muda, e por
características resilientes do solo. A Figura 6
conseguinte a porcentagem de finos diminui.
apresenta os resusltados de MR desta pesquisa
Dessa forma, a utilização de RCC proporcionado
balizando-os com os limites preconizados pela
em teores de adição ao solo diminui a expansão
AASHTO (2008).
do mesmo, em função da redução de finos na
600 mistura.
EN Também conclui-se que quanto maior a
incorporação de RCC ao solo, maior será a massa
500
Limite para Base específica, para os teores estudados, e portanto
(A-2-4) 220,64
maior será o ISC.
Módulo Resiliente (MPa)

MPa
400 Também conclui-se que quanto maior a
Limite para Base
(A-2-5) 193,06 incorporação de RCC ao solo, menor será a sua
MPa
300 expansão, nos teores estudados. Isto acontece em
Limite para Base
(A-7-5) 82,74 função do RCC ser praticamente inerte.
200
MPa A mistura 4 proporcionou o resultado mais
Limite para Base satisfatório com relação à todos os parâmetros
(A-7-6) 55,16
MPa (Massa específica seca máxima, ISC, expansão e
100
Limite para Sub- Módulo Resiliente), uma vez que em todos os
base (A-2-5)
148,24 MPa
parâmetros desta mistura obteve um aumento
0 significativo ou uma diminuição, como é o caso
0 1 2 3 4
da expansão.
Misturas Dentro dessas constatações, permite-se a sua
Figura 6. Valores de MR no nível de tensão mais elevado
utilização em camada de sub-base de pavimento,
do teste (σd = 0,412 MPa e σ3 = 0,137 MPa) das misturas segundo as normas do DNIT (DNIT, 2006), uma
nas três energias de compactação e os limites mínimos de vez que a mistura 4 obteve um CBR acima de
MR segundo a AASHTO (2008). 20% e expansão de 1%.
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AGRADECIMENTOS Construction and demolition waste generation and


management in Lisbon (Portugal). Resources,
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Os autores agradecem o apoio do Programa de Leite, M. B. (2001). Avaliação de propriedades mecânicas
Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) de concretos produzidos com agregados reciclados de
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná resíduos de construção e demolição. Tese de
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instituição de fomento de pesquisa brasileira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 270 p.
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Estudo dos parâmetros de resistência em areia utilizando o


equipamento de cisalhamento direto de grande porte
Victor Henrique Silva Salmaso
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, victorsalmaso@yahoo.com.br

Ana Carolina Ferreira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, anacferreira.engcivil@gmail.com

Wagner da Silva Stein


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, wagner_stein@hotmail.com

Bruno de Oliveira Costa Couto


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, bruno.couto.amb@gmail.com

Lucas Deleon Ferreira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, lucas@ufop.edu.br

Eleonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br

Romero Cesar Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto , Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: Dentre os fatores que influenciam a resistência ao cisalhamento e o comportamento


tensão-deformação de solos arenosos sob cisalhamento pode-se destacar a tensão de confinamento e
o imbricamento das partículas de solo. Nesse sentido, o arranjo das partículas está diretamente
associado à compacidade do solo, sendo que quanto mais elevado esse parâmetro maior será o esforço
necessário para romper o imbricamento do solo analisado. O presente estudo propõe avaliar a
influência da compacidade de um solo arenoso nos parâmetros de resistência nas relações de tensão-
deformação de um solo arenoso.Nesse sentido, foram executados ensaios de cisalhamento com a areia
em três diferentes compacidades (50, 75 e 90%) e em quatro níveis de tensão (50, 100, 200 e 400
kPa). Verificou-se que o aumento da compacidade da areia promoveu uma elevação do ângulo de
atrito do material avaliado. Ao fim de todos os ensaios, os resultados encontrados foram condizentes
com o comportamento de solos arenosos de acordo com generalidades descritas na literatura.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de cisalhamento direto; Comportamento tensão-deformação;


Parâmetros de resistência de solos arenosos.

1 INTRODUÇÃO resistência de cisalhamento do solo.


Segundo Caputo (1988), o ensaio de
A maior preocupação em obras que envolvem cisalhamento direto consiste em determinar sob
conhecimentos geotécnicos é a possível uma tensão normal qual a tensão de
existência da ocorrência de ruptura do solo. cisalhamento é capaz de provocar a ruptura de
Sendo assim, torna-se necessário o uma amostra de solo colocada dentro de uma
conhecimento de todas as solicitações e se o solo caixa composta de duas partes deslocáveis entre
será capaz de resistir a estas, através da si. Trata-se de um ensaio simples, prático e
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rápido de ser executado nas condições adotadas argila; ela depende de vários fatores e seu estudo
no presente trabalho (solo arenoso em condições levar-nos-ia a física dos solos e à química
drenadas de cisalhamento), justificando a coloidal. (CAPUTO, 1988).
escolha desse ensaio. Contudo, o presente estudo
utiliza um equipamento com dimensões 2.2 Atrito
superiores ao equipamento convencionalmente
utilizado. Quando uma força horizontal age em um corpo
O referido equipameto foi utilizado por Paria apoiado sobre uma superfície (conforme ilustra a
(2015), que estudou o efeito de escala da figura 01), ocorre uma resistência ao movimento
resistência ao cisalhamento de um estéril de denominada de atrito.
minério de ferro seguindo a mesma metodologia
que será abordada neste trabalho com relação aos
ensaios de cisalhamento de grande porte.
Este trabalho tem como objetivo principal,
efetuar a caracterização geotécnica com o
enfoque na obtenção dos parâmetros de
resistência de um solo puramente arenoso,
avaliando a influência da compacidade no
comportamento tensão-deformação e nos
parâmetros de resistência do solo analisado..
Para tanto, foram executados ensaios de Figura 1. Definição de ângulo de atrito.
cisalhamento com três diferentes compacidades
(50, 75 e 90%) e em quatro níveis de tensão (50, Fisicamente, a força de atrito pode ser
100, 200 e 400 kPa). expressa pela equação 1:

𝑇𝑚á𝑥 = 𝜇𝑁 (1)
2 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA
Onde µ é o coeficiente de atrito; N é a força
Quando um solo é submetido à forças normal trocada entre o apoio e corpo (sendo
solicitantes de cisalhamento, é mobilizada uma reação uma reação à força peso, W, aplicada
resistência interna nessa massa de solo, tal sobre o apoio) e 𝑇𝑚á𝑥 é a força máxima que o
resistência é denominada resistência ao atrito suporta antes de ser vencido e o corpo
cisalhamento de solos. entrar em movimento. Após entrar em
Os mecanismos de resistência em solos movimento, o coeficiente de atrito se reduz,
podem ser atribuidos ao arranjo dos grãos que porém a resistência ao movimento continua.
compõem a massa de solo, denominado Com a fórmula descrita acima, pode-se perceber
embricamento (interlocking) e a resistência que existe uma relação linear entre N e 𝑇𝑚á𝑥 .
mobilizada entre esses grãos, sendo essa dividida A definição do conceito de ângulo de atrito
basicamente entre atrito e coesão. pode ser estabelecido a partir da relação das
forças que apoio aplica no corpo. Sendo esse
2.1 Coesão ângulo formado entre os vetores da força de
reação (R) que a mesa aplica sobre o corpo e sua
Quanto à coesão, distingue-se a "coesão componente vertical, ou seja, a força normal (N).
aparente" e a "coesão verdadeira". A primeira, é A tangente desse ângulo, que é a relação entre o
resultante da pressão capilar da água contida nos cateto oposto e adjacente ao ângulo, é igual ao
solos, e que age como se fosse uma pressão coeficiente de atrito (μ) apresentado na equação
externa. A segunda, é devida às forças 1.
eletroquímicas de atração das partículas de tan 𝜑 = 𝜇 (2)
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figura 3, verifica-se que um arranjo “mais


Esse mesmo conceito, da física clássica, pode frouxo” onde as partículas encontram-se em um
ser adotado em meio particulado, como é o caso de estado fofo, o deslocamento dessas partículas
um elemento de solo em um maciço de solo, seria mais fácil em um determinado plano a-a.
conforme ilustra a figura 2. Nessa figura, adota-se Esse deslocamento seria apenas horizontal.
um plano potencial de ruptura onde as forças Contudo, em um arranjo mais “apertado”, onde
normais e de cisalhamento atuam. Considerando as partículas se encontram mais próximas, ou
que tais forças estão representadas em termos de seja, mais denso, o deslocamento de uma
tensões, tem-se a tensão normal (𝜎𝑓 ) e a tensão partícula exige um deslocamento ascendente. Tal
cisalhante (𝜏𝑓 ). situação implica em um trabalho maior do que
no primeiro caso.

Figura 2. Tensões trocadas no interior de um meio Figura 3. Arranjo das partículas, embricamento
particulado. (Interlocking).

Ao substituir a equação (2) na equação (1) e O deslocamento das particulas sólidas


considerar-se essa relação em termos de tensão a representa a ruptura de uma parcela de solo.
resistência ao cisalhamento do solo pode ser Desse modo, para um mesmo solo arenoso, a
expressa pela equação 3. situação de arranjo mais fofo apresenta uma
resistência menor que o arranjo mais denso ou
𝜏𝑓 = 𝜎𝑓 tan 𝜑 (3) compacto. Essa relação é relacionada à
compacidade de um solo e comumente
Verifica-se então que essa parcela de resistência relacionada à dilatância desse solo.
é função da tensão de confinamento. Desse modo, Outros fatores podem interferir na resistência
o intervalo de tensões normais aplicados no de solos arenosos como o formato dos grãos.
decorrer dos ensaios é outro fator que influencia a
Nesse sentido, Pinto (2006) relata que as areias
resistência ao cisalhamento de um solo.
constituídas de partículas esféricas e
Considerando a parcela de resistência
arredondadas têm ângulos de atrito menores que
mobilizada pela coesão do solo em questão, que
não depende da tensão de confinamento, chega-se areias constituídas de grãos angulares.
a equação (4) tracionamente utilizada na mecânica
dos solos para expressar a resistência ao
cisalhamento de um determinado solo. Trata-se um 3 COMPORTAMENTO TENSÃO-
ajuste matemático de adotado por um critério de DEFORMAÇÃO DE SOLOS ARENOSOS
ruptura denominado de critério de Coulomb.
Ao submeter uma amostra de areia ao
𝜏𝑓 = 𝑐 + 𝜎𝑓 tan 𝜑 (4) cisalhamento direto, pode-se perceber que ela
aumenta ou diminui de volume dependendo do
2.3 Embricamento (interloking) seu grau de compacidade. As areias fofas
diminuem de volume, enquanto as compactas
O mecanismo de resistência relacionado ao aumentam. Desse modo, durante o processo de
arranjo dos grãos sólidos do solo, destaca-se no cisalhamento o material irá apresentar uma
estudo de solos arenosos. Considerando as variação volumétrica de acordo com sua
partículas em forma esféricas, conforme ilustra a compacidade alcançando a condição de ruptura.
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Nessa condição o material alcança o limite dos Já a figura 5 apresenta a variação do índice de
dois estados, ou seja, onde não haverá variação vazios de amostras de solos arenosos submetidos
de volume e consequemente de seu índice de à cisalhamento.
vazios, sendo esse denominado de índice de Nessa figura, o aumento do índice de vazios é
vazios crítico. reflexo da expansão de solos tipo II (compactos)
Graficamente esses comportamentos podem e consequentemente a redução do índice de
ser representados nas figuras 4, 5 e 6. Nessas vazios de solos tipo I (fofos) está atrelada a
figuras os solos arenosos são divididos em dois compressão desses materiais.
tipos I e II. Sendo que os solos tipo I são aqueles O termo estado crítico é utilizado para definir
considerados fofos e o tipo II são considerados o estado de tensões que o solo atinge quando não
compactos. há mais variação da razão entre tensão cisalhante
e tensão normal efetiva e também não há
alteração de volume quando o solo esta
submetido a cisalhamento contínuo (BUDHU,
2013).
O comportamento tensão-deformação desses
materiais são representados na figura 6. Nela,
verifica-se que os solos tipo I (areias fofas) a
resistência ao cisalhamento (𝜏) é mobilizada
durante o ensaio de cisalhamento até ser
alcançado um patamar (tensão constante), que
Figura 4. Resultados típicos do comportamento de solos caracteriza a condição de ruptura do material
arenosos sob cisalhamento, variação volumétrica versus (estado crítico).
deformação. (BUDHU, 2013)

Na figura 4, verifica-se pelo gráfico a


representação do comportamento típico de solos
arenosos sob cisalhamento. Nessa figura, além
da condição de expansão ou compressão dos
solos, já explicada anteriormente, vê-se que a
tensão de confinamento (normal) aplicada
também influência no comportamento de um
solo sob cisalhamento. Nesse sentido, com o
aumento da tensão efetiva a condição de
expansão do solo, resultado do deslocamento de
suas partículas sólidas é reduzida. Figura 6. Resultados típicos do comportamento de solos
arenosos sob cisalhamento, tensão-deformação.
(BUDHU, 2013)

Na mesma figura, o comportamento de solos


tipo II (areias compactas) é caracterizado pela
mobilização de resistência ao cisalhamento (𝜏)
até um valor de pico (resistência de pico) quando
é avaliada uma queda significativa da tensão
mobilizada até ser alcançado um patamar de
resistência (resistência residual). Contudo, esse
comportamento é associado ao valor da tensão
Figura 5. Resultados típicos do comportamento de solos normal aplicada durante o ensaio de
arenosos sob cisalhamento, variação do índice de vazios.
(BUDHU, 2013) cisalhamento, conforme a figura retrata. Nesse
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sentido, a medida que um aumento da tensão pelo que representam, ou seja, referência. Pois,
normal é realizado verifica-se que a existência de conforme verifica-se na tabela algumas
um pico de tensão é cada vez mais discreto, caracteristicas como distribuição granulométrica
sendo possível a obtenção de uma curva para e formato dos grãos influênciam no resultado
solos do tipo II idêntica a solos tipo I (exemplo final e devem ser considerados.
da amostra 9). Considerando o comportamento de um solo
arenoso sob cisalhamento, os valores de
2.4 Compacidade Relativa compacidade relativa e consequentemente a
classificação apresentada na tabela 2 podem não
A compacidade de um solo arenoso é avaliada corresponder aos resultados obtidos em ensaios
em função da relação do índice de vazios de resistência. Dessa forma, a classificação de
máximo (estado mais fofo – emáx) e mínimo solos fofos ou compactados com base no
(estado mais compacto - emín) e o índice de comportamento expansivo ou contrátil do solo
vazios atual (enat) de um determinado de solo. não estará associado somente à compacidade
Essa condição é expressa por índice denominado relativa do solo.
compacidade relativa do solo e obtido pela
equação 5.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑛𝑎𝑡
𝐶𝑅 = (4)
𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛 Para o estudo da influência da compacidade de
um solo arenoso no comportamento tensão-
Baseado em sua compacidade relativa um deformação e na resistência desse solo, foram
solo arenoso pode ser classificado em ao menos realizados diversos ensaios de cisalhamento.
três classes conforme a tabela 3, proposta por Para tanto, os corpos de prova foram
Terzahi e apresentada por Pinto (2006). moldados em três diferentes compacidades (50,
75 e 90%) e os ensaios foram conduzidos em
Tabela 2. Valores Típicos de índice de vazios de areias. quatro níveis de tensão normal (50 kPa, 100 kPa,
(Fonte: Pinto, 2006).
200 kPa e 400 kPa).
Descrição da areia Compacidade Relativa
Areia Fofa CR < 0,33 Os ensaios foram realizados em um
Areia medianamente 033 ≤ CR ≥ 0,66 equipamento de cisalhamento direto que permite
compacta a moldagem de corpos de prova com dimensões
Areia Compacta CR > 0,66 de 20 cm x 20 cm e 20 cm x 40 cm.

Alguns autores apresentam valores típicos de 3.1 Cisalhamento Direto e Cisalhamento


solos arenosos, tais como os trazidos por Pinto Direto de Grande Porte
(2006) e representados na tabela 3.
O ensaio de cisalhamento direto é o método
Tabela 3. Valores Típicos de índice de vazios de areias. mais simples para a determinação da resistência
(Fonte: Pinto, 2006). ao cisalhamento de um solo. São três as etapas
Descrição da areia emín emáx
para sua realização: montagem do corpo de
Uniforme de grãos 0,70 1,10
angulares prova, aplicação da carga vertical e cisalhamento
Bem graduada de 0,45 0,75 Por ser tão simples, é um ensaio bastante
grãos angulares utilizado, mas de acordo com Simões (2015),
Uniforme de grãos 0,45 0,75 possui algumas desvantagens, tais como: A
arredondados drenagem não pode ser controlada e a
Bem graduada de 0,35 0,65
poropressão (pressão neutra) não é conhecida
grãos arredondados
(em caso de solo argiloso); o estado de
Contudo, valores de referência como os deformações e de tensões não são conhecidos e
apresentados na tabela 2, devem ser analisados o principal é que o plano de ruptura é imposto,
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ou seja, ele ocorre no plano horizontal que divide Segundo PINTO (2006), O coeficiente de
a caixa. curvatura CC indica possíveis descontinuidades
O equipamento de cisalhamento direto de na granulometria do material como, por
grande porte funciona da mesma forma que o exemplo, ausência de determinado tamanho de
cisalhamento direto convencional, porém ele é grão na amostra, ou concentração elevada de
muito maior e mais robusto sendo capaz de grãos mais grossos. Para a areia analisada, o
aplicar maiores cargas tanto horizontal quanto valor de CC encontrado foi igual a 0,97, o que
vertical. Pode ser utilizado em solos que indica ser um material mal graduado.
possuem grãos maiores.
Já que ambos possuem as mesmas formas de Tabela 4. Caracterização do solo arenoso
funcionamento, as desvantagens já citadas acima Propriedade Unidade
para o ensaio convencional se repetem. Porém, Gs 2,64
uma desvantagem em relação ao próprio ensaio w 5,74 %
de cisalhamento direto convencional é que por emáx 0,92
possuir dimensões maiores, a montagem e emín 0,63
posicionamento do corpo de prova se dá de
CC1 0,97
forma significativamente mais trabalhosa e
propícia a erros. CNU2 2,18
Os ensaios aqui apresentados fazem parte de D10 0,22 mm
um procedimento de implantação de novos D30 0,32 mm
recursos de aquisição de dados e aplicação de D60 0,48 mm
cargas. Distribuição Granulométrica (%)
O solo utilizado foi caracterizado como Areia Areia Areia
puramente arenoso e a seguir serão apresentadas Argila Silte
Fina Média Grossa
suas caracteristicas. 0,2 5,0 4,3 74,3 16,2

3.1 Caracterização Segundo Simões (2015), no caso de solos


sedimentares, como é o caso da areia, o formato
Os ensaios de caracterização do solo seguiram dos grãos é resultado dos processos aos quais o
normas vigentes e foram executados pelas solo foi submetido durante seu transporte e sua
normas do laboratório de caracterização do formação e diferente das argilas, as areias
NUGEO (Núcleo de Geotecnia- UFOP) um possuem as três dimensões com a mesma ordem
resumo dos ensaios de caracterização é de magnitude.
apresentado na tabela 4. Nessa tabela são No caso da areia estudada, análises
registrados os valores de densidade relativa dos microscópicas demonstraram que os grãos são
grãos (Gs), índices de vazios máximo (emáx) e mais arredondados e segundo Pinto (2006), as
mínimo (emín), teor de umidade médio das areias constituídas de partículas esféricas e
amostras (w), formato dos grãos e características arredondadas têm ângulos de atrito menores que
associadas à granulometria do material. areias constituídas de grãos angulares e isso se
Verifica-se a partir dos dados apresentados, deve ao fato do entrosamento das partículas
que o coeficiente de não uniformidade CNU irregulares.
indica o quão desuniformes são os grãos do solo. Com base nessas análises o material utilizado
Quanto maior esse valor, maior é a variedade na nos experimentos pode ser classificada como
dimensão dos grãos. Para a areia de foi obtido uma areia média, mal graduada, com distribuição
CNU = 2,18, o que indica um material uniforme. granulométrica uniforme e com grãos
(PINTO, 2006). arredondados.

1 CC – Coeficiente de curvatura 2CNU – Coeficiente de não Uniformidade


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3.2 Execução dos Ensaios de Cisalhamento- O referido aparelho foi desenvolvido para
Montagem dos Corpos de Prova ensaios desempenho em interfaces de solos com
geossintéticos e outras variações de ensaios de
Os corpos de prova ensaios foram moldados com cisalhamento direto não convencionais.
as compacidades previamente estabelecidas Com a caixa devidamente posicionada, o
iguais a 50%, 75% e 90%. equipamento é ligado e após todos os ajustes
Com a massa de areia devidamente pesada, serem feitos, começa-se os ensaios. Basicamente
realizou-se a montagem da caixa bipartida, após ligado, é exercida a etapa de adensamento
figura 7. A moldagem do corpo de prova foi feita que se tratando de uma areia, acontece quase que
pelo método de pluviação, sendo necessários de forma instantânea. Após essa etapa, tem-se
processos de compactação para compacidades início a etapa de cisalhamento propriamente dita.
maiores.

Figura 9. Etapa de Cisalhamento.

Figura 7. Montagem da caixa bipartida Foi-se convencionado que a os ensaios seria


paralizados após 8% de deformação na caixa
Após a montagem, transfere-se a areia para a bipartida,.
caixa. Com a areia dentro da caixa bipartida, Os procedimentos de execução dos ensaios de
mede-se a altura do corpo de prova que será cisalhamento direto seguiram normas
ajustada de acordo com a necessidade. Por fim, a internacionais D3080 (ASTM, 2011).
caixa bipartida é transportada ao seu devido local Após a coleta dos dados, os resultados,
dentro do equipamento, e posteriormente embasados em estudos encontrados na literatura,
tampada. e o comportamento do solo foram comparados
com a teoria.
3.3 Ensaios

O equipamento utilizado foi um equipamento de 4 RESULTADOS


cisalhamento direto de grande porte é
apresentado na figura 8. Após a compilação dos resultados, gráficos
foram desenvolvidos para o estudo do
comportamento do solo arenoso, conforme será
apresentado nos tópicos a seguir. Os resultados
serão divididos em função da compacidade dos
corpos de prova moldados.

4.1 Ensaios realizados com compacidade de


50%

O gráfico apresentado na figura 10, apresenta as


Figura 8. Equipamento de cisalhamento de grande porte. curvas de tensão cisalhante versus o
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deslocamento horizontal, nele constam os Seguindo as orientações de classificação do


ensaios realizados com as diferentes tensões comportamento de solos sob cisalhamento e
normais (50 kPa, 100 kPa, 200 kPa e 400 kPa). considerando apenas o resultado da figura 10, o
solo seria classificado como um material fofo,
350
50 kPa devido a não observância de tensão de pico.
200 kPa
300
100 kPa Contudo, quando são analisados os resultados da
250 400 kPa
figura 11, conclui-se que o material apresenta
Tensão de Cisalhamento (kPa)

200 compacto nessa compacidade devido a sua


150
tendência de expansão experimentada a partir de
aproximadamente 4 mm de deslocamento
100
horizontal.
50
Pode-se perceber que a areia se encontra
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
medianamente compacta conforme tabela 3 e
Deslocamento horizontal (mm) também, como já fora mencionado, fato que
Figura 10. Curvas de Tensão cisalhante versus justifica esse comportamento intermediário.
deslocamento horizontal A envoltória de ruptura dos ensaios realizados
é apresentada na figura 12. A partir de regressão
Avaliando apenas os gráficos da figura, linear dos pontos de tensão cisalhante máxima os
verifica-se que em todos os experimentos a valores do ângulo de atrito foram obtidos.
tensão máxima é alcançada em um patamar, ou Baseado nesses gráficos foram feitas duas
seja, o valor permanece constante durante uma análises, sendo a primeira adotando todos os
considerável parte do experimento. Tal pontos e forçando o intercepto coesivo no
comportamento se apresenta divergente apenas origem onde foi alcançado o valor de 34º para o
no ensaios realizado com a tensão confinante de ângulo de atrito efetivo para a envoltória com um
400 kPa, nele verifica-se uma tendência de queda coeficiente de determinação (R2) igual à 0,94. A
entre 6 e 8% de deformação, sendo isso reflexo segunda forma interpretação, considera uma
de uma possível ruptura localizada no interior da envoltória bi-linear, onde o ângulo de atrito
amostra. efetivo para o intervalo de tensões de 0-100 kPa
A figura 11, apresenta os gráficos de foi igual a 17º e para o intervalo de 100-400 kPa
deslocamento vertical versus a deslocamento foi de 40º, nesse caso o coeficiente de
horizontal das amostras. Mediante os resultados determinação foi da ordem de 0,99.
apresentados, verifica-se que todos os
experimentos mostram uma tendência de 300
y = 0,8496x - 56,13
compressão inicial com posterior expansão. R² = 0,9988
250
Desta forma, o resultado apresentado é coerente,
Tensão de Cisalhamento (kN/m2)

pois quanto maior a tensão de confinamento 200 y = 0,6575x


R² = 0,9443
menor será a expansão do material.
150
5
50 kPa
4 100 kPa
Compressão

3 200 kPa 100


Deslocamento vertical (mm)

400 kPa
2
1 50
0
y = 0,3056x
0 2 4 6 8 10
-1 R² = 0,9727
0
Expansão

-2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450


-3 Tensão Normal (kN/m2)

-4
-5 Figura 12. Envoltória de Ruptura CR50%
Deformação horizontal (mm)

Figura 11. Variação da Altura do Corpo de Prova CR50%


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4.2 Compacidade 75% A envoltória de ruptura dos ensaios dessa


série é apresentada na figura 15. A partir dela,
O corpos de prova moldados com a compacidade constata-se que é uma envoltória linear, que
de 75%, apresentaram curvas de tensão apresenta um ângulo de atrito igual a 36º.
cisalhante versus deslocamento horizontal com
aspectos semelhantes aos experimentos 350
y = 0,7227x
conduzidos na série anterior, conforme verifica-

Tensão de Cisalhamento (kPa)


300 R² = 0,9968
se na figura 13. 250

200

50 kPa 150
200 kPa
350 100 kPa 100
400 kPa
50
300
Tensão de Cisalhamento (kPa)

0
250 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Tensão Normal (kPa)
200

150

100
Figura 15. Envoltória de Ruptura CR75%.
50
4.3 Compacidade 90%
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento horizontal (%)
Nessa seção serão apresentados os resultados dos
Figura 13. Resistência ao cisalhamento CR75%
experimentos conduzidos com corpos de prova
com compacidade igual a 90%.
Novamente verfica-se uma determinada
A figura 16 apresenta os gráficos da variação
queda de resistência no experimento conduzido
da tensão cisalhante em função do deslocamento
com com tensão normal igual a 400 kPa.
horizontal. Novamente, a maior parte dos
Contudo, esse comportamento representa a
gráficos não apresentam um pico de tensão,
ocorrência de rupturas localizadas no corpo de
característico de solos arenosos compactos. A
prova e caracterizam uma tensão pico.
excessão fica por conta do ensaio realizado com
Os gráficos de deslocamento vertical versus
tensão normal igual a 200 kPa que nitidamente
deslocamento horizontal.
apresenta o comportamento tipicamente
associado a essa condição de compacidade.
5
50 kPa
compressão

4 100 kPa
3 200 kPa
400 kPa 350 50 kPa
2 200 kPa
Deslocamento vertical (mm)

1 300 100 kPa


400 kPa
0
Tensão de Cisalhamento (kPa)

0 2 4 6 8 10 250
-1
expansão

-2 200
-3
150
-4
-5 100

Deslocamento horizontal (mm)


50
Figura 14. Variação da Altura do Corpo de Prova CR75%
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento horizontal (mm)
Pode-se perceber que a areia independente da Figura 16. Resistência ao cisalhamento CR90%
tensão normal, possui comportamento clássico
de uma areia compacta, ou seja, ocorre uma A figura 17, retrata o comportamento
breve compressão inicial (representando o expansivo do material ensaiado em todas as
rearranjo das partículas sólidas do solo) e tensões normais de confinamento. Nela verifica-
posteriormente uma expansão. se que em todos os experimentos o material
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expandiu durante o cisalhamento após um breve demonstram que uma análise do comportamento
processo de compressão. de solos arenosos sob cisalhamento baseado
apenas nessa indicação é equivocada. Pois, em
5
todos os experimentos conduzidos verificou-se
50 kPa
4 um comportamento expansivo dos corpos de
Expansão

100 kPa
Deslocamento vertical (mm)

3 200 kPa
2
400 kPa prova, inclusive para ensaios realizados com
1 compacidade relativa iguais à 50%.
0
-1
0 2 4 6 8 10 Dessa forma, considerando o comportamento
Compressão

-2 de solos arenosos sob cisalhamento torna-se


-3
-4
necessária a determinação do índice de vazios
-5 crítico para uma clara definição de solos
Deslocamento horizontal (mm)
compactos e fofos.
Figura 17. Variação da Altura do Corpo de Prova CR90% A partir dos resultados verificou-se que
análise do comportamento e classificação de
A envoltória de ruptura é apresentada na solos sob cisalhamento utilizando apenas a
figura 18. Assim como os resultados da série de referência do gráfico tensão cisalhante versus
compacidade igual a 50%, novamente a análise deslocamento horizontal também é equivocada.
foi realizada sob duas perspectivas, sendo elas Nesse sentido, não foi verificado um
uma envoltória linear e outra bilinear. comportamento típico de solos compactos que
Considerando a envoltória linear o ângulo de apresentam uma resistência mobilizada de pico.
atrito do material foi igual a 34º. Já adotando a O intervalo de valores do ângulo de atrito
envoltória bilinear, têm-se para o intervalo de efetivo obtidos nos experimentos foi condizente
tensões de 0-100 kPa o ângulo de atrito efetivo com a literatura.
igual a 18º e para o intervalo de 100-400 kPa Verificou-se a possibilidade de tratar os
igual a 40º. resultados da envoltória de ruptura como linear e
bi-linear em dois valores de compacidade (50 e
300 90%). Sendo essa uma análise mais condizente
com o comportamento avaliado.
250
O uso do equipamento de cisalhamento de
Tensão de Cisalhamento (kPa)

200 grande porte produz resultados confiáveis em


y = 0,6575x

150
R² = 0,9443
y = 0,8496x - 56,13
areias, mas é mais viável que nestas
R² = 0,9988
circunstâncias os ensaios sejam feitos no
100
convencional devido a sua maior complexidade
50
na montagem dos corpos de prova. Sua
y = 0,3226x - 1,42
R² = 0,9773
utilização se justifica em ensaios em corpos de
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 prova com grãos maiores.
Tensão Normal (kPa)

Figura 18. Envoltória de Ruptura CR90% AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Universidade Federal de Ouro


5 CONCLUSÃO Preto e a CAPES por todo o apoio dispensado
durante a realização desse trabalho.
De acordo com a tabela 2, apresentada
anteriormente, pode-se considerar um solo
arenoso como compacto aquele cuja REFERÊNCIAS
compacidade relativa está acima de 66%.
Budhu, M. Fundações e Estruturas de Contenção. Rio de
Contudo, os resultados aqui apresentados
Janeiro - LTC, 2013.
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Caputo, H. P. Mecânica Dos Solos e Suas Aplicações. Rio


de Janeiro, LTC, 1988.
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de Pós-Graduação em Geotecnia, Deciv/EM/UFOP,
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3ª ed., Oficina de Textos, São Paulo, 2006
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de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2012.
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UFRJ/ Escola Politécnica, 2013
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Influência das Estruturas Reliquiares em Ensaios de Erodibilidade


Lucas Henrique Vieira
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, lucas.vieira@engenharia.ufjf.br

Mateus Lino Leite


COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mateuslleite.93@gmail.com

Tatiana Tavares Rodriguez


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

RESUMO: As estruturas reliquiares surgem quando características estruturais da rocha são


preservadas durante o processo de intemperismo. O presente trabalho tem como objetivo estudar a
influência das estruturas reliquiares em ensaios de laboratório a partir dos solos da região do bairro
Salvaterra em Juiz de Fora – MG. Para isso, foram executados ensaios de Dispersão pela NBR
13601 da ABNT (1996) e de Desagregação pelo procedimento prescrito por Santos e Camapum
(1998). Estes ensaios foram realizados em duas direções, denominadas Direção 1 e Direção 2, em
cinco solos diferentes, sendo eles: P3, P4, P5, SA e SR. No ensaio de dispersão estes solos foram
classificados, em sua maioria, como não dispersivos em ambas as direções, não havendo influência
das estruturas reliquiares. No ensaio de desagregação os resultados variaram, a depender da direção,
de Sem Resposta a Fraturamento e/ou Abatimento, configurando uma inflûencia das estruturas
reliquiares em alguns dos solos.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Estruturas reliquiares, Juiz de Fora.

1 INTRODUÇÃO características físicas do solo e do seu manejo.


(NBR 6502: 1995; VELOSO, 2002).
As rochas geralmente contém descontinuidades Por se tratar de um país com clima
estruturais, como juntas, falhas, fraturas, predominantemente tropical, caracterizado pela
clivagens e foliações, bem como estruturas elevada incidência de chuvas, o Brasil tem a
litológicas que podem se manifestar como erosão hídrica como principal meio de
inconformidades, laminações, alinhamento degradação do solo. Estima-se que as perdas por
mineral, etc. Quando características estruturais este tipo de erosão são de, aproximadamente,
da rocha são preservadas durante o processo de 500 milhões de toneladas de solo por ano.
intemperismo, ocorre o surgimento de estruturas A cidade de Juiz de Fora em Minas Gerais é
reliquiares presentes nos mantos de saprolito ou caracterizada por uma alta atuação antrópica e
solo residual jovem. Tais estruturas reliquiares extrema vulnerabilidade do meio físico,
podem exercer considerável influência sobre a contribuindo assim para uma erosão acelerada
estabilidade dos taludes nestes materiais (LEPSCH, 2002; ROCHA et al., 2003).
(MELO NETO, 2005). A erodibilidade pode ser estudada através de
A erosão pode ser definida como o processo ensaios realizados em campo e/ou em
mecânico de destruição e remoção dos solos por laboratório, como, por exemplo, os ensaios de
água. Caso ocorra dessa maneira, recebe o nome laboratório de dispersão e desagregação.
de erosão hídrica. A vulnerabilidade ou Este trabalho objetivou estudar a influência
suscetibilidade do solo frente à erosão é das estruturas reliquiares em ensaios de
chamada de erodibilidade. Esta é função das laboratório a partir dos solos da região do bairro
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Salvaterra em Juiz de Fora – MG. O estudo


considerou os resultados de alguns dos ensaios
realizados pelos dois primeiros autores em seus
trabalhos de conclusão de curso e, ainda, dos
projetos de pesquisa sobre Erodibilidade dos
Solos de Juiz de Fora.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Estruturas Reliquiares em Solos Residuais

Segundo o DNIT (2011), a estrutura reliquiar


está relacionada com os solos residuais cujo
comportamento mecânico é comandado pela
estrutura da rocha matriz. No caso de rochas
metamórficas, a xistosidade promove estruturas
reliquiares tão importantes quanto aquelas
devidas às falhas ou fraturas. A estrutura Figura 1. Orientação da estrutura em Rochas
metamórficas (DEERE E PATTON, 1971 apud VITTO,
xistosa, própria das rochas metamórficas, é 2016).
caracterizada pela orientação aproximadamente
paralela dos seus minerais, especialmente Estruturas reliquiares correspondem a
aqueles de hábito lamelar (como as micas, diversas feições geológicas presentes na rocha
cloritas e sericitas) e prismático (anfibólios e matriz e que persistem, sob diferentes graus de
piroxênios). Tal disposição orientada define um alteração, nas camadas de solos residuais jovens
plano de descontinuidade que facilita a (MACHADO, 2012). Essas feições geológicas
divisibilidade ou foliação da rocha segundo podem ser fraturas, falhas, juntas, clivagens,
planos paralelos ou subparalelos (Figura 1). foliações e outras. Na Figura 2 são apresentadas
algumas dessas estruturas reliquiares: (1)
descontinuidades estruturais (fraturas, falhas,
juntas); (2) material existente entre as
descontinuidades; (3) estruturas de alteração
(contatos entre horizontes de alteração) e (4)
estrutura litológica (foliação principal).

Figura 2. Perfil de alteração genérica em um maciço de


rocha foliada (Modificado de PELOGGIA, 2014).

Quanto à evolução estrutural dos solos


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residuais, deve-se considerar que a própria de argila dispersiva).


rocha matriz apresenta comportamento
anisotrópico frente aos processos intempéricos.
Este comportomanto anisotrópico ocorre pela 3 LOCAL DE ESTUDO
maior suscetibilidade de alteração de
determinados minerais, pela presença de planos O estudo desta pesquisa teve por base um local
mecanicamente menos resistentes (por exemplo situado na região do bairro Salvaterra, Avenida
foliações metamórficas) ou pelo fraturamento e Deusdedith Salgado em Juiz de Fora – MG,
falhamentos de origem mecânica. Desse modo, onde ocorrem feições erosivas.
é natural pensar que o solo residual mantém a A cidade é marcada pela formação geológica
estrutura da rocha de origem em menor ou denominada Complexo de Juiz de Fora que é
maior grau (VITTO, 2016). petrograficamente formado por rochas de
origem magmática e metassedimentar.
2.2 Ensaios de Erodibilidade Estruturalmente, essa formação geológica se
constitui de migmatitos, gnaisses e cataclasitos
O fenômeno erosão pode ser entendido, de uma e, secundariamente, de quartzitos encaixados
forma geral, como sendo uma sequência de em falhas. Os principais minerais presentes são
processos que resultam na fragmentação da anfibólios, quartzos e feldspatos.
estrutura do solo através do carreamento de suas A região em estudo é predominantemente
partículas. Os principais agentes de transporte formada por latossolos amarelo (PJF, 2014a)
são a água (erosão hídrica) e o vento (erosão originados de rochas como charnockitos e
eólica) (BERTONI e LOMBARDI NETO, granulitos (PJF, 2014b).
2005). Foram estudados solos encontrados em duas
De acordo com Bertoni e Lombardi Neto regiões diferentes: Região I (Feição erosiva) e
(1990), a erosão não é a mesma em todos os Região II (Talude de corte). Os solos coletados
solos. As propriedades físicas destes (estrutura, na Região I foram denominados de P3, P4 e P5
permeabilidade, densidade e outras) exercem (Figura 3). Os solos coletados na Região II
diferentes influências na erosão. foram denominados de Solo Rosa (SR) e Solo
Existem diversos ensaios geotécnicos que Amarelo (SA), conforme indicado na Figura 4.
buscam caracterizar a vulnerabilidade dos solos
frente à erosão. Essa caracterização pode ser
realizada através de ensaios diretos, que estão
essencialmente ligados à erodibilidade, e/ou
ensaios indiretos, cujos resultados são obtidos
através de correlações. Leite (2016) verificou
que os ensaios diretos diferenciam mais
precisamente os ofeitos ocorridos pelo
fenômeno da erosão.
Os ensaios diretos geralmente utilizados para
avaliar a erodibilidade são o Inderbtzen
(relacionado ao fenômeno de erosão
superficial), o ensaio de Desagregação
(relacionado ao fenômeno de submersão), o
Pinhole Test ou Ensaio do Furo de Agulha
(relacionado ao fenômeno de piping ou
entubamento), além do ensaio de Dispersão
(torrão) ou Crumb Test (relacionado à presença
Figura 3. Região I coleta das amostras. (VIEIRA, 2017).
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com a turbidez do fluido e nível de colóides


presentes. Foram realizados, ainda, ensaios com
água destilada para comparar com resultados
SR obtidos nos ensaios feitos em hidróxido de
sódio, conforme descrito na NBR 13601 da
ABNT (1996).

SA

Figura 4. Região II de coleta das amostras. (LEITE,


2016).

4 METODOLOGIA Figura 6. Ensaio de dispersão (VIEIRA et al., 2016).

4.1 Coleta de amostras Ao final do ensaio é atribuido um grau de


dispersão de acordo com a NBR 13601 da
As coletas de amostras indeformadas para os ABNT (1996), sendo:
ensaios de desagregação foram realizadas em
duas direções diferentes. A Figura 5 ilustra as  Grau 1 (Não-Dispersivo) quando o torrão
duas situações, onde a Direção 1 é pode absorver água, sofrer esboroamento
perpendicular às estruturas e a Direção 2 é e esparramar no fundo do béquer, mas não
paralela às mesmas. ocorrer turvação do líquido;
 Grau 2 (Levemente Dispersivo) quando
há indícios de turvação da água próxima à
superfície do torrão;
 Grau 3 (Moderadamente Dispersivo)
quando for observada nuvem de colóides
em suspensão, tendo geralmente finos
veios espalhandos no fundo do béquer;
 Grau 4 (Fortemente Dispersivo), quando
for observada nuvem coloidal, que
gerlamente é uma película muito fina
cobrindo o fundo do béquer. Em casos
Figura 5. Direções de coletas (VIEIRA, 2017).
extremos, toda a água se torna turva.

4.2 Dispersão Os solos de graus 1 e 2 são classificados


como não-dispersivos e os de grau 3 e 4 como
O ensaio de dispersão (Figura 6) consiste na dispersivos.
colocação de um torrão de solo em béquer de
150 ml cheio de solução 0,001 N de NaOH 4.3 Desagregação
(hidróxido de sódio). Após uma hora de
repouso, o solo é classificado quanto à O ensaio de desagregação (Figura 7) consiste na
dispersão através de análise visual de acordo colocação de uma amostra cúbica, de 6,0 cm de
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aresta dentro de uma bandeja com água, de prova esféricos, o que contribui para que
observando-se a sua reação ao fenômeno de toda a superfície esteja em contato com o meio
submersão. O ensaio foi realizado com dispersivo. Em razão desta geometria, a
inundação controlada em estágios seguindo o estrutura reliquiar do solo não influencia nos
procedimento descrito por Santos e Camapum resultados.
(1998) apud Rodriguez (2005). A Tabela 1 contém os resultados, referentes
aos solos da Região I, apresentados por
Rodriguez et al. (2016) quando ensaiados em
água destilada e hidróxido de sódio.
Considerando a dispersão em água, a
classificação para todos os solos é de não-
dispersivos (Graus 1 e 2), independente da
condição de umidade. No caso da dispersão em
NaOH, os solos na condição úmida mantiveram
a classificação de não-dispersivos (Graus 1 e 2),
porém, na condição seca ao ar, os solos
passaram para dispersivos (Grau 3).
Figura 7. Ensaio de desagregação (VIEIRA et al., 2016).
Tabela 1.Região I:Dispersão (RODRIGUEZ et al., 2016)
Ao fim do ensaio, as amostras são Dispersão
classificadas de acordo com os seguintes Água NaOH
Amostra
termos: P3 P4 P5 P3 P4 P5
Seca ao Ar 1 2 1 3 3 3
 “Sem Resposta” no caso em que a Úmida 1 1 1 1 2 1
amostra mantem sua forma e tamanho
originais; A Tabela 2 contém os resultados, referentes
 “Abatimento” (Slumping) no caso da aos solos da Região II, apresentados por Leite
amostra se desintegrar e formar uma (2016). Considerando as amostras secas ao ar, o
pilha de material desestruturado; ensaio de dispersão classifica todos os solos
 “Fraturamento” no caso da amostra se como dispersíveis (Grau 3), exceto o SR
quebrar em fragmentos, mantendo a quando ensaiado em água que recebe a
forma original das faces externas; classificação de não-dispersivo (Grau 2). Com
 “Dispersão” no caso em que as paredes as amostras úmidas, todos os solos como
da amostra se tornam difusas com o dispersíveis (Grau 3 e 4), exceto o SA quando
surgimento de uma nuvem coloidal que ensaiado em água que recebe a classificação de
cresce à medida que a amostra se não-dispersivo (Grau 2).
dissolve.
Ressalta-se que, à excessão da classificação Tabela 2. Região II: Dispersão (LEITE, 2016).
“Sem Resposta”, a amostra pode ser Dispersão
classificada por mais de um dos termos. Água NaOH
Amostra
SR SA SR SA
Seca ao Ar 2 3 3 3
5 RESULTADOS Úmida 3 2 3 4

5.1 Dispersão 5.2 Desagregação

O ensaio de dispersão é realizado com corpos Para o ensaio de desagregação, nos solos da
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Região I e II, foram ensaiadas amostras onde a


foliação estava perpendicular à base do
recipiente (amostras coletas na Direção 2,
conforme Figura 5). No caso dos solos da
Região I, foram ensaiadas, ainda, amostras em
que a sua foliação ficasse paralela à base do
recipiente (amostras coletadas na Direção 1
conforme Figura 5) (VIEIRA et al., 2016,
LEITE, 2016).
(a) (b)
Durante os ensaios dos solos da Região II,
foi identificado que os fraturamentos nos corpos
Figura 9. (a) Fissura por abertura nas foliações, (b)
de prova ocorreram de maneiras diferentes. Fissura por abertura na estrutura reliquiar (VIEIRA,
Quando ensaiado na Direção 1, o fraturamento 2017).
somente ocorreu quando havia uma estrutura
reliquiar (fissura) no corpo de prova. Já nos
ensaios realizados na Direção 2, o fraturamento
ocorreu devido às estruturas reliquiares
(xistosidades) ou à pressão exercida pela água
destilada enquanto saturava a amostra no
avançar dos estágios. Como na Direção 2, a
estrutura do solo está perpendicular à pedra
porosa da base, a ação da poropressão é
favorecida, e consequentemente o fraturamento
ocorre de maneira mais frequente. A Figura 8
ilustra um exemplo de fraturamento na fase
inicial devido à fissura reliquiar na Direção 1 Figura 10. Fissuras por aberturas na estrutura reliquiar
para o P5. (BARRA, 2014).

Ao fim dos ensaios, os solos da Região II


foram classificados e os resultados obtidos estão
representados na Tabela 3, tanto para os solos
ensaiados na Direção 1 (dados de Vieira et al.,
2016) quanto para os solos ensaiados na
Direção 2 (VIEIRA, 2017).

Figura 8. Fraturamento por fissura pré-existente no P5


(RODRIGUEZ et al., 2016).

As Figuras 9 e 10 detalham os fraturamentos


devido ao posicionamento perpendicular das
estruturas reliquiares para as amostras P3 e P4
(Figura 9) e SA e SR (Figura 10).
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Tabela 3. Resultados do ensaio de desagregação - Região dessas estruturas. Quando o ensaio foi realizado
II (VIEIRA, 2017). em posição desfavorável à foliação do solo
Desagregação
(Direção 2), o fraturamento ocorreu não só nas
Direção 1
Amostra estruturas reliquiares, mas também na direção
P3 P4 P5
desta.
Fraturamento
Úmida Abatimento Sem Resposta
Abatimento
O SA da Região II apresentou durante o
ensaio de dispersão, para condições de campo
Fraturamento (amostra úmida e solução de água) um
Seca ao Ar Sem Resposta Abatimento
Abatimento
comportamento pouco erodível, enquanto o SR
Direção 2 apresentou dispersão elevada. Estes resultados
Amostra
P3 P4 P5 corroboram com a tese de que o SR é
Fraturamento “naturalmente” erodível enquanto a
Úmida Fraturamento Sem Resposta
Abatimento erodibilidade do SA é dependente do
Fraturamento Fraturamento posicionamento das estruturas reliquiares.
Seca ao Ar Fraturamento
Abatimento Abatimento
Todos os solos da Região I apresentaram
A Tabela 4 apresenta as classificações comportamento similar, e até menos erodível
obtidas para os solos da Região I, que foram que o SA nos ensaios de dispersão. Visto isso, é
ensaiados apenas na Direção 2 e com amostras explícita a influência do posicionamento das
úmidas. estruturas reliquiares na avaliação da
erodibilidade em ensaios de desagregação.
Tabela 4. Resultados do ensaio de desagregação - Região Logo, quando se tratar de ensaios em amostras
I (LEITE, 2016). indeformadas que tenham algum tipo de
Desagregação estrutura, é importante posicionar as amostras
no ensaio de acordo com a posição real de
Amostra Úmida SR AS campo para que se obtenham resultados e
Estágio 1 Sem Resposta Sem Resposta classificações que representem a realidade.
Slumping e Slumping e
Estágio 2
Fraturamento Fraturamento
Slumping e Slumping e
REFERÊNCIAS
Estágio 3
Fraturamento Fraturamento
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Slumping e Slumping e
Estágio 4 (1995) NBR 6502 - Rochas e solos. Rio de Janeiro,
Fraturamento Fraturamento RJ, BR. 18 p.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (1996)NBR 13601–Solo – Avaliação da
6 CONCLUSÕES dispersibilidade de solos argilosos pelo ensaio do
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O ensaio de dipersão, como já foi dito não é Solos do Talude do Cultural em Juiz de Fora.
influenciado pelas estruturas reliquiares do solo. Relatório de pesquisa - Universidade Federal de Juiz
No ensaio de desagregação, as amostras de Fora, MG, 24 p.
ensaiadas na Direção 1 apresentaram BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. (1990)
Conservação do solo. 3ª ed., São Paulo: Ícone
predominância de Abatimento ou Sem Editora, SP, 355 p.
Resposta. Já na Direção 2 houve predominância BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. (2005)
de Fraturamento e/ou Abatimento. Portanto, as Conservação do solo. 5. ed. São Paulo: Ícone.
estruturas reliquiares influenciaram neste DEERE, D. U., PATTON, F. D. (1971) Slope stability in
ensaio, visto que, quando realizado em posição residual soils. In: PAN. CONF. SOIL MECH.
FOUND. ENG., 4. Puerto Rico, 1971. Proceedings...
favoravel à foliação do solo (Direção 1), o Puerto Rico, ISSMFE, 87-170 p.
fraturamento ocorreu somente na existência
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Avaliação da resistência não drenada de dois solos artificiais por


diferentes ensaios de laboratório
Luiza Vargas Eichelberger
Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
luiza_ve@hotmail.com

Camila Larrosa Oliveira


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
camila.larrosa@yahoo.com.br

Cezar Augusto Burkert Bastos


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
cezarbastos@furg.br

Antonio Marcos de Lima Alves


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
antonioalves@furg.br

Diego de Freitas Fagundes


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
dffagundes@gmail.com

RESUMO: Uma das propriedades geotécnicas de grande interesse em projetos envolvendo solos
finos é a resistência não drenada (Su), resistência ao cisalhamento oferecida pelo solo quando
solicitado rapidamente, sem drenagem da água intersticial. Muitos fatores afetam a resistência não
drenada de solos finos coesivos, dentre eles a mineralogia e estrutura, a história de tensões, a
velocidade de deformação e o modo de ruptura, logo não se concebe um valor único de Su para um
solo. O trabalho tem-se por objetivo avaliar a resistência não drenada de solos artificiais, produzidos
com caulim e bentonita e previamente adensados, utilizando-se de ensaios de compressão triaxial
não adensados não drenados (UU), ensaio de palheta de laboratório e ensaios de cone de queda livre
(fall cone test). Os resultados confirmaram a esperada elevação da resistência não drenada com o
adensamento do material, entretanto, em termos relativos, os valores diferem significativamente
conforme a técnica laboratorial empregada.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência Não Drenada, Solos Artificiais, Ensaios de Laboratório, Ensaio


de Cone de Queda Livre.

1 INTRODUÇÃO Uma das propriedades geotécnicas destes


solos, de grande interesse na maioria dos
Em obras litorâneas e offshore é comum o projetos, é a resistência não drenada (Su),
envolvimento com solos de propriedades entendida como a resistência ao cisalhamento
geotécnicas desfavoráveis, como é o caso de oferecida pelo solo quando solicitado
solos sedimentares finos de origem marinha rapidamente, sem que haja condição de
com consistência média até muito mole. drenagem da água intersticial. Esta situação
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costuma ser crítica, pois são comuns condições drenados (UU), ensaios de palheta e ensaios de
onde a aplicação de cargas ocorre em tempo cone de queda livre e, com isso, subsidiar outras
menor à possibilidade de drenagem do solo pesquisas aonde estes solos artificiais virão a
fino. Logo, trata-se de um parâmetro representar solos naturais moles em modelos
imprescindível nas fases de concepção de físicos para estudos de fundações e aterros
soluções, dimensionamento e avaliação de reforçados.
segurança das obras geotécnicas.
Somado ao emprego em projetos, o estudo
do comportamento de estruturas de fundações e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
de aterros reforçados sobre solos moles, através
de modelos físicos reduzidos, depende do 2.1 Materiais utilizados
conhecimento da resistência não drenada dos
materiais que vêm a representar o solo mole Na pesquisa foi utilizado caulim rosa produzido
nestes modelos. pela Indústria de Calcários Caçapava (Inducal).
O Grupo de Geotecnia FURG já tem um A bentonita sódica utilizada, da marca
histórico em estudos experimentais com o Schneider, é de natureza comercial e empregada
emprego de solos artificiais. Alves et al. (2010) por empresas de sondagem da região.
apresentam resultados de ensaios de palheta de
laboratório realizados em misturas de caulim, 2.2 Ensaios de caracterização
bentonita e água destilada. Foram testados três
traços para as misturas, variando-se o teor de Foram realizados os ensaios clássicos de
bentonita. As amostras confeccionadas foram caracterização geotécnica com o caulim e com a
adensadas sob três diferentes níveis de tensões. mistura caulim e bentonita: análise
Pinto (2010) avaliou a aplicação do granulométrica, limites de Atterberg e peso
equipamento de cone de queda livre de específico real dos grãos.
laboratório na caracterização da plasticidade e
resistência não drenada de misturas de solo 2.3 Preparação e adensamento dos solos
artificial, produzido em laboratório desde artificiais
misturas de caulim, bentonita, areia e água.
Neste estudo os ensaios de cone de queda livre Os solos artificiais foram produzidos a partir de
e de Casagrande foram comparados na lamas de caulim e água destilada (solo T0-0) e
determinação dos limites de liquidez e de caulim, bentonita e água destilada (solo T30-0),
plasticidade dos solos, e um breve estudo a elaboradas com teores de umidade próximos aos
respeito da estimativa da resistência não respectivos limites de liquidez, homogeneizadas
drenada a partir do ensaio de cone foi realizado. em misturadora elétrica (Figura 1). No caso do
Em Rosa et al. (2013) e Bastos et al. (2014) são solo T30-0, a mistura do caulim e bentonita foi
apresentados resultados de cone frente realizada na condição seca, previamente a
resultados de ensaios de palheta de amostras adição de água destilada na produção da lama.
adensadas de traços de solo artificial, onde o Para cada um dos solos, depois de
modelo exponencial da relação penetração x Su homogeneizada, a lama foi disposta em três
proposto por Hansbo (1957) foi confirmado. moldes metálicos e adensada com
O presente trabalho tem por objetivo carregamentos por pesos metálicos sobrepostos
principal avaliar em laboratório a resistência (Figura 2). Cada molde destina-se a uma das
não drenada (Su) de dois solos artificiais, tensões de adensamento selecionadas: 12,5, 25 e
produzidos a partir de caulim e bentonita e 50 kPa. Os recalques da lama em cada molde
previamente adensados, utilizando-se de ensaios foram monitorados no tempo, permitindo o
de compressão triaxial não adensados não acompanhamento do processo de adensamento.
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Os solos adensados em cada molde para o solo


T(0-0) foram identificados como T(0-0)-
12,5kPa, T(0-0)-25kPa e T(0-0)-50kPa e para o
solo T(30-0) como T(30-0)-12,5kPa, T(30-0)-
25kPa e T(0-0)-50kPa.

Figura 3. Vista superior com posicionamento da obtenção


dos corpos de prova e locais da realização dos ensaios.

O anel para ensaio de adensamento


(quadrante superior esquerdo) foi obtido na
porção superior do mesmo quadrante onde foi
Figura 1. Misturadora utilizada na produção dos solos realizado o ensaio de cone, visto que este último
artificiais. é realizado em subsuperfície, visando coincidir
com o plano de corte do ensaio de palheta.

2.4 Ensaios de adensamento

A partir dos anéis metálicos moldados do solo


adensado em cada um dos moldes, foram
realizados ensaios de adensamento em célula
oedométrica e prensa convencional (Figura 4).
Os carregamentos incrementais foram
conduzidos de 6,25 a 400 kPa, com estágios de
no mínimo 24 horas (solo T(0-0)) e 48 horas
(solo T(30-0)) de duração. O objetivo dos
ensaios foi aferir a tensão de pré-adensamento
(a) (b) adquirida pelo solo artificial com as sobrecargas
Figura 2. (a) Disposição e (b) adensamento da lama. aplicadas.

Em cada molde de lama adensada, agora 2.5 Ensaios triaxiais


chamada de solo artificial, foram realizados os
vários ensaios, conforme esquema mostrado na O ensaio de compressão triaxial tipo UU,
Figura 3. condição não adensada e não drenada, é uma
No solo artificial foram realizados ensaios técnica tradicional na obtenção da resistência
triaxiais, ensaios de palheta e de penetração de não drenada em laboratório.
cone de queda livre, assim como moldado anel Neste ensaio, um corpo de prova cilíndrico
metálico para ensaio de adensamento. de pequenas dimensões é submetido a um
estado de tensões isotrópico dentro de uma
câmara, por meio da pressurização do fluído no
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seu entorno (tensão de confinamento) e


posteriormente submetido à ruptura por carga
axial a velocidade constante (tensão
desviadora). Em nenhuma das fases é permitida
a drenagem do fluído intersticial que ocupa os
poros do corpo de prova.

Figura 6. Obtenção de Su a partir de ensaios de


compressão triaxial UU (PINTO, 2000).

Os ensaios triaxiais foram realizados em


corpos de prova cilíndricos 3,5 x 7,0 cm, em
equipamento da marca Wille Geotechnik®
(Figura 7). O equipamento consiste em um
sistema de interface ar-água para aplicação de
pressões e uma prensa elétrica automatizada
para aplicação do carregamento axial. Quanto à
instrumentação empregada, as deformações
axiais foram medidas por transdutor de
deslocamento (do tipo LVDT), as pressões de
Figura 4. Ensaio de adensamento. confinamento e de contrapressão aferidas por
transdutor de pressão e a carga axial medida por
Um esquema de uma câmara triaxial é célula de carga externa. Os instrumentos foram
apresentado na Figura 5. Os estados de tensões previamente calibrados e a aquisição de dados
de diferentes ensaios sem drenagem sob realizada por unidade Spider® da HBM,
pressões de confinamento variadas, gerenciada pelo software Catman®. A
representados por círculos de Mohr, indicam velocidade de compressão axial empregada foi
uma envoltória de resistência horizontal, cujo de 1 mm/min A Figura 8 ilustra o arranjo
intercepto no eixo das tensões cisalhantes é o experimental completo.
valor de Su (Figura 6).

Figura 5. Esquema de uma câmara para ensaios de


compressão triaxial (PINTO, 2000).
Figura 7. Corpo de prova na câmara triaxial.
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cone de 30º de vértice, caindo em queda livre


com sua ponta inicialmente posicionada na
superfície da amostra de solo. Os ensaios foram
realizados em meio a quadrantes do corpo
cilíndrico de solo adensado, num plano situado
a 6 cm de profundidade, de forma a igualar a
profundidade de cisalhamento nos ensaios de
palheta (Figura 12).

Figura 8. Arranjo experimental para os ensaios triaxiais

2.6 Ensaios de palheta

O equipamento empregado para o ensaio de


palheta é da marca Viatest®, de operação
manual (Figura 9). O ensaio consiste em cravar
a palheta, com 12,7 mm de altura e 12,7 mm de
largura, no solo artificial até uma profundidade
de 6 cm e girar sob velocidade constante,
medindo o torque necessário para romper o solo
por cisalhamento no entorno da mesma (Figura
10). Dada a velocidade do giro, o cisalhamento
é considerado se dar em condição não drenada.
A resistência não drenada é relacionada com o
torque medido (Equação 1).

Mtotal Figura 9. Equipamento de ensaio de palheta.


Su =
H D
π ⋅ D2 ⋅ ( ⋅ )
2 6 (1)
onde: Mtotal = torque necessário para ruptura do
solo por cisalhamento; D = diâmetro da palheta
e H = altura da palheta.

2.7 Ensaios de cone de queda livre

O equipamento de ensaio de cone de queda livre


empregado é da marca Solotest® (Figura 11). A
norma britânica BS 1377 (1990) indica os
procedimentos básicos do ensaio, que consiste
Figura 10. Detalhe da palheta preparada para cravação no
em quantificar (em mm) a penetração de um solo adensado.
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Os valores de resistência não drenada a partir


dos resultados do cone de penetração foram
determinados a partir da relação de Hansbo
(1957) (Equação 2).

Su = K (Q/d2) (2)

onde: Q = peso do cone; d = penetração na


massa de solo e K = constante que depende,
dentre outros fatores, do ângulo do cone. Este
parâmetro tem o nome de Fator de Cone de
Hansbo.
A determinação do teor de umidade do solo
artificial na profundidade dos ensaios
acompanhou os ensaios de cone e palheta, pois
se trata de um importante dado para análise.

3 RESULTADOS

3.1 Caracterização geotécnica dos solos


Figura 11. Equipamento para ensaio de cone.
A Tabela 1 apresenta os resultados da análise
granulométrica com uso de defloculante e os
resultados de plasticidade do solo através dos
limites de Atterberg. As frações
granulométricas foram definidas segundo
ABNT NBR 6502/95 (Solos e Rochas). A
Figura 13 apresenta a curva granulométrica
obtida para os solos T(0-0) e T(30-0).
De acordo com os dados da caracterização
geotécnica foi possível classificar o solo T(0-0)
como um silte argiloso de mediana plasticidade,
com classificação ML pelo Sistema Unificado e
A4(8) pelo sistema HRB-AASHTO. O solo
T(30-0) é classificado como MH e A-7-5(20).
O Índice de Atividade Coloidal do solo T(0-0) é
0,20, caracterizando-o como de baixa atividade
coloidal, condizente com a mineralogia de
argila dominante (caulinita). Já para o solo
T(30-0) o índice passa a ser 0,88, passando o
solo a ser considerado de atividade normal.

Figura 12. Detalhe do ensaio de cone em execução.


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Tabela 1. Granulometria e plasticidade dos índice de vazios. A Tabela 2 apresenta o resumo


solos. dos resultados.
T0-0 - Granulometria
Pedregu Areia Areia Areia Silte Argila Tabela 2. Tensões de adensamento dos corpos de prova
-lho Grossa Média Fina estimadas a partir dos ensaios.
Teor de Tensão de
(%) (%) (%) (%) (%) (%) Índice de
umidade adensamento
Solo vazios
0 1 2 12 50 35 inicial estimada
inicial
T0-0 - Plasticidade (%) (kPa)
Limite de Limite de Índice de T(0-0)-12,5kPa 41,9 1,024 14,5
liquidez plasticidade plasticidade T(0-0)-25kPa 40,0 0,996 23,1
(wl) (wp) (IP) T(0-0)-50kPa 40,6 1,005 30,0
(%) (%) (%) T(30-0)-12,5kPa 121,0 3,060 16,6
39 32 7 T(30-0)-25kPa 107,6 2,668 22,4
T30-0 Granulometria T(30-0)-50kPa 108,4 2,722 23,2
Pedregu Areia Areia Areia Silte Argila
-lho Grossa Média Fina
Apesar de toda incerteza inerente a
(%) (%) (%) (%) (%) (%) determinação da tensão de pré-adensamento por
0 0 3 12 41 44 método gráfico, a tendência de aumento do T(0-
T30-0 Plasticidade 0)-12,5kPa ao T(0-0)-50kPa foi confirmada. A
Limite de Limite de Índice de mesma tendência não é tão clara para o solo
liquidez plasticidade plasticidade T(30-0). A redução na condição de drenagem
(wl) (wp) (IP) imposta pela presença de bentonita neste último
(%) (%) (%)
pode justificar menor eficiência no
80 41 39
Pedregulho: > 2 mm; areia grossa: 0,6-2 mm; areia média:
adensamento do solo no molde. Por outro lado
0,2-0,6 mm; silte: 0,002-0,06 mm; argila: < 0,002 mm. uma redução no teor de umidade e, por
IP = wl – wp consequência, no índice de vazios era esperada
no mesmo sentido, entretanto, não se verifica. A
100 pequena diferença aliada à precisão na
%
90 quantificação do teor de umidade pelo método
p
80
da estufa pode justificar.
70
a
60
s
50
T0-0
3.3 Resistência não drenada
T30-0
s
40
a
30 Conforme apresentado no item 2, a resistência
n
20 não drenada dos solos adensados sob três
t 10 diferentes tensões foi avaliada por três métodos
e 0
0,001 0,01 0,1 1 10 distintos: por ensaios triaxiais do tipo UU, por
Diâmetro dos grãos em mm ensaios de palheta e por ensaios de cone de
Figura 13. Curvas granulométricas dos solos. queda livre. Os dois primeiros podem ser
considerados métodos diretos de determinação.
Já para o ensaio de cone de queda livre foi
3.2 Tensões de pré-adensamento empregada uma relação penetração x Su
(Hansbo, 1957).
Os ensaios de adensamento convencionais em A Tabela 3 traz os resultados de resistência
câmara oedométrica permitiram aferir a tensão não drenada dos solos desde ensaios triaxiais.
de adensamento dos solos. A estimativa foi
realizada com base na aplicação do método de
Pacheco-Silva às curvas log tensão efetiva x
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O solo T(0-0)-12,5kPa, muito mole, não Tabela 4. Valores de resistência não drenada (Su) a partir
permitiu a moldagem do corpo de prova para o dos ensaios de palheta
Teor de Torque Su
ensaio triaxial.
Solo umidade médio médio
(%) (N.mm) (kPa)
Tabela 3. Valores de resistência não drenada (Su) a partir T(0-0)-12,5kPa 44,4 10,9 2,5
dos ensaios triaxiais UU
T(0-0)-25kPa 40,3 15,3 3,6
Teor de Su
Índice de Su T(0-0)-50kPa 40,6 24,1 5,6
Solo umidade médio
vazios (kPa) T(30-0)-12,5kPa 109,3 20,1 4,7
(%) (kPa)
T(0-0)-25kPa T(30-0)-25kPa 108,4 38,0 8,6
26,2 0,796 4,6
(CP1) T(30-0)-50kPa 104,7 38,3 9,4
5,3
T(0-0)-25kPa
40,3 0,791 6,0
(CP2) Tabela 5. Valores de resistência não drenada (Su) a partir
T(0-0)-50kPa dos ensaios de cone de queda livre
40,6 0,698 9,5 9,5
Penetração
T(30-0)-12,5kPa Teor de Su
125,8 3,073 6,5 do cone
(CP1) Solo umidade médio
média
T(30-0)-12,5kPa (%) (kPa)
124,7 3,379 7,3 (mm)
(CP2) T(0-0)-12,5kPa 44,4 21,1 1,5
7,1
T(30-0)-12,5kPa T(0-0)-25kPa 40,3 14,9 2,8
133,5 3,106 9,7
(CP3)
T(0-0)-50kPa 40,6 13,2 3,7
T(30-0)-12,5kPa 5,0
123,11 3,158 T(30-0)-12,5kPa 109,3 15,7 5,0
(CP4)
T(30-0)-25kPa T(30-0)-25kPa 108,4 10,9 10,5
143,5 3,915 12,1 104,7 10,2 12,1
(CP1) T(30-0)-50kPa
T(30-0)-25kPa
156,8 3,479 12,0
(CP2) A Figura 14 reúne os valores de Su obtidos
10,3
T(30-0)-25kPa
(CP3)
118,3 2,739 6,0 por diferentes técnicas para os solos artificiais
T(30-0)-25kPa adensados.
105,3 2,688 11,0
(CP4)
T(30-0)-50kPa 16
102,3 2,590 16,0 T(0-0) triaxial
(CP1) 14
T(30-0)-50kPa T(0-0) palheta
100,5 2,396 14,9 14,1 12
(CP2)
T(30-0)-50kPa 10 T(0-0) cone
93,3 2,384 11,4
Su (kPa)

(CP3) 8
T(30-0) triaxial
6
A outra medida direta da resistência não T(30-0) palheta
4
drenada foi dada pelo ensaio de palheta. A
Tabela 4 apresenta os resultados obtidos com os 2 T(30-0) cone
ensaios. 0
0 10 20 30 40 50
A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos Tensão de pré-adensamento (kPa)
com os ensaios de cone de queda livre. Constam Figura 14. Valores de Su obtidos por diferentes técnicas
os valores médios de penetração (em mm) e a para os solos artificiais adensados
estimativa de Su a partir da Equação 2,
utilizando-se o fator de cone K = 0,80, sugerido A tendência esperada de acréscimo da
por Karlsson (1977). resistência não drenada com a tensão de pré-
adensamento é confirmada. Comparando os
resultados entre os solos, percebem-se maiores
valores de Su para o solo T(30-0). Entende-se
que a adição de bentonita contribuiu para o
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aumento da parcela coesiva da resistência ao solos, assim como apontam que os valores
cisalhamento do solo. diferem significativamente conforme a técnica
Os valores de resistência não drenada empregada na obtenção de Su e com o tipo de
diferem significativamente em função da solo ensaiado.
técnica experimental empregada na sua medida. A pesquisa tem continuidade com a
Diferentes mecanismos de ruptura em cada realização do mesmo rito experimental para
ensaio, afetados pela velocidade de solos artificiais de composição diversificada a
cisalhamento podem explicar tais diferenças. partir da incorporação de bentonita em outros
Para os dois solos artificiais os ensaios triaxiais teores.
forneceram maiores valores de Su.
Mesmo entre valores de resistência obtidos
diretamente de ensaios de palheta e estimados a AGRADECIMENTOS
partir dos ensaios de cone de queda livre existe
uma diferença significativa. Cabe destacar que o Ao CNPq pelo apoio a pesquisa na forma de
fator de cone adotado seguiu indicação clássica bolsas de iniciação científica.
publicitada na literatura. Existem estudos
apontando que este fator varia com o tipo de
solo. REFERENCIAS
Outra importante observação a partir da
Figura 14 é de que a taxa de elevação da Alves, A.M.L.; Costa, S.C.K.; Bastos, C.A.B. Resistência
resistência não drenada com a tensão de pré- ao cisalhamento de misturas caulim-bentonita através
de ensaio de palheta miniatura. Congresso Brasileiro
adensamento (a relação Su/σ’v0 ou Razão de de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
Resistência) apresentou extrema variação com 2010, Gramado/RS. Anais... Gramado/RS: ABMS,
os solos investigados. Para o solo T(0-0) tem–se 2010. CD-ROM
a relação Su/σ’v0 variando de 0,14 a 0,20 Bastos, C.A.B.; Alves, A.M.L.; Pereira, M.C.; Rosa,
(excluindo da análise os ensaios triaxiais por K.L.; Viegas, M.R.; Jesus, S.H.G. Estudo sobre a
resistência não drenada de solos finos pelo ensaio de
somente se ter dois pontos experimentais) e cone de queda livre empregando amostras de solos
para o solo T(30-0) variando de 0,72 a 1,03 artificiais. Congresso Brasileiro de Mecânica dos
conforme a técnica. Cabe destacar que estes Solos e Engenharia Geotécnica, 2014, Goiânia/GO.
últimos valores são bem superiores àqueles Anais... Goiânia/GO: ABMS, 2014. CD-ROM
sugeridos na literatura para solos naturais British Standard Methods of test for soils for Civil
Engineering purposes. British Standard Institution.
normalmente adensados. n.1377. 1990.
Hansbo, S. A new approach to the determination of the
shear strength of clay by the fall-cone test.
4 CONCLUSÕES Proceedings Royal Swedish Geotechnical Institute, nº
14, 1957, p.7-47.
Karlsson, R. (in cooperation with the laboratory
O trabalho proposto atingiu seu objetivo ao committee of the Swedish Geotechnical Society).
obter resultados de resistência não drenada de 1977. Consistency limits. Document D6: 1977.
solos artificiais produzidos com caulim e Pinto, C.S. Curso básico de Mecânica dos Solos em 16
bentonita. Os solos foram pré-adensados sob aulas. São Paulo: Oficina de Textos, 2000, 247p.
Pinto, P.B. Aplicação do penetrômetro de cone de
diferentes tensões (12,5, 25 e 50 kPa) e tiveram
laboratório na caracterização da plasticidade e
Su avaliado diretamente por ensaios triaxiais resistência não drenada de solos argilosos. Trabalho
não adensados não drenados e ensaios de de Conclusão em Engenharia Civil Empresarial,
palheta de laboratório, e, indiretamente, por Escola de Engenharia – FURG, Rio Grande/RS, 2010,
ensaios de cone de queda livre de laboratório. 66p.
Rosa, K.L.; Bastos, C.A.B.; Alves, A.M.L. Avaliação da
Os resultados confirmam a elevação da
consistência de solos com a utilização do Ensaio de
resistência não drenada com o adensamento dos Cone de Queda Livre (“Fall Cone Test”). VII
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Seminário de Engenharia Geotécnica do Rio Grande


do Sul, 2013, Santa Maria/RS. Anais... Santa
Maria/RS: ABMS-NRRS, 2013. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/geors2013/. Acesso em 07/3/2017.
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Isotropia a Pequenas Deformações de Solo Artificialmente


Cimentados
Carina Silvani
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, carinasilvani@hotmail.com

Estéfano Menger
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, menger.estefano@gmail.com

Nilo Cesar Consoli


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br

RESUMO: O Módulo Odométrico a Pequenas Deformações (M0) e o Módulo de Cisalhamento a


Pequenas Deformações (G0) de amostras cubicas de areia estabilizada com cimento e de cinza
volante estabilizada com cal com 0, 1, 3, 7, 14 e 28 dias de cura, foram medidos por meio da
propagação de ondas ultrassônicas visando a avaliação de sua isotropia. Esta foi avaliada pela razão
entre o M0 das faces x e y e z, sendo z que a direção de compactação, nos diferentes tempos de cura
citados anteriormente. Quanto mais próximo da unidade esta relação, mais isotrópicas são as faces.
O mesmo procedimento foi adotado para G0. Encontrou-se que M0 e G0, de cada amostra, é igual
nas três direções em todas as condições estudadas. Com isso, dentro das condições e limites
específicos deste estudo pode-se concluir que: os solos cimentados apresentam isotropia quando M0
e G0 são considerado.

PALAVRAS-CHAVE: Módulo Odométrico a Pequenas Deformações (M0), Módulo de


Cisalhamento a Pequenas Deformações (G0), Ondas Ultrassônicas, Isotropia

1 INTRODUÇÃO cimentados, em amostras cubicas, quanto a


isotropia de sua rigidez às pequenas
A estabilização química é uma das mais deformações.
antigas técnicas empregadas pelo homem no
melhoramento de solos. Porém, o conhecimento 2 MEDIDAS DE RIGIDEZ
sobre este material é limitado e a sua
modelagem é, em geral, executada utilizando Existem vários métodos para a obtenção da
modelos constitutivos para solo ou para rigidez de solos às pequenas deformações:
concreto. Porém, solos cimentados tem coluna ressonante, bender/extender elements e
propriedades diferentes dos solos naturais, técnicas ultrassônicas. Neste trabalho, devido a
especialmente quando considerados a facilidade de operação, será utilizada a técnica
resistência a tração e a rigidez. de ultrassônica Pulse Velocity. Esta técnica
Os modelos clássicos para solos adotam, consiste na geração de um pulso, transmissão
entre outras, a hipótese que o material apresenta através do meio desejado, recepção e
isotropia de suas propriedades. Porém, devido a amplificação do sinal, medição e finalmente
maioria dos ensaios geotécnicos ser realizados cálculo do tempo de viagem. Esta técnica pode
em amostras cilíndricas esta hipótese não pode ser executada por meio de transmissores
ser testada facilmente. ultrassônicos de ondas, bender/extender
Neste contexto o presente projeto visou elements ou um de impacto externo. (GRANJA
investigar o comportamento de solos et. al. 2014)
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Long, (2000) mostra que a técnica Pulse 3 MATERIAIS E METODOS


Velocity envolve a propagação e a detecção de
uma vibração mecânica que interagiu com a 3.1 Materiais Utilizados
estrutura testada. Quando a superfície de um
sólido semi-infinito é excitada por uma força Os aglomerantes usados foram: cal e cimento,
mecânica que varia com o tempo, energia é devido a ampla utilização destes na
irradiada da fonte no formato de três tipos de estabilização de solos. O cimento utilizado
ondas elásticas. A onda de maior velocidade é neste estudo foi o cimento Portland de alta
chamada de onda longitudinal ou P. A resistência inicial, designado CP V-ARI (NBR
velocidade das ondas P (Vp) é função do 5733 – ABNT, 1991), cuja caracterização é
Modulo de Young dinâmico, do coeficiente de apresentada na Tabela 1. A cal utilizada no
Poisson (edo peso específico do material (). trabalho é do tipo hidratada dolomítica e a sua
Vp é dada pela equação 1. caracterização é apresentada na Tabela 2.
(1)
Tabela 1- Propriedades do Cimento Utilizado
Propriedades Resultados Limite da NBR 5733
Resíduo
insolúvel 0,68 % ≤1,0
A segunda onda mais rápida é a onda de Perda ao fogo 2,55 % ≤4,5
cisalhamento ou onda transversa ou ainda onda Oxido de
S. Esta causa um movimento das partículas magnésio
(MgO) 1,99 % ≤6,5
perpendicular a fonte. A velocidade da onda S ≤ 3,5 (C3A do clinquer
(Vs) depende do modulo de cisalhamento ≤8%)
dinâmico (G) e da conforme equação (2): Trioxido de ≤4,5 (C3A do clinquer >
enxofre (SO3) 3,12 % 8%)
(2) Resíduo na
peneira 75 µm 0,28 % ≤6 %
Área 458,5
especifica m2/Kg 300 m2/Kg
O módulo de Young dinâmico e o módulo de RSC (1 dia) 21,4 MPa ≥14 MPa
cisalhamento dinâmico podem ser relacionados RSC (3 dias) 36,7 MPa ≥ 24 MPa
pela equação 3. RSC (7 dias) 41,8 Mpa ≥34 MPa
(3) RSC (28 dias) 49,0 MPa -

Silvani (2017) encontrou que a mistura


Ondas com menor velocidade trafegam pela contendo 75% de areia de Osório e 25% de
superfície do material e tem trajetória elíptica. cinza volante estabilizada com cal apresenta
Estas ondas não serão caracterizadas, pois não isotropia, quando Módulo Odométrico a
são utilizadas para obtenção da rigidez de solo. Pequenas Deformações (M0) e quando o
A técnica Pulse Velocity, segundo Long Módulo de Cisalhamento a Pequenas
(2000), é usada para avaliar a resistência, Deformações (G0) é considerado. Buscando um
detectar falhas e estimar a espessura do entendimento mais claro dos mecanismos
concreto desde a década de 40. Na ultima responsáveis por este fato, foram testadas
década, passou a ser utilizada também no amostras de areia de Osório estabilizadas com
cálculo das propriedades elásticas de solos cimento e de cinza volante estabilizada com cal.
cimentados. (JOHAN, 2013, CONSOLI et al., O uso de cal na estabilização da areia de Osório
2016, CONSOLI et al., 2018). não é possível devido à natureza cristalina das
partículas que compõem este solo.
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A areia utilizada caracteriza-se, segundo


Casagrande (2005), por ser uma areia fina
(NBR 6502 – ABNT, 1995), limpa e de
granulometria uniforme. Conforme Spinelli
(1999), este solo, tem o quartzo como material
correspondente a 99% da sua composição
mineralógica, sendo o restante composto por
glauconita, ilmenita, turmalina e magnetita. Não
sendo observada a presença de matéria
orgânica. A Figura 1 apresenta a curva
granulométrica da areia de Osório.
Figura 1- Granulometria da Areia de Osório e da Cinza
Volante.
Tabela 2-Propriedade da cal hidratada utilizada.
Propriedades Análise Foi utilizada água destilada para a realização
Massa Unitária 510 kg/m³ dos ensaios em laboratório que assim exigiram,
Finura (0,075) 17,2% e água potável, proveniente da rede pública,
Massa especifica real dos grãos 2,6 g/cm³ para moldagem dos corpos de prova.
Índice de atividade pozolânicas 60 kgf/cm²
Perda ao Fogo 17,10% 3.2 Procedimentos
Resíduo Insolúvel 17,10%
CO2 2,20% 3.2.1 Escolha do Peso especifico seco e teor de
Óxidos Totais 94,80%
agente cimentante.
Tóxicos não hidratados 11,00%
A escolha do peso especifico seco de
CaO 40,00%
compactação e do teor de cal das misturas
MgO 28,00%
baseou-se no coeficiente porosidade/teor
Fe2O3 0,23%
volumétrico de aglomerante (/Biv), visando a
Al2O3 0,20%
avaliação da influência deste parâmetro na
isotropia dos materiais.
Baseando-se no trabalho de Cruz (2008)
A cinza volante utilizada nesta pesquisa é
oriunda da Usina Termelétrica de Charqueadas, adotou-se para areia de Osório /Biv igual a 7 e
localizada no município de Charqueadas, no 18. Para a obtenção de /Biv igual a 7, nas
Estado do Rio Grande do Sul. O combustível misturas areia/cimento, utilizou-se uma mistura
utilizado na sua operação é o carvão mineral, a com 9% de cimento e peso específico seco igual
cinza volante originada desse processo possui a 16 kN/m³ e outra mistura com 10,5% de
coloração cinza, textura fina e propriedades cimento e 15kN/m³ de peso específico aparente
pozolânicas. A Figura 1 apresenta a curva seco. As misturas com /Biv igual a 18 foram
granulométrica da cinza volante obtida com uso obtidas com o uso de 4% de cimento e peso
de defloculante. Sua massa específica, de específico seco de 15kN/m³ e com o uso de
acordo com a NBR N23 (ABNT, 2001) é 2,49 3,4% de cimento e 16kN/m³ como peso
g/cm3. (DALLA ROSA, 2009.) específico seco da mistura compactada. Para
facilitar a análise a umidade foi mantida
constante.
A dosagem das misturas de cinza volante e
cal foram baseadas no trabalho de Saldanha
(2014), adotou-se /Biv igual a 51,5. Para que
esse valor de /Biv fosse obtido uma das
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misturas foi executada com 6% de cal e peso


específico seco de 11 kN/m³ e outra mistura foi
executada com 3% de cal e peso específico seco
de 12 kN/m³. Para facilitar a análise a umidade
foi mantida constante.

3.2.2 Preparação das Misturas e Moldagem dos


Corpos-de-Prova para Ensaio Pulse Wave
Velocity

Os ensaios utilizaram corpos-de-prova cúbicos


com 100 mm de aresta, apresentados na Figura
2. A moldagem iniciava com a pesagem dos
materiais com precisão de 0,01g. (b)
Posteriormente os materiais secos eram Figura 2- (a) Amostra cubica da mistura cinza volante
misturados até completa homogeneização. Logo cal. (b) Orientação das faces da amostras a partir da
a água era adicionada e o material era misturado direção de compactação.
novamente até apresentar somente uma fase
visível. As amostras eram, então, compactadas 3.2.3 Ensaio de Ultrassônico para Avaliação da
estaticamente em três camadas no interior de Isotropia Inicial
um molde de ferro fundido quadripartido
untado com silicone, de maneira que cada A rigidez inicial do material foi avaliada através
camada chegue ao peso específico aparente da técnica de ondas ultrassônicas, pois se trata
seco definido. Concluído este processo os de um método simples, não destrutivo e permite
corpos-de-prova eram extraídos do molde, a determinação do M0 e G0 do solo e das
sendo medida sua massa e suas dimensões. As misturas estabilizados quimicamente. Assim é
amostras prontas eram colocadas em uma possível avaliar a isotropia do material quando
membrana de borracha, com as dimensões da estas propriedades são consideradas.
base da amostra, para a proteção das arestas da Os ensaios utilizaram um equipamento
mesma. As amostras foram curadas em câmera ultrassônico denominado Pundit Lab Plus, da
úmida a temperatura de 20 ±2 ºC. marca Proceq. Este consiste basicamente em
uma unidade de emissão e recepção de ondas,
um conjunto de transdutores de ondas “S” e um
conjunto de transdutores de ondas “P”,
apresentados na Figura 3, cabos acoplantes
(para unir os transdutores e à unidade de
emissão e recepção ondas), cabo USB (para
acoplar a unidade de emissão e recepção de
ondas ao computador) e um software para
aquisição de dados. Os ensaios foram realizados
em corpos-de-prova cúbicos, logo foi possível
obter o M0 e G0 nas três direções do mesmo,
sendo z sempre a direção de compactação. Os
ensaios seguiram as recomendações da ASTM
D2845-08.
(a)
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volante.) para todos os tempos de cura


estudados quando M0 e G0 são considerados.
Esse resultado repetiu-se em todas as dosagens.
Porém G0 somente pode ser medido a partir de
1 dia de cura para as amostras de areia de
Osorio e de 3 dias de cura para as amostras de
cinza volante.
Após a confirmação da isotropia transversal
a isotropia total foi avaliada comparando as
Figura 3-Transdutor do Pundit Lab Plus
(Adaptado de: (LONG, 2000))
propriedades de uma das faces com isotropia
transversal com a face restante. As Figuras 5 e 6
Os ensaios foram realizados com o auxílio mostram essa comparação. Com base nestas
de um gabarito plástico para que todos os testes figuras pode-se observar que todos os materiais
fossem executados no centro das faces das analisados são isotrópicos quanto a rigidez a
amostras. O transmissor era posicionado de um pequenas deformações medidos por M0 e G0.
lado do corpo-de-prova e o receptor no lado
oposto, logo era iniciada a transmissão das 5 CONCLUSÕES
ondas. As medições foram executadas com 0,
1, 3, 7, 14 e 28 dias de cura. A partir da análise e discussão dos resultados,
A velocidade de chegada das ondas foi dentro das condições e limites específicos deste
analisada no domínio do tempo “Time estudo, as seguintes conclusões foram obtidas:
Domain”. Que consiste na medição do tempo
entre o início do envio da onda através do • A isotropia de solos cimentados, foi
material e o início de sua recepção no outro confirmada para todos os solos
lado da amostra. Optou-se por esta técnica cimentados estudados quando M0 e G0
devido à simplicidade e a possibilidade de são considerados;
comparação com outros resultados. • A hipótese de isotropia dos modelos
A avaliação da isotropia transversal foi dada clássicos (Druker-Praguer, Mohr
pela razão entre o M0 das faces x e y, nos Coulomb...) foi confirmada para os
diferentes tempos de cura citados acima, quanto materiais estudados, nos respectivos
mais próximo à unidade esta relação mais tempos de cura, quando a rigidez inicial
isotrópicas são as faces. Quando o resultado da é considerada.
nas faces x e y era positivo, avaliou-se a  Não foi encontrada relação entre relação
isotropia do material pela razão desta porosidade/teor volumétrico de agente
propriedade nas faces x e z. Sendo o material cimentante e a isotropia pois todas as
considerado isotrópico quando x/z próximo a 1. amostras apresentaram isotropia.
O mesmo procedimento foi adotado com G0.
AGRADECIMENTOS
4 RESULADOS
Os autores desejam agradecer ao CNPq-MCT e
Reddy(1991) constatou que devido a técnica de CAPES pelo suporte financeiro ao grupo de
confecção, compactação em camadas na direção pesquisa.
z, as faces x e y recebem o mesmo tratamento,
logo possuem isotropia em suas propriedades.
As Figuras 4 e 5 mostram que essa afirmação
está correta tanto para uma areia uniforme
estabilizada com cimento (areia de Osório)
quanto para um silte estabilizado com cal (cinza
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60000 60000

40000 40000
M oz(MPa)

M oz(MPa)
20000 20000

0 0

0 20000 40000 60000 0 20000 40000 60000


Mox(MPa) Mox(MPa)
Figura 4- M0 das faces x e y das amostras de areia
estabilizada com cimento com /Biv=18 e 3,4% de Figura 6 -M0 das faces x e das amostras de areia
cimento e d=16 kN/m³ estabilizada com cimento comBiv=18 e 3,4% de
cimento e d=16 kN/m³.

8000

16000

6000
12000
Goy(MPa)
M oy(MPa)

4000
8000

2000
4000

0
0
0 4000 8000 12000 16000
0 4000 8000 12000 16000

Mox(MPa) Gox(MPa)
Figura 5- G0 das faces x e y das amostras de cinza Figura 7-M0 das faces x e z das amostras de cinza volante
volante estabilizada com cal com /Biv=51 e 6% de cal e estabilizada com cal com /Biv=51 com 6% de cimento e
d=11 kN/m³. d=11 kN/m³.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 5733:Cimento Portland de alta
resistência inicial. 1991.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
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Medição de Energia em Ensaio SPT Realizado no Campo


Experimental da EECA/UFG
Romulo Rodrigues Machado
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, romulorodrimachado@gmail.com

Breno Breseghelo do Nascimento


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, brenobdn@gmail.com

João Lucas da Mota Rodrigues


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, joaolucasdamota@gmail.com

Renato Resende Angelim


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, tecnoeng@gmail.com

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com

João Carneiro de Lima Junior


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, joaojuniorucgto@gmail.com

Valmir Alexandre Merighi


SETE Engenharia, Goiânia, Brasil, vmerighi@hotmail.com

Antônio Luciano Espíndola Fonseca


SETE Engenharia, Goiânia, Brasil, sete@sete.eng.br

RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados de sondagem SPT executada com medição de
energia no campo experimental da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (EECA) da
Universidade Federal de Goiás (UFG). O objetivo deste trabalho foi investigar o subsolo do
referido campo experimental com o intuito de subsidiar o dimensionamento de estacas escavadas e
também contribuir com a ampliação do banco de dados de medição de energia do ensaio SPT em
solos tropicais da cidade de Goiânia. Para realização das medidas de energia foi utilizado
equipamento comercial de medição de energia, que é constituído por uma unidade de aquisição de
dados e uma haste instrumentada com dois sensores de deformação (strain gauges), e furos para
fixação de dois acelerômetros diametralmente opostos. Por meio da medição foi possível verificar
as perdas no sistema e a energia transmitida que realiza o trabalho da penetração do amostrador
para cada golpe. Os resultados obtidos foram interpretados de acordo com os dois principais
métodos de integração das curvas de força e de velocidade para obtenção da energia do ensaio, os
métodos EFV e EF2. As energias obtidas no ensaio também foram analisadas considerando o
ensaio SPT como um fenômeno de grandes deslocamentos e, para isso, utilizou-se a metodologia
proposta por Odebrecht (2003). Logo, as energias resultantes dessa análise foram comparadas às
obtidas pelos métodos tradicionais, EFV e EF2. Os resultados encontrados demonstram a
necessidade de considerar o correto intervalo de integração para análise de sondagens SPT e a
vantagem de se utilizar o método proposto por Odebrecht (2003), além de terem contribuído para o
banco de dados de medição de energia iniciado em Jardim et al. (2017) nas proximidades da área de
estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Ensaios in situ, Sondagem, SPT, Medição de Energia.
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1 INTRODUÇÃO O método EF2 é na realidade uma


simplificação realizada por Palacios (1977) e
Segundo Belincanta (1994), uma sondagem Schmertmann e Palacios (1979), devido à
Standard Penetration Test (SPT) é susceptível a limitação da aferição da velocidade que havia
diversos fatores que podem influenciar os na época e pode ser calculado pela Equação 1.
resultados obtidos. Esses fatores são inerentes
às condições de uso do equipamento, à equipe 2!
c
executora do ensaio e aos procedimentos c
EF2 = òF
2
(t )dt (1)
normativos seguidos, interferindo, dessa forma, E´a 0
diretamente na repetibilidade e na
confiabilidade do ensaio.
em que:
Apesar desses problemas, o SPT continua
EF2 = energia transmitida à composição de
sendo um dos ensaios geotécnicos de campo
hastes considerando o quadrado da força
mais difundidos no mundo e o mais utilizado no
incidente nas hastes (J);
Brasil devido, principalmente, à sua praticidade
c = velocidade teórica de propagação da onda
de execução, à sua aceitação pela classe
ao longo da composição de hastes (m/s);
geotécnica e ao seu baixo custo operacional
E = módulo de elasticidade do aço (kPa);
(Décourt et al., 1988).
a = área da seção transversal instrumentada
Além dos fatores inerentes ao ensaio, é
(m²);
comum encontrar diferentes tipos de
ℓ = distância da seção instrumentada até o
equipamentos sendo utilizados. É comum,
amostrador (m);
também, constatar alterações e adaptações,
F(t) = força seccional na haste (kN);
realizadas pelos operadores do ensaio, nos
t = tempo de integração (s).
procedimentos feitos em campo, a fim de
melhorar a produtividade do processo. Tais
O método EFV considera a integral do sinal
modificações nos procedimentos divergem,
de força multiplicada pela integral da
assim, da normalização brasileira que padroniza
velocidade até o final da transferência de
a execução do ensaio SPT, a NBR 6484.
energia do martelo para as hastes. A energia
Nesse contexto, na década de 1970, passa-se
total transferida para as hastes representa a
a estudar a eficiência do ensaio SPT como uma
parcela da energia potencial do martelo que não
maneira de analisar os diversos fatores que
se dissipou durante o processo de cravação.
influenciam no resultado do ensaio e a buscar
Esse método foi introduzido por Sy e
uma padronização para o significado da
Campanella (1991) e pode ser calculado pela
resistência à penetração do solo (NSPT). Dessa
Equação 2.
maneira, surgem diversos trabalhos que
abordam esse tema, dentre esses, Kovacs et al. ¥
(1977), Palacios (1977), Schmertmann e EFV = ò F(t ) ´ v(t )dt (2)
Palacios (1979), Belincanta (1985), Cavalcante 0
(2002), Odebrecht (2005), Lukiantchuki (2012),
Santana (2016) e Jardim et al. (2018). em que:
Para medir a energia transferida às hastes do EFV = energia transmitida à composição de
SPT existem basicamente dois métodos, o hastes considerando a força seccional e a
método EFV e o método EF2. A escolha do velocidade das partículas (J);
método a ser utilizado depende dos F(t) = força seccional na haste (kN);
equipamentos e da instrumentação disponíveis v(t) = velocidade das partículas (m/s);
para realização da medição (Sjoblom; Bischoff; t = tempo de integração (s).
Cox, 2002).
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Portanto, a eficiência do ensaio SPT (ɳEFV


ou ɳEF2) pode ser calculada pela relação entre EPG = E * + M m gDr + M h gDr (4)
a energia transmitida à composição de hastes
(EFV ou EF2) e a energia potencial teórica do em que:
ensaio (E* = m.g.h = 478,20 J), conforme EPG = energia potencial gravitacional calculada
ilustrado na Equação 3 (Lukiantchuki, 2012). pelo método de Odebrecht (2003) (J);
E* = energia potencial teórica (J);
EFV Mm = massa do martelo (kg);
hEFV = (3)
E* Mh = massa da composição de hastes (kg).
Δρ = penetração permanente do amostrador
em que: devido à aplicação de um golpe (m);
ɳEFV = eficiência do ensaio utilizando-se o g = aceleração da gravidade (m/s2).
método EFV para medição de energia (%);
E* = energia potencial teórica (J). Para todo golpe que gere uma penetração
(Δρ) a energia potencial gravitacional pela
Odebrecht (2003), em sua tese de doutorado, Equação 4 é maior que a energia potencial
propôs uma nova maneira de interpretar o teórica. Desse modo, essa diferença crescerá de
ensaio SPT, considerou a hipótese de que o modo mais acentuado caso a penetração do solo
SPT é um fenômeno de grandes deslocamentos aumente e, no caso de grandes comprimentos de
e, portanto, neste caso, o valor da penetração do haste, a massa da composição de hastes também
amostrador no solo a cada golpe e a massa das influenciará nessa discrepância. A Figura 1
hastes (além da do martelo) devem ser apresenta um esquema que demonstra a
consideradas no cálculo da energia potencial proposta de Odebrecht (2003).
disponível, conforme apresentado na
Equação 4.

Figura 1. Energia potencial do sistema considerando o acréscimo devido a Δρ (Odebrecht, 2003).


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2 ENSAIO REALIZADO efetuou-se o registro do tamanho da amostra no


interior do amostrador, inclusive o bico (esse
Para esta pesquisa realizou-se um furo de tamanho foi denominado êmbolo), como
sondagem SPT (SP01) com medição de energia representado na Figura 4.
no campo experimental da Escola de
Engenharia Civil e Ambiental da Universidade
Federal de Goiás (ver Figura 2) e contou-se
com o apoio de empresa de geotecnia local.
Todos os 74 golpes do furo foram monitorados.
Foi determinado o valor de NSPT dentro do
primeiro metro de profundidade do furo, após
pré-furo de 30 cm e atingiu-se a profundidade
final de 9,45 m.

Figura 3. Equipamento utilizado para realização do furo


de sondagem.

Figura 2. Localização dos furos de sondagem na área do


Campo Experimental da EECA-UFG.

A equipe de sondagem era composta por três


integrantes e estava munida com os
equipamentos apresentados na Figura 3:
a) Martelo: cilíndrico, maciço, com coxim de
madeira, pino guia e massa de 65 kg;
b) Cabeça de bater: cilíndrica, maciça e com Figura 4. Remoção de solo do amostrador e medição do
massa de 3,60 kg; êmbolo.
c) Sistema de levantamento e soltura do
martelo: levantamento manual com cabo de aço
por meio de polias e soltura do martelo por 3 EQUIPAMENTO DE MEDIÇÃO
meio de gatilho manual tipo Furnas;
d) Hastes: metálicas, conservadas e com massa Optou-se por realizar as medidas da energia que
de 3,16 kg/m; chega até a composição de hastes por meio de
e) Amostrador: tipo Raymond bipartido, uma haste instrumentada instalada
conservado e com massa de 6,10 kg; imediatamente abaixo da cabeça de bater. A
haste instrumentada utilizada faz parte do
Foi realizado o registro manual da sistema comercial SPT Analyzer.
penetração do amostrador no solo pela medida
da marcação na haste após cada golpe usando
apenas um único referencial (para garantir a
precisão da medida da penetração). Além disso,
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O sistema SPT Analyzer utilizado é Os pares de strain gauges e os pares de


composto das partes apresentadas na Figura 5 e acelerômetros piezoelétricos são instrumentados
listadas a seguir: na haste do sistema. Esses sensores são
a) Unidade de aquisição de dados: caixa conectados à unidade de aquisição de dados por
compacta com dimensões de 20,5 cm x meio de cabos para prolongação da ligação
17,5 cm x 11,5 cm, tela sensível ao toque, entre a haste e a unidade de aquisição de dados
alimentação com bateria externa, com canal (ver Figura 5).
para aquisição de dados; Os sinais registrados na unidade de aquisição
b) Bateria externa recarregável 12 V – 4500 A, de dados podem ser monitorados em tempo real
adaptada ao equipamento; a cada golpe do martelo. Cada registro foi
c) Cartão de memória de 40 MB para registro composto de dois sinais de força e de dois de
dos golpes (acoplado na unidade de velocidade, referentes aos pares de strain
aquisição); gauges e de acelerômetros, respectivamente.
d) Cabos de conexão impermeabilizados de Com as médias dos registros de força e de
30 metros; velocidade, o sistema calcula a energia que
e) Par de medidores de deformação (strain chega à composição de hastes utilizando os
gauges) acoplados à haste; métodos EF2 e EFV. As medições registradas
f) Par de acelerômetros piezoeléctricos utilizando os métodos EF2 foram realizadas
protegidos por blocos de alumínio com para que pudessem ser comparadas com os
dimensões de 2,5 cm x 2,5 cm x 2,5 cm. resultados oferecidos pelo método EFV.

Figura 5. Equipamentos utilizados para medição da energia do ensaio.

4 RESULTADOS E ANÁLISES resistência à penetração para cada camada do


solo é importante para a avaliação da energia
A Figura 6 demonstra graficamente a variação transferida às hastes pela metodologia proposta
do NSPT em função da profundidade do perfil. A por Odebrecht (2003).
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Os dados obtidos por meio da sondagem


SPT e por ensaios laboratoriais são
apresentados na Tabela 1. Esta possibilita a
caracterização das camadas do solo estudado
para posterior associação com as medidas de
energia realizadas.
Dos 74 golpes monitorados durante a
realização da sondagem SP01 apenas 56 foram
utilizados para análise de energia, pois optou-se
por desconsiderar os golpes referentes aos
15 cm iniciais de cada etapa de cravação, assim
como se faz no cálculo do NSPT. Essa mesma
consideração já foi realizada em trabalhos
anteriores, como é o caso dos realizados por
Belincanta (1998), Cavalcante et al. (2011) e
Jardim et al. (2018).
Os golpes monitorados foram analisados em
software de análise dinâmica, que gerou os
gráficos da variação de velocidade e força para
cada golpe e forneceu os valores de energia
pelos métodos EF2 e EFV, a constante FVP,
que quantifica a proporcionalidade entre a força
e a velocidade durante o golpe, o valor de 2ℓ/c,
tempo da primeira onda de compressão e a
eficiência de energia (ETR) para cada golpe,
considerando o método EFV. A Figura 7 ilustra
um gráfico típico obtido para o golpe de
número 18 do furo de sondagem SP01.

Figura 6. Valor de NSPT versus profundidade (m).

Tabela 1. Caracterização táctil-visual e NSPT.


Profundidade NSPT Êmbolo Umidade Classificação do Solo
(m) (golpes) (cm) (%)
0,30 a 0,79 3 18 21
Areia fina argilosa vermelha
1,00 a 2,00 1 15 20
2,00 a 3,00 1 19 21
Argila arenosa fina vermelha com pedregulhos
3,00 a 4,00 2 15 18
(quartzo)
4,00 a 5,00 5 20 17
5,00 a 6,00 7 29 17
Areia argilosa com pedregulhos (quartzo)
6,00 a 7,00 8 25 21
7,00 a 8,00 7 44 21
8,00 a 9,00 8 11 28 Silte arenoso micáceo róseo
9,00 a 10,00 14 47 18

Na Figura 7 observa-se uma sequência de parâmetro 2ℓ/c marca o tempo dessa onda de
pulsos sucessivos de compressão, sendo que o compressão e até esse momento existe
primeiro e maior corresponde ao impacto inicial proporcionalidade entre os registros de força e
do martelo sobre a composição de hastes. O de velocidade. Para as composições de hastes
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utilizadas no Brasil, que têm impedância Como visto na Equação 1, o método EF2
bastante inferior à do amostrador, encontra-se considera apenas o primeiro impacto do martelo
em gráficos como esses, várias reflexões de na cabeça de bater (integração até o tempo
compressão, comportamentos que foram 2ℓ/c). Os pulsos sucessivos da Figura 7 estão
relatados por Cavalcante (2002). Os demais relacionados a acréscimos de penetração no
pulsos ocorrem devido aos outros contatos do solo. Portanto, a simplificação do método EF2
martelo com a cabeça de bater após o primeiro pode não ser aceitável caso hajam ondas de
golpe, conhecidos por repiques. Esses repiques compressão subsequentes que contribuam
acontecem porque a energia potencial do significativamente nos resultados. Sendo assim,
martelo não é totalmente transmitida à esse método não é recomendado, mas é
composição de hastes. utilizado neste estudo apenas para realizar
comparações.
As energias EFV e EF2 obtidas para cada
golpe foram utilizadas para o cálculo da média
de eficiência de energia para cada etapa de
cravação (ɳEFV e ɳEF2), levando em
consideração a energia teórica tradicional
(E* = 478,2 J) e considerando a média de
energia calculada pelo método proposto por
Odebrecht (ɳEFV’ e ɳEF2’), conforme está
apresentado na Tabela 2.
Figura 7. Gráfico da força e velocidade no tempo.

Tabela 2. Eficiências de energia por E* e por EPG.


Profundidade ɳEFV ɳEF2 EPG ɳEFV’ ɳEFV’
(m) (%) (%) (J) (%) (%)
0,30 a 0,79 66,2 45,9 547,1 57,9 40,2
1,00 a 2,00 45,7 43,3 625,9 35,0 33,1
2,00 a 3,00 42,5 56,7 653,1 31,1 41,5
3,00 a 4,00 63,6 59,9 606,3 50,1 47,3
4,00 a 5,00 68,4 71,9 521,5 62,6 65,9
5,00 a 6,00 74,5 75,0 510,3 69,9 70,3
6,00 a 7,00 80,8 79,6 515,1 75,0 73,9
7,00 a 8,00 84,2 84,4 515,1 78,1 78,4
8,00 a 9,00 83,8 84,1 509,2 78,7 79,0
9,00 a 10,00 80,8 89,5 498,6 77,6 85,9
Média 77,1 78,5 519,5 71,5 73,0

Décourt et al. (1989) afirma que a eficiência Morgano e Liang (1992) relataram que o
do SPT brasileiro é em média 72%. Verifica-se método EF2 apresentava valores maiores quão
que a eficiência média do furo de sondagem maior era o comprimento das hastes e
SP01 ficou próxima desse valor, com 77,1% Butler et al. (1998) afirmaram que o método
para o método EFV e 78,5% para o método EF2 sofre uma maior variação da sua gama de
EF2. Esses valores foram calculados por meio valores durante os 10 primeiros metros de
da média de eficiência de energia de todos os ensaio, em relação ao método EFV. Esses
golpes considerados. mesmos comportamentos podem ser observados
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na Tabela 2 e demonstram a dependência que o relativamente menores do que os valores


método EF2 tem do tamanho da composição de calculados utilizando a energia potencial
hastes. teórica. Esse comportamento é verificado pois o
No método EFV percebeu-se energias método de Odebrecht (2003) considera a
menores para camadas de cravação menos penetração no solo e a massa da composição de
resistentes e o comportamento inverso para hastes para o cálculo de uma nova energia
camadas mais resistentes. Os quatro primeiros potencial e essa consideração faz com que a
golpes apresentam as menores eficiências de energia potencial considerada para cada golpe
energia e correspondem a valores de NSPT seja maior do que a energia potencial teórica do
baixos (inferiores a 4 golpes). ensaio e, portanto, forneça eficiências menores.
Para as condições do furo de sondagem O cálculo da EPG pelo método proposto por
SP01, o método EF2 apresentou resultados Odebrecht (2003) é bastante sensível às
similares aos do método EFV, com exceção de variações na resistência dos solos. Como a
3 camadas, e valores médio também bastante sondagem encontrou baixas resistências à
próximos. Porém, esse método só deve ser penetração nas 4 primeiras camadas o valor de
utilizado caso não haja instrumentação EPG assumiu valores consideravelmente
adequada, pois em outros dois furos de maiores do que E*. Para resistências maiores e
sondagem no mesmo campo experimental e para as baixas profundidades atingidas houve
citados em Jardim et al. (2018) os valores de maior correspondência entre os valores da
EF2 se mostraram inadequados. Tabela 2.
A Tabela 2 apresenta, ainda, as eficiências A Tabela 3 apresenta a relação EPG/E* com
de energia, ɳEFV’ e ɳEF2’, obtidas pelo os valores de NSPT como forma de avaliar a
método proposto por Odebrecht (2003). Os necessidade de considerar o ensaio SPT como
valores obtidos por esse método são um fenômeno de grandes deslocamentos.

Tabela 3. Relação de energias EPG/E*


Prof. (m) 0,3 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0
EPG/E* 1,14 1,31 1,37 1,27 1,09 1,07 1,08 1,08 1,06 1,04
NSPT 3 1 1 2 5 7 8 7 8 14

Os valores que indicam uma discrepância de hastes e da resistência do solo. Apesar de em


considerável (maior que 10%) entre EPG e E* certas camadas do furo de sondagem e na média
encontram-se hachurados na Tabela 3. As 4 de eficiência de energia o método EF2 ter
primeiras camadas apresentaram grande obtido resultados satisfatórios, esse método não
diferença entre as energias consideradas e isso deve ser utilizado, pois trata-se de uma
ocorreu porque o solo apresentou baixos valores simplificação que não representa os reais níveis
de NSPT nessas camadas. Vários dos outros de energia que são transmitidos à composição
valores encontrados se encontram perto de 10% de hastes, visto que o método não considera as
de diferença. A situação descrita demonstra a ondas subsequentes geradas após o primeiro
necessidade do uso do método proposto por impacto do martelo sobre a “cabeça de bater”.
Odebrecht (2003) para análise desse perfil. Os gráficos obtidos por meio de software de
análises dinâmicas demonstraram que em vários
golpes da sondagem ocorreram “repiques” do
5 CONCLUSÕES martelo, revelando, assim, a validade da
utilização do método EFV, pois este,
Os resultados obtidos e as análises realizadas diferentemente do método EF2, considera toda
permitem concluir que os resultados de energia a energia que é transmitida para a composição
utilizando o método EF2 variaram de hastes em cada golpe do martelo.
crescentemente com o aumento da composição O método proposto por Odebrecht (2003)
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consiste em uma forma mais completa e Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio
racional de se analisar o ensaio SPT. Sua de Janeiro, RJ, 410p.
Décourt, L.; Belincanta, A.; Quaresma Filho, A.R.
necessidade é evidente para solos menos (1989). Brazilian experience on SPT. XII
resistentes e maiores composições de hastes, International Conference on Soil Mechanics and
mas pela simplicidade de sua aplicação e sua Geotechnical Engineering. Supplement,
maior precisão, sugere-se sua utilização em Contributions by the Brazilian Society for Soil
todas as medições de energia realizadas. Mechanics, Rio de Janeiro: ABMS/ISSMGE, 49-54p.
Décourt, L., Muromachi, T., Nixon, I. K., Schmertmann,
Os dados gerados pela realização desse
J. H., Thorburn, S. e Zolkov, E. (1988) Standard
trabalho irão compor juntamente com os Penetration Test (SPT): International Reference Test
resultados das medições de energia realizadas Procedure. Proc. ISSMFE Technical Committee on
no estudo de Jardim et al. (2017) um banco de Penetration Testing – SPT Working Party, ISOPT-I,
dados para auxiliar futuras pesquisas no campo Orlando, v.1, p. 3-26.
experimental da Escola de Engenharia Civil e Kovacs, W.D. et al. (1977). Towards a more
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Ambiental da UFG, em Goiânia. Soil Mechanics and Foundation Engineering, Tokyo,
Japan, v.2, p 269-276
Jardim, H. C. O., Machado, R. R.., Jorge, P. A. M.
AGRADECIMENTOS (2017) Medição de Energia no Ensaio SPT em Solo
Tropical do Campo Experimental da Universidade
Federal de Goiás, Trabalho de Conclusão de Curso,
À SETE Engenharia e à Eletrobras Furnas pelo Graduação em Engenharia Civil, Universidade
apoio técnico na realização desta pesquisa. À Federal de Goiás, 15 p.
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Jardim, H. C. O., Machado, R. R., Jorge, P. A. M.,
Goiás – FAPEG pelo apoio na divulgação desse Angelim, R. R., Guimarães, R. C. Medição de
trabalho. Energia no Ensaio SPT em Solo Tropical do Campo
Experimental da EECA/UFG – Goiânia. Revista
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Nº 1. V.14. 261-278.
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Modelagem numérica do comportamento de fundações


superficiais de torres de linhas de transmissão apoiadas em solos
estabilizados
Julia Ré Signor
Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
juliasignor@hotmail.com

Letícia Kneipp Fernandes


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
lekakf38@gmail.com

Antonio Marcos de Lima Alves


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
antonioalves@furg.br

Cezar Augusto Burkert Bastos


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
cezarbastos@furg.br

RESUMO: O objetivo do presente trabalho é simular numericamente o comportamento das


fundações superficiais das linhas de transmissão, apoiadas sobre camada de solo estabilizado
sobrejacente ao solo natural. Foram testadas duas amostras representativas de solos de potenciais
jazidas, estabilizadas com cal e cimento, nos teores de 3%, 6%, 9% e 12%. Foi avaliada também a
espessura de material estabilizado abaixo das sapatas, variando-se desde 20 até 100 cm. A análise
numérica foi realizada por meio do programa computacional PLAXIS 2D. Os resultados das
análises numéricas mostram que uma adição de cimento no teor de 3%, associada a uma espessura
de solo estabilizado de 80 cm, permitem a obtenção de um fator de segurança à ruptura geotécnica
igual a 3,0 para a fundação. Já a adição de cal exige um teor de pelo menos 6% (com espessura
estabilizada de 80 cm), para garantia de um fator de segurança igual a 3,0.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações Superficiais, Solos Estabilizados, Modelagem Numérica.

1 INTRODUÇÃO propriedades de solos locais pela técnica de


estabilização físico-química torna-se uma
A Planície Costeira Sul do Rio Grande do Sul atrativa alternativa.
se caracteriza pela presença de solos Na região de Santa Vitória do Palmar (RS)
sedimentares, muitos destes impróprios para têm-se solos areno-argilosos classificados como
obras de terra em geral (aterros, base de planossolos formados sobre terraços lagunares,
pavimentos, entre outros), bem como para com baixa capacidade de suporte, retratada em
execução de fundações superficiais. As obras obras viárias por baixos valores do índice CBR.
dependem, em muito dos casos, de materiais de As obras vinculadas a parques eólicos em
empréstimo nobres, com custo de aquisição e implantação na região de Santa Vitória do
transporte elevados, ou alterações na solução de Palmar/RS (parte do maior complexo eólico da
fundações. Neste sentido, a melhoria de América Latina, o Complexo Eólico Campos
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Neutrais) exigiram a execução de linhas de Tabela 1. Propriedades do solo natural (Consórcio


transmissão compostas por torres metálicas Construtor Minuano, 2013).
Propriedade Valor
apoiadas em fundações superficiais. A baixa
Coesão 10 kPa
capacidade de carga dos solos naturais da Ângulo de atrito 21o
região, empregados nas obras das subestações Peso específico submerso 10 kN/m3
de energia Santa Vitória e Marmeleiro, motivou Módulo de elasticidade 30000 kPa
pesquisa anterior sobre técnicas de estabilização Coeficiente de Poisson 0,3
daqueles solos. Em especificações de projeto do
setor elétrico, esta técnica é chamada de Bastos et al. (2016) e Bastos et al. (2017)
“regeneração” do solo. Dois aditivos utilizados cal) apresentam os procedimentos de preparação
para melhoria de terrenos de fundação são o e caracterização das amostras de solos
cimento (Consoli et al., 2003, Rasouli et al., estabilizadas com cimento e cal,
2017) e a cal (Consoli et al., 2009). respectivamente. Foram testados solos
O objetivo do presente trabalho é simular estabilizados com teores de cimento e cal de
numericamente o comportamento das fundações 3%, 6%, 9% e 12%. Os resultados dos ensaios
superficiais das linhas de transmissão, apoiadas de compactação realizados na energia do
sobre uma camada de solo estabilizado (ou Proctor Normal estão resumidos na Tabela 2.
“regenerado”). Para composição da camada
estabilizada, foram testadas duas amostras Tabela 2. Propriedades de compactação dos solos
estabilizados.
representativas de solos naturais disponíveis em Tipo Estabili- Teor γdmáx wót
jazidas da região (chamadas de Tipo 1 e Tipo de solo zante (kN/m3) (%)
2), estabilizadas com cal e cimento, nos teores 3% 17,9 14,4
de 3%, 6%, 9% e 12%. Foi avaliada também a Cimento
6% 17,8 14,0
espessura de material estabilizado abaixo das 9% 17,6 15,2
sapatas. 12% 17,8 14,5
1
3% 17,4 15,4
A análise numérica foi realizada por meio do
6% 17,0 16,1
programa computacional PLAXIS 2D Cal
9% 16,9 17,2
(Brinkgreve et al., 2014). As peças que 12% 16,8 18,2
compõem a fundação, de área quadrada, foram 3% 18,7 12,0
representadas por peças circulares equivalentes, Cimento
6% 18,9 11,4
de tal forma que a área da seção circular fictícia 9% 18,8 11,4
12% 19,0 11,4
fosse igual à área da seção quadrada real. 2
3% 18,4 13,4
O modelo constitutivo adotado foi o de 6% 17,9 14,4
Mohr-Coulomb para os solos, e elástico-linear Cal
9% 17,6 14,6
para a placa de concreto. O comportamento do 12% 17,7 15,0
solo local foi considerado drenado, e o dos
solos reforçados não-drenado.
Após a campanha de ensaios de
compactação, foram confeccionados corpos de
2 MATERIAIS E MÉTODOS prova 5x10 cm, em triplicata, compactados na
umidade ótima, correspondente ao teor de
2.1 Propriedades dos materiais cimento ou cal, para a realização de ensaios de
compressão simples. Os corpos de prova foram
O solo natural ao longo da rota das torres de rompidos nas idades de cura úmida de 7, 14, 28,
transmissão é classificado como areia submersa 60 dias (cimento e cal), e ainda na idade de 90
fofa, possuindo as propriedades mostradas na dias (cimento), com prévia imersão por 24 horas
Tabela 1. antes da ruptura.
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A partir das curvas tensão versus 2.2 Simulação numérica


deformação, oriundas dos ensaios de
compressão simples realizados aos 28 dias de O estudo numérico da sapata de fundação das
cura, foi determinada a resistência à compressão torres de transmissão foi realizado com o
simples (RCS) e o módulo de elasticidade auxílio do programa computacional PLAXIS,
longitudinal secante, correspondente a 50% da especialista na simulação do comportamento de
tensão de ruptura (E50). Para tal, uma correção obras geotécnicas pelo Método dos Elementos
na origem das curvas foi realizada, conforme Finitos (MEF). A versão 2D do programa,
demonstrado na Figura 1. utilizada na presente análise, pode realizar
simulações através de modelos bidimensionais
planos ou axissimétricos.
Na Figura 2 é mostrada a geometria da
solução de fundação adotada, composta de
sapata de concreto armado quadrada, apoiada
sobre placa de concreto também quadrada. A
espessura de solo estabilizado abaixo da placa
de concreto foi variada desde 0 até 100 cm, em
incrementos de 20 cm.

Figura 1. Determinação do módulo de elasticidade E50.

Os valores de RCS e E50 foram determinados


para cada um dos 3 corpos de prova (para cada
teor de cal e cimento), e então foi calculada a
média aritmética entre os três valores. Na
Tabela 3 estão sumarizados os resultados de
resistência e deformabilidade dos solos
estudados.

Tabela 3. Propriedades de resistência e deformabilidade


dos solos estabilizados (28 dias de cura). Figura 2. Geometria da solução de fundação (dimensões
Tipo Estabili- Teor RCS E50 em metro).
de solo zante (kPa) (MPa)
3% 1152 248
Para o presente estudo, foi adotado um
6% 1952 466
Cimento
9% 2357 453 modelo axissimétrico, formado por elementos
12% 2914 - triangulares de 15 nós. As peças que compõem
1
3% 315 75 a fundação (sapata e placas de concreto) foram
Cal
6% 1319 314 representadas por peças circulares com diâmetro
9% 1374 298 equivalente, de tal forma que a área da seção
12% 1526 301 circular fictícia fosse igual à área da seção
3% 549 94
6% 1556 339
quadrada real. Assim, o diâmetro equivalente da
Cimento placa de concreto e da área de solo regenerado é
9% 2077 637
12% 2717 993 igual a 3,05 m, e o diâmetro equivalente da
2
3% 183 34 sapata é igual a 1,80 m. Os valores adotados
6% 1148 225 para as propriedades da placa de concreto são
Cal
9% 1866 308
mostrados na Tabela 4.
12% 1845 -
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Tabela 4. Propriedades da placa de concreto. variação do fator de segurança à ruptura da


Propriedade Valor sapata em função do maior ou menor
Módulo de elasticidade 3,00 x 107 kN/m2
refinamento da malha.
Coeficiente de Poisson 0,2
Rigidez à compressão 1,22x107 kN
Rigidez à flexão 2,28x104 kNm2 2,70

2,65

Fator de segurança
2,60
Quanto aos modelos constitutivos, foi 2,55
adotado o modelo de Mohr-Coulomb para os 2,50

solos, e o modelo elástico-linear para a placa de 2,45

concreto. O comportamento do solo local foi 2,40

2,35
considerado drenado, e o dos solos reforçados
2,30
não-drenado (a resistência ao cisalhamento não 0 2000 4000 6000 8000 10000

drenada su foi considerada igual à metade da Número de elementos

resistência à compressão simples RCS). O nível


Figura 4. Estudo de otimização da malha de elementos
d´água foi localizado na profundidade de finitos.
1,80 m abaixo da superfície do terreno natural.
De acordo com a memória de cálculo Na Figura 5, é mostrada a malha de
(Consórcio Construtor Minuano, 2013), a elementos finitos escolhida para as simulações
tensão vertical aplicada na base da sapata é de numéricas. Foi adotado um fator de refinamento
500 kPa. A tensão aplicada foi representada por igual a 1, resultando em 7215 nós e 881
uma área circular uniformemente carregada, de elementos.
diâmetro igual a 1,80 m. Na Figura 3 é
mostrado o modelo axissimétrico do problema,
gerado no programa PLAXIS.

Figura 5. Malha adotada para o estudo.

Figura 3. Modelo axissimétrico.

Nas análises numéricas, após a geração das


Antes da realização das simulações
condições inicias do terreno (poropressões e
numéricas, foi feito um estudo de refinamento
tensões geostáticas), foram admitidos 5 estágios
da malha de elementos finitos, para avaliação
construtivos para a sapata em estudo:
do número ótimo de nós e elementos para a
simulação em questão. A Figura 4 mostra a
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I. Escavação até a profundidade de 1,80 m III. Reaterro com solo natural compactado
e remoção do solo a ser substituído (Figura 8);
abaixo da sapata (Figura 6);

Figura 8. Estágio III – reaterro com solo natural


compactado.
Figura 6. Estágio I – escavação.

II. Execução da camada de solo IV. Aplicação da tensão de trabalho na


estabilizado e instalação da placa de sapata (Figura 9);
apoio de concreto (Figura 7);

Figura 9. Estágio IV – aplicação da tensão de trabalho.

V. Aumento incremental da tensão aplicada


Figura 7. Estágio II – execução da camada de solo
para avaliação da capacidade de carga
estabilizado e instalação da placa de concreto.
do terreno.
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3 RESULTADOS estabilizado, e do estabilizante adotado. A


estabilização com cal exige um teor mínimo de
No estágio V das análises, a tensão vertical 6% do estabilizante para alcançar o FS mínimo;
atuante na sapata (500 kPa) foi aumentada já um teor de cimento de 3% já é suficiente para
através de incrementos de carga, até que a garantir o FS desejado.
ruptura do solo de fundação fosse detectada. Na
Figura 10 é mostrada, como exemplo, a malha
deformada, no momento da ruptura, para uma
das análises realizada.

Figura 10. Malha deformada.

O ponto de controle escolhido para análise


do fator de segurança à ruptura foi aquele
localizado no centro da base da sapata. Na |u| [m]

Figura 11 é mostrado, como exemplo, um Figura 11. Fator de segurança à ruptura da fundação.
gráfico de fator de multiplicação da carga de
trabalho (equivalente ao fator de segurança), Solo Tipo 1 - Adição de Cal
frente ao deslocamento do ponto de controle. O 3,20

fator de segurança é definido pelo valor final 3,10

(na ruptura) deste fator multiplicativo. 3,00

Nas Figuras 12 a 15 apresentam-se os 2,90


resultados de fator de segurança à ruptura (FS) 2,80
frente à espessura de solo estabilizado, para os
FS

2,70
solos tipo 1 e 2, estabilizados com cal e 2,60
S1 - Cal 3%
S1 - Cal 6%
cimento. O objetivo era alcançar um fator de 2,50 S1 - Cal 9%
segurança mínimo igual a 3,0, valor exigido 2,40
S1 - Cal - 12%

pela norma brasileira NBR 6122 (ABNT, 2010). 2,30


Observa-se que uma espessura mínima de 80 0 20 40 60 80 100 120

cm de solo estabilizado é necessária, Espessura da camada de solo estabilizado (cm)

independentemente do tipo de solo a ser Figura 12. Fatores de segurança versus espessura de solo
estabilizado – solo tipo 1 estabilizado com cal.
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Solo Tipo 1 - Adição de Cimento 4 CONCLUSÕES


3,30

3,20 Os resultados das análises numéricas, onde


3,10 foram testados dois tipos de solos naturais
3,00 estabilizados com cimento ou cal, mostram que
2,90
uma adição de cimento no teor de 3%,
associada a uma espessura de solo estabilizado
FS

2,80

2,70
de 80 cm, permitem a obtenção de um fator de
2,60 S1 - Cimento 3%
S1 - Cimento 6%
segurança igual a 3,0 para a fundação (valor
2,50

2,40
S1 - Cimento 9% mínimo exigido por norma). Já a adição de cal
2,30
exige um teor de pelo menos 6% (com
0 20 40 60 80 100 120 espessura estabilizada de 80 cm), para garantia
Espessura da camada de solo estabilizado (cm)
do fator de segurança mínimo.
Figura 13. Fatores de segurança versus espessura de solo
estabilizado – solo tipo 1 estabilizado com cimento.
Solo Tipo 2 - Adição de Cal
3,20
AGRADECIMENTOS
3,10

3,00
Ao Programa de Desenvolvimento do Estudante
2,90
(PDE/FURG) pelo apoio à pesquisa na forma de
2,80
bolsa de iniciação científica.
FS

2,70

2,60

S2 - Cal 3%
2,50
S2 - Cal 6%
REFERÊNCIAS
2,40 S2 - Cal 9%

2,30 ABNT (2010). Projeto e execução de fundações, NBR


0 20 40 60 80 100 120 6122, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio
Espessura da camada de solo estabilizado (cm) de Janeiro, 91 p.
Figura 14. Fatores de segurança versus espessura de solo Bastos, C.A.B.; Brandão, P.H.S.F.; Albuquerque,
estabilizado – solo tipo 2 estabilizado com cal. F.W.R.C.; Fernandes, L.K.; Signor, J.R. (2017).
Estabilização físico-química com cal de solos areno-
argilosos de baixa capacidade de suporte da planície
Solo Tipo 2 - Adição de Cimento costeira sul do Rio Grande do Sul, IX Seminário de
3,20 Engenharia Geotécnica do Rio Grande do Sul, Caxias
3,10 do Sul/RS, Anais... ABMS. disponível em:
3,00
https://www.ucs.br/site/eventos/geors2017/ (acesso
em 27/4/2018).
2,90
Bastos, C.A.B.; Brandão, P.H.S.F.; Aguiar, L.M.;
2,80 Albuquerque, F.W.R.C. (2016). Estudo de
FS

2,70 estabilização de solos sedimentares costeiros com


S2 - Cimento 3%
2,60
baixa capacidade de suporte, XVIII Congresso
S2 - Cimento 6%
S2 - Cimento 9%
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
2,50
S2 - Cimento 12% Geotécnica, Belo Horizonte/MG. Anais… ABMS.
2,40 CD-ROM.
2,30 Brinkgreve, R.B.J.; Engin, E.; Swolfs, W.M.; Waterman,
0 20 40 60 80 100 120
D.; Chesaru, A.; Bonnier, P.G.; Haxaire, A. (2014).
Espessura da camada de solo estabilizado (cm)
PLAXIS 2014 Manual, Plaxis bv, Netherlands.
Figura 15. Fatores de segurança versus espessura de solo Consoli, N.C.; Lopes Jr., L.S; Heineck, K.S. (2009). Key
estabilizado – solo tipo 2 estabilizado com cimento. parameters for the strength control of lime stabilized
soils, Journal of Materials in Civil Engineering, Vol.
21, No. 5, pp. 210-216.
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Consoli, N.C.; Vendruscolo, M.A.; Prietto, P.D.M.


(2003). Behavior of plate load tests on soil layers
improved with cement and fiber, Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
Vol. 129, No. 1, pp. 96-101.
Consórcio Construtor Minuano (2013). Fundação em
sapata pré-moldada para mastro torre tipo ES2 -
solos tipo III e IV – S-III e S-IV, Memória de Cálculo,
Documento no. S00154/LT-3F-MC-1002, 22 p.
Rasouli, H.; Takhtfirouzeh, H.; Ghalesari, A.T.; Hemati,
R. (2017). Bearing capacity improvement of shallow
foundations using cement-stabilized sand, Key
Engineering Materials, Vol. 723, pp. 795-800.
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Proposta de utilização do granulômetro a laser para a


determinação da distribuição granulométrica de rejeitos finos de
mineração
Patrícia Oliveira Pinheiro
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, patyopi@gmail.com

Letícia Alves Arantes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, leticia_alves9@hotmail.com

Elonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eleonardo@ufop.edu.br

Lucas Deleon Ferrreira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lucas@ufop.edu.br

Romero Cesar Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a influência do método de análise granulométrica de rejeitos de


mineração, determinada por um aparelho de granulometria por difração a laser, bem como
quantifica o cálculo analítico associado à utilização de ultrassom e do hexametafosfato de sódio
como dispersante físico e químico, respectivamente. As investigações foram realizadas utilizando o
aparelho Mastersizer 2000 com o acessório Hydro UM da Malvern, onde a faixa de leitura do
tamanho da partícula varia de 0,010 a 2000μm. O programa experimental foi voltado para a análise
de cinco tipos de rejeitos de mineração (1 de bauxita, 1 de fosfato e 3 de ferro). A interferência de
aspectos metodológicos selecionados sobre os resultados da distribuição do tamanho da partícula foi
avaliada, do mesmo modo que os parâmetros ótimos de funcionamento do granulômetro. A
determinação do meio de dispersão e as técnicas de preparação de amostras também foram
estabelecidas neste trabalho. Para os rejeitos investigados, foram definidos procedimentos
associados à obscuração ótima, ao índice de refração do material dispersante, ao modelo de análise
do software (Mie ou Fraunhofer) e à potência do ultrassom. As análises realizadas mostraram que a
utilização de dispersantes físicos e químicos definem resultados satisfatórios quando associados a
uma mesma amostra. Visto a complexidade das propriedades geotécnicas dos rejeitos, o
desempenho do granulômetro a laser foi satisfatório, com destaque para a agilidade dos
procedimentos envolvidos, possibilitando a repetibilidade e representatividade dos resultados, com
obtenção de curvas mais contínuas quando comparadas ao método tradicional.

PALAVRAS-CHAVE: Granulometria a laser, Rejeitos de mineração, Difração.

1 INTRODUÇÃO consequência, um grande geração de rejeitos de


beneficiamento da mineração, materiais de
A indústria de mineração é considerada um dos descarte do processamento de minério, não
setores básicos da economia brasileira, e com a rentáveis pra indústria e que são normalmente
extração do minério em alta, ocorre, em dispostos em barragens. A disposição desse
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material deve ser feita com extrema cautela e determinado tamanho e, por isso, quando
segurança. Por isso, é necessária uma análise dissolvidas em um meio padronizado e
minuciosa das suas características e submetidas à uma luz incidente, absorvem e
propriedades. Considerando isso, o tamanho das difratam parte da luz em um determinado
partículas do rejeito de mineração é uma ângulo. Esse ângulo de difração é inversamente
relevante característica física a ser levada em proporcional ao tamanho da partícula (Papini,
consideração em projetos de disposição, pois o 2003), como visto na Figura 1.
fato de ser fino, ou mesmo granular, influencia
diretamente no lançamento e no armazenamento
nos sistema de contenção.
Uma consideração representativa na
caracterização de rejeitos de mineração, é que,
apesar de se assemelharem visualmente com os
solos, estes materiais possuem propriedades
reológicas particulares, quando comparadas às
comumente observadas na Mecânica dos Solos
clássica. Outra particularidade, é que os rejeitos
podem apresentar, na maioria dos casos,
somente a fração do tamanho da partícula, e não
o comportamento associado. Por exemplo, os Figura 1. Análise do tamanho da partícula pela difração a
rejeitos podem apresentar frações de argila, mas laser: Θ1 – ângulo de difração para partículas pequenas e
não necessarimanete serem plásticos como os Θ2 – ângulo de difração para partículas grandes, sendo
Θ1 > Θ2
argilominerais.
Tendo em vista a necessidade de uma melhor
especificação desses materiais, pesquisas A concepção fundamental desta técnica é
associadas ao estudo de rejeitos de mineração baseada em dois modelos ópticos: de
vêm sendo desenvolvidas, visando melhorar Fraunhofer e de Mie, que refinam a difração do
esses procedimentos, surgindo, assim, novas material considerando também a absorção, a
técnicas como a análise granulométrica de refracção e a reflexão pela incidência do laser
materiais por difração a laser. Esse método vem nas partículas (Jillavenkatesa et al. 2001).
se tornando uma ferramenta “sedimentológica”, O equipamento Mastersizer 2000 (Figura 2)
sendo citada por Jillavenkatesa et al. 2001, é um instrumento de que utiliza os dois modelos
Eshel et al. (2004), Ryzak e Bieganowski ópticos para fazer análises mais assertivas dos
(2011), Dias (2014), Falheiro et al (2011) e resultados. Mostra-se eficiente para tamanhos
Capelli (2016). Os autores referenciam o de partículas, sendo de 0,010 a 2000μm, além
método como uma maneira confiável de se da agilidade nos ensaios.
realizar a análise granulométrica dos materiais.
O curto período de análise, a alta
repetibilidade, a utilização de pouca amostra
(cerca de 1g) e a possibilidade de determinação
de partículas finas de até 0,2 μm são algumas
das vantagens da análise granulométrica por
difração a laser. Trata-se de um método simples
e rápido, facilitando, assim, a sua utilização e
ampliação deste uso.
Figura 2. Granulômetro por difração a laser: (1) unidade
A metodologia desse ensaio é baseada no de medição óptica; (2) aparelho Hydro 2000 equipado
princípio de que as partículas possuem um com (2a) agitador de partículas e (2b) sonda ultrassônica
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Na sua operação, existe ainda possibilidade de 2.2 Dispersantes


realizar medidas a seco ou disolvido em água,
como em alguns sedimentos muito finos Em análises granulométricas, é necessário que
(argilas). Quando necessária a dispersão em ocorra uma dispersão do material para que
solução aquosa, utiliza-se o equipamento Hydro agregados e aglomerados mais frágeis não
2000MU como suporte. sejam vistos como partículas únicas, como cita
Neste trabalho, buscou-se estudar a Papini (2003). Outro benefício citado, consiste
eficiência do equipamento a laser para a análise na apresentação de análises mais estáveis em
de diferentes tipos de rejeitos, preparados e materiais bem dispersos, melhorando, assim, a
ensaiados com a influência de dois tipos de reprodutibilidade da pesquisa.
tratamento – dispersão química e física. O Alguns métodos de dispersão de materiais
estudo enfatizou a ação dos tempos de dispersão em laboratório utilizados, nesse trabalho, são a
física em conjunto com a dispersão química, dispersão química e a dispersão física.
visando a obteção dos melhores resultados.
2.2.1 Dispersante Químico – Hexametafosfato
de Sódio
2 MATERIAIS E MÉTODOS
No presente trabalho, foram utilizadas as
2.1 Rejeitos Estudados recomendações da norma brasileira NBR7181
(ABNT, 2017) para utilização do dispersante
Foram efetuados ensaios em três diferentes químico.
tipos de rejeito de mineração, considerando Recomenda-se o uso de hexametafosfato de
características de granulometria, processamento sódio (concentração de 45,7 g de sal por 1000
e mineralogia, sendo eles: bauxita (M-ALUM), cm³ de água destilada) para a dispersão química
fosfato (M-FOSF) e ferro. Este último foi de solos.
coletado em três diferentes minerações (M-F1,
M-F2 e M-F3), cujas amostras são apresentadas 2.2.1 Dispersante Físico – Ultrassom
na Figura 3.
Um método de desaglomeração de partículas,
possível a ser utilizado com o auxílio do
equipamento Mastersizer 2000, é pela utilização
do ultrassom. Apesar dos procedimentos para
sua utilização em solos não serem
normatizados, a dispersão física com auxílio do
ultrassom se mostra eficiente para alguns casos.
É essencial definir os parâmetros de
utilização para cada tipo de sedimento, como o
tempo necessário e a amplitude do ultrassom.
Figura 2. Rejeitos (a) M-F1, (b) M-F2, (c) M-F3, (d) M- Neste trabalho, foram utilizados tempos
ALUM e (e) M-FOSF imersos em hexametafosfato de
sódio e em cápsulas variados de análises, sendo 10 segundos, 30
segundos, 60 segundos e 120 segundos, bem
Os rejeitos são oriundos de pesquisas como 50% da amplitude da sonda ultrassônica
previamente realizadas em outros trabalhos do (10 m).
Centro Tecnológico de Geotecnia Aplicada do A aplicação desse dispersante físico pode ser
Núcleo de Geotecnia da UFOP, cujas ou não combinada com um dispersante químico,
especificações não se configuram objeto deste variando conforme a necessidade de
trabalho. desagregação das partículas. Neto e Manso
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(2003) discorrem que o ultrassom é mais 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


eficiente que o defloculante químico para RESULTADOS
argilas. Contudo, Wagner e Aranha (2007)
afirmam obter melhores resultados com o uso 3.1 Resultado da análise granulométrica do
apenas do dispersante químico. Apesar de ser Rejeito de Minério de Ferro (M-F1)
um método capaz de revelar a real
granulometria de sedimentos, Dias (2014) alega Os resultados da análise granulométrica do
que o ultrassom, em determinados tipos de rejeito M-F1 são apresentados na Tabela 1, em
amostras, pode acarretar a fragmentação de diferentes condições de ensaio.
partículas, mascarando assim os resultados. O
estudo proposto por esse trabalho visa avaliar as Tabela 1. Análise granulométrica do rejeito de minério de
aplicações desses dois tipos de dispersantes, ferro M-F1, discriminando as frações de tamanho da
partícula
isoladamente e em conjunto. AMOSTRA REJEITO MF-1
% % % %
2.3 Preparação das amostras e ensaio MÉTODOS
ped areia silte argila
sem hexa / sem
0 62,43 35,99 1,60
Os rejeitos foram preparados de acordo com os ultrassom
sem hexa / com
procedimentos prescritos pela NBR 6457 (NBR,
ultrassom 10 0 64,91 33,44 1,65
2016), para caracterização, com secagem prévia. segundos
As amostras que necessitavam de dispersão com hexa / sem
0 18,27 73,52 8,83
química foram preparadas 24 horas antes dos ultrassom
ensaios serem realizados. com hexa / com
0 15,57 71,85 12,58
Para determinação da quantidade de amostra ultrassom 10s
a ser ensaiada, o indicador utilizado pelo
equipamento é a ‘obscuração’, tratando-se de Este rejeito apresentou uma sedimentação
uma faixa de valores aceitáveis de acréscimo de muito rápida no proprio equipamento,
material, medida pela quantidade de luz do laser provavelmente ocasionada pela elevada massa
que é perdida ao passar por ela (Manso, 1999). específica dos grãos (em torno de 4 g/cm³, em
Segundo Falheiro et al. (2011) e Dias (2014), o função do teor de ferro).
valor da obscuração de amostras de solos deve Uma análise também a ser feita desse
estar entre 10% e 20%. Sendo que, abaixo de material, é que, quando não há nenhum
10% não é representativo e, acima de 20%, o mecanismo para desagregação das partículas,
raio laser incidente corre o risco de sofrer ele se apresenta como uma areia siltosa, sendo
refração secundária, mascarando, assim, as um material mais grosseiro. Contudo, com a
informações das partículas do material combinação de hexametafosfato de sódio e 10
amostrado. segundos de ultrassom (tempo de desagregação
Para análises com a utilização de ultrassom, considerada ótima para o material), ele passa a
torna-se necessário predefinir a sua amplitude e se caracterizar como um silte arenoso.
o seu tempo. Neste caso, o dispersor físico é
acionado após a inserção da amostra e, depois 3.2 Resultado da análise granulométrica do
de ocorrido o tempo necessário, é verificado se Rejeito de Minério de Ferro (M-F2)
a amostra ainda está na faixa de obscuração
sugerida. Após isso, é realizada a análise. Com Para o rejeito M-F2 (Tabela 2), nota-se que o
todos os procedimentos e análises feitas, o material era considerado uma areia siltosa antes
software gera as curvas granulométricas e as da utilização de dispersantes. Com a ação
tabelas quem podem ser exportados para uma desaglutinante do hexametafosfato de sódio e a
planilha eletrônica. aplicação de 30 segundos de ultrassom (tempo
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de desagragação ótima), nota-se que o rejeito 3.4 Resultado da análise granulométrica do


passa a ter características de silte argiloso, Rejeito de Bauxita (M-ALUM)
aumentando consideravelmente a porcentagem
de silte (35,39%) e de argila (14,58%). Na caracterização granulométrica desse material
(também chamado em alguns trabalhos de
Tabela 2. Análise granulométrica do rejeito de minério de rejeito de alumínio), constata-se uma concreta
ferro M-F2, discriminando as frações de tamanho da estabilidade da amostra, quando é incorporado o
partícula
AMOSTRA REJEITO MF-2
ultrassom e, posteriormente, o hexametafosfato
% % % % de sódio. O ultrassom influencia positivamente
MÉTODOS na dispersão dos grãos, mas, nota-se que ele
ped areia silte argila
sem hexa / sem
0 50,57 38,26 11,17
sozinho não representa uma separação dos grãos
ultrassom mais clara, sendo necessário então o auxílio do
sem hexa / com
0 3,91 76,51 19,58 hexametafosfato de sódio. Neste caso, a ação do
ultrassom 30s
com hexa / sem ultrassom pode ter sido insuficiente para
ultrassom
0 1,55 75,74 23,11 ‘quebrar’ as agregações devidas ao uso do
com hexa / com floculante utilizado no processo de
0 0,10 74,25 25,75
ultrassom 30s beneficiamento. As frações granulométricas são
destacadas na Tabela 4.
3.3 Resultado da análise granulométrica do
Rejeito de Minério de Ferro (M-F3) Tabela 4. Análise granulométrica do rejeito de bauxita M-
ALUM, discriminando as frações de tamanho da partícula
Se comparado aos outros rejeitos de minério de AMOSTRA REJEITO M-ALUM
% % % %
ferro, o rejeito caracterizado como M-F3, MÉTODOS
ped areia silte argila
quando em contato com dispersantes, sem hexa / sem
apresentou características de dispersão dos 0 24,33 59,84 15,83
ultrassom
grãos mais estáveis. As distribuições são sem hexa / com
0 0,48 78,24 21,28
mostradas na Tabela 3. ultrassom 120s
com hexa / sem
0 0,14 76,94 22,97
Tabela 3. Análise granulométrica do rejeito de minério de ultrassom
ferro M-F3, discriminando as frações de tamanho da com hexa / com
0 0,00 73,43 26,57
partícula ultrassom 120s
AMOSTRA REJEITO MF- 3
% % % % Quando não há nenhum mecanismo para
MÉTODOS
ped areia silte argila desagregação das partículas, ele se apresenta
sem hexa / sem como um silte arenoso, sendo um material mais
0 3,69 87,18 9,13
ultrassom grosseiro. Após a associação dos dois
sem hexa / com dispersantes, é notável a desagregação das
0 0,12 90,16 9,72
ultrassom 120s partículas ao se apresentar como um silte
com hexa / sem argiloso.
0 0,13 88,44 11,72
ultrassom
com hexa / com 3.5 Resultado da análise granulométrica do
0 0,11 86,99 12,90 Rejeito de Fosfato (M-FOSF)
ultrassom 120s

Observa-se que, quando não há nenhum Observa-se, pela Tabela 5, que, quando não há
mecanismo de desagregação das partículas, ele nenhum mecanismo para desagregação das
se apresenta como um silte argiloso. Quando partículas, o rejeito M-FOSF se apresenta como
utilizados os dispersantes, as características são um silte arenoso. No entanto, as características
inalteradas. granulométricas ficam praticamente inalteradas
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quando incrementados os dispersantes. A granulométrica por difração a laser em vários


associação de 120 segundos de ultrassom tipos de rejeitos, inferindo assim o tempo ótimo
(tempo de desagregação ótima) e do de desagregação de partículas pelo ultrassom
hexametafosfato de sódio, o rejeito passa a ter para cada material. Outra sugestão consiste em
caracterísiticas de silte argiloso, com aumento analisar a influência das particularidades de
considerável de 13,80% na fração silte e de cada material, como mineralogia, processo de
7,75% na fração argila. Neste caso, o uso do beneficiamento e uso de floculantes no
ultrassom foi constatado como essencial para a processo. Neste sentido, recomenda-se, até que
análise. se tenha uma orientação mais assertiva do
melhor mecanismo para cada rejeito, a
Tabela 5. Análise granulométrica do rejeito de minério de realização do ensaio com os diversos
fosfato M-FOSF, discriminando as frações de tamanho da dispersantes, visto que são métodos
partícula
relativamente rápidos.
AMOSTRA REJEITO M-FOSF
% % % %
MÉTODOS
ped areia silte argila
sem hexa / sem AGRADECIMENTOS
0 26,50 69,22 4,28
ultrassom
sem hexa / com Os autores deste trabalho agradecem ao
0 9,63 81,88 8,49
ultrassom 120s NUGEO, a UFOP e a CAPES, pelo apoio
com hexa / sem constante na realização da pesquisa.
0 5,13 87,60 7,35
ultrassom
com hexa / com
0 4,95 83,02 12,03
ultrassom 120s REFERÊNCIAS

ABNT (2016). Associação Brasileira de Normas


4 CONCLUSÕES Técnicas. Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização -
NBR 6457.
A metodologia utilizada, em todas as análises, ABNT (2017). Associação Brasileira de Normas
se mostrou adequada, ágil e diligente, podendo- Técnicas. Solo - Análise granulométrica - NBR 7181.
se usufruir do equipamento Mastersizer 2000 Capelli, R.B. (2016). Comparação de métodos na análise
granulométrica de rejeitos de mineração. Monografia
com qualidade e obtendo-se precisão nos
de Graduação. 31f. Escola de Minas, Universidade
resultados analisados. Federal de Ouro Preto. Ouro Preto.
A utilização do ultrassom, em conjunto com Dias, K.A. (2014). High-resolution methodology for
o hexametafosfato de sódio, como dispersantes particle size analysis of naturally occurring sand size
no método de granulometria a laser, se mostrou sediment through laser diffractometry with
application to sediment cores: kismet, fire island, new
mais eficiente nos rejeitos de minério de ferro
york. Disertação de Mestrado. 82f. Stony Brook
M-F1, minério de ferro M-F2 e minério de University.
fosfato. Nos rejeitos de minério de ferrro M-F3 Eshel, G., Levy, G.J., Mingelgrin, U., And Singer, M.J.
e bauxita, a dispersão química foi suficiente (2004). Critical evaluation of the use of laser
para a desagregação das partículas. Esse fato diffraction for particle-size distribution analysis. Soil
Science Society of America Journal, 68(3), 736-743.
evidencia a necessidade de se fazer uma
Falheiro, P.F., Abuchacra, R.C., Pacheco, C.E.P.,
observação particularizada para cada material, Figueiredo, A.G., Vasconcelos, S.C. (2011).
associada às características dos rejeitos, como a Comparação de diferentes métodos de preparação de
composição mineralógica e a natureza amostras de sedimento para granulometria a laser.
eletroquímica do material, por exemplo. XIII Congresso da Associação Brasileira de Estudos
do Quaternário ABEQUA, Armação de Búzios-RJ.
Uma sugestão para pesquisas futuras seria Jillavenkatesa, A., Dapkunas, S.J., Lum L.H.; Goetzel,
ampliar o banco de dados, com a análise G.C. (2001). Particle size characterization, NIST
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recommended practice guide. Special publication.


Washington. 960-1.
Manso, E. (1999). Análise Granulométrica dos solos de
Brasília pelo Granulômetro a Laser. Dissertação de
Mestrado em Geotecnia. 113 f. UnB. Brasília.
Neto, P.M.S.; Manso, E.A. (2003). Uma abordagem da
granulometria da argila porosa colapsível de Brasília
utilizando o granulômetro a laser. Goiânia-GO.
Papini, C.J. (2003). Estudo comparativo de métodos de
determinação do tamanho de partícula. 129f.
Dissertação de Mestrado, Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
Pereira, E.L (2005) Estudo do potencial de liquefação de
rejeitos de minério de ferro sob carregamento
estático. 151f. Dissertação de Mestrado. Escola de
Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Ryzak, M., Bieganowski, A. (2011) Methodological
aspects of determining soil particle‐size distribution
using the laser diffraction method. Journal of Plant
Nutrition and Soil Science, 174(4), 624-633.
Wagner, D.T.; Aranha, I.B. (2007). Método para análise
de tamanho de partícula por espalhamento de luz
para Bentonita Chocolate. XV Jornada de Iniciação
Científica – CETEM.
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RECONSTITUIÇÃO DE CORPOS DE PROVA UTILIZANDO


O MÉTODO DE DEPOSIÇÃO EM POLPA EM ENSAIOS
TRIAXIAIS E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE
LIQUEFAÇÃO
Mariana Martins Corrêa
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, marianaengminas@hotmail.com

Waldyr Lopes de Oliveira Filho


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, waldyr@em.ufop.br

RESUMO: A pesquisa tem como objetivo continuar investigando um novo método de


reconstituição de amostras deformáveis para materiais depositados de forma aluvionar, como por
exemplo rejeitos arenosos. Diferentes modos de preparação de amostras são revistos, incluindo
técnicas tradicionais e muito utilizadas na prática e esta nova proposta de desenvolvimento mais
recente. Um estudo inicial sobre “fabric”, ou arranjo estrutural das partículas, obtido pelos métodos
de reconstituição de amostras permite a confrontação de cada um deles com aquele real, in situ, de
solos naturais e depósitos de rejeitos. A análise da susceptibilidade à liquefação de rejeitos arenosos
é empreendida a partir da execução de ensaios triaxiais estáticos não drenados sob corpos de prova
preparados segundo a técnica de deposição em polpa “slurry deposition”. Os resultados da pesquisa
possibilitarão uma visão crítica das técnicas de preparação de elementos de solo no estudo de
liquefação.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Não-coesivos, Técnicas de Elaboração de Corpos de Prova, Ensaio


Triaxial Estático Não Drenado, Liquefação.

1 INTRODUÇÃO (MIURA e TOKI 1982; MULILIS et al., 1977;


LADD 1974, 1977, NEMAT-NASSER 1984;
O interesse na pesquisa sobre o comportamento VAID e SIVATHAYALAN, 2000, CARRARO
mecânico de areias contendo percentuais de e PREZZI 2008).
finos aumentou principalmente porque diversos Os métodos de reconstituição de corpos de
casos históricos de liquefação estão ligados a prova investigados são compactação com
esse tipo de solo. Porém, a maioria dos estudos soquete (moist tamping, MT), pluviação em ar
pioneiros sobre a liquefação do solo tratava (air pluviation, AP) e pluviação em água (water
apenas de areias limpas. Nesse termos, estudos pluviation, WP) por serem os métodos mais
prévios de liquefação são ainda recurso difundidos em rotinas laboratoriais. Além deles,
frequente a ensaios de laboratório e com uma técnica de preparação desenvolvida
amostras reconstituídas de areia. recentemente é abordada, deposição em polpa
Não é de hoje o conhecimento de que (slurry deposition, SD), a qual é tida como a
diferentes técnicas de formação de corpos de que produz resultados mais realistas das
prova de solos não coesivos resultam em condições in situ de solos aluvionares naturais,
orientação e o arranjo dos contatos dos grãos, e de depósitos de rejeitos formados por descarte
do inglês “fabric”, específicos, acarretando de polpas fluidas.
características e respostas de tensão-deformação Comparações entre as técnicas de
distintas, que podem levar a conclusões opostas reconstituição de amostras já foram feitas por
com relação a susceptibilidade à liquefação diversos pesquisadores. Logo, foi constatado
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que é questionável usar a técnica de relativa (ou índice de vazios), ensaiados à


compactação com soquete para avaliar a mesma tensão efetiva, de 50 kPa.
liquefação, independentemente do tipo de A amostra utilizada no estudo é um rejeito
carregamento utilizado no ensaio (estático, silto-arenoso com finos não plásticos, densidade
cíclico, dinâmico, triaxial, cisalhamento simples média dos grãos de 2,98 g/cm3, índice de
...) não obstante, alguns estudos sugerem que vazios mínimo igual à 0,72 (seguindo a Norma
esse método produz amostras não homogêneas Técnica da ABNT MB-3388), e índice de
e não simulam a estrutura (“fabric”) dos vazios máximo igual à 0.92 (seguindo a Norma
depósitos aluviais (DEGREGORIO 1990, Técnica da ABNT MB-3324), possuindo assim
HIRD e HASSONA 1990, VAID e uma densidade relativa (ou compacidade
SIVATHAYALAN 2000, CHU et al. 2003, relativa) igual a 30%, ou seja trata-se de uma
ELIADORANI e VAID, 2003). areia fofa a medianamente compacta. O
Para corpos reconstituídos utilizando a material estudado é composto majoritariamente
pluviação em ar, obteve-se maior por quartzo, hematita e goetita, que foi coletada
homogeneidade dos espécimes, comparada a de uma grande mineradora de ferro localizada
técnica anterior, porém também com no Quadrilátero Ferrifero. Observando sua
comportamento altamente contrátil. curva granulométrica (Figura 1), executada de
Por fim, as amostras reconstituídas através acordo com as normas ASTM 1289.3.6.1 e feita
da pluviação em água desenvolvem-se uma através do peneiramento úmido, pode-se inferir
estrutura (“fabric”) preferencial que se que o material é fino, uma vez que mais de 50%
comporta de forma semelhante à dos depósitos (58% exatamente) da amostra peneirada passa
aluvionais naturais (GHIONNA e PORCINO pela peneira 0,75mm (#200).
2006; VAID et al. 1999; CARRARO e PREZZI
2008). Entretanto, essa técnica falha quando
usada para areias contendo finos por causa da
segregação de partículas devido a diferença de
altura de queda relativa entre os grãos finos e
grossos.
Dessa forma, a técnica deposição em polpa
incorpora algumas características desejáveis da
técnica pluviação em água, mas é menos
propícia à segregação do material, além de
possibilitar uma saturação inicial (CARRARO e
PREZZI, 2008). Portanto, segundo ABREU et
al. (2016), a técnica SD, proposto por
CARRARO e PREZZI (2008) e modificado por
eles, é considerada a mais adequada na
reconstituição de rejeito oriundo de depósitos Figura 1. Análise granulométrica comparativa, original e
formados por disposição hidráulica com réplica.
propensão a liquefação por lidar melhor com
materiais que contêm finos, como costuma 2 ELABORAÇÃO DOS CORPOS DE
ocorrer com rejeitos de minas. PROVA
A metodologia de pesquisa apoia-se na
realização de ensaios triaxiais, consistindo na 2.1 Deposição em Pasta (SD)
execução de uma campanha de ensaios triaxiais Os corpos de prova foram elaborados a partir de
estáticos não drenados composta por corpos de elementos de solo para os ensaios triaxiais
prova confeccionados pelo método deposição recriados utilizando a técnica de reconstituição
em pasta variando-se os valores de densidade para solos arenosos com finos, conforme
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sugerido por CARRARO e PREZZI (2008),


com modificações e adições adequadas. Os
materiais utilizados nesta preparação foram: 1
tubo de acrílico, 2 rolhas, uma membrana, dois
discos de pedra porosa, dois o-rings, 2 papéis
filtro, água destilada, água destilada e de-airada,
rejeito seco, 1 colar de alumínio, 1 prato coletor
de alumínio, câmara de vácuo Prismatec e uma
balança analítica de massa.
Foi seguido a mesma descrição de
preparação de corpos de prova proposto por
CARRARO e PREZZI e modificado por
ABREU al. (2016), No método de CARRARO
e PREZZI (2008), o tubo do cilindro é virado de
cabeça para baixo em vez da base. Nesse caso,
deve-se confiar no papel-filtro e na pedra
porosa para uma vedação perfeita do sistema,
que segundo ABREU et al. (2016), mostrou-se
difícil de obter. ABREU et al. (2016), por sua
vez, em seus ensaios colocava a base e o molde
de cabeça para baixo na parte superior do tubo Figura 2. Cilindro de acrílico preenchido com a polpa.
de acrílico preenchido com a mistura do solo,
então voltava o conjunto para a posição normal
da base triaxial, deixando o cilindro de cabeça
para baixo.
As modificações propostas por ABREU et
al. (2016) mostraram-se ainda ser dificeis a
serem seguidas, portanto, nos ensaios feitos
nesse estudo, mais uma modificação foi
proposta. A base continuava sendo encaixada
de cabeça para baixo no cilindro, porém só
depois o molde era montado e então em seguida
voltava-se o conjunto para a posição normal da
base triaxial, deixando o cilindro de cabeça para
baixo (Figura 2).
Além disso, as duas peças desenvolvidas
para esse teste (o colar de alumínio e o prato
coletor de alumínio) foram usadas afim de
melhorar a eficiência dessa técnica (Figura 3, 4,
5). A partir deste ponto, seguiu-se os mesmos
procedimentos descritos por ABREU et al.
(2016) e pelos métodos convencionais para
testes de compressão triaxial consolidado não Figura 3. Elaboração de corpo de prova utilizando o colar
drenado (ASTM D4767-11). de alumínio e o prato coletor de alumínio.
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drenados foram conduzidos em amostras


reconstituídas usando o método de deposição
em polpa.
Após a preparação da amostra utilizando
densidade igual a 1,6 g/cm3 e porcentagem de
sólidos igual a 45%, a saturação foi obtida
através de etapas incrementais de contrapressão.
A forma como a saturação pôde ser avaliada foi
através da medida do parâmetro B de Skempton
chegando-se a valores de B em torno de 0,95,
obtidos para contra-pressões em torno de 350
kPa. O espécime foi então consolidado
isotropicamente sob tensão de 50 kPa.
A taxa de cisalhamento do teste foi
estabelecida como 0,24 mm / min, com base
nos dados de consolidação, até que uma
deformação de 20% da deformação axial foi
atingida, o que levou aproximadamente duas
horas.
A Figura 6 mostra o comportamento típico
Figura 4. Supressão do colar de alumínio. de tensão desviadora e excesso de poro-pressão
segundo a deformação axial, para testes
triaxiais de compressão axial não drenados.
Percebe-se que não houve comportamento de
suavização de tensão, como provavelmente
ocorreria usando técnicas de compactação com
soquete e precipitação em ar (CARRARO e
PREZZI 2008). Este comportamento dilativo
desconsidera qualquer potencial de liquefação.
Descobertas similares também foram
relatadas por outros pesquisadores que
concluíram que espécimes produzidos por
deposição em polpa são propensos a exibir um
padrão mais dilativo independentemente se a
sedimentação de partículas ocorresse de forma
mais frouxa (YAMAMURO e WOOD 2004).
Na Figura 7 pode-se observar o
comportamento da curva tensão efetiva média
(MIT) pela tensão desviadora efetiva média
(MIT). Segundo a literatura, quando a curva
possui inclinação para a direita significa poro-
pressões negativas. Portanto, esse gráfico
corrobora as conclusões anteriores de que essa
técnica produz corpos de provas resistentes à
Figura 5. Supressão do prato coletor de alumínio. liquefação.
Uma vez que a polpa é formada por uma
3 RESULTADOS mistura porporcional de água e partículas
Testes triaxiais consolidados estáticos não sólidas, a proximidade entre as partículas limita
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o movimento relativo entre elas durante a


sedimentação, independentemente de qualquer
diferença em tamanho ou densidade (de modo
que a segregação de partículas não ocorre, ao
contrário da pluviação convencional de água).

Figura 7. Tensão Efetiva Média (MIT) x Tensão


Desviadora Efetiva Média (MIT).

Assim, o modo característico pelo qual as


partículas do solo em solução são sedimentadas
ao longo do tubo de acrílico formando o corpo
de prova, no método SD, cria um arranjo
estrutural (“fabric) fundamental para avaliação
da liquefação em solos transicionais, tornando-
se mais aderente à realidade, e
consequentemente tornando essa técninca mais
eficaz (ABREU et al. 2016).
Outra divergência observada nos ensaios
confeccionados a partir da técnica de deposição
em polpa são corpos de provas deformados ao
Figura 6. Típico resultado de teste triaxial consolidado e fim do ensaio porém sem apresentar um plano
não drenado utilizando a técnica de preparação de
amostra por deposição em polpa. de ruptura visível, manifestando apenas o
formato arredondado oriundo de deformação
(Figura 8).
Pode-se assim inferir através do gráfico
apresentado que a tensão desviadora aumenta
muito rapidamente ao longo do incremento dos
valores de deformação. A curva da tensão
desviadora, dessa forma, cresce atingindo uma
assíntota no qual mostra tendências a se
estabilizar em torno de um valor maximo o qual
é definido como a resistência residual. Uma vez
que o ensaio foi planejado para ser
interrompido quando alcançasse 20% de
deformação o fim da curva e o valor de
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resistência de pico não foram obtidos. de tensão, poro-pressões negativas e


Nessas condições, o comportamento dilativo comportamento dilatador, características essas
e de endurecimento do material amostrado pode correspondentes a um comportamento resistente
ser também comprovado através da observação à liquefação. Essa conclusão pode questionar os
do corpo de prova que, apesar de rompido, resultados habituais dos ensaios obtidos por
entretanto, não apresenta um plano de ruptura meio de outras técnicas, como por exemplo
evidente. compactação com soquete, para avaliação do
potencial de liquefação.
Finalmente, espera-se que o estudo
fomentará uma maior compreensão do
comportamento de solos não coesivos de
depósitos naturais (solos transicionais) ou de
rejeitos granulares de mineração oriundos de
estruturas de contenção (barragem de rejeito) no
que diz respeito às análises de liquefação,
trazendo mais opções para estudos e projetos de
estruturas geotécnicas localizadas em depósitos
de rejeitos.

REFERÊNCIAS

ABNT. Solo – Determinação do índice de vazios mínimo


de solos não-coesivos. MB – 3388.
ABNT. Solo – Determinação do índice de vazios máximo
de solos não-coesivos. MB – 3324.
Abreu, I. C., Oliveira, S., Filho, W. L. O., Fourie, A.,
2016, Slurry Deposition Method For Reconstituting
Specimens For Triaxial And Consolidation Tests.
COBRAMSEG
ASTM. Standard Methods of testing soils for engineering
purposes. Method 3.6.1 Soil classification tests-
Determination of the particle size distribution of a
Figura 6. Corpo de prova ao final do ensaio. soil-Standard method of analysis by sieving.
ASTM. Standard test method for consolidated undrained
CONCLUSÕES triaxial compression test for cohesive soils. D4767 –
Utilizando a técnica proposta para pesquisar o 11.
comportamento de materiais oriundos de Carraro, J. A. H. and Prezzi, M., 2008. A New Slurry-
Based Method of Preparation of Specimens of Sand
barragem de rejeito de mineração no contexto Containing Fines. Geotechnical Testing Journal, Vol.
brasileiro, validou-se os ensaios promovidos 31, No. 1.
por ABREU et al. (2016), reforçando a sua Chu, J., and Leong, W. K., 2003, “Reply to the
legitimidade e fidedignidade à situação in situ, Discussion on ‘Effect of Undrained Creep on the
posto que simula uma formação de depósito de Instability Behaviour of Loose Sand’,” Can. Geotech.
J., 40, pp. 1058–1059.
rejeitos, de acordo com a literatura. Além disso, DeGregorio, V. B., 1990, “Loading Systems, Sample
altos graus iniciais de saturação podem ser Preparation, and Liquefaction,” J. Geotech.
obtidos a partir deste método tornando o Engrg.,Vol. 116, No. 5, pp. 805– 821.
processo comparativamente mais simples e Eliadorani, A., and Vaid., Y. P., 2003, “Discussion of
rápido. ‘Effect of Undrained Creep on the Instability
Behaviour of Loose Sand’,” Can. Geotech. J., Vol.
Ainda, os testes triaxiais realizados em
40, pp. 1056–1057.
amostras preparadas com esta técnica de Ghionna, V. N. and Porcino, D., 2006, “Liquefaction
deposição em polpa mostraram endurecimento Resistance of Undisturbed and Reconstituted Samples
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of a Natural Coarse Sand from Undrained Cyclic


Triaxial Tests,” J. Geotech. Geoenviron. Eng., Vol.
132, No. 2, pp. 194–202.
Hird, C. C., and Hassona, F. A. K., 1990, “Some Factors
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Vol. 28, pp. 149–170.
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Mulilis, J. P., Seed, H. B., Chan, C. K., Mitchell, J. K.,
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Geotechnical Engineering, Div., Vol. 103, No. GT2
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Sands, Canadian Geotechnical Engineering,., Vol.
Yamamuro, J. A. and Wood, F. M., 2004, “Effect of
Depositional Method on the Undrained Behavior and
Microstructure of Sand With Silt,” Soil Dyn.
Earthquake Eng., Vol. 24, No. 9-10, pp. 751–760.37.
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Resistência e Deformabilidade de um Solo Laterítico da Formação


Barreiras
Ray de Araujo Sousa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, sousa.ray10@gmail.com

Olavo Francisco dos Santos Júnior


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, olavo@ct.ufrn.edu

Guilherme de Oliveira Souza


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, guiosouza95@gmail.com

Bruma Morganna Mendonça de Souza


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, bmorganna@gmail.com

RESUMO: A maior parte da infraestrutura e das cidades da zona costeira oriental do Rio Grande do
Norte está assentada sobre a unidade geológica denominada Formação Barreiras. Essa unidade é
composta por solos residuais tropicais sedimentares predominantemente arenosos. Para realizar a
caracterização geotécnica desse material, parâmetros de resistência e deformabilidade foram
avaliados em 14 blocos de amostras indeformadas de solo em duas regiões distintas da cidade de
Natal/RN. Foram realizados ensaios de caracterização dos solos para a classificação do material,
além de ensaios de cisalhamento direto nas condições inundada e não-inundada e ensaios de
compressão edométrica. Constatou-se que a saturação da amostra causa uma redução do intercepto
de coesão e alterações no ângulo de atrito. Os ensaios de compressão edométrica indicaram
comportamento colapsivel em algumas das amostras analisadas.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Barreiras, Cisalhamento direto, Compressão edométrica.

1 INTRODUÇÃO Formação Barreiras podem ser considerados


como solos residuais tropicais. Suas camadas
A concepção de obras de Engenharia são constituídas de sedimentos
Geotécnica exige que se conheça o material predominantemente arenosos, com diversos
sobre o qual a estrutura será apoiada. Autores teores de finos e com a possibilidade de
como Bastos et al. (2009) e Santos Júnior, ocorrências de aglomerações na parte
Coutinho e Severo (2015) apresentam a intermediária de falésias ao longo do litoral.
importância dos conceitos prévios de geotecnia Apresentam, ainda, tonalidades vivas que
antes da elaboração de um projeto relacionado a variam entre vermelho, amarelo e branco
obras deste porte, e do conhecimento apurado (SANTOS JÚNIOR, COUTINHO E SEVERO,
acerca das propriedades geotécnicas dos locais 2015). Martínez (2003) ainda expõe que estes
onde a estrutura planejada será assentada. solos apresentam um elevado índice de vazios,
Santos Júnior, Coutinho e Severo (2015) propriedade esta que implica em elevada
explicitam que grande parte da infraestrutura compressibilidade do material e influencia
das cidades costeiras potiguares encontra-se diretamente nos parâmetros de resistência e de
sobre materiais geológicos de origem deformabilidade. Na condição compactada,
sedimentar da Formação Barreiras. De acordo consistem em materiais de ampla utilização em
com Martínez (2003) os sedimentos da pavimentação, em aterros e em barragens de
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terra no Nordeste brasileiro.


Blocos indeformados de material da
Formação Barreiras foram coletados em duas
localidades do município de Natal, capital do
estado do Rio Grande do Norte. As áreas de
coleta do material são localizadas na Zona
Norte e Oeste da cidade, e ambas posicionam-se
próximas ao leito do Rio Potengi. Um total de
14 blocos indeformados foram extraídos com o
objetivo geral de caracterizar a resistência e a
compressibilidade de materiais da Formação
Barreiras. O solo foi analisado nas condições
seca e inundada, de modo que ensaios de
compressão edométrica e de cisalhamento
direto foram realizados nas amostras estudadas. Figura 1. Localização das áreas de coleta. Fonte:
Adaptado de Google My Maps (2018).
2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Coleta das amostras

O solo utilizado na pesquisa é proveniente de


duas áreas do município do Natal (Figura 1),
localizado no Rio Grande do Norte. A área 01
(Figura 2) encontra-se na Zona Norte da cidade,
próxima às margens do Rio Potengi, enquanto
que a área 02 (Figura 3) está localizada na Zona
Oeste da cidade, também nas proximidades do
Figura 2. Localização por satélite da área 01, em
rio. Destas áreas, 14 blocos cúbicos Natal/RN. Fonte: Adaptado de Google My Maps (2018).
indeformados, com arestas de 30 cm, foram
coletados. Os blocos foram cobertos com
parafina, morim e acomodados em caixotes de
madeira devidamente identificados. Este
procedimento foi feito para que o solo não
perdesse a sua consistência e que suas
propriedades naturais não sofressem alterações
durante a coleta e o transporte até o laboratório.
Os 5 blocos coletados na área 01 receberam
a denominação de A-01 a A-05; todos estes
foram submetidas a ensaio de cisalhamento
direto, enquanto que as amostras de A-01 a A- Figura 3. Localização por satélite da área 02, em
04 foram submetidas a ensaios de adensamento. Natal/RN. Fonte: Adaptado de Google My Maps (2018).
Os blocos coletados na área 02 receberam a
denominação de B-01 a B-05 para os blocos Em uma primeira análise tátil-visual, os
destinados aos ensaios de cisalhamento direto, e blocos da área 01 apresentaram
C-01 a C-04 para os ensaios de adensamento. homogeneidade: pequenas variações foram
identificadas, a exemplo da maior presença de
pedregulhos no bloco A-02 e da matéria
orgânica existente no bloco A-05. Por outro
lado, os blocos provenientes da área 02
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apresentaram heterogeneidade; isto ocorreu dificuldade de ajuste do anel ao corpo de prova.


tanto entre blocos diferentes quanto dentro do
próprio bloco, devido à presença de núcleos de
diferentes colorações e níveis de rigidez. A
Figura 4 apresenta o procedimento de abertura
do caixote para um dos blocos.

Figura 4. Um dos blocos indeformados utilizados.


Figura 5. Corpo de prova durante sua moldagem.
2.2 Preparo das amostras
2.3 Caracterização do solo
Amostras de solo foram recolhidas de todos os
blocos para determinação do teor de umidade e Para a determinação do teor de umidade do
para a realização de ensaios de caracterização; solo, foi utilizado o método descrito no
as suas retiradas seguiram o procedimento apêndice da norma ABNT NBR 6457:1986.
descrito na norma ABNT NBR 6457:1986 A análise granulométrica das amostras foi
(Amostras de solo – Preparação para ensaios de feita de acordo com disposições normativas da
compactação e ensaios de caracterização). Após ABNT NBR 7181:1984 (Solo – Análise
o preparo, foram estocadas em sacos plásticos Granulométrica) para o peneiramento e para a
vedados e identificadas, até que a realização dos sedimentação das amostras. Finalizados os
ensaios ocorresse. ensaios, os materiais foram classificados de
Corpos de prova foram talhados, de modo acordo com o sistema de classificação do
cuidadoso, com o intuito de não alterar as sistema rodoviário de classificação (HRB) e
propriedades naturais do solo, para os ensaios com o Sistema Unificado de Classificação dos
de cisalhamento e de compressão edométrica. Solos (SUCS).
De cada bloco, oito corpos de prova foram Os limites de Atterberg foram determinados
moldados com o auxílio de anéis de diâmetro considerando as normas ABNT NBR
nominal de 60 mm e altura de 30 mm (Figura 7180:1984 (Solo – Determinação do limite de
5), para serem ensaiados no cisalhamento plasticidade) e ABNT NBR 6459:1984 (Solo –
direto, nas condições inundada e seca. Para os Determinação do limite de liquidez).
ensaios de compressão edométrica, os corpos de
prova foram talhados por meio de um anel de 2.4 Ensaios de cisalhamento direto
diâmetro nominal de 50 mm e altura de 20 mm.
O processo de moldagem, sobretudo dos Ensaios de cisalhamento direto foram realizados
solos de amostras provenientes da área 02, foi com o intuito do estudo da resistência das
de grande dificuldade devido à significativa amostras de material coletadas. Pinto (2006)
rigidez de partes dos blocos. Essa característica apresenta este método, baseado no critério de
poderia vir a causar a fissuração ou a ruptura Coulomb, como um simples e antigo
repentina do corpo de prova durante a procedimento de determinação de resistência ao
moldagem. A grande presença de pedregulhos cisalhamento. É realizado por meio da aplicação
em determinados blocos também consistia em de tensão normal em um plano, enquanto que a
um entrave ao processo de moldagem, devido à tensão cisalhante é verificada. O campo de
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deformações não se manifesta de modo Cada estágio de carga da fase inundada tinha
uniforme e, na medida em que o ensaio é duração de 24 horas. O descarregamento do
realizado, sensores instalados no equipamento solo foi realizado para as tensões de 400, 100 e
permitem que seja realizado o acompanhamento 12,5 kPa, com duração de 2 horas cada.
das deformações verticais e horizontais na
medida em que a taxa de cisalhamento 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
constante é mantida (ORTIGÃO, 2007).
Foram realizados ensaios nas condições seca 3.1 Caracterização do solo
(teor de umidade no qual a mostra foi coletada)
e inundada para cada bloco testado para esta Por meio dos ensaios de peneiramento e de
propriedade. A representação gráfica das sedimentação, foi possível definir as curvas
tensões máximas de cisalhamento alcançadas granulométricas de todos os blocos
para cada tensão normal aplicada durante os indeformados. Os resultados dos ensaios de
ensaios permitiu que fossem obtidas as granulometria da área 01 estão mostrados da
envoltórias de resistência para os blocos Figura 6. Ao analisar as curvas granulométricas
inundados e não-inundados. Foram realizados da área 01 (Figura 6), percebe-se
ensaios com tensões normais de 50, 100, 200 e comportamento similar nas porções central e
400 kPa para cada amostra. A partir desses final das curvas, à exceção do material
dados, a coesão e o ângulo de atrito de todas as recolhido no bloco A-02, que possui uma fração
amostras do material puderam ser obtidos por de cerca de 13,0% de pedregulhos enquanto que
meio de aproximação linear. as demais amostras não apresentam partículas
com este diâmetro. Este resultado é compatível
2.5 Ensaios de adensamento com a análise tátil-visual realizada a priori.
Quanto às amostras da área 02, embora os
Ensaios de compressão edométrica foram blocos indeformados apresentassem aparência
realizados para estudar a deformação heterogênea, todos apresentaram curvas
apresentada pelas amostras quando expostas a granulométricas similares (Figura 7). Nenhuma
vários níveis de tensão. Ortigão (2007) expõe das amostras apresentou granulometria
que este ensaio, por impor deformações laterais pedregulhosa, resultado que condiz com a
nulas, simula de modo razoável a condição análise tátil-visual. As amostras provenientes da
encontrada durante a formação de solos área 02 apresentaram teor de finos similares ao
sedimentares; além disso, este ensaio é da área 01; o bloco B-04 apresentou cerca de
frequentemente utilizado no estudo de 24,0% de finos e os outros blocos, mais de
recalques. 30,0%.
Foi realizado um ensaio por bloco
indeformado, com estágios de tensão inicial de
12,5 kPa e final de 800 kPa; a tensão aplicada
era aumentada de modo que os valores a cada
estágio eram sempre o dobro do estágio
anterior. Os estágios iniciais, de 12,5, 25, 50 e
100 kPa foram feitos com o corpo de prova na
condição seca, com duração de 2 horas cada.
Após o término do estágio de 100 kPa, o corpo
de prova era inundado sem o aumento da tensão
aplicada. Já na condição inundada, os corpos de
prova receberam carregamentos de 100, 200,
400 e 800 kPa, à exceção da amostra A-03, que
recebeu um estágio adicional de 1600 kPa. Figura 6. Curvas granulométricas de amostras da área 01.
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todas as amostras são classificadas como A-2;


isto é: areias em que os finos presentes formam
a característica secundária. De acordo com seu
índice de plasticidade, as amostras B-01 e B-03
receberam a classificação A-2-6, enquanto que
as demais amostras foram classificadas como
A-2-4.

Tabela 1. Classificação granulométrica das amostras.


Classificação Classificação
Amostra
SUCS HRB
A-01 SM-SC A-2-4
A-02 SC A-2-4
A-03 SM-SC A-2-4
A-04 SW-SC A-2-4
Figura 7. Curvas granulométricas de amostras da área 02. A-05 SP-SC A-2-4
B-01 SC A-2-6
B-02 SC A-2-4
Nota-se, portanto, que as amostras dos dois
B-03 SC A-2-6
locais apresentam quantidades de silte e de areia B-04 SC A-2-4
semelhantes; estas são as parcelas mais B-05 SC A-2-4
significativas ao comportamento geral do solo.
Por outro lado, a quantidade de argila nas A classificação das amostras ensaiadas
amostras da área 02 chega a ser três vezes maior também condiz com os resultados apresentados
que as porcentagens encontradas para a área 01. por Santos Júnior, Coutinho e Severo (2015),
Para os limites de consistência, ocorreu uma em que 70% dos solos analisados pelos autores
variação de resultados maior entre as amostras: foram classificados como areia argilosa, siltosa
os blocos A-01, A-02, A-03, B-02, B-04 e B-05 ou silto-argilosa.
apresentaram valores similares de índice de
plasticidade (IP) entre 4,0 e 9,0%; os blocos A- 3.2 Cisalhamento direto
04 e A-05 não apresentaram plasticidade; e os
blocos B-01 e B-03 demonstraram valores mais Foram obtidas 20 envoltórias de resistência nas
altos, de 20,0 e 17,0%, respectivamente. amostras indeformadas provenientes das duas
Contudo, embora esta divergência de resultados áreas de estudo; desses, 10 foram obtidas em
tenha ocorrido, os valores destoantes amostras não-inundadas e outras 10 foram
encontrados estão dentro do intervalo de 4,0 a obtidas na condição inundada. Cada envoltória
22,0% reportado por Santos Júnior, Coutinho e corresponde ao conjunto de 4 ensaios de
Severo (2015) para este tipo de material. cisalhamento direto sob tensões normais de 50,
Com estes dados, foi possível classificar as 100, 200 e 400 kPa.
amostras de acordo com o Sistema Unificado de As Figuras 8 e 9 apresentam as envoltórias
Classificação de Solos (SUCS) e o Sistema para as áreas 01 e 02, respectivamente, em
Rodoviário de Classificação (HRB); a Tabela 1 ambas as condições de ensaio inundado e não-
apresenta a classificação obtida em ambos os inundado. Os resultados obtidos para os ensaios
sistemas. Pelo sistema unificado, obteve-se que nas áreas 01 e 02 foram interpolados, de modo a
a maioria das amostras foi classificada como possibilitar a interpretação do comportamento
areia argilosa, enquanto que dois blocos foram geral do material, por área. Além disso, por
enquadrados como areia silto-argilosa, devido meio do cálculo de desvios padrões entre as
ao seu índice de plasticidade intermediário; médias obtidas e os resultados das coletas
além disso, os blocos A-04 e A-05 receberam individuais, possibilitou-se que a variabilidade
classificações duplas devido à falta de de resultados, entre amostras de uma mesma
plasticidade do material. Pelo sistema HRB,
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área e entre áreas distintas, também fosse É perceptível a diminuição da resistência do


estudada. Deste modo, as linhas contínuas solo à ruptura por cisalhamento após a
apresentadas nos gráficos desta sessão saturação do material, assim como menores
representam a média dos ensaios, ao passo que desvios padrão para a condição de solo
as linhas tracejadas marcam os limites superior saturado. A variabilidade apresentada nas
e inferior, relativos à soma e à subtração envoltórias para o material não-inundado pode
(respectivamente) do desvio padrão à média. ser atribuída às diferenças de resultados obtidos
As envoltórias de resistências tiveram seus para o intercepto de coesão e para o ângulo de
pontos selecionados de modo que a maior atrito entre coletas de um mesmo local. As
tensão cisalhante registrada foi relacionada à Tabelas 2 e 3 apresentam, respectivamente, os
respectiva tensão normal ao qual a amostra resultados obtidos por área e os resultados
estava submetida no dado ensaio. A obtenção obtidos por amostra. Nota-se que os blocos da
dos parâmetros de coesão e de ângulo de atrito área 02 apresentaram valores mais altos para o
foi possibilitada pela aproximação linear dos intercepto de coesão obtido, e que em todos os
pontos da envoltória; interceptos na origem ensaios ocorreu redução significativa deste
foram fixos quando a aproximação determinava parâmetro quando o material foi saturado.
a ocorrência de valores negativos de coesão. Resultados similares foram obtidos por Santos
Identificou-se que o material proveniente da Júnior, Coutinho e Severo (2015) e Marques, R.
área 02, em condições de campo, apresenta F.; Coutinho R. Q. e Marques, A. G. (2006).
maior resistência ao cisalhamento. Estes últimos realizaram ensaios de
cisalhamento direto em amostras da Formação
Barreiras em Maceió/AL. Os autores mostraram
que, enquanto toda a coesão presente nos
ensaios realizados em umidade natural foi
perdida nos ensaios inundados, o ângulo de
atrito praticamente não sofreu variação. O solo
proveniente da área 02 analisada neste trabalho,
entretanto, ainda apresentou coesão para a
condição inundada.

Tabela 2. Parâmetros de resistência interpolados para


ensaios de cisalhamento direto.
Local de Condição c Φ
Figura 8. Envoltórias de resistência para a área 01. Coleta (kPa) (º)
Natural 97,7 32,63
Área 01
Inundada 0,0 34,03
Natural 136,6 49,2
Área 02
Inundada 33,5 31,0

A Figura 10 apresenta o gráfico de tensão-


deslocamento para as amostras não-inundadas
da área 01. Constatou-se que o comportamento
das tensões cisalhantes do material não-
inundado apresenta grande variabilidade de
resultados entre amostras de uma mesma área.
Observa-se uma tendência na convergência das
Figura 9. Envoltórias de resistência para a área 02. tensões cisalhantes após a ocorrência de picos
de tensão, nítida para as tensões de 50 e 100
kPa. Devido a limitações do aparelho utilizado
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em laboratório, nem todos os ensaios, sobretudo (não-inundada) e submetida a tensões de até 50


aqueles de maior tensão normal, puderam testar kPa. Como não há registro de pré-adensamento,
o material até a sua ruptura. tal comportamento pode ser atribuído ao efeito
de cimentação entre as partículas, que causa
Tabela 3. Parâmetros de resistência obtidos em ensaio de efeito de sucção e consequente aumento de
cisalhamento direto. rigidez do material (SANTOS JÚNIOR,
Local Amostra Condição c Φ
de (kPa) (º)
COUTINHO E SEVERO, 2015). Marques, R.
Coleta F.; Coutinho R. Q. e Marques, A. G. (2006)
Natural 0,5 43,0 também constataram que as amostras inundadas
A-01
Inundada 0,0 33,7 não apresentam tensões de pico em seus
Natural 134,4 19,5 gráficos de tensão-deslocamento. Este
A-02
Inundada 0,0 33,3 comportamento também pôde ser observado nas
Área
A-03
Natural 206,3 39,9 amostras estudadas nesta pesquisa sob a
01
Inundada 0,0 32,9 condição inundada (Figura 11), visto que, além
Natural 167,7 36,1 de não apresentarem picos de tensão, as curvas
A-04
Inundada 0,0 36,9 obtidas apresentam incrementos suaves na
Natural 46,0 32,6 tensão cisalhante enquanto o deslocamento
A-05
Inundada 0,00 32,9 horizontal é mantido; isto sugere que o
Natural 196,7 38,7 comportamento do solo se torna mais uniforme
B-01
Inundada 22,1 27,2 na condição de saturação. Os gráficos de
Natural 148,6 58,1 tensão-deformação na condição saturada
B-02
Inundada 106,7 30,2 apresentaram baixas variabilidades de
Área Natural 178,0 37,6 resultados.
B-03
02 Inundada 17,5 31,7
Natural 218,0 42,3
B-04
Inundada 38,3 28,4
Natural 306,8 46,3
B-05
Inundada 24,2 33,6

Figura 11. Tensão-deslocamento para ensaios inundados


de amostras da área 01.

A grande variabilidade apresentada por solos


da Formação Barreiras também foi constatada
Figura 10. Tensão-deslocamento para ensaios não- por Santos Júnior, Coutinho e Severo (2015),
inundados de amostras na área 01. que realizaram estudos de caracterização
geotécnica deste material em falésias no
Marques, R. F.; Coutinho R. Q. e Marques, município de Tibau do Sul, vizinho à Região
A. G. (2006) identificaram a presença de Metropolitana de Natal/RN. Segundo os
tensões cisalhantes de pico, nos gráficos de autores, enquanto que o topo da falésia não
tensão-deslocamento; isto ocorreu quando a apresentava material colapsível, a sua base
amostra estava em seu teor de umidade natural estava sujeita a colapso quando inundada e em
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níveis de tensão de 200 kPa. Além disso, os movimentação de terra para uma obra de
resultados para os ensaios de compressão infraestrutura urbana.
simples realizados apresentaram grande Ao analisar as curvas tensão-deslocamento
heterogeneidade entre o topo e a base da falésia. vertical específica das amostras de cada área
Santos Júnior, Coutinho e Severo (2015) (Figuras 12 e 13), observa-se que nenhum dos
classificam os solos da Formação Barreiras em solos apresentou curvatura acentuada, conforme
três tipos, de acordo com o seu comportamento: relatado por Silva (2016) em sua pesquisa. Da
o tipo A, semelhante à condição de um solo área 01, nota-se a presença de comportamento
sobreadensado, apresenta um pico de resistência colapsível nas amostras A-03 e A-04, com uma
bem definido, que ocorre a pequenas deformação de 12,6% e 9,0%, respectivamente,
deformações seguido de amolecimento até a ao serem inundadas. Ainda na área 01, a
resistência residual; O tipo B, ausente de pico amostra A-01 apresentou princípio de
de tensão, consiste no aumento progressivo da colapsividade (1,0%) e a amostra A-02 não
tensão cisalhante até o ponto de ruptura; o tipo apresentou comportamento colapsível (0,2%).
C consiste em uma situação intermediária entre
A e B. Os ensaios realizados neste trabalho
permitiram caracterizar, de modo generalizado,
os solos não-inundados como pertencentes ao
tipo A e os solos inundados ao tipo B.

3.3 Adensamento

Os ensaios de adensamento, realizados em sua


fase inicial com o teor de umidade natural do
solo, foram realizados em quatro amostras da
área 01, nos blocos de A-01 a A-04, e em
quatro outras amostras da área 02, nos blocos de Figura 12. Curvas de tensão x deformação da área 01.
C-01 a C-04.
As amostras apresentaram uma grande As amostras da área 02 apresentaram baixa
variação de valores de índice de vazios inicial deformação ao serem inundadas, à exceção da
entre as áreas. As amostras da área 01 amostra C-03, que apresentou uma deformação
apresentaram índices de vazios entre 0,79 e específica de 1,8%, próxima ao limite
0,84. Já as amostras da área 02 apresentaram estipulado por Vargas (1978), de 2% para o
valores mais baixos, em um intervalo entre 0,38 comportamento colapsível.
e 0,57.
Os valores encontrados para a área 01 estão
um pouco acima do intervalo explicitado por
Severo (2006), em que os solos por ele
estudados apresentaram índices de vazio entre
0,40 e 0,75, enquanto que os resultados da área
02 condizem com o encontrado na Literatura.
Adicionalmente, os valores de índice de vazios
da área 02 são coerentes com o encontrado por
Marques, R. F.; Coutinho R. Q. e Marques, A.
G. (2006) para solos da Formação Barreiras de
grandes profundidades de 0,30 a 0,70; isto pode
ser afirmado uma vez que a coleta do material Figura 13. Curvas tensão x deformação da área 02.
ocorreu abaixo do nível do terreno, durante a
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Independentemente da área estudada, inundada, em comparação com a condição não


observa-se a ocorrência de maior rigidez nos inundada.
solos não saturados, com deformações menores Os ensaios de compressão edométrica foram
do que as apresentadas após a saturação do realizados com o propósito de investigar a
corpo de prova, conforme descrito por Marques, presença de comportamento colapsivel no solo.
R. F.; Coutinho R. Q. e Marques, A. G. (2006). Os resultados mostram que esse comportamento
foi detectado em uma das áreas estudadas, mas
4 CONCLUSÕES não é algo generalizado para toda a Formação
Barreiras.
Este artigo apresenta os resultados de ensaios de
caracterização, de cisalhamento e de REFERÊNCIAS
compressão edométrica, realizados em corpos
de prova da Formação Barreiras, extraídos de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986). 6457:
blocos indeformados provenientes de duas áreas Amostras de solo - Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Rio de
próximas ao Rio Potengi em Natal/RN, Janeiro: Abnt.
coletados durante a movimentação de terra para Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). 6459:
obras de infraestrutura. Os blocos são amostras Solo - Determinação do limite de liquidez. Rio de
representativas do solo encontrado nos locais, Janeiro: Abnt.
formados majoritariamente por areia, com finos Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). 7180:
Solo - Determinação do limite de plasticidade. Rio de
que compõem a segunda parcela mais Janeiro: Abnt.
significativa. Uma análise tátil-visual revela que Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). 7181:
os blocos da área 01 apresentaram grande Solo - Análise Granulométrica. Rio de Janeiro: Abnt.
homogeneidade, enquanto que os blocos da área Bastos, Cezar Augusto Burkert et al
02 tiveram aparência heterogênea, com diversas (2009). Determinação de Parâmetros de Resistência
de um Solo Sedimentar Estratificado Através de
camadas com cor e rigidez distintas. Ensaios de Cisalhamento Direto. Disponível em:
Os ensaios de caracterização do material <https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/geo
revelam que o solo é composto rs2009/2009-bastos-dias.pdf>. Acesso em: 18 abr.
predominantemente por areias, possui uma 2018.
fração de finos variando entre 10% e 30%, com Coutinho, R. Q.; Severo, R. N. F. (2009). Investigação
Geotécnica Para Projeto de Estabilidade de
apenas um dos blocos apresentando partículas Encostas. Disponível em:
pedregulhosas. A maioria dos blocos é <https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/cob
classificada como SC pelo SUCS, enquanto que rae/2009-coutinho.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2018.
os demais possuem classificação dupla. Google My Maps. Áreas de coletas de blocos da
Os dados adquiridos por meio de ensaios de Formação Barreiras em Natal/RN. (2018). Mapa
elaborado com o auxílio do Google Drive para a
cisalhamento direto foram utilizados para identificação das áreas de coleta de material.
avaliar a diferença de comportamento do solo Disponível em:
sob diferentes tensões normais e em suas <https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=1Dsw
condições de teor de umidade natural e de MCsrWi3cipL6L9veFxW4m8TYmtKRC&ll=-
saturação. Constatou-se um decréscimo 5.801432026911776,-35.250717399999985&z=13>.
Acesso em: 29 abr. 2018.
significativo na resistência ao cisalhamento Marques, R. F.; Coutinho, R. Q.; Marques, A. G. (2006).
quando o corpo de prova é inundado, devido à Caracterização geotécnica de um perfil de solo não
perda de coesão entre as partículas; o intercepto saturado da formação barreiras da cidade de
de coesão das envoltórias obtidas através da Maceió-AL. Anais do Congresso Brasileiro de
interpolação dos resultados de cada bloco Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,13,
Curitiba, COBRAMSEG, v. 1. Disponível em
sofreu uma redução próxima de 97,72 kPa e <http://www.agmgeotecnica.com.br/files/(3.9)%20C
103,09 kPa para as áreas 01 e 02, OBRAMSEG%202006_RFM_Caracteriza____o%20
respectivamente. Observou-se também uma Geotecnica.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2018.
menor variabilidade de resultados na condição Martinez, Gioconda Santos e Souza (2003). Estudo do
comportamento mecânico de solos lateríticos da
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Formação Barreiras. 291 f. Tese (Doutorado) - Curso


de Engenharia Civil, Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003. Disponível em:
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/2429>.
Acesso em: 18 abr. 2018.
Ortigão, J. A. R. (2007). Introdução à Mecânica dos
Solos dos Estados Críticos. 3. ed. Barra da Tijuca:
Terratek, 2007. Disponível em:
<www.terratek.com.br>. Acesso em: 22 mar. 2018.
Pinto, Carlos de Souza (2006). Curso Básico de
Mecânica dos Solos. 3. ed. São Paulo: Oficina de
Textos, 2006.
Santos Júnior, Olavo Francisco dos; Coutinho, Roberto
Quental; Severo, Ricardo Nascimento Flores (2015).
Propriedades geotécnicas dos sedimentos da
Formação Barreiras no litoral do Rio Grande do
Norte - Brasil. Geotecnia, Lisboa, Portugal, v. 1, n.
134, p.89-108, jul. 2015. Disponível em:
<https://www.abms.com.br/links/revistageotecnia/Re
vista134.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2018.
Severo, R. N.; Santos JR. O. F., Freitas Neto, O. (2006).
Propriedades geotécnicas dos sedimentos da
formação barreiras no litoral do Rio Grande do
Norte. Anais do Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica,13, Curitiba,
COBRAMSEG, v. 1, p. 1, 2006. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/266059024
_Propriedades_Geotecnicas_de_Sedimentos_da_For
macao_Barreiras_no_Litoral_do_Rio_Grande_do_No
rte>. Acesso em: 18 abr. 2018.
Silva, Paulo de Tarso Lopes e (2016). Permeabilidade e
adensamento de solos típicos da Formação Barreiras
em Pirangi-RN. 22 f. TCC (Graduação) - Curso de
Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,
2016. Disponível em:
<https://monografias.ufrn.br/jspui/handle/123456789/
3160>. Acesso em: 18 abr. 2018.
Vargas, M. (1978). Introdução à Mecânica dos Solos.
São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, Universidade de
São Paulo, São Paulo. 1978.
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Resistência não drenada de solos artificiais remoldados através do


ensaio de cone de queda
Camila Larrosa Oliveira
Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
camila.larrosa@yahoo.com.br

Luiza Vargas Eichelberger


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
luiza_ve@hotmail.com

Antonio Marcos de Lima Alves


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
antonioalves@furg.br

Cezar Augusto Burkert Bastos


Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
cezarbastos@furg.br

RESUMO: O objetivo do presente trabalho é aplicar o ensaio de cone de queda ao estudo da


resistência ao cisalhamento não drenada de solos artificiais remoldados, produzidos a partir de
misturas de caulim, bentonita e água destilada. Dois solos artificiais foram produzidos em
laboratório, a partir de misturas fluidas de caulim e bentonita, com os seguintes traços: T0-0 (solo
formado apenas com caulim) e T30-0 (solo formado por 30% de bentonita e 70% de caulim).
Amostras de solo de cada traço, com variadas consistências (teor de umidade) foram submetidas ao
ensaio de cone de queda livre e ao ensaio de palheta de laboratório, para comparação. A resistência
não drenada a partir do ensaio de cone foi estimada através de relação teórica com a profundidade
de penetração, proposta por Hansbo (1957). Os resultados demonstram o bom desempenho do
ensaio de cone na estimativa da resistência ao cisalhamento não drenada dos solos ensaiados.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência Não Drenada, Solos Artificiais, Ensaios de Laboratório, Ensaio


de Cone de Queda Livre.

1 INTRODUÇÃO Logo, um grande número de projetos


geotécnicos exige o conhecimento deste
Uma das propriedades geotécnicas de maior parâmetro nas fases de concepção de soluções,
interesse na maioria dos projetos geotécnicos é dimensionamento e avaliação de segurança.
a resistência não drenada das argilas (su), O cone de queda de laboratório, ou “fall cone
entendida como a resistência ao cisalhamento test”, foi inventado em 1915 por John Olsson,
oferecida pelo solo argiloso quando solicitado secretário da “Geotechnical Commission of the
rapidamente, sem que haja condição de Swedish State Railways” (Massarsch e
drenagem da água intersticial. Esta situação Fellenius, 2012). O ensaio foi concebido
costuma ser crítica, pois são comuns condições originalmente para avaliações da resistência ao
onde a aplicação das cargas ocorre em tempo cisalhamento não drenada e sensibilidade de
menor à possibilidade de drenagem do material. argilas remoldadas (Hansbo, 1957), sendo que
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posteriormente também passou a ser utilizado cone de queda em solos artificiais. Pinto (2010)
na determinação dos limites de Atterberg dos avaliou a aplicação do equipamento de cone de
solos. Na Figura 1 encontra-se uma gravura de queda livre de laboratório na caracterização da
um dos primeiros equipamentos utilizados. plasticidade e resistência não drenada de
misturas de solo artificial, produzido em
laboratório desde misturas de caulim, bentonita,
areia e água. Neste estudo, os ensaios de cone
de queda livre e de Casagrande foram
comparados na determinação dos limites de
liquidez e de plasticidade dos solos, e um breve
estudo a respeito da estimativa da resistência
não drenada a partir do ensaio de cone foi
realizado. Em Rosa et al. (2013) e Bastos et al.
(2014) são comparados resultados de cone
frente resultados de ensaios de palheta de
amostras adensadas de solos artificiais, onde o
modelo teórico proposto por Hansbo (1957) foi
Figura 1. Cone sueco (Massarsch e Fellenius, 2012). confirmado.
O objetivo do presente trabalho é utilizar o
O ensaio é realizado preparando-se uma ensaio de cone de queda ao estudo da
amostra de solo, e colocando-a em um resistência ao cisalhamento não drenada de
recipiente padronizado. Um cone com solos artificiais remoldados, produzidos a partir
geometria prescrita e peso conhecido é de misturas de caulim, bentonita e água
posicionado com sua ponta apenas tocando a destilada.
superfície da amostra. O cone é liberado a partir
do repouso, caindo em queda livre. A distância
percorrida após um determinado período é 2 MATERIAIS E MÉTODOS
medida. Após o período prescrito, a expectativa
é de que o cone esteja quase em repouso, sendo 2.1 Caracterização dos materiais
qualquer movimento subsequente (devido a
efeitos de fluência) muito lento. Este tipo de Na pesquisa foi utilizado um caulim rosa e uma
ensaio é considerado não drenado porque a bentonita sódica. Foram realizados os ensaios
penetração do cone no solo é muito rápida, não clássicos de caracterização geotécnica com o
havendo tempo hábil para que a poropressão se caulim e com a mistura caulim e bentonita:
dissipe. A norma britânica BS 1377 (BSI, 1990) análise granulométrica, limites de Atterberg e
e a norma internacional ISO 17892-6 (ISO, peso específico real dos grãos.
2017) orientam os procedimentos básicos do
ensaio de cone de queda. 2.2 Preparação dos solos artificiais
Estudos experimentais da resistência ao
cisalhamento de argilas com base no ensaio de Dois solos artificiais foram produzidos em
cone foram realizados por Karlsson (1961) e laboratório, a partir de misturas fluidas de
Wood (1985), por exemplo. Análises teóricas caulim e bentonita, com os seguintes traços:
do ensaio com base na Teoria da Plasticidade T0-0 (solo formado apenas com caulim) e
foram realizadas por Houlsby (1982) e T30-0 (solo formado por 30% de bentonita e
Koumoto e Houlsby (2001). 70% de caulim). A nomenclatura dos solos
O Grupo de Geotecnia FURG já tem um artificiais segue o padrão adotado em pesquisas
histórico em estudos experimentais utilizando o anteriores. Os materiais secos ao ar foram
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misturados manualmente e passados na peneira


de abertura de 0,42 mm, visando eliminar
eventuais partículas de maior tamanho. A
quantidade de água destilada na produção das
pastas dos diferentes traços foi calculada para
alcançar um teor de umidade próximo de duas
vezes o limite de liquidez encontrado na fase de
caracterização (pelo método de Casagrande). As
misturas úmidas foram então postas para bater
durante uma hora em misturador elétrico
(Figura 1). No caso do solo T30-0, a mistura do
caulim e bentonita foi realizada na condição
seca, previamente à adição de água destilada na
produção da lama.

Figura 2. Molde utilizado para composição das amostras.

2.3 Ensaios de cone de queda livre

Na Figura 3 é mostrada a fotografia do


equipamento de ensaio de cone de queda
empregado.

Figura 1. Misturadora utilizada na produção dos solos Mostrador


artificiais.

Um recipiente cilíndrico de PVC com 75 mm


de diâmetro e 102 mm de altura foi utilizado Haste
para formar os corpos de prova com as pastas deslizante
provenientes da mistura, variando-se o teor de
umidade do solo a cada bateria de ensaios Amostra
(Figura 2). As amostras assim confeccionadas Cone
foram então submetidas aos ensaios de cone de
queda e palheta de laboratório.

Figura 3. Equipamento para ensaio de cone.


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A norma britânica BS 1377 (BSI, 1990) e a 63 mm e girar a velocidade constante, medindo


norma internacional ISO 17892-6 (ISO, 2017) o torque necessário para romper o solo por
indicam os procedimentos básicos do ensaio, cisalhamento no entorno da mesma. Dada a
que consiste em quantificar a penetração de um velocidade do giro, o cisalhamento é
cone de 30º de vértice, caindo em queda livre considerado se dar em condição não drenada.
com sua ponta inicialmente posicionada na
superfície da amostra de solo. Os ensaios foram 3

realizados em três pontos ao longo da linha


diametral de cada amostra, conforme mostrado 6 8
7
na Figura 4. Com os valores medidos nos três
11 5
pontos, foi calculada a média aritmética da
2
penetração do cone em cada amostra de solo.
4 1
9
9

10 9
9

1 – Pórtico de sustentação do conjunto


2 – Suporte para instalação da palheta
3 – Manivela para subida e descida da palheta
4 – Palheta, com quatro lâminas, 12,7 mm de altura e 12,7 mm de
largura
5 – Manivela para rotação da palheta
6 – Escalas graduadas, em graus, uma fixa (externa), outra móvel
(interna)
Figura 4. Detalhe dos pontos de ensaio de cone. 7 – Ponteiro rotativo
8 – Haste vertical conectada a um botão puxador, ajustado ao ponteiro
9 – Conjunto de molas de diferentes rigidezes, para solos de diferentes
Hansbo (1957) e Wood e Wroth (1978) resistências
10 – Base para fixação da amostra de solo
demonstram uma relação teórica entre su e a 11 – Espaço para fixação da mola
penetração do cone, dada pela Equação 1:
Figura 5. Equipamento de ensaio de palheta de
su = K·Q/d² (1) laboratório.

onde Q = peso do cone, d = penetração do cone A resistência não drenada é relacionada com
na massa de solo, K = constante. A constante K o torque medido através da Equação 2.
(conhecida como fator de cone) depende, dentre
outros fatores, do ângulo do cone. Karlsson
(1977) indica o valor de K igual a 0,8 para su = Mt /[π·D2·(H/2+D/6)] (2)
cones com ângulo de 30º de vértice.

2.4 Ensaios de palheta de laboratório onde: Mt = torque necessário para ruptura do


solo por cisalhamento; D = diâmetro da palheta
O equipamento empregado para o ensaio de e H = altura da palheta.
palheta, de operação manual, é mostrado na Os ensaios de palheta foram realizados na
Figura 5. Os ensaios de palheta de laboratório região central de cada amostra, conforme se
seguiram os procedimentos descritos em Head observa na Figura 6.
(1982). O ensaio consiste em cravar a palheta,
com 12,7 mm de altura e 12,7 mm de largura,
no solo artificial até uma profundidade de
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140
T0-0
120 w = -102,143 log(suv) + 148,38
T30-0 R² = 0,9288
100

w (%)
80
60
40
w = -10,497 log(suv) + 47,446
20 R² = 0,9921
0
1,0 10,0
suv (kPa)
Figura 7. Resistência não drenada (suv) versus teor de
umidade (w).

Figura 6. Ensaio de palheta de laboratório.

A determinação do teor de umidade do solo


artificial acompanhou os ensaios de cone e
palheta, pois se trata de um importante dado
para análise.

3 RESULTADOS

No gráfico da Figura 7 é mostrada a relação


entre a resistência não drenada medida no Figura 8. Penetração média (d) versus resistência não
ensaio de palheta (chamada de suv), em escala drenada (suv).
logarítmica, e o teor de umidade (w) das
amostras ensaiadas. É mostrada também a Uma análise de regressão, baseada no
equação da reta de melhor ajuste aos pontos método dos mínimos quadrados, foi realizada
experimentais. Observa-se um bom ajuste linear para determinação dos valores da constante K
aos pontos experimentais, o que está de acordo que conduziam ao melhor ajuste entre os pontos
com resultados teóricos baseados nas ideias da medidos e a função matemática expressa pela
Mecânica dos Solos dos Estados Críticos Equação 1. Para o solo T0-0, obteve-se um
(Schofield e Wroth, 1968). valor de K igual a 0,84, com um coeficiente de
Na Figura 8, mostra-se a comparação entre determinação (R2) igual a 0,93. Já para o solo
os resultados do ensaio de palheta de T30-0, foi obtido um coeficiente K igual a 0,71,
laboratório (em termos da resistência ao com R2 igual a 0,90 (Figura 8).
cisalhamento não drenada suv) e do ensaio de Os valores ajustados para o fator K são muito
cone (em termos da penetração média d), para próximos de 0,8, valor proposto por Karlsson
as amostras ensaiadas. (1977). Porém, verifica-se uma possível
dependência do valor de K com a mineralogia
do solo.
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Ressalta-se o fato de que os ensaios não Hansbo, S. (1957). A new approach to the determination
foram realizados à mesma profundidade nas of the shear strength of clay by the fall-cone test,
Proceedings of the Royal Swedish Geotechnical
amostras, uma vez que o ensaio de cone foi Institute, Stockholm, No. 14, 47 p.
realizado na superficie das amostras, e o ensaio Head, K.H. (1982). Manual of soil laboratory testing,
de palheta foi realizado a uma profundidade de Vol. 2, Pentech Press, London, 454 p.
63 mm abaixo da superfície. Porém, como as Houlsby, G.T. (1982). Theoretical analysis of the fall
amostras constituíram-se de pastas não cone test, Geotéchnique, Vol. 32, No. 2, pp. 111-118.
ISO (2017). Geotechnical investigation and testing –
adensadas, o efeito da profundidade Laboratory testing of soil - Part 6: Fall cone test, ISO
provavelmente não foi significativo. 17892-6, International Organization for
Standardization, Genebra, 11 p.
Karlsson, R. (1977). Consistency limits, in cooperation
4 CONCLUSÕES with the laboratory committee of the Swedish
Geotechnical Society, Document D6.
Karlsson, R. (1961). Suggested improvements in the
Apesar dos poucos pontos experimentais liquid limit test, with reference to flow properties of
disponíveis na presente fase da pesquisa, os remolded clays. 4th International Conference on Soil
resultados indicam que a relação de Hansbo Mechanics and Foundation Engineering, Paris,
(1957) apresenta bom ajuste aos dados Proceedings… Vol. 1, pp. 171-184.
Koumoto, T.; Houlsby, G.T. (2001). Theory and practice
experimentais, fato corroborado pelos altos
of the fall cone test, Geotéchnique, Vol. 51, No. 8, pp.
coeficientes de determinação encontrados no 701-712.
procedimento de ajuste de curvas. Além disso, Massarsch, K.R.; Fellenius, B.H. (2012). Early swedish
os valores ajustados para o faor de cone (K) contributions to geotechnical engineering.
estão muito próximos daqueles propostos na GeoCongress 2012, Oakland, Proceedings… pp. 239-
256.
literatura técnica, em especial do valor proposto
Pinto, P.B. (2010). Aplicação do penetrômetro de cone
por Karlsson (1977), igual a 0,8. de laboratório na caracterização da plasticidade e
Os resultados da presente pesquisa apóiam o resistência não drenada de solos argilosos, Trabalho
ensaio de cone de queda como valorosa de Conclusão em Engenharia Civil Empresarial,
ferramenta expedita na estimativa da resistência Escola de Engenharia – FURG, Rio Grande/RS, 66p.
Rosa, K.L.; Bastos, C.A.B.; Alves, A.M.L. (2013).
ao cisalhamento não drenada de solos argilosos.
Avaliação da consistência de solos com a utilização
do Ensaio de Cone de Queda Livre (“Fall Cone
Test”). VII Seminário de Engenharia Geotécnica do
AGRADECIMENTOS Rio Grande do Sul, Santa Maria/RS. Anais... Santa
Maria/RS: ABMS-NRRS, 2013. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/geors2013/. Acesso em 07/3/2017.
Ao CNPq pelo apoio à pesquisa na forma de Schofield, A.N.; Wroth, C.P. (1968). Critical State Soil
bolsa de iniciação científica. Mechanics, McGraw-Hill, New York, 228 p.
Wood, D.M. (1985). Some fall cone tests, Geotéchnique,
Vol. 35, No. 1, pp. 64-68.
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penetrometer to determine the plastic limit of soils,
Ground Engineering, Vol. 11, No. 3, p. 37.
Bastos, C.A.B.; Alves, A.M.L.; Pereira, M.C.; Rosa,
K.L.; Viegas, M.R.; Jesus, S.H.G. (2014). Estudo
sobre a resistência não drenada de solos finos pelo
ensaio de cone de queda livre empregando amostras
de solos artificiais. XVII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
Goiânia/GO. Anais... Goiânia/GO: ABMS, 2014. CD-
ROM
BSI (1990). Methods of test for soils for civil engineering
purposes, BS 1377 (Part 2), Milton Keynes, British
Standards Institution, United Kingdom, 68 p.
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Uso do DCP Aplicado ao Monitoramento do Comportamento ao


Longo do tempo de Camadas Estruturais de um Pavimento de
RCD
Anna Marinella Carizzio Monteiro
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, anna_carizzio@hotmail.com

Marta Pereira da Luz


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, martapluz@gmail.com

RESUMO: Visando o emprego do DCP como método para análise temporal da estrutura de um
pavimento flexível composto por RCD, coletou-se os resultados contidos em bibliografias diversas,
ao longo dos anos de 2003 a 2011. Dados que possibilitaram a montagem de gráficos que
explicitam o comportamento de cada uma das camadas estruturais do pavimento, separados em
períodos de seca e de chuva. Observou-se a sensibilidade do equipamento à diferenciação das
camadas e ao efeito de umidade, estações. O estudo forneceu bases tanto qualitativas como
quantitativas, que podem ser utilizadas como método para prevenção de patologias, bem como
embasar a aplicabilidade de novos materiais potenciais para pavimentação, características que
aliadas à facilidade operacional do equipamento e seu baixo custo de execução de ensaio podem se
mostrar competitivas tecnicamente.

PALAVRAS-CHAVE: DCP, ensaio in situ, análise temporal, pavimento flexível, RCD.

1 INTRODUÇÃO Pontua-se, ainda, que tal avaliação se revela de


suma importância para qualquer estrutura, uma
A indústria tecnológica, no âmbito geotécnico, vez que possibilita a verificação de patologias e,
tem se preocupado cada vez mais em viabilizar assim, saná-las antes de condições extremas.
ensaios de fácil execução, tornando-os mais Para tanto, os penetrômetros têm se
ágeis e com resultados confiáveis. É neste desvendado como técnicas muito interessantes,
quesito que os ensaios in situ se destacam, ao permitir uma sondagem da estrutura,
sobretudo aqueles realizados sem a necessidade fornecendo bases para a avaliação das camadas
de alteração do maciço ou de suas condições de por meio do controle da compactação,
confinamento, resguardando suas características possibilitando ainda a verificação de suas
e proporcionando resultados mais condizentes dimensões. Isto através de um procedimento
com a realidade. simples, rápido e que tem demonstrado grande
O dano à estrutura avaliada, por sua vez, eficiência.
também tem sido um dos pontos de atenção. Visando contribuir nesta área este artigo irá
Outra questão de grande relevância diz respeito tratar:
à necessidade de inserção de novos materiais na  Aplicabilidade do DCP (Dynamic Cone
implantação de obras de aterro e pavimentação, Penetrometer) na análise temporal das
a fim de conciliar as variações de rejeitos à camadas estruturais de um pavimento
carência de jazidas, resguardando-as. Contudo, flexível;
faz-se interessante, além do estudo físico-  Análise da sensibilidade do equipamento em
químico que aprove seu uso, uma análise de seu função da umidade, ocasionado pelas
comportamento mecânico ao longo do tempo. temporadas climáticas (seca e chuva);
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 Análise do desempenho do RCD (Resíduos tráfego, do ambiente, da idade, das


da Construção e Demolição) aplicado à características das camadas e dos processos de
pavimentação, uma análise temporal frente manutenção”, sendo o clima um dos mais
às solicitações impostas acumuladas; relevantes. No caso da água, são afetados
 Aplicação de correlações DN-CBR, cálculo sobretudo pelo lençol e pela chuva, seja pela
de previsão frente aos últimos dados, infiltração em trincas, pelos bordos sem
discussão e ponderações dos resultados. revestimento ou a falta de um sistema de
drenagem.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Apesar de a água afetar toda obra de terra,
uma vez que o comportamento do solo se revela
2.1 Pavimento Flexível proporcional às quantidades de sólido, água e ar
que o compõe, as vias se revelam altamente
Conforme definem Bernucci et al. (2006), o suscetíveis, tendo em vista sua esbeltez em
pavimento é uma estrutura linear composta por corte, manifestando-se sensível às alterações de
camadas de espessuras finitas, com a finalidade umidade. Estas podem proporcionar efeitos
de proporcionar condições favoráveis de como sucção, capilaridade, percolação,
rolamento, conforto, economia e segurança a modificações estruturais (embricamento das
seus usuários. Para tanto, deve resistir aos partículas, contração, expansão, carreamento,
esforços solicitantes atuantes, sendo projetado etc), dentre muitos outros fatores de ordem
para atender a quesitos técnicos, econômicos, física e química.
ambientais e sociais.
No Brasil, o pavimento flexível é o mais 2.3 Materiais Alternativos
utilizado, devido a questões sobretudo técnicas,
como disponibilidade de material adequado, No que tange os materiais, a problemática se
econômicas e devido a facilidade de mão de concentra nas grandes proporções de material
obra e controle. O DNIT (2006) o define como demandadas pelas obras viárias, conjuntamente
aquele em que as deformações elásticas com questões ambientais acerca de sua
ocorrem em todas as camadas, distribuindo as exploração. Por outro lado, o excesso de
cargas atuantes de forma aproximadamente resíduos gerados nas diversas produções
equivalente entre elas. Deformações estas que, existentes tem sido uma alternativa para a
quando recorrentes, dão origem a deformações substituição destes materiais naturais. Nada
plásticas que se acumulam e ocasionam a mais racional que transformar um material
deterioração da estrutura desde sua abertura ao descartado em uma matéria útil, importante e
tráfego (Bernucci et al., 2006). Para tanto, o aplicável aos processos necessários às várias
controle tecnológico e a análise da via ao longo linhas de desenvolvimento (ambiental,
do tempo faz-se de suma importância, a fim de econômico e social).
se diagnosticar patologias em suas fases Para tanto, os resíduos da construção e
iniciais, resguardando seus usuários, bem como demolição (RCD) se revelam eficientes,
evitando a necessidade de reparos de grandes encontrando na pavimentação uma alternativa
dimensões, a perda parcial ou mesmo total da viável proporciona uma destinação nobre.
estrutura, demandando elevado investimento de O início de seu emprego data o ano de 1946,
tempo e investimento financeiro. pós Segunda Guerra Mundial, onde as cidades
europeias viram em seus escombros a matéria-
2.2 Efeitos da Chuva prima para se reerguer (Levy, 2000). Desde
Na abordagem geral de um pavimento flexível, então, vem sendo estudada e aplicada
Motta (1991) disserta o fato de seu desempenho mundialmente, tendo os experimentos no Brasil
ser função “da atuação conjunta da carga do iniciados na década de 80 e possuindo duas
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normatizações referentes à pavimentação: a de reabilitação de pavimentos, etc (Mn/DOT,


PMSP/SP – 001 (2003) e a NBR 15115 (ABNT, 1996).
2004) (Souza, 2015).

2.4 DCP

Os controles tecnológicos também vêm se


aperfeiçoando, com a finalidade sobretudo de
proporcionar dados mais realísticos, aliado a
uma obtenção e análise facilitados. Neste
sentido, os penetrômetros têm se destacado, ao
se caracterizarem como equipamentos portáteis,
leves, em geral semi-destrutivos e, sendo
utilizados para análise in situ, resguardarem o
comportamento real em que a estrutura se
encontra.
Dentre estes, destaca-se o DCP. Com seu uso
e criação datado em 1954, por Scala (1956), na
Austrália, tendo sua desenvoltura de manuseio o
difundido em outros países. Em 1969, no
Zimbabwe, Van Vuuen (1969) o modificou para
como ainda hoje é confeccionado e
caracterizado, encontrando também uma
correlação com o CBR in situ, o que o tornou
alvo de muitos estudos e baseou ainda mais sua Figura 1. Esquema do Penetrômetro e ensaio DCP
(Adaptado de Hong et al., 2016)
eficiência, popularizando-o (Alves, 2002).
A norma ASTM D 6951/09 (2009) dita as
O equipamento (Figura 1) é constituído
devidas características do equipamento e do
basicamente por duas lanças metálicas
procedimento de ensaio. O qualifica como
acopladas por meio de um batedor, um martelo
método de avaliação da resistência natural ou
e uma régua, adaptada ou marcada na haste de
compactada de um solo, possibilitando a
condução. A lança inferior possui uma ponta
identificação das espessuras de camadas, suas
cônica, a qual é introduzida ao solo através de
resistências ao corte, cisalhamento, dentre
impactos dinâmicos ocasionados pela queda
outras características do material. Nesta são
livre de um peso (4,6 kg, simples, ou
ainda apresentadas algumas correlações com o
complementado com mais 3,4 kg, duplo,
CBR, de acordo com a classificação do solo.
utilizado para subleitos de resistência média a
Muitos estudos têm ainda levantado o
rija) de uma altura fixa de 575 mm, sendo a
estabelecimento de relações com a densidade
penetração medida através da régua. O diâmetro
relativa, o SPT (Standard Penetration Test),
do cone é ligeiramente maior que o da lança,
módulo de resiliência, dentre outros fatores e
assegurando que a resistência seja determinada
equipamentos para uma caracterização
unicamente pela ponteira, de modo ao índice de
geotécnica mais específica. Algumas
penetração (DN) ser dado essencialmente pela
aplicabilidades são também discorridas, como
penetração (mm) por golpes.
uma sondagem suplementar para projetos de
A coleta dos dados é dada pela formação de
fundação, ferramenta de testes de aceitação de
uma tabela com anotação dos números de
aterros, auxiliar na determinação de estratégias
golpes, penetração acumulada atingida, cálculo
da penetração por leitura e do DN (mm/golpe).
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A mesma possibilita a formação da sondagem apresentação, bem como a adequação e


estabelecida pela profundidade em relação à discussão dos resultados obtidos.
quantidade de golpes acumulados necessários
para atingi-la. Para tanto, o DN corresponde à
inclinação da reta obtida em cada uma das
camadas. Sendo esta inversamente proporcional
à resistência do material, uma vez que uma reta
íngreme indica uma elevada profundidade
atingida através de poucos golpes.
Como pode se constatar, é um equipamento
de uso facilitado, necessitando de um operador
e um responsável pela coleta dos dados e/ou
auxílio em alguns outros aspectos, de acordo
com as dificuldades locais.
Figura 2. Localização do trecho experimental
3 METODOLOGIA (GoogleEarth, 2018)

A pesquisa deu-se por meio de uma coleta 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES


bibliográfica, reunindo resultados da aplicação
do DCP pertinente a um trecho experimental de Como já mencionado, foram coletados dados
RCD, obtidos por trabalhos diversos, em respectivos ao ensaio DCP executados na pista
distintas datas e temporadas. desde sua implantação, disponibilizados por
A pista em questão localiza-se em Goiânia- autores diversos, entre os anos de 2003 e 2011.
GO (Figura 2), com extensão total de 56,00 m, A Tabela 1 apresenta estas informações
sendo uma via de acesso de carga e descarga do organizadas de acordo com os períodos de
CEASA/GO (Centrais de Abastecimento S.A.). execução, as temporadas climáticas da época de
A mesma foi construída ao fim de 2003 e ensaio e a média dos resultados obtidos,
liberada ao fim de 2004 como parte de um pertinentes a cada qual camada estrutural,
programa municipal de gerenciamento de respectivamente.
resíduos sólidos e objeto do trabalho Importante destacar que a maioria dos
desenvolvido por Oliveira (2007). autores referidos se restringiram à execução de
Atraindo a atenção de muitas outras
pesquisas, observou-se o emprego do DCP em Tabela 1. Dados gerais coletados
algumas destas, levando ao interesse de um DN Médio (mm/golpe)
Período Temporada
agrupamento destes dados para uma análise do Base Sub-base Subleito
comportamento ao longo do tempo. 12/20031 Chuva 3,2 1,8 5,6
Possibilitando ainda a separação e comparação 05/20051 Seca 1,8 1,6 4,7
em relação às temporadas de seca e de chuva, 11/2005 1
Chuva 2,4 1,8 5,5
verificando a sensibilidade do equipamento aos 05/2006 1
Seca 2,5 1,7 6,2
efeitos de umidade e sua eficiência de modo 2
11/2006 Chuva 2,9 4,7 15,7
geral (identificação de materiais com
01/20083 Chuva 3,9 3,4 8,6
comportamentos e/ou compactação distintas, 3
06/2008 Seca 2,0 2,4 6,3
dentre outros). 4
06/2009 Seca 2,1 1,8 8,8
Para tanto, os dados foram unidos, formando
5
tabelas e gráficos, permitindo o estudo do 06/2011 Seca 2,0 3,0 5,0
comportamento da estrutura entre os anos de 11/20115 Chuva 3,0 4,0 4,0
2003 e 2011. Analisando a melhor forma de ¹Oliveira (2007), ²Resplandes (2007),
³Quintanilha (2008), 4Costa (2010), 5Marques (2012).
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ensaios nas estacas: E3-Eixo, E4-BD e E4+10- mais rígido e estável. A sub-base, apesar de
BE, tendo somente Quintanilha (2008) inicialmente ser mais resistente, pode não ter
executado em pontos distintos, sendo estes: E3- proporcionado uma compactação tão boa como
BD, E4-BD, E2+10-BE e E3+10-BE, em projetado, possibilitando alterações, rearranjos,
junho/2008, tendo ainda acrescido a E4+10-BE. conforme solicitações. O subleito, por sua vez,
Organizando todos os dados coletados, separou- há de estar sendo alvo de uma compactação
se segundo as temporadas, retirando aqueles que natural e cumulativa, de acordo com as cargas
extrapolaram, para a geração de gráficos mais
limpos e de melhor correlação. Como resultado,
a sub-base na temporada de chuva apresentou
dados com o maior coeficiente de variação,
superior a 35% e, em época de seca, inferior a
17%. As demais camadas, em ambas
temporadas, obtiveram coeficiente inferior a
15%. Fato que pode ser explicado pela absorção
do agregado reciclado, uma vez que Oliveira
(2007) constatou valores superiores aos normais
estipulados por norma. Aliado ao fato de a sub-
base ter sido executada com maior porcentagem
do mesmo, uma maior sensibilidade desta
camada era esperada, sendo confirmada por este
resultado.
A Figura 3 ilustra o desempenho das
camadas ao longo do tempo, com a correlação
linear também traçada para uma melhor análise.
Observa-se em todas as camadas o
comportamento quase paralelo entre os
resultados das temporadas de chuva e seca,
onde a diferenciação foi cerca de 1,0 mm/golpe.
O desempenho das camadas se revelou um
ponto interessante, a base praticamente
estabilizada, mantendo uma resistência quase
constante, horizontal. A sub-base apresentando
perda dessa, embora 2,0 mm/golpe nos 8 anos
em questão. O subleito, por sua vez, vem
exibindo um aumento lento, cerca de
1,5 mm/golpe, ao longo desse tempo.
Sabe-se que, durante a fase de implantação
da sub-base, foram notadas dificuldades
executivas quanto ao manuseio do material,
tendo-se que alterar a dosagem daquele que
seria utilizado na base, por isso o menor valor
do CBR de projeto. Logo, o comportamento
destas camadas estruturais pode estar baseado
neste fato, onde, apesar de a base possuir menor
resistência, foi melhor compactada e
homogeneizada, gerando um comportamento Figura 3. Gráficos DN ao longo do tempo
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dissipadas sobre ele, sendo ainda o aumento de gerando a variação significativa de quase 98%
resistência na temporada de chuva, analisado revelada na tabela.
graficamente, poder estar relacionado aos Aplicando nestas equações os últimos
efeitos de sucção sobre o equipamento. resultados de DN obtidos, referentes à época de
As Tabelas 2 e 3, por sua vez, apresentam os novembro de 2011, estima-se o CBR que
dados expostos no trabalho de Monteiro et al. apresentavam. Uma vez que a implantação foi
(2016), onde foram levantadas as melhores executada em época de chuva, a análise da
correlações, já existentes em bibliografias, para variação deste resultado baseou-se nesta mesma
cada uma das camadas, tendo em vista os dados temporada. Tendo ainda que os dados do
pertinentes à fase de implantação da estrutura. subleito se aproximaram mais da camada
As mesmas foram obtidas através dos resultados resistente já comentada, com DN inferior a
de DN e do CBR de projeto, determinado em 6 mm/golpe, adotou-se a equação respectiva a
laboratório, possibilitando estipular a equação ela e a variação foi pautada nos resultados
que melhor se adequava a cada camada, o obtidos através da correlação de Cardoso e
resultado do CBR obtido através do emprego da Trichês (1998), utilizando uma aproximação
equação de correlação, bem como a variação dos dados iniciais e finais expostos nos
entre este e o de laboratório. gráficos. Para tanto, a Tabela 4 apresenta os
dados de estimativa de variação do CBR ao
Tabela 2. DN médio da fase de implantação, CBR de longo do período analisado.
laboratório, melhores correlações (Monteiro et al., 2016)
DN Tabela 4. Estimativa de variação do CBR entre os anos de
CBRlab
Camada (mm/ Correlação 2003 e 2011
(%)
golpe) DN CBRcorrel CBRcorrel
B 3,2 83 ASTM D-6951 (I) Variação
Camada (mm/ (%) (%)
Kryckyj & (%)
golpe) Chuva Implant
Trichês (2000)
SB 1,8 90 Agregados (II) Base 3,00 86,90 81,50 6,22
Reciclados (CBR Sub-Base 4,00 52,36 87,00 -66,15
s/ imersão)
Subleito 4,00 36,35 25,70 29,30
Cardoso e Trichês
5,6 (III)
13 (1998)
SL
15,5
Kleyn e Savage
(IV) Observa-se que, em termos quantitativos de
(1982) DN a variação da sub-base foi relativamente
baixa (diferença de 2,2 mm/golpe), contudo,
Tabela 3. Equações de correlações, CBR obtido pela
quando aplicada a correlação e obtendo-se o
correlação e variação entre CBR calculado e de
laboratório (Monteiro et al., 2016) CBR, esta se demonstra alta (diferença de 35%,
CBRcorr Variação em termos de CBR) e variação de 66%. Essa
Equação
(%) (%) aplicação denota a importância da obtenção da
(I) CBR = 292 / DN.1,12 81,5 1,8 correlação durante fase executiva, a qual poderá
(II) CBR= 126,35.DN - ser facilmente aplicada nas avaliações
87 3,4
0,6354 posteriores, permitindo o estudo de seu
(III) CBR = 151,58.DN-1,03 25,7 97,7 comportamento ao longo do tempo através de
(IV) Log (CBR) = 2,60 -
12,6 3,1 um índice mais familiar que é o CBR.
1,26. Log (DN)

5 CONCLUSÕES
Como abordado por Oliveira (2007), após os
preparativos do subleito, o mesmo apresentou
Através dos resultados e discussões
fissuras superficiais, gerando uma camada fina
apresentadas, a eficiência e praticidade do DCP
com alta resistência, contrariando e
é atestada, pontuando sua sensibilidade às
extrapolando o comportamento esperado,
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alterações das camadas, no que diz respeito à Agradecemos a Pró-Reitoria de Pesquisa


composição e compactação, bem como efeitos (PROPE) da PUC Goiás pelo apoio para a
da umidade. realização desta pesquisa.
Destaca-se a facilidade na análise dos dados,
proporcionando uma visão clara e sucinta do REFERÊNCIAS
comportamento da estrutura. Tal levantamento
se revela de suma importância sobretudo no que ABNT (2004). Associação Brasileira de Normas
diz respeito a estudos laboratoriais, onde se Técnicas. NBR 15115: Agregados reciclados de
resíduos sólidos da construção civil – Execução de
pretende verificar a capacidade de novos camadas de pavimentação – Procedimentos. Rio de
materiais, uma realidade que vem aumentando, Janeiro, RJ.
ao se incitar e desenvolver cada vez mais a Alves, A. B. C (2002). Avaliação da capacidade de
política do reuso e reciclagem. Pontua-se, no suporte e controle tecnológico de execução da
entanto, a necessidade de a correlação DN-CBR camada final de terraplenagem utilizando o
penetrômetro dinâmico de cone. Mestrado,
(e qualquer outra) ser estabelecida propriamente Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa
ao material em estudo, a fim de se evitar Catarina- UFSC. Florianópolis – SC, Brasil.
possíveis equívocos e dados muito alterados. ASTM (2009). American Society for Testing and
Tais resultados abrem margens para uma Materials -D 6951-09 Standard Test Method for Use
extensão deste estudo, aplicado a outros of the Dynamic Cone Penetrometer in Shallow
Pavement Applications. ASTM International. 7p.
materiais, onde tanto as correlações Bernucci, L. B; Motta, L M G; CERATTI, J A P &
estabelecidas agregariam o banco de dados, SOARES, J B (2006). Pavimentação Asfáltica:
possibilitando a verificação da similitude a Formação para Engenheiros. Rio de Janeiro:
mesmos materiais, como sua eficiência e PETROBRAS: ABEDA,.
Berti, C. Avaliação da capacidade de suporte de solos
desempenho ao longo das solicitações e tempo.
“in situ” em obras viárias através do Cone de
Os gráficos obtidos permitiram constatar a Penetração Dinâmica - Estudo experimental.
qualidade estrutural do pavimento e, assim, da Mestrado, Engenharia Civil, Universidade Estadual de
eficiência do RCD aplicado nesta função. Seu Campinas, SP: [s.n.], 2005.
comportamento frente às solicitações Costa, L. C. S. ; Castro, A. P. ; Rezende, L. R. (2010).
Avaliação do desempenho de um pavimento
acumuladas demonstra estabilidade e uma
executado com RCD após quatro anos de
eficiência superior à esperada. O caso em funcionamento. COBRAMSEG 2010: Engenharia
questão pontua ainda a importância e efeito da Geotécnica para o Desenvolvimento, Inovação e
qualidade executiva, ao nos apresentar Sustentabilidade, Gramado. XV Congresso Brasileiro
comprovação do melhor comportamento de um de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
2010. v. CD ROM. 10p.
material com manuseio mais adequado em
DNIT (2006). Departamento Nacional de Infraestrutura
campo, propiciando melhor homogeneização e de Transportes. DNIT – IPR 719. Manual de
compactação, frente aquele de melhores Pavimentação. 3ª Edição. Rio de Janeiro, 278p.
resultados laboratoriais. Apesar deste último Hong, W., Kang, S., Park, K., Lee, J. (2016). Evaluation
inicialmente se revelar mais eficiente, percebe- of Active Layer Depth Using Dynamic Cone
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se o declínio mais acentuado de sua resistência Environmental Society, Vol. 17, Issue 1, 49-54p.
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Engenharia Civil. Universidade Federal de Goiás,
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Pavimentos Flexíveis; Critério de Confiabilidade e Scala, A. J. (1956). Simple methods of flexible pavement
Ensaios de Cargas Repetidas. Tese de D.Sc. design using cone penetrometers. New Zealand
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desempenho de agregados reciclados de resíduos Agregado Reciclado como Base de Pavimento
sólidos da construção civil em pavimentos flexíveis. Flexível a Partir de um Modelo Físico. Doutorado,
Doutorado, Geotecnia. Universidade de Brasília. Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
Brasília –DF, 134-140. Ambiental, Faculdade de Tecnologia Universidade de
PMSP/SP.ETS–001 (2003). Camadas de reforço do Brasília, Brasília, DF, Brasil, 146p.
subleito, sub-base e base mista de pavimento com Van Vuuen, D. J. (1969), Rapid Determination of CBR
agregado reciclado de resíduos sólidos da construção with the Dynamic Cone Penetrometer. Rhodesian
civil. São Paulo, SP, Brasil, 14p. Eng. Paper 105, pp. 852-4, September.
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Viabilidade do Uso Do Equipamento DPL para Obtenção de


Parâmetros de Projeto
Lindomar Rodrigues Valverde
Universidade Cidade de São Paulo, Goiânia, Brasil, lindomar.valverde@gmail.com

Kárita Christina Soares Kanaiama Alves


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins, Gurupi, Brasil,
karita.alves@ifto.edu.br

RESUMO: As investigações geotécnicas estão presentes na maioria das obras de engenharia, e


fornecem os dados necessários para o bom desenvolvimento de um projeto geotécnico. O SPT é um
tipo de sondagem à percussão, sendo um dos mais executados no Brasil. O DPL é uma técnica de
sondagem adequada para investigação superficial, sendo o equipamento mais leve se comparado ao
do SPT, o que possibilita ser mais facilmente manuseado e transportado. O presente trabalho tem
como objetivo a comparação entre os resultados das sondagens SPT e DPL, de modo a viabilizar o
uso do DPL em obras de pequeno porte, na aquisição de dados para dimensionamento de fundações
rasas. Foram escolhidos cinco terrenos na região metropolitana de Goiânia, Goiás, para realização
desses ensaios. Foram feitas quatro análises, sendo elas da discrepância, da correlação por furo,
correlação por obra e correlação por tipo de solo. Após as análises foi possível concluir que o
equipamento promoveu boas correlações por furo e por obra. Porém, quando o universo da análise
passou para o grupo geológico e o tipo de solo, as correlações não foram muito satisfatórias,
mostrando, por hora, que o equipamento do DPL ainda é mais indicado para complementação de
resultados, do que de substituição do SPT.

PALAVRAS-CHAVE: Investigações geotécnicas, Correlação de ensaios, Viabilidade técnica.

1 INTRODUÇÃO Leve (DPL – Dynamic Probe Light) se mostra


como alternativa de baixo custo e de fácil
Na elaboração de projetos geotécnicos é execução devido ser um equipamento
indispensável a obtenção de parâmetros do simples, podendo se somar à sondagem de
solo, os quais são obtidos por investigações simples reconhecimento (SPT) ou ainda a
geotécnicas. No Brasil, o ensaio de SPT substituir, permitindo um tratamento mais
(Standard Penetration Test) ainda representa refinado dos parâmetros obtidos nas
uma grande fatia dos ensaios geotécnicos investigações de campo, com rápido tempo de
realizados e, portanto, há uma carência de resposta, agilizando a elaboração de projetos.
informações sobre a viabilidade da utilização Este trabalho tem como objetivo analisar a
de outros ensaios como ferramenta segura de viabilidade do equipamento DPL, verificando
obtenção dos parâmetros geotécnicos o alcance da técnica em profundidade e ainda
(RODRIGUEZ; ALBUQUERQUE, 2011). propor, para a região de Goiânia, correlações
Novos e modernos equipamentos de entre os parâmetros do DPL e do SPT, de
investigação foram introduzidos nas últimas modo a colaborar com uma base de dados de
décadas visando ampliar o uso de diferentes correlações para solos brasileiros.
tecnologias em diferentes condições de
subsolo. Assim, o Penetrômetro Dinâmico
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA quando se deseja classificar as camadas de


solo e determinar o nível freático.
Este item apresenta uma revisão do método de No Brasil, os ensaios DPL têm sido
ensaio DPL. O ensaio SPT não foi descrito bastante explorados por várias universidades
por ser uma técnica amplamente conhecida na (Escola de Engenharia São Carlos da
comunidade geotécnica. Universidade de São Paulo - USP, Instituto
Tecnológico de Aeronáutica - ITA, entre
2.1 Dynamic Probe Light (DPL) outras), com objetivo de se comprovar a sua
eficácia (PEREIRA, 2010).
Segundo Alves Filho (2010), o Penetrômetro DIN (2003), Matos (2015), Sanchez et al.
Dinâmico Leve (DPL - Dynamic Probe Light) (2010) e Nilsson (2004) apresentam diversos
caracteriza a estratigrafia local de forma resultados de correlação entre os ensaios SPT
contínua e determina a resistência do solo nas e DPL.
camadas superficiais com rapidez e eficiência,
dada a operacionalidade e baixo custo do 2.1.1 Aparelhagem do Ensaio DPL
equipamento utilizado, sendo necessário, para
a realização do ensaio de sondagem, apenas Conforme a norma alemã DIN 4094-3 (DIN,
um sondador com a ajuda de um auxiliar. 2002), o equipamento consiste em um
A sondagem é considerada adequada para conjunto de hastes metálicas, ajustáveis por
projetos de pequeno e médio porte, meio de roscas, cuja extremidade tem uma
complementando outras sondagens. O ponteira de aço cônica de diâmetro superior
equipamento é indicado inclusive para locais ao das hastes.
de difícil acesso, como áreas alagadiças, sem A Figura 1 mostra a aparelhagem utilizada
necessidade de caminhos de serviço. no ensaio DPL, incluindo as hastes, ponteira,
Segundo Nogueira (2010), uma das martelo, cabeça de bater e macaco mecânico
vantagens do DPL, além do pequeno porte, é para retiradas das hastes após a finalização do
que o equipamento permite a cravação de ensaio.
cerca de 60 m por dia, conferindo agilidade na
obtenção dos parâmetros. No entanto, o autor
destaca que a principal desvantagem é a
limitação do equipamento, projetado para uso
em sondagens com profundidade máxima de
12m.
O ensaio e o equipamento são
padronizados na Referência Internacional para
Procedimentos de Ensaio para Sondagem
Dinâmica (ISSMFE, 1989) e pela DIN 4094-3
(DIN, 2002), respectivamente. No Brasil
ainda não há normalização do ensaio.
A energia de cravação do ensaio é de cerca
de 50J, quase 10 vezes menor em comparação Figura 1. Equipamentos utilizados no ensaio DPL.
ao SPT (488J). Devido à baixa energia o
ensaio é considerado semiestático. O penetrômetro segue as seguintes
O ensaio não permite a obtenção de características:
amostras de solo, como no ensaio SPT, ou • Diâmetro da ponteira: 35,7mm;
seja, é basicamente quantitativo, sendo • Diâmetro das hastes: 21,20mm;
necessário recorrer a sondagem a trado • Seção da ponteira: 10,00cm²;
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• Massa do peso batente: 10,00kg; altura de 50cm, que cai sobre a cabeça de
• Altura de queda do peso: 0,50m; bater. Durante a cravação das hastes é feita a
• Peso das hastes: 1,57kg/m. contagem dos golpes necessários para
cravação a cada 10cm. Esse número de golpes
A Figura 2 mostra o esquema do é chamado N10. A Figura 3 mostra o
equipamento montado para realização do equipamento do ensaio de DPL instalado para
ensaio. execução do ensaio, com verificação da
profundidade do pré-furo.

Figura 3. Ensaio DPL em andamento.

3 METODOLOGIA

3.1 Escolha dos locais de ensaio

A escolha dos locais dos ensaios de sondagem


Figura 2. Esquema da sondagem DPL (MATOS, 2015). SPT e DPL foi feita com assessoria da
empresa Pró Solo Sondagens e Fundações
LTDA, a qual forneceu os resultados dos
2.1.2 Execução do Ensaio DPL ensaios realizados. Os locais foram escolhidos
conforme o cronograma dos serviços
O método de ensaio segue as recomendações realizados pela empresa no período de abril a
da norma sueca (ISSMFE, 1989). A execução setembro de 2015. Foram ao todo 5 obras,
do ensaio é simples, uma vez que se dá numeradas na mesma sequência de realização
apenas pela etapa de cravação e obtenção do dos ensaios.
número de golpes, não necessitando da etapa Os furos de sondagem SPT foram
de instalação do equipamento e avanço como realizados com finalidade da investigação
no ensaio de SPT. Nilsson (2011) fala sobre a geológico-geotécnica para a elaboração dos
execução de um pré-furo de 30cm, a partir do projetos das empresas contratantes. Os furos
qual se inicia a cravação. de DPL foram realizados para obtenção dos
A cravação das hastes se dá pela energia de dados para as análises de correlação desta
queda do martelo de 10kg, elevado até a pesquisa.
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A Obra 1 está localizada no setor Jardim profundidade. Foram obtidas duas curvas,
Guanabara, na qual foram executados 2 furos uma para o DPL nomeada como N50, e outra
de cada sondagem. A Obra 2 está localizada denominada como N30 para o SPT. A partir
no setor Nova Vila, na qual foi executado 1 dessa análise, foi possível observar a partir de
furo de cada sondagem. A Obra 3 está qual profundidade o ensaio de DPL apresenta
localizada no município de Senador Canedo, divergências do número de golpes em relação
no Jardim Bougainville. Foram executados 2 ao SPT, evidenciando sua limitação em
furos de cada sondagem. A Obra 4 está profundidade.
localizada no setor Industrial, na qual foram Na análise do número de golpes de todos
executados 3 furos de cada sondagem. A Obra os furos, percebeu-se que para certas
5 está localizada no setor Novo Planalto, na profundidades, enquanto o valor de N30
qual foram executados 2 furos de cada aumentava o de N50 diminuía, e vice-versa.
sondagem. Como esses resultados são divergentes, nessas
Os ensaios DPL e SPT foram executados cotas os dados foram desprezados.
segundo as normas ISSMFE (ISSMFE, 1989)
e NBR 6484 (ABNT, 2001), respectivamente. 3.2.2 Correlação linear por furo
O número de golpes do DPL considerado
neste trabalho foi nomeado N50, sendo Nessa etapa, foi realizada a análise do número
equivalente a soma dos golpes dos primeiros de golpes N30 e N50, por furo, até a
50 cm cravados em cada metro. Não foi feita profundidade de 5m, em cada obra. Em
a obtenção do número N10, como orienta a seguida, foi obtida uma linha de tendência de
norma alemã devido as características das melhor ajuste dos pontos. Para essa linha de
hastes do equipamento utilizado que não tendência, o software forneceu tanto a
possuíam a marcação a cada 10cm. Já o equação, como o coeficiente de determinação
número de golpes do SPT foi nomeado como (R²).
N30, relativo a soma do número de golpes na
cravação dos últimos 30cm nos primeiros 45 3.2.3 Correlação linear por obra
cm de cada metro.
Essa correlação foi feita considerando todos
3.2 Metodologia de análise dos dados os resultados dos ensaios de DPL e de SPT
utilizados nas análises por furo, em cada obra.
As análises dos dados de sondagem foram Foram obtidos os gráficos e as linhas de
feitas por meio das correlações dos resultados tendência, bem como equação da correlação
de sondagem DPL e SPT. Os dados foram entre esses resultados.
correlacionados com auxílio do software
Microsoft Excel. As análises das Obras 1 a 3 3.2.4 Correlação por tipo de solo
foram feitas no sentido de observar a
discrepância dos resultados de cada tipo de A partir dos resultados do perfil litólogico do
sondagem, estabelecer as correlações entre os laudo do SPT foi feita a comparação entre os
resultados de sondagem por furo, por obra e resultados de sondagens das obras com
por tipo de solo. mesmo tipo de solo.

3.2.1 Discrepâncias
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
Para obtenção dos gráficos de discrepância RESULTADOS
dos resultados de DPL, foi feita a comparação
do número de golpes em função da 4.1 Descrição do perfil litológico das obras
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O perfil da Obra 1 apresenta uma argila


siltosa até a profundidade de cerca de 7,0 m, e
abaixo uma camada de silte argiloso. A Obra
2 apresenta um perfil predominantemente de
silte argiloso até a profundidade de 5,0 m. A
Obra 3 apresentou um perfil de solo mais
heterogêneo, com uma camada superficial de
argila siltosa, e após cerca de 2,0 m
apresentou silte argiloso. A Obra 4 apresentou
um perfil bastante homogêneo, com silte
argiloso em toda profundidade ensaiada. A
Obra 5 apresentou uma camada superficial,
em torno de 2,0 m, de uma argila siltosa e
posteriormente, apresentou um silte argiloso.

4.2 Análise das discrepâncias Figura 5. Análise da discrepância na Obra 3.

Essa análise mostrou a limitação do DPL nas 4.3 Correlação linear por furo
obras 01 e 03, evidenciada pelo aumento
abrupto do valor de N30 a partir de cerca de Os resultados da correlação por furo dos
5m. As demais obras não apresentaram essa valores de N30 e N50 estão apresentados na
discrepância, porém as correlações foram Tabela 1. Pode-se dizer que os resultados das
feitas comparando-se os resultados dos obras 1, 2 e 3 foram bastantes satisfatórios,
ensaios até 5m, para efeito de padronização. em função do valor de R² ser próximo de 1.
As figuras 4 e 5 apresentam a comparação Nas obras 4 e 5, os resultados foram menos
do N30 e do N50 nas obras 1 e 3, mostrando a satisfatórios.
discrepância dos valores a partir dos 5m.
Tabela 1. Resultados da correlação linear por furo.
Obra Ponto Equação R²
Furo 01 N30=0,64*N50-6,14 0,96
1
Furo 02 N30=2,38*N50-44 0,97
2 Furo 01 N30=0,27*N50+10 0,97
Furo 01 N30=0,26*N50+0,10 0,9
3
Furo 02 N30=-2*N50+39 1
Furo 01 N30=0,60*N50-3,84 0,93
4 Furo 02 N30=0,59*N50-22,42 0,82
Furo 03 N30=0,14*N50-0,68 0,85
Furo 01 N30=0,15*N50+1,85 0,82
5
Furo 02 N30=0,05*N50+2,14 0,77

As Figuras 6, 7, 8, 9 e 10 mostram as
análises por furo por obra.
Figura 4. Análise da discrepância na Obra 1.
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Figura 6. Correção linear por furo da Obra 1. Figura 9. Correção linear por furo da Obra 4.

Figura 7. Correção linear por furo da Obra 2. Figura 10. Correção linear por furo da Obra 5.

4.4 Correlação linear por obra

Os resultados da correlação por obra dos


valores de N30 e N50 estão apresentados na
Tabela 2. Pode-se dizer que os resultados das
obras 1, 2 e 3 foram bastantes satisfatórios,
mas nas obras 4 e 5 os resultados foram ruins.
O que pode justificar o resultado é a
heterogeneidade do perfil do solo dentro do
mesmo terreno.
As Figuras 11 e 12 mostram a correlação
linear por obra das obras 1 e 3. A análise da
obra 2 é a mesma apresentada na Figura 7. As
análises das obras 4 e 5 não estão
Figura 8. Correção linear por furo da Obra 3. apresentadas pois foram muito insatisfatórias.
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Tabela 2. Resultados da correlação linear por obra. 1 e 3, pode ser considerado satisfatório, uma
Obra Correlação R² vez que a quantidade de valores analisados
1 N30=0,84*N50-8,42 0,75 aumentou significativamente.
2 N30=0,27*N50+10 0,97 A correlação entre os resultados das obras
3 N30=0,29*N50-0,92 0,85 2 e 4 não foram satisfatórios, uma vez que a
obra 4 não obteve boa correlação nem mesmo
4 N30=0,04*N50+11,23 0,0034
entre seus próprios furos, podendo ter
5 N30=0,08*N50+2,57 0,32 ocorrido falha na execução dos ensaios.

Tabela 3. Resultados da correlação linear por tipo de


solo.
Tipo de solo Equação R²
Obras
Argila siltosa
N30=0,28*N50-0,68 0,75
Obras 1 e 3
Silte argiloso N30=-
0,00
Obras 2 e 4 0,01*N50+15,73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a


viabilidade do equipamento DPL para a
obtenção de parâmetros de projeto, assim
Figura 11. Correção linear por obra da Obra 1. como já é feito com o ensaio de SPT.
As obras 1, 2 e 3 apresentaram as melhores
correlações, tanto por furo quanto por obra.
Esses resultados permitiram confirmar que
o ensaio de DPL é bastante promissor, pois
além do equipamento ser portátil é possível
realizar ensaios com rápida produtividade. O
equipamento de DPL, no entanto, apresenta
algumas limitações. Como foi visto na análise
de discrepância, o equipamento utilizado
neste trabalho apresenta resultados confiáveis
até uma profundidade média de 5,0m,
fornecendo número de golpes apenas das
camadas superficiais, podendo seus resultados
serem utilizados em situações pontuais como
o projeto de fundações rasas e controle de
Figura 12. Correção linear por obra da Obra 3. aterros. O equipamento também não realiza a
coleta de amostras de solo para
caracterização.
4.5 Correlação linear por tipo de solo Diante de todos os resultados e análises,
pode-se concluir a partir desse trabalho, que o
Os resultados da correlação linear por tipo de ensaio de DPL pode ser utilizado para
solo estão apresentados na Tabela 3. Nota-se complementação dos ensaios de SPT em um
que a correlação entre os resultados das obras mesmo terreno.
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REFERÊNCIAS CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE


ENGENHARIA E AMBIENTAL, 2011,
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Campinas/SP.
TÉCNICAS. NBR 6.484: Solo – Sondagens de SANCHEZ, P. F. et al. Estudo da Viabilidade do Uso
Simples Reconhecimento com SPT – Método de do Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL) para
Ensaio. 2001. Projetos de Fundações de Linhas de Transmissão
ALVES FILHO, C. E. S. Correlações para Obtenção de em Solos do Estado do Paraná. In: CONGRESSO
Parâmetros Geotécnicos de Argilas Compressíveis BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
com Utilização do Penetrômetro Dinâmico Leve. ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 2010, Gramado.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Geotecnica) Anais... Gramado, 2010. p. 1 - 8.
– Escola de Minas/UFOP, Ouro Preto/MG, 2010.
DIN: DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG.
DIN 4094-3: Erkudung durch Sondierunger.
Alemanha, 2002.
DIN: DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG.
DIN 1054: Sicherheitsnachweise im Erd- und
Grundbau. Berlin: Beuth, 2003.
ISSMFE: INTERNATIONAL SOCIETY FOR SOIL
MECHANICS AND FUNDATION ENGEERING.
Report of the ISSMFE – Technical Committee on
Penetreation Testing on Soil – TC 16. Reference to
Test Procedures CPT-SPT-DP-WST. Suécia:
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1989.
MATOS, Y.M.C. Verificação da Aplicação de
Sondagens com o Penetrômetro Dinâmico Leve
(DPL) em Projetos de Fundações para Pequenas
Edificações. 2015. 76 f. Monografia (Bacharelado
em Engenharia Civil). Universidade de Fortaleza,
Fortaleza. 2015.
NILSSON, T. U. Comparações entre DPL NILSSON e
SPT. In: GEOSUL 2004, IV SIMPÓSIO DE
PRÁTICA DE ENGENHARIA GEOTÉCNICA
DA REGIÃO SUL, 4., 2004, Curitiba. Anais...
Curitiba, 2004. p. 61 - 68.
NILSSON, T. U. Penetrômetros Dinâmicos em
Projetos Rodoviários. 13º CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE
ENGENHARIA E AMBIENTAL, 4., 2011, São
Paulo. Anais... São Paulo, 2011.
NOGUEIRA, E. G. Estudo de Algumas Soluções de
Tratamento de Solos Moles Para Construção de
Aterros no Trecho Sul do Rodoanel – SP.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo – São
Paulo/SP, 2010.
PEREIRA, T. C. Uma Contribuição Para A
Determinação De Propriedades Físicas E
Mecânicas De Materiais Granulares Compactos,
Com Recurso A Penetrómetro Dinâmico Ligeiro.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil).
Faculdade do Porto, Porto, Portugal, 2010.
RODRIGUEZ, T. G; ABUQUERQUE, P. J. R.
Verificação da Adequabilidade de Correlação
entre Ensaio de SPT e DPL para um Solo
Coluvionar da Região de Campinas/SP. In: 13º
 

TEMA:  
ESCAVAÇÕES SUBTERRÂNEAS 
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Avaliação Do Tempo Mínimo Necessário Para Reentrada Em


Áreas Recém Projetadas - Mina Cuiabá, Sabara - MG.
Túlio César Abduani Lima
AnglogGold Ashanti, Sabará, Brasil, TClima@anglogoldashanti.com.br

Guilherme Albano Viana Costa


UFMG, Belo Horizonte, Brasil, guilhermeavc1993@gmail.com

Felipe de Brito Pereira


AnglogGold Ashanti, Sabará, Brasil, FBPereira@anglogoldashanti.com.br

Rafael Soares Pereira


AnglogGold Ashanti, Sabará, Brasil, RSPereira@anglogoldashanti.com.br

Rodrigo César Padula


AnglogGold Ashanti, Sabará, Brasil, ROPadula@anglogoldashanti.com.br

RESUMO: A operação de projeção de concreto é uma das atividades que contribui para a elevação
do tempo de ciclo em mineração subterrânea, já que, além do tempo da projeção de concreto na
rocha em si, existe também um tempo necessário para liberação do retorno de atividades com
segurança para o próximo ciclo de atividades, que é comumente chamado de tempo de reentrada
(re-entry time). Este trabalho busca avaliar o tempo de reentrada ideal para a Mina Cuiabá, baseado
em testes e resultados obtidos na compressão uniaxial em concreto projetado com idade nova (horas
de cura), onde as premissas adotadas foram: O concreto deve atingir especificações mínimas de
resistência para que seja possível a realização de perfuração para posterior atirantamento e o
concreto deve ter uma resistência tal que não haja risco de queda de blocos ou do próprio concreto.
PALAVRAS-CHAVE: Re-Entry Time, Concreto Projetado, Compressão Uniaxial.

1 INTRODUÇÃO de endurecimento do concreto e


consequentemente, o tempo de pega do mesmo
O trabalho visa apresentar os valores em tempo de forma indireta. Entretanto a Agulha de
para reentrada em áreas recém projetadas. O Proctor é indicada para medições em solo,
princípio para obtenção dos tempos adequados sendo o Penetrômetro Digital mais indicado
foi baseado em testes e resultados obtidos na para o uso em concreto.
compressão uniaxial em concreto projetado O objetivo deste estudo é mostrar a curva de
com idade nova. Para a realização do teste foi resistência a compressão uniaxial do concreto
utilizado o Penetrômetro Digital, além da de idade nova em função do tempo, podendo
Agulha de Proctor ou Agulha de Meynadier, assim estabelecer um tempo de entrada em
equipamento comumente utilizado em obras de áreas onde o concreto projetado foi aplicado.
engenharia civil. Atualmente na mina de Cuiabá o tempo de
Os testes foram realizados em amostras com reentrada em áreas recém projetadas é de 3
o mesmo traço usado na projeção de concreto horas, o que pode causar atrasos em algumas
na mina de Cuiabá, com as coletas realizadas no atividades.
momento da projeção. A Agulha de Proctor é 2 CONTEXTO BIBLIOGRÁFICO
um equipamento usado para determinar o tempo
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O tempo de reentrada em áreas recém trabalho estará relacionado ao modelo


projetados é função do tempo de cura do Austríaco estabelecido pelo gráfico de J1-J2-J3,
concreto. É geralmente aceito que a resistência que fornece um guia para resistência a
do concreto projetado suficiente para ação de compressão uniaxial para baixos tempos de
perfuração seja de 1 a 1.6 MPa (Clements, cura, onde recomenda-se que o concreto
2004). aplicável em mineração subterrânea tenha
Testes para baixos tempos de cura foram características mínimas iguais ao proposto na
realizados e reportados através de ensaios curva J2. Segundo Zhang e Morgan (2015), o
realizados em diversas minas americanas, para concreto projetado, aplicado com a utilização
tempos de cura de 1 a 6 horas. Estes testes de aceleradores específicos, podem desenvolver
geraram resultados seguros para entrada de uma resistência aceitável com menos de uma
equipamentos de perfuração com valores de hora de cura, onde tal resistência é suficiente
resistência a compressão de 1 a 1.6 MPa - 145 a para prover um suporte imediato do maciço e
233 psi (O’Toole e Pope, 2006), com o valor de evitar a queda do próprio concreto. A Figura 1 a
compressão equivalente a 1.0 MPa tornando um seguir ilustra o gráfico citado.
padrão para uma reentrada segura após a
projeção de concreto (Rispin et al., 2003;
O’Toole and Pope, 2006; Bernard, 2008).
Valores típicos de resistência mínima para
reentrada definidos no mundo estão descritos na
Tabela 1 a seguir.

Tabela 1. Variação típica para reentrada após a aplicação


de concreto projetado no mundo. (Adaptado de Martin et
al., 2015).
Região Resistência para Tempo de
reentrada, Mpa (psi) reentrada (h)
EUA 0,5 – 3 (75 – 435) 2–6 Figura 1. Evolução do concreto para baixos tempos de
Canadá 1,6 – 2 (232 – 300) 2 cura (Adaptado de Zhang e Morgan, 2015 apud Austrian
Austria 0,8 – 1,6 (116 – 232) 2–6 Concrete Society Sprayed Concrete Guidelines)
Austrália 0,5 – 3 (75 – 435) 1–6

Um tempo de cura ideal para reentrada em áreas 3 METODOLOGIA


recém projetadas deve ser obtido com a
utilização de concreto projetado com baixos Para a realização dos testes é necessário fazer a
valores de Slump (Melbye, 2001). projeção do concreto na placa moldada de
O concreto após sua aplicação pode ser acordo com a norma NBR 13070. Após a
submetido a esforços de tração e cisalhamento, projeção do concreto na placa moldada são
sendo o cisalhamento o principal mecanismo de realizados testes seguindo a norma ABNT NBR
quebra do concreto na mina Cuiabá. A fim de 14278. Os ensaios também podem ser
encontrar um valor ideal onde seja permitido o realizados em um maciço rochoso recém
acesso de pessoas, foi considerado o estudo projetado, desde que quem conduzirá os ensaios
feito por Saw et al. (2015). Com a proposta não esteja exposto a teto sem contenção ou com
descrita foi possível obter a determinação da concreto projetado ainda sem condições finais
resistência ao cisalhamento mínimo adequado de cura.
para o concreto, de forma que não haveria a Após a projeção do concreto é necessário
ruptura ao cisalhamento para o concreto realizar uma série de testes em diferentes
projetado utilizado na Mina Cuiabá. tempos de cura, onde para cada tempo é
Uma abordagem também retratada neste necessário fazer no mínimo cinco testes. Os
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resultados obtidos são relativos a força (N) maneira foram usadas agulhas de 14,18 mm, 9
necessária para penetrar 25 mm de concreto, mm e 6 mm, onde a escolha do diâmetro das
com uma agulha de diâmetro definido. As agulhas depende de quão resistente está o
medidas são anotadas em campo, onde a partir concreto, sendo de escolha do operador da
de correlações teóricas, são obtidos valores da Agulha de Proctor.
resistência a compressão uniaxial (MPa). Foram realizadas oito campanhas utilizando
Foram realizadas oito campanhas utilizando a Penetrômetro Digital, também em locais
a Agulha de Proctor em diferentes locais específicos para a Mina Cuiabá, em túneis que
específicos da Mina Cuiabá, sendo todos locais tiveram sua superfície coberta com concreto
respectivos a túneis que tiveram sua superfície projetado, realizando o teste com diversos
projetada com concreto projetado, realizando o tempos de cura para poder estabelecer uma
teste com tempos de cura de 30 minutos e 1 curva de resistência em função do tempo. As
hora para poder estabelecer uma curva de datas e locais onde os testes foram realizados
resistência em função do tempo. As datas e são apresentados na Tabela 3.
locais onde os testes foram realizados são
apresentados na Tabela 2. Tabela 3: Locais dos testes – Agulha de Proctor.
LOCAL DATA
Tabela 2: Locais dos testes – Agulha de Proctor. 18 SER 3°SN 03/06/2017
LOCAL DATA 16 FGS 3° SN 24/07/2017
Grade Nível 9 03/11/2016 17.1 FGS 3° SN 01/08/2017
17 SER Rampa 23/11/2016 18 SER 2° SN 25/08/2017
09 GAL Rampa 17/01/2017 15 FGS 2° SN 03/10/2017
15 SER Orica 24/01/2017 18 SER 4° SN 11/10/2017
09 GAL Rampa 30/01/2017 14 FGS 2° SN 27/10/2017
18 SER 3º SN 06/02/2017 14 FGS 2° SN 08/11/2017
17 SER Rampa 31/03/2017 18 FGS 4° SN 15/12/2017
19 SER Rampa 06/04/2017
Faz parte do procedimento de medição da
Abaixo segue a quantidade de testes resistência inicial do concreto a realização de
realizados: 10 leituras por tempo de cura. Os primeiros
• 03/11/2016 – 24 testes para 1 hora; resultados obtidos pelo Penetrômetro Digital
• 23/11/2016 – 24 testes, sendo 12 para não apresentaram resultados satisfatório, uma
meia hora e 12 para uma hora; vez que a equipe da Geomecânica estava se
• 17/01/2017 – 24 testes, sendo 12 para familiarizando como o equipamento. A medição
meia hora e 12 para uma hora; realizada no dia 15/12/2017, apresentou
• 24/01/2017 – 7 testes para meia hora; resultados satisfatórios que foram levados em
• 30/01/2017 – 20 testes, sendo 13 para conta para construção desse relatório. Esses
meia hora e 7 para uma hora; resultados satisfatórios (15/12/2017), também
• 06/02/2017 – 12 testes para meia hora; pode ser justificado com maior familiaridade da
• 31/03/2017 – 12 testes para meia hora; equipe com a utilização do Penetrômetro
• 06/04/2017 – 10 testes para meia hora. Digital. Os dados utilizados para elaboração
Devido ao rápido tempo de cura do concreto, desse relatório foram os listados a seguir com
não foi possível realizar todos os testes usando os seguintes tempos de cura:
a agulha de 9 mm de diâmetro como sugere a
norma, sendo utilizado a agulha com o diâmetro • 03/10/2017 – 20 testes, sendo 10 para 45
menor. Em outros casos foi necessário usar uma minutos e 10 para uma hora;
agulha de diâmetro maior, já que a agulha de 9 • 08/11/2017 – 60 testes, sendo 10 para dez
mm afundava no concreto sem que a mola do minutos, 10 para quinze minutos, 10 para vinte
aparelho sofresse alguma deformação. Dessa
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minutos, 10 para meia hora, 10 para 45 minutos que o concreto apresente resultados acima da
e 10 para uma hora; curva J2. Percebe-se que os resultados atingem
• 15/12/2017 – 80 testes, sendo 10 para 5 níveis satisfatórios para utilização como
minutos, 10 para 10 minutos, 10 para 15 reforço, entretanto o método utilizado para
minutos, 10 para 15 minutos, 10 para meia hora, obtenção dos dados é incorreto, assim nenhuma
10 para uma hora, 10 para uma hora e meia e 10 conclusão pode ser tomada utilizando esses
para duas horas. valores. Para avaliação correta dos resultados,
medições utilizando o Penetrômetro Digital
devem ser consideradas.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS As medidas realizadas utilizando o
Penetrômetro Digital estão indicadas a seguir.
4.1 Determinação do Tempo de Reentrada Vale salientar que as primeiras campanhas de
Com Base no Valor de Resistência a medições utilizando tal equipamento foram
Compressão Uniaxial. desconsideradas uma vez que a equipe estava se
familiarizando com o método de medição. Os
A Figura 2 e a Figura 3 mostram os valores obtidos bem como a sobreposição com
resultados médios de resistência inicial do as curvas J1-J2-J3 estão representados na
concreto utilizando Agulha de Proctor e a Figura 4 e Figura 5 a seguir.
sobreposição dos dados no gráfico J1-J2-J3,
para os tempos de cura de 30 minutos e 1 hora.

Figura 4. Resultados de Resistência Inicial do Concreto


obtidas com Penetrômetro Digital.

Figura 2. Resultados obtidos com Agulha de Proctor

Figura 5. Sobreposição dos resultados de compressão


uniaxial para o resistências iniciais obtidas por
Penetrômetro Digital, no gráfico J1-J2-J3. (Modificado
Figura 3. Sobreposição dos resultados de compressão de Zhang e Morgan, 2015).
uniaxial para o traço 1, no gráfico J1-J2-J3. (Modificado
de Zhang e Morgan, 2015).
Os valores obtidos de Resistência a
Compressão Uniaxial do Concreto em curas
Para concreto projetado utilizado como
iniciais são utilizados para determinação do
reforço em mineração ou túneis recomenda-se
tempo de reentrada de equipamentos. A
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pesquisa feita por Clements (2004), diz que número similar ao observado na mina Cuiabá,
para que possam ser realizadas operações de com relação ao peso dos blocos.
perfuração em um concreto em fase inicial de
cura, o mesmo deve atingir um valor mínimo 1
MPa, não havendo alterações de suas
propriedades. Conforme observado na Figura 4,
a mistura utilizada atualmente na Mina Cuiabá
atinge o requisito mínimo de Resistência a
Compressão Uniaxial com cerca de 90 minutos,
o que é suficiente para liberação para reentrada
de equipamentos de perfuração. Essa
recomendação tem como base os valores
obtidos através de medições realizadas com o
Penetrômetro Digital, que é o instrumento
Figura 6. Levantamento dos pesos dos FOGs – Mina
recomendado para mensurar a Resistência à Cuiabá.
Compressão Uniaxial de Concreto Projetado
com curas iniciais (até 2 MPa)

4.2 Determinação do Tempo de Reentrada


Com Base no Valor de Resistência ao
Cisalhamento.

O concreto projetado não tem como função


impedir a formação de blocos rochosos
passíveis de queda, mas sim a contenção
gravitacional dos mesmos. Portanto, é
necessário que se atinja uma resistência mínima
ao cisalhamento de forma que o concreto possa Figura 7. Levantamento dos pesos dos FOGs – Minas
reter os possíveis blocos formados para que metálicas dos Estados Unidos – 1996 a 2004 (Adaptado
ocorra a reentrada de pessoas. Uma vez que tal de Clark et al., 2011).
modelo de ruptura é um dos mais comuns nas
falhas observadas no concreto projetado. Segundo Saw et al. (2015), é possível
Dados coletados na Mina Cuiabá entre 2012 calcular a resistência ao cisalhamento mínima
e 2016, mostram que a maior parte dos do concreto para retenção de blocos. Neste
incidentes com pessoas e/ou equipamentos trabalho considerou-se o bloco possível de
causadas por queda de blocos, ocorrem quando queda como um cubo de 1 e 2 toneladas de
o peso da rocha mobilizada é de até 2 toneladas. formação ferrífera (BIF), que possui maior
Pode se adotar uma abordagem mais otimista, o densidade quando comparada ao xisto (31
estudo de Clark et al. (2011), levantou que nas kN/m³ e 27 kN/m³ respectivamente), uma vez
minas de minerais metálicos nos Estados que será gerado arestas menores, submetendo
Unidos entre 1996 e 2004, 95% das quedas de uma área superficial de concreto menor aos
blocos (FOG) ocorridos são de blocos com mesmos esforços. As arestas encontradas foram
menos de 1 tonelada. As duas abordagens serão 0,68 e 0,85 metros, para 1 e 2 toneladas
feitas. A Figura 6 mostra os resultados da Mina respectivamente.
Cuiabá. Na Figura 7 é apresentado a quantidade A Equação 1 indica o cálculo da tensão de
de eventos de queda de blocos (“Fall of cisalhamento mínima aceitável:
Ground”) em minas americanas com extração
de metal, onde também podemos observar um
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Ft
s = (1)
Ls 2ts

Onde s é a resistência ao cisalhamento, Ft é a


força total que o concreto deve resistir, Ls é o
perímetro do cubo formado e ts é a espessura do
concreto. Quando ocorre a ruptura do concreto
em idades novas, o mesmo deve suportar seu
próprio peso e o peso do bloco mobilizado,
desse modo a força total (Ft) é calculada pela
Equação 2:

Ft = Fs  Fr (2)

Onde Fs é a força exigida pelo peso do Figura 8. Relação entre Resistência a Compressão e
concreto e Fr é a força exigida pelo bloco Resistência ao Cisalhamento do concreto em curas
mobilizado, que podem ser calculados pelas iniciais. (Adaptado de Bernard, 2008).
Equações 3 e 4 respectivamente:
Utilizando esse ajuste encontramos uma
Fs = Vs r (3) Resistência de Compressão Uniaxial para
atender as necessidades citadas anteriormente
de 0.40 e 0,54 MPa para reter blocos de 1 e 2
Fr = Mr g (4)
toneladas respectivamente. Esse valor de UCS
necessário para ambos casos é atingido com 30
Onde Vs é o volume do concreto que minutos de cura.
suportará o esforço do bloco, γs é o peso Utilizando essa aproximação podemos calcular
especifico do concreto, 23,72 kN/m³, Mr é a o valor de Resistência ao Cisalhamento
massa do bloco mobilizado e g é o valor da oferecida pelo concreto a partir do valor obtido
gravidade, 9,81 m/s². pela Resistência à Compressão Uniaxial em
Utilizando as equações acima obteve-se a curas iniciais através do Penetrômetro Digital.
Resistência ao Cisalhamento mínima de 53,80 A Tabela 4 mostra a correlação entre os valores
kPa e 84,40 kPa para conter blocos de 1 e 2 de Resistência à Compressão Uniaxial e
toneladas respectivamente. As medições Resistência ao Cisalhamento obtidas a partir do
realizadas em campo com o Penetrômetro cenário mais conservador proposto por Bernard,
Digital nos forneceram resistências a descrito pela Equação 5, onde fc corresponde ao
compressão uniaxiais para diferentes tempos de valor de compressão uniaxial (UCS) em MPa.
cura do concreto. O estudo realizado por
Bernard (2008), permite correlacionar a τt = (0.28fc × e0.6) - 0.11 (5)
resistência a compressão com a resistência ao
cisalhamento de concreto com tempo inicial de
cura. A relação é demonstrada na Figura 8 a
seguir.
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Tabela 4: Resistência ao Cisalhamento do Concreto do equipamento errado, podería subestimar o


Projetado em idades inicias de cura obtidos a partir de tempo para re-entrada, podendo ocasionar
resultados de Penetrômetro Digital
Tempo de Resistência ao
algum acidente.
UCS médio Apesar de ser amplamente aplicado na
Cura Cisalhamento
(MPa) mineração no mundo, a utilização de valores de
(h:mm:ss) (kPa)
0:30:00 0,54 83,46 resistência a compressão uniaxial como forma
0:45:00 0,68 112,16 de definição do período de reentrada pós
1:00:00 0,89 151,09 projeção de concreto, deve ser feita com
1:30:00 1,04 176,67
cautela, uma vez que a resistência ao
cisalhamento do concreto, a aderência do
2:00:00 1,23 207,03
concreto com a rocha e a resistência a tração do
concreto são fatores críticos que também devem
A partir dos valores obtidos para Resistência ser avaliados para obtenção de um padrão de
ao Cisalhamento podemos recomendar um tempo de reentrada pós projeção com concreto.
tempo de liberação de 45 minutos, uma vez que Com os valores obtidos neste trabalho,
com esse tempo de cura o concreto uma recomenda-se que ciclos de perfuração pós
Resistência ao Cisalhamento de 112,16 kPa e projeção de concreto, sejam iniciados após um
para evitar a queda de blocos de 1 e 2 toneladas período mínimo de 1 hora e meia pós projeção
são necessários, respectivamente 53,80 e 84,40 baseando-se na Resistência à Compressão
kPa. Desse modo, teríamos para blocos de 1 mínima necessária para que não se alterem as
tonelada um Fator de Segurança de 2 e para propriedades mecânicas do concreto, na mina
blocos de 2 toneladas temos um fator de Cuiabá.
segurança de 1,33. Ainda que os cálculos indiquem que é
Caso adote-se um tempo de re-entrada de 1 possível a reentrada de pessoas 45 minutos após
hora e meia, como obtido na seção anterior a projeção de concreto, sem o risco de queda de
(4.1), temos uma Resistência ao Cisalhamento blocos de até 2 t, é mais cautelosa a indicação
de 176,67 kPa. Essa resistência nos fornece um para liberação da frente de projeção após 1 hora
fator de segurança para blocos de 1 tonelada de e meia. O motivo se baseia no fator de
3,3 e para blocos de 2 toneladas temos um fator segurança. Essa situação gera um fator de
de segurança 2,1. segurança de aproximadamente 2,1, o que
extremamente satisfatória para ambiente de
mineração.
5 CONCLUSÃO Por fim, é prudente considerar a realização
de testes de aderência do concreto com a rocha
A partir dos dados apresentados nesse estudo (pull-off test) e testes de resistência a tração em
podemos verificar a importância de seguir os ensaios futuros, para confirmação dos valores
procedimentos padronizados de acordo com as obtidos. Recomenda-se também a realização de
normas reconhecidas internacionalmente. ensaios práticos de perfuração em rocha, com
Utilizando os resultados obtidos a partir de observação visual quanto a capacidade do
ensaios com Agulha de Proctor, método que concreto em manter-se estável e preso a rocha
não é indicado para determinar as resistências durante a perfuração.
iniciais de Concreto Projetado, obtemos
Resistências à Compressão próximas a 1 MPa
com 30 minutos de cura. Esse valor só atingido
com 1 hora e meia em ensaios utilizando o
Penetrômetro Digital, aparelho recomendada
para obtenção de resistências iniciais em
Concreto Projetado. Desse modo, a utilização
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REFERÊNCIAS

ABNT NBR 14278, 2012. Concreto projetado —


Determinação da consistência através da agulha de
Proctor.
Bernard, E., (2008). “Early-age load resistance of fiber-
reinforced shotcrete linings,” Tunneling and
Underground Space Technology, Vol. 23, pp. 451-
460.
Clark CC, Stepan MA, Seymour JB, Martin LA, (2011).
“Early strength performance of modern weak rock
mass shotcrete mixes”. Society for Mining,
Metallurgy, and Exploration, Mining Engineering,
2011, Vol. 63, No. 1, pp. 54–59.
Clements M., (2004). “Comparison of Methods for Early-
Age Strength Testing of Shotcrete”. Second
International Conference on Engineering
Developments in Shotcrete, Cairns, Australia.
Zhang L. J. and Morgan D. R., (2015) "Quality Control
for Wet-Mix Fiber Reinforced Shotcrete in Ground
Support" in "Shotcrete for Underground Support
XII", Professor Ming Lu, Nanyang Technological
University Dr. Oskar Sigl, Geoconsult Asia Singapore
PTE Ltd. Dr. GuoJun Li, Singapore Metro Consulting
Eds, ECI Symposium Series, (2015).
Martin L. A., Clark C. C., Seymour J. B., Stepan M. A.,
(2015). “Shotcrete Design and Installation
Compliance Testing: Early Strength, Load Capacity,
Toughness, Adhesion Strength, and Applied Quality”.
Report of Investigations 9697, DEPARTMENT OF
HEALTH AND HUMAN SERVICES, Pittsburgh,
PA - Spokane, WA.
Melbye T., (2001). “Sprayed concrete for rock support”.
9th ed. MBT International, Underground
Construction Group, Division of MBT, pp. 186–193.
O’Toole, D., and Pope S., (2006). “Design, testing and
implementation of ‘in-cycle’ shotcrete in the Northern
3500 Orebody,” Shotcrete for Under-ground Support
X, (SUS-X) Proceedings of the 10th Int. Conference,
Whistler, BC, Canada, D. Morgan and H. Parker,
eds., Amer. Soc. of Civil Engineers, pp. 316-327.
Rispin, M., Knight, B., and Dimmock, R., (2003). “Early
re-entry into working faces in mines through modern
shotcrete technology—part II,” Canadian Institute of
Mining - Mines Operations Centre (CIM-MOC),
Saskatoon, SK, Canada.
Saw, H.A., Villaescusa, E., Windsor, C., (2015). “Safe
re-entry time with In-Cycle Shotcrete for support of
underground excavations” in “Shotcrete for
Underground Support XII”, Professor Ming Lu,
Nanyang Technological University Dr. Oskar Sigl,
Geoconsult Asia Singapore PTE Ltd. Dr. GuoJun Li,
Singapore Metro Consulting Eds, ECI Symposium
Series, (2015).
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Comparativo de Custos Diretos entre Perfuração Direcional


Horizontal e Abertura de Vala para Instalação de Dutos
Milagros Alvarez Sanz
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, milagros.asanz@gmail.com.

Yuri Daniel Jatobá Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, ydjcosta@ct.ufrn.br.

Carina Maia Lins Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, cmlins@gmail.com.

Gracianne Maria Azevedo do Patrocínio


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, gracie@ufrn.edu.br.

RESUMO: Comparativamente ao método de abertura de vala, os métodos não destrutivos (MND)


de instalação de dutos reduzem ou eliminam a necessidade de escavação na superfície; preservam a
integridade do pavimento e diminuem a interferência no tráfego e em atividades locais e comerciais.
No passado, os MND eram limitados e muitas vezes considerados caros. O presente artigo expõe os
resultados obtidos através de um comparativo de custos diretos de execução de doze obras
localizadas no estado do Rio Grande do Norte, avaliando se o método de abertura de vala e reaterro
apresenta vantagens econômicas em relação ao método não destrutivo por perfuração direcional
horizontal. Baseado nos resultados obtidos, pode-se concluir que em apenas uma das obras
analisadas a técnica de perfuração direcional horizontal se mostrou 9% mais barata que o método
tradicional. O método não destrutivo analisado apresentou custo financeiro 41% superior, em
média, para a grande maioria das obras avaliadas.

PALAVRAS-CHAVE: Método de abertura de vala; Métodos não destrutivos; Perfuração direcional


horizontal; Comparativo de custos

1 INTRODUÇÃO minimizam a interferência na vida cotidiana é


cada vez maior. No passado, esses métodos
Tradicionalmente, as obras de infraestrutura eram limitados e muitas vezes considerados
urbana subterrâneas são instaladas utilizando o caros. No entanto, os últimos desenvolvimentos
método de abertura de vala (MAV). Nos em métodos e equipamentos de tecnologia não
grandes centros urbanos, com áreas destrutiva e o aumento da concorrência
intensamente edificadas e grande fluxo de diminuíram o custo total de construção
veículos, a execução desse tipo de obras gera associado à instalação e renovação de elementos
impactos sociais, econômicos e ambientais de subterrâneos por métodos não destrutivos
grande magnitude. Pode-se citar a deterioração (MND) em comparação com o método
prematura do pavimento, com consequentes tradicional (GANGAVARAPU et al. 2013).
efeitos prejudiciais na infraestrutura de O emprego de MND é de suma importância
transporte público e custos à sociedade em geral para a execução de travessias com interferências
(DEZOTTI, 2008). que exijam reajuste da direção. A perfuração
Em vista disso, a demanda por métodos que direcional revolucionou indústrias de instalação
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sob a superfície e passou a ser utilizada por segundo a sua instalação ou recuperação, em
companhias de serviços públicos responsáveis dois grupos: aqueles instalados por abertura de
pela execução de redes de distribuição de água, vala ou métodos tradicionais e aqueles
gás, telecomunicações, dentre outros, pelas instalados por métodos não destrutivos (MND).
vantagens que o método apresenta (CORAL et
al., 2015). 2.1.1 Método de abertura de vala
Em muitos casos, os custos diretos de
construção são equivalentes nos dois métodos Também denominado de método tradicional ou
(DEZOTTI, 2008; CORAL et al., 2015). No corte e aterro (cut and cover, em inglês), em
entanto, as vantagens dos MND são evidentes, decorrência da sequência construtiva, a
dentre elas: precisão na execução; redução dos execução do método de abertura de vala (MAV)
custos sociais, dos impactos econômicos e consiste na escavação de uma trincheira no
ambientais e requerem menos espaço terreno, implantação do duto e reaterro com
subterrâneo. compactação da vala (BUENO e COSTA,
Para determinar o melhor método a ser 2012). Dessa forma, este método implica
executado, deve-se observar algumas escavações ao longo da extensão longitudinal da
características de projeto, como o comprimento rede proposta, sendo necessário realizar, na
da rede, tipo de solo trabalhado, prazo de maioria das vezes, recomposição do piso ou
execução, interferências, custos, dentre outros. pavimento após a instalação (NAJAFI, 2017).
Além disso, o projeto de construção de um duto Segundo a NBR 12266/92 (ABNT, 1992), a
com o melhor custo-benefício requer uma qual fixa as condições exigíveis para projeto e
compreensão clara de todos os fatores execução de valas para assentamentos de
associados a suas condições específicas. tubulações de água, esgoto ou drenagem urbana,
O presente artigo apresenta um comparativo devem ser consideradas fundamentalmente as
entre o método tradicional de abertura de vala e seguintes fases para o assentamento das
o método não destrutivo, especificamente o de tubulações: sinalização; remoção do pavimento;
perfuração direcional (HDD). Foram analisadas escavação; escoramento; esgotamento; preparo
12 obras localizadas no estado do Rio Grande do fundo de vala e assentamento; reaterro e
do Norte para verificar se o MAV apresenta adensamento; remoção do escoramento;
vantagens econômicas em relação ao HDD. recomposição da pavimentação.
Embora seja considerado um método
2 REVISÃO DE LITERATURA confiável, o MAV pode ter custo associado
elevado, principalmente em áreas urbanas
2.1 Métodos construtivos congestionadas. Isso ocorre, geralmente, pela
necessidade de restaurar as superfícies e
Para a instalação, recuperação, reparo e executar o assentamento do solo. Além disso, os
substituição de infraestruturas subterrâneas operários devem escavar cuidadosamente
deve-se optar dentre os diversos métodos enquanto manobram outros serviços para
disponíveis. Segundo Dezotti (2008), a seleção alcançar a profundidade requerida, o que
do método depende das seguintes condições diminui a produtividade e eficiência
específicas de cada projeto, dentre as quais: a) (ARIARATNAM et al., 1999). Por esses
características do solo ao longo do traçado; b) motivos este método de instalação e
diâmetro da tubulação; c) comprimento máximo recuperação tem sido desencorajado em centros
da tubulação; d) precisão requerida; e) prazo de urbanos (DEZOTTI, 2008), apesar de ser o mais
execução e f) disponibilidade local do método utilizado no Brasil.
construtivo.
Os dutos enterrados podem ser classificados, 2.1.2 Métodos não destrutivos
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existentes e abandonadas; (iv) viabilizam o


De acordo com a Associação Brasileira de aumento o diâmetro da tubulação sem abertura
Tecnologia Não Destrutiva (ABRATT, 2017), de trincheira; (v) demandam uma área de
os Métodos Não Destrutivos (MND) são o trabalho menos exposta e, por conseguinte,
conjunto de métodos, materiais e equipamentos oferecem maior segurança para os trabalhadores
que podem ser aplicados na instalação, locais e usuários da via; (vi) eliminam a
reparação e substituição de tubos, dutos e cabos necessidade de remoção de despejo e
subterrâneos, aplicando técnicas que reduzem minimizam os danos ao pavimento e a outras
ou eliminam a necessidade de escavação. unidades; (vii) reduzem os impactos sociais,
Podem ser divididos em três grandes grupos: a) econômicos e ambientais.
reparo e reforma; b) substituição por ruptura in No Brasil, mais especificamente no estado
loco pelo mesmo caminhamento e c) instalação do Rio Grande do Norte, frequentemente
de novas redes. Neste último está incluida a utiliza-se o método de perfuração direcional
perfuração direcional horizontal (Horizontal para a implantação de novos dutos.
Directional Drilling, HDD, em inglês).
Os MND podem ser usados na instalação, 2.1.2.1 Perfuração direcional
recuperação e substituição de redes subterrâneas
com diversas finalidades, dentre elas a O método de perfuração direcional horizontal é
transmissão e distribuição de energia elétrica; uma operação de duas etapas, na maioria das
telecomunicações; distribuição de água e de vezes. Com o auxílio de uma máquina de
derivados de petróleo e gás; tubulações de perfuração, inicialmente executa-se um furo
esgoto; travessias de avenidas em geral; piloto ao longo do percurso previsto com
sistemas de drenagem de subsolo, dentre outros diâmetro variando entre 25 e 125 mm.
(MASSARA et al., 2007). Em seguida, esse furo é alargado no sentido
A expansão das tecnologias não destrutivas inverso para acomodar a tubulação final, a qual
se justifica pelos muitos benefícios destas. é puxada simultaneamente pelo alargador ao
Primeiramente, conforme elas se desenvolvem, qual está presa. No entanto, em algumas
se tornam mais sofisticadas, com melhor custo condições adversas de solo, a etapa do
benefício. Adicionalmente, as empresas e a alargamento pode ser subdividida, aumentando
opinião pública vão mudando, fazendo com que o diâmetro do furo gradativamente (NAJAFI,
se torne fundamental considerar os custos 2017).
sociais envolvidos nos projetos construtivos. A As máquinas de perfuração direcional podem
crescente conscientização sobre a relevância dos ser de lançamento na superfície ou de
custos sociais e a demanda de novas abordagens lançamento em poço. As primeiras, embora não
para resolver problemas de infraestrutura exijam poço de entrada, ainda implicam a
incentiva a utilização de métodos não necessidade de realizar escavações para
destrutivos (ARIARATNAM et al., 1999). execução das conexões em cada extremidade. Já
Segundo Dezotti (2008), os métodos não as de lançamento em poço solicitam uma
destrutivos apresentam as seguintes vantagens: escavação nas extremidades, mas operaram
(i) reduzem a perturbação no tráfego, áreas de satisfatoriamente em espaços confinados. Estas
trabalho e áreas congestionadas; (ii) reduzem são geralmente utilizadas em perfurações
problemas de direção e controle associado com praticamente retas, mas apresentam maiores
novas rotas, uma vez que possibilitam o uso de limitações para contornar obstáculos
caminhos predeterminados providos pela (ABRATT, 2017)
tubulação existente; (iii) requerem menos Além disso, a maioria das máquinas utiliza
espaço subterrâneo, minimizando a uma cabeça com alimentação de fluido de
possibilidade de interferir em tubulações perfuração. Em geral utiliza-se uma mistura de
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água e bentonita, cuja finalidade é transportar os


resíduos em suspensão e estabilizar o furo Segundo Najafi e Kim (2004), o projeto de
piloto uma vez completa a perfuração. Ademais, construção de um duto com o melhor custo-
o método tem a capacidade especial de rastrear benefício requer uma compreensão clara de
a cabeça de corte e guia-la durante o processo todos os fatores associados as suas condições
de perfuração, permitindo contornar obstáculos, específicas. O projetista deve considerar todas
passar sob rodovias, rios e ferrovias (ABRATT, as categorias de custo no orçamento, as quais
2017) incluem custos de planejamento e engenharia
Alguns sistemas são projetados para executar (também denominados custos de pré-
a instalação sem o uso de fluido de perfuração, construção), custos de construção (diretos,
denominada operação a seco. Embora sejam indiretos e sociais) e custos pós-construção
mais simples de operar e criem menos sujeira, (também chamados custos de operação e
podem ter restrições quanto ao tamanho das manutenção). Apesar disso, tradicionalmente
maquinas e as condições de solo. avaliam-se apenas os custos de pré-construção e
A tubulação final é, na maioria das vezes, de construção, desconsiderando os custos sociais
polietileno de alta densidade (PEAD) ou aço, do projeto.
uma vez que o método solicita um tubo Os custos diretos são aqueles ligados
suficientemente flexível que resista às cargas e diretamente à construção física do projeto;
tensões que surgem durante a instalação e incluem os custos de mão de obra, materiais,
operação. Segundo Abraham et al. (2002) e subcontratados e equipamentos envolvidos na
Dezotti (2008), o furo piloto deve possuir um construção da obra. Por outro lado, os custos
raio de curvatura mínimo usual, em metros (m), indiretos englobam todos os custos não
na ordem de 1,2 vezes o diâmetro do tubo em diretamente relacionados ou aplicados às
milímetros (mm), para tubos de aço, e 0,48 operações de construção, mas auxiliares à
vezes para tubos plásticos. A Tabela 1 apresenta execução da obra. São exemplos destes últimos
a relação recomendada entre o diâmetro do tubo os custos com administração e custos gerais de
e o diâmetro de alargamento. serviço, como taxas, mobilização de
equipamentos, controle de tráfego, seguro,
Tabela 1. Relação recomendada entre o diâmetro do tubo utilidades temporárias, dentre outros
e o diâmetro de alargamento. (DEZOTTI, 2008).
Diâmetro do tubo Diâmetro do alargamento
(mm) (mm)
De acordo com Najafi e Kim (2004), todos
<200 Diâmetro do tubo + 100 mm os fatores que compõem os custos pré-
200 a 600 Diâmetro do tubo x 1,5 construção são maiores no método de abertura
> 600 Diâmetro do tubo + 300 mm de vala quando comparado aos métodos não
Fonte: Adaptado de Najafi (2017). destrutivos, com exceção apenas da fase de
engenharia e projeto.
Até pouco tempo atrás, usava-se a perfuração Para os custos de construção, Najafi e Kim
direcional principalmente para a instalação de (2004) encontraram que, dentro dos custos
redes pressurizadas. No entanto, os avanços das diretos, todos os fatores de custos eram maiores
máquinas e dos sistemas de guia mais recentes no MAV do que nos MND, com exceção dos
proporcionam grande precisão, fazendo com equipamentos utilizados. O custo com material
que o método passe também a ser utilizado em geralmente é superior no MND devido às
redes por gravidade, nas quais há tolerâncias exigências técnicas dos métodos quanto à
rígidas de projeto hidráulico a serem atendidas qualidade de tubos utilizados. Além disso,
(ABRATT, 2017). como dito pelo mesmo autor, em alguns
métodos e condições, pode-se concluir que os
2.2 Custos em uma obra de duto enterrado custos de obra aumentam conforme o diâmetro
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aumenta. No entanto, no HDD o aumento de Gangavarapu et al. (2013) e Dezotti (2008), os


custo devido ao tamanho do tubo se deve ao custos sociais incluem o dano à rodovia e
maior nível de complexidade e dificuldade de pavimento (redução da vida útil); danos a
instalar a tubulação. infraestruturas adjacentes; ruído e vibração;
Segundo Najafi (2017), em alguns casos, poluição do ar; perturbação do tráfego veicular;
atividades como desvio de transito, escavação, segurança dos pedestres; perda comercial; danos
escoramento, reaterro e compactação às estradas utilizadas como desvio; insatisfação
representam cerca de 70% do custo total de um de cidadãos e impactos ambientais.
projeto. Portanto, na maioria das vezes o MAV Utilizar métodos não destrutivos geralmente
não é o método com a melhor relação custo- pode minimizar os custos sociais. Quando são
benefício, pois possui as desvantagens de causar avaliados e incluídos nos custos globais dos
interrupção do trafego, danos ao pavimento e projetos, percebe-se que o uso de tecnologias
sistemas subterrâneos adjacentes, interferindo não destrutivas torna os projetos mais
em outras infraestruturas urbanas. Em vista econômicos. Segundo Woodroffe et al. (2008),
disso, obras com custos diretos baixos podem se conforme citado por Najafi (2005), no MAV os
tornar inviáveis em consequência dos altos custos sociais podem chegar a valores várias
custos sociais envolvidos na execução vezes maiores do que o valor do projeto inteiro;
(DEZOTTI, 2008). no entanto, quando usado um MND, os custos
Woodroffe et al. (2008) citam que, sociais podem representar apenas 3 a 10% do
tradicionalmente, existe uma relação direta custo total.
entre o custo e a profundidade do tubo
instalado, para a maioria dos projetos 3 MATERIAIS E MÉTODOS
subterrâneos com abertura de vala. Isso resulta
em projetos com MAV incluindo a instalação Foi realizado um levantamento de obras
de tubos tão rasos quanto economicamente construídas utilizando-se a técnica de
possível. Hoje, no entanto, a experiência mostra perfuração direcional horizontal (HDD) na
que nos projetos de HDD há pouca relação entre Região Metropolitana de Natal e em outros
custo e profundidade. locais do estado do Rio Grande do Norte. Em
Os custos indiretos, ainda dentro da categoria seguida, realizou-se uma comparação de custos
de custos de construção, podem chegar a 15%, entre a técnica HDD e o MAV, para condições
ou mais, dos custos diretos de um projeto. similares, em cada caso estudado. Ou seja, para
Apesar de serem difíceis de quantificar, de efeito de comparação entre os dois métodos, os
forma geral, aumentam proporcionalmente ao mesmos trechos executados por furo direcional
tempo de execução da obra. Como os MND foram dimensionados considerando-se o MAV,
possuem maior produtividade e menor utilizando-se as mesmas características de
desperdício, normalmente duram menos tempo instalação (diâmetro da tubulação, extensão,
para serem executados do que os métodos profundidade e finalidade) para o levantamento
tradicionais. Portanto, nesses casos, os custos dos custos. Não foram consideradas situações
indiretos são menores. de escavação extrema como em locais com
Os custos sociais, que também fazem parte lençol freático superficial ou em solo mole, nem
dos custos de construção, vêm ganhando cada escavação em rocha.
vez mais relevância à medida que aumenta a Três obras no interior do estado foram
conscientização pública e a necessidade de escolhidas, sendo elas localizadas nas cidades
conservar e proteger o meio ambiente e a de Currais Novos, Pipa e na BR-110, no trecho
qualidade de vida. É imprescindível identificar que interliga Areia Branca e Mossoró. Além
e avaliar os custos sociais das instalações de dessas, foram selecionadas nove obras
serviços de infraestrutura. De acordo com localizadas em Natal. A Tabela 2 apresenta as
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características das obras avaliadas.

Tabela 2. Características das obras avaliadas


Diâmetro
Tipo de Extensão Profundidade até
Obra Local externo Finalidade
tubo (m) a base (m)
(mm)
Currais Aço
1 600 26 2,5 a 2,8 Adutora
Novos carbono
2 Pipa PEAD 400 120 2,8 a 8 Adutora
3 Natal PEAD 315 683 1,8 a 3 Adutora
BR - Aço
4 300 24 2,8 Adutora
110 carbono
Aço
5 Natal 300 24 3a5 Adutora
carbono
6 Natal PEAD 630 18 2,8 Adutora
7 Natal PEAD 315 e 400 371 1,5 Saneamento
8 Natal PEAD 200 24 3,8 Saneamento
9 Natal PEAD 400 100 5 Saneamento
10 Natal PEAD 150 206 3,8 Saneamento
11 Natal PEAD 150 120 2,8 a 3 Saneamento
12 Natal PEAD 200 120 4,8 a 5 Saneamento

Sabendo-se que os custos diretos de ou drenagem urbana; ii) NBR 9814 (1987) –
construção são os mais avaliados durante os Execução de rede de coletora de esgoto
projetos e que o MND é mais vantajoso quando sanitário.
analisados os outros custos já abordados, neste Após consultar as tabelas de preço da
trabalho optou-se por realizar um comparativo Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande
dos custos diretos de construção para verificar do Norte (CAERN, 2017) e do Sistema
se o MAV apresenta vantagens econômicas em Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
relação ao HDD, nesse aspecto. Construção Civil (SINAPI, 2017), referentes ao
Para a obtenção dos custos das redes por mês de agosto e setembro de 2017,
abertura de vala e reaterro, foram considerados respectivamente, se identificaram os valores
os serviços principais em termos de custo para o vigentes dos serviços e insumos avaliados, os
MAV, quais sejam, demolição do pavimento, quais foram paralelamente quantificados.
escavação mecanizada de vala, escoramento de Os resultados apresentados a seguir são
valas, reaterro mecanizado, regularização e baseados em planilhas elaboradas com o
compactação de subleito e reconstrução do objetivo de determinar os custos para cada
pavimento. Além disso, o tipo de escoramento método de construção adotado. As planilhas
escolhido foi o de blindagem pesada, ou incluem as características das obras analisadas,
popularmente denominado escoramento tipo as composições de custos diretos para o MAV,
gaiola, por ser amplamente utilizado na prática os valores unitários estimados para o HDD e o
local. comparativo de custos entre os métodos.
De acordo com os diâmetros das tubulações,
foram consultadas as seguintes normas para 4 RESULTADOS
determinar a dimensão das valas, optando-se
sempre pelo maior valor encontrado: i) NBR 4.1 Método não destrutivo: técnica de
12266 (1992) – Projeto e execução de valas perfuração direcional horizontal
para assentamento de tubulação de água, esgoto
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A Tabela 3 mostra o resumo do levantamento profundidade de instalação e do tipo de solo.


de custos das obras executadas através da Isso implica dizer que quanto mais profunda e
Técnica HDD. difícil a escavação, mais caro será o metro
linear. Neste item estão englobados os tubos,
Tabela 3. Informações e custos sobre obras executadas serviços de recebimento, inspeção e
por furo direcional armazenamento do PEAD, os serviços de
Valor soldagem da coluna, a execução do furo e
Obra Local Finalidade
unitário Custo total alargamento com puxamento simultâneo da
estimado (R$) tubulação.
(R$/m)
O valor por metro linear estimado das obras
Currais varia entre R$580,00 e R$1.800,00, sendo o
1 Adutora 1.800 46.800,00
Novos maior custo total estimado em R$478.100,00,
2 Pipa Adutora 1.200 144.000,00 por ter 683 metros de extensão, para uma obra
3 Natal Adutora 700 478.100,00 de distribuição de água.
BR-
4 Adutora 600 14.400,00
110 4.2 Método destrutivo: técnica de abertura de
5 Natal Adutora 600 14.400,00 vala
6 Natal Adutora 1.200 21.600,00
7 Natal Saneamento 700 259.700,00 Dado o número de obras analisadas, deveriam
8 Natal Saneamento 700 16.800,00 ser apresentadas doze tabelas de composição de
9 Natal Saneamento 800 80.000,00 custos. No entanto, como o volume de
10 Natal Saneamento 600 123.600,00 informações seria extenso, optou-se por
11 Natal Saneamento 600 72.000,00
apresentar como exemplo o orçamento
discriminado da obra 1, localizada no município
12 Natal Saneamento 580 69.600,00
de Currais Novos, RN. Esse orçamento é
composto pelos serviços considerados mais
Os serviços para a execução das redes pelo importantes para instalação de redes pelo
método não destrutivo por furo direcional método destrutivo.
horizontal (HDD) são medidos por metro linear,
sendo o custo, neste caso, dependente da

Tabela 4. Custos dos serviços de instalação de rede pelo método destrutivo


MUNICÍPIO: CURRAIS NOVOS/RN
OBRA 1
Valor % do
Item Serviços Unid. Qntd. Total (R$)
Unitário (R$) custo
1 Demolição de pavimentação asfáltica m² 37,70 9,98 376,25 3,5
Escavação mecanizada de vala com prof. maior
2 m³ 105,56 11,15 1.176,99 11,0
que 1,5 até 3,0 m
3 Escoramento de valas, com prof. acima de 2 m m² 145,60 21,10 3.072,88 28,7
4 Reaterro de vala com compactação manual m³ 19,85 39,33 780,7 7,3
5 Reaterro mecanizado de vala, prof. de 1,5 a 3 m m³ 107,82 13,05 1.407,08 13,2
6 Regularização e compactação de subleito m² 37,70 1,21 45,62 0,4
Construção de pavimento com aplicação de
7 m³ 1,89 682,46 1.286,44 12,0
CBUQ
Tubo de concreto armado para águas pluviais DN
8 m 26,00 97,87 2.544,62 23,8
600 mm (NBR 8890)
Total 10.690,54
Aplicação de BDI 27% 13.576,99
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Para a obra 1, como mostrado na Tabela 4, o R$1.407,08. Para os itens 4 e 6 foram


cálculo dos serviços de execução da rede de considerados os serviços de compactação
distribuição de água pelo método de abertura de vibratória. O item 7 equivale ao serviço de
vala totalizou R$13.576,99, para uma rede de reconstrução da pavimentação, com aplicação
26 metros de extensão. O item 1 corresponde ao de concreto betuminoso usinado a quente
serviço de demolição de pavimentação asfáltica (CBUQ) com espessura de 5 cm, sendo seu
com espessura de até 15 cm, utilizando custo igual a R$1.286,44. E, finalmente, o 8º
martelete perfurador, sendo seu custo igual a item corresponde à tubulação escolhida para
R$376,25. O item 2 engloba a escavação de atender ao método e às especificidades da obra,
vala, utilizando escavadeira hidráulica em solo sendo o seu custo igual a R$2.544,62. As
de primeira categoria, em locais com alto nível composições de custos realizadas para as outras
de interferência, totalizando o valor de obras apresentam os mesmos itens considerados
R$1.176,99. O escoramento de valas, item 3, acima, variando apenas a profundidade e largura
utiliza estruturas de aço do tipo blindagem da vala escavada, características atreladas a
pesada para valas com profundidade acima de 2 variações de preço unitário de serviços
metros, somando R$3.072,88. O 4º item, específicos.
reaterro de vala com compactação manual,
refere-se ao trecho compactado manualmente 4.3 Comparativo de custos
até a altura do topo da tubulação, 0,6 metros
para o caso da obra 1, totalizando R$789,70. O A Tabela 5 apresenta um resumo dos custos
5º item constitui o reaterro de vala restante totais de construção tanto pelo MAV quanto por
utilizando escavadeira hidráulica, somando HDD, de todas as obras analisadas.

Tabela 5. Comparativo de custos entre os métodos


Custo global Custo por metro linear HDD/
Obra Finalidade MAV HDD MAV HDD MAV

1 Adutora 13.576,99 46.800,00 522,19 1.800,00 3,45


2 Adutora 65.659,69 144.000,00 547,16 1.200,00 2,19
3 Adutora 251.894,74 478.100,00 368,81 700,00 1,90
4 Adutora 7.944,16 14.400,00 331,01 600,00 1,81
5 Adutora 9.706,34 14.400,00 404,43 600,00 1,48
6 Adutora 10.601,22 21.600,00 588,96 1.200,00 2,04
7 Saneamento 184.540,29 259.700,00 497,41 700,00 1,41
8 Saneamento 10.812,17 16.800,00 450,51 700,00 1,55
9 Saneamento 87.566,16 80.000,00 875,66 800,00 0,91
10 Saneamento 85.297,56 123.600,00 414,07 600,00 1,45
11 Saneamento 41.785,12 72.000,00 348,21 600,00 1,72

12 Saneamento 63.498,91 69.600,00 529,16 580,00 1,10

5 DISCUSSÃO custos supondo as obras executadas com


abertura de vala são inferiores ao custo para
Ao realizar uma análise comparativa de custos execução por furo direcional. No entanto,
diretos de construção entre os métodos, pode-se apenas para a obra 9 o HDD se mostrou 9%
ver na Tabela 5 que, de uma forma geral, os mais barato que o MAV, caso que pode ser
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explicado pela profundidade de assentamento considerados o impacto ambiental reduzido


requerida (5 metros), sendo a mais profunda de inerente ao método, a pouca interferência nas
todas as obras analisadas. Portanto, o MAV vai atividades do entorno e a preservação da
se tornando menos vantajoso a medida que a integridade do pavimento e dos outros
profundidade aumenta. utilitários subterrâneos.
Para as demais obras, de uma forma geral, o Além disso, os dados ratificam os resultados
MAV é 41% mais econômico que o HDD. encontrados por Coral e Steiner (2015), que
Analisando-se as obras separadamente, as concluíram que o custo direto para o MND é
diferenças de preço entre os métodos variam até 10,64% maior que o MAV. Considerando-se
71%, no caso da obra 1, sendo o MAV mais apenas o custo da implantação da rede, sem os
vantajoso economicamente. serviços de recuperação do pavimento e
A partir da Tabela 4 pode-se observar que os recomposição de cavas, o custo de implantação
serviços de recuperação do pavimento por metro linear de MND é 43,13% maior. A
compõem uma parcela considerável do custo análise realizada pelos autores mostra que o
total, sendo cerca de 12%. Analisando-se método destrutivo necessita do dobro do tempo
apenas o custo da implantação da rede, para executar o projeto e causa grande impacto
desconsiderando-se o valor da tubulação, a no fluxo de veículos e consequentemente no
recuperação da pavimentação chega a cotidiano das pessoas.
representar 23% do valor dos serviços. Portanto, Entretanto, vale também ressaltar que todas
os MND podem se tornar mais atrativos em as obras analisadas no presente estudo foram
situações em que há necessidade de se executadas por furo direcional por atenderem a
executarem trechos longos. No entanto, o exigências construtivas. Por mais que o método
serviço que apresentou maior influência sobre o tradicional se apresente mais barato, as obras
custo total foi o escoramento de vala, chegando não possuíam características que permitissem
a representar 61% do valor dos serviços, para o ser executadas por tal método destrutivo, seja
caso da obra 2 e, no melhor dos casos, na obra por serem localizadas em rodovias federais,
5, ainda representou 14% do custo total. Além áreas de proteção ambiental ou por possuírem a
disso, em todos as obras foi a atividade com necessidade de desviar de obstáculos, como
maior custo. trilhos ferroviários.
Najafi (2017) observou que obras com
métodos não destrutivos são menos onerosas 6 CONCLUSÃO
que obras com abertura de vala. Nestas,
segundo o autor, atividades como escavação, O presente trabalho analisou os custos diretos
escoramento, reaterro e compactação de construção pelo método de abertura de vala e
representam cerca de 70% do custo total de um pelo método não destrutivo por perfuração
projeto. Para as obras analisadas neste trabalho, direcional horizontal (HDD), adotados para a
esses serviços representaram, em média, 65% instalação de redes de saneamento e distribuição
do custo total. Contudo, é preciso destacar que, de água no estado do Rio Grande do Norte.
embora o autor constate que todos os custos são Foram analisadas doze obras, sendo três
maiores para execuções por abertura de vala, as localizadas no interior do estado e nove em
diferenças identificadas nos resultados Natal, e suas características construtivas para
encontrados podem ser atribuídas às realizar a composição dos custos, dentre elas o
particularidades do contexto da pesquisa, que diâmetro da tubulação, extensão, profundidade
foi realizada nos Estados Unidos. e finalidade.
Apesar do HDD ter apresentado valores de Baseado nos resultados obtidos, pode-se
custo direto maiores que o MAV para a maioria concluir que, para as obras analisadas,
dos casos, aquele se apresenta vantajoso se considerando-se apenas o custo direto de
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construção, o método de abertura de vala custos sociais gerados pela instalação, manutenção
apresenta-se mais vantajoso que a técnica HDD. e substituição de infraestruturas urbanas
subterrâneas. 2008. 231p. Tese (Mestre em
Apesar de provocar menos interferência no Engenharia Civil: Transportes) Escola De
tráfego e impacto ambiental, a técnica HDD Engenharia de São Carlos, São Paulo.
mostrou custo financeiro superior, sendo, em Gangavarapu, B. S.; Najafi, M.; Salem, O. Quantitative
média, 41% mais oneroso que o MAV. Em analysis and comparision of traffic disruption using
apenas um caso analisado, o HDD apresentou- open-cut and trenchless methods of pipe
installation. Baltimore, Estados Unidos, julho 2013.
se 9% mais econômico que o método Massara, V. M.; Fagá, M. T. W.; Udaeta, M. E. A
tradicional, resultado que pode ser atribuído às importância do método não destrutivo na
características de maior profundidade dessa implantação de redes de gás natural em cidades
obra em particular. consolidadas. Campinas, SP, 2007. Disponível em:
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Injeções Cimentícias para Controle de Deslocamentos em Solos


Metaestáveis - Estudo de Caso do Túnel do Metrô de Brasília
Max Gabriel Timo Barbosa
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, maxtimo@globo.com

André Pacheco de Assis


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

RESUMO: Os resultados da execução experimental de injeções cimentícias tube-à-manchette por


Barbosa (2018) indicaram uma melhora mínima de 44% na compressibilidade de solos
metaestáveis. Esses resultados podem ser utilizados para viabilização de obras geotécnicas em solos
metaestáveis, supondo que a metodologia de planejamento e execução das injeções seja similar. A
fim de ilustrar as aplicações das injeções cimentícias e da aplicação direta dos resultados da
execução experimental das injeções, escolheu-se como estudo de caso o trecho em túnel do metrô
de Brasília, em que se tinha acesso a um amplo banco de dados. Realizou-se uma retroanálise por
meio do software PLAXIS 3D e após validação com os resultados de obra estudou-se o efeito que
uma solução que utilizasse as injeções tube-à-manchette teria no comportamento do túnel.

PALAVRAS-CHAVE: Túneis, Solos metaestáveis, Injeções de solos, Simulações numéricas.

1 INTRODUÇÃO permaneceu estável, com riscos controlados,


decidiu-se continuar escavando o túnel sem
O sistema de metrô de Brasília, possuía 10 km qualquer tipo de melhoria do solo. Apenas um
de túneis construídos pelo método de escavação trecho curto, sob a Rodoviária de Brasília,
sequencial (Marques, 2006). Esses túneis, exigiu mais intervenções.
predominantemente rasos, cruzavam algumas Como a expansão do sistema de metrô de
áreas com espessas camadas de argila porosa. Brasília está prevista para ocorrer no médio
Como na época, no início da década de prazo, são necessárias investigações para
1990, a experiência na construção de túneis do mitigar os danos causados pela colapsibilidade
metrô era maioritariamente paulista e a da argila porosa. Na Universidade de Brasília,
característica do solo de Brasília não era soluções de melhoria de solos e inclusões
estudada extensivamente, supunha-se que o solo rígidas estão sendo estudadas para maior
local não se comportaria de maneira muito adequabilidade do solo local a obras
diferente dos solos residuais da cidade de São geotécnicas, como pode ser visto nas
Paulo (Ortigão et al, 1996). A hipótese estava dissertações de Pérez (2017) e Barbosa (2018).
incorreta e os solos da camada porosa de argila Uma das soluções mais promissoras são as
apresentaram alta colapsibilidade, apresentando injeções de solos, com resultados promissores
maiores deslocamentos verticais na superfície da técnica tube-à-manchette.
do que a coroa do túnel (Ortigão et al., 1996). Neste trabalho, pretende-se investigar o
Variações moderadas no campo de tensões efeito das injeções tube-à-manchette nos
efetivas causaram o colapso do solo, e a deslocamentos do túnel do metrô de Brasília
construção do túnel gerou deslocamentos de até por meio de simulações numéricas
500 mm em algumas áreas. Por sorte, o túnel tridimensionais.
foi escavado em lugares que não apresentava
infraestrutura e residências importantes nas
proximidades. Como a face da escavação
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2 METODOLOGIA horizontal, com cinco camadas características,


baseadas em levantamentos e ensaios
Para ilustrar a aplicabilidade dos resultados da geotécnicos realizados por Marques (2006). A
execução experimental e do controle de camada 1 foi delimitada para a profundidade de
qualidade e verificação feitos por Barbosa 4,6 m. A camada 2, logo abaixo da camada 1,
(2018) em obras geotécnicas previu-se a também de 4,6 m de espessura, continuando até
realização de simulações numéricas 9,2 m de profundidade. A camada 3 está
tridimensionais do túnel metroviário do metrô localizada de 9,2 m até eixo do túnel, localizado
de Brasília. a 15,0 m de profundidade. A camada 4 está
Para esse fim, decidiu-se escolher uma seção compreendida entre o eixo do túnel e a
típica do metrô de Brasília que tivesse ampla profundidade de 22,0 m. Abaixo está a última
base de dados além de metodologia de camada em que o campo de tensão é alterado, a
retroanálise por simulação numérica definida. camada 5. Esta variação do campo de tensão é
Assim, baseou-se na seção S4294, que atendia a insignificante após a profundidade de 40,0 m,
esses pré-requisitos e foi estudada previamente que era supostamente o fim dessa camada. O
em outros trabalhos, como os de Farias & Assis lençol freático estava abaixo da profundidade
(1996) e Marques (2006). de 30,0 m. A seção S4294 considerada pode ser
A localização da seção S4294 pode ser vista vista na Figura 2.
na Figura 1. A seção do túnel S4294 foi considerada
perfeitamente circular, com um diâmetro de 9,6
m, com uma cobertura de 11,2 m, e com uma
seção escavada de 66,8 m3/m (Marques, 2006).
O método construtivo utilizado no local foi o de
calota e bancada. A bancada foi escavada com
um atraso de 2,4 m em relação à calota e o
sistema de suporte foi fechado a 4,8 m da face,
o esquema construtivo é visto na Figura 3.
Para a validação dos deslocamentos
observados na seção S4294 fez-se uso do
modelo Hardening Soil (HS), descrito em
Figura 1. Visão em planta da seção S4294 (modificado - Schanz et al. (1999), PLAXIS (2016) e Pérez
Marques, 2006) (2017).
A estratigrafia local foi assumida como

Figura 2. Seção S4294 (modificado - Marques, 2006)


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Posteriormente à simulação de diversos


cenários, foram encontradas as melhores
extensões para a malha e a extensão do injeções
de argamassa, como visto na Figura 4, com
37,6 m de zona tratada estendendo-se até o final
da camada 2. O arranjo proposto de injeções
não precisaria de shafts.

Figura 3. Sequência construtiva do túnel

Após validação da retroanálise por meio do


modelo HS, descrita extensivamente em
Barbosa (2018), simulações numéricas
adicionais foram feitas considerando o efeito
das injeções.
Para isso utilizou-se dos dados enumerados
na Tabela 1, quanto os parâmetros de entrada da
calda de cimento, e supôs-se que a melhoria
mínima de 44% no módulo de Young do solo
entre as injeções, relatada por Barbosa (2018),
seria obtida em campo.
A Tabela 2 reporta os parâmetros do
concreto projetado. Os parâmetros do solo são
descritos na Tabela 3.
Figura 4. Malha gerada com injeções
Tabela 1. Parâmetros de entrada da calda de cimento
(Barbosa, 2018) Com a malha gerada, o comprimento do
EA EI w e υ avanço do túnel passou a ser variado, mantendo
(kN/m) (kNm2/m) (kN/m/m) (m)
o método executivo visto na Figura 3.
3. 105 562,8 4,0 0,15 0,2
Considerou-se como critério de aceitação que o
Tabela 2. Parâmetros de entrada do concreto projetado assentamento superficial admissível
(Barbosa, 2018) corresponderia a 1,0% de perda de volume
EA EI W e υ devido à escavação, um bom critério de
(kN/m) (kNm2/m) (kN/m/m) (m) escavação considerado por Hung et al (2009) e
7,8. 1010 3,9.108 8,4 0,25 0,15 Felice (2016). Avanços variando de 2,4 a 4,5 m
de comprimento foram simulados.
Tabela 3. Parâmetros de entrada do solo
Camada γ c' Φ ψ E50 Eoed m K0 Eur υ p Rf
(kN/m3) (kPa) (0 ) (0 ) (MPa) (MPa) (MPa)
1 14,5 20,0 28 0 1,2 0,75 0,5 0,55 3,6 0,25 100 0,9
2 17,0 20,0 28 0 5,3 5,0 0,5 0,55 13,2 0,25 100 0,9
3 17,5 20,0 28 0 20,0 16,0 1,0 0,55 60,0 0,25 100 0,9
4 18,0 20,0 30 0 28,0 20,0 0,5 0,55 72,0 0,25 100 0,9
5 18,0 20,0 30 0 100,0 53,0 0,5 0,55 300,0 0,25 100 0,9
1 (injetada) 15,0 20,0 28 0 1,73 0,85 0,5 0,55 5,2 0,25 100 0,9
2 (injetada) 17,6 20,0 28 0 7,63 3,55 0,5 0,55 22,2 0,25 100 0,9

* Em que m é um parâmetro que estima a dependência ao estado de tensão, p a tensão de referência, Eur é o módulo
de carregamento/descarregamento e Rf a razão de falha
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3 DISCUSSÃO DA METODOLOGIA utilizada não dispunha dos elementos tipo


Embedded piles; como ao simular as injeções
Como o efeito mínimo dos testes das injeções com espaçamento de 1,0 x 1,0 m (observado em
tube-à-manchette, descritas em Barbosa (2018), Barbosa (2018)) houve problemas de
foi o acréscimo de 44% do NSPT assumiu-se convergência numérica se adaptou o problema
que as camadas pelas quais houvesse o para um espaçamento de 2,0 x 2,0 m, com
tratamento por meio das injeções apresentariam propriedades equivalentes. Outro problema na
um acréscimo mínimo de 44% do módulo de versão do PLAXIS 3D utilizada foi a suposição
deformabilidade local. Não se considerou os que o elemento plate tem o mesmo
efeitos no ângulo de atrito devido ao acréscimo comprimento do passo de simulação, exigindo
ser desprezável. Quanto aos efeitos na coesão que novamente propriedades equivalentes
preferiu-se não os considerar, pelo que foi fossem utilizadas para viabilizar uma simulação
observado na escavação feita no campo de resultados quanto aos deslocamentos realista.
experimental da Solotrat, visto em Barbosa O método utilizado para esse fim foi o de Hoek
(2018). (2003), também utilizado por Barbosa & Assis
Assim, ao serem delimitados os parâmetros (2017). O diâmetro das injeções foi assumido
das simulações considerando o efeito das como o dobro do diâmetro do furo executado,
injeções cimentícias aumentou-se apenas E50 e por conta da malha nas simulações requerer o
o Eur, em 44%, nas camadas pelas quais as espaçamento de 2,0 x 2,0 m. Essa consideração
injeções supostamente perpassariam. O também assumiu que o diâmetro não aumentava
parâmetro Eeod foi automaticamente calculado devido às injeções, uma hipótese não
pelo software PLAXIS 3D em virtude dos condizente ao comportamento de campo, mas
novos valores considerados de E50 e Eur. Além útil para uma previsão conservadora dos efeitos
disso aumentou-se o peso específico médio das da técnica para o problema em análise, para
camadas pelo fato de parte da calda de cimento uma previsão próxima ao limite superior da
estar em local que previamente era somente bacia de deslocamentos.
solo. Dessa forma manteve-se os parâmetros
nos locais pelos quais não haveria efeito das 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
injeções.
Para a simulação das inclusões cimentícias, Os resultados das simulações numéricas podem
escolheu-se elementos do tipo plate no PLAXIS ser observados na Figura 5.
3D Tunnel, devido ao fato que a versão

Figura 5. Resultados obtidos após as simulações, comparando os deslocamentos obtidos à época da construção com
os deslocamentos em simulações em que se utilizou injeções
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Quando o mesmo avanço construtivo da viabilizar obras.


época da construção foi simulado, de 2,4 m,
mas considerando a etapa de injeção prévia, os AGRADECIMENTOS
deslocamentos foram reduzidos para 18% dos
medidos in situ à época da construção. Os autores reconhecem o apoio fornecido pela
Já ao simular diferentes avanços empresa Solotrat. Os autores também
construtivos, de 3,0 m, 3,5 m, 4,0 m, e 4,5 m, agradecem o apoio das seguintes instituições: o
observou-se também menores deslocamentos, Conselho Nacional de Desenvolvimento
utilizando-se injeções. Para um critério de perda Científico e Tecnológico, a Coordenação de
máxima de volume de solo de 1,0%, Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
considerado suficiente para uma construção de e a Universidade de Brasília.
boa qualidade em um ambiente urbano sem
infraestrutura próxima (Felice, 2016), foi REFERÊNCIAS
encontrado um deslocamento superficial
máximo de 60 mm, para a simulação de avanço Barbosa, M. G. T. & Assis, A. P. (2017). Analysis of
de 4,0 m. Assim este assentamento de 60 mm shallow-tunnel portals with numerical three-
dimensional simulations. Proceedings of the World
foi possível com um avanço de 4,0 m, uma Tunnel Congress 2017 – Surface challenges –
melhoria de 66,67% em comparação com o Underground solutions. Bergen, Norway, 6p.
avanço de 2,4 m e uma redução de Barbosa, M.G.T. (2018). Estudo do efeito de injeções
deslocamentos de 64%. cimentícias no comportamento de túneis rasos em
Além da redução de assentamentos e da solos metaestáveis. Dissertação de Mestrado,
Publicação G.DM-296/2018, Departamento de
melhoria do comprimento de avanço, a solução
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
proposta possui algumas particularidades: pode Brasília, Brasília, DF, 137 p.
ser construída antes da escavação do túnel, sem Farias, M.M. & Assis, A.P. (1996) Numerical simulation
a necessidade de um eixo; Além disso, não gera of a tunnel excavated in porous collapsible soil,
cargas extras no suporte como a solução de Geotechnical Aspects of Underground Construction
injeções de compensação. in Soft Ground, Mair & Taylor (eds), Balkema,
Rotterdam, pp. 713-718.
Felice, C. (2016). Tunnel Induced Deformation of
5 CONCLUSÃO Ground, Buildings and Utilities. CSM Tunneling:
Fundamentals, Practice and Innovations Short-
O controle de deslocamentos em ambientes Course. Denver, Colorado, USA.
urbanos é muito importante, mas é necessário Hoek, E. 2003. Numerical Modeling for Shallow
Tunnels in Weak Rock. PDF disponível em
um comprimento de avanço de túnel viável. www.rocscience.com/documents/pdfs/rocnews/Sprin
Depois que injeções tube-à-manchette foram g2003/ShallowTunnels.pdf. 12 p.
feitas nos solos metaestáveis de Brasília, Hung, C.J., Monsees, J., Munfah, N., Wisniewski, J.
verificou-se que houve melhoria entre pontos de (2009), Technical manual for design and
injeção de pelo menos 44%. Essa melhoria, construction of road tunnels - civil elements, Report
FHWA-NHI-10-034, U. S. Department of
quando levada em conta em simulações
Transportation, Federal Highway Administration,
numéricas, juntamente com as próprias Washington D. C. 702 p.

propriedades das injeções, pode representar Marques, F.E.R. (2006). Comportamento de túneis
avanços maiores com melhor qualidade de superficiais escavados em solos porosos: o caso do
construção do que quando o sistema de metrô metrô de Brasília/DF. PhD Thesis. Departamento de
de Brasília foi construído nos anos noventa. Engenharia Civil
 Faculdade de Ciências e
Ademais, essa ilustração da aplicabilidade Tecnologia da Universidade de Coimbra. 552
p.Leshchinsky, D. e Perry, E.B. (1987) A Design
dos resultados de Barbosa (2018) a uma obra Procedure for Geotextile Reinforced Walls,
geotécnica confirma que o uso de parâmetros de Geosynthetics'87, IFAI, New Orleans, LA, USA,
melhoria de solos mais coerentes em Vol. 1, p. 95-107.
simulações numéricas pode gerar economia e Ortigão, J. A. R.; Kochen, R.; Farias, M. M.; Assis, A.
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P. (1996). Tunnelling in Brasília porous clay.


Canadian Geotechnical Journal, Vol. 33, No 4, pp.
565-573.
Pérez, R.F. (2017). Inclusões rígidas para o controle de
recalques nos solos colapsáveis do Distrito Federal.
Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-284/17,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 160 p.
PLAXIS (2016). Material Models Manual. PLAXIS,
Delft, HOL, pp. 65-81.
Schanz, T., Vermeer, P. A., Bonnier, P.G. (1999). The
hardening soil model: Formulation and verification.
In: Beyond 2000 in Computational Geotechnics – 10
Years of PLAXIS, Balkema, Rotterdam, 16p.
 

TEMA:  
ESCORREGAMENTOS 
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Implementação Computacional do Método de Janbu com uma


Aplicação de Retro-Análise do Escorregamento de Vajont
Vital Matos Batista
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, vitalmatosbatista@gmail.com

Hélio Machado Baptista


Envgeo Engenharia, Salvador, Bahia, Brasil, helio@envgeo.com.br

Paulo Gustavo Cavalcante Lins


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, plins@ufba.br

RESUMO: O procedimento generalizado das fatias, proposto por Janbu, pode ser utilizado para
resolver problemas de estabilidade de taludes em solos ou em rochas, usando a superfície de rupturas
de formato arbitrário. Um simulador computacional do método de Janbu foi implementado no
Ambiente Integrado de Desenvolvimento Lazarus. O simulador implementado foi utilizado para
realização de retro-análises do escorregamento do reservatório da barragem de Vajont, cujas as
superfícies de ruptura eram não circulares e podem ter seu fator de segurança calculado pelo Método
de Janbu. Para várias seções do talude do reservatório que rompeu foram determinados os conjuntos
de coesão e ângulo de atrito que levam a um fator de segurança unitário. Estes resultados permitem
discutir a faixa de coesão e de ângulo de atrito que seja representativa da situação de campo no
momento da ruptura e compreender melhor o processo da ruptura.

PALAVRAS-CHAVE: Método de Janbu, Deslizamento, Retro-análise, Vajont.

1 INTRODUÇÃO momentos sobre a base das fatias. Esta versão é


conhecida como método de Janbu rigoroso.
O presente trabalho possui duas partes. Na Uma retro-análise pode ser entendida com
primeira parte o procedimento generalizado das um procedimento onde se conhece o resultado
fatias de Janbu é apresentado bem como sua de uma situação e se determina os parâmetros,
implementação no Ambiente Integrado de ou conjunto de parâmetros, que levam aquele
Desenvolvimento Lazarus. Na segunda parte é resultado. No caso de um escorregamento se
apresentada uma retro-análise do deslizamento conhece que o fator de segurança é unitário.
do talude do reservatório da barragem de Desta forma o conjunto de coesão e ângulo de
Vajont. atrito que levam ao fator de segurança unitário
A versão do método de Janbu implementada pode ser determinado.
considera a existência de forças normais e Este procedimento foi aplicado para as
cisalhantes interfatias. A formulação admite que informações disponíveis na literatura técnica
a força normal interfatias está aplicada a uma sobre as características da superfície de ruptura
altura da fatia definida pelo usuário, sendo que do talude do reservatório da barragem de
no presente trabalho a força normal interfatias Vajont. A comparação dos resultados da retro-
foi aplicada a um terço da altura de cada fatia. O análises permite discutir os parâmetros de
fator de segurança é o mesmo ao longo da resistência representativos do momento da
superfície potencial de ruptura. O equilíbrio de ruptura, e uma melhor compreensão do
forças é garantido, bem como o equilíbrio de processo de instabilidade.
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2 MÉTODO DE JANBU (1973) deformação plana; o equilíbrio da tensão


cisalhante ao longo da superfície cisalhante pode
No presente trabalho é discutido o ser dado pela equação:
Procedimento Generalizado das Fatias proposto
por Janbu (1954), Janbu (1957) E Janbu (1973). f
Este procedimento pode ser aplicado a  (1)
F
problemas de estabilidade de taludes, capacidade
de carga de fundações e empuxos de terra. Em que f é a resistência ao cisalhamento e F
A Figura 1 mostra uma seção transversal de é o fator de segurança. A resistência ao
um caso geral para uma fatia em que o terreno, cisalhamento é expressa como uma função da
a carga externa, as condições de contorno, o tensão normal, como mostrado anteriormente. A
perfil do solo, sendo que as superfícies de
resultante total N é assumida quando W=
ruptura podem ter qualquer forma.
Wy + qx + P intercepta a base. A posição da
A massa de solo localizada entre a superfície
linha de empuxo para a força total do lado E é
superior e a superfície de deslizamento assumida
assumida para ser conhecida.
é dividida em um número de fatias de linhas
verticais. Uma seção transversal da forma de
uma fatia é indicada pela área hachurada da
Figura 1. Esta mesma fatia está desenhada em
escala ampliada e a notação do sistema para as
forças agindo em todas as quatro fronteiras das
fatias mostradas na Figura 2.

Figura 2. Forças agindo no contorno de uma fatia isolada


(Janbu, 1973).
Figura 1. Definições e notações usadas para o
procedimento generalizado das fatias (Janbu, 1973).
Uma análise é realizada com a seleção de
uma superfície qualquer e subdividindo a massa
A resultante total das forças interfatias são  de solo em um número apropriado de fatias.
e , na direção horizontal e vertical, Para a forma e a localização desta superfície são
respectivamente; S e N são as resultantes da obtidos para cada fatia: tan  = declividade da
tensão cisalhante  e a tensão normal σ atuando superfície de cisalhamento e x = largura da
sobre o comprimento l ao longo da superfície. fatia, Figura 2.
Sendo N=σl e S=l. No caso geral, , , A média da tensão vertical total na base de
N e S não são conhecidos. cada fatia é calculada como:
As seguintes premissas básicas são usadas
para o caso geral: aplica-se a condição de
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W P dE dQ
p  z  q  (2) T   E tan  f  ht  zQ (6)
x x dx dx

Para análise de estabilidade baseada no Onde t=dT/dx. A equação 3 é a definição do


equilíbrio limite, os parâmetros de resistência ao estado de limite de equilíbrio. A equação 4 é a
cisalhamento devem ser bem conhecidos e os equação para equilíbrio de forças verticais para
valores podem ser diferentes de fatia para fatia. cada fatia. A equação 5 é a equação para uma
As forças horizontais localizadas ou sem combinação do equilíbrio de forças horizontais e
estarem na superfície do solo (cargas inclinadas) verticais para cada fatia. A equação 6 é a
ou no interior da massa do solo (esforços equação para equilíbrio de momentos para uma
sísmicos) podem ser levadas em consideração. A fatia de largura infinitesimal.
magnitude para a força horizontal é designada O equilíbrio de forças horizontais geral
Q e zQ é a distância entre a ação Q sobre a conduz para a seguinte equação (Figuras 1 e 2):
superfície de ruptura. Quando a posição da linha
de empuxo é escolhida, devem ser tomadas: ht = b

distância vertical entre a superfície de ruptura e  E  E


a
b  Ea (7)
a linha de empuxo e tan t = inclinação da linha
de empuxo. Mas as quantidades podem ser As fórmulas requeridas para o cálculo do
medidas em cada interseção e não no meio de fator de segurança médio, a tensão ao longo da
cada fatia. O mesmo ocorre para zQ e Q/x. superfície cisalhante, as forças interfatias e
Para o caso de c´=0 a linha de empuxo deve tensões e o fator médio de segurança ao longo
ser selecionada para um terço da altura a da interface entre fatias lidas derivando para as
começar pela base, ht 1/3z. Para c´>0 a linha de Equações 3 para 7.
empuxo deve ser localizada sobre o ponto na O fator de segurança médio é obtido
zona de compressão (condição passiva) e um inserindo a equação 5 na equação 7:
pouco entre a zona de expansão (condição
ativa) Em zonas de tensão é recomendado que b b

se assumam aquelas rachaduras de profundidade Eb  Ea   [Q  ( p  t ) x tan  ]  x (1  tan ² )


a a
zt, ou uma força de tensão teórica Ea (negativa) (8)
ser introduzida sobre zt (Figura 1). Em mais Introduzindo =f/F para a expressão
casos a superfície cisalhante deve começar na acima, e considerando F = constante (igual para
profundidade zt. um fator de segurança médio geral para a
O requisito para o equilíbrio estático deve ser superfície de ruptura selecionada), e a solução
satisfeito para ambas as fatias individualmente e da equação para F, resulta:
para o corpo como um todo. As equações para
o equilíbrio serão derivadas a seguir. b
O conjunto completo das equações básicas,  f x (1  tan ² )
qual devem ser satisfeitas simultaneamente, é F a
b
(9)
resumido abaixo para fins de referência: Ea  Eb   [Q  ( p  t ) tan x ]
a

  ce  (  u ) tan e (3)
Onde p=W/x e t=T/x.
  p  t   tan  (4) Para =0 o valor da resistência ao
cisalhamento tf=c=su é conhecido como força
E  Q  ( p  t )x tan   x(1  tan ² ) (5) por unidade de área. Consequentemente a
equação 9 é respectivamente explicito para F e
o parâmetro desconhecido é t, qual pode ser
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obtido por iteração para a equação 6. A'  [c'( p    u ) tan  ' ]x (15)
Desse modo no caso geral quando >0 uma
fórmula para a resistência ao cisalhamento deve 1  (1 / F ) tan  ' tan 
ser derivada. Quando é introduzido a equação 4 n  (16)
1  tan ²
na expressão geral de resistência ao
cisalhamento, obtém se A'
A (17)
n
 f  c ' ( p  t  u   tan  ) tan  ' (10)
O termo imediato na é transposto versos tan
Introduzindo  =f/F e solucionando para f, para diferentes valores de tan´/F na Figura 3.
por fim Num cálculo a mão pode se economizar tempo
obtendo na para a Figura 3.
c '( p  t  u ) tan  '
f  (11)
1  (1 / F ) tan  ' tan 

A fórmula para o fator de segurança médio


para o caso geral é obtida inserindo a equação
11 na equação 9. Por simplificação é vantajoso
introduzir termos abreviados para F,
particularmente para cálculos manuais longos.
Para cada fatia a seguir as seguintes fatias
serão usadas:

B  Q  ( p  t )x tan  (12) Figura 3. Valores de na como função de tan  e tan e =


tan ´/F.

A   f x (1  tan ² ) (13)
Uma vez calculado o termo A para cada fatia,
a resistência de cisalhamento f é obtida da
Inserindo as equações 9 e 11 na equação 8, a equação 13:
fórmula para o fator de segurança médio é
reduzido para: f A
  (18)
b F F (1  tan ² )x
A
F a
b
(14) A tensão normal total da superfície de
E a  Eb   B ruptura é novamente calculada como a seguir:
a

  p  t   tan  (19)
Para ´=0 (tf=su), o fator de segurança ocorre
apenas na esquerda à equação 14 e pode ser De acordo com a equação 4.
resolvida diretamente. Para ´>0, F aparece em Introduzindo as equações 12 e 13 na equação
ambos os lados da equação 14 e uma solução de 5, e observando que  =f/F, obtém se para cada
tentativa e erro é requerida. fatia
Introduzindo a equação 11 na equação 13 o
termo A para cada fatia pode ser calculado em A
três passos, a seguir E  B  (20)
F
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Somando os valores E de cada fatia, Lazarus. O simulador implementado tomou


iniciando no ponto a da Figura 1, obtém se a como base os códigos apresentados em
força lateral total em cada interface para a Cruikshank (2016).
fórmula: O simulador implementado foi testado
inicialmente com os exemplos de Cruikshank
E  E   E (21) (2016), apresentando resultados idênticos.
Uma segunda série de testes foi realizada
com três exemplos apresentados em Janbu
Ao longo desta mesma interface a forca
(1973), sendo a diferença nos resultados inferior
cisalhante vertical é igual para a equação 6:
a 1%.
Outra série de comparações foram feitas com
dE dQ
T   E tan  t  ht  zQ (22) as seções utilizadas na retro-análise do presente
dx dx artigo. Estes resultados foram comparados com
o método de Janbu simplificado do programa
Depois de obtido o valor T para todas as Slide. A diferença média dos resultados foi de
interfaces, calcula-se T para cada fatia e os 5,7%.
valores correspondentes t=T/x.
Com base no conhecido, ou assumido, a 4 ABORDAGEM DE RETRO-ANÁLISE
distribuição da poro-pressão pode ser calculada
como resultante da força da água Uh e a Sancio (1981) apresenta uma abordagem para o
resultante efetiva horizontal E´=E-Uh. Este problema de retro-análise que toma um caso de
procedimento resulta na tensão efetiva ruptura de talude e determina o conjunto de
horizontal média, ´h=E´/z, para quando a parâmetros de resistência que levariam a um
resistência ao cisalhamento vf na interface possa fator de segurança unitário. A curva de
ser calculada por: parâmetros de resistência levantada está
associada a um mecanismo de ruptura
 vf  c' 'h tan  ' (23) determinado.
A abordagem de Sancio (1981) é discutida
Podendo assim ser determinado um novo por Sonmez et al. (1998) que distinguem quatro
fator de segurança Fvf com respeito para a falha situações possíveis, levando em conta os dois
de cisalhamento ao longo de cada interface para parâmetros do critério de ruptura de Mohr-
a fórmula Fv=vf/v, onde v=T/z. Coulomb. Na primeira situação existe um caso
Consequentemente de ruptura e um conjunto de c e  que levam a
um fator de segurança unitário para o
c ' z  ( E  U h ) tan  ' mecanismo de ruptura considerado. Do ponto
Fv  (24) de vista matemático o problema é
T
indeterminado. Uma solução pode ser adotar o
Na teoria a solução correta seria Fv  F. Para valor de  mais provável para o material
solos em camadas o cálculo do valor médio de geológico e determinar o valor da coesão
Fv torna-se muito mais complicado. associado, conforme ilustrado na Figura 4.
Sonmez et al. (1998) referem esta estratégia
3 IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA com a adotada por Fookes et al. (1977).
Em uma segunda situação existem dois casos
Um simulador com a formulação do de ruptura com geometria diferentes e dois
procedimento geral das fatias descrito em Janbu conjuntos de c e  que levam a um fator de
(1973) foi implementado em linguagem Pascal, segurança unitário para o mecanismo de ruptura
no Ambiente de Desenvolvimento Integrado considerado. Do ponto de vista matemático este
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seria o problema mais elegante, pois a solução é


determinada e única. A Figura 5 ilustra esta
situação.
Em uma terceira situação existem vários
conjuntos de c e , cada um associado a uma
geometria de deslizamento diferente, que levam
a um fator de segurança unitário. Do ponto de
vista matemático o problema não possui solução
única. Se faz necessário relaxar a solução e ser
considerada uma faixa de soluções aceitáveis.
Algum critério de minimização do erro pode ser
utilizado. Do ponto de vista da Engenharia
Geotécnica trata-se de uma situação que se pode
Figura 5. Solução simples para dois escorregamentos
considerar uma faixa de parâmetros com geometrias diferentes (Sonmez et al., 1998).
representativa de uma variabilidade da geologia
local. A Figura 6 ilustra esta situação.
Em uma quarta situação também existem
vários conjuntos de c e , cada um associado a
uma geometria de deslizamento diferente, que
levam a um fator de segurança unitário. Sendo
que existem também resultados de ensaios de
laboratório que podem ser utilizados no
processo de seleção dos parâmetros
representativos. Na Figura 7 pode-se observar
que os parâmetros de resistência residual de
laboratório estão mais coerentes com as curvas
das retro-análises.

Figura 6. Soluções múltiplas para quatro


escorregamentos com geometrias diferentes (Sonmez et
al., 1998).

Figura 4. Faixa de c e  calculada e determinação de c


para um valor de  assumido (Sonmez et al., 1998).
Figura 7. Soluções múltiplas com a comparação com
resultados obtidos em laboratório (Sonmez et al., 1998).
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5 ESCORREGAMENTO DE VAJONT avançou na compreensão dos fenômenos tendo


como principais resultados: (1) a confirmação da
O deslizamento de Vajont é largamente existência de um deslizamento anterior; (2) a
discutido na literatura técnica. No presente identificação de níveis de argila
trabalho se utilizou principalmente os textos de montmorilonítica ao longo da superfície de
Müller (1987), Hendron e Patton (1985), Sitar e ruptura e também fora da zona de deslizamento,
MacLaughlin (1997), Semenza e Ghirotti (2000) algumas dessas camadas de argila com mais de
e Alonso et al., (2010). 100 mm de espessura (com ângulo de atrito
A barragem de Vajont foi construída, em residual r entre 8 e 10 graus) e que pode se
arco de concreto, no norte da Itália no final da constituir em um estrato contínuo e
década de 1950. Problemas de instabilidade nos impermeável; (3) a provável existência de dois
taludes do reservatório foram detectados em aquíferos no talude, separado pela mencionada
1959, ocorrendo um deslizamento em 1960. Em camada de argila, isso é suportado pelos
9 de outubro de 1963 um talude rochoso do registros de três piezômetros funcionando.
reservatório rompeu, com uma extensão de A Figura 8 mostra um mapa da região do
aproximadamente 2km. Uma massa de cerca de deslizamento. As Figuras 9, 10 e 11 mostram
275 milhões de m3, com uma velocidade de seções utilizadas nas análises no presente
aproximadamente 25 m/s, entrou no trabalho, sendo a linha pontilhada o nível
reservatório. O movimento gerou uma onda piezométrico agindo na superfície de ruptura.
d’água que passou sobre a crista da barragem.
Cinco comunidades que existiam a jusante foram
atingidas pela onda da enchente, causando a
morte de mais de 2000 pessoas. Apesar da
enorme quantidade de água que passou por cima
da barragem, é importante destacar que a
barragem permaneceu intacta (Müller, 1987).
Hendron e Patton (1985), Sitar e
MacLaughlin (1997) e Alonso et al., (2010)
apresentam modelos de cálculo da velocidade de
escorregamento diferentes.
Semenza e Ghirotti (2000) afirmam que o
mecanismo gatilho do deslizamento foi sujeito a
numerosas hipóteses dependendo de qual causa Figura 8. Mapa de localização do deslizamento de
foi considerada dominante: (1) a criação do lago Vajont (adaptado de Hendron & Patton, 1985).
do reservatório e as variações do seu nível; (2) a
presença de argila ao longo da superfície de
ruptura; (3) a existência de um deslizamento
anterior; (4) a estrutura geológica; (5) a
sismicidade da área; e (6) a presença de um
aquífero confinado abaixo da superfície de
ruptura.
Semenza e Ghirotti (2000) afirmam também
que a maioria dos pesquisadores tentaram sem
sucesso estabelecer uma correlação entre a
Figura 9. Seção 02 do deslizamento de Vajont (adaptado
precipitação e o nível piezométrico e o nível de
de Hendron & Patton, 1985).
reservatório. Segundo Semenza e Ghirotti
(2000) o relatório de Hendron e Patton (1985)
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reservatório em 710 metros e condição de chuva


os valores de coesão que levam a um fator de
segurança unitário para as seções 2, 5 e 10 são
de 190, 158 e 281 kPa. A Figura 19 mostra as
tensões normais na base das fatias para a seção
2; a ordem de grandeza das tensões normais
justificaria coesões desta magnitude, dado que
seriam referidos como valores de tensões de
pré-adensamento. Uma análise tridimensional de
Figura 10. Seção 05 do deslizamento de Vajont estabilidade seria mais bem representativa para o
(adaptado de Hendron & Patton, 1985). caso. As ferramentas usadas no presente artigo
são bidimensionais, de forma que um valor
médio de coesão de 210 kPa será considerado.
Assim se toma como parâmetros de resistência
mais prováveis  = 10° e c = 210 kPa.
Uma análise DDA (Discontinuous
Deformation Analysis) foi realizada para a seção
2 considerando  = 10° e c = 190 kPa. Para esta
análise foi utilizado o programa disponibilizado
por Doolin e Grayeli (2018). A Figura 20
mostra os blocos na condição inicial. Na Figura
Figura 11. Seção 10 do deslizamento de Vajont
(adaptado de Hendron & Patton, 1985).
21, que representa o final da análise, nota-se que
está representada uma cinemática de ruptura.
6 RESULTADOS DA RETRO-ANÁLISE
400
Seção 02 - com chuva
350
O simulador do método de Janbu implementado 300 0
foi utilizado para a realização da retro-análise 250 650
C (kPa)

710
aqui apresentada. As seções 2, 5 e 10 foram 200
150
analisadas sem o reservatório e com níveis do 100
reservatório em 650 e 710 metros. Estas análises 50
0
foram analisadas com e sem a consideração de 0 5 10 15 20 25 30 35
chuva.  (graus)
As curvas de coesão e ângulo de atrito que
levam a um fator de segurança unitário foram Figura 12. Deslizamento de Vajont – seção 02, com
levantadas para dezoito situações. As Figuras 12 chuva.
e 13 mostram os resultados para a seção 2,
respectivamente, para situação com chuva e sem 400
Seção 02 - sem chuva
350
chuva. As Figuras 14 e 15 mostram os 300 0
resultados para a seção 5, respectivamente, para 250
C (kPa)

650
200
situação com chuva e sem chuva. As Figuras 16 150
710

e 17 mostram os resultados para a seção 10, 100


respectivamente, para situação com chuva e sem 50
0
chuva. A Figura 18 mostra todos os resultados 0 5 10 15 20 25 30 35
compilados em um único gráfico. (graus)

Os resultados de Hendron e Patton (1985)


indicam um ângulo de atrito mais provável da Figura 13. Deslizamento de Vajont – seção 02, sem
ordem de 10°. Considerando o nível do chuva.
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400
400
Seções 2, 5 e 10
Seção 05 - com chuva 350
350
300
300 0 250

C (kPa)
250
C (kPa)

650 200
200 150
710
150 100
100 50

50 0
0 5 10 15 20 25 30 35
0
 (graus)
0 5 10 15 20 25 30 35
Seção 2 sem reservatório e sem chuva Seção 2 sem reservatório e com chuva
 (graus) Seção 2 com reservatório a 650m e sem chuva Seção 2 com reservatório a 650m e com chuva
Seção 2 com reservatório a 710m e sem chuva Seção 2 com reservatório a 710m e com chuva
Seção 5 sem reservatório e sem chuva Seção 5 sem reservatório e com chuva
Seção 5 com reservatório a 650m e sem chuva Seção 5 com reservatório a 650m e com chuva
Seção 5 com reservatório a 710m e sem chuva Seção 5 com reservatório a 710m e com chuva
Figura 14. Deslizamento de Vajont – seção 05, com Seção
Seção
10 sem reservatório e sem chuva
10 com reservatório a 650m e sem chuva
Seção
Seção
10 sem reservatório e com chuva
10 com reservatório a 650m e com chuva
chuva. Seção 10 com reservatório a 710m e sem chuva Seção 10 com reservatório a 710m e com chuva

400 Figura 18. Deslizamento de Vajont – seções 02, 05 e 10.


350 Seção 05 - sem chuva

300 0
1400

250 1200
C (kPa)

Tensão Cisalhante
650
200 1000
Tensão Normal

710
150
Tensão (kPa)
800

100 600
50
400
0
200
0 5 10 15 20 25 30 35
0
 (graus) 100 200 300 400 500 600 700
-200

Coordenada X (m)
Figura 15. Deslizamento de Vajont – seção 05, sem
chuva. Figura 19. Tensões normais e cisalhantes na base das
fatias, segundo o método de Janbu, na seção 2,
400
Seção 10 - com chuva
considerando  = 10° e c = 190 kPa.
350
300
0
250
C (kPa)

650
200
150 710
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35
(graus)

Figura 16. Deslizamento de Vajont – seção 10, com


chuva. Figura 20. Modelo DDA para a seção 2 do deslizamento
de Vajont, início da análise.
400
350 Seção 10 - sem chuva

300
0
250
C (kPa)

650
200
150 710
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35
 (graus)

Figura 17. Deslizamento de Vajont – seção 10, sem


chuva. Figura 21. Modelo DDA para a seção 2 do deslizamento
de Vajont, final da análise.
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7 CONCLUSÕES Proc. 4th Int. Conf. Soil Mech. Found. Eng., London.
2, p.207-212.
Janbu, N. (1973) Slope Stability Computations. In:
O programa do método de Janbu foi Embankment-Dam engineering. (Editado por:
implementado e testado. O funcionamento do Hirschfeld, R.C. e Poulos, S.J.) Casagrande Volume.
programa se mostrou satisfatório. John Wiley & Sons, New York, p.47-86.
As retro-análises permitiram levantar a faixa Lazarus and Free Pascal Team (2014) Lazarus.
de parâmetros de resistência mais prováveis para Disponível em: <http://www.lazarus.freepascal.org/>.
as superfícies de ruptura do deslizamento, em Acesso em 13 de março de 2014.
Müller, L. (1987) The Vajont Catastrophe - A personal
conformidade com cada hipótese adotada para o review. Engineering Geology, Vol.24, n.1-4, p.423-
momento da ruptura. Os parâmetros de 444.
resistência mais prováveis são  = 10° e c = 210 Sancio, R.T. (1981) The use of Back-calculations to
kPa. As retro-análises possibilitaram ainda a Obtain Shear and Tensile Strength of Weathered
construção de um gráficos de tensões normais e Rocks. International Symposium on Weak Rock,
Tokyo, Vol. 2, p.647-652.
cisalhante ao longo da base das fatias estudadas. Semenza, E. e Ghirotti, M. (2000) History of the 1963
Um modelo DDA (Discontinuous Vaiont slide: The importance of geological factors.
Deformation Analysis) foi capaz de reproduzir Bulletin of Engineering Geology and the
uma cinemática de movimento de uma das Environment, Vol.59, n.2, p.87-97.
seções estudadas, para os parâmetros de Sitar, N. e MacLaughlin, M.M. (1997) Kinematics and
Discontinuous Deformation Analysis of Landslide
resistência mais prováveis para a superfície de
Movement, Invited Keynote Lecture. II Panamerican
ruptura considerada. Symposium on Landslides, Rio de Janeiro. Vol. 3,
p.65-73.
REFERÊNCIAS Sonmez, H; Ulusay, R. e Gokceoglu, C. (1998) A
Practical Procedure for the Back Analysis of Slope
Alonso, E.E.; Pinyol, N.M. e Puzrin, A.M. (2010) Failures in Closely Jointed Rock Masses.
Geomechanics of Failures. Advanced Topics. International Journal of Rock Mechanics and Mining
Dordrecht: Springer. 277p. Sciences, Vol. 35, No. 2, p.219-233.
Cruikshank, K.M. (2016) Kenneth M. Cruikshank -
Slope Stability Programs. Disponível em
http://web.pdx.edu/~i1kc/programming/slopes/index.
html Acesso em 6 de dezembro de 2017.
Doolin, D.M. e Grayeli, R. (2018) Discontinuous
Deformation Analysis. Disponível em:
<http://dda.sourceforge.net>. Acesso em: 19 abr
2018.
Fookes, P.G.; Reeves, B.J. e Dearman, W.R. (1977) The
Design and Construction of a Rock Slope in
Weathered Slate at Fowey, South-West England.
Geotechnique, 1977, Vol.27, No.4, p.533-556.
Hendron, A.J. e Patton, F.D. (1985) The Vaiont Slide, A
Geotechnical Analysis Based on New Geologic
Observations of the Failure Surface. Technical
Report GL-85-5. US Army Corps of Engineers,
Washington, DC. Disponível em:
<https://ntrl.ntis.gov/NTRL/>. Acesso em: 6 jun
2016.
Janbu, N. (1954) Application of Composite Slipe Surface
for Stability Analysis. European Conference on
Stability of Earth Slopes, Stockholm. Volume 3.
p.43-49.
Janbu, N. (1957) Earth Pressure and Bearing Capacity
Calculations by Generalised Procedure of Slices. In:
 

TEMA:  
ESTABILIDADE DE ENCOSTAS 
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A Problemática dos Taludes Urbanos: uma Revisão Bibliográfica


Marianne Bueno dos Passos Brum
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, marianne.brum@gmail.com

Anays Mertz Antunes


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, anaysmertz@gmail.com

RESUMO: Este trabalho se propôs a preencher uma lacuna na literatura geotécnica sobre a
problemática dos taludes urbanos. Realizou-se uma revisão bibliográfica atualizada do tema.
Analisaram-se as formas de investigação para esse problema, os fatores condicionantes de
movimentos de massa característicos a taludes em zona urbana, e as soluções costumeiramente
adotadas para situações do tipo. Conclui-se que os fatores críticos à estabilidade de encostas urbanas
normalmente não ocorrem de maneira isolada. Fatores condicionantes frequentes de movimentos de
massa em áreas urbanas são: alterações na vegetação e na geometria de encostas para construção de
moradias; saturação e mudança química do solo devido ao esgoto sanitário não-coletado; e a
construção sobre aterros mal compactados. É importante que haja divulgação de estabilizações bem-
sucedidas de taludes urbanos para que haja maior confiabilidade nos projetos futuros.

PALAVRAS-CHAVE: Taludes urbanos, Desastres, Revisão Bibliográfica, Geotecnia Social,


Estabilidade de Taludes

1 INTRODUÇÃO locais e regionais; análise preliminar e seleção de


taludes críticos para subsequente avaliação;
Este trabalho se propõe a preencher uma lacuna investigação; análise de estabilidade dos taludes
na literatura geotécnica sobre a problemática dos críticos; proposição de medidas de recuperação,
taludes urbanos. Devido à urbanização se necessário.
desordenada das regiões de encosta, é comum Esta revisão trata especificamente da
ocorrerem acidentes geotécnicos. Assim, identificação de condicionantes de risco de
milhares de pessoas são desalojadas ou instabilidade de taludes urbanos e dos métodos
desabrigadas todos os anos em decorrência de de solução para este problema: seja através da
escorregamentos ou deslizamentos (IBGE, eliminação dos fatores desestabilizantes, até o
2013) No entanto, há falta de publicações controle da magnitude do risco.
técnicas no assunto, apesar da amplitude de Procurou-se apresentar exemplos e discutir
casos reportados e publicações jornalísticas. Há casos de diversas regiões do Brasil, e de variadas
também um grande número de publicações situações urbanas – desde comunidades carentes
tratando de questões geotécnicas de estabilidade até regiões residenciais de classe alta. Buscou-se
de taludes, porém há poucos trabalhos científicos assim a realização de uma revisão bibliográfica
focados no caso específico dos taludes urbanos, abrangente, além de atualizada.
o qual apresenta certas particularidades em Quanto às soluções apresentadas, o enfoque
contrate às encostas não-habitadas. dado foi em alternativas de engenharia, embora
Principalmente, deslizamentos em taludes seja de amplo conhecimento e tenha-se
urbanos podem ser induzidos ou condicionados concluído que as políticas públicas de educação
por ações antrópicas. Neste caso, os principais e engajamento das comunidades devam ser
tópicos que definem a problemática dos taludes amplamente utilizadas.
urbanos são: planejamento; coleta de dados
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maneira isolada, e têm em comum a origem


2 METODOLOGIA antropogênica (BRASIL; IPT, 2007;
VEDOVELLO; MACEDO, 2007; RIFFEL;
O presente trabalho se propôs a realizar uma GUASSELLI; BRESSANI, 2016).
revisão atualizada do tema, através de pesquisa Segundo a NBR 11682 (ABNT, 2009), a
bibliográfica da literatura e estudo de casos identificação destes condicionantes é importante
históricos de movimento de massa. Analisou-se no processo de verificação da estabilidade de
as formas de investigação para esse problema, os encostas, e deve inclusive incluir fatores que
fatores condicionantes de movimentos de massa possam futuramente levar à instabilização de um
característicos a taludes em zona urbana, e as talude. Deste modo, o conhecimento dos fatores
soluções costumeiramente adotadas para condicionantes que geram acidentes geotécnicos
situações do tipo. A revisão bibliográfica foi é crucial. A seguir estão apresentados os fatores
feita através da pesquisa em anais de congressos, críticos à estabilidade típicos de encostas
reportagens em veículos de comunicação urbanas.
variados e em publicações de outras áreas do
conhecimento, procurando o viés técnico dentro 3.1.1 Alteração da Cobertura Vegetal do
delas. Talude

A cobertura vegetal, por meio da ação das raízes,


3 REVISÃO acrescenta ao solo uma resistência mecânica que
auxilia na estabilidade do talude. A influência
3.1 Fatores Condicionantes para Acidentes das raízes na estabilidade do talude ocorre no
Geotécnicos em Taludes Urbanos sentido de acrescentar uma parcela à resistência
ao cisalhamento do solo, da mesma forma que a
Os condicionantes geotécnicos costumeiramente coesão o faz. (WU et al, 1979; FIORI;
observados como causadores de instabilidades e CAMIGNANI, 2001 apud TABALIPA; FIORI,
movimentos de massa de encostas naturais são: 2008). Adicionalmente, a cobertura vegetal
grandes declividades do talude, saturação do solo auxilia na proteção contra o efeito erosivo das
e processos de intemperismo e erosão (BRASIL; chuvas. A vegetação promove redução da vazão
IPT, 2007; RIFFEL, GUASSELLI, BRESSANI, do escoamento superficial, pois reduz o
2016). No entanto, no caso de encostas coeficiente de deflúvio. Esse fenômeno também
habitadas, ainda são somados a estes processos auxilia no retardamento dos picos de vazão no
uma gama de fatores desestabilizantes escoamento superficial, reduzindo a ação erosiva
particulares à sua característica urbana devida à velocidade da água. A retirada da
(VEDOVELLO; MACEDO, 2007). cobertura vegetal, seja ela qual for, ainda expõe
De maneira geral, a maior parte dos fatores o solo ao impacto das gotas de chuva, que podem
redutores de estabilidade têm origem e causa na então produzir sulcos e ravinas no terreno nu.
urbanização desordenada e sem obras de (SUAREZ, 1997). Uma pesquisa do IBGE
infraestrutura. Regiões habitadas de maneira publicada em 2015 mostrou que, dos municípios
irregular, sem planejamento ou controle do uso que sofrem com deslizamento de terra, 30%
do solo tendem a ter maior densidade atribuíram o fato ao desmatamento de áreas
ocupacional, o que potencializa os vulneráveis (IBGE, 2005 apud VEDOVELLO;
condicionantes de rupturas (GUSMÃO FILHO, MACEDO, 2007).
1995; MACEDO; MARTINS, 2015). São nas A modificação do tipo de vegetação presente
cidades mais populosas que, em geral, há o maior também pode causar danos à encosta. Em
número de mortes decorrente de movimentos de Salvador, por exemplo, há plantação de tipos de
massa (MACEDO; MARTINS, 2015). Além vegetação não-recomendados, como bananeiras,
disso, os fatores críticos à estabilidade típicos de que despejam água de forma concentrada no solo
encostas urbanas normalmente não ocorrem de
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pela raiz (MENDONÇA; GUERRA, 1997 apud da ruptura de um talude em São José dos
OLIVEIRA; MÉLO, 2005) Campos, SP. A partir de análises numéricas de
estabilidade de talude combinadas a análise
3.1.2 Alterações na Geometria do Talude transiente de fluxo de água, os autores
concluíram que somente a chuva acumulada nos
Bastante comum em encostas de ocupação não dias anteriores ao evento de movimento de massa
planejada é a modificação na topografia para a não seria suficiente para provocá-lo. A análise
construção de edificações. Cortes e aterros para indicou que, naquele caso, foi necessária a
a construção de moradias na encosta são existência de um ponto de vazamento de um
realizados com bastante frequência e sem tanque de armazenamento de água para
maiores considerações para seus efeitos na engatilhar a ruptura.
vizinhança. O efeito acumulado de todas essas Em regiões sem a oferta do serviço de coleta
atividades irregulares de terraplenagem tem de esgoto, ocorre o despejo de águas servidas
grande peso na alteração da estabilidade do (esgoto pluvial e sanitário) diretamente no
talude, acrescentando massa à região maciço, causando não somente erosão e
instabilizadora e retirando material da região saturação, como também alteração química do
estabilizadora. solo. O Guia para Elaboração de Políticas
Outras alterações significativas na geometria Municipais de Prevenção de Riscos de
da encosta envolvem escavações que podem Deslizamento, editado pelo Ministério das
causar o descalçamento de blocos rochosos e Cidades, utiliza a existência de esgoto lançado na
revelar superfícies críticas como fraturas ou superfície dos taludes como critério para a
planos preferenciais de ruptura que classificação de uma região como área de risco
originalmente estavam em equilíbrio e sem muito alto (CARVALHO; GALVÃO, 2006).
riscos de movimentação. (SUAREZ, 1997) A vazão de águas residuárias é praticamente
constante, elevando o grau de saturação do solo
3.1.3 Escoamento Nocivo de Água (NOGUEIRA, 2002; ASSUNÇÃO, 2005;
BARBOZA et al., 2017). A água servida
A saturação do maciço é talvez o gatilho mais proveniente das moradias pode contribuir
recorrente de movimentos de massa. fortemente à saturação do material e manter o
Normalmente, em encostas naturais, está talude em condição de quase ruptura, com um
associada a grandes eventos de chuva. Em fator de segurança muito próximo à unidade.
taludes urbanos, no entanto, há outras Santos e Assunção (2005) determinaram que o
considerações que devem ser feitas, uma vez que volume de água residuária descartado no solo por
são várias as causas que podem saturar o solo e assentamentos urbanos carentes de esgotamento
levá-lo a uma situação crítica. sanitário é bastante elevado, podendo igualar ou
Fugas e rompimentos de instalações mesmo exceder o volume infiltrado de chuva
hidráulicas e sanitárias, muito comuns nos dutos quando a ocupação territorial é de densidade
de serviços públicos, podem causar saturação de média ou alta (cerca de 120 l.hab/dia). Ainda
partes do solo (NOGUEIRA, 2002; de CAMPOS assim, esse não é necessariamente o gatilho da
et al, 2005; OLIVEIRA; MÉLO, 2005; BRASIL; ruptura, papel normalmente reservado a eventos
IPT, 2007; BARBOZA et al, 2017). Suárez pontuais e mais expressivos de chuva, mas deixa
(1997) cita o caso histórico de um deslizamento a encosta mais suscetível a pequenos aumentos
de 120.000 m³ de uma encosta em Bucaramanga, na pluviosidade ou mudanças na geometria do
na Colômbia, induzido por infiltrações de um talude por escavações, que podem então ser
tanque de fornecimento de água posicionado na suficientes para iniciar um movimento
crista de um talude de areia argilosa cimentada, desastroso (BARBOZA et al., 2017).
que aumentaram o nível de água subterrânea em
mais de 10 metros. Mendes et al (2017) 3.1.4 Depósitos e Aterros Artificiais
analisaram as causas naturais e antropogênicas
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Em regiões urbanas, depósitos artificiais são pavimentação das vias, fornecimento de água e
bastante comuns (GUSMÃO FILHO, 1995) energia elétrica.
Compostos por uma mistura de lixo doméstico, Em abril de 2010 ocorreram fortes chuvas em
entulho, material vegetal e solo proveniente de Niterói. As chuvas intensas foram o agente
cortes para construção de residências, essa deflagrador da ruptura do talude, que já não tinha
camada heterogênea apresenta características condições de grande estabilidade. O movimento
peculiares. Depósitos desse tipo tendem a ser observado foi uma corrida de detritos,
não-consolidados, bastante permeáveis, porosos envolvendo um material heterogêneo composto
e pouco resistentes (MENDONÇA; GUERRA, por uma mistura de solo, entulho e lixo. À
1997; CARVALHO, 1997). medida que o material se deslocava, explosões
Os aterros e depósitos de resíduos tendem a decorrentes da presença de gás metano
reter água, podendo exercer carga excessiva acentuaram o escorregamento e ampliaram as
sobre o talude e causar instabilização do mesmo. proporções do desastre. O deslizamento causou
O lixo acumulado ainda pode entupir valas e a morte de 48 pessoas. (ALVES FILHO, 2010)
contribuir para a desestabilização de encostas
através da precarização da rede de drenagem 3.1.5 Moradias em Áreas de Evolução Natural
(NOGUEIRA, 2002; BARBOZA et al., 2017). da Costa
Os movimentos de massa em encostas de
depósitos artificiais costumam apresentar Por vezes, a construção das edificações ocorre
superfícies de ruptura que ocorrem dentro dessa em encostas em processo de movimentação de
camada, não atingindo, ou atingindo somente de velocidade bastante lenta. É o caso de casas
maneira superficial, o solo de fundação do construídas sobre colúvios que vêm sofrendo o
terreno original. (CARVALHO, 1977). É fenômeno de rastejo. Essas movimentações do
frequente existir impermeabilidade no contato solo ocorrem naturalmente devido à condição
entre o depósito e o terreno natural, devido à original do talude e provocam na edificação
vegetação original que foi soterrada e decompôs- deformações além das suportáveis pelos
se. Essa interface impermeável auxilia na materiais construtivos. Assim, uma casa, ou
geração de poropressões positivas no solo mais mesmo obras de infraestrutura, podem sofrer
superficial (CARVALHO, 1997; OLIVEIRA; com trincas e rupturas tornando-as aos poucos
MÉLO, 2005). Silva, Pimentel e Freitas (2000) degradadas e até inutilizadas.
analisaram inventários de dados de movimentos Em Santa Cruz do Sul, no estado do Rio
de massa no estado do Rio de Janeiro e Grande do Sul, a estrutura de várias moradias foi
demonstraram que até 1996 17% dos eventos afetada pela movimentação lenta de taludes.
significativos de escorregamentos haviam sido Pinheiro et al (2012) instrumentaram e
caracterizados como corridas de lixo. monitoraram as patologias de habitações de
O deslizamento do morro do Bumba, em classe alta em uma encosta na parte nordeste da
Niterói, é um caso emblemático na análise de cidade. Os autores verificaram deformações
taludes urbanos. O morro do Bumba era significativas, mas lentas (da ordem de 40cm em
originalmente um depósito de lixo que foi 5 anos), devido à movimentação de solo
desativado na década de 80. O material era coluvionar, e determinaram que cerca de metade
composto por camadas intercaladas de solo e das edificações avaliadas apresentaram algum
lixo. O lixo, ao sofrer decomposição, deu origem tipo de patologia provocada pela movimentação
a gás metano e chorume que se acumularam no da encosta. Em 2003, Eisenberger realizou
subsolo. Com o tempo, a vegetação recobriu os estudos na mesma região e obteve resultados
detritos e a população ocupou a área construindo semelhantes. Já Perazzolo (2003) estudou um
suas casas. A urbanização foi permitida pela talude no interior do município de Canela, na
municipalidade por meio dos investimentos em Serra gaúcha, e também identificou
infraestrutura que fez na região, com movimentação por rastejo de solo coluvionar.
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3.2 Soluções consequentemente, na adoção de soluções para


os problemas associados a esta situação.
Os métodos de solução de problemas de Deste modo, há particularidades, no caso de
deslizamento em taludes urbanos podem ser taludes urbanos, nas soluções usualmente
significativamente diferentes daqueles de outras empregadas e na metodologia de resolução. As
situações, de modo que, frequentemente, as medidas de intervenção devem ser priorizadas
alternativas para estabilização de massas são em relação ao máximo benefício que podem
muito limitadas (BARROSO, 1992). Quanto trazer à comunidade - a melhor resposta não será,
maior a densidade populacional e a necessariamente, a mais tecnicamente adequada
irregularidade de ocupação de uma área, menor (MATTOS et al., 2005).
é a possibilidade da adoção de soluções Por fim, tentativas de estabilização de taludes
abrangentes, pois há questões sócio-políticas que urbanos lidam com alto nível de risco e, na falta
devem ser respeitadas - famílias já consolidadas de estudos e dados compreensivos, levam à
e integradas a uma comunidade terão grande adoção de projetos conservadores e,
resistência em serem realocadas, por exemplo. A consequentemente, custosos. Há incertezas
ocupação desordenada também dificulta a devido a futuras alterações executadas pelos
execução de obras de melhorias e contenção, próprios moradores, que diminuem a efetividade
devido ao espaço limitado para mobilização de das medidas de intervenção e geram insegurança
maquinário, o que diminui ainda mais as ao projetista (OLIVEIRA; MÉLO, 2005).
possibilidades de resolução dos problemas Apesar disso, há necessidade de soluções de
enfrentados por comunidades em áreas de risco. baixo custo, que maximizem as áreas e a
Os planos de investigação geotécnica de população beneficiada, e melhorem o
taludes urbanos devem adotar metodologia aproveitamento dos recursos disponíveis. Assim,
expedita e de baixo custo, já que são trabalhos de novamente, o processo de solução dos problemas
grandes proporções e, frequentemente, em taludes urbanos deve abranger a comunidade
emergenciais (SOBREIRA; BARROSO, 1990 em geral também através de ações sócio-
apud BARROSO, 1992). Com a investigação, educativas, de modo que a população atendida
objetiva-se desenvolver um diagnóstico do seja informada da sua responsabilidade, e o risco
mecanismo de instabilização ocorrido ou de interferência com as soluções executadas seja
existente (ABNT, 2009). Para isso, é minimizado.
imprescindível a obtenção de dados locais, A seguir, serão discutidas e exemplificadas
através de informações dos próprios moradores, algumas das soluções frequentemente
e de estudos já realizados. A execução destes empregadas de acordo com a literatura.
planos, no entanto, é difícil. Primeiramente,
evita-se ao máximo a realização de novas 3.2.1 Elaboração e Utilização de Cartas
sondagens e ensaios (BARROSO, 1992), devido Geotécnicas de Risco
à complicação da investigação do subsolo em
comunidades densificadas e inseguras, como Mapas de risco de movimento de massa são
são, frequentemente, as áreas urbanas de risco. cartas que caracterizam áreas sujeitas a
Nestes locais, também há grande dificuldade na escorregamentos, e são criadas através da
realização de levantamentos topográficos, e avaliação e hierarquização do risco de ocorrência
dispõe-se de dados limitados a aerofotografias e de acidente. A elaboração de cartas de risco é um
mapas topográficos e cartográficos instrumento básico para a criação de políticas
desatualizados. Isso gera grandes incertezas, já públicas e análise da necessidade e viabilidade
que a ocupação humana é extremamente de obras de engenharia (BRASIL; IPT, 2007).
dinâmica (COLLET, 1992; AMARAL, 1992; Ademais, a problemática em taludes urbanos
MAIA; PIAIA, 1992). Assim, há grandes riscos é multidisciplinar - não se trabalham apenas com
associados aos parâmetros de entrada na engenheiros. Assim, a difusão do conhecimento
avaliação da estabilidade de taludes urbanos, e, de engenharia, através da elaboração de cartas
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geotécnicas e de risco, é uma forma de instruir os


órgãos públicos, e mesmo a população, quanto 3.2.4 Políticas Públicas
ao risco envolvido na ocupação de taludes
urbanos (AMARAL, 1992). No entanto, a Algumas das medidas para redução do risco de
elaboração de mapas e cartas de risco exige desastres em encostas habitadas não envolvem
experiência, e é uma atividade fortemente nenhuma intervenção técnica na região. O foco
subjetiva (NOGUEIRA, 2002; ALMEIDA; dessas medidas é na relação dos habitantes com
GERSCOVICH; PACHECO, 2017). Macedo seu território.
(2001, apud NOGUEIRA, 2002) demonstrou Através de medidas sócio-educativas, a
que há disparidades nos resultados de análises de população que ocupa taludes urbanos pode
risco. Há roteiros elaborados por órgãos compreender as suas responsabilidades, entender
governamentais, como o IPT, para auxiliar no os riscos e ficar alerta quanto a possíveis
processo de mapeamento (BRASIL; IPT, 2007), acidentes. Além dos óbvios benefícios para a
contudo é importante treinar profissionais própria comunidade, há diminuição das
competentes para atuar na área de taludes incertezas relativas à problemática do talude
urbanos e mapeamento de risco para que se urbano: os moradores, cientes dos fatores
consiga identificar corretamente os sinais de extremantes e incluídos no projeto de
possível movimentação. estabilização ou contenção, evitam a
modificação das soluções adotadas (OLIVEIRA;
3.2.2 Revegetação MÉLO, 2005). Assim, o projetista tem a
liberdade para ser menos conservador,
A revegetação cria uma coesão superficial no viabilizando alternativas menos custosas e mais
solo, o que a torna uma medida excelente em abrangentes.
casos de rupturas rasas, além de ser Já através da elaboração de planos
urbanisticamente interessante. Além disso, áreas preventivos, é possível diminuir os danos de um
de reflorestamento podem servir como cinturões acidente, ao garantir-se que a população afetada
de proteção à queda de blocos e controle do run- saberá como reagir face a uma emergência. Um
off das chuvas (BARROSO, 1992). sistema de monitoramento e de alerta deve ser
parte integrante deste planejamento, já que a
3.2.3 Sistema de Drenagem e evacuação e remoção de pessoas após a
Impermeabilização do Solo ocorrência de uma ruptura de um desastre é
difícil.
Visto que a água é um importante agente Também pode-se evitar fatalidades através de
deflagrador de movimento de encostas, a correta relocações de comunidades. No entanto, este
destinação dessa é elemento chave no projeto de processo é difícil e deve ser evitado. Barroso
contenção e estabilização de taludes urbanos. A (1992), explica que há grande dificuldade na
impermeabilização de solos sujeitos à infiltração remoção ou relocação de pessoas. Por exemplo,
excessiva de água impede a saturação do solo. no Rio de Janeiro, o Plano Diretor da cidade
Sistemas de drenagem devem ser bem projetados proíbe a remoção de favelas, indicando, ao invés
e a sua funcionalidade garantida através de disso, a reurbanização (criação de bairros
manutenções regulares, pois obstruções podem populares). Assim, a relocação preventiva
acontecer devido à deposição de lixo, por normalmente não é executada. Mais útil e
exemplo. eficiente que as relocações é a proibição de
Frequentemente os próprios moradores ocupação de áreas de risco pelo poder público,
utilizam lonas plásticas para impermeabilizar criando áreas “congeladas” para a urbanização.
taludes nus. Esta solução é precária, porém tem No entanto, a fiscalização é normalmente
sido amplamente adotada tanto provisoriamente precária, e o alto custo de moradia em grandes
durante eventos chuvosos, como de forma centros urbanos força a população carente a
permanente (NOGUEIRA, 2002). buscar estas áreas, ou mesmo voltar para locais
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onde já ocorreu um acidente. Ademais, o custo terra e consumo de uma grande área. Deve-se
de remoção de famílias pode ser muito maior que considerar que, normalmente em taludes
o de execução de obras de engenharia. Almeida, urbanos, o espaço disponível para uma obra de
Gerscovich e Pacheco (2017) estudaram os contenção é limitado, o que pode restringir a
benefícios dos investimentos governamentais em escolha quanto ao tipo de obra a ser
obras de estabilização na comunidade da implementado. Situações assim privilegiam
Rocinha, no Rio de Janeiro, e concluíram que o tipos de obras que não necessitam de muita
custo com as obras foi de apenas 23,18% do movimentação de terra ou grandes alterações na
estimado para relocação e indenização das topografia original do talude. Cortinas
famílias possivelmente afetadas. atirantadas, estabilização de taludes com solo
grampeado, faceamento em concreto projetado
3.2.5 Melhoria da Infraestrutura Básica são soluções que se adaptam bem a esse
contexto. Qualquer que seja a solução adotada,
Como um dos fatores que pode levar à os projetos que envolvem obras de contenção de
instabilização de um talude é o esgoto (pluvial solo devem atender às condições de estabilidade
ou sanitário) jogado diretamente no solo, seja previstas pela NBR 11682 (ABNT, 2009).
devido a vazamentos, falta de rede coletora ou
percolação no solo através de sumidouros, a
implantação do saneamento básico em 4 CONCLUSÃO
comunidades carentes pode diminuir
drasticamente o risco de instabilização de Os fatores críticos à estabilidade de taludes
encostas. Ademais, a construção de vias típicos de encostas urbanas normalmente não
pavimentadas em comunidades carentes facilita ocorrem de maneira isolada, e têm em comum a
o acesso aos serviços de coleta de lixo, origem antropogênica. A análise de taludes
manutenção e fiscalização, que são essenciais urbanos deve ser feita de maneira integrada e
para a diminuição do risco inerente ao talude avaliar tanto os condicionantes naturais como os
urbano, ao evitarem, por exemplo, práticas como antropogênicos. Deve-se dar especial atenção às
os aterros de detritos, permitirem o acesso da cidades mais populosas e aos locais de grande
Defesa Civil em casos de emergência e coibirem adensamento populacional, pois são nestes locais
cortes e aterros indevidos. que há o maior número de vítimas de
movimentos de terra. A pressão social por
3.5.6 Obras de Estabilização de Taludes moradia e a dificuldade em prover serviços de
infraestrutura adequados são fatores críticos. No
Talvez as intervenções mais visíveis na melhoria entanto, mesmo regiões de classe alta em cidades
da segurança dos taludes urbanos são as obras de pequenas podem ser suscetíveis a movimentos
estabilização de taludes. Alguns exemplos são as de massa, dependendo de condicionantes como
obras listadas na pesquisa de Almeida, relevo e clima.
Gerscovich e Pacheco (2017), realizadas na Dessa maneira, a análise das rupturas de
região da Rocinha (RJ): muro de concreto armado taludes urbanos é difícil, já que múltiplas causas
ou ciclópico, muretas estaqueadas, revestimento do podem estar envolvidas. O fator antropogênico
talude com concreto projetado, cortina atirantada, pode ser o principal, e as questões climáticas
estabilização de talude com solo grampeado e apenas deflagradoras, por exemplo, mas o
barreira de impacto para taludes rochosos. contrário também é possível. Como a
Muros (de gravidade ou de flexão) tendem a investigação de áreas densamente urbanizadas é
ser soluções de execução mais simples por não complexa e, frequentemente, insuficiente, o
exigirem maquinário especializado, e assim são estudo das causas e a previsão das possíveis
competitivos economicamente. Para executá-los, instabilidades é ainda mais dificultado. Têm-se,
no entanto, requer-se uma reconfiguração no entanto, que alguns aspectos particulares dos
geométrica do terreno, com movimentação de taludes urbanos são frequentemente fatores
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condicionantes de movimentos: alterações na considerar as condições de contorno do terreno


vegetação e na geometria de encostas para ao decidir-se por um tipo de solução. Por essas
construção de moradias; saturação e mudança razões, é importante que a comunidade científica
química do solo devido ao esgoto sanitário não- e profissional atuante na área comunique seus
coletado; e a construção sobre aterros mal êxitos em publicações como as que foram
compactados, ocasionalmente constituídos por consultadas para o desenvolvimento deste
lixo ou entulho. trabalho.
Obras em caráter emergencial, são
frequentemente caras e paliativas. Há
dificuldade na utilização de maquinários devido AGRADECIMENTOS
à mobilidade precária dentro de comunidades
densamente urbanizadas, de modo que “os As autoras agradecem ao Prof. Dr. Luiz Antônio
processos executivos das obras obriga-se a uma Bressani por incentivar a realização deste
espécie de trabalho artesanal…” (BARROSO, trabalho, por fomentar o interesse pelo tópico de
1992). Se não há manutenção, nem a educação taludes urbanos, e pelos apontamentos dados
da população quanto a práticas de manutenção para a melhoria desta revisão.
das encostas, as obras de contenção são apenas
temporárias, e poderá haver retrabalho.
Quanto aos riscos envolvidos na análise e REFERÊNCIAS
execução de obras de estabilização de taludes
urbanos, é importante a divulgação de projetos De ALMEIDA, Samuel Ribeiro; GERSCOVICH, Denise
exitosos, para que haja mais confiabilidade nos Maria Soares; PACHECO, Marcus Peigas. Evolução
temporal do mapeamento de risco incorporando a
parâmetros analisados e, consequentemente, influência da ocupação antrópica e das obras de
diminuição das incertezas. Deste modo, os estabilização na comunidade da Rocinha-RJ. In:
projetos podem ser mais econômicos e efetivos, CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE
com menor número de intervenções necessárias. ESTABILIDADE DE ENCOSTAS, 12., 2017,
O risco também pode ser diminuído através de Florianópolis. Anais... Disponível em:
<www.cobrae2017.com.br>. Acesso em: 26 abr 2018
soluções preventivas e com medidas ALVES FILHO, Francisco. A morte no lixão, 2010.
educacionais da população, que muitas vezes Disponível em:
desconhece os efeitos das suas intervenções nas <https://istoe.com.br/64153_A+MORTE+NO+LIXA
encostas. O/>. Acesso em 04 jul 2017.
A problemática dos taludes urbanos, portanto, AMARAL, Cláudio. Cartas de Risco de Escorregamentos
em Encostas Favelizadas do Rio de Janeiro: revisão e
é uma questão bastante delicada e que exige um estado da arte. In: CONFERÊNCIA BRASILEIRA
tratamento atencioso. Na etapa de prevenção de SOBRE ESTABILIDADE DE ENCOSTAS, 1., 1992,
desastres, é importante considerar a ocupação Rio de Janeiro. Anais... p.595-603.
das encostas tanto como fator condicionante ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
através das alterações antropogênicas no terreno, TÉCNICAS. NBR 11682: Estabilidade de encostas.
Rio de Janeiro: 2009
quanto como agente ativo na prevenção, através ASSUNÇÃO, D.M.S. Padrão quali-quantitativo do
de conhecimento do seu território e atuação na descarte de águas residuárias em áreas carentes: um
manutenção dos taludes. Na etapa da estudo no Alto do Bom Viver em Salvador, dissertação
investigação e avaliação do problema, é de mestrado, MEAU, Salvador/Ba, 2005.
recomendada, inclusive pela norma de BARBOZA, Esley da Silva. A Importância do
Saneamento Básico na Redução do Risco de
estabilidade de encostas (ABNT, 2009) a Deslizamento, Erosão e Inundação: Investimentos na
realização de testes laboratoriais, quando Região Metropolitana do Recife e Exemplos de Casos
possível. Dentre eles, citam-se a análise de Desastres Ocorridos. In: CONFERÊNCIA
granulométrica; os ensaios de resistência ao BRASILEIRA SOBRE ESTABILIDADE DE
cisalhamento direto natural e inundado (pior ENCOSTAS, 2017, Florianópolis. Anais... Disponível
em: <www.cobrae2017.com.br>. Acesso em: 26 abr
caso); e o ensaio de erodibilidade. Na etapa de 2018
estabilização após um evento de ruptura, deve-se
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Análise de Estabilidade de Talude por Método Probabilístico


Mário Rodrigues de Oliveira Júnior
UFV, Viçosa, Brasil, mario.rodrigues@ufv.br

Tatiana Tavares Rodriguez


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez@ufjf.edu.br

Daniel de Andrade Faria


UFRGS, Porto Alegre, Brasil, daniel.faria@ufrgs.br

Roberto Lopes Ferraz


UFV, Viçosa, Brasil, rlferraz@ufv.br

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo proceder à análise de estabilidade de um talude de corte,
localizado no Campus da UFJF, com o emprego do Método Probabilístico das Estimativas Pontuais.
Os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo foram obtidos a partir de ensaios de
cisalhamento direto, na condição inundada. A envoltória linear média indicou intercepto coesivo de
18,81 kPa e ângulo de atrito de 21º. A partir desses parâmetros foi obtido um Fator de Segurança (FS)
igual a 2,50 pelo método determinístico. Ao proceder às análises pertinentes ao método probabilístico
adotado obteve-se um valor médio de FS igual a 2,44 e um desvio padrão de 0,33. Isso resultou em
um índice de confiabilidade de 4,36 e em uma probabilidade de ruptura de 8,0 x 10-6. Com base neste
último valor e nos critérios de segurança citados na literatura, a condição do talude com relação à
ruptura pode ser enquadrada como sendo de boa para alta. Além disso, o valor de probabilidade de
ruptura obtido para o talude permite verificar que o mesmo se encontra com os níveis aceitáveis de
performance para esse tipo de obra.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Talude, Análise Determinística, Análise Probabilística.

1 INTRODUÇÃO segurança, a partir do qual são feitas as


considerações com relação à estabilidade dos
O solo tende a não apresentar estrutura taludes.
homogênea e, com isso, possui incertezas com Segundo Costa (2005), os métodos
relação às suas propriedades, podendo determinísticos podem ser melhorados quando
apresentar, por exemplo, grande variabilidade são utilizadas análises estatísticas, que permitem
dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, considerar, dentre outras, incertezas nos
bem como de outras características. parâmetros de entrada e nos modelos de análise,
Geralmente as análises de estabilidade de resultando com isso em uma classe de métodos
taludes são realizadas por métodos de análise, denominados de métodos
determinísticos e com o emprego de análises de probabilísticos.
equilíbrio limite. Em função do grande volume Os métodos probabilísticos permitem
de cálculos envolvidos, as análises são realizadas quantificar as incertezas inerentes ao fator de
com o uso de programas de computador, onde os segurança determinístico, através do índice de
parâmetros do solo de maior interesse são os de confiabilidade, , o qual exprime o quanto se
resistência ao cisalhamento, compreendidos pelo pode confiar no fator de segurança, e permite,
ângulo de atrito e pelo intercepto coesivo. Nestas também, obter a probabilidade de ruptura do
análises o objetivo é obter um valor de fator de talude (GUEDES, 1997).
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Com isso, este trabalho tem por objetivo apresentados, levam a probabilidades de ruptura
analisar o talude de corte localizado na via que que se aproximam muito do valor encontrado
dá acesso à Pró-Reitoria de Infraestrutura para a Curva de Distribuição Normal. Esse valor
(PROINFRA) da UFJF por método passa a diferir mais significativamente quando se
probabilístico, considerando os dados analisa índices de confiabilidade maiores que 2.
estatísticos obtidos através da envoltória de Pode-se notar, também, que para pequenos
resistência, determinada por meio dos ensaios de valores de índices de confiabilidade [1,5;5], a
cisalhamento direto com corpos de prova na distribuição normal é mais conservadora, uma
condição inundada. vez que ela leva à probabilidade de ruptura
maior. Dessa forma, na ausência de dados, é
indicado o uso da distribuição normal.
2 MÉTODOS PROBABILÍSTICOS Calculado o índice de confiabilidade e obtida
a probabilidade de ruptura, deve se atentar para
Segundo Flores (2008), em linhas gerais, a os valores permitidos considerando os vários
análise probabilística baseia-se na obtenção de tipos de obras existentes e o tipo de segurança
um índice de confiabilidade, , que permite que se deseja, assim como a consequência
quantificar a probabilidade de ruptura. advinda dela, ou seja, a probabilidade de ruptura
A probabilidade de ruptura é a probabilidade admissível (FLORES, 2008).
do fator de segurança ser inferior à unidade e se O Corpo de Engenheiros do Exército dos
refere à área em que a curva de densidade de EUA (USACE, 1995) apresenta o gráfico da
probabilidade do FS corresponde a valores Figura 2, onde correlaciona o índice de
inferiores a 1,0 (SILVA, 2015). confiabilidade com a probabilidade de ruptura.
A probabilidade de ruptura pode ser obtida Este órgão recomenda que, para obras de taludes,
numericamente através da equação de densidade valores de probabilidade de ruptura de 3x10 -5
de probabilidade ou graficamente pela Figura 1, estão em níveis aceitáveis de performance.
como indicado por Fabrício (2006), ambos em
função do índice de confiabilidade (β).

Figura 2 - Probabilidades de ruptura para taludes (USACE,


Figura 1 - Probabilidade de Ruptura versus Índice de 1995 apud FLORES, 2008).
Confiabilidade (SANDRONI e SAYÃO, 1992).
Wolff (1996) propõe que em análise de
Observa-se a partir do gráfico da Figura 1 que estabilidade de taludes comuns, uma
índices de confiabilidade menores ou iguais a 2, probabilidade de ruptura de 10-3 seja aceitável.
para os vários tipos de curvas de distribuição Sandroni e Sayão (1992), ao realizarem
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retroanálises de taludes estáveis e rompidos de Sendo que E[x] é o valor médio do parâmetro
mineração de ferro, concluíram pela adoção de x, e σx é o correspondente desvio padrão.
uma probabilidade de ruptura de 2,3 x 10-2 como Encontrados os pontos, a função geradora de
valor mínimo de projeto. momentos (Equação 3) pode ser calculada.
Os métodos probabilísticos podem ser
divididos em: métodos analíticos, métodos 𝐸(𝐹𝑆 𝑚 ) = 𝑃+𝐹𝑆+𝑚 + 𝑃− 𝐹𝑆−𝑚 (3)
aproximados e simulação de Monte Carlo
(COSTA, 2005). Dentre os métodos Onde E(FSm) é a função geradora de
aproximados, tem-se o Método das Estimativas momentos e m é a ordem do momento
Pontuais que, por simplicidade de uso, foi o probabilístico de interesse.
adotado neste trabalho. Assim, segundo Rezende (2013), para a
Criado por Rosenblueth (1975), o método das utilização deste método, calcula-se
estimativas pontuais é uma aproximação primeiramente a média (Equação 4), a média dos
numérica de técnicas de integração que consiste quadrados (Equação 5), e, com isso, a variância
em transformar uma variável contínua em uma do Fator de Segurança (Equação 6) para a
variável discreta, utilizando apenas dois pontos obtenção do desvio padrão (Equação 7).
x+ e x- com concentrações de probabilidade P+ e
P- (Figura 3). 2𝑛
1
𝐸 (𝐹𝑆) = ̅̅̅̅
𝐹𝑆 = 𝑛 ∑ 𝐹𝑆𝑖 (4)
2
𝑖=1

2𝑛
1
𝐸(𝐹𝑆 ) = 𝑛 ∑ 𝐹𝑆𝑖2
2
(5)
2
𝑖=1

2
𝜎𝐹𝑆 = 𝑉(𝐹𝑆) = 𝐸(𝐹𝑆 2 ) − [𝐸(𝐹𝑆)]2 (6)

𝜎𝐹𝑆 = √𝑉(𝐹𝑆) (7)


Figura 3 - Estimativas Pontuais da Função f(x), (FLORES,
2008). Onde n é o número de variáveis aleatórias.

Assim, é feita uma estimativa dos dois Após a realização destes cálculos, pode ser
primeiros momentos probabilísticos (média e feito o cálculo do índice de confiabilidade β
variância) a partir de uma função geradora de (Equação 8) para que, através do gráfico
momentos. Esta função vem das análises apresentado na Figura 1, seja obtida a
determinísticas da permutação dos valores probabilidade de ruptura.
médios dos parâmetros envolvidos no cálculo do
FS, acrescidos e diminuídos do desvio padrão ̅̅̅̅ − 1
𝐹𝑆 (8)
(FABRÍCIO, 2006). Esta técnica cria a 𝛽=
𝜎𝐹𝑆
necessidade de 2n análises determinísticas, onde
n é o número de variáveis atuantes.
Logo, para encontrar os valores de xi+ e xi-, 3 LOCAL DE ESTUDO
utilizam-se a Equação 1 e a Equação 2,
respectivamente. Na cidade de Juiz de Fora os casos de ruptura em
taludes naturais são frequentes, principalmente
𝑥𝑖+ = 𝐸 [𝑥𝑖 ] + 𝜎𝑥𝑖 (1) nos períodos de maior pluviosidade (G1, 2016),
visto que a cidade possui relevo bastante
𝑥𝑖− = 𝐸 [𝑥𝑖 ] − 𝜎𝑥𝑖 (2) acidentado. Portanto, tem-se a necessidade de
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estudos mais aprofundados sobre o 4.3 Parâmetros Estatísticos


comportamento dos solos desta região,
principalmente, em condições de elevado grau Os valores médios dos parâmetros de resistência
de saturação. nos ensaios de cisalhamento direto foram
O talude em estudo está localizado na via que determinados por regressão linear no formato
dá acesso à Pró-Reitoria de Infraestrutura y = ax + b, onde o coeficiente angular “a” é a
(PROINFRA) da UFJF, sendo formado por solo tangente do ângulo de atrito e a variável
residual maduro poroso, típico da região urbana independente “b” é o valor do intercepto coesivo.
de Juiz de Fora. A Figura 4 mostra o talude que Para a determinação desta reta, foi utilizada a
apresenta 3 m de altura e inclinação de 57º ferramenta Excel do pacote Office.
(1H:1,5V), em que foram coletadas as amostras. O erro médio quadrado foi obtido através da
Equação 9.

∑N
i=1(Si − S)² (9)
MSE =
N−2

Onde:
MSE é o erro médio quadrado;
Si é a tensão cisalhante máxima medida em cada
ensaio;
S é tensão cisalhante obtida na reta de regressão
para determinada tensão normal;
N é o número de determinações experimentais.

A média das tensões normais foi obtida


através da Equação 10.
Figura 4 - Talude PROINFRA (OLIVEIRA JÚNIOR,
2016). ∑N
i=1 σ𝑖 (10)
σ𝑚 =
N
4 METODOLOGIA Onde:
σm, é a tensão normal média;
4.1 Ensaios de Cisalhamento Direto σi, a tensão normal na posição i.

Foram realizados ensaios de cisalhamento direto As variâncias do intercepto coesivo (Vc) e da


considerando as etapas de saturação, tangente do ângulo de atrito (V[tgϕ]) foram
adensamento e cisalhamento. As tensões obtidas a partir das Equações 11 e 12.
normais utilizadas foram de 25 kPa, 50 kPa e
100 kPa, de acordo com os níveis de tensão de 1 σ𝑚
campo. Os dados de força e deslocamentos V𝑐 = MSE [ + N ] (11)
N ∑i=1(σ𝑖 − σ𝑚 )²
foram coletados por aquisição automática.
MSE
4.2 Método Determinístico V[tgϕ] =
∑N
I=1(σ𝑖 − σ𝑚 )² (12)

O fator de segurança foi obtido através da Os desvios padrões do intercepto coesivo (σc),
ferramenta computacional Slope/W do pacote da tangente do ângulo de atrito (σtg) e do ângulo
GeoStudio 2007, utilizando os parâmetros de atrito (σ) foram determinados através das
médios de resistência (c, ∅). equações 13, 14 e 15, respectivamente.
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σ𝑐 = √V𝑐 (13) desvios apresentadas na Tabela 2, que traz como


resultado os fatores de segurança (FS++, FS+_, FS_+
σtgϕ = √V[tgϕ] (14) e FS__) considerando as quatro análises advindas
dessas duas variáveis.
σϕ = σtgϕ (cosϕ)² (15)
Tabela 2 - Estimativas Pontuais Aplicadas à Estabilidade
de Taludes (FLORES, 2008).
O coeficiente de variação, que pode ser obtido Fator de
a partir da Equação 16, é a relação entre o desvio Análise Valor de c Valor de ∅
Segurança
padrão e a média aritmética da variável em 1 c+ σc ∅ + σϕ FS++
questão. O mesmo serve para analisar a 2 c + σc ∅ - σϕ FS+_
dispersão dos dados em relação à média. 3 c – σc ∅ + σϕ FS-+
Segundo Fonseca e Martins (2008) há duas 4 c – σc ∅ - σϕ FS__
considerações possíveis. A primeira considera
dispersão baixa quando o valor de CV for de até A seguir, calculou-se a variância do fator de
10%; média, entre 10% e 20%; e grande, quando segurança através da Equação 6 e o desvio
for maior que 20%. Já a segunda considera padrão pela Equação 7. Assim, com a
dispersão baixa quando o CV for até 15%; disponibilização de todos os dados necessários,
média, entre 15% e 30% e alta, quando for maior calculou-se o índice de confiabilidade pela
que 30%. Equação 8 e obteve-se a probabilidade de ruptura
𝜎 com base na Figura 1, considerando a curva de
𝐶𝑉 = . 100 (16) distribuição normal.
𝑥̅

O coeficiente de correlação (r) mede o quanto


5 RESULTADOS
o modelo de regressão linear, encontrado através
do Excel (y = ax + b) pode explicar a variação de
Os resultados apresentados ser referem aos
y (DEVORE, 2006). Ele é obtido através da raiz
ensaios realizados por Oliveira Júnior (2016) e
quadrada do “r2” fornecido pela ferramenta
aos novos ensaios feitos pelos autores para este
Excel. Segundo Bisquerra et al. (2004), a Tabela
trabalho. Na Tabela 3 apresentam-se os índices
1 fornece uma classificação que possibilita a
físicos médios dos corpos de prova antes do
interpretação do valor do coeficiente de
ensaio de cisalhamento direto.
correlação (r).
Tabela 3 – Média dos índices físicos dos corpos de prova
Tabela 1 - Interpretação do valor do coeficiente de após moldagem (OLIVEIRA JÚNIOR, 2016 e
correlação (BISQUERRA et al., 2004.). AUTORES, 2018).
Coeficiente Interpretação ρnat w ρd ρs e S
r = 1,0 Correlação perfeita (g/cm3) (%) (g/cm3) (g/cm3) (%)
0,80 < r < 1,0 Muito alta 1,69 23,4 1,37 2,82 1,07 62,4
0,60 < r < 0,80 Alta ρnat, ρd, ρs - massas específicas, natural, seca e dos sólidos;
0,40 < r < 0,60 Moderada w - teor e umidade; e - índice de vazios; S - grau de saturação.
0,20 < r <0,40 Baixa
0,00 < r < 0,20 Muito baixa Os resultados dos ensaios de cisalhamento
r = 0,0 Nula
direto estão apresentados nas Figuras 5 e 6. Nota-
se que, para a maioria dos ensaios, os resultados
4.4 Método Probabilístico
não apresentaram pico de tensão, nem
comportamento dilatante.
Neste trabalho foi utilizado o método das
estimativas pontuais, sendo que, como o número
de variáveis é igual a 2 (c e ∅), foram realizadas
4 análises conforme combinações de média e
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CP1 - 25 kPa
CP4 - 50 kPa
CP2 - 25 kPa
CP5 - 50 kPa
CP 3 - 25 kPa
CP6 - 50 kPa Tabela 4 – Dados dos CP’s pós ensaio (OLIVEIRA
65 CP7 - 100 kPa CP8 - 100 kPa CP9 - 100 kPa JÚNIOR, 2016 e AUTORES, 2018).
Solo na condição inundada
55
σ0 wi wf S σr τr
Tensão Cisalhante (kPa)

CP τ/σ
45 (kPa) (%) (%) (%) (kPa) (kPa)
1 25 23,7 33,4 97 25,1 40,3 1,61
35
2 25 7,7 40,6 100 25,4 16,7 0,66
25 3 25 24,0 37,9 100 25,14 28,55 1,13
4 50 23,4 35,4 100 50,0 47,1 0,94
15
5 50 23,5 35,6 96 50,0 43,5 0,87
5 6 50 23,6 38,6 100 50,3 23,0 0,46
-5 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 7 100 24,3 39,3 100 100,1 55,9 0,57
Deslocamento Horizontal (cm) 8 100 23,2 34,54 89 106,4 59,83 0,56
9 100 12,4 38,2 91 106,67 60,55 0,57
Figura 5 - Tensão cisalhante versus Deslocamento
horizontal (OLIVEIRA JÚNIOR, 2016 e AUTORES,
2018). Os parâmetros médios de resistência obtidos
foram intercepto coesivo de 18,81 kPa e ângulo
CP1 - 25 kPa
CP4 - 50 kPa
CP2 - 25 kPa
CP5 - 50 kPa
CP3 - 25 kPa
CP6 - 50 kPa de atrito correspondente a 21°.
CP7 - 100 kPa CP8 - 100 kPa CP9 - 100 kPa
0,05 Ressalta-se que a correlação apresentou r² de
0,70 e, consequentemente, r de 0,84, indicando
Deslocamento Vertical (cm)

0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 correlação alta (Tabela 1). Este fato decorre
-0,05 provavelmente da heterogeneidade estrutural do
solo, no qual foi observada macroporosidade
-0,1
marcante.
-0,15

5.2 Análise Determinística


-0,2
Deslocamento Horizontal (cm)
A Figura 8 mostra o fator de segurança (FS)
Figura 6 – Deslocamento vertical versus Deslocamento obtido com o uso da ferramenta computacional
horizontal para a condição inundada (OLIVEIRA GEOSLOPE utilizando os dados médios de c
JÚNIOR, 2016 e AUTORES, 2018). (18,81 kPa) e ∅ (21°) determinados pela
envoltória de resistência para o solo na condição
A Figura 7 mostra a envoltória de resistência inundada, obtidos da Figura 7.
determinada a partir dos dados de ruptura dos Observa-se que o FS foi de aproximadamente
corpos de prova apresentados na Tabela 4. 2,50, que é acima do fator de segurança mínimo
de 1,2 sugerido pela ABNT (2009), para o local
y = 0,3824x + 18,807
R² = 0,6977
em questão.
70
Tensão Cisalhante (kPa)

60
50
40
Cota (m)

30
20
10
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Tensão Normal (kPa)

Figura 7 – Envoltória para CP’s com grau de saturação


acima de 89% (OLIVEIRA JÚNIOR, 2016 e AUTORES, Distância (m)
2018). Figura 8 - Fator de Segurança (FS) – Com valores médios
de c e ∅ (AUTORES, 2018).
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5.3 Análise Estatística ângulo de atrito é de 19,5°, sendo a condição


mais desfavorável para esse caso, fornecendo um
A Tabela 5 apresenta a média, variância, desvio fator de segurança de 2,08 (Figura 9-D).
padrão e coeficiente de variação para as variáveis
intercepto coesivo, tangente do ângulo de atrito
e ângulo de atrito para os ensaios na condição
inundada.

Tabela 5 - Análises estatísticas para os ensaios na condição


inundada (AUTORES, 2018).
Variável Média Variância Desvio Coeficiente
Padrão de variação
(%)
c’(kPa) 18,8 10,2 3,2 17,0
tg∅’ (rad) 0,38 0,01 0,1 18,4
∅ (°) 21,0 2,3 1,5 7,1

Observa-se que, para estes ensaios, o


coeficiente de variação (CV) para o intercepto
coesivo (c) e para o ângulo de atrito (∅) são
respectivamente 17,0% e 7,1%. Estes resultados,
quando analisados pela primeira e pela segunda
considerações apresentadas, apontam dispersão Figura 9 - Fatores de Segurança das análises
média para o intercepto coesivo e dispersão probabilísticas dos ensaios na condição inundada: (A)
baixa para o ângulo de atrito. análise1; (B) análise 2; (C) análise 3 e (D) análise 4
(AUTORES, 2018).

5.4 Análises Probabilísticas


A partir dos fatores de segurança encontrados
nas análises da Figura 9, foi possível calcular o
A Tabela 6 apresenta os valores de intercepto ̅̅̅̅) e o desvio padrão do FS (𝜎𝐹𝑆 )
FS médio (𝐹𝑆
coesivo e ângulo de atrito, segundo os tipos de
para, então, determinar o índice de
análise indicados por Flores (2008) na Tabela 2.
confiabilidade β que foi de 4,36 (Tabela 7). Para
A Figura 9 apresenta os dados obtidos após
este índice de confiabilidade, a probabilidade de
verificação no programa GEOSLOPE com o
ruptura do talude de corte foi de 8 x 10-6. Com
talude na condição estável (1H:1,5V) para a
base no gráfico da Figura 2, esta probabilidade
análise determinística.
de ruptura indica condição entre boa e alta.
Tabela 6 - Análise probabilística dos ensaios na condição
inundada (AUTORES, 2018). Tabela 7 – Parâmetros probabilísticos para condição
inundada (AUTORES, 2018).
Análise c (kPa) ∅ (°) FS
̅̅̅
𝐹𝑆̅ ̅̅̅̅ )²
(𝐹𝑆 𝜎𝐹𝑆 β Prob.
1 22,0 22,5 2,84
Ruptura
2 22,0 19,5 2,72
3 15,6 22,5 2,11 2,44 6,06 0,33 4,36 8 x 10-6
4 15,6 19,5 2,08

Para a análise 1, onde os parâmetros são


favoráveis, ou seja, o intercepto coesivo é 6 CONCLUSÕES
máximo (22,0 kPa) e o ângulo de atrito também
é máximo (22,5º), o resultado do fator de Foi apresentada a análise de um talude
segurança foi de 2,84 (Figura 9-A). Para a localizado na UFJF com a utilização do método
análise 4, o intercepto coesivo é de 15,6 kPa e o probabilístico. A partir dos resultados obtidos,
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foi possível tirar algumas conclusões. Jeronymo, da UFJF, pela disponibilidade na


A inclinação atual do talude confere a este um retirada de amostras e auxílio nos ensaios.
fator de segurança (FS) acima do previsto por Agradecem também ao Programa Jovens
norma para a análise determinística com os Talentos para a Ciência/CAPES pelo auxílio
parâmetros médios de resistência. financeiro, sem o qual seria impossível a
Para os valores médios dos parâmetros de conclusão deste trabalho.
resistência, foram obtidos ângulo de atrito de 21°
e intercepto coesivo de 18,8 kPa.
Com relação ao coeficiente de variação (CV) REFERÊNCIAS
obtido das análises estatísticas, nota-se que tanto
do ângulo de atrito, quanto o intercepto coesivo ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2009). NBR 11682 - Estabilidade de Encosta. Rio de
indicam dispersão de baixa a média. Analisando Janeiro, RJ, BR. 30 p.
o coeficiente de correlação de Pearson obtido Bisquerra, R.; Sarriera, J.C. e Martinez, F. (2004).
através da reta média, observa-se que o Introdução à Estatística: Enfoque informático com o
coeficiente de correlação implica em correlação pacote estatístico SPSS. [tradução Fátima Murad].
alta. Porto Alegre: Artmed.
Costa, E.A. (2005). Avaliação de Ameaças e Risco
Com relação às análises probabilísticas, o FS Geotécnico Aplicado à Estabilidade de Taludes.
médio foi de aproximadamente 2,44, com desvio Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
padrão de aproximadamente 0,33. O índice de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 159p.
confiabilidade foi de 4,36, implicando numa Devore, J.L. (2006). Probabilidade e Estatística: para
probabilidade de ruptura de 8,0 x 10-6. Quanto à Engenharia e Ciências. 6ª ed., [tradução Joaquim
Pinheiro Nunes da Silva], São Paulo: Pioneira
segurança, conclui se, que este talude se encontra Thomson Learning.
em condição de boa para alta, segundo critérios Fabrício, J.V.L. (2006). Análises Probabilísticas da
do USACE (1995), o qual recomenda valores de Estabilidade de Taludes e Contenções. Dissertação
probabilidade de ruptura de 3x10-5 como níveis de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica, Rio
aceitáveis de performance para taludes. de Janeiro, 170 p.
Flores, E.A.F. (2008). Análises Probabilísticas da
Quando analisado segundo Wolff (1996), o Estabilidade de Taludes considerando a
talude também se encontra em condição Variabilidade Espacial do Solo. Dissertação de
aceitável. Além disso, o valor encontrado neste Mestrado, Pontifícia Universidade Católica, Rio de
trabalho se encontra acima do valor mínimo Janeiro, 170 p.
considerado por Sandroni e Sayão (1992). No Fonseca, J.S. e Martins, G.A. (1996). Curso de Estatística.
6ª ed., São Paulo: Atlas.
entanto, há de se ressaltar que os taludes GEO-SLOPE. Slope/W for slope analysis – User’s guide.
estudados por Sandroni e Sayão (1992) se GEOSLOPE International Ltd., Canadá, 2007.
diferem deste por aquele estudar taludes de Guedes, M.C.S. (1997). Considerações sobre análise
minas e este autor estar estudando taludes probabílística da estabilidade de taludes. Dissertação
advindos de solo residual maduro poroso. de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica, Rio
de Janeiro, 146 p.
Neste trabalho foi possível constatar a G1-Zona da Mata. (2016). Rodovias continuam
principal vantagem do uso de métodos interditadas na Zona da Mata e Vertentes após
probabilísticos na análise de estabilidade de chuvas. 29 de janeiro de 2016. Disponível em:
taludes, que é a possibilidade de considerar a http://g1.globo.com/mg/zona-da-
variabilidade dos parâmetros de resistência do mata/noticia/2016/01/rodovias-continuam-
interditadas-na-zona-da-mata-e-vertentes-apos-
solo, o que não é possível com o uso do método chuvas.html. Acesso em 03 de junho de 2016.
determinístico. Oliveira Júnior, M.R. (2016). Análise de Estabilidade de
Taludes Por Método Probabilístico. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia
AGRADECIMENTOS Civil), Universidade Federal de Juiz de Fora, 68 p.
Rezende, D.A. (2013). Análise Probabilística de
Estabilidade de Taludes em Barragens de Rejeitos.
Os autores agradecem ao técnico Lázaro Lopes Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
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Engenharia Civil), Universidade Federal do Rio de


Janeiro, 96 p.
Rosenblueth, E. (1975). Point Estimates for probability
moments. Proceedings of the National Academy of
Science, United States of America, Vol. 72, n° 10, pp.
3812-3814.
Sandroni, S.S. e Sayão, A.S.F.J. (1992). Avaliação
Estatística do Coeficiente de Segurança de Taludes.
In: 1ª Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas, I COBRAE, ABMS, Rio de Janeiro, pp.
523-536.
Silva, C.C. (2015). Análise de estabilidade de um talude
da cava de Alegria utilizando abordagem
probabilística. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Ouro Preto, 134 p.
USACE - U. S. Army Corps of Engineers. (1995).
Introduction to Probability and Reliability Methods
for Use in Geotechnical Engineering. Engineering
Technical Letter ETL 1110-2-547, Department of the
Army, USACE, Washington D.C.
Wolff, T.F. (1996). Probabilistic Slope Stability in Theory
and Practice. Invited Paper, In: Uncertainty in the
Geologic Environment: From Theory to Practice,
Proceedings of Uncertainty ’96, ASCE Geotechnical
Special Publication, N. 58, ASCE, USA, pp. 419-433.
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Análise Probabilística da Estabilidade de Talude na Mina do
Cauê
Andrea Nascimento Vecci
PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, vecci@aluno.puc-rio.br

Ana Luiza Rossini V. de Oliveira


PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, anarossini@aluno.puc-rio.br

Alberto S. F. J. Sayão
PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, sayao@puc-rio.br

RESUMO: Na prática geotécnica atual de estudos de estabilidade de taludes, é usual realizar


apenas uma análise determinística para obter o valor do fator de segurança (FS). Esta análise é
simplificada, pois o valor de FS desconsidera a variabilidade natural das características dos solos,
o que pode levar a resultados pouco confiáveis sobre a segurança do talude. Análises
probabilísticas baseadas em conceitos de estatística e probabilidade passam a ser mais frequentes,
pois incorporam a variabilidade dos materiais. Sandroni e Sayão (1992) sugerem utilizar o método
FOSM (método de análise probabilística First Order Second Moment) com base no método
simplificado de Bishop (1955) para estimar a probabilidade de ruptura (Pr), mantendo fixa a
superfície crítica de ruptura indicada na análise determinística inicial. O presente trabalho
apresenta análises determinísticas e probabilísticas de um talude com 200m de altura da Mina do
Cauê, em Itabira, Minas Gerais. Baseado no estudo realizado por Vecci (2018) sobre o efeito da
fixação da superfície crítica determinística no valor de Pr pelo método FOSM, o mesmo aspecto é
aqui investigado para o método probabilístico das Estimativas Pontuais (EP), sugerido por
Rosenblueth (1975). Os resultados mostram que a fixação da superfície crítica afeta os resultados
das análises. Os valores de Pr com métodos rigorosos de equilíbrio limite (Spencer, 1967 ou
Morgenstern-Price, 1965), com as superfícies de ruptura variando livremente, foram maiores do
que quando a superfície foi mantida fixa. É importante notar que o método de equilíbrio limite
selecionado tem influência marcante no valor de probabilidade de ruptura do talude da mina. Os
resultados obtidos pelo método EP são comparados com os do método FOSM reportados por Vecci
e Sayão (2018), visando à indicação do procedimento de análise probabilística mais adequado a
estudos da estabilidade de taludes.

PALAVRAS-CHAVE: Probabilidade de Ruptura, Índice de Confiabilidade, Talude de Mineração,


Mina do Cauê, FOSM, Estimativas Pontuais.
 
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1- INTRODUÇÃO Além do FOSM, outros métodos
  probabilísticos podem ser empregados para
avaliar a estabilidade geotécnica. Os mais
A variabilidade intrínseca dos materiais
usuais são Monte Carlo e Estimativas
geotécnicos, dificulta a realização de análises
Pontuais. Este trabalho avalia a influência da
que reproduzam o comportamento real de
fixação da superfície crítica nas análises por
campo. Na prática atual, são usuais apenas
Estimativas Pontuais, com os métodos de
análises determinísticas, que simplificam a
equilíbrio limite de Bishop (1955), Spencer
complexidade inerente à heterogeneidade do
(1967) e Morgenstern-Price (1965).
terreno. O valor de FS crítico é o resultado
típico das análises determinísticas, cujos
1.1 - Índice de confiabilidade ( )
procedimentos consideram apenas os valores
médios dos parâmetros geotécnicos, obtidos A grandeza a ser obtida em uma análise
de ensaios pontuais, que desprezam a probabilística geotécnica é o índice de
variabilidade natural dos materiais, cujas confiabilidade , definido na equação [1],
características geotécnicas deveriam ser que permite a estimativa da probabilidade de
tratadas como variáveis aleatórias. ruptura do caso geotécnico investigado.
Para suprir esta deficiência dos estudos
determinísticos, análises probabilísticas vêm
sendo utilizadas há algumas décadas [1]
(Sandroni e Sayão, 1992; Dell’Avanzi, 1995;
Guedes, 1997). Araújo (2018) apresentou um
estudo probabilístico recente sobre a Nesta expressão, FS = valor determinístico de
segurança de talude de barragem. A inserção FS, e σ FS = desvio padrão de FS.
de parâmetros estatísticos na análise permite Com o valor calculado do índice e o
decisões mais confiáveis sobre a estabilidade conhecimento do tipo de distribuição de
do talude. A depender do método probabilidade (Normal ou Log-Normal) da
probabilístico adotado, é possível estimar o função de FS[X], pode-se estimar o valor de
valor de Pr de um talude, e a influência Pr, como indica a Figura 1.
relativa de cada variável geotécnica na
estabilidade. Apesar de ainda pouco usual, a
realização conjunta de estudos
determinísticos e probabilísticos deve ser
recomendada, para permitir uma avaliação
simples, objetiva e confiável da segurança em
problemas geotécnicos.
Sandroni e Sayão (1992), recomendam o
uso do método FOSM (First Order Second
Moment), reportado por Christian et al.
(1992) com para estimar o valor da
probabilidade de ruptura (Pr), mantendo fixa
a superfície crítica de ruptura indicada na Figura 1- Índice de confiabilidade x probabilidade de
análise determinística inicial com o método ruptura (Dell’Avanzi e Sayão., 1998).
de Bishop (1955).
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1.2 - Método de Estimativas Pontuais talude até uma horizontal a 80m abaixo da
crista (Figura 3). A segurança deste mesmo
talude foi anteriormente estudada por
Sugerido por Rosenblueth (1975), o método
Sandroni e Sayão (1992) e Sayão et al (2012).
EP é um procedimento indireto de
Um resumo dos parâmetros médios e dados
aproximação numérica da média e variância
estatísticos é apresentado na Tabela 1. A
da variável aleatória de interesse e permite a
partir desses dados, é feita a análise
estimativa dos dois primeiros momentos
probabilística da estabilidade do talude pelo
probabilísticos de uma função F(X) sem o seu
método EP com os métodos de Bishop
conhecimento explícito, com base nos
(1955), Spencer (1967) e Morgenstern-Price
primeiros momentos das variáveis aleatórias
(1965).
. Isto é possível a partir de uma função
geradora de momentos que é definida
realizando-se um número de análises
determinísticas igual a 2 , sendo n o número
de parâmetros considerados variáveis. Nestas
análises, o valor médio de cada variável é
acrescido ou reduzido de seu desvio padrão,
e o resultado é obtido com todas as
combinações possíveis, para gerar valores
para a função F(X).
Nos casos com apenas dois parâmetros
variáveis, a média de FS é obtida pela
equação 2:

Figura 2- Vista aérea da Mina do Cauê em Itabira,


[2] MG

onde a notação indica o valor de FS


com os dois parâmetros variáveis acrescidos
simultaneamente dos respectivos desvios
padrão.
A partir da média, encontra-se a variância
de FS, pela equação 3:

[3]

2- ESTUDO DE CASO

O presente trabalho apresenta uma reanálise


de um talude de mineração localizado no
Complexo Itabira, Minas Gerais, ilustrado na
Figura 2. O talude tem 200m de altura, 34° de Figura 3 - Seção típica do talude de solo saprolítico
inclinação média e nível freático definido por da Mina do Cauê (Sayão et al, 2012).
uma reta inclinada que se estende do pé do
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Tabela 1- Parâmetros geotécnicos e estatísticos do
talude da Mina do Cauê (Sandroni e Sayão, 1992).
Desvio
Média Variância
Parâmetro Padrão
( )
( )
Peso específico
acima do NA - ɣ 28,3 1,96 1,4
(kN/
Peso específico
abaixo do NA- ɣ 29 1,96 1,4
(kN/ Figura 4 – Superfície crítica de ruptura fixa indicada
Coesão - c’ (kPa) 25 590,0 24 por Morgenstern-Price. Análise pelo método EP.

Tangente do ângulo
0,781 0,0072 0,09
de atrito - Φ’
Tabela 2- Análises probabilísticas pelo método EP
Nível d’água - u 120 400 20
β PR
Método de
FS Deter-
Equilíbrio
minístico sup sup sup sup
Limite
livre fixa livre fixa
3- ANÁLISES E RESULTADOS Bishop
Simplificad 1,26 1,61 1,44 1:20 1:14
As análises EP foram feitas considerando o
apenas três variáveis aleatórias (c’, Φ’, e u), Spencer 1,26 1,48 1,21 1:14 1:9
visto que Sandroni e Sayão (1992)
constataram que os parâmetros ɣ , ɣ são Morg-Price 1,26 1,61 1,43 1:19 1:13
variáveis de pouca influência neste caso
específico. Como cada análise no método EP
gera um valor de Pr, foram realizadas 2 4 - COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES
análises de Estimativas Pontuais para cada
método de equilíbrio limite, para investigar a O método EP mostrou-se sensível à fixação
influência da fixação da superfície crítica de da superfície crítica de ruptura determinística
ruptura determinística nas análises nas análises realizadas com os métodos de
probabilísticas. Três métodos de equilíbrio Bishop, Spencer, e Morgenstern-Price. Este
limite foram considerados: Bishop resultado difere do observado nas análises
Simplificado (1955), Spencer (1967) e FOSM reportadas por Vecci (2018), que
Morgenstern-Price (1965). A figura 4 ilustra observou resultados similares de quando a
a análise por Estimativas Pontuais feita com superfície crítica foi mantida fixa ou livre.
a fixação da superfície crítica de ruptura No método das Estimativas Pontuais, foi
indicada na análise determinística inicial por confirmada a variação do índice de
Morgenstern-Price. Os resultados das confiabilidade (β) em função do método de
análises por Estimativas Pontuais são equilíbrio limite adotado, em especial quando
apresentados na Tabela 2. As variáveis a superfície crítica pode variar livremente.
estudadas neste trabalho são consideradas Devido a essa sensibilidade do método EP em
independentes entre si e com distribuição relação à superfície de ruptura adotada, o
normal (Dell’Avanzi, 1995). O índice foi método FOSM deve ser considerado a
calculado pela equação [1] e o valor de Pr foi melhor opção para análises probabilísticas de
obtido pela relação x Pr, apresentada na segurança, quando comparado aos demais
Figura 1. métodos.
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É importante ressaltar a função da análise de Taludes. Dissertação de mestrado,
probabilística de complementar a análise Departamento de Eng. Civil, PUC-Rio, 225p.
determinística, não devendo uma substituir a
outra. Morgenstern, N. R. e Price, V. E. (1965) –
The Analysis of the Stability of General Slip
Surfaces. Geotechnique, vol. 15 (1), pp. 79-
AGRADECIMENTOS 93.

À CAPES e FAPERJ, pelo apoio financeiro Rosenblueth, R.Y. (1975). Point Estimates
que viabilizou a realização das pesquisas na for Probability Moments. Proc. of the
PUC-Rio. Os autores agradecem também à National Academy of Sciences, Mathematics
Geoprojetos Eng. Ltda pela cessão de fotos e Section, vol. 72 (10), pp. 3812-3814.
informações sobre a Mina do Cauê.
Sandroni, S. S. e Sayão, A. S. F. J. (1992) -
Avaliação Estatística do Coeficiente de
REFERÊNCIAS
Segurança de Taludes. 1ª Cobrae -
Araújo, M. B. (2018) – Considerações sobre Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Análise Probabilística em Estabilidade de Taludes, ABMS, Rio de Janeiro, vol.2, pp.
Talude de Barragem. Dissertação de 523-535.
mestrado, Departamento de Eng. Civil, PUC- Sayão, A. S. F. J., Sandroni, S. S., Fontoura,
Rio, 65p. S. A. B., e Ribeiro, R. C. H. (2012) -
Considerations on the Probability of Failure
Bishop, A. W. (1955) - The use of slip circle
of Mine Slopes. Soils & Rocks, Vol. 35, N. 1, 
in the stability analysis of earth slopes.
pp. 31‐38.
Geotechnique, Inglaterra, v. 5, n. 1, pp. 7-17.
Spencer, E. (1967) – A Method of Analysis of
Christian, J. T., Ladd, C. C. e Baecher, G. B.
the Stability of Embankment Assuming Inter-
(1992) - Reliability Applied to Slope Stability
Slice Forces. Geotechnique, vol. 17, pp. 11-
Analysis. Journal of Geotechnical
26.
Engineering, ASCE, vol. 120 (12), pp. 2180-
2207. Vecci, A. N. e Sayão, A.S. F. J. (2018) -
Análise da Segurança de um Talude de
Dell’Avanzi, E. (1995) - Confiabilidade e
Mineração. 16 CNG, Congresso Nacional de
Probabilidade em Análises de Estabilidade de
Geotecnia, SPG, Ponta Delgada, Portugal,
Taludes. Dissertação de mestrado,
05p.
Departamento de Eng. Civil, PUC-Rio, 135p.
Vecci, A. N. (2018) - Métodos de Análise da
Dell’Avanzi, E. e Sayão, A. S. F. J. (1998) -
Segurança de um Talude de Mineração.
Avaliação da Probabilidade de Ruptura de Dissertação de mestrado, Departamento de
Taludes. XI Congresso Brasileiro de Eng. Civil, PUC-Rio, 81p.
Mecânica dos Solos e Eng. Geotécnica,
ABMS, Brasília, vol. II, pp. 1289-1295.

Guedes, M. C. S. (1997) - Considerações


sobre Análise Probabilística da Estabilidade
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Avaliação das áreas com predisposição à movimentação de massa


no município de Rio Paranaíba – Minas Gerais

Carolina Naves Ribeiro


Universidade Federal de Viçosa, Rio Paranaíba, Brasil, carolnaves1@gmail.com

Tárick Rodrigues Almeida Fernandes


Universidade Federal de Viçosa, Rio Paranaíba, Brasil, tarick92@hotmail.com

Lucas Martins Guimarães


Universidade Federal de Viçosa, Rio Paranaíba, Brasil, guimaraeslm@ufv.br

RESUMO: A ocupação desordenada das cidades causa problemas em diversas áreas de uma
comunidade, sejam eles sociais, econômicos, de saúde pública, habitacional, entre outras. Assim,
estes problemas tem sido alvo de estudos nos mais diversos âmbitos com o intuito de solucionar ou
mesmo mitigar tais transtornos. Sendo um deles a instalação de residências em locais inapropriados
para moradia, o presente trabalho aborda sobre a estabilidade de taludes na cidade de Rio Paranaíba-
MG. Mesmo se tratando de uma cidade com baixo número de habitantes (12.431), ela tem
enfrentado dificuldades com o processo de ocupação desordenada, possuindo residências em locais
que oferecem risco de movimentaçao de massa, criando um cenário de preocupação acerca da
segurança da comunidade. Isto advém da baixa infraestrutura e falta de fiscalização na execução de
obras na área urbana do município. Visto isso, por meio de levantamentos visuais prévios, foram
observados os locais que estavam em risco e sendo eles em sua maioria nos bairros Olhos D´agua e
Prado, o estudo foi direcionado para esta área. A avaliação dos taludes foi realizada de acordo com a
norma da ABNT NBR 11682 - Estabilidade de Encostas, preenchendo-se para cada um o Laudo de
Vistoria contido na mesma. O critério de avaliação qualitativa dos riscos foi o elaborado pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Unesp, o qual divide o grau de risco em quatro escalas,
sendo o risco R1 de menor potencialidade e gradativamente tem-se R4 o de maior. No total 10
taludes foram vistoriados e destes 10% encontra-se com risco R1, 30% sob R2, 30% sob R3 e 30%
sob R4. Conclui-se, a partir destes números, que uma intervenção em no mínimo seis destes deve
ser realizada com uma maior urgência, antecipando a ocorrência de algum tipo de desastre.

PALAVRAS-CHAVE: Vistoria, taludes, área de risco, Rio Paranaíba, NBR11682.

1 INTRODUÇÃO pessoas. Uma das formas para reduzir o impacto


de tais fenômenos na sociedade é a realização
Segundo MACHADO e ZACARIAS (2016) de gestão do risco, que tem inicialmente a
os movimentos de massa são fenômenos que avaliação do risco de deslizamentos.
ocorrem de formas diversas; rápidos ou lentos, Um movimento de massa, dependendo da
originados na natureza ou provocados pelo ser sua magnitude e do local em que ocorre, pode
humano. São influenciados por diversos agentes acarretar um prejuízo enorme para a região,
e têm causas diversas. Sua ocorrência pode ser tanto econômico, quanto social. Isso é
localizada ou generalizada. Podem trazer comprovado pelo fato de que segundo o
consequências econômicas, sociais, naturais e Ministério de Ciência e Tecnologia, por meio da
principalmente ameaçar a vida de milhares de secretaria e Políticas e Programas de Pesquisa e
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Desenvolvimento (2011), os deslizamentos de efetivos são os preparatórios (pluviosidade,


terra são a maior causa de mortes por desastres erosão por água e vento, variação de
naturais. temperatura e umidade, etc.) e imediatos (chuva
Os deslizamentos são a principal causa das intensa, vibrações, ação do homem, erosão,
mortes, correspondendo a 60%. No Brasil, entre terremotos, ondas, ventos, etc.). Já as
2008 e 2011, cerca de 2.500 pessoas morreram condicionantes antrópicas são a retirada de
devido a deslizamentos de terra. proteção superficial, a remoção da cobertura
Como consta no Anuário Brasileiro de vegetal, o lançamento e concentração de águas
Desastres Naturais (2012) elaborado pelo pluviais e/ou servidas, o vazamento na rede de
Ministério da Integração Nacional, Secretaria água e esgoto, a presença de fossas, a execução
Nacional de Defesa Civil e o Centro Nacional de cortes com alturas e inclinações
de Gerenciamento de Riscos e Desastres, de inadequados, a execução deficiente de aterros, a
todos os desastres causados por movimento de execução de aterros lançados e o lançamento de
massa, 91,89% desses ocorrem na região lixos nas encostas.
sudeste, sendo que aproximadamente 60% dos Um dos principais problemas relacionados a
mesmos no estado de Minas Gerais. Por moradia encontrado pelo Brasil é a denominada
consêquencia, tem-se na região sudeste, um ocupação desordenada do ambiente urbano.
total de 26 óbitos, 10 feridos, 2 enfermos, 1.129 Justificado pelo crescimento natural da
desabrigados, 2.687 desalojados e uma população e aos contigentes de pessoas que
totalidade de 123.115 afetados por tais migram para determinado local em busca de
desastres. oportunidades de emprego.
Movimentos de massa dificilmente ocorrem Sendo assim, no contexto atual das cidades,
sem que exista um motivo condicionante para existe uma grande heterogeneidade na maneira
isso e segundo ALESSANDER em que a população acaba se instalando no
CHRISTOPHER MORALES (2013) os fatores espaço urbano. Pela carência de oportunidades,
que influenciam diretamente para que estes gerada pela precariedade ou inexistência de
aconteçam são: acréscimo de tensões políticas públicas de moradia, as pessoas que
cisalhantes devido a movimentos de terra ou não possuem um devido poder aquisitivo se
ação antrópica, elevação do nível d’água, alocam em áreas geomorfologicamente
saturação de trincas e juntas existentes, vulneráveis, susceptíveis a tais movimentos de
percolação de água com dissolução dos massa.
elementos que formam a estrutura do solo (e.g. A preocupação com o estudo sobre maneiras
cimentação), saturação por frente de de prevenção aos desastres, métodos de análise
umedecimento, variando sua intensidade e de risco foram elaborados para que se
impacto de acordo com a recorrência das chuvas determinasse a necessidade ou não de
e carregamento de partículas de menor diâmetro intervenções. Foram criadas então as
e erosão subterrânea (pipping). metodologias de mapeamento de risco a
Segundo JANEZETE APARECIDA escorregamentos, LÍDIA KEIKO TOMINAGA
PURGATO MARQUES, (2011) as (2007), cita 3 métodos como os principais
condicionantes principais causadoras dos utilizados no Brasil. Os Mapas de
movimentos de massa são as naturais e as Suscetibilidade a Escorregamentos (BRABB et
antrópicas. As naturais se subdividem em al 1972), sendo eles elaborados por métodos
agentes predisponentes e efetivos, os empíricos (CAMPBELL, 1973), probabilísticos
predisponentes são os complexos (SAVAGE et al. 2004) ou determinísticos
geomorfológico (comportamento das rochas e (FERNANDES et al. 2001). Existem também
solo ao intemperismo) e hidrológico-climático os Mapas de Perigo a Escorregamentos, que
(inteperismo fisico-químico e químico) e os segundo Carrara, 1983, não se contém em uma
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única maneira de elaboração padronizada, intervenção no setor serem de alta


diferentes formas de confecção podem surgir potencialidade para o desenvolvimento de
decorrente da natureza de uma área ou de um processos de deslizamentos e solamentos. Os
projeto particular. Oriundos a este método sinais de instabilidade presentes são notáveis e
existem as metodologias qualitativas e as com isso caso sejam mantidas as condições
quantitativas. Coloca-se como o último dos existentes é perfeitamente possível que diante
considerados mais confiáveis e importantes os de episódios de chuvas intensas e prolongadas
Mapas de Risco a Escorregamentos causem algum tipo de movimento de massa. Ao
(EINSTEIN, 1988), o qual contém as descrições relatar sobre o R4, deve ter-se ciência sobre
usadas no presente trabalho para confecção dos intervenções urgentes, pois o risco abordado
resultados e discussões, a definição do grau de torna-se muito alto, então a potencialidade para
risco pelo método do IPT. que os deslizamentos venham a ocorrer é muito
O objetivo deste trabalho foi realizar um alta devido a grande presença de sinais e
levantamento de áreas com predisposição de evidências que indicam isso. E caso as
movimentação de massa na cidade de Rio condições existentes sejam mantidas é bem
Paranaíba- MG por meio de vistorias de acordo provável que os movimentos venham a
com a NBR11682 - Estabilidade de Encostas. acontecer podendo gerar grandes problemas e
Esta norma especifica os estudos relativos à impactos.
estabilidade de encostas e às minorações dos A cidade de Rio Paranaíba possui 105 anos
efeitos de sua instabilidade em áreas de emancipação e está localizada no interior do
específicas, pré-definidas, objetivando a estado de Minas Gerais, a 323 km da capital
definição das intervenções a serem analisadas e (Belo Horizonte) no sentido noroeste, na
discriminando os procedimentos indicados a mesorregião do Alto Paranaíba e Triângulo
seguir na elaboração de estudos e projetos, na Mineiro (Figura 1). O número de moradores
execução de obras ou serviços de implantação, estimados, segundo o IBGE, para o ano de 2016
no acompanhamento dos mesmos e na é de 12.431. Possui relevo predominantemente
manutenção de tais obras ou serviços. plano, com vegetação típica do cerrado, tem
Implementou-se também, a avaliação do como a principal atividade econômica a
risco pela metodologia criada pelo IPT agricultura, tendo grande destaque para as
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e Unesp, a culturas de café, soja, milho, cenoura, alho,
qual divide o grau de risco em quatro escalas. O batata e cebola. O setor imobiliário também é
R1, risco mais baixo, tem a sua potencialidade uma importante atividade na cidade, além do
para o desenvolvimento de processos de setor de bens e serviços. Como consta no site do
deslizamentos muito baixa ou quase nula e não Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a cidade
se encontra sinais de instabilidade da encosta e encontra-se em uma região de Minas Gerais
nem propensão para que isso ocorra. O R2 trata- onde a pluviometria anual média fica em torno
se de um risco médio, a potencialidade para o dos valores de 1500 a 1600 mm/ano.
desenvolvimento de processos de deslizamentos
já é considerável, porém nada que seja
alarmante, da mesma forma que existem sinais
de falhas que podem causar a instabilidade do
talude, mas que ainda estão de maneira branda e
que não causam risco iminente. A preocupação
deve aumentar quando atinge-se o nível R3,
onde o risco já é considerado como alto devido
aos condicionantes geológicos-geotécnicos
Figura 1. Localização do Município de Rio Paranaíba -
(inclinação, tipo de terreno, etc.) e o nível de MG.
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Este estudo justifica-se, uma vez que um dos discriminando os procedimentos indicados a
problemas enfrentados pelo município é a seguir na elaboração de estudos e projetos, na
ocupação desordenada, essa que acontece execução de obras ou serviços de implantação,
devido ao contingente de pessoas que procuram no acompanhamento destes e na manutenção de
emprego nas lavouras do município, instalando- tais obras ou serviços. Esta norma prescreve
se na área urbana onde não existe planejamento condições específicas, para estudos e para obras
do espaço físico. em taludes indivíduais.” Sendo assim, o
Apesar do relevo ser predominantemente presente trabalho, fez o uso da mesma para que
plano, na região periférica da cidade encontram- com o levantamento de dados quantitativos e de
se habitações instaladas à beira de taludes em relatório fotográfico pudessem levar as
situações de risco, com ausência de conclusões sobre o que deveria e poderia ser
planejamento, infraestrutura adequada e carente feito nas localidades. Para tal, realizaram-se
de apoio técnico. Perante ao fato abordado, vistorias técnicas nas regiões que apresentavam
tornou-se necessário uma avaliação dos locais condições de risco (bairro Olhos D’água e
de risco para a tomada das devidas precauções Prado) e definiu-se dez taludes que
ou intervenções, afim de que não ocorra apresentavam situação de maior risco. As áreas
nenhum tipo de desastre que venha a causar vistoriadas foram escolhidas mediante estudo
danos a população. visual prévio, onde detectou-se que na
Algumas operações poderiam ser realizadas localidade existia um grande número de taludes
para que fosse possível a solução total ou ao com predisposição ao movimento de massa e
menos parcial dos problemas supracitados. Uma que caso os mesmos viessem ao colapso
delas, de maneira mais rápida, é uma intensa e causariam problemas de âmbito econômico e
periódica fiscalização. Outra forma de se social para o município e os moradores. Tal
controlar a ocupação de locais de risco, seria a estudo foi concebido no início do ano de 2016,
efetivação de um plano diretor, o qual por nos meses de março a abril e as vistorias
pesquisa não foi constatado a existência, e que técnicas foram durante os meses de junho a
fosse deferido uma diretriz específica para setembro de 2016.
prevenção de acidentes relacionados ao tema A primeira análise foi definir a localização
deste artigo. A junção das duas seria realmente do talude (endereço e ponto de referência) para
o ideal para um cenário de tranquilidade acerca posteriormente, utilizando o software Google
do decorrido. Maps, achar a localidade na imagem de satélite
Para tanto, discorreu-se sobre os riscos os e as coordenadas UTM, referenciando o local
quais são encontrados na cidade de Rio com pontos no mapa, para uma visão espacial
Paranaíba, oriundos da ocupação desordenada, e do lugar do talude.
definindo a magnitude de cada um deles, pode As características geométricas dos taludes
ser feita uma estimação da urgência das (altura e largura) foram determinadas com o
providencias a serem tomadas. auxílio de uma trena e cálculo de médias, a
partir dos dados coletados da geometria do
talude foi usado o teorema de Pitágoras, por
2 METODOLOGIA meio de relações matemáticas, para definir a
inclinação.
A NBR 11682- Estabilidade de Encostas, diz Quanto à composição do talude (vegetação,
que: “Esta Norma especifica os estudos drenagem, relevo, condição de saturação e
relativos à estabilidade de encostas e às natureza do material) análises tácteis e visual
minorações dos efeitos de sua instabilidade em foram realizadas, por meio do conhecimento
áreas específicas predefinidas, objetivando a prévio da região de Rio Paranaíba e estudos
definição das interveções a serem analisadas e desenvolvidos no próprio local determinou-se
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os componentes de cada um. Sendo assim, chuvosa. A partir dessa escala torna-se possível
houve a possibilidade de registrar todos esses distinguir qual é a urgência de medidas de
dados do talude de forma contextualizada. correção e/ou contenção para que nenhum deles
A determinação de outros aspectos locais foi venha causar algum tipo de prejuízo para a
feita a partir da concepção do que se encontrava população.
no local, desde o tipo de ocupação (favela, área
urbana estruturada, etc.) até a densidade da Tabela 1. Mapeamento de riscos.
população (alta, média, baixa). Tais análises Riscos 1 2 3
R1 Baixa Nenhuma Não
foram feitas para que houvesse uma base de
R2 Média Alguma Reduzida
peculiaridades para especificar detalhes da R3 Alta Significativo Possível
localidade em que se encontrava o talude. R4 Muito Expressiva Muito
De acordo com os dados obtidos na primeira Alta Provável
parte do parecer da vistoria foi feito o
preenchimento da segunda parte do laudo, parte
que abrange as características da situação, se A partir dessas classificações dos graus de
ocorreu movimento (data, hora, volume, risco, dos laudos de vistorias, das análises
pluviometria), se há possibilidade de visuais e do relatório fotográfico foi possível
movimento (grau de risco e número de classificar cada um dos taludes em suas
elementos em risco) e por fim, a tipologia do respectivas zonas de risco.
movimento (queda/rolamento, tombamento,
escorregamento, escoamento) caso tenha
acontecido. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Outro item do laudo de vistoria é a
necessidade de providências urgentes, após Seguindo a norma vigente, ABNT NBR
analisar todos os itens anteriores, é viável 11682 – Estabilidade de encostas, cada um dos
especificar ou não tais medidas, descrevendo a dez talude foi detalhado com base no Laudo de
situação, em questão, para uma posterior Vistoria (localização, aspectos locais,
intervenção das autoridades. características específicas) seguido do relatório
Finalizando o estudo, os taludes foram fotográfico dos taludes.
submetidos a uma escala do grau de risco
individualmente para que pudesse ser feito um 3.1 Localização
registro sobre o risco real que cada um
apresenta. A tabela abrange os riscos R1, R2, Em coordenadas geográficas, segue a tabela
R3, R4 que se subdividem em descrições 1) com a localização dos taludes.
Condicionantes geológico-geotécnicos
predisponentes (inclinação, tipo de terreno, etc.) Tabela 2. Resumo da localização dos taludes.
Talude Latitude Longitude
e o nível de intervenção no setor, sua
1 19°11'13.9"S 46°14'47.2"W
potencialidade para o desenvolvimento de
2 19°11'25.2"S 46°14'39.2"W
processos de deslizamentos e solapamentos, em
3 19°11'27.7"S 46°14'29.5"W
2) Observa-se a sinal/feição/evidência (s) de
4 19°11'18.19"S 46°14'38.12"O
instabilidade e indícios de desenvolvimento de
5 19°11'18.25"S 46°14'36.50"O
processos de estabilização de encostas e de
6 19°11'13.11"S 46°14'48.53"O
margens de drenagens, em 3) Mantendo as
7 19°11'28.99"S 46°14'22.68"O
condições existentes, possibilidade de
8 19°11'29.61"S 46°14'26.96"O
ocorrência de eventos destrutivos durante
9 19°11'29.76"S 46°14'27.37"O
episódios de chuvas intensas e prolongadas, no
10 19°10'51.7"S 46°15'19.9"W
período compreendido por uma estação
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3.2 Aspectos locais dos taludes Tabela 5. Condição de drenagem.


Talude Condição de drenagem
1 Inexistente
Os aspectos locais dos taludes se classificam
2 Inexistente
quanto ao tipo de ocupação/densidade, ao tipo 3 Inexistente
de vegetação, a condição de drenagem e ao 4 Inexistente
relevo/perfil da encosta. 5 Inexistente
Quanto ao tipo de ocupação/densidade: 6 Inexistente
7 Inexistente
Tabela 3. Tipo de ocupação e densidade. 8 Inexistente
Talude Tipo de ocupação e 9 Inexistente
densidade 10 Inexistente
1 Favela com alta
densidade Quanto ao tipo de relevo e perfil da encosta:
2 Área urbana estruturada
de média densidade Tabela 6. Relevo e perfil da encosta.
3 Área urbana estruturada Talude Relevo/Perfil da
de média densidade encosta
4 Área não ocupada 1 Relevo ondulado /
5 Área não ocupada encosta retilínea
2 Relevo ondulado /
6 Favela com alta
Encosta côncava
densidade
3 Relevo Escarpado /
7 Área urbana estruturada
Encosta côncava
de média densidade
4 Relevo Ondulado /
8 Área urbana estruturada
Encosta Retilínea
de média densidade
5 Relevo Ondulado /
9 Área urbana estruturada
Encosta Retilínea
de média densidade
6 Relevo Escarpado /
10 Área não ocupada
Encosta Retilínea
7 Relevo Ondulado /
Quanto ao tipo de vegetação: Encosta Côncava
8 Relevo Suave / Encosta
Tabela 4. Tipo de vegetação. Convexa
Talude Tipo de vegetação 9 Relevo Suave / Encosta
Convexa
1 Rasteira esparsa
10 Relevo Suave / Encosta
2 Rasteira esparsa Retilínea
3 Rasteira esparsa
4 Nenhuma 3.3 Características específicas
5 Arbórea Esparsa
Quanto ao tipo de encosta, os talude 1,2,7 e 8
6 Rasteira média e
vegetação arbórea foram denominados talude de corte. O talude 10
7 Nenhuma como talude de aterro. E os demais como
8 Nenhuma encosta natural.
9 Rasteira esparsa Quanto a geometria, obteve-se uma maior
diversidade de altura variando de três metros a
10 Nenhuma
mais de 15 metros. Em relação a largura de um
a 10 metros. E inclinações de 56º a 87º.
Outro aspecto local importante é quanto a Quanto a saturação, a maioria encontrou-se
condição de drenagem, segue abaixo a tabela da úmida, com apenas o taludes 2 e 6 na condição
condição de drenagem em cada talude seca.
vistoriado: Sobre a natureza do material, obteve-se:
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Tabela 7. Natureza do material. falhas e trincas ao longo do talude, e a


Talude Natureza do material tubulação de esgoto e de água pluvial deságuam
1 Solo sedimentar com
acima do mesmo.
trincas e com blocos de
solo e rocha
2 Solo sedimentar, com
blocos de solo e rochas
3 Solo sedimentar com
blocos de solo e com
entulhos
4 Solo sedimentar com
trincas e blocos de solo e
rochas
5 Rocha fraturada com
blocos Figura 3. Talude 2.
6 Rocha fraturada e com
blocos, presença de
entulhos O talude 3 (figura 4) conhecido
7 Solo residual com popularmente como “buracão” tem seu esgoto e
presença de trincas e com as águas pluviais desaguando diretamente no
blocos, e rocha fraturada talude sem nenhuma proteção. Outro agravante
8 Solo residual com trincas
e blocos de solo e rocha
do risco é lixos e entulhos depositados pela
9 Solo residual com blocos população do bairro ou pessoas que passam no
e rocha sem fratura local. A encosta foi classificada em R3 (risco
10 Solo de aterro em lixão alto).

3.4 Relatório fotográfico dos taludes

O talude 1 (Figura 2) passou por um corte


irregular sem atender os requisitos mínimos de
segurança. A encosta foi classificada em R3
(risco alto). Além do risco de vida, apresenta
blocos e rochas falhados, e possui uma alta
potencialidade de deslizamento.

Figura 4. Talude 3.

O talude 4 (figura 5) encontra-se com uma


quantidade significativa de blocos e falhas que
podem causar um movimento de massa. A
encosta foi classificada como R3 (risco alto).
Figura 2. Talude 1.

O talude 2 (figura 3) possui um histórico de


deslizamento datado no ano de 2011 por relatos
de moradores vizinhos. Uma rocha deslocou
para dentro da residência que estava abaixo do
talude, mas não houve vítimas já que não havia
pessoas no momento. A encosta foi classificada
em R4 (risco muito alto). Possui evidências de Figura 5. Talude 4.
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O talude 5 (figura 6) possui um reservatório


de água acima dele, gerando uma carga
excessiva podendo causar a movimentação de
massa. Outro agravante de risco é a tubulação
rompida do reservatório desaguando no próprio
talude que acentua a saturação do solo. A
encosta foi classificada como R2 (risco médio).

Figura 8. Talude 7.

O talude 8 (figura 9) não apresenta feições de


patologias que oferecem grande risco de
movimentação. Mas pelo alto índice de chuvas
na região, o talude pode sofrer erosões e
colapsar. Outros agravantes são as falhas e
fissuras. A encosta foi classificada como R2
(risco médio).

Figura 6. Talude 5.

O talude 6 (figura 7), dentre os dez taludes


vistoriados, possui a maior altura. As evidências
de riscos no mesmo são fraturas e blocos de
rochas. Outro agravante do risco são os lixos e
entulhos depositados. A encosta foi classificada
como R2 (risco médio).
Figura 9. Talude 8.

O talude 9 (figura 10) não oferece risco


imediato de movimentação de massa. A encosta
foi classificada como R1 (risco baixo).

Figura 7. Talude 6.

O talude 7 (figura 8) apresenta inúmeros


sinais de instabilidade, tais como, falhas, blocos
fraturados e também blocos já deslocados. Figura 10. Talude 9.
Outro agravante de risco é a proximidade do
talude com as residências. A encosta foi O talude 10 (figura 11) é o do antigo lixão
classificada como R4 (risco muito alto). municipal de Rio Paranaíba-MG. Por ser
composto de todo tipo de material (orgânico,
papel, plástico, metal, entre outros), sua
compactação pode ser comprometida podendo,
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o solo, sofrer recalques excessivos e colapsar. que se pode observar na área da geotecnia que
Outro agravante do risco é a água residual que para estabilizar uma estrutura geotécnica um
fica empoçada na base do talude devido as dos estudos que acompanha essa área é a
chuvas. A encosta foi classificada como R4 hidráulica, ou seja, outra medida preventiva
(risco muito alto). para essas encostas seria a execução
dimensionada da drenagem e constante
manutenção do sistema.
Foi observado também nos taludes, lixos,
entulhos, tubulações de esgoto e pluviais em
contato direto com o mesmo, causando erosões
e podendo acarretar possíveis rupturas. Para tal,
seria necessário a limpeza periódica do local e a
educação ambiental da população.
Outro problema comum nos taludes foi o
Figura 11. Talude 10. corte sem autorização e dimensionamento. É
necessário, para o mesmo, uma conscientização
Após a análise dos parâmetros apresentados da sociedade e uma maior fiscalização para um
anteriormente, desde a geometria de cada talude melhor controle.
até a observação táctil visual “in loco” e pelas
fotos, obteve-se pelo estudo de gerenciamento
de riscos, o grau de risco de cada um dos dez 4 CONCLUSÃO
taludes enumerados.
O crescimento desordenado na área urbana é
Tabela 8. Classificação de riscos dos taludes.
Talude R1 R2 R3 R4
uma das preocupações encontradas no
1 X município de Rio Paranaíba-MG, tendo como
2 X zonas de riscos estudadas os bairros Olhos
3 X D’agua e Prado. A instalação da Universidade
4 X Federal de Viçosa impulsionou a construção
5 X civil e a ampla oferta de empregos no campo,
6 X gerando a ocupação de pessoas com baixa renda
7 X em áreas com predisposição a movimentação de
8 X massa e sem infraestrutura urbana.
9 X A análise realizada pelo método do IPT
10 X determina que a maioria dos taludes se
concentra na classificação de médio a muito
Pode ser observado que em três dos dez alto risco. No total, dez taludes foram
taludes vistoriados se encontram em estado de vistoriados e destes 10% encontra-se com risco
emergência, pois enquadraram-se no risco R4. R1, 30% sob R2, 30% sob R3 e 30% sob R4.
As medidas para a possível intervenção nos Estes níveis indicam o número de
mesmos são, para o talude 2 e 7, estudar a irregularidades da área analisada, os mesmos
inclinação adequada e executar a drenagem no estão instáveis e irregulares, acarretando riscos
local. Para o talude 10, como se trata de um para os moradores do local.
talude de lixão, é necessário o plano de De forma geral, para evitar possíveis
recuperação ou interdição do mesmo no âmbito desastres, é de suma importância a realização de
ambiental. vistorias constantes, comprovadas e controladas
Um grande problema observado em todos os por meio de laudos técnicos do responsável
taludes é a falta de drenagem, comparado ao (Defesa Civil), como também a conscientização
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Avaliação do Comportamento de Muros de Gravidade Construído


com Solo-Pneus
Guilherme Faria Souza Mussi de Andrade
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, guimussi@hotmail.com

Daniel Silva Lopez


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, daniel.lopez_@hotmail.com

Bruno Teixeira Lima


Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro,
Brasil, brunolima.professor@gmail.com

Ana Cristina Castro Fontenla Sieira


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, sieira@eng.uerj.br

Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, sayao@puc-rio.br

RESUMO: O presente trabalho apresenta um estudo do comportamento de um muro de gravidade


experimental construído com pneus reaproveitados preenchidos por solo. Esta pesquisa foi
desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e culminou na construção do
primeiro muro de solo-pneus experimental do Brasil (Sieira, 1998). Nas análises apresentadas neste
trabalho, será considerada a influência das tensões induzidas pela compactação do solo, buscando-
se reproduzir o comportamento ocorrido no campo. Os deslocamentos horizontais previstos
numericamente foram comparados aos resultados da instrumentação de campo, com o objetivo de
obter os parâmetros de deformabilidade do material. Dentre as principais conclusões, pode-se
ressaltar que o processo de compactação diminuiu as deformações pós construtivas sofridas pelo
muro. O programa adotado foi capaz de reproduzir satisfatoriamente o comportamento do muro.

PALAVRAS-CHAVE: Muros de Gravidade, Modelagem Computacional, Muro de Solo-Pneus,


Compactação.

1. INTRODUÇÃO: abundantes no verão, e constituídos por solo


residual. Essa questão se torna maior em
A estabilidade de taludes naturais é um tema de regiões montanhosas, urbanas e densamente
grande interesse ao engenheiro geotécnico, face povoadas, como as do Rio de Janeiro, onde as
às significativas perdas econômicas, e até encostas são inapropriadamente utilizadas para
mesmo humanas, resultantes da ruptura dos moradia e comércio. Nesses locais o
mesmos. Estima-se que a deflagração de escorregamento de um maciço de solo leva a
escorregamentos já provocou milhares de inúmeras fatalidades, além de ter amplo
mortes, e dezenas de bilhões de dólares em destaque nos meios de comunicação, como nos
prejuízos anuais no mundo inteiro (Brabb, ocorridos na Região Serrana do Rio de Janeiro
1991). (Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e
Problemas de instabilidade de taludes são Sumidouro) em 2011 e no Maciço da Tijuca nos
comuns em áreas onde predominam climas meses de março e abril de 2010, segundo
tropicais, caracterizados por terem chuvas
levantamento da Fundação Instituto de Geotécnica Geo-Rio, e contou com o apoio do International
– Geo – Rio. Development Research Centre (Canadá). Este
É função do engenheiro geotécnico criar um projeto se tratou da construção e análise de um
projeto que garanta a estabilidade do talude e que muro de solo-pneus localizado em Jacarepaguá,
seja economicamente viável. O surgimento de Rio de Janeiro (Sieira, 1998, Sayao et al, 2002).
novos materiais e a execução e obras de Na execução do muro foram reutilizados pneus
estabilização com materiais não convencionais usados, dando destino a um indesejável lixo
tem despertado o interesse de engenheiros e urbano que normalmente se torna ambiente de
pesquisadores ao redor do mundo. proliferação de doenças, além do perigo de
Sieira (1998) analisou o comportamento de incêndios. O projeto visava uma técnica de
um muro de gravidade composto de solo e estabilização de taludes com a construção do
pneus reutilizados. Além de se tratar do muro de arrimo instrumentado. Os pneus foram
reaproveitamento de um lixo urbano, que se dispostos horizontalmente e amarrados com
acumula em grandes quantidades, aproveita-se a arame ou corda. Após esta etapa, os pneus eram
eficiência mecânica e o baixo custo dos pneus. preenchidos com solo compactado.
Este trabalho consiste na simulação O campo experimental localiza-se a jusante
numérica do processo executivo do muro, de uma encosta que demonstrava características
comparando os resultados de deslocamentos de instabilidade. O muro foi executado com 4,0
horizontais previstos com a instrumentação de m de altura e 60,0 m de comprimento, e
campo, com o objetivo de obter parâmetros de reaproveitou aproximadamente 15.000 pneus. O
deformabilidade do material solo-pneus e do muro experimental foi dividido em 4 seções
solo do retroaterro. Para tal, será utilizado o transversais de 15,0 m de comprimento (A, B,
software PLAXIS, o qual faz uso do método C, D) com configurações distintas. Os pneus
dos elementos finitos, tendo a capacidade de utilizados eram típicos de veículos de passeio,
englobar modelos constitutivos distintos, apresentando 0,2 m de largura de banda de
simular variadas condições de contorno e etapas rolamento e 0,6 m de diâmetro. Atrás do muro,
construtivas. foi executado um retroaterro com o mesmo
Com intuito de simular fielmente o processo material utilizado para complementar os pneus,
executivo do muro, serão considerados os e após a execução foi acrescentada uma
efeitos da compactação do aterro. Dependendo sobrecarga de solo com 2,0 m de altura.
da magnitude das tensões induzidas pelo Segundo Sieira (1998), o material compactado
processo de compactação, as tensões utilizado como retroaterro foi classificado como
horizontais residuais na massa de solo podem um solo areno-siltoso proveniente do
ser bem maiores que aquelas de origem intemperismo de rocha gnáissica local.
geostática. Em consequência desta indução de O objetivo de Sieira (1998) consistiu em
tensões, a estrutura se torna menos sensível aos analisar a viabilidade do muro como uma
movimentos pós-construção. As tensões técnica de estabilização de encostas,
induzidas durante o processo de compactação comparando o comportamento de 4 seções
do solo também podem ser maiores do que as transversais do muro de pneus, as quais
tensões causadas por cargas adicionais (Ehrlich possuíam diferentes geometrias e características
e Mitchell, 1995; Ehrlich et al., 2012). (pneus cortados ou pneus inteiros, Figura 1, e
amarração com corda ou arame). As análises
buscaram a obtenção dos parâmetros de
2. MURO DE SOLO-PNEUS deformabilidade e resistência para o material
solo-pneus. É importante salientar que nas
O projeto do primeiro muro experimental solo- seções do muro com pneus cortados, após a
pneus construído no Brasil envolveu a retirada da banda lateral dos pneus, a mesma era
participação da Pontifícia Universidade introduzida no interior do pneu para evitar
Católica do Rio de Janeiro, da Universidade de rejeitos secundários e auxiliar no enrijecimento
Otawa, Canadá, e da Fundação Instituto de radial.
Geotécnica do Município do Rio de Janeiro,
Figura 1. Pneus: inteiros e cortados (Sieira,2000)

A construção do muro foi considerada


simples sem a necessidade de mão de obra
especializada, e com maquinário leve. Figura 3. Arrumação dos pneus no muro experimental
Inicialmente, realizou-se a limpeza e o (Sieira, 1998)
nivelamento do terreno para em seguida lançar
a primeira camada de pneus (Figura 2). As
camadas seguintes foram executadas de forma a
garantir um maior preenchimento dos espaços
vazios, sendo colocado de forma descasada
(Figura 3). Posteriormente, foi feita a amarração
dos pneus, que dependendo da seção
transversal, era com nó do tipo “marinheiro” ou
arame. O processo construtivo finalizou com o
lançamento de solo compactado para
complementar o interior dos pneus (Figura 4).

Figura 4. Muro de solo-pneus executado e inclinômetros


aparentes na face do talude (Sieira, 2001)

O presente trabalho aborda as seções


transversais B e C, que apresentam a mesma
geometria (6 pneus na base e 4 pneus no topo) e
configuração dos pneus (cortados), e diferem
apenas com relação à amarração. Na seção B,
os pneus foram amarrados com corda de
Figura 2. Lançamento da primeira camada de pneus na polipropileno, e na seção C a amarração foi
superfície (Sieira, 1998) realizada com arame de gabiões, protegido
contra corrosão por uma cobertura plástica de
PVC. As seções B e C foram escolhidas para as
análises por serem as duas seções com pneus
cortados e pôde-se buscar uma comparação
entre os módulos de deformabilidade de ambas.
3. INSTRUMENTAÇÃO GEOTÉCNICA

O muro de solo-pneus foi instrumentado com


inclinômetros, extensômetros magnéticos e
células de pressão, com a finalidade de se
verificar seu comportamento e eficácia. Os
inclinômetros foram instalados com objetivo de
acompanhar os movimentos horizontais da
massa de solo, permitindo a identificação de um
possível escorregamento de taludes. Segundo
Sieira (1998), foram tomadas algumas medidas
para manter a integridade da instrumentação
como por exemplo: os instrumentos foram
instalados a medida que o muro era construído,
os pneus próximos aos inclinômetros foram
posicionados para permitir a verticalidade dos
Figura 5. Resultados do inclinômetro instalado no interior
tubos, além da sinalização e proteção do local
da seção B (adaptado de Sieira, 1998)
onde foram instalados os instrumentos para
evitar danos durante a construção. Sieira (1998)
também afirma que durante a construção do
muro, os inclinômetros surgiram na face externa
ficando descobertos quando o muro atingiu 3,0
metros de altura.
As Figuras 5 e 6 mostram as leituras dos
inclinômetros para as seções transversais B e C
nas etapas de “final de construção”, “final da
sobrecarga” (após a construção de aterro com
2,0 m de altura) além de outras leituras
posteriores. Apesar de ambas as seções
possuírem a mesma geometria, maiores
deslocamentos ocorreram na seção transversal
B em decorrência do tipo de amarração. A
amarração com arame de gabião (seção C)
tornou o muro de solo pneus mais rígidos,
permitindo assim menores deslocamentos
Figura 6. Resultados do inclinômetro instalado no interior
horizontais.
da seção C (adaptado de Sieira, 1998)

4. PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DO
MURO Ensaios de densidade no campo (Figura 7)
foram executados com a finalidade de obter o
Para analisar o comportamento tensão- peso específico do material solo-pneus. Estes
deformação e a estabilidade do muro de pneus ensaios consistiram, primeiramente, na
são necessários o peso específico e o módulo construção de uma cava, em forma de
deformabilidade do material solo-pneus. É paralelogramo com volume bem definido, e em
necessária uma avaliação destes parâmetros seguida foram introduzidos os pneus
para garantir que os resultados da análise preenchidos com solo compactado. A geometria
numérica representem o comportamento do da cava garantiu que todo seu volume fosse
muro de gravidade. ocupado pelos pneus. Os resultados destes
ensaios levaram a uma variação do peso
específico do conjunto solo-pneus. Os ensaios
realizados com pneus inteiros indicaram um
peso específico de 15,5 kN/m³, enquanto os 5. MODELAGEM COMPUTACIONAL
realizados com pneus cortados apresentaram um DO MURO DE SOLO-PNEUS
valor de 16,2 kN/m³. Conclui-se que a remoção
da banda lateral do pneu produz um material O objetivo da simulação numérica do caso
mais denso, pela maior facilidade de abordado, realizada com o software PLAXIS,
compactação do solo (Sieira, 1998). foi a obtenção de parâmetros de
deformabilidade do material solo-pneus, e para
isso confrontaram-se os resultados de
deslocamentos horizontais com os obtidos pela
instrumentação de campo.
O software PLAXIS consiste em um
programa que utiliza o Métodos de Elementos
Finitos (MEF), desenvolvido para realização de
análises de deformações e estabilidade de obras
geotécnicas. As análises podem considerar a
condição de deformação plana ou de
axissimetria (Brinkgreve, 2002). A malha de
elementos finitos é gerada automaticamente
pelo software, optando-se por elementos
Figura 7. Cava executada para ensaio de densidade in situ triangulares formados por 6 ou 15 nós, podendo
(Sieira,1998) ser refinada de forma global ou localizada.
Geralmente, quanto mais refinada a malha de
Para obtenção do módulo de elementos finitos mais acurados são os
deformabilidade (E) do retroaterro foram resultados das análises.
realizados ensaios laboratoriais, como o triaxial Para representação do comportamento tensão vs
drenado (CD), e ensaios de campo como, os deformação do material solo-pneus utilizou-se o
dilatométricos e os pressiométricos. Segundo modelo elástico linear. A camada foi simulada com
Fontes (1997), os valores do parâmetro E um peso específico de 16,2 kN/m³ e coeficiente de
Poisson  = 0,35. O valor do módulo de
obtidos a partir dos ensaios de campo (E = 6
deformabilidade E será variado nas simulações
MPa) forneceram valores superiores aos obtidos numéricas (análise paramétrica), e comparado aos
pelos ensaios triaxiais (E = 2MPa). O autor valores propostos por Sieira (1998).
atribui esta diferença à anisotropia do solo e às O solo do retroaterro foi representado pelo
diferenças nas trajetórias de tensão impostas modelo elasto-plástico perfeito (Mohr
pelos ensaios. Coulomb). A camada foi definida com peso
A oscilação dos valores do módulo de específico de 17,0 kN/m³, intercepto coesivo
deformabilidade, obtidos pelos ensaios de nulo, ângulo de atrito  = 29°, módulo de
campo e laboratório, e a falta de parâmetros de deformabilidade E = 3,0 MPa e coeficiente de
deformabilidade do conjunto solo-pneus, Poisson  = 0,35 (Fontes, 1997).
indicaram a necessidade de uma análise A largura do retroaterro adotada na
numérica a partir de um software de elementos simulação foi definida, de forma que não
finitos. Essas análises foram realizadas interferisse nos resultados de deslocamentos
comparando os deslocamentos horizontais previstos. Segundo Sieira (1998), a largura do
previstos numericamente com os medidos em retroaterro a partir da qual não há mais
campo pela instrumentação geotécnica influência na magnitude dos deslocamentos
(inclinômetros). horizontais é de 11,0 metros, conforme
verificado na Figura 8.
A sobrecarga executada após a construção do
retroaterro foi representada por um
carregamento uniformemente distribuído de
34,0 kN/m², correspondendo a uma altura de 2,0
m de solo. Não foi encontrado nível d’água no
local da obra. A modelagem computacional
seguiu o processo executivo de campo, com a
construção do muro de solo pneus e do
retroaterro simultaneamente. Foram realizadas
as comparações entre os resultados da
simulação numérica e a instrumentação de
campo para as etapas de “final de construção” e
após a “aplicação da sobrecarga”.

Figura 9. Representação da modelagem de compactação


da camada n (adaptado de Mirmoradi e Ehrlich, 2018)

6. GEOMETRIA DA MODELAGEM

Para a obtenção dos parâmetros de


deformabilidade do muro de solo pneus foram
confrontados os resultados dos deslocamentos
horizontais previstos nas análises numéricas
Figura 8. Influência da largura do retro-aterro nos com os resultados obtidos por meio dos
deslocamentos horizontais previstos (Sieira,1998) inclinômetros em campo.
Nas análises das seções transversais B e C
Para representar o efeito da compactação no (Figuras 10 e 11), os deslocamentos sofridos
retroaterro, foi utilizado o método proposto por pelo muro de solo-pneu foram estudados em
Mirmoradi e Ehrlich (2018). Os autores dois tipos: (1) com compactação das camadas
apresentaram diferentes maneiras para modelar de solo (~30 cm); (2) sem compactação das
a compactação, que gera tensões induzidas no camadas de solo. No ‘tipo 1’, as camadas do
muro, e sugerem que na modelagem sejam muro foram divididas em vários segmentos para
aplicadas cargas distribuídas (qc) no topo e na considerar a compactação, enquanto no ‘tipo 2’
base de cada camada de solo. Os autores a modelagem só considerou as alturas de cada
também afirmam que a modelagem da trecho do muro (6 pneus, 5 pneus e 4 pneus de
compactação é melhor representada por apenas altura).
um ciclo de carregamento e descarregamento
para cada camada de solo.
Sieira (1998) reporta que a compactação foi
realizada utilizando-se um compactador
hidráulico manual (“sapo”). Por falta de
informações sobre as características do
equipamento de compactação, foi utilizado o
proposto por Mirmoradi e Ehrlich (2018) como
referência para a compactação do solo, com
cargas uniformemente distribuídas de 55 kN/m²
no topo e na base de cada camada de solo
compactada (Figura 9). Figura 10. Geometria da seção transversal, mostrando a
etapa de compactação de uma das camadas – ‘tipo 1’.
no deslocamento máximo horizontal na seção
B. O mesmo comportamento pode ser
observado nas análises realizadas para seção
transversal C.

Figura 11. Geometria da seção transversal – ‘tipo 2’.

7. RESULTADOS DA MODELAGEM

7.1 Efeito da Compactação


Figura 13. Efeito da Compactação Seção C
As Figuras 12 e 13 apresentam as distribuições
dos deslocamentos horizontais ao longo da As Tabelas 1 e 2 reúnem os valores de
elevação do muro, para as fases de final de deslocamentos horizontais máximos obtidos
construção e após a aplicação da sobrecarga. para as seções B e C, respectivamente, onde se
Ressalta-se que no “tipo 1” é considerado o observa o efeito da compactação para ambas as
efeito da compactação, e no “tipo 2”, este efeito seções em estudo. Nestas tabelas, também são
é desprezado na simulação. Para ambos tipos, apresentados os valores de deslocamentos que
foi considerado o mesmo módulo de ocorrem entre o final de construção e o final da
deformabilidade E do muro de solo-pneus (E = aplicação da sobrecarga. É interessante notar,
3,0 MPa), para que apenas o efeito da para a seção B, que nas simulações onde não foi
compactação influenciasse as deformações do avaliada a compactação, os deslocamentos
muro. horizontais após a construção do muro foram de
aproximadamente 8,5 mm. Considerando-se os
efeitos da compactação, a diferença entre os
deslocamentos nas distintas etapas diminui para
7,45 mm. Comportamento semelhante ocorreu
na seção transversal C, sugerindo que o efeito
da compactação diminui os deslocamentos pós
construtivos, comprovando o estudo de
Mirmoradi e Ehrlich (2018), apesar da pequena
diminuição na magnitude dos deslocamentos
(cerca de 1,0 mm).

Tabela 1. Deslocamentos Horizontais – Seção B


Sem Com
Etapa compactação Compactação
Figura 12. Efeito da Compactação Seção B
Final de
Constr. 13,80 mm 20,55 mm
Os resultados sugerem que a compactação do Aplic. da
solo induziu deformações ao longo do muro que Sobrecarga 22,30 mm 28,00 mm
não são consideradas no modelo sem Diferença 8,50 mm 7,45 mm
compactação. Os deslocamentos obtidos no
‘tipo 1’ são superiores aos do ‘tipo 2’, chegando
a diferenças de aproximadamente 8 mm (~36%)
Tabela 2. Deslocamentos Horizontais – C
Sem Com
Etapa compactação Compactação
Final de
Constr. 12,50 mm 18,80 mm

Aplic. da
Sobrecarga 20,70 mm 26,00 mm
Diferença 8,20 mm 7,20 mm

7.2 Efeito do Módulo de Deformabilidade

Após verificar a influência da compactação, foi


analisada a influência do parâmetro E do muro
de solo-pneus nos deslocamentos horizontais Figura 15. Análise paramétrica – seção B – etapa após
das duas seções transversais. Para tanto, foi “aplicação da sobrecarga” (corrigir grafico E = 2,2).
realizada uma análise paramétrica, variando-se
o valor de 2,0 MPa a 3,0 MPa (E = 2,0 MPa; O mesmo procedimento foi realizado para
2,2 MPa; 2,4 MPa e 3,0 MPa). A Figura 14 seção C comparando as leituras do inclinômetro
compara os resultados das análises paramétricas instalado nesta seção com os resultados
com as leituras do inclinômetro da seção B. previstos para os diferentes valores de E. Nota-
se pelas Figuras 16 e 17 que o E = 2,4 MPa
conseguiu reproduzir de forma mais satisfatória
o comportamento e a magnitude dos
deslocamentos horizontais do muro. Observa-se
nesta seção que a elevação dos deslocamentos
horizontais máximos obtido pelos resultados
das análises numéricas se aproximou mais da
leitura da instrumentação, ficando 0,3 m acima
dos resultados de campo.

Figura 14. Análise paramétrica – seção B - etapa “final de


construção”.

Pode-se observar que os resultados obtidos


com E = 2,2 MPa são os que melhor
reproduzem as leituras do inclinômetro, tanto
em relação ao comportamento da curva quanto
à magnitude dos deslocamentos horizontais. O
deslocamento horizontal máximo medido no
inclinômetro mostrou-se 0,4 m abaixo dos Figura 16. Análise paramétrica do E – seção C - etapa
previstos numericamente. “final de construção”.
A Figura 15 apresenta os resultados para a
etapa após a “aplicação da sobrecarga” A simulação numérica mostrou-se coerente
utilizando o módulo de deformabilidade igual a com o comportamento observado no campo. A
2,2 MPa. Observa-se uma boa aproximação seção C foi executada com pneus cortados
com os resultados da instrumentação, como amarrados com arame e apresenta um
observado para a etapa de final de construção. comportamento mais rígido do que a seção B,
amarrada com corda de polipropileno, 2,4 MPa, constantes ao longo do muro de solo-
justificando maiores valores de E. Sieira (1998) pneus, reproduzem de forma satisfatória o
chegou a valores semelhantes com módulos de comportamento e a magnitudes dos
deformabilidade iguais a 2,5 MPa, para a seção deslocamentos horizontais medidos no campo.
B e 3,0 MPa, para a seção C. A autora, no
entanto, não considerou o efeito da REFERÊNCIAS
compactação nas análises numéricas, o que
Brabb, E.E. World Landslide Problem. 1991. CR3.1 -
pode justificar as pequenas diferenças nos CRID - Centro Regional de Información sobre
resultados. Desastres para América Latina y el Caribe.
Episodes;14(1):52-61, 1991.
Brinkgreve, R.B.J., Finite Element code for Soil and
Rock Analysis - PLAXIS 2D user’s manual.
Rotterdam, 2002
Ehrlich, M., Mirmoradi, S.H., Saramago, R.P., 2012.
Evaluation of the effect of compaction on the behavior
of geosynthetic-reinforced soil walls. J. Geotextile
Geomembr. 34, 108–115.
Ehrlich, M., Mitchell, J.K., 1995. Working stress design
method for reinforced soil walls_ closure. J. Geotech.
Eng. ASCE 121 (11), 820–821.
Fontes, A.E.B. (1997) – “Ensaios de Campo e
Laboratório no Retro-aterro do Muro Experimental
de Pneus”. Dissertação de Mestrado – PUC-Rio,
126pp.
Mirmoradi, S.H, Ehrlich, M., 2018. Numerical simulation
of compaction-induced stress for the analysis of RS
Figura 17. Seção C – etapa após “aplicação da walls under working conditions. Geotextiles and
sobrecarga”. Geomembranes 46 (2018) 354–365
Sayão, A. S. F. J.; Sieira, A. C. C. F.; Gerscovich, D. M.
S.; Medeiros, L. V.; G, V. . Retaining Walls Built
8. CONCLUSÕES With Scrap Tires. Institution of Civil Engineers -
Geotechnical Engineering, Inglaterra, v. 155, n.4, p.
217-219, 2002.
O presente trabalho apresentou a simulação Sieira, A. C. C. F. Análise do Comportamento de um
numérica do processo construtivo de um muro Muro de Contenção Utilizando Pneus. Rio de Janeiro,
experimental de pneus. As análises foram 1998. 110 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia
executadas com o programa PLAXIS, de Civil, Pontifícia Universodade Católica do Rio de
elementos finitos, e procuraram incorporar os Janeiro.
Sieira, A. C. C. F.; Sayão, A.S.F.J; Gerscovich, D.M.S.;
efeitos da compactação do solo do retroaterro. Medeiros, L.V. (2000) – “Simulação Numérica do
Os resultados mostraram que a modelagem dos Comportamento de um Muro de Pneus”. IV
efeitos da compactação forneceu maiores Seminário de Fundações Especiais e Geotecnia -
deslocamentos horizontais e influenciou nas SEFE, São Paulo, Brasil, Julho, pp532-540.
deformações pós construtivas. Sieira, A. C. C. F.; Sayão, A. S. F. J.; Medeiros, L. V. &
Gerscovich, D. M. S. (2000) – “Reuso de Pneus em
Comparando as seções B e C que possuem a Geotecnia”. Seminário Nacional sobre
mesma geometria e a mesma característica de Reuso/Reciclagem de Resíduos Sólidos Industriais -
pneus cortados, conclui-se que valores do São Paulo, Brasil, Agosto 19 pgs.
módulo de deformabilidade E entre 2,2 MPa e
XII Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de Encostas
COBRAE 2017 - 2 a 4 Novembro
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
© ABMS, 2017

Estudo de Caso: Análise da Estabilidade Geotécnica de um


Reservatório Escavado
Jordan Lopes Albino
Universidade Federal de São João Del Rey - UFSJ, Ouro Branco –MG, Brasil,
jordan.civil@gmail.com

Douglas Henrique Santos Sousa


Universidade Federal de São João Del Rey - UFSJ, Ouro Branco –MG , Brasil,
douglashssousa@gmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João Del Rey - UFSJ, Ouro Branco –MG, Brasil,
leandro.duarte@ufsj.edu.br

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João Del Rey, Ouro Branco –MG, Brasil, talesciv@gmail.com

Guilherme de Ávila Mafia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil, guilherme.a.mafia@gmail.com

RESUMO: A execução de reservatórios do tipo escavados em solo tem grande importância no meio
da mineração, pois garantem uma reserva de água necessária ao funcionamento da planta. Sua
construção, se torna economicamente viável, quando comparada a outros meios, como por exemplo,
reservatório em concreto armado. Sendo assim, este trabalho teve como foco a Análise de
Estabilidade de Talude (AET) de um reservatório escavado de 35000m³, em uma empresa de
mineração localizada na cidade de Congonhas-MG. A análise foi elaborada no talude cuja seção se
mostrou mais suscetível à ruptura. Foi realizado um perfil estratigráfico do solo no software
GeoStudio 2012, baseado nos parâmetros de cada camada. Este software utiliza métodos
consagrados, como Morgenstern & Price, Janbu, Bishop e Spencer. Com os resultados, foi possível
a verificação do fator de segurança (FS) para os diferentes métodos, tais como: ruptura do talude
devido ao enchimento do reservatório; ruptura devido ao rebaixamento rápido do reservatório; ruptura
a jusante devido ao fluxo permanente e em condições do reservatório vazio. Através da AET
constatou-se a estabilidade do talude.

PALAVRAS-CHAVE: análise de estabilidade de taludes, GeoStudio, método do equilíbrio limite,


reservatório escavado.

1 INTRODUÇÃO propriedades e comportamentos específicos


(Velloso, 2012). Portanto, em obras como
As obras em engenharia são, em sua maioria, escavação, deve-se levar em consideração os
executadas sobre um solo natural, no qual o parâmetros naturais do solo para se analisar a
profissional pouco pode atuar sobre suas resistência à determinada solicitação.
características naturais, ou seja, tem que aceitá- Antes de executar qualquer construção em
lo tal como ele se apresenta, com suas regiões adjacentes a taludes, faz-se necessária a
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Estabilidade de Encostas
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

verificação da estabilidade do maciço através da Spencer que é considerado um método preciso


Análise de Estabilidade de Taludes (AET). para a obtenção do fator de segurança. O modelo
Segundo Braja (2007), o conceito de Análise de foi realizado para diferentes tipos de solo, altura
Estabilidade de Taludes (AET) consiste em uma e inclinação do talude, e sob condições de
verificação que leva em consideração as tensões esvaziamento rápido e lento. Os métodos que
de cisalhamento solicitantes e resistentes no obtiveram resultados mais confiáveis foram,
maciço e a provável superfície de ruptura. A respectivamente, Bishop Simplificado e Janbu
relação entre resistência ao cisalhamento do solo Simplificado.
e a tensão cisalhante atuante, ou resistência Não obstante, estudos envolvendo percolação
mobilizada, é conhecida como fator de em taludes são de extrema importância para
segurança (FS) (Massad, 2003). A ABNT NBR avaliar a segurança de reservatórios e barragens
11682-2009 classifica os fatores de segurança de de terra. O Geoslope apresenta um sub-programa
acordo com os níveis de segurança contra danos SEEP/W que consegue auxiliar nas análises de
a vida humana e contra danos materiais e percolação em maciços. Alguns estudos
ambientais. A escala varia entre níveis de envolvendo análise de percolação, mostram
segurança alto, médio e baixo para os dois níveis como o uso da ferramenta auxilia nas análises de
e os fatores de segurança são dados entre um estabilidade de taludes com percolação de água
intervalo de valores de 1,1-1,5. Em prática, a (Kamanbedast e Delvari, 2012; Arshad e Babar,
adoção de um fator mínimo de 1,5 é comumente 2014; Arshad et al., 2017; Devi e Anbalagan,
aplicada na análise determinística. 2017; Fattah et al., 2017). Portanto, verifica-se a
De acordo com Machado e Machado (1997), necessidade de realizar AET em todo e qualquer
as análises de estabilidade são feitas no plano, talude, principalmente quando houver
considerando-se uma seção típica do maciço percolação de água no mesmo.
situada entre dois planos verticais e paralelos de Neste presente trabalho foi apresentado um
espessura unitária. Assim, estuda-se o equilíbrio estudo de caso de AET para um reservatório de
da porção do solo acima da superfície de ruptura 35000 m³ de água pertencente a uma empresa
pré-fixada, comparando as forças resultantes mineradora, na cidade de Congonhas, Minas
atuantes com as de cisalhamento resistentes. Gerais. Foi utilizado o software Geostudio
Em AET, por se tratar de métodos iterativos, SLOPE/W e SEEP/S, para as análises de
muitas vezes lança-se mão do uso de ferramentas estabilidade e percolação, respectivamente. O
computacionais. Softwares como GeoStudio, reservatório encontra-se escavado no local,
Slide da RocScience, entre outros, podem ser porém sem a continuidade da obra uma vez que
utilizados para realizar as AET, que através do em sua atual conjuntura uma das paredes (talude)
método escolhido dentro do equilíbrio-limite, do reservatório encontra-se possivelmente
retornam valores de FS. instável, segundo estudo apresentado
O GeoStudio Slope/W, por exemplo, em sua anteriormente por uma empresa.
plataforma considera alguns dos principais
métodos de análise, são eles: Bishop,
Morgenstern-Price, Spencer e Janbú. Os 2 MATERIAIS E MÉTODOS
métodos diferem-se entre si a depender das
forças atuantes em cada um. Pereira (2016) 2.1 Área de estudo
avaliaram a performance dos métodos de análise
de estabilidade de taludes para diferentes solos O presente trabalho realizou um estudo de caso
de classes geotécnicas, em barragens de terra. O sobre um reservatório localizado em uma
estudo avaliou quatro métodos para calcular a mineração na cidade de Congonhas, Minas
estabilidade de taludes. Fellenius, Bishop, Gerais. Este estudo visou analisar a estabilidade
Bishop Simplificado e Janbu Simplificado foram de um talude que constitui uma das paredes do
comparados com o fator de segurança de reservatório escavado, em situações que
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pudessem comprometer a estabilidade do


mesmo. O reservatório foi escavado com o
intuito de alimentar a planta central da já referida
empresa de mineração, podendo gerar autonomia
para o sistema de aproximadamente 8 horas. As
situações analisadas para o estudo de caso foram:
reservatório em fluxo permanente (hipótese:
rompimento da região impermeabilizante na
seção crítica), reservatório em fase final de
construção, reservatório em operação,
enchimento do reservatório e rebaixamento
rápido do reservatório. Um dado importante para
os cálculos foi a vazão de 2000 m³/h da bomba
alimentadora do reservatório, para o cálculo do Figura 01. Vista em planta do reservatório – Acervo da
tempo necessário para encher o reservatório de empresa.
35000 m³. Foi verificado um tempo de 17,5 horas
para o completo enchimento do tanque. O talude mais crítico escolhido para análise
(região circulada em vermelho na figura 1) foi o
2.2 Estudos realizados talude de fronteira entre o acesso à mina
existente e o reservatório. Esse talude possui
Para a determinação dos parâmetros geotécnicos 9,40 metros de altura com a crista medindo 5,71
do terreno, a empresa mineradora forneceu a metros de largura em sua parte mais crítica, além
topografia do terreno, estudos geológicos- de possuir uma inclinação de 54° como mostra a
geotécnicos e todas as informações necessárias Figura 02.
para compreensão e realização das análises.

2.2.1 Características Geológicas

De acordo com relatórios elaborados pela


empresa, grande parte da área mapeada está
coberta por solos provenientes da alteração de Figura 02. Vista em planta do reservatório – Acervo da
xistos e filitos, nos limites da área do tanque foi empresa.
mapeada uma região coberta por solo de
comportamento laterítico.
2.1.3 Aspectos Geológicos-Geotécnicos

2.1.2 Características topográficas 2.1.3.1 Ensaio de Sondagem à Percussão (SPT)

O levantamento topográfico do perfil do terreno O perfil geológico-geotécnico do local foi


fornecido pela empresa considerou uma região, realizado a partir do ensaio de sondagem a
a qual incluiu o reservatório, assim como as percussão (SPT) fornecido pela empresa, do
adjacências que pudessem influenciar as qual, respeitando a norma da ABNT NBR
análises. Segue Figura 01 mostrando a planta do 6484/2001, foram obtidos os índices de
terreno e suas adjacências. resistência à penetração do solo, a amostra
deformada do material por camada e os níveis de
água quando existentes nos furos. De acordo
com a norma da ABNT NBR 11682/2009, foram
utilizados três furos (SP06, SP07 e SP11/11A)
alinhados na seção crítica para permitir a
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identificação da estratigrafia do solo e também para o início da determinação da estratigrafia do


para detectar as características das camadas. A solo, uma vez que este se encontrou no talude a
figura 03 mostra o mapa dos furos de sondagem. ser analisado bem próximo à seção crítica (Vide
Fig. 03). A figura 04 representa a estratigrafia
disposta no software GeoStudio Slope/W e
SEEP/W de acordo com as cores por camadas
representadas na Tabela 1.

Figura 04 - Estratigrafia do Solo GeoStudio

2.1.3.2 Ensaio Triaxial

Na crista do talude, em sua parte mais crítica,


ainda foi realizado um ensaio triaxial
Figura 03. Mapa de Furos de Sondagens – Acervo da consolidado, não drenado e também os ensaios
Empresa
de permeabilidade, sedimentação e
Para cada furo de sondagem (SPT) as camadas caracterização do material, para uma melhor
geológicas-geotécnicas foram consideradas pela precisão nos resultados. A amostra em forma de
média dos números de golpes, referentes a 30cm bloco indeformado foi retirada a 1,25 metros da
do ensaio de Nspt. Ressalta-se que, esses valores superfície com dimensões de 30cm x 30cm x
médios foram homogeneizados por uma nova 30cm. A coesão efetiva e o ângulo de atrito
média, unindo todas as camadas do Nspt. O nível obtido foram 48,8 KPa e 26,3°, respectivamente.
d’água foi indicado apenas em um dos furos Esses valores, também foram comparados com
estando a 14,33 metros de profundidade. os valores obtidos para coesão e ângulo de atrito
Baseado nos boletins de sondagem e nos segundo correlação com o Nspt médio de cada
valores de índice de resistência à penetração camada. Foram também utilizados como
médios foram criadas 7 camadas para representar referência, os valores obtidos de ensaios triaxiais
a estratigrafia do solo. As camadas estão anteriormente realizados nos arredores do
mostradas na tabela 01, com os valores de Nspt reservatório, e por meio de um estudo
médio por camada. pormenorizado, realizou-se uma calibração que
melhor representasse a variação natural dos
Tabela 1 - Materiais e Nspt Médio de Cada Camada parâmetros do material estudado. Desta forma
Material Nspt médio Cor propôs-se uma relação entre os valores de coesão
Silte Pouco Arenoso 19,0 dos arredores do tanque e o valor obtido do
Fragmentos de Laterita 15,5
relatório atual (48,8 Kpa). A tabela 2 apresenta
os valores do ensaio triaxial correlacionado com
Silte Pouco Argiloso 18,8
os ensaios triaxiais anteriormente. Os parâmetros
Silte Marrom Amarelado 18,9
geotécnicos das camadas estudadas pelas
Silte Pouco Argiloso 29,2
sondagens demostraram-se consistentes, não
Silte Argiloso 28,5
destoando dos ensaios anteriores.
Silte Areno Argiloso 28,8

O furo SP-07 foi utilizado como referência


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Tabela 2 - Relação de coesão entre ensaios triaxiais - cada camada foram baseados em correlações
Acervo da Empresa propostas por Godoy (1972) apud Cintra et al.
Relação (2011) de acordo com o tipo de solo e verificados
Empresa Empr. 1 Empr. Empr. 3 entre com os valores da tabela 2.
1 2008 2009 2 2014 2016 coesões Optou se, por utilizar o valor do peso especifico
de 17 kN/m³ para Nspt variando de 11 a 19.
𝛾 18 18 18 18,1
De posse dos resultados obtidos pela equação
C 30 31 20 48,8 1,9
(2) e dos resultados fornecidos pela empresa,
𝜙 28 31 30 26,3 obteve-se os resultados da Tabela 3, referentes
aos parâmetros do solo para cada camada. A
2.1.3.3 Parâmetros do Solo estratigrafia se encontra representada na figura
04.
Devido à discrepância nos parâmetros do solo
Tabela 3 - Parâmetros dos Solos por Camada
obtidos pelos ensaios realizados pelas diferentes
empresas (empresas 1, 2 e 3), sugeriu-se a Cor Nspt 𝛾
Material c 𝜙
obtenção dos parâmetros através de correlação médio kN/m³
com Nspt e posterior comparação com os valores Silte Pouco
19,0 17 35,5 24,5
Arenoso
apresentados na tabela 2.
Fragmentos de
O ângulo de atrito para cada camada foi 15,5 17 28,9 22,6
Laterita
obtido baseado na fórmula desenvolvida por Silte Pouco
18,8 17 35,1 24,4
Teixeira (1996) que segue abaixo. Argiloso
Silte Marrom
18,9 17 35,3 24,4
Amarelado
φ = 20 Nspt + 15º (1) Silte Pouco
29,2 21 54,5 29,2
Argiloso
Todavia, os valores obtidos, foram comparados Silte Argiloso 28,5 21 53,2 28,9
com aqueles dos ensaios anteriormente Silte Areno
28,8 21 53,8 29,0
realizados (Vide tabela 2) e divergências foram Argiloso
encontradas. Assim sendo, propôs-se como
forma de corrigir os valores correlacionados, o 2.1.3.4 Ensaio de permeabilidade
valor de 5º em substituição aos 15º propostos por
Teixeira (1996), na formulação de obtenção do O relatório do ensaio de permeabilidade
ângulo de atrito conforme apresentado equação fornecido pela empresa mostrou um coeficiente
2, obtendo-se assim valores condizentes com a de permeabilidade igual a 6,8 x 10-6 cm e este
natureza geotécnica presente no reservatório. valor foi considerado para todas as camadas,
exceto a última. Na última camada, por se tratar
φ = 20 Nspt + 5º (2) de uma camada a qual o critério de parada do
ensaio SPT foi o de uma camada impenetrável,
foi adotado um valor de coeficiente de
Com relação à coesão, por não ter se encontrado permeabilidade condizente ao de uma rocha de
na literatura fórmulas ou valores que xisto (metamórfica), ou seja, entre 10-7 e 10-11
representassem cada tipo de solo, adotou-se, a cm/s (Delleur (1999) apud Betim (2013)).
média dos ensaios realizados pelas diferentes Portanto, para a camada impenetrável adotou-se
empresas, com base em cada tipo de solo 10-9 cm/s correspondente à média dos valores.
relatado por cada empresa, adicionado do valor
de desvio padrão da média. Para uma melhor
compreensão os resultados foram mostrados na
3 METODOLOGIA DE
tabela 3.
DIMENSIONAMENTO
Os valores do peso específico utilizado em
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O projeto em questão possuiu uma área total de condições de contorno consideradas foram a
4953,5 m² e as análises foram realizadas para um carga de água do reservatório nas superfícies do
volume de 35000 m³. Com essas premissas reservatório e a poropressão nula nas demais
foram realizadas as análises nos módulos superfícies. Para a hipótese de rebaixamento
Slope/W e SEEP/W da GeoStudio. Para todos os rápido, as condições de contorno consideradas
casos foram considerados os mesmos parâmetros foram o alívio de carga devido ao rebaixamento
e hipóteses: fluxo permanente do reservatório, do nível do reservatório nas superfícies do
fase final da construção do reservatório, reservatório e a poropressão nula nas demais
reservatório em operação, enchimento do superfícies.
reservatório e rebaixamento rápido do
reservatório.
Buscou-se realizar as análises por diferentes 4 RESULTADOS
metodologias para que, de posse de todos
resultados, se obtivesse o menor fator de De acordo com as condições apresentadas, o
segurança. O fator de segurança mínimo para programa foi executado e os resultados
atender tanto às exigências da empresa mostrados nas Figuras 05 e 06, estas representam
mineradora quanto às da norma ABNT NBR parte das análises e os respectivos fatores de
11682:2009, foi de 1,5. segurança, máximo e mínimo. Ainda, na Tabela
A análise SEEP/W do software GeoStudio foi 4 foram mostrados todos os resultados para os
utilizada para avaliar a percolação de água no diferentes métodos aplicados.
maciço e a partir dessas análises, obtiveram-se os
resultados para as hipóteses de fluxo permanente 2,705
do reservatório, enchimento do reservatório e
rebaixamento rápido do reservatório. Já a análise
da estabilidade no software Slope/W foi utilizada
para avaliar as possíveis superfícies de ruptura
do maciço, nas seguintes hipóteses: ruptura de
jusante do talude devido ao enchimento do
reservatório; ruptura geral do talude devido ao
fluxo permanente no reservatório; ruptura a Figura 05 – Maior FS encontrado para Spencer à montante
do reservatório (vazio).
montante do talude devido ao rebaixamento
rápido do reservatório, ruptura de jusante do
talude devido ao fluxo permanente no 1,888

reservatório; e ruptura de montante devido ao


fim da construção do reservatório (vazio). As
condições de contorno foram impostas no
programa impedindo que a água percolasse pelo
talude.
Os parâmetros do solo, e as camadas que
compões o perfil, foram utilizados como dados
de input no programa. Também foram definidas Figura 06 – Menor FS encontrado para Janbú em condições de
reservatório cheio.
as condições de contorno necessárias para cada
tipo de caso. Para a hipótese enchimento rápido,
a condição de contorno foi indicada com toda a
superfície do reservatório com poropressão nula.
Para a hipótese de fluxo permanente as
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Tabela 4 - Resultados dos FS Densidade) de alta qualidade, que satisfaça todos


Morge. os requisitos estabelecidos por norma.
Hipóteses Janbu Bishop Spencer
Price
Enchimento 2,541 2,433 2,352 2,569
Permanente 1,999 1,931 1,998 2,023 REFERÊNCIAS
Rebaixamento 2,589 2,24 2,473 2,592
ABNT – NBR 6484:2001 - Sondagens de simples
Jusante 2,119 1,888 1,998 2,156 reconhecimento com SPT - Método de ensaio, Rio de
Janeiro, ABNT, 2001.
Montante 2,671 2,389 2,624 2,705 ABNT – NBR 11682: 2009 - Estabilidade de taludes. Rio
de Janeiro, ABNT,2009. P.39.
Arshad, I.; Babar, M. M. Finite Element Analysis of
Observando a Tabela 5 pode ser notado que o
Seepage through an Earthen Dam by using Geo-Slope
menor fator de segurança obtido foi de 1,888 (SEEP/W) software. International Journal of Research,
considerando a hipótese de ruptura a jusante do v. 1, n. 8, p. 619–634, 2014.
talude quando em fluxo permanente pelo método Arshad, I.; Babar, M. M.; Javed, N. Numerical Analysis of
de Janbu. Mesmo o menor valor de fator de Seepage and Slope Stability in an Earthen Dam by
Using Geo-Slope Software. PSM Bio., v. 2, n. 1, p. 13–
segurança foi satisfatório para o estudo em
20, 2017.
questão onde considerou-se, segundo as Betim, Luiza Silva. Caracterização da condutividade
exigências da empresa e da norma ABNT hidráulica dos solos e estudo da vulnerabilidade à
11682/2009, um fator mínimo de segurança contaminação dos aquíferos da sub-bacia do Córrego
igual a 1,5. Palmital – Viçosa/MG. Dissertação de mestrado.
Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG, 2013.
Braja M. Das. Fundamentos de Engenharia Geotécnica,
Thomson Learning, 6. ed., São Paulo, Brasil, 2007, 562
5 CONCLUSÃO p.
Devi, D. D. N. L.; Anbalagan, R. Study on Slope Stability
Este trabalho apresentou as análises de of Earthen Dams by using GEOSTUDIO Software.
International Journal of Advance Research, Ideas and
estabilidade de um talude que compõe uma das
Innovations in Techhnology, v. 3, n. 6, p. 408–414,
paredes de um reservatório escavado, de uma 2017.
empresa mineradora para os seguintes métodos: Fattah, M. Y.; Omran, H. A.; Hassan, M. A. Flow and
Morgenstern-Price, Janbú, Bishop e Spencer. stability of Al-Wand earth dam during rapid drawdown
Para todos eles foram considerados as hipóteses of water in reservoir. Acta Montanistica Slovaca, v. 22,
n. 1, p. 43–57, 2017.
de: fluxo permanente do reservatório, fase final
Kamanbedast, A.; Delvari, A. Analysis of earth dam:
da construção do reservatório, reservatório em Seepage and stability using ansys and geo-studio
operação, enchimento do reservatório e software. World Applied Sciences Journal, v. 17, n. 9,
rebaixamento rápido do reservatório. Pode-se p. 1087–1094, 2012.
observar uma discrepância nos fatores de Machado, S. L. e Machado, M. D. F. (1997). Mecânica dos
solos II: conceitos introdutórios, UFB, Salvador.
segurança para os métodos analisados, porém
Massad, F. (2003). Obras de terra: curso básico de
nenhum valor foi inferior ao mínimo exigido Geotecnia, 2.ed, São Paulo: Oficina de Textos, 216 p.
pela empresa (FS=1,5) e todas as análises Pereira, T. D. S.; Robaina, A. D.; Peiter, M. X.; Braga, F.
baseadas nos critérios de segurança mínimo da D. V. A.; Rosso, R. B. Performance of Analysis
norma ABNT NBR 11682/2009. Methods of Slope Stability for Different Geotechnical
Classes Soil on Earth Dams. Engenharia Agrícola, v.
Através dos resultados foi possível perceber
36, n. nov./dez 2016, p. 1027–1036, 2016.
que o menor fator de segurança obtido foi de Velloso, D.D.A e Lopes, F.D.R. (2012). Introdução. In:
1,888, considerando a hipótese de ruptura a Velloso, Dirceu De Alencar; Lopes, Francisco De
jusante do talude, quando em fluxo permanente Rezende (Org.). Fundações. 1º Reimpressão. São
pelo método de Janbú. Paulo: Oficina de Textos, 584p.
Na prática, para garantir a estanqueidade do
reservatório, foi aconselhado a aplicação de uma
Geomembrana em PEAD (Polietileno de Alta
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Influência da Resistência à Tração em Análises de Estabilidade


em Taludes Verticais
Igor Medeiros Cardoso
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, igor.medeiros@engenharia.ufjf.br

Fernanda Ferreira da Silva


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br

Tatiana Tavares Rodriguez


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

RESUMO: A região da zona da mata mineira tem relevo acidentado composto por colinas, onde há
necessidade de cortes verticais. Objetiva-se analisar a estabilidade de taludes verticais em terreno
em Juiz de Fora, a partir dos parâmetros de resistência do solo obtidos por cisalhamento direto e
por compressão diametral na condição saturada. Os solos encontrados foram caracterizados
fisicamente e moldados em corpos de prova para os ensaios de cisalhamento direto e de
compressão diametral. Os resultados indicam redução do intercepto coesivo e aumento do ângulo
de atrito nas envoltórias com tração. Nesta condição, os fatores de segurança dos taludes
intermediários caíram. Conclui-se que, adotando os parâmetros de resistência considerando a
tração, os fatores de segurança resultam em situações mais próximas do limite de ruptura e,
portanto, devem ser usados para análises de estabilidade que envolvam baixas tensões.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Cisalhamento Direto, Compressão Diametral,


Fator de Segurança.

1 INTRODUÇÃO Isto ocorre quando as tensões de cisalhamento


resistentes do solo são maiores do que as
O comportamento dos materiais na engenharia atuantes (DAS, 2011; GERSCOVICH, 2016).
sempre foi alvo de estudos ao longo do tempo. A deflagração da ruptura pela diminuição do
Uma das características principais é a fator de segurança pode ocorrer devido a
resistência dos materiais relacionada aos alterações externas e internas. Dentre os fatores
esforços em que as peças estão submetidas. No externos cita-se o aumento das tensões atuantes
ramo da engenharia geotécnica, no entanto, foi causadas pelo corte do talude e dentre os fatores
observado que as teorias recorrentes da internos, a modificação de características
resistência dos materiais não se aplicavam ao geomecânicas inerentes ao material
solo devido à sua natureza não-homogênea, (GERSCOVICH, 2016).
requerendo um estudo mais aprofundado A resistência ao cisalhamento dos solos é
(SOUSA PINTO, 2006). caracterizada de acordo com a coesão (c) e o
Obras que necessitam do solo como um ângulo de atrito (φº) entre as partículas do solo
material resistente são bastante comuns, tais além do imbricamento que considera uma
como fundações de edifícios, estradas, resistência adicional causada pela diferença no
barragens e estabilidade de taludes. Um talude é arranjo das partículas (MASSAD, 2010;
considerado estável quando o fator de GERSCOVICH, 2016). A avaliação da
segurança calculado é maior que uma unidade. resistência ao cisalhamento em análise de
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estabilidade de taludes é feita a partir dos aproximadamente, 13 metros de altura


parâmetros de resistência. localizado na cidade de Juiz de Fora, em Minas
Para a obtenção dos parâmetros de resistência Gerais, através da obtenção dos parâmetros de
são necessários ensaios de laboratório, resistência do solo por ensaio de cisalhamento
geralmente são utilizados o ensaio de direto e compressão diametral na condição
cisalhamento direto e o ensaio de compressão saturada.
triaxial. Estes ensaios fornecem a envoltória de
resistência do solo estudado, sendo que o ensaio
de cisalhamento direto incita a ruptura do corpo 2 TALUDES
de prova em um plano horizontal que, não
necessariamente é o plano mais frágil do solo . Taludes são montantes de solo ou rocha com
Apesar disto, o ensaio de cisalhamento direto é uma superfície livre angulada em relação à
vantajoso visto que demanda um tempo de horizontal e podem ser naturais ou artificiais
ensaio menor além de apresentar um custo (DAS, 2011; GERSCOVICH, 2016). Taludes
favorável em comparação ao ensaio triaxial. naturais são definidos pela topografia local e os
Rodriguez (2005) propôs que a resistência à artificiais são formados por operações de corte
tração em solos coesivos fosse levada em e aterro (MASSAD, 2010).
consideração para a obtenção da envoltória de Como a ruptura mais comum em solos se dá
resistência utilizando-se do ensaio de por cisalhamento, para quantificar a
compressão diametral. Fabre (2016) adotou esse estabilidade de um talude, obtém-se o fator de
modelo com uma adaptação no molde do corpo segurança (FS), que consiste em um
de prova no mesmo solo estudado por comparativo entre as tensões cisalhantes
Rodriguez (2005). Barra (2017) aplicou o atuantes (τa) no maciço e as tensões cisalhantes
ensaio de compressão diametral em um solo resistentes (τr) do solo, conforme Equação 1.
diferente. Os parâmetros encontrados tanto em
Fabre (2016) quanto em Barra (2017), r
FS = (1)
principalmente para o intercepto coesivo, se a
mostraram influentes na estabilidade dos
A condição de instabilidade é conferida
taludes considerados.
quando a relação entre as tensões for menor que
A região da zona da mata mineira conta com
a unidade, indicando o movimento de massa.
relevo acidentado composto por colinas e a
Movimentos de massa podem ser deflagrados
necessidade de cortes e aterros em obras de
pela diminuição da resistência do solo, como
engenharia é bastante comum. É corriqueiro o
ações climáticas e variações de poropressão,
encontro de cortes verticais em taludes visando
mas também o aumento da solicitação no solo
à otimização do espaço. Porém, mesmo que os
pode ser atribuído a causa do movimento de
taludes sejam provisórios, há o risco do
massa. Dentre estes fatores podem-se citar
deslizamento quando o corte é realizado sem o
sobrecargas de materiais, solicitações
estudo do solo ou a contenção necessária.
dinâmicas, bem como a remoção de massa por
Durante o mês de outubro de 2017, um
operações de corte em taludes (GERSCOVICH,
acidente envolvendo um talude ocorreu em uma
2016).
obra na cidade de Juiz de Fora após um dia de
Os valores de referência para fatores de
intensa chuva (G1, 2017). A ocorrência deste e
segurança foram extraídos da NBR11682 da
de tantos outros deslizamentos mostra que a
ABNT (2009) que estabelece limites para estes
análise de estabilidade é pertinente na região.
valores de acordo com os níveis de risco quanto
O objetivo deste trabalho é analisar a
à perda de vidas humanas e a danos ambientais
estabilidade de taludes verticais intermediários
e materiais (Tabela 1).
pertencentes a um terreno com desnível de,
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 =  .tg '  C' (2)


Tabela 1. Fatores de segurança mínimos (ABNT, 2009).
Nível de segurança contra Pesquisas anteriores concluíram que a
danos a vidas humanas resistência à tração dos solos tem influência nos
Nível de parâmetros de resistência que, por sua vez,
segurança contra interferem nas análises de estabilidade nas
Alto Médio Baixo
danos materiais e condições de umidade de campo (BARRA,
ambientais 2017) e em solos saturados (FABRE, 2016;
Alto 1,5 1,5 1,4 FABRE et al., 2017).
Médio 1,5 1,4 1,3
Baixo 1,4 1,3 1,2
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Como o terreno estudado encontra-se em uma
área central da cidade densamente urbanizada e 3.1 Solos
a obra envolve número expressivo de operários
e maquinas, o Fator de Segurança mínimo de O talude em estudo está localizado na Avenida
projeto indicado para as análises de estabilidade Presidente Itamar Franco, uma das principais
é de 1,5 (Alto Risco para danos a vidas avenidas de Juiz de Fora, cidade pertencente à
humanas e materiais). região da Zona da Mata de Minas Gerais. O
Uma das possibilidades para o método de município se encontra no domínio geológico
análise da estabilidade é o da Análise de denominado Megassequência Andrelândia
Tensões que se baseia nos Métodos dos formado por (Sillimanita)-granada-biotita
Elementos Finitos e pode incorporar gnaisse, com intercalações de quartzito impuro
características mais sofisticadas aos materiais (q), rocha calcissilicática, anfibolito e gondito,
envolvidos. Já o método do Equilíbrio Limite é de acordo com o mapa da CODEMIG (2003)
considerado mais simples e se fundamenta na ilustrado na Figura 1.
procura da superfície de ruptura curva com o
menor fator de segurança (GERSCOVICH,
2016; MASSAD, 2010).
Neste trabalho utiliza-se o Método do
Equilíbrio Limite, em que o solo é dividido em
fatias e as forças necessárias para o cálculo de
estabilidade são executadas nestas fatias.
Para determinar a resistência ao cisalhamento
dos solos, podem ser utilizados ensaios como o
ensaio de compressão triaxial e cisalhamento
direto. Com os ensaios, é possível determinar
uma envoltória de resistência do qual são
extraídos os parâmetros de resistência ao
cisalhamento dos solos tais como o ângulo de Figura 1. Mapa geológico da região de Juiz de Fora –
atrito interno (φ') e o intercepto coesivo (C'), Escala 1:100.000 (CODEMIG, 2003).
que para certas condições de drenagem e
carregamento, podem ser escritos na forma da Na Figura 2 pode-se observar o eixo
Equação 2, com σ sendo a tensão normal longitudinal do talude estudado, bem como a
aplicada no solo e τ a tensão de resistência ao localização e a cota de início dos furos de
cisalhamento (MASSAD, 2010). sondagem à percussão usados para a
reconstituição do terreno natural e confecção do
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perfil geotécnico. O corte do talude foi feito


visando à implementação de prédios
residenciais. As cotas utilizadas têm como
referência de nível um marco na Avenida
Presidente Itamar Franco.
O material necessário para realização da
caracterização física dos solos, bem como para
confecção dos corpos de prova para os ensaios
realizados neste trabalho foram coletados de
blocos indeformados previamente retirados do
local de estudo, com o corte do talude já
executado. Os locais de coleta também são
mostrados na Figura 2.

Figura 3. Perfil geotécnico do terreno.

3.2 Caracterização Física

O preparo de amostras para os ensaios seguiu os


Figura 2. Localização dos furos de sondagem e projeção
do talude.
procedimentos da NBR 6457 da ABNT (2016).
A granulometria foi determinada pelos
De acordo com os níveis do projeto, o talude procedimentos da NBR 7181, também da
global apresenta um desnível total de 13,03 m ABNT (2016). Já para os limites de liquidez e
com taludes intermediários que variam de 2,88 limite de plasticidade, foram seguidas as
m (Taludes 2 e 3) a 3,67 m (Talude 4) de altura. normas NBR6459 e NBR 7180 da ABNT
O perfil geotécnico (Figura 3) evidencia os (2016), respectivamente.
taludes e mostra a possível configuração do Para a determinação da massa específica dos
terreno natural e a representação dos solos sólidos, o método prescrito pela ME093 do
encontrados nas sondagens à percussão, DNER (1994) foi utilizado com algumas
denominados como silte argiloso e silte modificações: substituiu-se o picnômetro de 50
arenoso. O primeiro é encontrado em cotas mL indicado na norma pelo de 250 mL e o
mais altas, compondo o Talude 4, sendo tratado tempo de banho de 15 minutos foi aumentado,
como Solo I. Já o segundo aparece em grande sendo o suficiente para que a temperatura do
parte do perfil englobando os Taludes 1, 2 e 3 e banho e a da água destilada dentro do
foi denominado Solo II. picnômetro atingissem o equilíbrio.
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3.3 Cisalhamento Direto tensão de compressão atuante no centro da


amostra, cujo valor é o triplo da tensão de
O ensaio de cisalhamento direto foi o método tração.
utilizado para o traçado da envoltória de
resistência dos solos estudados. Neste ensaio, os 2P
t = (3)
corpos de prova foram moldados em anéis DL
cilíndricos de metal com 6 cm de diâmetro e
2,3 cm de altura por cravação no solo. A 3.5 Slope/W
primeira etapa do ensaio é a saturação, que é
feita inundando-se o corpo de prova por pelo Para definir a superfície de ruptura e calcular o
menos 24 horas. coeficiente de segurança de taludes finitos foi
Na etapa seguinte, denominada adensamento, utilizado o software SLOPE/W, pertencente ao
os ensaios foram feitos nas tensões de 12,5 kPa, pacote Geostudio 2018. Neste trabalho foi
25 kPa, 50 kPa e 100 kPa. A próxima e última utilizado o método de Morgenstern-Price, com
etapa é a de cisalhamento, que é a aplicação de a direção do movimento da direita para a
um deslocamento fixo por unidade de tempo esquerda.
medindo-se a força que se contrapõe a este
movimento. A aquisição dos dados de
deslocamentos horizontais e verticais 4 RESULTADOS
juntamente com a força foi feita através do
software CDREV, produzido pelo engenheiro 4.1 Caracterização Física
Ricardo Gil da COPPE/UFRJ.
Quanto à granulometria, o Solo I foi
3.4 Resistência à Tração por Compressão caracterizado como sendo uma argila siltosa
Diametral utilizando-se de solução defloculante no ensaio
de sedimentação e como sendo um silte
Para identificar a resistência à tração de solos, argiloso com o ensaio realizado em água
Rodriguez (2005) realizou ensaios de destilada. O Solo II é classificado como silte
compressão diametral (ensaio brasileiro), onde arenoso, tanto no ensaio com defloculante
ensaiou corpos de prova em formato de discos quanto no ensaio sem a solução.
cilíndricos indeformados. A Tabela 2 ilustra os teores de umidade, em
Fabre (2016) propôs um modelo para a porcentagem, que caracterizam os limites de
moldagem dos corpos de prova, o qual é consistência dos solos.
utilizado neste trabalho. Após moldagem, os
corpos de prova passam pelo processo de pré- Tabela 2. Limites de Atterberg.
saturação. Solo LL (%) LP (%) IP (%)
Após a pré-saturação, segue-se para o Solo I 59 34 25
rompimento dos corpos de prova. Nesta etapa Solo II 46 26 20
são medidos os deslocamentos verticais e a
força referente à abertura da fissura primária. No sistema de classificação unificado (SUCS),
Com os dados obtidos através do software o Solo I foi definido como MH e o Solo II como
CDREV, faz-se o cálculo da tensão de tração CL.
(σt), conforme a Equação 3, sendo P a força
necessária para o aparecimento da fissura 4.2 Cisalhamento Direto
primária, D o diâmetro do corpo de prova onde
ocorreu a fissura e L o comprimento axial do A Tabela 3 ilustra os índices físicos médios
disco de solo. Além disso, calcula-se também, a calculados no ensaio de cisalhamento direto.
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Tabela 3 - Índices Físicos dos corpos de prova cisalhados. O Solo II não apresentou pico de tensão no
 Grau de Saturação ensaio com a tensão normal de 100 kPa e houve
Solo e uma leve tendência para aparecimento da
(kN/m³) Final (%)
Solo I 0,90 19,32 100 tensão de pico no ensaio com 25 kPa como
Solo II 0,88 18,55 100 tensão normal. Nos ensaios com 12,5 kPa e 50
kPa a tensão de pico foi melhor caracterizada
Os valores obtidos para o grau de saturação (Figura 6).
foram de 100%, indicando a saturação dos
corpos de prova.
No Solo I, houve o reconhecimento de leves
tensões cisalhantes de pico para tensões
normais de 12,5 kPa, 25 kPa e 50 kPa (Figura
4). Na tensão normal de 100 kPa o
desenvolvimento do gráfico do Deslocamento
Horizontal versus Tensão cisalhante não
caracteriza uma tensão de pico. A Figura 5
ilustra em quais corpos de prova houve o
comportamento de aumento ou diminuição de Figura 6. Deslocamento horizontal (Dh) versus tensão
volume, de acordo com os deslocamentos cisalhante – Solo II.
verticais aferidos durante os ensaios (Dv com Na Figura 7, o Solo II revelou um
variação positiva ou negativa), indicando comportamento dilatante nas três primeiras
dilatância pronunciada apenas para a tensão tensões de ensaio, condizente com a tendência
normal de 12,5 kPa. de aparecimento das tensões cisalhantes de
pico.

Figura 4. Deslocamento horizontal (Dh) versus tensão


cisalhante – Solo I. Figura 7. Deslocamento horizontal (Dh) versus
Deslocamento vertical (Dv) – Solo II.

4.3 Compressão Diametral

As tensões de tração (σt) calculadas para os 6


corpos de prova do Solo I são mostradas na
Tabela 4, bem como os resultados do
tratamento estatístico destes dados. A média
das tensões de tração (σtm) dos valores foi de
Figura 5. Deslocamento horizontal (Dh) versus 2,571 kPa, com o desvio padrão (DP) de 0,577
Deslocamento vertical (Dv) – Solo I. e coeficiente de variação (CV) de 22%.
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Tabela 4. Resistência à tração por corpo de prova com


tratamento estatístico – Solo I.
σtm
CP σt (kPa) DP CV
(kPa)
1 3,277
2 1,865
3 2,806
2,571 0,577 22%
4 2,806
5 1,865
6 2,806 Figura 9. Envoltória linear de resistência por cisalhamento
direto - Solo II.
Os corpos de prova referentes ao Solo II, após
a fase de pré-saturação, apresentaram Tais parâmetros são afetados quando há a
deformação excessiva apenas com o adição da parcela referente ao ensaio de
posicionamento do molde e abertura de fissuras compressão diametral, ou seja, considerando a
muito rapidamente, caracterizando a ruptura. O resistência à tração do solo.
Solo II, então, não possui resistência à tração. Utilizando a envoltória linear e considerando a
tensão de tração, os parâmetros de resistência
4.4 Envoltórias são 33,41º para o ângulo de atrito e 19,54 kPa
para o intercepto coesivo (Figura 10).
O ensaio de cisalhamento direto proporcionou a
envoltória linear de resistência do Solo I
mostrado na Figura 8, retornando os parâmetros
25,38º de ângulo de atrito interno (φ') e 32,97
kPa de intercepto coesivo (C').

Figura 10. Envoltória linear com a parcela de resistência à


tração - Solo I.

Como foi dito, o Solo II não possui resistência


à tração, sendo este fato representado com um
Figura 8. Envoltória linear de resistência por cisalhamento ponto na origem do gráfico Tensão Normal
direto - Solo I. versus Tensão Cisalhante. Com isso, os
parâmetros de resistência deste solo pela
A Figura 9 ilustra a envoltória linear para o envoltória linear considerando a tensão de
Solo II, que fornece 34,07º de ângulo de atrito e tração foram 41,14º para o ângulo de atrito e
34,45 kPa de intercepto coesivo como 19,79 kPa para o intercepto coesivo, como
parâmetros do solo. mostra a Figura 11.
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A Figura 12 se refere ao fator de segurança de


1,629 encontrado para o Talude 1 considerando
a envoltória linear sem a resistência à tração.

Figura 11. Envoltória linear com a parcela de resistência à


tração - Solo II.
Figura 12. FS do Talude 1 – Envoltória linear sem tração.
A Tabela 5 foi confeccionada para ilustrar
Este fator de segurança no Talude 1 se reduz
com mais clareza os parâmetros utilizados
para 1,218 quando, na entrada dos parâmetros
como dados de entrada nas análises de
dos solos, considera-se a resistência à tração,
estabilidade.
como exibido na Figura 13.
Tabela 5. Resumo dos parâmetros de resistência dos solos
de acordo com a envoltória.

Envoltória Envoltória
Solo linear sem linear com
tração tração
C' 32,97 kPa 19,54 kPa
Solo I
φ' 25,38º 33,41º
C' 34,45 kPa 19,79 kPa Figura 13. FS do Talude 1 – Envoltória linear com tração.
Solo II
φ' 34,07º 41,14º
A mesma análise foi feita para o Talude 4 e o
4.5 Análises de estabilidade fator de segurança na envoltória sem a
consideração da tração foi de 1,460 (Figura 14).
Com os dados da Tabela 5 inseridos no Este fator variou para 1,125 (Figura 15) quando
programa para cada solo correspondente do se considera a resistência à tração.
perfil do talude a ser estudado, há o cálculo do
fator de segurança de acordo com as
configurações pré-estabelecidas na
metodologia. Nos platôs dos taludes foram
adicionadas sobrecargas de 30 kPa referentes às
cargas que possivelmente venham a atuar no
solo, como tráfego de veículos, estocagem de
Figura 14. FS do Talude 4 – Envoltória linear sem tração.
materiais da obra, trânsito de pessoas, dentre
outros.
Neste trabalho serão explicitadas as
superfícies de ruptura dos taludes 1 e 4
identificados anteriormente no perfil do terreno
item 3.1, bem como a estabilidade do talude
global.
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5. CONCLUSÕES

Para o Talude 1 na condição sem a


consideração da tração, o fator de segurança de
1,629 atende à especificação de obra, ou seja, é
superior a 1,5. Com a consideração da
Figura 15. FS do Talude 4 – Envoltória linear com tração. resistência à tração, este fator se reduz para
1,218 e não atende à exigência. Logo, é
O fator de segurança retornado do Talude indicado realizar obras de contenção.
Global na condição sem tração foi de 3,162, Quando se analisa o Talude 4, o valor do fator
como mostra a Figura 16. de segurança sem a tração foi de 1,46. Este
valor já não atende à especificação da norma de
estabilidade de taludes citada anteriormente. O
fator de segurança na análise com tração se
reduz a 1,125, indicando a necessidade de obras
de contenção assim como no Talude 1.
Ao contrário dos taludes intermediários, o
fator de segurança do Talude Global se elevou
Figura 16. FS do Talude Global – Envoltória linear sem quando houve a consideração da tração na
tração. envoltória de resistência. Pode-se atribuir este
fato à tendência da redução dos interceptos
A alteração dos parâmetros dos solos resultou coesivos dos solos e do aumento do ângulo de
em um aumento no fator de segurança do atrito quando se adicionam os resultados do
Talude Global para o valor de 3,338, indicado ensaio de compressão diametral na análise. Este
na Figura 17. fato eleva a envoltória de resistência para altas
tensões, sendo refletido no fator de segurança
do talude global. A estabilidade também é
auxiliada pela grande extensão longitudinal do
talude.
Conclui-se, portanto, que para a consideração
da resistência à tração dos solos na análise da
Figura 17. FS do Talude Global – Envoltória linear com estabilidade de um talude, deve-se atentar para
tração).
o nível de tensões em que o solo está sujeito.
Esta consideração se mostra eficaz uma vez que
As variações dos fatores de segurança nos
os valores retornados convergem a favor da
taludes estudados se encontram resumidos na
segurança para os taludes intermediários com
Tabela 6.
alturas em torno de 3,60 m.
Tabela 6. Tabela resumo dos Fatores de Segurança
encontrados.
Envoltória Envoltória
linear sem linear com
tração tração
Talude 1 1,629 1,218
Talude 4 1,460 1,125
Talude Global 3,162 3,338
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AGRADECIMENTOS G1 (2017) Barranco cede em Juiz de Fora; Duas Mortes


São Confirmadas. G1 – O Portal de Notícias da
Globo, Zona da Mata, Disponível em:
Os autores agradecem à UFJF pela bolsa de <https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/
iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFJF nas barranco-cede-em-bairro-de-juiz-de-fora-e-soterra-
Ações Afirmativas, indispensáveis para a pessoas.ghtml>. Acesso em: 22 out. 2017
realização deste trabalho. Agradecem, também, Gerscovich, D. M. S. (2016) Estabilidade de Taludes, 2ª
ao laboratorista Lázaro Lopes, pelo auxílio Ed., Oficina de Textos, São Paulo, 192 p.
Massad, F. (2010) Obras de Terra: Curso Básico de
prestado. Geotecnia, 2ª Ed., Oficina de Textos, São Paulo, 216
p.
Rodriguez, T. T. (2005) Proposta de Classificação
REFERÊNCIAS Geotécnica para Colúvios Brasileiros, Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil,
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
COPPE/UFRJ, Universidade Federal do Rio de
(2009) NBR 11682: Estabilidade de Encostas, Rio de
Janeiro, 370 p.
Janeiro, 33 p.
Sousa Pinto, C. S. (2006) Curso Básico de Mecânica dos
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
Solos em 16 Aulas, 3ª Ed., Oficina de Textos, São
(2016) NBR 6457: Amostras de solo - Preparação
Paulo, 367 p.
para ensaio de compactação e ensaios de
caracterização, Rio de Janeiro, 8 p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2016) NBR6459: Solo – Determinação do Limite de
Liquidez, Rio de Janeiro, 5 p.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2016) NBR 7180: Solos – Determinação do Limite
de Plasticidade, Rio de Janeiro, 5 p.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2016) NBR 7181: Solo – Análise granulométrica, Rio
de Janeiro, 12 p.
Barra, M.F.W. (2017) Influência da Resistência à tração
do Solo na Análise de Estabilidade na Condição Não
Saturada, Trabalho de Conclusão de Curso,
Graduação em Engenharia Civil, Faculdade de
Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora, 60
p.
CODEMIG, UERJ. (2003) Mapa Geológico da Folha
Juiz de Fora, Escala 1:100.000. Disponível em:
<http://www.portalgeologia.com.br/index.php/mapa/#
col-form-download-tab>. Acesso em: 22 fev. 2018.
Das, B. M. (2011) Fundamentos de Engenharia
Geotécnica, Cengage Learning, São Paulo, 610 p.
DNER – Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem (1994) ME093: Solos – Determinação da
Densidade Real, 4 p.
Fabre, J. S. (2016) Influência da Tração na
Determinação de Parâmetros de Resistência de Solos,
Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em
Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia,
Universidade Federal de Juiz de Fora, 64 p.
Fabre, J. S.; Rodriguez, T. T.; Oliveira, N. A. C. de;
Barra, M. F. W. (2017) Influência Da Resistência À
Tração De Solos Em Análises de Estabilidade,
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas,
COBRAE, ABMS, Florianópolis. 7 p.
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Projeto de Estabilização de Encosta em Área de Reserva


Ambiental em Salvador/BA.
Felipe Augusto Nunes Berquó, MSc.
Banco Central do Brasil, Brasília, Brasil, felipe.berquo@bcb.gov.br

RESUMO: Ao longo da implementação do novo edifício sede do Banco Central do Brasil em


Salvador/BA, devido ao acréscimo de carga e impermeabilização superficial, houve o aparecimento
de processo erosivo em talude próximo ao prédio, com risco de carreamento de partículas e de
assoreamento em lagoa jusante próxima. Com a detecção do problema e do seu risco, fez-se a
análise da geometria do talude, com e sem o acréscimo de cargas, em simulação de elementos finitos
e métodos diretos de Bishop simplificado, Hoek e Bray e do talude infinito. Dessa forma, foi
proposto projeto de estabilização para mitigação do risco de escorregamento e possível recalque da
fundação do prédio. Por se tratar de área de reserva, o projeto de estabilização proposto preservou a
face da encosta com pouca alteração da geometria, permitindo a manutenção da vegetação existente
com consequente redução do processo erosivo.

PALAVRAS-CHAVE: Reserva Ambiental, Processo Erosivo, Estacas Escavadas.

1 INTRODUÇÃO 2 PARÂMETROS DO SOLO

O novo edifício sede do Banco Central do Brasil Os únicos dados apresentados sobre o terreno
em Salvador/BA, cuja construção foi finalizada existente eram derivados do ensaio de sondagem
em 2016, é localizado na região do CAB SPT realizados na fase de projeto da
(Centro Administrativo da Bahia) em terreno construção. O dado do SPT foi analisado
que apresenta, em aproximadamente um terço utilizando a correlação baseada em Décourt
de sua área total, parte de uma reserva de mata (1989).
atlântica natural. Esta parte do terreno possui Na sondagem realizada em 16 de dezembro
uma encosta de 10 metros de altura com de 2008, foi encontrado o impenetrável nos
aproximadamente 24° de inclinação, cuja base furos 01 e 06 (mais próximos do talude) a
apresenta a jusante uma lagoa intermitente onde aproximadamente 13 metros de profundidade. O
são acumuladas as águas pluviais do terreno. Ao terreno é composto por três horizontes: Silte
longo da implementação do edifício, devido ao arenoso, pouco argiloso, medianamente
acréscimo de carga e impermeabilização compacto na camada superficial, areia siltosa,
superficial, houve o aparecimento de processo medianamente compacta na camada
erosivo com risco de assoreamento do corpo intermediária e areia com pedregulhos finos,
hídrico existente. Além disso, foi percebido o pouco siltosa, medianamente compacta na
crescimento de trincas no solo, existindo a camada mais profunda. O valor do SPT vai de
possibilidade de escorregamento na região 23 até 40 em toda a extensão do furo realizado.
próxima à lateral do edifício construído. Com a Em nenhum ponto foi encontrado o nível
apresentação do problema, decidiu-se minorar o d’água. Assim, com o SPT mínimo de 23, o
seu risco com uma intervenção rápida e que ângulo de atrito da correlação é 25°, abaixo do
preservasse a mata atlântica existente. médio para siltes e areias medianamente
compactas e o peso específico de 14 KN/m³ e
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17 KN/m³, valores próximos a argilas e areias


fofa e seca, de acordo com Teixeira (1993).
Além do SPT, buscou-se parâmetros do solo
em análises anteriores de terrenos vizinhos ou da
região de implementação conforme Jesus et al.
(2005), que estudou os vários tipos de solos
encontrados na cidade de Salvador/BA,
demonstrando os valores de ângulo de atrito,
coesão, peso especifíco natural e coeficiente de Figura 1. Seção com maior inclinação do talude
vazios. Para o solo do CAB, o parâmetro médio
do ângulo de atrito é entre 18,2 e 24,7 e o peso Assim, a pior inclinação encontrada foi de i=
específico natural entre 16,7 e 17,2 KN/m³. O 0,45 m/m, aproximadamente 24°. Para o estudo
K0 adotado, conforme formulação proposta por do método de Bishop foram feitas três
Jaky (1944), é 0,58. curvaturas com raio de 13,91 metros, uma com
Assim, como demonstrado na Tabela 1, raio de 22,64 metros e por fim um curvatura
foram adotados os valores de 25° para o ângulo com raio de 35,88. Todas as curvaturas passam
de atrito, 14 kN/m³ e 17 kN/m³ para o peso pelo topo do talude, já que este apresentava
específico natural, sendo o primeiro para as pequenas fraturas quando da visita ao local.
faixas inferiores do método de Bishop e o maior Somente as duas últimas curvaturas não
para as faixas superiores do mesmo cálculo, apresentam ângulo negativo na entrada da curva
atuando a favor da segurança devido às na face inclinada do talude. A seção recortada
incertezas encontradas nos pârametros do talude com as cinco curvaturas estão
adotados. demonstradas nas figuras 2 a 6.
Dessa forma, foi possível verificar diversas
Tabela 1. Parâmetros do solo adotados possibilidades de ruptura e determinar qual seria
Parâmetros Correlação SPT Amostragem de o pior caso para análise de segurança e
e parâmetros solo em utilização em possível projeto de estabilização
adotados Salvador/BA da encosta.
Peso específico 14 e 17 kN/m³ 16,7 -17,2
kN/m³
Ângulo de atrito 25° 18,2 – 24,7 °
(°)
Coeficiente de - 0,58
empuxo (adim.)

3 – MÉTODO DE BISHOP SIMPLIFICADO

A partir das curvas topográficas calculadas à


época do estudo do terreno, determinou-se a
pior inclinação do talude para o cálculo do
método de Bishop simplificado comparando-se
3 seções do talude. Como este apresenta
comprimento total de 100 metros com mudança
da direção longitudinal e uniformidade da seção, Figura 2. Cálculo de Bishop – Curva 1
precisava-se apenas do cálculo do método em
uma única seção, apresentada na figura 1.
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As primeiras três curvas apresentam raios


iguais e pelas três primeiras lamelas
apresentarem inclinações negativas, a tendência
de escorregamento é menor. A quarta curva,
apesar de não apresentar inclinação negativa nas
faixas da base, por apresentar pouca massa,
ainda apresenta baixo risco de ruptura. Já a
última curva, por ter raio menor e por
apresentar lamelas com inclinações sempre
positivas, apresenta maior risco de
escorregamento. Os valores para os fatores de
segurança encontrados para todos os cálculos
Figura 3. Cálculo de Bishop – Curva 2
são demonstrados na tabela 2.

Tabela 1. Parâmetros do solo adotados


Fator de
Curva
segurança
Curva 1 1,61
Curva 2 1,92
Curva 3 1,61
Curva 4 1,33
Curva 5 1,21

O menor fator de segurança encontrado foi o


da última curva, igual a 1,21. Como não foram
feitas infinitas análise do método de Bishop,
Figura 4. Cálculo de Bishop – Curva 3 acreditava-se que poderia haver alguma outra
curvatura com coeficiente menor, próximo a 1,
ocasionando risco de escorregamento do talude.
Além disso, neste cálculo não foram
considerados os acréscimos de carga no topo do
talude devido à implementação do edifício sede.
Então, foram utilizados os métodos diretos
de cálculos de Hoek e Bray com abáco de
estabilidade com linha freática profunda
encontrou fator de segurança de 1,13, e o
Figura 5. Cálculo de Bishop – Curva 4 método de talude infinito, utilizando camada de
1,5 metro de altura, peso específico de 17
KN/m³, inclinação do talude de 24°, ângulo de
atrito de 25°, encontrou fator de segurança de
1,04. Valor este ainda menor que o dos métodos
anteriores.
Como estes valores estavam muito próximos
do limite de estabilidade, considerou-se
necessária intervenção no talude para garantir a
segurança do terreno e do prédio instalado.

Figura 6. Cálculo de Bishop – Curva 5


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4 – MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS intervenção, com a utilização de muro de


gabião, microestaqueamento, reconformação da
Para complementar as análises de risco e face frontal ou até a concretagem da mesma. A
verificação completa da situação apresentada, solução proposta foi a execução de estacas
achou-se necessário estudar o fator de escavadas no topo da encosta, com
segurança do talude com o acréscimo de carga profundidade de 10 metros cada, cuja base
em seu topo. Dessa forma, utilizou-se o método encontra solo com maior resistência,
de elementos finitos para esta análise. retransmitindo os esforços da face do talude
Foram selecionadas 2 fases de cálculo para o para o solo de fundação. Dessa forma, atua-se
método numérico, a primeira sem a presença de na curva de rompimento, sendo esta cortada
sobrecarga e a segunda já com o prédio pelas estacas, evitando o escorregamento do
instalado, considerando-se um carregamento solo. Em trechos que a erosão era maior,
rápido sobre o talude. decidiu-se também pela reconformação do
As análises com presença de sobrecarga talude com intuito de diminuir a inclinação.
apresentaram deformações expressivas após a As estacas adotadas apresentam 25
implementação do edifício. Neste caso alguns centímetros de diâmetro e foram espaçadas a
pontos que haviam se deslocado apenas 5 cada metro ao longo de todo o talude com a
centímetros sem a sobrecarga, chegaram a execução de uma viga de coroamento a cada
apresentar deslocamentos totais da ordem de 30 dez estacas. Os conjuntos de estacas
centímetros, mostrando uma situação acompanham a mudança de direção longitudinal
preocupante quanto a segurança do conjunto. dos taludes. Nos trechos onde havia a
Os pontos de maior deformação foram sobrecarga mais próxima, ou com maior risco de
encontrados no topo do talude, próximo ao escorregamento, foram executadas duas linhas
inicio da inclinação da frente do mesmo. de estacas paralelas, a primeira no topo da
Por se tratar de carregamento rápido, não foi encosta e a segunda na metade da face deste.
encontrado deslocamento progressivo em Assim, a face da encosta foi preservada com
nenhuma parte do talude. Porém, ao longo da pouca alteração da geometria existente,
vida útil do edifício, as deformações iniciais permitindo que a vegetação retornasse
poderiam provocar algum problema para os naturalmente, com consequente redução do
futuros usuários. processo erosivo.
Com esta verificação, decidiu-se pela Para auxiliar o processo de retomada da
necessidade da intervenção no talude para vegetação, foi adotado projeto de paisagismo
melhorar as condições de segurança do mesmo. com utilização de plantas originárias da região
no topo do talude.
Para confirmação de que o projeto de
5– PROJETO DE ESTABILIZAÇÃO DO estaqueamento adotado melhoraria o fator de
TALUDE segurança contra o escorregamento do talude,
Assim, foi proposto projeto de estabilização foi feita uma terceira análise utilizando o método
para mitigação do risco de escorregamento e de elementos finitos, aproveitando-se os
possível recalque da fundação do prédio. Por se resultados encontrados anteriormente com o
tratar de região de preservação de mata atlântica talude natural e com acréscimo de carga no seu
nativa, o projeto de estabilização e a sua topo.
implementação tiveram que observar este Esta análise mostrou que o acréscimo das
condicionante, de forma que o impacto na área estacas não aumentou o deslocamento total dos
fosse o mínimo possível, sem nenhum diversos pontos analisados do talude. Além
desmatamento da região. disso, os resultados apresentaram a
Foram analisadas diversas possibilidades de concentração de cargas sobre as estacas,
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aliviando os acréscimos de tensões no solo Engineering, vol 22, p.355-358


devido a implementação do edifício próximo ao Jesus, A. C., Miranda, S. B., Dias, L. S. O., Brito Júnior,
J.A, Burgos, P.C., Campos, L. E. P. (2005)
talude. Contribuição para o zoneamento das áreas com
características geotécnicas semelhantes da Cidade
de Salvador visando aplicação em mapeamento de
AGRADECIMENTOS risco, Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encosta, COBRAE, ABMS, Salvador, v.1, p.17-25
Agradeço à equipe de engenheiros e arquitetos Teixeira, A. H. (1993) Um aperfeiçoamento das
sondagens de simples reconhecimento à percussão.
do Banco Central do Brasil, em especial aos Anais da mesa redonda Solos do interior de São
responsaveis pela implementação do projeto em Paulo, p 75-93.
Salvador/BA.

6– CONCLUSÃO

A apresentação de sintomas de ruptura e de


erosão em talude serviram de embasamento para
análise de segurança e confirmação do risco
apresentado. Por se apresentarem poucos dados,
foram necessárias diversas análises diretas e
numéricas para garantir a real necessidade de
estabilização conforme a situação. A partir da
constatação do problema, teve-se que estudar
diversos tipos de soluções de forma a encontrar
a que se melhor adequava aos condicionantes
presentes.
O projeto de estabilização escolhido se
mostrou bastante prático para o caso,
diminuindo a intervenção na mata atlântica
existente e aumentando a segurança da
edificação e do talude. A instalação se deu em
menos de dois meses, aproveitando-se que o
terreno arenoso permite uma escavação rápida
sem necessidade de estabilização dos furos.
Hoje, após um ano de implementação da
solução, o talude já apresenta vegetação nativa
com médio porte, sem sinais de erosão e de
trincas no edifício adjacente.

REFERÊNCIAS

Décourt, L. (1989) The Standard Penetration Test-State


of the Art Report, Proc. XII ICSMFE, Rio de Janeiro
Vol. IV, p. 2405-2416,.
Jaky, J. (1944) The coefficient of earth pressure at rest.
In Hungarian (A nyugalmi nyomas tenyezoje)
Journal of the Society of Hungarian Architects and
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Talude de Corte em Área Urbana de Risco


Jonathan do Amaral Braz
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jonathan.amaral@engenharia.ufjf.br

Kamila Oliveira do Carmo


Interconstrutora, Juiz de Fora, Brasil, kamila.oliveira.carmo@hotmail.com

Isabella Novais Silva


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, isabella.novais@engenharia.ufjf.br

Tatiana Tavares Rodriguez


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

Jordan Henrique de Souza


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br

RESUMO: Movimentos de massa são fenômenos naturais relacionados à dinâmica da estrutura


geológica de uma região. Ocupações e processos de urbanização inadequados nesses espaços podem
acarretar em possíveis desastres, como é visto frequentemente em regiões periféricas. Dessa forma,
o objetivo do trabalho em questão é analisar a estabilidade de um talude de corte localizado em
Santa Cecília, Juiz de Fora (MG). A Defesa Civil classificou a área como sendo de alto risco e a
instabilidade foi sinalizada por fissuras de tração no terreno e fendas nas edificações acima do
talude. O estudo foi feito através de caracterização física e ensaios de cisalhamento direto dos solos
encontrados na região, seguidos de análise da estabilidade por meio de software. Concluiu-se que,
na ausência de sobrecarga, o talude se encontrava em situação de estabilidade e, na presença de
sobrecarga, apontava para a necessidade de obras de contenção.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de talude, intervenção antrópica, área urbana.

1 INTRODUÇÃO espaços. O resultado dessa prática pode se


tornar um problema, desencadeando acidentes
Movimentos de massa são fenômenos naturais envolvendo escorregamento de taludes
relacionados à estrutura geológica do terreno, à (OLIVEIRA; ROBAINA, 2015).
forma do relevo e ao desgaste do solo como um Segundo dados divulgados na última edição do
todo. Estes tornam-se impactos ambientais Anuário Brasileiro de Desastres Naturais,
urbanos quando há a ocupação antrópica de publicado pela Defesa Civil (2014), movimentos
áreas localizadas em encostas, tornando o de massa são a maior causa de mortes
processo mais frequente e intenso por fornecer ocasionadas por desastres naturais, totalizando
condições propícias à ocorrência do fenômeno 22,4% do total no mesmo ano – sendo o Sudeste a
(MASSAD, 2010). região de maior incidência das ocorrências (53%).
Tais ocupações urbanas em encostas sem a Uma reportagem feita pelo O TEMPO
adoção de critérios técnicos e de segurança são (2013) relata que, no período de chuvas, os
frequentemente observadas em regiões escorregamentos de encostas na cidade de Juiz
periféricas carentes, principalmente por conta de Fora levaram dezoito pessoas a óbito e
do pequeno valor comercial atribuído a esses noventa e cinco pessoas a serem deslocadas por
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motivos de segurança. No ano de 2016, de localizado na área urbana de Juiz de Fora


acordo com o G1, a Defesa Civil local chegou a considerando os parâmetros de resistência
registrar mais de quarenta ocorrências de obtidos por meio de ensaios de laboratório e a
movimentos de terra em menos de um dia. influência da ação antrópica na estabilidade
Segundo dados do Instituto Brasileiro de desse talude.
Geografia e Estatística – IBGE (2017), o
município de Juiz de Fora tem passado por um
processo de expansão urbana nas últimas 2 MOVIMENTOS DE MASSA
décadas, o que levou à rápida ocupação de
zonas periféricas sem acompanhamento de um 2.1 Conceito e classificações
planejamento adequado. Além disso, a cidade se
assenta no complexo Juiz de Fora, região Segundo Hutchinson (1968), movimentos
geológica formada por sistemas de falhas e gravitacionais de massa podem ser definidos
fraturas que separam as diversas formações como movimentos de descida de determinado
locais (INSTITUTO DE PESQUISA, volume de material de composição diversa (solo
ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO, ou rocha) induzidos pela gravidade, com
1996), justificando a fragilidade geológica e exceção daqueles carreados por intermédio de
influenciando os recorrentes movimentos de outro agente transportador, como água, neve ou
massa na região. ar.
Tendo em vista a situação apresentada, a Há diversas classificações de movimento de
Defesa Civil de Juiz de Fora executou um massa, decorrentes da diversidade de ambientes
mapeamento das áreas de risco em todo o de ocorrência e dos vários enfoques dados pelos
município e distritos. Foram identificadas 713 profissionais, havendo a necessidade de escolha
manchas de risco no mapa sujeitas a desastres pela mais adequada a cada situação e região.
naturais, como desabamentos e inundações, de As características da dinâmica ambiental
acordo com a probabilidade de ocorrência. O brasileira foram analisadas e consideradas pela
estudo também considerou as características dos classificação proposta por Augusto Filho (1992).
moradores desses locais, como a idade média e Os movimentos foram, então, definidos em quatro
a renda, visando fornecer subsídios para as grupos: rastejo ou fluência, escorregamentos,
necessárias intervenções e campanhas de quedas e fluxo de detritos.
prevenção nesses locais. Há, ainda, a classificação proposta por Vargas
Atualmente são encontradas diversas (1999, apud LA-CÔRTE, 2015), que teve como
soluções para a estabilização de taludes, sendo base os diversos tipos de escorregamento da Serra
do Mar, priorizando a constituição do material, a
de grande importância o reconhecimento de
ocasião e a ocorrência do fenômeno. Nesse caso,
algumas características da região em análise
os movimentos se organizam nos seguintes
para a escolha do método adequado, como
grupos: movimentos plásticos ou viscosos,
recursos disponíveis, a técnica executiva viável, deslizamentos ao longo de superfícies de ruptura,
a geologia local e fatores ambientais. Devido ao deslizamentos estruturais de maciços rochosos e
nível de dificuldade embutido nesta categoria de avalanches.
obra, uma avaliação técnica feita por um
profissional com experiência é imprescindível 2.2 Estabilidade de taludes
para a escolha da melhor solução e realização
dos critérios de segurança estabelecidos por O principal foco da análise de estabilidade de
normas. encostas é prever a possibilidade de ocorrer o
Dada a relevância e a necessidade desse tipo movimento de massa em um talude natural ou
de estudo, o objetivo do trabalho em questão é artificial, por determinação e análise do fator de
investigar a estabilidade de um talude segurança do talude.
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Após a análise e definição do nível de 3 LOCAL DE ESTUDO


segurança de um projeto, a NBR 11.682 da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – A encosta analisada se encontra no bairro Santa
ABNT (2009) recomenda definir um valor Cecília, região central da cidade de Juiz de Fora
mínimo admissível do fator de segurança, e é delimitada pelas ruas Pretestato Silva, João
levando em consideração as condições atuais do Francisco Monteiro e Rodrigo Lemos de Paula.
talude e suas possibilidades de usos futuros. Os Segundo dados da Prefeitura Municipal de Juiz
valores do fator de segurança não levam em de Fora (2007a), o bairro contava com uma
consideração as variedades geológicas que população de aproximadamente 3.349
ocorrem nos taludes, como estratificações e habitantes distribuídos não uniformemente em
deformações, somente a resistência do solo ao uma área com cerca de 0,244km², sendo
cisalhamento. A Tabela 1 apresenta a considerada densamente povoada. No
recomendação da norma para os fatores de mapeamento realizado em 2008 pela Defesa
segurança mínimo, no caso de escorregamentos, Civil no município de Juiz de Fora, a área onde
ressaltando que os valores apresentados devem o talude estudado se localiza foi classificada
ser majorados em 10% caso ocorra grande como sendo de alto risco de escorregamentos,
variação nos ensaios geotécnicos realizados. sendo denominada de sub-área C4-4, como
mostra a Figura 1.
Tabela 1. Fatores de segurança mínimos (Modificado da
ABNT, 2009).

Nível de segurança contra danos


a vidas humanas
Nível de segurança
contra danos
Alto Médio Baixo
materiais e
ambientais
Alto 1,5 1,5 1,4
Médio 1,5 1,4 1,3
Baixo 1,4 1,3 1,2

Segundo Gerscovich (2012), a dinâmica dos


movimentos de massa brasileiros é altamente
influenciada por fatores presentes na região, tais
como o clima, a geologia, a estrutura
Figura 1. Divisão da Área de risco C4, Santa Cecília
hidrológica, a vegetação e o tipo de uso que se (Modificado de DEFESA CIVIL, 2008).
faz da área. Além disso, Terzaghi (1950, apud
ZANARDO, 2014) organiza as causas dos Em uma visita ao local, foi constatado que as
movimentos em internas – situações em que não partes elevadas do bairro já estão amplamente
há alteração nos parâmetros do talude, mas sim tomadas por residências, restando poucos lotes
a presença de intemperismos e redução da inabitados. A encosta apresenta diversos pontos
coesão do solo, resultando na redução de sua de instabilidade ocasionados por focos de
resistência ao cisalhamento – e externas – erosão, além de possuir uma geometria
situações em que há o aumento de solicitação na altamente acentuada e a presença de residências
encosta por conta de alterações. em sua crista. As edificações correm risco, pois
à medida em que a encosta vai sendo
deteriorada pelos constantes escorregamentos e
processos erosivos, elas podem sofrer abalos e
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até mesmo desmoronar (PREFEITURA


MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA, 2014).
O desenvolvimento do processo de
instabilização pode ser analisado por feições
que sugerem a iminência de deslizamentos,
como: fendas de tração na superfície do terreno,
inclinação de estruturas ali localizadas,
aparecimento de trincas nas moradias e
surgimento de degraus de abatimento
(INSTITUTO DE PESQUISAS
TECNOLÓGICAS, 2007).
No local, é possível notar estes sinais de
movimentação. Como exemplo dos perigos
causados pela instabilidade do talude aos
habitantes, em 2007, uma das residências da Figura 2: Localização das sondagens e seções na encosta
em análise (Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, 2014).
área sofreu severos danos estruturais pelo
movimento de terra da encosta. Após a
A seção escolhida para ser analisada neste
realização de uma ocorrência pela própria
trabalho corresponde ao furo SP 157, pois é a
moradora e posterior análise da situação por
mais crítica, visto que apresenta maior
profissionais da Defesa Civil, a solução
declividade média. A Figura 3 apresenta o perfil
encontrada para não haver maiores prejuízos foi
que contém o furo executado.
a interdição das vias próximas a área e a
demolição da edificação afetada
(PREFEITURA MUNICIPAL DE JUIZ DE
FORA, 2007b).
Para a análise da estabilidade, foram usadas
informações referentes ao levantamento
topográfico local e sondagens, disponibilizadas
pela Defesa Civil da Prefeitura Municipal de
Juiz de Fora. A Figura 2 mostra o levantamento
planialtimétrico realizado, contendo os pontos
de sondagem.

Figura 3: Seção correspondente ao furo SP 157 do talude


em estudo (Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, 2014).

Como pode ser observado no Boletim de


Sondagem (Figura 4), os solos predominantes
na encosta são argila arenosa de consistência
mole na camada superficial, silte argiloso de
consistência média nas camadas da região
central dos perfis e silte argiloso rijo na parte
inferior do maciço. O solo residual maduro
presente no local apresenta cor alaranjada,
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enquanto o solo residual jovem apresenta cores 4.1 Caracterização física


variegadas (amarelo e rosa).
As amostras deformadas foram destinadas ao
processo de caracterização física dos solos.
Executou-se um ensaio de análise
granulométrica – composta por peneiramentos e
sedimentação – de acordo com a NBR 7.181 da
ABNT (2016). Além disso, realizou-se um
ensaio para cálculo da massa específica dos
sólidos, de acordo com a ME093 do
Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem – DNER (1994).

4.2 Cisalhamento direto

Para a obtenção dos parâmetros de resistência


do solo (coesão e ângulo de atrito), foi
executado o ensaio de cisalhamento direto. O
procedimento consistiu, primeiramente, na
etapa de saturação com duração de 24 horas.
Figura 4: Sondagem a percussão, furo SP157
Em seguida, houve a etapa de adensamento, em
(Modificado de Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, que se aplicou cargas verticais referentes a
2014). tensões que variaram entre 25 e 400 kPa. Por
fim, executou-se a etapa de cisalhamento, em
que houve o deslocamento da parte inferior da
4 MÉTODOS caixa à velocidade de 0,01 mm/min. A coleta de
dados (deslocamento horizontal, deslocamento
Para a análise do material presente no talude, as vertical e força cisalhante) foi feita através do
amostras deformadas foram obtidas por coleta programa CDREV, desenvolvido pelo técnico
com espátula e acondicionadas em sacos Ricardo Gil, da COPPE/UFRJ.
plásticos duplos devidamente identificados. As
amostras indeformadas foram coletadas 4.3 Análise de estabilidade do talude
diretamente nos anéis de cisalhamento de 6 cm
de diâmetro e 2,3 cm de altura, como ilustra a A análise de estabilidade do talude foi feita por
Figura 5. meio do software Geo-Slope, do pacote
GeoStudio. O método utilizado para a obtenção
dos fatores de segurança foi o Método de
Morgenstern e Price e a análise foi feita no
modo Entrada e Saída. A sobrecarga de 20 kPa
foi considerada no topo do talude, referente às
edificações nele presentes.

5 RESULTADOS
Figura 5: Amostra indeformada (CARMO, 2017).
As curvas granulométricas resultantes dos
ensaios com defloculante e sem defloculante
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para cada um dos solos estão representadas nas A Figura 8 mostra os dados obtidos a partir
Figuras 6 e 7. do programa de aquisição de dados do ensaio de
De acordo com a escala da NBR 6.502 cisalhamento direto para o solo residual jovem
da ABNT (1995), o solo residual jovem com a na condição saturada e a Figura 9 apresenta a
utilização de defloculante na etapa de envoltória linear de resistência para este solo.
sedimentação apresenta uma composição Os parâmetros de resistência obtidos foram φ =
granulométrica de 3% de argila, 42% de silte, 26,8° e c' = 76,86 kPa.
53% de areia e 3% de pedregulho. Trata-se,
portanto de uma areia siltosa.
O solo residual maduro apresenta uma
composição granulométrica de 55% de argila,
21% de silte e 24% de areia, tratando-se,
portanto, de uma argila arenosa.

Figura 6: Curva Granulométrica do solo residual jovem


com defloculante (CD) e sem defloculante (SD)
(CARMO, 2017).

Figura 8: Solo residual jovem (a) Tensão Cisalhante


versus Deslocamento Horizontal (b) Deslocamento
Vertical versus Deslocamento Horizontal.

Figura 7: Curva Granulométrica do solo residual maduro


com defloculante (CD) e sem defloculante (SD)
(CARMO, 2017).

Através dos dados obtidos dos ensaios de


cisalhamento foram traçadas as envoltórias de
resistência dos solos e a partir delas obtiveram-
Figura 9: Envoltória de resistência linear do solo residual
se os parâmetros de resistência, compreendidos jovem.
pelo ângulo de atrito (φ) e pelo intercepto
coesivo (c'). A Figura 10 representa as curvas de tensão
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cisalhante versus deslocamento horizontal e as antrópicas realizadas, apresentando um fator de


curvas de deslocamento vertical versus segurança de 1,661 – que permite concluir sua
deslocamento horizontal do solo residual estabilidade, de acordo com o fator de
maduro, enquanto que a Figura 11 ilustra a segurança mínimo sugerido pela norma para
envoltória linear de resistência obtida para este situações de alto risco de danos e a vidas
solo. Os parâmetros de resistência obtidos humanas.
foram φ = 30,89° e c' = 7,42 kPa. A Figura 13, por sua vez, mostra o resultado
da análise após as intervenções, apontando para
um fator de segurança de 1,031 – indicando a
situação de iminência de ruptura do talude.
1,661

34
32
Name: Solo Residual Madudo
30 Unit Weight: 12 kN/m³
28 Cohesion': 7,42 kPa
26
Phi': 30,9 °

24
22
20
18 Name: Solo Residual Jovem
16
Unit Weight: 16 kN/m³
Cohesion': 73,86 kPa
14 Phi': 26,8 °
12
10
8
6
4
2
0
-2
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Figura 12: Análise de estabilidade do talude antes da


intervenção antrópica.

1,031

Figura 10: Solo residual maduro (a) Tensão Cisalhante 34


32 Name: Solo Residual Madudo
versus Deslocamento Horizontal (b) Deslocamento 30 Unit Weight: 12 kN/m³
Cohesion': 7,42 kPa
Vertical versus Deslocamento Horizontal (CARMO, 28 Phi': 30,9 °
26
2017). 24
22
20
Name: Solo Residual Jovem
18 Unit Weight: 16 kN/m³
16 Cohesion': 73,86 kPa
Phi': 26,8 °
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Figura 13: Análise de estabilidade do talude após a


intervenção antrópica.

Figura 11: Envoltória de resistência linear do solo


residual maduro (CARMO, 2017). 6 CONCLUSÃO

A Figura 12 mostra o resultado da análise de O talude localizado em Santa Cecília, Juiz de


estabilidade do talude antes das intervenções Fora (MG), apresentou composição de um solo
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residual maduro – classificado como argila Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2009). NBR
arenosa – sobre um solo residual jovem – 11.682: Estabilidade de Encostas, Rio de Janeiro, 33
p.
classificado como uma areia siltosa. Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016) NBR
Foram executados ensaios para a 7.181: Solo: Análise granulométrica, Rio de Janeiro,
caracterização dos materiais e obtenção de seus 13 p.
parâmetros de resistência. O solo residual Augusto Filho, O. (1992). Caracterização geológico-
jovem apresentou ângulo de atrito de 26,8° e geotécnica voltada à estabilização de encostas: uma
proposta metodológica, Conferência Brasileira sobre
intercepto coesivo de 76,86 kPa. O solo residual Estabilidade de Encosta, COBRAE, ABMS, Rio de
maduro, por sua vez, apresentou ângulo de Janeiro, v. 1, p. 721-733 .
atrito de 30,89° e intercepto coesivo de 7,42 Carmo, K. O. (2017). Análise da Estabilidade de Um
kPa. Talude em Área de Risco Urbana, Trabalho Final de
A análise de estabilidade anteriormente Curso, Graduação em Engenharia Civil, Faculdade de
Engenharia, Universidade Federal de Juiz de Fora,
exposta permite concluir que, antes das Juiz de Fora, 76 p.
intervenções antrópicas, o talude apresentava Defesa Civil. (2014). Anuário brasileiro de desastres
um fator de segurança satisfatório e, portanto, se naturais: 2013, Ministério da Integração Nacional,
encontrava em situação de estabilidade – Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,
Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e
mesmo localizado em uma região de alto risco.
Desastres, Brasília, 75 p.
Entretanto, com as alterações, observou-se uma Departamento Nacional de Eestradas e Rodagem. (1994)
queda no fator de segurança, colocando o talude ME 093 – Solo: Determinação da Densidade Real,
em situação de risco de ruptura. São Paulo, 4 p.
Tais informações apontam para a G1. (2016). Defesa Civil Registra mais de 40 ocorrências
devido à chuva. G1 – O portal de notícias da Globo,
necessidade de obras de contenção no local de
Zona da Mata, disponível em
estudo, bem como corrobora a importância de <<http://g1.globo.com/mg/zona-da-
estudos semelhantes em áreas de risco mata/noticia/2016/12/defesa-civil-de-juiz-de-fora-
povoadas, uma vez que intervenções registra-mais-de-40-ocorrencias-devido-chuva.html>>
inadequadas podem levar à instabilizações. Acesso em 20 de abril de 2017.
Gerscovich, D. M. S. (2016). Estabilidade de taludes, 2
Ed. Oficina de Textos, São Paulo, 192 p.
Huttchinson, J. W. (1968). Plastic stress and strain fields
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of Solids, v. 16, n. 5, p. 337-342.
Os autores agradecem à UFJF pelas bolsas de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
(2017). Disponível em
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concedidas ao projeto ANÁLISE DE fora/panorama>. Acesso em 30 mai. 2017.
ESTABILIDADE DE ENCOSTAS EM ÁREA Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento de
DE RISCO URBANA sob coordenação da Juiz de Fora. (1996). Plano Diretor de
autora Tatiana Tavares Rodriguez. Agradecem, Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora, Juiz de
Fora.
também, à Defesa Civil pelo apoio nos Instituto de Pesquisas Tecnológicas. (2007). Mapeamento
trabalhos de campo e à Prefeitura Municipal de de Riscos em Encostas e Margem de Rios, Celso
Juiz de Fora pela disponibilização dos relatórios Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e
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176 p.
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TEMA:  
ESTRUTURA DE CONTENÇÃO 
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Análise comparativa de métodos para dimensionamento de estacas


– prancha em balanço
Gustavo Henrique do Nascimento Ferreira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, Gugahnferreira@gmail.com

Luiz Augusto da Silva Florêncio


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, luiz.engh@gmail.com

Carina Maia Lins Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, carina@ct.ufrn.br

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo avaliar comparativamente diferentes abordagens de
dimensionamento de estacas-prancha em balanço em solo arenoso, especificamente: o Método do
Momento de Projeto (MMP), o Método da Resistência de Projeto (MRP), o Método da Tensão
Passiva Líquida (MPPL) e o método apresentado por Das (2011). Foi realizado um estudo
paramétrico no qual se variou a profundidade de escavação, o ângulo de atrito do solo, o peso
específico do solo e o fator de segurança (FS). Foram avaliados a profundidade da ficha, o momento
máximo atuante e sua posição de aplicação. Por meio dos resultados, verificou-se que a variação do
momento máximo devido à mudança do peso específico é pequena para todos os métodos.
Entretanto, a mudança do ângulo de atrito do solo afeta significativamente o valor do momento
máximo. O método MRP foi o mais conservador em relação ao comprimento da ficha. Por fim, a
variação do FS revelou que o método MPPL apresentou os menores valores de momento máximo.

PALAVRAS-CHAVE: Estruturas de contenção, Contenção em balanço, Estaca-prancha, Métodos


analíticos, Dimensionamento.

1 INTRODUÇÃO empuxos do maciço de solos.


Para a modalidade de contenção em balanço,
Estacas-prancha em balanço são estruturas de o elemento de suporte é o comprimento da
contenção muito utilizadas para compor um contenção que fica abaixo da profundidade de
paramento estanque destinado a evitar fluxo de escavação. Assim, a ficha deve ser
água e carreamento de materiais para dentro de suficientemente grande para engastar e garantir
uma escavação (Hachich et al, 1996). Podem ser o equilíbrio da contenção, restringindo as
reutilizadas e por isso são bastante executadas deformações e rotações da estaca-prancha.
em condições temporárias, por exemplo, em Essa estabilidade é garantida essencialmente
valas de dutos enterrados. Podem ainda atuar pela resistência passiva do solo atuante na ficha.
como estruturas definitivas, por exemplo, em Em virtude dessas características, Gerscovich et
obras portuárias. al (2016) recomenda sua execução para conter
As contenções com estacas prancha, pequenas profundidades ou em etapas iniciais
geralmente compostas por perfis metálicos, são de escavações profundas. Segundo Budhu
tipicamente classificadas como estruturas (2013), é recomendada sua execução até
flexíveis. Desse modo, seu paramento está aproximadamente 3 m de escavação e segundo
sujeito a deformações por flexão em função dos Das (2011) até 6 m de escavação.
momentos gerados pelas tensões oriundas dos O dimensionamento de contenções com
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estacas-prancha é normalmente realizado por analíticos clássicos presentes na literatura


métodos analíticos através do equilíbrio estático técnica para o dimensionamento de contenções
das forças horizontais e momentos atuantes com estacas-prancha em balanço. Esse estudo
(métodos clássicos). Assume-se a rotação da foi realizado considerando as características de
cortina em relação a um ponto abaixo da linha resistência de solos arenosos, tipicamente
de escavação, sob o efeito do diagrama encontrados na cidade do Natal-RN.
resultante dos empuxos atuantes. Esse diagrama
é comumente obtido utilizando a formulação
segundo Rankine (1857). 2 MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO
Em virtude das incertezas de projeto e das
simplificações adotadas, adota-se usualmente Diferentes abordagens para dimensionamento
um comprimento de ficha final 20 a 30% maior de contenções com estacas-prancha em balanço
daquele encontrado pelo dimensionamento são possíveis. No presente trabalho, foram
analítico. Determina-se a altura final da utilizados os métodos analíticos descritos por
contenção pela soma da ficha final mais a Budhu (2013). O referido autor apresenta três
profundidade de corte (H0). abordagens distintas designadas por: método do
Mesmo considerando apenas os métodos momento de projeto (MMP), método da
clássicos (i.e, com base no equilíbrio de forças e resistência de projeto (MRP), o método da
momentos atuantes) ainda assim, existem tensão passiva líquida (MPPL).
diferentes abordagens durante o Utilizou-se também o procedimento de
dimensionamento, que se diferenciam pela dimensionamento descrito por Das (2011). A
forma de aplicação dos fatores de segurança seguir faz-se uma breve descrição das
(FS) e pela distribuição adotada para os características e particularidades de cada um
diagramas de tensão lateral. dos métodos anteriormente citados.
Além desses métodos, outras propostas para
dimensionamentos de estacas-prancha ainda são 2.1 Método do momento de projeto (MMP)
possíveis. Mansour et al. (2018) descreve uma
metodologia para determinação de fatores No MMP, determina-se o comprimento da ficha
parciais de segurança para contenções em para satisfazer o equilíbrio dos momentos pela
balanço em solo arenoso seco. Krabbenhot et al. aplicação de um FS na resistência passiva, ou
(2005) fazem uso de modelos numéricos por seja, há uma minoração na força que garante o
meio de softwares de elementos finitos. Babu e equilíbrio da estrutura. Precisamente, o FS é
Basha (2008) e GuhaRay e Baidya (2012 e aplicado no valor do coeficiente de empuxo
2015) apresentam análises probabilísticas passivo. No MMP, o FS geralmente tem valores
utilizando fatores de segurança parciais entre 1,5 a 2,0.
calibrados probabilisticamente.
No Brasil ainda não há uma norma técnica 2.2 Método da resistência de projeto (MRP)
exclusivamente dedicada ao dimensionamento
de contenções com estacas-prancha. Logo, fica O segundo método é o MRP e consiste em
a cargo do projetista escolher o método mais aplicar fatores parciais de minoração aos
apropriado para cada situação. Nesse cenário, é parâmetros de resistência como o ângulo de
importante avaliar comparativamente diferentes atrito do solo e a coesão efetiva. A aplicação
abordagens disponíveis na literatura técnica desses FS parciais visa diminuir o valor de
para o dimensionamento de contenções com projeto desses parâmetros e restringir sua
estacas-prancha. mobilização, por isso são também chamados de
Nesse contexto, o presente artigo tem como fatores de mobilização.
objetivo avaliar comparativamente métodos Como exemplo, encontram-se valores para os
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FS parciais do ângulo de atrito do solo entre 1,2 2.4 Método de Das (2011)
a 1,5. Aplicação semelhante é feita para os
diferentes parâmetros de resistência com faixas No método descrito em Das (2011), diferente
de valores de FS distintas para cada um. dos outros três métodos anteriormente citados,
não se considera o atrito na interface solo-
2.3 Método da tensão passiva líquida (MPPL) contenção. A determinação dos coeficientes de
empuxo é feita de acordo com a teoria de
No método MPPL o diagrama dos empuxos Rankine.
atuantes utilizado no dimensionamento difere No cálculo da estabilidade, este método não
do diagrama dos métodos supracitados. Aqui se desconsidera o comprimento da estaca-prancha
utiliza como FS a razão entre o momento presente abaixo do ponto de rotação adotado,
gerado pela resistência passiva líquida e o assim, a distribuição de empuxos passivos e
momento resultante das forças que provocam ativos abaixo desse ponto é considerada. O
rotação na estrutura. Esse FS tipicamente tem valor do ângulo de atrito utilizado por Das
valores entre 1,5 e 2,0. (2011) corresponde ao valor de pico.
A resistência passiva líquida é entendida Algumas análises foram ainda efetuadas no
como a tensão efetiva dos empuxos na região presente trabalho com base no método de Das
passiva ao se subtrair uma área equivalente (2011), considerando-se a influência do atrito
(região sombreada da Figura 1) determinada do solo-contenção pela adoção dos coeficientes de
lado ativo da contenção e compreendida por empuxo de Caquot e Kerisel (1948) nos
uma linha vertical entre a base da contenção e o cálculos. Esse procedimento foi designado no
ponto em que o prolongamento do H0 toca o presente trabalho como “método de Das (2011)
diagrama (Figura 1). modificado”.

3 ESTUDO PARAMÉTRICO

As abordagens para dimensionamento


empregadas neste trabalho foram aplicadas em
uma estrutura hipotética executada na cidade do
Natal – RN, onde o solo característico é
predominantemente arenoso. Além disso, as
estacas-prancha foram dimensionadas para
locais sem a presença de nível d’água.
Nesse estudo paramétrico variou-se a
profundidade de corte (H0) a cada 0,5 m entre
os valores extremos de 1,0 m até 7,0 m. O
ângulo de atrito do solo (ϕ’cs) foi considerado
com valores de 28˚, 32˚ e 35˚ e para o peso
especifico seco do solo (γ) forma atribuídos
Figura 1. Diagrama de tensões líquidas para o MPPL.
valores iguais a 18, 20 e 22 kN/m³.
Como variáveis de interesse fornecidas pelo
Na aplicação desses três métodos no artigo, os
dimensionamento, avaliaram-se o comprimento
coeficientes de empuxo ativo e passivo foram
da ficha teórica da contenção (d0), o momento
determinados segundo Karisel e Absi (1990). O
máximo atuante (Mmáx) e sua posição de
valor do ângulo de atrito utilizado foi o ângulo
atuação (Z).
de atrito crítico, conforme recomendação
presente em Budhu (2013).
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4 RESULTADOS Examinando as figuras anteriores, verificou-se


que a variação do Mmáx devido ao peso
4.1 Influência do peso específico do solo específico é pequena para os três métodos. A
diferença de magnitude do Mmáx no MPPL é
Pelos gráficos das Figuras 2, 3 e 4, pode-se aproximadamente 45% inferior quando
observar o comportamento do Mmáx para os comparado aos outros métodos.
métodos MMP, MRP e MPPL, Em virtude dos resultados apresentarem
respectivamente, conforme a variação da valores com pequena variação, adotou-se para
profundidade de corte para os três pesos as demais análises paramétricas um peso
específicos investigados. Foram mantidos específico fixo de 18 kN/m³.
constantes um fator de segurança (FS) igual a
1,5 e ângulo de atrito do solo com valor igual a 4.2 Influência do fator de segurança (FS)
32˚.
Com a adoção de um ângulo de atrito do solo de
32˚ e do peso específico de 18 kN/m³, a Figura
5 mostra os comprimentos de ficha (d0) obtidos
para os métodos MMP, MRP e MPPL, ao
utilizar-se o mesmo fator de segurança de 1,5.
Ressalta-se que o comprimento de ficha da
Figura 5 corresponde ao valor teórico ou de
projeto, sem o acréscimo de 20 a 30% em seu
comprimento.

Figura 2. Influência do peso específico no Mmáx, MMP.

Figura 5. Comprimento de ficha para FS=1,5.


Figura 3. Influência do peso específico no Mmáx, MRP.
Os resultados obtidos demostraram uma
discrepância entre o método MRP e os demais.
Para profundidades de corte até 6,0 m, uma
diferença em torno de 34%, atingindo para
profundidades maiores que 6,5 m, um
comprimento de ficha 36% maior. Isso deixa
claro quão conservador é o método MRP em
relação aos demais quando se têm uma mesma
situação de projeto.
Como visto anteriormente, os limites do fator
de segurança (FS) para os três métodos são
Figura 4. Influência do peso específico no Mmáx, MPPL.
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distintos. Dessa forma, faz-se necessário uma atrito para diversos H0 está representado nos
comparação dos resultados de comprimento de gráficos das Figuras 8 e 9 para as abordagens
ficha para a variação de H0, encontrados pela MMP e MRP, respectivamente.
utilização dos fatores de segurança máximos e
mínimos possíveis de aplicação. Os resultados
dessa análise encontram-se representados nos
gráficos das Figuras 6 e 7, respectivamente.

Figura 8. Influência do ângulo de atrito no d0 do MMP.

Figura 6. Comprimento de ficha para FS máximo.

Figura 9. Influência do ângulo de atrito no d0 do MRP.

Os resultados para o método MPPL não foram


mostrados, pois tem exatamente as mesmas
Figura 7. Comprimento de ficha para FS mínimo. características dos resultados do MMP.
Como esperado, percebeu-se que d0 é
Nota-se que os valores obtidos através do inversamente proporcional ao ângulo de atrito
MRP continuaram discrepantes em relação aos do solo. A diferença de d0 entre os ângulos de
demais, enquanto os do MMP e MPPL 28˚ e 35˚ é de 36% para os métodos MMP e
apresentaram resultados praticamente idênticos MPPL. Para o MRP a diferença entre os
nas duas situações. Verificou-se que para todas mesmos ângulos é de 22% para todas as
as profundidades de corte, o d0 para o MRP profundidades de corte.
variou cerca de 30%, enquanto que o d0 para o A mudança nos valores do ângulo de atrito do
MMP e MPPL variaram 16%. Portanto, o MRP solo afeta os valores dos coeficientes de
é bem mais suscetível à variação de FS. empuxo do solo e suas resultantes aplicadas na
estaca-prancha. Logo, houve uma variação na
4.3 Influência do ângulo de atrito magnitude dos Mmáx com a mudança do ângulo
de atrito. A Figura 10 mostra como essa
O comportamento do comprimento da ficha variação ocorreu para todos os valores de H0 no
(d0) sob a influência da variação do ângulo de método MMP.
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Assim como o Mmáx, sua posição Z depende


exclusivamente do diagrama de empuxos
adotado no dimensionamento. Espera-se, mais
uma vez, que os métodos MMP e MRP
apresentem resultados iguais entre si e
diferentes do MPPL. O gráfico da Figura 12 traz
os valores de Z para os três métodos, aplicadas
as mesmas condições anteriores.

Figura 10. Influência do ϕ’cs no Mmáx.

O momento máximo atuante é inversamente


proporcional ao valor do ϕ’cs. O valor de Mmáx,
para todas H0, foi 40% menor para um ângulo
de atrito do solo de 28˚ quando comparado com
o maior ângulo de atrito de 35˚.

4.4 Comportamento de Mmáx e Z


Figura 12. Variação de Z em função de H0.
Com base nos resultados anteriores, manteve-se
costante um FS de 1,5, um γ de18 kN/m³ e um Os valores de Z são iguais para o MMP e
ϕ’cs de 32˚. Os valores de Mmáx e sua posição Z MRP e 14% inferiores aos encontrados pelo
para diferentes H0 foram então investigados. O método MPPL para todos os valores de H0.
gráfico da Figura 11 mostra os resultados de Fazendo uma análise conjunta das Figuras 11 e
momento máximo para essa condição. 12, observou-se que foram encontrados
A partir dos resultados da Figura 11 concluiu- momentos distintos em que a magnitude da
se que o MPPL apresenta valores bem inferiores variação foi de 45% para uma distância de 1 m.
aos outros dois. Pode-se justificar esta
discrepância através da distribuição dos 4.5 Comportamento de d0
empuxos no diagrama de cada método. O MMP
e o MRP apresentaram valores de Mmáx iguais e Neste último item fez-se uma avaliação geral do
aproximadamente 45% superiores aos valores valor do comprimento da ficha d0 para todos os
do MPPL para todos os H0. métodos propostos. Manteve-se constante um γ
de 18 kN/m³ e um ângulo de atrito crítico (ϕ’cs)
de 32˚ para as abordagens MMP, MRP e MPPL
do Budhu (2013). Aqui se incluiu também os
métodos de Das (2011) e o método de Das
modificado. Para esses dois últimos métodos o
ângulo de atrito utilizado foi o de pico, como
dito anteriormente. O valor do ângulo de atrito
de pico foi adotado com base na expressão de
Bolton (1986), considerando o valor de ϕ’cs de
32˚ e valores de ângulo de dilatância
apresentadas por Araújo (2017) para areias de
Natal-RN. Pelos cálculos, o ângulo de pico
Figura 11. Comprimento de ficha para FS mínimo. utilizado foi de 34,4˚.
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O gráfico da Figura 13 apresenta a variação de método com menor ficha.


d0 nos cinco métodos para todos os valores de Os métodos MMP e MPPL apresentaram
H0. comportamento semelhante para o comprimento
da ficha em função das profundidades de corte
(H0). O método de Das modificado forneceu os
menores valores para o comprimento da ficha.
Na análise dos momentos máximos atuantes,
percebeu-se que os métodos MMP e MRP se
comportaram de forma semelhante, e divergente
do comportamento dado pelo MPPL. Para as
mesmas características do solo, somente
variando o fator de segurança aplicado, o
método MPPL resultou nos menores valores de
momento máximo e nas maiores profundidades
Figura 13. Comportamento de d0 em função de H0. em que o mesmo atua na contenção.
Dentro os parâmetros geotécnicos do solo, a
Comparando-se os métodos de Das (2011) e o mudança do peso específico seco do solo gerou
Das modificado, verificou-se uma divergência pequena variação no momento máximo,
cerca de 30%, aproximadamente, entre os independente do método empregado.
valores de d0 para todos os H0. O método de Entretanto, a mudança no valor do ângulo de
Das (2011), que não considera o atrito de atrito do solo gerou variações significativas em
interface, é mais conservador, resultando em Mmáx, alcançando uma diferença de 40% entre
maiores comprimentos de ficha. os valores máximos e mínimos do ângulo de
A diferença entre o comprimento de ficha atrito.
obtido pelo MRP e o método de Das A mudança do ângulo de atrito fez o
modificado foi de cerca de 47% para todos os comprimento da ficha da contenção variar
valores de H0. inversamente para todos os métodos. Nessa
análise a diferença entre o valor da ficha
máxima e mínima encontrados foi de 36% para
5 CONCLUSÕES os métodos MMP e MPPL e 22% para o MRP,
mostrando que este último método tem uma
Neste trabalho, avaliou-se o resultado do sensibilidade menor para os resultados de d0 em
dimensionamento de estruturas de contenção função da variação de ϕ’cs.
com estacas-prancha em balanço, executadas Por fim, como todos os métodos avaliados no
em solo arenoso, por diferentes métodos presente artigo fazem uso do modelo de
analíticos de dimensionamento. As conclusões equilíbrio limite, não houve como avaliar os
obtidas podem ser estendidas para outras deslocamentos da contenção para cada condição
contenções em balanço semelhantes e do estudo paramétrico. Sabendo da importância
equilibradas por comprimento da ficha, como, da avaliação do estado limite de serviço, fica
por exemplo, cortinas de estacas escavadas em como sugestão de complementação para futuras
balanço. pesquisas a inclusão da análise dos
Os resultados mostraram que o método MRP deslocamentos.
forneceu em todas as análises os maiores
valores de comprimento teórico de ficha (d0)
sendo, portanto o método mais conservador REFERÊNCIAS
dentre os investigados, com comprimentos de
Araújo, D. A. M. (2017). Efeito da dimensão da placa em
ficha maiores cerca de 47% em relação ao
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Resultados de prova de carga em areia. Dissertação


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Análise comparativa entre modelo numérico – Plaxis 2D – e


métodos analíticos para o caso de estrutura de contenção em obra
portuária
Marina Lopes de Andrade
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mlpsandrade@gmail.com

RESUMO: Diversos problemas de engenharia são solucionados por meio de simulação numérica
em ambiente computacional, com base no Método dos Elementos Finitos (MEF). O
desenvolvimento de projetos depende do julgamento do (a) engenheiro (a) projetista para
compreender e interpretar os resultados dos modelos computacionais. Este trabalho objetiva estudar
os dados de saída das simulações numéricas criadas no Plaxis 2D e compará-las com os métodos
analíticos de Blum (1931) e Verdeyen e Roisin (1952), ambos baseados no diagrama de empuxo de
Rankine. Determinou-se como objeto de estudo uma estrutura de contenção por tirantes e estacas-
prancha em cais. Modelou-se o caso estudado por TORRES (2014). Após avaliação dos resultados
e do comportamento da simulação numérica para estrutura de contenção, verificou-se resultados
conservativos de momento máximo encontrados pelos métodos analíticos e valores de carga atuante
no tirante relativamente próximos ao determinado pelo Plaxis 2D.

PALAVRAS-CHAVE: Contenções, Plaxis, Métodos Analíticos, Blum, Verdeyen e Roisin

1 INTRODUÇÃO Blum (1931) e Verdeyen e Roisin (1952).


Esquemas gráficos são exibidos para ilustrar os
Dentro do ambiente computacional são resultados obtidos em cada método.
desenvolvidos softwares que permitem a Este exemplo de obra de contenção, cortina
representação aproximada de geometrias tipo estaca-prancha, é empregado com
simples e complexas, a determinação de frequência em projetos portuários, inclusive em
resultados de deslocamentos e tensões em obras de ampliação de terminais, já que este
pontos específicos na estrutura e a inclusão de tipo de solução permite acentuado desnível na
diversas propriedades no sistema, entre outras elevação do terreno, onde ao lado do mar temos
vantagens que aproximam o modelo virtual a retroárea do porto.
criado, com a realidade da situação a ser Este tipo de estrutura permite a utilização de
estudada. grandes áreas para implantação do porto,
Atualmente, no âmbito da engenharia permitindo assim a operação de equipamentos
geotécnica brasileira, dentre os programas para a movimentação e estocagem de cargas e,
comerciais de elementos finitos disponíveis, principalmente, a acostagem das embarcações,
pode-se citar o Plaxis 2D, referência na como no caso de cais contínuo. Normalmente,
simulação de estabilidade de obras geotécnicas adotam-se tirantes de aço para fazer a ligação
(Danziger, 2018). da estrutura de contenção aos elementos de
Com o objetivo de verificar a aplicação do apoio.
MEF para estudar o comportamento de tal Para a definição da altura do maciço que será
programa, o presente artigo apresenta a preciso conter, é necessária a definição do tipo
modelagem de uma estrutura de contenção por de embarcação que frequentará o porto, uma
cortina de estaca-prancha ancorada construída vez que é pelo calado do navio-tipo que se
em solo areno-siltoso e compara os dados de define a cota do leito marinho.
saída obtidos com os métodos analíticos de Para a definição do tipo de contenção a ser
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adotada, deve-se levar em consideração fatores matacões, dentre outros fatores, conforme
como: característica do solo no local de exposto por Torres (2014).
implantação da contenção, suas propriedades Para o presente estudo, tais investigações
físicas e mecânicas; tipo e distribuição das ocorreram por meio de campanhas de
sobrecargas atuantes na retroárea do porto; sondagens SPT (NBR 6484/2001) e CPTU
regime de marés e ondas do local de (NBR 12069/1991) que atingiram
implantação da obra; metodologia construtiva e aproximadamente 40 metros de profundidade.
materiais disponíveis na região (Torres, 2014). Seus boletins indicaram camadas de argila
A primeira obra com aplicação de solução em siltosa, variando de rija a dura, eventualmente
cortina ancorada no Brasil, citada por Quinn intercaladas por camadas de areia, com
(1979), ocorreu no cais do Caju, localizado no compacidade variando entre compacta e
Rio de Janeiro, datada de 1949. O esquema do medianamente compacta.
arranjo típico de uma cortina de estacas-prancha Para modelagem nas ferramentas
ancorada pode ser encontrado no trabalho de computacionais são necessários parâmetros de
Clayton e Milititisky (1986). resistência, como ângulo de atrito (φ) e coesão
(c), e parâmetros de deformabilidade, como
módulo de elasticidade (E), coeficiente de
2 CRITÉRIOS DE PROJETO Poisson (ν) e coeficiente de reação horizontal
(kh).
2.1 Localização da obra Devido à natureza das regiões litorâneas, é
comum se deparar com grandes depósitos
O objeto de estudo é uma obra de contenção em sedimentares. Para o presente caso, considerou-
um cais de múltiplo uso situado no complexo se que o depósito é normalmente adensado,
portuário do Norte do Estado do Rio de Janeiro, apresentando coesão efetiva nula (c = 0). Os
localizado conforme Figura 1. demais valores de parâmetros de resistência e
deformabilidade usados estão dispostos na
Tabela 1.
Tabela 1 - Parâmetros geotécnicos de cada camada do
perfil. (Fonte: Torres, 2014).
Parâmetros
Solo E  '
V
(MPa) (kN/m3) ()
Areia fina a
18,0 0,30 19,0 31
média fofa
Areia siltosa fina
med. compacta a 56,5 0,35 20,0 40
Figura 1 - Localização do Complexo Portuário - Região compacta
Norte Fluminense (Fonte: Google Earth. Acesso em Silte argiloso
20/04/2018). muito mole a 15,0 0,30 15,0 27
médio
2.2 Dados de Investigação Geotécnica Silte arenoso
compacto a med. 15,0 0,30 17,0 30
Compacto
A investigação geotécnica deve ser capaz de Areia siltosa fina
fornecer dados referentes a natureza do subsolo pouco siltosa 100,0 0,40 20,0 44
local, de verificar a presença de condições muito compacta
geotécnicas especiais, bem como analisar a Areia siltosa
estimativa de parâmetros e estado inicial de pouco compacta a 17,0 0,30 19,0 29
compacta
tensões do solo, além de colaborar na
Silte argiloso rijo
identificação de horizontes rochosos ou a duro
30,0 0,30 19,0 26
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Silte areno encontra na uma cota de elevação +0,25m.


argiloso med. 30,0 0,30 17,0 26 Na elaboração das modelagens, toda a obra
compacto
foi dividida em três etapas. A primeira etapa
Areia
63,0 0,35 19,0 36 corresponde a implantação da cortina e do
compacta
sistema de ancoragem. A segunda etapa
Admitindo o solo com um comportamento corresponde a dragagem até a cota de projeto,
elasto-plástico linear perfeito, adotou-se para o ou seja, até a cota de elevação -10,0m. A
comportamento do mesmo o modelo terceira e última etapa corresponde a aplicação
constitutivo com critério de ruptura de Mohr- da sobrecarga na retroárea.
Coulomb. Neste critério, a partir da envoltória A sobrecarga da retroárea foi adotada de
de resistência do solo, é possível avaliar o nível acordo com a NBR 9782/1987. Esta norma
de solicitação atuante em termos da resistência preconiza adotar uma sobrecarga
ao cisalhamento. Em relação às condições de correspondente a 40,0 kN/m2 para cais ou píer
contorno, o modelo foi baseado em análise por para carga geral.
estado plano. As forças de amarração influenciam na carga
dos tirantes e as forças de atracação são grande
2.3 Geometria do problema parte absorvidas pelas defensas do cais, sendo
que o restante que não é absorvido mobiliza
A estrutura do cais consiste da cortina de cais e uma parcela de empuxo passivo, geralmente
do sistema de ancoragem, composto de tirantes pequena quando comparada com a capacidade
e cortina de retroárea. do solo local. Mesmo sabendo que essas forças
A Figura 2 mostra o perfil do solo inserido são características em obras portuárias, elas
no modelo Plaxis. O nível d`água corresponde à foram desconsideradas neste estudo, já que
cota 0. resultam em solicitações localizadas.
Os esforços de atracação e amarração não
foram contabilizados neste presente trabalho.
Este trabalho se restringe à análise da etapa
final, correspondente à aplicação da sobrecarga
na retroárea.

2.4 Propriedade das estruturas

2.4.1 Cortina de cais

Apresenta seção composta por perfis de aço


laminado de alta capacidade estrutural
acoplados à estacas-prancha. É combinada com
Figura 2 - Geometria do caso (Fonte: Plaxis).
viga de coroamento contínua, em concreto
armado. A ligação frontal do tirante é feita na
A ficha da cortina é compreendida entre a cortina de cais por junções, como mostra a
cota do fundo de escavação (-10 m) e seu Figura 3.
prolongamento até cota de -24,5m, tendo assim
um comprimento total de 14,5m. O tirante, com
diâmetro de 75 mm, apresenta comprimento
total de 34,0m. A cortina de ancoragem possui
um comprimento total de 6,0m, indo da cota
+2,0m a -4,0m. O tirante é ancorado na cortina Figura 3 - Sistema CombiWall. (Fonte: ArcelorMittal,
2011).
na cota +1,5m e a cortina de retroárea se
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2.4.2 Cortina de retroárea Onde,


M = momento fletor;
Apresenta seção composta por perfis de estacas- E = módulo de elasticidade;
prancha com tirantes de diâmetro de 75 mm I = momento de inércia.
(tipo M95 - Anker Schroeder) conectados Além de momento negativo, tal restrição de
através de longarina metálica, como movimentos gera uma força na região da ficha
apresentado na Figura 4. que colabora para a estabilidade da estrutura, o
que diminui os esforços atuantes sobre a
cortina, seja os do nível da ancoragem, seja os
de flexão, conforme Figura 5.

Figura 4 - Cortina de retroárea (Fonte: Arcelor Mittal,


2011).

2.4.3 Parâmetros de entrada

Para os dados de entrada no programa de


análise considera-se as seguintes propriedades Figura 5 - Cortina com apoio fixo – método do apoio fixo:
(Tabela 2): A) linhas elásticas, B) distribuição de momentos, C)
distribuição de empuxos (Fonte: Gerscovich et al 2016).
Tabela 2 - Parâmetros estruturais (Fonte: Torres, 2014).
I A EI EA Segundo Gerscovich et al (2016), mesmo que
(cm4/m) (cm2/m) (kNm2/m) (kN/m) a opção por cortina com apoio fixo forneça
Cortina 9,64E+ 7,36E+ fichas mais longas, o método tende a ser mais
458990 350,50
de cais 05 06
interessante do ponto de vista econômico, já
Cortina 5,10E+ 2,88E+
24240 137 que fornece momentos fletores reduzidos
retroárea 04 06
Tirantes 4,80E+ quando comparado com o método do apoio
N/A 22,90 N/A
ϕ75 mm 05 livre (que desconsidera engastamento na base
da cortina).
Baseados nos conceitos mencionados estão
3 REVISÃO DOS MÉTODOS os métodos de Blum (1931) e Verdeyen e
ANALÍTICOS
Roisin (1952).
O método analítico considerado é o do apoio
3.1 MÉTODO DE BLUM (1931)
fixo (fixed earth support). Este método admite
que o solo de fundação é competente o
O método de Blum (1931) (ou da viga
suficiente restringir a movimentação da ficha no
equivalente) é baseado no método da linha
trecho inferior da cortina, garantindo assim seu
elástica que considera as seguintes premissas
engastamento.
simplificadoras (Gerscovich et al 2016):
Como no ponto de inflexão I a linha elástica
(E(y)) muda sua curvatura, temos que o - A deformada da cortina passa pelo ponto de
momento fletor é nulo nesse ponto encontro com a ancoragem;
(Gerscovich et al, 2016) : - Depois de determinado ponto não há
deslocamento (deformada vertical);
𝑑2 𝐸 (𝑦) M - Resistencia passiva do solo é substituída
2
=− =0 (1) por força equivalente R’b.
𝑑𝑦 EI
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3.2 MÉTODO DE VERDEYEN E ROISIN


(1952)

O método analítico de Verdeyen e Roisin


(1952), também conhecido como método da
viga substituta ou método de Anderson. Nele, o
ponto de inflexão se iguala a profundidade onde
as tensões horizontais são nulas. A partir desse
ponto a cortina é dividida em dois trechos.
Figura 6 - Vetores de deslocamento horizontal (Fonte:
Torres, 2014).
4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

4.1 Plaxis 2D

As análises nesta ferramenta foram realizadas


por Torres (2014). Para geração da malha de
elementos finitos, foi considerada a densidade
very fine e o elemento triangular de 15 nós.
Admitiu-se o solo com comportamento elasto-
plástico perfeito com critério de ruptura de
Mohr-Coulomb. O coeficiente de estado de Figura 7- Pontos de plastificação pelo critério de Mohr-
tensões iniciais considerado foi igual a ko = 0,5 Coulomb (Fonte: Torres, 2014).
para todas as camadas de solo. Os tirantes
foram modelados como elementos point-to-
point anchor e as cortinas (frontal e retroárea)
como elementos plate, com as rigidezes
apresentadas na Tabela 2. Não houve entrada de
dados referentes à mobilização de atrito na
interface solo-cortina.
Os valores máximos obtidos na análise pelo
Plaxis 2D para a última fase, obtido por Torres
(2014) podem ser vistos na Tabela 3.
Figura 8 - Análise de estabilidade (c/phi reduction) -
Tabela 3 - Valores máximos obtidos na análise - Plaxis F.S. = 2,0 (Fonte: Torres, 2014).
2D.
Fase M δ (cm) T
(kNm/m) (kN/m)
3 687,5 6,6 271

Onde M é o momento fletor, Q o esforço


cortante, δ o deslocamento horizontal e T a
carga nos tirantes.
Os resultados referentes às tensões e
deformações nos solos podem ser vistos nas
Figuras 6 a 10, extraídas de Torres (2014).

Figura 9 - Tensões horizontais efetivas e escala (Fonte:


Torres, 2014).
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Para tanto, as seguintes premissas foram


consideradas:
- Coeficiente de empuxo passivo minorados em
1,3 para `  25 e até de
1,6 para ` 25;
- Consideração da concentração de tensões no
trecho superior da cortina devido ação do tirante
(diagrama modificado);
- Cálculo do momento máximo na profundidade
onde o esforço cortante nulo.

6 RESULTADOS
Figura 10 - Relação entre tensão cisalhante mobilizada e
máxima e escala (Fonte: Torres, 2014). Os diagramas de empuxo calculados foram
baseados na teoria de Rankine e a poropressão
5 METODOLOGIA considerada hidrostática. A Figura 12 apresenta
o diagrama de empuxo ativo que atua sobre a
5.1 MÉTODOS DE BLUM (1931) cortina. Tal diagrama considera a sobrecarga
prevista pela NBR 9782/1987, além das
Blum (1931) propõe uma relação entre o parcelas de tensões do solo.
coeficiente de empuxo ativo e a posição do
ponto de inflexão (I) da elástica. Seu método
assume uma rótula no ponto de inflexão, o que
garante momento fletor nulo. Assim, pode-se
considerar a cortina em duas vigas isostáticas, o
que facilita a determinação dos esforços a partir
do diagrama de empuxo baseado na Teoria de
Rankine.

5.2 MÉTODO DE VERDEYEN E ROISIN


(1952)

Como a geometria desta análise já apresenta


valores conhecidos de ficha, partiu-se para a
determinação do traçado do diagrama de
empuxos modificado (conforme Figura 11), da
carga do apoio e do momento máximo atuante.

Figura 12 - Diagrama de empuxo ativo atuante sobre a


cortina.
Figura 11 - Diagrama modificado de empuxo
(Fonte: Gerscovich et al 2016).
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As figuras 13 e 14 representam,
respectivamente, o diagrama de empuxo
passivo e o diagrama resultante segundo o
método de Blum (1931). As figuras 15 e 16
exibem os diagramas de empuxo passivo e o
diagrama resultante com base no método
analítico de Verdeyen e Roisin.

Figura 15 - Diagrama de empuxo passivo – Método de


Verdeyen e Roisin (1952).

Figura 13 – Diagrama de empuxo passivo - Método de


Blum (1931).

Figura 16 - Diagrama de empuxo resultante – Método de


Verdeyen e Roisin (1952).

Através do FTOOL, software de cálculo


estrutural destinado à análise de estruturas
bidimensionais, determinou-se os esforços de
momento e cortante atuantes ao longo da
cortina, conforme Figura 17 e Figura 18.
Os valores máximos obtidos estão resumidos na
Tabela 4.
Figura 14 – Diagrama de empuxo resultante - Método de
Blum (1931). Tabela 4 - Valores máximos obtidos pelos métodos.
Método M (kNm/m) δ (cm) T (kN/m)
Por conta da minoração de 1,3 do coeficiente Blum 2807,90 N/A 233,33
de empuxo passivo kp, a área de passivo (1931)
encontrada pelo método de Blum (1931) é Verdeyen
maior que a calculada pelo método de Verdeyen e Roisin 1584,00 N/A 363,80
e Roisin. (1952)
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7 CONCLUSÃO

Neste estudo propôs-se a comparação dos dados


de saída da simulação numérica criada no Plaxis
2D com os valores de esforços dados pelos
métodos analíticos de Blum (1931) e Verdeyen
e Roisin (1952) afim de estabelecer melhor
interpretação dos dados providos pelo MEF.
Após exposição dos critérios do projeto de
contenção, fez-se uma breve revisão dos
métodos analíticos utilizados e dos dados
fornecidos pelo Plaxis.
A partir dos resultados obtidos, constata-se
que para um mesmo comprimento de ficha
(14,50 m):

- O programa de elementos finitos apesentou


um valor de momento máximo bastante inferior
Figura 17 – Diagrama de momento fletor e esforço quando comparado ao valor de momento
cortante - Método de Blum (1931). máximo calculado por meio dos métodos
analíticos. Os valores fornecidos pelo Plaxis
chegam a ser quase 76% menores dos que os
providos pelos métodos;

- O método de Blum (1931) apresenta carga no


tirante 13,90% menor do que o Plaxis e o
método de Verdeyen e Roisin (1952) apresenta
carga 34,24% maior do que o valor fornecido
pelo programa de elementos finitos;

- Para os dois métodos analíticos o momento


máximo ocorre na parte inferior da cortina. O
valor de momento dado por Blum (1931) é
maior que o valor máximo determinado pelo
método de Verdeyen e Roisin (1952), o que soa
coerente já que este último prevê um fator de
minoração no cálculo do diagrama de empuxo
passivo;

- O fato do método de Verdeyen e Roisin


(1952) aumentar a área do empuxo ativo devido
as concentrações de tensões na região do topo
da cortina (devido à ação do tirante) não
Figura 18 – Diagrama de momento fletor e esforço garantiu que o momento máximo ocorresse na
cortante – Método de Verdeyen e Roisin (1952). região superior.
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Baseados na teoria de Rankine, onde parte-se REFERÊNCIAS


do principio que não há mobilização do atrito
entre a parede da cortina e o solo, os métodos ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6484 (2001). Solo – Sondagem
analíticos apresentam resultados mais de simples reconhecimento com SPT – Método de
conservadores, já que desconsideram a ensaio. Rio de Janeiro: ABNT
componente vertical do solo e admitem que o ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
empuxo de terra gerado tenha a mesma direção TÉCNICAS. NBR 12069 (1991). Solo – Ensaio de
da superfície do terreno. Na prática, tal penetração de cone in situ (CPT) – Método de
ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
condição dificilmente acontece. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
O programa Plaxis, por sua vez, admite o TÉCNICAS. NBR 9782 (1987). Ações em
atrito solo-estrutura, aproximando o modelo estruturas portuárias, marítimas ou fluviais. Rio de
inserido em ambiente computacional a realidade Janeiro: ABNT.
que ocorre in loco. ArcelorMittal (2011). Estacas Prancha Laminadas a
Quente – O sistema de paredes combinadas HZM/AZ.
Ao incluir a influência das tensões cisalhantes Catálogo Geral. ArcelorMittal.
no plano da cortina (geradas pelas forças Blum, H.: (1931) Einspannungsverhaltnisse bei
resultantes de empuxo inclinadas em relação à Bohlwerken. Ernst & Sohn, Berlin.
superfície), os valores de momento fletor ao Clayton, C.R.I., Milititisky, J. (1986) Earth Pressure and
longo do tardoz tendem a ser menores, visto que Earth-retaining structures, Surrey University Press,
London.
parte da solicitação atuante sobre a estrutura de Danziger, B. R. (2018) – Notas de aula do curso de
contenção é absorvida pelo atrito mobilizado na Escavações e Contenções (mestrado). Rio de Janeiro:
interface com a cortina (Danziger, 2018). PGECIV/UERJ.
Em última análise, as simplificações das Gerscovich, D., Danziger, B.R., Saramago, R., (2016)
hipóteses da teoria de Rankine resultam, em Contenções: teoria e aplicações em obras, Oficina de
Textos, São Paulo.
alguns casos, em estruturas de contenção Quinn, A. DeF. (1979), Design and Construction of Ports
excessivamente robustas. and Marine Structures, 2nd ed., McGraw Hill.
Entretanto, tais teorias não são obsoletas. É Torres, Alessandro Reina. (2014) Estudo da Modelagem
de responsabilidade do projetista geotécnico de Estruturas de Contenção de Obras Portuárias,
desenvolver adequado nível de entendimento da Dissertação de Mestrado, UFRJ/ COPPE/ Programa
de Engenharia Civil.
obra, a fim de aperfeiçoar a qualidade do Verdeyen, J., Roisin, V., Nouvelle théorie du
projeto a ser desenvolvido. soutènement des excavations profondes. In: Institut
Ainda que os programas de elementos finitos technique du bâtiment et des travaux publics, 1952,
ofereçam respostas de forma relativamente Bélgica.
rápida, nenhum sistema automático pode
substituir o julgamento de um(a) engenheiro(a).
Deve-se fazer uso de toda a vantagem possível
que os programas do tipo MEF/CAD oferecem,
mas lembrando sempre que o julgamento de um
especialista apresenta um importante e
primordial papel na prática da engenharia
geotécnica.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia


Civil (PGECIV) da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro – UERJ.
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Análise de estabilidade e tensão-deformação na face de escavação


estabilizada com solo grampeado utilizando grampos
suplementares
Adileisson Gondim
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, adileisson_gondim@hotmail.com

Jean Rodrigo Garcia


Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, jean.garcia@ufu.br

RESUMO: Este trabalho analisou numerica e probabilisticamente a estabilidade local e a


deformação de uma escavação de 5 m de altura estabilizada com solo grampeado. As análises foram
realizadas pelo método do equilíbrio limite e tensão-deformação com os softwares Slide 2018 e RS².
Primeiramente analisou-se uma contenção sem grampos adicionais. A partir deste cenário, analisou-
se a estabilidade da escavação pela inserção de grampos verticais suplementares de 6 m de
comprimento, com inclinação de 0° e 10° em relação ao eixo vertical. Posteriormente analisou-se a
estabilidade da escavação por meio da introdução de grampos horizontais suplementares junto à
primeira fileira, sem inclinação em relação ao eixo horizontal, com comprimentos de 4 e 5 metros.
Os resultados mostraram que a utilização de grampos verticais suplementares na condição
analisada, reduziu o fator de segurança local da contenção em até 43%, ainda que estes grampos
tenham contribuído na redução dos deslocamentos horizontais na face do paramento. Por sua vez,
os grampos horizontais ocasionam o aumento do fator de segurança em até 56%, além de diminuir
os deslocamentos horizontais do maciço em até 7%.

PALAVRAS-CHAVE: Solo grampeado, Contenção, Equilíbrio limite, Análise Numérica.

1 INTRODUÇÃO ao paramento e a drenagem age em ambos os


casos (Solotrat 2011).
Visto o rápido desenvolvimento dos centros Na prática da execução dessa técnica, outras
urbanos nas últimas décadas, busca-se soluções têm sido incorporadas ao solo
desenvolver técnicas e tecnologias que grampeado com o intuito de minimizar as
permitam acompanhar o ritmo acelerado do deformações do maciço. Dentre essas soluções
crescimento dessas áreas ocupadas pelo está o emprego de grampos verticais e
homem, além de ser economicamente viáveis. horizontais adicionais com o objetivo de reduzir
O solo grampeado se destaca nesse contexto, o deslocamento da estrutura. Teixeira et al.
dada a sua rápida velocidade de execução e o (2005) relata a inserção de três fileiras de
seu baixo custo. grampos verticais à uma distância de 2 m do
O solo grampeado consiste numa técnica de paramento, com inclinação entre 0 e 20º em
estabilização de taludes, por meio da inserção relação ao eixo vertical em uma vala escavada
de elementos estruturais passivos (grampos) em com o intuito de controlar as deformações
taludes naturais ou artificiais, seguido da excessivas que a escavação estava sofrendo.
execução de um paramento de concreto Além disso, a adoção de hipóteses
projetado e estruturas de drenagem. Os grampos simplificadoras no dimensionamento de obras
promovem a estabilização geral do maciço, o geotécnicas, como a da homogeneidade das
concreto projetado dá estabilidade local junto camadas do solo, onde os parâmetros
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geotécnicos são constantes ao longo de toda a convencional). Por sua vez, o fator de
extensão do maciço, incorrem em resultados segurança probabilístico é obtido através da
que nem sempre são precisos e representativos média dos fatores de segurança calculados
da condição in situ. Como alternativa pode-se através da variação de parâmetros para a
adotar ferramentas numéricas com base em superfície de deslizamento Mínimo Global.
análises estatísticas que avaliam a estabilidade Para um número suficientemente grande de
do maciço escavado variando os parâmetros do amostras, os dois valores devem ser próximos.
solo de acordo com sua dispersão específica. O que pode não acontecer na prática, onde as
Dessa forma, neste trabalho analisou-se amostras analisadas são em quantidades
numericamente a estabilidade local e os limitadas e às vezes não representativas do
deslocamentos junto ao paramento de uma subsolo analisado.
escavação estabilizada com solo grampeado em
que foram empregados grampos verticais e 2.2 Superfícies potenciais de ruptura
horizontais suplementares com o objetivo de
investigar a eficácia na implantação destes As superfícies de ruptura local analisadas são
grampos. Utilizou-se os softwares Slide 2018, aquelas consideradas mais críticas numa
para as análises de equilíbrio limite, e RS² para escavação em solo grampeado (Figura 1). As
as análises de tensão-deformação por elementos superfícies denominadas 0,3H e 0,4H são
finitos, ambos da plataforma Rocscience. aquelas em que a ruptura se inicia a uma
A partir de uma escavação de 5 m de altura distância horizontal a partir da face do
em solo grampeado contendo apenas grampos paramento de, respectivamente, 0,3 e 0,4 vezes
horizontais com inclinação de 15° com o eixo a altura do maciço. A superfície tipo “cunha” é
horizontal, ou seja, sem o emprego nenhum aquela em que o plano de escorregamento se
grampo suplementar, foram gerados dois outros inicia na base do talude, estando orientado de
casos, em que, primeiramente foram inseridos 45º + ϕ /2 para o estado ativo de Rankine.
grampos verticais com inclinação de 0º a 10º, e
no segundo caso foram implantados grampos
horizontais junto à primeira fileira com
comprimento de 4 a 5 metros.
Concomitantemente, análises probabilísticas
foram realizadas, considerando-se a variação
que o valor dos parâmetros podem sofrer ao
longo da superfície através de coeficientes de
variação ( Cv ) disponíveis na literatura.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Fator de segurança

As análises da estabilidade de escavações


podem ser realizadas por meio da determinação
de dois tipos de fatores de segurança (FS),
podendo ser por meio determinístico ou
probabilístico. O fator de segurança
determinístico é aquele calculado para a
superfície de deslizamento mínimo global, onde
todos os parâmetros de entrada são exatamente Figura 1. Superfícies de ruptura analisadas
iguais aos valores médios (análise
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2.3 Interface grampo-solo Cv independentemente da unidade dos dados.


Ele é definido como:
A resistência de aderência (Equação 1) entre o
solo e grampo foi determinada pela experiência 
em solos brasileiros, a partir da retroanálise de Cv  .100% (3)
X
ensaios de arrancamento (Figura 2). .
Em que  é o desvio padrão e X é a média
da população.

Ameratunga; Sivakugan e Das (2016) reúnem


valores de coeficientes de variação associados
aos diversos parâmetros geotécnicos do solo
disponíveis na literatura. Algum desses valores
podem ser vistos na Tabela 1.

Tabela 1. Valores típicos do coeficiente de variação de


alguns parâmetros do solo (modificado de Ameratunga,
Sivakugan, and Das 2016)
Coef. de
Figura 2. Resultado dos ensaios de resistência de Parâmetro
variação (%)
aderência (adaptado de Ortigão e Sayao 2004) Peso específico, γ 3–7
Ângulo – areias,  10
qs  67  60 ln N SPT (1) Ângulo de atrito – argilas  10 – 50
Coesão não drenada, c 20 – 40
NSPT 20 – 40
A tensão admissível de aderência empregado
no projeto foi determinada para um fator de 2.4.1 Tipo de análise
segurança igual a 2, conforme equação 2:
O tipo de análise realizada é a Mínimo Global,
q ou seja, primeiramente é localizada a superfície
qadm  s (FS ≥ 2) (2)
FS global mínima determinística (sem análises
probabilísticas), e a análise probabilística é
2.4 Análises probabilísticas aplicada apenas nesta superfície. O fator de
segurança será computado N vezes (onde N =
Os valores estabelecidos, mesmo por meio de número de amostras) para a superfície mínima
ensaios laboratoriais, para os parâmetros do global de deslizamento, usando um conjunto
solo estão longe de serem constantes em toda a diferente de variáveis de entrada geradas
sua extensão, podendo apresentar variações a aleatoriamente para cada análise.
poucos metros do local analisado. Segundo
Ameratunga; Sivakugan e Das (2016), essa 2.4.2 Probabilidade de Falha e Índice de
variabilidade aumenta o risco associado às confiabilidade
previsões do comportamento desse material.
O coeficiente de variação ( Cv ), ou desvio A probabilidade de falha (PF) é um índice
padrão médio, é uma medida estatística que expresso em porcentagem que indica quantas
mostra a extensão da variabilidade em relação à superfícies, dentre todas as superfícies
média da população. Ele apresenta uma analisadas, apresentaram FS menor que 1
vantagem sobre o desvio padrão por não ser (equação 4).
afetado pela magnitude dos dados, e por
permitir a comparação de diversos valores de
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N ruptura
PF  %   100
N análises (4)

Em que Nruptura é o número de superfícies


com FS menor que 1 e Nanálises é o número total
de superfícies analisadas.

O índice de confiabilidade (β) é um indicador


do número de desvios padrão que separam o
fator de segurança médio ( FS ) do fator de
segurança crítico (FS = 1). Ele pode assumir
uma distribuição normal (equação 5) ou log-
normal (equação 6). O índice de confiabilidade
mínimo recomendado para segurança do projeto
de estabilidade é usualmente igual a 3. Figura 3. Perfil do solo

 FS  1 Os parâmetros geotécnicos foram estimados


N  (5) através da tabela proposta por Joppert Jr. (2007)
 FS
e por correlações em função do NSPT do solo
propostas por Teixeira and Godoy (2016). Os
Em que: βN é o índice de confiabilidade,
parâmetros considerados nas análises podem ser
 FS é a média do fator de segurança e  FS é o vistos na Tabela 2.
desvio padrão do fator de segurança.
Tabela 2. Parâmetros médios do solo
  FS   c  E υ
Solo
ln   (kN/m3) (kPa) () (MPa) (-)
 1V 2   Argila
 LN  (6) 16 15 22,7 14,7 0,2

ln 1  V 2  arenosa
 Areia
18 5 25 8,25 0,3
argilosa
 Silte
Em que βLN é o índice de confiabilidade, 18 15 26,8 15,75 0,4
areno
 FS é a média do fator de segurança e V é o argiloso
coeficiente de variação do fator de segurança.  Silte
19 20 31,1 16,25 0,4
argiloso

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Os grampos horizontais (não suplementares)
possuem diâmetro de 100 mm, sendo o
Através de uma sondagem simples determinou-
chumbador uma barra de aço CA-50 de
se o perfil e os parâmetros geotécnicos deste
diâmetro nominal de 20 mm. O comprimento
solo (Figura 3).
dos grampos (L) é constante ao longo da altura
do maciço, determinado pela relação
L  0,8H para grampos perfurados (Clouterre,
1991), sendo H a altura total da escavação.
Sendo assim, os grampos possuem 4 m de
comprimento, com espaçamento horizontal e
vertical de 1,2 m e inclinação de 15º com a
horizontal.
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Os grampos horizontais à 15º e os grampos


horizontais suplementares possuem
espaçamento ao longo do comprimento maciço
de 1,2 m, enquanto que os grampos verticais
suplementares possuem espaçamento de 1,0 m.
Isto foi feito para que os grampos verticais não
interceptassem as fileiras de grampos
horizontais. Todos os grampos suplementares
também possuem diâmetro de 100 mm.
Os grampos verticais foram inseridos a 0,6 m
de distância do paramento e seu comprimento
de 6 m (altura da escavação acrescido de 1 m,
conforme sugerido pela Solotrat).
O paramento em concreto projetado tem
espessura de 15 cm, sendo também dotado de
uma tela metálica eletrossoldada.
As configurações geométricas acima Figura 5. Escavação com solo grampeado com grampo
adotadas para os três casos e as demais vertical suplementar – 0°
configurações de espaçamento de grampos
estão de acordo com as recomendações da
FHWA NHI 14-007 (2015), conforme
apresentado nas figuras 4, 5 e 6.

Figura 6. Escavação com solo grampeado com grampo


horizontal suplementar (0°) – 4 m

Por meio da equação 1 e do NSPT médio do


solo, foi determinada a resistência de aderência
Figura 4. Escavação com solo grampeado sem grampos (qs) da interface grampo-solo. Aplicando o fator
suplementares de segurança 2 e calculando essa resistência por
metro de grampo, o valor obtido foi de 29,4
kN/m.

4 RESULTADOS

4.1 Análise da estabilidade local

Nas situações analisadas, o fator de segurança


determinístico foi determinado pelo método
Ordinary (Fellenius). As superfícies de ruptura
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críticas obtidas no software Slide 2018 (figuras Deter. Prob. (%) normal logn.
7, 8 e 9). Os resultados para os valores de F.S. Escavação sem grampos verticais suplementares
0,3H 3,014 2,884 0,000 4,150 6,692
determinístico e probabilístico das superfícies 0,4H 2,800 2,711 0,000 2,711 4,226
de ruptura calculados são mostrados nas Tabela Cunha 2,875 2,937 0,000 1,931 3,077
3 e Tabela 4. Escavação com grampos verticais a 0º
0,3H 1,891 1,833 0,000 3,162 4,166
0,4H 1,914 1,867 0,000 2,608 3,446
Cunha 1,829 1,815 0,820 2,019 2,602
Escavação com grampos verticais a 10º
0,3H 1,506 1,463 1,700 2,153 2,259
0,4H 1,599 1,561 1,540 2,073 2,502
Cunha 1,878 1,863 0,500 2,120 2,773

Tabela 4. Resultados obtidos nas análises – escavação


sem grampos suplementares com grampos horizontais
suplementares (0º)
FS PF β β
Figura 7. Superfície de ruptura 0,3H – Escavação sem Deter. Prob. (%) normal logn.
grampos suplementares Escavação sem grampos horizontais suplementares (0°)
0,3H 3,014 2,884 0,000 4,150 6,692
0,4H 2,800 2,711 0,000 2,711 4,226
Cunha 2,875 2,937 0,000 1,931 3,077
Escavação com grampo horizontal suplementar (0°)
L = 4,0 m
0,3H 3,617 3,475 0,000 3,418 5,939
0,4H 3,878 3,845 0,000 2,465 4,439
Cunha 3,798 4,134 0,000 1,667 3,076
Escavação com grampo horizontal suplementar (0°)
L = 5,0 m
0,3H 3,884 3,637 0,000 3,486 6,172
0,4H 4,357 4,246 0,000 2,459 4,609
Figura 8. Superfície de ruptura 0,3H – Escavação com Cunha 4,676 6,008 0,000 1,066 2,250
grampos verticais suplementares – 0º
Apesar de a amostragem nas análises
probabilísticas ter sido grande (N=5000), os
valores dos fatores de segurança determinístico
e probabilístico não permaneceram próximos,
alcançando uma diferença entre si de 4,282%
em média. Essa dispersão entre os fatores de
segurança é percebida também pelos índices de
confiabilidade, que por vezes apresentam
valores menores que o mínimo (β = 3,0). Os
fatores de segurança determinísticos foram, na
Figura 9. Superfície de ruptura 0,3H – Escavação com maioria dos casos, maiores do que os
grampos horizontais suplementares (0°) – 4 m probabilísticos nesse caso estudado.
Foi realizada uma média entre os valores de
fator de segurança determinísticos e
probabilísticos (Figura 10 e Figura 11).
Tabela 3. Resultados obtidos nas análises – escavação
sem grampos suplementares e escavação com grampos
verticais suplementares
FS PF β β
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8723 nós.
Nas figuras 12, 13 e 14 são apresentados os
resultados da análise no software RS² para os
três casos analisados, após realizados todos os
passos de escavação.

Figura 10. Fator de segurança em escavações com e sem


grampos verticais suplementares

Figura 12. Deslocamentos horizontais em escavação sem


grampos suplementares

Figura 11. Fator de segurança em escavações com e sem


grampos horizontais suplementares (0°) Figura 13. Deslocamentos horizontais em escavação com
grampos verticais suplementares – 0º
Pela análise do gráfico da Figura 10 nota-se
que nas três superfícies o F.S diminui,
indicando que a implantação de grampos
verticais na escavação em estudo não contribuiu
para a estabilidade local do maciço, mas pelo
contrário, reduz a estabilidade. Por outro lado, a
implantação de grampos horizontais adicionais
contribui para a estabilidade local do maciço
estudado, sendo o aumento no fator de
segurança de 32% e 56% quando utilizados
grampos de 4 m e 5 m de comprimento, Figura 14. Deslocamentos horizontais em escavação com
respectivamente (Figura 11). grampos horizontais suplementares (0°) – 4 m

4.2 Análise tensão-deformação O deslocamento horizontal ao longo da altura


do paramento, após realizadas todas as etapas
Por meio do software RS² foram realizadas as de escavação (Figuras 15 e 16).
análises de tensão-deformação da escavação por
elementos finitos. A malha é do tipo “Graded”
com 2834 elementos do tipo quadrilaterais e
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Tanto os grampos suplementares horizontais


quanto os verticais cumprem o papel de reduzir
os deslocamentos horizontais no maciço
reforçado com solo grampeado. Entretanto, os
grampos horizontais suplementares (0°)
apresentam resultados mais satisfatórios quando
comparados com os dos grampos verticais,
mesmo eles possuindo menor comprimento e
serem mais espaçados ao longo da contenção:
além de eles provocarem o aumento do fator de
segurança local da estrutura. Portanto, quando é
necessário limitar os deslocamentos, a inserção
de grampos horizontais suplementares se
apresenta como uma solução técnica mais
satisfatória e economicamente mais vantajosa
Figura 15. Deslocamentos horizontais em escavações se comparada com os grampos verticais.
com e sem grampos verticais suplementares
Os resultados obtidos demonstraram a
importância de realizar análises investigativas
para determinação da superfície crítica de
ruptura, por meio de análises determinísticas e
probabilísticas. No caso apresentado, este tipo
de análise demonstrou-se ser mais crítico
quando comparado com o método
determinístico convencional de análise de
estabilidade de contenções.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à Universidade Federal de


Uberlândia pela obtenção da licença dos
softwares utilizados aqui nas análises.

Figura 16. Deslocamentos horizontais em escavações REFERÊNCIAS


com e sem grampos horizontais suplementares (0°)
Ameratunga, Jay, Nagaratnam Sivakugan, and Braja M.
Nota-se que na contenção analisada, tanto os Das. 2016. Correlations of Soil and Rock
grampos suplementares verticais quanto os Properties in Geotechnical Engineering.
horizontais causaram uma redução nos doi:10.1007/978-81-322-2629-1.
Clouterre. 1991. Recommendations Clouterre 1991.
deslocamentos horizontais. No caso dos Paris: Ecole Nationale des Ponts et Chausseés,
grampos verticais, a maior redução ocorreu Presses de l’ENPC.
quando o grampo estava sem inclinação em Federal Highway Administration. 2015. FHWA-NHI-14-
relação à horizontal. Quanto aos grampos 007 - Geotechnical Engineering Circular No. 7 -
horizontais adicionais, quanto mais elevado o Soil Nail Walls - Reference Manual. Washington:
Federal Highway Administration.
seu comprimento, maior é foi a redução dos Joppert Jr., Ivan. 2007. Fundações E Contenções de
deslocamentos horizontais. Edifícios - Qualidade Total Na Gestão Do Projeto
E Execução. 1sted. São Paulo: Pini Ltda.
5 CONCLUSÃO Ortigão, J. A. R., and A. S. Sayao. 2004. Handbook of
Slope Stabilisation. New York: Springer-Verlag
Berlin Heidelberg GmbH.
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Solotrat. 2011. Manual de Serviços Geotécnicos. 4a. São


Paulo: Solotrat.
Teixeira, A.H., A.A.H. Teixeira, G.J.T. Souza, C.A.
Pitta, A.C. Zirlis, and M. Dechen. 2005. “Um Caso
de Obra: Aeródromo Caiapó – Mococa - SP.”
Salvador: IV COBRAE - Conferência Brasileira
sobre Estabilidade de Encostas.
Teixeira, Alberto Henriques, e Nelson Silveira de Godoy.
2016. “Análise, Projeto E Execução de Fundações
Rasas.” In Fundações: Teoria E Prática, edited by
Waldemar Hachich, Frederico F. Falconi, José Luiz
Saes, Régis G. Q. Frota, Celso S. Carvalho, and
Sussumu Niyama, 2nded., 802. São Paulo: Pini
Ltda.
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Comparativo entre Metodologias Clássicas e Análises Tensão x


Deformação em um Projeto de Contenção do Tipo Cortina
Carla Beatriz Costa de Araújo
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz7@gmail.com

Silvrano Adonias Dantas Neto


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, silvrano@ufc.br

RESUMO: Neste trabalho foi analisada uma cortina (com e sem tirantes) para conter uma escavação
de 8 metros de profundidade através de um comparativo entre as metodologias clássicas e análises
tensão x deformação. O dimensionamento das cortinas foi realizado através da aplicação
simplificada proposta por Bowles (1988) utilizando a Teoria de Rankine. Para a análise tensão x
deformação foi considerado um modelo elástico perfeitamente plástico de Morh-Coulomb. Para tal
análise foi utilizado o software Phase 7.0. Através das análises realizadas para as diferentes
estruturas de contenção deste estudo foi possível verificar que o diagrama de tensões resultantes ao
longo da cortina obtido através das análises tensão x deformação e o diagrama do método
simplificado de Bowles (1988) para a cortina com tirantes apresenta um comportamento
semelhante, porém para a cortina sem tirantes há uma grande diferença nas tensões horizontais ao
longo da ficha.

PALAVRAS-CHAVE: Contenções, Teorias Clássicas, Análise Tensão x Deformação.

1 INTRODUÇÃO f) O fator de segurança a ruptura da


estrutura;
Este trabalho tem como principal objetivo, g) O efeito (esforços e deslocamentos) dos
analisar uma cortina (com e sem tirantes) para tirantes projetados;
conter uma escavação de 8 metros de h) A influência da simulação do processo
profundidade através de um comparativo entre executivo.
as metodologias clássicas e análises tensão x Tais análises são justificadas, uma vez que,
deformação. Neste trabalho são levantadas as as metodologias clássicas utilizam algumas
seguintes informações: hipóteses simplificadores e também não
a) Diagrama de tensões resultantes ao fornecem valores de recalques, que podem ser
longo da cortina e sua comparação com o obtidos através de análises tensão x deformação
diagrama do Método Simplificado apresentado utilizando o método dos elementos finitos
por Bowles (1988); (MEF).
b) A movimentação da estrutura; Segundo Gerscovich et. al (2016) os métodos
c) A distância até onde ocorre a influência numéricos, como o MEF, são uma ótima
da execução da cortina nas estruturas vizinhas; alternativa para o projeto de estrutura de
d) A possibilidade de existir prejuízo para contenções, já que:
as estruturas vizinhas (recalques diferenciais • Possibilitam a simulação da sequência das
específicos); etapas construtivas;
e) A distribuição de esforços (forças • Minimizam as restrições associadas aos
cortantes e momentos) ao longo do elemento métodos analíticos, como: não há
estrutural; necessidade de definição a priori de uma
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superficie de ruptura, pode haver ruptura proposta por Bowles (1988) utilizando a Teoria
localizada, as trajetórias de tensões são de Rankine (Figura 3). Existem ainda alguns
mais representativas das condições de exemplos de métodos para o cálculo de cortinas
campo; de contenção citados na literatura que são os de
• É possível incorporar modelos tensão x Peck (1943), Tschebotarioff (1951) e Peck
deformação mais adequados dos materiais (1969).
envolvidos (modelos elastoplásticos);
• Possibilitam obter informações com
relação à previsão de deformações;
• Análises de fluxo podem ser acopladas
aos estudos do comportamento tensão x
deformação.

2 METODOLOGIA

Neste trabalho foram estudas duas soluções para


contenção de uma escavação de 8 metros.
Foram analisadas uma cortina do tipo parede
diafragma de 20 metros de comprimento total e
espessura de 40cm (Figura 1), e uma cortina do
Figura 3. Aplicação Simplificada
mesmo tipo com 13 metros de comprimento
com um tirante de comprimento total de 17m,
O valor de zo foi obtido igualando-se a
instalado a uma profundidade de 2,5m, com
tensão atuante, que é função da profundidade a
uma inclinação de 15° e carga de trabalho de
zero, e para que haja o equilíbrio da cortina o
200kN (Figura 2).
valor de f deve ser tal que:
∑MA = 0 (1)
Onde:
MA: momento produzido pelas resultantes do
diagrama de tensões atuantes na cortina em
relação ao ponto A;
Para cortina com uma linha de tirantes
(Figura 4), as incógnitas são o valor da ficha da
cortina (f) e a carga a ser aplicada (R), para as
Figura 1. Geometria do problema – Cortina sem tirantes quais as seguintes condições de equilíbrio
devem ser satisfeitas:
∑ FH = 0 (2)
∑MA =0 (3)
Para a análise tensão x deformação foi
considerado um modelo elástico perfeitamente
plástico de Morh-Coulomb. Para tal análise foi
utilizado o software Phase 7.0, adotando os
Figura 2. Geometria do problema – Cortina com tirantes parâmetros geotécnicos apresentados na Tabela
1, que foram obtidos através de ensaios de
laboratório e correlações com ensaio SPT
O dimensionamento das cortinas foi (módulo de elasticidade e coeficiente de
realizado utilizando a aplicação simplificada Poisson).
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realizada em 10 etapas, considerando que a


cortina é executada na 2ª etapa e são realizadas
escavações de 1 metro até a cota -8 metros,
conforme apresentado na Tabela 2.
Para a cortina de 13 metros com tirantes,
foram realizadas três simulações diferentes:
• A primeira análise foi feita considerando 10
etapas (Tabela 3), simulando que a cortina é
executada na 2ª etapa e são realizadas
escavações de 1 metro até a cota -3 metros e é
feita a instalação do tirante (cota -2,5 metros),
prosseguindo com as escavações até cota -8
metros;
• Na segunda análise foram consideradas 3
Figura 4. Aplicação Simplificada com Tirantes
etapas (Tabela 4), simulando na 2ª etapa a
Tabela 1. Parâmetros do solo utilizados nas análises cortina é executada e que na 3ª etapa é realizada
Parâmetros do solo a escavação até a cota -8 metros e o tirante é
φ 25° instalado;
c 0 kPa • A terceira análise foi realizada em uma
γ 17 kN/m³
etapa apenas, considerando que a execução da
E 15 MPa
ν 0,2
cortina, a instalação do tirante e a escavação
ocorrem na mesma etapa (Tabela 5).

Tabela 2. Descrição das 10 etapas simuladas para a


cortina de 20 metros sem tirantes
Cortina de 20m sem tirantes
Simulação em 10 etapas Descrição
Etapa 1 Tensões somento devido ao peso próprio
Etapa 2 Instalação da Cortina
Etapa 3 Esvação até a cota -1 m
Etapa 4 Esvação até a cota -2 m
(a) Etapa 5 Esvação até a cota -3 m
Etapa 6 Esvação até a cota -4 m
Etapa 7 Esvação até a cota -5 m
Etapa 8 Esvação até a cota -6 m
Etapa 9 Esvação até a cota -7 m
Etapa 10 Esvação até a cota -8 m

Tabela 3. Descrição das 10 etapas simuladas para a


cortina de 13 metros com tirantes
Cortina de 13 m com tirantes
(b) Simulação em 10 etapas Descrição
Etapa 1 Tensões somento devido ao peso próprio
Figura 5. Discretização da malha de elementos finitos (a) Etapa 2 Execução da Cortina
Cortina sem Tirante (b) Cortina com Tirantes Etapa 3 Esvação até a cota -1 m
Etapa 4 Esvação até a cota -2 m
Inicialmente foram definidas a camada de solo e Etapa 5 Esvação até a cota -3 m e instalação do tirante
Etapa 6 Esvação até a cota -4 m
a geometria das estruturas de contenção, logo Etapa 7 Esvação até a cota -5 m
em seguida foi discretizada a malha de Etapa 8 Esvação até a cota -6 m
elementos finitos definida de forma triangular. Etapa 9 Esvação até a cota -7 m
Para a cortina sem tirantes a simulação foi Etapa 10 Esvação até a cota -8 m
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tensões, porém, a simulação em uma etapa


Tabela 4. Descrição das 3 etapas simuladas para a cortina apresentou-se muito diferente das outras
de 13 metros com tirantes simulações, o que era esperado, já que esta
Cortina de 13 m com tirantes
Simulação em 3 etapas Descrição
simulação é irreal, pois considera todas as
Etapa 1 Tensões somento devido ao peso próprio etapas da obra executadas simultaneamente.
Etapa 2 Execução da Cortina Comparando os diagramas resultantes da
Etapa 3 Esvação até a cota -8 m e instalação do tirante análise tensão x deformação com o diagrama do
Método Simplificado de Bowles (1988) para
Tabela 5. Descrição da etapa simuladas para a cortina de cortina com tirantes, observa-se que as
13 metros com tirantes
Cortina de 13 m com tirantes
simulações em 10 etapas e 3 etapas apresentam
Simulação em 1etapa Descrição o diagrama de tensões resultantes ao longo da
Etapa 1
Esvação até a cota -8 m, execução da cortina e cortina aproximado com as tensões obtidas pelo
instalação do tirante
método simplificado. Ou seja, a utilização desta
metodologia para a contenção com tirantes e as
3 ANÁLISES E RESULTADOS análises utilizando MEF apresentam diagramas
resultantes com comportamento e valores
3.1 Diagrama de tensões próximos. As principais diferenças são notadas
nos últimos metros da ficha da cortina (11 a 13
Analisando os diagramas de tensões resultantes metros), onde pela metodologia simplificada
ao longo da cortina de 20 metros sem tirantes indica-se que as tensões passivas mobilizadas
obtidos através da análise tensão x deformação são maiores que as calculadas através da análise
(Figura 6) e utilizando a metodologia tensão x deformação.
simplificada de Bowles (1988), observa-se que
até a cota de escavação (-8 metros) os
diagramas apresentam valores aproximados,
nesta região há apenas a mobilização de tensões
ativas, porém ao longo de todo o comprimento
da ficha da cortina as tensões resultantes da
análise utilizando MEF diferem dos valores
obtidos para a metodologia simplificada.

Figura 7. Tensões resultantes ao longo da cortina de 13


metros com tirantes

3.2. Movimentação da estrutura


Figura 6. Tensões resultantes ao longo da cortina de 20
metros sem tirantes
Para análise da movimentação da estrutura
Para a cortina de 13 metros com tirantes foram determinados os valores de
(Figura 7), observa-se que a simulação do deslocamentos horizontais ao longo da cortina.
processo executivo em 3 etapas e 10 etapas Na Figura 8 são comparados os deslocamentos
apresentou pouca distinção entre os valores de das cortinas com e sem tirantes e os
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deslocamentos obtidos simulando de diferentes aproximação numérica, pois em uma condição


formas o processo executivo da cortina com real este deslocamento é improvável de ocorrer,
tirantes. uma vez que é realizada a escavação é esperado
que ocorram recalques na superfície do terreno.
Desta forma, não é possível identificar que
ocorram problema nas estruturas vizinhas, pois
não ocorrem recalques na superfície do terreno.

Figura 8. Deslocamento horizontal

Novamente, a simulação em uma etapa


apresentou valores (deslocamento máximo de -
26 cm) distantes das simulações em 3 e 10 Figura 9. Deslocamentos verticais
etapas (deslocamentos máximos de -2cm).
Observa-se que para a cortina sem tirantes a 3.4. Distribuição de esforços
estrutura não sofre rotação, ocorrendo
praticamente o mesmo deslocamento ao longo Analisando os esforços cortantes mobilizados
de toda a profundidade, de aproximadamente - nas cortinas estudadas (Figura 10), observa-se
2,5 cm. Para a cortina com tirantes (simulação que os valores de esforço cortante máximo para
em 10 e 3 etapas) há uma rotação da cortina, as cortinas com e sem tirantes (Tabela 2)
que pode ter ocorrido devido a atuação dos apresentam praticamente o mesmo valor
tirantes. absoluto (aproximadamente 170 kN). Para a
cortina com tirantes, conforme esperado, o
3.3. Bacia de Recalques esforço cortante máximo ocorre no ponto de
aplicação do tirante. Já o esforço cortante para
A análise da bacia de recalques foi realizada cortina com tirantes simulada em uma etapa
considerando todos deslocamentos verticais apresentou o menor valor.
sofridos no topo do terreno. Na Figura 9,
(a) (b)
observa-se que para a cortina com tirantes na
simulação em uma etapa houve grandes
recalques (26 cm), diferente dos deslocamentos
apresentados para simulação em 10 e 3 etapas
que não indicam recalques, na verdade,
apresentam deslocamentos positivos, indicando
a elevação da superfície do terreno.
A análise numérica também indica uma
elevação do terreno para a cortina sem tirantes
de aproximadamente 4 cm, porém, com
menores valores que os apresentados para a
Figura 10. Diagrama de Esforço Cortante (a) Comparação
cortina com tirantes (9cm). Provavelmente, para a cortina com tirante e sem tirante (b) Comparação
estes valores ocorreram devido a uma para a cortina sem tirante (simulação em 10, 3 e 1 etapas)
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simulações e com valor de momento fletor


máximo 40% menor que para simulação em 10
Tabela 6. Valores de Cortante Máximo e 3 etapas.
ANÁLISE Cortante Máximo [kN]

Cortina sem tirantes (Simulação em 10 etapas) -170


3.5. Fator de segurança a ruptura
Cortina com tirantes (Simulação em 10 etapas) 172
Através das análises tensão x deformação
Cortina com tirantes (Simulação em 3 etapas) 174 utilizando a redução dos parâmetros, foi
Cortina com tirantes (Simulação em 1 etapa) 142 possível determinar o fator de segurança a
ruptura para cada uma das situações estudadas
Os momentos fletores mobilizados nas (Tabela 8). Para a cortina sem tirantes foi obtido
cortinas estudadas (Figura 10 (a)) apresentam um valor de FS de 2,7 (Figura 12), este alto
valores máximos distintos. Na cortina sem valor obtido pode ter ocorrido devido à grande
tirantes o momento fletor máximo é o dobro do inércia do muro e também ao comprimento da
obtido para a cortina com tirantes (Tabela 7), ficha, podendo ser analisada a diminuição da
isto mostra que a utilização dos tirantes diminui ficha, pois além do alto valor de FS,
os esforços mobilizados na cortina. praticamente não há deslocamento da massa de
solo.
(a) (b) Para a cortina com tirantes, as simulações em
3 etapas e 10 etapas (Figura 13) apresentaram
fatores de segurança próximos, entre 1,1 e 1,2.
Já a cortina com tirante simulada em apenas
uma etapa indica que há ruptura (FS<1,0).

Tabela 8. Fatores de segurança

ANÁLISE FS

Cortina sem tirantes (Simulação em 10 etapas) 2,7

Cortina com tirantes (Simulação em 10 etapas) 1,2

Figura 11. Diagrama de Momento Fletor (a) Comparação Cortina com tirantes (Simulação em 3 etapas) 1,1
para a cortina com tirante e sem tirante (b) Comparação
para a cortina sem tirante (simulação em 10, 3 e 1 etapas) Cortina com tirantes (Simulação em 1 etapa) 0,6

Tabela 7. Valores de Momento Fletor Máximo Figura 12. Fator de segurança para cortina sem tirantes
ANÁLISE M MÁX [kNm]

Cortina sem tirantes (Simulação em 10 etapas) 831

Cortina com tirantes (Simulação em 10 etapas) -407

Cortina com tirantes (Simulação em 3 etapas) -408

Cortina com tirantes (Simulação em 1 etapa) 240

Comparando os diagramas de momento fletor


mobilizados para cortina com tirantes nas
diferentes condições simuladas (Figura 10 (b)),
observa-se que a simulação em uma etapa
apresenta digrama distinto das outras
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calculados valores de momento fletor máximo e


esforço cortante máximo de 170 kN e 831
Figura 13. Fator de segurança para cortina com tirantes kN.m, respectivamente. Para a cortina com
tirantes o valor de esforço cortante máximo foi
de 172kN e de momento fletor máximo de -
407kN.m;
• Os fatores de segurança a ruptura das
estruturas de contenção analisadas foram de 2,7
e 1,2, para a cortina sem tirante e para a cortina
com tirantes, respectivamente. Podendo-se fazer
a análise da diminuição da ficha da cortina sem
tirantes, pois esta apresenta um alto fator de
segurança e não foram identificados recalques
na superfície do terreno.
• Analisando a cortina projetada com
4 CONCLUSÕES tirantes, observa-se que os valores de esforço
cortante máximo não diferem dos obtidos para a
Através das análises realizadas para as cortina sem tirantes, porém os valores de
diferentes estruturas de contenção deste estudo momento fletor máximo reduziram em cerca de
foi possível verificar que: 50%. No que diz respeito aos deslocamentos, as
• O diagrama de tensões resultantes ao estruturas com tirantes e sem tirantes não
longo da cortina obtido através das análises apresentam recalques na superfície do terreno;
tensão x deformação e o diagrama do método • Observou-se que a simulação do
simplificado de Bowles (1988) para a cortina processo executivo da cortina com tirantes em 3
com tirantes apresenta um comportamento etapas e 10 etapas apresentou em geral valores
parecido, porém para a cortina sem tirantes há próximos entre si, porém, a simulação em
uma grande diferença nas tensões resultantes ao apenas uma etapa mostrou resultados totalmente
longo da ficha. Pela metodologia simplificada divergentes dos demais, o que era esperado,
indica-se que as tensões passivas mobilizadas pois que esta simulação é irreal, nesta são
são maiores que as calculadas através da análise consideradas todas as etapas da obra executadas
tensão x deformação; simultaneamente;
• A cortina sem tirantes com comprimento
de 20 m, apresentada deslocamentos horizontais REFERÊNCIAS
da ordem 2,5 cm. Nas análises para a cortina de
13 m com tirantes, indica-se que há rotação da Bowles, J. E. (1988) Foundation analysis and design, 2
estrutura e deslocamentos da ordem de 2 cm. ed., McGraw-Hill, New York, NY, USA.
Gerscovich, D.; Danziger, B.R.; Saramago, R. (2016).
• No que diz respeito a influência da
Contenções – Teoria e Aplicações em Obras. Oficina
execução da cortina para as estruturas vizinhas, de Textos. São Paulo.
as análises apresentaram para as cortinas com Peck, R.B. “Earth pressures measurements in open cuts
tirantes e sem tirantes deslocamentos positivos, Chicago subway”, Transactions ASCE, v. 108, pp.
indicando a elevação da superfície do terreno, 1008-1036, 1943.
Peck, R.B. “Deep excavations and tunneling in soft
podendo isto ter ocorrido devido a uma
ground”, In: Comptes-rendus du VII CIMSTF, v.
aproximação numérica. Desta forma, não é d’état de l’art, pp. 225-290, Mexico, 1969.
possível identificar que ocorram problema nas Tschebotarioff, G. P. Soil mechanics, foundations and
estruturas vizinhas, pois não ocorrem recalques earth structures. New York: McGraw Hill Book
na superfície do terreno; Company, Inc., 1951.
• Para a cortina sem tirantes foram
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Cortinas Atirantadas em Obras de Escavação – Modelagem


Numérica e Estudo Paramétrico
Luiz Fernando Nicodemos Rodrigues
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, luiz.nicodemos@engenharia.ufjf.br

Mario Vicente Riccio Filho


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

RESUMO: Neste artigo, é apresentado o processo de criação de um modelo numérico no software


PLAXIS v.8.2 e o estudo paramétrico de uma obra hipotética de escavação a 90°, cuja contenção
adotada para a estabilização do talude formado foi a cortina atirantada. A simulação da escavação de
7,5 m de profundidade foi feita em 5 etapas de construção, nos quais em cada etapa foram realizados
3 procedimentos: a escavação de 1,5 m de profundidade do solo, a concretagem do painel da cortina
e o atirantamento no talude. Para o modelo numérico criado, foram analisados os comportamentos
qualitativo e quantitativo dos deslocamentos horizontais em determinados pontos ao longo da altura
do talude, da carga efetiva nos tirantes, dos esforços internos na cortina (esforço cortante e momento
fletor) e do fator de segurança global da obra. Posteriormente, verificou-se a influência do ângulo de
atrito do solo e de uma sobrecarga no topo do talude nos resultados dessas variáveis, alterando-se tais
parâmetros isoladamente. Os resultados obtidos mostraram o impacto da variação do ângulo de atrito
e sobrecarga aplicada no topo com relação aos deslocamentos horizontais, fatores de segurança e
carga nos tirantes.

PALAVRAS-CHAVE: Cortinas Atirantadas, Obras de Escavação, Método Numérico, Estudo


Paramétrico.

1 INTRODUÇÃO numérico de uma hipotética obra de escavação,


analisar o comportamento de determinadas
1.1 Contextualização variáveis no decorrer das etapas construtivas da
obra e realizar um estudo paramétrico do modelo
Para o estudo, foi utilizado o programa PLAXIS criado. As variáveis analisadas foram os
v.8.2. Este programa computacional foi deslocamentos horizontais ao longo da altura da
desenvolvido em 1987 na Universidade Técnica contenção, as cargas efetivas nos tirantes, os
de Delft, na Holanda, com o intuito de criar um esforços internos (cortante e momento fletor) na
software de fácil utilização, a partir do Método cortina e o fator de segurança global da obra. No
dos Elementos Finitos, de análise de aterros estudo paramétrico, foi analisado o impacto, de
sobre solos moles. Alguns anos depois, o forma qualitativa e quantitativa, da alteração de
programa se desenvolveu para atender outras alguns parâmetros em tais variáveis. Os
situações geotécnicas até serem lançadas as parâmetros alterados foram o ângulo atrito do
primeiras versões para Windows em 2D (1998) solo e uma sobrecarga no topo do talude.
e 3D (2001) pela empresa que foi formada
(BRINKGREVE et al., 2002). 2 METODOLOGIA

1.2 Objetivo 2.1 Modelagem Numérica no Software


PLAXIS
O objetivo deste trabalho foi criar um modelo
Neste item, é apresentada a metodologia
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utilizada durante a modelagem nas plataformas Tabela 1. Propriedades e Parâmetros dos Solo
Input e Calculation do PLAXIS v.8.2 que Propriedades Gerais Parâmetros
permitiu encontrar os resultados, indicados no Modelo Mohr- E
2,5E+04
Constitutivo Coulomb (kN/m²)
item 3, que são visualizados nas plataformas Tipo de
Output e Curves. Drenado ѵ 0,300
Comportamento
с
unsat (kN/m³) 18,0 10,0
2.1.1 Plataforma Input (kN/m²)
sat (kN/m³) 20,0 ' (°) 35,0
Definido o modelo de análise por deformação
plana e o número de 15 nós por triângulo da kx e ky (m/dia) 1,7E-03 Ψ (°) 2,0
malha de elemento finitos, desenvolveu-se o
desenho da geometria do problema. Como pode As propriedades para a parede de concreto
ser notado na Figura 1, o maciço foi representado são: rigidez axial (EAcortina), rigidez a flexão
com 20 m de largura e 12,5 m de profundidade. (EIcortina), peso (w) e coeficiente de Poisson (ѵ).
A escavação possui 10 m de largura e 7,5 m de A Equação 1 mostra o cálculo do momento de
profundidade. Foram utilizados 5 tirantes com inércia (Icortina) para uma espessura hcortina = 0,15
inclinação de 15° e comprimento de 6 metros (4 m e faixa de comprimento b = 1 m:
metros do trecho livre e 2 metros do bulbo). A
escavação foi realizada em 5 etapas. Os tirantes b×hcortina 3
Icortina = (1)
foram implantados à meia altura de cada 12
escavação intermediária (0,75 m), resultando em
um espaçamento vertical entre estes de 1,5 m. Adotando-se módulo de elasticidade do
Os deslocamentos horizontais nas bordas concreto Econcreto = 21×106 kN/m² e peso
laterais foram impedidos, assim como os específico da cortina γcortina = 25 kN/m³, os
deslocamentos verticais e horizontais no bordo cálculos para encontrar os valores das rigidezes
inferior. A rotação na ligação dos tirantes com a (EAcortina e EIcortina) e do peso (w) foram
cortina também foi impedida. desenvolvidos conforme as Equações 2, 3, e 4:

EAcortina = Econcreto ×hcortina (2)

EIcortina = Econcreto ×Icortina (3)

w = γcortina ×hcortina (4)

A Tabela 2 sumariza tais propriedades da


parede de concreto.
Figura 1. Geometria Tabela 2. Propriedades da Cortina
Propriedades Gerais
Para representar o solo, foi escolhido o Modelo Elástico
modelo Mohr-Coulomb. A Tabela 1 resume os EAcortina (kN/m) 3,15E+06
parâmetros inseridos para o solo. EIcortina (kNm²/m) 5906,250
hcortina (m) 0,150
w (kN/m/m) 3,750
ѵ 0,200

Quanto ao trecho livre do tirante, foi adotado


o comportamento elasto-plástico e os dados de
entrada no programa são: rigidez axial
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(EATrecho,Livre), espaçamento horizontal dos Definidas as propriedades dos materiais, a


tirantes (L) e as forças máximas de tração e malha de elementos finitos do modelo foi gerada
compressão suportadas pelo tirante conforme a Figura 2.
(Fmax,tração,compressão).
A escolha da barra de aço a ser utilizada foi
feita pelo catálogo da Protendidos Dywidag
LTDA (2017), onde foi adotada a barra DW 36
mm para tirantes permanentes (Tabela 3) que
possui carga de trabalho de 500 kN, diâmetro de
36 mm e área da seção transversal (Aaço) de
1,02×10-3 m². A Equação 5 mostra como foi
feito o cálculo da rigidez axial (EATrecho,Livre),
com Eaço = 210×106 kN/m². Figura 2. Malha de Elementos Finitos

EATrecho,Livre = Eaço ×Aaço (5) 2.1.2 Plataforma Calculation

Tabela 3. Cargas de Trabalho para Ancoragens no Terreno Nesta plataforma, foram definidos os tipos de
– Série DW (Adaptado de Protendidos Dywidag LTDA, cálculo e os estágios de construção da obra.
2017) Para os estágios de construção da obra, foram
Carga definidas 15 fases que representam as 5 etapas
Tirantes Tirantes
nominal Máxima
(mm)
Permanentes Provisórios
de Ensaio construtivas, uma vez que cada etapa consiste em
(tf) (tf) um conjunto de três procedimentos: a escavação
(tf)
15 8 10 14 do solo em 1,5 m de profundidade, a
32 39 46 68 concretagem de um painel da cortina (parede) e
36 50 58 87 a instalação e protensão do tirante. A carga de
40 61 71 107
47 85 99 148
protensão aplicada nos tirantes foi de 250 kN. A
Tabela 5 mostra as configurações das 15 fases.
Adotando-se o comportamento elástico,
Tabela 5. Resumo das Configurações de Cálculo na
foram definidas as propriedades do bulbo. O Plataforma Calculation
único parâmetro exigido pelo programa para este Tipo de Passo (“step”)
Identificação
material é a rigidez axial EAbulbo. Para um furo Cálculo Início Fim
de 100 mm, as Equações 6 e 7 mostram o cálculo Escavação 1 Plástico 1 4
de EAbulbo. Parede 1 Plástico 5 8
Tirante 1 Plástico 9 15
Escavação 2 Plástico 16 22
Aconcreto = Afuro - Aaço = 6,83×10-3 m² (6) Parede 2 Plástico 23 25
Tirante 2 Plástico 26 29
EAbulbo = Eaço ×Aaço + Econcreto ×Aconcreto (7) Escavação 3 Plástico 30 38
Parede 3 Plástico 39 41
Tirante 3 Plástico 42 45
A Tabela 4 reúne os dados inseridos para as Escavação 4 Plástico 46 56
propriedades dos tirantes. Parede 4 Plástico 57 59
Tirante 4 Plástico 60 63
Tabela 4. Propriedades dos Tirantes Escavação 5 Plástico 64 95
Propriedades Gerais Parede 5 Plástico 96 97
Elasto-Plástico (Trecho Tirante 5 Plástico 98 100
Tipo de Comportamento FS Etapa 1 Redução φ/с 101 200
Livre) e Elástico (Bulbo)
EATrecho,Livre (kN/m) 2,142E+05 FS Etapa 2 Redução φ/с 201 300
EABulbo (kNm²/m) 3,576E+05 FS Etapa 3 Redução φ/с 301 400
FS Etapa 4 Redução φ/с 401 500
L (m) 2,000
FS Etapa 5 Redução φ/с 501 600
|Fmax,tração,compressão| (kN) 500,000
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Além disso, foram definidos os pontos na


malha de elementos finitos (Figura 3) os quais
serão determinados os deslocamentos
horizontais na plataforma Curves.

Figura 4. Posição da Sobrecarga

Tabela 7. Interpretação dos Valores do Coeficiente de


Figura 3. Posições dos Pontos de Medições dos Pearson (Adaptado de BISQUERRA et al., 2004)
Deslocamentos Horizontais Coeficiente Perspectiva Coeficiente Perspectiva
Correlação
R=1 0,2<R<0,4 Baixa
2.2 Estudo Paramétrico Perfeita
Correlação Muito
0,8<R<1 0<R<0,2
Na análise paramétrica, dois parâmetros foram Muito Alta Baixa
alterados: o ângulo de atrito do solo (análise AA) 0,6<R<0,8 Alta R=0 Nula
e a sobrecarga no topo do talude (análise SC). A
Tabela 6 mostra a variação desses parâmetros, 0,4<R<0,6 Moderada - -
enquanto a Figura 4 detalha a posição da
sobrecarga que foi aplicada para a análise SC. Já 3 RESULTADOS E ANÁLISES
a Tabela 7 indica qual o critério adotado para
avaliar o valor do coeficiente R, que mensura a 3.1 Resultados do Modelo Padrão
tendência de relação linear entre duas grandezas.
3.1.1 Malha Deformada
Tabela 6. Análises Realizadas
Parâmetros Variados Ao se analisar a malha deformada (Output),
Análise Ângulo de Sobrecarga
Atrito (°) (kN/m²)
pôde ser observado um maior deslocamento
AA35,0 35,0 0,0 horizontal da malha na região mais próxima da
AA32,5 32,5 0,0 base do talude, indicando um comportamento de
AA
AA30,0 30,0 0,0 empuxo ativo, na qual a estrutura se desloca para
AA27,5 27,5 0,0 fora do terrapleno. Na região mais ao topo do
SC0 35,0 0,0
talude, observou-se um deslocamento horizontal
SC15 35,0 15,0
SC da malha contrário ao deslocamento da base,
SC30 35,0 30,0
SC45 35,0 45,0 sugerindo um comportamento de empuxo
passivo, na qual a estrutura se desloca para
dentro do terrapleno. Isto ocorre devido ao valor
da carga no tirante frente à tensão vertical
próxima ao topo que é reduzida. Outro detalhe a
ser apontado é o deslocamento vertical para cima
que a malha sofreu na base da escavação,
indicando uma tendência de soerguimento do
material nessa região.
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instalados no início da obra perdessem mais


protensão do que aqueles que foram instalados
mais próximos do fim. O gráfico da Figura 7
mostra como ocorreu a evolução das cargas nos
tirantes perante a evolução da obra.
Observou-se que a queda de protensão de um
tirante acontece principalmente no momento de
protensão de outro tirante. Por exemplo: o tirante
1 foi instalado com uma carga de protensão de
250 kN na etapa 1 e perdeu quase 75 kN ao final
Figura 5. Malha Deformada ampliada 30 vezes – Modelo da etapa 2, quando foi instalado e protendido o
Padrão. tirante 2. O mesmo aconteceu com o tirante 2
quando foi instalado e protendido o tirante 3 e
3.1.2 Deslocamentos Horizontais assim sucessivamente. Outro detalhe observado
é que essas quedas de protensão foram menores
Os deslocamentos horizontais relativos aos seis à medida em que se aumentaram as
pontos escolhidos (Figura 3) são representados profundidades escavadas.
na Figura 6 para a condição de final de cada
etapa da obra. Os resultados obtidos
confirmaram as conclusões da análise da malha
deformada, com deslocamentos negativos para
os pontos mais altos e positivos para os pontos
mais baixos.

Figura 7. Carga Efetiva nos Tirantes versus Etapa


Construtiva: Modelo Padrão

3.1.4 Esforços Internos na Cortina

A partir das envoltórias dos esforços atuantes na


Figura 6. Altura versus Deslocamento Horizontal: Modelo estrutura registrados durante toda a obra
Padrão (cortante - Figura 8 e flexão - Figura 9), é
possível constatar os esforços máximos que a
3.1.3 Carga Efetiva nos Tirantes estrutura (parede) estará submetida. Os picos
máximos dos esforços foram verificados nas
Apesar de a carga de protensão aplicada ter sido alturas onde se encontram os tirantes, onde há a
de 250 kN em todos os tirantes, este não é o valor aplicação de carga de protensão.
da tração a que ficam submetidos ao final da
obra. Com o decorrer das etapas construtivas,
notou-se que as cargas aplicadas perderam força,
fazendo com que aqueles tirantes que foram
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Figura 10. Fator de Segurança Global versus Etapa


Construtiva: Modelo Padrão

3.2 Análise AA – Variação do Ângulo de


Figura 8. Envoltória do Esforço Cortante ao Longo da Atrito
Altura da Cortina: Modelo Padrão
3.2.1 Deslocamentos Horizontais

Neste tópico, avaliou-se o impacto da variação


do ângulo de atrito do solo nos deslocamentos
horizontais da cortina. Como esperado, quanto
menor é o ângulo de atrito, maiores são os
deslocamentos horizontais para fora do
paramento. A Figura 11 ilustra esse
comportamento. A Tabela 8 ainda elucida que a
relação entre essas duas variáveis possui alta
tendência de relação linear, com valores para o
coeficiente de relação linear R variando entre
0,97 e 0,99 para cada ponto. Outro detalhe que
pôde ser notado é que as variações máximas,
Figura 9. Envoltória do Momento Fletor ao Longo da indicadas na Tabela 8, foram maiores para os
Altura da Cortina: Modelo Padrão pontos mais altos do talude, fato este que foi
confirmado pelas maiores inclinações das retas
3.1.5 Fator de Segurança Global nestas alturas do talude na Figura 12.

O valor do fator de segurança ao final da obra foi


de 2,138 (queda de 19% com relação ao valor no
final da etapa 1), valor bem acima do mínimo
exigido pela NBR 11682 da ABNT (2009) de 1,5
para alto nível desejado de segurança contra
danos materiais, ambientais e perda de vidas
humanas. A Figura 10 mostra a evolução do fator
de segurança global perante a evolução das
etapas construtivas da obra. Notou-se que os
dados tiveram uma tendência muito alta de
relação linear (R = 0,9843) segundo a função y =
-0,1149x + 2,7145.
Figura 11. Altura versus Deslocamento Horizontal ao
Final da Obra: Análise AA
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Tabela 8. Coeficiente de correlação linear R e outros Finalizando a análise AA, verificou-se o impacto
parâmetros do gráfico da Figura 12 da variação do ângulo de atrito nos valores dos
Ponto
Altura
A B C D E F fatores de segurança (FS) em cada etapa
7,5 6,0 4,5 3,0 1,5 0,0 construtiva. Como esperado, quanto menor o
(m)
R 0,97 0,98 0,99 0,98 0,98 0,98 ângulo de atrito, menor o fator de segurança
a* -0,69 -0,59 0,65 0,54 0,37 0,23 global. A Figura 14 e a Tabela 9 mostram uma
b** 18,6 14,3 19,7 17,4 13,1 9,0 relação linear entre o FS e o ângulo de atrito.
Δmáx
5,20 4,43 4,91 4,05 2,77 1,68
(mm)
Tabela 9. Coeficiente de correlação linear R e outros
*Coeficiente angular (inclinação) da reta parâmetros do gráfico da Figura 14
**Coeficiente linear da reta
Etapa 1 2 3 4 5
R 0,9317 0,9997 0,9991 0,9997 0,9982
a* 0,0329 0,0499 0,0502 0,0546 0,0579
b** 1,445 0,6885 0,6130 0,3635 0,1015
Δmáx
-0,270 -0,372 -0,379 -0,410 -0,438
(mm)
Δmáx
-10,3 -15,3 -15,9 -18,1 -20,5
(%)
*Coeficiente angular (inclinação) da reta
**Coeficiente linear da reta

Figura 12. Deslocamento Horizontal ao Final da Obra


versus Ângulo de Atrito: Análise AA

3.2.2 Carga Efetiva nos Tirantes

Neste item, mediu-se o impacto da variação do


ângulo de atrito nas cargas finais dos tirantes ao
final da obra. A partir da Figura 13, observou-se
que as maiores variações ocorreram no tirante 1,
Figura 14. Fator de Segurança Global versus Ângulo de
enquanto que os outros tirantes apresentaram Atrito: Análise AA
certa regularidade perante à alteração do ângulo
de atrito. 3.3 Análise SC – Variação da Sobrecarga

3.3.1 Deslocamentos Horizontais

Nesta parte da análise, foi observado o efeito da


variação de uma sobrecarga no topo do maciço
sob os valores dos deslocamentos horizontais do
talude de escavação. Como esperado, o aumento
da sobrecarga gera um aumento dos
deslocamentos horizontais para fora do
paramento. A Figura 15 mostra as
Figura 13. Carga Efetiva nos Tirantes ao Final da Obra movimentações horizontais do paramento com o
versus Ângulo de Atrito: Análise AA aumento da sobrecarga. A Tabela 10 detalha a
relação entre essas duas grandezas, indicando
3.2.3 Fator de Segurança Global que há alta tendência de relação linear, visto que
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os valores para o coeficiente de correlação linear variação da sobrecarga e a carga final nos
variaram entre 0,97 e 0,99 para cada reta da tirantes. Como pode ser observado na Figura 17,
Figura 16. os valores das cargas finais nos tirantes não
seguiram uma tendência única de variação
perante a alteração da sobrecarga no talude,
mostrando-se relativamente estáveis.

Figura 15. Altura versus Deslocamento Horizontal ao


Final da Obra: Análise SC

Tabela 10. Coeficiente de correlação linear R e outros Figura 17. Carga Efetiva nos Tirantes ao Final da Obra
parãmetros do gráfico da Figura 16 versus Sobrecarga: Análise SC
Ponto
A B C D E F
Altura
7,5 6,0 4,5 3,0 1,5 0,0
3.3.3 Fator de Segurança Global
(m)
R 0,97 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99 Finalizando a análise SC, verificou-se as
a* 0,10 0,15 0,16 0,15 0,12 0,08
b** -5,55 -6,42 -3,29 -1,62 -0,06 1,03
implicações da variação da sobrecarga sob os
Δmáx fatores de segurança em cada etapa construtiva.
4,60 6,74 7,22 6,62 5,42 3,39 A partir da Figura 18, notou-se que,
(mm)
*Coeficiente angular (inclinação) da reta diferentemente do que ocorreu com a variação
**Coeficiente linear da reta do ângulo de atrito, não houve uma
correspondência clara entre as grandezas em
todas as etapas construtivas. Nas três primeiras
etapas, o comportamento do Fator de Segurança
Global foi aleatório à medida em que a
sobrecarga no topo do talude aumentou. Em
contrapartida, nas duas últimas etapas
construtivas notou-se uma correspondência
inversamente proporcional entre essas variáveis.

Tabela 11. Coeficiente de correlação linear R e outros


parâmetros do gráfico da Figura 18
Etapa 1 2 3 4 5
Figura 16. Deslocamento Horizontal ao Final da Obra R 0,92 0,95 0,51 0,97 0,99
versus Sobrecarga: Análise SC a* 0,002 0,005 -0,002 -0,006 -0,007
b** 2,635 2,437 2,438 2,299 2,121
Δmáx
3.3.2 Carga Efetiva nos Tirantes (mm)
0,090 0,199 -0,089 -0,275 -0,330
Δmáx
3,4 8,2 -3,7 -12,1 -15,4
Diferentemente do que ocorreu no estudo desta (%)
variável durante a análise AA, desta vez não se *Coeficiente angular (inclinação) da reta
notou uma correspondência clara entre a **Coeficiente linear da reta
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 A relação do ângulo de atrito do solo com


as cargas efetivas no tirante ao final da obra não
foi conclusiva, ou seja, não se verificou uma
tendência clara de comportamento;
 O impacto da variação do ângulo de atrito
no solo nos valores dos fatores de segurança
global seguiu uma tendência de relação linear.
Já para a análise SC, têm-se as seguintes
conclusões:
 Observou-se que quanto maiores as
Figura 18. Fator de Segurança Global da Obra versus sobrecargas, maiores os deslocamentos
Sobrecarga: Análise SC horizontais do paramento para dentro da
escavação. Notou-se ainda que a relação entre
4 CONCLUSÕES essas duas variáveis teve alta dependência linear;
 Não houve relação de dependência
A partir do modelo padrão criado, foi possível padronizada entre a sobrecarga no topo do talude
analisar o comportamento de determinadas e as cargas finais nos tirantes;
variáveis no decorrer das etapas construtivas da  Não houve correspondência clara entre a
obra hipotética em cortina atirantada. Os sobrecarga, para os níveis aplicados, no topo do
resultados indicaram: talude e o fator de segurança global em todas as
 Deslocamentos horizontais positivos na etapas construtivas. Apenas ao analisar o final
parte inferior do talude e deslocamentos das etapas 4 e 5, notou-se uma relação linear
negativos na parte superior durante todas as inversamente proporcional, ou seja, quanto
etapas da obra; maior a sobrecarga, menor o fator de segurança.
 Soerguimento da base da escavação que
não foi quantificado; AGRADECIMENTOS
 Quedas na carga inicial de protensão
aplicada em um tirante com o decorrer da obra, Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio à
mas principalmente após a execução da etapa pesquisa.
imediatamente seguinte. Isso fez com que os
tirantes instalados primordialmente tivessem REFERÊNCIAS
maiores perdas de protensão;
 Picos máximos das envoltórias de esforços Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
(2009). NBR 11682: Estabilidade de Encosta, Norma,
na parede (cortante e momento fletor) Rio de Janeiro/RJ.
localizados nos pontos onde se encontram a Bisquerra, R.; Sarriera, J. C.; Martínez, F. (2004).
cabeça dos tirantes; Introdução à Estatística: Enfoque Informático com o
 Queda linear do fator de segurança global Pacote Estatístico SPSS, Porto Alegre, Ed Artmed.
Brinkgreve, R. B. J.; Al-Khoury, R.; Bakker, K. J.;
da obra de acordo com a evolução das etapas Bonnier, P.G.; Brand, P. J. W.; Broere, W.; Burd, H. J.;
construtivas, iniciando com o valor de 2,632 e Soltys, G.; Vermeer, P. A. (2002). PLAXIS v.8: Finite
finalizando com 2,138. Element Code for Soil and Rock Analysis, Manuais,
Quanto ao estudo paramétrico realizado, têm- Universidade Técnica de Delft e PLAXIS b. v.
se as seguintes conclusões após a análise AA: Protendidos Dywidag LTDA (2017). Sistemas de
Protensão com Barras Dywidag – Aplicações
 Como esperado, o ângulo de atrito do solo Geotécnicas, Catálogo, São Paulo/SP.
se mostrou uma grandeza fundamental na
magnitude dos deslocamentos horizontais,
possuindo uma relação inversamente
proporcional com esta variável. Além disso, a
relação demonstrou ter alta tendência linear;
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Dimensionamento de solo grampeado considerando a resistência


não saturada do solo e da interface solo/grampo
Danilo Borges Cavalcanti
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, daniloborgescavalcanti@gmail.com

Carlos Alberto Lauro Vargas


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, carloslauro2010@gmail.com

Gilson de F. N. Gitirana Jr.


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, gilsongitirana@gmail.com

RESUMO: Em regiões de solos tropicais, como o encontrado na cidade de Goiânia (GO), mesmo em
situações de chuvas críticas o solo não se encontra saturado, fato comprovado em estudos anteriores.
Este trabalho possui o objetivo de avaliar a contribuição da não saturação no dimensionamento de
um solo grampeado, considerando o efeito da sucção no solo e na interface solo-grampo. Para o
dimensionamento, utilizou-se o Método de Equilíbrio Limite das Fatias, de Bishop. Quanto à análise
do efeito da sucção na resistência da interface, foi utilizado o modelo proposto por Hamid e Miller
(2009). O dimensionamento foi realizado para três situações: resistência sem considerar o perfil de
sucção; perfil de sucção hidrostático e perfil de sucção medido em campo. O número e comprimento
de grampos foi otimizado no dimensionamento. Os resultados indicam que efeito da sucção no solo
no fator de segurança é superior ao efeito da sucção na interface solo/grampo. No entanto, mesmo
esse reduzido efeito na interface possui impactos importantes, por afetar o mecanismo de
instabilidade. Reduções na quantidade de reforços da ordem de até 30% foram obtidas ao considerar
o efeito da não saturação.

PALAVRAS-CHAVE: Dimensionamento Solo Grampeado, Resistência Não-Saturada, Resistência


da Interface Solo-Grampo, Equilíbrio Limite.

1 INTRODUÇÃO posteriormente injetada calda de cimento, com


uma determinada pressão de modo que, após seu
Com o aumento da densidade demográfica das endurecimento, exista uma aderência e maior
cidades, em conjunto com a verticalização, foi atrito na interface solo/grampo. Além disso,
intensificado o uso do subsolo, geralmente com como forma de melhorar a contenção do solo na
garagens e vias de transporte subterrâneas. Com face da escavação é feita uma camada de
este processo, a necessidade de escavações mais retenção de concreto projetado, muitas vezes
profundas se tornou recorrente. Dentre as reforçada por uma malha de aço soldado.
diversas formas de conter uma escavação Os grampos exercem seu reforço no maciço
vertical, uma estrutura de contenção comum no de solo apenas com a ação das deformações,
Brasil é o solo grampeado. através da resistência ao cisalhamento da
Conforme apresentado por Zirlis (2012), o interface solo/grampo. Logo, compreender os
processo de execução dos grampos, fatores que influenciam nesta força de resistência
(tirantes/barras passivos), segue o progresso da é de essencial importância a fim de que seja
escavação do solo; é realizada a perfuração de possível realizar um dimensionamento correto
acordo com a inclinação indicada em projeto, da estrutura.
onde será inserida a barra de aço e É recorrente na prática da Engenharia
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considerar a pior hipótese de resistência do solo A presença de ar nos vazios do solo leva a uma
de modo que se garanta a segurança, como, por mudança na descrição do comportamento
exemplo, a consideração do solo ser analisado mecânico do mesmo. Dentre as variáveis
com parâmetros do solo saturado. Contudo, é utilizadas para caracterizar este, uma das mais
comum, em certas regiões, casos onde o solo significativas é a sucção mátrica, definida pela
dificilmente se encontrará saturado. Nestes diferença de pressão de ar e água. Esta diferença
casos, mesmo em épocas de chuvas intensas, o de pressão promove o surgimento de uma tensão
efeito da sucção estará presente. Rocha (2013) e de tração na interface água/ar, através dos
Silva (2016) realizaram estudos de simulações meniscos formados.
numéricas do solo da região de Goiânia – GO, A relação da sucção com o teor de água
onde foi observado que o solo não iria saturar presente no solo (grau de saturação; teor
mesmo com uma análise de chuvas críticas. volumétrico de água; umidade gravimétrica), é o
Desta maneira, este trabalho apresenta um primeiro passo para se realizar a caracterização
estudo de caso onde foi realizado e comparado o não saturada do solo. Esta relação define a curva
dimensionamento de uma estrutura de solo característica solo água (CCSA).
grampeado, considerando o efeito da sucção no A determinação da CCSA pode ser feita em
solo e na interface solo-grampo. laboratório por meio de ensaios como o Ensaio
de Papel Filtro, Potenciômetros de ponto de
orvalho (medição da sucção total) e placas de
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA pressão ou sucção. Com os dados obtidos em
laboratório, são utilizados ajustes para
2.1 Análise não saturada representar o comportamento no formato de uma
curva contínua.
Em um contexto prático e simplificado da Brooks & Corey (1964) propuseram uma
Engenharia, costuma-se realizar uma análise dos popular equação de ajuste da CCSA, o qual faz
parâmetros de resistência do solo em termos de uso das Equações 1, 2 e 3:
tensões efetivas. Contudo, a não ser que se esteja
dimensionando uma estrutura próxima do nível 𝛳𝑒 = 1; 𝑠𝑒 (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) ≤ (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 )𝑏
do lençol freático, o solo se encontrará com a (1)
presença de não apenas água em seus vazios,
mas, também, ar, e com isso essa análise (𝑢 −𝑢 ) 𝜆
𝛳𝑒 = ( (𝑢𝑎 −𝑢𝑤 )𝑏) ; 𝑠𝑒 (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) > (𝑢𝑎 −
simplificada pode deixar de ser condizente com 𝑎 𝑤
o real comportamento do solo. Além disso, a 𝑢𝑤 )𝑏
técnica de solo grampeado, geralmente, é (2)
realizada acima do NA, devido à dificuldade de
execução na presença de água (Clouterre, 1991). Sendo,
É evidenciado em Silva (2016) que, em solos
𝛳−𝛳𝑟
tropicais, devido à presença de macro e 𝛳𝑒 = 𝛳 (3)
𝑠 −𝛳𝑟
microporos, tem-se baixos valores de entrada de
ar. Logo, a umidade do solo ao longo de sua
profundidade sofre oscilações limitadas às 𝜭e: conteúdo volumétrico de água normalizado;
camadas rasas, de até 2 metros, mesmo em 𝜭: conteúdo volumétrico de água;
períodos de chuva ou seca mais extremos, (ua-uw): sucção mátrica;
principalmente em regiões onde o NA é (ua-uw)b: valor de entrada de ar;
profundo. Desta maneira, se torna necessária a 𝜭r: conteúdo volumétrico de água
análise não saturada nessas regiões. correspondente ao valor de sucção residual;
𝜭s: conteúdo volumétrico de água
2.1.1 Comportamento do solo correspondente ao valor de sucção saturação;
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𝜆: índice relacionado a distribuição do tamanho O efeito dos meniscos de água gera modificações
dos poros; na interface solo/grampo. Hamid e Miller.
(2009) propôs uma modelagem para o cálculo da
A importância da utilização deste ajuste é o tensão de arrancamento dos grampos,
fato dele fornecer uma curva unimodal, fator que considerando o efeito da sucção na resistência da
será necessário em futuros cálculos. Entretanto, interface e baseando na equação proposta por
sabe-se que há modelos que se ajustam melhor Vanapalli (1996). Esta é apresentada pela
para um solo tropical, como o proposto por equação 5.
Gitirana Jr. e Fredlund (2004), o qual faz uso de
uma modelagem bimodal, permitindo a 𝑞𝑢 = 𝑎′ + (𝜎𝑓 − 𝑢𝑎 ) ∙ 𝑡𝑎𝑛 𝛿 ′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 )𝑓 ∙
𝑓
representação dos macroporos e microporos (𝜃−𝜃𝑟)
presentes no solo. 𝑡𝑎𝑛 𝛿 ′ (𝜃𝑠−𝜃𝑟) (5)
Realizar uma análise da resistência de um
solo não saturado em laboratório envolve ensaios Onde, qu é a tensão última de arrancamento da
de maior complexidade e detalhamento, haja interface solo/grampo, a’ é a coesão na interface
vista que há a necessidade de controle de sucção solo/grampo (adesão), e 𝛿’ é ângulo de atrito na
mátrica, e para isto são necessários novos interface.
equipamentos para esse fim. Por exemplo, para Para determinar os parâmetros de resistência
realizar um ensaio não saturado na câmara da interface solo/grampo, foram utilizadas as
triaxial, é necessária a utilização de sistemas propostas de Terzaghi (1967), Equações 6 e 7:
independentes para água e para o ar, uma
cerâmica de alto valor de entrada de ar, além da a’= 0,5c’ (6)
medição do volume total (Fredlund e Rahardjo, 2
tan 𝛿 ′ = 3 tan 𝜙 ′ (7)
1993). Visto isto, é conveniente a utilização de
modelos que utilizam a CCSA para prever a
resistência ao cisalhamento do solo não saturado. 2.2 Análise da estabilidade de taludes
Fredlund e Rahardjo (1993), Fredlund et al.
Uma das formas mais recorrentes de realizar
(1996), Vanapalli et al. (1996), dentre outros,
uma análise da estabilidade de um talude é
propuseram modelos com este intuito.
O modelo proposto por Vanapalli et al. (1996) através do Método de Equilíbrio Limite, como o
Método das Fatias. A utilização deste consiste
faz o uso da Equação 4.
em realizar o equilíbrio de forças e momentos de
uma massa de solo em sua iminência de entrar
𝜏 = 𝑐 ′ + (𝜎𝑓 − 𝑢𝑎 ) ∙ tan 𝜙 ′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 )𝑓 ∙
𝑓 em ruptura ao longo de uma superfície de ruptura
(𝜃−𝜃𝑟)
tan 𝜙 ′ (𝜃𝑠−𝜃𝑟) (4) assumida. A massa de solo é analisada como um
corpo rígido com estado plástico de ruptura,
assumindo-se que a ruptura ocorre de forma
Observa-se que a Equação 4 apresenta não
instantânea e que o fator de segurança é
linearidade, uma vez que a parcela relativa ao
constante ao longo da superfície de ruptura.
efeito da sucção mátrica na resistência do solo
Como forma de adotar um parâmetro para
diminui a partir do valor de entrada de ar.
quantificar a estabilidade, é calculada a razão das
Segundo Fredlund e Rahardjo (1993), isso
ações resistentes em relação às ações atuantes
ocorrerá devido ao fato da água dos poros ocupar
(desestabilizadoras), representando o fator de
apenas uma porção dos poros do solo, indicada
segurança do talude.
pelo grau de saturação do solo, o qual é menor
Uma das vantagens deste Método das Fatias é
que 100%. Como resultado, um aumento da
a possibilidade de se considerar uma estrutura de
sucção mátrica passa a ter um efeito menor.
reforço no solo, como, por exemplo, um grampo.
Para isto, basta incluir na base de fatias
2.1.2 Comportamento da interface solo/grampo
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intersectadas por linha de ação do reforço uma Bueno, onde encontra-se dois tipos de solos
força de resistência seguindo a direção do predominantes, um situado até uma
mesmo. profundidade de 5,45m (amostra 1) e outro a
O método das fatias, apresenta diversas partir desta profundidade (amostra 2). O nível
variações, e estas estão majoritariamente freático encontra-se a 12,75m de profundidade, a
relacionadas às forças existentes entre as fatias. partir do topo da escavação.
Dentre estas variações, as que possuem mais A Figura 1 apresenta o perfil composto pelos
destaque são os métodos de Fellenius, Bishop- dois tipos de solos identificados, o NA, a divisão
Simplificado e Morgenstern-Price. das camadas, os pontos de entrada e saída da
superfície de ruptura e a superfície de ruptura
2.3 Dimensionamento de solo grampeado analisados pelo SLOPE/W.

O layout do reforço de solo tratado neste trabalho


é o mesmo que foi apresentado em Silva (2016),
em que foi realizado um pré-dimensionamento
seguindo as recomendações dadas por Clouterre
(1991).
Presente na plataforma GEOSTUDIO, a
extensão SLOPE/W (software de análise)
permite a realização da análise da estabilidade de
um talude, com a presença ou não de reforços no
perfil. O SLOPE/W faz uso do método de
equilíbrio limite a fim de promover a análise da Figura 1. Perfil de solo analisado pelo Método das Fatias
estabilidade do talude, para isso as informações
de entrada necessárias são: O método de análise adotado para o cálculo
 Geometria do talude a ser trabalhado; do Fator de Segurança (FS) da estabilidade do
 Nível d’água (NA); talude foi o Método das Fatias, segundo o critério
 Materiais; de Bishop Simplificado.
 Método de análise de resistência (ex: Foram analisados os FS para 5 diferentes
Mohr-Coulomb); casos:
 Método de criar a superfície de ruptura:
 Reforços e seus respectivos parâmetros.  Análise de tensões efetivas, sem considerar
sucção;
Em relação aos parâmetros relacionados ao  Perfil de sucção hidrostático
tipo de reforço tratado neste, o grampo, o o Análise não saturada para o solo e análise de
SLOPE/W solicita como entrada o diâmetro do tensões efetivas para a interface
grampo, a inclinação de instalação, o solo/grampo;
comprimento, a tensão de arrancamento, além de o Análise não saturada para o solo e para
parâmetros relacionados à capacidade estrutural interface solo/grampo;
do grampo e fatores de redução.  Perfil de sucção de campo
o Análise não saturada para o solo e análise de
tensões efetivas para a interface
3 METODOLOGIA solo/grampo;
o Análise não saturada para o solo e para
O perfil de solo trabalhado neste, trata-se de uma interface solo/grampo;
obra de contenção situada em Goiânia, na
Avenida T-1 esquina com a T-51 no Setor Partindo de uma análise de tensões efetivas, a
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mais comum na prática, percebemos, deste 0,6

modo, o ganho obtido a cada consideração com


0,5

Conteúdo Volumétrico de água


a análise não saturada. Uma vez que a resistência
não saturada está presente sempre neste perfil 0,4
tratado, pode-se assim verificar o ganho obtido
com a sua consideração por etapas: 0,3

primeiramente, apenas no solo, e posteriormente, 0,2


no solo e na interface.
0,1
3.1 Parâmetros básicos do solo
0,0
1,E-1 1,E+0 1,E+1 1,E+2 1,E+3 1,E+4 1,E+5 1,E+6
Em relação à caracterização do solo, foram Sucção (kPa)
realizados ensaios de índices físicos em Silva
Figura 2. Curva característica solo-água correspondente à
(2016). Os valores médios dos pesos específicos Amostra 1
naturais foram 15,03 kN/m3 e 16,89 kN/m3,com
valores de umidade gravimétrica de 18,19% e
21,07%, , correspondentes às amostras 1 e 2,
0,6
respectivamente.
Conteúdo Volumétrico de água

Os parâmetros de resistência efetiva, ângulo 0,5


de atrito efetivo (’) e coesão efetiva (c’),
utilizados neste estudo são os obtidos por Silva 0,4

(2016) através de ensaios de cisalhamento direto 0,3


inundado. Estes são apresentados na Tabela 1.
0,2

Tabela 1. Parâmetros de resistência efetivos do solo 0,1

Amostra 1 Amostra 2 0,0


' 36,8º 36,6º
1,E-1 1,E+0 1,E+1 1,E+2 1,E+3 1,E+4 1,E+5 1,E+6

c' 13,6 kPa 21,3 kPa Sucção (kPa)

Como nível d’água (NA) está à uma Figura 3. Curva característica solo-água correspondente à
profundidade de 12,75 m, o solo acima deste Amostra 2
possui um comportamento não saturado. Para a
obtenção das CCSA de cada amostra, foram
utilizados os resultados dos ensaios de papel 3.2 Perfil de coesão aparente
filtro de Silva (2016). O ajuste utilizado foi o de
Brooks & Corey (1964). As Figuras 2 e 3 Como observado no item 2.1 a umidade varia
apresentam as CCSA das amostras 1 e 2 com a profundidade, até o NA. Sendo assim a
respectivamente. sucção, também como a coesão aparente,
apresenta variação com a profundidade. A partir
do perfil de umidade medido em campo a cada
metro, em laboratório obteve-se o perfil de
sucção, os quais podem ser encontrados em Silva
(2016).
Na Tabela 2, são apresentados, segundo às
profundidades, os valores de umidade
gravimétrica medidos em laboratório; os valores
de sucção hidrostática; os valores de conteúdo
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volumétrico de água hidrostático, obtidos através 8,00 18,9 0,287 10,1 25,635
das CCSA e correspondentes aos valores de 9,00 15,0 0,228 31,4 31,987
10,00 19,6 0,299 8,6 25,175
sucção. Por fim, os valores de coesão (cAPhid)
11,00 14,3 0,217 77,1 42,814
foram calculados através da Equação 4. 12,00 15,6 0,238 22,6 29,764
12,75 0,0 21,260
Tabela 2. Valores de coesão aparente calculados segundo
um perfil de sucção hidrostático Como artifício para empregar os diferentes
perfis de resistência ao cisalhamento na análise
(uw-ua)hid cAPhid de equilíbrio limite, o perfil acima do NA foi
Profundidade w (%) hid
(kPa) (kPa)
subdividido em 15 camadas de 1 m de espessura,
0,00 127,5 0,170 36,021 com exceção das camadas mais extremas. O
0,25 13,7 125,0 0,170 35,581 valor de coesão aparente inserido em cada
1,00 13,4 117,5 0,170 34,262
camada corresponde ao valor de coesão aparente
2,00 13,3 107,5 0,178 33,900
3,00 12,2 97,5 0,178 32,012 em sua profundidade central, o qual corresponde
4,00 13,0 87,5 0,187 31,337 aos valores apresentados nas Tabelas 2 e 3.
5,00 11,3 77,5 0,187 29,310 No caso do perfil de tensões efetivas, sem
6,00 14,3 67,5 0,212 41,113 considerar a sucção, os valores de coesão
7,00 19,5 57,5 0,212 38,172 adotados se resumiram aos valores de coesão
8,00 18,9 47,5 0,221 35,952 efetiva de cada amostra.
9,00 15,0 37,5 0,231 33,452
10,00 19,6 27,5 0,251 31,128
11,00 14,3 17,5 0,273 28,181 3.4 Tensão de arrancamento dos grampos
12,00 15,6 7,5 0,309 24,684
12,75 0,0 21,260 Os valores relacionados à resistência efetiva da
interface solo/grampo foram calculados através
Na Tabela 3, são apresentados, segundo as das considerações de Terzaghi, Equações 6 e 7,
profundidades, os valores de umidade e são apresentados na Tabela 4.
gravimétrica, os valores de sucção de campo e os
valores de conteúdo volumétrico de água de Tabela 4. Parâmetros de resistência efetiva da interface
campo, medidos em laboratório de amostras solo/grampo
retiradas dentro do período de fevereiro a julho
Amostra 1 Amostra 2
de 2014. Por fim, os valores de coesão aparente
(cAPcampo) foram calculados através da Equação ' 26,5 26,3
4. a' 6,80 10,63

Tabela 3. Valores de coesão aparente calculados segundo


A partir destes parâmetros, a tensão de
um perfil de sucção de campo arrancamento dos grampos pode ser calculada
com a utilização do modelo proposto por Hamid
(uw-
w cAPcampo e Miller (2009), Equação 5, para uma previsão
Profundidade campo ua)campo
(%) (kPa) da resistência ao cisalhamento não saturada da
(kPa)
0,00 0,0 0,0 interface solo/grampo.
0,25 13,7 0,248 91,9 30,954 Na Tabela 5, são apresentados os valores de
1,00 13,4 0,241 116,5 34,086 tensões de arrancamento calculados para
2,00 13,3 0,239 124,1 35,423 diversas profundidades conforme a Equação 5. É
3,00 12,2 0,220 215,1 46,357 válido ressaltar que para o caso do perfil de
4,00 13,0 0,234 146,6 37,596
tensões efetivas, ao usar o modelo proposto por
5,00 11,3 0,203 322,4 56,035
6,00 14,3 0,218 65,6 40,540
Hamid e Miller (2009), a parcela devido a sucção
7,00 19,5 0,297 8,8 25,273 foi considerada nula.
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Tabela 5. Valores de tensão de arrancamento calculados O espaçamento vertical foi calculado com
segundo um perfil de sucção hidrostático, de campo e de base no número de grampos, distribuindo os
tensões efetivas
mesmos de forma homogênea na profundidade
Profundidade qu hid qu campo qu sat da escavação, ou seja, dividindo a profundidade
(m) (kPa) (kPa) (kPa) pelo número de grampos mais um. Foram
0,25 23,3 24,4 8,7 variadas a quantidade de grampos (n), 6 a 9, e o
1,00 28,1 28,1 14,3 comprimento (l), 5, 6, 7, 8, 9 e 10m.
2,00 35,3 34,4 21,8
3,00 41,6 39,2 29,3 3.5 Demais parâmetros
4,00 48,6 46,3 36,8
5,00 54,7 51,1 44,3 Como já citado, outros parâmetros são
6,00 69,0 69,0 55,8
necessários para especificar as características do
7,00 75,4 81,6 64,1
reforço no solo. Estes, a seguir, foram adotados
8,00 82,3 86,3 72,5
9,00 89,0 89,4 80,9
constantes e iguais para todos os grampos.
10,00 95,8 97,6 89,2
11,00 102,2 100,9 97,6  Diâmetro adotado de 0,1016 m;
12,00 108,2 107,8 106,0  Espaçamento horizontal adotado de 1,5m;
12,75 112,2  Capacidade estrutural fictícia de 1000 kN,
13,00 114,3 uma vez que não houve intenção de se avaliar
13,50 118,5 o risco de ruptura interna do grampo;
14,00 122,7  Fator de redução da capacidade estrutural do
14,50 126,9 grampo unitário, pela mesma razão anterior;
 Resistência ao cisalhamento do grampo e seu
Como pode ser observado na Tabela 5, a respectivo fator de redução foram dados como
tensão de arrancamento possui grande influência nulo e unitário, respectivamente, visto que é
da profundidade e do valor de sucção. Para comum em projetos de reforço de solos
inserir um valor único no software de análise em desconsiderar essa força, pela mínima
cada grampo, optou-se por calcular uma tensão probabilidade de ocorrência deste tipo de
média relacionada às tensões nos limites de falha, a qual é mais comum quando se
instalação de cada grampo, como apresentado na trabalha com um reforço de rochas.
Figura 4. Esta, consequentemente, é função,
também, da quantidade, do comprimento e da
inclinação dos grampos a serem instalados, a
qual será adotada constante de 15°. 4 RESULTADOS

4.1 Perfil de coesão aparente

Conforme apresentado na metodologia, o perfil


de coesão aparente foi dividido em 15 camadas
acima do NA, a fim de que o efeito da sucção
pudesse ser representado. A Tabela 7 apresenta
os valores de coesão aparente que foram
inseridos em cada camada do SLOPE/W, e suas
respectivas profundidades limites.
Figura 4. Metodologia de cálculo da tensão de
arrancamento dos grampos Tabela 6. Valores de coesão aparente representativos de
cada uma das camadas acima do lençol freático obtidas de
medidas em campo e do efeito hidrostático
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cap -
Camada Prof. cap - hid
campo
0,00
1 35,6 31,0
0,10
0,13
2 35,6 31,0
0,63
0,63
3 34,3 34,1
1,50
1,50
4 33,9 35,4
2,50
2,50
5 32,0 46,4
3,50
3,50
6 31,3 37,6
4,50
4,50
7 29,3 56,0
5,50
5,50
8 41,1 40,5
6,50
6,50
9 38,2 25,3
7,50
7,50
10 36,0 25,6
8,50
8,50
11 33,5 32,0
9,50 Figura 5. Representação do perfil de coesão aparente para
9,50 os casos de campo e hidrostático
12 31,1 25,2
10,50
10,50
13 28,2 42,8
11,50 4.2 Dimensionamento da cortina grampeada
11,50
14 24,7 29,8
12,38
12,38 As Tabelas 8 a 12 apresentam os resultados dos
15 21,3 21,3 fatores de segurança para os 5 casos tratados. O
12,75
tipo de ruptura do talude será indicado pela cor
Os perfis de coesão correspondentes às das células, as azuis indicam ruptura no pé do
sucções de campo e hidrostática são talude e as verdes correspondem a uma ruptura
apresentados de forma gráfica na Figura 5. A global. Nas tabelas, “n” representa o número de
variabilidade das condições de umidade em linhas de grampo e “l” o comprimento dos
campo resultou em um perfil com relativamente grampos em metros.
elevada flutuação, com coesão aparente de 25 a A consideração da sucção tem óbvio impacto
56 kPa. Deve-se, por outro lado, observar que o no modo de ruptura. O efeito da sucção tem
perfil hidrostático produz coesões aparentes que natureza coesiva. Desta maneira, quanto maior o
segue a tendência geral do perfil de campo. É efeito da sucção, mais profundo é o modo de
interessante também observar que as menores ruptura crítico, tendendo ao modo “global”. O
umidades observadas in situ correspondem, maior efeito coesivo é apresentado na Tabela 11,
aproximadamente, a condições residuais para os com metade das combinações avaliadas
macroporos do solo. Ou seja, a umidade do solo apresentando rupturas globais.
se encontra principalmente nos interstícios das Pode-se também afirmar que, uma vez que o
agregações de argila, típicas desse material. mecanismo de ruptura seja global, seja pelo
efeito da sucção, seja pelo efeito dos grampos,
passa-se a ter um fator de segurança com
relativamente baixa sensitividade ao valor da
sucção. Por outro lado, quando o efeito coesivo
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não é suficiente para produzir um mecanismo de n


l (m)
ruptura crítico do tipo global, relativamente 6 7 8 9
pequenas variações no efeito da coesão 5 1,587 1,670 1,741 1,813
produzem significativas variações no fator de
6 1,771 1,872 1,978 2,086
segurança. Tais constatações vêm do simples
7 1,974 2,122 2,265 2,414
fato de que a superfície de ruptura atravessa
zonas predominantemente saturadas ou não 8 2,201 2,409 2,579 2,595
saturadas, dependendo do mecanismo de 9 2,512 2,637 2,657 2,672
ruptura. 10 2,689 2,713 2,733 2,749
É interessante também observar que as
alternativas com rupturas globais são Tabela 10. FS para uma análise não saturada no solo e na
significativamente conservadoras, com elevados interface solo/grampo, segundo um perfil de sucção de
fatores de segurança, e não representam projetos campo
otimizados. Neste caso, projetos otimizados n
terão relativamente elevada sensibilidade aos l (m)
6 7 8 9
valores de sucção de projeto. 5 1,679 1,763 1,838 1,920
6 1,885 1,993 2,103 2,224
Tabela 7. FS para uma análise de tensões efetivas no solo 7 2,117 2,272 2,426 2,560
e na interface solo/grampo 8 2,387 2,596 2,618 2,632
n 9 2,653 2,673 2,693 2,706
l (m) 10 2,726 2,749 2,767 2,782
6 7 8 9
5 1,236 1,312 1,371 1,440
6 1,402 1,492 1,588 1,686 Tabela 11. FS para uma análise não saturada no solo e
7 1,584 1,791 1,844 1,984 análise de tensões efetivas na interface solo/grampo,
8 1,787 1,976 2,174 2,362 segundo um perfil de sucção de campo
9 2,065 2,315 2,525 2,545
n
10 2,361 2,586 2,615 2,633 l (m)
6 7 8 9
5 1,638 1,721 1,793 1,867
Tabela 8. FS para uma análise não saturada no solo e na 6 1,824 1,927 2,033 2,144
interface solo/grampo, segundo um perfil de sucção 7 2,031 2,181 2,325 2,478
hidrostático 2,262 2,472 2,614 2,630
8
n 9 2,578 2,670 2,689 2,704
l (m) 2,720 2,745 2,762 2,777
6 7 8 9 10
5 1,618 1,702 1,779 1,859
6 1,818 1,927 2,039 2,154 Através das Figuras 6 e 7 é possível perceber
7 2,045 2,203 2,354 2,519 o incremento considerável no fator de segurança
8 2,303 2,527 2,582 2,599 obtido ao incorporar a resistência não saturada
9 2,616 2,641 2,660 2,676 do solo e também da interface solo/grampo. A
10 2,693 2,719 2,737 2,753 Figura 6 apresenta os FS para n=6, onde obteve-
se um aumento de até 28% apenas com a análise
não saturada do solo, e considerando a análise
não saturada do solo e da interface solo/grampo
o aumento foi de 31 % com relação à análise de
Tabela 9. FS para uma análise não saturada no solo e
tensões efetivas (sem efeito de sucção).
análise de tensões efetivas na interface solo/grampo,
segundo um perfil de sucção hidrostático
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significativo com a análise não saturada.


Contudo, neste caso, para maiores comprimentos
nas três situações apresentadas, o tipo de ruptura
é global, o que levou a uma menor diferença dos
FS a partir de “l=8m”.
As Figuras 8 e 9 apresentam a variação do
F.S. em relação ao comprimento dos grampos,
para as análises não saturadas no solo e na
interface solo/grampo e para uma análise não
saturada no solo, nos perfis de sucção
hidrostático e de campo. Com base nestas, pode-
Figura 6. FS para n=6, e considerando tensões efetivas
se afirmar que há um ganho no F.S. ao
(sem efeito de sucção), sucção no solo (interface
solo/grampo sem sucção), e sucção no solo e na interface acrescentar o efeito da sucção na resistência da
solo/grampo. interface solo-grampo.
Pode-se observar, pelas Figuras 6 e 7, que
para valores de “l” de 5 m até aproximadamente
7 m existe um ganho significativo no FS. Além
disso, para as quantidades de grampo que foram
analisadas, com o aumento do comprimento (l),
ocorre uma convergência para um valor de FS. A
estabilização das curvas tem início quando a
quantidade de reforço antecede a mudança do
tipo de ruptura, de pé para global. Após esta
alteração ocorrer, o FS sofre aumentos menos
Figura 7. FS para n=9, e considerando tensões efetivas significativos com o incremento de reforços. A
(sem efeito de sucção), sucção no solo (interface característica do mecanismo de ruptura pode
solo/grampo sem sucção), e sucção no solo e na interface explicar, pelo menos em parte, tal
solo/grampo comportamento do fator de segurança, conforme
comentado anteriormente.
Para o caso n=9, apresentado na Figura 7,
pode-se verificar que também há um incremento

Figura 8. Gráficos de FS em relação ao comprimento dos grampos em análises saturadas e não saturadas para o grampo,
em um perfil de sucção hidrostático
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Figura 9 Gráficos de FS em relação ao comprimento dos grampos em análises saturadas e não saturadas para o grampo,
em um perfil de sucção de campo.

A partir da consideração do efeito da sucção 70


na resistência da interface solo-grampo, pode-se 60
observar, na Figura 8, que o ponto de otimização 50
Quantidade de reforço (m)

do dimensionamento, é atingido prematuramente 40


30
para um comprimento de grampo de 8 m em uma
20
quantidade de linhas de grampo de n=7. A partir 10
deste ponto de otimização, um aumento de 0
reforço não oferece alterações consideráveis no 2
FS, uma vez que neste momento a ruptura se FS
tornou global. Saturado Hidrostático Campo
Na Figura 9, observa-se uma ocorrência
Figura 10 Gráfico da quantidade de reforço necessária para
semelhante ao caso anterior. Para o comprimento
atingir um FS=2
de 9m, a quantidade de grampos passa de 8 para
7.
A Figura 12 apresenta o a quantidade de
reforço (n*l) para um FS fixo igual a 2. Pode-se 5 CONCLUSÕES
verificar através deste gráfico que ocorre uma
diminuição de, aproximadamente, 29 % da Como já havia sido observado em Silva (2016),
quantidade de reforço necessária para atingir este há um aumento considerável do FS ao levar em
FS ao se fazer uma análise não saturada conta o efeito da sucção como acréscimo de
resistência do solo, em torno de 25%. Contudo,
ao se realizar uma análise não saturada, também,
na interface solo/grampo, ocorre um pequeno
incremento no FS.
Por mais que o aumento relativo devido a
resistência da interface solo/grampo pareça
desprezível, valor máximo de 5%, o incremento
no FS gerado por esta análise no grampo pode
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levar à uma alteração do tipo de ruptura, REFERÊNCIAS


variando de pé para global, como pode ser
observado nos casos n=6 e l=9 em um perfil Clouterre. (1991). Recomendations Clouterre 1991 – Soil
hidrostático, n= 6 e l=9, n=7 e l=8, n=9 e l=7 em nailing recommendations for designing, calculating,
um perfil de campo. Com isto, o ponto de constructing and inspecting earth support systems
using soil nailing. French National Project Clouterre :
otimização da estrutura de contenção pode ser s.n., 1991, p. 302p.
atingido prematuramente. Fredlund, D. G. e Rahardjo, H. (1993). Soil Mechanics for
As Figuras 8 e 9 podem ser usadas na Unsaturated Soils. Canada :s.n.
otimização do dimensionamento do solo Fredlund, D.G., et al. (1996). The relashionship of the
grampeado, considerando FS fixo, ou seja, para unsaturated soil shear strength to the soil-water
characteristic curve. p.440-448, s.l.: Canadian
FS = 2, se for 9 linhas de grampos precisaríamos Geotechnical Journal, Vol. 31.
de 47,25 m da estrutura, e para 6 linhas de GEOSLOPE 2018. Reinforcement with Soil Nails.
grampo precisaríamos de 39 m apenas, para o Calgary,Alberta, Canadá : GEO-SLOPE International
mesmo FS = 2,0. Ltd.
Conclui-se que, em regiões com o solo similar Hamid, T.B. e Miller G. A. (2009). Shear strength of
unsaturated soil interfaces. p. 595-606, s.l. : Canadian
a Goiânia, esta análise se faz necessária, devido Geotechnical Journal, 2009.
ao fato de apresentar solo fino tropical com alta Rocha, M. F. (2013). Influência do perfil de sucção em
resistência a saturação ou secagem, mantendo obras de contenção em solos não saturados.
sempre o solo não saturado. Para futuros Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
trabalhos é importante a realização de ensaios de em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Federal de Goiás, 278p.
arrancamento em grampos para validar o modelo Silva, E. (2016). Influência do perfil de sucção no
de Hamid e Miller (2009) com solos da região. dimensionamento de solo grampeado em solo não
Recomenda-se também o desenvolvimento de saturado. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
novos modelos ou ajustes, haja vista que, a Graduação em Geotecnia, Departamento de
relevância dos efeitos da sucção na segurança e Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás,
144p.
na prática de uma correta Engenharia. Vanapalli, S.K., et al. (1996). Model for the prediction of
shear strength with respect to soil suction. p. 379-392,
s.l. : Canadian Geotechnical Journal, 1996, Vol. 33 (3).
AGRADECIMENTOS Zirlis, A.C; Pitta C.A; Souza, G.J. (2012) Manual de
Serviços Geotécnicos. 4ª edição. São Paulo.
Os autores agradecem a Universidade Federal de
Goiás (UFG) e a Escola de Engenharia Civil e
Ambiental (EECA), pelos conhecimentos
ministrados, O programa de Iniciação Cientifica
da UFG pela bolsa oferecida para o
desenvolvimento desta pesquisa e ao Centro de
FURNAS GST.E de Aparecida de Goiânia pela
parceria e disponibilidade do Programa
SLOPE/W para realizar as análises deste
trabalho.
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Estabilização de Talude Através da Técnica de Solo Reforçado –


Estudo de Caso Ocorrido na Faculdade de Engenharia – UFJF –
Juiz de Fora – MG.
Victor Luiz Silva Guedes
Univerdade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vguedes86@hotmail.com

Julia Righi de Almeida


Univerdade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, juliarighi@gmail.com

Thainá Faria Oliveira


Univerdade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thaina.oliveira@engenharia.ufjf.br

RESUMO: Este trabalho visa apresentar o estudo de uma estrutura de contenção em solo reforçado
que foi utilizada na recomposição de um talude que sofreu deslizamento no dia 14 de novembro de
2016 na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. O deslizamento de encostas é um fato
preocupante nessa cidade devido à sua topografia e ao processo de ocupação territorial que se deu
ao longo das margens do Rio Paraibuna. Tais fatores somados às elevadas médias pluviométricas
que normalmente ocorrem entre outubro e março em Juiz de Fora, tornam muito comum o
deslizamento de encostas como aconteceu na UFJF. No presente trabalho são apresentados estudos
que envolvem a determinação das prováveis causas do deslizamento, estudos preliminares que
viabilizaram a opção pela técnica adotada, ensaios laboratoriais e todas as etapas construtivas que
puderam ser acompanhadas no período de execução da obra. Levando em consideração as
limitações do local onde ocorreu o deslizamento, a técnica de solo reforçado com o uso de
geossintético foi considerada a mais viável para a contenção.

PALAVRAS-CHAVE: Deslizamento, técnicas de contenção, solo reforçado.

1 INTRODUÇÃO superficiais de solo. Quando os taludes


interceptam o lençol freático, a erosão interna
Os movimentos de massa compreendem os pode contribuir para sua instabilização.
processos pelos quais massas de solo e rocha Em muitos casos, nos locais onde há
movem-se encosta abaixo sob a influência da movimentação de massas de solo, faz-se
gravidade. Embora seja um fenômeno natural, necessária a construção de estruturas de
em muitos casos esse processo é intensificado contenção, que são utilizadas como medidas
ou acontece simplesmente pela interferência do preventivas em áreas de eminente instabilidade
homem. ou corretivas em áreas onde algum tipo de
A interferência humana se dá pela ocupação deslizamento já ocorreu, seja ele total ou
de áreas de risco, obras irregulares, ausência ou parcial.
sistemas de drenagem ineficientes, entre outros. Estruturas de contenção são utilizadas em
Segundo Marangon (2006), os escorregamentos, diversas áreas da construção civil, podendo ser
devidos à percolação de água são ocorrências aplicadas em rodovias, ferrovias, contenção de
que se registram durante períodos de chuva taludes em áreas urbanas provenientes de cortes
quando há elevação do nível do lençol freático e/ou aterros, ou ainda para promover a
ou, apenas, por saturação das camadas estabilização de terrenos naturais.
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Devido ao grande avanço da engenharia, deslizamento, estudos preliminares foram


diversas técnicas de contenção podem ser realizados. Estes estudos, além de apontarem
aplicadas ao mesmo caso, cabendo aos prováveis causas do deslizamento, serviram
profissionais da área a escolha do método que também para o projeto de recuperação da área e
atenda melhor aos critérios de segurança, que tomada de medidas preventivas.
tenha menor custo e que seja uma solução Este talude fica localizado no bordo direito
adequada ao ambiente em que ela se encontra. da principal via de acesso da Faculdade de
Engenharia (Figura 2), e possui ao longo deste
trecho características que podem ocasionar
2 MATERIAIS E MÉTODOS outros deslizamentos, tais como: inclinações
variadas, árvores de grande porte, redes de
2.1 Área de estudo drenagem ineficiente ou fora de operação.
Tais fatores são relevantes, pois nessa
A área objeto de estudos é um talude que mesma via de acesso existem vagas de
encontra-se entre a plataforma da Faculdade de estacionamento em toda a sua extensão, além de
Engenharia e o Instituto de Ciências Exatas – trânsito de veículos leves e pesados e algumas
ICE, situados no campus da Universidade edificações.
Federal de Juiz de Fora - UFJF, no bairro São
Pedro – Juiz de Fora – MG, com coordenadas
aproximadas de 21°46’39.7”S e 43°22’18.9”W
(Figura 1).

Figura 2 - Local do deslizamento visto da Faculdade de


Engenharia - imagem de 2011. Fonte: Google Maps
(2017, google.com.br/maps).

Figura 1 - Local do escorregamento. Fonte: Google Maps 2.2 Sondagens


(2017, google.com.br/maps).
Após a análise das prováveis causas, foram
Para a realização deste estudo, foi feito um realizados ensaios de simples reconhecimento
acompanhamento in loco da obra, desde o início do tipo SPT (NBR 6484/2001). Através desse
até o fim da execução da mesma. Realizou-se ensaio foi conhecido o perfil do terreno e
também a análise do projeto executivo, coleta também obtidos índices necessários para a
de materiais para ensaios em laboratório, concepção do projeto.
contato direto com o projetista, com o executor Através das sondagens, determinou-se as
da obra, com o laboratório responsável pelo camadas de solos presentes no local e sua
controle da compactação e com o fornecedor do espessura: camada de aterro de 4,60 metros de
material geotêxtil utilizado na recomposição do espessura, logo após uma camada de solo
talude. residual maduro com espessura variando de
2,00 a aproximadamente 6,00 metros, e em
2.2 Estudos preliminares seguida uma camada de solo residual jovem de
aproximadamente 12,00 metros.
Para um melhor entendimento das causas do As sondagens foram executadas até a
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profundidade de 22,00 m, e em nenhum região, as fortes chuvas que ocorreram na época


momento foi encontrado o nível d’água. levaram ao deslizamento do talude (Figura 3 e
4).

3 ESTUDO DE CASO

Nessa seção serão abordadas todas as fases da


execução da solução de contenção adotada que
começaram logo após o deslizamento do talude,
com o intuito de se garantir a segurança no
entorno e das pessoas que por ali circulavam.
Essas medidas foram importantes na
estabilização parcial do maciço e manutenção
da integridade das partes vizinhas ao
deslizamento. Figura 3 - Detalhe do deslizamento e das vigorosas raízes
das árvores pinus elliottii. Fonte: (NIVELAR, 2017).
3.1 Causas do deslizamento

Após o ocorrido, algumas hipóteses foram


levantadas como possíveis causas. Porém, o
mais provável é que um somatório de fatores
tenha colaborado para que parte do talude viesse
a deslizar.
O ponto onde ocorreu o deslizamento é um
talude consolidado e existe desde a construção
do campus. Na crista do talude existem árvores
de grande porte do tipo pinus elliottii, que
podem ter colaborado para o ocorrido.
O fator mais importante a ser mencionado é a Figura 4 - Massa de solo que se deslocou para o
estacionamento do ICE. Fonte: (NIVELAR, 2017).
ineficiência da rede de drenagem pluvial do
local. Em toda a região encontram-se árvores
próximas à rede, e provavelmente as raizes 3.2 Remoção de material
destas árvores penetraram na mesma, causando
danos e um provável entupimento e posterior A remoção do material foi feita logo após um
vazamento, prejudicando assim o sistema de período de estiagem da chuva. Todo solo que
drenagem. deslizou do talude e se depositou no
Segundo Carvalho (1991), os dispositivos de estacionamento do ICE foi removido e
drenagem em geral, possuem grande transportado para um local de descarte
suscetibilidade a entupimentos e à danos em sua adequado. Durante este procedimento, foi feito
estrutura, tornando-se inoperante ou com no terreno uma conformação da sua declividade
deficiências. Esse é o motivo de grande parte para garantir estabilização temporária à encosta,
dos acidentes associados a escorregamento de evitando outros deslizamentos (Figuras 5 e 6).
taludes. Sendo assim, é importante ressaltar que
os sistemas de drenagem devem ter uma
programação de manutenção e vistorias
realizadas de forma contínua.
Somado a esses fatores característicos da
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3.4 Reconstrução da drenagem

As obras de drenagem têm por finalidade a


captação e o direcionamento das águas do
escoamento superficial, assim como a retirada
de parte da água de percolação do maciço.
Podem ser utilizadas como único recurso para
estabilizar o maciço ou como um recurso
Figura 5- Início do trabalho de remoção do material. adicional das obras de estabilidade do talude
Fonte: NIVELAR (2017). associada a contenções, retaludamento ou
proteções diversas (DUTRA, 2013).
Retaludamentos, aterros e mesmo obras com
estrutura de contenção podem ser danificados
ou destruídos quando seus projetos não preveem
sistemas de drenagem eficientes (COUTINHO,
2008).
Após a constatação dos problemas existentes
na rede de drenagem antiga, iniciou-se o
processo de execução de uma nova rede.
Executada com inclinação adequada e com
Figura 6 - Vista do talude com perfil conformado. Fonte:
NIVELAR (2017). manilhas de concreto de diâmetro de 500 mm,
superior a rede à antiga que era de 300 mm
3.3 Proteção com lona (Figura 8), tal procedimento é de grande
importância para o sucesso da recomposição do
Após o serviço de remoção do material oriundo talude, uma vez que as captações das águas
do deslizamento, toda área foi coberta por lonas pluviais no entorno da contenção impedem que
com o objetivo de proteger a encosta de outros esta percole pelo talude de solo reforçado e
deslizamentos que poderiam acontecer devido comprometa a estabilidade dessa estrutura.
às fortes chuvas que normalmente ocorrem no
período de dezembro a fevereiro na região. A
lona evita que as águas pluviais percolem na
área já instável, e consequentemente, ocasione
novos deslizamentos (Figura 7).

Figura 8 - Instalação da nova rede de captação de água


pluvial. Fonte: NIVELAR, 2017.

3.5 Ensaios laboratoriais

Os ensaios mais difundidos para avaliação de


Figura 7 - Vista do talude sendo protegido com lona. um solo a ser empregado em um aterro são os
Fonte: NIVELAR (2017).
ensaios de compactação (Proctor), CBR ou ISC
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– Índice de Suporte Califórnia, expansibilidade,


análise granulométrica por peneiramento e
ensaio físico para determinação dos limites de
liquidez (LL) e plasticidade (LP) e consequente
índice de plasticidade (IP) (SOUZA, 2014).

3.5.1 Ensaio de compactação

A NBR 7182:2016 prescreve o método para


determinar a relação entre o teor de umidade e a
massa específica aparente seca de solos quando
compactados, de acordo com os processos
especificados.
No estudo de caso, a compactação foi feita
no Proctor Normal e a densidade seca máxima
encontrada foi de 1,534 g/cm³.

3.5.2 Ensaio de determinação do teor de


umidade Figura 9 - Ensaio de LL, LP e granulometria.

O ensaio de determinação do teor de umidade Através dos resultados obtidos nesse ensaio é
foi feito com base na NBR 6457:2016 que possível a construção da curva de distribuição
prescreve o método de preparação de amostras granulométrica, importante para a classificação
para os ensaios de compactação, caracterização, dos solos bem como a estimativa de parâmetros
e ainda o método para determinação do teor de para filtros, bases estabilizadas, permeabilidade,
umidade de solos em laboratório. capilaridade etc.

3.5.3 Ensaio de limite de liquidez e plasticidade 3.5.5 Ensaio de índice de suporte califórnia
(LL e LP) (CBR)

O ensaio de limite de liquidez foi realizado de Segundo Souza (2014), este ensaio tem como
acordo com a NBR 6459:2017 e o limite de objetivo avaliar a resistência mecânica dos
plasticidade de acordo com a NBR 7180:2016. solos, de modo a permitir a seleção dos
Os resultados do teor de umidade e os limites materiais que irão compor as camadas de
de liquidez e plasticidade estão apresentados na pavimentação.
Figura 9. Realizado segundo norma DNIT 172/2016,
para o estudo de caso em questão, o ensaio
3.5.4 Ensaio de granulometria executado forneceu o resultado de ISC no valor
de 16%.
O ensaio de granulometria foi feito somente
pelo processo de peneiramento, levando em 3.6 Escolha da solução
consideração o percentual de solo passante na
série de peneiras de 1 ½”, 1’, 3/8”, 4, 10, 40 e Dentre as técnicas de contenções existentes,
200 (Figura 9). levou-se em consideração aquela que
apresentou melhor custo financeiro e também
melhor viabilidade técnica, analisando os
recursos naturais, mão de obra disponível,
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agilidade e facilidade na execução. emergência ou calamidade pública.


Além de ser necessária uma solução que não
destoasse da paisagem local, esta também não 3.7.1 Projeto executivo
deveria apresesentar custo de implantação
elevado frente a outras técnicas. No projeto executivo constam todas as
informações técnicas utilizadas ao longo da
3.6.1 Viabilidade técnica construção da contenção do talude. Analisando
o projeto, percebe-se que o sucesso na execução
A técnica de solo reforçado com o uso de depende de vários fatores: espessura de cada
geossintético foi considerada a mais viável, uma camada, tipo e posição de cada geogrelha e as
vez que pode ser executada em um curto informações para o controle da compactação.
período de tempo, liberando os estacionamentos
do entorno e a circulação de veículos dentro da 3.7.2 Preparação do talude
Faculdade de Engenharia. Além disso, torna-se
viável também, pois não exige grandes espaços A preparação do talude para o recebimento da
para armazenamento de materiais e de máquinas contenção teve seu início no pé da encosta (base
próximo a área afetada, já que para este caso do reaterro). Neste local foi feito um corte de
sua execução pode ser feita utilizando uma 3,00 metros avançando para dentro do talude, e
escavadeira hidráulica, um caminhão basculante remoção de 0,50 metros de material na base
para transporte de material da jazida até o local, para a construção do dreno, que é constituído
um mini rolo compactador e um compactador por um tubo drenante e brita. O corte foi feito
manual do tipo sapo para a compactação do com uma espessura de 0,10 metros a mais que o
material nas lateais do aterro, onde por ventura exigido no projeto com o intuito de se lançar
o rolo não conseguisse alcançar. uma camada de regularização compactada na
Com relação ao armazenamento de materiais, base do dreno (Figura 10).
esta técnica demanda pequenos espaços para
acomodação dos rolos de geossintéticos.
Quanto ao solo utilizado na estrutura,
especificamente neste caso, a jazida se encontra
dentro do próprio campus da UFJF. Com
relação a mão de obra, por ser uma técnica de
execução simples, não demanda uma
especialização para este método de contenção,
precisando, neste caso, de colaboradores com
uma qualificação maior somente para operar o Figura 10 - Regularização da base do dreno. Fonte:
maquinário utilizado durante a obra. (NIVELAR, 2017).
Somando todos esses fatores mencionados,
para o caso em estudo, o retaludamento com A face do talude teve sua inclinação
solo reforçado apresentou maior viabilidade suavizada e foi escalonada com 25 degraus (ou
técnica perante as demais alternativas. dentes) com alturas e profundidades diferentes
conforme consta em projeto (Figura 11).
3.7 Execução da obra

A obra foi executada em caráter de emergência


com dispensa de licitação, conforme prevê o
inciso IV, do artigo 24, da Lei nº 8.666/93, que
discorre sobre as possibilidades de casos de
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3.7.4 Utilização da geogrelha

Ao longo do corpo do aterro, 2 tipos de


geogrelhas foram utilizados, a Geogrelha
Fortrac T150/30-30 e a Geogrelha Fortrac
T80/30-30. Esses materiais possuem
características de resistência diferentes. Sua
utilização começou imediatamente abaixo da
primeira camada de solo compactada, na cota
Figura 11 - Corte transversal: detalhe do corte da 907,355, sendo que a geogrelha de maior
fundação. Fonte: (NIVELAR, 2017). resistência (T 150/30-30) teve sua ancoragem
feita diretamente no terreno natural ao longo do
3.7.3 Camada drenante alteamento do aterro.
As geogrelhas obedeceram ao seguinte
Após o corte, retirou-se do local o tubo de posicionamento ao longo do corpo do aterro: a
drenagem antigo, e em seguida lançou-se uma primeira camada de 0,60 metros confinada com
camada de material argiloso que foi compactado a Geogrelha Fortrac T 150/30-30, seguido de
e “selado”, deixando a base do reaterro com os duas camadas de 0,60 metros cada uma
0,40 metros pedidos em projeto para início da confinada com a Geogrelha Fortrac T 80/30-30,
camada de dreno. logo após iniciava-se o processo novamente,
Feito isso foi posicionado o tubo drenante do intercalando uma camada da geogrelha do
tipo Kananet de 100mm de diâmetro e logo primeiro tipo e duas camadas da geogrelha do
após foi lançada uma mistura de britas 1, 2 e 3 segundo tipo, conforme Figura 13.
em partes iguais. Em todas as camadas tomou-se o cuidado
O dreno iniciou-se na base do aterro e foi para manter a geogrelha sempre tensionada
subindo ao longo do perfil escalonado do (bem esticada), livre de flechas em qualquer
terreno natural por 8,00 metros, com uma parte do aterro, seja em sua base ou nos degraus
espessura aproximada de 0,25 metros, da face. Os sacos de aniagem (cheios de terra
posicionado logo abaixo da camada de reaterro vegetal e coquetel de sementes) funcionam
e acima do perfil natural escalonado do terreno. como um paramento frontal e serviram não só
Na seção longitudinal observa-se a para confinar cada camada compactada, mas
conformidade que o dreno adotou ao longo do permitindo que a geogrelha assimilasse a forma
alteamento da estrutura de contenção (Figura escalonada da contenção. Dessa forma, evitava-
12), e uma etapa da execução de uma camada se que a mesma ficasse solta na face do talude,
do aterro com a presença do dreno. uma vez que devido a inclinação da contenção,
seria impossível promover a compactação de
sua face externa.

Figura 12 - Detalhe do dreno. Fonte: (NIVELAR, 2017).


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Figura 13 – Detalhe em projeto da posição dos 2 tipos de Fonte: (NIVELAR, 2017).


geogrelha. Fonte: (NIVELAR, 2017).
Logo após, um mini rolo compactador de
3.7.5 Compactação do solo controle remoto (Figura 15) passou a ser
utilizado. Este equipamento possuía um rolo
O processo de compactação do solo foi feito com pequenos pés de carneiro, que além de
conforme especificação estabelecida pelo penetrarem mais fundo no solo transferindo
laboratório de controle de qualidade, levando mais energia de compactação, permitia uma
em consideração os ensaios de caracterização maior ligação entre as camadas e uma produção
do solo e os equipamentos de compactação maior devido ao seu tamanho. O compactador
disponíveis. Foi determinado que a espessura manual foi utilizado para compactar regiões
máxima da camada compactada seria de 0,20 onde o mini rolo não conseguia chegar.
metros, densidade seca máxima de 1,534 g/cm³,
teor de umidade ótima de 22,23% (variando em
+/- 2%) e grau de compactação de 100%.
A umidade do material era medida, através
do método da frigideira ou fogareiro, antes de
seu lançamento no corpo do aterro, pois era
mais fácil tratá-la no pátio localizado na frente
do talude.
Nos primeiros 3,00 metros de alteamento do
aterro, o solo foi compactado por um
compactador manual, do tipo sapo mecânico, Figura 15 - Mini rolo compactador Wacker Neuson
conforme Figura 14. Segundo Ferraz (2013), TSC2. Fonte: (NIVELAR, 2017).
por convenção, a compactação é considerada
dinâmica por impacto quando a frequência é 3.7.6 Controle de compactação
inferior a 500 golpes por minuto.
Na primeira camada, realizou-se um teste A compactação é de grande importância em
para verificar qual a espessura de material não obras de Geotecnia, pois através dela consegue-
compactado deveria ser lançada e com quantas se atingir o aumento da resistência do solo,
flechas o material atingiria o grau de diminuição da compressibilidade e do grau de
compactação máximo com os 0,20 metros permeabilidade.
exigidos em projeto. Para atingir os índices do Para obter a certificação que o solo atingiu
solo conforme especificado em projeto, eram esses índices, que são condições exigidas em
necessárias 4 flechas completas com uma projeto, lançou-se mão do controle de
camada de 0,25 metros. compactação.
Segundo Lozano (2012), há muitos casos de
aterros sendo feitos de forma inadequada, sob as
mais variadas justificativas. Porém, sem
tecnologia correta, cria-se um mito que não
condiz com a verdade. Seja qual for o volume
de aterro, qual seja o solo do local e das
possibilidades de áreas de empréstimo, há um
procedimento executivo de engenharia civil
geotécnica adequado, que proporcionará
economia e segurança. Para o controle da
Figura 14 - Compactador manual, do tipo sapo mecânico.
compactação, foi utilizado o Método do
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Cilindro de Cravação (NBR 9813:2016).


Após compactada a camada, o cilindro era
cravado por um peso que é guiado por uma
haste que fica encaixada na cabeça do cilindro.
Essa cabeça transfere a energia gerada pelo peso
ao cilindro, cravando-o ao solo (Figura 16).

Figura 17 - Obra de contenção finalizada. Fonte:


(NIVELAR, 2017).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 16 - Controle de compactação pelo método do
Cilindro de Cravação. Fonte: (AUTOR, 2017). Tendo em vista todos os argumentos
apresentados ao longo do desenvolvimento
Após cravado o cilindro, este era retirado deste estudo, e com base nas informações
com o auxílio de uma chibanca. Depois de obtidas através do acompanhamento da obra,
retirado, o mesmo era rasado e pesado. Logo pode-se concluir que o resultado final da
após o solo era retirado de dentro do recipiente solução adotada cumpriu todas as expectativas
e sua umidade mais uma vez determinada pelo ao analisar os seguintes critérios: baixo custo, se
método da frigideira segundo a NBR comparada com outras técnicas; rapidez e
16097:2012. Seguindo os princípios prescritos simplicidade na execução; solução que
em norma, sua densidade máxima seca era visualmente não destoa da paisagem local,
determinada e comparada com a densidade mesmo que parte de vegetação ainda não tenha
máxima obtida em laboratório, determinando o coberto os sacos de aniagem e reaproveitamento
grau de compactação da camada ensaiada. de material próximo ao deslizamento, o que
Sendo aprovada, uma nova camada de solo era implica em economia. A obra não apresentou
lançada para compactação. Havendo nenhum inconveniente com relação ao projeto
reprovação, essa camada recebia mais uma ou à execução que viesse a parasilá-la, exceto
flecha e era reensaiada. Persistindo o problema, esporádicas ocorrências de chuva.
essa camada era aberta para que houvesse Por se tratar de uma técnica pouco utilizada
tratamento do material para posterior na região de Juiz de Fora, este caso pode servir
compactação. de incentivo para que a mesma seja adotada em
O controle de compactação e de todas as outras situações, uma vez que a própria cidade
etapas construtivas que compuseram a estrutura sofre todos os anos com deslizamentos graves
de contenção foi feito sistematicamente, camada em épocas de chuva. Em muitos casos, várias
por camada, de forma rigorosa até o final da áreas não passam por nenhuma intervenção pela
obra por parte de todos envolvidos na escassez de recursos públicos, já que na maioria
construção do aterro de solo reforçado. O das vezes são adotadas técnicas que envolvem
somatório de todos esses fatores proporcionou estruturas de concreto armado, que apresenta
uma execução adequada da estrutura de custos mais elevados.
contenção e um produto final de boa qualidade
conforme demostra a Figura 17.
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Estudo Paramétrico do Comportamento Geotécnico de Estruturas


de Contenção de Solo Reforçado submetidas ao processo de
compactação
Rogério Gonçalves Sarmento Júnior
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Brasil, rogeriosarmentojunior@gmail.com

Lucas Broseghini Totola


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Brasil, lucasbroseghini@hotmail.com

Katia Vanessa Bicalho


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Brasil, kvbicalho@gmail.com

Bruno Teixeira Dantas


Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Brasil, dantas.bd@gmail.com

RESUMO: Com o início do desenvolvimento de pesquisas relacionadas às estruturas de contenção


de solos reforçados (ECSR) na década de 1960, os benefícios da técnica têm atraído grande
interesse comercial e acadêmico. O comportamento de ECSR é influenciado por uma série de
parâmetros, como a geometria, o processo construtivo e as propriedades dos solos, do reforço e da
face da estrutura. Analisar a influência do processo de compactação do solo e do faceamento no
comportamento geotécnico de ECSR é o objetivo desta pesquisa. A utilização do método dos
elementos finitos (MEF) foi adotada, pois possibilita a representação computacional do
comportamento de complexos problemas de obras de terra. O software CRISP92-SC foi responsável
pela simulação computacional. Os métodos de dimensionamento de ECSR, K-Stiffness Modificado
(2008) e Dantas e Ehrlich (2000), foram comparados aos dados obtidos nas simulações numéricas.
Os resultados mostram que o processo de compactação exerce grande influência no comportamento
final da estrutura, gerando acréscimo nas tensões internas desenvolvidas. Ao mesmo tempo, o
faceamento da ECSR pode exercer grande influência na tração do reforço, desde que o movimento
da face em sua base seja restringido.

PALAVRAS-CHAVE: Estruturas de contenção de solo reforçado, MEF, compactação, face.

1 INTRODUÇÃO massa de solo para melhorar suas características


geotécnicas, é realizado desde o período de
A técnica do solo reforçado consiste em um civilizações antigas, quando eram utilizados
procedimento construtivo que busca a melhoria materiais vegetais fibrosos para reforçar desde
das propriedades mecânicas do solo pela estradas persas e romanas até grandes obras
inclusão de elementos resistentes à tração na como a Muralha da China.
massa. A associação do solo com o reforço De acordo com Peralta (2007), no contexto
resulta em um material compósito com moderno, a década de 1960 ficou caracterizada
características de resistência e deformabilidade pelo surgimento das chamadas estruturas de
aprimoradas (DANTAS, 2004). Segundo Elias contenção de solo reforçado (ECSR), mais
et al. (2001), o emprego de elementos com conhecidas, na época, por terra armada. O
elevada resistência à tração, introduzidos na sistema “terra armada”, que consiste em tiras
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metálicas dispostas sob solo granular e face às camadas de solo compactado e o material
composta de painéis rígidos, foi desenvolvido empregado no faceamento da ECSR.
pelo arquiteto francês Henry Vidal, em 1966, e Os reforços introduzidos trabalharão em
é um exemplo desse tipo de estrutura. conjunto com o solo associando a propriedade
No Brasil, nas três últimas décadas, o uso de de resistência à tração do material utilizado às
geossintéticos como solução em sistemas características mecânicas do solo. Devido à
geotécnicos e problemas geoambientais forma como se dá a distribuição de tensões, a
experimentou um acentuado aumento, massa de solo reforçada tende a dividir-se em
impulsionando os estudos a respeito do assunto duas regiões denominadas de zona ativa e zona
(PALMEIRA, 2005). resistente (Figura 1). A divisão dessas zonas
A solução de contenção do solo com ECSR ocorre na superfície potencial de ruptura, onde
surge como uma alternativa eficiente e de fácil localizam-se os pontos de tração máxima
dimensionamento e execução, além de não ser (DANTAS e EHRLICH, 2000).
necessária mão de obra especializada, o que
atraiu o interesse tanto comercial como
acadêmico (DANTAS, 2004). Os Muros de
Solo Reforçado apresentam custo inferior se
comparados a outras possibilidades de
contenção de talude, tais como muros de
concreto e crib-wall.
A utilização de métodos numéricos na
simulação do comportamento geotécnico de Figura 1. Superfície potencial de ruptura - zona resistente
e zona ativa da ECSR.
estruturas de contenção de solos reforçados, em
geral, é bastante difundida. Yu et al. (2016) A zona ativa compreende a parte do maciço
destacam a utilização do Método dos Elementos que recebe diretamente os esforços e os
Finitos (MEF) e do Método das Diferenças transferem por meio de tensões cisalhantes ao
Finitas (MDF) nas abordagens numéricas para longo dos reforços para a zona resistente que
simulação dessas estruturas. Damians et al. sustenta toda a estrutura (GUEDES, 2004). A
(2015), Rowe and Ho (1997), Dantas (2004) e zona ativa é potencialmente instável e tende a se
Ehrlich e Mirmoradi (2017) são exemplos disso. deslocar para fora do talude, causando um
O objetivo geral desse artigo é analisar o possível deslizamento. A zona resistente é
efeito da face, rígida ou flexível, sobre o estável e trabalha mantendo a zona ativa fixa e
comportamento de estruturas de contenção de indissociável. O novo arranjo passa então a ser
solo reforçado sob condições de trabalho, considerado uma estrutura monolítica, já que a
levando em consideração o processo de interação solo/reforço é responsável pela
compactação do solo a partir de simulações estabilidade interna da estrutura (LOIOLA,
numéricas utilizando o MEF. 2001).
O comprimento dos reforços utilizados na
2 ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO DE estrutura deve ser suficiente para promover a
SOLO REFORÇADO (ECSR) ancoragem da zona ativa na zona resistente e
sua resistência deve ser superior aos esforços de
O processo construtivo incremental de uma tração detectados na superfície de ruptura. Os
estrutura de contenção de solo reforçado esforços atuantes sobre a estrutura são oriundos
necessita basicamente de três elementos: o solo das forças decorrentes do peso próprio, dos
utilizado como material de enchimento da empuxos de terra e de sobrecargas aplicadas no
estrutura, submetido ao processo de solo (BARBOZA JUNIOR, 2003; DANTAS,
compactação; os reforços dispostos intercalados 2004).
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O solo é o componente mais abundante e compactação não cheguem muito próximo da


deve ter massa e volume adequados, sendo a face, pois podem causar deformações
compactação do solo neste tipo de obra um excessivas ou prejudicar o alinhamento da obra.
importante aspecto do ponto de vista mecânico Segundo Duncan e Seed (1986), a
e funcional. compactação pode ser representada por ciclos
A escolha do tipo de reforço ocorre em de carga e descarga que provocam o surgimento
função da deformação e carga máxima à qual a de tensões horizontais residuais no solo.
estrutura poderá ser submetida e da altura e Dependendo da energia de compactação, as
inclinação da ECSR (SARMENTO, 2018). Os tensões horizontais residuais podem ser muito
reforços metálicos apresentam maior rigidez, maiores do que aquelas decorrentes apenas do
são considerados inextensíveis e permitem peso próprio do solo lançado, o que faz
deslocamentos inferiores àqueles provenientes aumentar de forma significativa as tensões de
da utilização de reforços extensíveis, que tração nos reforços. Dantas (2004) diz que
englobam os geossintéticos. Como geogrelhas, enquanto a tensão vertical retorna para o seu
geotêxteis, geomembranas e geocompostos, por valor original, parte do acréscimo de tensão
exemplo (PALMEIRA, 2005). horizontal devido à operação de compactação
A utilização de elementos de face visa fica retida no solo, sendo a tensão resultante
proporcionar, além de aspectos estéticos e de geralmente designada de tensão residual da
proteção ao vandalismo, uma medida de compactação. A figura 2 demonstra o acréscimo
combate à erosão superficial, que, em uma de tensões no solo devido ao processo de
situação extrema, poderia levar ao colapso da compactação.
estrutura. De acordo com Elias, Christopher e
Berg (2001), existe uma grande variedade de
tipos, formas e opções de pigmentação,
incluindo elementos pré-moldados de concreto,
blocos de concreto de auto-encaixe,
geossintéticos, elementos metálicos, argamassa
projetada, gabião, etc. Assim, os elementos de
face também podem ser caracterizados como
flexíveis ou rígidos, função do empuxo lateral a) b)
que podem suportar.
Figura 2 - a) Equipamento de compactação sob o ponto.
2.1 Influência da Compactação do Solo b) Retirada do equipamento de compactação

Sendo:
A compactação do solo pode ser dita como um σv, σh = Tensão vertical e horizontal do ponto,
dos principais aspectos do processo construtivo respectivamente.
que exerce influência sobre o comportamento Δσv, Δσh = Acréscimos de tensão vertical e horizontal de
de uma ECSR. A compactação proporciona pico, respectivamente, induzidos pela compactação do
melhoria das propriedades mecânicas do solo e solo.
Δσh,r = Acréscimo de tensão horizontal residual da
a otimização do volume da estrutura, majorando compactação.
a densidade do material (DANTAS, 2004).
Nas ECSR, a compactação também pode Enquanto a tensão vertical induzida pela
afetar significativamente as tensões internas compactação for superior à tensão vertical
desenvolvidas e por isso deve-se considerar seu devida ao peso próprio do solo acima da
efeito no comportamento da massa reforçada. camada considerada, a tensão horizontal atuante
Mitchell e Villet (1987) e Elias et al. (2001) é aquela induzida pela compactação. Quando
recomendam que equipamentos pesados de esse valor é ultrapassado, a compactação deixa
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de exercer influência na tensão horizontal, caracterizadas por apresentar alta


prevalecendo a tensão horizontal devida ao peso compressibilidade vertical concomitantemente a
próprio. Dessa forma, existe uma profundidade uma elevada rigidez. Por último, estão
crítica até onde o efeito da compactação é disponíveis as faces flexíveis que dispõem de
observado (por volta de 6m em muros de face uma rigidez desprezível e geralmente são do
vertical ou subvertical (Erlich & Mitchell, tipo geossintético. Nestas, inclui-se o sistema
1994) a até 10m para taludes reforçados com auto-envelopado (LOIOLA, 2001; DANTAS,
inclinação inferior a 70° (Dantas, 1998). 2004; PERALTA, 2007).
O acréscimo de tensão induzido pela De acordo com a norma britânica BS8006-1
compactação pode resultar em valores da tensão (BSI STANDARDS PUBLICATION, 2010) a
lateral residual superiores aos previstos na face de uma ECSR possui as seguintes
condição em repouso e aos da tensão vertical finalidades: conferir forma externa à estrutura,
geostática, sendo limitados pelo empuxo providenciar um aspecto estético adequado,
passivo. Ou seja, o limite superior da relação impedir fuga do solo de enchimento em
entre a tensão horizontal residual da decorrência de intemperismo, acomodar e
compactação e a tensão vertical é a condição providenciar suporte para o solo entre reforços e
passiva. Essas conclusões analíticas são contribuir para ancoragem do reforço na zona
confirmadas pelos resultados experimentais do ativa. De acordo com a norma, a face fornece
banco de dados de DUNCAN e SEED (1986), acabamento à estrutura e contribui para sua
pelas medições e análises de ADIB (1988), e durabilidade.
pelas análises de EHRLICH e MITCHELL Segundo Tatsuoka (1993), as faces rígidas
(1994). Os resultados obtidos por estes são comumente empregadas em estruturas de
pesquisadores permitem afirmar que, no caso de solo reforçado permanentes de grande
compactação pesada, a tensão residual pode importância, em função de sua maior
assumir valores bem acima da condição Ko e durabilidade, melhor acabamento estético e
próximos do empuxo passivo. facilidade construtiva. Os sistemas de rigidez
Loiola (2001) estudou a influência da inferior permitem grandes deformações, o que
compactação do solo por meio de análise restringe a utilização da solução.
numérica e concluiu que a compactação do solo Segundo Tatsuoka (1993), Loiola (2001),
tende a induzir maiores forças de tração nos Bathurst et al. (2006) e Vieira, Lopes e Caldeira
reforços, principalmente para reforços menos (2008), a contribuição da face para a
rígidos e que a compactação aumenta estabilidade interna da estrutura de solo
significativamente os máximos deslocamentos reforçado é comprovada. Esses pesquisadores
horizontais da face, seja ela rígida ou flexível, atestam que a deformação da massa de solo
durante o processo construtivo da ECSR. reforçado tende a diminuir devido ao
confinamento do solo causado por uma face de
2.2 Influência da Face rigidez elevada, promovendo redução da tração
máxima nos reforços e dos deslocamentos
As possibilidades de materiais a serem horizontais da face do muro e da estrutura em si
utilizados no faceamento de uma ECSR são e consequente efeito de estabilização.
grandes e estão agrupadas em faces rígidas, Lee (2000) estudou a influência da rigidez da
faces semi-rígidas e faces flexíveis. As faces face sobre a distribuição de forças de tração no
rígidas são aquelas que utilizam painéis ou reforço por meio de análise numérica, usando
blocos pré-fabricados, elementos que padrão de face rígida e flexível. O pesquisador
apresentam baixa compressibilidade e elevada pôde observar que a força de tração máxima em
rigidez. As faces semi-rigidas incluem as telas um muro de face rígida foi 50% da força de
de aço pré-fabricadas e os gabiões, sendo tração desenvolvida em muro de face flexível.
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Nas estruturas que possuem face rígida, há a Allen et al. (2003) K-Stiffness foi calibrado por
possibilidade de uma redução dos reforços, pois meio de dados de tensão e deformação de 16
as tensões são distribuídas de forma mais muros instrumentados e surgiu como uma
uniforme e a face por si só tem a capacidade de alternativa para o dimensionamento de
auxiliar a estrutura na absorção das tensões. No estruturas de solos reforçados, que se baseava
entanto, nas ECSR de face flexível, não há num método simplificado e deveras
nenhuma contribuição desta para a estabilidade conservativo da AASHTO de 2002.
da estrutura (EHRLICH e BECKER, 2009). A O método inicial proposto foi desenvolvido
Figura 3 apresenta um esquema de como se dá a para ser aplicado apenas a solos granulares.
distribuição de tensões nas estruturas com face Porém, em muitas situações, a quantidade de
rígida e face flexível, respectivamente: finos em meio ao solo granular ou a dificuldade
de se encontrar um solo granular de qualidade
na região de construção da ECSR inviabilizava
a utilização deste método. Em contrapartida a
esta limitação, após novos estudos baseados em
a) b) análises publicadas por Miyata e Bathurst
(2007), foi desenvolvido o método K-Stiffness
Figura 3. Distribuição de tensão no reforço em ECSR
Modificado (2008) incluindo o fator Φ’c,
com diferentes condições de faceamento: (a) face rígida,
(b) face flexível. considerando assim a influência da coesão do
solo no dimensionamento. Segundo estudos, o
Em geral, uma compactação pesada do solo método modificado apresenta uma previsão
promove um aumento na solicitação dos cerca de 10% melhor de cargas no final da
reforços, e a utilização de elementos rígidos na construção em relação ao método inicial.
face apresenta a tendência de reduzir as As variáveis que influenciam o
solicitações (DANTAS, 2004). comportamento da estrutura segundo essa
formulação, são: altura do muro e sobrecargas,
rigidez global e local do reforço do solo,
3.0 MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO resistência a movimentos laterais causados pela
rigidez da face da estrutura e restrição de
Na literatura é possível encontrar métodos de movimentação na base, inclinação da face,
dimensionamento de ECSR fundamentados, no resistência ao cisalhamento e comportamento
geral, sob três diferentes metodologias: métodos tensão/deformação do solo, espaçamento
semi-empíricos, métodos de equilíbrio limite e vertical dos reforços, peso específico e coesão
métodos baseados no comportamento do solo do solo utilizado como material de aterro. O
sob condições de trabalho. método não leva em consideração diretamente o
Para efeito de comparação e de validação das efeito do processo de compactação,
modelagens numéricas efetuadas para alcançar negligenciando as propriedades agregadas ao
os resultados propostos pela pesquisa, serão solo e a tensão aplicada ao reforço em
utilizados dois métodos de dimensionamento: o decorrência da compactação.
método baseado em condições de trabalho,
proposto por Dantas e Ehrlich (2000), e o 3.2 Método Dantas-Ehrlich (2000)
método Semi-Empírico K-Stiffness Modificado
(2008). O método publicado por Dantas e Ehrlich
(2000) trata-se de uma metodologia analítica
3.1 Método K-Stiffness Modificado (2008) para dimensionamento de estruturas de solo
reforçado, muros e taludes, de inclinação
O método semi-empírico, desenvolvido por qualquer, baseando-se em condições de
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trabalho. Nesta metodologia, diferente daquelas Duncan et al. (1980) e o modelo da


baseadas em equilíbrio limite, o método passa compactação, conforme o modelo histerético de
por uma complexa modelagem, possibilitando Seed e Duncan (1986), foram incorporadas ao
que seja considerada a relação constitutiva programa por Iturri (1996) a partir de alterações
interação do solo e do reforço, o processo no código original.
construtivo da estrutura e o efeito da Posteriormente, Loiola (2001) se deparou
compactação do solo. com inconsistências nos resultados de estruturas
Para a formulação do método, foram modeladas com faces de elevada rigidez em sua
realizadas simulações numéricas em um pesquisa, e o código do programa foi adequado
software de elementos finitos. Os resultados das para dupla precisão, reduzindo as instabilidades
análises numéricas indicam uma boa capacidade dos resultados. A versão de dupla precisão do
do método de prever o comportamento da programa CRISP92-SC (CRISP92 with soil
estrutura. compaction) foi utilizada nos processamentos
desta pesquisa.
3.3 Análises Numéricas O programa utiliza um código de elementos
finitos para realizar simulações numéricas do
A utilização de métodos numéricos na comportamento geotécnico do solo. Há a
simulação do comportamento geotécnico de possibilidade de realizar “Análises de
ECSR possibilita uma abordagem mais ampla problemas geotécnicos, estáticos, sob
que as análises a partir de métodos empíricos. carregamento monotônicos de carga e descarga”
Nesse contexto, o método de elementos finitos (ITURRI, 1996).
(MEF) é uma técnica amplamente utilizada na
simulação do comportamento de obras de terra 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
devido a sua capacidade de replicar complexos
problemas (YU et al., 2016). 4.1.1 Tração no reforço
A utilização do método dos elementos finitos
neste artigo segue básicamente três etapas: Os resultados de tração máxima normalizada
• pré-processamento, que inclui a divisão do por nível de reforço nas estruturas simuladas
problema nos elementos, a determinação das numericamente são apresentados na Figura 4.
cargas incidentes sobre a estrutura, as Também foram plotados os resultados do
características dos materiais utilizados e o dimensionamento da ECSR de acordo com a
modelo constitutivo; metodologia proposta por Dantas e Ehrlich
• processamento, definido como a solução do (2000) e pelo método K-Stiffness Modificado
problema. Nesta etapa será empregado o MEF (2008) para os casos de face rígida e flexível.
por meio do software CRISP92-SC, que foi Os valores estimados de acordo com a
utilizado nas pesquisas de Loiola (2001) e metodologia proposta por Dantas e Ehrlich
Dantas (1998 e 2004), por exemplo; (2000) apresentam boa aproximação com os
• pós-processamento, que inclui a análise, resultados obtidos no software CRISP92-SC.
apresentação e visualização dos resultados. Nas simulações para reforço metálico, com ou
sem a consideração do processo de
3.4 Crisp-92-SC compactação (Figuras 4a e 4b), e nas
simulações com reforço geotêxtil sem a
O software CRISP92-SC foi desenvolvido na consideração da tensão de pico da compactação
universidade de Cambridge, na Inglaterra. (Figura 4d), os resultados do processo de
Britto e Gunn (1990) relatam que a versão cálculo proposto por Dantas e Ehrlich (2000)
inicial do programa foi elaborada por Zytynsky resultam em valores intermediários aos do
em 1975. A formulação hiperbólica do solo de CRISP92-SC. A metodologia dos dois autores
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não considera em sua estimativa de tração nos notadas nos resultados:


reforços o faceamento da estrutura. • os resultados obtidos pelo método K-
A redução do esforço de tração máxima Stiffness Modificado (2008) e pelo Software
verificada nos reforços da ECSR de face rígida CRISP92-SC indicam que a face rígida
com atrito na base da face com a fundação está reduz a solicitação dos reforços e
de acordo com os estudos de Loiola (2001), consequentemente a tração máxima;
Riccio Filho (2007), Ehrlich e Mirmoradi • de acordo com os resultados, o ponto de
(2013) e Almeida (2014). Conforme Mirmoradi tração máxima independe do faceamento
e Ehrlich (2017), caso não houvesse atrito na utilizado na ECSR;
base da face com a fundação do aterro • a metodologia proposta por Dantas e Ehrlich
reforçado, essa redução na tração não ocorreria, (2000) obteve resultados inferiores ao das
e os resultados obtidos para a ECSR com face simulações com face rígida nos níveis mais
rígida se igualariam aos da face flexível. acima da ECSR nas análises sem
No geral, as seguintes tendências foram compactação.

Figura 4.15. Tração máxima normalizada na ECSR para diferentes opções de faceamento - (a) Reforço metálico/ σ(zc,i) =
50kPa; (b) Reforço metálico/ σ(zc,i) = 00kPa; (c) Reforço geotêxtil/ σ(zc,i) = 50kPa; (d) Reforço geotêxtil/ σ(zc,i) = 00kPa.
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4.1.2 Tensão Horizontal e Vertical no solo do apresentaram valores intermediários aos


aterro reforçado da ECSR calculados com base no peso de solo sobre o
ponto (γ.z), e aos valores obtidos pelo método
A Figura 5 apresenta as tensões horizontais de Meyerhof. Diferindo do apresentado nos
desenvolvidas no solo para as simulações com resultados de tensão horizontal, nesse caso as
reforço metálico e esforço de pico de tensões próximas a face não apresentaram
compactação simulado de 50 kPa. Os valores de grande variabilidade, como mostra a Figura 6.
tensão horizontal resultantes das simulações
apresentam variações significativas apenas na
região próxima a face, em todos os níveis. As
simulações com face de menor rigidez foram
responsáveis pelo desenvolvimento das maiores
tensões próximas à face. Com o distanciamento
da face, os valores apresentados aproximam-se.

Figura 6. Tensão vertical normalizada na ECSR com


inclusão de reforço metálico e submetida ao processo de
compactaçã0 ( ) – y/H=0.95; y/H= 0.55;
y/H=0.05

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento geotécnico das estruturas de


Figura 5. Tensão horizontal normalizada na ECSR com contenção de solo reforçado é influenciado por
inclusão de reforço metálico e submetida ao processo de uma série de fatores. Dentre eles estão: as
compactação ( ) – y/H=0.05; y/H= 0.45; propriedades do solo utilizado como aterro na
y/H=0.95 estrutura, como o ângulo de atrito e a coesão; as
propriedades de resistência, a geometria e a
A análise indica que a face da ECSR gera disposição do reforço; a altura, o comprimento e
alterações na tensão horizontal da estrutura, a inclinação da face da ECSR; o processo
porém em magnitude inferior ás alterações construtivo, inclusive o processo de
apresentadas nas análises da influência do compactação; as propriedades da face utilizada
processo de compactação. As simulações com na estrutura; a solicitação de carregamentos
face rígida apresentam uma redução da tensão externos sobre a ECSR e outros.
horizontal na região próxima a face, diferente Foi realizado nesse trabalho um estudo
do comportamento das tensões nas ECSR de bidimensional do comportamento de estruturas
face flexível onde é apresentado um aumento do de contenção de solo reforçado com face
valor das tensões horizontais nessa região. vertical submetidas a diferentes tensões de pico
Em relação a tensão vertical, no geral, os devido ao processo de compactação; e com
resultados para estruturas de face rígida diferentes faceamentos, rígidos e flexíveis. Os
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resultados de tração máxima nos reforços da devido ao esforço de compactação nas


estrutura e tensões horizontais e verticais simulações, os resultados excedem os
desenvolvidas no solo foram analisados com o valores determinados para as tensões no
objetivo de verificar a influência do processo de caso repouso. Com o aumento da altura de
compactação e do faceamento da estrutura. solo sobre a camada, os resultados
A discussão em relação a influência da face aproximam-se dos valores estimados pela
da ECSR em seu comportamento geotécnico, teoria, exceto na região da face, onde
nesse trabalho, parte do ponto em que há atrito ocorrem deformações expressivas.
entre a base da face e o solo de fundação (como
dito anteriormente, sem essa consideração o Em virtude do apresentado, conclui-se que a
comportamento com face rígida seria face da ECSR tem como influência a redução da
semelhante ao da face flexível). solicitação de tração dos reforços. A face rígida,
Pela observação dos aspectos que foram quando empregada em estruturas de solo
analisados na pesquisa, são possíveis as reforçado, com atrito entre a base da face da
seguintes considerações finais: estrutura com a fundação, tende a reduzir a
tendência de movimentação do solo de
• a face, quando rígida, absorve os esforços enchimento, modificando assim, o estado de
que seriam destinados ao reforço, reduzindo tensões do conjunto solo reforço.
a tendência de deslocamento do solo de
enchimento da ECSR. O emprego da face AGRADECIMENTOS
rígida reduz consideravelmente os esforços
de tração máxima nos reforços; Agradecemos a UFES e ao centro tecnológico
• o método de dimensionamento semi- pelo apoio ao desenvolvimento da pesquisa e
empirico, K-Stiffness Modificado (2008), CAPES pelo suporte financeiro.
obteve como resultado no dimensionamento
da ECSR, tanto com face rígida quanto
flexível, valores de tração máxima inferiores REFERÊNCIAS
aos obtidos no software CRISP92-SC,
devido a deficiência em sua metodologia em Adib, M. E. (1988) Internal lateral earth pressure in
earth walls. Ph.D. dissertation, University of
considerar o processo de compactação; California, Berkeley, California.
• a metodologia proposta por Dantas e Ehrlich Almeida, R. de C. M. B. de. (2014) Estudo do efeito da
(2000) obteve resultados satisfatórios face sobre o equilíbrio de estruturas de contenção de
quando comparados aos obtidos pelas solo reforçado sob condições de trabalho,
simulações numéricas, indicando uma boa Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
Espirito Santo, Vitória, 135 f.
capacidade de estimativa dos valores de Allen, T. M., Bathurst, R. J., Lee, W. F., Holtz, R. D. e
tração máxima na estrutura; Walters, D. L. (2003) “A New Working Stress Design
• os deslocamentos na face da ECSR quando Method for Prediction of Reinforcement Loads in
utilizado faceamento rígido, apresentam Geosynthetic Walls”, Canadian Geotechnical
valores inferiores aos obtidos no caso do Journal, Vol. 40, No. 5, pp. 976-994.
Barboza Júnior, J. C. (2003) Estudo através de modelos
faceamento flexível. Isso indica que a face físicos da influência da face e da compactação em
rígida reduz a tendência de movimentação muros de solo reforçado. Dissertação de Mestrado,
do solo do aterro durante o processo Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
construtivo; Janeiro, 211 f.
Bathurst, R.J., Vlachopoulos, N., Walters, D.L., Burgess,
• no geral, os resultados de tensão horizontal
P.G., and Allen, T.M. (2006). The influence of facing
no solo para o caso da face rígida não rigidity on the performance of two geosynthetic
diferem muito dos apresentados para a face reinforced soil retaining walls. Canadian
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Influência Da Coesão Do Solo De Enchimento No


Dimensionamento De Estruturas De Contenção Em Solo
Reforçado
Gabriela Ernandes Silva Santa Fé
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
gabriela.essantafe@gmail.com

Carlos Rezende Cardoso Júnior


Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, eng.carlos.rezende@gmail.com

RESUMO: Os geossintéticos são um exemplo economicamente favorável para estruturas de


contenção em solo reforçado (ECSR), fazendo-se necessário aprofundar seus estudos. O trabalho
consiste em uma análise geral de uma ECSR localizada em Sergipe, cujo desnível é de 6 metros,
reforçada com geogrelha de resistência à tração nominal de 90 kN por metro de largura de reforço.
Foram realizadas as verificações de estabilidade externa, incluindo o uso do software GeoSlope
para análise de ruptura global, e interna, seguindo o método de Mitchell e Ehrlich (1994).
Considerou-se a variação da coesão do solo de enchimento entre os valores de 0 kPa, 1,1 kPa, 5
kPa, 11 kPa, 55 kPa e 110 kPa, a fim de comparar os fatores de segurança para ruptura global e
analisar as solicitações em cada camada de reforço. Os resultados confirmaram a influência da
coesão no comportamento da estrutura e nas forças de tração impostas na geogrelha, sendo esta
eficiente apenas para os solos com coesões acima de 11 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: ECSR, Geossintéticos, Estabilidade, GeoSlope, Dimensionamento, Coesão.

1 INTRODUÇÃO materiais vegetais constituídos de fibras


resistentes foram empregados nos zigurates da
As obras de contenção ganharam destaque nos Mesopotâmia, em trechos da Grande Muralha
projetos de engenharia com a crescente da China e em várias obras no Império Romano.
necessidade de ocupação das áreas urbanas e A maioria das estruturas de contenção
rurais. existentes atualmente foi construída como
Em geral, para maior aproveitamento das alternativa para soluções geotécnicas clássicas,
áreas, os cortes e aterros são feitos de forma a geralmente, na forma de pesadas estruturas de
obter um paramento com a maior inclinação concreto, que, além de serem caras, são menos
possível e precisam de uma estrutura ou de tolerantes a alguns comportamentos, como, por
elementos estruturais compostos para manter exemplo, movimentos diferenciais do solo de
seu equilíbrio na nova configuração, ou seja, fundação (FONSECA, 2012).
estruturas que suportem o empuxo de terra e Alguns exemplos de estrutura de contenção
confiram segurança no uso do espaço à sua atuais são: muro de contenção (de flexão, de
frente ou do seu terrapleno superior gravidade, mistos, de gabião), estruturas
(MEDEIROS, 2005). provisórias (escoramento), cortinas atirantadas,
Segundo Vertematti (2004), a utilização de reforço de solo, terra armada, solo grampeado e
materiais naturais para melhorar a qualidade do solo cimento (jetgrouting), cuja viabilidade
solo era prática comum desde 3000 a.C.. Estivas varia, em geral, conforme a geometria da
de junco, solo misturado com palha, bambus e estrutura e o material a ser utilizado. (ROCHA,
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2013). decorrente das obras de contenção, permissão


Apesar de viável, a utilização de para a execução de obras em locais de difícil
geossintéticos em estruturas de contenção ainda acesso, uso de mão de obra não qualificada e
não é intensa no Brasil, graças à ausência de um equipamentos simples, redução considerável do
conhecimento específico profundo sobre o tempo de construção da obra e adoção de tipos
comportamento do solo reforçado com esse variados de acabamento da face dos taludes
material, principalmente quanto ao (ELIAS et al., 2001 apud BECKER, 2006).
deslocamento. Dessa forma, faz-se necessário Os geossintéticos podem ser divididos em
aprofundar os estudos nesse tipo de construção, geotêxteis – tecidos e não tecidos -, os quais se
quanto a materiais e dimensionamento, a fim de mostram mais versáteis graças ao seu arranjo, e
difundir seu uso e popularizar a solução mais as geogrelhas, que são estruturas planas em
favorável economicamente (BENJAMIM, forma de grelha constituídas por elementos com
2006). função, predominantemente, de resistência à
O presente trabalho visa mostrar, mais tração, seguindo a terminologia dada pela NBR
profundamente, características das ECSR - 12553/2003. Esta apresenta elevada resistência
Estruturas de Contenção em Solo Reforçado à tração e baixa deformabilidade, e tem como
com uso de geossintéticos, avaliando o polímeros constituintes mais utilizados o
dimensionamento da estrutura em função da poliéster (PET), álcool de polivinila (PVA) e
variação da coesão do solo de enchimento, além polietileno de alta densidade (PEAD)
de comparar os fatores de segurança para (BECKER e EHRLICH, 2009).
ruptura global e analisar as solicitações em cada
camada de reforço. 2.2 Deformabilidade e Fluência

A NBR 12824/1993 normaliza o ensaio de faixa


2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA larga realizado nos reforços para determinação
da resistência à tração não confinada e consiste
2.1 Geossintéticos em tracionar uma amostra de 200 mm de
largura por 100 mm. A carga aplicada no
De acordo com Norma Brasileira - NBR momento da ruptura dividida pela largura inicial
12553/2003, geossintético é a denominação da amostra é a resistência à tração, em kN/m.
genérica de um produto polimérico, sintético ou Durante o ensaio, pode-se traçar a curva
natural, industrializado, cujas propriedades “Carga X Deformação” do geossintético e o
contribuem para a melhoria de obras módulo de rigidez do reforço à tração ( ) é
geotécnicas. Sendo assim, a utilização frequente calculado através da Equação (1).
deste tipo de material se deu após o surgimento
dos polímeros sintéticos, na década de 40 Tr
(BORGES, 1995). Jr = (1)
r
Conforme Becker (2006), as funções que
podem ser desempenhadas pelos geossintéticos
2.3 Fatores de Influência Sobre a Tensão nos
são agrupadas em 5 categorias: separação,
Reforços
filtração, drenagem, impermeabilização e
reforço.
2.3.1 Mecanismos de Interação Solo-Reforço
O uso dos geossintéticos nas obras de
engenharia apresenta como vantagens:
Segundo Fonseca (2012), as interações solo-
viabilidade econômica, possibilidade de
geogrelha e solo-geotêxtil apresentam diferentes
construção de taludes e aterros com inclinações
mecanismos. Neste último, as tensões são
acentuadas, minimização no impacto ambiental
transmitidas apenas por atrito, devido ao
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formato dos geotêxteis, enquanto nas estado de tensões após o lançamento de uma
geogrelhas, há a penetração do solo nos vazios, camada, o ponto 2 é o estado de tensões durante
devido aos seus elementos vazados e, portanto, a compactação, o ponto 3 representa a retirada
Juran e Chen (1988 apud FONSECA, 2012) do equipamento de compactação e o ponto 4
citam três mecanismos de interação solo- representa o lançamento da camada seguinte.
reforço: atrito nos elementos longitudinais,
imbricamento do solo nos vazios da geogrelha e
resistência passiva contra os elementos
transversais.

2.3.2 Rigidez Relativa Solo-Reforço

É comum considerar, para a condição de


trabalho, que existe uma perfeita aderência entre
o solo e os reforços, desprezando o
deslizamento entre eles e fazendo com que
tenham a mesma deformação na interface entre
eles (JEWEL, 1980; DYER e MILLIGAN, 1984
Figura 1. Trajetória das tensões efetivas no solo durante a
apud BECKER e EHRLICH, 2009). construção de um aterro compactado em camadas.
Dessa forma, a tensão ou deformação de
equilíbrio entre solo-reforço depende da relação A Figura 2 mostra os gráficos para cada tipo
entre a rigidez dos materiais, ou seja, o índice de rolo compactador e suas tensões verticais
de rigidez relativa (Si), dado pela Equação (2). induzidas relacionadas ao ângulo de atrito do
solo a ser compactado.
Jr
Si = (2)
K  Pa  S v

Onde K é o módulo tangente inicial do solo


no modelo hiperbólico, Pa é a pressão
atmosférica igual a 101,3 kPa e Sv é o
espaçamento vertical dos reforços.
É necessário destacar que, quanto maior for o
valor deste parâmetro, mais rígido é o reforço,
ou seja, ele é capaz de absorver mais tensões se
deformando menos.

2.3.3 Compactação do Solo

A compactação realizada no solo apresenta Figura 2. Tensões verticais induzidas por diversos rolos
extrema importância na análise do seu compactadores.
comportamento, visto que ela pode afetar
significativamente as tensões internas das A máxima tensão vertical a que o solo foi
estruturas. submetido em sua história, , é o maior valor
O modelo de dimensionamento de Ehrlich e entre a tensão vertical induzida pela
Mitchell (1994) considera que existe um ciclo compactação, , e a tensão vertical efetiva
de carga e descarga para cada camada de solo, proveniente da camada de solo superior, .
como mostra a Figura 1, em que o ponto 1 é o
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2.4 Dimensionamento análise do fator de segurança para cada tipo de


colapso. O fator de segurança para a verificação
Consiste em uma série de etapas para escolha de do deslizamento é dado pela razão entre a força
materiais, dimensões e verificação de fatores de resistente e a força atuante no muro, enquanto
segurança, de forma que atendam às condições que, para o tombamento, a razão é entre os
de estabilidade externa e interna da estrutura. momentos gerados pelas força resistentes e
Após a verificação de estabilidade, é necessário atuantes. Determinando-se os fatores de
determinar as forças máximas que atuam no segurança desejados, é possível encontrar os
reforço, a fim de impedir seu rompimento. valores de comprimento necessários do reforço
(Lr) para garantir a estabilidade em cada caso.
2.4.1 Estabilidade Externa Na verificação de tensões de base e no
cálculo da capacidade de carga da fundação, a
A verificação da estabilidade externa considera análise se repete e também são encontrados
que o aterro reforçado comporta-se como um outros valores de Lr para cada situação. Dentre
corpo rígido, sendo assim, seu todos os comprimentos calculados, o que satifaz
dimensionamento visa evitar a ruptura global a todas as condições de estabilidade
por uma superfície que envolve todo o maciço simultaneamente é o maior.
reforçado, o deslizamento da base da estrutura, A verificação da ruptura global se dá,
o tombamento em torno do pé do muro e deve segundo Massad (2010), através da comparação
conferir a capacidade de carga do solo de entre as tensões de cisalhamento induzidas e a
fundação, segundo a NBR 11682/2006. Tais resistência ao cisalhamento do solo. Os métodos
mecanismos de colapso são decorrentes da utilizados para o cálculo são os de Equilíbrio-
solicitação externa promovida pela massa não Limite. Para o presente trabalho, foi utilizado o
reforçada, chamada empuxo. Software GeoSlope para realizar esta análise,
A Figura 3 retrata um sistema de contenção seguindo o Método de Bishop Simplificado, o
de solo que utiliza muro de gravidade, qual considera circular a superfície de ruptura
representando as forças atuantes e resistentes, do talude e a massa de solo é divida em lamelas.
seus locais de atuação e todos os parâmetros
que envolvem essa estrutura. 2.4.2 Estabilidade Interna

Segundo Becker e Ehrlich (2009), a análise da


estabilidade interna deve impedir rupturas do
reforço por tração, arrancamento,
desprendimento da face e a instabilidade global.
A fim de que não ocorra o arrancamento dos
reforços do maciço de solo, é necessário
garantir um embutimento mínimo dos mesmos
na zona resistente (Le), de forma que o valor da
máxima força imposta ao reforço (Tmáx) seja
menor que a resistência ao arrancamento do
trecho embutido na zona resistente (Pr) na
camada correspondente (BECKER e
EHRLICH, 2009), seguindo as Equações (3) e
Figura 3. Forças e variáveis envolvidas nas análises de
(4) .
estabilidade externa.
   1 
Le = L r - H - z    tan  45º-  
2  tan  
(3)
O nível de estabilidade é dado através da  
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Pr = 2  F     z  Le (4)

Sendo o ω a inclinação da face do muro, F o


fator de resistência ao arrancamento e α o fator
de correção do efeito de escala.
O sistema de faceamento não exerce
influência sobre a instabilidade interna da massa
de solo reforçada, o que precisa ser verificado é Figura 4. Ábaco para determinação de χ para o cálculo de
a conexão entra o reforço e a face, a qual deve Tmáx em estruturas com face vertical, com coesão não
garantir a transferência das forças de tração nula.
existentes no reforço. A análise deve ser feita
comparando a máxima solicitação no reforço Para utilizar os ábacos, é necessário
junto à face e a resistência admissível da conhecer, para cada camada separadamente, o
conexão, a qual deve ser superior à primeira. parâmetro que reflete a deformabilidade dos
Um dos mais importantes aspectos para a reforços (β), a tensão vertical efetiva (σz), a
análise da estabilidade interna de uma estrutura máxima tensão vertical a que foi submetido o
de contenção de solo reforçado é a tensão de solo em sua história (σzc) e, caso o solo
tração máxima atuante no reforço (Tmáx), este apresente coesão não nula, a relação entre ela e
valor precisa ser menor que a mínima .
resistência de projeto do geossintético, Com todos os dados de entrada necessários,
considerando as condições ambientais e de encontra-se, o parâmetro χ, e, através dele, a
instalação, incluídas no fator de segurança total. tração na camada de reforço, dada pela Equação
O método utilizado foi o de (5).
dimensionamento com compatibilidade de
deformações. Desenvolvido por Ehrlich e T =   S v  S h   zc (5)
Mitchell (1994), este método considera as
condições de trabalho, baseado na
compatibilidade de deformações no solo e no 3 METODOLOGIA
reforço, considerando a rigidez relativa solo-
reforço e a energia de compactação. 3.1 Estudo de Caso
Segundo Ehrlich e Mitchell (1994), cada
faixa de solo na zona ativa é equilibrada por O local estudado está situado no loteamento
uma camada de reforço, e a força máxima de Santa Cecília, no município de Nossa Senhora
tração é dada através de ábacos que facilitam o do Socorro, estado de Sergipe, à margem da
emprego do método. Os ábacos são divididos rodovia BR-101, onde será construído um
considerando coesão nula e coesão não nula, galpão para fins comerciais, como mostrado na
variação da inclinação do talude e ângulo de Figura 5.
atrito.
A Figura 4 mostra um exemplo de ábaco
utilizado para uma situação de coesão não nula,
estrutura com face vertical e ângulo de atrito
igual a 35º.
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Figura 5. Imagem de satélite da localização do terreno


utilizado para estudo de caso. Figura 6. Seção transversal analisada no trabalho.

Os dados necessários para as verificações e Nas verificações de estabilidade externa


dimensionamento foram fornecidos pelos (verificação do tombamento, deslizamento,
estudos topográficos e geotécnicos, cujos tensões de base e capacidade de carga da
relatórios foram elaborados pela Sonda fundação), foi considerada uma coesão nula do
Engenharia e Construções LTDA. solo, a favor da segurança, logo, esta análise foi
O terreno original apresenta uma topografia realizada apenas uma vez de forma geral.
bastante acidentada, o que exige a execução de Enquanto as verificações da ruptura global e de
cortes e aterros para alcançar a cota de projeto. estabilidade interna foram realizadas,
As maiores alturas de aterro estão próximas à individualmente, para cada valor de coesão
estrutura de contenção, sendo a maior de 8,82 considerados: 0 kPa, 1,1 kPa, 5 kPa, 11 kPa, 55
metros no vértice do terreno, enquanto as kPa e 110 kPa. É importante destacar que as
maiores alturas de corte estão localizadas na coesões na ordem de 55 kPa e 110 kPa, para
parte superior e oposta à contenção, e a maior é solos aplicados como aterros, são muito altos e
5,62 metros. utilizados no trabalho apenas a título de estudo
Os resultados dos ensaios de laboratório paramétrico, a fim de utilizar os ábacos
mostraram a predominância de uma argila disponíveis.
expansiva não viável para o uso do próprio As características geométricas do muro,
material do corte como aterro, portanto a assim como as propriedades geotécnicas dos
proposta do presente trabalho é o reaterro com solos de fundação e de enchimento estão
diferentes solos e análise dos respectivos disponíveis na Tabela 1.
comportamentos. Por se tratar de uma obra ainda em fase de
A seção escolhida para o estudo de caso pré-projeto, os parâmetros utilizados K e n são
apresenta desnível de 6 metros e embutimento baseados na literatura de Becker e Ehrlich
de 1,50 metros, como mostra a Figura 6, na qual (2009) e os parâmetros do solo de fundação nos
será analisada uma estrutura de contenção em solos característicos do local.
solo reforçado com uso de geogrelha com
resistência à tração nominal de 90 kN por metro
de largura de reforço e paramento em gabião.
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Tabela 1. Características geométricas do muro e Sendo assim, o valor adotado para


geotécnicas dos solos de funcação e enchimento. comprimento de reforço que atende a todas as
Geometria do muro
solicitações foi de 6 metros.
Altura (m) 7,5
Espaçamento vertical (m) 0,5 a 1 As simulações feitas no GeoSlope para a
Inclinação da face (H:V) 1:7,5 verificação da ruptura global consistiram na
Solo de fundação variação do intercepto coesivo para situações
Peso específico (kN/m³) 18 com ou sem reforço, a fim de mostrar a
Ângulo de atrito (º) 35 influência do mesmo na estabilidade do talude.
Intercepto coesivo (kPa) 10
As Figuras 7 e 8 são, respectivamente, as saídas
Solo de enchimento
Peso específico (kN/m³) 18 gráficas para o solo com coesão de 11 kPa sem
Ângulo de atrito (º) 35 reforço e com reforço.
Intercepto coesivo (kPa) Variável
Módulo tangente inicial
128
(K)
Módulo expoente (n) 0,78

O rolo compactador considerado é o Rolo


autopropelido Dynapac CA134PD, que,
utilizando a Figura 2, é possível conhecer a
tensão vertical induzida pela compactação.
E, por fim, a sobrecarga gerada pelo
estacionamento da área comercial próximo à
estrutura de contenção foi considerado 5 kPa.
Figura 7. Superfície de ruptura crítica e fator de
segurança correspondente para c = 11 kPa, sem reforço.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Estabilidade Externa

Quanto à estabilidade externa, foram feitas as


verificações de deslizamento, tombamento e
capacidade de carga. A verificação de ruptura
global foi simulada no GeoSlope, cujos
resultados serão mostrados.
Na verificação do deslizamento, foi adotado
um fator de segurança de 1,5, dessa forma, o
comprimento necessário de reforço encontrado Figura 8. Superfície de ruptura crítica e fator de
foi de 2,34 metros. segurança correspondente para c = 11 kPa, com reforço.
Similarmente ao anterior, o fator de
segurança adotado para a verificação do Os fatores de segurança encontrados para
tombamento foi de 2, encontrando um todas as situações estão reunidos na Tabela 2.
comprimento de 3,31 metros.
Quanto à verificação das tensões de base, o
comprimento necessário foi de, no mínimo,
4,05 metros, e, por fim, o pré-dimensionamento
para evitar o arrancamento do reforço indica um
comprimento mínimo de 6 metros.
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Tabela 2. Fatores de segurança quanto a ruptura global do reforço à tração (Jr), o índice de rigidez
em função da coesão. relativa (Si), a tensão vertical induzida pela
Fator de segurança
Intercepto compactação (σ'zc,i), tensão vertical geostática
Com
coesivo (c) Sem reforço Diferença (σ'z), a máxima tensão vertical a que foi
reforço
0 kPa 0,160 2,366 2,206 submetido o solo em sua história (σ'zc), a
1,1 kPa 0,237 2,420 2,183 relação entre σ'z e σ'zc e o parâmetro β. Esses
5 kPa 0,561 2,614 2,053 dados são comuns a todas as situações por
11 kPa 0,848 2,863 2,015
serem independentes da coesão.
55 kPa 2,600 3,597 0,997
110 kPa 3,824 3,930 0,106 A resistência à tração nominal da geogrelha
foi minorada utilizando os fatores de segurança
Como é possível perceber, a diferença entre para fluência em tração (fcr = 2,00), danos de
os fatores para a mesma coesão diminui à instalação (fmr = 1,50), degradação ambiental (fa
tendência em que aumenta este parâmetro, ou = 1,05) e incertezas estatísticas do material (fm
seja, quanto mais coeso o solo, menor a = 1,05), resultando em uma resistência à tração
necessidade de reforço para sua contenção. de projeto de 27,21 kN/m.
Os dados fornecidos pela Tabela 1 traçam as Dentre os ábacos disponíveis, a relação c/σ'zc
curvas de “Fator de Segurança X Coesão” para é que determina qual será utilizado. Com o
uma estrutura sem reforço e outra com reforço, valor de χ fornecido pelo ábaco, é possível
mostradas na Figura 9, onde é possível perceber calcular a força de tração atuante em cada
a convergência entre as duas situações, além da camada de reforço, e o valor máximo majorado
comparação com o valor do fator de segurança pelo fator de segurança 1,5 para, assim, ser
para a ruptura global, que é de 1,5, segundo a comparado com a resistência do reforço.
NBR 11682/2006. Dessa forma, constata-se A Figura 10 mostra os resultados
que, para este caso, o reforço passa a ser encontrados na análise do comportamento do
desnecessário para coesões acima de, reforço em resposta a cada valor de coesão,
aproximadamente, 28 kPa. relação da força de tração em cada camada.

Figura 10. Força de tração atuante em cada camada de


Figura 9. Gráfico de fator de segurança versus coesão reforço para os diferentes valores de coesão do solo.
para o caso sem e com a geogrelha adotada.
A interação entre os gráficos de cada valor
4.2 Estabilidade Interna de coesão deixa evidente a influência deste
parâmetro do solo para o dimensionamento de
Foi calculado, de forma geral, para cada camada uma estrutura de solo reforçada com
de reforço, o espaçamento vertical (Sv), a cota geossintéticos.
de assentamento, a profundidade acrescida da Nos solos que possuem menor coesão, como
influência da sobrecarga, o módulo de rigidez é o caso de solos granulares, a maior parcela de
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resistência é devido ao atrito entre os grãos, por Tabela 3. Fatores de segurança ao arrancamento.
isso necessita de uma maior solicitação dos Camada Fatores de Segurança
de
reforços para haver estabilidade. Enquanto os reforço
0 kPa 1,1 kPa 5 kPa 11 kPa
solos coesivos, como por exemplo, as argilas 11 2,81 2,94 3,40 4,04
sobreadensadas, apresentam uma solicitação 10 4,90 5,12 5,93 7,04
muito pequena do reforço, visto que a coesão é 9 7,01 7,32 8,86 11,22
a sua principal parcela da resistência. 8 11,23 11,72 13,48 16,85
7 15,62 16,28 19,53 24,41
A Figura 10 também traça uma reta 6 27,42 28,51 32,40 37,52
mostrando o valor da resistência de projeto da 5 44,26 45,96 51,96 56,90
geogrelha, assim, é possível identificar em quais 4 46,73 47,63 53,84 61,92
situações ela pode ser utilizada considerando a 3 48,37 49,30 55,73 61,03
geometria do exemplo. 2 50,00 50,97 55,21 60,23
1 (base) 94,38 97,75 105,27 109,48
Esse tipo de reforço só pode ser utilizado
com solo que, mantendo os parâmetros
simulados no estudo de caso, apresente coesão
5 CONCLUSÃO
maior ou igual a 11 kPa, dentre os valores
simulados. Os solos com coesão igual a 0 kPa,
Ao fim do trabalho, é possível comprovar o
1,1 kPa e 5 kPa apresentam camadas cujo
quanto a variação da coesão interfere na escolha
esforço de tração supera a resistência da
e dimensionamento dos reforços. Baixas
geogrelha, sendo a solução adotar um reforço
coesões geram no reforço maiores tensões, altas
com maior resistência à tração. Enquanto para
coesões, por sua vez, apresentam menor
os solos com maior coesão (55 kPa e 110 kPa)
solicitação ao geossintéticos, ao ponto de não
não é recomendável utilizar a geogrelha adotada
precisar de contenção.
neste trabalho, já que seria mais viável
Os resultados confirmaram a influência da
economicamente a adoção de um reforço mais
coesão no comportamento do solo quanto à
esbelto e menos resistente.
ruptura global e nas forças de tração impostas
O estudo de caso mostra que esse
nas geogrelhas. Para o caso estudado, solos com
geossintético verificado é apropriado e
coesão acima de 28 kPa dispensam o uso de
recomendado na utilização de um solo de
reforços, quanto a verificação da ruptura global;
enchimento com coesão igual a 11 kPa.
e, na estabilidade interna, a geogrelha de
Quanto ao arrancamento, utilizando as
resistência à tração nominal de 90 kN/m é
Equações 3 e 4, é possível perceber que todos
eficiente apenas para os solos com coesões
os solos foram aprovados, visto que seus fatores
iguais a 11 kPa, 55 kPa e 110 kPa, dentre as
de segurança superaram o valor mínimo de 1,5,
avaliadas.
como mostra a Tabela 3.
O método de análise das forças de tração de
Mitchell e Ehrlich (1994), generalizado por
Dantas e Ehrlich (2000), evidencia a
importância de considerar a energia de
compactação, principalmente nas camadas
superficiais, nas quais as tensões geostáticas são
menores, porém a carga imposta pela
compactação é alta e deve prevalecer sobre
aquela; além da rigidez relativa que depende do
material utilizado e afeta a deformação do
mesmo.
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AGRADECIMENTOS Paris.
Ehrlich, M. e Azambuja, E. (2003). Muros de solo
reforçado. In: IV Simpósio Brasileiro de
Agradeço a todos que estiveram presentes e Geossintéticos e V Congresso Brasileiro de Geotecnia
ajudaram de alguma forma a elaboração deste Ambiental. Porto Alegre.
trabalho. Ehrlich, M. e Mitchell, J. K. (1994). Working stress
Ao meu orientador Carlos Rezende, por ter design method for reinforced soil walls. Journal of
me guiado no seu desenvolvimento e repassado Geotechnical Engineering, ASCE, Reston, Virginia.
Elias, V. e Christopher, B. R. (1997) Mechanically
a mim um pouco do seu conhecimento para meu stabilized earth walls and reinforced soil slopes –
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Influência da Rigidez e da Inclinação da Face no Comportamento


de Estruturas de Solo Grampeado
Cauê Antônio Barreto da Rosa dos Santos
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, caueanrosa@yahoo.com.br

Maurício Ehrlich
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

RESUMO: Discute-se a influência da rigidez e da inclinação da face no comportamento de estruturas


de solo grampeado com base em uma revisão bibliográfica crítica. Casos de obra monitorados e
estudos utilizando modelagem física e numérica possibilitam verificar a pertinência de hipóteses e
aspectos não propriamente considerados nos procedimentos usuais de análise e projeto de estruturas
de solo grampeado. Estes pontos serão destacados ao longo do desenvolvimento do artigo.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Grampeado, Rigidez e Inclinação do Faceamento, Estudos de caso,


Modelagem Física, Modelagem Numérica.

1 INTRODUÇÃO minimizar as movimentações, o processo de


escavação é efetuado em nichos inferiores a 3 m
O solo grampeado consiste no reforço do terreno de altura e 2 m de largura, a depender do tipo de
natural ou escavado. A técnica possui custo solo. Menores nichos redundam em menores
relativamente baixo em relação às estruturas movimentações laterais e recalques externos. Em
convencionais, principalmente devido aos geral, os deslocamento laterais máximos são
equipamentos construtivos serem leves e à inferiores a 0,2% a 0,3% da altura da escavação.
velocidade de execução ser elevada. Outro
aspecto da técnica é a versatilidade de adaptação
a geometrias variadas de face. O faceamento não 2 COMPORTAMENTO DA ESTRUTURA
tem função principal na estabilização, que é GRAMPEADA
basicamente prevenir a instabilidade local do
solo situado entre grampos. Este comportamento O grampeamento do solo pode ser entendido
é particularmente dominante em estruturas com como um muro de gravidade onde a massa
pequena inclinação, pois as tensões junto à face reforçada estabiliza a zona não reforçada. O
apresentam-se menores à medida que a projeto deve ser desenvolvido de forma a
inclinação do talude é reduzida. garantir o equilíbrio externo contra
A técnica possui limitações de uso em deslizamento, tombamento, capacidade de carga
terrenos de baixa resistência, o que geraria a da fundação e ruptura global. Análises de
necessidade de grampos longos e numerosos, equilíbrio interno também devem ser efetuadas.
aumentando o custo de construção. Além disso, Deve-se garantir quantidade suficiente de
os grampos, por serem elementos passivos, grampos de forma a evitar a ruptura e o
fazem com que a mobilização se dê através de arrancamento dos mesmos da zona resistente.
deformações da massa de solo reforçada. Tal fato Estas análises também incluem a verificação da
pode limitar sua aplicação quando se deseja estabilidade da face.
evitar impacto em estruturas próximas. A estabilização da massa reforçada ocorre
O avanço da escavação em solo grampeado se basicamente com a intrusão de grampos no
dá em etapas horizontais e verticais. Buscando maciço. O principal mecanismo de transferência
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de carga é o atrito desenvolvido ao longo da 2.2 Importância da face


interface solo-grampo. Dependendo da rigidez
do grampo e do tipo de movimentação da massa No solo grampeado, o faceamento tem função
reforçada, a flexão e o cisalhamento dos grampos secundária na estabilização, tendo por finalidade
podem também se tornar aspectos relevantes na evitar instabilidade local do solo entre grampos
estabilização. Sob condições de trabalho, pode- e proteger o solo contra erosão. Os tipos de
se considerar que não ocorre movimentação faceamento podem variar desde concreto
relativa na interface solo-grampo (Jewell 1980), projetado com tela metálica a uma simples
ou seja, é razoável a hipótese que as deformações proteção com vegetação, a depender das tensões
no solo e no grampo são as mesmas nesta que cheguem à face.
interface. Ehrlich (2003) discute que, em taludes mais
verticalizados, próximo ao pé da escavação, as
2.1 Rigidez do Grampo tensões verticais são maiores no interior da
massa de solo e o comprimento de transferência
Em geral, um grampo, por sua rigidez, pode ser ao longo da interface solo-grampo na zona ativa
solicitado à tração, à flexão e ao cisalhamento é pequeno. Com isso, as tensões junto à face
(Mitchell e Villet 1987). Quando a massa de solo podem se apresentar mais elevadas. Podendo se
é reforçada com grampos flexíveis, os mesmos tornar necessário o uso de faces estruturalmente
se deformam até atingir a condição de equilíbrio. resistentes nestas condições (Figura 2a).
Neste caso, basicamente, somente a resistência a Com a diminuição da inclinação, o
tração dos mesmos favorece à estabilização comprimento de transferência ao longo da
(Figura 1a). No entanto, quando a massa de solo interface solo-grampo na zona ativa aumenta e as
é reforçada com grampos de elevada rigidez a tensões verticais e horizontais no interior da
flexão, os mesmos também podem resistir às cunha ativa diminuem. Dessa forma, tensões
deformações transversais, mobilizando esforços mais baixas (ou nulas) podem chegar à face
cisalhantes e fletores (Figura 1b). (Figura 2b). GeoRio (2014) sugere que, para
Adicionalmente, caso a inclinação do grampo inclinações do faceamento inferiores a 60º com a
coincida com a direção principal maior de horizontal, somente recobrimento vegetal da
deformação da massa reforçada, os grampos face poderia ser adotado a fim de evitar
serão somente mobilizados à tração, processos erosivos no solo. Feijó (2007) ressalta
independentemente da rigidez dos mesmos. que, embora um dos mais atraentes aspectos da
Nesta condição, ter-se-ia a maior eficiência na técnica de solo grampeado seja a possibilidade
estabilização (Ehrlich 2003). do uso de estrututuras de faces leves, as
magnitudes das tensões de projeto da face ainda
não podem ser propriamente avaliadas. Tal fato
ocorre em vista das tensões junto a face serem
dependentes da rigidez e inclinação da mesma,
além de ser fortemente influenciada pelo
processo construtivo.

Figura 1. Comportamento quanto a rigidez de: (a) reforços


flexíveis (b) reforços rígidos (modificado de Mitchell e
Villet 1987).

Figura 2. Influência da inclinação da face (Ehrlich 2003).


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Tal como observado por diferentes autores região central da escavação. À medida que a
(Cartier e Gigan 1983; Juran et al. 1984; Byrne inclinação do talude diminui, a posição das
et al. 1998; entre outros), devido à construção movimentações máximas se aproxima do pé da
por etapas, em escavações grampeadas mesmo escavação e, como comentado anteriormente,
que verticalizadas, as maiores solicitações nos reduzem significativamente de magnitude.
grampos poderiam vir a ocorrer próximo à região Gässler e Gudehus (1981) monitoram as
central da escavação (Figuras 3 e 4). Como já tensões atuantes junto à face de uma escavação
comentado, a inclinação da face exacerbaria grampeada de 6 m de profundidade, em solo
ainda mais este comportamento. arenoso, utilizando células de pressão total
posicionadas entre o concreto projetado e o solo.
O solo escavado possuía ângulo de atrito de 35º
e coesão aparente de 3 kPa. As tensões medidas
junto à face ao final da construção foram cerca
de 50% do valor previsto utilizando o método de
Coulomb para a condição ativa (Figura 5a).
Quando da aplicação de cargas externas no topo
da estrutura escavada, observou-se que as
tensões medidas equivaliam a cerca de 70% do
determinado por Coulomb para a condição ativa
(Figura 5b). Note-se que o fato das tensões
medidas na face serem inferiores ao previsto
pelo método de Coulomb para condição ativa é
razoável, visto que as tensões máximas não
ocorrem na face e sim no interior da massa de
Figura 3. Forças máximas mobilizadas nos grampos em solo.
escavação em solo grampeado (Cartier e Gigan 1983).
As diferenças percentuais em relação aos
valores previstos por Coulomb e às tensões
medidas na face ao final da escavação e quando
da aplicação do carregamento externo, podem
ser explicadas pelo processo executivo. A
construção se dá por etapas, sendo o faceamento
colocado ao final da escavação e instalação do
grampo. Quando da aplicação das sobrecargas, o
sistema já estava todo confinado, ou seja, já tinha
sido realizada a escavação do solo, intrusão do
grampo, instalação da célula de pressão total e
faceamento com concreto projetado. Com isso, a
eficiência do sistema aumentou levando a um
percentual mais elevado comparativamente ao
observado ao final da construção (70% e 50% do
previsto por Coulomb, respectivamente).
Figura 4. Deslocamentos horizontais e forças máximas O incremento das tensões no faceamento com
mobilizadas nos grampos em modelo reduzido de
escavação em solo grampeado (modificado de Juran et al. a profundidade, sob condições de trabalho, tanto
1984). no período construtivo, quanto por ocasião da
aplicação do carregamento externo,
Com relação a deslocamentos horizontais da apresentaram-se próximas a uma distribuição
face, no caso de taludes mais verticalizados, as triangular, observando-se uma redução
maiores magnitudes ocorrem entre o topo e a acentuada das tensões próximo ao pé da
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escavação (Figura 5). No entanto, tal força de tração dos grampos na face (isto é, força
comportamento não se verificou quando de de tração nas cabeças dos grampos - 𝑇0 ) e os
carregamentos próximos à condição de colapso, espaçamentos horizontal e vertical dos grampos
no qual se observou junto ao pé da escavação um (Sv e Sh).
aumento significativo das tensões laterais
atuantes no faceamento (p = 150 kPa; Figura 5b). 𝑇0
𝑝=𝑆 (2)
𝑣 .𝑆ℎ

Figura 5. Tensões atuantes junto a face de uma escavação


em solo grampeado devido: (a) ao peso próprio e (b) à
cargas externas (Gässler e Gudehus 1981). Figura 6. Consideração da distribuição de pressão de solo
atuante na face de concreto projetado do solo grampeado
(GeoRio 2014).
Clouterre (1991) indica que a distribuição de
tensões junto à face está relacionada ao
arqueamento do solo entre grampos que resulta
numa tendência de concentração de tensões nas
vizinhanças dos grampos. No entanto, buscando
um procedimento simplificado para projeto,
diferentes autores sugerem que se adote uma
distribuição de tensões junto a face uniforme
(Gässler e Gudehus 1981; Mitchel e Villet 1987;
Clourrete 1991).
Figura 7. Consideração da distribuição de pressão de solo
Com base desse princípio, Mitchel e Villet atuante na face de concreto projetado do solo grampeado
(1987) sugerem para fins de projeto que a face (Clouterre 1991).
de concreto projetado seja dimensionada como
uma laje de dimensões Sv e Sh (espaçamento Baseado em resultados de monitorações de
vertical e horizontal dos grampos, campo, Clouterre (1991) propõe que a força de
respectivamente) apoiada nas extremidades, tração nas cabeças dos grampos (𝑇0 ), para
sujeita a um carregamento uniformemente condições de trabalho, seja estimada como:
distribuído provocado pela pressão de solo entre
os grampos (Figura 6). Considerando o (𝑆−0,5)
𝑇0 = 𝑇𝑚𝑎𝑥 . [0,5 + ], quando 1 ≤ 𝑆 ≤ 3 m
equilíbrio local, sugerem que a pressão média na 5
face seja adotada como:
𝑇0 = 0,6. 𝑇𝑚𝑎𝑥 , quando 𝑆 ≤ 1 m
1 1 𝜙
𝑝 = 2 . 𝛾. 𝑆𝑣 . 𝑘𝑎2 = 2 . 𝛾. 𝑆𝑣 . tan2 (45 − 2 ) (1) 𝑇0 = 𝑇𝑚𝑎𝑥 , quando 𝑆 ≥ 3 m (3)

Partindo da mesma hipótese Clouterre (1991), onde: 𝑆 é o espaçamento máximo entre grampos
Figura 7, sugere que a pressão de solo entre os (Sv e Sh).
grampos (𝑝) seja definida pela relação entre a Eleutério (2013) desenvolveu um estudo
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utilizando modelagem física (escala 1:1) de solo


grampeado instalando na base do modelo um
material deformável a fim de induzir maiores
deformações verticais na massa reforçada. Estes
resultados foram cotejados com os resultados
observados por Silva (2010), sob condição de
base rigida. A comparação de resultados
destacou o efeito da deformabilidade da base na
maior mobilização da resistência à flexão do
grampo.
Eleutério (2013), utilizando células de
pressão total, observou que as tensões medidas
junto à face do modelo eram significativamente
inferiores às obtidas por SILVA (2010), com
fundo estável. Tal comportamento indica que
uma estrutura grampeada submetida à
deformações mais acentuadas no fundo (fundo
instável) pode ter diminuída as tensões junto a
face.

2.3. Rigidez da face

Lima (1996) e Ehrlich et al. (1996)


desenvolveram estudos paramétricos utilizando
simulação numérica de escavações com faces
com diferentes rigidezes e também
desconsiderando sua presença (EI=0). Os
estudos indicaram que a rigidez do faceamento
pouco influencia os deslocamentos horizontais
da face e os esforços máximos de tração nos
grampos (Figuras 8a e 8b). No entanto, quando
se desconsiderou a face, as movimentações
horizontais apresentaram significativo aumento
nas zonas situadas entre grampos.
Com relação aos momentos fletores nos
grampos, observou-se que os mesmos diminuem
de intensidade à medida que a rigidez da face
aumenta (Figura 8c). Ehrlich (2003) adverte que Figura 8. Influência da rigidez da face: (a) deslocamento
isso ocorre porque, com o acréscimo da rigidez, horizontal da face; (b) força axial no grampo; e (c)
a face passa, além de restringir os movimentos momentos fletores (Ehrlich et al. 1996).
horizontais, a limitar os movimentos verticais e
a atuar como uma espécie de apoio para a Por meio de análises numéricas, Mirmoradi e
extremidade dos grampos, o que redunda na Ehrlich (2015) realizaram estudos paramétricos
diminuição dos momentos fletores. As análises sob o efeito combinado de diferentes fatores de
também indicam que a rigidez da face ajuda a controle (isto é, altura do muro, tensões
controlar a plastificação do solo próxima a face. induzidas durante a compactação do aterro,
rigidez do reforço, rigidez da face e restrição ou
não da movimentação na interface entre a base
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do muro e a fundação) para avaliar o F1 a força de reação mobilizada da massa estável


comportamento de muros de solo reforçado com do solo na superfície potencial de ruptura.
faces em blocos segmentais.
Considerando modelos de muros sem
restrição de movimentação na interface entre a
base do muro e a fundação (base livre) e com
restrição (base fixa), os autores verificaram que
para os modelos de base livre os valores dos
somatórios das forças de tração nos reforços são
semelhantes independente da rigidez da face,
para cada valor de Si. Ou seja, para um dado
muro sem mobilização na base, o valor do
somatório das forças de tração nos reforços é
independente da rigidez da face. No entanto, no
modelo de base fixa o valor das forças de tração
Figura 10. Esforços nos reforços, efeito do atrito
nos reforços diminui significativamente com o mobilizado na base do faceamento (Ehrlich e Becker
aumento da rigidez da face, estando esta 2010).
diminuição também associada à tensão de
cisalhamento que é mobilizada na interface entre O efeito do atrito mobilizado na base do
a base do faceamento e o solo de fundação faceamento nas cargas nos reforços observado
(Figura 9). em Mirmoradi e Ehrlich (2015) e Ehrlich e
Becker (2010) para muros de solo reforçado é
também verificado em Lima (1996) e Ehrlich et
al. (1996) desenvolvido para estruturas de solo
grampeado (vide o trecho inicial da Figura 8b).
No entanto, nas escavações grampeadas, tal
efeito se apresenta menos significativo. Deve-se
atentar que, no caso destas escavações, a
execução é feita de cima para baixo, na seguinte
sequência: escavação do solo; colocação do
grampo; e posteriormente colocação da face. As
deformações ocorrem principalmente durante a
fase de escavação. Assim, ao final de construção,
quando colocada a última camada de concreto
projetado para a composição da face quase toda
Figura 9. Influência da rigidez da face, 𝐸𝐼 ⁄𝛾𝐻5 , dos deformação do sistema grampeado já se
reforços, Si, do atrito mobilizado na base do muro no verificou. Por esse motivo, nestas estruturas, o
somatório das forças de tração máximas nos reforços, atrito mobilizado na base do faceamento é muito
∑ 𝑇𝑚á𝑥 ⁄𝛾𝐻2 (Mirmoradi e Ehrlich 2015). inferior àquele que pode ser verificado em muros
de solo reforçado com faceamento em blocos,
Ehrlich e Becker (2010) também indicam que onde o processo construtivo ocorre de baixo para
o atrito mobilizado na base do faceamento pode cima. Assim, em muros de solo reforçado as
levar a diminuições significativas nas cargas restrições à movimentação e o atrito mobilizado
mobilizadas nos reforços. Tal efeito pode ser na base do faceamento pode se desenvolver
entendido pela análise do equilíbrio de forças desde o início da construção, maximizando o
conforme ilustrado na Figura 10, em que F2 é a efeito desta restrição no comportamento destes
força mobilizada na base do faceamento, M o muros.
peso da cunha de solo, P o peso do faceamento e
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2.4 Inclinação da face esforços de cisalhamento e de flexão nos


grampos podem levar a importantes aumentos do
Fan e Luo (2008), com o auxílio de ferramenta fator de segurança, condizentemente com
numérica, buscaram averiguar a influência da Ehrlich et al. (1996) e Feijó (2007).
inclinação da face do talude e da orientação do
grampo na estabilidade global da estrutura 2.4.1 Superfície de ruptura
grampeada. Os autores observaram que a
inclinação ideal do grampo com relação à Através de estudos numéricos, Dantas e Ehrlich
horizontal (𝛿), para se obter o melhor (2000) observaram para taludes reforçados com
desempenho no fator de segurança da estrutura faceamento inclinado e com fundo estável
grampeada, diminui com o aumento do ângulo (Figura 12), que a distribuição da tensão máxima
de inclinação da face do talude (𝛽) e aumenta mobilizada nos reforços (Tmáx) cresce a partir da
com o aumento do ângulo de inclinação da superfície do terreno linearmente com a
superfície do topo da escavação (𝛼) (Figura 11). profundidade (trecho 1-2). Neste trecho, a
superfície potencial de ruptura faz um ângulo de
45 + 𝜙 ′ ⁄2 com a horizontal. Em seguida, a
tensão mobilizada nos reforços passa a ser
constante, sendo a superfície potencial de
ruptura paralela ao faceamento (trecho 2-3) e, a
partir de então, a decrescer com a profundidade
até a base da escavação (ponto 4). Tal
procedimento mostrou-se condizente com
resultados obtidos experimentalmente em
centrífuga geotécnica (Zornberg et al. 1998).
Para a locação do ponto 3, os estudos
numéricos definiram uma relação entre h e x que
é em função da inclinação do faceamento, e é
dada por:
Figura 11. Inclinação ideal do grampo para diferentes
0,75ℎ
inclinações de face (Fan e Luo 2008).
45𝑜 < 𝜔 < 65𝑜 ⟹ 𝑥 = 𝑡𝑎𝑛𝜔 e h = 𝑥/3 (4)
Na literatura, tem-se que para escavações 0,80ℎ
grampeadas com faceamento verticalizados, o 65𝑜 < 𝜔 < 90𝑜 ⟹ 𝑥 = 𝑡𝑎𝑛𝜔 𝑒 ℎ = 𝑥/2 (5)
melhor desempenho ocorre quando os grampos
são posicionados horizontalmente. Contudo, por
questões executivas, a inclinação dos grampos
em relação à horizontal é, tipicamente, entre 5º e
20º. Além do mais, tendo-se a estabilidade de
fundo garantida, a tendência de movimentação
da escavação é preponderantemente horizontal e
não difere, portanto, significativamente da
inclinação dos grampos. Assim, nestes casos, em
situações de fundo estável, o esforço dominante
ao longo do grampo será de tração, como
discutido anteriormente.
Em estruturas grampeadas com faceamento Figura 12. Distribuição das máximas tensões nos grampos
inclinados, o estudo de Fan e Luo (2008) indica com a profundidade em taludes inclinados (Dantas e
que, mesmo sob condições de trabalho, os Ehrlich 2000).
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Note-se que o ponto de atuação de Tmax 4 CONCLUSÕES


comumente é considerado na interseção do
grampo com a superfície potencial de ruptura. Através de uma revisão bibliográfica crítica,
No entanto, Lazarte et al. (2015) indica que sob abordaram-se aspectos da influência da rigidez e
condições de trabalho a localização de Tmax, inclinação da face no comportamento de
geralmente, não coincide com a superfície estruturas de solo grampeado. Estudos de caso,
potencial de ruptura estabelecida em análises de modelagem física e numérica permitiram
estabilidade. destacar aspectos não propriamente
considerados nos procedimentos usuais de
3 ESTUDOS NUMÉRICOS análise e projeto de estruturas de solo
grampeado. Ficou destacada a necessidade de
Análise em solo grampeado é quase sempre feita aprofundamento de estudos que levem a
por análise de equilibrio limite e com isso o hipóteses de projeto mais representativas do
conhecimento do comportamento do solo comportamento real dessas estruturas.
grampeado não é muito aprofundado. A
utilização de ferramentas numéricas baseadas no
método de elementos finitos por permitir a AGRADECIMENTOS
realização de análises de tensões e deformações
em solos, permite esse aprofundamento. Os autores agradecem a CAPES pelo apoio
Potencialmente, análises numéricas financeiro.
possibilitam melhor avaliação do
comportamento de estruturas de solos
grampeados incluído a influência das etapas REFERÊNCIAS
construtivas, da rigidez do solo e dos reforços.
Modelagens numéricas poderiam considerar a Byrne, R. J., Cotton, D., Porterfield, J., Wolschlag, C.,
rigidez e a inclinação da face, inclinação dos Ueblacker, G. (1998). Manual for Design and
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MODELAGEM DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO DE


SOLO REFORÇADO NO SISTEMA TERRAMESH
Taila Ester dos Santos de Souza
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
s.taila@hotmail.com

Carlos Alberto Simões Pires Wayhs


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
carlos.wayhs@unijui.edu.br

Alan Donasolo
Maccaferri do Brasil, Novo Hamburgo, Brasil, alan.donassollo@maccaferri.com.br

RESUMO: Este trabalho objetiva relatar pesquisa onde foram dimensionadas estruturas otimizadas
de contenção de 8 a 12 metros no sistema Terramesh sem reforço adicional com geogrelha,
analisando-se estabilidade global, estabilidade interna e verificação como muro. A pesquisa serviu
de tema para trabalho de conclusão de curso da primeira autora e é produto da parceria existente
entre a universidade e empresa global fornecedora de soluções de engenharia. A metodologia
adotada na pesquisa compôs-se pesquisa experimental, modelagem das estruturas em software,
apresentação e análise dos resultados e arrazoamento de conclusões. As análises das estruturas de
contenção buscaram otimizar os parâmetros de projeto visando atender no limite os fatores de
segurança da NBR11682/2009. Verificou-se que a eficácia das estruturas de contenção aconteceu
quando o comprimento do reforço equivalia a sua altura menos dois metros.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Sistema Terramesh, Muros em Solo Reforçado.

1 INTRODUÇÃO Existem diversas técnicas de reforço


eficientes para a estabilização dessas estruturas,
Um dos grandes problemas que atingem a possibilitando obras de contenção em regiões
população brasileira é a instabilidade de com solos de baixa capacidade mecânica, bem
encostas, que tem provocado acidentes de como em locais de difícil acesso. Dentre
grandes proporções colocando vidas em risco. algumas técnicas pode-se citar a utilização de
Em estações chuvosas com elevado índice elementos de reforço, como os paramentos
pluviométrico as encostas ficam mais frontais anexos a reforços de malhas
suscetíveis a escorregamentos, devido ao hexagonais, entre outros (MASSAD, 2010).
aumento do excesso de poro-pressão que reduz De acordo com Palmeira (1992), o conjunto
a resistência do solo ao cisalhamento (DUTRA, solo mais reforço, apresenta material menos
2013). deformável e mais resistente que o solo natural,
De acordo com Massad (2010), um dos melhorando a resistência e reduzindo as
processos de estabilização de encostas mais deformações de obras como taludes íngremes,
utilizados atualmente é a execução de aterros estruturas de contenção, entre outros.
compactados que para a garantia de estabilidade O crescimento na construção de estruturas de
devem ser reforçados, um destes tipos é as contenção e a necessidade de se ter estruturas
estruturas de solo reforçado. cada vez mais altas e resistentes, fez com que se
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abrissem caminhos para pesquisas em UNIJUÍ (Universidade Regional do Noroeste do


tecnologias que tornassem essas estruturas cada Estado do Rio Grande do Sul), especialmente
vez mais eficientes. A partir de então, surgiu a nos de caracterização e de cisalhamento direto.
ideia de utilizar como tema do trabalho de Na sequência, escolheu-se os dados referentes
conclusão de curso da primeira autora a as características do solo e parâmetros de
modelagem de estruturas de contenção, com resistência, que foram utilizados para
alturas variando de 8 a 12 metros, no sistema modelagem da estrutura de contenção no
Terramesh, tecnologia desenvolvida pela sistema Terramesh em software criado pela
empresa Maccaferri do Brasil, a qual é parceira empresa Maccaferri, o MACSTARS. Os dados
deste estudo em conjunto com a UNIJUÍ do solo foram a coesão, ângulo de atrito do solo
(Universidade Regional do Noroeste do Estado e os pesos específicos natural e saturado.
do Rio Grande do Sul). Analisou-se então o comportamento da
Este sistema oferece boa resistência a tração estrutura quando submetido a variação da altura
devido a malha hexagonal que é inserida no de 8 a 12 m, buscando o menor comprimento da
maciço de solo, e flexibilidade, além de base possível, bem como da malha hexagonal
facilidade construtiva. Para Lopes (2001), o que avança para dentro do solo do aterro,
reforço de solos funciona como um funcionando como um reforço, visando obter
melhoramento mecânico do solo. O reforço uma estrutura que tivesse estabilidade externa e
permite que o solo suporte esforços de corte interna e atendesse as verificações como muro
superiores aos que suportaria de outra forma de contenção, que são tombamento,
(LOPES, 2001). Assim, pode-se construir deslizamento e capacidade de carga nas
estruturas de contenção com maiores alturas, fundações.
maior verticalidade, superior resistência, em A metodologia completa-se com as duas
pouco tempo e com menor custo, visto que pode últimas etapas, com a análise dos dados obtidos
ser utilizado o solo local, mesmo que este seja na modelagem e apresentação de resultados e
de qualidade inferior, não apropriado a tal conclusões.
estrutura (LOPES, 2001).
Assim, este trabalho objetiva relatar pesquisa
onde foram dimensionadas estruturas de 3 RESULTADOS
contenção de 8 a 12 metros de altura no sistema
Terramesh sem reforço adicional, analisando-se Este capítulo, para melhor entendimento,
estabilidade global, estabilidade interna e dividiu-se em apresentação do sistema
verificação como muro. A modelagem das Terramesh e do método de análise da
estruturas foi executada utilizando comprimento estabilidade de taludes utilizado. Na sequência
otimizado de reforço, objetivando analisar a destacam-se a caracterização geotécnica do solo
variação do comprimento de acordo com a a partir dos resultados de ensaios. Conclui-se
altura de cada estrutura, além de verificar seu com a análise das estruturas modeladas.
desempenho.
3.1 O Sistema Terramesh

2 METODOLOGIA O Sistema Terramesh, é baseado no princípio


do solo reforçado e na tecnologia desenvolvida
A pesquisa foi dividida em quatro etapas, após a no início dos anos 60 por Henri Vidal,
realização do embasamento teórico. Iniciou-se conhecida como “terre armé” (terra armada).
pela análise de resultados de ensaios Esse princípio pode ser encontrado na natureza,
laboratoriais de pesquisas anteriores, realizados observando como o solo adquire resistência pela
no Laboratório de Engenharia Civil (LEC) da presença de raízes inseridas ao longo de sua
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estrutura, agindo como tensores (SAYÃO; 3.2 Método de Estabilização de Taludes


SIEIRA, 2005).
Segundo Ananias et al. (2013), o sistema A escolha do método adequado para verificação
Terramesh é composto por reforços em malha da estabilidade de uma estrutura é fundamental,
hexagonal de dupla torção 8x10 cm, em arame tanto para fase de execução como também para
com 2,7 mm de diâmetro revestido em PVC, a confiabilidade dos resultados obtidos a partir
anexos a um paramento frontal formado pela do seu dimensionamento. As análises das
mesma malha, e pedras no formato de caixas estruturas modeladas foram realizadas
similares aos gabiões. Os elementos do sistema utilizando o método analítico baseado no
Terramesh não necessitam de acabamento princípio do equilíbrio limite pelo método de
complementar e os elementos de reforço Bishop Simplificado que é utilizado no software
compõem o maciço de solo, de forma contínua Macstars.
e sem qualquer tipo de emenda ou costura, além De acordo com Morgenstern e Sangrey
de o pano de reforço e a base ficar paralelo a (1978), no método do equilíbrio limite assume-
face da tampa do paramento frontal, conforme se a existência de certa superfície de ruptura
visualiza-se no modelo da Figura 1 de autoria bem definida, considerando que a massa de solo
de Maccaferri (2008). está em risco de sofrer uma ruptura iminente,
abordado pelo critério de ruptura, determinado
por Mohr-Coulomb ao longo da superfície.
Um dos principais métodos de análise por
equilíbrio limite, conforme o referido autor, é o
método das fatias, no qual a superfície potencial
de ruptura é dividida em fatias verticais,
podendo esta superfície ser circular ou
poligonal. Este método de análise é utilizado
por Bishop, que considera a superfície de
ruptura circular, entendendo-se que há um
equilíbrio de forças e momentos entre as fatias e
que é nula a resultante das forças entre elas.
O método de Bishop pode ser aplicado
somente para superfícies circulares, que são
consideradas superfícies de ruptura adotando
Figura 1. Modelo do Sistema Terramesh. um centro de rotação fictício. As forças entre as
fatias têm direção apenas horizontal e o
De acordo com o dissertado por Sayão e
coeficiente de segurança é calculado pelo
Sieira (2005), a capacidade de ancoragem
equilíbrio contra rotação em torno do centro da
desenvolvida pela malha hexagonal é devido à
circunferência (SAYÃO e SIEIRA, 2005). Este
ação combinada do atrito, corte e travamento
método é muito usado na prática e recomendado
mecânico das partículas. Já a resistência à
para projetos simples.
tração na direção das torções é maior do que na
Para a análise da estabilidade, o valor do
direção oposta, por isso os painéis de malha
fator de segurança é muito importante, pois é
devem ser sempre colocados de forma que a
através dele que se analisa a estabilidade do
direção das torções forme um ângulo reto com a
talude. Por exemplo, se ele for menor que o
face frontal da estrutura. E arrematam que
estipulado pela norma, encontra-se na iminência
quando a capacidade de ancoragem supera a
de romper-se, por outro lado se for maior ou
resistência à tração da malha, a falha por ruptura
igual, o talude está em equilíbrio, sem risco
tem lugar sem deformações significativas do
iminente de ruptura. Adotou-se como limites os
painel de reforço.
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fatores de segurança recomendados na NBR- Tabela 1. Propriedades Físicas do Solo.


11682/2009, respectivamente 2 para PROPRIEDADES Valores Médios
tombamento, 1,5 para deslizamento e 3 para Limite de liquidez (LL) 59,00%
verificação na fundação (ABNT, 2009). Limite de plasticidade (LP) 47,03%
Índice de plasticidade (IP) 11,97%
3.3 Caracterização Geotécnica do Solo Peso específico real dos grãos (G) 28,52 kN/m³
Umidade média de campo (H) 34,53%
Todo projeto geotécnico que visa dimensionar Peso específico natural (γn) 13,74 kN/m³
Peso específico aparente seco (γd) 10,21 kN/m³
uma obra de infraestrutura que envolva
Índice de vazios médio (e) 1,79
diretamente o solo é mandatório primeiramente
Porosidade média (n) 0,64
conhecer este solo. Isto pode ser feito a partir de Índice de Atividade (Ia) 0,14
ensaios de caracterização geotécnica. A partir Índice de Consistência (IC) 2,04
disso é possível classificar o solo. Já para a
modelagem de estrutura de contenção precisa-se De acordo com Viecili (2003), executaram-se
dos parâmetros de resistência do solo e uma das ensaios de cisalhamento direto com tensões
formas é através da realização de ensaios de normais de 30, 60, 100 e 200 kPa, com
cisalhamento direto. Tanto a caracterização velocidade constante de 0,031 mm/min, na
geotécnica como a obtenção dos parâmetros de situação inundada. Com base no ensaio, é
resistência a partir do cisalhamento direto são possível analisar que conforme aumente a
etapas obrigatórias previstas na NBR 11682 tensão aplicada sobre o solo, a tensão cisalhante
intitulada Estabilidade de Encostas. e o deslocamento horizontal respectivamente
Os resultados dos ensaios de caracterização e aumentam de maneira gradativa.
de cisalhamento direto do solo, foram obtidos a Comportamento semelhante ocorre com a
partir de pesquisa realizada por Cristiano Viecili deformação vertical e o deslocamento
no ano de 2003. Utilizaram-se estes resultados horizontal, onde a cada tensão maior aplicada,
especialmente porque se trata de solo residual seus valores crescem.
típico da região noroeste do Rio Grande do Sul, Vale ressaltar que o solo utilizado estava na
e por ter sido analisada a pior situação, umidade natural, inundado, obtendo-se para a
resistência residual, amostra natural, inundada. coesão o valor de 15,8 kPa. Para
As amostras do solo foram retiradas de talude dimensionamento das estruturas, reduziu-se em
situado no campus da UNIJUÍ, próximo ao 2/3 a coesão, adotando-se 10,53 kPa. Indica-se
LEC. Segundo Viecili (2003), oito amostras na Tabela 2 os parâmetros do solo utilizados na
indeformadas do solo foram retiradas a dois modelagem das estruturas.
metros de profundidade com relação a
superfície, para execução de dois programas de Tabela 2. Parâmetros do Solo Adotados na Modelagem.
ensaios de cisalhamento direto, um para PROPRIEDADES DO SOLO
amostra indeformada na umidade natural e outra Ângulo de atrito 24,14 ̊
para amostra indeformada inundada. Coesão 10,53 kPa
Conforme Viecili (2003), o material é Peso específico natural 13,748 kN/m³
composto por 85% de argila (<0,005 mm), 10% Peso específico saturado 16,638 kN/m³
de silte (0,005 a 0,074 mm), 4,12% de areia fina
(0,074 a 0,42 mm), 0,72% de areia média (0,42 Importante ressaltar que foram utilizados
a 2,0 mm), 0,16% de areia grossa (2,0 a 4,8mm) parâmetros da envoltória de Mohr de resistência
e não possui fração de pedregulho. Na Tabela 1, residual, com deslocamento horizontal de 2
apresenta-se as propriedades físicas médias do mm, considerada ruptura técnica, pois é a
solo. situação mais desfavorável do ponto de vista da
resistência.
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Viecili (2003) percebeu que o solo (2007), Bishop propôs uma solução mais
apresentou aumento da resistência ao refinada, de forma que o efeito das forças nas
cisalhamento após a ruptura na aplicação da faces de cada fatia é levado em conta somente
tensão de 200 kPa. Considerando que o solo até certo ponto.
estava inundado e sabendo que este fato reduz
consideravelmente a sua capacidade de carga,
pode-se dizer que se tratava de um solo
normalmente adensado. Lambe e Whitman
(1974), explicam que o aumento da resistência
ao cisalhamento após a ruptura do solo é típico
de argila normalmente adensada.

3.4 Apresentação e Análise da Modelagem

As estruturas de contenção são formadas pelo


maciço de solo com paramento frontal, de
caixas de gabião de 1 m de altura, onde em sua
base prolonga-se a malha hexagonal para dentro
do talude, funcionando como reforço, pois
resistem aos esforços de tração sofridos pelo
maciço. O paramento frontal das estruturas
analisadas é escalonado, respeitando o
afastamento de 10 centímetros da face frontal da Figura 2. Exemplo de Escalonamento do Paramento.
caixa inferior com relação a superior,
equivalendo a uma inclinação com ângulo de Nas análises dos taludes, foram investigadas
seis graus com a vertical, como mostra-se na 1010 superfícies de ruptura, visando encontrar a
Figura 2, de autoria de Maccaferri (2008). superfície crítica que fornece o fator de
As estruturas de contenção dimensionadas, segurança mínimo. Durante as análises foi
não necessitam de fundação específica, também possível observar que, o fator de segurança vai
não é necessário executar base de concreto reduzindo conforme aumenta o número de
magro para colocação das caixas, que formam o superfícies analisadas, isto se dá devido à
paramento. Todas as estruturas foram proximidade da superfície crítica. Na Tabela 3
dimensionadas com caixas de 1 metro de altura, apresentam-se os fatores de segurança mínimos
inclusive as inferiores do paramento frontal, de cada análise para as estruturas otimizadas de
visando facilitar a modelagem de forma a se 8 a 12 m de altura.
inserir no tema, além de proporcionar maior A análise da estabilidade global, abrange
conhecimento operacional do software. todo o maciço reforçado, pois se refere a
Importante salientar, que a medida adotada não estabilidade do bloco como um todo. Já nas
prejudicou a resistência, a estabilidade e bom análises de estabilidade interna foram
desempenho da estrutura. verificadas as solicitações internas, impostas
As estruturas de contenção analisadas, têm aos reforços, que quando superiores àquelas que
tendência de ruptura de base, na qual o círculo o reforço pode suportar, ocasionam a
de ruptura, de acordo com Das (2007), é de ruptura/arrancamento da massa de solo.
ponto intermediário. No que se refere a análise da estrutura como
As análises foram realizadas pelo software muro foram analisadas a tendência ao
Macstars, utilizando o método das fatias de deslizamento, tombamento e pressão na
Bishop simplificado. De acordo com Das fundação.
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A análise de tombamento avalia a tendência Na Tabela 4 são apresentados os valores da


do bloco reforçado de rotacionar em relação ao força normal e horizontal, bem como os
ponto frontal inferior do bloco, devido ao momentos de tombamento e a pressão máxima
momento do empuxo ativo ser superior ao da fundação, obtidos através da análise das
somatório do momento do empuxo passivo com estruturas de contenção como muro.
o momento do peso próprio da estrutura. Esta
análise considera de acordo com a Maccaferri Tabela 4. Esforços Resultantes da Análise como Muro.
Análises das estruturas - fatores de segurança
(2004), como se a fundação não se deformasse Pressão
no momento de giro. No entanto, isso não Força Força Momento
Estruturas máx.
ocorre porque é necessário que a fundação entre horiz. normal tomb.
Contenção fundação
(kN) (kN/m) (kN.m)
em colapso devido às cargas aplicadas, para que (kPa)
haja rotação do bloco. Talude de 134,21 1.008,900 396,33 175,66
Conforme Sayão e Sieira (2005), as estruturas h= 8 m
tendem a deslizar em relação a base sobre a qual
Talude de 179,54 1295,9 571,55 193
estão apoiadas, devido a aplicação do empuxo h= 9 m
ativo, no sentido de dentro para fora da parte
frontal do talude. No entanto há uma Talude de 222,55 1617 722,43 207,8
h= 10 m
componente do empuxo passivo, a fim de
contrapor o deslizamento. E na análise das Talude de 253,48 1972,2 885,32 222,32
fundações, verifica-se as pressões aplicadas na h= 11 m
fundação pela estrutura de contenção. Talude de 299,1 2361,6 1035,3 238,05
Importante salientar que as pressões não devem h= 12 m
ultrapassar a capacidade de carga da fundação,
para evitar seu colapso. Pode-se verificar que o momento de
tombamento cresce conforme aumenta a altura
Tabela 3. Fatores de Segurança por Estrutura Otimizada. das estruturas, pois quanto mais alta a estrutura,
Análises das estruturas - fatores de segurança maior é a tendência de tombamento por rotação
da base.
Est. Est. Além dessas análises também foi realizada
Estruturas Verificação c/ Muro
Global Interna uma verificação da variação do comprimento do
Contenção
FS FS FSde FSto FSpf reforço e do bloco de acordo com as alturas de
Talude de 1,531 2,661 3,84 8,375 3,5 cada estrutura. No gráfico da Figura 3
h= 8 m representam-se os valores mínimos de
Talude de
comprimento para o reforço, que garantam a
1,521 2,55 3,693 8,754 3,5
h= 9 m estabilidade da estrutura, resistência e bom
desempenho como um todo. Importante
Talude de 1,51 2,534 3,635 9,791 3,188 salientar que o reforço deve ter comprimento
h= 10 m
igual ao da base. É possível perceber facilmente
Talude de 1,519 2,402 3,861 10,963 3,219 a relação crescente do comprimento do reforço
h= 11 m com relação à altura. Porém a diferença entre o
Talude de 1,527 2,327 3,891 12,474 3,375 comprimento do reforço e a altura se manteve
h= 12 m sempre de dois metros. Para o caso da altura de
8 metros temos que o comprimento do reforço
Analisando os valores da Tabela 3, percebe-se de 6 m equivale a 75% da altura, considerando
que os fatores de segurança de todas as análises esta como 100%. Já para a altura de 12 m temos
atenderam os limites da NBR 11682 (ABNT, o comprimento de reforço de 10 m equivalendo
2009) e citados no item 3.2. a 83,33%.
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Figura 3. Comprimento do Reforço x Altura.

Assim, podemos dizer que para a variação das


alturas de 8 a 12 metros, o comprimento do
reforço é igual a altura menos dois, pois a Figura 5. Análise da Estabilidade Interna.
análise apresenta-se com aumento do reforço
gradativo e uniforme, conforme aumenta a
altura da estrutura, ou seja, ambos são
diretamente proporcionais aritméticamente.
Para exemplificação, reproduz-se nas Figuras
4 a 6, os gráficos de resultados da modelagem
da estrutura de contenção de 12 metros de
altura, realizada no software Macstars,
apresentando os fatores de segurança de cada
análise. Visualiza-se também o diagrama de
projeto com as superfícies de ruptura,
destacando-se a linha tracejada como sendo a
superfície de ruptura crítica da estrutura para
análise das estabilidades global, interna, e como
muro. Na Figura 7 ilustra-se o projeto da
estrutura de solo reforçado de 12 m.
Figura 6. Análise da Estabilidade como Muro.

Figura 4. Análise da Estabilidade Global. Figura 7. Estrutura de Solo Reforçado de 12 m.


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4 CONCLUSÃO Desta forma, para a amplitude estudada com


alturas de 8 a 12 metros, verificou-se que o
A partir dos ensaios de caracterização e comprimento do reforço equivale ao valor da
cisalhamento direto do solo, foi possível altura menos dois metros, o que torna a estrutura
concluir que a sua coesão aparente proporciona de solo reforçado otimizada, atendendo a todos os
um aumento da resistência ao cisalhamento requisitos de segurança.
proporcional a redução do teor de umidade, e
por consequência ocasiona a redução da
resistência quando o solo se encontra inundado. AGRADECIMENTOS
Por outro lado, é possível analisar que a
resistência de cisalhamento do solo tem Agradece-se ao apoio da empresa Maccaferri do
tendência a aumentar após a ruptura da amostra, Brasil pela parceria, especialmente ao Engº
quando atinge a tensão máxima admissível. Alan Donasolo.
Por este motivo que as análises das estruturas
de contenção foram dimensionadas com os
dados da amostra de solo natural inundado para REFERÊNCIAS
uma ruptura técnica considerada para um
deslocamento horizontal de 2 mm. Ananias, E.J,; Teixeira, A.M,; Duran, J.S. (2013). O uso
crescente de solos reforçados para contenções em
As estruturas de contenção foram áreas urbanas: uma ênfase aos 20 anos da solução
dimensionadas buscando utilizar o mínimo de Terramesh no Brasil, Artigo Científico, São Paulo,
comprimento para o reforço e para a base, e não Jundiaí.
utilizar reforço adicional de geogrelha. Para as Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 11682
(2009). Estabilidade de encostas, Rio de Janeiro.
estruturas com alturas de 8 a 12 metros, foram
Das, M. Braja. (2007). Fundamentos de engenharia
executadas análises da estabilidade global, que geotécnica, Tradução da 6ª ed. Norte-americana, São
avaliam a estrutura em geral; estabilidade Paulo.
interna, que avalia a condição de resistência dos Dutra, V.A.S. (2013). Projeto de estabilização de taludes
reforços; e a verificação como muro, que e estruturas de contenção englobando
dimensionamento geotécnico e estrutural, Trabalho
analisa as estabilidades contra deslizamento,
de conclusão de curso, Escola Politécnica,
tombamento, e pressão na fundação. Todas as Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
análises apresentaram os fatores de segurança Janeiro.
acima dos limites mínimos indicados na NBR Gil, A.C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa, 4ª
11682/2009. A verificação da estabilidade ed, São Paulo.
Lambe, T.W,; Whitman, R.V. (1974). Mecánica de
global foi o critério que norteou o
suelos, Editorial Limusa S.A, México.
dimensionamento, por ter valores praticamente Lopes, C.P.F.C. (2001). Estudo da interação solo-
iguais ao limite da NBR 11682 de 1,5. Em geossintético através de ensaios de corte em plano
segundo plano, a verificação mais próxima do inclinado, Dissertação de Mestrado - F.E.U.P., Porto.
limite mínimo da norma foi a verificação da Maccaferri. (2004). Estruturas de solo reforçado com o
sistema Terramesh, Encarte Técnico, São Paulo.
pressão na fundação, especialmente para a Maccaferri. (2008). Reforço de solos, Manual Técnico,
altura de 10 m. São Paulo.
Por fim, o comprimento do reforço aumenta Massad, F. (2010). Obras de terra: curso básico de
de acordo com o aumento da altura, geotecnia, 2ªed, São Paulo, Editora Oficina de Textos.
evidentemente em face do maior risco de Morgenstern, N.R.; Sangrey, D.A. (1978). Methods of
stability analysis, National Academy of Sciences.
tombamentos, deslizamentos e ruptura por Palmeira, E.M. (1992). Estabilização e reforço de aterros
pressão na fundação. No entanto este aumento é sobre solos moles utilizando geotêxteis, Publicação no
da mesma magnitude do aumento da altura de GRE – Programa de Pós-graduação em Geotecnia,
forma aritmética, ou seja, aumentando 1 metro Universidade de Brasília.
na altura faz com que o reforço aumente 1 m.
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Sayão, A.,; Sieira, A.C.F. (2005). Manual técnico sobre


reforço de solos, Maccaferri do Brasil Ltda, São
Paulo.
Viecili, C. (2003). Determinação dos parâmetros de
resistência do solo de Ijuí a partir do ensaio de
cisalhamento direto, Trabalho de Conclusão de
Curso, Departamento de Engenharia Civil, UNIJUÍ,
Ijuí.
 

TEMA:  
FUNDAÇÕES 
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Comparativo entre Soluções de Fundações Profundas em Estacas


para Diferentes Métodos de Cálculo de Capacidade de Carga
Maria Mariana de Sousa Rocha
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, mariamarianasousa1@gmail.com

Carla Beatriz Costa de Araújo


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz@unifor.br

Marcelle Quelve da Costa Silva


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, marcellequelve@gmail.com

Ana Jéssica Freitas Mendes


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, jessicamendes.fr@gmail.com

RESUMO: Nos grandes centros urbanos o aumento demográfico tem desafiado a construção civil
em relação à demanda por edificações com porte cada vez maior. Diante disso, o estudo voltado
para as formas de transmissão de cargas ao solo é fundamental. No presente trabalho foi realizado o
dimensionamento geotécnico dos seguintes tipos de fundação profunda: Estacas Hélice Monitorada
(HCM), Raiz e Pré-Moldada de Concreto (PMC), utilizando as metodologias de cálculo de
capacidade de carga propostas por Aoki e Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1996). Dessa
forma é possível identificar qual solução de fundação e qual metodologia apresentam melhores
resultados em relação a orçamento, número total de estacas e profundidade de assentamento das
mesmas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações Profundas, Métodos de Cálculo, Análise Comparativa.

1 INTRODUÇÃO funcionalidade e segurança. O bom desempenho


das fundações, segundo Alonso (2011), está
O aumento demográfico nos grandes centros associado ao controle e garantia impostos pelo
urbanos tem desafiado a engenharia em relação projeto de fundações.
ao porte das novas edificações, visando atender Um projeto de fundações adequado deve ser
esta demanda. Nesse contexto, é fundamental concebido de modo a atender as necessidades de
não só o aprimoramento nos estudos de segurança e serviço, buscando a solução mais
superestruturas, mas também dos elementos que econômica. Para isso, é necessária a correta
irão transmitir os carregamentos ao solo. investigação geotécnica de modo a garantir
As estruturas responsáveis por transmitir informações confiáveis que atendam às
cargas em forma de tensões para o solo são exigências de projeto.
chamadas de fundações. No caso da escolha por fundações profundas
Escolher e dimensionar o tipo de fundação como solução de projeto, existem diversas
exige não apenas conhecimento das cargas que metodologias para determinação da capacidade
serão transmitidas, mas principalmente os de carga do solo, que juntamente com vários
parâmetros geotécnicos que cada perfil de solo tipos de estacas, ampliam a possibbilidade de
irá apresentar. escolha da melhor solução de fundação.
A fundações devem atender as condições de Dessa forma, o presente artigo visa
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comparar, para o mesmo perfil geológico Aoki e Velloso (1975) e Décourt e Quaresma
geotécnico, quais os tipos de estacas podem ser (1996). Tais métodos possibilitam, através de
executadas, utilizando para o dimensionamento equações semi-empíricas e do valor de NSPT, a
duas metodologias de cálculo de capacidade de previsão da capacidade de carga do solo, valor
carga diferentes: Aoki e Velloso (1975) e esse fundamental para determinação da
Décourt e Quaresma (1996). profundidade de assentamento das estacas.
Além disso, deseja-se elaborar um
levantamento orçamentário, tomando como 2.1 Aoki-Velloso (1975)
referências tabelas do Sistema Nacional de
Pesquisa de Custos e Índices da Construção No método Aoki-Velloso utilizam as seguintes
Civil (SINAPI) e cotação de valores com fórmulas para calcular a resistência de ponta
fornecedores para avaliar qual solução seria a ( e resistência de fuste ( da estaca,
mais adequada para a região. expressas pelas Equações 2 e 3
respectivamente:

2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS (2)


O conceito de fundações profundas, definido
pela norma NBR 6122:2010, diz que a carga é (3)
transmitida ao terreno pela base (resistência de
ponta) ou por sua superfície lateral (resistência Onde K e são referentes ao tipo de solo, F1
de fuste) ou por uma combinação das duas, e F2 são de acordo com o tipo de estaca e Nspt
sendo que a profundidade de assentamento deve é o número encontrado a partir do ensaio SPT
ser em cotas profundas de 3 metros e superior para cada camada 1 metro de solo.
ao dobro de sua menor dimensão em planta.
2.2 Décourt-Quaresma (1996)
2.1 Capacidade de carga
No método de Décourt e Quaresma (1996) as
Segundo Cintra e Aoki (2010), ao aplicar-se parcelas de resistência de ponta e
uma carga em uma estaca, a mesma irá resistir resistência lateral ( são obtidas a partir das
por meio de tensões resistentes por atrito lateral seguintes Equações 4 e 5:
( , entre o solo e o fuste da estaca, e por meio
da resistência de ponta ( , referente solo (4)
abaixo da estaca.
Para calcular a capacidade de carga, existem
diversos métodos com diferentes considerações,
porém, os métodos utilizados seguem o (5)
conceito referente a Equação 1:
Onde NP é a média do Nspt da camada
(1) avaliada e das camadas superior e anterior a
essa. α e β são fatores de resistência de ponta e
Onde a parcela da ponta ( calcula-se lateral, respectivamente.
multiplicando a resistência de ponta pela área
da seção transversal da ponta da estaca, e a
parcela do fuste ( . 3 METODOLOGIA
Para o dimensionamento do projeto, foram
utilizados os métodos de cálculo propostos por
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Para a realização desse estudo considerou-se Tabela 2. Tipos de Estaca, seus respectivos diâmetros e
uma situação hipotética, utilizando a planta de capacidade de carga (Cintra e Aoki, 2010).
cargas de uma edificação real, cujos valores de Tipo de Diâmetro (m) Capacidade de
cada pilar estão apresentados na Tabela 1, e dois Estaca Carga (KN)
relatórios de sondagens à percussão, executadas HCM 0,30 450
na cidade Fortaleza. Raiz 0,31 300
PMC 0,23 500
Tabela 1. Valores Carga do Pilares.
Pilar Carga (kN) Pilar Carga (kN) Para esse dimensionamento, foram utilizados
P05 705 P27 1990
os métodos de cálculo propostos por Aoki e
Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1978).
P10 791 P28 1617
Tais métodos possibilitam, através de equações
P14 1779 P32 1382
semi-empíricas e do valor de Nspt, a previsão
P15 943 P33 1341 da capacidade de carga do solo, valor esse
P16 935 P34 1307 fundamental para determinação da profundidade
P17 1427 P35 1396 de assentamento das estacas.
P19 1409 P37 333 A partir dos métodos, foram criadas tabelas
P20 1700 P38 1930 de cálculo no Excel para facilitar a
P21 1388 P39 917 determinação da quantidade de estacas em cada
P23 522 P40 974 bloco de coroamento e o seu comprimento.
P25 538 P41 665 Foram criadas 12 planilhas, pois no projeto
P26 1984 P46 642
existem 2 sondagens a serem analisadas e 3
tipos de estacas consideradas, calculados pelos
A partir da análise das sondagens realizadas 2 métodos.
foi traçado o perfil geológico-geotécnico do Dessa forma, foram inseridos os dados das
local. Logo após estabelecer as caracteristicas sondagens e os parâmetros determinados pelo
do solo, foram escolhidas as estacas a serem tipo de estaca e sua geometria, e obteve-se a
estudadas com base nas limitações do terreno, tensão admissível para cada camada, podendo
como nível d’água, consistência do solo e entre analisar assim para qual camada seria mais
outros, e condições de execução. Como o viável o assentamento da estaca, observando
terreno não apresenta muitas limitações, o fator qual tensão admissível se aproxima mais da
de escolha foi a execução, sendo estudadas tensão da estaca selecionada para o
assim as Estacas Hélice Monitorada (HCM), dimensionamento.
Raiz e Pré-Moldada de Concreto (PMC). Logo após a determinação da camada mais
Para o dimensionamento da fundação mais adequada para o assentamento das estacas,
profunda é necessário a determinação da foi determinada a quantidade de estacas
capacidade de carga, que é em função do necessárias em cada bloco de coroamento para
diâmetro da estaca. Dessa forma, foram suportar a carga de cada pilar. Para isso
escolhidos diâmetros para cada tipo, tentando utilizou-se a seguinte Equação 6:
obter capacidades de carga similares, exibidas
na Tabela 2.
(6)

Para a análise de dimensionamento foram


determinados alguns critérios de cálculo, que
consistem na utilização da menor capacidade de
carga e maior profundidade, visando a
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segurança estrutural e evitando um orçamento formada por argila siltosa, com lateritas e
subdimensionado. pedregulhos, de consistência variando de muito
Após definir a extensão e quantidade de mole a rija, de cor cinza e vermelho. Nas
estacas necessárias em cada bloco de proximidades do SP2, entre as cotas 4,80
coroamento foi realizada a pesquisa de preços metros e 7,00 metros existe uma camada de
para a elaboração do orçamento das estacas. Os argila siltosa com pedregulhos, de cor cinza e
valores encontrados estão exibidos na Tabela 3. consistência de média a rija.
Posteriormente a cota de 6,80 metros da SP1
Tabela 3. Valores por metro das estacas (SINAPI até a cota 8,17 metros correspondem a uma
02/2018 e cotaçãi de preço 04/2018). camada de argila siltosa com pedregulhos, de
Tipo de estaca Valor unitário (R$/m) cor cinza e amarela, de consistência média a
HCM 55,44
dura. Durante os ensaios, foi identificado a
Raiz 244,93
partir da cota 8,17 metros o impenetrável à
PMC 98,27
percussão devido trépano de lavagem na
sondagem SP1. Enquanto, na SP2 este ponto foi
4 RESULTADOS identificado na cota 9,21 metros, devido
também ao trépano.
A partir dos dados coletados das sondagens, foi Sendo assim, com as informações levantadas
possível caracterizar o solo do terreno a partir das sondagens realizadas e através do
analisado. A primeira camada analisada é perfil geológico – geotécnico, mostrado na
composta por uma areia fina pouco siltosa, fofa, Figura 1, foi possível observar que o maçico
com profundidade observada tanta na sondagem apresenta predominância de solo siltoso com
SP1 quanto na sondagem SP2 de 0,80 metros, argila e nível da água variando entre 5,74 e 8,52
apresentando matéria orgânica (raízes) e metros de profundidade.
coloração de solo cinza. Abaixo da camada
superficial, encontram-se duas camadas
argilosas, a camada próxima ao SP1 é
classificada como uma argila arenosa de
consistência mole a média, atingindo uma
profundidade de 1,80 metros, de cor cinza.
Enquanto, a mais próxima da SP2 é definida
como uma argila pouco siltosa, de consistência
média, alcançando uma profundidade de 1,70
metros, com coloração cinza e amarela.
Em seguida, até a profundidade de 2,90
metros, nas proximidades do SP1, existe uma
camada de argila siltosa, de consistência média,
com coloração cinza. Já nas proximidades do
SP2, até a profundidade de 4,80 metros, existe
uma camada de argila pouco siltosa, com a
presença de lateritas e pedregulhos, de cor cinza
e vermelho.
A camada abaixo segue até a cota 6,80 Figura 1. Perfil Geológico Geotécnico do Terreno.
metros no SP1 e se estende até a cota 9,21
metros no SP2, sendo nesta identificada o nível
d’água nas cotas 5,74 metros e 8,52 metros, do O sistema estaca-solo apresentou capacidade
SP1 e SP2, respectivamente. Esta camada é de carga diferente para cada método de
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dimensionamento e cada solução de fundação,


como mostrado na Figura 2. Dentre as soluções
propostas, a capacidade de carga variou entre
253,26 kN a 425,30 kN para o método Aoki e
Velloso (1975), enquanto para Décourt e
Quaresma (1978) entre 266,28 kN e 500 kN.

Figura 4. Quantidade das estacas.

A partir do comprimento e quantidade de


estacas, foi possível elaborar orçamento,
conforme Figura 5, para cada solução de
fundação conforme cada metodologia. O custo
oscilou entre R$ 51.866,56 e R$ 281.547,04
Figura 2Valores de Capacidade de Carga das Estacas.

Além disso, as soluções de fundação, de


acordo com cada metodologia, apresentaram
comprimentos distintos, com variação entre 8 e
10 metros, conforme Figura 3.

Figura 5. Orçamento das soluções.

Foram ainda produzidas plantas de


fundações para cada tipo de estaca estudada e
pelo método de cálculo mais econômico, no
qual em todos os casos foi o método de Décourt
e Quaresma. A planta de locação fundações
Figura 3. Valores de Comprimento das estacas. referente a estaca hélice contínua monitorada
está apresentada na Figura 6 e em seguida pode-
Com base na capacidade de carga do solo, se observar na Tabela 4 a quantidade de estacas
dimensionou-se o bloco de fundações de cada referente a cada pilar, somando 108 estacas
pilar e obteve-se a quantidade total de estacas HCM, como foi mostrado na Figura 4.
para cada solução proposta segundo cada
metodologia, como exposto na Figura 5. A
quantidade total de estacas apresentou variância
de 66 a 125 estacas, de acordo com a solução e
método de dimensionamento analisado.
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Tabela 5. Quantidade de estacas PCM referente a cada


pilar.
Quant. Quant.
Pilar de Pilar de
estacas estacas
P05 2 P27 4
P10 2 P28 4
P14 4 P32 3
Figura 6. Planta de locação de fundações referente a P15 2 P33 3
Estaca Hélice Contínua Monitorada.
P16 2 P34 3
Tabela 4. Quantidade de estacas HCM referente a cada P17 3 P35 3
pilar.
P19 3 P37 1
Quant. Quant.
Pilar de Pilar de P20 4 P38 4
estacas estacas P21 3 P39 2
P05 3 P27 7
P23 2 P40 2
P10 3 P28 6
P25 2 P41 2
P14 6 P32 5
P26 4 P46 2
P15 4 P33 5
P16 4 P34 5 A Figura 8 exibe a planta de locação de
P17 5 P35 5 fundações de estaca raiz e logo após na Tabela 6
P19 5 P37 2 está descrita a quantidade de estacas para cada
P20 6 P38 7 pilar, que soma também 108 estacas raiz.
P21 5 P39 4
P23 2 P40 4
P25 2 P41 3
P26 7 P46 3

Já na Figura 7, pode-se observar a planta de


locação de fundações referente a estaca pré-
moldada de concreto e logo em seguida, na
Tabela 5, a quantidade de estacas para cada
pilar, somando 66 estacas PCM. Figura 8. Planta de Locação de Fundações para Estaca
Raiz.

Figura 7. Planta de locação de fundações referente a


Estaca Pré Moldada de Concreto.
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Tabela 6. Quantidade de estacas Raiz referente a cada estacas tipo HCM, com comprimento de 10
pilar. metros e capacidade de carga de 305,42 kN.
Quant. Quant.
Essa solução de fundação apresenta custo de R$
Pilar de Pilar de
estacas estacas 67.932,00.
P05 3 P27 7 Recomenda-se Ensaio de Prova de Carga
estático para verificação da capacidade de carga
P10 3 P28 6
estimada por cálculo, para a maior segurança do
P14 6 P32 5
empreendimento.
P15 4 P33 5
P16 4 P34 5
P17 5 P35 5 AGRADECIMENTOS
P19 5 P37 2
Agradecemos a Universidade de Fortaleza e a
P20 6 P38 7
professora Carla Beatriz, por todo incentivo e
P21 5 P39 4 apoio.
P23 2 P40 4
P25 2 P41 3
P26 7 P46 3 REFERÊNCIAS

Alonso, U.R. (2011). Previsão e controle das fundações:


5 CONCLUSÃO uma introdução ao controle de qualidade em
fundações, São Paulo, Blucher, 2. ed.
Diante desse estudo, o solo é Aoki, N.; Velloso D., A. (1975). An Approximate method
predominantemente estratificado. Entretanto, to estimate the bearing capacity of piles. In:
Panamerican Conference on Soil Mechanics and
verificou-se que o solo não expressa muitas
Foundations Engeneering, 5., Buenos Aires, Anais...
limitações no que se refere a escolha do tipo de Buenos Aires, v.1.
estaca. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Baseado nessa análise, foram escolhidas para TÉCNICAS – ABNT (2010). NBR 6122: Projeto e
estudo as estacas usais na cidade de Fortaleza execução de fundações, Rio de Janeiro, ABNT.
Cintra, J.C.A; Aoki, N. (2010). Fundações por estacas:
Hélice Contínua Monitorada, Raiz e Pré-
projeto geotécnico, São Paulo, Oficina de textos.
Moldada de Concreto. Décourt, L. (1996). Capacidade de carga de estacas a
Para a metodologia de Décourt e Quaresma partir de valores de SPT, Congresso Brasileiro de
(1978) apresentaram maior capacidade de carga, Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, 6.,
as estacas do tipo HCM e PMC enquanto pelo Rio de Janeiro, v.1.
SISTEMA NACIONAL DE PESQUISA DE CUSTOS E
método de Aoki e Velloso (1975), a solução em ÍNDICES DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SINAPI
Raiz. Pórem, sob o aspecto econômico, o (2009). Ceará, Caixa Econômica, Setembro.
método Décourt e Quaresma apresentou
resultados mais favoráveis para todas soluções
de fundação analisadas.
Ao final deste estudo, embora a solução em
estaca tipo PMC tenha apresentado maior
economia segundo orçamento, recomenda-se o
emprego do tipo HCM devido sua economia e
metodologia construtiva apresentar alta
produtividade e não gerar perturbações sonoras.
Levando esse estudo a nível de projeto,
sugere-se o dimensionamento pelo método de
Décourt e Quaresma, onde serão utilizadas 108
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Carla Beatriz Costa de Araújo


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Marcelle Quelve da Costa Silva


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Ana Jéssica Freitas Mendes


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RESUMO: Nos grandes centros urbanos o aumento demográfico tem desafiado a construção civil
em relação à demanda por edificações com porte cada vez maior. Diante disso, o estudo voltado
para as formas de transmissão de cargas ao solo é fundamental. No presente trabalho foi realizado o
dimensionamento geotécnico dos seguintes tipos de fundação profunda: Estacas Hélice Monitorada
(HCM), Raiz e Pré-Moldada de Concreto (PMC), utilizando as metodologias de cálculo de
capacidade de carga propostas por Aoki e Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1996). Dessa
forma é possível identificar qual solução de fundação e qual metodologia apresentam melhores
resultados em relação a orçamento, número total de estacas e profundidade de assentamento das
mesmas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações Profundas, Métodos de Cálculo, Análise Comparativa.

1 INTRODUÇÃO funcionalidade e segurança. O bom desempenho


das fundações, segundo Alonso (2011), está
O aumento demográfico nos grandes centros associado ao controle e garantia impostos pelo
urbanos tem desafiado a engenharia em relação projeto de fundações.
ao porte das novas edificações, visando atender Um projeto de fundações adequado deve ser
esta demanda. Nesse contexto, é fundamental concebido de modo a atender as necessidades de
não só o aprimoramento nos estudos de segurança e serviço, buscando a solução mais
superestruturas, mas também dos elementos que econômica. Para isso, é necessária a correta
irão transmitir os carregamentos ao solo. investigação geotécnica de modo a garantir
As estruturas responsáveis por transmitir informações confiáveis que atendam às
cargas em forma de tensões para o solo são exigências de projeto.
chamadas de fundações. No caso da escolha por fundações profundas
Escolher e dimensionar o tipo de fundação como solução de projeto, existem diversas
exige não apenas conhecimento das cargas que metodologias para determinação da capacidade
serão transmitidas, mas principalmente os de carga do solo, que juntamente com vários
parâmetros geotécnicos que cada perfil de solo tipos de estacas, ampliam a possibbilidade de
irá apresentar. escolha da melhor solução de fundação.
A fundações devem atender as condições de Dessa forma, o presente artigo visa
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comparar, para o mesmo perfil geológico Aoki e Velloso (1975) e Décourt e Quaresma
geotécnico, quais os tipos de estacas podem ser (1996). Tais métodos possibilitam, através de
executadas, utilizando para o dimensionamento equações semi-empíricas e do valor de NSPT, a
duas metodologias de cálculo de capacidade de previsão da capacidade de carga do solo, valor
carga diferentes: Aoki e Velloso (1975) e esse fundamental para determinação da
Décourt e Quaresma (1996). profundidade de assentamento das estacas.
Além disso, deseja-se elaborar um
levantamento orçamentário, tomando como 2.1 Aoki-Velloso (1975)
referências tabelas do Sistema Nacional de
Pesquisa de Custos e Índices da Construção No método Aoki-Velloso utilizam as seguintes
Civil (SINAPI) e cotação de valores com fórmulas para calcular a resistência de ponta
fornecedores para avaliar qual solução seria a ( e resistência de fuste ( da estaca,
mais adequada para a região. expressas pelas Equações 2 e 3
respectivamente:

2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS (2)


O conceito de fundações profundas, definido
pela norma NBR 6122:2010, diz que a carga é (3)
transmitida ao terreno pela base (resistência de
ponta) ou por sua superfície lateral (resistência Onde K e são referentes ao tipo de solo, F1
de fuste) ou por uma combinação das duas, e F2 são de acordo com o tipo de estaca e Nspt
sendo que a profundidade de assentamento deve é o número encontrado a partir do ensaio SPT
ser em cotas profundas de 3 metros e superior para cada camada 1 metro de solo.
ao dobro de sua menor dimensão em planta.
2.2 Décourt-Quaresma (1996)
2.1 Capacidade de carga
No método de Décourt e Quaresma (1996) as
Segundo Cintra e Aoki (2010), ao aplicar-se parcelas de resistência de ponta e
uma carga em uma estaca, a mesma irá resistir resistência lateral ( são obtidas a partir das
por meio de tensões resistentes por atrito lateral seguintes Equações 4 e 5:
( , entre o solo e o fuste da estaca, e por meio
da resistência de ponta ( , referente solo (4)
abaixo da estaca.
Para calcular a capacidade de carga, existem
diversos métodos com diferentes considerações,
porém, os métodos utilizados seguem o (5)
conceito referente a Equação 1:
Onde NP é a média do Nspt da camada
(1) avaliada e das camadas superior e anterior a
essa. α e β são fatores de resistência de ponta e
Onde a parcela da ponta ( calcula-se lateral, respectivamente.
multiplicando a resistência de ponta pela área
da seção transversal da ponta da estaca, e a
parcela do fuste ( . 3 METODOLOGIA
Para o dimensionamento do projeto, foram
utilizados os métodos de cálculo propostos por
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Para a realização desse estudo considerou-se Tabela 2. Tipos de Estaca, seus respectivos diâmetros e
uma situação hipotética, utilizando a planta de capacidade de carga (Cintra e Aoki, 2010).
cargas de uma edificação real, cujos valores de Tipo de Diâmetro (m) Capacidade de
cada pilar estão apresentados na Tabela 1, e dois Estaca Carga (KN)
relatórios de sondagens à percussão, executadas HCM 0,30 450
na cidade Fortaleza. Raiz 0,31 300
PMC 0,23 500
Tabela 1. Valores Carga do Pilares.
Pilar Carga (kN) Pilar Carga (kN) Para esse dimensionamento, foram utilizados
P05 705 P27 1990
os métodos de cálculo propostos por Aoki e
Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1978).
P10 791 P28 1617
Tais métodos possibilitam, através de equações
P14 1779 P32 1382
semi-empíricas e do valor de Nspt, a previsão
P15 943 P33 1341 da capacidade de carga do solo, valor esse
P16 935 P34 1307 fundamental para determinação da profundidade
P17 1427 P35 1396 de assentamento das estacas.
P19 1409 P37 333 A partir dos métodos, foram criadas tabelas
P20 1700 P38 1930 de cálculo no Excel para facilitar a
P21 1388 P39 917 determinação da quantidade de estacas em cada
P23 522 P40 974 bloco de coroamento e o seu comprimento.
P25 538 P41 665 Foram criadas 12 planilhas, pois no projeto
P26 1984 P46 642
existem 2 sondagens a serem analisadas e 3
tipos de estacas consideradas, calculados pelos
A partir da análise das sondagens realizadas 2 métodos.
foi traçado o perfil geológico-geotécnico do Dessa forma, foram inseridos os dados das
local. Logo após estabelecer as caracteristicas sondagens e os parâmetros determinados pelo
do solo, foram escolhidas as estacas a serem tipo de estaca e sua geometria, e obteve-se a
estudadas com base nas limitações do terreno, tensão admissível para cada camada, podendo
como nível d’água, consistência do solo e entre analisar assim para qual camada seria mais
outros, e condições de execução. Como o viável o assentamento da estaca, observando
terreno não apresenta muitas limitações, o fator qual tensão admissível se aproxima mais da
de escolha foi a execução, sendo estudadas tensão da estaca selecionada para o
assim as Estacas Hélice Monitorada (HCM), dimensionamento.
Raiz e Pré-Moldada de Concreto (PMC). Logo após a determinação da camada mais
Para o dimensionamento da fundação mais adequada para o assentamento das estacas,
profunda é necessário a determinação da foi determinada a quantidade de estacas
capacidade de carga, que é em função do necessárias em cada bloco de coroamento para
diâmetro da estaca. Dessa forma, foram suportar a carga de cada pilar. Para isso
escolhidos diâmetros para cada tipo, tentando utilizou-se a seguinte Equação 6:
obter capacidades de carga similares, exibidas
na Tabela 2.
(6)

Para a análise de dimensionamento foram


determinados alguns critérios de cálculo, que
consistem na utilização da menor capacidade de
carga e maior profundidade, visando a
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segurança estrutural e evitando um orçamento formada por argila siltosa, com lateritas e
subdimensionado. pedregulhos, de consistência variando de muito
Após definir a extensão e quantidade de mole a rija, de cor cinza e vermelho. Nas
estacas necessárias em cada bloco de proximidades do SP2, entre as cotas 4,80
coroamento foi realizada a pesquisa de preços metros e 7,00 metros existe uma camada de
para a elaboração do orçamento das estacas. Os argila siltosa com pedregulhos, de cor cinza e
valores encontrados estão exibidos na Tabela 3. consistência de média a rija.
Posteriormente a cota de 6,80 metros da SP1
Tabela 3. Valores por metro das estacas (SINAPI até a cota 8,17 metros correspondem a uma
02/2018 e cotaçãi de preço 04/2018). camada de argila siltosa com pedregulhos, de
Tipo de estaca Valor unitário (R$/m) cor cinza e amarela, de consistência média a
HCM 55,44
dura. Durante os ensaios, foi identificado a
Raiz 244,93
partir da cota 8,17 metros o impenetrável à
PMC 98,27
percussão devido trépano de lavagem na
sondagem SP1. Enquanto, na SP2 este ponto foi
4 RESULTADOS identificado na cota 9,21 metros, devido
também ao trépano.
A partir dos dados coletados das sondagens, foi Sendo assim, com as informações levantadas
possível caracterizar o solo do terreno a partir das sondagens realizadas e através do
analisado. A primeira camada analisada é perfil geológico – geotécnico, mostrado na
composta por uma areia fina pouco siltosa, fofa, Figura 1, foi possível observar que o maçico
com profundidade observada tanta na sondagem apresenta predominância de solo siltoso com
SP1 quanto na sondagem SP2 de 0,80 metros, argila e nível da água variando entre 5,74 e 8,52
apresentando matéria orgânica (raízes) e metros de profundidade.
coloração de solo cinza. Abaixo da camada
superficial, encontram-se duas camadas
argilosas, a camada próxima ao SP1 é
classificada como uma argila arenosa de
consistência mole a média, atingindo uma
profundidade de 1,80 metros, de cor cinza.
Enquanto, a mais próxima da SP2 é definida
como uma argila pouco siltosa, de consistência
média, alcançando uma profundidade de 1,70
metros, com coloração cinza e amarela.
Em seguida, até a profundidade de 2,90
metros, nas proximidades do SP1, existe uma
camada de argila siltosa, de consistência média,
com coloração cinza. Já nas proximidades do
SP2, até a profundidade de 4,80 metros, existe
uma camada de argila pouco siltosa, com a
presença de lateritas e pedregulhos, de cor cinza
e vermelho.
A camada abaixo segue até a cota 6,80 Figura 1. Perfil Geológico Geotécnico do Terreno.
metros no SP1 e se estende até a cota 9,21
metros no SP2, sendo nesta identificada o nível
d’água nas cotas 5,74 metros e 8,52 metros, do O sistema estaca-solo apresentou capacidade
SP1 e SP2, respectivamente. Esta camada é de carga diferente para cada método de
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dimensionamento e cada solução de fundação,


como mostrado na Figura 2. Dentre as soluções
propostas, a capacidade de carga variou entre
253,26 kN a 425,30 kN para o método Aoki e
Velloso (1975), enquanto para Décourt e
Quaresma (1978) entre 266,28 kN e 500 kN.

Figura 4. Quantidade das estacas.

A partir do comprimento e quantidade de


estacas, foi possível elaborar orçamento,
conforme Figura 5, para cada solução de
fundação conforme cada metodologia. O custo
oscilou entre R$ 51.866,56 e R$ 281.547,04
Figura 2Valores de Capacidade de Carga das Estacas.

Além disso, as soluções de fundação, de


acordo com cada metodologia, apresentaram
comprimentos distintos, com variação entre 8 e
10 metros, conforme Figura 3.

Figura 5. Orçamento das soluções.

Foram ainda produzidas plantas de


fundações para cada tipo de estaca estudada e
pelo método de cálculo mais econômico, no
qual em todos os casos foi o método de Décourt
e Quaresma. A planta de locação fundações
Figura 3. Valores de Comprimento das estacas. referente a estaca hélice contínua monitorada
está apresentada na Figura 6 e em seguida pode-
Com base na capacidade de carga do solo, se observar na Tabela 4 a quantidade de estacas
dimensionou-se o bloco de fundações de cada referente a cada pilar, somando 108 estacas
pilar e obteve-se a quantidade total de estacas HCM, como foi mostrado na Figura 4.
para cada solução proposta segundo cada
metodologia, como exposto na Figura 5. A
quantidade total de estacas apresentou variância
de 66 a 125 estacas, de acordo com a solução e
método de dimensionamento analisado.
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Tabela 5. Quantidade de estacas PCM referente a cada


pilar.
Quant. Quant.
Pilar de Pilar de
estacas estacas
P05 2 P27 4
P10 2 P28 4
P14 4 P32 3
Figura 6. Planta de locação de fundações referente a P15 2 P33 3
Estaca Hélice Contínua Monitorada.
P16 2 P34 3
Tabela 4. Quantidade de estacas HCM referente a cada P17 3 P35 3
pilar.
P19 3 P37 1
Quant. Quant.
Pilar de Pilar de P20 4 P38 4
estacas estacas P21 3 P39 2
P05 3 P27 7
P23 2 P40 2
P10 3 P28 6
P25 2 P41 2
P14 6 P32 5
P26 4 P46 2
P15 4 P33 5
P16 4 P34 5 A Figura 8 exibe a planta de locação de
P17 5 P35 5 fundações de estaca raiz e logo após na Tabela 6
P19 5 P37 2 está descrita a quantidade de estacas para cada
P20 6 P38 7 pilar, que soma também 108 estacas raiz.
P21 5 P39 4
P23 2 P40 4
P25 2 P41 3
P26 7 P46 3

Já na Figura 7, pode-se observar a planta de


locação de fundações referente a estaca pré-
moldada de concreto e logo em seguida, na
Tabela 5, a quantidade de estacas para cada
pilar, somando 66 estacas PCM. Figura 8. Planta de Locação de Fundações para Estaca
Raiz.

Figura 7. Planta de locação de fundações referente a


Estaca Pré Moldada de Concreto.
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Tabela 6. Quantidade de estacas Raiz referente a cada estacas tipo HCM, com comprimento de 10
pilar. metros e capacidade de carga de 305,42 kN.
Quant. Quant.
Pilar de Pilar de
Essa solução de fundação apresenta custo de R$
estacas estacas 67.932,00.
P05 3 P27 7 Recomenda-se Ensaio de Prova de Carga
estático para verificação da capacidade de carga
P10 3 P28 6
estimada por cálculo, para a maior segurança do
P14 6 P32 5
empreendimento.
P15 4 P33 5
P16 4 P34 5
P17 5 P35 5 AGRADECIMENTOS
P19 5 P37 2
Agradecemos a Universidade de Fortaleza e a
P20 6 P38 7
professora Carla Beatriz, por todo incentivo e
P21 5 P39 4 apoio.
P23 2 P40 4
P25 2 P41 3
P26 7 P46 3 REFERÊNCIAS

Alonso, U.R. (2011). Previsão e controle das fundações:


5 CONCLUSÃO uma introdução ao controle de qualidade em
fundações, São Paulo, Blucher, 2. ed.
Diante desse estudo, o solo é Aoki, N.; Velloso D., A. (1975). An Approximate method
predominantemente estratificado. Entretanto, to estimate the bearing capacity of piles. In:
Panamerican Conference on Soil Mechanics and
verificou-se que o solo não expressa muitas
Foundations Engeneering, 5., Buenos Aires, Anais...
limitações no que se refere a escolha do tipo de Buenos Aires, v.1.
estaca. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Baseado nessa análise, foram escolhidas para TÉCNICAS – ABNT (2010). NBR 6122: Projeto e
estudo as estacas usais na cidade de Fortaleza execução de fundações, Rio de Janeiro, ABNT.
Cintra, J.C.A; Aoki, N. (2010). Fundações por estacas:
Hélice Contínua Monitorada, Raiz e Pré-
projeto geotécnico, São Paulo, Oficina de textos.
Moldada de Concreto. Décourt, L. (1996). Capacidade de carga de estacas a
Para a metodologia de Décourt e Quaresma partir de valores de SPT, Congresso Brasileiro de
(1978) apresentaram maior capacidade de carga, Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, 6.,
as estacas do tipo HCM e PMC enquanto pelo Rio de Janeiro, v.1.
SISTEMA NACIONAL DE PESQUISA DE CUSTOS E
método de Aoki e Velloso (1975), a solução em ÍNDICES DA CONSTRUÇÃO CIVIL – SINAPI
Raiz. Pórem, sob o aspecto econômico, o (2009). Ceará, Caixa Econômica, Setembro.
método Décourt e Quaresma apresentou
resultados mais favoráveis para todas soluções
de fundação analisadas.
Ao final deste estudo, embora a solução em
estaca tipo PMC tenha apresentado maior
economia segundo orçamento, recomenda-se o
emprego do tipo HCM devido sua economia e
metodologia construtiva apresentar alta
produtividade e não gerar perturbações sonoras.
Levando esse estudo a nível de projeto,
sugere-se o dimensionamento pelo método de
Décourt e Quaresma, onde serão utilizadas 108
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Análise da Solução Adotada para a Fundação de um Píer numa


Edificação Histórica. Estudo de Caso – Museu da Rampa, Natal –
RN.
Sansara Félix Pereira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, sansarafelix@gmail.com

Bruma Morganna Mendonça de Souza


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, bmorganna@gmail.com

Rafaella Fonseca da Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, rafaellafonsecac@gmail.com

André Augusto Nobrega Dantas


Instituto Federal de Goiás e Universidade de Brasília, Formosa/GO e Brasília/DF, Brasil,
eng.andreaugusto@yahoo.com.br

Weber Anselmo dos Ramos Souza


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, weberars@hotmail.com

Eduardo Marques Vieira Pereira


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, eduardo.marquesvp@gmail.com

Samyr Augusto da Silva Nascimento


Ramalho Moreira, Natal/RN, Brasil, samyraugusto@gmail.com

RESUMO: A obra do Museu da Rampa, localizada no município de Natal/RN, incorpora o Centro


Cultural Rampa e objetiva revitalizar uma região de alto potencial histórico-cultural, herdado pelos
norte-americanos na segunda guerra mundial. Em seu projeto, está prevista a construção de três píe-
res à beira-rio, compostos de passarelas sobre a água. Esta pesquisa avalia a escolha de projeto para
o sistema de fundação do píer, conforme os resultados de ensaios de Standard Penetration Test
(SPT) e as limitações provenientes da variação do nível do rio, além dos respingos de maré. Foi
realizada uma investigação geotécnica offshore através de ensaio SPT com flutuante, normatizado
pela ABNT NBR 6484:2001. Nos relatórios de sondagem, foi identificada a presença de uma cama-
da de solo mole. A inexequibilidade de um sistema clássico de escoramento da estrutura motivou a
solução em projeto de vigas moldadas in loco apoiadas diretamente nas estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Museu da Rampa, Fundação, SPT, Estacas, Solo Mole.

1 INTRODUÇÃO cia, para o solo, das cargas as quais suporta,


bem como de seu peso próprio. Em virtude de
Pode-se considerar a fundação como o tipo de seu posicionamento abaixo do nível do solo, a
elemento estrutural mais importante de uma viabilidade de inspeção deste tipo de elemento é
obra de engenharia civil, uma vez que é direta- significativamente menor, e isto evidencia a
mente responsável pelo processo de transferên- necessidade de um controle de qualidade rigo-
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roso, desde a concepção em projeto até os aca-


bamentos realizados na fase de execução. Desta
forma, elementos estruturais de fundação devem
ser projetados e executados de modo a garantir
o atendimento das condições mínimas de segu-
rança, de funcionalidade e de durabilidade,
quando submetidas à ação das cargas de serviço
as quais foram projetados para receber.
(ALONSO, 1991).
Para a escolha do tipo mais adequado de
fundação, variáveis que envolvem desde o tipo
de solo existente até a disponibilidade de
recursos econômicos devem ser consideradas Figura 1. Vista do antigo píer existente na edificação.
(ALONSO, 1991). Instruções apresentadas na Fonte: Fundação Rampa (2018).
norma ABNT NBR 6122:2010 (Projeto e
execução de fundações) preconizam que todo
projeto de fundação deve ser elaborado com
base nos resultados de investigações prévias do
subsolo.
Os sistemas de fundação de uma obra podem
ser executados por meio do emprego de
diversos materiais, tais como madeira, aço e
concreto armado (ABNT, 2010). Para cada
material, deve ser levada em consideração a sua
durabilidade em meio ao local em que estará
aterrado. Desta forma, a concepção do projeto
estrutural deve considerar não apenas a
estratigrafia e a resistência do solo, mas também
a agressividade à qual a estrutura estará sujeita Figura 2. Estado do píer em 2010. Fonte: CL Engenharia
pelo meio. e Urbanismo (2010) apud Rio Grande do Norte (2012).
Neste trabalho, foi realizado um estudo de
caso acerca da solução adotada para o sistema A escolha do tipo de fundação a ser
de fundação de três píeres à beira-rio, cujo executado foi condicionada a fatores restritivos,
assentamento ocorrerá no Centro Cultural que compreendem a presença de um rio de água
Rampa. Este, por sua vez, está localizado às salgada, a localização da obra em uma zona de
margens do Rio Potengi, no município do Natal, respingos de maré e a existência de uma extensa
capital do estado do Rio Grande do Norte, e camada de solo mole no local de
apresenta grande importância histórica em meio posicionamento dos píeres. Isto posto, optou-se
ao cenário da Segunda Guerra Mundial. A pela cravação de estacas de concreto armado
construção destes píeres é considerada como centrifugado.
uma substituição ao antigo píer de concreto
existente, apresentado na Figura 1, cuja 2 METODOLOGIA
estrutura apresentava-se em estado de
arruinamento e em risco de desabamento, Neste artigo, foi realizada uma análise a
conforme exibido na Figura 2 (CL respeito da escolha do tipo de fundação a ser
ENGENHARIA E URBANISMO, 2012 apud executado em três píeres localizados às margens
RIO GRANDE DO NORTE, 2012). do Rio Potengi, que apresenta água salgada em
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virtude da sua proximidade ao mar. A presença O Centro Cultural Rampa, atualmente em


de uma profunda camada de solo mole, aliada à processo de revitalização, será composto pelos
alta agressividade do meio, exigiu a concepção três píeres, pelo Memorial do Aviador, ainda
de uma solução pouco convencional para o em etapa de construção (Figura 4), e pelo
suporte dos píeres na área de estudo. Museu da Rampa, em fase de recuperação
Este trabalho foi baseado nos relatórios de estrutural (Figura 5). Esta obra consiste em um
sondagem obtidos do ensaio de SPT e no investimento do Governo do Estado do Rio
projeto estrutural da obra, e tal análise foi Grande do Norte, iniciado em 2014, a fim de
procedida com a complementação, por meio de viabilizar para a população o conhecimento
pesquisa bibliográfica, de instruções normativas relativo ao contexto histórico do local onde o
relacionadas e de referências apresentadas em Centro está inserido (FUNDAÇÃO RAMPA,
literatura pertinente. Uma vez que a obra ainda 2018).
não se encontra em fase de execução,
informações acerca do processo construtivo
destas estruturas não estavam disponíveis.

2.1 Área de estudo

A Rampa foi construída entre as décadas de


1930 e 1940 no bairro de Santos Reis,
localizado no município do Natal, capital do
Rio Grande do Norte (Figura 3). Apresenta
grande importância histórica durante a
passagem da Segunda Guerra Mundial pelo
Brasil e, além de ter sido operada pelo exército
dos Estados Unidos como base militar, também
foi utilizada por hidroaviões. A obra é situada Figura 4. Museu da Rampa, em fase de reforma em 2018,
em uma área que foi aplicada como apoio à para abertura ao publico geral. Fonte: Autores (2018).
construção do Porto de Natal e à montagem de
embarcações. (FUNDAÇÃO RAMPA, 2018).

Figura 5. Memorial do Aviador, em fase de construção


em 2018, para abertura ao público geral. Fonte: Autores
Figura 3. Localização do Centro Cultural Rampa: (A) (2018).
Natal/RN; (B) Local da obra. Fonte: Google (2018).
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3 ESTUDO DE CASO demarcados na Figura 7, foram realizados


próximo ao Museu da Rampa sem o auxílio de
3.1 Investigação do subsolo plataforma flutuante; os demais furos eram
localizados em terreno submerso pelo Rio
Para o conhecimento das condições do subsolo Potengi, próximos à construção dos píeres
que receberá as cargas provenientes dos píeres, (Figura 8). É válido destacar que nos furos não
foram seguidas as instruções normativas da submersos o nível d’água se encontrava a cerca
ABNT NBR 6484:2001 (Solo – Sondagens de de 0,60m de profundidade, valor este que pode
simples reconhecimentos com SPT – Método de variar conforme a oscilação da maré.
ensaio). Em virtude da presença de lâmina (ENECOL, 2017).
d’água acima do nível do terreno em alguns
furos, este ensaio foi realizado com o auxílio de
uma estrutura flutuante, apresentada na Figura 6
(GEPÊ ENGENHARIA, 2017). O
Departamento de Estradas de Rodagem do
Estado de São Paulo (2006) especifica que a
sondagem a percussão com ensaio SPT
(Standard Penetration Test), quando realizada
sobre plataforma fixa ou flutuante, deve
apresentar a sua estrutura firmemente ancorada
e totalmente assoalhada, que compreenda no
mínimo a área delimitada pelos pontos de apoio
do tripé. Com isso, objetiva-se evitar a
interferência da correnteza no local dos furos,
ao gerar possibilidades de desvios e
deslocamentos durante execução da sondagem.

Figura 7. Furos de sondagem SP-01 a SP-03. Fonte:


Adaptado de Gepê Engenharia (2017).

Nas Figuras 9 e 10, são apresentados os


resultados médios obtidos para estes dois
grupos de furos, bem como a sua variabilidade
por meio do acréscimo e decréscimo do desvio
padrão. Observa-se uma maior disparidade de
Figura 6. Sondagem SPT realizada na área de estudo com
auxílio de equipamento flutuante. Fonte: Autores (2017). resultados nas sondagens realizadas sem o
auxílio de flutuante, cujo solo de análise
O plano de investigação geotécnica apresentou maiores resistências em comparação
compreendeu a realização de sete furos de aos 4 furos submersos por lâmina d’água. Tal
sondagem, com a retirada de amostras. Três variabilidade pode ser atribuída à maior
destes furos, cujos posicionamentos estão dispersão existente entre os furos de SP01 a
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SP03, que se encontravam distribuídos


horizontalmente de modo linear, enquanto que
os furos nomeados de SP04 a SP07 estavam
concentrados em uma mesma área.

Figura 9. Sondagens a percussão realizadas próximas ao


Museu da Rampa, sem o auxílio de equipamento flutuan-
te. Fonte: Adaptado de Gepê Engenharia (2017).

Figura 8. Furos de sondagem SP-04 a SP-07. Fonte:


Adaptado de Gepê Engenharia (2017).

Além de resultados relativos à resistência à


penetração do solo, as Figuras 9 e 10 também
apresentam a estratigrafia média para estes
grupos de sondagens. Nos furos de SP04 a
SP07, posicionados onde será executado um
sistema de fundações em solo sob lâmina
d’água, constatou-se a presença de argila e
matéria orgânica nas camadas superficiais; suas
consistências variam de mole (Nspt entre 3 e 5)
a média (Nspt entre 6 e 10), de acordo com a
classificação estabelecida por Godoy (1972)
apud Cintra e Aoki (2010).

Figura 10. Sondagens a percussão realizadas em região


com a presença de lâmina d’água, com o auxílio de equi-
pamento flutuante. Fonte: Adaptado de Gepê Engenharia
(2017).
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A presença de matéria orgânica em píer e pelo peso próprio dos elementos de


abundância e a sua resistência à penetração fundação. Desta forma, foram adotadas estacas
indicada nos relatórios de sondagem são pré-fabricadas de concreto centrifugado.
compatíveis com observações de Ramirez- (ENECOL, 2017).
Henao e Smith-Pardo (2015). Segundo os A ABNT NBR 6122:2010 apresenta a
autores, estes materiais existem em grande ausência da descida de pessoas como uma
quantidade nas camadas superficiais de solos de consideração relevante durante o processo
rios e oceanos, e apresentam consistência fofa e construtivo da fundação por estaca, por ser
baixa resistência; isto incrementa pouca justificada pela exclusiva utilização de
resistência lateral às fundações por estacas. equipamentos ou ferramentas. Este aspecto
Embora solos moles sejam comumente executivo é de grande relevância e aplicação na
caracterizados como materiais de baixa construção de píeres, dado que a presença de
capacidade de suporte, isto não significa que água acima do nível de solo é um fator limitante
construções não são passíveis de sustentação para a execução destes elementos em seus
quando apoiadas sobre terrenos com tais locais de projeto. Neste contexto, a cravação de
características. A exemplo da obra em análise, estacas pré-moldadas em concreto é tida como
soluções pouco empregadas podem ser uma solução eficiente para obras deste porte.
projetadas de modo a viabilizar a execução de É válido ressaltar que estes elementos
um sistema de fundações apropriado à realidade apresentam todo o comprimento cravado em
do substrato. solo na condição saturada, abaixo do nível
d’água. Por este motivo, foram necessários
3.2 Escolha da fundação métodos alternativos para a cravação das
estacas, uma vez que não seria possível a
O tipo de fundação a ser adotado para o projeto cravação convencional a percussão, em que o
estrutural de uma obra deve ser o mais elemento pré-fabricado é introduzido no terreno
apropriado às condições de resistência e de através de golpes de martelo de queda livre.
execução no substrato da área de estudo. Assim, optou-se por construir um píer
Estruturas de píeres sobre solos moles e temporário de madeira, sobre estacas cravadas
saturados não viabilizam a execução de de madeira de eucalipto, para auxiliar na futura
fundações rasas para o seu suporte, em virtude cravação das estacas de concreto. Segundo
de aspectos de resistência do substrato e de Velloso e Lopes (2012), tal prática de utilização
execução da estrutura. Além disso, o nível do de estacas de madeira é comum em obras de
terreno, posicionado sob lâmina d’água de até 2 caráter provisório.
metros de altura, também impossibilitou o Com o solo submerso em água e a camada
emprego de soluções que exigissem, em seu mais superficial constituída por argila de
método executivo, a descida de pessoas; isto consistência mole a média, além da presença de
também descarta a possibilidade da adoção de conchas marinhas e de matéria orgânica, a
tubulões como elementos estruturais de execução do sistema convencional de
fundação. escoramento foi descartada. Além disso, devido
A escolha do tipo de fundação para a obra de à impossibilidade de execução dos blocos de
estudo foi realizada de posse dos resultados da coroamento das estacas de concreto na região
investigação do terreno sobre o qual os píeres submersa, estes foram suprimidos do projeto
serão assentados. Devido à presença de uma estrutural. Portanto, a solução de escoramento
camada superficial de argila mole a média, projetada foi a utilização de vigas moldadas in
foram estudadas alternativas capazes de avançar loco, apoiadas diretamente sobre as estacas de
até uma camada de solo mais resistente para concreto. Destaca-se que estas foram
suportar as cargas impostas pela construção do dimensionadas para funcionar também como os
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pilares de sustentação do píer (Figura 11). estabelecidos em norma (C40 e 50 milímetros,


respectivamente), segundo o projeto
apresentado pela Enecol Engenharia (2017).
Cabral (2016) especifica que estacas
executadas em píeres de estruturas portuárias
apresentam comprimentos significativos e
trabalham parcialmente cravadas no solo. A
depender das condições do local, e além da
possibilidade de cravação através de camadas
de solo de baixa resistência, estacas neste tipo
de obra podem ter parte de seu comprimento
livre, acima do nível do terreno. Desta forma,
efeitos de segunda ordem referentes à
ocorrência de flambagem lateral devem ser
levados em consideração (ABNT, 2010;
POULOS e DAVIS, 1980). Foram, portanto,
dimensionados dois tipos de estacas com seções
transversais e comprimentos diferentes,
conforme especificado em projeto. Os
diâmetros adotados foram de 30 e 40
centímetros (Figura 12), para comprimentos de
9 e 11 metros sem emendas, respectivamente.
Vale ressaltar que esses valores de comprimento
são referentes aos fornecidos pelo fabricante, ou
Figura 11. Solução de fundação adotada. Fonte: Adaptado seja, sem considerar a cota de arrasamento, cuja
de ENECOL (2017). medida em projeto é variável com a respectiva
cota de fundo da estaca cravada no solo. As
Estruturas de píeres localizadas à beira mar estacas de maior diâmetro foram locadas nas
estão em contato direto com a maré e seus regiões com maior incidência de solos menos
respingos (ARAUJO e PANOSSIAN, 2010). resistentes. (ENECOL, 2017).
De acordo com a ABNT NBR 6118:2014,
ambientes sujeitos a estas condições são
enquadrados na classe de agressividade
ambiental (CAA) IV, e requerem concreto de
classe igual ou superior a C40. No que diz
respeito às espessuras mínimas de cobrimento
para armadura das estacas de concreto, a ABNT
NBR 6122:2010 preconiza que estas devem ser
adotadas com base nas recomendações previstas
na ABNT NBR 6118:2014, a depender da
classe de agressividade do meio onde as estacas
serão locadas. Assim, para elementos estruturais
em contato com o solo situados em ambientes
de CAA IV, a espessura mínima do cobrimento
Figura 12. Seções transversais dos dois tipos de estacas
é de 50 milímetros (ABNT, 2014). Na obra em
dimensionados. Fonte: Adaptado de ENECOL (2017).
estudo, a classe do concreto e o cobrimento para
armadura adotados foram os mínimos
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4 DISCUSSÃO comprovada nos ensaios de SPT executados na


obra em estudo, onde os 3 furos não submersos
A ausência de ensaios de prospecção apresentaram logo na camada mais superficial
geotécnica, bem como a desconsideração de maiores valores de Nspt quando comparados
critérios e parâmetros apresentados em norma, aos outros 4. Este conhecimento acarretou o
podem resultar na escolha, no dimensionamento dimensionamento de dois tipos de estaca pré-
ou em especificações técnicas inadequadas moldada de concreto com seção transversal e
acerca dos elementos de fundação. Uma vez que comprimento diferentes, em que as de menor
a obra analisada neste trabalho é localizada em diâmetro e comprimento foram empregadas na
uma região de alta agressividade ambiental, a região de solo mais resistente. Desta forma,
adoção de valores inferiores aos mínimos pré- ressalta-se a importância de abranger amostras,
estabelecidos em norma para o cobrimento das locais e profundidades, cujos resultados de
armaduras poderia implicar na redução da vida sondagem sejam representativos. Isto pode ser
útil da estrutura de fundação, em virtude do afirmado pois a caracterização das diferentes
surgimento de manifestações patológicas que camadas de solo, como também a respectiva
comprometem química e fisicamente a capacidade de suporte, obtidas em ensaio, são
armadura de aço. parâmetros diretamente aplicados na escolha e
Destaca-se também, neste estudo de caso, no dimensionamento de elementos estruturais
que somente adotar critérios recomendados em de fundação.
norma para o dimensionamento de elementos
estruturais pode não ser o suficiente, visto que é 5 CONCLUSÕES
preciso identificar as possibilidades construtivas
da solução adotada com base nas condições A segurança de uma obra de engenharia civil
limitantes existentes. Ainda que uma solução deve ser estabelecida como prioridade durante a
esteja adequada quanto ao seu concepção de projeto; este fator está
dimensionamento, a mesma pode apresentar diretamente associado à vida útil e à
inviabilidade executiva durante a construção. durabilidade do material. Destaca-se também a
No caso em estudo, o tipo de obra a ser relevância do desempenho oferecido pelas
executada limitava as opções de fundações que construções a seus usuários, uma vez que cada
poderiam ser adotadas, uma vez que se trata de edificação apresenta funções e tipos de uso
uma obra cujo nível d’água encontra-se acima distintos. A garantia de uma obra segura e
do nível do solo. Desta forma, a fundação dos funcional é obtida por meio do cumprimento de
píeres analisados seria estritamente executada critérios apresentados em normas técnicas para
em estacas. o porte da construção e para as condições às
A peculiaridade do local onde a obra quais o produto final será submetido.
analisada está inserida, como também das Em obras de engenharia geotécnica, para o
condições do solo presente na área, demonstram alcance da durabilidade e do desempenho
a relevância do conhecimento prévio das almejados, é necessária a elaboração de projetos
características mecânicas do material a absorver com alto nível de confiabilidade, e a posterior
as cargas provenientes da construção. execução conforme especificações preconizadas
Evidencia-se neste trabalho que, devido à em instruções normativas relacionadas. Desta
heterogeneidade tanto em plano vertical quanto forma, parâmetros acerca do tipo de solo a
horizontal dos solos em geral, um aspecto serem adotados em projeto devem ser obtidos
importante a ser considerado na realização do por meio de um plano de investigações
ensaio de SPT é a quantidade e distribuição geotécnicas. Trata-se de adquirir características
uniforme dos furos de sondagem no terreno a geotécnicas confiáveis acerca do solo sob o qual
ser investigado. Esta observação foi a construção será apoiada, em que estas
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influenciam diretamente na escolha da solução reconhecimento com SPT - Método de ensaio. 1 ed.
de fundação e do respectivo método construtivo Rio de Janeiro: Abnt, 2001. 17 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
a ser empregado. TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de
O estudo de caso versou sobre uma solução fundações. 2 ed. Rio de Janeiro: Abnt, 2010. 91 p.
estrutural adotada em projeto para a futura ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
construção de fundação de píeres executados TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de
sobre solos moles em uma área de alta classe de concreto - Procedimento. 3 ed. Rio de Janeiro: Abnt,
2014. 238 p.
agressividade ambiental. Estes aspectos CABRAL, Flávia Emilia Siqueira. Análise da estabilidade
caracterizam a obra como peculiar, e os e da interação solo-estrutura aplicada a estacas de um
empecilhos encontrados em projeto píer. 2016. 85 f. TCC (Graduação) - Curso de
demandaram algumas soluções não Engenharia Civil, Escola Politécnica, Universidade
convencionais, tanto durante a execução do Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
Disponível em:
ensaio de SPT quanto na escolha dos <http://www.monografias.poli.ufrj.br/monografias/mo
procedimentos construtivos da fundação a ser nopoli10016622.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2018.
executada. Portanto, a análise do projeto citado CINTRA, J.C.A.; AOKI, N.. Fundações por estacas:
neste trabalho, elaborado após a realização de Projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de Textos,
2010. 140p.
sondagens SPT e de cumprimento de
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM
parâmetros e requisitos gerais de qualidade DO ESTADO DE SÃO PAULO. ET-DE-BOO/001:
estabelecidos em norma, evidenciam a Sondagens. São Paulo: Secretaria dos Transportes,
necessidade do embasamento teórico-técnico 2006. 62 p. Disponível em:
adequado durante as etapas de concepção e <ftp://ftp.sp.gov.br/ftpder/normas/ET-DE-B00-
001_A.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018.
avaliação da conformidade de projetos de obras
ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSULTORIA
geotécnicas. LTDA (ENECOL) (Natal). Projeto estrutural: Píer do
Centro Cultural Rampa. Natal: S.l., 2017.
AGRADECIMENTOS FUNDAÇÃO RAMPA (Natal). Por que "Rampa"? 2018.
Disponível em:
<http://www.fundacaorampa.com.br/af_rampa.htm>.
Agradecemos à Enecol Engenharia Estrutural e
Acesso em: 30 abr. 2018.
Consultoria Ltda por ceder os projetos estrutu- GEPÊ ENGENHARIA (Natal). Relatórios de sondagem
rais, referentes aos píeres construídos no Centro de solo: Museu da Rampa. Natal: S.l., 2017.
Cultural Rampa em Natal/RN, para a realização Relatórios de sondagem utilizados para a concepção
deste trabalho. dos projetos atuais dos píeres no Centro Cultural
Rampa.
GOOGLE. Google Maps. 2018. Disponível em:
REFERÊNCIAS <https://www.google.com.br/maps>. Acesso em: 13
maio 2018.
ALONSO, Urbano Rodriguez. Previsão e controle das POULOS, H. G.; DAVIS, E. H.. Pile foundation analysis
fundações. São Paulo: Edgard Blucher Ltda., 1991. design. Sydney: Rainbow-bridge Book Company,
142 p. 1980. 397 p.
ARAUJO, Adriana de; Panossian Zehbour. Durabilidade RAMIREZ-HENAO, Andres F.; SMITH-PARDO, J.
de estruturas de concreto em ambiente marinho: Paul. Elastic stability of pile-supported wharves and
Estudo de caso. Anais do Congresso Brasileiro de piers. Engineering Structures, [s.l.], v. 97, n. 8, p.140-
Corrosão. 30, 2010, Fortaleza. Rio de Janeiro: 151, ago. 2015. Mensal. Elsevier BV.
Associação Brasileira de Corrosão, 2010. 39 p. http://dx.doi.org/10.1016/j.engstruct.2015.04.007.
Disponível em: Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/Adriana_Araujo <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0
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_de_concreto_em_ambiente_marinho_estudo_de_cas 2018.
o/links/550f12d40cf2752610a00a58.pdf>. Acesso em: RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria do Estado de
20 abr. 2018. Turismo. Governo do Estado do Rio Grande do Norte.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Centro Cultural Rampa: Projeto executivo. Natal: S.l.,
TÉCNICAS. NBR 6484: Solo - Sondagens de simples 2012.
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Avaliação De Desempenho De Edificação Com Fundação Em


Estacas Metálicas No Recife
Jeovana da Silva Souto Maior
UNICAP, Recife - PE, Brasil, jeovanasouto0@gmail.com

Pedro Eugenio Silva de Oliveira


Unversidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com

Joaquim Teorodo Romão de Oliveira


Unversidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, jtrdo@uol.com.br

RESUMO: Este trabalho apresenta uma avaliação entre o desempenho de uma obra de fundações e
as medições de 100 excentricidades executivas, medidas in loco, em estacas metálicas de seções
variavéis decrescentes com a profundidade. Para confrontar os resultados com o desempenho da
obra, são apresentados ensaios de carregamento dinâmico. O projeto de fundações foi concebido em
04 (quatro) tipos de estacas metálicas a saber A, A1, B e C. As estacas foram cravadas em subsolo
heterogêneo com trecho arenoso fofo e trecho mole, até atingir um solo de silte arenoso muito
compacto. Os ensaios foram feitos em vários estágios de carga, até atingir as cargas finais entre
2.850 kN e 3.200 kN. As medições das excentricidades das estacas foram realizadas pela empresa
executante in loco. Os resultados mostraram que, mesmo com um bom desempenho da obra
(avaliado a partir dos ensaios realizados), 85% das estacas apresentaram excentricidade superior ao
tolerado pela norma NBR 6122/2010. Atingindo valores superiores a 60% do diâmetro do circulo
circunscrito às estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Estacas Metálicas de Seções Variáveis, Análise de


Desempenho, Excentricidade.

1 INTRODUÇÃO quanto a profundidade, o nível da água, ou


presença de solos moles. Assim como os outros
Hoje é possível encontrar no mercado diversos tipos de fundações, exige um controle executivo
tipos de perfis metálicos, com diferentes e de seu desempenho. Um teste utilizado para
dimensões e espessuras de alma e abas, o que verificação do desempenho real da fundação é o
permite que se trabalhe com fundações de Ensaio de Carregamento Dinâmico (ECD). Ele
estacas metálicas de seção transversal tem por objetivo avaliar a mobilização de
decrescente com a profundidade, fato que é cargas na interface do fuste da estaca com o
bastante viável tendo em vista que a carga solo por meio da Teoria da Equação da Onda.
resultante na estaca vai diminuindo em razão da Em estudos recentes realizados na Região
transferência de carga para o solo, por atrito Metropolitana do Recife (SALGADO, 2016;
lateral. SOUTO MAIOR, 2017; PAULA FILHO, 2017
Segundo Oliveira (2013), esse tipo de E SILVESTRE, 2018), foi observado que
fundação, teve aumento de uso significativo na mesmo com bons resultados controles de
Região Metropolitana do Recife (RMR), já que cravação, são encontradas excentricidades
as mesmas tem se adequado para o perfil superiores ao limite estabelecido na Norma
geotécnico da cidade, por não existir limitações NBR6122/2010 (No item 8.5.6, a norma trata
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das excentricidades executivas e estabelece o executiva nem as causas do fenômento ou


limite tolerado de 10% do diâmetro das estacas variação em função do tipo de solo. Uma
– que será debatido a seguir). possível explicação para o fenômeno pode ser
devido o efeito de cravação de uma estaca sobre
2 OBJETIVOS DO TRABALHO uma outra previamente cravada. É esperado que
esse efeito seja de maior magnitude nas
Este artigo tem por objetivo estudar o fundações profundas de deslocamento, grupo
desempenho de uma fundação de estacas onde estariam as estacas cravadas em geral,
metálicas de seção variável em solo mole segundo (VELLOSO, 2012). Fato que pode ser
situada na RMR, confrontando os resultados das observado por meio dos resultados apresentados
medições de campo das excentricidades com os na Tabela 1, onde os valores de excentricidade
resultados dos Ensaios de Carregamento para estacas hélice contínua (SALGADO, 2016)
Dinâmico. O objetivo é avaliar se uma obra são inferiores aos obtidos para as demais obras
com desempenho satisfatório (do ponto de vista em estacas cravadas. Porém ainda não se sabe
de cargas e resistências) pode apresentar tal explicar o porquê de obras de mesma solução de
problema. fundação apresentar valores tão diferentes de
A justificativa do trabalho se baseia em excentricidades médias, ou como na obra
quantificar um problema recorrente e de poucos estudada por Silvestre apresentar uma
estudos realizados, que é a excentricidade das discrepância tão grande (valores até 126 cm). O
estacas de fundações. presente trabalho visa contribuir para o
Então esse trabalho contribui para o melhor entendimento desses aspectos.
entendimento do problema e quantificação do
nível de excentricidade encontrado em obra Tabela 1. Resultados de excentricidade na RMR.
com todas as estacas medidas em campo. Tipo de Excen. (cm)
Referência Estacas
estaca Média Máximo
3 DISCUSSÃO SOBRE EXCENTRICIDADE Salgado, 2016 Hélice 6,00 41,00 1.075
EXECUTIVA DE ESTACAS Paula filho, 2017 Metálica 7,41 35,17 91
Silvestre, 2018 Metálica 8,94 126,92 1.106
A norma de Fundações NBR 6122/2010, por Silvestre, 2018 Mista* 9,97 46,17 200
meio do item 8.5.2 comenta sobre as Total de estacas estudadas 2.472
excentricidades em fundações profundas
chamando o problema de “inevitável”, devido Outra possível explicação pode se dar devido
as características executivas dos diversos tipos erros acumulados de locação. De qualquer
de fundações. Quais seriam essas características forma, este problema é uma manifestação
especificamente não são apresentadas. Ainda patológica, que para ser corrigido geram custos,
nos subitens 8.5.2.1 e 8.5.2.2, é apresentado o onerando a solução de fundação, e como
limite tolerado de 10% do diâmetro, nível para acontecem sem estimativa prévia é um custo
o qual a partir dele a estabilidade da estrutura e não planejado no orçamento de uma obra.
os acréscimos de cargas devem ser avaliados.
No item 8.5.2.1 ainda é citada a possibilidade 4 DESCRIÇÃO DAS FUNDAÇÕES DA
de a estaca isolada suportar as “excentricidades OBRA EM ANÁLISE
estimadas” que dependem “de cada tipo de
estaca ou equipamento”, porém a norma não O objeto estudado neste trabalho é uma obra de
apresenta como avaliar essa excentricidade fundações profundas, executada em estacas
estimada. metálicas em seções decrescentes ao longo da
Como visto anteriormente a norma não profundidade, com solo heterogêneo com
apresenta formas de estimar a excentricidade camadas de areia e presença de solo mole, na
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cidade do Recife.
A partir das 6 sondagens realizadas foi
possível avaliar a cota do terreno que se
encontrou variando entre as cotas +0,40 e
+0,57.
Já para o subsolo da obra, inicialmente
encontra-se uma camada de aterro arenoso com
restos de construção, até as cotas 0,00 a -0,50;
segue uma camada de areia, fofa a
medianamente compacta, até as cotas -6,50 a -
7,50. Em seguida, aparece uma camada de silte
argiloso, mole a médio, até a cota -10,00. Segue
uma camada de areia siltosa com pedregulhos,
até a cota -11,00. Em sequência, vem uma
camada de areia com pedregulhos, compacta,
até as cotas -18,00 a -28,00. Segue uma camada
de areia siltosa, pouco compacta, até as cotas -
22,00 a -29,00. Em seguida aparece uma
camada de argila siltosa com matéria orgânica e Figura 1. Representação dos Tipos de Estacas.
turfa, mole a média, até as cotas -32,00 a -
33,00. Logo abaixo, vem uma camada de areia
medianamente compacta com matéria orgânica 5. SONDAGENS E ENSAIOS DE
e conchas até as cotas -34,00 a -35,00. Segue CARREGAMENTO DINÂMICO
uma camada de silte argiloso, duro, e silte
arenoso, muito compacto, até o limite das Na obra analisada, foram executadas seis
sondagens SP-01, SP-02, SP-03 e SP-04, por sondagens de simples reconhecimento do tipo
volta da cota -37,50. Por fim, na sondagem SP- SPT. Forão utilizadas 5 delas para confronto
05, aparece uma camada de areia siltosa com com os resultados dos Ensaios de Carregamento
pedregulhos, muito compacta, até o limite Dinâmico. São elas: SP-01, SP-02, SP-03, SP-
impenetrável desta, na cota -45,00. O nível 04 e SP-05, ver Tabela 3 (neste trabalho só foi
d’água encontra-se variando entre as cotas -1,25 apresentada uma sondagem a SP01).
a -1,11. A obra consiste em um espaço de Para definição da sondagem referente a cada
aproximadamente de 2.820 m² construídos, para estaca o critério utilizado foi o de área de
um edifício residencial de 28 pavimentos (88,3 influência de cada sondagem. Assim, ficaram
metros de altura), onde foram cravadas 100 definidas as seguintes sondagens para as
estacas metálicas de seções variáveis, de quatro estacas.
diferentes tipos: TIPO A, TIPO A.1, TIPO B,
TIPO C. A Tabela 2 e a Figura 1 apresentam as Tabela 3. Estacas ensaiadas e sondagens relacionadas.
diferentes composições destes tipos. ESTACAS SONDAGEM
P25-E2 SP-05
Tabela 2. Tipos de estacas e suas composições.
P6-E3 SP-02
TIPO DE ESTACA COMPOSIÇÃO Qtd
P17-E3 SP-03
A HP 310 x110 - 93 -79 61
P2-E4 SP-01
A.1 HP 310 x 93 - 93 -79 05
P20-E1 SP-04
B HP 310 x 93 -79 -79 26
C HP 310 x 79 - 79 -79 08
Os ensaios de carregamento dinâmico foram
executados por uma empresa especializada no
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assunto, com o aparelho PDA®. Foram serem feitas medições em ambiente CAD que
ensaiadas cinto estacas: duas do TIPO A, e três permitiram os cálculos das excentricidades
do TIPO B. propriamente ditas.
Nenhuma estaca TIPO A.1 e TIPO C foi
ensaiadas. 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS
O critério para a escolha das estacas da obra
a serem ensaiadas vem, basicamente, da 7.1 Resultados referentes ao Ensaio de
experiência dos profissionais envolvidos no Carregamento dinâmico
processo de execução, no campo esta seleção
vem baseada nas proximidades das sondagens, Observa-se na Figura 3, que o ensaio apresentou
para que fossem comprovados os exatamente o esperado para as cinco estacas,
comportamentos esperados, e verificar o onde a carga foi se “dissipando” ao longo da
desempenho dessas estacas no solo mole estaca, devido o atrito lateral, de modo a chegar
existente. na ponta da estaca uma carga de no mínimo 2,5
Os dados coletados neste estudo foram vezes menor que a aplicada pelo martelo no
interpretados pelo método CASE®, ainda em topo da estaca
campo. Após levar os dados ao escritório, foi
executado o método CAPWAP®. Para os dois
métodos todas as 5 estacas foram analisadas.

6 EXCENTRICIDADES

Em campo foram medidos os deslocamentos


ocorridos nos eixos “x” e “y” em todas as
estacas dos blocos de coroamento, observando
assim, as novas locações das estacas. Este
processo foi realizado pela empresa responsável
a analisar as fundações. A Figura 2 exemplifica
os dados cedidos a partir da locação das estacas
e do bloco de coroamento do Pilar P1.

Figura 3. Resistência mobilizada ao longo da


profundidade.

A partir da Figura 3 observa-se que em torno de


20 m de profundidade existe uma camada de
solo que apresenta uma taxa de mobilização de
carga superior a camada inicial, até 20 m. Essa
camada apresenta maior tensão de adesão
Figura 2. Exemplo de Medição da Excentricidade. (Figura 4a), provavelmente devido a sua maior
resistência que pode ser observada pelo seu
Estas novas locações foram atualizadas no índice NSPT superior a 40 golpes/30cm, por
projeto executivo, unindo o que estava previsto meio da Figura 4b.
em projeto, com o executado, podendo assim
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(a) (b)
Figura 4. (a) Desempenho do ECD (Tensão x Profundidade); (b) Representação da sondagem SP-01.
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Dessa forma boa parte da capacidade de carga Onde:


das estacas se dá por atrito lateral, DX = Deslocamento em X
preponderantemente na camada abaixo de 20 m DY = Deslocamento em Y
de profundidade. A Tabela 4 mostra esta relação E = Excentricidade
carga no topo da estaca com a carga na ponta da
mesma. Pode-se observar que a média de 6,26 cm é
bastante acima do tolerado quando comparado
Tabela 4 – Cargas obtida no topo e na ponta. aos diâmetros das estacas da obra que variam
entre 42,78 cm e 43,69 cm. Para estacas
CARGA NO CARGA NA
ESTACAS TOPO (QT) PONTA (QP) QT/QP
metálicas, o diâmetro a ser considerado é
(kN) (kN) referente ao do círculo circunscrito à seção da
estaca. A norma NBR 6122/2010 tolera, sem
P25-E2 2937 789 3,72 correções, um deslocamento de 10% do
P6-E3 3034 680 4,46 diâmetro da estaca. Logo o valor limite seria em
P17-E3 2970 1146 2,59 torno de 4,3 cm. A Figura 5 apresenta a
P2-E4 3107 577 5,38 distribuição numérica das excentricidades.
P20-E1 2804 1094 2,56 Analisando a distribuição, em apenas 15% das
estacas executadas não foram necessárias
Estes resultados referentes aos ensaios de avaliações de estabilidade.
carregamento dinâmico são importantes para É importante avaliar que os resultados
enfatisar que apesar dos mesmos serem obtidos são inferiores aos apresentados por
satisfatórios de forma a atender o esperado em Paula Filho (2017) e Silvestre (2018) (7,41 e
projeto, foram encontradas excentricidades 8,94 cm respectivamente). Os resultados
muito elevadas que serão debatidas a seguir. obtidos se aproximaram mais dos resultados de
Salgado (2016), que estudou uma massa de
7.2 Resultados referentes ás Excentricidades dados de estacas hélice contínua em terreno
preponderantemente arenoso, enquanto
7.2.1 Resultado Geral das Excentricidades Silvestre (2018) avaliou uma obra com subsolo
com presença de solo mole, perto de região de
A Tabela 5 mostra os valores obtidos para a mangues. O perfil de solo do presente trabalho
média das excentricidades (de todo o conjunto), apresenta camada de areia até os 7,50 m e a
intervalo de valores máximos e mínimos, partir dos 11,60 m, porém também apresenta
desvio padrão e coeficiente de variação, camada de solo mole entre 7,50 e 11,60m.
obtidos pelas excentricidades das 100 estacas
em estudo.

Tabela 5. Dados Gerais obtidos pelas Excentricidades.


DX DY E
(cm) (cm) (cm)
MÉDIA 4,68 2,93 6,26
MINIMO 0 0 0
MÁXIMO 26,50 15,20 26,82
DESVIO
4,96 3,06 5,03
PADRAO
CV (%) 105,70 104,10 80,30

Figura 5. Histograma das Excentricidades.


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Também é importante observar que o Tabela 5. Excentricidade média de cada tipo de estaca e
máximo valor encontrado foi de 26,81 cm, que seus respectivos diâmetros.
corresponde a mais de 60% do diâmetro da Em DT
estaca. Estando 6 vezes acima do limite tolerado TIPO %e
(cm) (cm)
na norma. Indicando que, uma obra em que o
A 6,21 43,69 14,21
projeto se confirma através dos controles de
desempenho pode apresentar problemas de A.1 5,99 43,21 13,86
excentricidade acima do tolerado. B 5,74 43,21 13,29
C 8,48 42,78 19,82
7.2.2 Relação dos Tipos de Estacas com a
Excentricidade
Onde:
Como comentado anteriormente a obra Em – Média da excentricidade
apresenta 4 tipos de composições. A Figura 6, DT – Diâmetro no topo da estaca
apresenta as médias das excentricidades para %e – Porcentagem da excentricidade
cada tipo de estaca. Analisando separadamente
a média de cada tipo de estaca e seus Apesar da maior média estar nas estacas do
respectivos diâmetros, pode-se observar que tipo C, as amplitudes de outros dois tipos foram
para os tipos A, A1 e B, os valores de muito maiores. É o caso do tipo A e B,
excentricidade média não apresentaram grandes representados na Figura 7.
variações, e apresentam valores inferiores à
média da obra (6,26 cm).
Já o grupo de estacas do Tipo C apresentou
média muito superior às demais e superior a
média da obra com valor de 8,48 cm, que
representa 19,82% do diâmetro da estaca. Esse
valores obtidos para a estaca C são mais
próximos dos valores obtidos por Silvestre
(2018). Uma possível explicação seja o fato da
estaca tipo C ter a composição mais leve entre
os tipos de estacas. A tabela 5 apresenta estes Figura 7. Máximos e Mínimos de cada Tipo de Estaca.
resutados.
8. CONCLUSÕES

 Para a avaliação das excentricidades, a


média das 100 estacas foi de 6,26 cm,
ultrapassando o valor de 4,3 cm que
seria aceitável pela Norma NBR
6122/2010.
 Em apenas 15% das estacas executadas,
não foram necessárias avaliações de
estabilidade. Resultando em um
retrabalho com revisão das vigas de
travamento, perda dos prazos no serviço
das fundações e atraso na execução de
todos os outros processos, gerando um
prejuízo financeiro e desgaste da equipe.
Figura 6. Médias da excentricidades por tipo das estacas.
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 Os resultados obtidos são inferiores aos Oliveira, P.E.S. (2013) Análise de provas de carga e
confiabilidade para Edifício comercial na Região
apresentados por Paula Filho (2017) e
Metropolitana do Recife. Dissertação de Mestrado.
Silvestre (2018) (7,41 e 8,94 cm UFPE, Recife/PE.
respectivamente). Paula filho, J.A.A. (2017). Acompanhamento de uma
 Os resultados obtidos se aproximaram fundação em estacas metálicas de seções variáveis em
mais dos resultados de Salgado (2016), Recife. Trabalho de Conclusão de Curso, UNICAP,
Recife/PE.
que estudou uma massa de dados de Salgado, R.S. (2016). Análise estatística da
estacas hélice contínua em terreno excentricidade das estacas do tipo hélice contínua no
preponderantemente arenoso, enquanto Cabo de Santo Agostinho. Trabalho de Conclusão de
Silvestre (2018) avaliou uma obra com Curso, UPE, Recife/PE.
subsolo com presença de solo mole, Silvestre, G.U. (2018). Análise da influência da
excentricidade em uma obra de estacas mistas e
perto de região de mangues. O perfil de metálicas. Trabalho de Conclusão de Curso, UNICAP,
solo do presente trabalho apresenta Recife/PE.
camada de areia até os 7,50 m e a partir Site Pile Dynamics, INC. Ensaio de Carregamento
dos 11,60 m, porém também apresenta Dinâmico. Disponível em:
camada de solo mole entre 7,50 e <http://www.pdi.com.br/ecd-port.htm>. Acesso em:
01 de setembro de 2017.
11,60m. Souto maior, J.S.(2017). Análise em fundações de estacas
 O tipo C (estaca mais delgada) metálicas de seções variáveis na Regieão
apresentou a média mais elevada, com o Metropolitana do Recife. Trabalho de Conclusão de
valor de 8,48 cm, 19,82% do diâmetro, o Curso, Graduação em Engenharia Civil, Centro de
Ciências e suas Tecnologias, Universidade Católica de
dobro do valor tolerado pela norma.
Pernambuco. Recife.
 O maior valor de excentricidade Velloso, D.A. e LOPES, F.R. (2012). Fundações, volume
ultrapassou 26,81 cm, que chega a ser completo: critérios de projeto: investigações de
mais que 50% do diâmetro da estaca. subsolo: fundações superficiais: fundações
 Embora o tipo C apresente a maior profundas. 2ª edição. São Paulo. Oficina de Textos.
média, não apresenta a maior amplitude
(intervalo entre valores máximos e
mínimos).
 Atendendo aos objetivos do trabalho,
foram avaliados os resultados dos
ensaios de carregamento dinâmico. As
premissas de projeto foram atendidas, e
o comportamento esperado foi
confirmado através dos ensaios.
Indicando que, uma obra onde o projeto
se confirma através dos controles de
desempenho pode apresentar problemas
de excentricidade.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2010). NBR


6122 - Projeto de Execução de Fundações. Rio de
Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1994). NBR
13208 - Ensaio de Carregamento Dinâmico. Rio de
Janeiro.
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Análise de Projeto de Fundação em Radier Estaqueado para Silos


Graneleiros
Matheus Praciano Sampaio
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, sampaio.mp@live.com

Humberto Laranjeira de Souza Filho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, humbertolar@gmail.com

RESUMO: Este artigo tem por finalidade aprofundar-se em propostas mais tecnicamente adequadas
para fundações de sistemas de armazenagem de grãos, concentrando-se nos aspectos de projeto de
uma das unidades de armazenamento mais utilizadas na agricultura, o silo graneleiro, por meio da
avaliação da proposta de fundação em radier estaqueado, utilizando-se para previsão das capacidades
de carga o método analítico de Poulos.

PALAVRAS-CHAVE: radier, silo, estaca, análise, capacidade, carga.

1 INTRODUÇÃO condições desfavoráveis, o que leva ao


surgimento de esforços não previstos impostos
Silos são células individualizadas, características ao solo, causando deslocamentos nas estruturas
do sistema a granel, construídos por chapas dos silos, inviabilizando ou comprometendo a
metálicas, de concreto ou de alvenaria. Estas sua utilização.
células apresentam condições necessárias à Uma forma de amenizar os recalques gerados
preservação da qualidade de grãos durante pelo colapso do terreno, é o estaqueamento da
longos períodos de armazenagem. laje de fundo do silo, fazendo com que o sistema
se comporte como um radier estaqueado. Assim
sendo, este trabalho objetivou o estudo do
desempenho do sistema em radier estaqueado
para obras de silos graneleiros, aplicado a um
estudo de caso hipotético.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Metodologia do Radier Estaqueado

Sales (2000) identifica radier estaqueado por um


sistema de fundação que envolve a associação de
um elemento de fundação superficial (radier)
Figura 1. Exemplo de Silo Graneleiro. com uma estaca ou grupo de estacas, sendo
ambos os elementos responsáveis pela
Os silos graneleiros mais comuns são colaboração na capacidade de carga e na redução
compostos pelos seguintes elementos: fundação, de recalques, como ilustrado na figura 2.
pilares ou apoios, fundo da célula, célula,
cobertura e torre. No que se refere ao projeto de
silos, o carregamento aplicado ao terreno ocorre
de maneira rápida e cíclica, o que pode muitas
vezes provocar o colapso do terreno em
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sustentar todo o carregamento, porém, ao mesmo


tempo verifica-se que os recalques tanto
absolutos quanto diferenciais desenvolvidos
nessa situação excedem valores aceitáveis.
Poulos (1980) propõe que o a capacidade de
carga do radier estaqueado consiste basicamente
na soma da parcela da resistência desenvolvida
apenas pelo radier e da parcela da resistência
desenvolvida pelas estacas:
Figura 2. Sistemas de fundações superficiais, profundas e
mistas (Adaptado de Mandolini, 2003). 𝑄𝑃𝑅 = 𝑄𝑅 + 𝑄𝑃𝐺
(1)

Devido a facilidade de execução e custos Em que:


reduzidos, é comum considerar, primeiramente, 𝑄𝑃𝑅 : Capacidade de carga total do radier
uma solução superficial para a fundação de uma estaqueado.
obra e, caso tal proposta não venha a satisfazer 𝑄𝑅 : Capacidade de carga apenas do radier.
critérios tais como resistência geotécnica última, 𝑄𝑃𝐺 : Capacidade de carga do grupo de estacas.
resistência estrutural última ou recalque
máximo, a utilização de uma fundação profunda, 3 METODOLOGIA
tais como estacas e tubulões, é quase sempre a
segunda opção (POULOS, 2001). Este trabalho se desenvolve em torno de um
A associação de elementos diferentes de caso hipotético de 1 silo de armazenamento com
fundação (superficiais e profundos), unidos formato circular e diâmetro individual de 32,37
muitas vezes em decorrência da própria metros, com laje de fundo apresentando
metodologia executiva de cada uma destas espessura de 15 cm. O silo quando em sua
soluções, ainda é ignorado por muitos projetistas capacidade total, é capaz de armazenar 12000
devido ao fato destes grupos contarem com toneladas.
mecanismos de transferência de carga distintos o A proposta aqui apresentada consiste em
que torna muito difícil de se prever o verificar o comportamento do silo para a laje em
comportamento do elemento de fundação bem contato direto com o solo, sem estacas, com uma
como de se elaborar o projeto. Essa condição posterior análise paramétrica, constando com a
muitas vezes não garante um conforto adequado adição de 48, 76, 96, 116, 140 e 172 estacas ao
para o projetista efetivamente levar em conta o longo de sua laje, cada uma com 20 metros de
impacto dessas interações, por mais que muitas comprimento, 35 centímetros de diâmetro e do
vezes elas atuem no sentido de aumentar o fator tipo hélice contínua.
de segurança do projeto. A análise paramétrica desenvolvida tem por
Dessa maneira, soluções que levavam em objetivo prever o comportamento de toda a
consideração a colaboração tanto de elementos estrutura de armazenamento quanto a capacidade
de fundação superficial quanto de elementos de vertical última e capacidade de resistência ao
fundação profunda, seja na resistência a carga da momento fletor última.
estrutura seja na redução do recalque, passaram Utilizou-se para estimativa dos parâmetros de
a ser desenvolvidas e aplicadas, sendo resistência das estacas, radier e solo, uma
referencias pelos termos “Sapata Estaqueada” ou sondagem feita por uma empresa privada, na
“radier Estaqueado”. cidade de São-Félix do Araguaia - MT, na qual
A forma mais efetiva de ser utilizar radiers há a presença de diversos complexos de
estaqueados acontece quando o elemento armazenamento, como forma de simular um
superficial, o radier, pode garantir uma possível caso aplicado, desta forma, a geotecnia
resistência geotécnica e estrutural capaz de local consistiu em:
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• Camada de areia siltosa pouco arenosa avaliado quanto a sua capacidade de resistir aos
média de cerca de 10 metros de espessura, com acréscimos de pressão impostos pelos silos.
SPT médio de 5, variando entre 4 e 8; Dentre os dados obtidos nos relatórios
• Camada de argila arenosa pouco siltosa técnicos apresentados, foi observado que no
rija de cerca de 5 metros de espessura com SPT primeiro metro de solo subjacente aos silos 1 a 4
médio de 16, variando entre 11 e 23; foi desenvolvida uma pressão de 160 kPa ao
• Camada de areia argilosa pouco siltosa longo da primeira safra. Garante-se então, que o
compacta de cerca de 2 metros de espessura com primeiro metro de solo seja capaz de suportar
SPT igual a 23. Esta é a camada de suporte das essa pressão.
estacas hélice contínuas (comprimento 20 Dessa maneira, é possível calcular a relação
metros) executadas para sustentação do anel do entre o 𝑐𝑢 e 𝑁𝑆𝑃𝑇 da primeira camada do solo e
silo e do túnel; verificar se ela se encontra dentro dos limites
• Camada de areia argilosa pouco siltosa propostos por Mello (1971).
compacta de cerca de 5 metros de espessura com
SPT médio de 30, variando entre 26 e 35; 6𝑐𝑢 = 160 𝑘𝑃𝑎 (2)
• Camadas intercaladas de areia fina: cerca
𝑐𝑢 = 26,67 𝑘𝑃𝑎 (3)
de 5 metros de areia fofa com SPT médio de 4;
cerca de 7 metros de areia compacta com SPT 𝑐𝑢 26,67
= = 15,68 < 20 (4)
médio de 23 e cerca de 3 metros de areia muito 𝑁𝑆𝑃𝑇 1,7

compacta com SPT superior a 40;


• Impenetrável ao trépano de lavagem em Logo, é possível observar que todos os dados
cerca de 40 metros abaixo do nível original do estão dentro dos padrões previstos na literatura.
terreno; Para fins de cálculo e de se abordar a situação
• O nível de água foi localizado em cerca mais crítica, a relação 𝑐𝑢 /𝑁𝑆𝑃𝑇 será arredondada
de 13 metros abaixo do nível natural do terreno. para uma unidade acima do calculado, resultado
𝑐𝑢 /𝑁𝑆𝑃𝑇 = 16. Assim, refaz-se o cálculo e se
3.1 Capacidade de Carga Vertical Última obtém que 𝑐𝑢 = 16 ∗ 1,7 = 27,2 𝑘𝑃𝑎. Portanto,
a capacidade de carga última do radier será de
A capacidade de carga vertical última do 6 ∗ 𝑐𝑢 = 6 ∗ 27,2 = 163,2 𝑘𝑃𝑎.
radier pode ser assumida como 6𝑐𝑢 em que 𝑐𝑢 Sabendo que o diâmetro de cada silo é de
corresponde a coesão não drenada do solo. 32,37 metros, é possível calcular a capacidade de
Essa expressão foi utilizada devido ao fato do carga última do radier em termos de
solo do local ser predominantemente fino e pela carregamento:
característica do carregamento de silo de ser 32,372
extremamente rápido, além de considerar a 𝐴𝑟 ∗ 163,2 = ∗ 163,2 = 42750,9 𝑘𝑁(5)
4
situação de saturação, pois é a mais crítica. Essas
considerações foram feitas pelo fato de não se No projeto hipotético, foi previsto um
dispor de ensaios adequados, como por exemplo carregamento de 134,81 kN/m² no radier.
ensaios triaxiais, que viriam a caracterizar de Sabendo que o radier tem diâmetro de 32,37
maneira mais adequada a reação do solo ao metros, é possível calcular o carregamento total
carregamento nas diversas situações de umidade. na placa:
Para se obter a coesão não drenada do solo,
buscou-se na literatura correlações entre tal 32,372
134,81 ∗ = 34,314 𝑀𝑁
4
parâmetro e o 𝑁𝑆𝑃𝑇 . Mello (1971) admite razões (6)
𝑐𝑢 /𝑁𝑆𝑃𝑇 na ordem de até 20 unidades.
O solo apresenta sua menor resistência em sua Estes valores nos render um fator de
primeira camada. Assim, para se considerar a segurança de igual a:
pior situação, o primeiro metro do solo foi
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42,751 O método aqui utilizado para se avaliar o


𝐹𝑆 = 34,314 = 1,25 (7)
comportamento carga-recalque de um radier
estaqueado é baseado nas aproximações de
Poulos e Davis(1974) e de Randolph (1978). Os
3.2 Capacidade Resistente ao Momento seguintes aspectos são incluídos:
Fletor
a) Estimativa do carregamento
A capacidade resistente a momento de um compartilhado entre o radier e as estacas
radier pode ser estimada pela proposta de utilizando-se da solução de Randolph;
Meyerhof (1953), expressa na seguinte b) Relação carga-recalque hiperbólica para
formulação por Lee (1965): os pilares e para o radier.
1
𝑀𝑢𝑟 27 𝑉 𝑉 2 Um carregamento 𝑉 sobre um radier
= ∗ 𝑉 ∗ [1 − (𝑉 ) ] (8)
𝑀𝑚 4 𝑢 𝑢 estaqueado mobiliza as estacas e o radier até o
ponto 𝑉𝐴 onde a partir daí as o radier passa a
Em que: receber todo o restante do carregamento.
𝑀𝑚 = momento atuante que provoca a ruptura Entre 𝑉 e 𝑉𝐴 o recalque pode ser estimado por:
do terreno;
𝑉 = carga vertical aplicada; 𝑉
𝑆=𝐾 (11)
𝑉𝑢 = carga vertical última no radier quando 𝑝𝑟

não há momentos aplicados;


Considerando o carregamento unicamente na Em que:
direção X, para um radier retangular, o máximo 𝑆 = recalque do radier estaqueado;
momento 𝑀𝑚 na direção X pode ser expresso por: 𝑉 = carga aplicada;
𝐾𝑝𝑟 = rigidez axial do radier estaqueado.
𝑝𝑢𝑟 𝐵𝐿2
𝑀𝑚 = (9)
8 Após o ponto 𝑉𝐴 , um carregamento adicional
deverá ser carregado pelo radier, logo o recalque
Em que: se dará por:
𝑝𝑢𝑟 = capacidade de carga última abaixo do
radier; 𝑉 𝑉−𝑉𝐴
𝑆 = 𝐾𝐴 + (12)
B = largura do radier (direção Y); 𝑝𝑟 𝐾𝑟
L = comprimento do radier (direção X).
Em que:
O momento último contribuído pelas estacas 𝑉𝐴 = carga aplicada até o ponto de mobilização
pode ser estimado da seguinte maneira: das estacas;
𝐾𝑟 = rigidez axial do radier.
𝑝 𝑛
𝑀𝑢𝑝 ≈ ∑𝑖=1 𝑃𝑢𝑢𝑖 |𝑥𝑖 | (10)
𝑉𝐴 por sua vez pode ser estimado por:
Em que:
𝑉𝑝𝑢
𝑃𝑢𝑢𝑖 = capacidade última de estaca padrão i para 𝑉𝐴 = (13)
𝛽𝑝
tração;
|𝑥𝑖 | = distância absoluta da estaca i até o centro Em que:
de gravidade do grupo;
𝑉𝑝𝑢 = capacidade de carga última das estacas;
𝑛𝑝 = número de estacas.
𝛽𝑝 = proporção do carregamento resistido pelas
estacas.
3.3 Comportamento carga-recalque
𝐾𝑝𝑟 pode ser aproximado pelas seguintes
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expressões propostas por Randolph: 𝑉


𝑆= 𝑅𝑓𝑝 𝐵𝑝 𝑉 (22)
𝐾𝑝𝑟 = 𝑋𝐾𝑝 (14) 𝑋𝐾𝑝𝑖 (1−
𝑉𝑝𝑢
)

Para 𝑉 > 𝑉𝐴 :
𝐾
1−0,6( 𝑟 )
𝐾𝑝
𝑋≈ 𝐾
(15) 𝑆 = 𝑆𝐴 +
𝑉−𝑉𝐴
(23)
1−0,64( 𝑟 ) 𝑅𝑓𝑟 (𝑉−𝑉𝑝𝑢 )
𝐾𝑝 𝐾𝑟𝑖 (1− )
𝑉𝑟𝑢
𝛽𝑝 = 1/(1 + 𝑎) (16)
0,2 𝐾𝑟
𝑎≈ 𝐾
( ) (17) Em que:
1−0,8( 𝑟 ) 𝐾𝑝
𝐾𝑝
𝑉𝐴
𝑆𝐴 = 𝑋𝐾 (24)
Assumindo que as relações carga-recalque 𝑝𝑖 (1−𝑅𝑓𝑝 )

das estacas e do radier são hiperbólicas, então a


rigidez das estacas (𝐾𝑝 ) e do radier (𝐾𝑟 ) podem Pelo fato de 𝐾𝑟 e 𝐾𝑝 variarem com o
ser expressas por: carregamento, os parâmetros 𝑋 e 𝛽𝑝 também
devem variar. Dessa forma um método iterativo
𝐾𝑝 = 𝐾𝑝𝑖 (1 − 𝑅𝑓𝑝 𝑉𝑝 /𝑉𝑝𝑢 ) (18) que inicia-se com as rigidez iniciais (sem
𝐾𝑟 = 𝐾𝑟𝑖 (1 − 𝑅𝑓𝑟 𝑉𝑟 /𝑉𝑟𝑢 ) (19) aplicação de carga) é necessário para aproximar-
se da situação de aplicação de carga.
Em que:
𝐾𝑝 = rigidez axial do grupo de estacas; 4 RESULTADOS
𝐾𝑟 = rigidez axial do radier;
4.1 Capacidade de Carga Vertical Última
𝐾𝑝𝑖 = rigidez tangente inicial do grupo de estacas;
𝐾𝑟𝑖 = rigidez tangente inicial do radier; A capacidade de carga vertical última da
𝑅𝑓𝑝 = fato hiperbólico do grupo de estacas; composição radier estaqueado foi obtida pela
𝑅𝑓𝑟 = fator hiperbólico do radier; adição da capacidade de carga do radier (Eq. 5)
𝑉𝑝 = carregamento resistido pelas estacas; e a capacidade de carga unitária de cada estaca
𝑉𝑟 = carregamento resistido pelo radier; obtida pelos métodos tradicionais da literatura
𝑉𝑝𝑢 = carregamento último resistido pelas multiplicada pelo número de estacas de cada
estacas; configuração.
𝑉𝑟𝑢 = carregamento último resistido pelo radier;
Tabela 1 - Fator de Segurança para Carga Vertical
Número de estacas Carga vertical Fator de
O carregamento resistido pelas estacas é dado
última (MN) segurança
por: 0 42,75 1,25
48 70,24 2,05
𝑉𝑝 = 𝛽𝑝 𝑉 ≤ 𝑉𝑝𝑢 (20) 76 86,28 2,51
96 97,73 2,85
116 109,19 3,18
O carregamento resistido pelo radier é: 140 122,93 3,58
172 141,26 4,12
𝑉𝑟 = 𝑉 − 𝑉𝑝 (21)

Assim, interrelacionando as equações (13) a 4.2 Capacidade Resistente ao Momento


(21) as seguintes relações podem ser Fletor
encontradas:
Já a capacidade resistente ao momento fletor
Para 𝑉 ≤ 𝑉𝐴 : foi obtida considerando a contribuição do radier
sem estacas somada a contribuição de cada uma
das estacas (Eq. 8 e 10, respectivamente)
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30 721,78 46
Tabela 2 - Momento último do radier. 40 476,82 117
Número de estacas Momento último do 50 266,83 224
radier (MN.m) Com a variação do número de estacas obtem-
0 3117,95 se hipérboles que representam o aumento da
48 5523,49 rigidez do sistema junto ao aumento do número
76 5403,46
96 5200,32
de estacas e, consequentemente, a diminuição do
116 4970,60 recalque experimentado para um mesmo
140 4693,24 carregamento.
172 4346,21
Tabela 6 - Recalque de um radier estaqueado com um
Tabela 3 - Contribuição das estacas para o momento dado número de estacas carregado a 50 MN.
último. Número de Recalque
Contribuição das estacas para Estacas (mm)
Número de Estacas
o momento último (MN.m) 48 223,69
48 66,84 76 75,43
76 125,72 96 23,34
96 194,15 116 21,24
116 243,48 140 19,34
140 313,50 172 17,46
172 434,44
O comportamento do recalque em relação ao
Tabela 4 - Ganho percentual do moment último com carregamento para um determinado número de
adição das estacas. estacas torma forma de uma hipérbole como
Percentual de
Momento
Ganho de
pode ser observado nos gráficos a seguir.
Número de último do radier
Resistência com
Estacas estaqueado
Adição das Estacas
(MN.m)
(%)
0 3117,95 -
48 5590,32 79,29
76 5529,18 77,33
96 5394,47 73,01
116 5214,08 67,23
140 5006,74 60,58
172 4780,65 53,33

4.2 Comportamento Carga-Recalque

O comportamento carga-recalque da
fundação relaciona-se profundamente com a
rigidez do sistema. Para um mesmo número de
estacas a rigidez do sistema diminui com o
Figura 3 - Gráfico Recalque vs Carregamento (48
aumento do carregamento e assim aumenta-se estacas)
também o recalque experimentado pela
estrutura.

Tabela 5 - Relação carregamento vs rigidez vs recalque


do sistema
Carregamento Rigidez do sistema Recalque
(MN) 𝐾𝑝𝑟 (MN/m) (mm)
0 1387,88 0
10 1141,84 7
20 979,40 13
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Figura 7 - Gráfico Recalque vs Carregamento


Figura 4 – Gráfico Recalque vs Carregamento
(140 estacas)
(76 estacas)

5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES FINAIS

O método analítico de Poulos, embora


simples, apresenta, com uma abordagem
conservadora, linhas gerais de cálculos
preliminares que são extremamente adequados e
necessários para a orientação do projetista
quando este passa a considerar a possibilidade de
se utilizar a alternativa de radier estaqueado.
Seus cálculos simples garantem agilidade sem
abrir mão da segurança em uma primeira
avaliação das capacidades resistentes da
estrutura de fundação em radier estaqueado.
A capacidade de carga vertical de um radier
Figura 5 - Gráfico Recalque vs Carregamento estaqueado superou em quase três vezes a
(96 estacas) capacidade de um radier tradicional. Já no que se
refere a capacidade de resistir a momento o
ganho máximo foi de 70%.
Esses dados corroboram a tese de que a união
entre elementos de natureza distintas, como no
caso do radier e das estacas, tem impacto
profundamente positivo nas capacidades
resistentes das estruturas de fundação.
No que se refere à rigidez do sistema, fica
claro que a adição de estacas aumenta a rigidez
da estrutura o que colabora para a redução dos
recalques experimentados pelo conjunto.

REFERÊNCIAS
Figura 6 - Gráfico Recalque vs Carregamento
(116 estacas) Lee, I. K. (1965) Foundations subject to moment. Proc.
6th. Int. Conf. Soil Mech. Foundn Engng. Montreal, 2,
p 108 – 112.
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Mandolini, A. (2003) Design of Piles Raft Foundations:


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Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade de Brasília.
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Análise de Prova de Carga Estática com Célula Hidrodinâmica


Bidirecional-Arcos x Métodos Semi-Empíricos de Estimativa de
Capacidade de Carga
Caio Araujo Marinho
Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, caio.araujo.marinho@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Higor Pena Coelho


Geominas, Paraupebas, Brasil, higor@geominasgeo.com.br

Thiago Brienne Gonçalves Gomes


Geominas, Paraupebas, Brasil, thiago@geominasgeo.com.br

Sabrina Andrade Rocha


Geominas, Paraupebas, Brasil, sabrina@geominasgeo.com.br

Flávio Luiz de Carvalho


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, flaviocs.sl@gmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise comparativa entre os
principais métodos semi-empíricos de estimativa de carga de ruptura com os resultados obtidos em
uma prova de carga bidirecional. A fundação estudada é do tipo estaca escavada, e os ensaios
realizados para as referidas estimativas de carga de ruptura foram o ensaio pressiométrico de
Ménard (PMT) e o ensaio de sondagem de simples reconhecimento (SPT). Após o processamento
dos dados, avaliou-se as cargas de ruptura obtidas pelos métodos semi-empíricos e comparou-se
com os resultados obtidos através da curva ajustada da prova de carga bidirecional. Os resultados
obtidos nos métodos semi-empíricos, mostraram uma variabilidade, alternando entre 49,5% a
100,9%, quando comparados com o valor obtido pelo critério de carga de ruptura vinculado a prova
de carga, sugerido pela NBR 6122.

PALAVRAS-CHAVE: Célula Expansiva Hidrodinâmica Bidirecional-Arcos, Capacidade de Carga,


Métodos Semi-Empíricos, Prova de Carga Bidirecional.

1 INTRODUÇÃO estabelecer cargas de trabalho por se aproximar


das condições em que a fundação será
A realização de provas de carga estática é de submetida (HACHICH et al., 1998).
fundamental importância para o Como alternativa à prova de carga estática
desenvolvimento de projetos de fundação, convencional, que necessita de um sistema de
sendo o mais preciso e confiável método para reação externo, oneroso em custo e energia, o
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ensaio de prova de carga estática com célula


expansiva hidrodinâmica bidirecional Arcos,
proposto pelo Engenheiro Pedro Elísio Chaves
A. F. da Silva e divulgado em Da Silva (1983)
vem sendo adotado desde a década de 80 no
Brasil. Na prova de carga Bidirecional, a
aplicação de carga se dá pela expansão de uma
célula de sacrifício hidrodinâmica posicionada
ao longo da estaca, que ao ser acionada,
solicitará o fuste superior à célula com uma Figura 1. Localização do Campo experimental.
tensão que reagirá contra a parte inferior da
estaca, eliminando a necessidade de complexos 2.2 Análise Geológica Geotécnica
sistemas de reação externo (DA SILVA, 1983).
Neste contexto e com base nessas discussões, O campo experimental foi submetido à
o presente trabalho tem por objetivo trazer investigação geológica geotécnica para
contribuições ao meio geotécnico apresentando caracterização de seu solo. A análise do solo foi
uma análise comparativa entre os principais baseada no ensaio pressiométrico de Ménard, de
métodos semi-empíricos propostos para cálculo acordo com a norma americada ASTM D4719
de carga de ruptura geotécnica via ensaio (2007), e no ensaio de sondagem de simples
pressiométrico de Ménard (PMT) e ensaio de reconhecimento a percussão, conforme NBR
sondagem de simples reconhecimento (SPT) 6484 (ABNT, 2001).
com o resultado obtido pelo ensaio de prova de Da sondagem de simples reconhecimento a
carga bidirecional. percussão, foram recolhidas amostras a cada
Para análise dos métodos semi-empíricos, foi metro de profundidade, para testes
executado um SPT e um PMT no campo complementares de identificação do solo como
experimental, sendo estes ensaios próximos à teste de sujar as mãos, resistência do solo seco
estaca ensaiada pela prova de carga na forma de torrão e dispersão em água.
bidirecional.
Após o processamento dos dados, comparou- 2.3 Estaca Teste Bidirecional
se a carga de ruptura calculada pelos métodos
semi-empíricos com a carga de ruptura obtida A Estaca Teste Bidirecional (E3) foi escavada
através da curva ajustada da prova de carga com o uso de um trado mecânico portátil de
bidirecional. As análises foram realizadas diâmetro 0,15 m até a profundidade de 6,15 m,
levando-se em consideração a estaca como um disposta no campo experimental conforme a
elemento único. Figura 2.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Campo Experimental

O objeto de estudo encontra-se em um campo


experimental, destinado a pesquisas e estudos
geotécnicos, situado na Universidade Federal de
São João Del Rei, Campus Alto Paraopeba,
localizado no km 7 da rodovia MG 433, da
cidade de Ouro Branco – MG, como destacado
na Figura 1. Figura 2. Disposição das estacas no campo experimental
(cm)
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A posição de projeto da célula expansiva como a força aplicada sobre o elemento de


hidrodinâmica – Arcos foi calculada buscando o fundação que não provoca seu colapso ou o
equilíbrio entre a resistência por atrito lateral do escoamento do solo que lhe confere
fuste superior e a resistência do segmento sustentação. A estimativa da carga de ruptura
inferior, possibilitando uma reação em engenharia de fundações pode ser
aproximadamente igual para porção superior e determinada através de prova de carga,
inferior da estaca. Assim, determinou-se a aferindo-se diretamente o comportamento do
instalação da célula a uma distância de 3,70 m elemento de fundação pela interpretação das
do topo e 2,45 m da base da estaca, de acordo curvas carga x recalque, ou por métodos semi-
com a Figura 3. empíricos nos quais as propriedades do solo são
obtidas por correlações entre parâmetros
encontrados via ensaios de campo ou métodos
teóricos.

2.4.1 Prova de Carga Bidirecional

A prova de carga bidirecional foi executada


pelo método de carregamento rápido, proposto
pela NBR 12131 (ABNT, 2006).
O ensaio consiste basicamente na aplicação
de carga pela célula expansiva hidrodinâmica,
que ocorre via pressurização do fluído
hidráulico, que solicita o segmento superior à
célula (fuste), fazendo-o reagir contra o
segmento inferior (parcela do fuste abaixo da
célula e ponta). Essa solicitação ocorre por
forças iguais, porém, de sentido contrário.
Durante o ensaio, foram atingidos 28
estágios de carregamento, sendo cada estágio
Figura 3. Esquematização da estaca E3.
igual a 1tf. Inicialmente, a ruptura geotécnica
foi observada pelo grande deslocamento do
A argamassa utilizada foi homogeneizada em
segmento inferior da estaca. Depois, observou-
betoneira e lançada ao pré-furo de forma
se uma abrupta ruptura do segmento superior da
manual. Optou-se pelo uso da argamassa em
estaca, caracterizado por um grande
função das condições de lançamento, uma vez
deslocamento. Para a etapa de descarregamento,
que a estaca possuí altura relevante e pequeno
foram realizados 5 estágios, sendo 5,6 tf cada
diâmetro.
estágio.
O traço escolhido para argamassa foi o
Os níveis de carga foram controlados por
mesmo usado em estacas raiz: AF1 – C600,
manômetro analógico e bomba hidráulica
proposto por VERNÂNCIO (2008), sendo o
manual. O macaco hidráulico escolhido para o
cimento usado CP2 – E32 e o agregado miúdo
ensaio foi o de carga de ruptura de 30 tf.
areia fina AF1. O traço confere resistência à
O ensaio foi instrumentado por dois tell-tales
compressão de 22 MPa, prevista aos 28 dias.
(testemunhos) e três relógios comparadores de
0,01mm de precisão. Os relógios comparadores
2.4 Estimativa da Carga de ruptura
foram posicionados sobre o topo da estaca e
sobre os tell-tales, que estavam fixados ao topo
Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2010) a carga de
e à base da célula expansiva hidrodinâmica
ruptura de uma fundação profunda é definida
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Arcos. Os deslocamentos do segmento inferior baseados em correlações empíricas com


foram aferidos através de um tell-tale conectado resultados de ensaios in situ. Assim sendo,
à base da célula. Os deslocamentos da porção foram analisados métodos consagrados de
superior da estaca foram medidos através do predição de capacidade de carga via ensaio
movimento ascendente do fuste, sendo medidos PMT, incluindo os desenvolvidos pelos autores
por um tell-tale conectado à parte superior da Ménard (1963), Bustamante e Gineselli (1981)
célula e um relógio comparador posicionado e Baguelin et al. (1978). Já para o ensaio de
diretamente no topo da estaca. simples reconhecimento de solo, tipo SPT,
O sistema de aferição dos deslocamentos está foram usados os métodos propostos por Velloso
representado na Figura 4. (1981), Teixeira (1996), Decourt e Quaresma
(1978), Aoki e Velloso (1975), Monteiro
(1997).
Os métodos semi-empíricos de estimativa de
capacidade de carga foram desenvolvidos e
aperfeiçoados para corroborar com a
metodologia de prova de carga. Assim sendo,
para comparação quantitativa entre a prova de
carga bidirecional e os métodos semi-empíricos,
dividiu-se a estaca em um segmento superior à
célula expansiva hidrodinâmica, tendo um
comportamento de um fuste isolado, isto é,
apenas contribuição da resistência por atrito
lateral, e por um segmento inferior à célula,
Figura 4. Relógios comparadores utilizados para medir os sendo interpretado como uma estaca
deslocamentos do segmento inferior, fuste e topo da convencional, possuindo resistência por atrito
estaca, ordenados da esquerda para direita.
lateral e pela ponta.
Também neste trabalho, procurou-se um
Os valores aferidos durante a instrumentação
valor de carga de ruptura representativo,
do ensaio de prova de carga bidirecional
englobando todos os resultados calculados
necessitam de correção diante do peso próprio
através dos métodos semi-empíricos, tal fato
dos segmentos da estaca. Nas cargas corrigidas,
tem a finalidade de comparar o referido valor
o peso flutuante do segmento superior foi
com o obtido no gráfico de prova de carga bi-
descontado das cargas mobilizadas para o fuste,
direcional ajustada. Para tanto, foi proposto um
no carregamento ascendente. No segmento
valor mínimo estatístico para o cálculo da carga
inferior, acrescentou-se o peso próprio referente
de ruptura, para o universo de métodos
à parcela da estaca abaixo da célula expansiva
consagrados, utilizando a metodologia de
hidrodinâmica.
“Distribuição t de Student”, com nível de
O gráfico da curva x recalque final, no qual
confiança de 95% para suporte ao estudo.
avalia-se o comportamento da estaca, é
conhecido como curva ajustada. Esse gráfico é
3 RESULTADOS
obtido através do somatório das cargas que
provocam os mesmos recalques do fuste e da
3.1 Investigação Geológica Geotécnica
ponta da estaca (DA SILVA, 1983)
Na Tabela 1 estão apresentados os resultados
2.4.2 Métodos Semi-Empíricos
para o ensaio pressiométrico de Ménard (PMT)
já corrigidos.
Segundo Cintra (2010), os métodos de previsão
de capacidade de carga em fundações podem ser
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Tabela 1. Resultados do ensaio PMT.


Cota 1m 2m 3m 4m 5m
P0 (kPa) 1.00 73.08 43.15 0.44 30.68
V0 (cm³) 197.48 52.65 97.65 49.91 42.83
Pf (kPa) 444.20 746.40 453.94 611.49 806.87
Vf (cm³) 391.24 183.55 182.82 179.64 138.97
Pl (kPa) 818.35 1006.40 971.26 902.87 1101.99
Em (MPa) 18.02 22.03 20.14 18.04 25.51
Em/Pl 22.02 21.89 20.74 19.99 23.15
Pl/Pf 1.84 1.35 2.14 1.48 1.37

Com o ensaio de sondagem de simples


reconhecimento a percussão tipo SPT obteve-se
Figura 5. Curva carga x deslocamento – Prova de carga
os resultados apresentados na Tabela 2. Bidirecional

Tabela 2. Resultados do ensaio SPT.


Também se pode obter a curva ajustada,
Profundidade (m) NSPT 30 cm Tipo de solo
1 19 MSCmc somando-se as cargas referentes aos mesmos
2 11 MSCm deslocamentos, obtidos na prova de carga. De
3 8 MSCm posse desses dados, pode-se desenhar um
4 8 MSCm gráfico carga x deslocamento final para a estaca
5 7 MCSm
E3, conforme mostrado na Figura 6.
6 93 MCSm

Sendo S – areia, M – silte, C - argila, m –


marrom e c – claro.

3.2 Prova de Carga Bidirecional

A carga atingida no último estágio da prova de


carga bidirecional e os valores correspondentes
corrigidos estão dispostos na Tabela 3.

Tabela 3. Cargas no estágio final da prova de carga.


Carga (tf)
Elemento
Aplicada Corrigida
Segmento Superior 14,00 13,90 Figura 6. Curva Ajustada carga x deslocamento – Prova
Segmento Inferior 14,00 14,11 de carga Bidirecional
Total 28,00 28,01
Através da curva ajustada do gráfico
Com os resultados tratados dos estágios de carga x deslocamento e com o auxílio do
carregamento e descarregamento da prova de método de previsão de carga de ruptura da NBR
carga, é possível traçar o gráfico 6122, encontrou-se um valor de 27,4 tf para
carga x deslocamento da prova de carga carga de ruptura.
bidirecional, sendo uma curva
carga x deslocamento do fuste da estaca e uma 3.3 Estimativa da Carga de ruptura por
curva carga x deslocamento para a ponta da Métodos Semi-Empíricos
estaca, demonstrado na Figura 5.
Os resultados, calculados pelos métodos
semi-empíricos de carga de ruptura, analisando
a estaca como uma peça inteiriça estão
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representados na Tabela 4. 4 DISCUSSÕES

Tabela 4. Estimativas de carga de ruptura obtidas por O campo experimental apresenta um horizonte
métodos semi-empíricos para estaca inteiriça. de solo silto arenoargiloso até a cota 4 m e um
Métodos Qponta (tf) Qfuste (tf) Qult (tf) horizonte de solo silto argiloarenoso, sendo este
Aoki e Velloso 5,25 8,30 13,55 alcançado apenas pela sondagem de simples
Décourt e Quaresma 5,29 8,55 13,85
reconhecimento.
Monteiro 5,60 15,96 21,56
Os valores do NSPT indicam uma diminuição
Teixeira 6,93 19,90 26,84
no índice de resistência à penetração dinâmica
Velloso 12,93 14,38 27,31
Ménard 3,22 20,26 23,48
até a cota de 5 m, a partir desse ponto
Bustamante e encontrou-se uma camada de alta resistência.
2,79 21,52 24,31 Ao tratar os dados da prova de carga
Gineselli
Baguelin et al. 3,38 24,28 27,66 bidirecional Arcos, observa-se uma variação
insignificante na carga aplicada proveniente do
A Tabela 5 mostra os dados do tratamento peso próprio dos elementos da estaca, para os
estatístico, considerando como universo a carga níveis de cargas aplicadas, como previsto em
de ruptura da estaca admitida como inteiriça. Alves (2014).
Pela Figura 5 é possível observar que uma
Tabela 5. Tratamento estatístico para os resultados das mesma carga aplicada gera deslocamentos
estimativas de carga de ruptura. diferentes para o segmento inferior e superior à
Qmed Qproj
Segmento (tf)
S t0,95
(tf) célula expansiva hidrodinâmica, ou seja, a curva
E3 22,32 5,72 1,42 19,45 x recalque mostra uma maior rigidez do
segmento superior em relação ao segmento
De posse de todos resultados de carga de inferior da estaca, a menor rigidez do segmento
ruptura calculados pelos métodos semi- inferior pode ser associada ao processo
empíricos e resultado obtido pelo tratamento executivo, uma vez que não se procedeu com a
estatístico, pode-se fazer um comparativo com a limpeza da base do furo da estaca. Esse
carga de ruptura obtida através da curva comportamento, também indica um mau
ajustada. Os resultados estão demonstrados na posicionamento da célula de sacrifício. Sendo
Tabela 6. assim, a determinação do posicionamento da
célula na estaca, é de suma importância para
Tabela 6. Comparativo entre carga de ruptura da curva que o ensaio bidirecional não se distancie, em
ajustada com os resultados obtidos pelos métodos semi- termos de previsão de comportamento carga x
empíricos.
recalque, dos resultados obtidos em ensaios
Qult,NBR
Método Qult (tf)
(tf)
Qult/Qult,NBR convencionais.
Aoki e Velloso 13,55 0,495 Conforme demosntrado na Tabela 6, os
Décourt e resultados estimados para carga de ruptura pelos
13,85 0,505
Quaresma métodos semi-empíricos, utilizando o SPT,
Monteiro 21,56 0,787 apresentaram similaridade, quando comparados
Teixeira 26,84 0,980 ao valor obtido pela curva ajustada.Vale
Velloso 27,31 27,4 0,997 ressaltar que método proposto por Velloso
Ménard 23,48 0,857 (1981) apresentou uma aproximação de 99,7 %
Bustamante e do valor da carga de ruptura obtida pela curva
24,31 0,887
Gineselli ajustada. Já o método Aoki e Velloso (1975)
Baguelin et al. 27,66 1,009 apresentou o resultado mais conservador, ou
E3 19,45 0,710 seja, igual a 49,5 % do valor da carga de ruptura
obtida pela curva ajustada.
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Analisando os resultados obtidos via ensaio REFERÊNCIAS


PMT, observou-se que os métodos tiveram uma
boa aproximação dos valores obtidos para Alves, D. F. (2014). estudo da previsão da carga de
previsão de estimativa de carga, destacando um ruptura de estacas pré-moldadas de concreto.
Dissertação de Mestrado. Natal-RN.
valor ligeiramente superior à carga de ruptura American Society For Testing and Materials – ASTM
calculado pelo método proposto por Baguelin et D4719-07. (2007). Standard test method for
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O valor representativo de carga de ruptura, Aoki, N. Velloso, D. A (1975). An approximate method
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AMERICAN CSMFE, Buenos Aires.
Studant, para os valores obtidos pelos métodos Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
semi-empíricos, também se aproximaram com o 6122:2010. Projeto e execução de fundações.
valor obtido pela prova de carga, haja vista, que Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
o mesmo diferenciou-se em menos de 30% do 12131:2006. Estacas – Prova de carga estática –
valor da carga de ruptura obtida pelo gráfico da Método de ensaio.
Baguelin, F.; Jézequel, J.F.; Shields, D. H. (1978). The
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Bustamante, M.; Gianeselli, L. (1981). Observed and
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axial loads. Pressuremeter Method, Rev. Fr. Geotech,
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Os resultados estimados para carga de ruptura Cintra, J.C.A.; Aoki, N. (2010). Fundações por estacas :
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os parâmetros obtidos no ensaio SPT quanto no Textos.
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Monteiro, P. F. (1997). Capacidade de carga de estacas
AGRADECIMENTOS – método Aoki-Velloso. Relatório interno de Estacas
franki Ltda
Os autores prestam agradecimento à Arcos – Teixeira, A. H. (1996). Projeto e execução de fundações.
Engenharia de Solos, ao Grupo de Pesquisa In: SEFE, 3, 1996, São Paulo. Anais, São Paulo.
INFRAGEO – Infraestrutura de Vias Terrestres Velloso, P.P.C. (1981). Estacas em solo: dados para
estimativa do comprimento. Ciclo de Palestras sobre
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Departamento de Tecnologia em Engenharia Janeiro.
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Universidade Federal de São João Del-Rei - Estaca Raiz. Dissertação de Mestrado em Estrutura e
Campus Alto Paraopeba. Construção Civil, Publicação E.D.M – 013 A/08,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental de
Brasília, Braasília, DF, 175p.
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Análise de Prova de Carga Estática em Estaca Escavada a


Trado Mecânico Executada na Formação Barreiras na Cidade
de João Pessoa – PB
Safyra Hadassa Alves Gurgel
UNIPÊ, João Pessoa – PB, Brasil, eng.safyragurgel@gmail.com

Wilson Cartaxo Soares


UNIPÊ, João Pessoa – PB, Brasil, wilson.soares@unipe.br

Ewerton Felipe de França Oliveira Andrade


UNIPÊ, João Pessoa – PB, Brasil, ewertonffoa@gmail.com

Gabriel Victor Barbosa Meireles


UNIPÊ, João Pessoa – PB, Brasil, v.gabrielmeireles@gmail.com

Hallexssandryne Drihelly Gomes do Nascimento


UFCG, Campina Grande – PB, Brasil, drihellygomes@hotmail.com

RESUMO: A capacidade de carga de uma fundação profunda pode ser encontrada por meio de
métodos teóricos, semi-empíricos (Aoki-Velloso 1975, Décourt-Quaresma 1978 e Teixeira 1996) e
prova de carga, de acordo com a NBR 6122/2010. O resultado da prova de carga nem sempre
apresenta uma ruptura nítida, assim, sua interpretação pode ser feita com uma extrapolação da
curva carga x recalque. Este trabalho analisou resultados de uma prova de carga estática realizada
em estaca escavada à trado mecânico, na cidade de João Pessoa – PB, no contexto da Formação
Geológica Barreiras. Estimou-se a capacidade de carga da fundação por métodos semi-empíricos e
comparou-se com os resultados da prova de carga, através dos métodos de extrapolação de Van der
Veen modificado por Aoki (1976) e Rigidez de Décourt (1996, 2008), que permite identificar as
parcelas de resistências da estaca, ponta e lateral. A análise mostra que o método de Aoki-Velloso
estimou os valores mais próximos em relação ao atrito lateral unitário, com 7,1%, e em relação à
resistência de ponta unitária, verificou-se que a estaca não mobilizou toda sua resistência,
apresentando valores menores que o projetado.

PALAVRAS-CHAVE: Prova de Carga Estática, Estaca Escavada, Método da Rigidez de Décourt.

1 INTRODUÇÃO definida a carga de ruptura. Quando isso não é


possível existem métodos que conseguem
Um dos grandes desafios da engenharia através de análises estipular esse valor, como é
geotécnica é a determinação, de forma prática e o caso do Método da Extrapolação de Van der
acessível, da capacidade de carga de uma Veen, o critério da NBR 6122/2010 e o Método
fundação por estacas. Dentre os métodos da Rigidez de Décourt, sendo esse capaz de
utilizados para tal, a prova de carga estática se determinar também o domínio das parcelas de
destaca por ser o mais eficiente. Esse ensaio resistência do atrito lateral e de ponta. Pode-se
resulta em um gráfico carga x recalque, onde é optar também pelos semi-empíricos, que são
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métodos de estimativa da capacidade de carga A execução do ensaio obedece aos passos


baseados nas características do solo no tipo de estabelecidos na NBR 12131/2006. A
elemento de fundação escolhido. aparelhagem está exemplificada na Figura 1.
Este trabalho analisou os resultados de uma (CINTRA et al, 2013).
prova de carga estática realizada em uma estaca A determinação da carga admissível da
escavada a trado mecânico localizada na estaca é feita levando em consideração os
Formação Barreiras, em de João Pessoa – PB. seguintes fatores (ABNT NBR 6122, 2010):
I. características geomecânicas do subsolo;
2 GEOLOGIA DA CIDADE DE JOÃO II. posição do nível d'água;
PESSOA – PB III. geometria do elemento de fundação;
IV. recalques admissíveis; etc.
João Pessoa está localizada no extremo leste do Para as estacas, deve ser determinada a partir
estado da Paraíba, sendo conhecida como o da carga de ruptura, que pode ser definida por
ponto mais oriental das Américas. meio de procedimentos determinados na NBR
No contexto geológico, João Pessoa está 6122 (ABNT, 2010), como a Prova de Carga,
inserida na Bacia Paraíba, que é parcela da Métodos Estáticos, a partir do Estado de
Bacia Paraíba-Pernambuco. Serviço, Métodos Dinâmicos, Fórmulas
Mais de 70% da área do município pertence Dinâmicas e Ensaios de Carregamento
à Formação Barreiras, constituída de material Dinâmico.
heterogêneo, formado por argilas coloridas,
arenitos avermelhados, com níveis de argilito e 3.1 Ruptura
conglomerátidos, de matrizes arenosas
(MARTINS, 2006; MELO et al., 2001). A ruptura é caracterizada ao atingir a
resistência máxima do sistema estaca-solo é, ou
3 PROVA DE CARGA ESTÁTICA a capacidade de mobilizar resistência é
esgotada. Os tipos de ruptura são: física, nítida
A prova de carga é um ensaio direto realizado e convencional (CINTRA et al. 2013).
in situ e consiste em simular um esforço real
sobre um determinado solo para que se possa 3.1.1 Ruptura Nítida
conhecer qual a sua capacidade resistente. A
NBR 6122 (ABNT, 2010) lista como principal Ocorre quando os recalques são incessantes,
objetivo da prova de carga a avaliação da sendo necessário interromper o ensaio. A
deformação e da resistência do solo devido ao capacidade de carga corresponde ao trecho
efeito de um carregamento. vertical da curva, sem necessidade de
interpretações (Figura 2) (CINTRA et al. 2013).
Para a NBR 6122 (ABNT, 2010), a ruptura
nítida é caracterizada pela deformação contínua
sem incrementos de carga.

Figura 1. Sistema de reação composto por estacas ligadas Figura 2. Curva representando uma Ruptura Nítida.
a viga de reação (CINTRA et al. 2013). (CINTRA et al. 2013).
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3.1.2 Ruptura Física

No conceito de Cintra et al. (2013), a ruptura


não é atingida durante o carregamento, mesmo
a curva apresentando recalques elevados. É
necessário então, utilizar métodos de
extrapolação para determinar a carga de ruptura
física. A parte extrapolada apresenta um
formato vertical decrescente e a capacidade de
carga é determinada pela assíntota vertical à Figura 4. Critério de Ruptura Convencional (CINTRA et
al. 2013).
parte extrapolada do gráfico (Figura 3).
Esse é o conceito em que as análises deste
4 MÉTODOS DE EXTRAPOLAÇÃO
trabalho estão embasadas.
A interpretação de curvas carga x recalque que
apresentam ruptura física, pode ser avaliada
com base na sua extrapolação, sendo os
métodos mais utilizados o de Van der Veen
modificado por Aoki (1976) e o da Rigidez de
Décourt (1996, 2008).

4.1 Método de Extrapolação de Van der Veen


Figura 3. Curva representando uma Ruptura Física
(CINTRA et al. 2013)..
Van der Veen, em 1953, propôs um método que
se baseia na utilização de uma função
A NBR 6122/2010 explica como deve ser
exponencial para definir a curva mostrada na
avaliada a ruptura a partir de um gráfico com as
Figura 5:
características da Figura 3, em que podem ser
utilizados métodos de extrapolação e/ou de uma (2)
ruptura convencional.
Para a NBR 6122 (ABNT, 2010) a ruptura P → Carga atuante na ponta da estaca;
pode ser convencionada quando a estaca é R → Carga de Ruptura;
carregada até apresentar recalques elevados, α → Coeficiente que define a forma da curva,
mas que não configurem uma ruptura nítida, e é que depende das características do solo;
determinada pela carga correspondente ao  → recalque caudado por R.
recalque obtido pela equação (1), como
mostrado na Figura 4:

(1)

Onde,
 → recalque de ruptura convencional;
P → carga de ruptura convencional;
L → comprimento da estaca;
A → área da seção transversal da estaca;
E → módulo de elasticidade; Figura 4. Curva carga x recalque de Van der Veen (1953)
D → diâmetro da estaca. (CINTRA et al. 2013).
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O valor de ɑ pode ser definido a partir da determinar o intervalo de atrito lateral e a


modificação da equação (2) aplicando base parcela de resistência de ponta (MELO, 2009).
logarítmica:

(3)

A curva é determinada por meio de


tentativas, a partir dos pontos (P;), seguindo a
equação , onde busca-se variar os
valores de R para encontrar valores de  que
mais se aproximem de uma reta. A curva com o
melhor coeficiente de correlação R²,
proporcionará a carga de ruptura do ensaio Figura 5. Gráfico de Rigidez (MELO, 2009).
(PÉREZ, 2014).
Aoki, em 1976, propôs uma melhoria na Para maiores detalhes sobre esse método,
regressão, e sugeriu uma modificação na recomenda-se consultar Melo (2009).
equação, inserido a variável “b” que representa As estacas escavadas, que praticamente não
o intercepto no eixo dos recalques da reta rompem, não evidenciam uma ruptura, podendo
obtida na escala semilogarítmica, mostrado na ser determinada por extrapolação e o gráfico de
equação a seguir (CINTRA E AOKI, 1999). rigidez apresenta um comportamento
assintótico e hiperbólico (MELO, 2009).
(4)
5 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS
4.2 Método da Rigidez de Décourt
A capacidade de carga R é dada pela equação
O Conceito de Rigidez de Décourt (1996) está (6), como mostra Cintra e Aoki (2010):
fundamentado na afirmação que a ruptura física
pode ser definida como a carga correspondente (6)
a um valor de rigidez nulo, como mostra a
Em que para método de Aoki-Velloso de
equação (5), considerando que a rigidez de uma
1975, RL é a resistência dada pelo atrito lateral,
determinada fundação diminui conforme os
dado pelo atrito lateral unitário (rL)
recalques aumentem (→ ). Chama-se de
multiplicado espessura da camada de solo (∆L)
rigidez de uma fundação a relação entre a carga
e RP é a resistência dada pela ponta que é o
aplicada (R) e o recalque () provocado por ela
valor da resistência de ponta unitária (r P)
(DÉCOURT, 1996).
multiplicado pela área da ponta (AP).

(5) (7)
(8)
Décourt (2008), baseado nesse conceito,
explica que se pode definir a ruptura e também Para Aoki-Velloso, o atrito lateral unitário
é possível utilizar esse método para determinar (rL) e a resistência de ponta unitária (r P) são
as parcelas de carga entre atrito lateral e ponta. dados por:
As informações fornecidas pela curva carga
x recalque são utilizadas para elaboração do
(9)
Gráfico de Rigidez (Figura 6). São adquiridas
por meio de uma reta entre o ponto de regressão (10)
e a carga de ruptura convencional. É possível
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O método de Décourt-Quaresma (1978) não na Figura 7 refere-se ao furo mais próximo ao


faz distinção quanto ao tipo de solo ao longo do local onde a prova de carga foi realizada.
fuste para avaliação da resistência lateral (RL) e
a capacidade de carga (R) é dada por
(DÉCOURT E QUARESMA, 1978, 1996):

(11)
(12)
(13)

Onde,
α e β → foram adicionados para englobar
outros tipos de estaca e dependem do tipo de
estaca e de solo;
rP → resistência de ponta unitária.
C → coeficiente característico do solo;
NP → NSPT da ponta;
rL → atrito lateral unitário;
NL → NSPT da lateral;

Teixeira, em 1996, elaborou um método


semelhante a uma equação que envolve dois
parâmetros, α e β, que dependem do tipo de
solo e do tipo de estaca (TEIXEIRA, 1996):

(14)
Figura 7. Sondagem SPT (Acervo da Obra).
Onde,
α e β → Parâmetros que dependem do tipo de 6.1 Prova de Carga
estaca e de solo;
NP → NSPT da ponta; As características da estaca ensaiada se
NL → NSPT da lateral; encontram na tabela a seguir:
U → perímetro;
Tabela 1. Características da estaca (Acervo da Obra).
L → comprimento da estaca.
Carga de Carga
Tipo de D
L (m) Trabalho Ensaiada
6 MATERIAIS E MÉTODOS Estaca (mm)
(MN) (MN)
Escavada 500 10,0 1,0 2,0
O estudo é baseado nos resultados mostrados a
seguir, de um teste de prova de carga realizado Onde na Tabela 1, D é o diâmetro da estaca
em uma obra de um edifício alto, comum na e L, o seu comprimento.
região onde foi construída, na Formação A carga máxima de teste planejada é de 2,0
Barreiras, na cidade de João Pessoa – PB. MN, porém durante a realização do teste
A sondagem apresentada na Figura 7 é típica atingiu-se recalques muito elevados no 9°
da formação local, em que há uma tendência do estágio e o carregamento foi encerrado, a curva
gráfico ser crescente com a profundidade. Até a carga x recalque é mostrada na Figura 8.
profundidade investigada não foi possível
identificar o nível d’água. O gráfico mostrado
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Os valores obtidos foram: a = 0,08702 mm-1,


b = 0,27580, R² = 0,98667, e assim, definida a
capacidade de carga R = 1,87 MN.

7.2 Método da Rigidez de Décourt

O método de Décourt (1996) também foi


utilizado para definir a capacidade de carga, e a
partir de sua aplicação obteve-se a extrapolação
da curva e o gráfico mostrados na Figura 10, a
partir dos pontos gerados pelo ensaio,
Figura 8. Curva carga recalque da prova de carga (Acervo mostrados na Tabela 2.
da Obra).
Tabela 2. Pontos da Curva carga x recalque.
7 ANÁLISES R (MN)  mm
1,8 33,86
1,6 21,13
Com base nos materiais apresentados no item 1,4 12,42
anterior, pode-se observar o tipo de curva carga 1,2 7,53
x recalque resultante da prova de carga. A curva 1 4,16
não evidencia uma ruptura nítida, pois 0,8 2,12
apresentou recalques elevados ao longo do 0,6 1,03
0,4 0,42
carregamento, sem mostrar uma estabilização, 0,2 0,15
típico de estacas escavadas. Esse tipo de
formato de gráfico é passível de se fazer a
extrapolação para determinação da capacidade
de carga R.

7.1 Van der Veen

Foi aplicado o método da extrapolação de Van


der Veen e assim, elaborado a Figura 9
mostrando a curva ajustada:

Figura 10. Curva carga x recalque da prova de carga.

O cálculo do atrito lateral é feito através de


um valor inferior e um valor superior. O valor
inferior é obtido da curva do gráfico da Figura
11, em que desenha-se uma reta ligando o ponto
de ruptura convencionada (10% do diâmetro da
estaca) ao ponto de regressão, conforme
orientado pelo método explicado por Décourt
Figura 9. Critério de Van der Veen (1953) modificado por (2008).
Aoki (1976).
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Nesse caso, o ponto de regressão escolhido Com os pontos 5 a 7 da curva carga x


foi o ponto 04, assim foi definida a carga de recalque, definiu-se a equação da reta para
ruptura convencionada Ruc = 2,0 MN. Assim, determinação do domínio do atrito lateral:
foi definida a reta de regressão, entre o ponto de
regressão e a carga de ruptura, e o limite
inferior do domínio do atrito lateral Rsl.

Figura 13. Gráfico de Rigidez para determinação do


Domínio Lateral.

Figura 11. Curva carga x recalque extrapolada, indicando O gráfico na Figura 13 demonstra um
reta de regressão. comportamento típico de estacas escavadas,
afirmado por Décourt (2008), em que a curva
Os resultados obtidos foram: torna-se assíntota ao eixo das abcissas, nunca
 Ponto de regressão: R = 1,20 MN e  = 7,53 atingindo a rigidez nula.
mm; Através da equação do domínio lateral
 Carga de Ruptura: R = 2,00 MN e  = 50 definida na Figura 13, gera-se o gráfico carga x
mm; recalque para o atrito lateral, mostrado na
 Limite inferior do domínio do atrito lateral Figura 14, que determina o limite superior do
Rsl = 1,058 MN. atrito lateral, sendo equivalente a carga
correspondente ao recalque de 10% do diâmetro
Os pontos de 1 a 4 pertencem ao domínio de da estaca ( = 50 mm).
ponta, conforme ilustrado na Figura 12.
Construiu-se o gráfico de rigidez para o
domínio de ponta conforme:

Figura 14. Gráfico do Atrito Lateral.

Figura 12. Gráfico de Rigidez com domínio de ponta. Como já foi definido o limite inferior Rsl =
1,058 MN, pode-se definir o intervalo do
domínio lateral: 1,058 MN < RL < 1,25 MN. RL
será a média: RL = 1,15 MN.
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Em resumo, os valores obtidos foram:


 R = 2,00 MN Tabela 4. Resultados dos métodos Semi-Empíricos.
Método rL (MPa) rP (MPa)
 RP = 0,85 MN Aoki-Velloso 0,065 11,47
 RL = 1,15 MN Décourt-Quaresma 0,09 16,92
Teixeira 0,1 8,95
7.3 Critério da NBR 6122/2010
7.5 Análises entre os métodos semi-
Nesse método, a carga de ruptura é definida
empíricos e prova de carga
pelo ponto de encontro da reta do critério da
norma e da curva carga x recalque, projetado no
A diferença entre os métodos de extrapolação
eixo X da Carga em (MN), assim, define-se a
de Van der Veen e a Rigidez de Décourt para os
equação:
valores das cargas de ruptura foi de 6,5%. Os
(15) métodos semi-empíricos fizeram previsões
maiores do que os resultados obtidos com a
A Figura 15 mostra o gráfico definido pela prova de carga, mostrados na Figura 16.
equação (9) e a carga de ruptura encontrada foi
R = 1,575 MN:

Figura 15. Critério de Extrapolação da NBR 6122/2010.


Figura 16. Cargas de Ruptura (R).
7.4 Métodos Semi-Empíricos
Dentre os métodos semi-empíricos, o que
As Tabelas 2 e 3 mostram os resultados obtidos mais se aproximou da carga de ruptura R
a partir dos métodos semi-empíricos, para definida pela extrapolação de Van der Veen
capacidade de carga (R), resistência do atrito (1,87 MN) foi o método de Décourt-Quaresma
lateral (RL), resistência da ponta (RP), atrito (2,36 MN), com uma diferença de 26,20%. Esse
lateral unitário (rL) e resistência de ponta método também apresentou o valor mais
unitária (rP). próximo do encontrado pelo método da Rigidez
de Décourt (2,00 MN), com diferença de
Tabela 3. Resultados dos métodos Semi-Empíricos. 18,00%.
Método R (MN) RL (MN) RP (MN) A carga de ruptura estimada pelo método de
Aoki-Velloso 3,27 1,02 2,25 Teixeira (3,32 MN) é 77,54% maior do que o
Décourt-Quaresma 2,36 0,70 1,66
dado pela extrapolação de Van der Veen e
Teixeira 3,32 1,57 1,75
66,0% maior que o da Rigidez de Décourt.
O método de Aoki-Velloso (3,27 MN)
também apresentou um valor de carga de
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ruptura maior do que o dado pela extrapolação


de Van der Veen, com uma diferença de
74,87%, e 63,50% maior que o da Rigidez de
Décourt.
Para os valores de resistência do atrito lateral
unitário (rL), mostrados no gráfico da Figura 17,
o método que mais se aproximou do valor
encontrado pelo método da Rigidez de Décourt
(0,07 MPa) foi o de Aoki-Velloso (0,065 MPa),
sendo 7,1% maior. Da mesma forma, o método
de Teixeira (0,1 MPa) está acima, com 42,85%
de diferença entre os valores. O método de
Figura 18. Resistência de ponta unitária (rP).
Décourt-Quaresma (0,09 MPa) apresentou uma
diferença de 28,57% para o método da Rigidez
De acordo com o gráfico da Figura 18, nota-
de Décourt.
se que as previsões para resistência de ponta
unitária (rP) feita pelos métodos semi-empíricos
ficaram superiores ao método da Rigidez de
Décourt. Percebe-se que a resistência de ponta
prevista não foi mobilizada, não conseguiu
atingir o valor no ensaio de prova de carga. Para
uma maior precisão, o valor médio para a
resistência de ponta unitária dos métodos semi-
empíricos é 12, 45 MPa. De uma forma mais
precisa, deveria ser utilizado 35,0 % da
resistência de ponta em relação ao valor médio.
A prática local para o processo executivo da
Figura 17. Atrito lateral unitário médio (rL). estaca consiste em se escavar vários furos feitos
com uma equipe de perfuração com
No enteando, observa-se, pelo gráfico da equipamento mecânico, e em seguida outra
Figura 16, que os valores de ruptura estimados equipe faz uma compactação do fundo da
pelos métodos semi-empíricos estão a cima dos estaca com soquete manual. Uma provável
resultados da prova de carga encontrados com a explicação para a baixa resistência da ponta
extrapolação por Van der Veen e Rigidez de pode ser a ausência da compactação do fundo
Décourt. ou a ineficiência no processo da estaca
Em relação à resistência unitária de ponta ensaiada.
(rP), o método mais aproximado ao da Rigidez
de Décourt (4,3 MPa) foi o de Teixeira (8,95 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
MPa), com diferença de 108%. Os valores para
resistência de ponta unitária (rP) estimados Esse trabalho analisou um teste de carga
pelos métodos semi-empíricos estão acima do estática, realizado em uma estaca escavada a
valor fornecido pela prova de carga, encontrado trado mecânico pertencente à fundação de uma
através do método da rigidez de Décourt, como obra de grande porte, localizada na Formação
mostrado na Figura 18. Um dos prováveis Barreiras, na cidade de João Pessoa – PB. A
motivos desse ocorrido pode ter sido algum estaca projetada para suportar a carga de
problema na limpeza da ponta da estaca, trabalho de 1,0 MN e carga de ensaio de 2,0
causando essa deficiência. MN, conforme NBR 12131. Porém, o ensaio só
atingiu a carga de 1,8 MN, pois foram
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identificados recalques elevados durante o Cintra, J. C. A.; Aoki, N. (2010). Fundações por
ensaio. Estaca: Projeto Geométrico. 1ª ed., Oficina de
Textos, São Paulo/SP, 96 p.
As avaliações mostraram que para os valores Cintra, J. C. et al. (2013). Fundações: ensaios estáticos e
de carga de ruptura R, a diferença entre os dinâmicos, 1ª ed., Oficina de Textos, São Paulo/SP,
métodos de extrapolação de Van der Veen e a 144 p.
Rigidez de Décourt foi de 6,5%. O valor Décourt, L. (2008). Provas de Carga em Estacas podem
estimado pelo método de Décourt-Quaresma foi Dizer Muito Mais do que têm Dito. In: VI SEFE –
Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e
o que mais se aproximou dos valores Geotecnia, São Paulo. Anais... São Paulo: ABMS,
encontrados a partir das extrapolações feitas 2008, V.1, P. 221-245.
com Van der Veen modificado por Aoki, Décourt, L. (1996). Ruptura de Fundações Avaliada com
Rigidez de Décourt e NBR 6122/2010. O Base no Conceito de Rigidez. In: III SEFE –
método semi-empírico que estimou um valor Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e
Geotecnia, São Paulo. Anais... São Paulo: ABEF e
mais próximo aos valores da prova de carga ABMS, 1996, V.1, P. 215-224.
resultantes da aplicação do Método da Rigidez Décourt, L.; Quaresma, A. R. (1978). Capacidade de
de Décourt (0,07 MPa), em relação ao atrito Carga de Estacas a partir de Valores de SPT. In: VI
lateral unitário rL, foi o método de Aoki- Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia de Fundações. Rio de Janeiro. Anais...
Velloso (0,065 MPa), e em relação a resistência
Rio de Janeiro, V. 1, p. 45-53.
de ponta unitária rP (4,3 MPa), Teixeira (8,95 Martins, V. P. (2006). Análise Ambiental e Legal do
MPa) mostrou uma previsão mais próxima do Processo de Ocupação e Estruturação Urbana da
valor da prova de carga dado pelo método da Cidade de João Pessoa/PB, Numa Visão Sistêmica.
Rigidez de Décourt. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da
Paraíba – Universidade Estadual da Paraíba, 146 p.
Constatou-se uma diferença entre as de
Melo, A. S. T. et al. (2001). Os Aglomerados Subnormais
resistência de ponta unitária rP, definidas pela do Vale do Jaguaribe e do Timbó – Análise
análise dos resultados da prova de carga através Geoambiental e Qualidade de Vida. Relatório de
do método da rigidez de Décourt, comparando Pesquisa. UNIPÊ, Curso de Geografia. João
com os valores estimados através dos métodos Pessoa/PB. 132 p.
Melo, B. N. (2009). Análise de provas de carga à
semi-empíricos. A diferença entre a previsão e
compressão à luz do conceito de rigidez. Dissertação
a prova de carga pode ser creditada ao processo de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. 219
executivo da estaca, em que a prática local é p.
feita da seguinte maneira: escavam-se vários Melo, B. N. et al. (2012). Análise do atrito lateral em
furos por uma equipe de perfuração, para em estacas hélice contínua instrumentadas por meio do
conceito de Rigidez. In: 16º Congresso Brasileiro de
seguida outra equipe realizar uma compactação
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Porto
do fundo da estaca com soquete manual. As de Galinhas. 8 p.
possíveis explicações para essa falha na ponta Pérez, N. B. M. (2014). Análise de transferência de
são a ausência da compactação do fundo ou a carga em estacas escavadas em solo da região de
ineficiência no processo da estaca ensaiada. Campinas/SP. Dissertação de Mestrado. Universidade
Estadual de Campinas, 171 p.
Soares, W. C. (2011). Radier Estaqueado com Estacas
REFERÊNCIAS Hollow Auger em Solo Arenoso, Tese de Doutorado.
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, 341 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR Teixeira, A. H. (1996). Projeto e Execução de Fundações.
6122/2010: Projeto e Execução de Fundações. Rio de In: III SEFE – Seminário de Engenharia de
Janeiro: 1996. Fundações Especiais e Geotecnia. São Paulo. Anais...
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR São Paulo, v. 1, p. 1-18.
12131/2006: Estacas – Prova de Carga Estática –
Método de Ensaio. 2ª ed. Rio de Janeiro/RJ: 2006.
Cintra, J. C. A.; Aoki, N. (1999). Carga Admissível em
Fundações Profundas. 1ª ed. São Carlos/SP. Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
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Análise de Recalques de Estacas Metálicas Constituidas de


Trilhos Ferroviários
Juliana Martins Pereira
Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas, Brasil, jumartinsp@yahoo.com.br

David de Carvalho
Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas, Brasil, d33c@uol.com.br

Rogério Carvalho Ribeiro Nogueira


Universidade de Mogi das Cruzes / Campus Villa-Lobos, São Paulo, Brasil,
rogeriocrnogueira@gmail.com

RESUMO: No presente trabalho foi realizada uma análise através da comparação entre os recalques
obtidos em cinco provas de cargas executadas em estacas metálicas, compostas de trilhos
ferroviários TR 37, cravadas no Campo Experimental da Universidade Estadual de Campinas -
Unicamp, com aqueles estimados através dos métodos de previsão de recalques de Poulos & Davis
(1980), Vésic (1969, 1975a), Vésic ―Modificado‖ (Martins, 2008) e Décourt (1995). Os recalques
obtidos nas provas de carga foram analisados para as correspondentes cargas de trabalho previstas.
O subsolo local é caracterizado como solo proveniente de diabásio, com uma camada superficial de
até 6,5m de argila porosa. De maneira geral, os resultados de previsão de recalque obtidos para a
carga de trabalho foram a favor da segurança, com relação entre os recalques estimados e os obtidos
através das provas de carga variando entre 0,4 a 23 vezes.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Estacas metálicas, Recalques.

1 INTRODUÇÃO a um dado recalque admissível, este estipulado


para que a superestrutura sejam considerada
A utilização de estacas metálicas no Brasil tem utilizável.
se tornado nos últimos anos uma solução Assim, é apresentada neste trabalho, uma
economicamente viável como alternativa de análise através de comparação entre os
fundações devido à sua competitiva capacidade recalques obtidos em cinco provas de cargas
de carga e as vantagens durante seu processo estáticas mistas executadas em estacas
executivo, tais como: baixo nível de vibração metálicas, compostas de trilhos ferroviários
durante a cravação; possibilidade de cravação TR 37, cravadas no Campo Experimental da
em solos de difícil transposição; facilidade de Universidade Estadual de Campinas - Unicamp,
corte e emenda; atendimento as várias fases de com aqueles estimados, para as cargas de
construção da obra, conforme citado por Cury trabalho, através de métodos de previsão de
Filho (2016). recalques.
Muito se discute, quando trata-se de Para a previsão dos recalques foram adotados
segurança de fundações em geral, em relação à os métodos de Poulos & Davis (1980), Vésic
obtenção das cargas de ruptura de fundações (1969, 1975a), Vésic ―Modificado‖ (Martins,
com confiabilidade aceitável. Contudo, há de se 2008) e Décourt (1995).
lembrar que o bom desempenho de uma
fundação depende também de a mesma atender
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2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.2 Descrição das Estacas Metálicas

2.1 Local dos Estudos Foram cravadas cinco estacas metálicas,


compostas de trilhos ferroviários TR 37,
As estacas metálicas foram cravadas no Campo conforme apresentado na Tabela 1.
Experimental da Universidade Estadual de
Campinas, que se situa ao lado do Laboratório Tabela 1. Estacas Metálicas – Trilhos TR 37
de Materiais da Faculdade de Engenharia Estaca/ Profundidade
Prova de Carga Cravada (m)
Agrícola (Feagri), região esta onde foram
P6 18
realizados vários ensaios in situ, assim como P7 18
ensaios de laboratório, conforme detalhado por P11 18
Carvalho et al. (2004). P12 12
Basicamente, o perfil geotécnico do Campo P14 22,20 (nega)
Experimental é constituído por solo de
Diabásio, com uma camada superficial de argila A Figura 2 apresenta a forma e as dimensões
arenosa, porosa, vermelha, pouco siltosa, mole a (em milímetros) dos trilhos TR 37 conforme
média, com espessura de 6,5m, seguida por uma especificações da ABNT NBR 7590: 2012. Os
camada de transição com, aproximadamente, mesmos apresentam diâmetro equivalente de
1m de espessura de argila muito arenosa. 0,14m, área de seção transversal efetiva de
Subjacente foi verificada a presença de solo 47,39cm², momento de inércia de 951,4cm4,
residual composto por silte muito argiloso com peso por metro de 37,20kg/m e módulo de
areia fina, variegado. Foi constatada a presença elasticidade de 205 x 103 Mpa.
de uma camada de areia fina a uma
profundidade aproximada de 16m, com
espessura variando entre 1,5m e 4m.
O nível do lençol freático encontra-se a
aproximadamente 20m de profundidade.
Na Figura 1 são apresentadas as
características disponíveis e/ou adotadas médias
utilizadas no desenvolvimento do presente
trabalho, do subsolo até 26m de profundidade.

Nspt = 5,6
argila arenosa,
Tmáx=6 Tres=2
porosa, vermelha,
0-6,5m pouco siltosa, mole
qc = 2,2 MPa fs = 39,6 kPa
E = 3.460 kPa
a média
v = 0,5
argila muito
6,5-7,5m arenosa
solo residual Nspt = 12
composto por silte Tmáx=18 Tres=5
7,5-16m muito argiloso com qc = 2,0 MPa fs = 119,8 kPa Figura 2. Trilho ferroviário padrão TR 37
areia fina, E = 23.430 kPa
variegado v = 0,5
Nspt = 20
16-19m areia fina Tmáx=20 Tres=15 2.3 Provas de Carga
qc = 2,4 MPa fs = 108,7 kPa
solo residual
composto por silte Nspt = 32 Foram realizadas provas de carga estáticas, do
19-26m muito argiloso com Tmáx=66 Tres=17
areia fina, qc = 4,9 MPa fs = 222,5 kPa
tipo mista, de acordo com as recomendações da
variegado ABNT NBR 12.131:2006, através das quais
foram obtidas as curvas carga versus recalque
Figura 1. Perfil Geotécnico – Características Médias apresentadas nas Figuras 3 a 7.
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Prova de Carga - Trilho TR-37 - 18 m Prova de Carga - Trilho TR-37 - 12 m


Carga (kN) Carga (kN)
0 100 200 300 400 0 50 100 150 200 250
0 0

5 5

Recalque (mm)
Recalque (mm)

10 10

15 15

20 20

25 25

30 30

Figura 3 - Curva carga vs recalque - Estaca P06. Figura 6 - Curva carga vs recalque - Estaca P12.

Prova de Carga - Trilho TR-37 - 18 m Prova de Carga - Trilho TR-37 - 22,2 m (Nega)
Carga (kN) Carga (kN)
0 50 100 150 200 250 300 350 400 0 100 200 300 400 500 600 700
0 0

5 5

10
Recalque (mm)
10
Recalque (mm)

15 15

20 20

25 25

30 30

35 35

Figura 4 - Curva carga vs recalque - Estaca P07. Figura 7 - Curva carga vs recalque - Estaca P14.

Prova de Carga - Trilho TR-37 - 18 m A determinação das cargas de ruptura, a


Carga (kN)
0 50 100 150 200 250 300 350 partir dos ensaios de prova de cargas realizados,
0
foi convencionada por Cury Filho (2016) como
5 sendo aquelas obtidas pelo critério estabelecido
pela ABNT NBR 6122:2010 - item 8.2.1.1.
Recalque (mm)

10

15
Apresentam-se na Tabela 2 as cargas de
ruptura convencionadas (PRc), as cargas de
20
trabalho (PRc/2) e os recalques obtidos para as
25 cargas de trabalho nas provas de carga.
30
Tabela 2. Cargas de ruptura convencionadas (PRc),
Figura 5 - Curva carga vs recalque - Estaca P11. Cargas de trabalho (PRc/2) e Recalques (c) obtidos para
as cargas de trabalho nas provas de carga.
Estaca/ Prof. Recalques
PRc PRc/2
Prova de Cravada para PRc/2
(kN) (kN)
Carga (m) (c) (mm)
P6 18 370 185 0,8
P7 18 360 180 1,7
P11 18 320 160 0,7
P12 12 160 80 0,7
22,20
P14 650 325 4,7
(nega)
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Para informações complemetares, sugere-se a Tabela 3 – Previsão de Recalques para as Cargas de


leitura de Cury Filho (2016), o qual analisou Trabalho (PRc/2).
Estaca/ Recalques Estimados (e) (mm)
ainda métodos semiempíricos para a estimativa
Prova Poulos
de carga de ruptura (PRe), sendo que os Vésic Vésic
& Décourt
de (1969, ―Modificado‖
melhores ajustes foram obtidos pelos métodos Carga
Davis
1975) (Martins, 2008)
(1995)
Alonso (2008), Peixoto (2001), Teixeira (1996) (1980)
P6 1,7 2,6 19,2 1,7
e Décourt (1996). Ainda segundo Cury Filho P7 1,7 2,5 18,7 1,7
(2016) o método de Teixeira (1996) obteve as P11 1,5 2,4 16,6 1,7
menores parcelas de resistência de ponta, P12 0,7 2,2 5,1 1,9
variando entre 1,9% e 16,2% da carga de P14 3,1 4,6 17,6 2,0
ruptura estimada, e as parcelas de carga de atrito
lateral variaram entre 83,8% e 98,1% da carga Os recalques medidos nas provas de cargas
de ruptura estimada. executadas (c), apresentados na Tabela 2,
foram comparados com os recalques estimados
(e) conforme Tabela 3. Tais relações são
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES apresentadas na Tabela 4.

Foram calculados os recalques para as 5 estacas Tabela 4 – Relação da Previsão de Recalques (e) com os
metálicas tipo trilho ferroviário TR 37 com Recalques Convencionados (c)
comprimentos variando entre 12m e 22m. Estaca/ Relação e/c
Prova Poulos
A determinação dos recalques das estacas &
Vésic Vésic
Décourt
de (1969, ―Modificado‖
isoladas foi feita através dos métodos: Poulos & Davis
1975) (Martins, 2008)
(1995)
Carga (1980)
Davis (1980), Vésic (1969, 1975), Vésic
P6 2,07 3,10 23,06 2,01
―Modificado‖ (Martins, 2008) e Décourt
P7 0,99 1,50 10,98 1,00
(1995). P11 2,02 3,23 22,44 2,26
Alonso (2008) cita que as estacas metálicas, P12 1,08 3,21 7,45 2,80
com ponta em solo ―pouco competente‖, P14 0,66 0,97 3,73 0,43
atingem a ruptura geotécnica quando se esgota a Média 1,36 2,40 13,53 1,70
parcela de atrito lateral (ruptura do tipo geral), Desvio
0,64 1,08 8,80 0,96
Padrão
visto que a carga de ponta pode ser
negligenciada diante da parcela de atrito lateral.
Como é possível observar graficamente na
Desta maneira, estando as estacas apoiadas
Figura 8, o método Vésic ―Modificado‖
em solo ―pouco competente‖, foi adotado o
(Martins, 2008) apresentou resultados muito
método Teixeira (1996) para a separação da
divergentes dos demais métodos utilizados. O
resistência de ponta e lateral das estacas, por
método apresentou variação da relação e/c
este conduzir a previsão de baixa capacidade de
entre 4 e 23 vezes, aproximadamente, com um
ponta, conforme apresentado no trabalho
desvio padrão elevado, de aproximadamente 9.
desenvolvido por Cury Filho (2016).
Neste trabalho, estima-se os recalques para
as cargas de trabalho (PRc/2), visto que as
fundações são projetadas e dimensionadas de
acordo com o valor desta carga. Obtém-se os
recalques conforme apresentados na Tabela 3.
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(Martins, 2008) para estacas metálicas de trilho


ferroviário TR 37, cravadas em solo de
diabásio, resultam em recalques estimados
conservadores, com valores de até 23 vezes
maior do que o recalque convencionado pela
prova de carga. O uso do método teve melhor
aderência apenas para o caso da estaca P14.
O método apresentado por Vésic (1969,
1975) foi o que apresentou os melhores
resultados para as estacas metálicas ensaiadas
Figura 8 - Relação e/c. cravadas em solo de diabásio, apresentando
maior aderência entre os recalques estimados e
Quando excluído do gráfico o método Vésic os convencionados, obtendo resultados sempre
―Modificado‖ (Martins, 2008), conforme a favor da segurança.
Figura 9, é possível observar que, exceto pela Os métodos de Poulos & Davis (1980) e
estaca P14, todos os métodos resultaram em Décourt (1995) obtiveram resultados
recalques a favor da segurança, com valor semelhantes, de maneira satisfatória, para a
máximo da relação e/c = 3,23. É possível estimativa dos recalques. Contudo, observa-se
observar um comportamento análogo entre os que para o caso da estaca P14, cuja cravação foi
métodos. A estaca P14 foi a única que teve sua interrompida devido a nega, os resultados dos
cravação levada até sua nega. dois métodos foram contra a segurança.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Estadual


de Campinas – Unicamp, à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –
Fapesp e à Gerdau S.A.

REFERÊNCIAS
Figura 9 - Relação e/c.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas -
NBR 6122/2010: Projeto e execução de fundações.
Conforme pôde ser observado, o método Rio de Janeiro, 2010.
Poulos & Davis (1980) teve variação da relação ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas -
e/c entre 0,7 a 2,1 com desvio padrão de 0,64, NBR 7590/2012: Trilho Vignole — Requisitos. Rio
já o método Vésic (1969, 1975) teve variação de Janeiro, 2012.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas -
entre 1,0 e 3,2 com desvio padrão de 1,08 e por NBR 12131/2006: Prova de carga estática método de
fim o método Décourt (1995) teve variação ensaio. Rio de Janeiro, 2006.
entre 0,4 e 2,8 com desvio padrão de 0,96. Alonso, U. R. Previsão da capacidade de carga geotécnica
de estacas metálicas com ponta em solo "pouco
competente". In: Seminário de Engenharia se
Fundações Especiais e Geotecnia, VI SEFE, 2008,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS São Paulo. Anais... São Paulo: ABEF e ABMS, 2008
v.1, p. 487-495.
Pelo presente trabalho foi possível verificar que Carvalho, D.; Albuquerque, P. J. R.; Fontaine, E. B.;
a aplicação do método Vésic ―Modificado‖ Paschoalin Filho, J. A.; Nogueira, R. C. R. Campo
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experimental de mecânica dos solos e fundações


UNICAMP. In: SEFE V - Seminário de Engenharia
de Fundações Especiais e Geotecnia, 2004, São Paulo.
Cury Filho, D. Previsão da carga de ruptura de estacas
metálicas submetidas a esforços de compressão em
solo de diabásio da região de Campinas / SP. 2016.
223p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo da Unicamp, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas.
Décourt, L. On the load-settlement behavior of piles.
Revista Solos e Rochas, São Paulo, v.18, n.2, ago.,
1995. p.93-112.
Décourt, L. A ruptura de fundações avaliada com base no
conceito de rigidez. In: Seminário de engenharia de
fundações especiais e geotecnia, III SEFE, 1996, São
Paulo. Anais... São Paulo: ABEF e ABMS, 1996 v.1,
p. 215-224.
Martins, J. A. T. Uma proposta para a estimativa do
recalque elástico de uma estaca isolada. In: Seminário
de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia,
VI SEFE, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo:
ABMS, 2008.
Peixoto, A. S. P. Estudo do ensaio SPT-T e sua aplicação
na prática de engenharia de fundações. 2001. 468p.
Tese (Dissertação em Engenharia Agrícola) -
Faculdade de Engenharia Agrícola, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas.
Poulos, H. G. & Davis, E. H. - Pile Foundation Analysis
and Design. Series in Geotechnical Engineering, New
York, John Wiley & Sons, Inc. 1980. 397p.
Teixeira, A. H. Projeto e execução de fundações. In:
Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e
Geotecnia III, SEFE 1996, São Paulo. Anais... São
Paulo: 1996. v.1 p. 33-50.
Vésic, A. S. - Experiments with instrumented pile groups
in sand. performace of deep foundation, ASTM -
SPEC Techn. Publ., no 444, p.171-222. 1969.
Vésic, A. S. - Principles of pile foundation design.
School of Engineering, Duke University, Durhan,
1975a, no 38, 60p.
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Análise dos métodos de cálculo de recalques em estacas do tipo


hélice contínua
Matheus Gonçalves Bazan
Faculdade Estácio Belém, Belém, Brasil, matheus-bazan@outlook.com

Tiago Alves Vieira


FACI - Devry, Belém, Brasil, tiagogeofort@gmail.com

RESUMO: Neste trabalho são analisados resultados de deslocamento para estacas do tipo hélice
contínua, estimados a partir dos métodos de Poulos & Davis (1968) e Aoki e Lopes (1975),
comparando-os com os valores de deslocamentos obtidos por meio de ensaios de provas de carga
estática. Para tal, apresentam-se dois ensaios com carregamento do tipo lento em estacas do tipo
hélice contínua com 40 cm e 60 cm de diâmetro e comprimento variando entre 12 a 20 metros em
relação ao nível do solo. A motivação para a realização deste trabalho fundamenta-se em apontar
métodos confiaveis para previão de recalque em diferentes tipos de solo visto que a literatura
geotécnica é bastante limitada neste sentido. A partir de dados obtidos através das provas de carga
estática desenvolveu-se uma planilha na interface excel alimentando-se as equações do método de
Poulos & Davis (1968) e no método Aoki e Lopes (1975) foi utilizado um software denominado
Cálculo do Recalque de Estacas, conduzindo a resultados de recalques estimados. Dessa forma, cria-
se gráficos observando-se a proximidade dos resultados. Para as estacas analisadas, o método de Aoki
e Lopes (1975) mostrou melhores resultados para a estimava de recalques, quando comparado aos
resultados de recalque obtidos nas provas de carga.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca hélice contínua, Métodos de previsão de recalque, Recalque.

1 INTRODUÇÃO Para a determinação do recalque de estacas


hélice contínua são utilizados principalmente os
Para previsão completa do comportamento e métodos baseados na teoria da elasticidade
para o dimensionamento da fundação de uma (métodos elásticos) e métodos numéricos, os
obra é fundamental que seja avaliada a segurança quais são utilizados para estacas em geral. Pelo
e confiabilidade desta na fase de projeto e de fato do distinto processo executivo utilizado para
execução. Habitualmente, na análise de estacas hélice contínua monitorada, faz-se
segurança de fundações no Brasil, é verificado se necessário verificar a aplicabilidade destes
a fundação projetada atende a valores de fatores métodos de previsão de recalque para este tipo
de segurança normais e parciais apresentados na de estaca. É necessário, ainda, verificar a
Norma Brasileira de Fundações (NBR utilização de ferramentas numéricas para
6122:2010). determinação dos parâmetros de recalque em
Atualmente, as previsões de recalque nas estacas hélice contínua, a partir da retroanálise
estacas para um projeto, são resultantes de de prova de carga (MAGALHÃES, 2005).
métodos de cálculo semiempíricos baseados em
ensaios de campo realizados em diversos solos
no território brasileiro. Em seguida, essas 2 MÉTODOS PARA ESTIMATIVA DE
previsões são comparadas com resultados de RECALQUE
provas de carga
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Sabe-se que qualquer projeto de fundações deve Esse método leva em consideração alguns
atender aos critérios dos estados limite último fatores como: espessura da camada do solo, o
(ELU), que faz referência à capacidade de carga comprimento da estaca, coeficiente de Poisson,
da estrutura e, concomitantemente ao estado compressibilidade da estaca e o módulo de
limite de serviço (ELS), que está ligado às deformação do solo, fazendo com que esses
limitações impostas ao uso da estrutura. tenham influência na determinação dos valores
Dentro desse contexto, alguns autores de Io, Rk, Rh e Rv, sendo obtidos através de
desenvolveram métodos semiempíricos de ábacos propostos pelos autores.
cálculo na tentativa de prever o quanto um
elemento de fundação profunda irá recalcar, a 2.2 Método Aoki e Lopes (1975)
partir da interação solo-estrutura, levando em
consideração as propriedades do solo no contato 2.2.1 Encurtamento Elástico
com o elemento de fundação, bem como algumas
peculiaridades inerentes a metodologia Para o encurtamento elástico (ρe), levou-se em
executiva das estacas. consideração a capacidade de carga admissível e
o esforço normal sobre a estaca, seguindo
2.1 Método Poulos & Davis (1968) algumas hipóteses, a saber: a carga vertical P,
aplicada no topo da estaca deve ser superior à
Poulos & Davis desenvolveram para o cálculo de resistência lateral, isto é, um valor intermediário
recalque um processo numérico, baseando-se na entre a resistência lateral e a capacidade de carga,
solução de Mindlin (1936) para calcular a ação todo o atrito lateral esteja mobilizado e a reação
da estaca sobre o solo. Nesse método à estaca é mobilizada na ponta, que é inferior à resistência
dividida em elementos uniformemente de ponta na ruptura, seja o suficiente para o
carregados e os esforços atuam na superfície dos equilíbrio de forças.
elementos das estacas. Os deslocamentos que Obtendo-se os valores de esforço normal na
ocorrem no solo são obtidos por meio da equação estaca e aplicando-se a Lei de Hooke, o
de Mindlin. encurtamento da estaca pode ser obtido por meio
Através dessas considerações, Poulos & da equação (2)
Davis (1968) chegaram à equação (1) para
recalques de base, isto é, aquela que à estaca está 1
apoiada em uma camada resistente do solo ρe Σ P L 2 ,
A E

P em que:
ρ I 1 ,
D E ρe = encurtamento elástico da estaca (mm);
A = área da seção transversal do fuste da estaca (m²);
em que: Ec = módulo de deformabilidade do concreto (Mpa);
ρ = deslocamento (mm); Pi = esforço normal médio da camada “i” (kN);
P = carga aplicada na estaca (kN); Li = comprimento da camada “i” (m).
Es = módulo de deformabilidade do solo (MPa);
Ip = I0*Rk*Rh*Ru; 2.2.2 Recalque do Solo
I0 = fator de influência para deformações;
Rk = fator de correção para a compressibilidade Pelo princípio da ação e reação, à estaca aplica
da estaca; cargas ao solo, ao longo do contato com o fuste,
Rh = espessura h (finita) de solo compressível; e transmite a carga ao solo situado junto a sua
Ru = correção para o coeficiente de Poisson do base.
solo; Devido a esse carregamento, as camadas
D = diâmetro da estaca (m) situadas entre a base da estaca e a superfície do
indeslocável sofrem deformações que resultam
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no recalque do solo, e, portanto, da base da


estaca. Δσ
Primeiro, consideremos a força P, vertical ρs Σ H 5 ,
E
para baixo, aplicada ao solo, provocando um
acréscimo de tensões numa camada subjacente em que:
qualquer, de espessura H, e que h seja a distância ρs = recalque devido ao solo (mm);
vertical do ponto de aplicação da força ao topo ∆σ = somatório das tensões devido às parcelas de
dessa camada, supondo a propagação de tensões atrito lateral e reação de ponta (kPa);
1:2, o acréscimo de tensões na linha média dessa H = comprimento da camada subjacente (m);
camada é dado pela equação (3) Es = Módulo de deformabilidade da camada de
solo (Mpa).
4P
∆σρ 3 ,
H
π D h ²
2 3 CARACTERIZAÇÃO GEÓLOGICA
GEÓTECNICA
em que:
∆σp = acréscimo de tensões (kPa); Localizados no estado do Pará, foram coletados
D = diâmetro da estaca (m); 2 ensaios de provas de carga estática em estacas
Pp = reação de ponta (kN); instrumentadas com o carregamento do tipo
H = espessura da camada subjacente (m); lento, porém os ensaios considerados para a
h = distância entre o ponto de aplicação da carga análise neste trabalho serão referentes somente à
até o topo da camada H (m). 2 estacas, considerando uma estaca em cada
ensaio de prova de carga distinto, sendo elas:
De maneira análoga, as reações às parcelas de ET01 e ET02.
resistência lateral constituem forças aplicadas Na execução da prova de carga, à estaca é
pela estaca ao solo, verticais para baixo, as quais carregada até a carga definido em projeto,
também provocam acréscimo de tensões naquela atendendo aos requisitos da ABNT NBR 6122,
mesma camada. no presente trabalho optou-se pelo carregamento
Nessas condições, tem-se que o acréscimo de lento, para que seja realizado precisa estar de
tensões devido às reações às parcelas de acordo com as seguintes prescrições: a carga
resistência lateral, através da equação (4) aplicada em cada estágio não deve ser superior a
20% da carga de trabalho prevista para estaca
4RL
∆σρ 4 , ensaiada, em cada estágio, a carga deve ser
H mantida até a estabilização dos deslocamentos e
π D h ²
2 no mínimo por 30 minutos, em cada estágio os
deslocamentos devem ser lidos imediatamente
em que:
após a aplicação da carga correspondente,
∆σi = acréscimo de tensões (kPa);
seguindo-se as leituras decorridas 2 minutos, 4
D=diâmetro do fuste da estaca (m);
minutos, 8 minutos, 15 minutos, 30 minutos, 1
RLi = resistência de atrito lateral (kN);
hora, 2 horas, 3 horas, 4 horas, contados a partir
H = comprimento da camada subjacente (m);
do início do estágio, até se atingir a estabilização,
h = distância entre o ponto de aplicação da carga
terminada a fase de carregamento, a carga
até o topo da camada H (m).
máxima do ensaio deve ter mantida no mínimo
durante 12 horas entre a estabilização dos
Finalmente, o recalque devido ao solo pode
recalques e o início do descarregamento. As
ser estimado pela Teoria da Elasticidade Linear,
cargas foram aplicadas através de macaco
pela seguinte equação (5)
hidráulico e célula de carga devidamente
calibrada, as deformações foram lidas através de
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quatro extensômetros de elevada sensibilidade F2=4 para EHC, conforme relatam Cintra &
(0,01mm), posicionados nas extremidades do Aoki (2010), a profundidade do nível de água
bloco de coroamento da estaca ensaiada à não foi encontrada em ambas sondagens, então
compressão. O sistema de reação utilizado foi do adotou-se o próximo metro abaixo da base das
tipo viga principal intertravada nas ferragens de estacas, os valores de K e “a” são gerados
reação inseridas nas estacas. O sistema foi automaticamente no software.
formado por 4 estacas de reação, o sistema de Para estimativa do valor do módulo de
reação foi executado com utilização de um perfil deformabilidade da estaca, foi utilizado a norma
de reação e dois secundários, as vigas utilizadas NBR 6118 (ABNT, 2014).
foram de madeira objetivando assim minimizar
os efeitos de dilatação provocados pela variação 4 RESULTADOS ESPERADOS
da temperatura.
Neste tópico, apresentam-se os resultados
3.1 Paramêtros Geomecânicos obtidos por meio dos ensaios de prova de carga
estática nas estacas escolhidas, como curva de
Para elaboração dos métodos propostos acima transferência de carga em profundidade, curva
são necessárias algumas propriedades do solo de transferência de carga versus deslocamento,
e/ou da estaca que devem ser estimados por meio obtidos por meio do ensaio de PCE, assim como
de equações e de acordo com a experiência os resultados de deslocamento estimados através
adquirida pela prática. Nesse sentido, para dos métodos de previsão de recalque propostos
obtenção das propriedades necessárias para anteriormente.
cálculo, fez-se necessário o uso de tabelas e
correlações dos resultados do ensaio SPT feito 4.1 Estaca ET01 (Comprimento = 12,05
no local dos ensaios das provas de carga estática, metros; Diâmetro = 40 centímetros)
com intuito de estimar valores aproximados as
propriedades mecânicas deste material. Os valores de deslocamento devido à carga
Com o resultado das sondagens SPT, foi aplicada na estaca no ensaio de PCE estão
realizado uma avaliação tatil visual nas amostras demonstrados na Figura 1.
de solos e notou-se que, pela nomenclatura, os Através da curva representada na Figura 1, é
solos mais presentes nas amostras foram silte e possível analisar que o deslocamento para a
areia, acompanhados por uma pequena parcela carga máxima aplicada (108tf) no ensaio foi de
de argila e, quando associado com o índice de aproximadamente 6,29 mm.
penetração, atingiu um grau de compacidade
variando entre pouco compacto e compacto, e
Carga (tf)
argila atingiu um grau de média, ambos sendo
avaliados pela NBR 6484 – 2001. 0.00
0 12 24 36 48 60 72 84 96 108

O banco de dados de provas de cargas


Deslocamento (mm)

1.00
estáticas foram fornecidos pela empresa Geonort 2.00
3.00
Fundações LTDA. 4.00
São adotados dados para processar as 5.00
6.00
estimativas no software que segue a metologia 7.00
de Aoki e Lopes (1975), tais como: Cintra &
Aoki (2010) comentam que os valores de Ec
Figura 1. Curva Carga versus Deslocamento PCE01 –
variam conforme o tipo de estaca e sugerem, para ET01.
EHC, o valor de 21 Gpa, o expoente “n”, variável
conforme o tipo de solo, será tomado como 0,5 Na tabela 1, estão apresentados os valores de
para solos granulares e 0,0 para argilas duras. Os deslocamento estimados atráves dos métodos
fatores F1 e F2 assumiram os valores de F1=2 e propostos anteriormente, assim como o valor de
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deslocamento obtido no ensaio de prova de carga 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS


PCE01, para a carga de utilização de 108tf.
Com próposito de comparação, criaram-se dois
Tabela 1. Valores de deslocamento – ET01 (Carga: 108tf) gráficos (Figuras 3 e 4), um para cada estaca
Método Deslocamento (mm) analisada, demonstrando os resultados de
Poulos & Davis (1968) 5,07 previsão de recalque dos métodos propostos e o
Aoki e Lopes (1975) 6,10 resultado do ensaio de prova de carga estática.
7
Prova de carga 6,29
6

Deslocamento (mm)
5
4.2 Estaca ET02 (Comprimento = 19,80 4
metros; Diâmetro = 60 centímetros) 3
2
Os valores de deslocamento devido à carga 1
aplicada na estaca no ensaio de PCE estão 0
demonstrados na Figura 2. PCE Poulos & Davis Aoki e Lopes
Através da curva representada na Figura 2, é (1968) (1975)
possível analisar que o deslocamento para a Figura 3. Valores de deslocamento para a estaca – ET01.
carga máxima aplicada (207tf) no ensaio foi de
aproximadamente 1,66 mm. 6
Deslocamento (mm)

Carga (tf)
4

0 23 46 69 92 115 138 161 184 207 3


0.00 2
Deslocamento (mm)

0.50 1

1.00 0
PCE Poulos & Davis Aoki e Lopes
1.50 (1968) (1975)
2.00 Figura 4. Valores de deslocamento para a estaca – ET02.

Figura 2. Curva Carga versus Deslocamento PCE02 –


Analisando as figuras 3 e 4 podem-se notar que
ET02. todas as provas de carga estáticas avaliadas
tiveram uma boa previsão de recalque pelos
Na tabela 2, estão apresentados os valores de métodos estudados. Verifica-se que tanto o
deslocamento estimados atráves dos métodos método de Poulos & Davis (1968) quanto o de
propostos anteriormente, assim como o valor de Aoki e Lopes (1975) previu recalques bem
deslocamento obtido no ensaio de prova de carga semelhantes aos medidos nos ensaios de prova
PCE02, para a carga de utilização de 207tf. de carga estática.
Na Figura 3, nota-se que o método que
Tabela 2. Valores de deslocamento – ET02 (Carga: 207tf) resultou um valor próximo daquele obtido na
Método Deslocamento (mm) prova de carga estática foi o de Aoki e Lopes
Poulos & Davis 5,70 (1975), mesmo apresentando um valor recalque
(1968) menor, sendo esta diferença na ordem de 0,19
mm.
Aoki e Lopes (1975) 4,37
O método de Poulos & Davis (1968), resultou
Prova de carga 1,66 em uma diferença para com a prova de carga
estática de 1,22 mm, ficando mais distante do
resultado evidenciado pela PCE.
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Para a Figura 4, contempla-se uma maior trabalho podem ser atribuídas ao fato de terem
precisão do método de Aoki e Lopes (1975), sido obtidos por correlações em função dos
atingindo a previsão de recalque mais próximo resultados do ensaio SPT. O método de Aoki e
daquele obtido em prova de carga estática, Lopes (1975) mostrou-se mais eficiente por
porém, apresentando um uma diferença na conta dos parâmetros de entrada utilizados.
ordem de 2,71 mm. Contudo, é comprovada a influência que uma
O método de Poulos & Davis (1968), resultou análise de previsão de recalque pode-se trazer em
em uma diferença para com a prova de carga uma fundação. Isto é, para o dimensionamento
estática de 4,04 mm, ficando mais distante do geotécnico, dependendo do método utilizado
evidenciado pela PCE. para estimativa de previsão de recalque ou dos
De maneira geral, as estacas em questão parâmetros levados em consideração, o projetista
foram executadas em solos com características pode superestimar as características geométricas
geólogicas e geotécnicas semelhantes, de uma fundação, ou então comprometer a
registrando a presença de areia, silte nas camadas integridade, funcionamento e estabilidade de
que compreendem a maior parte do comprimento uma estrutura.
das estacas.
O método de Aoki e Lopes (1975) que leva AGRADECIMENTOS
em consideração parâmetros de solo, deveriam
exibir maior regularidade nos valores obtidos. Os autores agradecem à empresa Geofort
Apesar de que, quando se compara os valores Fundações Ltda pelo fornecimento dos dados das
obtidos através desse método, nota-se uma provas de carga estática.
pequena diferença entre os resultados para com
os resultados oriundos das provas de carga REFERÊNCIAS
estáticas.
Mesmo contrariando a condição de que o ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
método funcione de forma precisa somente em 6484: solo – Sondagem de simples reconhecimento
com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro,
estacas presentes em solo totalmente ABNT, 2001.
homogêneo, o método de Poulos & Davis (1968) ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR
demonstrou um comportamento semelhante ao 6118: Projeto de Estruturas de Concreto –
outro método proposto, porém, apresentou-se Procecimento. Rio de Janeiro, ABNT, 2003.
oscilações nos resultados de previsão de ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR
6122: Projeto e execução de fundaçãoes. Rio de
recalque. Janeiro, ABNT, 1996.
CINTRA, J. C. A; AOKI, N. Fundações por estacas:
projeto geotécnico, 1. Ed, São Paulo, Oficina de
6 CONCLUSÃO textos, 2010, 96p.
MAGALHÃES, P. H. L. (2005). Avaliação dos Métodos
Diante das análises realizadas neste trabalho e do de Capacidade de Carga e Recalque de Estacas
contexto avaliado, os resultados permitem Hélice Contínua via Provas de Carga. Dissertação de
Mestrado, Publicação G.DM-141/05, Departamento
concluir que ao se empregar métodos empíricos de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
para estimativa de recalque, às características do Brasília, Brasília, DF, 243p.
solo estudado devem ser cuidadosamente POULOS, H. G.; DAVIS, E. H. Pile foundation analysis
avaliadas, principalmente nos casos em que os and designer. 1. Ed, Sydney, T. William Lambe et.
parâmetros empregados por estes são obtidos por al, 1980, 387p.
meio de correlações semiempíricas.
Tendo em vista, que nos casos analisados, os
resultados próximos do recalque resultante do
ensaio de prova de carga estática foram obtidos
pelos métodos de Aoki e Lopes (1975).
A variação dos resultados analisados neste
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Análise estatística da aplicabilidade dos métodos semiempíricos de


estacas Hélice-Contínua à luz da NBR6122 e Eurocode 7
Carolina Tami Kuboyama
Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, carolinakuboyama@hotmail.com

Kurt André Pereira Amann


Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu.br

RESUMO: O presente trabalho propõe uma metodologia estatística para a definição da aplicabilidade
dos métodos semiempíricos de capacidade de carga das estacas, à luz da NBR6122 e do Eurocode 7.
A metodologia proposta foi aplicada a um banco de dados de 48 estacas do tipo Hélice-Contínua,
extraído de Falconi et al (1999), buscando classificar os métodos Antunes Cabral, Decourt Quaresma
e Alonso quanto à sua acurácia e segurança dentro do conceito de aplicabilidade apresentado. Os
autores deduziram para isso a aplicação matemática do Teste de Hipótese ‘t’ de Student para diferença
de médias de amostras pareadas aplicadas a variáveis aleatórias com distribuição Lognormal, a qual
se mostrou a mais adequada para a análise empreendida. Apresenta-se ainda a forma de analisar
estacas ensaiadas na mesma obra, com determinação da aplicabilidade dos métodos ao solo local. Os
resultados demonstram a possibilidade de aplicação da metodologia a outros tipos de estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Hélice-contínua, Aplicabilicade, Métodos Semiempíricos, Estatística,


Distribuição Lognormal.

1 INTRODUÇÃO através de ensaios de carga estática [subsecção


7.5.2] em situações comparáveis”. E pode-se
A norma brasileira de projeto e execução de citar ainda a subsecção 2.4.1, princípio (10)P do
fundações, NBR6122:2010, nos seus subitens mesmo, na qual indica-se que na análise por
7.3.3 e 8.2.2.2 indicam que no caso da relação empírica “deve ficar claramente
determinação da tensão admissível de fundações estabelecido que essa relação é aplicável nas
(ou carga admissível, no caso de fundação por condições do terreno existentes no local da
estacas), a partir do estado limite último (ELU), obra”. Decorre, portanto, dessas citações, a
ser feita empregando-se métodos semi-empíricos conceituação do que vem a ser o termo
“devem ser observados os domínios de validade “aplicabilidade”. Pode-se, contudo,
de suas aplicações, bem como as dispersões dos aproveitando o preconizado nessas normas,
dados e as limitações regionais associadas a cada escrever como definição de aplicabilidade a
uma das formulações”. Esta citação, destacada análise e constatação de que a relação ou a
entre aspas, vem a ser uma das formas de formulação empírica empregada num método
expressar o que aqui se define como semiempírico seja aplicável às condições do
“aplicabilidade”. terreno do local da obra, observando-se os
De fato, esse tipo de recomendação é domínios de validade, a dispersão dos dados e as
encontrado com outros termos também no limitações regionais da aplicação dessas
Eurocode 7 (Parte 1, versão Portuguesa), na sua formulações.
subsecção 7.1, Princípio (1)P, no qual preconiza- Deve-se notar também que quando na
se que o dimensionamento das fundações deve NBR6122 fala-se em “dispersões dos dados”
utilizar “métodos de cálculo empíricos ou uma avaliação estatística aparece como
analíticos cuja validade haja sido demonstrada necessária para análise dessa aplicabilidade.
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Isto posto, o objetivo do presente trabalho é


propor uma metodologia de análise da 2.1 Fundamentos da Estatística ‘t’ para
aplicabilidade de métodos semiempíricos Diferença entre Médias de Amostras Pareadas
empregando-se testes e critérios estatísticos, com
exemplo de aplicação a um banco de dados de A distribuição estatística ‘t’ é definida
ensaios de provas de carga executados em (MORETTIN, 2013) como uma curva
estacas do tipo Hélice-Contínua. matemática em formato de sino que permite a
A escolha deste tipo de estaca para o exemplo correção do valor de probabilidade de amostras
de aplicação da proposta se deu em virtude de ser pequenas (tamanho n<30 pontos amostrais),
um tipo de fundação muito empregada em correção esta feita em função dos graus de
ambiente urbano, pela sua baixa interferência liberdade ν=n-k , onde k é o número de
com a vizinhança da obra e elevada parâmetros a se estimar além da média μ. No
produtividade, além de possuir um dos melhores caso, considerando-se a variância σ2 da
sistemas de controle de qualidade e população como desconhecida, tem-se k=1 e seu
monitoramento da execução dentre as estacas. estimador é a variância amostral sx 2 . Assim,
Além disto, foram emblemáticos os trabalhos tem-se (1):
desenvolvidos sobre este tipo de estaca nas
décadas de 1990 e 2000, sobretudo a tese de ̅− μ
X ̅− μ
X
tv = = s (1)
Albuquerque (2001), os bancos de dados de sx
√n
provas de carga de Alonso (2000) e o de Falconi
et al (1999), os quais apresentam informações No caso de se aplicar o teste para a diferença
preciosas. É deste último trabalho mencionado d entre duas variáveis aleatórias pareadas
que se emprestam os dados para aplicação da (quando cada um dos pontos amostrais i de uma
presente proposta, sendo que é possível ampliar delas tem seu valor correspondente na outra), a
seu uso para outros conjuntos de dados e tipos de média amostral X̅ passa a ser a média das
estacas, conforme o interesse. diferenças d̅ e o desvio-padrão amostral s passa
Destaca-se que a análise aqui apresentada a ser sd (2):
inclui ainda a possibilidade de tratamento dos
dados segundo a distribuição de probabilidades 1 2
do tipo Lognormal e também a dedução sd =√ ̅] )
∙ ∑ ([di − d (2)
n−1
matemática da aplicação do Teste de Hipótese de
‘t’ de Student para este tipo de distribuição. Como o interesse da análise da aplicabilidade é
que o método semiempírico esteja a favor da
segurança pode-se adotar a premissa de que a
2 PROPOSTA DE AVALIAÇÃO média dos resultados do método semiempírico
ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE (µMSE) seja menor do que a média dos resultados
MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS de ensaios de carga (μEC). Traduzida como
diferença essa premissa fica: µd = µMSE − μEC,
Considerando-se a avaliação proposta, deve-se sendo então a favor da segurança quando µd <0,
então verificar a proximidade (ou a diferença) e não se deve trocar esta ordem sob pena de se
entre a média dos resultados do método falhar a interpretação como aqui proposta.
analisado em relação à média dos respectivos Para melhor análise da aplicabilidade do
ensaios de carga. Assim, propõe-se aplicar o método proposto, será empregado um Teste de
Teste de Hipótese ‘t’ de Student para diferença Hipótese bilateral, pois o teste unilateral não
de duas médias com dados pareados de um banco permite diferir a classificação entre “acurado” ou
de dados de ensaios de estacas na qual se tenha “contra segurança”, ou seja (3):
interesse de pesquisar a sua aplicabilidade a um
dado solo.
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H :μ = 0 distribuição simétrica em forma de sino. Assim,


{ 0 d (3)
H1 : μd ≠ 0 é absolutamente importante que se verifique a
normalidade dos dados e para isso se indica
Neste caso o valor crítico é dado por tcrit = utilizar o teste de Kolmogorov-Smirnov
|t(α/2:ν)|, de modo que a área que representa a (BENJAMIN e CORNELL, 1970). Este teste
probabilidade do nível de significância α fica utiliza uma estatística sobre a maior diferença
divida em duas partes: uma à esquerda e outra á entre a curva Normal cumulativa teórica e a
direita da curva da função densidade de obtida nos histogramas dos dados. Uma
probabilidade da distribuição t, como se pode ver possibilidade de se resolver problemas relativos
na Figura 1: à falta de Normalidade é testar se a retirada dos
ƒ(t; )= DISTT(t, ,0) pontos extremos dos dados eleva a probabilidade
H0 da curva ser Normal. Para o caso do valor da
probabilidade (o chamado “P-valor”) resultar
Região de Região de
abaixo de 0,1 mesmo com a retirada dos pontos
Rejeição de H0
(a favor da
Rejeição de H0
(contra a
extremos, deve-se então buscar outros tipos de
segurança) segurança)
distribuição para tratar os dados.
Região de Aceitação de H0

α/2
(Método Acurado)
α/2 2.2 Distribuição Lognormal
0,025 0,025

-tcrit td tcrit Enquanto a distribuição Normal é o resultado de


uma somatória de efeitos, há fenômenos ou
Figura 1. Regiões de classificação dos métodos pelo teste
de hipótese bilateral. grandezas físicas que resultam de uma
multiplicação de efeitos, como por exemplo a
Na Figura 1 a equação f(t,ν)=DIST.T(t,ν,0) deformação em uma viga submetida à flexão
indica a fórmula de planilha eletrônica, com (DEVORE, 2013). Este tipo de padrão gera uma
respectivos parâmetros, a ser usada para gerar a distribuição estatística do tipo Lognormal, cuja
curva da distribuição ‘t’ de Student. Percebe-se peculiaridade é que o logaritmo dos valores
na Figura 1 que o método está “a favor da medidos segue uma distribuição Normal, o que
segurança” quando tcalc < tcrit , e distinguem-se facilita muito a interpretação dos resultados
outras duas regiões além desta: uma “contra a obtidos.
segurança” à direita quando tcalc > tcrit , e, No caso dos métodos semiempíricos, o
quando se tem −tcrit ≤ tcalc ≤ tcrit , vê-se a cálculo das parcelas de ponta e de atrito se faz
região em que se pode definir o método como por meio do produto de diversos fatores, o que
“acurado”. Este valor crítico pode ser calculado induz que se aplique o teste de Normalidade para
os logaritmos dos valores analisados, de modo a
pela fórmula de planilha eletrônica tcrit =
se verificar a possibilidade de se adotar essa
−INV.T(1-0,05;n-1), para significância de 5%. O distribuição quando a Normalidade não puder ser
conceito de acurácia é importante, pois permite garantida para os dados brutos.
que se identifique a região entre os valores
críticos de t que correspondem ao intervalo de 2.2.1 Dedução do Teste de Hipótese ‘t’ para
confiança (IC) de 95% dos resultados. Dentro Amostras Pareadas com Distribuição Lognormal
deste intervalo considera-se o método acurado,
pois aleatoriamente os resultados obtidos podem Embora a distribuição Lognormal permita o
variar dentro destes limites ainda que o método tratamento do logaritmo dos dados como
semi-empírico seja extremamente bem ajustado seguindo uma distribuição Normal, a aplicação
aos valores de ensaios de carga. do Teste de Hipótese ‘t’ para amostras pareadas
A aplicação do teste ‘t’ deve ser feita apenas não é definida para aquela distribuição. Assim,
quando os dados seguem uma distribuição os autores realizaram a dedução matemática
Normal de probabilidade, ou minimamente uma
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desta aplicação de modo a permitir a perfeita


interpretação dos seus resultados. É justamente da equação (7) que se obtém a
Constata-se que para o cálculo da aplicação da distribuição ‘t’ para o caso de
probabilidade da distribuição Lognormal amostras pequenas com média e desvio-padrão
emprega-se a própria distribuição Normal com desconhecidos. Como o Teste de Hipótese ‘t’ de
uma variável auxiliar dada por X=ln(Y), onde Y Student é aplicável para os casos em que a
representa os dados brutos calculados ou distribuição das variáveis é Normal, para
medidos. É importante verificar que a variável de variáveis lognormais é possível aplicá-la aos
interesse é Y, porém, para o cálculo de sua logaritmos dos seus valores para os caso de
probabilidade usa-se a média e o desvio padrão amostras pareadas.
da variável auxiliar, ou seja, do seu logaritmo A variável de teste torna-se então a diferença
(X): µx e σx . Assim, o valor central (média ou Yd entre os logaritmos das duas variáveis
esperança matemática) e a variância da variável pareadas analisadas, aqui consideradas como
Y podem então ser calculados por (4) e (5): sendo os métodos semiempíricos (MSE) e os
resultados de ensaios de prova de carga (EC),
2 2
σ
(μx + x)
σ
( x) como dado em (8):
E[Y] = μy = e 2 =m
̆y ∙ e 2 (4)
MSE
d = ln(MSE) − ln(EC) = ln ( ) (8)
Var[Y] = E[Y2 ] − μ2y (5) EC

É importante que se mantenham sempre os


É importante lembrar que a mediana m ̆y é
valores dos métodos semiempíricos subtraindo
definida pela probabilidade de 50%, ou seja, o os valores da prova de carga para que as
valor que divide a curva de distribuição de interpretações aqui propostas na Figura 1
probabilidades em duas partes de áreas iguais. permaneçam coerentes. Com isso, a variável de
Seu valor pode ser calculado pela fórmula de interesse se torna Yd=(MSE/EC). Como a
planilha m ̆ y =INV.LOGNORMAL(0,5; μx ; σx ). comparação entre igualdade de médias de duas
Como a distribuição de X=ln(Y) é Normal, a variáveis é feita por teste de hipótese bilateral, da
qual é uma distribuição simétrica, a mediana m
̆x equação (8) resulta que testar se µd =0, é o
e a média µx coincidem, o que não acontece na mesmo que testar se a razão MSE/EC resulta
distribuição Lognormal. Desta forma, da próxima de 1,0, tornando o teste de hipótese na
equação (4) pode-se escrever (6): forma (9):
σ2x
μx = ln(μy ) − (6) H0 : μYd = 1
2 { (9)
H1 : μYd ≠ 1
Deve-se notar da equação (6) que aplicando-
se a função inversa do logaritmo, ou seja, a A equação (1) pode então ser escrita para
exponencial, à média dos logaritmos de Y diferença d como sendo (10):
(exp[µx]), não se obtém a média de Y (µy ), mas
d̅ ̆ Yd )
ln(m
sim sua mediana (m ̆ y ). Portanto, a média dos td = S = (10)

d √n Sd ⁄√n
logaritmos não é igual ao logaritmo da média.
Agora, substituindo-se na equação da
valendo todas as interpretações até aqui
distribuição Normal, pode-se calcular as
indicadas, inclusive a equação (2). Apenas ao
probabilidades da Lognormal a partir da
final é que se deve interpretar o resultado de Y d
distribuição Normal padronizada Z dada por (7):
com base no teste de hipótese dado em (9).
̆ y)
ln(y)−ln(m ln(y⁄m
̆ y)
Assim, pode-se definir os limites do intervalo de
Z= = (7) confiança como sendo dados por (11):
σln(y) σln(y)
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̆ Yd ]
IC[m ̆ Yd .e±[tcrit ∙Sd ⁄√n]
=m (11) utilizado no Brasil (Cintra e Aoki, 2010) e foi
95%
originalmente concebido a partir da correlação
sendo que a média de Yd é dada por (12): empírica entre a resistência de estacas pré-
moldadas de concreto cravadas e os resultados
S 2 de ensaios de campo tipo SPT. Com o tempo o
( d )
μYd =m
2
̆ Yd ∙e (12) método foi ampliado para considerar o
comportamento de outros tipos de estacas,
Este intervalo de confiança (11) se refere à incluindo a Hélice-Contínua. A tensão resistente
mediana e não à média da variável Yd, e os 95% de ponta (rp) e de atrito lateral (rl) são dadas
de confiança se referem aos logaritmos, porém como segue em (13) e (14).
pode-se considerar que a precisão da análise não
N
fica prejudicada, visto que a média em geral está rl = 10 ( 3L + 1) .β [kPa] (13)
contida no intervalo da mediana.
Destaca-se que essa dedução da aplicação do rp = C. α. Np [kPa] (14)
teste de hipótese ‘t’ para amostras pareadas com
distribuição Lognormal foi desenvolvida pelos
onde Np é o valor médio do índice de resistência
autores para melhor interpretar seus resultados.
à penetração na ponta ou base da estaca, obtido a
partir de três valores no entorno da ponta. Os
3 MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS E valores de C, α e β são tabelados em função do
CRITÉRIOS DE RUPTURA tipo de solo e tipo de estaca. Para estacas Hélice-
Contínua o valor de α é constante igual a 0,30 e
Como já mencionado, a aplicação prática da o de β é constante e igual a 1,00. O valor de C
proposta apresentada se fará sobre o banco de varia com o tipo de solo para argilas, solos
dados de provas de carga do trabalho de Falconi intermediários e areias, respectivamente entre
et al (1999), um dos mais extensos sobre estacas 120, 200 e 400 kPa.
tipo Hélice-Contínua, com 48 estacas, conforme
se apresenta na tabela 1. Restringiu-se a escolha 3.2 Método de Alonso (1996, 2000)
dos métodos e dos critérios de ruptura analisados
aos que constam desta tabela. Os valores da Este método foi criado exclusivamente para
Tabela 1 foram transcritos das tabelas originais estacas Hélice-Contínua a partir dos ensaios
de Falconi et al (1999), inclusive com as SPT-T (sondagens à percussão com medida de
respectivas casas decimais. Para o objetivo torque) e apresenta a seguinte forma de cálculo:
proposto de avaliação aplicabilidade, deve-se
comparar os resultados do ensaio de prova de rl = α. fs ≤ 200 kPa (15)
carga, aqui determinados pelo critério de ruptura
de Van der Veen (VDV) com as capacidades de sendo α= 0,65 e fs dado por (16):
carga (PR) calculadas com base nos resultados 100. T
máx
dos ensaios SPT, empregando-se os métodos fs = 0,41.h−0,032 (16)
semiempíricos de Décourt-Quaresma (DQ),
Alonso (AL) e Antunes e Cabral (AC). A seguir (1)
Tmín +Tmín
(2)

apresentam-se a forma de cálculo da tensão rp = β. (17)


2
resistente de atrito lateral (rl) e de ponta (rp)
destes métodos. onde, h=45cm de penetração do amostrador,
Tmáx (kgf.m) é o torque máximo obtido no ensaio
3.1 Método Décourt-Quaresma (1978) SPT-T e β varia de 200 (kPa/kgf.m) para areias,
150 para os siltes e 100 para as argilas. Tem-se
O método Décourt-Quaresma é amplamente (1)
ainda Tmín como sendo a média aritmética dos
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Tabela 1. Dimensões e capacidades de carga obtidas por métodos semi-empíricos e ensaios de prova de carga das estacas
hélice-contínua (FALCONI et al, 1999).
D L VDV DQ AL AC AC

(cm) (m) PR(kN) PR(kN) PR(kN) PR1(kN) PR4(kN)
1 50 15,50 2712,96 1467,37 1835,52 1167,85 1847,05
2 40 8,07 2416,09 531,34 915,08 754,02 873,94
3 50 11,03 1728,39 1580,08 1865,18 1351,76 1599,62
4 50 11,85 2178,02 1690,26 2491,34 1490,14 2293,59
5 50 10,50 2443,84 1156,22 1733,40 1172,60 1737,89
6 80 10,83 3116,66 1436,51 2618,63 2629,25 3000,16
7 50 20,52 3211,47 1790,34 2150,11 1578,63 2069,82
8 70 15,90 4671,85 2670,14 3799,76 2479,05 3857,27
9 70 22,25 4440,91 3662,90 4771,39 3210,77 4318,90
10 35 10,55 1976,63 830,35 1312,84 1042,11 1337,79
11 35 7,59 1191,10 619,91 971,67 714,33 1101,71
12 60 15,04 2831,42 1148,67 1539,17 1375,01 2026,98
13 70 13,67 5630,80 3976,86 5611,51 3024,96 5062,76
14 60 15,10 3920,43 2083,40 2639,96 1920,46 2632,39
15 35 18,00 1404,74 1057,41 1332,52 835,61 1258,37
16 50 13,05 2525,65 2343,83 3325,16 2152,86 2738,92
17 35 18,80 1379,54 1458,40 2169,40 1394,89 1800,83
18 35 19,20 1808,58 1267,14 1580,07 965,80 1419,34
19 35 18,30 1089,01 909,41 1144,79 806,85 1064,87
20 40 14,00 2438,00 1576,25 2366,55 1406,58 2084,53
21 40 15,04 1381,70 1133,73 1668,68 1371,73 1596,56
22 70 12,40 3305,88 2610,74 3322,54 2716,76 3014,98
23 70 12,40 3305,88 1912,83 2325,30 2529,46 2776,97
24 50 14,40 2178,02 1554,70 2519,87 1632,73 2268,22
25 60 15,87 2431,44 2602,66 3341,23 2189,98 2656,42
26 70 22,25 2864,70 2487,67 2802,38 2801,34 3824,57
27 50 12,00 850,94 679,70 805,52 522,45 849,24
28 50 17,61 3682,96 2610,06 3497,57 2810,27 3347,90
29 40 13,00 1950,00 1622,10 1826,13 1138,40 1450,10
30 60 13,50 3030,00 2441,30 3032,00 1644,70 2772,30
31 60 13,50 2990,00 1679,20 2157,70 1309,50 2096,50
32 60 14,50 2850,00 2051,40 2516,50 1256,30 1984,50
33 60 14,50 3330,00 1769,80 2098,20 1663,20 2384,59
34 35 11,00 1390,00 1045,50 1326,20 783,20 1253,20
35 50 11,00 2200,00 1140,20 1502,30 1042,90 1540,60
36 50 13,00 2230,00 1082,80 1254,00 718,10 1167,00
37 50 21,00 2480,00 1858,70 1914,40 1263,40 1880,60
38 60 11,81 2960,00 1360,10 1376,00 1485,50 1620,70
39 40 17,50 1000,00 1547,80 1912,40 918,70 1033,40
40 60 18,75 3224,00 2047,00 2397,00 1901,40 2124,80
41 60 18,75 2740,00 2049,00 2397,00 1901,40 2124,80
42 70 19,00 3060,00 3185,40 4297,70 2955,10 3721,57
43 70 23,50 4920,00 3064,70 3614,70 2411,80 3553,90
44 70 21,80 2650,00 2802,10 3199,00 2389,00 4306,60
45 70 15,80 2930,00 1817,30 1940,90 1552,33 2512,12
46 70 18,40 4030,00 3628,70 4199,60 2905,30 3465,80
47 70 18,90 4560,00 3021,00 3622,60 2226,70 3399,20
48 60 26,00 12588,7 4732,03 5998,42 4549,28 5468,38

valores de torque mínimo (kgf.m) no techo 8D estaca. Como nem sempre valores de torque
(2) estão disponíveis nas sondagens, optou-se por
acima da ponta da estaca e Tmín para o trecho 3D
abaixo da ponta da estaca, e D é o diâmetro da analisar apenas os valores calculados fazendo-se
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Tmáx =1,2N e Tmín =N, sendo N o número de representam os valores de ruptura extrapolada
golpes SPT. matematicamente, obtidos no ensaio de prova de
carga quando a ruptura física por afundamento
3.3 Método de Antunes e Cabral (1996) rápido da estaca não for verificada.

Este método utiliza os ensaios SPT, com as


seguintes relações empíricas: 4 RESULTADOS

rl = β1 .N (17) A aplicação da análise proposta aos dados


obtidos por estes métodos em comparação com o
rp = β2 .N ≤ 4000 kPa (18) critério de ruptura de Van der Veen deve seguir
algumas etapas, como se descreve a seguir,
A tabela 1 apresenta os valores ACPR1 calculados exemplificado para o método de Antunes e
com os valores mínimos da tabela 2 e AC PR4 com Cabral (1996), com seus valores mínimos.
os máximos, tomando-se assim apenas os
valores extremos nesta análise. 4.1 Verificação da Normalidade dos Dados

Tabela 2. Valores mínimos e máximos de β1 e β2 Aplicando-se o Teste de Kolmogorov-Smirnov


[kPa/golpe] (ANTUNES e CABRAL, 1996). (KS), por exemplo, aos dados da coluna ACPR1
Solo β1 β2 da tabela 1, obtém-se o resultado da Figura 2.
Areia 400 a 500 200 a 350
Silte 250 a 350 100 a 200
Argila 200 a 350 100 a 150

3.4 Critério de Ruptura de Van der Veen


(1953)

O critério de Van der Veen, com o qual se vai


comparar cada um dos métodos anteriores,
baseia-se na definição da carga de ruptura
segundo um ajuste exponencial da curva
carga(P)–recalque(), dado por:
Figura 2. Resultado do Teste KS para os valores do
P=PR .(1 − e −(a.δ+b)
) (19) método de Antunes e Cabral, valores mínimos (ACPR1).

A linearização de (19) para regressão linear Da Figura 2 observa-se que o valor de


fica (20): probabilidade de ajuste à curva Normal (P-valor)
resultou 0,013. De acordo com Benjamin e
P Cornell (1970, pág. 466), a estatística de teste do
a.δ+b= − ln.(1 − P ) (20)
R teste K-S é a maior diferença “Dn ” absoluta
verificada entre o valor da função de
onde: P é a carga aplicada durante o ensaio de probabilidade cumulativa e o valor obtido no
carga de estaca; PR é a assíntota da exponencial, histograma cumulativo dos dados. Assim, para
obtida por tentativas até que se obtenha uma reta se atestar que os dados seguem
e representando o valor de ruptura extrapolada; a aproximadamente uma distribuição Normal, o
é coeficiente angular da reta de regressão; b é o valor de Dn deve ser menor do que o valor crítico
intercepto da reta de regressão, proposto por tabelado para o nível de significância adotado e
Aoki (1976). para o tamanho “n” da amostra.
Os resultados de PR dados por este critério Fazendo-se a análise pelo P-valor (valor de
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probabilidade), como é a preferência dos autores,


a normalidade dos dados é atestada sempre que
o mesmo for maior do que o nível de
significância adotado. Como o teste K-S é
considerado conservador (pode indicar não-
normalidade em amostras onde outros testes
indiquem normalidade), os autores propõem
adotar a=0,10 ao invés de 0,05 como é o mais
comum. Desta forma, o P-valor=0,013 está
muito abaixo de 0,1, com o qual se poderia
atestar a normalidade dos dados. Assim, foram Figura 3. Resultado do Teste KS para o logaritmo dos
extraídos os pontos extremos, primeiramente valores do método de Antunes e Cabral, valores mínimos
apenas a Estaca 48 da tabela 1, resultando P- (ACPR1).
Valor de 0,043. Retirando-se em seguida
também a Estaca 27, o P-valor resulta 0,035, ou Procedendo o mesmo para os valores da
seja, ambos muito abaixo do esperado para uma coluna VDV, o P-valor resultou abaixo de 0,01,
distribuição Normal. não se podendo assumir sua normalidade.
A retirada de outros pontos extremos (os Embora a retirada da Estaca 48 fosse suficiente
quais eram os mais distantes da reta na figura 2) para elevar o P-valor para 0,136, o que seria
também resultou em valores abaixo de 0,1, satisfatório, dado que as análises entre as duas
resultando em perda de dados sem que isso variáveis devem ser feitas com o mesmo tipo de
levasse a uma melhor aproximação da Normal. distribuição, aplicaram-se os logaritmos dos
Diante disto, a interpretação dos autores foi de valores VDV e obteve-se no teste KS um P-valor
que a distribuição Normal não representava os de 0,126, indicando que esta variável também
dados, sendo necessária a escolha de uma outra pode ser tratada como Lognormal.
mais adequada. A escolha da distribuição Para os valores da coluna DQ da Tabela 1
Lognormal para estes dados se deu por conta dos obteve-se inicialmente um P-valor de 0,066,
conceitos discutidos no item 2.2 acima e, assim, insatisfatório para atestar a normalidade. Com a
calcularam-se os logaritmos dos valores da retirada da Estaca 48 dos dados, obteve-se um P-
coluna ACPR1 e reaplicou-se o teste obtendo-se valor >0,15, plenamente satisfatório. Como a
agora um P-valor > 0,15 (e, portanto, maior do retirada dela melhorou tanto os resultados de
que 0,1), sendo plenamente satisfatório (Figura VDV quanto de DQ, poder-se-ia aplicar
3) e atestando que a variável pode ser tratada diretamente o teste ‘t’ para testar a igualdade das
como tendo distribuição Lognormal. médias de ambos diretamente, o que seria
preferível. Contudo, para garantir certa
homogeneidade nas análises aqui apresentadas,
optou-se por tratar toda a Tabela 1 como
variáveis Lognormais, sendo o resultado
apresentado na Tabela 3.

4.2 Resultados para Variáveis Lognormais

É importante verificar na Tabela 3 que os valores favor da segurança”, pois indica que a razão
resultantes, inclusive a média e o intervalo de MSE/VDV está entre 0 e 1. Caso os limites do
confiança, referem-se ao logaritmo dos dados. intervalo de segurança resultassem positivos,
De modo geral, enquanto os limites inferior e então essa razão poderia assumir um valor maior
superior dos intervalos de confiança resultarem do que 1, resultando o método como sendo
negativos, a classificação dos métodos será “a “contra a segurança”. E quando apenas o limite
superior é positivo, pode-se considerar o método “acurado”.
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Tabela 3. Resumo dos resultados gerais para os métodos de Antunes Cabral (AC), Décourt-Quaresma (DQ) e Alonso
(AL) em relação ao critério de Van der Veen (VDV), tratados como variáveis Lognormais.
Método µd sd sx t t crit P-valor IC[95%] IC[95%] Classificação
Semiempírico (kN) (kN) Inf. (kN) Sup.(kN)
AC PR1 -0,501 0,295 0,043 -11,75 2,012 6,82E-16 -0,587 -0,415 A favor da segurança
AC PR4 -0,185 0,276 0,398 -4,656 2,012 1,33E-05 -0,265 -0,105 A favor da segurança
DQ -0,401 0,333 0,048 -8,339 2,012 3,99E-11 -0,497 -0,304 A favor da segurança
AL -0,149 0,322 0,046 -3,192 2,012 0,0012 -0,242 -0,055 A favor da segurança

A Tabela 4 mostra os resultados das equações aplicável às 3 obras analisadas.


(11) e (12) para os dados, lembrando que Yd é a
razão entre o valor calculado pelo métodos
semiempírico e a prova de carga (MSE/VDV): 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou o conceito de


Tabela 4. Valores da média, mediana e limites do intervalo “aplicabilidade” dos métodos semiempíricos de
de confiança da mediana para Yd=MSE/VDV.
capacidade de carga de estacas a partir das
MSE µYd m̆ Yd ICinf [m
̆ Yd ] ICsup [m
̆ Yd ]
ACPR1 0,633 0,606 0,556 0,660
normas técnicas brasileira e europeia,
ACPR4 0,863 0,831 0,767 0,900 respectivamente a NBR6122 e o Eurocode 7, e
DQ 0,708 0,670 0,608 0,738 propôs uma metodologia estatística para avaliá-
AL 0,908 0,862 0,785 0,947 la.
Como já mencionado, a Tabela 4 apenas Tal metodologia embasou-se no teste de
confirma a classificação dada na Tabela 3, sendo hipótese ‘t’ de Student para amostras pareadas,
que enquanto ambos os limites do intervalo de de modo a comparar o conjunto de valores
confiança forem menores do que 1,0 o método calculados pelos métodos semiempíricos com os
será “a favor da segurança”. valores obtidos de critérios de ruptura aplicados
às curvas carga-recalque de ensaios de prova de
4.3 Exemplo de aplicação a estacas de obra carga. Para os casos em que os conjunto de dados
não se demonstrou seguindo uma distribuição de
O banco de dados da Tabela 1 apresenta algumas probabilidade Normal, os autores realizaram a
estacas (15 a 19; 30 a 35 e 43 a 47) instaladas dedução matemática para aplicação do teste ‘t’ a
cada conjunto no mesmo terreno, de modo que a variáveis com distribuição Lognormal, que se
proposta pode ser usada para se verificar a demonstrou adequada ao conjunto de dados
aplicabilidade de um dado método aos solos analisado.
locais em cada caso. A Tabela 5 mostra o A aplicação prática da proposta foi feita sobre
exemplo dessa aplicação para o método ACPR1. o banco de dados de 48 estacas do tipo Hélice-
Contínua constante do trabalho de Falconi et al
Tabela 5. Valores da média, mediana e limites do intervalo (1999), onde foram analisados os métodos
de confiança da mediana para Yd=ACPR1/VDV. semiempíricos de Décourt-Quaresma (DQ),
Obra µYd m̆ Yd ICinf [m
̆ Yd ] ICsup [m
̆ Yd ]
Alonso (AL) e Antunes e Cabral (AC). Todos
15-19 0,752 0,727 0,526 1,003
30-35 0,493 0,491 0,440 0,548 foram comparados com os resultados do critério
43-47 0,630 0,607 0,433 0,852 matemático de ruptura de Van der Veen (1953).
Todos os dados foram analisados com relação à
Da Tabela 5 observa-se que apenas para a distribuição Normal e alguns indicaram ser
obra das estacas 15 a 19 o método ACPR1 pode claramente variáveis com distribuição
ser considerado “acurado”, enquanto para as Lognormal. Diante disto, resolveu-se aplicar
demais é a favor da segurança, sendo, portanto, para todo o conjunto de dados a dedução feita do
teste ‘t’ para variáveis Lognormais.
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Os resultados obtidos para estes métodos INSTITUTO PORTUGUÊS DA QUALIDADE (2010).


indicaram que todos podem ser considerados “a Eurocódigo 7: Projecto geotécnico - Parte 1: Regras
Gerais, NP EN 1997-1: 2010.
favor da segurança” para o conjunto de dados FALCONI, F.F., et al (1999). Estaca Hélice-Contínua: a
analisado, sendo, portanto, aplicáveis no sentido experiência atual. ABMS/ABEF. São Paulo, 162p.
indicado pelas normas técnicas. MORETTIN, L.G. (2013) – Estatística básica:
A análise também foi aplicada para 3 casos de probabilidade e inferência. Pearson Prentice-Hall, pp.
obras identificáveis no banco de dados de 266-278.
Falconi et al (1999), demonstrando-se o exemplo
de aplicação para o método de Antunes e Cabral
(1996) com seus valores mínimos. A
interpretação dos resultados do intervalo de
confiança para a mediana da razão deste método
com o critério de Van der Veen demonstrou que
ele pode ser considerado “acurado” para uma das
obras e “a favor da segurança” para as outras
duas.
Os autores indicam a possibilidade de se
aplicar a metodologia proposta a outros tipos de
estacas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Centro Universitário


FEI e à FAPESP pelo apoio à publicação desta
pesquisa.

REFERÊNCIAS

ALONSO, U. R. (2000). Reavaliação do método de


capacidade de carga de Estacas Hélice Contínua
proposto por Alonso em 96 para duas regiões
geotécnicas distintas. SEFE IV, vol 2, pp. 425-429.
ALONSO, U. R. (1996). Estacas Hélice Contínua com
Monitoração Eletrônica- Previsão da Capacidade de
Carga através do Ensaio SPTT. SEFE III, vol 2, pp.
141-145.
ANTUNES, W.R. e CABRAL, D.A. (1996). Capacidade
de Carga de Estacas Hélice Contínua. SEFE III, vol 2,
pp. 105-109.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2010). Projeto e execução de fundações.
NBR-6122. Rio de Janeiro-RJ.
BENJAMIN, J.R. e CORNELL, C.A. (1970). Probability,
Statistics and Decision for Civil Engineers. McGraw
Hill. 684p.
CINTRA, J.C.A., AOKI, N. (2010). Fundações por
estacas: projeto geotécnico. Ed. Oficina de Textos.
96p.
DEVORE, J.L. (2013). Probabilidade e Estatística para
Engenharia e Ciências. Ed. Cengage Learning. 692p.
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Análise Estatística de Excentricidades das Estacas do Tipo Hélice


Contínua na Região do Paiva
Ricardo de Souza Delgado
UPE, Recife - PE, Brasil, ricardodsdelgado@gmail.com

Jeovana da Silva Souto Maior


UNICAP, Recife - PE, Brasil, jeovanasouto0@gmail.com

Pedro Eugenio Silva de Oliveira


UNICAP, Recife - PE, Brasil, pedrocivil@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho apresenta uma análise estatística das excentricidades das estacas do
tipo hélice contínua com dados obtidos de três obras, que para o estudo foram chamadas de A, B e
C. As mesmas localizam-se, no Cabo de Santo Agostinho. As três haviam estacas com duas
dimensões. A princípio foram coletados os dados de excentricidades nas obras durante a execução
do serviço. Posteriormente, comparou-se os números obtidos em campo com a locação de cada
estaca determinada em projeto. Tal análise visou fornecer a média da amostra, os desvios padrões e
os histogramas em relação a excentricidade. Para as três obras foram encontradas médias próximas
de excentricidade executiva ded 6 cm, e fato dos dados serem parecidos, é provável que consistam
de uma mesma população.

PALAVRAS-CHAVE: Excentricidade, Hélice, Fundações.

1 INTRODUÇÃO Porém além de usar uma fundação mais


prática e eficiente, economizar também parte de
Com a crescente demanda por reduções nos impedir custos desnecessários, ou seja evitar
custos das construções, surge cada vez mais a problemáticas que causem gastos não
necessidade de aperfeiçoamentos na fase da planejados. Este artigo apresenta de uma análise
concepção de projeto. Para que isto seja estatística das excentricidades das estacas do
possível, é necessária uma base teórica tipo hélice contínua de dados obtidos em três
aprofundada para que se tenha uma obras situadas no Cabo de Santo Agostinho.
maior confiabilidade nas decisões tomadas. A O conceito de excentricidade, de acordo com
engenharia de fundações vem evoluindo o dicionário Aurélio (2014), é um deslocamento
constantemente, principalmente com relação a em relação a um centro de referência.
novos equipamentos para a execução de No caso das estacas hélice contínua a
elementos de fundações mais produtivos e de excentricidade é um deslocamento proveniente
melhor qualidade e desempenho, que de erros associados à execução do serviço, ou
possibilitem uma relação custo-benefício cada efeito de cravação de uma estaca sobre a outra.
vez melhor (Neto, 2002). Dentro deste A NBR 6122 (ABNT/2010), que trata de
propósito surgiram no mercado e tiveram um projeto e execução de fundações, diz que é
grande desenvolvimento nos últimos anos, as tolerada, sem qualquer correção, uma
estacas do tipo hélice contínua, sendo hoje, uma excentricidade mínima de 10% do diâmetro do
opção de fundação tão utilizada quanto às pré- fuste da estaca. Para desvios superiores, deve
moldadas na Região Metropolitana do Recife ser realizada uma verificação estrutural que,
(RMR). caso o dimensionamento seja insuficiente para a
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absorção desta solicitação, deve ser corrigido Figura 3. Aumento do número de estacas.
mediante reforço estrutural. Que, em soluções
práticas para sistemas de fundações, é absorvida
pelo reforço de cintas de travamento, ou pelo
acréscimo do número de estacas por bloco.
As figuras 01 e 02 mostram
esquematicamente o problema de
excentricidade e a geração de esforços sobre o
bloco de coroamento.

Figura 4. Uso de cintas de travamento.

2 DESCRIÇÃO DAS OBRAS E COLETA


DE DADOS

Foram analisados os dados de três obras


diferentes nomeadas de obra A, obra B e obra
C. As mesmas localizam-se no Cabo de Santo
Figura 1. Estaca sem excentricidade. Agostinho/PE. A obra A consiste de um
empreendimento com área de terreno de
20.114,97 m² e 34.680,87 m² de área construída
dispondo de 04 torres de 13 pavimentos cada e
de 02 a 04 apartamentos por andar com área
variando entre 96,7 m² até 115,60m². A obra B
se trata de um empreendimento com área de
terreno de 21.272,01 m² e 31.787,42 m² de área
construída tendo 03 torres de 13 pavimentos
cada e de 02 a 04 apartamentos por andar com
área variando entre 127,20 m² até 143,20 m². A
Figura 2. Surgimento da flexão causado pela obra C consiste de um empreendimento com
excentricidade. 29.984,60 m² de área de terreno e 40.132,02 m²
de área construída contendo 07 torres de 08
As figuras 03 e 04 mostram as soluções que pavimentos cada e de 02 a 04 apartamentos por
são normalmente propostas. andar com área variando entre 112,49 m² até
229,61 m². A tabela 1 apresenta um resumo
destes dados de cada obra.

Tabela 1. Resumo de dados.


OBRA T (m²) AC (m²) NPAV NT
A 20114,97 34680,87 13,00 4
B 21272,01 31787,42 13,00 3
C 29984,60 40132,02 8,00 7

Onde:
T = Área do terreno
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AC = Área construída B 0,06 m 15% 12%


NPAV = Número de pavimentos C 0,06 m 15% 12%
NT = Número de torres Onde:

A princípio foram coletados os dados de


e = Média das excentricidades
excentricidades nas obras durante a execução do %e400 = Porcentagem para diâmetros de 400
serviço. Os dados foram obtidos em mm
coordenadas geográficas e com auxílio da
estação total pela empresa responsável pelas
e
% 500 = Porcentagem para diâmetros de 500
obras e foi recebido pelo autor através de dois mm
integrantes da organização. Posteriormente,
comparou-se os números obtidos em campo Pode-se observar que as médias foram iguais
com a locação de cada estaca determinada em para as três obras. Diante disto temos uma
projeto. Com isto, foi possível determinar os maior confiabilidade em utilizar os dados
deslocamentos nas direções “x”, “y” e a obtidos para possíveis tomadas de decisões.
excentricidade total. Como mencionado anteriormente a norma
Os dados de excentricidades coletados tolera, sem correções, um deslocamento de 10%
correspondem a estacas de 400mm e 500mm de do diâmetro da estaca, porém, é possível notar
diâmetro, porém , no material cedido não havia que as excentricidades médias obtidas foram de
informação, por estaca, dos diâmetros. A tabela 15% para estacas de 400 mm de diâmetro e de
01 mostra a quantidade de dados por obra e o 12% para as estacas de 500 mm de diâmetro.
total de dados obtidos. Portanto teremos um número significativo de
estacas que terão que passar por avaliações de
Tabela 2. Número de dados de excentricidades por obra. desempenho e consequentemente terão que ser
reforçadas.
Nº de dados de As figuras 05, 06 e 07 mostram os
OBRA
excentricidades histogramas que foram obtidos para as três
obras.
A 428
B 368
C 279
TOTAL 1075

De posse destes dados, foi realizada a análise


estatística que determinou as médias
aritméticas, os desvios padrões associados e os
histogramas.

3 RESULTADOS

A tabela 02 mostra os valores obtidos para as Figura 5. Histograma da obra “A”.


médias aritméticas e sua relação com o
diâmetro das estacas.

OBRA e e
% 400 e
% 500
A 0,06 m 15% 12%
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Diante da proximidade dos resultados


obtidos para as três obras é provável que as
amostras consistam de uma mesma população.
Com isto, temos uma grande confiabilidade em
utilizar estes dados para o dimensionamento de
estacas de obras futuras e, com isso, possibilitar
a diminuição do número de estacas por bloco e
evitando o uso de cintas de travamento.
Embora os resultados obtidos sejam bastante
semelhantes, nota-se nos histogramas das obras
A e B que existem valores superiores ao
Figura 6. Histograma da obra “B”.
característico. Por isso, deve-se ter um controle
mais efetivo da execução do sistema de
fundações a fim de evitar valores de
excentricidades que sejam superiores aos
admissíveis pelas estacas.

4 CONCLUSÕES

Todos os resultados obtidos nas três obras


foram bastante próximos.
Pelo fato dos dados serem tão próximos, é
Figura 7. Histograma da obra “C”. provável que consistam de uma mesma
população.
Pode-se observar que o intervalo dos valores É necessário um controle mais efetivo na
da Obra “B” foi o maior, variando entre 0 e 0,41 execução do sistema de fundações, pois, apesar
m, enquanto o intervalo da Obra “A” variou de os dados obtidos serem bastante
entre 0 e 0,39 m e o da Obra “C” entre 0 e semelhantes, observou-se, nos histogramas das
0,17m sendo o menor dentre os três. Portanto é obras A e B, valores superiores ao
possível afirmar que a Obra “B” teve uma característico.
dispersão maior dos dados e que a Obra “C”
teve a menor dispersão dentre as obras REFERÊNCIAS
analisadas.
Isto pode ser comprovado observando a
tabela 03 dos desvios padrões. Associação Brasileira de Normas Técnicas.(2010). NBR
6122 - Projeto de Execução de Fundações. Rio de
Tabela 3. Desvios Padrões Janeiro.
DELGADO, R.S. (2016). Análise estatística da
DESVIO excentricidade das estacas do tipo hélice contínua na
OBRA
PADRÃO região do paiva. Trabalho de Conclusão de Curso,
A 0,04 m Graduação em Engenharia Civil, Escola Politécnica
de Pernambuco – Universidade de Pernambuco.
B 0,05 m Recife.
C 0,03m NETO, JOSÉ A. DE ALMEIDA. (2002). Análise do
desempenho das estacas hélice contínua e ômega -
Como esperado, o desvio padrão da Obra Aspectos executivos. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
“B” se mostrou o maior dentre as obras, e o
Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
desvio da Obra “C” o menor. São Paulo, 01p.
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Análise Numérica de Aspectos Geotécnicos das Fundações de


Torres de Aerogeradores Instalados na Zona Costeira do
Estado do Rio Grande do Norte
Lucas da S. Moraes 1
Faculdade Estácio de Natal, Natal, Brasil, lucas.moraes@live.estacio.br

Lílian O. Lima 2
Faculdade Estácio de Natal, Natal, Brasil, xlilianoliveira@hotmail.com

RESUMO

A disponibilidade de energia apresenta-se como um fator de fundamental importância para o


desenvolvimento econômico e social de um país. Nesse contexto, encontra-se a necessidade de
fomento do setor energético em uma matriz diversificada, através de fontes renováveis, como a de
origem eólica. Apesar, disso são escassas as pesquisas regionais e nacionais a respeito dos aspectos
geotécnicos relacionados ao projeto de fundações de aerogeradores. Propõe-se com esse trabalho
realizar a investigação de aspectos geotécnicos relacionados à capacidade de carga e recalque das
fundações indiretas de 1 (um) aerogerador, localizado em um parque eólico instalado no município
de São Bento do Norte, zona costeira do Rio Grande do Norte. O estudo teve como objetivo
comparar diferentes metodologias para dimensionamento de fundações com simulações numéricas
feitas por meio do método dos elementos finitos, através da utilização de softwares. A pesquisa foi
iniciada com a coleta de dados; a segunda fase contemplou a avaliação da capacidade de carga das
estacas de fundação dos aerogeradores pelos métodos semiempíricos; a terceira fase contemplou as
simulações numéricas; por fim, a quarta fase corresponde à consolidação dos dados e sua
interpretação. Como principal resultado, foi concluído que o método numérico se mostrou mais
conservador ao se comparar os resultados das demais metodologias investigadas, principalmente, no
que tange as deformações verticais ou recalques e a formação do arqueamento do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, Fundações, Capacidade de Carga, Recalque, Análise Numérica.

1 INTRODUÇÃO hidrelétricas) e que também serviu como mola


propulsora para os investimentos no setor de
A energia apresenta-se com um dos energia eólica.
pilares fundamentais para o desenvolvimento Existem atualmente no Brasil 437
socioeconômico de um país, tratando-se de usinas de energia eólica que conjuntamente
insumo básico que influi de maneira direta na possuem capacidade instalada para produção de
infraestrutura dos setores produtivos e de 10,92 GW, o que representa 7,2% da matriz
geração de emprego e renda. energética brasileira. O crescimento foi
Especificamente sobre a situação do verificado nos últimos anos decorrente,
Brasil, além de ter acompanhado a tendência primordialmente, de programas governamentais
mundial de modificação da matriz energética, de incentivo à contratação de empreendimentos
houve uma grave crise do setor nacional (seca de geração de energia eólica, como o
generalizada nos últimos anos que impactou o PROEÓLICA e PROINFA. Incluindo-se os
sistema, na maior parte formado por usinas dados sobre parques eólicos em fase de
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instalação e, também, os já contratados há uma O objetivo geral desta pesquisa é


expectativa de aumentar a capacidade instalada analisar o emprego de diferentes metodologias
até o final de 2020, chegando a 17,92 GW no dimensionamento de fundações de bases de
(ABEEOLICA, 2017). aerogeradores do estudo de caso. Como
Incluindo-se os dados sobre parques objetivos específicos tem-se: coletar e organizar
eólicos em fase de efetiva construção e também dados obtidos por meio de sondagens no local
os já contratados há uma expectativa de dobrar de estudo e, associar aos parâmetros
a capacidade instalada até o final de 2020, envolvidos; Avaliar a capacidade de carga e
chegando a 17,92 GW, a Figura 1 retrata essas estimar recalques das estruturas analisadas por
estimativas. métodos semiempíricos nas condições de
carregamento de projeto; Calibrar modelo
numérico a partir dos parâmetros associados às
sondagens e das condições de contorno do
projeto; Aplicar o modelo numérico
desenvolvido na análise individual das
fundações dos aerogeradores para obtenção de
dados de deformações e distribuição de tensões
no maciço de solo e comparar os resultados de
diferentes metodologias (semiempírica e
numérica) aplicadas ao estudo de caso.

Figura 1 - Evolução da capacidade energética instalada 2. REFERÊNCIAL TEÓRICO


no Brasil (Fonte: ABEEólica, 2017)
Entende-se por fundação o elemento
Em relação ao avanço das pesquisas
estrutural responsável pela transferência dos
na área, pouca atenção tem sido dada ao
carregamentos da superestrutura ao solo de
comportamento geotécnico dessas estruturas,
apoio. O projeto de fundação corretamente
sobretudo em relação à interação
dimensionado apresenta segurança em relação
solo/estrutura. Isso é demonstrado na literatura
aos possíveis modos de colapso e aos
e manuais técnicos, os quais tratam o assunto
deslocamentos. Para conhecer o solo onde se
com muita superficialidade. Além disso, a
pretende executar um elemento de fundação é
especificidade do projeto de fundações de
necessário a execução de sondagens. A
bases eólicas contempla uma grande gama de
sondagem à percussão (SPT) é a técnica mais
variáveis que vão desde carregamentos não
difundida no Brasil. Por meio de relatórios, a
usuais na maioria das estruturas (cargas
sondagem do tipo SPT caracteriza o tipo de
dinâmicas e de tração) até parâmetros do solo.
solo, sua resistência e o nível do lençol freático.
Este por sua vez, merece uma atenção
Um dos aspectos condicionantes para o
especial, pois os solos costeiros do Rio Grande
desenvolvimento do projeto de fundações de
do Norte são distintos dos solos avaliados que
um parque eólico é a sua localização, pois
embasaram os métodos semiempiricos,
graças à heterogeneidade do solo, têm-se
largamente utilizados em projetos de
parâmetros geotécnicos diferentes e
fundações. Justificando, portanto, a adoção de
consequentemente resistências distintas para o
um método racional e não empírico para
solo. A heterogeneidade do solo, portanto,
analisar o problema, como alternativa mais
implica diretamente na capacidade de carga e
difundida nas pesquisas geotécnicas nas
nas deformações de um elemento de fundação.
últimas décadas é proposto o uso do método
A avaliação da capacidade de carga de
dos elementos finitos por meio de software
uma fundação considera parâmetros
comercial para análise de problemas
geotécnicos e geométricos (dimensões da
geotécnicos, Plaxis.
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estrutura da fundação a ser executada). Para as apresentar essas estimativas é por meio das
fundações profundas podem ser empregados os curvas carga x recalque, esta relaciona níveis
métodos semiempíricos de Aoki-Velloso (1975) de carregamento crescentes sobre o elemento de
(1), Décourt-Quaresma (1978) (2) e Teixeira fundação e sua respectiva deformação vertical.
(1996) (3), conforme equações detalhadas As curvas carga x recalque para fundações
abaixo. Para a capacidade de carga em sapatas profundas podem ser encontradas pela equação
(fundações rasas) pode ser utilizado a equação de Van der Veen (1953) (5).
de capacidade de carga de Terzagui com as
proposições de Vesic (1975). Métodos (4)
semiempíricos, em engenharia de fundações,
são aqueles que mesclam métodos racionais
com observações de campo por meio de Onde: : encurtamento elástico, A: Área da
sondagens e ensaios específicos. seção da estaca, Ec: modulo de elasticidade do
material da estaca, Pi: carga axial do segmento
analisado da estaca. Li comprimento do
(1) segmento analisado da estaca. Segunda parcela
compressão do solo, : propagação das tensões
Onde: R = Capacidade de Carga Total, U = no solo, H: espessura da camada do solo
perímetro da seção da estaca, = fatores considerada, Es: modulo de deformabilidade do
de correção, e solo.
,
= média do valor do SPT, = comprimento
(5)
do segmento unitário, = média do valor do
SPT na cota de assentamento da estaca,
imediatamente anterior e imediatamente Onde: P: Carga aplicada a estaca considerada.
posterior, R: Carga de ruptura da estaca. P: recalque
considerado. a: coeficiente que depende da
carga de ruptura e do recalque total.
Simulações numéricas têm sido
(2)
utilizadas com frequência ao longo das últimas
Onde: C = coeficiente característico do solo, β: décadas como ferramenta para o estudo do
fator associado a lateral da estaca que leva em comportamento de estruturas enterradas. Dentre
consideração ao tipo de solo e tipo de estaca, α: os métodos numéricos, o método dos elementos
β: fator associado a ponta da estaca que leva em finitos (MEF) é o de uso mais frequente. Além
consideração ao tipo de solo e tipo de estaca, L disso, para as análises numéricas de elementos
= Comprimento da estaca. de fundações profundas, como as estacas, a
observação no estado plano de deformação é a
(3) mais recorrente, justificando o estudo do
problema de forma bidimensional.
O desenvolvimento de um projeto de Os modelos constitutivos têm a função
fundações também contempla a avaliação dos de reproduzir, interpretar e prever o
recalques. Recalque é o termo utilizado em comportamento tensão x deformação de um
engenharia civil para designar o fenômeno que determinado material. O modelo constitutivo
ocorre quando uma edificação sofre um que será empregado para representação do solo
rebaixamento devido ao adensamento do solo no presente trabalho será o modelo elástico
sob sua fundação. Essas deformações podem ser perfeitamente plástico com critério de ruptura
estimadas pelo método Shemertman (1978) para de Mohr-Coulomb, esse por sua vez, necessita
fundações rasas e Aoki (1979) (4) para de parâmetros como: coeficiente de Poisson (ν),
fundações profundas. A forma mais prática de coesão (c), ângulo de atrito (ϕ) e ângulo de
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dilatância (ψ). E a rigidez do solo é descrita por característico, uma vez que se estimou trabalhar
meio do módulo de deformabilidade (E). com uma ampla faixa de tipos de solos, desde
As fundações serão modeladas como solos puramente arenosos até solos com
elementos de placa (plates) e o modelo características mais argilosas e ricos em matéria
constitutivo atribuído será o elástico linear. Este orgânica. Nesta primeira fase também foi
modelo envolve dois parâmetros principais, o realizada a atribuição de parâmetros e
módulo de elasticidade (E) e coeficiente de interpretação das sondagens, que consiste na
Poisson (ν). O modelo linear é muito limitado correlação dos dados do SPT com tabelas e
para simulação do comportamento do solo, ábacos de pesquisadores consagrados para
sendo preferencialmente atribuído às estruturas, obtenção semiempírica de diversas variáveis do
no caso desta pesquisa, associado ao material da solo (peso específico, coesão, módulo de
estrutura da fundação. deformabilidade, ângulo de atrito interno,
resistência não drenada de argilas e etc.). Por
3. METODOLOGIA fim, a primeira fase contou com uma visita em
O projeto consiste na análise numérica campo com a finalidade de confirmar as
aplicada à simulação de uma obra de instalação características in situ do solo, além do processo
de um complexo eólico, a fim de investigar construtivo a ser simulado numericamente.
aspectos geotécnicos relacionados à capacidade A segunda fase do estudo contemplou
de carga e recalque de uma fundação de a avaliação da capacidade de carga das estacas
aerogerador. A obra em questão inclui 80 de fundação dos aerogeradores pelos métodos
aerogeradores distribuídos em 7 (sete) parques semiempíricos de Aoki-Velloso (1975),
eólicos, localizados nas proximidades do Décourt-Quaresma (1978), Teixeira (1996)
município de São Bento do Norte no Rio usando as equações apresentadas na
Grande do Norte, como ilustrado na Figura 2. fundamentação teórica. Também foram
avaliados os recalques totais e imediatos dessas
estruturas pelo método Aoki (1979) para
fundações em estaca. Além disso, foi estimada a
curva carga x recalque pela equação de Van der
Veen (1953) para fundações profundas. Os
cálculos foram reunidos e apresentados em
forma de planilhas e estão alinhados ao que
preconiza a norma NBR 6122 – Projeto e
execução de fundações (2010). O objetivo da
segunda fase foi balizar a modelagem numérica
por meio dos resultados obtidos, bem como,
Figura 2 – Complexo Eólico Cutia (Fonte: Dois A abrir a discussão a cerca da eficiência dos
Engenharia, 2016)
métodos semiempíricos de capacidade de carga
A coleta de dados que subsidiou os e recalque para os solos da costa do Rio Grande
modelos numéricos foi realizada a partir de do Norte.
relatórios de sondagens fornecidos pela empresa A terceira fase do estudo foram
responsável pela execução do complexo eólico. realizadas as simulações numéricas, onde
As sondagens a percussão (SPT) foram realizou-se a etapa inicial de calibração, com
executadas nas mesmas coordenadas de locação análises preliminares avaliando os parâmetros
das torres dos aerogeradores. do solo encontrados na primeira fase. Questões
A primeira fase do estudo contemplou de definição das condições de contorno, ajustes
a aquisição, organização e classificação dos no modelo constitutivo, parâmetros associados
relatórios de sondagens. Estes foram, por sua à estrutura (rigidez axial e à flexão) também
vez, divididos por região e tipo de solo foram investigados em uma etapa inicial. Após
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a validação do modelo, foram iniciadas as desenvolvido e eventuais provas de carga


simulações das fundações dos aerogeradores estática.
sob as condições de carregamento de projeto. A ferramenta computacional escolhida
Foi investigada a estaca 12 do bloco de para as análises numéricas foi o programa
coroamento da fundação denominada GU 09, geotécnico Plaxis (versão 8.2), da empresa
ilustrado na Figura 3. A escolha desta estaca se holandesa Plaxis bv, destinado especificamente
deu pelas cargas, as quais ela está submetida, à análise de deformações, tensões e estabilidade
que são de natureza predominantemente em engenharia geotécnica. O programa é
estática, contudo é importante ressaltar que no equipado com recursos para lidar com vários
projeto fornecido, foi avaliado carregamentos aspectos de estruturas geotécnicas complexas e
dinâmicos. O conjunto arranjo geral da processos de construção, utilizando
fundação é constituído pelo bloco de fundação procedimentos computacionais robustos. O
(de secção circular com altura variável) e programa abrange os seguintes módulos: Plaxis
estacas que suportam a torre do aerogerador. Input, Plaxis Calculations, Plaxis Output e
Plaxis Curves (PLAXIS, 2015).
A Figura 4 representa o modelo
desenvolvido para o estudo de caso. A
modelagem dos elementos finitos foi
bidimensional e fez uso de malha triangular de
15 nós para o solo, enquanto que para a
modelagem da estaca foi usado elementos de
placa (plate). O modelo constitutivo adotado
para o maciço de solo foi o elástico
perfeitamente plástico com critério de ruptura
de Morh-Coulomb, para o material da estaca foi
empregado o elástico linear.

Figura 3 – Locação das estacas na fundação. (Fonte:


projeto empresa Dois A Engenharia, 2016.)

A quarta fase do estudo correspondeu à


consolidação dos dados e sua interpretação. A
partir de uma comparação entre os resultados
dos métodos semiempíricos e do modelo
numérico desenvolvido foi realizada uma
análise crítica a respeito da confiabilidade dos
resultados obtidos e conservadorismo dos
métodos semiempíricos. Também foram
analisadas as distribuições das tensões no
maciço de solo em diferentes pontos das
fundações do estudo de caso apresentado, Figura 4 - modelagem dos elementos finitos foi
verificando a intensidade da formação do bidimensional e fez uso de malha triangular.
arqueamento do solo em condições distintas.
Além disso, foram fomentados gráficos e mapas Os parâmetros associados as
que destaquem os resultados dos métodos características dos solos são descritos nas
semiempíricos, do modelo numérico tabelas abaixo.
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estaca em queda livre de uma altura variável


Tabela 1 – Parâmetros associados ao solo entre 0 e 65 cm, o pilão, por sua vez, é acionado
Solo COTA Nspt ϒ ϒsat Es
por um guindaste equipado com um sistema
s m média kN/m³ kN/m³ Mpa
mecanizado. A Figura 5 apresenta o arranjo do
ensaio de carga dinâmica usado em GU09.

1 39 105 Tabela 2 – Parâmetros associados à estaca.


2 45 122 Parâmetro Unidade Valor
Diâmetro M 0,6
Solo 3 42 113 Carregamento normal KN 1.254
1 4 45 122 máximo
5 41 111 fck (Mpa) 20
I (m4) 0,006361725
6 43 116 E (Gpa) 25
7 33 89 EA (kN/m) 7081013,25
18 21 EI (kN/m²/m) 159322,7981
8 33 89
w (KN/m/m) 6,102166739
9 33 89 Densidade concreto (Kg/m³) 2200 / 21,582
Solo 10 33 89 simples
2 11 33 89 v 0,2
L (m) 12
12 33 89 Cota de assentamento (m) 13,5
13 33 89
14 33 89
Onde: fck: resistência do concreto, I: Inércia, E:
módulo de elasticidade do solo, EA: Índice de
Onde: Nspt (média): média dos valores N Rigidez Axial, EI: índice de rigidez a flexão; w:
obtidos nos resultados das sondagens, ϒ: peso peso da estava por metro, v: coeficiente de
especifico do solo, ϒsat: peso especifico do Poisson L: Comprimento da estaca
solo saturado, Es: Módulo de deformabilidade
do solo, v: Coeficiente de Poisson, c: Coesão,
Φ: ângulo de atrito, Rinter: Rigidez de
Interface.
Os parâmetros associados ao solo
foram definidos através da consulta aos
resultados presentes no relatório de sondagens e
associação com ábacos (TEIXEIRA E
GODOY, 1996). Na modelagem numérica
também foi necessário informações de ordem
geométrica e composição do material do
elemento de fundação. Na Tabela 2 são
apresentados os parâmetros associados à estaca,
que por sua vez usou como modelo constitutivo
o elástico linear.
A pesquisa também contou com dados
de ensaios de carga dinâmica realizados nos
elementos de fundações do estudo de caso, Figura 5 – Ensaio de Carga Dinâmica. (Fonte: Dois A
fornecidos pela empresa executora. O ensaio Engenharia, 2016.)
empírico denominado prova de carga dinâmica
consiste na utilização de um pilão com peso de A estaca é instrumentada apenas na
6 toneladas que descarrega sobre a cabeça da cabeça, a seção envolvida é definida como
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seção de medição. Ela deve estar valores que correspondem exclusivamente pela
suficientemente afastada do capacete a fim de parcela de ponta são destacados (RP).
evitar forte gradientes de tensões, e também A partir dos dados apresentados, foi
permitir uniformidade na velocidade e nas verificado que na maioria das metodologias
tensões da seção de medição. semiempíricas as parcelas de atrito lateral (RL)
A Figura 6 mostra a instrumentação da foram superiores à parcela da ponta (RP) para
cabeça da estaca e o esquema de aquisição dos avaliação da capacidade de carga (onde o
sinais durante o golpe. mecanismo de ruptura do solo é mobilizado).
Com exceção do método de Aoki-Velloso
(1979) onde o oposto ocorreu. O valor de R
(4.390,06 kN) obtido com a equação 2 foi o que
mais se aproximou do modelo numérico (R =
4.248,61 kN), assim como, foi observada uma
significativa convergência nos resultados de
capacidade de carga pela equação de Teixeira
(1996) com a reposta do ensaio de campo com
carga dinâmica, mas essa tendência não foi
Figura 6 – Instrumentação da cabeça da estaca. (Fonte:
percebida nas proporções das parcelas RL e RP.
Relatório RINCENT, 2016)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na aplicação gradativa de carga em


um elemento de fundação (estaca), serão
mobilizadas tensões resistentes por adesão ou
atrito lateral, entre o solo e o fuste da estaca, e
também tensões resistentes normais à base ou
Figura 7: Avaliação da capacidade de carga total, de
ponta da estaca. Este ensaio permite a avaliação ponta e lateral (KN).
da capacidade de carga que a estaca suporta
sem romper. O modelo numérico desenvolvido teve
As equações (1) de Aoki Velloso, êxito ao se aproximar do valor de metodologias
Equação (2) Décourt-Quaresma (1996) e clássicas de previsão de capacidade de carga do
equação (3) Teixeira (1996), foram aplicadas os solo com as características do estudo de caso,
parâmetros associados ao solo e as contudo, foi percebido desvios nas parcelas das
características da estaca através do estudo e contribuições de ponta e atrito lateral. Essa
obtidos os resultados apresentados nos gráficos divergência pode esta associada a
abaixo. parametrização do solo. De modo geral, as
Os resultados reunidos na Figura 7, metodologias foram conservadoras ao
são apresentados por grupos. No primeiro grupo compararmos os dados do ensaio empírico,
são apresentados os valores totais de capacidade porém a Equação 1 forneceu um valor de
de carga (R), calculados a partir das equações 1 capacidade de carga desfavorável à segurança.
a 3, bem como o resultado do modelo empírico Para melhor compreensão do
(ensaio de campo) e numérico. No segundo comportamento de uma estaca, a partir do
grupo apenas a parcela lateral (RL) da estaca primeiro instante após o início de seu
responsável pela capacidade de carga é carregamento até o ponto de ruptura, é preciso
anunciada e, por fim, no terceiro grupo os entender o mecanismo de interação estaca/solo.
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Os carregamentos são absorvidos pelo maciço semiempíricos de previsão de recalques, bem


através do contato da área de ponta e lateral do como no modelo numérico, contudo, o ensaio
elemento de fundação com o mesmo, ou seja, de campo apresentou uma resposta que
pelo sistema de interação estaca/solo. A caracteriza um comportamento que se aproxima
magnitude desta transferência depende das mais de um regime elástico linear.
características, propriedades e parâmetros de Para a curva no modelo numérico o
resistência oferecidos pelo maciço, bem como resultado do software limitou a simulação para
da rigidez do elemento de fundação. A parcela deformações verticais de até 0,011m, pois o
de capacidade de carga lateral é a grande programa interrompeu o incremento de cargas
responsável pela transferência de cargas ao sobre a estaca antes do colapso do solo. Nesse
solo, principalmente quando se trata de estacas contexto, pode-se indagar que modelos
escavadas, nas quais não se consegue executar a constitutivos mais complexos como o
limpeza total na região da ponta. Na Figura 8 hiperbólico poderiam dar resultados mais
pode ser observado, a comparação dos próximo dos modelos semiempíricos.
resultados das curvas de carga e recalque Na Figura 9 é representado em nuances
aplicados as metodologias de Aoki Velloso, de cores o deslocamento vertical ocorrido na
Decourt Quaresma, Teixeira, Modelo Numérico maciço de solo após o carregamento total da
e Ensaios de Campo. estaca (tons mais quentes denotam valores mais
altos deslocamentos verticais, enquanto que os
tons mais frios de valores mais baixos).
Análises pelo método dos elementos finitos
permitem uma avaliação mais detalhada do
comportamento de massas de solo, no estudo de
caso é possível perceber que a cabeça da estaca
e sua circunvizinhança são as regiões mais
comprimidas do conjunto.

Figura 8: Curva Carga (KN) x Recalque (m).

Para a confecção das curvas de carga x


recalque foram usados Van der Veen (1953) e
Aoki-Velloso(1979), contudo, para as curvas
“Décourt-Quaresma (1996)” e “Teixeira
(1996)” foram usados as capacidades de cargas
avaliadas pelos respectivos métodos com a
extrapolação de Van der Veen (1953). A curva
de campo foi obtida mediante a resposta do
ensaio de carga dinâmica na estaca do estudo de
caso, enquanto que o modelo numérico foi
obtido por meio do Plaxis.
Como pode se observado, o
comportamento tensão/deformação aferido na Figura 9: Deslocamento vertical.
cabeça da estaca varia de acordo com a
magnitude dos esforços impostos, porém com o O arqueamento do solo é um dos
incremento dessas tensões é verificado uma principais fenômenos relacionados ao estudo do
deformação excessiva, caracterizando a comportamento mecânico de estruturas
condição de recalques incessantes ou ruptura enterradas. Seu estudo foi iniciado em 1895
nítida. Essa condição foi percebida nos modelos com a teoria de Janssen aplicada a silos.
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Posteriormente em 1913, Marston e Anderson


definiram equações para o cálculo da carga
atuante em estruturas enterradas em vala,
levando em conta a atuação do arqueamento.
Basicamente, o arqueamento do solo
pode ser definido como o redirecionamento das
cargas atuantes na estrutura (peso próprio do
aterro e sobrecargas) que ocorre devido a uma
redistribuição de tensões provocada pelo
movimento relativo entre massas de solo
adjacentes, podendo gerar uma redução ou um
acréscimo de tensões na estrutura. Isto pode ser
observado na construção de fundação de
aergeradores. Algumas soluções analíticas
disponíveis na literatura permitem avaliar este
fenômeno a partir de propriedades físicas e
mecânicas do meio estudado, como mostrado
por Handy (1985).
O arqueamento é dividido em duas
categorias distintas. É classificado como
arqueamento ativo (ou positivo) quando a
tensão em uma determinada região do maciço
próxima à estrutura instalada, sofre redução. A
tensão na região da inserção é transferida para
outras localidades do maciço até que o
equilíbrio seja restabelecido. No caso contrário,
ou seja, quando há aumento de tensão na zona
de inserção da estrutura, é denominado
arqueamento passivo (ou negativo).
Para estudar este comportamento, foi
avaliada a distribuição das tensões no solo antes Figura 10 –– Avaliação do arqueamento do solo.
e depois da execução da estaca com os dados
atribuídos ao estudo de caso, conforme
representado na Figura 10a e 10b. A partir dos 5. CONCLUSÕES
gráficos em nuances de cores obtidos com o
Plaxis foi observada uma variação nos valores Como principal resultado, foi
de tensão nas duas condições, onde a leitura observado que o método numérico se mostrou
inicial, Figura 10a, é de aproximadamente 234 mais conservador ao se comparar os resultados
KN/m² (tensão geostática esperada para a cota das demais metodologias investigadas,
de -13m, sem a presença da fundação) e final, principalmente, no que tange as deformações
Figura 10b, de 450 KN/m² (tensão medida na verticais ou recalques, mas teve satisfatória
ponta da estaca) destacando um aumento de aproximação dos modelos semiempíricos
1,92 vezes para o mesmo ponto em estudo, essa quanto à análise da capacidade de carga, a partir
situação caracteriza a formação do arqueamento dos dados analisados também foi possível
do solo. observar a formação do arqueamento do solo.
Como sugestões de pesquisas futuras,
trabalhar com modelos numéricos que usem
outros modelos constitutivos para o solo.
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Como por exemplo o modelo hiperbólico ao TEIXEIRA, A. H. Projeto e execução de fundações.


invés do critério de ruptura por Morh- In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA DE
FUNDAÇÕES ESPECIAIS E GEOTECNIA, 3., São
Coulomb. Paulo, v. 1. P. 33-50. 1996.
VAN DER VEEN, C. The bearing capacity of a pile. In:
AGRADECIMENTOS INTERNATIONAL CONFERENCE ON SOIL
Agradecemos primeiramente a Deus que nos MECHANICS AND FOUNDATIONS
possibilitou a chegar até a etapa final da ENGINEERING, 3., Zurich. v. 2. p. 84-90. 1953
graduação com saúde e capacidade.
Agradecemos aos familiares, companheiros e
amigos pelo apoio e compreensão de nos
acompanhar durante os anos de graduação,
foram varias as renúncias e tempo dedicado aos
estudos.
Agradecemos em especial ao nosso orientador
Lucas Moraes que através de sua dedicação e
capacidade de ensinar nos incentivou a
continuar a realizar a pesquisa. Foram várias as
dificuldades encontradas no decorrer do
trabalho, porém sua capacidade de orientar nos
motivou a prosseguir e chegamos ao final desta
etapa importante para todos na graduação.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6122. Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro. 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA.
Boletim de Dados, Edição de fevereiro de 2016.
Disponível em:
http://www.portalabeeolica.org.br/images/pdf/Boletim
-de-Dados-ABEEolica-Outubro-2016-
P%C3%BAblico.pdf e acessado em: 05/06/2017.
ALVES, Maria Bernardete Martins; ARRUDA, Susana
Margaret de. “Como elaborar um Artigo Científico”.
Disponível em:
<read.adm.ufrgs.br/enviar_artigo/ArtigoCientifico.pdf
.> Acesso em: 1 set. 2017.
AOKI, N. Considerações sobre projeto e execução de
fundações profundas. Palestra proferida no Seminário
de Fundações, Sociedade Mineira de Engenharia,
Belo Horizonte. 1979.
DÉCOURT, L.; QUARESMA, A. R. Capacidade de
carga de estacas a partir de valores SPT. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS
SOLOS E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES, 6.,
Rio de Janeiro. v. 1. p. 45-54. 1978.
DOIS A ENGENHARIA. Acervo Técnico - Databook de
execução da obra do Complexo Cutia. 2016.
PLAXIS. (2016). Reference Manual, disponível em
http://www.plaxis.nl/plaxis3d/manuals/ e acessado
em: 04/04/2016.
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Atrito Negativo no Projeto de Fundação Profunda: Estudo de Caso em


Aracaju/SE
André Luiz Delmondes Pereira Filho
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil, a.delmondes@hotmail.com

Carlos Rezende Cardoso Júnior


Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil, eng.carlos.rezende@gmail.com

RESUMO: Neste trabalho realizou-se um estudo de caso para o projeto de fundação de um


empreendimento residencial em Aracaju-SE, com objetivo de avaliar o cálculo do atrito negativo em
estacas isoladas, por meio de cinco métodos consagrados na literatura. O projeto utilizado para o
estudo de caso consistiu na fundação profunda em estacas pré-moldadas de concreto, atravessando
camada espessa (17,70 m) de solo mole. Foram analisados estaqueamento, sondagens, dados de
cravação das estacas e resultados de ensaios dinâmicos. As estacas estudadas têm carga admissível
estrutural à compressão de 90 tf. Os resultados obtidos para os métodos propostos apresentaram um
valor máximo de atrito lateral negativo de 23,17 tf para a estaca estudada, o que representou uma
redução de aproximadamente 26% na carga admissível do elemento de fundação. Com os resultados
do ensaio de carregamento dinâmico, ao analisar as resistências mobilizadas, observou-se que essa
redução pode chegar a 48%.

PALAVRAS-CHAVE: Atrito negativo. Estacas. Ensaio de carregamento dinâmico.

1 INTRODUÇÃO trata de projetos de fundações em solos com


espessas camadas argilosas.
Na prática de fundações, vários problemas estão Nesse contexto, deve-se ressaltar a
relacionados aos solos argilosos moles. Neste importância desta pesquisa para a prática de
tipo de solo, encontram-se características muitas fundações profundas em Sergipe, mais
vezes indesejáveis: resistência insuficiente, precisamente na região metropolitana da capital,
presença de matéria orgânica, alta Aracaju, vista a ocorrência de solos com as
compressibilidade (e consequentemente valores características já citadas em sua formação
altos de recalque), entre outros. geológica, com destaque para os depósitos de
Quanto às fundações profundas, é necessária pântanos e mangues ricos em matéria orgânica e
uma atenção especial para o fenômeno que se constituem de solos muito moles, também
conhecido como atrito negativo. Este fenômeno presentes no município de Barra dos Coqueiros
designa a inversão de sentido do atrito entre a (Grande Aracaju). Já em São Cristóvão, cabe
estaca e o solo, devido ao recalque de uma atenção também para os depósitos fluvio-
camada compressível maior que o do elemento lagunares, compostos de areia e siltes argilosos
de fundação. É tratado como um problema, visto ricos em matéria orgânica.
que provoca uma redução na carga admissível Para os projetos de fundações, a NBR
nas estacas, mais precisamente, associada à 6122:2010 prevê que “a ação do atrito negativo,
resistência do fuste. quando atuante, deve ser considerada no
O atrito negativo está diretamente relacionado dimensionamento geotécnico e estrutural do
com o adensamento da camada compressível, elemento de fundação” (ABNT, 2010, p.14). A
assim, seu efeito deve ser considerado quando se
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versão anterior da NBR 6122 (ABNT, 1996) Fellenius (1972). Zeevaert (1983) relata casos de
também destacava a ação, em nota, no item 7.5. obras na cidade do México.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o A profundidade onde os recalques são iguais,
cálculo do atrito negativo em estacas isoladas, isto é, uma profundidade onde não há
por meio de estudo de caso, entre cinco métodos deslocamento relativo entre a estaca e o solo, é
consagrados na literatura: Moretto e Bolognesi definida como ponto neutro. Acima do ponto
(1959); Johannessen e Bjerrum (1965); De Beer neutro tem-se o atrito negativo; abaixo, o atrito
e Wallays (1968); Bowles (1997); e Endo et al positivo (TERZAGHI; PECK; MESRI, 1996).
(1969). Com isso, se espera que este sirva de As causas mais comuns do atrito negativo são
ferramenta para a estimativa do atrito negativo as seguintes: adensamento da camada
em projetos de fundações profundas, nas compressível devido a aterro recente;
condições semelhantes às aqui apresentadas. amolgamento de camada de argila devido à
Foram aplicadas as prescrições da NBR 6122 cravação de estacas; e rebaixamento de lençol
(ABNT, 2010), no que tange à capacidade de freático. O atrito negativo está ligado
carga dos elementos de fundação, em termos de diretamente ao adensamento e,
segurança. Além disso, foi avaliada a influência consequentemente, é um fenômeno que se
dos parâmetros de resistência do solo na previsão desenvolve ao longo do tempo, até atingir um
do atrito negativo. valor máximo.

2.2 Influência na Carga Admissível da Estaca


2 ATRITO NEGATIVO
A antiga norma de projetos de fundações
2.1 Definições (ABNT, 1996) expõe que, no caso de estacas
sujeitas à ação do atrito negativo, a carga de
O atrito lateral entre solo e estaca ocorre quando ruptura Pr do ponto de vista geotécnico pode ser
há um deslocamento relativo entre estes. O atrito determinada pela expressão:
positivo desenvolve-se quando a estaca recalca
mais que o solo, e contribui assim para a Pr = Pp + P+l =2×Padm +1,5×Pan (2.1)
capacidade de carga da fundação (VELLOSO; ou, ainda,
LOPES, 2010). Por outro lado, quando o
Pp + P+l
recalque do solo é maior que o recalque da Padm = - 0,75×Pan (2.2)
2
estaca, há uma inversão no sentido das tensões
cisalhantes ao longo do fuste, e o atrito passa, Em que:
então, a ser denominado negativo. Pp = parcela correspondente à resistência de
No caso de elementos verticais, o recalque da ponta na ruptura;
camada compressível corresponde a um P+l = parcela correspondente à resistência por
acréscimo na carga axial. Alonso (1989) traz atrito lateral positivo na ruptura (calculado no
ainda que, se a estaca for inclinada, existirá trecho do fuste entre o ponto neutro e a ponta da
também um esforço de flexão decorrente desse estaca);
recalque. Pan = parcela correspondente ao atrito lateral
Tendo em vista as consequências negativo;
relacionadas a este efeito, diversos autores, Padm = carga admissível.
sobretudo internacionais, estudaram este Essa versão da norma explica que o
fenômeno. Bowles (1997) destaca os trabalhos coeficiente de segurança 1,5, ao invés de 2,0,
de Bjerrum, Johannessen e Eide (1969), aplicado à parcela Pan decorre do fato de que o
Bozozuk (1972), Bozozuk et al. (1979), e fenômeno do atrito negativo é antes um
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problema de recalque do que um problema de lateral da estaca pela resistência ao cisalhamento


ruptura, como foi exposto anteriormente. da camada compressível adjacente.
A versão em vigor da norma (ABNT, 2010) Dessa forma:
apresenta, para as estacas (ou tubulões), as
Pan = Al ×τ0 (2.5)
seguintes expressões:
• Em termos de fator de segurança global: Sendo:
Al = área lateral da estaca que pode ser obtida
Padm = [(Pp + P+l )/FSg ]-Pan (2.3) do produto do perímetro (U) pelo comprimento
Na qual: (L);
Padm = carga admissível; τ0 = resistência ao cisalhamento inicial do
FSg = fator de segurança global, dado pela solo.
norma, igual a 2,0 para determinação da carga 2.3.2 Método de Johannessen e Bjerrum
admissível.
• Em termos de valores de projeto: Johannessen e Bjerrum (1965) apresentaram sua
Prd = [(Pp + P+l )/γx ]-Pan ×γf (2.4) proposta baseados nos resultados de análises em
estacas metálicas instrumentadas. Os autores
Em que: apontam que a aderência no contato solo-estaca
Prd = carga resistente de projeto; (τa ) varia ao longo do fuste de acordo com a
γx = fator de minoração das resistências; expressão:
γf = fator de majoração das ações.
τa = σ'h × tan ϕ'a (2.6)
Ao comparar as versões de 1996 e atual da
norma brasileira de fundações, por meio das ou ainda,
Equações 2.2 e 2.3, respectivamente, observa-se
que a redução da carga admissível devido ao τa = K×σ'v × tan ϕ'a (2.7)
atrito negativo é, atualmente, feita com o valor Sendo:
integral do efeito, enquanto antes essa parcela σ'h = pressão horizontal efetiva;
correspondia a 75%. σ'v = pressão vertical efetiva;
K = coeficiente de empuxo;
2.3 Estimativa do Atrito Negativo em Estacas
Isoladas ϕ'a = ângulo de aderência estaca-solo.
Para estacas com a superfície rugosa, pode-se
Diversos autores propuseram métodos de cálculo considerar ϕ'a = ϕ' (ângulo de atrito interno
do atrito negativo. Entre as propostas mais efetivo do solo). Portanto, ao longo da estaca:
relevantes da literatura encontram-se as de: z
Terzaghi e Peck; Moretto e Bolognesi; Zeevaert; τa = K× tan ϕ' ∫0 σ'v dz (2.8)
Elmasry; Johannessen e Bjerrum; Bowles; De onde z é a profundidade na qual deseja-se
Beer e Wallays; Endo et al.; Johnson e obter o atrito negativo.
Kavanagh; Poulos e Davis; Poulos e Mattes; e O valor final da parcela do atrito negativo
Combarieu. Adiante serão detalhados, dentre os poderá ser obtido então através do produto de τa
métodos citados, as formulações que serão pelo perímetro da estaca (U):
utilizadas no estudo de caso.
z
Pan = τa ×U=U×K× tan ϕ' ∫0 σ'v dz (2.9)
2.3.1 Método de Moretto e Bolognesi
Para uma estaca circular de diâmetro D, o
Moretto e Bolognesi (1959 apud SANTOS perímetro é calculado por U= π×D.
NETO, 1981) propuseram que o atrito negativo
(Pan ) fosse calculado pela multiplicação da área
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L
2.3.3 Método de De Beer e Wallays Pan = ∫0 f K0 α' Uσ'v dz (2.17)
No trabalho de De Beer e Wallays (1968 apud Sendo:
VELLOSO; LOPES, 2010), o cálculo é feito α' = tan δ, com δ≅0,5 a 0,9ϕ';
separadamente para o efeito da sobrecarga (que Lf = espessura do aterro;
inclui o aterro) e para o efeito da camada L = comprimento da estaca.
compressível, respectivamente, Pan,0 e Pan,γ . b. Aterro granular sobre camada compressível:
Tem-se, então: L
Pan = ∫0 1 K0 α' Uσ'v dz (2.18)
Pan = Pan,0 + Pan,γ (2.10)
De maneira geral σ'v é dado pela seguinte
As parcelas podem ser calculadas por: expressão:
Pan,0 = A0 ×p0 ×(1-e-M0 ) (2.11) σ'v =p0 +γ' ×z (2.19)
-Mγ
1-e
Pan,γ = Aγ ×γ' ×H×(1- ) (2.12) Sendo L1 a distância entre o topo da camada

compressível e o ponto neutro. Com o resultado
Em que: da integração e o equilíbrio das forças atuantes
U×H×K× tan ϕ' na estaca (atritos negativo e positivo no fuste e
M0 = (2.13) carga de ponta), o autor encontra para L1 :
A0
U×H×K× tan ϕ' L L p 2p0
Mγ = (2.14) L1 = L ( 2 + γ0' ) - (2.20)
Aγ 1 γ'

para: Onde p0 é sobrecarga no topo da camada


H = espessura da camada compressível; compressível e γ' é peso específico efetivo dessa
K = coeficiente de empuxo. Para tal, pode-se camada.
adotar o valor no repouso (K0 ) para solos
normalmente adensados: K0 =1- sen ϕ'; 2.3.5 Método de Endo, Minou, Kawasaki e
γ' = peso específico efetivo da camada Shibata
compressível;
p0 = sobrecarga no topo da camada A proposta destes autores foi baseada nos
resultados obtidos da instrumentação de estacas
compressível.
metálicas na cidade de Tóquio (ENDO et al.,
Com o valor médio da espessura da camada
1969). A formulação é semelhante à proposta por
compressível (h), pode ser calculada a área A0 ,
Johannessen e Bjerrum, com o acréscimo do
introduzida na parcela Pan,0 :
conceito do ponto neutro e do coeficiente que
A0 =
π×h²
(2.15) depende da ponta da estaca (η). O valor máximo
4 do atrito negativo (na profundidade do ponto
Já para o cálculo área Aγ apresentada na neutro) pode ser calculado por:
parcela Pan,γ ,: μL
Pan = η×U×K× tan ϕ' ∫0 σ'v dz (2.21)
π×h²
Aγ = (2.16) Para:
16
η = 1,00 para estacas com ponta fechada; 0,60
2.3.4 Método de Bowles para estacas com ponta aberta;
L = comprimento da estaca;
Bowles (1997) traz, para as estacas isoladas, dois L
casos possíveis para o cálculo do atrito negativo: μ= N , para LN igual à profundidade do ponto
L
a. Aterro coesivo é colocado sobre uma neutro. Os autores recomendam: 0,73<μ<0,78.
camada sem coesão:
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3 METODOLOGIA os valores de coeficiente β encontrados na


literatura, que pode ser expresso por:
Neste trabalho, o estudo do atrito negativo se dá
por meio da relação entre os conceitos aqui β= K× tan ϕ' (3.1)
apresentados e estimativa em caso real de projeto Os autores dos estudos citados encontraram
de fundações por estacas, em camada espessa de por meio de retroanálise o valor do β
solo mole. correspondente a cada situação de ensaio, através
Para estudo da quantificação do atrito do atrito negativo observado na instrumentação
negativo em projeto de fundações por estacas, foi das estacas. Portanto foi utilizado o valor deste
abordada uma obra residencial em Aracaju, coeficiente para situação semelhante à aqui
Sergipe. O empreendimento localiza-se no bairro estudada, em detrimento do uso de correlações
Jabotiana, onde a ocorrência de solos moles é do ângulo de atrito com o valor de NSPT. Long e
grande. Foram obtidos junto aos projetistas Healy (1974) apresentam uma tabela resumo de
responsáveis: estaqueamento, sondagens, dados alguns valores obtidos para o coeficiente.
de cravação das estacas e resultados de ensaios
dinâmicos. A estimativa foi feita por meio do
cálculo direto do atrito negativo com as fórmulas 4 ESTUDO DE CASO
aqui apresentadas.
O estudo de caso deste trabalho considerou Para o projeto de fundação do empreendimento
apenas as propostas dos autores destacados foi realizada a investigação do subsolo por meio
anteriormente, vista a simplicidade matemática de ensaios SPT. A campanha de sondagens
(que remete à praticidade requerida para constituiu-se de 3 (três) furos em cada uma das
projetos), dificuldade de obtenção de alguns torres periféricas, 4 (quatro) em cada torre
parâmetros do solo necessários à outras central, além de um furo na área de lazer do
abordagens e os resultados satisfatórios, como condomínio, num total de 24 (vinte e quatro)
apresentaram Santos Neto (1981) e Oliveira furos e 515,48 m. Como foi dito, a formação
(2000). geológica na região (próxima ao Rio Poxim)
A coesão não drenada, com a ausência de apresenta camadas espessas de solos moles, o
ensaio de campo específico, foi obtida por meio que foi confirmado pela investigação de campo.
de correlações com o valor de NSPT encontradas O perfil geotécnico é caracterizado por uma
na literatura. Os valores tomados como espessa camada de solo muito mole (com valores
referência neste trabalho são apresentados na de NSPT nulos), identificada como uma argila
Tabela 1. siltosa orgânica de cor cinza escuro, que aparece
entre as profundidades de 1,8 a 19,8 m. Acima
Tabela 1 - Valores de resistência não drenada para
desta camada, apresentou-se um aterro de areia
argilas. Fonte: MARANGON, 2009. Unidade adaptada.
siltosa, compacidade pouco compacta a
Resistência à Coesão não medianamente compacta, com valores de NSPT
Consistência compressão drenada entre 05 a 10 golpes. Abaixo da camada de solo
mole, ocorre a presença de solo de alteração de
tf/m² tf/m² rocha calcária, com valores de NSPT acima de
Muito mole 0 - 2,5 0 - 1,2
43/9 golpes. A camada de argila siltosa muito
Mole 2,5 - 5,0 1,3 - 2,5
Média 5,0 - 10,0 2,5 - 5,0 mole ultrapassa na situação mais extrema os 20
Rija 10,0 - 20,0 5,0 - 10,0 metros de espessura.
Muito rija 20,0 - 40,0 10,0 - 20,0 Vistas as características do terreno, a solução
Dura > 40,0 > 20,0 adotada para a fundação dos edifícios foram
estacas pré-moldadas de concreto. Foram
Para o ângulo de atrito interno foi utilizado adotadas para o projeto blocos sobre uma, duas e
procedimento diferente, no qual foram adotados
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três estacas. O estaqueamento prevê três tipos de • A sobrecarga devido ao aterro (p0 ) no topo
seção transversal para os elementos de fundação. da camada compressível foi calculada da
Destes, dois tipos são hexagonais (EPH-280 e seguinte forma:
EPH-320) e um circular (EC-350). Na Tabela 2, a. Espessura do aterro a ser executado para
são apresentadas as características técnicas e que seja alcançada a cota de terraplenagem
geométricas da estaca de seção circular adotada, de projeto: 3,85-3,27 = 0,58 m;
de acordo com o fabricante. b. Espessura do aterro já existente: 1,80 m;
Tabela 2 - Características técnicas e geométricas da c. Peso específico do aterro existente: 1,8
estaca de seção circular. Fonte: Folder do fabricante. tf/m³ (Tabela 3);
Espes. Tabela 3 - Peso específico de solos arenosos. Fonte:
Diâm. Carga Adm. Peso GODOY (1972 apud CINTRA; AOKI; ALBIERO,
da
Tipo Ext. Estrutural (tf) Nom. 2011). Unidade adaptada.
Parede
(cm) (kg/m)
(cm) Peso Específico (tf/m³)
Comp Tração
NSPT Compacidade
EC-350 35,0 90,0 11,8 154,0 7,0 Seco Úmido Saturado
<5 Fofa 1,6 1,8 1,9
Para estimativa do atrito negativo, foi tomado 5a8 Pouco compacta 1,6 1,8 1,9
o caso de uma estaca isolada. A estaca em Medianamente
9 a 18 1,7 1,9 2,0
compacta
questão tem seção circular do tipo EC-350, 19 a 40 Compacta 1,8 2,0 2,1
apresentada anteriormente na Tabela 2. A carga > 40 Muito compacta 1,8 2,0 2,1
estrutural admissível é de 90 tf.
Foram utilizados os métodos anteriormente d. Peso específico do aterro a ser executado:
detalhados para o cálculo de atrito negativo em 1,8 tf/m³ (Tabela 3);
estacas isoladas: Moretto e Bolognesi; Assim,
Johannessen e Bjerrum; De Beer e Wallays;
Bowles; Endo et al. Para os parâmetros a serem p0 =(0,58×1,8)+(3,27-2,44)×1,8+(2,44-1,47) ×
adotados nas equações já apresentadas, seguem ×(1,8-1,0)=3,31 tf/m² (4.1)
as considerações:
• Para o comprimento cravado da estaca foi • Perímetro da estaca:
adotada a estimativa de 19,5 m; U=π×D= π×0,35m=1,10m (4.2)
• Para a espessura da camada compressível,
• Peso específico da camada compressível:
foi analisada a sondagem de referência (SP-
1,3 tf/m³ (ver Tabela 4).
13), que apresenta: até 1,8 m de
profundidade o aterro de areia fina siltosa, Tabela 4 - Peso específico de solos argilosos. Fonte:
seguido de argila siltosa orgânica até 19,50 GODOY (1972 apud CINTRA; AOKI; ALBIERO,
2011). Unidade adaptada.
m. Com o comprimento cravado da estaca e
o perfil de sondagem, foi adotada uma
camada compressível de 17,70 m (sem o NSPT Consistência Peso Específico (tf/m³)
aterro), que por simplificação foi
considerada integralmente com as mesmas ≤2 Muito mole 1,3
características ao longo da profundidade; 3a5 Mole 1,5
• Cota de boca de furo: +3,27 m; 6 a 10 Média 1,7
11 a 19 Rija 1,9
• Nível d’água: +2,44 m; ≥ 20 Dura 2,1
• Cota do topo da camada compressível:
+3,27-1,80=+1,47m; No método de Moretto e Bolognesi, foi
adotado para a coesão não drenada da argila o
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valor de 1,0 tf/m². Para os demais métodos, L1 10,75


a uma relação de = = 0,61), que foi
L 17,70
utilizou-se das retroanálises realizadas nos
estudos de instrumentação de estacas em campo adotada para o cálculo do atrito negativo.
Por fim, chama-se atenção para os valores
para obtenção do coeficiente β (ver Equação
adotados no método de Endo, Minou, Kawasaki
3.1), com base nos valores apresentados por e Shibata referentes às considerações feitas pelos
Long e Healy (1974). Foram adotados valores de autores. É valido observar que a parede da estaca
β referentes aos estudos realizados com estacas aqui estudada é relativamente espessa (7 cm)
de concreto: valor mínimo de 0,09 (obtido por quanto ao diâmetro da seção (35 cm),
Fellenius) e o máximo de 0,20 (dentro do diferentemente das estacas estudadas pelos
intervalo obtido por Broms et al. para estacas de autores (espessura de parede igual a 9,5 mm e
concreto). diâmetro da seção de 609 mm). Portanto, para a
Para os métodos de Johannessen e Bjerrum, estimativa do atrito negativo, foram
Bowles e Endo et al., a integração das tensões, considerados os coeficientes de ponta de ambas
para obtenção da sobrecarga devido ao atrito as situações: η=0,6 (ponta aberta) e η=1,0 (ponta
negativo (ver Equação 2.9), apresenta fácil fechada). Para a profundidade relativa do ponto
resolução, pelo fato de o caso prático atender à neutro, foi adotado o valor intermediário de
Equação 2.19 para o cálculo das tensões verticais μ=0,76, o que resulta em LN =13,45 m (ver
ao longo da camada compressível. Assim, a Equação 3.22).
integração se dará, de modo geral:
z z2
∫0 σ'v dz= p0 ×z+γ' × 2
(4.3) 5 RESULTADOS
E, para z=L (comprimento da estaca na
A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos para
camada compressível),
os 5 (cinco) métodos aplicados no estudo de
L L2 caso. Os valores mínimos para cada método
∫0 σ'v dz= p0 ×L+γ' × (4.4)
2 referem-se ao valor de β=0,09, enquanto os
Para o cálculo pelo método de De Beer e valores máximos foram calculados com β=0,20.
Wallays, as áreas de influência A0 e Aγ foram Por meio da Equação 3.1, esses valores de β
calculadas pelas Equações 3.16 e 3.17, seriam encontrados para valores de ângulo de
respectivamente. Então: atrito interno efetivo (ϕ') de 6 e 15°,
π×17,7² respectivamente.
A0 = =246,06m² (4.5)
4 Tabela 5 - Resultados obtidos para a estaca estudada.
π×17,7² Fonte: Elaborado pelo autor.
Aγ = =61,51m² (4.6)
16 Atrito Negativo (tf)
No método de Bowles, o comprimento L1 (do MÉTODO Mínimo Máximo
topo da camada compressível até o ponto neutro (b=0,09) (b=0,20)
foi obtido por meio de tentativas, através da Moretto e Bolognesi 19,46 19,46
Equação 2.20, como segue: Johannessen e Bjerrum 10,43 23,17
De Beer e Wallays 10,36 22,86
17,7 17,7 3,31 2×3,31 Bowles 5,22 11,60
L1 = ( + 1,3-1,0) - 1,3-1,0 (4.7)
L1 2 Endo et al. (η=0,60) 4,25 9,44
Endo et al. (η=1,00) 7,08 15,73
Ao inserir o valor de L1 =10,73 no lado direito,
a expressão retoma L1 =10,75. Então, a Os resultados obtidos foram, de fato,
profundidade do ponto neutro, a partir do topo da coerentes com as propostas de cada um dos
camada compressível, é de 10,75 m (equivalente autores:
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1) Para o método de Moretto e Bolognesi, Padm =90,00-23,17=66,83 tf (5.1)


observa-se que o valor de atrito negativo
Observa-se, assim, uma redução significativa
permanece inalterado (19,46 tf) pelo fato de
(26%, para o valor máximo, aproximadamente)
a coesão não drenada (ou aderência solo-
na carga máxima admissível da estaca, com
estaca) ser adotada como constante para o
relação ao valor que seria adotado sem levar em
estudo;
consideração o atrito negativo.
2) Os valores máximos encontrados pelas
Foi possível também observar o
propostas de Johannessen e Bjerrum (23,17
comportamento dos métodos com uma possível
tf) e De Beer e Wallays (22,86 tf) são
variação do ângulo de atrito interno (ϕ) do solo.
maiores que os demais pelo fato de os
Foram tomados ângulos de atrito (ϕ) de 5, 10, 15,
métodos não levarem em consideração o
20, 25 e 30° que equivalem a valores de β iguais
conceito do ponto neutro e, assim,
a 0,08, 0,15, 0,20, 0,24, 0,27 e 0,29,
representarem o valor do atrito negativo
respectivamente. No gráfico da Figura 1, é
mobilizado por toda camada compressível
possível observar a tendência dos métodos para
(17,70 m);
um valor máximo, com exceção do proposto por
3) Em contrapartida, os métodos de Bowles
Moretto e Bolognesi (constante). Esta análise
(11,60 tf) e de Endo et al. (9,44 e 15,73 tf)
reitera a ideia de que o atrito negativo atinge um
apresentaram os menores valores por
valor máximo na condição drenada, que estaria
considerarem o atrito negativo desenvolvido
associada a maiores valores de ϕ.
até o ponto neutro (10,75 e 13,45 m,
respectivamente). Além disso, a aplicação
do coeficiente η=0,60 (devido à ponta), no Variação do parâmetro φ
método de Endo et al., implica nos menores 35,0 Moretto e Bolognesi
valores de atrito negativo entre todos os Johannessen e
outros, ainda que a profundidade até o ponto Bjerrum
30,0 De Beer e Wallays
neutro seja maior que a encontrada pelo
método de Bowles. Com a consideração de Bowles
ponta fechada (η=1,00), a proposta de Endo Endo et al. (η=0,60)
et al. apresentou valores intermediários. 25,0
Atrito Negativo (tf)

Endo et al. (η=1,00)


As cargas de ruptura teórica geotécnica são de
309,4 tf e 187,3 tf, ao atingir camada de solo de
20,0
alteração de rocha calcária, respectivamente,
para os métodos de Aoki e Velloso (1975) e de
Décourt e Quaresma (1978). Ao aplicar o fator
15,0
de segurança da NBR 6122 (ABNT, 2010) igual
a 2,00, a carga admissível média (do ponto de
vista geotécnico) teórica superaria 100 tf (sem
10,0
considerar o atrito negativo).
Nesse contexto, a carga máxima admissível
na estaca, sem considerar o atrito negativo, passa 5,0
a ser tomada como a resistência estrutural do
elemento, que é de 90 tf (ver Tabela 2). Com a
consideração do efeito, esse valor deve ser φ (graus)
0,0
reduzido da parcela do atrito invertido, que, para 5 10 15 20 25 30
o valor máximo calculado (23,17 tf [Johannessen Figura 1 - Variação do parâmetro ϕ para o caso estudado.
e Bjerrum]), nos fornece: Fonte: Elaborado pelo autor.
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Para a estaca estudada (AP71 E79), foram Outro aspecto importante a ser discutido é o
realizados ensaios de carregamentos dinâmicos, que se refere à resistência lateral mobilizada no
nos quais é possível se obter as resistências instante do ensaio. Com os resultados obtidos do
mobilizadas pela estaca, por meio do Analisador PDA, é difícil avaliar se de fato, ao longo do
de Cravação de Estacas (Pile Driving Analyzer – tempo, esta resistência seria desenvolvida
PDA). O resultado do ensaio mostra a resistência integralmente como atrito lateral positivo ou
total mobilizada de 151 tf, da qual 127 tf apenas uma parcela desta. Com o atrito
corresponde à resistência de ponta e 24 tf ao desenvolvendo-se completamente como
atrito lateral (Tabela 6). negativo, a carga máxima admissível para a
Tabela 6 - Resistências mobilizadas (Modelo estaca passar a ser:
CAPWAP®). Fonte: MODULUS Engenharia - Relatório 127
de Ensaio de Carregamento Dinâmico (2012). Padm = -24=39,5 tf (5.3)
2
Resistência (tf) Nega Num. Este último resultado representa uma redução
Estaca
Total Ponta Lateral (mm) Golpes de aproximadamente 48% da carga admissível
AP71 sem a consideração do efeito.
151 127 24 0 3
E79

Em termos de carga admissível, sem 6 CONCLUSÃO


considerar o atrito negativo, do ponto de vista
geotécnico, esses valores fornecem, pela Com o encerramento do estudo de caso proposto,
Equação 2.3: o presente trabalho cumpre o objetivo de estimar,
127+24 em caso prático, o valor do atrito negativo para
Padm = = 75,50 tf (5.2) estaca isolada para diferentes métodos
2

É importante destacar que os valores de consolidados na literatura pertinente. Foi


resistência mobilizada na prova de carga possível, através dos resultados obtidos, avaliar
dinâmica (PDA) obtidos para a estaca circular a influência do atrito negativo na capacidade de
em questão correspondem à energia máxima carga da estaca. Com esta análise, pode-se
aplicada no ensaio. No entanto, valores maiores concluir que a não consideração deste efeito
de resistência poderiam ser obtidos para energias implica na superestimativa da carga admissível
aplicadas superiores às do ensaio executado em no elemento de fundação, o que pode resultar,
campo. A curva carga vs. recalque da estaca por consequência, no inadequado
ensaiada é apresentada na Figura 2. dimensionamento deste, visto o
comprometimento do ponto de vista estrutural.
Quanto aos resultados encontrados pelos
cinco métodos apresentados, as propostas de De
Beer e Wallays e de Johannessen e Bjerrum
podem ser tomadas como estimativas favoráveis
à segurança, para condições semelhantes às aqui
estudadas. Visto que a estaca está apoiada sobre
camada muito resistente, na qual os
deslocamentos serão praticamente nulos, o ponto
neutro teórico se localizaria próximo da ponta,
diferentemente das previsões de Bowles e de
Figura 2 – Curva carga x recalque para a estaca estudada. Endo et al.
Linha preta contínua: topo da estaca; linha azul tracejada: Em relação ao método de Endo et al., a
base da estaca. Fonte: MODULUS Engenharia - estimativa feita com o coeficiente de ponta
Relatório de Ensaio de Carregamento Dinâmico (2012).
fechada implica em valores, aproximadamente,
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67% maiores em relação aos calculados com REFERÊNCIAS


coeficiente de ponta aberta.
Para melhor avaliação do método de Moretto Albiero, J. H.; Cintra, J. C. A.; Décourt, L. (1998) Análise
e projetos de fundações profundas. In: HACHICH, W.
e Bolognesi, pode-se aplicá-lo em projetos que (Ed.) et al. Fundações: Teoria e prática. 2ª ed. PINI,
disponham de ensaios de campo como, por São Paulo.
exemplo, de palheta. Assim, com o perfil de Alonso, U. R. Exercícios de fundações. (1983) Edgard
variação da coesão não drenada ao longo das Blücher, São Paulo.
camadas do terreno, é possível obter resultados . Dimensionamento de fundações profundas. (1989)
Edgard Blücher, São Paulo.
mais representativos de atrito negativo ao longo Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2010) NBR
da estaca. 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro.
Quanto ao mecanismo de atuação do atrito . (1996) NBR 6122: Projeto e execução de fundações.
negativo, as metodologias de estimativa Rio de Janeiro.
apresentadas estabelecem que o valor máximo Bjerrum, L.; Johannessen, I. J. (1965) Measurement of the
Compression of a Steel Pile to Rock due to Settlement
representativo desta parcela, devido à camada of the Surrounding Clay, Proc. 6th International
compressível propriamente dita, é proporcional à Conference on Soil Mechanics and Foundation
resistência ao cisalhamento drenado da referida Engineering, Vol. 2, Montréal, p. 261-264.
camada na condição inicial, porém é válida a Bowles, J. E. (1997) Foundation analysis and design. 5th
consideração de que a longo prazo essa parcela ed. McGraw-Hill.
Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Albiero, J. H. (2011) Fundações
de atrito negativo pode ser proporcional à diretas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
resistência residual drenada da argila mole, na Textos, São Paulo.
condição pós adensamento primário. Para tal Endo, M.; Minou, A; Kawasaki, T.; Shibata, T. (1969)
comprovação seria necessária uma investigação Negative Skin Friction Acting on Steel Pipe Pile in
geotécnica mais aprofundada. Clay, Proc. 7th International Conference on Soil
Mechanics and Foundation Engineering, Vol. 2,
Ressalta-se também a importância da Mexico City, p. 85-92.
realização de provas de carga, nos casos em que Long, R. P.; Healy, K. A. (1974) Negative skin friction on
esteja prevista a solicitação do atrito negativo piles. Civil Engineering Department of University of
como esforço relevante. Com os resultados aqui Connecticut. Project 73-1.
apresentados, observou-se a redução percentual Lopes, F. R.; Velloso, D. (1998. Concepção de obras de
fundações. In: HACHICH, W. (Ed.) et al. Fundações:
ainda maior (até o estágio de ensaio realizado) na Teoria e prática. 2ª ed. PINI, São Paulo.
carga admissível da estaca, quando comparada Marangon, M. Geotecnia de Fundações. Disponibilizado
ao modelo teórico. Nesse âmbito, a NBR 6122 pela Universidade Federal de Juiz de Fora em:
(ABNT, 2010) recomenda que sejam realizadas http://www.ufjf.br/nugeo. Acesso em: 13 ago. 2017.
provas de carga (estáticas) à tração, em estacas Oliveira, J. F. P. de. (2000) Estudo do atrito negativo em
estacas com auxílio de modelagem numérica.
executadas com comprimento tal que o atrito Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil,
positivo possa ser considerado igual ao atrito COPPE, UFRJ, 256 p.
negativo. Velloso, D.; Lopes, F. R. (2010) Fundações: Volume
Conclui-se ainda que, em termos de completo. Oficina de Textos, São Paulo.
segurança, os valores de carga admissível aqui Santos Neto, P. M. (1980). Métodos de cálculo do atrito
negativo em estacas: Estudo e discussão. Dissertação
calculados (com as recomendações da NBR de Mestrado em Engenharia Civil, COPPE, UFRJ, 241
6122:2010) são mais conservadores que os que p.
seriam obtidos através da versão anterior da Terzaghi, K.; Peck, R. B.; Mesri, G. (1996) Soil mechanics
norma (NBR 6122:1996), na qual não era in engineering practice. 3rd ed. John Wiley & Sons
reduzido integralmente o valor do atrito Inc., New York, NY, USA.
Zeevaert, L. (1983) Foundation engineering for difficult
negativo. subsoil conditions. 2nd ed. Van Nostrand Reinhold
Company Inc., New York, NY, USA.
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Avaliação da Parcela de Atrito Negativo em Estacas Pré-moldadas


Bruna Moreira Beire
Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, bruna.beire@engenharia.ufjf.br

Juliane Cristina Gonçalves


Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, juliane.goncalves@ufjf.edu.br

RESUMO: Desenvolve-se o presente estudo com o intuito de melhor compreender o atrito negativo.
Conceitua-se o fenômeno, apresentam-se algumas situações em que se manifesta, alguns fatores que
contribuem para a natureza e magnitude e formas de tentar minimizá-lo. Abordam-se os principais
métodos de previsão existentes na literatura. Realizam-se estimativas da parcela de atrito negativo
para uma situação hipotética de estaca isolada e grupo (quando a metodologia permite) de estacas
cravadas em um perfil de solo constituído de uma camada de argila orgânica mole a muito mole, a
qual está sobreposta a uma camada de areia compacta. Subjacente a essa camada de areia, encontra-
se um solo residual. Considera-se um aterro de três metros na superfície. A estaca é do tipo pré-
moldada de concreto com a ponta fechada. Para a situação de grupo são consideradas seis estacas
pré-moldadas interligadas por um bloco de coroamento. Constata-se que os valores da parcela de
atrito negativo estimados variaram de 68 até 497 kN. Eram esperadas diferenças significativas
através dos diversos métodos, pois esses são desenvolvidos com base em considerações distintas.
Verifica-se a importância de estudos que envolvam a instrumentação em campo do fenômeno,
particularmente no Brasil, onde se percebe uma escassez de trabalhos sobre o assunto.

PALAVRAS-CHAVE: Atrito Negativo, Estacas Cravadas, Estacas Pré-moldadas, Solo mole.

1 INTRODUÇÃO ao atrito negativo. (v) As estacas cravadas em


solos colapsíveis que, quando saturados, entram
Quando o solo que envolve a estaca recalca em processo de adensamento.
mais que a estaca, manifesta-se na estaca uma O atrito negativo é um fenômeno que se
sobrecarga denominada atrito negativo. desenvolve ao longo do tempo, crescendo até
Algumas situações em que se manifesta o atrito atingir um valor máximo (Endo et al., 1969).
negativo são as seguintes, de acordo com Existe uma determinada profundidade onde
Velloso e Lopes (2011): (i) Adensamento de não há deslocamento relativo entre a estaca e o
argila amolgada devido à cravação de estacas. solo, definida de ponto neutro. Esse pode ser
(ii) Adensamento de argila por conta de, por determinado traçando-se perfis de recalque do
exemplo, depósito recente de aterro. A argila terreno por efeito do adensamento e de recalque
mole, em processo de adensamento, sofre esperado da estaca. O ponto de interseção dos
recalques e o atrito negativo desenvolve-se ao dois perfis é o ponto neutro.
longo das camadas de aterro e de argila mole. Citam-se, segundo Santos Neto (1981),
(iii) Adensamento de argila quando se promove alguns fatores que contribuem para a natureza e
um rebaixamento de lençol d’água em camada magnitude do atrito negativo: (i) Tipo de
de areia acima de argila mole ou alívio de material constituinte da estaca. (ii) Método de
pressões em camada de areia abaixo de argila instalação da estaca (cravada ou escavada). (iii)
mole. (iv) As estacas cravadas em solos Tipo de estaca (ponta, atrito, com ponta fechada
subadensados, em processo de adensamento sob ou aberta). (iv) Inclinação da estaca. (v) Seção
a ação do peso próprio, também estarão sujeitas transversal da estaca. (vi) Efeito de grupo. (vii)
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Tipo de solo. (viii) Se o solo é subadensado, movimento para baixo é resistido pelo atrito
normalmente adensado ou pré-adensado. (ix) lateral entre o aterro e as estacas. Consideram
Grau de sensibilidade do solo. (x) Lençol que todo o peso de aterro entre as estacas é
freático (relacionado às variações do seu nível). transferido para as próprias estacas. A carga P’
(xi) Compressibilidade do terreno. (xii) que atua em cada estaca devida ao peso do
Espessura da camada compressível em relação aterro dentro do grupo é:
às sobrecargas (aterro, depósito etc.) impostas
sobre ela. (xiii) Características das curvas ( AH1γ )
tensão versus deformação dos solos envolvidos. P' = (1)
n
A NBR 6122 (2010), Projeto e Execução de
Fundações, orienta que o atrito negativo deve Onde:
ser considerado em projeto quando houver a A = área de uma seção horizontal incluída
possibilidade de sua ocorrência. dentro do limite do grupo de estacas;
Por se tratar de uma solicitação a mais para o H1 = espessura da camada de aterro;
estaqueamento, o atrito negativo pode encarecer
a fundação na medida que reduz a carga de γ = peso específico do material do aterro;
trabalho das estacas, consequentemente, n = número de estacas do grupo.
aumentando sua quantidade ou dimensões.
Existem diversas formas de, pelo menos, Nos espaços entre grupos, o peso do aterro
minimizar o efeito do atrito negativo nas produz recalques progressivos. Se o grupo
estacas, quais sejam: (i) Pré-carregamento da consiste em estacas de ponta, estas não
camada compressível antes da instalação de participam do movimento para baixo e,
estacas. Salienta-se que o pré-carregamento consequentemente, o solo que circundam o
deve ser mantido durante um certo tempo, ou grupo desce em relação ao próprio solo e tende
seja, essa medida pode afetar o cronograma da a arrastá-lo.
obra. (ii) Encamisamento da estaca com tubo de Essa força de arrasto cresce à medida que se
maior diâmetro. (iii) Uso de estacas tronco- processa o adensamento da argila e depende dos
cônicas – o solo se separa da estaca à medida recalques da superfície da argila. O valor
que essa recalca, de modo a não transferir atrito mínimo dessa força de arrasto depende do valor
negativo. (iv) Uso de estacas de pequeno do recalque da camada compressível. Possui
diâmetro. (v) Pintura na estaca – no Brasil tem- valor quase nulo para recalques muito
se aplicado camada betuminosa na superfície de pequenos, cresce com os recalques e não pode
estacas sujeitas a atrito negativo (Velloso e tornar-se maior que o produto da espessura da
Lopes, 2011). camada de argila ( H 2 ) pelo perímetro ( U ) do
grupo de estacas e pela resistência não drenada
( Su ). Tem-se, assim:
2 PRINCIPAIS MÉTODOS DE
ESTIMATIVA DO ATRITO NEGATIVO (UH 2 Su )
PROPOSTOS NA LITERATURA P '' = (2)
n
2.1 Método de Terzaghi e Peck (1948) O valor total do atrito negativo em cada
estaca é:
Terzaghi e Peck (1948) propuseram um método
considerando o efeito de grupo. Admitem que,
Qn = P ' + P '' (3)
após a cravação das estacas, o material de aterro
situado na parte superior do grupo de estacas
não pode mais recalcar livremente, pois o seu 2.2 Método de Moretto e Bolognesi (1959)
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Moretto e Bolognesi (1959) estimam o atrito ( K 0tgφU ) ;


negativo a partir da seguinte expressão: m1 =
At
K 0 = coeficiente de empuxo no repouso;
Qn = AL Su (4)
φ = ângulo de atrito interno do solo;
Onde: U = perímetro da estaca;
AL = área lateral da estaca; At = área efetiva tributária para cada estaca;
Su = resistência não drenada da argila. e = base dos logaritmos neperianos;
p0 = tensão vertical efetiva inicial;
Esses autores não levam em consideração a H = espessura da camada.
existência do ponto neutro. Consideram a estaca
isolada e a mobilização da resistência não A parcela de atrito negativo é:
drenada ocorrendo ao longo de todo o fuste.
   
2.3 Método de Johannessen e Bjerrum (1965)     −U  
K 0tgφ H  
 p0 − γ  
   (7)
Qn = At γ H +  1 − e At 
 U   
Johannessen e Bjerrum (1965) propuseram uma     K 0tgφ   
   At   
expressão para a estimativa do atrito negativo a  
partir da instrumentação de estacas de aço
cravadas em espessa camada de argila, sobre a Para o caso de terreno com 2 camadas de
qual foi colocado um aterro de dez metros: solos distintos, os autores propõem:

z
Qn = Ktgφa' ∫ σ v' dzU (5) • Na camada 1:
0

AN1 = AN 0,1 + ANγ ,1 (8)


Onde:
K = coeficiente de empuxo de terra;
Onde:
φa' = ângulo de aderência entre a estaca e o solo;
AN 0,1 = atrito negativo corresponde à
σ v' = tensão vertical efetiva;
sobrecarga p0 ;
U = perímetro da estaca.
ANγ ,1 = atrito negativo correspondente ao peso
2.4 Método de De Beer e Wallays (1968) próprio da camada 1.

De Beer e Wallays (1968) consideram que parte A tensão vertical na base da camada 1, após
da tensão efetiva inicial do terreno transfere-se a cravação da estaca é:
para a estaca. Dessa forma, tem-se:
γ K ,1 ( − m1,1 ) H1  ( − m1,1 ) H1 
pV ( H1 ) = {1 − e  
}+ p e
0
 
(9)
γ  ( − m ) H  ( − m ) H  m1,1
pv , z =   1 − e  1  + p0 e  1 
{ } (6)
 m1 
Tem-se, assim, na camada 1:
Onde:
pv , z = tensão vertical efetiva final; AN1 = A1  p0 ( H1 ) − pv ( H1 )  (10)
γ = peso específico do solo;
Sendo:
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p0 ( H1 ) = p0 + γ K ,1 H1 profundidade z ( = x ) do topo da camada de


argila. Admitindo-se uma distribuição linear ao
• Na camada 2: longo de H (espessura da camada de argila),
tem-se:
A sobrecarga devida à carga externa e à
camada sobrejacente é:  x
f x = f 0 1 −  (14)
 H
( p0 )2 = pv ( H1 ) (11)
Onde:
A tensão vertical na base da camada 2, após f 0 = força devida ao atrito negativo por unidade
a cravação da estaca é: de comprimento que atua no topo da camada de
argila.
γ K ,2 ( − m1,1 ) H1  ( − m1,1 ) H1 
pv ( H 2 ) = {1 − e  
}+( p ) e
0 2
  (12)
m1,2 Dividindo-se H em n segmentos, tem-se:

Tem-se, dessa maneira, na camada 2: H


∆x = (15)
n
AN 2 = A2  p0 ( H 2 ) − pv ( H 2 )  (13)
Onde:
∆x = espessura de cada segmento.
Sendo:
A força devida ao atrito negativo em um
p0 ( H 2 ) = ( p0 ) 2 + γ K ,2 H 2 . segmento qualquer é dada por:

2.5 Método de Johnson e Kavanagh (1968) AN x = f x ∆x (16)

Johnson e Kavanagh (1968) apresentaram um Logo:


método que admite uma mobilização não
uniforme. Como há maiores deslocamentos na
 x 
parte superior da estaca, a mobilização será AN x = f 0 1 −  ∆x (17)
maior neste trecho. Quando se aproxima da  ( n∆x ) 
ponta da estaca, a mobilização tende a zero,
uma vez que os deslocamentos relativos são Admitem que AN x em cada segmento
praticamente nulos nessa região. distribui-se para o solo acima de cada segmento,
Admitem que a força causada pelo atrito formando um ângulo φ .
negativo no fuste é igual à força distribuída no
Da Teoria do Adensamento Unidimensional
solo que produziria o mesmo recalque.
de Terzaghi, para um segmento i , pode-se
O primeiro passo do método consiste em
concluir que o recalque causado pela força de
calcular o recalque que ocorreria no solo se não
houvesse a estaca. Para tanto, usa-se a Teoria do atrito negativo que atua nesse segmento AN ( xi )
Adensamento Unidimensional de Terzaghi. na argila sobrejacente a ele é:
Estima-se o recalque y . O passo seguinte é
calcular a força na superfície lateral da estaca  C   (
∆ p AN ( i ) ) 
que, quando aplicada no solo, produz o mesmo yi =  c  x log  p0( i ) + (18)
1 + e0   p0 ( i ) 
recalque y . Essa força é igual a f x , a uma  
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A tensão vertical inicial p0( i ) no meio da   x  


camada acima da profundidade x , devida ao  f 0 1 −  ∆x 
  ( n∆x )  
peso próprio da argila é: (
∆ p AN ( i ) ) = (25)
  φ  
2

π  xtg  
γx   2  
p0( i ) = (19)
2
Obtém-se, assim, o valor do recalque na
Onde: argila provocado por cada segmento i :
γ = peso específico do solo.
 8 f 0 ( 2n − 2i + 1)  

Mas:  nπ tg 2φ ( 2i − 1) 2 ∆x   (26)
 Cc   ∆x    
yi =    i∆x −  log 1 + 
 1 + e0  2     ∆x   
∆x  ∆x    y  i ∆x − 
2   
x = i∆x − =   ( 2i − 1) (20) 
 

2  2   2 

Logo: Onde:
Cc = índice de compressão da argila;
  ∆x   e0 = índice de vazios inicial da argila;
γ  i∆x − 2  
  ∆x = espessura de cada segmento;
p0( i ) = (21)
2 γ = peso específico do solo;
n = número de segmentos em que foi dividida a
Neste mesmo ponto, o acréscimo de tensão camada de argila;
devido à força de atrito negativo que atua no φ = ângulo de distribuição da força de atrito
segmento i é: negativo no solo.

AN ( xi ) Obtém-se, então, a seguinte expressão:


(
∆ p AN ( i ) = ) (22)
yi
yi = f ( i, f 0 ) (27)
Como a distribuição de AN ( x ) no solo é
admitida segundo um ângulo φ , tem-se: Onde:
yi = recalque na argila provocado por cada
2 segmento;
 ( xtgφ ) 
yi = π   (23) i = número do segmento;
 2  f 0 = força de atrito negativo por unidade de
comprimento no topo da camada de argila.
Logo:
Atribuindo-se valores para i , encontra-se,
  x   para várias estimativas de f 0 , os valores dos
 f 0 1 −  ∆x 
  ( n∆x )   recalques correspondentes.
(
∆ p AN ( i ) ) = (24) Comparando-se os recalques obtidos pela
  φ  
2

π  xtg   expressão (27) com a estimativa do recalque da


  2   camada inicialmente feita, encontra-se o valor
de f 0 compatível e, de posse dele, a área do
Substituindo o valor de x na expressão (24):
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diagrama de distribuição de força no solo será a Para camadas de solos argilosos:


sobrecarga devida ao atrito negativo.
AN grupo = SuH f Γ + γ H f A (31)
2.6 Método de Bowles (1968)
Para camadas de solos granulares:
Bowles (1968) propôs expressões para estacas
isoladas ou em grupo considerando os 2
diferentes casos de sobrecarga (aterro argiloso AN grupo =
(H )
f Γγ f
+γ H f A (32)
ou granular). 2
Para o caso de estacas isoladas em solo
argiloso, tem-se: Onde:
Γ = perímetro da estaca;
AN = ΓH f Su (28) A = área do grupo de estacas.

Onde: 2.7 Método de Endo et al. (1969)


Γ = perímetro da estaca;
H f = espessura do aterro; A partir da instrumentação realizada por mais
de dois anos em quatro tipos de estacas
Su = resistência não drenada da argila na zona metálicas em Tóquio, Endo et al. (1969)
Hf . propuseram para o cálculo do máximo valor do
atrito negativo (que ocorre no ponto neutro):
Para estacas isoladas em solo granular:
βl
2
AN max. = ηΓα ∫ σ vz' dz (33)
0
AN = Γ ( H f ) γ Kf (29)
Onde:
Onde: η = coeficiente que depende da ponta da estaca;
Γ = perímetro da estaca; Γ = perímetro da estaca;
H f = espessura do aterro; α = Ktgφ = 0,30 para aterro e 0,20 para argila;
γ = peso específico do solo do aterro. K = coeficiente de empuxo;
K = coeficiente de empuxo de terra; l
β = n = profundidade relativa do ponto
f = coeficiente de atrito. l
neutro (os autores sugerem 0, 73〈 β 〈 0, 78 );
Para o caso de estacas em grupo, devem ser ln = profundidade do ponto neutro em relação
analisadas duas situações: ao topo da estaca;
(i) O atrito negativo é calculado em cada l = comprimento da estaca na camada de solo
estaca e, então, somado, para que se tenha a
compressível.
sobrecarga total no grupo:
2.8 Método de Poulos e Davis (1975)
AN grupo = nAN estacas (30)
Conforme proposto por Poulos e Davis (1975),
(ii) Considera-se a possibilidade de ação do a máxima força que atua na estaca, quando
grupo, de tal maneira que ocorra cisalhamento ocorre cisalhamento total na interface solo-
ao longo do perímetro do grupo ( Γ ), estaca, é:
adicionando-se o peso do terreno contido no
grupo. Assim, tem-se: AN = PNFS N R NT + Pa (34)
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Onde: Γ
R= ;
PNFS = máxima sobrecarga devida ao atrito ( 2π )
negativo quando ocorre plena mobilização da Γ = perímetro da estaca.
resistência ao cisalhamento;
N R = fator de correção para o caso em que não A experiência tem mostrado que não se pode
ocorra plena mobilização da resistência ao determinar analiticamente o termo Ktgδ . Em
cisalhamento; obras importantes, ele deverá ser medido em
NT = fator de correção para o caso em que a ensaio no local. Para efeito de cálculos
estaca não seja cravada na ocasião da colocação aproximados, fornecem-se os valores de Ktgδ
do aterro e, sim, após um certo tempo t ; na Tabela 1.
Pa = força axial que atua na estaca no topo da
camada compressível. Tabela 1. Valores de Ktgδ.
Tipo de material Ktgδ
δ
PNFS pode ser obtido a partir da expressão: Estacas com pintura asfáltica em argilas 0,02
Película anular de bentonita 0,05
H Estacas cravadas em solos argilosos muito
PNFS = π d ∫ τ a dz (35) moles a moles e soltos orgânicos
0,20*
0

Estacas escavadas em solos argilosos muito


0,15
Onde: moles a moles e soltos orgânicos
d = diâmetro da estaca; Estacas escavadas com revestimento perdido
τ a = aderência solo-estaca; em solos argilosos muito moles a moles e 0,10
H = espessura da camada compressível. soltos orgânicos

Estacas cravadas em solos argilosos rijos a


0,30**
2.9 Método de Combarieau (1985) duros
Estacas escavadas em solos argilosos rijos a
Combarieau (1985) apresenta um método para 0,20
duros
estacas isoladas e em grupos de estacas.
Estacas escavadas com revestimento perdido
Para estaca isolada, admite-se o atrito 0,15
em solos argilosos rijos a duros
negativo unitário máximo τ n dado por:
Estacas cravadas em solos argilosos sensíveis
0,10
com atrito negativo gerado pela cravação
τ n = ktgδ q ' ( z ) (36) Areias e pedregulhos fofos 0,35***
Areias e pedregulhos medianamente
0,45***
compactos
Onde:
0,5 a 1,0 e
q ' ( z ) = tensão vertical efetiva no contato solo- Areias e pedregulhos compactos
mais***
estaca, à profundidade z ; * Reduzir para 0,15 em estacas cravadas com ponta aberta.
tgδ = coeficiente de atrito solo-estaca; ** Reduzir para 0,20 em estacas cravadas com ponta aberta.
K = coeficiente de empuxo. *** Às estacas cravadas correspondem os valores mais
elevados; às escavadas, os menores.
Se hc é o comprimento da estaca ao longo do
qual atua o atrito negativo, tem-se: O método de cálculo proposto por
Combarieau (1985) prescinde do valor do
hc recalque do solo, supondo, apenas, que ele
AN = 2π R ∫ ( Ktgδ )q ' ( z ) dz (37)
0 tenha uma compressibilidade suficiente. Por
outro lado, leva em a influência da presença da
Onde: estaca sobre as tensões que atuam junto a ela. O
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princípio do método está no fato de que o atrito 1 dσ '  1 dσ ' 


q ' ( z, R ) = + e − mz σ ' ( 0, R ) − (41)
negativo resulta de transmissão de um esforço m dz  m dz 
do solo para a estaca. Esse mecanismo não pode
se desenvolver sem que haja uma redução da
Quando λ = 0 :
tensão vertical no solo nas proximidades da
estaca: essa redução é máxima junto à estaca e ' ' dσ '
q ( z , R ) = σ ( 0, R ) + z = σ ' ( z, R ) (42)
se anula a uma certa distância. Sejam: dz

σ ' ( z ) = tensão efetiva vertical no solo na A altura crítica hc é determinada fazendo a


situação inicial, antes da instalação das estacas; hipótese de que o atrito negativo só ocorre
σ ' ( z , r ) = tensão efetiva vertical no solo, após enquanto q ' ( z , R ) for maior que a tensão inicial
receber a sobrecarga, sem levar em σ 0' ( z ) , ou seja:
consideração as estacas, igual a q0 + σ 0' ( z ) , no
caso de haver uma sobrecarga q0 ; q ' ( hc , R ) = σ 0' ( hc ) (43)
q ' ( z , r ) = tensão efetiva vertical real que junto
O atrito negativo total que carrega a estaca
da estaca é q ' ( z, r ) , determinando poderá, então, ser calculado por uma das duas
τ n = Ktgδ q ' ( z , r ) . seguintes expressões:
É proposta para q ' ( z, r ) a seguinte hc

expressão para r ≥ R : AN = 2π R ∫ Ktgδ q ' ( z , R ) dz , se hc 〈 H (44)


0

 
 (r − R)  H
− λ
q ' ( z , r ) = q ' ( z , R ) + σ ' ( r , z ) − q ' ( z , R )  1 − e 
R  (38) AN = 2π R ∫ Ktgδ q ' ( z , R )dz , se hc 〉 H (45)
 0
 

Para grupo de estacas, o efeito de suspensão


Onde: do solo em torno da estaca é ampliado e tanto
λ = coeficiente que traduz a ação do solo mais, quanto menor for o espaçamento entre as
¨pendurar-se¨ ou ¨suspender-se¨ na estaca. estacas.
Para determinar o valor de q ' ( z , R ) , faz-se o Considerando-se um grupo ilimitado de
equilíbrio de uma fatia de solo de espessura dz estacas de seção transversal Ae e de raio
em torno da estaca. Obtém-se a seguinte Γ
equação diferencial: equivalente R = , sendo Γ o perímetro,
( 2π )
regularmente espaçadas, o problema, para uma
dq ' ( z , R ) ' dσ ' ( z , R )
+ m ( λ ) q ( z, R ) = (39) estaca interior ei pode ser resolvido como se
dz dz
tratasse de uma área anular de raio externo:
λ 2 Ktgδ
Com m ( λ ) = (40) ab
(1 + λ ) R d= (46)
π
dσ '
Considerando um intervalo em que
dz e Ai = π d 2 − Ae (47)
possa ser admitido constante, a integração da
equação anterior fornece:
O cálculo é realizado como se tivesse uma
estaca isolada, com a análise restrita ao
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intervalo ( R, d ) e não mais ( R, ∞ ) . a situação de grupo são consideradas 6 estacas


Chega-se à equação diferencial: pré-moldadas (também com a ponta fechada,
comprimento de 15,5 metros e diâmetro de 50
centímetros) interligadas por um bloco de
dq ' ( z , R ) dσ ' ( z )
'
+ m ( λ , d ) q ( z, R ) = (48) coroamento.
dz dz A Figura 1 ilustra um esquema com o perfil
do solo e os dados adotados para o estudo.
Com:

λ2 Ktgδ , se λ ≠ 0 (49)
m (λ, d ) =  ( d − R) 
 λd  ( − λ )
R 
 R
1 + λ − 1 − e

 R 

Ou

2 Ktgδ
m ( 0, d ) = 2
, se λ = 0 (50)
d  R
  −1
R

O caso da estaca isolada aparece, então,


como um caso limite do grupo quando d tende
Figura 1. Esquema com o perfil do solo (Beire, 2017).
para o infinito, com m ( λ , ∞ ) = m ( λ ) .
A determinação da altura crítica e o cálculo A Tabela 2 mostra o resumo dos resultados
do atrito negativo são feitos da mesma maneira obtidos. Constata-se que os valores da parcela
que para uma estaca isolada. de atrito negativo estimados variaram de 68
(Endo et al., 1969) até 497 kN (Poulos e Davis,
1975), ou seja, uma variação alta. O valor
3 ESTIMATIVA DA PARCELA DE médio entre os diversos métodos estudados foi
ATRITO NEGATIVO de 232 kN. O desvio padrão foi de 149.

Apresentam-se estimativas da parcela de atrito Tabela 2. Resumo dos valores obtidos para a parcela de
negativo para uma situação hipotética de estaca atrito negativo (modificado de Beire, 2017).
isolada e grupo (quando a metodologia permite) Método
Atrito negativo
de estacas cravadas em um perfil de solo (kN)
constituído de uma camada de nove metros de Terzaghi e Peck 228
argila orgânica de consistência mole a muito Moretto e Bolognesi 171
mole cinza escura, a qual está sobreposta a uma Johannessen e Bjerrum 460
camada de três metros de areia compacta. Beer e Wallays 172
Subjacente a essa camada de areia, encontra-se Johnson e Kavanagh 92
um solo residual. Considera-se um aterro de três Bowles 189
metros na superfície e o nível d’água localiza-se Endo et al. 68
a um metro de profundidade na camada de Poulos e Davis 497
argila orgânica. Combarieau 209
A estaca é do tipo pré-moldada de concreto Média 232
armado com a ponta fechada, comprimento de Desvio padrão 149
15,5 metros e diâmetro de 50 centímetros. Para
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O valor elevado da parcela de atrito negativo comprimento da estaca.


obtido a partir do método de Poulos e Davis iv. Percebe-se a importância de estudos que
(1975) pode estar relacionado com a envolvam a instrumentação em campo
consideração proposta pelo método, qual seja: do fenômeno do atrito negativo,
as deformações necessárias para mobilizar particularmente no Brasil, onde se
completamente o atrito negativo ocorrem ao verifica uma escassez de trabalhos sobre
longo de todo o comprimento da estaca. o assunto.
De qualquer forma, eram esperadas
diferenças significativas nos valores da parcela
de atrito negativo através dos diversos métodos, REFERÊNCIAS
pois esses são desenvolvidos com base em
considerações distintas como, por exemplo, Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010). NBR-
existência ou não do ponto neutro, aplicações 6122: Projeto e Execução de Fundações.
Beire, B.M. (2017) Estudo do Atrito Negativo em
específicas para estaca isolada e grupo de Estacas. Trabalho de Conclusão de Curso de
estacas etc. A partir desses resultados, verifica- Graduação em Engenharia Civil, UFJF, 83 p.
se a importância de estudos que envolvam a Bowles, J.E. (1968) Foundations Analysis and Design.
instrumentação em campo do fenômeno do McGraw-Hill, New York.
atrito negativo, particularmente no Brasil, onde Combarieau, O. (1985) Frottement Négatif Sur Les Pieux
– Rapport de Recherche LPC nº 136, Laboratoire
se percebe uma escassez de trabalhos sobre o Central des Ponts et Chaussées, octobre.
assunto. De Beer, E.E. e Wallays, M. (1968) Quelques Problèmes
que Posent lês Foundations sur Pieux dans lês Zones
Portuaires, La Technique dês Travaux, nov/dec,
4 CONCLUSÕES Belgique, pp. 375-384.
Endo, M.; Minou, A.; Kawasaki, T.; Shibata, T. (1969)
Negative Skin Friction Acting on Steel Pipe Pile in
Enumeram-se as seguintes conclusões: Clay. Proc. Of the 7th Inter. Conf. on Soil Mech. and
Found. Eng., vol. 2, México, pp. 85-92
i. Os valores da parcela de atrito negativo Johannessen, I.J. e Bjerrum, L. (1965) Measurement of
the Compression of a Steel Pile to Rock due to the
estimados variaram de 68 até 497 kN, ou
Settlement of the Surrounding Clay. Proc. Of the 6th
seja, uma variação alta. Eram esperadas Inter. Conf. on Soil Mech. and Found. Eng.,
diferenças significativas nesses valores, Montreal, Canadá, vol. 2, pp. 261-264.
uma vez que os diversos métodos Johnson, S.M. e Kavanagh, T.C. (1963) The Design of
estudados são desenvolvidos com base Foundations for Buildings, McGraw-Hill, New York.
Moretto, O. e Bolognesi, A.J.L. (1959) Pile Foundations
em considerações distintas como, por
Stressed by Negative Friction. Proc. Of the 1st Pan
exemplo, existência ou não do ponto Amer. Conf. on Soil Mech. and Found. Eng., vol. 3,
neutro, aplicações específicas para México, pp. 315-325.
estaca isolada e grupo de estacas etc. Poulos, H.G. e Davis, E.H. (1975) Prediction of
ii. O valor médio entre os diversos métodos Downdrag Forces in End-Bearing Piles, Jour. of the
Geoth. Eng. Div. ASCE, vol. 101, GT2, pp. 189-205.
estudados foi de 232 kN e o desvio
Santos Neto, P.M. (1981) Métodos de Cálculo de Atrito
padrão foi de 149. Negativo – Estudo e Discussão. Tese M.Sc.,
iii. O valor elevado da parcela de atrito COPPE/UFRJ, 241 p.
negativo obtido a partir do método de Terzaghi, K. e Peck, R.B. (1948) Soil Mechanics in
Poulos e Davis (1975) pode estar Enginneering Practice – John Wiley and Sons, 2nd
Edition, New York, pp. 544-545.
relacionado com a consideração
Velloso, D.A. e Lopes, F.R. (2011) Fundações. Volume
proposta pelo método, qual seja: as Completo. Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 568
deformações necessárias para mobilizar p.
completamente o atrito negativo
ocorrem ao longo de todo o
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Banco de dados de obras em radier estaqueado na Região


Metropolitana do Recife.

Paulo Marcelo Cavalcanti de Oliveira Souza


Unicap, Recife, Brasil, paulomc14@hotmail.com.

Allan Emmanuel de Araújo Machado


Unicap, Recife, Brasil, allanmuel@hotmail.com.

Rodrigo Figueiredo Roma


UPE, Recife, Brasil, rodrigo.f.roma@gmail.com.

Pedro Eugenio Silva de Oliveira


Unicap, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com.

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


Unicap, Recife, Brasil, jtrdo@uol.com.

Alexandre Duarte Gusmão


UPE, Recife, Brasil, gusmao.alex@poli.br.

RESUMO: O foco principal, na elaboração deste banco de dados, das fundações mistas em radier
estaqueados na RMR, busca informação e detalhamento de dados construtivos e técnicos referentes
a obras que foram e estão sendo edificadas em áreas antes desprezadas por serem em solos argilosos
moles e colapsáveis. Os dados dessas obras, selecionadas nas cidades que compõe esta região,
visam de forma intuitiva retratar e caracterizar de forma resumida, a saber, a partir de descrições
como: profundidade das estacas, tipo de estacas, espaçamento médio que envolve as variáveis
adotadas como técnica prescrita e aplicada diante dos cenários distintos. Que permitam a partir dos
resultados e gráficos, a possibilidade de formação de um perfil construtivo das obras em radier
estaqueado das cidades inseridas na Região Metropolitana do Recife. Além do que, esse trabalho
possibilita novas pesquisas que somaram para formação de um maior banco de dados, futuro com
mais obras.

PALAVRAS-CHAVE: Fundação, Radier Estaqueado, RMR, Banco De Dados.

1 INTRODUÇÃO colapsíveis. Na Região Metropolitana do Recife


(RMR) dentre a identificação das unidades
O crescente aumento da população urbana, a geológicas pode-se elencar: Embasamento
propensão à verticalização e o cenário Cristalino, Bacias Sedimentares Cretáceas,
geológico bastante complexo Sedimentos Terciários e Sedimentos
da RMR (região metropolitana do recife) tem Quaternários. Na planície, intensamente
levado o setor da construção civil a investir e modificada, são individualizados: Terraço
construir em áreas, que foram descartadas Marinho Pleistocênico, Terraço Pleistocênico
anteriormente, de solos argilosos moles e Modificado, Terraço Marinho Holocênico,
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Manguezais e Depósitos Flúvio-lagunares, onde Até o fim da década de 90, o mercado de


estão incluídas todos os aluviões recentes. Os fundações em Recife estava praticamente
morros são de cristalino, com profundo perfil de dividido entre soluções de fundações
intemperismo, recobertos ou não pela Formação superficiais, principalmente sapatas isoladas, e
Barreiras, de idade terciária, que também estacas moldadas in loco. (GUSMÃO FILHO,
repousa sobre os sedimentos das Bacias 1998).
Cretáceas, (ver Figura 1). Há ainda a considerar Segundo Gusmão (2005), os principais tipos de
a estrutura tectônica com falhas pré-cambrianas fundações rasas para a cidade são, fundação
reativadas parcialmente durante o Cretáceo e direta na forma de sapatas, podendo ser em
agora estabilizadas. Neste arcabouço de terreno natural (D) ou em solo melhorado (Ar
extrema complexidade implantou-se essa região ou A+B), e fundação direta na forma de um
que hoje no nordeste, é uma das, mas radier (Rd), também podendo ser associado à
importantes no âmbito da construção e solução de melhoramento de solo, contudo
desenvolvimento das pesquisas e técnicas para menos comum. A fatia do mercado referente às
fundação. soluções de sapatas associadas a melhoramento
é muito expressiva, principalmente em torno de
dois tipos de solução muito utilizada na região
Nordeste: melhoramento em colunas de areia e
brita, ou melhoramento em colunas de
argamassa. Para comunicação mais
simplificada, neste texto será referido apenas
como solução em colunas de Argamassa (Ar)
ou em Areia e Brita (A+B). Estas soluções
podem viabilizar o uso de fundações
superficiais, e reduzir significativamente o
custo das fundações (GUSMÃO, 2005). Os
principais tipos de fundação profunda para a
cidade do Recife são: Estacas Premoldadas de
Concreto (PMC); Estacas Hélice Contínua (H)
– centro da presente pesquisa; Metálica (M);
Franki (F) e Raiz (Rz) (GUSMÃO, 2005). Mais
recentemente, em pesquisa de trabalho de
conclusão de curso, Santos (2011) fez
levantamento em principais empresas de
fundação de Recife sobre os quantitativos de
porcentagem de ocorrência de soluções de
fundações na cidade. (apud OLIVEIRA, 2013)
Hoje em dia, na realidade de Recife, não existe
mapeamento das obras que são feitas se
utilizando sistema misto de fundações em
Radier + estacas. Nem mapeamento de sistemas
de fundações tradicionais nem como radier
estaqueado de fato.

Figura 1. Geologia RMR, Fonte: (adaptação) Barreto et al


2016.
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Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, Recife e


2.1 Radier Estaqueado São Lourenço da Mata, localizados na porção
leste do estado de Pernambuco, região nordeste
Muito se discute sobre como funciona o sistema do Brasil. Limita-se pelas coordenadas: - 8° 04’
misto Radier + estacas. Dependendo de como é 03’’ de latitude Sul e - 34° 55’ 00’’ de
a transmissão de cargas para o solo o sistema longitude Oeste. (BARRETO et al ,2016)
pode ser concebido como o modelo tradicional
de projeto de fundações profundas (toda a carga
sendo distribuída por meio das estacas), ou ao
se considerar a contribuição da placa radier,
pode ser concebido como de fato o radier
estaqueado onde as duas parcelas de cargas são
consideradas na análise (Mandolini, 2005). Em
um sistema de radier estaqueado haveria a
contribuição dos dois subsistemas cada um
oferencendo uma rigidez à deformação da
estrutura, onde cada elemento poderia interagir
com os demais. Os elementos envolvidos
seriam: o subsolo, a estrutura, as estacas, e a
placa onde todos podem interagir entre si. Daí a
complexidade do problema (Randolph, 1994).
Muitas estrututras no mundo são concebidas em
Radier Estaqueado, em literatura técnica, desde
edíficios em solos especiais a edifícios altos, de
grande solicitação do terreno. Nesse panorama
as estacas podem contribuir para a capacidade
de carga do sistema, ou como elemento redutor
dos recalques (Zeevaert, 1957). A experiencia
da Alemanha, talvez seja uma das mais bem
documentadas da literatura, com diversos
estudos sobre os edifícios altos da Europa como
o Messeturm Frankfurt (Katzenbach, 2005). O
presente trabalho tem como objetivo mapear
obras na Região Metropolitana do Recife, que
Figura 2. Área de estudo, RMR, Fonte: (adaptação)
se utilizaram da associação de estacas com
Barreto et al 2016.
placa radier. Não foi avaliado como funcionava
o sistema. A proposta é levantar as obras, para
2.1.2. Metodologia.
posteriormente, serem realizadas análises.
Foram realizadas visitas técnicas, entre os
2 MATERIAIS E METODOS
meses de agosto e outubro de 2017, em 27
(vinte e sete) obras localizadas na região
2.1.1 Área de estudo.
metropolitana do Recife (RMR), distribuídas
entre os municípios relacionados na Tabela 1,
A Região Metropolitana do Recife
com a finalidade de obter informações sobre o
compreende um conjunto de 14 municípios,
tipo de fundação utilizada (radier estaqueado)
Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo
Todas as obras visitadas tiveram a supervisão
Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca,
dos seus devidos responsáveis técnicos. Em
Itapissuma, Itamaracá, Jaboatão dos
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todas, foram preenchidas fichas de cadastro Depois de concedida a devida autorização para
(vide Tabela 1). investigar as obras e sempre com a presença dos
seus responsáveis técnicos, foi utilizada uma
ficha de cadastro (Figura 3) de elaboração
Município Nº de Obras
propria, para identificação e caracaterização das
Jaboatão dos Guararapes 5
obras visitadas, que servir como parametro
Olinda 7
onde; se pode ver a ficha dividida em 4 blocos
Paulista 1 sendo : de identificação, caracteristica da
Recife 12 estrutura, caracteristica estruturais de fundação
São Lourenço da Mata 2 e caracteristicas das estacas.Contendo cada
Total de Obras 27 bloco dados quantitativos de cada obra.

Tabela 1. Obras visitadas por municipios em radier


estaquedos na RMR. Fonte: Autores, 2017.

Foram visitadas 15 (quinze) obras, onde 9


(nove) utilizavam o sistema de fundação em
radier estaqueado e 6 (seis) adotavam outros
tipos de sistemas construtivos de fundações,
estas últimas descartadas haja vista não serem
objeto da presente pesquisa. Sendo 18 (dezoito)
obras que foram executadas com o sistema de
radier estaqueado, informado pela Gusmão
Engenharia. De forma limitada esse trabalho
apenas mostras as obras de fundação mistas
onde se foi executado a placa radier+estacas
sem se prender a analise do projeto nem tão
poucas no funcionamento ou projeçoes da
surperstrutura sobre a placa ou a estacas. Não
foi avaliada a distribuição de cargas entre radier
e estacas, nem o funcionamento do sistema de
fundações.
2.1.3. Levantamento de dados. Figura 3. Ficha modelo usada no cadastramento de obras,
sendo os 4 blocos identificado por cores. Fonte: Autores,
Na coleta de dados, em muitas locais não se 2017.
permitiu o acesso aos seus canteiros de obras e
nem na parte de investigação foram cedidas 3 RESULTADOS E DADOS.
informações sobre a obra e muito menos em
relação ao processo construtivo de suas Com base nos dados obtidos nas obras
fundações, mas por outro lado em outras se teve pesquisadas, foi criado um banco de dados em
autorização e obteve-se ótima recepção por forma de tabela, (ver Figura 4) onde temos na
parte dos seus responsáveis técnicos, onde foi primeira coluna os números das obras, e na
confirmado pelos mesmos que nessas obras foi segunda coluna é apresentado o número de
adotado o processo construtivo na fundação de blocos de cada obra; já na terceira coluna,
radier estaqueado. temos a quantidade de apartamentos por andar;
na quarta, o número de pavimento das
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edificações visitadas; na seguinte, temos a


coluna onde é apresentada a área (em metros
quadrados) do radier estaqueado; já na sexta é Figura 4. Detalhamento das informações tecnicas de 27
mostrada a espessura do radier que foi adotado obras em Radier Estaquedo. Fonte: Autores, 2017.
na obra em questão; em seguida temos outra
3.1.1. Espessura de Radier.
coluna que mostra que o radier executado na
obra visitada foi feito de concreto armado;
Diante do detalhamento das informações
assim na sétima coluna mostra se o radier foi
obtidas foi elaborado uma grafico em forma de
executado em concreto prodentido; na coluna
pizza nº 1, abaixo mostrado, onde encontra uma
seguinte temos o número de estacas que foram
média das espessuras dos radiers pesquisados,
utilizadas no radier da obra em questão; já na
variando de 0,20 m até 0,70 m.
nona, temos o tipo de estaca que foi adotado
praquela obra; na coluna seguinte é apresentado
o diâmetro das estacas; já na décima primeira,
temos o comprimento das estacas que foram
usadas na obra e, por fim, uma coluna
classificada como observações, constando o
resultado de ensaios feitos na fundação da obra
que foi utilizado o radier estaqueado.

Grafico 1 Espessuras dos Radiers. Fonte: Autores, 2017.

Sendo assim de forma, mas especifica a


porcentagem das médias das espessuras dos
radiers estaqueados, é demostradas no grafico
nº 2 onde se é visto que 19% de todas as obras
as espessuras do radiers são maiores que 0,35
cm, e 81% têm até 0,35 m em sua espessura.

Grafico 2. Percentual das médias das espessuras dos


Radiers. Fonte: Autores, 2017.
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3.1.2. Quantitativos de Pavimentos.


Ainda caracterizando as obras conforme o porte
da estrura em relação à quantidade de
pavimentos de cada obra, foi feita a
porcentagem das edificações com 8 pavimentos,
onde representam 22%, já as com 4 pavimentos
temos 52% e com 1 pavimento representa 26%
de todas as obras catalogadas em radier
esqueado na RMR.(ver grafico 3)

Grafico 4. Percentual e tipos das estacas em todas as


obras. Fonte: Autores, 2017.

Ainda na caracterização sobre os tipos de


estacas foi elaborado o grafico n º 5 onde temos
a porcentagem das estacas e de colunas de solo
melhorado, onde obtemos 63% em estacas e
que representa a maior parte das obras em
radier estaqueado, e com 37% representativos
de todas as obras que tiveram colunas de solo
Grafico 3. Percentual da quantidade de pavimentos dos
edificios em radier estaqueado. Fonte: Autores, 2017. melhorado.

3.1.3. Tipos de estacas/colunas.

Conforme o arrolamento dos dados das obras


contidas neste banco de dados, foi tambem
visualizado os tipos de estacas que foram
usadas nas obras, assim sendo descritas no
grafico nº 4 mostrando que 41% de estacas são
pré-moldadas representando a estaca, mas
utilizada nas 27 obras catalogadas na RMR, já
as estacas de argamassa (areia/brinta e
argamassas com traços distintos) representam
26% das obras em radier estaqueado, já as Grafico 5. Percentual de estacas e de colunas de solo
estacas em hélice contínua temos o quantitativo melhorado. Fonte: Autores, 2017.
de 22% das obras visitadas e com 11% temos as
obras com estacas de colunas intercaladas de 3.1.4. Diametros das estacas.
areia e brita.
Nas descrições das estacas ainda foram feito
analises enquanto ao diamentro das estacas
onde se é mostra no grafico nº 6 o diâmetro das
estacas que foi utilizado em todas as 27 obras
visitadas, onde temos: estacas com diâmetro de
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0,28 m que são as de colunas melhoramento, e Fonte: Autores, 2017.


com 0,30 m de diâmetro têm as estacas pré-
moldadas e colunas de melhoramento, já com
0,35 m e 0,37 m de diâmetro temos as estacas 3.1.5. Comprimento das estacas.
pré-moldadas, e com 0,40 m, 0,50 m e 0,60 m
de diâmetro as estacas hélice contínua.

Grafico 8. Percentual do comprimento das estacas ate 15


m. Fonte: Autores, 2017.

Ainda foi feito no grafico nº 8 a média dos


comprimentos das estacas de radier estaqueado
Grafico 6. Diametro das estacas e dos radiers nas obras em porcentagem, onde temos 78% de todas as
pesquisados. Fonte: Autores, 2017. obras tem o comprimento máximo de 15 metros
de profundade, e 22% tem mais de 15 metros de
Ainda foi elaborado um grafico onde mostra a profundidade.
média dos diâmetros das estacas do radier Cominando as caracterizaçoes foi elaborado um
estaqueado em porcentagem, onde temos grafico geral sobre a relação entre tipo de
25,93% de todas as obras são maiores que 0,30 estacas e as profundidades visto no grafico nº 9
m, e 74,07% do diâmetro das estacas de todas que, apresentada a relação entre o tipo de estaca
as obras catalogadas têm até 0,30 m de utilizada na obra e sua profundidade, mostrando
diâmetro. a média dos comprimentos das estacas que
varia de desde 5 metros até 30 metros de
profundidade, e também todos os tipos de
estacas usadas nas obras, onde temos hélice
contínua, pré-moldadas, coluna de argamassa e
areia e brita.

3.1.6. Espaçamento médio das estacas.

Para medir o espaçamento médio entre as


estacas no radier utilizou-se para obtenção de
resultados a equação nº 1, onde a espaçamento
médio é obtido através da raiz quadrada da área
dos radiers dividida pelo número de obras.
Assim, com base nessa fórmula, chegou-se ao
Grafico 7. Percentual do diametro das estacas ate 30 cm.
resultado em que 18,5% das obras apresentou
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espaçamento médio entre estacas variando entre radiers com até 35 cm, estacas de diâmetro até
2,50 e 4,2 m e 81,5% das obras tiveram seu 35 cm, comprimentos médios de 15 m, com
espaçamento menor 2,50 m. espaçamento menor que 2,50 onde o perfil
construtivo típico da região de 78% das obras

Εmédio = Ar estudadas tinham até 4 pavimentos, 81%


(1) apresentam espessura da placa de até 35 cm,
N
74% usam estacas com diâmetros de até 30 cm,
e 78% com estacas de até 15,00 m de
Onde: comprimento. 81% das obras apresentam
• Emédio – Espaçamento médio espaçamento entre estacas inferior a 2,50 m, o
• Ar – Área do Radier perfil construtivo típico avaliado é apresentado
na Figura 5.
• N – Número de obras

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Diante das 27 obras que compõe essa pesquisa


em toda a região metropolitana, com parcela
mais expressiva na cidade de Recife. Foram
obtidos dados das espessuras de cada radier
onde a partir dos resultados obtidos e das
leituras das informações e graficos foi possível
observar que o perfil construtivo médio de
obras com fundação em radier estaqueado é:

Gráfico 9. Distribuição dos comprimentos por tipo de estaca. Fonte: Autores, 2017.
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Figura 5. Perfil construtivo obtido. Fonte: Autores, 2017.

MANDOLINI, A (2005). Bearing capacity of piled rafts,


5 REFERÊNCIAS. capacité portante des fondations mixtes semelle-pieux.
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Comparação de desempenho de métodos de previsão de


capacidade de carga de fundações profundas para um caso de obra
em Balneário Camboriú - SC
Thayara Monteiro Orandes da Graça
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, thayaramonteiroog@gmail.com

Marcelo Heidemann
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, marcelo.heidemann@ufsc.br

Helena Paula Nierwinski


Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, helena.paula@ufsc.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a previsão de capacidade de carga de uma estaca que compõe às
fundações de um edifício de grande porte, utilizando os métodos semi-empíricos de Aoki e Velloso
(1975), Philipponnat (1979) e Bustamante e Gianaselly (1981), e os métodos teóricos de Terzaghi
(1943), Meyerhof (1951) e Vesic (1963), comparando-os com resultados de provas de carga
estáticas. Como o ensaio não foi levado à ruptura, teve de se extrapolar a curva carga-recalque para
obter a carga de ruptura da estaca. Todos os métodos conduziram a soluções seguras, sendo que
Aoki e Velloso (1971), Philipponnat (1979) e Vesic (1963) mostraram resultados mais próximos
daqueles derivados das provas de carga, e considerando as cargas de ruptura, indicaram fatores de
segurança mais próximos de 2, como sugere a NBR 6122/2010. Dentre os métodos semi-empíricos,
Philipponnat (1979) mostrou-se o mais conservador e Bustamante e Gianaselly (1981) foi o mais
arrojado. Dentre os métodos analíticos, Vesic (1963) e Terzaghi (1943), considerando ruptura
localizada, foram os métodos que apresentaram os resultados mais próximos dos valores de
capacidade de carga determinados pelas provas de carga.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações profundas, capacidade de carga, provas de carga, CPT.

1 INTRODUÇÃO empíricos). Existem também as provas de carga,


as quais ocupam lugar à parte na questão da
Fundações corretamente dimensionadas devem segurança (HACHICH, 1998).
“apresentar, ao mesmo tempo, segurança em Para a utilização dos métodos de capacidade
relação aos possíveis modos de colapso de carga, é de fundamental importância obter
(atendimento aos estados limites últimos) e dados concisos relativos à estratigrafia da área
deslocamento em serviço aceitáveis da obra e dos parâmetros de comportamento
(atendimento aos estados limites de geotécnico do solo ao qual estas cargas serão
utilização).” (VELLOSO; LOPES, 2010). Para transmitidas. Estes últimos são obtidos através
atender tais estados, segundo a NBR 6122/2010, de investigação geotécnica, seja de laboratório
é necessário para o projeto de fundações ou por ensaios de campo.
profundas, obter as cargas admissíveis ou Segundo Schnaid e Odebrecht (2012) “a
resistentes de projeto, o que pode ser feito investigação geotécnica constitui-se pré-
através de processos diretos (analíticos ou requisito indispensável para projetos seguros e
teóricos) e indiretos (empíricos ou semi- econômicos”.
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Ainda segundo o EUROCODE 7, o enquanto que para as camadas arenosas


conhecimento geotécnico, o controle e a estabeleceram-se valores de densidade relativa
execução de fundações são mais importantes (Dr) a partir da Equação 2 e de ângulo de atrito
para satisfazer esses requisitos do que a (φ’) a partir da Equação 3.
precisão dos modelos de cálculo e os
coeficientes de segurança adotados. Porém a
interpretação dos resultados é complexa e
imprecisa, devido tanto ao comportamento do
solo como as condições de contorno do ensaio
realizado (WROTH, 1984). Entra em contexto
as provas de carga, que são destinadas tanto a
dirimir dúvidas sobre o comportamento dos
elementos de fundação, como verificar a
concisão do elemento sobre as premissas do
projeto (HACHICH, 1998).
Nesse sentido, busca-se neste estudo avaliar o
desempenho de alguns métodos de previsão de
capacidade de carga (analíticos e semi-
empíricos) para uma estaca que compõe as
fundações de um edifício localizado no
município de Balneário Camboriú – SC. Os Figura 1. Resultado de um dos furos CPT próximo à
resultados dos métodos abordados são estaca de estudo.
comparados com os obtidos em uma prova de
carga estática executada no local. i) Solos argilosos

 Resistência ao Cisalhamento não-drenada


2 METODOLOGIA (Schnaid, 2012):

2.1 Parâmetros de comportamento geotécnico


(1)
A investigação geotécnica de campo disponível
para o caso estudado consiste em ensaios CPT Onde:
com comportamento conforme demonstra a Nkt = 15 para argilas normalmente adensadas;
Figura 1. Visto que o CPT não permite a Nkt =12 para argilas pré-adensadas.
extração de testemunhos de solos para
caracterização física ou para ensaios de ii) Solos não coesivos
laboratório que forneçam parâmetros de
comportamento geotécnicos, estas propriedades  Densidade Relativa (Jamiolkowski et al.,
precisaram ser estimadas por meio de 2001):
correlações, para que pudessem ser aplicadas
aos métodos analíticos. (2)
As previsões dos parâmetros de resistência
ao cisalhamento foram feitas com base em Onde:
formulações consagradas e reportadas na qc= Resistência de ponta do cone;
literatura. Para as camadas de solo assumidas σ’v0 = Tensão efetiva vertical;
como sendo argilosas determinou-se resistência  Ângulo de atrito Bolton (1986):
não-drenada (Su) a partir da Equação 1,
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𝜑 ′ = 33+{3[𝐷𝑟(10−ln(p′)−1]} (3) prova é interrompida antes de se obter a carga


de ruptura, é o método de Van der Veen (1953).
Entretanto, para este caso a formulação de Van
2.2 Determinação da carga de projeto der Veen (1953) não foi conclusiva. Por este
motivo, conforme sugerido por Massad (1986),
A partir das cargas verticais e momentos optou-se por executar a extrapolação a partir de
fletores indicado no projeto estrutural, relativos funções polinomiais, mas não se adotou
aos 8 pilares suportados pelo bloco de exatamente o método proposto por Massad
coroamento no qual se encontra a estaca (1986), uma vez que foi igualmente
ensaiada, determinou-se um centro de aplicação inconclusivo.
da carga resultante (CG) para cada combinação A extrapolação foi realizada ajustando uma
de vento atuante no edifício. função polinomial aos dados da curva carga-
recalque até se obter uma função que
2.3 Métodos de capacidade de carga satisfatoriamente congregasse os dados
experimentais pré-existentes. A carga de ruptura
Para a análise dos métodos semi-empíricos, a foi obtida da interseção entre a função que
partir dos resultados obtidos pelo ensaio CPT, representa a curva carga-recalque extrapolada e
foram utilizados os métodos de Aoki e Velloso a função do critério de ruptura sugerido pela
(1975), Philipponnat (1979) e Bustamante e NBR 6122/2010 e indicada na Equação 4.
Gianeselly (1981).
Para os métodos analíticos calculou-se a (4)
resistência lateral conforme sugere o método λ
de Viajayvergiya e Focht (1972), adotando-se
λ=0,19. Para solos granulares, utilizou-se a 3 RESULTADOS
equação proposta por Meyerhof (1953). Para
resistência de ponta fez-se a aplicação dos 3.1 Prova de carga
métodos analíticos propostos por Terzaghi
(1943), Meyerhof (1951) e Vesic (1963). O A Figura 2 apresenta o resultado da curva carga-
método de Terzaghi (1943) foi analisado recalque obtida a partir do ensaio de prova de
considerando tanto ruptura geral do solo carga estática (PCE) realizado na estaca
(fatores Nq, Nc e Nᵧ), como ruptura estudada. Plotou-se então estes dados
localizada/puncionamento (fatores N’q, N’c e juntamente com a função utilizada como critério
N’ᵧ). de ruptura pela NBR 6122/2010, como
mostrado na Figura 3.
2.3 Extrapolação da prova de carga estática

A estaca ensaiada apresenta comprimento de 25


m e diâmetro de 1 m. A mesma foi submetida a
elevados carregamentos no ensaio da prova de
carga, porém não apresentou ruptura nítida
tampouco deslocamentos expressivos.
Para a obtenção da carga de ruptura da estaca
a partir da prova de carga, fez-se necessária a
extrapolação da curva carga-recalque. De
acordo com Velloso e Lopes (2010) um
procedimento normalmente utilizado na
extrapolação de curvas carga-recalque quando a Figura 2. Resultados da prova de carga.
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É possível observar que o resultado não se Apesar de empregado um modelo de


mostrou adequado para determinação da carga extrapolação distinto dos consagrados, a curva
de ruptura, tendo em vista os baixos carga-recalque extrapolada apresentou
deslocamentos da estaca. tendência similar à tipicamente observada em
resultados de provas de carga.

3.1 Métodos de capacidade de carga

A Tabela 1 apresenta o resultado das cargas de


ruptura obtidas por cada método abordado, bem
como a profundidade de assentamento segura, a
qual foi obtida quando a capacidade de carga
admissível torna-se igual ou superior à
transmitida à estaca, estabelecidas a partir de
carga característica obtida do projeto (Pk), que é
Figura 3. Resultados da prova de carga e da ruptura de 3439,6 kN. Posteriormente fez-se a relação
obtida a partir do critério segundo NBR 6122/2010.
entre o comprimento da estaca de fato
executada, 25 m (hprojetado), e o comprimento
Assim, buscou-se extrapolar a curva carga-
necessário previsto, obtido a partir de cada
recalque por meio de um polinômio ajustado
método utilizado (hcalculado).
aos dados experimentais. Neste caso a função
que mais se ajustou aos resultados do Tabela 1. Resultados obtidos considerando carga
carregamento foi um polinômio de sexta ordem, característica de 3439,6 kN.
com R²=1, conforme Equação 5. Método RRup (kN) h assent. hprojetado /
(m) hcalculado
Aoki e
r = [6,75.10−22.P6 −1,49.10−17.P5 + 1,22.10−13.P4 Velloso (1975)
− 4,64.10−10.P3 + 8,58.10−7.P2 − 5,36.10−4.P + 9121,24 20 1,25
1,74.10−1] (5) Philipponnat
(1979) 6989,06 22,2 1,13
Bustamante
Onde: (1981) 7159,80 8,6 2,91
Terzaghi N
r = Deslocamento vertical (mm); (1943) 8722,66 18,4 1,36
P = Carga aplicada (kN). Terzaghi N'
(1943) 8201,34 19 1,32
Meyerhof
Da interseção entre as equações (4) e (5) (1951)
obteve-se a carga de ruptura da estaca ensaiada, 13784,92 14,8 1,69
Vesic
como sendo de 10750 kN, conforme Figura 4. (1963) 7319,04 18,4 1,36
Prova carga rup 10750 25

A Figura 5 faz a comparação do


comprimento necessário às estacas, obtidos a
partir de cada um dos métodos abordados e
mostrados na Tabela 1. Pode-se perceber que
Philipponnat (1979) foi o que mais se
aproximou da profundidade da estaca real,
sendo o que possui a razão hprojetado/hcalculado
mais próxima de 1 (Figura 6).
O método de Bustamante e Gianaselly
Figura 4. Extrapolação da curva carga-recalque. (1981) mostrou resultado excessivamente
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arrojado sendo que resulta em uma


profundidade de assentamento cerca de três
vezes menor que a profundidade da estaca
ensaiada.

Figura 6. Relação entre hprojetado/hcalculado.

Como a estaca não apresentou ruptura nítida,


conforme discutido no Item 3.1, para
comparação entre os métodos abordados com a
Figura 5. Profundidade de assentamento estimada por execução da prova de carga, considerou-se a
cada método abordado. carga de ruptura como sendo de 7002 kN, sendo
esse o carregamento máximo a que a estaca foi
Um fato relevante é de que não houve submetida na prova de carga. Admite-se para
expressivas diferenças entre as profundidades este caso a carga admissível como sendo
de assentamento para o método de Terzaghi 4376,25 kN, considerando fator de segurança de
(1941) considerando ruptura localizada e 1,6, conforme sugere a NBR 6122/2010 para
ruptura generalizada. Isto porque, apesar de para situações em que são realizados ensaios de
a segunda situação terem sido obtidas cargas prova de carga.
bastante elevadas de resistência de ponta, Os fatores de segurança (FS) resultantes para
devido ao que preconiza o item 8.2.1.2 cada método abordado, obtidos a partir da
(Equação 6) estabelecido pela NBR 6122/2010 Equação (7), e a partir de valores da carga
não é possível contar com a mobilização máxima aplicada à estaca estudada são
simultânea e plena das resistências de ponta e mostrados na Tabela 2. Considerando que a
atrito lateral. NBR 6122/2010 determina que o mínimo fator
de segurança para determinar a carga admissível
(6) de fundações profundas sem provas de carga
seja 2,0, torna-se possível fazer a avaliação dos
Para comparação entre a carga de ruptura métodos a partir dessa premissa, assumindo as
obtida pela prova de carga e pelos métodos de capacidades de carga determinadas para estacas
previsão abordados, à luz da carga máxima de 25 m de comprimento (igual à estaca
aplicada às estacas estudadas, fez-se a executada e testada). O gráfico da Figura 7
determinação do fator de segurança atuante, apresenta os resultados indicados constantes na
considerando os resultados obtidos na Tabela 2.
profundidade de 25 m. Para tal, utilizou-se da
Equação (7), que é a razão entre: a carga de Tabela 2. Resultados dos fatores de segurança (FS).
ruptura calculada para cada método, ou obtido Método Rrup (kN) Prof. FS
Aoki e
na prova de carga, e a carga características,
Velloso (1975) 13453,87 25 3,91
atuante na estaca, igual a 3439,6 kN. Philipponnat (1979) 9772,42 25 2,84
Bustamante (1981) 59327,28 25 17,25
(7) Terzaghi N (1943) 34532,10 25 10,04
Terzaghi N' (1943) 16830,50 25 4,89
Meyerhof (1951) 32778,27 25 9,53
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Vesic (1963) 19954,84 25 5,80 Philipponnat (1979), estando esses entre as retas
PCE (Pult) 7002,00 25 2,03
2:1 e 1:2, tanto considerando como referência a
PCE (Extrap) 10750,00 25 3,12
carga de ruptura da PCE executada, como a
carga extrapolada, sendo Aoki e Velloso (1975
mais arrojado e Philipponnat (1979), mais
conservador. Dos métodos analíticos Terzaghi
(1943), considerando ruptura localizada, e
Vesic (1963), apresentaram bons resultados
para o caso de se considerar como carga de
ruptura aquela decorrente da extrapolação, mas
não tão bons se considerada a ruptura dada pela
máxima carga aplicada no ensaio, pois
resultaram em tensão de ruptura da ordem de 2
a 3 vezes superiores.
Figura 7. Comparação do fator de segurança (FS).

A partir da Figura 7 pode-se perceber que


Philipponnat (1979) foi o método que
apresentou o melhor resultado, sendo esse
economicamente mais viável, ou seja, resultou
em um fator de segurança mais próximo de 2, o
mínimo estabelecido pela NBR 6122/2010.
O método de Bustamente e Gianaselly
(1981) mostrou valores arrojados, resultando
em um fator de segurança de 17,25. Isto porque
a partir de tal método obteve-se uma carga de
ruptura excessivamente alta tanto se comparada
aos demais métodos, como também se
comparado aos resultados do ensaio de prova de
carga, considerando as premissas para
determinação de tensão de ruptura adotadas na
interpretação das provas de carga. Entretanto
como a estaca não apresentou ruptura nítida, e
as cargas de ruptura adotadas não são as cargas
de ruptura de fato, não é possível afirmar que o
método proposto por tais autores conduza a uma
condição de insegurança. Figura 8. Comparação da carga de ruptura (RRup).
Fez-se por fim a comparação entre as cargas
de ruptura obtidas a partir de cada método O emprego dos métodos de Meyerhof (1951)
abordado, com as cargas de ruptura obtidas, por e Terzaghi (1943) assumindo ruptura
extrapolação e considerando que a estaca generalizada, não apresentaram resultados
rompeu sob o máximo carregamento aplicado satisfatórios para nenhum dos casos, visto que
na prova de carga. Os resultados são mostrados apresentam carga de ruptura de 3 a 4 vezes
na Figura 8. superiores das cargas de ruptura do ensaio. O
No gráfico percebe-se que os métodos que método de Bustamante e Gianaselly (1981)
apresentaram melhores resultados foram os destoou fortemente dos demais métodos. Dentre
semi-empíricos de Aoki e Velloso (1975) e as inconsistência percebidas neste método cita-
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se o fato de as cargas laterais serem calculadas mostra capacidades de carga que evoluem de
utilizando fatores α iguais tanto para estacas forma bastante contínua.
escavadas, quanto para estacas cravadas de Vesic (1963) difere dos métodos analíticos
concreto, o que não parece fazer sentido visto tendo comportamento mais próximo dos
que estacas cravadas mobilizam muito mais métodos semi-empíricos.
atrito lateral em comparação às escavadas.
A Figura 9 apresenta o comportamento das
cargas de ruptura ao longo da profundidade para 4 CONCLUSÕES
os sete métodos abordados, bem como a
profundidade de assentamento (h) referente ao A partir da comparação dos fatores de
comprimento resultante pelos métodos. segurança calculados, considerando a razão
entre as cargas de ruptura obtidas pelos métodos
abordados e os valores de projeto, todos os
métodos apresentaram-se seguros, sendo Aoki e
Velloso (1971) e Philipponnat (1979) os que
apresentaram resultados mais interessantes do
ponto de vista econômico, visto que resultaram
em fatores de segurança mais próximos de 2,
como sugere NBR6122/2010.
Comparando-se os métodos abordados com
os resultados da prova de carga. Os métodos
semi-empíricos que apresentaram resultados
mais próximos aos da prova de carga, tanto
considerando como carga de ruptura o máximo
carregamento aplicado no ensaio, como a partir
da extrapolação, foram Philipponnat (1979) e
Aoki Velloso (1971), sendo aquele mais
conservador que este. Dentre os métodos
analíticos Vesic (1963) e Terzaghi (1943) com
ruptura localizada também apresentaram bons
resultados, entretanto mais arrojados que os
semi-empíricos. Meyerhof (1951) e Terzaghi
(1943) para ruptura generalizada apresentaram
Figura 9. Comportamento carga de ruptura dos métodos carga de ruptura da ordem de 3 a 4 vezes à
abordados.
carga de ruptura apresentada pelo ensaio.
Nela pode-se perceber que os resultados dos
Bustamante e Gianaselly (1981) destoou
métodos de Meyerhof (1951) e Terzaghi (1943)
completamente dos demais para todas as
considerando ruptura geral são bastante
análises realizadas, e isto ocorreu devido às
similares ao longo da profundidade. Existe
expressivas cargas laterais que o método sugere
também certa semelhança entre o
que sejam mobilizadas. Verificou-se que o
comportamento dos métodos de Terzaghi
método não faz distinção entre estacas
(1943) considerando ruptura localizada, Vesic
escavadas e cravadas para o cálculo da
(1963) e Aoki e Velloso (1975). O método de
capacidade de carga por atrito lateral.
Bustamante e Gianaselly (1981) se mostrou
Da análise realizada pelo método de
excessivamente permissivo, visto que valida
Terzaghi (1943), verifica-se que pouco efeito
profundidade de assentamento em regiões em
prático há em se considerar os fatores para
que os outros métodos apresentam quedas de
ruptura generalizada ou localizada. Isto porque
resistência (Figura 9). Philipponnat (1979)
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o critério estabelecido no item 8.2.1.2 da norma x?locale=ptBR&Q=D4A7ABB9657A9243B1759593


NBR 6122/2010 limita a capacidade de carga 06E25FB8A2E7D41BF285EA2C&Req=> Acesso
em: 30 out. 2017.
por ponta e atrito lateral combinadas. Reforça- Alonso U. R. Dimensionamento de fundações profundas.
se a importância de se considerar esse critério, São Paulo: Edgar Blücher LTDA, 2010.
que recomenda que a Radm deve ser menor ou Antunes, W.R.; Tarozzo,H. Fundações teoria e prática.
igual 1,25.Rl,acum, pois no caso se desconsiderar São Paulo: Pini, 1998. Cap 9. Seção 9.1.3. 2ed.
tal critério neste trabalho, a capacidade de International Edition, 1996.
Aoki, N.; Velloso, D. A. An approximate method to
carga obtida considerando ruptura generalizada estimate the bearing capacity of piles. In: Pan
tornar-se-ia muito superior à capacidade de American CSMFE, 5. Buenos Aires. 1975.
carga obtida para caso de ruptura Bolton, M. D. The strencth and dilatancy os sands.
localizada/puncionamento, e as obtidas pelos Geotéchnique, v. 36. n. 1. 1986.
outros métodos analisados. Bustamante, M.; Gianaselli, L. Pile bearing capacity
prediction by means of static penetrometer CPT. In:
É válido dar destaque ao método de european symposium on penetration testing, 2.
Philipponnat (1979), pouco recorrente na Amsterdam. 1982.
literatura nacional, mas que neste trabalho Jamiolkowski, M.; Lopresti, D. C. F.; MANASSERO, M.
apresentou resultados considerados mais Evaluation of relative density and shear strength of
coerentes. sands from cone penetration test and flat dilatometer
test. In Soil Behavior and Soft Ground Construction
De forma geral, os métodos analíticos (GSP 119), pp. 201--238, 2001 (ASCE, Reston, VA).
apresentaram-se mais arrojados que os semi- Massad, F. Notes on the Interpretation of failure load
empíricos, exceto Vesic (1963). Isto parece from routine pile load tests. In Solos e Rochas v.9 n.1.
estar associado à influência da rigidez da estaca March 1986.
Meyerhof, G. G. The ultimate bearing capacity of
considerada pelo método, visto que este
foundations. Geotechnique, v.2, n.4. p. 301-332.
apresentou resultados mais próximos aos 1951.
resultados da prova de carga, se comparado aos Schnaid F.; Odebrecht E. Ensaio de campo e suas
demais métodos analíticos experimentados. aplicações à engenharia de fundações. São Paulo:
Evidencia-se neste trabalho a grande parcela Oficina de Textos, 2012, p 41. Cap 2; Cap 3. 2ed.
Terzaghi, K. Theoretical Soil Mechanics. New York:
de empirismo associada ao dimensionamento de
John Wiley & Sons. 1943.
fundações, mesmo no caso de se empregar Viajayvergiya, V. N.; Focht, J. A. A new way to predict
métodos analíticos, visto a necessidade de se the capacity of piles in clay. In: Offshore technology
estimar os parâmetros de comportamento a conference. Houston, Texas. 1972.
partir de ensaios de campo. Da mesma forma, Velloso, D. A.; Lopes, F. R. Fundações: fundações
profundas. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2010.
cabe reforçar o nível de incerteza associado à
Vesic, A. S. Bearing capacity of deep foundation in sand.
interpretação das provas de carga quando estas In: Highway research record, n.39. Washington. 1963.
não são levadas à ruptura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

Associação brasileira de normas técnicas. NBR 6122:


Projeto e execução de fundações – p. 91. Rio de
Janeiro, 2010. Disponível em:
<https://www.abntcolecao.com.br/pdfview/viewer.asp
x?locale=ptBR&Q=75F9E3C9C0ACBA78DD24EA1
08190563EE07AA8EBBBFA99D0&Req=>. Acesso
em: 25 abr. 2017.
Associação brasileira de normas técnicas. NBR 12131:
Estacas – Prova de carga estática – p. 12. Rio de
Janeiro, 2006. Disponível em:
<https://www.abntcolecao.com.br/pdfview/viewer.asp
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Comparação de Metodologias de Estimativa de Recalques com os


Obtidos em Prova de Carga Direta Sobre Terreno de Fundação
Larissa Fernandes Sasso
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
larisasso08@hotmail.com

Alexia Cindy Wagner


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil, alexia-
wagner@hotmail.com

Rosana Wendt Brauwers


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
rosanabrauwers@gmail.com

Fernanda Maria Jaskulski


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
fernandaj18@hotmail.com

Thalia Klein da Silva


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
thalia_klein@hotmail.com

Carlos Alberto Simões Pires Wayhs


Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, Brasil,
carlos.wayhs@unijui.edu.br

Cesar Alberto Ruver


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, Brasil,
cesar.ruver@gmail.com

RESUMO: Estudos geotécnicos são necessários como garantia da segurança e economia em


projetos de fundações, principalmente quando relacionados à ocorrência de recalques nos solos.
Pode-se determinar valores de recalque através de prova direta de carga sobre o terreno ou estimá-
los através métodos de cálculo teóricos e semi-empíricos. O presente trabalho busca correlacionar
ambos os resultados de recalques a partir da execução de ensaios de placa e sondagens SPT em
cidades do noroeste do Rio Grande do Sul, a fim de identificar quais métodos fornecem valores
mais próximos àqueles obtidos em campo. A partir da comparação dos valores reais de recalque
com os estimados contatou-se que os métodos Ruver Médio, Teoria da Elasticidade e Terzaghi e
Peck aproximaram-se dos valores de recalques da fase elástica do solo, enquanto que Ruver
Superior, Agnostopoulos et al., Meyerhof (1974) e Meyerhof (1956) alcançaram valores próximos
aos de ruptura do solo ou recalque aos 25 mm.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Placa, Recalques, Fundações Superficiais, Provas de Carga.


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1 INTRODUÇÃO quando aplicadas aos solos tropicais brasileiros


(COSTA, 1999).
Define-se por fundação, segundo Bowles Em vista disso e com o intuito de avaliar a
(1997), qualquer elemento de interface que capacidade de carga dos solos da região
mantém estável sobre a terra todas as obras de noroeste do Rio Grande do Sul, criou-se o
engenharia. Abrahão e Velloso (1998) projeto de pesquisa institucional denominado de
complementam que fundação é o elemento “Estudo da Capacidade de Carga e Recalque de
estrutural que transmite ao terreno as cargas que Solos Residuais do Noroeste do Rio Grande de
são aplicadas à estrutura, e afirmam que o seu Sul”, vinculado ao Grupo de Pesquisa em
desempenho depende do conhecimento das Novos Materiais e Tecnologias para a
propriedades do solo e de seu comportamento, Construção. Este artigo relata parte desta
quando submetido a carregamentos. pesquisa quanto ao aspecto de deformabilidade
As fundações independentes de seu tipo e e recalque de solos regionais.
dimensões, quando carregadas aplicam esforços Dessa maneira, busca-se no presente trabalho
no terreno que causam deformações verticais, comparar diferentes metodologias de cálculo
também chamadas de recalques (VELLOSO; teóricas e semi-empíricas de estimativa de
LOPES, 2010). Cintra, Aoki e Albiero (2003), recalques, usuais na engenharia de fundações,
admitem que, salvo a maneira analítica e teórica com valores obtidos em provas de carga
(metodologias de cálculo), os recalques de um executadas em cidades da região possibilitando
solo também podem ser previstos de maneira a análise da capacidade de recalque destes
experimental, ou seja, por meio de provas de solos, fornecendo dados que proporcionem aos
carga sobre placa. engenheiros de fundações maior conhecimento
Segundo Teixeira e Godoy (2016), as provas e segurança ao desenvolver projetos para solos
de carga surgiram antes mesmo das semelhantes aos estudados.
conceituações de mecânica dos solos na
tentativa de obtenção de informações sobre o
comportamento tensão-deformação de um 2 REFERENCIAL TEÓRICO
determinado solo de fundação. Ainda afirmaram
que a prova de carga resume-se na realização de No presente item serão abordadas conceituações
um ensaio em modelo reduzido de uma sapata, relevantes indispensáveis para o
caracterizando-se assim como um método desenvolvimento do trabalho em questão,
confiável de conhecer as características do principalmente no que se refere à prova de carga
subsolo. sobre placa, ao ensaio de penetração padrão
Apesar de ser uma das formas mais (SPT - Standard Penetration Test) e a
eficientes de obtenção das características de ocorrência de recalques, a fim de possibilitar a
deformação dos solos, o ensaio de placas não é análise do comportamento dos solos da região
frequentemente utilizado em vista de sua em estudo.
onerosidade e falta de hábito. No entanto,
Teixeira e Godoy (2016), afirmam que a 2.1 Provas de Carga Sobre Placa
estimativa de parâmetros de compressibilidade
do solo (recalques), pode ser realizada com base Com o objetivo de avaliar as propriedades
na resistência à penetração medida em mecânicas de um solo destaca-se o ensaio de
sondagem a partir do ensaio SPT. placas, um ensaio de campo que, de acordo com
Pelo fato de a Mecânica dos Solos ter se Ruver (2005), resume-se em utilizar placas de
originado em países de clima temperado, torna- metal submetidas a diferentes carregamentos, de
se discutível a autenticidade das metodologias modo que se possa conhecer o comportamento
de estimativa de recalques convencionais, carga-recalque de um solo designado a uma
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futura fundação, quando solicitado por certas consistência de solos coesivos e densidade de
tensões. solos granulares. Estima-se que cerca de 85% a
Para provas de carga executadas em solos 90% das fundações convencionais na América
argilosos como da Figura 1, nota-se que do Sul e do Norte são realizadas utilizando SPT
capacidade de carga é a mesma para a placa e (BOWLES, 1997).
para a sapata independente de suas dimensões. O ensaio de penetração ou SPT, é executado
Contanto, os recalques são proporcionais as por meio de sondagem considerando cada metro
suas dimensões devido ao módulo de de profundidade alcançada (SOUZA; SILVA;
deformabilidade (CINTRA; AOKI; ALBIERO, IYOMASA, 1998). Estes autores afirmam que o
2003). procedimento de execução do ensaio é
padronizado internacionalmente, resumindo-se
na cravação de um amostrador de solo padrão,
por meio de golpes de um martelo de massa
igual a 65 kg, em queda livre a uma altura de 75
cm, registrando-se quantos golpes são precisos
para que o amostrador penetre três vezes 15 cm
do solo, totalizando 45 cm.

2.3 Recalques

A NBR 6122 (ABNT, 1996) define recalque


como o movimento vertical descendente de um
elemento estrutural. A edição atual da mesma
Figura 1. Provas de carga em placa e sapata (argilas) norma (ABNT, 2010) acrescenta que o
desempenho de fundações é verificado através
Girardello (2010) argumenta que as provas de pelo menos o monitoramento dos reclaques
de carga sobre placa foram umas das primeiras medidos na estrutura.
aplicações dos ensaios in situ, executadas com o Cintra, Aoki e Albiero (2003), afirmam que
intuito de estabelecer características do recalques de milímetros e até de milhares de
comportamento do solo e determinar suas milímetros podem ocorrer em fundações
propriedades de deformação e ruptura. Velloso superficiais quando solicitadas por determinado
e Lopes (2010) reforçam a importância desse carregamento. Tomlinson (2001) ainda afirma
ensaio, uma vez que alegam que os ensaios que os recalques por consolidação são
executados em laboratórios estão susceptíveis a normalmente a mais importante consideração a
perturbações e problemas de estocagem, tendo a ser feita nos cálculos dos limites de utilização
garantia de seus resultados inferiores aos reais. ou na avaliação do comportamento da tensão
Segundo Russi (2007), o ensaio de placas é admissível suportada por determinado solo.
considerado um ótimo método de obtenção de
dados, sendo esta uma fonte segura, uma vez
que reproduz o comportamento real de uma 3 METODOLOGIA
fundação superficial em escala reduzida.
Os métodos abordados na pesquisa basearam-se
2.2 SPT – Standard Penetration Test na execução de ensaios de campo (ensaios e
placa e SPT) em locais pré-estabelecidos da
Conforme Schnaid e Odebrecht (2012), o ensaio região noroeste do Rio Grande do Sul, e no
SPT (Standard Penetration Test) além de ser estudo de metodologias de cálculo comumente
acessível permite a obtenção de dados sobre a abordadas na engenharia de fundações para a
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estimativa de recalques, buscando possibilitar a deflectométricos para o monitoramento dos


comparação dos valores obtidos em recalques, uma viga de referência e hastes para
metodologias semi-empíricas e teóricas com os suporte dos relógios, podendo este sistema ser
resultados dos ensaios de placa. visualizado na Figura 3.

3.1 Provas de Carga Sobre Placa

Para Ruver (2005), o ensaio de placas permite a


identificação do comportamento carga-recalque
do solo através de carregamentos sobre o
mesmo com o uso de placas de metal. Com o
intuito de dar suporte aos projetos de fundações
da região noroeste do Rio Grande do Sul, foram
Figura 3. Execução dos ensaios de placa.
executadas nove provas de carga nas cidades de
Santa Rosa, Coronel Barros, Ijuí (campus
3.2 SPT – Standard Penetration Test
UNIJUÍ e loteamento Costa do Sol), Cruz Alta,
Palmeira das Missões e Panambi, estando
Para cada prova de carga efetivada, executou-se
localizadas no mapa da Figura 2 (Adaptado do
um ensaio SPT conforme estabelecido na NBR
aplicativo Google Maps).
6484 (ABNT, 2001), em média a 6 metros de
distância do local do ensaio de placa a fim de
permitir a comparação de resultados. Os
valores NSPT utilizados no presente trabalho
foram extraídos de relatórios de sondagens
fornecidos pelas empresas que executaram os
ensaios.
Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), os
resultados do SPT sofrem divergências pela
energia do golpe do martelo e composição de
haste, pelas variações causadas por divergentes
técnicas de perfuração, bem como por diferentes
equipamentos e procedimento de ensaios, além
das condições de solo que variam em cada país.
Devido a essas perspectivas Ruver e Consoli
Figura 2. Localização das cidades no noroeste do RS. (2006) utilizam a média aritmética dos valores
NSPT na profundidade de duas vezes a menor
As provas de carga foram executadas dimensão da base da fundação, corrigindo-se a
seguindo a metodologia prescrita pela NBR diferença de energia pela multiplicação de um
6489 (ABNT, 1984), intitulada Prova de Carga fator de 1,2, resultado da razão entre as energias
Direta sobre Terreno de Fundação. Foram do SPT comuns brasileiras (72 %) pela
empregadas placas de metal rígidas de americana (60 %).
diâmetros 30, 48 e 80 cm, nas quais foram Dessa maneira, para aplicação nas
aplicados carregamentos com macaco metodologias de cálculo, foi considerada a
hidráulico, contra um sistema de reação média dos valores de NSPT respectivamente na
utilizando escavadeiras hidráulicas de mais de profundidade de 60 cm para a placa de 30 cm de
20 toneladas, que reagiam contra as placas. diâmetro, na profundidade de 96 cm para a
Além destes itens, a estrutura completa do placa de 48 e na profundidade de 160 cm para a
ensaio contou com três relógios placa de 80.
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3.3 Metodologias de Cálculo Com base nos valores reais de recalques


obtidos a partir das curvas retratadas na Figura
A fim de proporcionar a correlação dos valores 4, e utilizando relatórios dos ensaios SPT dos
reais de recalques obtidos a partir dos resultados diferentes locais, pode-se comparar com os
dos ensaios de placa com métodos teóricos e valores de recalques obtidos pelas metodologias
semi-empíricos de estimativa, foram adotados o de cálculo já citadas anteriomente a fim de
método teórico da Teoria da Elasticidade, e os identificar qual ou quais método(s) melhor
métodos semi-empíricos de Schultze e Scherif, representam o solo da região. Os valores NSPT
Meyerhof (1956 e 1974), D’Appolonia et al., originais para cada local e com o fator de
Anagnostopoulos et al., Ruver (limite inferior, correção de energia aplicado podem ser
médio e superior), Burland e Burbidge, visualisados na Tabela 1, e foram adotados de
Terzaghi e Peck e Peck e Bazarra. As acordo com o critério relatado no final do item
formulações matemáticas de cada método 3.2.
podem ser consultadas em Kirschner (2017).
Tabela 1. Valores NSPT reais e corrigidos.
Parâmetros
Locais N72 N60
4 RESULTADOS CA 30 12,450 14,940
PM 80 4,696 5,635
Com o intuito de favorecer a compreensão dos CA 48 10,580 12,696
resultados das provas de carga foram PM 48 5,860 7,032
denominadas siglas que representam cada local CB 48 9,000 10,800
analisado, as quais CA, PM, CB, SR, IJ e PAN SR 48 7,480 8,976
correspondem respectivamente as cidades de IJ-C 48 7,280 8,736
Cruz Alta, Palmeira das Missões, Coronel IJ-CS 48 8,000 9,600
Barros, Santa Rosa, Ijuí e Panambi. PAN 30 9,900 11,880
Para cada ensaio executado têm-se como
Notou-se que em todos os locais onde foram
resultado uma curva carga x recalque, que
executadas provas de carga ocorreram ruptura
permite a melhor análise do comportamento real
do solo por puncionamento, a qual caracteriza-
do solo quando solicitado por determinadas
se por não afetar o solo da superfície nem
cargas. Na Figura 4 apresentam-se as curvas dos
causar levantamento lateral do entorno da placa.
9 ensaios realizados.
Pode-se perceber na Figura 5, a ocorrência
desse tipo de ruptura no ensaio na cidade de
Tensão na Placa (kPa) CA-N 48
Panambi.
0 100 200 300 400 500 600 CA-N 30
0

PM 48
5

PM 80
Recalque (mm)
10

IJ-C 48
15

IJ-CS 48
20

CB 48
25

SR 48
30

PAN 30
35

Figura 4. Curvas tensão x Recalque dos locais em estudo. Figura 5. Ruptura por puncionamento
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Em todos ensaios executados obtiveram-se Tensão na Placa (kPa)


curvas tensão x recalque para cada metodologia 0 50 100 150 200 250 300
0
de cálculo abordada. Buscando facilitar a 5
visulização das curvas tensão x recalque, 10

Recalque(mm)
15
atribuiu-se a legenda da Figura 6 20
distintinguindo cada curva para o ensaio de 25
30
placa, considerado como de comportamento 35
real, e para cada metodologia utilizada. 40
45
50

Figura 8. Carga x Recalque Santa Rosa (SR 48).

Tensão na Placa (kPa)


0 50 100 150 200 250 300
0
5
Recalque(mm) 10
15
20
25
30
Figura 6. Legenda de identificação dos métodos. 35
40
A partir de então, foram feitas análises entre 45
50
as provas de carga e os métodos a fim de
identificar quais deles melhor representaram o Figura 9. Carga x Recalque Ijuí Campus (IJ -C 48).
valor real do comportamento do solo da região.
As Figuras 7 a 15 representam Tensão na Placa (kPa)
0 50 100 150 200 250
respectivamente as comparações para as 0
cidades e placas utilizadas de Coronel Barros 5
10
(CB 48), Santa Rosa (SR 48), Ijuí Campus (IJ -
Recalque(mm)

15
C 48), Ijuí Costa do Sol (IJ - CS 48), Palmeira 20
das Missões (PM 80), Palmeira das Missões 25
30
(PM 48), Cruz Alta (CA-N 30), Cruz Alta (CA- 35
N 48) e Panambi 30 (PAN 30). 40
45
50
Tensão na Placa (kPa)
0 50 100 150 200 250 300 350 400 Figura 10. Carga x Recalque Ijuí Costa do Sol (IJ - CS
0 48).
5 Tensão na Placa (kPa)
0 50 100 150
10 0
Recalque(mm)

15 5
10
20
Recalque(mm)

15
25 20
30 25
35 30
35
40
40
45 45
50 50

Figura 7. Carga x Recalque Coronel Barros (CB 48). Figura 11. Carga x Recalque Palmeira das M. (PM 80).
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Tensão na Placa (kPa)


0 50 100 150 200 A partir das curvas obtidas para cada local,
0 fez-se a comparação das metodologias de
5
10 cálculo que mais se aproximaram aos valores
Recalque(mm)

15 reais de recalque dos solo nas duas fases de seu


20
comportamento: em seu regime elástico onde as
25
30 tensões e deformações crescem
35 proporcionalmente, e no momento de ruptura ou
40
45
de recalque aos 25 mm. Dessa maneira, fez-se
50 uma síntese demonstrada nas Tabelas 2 e 3,
onde percebe-se quais os três primeiros métodos
Figura 12. Carga x Recalque Palmeira das M. (PM 48). mais próximos do comportamento real do solo
Tensão na Placa (kPa)
nesses dois momentos.
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
0 Tabela 2. Métodos próximos do real no regime elástico.
5
10 Regime Elástico
Recalque(mm)

15
20
1º 2º 3º
25 CB48 Ruver Médio T. Elasticidade -
30
35 SR 48 Ruver Médio T. Elasticidade -
40
45 IJ-C 48 Ruver Médio T. Elasticidade Terzagui e Peck
50
IJ-CS 48 Terzagui e Peck Ruver Médio T. Elasticidade
Figura 13. Carga x Recalque Cruz Alta (CA-N 30). PM 80 Ruver Médio T. Elasticidade Terzagui e Peck
PM 48 Ruver Médio T. Elasticidade -
Tensão na Placa (kPa)
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 PAN 30 Ruver Superior T. Elasticidade Ruver Médio
0
5
CA - 30 Schultze e Sherif Ruver Médio T. Elasticidade
10 CA - N 48 Ruver Médio T. Elasticidade Terzagui e Peck
Recalque(mm)

15
20
Tabela 3. Métodos próximos do real na ruptura.
25
30 Ruptura ou Recalque aos 25mm
35
40
1º 2º 3º
45 CB48 Ruver Superior Anagnostopoulos Meyerhof (1974)
50
SR 48 Meyerhof (1956) Ruver Superior Anagnostopoulos
Figura 14. Carga x Recalque Cruz Alta (CA-N 48). IJ-C 48 Ruver Superior Anagnostopoulos Meyerhof (1974)
IJ-CS 48 Meyerhof (1956) Ruver Superior Anagnostopoulos
Tensão na Placa (kPa)
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 PM 80 Ruver Superior D'Appolonia et al Meyerhof (1956)
0
5 PM 48 Meyerhof (1956) Ruver Superior Anagnostopoulos
10
PAN 30 Peck e Bazarra Meyerhof (1974) Schultze e Sherif
Recalque(mm)

15
20 CA - 30 Meyerhof (1956) Ruver Superior Peck e Bazarra
25
30 CA - N 48 Meyerhof (1956) Ruver Superior D'Appolonia et al.
35
40 Deve-se destacar que para os recalques
45
50 obtidos na fase elástica, o método de Ruver
Médio foi o mais próximo em seis de nove
Figura 15. Carga x Recalque Panambi 30 (PAN 30). ensaios de placa executados. Essa aproximação
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pode ser justificada pelo fato desta metodologia confiáveis projetos de fundações.
ter sido desenvolvida no Brasil, especialmente
no Rio Grande do Sul, caracterizando-se como
umas das mais adequadas para estimativa de AGRADECIMENTOS
recalques dos solos tropicais da região.
Além disso, deve-se considerar uma Agradecemos ao MEC - SESu pelas bolsas PET
peculiaridade dos solos da região o tipo de (Program de Educação Tutorial) que permitiram
ruptura ocorrida em todos os ensaios a realização da pesquisa e pela oportunidade de
executados, uma vez que a ruptura por integrar este programa de excelência; ao LEC
puncionamento é característica de solos de alta (Laboratório de Engenharia Civil) da UNIJUÍ; e
deformabilidade, entretanto percebe-se que os as empresas que cederam materiais e
solos estudados apresentam considerável equipamentos para realização dos ensaios.
capacidade de carga em relação aos recalques
sofridos quando se compara aos solos
compressíveis convencionais. REFERÊNCIAS

Abrahão, R. A. e Velloso D. de A. (1998) Fundações. In:


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Oliveira, A.M. dos S e Brito, S.N.A. Geologia de
Engenharia, ABGE, São Paulo, p 381-397.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984) NBR
Com base nos resultados apresentados, 6489: Prova e carga direta sobre terreno de
percebeu-se que na comparação de fundação. Rio de Janeiro, 3 p.
metodologias teóricas e semi-empíricas com os ______. (1996) NBR 6122: Projeto e execução de
resultados dos ensaios de placas, muitas fundações. Rio de Janeiro, 33 p.
______. (2001) NBR 6484: Solo - Sondagens de simples
apresentaram valores muito divergentes dos reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de
obtidos em campo, constatando uma diferença Janeiro, 17 p.
entre os solos tropicais da região em estudo com ______. (2010) NBR 6122: Projeto e execução de
os estrangeiros. fundações. Rio de Janeiro, 91 p.
Referente aos valores de recalque nota-se Bowles, J.E. (1997) Foundation analysis and design, 5th
ed., McGraw-Hill, Singapore, 1175 p.
que para a fase elástica do solo, em que Cintra, J.C.A., Aoki, N. e Albiero, J.H. (2003) Tensão
geralmente encontram-se os solos na carga de admissível em fundações diretas, RiMa, São Carlos,
trabalho, os métodos Ruver, Teoria da 135 p.
Elasticidade e Terzaghi e Peck melhor se Costa, Y.D.J. (1999) Estudo do comportamento de solo
não saturado através de provas de carga em placa.
adequam para a reprodução do comportamento
Dissertação de Mestrado, EESC/USP, São Carlos, 131
original do solo. Já para o momento de ruptura p.
ou recalque aos 25 mm os métodos de Ruver Girardello, V. (2010) Ensaios de placa em areia não
pelo seu limite superior, Meyerhof (1974), saturada reforçada com fibras. Dissertação de
Meyerhof (1956) e Agnostopoulos et al. podem mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
ser utilizados para a obtenção de valores de
141 p.
recalque. Kirschner, F.F. (2017) Estudo do comportamento de
Ressalta-se ainda a importância da execução carga e recalque de solos residuais lateríticos
de provas de carga em placa combinadas com argilosos, naturais e estabilizados, visando uso em
ensaios SPT, para a melhor obtenção de dados fundações superficiais. Dissertação de graduação em
Engenharia Civil, Universidade Regional do Noroeste
referentes aos parâmetros de resistência do solo.
do Estado do Rio Grande do Sul, 124 p.
Isto posto, espera-se que os dados Meyerhof, G.G. (1956) Penetration tests and bearing
apresentados possam melhorar a compreensão capacity of cohesionless soils, Journal of the Soil
do comportamento dos solos regionais e Mechanics Division, ASCE, Vol. 82, p 1-12.
auxiliar na elaboração de melhores e mais Meyerhof, G.G. (1974) General report: state-of-the-Art
of penetration testing in countries outside Europe,
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Proceedings of the 1st European Symposium on


Penetration Testing, Vol. 2.1, p 40-48.
Russi, D. (2007) Estudo do comportamento de solos
através de ensaios de placa de diferentes diâmetros.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Santa Maria, 149 p.
Ruver, C.A. e Consoli, N.C. Tensão admissível de
fundações superficiais assentes em solos residuais
determinada a partir de ensaios SPT. In. GEOSUL.
2006, [S.l]. Anais..., 2006.
Ruver, C.A.. (2005) Determinação do comportamento
carga-recalque de sapatas em solos residuais a partir
de Ensaios SPT. Dissertação de mestrado, Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 182 p.
Schnaid, F. e Odebrecht, E. (2012) Ensaios de campo e
suas aplicações à engenharia de fundações, 2. ed.,
Oficina de Textos, São Paulo, 223 p.
Souza, L.A.P., Silva, R.F. e Iyomasa, W.S. (1998)
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Geologia de Engenharia, ABGE, São Paulo, p 163-
197.
Teixeira, A.E. e Godoy, N.S. (2016) Análise, Projeto e
Execução de fundações rasas. In: Falconi, Frederico
(Org.). et al. Fundações: teoria e prática. 3. ed. São
Paulo: Pini, p 225- 263.
Tomlinson, M.J. (2001) Foundation design and
construction, 7th ed., Pearson Education Ltd,
England, 569 p.
Velloso, D.A. e Lopes, F.R. (2010) Fundações: critérios
de projeto, investigação do subsolo, fundações
superficiais e fundações profundas, Oficina de
Textos, São Paulo, 583 p.
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Análise da Viabilidade de Custo de duas Metodologias de Projeto


para Fundações Profundas em Recife-PE
Thiago Augusto da Silva
Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, thsilva05@gmail.com

Pedro Eugenio Silva de Oliveira


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com

RESUMO: A cidade do Recife é o berço de importantes estudos de geotecnia. Essa diversidade está
ligada as regressões marinhas que acometeram a região. Por esse e outros motivos a região é palco
de diversas soluções de fundações profundas, como as estacas do tipo hélice contínua. Para tanto os
métodos de concepção de projetos tiveram que evoluir e se adequar à recente demanda. Com as
metodologias de provas de carga, foi possível o desenvolvimento de projetos menos conservadores.
Nesse contexto foram analisados dados de duas obras de edifícios residenciais no bairro do
Rosarinho, com 27 e 29 pavimentos respectivamente. E se apresenta o comparativo de duas
metodologias, semi-empíricos e de prova de carga estática, em função do custo de execução. Os
resultados atestaram viabilidade para a segunda metodologia com economia de 12,50% para ambas
as obras, também refletindo no ganho na carga admissível de 11,11% e 13,51% para as duas obras.

PALAVRAS-CHAVE: Carga Admissível, Fundações Profundas, Provas de Carga.

1 INTRODUÇÃO loco”, consistindo na perfuração do solo com a


consequente injeção de concreto e
Toda e qualquer edificação é constituída de posicionamento da armadura de aço.
superestrutura e infraestrutura, sendo as duas Atualmente, para estabelecer o projeto de
respectivamente responsáveis pela distribuição fundações em estacas hélice contínua são
dos esforços (pilares, vigas, lajes, etc.) e utilizados, principalmente, os métodos de
transferência de cargas ao solo (fundação). No cálculo semi-empíricos (Aoki-Veloso, Decourt-
atual mercado de fundações do Brasil destacam Quaresma, etc.). Esses métodos foram, em
se as soluções profundas (estacas, tubulões, grande parte, baseados em bancos de dados
etc.) e as superficiais (sapatas, blocos, caixões, relativamente pequenos, que aliados ao alto
etc.), sendo as primeiras mais comumente fator de segurança global previsto para as
usadas para empreendimentos com cargas mesmas, pode ocasionar em
elevadas e/ou solos superficiais de baixa subdimensionamento ou, mais comumente,
resistência, salvo exceções, pois o projeto varia superdimensionamento do empreendimento.
de caso à caso. Objetivando a determinação da eficiência de
A estaca hélice contínua monitorada vem se modalidades recentes de projetos de fundações
destacando no cenário atual, sendo um dos tipos profundas no Brasil, o presente estudo visa
de solução que mais crescem em aplicabilidade, realizar o comparativo em função do custo de
fato que se deve em grande parte a sua metodos semi-empiricos com um de prova de
metodologia executiva, que permite carga executada a priori.
monitoramento minucioso durante a cravação
da mesma. Essas estacas são moldadas “in
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2 REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
Com a explosão demográfica que ocorreu e vem
2.1 Geologia do Local de Estudo ocorrendo no Brasil, do fim do século XX ao
início do século XXI, a demanda por
Na história de formação dos perfis do subsolo empreendimentos de construção civil cresceu de
do Recife, vários processos geodinâmicos forma associada. Quase simultaneamente ao
contribuíram para as variadas estratigrafias período transicional na demografia, a
encontradas na cidade. De acordo com Gusmão construção de edifícios (com foco no mercado
Filho (1998) a coluna de fundações), também sofreu um período de
estratigráfica é composta basicamente pelo transição.
embasamento cristalino, pacotes de deposição Até então as principais soluções para
sedimentar e os sedimentos recentes. fundações praticadas no Recife eram em
Segundo Gusmão Filho (1998), a falha maioria, superficiais (Gusmão, 2005).
geológica existente na direção Norte-Nordeste Metodologias de solução largamente adotadas
do embasamento cristalino e o desnível abrupto até o fim da década de 90, destacando se as
em direção à costa, contribuíram para a sapatas isoladas e estacas moldadas in loco
deposição de pacotes sedimentares, assim como (Oliveira, 2013).
os sucessivos ciclos de transgressões e Dentre as estacas moldadas in loco (objeto
regressões do mar no período do Quaternário, do artigo), no estudo de Santos (2011),
que tipificam a área. destacaram-se as tipologias Franki e a Hélice
Já o bairro do Rosarinho está situado em contínua. A estaca Franki teve um grande
uma área de planície, de Terraços avanço no Recife no fim dos anos 90 e início
Indiferenciados. As unidades de relevo, que dos 2000, passando a ser menos utilizada no
englobam os bairros dessa área, apresentam o periodo compreendido entre 2000 e 2010,
resultado de uma intersecção de vários sistemas coincidindo com o início da utilização das
de deposição presentes em vários pontos da estacas hélice contínua na região, como
planície do Recife (Souza, 2013). apresentado na Figura 1. A quantidade de obras
Ainda segundo Souza (2013) esses utilizando as duas soluções praticamente
sedimentos encontrados na área comprovam, o inverteu no dado periodo, com a hélice
seu alto grau de heterogeneidade e a presença de contínua assumindo o posto de solução de
grandes interferências marinhas, flúvio- fundação profunda mais utilizada, dentre as
marinhas, fluviais e continentais. Nos setores da moldadas in loco.
planície mais internos, região rica com essa
unidade de relevo, o perfil da
coluna de sedimentos atinge profundidades de
30 à 40 metros de espessura, até o substrato
rochoso.
Este bairro pertence à Microrregião 2.1 da
cidade, fazendo limite com os bairros do
Arruda, Tamarineira, Graças, Encruzilhada e
Aflitos. Faz parte do grupo dos bairros de maior
poder aquisitivo da cidade e possui
predominantemente obras de grande porte
urbano, em sua maioria edifícios residenciais e
alguns empresariais (Gusmão Filho, 1998).

2.2 Histórico das Fundações na Cidade


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Figura 1. Representatividade do uso de estacas Franki- permanentes nas lâminas variando de 3.100 a
Hélice Contínua entre 2000-2010. Fonte: Oliveira (2013) 12.050 kN e 2.700 a 10.180 kN,
respectivamente.
3 MATERIAIS E MÉTODOS Os subsolos foram analisados a partir de
sondagens a percussão (Nspt). Como mostrado
3.1 Levantamento de Dados nas Figuras 2 e 3, as sondagens utilizadas como
base para cada obra, valores elevados de Spt
A análise dos resultados foi feita de forma para ambos os solos analisados nas cotas de
sistemática e com base no conhecimento 9.00 e 4.00 metros. Com os solos sendo
histórico das soluções de fundações executadas predominantemente formado por areias
na região. Com esses pressupostos em mente, medianamente à muito compactas, até as cotas
serão descritos brevemente, aspectos de 31.10 e 23.27 metros onde o amostrador
importantes dos empreendimentos em estudo atingiu uma camada de solo impenetrável para
(perfil geotécnico, arquitetura, localização as obras A e B, respectivamente.
geológica), fornecidos pela empresa de
engenharia responsável pelo dimensionamento
das respectivas fundações.
No comparativo das metodologias de
projeto das fundações, são apresentados os
resultados dos valores de carga de
dimensionamento utilizados na concepção dos
projetos. A partir desses resultados foi utilizado
o método de Nokkentved para o cálculo da
carga de trabalho, tomando as provas de carga
estáticas como parâmetro.
Na determinação das planilhas
orçamentárias fez se o uso de valores cotados
em empresas especializadas nesse tipo de
serviço (provas de carga estática, fundação
hélice continua monitorada), além do auxílio de
planilhas de insumo e softwares de cálculo
orçamentário disponíveis gratuitamente na
internet.
Os dados sobre os empreendimentos e as
empresas, que auxiliaram com os preços
cotados, serão identificados com codinomes por
questões de propaganda e sigilo.

3.2 Resumo das Obras

As duas obras analisadas (A e B) são de


edificações com função residencial, de
parâmetros similares no tocante as
características estruturais, sendo ambas
estruturas, aporticadas de concreto de 29 e 27
pavimentos, com 15 pilares para a primeira
Figura 2. Sondagem Spt Obra A. Fonte: Adptado de Silva
torre e 14 na segunda, sendo suas cargas (2016).
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segunda simula de forma mais real qual seria o


comportamento das estacas caso as provas de
carga estáticas fossem realizadas antes do
empreendimento, servindo de diretriz para a
elaboração do projeto de fundações. Para esse
segundo cenário foi levado em consideração a
necessidade de mobilizar a máquina de
perfuração das estacas hélice contínua em dois
momentos distintos, sendo o primeiro para
perfuração das estacas piloto a serem ensaiadas
(provas de carga estáticas - PCEs) e um
segundo momento para perfuração efetiva do
sistema de fundações.

3.3.1 Metodologia Baseada nos Métodos Semi-


Empíricos

Dentre os variados métodos semi-empíricos


existentes na literatura para o cálculo da
capacidade de carga de um terreno, os mais
difundidos, no Brasil, são os desenvolvidos por
Aoki-Velloso (1975) e o de Décourt-Quaresma
(1978), que fazem uso do índice de resistência à
penetração Nspt, do ensaio SPT (Alonso, 1996).

3.3.2 Metodologia Baseada nas Provas de


Carga

A metodologia através das provas de carga


representa de forma mais acurada o
comportamento real de uma fundação profunda.
Segundo a NBR 6122, devem ser realizados
ensaios de prova de carga estática pelo menos
1% das estacas da edificação.
No item 6.2.1.2.2 da NBR 6122 (ABNT,
2010) é esclarecido que para se obter a carga
Figura 3. Sondagem Spt Obra B. Fonte: Adaptado de admissível de estacas à partir das PCE é
Silva (2016). requerido que:
a) As provas de carga sejam, como
3.3 Soluções de Fundações supracitado, estáticas;
b) As provas de carga, sejam planejadas na
Neste item são detalhadas as duas metodologias fase de projeto da obra e executadas no seu
de que se deseja confrontar. A primeira início, para adequação das demais ao projeto;
representa o método tradicional de cálculo que c) Os carregamentos aplicados na prova de
elabora o projeto de fundações baseado em carga sejam de no mínimo duas vezes o valor da
correlações das resistências por atrito lateral e carga admissível de projeto.
ponta com os resultados da sondagem NSPT. A
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O valor do fator de segurança global mínimo, Tabela 1. Resumo Métodos Semi-empíricos. Fonte:
a ser empregado, será de 1.6 enquanto que, Autores (2018).
Vol.
quando determinada através de métodos semi- Obra
S. Ø Qtd Comp Carga
Blc.
empíricos esse fator é de 2.0. A prova de carga Trans (mm) (ud) (m) (kN)
(m³)
pode ser realizada através de ensaios de carga A Circ. 600 85 30 1600 142
dinâmica ou estática, método a ser utilizado B Circ. 600 73 24 1550 172
nesse trabalho, como descrito nas normas NBR
12131 (ABNT, 2006) e NBR 13208 – 3.4 Desempenho das Provas de Carga
Estacas/Prova de Carga Estática (ABNT, 2007).
As mesmas apresentam, comprovadamente, Como previsto nos projetos originais foram
os melhores resultados no que se trata em executadas provas de carga estáticas. Durante as
avaliar a capacidade de carga das fundações execuções dos projetos, foram aplicadas cargas
profundas (Oliveira, 2013). Contudo é uma de trabalho com o dobro do valor das previstas,
metodologia que exige um grande sistema de seguindo o previsto na NBR 6122 (ABNT,
reação, o que pode vir a encarecer a sua 2010). Os valores obtidos foram muito
execução. Tal prova de carga pode ser superiores ao previsto para as mesmas, como
executada de maneira lenta, rápida e/ou mista, detalhado nas Figuras 4 e 5.
(Alonso et al, 1997).
Além de, conforme Oliveira (2013), quanto a
sua execução podem ser divididas em três tipos:
• Plataforma carregada;
• Estruturas fixas ao terreno por meio de
elementos tracionados;
• A própria estrutura, devidamente
verificada.
As etapas do procedimento das provas de
carga estática devem obedecer a ordem de 10%
aproximadamente da sua carga de ruptura
calculada e devem garantir carga de ensaio de
no mínimo duas vezes a carga de trabalho,
(Oliveira, 2013). Figura 4. Diagrama Carga x Recalque, Obra A. Fonte:
Autores (2018).
Para obtenção das cargas nas estacas foi
utilizado o método de Nokkentved em que o
dimensionamento consiste no cálculo das
distribuições das forças pelas estacas (para cada
componente das solicitações), e posterior soma
das parcelas.
Para estimativa dos volumes de concreto foi
utilizado o método das bielas de compressão.
Os dois empreendimentos foram realizados com
fundações em estacas tipo hélice contínua. Os
dimensionamentos das capacidades de carga,
referentes ao estaqueamento, foram realizados
através dos métodos de Urbano Alonso (1996) e
Antunes-Cabral (1996), resultando nos valores
do Tabela 1: Figura 5. Diagrama Carga x Recalque, Obra B. Fonte:
Autores (2018).
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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS (vale salientar que os preços aqui apresentados


são referentes ao ano de 2016).
4.1 Interpretação das Provas de Carga Os valores foram obtidos através:
• Da cotação e coleta direta de preços com
De acordo com os valores das provas de carga, empresas do setor;
Figuras 4 e 5, os valores de carregamento • De tabelas de custo orçamentário com
máximo, a qual foram submetidas as estacas foi valores relevantes para a realidade da cidade do
de 2.899 kN e 2.950 kN, para as Obra A e B, Recife e Região Metropolitana;
respectivamente. A norma permite o uso do • Do auxílio do software gratuito de cálculo
fator de segurança de 1.6 para essa modalidade de orçamento voltado para estacas hélice
do projeto de fundações profundas, Logo: contínua “Gerador de Preços” da empresa
CYPE Ingenieros, S.A.
Todo o custo de serviços relacionados (ex:
(1)
mão de obra, mobilização de maquinário, etc.)
foi adaptado à razão (preço/metro de estaca),
Obtendo-se: facilitando a progressão da pesquisa. Os valores
de orçamento obtidos foram corrigidos através
(2) da comparação do valor do dólar na época de
concepção dos projetos com o período de
análise, em 2016.
(3) No total foram utilizados para a pesquisa 5
fontes, aqui identificadas como Empresas de 1 a
Aplicando o Método de Nokkentved (Prova 5.
de Carga), levando em conta o cenário de • Empresa 1: Representa os valores cotados
atuação dos ventos, esforços horizontais e 30% através do software de cálculo de orçamento e
de acrescimo de carga, chega-se ao encontrado insumos, com base de valores atualizados para o
no Tabela 2: valor de mercado do dólar, cotado para
Tabela 2. Resumo método de Nokkentved. Fonte: Autores novembro de 2016;
(2018) • Empresa 2: Cotado de valores atualizados
Obra Qtd Carga de Comp. Vol. Blc. da tabela de insumos da construção civil da
(ud) Proj. (kN) (m) (m³) Fundação de Desenvolvimento da Educação -
A 74 1800 30 112 SP (FDE), com valores obtidos para o mês de
B 60 1800 24 110
novembro de 2016;
• Empresa 3: Cotado de empresa do Recife
Comparando os valores de quantidade de especializada em serviços dessa natureza. Para
estacas encontrados com os do Tabela 1 nota-se os valores de prova de carga foram cotados de
economia na quantidade de estacas a serem estimativas do departamento de engenharia da
processadas, fato esse que não se deve mesma, quanto aos valores de fundação, obtidos
exclusivamente ao aumento da capacidade de através de planilhas de cálculo fornecidas e
carga, refletido por exemplo na redução do atualizadas para o valor de mercado do dólar
volume de concreto apresentado. para novembro de 2016;
• Empresa 4: Obtido dos preços de mercado,
4.2 Composição dos Custos da Obra fornecidos por empresa do mercado do Recife e
Região Metropolitana, os valores foram
Os preços custo utilizados como base para os atualizados para o preço de mercado do dólar,
serviços e materiais, foram cotados levando em para novembro de 2016;
conta duas mobilizações para as provas de carga
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• Empresa 5: Para a empresa 5 foram cotados


diretamente das tabelas de insumos da
construção civil fornecidas pela SINAPI de
janeiro de 2016.

4.3 Obtenção dos Preços Unitários

Nota-se a diferença de preço entre os métodos,


sendo a segunda metodologia mais vantajosa
economicamente. Como o valor estimado de um
projeto de fundação gira em torno de 3% a 5%
do valor total da fundação, esses valores à
primeira vista, representam uma redução
pequena caso extrapolado o valor de todo o
empreendimento.
As Figuras 6 e 7, mostram o comparativo Figura 7. Comparativo de Metodologias, Obra B. Fonte:
para cada corelação de economia entre os Autores (2018).
métodos.
Tabela 4. Economia entre metodologias, Obra A. Fonte:
Autores (2018).
Empresa Empresa Empresa Empresa Empresa
1 2 3 4 5
13,72% 10,68% 12,62% 13,17% 14,23%

Tabela 5. Economia entre metodologias, Obra B. Fonte:


Autores (2018).
Empresa Empresa Empresa Empresa Empresa
1 2 3 4 5
13,10% 9,56% 11,66% 13,09% 13,81%

A média aritmética entre as porcentagens de


economia é de 12.88% e 12.24% para as obras
A e B respectivamente. Logo a taxa de
economia para os casos gira em torno de
12.50% em favor do método das provas de
carga que, se correlacionado com o ganho de
carga, como mostrado no Quadro 8, apresenta
Figura 6. Comparativo de Metodologias, Obra A. Fonte: valores similares.
Autores (2018).
Tabela 6. Relação economia e ganho de carga. Fonte:
Autores (2018).
Obra Carga Adm (kN) Acres. Carga Economia
Antes Depois Adm. (%) (%)
A 1600 1800 11,11 12,88
B 1550 1800 13,89 12,24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o seguinte estudo a metodologia de projeto


através das provas de carga foi mais vantajosa,
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com a taxa de economia em torno de 12.50%, Abnt, Nbr. 13208,(2007) Estacas Ensaio de
para ambos as obras, apesar das mesmas serem carregamento dinâmico.
Alonso, U. R. (1996) - Estacas Hélice Contínua com
de pequeno porte. Monitoramento Eletrônico - Previsão da Capacidade
Mesmo que essa taxa de economia não de Carga através do ensaio SPT-T. In: Seminário de
dependa exclusivamente do aumento da Engenharia de Fundações Especiais – SEFE III, Vol.
capacidade de carga, mas sim também de outros 2. ABMS, São Paulo- SP. pp. 141-151.
fatores, como a redução apresentada pelo Alonso, U. R. (1997) Prova de Carga Estática em
Estacas (Uma Proposta para Revisão da Norma NBR
volume do concreto, essa metodologia merece 12.131). Solos e Rochas, São Paulo, n. 20
atento como possibilidade de solução para a Antunes, W. R. & Cabral, D. A.(1996) - Capacidade de
execução de uma fundação profunda. Carga de Estacas Hélice Contínua. In: Seminário de
Para os casos em que a carga admissível é Engenharia de Fundações Especiais – SEFE III, 2:
inferior ao calculado com o encontrado nos 105- 110, ABMS, São Paulo- SP.
Aoki, N.; Velloso, D. A. (1975) - Um método
métodos semi-empíricos, o emprego dessa aproximado para estimativa da capacidade de carga
solução pode não se justificar apenas pela de estacas. In: Pan-American Conference on Soil
capacidade de carga, tendo tambem que ser Mechanics and Foundation Engineering. p. 377.
analisado outros fatores. Décourt, L.; Quaresma, A. R. (1978) - Capacidade de
carga de estacas a partir de valores de SPT.
Projeto se bem compatibilizado com o tempo
In: Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
de execução garante a possibilidade de Engenharia de Fundações. p. 45-53.
economia prevista pelo fator de segurança Gusmão, A. D. (2005) - Prática de fundações no
reduzido da metodo. Recife. Geotecnia no Nordeste, v. 1, p. 225-246.
Caso seja feito em conjunto com uma Gusmão Filho, J. A. (1998) - Fundações: Do
Conhecimento Geológico à Prática da Engenharia –
investigação bem executada ainda que
Editora da UFPE.
propositalmente conservadora, como foi a dessa Oliveira, P. E. S (2013) - Análise de provas de carga e
análise, ou no caso de obras de grande porte confiabilidade para edifício comercial na região
onde o tempo de execução das obras pode ser metropolitana do Recife. 2013. Dissertação de
melhor administrado, essa vantagem será mais Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de
elevada.
Pernambuco, 165p.
A utilização dessa metodologia com apenas o Santos R.A.M. (2011). Análise dos tipos de Fundações
resultado de uma prova de carga para balizar na Região Metropolitana do Recife de 2000 a 2010.
todo o projeto, tem que que ser concebida com Projeto Final de Curso. Escola Politécnica de
bastante cautela. Precauções essas que Pernambuco (UPE) Recife - PE.
Souza, J. L (2013) - Morfodinâmica e processos
começam desde o minuncioso estudo dos superficiais das unidades de relevo da planície do
ensaios de campo e de laboratório até a devida Recife. 2013. Dissertação de Mestrado, Programa de
locação da prova de carga a priori que refletirá Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal
de maneira mais “realista” o comportamento a de Pernambuco, 160p..
fundação.
No cenário, de mercado que o país se
encontra, a possibilidade de economia no
projeto em função de uma metodologia merece
atento, ainda que pequena no quadro geral.

REFERÊNCIAS

Abnt, Nbr. 6122 (2010) Projeto e execução de


fundações. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, Brasil, 2010.
Abnt, Nbr. 12131: 2006 (2006). Estacas-Prova de carga
estática-Método de ensaio.
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Desenvolvimento de um aplicativo em VBA, de cálculo de recalque


em estacas e tubulões por meio de engenharia reversa
Renato Lima dos Santos
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, ecivil.rlima@gmail.com

Rose Carvalho Rocha Elias


Universidade Federal de São João del-Rei | Faculdade Unyleya, Ouro Branco, Brasil,
rcre.1904@gmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

RESUMO: O presente projeto baseia-se no desenvolvimento de um aplicativo de cálculo de recalque


em estacas e tubulões sob carga axial, programado na linguagem de programação do Microsoft Excel,
Visual Basic for Applications (VBA). O principal objetivo do trabalho é a otimização do tempo médio
necessário para o cálculo de recalques em estacas isoladas e tubulões, pelo método proposto por
Poulos e Davis (1980). Visando a maior agilidade no processo, a engenharia reversa surgiu como
ideia central do projeto, pela criação de formulações matemáticas que representassem o
comportamento das curvas presentes nos ábacos originais. Como os ábacos originais não são
equacionados, testaram-se, no software Excel, diversos pares ordenados, na base de dados de gráficos
com escala e dimensões coincidentes com os ábacos originais da metodologia anteriormente citada.
Os pontos formados pelos pares ordenados, coincidiram com o traçado das curvas do método original.
Posteriormente foram atribuídas as chamadas linhas de tendência, que são curvas de ajuste ou de
regressão, sejam estas lineares ou polinomiais. Assim sendo, as curvas geradas pelo referido processo,
apresentaram uma boa equivalência com as dos ábacos originais, além de proporcionarem o uso
interativo de equações matemáticas para a previsão dos fatores de influência do cálculo de recalque,
eliminando a necessidade de consulta visual aos ábacos. Como complementação ao projeto, na
interface gráfica programada em VBA, além da possibilidade do cálculo do recalque de estacas
isoladas pelo método e estratégia já descritos, pode-se também calcular o recalque de grupo de
estacas, pelos métodos empíricos de Meyerhof (1959), Vesic (1969) e Fleming (1985).

PALAVRAS-CHAVE: Estacas, Recalque, Aplicativo, VBA.

1 INTRODUÇÃO influência em uma edificação tem se mostrado


um parâmetro crítico, já que em diversos
As fundações profundas são determinadas pela projetos a capacidade de carga não é o fator
transmissão de carregamento por parte da limitante, mas sim o recalque que a estrutura
superestrutura ao terreno através da base e de sua pode suportar em seu estado limite de serviço
superfície lateral, ou pela combinação de ambas. (ELS). (Prununciati et al, 2018).
Sua caracterização se dá pelo comprimento O cálculo do recalque de estacas isoladas e
elevado em relação ao diâmetro da base e sua tubulões pode ser previsto por diversos métodos,
resistência se dá pela resistência de ponta ou dentre os quais destaca-se o de Poulos e Davis
devido ao atrito lateral do elemento de fundação (1980), que reuniram resultados de diversos
com o solo. estudos comparando resultados de provas de
O recalque em fundações profundas e sua carga e valores calculados por meio de valores
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de fórmulas dinâmicas (Cabette, 2014). Estes compatibilidade entre os deslocamentos da


resultados passaram por uma série de estaca e do solo adjacente. Os deslocamentos da
tratamentos estatísticos e se transformaram em estaca são obtidos considerando a
ábacos para cálculo de recalques em estruturas. compressibilidade da estaca sob carga axial e os
Apesar da integridade do método, este requer do solo, através da equação de Mindlin.
demasiado tempo e muitas vezes acaba sendo (Tavares, 2012).
pouco aplicado pela gama de autores que Poulos e Davis (1980) relatam que o recalque
possuem métodos mais práticos de cálculo. Uma no topo da estaca pode ser expresso, com
forma de utilizar o método de maneira rápida e precisão suficiente, em termos do recalque de
segura é por meio do recém desenvolvido uma estaca incompressível no semiespaço, com
aplicativo, alvo do presente projeto, graças à sua fatores de correção para os efeitos da
otimização no tempo de preenchimento dos compressibilidade da estaca compressível, e
parâmetros de entrada. assim por diante. Para isso é feita a consideração
A aplicação dos ábacos no aplicativo de uma massa de solo homogênea e os
programado na linguagem VBA foi possível parâmetros do solo, módulo de elasticidade e
através do processo de engenharia reversa. Este coeficiente de Poisson, todos constantes. O valor
procedimento consiste em gerar, por ajuste de do recalque, em milímetros, é calculado pela
curvas ou regressão, curvas já equacionadas, Equação 1.
sejam estas lineares ou polinomiais que se
aproximem ao máximo dos ábacos originais. Q IF
Como os ábacos originais não são equacionados, w= (1)
Es db
testaram-se no software Excel diversos pares
ordenados, na base de dados dos gráficos com
Onde:
escala e dimensões coincidentes com os ábacos
Q: carga aplicada (kN);
originais, buscando-se assim uma elevada
IF: é dado por IF = I0 x Rk x Rh x Rv x Rb;
aproximação gráfica entre as curvas de regressão
I0: fator de influência de recalque para estaca
ou linhas de tendências geradas e as curvas dos
incompressível na massa semi-infinita, para
ábacos originais.
coeficiente Poisson solo igual 0,5;
O aplicativo, nomeado ReCalculum 1.0,
Rk: fator de correção para compressibilidade da
contempla uma segunda aba principal, menos
estaca;
complexa pela simplicidade de seus métodos de
Rh: fator de correção para profundidade finita da
cálculo e pela não necessidade de uma técnica de
camada sobre uma base rígida;
engenharia reversa atrelada. Em tal guia é
Rv: fator de correção para coeficiente de Poisson
possível se obter o recalque de grupo de estacas
do solo;
pelos métodos empíricos de Meyerhof (1959),
Rb: fator de correção para a base ou ponta em
Vesic (1969) e Fleming (1985).
solo mais rígido;
Es: módulo de deformabilidade do solo (MPa);
db: diâmetro da estaca (mm).
2 METODOLOGIA DE CÁLCULO
O fator de rigidez, necessário para o cálculo
O método de cálculo de Poulos e Davis (1980)
de Rk, Rv e Rb é expresso pela Equação 2.
foi baseado em um processo numérico,
conhecido como solução de Mindlin. Esse
processo calcula a ação da estaca sobre o solo, Ra EP
K= (2)
que é dividida de forma que os elementos fiquem Es
uniformemente carregados com os esforços
atuando sobre sua superfície.
Para solucionar o problema, é imposta a
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Onde: que leva em consideração o espaçamento entre


Ra: razão entre a área da seção transversal as estacas, sendo o recalque de grupo de estacas
contendo concreto e área total da seção em milímetros.
transversal. Somente quando a estaca é vazada,
Ra é diferente de 1; s   s 
Ep: módulo elástico da estaca (Mpa). 5 −  
1 = w
db   3 db 
(3)
2
Deve-se atentar ao fato de a metodologia  1 
partir da hipótese de que a estaca deve estar em 1 + 
solo homogêneo, situação que raramente  nr 
acontece na realidade, visto que solos brasileiros
possuem vasta variabilidade por serem solos Onde:
tropicais. No intuito de considerar a não- w: recalque de estaca isolada;
uniformidade do solo, faz-se o uso de uma média s: espaçamento entre estacas (m);
ponderada na determinação do módulo de nr: número de linhas de estacas num bloco
deformabilidade do solo e do coeficiente de quadrado.
Poisson equivalentes, presentes estes nas etapas
de cálculo que visam à obtenção dos parâmetros A Equação 4 adiante traduz o cálculo de
Rk , Rv e Rb . recalque de grupo de estacas, em milímetros,
O método de Poulos e Davis (1980) é pela metodologia de Vesic (1969).
diretamente influenciado por fatores como
espessura da camada de solo, comprimento da dg
estaca, coeficiente de Poisson e o módulo de 2 = w (4)
db
deformabilidade do solo, fazendo com que estes
parâmetros exerçam elevada influência sobre os
fatores de influência e correção. Onde:
Para a obtenção dos fatores, faz-se o uso de 9 dg: dimensão transversal do grupo de estacas
ábacos, que fazem parte do procedimento de (m).
obtenção do recalque, proposto pelo método
indicado pela Equação 1. A Equação 5 a seguir é utilizada para o
Prununciati et al (2018) desenvolveram cálculo de recalque de grupo de estacas, em
trabalhos comparando metodologias de cálculo milímetros, pela metodologia de Fleming et al
de recalque semi-empíricos ao ensaio de prova (1985).
de carga em hélice contínua e concluíram que o
método de Poulos e Davis apresentou resultados  3 = w n (5)
com valores mais próximos daquele obtido na
prova de carga, mesmo apresentando um valor Onde:
de recalque menor, sendo esta diferença da n: número de estacas;
ordem de 16%, comprovando que a metodologia η: expoente variante entre 0,4 e 0,6 para a
é mais conservadora. maioria dos grupos.
Já no âmbito do cálculo recalque de grupo de
estacas, é necessário o entendimento de que, por
se tratarem de métodos empíricos, em 3 TÉCNICA UTILIZADA
determinadas aplicações os resultados podem ser
muito diferentes, por isso deve se ter uma maior Segundo Canhota et al (2005), a engenharia
cautela na utilização, segundo Velloso e Lopes reversa é uma atividade que trabalha com um
(2011). Meyerhof (1959) propôs uma solução produto existente, como um software por
matemática, expressa pela Equação 3 a seguir, exemplo, tentando entender como este produto
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funciona, o que ele faz exatamente e como ele se regressão geradas em função do eixo das
comporta em todas as circunstâncias. Faz-se o abcissas, fornecendo um gráfico final que
uso de engenharia reversa quando se deseja contém as curvas oriundas das equações de
trocar, modificar uma peça (ou um software) por regressão propriamente ditas.
outro, com as mesmas características ou Todo o processo descrito foi realizado de
entender como esta funciona e não se tem acesso maneira análoga para todos os outros
a sua documentação. parâmetros: Rk, Rh, Rv e Rb.
Visando maior agilidade no processo de As Figuras 1, 2 e 3 exibem o processo de
cálculo do recalque, da metodologia proposta engenharia reversa já finalizado, com o exemplo
por Poulos e Davis (1980), a técnica de das curvas polinomiais e lineares,
engenharia reversa se apresentou promissora, respectivamente, dos parâmetros I0 e Rv. A
pois a priori não foram encontradas equações Figura 1 representa o gráfico original de I0
matemáticas para o cálculo dos fatores de sobreposto pelo gráfico de dispersão de fundo
influência, presentes no método supracitado. transparente, já com as linhas de tendências
Inicialmente, o ábaco original da metodologia atribuídas e equações de regressão polinomial de
de cálculo de recalque de estacas isoladas e sexta ordem exibidas.
tubulões do parâmetro I0 foi exportado para o
software Excel, em formato de figura, seguida da
posterior sobreposição de um plano cartesiano
adequado, sendo este um gráfico do Excel,
possuindo fundo transparente e contendo pares
ordenados em sua base de dados, que se refletem
graficamente em curvas de dispersão. Tais
curvas foram compatibilizadas em escala
logarítmica em um dos eixos cartesianos para
melhor ajuste das curvas. Ressalva-se que, para
a confiabilidade do processo, é necessário obter-
se elevada equivalência em dimensões e escalas
entre o gráfico de dispersão e o ábaco original.
Posteriormente, foram atribuídas as chamadas
linhas de tendências, que são curvas de ajuste ou
de regressão, sejam estas lineares ou
polinomiais. No presente caso, o melhor ajuste
observado foi por meio de regressões
polinomiais de sexta ordem. As curvas de ajuste,
em todos os casos, obtiveram valores de
coeficientes de determinação R² muito próximos
a 1, comprovando um ótimo desempenho das
equações representativas do comportamento Figura 1. Processo de engenharia reversa aplicado no
matemático dos ábacos originais, além de ábaco de I0.
proporcionarem o uso interativo dessas equações
para a previsão dos fatores de influência, usados
no cálculo de recalque, eliminando a necessidade
de consulta visual aos ábacos.
Por fim, utilizando-se uma precisão de 20
casas decimais, trocaram-se os valores de chute
do eixo das ordenadas contidos na base de dados
do gráfico de dispersão de I0 pelas equações de
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A Figura 2 ilustra o gráfico original de Rv interpolação linear entre o valor imediatamente


sobreposto pelo gráfico de dispersão de fundo inferior e superior que consta no gráfico. Desta
transparente, já com as linhas de tendências forma, encontra-se um valor próximo ao que
atribuídas e equações de regressão linear seria observado pelo usuário ao utilizar o ábaco
exibidas. a olho nu, comprovando efetividade do método.
Para a reconstrução dos gráficos, utilizou-se
como base o software Excel com a finalidade de
modelagem dos dados. A escolha do software se
deu pela facilidade na descrição dos pares
ordenados que originavam as curvas dos ábacos
e posterior obtenção de uma função
representativa do comportamento. Outro fator
preponderante na escolha do software foi a
possibilidade de programação na linguagem
VBA – Visual Basic for Applications.
A linguagem VBA utilizada em conjunto ao
Figura 2. Processo de engenharia reversa aplicado no Excel é uma das ferramentas mais poderosas do
ábaco de Rv.
mercado, segundo Jelen e Syrstad (2010). O
VBA está presente nos softwares do Pacote
Figura 3 sendo a imagem do aplicativo alvo
Office e é derivado da tradicional linguagem
do presente projeto contendo o mesmo gráfico
BASIC, embora difiram-se pela impossibilidade
dispersão de Rv com seus parâmetros de entrada
do VBA de gerar arquivos de extensão *.EXE. A
já preenchidos, e, para fins estéticos, menos
linguagem VBA, apesar de menos complexa que
poluído visualmente, sem a imagem do ábaco
outras como JAVA e C#, tem seu uso
original atrás, e redimensionado.
potencializado pela interface planilhada e com
Quando o usuário insere um dado não
tantos recursos do seu software geratriz, o Excel.
localizado em uma das curvas, é realizada a

Figura 3. Aplicativo de Cálculo de Recalque em Estacas e


Tubulões exibindo o gráfico de Rv.
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Já no ambiente programável do Excel, o presente (I0 ou Rh ou Rv ou Rk ou Rb). Ressalta-


Visual Basic Editor – VBE, foi possível a se que neste ponto, reduziu-se o código para os
implementação de uma interface gráfica ou casos de I0 e Rh somente, afim de se evitar uma
aplicativo, que na linguagem VBA é descrito altura exacerbada da Figura 4.
como um objeto de formulário ou UserForm, Englobando essa estrutura condicional citada,
contendo este, diversos objetos como caixas de há um bloco If-Else principal que irá executar
texto, caixas de combinação, objetos de imagem, conforme o rótulo presente no botão: “Exibir
entre outros, tornando o aplicativo mais Gráfico” ou “Resumir Gráfico”, todavia
interativo com o usuário. Uma parcela do independentemente se irá executar o comando If
algoritmo de programação em VBA é ou o comando Else nesse ponto, sempre haverá
apresentado na Figura 4 adiante. o redimensionamento e reposicionamento em
A sub-rotina de programação em questão está tela do aplicativo no fim da compilação da sub-
relacionada ao evento Click e atrelada ao objeto rotina da Figura 4. Atribuiu-se também, na
botão de comando de propriedade name: Macro em análise, 4 variáveis numéricas pré-
graf_cb, ou seja, sua compilação se dará no definidas de posicionamento em tela do
momento do clique no botão “Exibir/Resumir aplicativo, sendo elas: x1, x2, y1 e y2, de modo
Gráfico” presente na Figura 4. que, sejam quais forem as dimensões do monitor
do usuário, será garantida a centralização em tela
do aplicativo. Os textos explicativos de cor
verde, precedidos por aspas simples, são apenas
comentários, sempre recomendados em códigos
de programação de maior complexidade, para
efeito de inteligibilidade de terceiros e até
mesmo do autor do algoritmo.
O aplicativo contempla o cálculo do recalque
do grupo de estacas, de modo que a segunda guia
principal, janela esta onde se realizam o
preenchimento dos dados de entrada dos
métodos empíricos já descritos e posterior
cálculo do recalque de estacas de grupo, só é
habilitada após o cálculo do recalque da estaca
isolada, evitando-se assim, eventuais erros de
preenchimento e de cálculo, até pelo fato de este
recalque ser um parâmetro de entrada para cada
uma das 3 metodologias empíricas: Meyerhof
(1959), Vesic (1969) e Fleming (1985).

4 DIFICULDADES ENCONTRADAS
Figura 4. Rotina de programação simplificada, em VBA,
de geração gráfica e redimensionamento do aplicativo. Durante o desenvolvimento da pesquisa,
algumas divergências entre as versões do
No código presente na Figura 4 também é software Excel foram apresentadas. O principal
possível observar uma estrutura condicional If- problema nesse contexto foi que as curvas
Else interna utilizada justamente para, através do polinomiais de sexta ordem apresentaram
número índice da sub-guia (também visível na anomalias quando elaboradas no software de
Figura 3), extrair o gráfico já previamente versão mais antiga, o que acabou causando
equacionado específico do parâmetro da guia atraso no desenvolvimento do trabalho. Estudou-
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se de maneira a criar um aplicativo mais de programação atrelados com formulações


universal possível, de forma que, obtidas no Excel. A Figura 5 apresenta o
independentemente da versão do Excel, sendo aplicativo totalmente preenchido e todos os
estas as mais recentes, o aplicativo funcionasse cálculos devidamente realizados. Como
sem apresentar variações. Foi necessária a resultado, o usuário obtém em tela um relatório
realização de vários testes nas versões a partir do dinâmico e interativo, de modo que quaisquer
Excel 2013 para sanar as divergências alterações realizadas em parâmetros de entrada
Dificuldades foram encontradas na escolha serão instantaneamente alteradas no campo à
das regressões não lineares a serem adotadas, direita da Figura 5. Além disso, no canto inferior
visto que, em certos casos o resultado de direito há 3 alinhamentos de botões: contato,
regressões exponenciais também era satisfatório. auxílio e exportação.
Todavia, por critérios de padronização e O primeiro botão, presente no primeiro
principalmente precisão e confiabilidade nos campo, exibe em tela uma mensagem com
resultados, a curva que melhor se adequou aos informações de contato dos desenvolvedores do
ábacos foram as de regressão polinomial de projeto. O segundo alinhamento é composto de
sexto grau, apenas em alguns gráficos obteve-se geradores de documentos de auxílio de extensão
melhor resultado com regressão polinomial de *.pdf. O botão com o desenho dos livros
terceiro grau ou linear, encontrando-se empilhados gera um arquivo *.pdf contendo a
excelentes resultados quanto à similaridade das descrição de todos os parâmetros presentes na
curvas de regressão com as curvas originais do interface gráfica; o botão com o ícone de um
ábaco e possuindo coeficientes R² muito gráfico exporta um documento contendo todas as
próximos de 1. equações de regressão obtidas e todas as
Outro problema apresentado foi a fórmulas utilizadas para o cálculo do recalque; o
configuração da tela do aplicativo nas diferentes botão com o desenho do balão de interrogação
versões do software. Tornar a interface gráfica exporta um arquivo contendo teorias presentes
do Excel similar à de um arquivo executável foi no aplicativo.
muito difícil, já que o comportamento do arquivo Por fim, é possível a exportação do relatório
de Excel em questão não poderia interferir em de final, em extensões *.csv ou *.txt. Pode-se
outras planilhas abertas, visto que o usuário pode também copiar para a área de transferência
necessitar abrir várias pastas de trabalho ao (“Ctrl+C”) todo ou somente alguns valores
mesmo tempo. Para sanar este problema, em vez selecionados no relatório, e colá-los ordenados
de minimizar ou ocultar o documento de Excel, em uma planilha, documento de texto, etc.
utilizou-se um grupo de comandos, logicamente Destaca-se que, no caso dos botões que geram
programados em VBA, que garantiram o arquivos *.pdf, *.csv, tais serão salvos em um
congelamento somente da pasta de trabalho do diretório na máquina em uso, definido de
aplicativo atrás do mesmo, tornando a pasta de maneira automática e exibido em tela após
trabalho invisível e inacessível, e ainda efetuado o clique nos respectivos objetos.
possibilitando ao usuário a abertura e Pela Figura 5, introduzindo-se parâmetros
manipulação de várias outras pastas de trabalho, como: estaca maciça, comprimento da estaca de
simultaneamente à execução do aplicativo. 25 metros, diâmetro de 1 metro, carga pontual de
25 kN, entre outros (descritos no relatório de
estacas isoladas), obteve-se um recalque
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES w=22,85mm. Por meio dos parâmetros de
entrada para o cálculo do recalque do grupo de
O aplicativo consiste em um formulário estacas: 4 estacas, 1,5 metros de espaçamento
interativo em que o usuário insere diversos dados entre estacas, entre outros (presentes no relatório
de entrada e automaticamente são apresentados de estacas de grupo), obteve-se um recalque
os parâmetros de saída, por meio de algoritmos médio de grupo de estacas de 53,32mm.
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Figura 5. Aplicativo de Cálculo de Recalque em Estacas e


Tubulões exibindo o relatório final de parâmetros.

7 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

Apesar da incompatibilização das versões do AIOSA, R. O que é VBA? São Paulo, 2011. Disponível
software, foi possível concluir o aplicativo em <http://www.escolaexcel.com.br/2011/08/o-que-e-
vba.html>. Acesso em: 14 abr. 2018.
apresentando resultados satisfatórios no que Bjerrum, L. (1963) Allowable settlement of structures
tange à similaridade das curvas encontradas (discussion), Proc. 3rd Euro Conf. on Soil Mech. and
pelas linhas de tendência com os ábacos da Foundn. Engng., Wiesbaden. Vol. 2, pp. 135.
metodologia de Poulos e Davis. Cabette, J. F. (2014). Análise dos métodos semi-empíricos
A implementação do aplicativo irá trazer maior utilizados para a estimativa da capacidade de carga de
estacas pré-fabricadas com base em resultados de
agilidade e precisão na obtenção de resultados de ensaio de carregamento dinâmico. Tese de mestrado:
cálculos de recalque em estacas profundas, Universidade de São Paulo. p.161.
implicando assim, em um maior uso do método Canhota et al. (2005). Engenharia Reversa. Universidade
no mercado com resultados mais confiáveis que Federal Fluminense. Graduação em Engenharia da
os utilizados pelos ábacos, visto que este último Computação.p.14.
Fleming, W.G.K. (1984) Discussion on State of the Art
está sujeito a variações devido à resolução à olho paper, Advances in Piling and Ground Treatment for
nu. Foundations Conference, London: ICE.
Jelen, B.; Syrstad, T. (2010) VBA and Macros: Microsoft
Excel 2020. Mr Excel Library. USA.
AGRADECIMENTOS Medeiros, J. C. G. et al. (2015). Modelagem matemática
para programação e roteirização das ordens de serviços
de verificação de leitura em uma distribuidora de
À Universidade Federal de São João del-Rei e a energia elétrica. XXXV Encontro Nacional de
todos que deram suporte e contribuíram Engenharia de Produção. Fortaleza. p. 20.
indiretamente para a conclusão desta pesquisa. Meyerhof, G.G. (1959). Compaction of sands and bearing
capacity of piles. Journal of the Soil Mechanics and
Foundation Division, v. 85, SM6, pp. 1-29.
Poulos e Davis. (1980). Pile Foundation Analyses and
Design Series in Geotechnical Engineering. John
White and Sons, p. 52- 70.
Prununciati, P. L.; Garcia, J. R.; Rodriguez, T. G. (2018).
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Recalques em fundações profundas – análise em


estacas hélice contínua. Revista eletrônica de
engenharia civil, vol. 14, Nº 1, p. 112-123, jan 2018 –
jun 2018.
Skempton, A.W. (1953). Discussion: Piles and Pile
Foundations Settlement of Pile Foundation. III
ICSMFE. Zurich, p.172.
Tavares, M. V. C. F. (2012). Avaliação experimental de
fundações estaqueadas em modelos 1g. Tese de
mestrado: Universidade Federal de Brasília. Brasília,
Distrito Federal. p. 155.
Vargas, M.; Silva, F.R. (1973). O problema das fundações
de edifícios altos: experiência em São Paulo, Anais,
Conferência Regional Sul-Americana Sobre Edifícios
Altos, Porto Alegre.
Velloso, Dirceu de A.; Lopes, Francisco de R.– Fundações
- critérios de projeto, investigação do subsolo,
fundações superficiais, fundações profundas. São
Paulo: Oficina de Textos, 2011.
Vesic, A.S. (1969). Esperiments With Instrumented Pile
Groups in Sand. Symposium on Performance of Deep
Foundations, Proc. ASTM, Spec. Tech. Pub. No. 444,
p. 171-222. (apud Rezende, 1995).
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Discussão Sobre A Influência Da Excentricidade Executiva De


Estacas Sobre A Probabilidade De Ruína De Fundações
Pedro Eugenio Silva de Oliveira
Unicap, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com.

Marcelo Sabino Costa


Unicap, Recife, Brasil, marcelosabino96@gmail.com.

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


Unicap, Recife, Brasil, jtrdo@uol.com.

RESUMO: Recentemente foram realizados estudo em Recife com a finalidade de avaliar as


excentricidades executivas de fundações em estacas. O primeiro estudou 3 obras em estacas hélice
contínua e um total de 1075 estacas (SALGADO, 2016); outro estudo foi realizado com estacas
metálicas de seção variável (SOUTO MAIOR, 2017). Os valores de excentricidade obtidos variaram
entre 0 e 60% do diâmetro, valores muito superiores ao tolerado pela norma NBR 6122/2010, com
média em torno de 6 cm, para todas as obras, supracitadas. O presente artigo discute o efeito dessas
excentricidades executivas sobre a redistribuição de cargas em bloco hipotético de duas estacas.
Discutindo sobre a redistribuição de cargas nas estacas e impactos sobre a confiabilidade do sistema.
Foi observado que o efeito de aproximação das estacas influencia mais a confiabilidade do sistema,
e que para excentricidades muito elevadas (acima de 15 cm, para o presente trabalho) a variabilidade
do terreno começa a não ser tão relevante.

PALAVRAS-CHAVE: Excentricidade, Fundações, Confiabilidade

1 INTRODUÇÃO aspectos podem interferir em coeficientes de


segurança e confiabilidade das fundações.
O estrato do subsolo da cidade apresenta-se Recentemente estudos estão sendo realizados
normalmente com camadas resistentes a grandes a partir do levantamento das fundações de fato
profundidades, de modo que as soluções executadas (as built), em estacas hélice contínua
geotécnicas para se aplicar com a fundação rasa (SALGADO, 2016) e em estacas metálicas
tornam-se inviáveis, na maioria dos casos. Dessa (SOUTO MAIOR, 2017; PAULA FILHO, 2017)
forma é muito comum nesta região a E foram encontradas exentricidades de até 46
adoção/escolha de estacas como solução de cm, com médias em torno de 6 até 7,41 cm, ver
fundações. Segundo Oliveira (2013) apud Santos Tabela 1. O impacto esperado dessa
(2011), houve um aumento significativo da excentricidade é a redistribuição dos esforços
predominância de fundações profundas em nas estacas, o que ocasiona aumento da
detrimento as rasas no período entre 1998 e variabilidade das cargas nas estacas, e
2010. Seguindo a tendência de aumento do consequente menor confiabilidade do sistema.
número de casos de obras com fundação Portanto, esse trabalho tem como objetivo
profundas, existem muitos estudos na literatura estudar, através de uma análise paramétrica, o
técnica sobre como estimar e projetar estacas. impacto que a excentricidade executiva tem na
Porém o presente trabalho levanta a discussão probabilidade de ruína do sistema de fundação.
acerca de aspectos executivos. E como esses
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2 OBRAS QUE SERVIRAM COMO 99 apresentavam excentricidade e apenas 15


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA DE apresentavam excentricidade tolerável pela
EXCENTRICIDADES EM RECIFE norma. As excentricidades medidas chegaram ao
valor máximo de 26,82 cm e a média foi de 6,26
A excentricidade executiva é um problema cm. Existem várias possíveis explicações para
recorrente em fundação, que é avaliado pela o fenômeno, desde desvio de locação
Norma 6122 (ABNT/2010) onde em sua topográfica, até efeito de cravação de uma estaca
descrição, é prevista uma tolerancia de desvio (a ser cravada) sobre grupo de estacas já
entre o eixo da estaca e o eixo de aplicação da cravadas. (SOUTO MAIOR, 2017).
solicitação do pilar de até 10% da menor Intensificando o estudo acerca do nível e
dimensão da estaca. Para os estudos de caracterização das excentricidades, uma outra
(SALGADO, 2016) e (SOUTO MAIOR, 2017) obra foi estudada por Silvestre (2018), em
foram encontrados valores superiores a 60% do subsolo com presença de solo mole, essa obra é
diâmetro. Vale salientar que essas valores são constituída por 9 torres, e foram apresentadas um
muito dispersos em relação à média e não são total de 1.306 estacas com excentricidade
representativos do conjunto como um todo, que executiva. Para essa obra a média encontrada foi
será caracterizado a seguir. superior as encontradas nos trabalhos de Souto
Salgado (2016), estudou 03 obras residenciais Maior (2017) e Delgado (2016). A
localizadas em região litorânea da RMR, excentricidade média foi de 8,94 cm para estacas
realizadas com 1.075 estacas hélice contínua de métalicas e de 9,97 cm para estacas mistas.
400 e 500 mm. Foram encontradas Nessa obra em especial foram encontrados
excentricidades de até 41 cm, com média de 6 cm valores de excentricidade máxima bastante
para as 3 obras. Souto Maior (2017) estudou obra discrepantes em torno 126 cm.
vertical, residencial, com 100 estacas metálicas A compilação do resultado desses 4 trabalhos
de seções variáveis de 4 tipos: Tipo A originou um banco de dados de 2.572 estacas
(composição: HP 310 x110 – 93–79); Tipo A.1 analisadas, onde a média da excentricidade
(composição: 310 x93 – 93-79); Tipo B executiva variou de 6 a 9,97 cm, com valores
(composição: 310x93– 79–79); Tipo C máximos variando entre 26,82 cm até 126,92 cm
(composição: 310 x79 –79–79). Das 100 estacas,

Tabela 1 – Resultados de excentricidades executivas encontrados em estudos anteriores.


Excentricidade (cm)
Referência Tipo de estaca N. Estacas
Média Máximo
Delgado, 2016 Hélice 6,00 41,00 1.075
Souto maior, 2017 Metálica 6,26 26,82 100
Paula filho, 2017 Metálica 7,41 35,17 91
Silvestre, 2018 Metálica 8,94 126,92 1.106
Silvestre, 2018 Mista* 9,97 46,17 200
Total de estacas estudadas 2.572
* Mista = associação de estaca pré-moldada e estaca metálica (perfil I) servindo como ponta.
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3 APLICAÇÕES DE CONCEITOS DE
CONFIABILIDADE E PROBABILIDADE DE
RUÍNA

Nos projetos geotécnicos de fundações se faz uso


do conceito de fator de segurança global para
verificação do estado de limite último, porém
este método não é o suficiente para a análise
completa da segurança de uma fundação.
Segundo Cintra e Aoki (2006), os fatores de
segurança não garantem a ausência de risco de
ruína, sendo necessário fazer a verificação,
também, da probabilidade de ruína da fundação Figura 1. Curvas de densidade de probabilidade das cargas
solicitantes e resistentes. Fonte: autores, 2018.
por meio da análise de confiabilidade.
Devido a natureza da obra e a
heterogeneidade do solo existe uma grande
variabilidade nas cargas atuantes nas estacas
(solicitantes, S) e das capacidades de carga
geotécnicas (resistentes, R) logo, é possível
realizar uma análise estatística com esses valores
e construir as curvas de densidade de
probabilidade fs(S) e fs(R), ver Figura 1.
Definindo como margem (M) a diferença
entre as resistências e as solicitações, pode-se
afirmar que existe ruína quando o valor da
Margem é menor ou igual a zero, Equação 1.

M=R−S≤0 (1) Figura 2 . Curva de distribuição normal da margem. Fonte:


autores, 2018.
O que indica que as cargas solicitantes (S)
seriam maiores que as resistentes (R). Sendo os parâmetros que definem a curva da
Para o caso especial no qual se adotou que as margem (em fundação dos parêmtros das curvas
resistências e solicitações são escritas como normais de solicitação e resistência): média (µ) e
curvas normais (Figura 1), a curva de desvio padrão (σ), dadas pelas equações 2 e 3:
distribuição da Margem também pode ser
representada por uma curva normal onde à µM = µR − µS (2)
subtração de duas curvas normais resulta em
terceira curva de distribuição normal, para o caso σM = √σR 2 + σS 2 (3)
das duas primeiras serem independentes.
(OLIVEIRA, 2013). Nesse caso a probabilidade Outro índice que avalia as curvas normais é
de ruína (pf) pode ser escrita como a chamado de coeficiente de variação e é definido
probabilidade da Margem ser menor ou igual a pela relação entre o desvio padrão e pela média
zero, ver Figura 2. da distribuição. Esse coeficiente avalia qual
dispersa a amostra se apresenta em relação à
média e é dado em porcentagem. O conceito
inverso da variabilidade é a confiabilidade,
medida pelo índice de confiabilidade β. Que é
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dado pelo inverso do coeficente de variabilidade, 4 METODOLOGIA


ou seja média sobre desvio-padrão, Equação 4.
O trabalho consiste em um exercício númerico
µm
β = σm (4) onde foi feito variar a posíção de uma das estacas
de um bloco de duas estacas. Essa variação na
Em um sistema de fundação projetado como geometria representava a excentricidade obtida
simétrico, as cargas nas estacas são iguais à carga em campo. O objetivo do trabalho então é aferir
média (carga total/número de estacas). Logo não e avaliar a variação das cargas nas estacas e da
existe dispersão em torno da média, e o desvio confiabilidade do sistema a partir dessa variação
padrão é nulo. Caso uma estaca seja executada na geometria do bloco.
excentrica (entenda-se excentrica fora do eixo Então foi simulado um sistema com duas
previsto em projeto) ocorrerá uma redistribuição estacas de 400 mm, inicialmente simétricas em
de cargas nas demais estacas do bloco. De modo relação ao eixo de aplicação da carga de 1.600
que as cargas nas estacas não serão mais as kN, apresentado na Figura 03.
mesmas (passando a ser diferentes da média). À
medida que as cargas são diferentes, existe
dispersão, e desvio padrão associado a
redistribuição de cargas nas estacas. Dessa forma
pode-se inferir que o aumento da excentricidade
executiva das estacas aumenta o desvio padrão
das cargas, aumenta o coeficiente de variação
das cargas nas estacas, diminui a confiabilidade Figura 03. Locação inicial das estacas das estacas em torno
(medida pelo coeficiente β) e aumenta a do eixo. Fonte: autores, 2018
probabilidade de ruína do sistema.
O estudo de probabilidade de ruína não é uma Foi considerado que apenas a estaca E2
novidade e em alguns países as normas já exigem sofreria excentricidade, enquanto que a estaca
que se faça a verificação da confiabilidade das E1 permaneceria fixa. Para a análise paramétrica
estruturas, mas sem deixar de lado a analise fez-se variar as excentricidades de 5 cm em 5 cm
tradicional. Um exemplo disso são as normas do em um intervalo de -30 cm (aproximação) a
Eurocode. No Brasil esta análise ainda não é +30cm (afastamento). Foi convencionada
obrigada por norma, porem muitos estudos estão excentricidade negativa quando a estaca se
sendo realizados para implantar a análise de aproxima do eixo de aplicação da carga e
probabilidade de ruína. Um exemplo desses excentricidade positiva quando se afasta do eixo
estudos é mostrado por Oliveira (2013) que de aplicação. Como é mostrado na Figura 4.
analisou a confiabilidade de uma obra comercial
com mais de 4000 estacas hélice contínua e 40
provas de carga estáticas na Região
Metropolitana do Recife. Foram estudadas as
probabilidades de ruína a partir das resistências Figura 04. Sentidos dos deslocamentos. Fonte: autores,
obtidas através de métodos semi-empiricos e a 2018
partir das PCE’s. Para a análise com as PCE’s foi
encontrado um índice de confiabilidade (β) de As cargas solicitantes foram obtidas usando o
8,09 e probabilidade de ruina de mesmo principio de cálculo de reações de uma
1/50.000.000.000 utilizando metodologia viga bi-apoiada e foram calculadas, junto com os
proposta por Cintra & Aoki (2010), confirmando respectivos desvios padrões, para cada cenário
o baixo risco da obra. de excentricidade.
Para o cálculo do desvio padrão das
resistências foram utilizados os valores
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apresetnados por Duncan (2000). Segundo esse


autor o coeficiente de variação (Equação 7) dos
valores obtidos no NSPT variam entre 5 e 45%. A
partir disso então foram analisados três valores
para o coeficiente de variação das resistências
(10%, 15% e 20%), e o desvio padrão foi
calculado para cada um deles.

𝜎𝑟
𝑣= (7)
µ𝑟

A resistência média foi considerada como: a


média da solicitação multiplicada pelo fator de Figura 05. Resumo das análises. Fonte: autores, 2018
segurança (FS = 2,00) de fundação profunda,
segundo equação 8. 5 RESULTADOS OBTIDOS

µr = FS. µs = 2. µs (8) A Tabela 2 mostra os resultados numéricos


obtidos obedecendo aos procedimentos citados
Foram calculados os parâmetros que definem na seção anterior.
a curva de distribuição normal da margem, a A excentricidade positiva resulta em uma
partir das equações 2 e 3 para cada cenário de distribuição de carga de forma a solicitar mais a
excentricidade e coeficiente de variação do solo estaca E1 e descarregar a estaca E2,
(total de 39 cenários). Com os parâmetros da excentricidades negativas resultam no inverso,
margem definidos foi calculado o coeficiente de Figura 6. O desvio padrão das cargas solicitantes
confiabilidade (β), pela equação 6, e a partir dele tem um aumento mais acentuado quando as
a probabilidade de ruína para cada cenário. excentricidades são negativas, como é mostrado
na Figura 7.
O resumo de todas as análises pode ser
visualizado por meio da Figura 05.
Tabela 2. Resumo dos resultados. Fonte: autor, 2018
Solicitações Margem Confiabilidade Probabilidade de ruína
Excentricidade
Carga nas estacas (kN) Desvio Desvio margem Beta (-) pf
(m)
E1 E2 Padrão 10% 15% 20% 10% 15% 20% 10% 15% 20%
-0,3 457 1143 485 511 541 581 1,6 1,5 1,4 0,0586 0,0696 0,0842
-0,25 533 1067 377 410 447 495 2,0 1,8 1,6 0,0254 0,0368 0,0529
-0,2 600 1000 283 325 371 427 2,5 2,2 1,9 0,0069 0,0155 0,0305
-0,15 659 941 200 256 312 377 3,1 2,6 2,1 0,0009 0,0052 0,0170
-0,1 711 889 126 203 271 344 3,9 3,0 2,3 0,0000 0,0016 0,0100
-0,05 758 842 60 171 247 325 4,7 3,2 2,5 0,0000 0,0006 0,0070
0 800 800 0 160 240 320 5,0 3,3 2,5 0,0000 0,0004 0,0062
0,05 838 762 54 169 246 325 4,7 3,3 2,5 0,0000 0,0006 0,0068
0,1 873 727 103 190 261 336 4,2 3,1 2,4 0,0000 0,0011 0,0087
0,15 904 696 148 218 282 352 3,7 2,8 2,3 0,0001 0,0023 0,0116
0,2 933 667 189 247 305 371 3,2 2,6 2,2 0,0006 0,0044 0,0156
0,25 960 640 226 277 330 392 2,9 2,4 2,0 0,0019 0,0076 0,0206
0,3 985 615 261 306 355 413 2,6 2,3 1,9 0,0045 0,0120 0,0264
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Mostrando que quando a estaca se aproxima curvas seguem a mesma tendencia e convergem
do eixo de aplicação da carga a probabilidade de a partir de certo valor de excentriciade, Figura 9.
ruína será maior do que quando ela se afasta. Ja a probabilidade de ruína aumenta com o
Assim como o desvio padrão das cargas aumento de excentricidade e as três curvas
solicitantes o desvio padrão da margem tem um seguem a mesma tendencia e tambem
aumento mais acentuado quando as convergem a partir de certo valor de
excentricidades são negativas, Figura 8. Pode ser excentricidade, Figura 10.
notado que conforme o desvio padrão vai Com a analise desses gráficos é possível notar
aumentando as três curvas, representando os três que, sem o efeito da excentricidade, a variação
cenários de coeficiente de variação do solo, do solo por si só tem um grande efeito na
tendem a seguir a mesma tendência e começam probabilidade de ruína, porém conforme a
a convergir mostrando a possibilidade de que a excentricidade aumenta o efeito da variabilidade
partir de certa excentricidade o efeito da variação do solo tende a diminuir.
do solo se torna insignificante para a
probabilidade de ruína.
O coeficiente de confiabilidade diminui
conforme a excentricidade aumenta e as três

Figura 6. Cargas nas estacas em relação a excentricidade (Excel). Fonte: autores, 2018

Figura 7. Aumento do desvio padrão das cargas solicitantes com a excentricidade. (EXCEL). Fonte: autores, 2018
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Figura 8. Aumento do desvio padrão da margem com a excentricidade e com o coeficiente de variação do solo. (EXCEL).
Fonte: autores, 2018.

Figura 9. Diminuição do coeficiente de confiabilidade (β) com a excentricidade e com o coeficiente de variação do solo.
(EXCEL). Fonte: autores, 2018.
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Figura 10. Aumento da probabilidade de ruína (pf) com a excentricidade e com o coeficiente de variação do solo.
(EXCEL). Fonte: autores, 2018.

6 CONCLUSÕES 7 REFERÊNCIAS

A partir da discussão sobre o tema foi possível Cintra, J. C. A.; Aoki, N. Fundações por estacas: projeto
observar que: geotécnico. São Paulo: Oficina de Textos, 2010, 96 p.

Oliveira, P.E.S. (2013) Análise de provas de carga e


 As excentricidades executivas influenciam confiabilidade para Edifício comercial na Região
diretamente sobre a redistribuição de Metropolitana do Recife. Dissertação de Mestrado.
cargas em um bloco de estacas, logo UFPE, Recife/PE.
influenciam diretamente sobre o desvio
Salgado, R.S. (2016). Análise estatística da excentricidade
padrão do mesmo e sobre a das estacas do tipo hélice contínua no Cabo de Santo
confiabilidade do sistema. Agostinho. Trabalho de Conclusão de Curso, UPE,
 Foi verificado que o efeito gerado pela Recife/PE.
execentricidade de aproximação é mais
Souto maior, J.S. (2017). Análise em fundações de estacas
acentuado do que a excentricidade de metálicas de seções variáveis na Região Metropolitana
afastamento. do Recife. Trabalho de Conclusão de Curso, UNICAP,
 Para valores altos de excentricidade a Recife/PE.
variabilidade do solo tende a influenciar
menos a confiabilidade e a probabilidade Paula filho, J.A.A. (2017). Acompanhamento de uma
fundação em estacas metálicas de seções variáveis em
de ruína do sistema. Recife. Trabalho de Conclusão de Curso, UNICAP,
Recife/PE.

Silvestre, G.U. (2018). Análise da influência da


excentricidade em uma obra de estacas mistas e
metálicas. Trabalho de Conclusão de Curso, UNICAP,
Recife/PE.
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Ensaio de Placa como Instrumento de Determinação da Tensão


Admissível dos Solos do Noroeste do Rio Grande do Sul
Alexia Cindy Wagner
Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
alexia-wagner@hotmail.com

Larissa Fernandes Sasso


Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
larisasso08@hotmail.com

Rosana Wendt Brauwers


Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
rosanabrauwers@gmail.com

Thalia Klein da Silva


Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
thalia_klein@hotmail.com

Fernanda Maria Jaskulski


Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
fernandaj18@hotmail.com

Professor Mestre Carlos Alberto Simões Pires Wayhs


Universidade Regional do Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, Brasil,
carlos.wayhs@unijui.edu.br

Professor Doutor Cesar Alberto Ruver


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil,
cesar.ruver@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho refere-se ao estudo da tensão admissível dos solos da região
noroeste do Rio Grande do Sul. O principal objetivo da pesquisa é identificar quais metodologias
teóricas e semi-empíricas disponíveis na mecânica dos solos melhor representam os solos da região
escolhida, aliando facilidade na obtenção de resultados com segurança ao se aproximar de valores
reais obtidos por meio de ensaios de campo. Dessa maneira, realizaram-se provas de carga com
placas de 30, 48 e 80 cm de diâmetro e ensaios SPT em seis cidades, sendo que a partir de seus
resultados aplicaram-se diferentes métodos para verificação da tensão admissível. Os métodos
indiretos que mais se aproximaram dos valores reais foram: Teixeira e Godoy (1998), Teng (1962),
Ruver (2005) pelo limite superior, Meyerhof (1965) e Peck (1974), enquanto outros apresentaram
resultados que impossibilitam sua aplicação para os solos em questão.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Placa, Tensão Admissível, Fundações Superficiais, Provas de


Carga.
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1 INTRODUÇÃO em campo com os valores alcançados de


maneira indireta, de métodos teóricos e semi-
Conforme Caputo (2015) a fundação refere-se empíricos, selecionando os que mais se
ao elemento estrutural responsável por transferir aproximam. Objetiva-se a obtenção de modelos
ao terreno as cargas derivadas da construção. convencionais que melhor caracterizam a
Paralelo a isso, os autores Cintra, Aoki e capacidade de carga de solos residuais do
Albiero (2003) afirmam que o terreno constitui noroeste gaúcho.
parte da fundação, onde seu comportamento
quando submetido a carregamentos espelha o
desempenho desta, logo, evidencia-se a 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
importância do conhecimento prévio do solo
destinado a execução de uma edificação. Este item apresenta os conceitos mais
De acordo com a NBR 6122 (2010), em importantes relacionados a tensão admissível,
fundações, a tensão admissível é a tensão ensaios de placa e ensaios SPT (teste de
aplicada ao solo que provoca apenas recalques penetração padrão).
que a construção pode suportar, oferecendo
segurança compatível. Uma vez que os solos 2.1 Tensão Admissível
são muito distintos entre si e respondem de
maneira variável, é fundamental que a A NBR 6122 (ABNT, 2010) define tensão
identificação geotécnica seja através de métodos admissível como valor máximo que pode ser
teóricos, prova de carga em placa ou métodos aplicado ao terreno atendendo as limitações de
semi-empíricos disponíveis. recalque e deformação da estrutura. Esse valor
Para Ruver (2005), em razão da praticidade, pode ser obtido por métodos teóricos, semi-
os métodos semi-empíricos e teóricos são mais empíricos ou através de prova de carga em
utilizados na estimativa da tensão admissível do placa.
solo. Isso acontece pois tais metodologias só
exigem o uso de ensaios SPT (Standard 2.2 Ensaio de Placa
Penetration Test) que segundo Quaresma et al.
(2016) é o ensaio de campo mais executado no De acordo com Quaresma et al. (2016), o ensaio
Brasil. No entanto, torna-se questionável a de carregamento em placa é considerado uma
veracidade de tais métodos quando aplicados à das formas mais confiáveis para determinação
solos residuais existentes na região noroeste do das características de deformação dos solos. Já
estado do Rio Grande do Sul, uma vez que estas Teixeira e Godoy (2016) afirmam que a prova
metodologias foram desenvolvidas em países de de carga sobre placa pode ser entendida como
solos sedimentares e características geológicas um ensaio que representa um modelo reduzido
díspares ao Brasil. de uma sapata. Ruver (2005) disserta que o
Nesse contexto, o presente trabalho visa ensaio se resume em utilizar placas de metal
apresentar parte de investigação integrante do para aplicação de diferentes carregamentos a
projeto de pesquisa institucional denominado de fim de aferir o comportamento carga-recalque
“Estudo da Capacidade de Carga e Recalque de do sistema solo-fundação. A NBR 6489
Solos Residuais do Noroeste do Rio Grande de regulamenta a execução de provas de carga em
Sul”, vinculado ao Grupo de Pesquisa em placa (ABNT, 1984).
Novos Materiais e Tecnologias para a
Construção. Concretiza-se a partir da realização 2.3 Ensaio SPT
de provas de carga direta, através de ensaios de
placa em diferentes cidades da região escolhida. Conforme Quaresma et al. (2016), o ensaio de
Compara-se os resultados obtidos dos ensaios sondagem SPT é um procedimento geotécnico
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de campo, capaz de amostrar o subsolo e medir Unijuí e no Loteamento Costa do Sol. A Figura
a resistência do solo ao longo da profundidade 1 apresenta a localização geográfica das cidades
perfurada. Segundo Ruver (2005), esse ensaio é escolhidas para estudo. Todos os solos foram
um método de análise do subsolo amplamente classificados como lateríticos argilosos pela
empregado atualmente, visto que fornece metodologia MCT (Miniatura Compactado
informações técnicas sobre o solo do local, além Tropical) proposta por Nogami e Villibor
de ser considerado um ensaio simples, (1981).
econômico e prático em comparação à outros
métodos disponíveis.
A execução desse ensaio segue os passos
regulamentados pela NBR 6484 (ABNT, 2001).
Devido à variações ocorrentes entre resultados
de SPT realizados em locais distintos, Ruver e
Consoli (2006) recomendam a aplicação da
média aritmética dos valores NSPT a uma
profundidade de duas vezes a menor dimensão
da base da fundação, sugerindo ainda, a
correção do valor do NSPT através da sua
multiplicação por 1,2, considerando a razão
Figura 1. Localização das cidades
entre a energia de cravação do SPT brasileira
(72%) e o padrão internacional (60%). A execução das provas de carga seguiu os
preceitos indicados pela NBR 6489 (ABNT,
1984). Foram empregadas placas de 30, 48 e 80
3 MATERIAIS E MÉTODOS cm de diâmetro para aplicação dos
carregamentos, sendo utilizadas
A pesquisa envolveu a realização de ensaios de retroescavadeiras hidráulicas como sistema de
campo e o presente trabalho relata a aplicação reação.
de metodologias de cálculo para obtenção da A montagem do equipamento está
tensão admissível de diferentes solos da região apresentada na Figura 2, contemplando relógios
estudada. Inicialmente realizou-se a escolha dos deflectômetros para monitoramento dos
locais para análise, seguida da execução de recalques, macaco hidráulico para controle da
provas de carga em placa e SPT em tais aplicação dos carregamentos, viga de referência
terrenos. Posteriormente, os dados obtidos em e hastes para suportes dos relógios, além da
campo foram analisados e comparados com
placa e do sistema de reação.
valores obtidos a partir de metodologias teóricas
e semi-empíricas usualmente aplicadas na
mecânica dos solos como forma de
determinação da capacidade de carga dos solos.

3.1 Ensaio de Placa

Os ensaios de placa foram realizados em seis


cidades da região noroeste do Rio Grande do
Sul, respectivamente Santa Rosa, Coronel
Barros, Cruz Alta, Palmeira das Missões, Ijuí e
Panambi. Na cidade de Ijuí os ensaios foram
executados em dois locais: no Campus da Figura 2. Placa de 48cm em Palmeira das Missões
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3.2 Ensaio SPT 3.3 Metodologias de Cálculo

Foram realizados ensaios SPT a no máximo 6 As metodologias de cálculo adotadas para


metros de distância dos locais em que foram obtenção das estimativas de tensão admissível
executados os ensaios de placa, nas seis cidades para os diferentes solos foram as seguintes:
previamente citadas. A realização seguiu as metodologia teórica de Terzaghi - detalhada em
recomendações da NBR 6484 (ABNT, 2001), Cintra, Aoki e Albiero (2014) - e metodologias
sendo que os procedimentos foram efetuados semi-empíricas de Ruver (2005) quanto aos
por empresas especializadas que forneceram os limites superior, médio e inferior; Teixeira e
respectivos relatórios de sondagem. Godoy (1998); Mello (1975 apud Cintra, Aoki e
Ruver e Consoli (2006) recomendam que Albiero, 2003); Bowles (1997); Meyerhof
para o dimensionamento de fundações (1956); Meyerhof (1965); Teng (1962); Parry
superficiais é necessário considerar a média dos (1977); Peck apresentada em Peck, Hanson e
valores de NSPT obtidos em campo, Thombum (1974) e Burland e Burbidge (1985).
considerando a profundidade de duas vezes a Maiores detalhes sobre as formulações e
menor dimensão da base da fundação. Tal respectivas metodologias podem ser consultadas
profundidade corresponde ao bulbo de tensões, em Kirschner (2017).
onde o terreno tem suas características
influenciadas significativamente por 90 % do
carregamento. Dessa maneira, como o 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
assentamento das placas foi realizado na
superfície do terreno, foram adotadas as médias Os ensaios realizados envolveram diferentes
dos valores de NSPT respectivamente para uma cidades combinadas com dimensões de placas
profundidade de 60 cm para a placa de 30 cm de alternadas para cada ensaio. Dessa maneira,
diâmetro, para uma profundidade de 96 cm para obteve-se um total de nove provas de carga
a placa de 48 e para a profundidade de 160 cm executadas sobre o terreno de fundação. Para
para a placa de 80. Os valores médios de NSPT simplificar e facilitar a interpretação dos
calculados conforme descrito e o diâmetro de resultados, cada ensaio foi referenciado por uma
placa para cada cidade estão apresentados na sigla conforme a Tabela 2, que indica o
Tabela 1. respectivo local e placa em uso.

Tabela 1. Valores de NSPT médios considerados Tabela 2. Siglas utilizadas para cada ensaio
Nmédios 2B Diâmetro da
Local Sigla
Local Placa Placa Placa Placa (cm)
30cm 48cm 80cm Cruz Alta 48 CA-N 48

Cruz Alta 12,45 10,58 8,89 Cruz Alta 30 CA-N 30

Palmeira das Missões 7,40 5,86 4,70 Palmeira das Missões 80 PM 80


Palmeira das Missões 48 PM 48
Ijuí – Campus 6,95 7,28 8,11
Coronel Barros 48 CB 48
Ijuí - Costa do Sol 8,00 8,00 8,15
Santa Rosa 48 SR 48
Coronel Barros 9,00 9,00 9,30
Ijuí – Campus 48 IJ-C 48
Santa Rosa 7,30 7,52 7,83
Ijuí – Costa do Sol 48 IJ-CS 48
Panambi 9,90 10,56 11,08 Panambi 30 PAN 30
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4.1 Prova de Carga em Placa Finalmente, a média obtida entre os dois


critérios pode ser visualizada na Figura 4,
O resultado de cada prova de carga realizada considerada como a tensão admissível real
é uma curva carga x recalque, que representa o adotada para cada ensaio realizado.
comportamento do solo frente às cargas
250
aplicadas. Para cada acréscimo de carregamento 230,25 222,50
209,00
efetuado sobre a placa resultará em recalque 200

Tensão Admissível (KPa)


180,25
respectivo ocorrendo no solo, devidamente
registrado pelos relógios deflectômetros. As 150 136,25142,50
nove curvas obtidas para cada ensaio realizado,
109,25
foram compiladas de forma gráfica e 100 85,50
apresentadas na Figura 3. 68,50

50

Ensaio realizado
Figura 4. Tensões admissíveis pelo ensaio de placa

4.2 Método Teórico

Depois da obtenção dos valores da tensão


admissível pelo ensaio de placas, é possível
compará-los com as metodologias teóricas e
semi-empíricas. O método teórico adotado neste
Figura 3. Curvas carga x recalque trabalho foi o de Terzaghi, amplamente
utilizado para dimensionamento de fundações
A partir da análise das curvas da Figura 3, superficiais.
retirou-se os valores necessários para obtenção A tensão admissível foi obtida a partir da
da tensão admissível de cada solo. Tal formulação proposta por Terzaghi (1943).
estimativa foi obtida a partir da média dos Como o como solo apresentou ruptura por
resultados de dois critérios largamente puncionamento em todos os locais foram
aplicados à engenharia de fundações: o de aplicados fatores de redução da resistência do
Alonso (2012) e o de Cudmani (1994). solo (c' e ϕ') conforme indicado pelo autor. Para
O método de Alonso adota para a tensão o cálculo da capacidade de carga, foi
admissível o menor de três valores: tensão de desconsiderada a sobrecarga do solo, pois a cota
ruptura dividida pelo fator de segurança; tensão do solo estudado é a superfície do local. Os
correspondente ao recalque de 25 mm dividido valores de coesão (c) e peso específico (γ)
pelo fator de segurança e tensão correspondente foram encontrados a partir do valor NSPT. A
ao recalque de 10 mm. Já Cudmani considera coesão foi adotada através do recomendado por
como tensão admissível a tensão Alonso (1983) e o peso específico por Godoy
correspondente ao recalque obtido da divisão do (1972 apud Cintra, Aoki e Albiero, 2014, p. 45).
diâmetro da placa em milímetros por 30, O ângulo de atrito interno (ϕ) adotado foi o
dividida pelo fator de segurança. Para ambos os menor valor gerado entre as equações de Godoy
métodos, o fator de segurança considerado foi (1983 apud Cintra, Aoki e Albiero, 2014, p.45)
igual a dois, conforme indicado para fundações e Teixeira (1996 apud Cintra, Aoki e Albiero,
superficiais pela NBR 6122 (ABNT, 2010).
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2014, p. 45), as quais também são baseadas nos da tensão admissível, atribuindo resistências
valores de NSPT. maiores do que as realmente foram constatadas
Foram aplicados os fatores de forma nos terrenos ensaiados, superestimando a
propostos por De Beer, que considera a resistência e subestimando as dimensões das
geometria da sapata e o ângulo de atrito interno fundações.
do solo, conforme apresentado em Cintra, Aoki
e Albiero (2014, p. 33). O fator de segurança 4.3 Métodos Semi-empíricos
adotado para obtenção da tensão admível foi
igual a 2, conforme indicado para fundações Além do método teórico foram aplicados doze
superficiais pela NBR 6122 (ABNT, 2010). métodos semi-empíricos para estimativa da
Os resultados alcançados após a realização tensão admissível dos solos estudados. Os
dos cálculos estão apresentados na Tabela 3, resultados obtidos após realização dos cálculos
acompanhados dos valores considerados como foram dispostos de forma gráfica para permitir
reais, por serem obtidos em campo, permitindo melhor comparação entre eles e com o valor
verificação de suas aproximações. obtido pelo ensaio de placa. A fim de facilitar a
Através da Tabela 3 percebe-se que a menor visualização, os nove ensaios foram divididos
variação encontrada foi de 32,60% para o em Figura 5, Figura 6 e Figura 7.
ensaio realizado em Ijuí - Campus com a placa

1625,86
de 48 cm, ao passo que a maior variação foi de 1800

104,16% para o ensaio realizado em Ijuí - Costa 1600

1179,60
do Sol com a placa de 48 cm. Ou seja, mesmo 1400
Tensão Admissível (KPa)

sendo solos da mesma cidade, um local 1200


909,99

1000
demonstrou melhor aplicabilidade para o
800
método de Terzaghi, enquanto o outro local foi 418,23
325,96
600

311,04
o que mais se afastou do valor obtido em
277,00

259,20
252,85
249,00
230,25
225,27
223,39

222,50

214,64
211,60
209,00

202,39
200,29

198,00
175,04
170,21

165,91
159,27
158,36
149,40

142,53
134,58
126,96

125,93
121,12

400

118,80

113,34
campo, sendo que o valor de tensão admissível 82,66
71,48

67,20

60,76
52,57

41,80
200
mais próximo foi respectivo ao solo IJ-C 48.
0
CA-N 48 CA-N 30 PAN 30
Tabela 3. Tensão admissível por Terzaghi Locais de realização de ensaios

Tensão Admissível 0 - Ensaio de Placa 1 - Meyerhof (1956)


2 - Meyerhof (1965) 3 - Teng (1962)
Ensaio (KPa) Variação 4 - Bowles (1997) 5 - Parry (1977)
6 - Burland e Burbidge (1985) 7 - Peck (1974)
8 - Ruver Médio (2005) 9 - Ruver Superior (2005)
Terzaghi Real 10 - Ruver Inferior (2005) 11 - Teixeira e Godoy (1998)
12 - Mello (1975)
CA-N 48 327,75 209,00 56,82% Figura 5. Comparação CA-N 48, CA-N 30 e PAN 30
CA-N 30 419,55 230,25 82,22%
615,29

700
564,24

PM 80
539,19

115,83 68,50 69,10%


600
PM 48 142,14 85,50 66,24%
Tensão Admissível (KPa)

500
CB 48 254,36 180,25 41,11% 400
SR 48 195,08 136,25 43,18%
209,45
196,89

300
190,60

182,84
174,23

169,81

160,00
152,06
150,40

145,60

143,10
142,50

IJ-C 48
138,79

137,98
136,25

135,53
132,15

128,70

188,96 142,50 32,60%


120,98

117,12

109,25

101,76

200
96,00
95,65

92,60

91,58
90,24

87,36
86,09

83,34

IJ-CS 48
54,05
50,81

49,18

223,04 109,25 104,16%


40,07
34,19

31,16

100
PAN 30 302,66 222,50 36,03% 0
SR 48 IJUÍ- C 48 IJUÍ -CS 48
Locais de realização de ensaios
Também é importante ressaltar que em todos Figura 6. Comparação SR 48, IJUÍ-C 48 e IJUÍ-CS 48
os casos o método de Terzaghi majorou o valor
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725,60
800 Tabela 5. Comparação métodos semi-empíricos
700 Tensão Admissível (KPa)
Método SR IJUÍ- C IJUÍ -CS
600 PAN 30
48 48 48
Tensão Admissível (KPa)

397,94
500 0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
400 1 -62,7% -65,5% -50,5% -81,2%

235,64
-11,2% -17,8% 17,8% -28,4%

200,00
198,97

180,25

180,00
179,70
300

154,59
153,43

144,79
142,07
122,95

122,23
1,9% -7,3% 39,2% 39,8%
117,20
3
116,70

114,48
112,74

108,00

103,03
94,27
93,92

92,89

200
85,50
75,55

74,54
70,32
68,50

67,09
44,5% 33,8% 91,7% 16,5%

60,80
59,73

4
56,35

53,76
52,88

51,47
43,31

39,59

11,94
100
5 -33,8% -38,7% -12,1% -46,6%
0 6 314,1% 278,4% 463,2% 430,2%
-5,22

PM 80 PM 48 CB 48
-100 7 -29,8% -35,0% -6,9% -43,4%
Locais de realização de ensaios 8 -36,8% -41,5% -16,2% -49,1%
Figura 7. Comparação PM 80, PM 48 e CB 48 9 1,3% -4,9% 31,0% -25,4%
10 -74,9% -78,1% -63,3% -72,7%
Por meio das figuras apresentadas é possível 11 10,4% 2,2% 46,5% -11,0%
verificar com clareza os métodos que mais se 12 27,9% 19,2% 67,4% -3,5%
aproximam ou mais se afastam do valor real. A
fim de selecionar os métodos que melhor Analisando os nove ensaios realizados no
representam o comportamento dos solos da presente trabalho, verificou-se que alguns
região noroeste, optou-se por considerar como métodos semi-empíricos se mostraram
aceitáveis os que tivessem uma variação aceitáveis para vários locais enquanto outros
máxima de 15%, em relação ao valor do ensaio não se aproximaram em nenhuma situação.
de placa. O método mais representativo entre os
A partir dos valores de tensão admissível estudados foi o de Teixeira e Godoy (1998),
obtidos para os diferentes métodos e locais, visto que se mostrou aceitável para 6 dos 9
calculou-se a variação em porcentagem de cada solos em análise, tendo uma aprovação de 67%,
método em relação à referência adotada, as além de que em 4 locais foi o método que mais
quais estão apresentadas nas Tabelas 4 e 5. Os se aproximou do valor real. Os outros métodos
métodos aceitáveis foram grifados em fundo considerados satisfatórios foram o de Teng
cinza e o método semi-empírico com o valor (1962) com aprovação para 56% dos locais,
mais próximo do real foi destacado em Ruver (2005) pelo limite superior e Meyerhof
vermelho para cada local. A numeração dos (1965) com aprovação de 44% e Peck (1974)
métodos segue a apresentada na Figura 5. com aprovação em 33% dos locais.
Os demais métodos não podem ser
Tabela 4. Comparação métodos semi-empíricos considerados representativos do comportamento
Tensão Admissível (KPa)
dos solos da região noroeste do Rio Grande do
Método CA-N CA-N PM PM CB
48 30 80 48 48 Sul, visto que se distanciaram muito dos valores
0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% esperados, não sendo aceitáveis pelo critério
1 -65,8% -77,2% -22,8% -116,0% -66,3% escolhido para o presente trabalho.
2 -18,6% -13,0% 10,3% 9,3% -19,7% A Figura 8 apresenta uma demonstração
3 6,9% 81,6% -36,8% 8,0% -0,3% gráfica dos métodos que melhor caracterizam os
4 32,5% 41,6% 79,5% 44,3% 30,7%
solos em estudo.
5 -39,3% -35,1% -17,7% -21,6% -40,1%
6 335,4% 606,1% 190,5% 78,5% 302,6%
7 -35,6% -31,2% -12,8% -14,7% -36,5%
8 -42,0% -38,1% -21,5% -27,4% -42,8%
9 -16,2% -12,1% 64,6% 30,0% -14,2%
10 -67,8% -64,1% -107,6% -615,8% -71,4%
11 1,2% 8,1% 37,1% 27,0% -0,1%
12 7,8% 9,8% 70,4% 39,8% 11,0%
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1 - Meyerhof (1956) 5 CONCLUSÃO


2 - Meyerhof (1965) 44%
3 - Teng (1962) 56%
4 - Bowles (1997) Finalizadas as comparações das metodologias
Metodologias

5 - Parry (1977) 11% teóricas e semi-empíricas selecionadas com os


6 - Burland e Burbidge (1985)
7 - Peck (1974) 33%
resultados do ensaio de placas, percebe-se que
8 - Ruver Médio (2005) muitas delas apresentaram valores muito
9 - Ruver Superior (2005) 44% distintos dos obtidos em campo, o que
10 - Ruver Inferior (2005)
11 - Teixeira e Godoy (1998) 67% demonstra uma diferença acentuada entre os
12 - Mello (1975) 44% solos da região em estudo com os estrangeiros,
0% 20% 40% 60% 80% visto que a maioria das metodologias usuais são
Aceitação da aplicação para os locais em estudo oriundas de outros países.
Figura 8. Métodos mais representativos dos locais Dessa maneira, o método semi-empírico que
apresentou valores de tensão admissível mais
4.4 Relação Tensão e NSPT semelhantes às tensões reais para a maioria dos
locais foi o de Teixeira e Godoy (1998),
Foi analisada uma possível relação direta entre a enquanto o mais distante foi o de Burland e
tensão admissível obtida pelo ensaio de placa e Burbidge (1985). Outro método que merece
o valor correspondente ao NSPT 60 considerado destaque foi o Ruver (2005) pelo limite
para cada solo. Verifica-se por meio da Tabela 6 superior, o qual foi desenvolvido considerando
que essa correlação variou de 11,38 kPa/golpe solos residuais do Rio Grande do Sul. No caso
para o solo IJ-CS 48 até 18,73 kPa/golpe para o dos solos regionais, o método de Ruver
solo PAN 30. tendendo ao limite superior ocorre
possivelmente pelo caráter lateríticos de todos
Tabela 6. Relação entre tensão admissível e NSPT os solos estudados.
σadm (KPa) Relação Quanto ao método teórico de Terzaghi, este
Local NSPT 60
Ensaio de Placa σadm/NSPT60
acabou superestimando os valores reais de todos
IJ -CS 48 109,25 9,60 11,38
os locais ensaiados, apresentando um resultado
PM 80 68,50 5,64 12,16
mais próximo para o solo de Ijuí na região do
PM 48 85,50 7,03 12,16 campus com a placa de 48 cm. Também se
SR 48 136,25 9,02 15,10 observou que a correlação entre tensão
CA-N 30 230,25 14,94 15,41 admissível e NSPT 60 foi em média 16 kPa/golpe
IJ- C 48 142,50 8,74 16,31 para os solos com tensão admissível maiores e
CA-N 48 209,00 12,70 16,46 em média 12 kPa/golpe para os solos de menor
CB 48 180,25 10,80 16,69 tensão admissível, com valor médio de 15
PAN 30 222,50 11,88 18,73 kPa/golpe.
Conclui-se que a presente pesquisa pode
Por fim, de acordo com os resultados da auxiliar um melhor entendimento do
Tabela 6, calculando a média aritmética dos comportamento dos solos residuais lateríticos,
nove solos estudados chega-se ao valor de 14,93 fato de grande importância para a engenharia de
kPa/golpe. Pode-se afirmar que em termos fundações, visto que aponta os métodos mais
médios, com base nestes resultados, que a eficientes e seguros para determinação a tensão
tensão admissível tende para 15 kPa/golpe no admissível e dimensionamento adequado dos
ensaio SPT, considerando o NSPT do bulbo de elementos de fundação. A pesquisa tende a
tensões pelo critério apresentado no final do expandir, através do estudo de diferentes
item 3.2. cidades da região, a fim de aumentar o banco de
dados existente e comprovar as conclusões
obtidas até então. Considera-se que os ensaios
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de campo, apesar de dispendiosos, ainda se Cudmani, R. O. (1994) Estudo do comportamento de


mostram como uma alternativa indispensável sapatas assentes em solos residuais parcialmente
saturados através de ensaios de placa. 150 p.
para o correto reconhecimento do solo e análise Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Escola de
de seu comportamento. Engenharia, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre – RS.
AGRADECIMENTOS Kirschner, F. F. (2017) Estudo do comportamento de
carga e recalque de solos residuais lateríticos
argilosos, naturais e estabilizados, visando uso em
Agradecemos ao MEC-SESu pelas bolsas e por fundações superficiais. Dissertação de graduação em
nos permitir participar do Programa de Engenharia Civil: Universidade Regional do Noroeste
Educação Tutorial (PET) da Engenharia Civil; do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí RS, 123 p.
ao Laboratório de Engenharia Civil (LEC) da Meyerhof, G. G. (1956) Penetration tests and bearing
capacity of cohesionless soils. Journal of the Soil
Unijuí por disponibilizar materiais e Mechanics Division, ASCE, Vol. 82, SM1, p. 1-12.
equipamentos necessários à execução dos Meyerhof, G.G. (1965) Shallow foundations. Journal of
ensaios; às empresas que executaram os ensaios the Soil Mechanics and Foundation Division, ASCE,
SPT e forneceram os relatórios de sondagem, e Vol. 91. No. SM2, p. 21-31.
Nogami, J. S. e Villibor, D. F. (1981) Uma nova
à todas as empresas que disponibilizaram as
classificação de solos para finalidades rodoviárias.
retroescavadeiras para serem utilizadas como In: Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em
sistema de reação nas provas de carga em placa Engenharia. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
realizadas. UFRJ, p. 30-41.
Parry, R.H.G. (1977) Estimating bearing capacity in
sand from SPT values. Journal of the Geotechnical
Engineering Division, ASCE, Vol. 103, No. GT9, p.
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Peck, R.B.; Hanson, W.E. e Thombum, T.H. (1974)
Alonso, U. R. (1983) Exercícios de fundações. 2. Ed. São Foundation engineering. John Wiley & Sons, N.Y.
Paulo: Blucher, 204 p Quaresma, A. R. et al. (2016) Investigações Geotécnicas.
Alonso, U. R. (2012) Exercícios de fundações. 2. Ed. São In: FALCONI, Frederico (Org.) et al. Fundações:
Paulo: Blucher, 204 p. teoria e prática. 3. Ed. São Paulo: Pini, p. 121-166.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984) NBR Ruver, C. A.; Consoli, N. C. (2006) Tensão admissível de
6489: Prova e carga direta sobre terreno de fundações superficiais assentes em solos residuais
fundação. Rio de Janeiro. determinada a partir de ensaios SPT. In. GEOSUL.
______. (2001) NBR 6484: Solo - Sondagens de simples 2006, [S.l]. Anais...
reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de Ruver, C. A. (2005) Determinação do comportamento
Janeiro. carga-recalque de sapatas em solos residuais a partir
______. (2010) NBR 6122: Projeto e execução de de ensaios SPT. Dissertação (mestrado) –
fundações. Rio de Janeiro. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola
Bowles, J. E. (1997) Foundation analysis and design. 5. de Engenharia. Programa de Pós-Graduação em
Ed. Singapura: McGraw-Hill Book Co, 1175 p. Engenharia Civil. Porto Alegre, BR-RS, 182 p.
Burland, J.B. e Burbidge, M.C. (1985) Settlement of Teixeira, A. H. e Godoy, N. S. (1998) Análise, projeto e
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Institute of Civil Engineers, Part 1, Vol. 78, p. 1325- (Org). et al. Fundações: teoria e prática. 2. Ed. São
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Caputo, H. P. (2015) Mecânica dos solos e suas Teixeira, A. H. e Godoy, N. S. (2016) Análise, projeto e
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de terra, 2 v. 7 ed., Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Frederico (Org.) et al. Fundações: teoria e prática. 3.
Científicos, 560 p. Ed. São Paulo: Pini, p. 225-262.
Cintra, J. C. A.; Aoki, N. e Albiero, J. H. (2003) Tensão Teng, W. C. (1962) Foundation design, Prentice-Hall,
admissível em fundações diretas, São Carlos: RiMa, Inc., Englewood Cliffs, N.Y.
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Cintra, J. C. A.; Aoki, N. e Albiero, J. H. (2014) York. John Wiley & Sons, Inc.
Fundações diretas: projeto geotécnico. 2 ed. São
Paulo: Oficina de textos, 140 p.
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Estacas de Reforço em Solo-Cimento como Forma de Viabilizar o


Uso de Sapatas em Solo Residual Mole
Thays Car Feliciano de Oliveira
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Foz do Iguaçu, Brasil,
thayscarf@gmail.com

Bianca Gabriel dos Santos Dezen


UNILA, Foz do Iguaçu, Brasil, biancadezen@gmail.com

Isabela de Oliveira Antonio


UNILA, Foz do Iguaçu, Brasil, isabelaoliveira10@gmail.com

Renata Rauber Dahmer


UNILA, Foz do Iguaçu, Brasil, renata.dahmer@gmail.com

Julio César Bizarreta Ortega


UNILA, Foz do Iguaçu, Brasil, julio.ortega@unila.edu.br

RESUMO: A utilização de fundações rasas em solos residuais moles muitas vezes é considerada
inexequível, no entanto a opção por fundações profundas (e.g. estacas) encarece a obra e não é
viável para pequenas construções. Assim, propôs-se no presente trabalho uma alternativa de reforço
para solos residuais moles visando viabilizar o uso de sapatas, sendo esta alternativa correspondente
ao emprego de estacas de solo-cimento compactadas na base das sapatas. O objetivo do trabalho foi
estudar a viabilidade técnica e econômica de tal proposta. Para isso foram realizados ensaios de
resistência à compressão e módulo de elasticidade dinâmico em corpos de prova de solo-cimento
nos teores de adição de 0%, 3%, 6% e 9%. Subsequentemente, obteve-se a carga de catálogo das
estacas de reforço, para realização de dimensionamento adotando-se pequena residência, em que se
comparou o sistema de fundações convencional (somente sapatas) com a aplicação do sistema
proposto (estacas de solo-cimento na base das sapatas). Os resultados apontam para a viabilidade
técnica e econômica da alternativa estudada. Observou-se que quanto maior o teor de cimento,
maior a resistência das estacas, o que refletiu também nas análises de viabilidade, uma vez que
diante da aplicação de estacas solo-cimento de reforço com 9% de adição, estas propiciaram uma
redução de até 45,9% na área das sapatas e, economia de até 14,7% dos custos totais, sendo estes os
melhores resultados obtidos, entre os demais teores estudados.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cimento, Reforço, Sapatas, Fundações.

1 INTRODUÇÃO transportados e, portanto, permanecem em seu


local de origem (BLIGHT & LEONG, 2012).
Solos residuais são solos derivados dos Os solos residuais, muitas vezes, apresentam
processos de decomposição e intemperismo de valores de SPT menores a 5, classificando-os
rochas, ou fragmentos de rochas, que não foram como moles, segundo a NBR 6484
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(ABNT, 2001). Neste artigo, estes solos serão grelhas, etc. (CASAGRANDE, 2001). Neste
denominados residuais moles. No contexto trabalho, a técnica abordada trata-se da mistura
brasileiro, muitos autores apresentam resultados entre as soluções de compactação e de
de SPT baixos para os solos de diversas regiões, estabilização do solo por meio de agentes
como por exemplo Conciani et al. (2015) para a cimentantes, no caso, o cimento, as quais serão
cidade de Pederneiras (SP), e Boszczowski e detalhadas a seguir.
Ligocki (2012) para a Cidade de Curitiba (PR). A combinação de solo com cimento é
Na região compreendida pelo estudo, Foz do considerada uma forma de estabilização que
Iguaçu, no oeste do Paraná, a presença deste trabalha de maneira similar ao concreto, no
tipo de solo é marcada por este se encontrar no entanto, diferencia-se pela forma com que as
estado não saturado. Um exemplo disto é o partículas de cimento se aglomeram, i.e., estas
relatório de sondagens do tipo SPT apresentado são envolvidas pelos grãos de solos finos
por DSOARES (2015), na área compreendida resultando em ligações menos resistentes
pela nova moradia estudantil da Universidade quando comparadas às do concreto
Federal da Integração Latino-Americana (VENDRUSCULO, 1996). De acordo com a
(UNILA), que reporta a presenta de solos NBR 12253 (ABNT, 2012), o solo-cimento é
residuais moles na região. definido como o produto endurecido resultante
No entanto, quando se trata de fundações em da cura de uma mistura íntima compactada de
solos moles, algumas soluções são admitidas, solo, cimento e água, em proporções
como por exemplo: a adoção de fundações estabelecidas através da dosagem.
profundas, a retirada e substituição do substrato Neste contexto, a presente pesquisa visa
mole por outro de melhor capacidade, ou então avaliar o melhoramento do solo residual mole
tratamentos físico-químicos das propriedades de origem basáltica da região de Foz do Iguaçu
geotécnicas do solo existente. No caso da (Brasil) por meio de estacas de solo-cimento
moradia da UNILA, esta trata-se de uma obra compactado (SCC), aplicadas na base de
de médio porte, tendo seus pilares com carga sapatas, a fim de viabilizar o emprego de tais
máxima na ordem de 79 toneladas e, a solução fundações e/ou reduzir a dimensão das mesmas,
adotada para suas fundações foi o emprego de em obras de baixo porte (menores a 24
estacas pré-moldadas de concreto armado (um toneladas).
tipo de fundação profunda), até atingirem Cabe ainda ressaltar que alternativas
camadas de maior capacidade. No entanto, semelhantes de fundações mistas já foram
quando se trata de obras de pequeno porte, nem adotadas na literatura brasileira. Velloso e
sempre fundações profundas são viáveis dos Lopes (1998) e Décourt (1998), por exemplo,
pontos de vista técnico e econômico apresentam estacas T (estacas ligadas a sapatas),
(VENDRUSCOLO, 1996); nem a retirada do estapatas (estacas abaixo de sapatas), radier
substrato por completo, uma vez que tais sobre estacas, etc. Já Suwidan (2012) propõe
camadas podem atingir grandes profundidades. reforços de solos moles com colunas de areia e
Portanto, uma das melhores alternativas para Félix (2012) comenta que, desde 2007, diversas
fundações de pequenas construções acaba se obras brasileiras se utilizam de reforços de solo
tornando o tratamento do solo afim de adequá- por meio de colunas de brita. Portanto, a
lo para o uso de fundações rasas. alternativa proposta pelo presente trabalho
Atualmente, alguns tratamentos são também se trata de uma nova alternativa para a
utilizados, como por exemplo: compactação, melhoria de fundações em solos problemáticos.
consolidação por pré-carregamento ou drenos
verticais, injeção de materiais estabilizantes
(processos físico-químicos) ou reforço com
inclusão de elementos como geotêxteis, fibras,
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2 METODOLOGIA caracterização do solo, conforme segue: limite de


liquidez (LL), NBR 6459 (ABNT, 2016); limite de
Para o estudo do sistema proposto, reforço de plasticidade (LP), NBR 7180 (ABNT, 2016); e,
estacas de solo-cimento compactado, a ideia ensaio de compactação, para determinação do teor
principal foi determinar o alívio proporcionado de umidade ótimo (Wot) e massa específica seca
por tal sistema às sapatas, refletindo assim na máxima (d) do solo, NBR 7182 (ABNT, 2016). O
redução da área de contato destas com o solo ensaio granulométrico foi realizado apenas por
(i.e., suas dimensões reduzem), o que peneiramento, com caráter de caracterização
possibilitaria aplicação deste tipo de fundação preliminar, no qual 76% da amostra passou pela
em locais de solo residual mole. peneira #200 (0,075 mm). Os dados obtidos são
Para tanto, inicialmente caracterizou-se o apresentados na Tabela 1 e indicam que a amostra
solo do local de estudo (Laboratório de se classifica como CL, argila de baixa
Tecnologia do Concreto da Itaipu, LTCI, em plasticidade, segundo o Sistema Unificado de
Foz do Iguaçu, PR) para verificar se o solo se Classificação de Solos (SUCS).
encaixaria no escopo da pesquisa (seção 2.1).
Após esta verificação, foram moldados corpos Tabela 1. Dados de caracterização do solo utilizado.
de prova de solo puro compactado e solo- LL LP IP Wot (%) d (kg/m³)
cimento compactado nos teores de 3%, 6% e 46,0 20, 3 25,7 23,0 1610,0
9% de adição para determinação da capacidade IP: índice de plasticidade
de carga e, consequentemente, da carga de
catálogo das estacas propostas (seção 2.3). Com Ademais, dados do boletim de sondagem SPT
tais resultados determinou-se o alívio próximo ao LTCI, disponibilizados para a
proporcionado às sapatas e sua consequente pesquisa, indicaram que o solo estudado
redução de área. corresponde a uma argila siltosa avermelhada
Por fim, também se realizou uma análise mole no estado não saturado (Figura 1).
simplificada da viabilidade econômica do
sistema (seção 2.4).

2.1 Caracterização do solo e misturas solo-


cimento

Para este trabalho utilizou-se o solo das


proximidades do Laboratório de Tecnologia de
Concreto de Itaipu (LTCI), em Foz do Iguaçu
(PR). Todo o procedimento de coleta e
caracterização foi realizado conforme preconizado
pelas normativas brasileiras. Para sua extração
removeu-se capa vegetal, em seguida, após a
obtenção de todo o material necessário, este foi
disposto em lonas para secagem ao ar até umidade
higroscópica e posterior destorroamento,
conforme indicado pela NBR 6457 (ABNT,
2016). Também se determinou a umidade natural
do material para controles experimentais (etapa de
moldagem dos corpos de prova (CPs) de solo-
cimento a ser descrita na seção 2.2).
Figura 1. Perfil de sondagem tipo utilizado no
Procedeu-se então com os ensaios de
desenvolvimento deste trabalho.
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Desta forma, a partir dos dados de Para a moldagem dos CPs realizou-se mistura
caracterização e do perfil apresentado (Figura 1) do solo, da água (até que solo atingisse sua
pode-se notar que o material realmente se umidade ótima) e do cimento CPV-ARI (nos
enquadra no escopo do trabalho. teores 0%, 3%, 6% e 9%) em betoneira e o
As misturas de solo-cimento, por sua vez, processo de compactação dos CPs foi realizado
foram apenas caracterizadas quanto à sua umidade manualmente, em três camadas com 26 golpes
ótima, parâmetro este de interesse para montagem cada, com auxílio de haste metálica de base
do sistema no ato da compactação. Para isto, alargada (Figura 2A). Após moldagem, os CPs
optou-se pela utilização de um método empírico foram envolvidos por película plástica, para
de determinação de umidade, devido a conservar a sua umidade (Figura 2B).
dificuldades práticas do ensaio normatizado.
Este método consiste, basicamente, em ir (A) (B)
adicionando pouco a pouco água à mistura e
testando a resistência do solo à compressão
manualmente, até que o mesmo ganhe resistência
máxima, observada entre uma adição e outra de
água. O ponto ótimo de umidade é obtido,
portanto, a partir da amostra anterior ao
amolecimento do solo depois de se adicionar mais Figura 2. Moldagem dos CPs. (A) Haste metálica de base
água à mistura, ou seja, observado após a perda de alargada utilizada para compactação. (B) CPs envolvidos por
resistência do material ao ser elevada a umidade película plástica.
do mesmo. A partir da amostra de resistência
máxima reservada, o material é levado à estufa e Os ensaios de resistência mecânica foram
então determina-se sua umidade de acordo com a realizados aos 7, 14 e 21 dias, devido ao
NBR 6457 (ABNT, 2016) e tal valor é, portanto, comportamento intrínseco do cimento, do
considerado como a umidade ótima daquela aumento de resistência ao longo do tempo (até
mistura. estabilizar-se, aproximadamente, aos 28 dias).
Os dados obtidos são apresentados a seguir Para ruptura, os CPs foram capeados com
(Tabela 2). neoprene.

Tabela 2. Teor de umidade ótimo, para as misturas de 2.3 Cálculo da capacidade de carga das estacas
solo-cimento. e do alívio para as sapatas
Teor de cimento
3% 6% 9%
Para determinação da capacidade de carga com
Wot (%) 24,0 25,0 26,0
os dados de resistência à compressão das
estacas e de módulo de elasticidade (obtidos
2.2 Ensaios realizados
conforme descrito anteriormente), adotou-se o
método de Aoki-Velloso (CINTRA & AOKI,
Para determinação da capacidade de carga e
2010). Os fatores requeridos para a aplicação
carga de catálogo das estacas (solo puro e solo
das formulações do referido método foram
cimento 3%, 6% e 9%), a abordagem adotada foi a
considerados os mesmos de uma estaca
moldagem de corpos de prova cilíndricos 10x20
escavada e, para posterior determinação da
cm das referidas misturas para ensaio de
carga de catálogo, adotou-se um fator de
resistência mecânica em prensa hidráulica, bem
segurança (FS) de 3,0, devido aos possíveis
como de módulo de elasticidade dinâmico, por
erros experimentais implicados na metodologia
técnica não destrutiva, com o equipamento
deste trabalho. Tal FS corresponde ao valor
Sonelastic IED, que opera de acordo com a ASTM
máximo sugerido pela NBR 6122 (ABNT,
E1876 (ASTM, 2015).
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2010) para projetos geotécnicos superficiais. da estaca até extremidade externa do bloco (no
Por fim, para verificação do alívio provido às caso deste trabalho, da sapata) deve ser de no
sapatas no dimensionamento das fundações mínimo 1, sendo “” o diâmetro da estaca.
diante da aplicação de tal sistema, adotou-se um Desta forma, para os pilares de até 140 kN,
projeto estrutural de pequena residência, em que onde foram adotadas estacas de 10 cm, as
as cargas dos 17 pilares descarregadas nas dimensões mínimas possíveis para as sapatas
fundações variaram de 41 kN a 236 kN. foram de 0,6 m x 0,6 m, coincidindo com as
Nesse dimensionamento considerou-se a dimensões mínimas permitidas para sapatas
base da sapata apoiada na cota -1,0 m (ver perfil pela NBR 6122 (ABNT, 2010). E, para os
de sondagem da Figura 1, NSPT=4) e a tensão pilares com carregamento superior a 140 kN,
admissível adotada foi obtida empiricamente da cujo diâmetro das estacas de reforço foi de
formulação de Mello (1975) citado por Cintra et 20 cm, a dimensão mínima permitida para as
al. (2011), válida para 4  NSPT  16, e sapatas foi de 1,0 m x 1,0 m, no
corresponde a 100 KPa. dimensionamento.

2.4 Viabilidade econômica


(1)
Em relação ao cálculo orçamentário básico da
Após dimensionamento padrão (sem fundação padrão e da fundação empregando o
inserção do sistema de tratamento proposto), sistema de melhoramento proposto, foi utilizado
foram realizados outros quatro o banco de dados de insumos do SINAPI,
dimensionamentos, para os casos das estacas considerando composições ativas e analíticas
solo-cimento 0%, 3%, 6% e 9%. Em cada um com custo (referência 05/2018).
destes casos, foram utilizadas quatro estacas na Para as sapatas, a composição de custos foi
base de cada sapata, sendo que o alívio de carga obtida diretamente das tabelas do SINAPI e,
gerado pelo sistema corresponde à soma da para a parte de escavação das estacas e mistura
carga de catálogo dessas quatro estacas e compactação do solo-cimento foi realizada
posicionadas abaixo da respectiva sapata. Ou uma composição aproximada, a partir dos
seja, subtraiu-se da carga inicial do pilar, o serviços especificados nestas mesmas tabelas,
alívio de carga calculado, diminuindo assim o cujos quais estão detalhados a seguir:
valor de carregamento utilizado no • Para a escavação foram adotados os
dimensionamento das sapatas diante da valores para estacas brocas de concreto,
aplicação do sistema proposto. com diâmetro de 20 cm e profundidade de
Nos cálculos, para cada teor de adição de até 3 m, com escavação manual com trado
cimento, variou-se a profundidade da ponta da concha;
estaca de 1,0 a 2,0 metros, i.e., estacas apoiadas • Para a mistura do solo-cimento também
em -2,0 m e -3,0 m (ver perfil, Figura 1), foram adotados os valores para estacas
respectivamente. O diâmetro adotado para estes brocas de concreto, considerados análogos
elementos foi de 10 cm nas sapatas cujos pilares ao custo para preparo de concreto em
descarregavam até 140 kN e 20 cm para as betoneira, porém sendo descontadas as
sapatas com pilares de carga acima de 140 kN. parcelas de corte e dobra de aço e
Ademais, para viabilizar o procedimento materiais constituintes do concreto. Ou
executivo da proposta deste trabalho, adotou-se seja, apenas utilizaram-se os valores de
o critério de Rebello (2008) para o espaçamento mão-de-obra;
mínimo entre as estacas de reforço. Tal critério • Para a compactação considerou-se o item
indica que a distância mínima entre eixo das de reaterro manual apiloado com soquete.
estacas deve ser de 3 e a distância entre o eixo
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO dias (σ21), de forma a evidenciar relação entre


os resultados.
3.1 Análise do cimento como reforço do solo Durante as medições de Ed, o equipamento
também forneceu valores para massa específica
Os resultados iniciais obtidos, de resistência à natural (). Conhecendo-se os valores de teor de
compressão e módulo de elasticidade indicam umidade (w) e da massa específica relativa dos
que a adição de cimento ao solo aumenta a grãos (Gs), foi possível obter a massa específica
resistência do material, pois maiores tensões são seca (d), índice de vazios (e) e grau de
requeridas para sua ruptura. Além disso, a saturação (S) para as amostras estudadas,
incorporação de cimento ao solo também o também constantes na Tabela 3.
torna mais rígido, uma vez que seu módulo de
elasticidade aumenta. Tais observações estão de Tabela 3. Parâmetros de caracterização das misturas
acordo com Kolling et al. (2012). estudadas.
Na Figura 3 observa-se gráfico com as Teor de cimento
0% 3% 6% 9%
tensões de ruptura dos diferentes teores de solo-
Ed (GPa) 0,13 0,64 3,14 4,20
cimento estudados. Aos 14 dias, por exemplo, σ21 (MPa) 108 319 866 1664
os CPs com 3% de cimento apresentaram  (kg/m³) 1940,0 1990,0 1920,0 1900,0
resistência 3 vezes maiores que os CPs sem Gs 2,80 2,81 2,82 2,83
adição de cimento. A aplicação dos teores de w (%) 24,22 23,00 24,70 23,64
6% e 9%, por sua vez, acarretaram em aumento d (kg/m³) 1560,0 1620,0 1540,0 1540,0
de 10 e 16 vezes, respectivamente, na e 0,79 0,74 0,83 0,84
resistência, em comparação ao solo apenas S (%) 85,53 87,70 83,75 79,49
compactado.
Da Tabela 3 nota-se uma pequena
diminuição na massa específica das amostras,
bem como um aumento do índice de vazios. De
acordo com Faro (2014) isto ocorre devido ao
fenômeno de floculação proporcionado pela
adição do cimento ao solo.
Em relação ao módulo e a resistência à
compressão das misturas, nota-se que estas
possuem uma relação, sendo esta não linear
(Figura 4), o que corrobora com Silva e
Campitelli (2008). À medida que aumenta a
resistência, Ed também aumenta, sendo este
incremento mais acentuado entre os teores de
Figura 3. Resistência à compressão dos CPs aos 7, 14 e
3% e 6% de adição de cimento ao solo.
21 dias, para os diferentes teores de solo-cimento.

Ademais, conforme esperado, também se


observou o aumento da resistência no decorrer
do tempo, para as misturas com adição de
cimento (KOLLING et al, 2012).
Em relação ao módulo de elasticidade (Ed),
os resultados podem ser observados na
Tabela 3. Tais resultados são apresentados em
conjunto com a resistência à compressão aos 21
Figura 4. Relação entre o módulo de elasticidade e
resistência à compressão.
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3.2 Carga de catálogo

Inicialmente, para determinação da carga de


catálogo das estacas de SSC, foram calculadas
as cargas de ruptura, por meio das tensões
apresentadas na Figura 3 e supondo diferentes
diâmetros para as estacas, conforme
apresentado na Tabela 4.

Tabela 4. Cargas de ruptura* (em kN) considerando


diferentes diâmetros para as estacas compactadas.
Teor de Diâmetro (m) Figura 5. Carga de catálogo em função da porcentagem
cimento 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 de cimento, para diferentes diâmetros de estacas.
0% 0,85 3,38 761 13,52 21,13
3% 2,41 9,64 21,69 38,57 60,26 Tais resultados estão de acordo com a
6% 8,03 32,12 72,27 128,48 200,75 literatura, em que Sales (1998) afirma que a
9% 13,69 54,76 123,21 219,04 342,25 resistência de misturas solo-cimento varia
*Para estes cálculos consideraram-se as tensões de linearmente no intervalo de teores de 4% a
ruptura aos 14 dias, uma vez que a resistência não variou
significativamente para os 21 dias.
13%. Neste caso, por exemplo, com os
resultados da pesquisa se poderia estimar as
A partir dos resultados da Tabela 4 e cargas de catálogo para estacas solo-cimento
adotando-se um fator de segurança de 3,0 com teor de 12% (Tabela 6).
também foram calculadas as cargas de catálogo Tabela 6. Estimativa das cargas de catálogo (em kN) para
para cada um dos casos (Tabela 5). estacas solo-cimento compactadas com teor de 12%.
Teor de Diâmetro (m)
Tabela 5. Cargas de catálogo (em kN) considerando cimento 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
diferentes diâmetros para as estacas compactadas. 12% 6,44 25,76 57,97 105,03 161,03
Teor de Diâmetro (m)
cimento 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
0% 0,28 1,13 2,54 4,51 7,04 Outros trabalhos encontrados (FOPPA,
3% 0,80 3,21 7,23 12,86 20,09 2005) também indicam que a resistência à
6% 2,68 10,71 24,09 42,83 66,92 compressão do solo-cimento aumenta
9% 4,56 18,25 41,07 73,01 114,08 linearmente com o teor de cimento. Este autor,
em específico, estudou solos constituídos por
Observa-se que os valores obtidos são areia fina siltosa.
menores que os valores tabelados para estacas Por fim, após essas análises, os resultados
tradicionalmente adotadas, onde se tem para obtidos foram aplicados num dimensionamento
uma estaca de concreto pré-moldada de 22 cm de sapatas para um sobrado residencial,
de diâmetro, por exemplo, uma carga de considerando características do solo do local de
catálogo de 400 kN. Porém ressalta-se que a construção análogas ao local de extração do
alternativa estudada se trata de um sistema de solo utilizado neste estudo.
reforço de fundações rasas. A seguir, apenas apresentam-se detalhes para
Analisando-se os resultados de carga de alguns pilares selecionados estrategicamente,
catálogo mais detalhadamente observa-se uma i.e., os de maior e de menor carga e um de valor
tendência linear em função do teor de cimento intermediário. Na Tabela 7 mostram-se os
(Figura 5). resultados de área requerida para sapatas sem
nenhum tratamento no solo e, qual seria a área
caso a mesma sapata fosse combinada com
quatro estacas de reforço em sua base. Foram
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simuladas as possibilidades de estacas de 1,0 m sapatas, conforme os critérios executivos


e de 2,0 m de profundidade, para cálculo da adotados para o presente trabalho, de Rebello
capacidade de carga das estacas, adotando-se o (2008). Tais valores são de 0,60 m x 0,6 m no
menor valor entre capacidade de carga e carga caso das estacas de diâmetro de 10 cm (i.e.,
de catálogo. O diâmetro adotado para as estacas cargas inferiores a 140 kN) e 1,0 m x 1,0 m para
de SSC deste projeto em específico foi de as estacas com diâmetro de 20 cm (i.e., cargas
20 cm para as sapatas cujos carregamentos eram superiores a 140 kN). Tal feito melhora o
superiores à 140 kN e 10 cm para os casos de procedimento de execução das sapatas e evita
carregamento inferior a este valor, conforme já problemáticas de sapatas sendo executadas
ressaltado na metodologia. muito próximas, o que não é desejável, por
exemplo.
Tabela 7. Área das sapatas (em m²) em solo sem e com
sistema de estacas de reforço de SSC.
Profundidade das estacas 1,0 m
3.3 Viabilidade econômica
Carga do Sem 0% 3% 6% 9%
pilar (kN) estacas Para confirmar se realmente seria viável aplicar
41 0,45 0,45 0,45 0,42 0,36 tal solução em projetos de fundações em solos
166 1,81 1,74 1,68 1,43 1,15 residuais moles, foram estimados os custos de
236 2,55 2,55 2,39 2,24 1,81 fundações sem o sistema de reforço e, com o
Profundidade das estacas 2,0 m
41 0,45 0,45 0,45 0,42 0,36
reforço nos diferentes teores de cimento
166 1,81 1,74 1,68 1,31 1,00 estudados. Aplicando as premissas apresentadas
236 2,55 2,55 2,39 2,09 1,37 na metodologia, obteve-se como custo total da
Obs.: A profundidade de fundação das sapatas foi fundação do sobrado residencial analisado, para
considerada na cota -1,0 (ver perfil da Figura 1). o projeto padrão (sem tratamento do solo com
as estacas de SCC) o valor de R$ 21722,33.
Da Tabela 7 observa-se que para adições de Na Tabela 8 são apresentados os custos para
cimento de até 3% não houve redução na área execução da fundação com as estacas de SCC,
da sapata. Porém, considerando outras sapatas nos diferentes teores de cimento estudados.
não evidenciadas na referida tabela, a redução
média de área foi de 5,8% tanto no caso das Tabela 8. Custos (materiais mais execução) da fundação
estacas de 1,0 m como nas de 2,0 m. Os com emprego das estacas de SCC.
Profundidade das estacas 1,0 m
resultados passam a ser mais notáveis diante da
0% (R$) 3% (R$) 6% (R$) 9% (R$)
adição de 6% de cimento, em que se atingiu 22049,25 21811,53 21003,68 19244,22
redução na área das sapatas, considerando Profundidade das estacas 2,0 m
projeto como um todo, de 13,9% com o uso de 22775,05 22537,32 21315,16 18530,07
estacas de 1,0 m e 17,4% com estacas de 2,0 m.
No entanto os melhores resultados foram Assim, nota-se que apenas para teores de
obtidos para o maior teor aplicado (9%), adição de cimento acima de 6%, o sistema
conforme de fato esperava-se, devido à sua possui redução de custos, sendo a economia
maior resistência. Para este último caso, a máxima para este teor de adição de cimento, de
redução na área das sapatas variou de 32,6% a 3,3%. Os melhores resultados foram obtidos
45,9% entre as estacas de 1,0 m e de 2,0 m, para o teor de 9% de cimento, sendo a redução
respectivamente. nos custos de 14,7%, o que aponta para a
Tais observações sugerem a viabilidade possível viabilidade econômica do sistema,
técnica da aplicação deste sistema, uma vez que associada à viabilidade técnica.
para diversos dos pilares (incluindo resultados
não evidenciados na Tabela 7), foram atingidas
as dimensões mínimas permissíveis para as
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS atingir economia de 14,7%.


• Ressalta-se que este trabalho apresenta
Com o desenvolvimento deste trabalho, propôs- um panorama geral do sistema proposto e,
se uma alternativa de tratamento para solos para sua real aplicação, seriam necessárias
residuais moles que possibilita a utilização de análises mais aprofundadas, como por
fundações rasas (sapatas), pela execução de exemplo, ensaios de prova de carga, cálculos
estacas de solo-cimento compactadas na base dos recalques, estudos da influência do nível
das sapatas. Tal alternativa apresentou freático, entre outros.
viabilidade técnica e econômica. A partir dos
resultados obtidos, foi possível levantar as
seguintes observações: AGRADECIMENTOS
• O teor de cimento é diretamente proporcional
ao ganho de resistência no solo, sendo que Os autores agradecem à colaboração do
foi possível obter um aumento de até Laboratório de Tecnologia do Concreto de
dezesseis vezes em relação ao solo sem Itaipu (LTCI), pelo espaço cedido para
cimento (apenas compactado). realização dos experimentos.
• O acréscimo de cimento, verificado nesta
pesquisa, de até 9%, torna os solos mais
rígidos (maior módulo de elasticidade para REFERÊNCIAS
os CPs com maiores teores de cimento), o
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
que corrobora com os resultados de
TÉCNICAS. (2012). NBR 12253: Solo-cimento -
resistência. Dosagem para emprego como camada de pavimento -
• Os resultados de caracterização, como teor Procedimento. Rio de Janeiro.
de umidade ótimo, índice de vazios e massa ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
específica (natural e seca) estão em TÉCNICAS. (2010). NBR 6122: Projeto e execução
de fundações. Rio de Janeiro.
conformidade com a literatura, em que ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
devido, possivelmente, ao fenômeno de TÉCNICAS. (2016). NBR 6457: Amostras de solo -
floculação diante da adição de cimento ao Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
solo, a umidade ótima e o índice de vazios caracterização. Rio de Janeiro.
aumentam, enquanto a massa específica ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2016). NBR 6459: Solo - Determinação
diminui. do limite de liquidez. Rio de Janeiro.
• Na análise de viabilidade técnica observou- ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
se que a utilização de estacas de solo TÉCNICAS. (2001). NBR 6484: Solo - Sondagens de
compactado sem cimento e também com teor simples reconhecimentos com SPT - Método de
de 3% de cimento não seriam apreciáveis, ensaio. Rio de Janeiro.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
pois não resultaram em redução significativa TÉCNICAS. (2016). NBR 7180: Solo - Determinação
nas dimensões das sapatas. Por outro lado, do limite de plasticidade. Rio de Janeiro.
estacas de solo cimento com teor de 6% ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
proporcionariam uma redução de até 17,4% TÉCNICAS. (2016). NBR 7182: Solo - Ensaio de
compactação. Rio de Janeiro.
na área das sapatas, enquanto que as de teor
ASTM, AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
de 9% de cimento podem diminuir a área das MATERIALS. (2015). E1876-15: Standard Test
sapatas em até 45,9%. Method for Dynamic Young's Modulus, Shear
• Em relação à análise de viabilidade Modulus, and Poisson's Ratio by Impulse Excitation
econômica, a diminuição nos custos de of Vibration . Pensilvânia.
BLIGHT, G. E. e LEONG, E. C. (2012). Mechanics of
fundação adotando a proposta deste trabalho, Residual Soils. Londres : CRC Press - Taylor &
torna-se significativa utilizando teores de Francis Group.
cimento somente de 9%, sendo possível
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Estudo Comparativo do Solo da Área do Campus Definitivo da


Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho – UFRPE com
Adição de Cal
André Vinícius Melo Couto
UFRPE, Cabo de Santo Agostinho, Brasil, avmcouto@gmail.com

Katia Botelho Torres Galindo


UFPE, Recife, Brasil, katiabotelho4@gmail.com

Camila Freire Nunes


IFPE, Recife, Brasil, caamilanunes31@gmail.com

Cecília Maria Mota Silva Lins


UFRPE, Cabo de Santo Agostinho, Brasil, cecilia.lins@gmail.com

RESUMO: O solo é de grande importância no setor da construção civil, quer no seu estado natural,
quer quando utilizado como material de construção. Para classificação do solo e o conhecimento do
seu comportamento é necessário sua caracterização física e geomecânica através de ensaios de
laboratório. Neste contexto, este estudo visou caracterizar o solo da área onde está sendo construído
o campus definitivo da Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho da UFRPE, e realizar o
seu melhoramento com cal. Os resultados mostram que o solo é classificado como silte inorgânico
de medianamente plástico. Após adição de 10% de cal foi observado que ocorreu uma redução do
índice de plasticidade e da massa específica seca máxima do solo, assim como foi constatado um
aumento de sua umidade ótima, concluindo que a cal pode proporcionar uma maior estabilidade ao
solo.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Caracterização, Ensaios físicos, Melhoramento com cal.

1 INTRODUÇÃO das ciências da terra, que considera o solo como


o produto da decomposição e desintegração da
O solo pode ser considerado um material rocha pela ação de agentes atmosféricos. Assim,
complexo e multifuncional, desta forma não é todos os solos “originam-se da decomposição
simples defini-lo. Como observado por das rochas que constituíam inicialmente a crosta
Teixeira et al. (2009), os conceitos de solo terrestre” (PINTO, 2006, p.14), essa
variam de acordo com sua utilização, assim, decomposição pode ser classificada em
para o engenheiro agrônomo ou para o intemperismo mecânico (mantém a composição
agricultor, o solo é o meio necessário para o mineralógica original da rocha mãe) ou químico
desenvolvimento de plantas. Para o geólogo, o (modifica a estrutura mineral das partículas).
solo é visto como o produto da alteração das O solo, sob o ponto de vista da engenharia,
rochas na superfície do planeta ou como fonte poderá ser utilizado tanto em suas condições
de matéria-prima, enquanto para engenheiro naturais quanto como material de construção.
civil é o material que serve para base ou Em sua condição natural, será usado como
fundação de obras civis. Entretanto, existe uma elemento de suporte de uma estrutura. Como
definição simples que se adapta aos propósitos material de construção poderá ser usado,
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principalmente, na construção de aterros para 2. METODOLOGIA


finalidades as mais diversas, como sub-bases e
bases de pavimentos sendo, nestes casos, 2.1 Área de estudo
possível dar ao solo as características
necessárias e desejadas em cada projeto A obra foi dividida em duas fases, na fase 1
(NOGUEIRA, 1988). (atual) está sendo construído a biblioteca, o
Neste contexto, o solo é elemento de grande prédio administrativo, o restaurante
importância no setor da construção civil, quer universitário, dois prédios de residência
no seu estado natural, quer quando utilizado estudantil, um prédio de sala de aula, um de
como material de construção, afinal “todas as laboratório sujo, a sala dos professores e o
obras de Engenharia Civil assentam-se sobre o estacionamento edifício-garagem (Figura 1).
terreno e inevitavelmente requerem que o
comportamento do solo seja devidamente
considerado” (PINTO, 2006). No entanto, é
frequente encontrar solos naturais sem os
requisitos necessários para cumprir
adequadamente a função a que estão destinados
(CRUZ et al., 2010).
Porém, quando um solo não tem as
características geotécnicas exigidas para
suportar a obra projetada, principalmente
Figura 1: Fase da obra para construção do novo Campus
quanto à sua resistência, torna-se necessário da UACSA, julho de 2017.
corrigi-lo ou substituí-lo por outro, com a Fonte: Construtora Pottencial
adição ou subtração de componentes, ou com a
ação de agentes químicos (orgânicos ou 2.2 Coleta das amostras
inorgânicos). Para a melhoria dos solos
instáveis é bastante utilizado de cal (GUÉRIOS, A coleta foi realizada a partir de uma visita
2012). de campo onde foram retiradas amostras
Segundo Castro (2009) a utilização de cal no deformadas. Mediante escavação com o auxílio
melhoramento das características mecânicas dos de ferramentas manuais, o solo foi extraído e
solos compactados, permite além da melhoria acondicionado em sacos de náilon em
das propriedades desse solo, já que é nestas quantidades suficientes para análise, sendo
obras de engenharia que as propriedades posteriormente vedados e transportados até o
mecânicas dos solos desempenham um papel Laboratório de Mecânica dos Solos na UACSA.
fundamental, a aplicação de solos estabilizados
permite também reduzir custos de obra, 2.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
traduzindo-se numa importante vantagem a ter
em conta. Os procedimentos experimentais para
Desta forma, esta pesquisa tem por objetivo determinação das propriedades do solo
caracterizar o solo da área onde está sendo seguiram as normas específicas para
construído o edifício-garagem do campus caracterização de solos e foi realizada no
definitivo da Universidade Federal Rural de Laboratório de Mecânica dos Solos da Unidade
Pernambuco – Unidade Acadêmica do Cabo de Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho -
Santo Agostinho, situada município do Cabo de UFRPE.
Santo Agostinho, e realizar o seu melhoramento Os parâmetros determinados para a
com cal e comparar os resultados. caracterização do solo e as normas a serem
seguidas estão dispostos na tabela abaixo:
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Tabela 1. Ensaios realizados durante o estudo. Tabela 2. Resultado dos ensaios de caracterização física
Parâmetros Avaliados Normas Ensaios Solo Solo
Massa específica NBR 6508/1984 Natural Melhorado
Limite de Liquidez NBR 6459/2016 Massa específica 2,66 g/cm³ 2,55 g/cm³
Limite de Plasticidade NBR 7180/2016 Limite de Liquidez 44% 47%
Compactação NBR 7182/2016 Limite de Plasticidade 32,07% 36,34%
Granulometria NBR 7181/2016 Índice de Plasticidade 14,93 10,66
Adensamento NBR 12007/1990
De acordo com os resultados obtidos, nota-se
Os ensaios citados acima foram realizados que não houve diferença entre a massa
tanto para o solo em seu estado natural quanto específica dos grãos do solo natural e do
para o solo melhorado com a adição de cal. melhorado.
Quanto aos limites de Atterberg observou-se
2.4 TEOR E TIPO DE CAL que ocorreu um aumento maior do limite de
plasticidade em relação ao de liquidez, o que
Diversos teores já foram testados por acarretou na redução do índice de plasticidade.
pesquisadores. Segundo Silva (2010), o valor do O solo em questão não apresenta características
teor ótimo de cal em relação à quantidade de expansivas quando avaliados o índice de
solo varia de acordo com a finalidade do plasticidade e o percentual argiloso, reforçando
melhoramento. Porém, “O aumento excessivo a presença de argila caulinítica.
na porcentagem de cal hidratada na mistura Segundo Caputo (2016), os solos podem ser
solo-cal causa aos produtos finais problemas de classificados quanto ao seu IP como fracamente
trincas devido ao alto enrijecimento do solo” plásticos (1 < IP < 7), medianamente plásticos
(GUÉRIOS, 2013). (7 < IP < 15) e altamente plásticos (IP > 15).
O tipo da cal também influencia no Nesta classificação, o solo, tanto natural quanto
resultado. A cal hidratada, por exemplo, possui melhorado, encontra-se na faixa de
uma granulometria mais fina, se comparada a medianamente plástico.
cal viva, o que colabora no processo do De acordo com o S.U.C.S., devido ao limite
homogenização, porém libera muito pó. Já a cal de liquidez e o índice de plasticidade, o solo
viva não descarta tanto pó, porém, devido à sua natural é classificado como um silte inorgânico
granulometria, é de difícil mistura. de mediana compressibilidade..
Neste estudo foi seguida a metodologia Na figura 2 estão sendo reprensentadas a
utilizada por Lopes (2016). Foram adicionados distribuições granulométricas do solo natural e
10%, em peso, de cal hidratada para cada melhorado.
ensaio. De acordo com Guérios (2013), essa
porcentagem de cal adicionada resulta em uma
melhoria em torno de 100% de suas
características quando comparado ao solo
natural.

3. RESULTADOS

Na tabela 2 a seguir estão os resultados da


massa específica dos grãos, limites de liquidez e
plasticidade e o índice de plasticidade do solo Figura 2: Distribuição granulométrica (Solo Natural)
natural e melhorado.
Percebe-se um aumento na parte retida das
frações mais grossas após o melhoramento. Este
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comportamento foi notado por Barbosa (2003), melhorado em relação ao natural.


concluindo que esse aumento nas frações Para o ensaio de adensamento, as
grossas dá-se pelo fato de que ocorrem reações amostras foram compactadas nas umidades
de trocas catiônicas imediatas após a mistura, ótimas obtidas através do ensaio de
fazendo o material flocular. compactação. Nas figuras 5 e 6 estão as curvas
Nas figuras 3 e 4 estão as curvas de de adensamento do solo antes e após o realizado
compactação do solo natural e melhorado, o melhoramento.
respectivamente.

Figura 5: Curva de adensamento (Solo Natural)

Figura 3: Curva de compactação solo natural

Figura 4: Curva de compactação solo melhorado Figura 6: Curva de adensamento (Solo Melhorado)

Na tabela 3 estão as massas específicas secas Através das curvas, percebe-se a redução
máximas e as umidades ótimas de cada amostra no índice de vazios das duas amostras. A
do solo. amostra variou o índice de vazios de 0,988 para
0,775 para o solo natural, e para 0,790 para a
Tabela 3. Resultado ensaio de compactação amostra melhorada, notando-se uma menor
Amostra Umidade Massa específica deformação na amostra melhorada, podendo-se
ótima máxima concluir que a cal deu uma maior estabilidade
Solo Natural 19% 1,695 g/cm³
Solo Melhorado 25% 1,425 g/cm³
ao solo quando cargas são aplicadas sobre ele.

De acordo com os resultados listados acima,


o solo demonstrou um comportamento que já 4. CONCLUSÃO
foi percebido por Silva (2010). Percebe-se que
houve uma redução na massa específica seca Através dos ensaios de caracterização física
máxima e aumento da umidade ótima do solo foi possível comparar as características físicas
do solo natural com o solo misturado com 10%
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de cal. Os resultados mostraram a eficiência do desempenho de misturas solo-cimento, 12º Congresso


melhoramento. Nacional de Geotecnia, Guimarães, pgs. 639-648.
GUÉRIOS, E. M. (2012). Estudo Do Melhoramento De
O solo em questão demonstrou um maior Solo Com Adição De Cal Hidratada Para Seu Uso
aumento no limite de plasticidade em relação ao Em Pavimento Urbano. 69 folhas. Trabalho de
de liquidez, o que acarretou na redução do Conclusão de Curso em Engenharia de Produção Civil
índice de plasticidade do solo. - Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Em relação ao ensaio de granulometria, foi Curitiba.
GUÉRRIOS, E. M. (2013). Estudo do melhoramento de
possível concluir que houve um pequeno solo com adição de cal hidratada para uso em
aumento na fração grossa do solo. A massa pavimento urbano. Trabalho de conclusão de curso.
específica não sofreu grandes variações com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
adição do aglomerante. Curitiba.
No ensaio de compactação, o melhoramento LOPES, L. F. A. et.al. (2016). Estudo do Melhoramento
das Características Geotécnicas do Solo com Adição
acarretou na redução da massa específica seca de Cal Hidratada. XVIII Congresso Brasileiro de
máxima do solo e aumento de sua umidade Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, ABMS,
ótima, esse comportamento já tinha sido Belo Horizonte.
previsto por Silva (2010). NOGUEIRA, J.B. (1998). Mecânica dos Solos – Ensaios
de Laboratório. USP/EESC. São Carlos.
Através do ensaio de adensamento foi
PINTO, Carlos de Sousa. (2006). Curso Básico de
possível concluir que a cal proporcionou uma Mecânica dos Solos em 16 aulas – 3ª edição. Oficina
maior estabilidade ao solo, pois resultou em de Textos. São Paulo.
uma menor redução no número de vazios. SILVA, M. F. (2010). Estudo comparativo de dois solos
Para que ocorra um melhor entendimento estabilizados com cal. Dissertação de Mestrado.
Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade
sobre a ação da cal no solo no que se refere a
Nova de Lisboa. Lisboa. Portugal.
resistência, recomenda-se a análise de sua TEIXEIRA, Wilson. FAIRCHILD, Thomas Rich.
resistência à compressão através do ensaio de TOLEDO, M. Cristina Motta de. TAIOLI, Fabio.
compressão simples. (2009). Decifrando a Terra – 2a edição. Companhia
Editora Nacional. São Paulo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. Normas para os ensaios de
caracterização do solo. NBR 6508 (1984) –
Determinação da Massa Específica. NBR 7182 (2016)
– Solo – Ensaios de Compactação. NBR 6459 (2016)
– Solo – Determinação do Limite de Liquidez. NBR
7180 (2016) – Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. NBR 7181 (2016) – Análise
Granulométrica.
BANDEIRA, A. P. N. (2003). Mapa de risco de erosão e
escorregamento das encostas com ocupações
desordenadas no município de Camaragibe-PE.
Dissertação de Mestrado. Departamento de
Engenharia Civil da UFPE.
CASTRO N. E. (2009). Estudo laboratorial de solos
tratados com cal. Modelos de Comportamento. Tese
de Mestrado em Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, 182pgs. FEUP, Porto.
CAPUTO, Homero Pinto. CAPUTO, Armando
Negreiros. (2016). Mecânica dos Solos e suas
Aplicações, vol. 1 – 7ª edição. Editora LTC. Rio de
Janeiro.
CRUZ, M., Jalali, S. (2010). Melhoramento do
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Estudo Comparativo entre Estacas


Ana Luiza de Assis Rezende
Universidade Federal de São João del Rei, Ouro Branco, Brasil, analuizadeassis@hotmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João del Rei, Ouro Branco, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

José Carlos Borba Júnior


Universidade Federal de São João del Rei, Ouro Branco, Brasil, joseborba@ufsj.edu.br

RESUMO: A escolha de um determinado tipo de fundação, dependerá de vários fatores, como tipo
de solo, topografia, dados da estrutura, dados sobre construções vizinhas, além de um fator
extremamente pertinente, o custo de sua execução. Assim sendo, a proposta deste trabalho é
apresentar um estudo comparativo de custos entre estacas hélice contínua, pré-moldada de concreto
e metálica. Para tanto, foram realizadas avaliações comparativas, levando-se em conta a resistência
do solo baseada em ensaios geotécnicos, a resistência estrutural da estaca e os custos das fundações.
O estudo da capacidade de carga das estacas para posterior elaboração do projeto de fundações foi
feito com base nos métodos de Aoki-Veloso (1975) e Décourt-Quaresma (1978). Os custos
utilizados no processo de análise orçamentária e dos projetos de fundação elaborados foram obtidos
com base em pesquisa de mercado regional em Maio de 2017. Portanto, no contexto geral
procurou-se entender qual fundação atenderia a obra com mais eficiência em relação ao custo
versus benefício. Os resultados mostraram para o caso estudado que a solução mais eficiente foi o
projeto de fundação em estacas hélice contínua, seguida de estacas pré-moldadas de concreto e
depois estacas metálicas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundação profunda, Análise financeira entre estacas, Estaca Hélice


Contínua, Estaca pré-moldada de concreto, Estaca metálica.

1 INTRODUÇÃO manipulação de métodos e parâmetros para


obter uma previsão, desenvolve-se o projeto de
A Engenharia de Fundações requer fundações.
conhecimento de Geotecnia e Cálculo Cada obra exige certo tipo de fundação, que
Estrutural. A Geotecnia por sua vez abrange a dependerá de vários fatores como tipo de solo,
Mecânica dos Solos e Rochas e a Geologia de limitações de execução de certos tipos de
Engenharia. Partindo-se de um edifício, a fundação, topografia, dados da estrutura, dados
estrutura é calculada pelo engenheiro estrutural sobre construções vizinhas, e em se tratando de
que irá supor que os apoios são indeslocáveis, uma das principais características da
surgindo o conjunto de cargas que é repassado engenharia, custo de sua realização.
para o engenheiro de fundações. Daí, com A Engenharia de Fundações requer vivência
informações relevantes do tipo determinação da e experiência.
situação em campo, determinação dos Levando-se em conta a cidade de
mecanismos, seleção dos métodos e parâmetros, Conselheiro Lafaiete/MG, é real a situação do
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crescimento acelerado da cidade com relação à Na cidade, encontra-se equipamentos de


construção civil. Em especial, à construção de execução para fundações profundas do tipo
obras de grande porte, assentadas sobre solos trado mecânico. Quando se necessita executar
moles, aterros, exigindo fundações profundas outro tipo de fundação, como por exemplo
complexas. estaca hélice contínua, pré-moldadas e
metálicas, o serviço deve ser contratado de
2 OBJETIVOS outra cidade próxima, no caso, Belo
Horizonte/MG.
O estudo de caso tem intenção de verificar o
custo do uso de alguns tipos de fundações em 4 MÉTODOS
uma obra pertencente a um complexo de
galpões na cidade de Conselheiro Lafaiete/MG. Este trabalho foi desenvolvido, primeiramente,
Os tipos de fundações analisadas são estaca através de levantamento bibliográfico,
hélice continua, estaca pré-moldada de concreto conhecendo os tipos de investigação geotécnica,
e estaca metálica. tipos de fundações e métodos de capacidade de
carga. Em seguida, levantou-se todos os dados e
2.1 Justificativa projetos referente ao edifício de estudo, como
relatório de sondagem SPT e projeto estrutural.
Os projetos de fundações são dimensionados O trabalho apresentará os dimensionamentos
apenas para um tipo de fundação. Não é comum de estacas hélice contínua, pré-moldada de
fazer um estudo englobando outros tipos de concreto e metálica que poderiam ser utilizadas,
fundações a fim de se ter um comparativo entre com intuito de verificar a viabilidade
os mesmos e verificação da que atenderá à obra econômica entre ambas. Feita as análises
e gerará menor custo. iniciais, determinou-se a capacidade de carga
Portanto, o trabalho foi elaborado a fim de se pelos métodos semi- empíricos: Aoki Velloso
analisar três tipos de fundações profundas e (1975) e Décourt e Quaresma (1978).
verificar a viabilidade econômica entre ambas, Os métodos Aoki Velloso (1975) e Décourt e
escolhendo a de menor custo para a obra. Quaresma (1978) foram utilizados para cálculo
O estudo utilizou dois métodos tradicionais de ambas as estacas.
de cálculo de capacidade de carga Os cálculos foram executados em forma de
transformados em planilhas eletrônicas para o tabelas do Excel, para cada furo de sondagem
dimensionamento do projeto de fundações, bem SPT. Dos valores de capacidade de carga
como pesquisa de mercado, garantindo encontrados pelos métodos do Aoki e Velloso
veracidade das informações referentes ao custo. (1975) e Décourt e Quaresma (1978), foi
utilizado um valor correspondente à média entre
3 A PRÁTICA DE FUNDAÇÕES EM eles, já que um método gerou um valor de
CONSELHEIRO LAFAIETE/MG capacidade de carga menor do que o outro. Isto
foi realizado para estacas do tipo pré-moldada
Mesmo com grande demanda de construções de concreto, metálica e hélice contínua. Foram
em Conselheiro Lafaiete-MG, é notório a adotados diâmetros e profundidades diferentes
participação em grande escala das fundações para cada tipo de estaca a ser calculada, de
rasas, do tipo sapata. acordo com cada furo onde o Nspt dava em
Em pesquisa realizada junto à Secretaria de torno de 20 para estacas pré-moldadas de
Planejamento de Conselheiro Lafaiete-MG, concreto e metálicas, e 17 Nspt para estacas
cerca de 70% das obras de construção civil são hélice contínua. A diferença de profundidade
de 2 a 4 pavimentos e o tipo de fundação mais adotada para os tipos de estacas se deu com
utilizado é do tipo sapata. base em que se consegue maior capacidade de
carga da hélice contínua, não necessitando da
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mesma ser projetada para profundidades


superiores. Finalizando, realizou-se um estudo
comparativo de viabilidade econômica entre
estacas hélice contínua, pré-moldadas de
concreto e metálica.

4.1 Apresentação

O estudo será feito em um galpão Industrial


situado em Conselheiro Lafaiete/MG, composto
apenas de pavimento térreo e dividido em 3
unidades de galpões.
O complexo de galpões foi construído
próximo às margens da BR-040, onde o terreno
sobre o qual foi assentado se baseia em solo de
baixa resistência, com nível d’água elevado,
onde levou-se a utilizar fundações profundas do
tipo hélice contínua.
A investigação do solo foi realizada com
base em 4 furos de sondagem do tipo SPT.

4.2 Plano de dimensionamento da fundação


Figura 2. Sondagem referente ao Furo F2.
A capacidade de carga foi calculada com base
nos métodos de Aoki Velloso (1975) e Décourt
e Quaresma (1978).
Para o cálculo da capacidade de carga
geotécnica, a planta foi dividida em 4 setores,
sendo as estacas de cada setor calculada com a
sondagem executada no referido setor, de
acordo com os furos de sondagem 1, 2, 3 e 4,
conforme Figura 1.

Figura 1. Grupos de estacas para cada índice de


resistência do furo de sondagem.

O perfil geotécnico é demonstrado


conforme a Figura 2 e Figura 3.

Figura 3. Sondagem referente ao Furo F4.


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Após o cálculo da capacidade de carga, foi  F2: 3,5 para pré-moldada, 3,5 para
dimensionado a quantidade de estacas pré- metálica e 3,8 para hélice contínua.
moldadas de concreto, metálica e hélice As correlações α e k: foram adotados valores
contínua. Em seguida, foi feito o estudo diversos de acordo com cada camada de solo
comparativo de viabilidade econômica entre as diferente. Os valores adotados encontram-se
estacas dimensionadas. Ressalta-se que o estudo na tabela 1.
será feito conforme projeto já definido, ou seja,
conforme o plano de cargas e quantidade de Tabela 1. Correlações k e α adotadas nos cálculos
pilares que existirão conforme o projeto Camada
solo por Descrição Furo 1 Furo 2 Furo 3 Furo 4
estrutural. Furo
Camada k 260 0,045 0,055 0,055
4.3 Método Aoki Velloso (1975) 1 α 0,045 260 250 250

Este método foi apresentado no V Congresso Camada k 440 0,045 0,036 0,032
2 α 0,032 260 320 450
Pan-americano de Mecânica dos Solos e
Engenharia de Fundações, e em 1991 houve Camada k 0,032 0,03 0,032 0,03
uma extensão do método (Velloso 1991). 3 α 440 500 450 500
Se baseia em processos comparativos entre Camada k 0,055 0,032 0,021 0,021
ensaios de prova de carga em estacas e 4 α 250 400 730 730
resultados do ensaio SPT. O método vale tanto Camada k 0,021 0,021 0,021 0,021
para SPT quanto CPT. 5 α 730 730 730 730
A expressão pode ser enunciada
Camada k 0,03
correlacionando a resistência de ponta e o atrito 6 α 500
lateral com resultados obtidos do CPT,
conforme mostrado nas equações abaixo. Camada k 0,021
7 α 730
(1) Camada k 0,021
8 α 730
(2)
A parcela de ponta foi utilizada em todas as
estacas, porém não foi integralmente adotada
(3)
nos cálculos, visto que foram aplicados
coeficientes como o valor de k.
(4) A parcela de resistência lateral foi
considerada para cada camada de solo da
Onde Qult é a capacidade de carga (total) da sondagem do respectivo furo ao qual a
estaca; Ab é a área de ponta ou base da estaca; fundação fazia parte. Ao final, as resistências
Qp,ult é a resistência de ponta unitária; U é o laterais foram somadas encontrando-se um
perímetro da estaca; τl,utl é a resistência lateral valor total.
unitária; e ∆ é o trecho do comprimento da Segundo  Velloso  e  Lopes  (2010),  para  esse 
estaca ao qual τl,utl se aplica. método,  é  necessário  seguir  algumas 
As correlações para F1, F2, k e α são recomendações: 
fornecidas em tabelas, com base nas sugestões  O Valor do Nspt é limitado a 40;
de Monteiro (1997). Para este estudo, foi  A resistência de ponta é calculada
utilizado os valores: considerando valores no fuste da estaca
 F1: 2,5 para pré-moldada, 1,75 para com espessuras iguais a 7 e 3,5 vezes o
metálica e 3,0 para hélice contínua.
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diâmetro da base, para cima e para baixo fornecidos em tabelas em função do tipo de
da base. solo. Para este estudo, foi utilizado os valores:
 C: 400 KN/m². Referente às camadas
Com base em avaliações, sugere-se adotar, das pontas serem arenosas.
para a resistência de ponta, uma média dos
Nspt’s numa faixa de 1 diâmetro da estaca para Tabela 2. Correlações α e β adotadas nos cálculos
cima e 1 para baixo, ou 1m acima e 1m abaixo Camada
solo por Descrição Furo 1 Furo 2 Furo 3 Furo 4
(VELLOSO E LOPES, 2010).
Furo
De acordo com Velloso e Lopes (2010), a
Camada β (hélice) 1 1 1 1
carga admissível pode ser obtida por:
1 α (hélice) 0,3 0,3 0,3 0,3
 Estaca pré-moldada e metálica
Camada β (hélice) 1 1 1 1
2 α (hélice) 0,3 0,3 0,3 0,3
(5)
Camada β (hélice) 1 1 1 1
 Estaca escavada 3 α (hélice) 0,3 0,3 0,3 0,3
Camada β (hélice) 1 1 1 1
4 α (hélice) 0,3 0,3 0,3 0,3
Camada β (hélice) 1 1 1 1
(6) 5 α (hélice) 0,3 0,3 0,3 0,3
A NBR 6122 (2010) recomenda, para estacas Camada β (hélice) 1
escavadas, que a carga admissível deve ser no 6 α (hélice) 0,3
máximo 1,25 vezes a resistência do atrito lateral Camada β (hélice) 1
calculada na ruptura, ou ainda, 20% da carga 7 α (hélice) 0,3
admissível que a ponta da estaca suporta. Caso Camada β (hélice) 1
seja maior esse valor, deve ser especificado 8 α (hélice) 0,3
pelo projetista uma limpeza da ponta.
A parcela de ponta foi utilizada em todas as
4.4 Método Décourt Quaresma (1978) estacas, porém não foi integralmente adotada no
cálculo, visto que foram aplicados coeficientes
Segundo Velloso e Lopes (2010), esse método como o valor de C e α.
determina a capacidade de carga de estacas a A parcela de resistência lateral foi
partir do ensaio SPT. considerada para cada camada de solo da
sondagem do respectivo furo ao qual a
(7) fundação fazia parte. Ao final, as resistências
laterais foram somadas encontrando-se um
(8) valor total.
De acordo com Hachich et.al (1998), quando
se tem estacas escavadas, a expressão fica da
(9) seguinte maneira:
Onde: Np,spt é a média do SPT na cota da
ponta da estaca, 1m acima e 1m abaixo; Nl,spt (10)
é a média do SPT ao longo do fuste da estaca,
não considerando o valor medido a 1m acima E a carga admissível pode ser obtida por:
da cota da base; e C é o valor dependente do
tipo de solo. Os valores de C, α e β são
Estaca pré-moldada e metálica
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(1975) e Décourt Quaresma (1978) foi utilizado


(11) a média entre os dois valores para os cálculos
 Estaca escavada das estacas considerando Nspt proximo de 20.
A média considerou um fator de segurança para
a adoção dos valores de capacidade de carga,
visto que um método dava valor mais baixo do
(12) que o outro. As tabelas 3, 4, 5, 6 e 7
demonstram os resultados dos cálculos.
5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Tabela 3. Carga geotécnica estaca pré-moldada ø18
(kNf).
Para estacas do tipo pré-moldadas de concreto Carga Geotécnica média dos métodos
foi usado a tabela do Fabricante Incopre e para Carga
estacas metálicas foi usada a tabela do Furo
Diâmetro
Geotécnica
Fabricante Gerdau. SPT (Prof. Próxima
20 Nspt)
O pilar de maior carga possui 451,26 kNf.
Furo 1 299,35
Portanto, o cálculo foi feito para as estacas pré- Furo 2 260,41
moldadas de concreto com diâmetros de 18cm e 18
Furo 3 324,80
23cm, que possuem carga de compressão Furo 4 288,27
admissível de 343,35 e 539,55 kNf
respectivamente. E para as estacas metálicas Tabela 4. Carga geotécnica estaca pré-moldada ø23
com os perfis I W150x22,5 e W150x29,8, que (kNf).
possuem 421,83 e 618,03 kNf, respectivamente. Carga Geotécnica média dos métodos
Portanto, as estacas escolhidas possuem cargas Carga
Furo Geotécnica
estruturais admissíveis que atendem à demanda SPT
Diâmetro
(Prof. Próxima
de carga dos pilares. 20 Nspt)
Para as estacas em hélice contínua foi Furo 1 413,69
usada a tabela cargas usuais de trabalho Furo 2
23
363,90
conforme Tabela Cargas de Trabalho típicas Furo 3 451,36
disponível, conforme sugestões de HACHICH, Furo 4 401,03
W; et al, 1998.
Tabela 5. Carga geotécnica estaca metálica W150x22,5
Para as estacas hélice contínua foram (kNf).
selecionados os diâmetros entre 35 e 40cm, que Carga Geotécnica média dos métodos
suportam cargas de 588,6 a 784,8 kNf. Como o Carga
pilar de maior carga possui 451,26 kNf, não Furo Geotécnica
Perfil
será necessário calcular com diâmetros SPT (Prof. Próxima
superiores, portanto a análise será feita com 20 Nspt)
Furo 1 321,57
diâmetro de 35cm para estacas do tipo hélice
Furo 2 279,73
contínua. W150x22,5
Furo 3 348,94
Furo 4 313,33
5.2 Cálculo da capacidade de carga

As capacidades de cargas para estacas pré-


moldadas de concreto, metálicas e hélice
contínua foram calculadas pelos métodos semi-
empíricos do Aoki Velloso (1975) e Décourt
Quaresma (1978), utilizando planilhas
eletrônicas. Para o método do Aoki Velloso
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que não estão inclusos os custos de blocos de


coroamento, escavação, fôrma e concretagem.
Tabela 6. Carga geotécnica estaca metálica W150x29,8 Tabela 8. Custo final estacas pré-moldadas de concreto.
(kNf).
Custo final para estaca pré-moldada de concreto
Carga Geotécnica média dos métodos Descrição Valor Quant Total
Carga Mobilização
Geotécnica /desmobiliza-
Furo
Perfil (Prof. -ção
SPT
Próxima 20 equipamento US$2.167,18 1 US$2.167,18
Nspt) tipo bate
Furo 1 329,81 estaca queda
Furo 2 287,04 livre
W150x29,8 Metro Linear
Furo 3 358,06
Furo 4 321,47 cravado de 2113
US$13,62 US$28.779,06
estacas DN m
18/23cm
Tabela 7. Carga geotécnica estaca hélice contínua (kNf). Estaca pré-
Carga Geotécnica média dos métodos moldada DN US$70,59 261 US$18.421,38
Carga 18(unid. 6m)
Geotécnica Estaca pré-
Furo
Diâmetro (Prof. moldada DN US$102,17 91 US$9.297,47
SPT
Próxima 17 23(unid. 6m)
Nspt) TOTAL US$58.665,09
Furo 1 425,95 US$27,76/ m de estaca pré-moldada de concreto
Furo 2 351,00
35
Furo 3 466,66 5.4 Dimensionamento estacas metálicas
Furo 4 493,34
Foram adotados perfis comerciais W150x22,5 e
5.3 Dimensionamento estacas pré-moldadas W150x29,8. Esses perfis foram escolhidos
de concreto conforme a carga estrutural da estaca melhor se
ajustava à carga do pilar, levando-se em conta,
Foram adotados diâmetros comerciais de 18 e principalmente, o fator custo/benefício. A carga
23cm. Esses diâmetros foram escolhidos estrutural, para perfil W150x22,5 é de 421,83
conforme a carga estrutural da estaca que kNf e para perfil W150x29,8 é de 618,03 kNf.
melhor se ajustava à carga do pilar, levando-se Com relação à profundidade de
em conta, principalmente, o fator assentamento das estacas, foram feitos cálculos
custo/benefício. A carga estrutural, para para profundidades em torno de 20 Nspt. De
diâmetro de 18 cm é de 343,35 kNf e para acordo com os cálculos, a profundidade em
diâmetro de 23 cm é de 539,55 kNf. torno de 20 Nspt garantiu menor números de
Com relação à profundidade de estacas e, consequentemente, menor custo.
assentamento das estacas, foram feitos cálculos
para profundidade em torno de 20 Nspt. De 5.4.1 Custos estacas metálicas
acordo com os cálculos, a profundidade em
torno de 20 Nspt garantiu menor números de De acordo com pesquisa de mercado efetuada
estacas e, consequentemente, menor custo. em maio de 2017, as estimativas de custos para
implantação de metálicas segue conforme
5.3.1 Custos estacas pré-moldadas de concreto Tabela 9. Ressalta-se que não estão inclusos os
custos de blocos de coroamento, escavação,
De acordo com pesquisa de mercado efetuada fôrma e concretagem.
em Maio de 2017, as estimativas de custos para
implantação de estacas pré-moldadas de
concreto segue conforme Tabela 8. Ressalta-se
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Tabela 10. Custo final estaca hélice contínua.


Tabela 9. Custo final estacas metálicas. Custo final para estaca hélice contínua
Custo final para estacas metálicas Descrição Valor Quant Total
Descrição Valor Quant Total Mobilização
Mobilização /desmobiliza-
US$4.643,96 1 US$4.643,96
/desmobiliza- ção de
ção equipamento
equipamento US$2.167,18 1 US$2.167,18 Metro Linear
tipo bate escavado de
estaca queda estaca hélice US$9,29 1447m US$13.442,63
livre contínua 35
Metro Linear cm (p/ metro)
2128 Concreto fck
cravado de US$13,62 US$28.983,36 US$72,75 140 m³ US$10.185,00
m 20MPa
estacas perfil
Perfil W Vergalhão
150x22,5 US$133,20 326 US$43.423,20 CA-60 ø 1226
US$0,96 US$1.176,96
(unid. 6 m) 5.0mm kg
Perfil W (estribo)
150x29,8 US$176,42 29 US$5.116,17 Vergalhão
(unid. 6 m) CA-50 ø 2283
US$0,87 US$1986,21
TOTAL US$79.689,92 12.5mm kg
US$37,44/ m de estaca metálica (lonhitudinal)
TOTAL US$31.434,76
US$21,72/ m de estaca hélice contínua
5.5 Dimensionamento estacas hélice
contínua 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Foi adotado diâmetro comercial, de 35 cm. Esse Feito todos os dimensionamentos e
diâmetro foi escolhido conforme a carga levantamento de custos de mercado dos três
estrutural da estaca que melhor se ajustava à diferentes tipos de fundações profundas
carga do pilar, levando-se em conta, apresentados tem-se a Tabela 11 e Tabela 12 a
principalmente, o fator custo/benefício. A carga seguir:
estrutural, para estaca de diâmetro 35 cm é de
588,60 kNf. Tabela 11. Custo total final para estacas.
Com relação à profundidade de Tipo de fundação Valor Total
assentamento das estacas, foram feitos cálculos Estaca Pré-moldada de Concreto US$58.665,09
para profundidades em torno de 17 Nspt. De Estaca Metálica US$79.689,91
Estaca Hélice Contínua US$ 31.434,76
acordo com os cálculos, a profundidade em
torno de 20 Nspt garantiu menor números de
estacas e, consequentemente, menor custo. Tabela 12. Custo por metro final para estacas.
Tipo de fundação Valor Total
5.5.1 Custos estacas hélice contínua Estaca Pré-moldada de Concreto US$27,76
Estaca Metálica US$37,44
Estaca Hélice Contínua US$21,72
De acordo com pesquisa de mercado efetuada
em maio de 2017, as estimativas de custos para Observa-se que a solução mais econômica
implantação de estaca hélice contínua segue é a execução de fundação por estacas hélice
conforme Tabela 10. Ressalta-se que não estão contínua.
inclusos os custos de blocos de coroamento, Para o estudo em questão, a estaca hélice
escavação, fôrma e concretagem. contínua, além de sua alta produtividade e
agilidade na execução, é uma ótima escolha
para o tipo de obra e solo em questão. No
dimensionamento, como a estaca hélice
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contínua possui capacidade de carga elevada,


conseguiu-se reduzir o número de estacas, fato ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de fundações.
este que corrobora com a redução do volume Rio de Janeiro, 2010.
dos blocos de coroamento. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 8036: Programação de sondagens de
A adoção da solução em estacas cravadas simples reconhecimento dos solos para fundações de
por percussão também seria viável, pois no edifícios. Rio de Janeiro, 1983.
local não há problema com geração de ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples
vibrações causadas pela cravação das estacas. reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Rio de
Porém, o estudo desenvolvido neste trabalho Janeiro, 2001.
ANDRZEJEWSKI, Ivan Alberti. Estudo e dimensionamento de
mostrou que o projeto de fundações em estacas fundação profunda por estacas tipo raiz. Monografia
tipo hélice contínua foi o mais econômico para (Bacharelado em Engenharia Civil), UFSC. Santa Catarina,
a obra em questão. Ressalta-se ainda que não 2015.
CINTRA, J. C; AOKI, N. ; Henrique, J. Fundações diretas: projeto
foram considerados os custos referentes a geométrico. São Paulo: Oficina do Texto, 2011.
emenda e corte de tala para estacas cravadas, o PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos, 3 Ed. São
Paulo, Oficina de Textos, 2006.
que elevaria ainda mais o custo desses tipos de DUARTE, L.N., Aula 6 - Fundações Profundas (Capacidade de
fundações. Carga), UFSJ, 2016.
GERDAU AÇOMINAS: Manual estacas metálicas. 8 ed.
Disponível em:
7 CONCLUSÃO <https://www.gerdau.com/br/pt/productsservices/products/Do
cument%20Gallery/manual-estacas-metalicas.pdf>. Acesso
em 13 de maio de 2017.
Este trabalho teve a intenção de verificar HACHICH, W; et al. Fundações: Teoria e Pratica, 2. Ed. São
viabilidade econômica do uso de alguns tipos Paulo. Pini. 1998. 751p.
de fundação em uma obra pertencente a um INCOPRE: Estacas especificações técnicas, 2017. Disponível em:
<http://incopre.com.br/index.php/estacas-concreto/>. Acesso
complexo de galpões. Este galpão, foi projetado em 03 de junho de 2017
em 2013, e a fundação executada foi estaca JUNIOR, W. M: Reduzindo custos em projetos de engenharia,
2015. Disponível em: <http://
hélice contínua. Pode-se dizer, então, que a https://www.linkedin.com/pulse/reduzindo-custos-em-
escolha feita foi a melhor economicamente, projetos-de-engenharia-wilton-moreira-junior>. Acesso em
09 de abril de 2017.
mesmo que haja diferença de valores do ano de SILVA FUNDAÇÕES: Estacas Metálicas, 2017?. Disponível em:
2013 para o ano de 2017. < http://silvafundacoes.com.br/servico/5-estacas-
Conforme já discutido, a melhor solução a metalicassilva-fundacoes-servicos-de-estaqueamento-e-
fundacoes-em-palhoca-sc>. Acesso em 09 de abril de 2017.
ser adotada é fundação profunda, para a MAIS PROJETO: A importância de um bom projeto de Arquitetura
situação estudada, foi a fundação profunda por e Engenharia na Construção Civil, 2007. Disponível em: <
https://maisprojeto.wordpress.com/2007/08/09/a-importancia-
estacas hélice contínua, seguida de estacas pré- de-um-bom-projeto-de-arquitetura-e-engenharia-na-
moldadas de concreto e depois estacas construcao-civil/>. Acesso em 05 de maio de 2017.
metálicas. Estão citadas nesta ordem pelo fator ROCHA, A. A.; CASTRO, N. L. B. A importância do
planejamento na Construção Civil, 2014. Disponível em:
custo/benefício de implantação. <http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_art
igo/1773>. Acesso em 06 de maio de 2017.
VELLOSO, D.A; LOPES, F.R. Fundações. Nova ed. São Paulo:
AGRADECIMENTOS Oficina de Textos, 2010.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Critérios de projeto –
Os autores agradecem a UFSJ pelo apoio ao investigação do subsolo – fundações superficiais. 2.ed. São
Paulo. Oficina de Textos, 2011.
estudo científico desenvolvido durante os GOMES, Alexsandro Chaves. A prática de fundações em
trabalhos, ao CNPQ, CAPES e a Fapemig pelo Conselheiro Lafaiete: depoimento [Maio, 2017].
Entrevistador: Rezende, A.L.A: UFSJ, 2017. Entrevista
relevante incentivo a pesquisa. concedida para elaboração do trabalho de conclusão de curso.
DÉCOURT, L.; QUARESMA, A. R. Capacidade de carga de
estacas a partir de valores de SPT. In: COBRAMSEG, 6., 1978,
Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABMS, 1978. v. 1, p.
45-54.

REFERÊNCIAS
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Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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Estudo da Influência do Sentido de Aplicação de Carga


Tamires da Silva Campos
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tamiresscampos@gmail.com

Wallison Cardoso dos Santos


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, wwallisoncardoso@gmail.com

Davi Oliveira Leonel


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, davi.leonel@hotmail.com

Paulo Sérgio dos Reis Júnior


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, paulojr.civileng@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

RESUMO: A Prova de Carga Bidirecional Arcos é um método inovador de teste em fundações


profundas, porém às vezes questionado. Uma das discussões deste método está relacionada à
divergência do comportamento das curvas Carga versus Deslocamento entre os sentidos de
aplicação de carga ocorrente na prova de carga Bidirecional. O presente trabalho tem como objetivo
analisar o comportamento do atrito lateral no fuste superior relativo ao ensaio bidirecional Arcos,
através de aplicação de carga ascendente e descendente, sendo este último sentido o mesmo que
ocorre na prova de carga convencional. Tal objetivo partiu da premissa que, para o ponto de
aplicação de carga ascendente no interior da estaca na realização de prova de carga Bidirecional, as
tensões geostáticas possuem maiores intensidades do que no ponto de aplicação de carga perante o
método convencional de prova de carga. As provas de carga foram realizadas em modelo reduzido,
com estacas resistindo apenas ao atrito lateral. Os resultados, após tratamento estatístico, apontaram
que o sentido de aplicação da carga influencia na intensidade dos valores obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: Atrito lateral, Fuste superior, Prova de Carga Convencional, Prova de Carga
Bidirecional.

1 INTRODUÇÃO de um determinado elemento de fundação


acerca da grandeza da carga capaz de levá-lo à
A durabilidade e estabilidade de estruturas estão ruptura, visto que considera as variáveis e as
relacionadas à execução da qualidade de um características do solo no local e dos sistema de
bom projeto de fundação. Assim sendo, a fundação adotado. Com este ensaio, obtêm-se
principal norma brasileira que trata de dados para projeto e avalia as fundações
fundações, NBR 6122 (ABNT, 2010), traz executadas em termos de capacidade de cargas e
como necessariedade a realização de provas de recalques (GOTLIEB, 2008).
carga em diversas situações de campo e tipos de Ontiveros (2012) afirma que a Prova de
estaca. Carga Estática, por meio da aplicação de
O ensaio de prova de carga direta, de acordo carregamentos crescentes pré-estabelecidos ao
com Silva (1986), é, incontestavelmente, o elemento em estudo, fornece deslocamentos
melhor método para avaliar o comportamento correspondentes. Neste ensaio é considerado o
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comportamento do conjunto solo-fundação e Uma das críticas ao ensaio bidirecional está


verifica-se a capacidade de carga das fundações, relacionada ao surgimento de deslocamentos
sendo que a capacidade de carga na ruptura de relevantes para o segmento superior da estaca, o
uma fundação profunda é dada pela soma de qual resiste apenas por atrito lateral, somente
duas parcelas: atrito lateral e resistência de após o acréscimo de elevadas cargas. Quando os
ponta. O ensaio de Prova de Carga deve ser deslocamentos passam a ser perceptíveis, eles
realizado de acordo com as recomendações ganham uma amplitude considerável e, com um
feitas pela NBR 12131 (ABNT, 2006), que pouco mais acréscimo de carga, atinge-se
consiste em aplicar uma carga de compressão na rapidamente a ruptura. A Figura 1 explicita a
parte superior da estaca através de um sistema divergência do comportamento das curvas
de reação. Entretanto, sabe-se que o grande Carga versus Deslocamento entre os dois
inconveniente presente nas provas de carga sentidos de aplicação de carga. Langone (2012)
convencionais, em termos de custo, tempo e confirma este comportamento anômalo, ao
segurança, são as reações de apoio. afirmar que a resistência lateral e curva carga x
Partindo da necessidade da criação de um deslocamento do segmento superior serão
instrumento para controle da qualidade de diferentes daquelas obtidas em prova de carga
fundações e que seja de rápida execução e convencional na qual o carregamento é aplicado
econômico, o Eng. Pedro Elísio Chaves Alves no topo da estaca, uma vez que o carregamento
Ferreira da Silva idealizou o ensaio de Prova de de uma estaca através de sua base gera um
Carga Estática com célula expansiva aumento de resistência no ponto de aplicação de
hidrodinâmica Bidirecional, na década de 80 no carga por se tratar de uma região de solos mais
Brasil. Segundo Silva (1986), nesta resistentes e de menor deformabilidade.
metodologia, a própria estaca é o elemento de
reação, o que foi viabilizado pela inserção da
célula hidroexpansiva dentro do elemento de
fundação. Nas palavras de Wolney (2013), este
método está fundamentado na aplicação direta
da terceira Lei de Newton, uma vez que a carga
é aplicada na célula, solicitando a base e a parte
do fuste abaixo da mesma, fazendo-a reagir
contra a parte do fuste acima da célula, com
uma força de mesma intensidade, porém de
sentido contrário.
Para Decóurt (1998), a parcela resistente de Figura 1. Comportamento típico da curva
atrito lateral é influenciada, principalmente, carga x deslocamento da Prova de Carga Bidirecional.
pelo comprimento e forma da estaca. A tensão
confinante (σ3) aumenta ao longo da Dessa forma, o presente estudo objetiva
profundidade da estaca, assim o atrito lateral detalhar o comportamento do atrito lateral do
também aumenta. Vesic (1963), em um de seus fuste superior relativo ao ensaio bidirecional
vários estudos em solos arenosos, ao ensaiar Arcos, analisando graficamente o
modelos de estacas de grandes dimensões, comportamento carga versus deslocamento,
comprova que, para uma dada densidade de através da aplicação de cargas no sentido
areia, o atrito lateral em estacas de seção descendente, como na prova de carga
circular é sempre maior que as estacas de seção convencional, e ascendente, como no ensaio
retangular, sendo esta diferença elevada à bidirecional Arcos, ambas sobre um segmento
medida que a densidade relativa da areia de estaca resistida somente pela parcela de atrito
aumenta. lateral. Para o objetivo apresentado foi proposto
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a hipótese de anisotropia do solo, em termos de 2.1.2 Estaca de Pasta de Cimento


parâmetros de resistência, no que se refere ao
sentido de aplicação de cargas. Tem-se a ideia Para a confecção da estaca foi utilizado o
de que, quando o ensaio é realizado de forma cimento CP V – ARI RS com relação
convencional, no ponto de aplicação de carga, água/cimento (a/c) igual a 0,70 e sem
as tensões radiais aplicadas à estaca pelo solo agregados. A escolha do fator a/c se fez pelas
são desprezíveis. Por sua vez, na prova de carga condições de lançamento, objetivando
bidirecional, a aplicação de carga é feita no características uniformes razoáveis. O cimento
interior da estaca em um ponto em que as utilizado apresenta resistência à compressão
tensões geostáticas são expressivas e relevantes, simples de 31,1 MPa aos 3 dias. Todos os
portanto tem-se como hipótese que existem procedimentos foram executados seguindo a
diferenças expressivas em relação ao norma NBR 12655:2015.
comportamento carga deslocamento para os
diferentes métodos de provas de carga 2.2 Procedimento Experimental
discutidos, tendo como objetivo o teste desta
hipótese sobre condições de laboratório em 2.2.1 Ensaio de Caracterização
modelo reduzido.
Antes da confecção dos modelos de estacas,
efetuaram-se todos os ensaios pertinentes à
2 MATERIAIS E MÉTODOS caracterização do solo e determinação da
umidade ótima de compactação. Os principais
2.1 Materiais ensaios executados durante a pesquisa e seus
respectivos referenciais teóricos estão dispostos
Esta pesquisa propõe a execução de ensaios em na Tabela 1.
miniatura realizados sobre solos compactados
em cilindros, construindo estacas escavadas que Tabela 1. Ensaios executados e respectivas normas
específicas.
resistam apenas ao atrito lateral.
Ensaios Referência Normativa
Massa Específica NBR 6508/84
2.1.1 Solo
Granulometria NBR 7181/84
Limite de Liquidez NBR 6459/84
A amostra de solo utilizada no presente trabalho
Limite de Plasticidade NBR 7180/84
foi coletada em jazida destinada à pesquisas e
Compactação NBR 7182/84
estudos geotécnicos na Universidade Federal de
São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba,
localizado no km 7 da rodovia MG 443, da 2.2.2 Produção dos Modelos de Ensaio
cidade de Ouro Branco – MG.
Para determinação dos parâmetros de ensaio, A partir da definição do traço da argamassa em
empregou-se o uso das normas do DNER - 2.1.2 e dos resultados da análise laboratorial do
Departamento Nacional de Estradas de solo em 2.2.1, iniciou-se a moldagem dos
Rodagem e da ABNT – Associação Brasileira corpos de prova pela compactação do solo em
de Normas Técnicas. Assim como, antes do cilindros metálicos com 15,24 cm de diâmetro
início de qualquer um dos ensaios, foi realizado interno e 17,78 cm de altura para compactação,
o preparo do solo e das amostras de acordo com os parâmetros de umidade ótima foram seguidos
a NBR 6457/16. e adotou-se energia normal de compactação.
Em seguida, realizou-se uma perfuração com
diâmetro igual a 22,45 mm, com auxílio de um
trado manual tipo helicoidal, ao longo de todo o
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comprimento do solo compactado no interior do 2.2.3 Prova de Carga


cilindro, fazendo que a mesma apresentasse
apenas resistência por atrito lateral. Concluída a Para tal ensaio, utilizou-se a prensa do ensaio de
perfuração, foi utilizado bentonita para Resistência à Compressão Simples com anel
uniformizar as extremidades da escavação e dinamométrico de capacidade de 300 kgf. Foi
preencheu-se o furo dos corpos de prova com utilizada também, uma rótula com 22,45 mm de
argamassa para confecção da estaca. Os corpos diâmetro, para impedir a geração de momentos
de prova perfurados e argamassados estão causados por eventuais falhas de argamassagem
apresentados na Figura 2 e 3, respectivamente. na cabeça da estaca.
Tanto no sentido ascendente, como no
sentido descendente, a ponta dos modelos foi
deixada livre, para que os mesmos não
apresentassem resistência de ponta. Na
aplicação de carga descendente foi colocado o
colarinho do cilindro em sua base para permitir
o deslocamento da estaca, como mostra a Figura
4. Por sua vez, na aplicação de carga
ascendente, foi confeccionado e utilizado um
suporte que funciona como uma abraçadeira e
possibilitou a elevação do corpo de prova e
posicionamento do pistão e anel na parte
inferior da prensa, como apresentado na Figura
5.
Figura 2. Processo de perfuração dos modelos de ensaio.

Figura 3. Resultado final das perfurações preenchidas por


argamassa.

Os corpos de prova foram deixados em cura


por 72 horas, e logo após, foi realizado o ensaio
de prova de carga sobre a estaca de forma
ascendente e descendente, com 7 repetições
para cada sentido de aplicação de carga.

Figura 4. Sistema de aplicação de carga ascendente.


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Figura 7. Estacas exumadas após prova de carga.

2.2 Análise Estatística

Os valores obtidos foram analisados


estatisticamente, aplicando-se teste de
Figura 5. Sistema de aplicação de carga descendente. probabilidade, para aferir a similaridade entre os
diferentes tratamentos, carga ascendente vs
Cargas verticais crescentes foram aplicadas e os carga descendentes.
dados de intensidade de carga e deslocamento Segundo Decourt-Quaresma (1978), as
da estaca foram coletados até estabelecer o cargas que levam a ruptura das estacas
limite de carga admissível do solo, o que poderiam ser consideradas, no caso de solos
permitiu a comparação e determinação do finos, quando se atinge um deslocamento da
comportamento da curva de carga x estaca aproximadamente igual a 10% do
deslocamento dos ensaios descendentes e diâmetro da estaca, ou seja, de 2,245 mm para o
ascendentes. A Figura 6 mostra um corpo de modelo apresentado. Visto isso, plotou-se os
prova após a ruptura geotécnica, já a Figura 7 resultados das diferentes provas de carga e se
apresenta algumas das estacas exumadas após a determinou os valores de carga para
realização da prova de carga. deslocamento das estaca a 10% do seu diâmetro
(2,245 mm) conforme ilustrado pela Figura 8
que traz o resultado de uma das provas de carga
descendente realizadas.

Figura 8. Gráfico de uma prova de carga descendente


Figura 6. Corpo de prova após ruptura geotécnica. com reta auxiliar
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De posse desses dados, aplicou-se o Teste-t uma prova de carga ascendente e a Figura 10 o
para averiguar a hipótese nula de que as médias gráfico de uma prova de carga descendente. As
para os ensaios ascendentes e descendentes são estacas foram solicitadas até a ruptura
iguais, tendo em vista que os resultados obtidos geotécnica.
tratam-se de amostras independentes e
possuindo uma. distribuição normal.
Por tanto aplicou-se o Teste-t para duas
amostras independentes, objetivando-se
comparar as médias da carga obtida conforme
anteriormente descrito levando-se em
consideração o desconhecimento das
respectivas variâncias encontradas entre os
resultados obtidos para as provas de carga.

3 RESULTADOS
Figura 9. Curva carga x deslocamento no ensaio
3.1 Ensaios Laboratoriais no Solo ascendente.

Os valores referentes aos ensaios de


caracterização do solo em análise -
granulometria, limites de consistência, massa
específica dos sólidos e compactação, são
apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Resultados da Caracterização Geotécnica


Ensaios Resultados
Massa Específica 2,79 g/cm³
Granulometria (%)
Fração Pedregulho -
Fração Areia 29
Fração Silte 38 Figura 10. Curva carga x deslocamento no ensaio
Fração Argila 33 descendente.
Limites de Atterberg (%)
Limite de Liquidez 44,61 Nos ensaios realizados, a tensão geotécnica
Limite de Plasticidade 34,28 máxima, ou seja, o atrito lateral unitário
Índice de Plasticidade 10,33 máximo alcançado, na prova de carga
Compactação descendente foi 82,38 kPa e na prova de carga
Umidade ótima 24,5% ascendente foi de 78,45 kPa. Já o deslocamento
Massa específica aparente seca máxima 1,55 g/cm3
máximo para os ensaios descendentes foi 7,71
mm e para os ascendentes foi 7,16 mm.
3.2 Resistência das Estacas
3.3 Teste-t
Para verificar o atrito lateral das estacas
presentes nos corpos de prova ensaiados, A Tabela 3 abaixo apresenta os resultados para
determinou-se a curva força x deslocamento análise proporcionada pelo test-t.
para os ensaios ascendentes e descendentes, a
título de exemplo a Figura 9 traz o gráfico de
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Tabela 3. Teste-t para duas amostras em par para média


Variável 1 Variável 2
Média 59,8571 84
Variância 338,8095 396
Observações 7 7
Correlação de Pearson 0,4723
Hipótese da diferença
de média 0
gl 6
Stat t -3,2394
P(T<=t) uni-caudal 0,0088
t crítico uni-caudal 1,9432
P(T<=t) bi-caudal 0,0176
t crítico bi-caudal 2,4469
Figura 11. Esquema de tensões geostáticas ao longo do
comprimento da estaca.
4 DISCUSSÕES
Para o modelo produzido, o peso específico
A diferença na intensidade da carga resistida de projeto foi 18,60 kN/m3, o comprimento da
nos dois sentidos de aplicação foi analisada pelo estaca foi de 17,79 cm e o coeficiente de
Teste-t. O teste, ao nível de significância de 5%, empuxo ativo (ka) é da ordem de 0,2. Dessa
rejeitou a hipótese nula, pois os valores obtidos forma, a máxima tensão geostática alcançada,
tanto na análise unicaudal quanto na bicaudal na ponta da estaca, é 0,66 kN/m2. Esta tensão é
estão abaixo do valor crítico. Dessa forma, muito pequena quando comparada às
determina-se que as médias não são iguais, por intensidades de carga obtidas pelas provas de
tanto há diferenças significativas entre elas, em carga, o que pode justificar a não observância
outras palavras a intensidade de carga do comportamento anômalo dos gráficos de
ascendente e descente são diferentes. sentido ascendente, uma vez que a carga é
Entretanto, através de uma análise visual das aplicada em um ponto de tensões geostáticas
curvas carga versus deslocamento de ambos os ainda pequenas.
sentidos de carga, não foi possível verificar um De acordo com essas análises, foi proposto
comportamento divergente significativo entre um modelo com fator de escala maior, o qual
elas, como a anomalia apresentada no sentido permitirá analisar o atrito lateral a partir de um
ascendente, comum de ocorrência em provas de estado de tensões significativas. Neste modelo,
carga bidirecionais hidroexpansivas Arcos. o qual está apresentado na Figura 13 (a), a
A tensão geostática ao longo do estaca foi confeccionada com 3 cm de diâmetro
comprimento da estaca está representada na e comprimento de 1 m no interior de uma massa
Figura 11 e pode ser calculada pela Equação 1: de solo compactado dentro de uma manilha
construída em concreto, mantendo-se o mesmo
σ3 = γ Ka h (1) peso específico de projeto para o solo. Para
essa profundidade, atinge-se uma tensão
Em que: geostática confinante de 3,72 kN/m². A Figura
σ3 é a tensão geostática; 12 (a) apresenta o esquema montado para
γ é o peso específico do solo; aplicação de carga ascendente dos modelos no
ka é o coeficiente de empuxo ativo; e molde CBR. A curva carga versus deslocamento
h é a profundidade do ponto analisado. encontrada no ensaio no modelo em escala
menor e a curva esperada no ensaio de escala
maior estão representadas nas Figuras 12 (b) e
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13(b), respectivamente. Infraestrutura de Vias Terrestres e Obras


Geotécnicas e ao DTECH – Departamento de
Tecnologia em Engenharia Civil, Computação e
Humanidades da Universidade Federal de São
João Del-Rei - Campus Alto Paraopeba.

REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
6459: 1984. Determinação do Limite de Liquidez. São
Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
Figura 12 (a). Esquema Figura 13 (a). Esquema 6457:2016. Amostras de solo – Preparação para
de aplicação de carga de aplicação de carga ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
no modelo estudado. no modelo proposto. São Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
6508: 1984. Ensaio de Massa Específica dos Grãos.
São Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
7180:1984. Determinação do Limite de Plasticidade.
São Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
7181:1984. Análise Granulométrica. São Paulo.
Figura 12(b). Curva Figura 13 (b). Curva carga x Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
Carga x deslocamento deslocamento do modelo 7182:1984. Ensaio de Compactação. São Paulo
do modelo estudado. proposto. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
12655:2015. Concreto de cimento Portland —
Preparo, controle, recebimento e aceitação —
5 CONCLUSÃO Procedimento. Rio de janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
6122:2010. Projeto e execução de fundações. Rio de
Do presente trabalho, conclui-se que, no método janeiro.
de análise para avaliar o atrito lateral na prova Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
de Carga Bidirecional Arcos, há uma diferença 12131:2006. Estacas – Provas de carga estática –
significativa entre as médias das intensidades Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Décourt, L. (1998) Análise e Execução de Estacas
das cargas nos sentidos ascendentes e
Profundas. In W. HACHICH et al. (eds.), Fundações:
descendentes. Porém, o modelo estudado não Teoria e Prática, 2 ed., Pini, São Paulo.
foi capaz de atingir um nível de tensões Décourt, L. e Quaresma, A. R. (1978) Capacidade de
significativos para analisar o comportamento carga de estacas a partir de valores SPT, Congresso
das curvas carga versus deslocamento obtidas Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de
Fundações. VI COBRAMSEF, Rio de Janeiro, p. 45-
na aplicação de carga ascendente dos ensaios de
53.
escala real, comum de ocorrência, necessitando Gotlieb, M. (2008) Concepção de Projetos e
de estudos que verifiquem o que acontece nos Desempenho das Fundações, Seminário de
ensaios em escala real, conforme discutido Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia. VI
anteriormente, mas ainda em andamento. SEFE, São Paulo, v. 1. p. 185-190.
Langone, M. J. (2012) Método UFRGS de previsão de
capacidade de carga em estacas: análise de provas
de carga estáticas instrumentadas. Dissertação de
AGRADECIMENTOS Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Os autores agradecem à Arcos Engenharia de Federal do Rio Grande do Sul, 48 p.
Ontiveros, J. A. (2012) Estudo de carga lateral e de
Solos, ao Grupo de Pesquisa INFRAGEO –
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ponta em estacas moldadas “in loco” via


metodologia alternativa de prova de carga.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
187 p.
Silva, P.H.C.A.F. (1986) Célula Expansiva
Hidrodinâmica – Uma nova maneira de executar
prova de carga, Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia de Fundações. VIII
COBRAMSEF, Porto Alegre, p.223-241.
Vesic, A. S. (1963) Bearing Capacity of Deep
Foundations in Sand. Highway Research Record No.
39, National Academy of Sciences, Washington,
D. C., p. 112-154.
Wolney, D. (2013). Provas de carga estática com célula
expansiva hidrodinâmica, Revista Fundações e Obras
Geotécnicas, Ano 4, nº 36,p. 24 a 32.
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Estudo do Comportamento Geotécnico de Sapatas Assentes sobre


Solo Melhorado com Estaca Mini-RAP
Tales Moreira de Oliveira
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Flávio Luiz de Carvalho


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, flaviocs.sl@gmail.com

Tulio Pena da Silva


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tuliopena@gmail.com

Caio Araujo Marinho


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, caio.araujo.marinho@gmail.com

Claudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, silvac@ufv.br

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil, gregorio@unb.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar o melhoramento de solo devido a utilização de
estacas Mini-RAP assentes sob sapatas. Executou-se em campo ensaios de caracterização do solo,
quatro ensaios de prova de carga, sendo estas: i) uma prova de carga direta sobre a estaca; ii) duas
provas de carga sobre uma placa rígida de aço assente sobre o solo melhorado com uma e duas
estaca Mini-RAP; iii) uma prova de carga sobre uma placa rígida assente sobre o terreno nas suas
condições naturais. Em laboratório, por meio de ensaio em escala reduzida tipo similitude restritiva
(1g) estudou-se o comportamento geotécnico da interação solo – estaca – sapata. Os resultados,
indicam uma estaca altamente funcional, de bom desempenho, cujo melhoramento do solo é obtido
permitindo assim o assentamento de sapatas sobre o solo melhorado.

PALAVRAS-CHAVE: Mini-RAP, Melhoramento de solo, Estaca Granular, Prova de Carga,


Modelo Reduzido (1g)

1 INTRODUÇÃO uma camada profunda mais competente, ii)


substituição do solo local por solo de maior
Com o crescimento acelerado dos grandes competência e iii) adequação dos solos para
centros urbanos, é cada vez mais comum a atender as solicitações impostas, através de
utilização de solos com baixa capacidade de “Técnicas de Melhoramento dos Solos”.
suporte para fundações (SOARES, 2002), Neste contexto este trabalho apresenta um
principalmente pela supervalorização das áreas estudo sobre a técnica de melhoramento de
mais nobres (CONSTANCIO, 2010). solos baseada na utilização de estacas
Quando se é verificada a necessidade de granulares compactadas. Segundo Amorim et.
melhoramento, LOPES (2011) aponta a al. (2012) o processo de compactação é capaz
possibilidade de i) transferência das cargas para de proporcionar redução do índice de vazios,
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aumentando a capacidade de carga da fundação 2 MATERIAIS E MÉTODOS


e redução do recalque.
No ano de 1989 a Geopier Fundation 2.1 Campo Experimental
Company desenvolveu o primeiro sistema
Rammed Aggregate Pier® (RAP) e desde então Todo trabalho foi desenvolvido na Universidade
milhares de estruturas em todo mundo utilizam Federal de São João del Rei, Campus Alto
a tecnologia, em alternativa a grandes Paraopeba, na cidade de Ouro Branco (MG),
escavações e substituições de solo ou ainda a tanto para os ensaios em campo experimental
utilização de fundações profundas (IONESCU e quanto no laboratório.
BECK, 2010). Especificamente, a metodologia
Geopier GP3® consiste na execução de um furo 2.2 Investigação geotécnica
para lançamento de agregado e compactação do
mesmo, sendo este processo repetido em As características do campo experimental foram
sucessivas camadas, até o total preenchimento avaliadas a partir de ensaios, necessários para o
do furo. dimensionamento das estacas de melhoramento
Essa metodologia proporciona ganho na Mini-RAP. Iniciou-se pela execução de
resistência e rigidez do agregado devido a sondagens de simples reconhecimento, que são
compactação e ainda o pressiona contra as imprescindíveis para que o engenheiro possa ter
paredes laterais do furo, gerando tensões uma ideia geral do subsolo, antes da realização
radiais. Obtem-se, portando, aumento da de qualquer ensaio de campo (MASSAD,
capacidade suporte e redução de recalques 2010). Foram feitos 5 sondagens a trado com
(OLIVEIRA et al. 2016). profundidade de 4 m.
Buscando desenvolver um modelo que possa Após a caracterização inicial, fez-se 5 ensaios
ser abrangente e atenda obras de pequeno e SPT, 5 ensaios Pressiométrico de Menard
médio porte, OLIVEIRA et al. (2016) introduz (PMT), sendo que em cada ensaio PMT
ao meio geotécnico Brasileiro um estaca RAP realizou-se a leitura em 4 profundidades
modificada, denominada Mini-RAP, cujo distintas, ao longo do perfil do solo. Para
processo de execução se da de forma realização do ensaio de resistência Triaxial
simplificada utilizando o equipamento de Consolidado Isotropicamente e Drenado (CID),
Standard Penetration Test (SPT). A Mini-RAP foram retiradas 4 amostras de blocos
possui diâmetro de 0,15 m e fora utilizada indeformados, ao longo de uma escavação, nas
escória de aciaria em substituição ao agregado profundidades de 0,5 m, 1,5 m, 2,5 m e 3,5 m,
natural britado, tendo em vista a grande para as quais também se realizou ensaio de
disponibilidade do produto na região do estudo. cisalhamento direto inundado.
Neste trabalho realizou-se a execução de
estacas Mini-RAP em campo experimental. 2.3 Mini-RAP
Fez-se um estudo geotécnico da área, visando
determinar suas características. Foram feitas Realizou-se todo processo executivo das estacas
provas de carga em placa sobre o solo natural, Mini-RAP de acordo com a metodologia
sobre uma e duas estacas e prova de carga proposta por OLIVEIRA et al. (2016).
diretamente sobre uma estaca. Fez-se ensaios
em escala reduzida tipo similitude restritiva 2.3.1 Agregado
(1g), variando-se o comprimento e a
quantidades de estacas assentes sob placa. Utilizou-se para construção das estacas em
Objetiva-se analisar o comportamento de campo a escória de aciaria, devidamente
sapatas assentes sobre o terreno melhorado com beneficiada e enquadrada na curva
estacas Mini-RAP. granulométrica indicada na figura 1.
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Diâmetro (mm) 2.4 Modelo reduzido


0,01 0,1 1 10 100
0,0
10,0 Realizou-se todo processo executivo das estacas
20,0 Mini-RAP em modelo reduzido de acordo com
30,0
a metodologia proposta por COSTA et al.
% Retida

40,0
50,0 (2017), com um fator de redução geométrico
60,0
70,0
igual a 15%.
80,0
90,0 2.4.1 Agregado
100,0
n = 0,5
Figura 1. Curva granulométrica da escória. Foi aplicado o fator de escala de 15% na curva
granulométrica apresentada por meio do item
2.3.2 Método executivo 2.3.1.

De acordo com o exposto na figura 2, iniciou-se 2.4.2 Método construtivo do sistema


a construção da Mini-RAP a partir da escavação
do furo (1). Foi utilizado trado manual tipo Utilizou-se de uma caixa rígida quadrada com
concha de 15 cm de diâmetro. Partiu-se para o lado de 1 m, instalada em conjunto a um pórtico
processo de compactação do agregado (2). metálico. A viga superior deste pórtico servira
Utilizou-se das canarias do equipamento de de reação, onde pode-se conectar um cilindro
SPT, com a ponta instalada sobre uma placa pneumático para aplicação de carga (regulada
circular rígida de 15 cm de diâmetro. Na por registro e manômetro digital). Entre a estaca
extremidade superior da haste, que recebeu os e o cilindro, instalou-se um anel
golpes do martelo, utilizou-se a própria peça do dinamométrico. Para leitura do deslocamento,
SPT, denominada usualmente de cabeça de acoplou-se um relógio comparador ao sistema,
bater. Para iniciar o processo de compactação sobre uma placa metálica de 12 cm de diâmetro,
inicialmente fez o lançamento de camada de utilizada para simular uma sapata.
escória, com de cerca de 30 cm, com a placa Para compactação do solo no interior da
rígida apoiada sobre o material granular caixa. Fora utilizado material amostrado do
aplicou-se 17 golpes padronizados de acordo campo experimental, tendo suas propriedades
com a metodologia do ensaio SPT (3). Repetiu- definidas de acordo com COSTA et al. (2017).
se o processo até o total preenchimento do furo Para execução das estacas confeccionou-se
(4). um pequeno trado para escavação do solo
compactado no interior da caixa. A sapata foi
simulada por meio de uma placa metálica, de
formato circular com 12 cm de diâmetro.
Concebeu-se hastes rosqueadas de diferentes
comprimentos para permitir a execução da
compactação em diferentes profundidades.
Determinou-se a energia de compactação por
meio da correlação entre o peso específico de
campo e do modelo reduzido, associando-se a
energia de compactação para cada uma delas.
Para tanto, foi definido a aplicação de 1 golpe
por camada utilizando o soquete do ensaio
Proctor Normal, com altura de queda de 35 cm,
Figura 2. Processo executivo Mini-RAP.
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na confecção das estacas que possuíam 2,25 cm


de diâmetro.

2.5 Ensaio de prova de carga

2.5.1 Provas de Carga em campo

Após a construção das estacas Mini-RAP no


campo experimental, se iniciou a campanha de
ensaios sobre as mesmas. Foram feitas 4 provas
de carga. A primeira consistiu em prova de
carga em placa sobre o terreno de fundação.
Duas outras foram realizadas sobre a placa
apoiada em uma estaca Mini-RAP e sobre duas
estacas Mini-RAP. Por fim, fez-se uma prova
de carga diretamente sobre a estaca, que teve Figura 5. Prova de carga sapata sobre Mini-RAP.
seu topo devidamente preparado.
O ensaio iniciou com a anotação das leituras
O sistema de reação utilizado consistiu em
dos relógios comparadores, e logo após com
estruturas fixadas ao terreno através de
aplicação de carga em diferentes estágios de
elementos tracionados, conforme Figuras 3 e 4:
carregamento. Os incrementos foram realizados
em estágios de 10% da carga de trabalho
prevista. A carga, em cada estágio, foi mantida
durante 10 minutos, sendo feita a leitura dos
relógios no instante de aplicação da carga e em
intervalos de tempos de 1 e 10 minutos até a
carga máxima proposta para o ensaio, na qual
foi aferido deslocamentos nos tempos de 10, 30,
60, 90 e 120 minutos. Após a conclusão da
etapa de carregamento, procedeu-se aos estágios
de descarregamento, realizado em cinco
estágios até o descarregamento total, conforme
NBR 12131: 2006.
Figura 3. Sistema de reação.
2.5.2 Modelo reduzido

Em modelo reduzido trabalhou-se com 2


experimentos: i) O primeiro consistia na
variação da quantidade de estacas assentes sob a
sapata, foram feitos 4 configurações distintas,
repetindo-se 5 vezes cada ensaio. ii) No
segundo foi avaliado a variação no
Figura 4. Montagem da prova de carga. comprimento das estacas assentes sob sapata,
foram testados 4 comprimentos repetindo-se 4
Utilizou-se uma placa rígida com área de vezes cada ensaio. Na figura 6 tem-se o sistema
0,5 m², 2 relógios comparadores com precisão construído para execução dos ensaios e a
de 0,01 mm, macaco hidráulico munido de figura 7 a geometria experimento i). Para o
bomba e manômetro, conforme figura 5. experimento ii) adota-se a mesma disposição
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das sapatas exposta na figura 7, entretando, sapata (placa). Foram realizadas leituras no
tem-se uma estaca sob cada sapata, variando-se instante de aplicação da carga e em 1 e 10
os comprimentos em 12, 24, 36 e 48 cm. minutos.

2.5 Métodos de Análise

2.5.1 Critério de Boston

Para a interpretação dos resultados das provas


de carga de campo feitas sobre placa, adotou-se
o critérios do Código de Boston, sendo este em
termos de recalque e ruptura.
Para as provas de carga em modelo reduzido,
avaliou-se apenas qualitativamente os gráficos
dos ensaios.

2.5.1 Método de Van der Veen

Figura 6. Sistema para ensaio em modelo reduzido. Para avaliação da prova de carga feita
exclusivamente sobre a estaca, optou-se pelo
método de Van der Veen, devido sua
interpretação através de formulação matemática,
sendo a metodologia que melhor se ajustou aos
dados obtidos.

3 RESULTADOS

Na tabela 1 é possível visualizar as


características relativas a cor e granulometria do
campo experimental:
Figura 7. Geometria do estaqueamento (Experimento i)
Tabela 1. Sondagem a trado.
ID 1 2 3 4 5
Estando o solo compactado no interior da Prof. (m) C G C G C G C G C G
caixa e as estacas construídas, posicionou-se o 0,0 – 0,5 4 A 5 A 2 A 4 B 4 B
centro da sapata sobre o centro da estaca (ou do 0,5 – 1,0 4 A 6 A 2 A 4 B 4 B
grupo). Logo acima da sapata instala-se o anel 1,0 – 1,5 4 A 7 A 2 A 4 B 4 B
dinamométrico que recebe a carga do pistão. Há 1,5 – 2,0 4 A 5 A 2 A 4 B 4 B
2,5 – 2,5 4 A 6 A 2 A 4 B 4 B
ainda uma rótula entre o contato sapata/anel. 2,5 – 3,0 4 A 4 A 8 A 4 B 4 B
Determinou-se 10 estágios de carga com 3,0 – 3,5 4 A 3 A 4 A 4 B 4 B
incrementos de 10% do valor determinado para 3,5 – 4,0 4 A 3 A 4 A 4 B 4 B
ruptura. As leituras das cargas foram feitas por Legenda de cores (C) e granulometria (G)
meio do anel dinamométrico (F=kx) onde “k” Cores: 1 – Rosa avermelhado, 2 – Rosa, 3 – Marrom
Escuro, 4 – Marrom, 5 - Bege, 6 - Marrom Claro, 7-
representa a constante elástica do anel e “x” a Roxo escuro e 8 - Rosa escuro.
sua deformação vertical e os deslocamentos da Granulometrias:
sapata foram medidos com uso de relógio A – Silte Areno Argilo;
comparador devidamente posicionada sobre a B – Silte Argilo Arenoso.
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Na tabela 2 é apresentado o resultados dos Tabela 4. Triaxial.


ensaios de SPT: Cisalhamento direto
Triaxial Tipo CID
Prof. inundado
ID
(m) Parâmetros para Parâmetros
Tabela 2. Sondagem a simples percusão.
resistência de pico efetivos
ID 1 2 3 4 5
C (kPa) Ø C (kPa) Ø
Prof. (m) NSPT (FINAL)
1 0,5 25 25 39,9 25,7
1 15 10 13 11 12 2 1,5 31 28 36,8 29,6
2 17 10 10 8 13 3 2,5 40 22 24,2 29,9
3 13 15 14 8 15 4 3,5 43 20 35 23,8
4 13 16 20 8 16
5 20 22 21 7 16
6 - - - - 16 Aplicando os procedimentos descritos
7 - - - - 17 anteriormente, foram feitas as provas de carga
8 - - - - 18 em campo e em modelo reduzido. A Figura 8
apresenta os valores obtidos para os ensaios de
Na tabela 3 é possivel visualizar os resultados campo, apresentados na forma gráfica.
do ensaio PMT.
Carga (tf)
Tabela 3. Sondagem a simples percusão.
EM 0,0 20,0 40,0 60,0
ID Profundidade (m) G (kPa) EM/Pl CV(%) 0,0
(kPa)
1 1 12907 4852 17,07
Deslocamento (mm)

2 1 9457 3555 13,62 10,0

3 1 16958 6375 18,66 19,20


4 1 8729 3281 13,07 20,0
5 1 11559 4345 12,99
1 2 15085 5671 16,93 30,0 PC S 2E2,40 PC S 1E2,40
2 2 19955 7502 19,51 PC E2,40 PC - SOLO
3 2 25183 9467 23,00 11,10
4 2 15977 6006 19,92 Figura8. Curva carga e deslocamento.

5 2 19518 7337 19,34


A curva “PC S 2E2,40” é indicativa dos
1 3 22012 8275 17,92 resultados referentes a prova de carga feita em
2 3 22883 8603 18,56 sapata assente sobre solo melhorado com 2
3,01
3 3 19393 7291 19,16 estacas Mini-RAP de 2,40 m. A curva
4 3 18561 6978 19,06 “PC S 1E2,40” é indicativa dos resultados
referentes a prova de carga feita em sapata
1 4 21262 7993 20,42
assente sobre solo melhorado com 1 estaca
2 4 21091 7929 18,99 5,92 Mini-RAP de 2,40 m. A curva “PC E2,40” é
3 4 23656 8894 18,20 indicativa dos resultados referentes a prova de
carga feita diretamente na estaca Mini-RAP de
Em que “EM” é o Módulo de Deformabilidade 2,40 m. E por fim, a curva “PC-SOLO” é
Pressiométrico de Ménard, “G” é o Módulo referente a prova de carga efetuada sobre placa
Cisalhante, “PI” é a pressão de limite e CV é o no terreno natural. Na tabela 5 pode-se encon-
coeficiente de variação obtido para os ensaios. trar os valores das cargas admissíveis do solo.
Para os ensaios de resistência tem-se a
tabela 4:
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Tabela 5. Carga Admissível. Provas de Carga Terceira Repetição


Prova de carga Carga (tf) Tensão (kPa)
PC-SOLO 8,0 0 50 100 150 200 250 300
0
PC E2,40 12,5
PC S 1E2,40 A* 5
PC S 2E2,40 33,0
10

Deslocamento (mm)
15
O resultado referente ao ensaio em modelo
reduzido para o primeiro experimento (variação 20

na quantidade de estacas) é apresentado nas 25


Figuras 9, 10, 11,12 e 13. 30

35
Provas de Carga Primeira Repetição
Tensão (kPa) 40 0 ESTACA 1 ESTACA
2 ESTACAS 4 ESTACAS
0 50 100 150 200 250 300
0
Figura 11. Experimento i) terceira repetição.
5

10 Provas de Carga Quarta Repetição


Deslocamento (mm)

Tensão (kPa)
15
0 50 100 150 200 250 300
20 0
25 5
Deslocamento (mm)

30 10

35 15
0 ESTACA 1 ESTACA 20
40 2 ESTACAS 4 ESTACAS
25
Figura 9. Experimento i) primeira repetição. 30
35
Provas de Carga Segunda Repetição
40 0 ESTACA 1 ESTACA
Tensão (kPa)
2 ESTACAS 4 ESTACAS
0 50 100 150 200 250 300
0
Figura 12. Experimento i) quarta repetição.
5
Deslocamento (mm)

10 Provas de Carga Quinta Repetição


Tensão (kPa)
15
0 50 100 150 200 250 300
20 0
5
25
10
Deslocamento (mm)

30
15
35
20
40 0 ESTACA 1 ESTACA 25
2 ESTACAS 4 ESTACAS
30
Figura 10. Experimento i) segunda repetição.
35
40
0 ESTACA 1 ESTACA
2 ESTACAS 4 ESTACAS

Figura 13. Experimento i) quinta repetição.


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Os resultados referentes ao ensaio em modelo Provas de Carga Terceira Repetição


reduzido para o segundo experimento (variação Tensão (kPa)
0 50 100 150 200
no comprimento de estacas) é apresentado nas 0
figuras 14, 15, 16 e 17.
10
Provas de Carga Primeira Repetição
20
Tensão (kPa)
0 50 100 150 200
30
0
40

Deslocamento (mm)
10
50
20
60
30
70
40
Deslocamento (mm)

80
50
90
60
100
70
110 0,5 x BT 1,0 x BT
80 1,5 x BT 2,0 x BT

90 Figura 16. Experimento ii) terceira repetição.

100 Provas de Carga Quarta Repetição


0,5 x BT 1,0 x BT Tensão (kPa)
110 0 50 100 150 200
1,5 x BT 2,0 x BT
0
Figura 14. Experimento ii) primeira repetição.
10
Provas de Carga Segunda Repetição
Tensão (kPa) 20
0 50 100 150 200
0 30

10 40
Deslocamento (mm)

20 50

30 60

40 70
Deslocamento (mm)

50 80

60 90

70 100
0,5 x BT 1,0 x BT
80 110 1,5 x BT 2,0 x BT

90 Figura 17. Experimento ii) quarta repetição.

100

110 0,5 x BT 1,0 x BT


1,5 x BT 2,0 x BT
Figura 15. Experimento ii) segunda repetição.
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4 DISCUSÃO Abordando-se os ensaios em modelo reduzido


é possível que se possa realizar uma avaliação
Percebe-se pela avaliação das sondagens a trado qualitativa das informações. Por meio do
que o campo experimental encontra-se em uma experimento i, onde ocorre a variação na
área com características similares pelo ponto de quantidade das estacas, percebe-se uma
vista de origem, conformado de solos silto confirmação das respostas obtidas em campo,
areno argiloso. No que tange o comportamento onde se observa um significativo ganho na
geotécnico do perfil de estudo em termos de redução dos recalques com incremento das
homogeneidade, encontra-se um coeficiente de estacas Mini-RAP, bem como da carga de
variação entre 15 e 30% tomando-se por base os ruptura. Observa-se que o modelo N5 apresenta
valores de NSPT obtidos para as diferentes um outlier em relação aos demais. Pode-se
camadas. Para o PMT, tem-se um coeficiente de levantar hipóteses, sendo estas, a falha no
variação de 19% no primeiro metro, sendo este sistema de instrumentação, erro na execução do
valor reduzido com o aumento da profundidade, ensaio ou preparação do mesmo.
em relação as diferentes repetições de ensaios, Para o experimento ii, em que se estuda a
atingindo um coeficiente de variação de 5,92% variação do comprimento das estacas, percebe-
aos 4 m. Portanto, é valido dizer que o campo se que não há um ganho significativo ao se
experimental se apresente de forma variar o comprimento do elemento. Apenas para
razoavelmente homogênea, permitindo que as fins de comparativo entre os resultados do
diferentes Mini-RAPs executadas possam ser próprio modelo, tem-se que os valores das
comparadas. cargas de ruptura para as estacas com
A partir da figura 8, mostrada acima, é comprimento de 0,5xB (12 cm), 1xB (24 cm),
possível verificar um comportamento crescente 1,5xB (36 cm) e 2xB (48 cm) são
quanto a capacidade suporte do solo ao se respectivamente de 2,26 kgf, 2,30 kgf, 2,03 kgf
adicionar estacas Mini-RAP sobre uma e 2,43 kgf. Em termos de tensões tem-se
fundação superficial. Há um ganho significativo 56,12 kPa, 58,0 kPa, 51,0 kPa e 62,0 kPa.
em termos da diminuição do recalque. As Portanto, é visivel a baixa influencia da
cargas admissíveis determinadas foram de variação do comprimento no desempenho da
8,0 tf, 12,5 tf e 33,0 tf, respectivamente para o Mini-RAP, mas percebe-se que comprimento
ensaio no solo, ensaio diretamente na estaca e 2xB é o mais eficiente, concordando com os
ensaio no conjunto sapata assente sobre estudos de CASTRO (2014).
2 estacas Mini-RAP.
Em relação a curva PC S 1E2,40 (A*), que diz
respeito ao ensaio do conjunto sapata assente 5 CONCLUSÃO
sobre 1 estacas Mini-RAP, é visível o fato que
Dado o exposto pode-se dizer que a nova
de que a curva não representou o estágio de
metodologia avaliada, denominada Mini-RAP,
plastificação. A opção da escolha do método de
apresenta boa resposta como técnica de
Van der Veen para análise desta curva, fez-se
melhoramento de solo tipo estaca granular
justamente para tentar extrapolar a curva e
compactada. Observa-se sua funcionalidade na
obter-se a carga de ruptura. Entretanto,
minimização dos recalques para sistemas de
percebeu-se um valor demasiadamente elevado,
fundação superficial.
que não representaria a realidade. Vale ressaltar
Em relação ao viés de sua metodologia
que este ensaio foi interrompido neste nível de
simplificadora, pode-se observar um potencial
tensão e recalque devido ao limite de
para aplicação em obras de pequeno e médio
capacidade de carga dos mecanismos de reação,
porte, devido a facilidade para execução do
impossibilitando incrementos de carga capaz de
processo construtivo e obtenção dos
se levar a ruptura do solo de fundação.
equipamentos necessários.
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REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 12131: Estacas – Prova de carga
estática – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2006.
AMORIM, M. D. et al. Análise de provas de carga em
placa sobre terreno melhorado com estacas de
compactação. In: SEFE7 - Seminário de Engenharia
de Fundações Especiais e Geotecnia, 2012, São Paulo.
CASTRO, J. Numerical modelling of stone columns
beneath a rigid footing. Computers and Geotechnics.
v. 60, p. 77-87, 2014.
CONSTANCIO, L. A. Capacidade de carga de um
modelo de fundação superficial em solo arenoso
fofo com reforço de geotêxtil. 2010. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Estatudal de Campinas, Campinas,
2010.
COSTA, Y. et al. Estaca Análise do comportamento
geotécnico de estacas tipo mini-rap, sob a ótica de
modelos reduzidos (não centrifugado) 1g. In:
SIMPÓSIO DA PRÁTICA DE ENGENHARIA
GEOTÉCNICA NA REGIÃO CENTRO-OESTE, IV,
2017, Goiânia, Anais eletrônicos, Goiânia:
GEOCENTRO, 2017. Disponível em: <
https://drive.google.com/file/d/1TTrBkgVIieH1-tBb3I
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2018.
HACHICH, W. et al. Fundação Teoria e Prática. 2 ed.
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IONESCU, B. BECK, A. Soil improvement by Geopier
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SCIENTIFIC CONFERENCE, V, 2010, Brasov,
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LOPES, P. J. G. Colunas de brita no melhormento de
solos moles. 2011. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Geológica) – Universidade de Aveiro,
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MASSAD, F. Obras de terra: curso básico de
geotecnia. 2 ed. São Paulo: Oficina de Texos, 2010.
OLIVEIRA, T. et al. Estaca RAP Modificada. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA,
XVIII, 2016, Belo Horizonte, Anais eletrônicos, Belo
Horizonte: COBRAMSEG, 2016. Disponível em:
<https://ssl4799.websiteseguro.com/swge5/PROCEE
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SOARES, W. C. Estacas de compactação para
melhoria de solo. 2002. Dissertação (Mestrado em
Geotecnia) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
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Investigação Numérica do Comportamento da Fundação de uma


Torre de Telecomunicações em São Paulo
Tiago de Jesus Souza
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, Brasil, tiagojs@ita.br

David Americo Fortuna Oliveira


Jacobs/University of Wollongong, Sydney, Austrália, dafo407@gmail.com

Dimas Betioli Ribeiro/ Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, Brasil,
dimas@ita.br

RESUMO: Apresenta-se neste artigo discussões de estratégias para uma simulação com elementos
finitos das fundações de uma torre de telecomunicações. Tal estudo foi motivado pelo atual cenário
brasileiro, em que a implantação de novas tecnologias, tais como a expansão dos serviços de telefonia
celular, requer o acréscimo de antenas em torres de telecomunicações preexistentes, acarretando no
aumento de cargas na fundação. A torre em estudo está situada no município de São Paulo - SP,
possui fundação do tipo tubulão com 2,3 m de diâmetro executado a céu aberto e sem base alargada.
Dois casos principais são comparados, o primeiro associando um bloco de coroamento ao tubulão e
o segundo sem bloco de coroamento. É demonstrado que o bloco de coroamento tem relevante
influência na capacidade global da fundação, tanto lateral como vertical, sendo também incluídos no
estudo detalhes da interação do bloco de coroamento com o tubulão.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Tubulão, Bloco de Coroamento, MEF

1 INTRODUÇÃO utilizado como um exemplo de roteiro por


projetistas que desejem incluir análises por
Sendo a fundação uma parte essencial da elementos finitos em seus projetos a partir de
funcionalidade de uma estrutura, faz-se dados de SPT. Além disto, os resultados
necessária uma avaliação do seu desempenho. apresentados contribuem para o melhor
Devido à expansão dos serviços de telefonia entendimento do comportamento de fundações
celular no Brasil e implantação de novas tracionadas e preenchem a lacuna que existe na
tecnologias é comum que as operadoras literatura de simulações mais rigorosas deste tipo
solicitem o acréscimo de antenas nas torres de de problema. As ações que atuam nas estruturas
telecomunicações, implicando em novas cargas de telecomunicações são basicamente compostas
na estrutura. A correta escolha do método de por uma parcela de cargas permanentes (devido
cálculo para a capacidade de carga última do ao peso próprio da torre, fundação e
elemento de fundação vem em decorrência da equipamentos instalados) e uma parcela de
experiência e do julgamento dos profissionais cargas variáveis provenientes da ação do vento
envolvidos no problema. Há na literatura sobre a estrutura vertical e equipamentos
diversos métodos existentes para o cálculo da instalados.
capacidade de carga de fundações sujeitas a É apresentada a seguir uma breve concepção
momento fletor e força horizontal. A análise da das diferentes metodologias para avaliar o
interação entre os elementos estruturais e o solo comportamento de fundações.
de fundação em torres, é geralmente ignorada em
trabalhos da literatura. Neste contexto,
considera-se que este trabalho poderá ser
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1.1 Métodos Analíticos


1.3 Considerações de Modelagem
Para fundações sujeitas a esforços de momentos
fletores, bem como esforços horizontais, vários De acordo com Randolph, (1981) um modelo
métodos de cálculo são propostos na literatura. muito utilizado para a condução dos estudos
Miche (1930) propõe um método de cálculo para geotécnicos é o elástico linear com ruptura de
solo arenoso com força horizontal atuando no Mohr-Coulomb, o qual pode ser estimado com
topo da estaca. Matlock e Reese (1961) propõem as devidas limitações a partir de ensaios de
uma metodologia para solos arenosos também, campo, a exemplo do SPT.
contudo, com força horizontal e momento A partir dos resultados das simulações, é
atuando no topo da estaca, simultaneamente. possível avaliar a análise da influência de cada
Duncan, Evans e Ooi (1994) propuseram um parâmetro de entrada sobre a resposta do
método para argilas e areias, com força conjunto solo-elemento de fundação, em termos
horizontal e momento atuando no topo da estaca, de carga horizontal atingida, deflexão do
simultaneamente ou não. Broms (1964) propôs elemento de fundação e deformações do solo,
um método de cálculo para areias e argilas, com para cada geometria. Matsuoka e Nakai (1985),
força horizontal atuando no topo. Davisson e Nakai (2013), chegaram à conclusão de que os
Robinson (1965) propuseram um método de parâmetros que apresentam maior influência
cálculo para areias e argilas, com força numa modelagem numérica para fundações são:
horizontal, vertical e momento atuando no topo coesão aparente, módulo de Young e ângulo de
da estaca. Hetenyi (1946) propôs um método atrito interno. A partir desta premissa, para cada
para argilas, com força horizontal e momento geometria se estabelece uma lei de
atuando no topo da estaca. Há também o Método comportamento para a fundação submetida ao
Russo, muito utilizado para tubulões curtos, com momento que relaciona a carga horizontal com
força horizontal, vertical e momento atuando no um fator de parâmetros que agrega as variáveis
topo da estaca ( Ordujanz, 1954). mais influentes, contemplando as características
coesivo-friccionais do solo.
1.2 Utilização de Elementos Finitos De acordo com Wittle e Davies (2006), para
condição não drenada, o modelo convencional de
Com o desenvolvimento dos computadores, o Mohr-Coulomb não representa bem o
método dos elementos finitos (MEF) tem comportamento do solo particularmente moles.
ganhado destaque no campo de projetos, sendo o O exemplo clássico da utilização desse modelo
mais utilizado entre os métodos numéricos para condição não drenada é o caso da ruptura do
existentes. Carter et al. (2000), Chaudhari e Nicol Highway, no qual utilizou-se o modelo de
Chakrabarti (2012), aplicaram o MEF para Mohr-Coulomb com parâmetros efetivos que
resolver problemas de fundações. Desde então só sobre-estimaram a capacidade do solo (Wittle e
uma crescente e acelerada utilização do método Davies (2006) devido a deficiência do modelo
vem acontecendo. em capturar o desenvolvimento de excesso de
Vários programas comerciais de computador poro-pressões devido a processos concomitantes
têm sido desenvolvidos para a análise de e acoplados de compressão e cisalhamento.
fundações com o MEF, entre os que se podem
citar o programa MIDAS. Potts e Zdravkovic
(2001) utilizou o MIDAS para uma análise
tridimensional do comportamento de fundações
em um solo argiloso e Tochranis et al. (1991)
utilizou o MIDAS para obter a curva carga
recalque obtida numericamente e compara-la
com a curva obtida por metodologia teórica.
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O valor adotado nesse estudo foi de 20 graus


2 MATERIAIS E MÉTODOS que é um pouco menor se calculado com base nas
equações propostas na literatura deixando a
2.1 Características Geológico-Geotécnicas favor da segurança. O peso específico efetivo do
da Área de Estudo solo pode ser a partir dos valores aproximados da
proposta de Godoy e Teixeira (1996), em função
O solo presente neste local é da consistência da argila e da compacidade da
predominantemente silte argilo-arenoso, areia, respectivamente. O valor adotado foi de 
apresenta consistência mole nos primeiros =16kN/m³. Não se dispondo de ensaios de
metros de profundidade e atinge consistência laboratório nem de prova de cargas sobre placa
média aos 10 metros, com número de SPT para a determinação do módulo de
(Standard Penetration Test) geralmente acima de deformabilidade do solo (Es), podem ser
10 (Gandolfo et al., 2015). A figura 1 mostra a utilizadas correlações com a resistência de ponta
vista geral do local. com do cone (qc) ou com índice de resistência à
penetração (N) da sondagem SPT, como, por
exemplo, as apresentadas por Godoy e Teixeira
(1996):

E = α . K . NSPT (4)

Em que α e K são coeficientes empíricos dados


em função do tipo de solo e pode ser visto em
Godoy e Teixeira (1996). Essa metodologia é
Figura 1. Foto de satélite da região. Fonte: Google Earth aplicada para solos brasileiros. Para o caso em
(abril/2018).
estudo adotou-se E = 5000 kN/m²
Para a estimativa do valor de coesão quando não
2.2 Características da Estrutura/Fundação
se dispõem de resultados de ensaios de
laboratório, para solos brasileiros Godoy e
A torre metálica de 40 m de altura possui 4 pés
Teixeira (1996) sugerem a seguinte correlação
apoiados em um único bloco conforme indica a
com o índice de resistência à penetração (N) do
figura 2.
SPT:

𝐶 = 10 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 (KPa) (1)

Adotou-se a coesão de 15 kPa.

Para a adoção do ângulo de atrito interno da


areia, utilizou-se a proposta do Godoy e Teixeira
(1996) que menciona a seguinte correlação
empírica com o índice de resistência à
penetração (N) do SPT:
Figura 2. Vista frontal da base da torre.
∅ = 28° + 0,4𝑁 (2)
A fundação é do tipo tubulão a céu aberto,
Enquanto Teixeira (1996) utiliza: com 2,30 m de fuste, sem abertura de base e
profundidade de 8 m. A figura 3 indica a locação
∅= (20𝑁 ) + 15° (3) da fundação.
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2. 𝜎 . 𝐷.
𝑅 á ≤ − 𝜎 . 𝐷. (5)
𝐹𝑆

Onde:
Rmáx = reação máxima possível [kN];
σa e σp = tensões horizontais médias ativa e
passiva, respectivamente [kPa];
D e Δz = dimensão do fuste e espaçamento entre
as molas, ambos em [m].
Figura 3. Croqui esquemático da Fundação.

2.3 Características dos Carregamentos

Com base no peso próprio da torre, bem como no


peso de cada equipamento instalado e no vento,
foi possível estimar os esforços atuantes na
fundação. Por se tratar de uma torre de base
quadrada, a direção de vento avaliada para o
cálculo das reações na Fundação foi de 45 graus
em relação à estrutura. O resumo das reações no
pé da torre com as combinações de vento, são
Figura 4. Modelo construído no software Ftool.
apresentadas na tabela 1.

Tabela 1. Reações máximas características atuantes na


A tabela 2 apresenta os cálculos das tensões
fundação. horizontais e o valor da reação máxima possível
em profundidade.

Tabela 2. Reação máxima possível para evitar a


plastificação.
Foram aplicadas as forças Fx, Fy e Fz em cada
um dos nós (1a, 1b, 1c e 1d) que representa os
pés da torre (Figura 3).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Cálculo dos Deslocamentos pelo Método


da Mola

Para a modelagem do tubulão em profundidade,


consideraram-se apoios elásticos do tipo
Winkler e chegou-se a um deslocamento de 2,72
cm. O modelo utilizado foi montado no software Onde:
Ftool e é apresentado na figura 4. ka e kp = Coeficientes de empuxo ativo e passivo
Com base nesta metodologia o passo seguinte respectivamente que é calculado em função do
foi a verificação da plastificação do solo em ângulo de atrito assumido como 20º;
virtude das reações obtidas nas molas. Para que σ'v = Tensão vertical efetiva [kPa]
não ocorra a plastificação do solo, é necessário
que a equação 5, abaixo, seja atendida.
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De acordo com os valores apresentados, não é VERIFICAÇÃO TUBULÃO ISOLADO PELO MÉTODO RUSSO
Dados de Entrada

necessário reduzir os valores dos coeficientes de lado bloco


Reações de Apoio (topo do bloco)
Compressão vert. máx. Ck = 7,73
Momento fletor máx. Mk = 161,88 tf.m
tf

mola, pois as reações ficaram abaixo dos limites Nível terreno 3,00 m Horizontal máxima Hk =

h fora do solo
6,73 tf

máximos. Isto significa que não há plastificação altura bloco


1,60 m
0,20 m

do solo. solo lateral


Nspt = 4
densidade do solo = 1,6 tf/m3
reação horiz. h h = 100 tf/m3
ø fuste ang. Atrito f = 20,0 graus

3.2 Verificação das Tensões pelo Método


2,30 m Kp - Ka = 1,55
h fuste
6,60 m prof. tub.

Russo
8,00 m

Conforme dito no item 2.1, um dos métodos h cone


0,00 m

sugeridos para verificação de tubulões (elemento abertura base


90,0 graus

rígido) carregados transversalmente e que será solo abaixo da base


h base
0,00 m Nspt = 7
2,30 m reaçao vert. Kv = 700 tf/m3

utilizado na análise da fundação apresentada


ø base âng. Atrito ø = 20,0 graus
silte argilo arenoso coesão C = 1,50 tf/m2
Tipo solo = 231

neste artigo é o Método Russo. No Método Dados de Saida


Tensão admissível do solo na base

Russo, pode-se considerar atuando no topo da Nc´ = 11,80


Nq´ = 3,90

estaca: momento fletor, força horizontal e


Ny´ = 1,70
Prup solo = 7,48 kgf/cm2
Padm solo = 16,67 tf/m2

vertical simultaneamente, mas, apenas, para If= 1,37


Verificação de rigidez
m4 (mom. inércia fuste)

estacas curtas. Tubulões também podem ser Ab =


T=
4,15
8,31
m2
m
(área base tubulão)

dimensionados por este método pois são


OK ! Tubulão é rígido L < 4.T

Cálculo de deslocamentos no topo

considerados estacas curtas devido à sua relação Kl =


a=
a=
347,83
0,01614
0
tf/m3
rad
55
(rotação do topo do bloco)
28 (grau / min / seg )

diâmetro x comprimento os tornar elementos Dz =


Dy =
0,037
0,088
m
m
(desloc. vertical )
(desloc. horizontal atuante)

rígidos (inflexíveis). As formulações do método


Verificação de estabilidade

Tensão lateral s'a < solo L (Kp - Ka) OK

Russo, bem como as tabelas de parâmetros Tensão máxima base sa <= 1,3*ss NÃO OK

O tubulão não é estável


físicos já foram publicadas por Julio Timerman
Figura 5. Cálculo da estabilidade do tubulão por meio de
na Revista Estrutura n° 90 (1980). A figura 5 planilha eletrônica.
mostra a verificação da estabilidade do Tubulão
pelo método Russo, para o carregamento da Dobrando-se o carregamento e utilizando a
tabela 1. Esse cálculo foi implementado por meio mesma metodologia analítica, calculada por
de uma planilha eletrônica, conforme indica a planilha eletrônica, percebe-se na figura 6 que o
figura 5 que mostra os deslocamentos (horizontal tubulão não passou em nenhuma das
e vertical) e rotação do topo, o cálculo das verificações.
tensões laterais (inclusive o ponto de tensão Para os casos apresentados nas figuras 5 e 6 o
nula) e sob a base. O método russo prevê uma deslocamento total foi de 3,7 e 4 cm
contenção lateral do tipo Winkler. respectivamente.
Como pode ser avaliado na figura 5, a
fundação apresenta-se instável. Acredita-se que 3.3 Modelagem Numérica Via Elementos
esse método analítico tem limitações, pois foi Finitos
concebido para estacas curtas. Além disso, vale
ressaltar que o coeficiente de reação vertical é 3.3.1 Considerações Iniciais de Modelagem
constante ao longo da profundidade o que
prejudica na avaliação completa da fundação em Para a verificação do comportamento da
estudo. Se a análise for pautada no método fundação da torre em questão foram empregadas
Russo, percebe-se que já no primeiro modelagens computacionais utilizando o
carregamento a fundação necessita de reforço. software geotécnico GTS NX – Midas, versão
1.1, de 2016 que se baseia no Método dos
Elementos Finitos (MEF).
A malha adotada foi a padrão do MIDAS GTS
NX.
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O MIDAS gera malhas tridimensionais com a 3.3.2 Características do Modelo


seguinte quantidade de nós por elemento:
- Elementos tetraédricos: 4 ou 10 nós; As análises foram realizadas considerando dois
- Elementos hexaédricos: 8 ou 20 nós. casos distintos, nos quais considerou-se a
Para essa modelagem utilizou-se elementos presença ou não do bloco de coroamento.
de ordem mais baixa. O modelo construído teve Os casos analisados são apresentados na
19.695 nós e 92.948 elementos. tabela 3.
O procedimento padrão adotado foi o de gerar Os parâmetros geotécnicos do solo foram
um modelo com um refinamento preliminar de adotados em função dos relatórios de sondagens
malha, apenas para verificar o funcionamento do SPT realizadas no local. O solo foi simulado com
modelo. Posteriormente, a malha foi refinada e comportamento elástico-plástico com critério de
os resultados verificados. Ressalta-se que a ruptura de Mohr-Coulomb. Os parâmetros
malha foi mais refinada na área de interesse geotécnicos empregados nas análises são
(próximo ao tubulão) e menos refinada nas apresentados na tabela 4.
regiões periféricas.
Tabela 3. Casos considerados nas modelagens
computacionais.

Tabela 4. Parâmetros geotécnicos empregados nas


análises.

No modelo de comportamento de Mohr-


Coulomb implementado no programa Midas
(2016) considerou-se o material isotrópico com
comportamento linear-elástico até a superfície
de plastificação, onde começam deformações
plásticas não recuperáveis. O comportamento
plástico depende da tensão de confinamento e é
considerada a influência da tensão principal
intermediária. Para o concreto foi adotado peso
específico de 24 kN/m3, Coeficiente de Poisson
de 0,1 e módulo de deformabilidade de 20 GPa.
Para todos os casos analisados, os
carregamentos nas fundações, foram
multiplicados por fatores de carregamento que
Figura 6. Cálculo da estabilidade do tubulão por meio de variaram de 1 a 12 para os casos drenados.
planilha eletrônica. Foram aplicadas as forças Fx, Fy e Fz em cada
um dos nós (1a, 1b, 1c e 1d) que representam os
pés das torres (Figura 3).
Os resultados de cada um dos casos analisados
são mostrados nos subitens a seguir.
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3.3.3 Caso 1 (Com Bloco de Coroamento) Apresenta-se na figura 9 os resultados das


tensões na base. Percebe-se que pela
Conforme destacado anteriormente, o Caso 1 se metodologia numérica o tubulão apresenta as
refere à simulação numérica considerando o tensões na base em conformidade o que
comportamento do solo drenado, com a presença dispensaria o reforço do tubulão. A modelagem
do bloco de coroamento sobre o tubulão. Nas foi feita considerando uma análise estática
análises da forma foi considerada uma geometria desprezando as forças de inércia ou massas do
para o modelo de solo. O modelo com superfície sistema. Não foi simulado o fenômeno de
quadrada resultou em um domínio acoplamento hidro-mecânico considerando o
tridimensional de forma cúbica, conforme indica comportamento do solo drenado e saturado,
a figura 7. assim não são geradas variações na poropressão
ao serem aplicados os carregamentos. Uma
análise acoplada requer a definição de
propriedades adicionais, tais como
permeabilidade do solo, índice de vazios e
poropressão inicial.

Figura 7. Modelo computacional utilizado para o Caso 1.

Para levar a cabo a calibração numérica do


modelo foram realizadas inicialmente quatro
análises. Na primeira análise de forma, estudou-
se a geometria mais racional do domínio de solo. Figura 8. Deslocamentos totais da fundação para o Caso 1.
Na segunda análise de dimensões, estudou-se o
tamanho mínimo do modelo para minimizar os
efeitos de proximidade das bordas. Na terceira
análise do tipo de elemento finito, foram
estudadas diferentes topologias dos elementos
finitos. Na quarta e última análise de densidade
da malha, foram estudados diversos tamanhos
dos elementos finitos. Uma vez completadas as
simulações para a forma estudada, conclui-se Figura 9. Tensões na base do tubulão para o Caso 1.
que os resultados obtidos para as principais
variáveis de interesse: tensão e deslocamentos A fim de avaliar o comportamento da
conforme indicam as figuras 8 e 9. O fator de fundação para diferentes níveis de carregamento,
carregamento adotado é 1. fez-se um estudo com 1x, 3x e 7x e 12 x o
Nota-se com a figura 8 que os deslocamentos carregamento. Nota-se com essa variação de
totais da fundação estão bem abaixo quando carregamentos a evolução da plastificação do
comparado com a metodologia analítica. Na solo e chega-se à conclusão que para essas
grande maioria dos casos a estrutura entra em condições de carregamento o tubulão
estado limite último de serviço antes do elemento apresentou-se estável.
de fundação atingir sua capacidade lateral Os Fatores de Segurança foram estimados a
última. Percebeu-se também que os valores de partir de uma rotação admissível na fundação, a
deslocamento estimado pelo método da mola qual foi de 0,2°, conforme indica a figura 11. Por
resultaram altos quando comparados com a se tratar de uma verificação de estado limite
metodologia numérica. último, o valor adotado para a rotação admissível
é critério que varia de projetista para projetista.
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Nota-se que o fator de segurança para essa


condição ficou na ordem de 4.

Figura 12. Modelo computacional utilizado para o Caso 2.


Para essa condição de análise, os
deslocamentos totais da fundação, mesmo sem o
bloco de coroamento, fizeram com que a
fundação também continuasse numa condição
muito mais favorável quando comparada com a
metodologia analítica, conforme pode ser visto
na figura 13.

Figura10. Evolução da plastificação do solo para


carregamentos de 1, 3, 7 e 12x o carregamento para o Caso
1. Figura 13. Deslocamentos totais da fundação para o Caso
2.

Percebe-se que, para ambos os casos da


metodologia numérica, os deslocamentos estão
bem baixos comparados às metodologias
teóricas e a fundação encontra-se estável mesmo
com a evolução dos carregamentos.
Os principais resultados obtidos em termos de
deslocamentos totais e Fatores de Segurança são
Figura 11. Curva carga x rotação para a estimativa do Fator apresentados na tabela 5.
de Segurança para o Caso 1.
Tabela 5. Resumo dos principais resultados obtidos da
3.3.4 Caso 2 (Sem Bloco de Coroamento) modelagem numérica.

Conforme destacado anteriormente, o Caso 2 se


refere à simulação numérica considerando o
comportamento do solo drenado, sem a presença
do bloco de coroamento sobre o tubulão. Nas
análises da forma foi considerada uma geometria
para o modelo de solo. O modelo com superfície Para a verificação das tensões na base do
quadrada resultou em um domínio tubulão, nota-se pela figura 14 que, para o caso
tridimensional de forma cúbica, conforme indica 2, chega mais carga na base como esperado.
a figura 12. Média de 200–230 kPa enquanto no primeiro
caso entre 150–180 kPa.
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Figura 14. Tensões na base do tubulão para o Caso 2.

A fim de avaliar o comportamento da


fundação para diferentes níveis de carregamento,
fez-se um estudo com 1x, 3x e 7x e 12x o
carregamento.
Nota-se na figura 15 com essa variação de
carregamentos a evolução da plastificação do
solo e chega-se à conclusão que para essas
condições de carregamento o tubulão Figura 15. Evolução da plastificação do solo para
carregamentos de 1, 3, 7 e 12x o carregamento da torre
apresentou-se estável, mesmo sem o bloco de
para o Caso 2.
coroamento.
Observou-se que a mesmo sem a presença do
bloco de coroamento sobre o tubulão os
deslocamentos estão dentro do aceitável e a
diminuição da plastificação do solo envolvente
também foi uma realidade constatada para essa
condição.
Os Fatores de Segurança foram estimados a
partir de uma rotação admissível na fundação, a
Figura 16. Curva carga x rotação para a estimativa do Fator
qual foi de 0,2°, conforme indica a figura 16. de Segurança para o Caso 2.
Nota-se que o fator de segurança ficou na ordem
de 3. Em contraste com a metodologia analítica, 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
o comportamento tenso-deformacional do
tubulão está influenciado adicionalmente por O estudo aqui realizado teve como objetivo
parâmetros tais como: o módulo de elasticidade mostrar o uso da modelagem numérica via
do solo, o ângulo de dilatância, o coeficiente de elementos finitos para análise de fundações de
atrito da interface estaca-solo, a tensão torres de telecomunicações como meio de
tangencial máxima da interface, o histórico de comparação e validação de métodos menos
tensões, o estado de tensões iniciais (geostático), rigorosos. O Fator de Segurança estimado foi da
o modelo constitutivo utilizado, o critério de ordem de 3,0. Os cálculos apresentados
ruptura, as propriedades deformacionais do solo mostraram que o tubulão existente é capaz de
e o estado seco ou saturado, nas quais um estudo resistir aos novos esforços sem a necessidade de
numérico é apresentado como uma alternativa reforços adicionais. Os parâmetros considerados
viável bem mais realista que a metodologia pelo método Russo geometria da estaca,
analítica. excentricidade da carga, resistência não drenada
do solo, atrito e densidade, não são suficientes
para caracterizar completamente o
comportamento tenso-deformacional de
tubulões/estacas carregados lateralmente.
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A maioria dos métodos analíticos fechados Ducan, J.M.; Evans JR., L.T; Ooi, P.S.K. (1994) Lateral
para estacas lateralmente carregadas, como load Analysis of single Piles and drilled Shafts, JGED,
ASCE, Vol. 120, n. 6, p. 1018–1033.
exemplo do método Russo, só fornece a
capacidade última. Além disso para 2 x o Ftool - Two-dimensional Frame Analysis Tool. Rio de
carregamento, usando o Método Russo, a Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
fundação existente necessitaria de reforço. É Janeiro. Disponível em: http://www.tecgraf.puc-
importante destacar que, devido à ausência de rio.br/ftool/. Acesso em: 30 Setembro. 2017.
ensaios laboratoriais, os cálculos utilizando o Gandolfo, O.C.B.; Souza, T.J.; Aaoki, Hemsi, P.C. e
MEF foram realizados empregando-se o modelo Sarano, P. (2015) A determinação da profundidade de
Mohr-Coulomb com parâmetros de resistência e um elemento de fundição utilizando o ensaio sísmico
deformabilidade conservadores. A execução de paralelo (parellel seismic), Fundações & Obras
ensaios geotécnicos em laboratório com o solo Geotécnicas, Ano 5, n. 55, p. 54–58.
Godoy, N.S. e Teixeira, A.T (1996) Análise, projeto e
local permitiria a utilização de modelos de Execução de Fundações Rasas, Fundação: Teoria e
comportamento mais sofisticados como, por prática, Hachich et al. (Eds.), Ed. Pini Ltda, São Paulo,
exemplo, o Cam-Clay modificado e/ou o Cap. 7, p. 227–264.
Hardening Soil Model, que possibilitariam uma Hetenyi, M. (1946) Beams of elastic foundation, Ann
previsão mais precisa do comportamento real da Arbor, University of Michigan Press, 255 p.
Matlock, H. e Reese, L.C. (1961) Foundation Analysis of
torre em estudo. Além disso, observou-se que a offshore pile supported structures, ICSMFE, 5, Paris,
presença do bloco de coroamento sobre o tubulão Proceedings, p. 91–97.
apresentou um efeito muito positivo na redução Matsuoka, H., e Nakai, T. (1985) Relationship Among
dos deslocamentos da fundação e, também, na Tresca, Mises, Mohr-Coulomb and Matsuoka-Nakai
diminuição da plastificação do solo envolvente. Failure Criteria, Soils and Foundations, 25, 4, p. 123–
128.
A presença do bloco reduziu em até 30% os Miche, RJ.,1930, Investigation of piles subject to
deslocamentos totais no topo das fundações e horizontal forces.Application to qual walls, Jornal of
promoveu um aumento do Fator de Segurança de the School of Engineering, no 4, Giza, Egito.
até 35%. Conclui-se com a análise numérica que
os métodos analíticos fechados vão sempre ter Midas-GTS-NX (2016) version 1.1 (April 6). MIDAS
Information Technology, Seongnam, South Korea.
alguma limitação matemática, mas em métodos http://midasgtsnx.com
numéricos é possível incorporar tudo em uma só Ordujanz, K.S. (1954) Gründengen für Bauwerke, Berlin,
metodologia. O que vão se ajustar são os VEB Verlag Technik.
parâmetros de entrada e a escolha do modelo Nakai, T. (2013) Constitutive Modeling of Geomaterials,
constitutivo. Taylor & Francis, 360 p.
Potts, D. e Zdravkovic, L. (2001) Some pitfalls when using
modified cam clay, Proceedings from COST C7
REFERÊNCIAS Workshop, Thessaloniki, 14.
Randolph, M.F. (1981) The response of flexible piles to
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010) NBR lateral loading, Géotechnique, 31, 2, p. 247–259.
6122 Projeto e execução de fundações, Rio de Janeiro Timerman, J. (1980) Cálculo de Tubulões Curtos,
Broms, B.B. (1964) Lateral Resistance of Piles in Estrutura, n. 90.
Cohesives Soil, JSMFD, ASCE, Vol. 90, n. SM2, p. Tochranis, A.M.; Bielak J. e Christiano, P. (1991) Three-
27–65. Dimensional Non-Linear Study of Piles, J. Geotech.
Carter, J.P.; Desai, C.S.; Potts, D.M.; Schweiger, H.F. e Engrg., p. 429–447.
Sloan, S.W. (2000) Computing and computer Whittle, A.J. e Davies, R.V (2006) Nicoll Highway
modelling in geotechnical engineering, GeoEng2000, Collapse: Evaluation of Geotechnical Factors
Melbourne, 96 p. Affecting Design of Excavation Support System,
Chaudhari, S. V & Chakrabarti, M.A. (2012) Modeling of International Conference on Deep Excavations,
concrete for nonlinear analysis using finite element Singapure, Proceedings, p. 91–97.
code abaqus, Int. J. Comput. Appl., 44, 7, p. 14–18.
Davisson, M.T. e Robinson, K.E. (1965) Bending and
bucling of partially embedded piles. In: ICSMFE, 6.,
Montreal, Proceedings, 6th. ICSMFE, Montreal, Vol.
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Mapeamento Geológico-Geotécnico do Subsolo do Município de


Chapecó/SC
Matheus Kniest Gonçalves
Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, Chapecó-SC, Brasil,
matheuskg@unochapeco.edu.br

Marieli Biondo Lopes


Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, Chapecó-SC, Brasil,
engmary@unochapeco.edu.br

RESUMO: A partir da coleta de dados na região de Chapecó, composto por 30 (trinta) boletins de
sondagens obtidos por construtoras e incorporadoras da região, constituído por sondagens rotativas,
mistas e a percussão, plotou-se inicialmente, no Google Earth todos os pontos dos boletins obtidos,
focando nos dados referentes ao perímetro urbano, que, em conjunto com um mapa de curvas de
nível em AutoCAD da cidade de Chapecó e da análise das características do subsolo, foi realizado
dois traçados preferenciais para elaboração de perfis estratigráficos. Concluiu-se que para estes
perfis preferenciais, denominados “A” e “B”, da cidade de Chapecó, em relação ao maciço rochoso
apresentou-se a presença de basalto riodacitos a riolitos, com matriz vitrofírica contendo pórfiros de
feldspato, confirmando as descrições do mapa geológico-geotécnico do CPRM/IBGE. O solo
característico definiu-se como argila avermelhada rija e argila marrom rija, com texturas franco-
argilosa e argilo-siltosa com leve presença de cascalho. Para ambos o perfis “A” e “B” as
características de resistência do solo foram determinadas de média a dura, não apresentando solo
mole, caracterizando boa capacidade de carga para o solo, conforme a ABNT NBR 6484/2001.
Dentre as sondagens mistas ou rotativas, os valores do índice de RQD (Rock Quality Designation,
mede a qualidade da rocha) encontrados são considerados regular à excelente, sendo entre 50% e
100%, em caso de brecha ou rocha fraturada, apresentaram dados considerados muito fraco e fracos,
de 0% e 25%, conforme a DNER PRO 102/97.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento, Sondagens, Geológico-Geotécnico, Subsolo, Perfil,


Estratigráfico.

1 INTRODUÇÃO adequado.
Uma investigação geotécnica com seus
O conhecimento das propriedades e resultados contribui para a elaboração de
características do solo proporciona a obtenção projetos, permitindo, assim, a definição de
de informações necessárias para a definição de intervenções mais adequadas do ponto de vista
boas decisões durante as fases de avaliação, ambiental e econômico no planejamento e
projeto e execução de uma obra. Devem ser execução das obras (COUTINHO; SEVERO,
realizados esforços importantes para determinar 2009).
as propriedades e características da área Geralmente, para a nossa região, a
estudada, através de investigações geotécnicas obtenção de amostras para a identificação e
para garantir a obtenção de todas as classificação dos solos é realizada por SPT, que
informações necessárias para um estudo é o ensaio de sondagens de simples
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reconhecimento, sendo o ensaio mais executado


em grande parte dos países do mundo e também
no Brasil (QUARESMA et al., 1998).
O principal aspecto a se observar na
análise dos perfis de sondagem, independentes
de sondagens a percussão, mistas ou rotativas,
são as características do subsolo em sua
compreensão e estudo, considerando suas
propriedades e levantando discussões em torno
de interpretações do solo e escolhas de
fundações, como também levantando dados
geotécnicos no auxílio de projetos
desenvolvidos em Chapecó.

Figura 2. Localização de Chapecó. Fonte: Elaborado pelo


2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE autor, com o auxílio do Google Earth.
ESTUDO
Dentro da região de Chapecó, a área urbana
2.1 Localização foi escolhida para ser estudada pela maior
concentração de dados, possibilitando assim
A região estudada está localizada na região de uma melhor caracterização e definição dos
Chapecó, no estado de Santa Catarina, sua traçados preferenciais, e futuramente dos perfis
altitude média é de 670 metros acima do nível estratigráficos.
do mar e possui área territorial de A região estudada abrange cinco bairros,
aproximadamente 626,060 km², correspondente sendo eles denominados: Saic, Centro,
aos dados do censo do IBGE. (IBGE 2016). A Presidente Médici, Maria Goretti e Pinheirinho.
Figura 1 apresenta a região de Chapecó, e a A Figura 3 apresenta a localização dos bairros
Figura 2 apresenta a localização de Chapecó no analisados da área urbana de Chapecó (Plano
mapa do estado de Santa Catarina para melhor Diretor 2014).
referência e compreensão da região de estudo.

Figura 3. Denominação dos bairros estudados. Fonte:


Anexo XIII, Bairros de Chapecó (Plano Diretor 2014).
Figura 1. Região de Chapecó. Fonte: Elaborado pelo
autor, com o auxílio do Google Earth.
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3 METODOLOGIA

3.1 Análise de dados

Nos boletins de sondagens disponibilizados


por incorporadoras, construtoras e escritórios de
projetos, a análise dos dados consistiu na
identificação das características e propriedades
do subsolo encontradas nos boletins, como
profundidade de solos, nível do lençol freático,
especificações do subsolo, maçico rochoso e
impenetrabilidade. Figura 6. Boletim de sondagem II. Fonte: Incorporadora
Para a identificação e caracterização foi do município.
utilizado como auxílio a NBR 6484/01. As
Figuras 4 a 7 apresentam exemplos dos boletins
coletados, utilizados para identificação e análise
das características do subsolo.

Figura 4. Boletim de sondagem I. Fonte: Incorporadora


do município.

Figura 7. Detalhe do boletim de sondagem II. Fonte:


Incorporadora do município

3.2 Plotagem dos dados

Após a realização da etapa de análise de


dados, realizou-se, inicialmente, a plotagem no
Google Earth, de todos os pontos dos boletins
obtidos. Na região de Chapecó, obteve-se a
coleta de dados composta por 30 boletins de
sondagens, dentre eles 14 a percussão, 11
mistas, e 5 rotativas, abrangendo toda a região
Figura 5. Detalhe do boletim de sondagem I. Fonte: de Chapecó. Foi observado uma maior
Incorporadora do município. concentração de dados referentes ao perímetro
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urbano de Chapecó, o que influenciou na percussão. As localizações dos pontos de


escolha e definição dos traçados preferenciais, sondagem sao distribuidos nos bairros: Saic,
subsequentemente denominados de Perfis “A” e Centro, Presidente Médice e Pinheirinho, e
“B”. Foram estabelecidos para sondagens a totaliza em sua extensão 4206,71m.
percussão marcadores na cor verde, mista na cor
azul e rotativa marcadores na cor roxo.
A Figura 8 apresenta a plotagem dos 30
boletins de sondagem obtidos.

Figura 10. Perfil “A”. Fonte: Elaborado pelo Autor com


auxílio do Google Earth.

Figura 8. Pontos de sondagem. Fonte: Elaborado pelo A Figura 11 apresenta o traçado do Perfil
autor, com o auxílio do Google Earth. “B”, traçado pela cor vermelha, que contempla
3 boletins de sondagens mista, 3 de sondagens
3.3 Escolha Traçados Perfis rotativas e 2 de sondagens a percussão. As
localizações dos pontos de sondagem sao
Após a etapa de plotagem, verificou-se na distribuídos nos bairros: Centro e Maria Goretti,
área urbana de Chapecó uma maior e totaliza em sua extensão 2553,07m.
concentração de pontos de sondagem (Figura 9)
e definiu-se na área estudada os traçados
preferenciais para a realização de perfis
estratigráficos.

Figura 11. Perfil “B”. Fonte: Elaborado pelo autor, com o


auxílio do Google Earth.

De forma a observar em conjunto as


Figura 9. Pontos da área estudada. Fonte: Elaborado pelo caracterísicas do subolo de ambos os perfis
autor, com o auxílio do Google Earth. traçados (Figura 12), visto suas posições
aproximadamente parelas entre si, procedeu-se
A Figura 10 apresenta o traçado do Perfil então para a etapa de elaboração dos perfis
“A”, traçado pela cor laranja, que é composto estratigráficos.
por 3 boletins de sondagens mista, 1 de
sondagem rotativa e 4 de sondagens a
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rotativa e SM referente a sondagem mista,


assim como a utilização dos dados da tabela dos
estados de compacidade e de consistência do
Anexo A da NBR 6484/01 (Figura 14).

Figura 12. Perfis “A” e “B”. Fonte: Elaborado pelo autor,


com o auxílio do Google Earth.

3.1 Elaboração Perfis Estratigráficos

Esta etapa consiste em elaborar Figura 14. Legenda Perfis. Fonte: Elaborado pelo autor,
com o auxílio da NBR 6484/01.
graficamente, com uma melhor visualização e
compreensão, as caracteríticas do subsolo dos Os dados analisados e plotados apresentam-se
perfis preferenciais, desta forma, utilizou-se um dispostos no perfil estratigráfico com suas
mapa de curvas de nível em AutoCAD (Figura respectivas tipologias de sondagem, nomeados
13), disponibilizado pela Prefeitura Municipal de forma crescente conforme a quantidade de
de Chapecó, para a aproximação das elevações dados avaliados (SR01, SR02, SR03... SM20,
dos pontos de sondagem que compunham os SP16...), apresentando suas cotas de elevação na
boletins de sondagem. superfície em metros, e nível do lencol freático
encontrado em metros, sua profundidade era
definida pela análise da songadem e disposto
graficamente de forma real (Figura 15).

Figura 13. Mapa Curvas de Níveis. Fonte: Elaborado pelo


autor, com auxílio do arquivo CAD da Prefeitura
Municipal de Chapecó.

Com as caracteríticas dos subsolos obtidas


dos boletins de sondagens, definiu-se uma
legenda para a apresentação do perfil
estratigráfico, definindo nomenclaturas ao solo,
maçico rochoso, rocha/cascalho, cascalho, entre
outros. Definiu-se também nomenclaturas SP
para sondagem a percussão, SR para sondagem Figura 15. Detalhe perfil estratigráfico “A”. Fonte:
Elaborado pelo autor, com o auxílio do AutoCAD.
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Para uma melhor visualização, os perfis 4 RESULTADOS


foram elaborados com escala vertical e Observou-se que para os perfis traçados “A”
horizontal 1:1 (Figuras 16 e 17), exceto nas e “B” da cidade de Chapecó, em relação ao
áreas de “projeções” (Figura 18), as quais maciço rochoso do município, as investigações
foram definidas por distâncias fixas de 10m. geotécnicas apontam a presença de basalto
Estas distâncias de projeção se definem pelas riodacitos a riolitos, com matriz vitrofírica
áreas referentes às distâncias entre pontos de contendo pórfiros de feldspato, confirmando as
sondagens entre um e outro boletim de descrições do mapa geológico-geotécnico do
sondagem. Nestas áreas são especuladas as CPRM/IBGE (Figura 19).
camadas de solo, maciço rochoso, não
amostrado e nível do lençol freático, devido à
falta de mais dados de sondagem para a
caracterização do perfil estratigráfico mais
preciso do subsolo.

Figura 19. Mapa geológico do Estado de Santa Catarina.


Fonte: CPRM/IBGE.

Para o perfil traçado “A”, definido nos bairros


Figura 16. Perfil Estratigráfico “A”. Fonte: Elaborado
pelo autor, com o auxílio do AutoCAD. SAIC/Pinheirinho, o solo é caracterizado como
argila avermelhada rija e argila marrom rija,
com texturas franco-argilosa e argilo-siltosa,
conforme o Quadro 1, e em comparação com a
Figura 20, que apresenta os valores dos estados
de compacidade e de consistência do solo, de
acordo com a NBR 6484/01, esta também
utilizada pelas empresas responsáveis pelos
boletins de sondagem.

Figura 17. Perfil Estratigráfico “B”. Fonte: Elaborado


pelo autor, com o auxílio do AutoCAD.

Quadro 1. Valor médio NSPT Perfil A. Fonte: Elaborado


pelo autor.

Figura 18. Detalhe “Projeções”. Fonte: Elaborado pelo


autor, com o auxílio do AutoCAD.
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6484/01, esta também utilizada pelas empresas


responsáveis pelos boletins de sondagem.

Quadro 2. Valor médio NSPT Perfil B. Fonte: Elaborado


pelo autor.

Entre a região dos bairros Centro/Maria


Figura 20. Anexo A - Tabela dos estados de compacidade
Goretti, o lençol freático se manteve
e de consistência. Fonte: NBR 6484/2001. praticamente uniforme em camadas mais
superficiais a médias, com camadas
O lençol freático entre a região dos bairros medianamente espessas de solo e topo rochoso
SAIC/Presidente Médici manteve-se médio/elevado. Desta forma, o lençol freático
praticamente uniforme, com camadas menos manteve-se muito uniforme, com camadas
espessas de solo e topo rochoso elevado. Entre a mediamente espessas de solo e topo rochoso
região dos bairros Presidente mais elevado na região central, variando entre
Médici/Pinheirinho o lençol freático teve certas 1,60m nos pontos mais baixos da cidade na área
variações, com camadas mais espessas de solo central e a 8,20m em pontos mais altos da
duro e rijo e topo rochoso menos elevado, cidade em áreas mais afastadas.
observando-se uma maior presença de cascalho. O traçado do perfil “B” em estudo contém 8
Observa-se que o lençol freático manteve-se boletins de sondagem, sendo 3 boletins de
praticamente uniforme, com camadas menos sondagem mista, 3 de sondagem rotativa e 2
espessas de solo e topo rochoso elevado, sondagens a percussão, apresentando indicações
variando entre 0,20m nos pontos mais baixos da de altura do lençol freático, tipo de maciço
cidade na área central e a 17m em pontos mais rochoso, não amostrado, tipo de solo e
altos da cidade em áreas mais periféricas. estimativa de projeções das ligações entre os
O traçado do perfil “A” em estudo é pontos, contendo extensão total de 2553,07m.
composto por 8 boletins de sondagem, sendo 3 Para ambos o perfis “A” e “B” as
boletins de sondagens mista, 1 de sondagem características de resistência do solo são
rotativa e 4 de sondagens a percussão, definidas de média a dura, não apresentando
apresentando indicações de altura do lençol solo mole, o que caracteriza boa resistência à
freático, tipo de maciço rochoso, não penetração para o solo.
amostrado, tipo de solo e estimativa de Para as sondagens mistas ou rotativas para os
projeções das ligações entre os pontos, Perfis “A” e “B”, os valores do índice de RQD
contendo extensão total de 4206,71m. (Rock Quality Designation, que mede a
O solo característico do perfil “B” definiu-se qualidade da rocha), encontrados são
como argila avermelhada rija e argila marrom considerados regular à excelente, sendo entre
rija, com texturas franco-argilosa e argilo- 50% e 100%, exceto em caso de brecha ou
siltosa com leve presença de cascalho. rocha fraturada, que apresentaram dados
Conforme o Quadro 2, e em comparação considerados muito fraco e fracos, de 0% e
com a Figura 20 anterior, que apresenta os 25%, conforme demonstrado no Quadro 3
valores dos estados de compacidade e de abaixo,e comparado com a Tabela 1, obtida
consistência do solo, de acordo com a NBR através da DNER PRO 102/97.
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REFERÊNCIAS

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas.


(2001). NBR 6484: Solo – Sondagens de simples
reconhecimento com SPT – Método de ensaio.
Rio de Janeiro.
Coutinho, R. Q.; Severo, R. N. F. (2009). Investigação
Geotécnica para Projeto de Estabilidade de
Encostas. Conferência. V COBRAE –
Quadro 3. Valores médios rotativa. Fonte: Elaborado pelo
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
autor.
Encostas, São Paulo. Brasil.
CPRM – Serviço Geológico do Brasil. (2014). Mapa
geológico do estado de Santa Catarina. Porto
Alegre: CPRM. Escala 1:500.000.
DNER – Departamento Nacional de Estradas e
Rodagem. (1997). DNER-PRO 102/97: Sondagem
de reconhecimento pelo método rotativo. Rio de
Janeiro.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Cidades. Chapecó. SC. Disponível em:
Tabela 1. Designação Qualitativa da Rocha (RQD).
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/chapeco/pan
Fonte: DNER PRO 102/97.
orama>. Acesso em: 20/10/2017.
Massad, F. (2010). Obras de terra: curso básico de
geotecnia. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos.
5 CONCLUSÃO Pinto, C. de S. Propriedades dos solos. In:
Hachich, W.; Falconi, F. F.; Saes, J. L. et al.
Os dados obtidos apresentam as diversidades (1998). Fundações: Teoria e prática. 2 ed., Pini,
São Paulo. p. 51-118.
das propriedades e características do solo e que
Quaresma, A. R.; Décourt, L.; Quaresma Filho, A. R.;
as mesmas nãos devem ser menosprezadas, Almeida, M. S. S.; Danziger, F. (1998).
estas variação dependem muito em função do Fundações: Teoria e Prática. 2. ed., Pini, São
tipo de material, além das informações da Paulo. p. 119-162.
rocha, fraturas e outras características relevantes
que interferem diretamente em todas as etapas
de projetos e execução de obras.
O mapeamento do subsolo possui papel
relevante no auxílio das áreas de
desenvolvimento urbano e na execução de
projetos de infra-estrutura, fornecem subsídios
técnicos para o planejamento das obras, desta
forma, deve ser considerado e reconhecido para
um estudo intensificado e em grande escala,
podendo, assim, abranger uma maior
quantidade de informações e fornecer uma base
de dados geotécnicos mais específica para as
regiões estudadas.
Ressalta-se que devido ao número
relativamente baixo de sondagens, pode-se
influenciar o comportamento dos traçados e
perfis estratigráficos elaborados.
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Melhoramento de Solo Colapsível com Técnica DSM (Deep Soil


Mixing) em um Parque Eólico na Bahia

Mateus Gusmão Brindeiro


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, mateus_gusmao@hotmail.com

Alexandre Duarte Gusmão


Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, gusmao.alex@ig.com.br

Gilmar de Brito Maia


Gusmão Engenheiros Associados Ltda, Recife, Brasil, gilmar@gusmao.eng.br

Ricardo José Barbosa de Souza


Companhia Hidrelétrica do São Francisco, Recife, Brasil, ricardoob@chesf.gov.br

Hainer Bezerra de Farias


Fundações Especiais Ltda, Recife, Brasil, hainer@fundacoesespeciais.net.br

RESUMO: Solos colapsíveis são solos não saturados que quando inundados, com ou sem
sobrecarga, suas partículas se reacomodam radicalmente, provocando redução do seu volume. Caso
não considerada nos projetos, esta variação volumétrica pode gerar sérios problemas às obras de
engenharia e consequentes custos elevados frente aos danos provocados. O presente trabalho tem
como objetivo apresentar um estudo de caso de um parque eólico com 12 aerogeradores construído
na Bahia, cuja fundação foi projetada sobre solos colapsíveis previamente tratados com a técnica
Deep Soil Mixing (DSM), também conhecida como coluna de solo-cimento. Após execução do
tratamento do terreno, também foram realizados ensaios a fim de constatar a eficácia da técnica
empregada. Os resultados indicaram que a rigidez da coluna DSM é muito maior do que a do solo
natural. Desta forma, o solo tratado com a técnica cumpriu com eficácia o tratamento dos solos
colapsíveis, apresentando características de resistência mecânica e de deformabilidade melhoradas e
mostrando-se, assim, uma solução interessante, atrativa e competitiva, tanto do ponto de vista
econômico, quanto do ponto de vista da exequibilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Deep Soil Mixing, Melhoramento de Solos, Solos Colapsíveis, Fundações


de Torres Eólicas

1 INTRODUÇÃO Para a concepção da fundação das bases dos


aerogeradores, foi realizada uma prospecção
O presente trabalho apresenta o estudo de caso geotécnica composta por sondagens mistas
da construção de um parque eólico composto (SPT em solo e rotativa no maciço rochoso)
por 12 bases de aerogeradores, no semiárido caracterizando com isso o terreno de fundação,
nordestino, localizado no estado da Bahia, no e também foram realizados ensaios de placa em
município de Casa Nova, que faz parte da campo. Não foram feitos ensaios de
Região Administrativa Integrada de laboratório. Os resultados dos ensaios de placa
Desenvolvimento do Pólo Petrolina e Juazeiro. obtidos mostraram que o solo superficial é
potencialmente colapsível. Com isso, foram
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analisadas 05 tipos de fundação, e ao final, 3 CARACTERÍSTICAS DO TERRENO


optou-se pelo melhoramento do solo superficial DE FUNDAÇÃO
através da técnica Deep Soil Mixing (DSM), ou
coluna de solo-cimento, como é popularmente Com o intuito de identificar as caraterísticos do
conhecida no Brasil. terreno abrangido pelo parque eólico, foi
Esse artigo tem como objetivo apresentar os realizado estudo de investigação geotécnica
principais aspectos do projeto, bem como os através de sondagens mistas (SPT em solo e
resultados do desempenho das colunas de DSM. rotativa no maciço rochoso). Nesse sentido foi
realizado um furo de reconhecimento por cada
uma das 12 bases de aerogeradores.
2 ENERGIA EÓLICA A partir destas sondagens constatou-se que o
subsolo é formado inicialmente por uma
A energia eólica tem por característica ser uma camada de silte arenoso (ou areia siltosa),
matriz energética abundante, renovável, limpa, medianamente a muito compacto, com
de baixo impacto ambiental e que reduz efeito espessura variando entre 4 e 7m; seguida por
estufa. Ela é produzida a partir da força dos uma camada de xisto muito alterado que
ventos (energia cinética). Através dos continua até o limite das sondagens. Não foi
aerogeradores a energia eólica é captada por observada a presença do freático (Fig. 1).
hélices ligadas a uma turbina, que aciona um O estudo geológico / geotécnico realizado
gerador elétrico (energia elétrica). É também a identificou unidades geológicas para a área em
matriz que mais cresce no mundo, o que tem estudo. A unidade superior é composta por
gerado uma diversifiação na oferta de energia. sedimentos aluvionares, enquanto a unidade
Uma das práticas que tem aumentado é a inferior é um micaxisto pertencente à Formação
combinação entre as matrizes energéticas eólica Mandacaru, que é formada por mica, xisto e
e hidrelétrica, gerando uma metagrauvacas (Uhlein, 2011). Os perfis
complementariedade. Ainda assim, destaca-se individuais das sondagens e registros
que vários parques eólicos são mais eficazes fotográficos indicaram uma composição
quando comparados com a construção de identificada como aluvionar e com sedimentos
barragens. Isso se dá em função dele ser um tipo colúvio / aluvial, que apresentam
sistema elementar; o tempo de construção de colorações marrom avermelhadas, comuns de
um parque eólico é relativamente curto; não há solos que sofreram evolução pedogenética.
grandes dificuldades de logística ou de Por fim, quanto à colapsibilidade, as camadas
execução; além de não ser afetado pela crise de areia, cascalho e conglomerado podem ser
hídrica e secas (Eifler Neto, 2012). susceptíveis a este efeito quando em condição
Ademais, evita o uso de termoelétricas que inundada. Foram realizados ensaios de placa
provocam grande liberação de poluentes na com inundação para avaliar o potencial de
atmosfera pela queima de combustíveis. Estes colapso do solo superficial.
poluentes são responsáveis pela geração do
efeito estufa e do aumento do aquecimento
global, portanto altamente prejudicial ao meio 4 COLAPSIVIDADE DO TERRENO
ambiente. NATURAL
O Nordeste brasileiro é uma das regiões com
maior capacidade de produção potencial, com É comum nos locais com clima árido e semi-
destacadas áreas que são propícias para árido a existência de depósitos solos
instalação dos parques eólicos. É o caso da colapsíveis, e essa característica está presente
região a qual se dedica este estudo, que conta no contexto do Nordeste Brasileiro.
com a incidência de vento ideal para tal
empreendimento.
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Fig. 1 – Sondagem típica do terreno do parque eólico

Vários fatores influenciam a variação volumétrica pode gerar sérios


colapsibilidade dos solos, entre eles a problemas às obras de engenharia e,
estrutura; o peso específico aparente seco; a consequentemente, custos elevados frente aos
umidade natural; a composição química do danos provocados.
permeante; o mineral argílico; a velocidade de
inundação; a tensão vertical de inundação; e a 4.1 Ensaios de placa com inundação
trajetória de tensões (Ferreira, 1995; Vilar e
Ferreira, 2015). Foram realizados ensaios de placa com
De uma maneira geral, solos colapsíveis são inundação para avaliar o potencial de
solos não saturados que quando inundados, colapsividade do terreno natural.
com ou sem sobrecarga, suas partículas se Este ensaio é uma técnica que avalia o
reacomodam radicalmente, provocando comportamento e estima as características de
redução do seu volume. Caso a colapsividade capacidade de carga do solo superficial. Isso é
não seja considerada nos projetos, esta feito através da aplicação de carga estática
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crescente e do registro de deslocamentos de


uma placa rígida, que foi colocada sobre uma
camada de solo devidamente nivelada. O
terreno estava aplainado e não existiram
cargas aplicadas a ele dentro de uma
determinada faixa de largura (pelo menos
igual ao diâmetro ou lado da placa).
Para a realização do ensaio, foi usado um
macaco hidráulico reagindo contra um
equipamento perfuratriz de estaca hélice
contínua (Fig. 2). Fig. 2 – Macaco hidráulico reagindo contra uma
Inicialmente a placa foi carregada em perfuratriz de estaca hélice contínua.
intervalos de 20kN até ser atingida a carga
máxima de ensaio de 100kN (pressão de Outros ensaios também confirmaram a
200kPa), que foi mantida por 12 horas. Em colapsividade do solo natural, que apresenta
seguida a cava era mantida inundada durante potencial baixo a moderado de colapso.
12 horas com medição dos recalques. Após
esse período, foi feito o descarregamento em
intervaloes de 20kN. 5 PROJETO DA FUNDAÇÃO DA
A Figura 3 apresenta os resultados de dois BASE DO AEROGERADOR
ensaios. Observa-se que houve um colapso de
36,63 e 17,06mm após a inundação (Bases 6 e As torres dos 12 aerogeradores do parque
9, respectivamente). Admitindo-se que a eólico foram projetadas sobre blocos de
influência do ensaio se restrinja a uma concreto armado dimensionados para atuarem
profundidade igual a 1,5 vezes o lado da placa como fundação direta sobre o terreno natural
(1,5 x 700 = 1.050mm), tem-se que o ou sobre uma camada de solo tratada com
potencial de colapso é igual a 3,5 e 1,6%, uma técnica de melhoramento adequada.
respectivamente.

Fig. 3 – Ensaios de placa com inundação


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A geometria do bloco de fundação consiste Apesar de tecnicamente viável as duas


de um tronco de cone na parte superior (altura primeiras opções apresentaram custos muito
de 1,05m) montado sobre uma base de elevados, pois exige escavações de grandes
cilindro circular vazado (altura de 1,80m), volumes e profundidades, tornando a
perfazendo uma altura total de 2,85m. A exequibilidade e a economia do projeto caro.
projeção da base circular vazada consiste de Com base também no critério de
um anel com diâmetro externo de 17,60m e exequibilidade, a opção em estacas raiz
diâmetro interno de 7,70m. O fechamento do mostrou-se impraticável, pois exigiria
furo central é realizado por uma laje comprimentos de estaca de 8 a 12m que
impermeável (laje de subpressão) executada teriam de atravessar camadas de areia,
sob a base com diâmetro médio de 9,50m e cascalho de quartzo e xisto, materiais com
altura de 0,30m (Noronha, 2017). rigidez e coesão impróprias para executar
O corte lateral com as dimensões do bloco perfuração de estacas raiz.
de fundação (Fig. 4) indica os volumes de Logo, restou a solução de fundação direta
462m3 e 21m3 para o bloco e para a laje de com colunas enrijecedoras, as quais
reação, respectivamente. O bloco comporta-se demonstraram melhor atendimento às
como uma fundação direta com área de premissas de projeto.
contato em anel circular com área de 197m2. No detalhamento do projeto, foram
consideradas 48 colunas de DSM com 600mm
de diâmetro apoiadas na camada de cascalho
6 MELHORAMENTO DO TERRENO de xisto ou quartzo sob cada uma das bases
(Fig. 5). O comprimento das colunas variou
A partir dos resultados da colapsividade do em função da sondagem de cada base.
solo, e no intuito de viabilizar a
implementação da obra, a projetista da obra
fez uma avaliação técnica para cinco soluções 7 FUNDAÇÃO MISTA
opções para a fundação:
A fundação projetada contempla um elemento
 Fundação direta com base assentada horizontal (sapata) e vários elementos
sobre camada regularizada no terreno verticais que são as colunas tipo DSM.
natural. A carga da estrutura é transmitida ao
 Fundação direta com substituição de terreno parte através do elemento horizontal, e
solo-cimento até o nível da camada de parte através das colunas, como mostrado na
xisto. Figura 6.
 Fundação sobre melhoramento do solo
com colunas enrijecedoras tipo colunas
de Deep Soil Mixing (DSM).
 Fundação profunda com estacas raiz.

Fig. 4 – Dimensões básicas do bloco da fundação e da


laje de subpressão (Noronha, 2017) Fig. 5 – Distribuição das colunas DSM sob a base
(Noronha, 2017)
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 ELS: o recalque diferencial entre dois


pontos extremos da sapata deve ser
inferior a 40mm. E rigidez rotacional
estática e dinâmica devem ser maiores ou
iguais a 12.500 e 100.000 MN/rad,
respectivamente.

A solução com estacas DSM atendeu a


todos os critérios estabelecidos a priori pelo
Fig. 6 – Partição da carga da fundação projeto.

Há vários métodos de cálculo da partição


da carga, mas todos partem das seguintes 8 DEEP SOIL MIXING (DSM)
hipóteses:
Como mencionado em tópico anterior a
 A carga total aplicada é resistida parte técnica Deep Soil Mixing (DSM) foi
pelo solo e parte pelas colunas. identificada como a ideal para o
desenvolvimento da obra. Ela consiste em
V = (Asolo x psolo) + (ADSM x pDSM) (1) misturar o solo com materiais com
propriedades aglomerantes, recorrendo a
 A sapata é considerada rígida, ou seja, o equipamentos específicos, que executam o
recalque do solo superficial é igual ao furo, corte, injeção e mistura. A técnica
recalque das colunas DSM. apresenta uma grande versatilidade, o que
torna a sua aplicabilidade bastante
Isso faz com que a carga resistida por cada diversificada (Machado, 2016)
parte seja proporcional a sua rigidez. Se a A técnica de DSM tem um efeito
rigidez do solo natural for muito menor que a simultâneo de melhoramento e de reforço, na
das colunas DSM, praticamente toda a carga medida em que altera ou melhora algumas
aplicada será absorvida pelas colunas. características do solo, constituindo-se o
Por outro lado, se a rigidez do solo for produto final um elemento rígido. Dadas as
muito maior que a das colunas, as mesmas vantagens da técnica, esta se encontra em
praticamente não absorveriam carga. permanente evolução, pelo que muitos
Geralmente usam-se as colunas quando o estudos têm vindo a ser desenvolvidos,
terreno não apresenta propriedades provando que se trata de uma solução aplicada
satisfatórias para o uso de fundação com sucesso face aos pré-requisitos
superficial assente diretamente sobre o terreno estabelecidos em projeto (Sanches, 2012).
natural. Com isso, as colunas normalmente A empresa contratada adaptou uma
devem ter uma rigidez bem maior que o perfuratriz de hélice contínua para executar as
terreno natural. colunas de DSM de 600mm de diâmetro.
Para o dimensionamento da fundação, foi Utilizou-se o processo úmido de execução, ou
feita uma análise numérica através do seja, o material injetado era uma nata de
software Midas GTS. Os critérios de aceitação cimento. Inicialmente foram executadas
do projeto definidos foram: algumas colunas teste para validação da
solução, com posterior exumação (Fig. 7).
 ELU: pressão transmitida ao terreno deve Observou-se que o processo proposto pela
ser menor ou igual a 250 kPa. empresa atendeu plenamente as
especificações exigidas no projeto.
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uma mangueira, passando antes por um


estabilizador de pressão, girando no sentido
horário, para a mistura da nata de cimento
com o material desagregado do solo. Em
seguida retira-se novamente o trado, girando
no sentido anti-horário, injetando-se o restante
da nata de cimento calculada para aquela
coluna, concluindo assim a mesma.
Caso seja necessário, para uma completa
homogeneização da mistura, repete-se a
penetração do trado com injeção de um novo
traço da calda, sempre entrando no sentido
horário e retirando-se no anti-horário. Se
necessário, para uma melhor
homogeneização, o volume pode ser dividido
em mais de um ciclo.
No final da execução da coluna, o operador
preenche a ficha de controle, e caso haja um
Fig. 7 – Coluna DSM exumada grande adensamento e o material
homogeneizado ficar abaixo da superfície,
esse vazio deverá ser completado com nata de
9 MÉTODO EXECUTIVO DO DEEP cimento misturada com material da superfície
SOIL MIXING do terreno.
Após o término dos serviços do dia será
A execução da técnica DSM envolve a adição feita a limpeza dos condutos do sistema de
ao solo de água e cimento. A água tem o papel injeção. A água juntamente aos eventuais
de se misturar com o ligante para formar uma resíduos acumulados nos equipamentos são
calda para uso no método úmido (wet mixing). despejados pela ponta do trado na própria área
Já o cimento tem a função de enchimento e o destinada à confecção das colunas,
objetivo é reduzir os vazios do solo. O enriquecendo assim também a superfície de
equipamento de mistura (perfuratriz) é assentamento do bloco de fundação da torre
corretamente posicionado no local de eólica.
execução da coluna de solo-cimento. No caso, a execução requer poucos
Primeiramente o trado penetra até a equipamentos e por isso pode ser executada
profundidade de projeto, girando no sentido em espaços com pouca área de trabalho:
horário com simultânea desagregação do solo. perfuratriz com ponta especial para mistura e
Ao chegar na profundidade desejada, retira-se injeção; central de mistura com tanque de
o trado girando no sentido anti-horário, sem a armazenamento temporário com pás giratórias
retirada do material (solo). Durante essa em constante movimento; caixas de água ou
perfuração do solo inicia-se a preparação da caminhão-pipa; bomba injetora; depósito; e
calda (nata de cimento), com fator bancada de madeira ou ferro para o cimento.
agua/cimento de 0,65 e consumo de 100 kg de
cimento por metro de coluna de 600 mm de
diâmetro (354 kg/m3 de mistura).
Após a preparação da calda pela betoneira e
após o retorno do trado de perfuração, faz-se
uma segunda penetração do trado, dessa vez
com injeção de nata de cimento através de
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10 DESEMPENHO DAS COLUNAS aumento da resistência após a alteração do


DSM traço. A resistência requerida no projeto era
3MPa.
As colunas foram inicialmente executadas Também foram realizados ensaios para
com um com um traço de 100 kg de cimento determinação do módulo de deformação
por metro de estaca, que corresponde a 354 secante das estacas, em testemunhos das
kg/m3, e fator a/c igual a 0,65. estacas obtidos através de sondagens rotativas
Após a execução de algumas estacas, o no centro das estacas.
traço foi alterado para 128 kg de cimento por A Figura 9 apresenta os resultados obtidos
metro de estaca, que corresponde a 453 kg/m3, para as estacas executadas com o primeiro
e fator a/c igual a 0,60. traço de 354 kg/m3. O módulo obtido foi
A Figura 8 apresenta a evolução da cerca de 1.900 MPa.
resistência a compressão simples da mistura. A relação entre o módulo de deformação e
Os corpos de prova foram moldados com a resistência a compressão simples foi da
material coletado da parte superficial das ordem de 650, que é um valor próximo ao
estacas. Observa-se que houve um substancial obtido em outras obras (Mello et al., 2016).

Fig. 8 – Evolução da resistência a compressão simples da mistura


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Fig. 9 – Módulo de deformação em uma função da resistência a compressão simples da mistura

Para avaliar o desempenho da solução 11 CONCLUSÕES


proposta, foram realizados dois ensaios de
placa (Fig. 10): O estudo de caso apresentado mostrou que a
solução de fundação superficial associada
 Placa de 700 x 700mm apoiada apenas no com colunas tipo DSM em um terreno
solo entre as colunas DSM; colapsível atendeu aos requisitos de projeto
 Placa de 700 x 700mm apoiada sobre exigidos nas especificações, tanto do ponto de
uma coluna DSM. vista do ELU quanto do ELS.
Os ensaios de placa com inundação
Os resultados estão mostrados na Figura mostraram que o solo natural apresentava
11. Observa-se que no ensaio “solo + colunas potencial baixo a moderado de colapso.
DSM” os recalques foram bem menores que Os ensaios de placa realizados após a
no ensaio “apenas no solo”. Isso confirmou a execução do melhoramento confirmaram que
expectativa de que a rigidez da coluna DSM é a rigidez da coluna DSM é bem maior que a
bem maior que a do solo natural. solo natural.
Desta forma, o solo tratado com a técnica
cumpriu com eficácia o tratamento dos solos
colapsíveis, apresentando características de
resistência mecânica e de deformabilidade
melhoradas e mostrando-se, assim, uma
solução interessante, atrativa e competitiva,
tanto do ponto de vista econômico, quanto do
ponto de vista da exequibilidade.
Fig. 10 – Ensaios de placa realizados
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Fig. 11 – Resultados dos ensaios de placa

AGRADECIMENTOS Sanches, D. P. S. I. (2012). Reforço Solos Moles de


Fundação de Aterro em Deep Soil Mixing.
Modelação de Caso de Estudo. Dissertação de
Os autores agradecem a Chesf pela permissão Mestrado, FEUP/Porto. Porto, Portugal. 188 p.
para publicação dos resultados. Uhleim, A.; Caxisto, F. A.; Sanglard, J. C. O.; Uhlein,
G. J.; Suckau, G. L. (2011). Estratigrafia e
Tectônica das Faixas Neoproterozóicas da Porção
REFERÊNCIAS Norte do Craton São Francisco. Geonomos. 19(2).
Pp.8-31. Belo Horizonte.
Vilar, O. M.; Ferreira, S. R. M. (2015). Solos
Elifler Neto, E. E. (2012). Estudo da Colapsíveis e Expansivos. In Carvalho, J. C.;
Complementaridade entre Disponibilidades de Gitirana Jr., G. F. N.; Machado, S. L.; Mascarenhas,
Energia Hídrica e Eólica na Região Nordeste do M. M. A.; Silva Filho, F. C. Solos não Saturados
Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso/UFRGS. no Contexto da Geotecnia. ABMS. São Paulo.
Rio Grande do Sul. 82 p. 759p.
Ferreira, S. R. M. (1995). Colapso e Expansão de
Solos Naturais não Saturados Devido à Inundação.
Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro.
379 p.
Machado, M. C. B. (2016). Tratamento de Solos Moles
por Misturas de Cimento em Profundidade.
Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ. Rio de
Janeiro. 103 p.
Mello, L. G. F. S.; Koshima, A.; Riccio Filho, M. V.;
Almeida, M. S. S.; Gouveia Filho, P. P. (2016).
Tratamento de Solo. In Hachich, W.; Falconi, F. F.;
Saes, J. L.; Frota, R. G. Q.; Carvalho, C. S.;
Niyama, S. Fundações – Teoria e Prática. 3°
Edição. Editora Pini, São Paulo. 802p.
Noronha, M. (2017). Projeto de Fundação das Bases
dos Aerogeradores. BraBo Engenharia.
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Metodologia para correção de métodos semiempíricos de


capacidade de carga de estacas visando o conceito de aplicabilidade
segundo a NBR6122 e o Eurocode 7
Caio de Oliveira Silva
Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, caio_oliveira1996@hotmail.com

Kurt André Pereira Amann


Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu.br

RESUMO: Este artigo apresenta o conceito de aplicabilidade segundo interpretado das normas
brasileira e europeia e propõe uma metodologia estatística para se obter um “fator de modelo” para
os métodos semiempíricos, de modo que tais métodos se tornem classificados como “a favor da
segurança” quando eventualmente forem “contra a segurança”. Utiliza-se para isso o teste de hipótese
‘t’ de Student bicaudal para diferença entre médias de dados pareados, de modo que se possa
classificar os métodos em “a favor da segurança”, “acurado” e “contra a segurança”, conforme o
resultado da estatística obtida. A metodologia de correção via “fator de modelo” é aplicada aos
métodos Décourt-Quaresma e Aoki-Velloso e pode-se identificar a influência do critério de ruptura
adotado nas análises. Destaca-se que a proposta de aplicação desse fator de modelo é restrita apenas
ao solo local das provas de carga analisadas, podendo-se obter valores próprios para cada obra e seu
respectivo solo e tipo de estaca para outros casos usando a mesma metodologia.

PALAVRAS-CHAVE: Método Semiempírico, Capacidade de carga, Estatística.

1 INTRODUÇÃO validação estatística da “aplicabilidade”,


partindo do que é preconizado nas normas
A prática brasileira de dimensionamento de brasileira e europeia (NBR6122 e Eurocode 7) e
fundações por estacas utiliza intensamente os para os casos em que o método semiempírico se
métodos semiempíricos com base em ensaios de apresente não-aplicável (ou contra a segurança),
campo, notadamente o SPT. Os métodos mais propõe-se uma metodologia para correção do
difundidos no Brasil são o Décourt-Quaresma e mesmo para o solo local dos ensaios de prova de
o Aoki-Velloso, ambos datando da segunda carga, de modo a se garantir sua aplicabilidade.
metade da década de 1970, com algumas A metodologia proposta será aplicada sobre
atualizações periódicas promovidas pelos um banco de dados de estacas Raiz extraído da
próprios autores, como por exemplo a inclusão dissertação de Amann (2000) e permite
de estacas não contempladas no método original, demonstrar a possibilidade de sua extensão para
como as estacas do tipo Raiz e Hélice-Contínua, outros tipos de estacas. A partir disto, pode-se
entre outras (Cintra e Aoki, 2010). Embora atribuir as classificações de “a favor da
desde então muito se tenha pesquisado sobre os segurança”, “acurado”, ou “contra a segurança”
resultados destes métodos em comparação com para os métodos semiempíricos. Enfim, após tal
ensaios de prova de carga, os mesmos ainda são classificação, para os casos em que o método
utilizados muitas vezes de forma indiscriminada eventualmente se demonstre contra a segurança,
em diversas localidades pelo país afora sem a propõe-se a metodologia de correção do método
preocupação da validação de sua aplicabilidade. para torná-lo estatisticamente acurado ou a favor
Assim, o objetivo de pesquisa deste artigo da segurança para o solo onde se realizaram as
passa por propor uma metodologia para provas de carga.
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empíricos ou analíticos cuja validade haja sido


demonstrada através de ensaios de carga estática
2 APLICABILIDADE DOS MÉTODOS em situações comparáveis” e indica-se que deve
SEMIEMPÍRICOS ficar claramente estabelecido que a relação
empírica “é aplicável nas condições do terreno
A escolha dos métodos semiempíricos Décourt- existentes no local da obra”.
Quaresma (1978) e Aoki-Velloso (1975) se dá Pode-se, com base nestes textos, definir aqui
por serem eles amplamente conhecidos na “aplicabilidade” como sendo a análise e
literatura técnica brasileira e sua forma de constatação de que a relação ou a formulação
aplicação pode ser consultada em diversos empírica de um método semiempírico é
artigos e livros, como o de Cintra e Aoki (2010), adequada (ou “a favor da segurança”) às
contudo a metodologia pode ser aplicada a condições do terreno do local da obra,
qualquer outro método semiempírico. De fato, observando-se os domínios de validade, a
estes dois métodos foram a base para o dispersão dos dados e as limitações regionais da
desenvolvimento de dezenas de outros pela aplicação dessas formulações. O Eurocode 7
comunidade técnica brasileira ao longo das (seção 2.4.1) esclarece que a adequação do
décadas seguintes. Basicamente, tais métodos método é verificada quando o mesmo puder ser
utilizam fatores obtidos empiricamente para considerado a favor da segurança ou “rigoroso”
estimar a capacidade de carga ou carga última de (aqui interpretado como “acurado”). Assim, é a
estacas a partir dos resultados de ensaios de partir da menção à “dispersão dos dados” na
campo tipo SPT e a análise de equilíbrio estático NBR6122 que se constata a necessidade de uma
do sistema estaca-solo. análise estatística para tal verificação.
Ainda que tais métodos semiempíricos sejam E, muito embora se possa verificar a
muito difundidos pela facilidade de sua aplicabilidade do método de diferentes formas,
aplicação com base no ensaio SPT, seu uso não fica claro na subsecção 7.1 do Eurocode 7 que os
pode ser indiscriminado a qualquer local do país métodos de cálculo devem ter validade
devido aos comportamentos distintos dos solos, demonstrada através de “ensaios de carga
e é neste âmbito que a norma brasileira preconiza estática (subsecção 7.5.2) em situações
a verificação de sua validade para o local da comparáveis”. Isso remete aos ensaios de prova
obra. de carga e aos critérios de ruptura a eles
O conceito de aplicabilidade interpretado das aplicáveis.
normas NBR6122 e Eurocode 7 aqui empregado
foi objeto de outros dois artigos do grupo de
pesquisa dos autores, sendo um deles submetido 3 CRITÉRIOS DE RUPTURA
a este congresso brasileiro e o outro,
recentemente, ao evento português Congresso Ao se verificar a aplicabilidade por comparação
Nacional de Geotecnia. Especificamente nos dos métodos semiempíricos com ensaios de
itens 7.3.3 e 8.2.2.2 da norma NBR6122:2010 prova de carga vale destacar que, de acordo com
indica-se que no caso da determinação da carga Amann (2010) e Cintra e Aoki (2010), cada
admissível de fundações ser feita utilizando-se método semiempírico, na sua elaboração, teve a
métodos semi-empíricos “devem ser observados influência de um determinado critério de ruptura
os domínios de validade de suas aplicações, bem aplicado sobre a curva carga-recalque dos
como as dispersões dos dados e as limitações ensaios originalmente analisados no
regionais associadas a cada uma das desenvolvimento do método. No caso do método
formulações”. Por outro lado, nas subsecções 7.1 Aoki-Velloso foi aplicado originalmente pelos
e 2.4.1 do Eurocode 7 é preconizado, seus autores o critério de ajuste matemático de
respectivamente, que o dimensionamento das Van der Veen (1953) e no caso do método
fundações deve utilizar “métodos de cálculo Décourt-Quaresma o critério utilizado foi o de
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recalque limite de 10% do diâmetro da estaca significância de 5% (sendo metade para cada
(D/10), proposto por Terzaghi. Como destaca lado no teste bicaudal). Para os casos em que H0
Amann (2010), isso acarreta certa influência do seja rejeitada, a interpretação depende de como
critério de ruptura usado para analisar a foi calculada a diferença entre os conjuntos de
aplicabilidade dos métodos como aqui proposto, dados. Propõe-se aqui que a diferença seja
e isso deve ser levado em conta. sempre calculada entre a média dos valores
Assim, os critérios utilizados no presente semiempíricos (MSE) e a média dos critérios de
trabalho são os originalmente empregados em ruptura (Rup), portanto para cada ponto i do
cada método, também amplamente conhecidos: banco de dados di = (MSE)i – (MRup)i e não o
a extrapolação exponencial de Van der Veen contrário, para que esteja adequada à
(1953) adaptado por Aoki (1976), o critério de interpretação aqui proposta.
Terzaghi (recalque limite D/10) e, Procedendo-se assim, a interpretação deste
adicionalmente, o critério de ruptura teste se faz da seguinte forma: se tcalc < − tcrit
convencional indicado pela NBR 6122 no seu classifica-se o método como “a favor da
item 8.2.1.1. Em todo caso, a aplicação destes segurança”, enquanto se tcalc > tcrit diz-se que o
critérios fica sujeita ao desenvolvimento maior
método é “contra a segurança”. Se o valor tcalc
ou menor da curva carga-recalque durante o
encontrar-se na região de não-rejeição da
ensaio, pois alguns deles requerem curvas que
hipótese H0, isto é, se −tcrit ≤ tcalc ≤ tcrit , pode-se
alcancem recalques elevados, nem sempre
possíveis nas condições do ensaio. Essa restrição definir o método como “acurado”, ou seja, os
foi particularmente identificada na aplicação do resultados calculados pelo método semiempírico
critério de Terzaghi, em que os recalques são semelhantes aos valores de ensaio (MSE ≅
máximos dos ensaios analisados foram na maior MRup) para o nível de significância adotado no
parte das vezes bem menores do que D/10. teste.
Nestes casos foi utilizada a extrapolação de Van Para aplicação da distribuição ‘t’ de Student
der Veen para determinação da carga de ruptura, deve-se verificar se os dados seguem uma
como indicado na NBR6122, item 8.2.1.1. distribuição simétrica e aproximada à
distribuição normal, o que será feito com a
aplicação preliminar do tradicional Teste de
4 METODOLOGIA ESTATÍSTICA PARA Normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Tal teste
VERIFICAÇÃO DA APLICABILIDADE utiliza uma estatística própria para definir os
valores críticos para o ponto mais afastado da
A metodologia proposta passa por verificar curva normal (MORETTIN, 2013).
estatisticamente a média das diferenças (d)
entre os resultados dos métodos semiempíricos
em relação aos respectivos resultados de critérios 5 PROPOSTA DE METODOLOGIA DE
de ruptura, utilizando-se para isso o teste de CORREÇÃO PARA MÉTODOS “CONTRA A
hipótese (Equação 1) bicaudal com distribuição SEGURANÇA”
‘t’ de Student para diferença entre duas médias
de dados pareados (MORETTIN, 2013). Na eventualidade dos métodos semiempíricos se
enquadrarem como “contra a segurança”, as
H0 :μd =0 subsecções 7.6.2.3(2) e 2.4.1(9) do Eurocode7
{ (1) indicam a possibilidade de aplicação de um fator
H1 :μd ≠0
de modelo “C” para a correção desta
classificação. É diante desta indicação que se faz
Neste teste de hipótese bicaudal, aceita-se H0 a presente proposta de correção dos métodos,
quando a diferença média μd estiver próxima a tendo em vista as análises estatísticas
zero, ou dentro do intervalo de valores críticos desenvolvidas.
da estatística ‘t’ (±tcrit) para o nível de Partindo-se do intervalo de confiança (IC)
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com o nível de confiabilidade igual a 5% Por outro lado, sabendo-se que a carga de
(MORETTIN, 2013), pode-se defini-lo em ruptura pelo método semiempírico pode ser
função da média () e desvio-padrão (): escrito como a resistência lateral (PL) somada
IC95% = μ ± σ . tcrit . Os sinais positivo e negativo com a resistência de ponta (PP), tem-se:
indicam o limite superior e inferior do intervalo MSE=PLMSE +PPMSE . Assim, se for possível
de confiança, neste caso, simétrico. Este valor separar as parcelas de atrito lateral (PLRup ) e de
crítico pode ser calculado pela fórmula de ponta (PPRup ) nas provas de carga analisadas,
planilha eletrônica tcrit = INV.T(0,05/2; n-1), para seja por meio de instrumentação ou pela
significância de 5%. Considerando o cálculo da aplicação de métodos de transferência de carga
estatística ‘t’ para a diferença (d) das médias (td ) como o Método das Duas Retas (LAZO e
e sendo o seu valor crítico tcrit , ao se igualar MASSAD, 1996), poder-se-ia obter os fatores de
ambos obtém-se a situação limite para a qual o modelo (CPL e CPP ) e, portanto, as correções
método pode ser considerado “a favor da individuais para cada uma dessas parcelas.
segurança”, podendo-se escrever genericamente Propõe-se, então que, caso seja possível essa
(2): separação das parcelas, a correção seja aplicada
de forma análoga, ou seja (5a e 5b):
μd
t d =t crit = S ⇒ μd =t crit . Sd ⁄√n (2)
d ⁄√n ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅̅
PL MSEmod =PLRup − PPMSE + tcrit . SdPL ⁄√n (5a)
onde n é o tamanho do banco de dados e Sd (3):
̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
PPMSEmod =PP ̅̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅̅
Rup − PPMSE + tcrit . SdPP ⁄√n (5b)
1 (∑ di )2
Sd =√n-1 ∙ [∑(d2i ) - n
] (3) Os valores de SdPL e SdPP são calculados de
forma análoga à equação (3), porém aplicados
Lembrando que μd =μMSE − μRup , pode-se apenas às parcelas correspondentes de atrito e
ponta. Observe-se que as equações (5a) e (5b)
escrever a equação (4) para obter o valor da
são aplicáveis as médias dos valores de atrito e
média dos métodos semiempíricos que levará o
ponta das estacas analisadas. Para os casos em
método a ser considerado como estando no
que essa separação das parcelas de atrito e ponta
limite entre acurado e a favor da segurança
não for possível, sugere-se aplicar apenas a
(μMSEmod):
proposta de correção dada a partir da equação
(4).
μMSEmod =μRup +t crit . Sd ⁄√n (4)
Deste ponto em diante, pode-se especificar o
fator de correção de modelo para cada um dos
A equação (4) se aplica para obter o “fator de métodos estudados.
modelo” CMSE =μMSEmod /μMSE de uma forma
geral para o conjunto de dados analisado, 5.1 Fator de Modelo do Método Décourt-
atendendo às subsecções 7.6.2.3(2) e 2.4.1(9) do Quaresma
Eurocode 7. Este, portanto, compõe a proposta
de aplicação de um fator de modelo geral (CMSE ) Se for possível a separação das parcelas de atrito
para o método semiempírico, sendo que se o e ponta, fazendo-se o índice MSE igual a DQ
método foi classificado como “contra a para indicar o método Décourt-Quaresma e
segurança”, o valor de CMSE deve ser menor do tendo em conta a forma de cálculo do atrito
que 1,0. Destaca-se que este fator não deve ser lateral com base no número de golpes médio (Ni)
considerado como uma correção ou modificação do ensaio SPT para cada camada i de solo neste
do método semiempírico original, mas apenas método, dada por (6), pode-se propor a correção
uma correção de modelo para o conjunto de do seu fator empírico  como proposto em (7):
dados analisado, valendo apenas para a obra
estudada e o seu solo local. ̅̅̅
N
PLDQ = U. ∆L. ( 3i + 1) . 10. βi [kN] (6)
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PLDQ = U. β1 . ∑ni=1(ji . k i ) (12)


̅̅̅̅̅̅̅̅
PLRup − ̅̅̅̅̅̅̅
PLDQ + tcrit . SdPL ⁄ √n
βmod = ̅
N
(7)
( +1) . 10 . ∆L . U βmod,1 ̅̅̅̅̅̅̅̅
PLRup − ̅̅̅̅̅̅̅
PLDQ + tcrit . SdPL ⁄ √n
3 Cβ1 = = (13)
β1 U.β1 .∑n
i=1(ji .ki )
sendo: U o perímetro da seção transversal da
estaca e L a espessura da camada de solo, sendo Para correção das demais camadas, basta
que o denominador da equação (7) pode ser aplicar os fatores ji da equação (11) da respectiva
calculado diretamente pela razão ̅̅̅̅̅̅
PLDQ /i para camada ao valor obtido βmod,1 . Para a ponta,
um conjunto de estacas. procede-se de maneira análoga.
Observe-se que nesta proposta aplica-se a
equação (7) apenas para as estacas ensaiadas em 5.2 Fator de Modelo do Método Aoki-Velloso
uma mesma obra e tipo de solo.
Assim, o valor mod deve ser empregado O método Aoki-Velloso apresenta uma
especificamente para o solo do local onde se peculiaridade que é a de seu fator  ser relativo
realizaram as provas de carga analisadas. à relação entre a resistência de ponta e a da luva
No caso de estacas do tipo Raiz e Hélice- atrito do ensaio CPT, da mesma forma que o seu
Contínua, este método adota um único valor de fator K apresenta-se como sendo a relação entre
 para qualquer tipo de solo, respectivamente 1,5 a resistência de ponta do ensaio CPT e o número
e 1,0 , o que simplifica o problema de correção, de golpes do SPT para cada tipo de solo. Sendo
podendo-se aplicar diretamente a equação (7). assim, considera-se aqui que tais valores só
Assim, o valor do fator de modelo (Cβ ) para o devem ser corrigidos com base em estudos
grupo de estacas do banco de dados pode ser destes dois tipos de ensaios, independentemente
da estaca.
calculado como (8), onde  é o valor original do
Já os fatores F1 (fator de ponta) e F2 (de atrito
método para a estaca estudada:
lateral) são diretamente relacionados com os
βmod ̅̅̅̅̅̅̅̅
PLRup − ̅̅̅̅̅̅̅
PLDQ + tcrit . Sd ⁄ √n
tipos de estacas e não variam com o tipo de solo.
Cβ = = ̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑃𝐿 (8) Assim, estes fatores podem ser corrigidos de
β 𝐷𝑄

𝛽 forma similar ao apresentado para o método
Décourt-Quaresma, considerando ainda a
Para o caso de outros tipos de estacas em que relação F2=2.F1 estabelecida pelos seus autores
o valor de  varia com o tipo de solo, sugere-se (CINTRA e AOKI, 2010).
adotar a camada de maior espessura acumulada Portanto, aplicando processo semelhante ao
ao longo da sondagem nas diversas estacas do anterior para o método Aoki-Velloso, obtém-se
grupo estudado como sendo a referência (14):
(minimização de erro) e correlacionar os valores
de  desta com os valores das demais camadas, 1 F2 μRup + tcrit . Sd ⁄ √n
= = (14)
ponderando-as com suas respectivas espessuras CF2 F2mod μAV
acumuladas (Li). As equações (9) a (13)
ilustram o processo, admitindo-se 1 como sendo Embora a simplicidade da equação (14) possa
a camada de referência: contrastar com a (8) ou (13), a simplificação se
dá pelo fato dos fatores F1 e F2 não dependerem
PLDQ = U. [β1 . k1 + β2 . k 2 + ⋯ + βn . k n ] (9) do tipo de solo e da relação F2/F2mod ser a mesma
de F1/F1mod , o que permite tratar diretamente a
̅̅̅
N média AV sem a necessidade de se separar atrito
k i = ( 3i + 1) . 10. ∆Li (10) e ponta.

β2 = j2 . β1 ; β3 = j3 . β1 … βn = jn . β1 (11)
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Tabela 1. Dimensões e capacidades de carga obtidas por métodos semi-empíricos e critérios de ruptura dos ensaios de
prova de carga das estacas raiz (AMANN, 2000).
Estaca D (mm) L (m) Qmax (kN) Rck;AV Rck;DQ Rck;mVdV Rc;mNBR6122
(kN) (kN) (kN) (kN)
G101 200 21 600 281 671 810 807
G102 200 20 800 314 663 987 972
G201 250 32 900 1115 1570 985 643*
G202 250 20,9 900 513 830 945 741*
G203 250 18 810 956 1151 842 519*
G204 250 26 1100 640 1209 1507 1472
G301 250 21 1200 795 1090 1522 1398
G302 250 23 1200 1235 1540 1888 1831
G401 250 34 1125 1342 2056 1316 1315
G402 310 23,2 1500 1370 1781 1844 1844
G403 310 34 1520 1898 2752 1782 1446*
G404 310 34 1520 2202 3106 1775 1775
G501 200 23 830 707 1531 1011 1008
G502 200 23 900 707 1531 1166 1165
G503 250 23 1050 910 1939 1686 1686
G504 250 23 1050 910 1939 1504 1501
G601 250 16 1050 638 807 1000 892*
G602 170 20 850 1613 2068 878 794
G603 250 20,2 1200 1233 1453 1350 1406*
G701 250 15 1200 585 1345 1419 1387
G702 250 14 785 1757 1810 1266 1247
G703 250 20,5 900 1606 1037 603 603
G704 250 27,5 1050 1172 1539 1412 1412
G705 250 26,6 600 - - - -
G706 400 21 1875 2068 4003 2810 2789
G707 250 20,1 975 4456 3480 1682 1681
G708 250 27,4 900 1304 2239 1210 1209
G709 250 24,4 1200 932 1678 717 717

6 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA Velloso, DQ para Décourt-Quaresma, VdV para


PROPOSTA AO BANCO DE DADOS DE o critério de ruptura de Van der Veen, e o critério
ESTACAS RAIZ (AMANN, 2000) de ruptura convencional da NBR6122.
O critério de recalque limite igual a D/10 não
6.1 Banco de Dados de Estaca Raiz (Amann, foi aplicado pois poucos ensaios de prova de
2000) carga alcançaram este nível de recalque.

A Tabela 1 apresenta os dados do banco de dados 6.2 O Teste de Normalidade K-S


da dissertação de Amann (2000).
Observe-se que a estaca G705 não apresentou Para a melhor análise foi verificada a
valores coerentes e será retirada das análises. A aproximação da distribuição dos valores
linha de cabeçalho indica os métodos a serem estudados a uma distribuição Normal,
analisados por siglas, sedno AV para Aoki- utilizando-se o teste de normalidade
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Kolmogorov-Smirnov (K-S). perda de informação e reaplica-se o teste.

Figura 1. Teste K-S aplicado aos dados do método Figura 2. Teste K-S aplicado aos dados do método
Décourt-Quaresma com todas as 27 estacas. Décourt-Quaresma sem a estaca G707.

A Figura 1 apresenta como exemplo o resultado Retirando-se o ponto extremo da direita na


de probabilidade de normalidade aplicado ao Figura 2, correspondente à estaca G707, obteve-
método Décourt-Quaresma. Na figura pode-se se um P-Valor >0,15, podendo ser considerada
verificar que o P-valor de 0,086, muito abaixo do válida a aproximação com a distribuição
minimamente adequado que seria 0,10 par se Normal, como se vê na mesma Figura 2.
considerar os dados com distribuição Normal.
Diante disto, antes de se tentar uma nova 6.3 Aplicação do Teste ‘t’ de Student
distribuição de probabilidade, como a
Lognormal, por exemplo, uma possibilidade é Os resultados da aplicação da metodologia
experimentar-se a retirada de um ou dois pontos proposta aos dados da Tabela 1 se apresentam na
extremos do conjunto de dados, minimizando a Tabela 2.
Tabela 2. Resumo dos resultados da metodologia proposta para as combinações entre os métodos DQ e AV com os
critérios VdV e NBR6122.
μd sd sx t t crit P-valor IC[95%] IC[95%] Classificação
Diferença
(kN) (kN) (kN) Inf. (kN) Sup.(kN)
R ck;DQ -R c;mVdV 350 532 104 3,354 2,059 0,003 135 565 Contra a segurança
R ck;DQ -R c;mNBR 414 547 107 3,856 2,059 0,0007 193 635 Contra a segurança
R ck;AV -R c;mVdV
-209 510 100 -2,091 2,059 0,023 -415 -3 A favor da segurança
R ck;AV -R c;mNBR
-145 537 105 -1,379 2,059 0,090 -362 72 Acurado

Tabela 3. Aplicação da metodologia proposta às estacas instaladas em mesmo terreno (grupos) para o método Décourt-
Quaresma (DQ) em relação ao critério de Van der Veen (VdV).
μd sd sx t t crit P-valor IC[95%] IC[95%] Classificação
Grupo
(kN) (kN) (kN) Inf. (kN) Sup.(kN)
G2 121 402 201 0,600 3,182 0,2955 -518 759 Acurado
G4 744 591 295 2,521 3,182 0,043 -195 1684 Acurado
G5 393 113,2 56,6 6,948 3,182 0,003 212,9 573,2 Contra a segurança

Na tabela 2 pode-se identificar que o método relação ao critério de ruptura da NBR6122.


Décourt-Quaresma se apresenta “contra a Desta forma, ele será objeto de aplicação da
segurança” em relação ao conjunto de dados, metodologia de correção de modelo como aqui
tanto dos valores de Van der Veen quanto em proposto.
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6.4 Aplicação do teste ‘t’ a estacas de mesma para as estacas do grupo e, multiplicado pelos
obra: grupos G2, G4 e G5 valores da tabela 1, resulta capacidades de carga
que levam o método a resultar a favor da
Visto que no banco de dados analisado há estacas segurança para este grupo, tornando o método
que foram instaladas num mesmo terreno, pode- “aplicável” para essa obra.
se aplicar a metodologia aqui proposta para De forma geral, diferentes obras terão
verificar a aplicabilidade do método Décourt- diferentes fatores de modelo. Isso ocorre
Quaresma em relação ao critério de Van der justamente devido às características particulares
Veen, por exemplo. Os resultados podem ser e de variabilidade do solo de cada local em
vistos na Tabela 3, onde se verifica que o método relação ao método de execução da estaca. Isso
DQ se demonstrou contra a segurança apenas também ilustra o que a NBR6122 indica ao
para o solo do grupo G5. Para os outros dois ele exigir que se verifique a aplicabilidade do
se apresentou “acurado”, ou seja, os valores método ao solo local de cada obra.
calculados por ele estão muito próximos dos Por outro lado, verifica-se que os critérios de
obtidos pelo critério de ruptura, permitindo dizer ruptura adotados na análise podem influenciar o
que o método DQ é aplicável. valor do fator de modelo, como se apresenta a
seguir.

7 APLICAÇÃO DO FATOR DE MODELO 7.2 Décourt-Quaresma e NBR-6122 para o


grupo G5
7.1 Décourt-Quaresma e Van der Veen para o
grupo G5 Como o critério de ruptura pode influenciar os
resultados, apresentam-se também os valores
Dado que o método Décourt-Quaresma se obtidos para o método DQ em relação à
apresentou contra a segurança para a obra do NBR6122 na tabela 5.
grupo de estacas G5, propôs-se aplicar a equação
(4) para se obter o fator de modelo para o mesmo, Tabela 5. Fator de Modelo para o método Décourt-
em comparação com os resultados de Van der Quaresma e critério da NBR6122, grupo G5 (valores de
carga em kN).
Veen, especificamente para as 4 estacas do G5, e
μDQG5 μNBRG5 Sd Sx tcrit CDQG5
assim obtiveram-se os resultados da Tabela 4:
1735,0 1340,0 114,4 57,2 -3,182 0,6674
Tabela 4. Fator de Modelo para o método Décourt-
Quaresma e critério de Van der Veen, grupo G5 (valores Observa-se que o valor obtido com o critério
de carga em kN). de ruptura da NBR6122 resultou 0,6674, muito
μDQG5 μVdVG5 Sd Sx tcrit CDQG5 próximo do 0,6697 obtido para o critério de Van
1735,0 1341,7 113,2 56,5 -3,182 0,6697 der Veen. Neste caso em particular as curvas de
prova de carga foram bem desenvolvidas nos
Este fator de modelo CDQG5 = 0,6697 é ensaios de carregamento e isso resultou boa
aplicável aos valores obtidos pelo método proximidade entre os dois critérios, porém isso
Décourt-Quaresma para essa obra, considerando não é a regra geral, devido à variabilidade
as estacas com 23,0 m de comprimento e distinta de cada um deles. Dessa forma
diâmetros de 20 e 25 cm. De modo geral pode-se demonstra-se a importância de se considerar
analisar as estacas de mesmo diâmetro sempre o fator de modelo em função do critério
separadamente, obtendo-se assim um fator de de ruptura utilizado na análise, não se devendo
modelo em função desta dimensão da estaca, empregá-la de forma arbitrária a qualquer
contudo, tendo apenas 2 valores os métodos situação.
estatísticos não são aplicáveis na forma como
aqui propostos e, portanto, não se sugere aplica- 7.3 Separação de atrito lateral e ponta para o
lo. Assim, este valor pode ser considerado médio grupo G2
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Décourt-Quaresma poderia assumir para ser


No trabalho de Amann (2000) verifica-se que foi considerado a favor da segurança (PLDQmod)
possível a aplicação do Método das Duas Retas deveria ser da ordem de 55,5 kN. Isso decorre
(LAZO e MASSAD, 1996) para a separação das justamente da pouca quantidade de estacas
parcelas de atrito lateral (PLRup) e de ponta usadas na análise. apenas para exemplificar,
(PPRup) de 3 das 4 estacas da obra correspondente ainda que o valor de SdPL fosse o mesmo, se
ao grupo G2. Embora para esse grupo o método houvesse uma estaca a mais incluída na análise,
DQ tenha se mostrado “acurado”, a título de o valor de tcrit seria -3,182 e o valor PLDQmod
exemplo torna-se possível a aplicação da seria então de 276,9 kN, muito mais condizente,
proposta das equações (7) e (8) para obtenção de embora ainda baixo.
fatores de modelo específicos para os fatores Isso demonstra a forte influência do tamanho
empíricos de atrito dos métodos semiempíricos. da amostra nessa forma proposta de análise,
É importante considerar que a parcela de indicando-se que a quantidade de estacas
atrito é o valor mais confiável obtido por este ensaiadas na obra deve ser de pelo menos 4 a 5
método de separação das parcelas, pois, ainda unidades.
que seja bastante desenvolvida a curva carga-
recalque, a ponta raramente é mobilizada até a
ruptura do solo abaixo dela. Seu valor 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mobilizado, portanto, acaba por ser calculado
pela diferença entre a carga máxima de ensaio e O presente artigo desenvolveu o conceito de
o valor do atrito lateral obtido pelo método das aplicabilidade dos métodos semiempíricos a
Duas Retas, não podendo ser considerado como partir das normas brasileira e europeia e propôs
um valor de ruptura propriamente dito uma metodologia estatística com base no teste de
(AMANN, 2010). Dessa forma, as devidas hipótese ‘t’ de Student para médias de dados
ressalvas devem ser feitas para o caso da ponta, pareados para se classificar os métodos em “a
sendo aqui tratado apenas o fator de modelo para favor da segurança”, “acurado” ou “contra a
o atrito lateral. segurança”. Para os casos em que a classificação
resultasse “contra a segurança”, propôs também
Tabela 6. Fator de Modelo para o atrito lateral do método um método para corrigir o valor dos fatores
Décourt-Quaresma e do Método das Duas Retas, grupo G2
(valores de carga em kN). empíricos dos métodos semiempíricos a partir de
Estaca PLDQ PLRup um “fator de modelo”, conforme o Eurocode 7,
para que os mesmos se tornem “a favor da
G201 1245 703,7
segurança”. A proposta foi aplicada a um banco
G202 754 688,9
de dados de estacas do tipo Raiz do trabalho de
G203 808 622,0 Amann (2000) e um exemplo de correção foi
feito para o método Décourt-Quaresma.
Obtém-se assim SdPL = 248 kN e t crit = Aplicando-se a metodologia para estacas
−4,303 kN , que são valores bem altos. É instaladas num mesmo terreno, observa-se que a
importante verificar que o valor do tcrit é função correção dos fatores varia de local para local,
do tamanho da amostra e como nesse caso conforme as características do solo,
dispõe-se apenas de 3 estacas, a amplitude do demonstrando que não se deve aplicar os
intervalo de confiança da diferença entre os métodos semiempíricos indiscriminadamente.
atritos calculados e medidos cresce para [-351 Também se demonstrou a influência do
kN; 879 kN], resultando, portanto “acurado” critério de ruptura escolhido na análise,
para o atrito lateral nessa obra. comparando os resultados obtidos para os
Devido a essa grande amplitude, oriunda do critérios de Van der Veen e da NBR6122.
valor do produto tcrit . SdPL ⁄ √n = 626kN, o A possibilidade de se separar as parcelas de
valor que o atrito lateral calculado pelo método atrito e ponta permitem a obtenção de um fator
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de modelo para cada parcela, sendo que a mais


confiável das duas é o atrito lateral. Ainda assim,
a pequena quantidade de estacas ensaiadas à
prova de carga na obra pode gerar valores de
fator de modelo muito baixos, devendo-se cuidar
de se ter uma amostra representativa para uma
efetiva avaliação e correção dos fatores de atrito
lateral.
Esta metodologia se demonstra aplicável a
outros tipos de estacas e, se bem desenvolvida,
pretende ser uma ferramenta útil para o meio
técnico.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Centro Universitário


FEI à publicação desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

Amann, K.A.P. (2000). Avaliação crítica dos métodos de


previsão da carga de ruptura, aplicados a estacas raiz.
Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 233p.
Amann, K.A.P. (2010). Metodologia semi-empírica
unificada para a estimativa da capacidade de carga de
estacas. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 430p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010).
“Projeto e execução de fundações”. NBR-6122. Rio de
Janeiro-RJ.
Cintra, J.C.A., Aoki,N. (2010). Fundações por estacas:
projeto geotécnico. Ed. Oficina de Textos. 96p.
Instituto Português da Qualidade (2010) Eurocódigo 7:
Projecto geotécnico - Parte 1: Regras Gerais, NP EN
1997-1: 2010.
Lazo, G.; Massad, F (1996). Estacas Cravadas Rígidas em
Compressão Axial: Método de Análise considerando
as Cargas Residuais. Anais... III Seminário de
Engenharia de Fundações Especiais (SEFE III), vol. 2:
1-13, São Paulo.
Morettin, L.G. (2013) – Estatística básica: probabilidade e
inferência. Pearson Prentice-Hall, pp. 266-278.
Veen, C.V. der (1953). “The Bearing Capacity of Piles”.
III International Conference on Soil Mechanics and
Foundation Engineering - ICSMFE. Amsterdam -
Holland, Session 5/17. pp. 84-9
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Previsão de capacidade de carga de estacas hélice contínua através


dos conceitos de energia de cravação de ensaios SPT
Narayana Saniele Massocco
Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, nsaniele@gmail.com

Bruno Andrade de Freitas


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, brunoandraderc@hotmail.com

Fábio Krueger da Silva


Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: Devido à dificuldade de reproduzir analítica e numericamente o mecanismo de interação


solo-estaca, a prática brasileira faz uso de correlações semiempíricas, relacionando diretamente os
resultados de ensaios de campo com o desempenho do elemento fundação. Dentro dos métodos
utilizados, existe o desenvolvido por Lobo (2005) que relaciona conceitos básicos de energia de
cravação do amostrador sugerida por Odebrecht (2003). Esta metodologia que utiliza técnicas de
mobilização de resistência do amostrador com os da estaca facilita o projetista, possibilitando uma
correlação direta entre a força dinâmica (Fd) e a carga última da estaca que independe do tipo de
solo. Aliados a este fato, temos o crescente uso de estacas hélice contínua, que devido as suas
vantagens tem sido bastante utilizada nos grandes centros urbanos. Com base nesse contexto, o
trabalho analisou e obteve valores de previsão da capacidade de carga de ruptura defendidos pelos
conceitos da energia de cravação e aplicou em estacas do tipo hélice contínua monitorada com
diâmetro de 40 cm. Com a previsão dos dados realizou-se uma correlação entre os elementos
medidos e previstos da carga lateral de ruptura com a de ponta. Os resultados preliminares obtidos
mostraram que a relação entre carga total medida versus carga total prevista apresentam resultados
aceitáveis principalmente em relação a carga de ruptura da ponta.

PALAVRAS-CHAVE: SPT, metódo empírico, energia de cravação, capacidade de carga, estaca


hélice contínua.

1 INTRODUÇÃO estaca, a prática brasileira faz uso de


correlações semi-empíricas como de Décourt-
Os resultados de ensaios SPT (Standard Quaresma (1978), Aoki-Velloso (1975) e
Penetration test) são muito empregados no Teixeira (1996), relacionando diretamente os
Brasil na prática de Engenharia de Fundações, resultados do ensaio SPT com o desempenho do
para determinação da capacidade de carga de elemento fundação. Tais métodos utilizam
fundações superficiais e profundas. Um dos dados de Nspt que são corrigidos por
grandes desafios da engenharia de fundações coeficientes mensurados para regiões genéricas
por exigir, na teoria, a aproximação das (α, β e k), desse modo, mostra que a grande
propriedades do solo, modificações devido à contribuição dos métodos tradicionalmente
execução da fundação e a percepção do utilizados, estão restritas à prática construtiva
mecanismo de interação solo-estaca é a previsão regional e às circunstâncias específicas.
da capacidade de carga de estacas. Devido à Lobo (2005), apresentou um novo método
dificuldade de reproduzir analítica e para previsão de capacidade de carga de estacas
numericamente o mecanismo de interação solo- que relaciona conceitos básicos de energia de
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cravação do amostrador sugerida por Odebrecht Quaresma (1978), Velloso (1981) utilizam
(2003). Também conhecida como método da dados obtidos por meio de ensaios SPT e
UFRGS, esta metodologia utiliza a força ensaios de cone (CPT). Tais formulações
dinâmica (Fd) de reação do solo à cravação do buscam estimar a resistência unitária de ponta
amostrador SPT para estimar a capacidade de da estaca , e o atrito lateral unitário .
carga de estacas, relacionando as técnicas de
mobilização de resistência do amostrador Fd,p
(modelo) com os da estaca (protótipo). Assim, qc K p × N spt ap
não existe um coeficiente de ajuste que qp = = = (1)
F1 F1 F1
considere os diferentes tipos de solos que
constitui os perfis avaliados. Esta característica
facilita o projetista, possibilitando uma Fd,l
correlação direta entre a força dinâmica (Fd) e a f s K s × q c K s × K n × Nspt al
fl = = = = (2)
carga última da estaca que independe do tipo de F2 F2 F2 F2
solo.
Aliados a este fato, tem-se o crescente uso de Onde: , são fatores que dependem
estacas hélice contínua, que vem sendo
do tipo de solo; e são fatores de correção
empregada bastante nos grandes centros
para os efeitos de escala e mecanismos de
urbanos. Segundo a NBR 6122, a estaca hélice
interação distintos observados entre a estaca
contínua é uma estaca de concreto, moldada in
(protótipo) e o modelo (cone ou SPT); e é
loco, executada mediante a introdução no
terreno, por rotação, de um trado helicoidal a área de seção transversal da ponta e área
contínuo. Para Velloso e Lopes (2010), suas lateral do amostrador SPT, respectivamente.
principais vantagens são o baixo nível de
vibração e a elevada produtividade, que a Para Lobo (2015) ao adotar a força dinâmica
tornaram atrativas e de grande aceitação no de ponta ( ) e a força de atrito lateral ( )
mercado. Conforme o que a NBR 6122 como forma de representar a reação do solo
preconiza, a metodologia de execução da estaca mobilizada durante a cravação do amostrador
divide-se em três etapas: perfuração, SPT, elimina-se a influência do tipo de solo
concretagem simultânea a extração da hélice e ( , ) na previsão das resistências
colocação da armadura. unitárias, pois, consideram-se explicitamente os
Com base nesse contexto, o presente trabalho efeitos da rigidez e resistência do solo bem
tem por objetivo obter valores de previsão da como a eficiência do ensaio SPT e as perdas
capacidade de carga de ruptura defendidos pelos decorrentes do processo de propagação de
conceitos da energia de cravação cuja ondas nas hastes decorrentes do impacto do
metodologia foi proposta por Lobo (2005), e martelo.
verificada por Langone (2012). Esta avaliação é A determinação da força dinâmica parte de
aplicada em estacas do tipo hélice contínua conceitos ligados a energia de cravação do
monitorada com diâmetro de 40 cm em solos amostrador de SPT de 65 kg ao solo a partir de
tipicamente arenosos e argilosos. uma altura de 75 cm. Como consequência esta
energia passa ser função de 4 fatores: altura de
2 FORMULAÇÃO DA CAPACIDADE DE queda (H), massa do martelo (Mm), magnitude
CARGA – MÉTODO DA UFRGS da penetração média por golpe do amostrador
(Δp=Nspt/30) e a geometria da composição das
As diversas metodologias existentes para o hastes. Desse modo, com esses fatores,
cálculo da capacidade de carga de estacas, a determina-se a energia potencial gravitacional
exemplo de Aoki e Velloso (1975), Décourt e do sistema que é expressa pela equação (3)
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difundida por estudos de Odebrecht et. al peso próprio da estaca, a capacidade de carga
(2004). fica em função de dois termos e pode ser
reescrita como (7):
ΔEPG sistema = η3  η (H + Δp)M m g + η2 (M gΔp)
m+h  1 h  L L
Qu = A p × q p + U  f l × d l = A p × q p + U  f l,i ΔL
(3) 0
0

Onde: η1, η2, η3 são os coeficientes de (7)


eficiência do martelo, da composição das hastes
Onde: U o perímetro da estaca, o atrito
e do sistema que podem ser obtidos por
calibração de carga e acelerômetros. Odebrecht lateral unitário e ΔL o trecho do comprimento
et al. (2004) recomenda para o sistema da estaca ao qual se aplica.
brasileiro: η1=0,76, η2=1 e η3=1-0,0042L, em
que L é o comprimento das hastes do topo da O método da UFRGS estabelece uma
composição ao amostrador. correlação entre e da estaca com os valores
de e mobilizados durante o processo de
Através da energia de cravação, e cravação do amostrador SPT no solo. Para isso,
determinando-a, percebemos que é o trabalho é necessário decompor a força dinâmica medida
efetivamente entregue ao solo. Desse modo é no ensaio SPT em duas parcelas, no qual uma
possível calcular a força dinâmica média (Fd) de representa as forças cisalhantes mobilizadas ao
reação do solo demonstrada pelas equações 4 e longo das faces interna e externa e outra relativa
5. as forças normais mobilizadas na ponta do
amostrador, que são respectivamente as forças
e apresentadas nas equações (1) e (2).
ΔEPG sistema = W = F  p (4)
m+h d Lobo (2005) adotou algumas hipóteses
simplificadoras para decomposição da força
ΔEPGsistema dinâmica:
Fd = m+h (5)
Δp  Afirma que 70% de mobilização da
força dinâmica advém da resistência de
Esses conceitos de força e energia, ponta mobilizada. Desta forma, a
relacionados com a teoria da capacidade de resistência unitária de ponta mobilizada
carga e à expansão de cavidades (Vésic, 1972), pelo amostrador SPT ( ) pode ser
são aplicados na previsão das condições limites escrita como:
de desempenho de estacas.
A capacidade de carga de uma estaca é Fd,p 0, 70× Fd
obtida pelo equilíbrio estático entre a carga q p, SPT = = (8)
ap ap
aplicada, o peso próprio da estaca e a resistência
oferecida pelo solo. Este equilíbrio é expresso
por (6):  Considera que a força dinâmica
mobilizada se equivale à força dinâmica
Qu + W = QL + Qp (6) lateral ) e a resistência lateral unitária
mobilizada pelo amostrador SPT pode
ser expressa como:
Onde: representa a capacidade de carga total
de uma estaca, W o peso próprio, a 0, 20× Fd
capacidade de carga da ponta ou base e a f l, SPT = (9)
al
capacidade de carga do fuste. Desprezando o
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Onde representa a resistência lateral


unitária no amostrador SPT e a área lateral do 3.1 Dados das Provas de carga
amostrador (área lateral externa + área lateral
interna). Neste cálculo, considera-se o valor de A busca por provas de carga em estacas hélices
atrito lateral unitário como representativo do contínua iniciou-se com estacas testes com
atrito mobilizado tanto nas faces interna como mesmo diâmetro, para obter mesmos padrões de
externa do amostrador. diâmetro assim, foram encontradas 8 estacas do
Aplicando os valores das resistências tipo hélice com diâmetro de 40 cm. A
unitárias expressos pelas equações (9) e (8) na velocidade de carregamentos e as cargas
equação (7), pode-se facilmente estimar a máximas aplicadas foram lentas e prova de
capacidade de carga de estacas metálicas através carga do tipo estático, que estão definidos na
da força dinâmica mobilizada no ensaio SPT: tabela 1.
Tabela 1. provas de cargas em estacas hélices contínua
0, 2U Ap
Qu = Q L + Q p =
al
 Fd × L + 0, 7Fd
ap Dados Carga
Carga Nspt
Estaca de Nspt
(10) Ref. máxima médio Local
trabalho ponta
(tf) fuste
Φ (tf)
A utilização da equação (10) para estacas L (m) (cm)
não-metálicas depende de fatores empíricos que Vitória
considerem os efeitos de instalação da estaca no PC1 7,7 40 76,5 77,5 23 4 (ES)
solo. Para isso, de acordo com Lobo (2015), Vitória
PC2 11,85 40 76,5 112,2 19 26 (ES)
deve-se estabelecer ajustes na equação para Vitória
considerar os diferentes tipos de estacas. Estes PC3 14,95 40 76,5 193,9 11 40 (ES)
ajustes são representados pelos coeficientes α e Vitória
β aplicados às resistências laterais e de ponta. PC4 23,65 40 76,5 153,1 6 6 (ES)
Os coeficientes α e β são obtidos através de Vitória
PC5 15,8 40 76,5 183,7 15 40 (ES)
correlações estatísticas entre os valores
Vitória
previstos pelo método e valores medidos em PC6 16,8 40 76,5 244,9 11 18 (ES)
provas de carga estática para diferentes tipos de Campo
estacas. Para estacas hélices contínuas os PC7 19 40 51,0 100,0 11 19 Grande
valores de α e β são respectivamente: 1 e 0,6. Campo
PC8 22 40 76,5 150,1 11 40 Grande
3. METODOLOGIA
3.1.1 Determinação da carga de ruptura de
Para a validação dos resultados a metodologia estacas através das curvas carga-recalque
consiste na pesquisa por dados de previsão de
capacidade de carga em estacas hélice contínua Como forma de padronizar a análise, a partir
com realização de provas de carga das provas de cargas realizadas, para determinar
experimentais. Os dados para realização da a capacidade suporte do solo foram utilizados
pesquisa foram extraídos dos estudos de Alledi dois métodos para o cálculo: o proposto pela
(2013) e Rubin (2016) que totalizam 8 provas NBR6122/2010 e Van der Veen.
de carga estática em estacas do tipo hélice O método proposto pela NBR 6122/2010
contínua nas regiões de Vitória (ES) e Campo define a carga máxima da estaca em função do
Grande (MS). Com a previsão dos dados diâmetro e do encurtamento elástico devido ao
realizou-se uma correlação entre os elementos carregamento. A carga de ruptura pode ser
medidos e previstos da carga total. determinada como aquela que corresponde na
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curva carga-recalque ao recalque expresso pela


equação 11.

PL D
r = + (11)
E  A 30

Onde: Δr é o recalque de ruptura convencional;


P carga de ruptura convencional; L é o
comprimento da estaca; A é a área da seção
transversal da estaca; E é o módulo de
elasticidade da estaca definidos na base de
dados; D é o diâmetro do círculo circunscrito à
estaca.

Caso esta equação 11 determinada pela


NBR6122:2010 não interseccionar a curva
carga-recalque, é realizada uma extrapolação da Figura 1. Aplicação do método de Van der Veen e o
curva, através do método de Van der Veen. proposto pela Norma 6122/2010.
O método de Van der Veen consiste em
calcular a carga de ruptura através de tentativas 3.2 Determinação da capacidade suporte pelo
partindo de um valor de carga, Qu, qualquer método de UFRGS
adotado (geralmente começa adotando o último
valor da carga de ruptura), sendo calculados os Após encontrar os valores de capacidade última
valores correspondentes na equação (12). através das provas de cargas, prosseguiu a
determinar a capacidade última através do
Q método UFRGS. A partir do perfil de Nspt
y = -ln (1- ) (12) encontrado para cada prova estática, assim a
Qu
carga última foi determinada através da equação
Onde: Q são as coordenadas encontradas no
10 e pelos princípios determinados no início
ensaio da prova de carga em relação a y
deste artigo.
(recalques).
Definidos pela metodologia de Langone
(2012), com os valores determinados, foi
O inverso da inclinação da equação 12 é
possível correlacionar os valores medidos com
chamado de α, ele define a forma da curva, com
os previstos de resistência lateral, de ponta e
esse valor é possível obter a curva – recalque
total. Para uma melhor visualização, os
extrapolada conforme a equação (13)
resultados foram colocados em gráficos, e partir
da visualização é possível designar os valores
Q = Q u (1- er ) (13) encontrados em: superestimados, subestimados
ou conservadores (conforme Figura 2). Além
Onde: r é o recalque nos diversos pontos da disso, foi possível verificar o desvio padrão
curva carga-recalque. desses resultados.

A construção gráfica do método proposto pela


NBR6122:2010 com o método de Van der Veen
é ilustrado na Figura 1.
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Ao analisar a Tabela 2 percebe-se que os


perfis de solo possuem variedade de resistência
(Figura 3), este fato é perceptível pelos valores
de capacidade encontrados que apresentaram:
em perfis com solo resistente valores de
capacidade suporte lateral mobilizado maiores
que os valores de ponta.

Figura 2. Análise dos resultados em faixas de estimação

Para lidarmos com a segurança da análise, ao


observar a Figura 2, as relações entre a carga
total medida pela carga estimada são
consideráveis aceitáveis quando não
ultrapassam a faixa de valores superestimado.

4 RESULTADOS

A partir do que foi descrito na metodologia


chegou-se aos resultados desta pesquisa.

4.1 Provas de carga

A Tabela 2 expõe os resultados obtidos de


capacidade suporte lateral (QL), de ponta (QP) e
total (QT) pelas provas de carga, definidos pela
NBR6122/2010 e com a extrapolação do Figura 3. Perfil de Nspt por profundidade dos perfis de
método de Van der Veen definidos na prova de carga
metodologia, e mostra o comprimento das
estacas bem como os diâmetros. A partir da Figura 3 percebe-se que os
Tabela 2. Resultados das parcelas de ponta, lateral e valores de resistência são dependentes do tipo
total nas provas de cargas definidos pela NBR6122:2010 de solo no perfil, assim solos com baixa
Estaca Medido: NBR6122 (tf) compacidade acabam transferindo as cargas, a
Ref.
L (m) Φ (cm) QL QP QT qual a estaca é solicitada, para a ponta; desde
PC 1 7,7 40 40,8 17,3 58,1 que esteja apoiada em um solo compacto e com
PC 2 11,85 40 51,0 33,7 84,6 alta resistência (Nspt >15).
PC 3 14,95 40 40,8 205,0 245,8
PC 4 23,65 40 61,2 122,9 184,1
PC 5 15,8 40 107,1 76,5 183,6
PC 6 16,8 40 165,7 88,2 253,9
PC 7 19 40 30,6 73,1 103,7
PC 8 22 40 45,9 107,1 107,1
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4.2 Resultados Método UFRGS com resistência considerável e caracterizam por


recalques evidentes.
Os resultados da aplicação do método desta Para melhor análise e comparação as Figuras
pesquisa para as provas de carga do banco de 4, 5 e 6 correspondem aos gráficos de dispersão,
dados são mostrados na Tabela 3. QL, QP e QT de carga medida versus prevista para o atrito
correspondem à carga lateral, de ponta e total. lateral, para a carga de ponta e para a carga total
Percebe-se na Tabela 3 que o perfil dos solos mobilizada.
estudados na sua grande maioria apresenta Nspt
de 11, ou seja, solos mediamente compactos

Tabela 3. Resultado das provas de carga utilizando o método de UFRGS

Medido: NBR6122 Estimado UFRGS Carga


Estaca Carga Nspt
(tf) (tf) de Nspt
Ref. máxima Observações/critérios médio
L Φ trabalho ponta
QL QP QT QL QP QT (tf) fuste
(m) (cm) (tf)
PC 1 7,7 40 40,8 17,3 58,1 56,0 13,6 69,6 76,5 77,5 processo lento/instrumentado 23 4
PC 2 11,9 40 51,0 33,7 84,6 97,2 31,4 129 76,5 112,2 processo lento/instrumentado 19 26
PC 3 15 40 40,8 205,0 245,8 63,7 120,3 184 76,5 193,9 processo lento/instrumentado 11 40
PC 4 23,7 40 61,2 122,9 184,1 55,1 18,3 73,5 76,5 153,1 processo lento/instrumentado 6 6
PC 5 15,8 40 107,1 76,5 183,6 93,2 119,8 213 76,5 183,7 processo lento/instrumentado 15 40
PC 6 16,8 40 165,7 88,2 253,9 73,6 54,3 128 76,5 244,9 processo lento/instrumentado 11 18
PC 7 19 40 30,6 73,1 103,7 42,6 56,8 99,3 51,0 100,0 processo lento/instrumentado 11 19
PC 8 22 40 45,9 107,1 107,1 82,7 116,5 199 76,5 150,1 processo lento/instrumentado 11 40

Figura 4. Relação entre a carga lateral medida versus a


Figura 5. Relação entre a carga de ponta medida versus a
carga lateral prevista em estacas hélices contínua.
carga de ponta prevista
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Tabela 4. Relação da média com os desvios padrões


Estimado/Medido NBR
QL QP QT
Média 1,3 0,8 1,0
Desvio padrão 0,50 0,41 0,50

Os valores de desvio desta amostragem de


dados mostram que houve menor variação com
relação aos valores medidos de ponta. Porém
temos que levar em conta que estamos
encontrando valores de capacidade de carga em
estacas escavadas a partir de ensaios que
cravam ao solo através dos golpes, assim pode-
se dizer que é uma justificativa com respeito aos
Figura 6. Relação entre a carga total medida versus a desvios padrões encontrados e de valores
carga total prevista. superestimados.

Ao analisar a relação da carga lateral 5 CONCLUSÕES


estimada (Figura 4), percebe-se que os
resultados desta previsão geraram valores Em termos gerais os resultados obtidos pelo
superestimados diferentemente dos resultados método da UFRGS são aceitáveis e deixa
de Langone (2012) que se apresentaram evidente que a união de previsões de ponta e
conservadores. Com relação a carga de ponta os lateral acaba por compensar as tendências e
resultados mostraram-se subestimados e assim geram um resultado disperso. Cabe
conservadores. Percebe-se que há uma salientar que a concepção do método UFRGS
dispersão dos valores e isso deve-se ao processo foi desenvolvido através da análise de
de execução da estaca hélice contínua, que gera transmissão de energia dinâmica de um golpe
fustes ondulados e de seção variável. Estes superficial para um protótipo que vai sendo
aspectos construtivos do fuste das estacas cravado continuamente no solo. Dessa forma, a
afetam a capacidade de carga de ponta, pois o interação solo-estrutura nas estacas hélice
atrito lateral é aumentado devido a maior contínua é diferente, por exemplo, das estacas
fricção, distribuindo, portanto uma menor cravadas sendo previsível alguma dispersão nos
quantidade na resistência de ponta. Segundo resultados.
Langone (2012), devido ao processo executivo, A amostragem obtida para estacas do tipo
mas não somente a este, as previsões de hélice contínua é de tamanho relativamente
resistência podem apresentar variações pequeno e devem haver um banco de dados
significativas, principalmente para a estimativa maior. Além disso os parâmetros de α e β
da resistência de ponta. De forma geral, quando devem ser estudados, identificados e assim
analisamos a Figura 6, ou seja de carga total, explorados para cada caso. A maioria dos
percebemos um bom comportamento do método valores encontrados fornecem a estimação de
e distribuído em áreas superestimadas e dados superestimados, isto pode ser devido a
subestimadas. A Tabela 4 expõe a média da não determinação dos coeficientes α e β
relação entre os valores estimados e medidos, específico para os amostradores dos ensaios
bem como seus desvios padrões. As relações SPT desta pesquisa. No entanto, os resultados
mostram que os desvios padrões ficaram na desta pesquisa são aceitáveis, pois, a maioria
ordem de 0,5 para cargas laterais e totais e 0,4 dos valores estimados estão enquadrados na
para resistências de ponta. faixa de análise permitida.
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Previsão Numérica dos Recalques em Fundações Estaqueadas na


Cidade de Jataí-GO
Jean Lucas Souza de Oliveira
Instituto Federal de Goiás, Jataí, Brasil, j.jean_301@hotmail.com

Tallyta da Silva Curado


Instituto Federal de Goiás, Jataí, Brasil, tallytacurado@gmail.com

RESUMO: A presente pesquisa trata sobre previsões de recalques em fundações do tipo radier
estaqueado a partir de estudo de caso sobre um edifício residencial de 12 pavimentos localizado na
cidade de Jataí-GO, com as fundações projetadas do tipo estacas sob blocos de coroamento. Para a
análise de previsão de recalques foi utilizado o software computacional GARP que faz a previsão
em fundações do tipo radier estaqueado. Na adoção desta metodologia, o sistema convencional de
fundações foi substituído por um sistema equivalente de radier estaqueado. O principal objetivo
deste trabalho foi mostrar que a previsão de recalques é uma possibilidade de aumentar a vida útil
das edificações. Também foi possível encontrar o valor da distorção angular da fundação analisada
que se apresentou dentro de limites aceitáveis para que não ocorressem problemas. Os resultados
encontrados foram satisfatórios e evidenciaram que a utilização do software é uma forma de fazer
previsões de recalques.

PALAVRAS-CHAVE: GARP, Previsão de Recalques, Radier Estaqueado, Recalque de Fundações.

1 INTRODUÇÃO até a ruína. Como o solo é um material


deformável, este está suscetível a se
Antes do início de qualquer obra, o movimentar através do recalque, que ocorre
comportamento do solo onde a construção será quando uma carga é aplicada sobre o solo. A
apoiada deve ser previsto, pois o mesmo é magnitude dos recalques pode impactar de
complexo devido às várias características que forma negativa em toda a edificação se não
apresenta e pode se deformar com facilidade por houver um estudo preliminar.
possuir vazios em sua estrutura. Suas Visando o que foi destacado, verifica-se a
propriedades podem ser estimadas através de importância de se analisar como o solo se
ensaios de campo que permitem uma definição comporta quando uma carga é distribuída sobre
mais realista da estratigrafia do solo. Após um ele, tratando do problema de recalques em
bom processo de investigação é possível fundações. Prever recalques em fundações,
projetar uma fundação que esteja de acordo com sejam elas superficiais ou profundas, é
as características do local em que será assente. justificável, pois permite verificar se esta
Ao longo do tempo, a vida útil das fundações movimentação pode impactar nas estruturas
pode ser comprometida por vários fatores, o que superiores e levar a manifestações patológicas.
pode levar a manifestações patológicas na A execução de estudos de caso é uma
edificação. Estas podem ter origem em possibilidade de prever estas eventualidades,
deficiências no projeto de fundações, na sua pois nos permite analisar a ocorrência e proteger
execução ou nos ensaios de reconhecimento dos a edificação deste problema.
solos, gerando resultados na forma de trincas, O objetivo geral deste trabalho foi prever
esmagamento do concreto, recalque no solo e numericamente a ocorrência de recalques
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provocados por fundações estaqueadas no solo Tem-se como conceito de fundação mista, a
em uma edificação localizada na cidade de união entre uma fundação superficial e
Jataí-GO. Mais especificamente, buscou-se profunda, como exemplo, o radier estaqueado
analisar quais estacas estariam mais propensas a apresentado na Figura 1. Como os prédios estão
sofrerem recalques e o quanto esta cada vez mais altos e, consequentemente, com
movimentação poderia impactar no surgimento cargas mais elevadas, estão exigindo blocos
de manifestações patológicas. cada vez maiores. Nestas situações, surgem os
A análise do estudo de caso foi feita através radiers estaqueados, uma solução que pode ser
de dados coletados no projeto de fundações, mais econômica.
onde se verificou as cargas que chegam a cada
estaca. A previsão foi realizada em estacas
associadas a um bloco de coroamento através da
adoção de um software para a previsão dos
recalques deste grupo de estacas.
O software utilizado para auxiliar no processo
é o GARP, Geotechnical Analysis of Rath with
Piles (Análise Geotécnica de Radier
Estaqueado) (POULOS, 1994). O programa foi
criado para prever recalques em fundações do Figura 1. (a) bloco com estacas e (b) radier estaqueado
tipo radier estaqueado, onde as estacas estão em GARCIA (2017).
contato com um radier. Portanto, para a adoção
da metodologia do GARP nesta pesquisa, foi É definido como uma extensa laje que ocupa a
considerado o conjunto estaca e bloco como um área construída onde se apoiam estacas com
radier estaqueado. distâncias previamente estabelecidas.
Neste trabalho calculou-se a distorção angular Considera-se neste tipo de fundação que parte
de parte da edificação através dos recalques dos esforços da estrutura é distribuída pelo
produzidos, com o intuito de verificar se o radier e parte pelas estacas, pois o radier está
recalque diferencial está dentro de limites em contato direto com o solo. A vantagem de se
aceitáveis para que não ocorram danos nas utilizar estacas no radier é de que as mesmas
estruturas. Ainda foram analisadas as diferenças entram como redutoras de recalque (SOUZA,
entre os recalques produzidos por um bloco de 2010).
estacas e pela fundação equivalente de um O radier estaqueado pode ser utilizado quando
radier estaqueado. um radier isolado não puder satisfazer os
critérios de projeto, e então a fundação mista
pode ser uma solução se tornando mais
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA econômica, melhorando a capacidade de carga
da fundação, o recalque total, o diferencial e
2.1 Fundações reduzindo a espessura do radier, já que ele
sozinho não será responsável por distribuir os
Fundações são elementos estruturais esforços ao solo (CASTILLO, 2013).
responsáveis pela distribuição das cargas
provenientes das estruturas no solo que pode 2.2 Interações Entre as Fundações
ocorrer de forma direta, através da base de
fundações superficiais e de tubulões; As fundações profundas correntemente
indiretamente, com predominância pelas laterais trabalham em conjunto, por exemplo, as estacas
de fundações profundas, ou de ambas as formas, são ligadas através de um bloco de coroamento
pelas fundações mistas. que transfere os esforços do pilar para a
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fundação. O efeito de grupo, como definem forma de recalque que mais impacta na
Velloso e Lopes (2004) é o efeito que um grupo formação de patologias, a primeira
de estacas ou de tubulões provocam ao manifestação visível da ocorrência aparece com
distribuírem as cargas no solo, por exemplo, o trincas inclinadas a 45 graus em alvenarias de
efeito que uma estaca provoca é diferente do vedação por serem mais frágeis que a estrutura.
efeito de um grupo. Alonso (2003) apresenta que a distorção
Velloso e Lopes (2004) afirmam que quando angular (  ) pode ser calculada através da
estacas estão distantes em um grupo, o recalque equação 1, onde “  ” é o recalque diferencial e
desta associação ocorre de forma relativamente “l” a distância entre dois elementos. O recalque
uniforme e pode ser estimado através do diferencial é calculado subtraindo o recalque
recalque produzido por uma estaca isolada, encontrado entre duas extremidades e “l” seria
multiplicando pela quantidade existente. Porém a distância dos pontos em que apresentam esses
se o espaço entre essas fundações é pequeno, as recalques.
estacas mais externas absorvem mais cargas que
as internas, o que pode levar a um recalque 
 (1)
desigual na edificação, assim, busca-se evitar l
este tipo de configuração de estacas em um
projeto de fundações. Para Caputo (1988), prever os recalques que
podem ocorrer no solo de uma edificação é
2.3 Recalques em Fundações importante, pois é possível avaliar o impacto
que estes provocarão no andamento e na
Pode-se definir recalque como uma deformação ocupação de uma obra. Tendo determinado os
sofrida no solo através de um deslocamento possíveis recalques, é possível ainda encontrar o
vertical descendente das fundações por tipo certo de fundação e, até mesmo, o sistema
eliminação de água ou ar dos vazios do solo. É estrutural que será adotado. O autor ainda
considerado como um dos maiores problemas afirma que o que interessa na prática é
que pode ocorrer em uma edificação e a determinar o recalque total que uma construção
deformação provocada pode causar a estará sujeita e como ocorre a evolução deste
movimentação das fundações, acarretando com o tempo.
danos nas superestruturas que podem iniciar
como uma fissura e levar a construção ao
colapso, em casos extremos de recalques 3 METODOLOGIA
excessivos.
Alonso (2003) apresenta os principais fatores 3.1 O Programa GARP
que podem levar ao surgimento de recalques
excessivos: “avaliação inadequada dos O programa foi criado para prever recalques em
parâmetros do solo, investigação insuficiente, fundações do tipo radier estaqueado, onde as
presença de solos colapsíveis ou expansíveis, estacas estão em contato com um radier.
existência de camadas compressíveis, Portanto, para a adoção da metodologia do
rebaixamento de lençol freático, obras vizinhas GARP nesta pesquisa, foi considerado o
alterando o estado de tensões e danos durante a conjunto estaca e blobo como um radier
execução da obra”. estaqueado.
Quando a fundação se desloca verticalmente, Foi empregado nesta pesquisa o GARP em
o fenômeno é denominado de recalque absoluto, sua versão atual (8.0) para a análise do recalque
e quando o recalque ocorre com intensidade total e do máximo recalque diferencial que o
diferente entre dois apoios, este é chamado de elemento de fundação poderia sofrer. O
recalque diferencial ou distorção angular. É a software utiliza dois mecanismos distintos para
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a análise nesta versão, o radier é analisado pelo arenoso fofo até 7 m de profundidade, com a
Método dos Elementos Finitos (M.E.F.) e o compacidade aumentando gradativamente até
conjunto estaca-solo através do Método dos 14 m. Entre 5 e 6 m e entre 14 e 15 m detectou-
Elementos de Contorno (M.E.C.) que utiliza a se camada de solo do tipo silte argilo-arenoso. E
teoria da elasticidade. Cada estaca é modelada abaixo de 15 m, o solo foi classificado como
considerando-a como mola de rigidez através argila arenosa rija. O nível da água se
das teorias de recalque (DAS CHAGAS E encontrava a 14 metros.
LÓPEZ, 2011). As fundações executadas no terreno do
Algumas das vantagens da utilização do edifício foram do tipo pré-moldadas de concreto
programa em relação às formas comuns do com diâmetros variando entre 24 e 42 cm,
cálculo de recalque encontrados na literatura possuindo blocos de coroamento para transferir
são: a consideração da espessura do radier os esforços do pilar mais uniformemente e
(bloco), estacas com diferentes comprimentos e Resistência Característica do Concreto à
diâmetros e dos fatores de interação entre as Compressão (fck) igual a 30 MPa. As
mesmas, solos com propriedades distintas profundidades das estacas variam entre 16 e 19
(incluindo o módulo de elasticidade e o metros. Foi escolhido um bloco para ser
coeficiente de Poisson) e de diferentes analisado no presente trabalho pelo fato dele
espessuras, aplicação de cargas concentradas conter a maior quantidade de estacas, este
e/ou distribuídas e de momentos nas duas possui altura de 1,30 m e transmite os esforços
direções. de três pilares para 9 estacas de 27 cm.
O primeiro passo para a utilização do
programa é a criação de uma malha formada por 3.3 Considerações Para a Análise
linhas horizontais e verticais. Em seguida, de
forma resumida, aplica-se o momento nas Algumas considerações precisaram ser feitas
direções x e y distribuindo-o ao longo dos eixos para execução do trabalho, pois não havia todas
e o carregamento distribuído nas áreas dos as informações necessárias a serem
pilares. São informadas a espessura do radier, a apresentadas no programa, tais como, os fatores
locação das estacas no bloco e por último, as de interação entre as estacas e a tensão de
propriedades dos solos e das estacas. compressão do solo.
O software ao ser executado apresenta os Como afirma Sales (2000) os fatores de
recalques em cada nó da malha e gera um interação (α) e a rigidez (K) de cada estaca
gráfico de distribuição de recalques ao longo isoladamente podem ser calculados através do
dessa malha. software DEFPIG que considera o solo como
um meio contínuo. Na Tabela 1 são
3.2 Estudo de Caso apresentados os dados que o programa retornou
para esta análise, onde S/D são os diferentes
O edifício do estudo de caso para a previsão de valores de espaçamento relativos aos diâmetros
recalques está localizado na Avenida Goiás, das estacas,  é o fator de interação entre as
quadra 07, Vila Progresso, na cidade de Jataí, mesmas e K considerada rigidez relativa.
Goiás. Compreende um edifício comercial com O Nspt é o número de golpes necessário para
12 pavimentos tipo, 6 lojas comerciais por o amostrador padrão penetrar no solo e é
pavimento, um auditório e um estacionamento. determinado a cada metro de camada perfurada.
Foram realizadas sondagens do tipo SPT Considerou-se as camadas de solo divididas em
(Standard Penetration Test) para obter o perfil cada metro também para a análise deste trabalho
geotécnico do solo na região da construção do em que houve o agrupamento dos valores de
edifício. Na região do bloco analisado, a Nspt mais próximos e determinou-se um Nspt
sondagem detectou presença de solo silte médio por subcamada. O módulo de
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elasticidade do solo (Es) pode ser calculado Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014), quando
através do Nspt multiplicado por um valor não houver ensaios para determinação do
médio encontrado em alguns solos do Brasil, módulo de elasticidade do concreto (Ec), o
conforme a equação 2 com base em Magalhães mesmo pode ser determinado pela equação 4.
(2005). Foram determinados módulos de
elasticidade para cada subcamada de solo, Ec  e  5600  Fck (4)
através do Nspt médio.
Como especificado em projeto, o Fck do
Tabela 1. Dados do DEFPIG.
concreto é igual a 30 MPa e considerando o uso
Comprimento = 18m.
Estacas do granito como agregado graúdo, temos
Diâmetro = 27cm.
Ponto S/D  e  1,0 .
1 1,5 0,2280 Estes foram os dados lançados no programa
2 2 0,2090 nas propriedades do solo e do radier.Ressalta-de
3 2,5 0,1940
que o solo foi divididoem 9 subcamadas.
4 3 0,1820
5 4 0,1640 Com relação à construção da malha no
6 5 0,1490 software, cada elemento possui oito nós, quatro
7 6 0,1380 nas extremidades e quatro intermediários, e
8 7 0,1280 procurou-se reduzir a quantidade de linhas para
9 8 0,1200 que a mesma ficasse menos carregada. Nos
10 9 0,1130
11 10 0,1060 elementos que recebem os momentos, referente
12 12 0,0950 à posição de cada pilar, procurou-se colocar
13 15 0,0820 uma maior quantidade de nós para se aproximar
K = 137757 kN/m de um carregamento distribuído ao longo do
eixo.
Es  3,5  Nspt (2) Os carregamentos que foram lançados no
software vieram das combinações do projeto
A resistência à compressão do solo, em kPa, estrutural. Dos três pilares que chegam ao bloco
pode ser determinada empiricamente através da analisado, um faz parte do auditório,
equação 3 dividindo o valor do Nspt por 5 que consideraram-se primeiramente as combinações
indica um solo argiloso como apresentado no do pilar P-32, pelo fato deste se situar em uma
relatório de sondagem analisado. O Nspt a ser região mais próxima ao centro do bloco, ou
considerado foi o da ultima camada = 45. seja, este pilar transmite carregamentos que
geram maior influência no bloco. Foram
Nspt utilizadas três combinações de carregamentos
adm   100 (3) deste pilar, numeradas de 1 a 3, com cada uma
5
representando os valores do esforço normal,
Esta tensão nos dá como resultado um valor momentos nas direções x e y máximos,
de 900 kPa, mas devemos considerar no respectivamente. Para os demais pilares,
máximo 500 kPa, e é o que foi adotado neste consideraram-se os esforços gerados pelas
trabalho (BITTENCOURT, 2018). Foi mesmas combinações com características
considerada profundidade do solo até o próximas às analisadas para o pilar P-32.
impenetrável igual a 40 m, pois nas sondagens A Tabela 2 mostra quais foram os
realizadas não houve a determinação precisa carregamentos utilizados de cada uma das três
dessa profundidade. O coeficiente de Poisson combinações (Comb.) e quantas divisões foram
(  ) adotado em todas as camadas foi igual a necessárias para a apresentação no programa.
0,3.
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Tabela 2. Carregamentos nos pilares.


N Mx My No software, cada estaca se encontra em um nó,
Comb. Pilar
(kN) (kN∙m) (kN∙m) como foi apresentado na Figura 2. Na Figura 3 é
P-28 324,67 -28,55 15,25 ilustrada a locação de cada uma das estacas para
1 P-32 2230,77 -83,78 20,91 a combinação 1, e na Tabela 3, os esforços
normais obtidos pelo GARP para cada uma das
P-55 167,58 -1,54 0,17
3 combinações. Nas demais combinações o que
P-28 174,34 27,29 19,96
vai alterar é o carregamento, pois a ordem das
2 P-32 1696,28 96,01 28,83
estacas será a mesma.
P-55 172,28 -1,95 -0,15 É possível verificar na Figura 3 isométrica o
P-28 329,87 -27,94 -21,16 carregamento que chega a cada estaca e quais
3 P-32 1786,64 -86,4 -35,71 destas estão sendo mais solicitadas. As estacas
P-55 170,23 0,20 0,12 que possuem maior carregamento são aquelas
que sofrem maior recalque. Uma estaca que
A Figura 2 apresenta os momentos que foram possui carregamento negativo está sendo
lançados e como foi feita a divisão da malha. tracionada, ou seja, estas estão recalcando
Pode-se ver na imagem a malha formada por menos.
linhas horizontais e verticais, a locação de cada
uma das estacas por letra indo de A até I e dos
pilares numerados de 1 a 3, nota-se que o
momento não é lançado de forma pontual, assim
como o carregamento. A direção dos momentos
apresentados na Figura 2 é valida para a
combinação 1, para as demais combinações o
que vai mudar é o valor e o sentido do
momento, pois a malha é a mesma.

Legenda:

Figura 3. Carregamento das estacas (combinação 1).

Figura 2. Modelo do elemento de fundação no GARP.


Na Tabela 4 é apresentado um comparativo
entre a soma de todos os esforços de cada uma
das combinações com os esforços que realmente
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS chegam às estacas. Verifica-se que as estacas
estão recebendo um carregamento inferior ao
4.1 Cargas nas estacas que está chegando na fundação, isto se deve ao
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fato do radier estar distribuindo os esforços uma das combinações de carregamentos


restantes, ou seja, o radier distribui a maior analisadas.
parte do carregamento que está chegando no
elemento de fundação.

Tabela 3. Carregamento das estacas (combinação 1)

Carregamento (kN)
Estaca 1 2 3
A 26,86 45,96 29,24
B 19,30 37,65 19,47
C -31,22 -9,32 -5,15 Combinação 1
D 44,15 32,11 44,44
E 28,43 18,68 26,62
F 36,40 27,55 24,29
G 73,12 27,13 69,09
H 64,74 22,15 53,54
I 71,90 28,40 49,10

Tabela 4. Esforço normal no projeto e nas estacas.


Esforço Normal (N) em kN

No projeto Chega nas estacas


Combinação 1 2723,03 396,12 Combinação 2
Combinação 2 2042,90 248,95
Combinação 3 2286,74 320,94

4.2 Recalques nas estacas

Após a elaboração da malha em elementos


finitos com todas as propriedades das fundações
e do solo, é possível encontrar o recalque
absoluto em qualquer ponto da malha que se
queira analisar.
Os recalques máximos e mínimos que o grupo Combinação 3
de estacas apresentou em cada uma das
combinações são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5. Recalques.
Recalque Recalque
Combinação
Máximo (mm) Mínimo (mm)
1 1,10230 0,73218
2 0,93007 0,54784
3 0,90558 0,44041
Figura 4. Distribuição de recalques.
O software nos retorna um gráfico de
distribuição de recalque dividido em cores, Observou-se que o recalque está ocorrendo de
onde cada cor representa um valor de recalque forma distribuída gradualmente ao longo do
conforme apresentados na Figura 4 para cada bloco e não de forma concentrada onde o
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mesmo está sendo mais solicitado, analisando o


esforço normal de maior magnitude que é O cálculo da distorção angular foi feito através
recebido pelo P-32. Quanto maior a rigidez do da razão entre a diferença dos recalques das
bloco maior a distribuição uniforme dos extremidades do bloco (recalques máximos e
recalques (HACHICH et al., 1998), portanto, mínimos apresentados pela Tabela 5) pela
este apresenta características de um bloco diagonal do bloco, já que esta distância
rígido. representa espaços entre os pontos com recalque
Cita-se que a direção do vento pode ser algo máximo e mínimo (Figura 4). Como o bloco
que influencia no recalque, pois, dependendo da apresenta lados iguais a 3,05 e 3,25 m, temos
consideração da direção do vento no cálculo, o uma diagonal igual a 4,46 m. As diferenças
recalque pode ser maior em uma região do entre os recalques de cada uma das
bloco, como o que ocorreu nas combinações combinações são apresentados na Tabela 7.
analisadas nessa pesquisa.
A posição de cada estaca foi mostrada na Tabela 7. Recalque diferencial.
Figura 2 e os recalques apresentados por cada Diferença entre
os recalques Diagonal Recalque
estaca, considerando análise de momentos Comb. (  ) máximos e (m) Diferencial
aplicados, são ilustrados na Tabela 6. mínimos (mm)
1 0,37012 4,46 1/12050
Tabela 6. Recalque das estacas isoladas.
2 0,38223 4,46 1/11668
Recalque Absoluto (mm)
Estaca Nó 3
Comb. 1 Comb. 2 Comb. 3 0,46517 4,46 1/9588
A 92 0,76686 0,81990 0,61091
B 505 0,79569 0,86135 0,54998 A análise apresentada mostrou bons
C 1036 0,81831 0,89601 0,48352 resultados, sendo inferiores para que pudessem
D 76 0,89527 0,70505 0,74184 impactar na estrutura. Salienta-se que o estudo
E 489 0,93263 0,75218 0,68617
foi feito do ponto de vista local (em um bloco),
porém, seria melhor apresentar o
F 1020 0,94959 0,78328 0,61383
comportamento global (toda fundação) a fim de
G 62 1,01480 0,58285 0,86537
obter uma resposta mais realista do estudo.
H 475 1,04840 0,62594 0,80659
I 1006 1,06740 0,66136 0,73588 4.4 Cálculo do recalque (bloco de estacas)

Podemos verificar nos recalques apresentados Foram feitos três cálculos de recalques além dos
pelas estacas quais estão deformando mais e realizados no GARP, sendo um para cada
fazer uma comparação entre o recalque combinação de carregamento a partir da
produzido pelo grupo e pela estaca individual. expressão 5 apresentada por Poulos e Davis
A forma como se dá o carregamento nas estacas (1980). Nesta equação considera-se o recalque
influencia na maneira em que o bloco recalca, apenas de uma estaca carregada com esforço
logo, no local onde as estacas estão mais normal. Onde ρ é o recalque produzido por uma
carregadas, o elemento de fundação tende a estaca, P é o esforço normal que chega na
apresentar recalque maior nesta região. estaca, I o fator de influência obtido por meio
A rigidez das estacas é algo que influencia no dos gráficos, Es é o módulo de elasticidade do
recalque, mas para este problema não foi algo a solo presente ao longo da estaca e D o diâmetro
se analisar, pois foi considerado que todas as da estaca.
estacas possuiam a mesma rigidez.
PI
 (5)
4.3 Distorção angular Es  D
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5 CONCLUSÕES
O recalque produzido pelo grupo de estacas
foi encontrado empiricamente a partir da Percebeu-se que o recalque produzido pelo
expressão 6, multiplicando-se o recalque de cálculo do bloco de estacas se apresentou em
uma estaca pelo fator Rs, que é encontrado média de 100% maior que o do software, pois
através do número de estacas elevado a um fator como foi sinalizado na literatura, a fundação do
utilizado por muitos autores de 0,5. tipo radier estaqueado é uma boa opção como
redutora de recalque, pois os esforços são
grupo  Rs  isolada (6) distribuídos, neste caso, parte pelas estacas e
parte pelo radier, e é o que ajuda na distribuição
O esforço normal P que chega às estacas foi de recalques. Cita-se que o fator de influência I
encontrado pela soma dos esforços de cada um pode levar a imprecisões no cálculo do recalque
dos três pilares que chegam no bloco analisado pelo fato de ser obtido por meio de gráficos.
dividido pela quantidade de estacas. Foi obtido Outro fato a ser observado é que na
um esforço normal total para cada uma das três determinação dos recalques do bloco com
combinações analisadas considerando que esses estacas, é considerado que apenas o esforço
esforços são transmitidos para as estacas, normal é transmitido para as estacas,
enquanto que, momentos são resistidos pelo assumindo-se que os momentos são resistidos
bloco de estacas. Foi encontrado um módulo de pelo próprio bloco, diferentemente do que se dá
elasticidade (Es) de cada camada de solo e na análise apresentada do radier estaqueado.
depois foi feita uma média ponderada para Na análise das estacas, foi possivel confirmar
encontrar o valor total do módulo do solo, que aquelas que possuem maior carregamento
porque é necessário isso no uso da teoria. O são as que apresentam maior recalque, pois
diâmetro das estacas (D) foi obtido através do estas grandezas são diretamente proporcionais.
projeto de fundações. Estes dados são Os recalques diferenciais puderam ser
mostrados na Tabela 8. encontrados a partir dos recalques absolutos
máximos e mínimos apresentados no software.
Tabela 8. Dados para o cálculo do recalque. Encontrou-se uma distorção angular bem abaixo
Esforço dos limites aceitáveis para que não houvesse
Es
Comb. Normal P I D (m) danos na estrutura.
(kN/m²)
(kN)
O bloco analisado foi aquele que possui a
1 2723,02
maior quantidade de estacas e maior
2 2042,90 0,0317 46970 0,27 carregamento chegando nele, portanto, foi
3 2286,74 possível verificar que os recalques apresentados
não mostraram magnitudes suficientes que
Os resultados dos cálculos dos recalques impactassem negativamente na edificação. Os
considerando uma estaca isolada e um grupo de resultados obtidos neste trabalho se mostraram
estacas é apresentado na Tabela 9. satisfatórios e foi possível verificar a impor-
tância de se prever recalques numericamente,
Tabela 9. Cálculo do recalque. pois nos ajudaria a evitar algum problema na
 isolada  grupo construção. Como foi tratado na revisão da
Comb.
(mm) (mm) literatura, o surgimento de recalques é uma das
1 0,756 2,268 formas que mais contribui para a aparição de
2 0,567 1,701 manifestações patológicas.
3 0,634 1,902 Os recalques apresentados são considerados
pequenos para que ocorressem problemas na
edificação. Menciona-se que se a análise fosse
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feita em um bloco de dimensões maiores, com http://www.unicamp.br/unicamp/ju/634/estudo-


superior quantidade de estacas e diâmetros mais analisa-o-uso-de-radiers-estaqueados-em-solos-
tropicais. Aceso em: 18 de dezembro de 2017.
elevados, os recalques aumentariam, conside- Hachich, W., Falconi, F. F., Saes, J. L., Frota, R. G. Q.,
rando nível de carregamentos com maior Carvalho, C. S., Niyama, S. (1998). Fundações –
magnitude também. Esperava-se que o recalque teoria e prática, Pini, São Paulo. 2 ed.
apresentasse de forma mais concentrada na Magalhães, P.H.L. (2005) Avaliação dos métodos de
região que está sendo mais solicitada, mas o que capacidade de carga e recalque de estacas hélice
contínua via provas de carga, Dissertação de
ocorreu é que este apresentou distribuído ao Mestrado em Geotecnia, Universidade de Brasília,
longo do bloco, principalmente, pelo fato da 270 p.
existência de momentos nas direções x e y Poulos, H. G. GARP, 1994.
aplicados no elemento da fundação pelos Poulos, H. G.; Davis, E. H. Pile Foundation Analysis and
pilares. Design. New York: Wiley,1980.
Sales, M. M. (2000) Análise do comportamento de
Cabe ressaltar que a análise feita foi apenas sapatas estaqueadas. 2000. 257 f. Tese (Doutorado
para um caso isolado da fundação, não foi em Engenharia Civil e Ambiental) – Universidade de
analisada a fundação como um todo, e sim Brasília.
apenas um bloco de estacas. Para uma Souza, S.S. (2010) Análise dos fatores de interação entre
estacas e radier estaqueado: comparação entre duas
investigação mais realista na previsão de
ferramentas numéricas, Dissertação de Mestrado em
recalques, necessitaria um estudo de toda a Geotecnica, Universidade Federal de Goiás, 170 p.
fundação, pois o solo pode apresentar diferenças Velloso, D.A. e Lopes, F.R. (2004). Fundações. Oficina
nas regiões que não foram analisadas. de Textos, São Paulo.
Um projetista de fundações, tendo o
conhecimento da análise do recalque
apresentado pela edificação poderia rever seus
cálculos ou até mesmo o tipo de fundação
escolhida e propor melhorias no projeto visando
um bom desempenho.

REFERÊNCIAS

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


6118: Projeto de estruturas de concreto-
procedimentos (2014). Rio de Janeiro.
Alonso, U. B. (2003). Previsão e controle das fundações,
3 ed., Edgard Blucher, São Paulo.
Bittencourt, D.M.A. (2018). Métodos semiempíricos de
previsão de carga admissível, Notas de aula.
Caputo, H.P. (1988). Mecânica dos solos e aplicações -
fundamentos, 6 ed., LTC, Rio de Janeiro.
Castillo, D.J.A. (2013) Uso da técnica de radier
estaqueado para pequenos edifícios assentes sobre
solo colapsível, Dissertação de Mestrado em
Geotecnia, Universidade de Brasília, 116 p.
Das Chagas, J.V.R. e López, T.P. (2011) Previsão
numérica de recalques de edifícios em alvenaria
estrutural: um caso de obra em Goiânia, Dissertação
em Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás,
60 p.
Garcia, J.R. (2017). Estudo analisa o uso de radiers
estaqueados em solos tropicais, Jornal da Unicamp.
Disponível em:
 

TEMA:  
GEOSSINTÉTICOS 
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Análise da aplicação de geocélulas para reforço de fundações


diretas: estudo de caso
Alba Rosilda Gois Filgueira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, albafilgueira@hotmail.com

Luiz Augusto da Silva Florêncio


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, luiz.engh@gmail.com

Carina Maia Lins Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, carina@ct.ufrn.br

Yuri Daniel Jatobá Costa


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, ydjcosta@ct.ufrn.br

RESUMO: Neste artigo é feita uma análise técnica e de custos para a aplicação de geocélulas em
reforço de fundações diretas. Essa análise foi conduzida a partir de um estudo de caso de uma obra
com execução de sapatas para fundação de um prédio destinado a um estacionamento. O trabalho
foi dividido em duas etapas. A primeira etapa abrangeu a análise técnica para o dimensionamento da
fundação sem e com o reforço do solo com as geocélulas. A segunda etapa compreendeu uma
análise de custos para esses dois casos. Os resultados indicaram que o reforço do solo aumentou a
capacidade de carga para todos os grupos de sapatas, gerando menores dimensões para as
fundações. O levantamento de custos mostrou uma economia total de 57% para o caso com reforço.
Comparando somente os custos com concreto, a redução de custos foi de aproximadamente 82%.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Custos, Sapatas, estudo de caso.

1 INTRODUÇÃO essa sua principal função, é traduzido em um


acréscimo da resistência ao cisalhamento do
Atualmente há um notável avanço na indústria solo de preenchimento, evitando seu
dos geossintéticos e, com isso, o crescimento da espalhamento lateral e conduzindo a um ganho
engenharia geotécnica através de novas formas de capacidade de carga.
de projetar e construir. Dentre os diversos tipos Estudos elaborados por Webster e Watkins
de geossintéticos disponíveis no mercado, as (1977) e Webster e Alford (1978), confirmaram
geocélulas atuam como um sistema de o potencial de aplicação da geocélula como base
confinamento tridimensional. de pátios de armazenamento e estradas sobre
Segundo a norma brasileira NBR 12553 baixa capacidade de carga, concluindo que por
(1997), a geocélula é definida como o material meio de sua utilização, a espessura de projetos
com estrutura tridimensional aberta, constituída de base poderia ser reduzida em até 70%.
de células interligadas, as quais confinam A pesquisa de Hegde (2017) apresenta o
mecanicamente os materiais nelas inseridos, estado da arte em relação às geocélulas,
sendo aplicadas principalmente no controle de mostrando estudos experimentais, numéricos e
erosão e reforço de solo. analíticos sobre seu desempenho em campo
O confinamento gerado pela geocélula, sendo para reforço de solos. O autor apresenta ainda
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uma caracterização detalhada das geocélulas confinamento tridimensional do solo. Avesani


quanto material polimérico e as perspectivas das (2013) observou que os procedimentos
futuras pesquisas. existentes, relacionados ao reforço do solo, não
Hegde (2017) ressalta algumas lacunas de promoviam uma adequada aproximação quando
pesquisa com geocélulas, tais como: estudos comparados a valores obtidos em ensaios. Deste
experimentais em escala real e com uso de modo, Avesani (2013) propôs um procedimento
centrífugas, pesquisas sobre o desempenho de de cálculo aplicado à melhoria da capacidade de
geocélulas quando submetidas a cargas cíclicas, carga da fundação de solos reforçados com
estudos de casos de obras, entre outras. Por fim, geocélulas.
Hegde (2017) pondera que no futuro a aplicação Diferente dos geossintéticos planos, que
de geocélulas será mais proeminente em mobilizam a melhora da capacidade da
pavimentos, vias férreas, muros de solos fundação devido aos efeitos de confinamento e
reforçados e fundações. de membrana, a geocélula, além de contar com
Em relação à aplicação específica de tais efeitos, possui outro mecanismo: o efeito
geocélulas em fundações, Shadmand et al. laje. Este mecanismo pode ser traduzido como
(2018) apresentam um estudo sobre o espraiamento ou efeito de dispersão das tensões
comportamento carga-recalque de uma sapata para a camada subjacente, por conta da estrutura
em escala real executada em areia e reforçada tridimensional de células interconectadas e
com geocélulas. Nessa mesma linha, Tafreshi et preenchidas. Através do efeito laje, a carga
al. (2016), avaliaram a diferença de transferida atua em uma superfície maior,
desempenho de sapatas circulares suportadas gerando menores valores de tensão no solo
por solos arenosos reforçados com múltiplas subjacente à geocélula.
camadas de geocélulas e geotêxteis. Segundo Avesani (2013), após aplicação do
Os trabalhos de Shadmand et al. (2018) e carregamento (Figura 1a), o formato celular
Tafreshi et al. (2016) ratificam que diferentes eleva as tensões confinantes em seu material de
formas de aplicação de geocélulas são possíveis preenchimento induzindo sua compressão
no intuito de reforçar o solo e melhorar o dentro das geocélulas, densificando o agregado.
desempenho das fundações nele executadas. Há ainda a indução de tensões horizontais entre
Entretanto, além do ganho técnico de resistência o material e as paredes das células (Figura 1b)
e capacidade de carga, os custos dessas mobilizando uma resistência passiva, além da
aplicações devem se mostrar vantajosos. tensão de interface entre os agregados e as
Desse modo, esse artigo tem por objetivo células (Figura 1c).
realizar uma análise técnica preliminar focada
na capacidade de carga e uma análise de custos
da aplicação de uma geocélula na execução de
uma fundação direta por sapatas. Essas análises
foram efetuadas mediante estudo de caso de
uma obra de fundações de um prédio localizado
na cidade do Natal-RN.

2 MÉTODO DE CÁLCULO PROPOSTO


POR AVESANI (2013)
Figura 1. Esquema ilustrativo do efeito de confinamento.
Desde que a geocélula passou a ser um material a – aplicação do carregamento, b – indução de tensões
comercialmente produzido, começaram a surgir horizontais, c – mobilização de tensões cisalhantes na
métodos de cálculos relacionados ao sistema de interface agregado/geocélula. Fonte: Avesani (2013).
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Dessa maneira, o efeito de confinamento obra de um estacionamento, localizada em


contribui de duas formas: através da redução da Natal-RN, com fundação executada em sapatas
deformabilidade do solo e aumento de sua quadradas. O embutimento de todas as sapatas
resistência; e da dissipação do carregamento no solo foi de cerca de 1,0 m. Na base da sapata
através das tensões horizontais nas células foi executado um lastro de nivelamento em
transmitidas a células adjacentes. Essa solo-cimento. Pela ausência de informações
dissipação do carregamento ativa as resistências adicionais do referido lastro no projeto, e ainda
cisalhantes na interface agregado/parede por questão de simplificação, o lastro foi
(KOERNER, 1994; PRESTO, 2008; desconsiderado nos cálculos. De qualquer
HUFENUS ET AL., 2006; ZANG ET AL., forma, o mesmo estaria presente nas duas
2010) e as resistências passivas do solo situações (com e sem reforço).
confinado (MANDAL E GUPTA, 1994). O perfil do subsolo local obtido mediante
Utilizando os efeitos de confinamento e laje sondagem a percussão de simples
descritos anteriormente, a formulação proposta reconhecimento do tipo SPT é mostrado na
para a capacidade da fundação com solo Figura 2. Pode-se observar uma camada
reforçado de geocélula é dada por: superficial de areia fina, pouco siltosa, fofa, de
Nspt médio igual a 2 seguida por uma camada
h de areia fina, siltosa, medianamente compacta
p r  pu  4 Kp tan e  (1  e) p (1)
d (NBR 6484/2001) com um Nspt médio igual a
9. Até a profundidade investigada não foi
Onde pr é a capacidade de carga do solo detectado nível d’água.
reforçado com geocélula; pu é a capacidade de
carga do solo de fundação não reforçado; h/d é a
razão de forma da geocélula, altura dividida
pela largura; K é o coeficiente de empuxo no
repouso; p é a pressão aplicada nas geocélulas,
δ é o ângulo de atrito de interface entre o
material de preenchimento e a parede da
geocélula e o e é o efeito do espraiamento de
tensões, como definido em Avesani (2013). O
valor de δ pode ser adotado como 2/3 do ângulo
de atrito interno do próprio material de Figura 2. Perfil do subsolo da obra. Sem escala.
enchimento (BUENO E VILAR, 2002).
Apesar do foco técnico desse artigo ser a A Tabela 1 apresenta as cargas em cada sapata
capacidade de carga do solo reforçado é e a quantidade de sapatas. Os valores são
importante pontuar que esse reforço reduz os mostrados para grupos de sapatas, de acordo
recalques e os deslocamentos laterais. Cowland com as dimensões (B) de suas bases. Como as
e Wong (1993), por exemplo, após 15 meses de sapatas são quadradas, a profundidade do bulbo
monitoramento de campo evidenciaram a foi considerada igual a 2B (3,70 a 4,60 m,
redução dos recalques em virtude do reforço. dependendo do grupo de sapata).

Tabela 1. Dimensões e cargas das sapatas quadradas.


3 ESTUDO DE CASO Quantidade Dimensão Carga
Grupo
de sapatas (m) (kN)
3.1 Características das fundações e do solo I 10 1,85 245,25
II 6 2,00 294,30
III 10 2,15 343,35
Nesse artigo, utilizou-se como referência uma IV 8 2,30 397,31
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O trabalho foi dividido em duas etapas valores sugeridos por Godoy (1972) apud Cintra
principais. A primeira abrangeu a análise el al. (2011). Como se trata de solo arenoso
técnica para o dimensionamento das fundações, considerou-se coesão nula. A Tabela 2 mostra
considerando apenas a capacidade de carga para um resumo dos parâmetros adotados.
duas situações: solo de fundação sem o reforço
de geocélula e com a aplicação de geocélulas Tabela 2. Parâmetros de resistência do solo.
como reforço no solo de fundação. Não houve Parâmetros do solo Valores
ϕ’ (˚) 30
análise de recalques pela inexistência de método
γ (kN/m³) 16
analítico na literatura técnica para essa C (kPa) 0
finalidade no caso de solo reforçado com
geocélula. Para a capacidade de carga da situação com
A segunda etapa da pesquisa compreendeu a reforço, foi selecionada uma geocélula de
análise econômica, no que se refere aos custos Polipropileno (PP) comercialmente disponível
dos dois casos citados. Realizou-se um no mercado nacional. A geocélula tem altura (h)
levantamento de quantitativos para os dois de 0,20 m e largura (d) de 0,18 m. A razão h/d
casos. Os preços dos insumos foram retirados fica 1,11. Com os valores de B da Tabela 1,
das tabelas desoneradas do Sistema Nacional de com d = 0,18 e se tratando de sapatas
Pesquisa de Custos e Índices da Construção quadradas, o valor do efeito do espraiamento e
Civil (SINAPI) de março de 2018. variou entre 0,7 a 0,75. Pra maiores detalhes
consultar o cálculo do e em Avesani (2013). A
3.2 Metodologia para o dimensionamento da Figura 3 mostra um desenho esquemático da
Fundação camada de reforço com destaque para as
dimensões da geocélula abaixo da sapata.
Na análise técnica, para o dimensionamento da
fundação, optou-se pelo método de Terzaghi
(1943), com as contribuições de Vesic (1975),
para o cálculo da capacidade de carga da
fundação com solo não reforçado. Utilizou-se
também a proposta de correção do método feita
por Cintra el al. (2011) em função da
compressibilidade do solo. Para encontrar o
mesmo parâmetro na situação reforçada com
geocélula utilizou-se o método de Avesani
(2013). A seguir são descritos os parâmetros de Figura 3. Esquema simplificado da situação reforçada.
entrada utilizados para os cálculos.
Os parâmetros do solo, e consequentemente a Utilizou-se brita nº 2 (19 a 38 mm) como
capacidade de carga, foram obtidos por material de preenchimento da geocélula a ser
correlações empíricas com o NSPT médio confinado. Adotou-se 35° como valor do ângulo
determinado dentro dos bulbos de tensões de interface entre o material de preenchimento e
definidos anteriormente. Para todos os grupos a parede da geocélula. O coeficiente de empuxo
de sapatas, o valor de NSPT médio foi igual a 4. no repouso foi definido segundo formulação de
Para o ângulo de atrito utilizou-se a relação de Jaky (1944), expressa por:
Godoy (1983) dada por:
K  1  sen ' (3)
 '  28  0,4 Nspt (2)
A pressão p aplicada nas geocélulas equivale
O peso específico foi estimado segundo à carga atuante nas sapatas dividida pela área de
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sua respectiva base. fabricação, lançamento e adensamento do


concreto. Para o caso reforçado, além dos
3.3 Metodologia para o dimensionamento das serviços citados, incluiu-se o custo de aplicação
Armaduras da geocélula e acomodação da brita.
A Tabela 4 mostra os preços unitários dos
Considerou-se que as sapatas são todas rígidas e serviços e materiais necessários à execução das
não sujeitas à punção. Os pilares que sapatas.
descarregam nas sapatas apresentaram
dimensões transversais, 0,20 m x 0,40 m, iguais Tabela 4. Descrição de preço unitário.
para todos os grupos. Preço unitário
Insumo Unidade
(R$)
Na Tabela 3 são resumidos o
Escavação manual m³ 47,43
dimensionamento das armaduras, pelo método Concreto magro +
das bielas, para cada grupo de sapatas. Foram lançamento e m² 346,74
utilizadas barras de aço com 6,3 mm de adensamento (e = 5cm)
diâmetro em todos os grupos. Concreto estrutural +
lançamento e m³ 327,43
adensamento
Tabela 3. Dimensionamento das armaduras das sapatas
Formas de madeira +
quadradas.
confecção, colocação e m² 75,14
Comprimento
Espaçamento Quant. remoção
Grupo das barras
(cm) barras Armadura + corte,
(cm) kg 5,06
dobramento e colocação
I 185 17,50 11 Reaterro m³ 28,75
II 205 16,20 13 Brita m³ 65,00
III 220 15,00 15
IV 235 13,20 18
O custo do bota-fora foi realizado de
3.4 Valores de Insumos e Serviços maneira distinta dos demais. Para este serviço, o
valor analisado no SINAPI refere-se ao uso de
Como descrito anteriormente, os preços dos caminhão basculante. Um caminhão basculante
insumos e serviços foram obtidos através do de 5m³ tem custo de R$ 55,35 por hora de uso.
SINAPI. Para a geocélula, material não contido Dessa maneira, foram somados os volumes de
no SINAPI, o custo foi estabelecido para a bota-foras para cada condição e, a partir deste
geocélula utilizada com base em informações valor, determinou-se a quantidade necessária de
fornecidas pelo fabricante, sem consideração do caminhões. A Tabela 5 mostra o volume de
valor de frete. bota-fora para cada grupo de sapata e o número
Para a condição sem reforço foram de caminhões necessários para suprir essa
considerados os custos dos seguintes materiais: demanda.
madeira para as formas, concreto magro para
Tabela 5. Volumes de bota-fora.
regularização da base da sapata, concreto Sem reforço Com geocélula
usinado para o enchimento das formas e aço 2,12 0,43
para as armaduras. Para o caso reforçado, além Volume de
2,52 0,35
bota-fora (m³)
dos materiais acima, também se avaliou o custo 3,18 0,47
da geocélula e da brita. 3,71 0,47
Os custos com serviços para o caso não Soma 11,53 1,72
Nº de
reforçado correspondem as seguintes atividades: caminhões
3 1
escavação; reaterro; bota-fora; corte, instalação
e retirada das formas de madeira; corte,
dobramento e disposição das armaduras;
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4 RESULTADOS trata de material polimérico, podendo exigir a


consideração de um valor de capacidade de
4.1 Capacidade de carga carga menor que o calculado.

As sapatas com geocélula apresentaram redução 4.2 Dimensionamento das armaduras


nas suas dimensões de base, se comparadas às
dimensões da sapata sem reforço do solo. A Foram estabelecidos diâmetros de 5 mm para as
Tabela 6 mostra esse resultado por meio da barras em todas as direções e situações com e
comparação entre as dimensões das bases das sem reforço do solo, visando facilitar cálculos
sapatas com e sem reforço e sua redução em futuros de custo. As Tabelas 8 e 9 mostram os
porcentagem. O valor médio de redução das resultados do dimensionamento das armaduras
dimensões da sapata foi de aproximadamente das sapatas sem geocélula para as direções “x”
50%. (largura) e “y” (comprimento) respectivamente.
As Tabelas 10 e 11 mostram essa mesma
Tabela 6. Comparação das dimensões das sapatas informação para a situação com reforço nas
quadradas para a situação com e sem reforço do solo.
Dimensão sem Dimensão
direções “x” e “y”, respectivamente.
Redução
Grupo reforço com reforço
(%) Tabela 8. Detalhe do dimensionamento das armaduras na
(m) (m)
I 1,85 1,00 46,00 direção “x” na condição sem reforço.
II 2,00 1,00 50,00 Espaçamento Comprim. da Quant.
Grupo
III 2,15 1,05 51,16 x (cm) barra x (cm) barras x
IV 2,30 1,10 52,17 I 18,0 210 12
II 16,0 230 14
III 15,0 250 16
A redução das dimensões das bases das IV 14,0 270 18
sapatas, do caso sem reforço para o caso
reforçado, ocorreu devido ao considerável Tabela 9. Detalhe do dimensionamento das armaduras na
aumento da capacidade de carga das fundações, direção “y” na condição sem reforço.
conseguido através da aplicação da geocélula. A Grupo
Espaçamento Comprim. da Quant.
Tabela 7 mostra os valores de capacidade de y (cm) barra y (cm) barras y
I 18,0 210 13
carga para cada condição.
II 14,0 230 16
III 14,0 250 17
Tabela 7. Comparação das capacidades de carga das IV 12,5 270 20
condições com e sem reforço.
Capacidade de Capacidade de
Tabela 10. Detalhe do dimensionamento das armaduras
Grupo carga sem reforço carga com reforço
na direção “x” na condição com reforço.
(kN/m³) (kN/m³)
Espaçamento Comprim. da Quant.
I 218,97 317,06 Grupo
x (cm) barra x (cm) barras x
II 223,43 318,87
I 9,5 130 13
III 227,89 324,31
II 9,0 120 13
IV 232,36 329,91
III 7,5 140 16
IV 7,0 140 17
Ressalta-se que o aumento da capacidade de
carga mostrado na Tabela 7 corresponde a uma Tabela 11. Detalhe do dimensionamento das armaduras
análise preliminar de curto prazo. Com o tempo, na direção “y” na condição com reforço.
pode haver uma diminuição desse efeito em Espaçamento Comprim. da Quant.
Grupo
y (cm) barra y (cm) barras y
função da redução da capacidade de carga I 7,0 130 17
devido ao comportamento reológico da II 7,0 120 16
geocélula. Existe a possibilidade de fluência e III 6,0 140 20
relaxação das tensões do reforço, visto que se IV 5,5 140 21
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A soma do número de barras em cada Como a área da forma também é proporcional a


direção para a condição com geocélula mostrou- área da base da sapata, percebe-se na Tabela 14
se maior quando comparada ao caso não que os gastos foram menores quando a
reforçado. Todavia, a soma dos comprimentos geocélula foi utilizada.
das barras revelou-se aproximadamente 46%
maior para a situação não reforçada. Já os Tabela 14. Comparação de custos com o serviço forma.
comprimentos das barras são iguais nas direções Forma
Grupo Sem geocélula Com geocélula
“x” e “y” para uma mesma condição de reforço, (R$) (R$)
visto que se tratam de grupos de sapatas I 160,80 136,76
quadradas. II 193,86 133,75
III 202,89 153,28
4.3 Levantamento de custos IV 241,95 153,28

O custo de todos os materiais e serviços Já os custos com escavação, reaterro e bota-


analisados revelou-se menor para a condição fora foram reduzidos, pois as maiores
reforçada com geocélula. A Tabela 12 mostra a dimensões da base das sapatas geraram maior
comparação de custos com o concreto usinado. volume de solo.
A economia gerada pelo concreto magro e Para a análise de um custo final, Tabela 15,
usinado pode ser entendida observando-se que mostra-se necessária a multiplicação de cada
seus custos acompanham a redução das grupo pelo número de sapatas correspondente.
dimensões das bases das sapatas.
Tabela 15. Comparação dos custos totais dos grupos.
Tabela 12. Comparação de custos em relação ao concreto Sem geocélula Com geocélula
Grupo
usinado. (R$) (R$)
Concreto usinado I 9210,72 4912,38
Grupo Sem geocélula Com geocélula II 6714,26 2887,85
(R$) (R$) III 13842,02 5779,11
I 558,08 141,69 IV 13145,90 4925,40
II 679,74 114,28 Soma 42912,90 18504,74
III 875,13 152,69
IV 1039,15 152,69 Comparando-se a execução das sapatas sem
reforço com as reforçadas, houve redução média
A Tabela 13 apresenta os custos com a de custos totais de aproximadamente 57% para
armadura para o caso com e sem reforço. Os a segunda situação. Já se a relação for
gastos mostraram-se menores com a geocélula, estabelecida para os custos com concreto
visto que os comprimentos das barras são usinados, esta redução aumenta para
proporcionais às dimensões da base das sapatas. aproximadamente 82%. A economia menos
expressiva deu-se para as formas de madeira.
Tabela 13. Comparação de custos com os insumos As áreas de forma obtiveram valores próximos
armadura.
Armadura
entre as condições com e sem reforço, dessa
Grupo Sem geocélula Com geocélula forma, a minimização de custo mostrou-se
(R$) (R$) próxima a 28%. As armaduras também não
I 40,69 30,23 revelaram redução tão expressiva (42%) quanto
II 53,47 26,97 a do concreto, já que, apesar de diferentes
III 63,93 39,05
dimensões, os diâmetros das barras de aço dos
IV 79,51 41,22
casos com e sem geocélula foram considerados
iguais.
A terceira comparação foi realizada com os
gastos com o serviço de forma, Tabela 14.
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5 CONCLUSÕES Entretanto, ressalta-se que essa


conclusão limita-se a uma análise de
Neste trabalho foi elaborada uma análise técnica curto prazo. O desempenho ao longo do
da capacidade de carga, sem avaliação dos tempo deve ainda ser avaliado devido ao
recalques, e de custo da aplicação da geocélula comportamento reológico do reforço.
para reforço de fundações diretas. A execução
de uma fundação direta em sapatas foi analisada
em duas diferentes condições: sem reforço do REFERÊNCIAS
solo e com geocélula. Realizaram-se cálculos de
capacidade de carga, dimensionamento de
armadura e levantamento de quantitativos para ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 12553 (1997): Geossintéticos -
que a análise fosse possível. terminologia. Rio de Janeiro: ABNT.
Os resultados mostraram que: ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
 A capacidade de carga da fundação TÉCNICAS. NBR 6484 (2001): Solo – Sondagens de
aumentou consideravelmente com o simples reconhecimentos com SPT – Método de
ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
reforço com geocélula;
Avesani, J. O. N. (2013). Desenvolvimento de uma
 As dimensões das bases das sapatas metodologia de cálculo e simulações numéricas
mostraram-se, em média, 52% menores aplicadas na melhoria da capacidade de carga de
na condição com a geocélula; solos reforçados com geocélula. Tese de Doutorado.
 Ainda para o caso com geocélula, houve Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos. 336 p.
uma redução média de custo para a Bueno, B. S.; Vilar, O. M. (2002). Mecânica dos solos.
execução de todas as sapatas perto de São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos. v 2.
57%, em relação ao caso não reforçado; Cintra, J. C. A., Aoki, N. e Albiero, J. H.. (2011).
 Houve redução de custos de todos os Fundações diretas projeto geotécnico. Oficina de
Textos,. 140 p.
serviços e materiais utilizados na
Cowland, J. W.; Wong, S. C. (1993). Performance of a
condição reforçada; road embankment on soft clay supported on a geocell
 O concreto usinado representou a maior mattress foundation. Geotextile and Geomenbranes, nº
economia gerada no caso reforçado 12, p. 687 – 705.
(redução de 82%), reflexo da diminuição Godoy, N. S. (1972). Fundações: Notas de aula, Curso
de Graduação. São Carlos (SP): Escola de
das dimensões da base das sapatas; Engenharia de São Carlos – USP.
 O somatório de barras, para a situação Godoy, N. S. (1983). Estimativa da capacidade de carga
com geocélula, revelou-se maior se de estacas a partir de resultados de penetrômetro
comparado ao caso sem reforço. Porém, estático. Palestra. São Carlos (SP): Escola de
Engenharia de São Carlos – USP.
a soma dos comprimentos das barras
Hegde, A. (2017). Geocell reinforced foundation beds-
apresentou um acréscimo de past findings, presente trends and future prospects: a
aproximadamente 46% para a condição state –of-the-art review. Construction and Building
não reforçada; Materials. nº 154, pp. 658 – 674.
 Os custos com forma foram os que Hufenus, R., Rueegger, R., Banjac, R., Mayor, P.,
Springman, S. M., Bronnimann, R. (2006) et al. Full-
apresentaram menor economia para o scale field test on geosynthetic reinforced unpaved
caso com geocélula (aproximadamente roads on soft subgrade. Geotextiles and
28%). Tal evento sucedeu, pois as áreas Geomembranes, nº.24, p. 21-37.
de forma apresentaram valores próximos Jaky, J. (1944). The Coefficient of Earth Pressure at Rest.
entre a condição sem reforço e Journal of the Society of Hungarian Archtects and
Engineering Division, October, pp. 355 – 358.
reforçada; Koerner, R. M. (1994). Designing with Geosynthetics,
 A análise dos custos totais das sapatas Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice Hall, 3rd ed.
evidenciou a economia e a viabilidade 761p.
geradas pela utilização da geocélula. Mandal, J. N.; Gupta, P. (1994). Stability of geocell-
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reinforced soil. Construction and Building Materials,


v.8, n.1, p. 55 – 62.
Presto. (2008). Geoweb load support system – Technical
overview. Technical Literature on the GEOWEB
Cellular Confinement System. Presto Products
Company. 19p.
Shadmand, A., Ghazavi, M., Ganjian, N. (2018). Load-
settlement characteristics of large-scale square footing
on sand reinforced with opening geocell
reinforcement. Geotextiles and Geomembranes. Vol
46, pp. 319 – 326.
Tafreshi, S. N. M., Sharifi, P., Dawson, A. R. (2016).
Performance of circular footings on sand by use of
multiple-geocell or planar geotextile reinforcing
layers. Soils and Foundations. Vol. 56, n. 6, pp. 984 –
997.
Terzaghi, K. (1943). Theoretical soil mechanics. New
York: John Wiley and Sons. 510 p.
Vesic, A.S. (1975). Bearing capacity of shallow
foundations, in: Winterkorn, H. F. e Fang, H. Y. (ed.).
Foundation Engineering Handbook. New York: Van
Nostrand Reinhold, Cap 3, p. 121 – 147.
Webster, S. L. e Alford, S. J. (1978). Investigation of
Construction Concepts for Pavements Across Soft
Ground Report S – 78 – 6. Geotechnical Laboratory,
U.S. Army Engineer Waterways Experiment Station,
Vicksburg, Miss.
Webster, S. L. e Watkins, J. E. (1977). Investigation of
Construction Techniques for Tatical Bridge Approach
Roads Across Soft Ground Report S-77-1. Soils and
Paviments Laboratory, U.S. Army Engineer
Waterways Experiment Station, Vicksburg, Miss.
Zhang, L., Zhao, M., Shi, C., Zhao, H. (2010). Bearing
capacity of geocell reinforcement in embakment
engineering. Geotextiles and Geomenbranes, n. 28, p.
475 – 482.
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Análise da Influência da Compacidade de Solos Granulares nos


Parâmetros de Resistência da Interface Areia-Geomembrana
Através do Ensaio de Cisalhamento Direto
Lorena Bosser Nepomuceno
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lorena.bosser@gmail.com

Pablo dos Santos Cardoso Coelho


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, pablocardoso_100@hotmail.com

Lucas Deleon Ferreria


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lucas@ufop.edu.br

Christ Jesus Barriga Paria


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, cjbarriga_87@hotmail.com

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@ufop.edu.br

Eleonardo Lucas Pereira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eleonardopereira@gmail.com

RESUMO: A utilização de geomembranas em aterros compactados, com objetivo de criar uma


camada drenante e direcionar fluxos, impermeabilizando as feições abaixo da mesma, é de aplicação
muito corrente em campos como a mineração, por exemplo. Para que as aplicações possam se dar de
maneira adequada, é vital que se conheça os parâmetros de resistência da interface solo-geomembrana
e como estes variam em relação aos demais parâmetros. Este trabalho tem o intuito de analisar o
efeito da variação da compacidade nos parâmetros de resistência de interface, de modo a direcionar
o dimensionamento adequado dos aterros com inclusão deste material, evidenciando a efetividade ou
não do aumento da compacidade relativa para a obtenção do atrito desejado. As análises foram
baseadas em ensaios de cisalhamento direto de pequeno porte com base rígida feitos nas a interfaces
de membranas de PEAD lisa e texturizada com areia de construção civil de Ouro Preto – MG.

PALAVRAS-CHAVE: Geomembrana, Interação Solo-Geomembrana, Cisalhamento Direto.

1 INTRODUÇÃO

A ampla utilização de materiais geossintéticos entre outros. Estes materiais se mostram


em obras de engenharia civil faz crescer a vantajosos devido ao alto padrão de qualidade
necessidade de compreender a fundo o em sua fabricação, a rapidez de aquisição e
comportamento destes materiais em campo. Suas aplicação em campo, e seus custos competitivos.
aplicações são diversas, podendo ser Dentre estes materiais, destacam-se as
empregados em contenção de taludes, controle geomembranas que auxiliam na disposição
de erosões, sistemas de drenagem, reforços de correta e ambientalmente responsável dos
pavimentos, sistemas de impermeabilização, resíduos provindos da mineração, agricultura,
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pecuária, aterros e demais atividades humanas. interface geomembrana-solo. A variação da


Estes materiais são empregados em sistemas de compacidade buscou determinar a influência que
impermeabilização em aterros de resíduos e a compactação do solo adjacente tem na
lagoas de efluentes para conter ou controlar o resistência de interface do conjunto.
fluxo de fluidos e vapores impedindo a Foram realizados ensaios de cisalhamento
contaminação do solo e do lençol freático. direto com corpos de prova de areia de
Os processos mais comuns utilizados para construção civil de Ouro Preto – MG com
fabricação de geomembranas são a calandragem, diferentes graus de compacidade de 50%, 75% e
extrusão e espalhamento superficial. A 90% e geomembranas de PEAD com faces lisas
superfície do material pode ser lisa, sem e texturizadas assentadas sobre bases de
qualquer aspereza, ou texturizada, que madeira.
apresentam rugosidades que buscam aumentar o O trabalho visou contribuir com a melhora de
atrito de interface. sistemas de impermeabilização e drenagem que
Este trabalho concentrou-se no estudo da utilizam combinações de geomembranas e
resistência de interface destes geossintéticos areias. Através da ampliação do conhecimento
bidimensionais, poliméricos, flexíveis e que dos parâmetros de resistência entre
apresentam baixa permeabilidade combinado geomembrana e solo é possível realizar o
com o solo granular empregado em obras na dimensionamento adequado que resulte em
cidade de Ouro Preto e região. maior economia e segurança em obras de
Esta resistência é determinada por fatores engenharia.
como as propriedades físicas e mecânicas do
solo e pelas propriedades mecânicas, superfície
e geometria da geomembrana. 2 METODOLOGIA
A investigação da resistência friccional
mobilizada nas interfaces entre os diferentes A fim de se determinar as propriedades de
materiais pode ser medida tanto em ensaios na resistência ao cisalhamento da geomembrana na
obra quanto em ensaios de laboratório, onde se interface com a areia adotada, foi conduzida uma
busca recriar as condições de campo. O ensaio campanha composta por 30 ensaios de
de cisalhamento direto, empregado aqui, é cisalhamento direto, sendo ensaiados corpos de
amplamente utilizado para a investigação em prova de geomembranas lisas e texturizadas sob
laboratório por recriar planos de ruptura as tensões confinantes de 50 kPa, 100 kPa, 200
paralelos à direção do reforço, que são resistidos kPa, 300 kPa e 400 kPa em três graus de
pelo atrito de interface entre solo-geossintético. compacidade.
As compacidades relativas do solo na
1.1 Objetivos moldagem dos corpos de prova foram 50%, 75%
e 90% o que, segundo Das (2006), caracteriza
É comum a associação de geomembranas com solos medianamente compactos, compactos e
uma camada de solo arenoso para formar uma muito compactos, respectivamente.
camada drenante em sistemas de A areia utilizada foi uma areia de construção
impermeabilização. Sendo assim, é de civil de Ouro Preto – MG. Foram realizados
fundamental importância conhecer os ensaios de caracterização do material a fim de se
parâmetros de resistência na interface entre este determinar a sua granulometria, índice de vazios
geossintético e o solo granular afim de se evitar máximo e mínimo e massa específica dos
a ocorrência de planos de rupturas que sólidos. Obteve-se a curva granulométrica
desestabilizem sistemas de impermeabilização representada na figura 1.
de aterros.
Investigou-se, neste artigo, a influência da
compacidade relativa do solo na resistência de
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Tabela 2. Características das geomembranas utilizadas nos


ensaios (Fornecido pelo Fabricante)
Geomembrana Geomembrana
Características
Lisa Texturizada

Espessura (mm) 1,50 1,50


Densidade (g/cm3) 0,94 0,94
Altura da aspereza
- 0,45
(mm)
Resistência à
tração na ruptura 40 16
(kN/m)
Alongamento na
700 100
ruptura (%)
Figura 1. Curva de distribuição granulométrica do solo.
Os ensaios foram realizados em equipamento
Um resumo da distribuição granulométrica do automatizado do fabricante Martins Campelo
solo utilizado é apresentado na tabela 01. modelo CSC-1000. O equipamento realiza
ensaios de cisalhamento direto em solos e rochas
Tabela 1. Resumo da distribuição granulométrica do solo
em caixas de pequeno porte e possui
Distribuição Granulométrica (%)
funcionamento servo controlado e sem o uso de
Areia pesos cambiáveis manualmente.
Argila Silte
Fina Média Grossa A caixa de cisalhamento utilizada possui
0,2 5,0 4,3 74,3 16,2 dimensões de 100 mm de largura, 100 mm de
comprimento e 25 mm de altura. Apesar de a
A partir dos resultados da curva de distribuição norma brasileira estabelecer medidas mínimas
granulométrica, verifica-se que o solo é de largura, comprimento e altura maiores do que
puramente arenoso. Além disso, apresenta grãos as adotadas para a análise proposta, sabe-se que
arredondados e coeficiente de não uniformidade resultados satisfatórios são encontrados para a
(CNU) de 2,18, característico de materiais com análise das propriedades de resistência da
granulometria uniforme. Além disso, seu interface solo-geomembrana em areias, como
coeficiende de curvatura, CC, foi igual a 0,97, o apontam Koerner (1991 apud Alves, 2012) e
que indica ser um material mal graduado. (Pinto, Blond e Elie (2012). Justifica-se assim a adoção
2006). A peso específico dos grãos (γs) obtida da caixa de cisalhamento de pequeno porte.
para a areia analisada foi de 25.889 kN/m³ e os A montagem dos corpos de prova foi feita de
índices de vazios máximos e mínimos (emáx e maneira análoga à descrita na norma ABNT
emín, respectivamente) obtidos foram de 0,906 e NBR ISO 12957-1:2013, utilizando-se uma base
0,640. Os ensaios de cisalhamento direto foram rígida de madeira (pinheiro) de dimensões iguais
realizados com a areia seca em estufa por 24 às da parte inferior da caixa de cisalhamento. A
horas com temperatura de aproximadamente 105 base rígida foi posicionada sob a geomembrana
ºC. e o solo com o intuito de se restringir
Foram analisadas geomembranas de PEAD deslocamentos verticais que pudessem deslocar
lisa e com textura granular em alto relevo nas o plano de ruptura da interface de interesse. As
duas faces fabricadas pela empresa Engepol. As geomembranas foram cortadas em placas de
geomembranas possuem especificações largura de 100 mm e comprimento de cerca de
apresentadas na tabela 02. 125 mm, as quais foram coladas sobre as bases
rígidas de madeira, sendo feitos dois furos nas
abas externas do conjunto para permitir a
passagem dos parafusos que fixam as duas partes
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da caixa de cisalhamento, conforme ilustra a PA = γCR ×VCS (3)


figura 2.
Onde: PA = peso de areia; γCR = peso específico
na compacidade relativa CR; VCS = volume da
caixa de cisalhamento superior.
Com a geomembrana colada à base rígida
ocupando a parte inferior da caixa de
cisalhamento, figura 3, procede-se o
preechimento da caixa superior com o solo.

Figura 2. Geomembrana colada sobre a base rígida

A altura útil da caixa inferior de cisalhamento


é de 15,48 mm devido ao encaixe do fundo e da
grelha inferior. Esta altura, também, foi adotada
para o preenchimento da parte superior da caixa
de cisalhamento com solo granular. Posicionado
o conjunto no interior da parte inferior da caixa Figura 3. Caixa fixa com parafusos.
de cisalhamento, procedeu-se a fixação da parte
superior da caixa, na qual se deu a compactação O corpo de prova foi moldado pelo processo
da areia com volume igual ao da caixa inferior. de pluviação, sendo posteriormente compactado,
Para obter o grau de compacidade relativa quando necessário. Ao final desse procedimento,
desejado, calculou-se o índice de vazios, e, a regularidade e o nível da superfície da areia
relativo a cada compacidade conforme equação foram checados com o auxílio de uma barra de
(1). aço prismática e um nível de bolha magnetizado,
conforme apresentado na figura 4.
eCR = emáx - CR × (emáx - emín ) (1)

Onde: eCR = índice de vazios na compacidade


relativa CR; emáx = índice de vazios máximo; CR
= compacidade relativa; emín = índice de vazios
mínimo.
Para as diferentes compacidades, encontrou-se
o peso específico através da equação (2).
γs
γCR = (2)
1 + eCR
Figura 4. Nível de bolha e barra prismática.
Onde: γCR = peso específico na compacidade
relativa CR, em kN/m3; γs = peso específico dos Por fim, deu-se o fechamento da caixa de
sólidos, em kN/m3; eCR = índice de vazios na cisalhamento e o seu posicionamento no interior
compacidade relativa CR. do aparelho de cisalhamento direto.
E, por último, chegou-se a massa de areia
necessária para preencher o volume da caixa de
cisalhamento superior correspondente a cada
compacidade através da equação (3).
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consideração a característica dos solos


granulares a apresentarem valores de coesão
nulos.

Figura 5. Caixa posicionada no interior do aparelho de


cisalhamento direto.

Nos ensaios realizados, desenvolveram-se as


etapas de consolidação sob a tensão normal
adotada para o ensaio e cisalhamento direto. A
primeira etapa teve duração de 18 minutos
adotada para todos os ensaios, notado que neste Gráfico 2. Envoltória de ruptura das compacidades 50%,
75% e 90% e geomembrana texturizada.
tempo não se detectava mais deformações
verticais no corpo de prova. A etapa de Nota-se que para tensões confinantes baixas a
cisalhamento direto se deu à velocidade resistência ao cisalhamento é pequena tendo
constante de 0,30 mm/min, até que se atingisse o como valores máximos de 3,86 kPa e 8,42 kPa
deslocamento relativo limitante de 12% do para tensão normal de 50 kPa e 6,37 kPa e 17,01
artigo. kPa para tensão normal de 100 kPa para ensaios
utilizando geomembranas lisas e texturizadas,
respectivamente. A partir de 200 kPa os valores
3 RESULTADOS de resistência aumentam consideravelmente.
Os resultados obtidos dos ensaios de
As envoltórias de ruptura obtidas através de cisalhamento direto são dispostos nas tabelas 3 e
ensaios de cisalhamento diretos para as duas 4 para os ensaios realizados com geomembrana
geomembranas são apresentadas nos gráficos 1 lisa e texturizada, respectivamente.
(geomembrana lisa) e 2 (geomembrana
texturizada). Tabela 3. Ângulos de atrito para geomembrana lisa
Compacidade ' 'R

50 % 28,23° 26,99°
75 % 30,09° 26,49°
90 % 30,63° 28,39°

Tabela 4. Ângulos de atrito para geomembrana texturizada


Compacidade ' 'R
50 % 36,76° 35,37°
75 % 38,78° 33,94°
90 % 38,17° 34,70°
Gráfico 1. Envoltória de ruptura das compacidades 50%,
75% e 90% e geomembrana lisa. Onde: ' = ângulo de atrito nas tensões de pico;
'R = ângulo de atrito nas tensões residuais.
O ajuste das retas foi feito levando em
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Segundo Pinto (2006) em solos granulares grau de compactação após o adensamento ficou
similares ao utilizados neste trabalho, os ângulos em torno de 70% considerado um solo granular
de atrito ficam em torno de 28° para solos fofos medianamente compacto (Das, 2006).
e 35° para solos compactos. Em termos gerais, a variação da compacidade
Observa-se que os ângulos de atrito obtidos de 50% para 90% provocou aumentos de 3,71%
nos ensaios utilizando a geomembrana lisa foram e 7,83% nos ângulos de atrito das geomembranas
inferiores aos ângulos obtidos utilizando a texturizada e lisa, respectivamente, se analisadas
geomembrana texturizada. A geomembrana lisa, as envoltórias baseadas nas tensões de pico.
ao contrário da texturizada e, até mesmo do As envoltórias baseadas em tensões residuais
próprio solo, não oferece nenhuma resistência ao não apresentam o mesmo comportamento
deslizamento dos grãos de solo sob sua observado para as tensões de pico. Nota-se que
superfície. Logo, o emprego da geomembrana em ambas as geomembranas ocorre declínio do
lisa não acarreta aumento do ângulo de atrito. valor do ângulo de atrito, seguido do seu
Também é possível notar que os ângulos de incremento, à medida que se aumenta a
atrito baseados nas tensões de pico apresentam compacidade. Ao se comparar os valores de
tendência de crescimento quando comparada a ângulo de atrito obtidos para as compacidades
compacidade relativa de 75% com a de 50% relativas de 50% e 90%, no caso das
tanto nas membranas lisas quanto nas geomembranas lisas, nota-se aumento de 4,93%.
texturizadas. Ao se analisar a variação No caso das geomembranas texturizadas,
provocada no ângulo de atrito pela mudança da entretanto, nota-se diminuição do ângulo de
compacidade relativa de 75% para 90%, nota-se atrito de 1,93%.
uma tendência de estabilização dos valores na
membrana lisa e, também, nas membranas
texturizadas. 4 CONCLUSÕES
A proximidade dos ângulos de atrito interno
para as compacidades de 75% e 90% pode ser Este estudo procurou analisar a influência da
explicada devido a compacidade relativa após a compacidade dos solos granulares na resistência
fase de adensamento dos grãos. de interface entre solo e geomembrana. Para isto
Nos ensaios com o emprego de geomembranas foram feitos ensaios de cisalhamento direto
lisas, após o adensamento, a compacidade utilizando geomembranas lisas e texturizadas de
relativa ficou entre 86% à 96% para PEAD e solos com compacidades de 50%, 75%
compacidades iniciais de 75%. Com o uso de e 90%.
geomembranas texturizadas, para compacidade Através dos resultados obtidos, observa-se
relativa inicial de 75%, a compacidade após o que:
adensamento variou entre 86% e 93%. Em - o emprego de geomembranas com superfícies
ambos os casos, para compacidade relativa de lisas não influi em aumento da resistência à
90%, a compacidade após o adensamento foi de ruptura. Os ângulos de atrito encontrados tendem
93% à 100%. a ser iguais ou menores (dependendo da
Estes valores indicam que o solo já se encontra compacidade) que os ângulos para materiais
muito compactado (Das, 2006) para tais granulares encontrados na literatura;
compacidades e que a resistência ao - os resultados dos ensaios com geomembranas
cisalhamento se dá, principalmente, devido ao texturizadas apresentaram resistências
embricamento entre os grãos. Porém, devido a superiores aos valores típicos dos solos
limitação de expansão do volume provocada granulares;
pelo confinamento da caixa, os valores de - a resistência na interface solo-geomembrana
resistência para solos muito compactados tende a aumentar conforme o grau de
possuem valores próximos. compacidade aumenta. Porém, quando os solos
Para a compacidade relativa inicial de 50% o se tornam muito compactados esta resistência
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parece atingir um valor limítrofe;


- por fim, os resultados apresentados podem ser
úteis para o dimensionamento de camadas
impermeabilizantes em aterros sanitários em
construção na região de Ouro Preto, e barragens
de rejeitos de empresas mineradoras instaladas
nas proximidades.

AGRADECIMENTOS

Os autores deste trabalho agradecem a


Universidade Federal de Ouro Preto pela
disponibilização de material e equipamentos
para os ensaios. Também agradecem à Engepol
pela doação das geomembranas.

REFERÊNCIAS
Alves, D. F. (2012) Estudo Experimental do Atrito da
Interface Areia-Geomembrana. Trabalho de
Conclusão de Curso, Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Brasil.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2013)
NBR ISO 12957-1: Geossintéticos — Determinação
das Características de Atrito. Parte 1: Ensaio de
Cisalhamento Direto. Rio de Janeiro, Brasil.
Das, B. M. (2006) Fundamentos de Engenharia
Geotécnica, Tradução da 6a Edição Norte-Americana,
Thomson Learning, São Paulo, Brasil, 48 p.
Blond, E. e Elie, G. (2012) Interface Shear-Strength
Properties of Textured Polyethylene Geomembranes.
Solmax.
Koerner, R., M. Geomembrane overview: significance and
background. In: Rolling, A., Rigo, J., M.,
Geomembranes: identification and performance
testing. Cambridge: Chapman and Hall, 1991, p. 3-21.
V.2.
Lopes, Margarida P. e Lopes, Maria de Lurdes. (2010) A
Durabilidade dos Geossintéticos, 1a Edição, FEUP
Edições, Porto, Portugal, 48 p.
Pinto, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos, 3ª ed.,
Oficina de Textos, São Paulo, 2006, 368 p.
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Avaliação da Resistência à Compressão Uniaxial de Solos


Argilosos com a Incorporação de Geogrelhas e Geotêxtis Tecidos.
Juliana Reinert
CEFET-MG, Curvelo, Brasil, jureinert@curvelo.cefetmg.br

Raimundo da Costa Lima Júnior


CEFET-MG, Curvelo, Brasil, junior_cvo@hotmail.com

Túlio Cesar Floripes Gonçalves


CEFET-MG, Curvelo, Brasil, tuliocesarfg@gmail.com

Camilla Cristina Cunha Menezes


CEFET-MG, Curvelo, Brasil, millacunha12@gmail.com

RESUMO: A principal finalidade do reforço em um maciço de solo é inibir o desenvolvimento de


deformações de tração no solo. Os geossintéticos constituem um novo grupo de materiais de
construção empregado como reforço, absorvendo e redistribuindo os esforços da matriz do solo,
limitando as deformações laterais das estruturas reforçadas e aumentando sua resistência ao
cisalhamento. Este estudo possui como objetivo avaliar a variação de resistência à compressão
uniaxial de solos argilosos típicos da cidade de Curvelo/MG - Brasil, reforçados com geogrelhas e
geotêxteis tecidos. Foram realizados ensaios de caracterização completa, compactação do solo e
ensaios de resistência à compressão uniaxial em corpos de prova de solo natural, e com incorporação
dos geossintéticos. Com a incorporação de geossintéticos no solo natural observou-se aumento na
tensão de ruptura e consequentemente, na resistência à compressão não confinada.

PALAVRAS-CHAVE: Reforço de Solo, Resistência à compressão, Geotêxtil Tecido, Geogrelha.

1 INTRODUÇÃO geossintéticos no reforço de solos, segundo


Reinert e Bovo (2010), pode ser feita através de
Devido à instabilidade de determinados solos ensaios de compressão, que levam em
surge a necessidade de se implantar materiais consideração a interação do geossintético com os
que diminuam a deformação do mesmo. Dentre meios adjacentes.
esses materiais, o uso dos geossintéticos tem se A melhoria do comportamento mecânico do
destacado na Engenharia Civil pela sua solo provocada pela inclusão do reforço só é real
versatilidade e baixo custo. quando a resistência do reforço é mobilizada.
Os geossintéticos se mostram na forma de Isso acontece quando o solo e o reforço sofrem
estrutura unidimensional (tira), bidimensional ou deformações relativas causando forças de atrito
tridimensional, e são recursos empregados em entre os dois materiais e mobilizando a
contato com o solo ou compostos em materiais resistência à tração do reforço (CARLOS, 2016).
aplicados no campo da engenharia. Eles Partindo desse pressuposto, a ideia do trabalho
absorvem e redistribuem os esforços da matriz foi simular em laboratório a execução de um
do solo, limitando as deformações laterais das aterro compactado reforçado com geossintéticos.
estruturas reforçadas, aumentando sua Nesta pesquisa, foram realizados ensaios de
resistência ao cisalhamento (SIEIRA, 2006). caracterização do solo, compactação Proctor
A determinação da influência dos Normal e ensaios de compressão simples em
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corpos de prova de solo natural, solo com e transversal): ≤ 15%.


incorporação de geogrelhas e solo com
incorporação de geotêxtil tecido. 2.1.3 Solo Argiloso
Comprovou-se experimentalmente que o uso
de geossintéticos aumenta a resistência ao O município de Curvelo/MG – Brasil encontra-
cisalhamento e diminui a deformação do solo, se em uma área geológica de predominância de
evidenciando que em solos coesivos essas sedimentos siltico-argilosos. As rochas se
propriedades ainda se alteram, mesmo que em alteram originando solos com alta concentração
pequena escala. de argila ou silte.
O solo foi coletado no Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais
2 MATERIAIS (CEFET-MG) - Unidade Curvelo, em uma
profundidade estimada de um metro.
2.1 Materiais

Foram utilizados dois tipos distintos de 3 MÉTODOS


geossintéticos, ambos fabricados e doados pela
empresa Huesker Ltda, e um solo argiloso Foram realizados ensaios de caracterização
comumente encontrado na região de completa do solo, compactação e de compressão
Curvelo/MG-Brasil. Suas características são uniaxial. Através destes ensaios, determinou-se
apresentadas a seguir. o tipo de solo e seus parâmetros de resistência.
Os ensaios obedeceram as normas da Associação
2.1.1 Geogrelha Basetrac® Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Geogrelha biaxial flexível, feita a partir de 3.1 Ensaios de Caracterização Completa


filamentos de polipropileno de alta tenacidade e
baixa fluência, o que possibilita a obtenção de Os ensaios de caracterização completa do solo
elevadas resistências e baixas deformabilidades. proporcionam a obtenção de parâmetros que
Informações técnicas: identificam a natureza do solo
● Abertura da malha nominal: 25 mm; Os ensaios realizados foram: umidade
● Resistência à tração nominal (longitudinal e natural, umidade higroscópica, granulometria
transversal): 30 kN/m; completa, massa específica dos grãos, limite de
● Deformação máxima na liquidez e limite de plasticidade.
resistência nominal (longitudinal
e transversal): ≤ 10%. 3.2 Ensaio de Compactação

2.1.2 Geotêxtil Tecido Basetrac® Woven O ensaio de compactação determina a relação


entre o teor de umidade e a massa específica
Geotêxtil Tecido biaxial de laminetes de aparente seca de solos quando compactados.
polipropileno (PP) de alta tenacidade e elevada Neste trabalho foi utilizada a compactação
resistência à degradação. Possui instalação dinâmica, com Ensaio Proctor na Energia
simples, flexibilidade de interação com o solo e Normal. O ensaio foi realizado sem reuso de
possibilidade de aplicação em grandes painéis. material, sobre amostras preparadas com
Informações técnicas: secagem prévia, utilizando-se um molde de
● Resistência à tração nominal (longitudinal e volume de 1000 cm³.
transversal): 50 kN/m;
● Deformação máxima na
resistência nominal (longitudinal
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significativas na umidade da amostra.


A compactação foi realizada em 3 camadas
3.3 Ensaio de Compressão Uniaxial com 26 golpes do soquete em cada camada,
(Simples) conforme especificado na NBR 7182/2016.
Após esse processo, a superfície do material à
A análise da variação de resistência do solo com altura do molde foi aplainada com a régua
a incorporação de geossintéticos foi realizada biselada e os corpos de prova foram extraídos e
através do ensaio de compressão uniaxial. O identificados. Logo após a moldagem, os CP’s
equipamento de compressão utilizado no ensaio foram cobertos por sacos plásticos para evitar a
foi a máquina universal para ensaios mecânicos perda de umidade para o ambiente.
de tração, compressão e flexão EMIC - Modelo Os corpos de prova com incorporação de
23-300. geossintéticos foram compactados da mesma
De acordo com a NBR 12770/1992, o forma que o solo natural, porém círculos de
resultado do ensaio é um gráfico de Tensão vs geossintéticos foram incluídos entre cada
Deformação que, em geral, é obtido com camada, conforme apresentado na Figura 1.
resultados de 10 a 15 pontos. Como o
equipamento utilizado é uma prensa
automatizada, a aquisição de dados foi feita a
cada décimo de segundo, o que implica em
curvas de tensão-deformação mais detalhadas.
Os resultados foram avaliados
estatisticamente através da média, do desvio
padrão e do coeficiente de variação.
Foram ensaiados 8 corpos de prova para cada
tipo de ensaio (solo natural compactado, solo
natural compactado com a incorporação de
geogrelha e solo natural compactado com a
incorporação de geotêxtil tecido), todos
Figura 1. Configuração das amostras com geossintéticos
compactados dinamicamente na umidade ótima, (from Reinert e Bovo, 2010).
com variação máxima de ± 3%.
O uso do geotêxtil tecido com diâmetro
3.4 Preparação do Corpo de Prova (CP) equivalente ao cilindro, em montagens iniciais
do corpo de prova, ocasionou a segmentação
Os corpos de prova utilizados nos ensaios de entre as camadas do corpo de prova. Para que
compressão uniaxial foram produzidos a partir isto não ocorresse, o geotêxtil utilizado foi
dos moldes cilíndricos pequenos do Ensaio de recortado em formato circular com diâmetro
Compactação, com dimensões de 10 cm de aproximado de 9 cm.
diâmetro e 12,75 cm de altura e volume de 1000 As geogrelhas foram recortadas em formato
cm³. circular com diâmetro próximo ao do molde
Na moldagem inicial, quando da extração dos cilíndrico objetivando uma maior interação e
corpos de prova, parte do solo aderiu às paredes ancoragem no meio inserido.
do cilindro, ocasionando em alguns CP’s o
surgimento de fissuras. Para solucionar tal
problema, antes de proceder com o 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
preenchimento dos moldes, foi aplicado um óleo
desmoldante no intuito de facilitar o processo de 4.1 Caracterização do Solo
desforma do corpo de prova com solo. Como o
óleo é um hidrófugo, não houve alterações
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O solo ensaiado é uma argila arenosa vermelha seu comportamento, porém a alta plasticidade
de graduação aberta. Este tipo de solo é comanda a sua deformação.
denominado como mal graduado e apresenta
ausência de uma faixa de tamanho de grãos. A Nota-se que o solo ensaiado apresentou, em
curva de distribuição granulométrica é todos os ensaios de caracterização completa,
apresentada na figura 2. resultados esperados para solos argilosos.

4.2 Ensaio de Compactação

A figura 3 apresenta a curva de compactação do


solo. Nota-se que sua massa específica seca
máxima é de 1,40 g/cm³ e seu teor de umidade
ótimo de 30,7%.

Figura 2. Curva Granulométrica do Solo.

Em geral, solos mal graduados, apresentam


baixa resistência à compressão depois de
compactados, pois a graduação aberta não
permite que os espaços deixados pelas partículas
maiores sejam preenchidos pelas menores
durante a compactação.
A Tabela 1 apresenta o resumo dos resultados
dos ensaios de laboratório que caracterizam o
solo. Figura 3: Curva de Compactação do Solo

Tabela 1. Caracterização do Solo Solos argilosos, de acordo com Pinto (2006),


Caracteristícas Resultados em geral apresentam umidades ótimas elevadas,
Umidade Natural 26,7% em torno de 30% e densidades secas baixas, em
Umidade Higroscópica 9,6%
Massa Específica dos Grãos 2,997 g/cm3 torno de 1,50 a 1,40 g/cm³. Sendo assim, conclui-
Limite de Liquidez 56% se que os resultados obtidos estão dentro da faixa
Limite de Plasticidade 44% de valores esperados.
Índice de Plasticidade 12%
Pedregulho (>2,00 mm) 0,89% 4.3 Ensaio de Compressão Uniaxial
Areia (0,06 - 2,00 mm) 33,88%
Silte (0,002 - 0,06 mm) 8,50%
Argila (<0,002 mm) 56,74% 4.3.1 Solo Natural Compactado

A partir dessas informações, segundo o sistema A resistência à compressão não confinada obtida
unificado de classificação proposto por para o solo natural compactado foi de 346 kPa.
Casagrande, o solo ensaiado é classificado como Já sua deformação axial específica foi 3,46 % e
MH (silte de alta compressibilidade). A carta de sua resistência ao cisalhamento foi 173 kPa. As
plasticidade de Casagrande refere-se ao amostras ensaiadas apresentaram umidade
comportamento esperado do solo. Como o solo dentro da tolerância permitida, índice de vazios
ensaiado é um solo argilo-arenoso, sua próximo a 1,15 e índice de saturação entre 74 e
classificação foi de silte de alta plasticidade, o 83%. A figura 4 mostra as curvas de Tensão vs
que mostra claramente que a areia interfere no Deformação para os ensaios realizados sem o
reforço de geossintéticos.
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4.3.3 Solo Reforçado com a Geotêxtil Tecido


4.3.2 Solo Reforçado com a Geogrelha
Quando incorporados com geotêxtil tecido, os
As curvas de Tensão vs Deformação dos ensaios corpos de prova de solo compactado alcançaram
do solo com incorporação de geogrelha, resistência à compressão não confinada média de
conforme mostra a figura 5, apresentaram 349 kPa e a resistência ao cisalhamento média
comportamento similar entre eles e a ruptura dos foi de 175 kPa. Os resultados de índices de
corpos de prova ocorreu entre 345 kPa e 400 kPa. vazios e saturação e a umidade dos corpos de
A resistência à compressão não confinada prova seguiram a mesma tendência dos ensaios
média das amostras foi de 367 kPa, a deformação anteriores.
axial específica média foi 4,91% e a resistência As curvas de Tensão vs Deformação, como
ao cisalhamento média foi 183 kPa. Assim como mostrado na figura 6, não apresentaram picos de
ocorreu nos ensaios com o solo natural ruptura e a paralisação dos ensaios dos corpos de
compactado, os índices de vazios se prova com a incorporação do geotêxtil tecido
aproximaram de 1,15, os índices de saturação ocorreu aos 15% de deformação axial específica,
ficaram em torno de 80% e a tolerância da como determina a norma. Notou-se que, devido
umidade foi respeitada. à deformação excessiva, os corpos de prova
Comparando com o resultado obtido sem o sofreram grande dano em suas paredes laterais.
reforço, observa-se um aumento da resistência à Ao se comparar com os resultados do ensaio
compressão e um aumento da deformação axial do solo natural compactado, nota-se um
específica associada à ruptura da amostra, incremento na resistência à compressão, ainda
conforme previsto. que em menor escala quando comparado ao solo
com incorporação de geogrelha. Como previsto,
a deformação axial específica associada à
ruptura da amostra também aumentou.

Figura 4: Gráfico Tensão x Deformação: Solo natural compactado.


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Figura 5: Gráfico Tensão x Deformação: Solo com geogrelha.

Figura 6: Gráfico Tensão x Deformação: Solo com geotêxtil tecido.

A tabela 2 e a figura 7 estabelecem um Tabela 2: Resumo dos Resultados


comparativo entre as médias de resistência à Solo Geotêxtil
Resultados Geogrelha
compressão e deformação axial específica das Natural Tecido
amostras ensaiadas com e sem a incorporação de Média 346 367 349
qu
geossintéticos. Além disso, a tabela 2 apresenta σ 23 19 26
(kPa)
os desvios padrões (σ) e coeficientes de variação COV 7 5 7
(COV) obtidos em cada amostra. Média 3,46 4,91 15,00
ε (%) σ 1,04 0,94 0,01
COV 30,13 19,17 0,05
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A análise estatística dos resultados os ensaios de compressão simples foram


fundamentou-se em especial nos coeficientes de observados coeficientes de variação
variação, que relaciona o desvio padrão à média. relativamente baixos quando se considera a
O coeficiente de variação é um número variabilidade natural do solo (Reinert et al,
adimensional muito utilizado quando se deseja 2010).
comparar conjuntos de dados com diferentes
unidades ou médias muito diferentes. Em todos

Figura 7: Gráfico comparativo Tensão x Deformação

De acordo com Carlos (2016), a resistência do Segundo Teixeira (2006), uma massa de solo
solo reforçado depende da resistência à chega à ruptura quando, em um determinado
compressão do solo, da resistência à tração do plano, a tensão cisalhante atuante e a resistência
elemento de reforço, do espaçamento entre ao cisalhamento mobilizada se equiparam.
camadas de reforço, do comprimento das Quando a massa de solo é reforçada, um
camadas de reforço e da resistência da interface crescimento na resistência ao cisalhamento do
entre os dois materiais. A melhoria do conjunto, devido à introdução do reforço, é
comportamento mecânico do solo provocada verificado. Esse incremento pode ser visto como
pela inclusão do reforço só é real quando a uma coesão aparente atribuída ao conjunto solo-
resistência do reforço é mobilizada. Assim, o reforço e pode-se considerar que a inclusão de
solo tem de ter capacidade para transferir as elementos no solo tem o efeito semelhante ao de
tensões provocadas pelas ações a que é sujeito um aumento no confinamento.
(permanentes ou variáveis) ao reforço. Isto O ensaio de compressão uniaxial, segundo
acontece quando o solo e o reforço sofrem Reinert e Bovo (2010), aplica uma tensão
deformações relativas causando forças de atrito vertical na amostra. Isto faz com que a
entre os dois materiais e mobilizando a resistência ao cisalhamento na interface solo-
resistência à tração do reforço. geossintético seja mobilizada, o que, como
consequência, mobiliza a resistência à tração do
geossintético.
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No presente trabalho, percebe-se que a ensaios laboratoriais de caracterização,


resistência à tração do geossintético foi compactação e compressão em amostras de um
mobilizada mesmo sem o confinamento da solo argiloso encontrado em Curvelo/MG-
amostra, o que aumentou a resistência à Brasil.
compressão em relação ao solo natural. Os ensaios de caracterização mostraram que o
Os problemas em mecânica dos solos podem, solo ensaiado é uma argila arenosa de coloração
de acordo com Tsutsumi (2003), serem divididos vermelha, com limite de liquidez de 56% e índice
em dois grupos principais: estabilidade e de plasticidade igual a 12%, sendo classificado
elasticidade. Os problemas de estabilidade como silte de alta plasticidade pela carta de
tratam das condições de equilíbrio de um solo Casagrande. No ensaio de compactação Proctor
ideal imediatamente anterior à ruptura pelo Normal, obteve-se a massa específica seca
escoamento plástico, já os problemas de máxima igual a 1,40 g/cm³ e umidade ótima de
elasticidade tratam das deformações do solo 30,7%.
devido ao seu peso próprio ou devida a forças Percebe-se, através dos resultados dos ensaios
externas como o peso dos edifícios. de compressão simples, que a incorporação de
Em engenharia geotécnica sempre devem ser geossintéticos aumentou, não apenas a
considerados os efeitos da resistência e da resistência das amostras, mas também a
deformação no solo. Um exemplo seria a deformação axial específica na ruptura. Solos
construção de um aterro: em alguns casos, o com reforço, devido às propriedades dos
maciço possui a resistência necessária para o geossintéticos, tendem a romper em
projeto, mas se rompe com uma deformação deformações mais elevadas, o que é oportuno na
relativamente baixa. A inserção de elementos de engenharia civil e geotécnica.
reforço, como os geossintéticos, gera nesse No geral, os corpos de prova de solo natural
aterro uma maior tolerância à deformação, compactado se romperam com resistência a
evitando sua ruptura. É válido ressaltar que a comprenssão não confinada de 346 kPa, os solos
deformação em solos é muito maior que a de reforçados com geogrelha apresentaram
materiais estruturais e, quando em excesso, leva resistência a comprenssão não confinada de 367
uma obra à ruína. kPa e as amostras com geotêxtil não tecido
Nesta pesquisa constatou-se que a inserção de apresentaram resistência a comprenssão não
geossintéticos no maciço de solo permitiu que o confinada de 349 kPa.
maciço se deformasse consideravelmente antes Os coeficientes de variação obtidos nos
que houvesse a ruptura do mesmo. Em outras ensaios foram pequenos, mostrando que o
palavras, enquanto o solo natural compactado irá conjunto de dados é razoavelmente semelhante.
se romper com uma deformação baixa, o solo Ensaios geotécnicos envolvem incertezas devido
com reforço irá se romper apenas quando atingir à variabilidade natural do solo, e COV em torno
deformações maiores, o que é oportuno na de 40% são esperados para ensaios laboratoriais
engenharia, porém implica em estruturas mais (Reinert et al, 2010).
flexíveis e deformáveis. Os resultados da pesquisa se constituem em
valiosas reflexões quanto ao reforço de solos
com a utilização de geossintéticos em solos
5 CONCLUSÕES coesivos. Entretanto, é necessário determinar
padrões de comparação e estudo com relação à
O conhecimento das propriedades e eficiência dessa técnica. Para estudos futuros,
características do solo é importante em qualquer sugere-se a realização de ensaios de compressão
obra de engenharia, pois a estabilidade de uma uniaxial onde os corpos de prova tenham maior
estrutura dependerá totalmente do diâmetro, evitando o fator de escala no uso das
comportamento do solo sobre o qual é geogrelhas. Recomenda-se ainda que sejam
construído. No presente estudo, foram realizados realizados mais testes de laboratório, como os
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ensaios de arrancamento e cisalhamento direto, Tsutsumi, M. 2003. Notas de aula: Mecânica dos solos I,
no intuito de mensurar as resistências de Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora,
MG, Brasil.
interface dentro do maciço reforçado.

AGRADECIMENTOS

Ao CEFET-MG pelo apoio na realização da


pesquisa.
A Huesker Ltda pela doação das amostras de
geossintéticos utilizados na pesquisa.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. 2016. NBR


7182: Solo - Ensaio de Compactação, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. 1992. NBR
12770: Solo coesivo - Determinação da resistência à
compressão não confinada - Método de ensaio, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
Carlos, D.M. 2016. Análise experimental e numérica do
comportamento de estruturas de solo reforçado com
geossintéticos: solo granular versus fino, Tese de
Doutorado, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.
Huesker. 2017. Especificação Técnica: Basetrac Grid PP
30. São José dos Campos, SP, Brasil.
Huesker. 2017. Especificação Técnica: Basetrac Woven
PP 50. São José dos Campos, SP, Brazil.
Pinto, C.S. 2016. Curso básico de Mecânica dos Solos em
16 aulas, 3nd ed., Editora Oficina de Textos, São
Paulo, SP, Brasil.
Reinert, J.; Dyminski, A.S. and Kormann, A.C.M. 2010.
Estudo de Variabilidade de Ensaios CPT e SPT para
um Projeto Baseado em Confiabilidade em Obra do
Litoral Fluminense. In: Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
COBRAMSEG. ABMS, Gramado, RS, Brasil.
Reinert, J., and Bovo, S.V. 2010. Evaluation of unconfined
axial compression of Guabirotuba formation soils with
woven geotextile incorporation. In: 9th International
Conference on Geosynthetics, Guarujá, SP, Brasil,
1:621-625.
Sieira, A.C.C.F. 2016. Geossintéticos e Obras de Terra,
Departamento de Estruturas e Fundações,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
Teixeira, C.F. 2006. Análise numérica de ensaios em solo
reforçado com geogrelha, M.Sc. thesis, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
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Avaliação de fatores de influência no ensaio do cone geotêxtil


Wesley Silva de Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, wesleysoliveira@ufmg.br

Maria das Graças Gardoni de Almeida


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, gardoni@etg.ufmg.br

Fernanda Taysa de Castro Morais


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, ftcmorais@ufmg.br

RESUMO: O ensaio do cone geotêxtil é um dos ensaios preliminares utilizados em projetos de


formas têxteis tubulares (FTT). As FTT’s, que são sistemas fechados confeccionados com
Geossintéticos, podem ser aplicadas na dessecagem de rejeitos de mineração. Devido à
variabilidade nas características dos rejeitos, é necessário executar um programa de ensaios de
forma a orientar a adequar o uso da tecnologia. Nesse contexto, o ensaio do cone possibilita a
avaliação preliminar e qualitativa do desempenho de desaguamento do geossintético. Os resultados
de uma série de ensaios de cone geotêxtil foram avaliados neste trabalho. Algumas modificações
foram sugeridas de forma a melhorar a coleta e análise de dados. Dois geossintéticos foram testados
em condição inicial saturada ou seca; o material desaguado foi rejeito de mineração de ouro em
concentrações de sólidos entre 50% e 70%. Notou-se a diminuição do tempo de desaguamento para
os geotêxteis ensaiados em condição inicial saturada e para concentrações maiores de sólidos.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxtil, Cone textil, Rejeito, Desaguamento.

1 INTRODUÇÃO por Vertematti (2015) e vêm sendo utilizadas


com diversas finalidades incluindo: proteção
Uma das práticas mais comuns de disposição de costeira (ORTIZ et al., 2003), confinamento de
rejeitos oriundos de processos minerários é o sólidos dragados (SATYAMURTHY et al.,
armazenamento em barragens de contenção 2011; YEE et al., 2012), desaguamento de lodo
(PORTES, 2013), método este que vem sendo de estações de tratamento de águas residuais
amplamente questionado devido aos riscos (CHU e ZHOU, 2015; MORGAN, 2014) e
envolvidos no dimensionamento e/ou execução desaguamento de rejeitos de processos
inadequados dessas estruturas e à severidade minerários (VAN KESSEL et al., 2016;
dos impactos ambientais, sociais e econômicos ASSINDER et al., 2015; LAWSON, 2008).
em casos de rompimento. Nas aplicações com rejeito de mineração,
Como alternativa, os rejeitos de mineração deve-se levar em conta que estes materiais
podem ser dispostos em tubos confeccionados apresentam grande variabilidade, devido ao
com geotêxteis. O Geotêxtil permite a rápida processo de beneficiamento que os originaram e
saída de fluidos, possibilitando a consolidação também de acordo com a mineralogia do local
do material; as partículas sólidas são retidas e a de onde foram extraídos (SILVA, 2017;
água drenada do sistema pode, inclusive, ser LAWSON, 2008). Sendo assim, é necessário
reaproveitada nos processos de beneficiamento executar um programa de ensaios para avaliar a
(SILVA, 2017). aplicação de geotêxteis mais adequada à
As estruturas têxteis tubulares foram necessidade imposta pelo material (LAWSON,
definidas como formas têxteis tubulares (FTT) 2008).
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Dois importantes parâmetros a serem Neste trabalho avaliou-se a influência do teor


avaliados quando se pretende utilizar as formas de sólidos inicial do rejeito e as condições de
têxteis tubulares são o tempo de desaguamento saturação da amostra têxtil no desaguamento do
e o teor de sólidos final e, consequentemente, material. Foram feitas algumas adaptações no
eficiência de drenagem e de filtragem ensaio para melhorar avaliação dos processos
(VERTEMATTI, 2015). O volume de rejeito a de desaguamento. Essas modificações tiveram o
ser desaguado e a velocidade de disposição do objetivo de monitorar o tempo para que a água
material podem ser restritos se o tempo de livre fluísse (sem dependência da subjetividade
desaguamento for elevado; da mesma forma, do observador em avaliar o fim do período de
um teor de sólidos final relativamente baixo gotejamento), determinar o teor de sólidos
estaria relacionado ao subaproveitamento do máximo desconsiderando o processo de
tubo. evaporação e identificar o comportamento da
Um dos ensaios preliminares mais simples vazão no tempo.
recomendados é o teste de cone têxtil. Este
ensaio consiste em verter uma mistura do 2 MATERIAL E MÉTODO
material a ser desaguado (cerca de 500 ml) em
uma amostra de geotêxtil de 30 cm de diâmetro 2.1 Geotêxteis Utilizados
dobrada em forma de cone, sendo determinada
a quantidade de sólidos passante e o teor de Como o trabalho faz parte de um projeto de
umidade final na parte retida (MORGAN, 2014; pesquisa para utilização de forma têxtil tubular
SILVA, 2017; LAWSON, 2008). em estruturas de disposição de rejeitos de
Pode-se ainda, pelo mesmo ensaio, avaliar a mineração, foram avaliados os dois
necessidade de uso de polímeros floculantes. geossintéticos que o fabricante utiliza na
Havendo a necessidade de flocular a mistura, é confecção de tais estruturas.
possível definir o tipo e a dosagem do polímero O primeiro geotêxtil avaliado é tecido, e será
a ser adicionado ao material para aumento da referido no trabalho por “única camada”
eficiência do processo de filtragem, bem como (abreviado por UC); o segundo é um
avaliar a turbidez do efluente filtrado geocomposto constituído de camada externa
(MIRATCH, 2005 apud MARTINS, 2006; feita do mesmo material tecido e a camada
SILVA, 2017). interna por um geotêxtil não tecido, que será
Ao se verter a mistura no cone de geotêxtil, referido por “dupla camada” (abreviado por
registra-se o tempo para que a água livre flua. DC).
Este intervalo correspondente ao tempo Na Tabela 1 é possível verificar a
decorrido do início do vertimento ao caracterização dos geotêxteis utilizados na
cessamento do gotejamento (MORGAN, 2014). pesquisa. Os aspectos visuais dos geossintéticos
Podem-se realizar medições de forma a associar podem ser observados na Figura 1.
o teor de sólidos retido neste momento.
Após esse tempo, realizam-se medições de Tabela 1. Caracterização Física dos Geotêxteis Utilizados
teor de sólidos de forma direta (a partir de Trama
Material Norma Tecido Não tecido
coleta de amostra do material retido) ou
Polipropileno Polipropileno
indireta, (pela medição do líquido passante). ABNT
Essas leituras também podem ser realizadas em Gramatura 436 g 259 g
NBR
outros momentos especificados de acordo com ISO
Variação* 1% 4%
as necessidades do observador. 9864
Comumente, utiliza-se suporte do tipo funil Espessura ABNT
1,22 mm 2,07 mm
ou o próprio recipiente coletor apoiando o cone NBR
têxtil e se procede a coleta do material efluente Variação* ISO
4% 4%
9863-1
(SILVA,2017; MORGAN, 2014).
*Variação da gramatura e da espessura
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foi realizada deixando-se os sólidos em repouso


no fluido do rejeito por 12 horas antes do ensaio
de sedimentação e a curva 4 foi realizada com a
utilização de um granulômetro a laser com
aplicação de ultrassom e defloculante.

Figura 1. Geotêxteis Utilizados: à direita o tecido e a


esquerda o não tecido

2.2 Rejeito Utilizado

O rejeito utilizado na pesquisa é proveniente de


Mina de ouro, localizada no estado da Bahia.
Para a utilização na pesquisa, separou-se a
fração líquida sobrenadante da sólida e
realizou-se a recomposição do material nos
teores de sólidos em peso (TSP) de 50%, 60% e
70% para a avaliação da influência no tempo de
desaguamento.
A Tabela 2 apresenta a caracterização
Figura 2. Distribuição Granulométrica da Fração Sólida
geotécnica do rejeito e as respectivas normas de do Rejeito Utilizado
referência. Não foi possível determinar o
Limite de Plasticidade para o rejeito. A realização dos ensaios das curvas 2 e 3
tinham por intenção avaliar a alteração
provocada pela adição de defloculante na
Tabela 2. Caracterização Geotécnica do Rejeito
distribuição dos tamanhos aparentes dos grãos e
Parâmetro Unidade Norma Valor
NBR se o fluído com o qual o rejeito é disposto
LL % 23 interfere na floculação. Já a curva 4 teve por
6459-16
NBR intuito descobrir a granulometria com o
LP % -
7180-16 máximo de desagregação possível.
IP % - 23 Notou-se que a diluição do rejeito em seu
Massa Específica NBR
dos Grãos
g/cm³
6508-84
2,93 fluido ou em água destilada não causa
alterações significativas em sua defloculação.
A Figura 2 mostra a distribuição A descontinuidade na faixa de sobreposição dos
granulométrica da fração sólida do rejeito. ensaios de peneiramento fino e sedimentação
Foram realizados quatro ensaios de nas curvas 2 e 3 se devem ao fato de não ter
granulometria. A curva 1 representa a ocorrido a desagregação total das partículas
distribuição granulométrica do rejeito de acordo quando deixadas em repouso em água destilada
com o preconizado pela norma ABNT NBR ou o fluido do rejeito (MANSO, 1999).
7181, 2016; a curva 2 representa o ensaio Nota-se que, realizado o ensaio de
realizado segundo o mesmo procedimento da granulometria por difração a laser no
curva 1, mas sem uso de defloculante; a curva 3 granulômetro, tendo passado o rejeito por
desagregação por adição de hexametafosfato de
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sódio e desagregação física por ultrassom, mesma quantidade utilizada por Morgan (2014).
obteve-se uma curva suavizada, abrangendo
uma faixa maior de granulometria e transladada
para a esquerda conforme relatado pela
literatura (MANSO, 1999; CAPELLI, 2016;
OLIVEIRA et al., 2016).
De forma geral, depreende-se que a
fração preponderante do rejeito é o silte, com
valores mínimos e máximos variando, a
depender do ensaio e do critério de classificação
adotado (ASTM ou ABNT), entre 74 e 93%,
seguido das frações arenosa e argilosa (0 a 26%
e 0 a 17% respectivamente), sendo os diâmetros
máximo e mínimo encontrados da ordem de
0,25 mm e 0,2 μm.

2.1 Método utilizado

O cone foi confeccionado a partir de uma


amostra circular de geotêxtil de 30 cm de Figura 3. Montagem do Ensaio Proposto
diâmetro; a amostra foi dobrada de tal forma a
obter-se um cone com circunferência máxima O ensaio foi considerado encerrado quando,
final igual a ¾ da circunferência inicial do em um período de noventa minutos
círculo. consecutivos, não foi notada alteração no
Utilizou-se um suporte com aro de 15 cm de volume de fluido passante coletado. A partir
diâmetro para apoiar o cone e deixar a face do deste momento considerou-se que o aumento no
geotêxtil livre; assim, o contato entre funil e teor de sólidos no material retido se daria
cone é reduzido para evitar qualquer majoritariamente por evaporação.
interferência no escoamento. O fluido passante Os tempos de medição estabelecidos estão
foi coletado por meio de um funil posicionado indicados na Tabela 5. O tempo entre leituras
abaixo do aro, de forma tal que não tocasse a subsequentes de volume do líquido passante foi
face do geotêxtil, como mostra a Figura 3. incrementado gradualmente.
Uma proveta graduada foi posicionada
abaixo do funil para que fosse possível fazer a
leitura precisa do volume coletado no tempo. Tabela 5. Tempos de Medição de Volume Coletado
Montado o ensaio, o rejeito foi vertido no cone Estabelecidos
têxtil e anotou-se o volume passante ao longo Faixa de tempo Δt* Faixa de tempo Δt*
do processo de desaguamento a partir do 20º ao 120º s 10 s 2º ao 6º min 30 s
vigésimo segundo contado do início do 6º ao 10º min 1 min 10º ao 15º min 1,5 min
15º ao 40º min 5 min 40º min a 2ª 10 min
vertimento. Tal intervalo se justifica pelo fato hora
de que o vertimento leva alguns segundos para 2ª a 3ª hora 15 min A partir da 3ª h 20 min
ser processado e a observação simultânea do *Intervalo de tempo entre leituras de volume de líquido
volume enquanto se verte o material se torna percolado coletado
inviável. Além disso, notou-se um escoamento
bastante reduzido nos segundos iniciais para Os ensaios foram realizados considerando-se
alguns ensaios, conforme será abordado nos duas condições de saturação inicial para a
resultados. amostra têxtil. Na primeira condição, os
O volume ensaiado de rejeito foi de 400 ml, geotêxteis foram utilizados secos e, na segunda,
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saturados (abreviado por SAT). ensaio; TSPm é o teor de sólidos totais, em peso,
Para a condição saturada, a amostra foi do rejeito bruto (m é o indexador de mistura);
submersa por 12 horas em uma solução de TSPp é o teor de sólidos totais em peso do
detergente e água a uma concentração de 0,5 líquido percolado.
g/l. Após este tempo, a amostra foi retirada da
solução de água e detergente e o vertimento do
material foi iniciado após 3 minutos
cronometrados.
De posse do valor das massas do geotêxtil
seco, do líquido de saturação, da massa de
fluido e sólido utilizados na mistura, foi
possível, após uma nova pesagem dos materiais,
determinar a quantidade de líquido absorvida ou
perdida pelo geotêxtil, a massa de líquido
evaporada, a massa aderida ao geotêxtil e os
teores de sólido dos materiais retido e passante.
Cada condição de saturação foi testada para
ambos geossintéticos utilizados na pesquisa; os
teores de sólido em peso da mistura vertida no
cone (TSPm) foram de 50, 60 e 70%; cada uma Figura 4- Volume de Material Passante Acumulado no
Tempo para Amostras do Geotêxtil de Camada Única
dessas combinações foi testada três vezes,
totalizando 36 ensaios. Todos os resultados
exibidos são os valores médios dos três ensaios Tabela 6: Valores para os Teores de Sólidos Obtidos nos
realizados para cada condição. Experimentos com o Geotêxtil de Camada Única.
Geotêxtil Tecido (Camada Única)
3 RESULTADOS Empregado Empregado
Saturado Seco
TSPm 70 60 50 70 60 50
3.1 Geotêxtil Tecido (Camada única)
TSPf 74 73 71 75 72 73
ED 6 22 42 7 20 46
A partir dos volumes medidos ao longo do EF >95 70-75¹ 65-70¹ >95 73-76¹ 68-72¹
tempo obteve-se o gráfico mostrado na Figura Todos os valores estão em %
4, que relaciona o volume de líquido de ¹ Valores situados entre os limites
percolado coletado com o tempo.
A Tabela 6 expressa as eficiências de Para teores de sólidos iguais, pode-se inferir
drenagem (ED) e de filtragem (EF), conforme a partir da Tabela 6 que a utilização do geotêxtil
definidas nas Equações 1 e 2 respectivamente seco ou saturado não foi significativa para a
(VERTEMATTI, 2015). Tais teores consideram eficiência de filtragem (EF) e de drenagem
a massa de água evaporada como parte da água (ED).
retida. Observou-se também que, com o aumento no
teor de sólidos no rejeito bruto utilizado, a
(𝑇𝑆𝑃𝑓 − 𝑇𝑆𝑃𝑚) 𝑥 100
𝐸𝐷 = (1) Eficiência de Filtragem aumenta ao passo que a
𝑇𝑆𝑃𝑚
Eficiência de Drenagem diminui, conforme
gráfico da Figura 5.
(𝑇𝑆𝑃𝑚 − 𝑇𝑆𝑃𝑝) 𝑥 100 A Figura 6 mostra o comportamento das
𝐸𝐹 = (2) vazões ao longo do tempo. Nota-se que as
𝑇𝑆𝑃𝑚
curvas correspondentes aos ensaios em que
Em que TSPf é o teor de sólidos totais em geotêxteis saturados foram utilizados
peso da fração retida pelo geotêxtil ao final do encontram-se mais afastadas da origem. Por
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conseguinte, para desaguar um mesmo volume A partir da Figura 6, é possível observar que,
de material, o emprego do geotêxtil para a condição inicial seca do geossintético, há
previamente saturado proporciona uma uma maior defasagem entre o início do ensaio e
economia de tempo. o pico da vazão que quando comparada à
condição saturada.

3.1 Geocomposto (Camada dupla)

A partir dos volumes acumulados medidos ao


longo do tempo pôde-se construir o gráfico da
Figura 7.

Figura 5. Comportamento das Eficiências de Drenagem e


Filtração com o Aumento do Teor de Sólidos Bruto.

Poderia-se chegar à mesma conclusão ao


observar que o teor de sólidos no material retido
ao final do ensaio foi muito próximo para todas
as condições testadas, e, no entanto, pelo
gráfico da Figura 4, observa-se que os ensaios
realizados com geotêxteis saturados se
processaram em menor tempo. Figura 7- Volume de Material Passante Acumulado no
As diferenças nos volumes totais coletados Tempo para Amostras do Geotêxtil de Camada Dupla
para testes com mesmos teores de sólidos do
rejeito bruto se devem ao escoamento de parte Observa-se na Figura 7, que os ensaios
da água utilizada na saturação das amostras realizados para a condição saturada se
têxteis. processaram em um menor tempo quando
comparados às curvas dos ensaios realizados na
condição inicial seca.
Gráfico de vazão no tempo
vazão [cm³/min] Os teores de sólidos obtidos no material
20
18
retido e no material passante em cada
16 experimento com geocomposto estão
14 apresentados na Tabela 7. Tais teores
12
10
consideram a massa de água evaporada como
8 parte da água retida.
6
4
2
Tabela 7: Valores para os Teores de Sólidos Obtidos nos
0 Experimentos com o Geotêxtil de Camada Dupla.
0 5 10 15 20 Geocomposto (Camada Dupla)
Tempo [min]
Empregado Empregado
[min] Saturado Seco
TSPm 70 60 50 70 60 50
TSPf 75 75 71 75 72 70
ED 7 25 42 7 20 40
Figura 6. Comportamento da Vazão no Tempo para os
Ensaios Realizados com Geotêxtil de Única Camada EF <95 <95 <95 <95 <95 <95
Todos os valores estão em %
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Similarmente à análise do geotêxtil tecido houve uma defasagem entre o início do ensaio e
(camada única), a utilização do geotêxtil seco o pico da vazão maior quando empregado o
ou saturado não foi significativa para a gessintético em sua condição inicial seca.
eficiência de filtragem (EF) e de drenagem
(ED) nos ensaios com o geotêxtil de camada Gráfico de vazão no tempo
dupla (Tabela 7).
vazão [cm³/min]
A eficiência de drenagem é proporcional ao 60,0
teor de sólidos do rejeito bruto. No entanto,
50,0
diferente do ocorrido com o geotêxtil tecido de
camada única, o aumento no teor de sólidos do 40,0
rejeito bruto utilizado não acarretou em 30,0
alterações expressivas na eficiência de
filtragem. Estas alterações podem ser 20,0

observadas graficamente na Figura 8. 10,0


As eficiências de drenagem para os
0,0
geotêxteis de dupla camada foram similares às 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
eficiências de drenagem dos ensaios com Tempo [min]
geotêxtil de única camada, mantidas as demais
condições.

Figura 9. Comportamento da Vazão no Tempo para os


Ensaios Realizados com Amostras Têxteis de Dupla
Camada

4 CONCLUSÕES

Quanto às condições iniciais de saturação,


notou-se que houve redução no tempo de
desaguamento quando se empregou o material
têxtil previamente saturado em todas as
Figura 8. Comportamento das Eficiências de Drenagem e situações testadas. Observou-se que o aumento
Filtração para os Ensaios Realizados com as Amostras
Têxteis de Dupla Camada.
no teor de sólidos do rejeito bruto acarretou em
perda de eficiência de drenagem. O objetivo de
As curvas de vazão no tempo estão avaliar teores de sólido diferentes é de
apresentadas na Figura 9. Analogamente aos representar a situação de campo e verificar se
ensaios realizados com o geotèxtil de Única um teor de sólidos maior poderia impactar na
Camada, as curvas correspondentes aos ensaios eficiência de drenagem.
em que geotêxteis saturados foram utilizados A eficiência de filtração para amostras
encontram-se mais afastadas da origem. têxteis de única camada aumentou com o
Indicando uma economia de tempo ao se saturar incremento no teor de sólidos do rejeito bruto,
o material têxtil antes da execução do ensaio. mas manteve-se constante quando o
Esta observação acerca da economia de tempo desaguamento se processou nas amostras de
pode ser verificada na Figura 7 ao se comparar dupla camada.
os tempos m que se consierou finalizado o Outro fato observado é variação da
experimento. eficiência de filtragem com o uso de
Durante os experimentos, verificou-se que geocomposto dupla camada. Nos ensaios com
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geotêxteis simples a eficiência de filtragem Determinação da espessura a pressões especificadas.


chegou a 65% para rejeito com teor de sólidos Rio de Janeiro, p. 5. 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
em peso de 50%; nos ensaios com geocomposto TECNICAS. NBR ISO 9864: Geossintéticos –
dupla camada (junção de geotêxtil tecido com Método de ensaio para determinação da massa por
não tecido) a eficiência de filtragem foi superior unidade de área de geotêxteis e produtos correlatados.
a 95% em todos os ensaios. Isso significa que o Rio de Janeiro, p. 2. 2013.
geocomposto dupla camada é mais eficiente ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do
para reter os finos do rejeito e poderia, limite de liquidez. Rio de Janeiro. P. 5. 2016.
inclusive, evitar a necessidade de adicionar ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
floculantes à mistura. TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solo que passam na
Importante ressaltar que não foi feito o peneira 4,8mm – Determinação da massa específica.
dimensionamento do geotêxtil em relação à Rio de Janeiro. 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
granulometria do rejeito neste trabalho. Optou- TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do limite
se por trabalhar com as duas opções de de plasticidade. Rio de Janeiro. P. 3. 2016.
geossintéticos utilizados pelo fabricante na ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
confecção das bolsas para que fossem TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise
observadas asalterações no comportamento granulométrica. Rio de Janeiro. P. 12. 2016.
Capelli, R. B. (2016) Comparação de Métodos na
dreno-filtrante das mesmas. Análise de Rejeitos de Mineração. Monografia para
Uma vez observado o potencial do concessão do grau de Engenheiro Civil. Universidade
emprego do geotêxtil saturado para aceleração Federal de Ouro Preto, Escola de Minas,
do desaguamento, recomenda-se que se Departamento de Engenharia Civil, 31f.
realizem ensaios de média escala de caráter Chu, J.; Zhou, B. (2015). Model Test on Methods to
Improve Dewatering Efficiency for Methods for
quantitativo para que se verifique a influência Sludge-Inflated Geotextile Tubes. Geosynthetics
do efeito de escala e se há viabilidade International. V. 22, p. 380-392.
econômica. Lawson, C. R. (2008) Geotextile Containment for
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AGRADECIMENTOS Geosynthetics International, 15, No. 6, 384-427.
Manso, E. A. (1999) Análise Granulométrica dos Solos
de Brasília Pelo Granulômetro a Laser. Dissertação
Os autores agradecem ás seguintes instituições: de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
Científico e Tecnológico), Fapemig (Fundação Ambiental. Universidade Federal de Brasília, 165 p.
de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais), ao Martins, P. M. (2006) Utilização de Tubos Geotêxteis
para Desaguamento de Rejeito de Mineração.
Departamento de Engenharia de Transportes e Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil.
Geotecnia da UFMG e ao Departamento de Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
Engenharia de Minas da UFMG. Agradecem Morgan, K. R. (2014) Geotextile Tubes and Their
também ao Grupo TDM Brasil e à Brio Gold Application to Dewatering, Dissertação de Mestrado,
pelo fornecimento de material utilizado na Graduate Faculty of Georgia Southern University,
Statesboro, Georgia, 147 p.
pesquisa, e ao Instituto Yamana, pelo apoio na Oliveira, T. G. et al. (2016) Análise Comparativa Entre o
pesquisa. Granulômetro a Laser e o Método Tradicional de
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10.1201/b21335-66. 6 p. Rejeitos de Minério de Ferro nas Consistências de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Polpa e Torta, Dissertação de Mestrado, Programa de
TECNICAS. NBR ISO 9863-1: Geossintéticos –
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Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de


Engenharia de Transportes e Geotecnia, Universidade
Federal de Minas Gerais, 180 p.
Satyamurthy, R., Liao, K., Bhatia, S.K. (2011)
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Silva, L. C. F. (2017) Utilização de Tubos Geotêxteis
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Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Departamento de Engenharia de Transportes e
Geotecnia, Universidade Federal de Minas Gerais,
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Resistência ao Cisalhamento Direto do Poliestireno Expandido


(EPS)
Mariana Basolli Borsatto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Beatriz Garcia Silva


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, bia.garcia0102@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Rogério Custódio Azevedo Souza


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, rogerio.azevedo@ortalc.com.br

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, bruna1997.bruh@gmail.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho avaliou o cisalhamento direto de interface em amostras de poliestireno


expandido (EPS) em equipamento convencional de acordo com a ASTM D3080. As amostras
foram fornecidas por empresa nacional em três diferentes massas específicas (10, 20 e 30 kg/m³).
Foram utilizadas pressões normais de 10, 20, 30 e 40 kPa para as amostras de 10 e 20 kg/m³ e, para
o maior valor de massa específica (30 kg/m³), pressões normais de 50 e 60 kPa também foram
utilizadas. Os principais resultados mostram que, em termos de tensão versus deformação, nenhuma
das massas específicas apresentou um pico de tensão definido. Com relação às amostras de 30
kg/m³, o material mostrou um padrão no comportamento relacioado às diferentes cargas aplicadas,
apresentando curvas melhor definidas e um aumento nos valores de tensão de cisalhamento. A
envoltória de ruptura obtida mostra que as amostras de 10 kg/m³ apresentaram parâmetros de
resistência relativamente baixos quando comparados aos demais. Os valores estão de acordo com os
valores da literatura nacional e internacional. Em geral, uma tendência no comportamento ao
cisalhamento direto é observada: com o aumento da massa específica, há um decréscimo dos
valores de coesão e um acréscimo dos valores de ângulo de atrito.

PALAVRAS-CHAVE: Poliestireno expandido (EPS), Resistência ao cisalhamento, Cisalhamento


direto de interface.

1 INTRODUÇÃO (retangular). Por possuir massa específica


menor que a água (variações de 15 a 40 Kg/m3),
O poliestireno expandido (EPS), ou alta resistência mecânica e baixa
geoexpandido (Geofoam, do inglês), é um compressibilidade, suas principais aplicações
geossintético geralmente empregado em estão voltadas para obras onde seja necessário
aplicações geotécnicas na forma prismática minimizar-se o tempo de execução bem como
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as tensões que chegarão ao solo ou cota de pontes e viadutos e bases de pavimentos


interesse, no caso de outros materiais, como em (vejam-se por exemplo os trabalhos de
lajes de concreto, por exemplo. Dentre estas, SHEELEY, 2000; ELRAGI, 2000; ZOU et al.
podem-se elencar a construção de estradas 2000; ATMATZIDIS ET AL. 2001;
sobre solos com baixa capacidade de suporte, NEGUSSEY et al. 2001; SRIRAJAN, 2001;
alargamento de rodovias, aterros leves de NEGUSSEY, 2002; ABU-HEJLEH et al., 2003;
encontros de pontes/viadutos e de aterros ATHANASOPOULOS ET AL. 2007;
ferroviários, proteção de tubulações, oleodutos, HORVATH, 2008; MCGUIGAN AND
pontões e estruturas enterradas, paisagismo e VALSANGKAR, 2010; JAFARI, 2010;
telhados verdes, estabilização de taludes, STARK et al. 2012; BARTLETT et al. 2015).
assentos/arquibancadas em estádios e teatros, No contexto do Brasil, poucos trabalhos
barragens, aeroportos e pistas para taxiamento foram desenvolvidos sobre o assunto. No
em geral bem como outras aplicações âmbito das pesquisas e investigação de
especializadas (AVESANI NETO, 2008; SUN propriedades do material cita-se o trabalho de
et al., 2009; MCGUIGAN and Avesani Neto (2008). No entanto, como cita o
VALSANGKAR, 2010; JAFARI, 2010; autor, a pesquisa foi finalizada deixando-se
STARK et al., 2012; BARTLETT et al., 2015). ainda alguns pontos adicionais a serem
O geoexpandido quando utilizado em aterro estudados como a resistência por meio de
sobre solos moles, sub-base de pavimentos, ensaios de cisalhamento direto. Esse ensaio
encontro de pontes e outras aplicações pode ser realizado de duas formas, a saber:
subterrâneas sofre solicitações dinâmicas ensaio de cisalhamento interno ou de interface
causadas pelo tráfego de veículos e solicitações (na junta entre blocos). O ensaio de
de cargas constantes. No contexto da análise de cisalhamento interno é realizado de acordo com
estabilidade de estruturas leves que utilizam a ASTM C273, porém sua realização é menos
blocos, é necessário proceder-se à avaliação de frequente, pois são normalmente substituidos
análises internas e externas dos modos de por ensaios de compressão simples. Já o atrito
ruptura. Em particular, uma análise de de interface entre os blocos de EPS fornece um
estabilidade externa de uma estrutura de blocos parâmetro importante de projeto, visando
de geoexpandido requer conhecimento sobre o verificar-se a estabilidade tanto externa quanto
comportamento do cisalhamento de um bloco interna de obras geotécnicas submetidas a
individual porque, frequentemente, o fator de cargas horizontais, como a ação do vento e
segurança do plano de ruptura que passa através outras cargas acidentais. O ensaio de
da montagem de bloco é investigado. Dessa cisalhamento direto de interface é realizado
forma, o comportamento da resistência ao conforme a norma ASTM D3080, que é
cisalhamento ao longo da interface entre dois utilizada na determinação da resistência ao
blocos de geoexpandido (EPS/EPS) necessita cisalhamento direto de solos e outros
ser avaliado (ÖZER & AKAY, 2016). geossintéticos.
Vários estudos tem sido conduzidos em Dessa forma, esse trabalho apresenta alguns
interfaces de EPS/EPS para avaliar-se as resultados referentes à resistência ao
propriedade de resistência ao cisalhamento cisalhamento direto em diferentes densidades de
(SHEELEY, 2000; SHEELEY & NEGUSSEY geoexpandido.
2000; ATMATZIDIS et al., 2001; NEGUSSEY
et al., 2001; BARRETT, 2008).
Apesar de diversas pesquisas sobre o produto 2 MATERIAIS E MÉTODOS
e suas aplicações, nota-se que o manancial de
informações sobre o EPS está restrito ainda ao O ensaio de cisalhamento direto foi realizado de
contexto internacional, em particular, em modo a se obter parâmetros de contato entre
aplicações de aterros moles, encontros de dois blocos de EPS. Em solos, esse é
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normalizado pela ASTM D 3080 de 1998,


entretanto, foram feitas algumas alterações no
ensaio com EPS, seguindo os métodos
utilizados por Avesani Neto (2008).
Nesse ensaio foram utilizadas duas placas de
EPS com dimensões de 100 mm² e altura de 25
mm cada (figura 3), de forma que estas se
encaixavam no suporte e permitiam o contato
entre as mesmas. Figura 2. Painel de controle da máquina de ensaios de
Aplicou-se tensões confinantes de 10, 20, 30, cisalhamento direto.
40, 50 e 60 kPa, sendo as tensões de até 40 kPa
utilizadas para as densidades menores (10 e 20
kg/m³) e as tensões maiores (50 e 60 kPa) foram
acrescentadas à densidade maior (30 kg/m³),
para melhorar a representatividade dos
resultados. Essas tensões foram escolhidas, de
acordo com Avesani Neto (2008), de modo a
representar as situações de campo,
considerando que um aterro de geoexpandido
possui baixo peso. Na fase de cisalhamento,
aplicou-se um deslocamento relativo entre as Figura 3. Detalhe de amostras utilizadas no ensaio de
cisalhamento direto de interface.
placas, medindo-se simultaneamente, a força
necessária para o deslocamento e a magnitude
do deslocamento.
3 RESULTADOS OBTIDOS E
O ensaio foi realizado em um equipamento
ANÁLISES
comumente utilizado para ensaios em solo
(figura 1).
As figuras seguintes ilustram as curvas obtidas
nos ensaios. Nestas, estão apresentadas no eixo
vertical as tensões cisalhantes e no eixo das
abscissas os valores dos deslocamentos
horizontais.
Nota-se que para todas as densidades
estudadas não há um pico de tensão definido, de
forma que a curva tende a ficar constante.
Observou-se também que na densidade mais
Figura 1. Equipamento utilizado para os ensaios de
cisalhamento direto.
elevada (30 kg/m³) o material mostrou um
padrão no comportamento quando relacionado
A velocidade de execução do ensaio foi de com as diferentes cargas aplicadas,
0,50 mm/min (equipamento servo controlado, apresentando curvas melhor definidas e um
conforme figura 2). A figura 3 ilustra as aumento nos valores das tensões de
amostras utilizadas no ensaio. cisalhamento. No entanto, as densidades
menores não apresentaram um aumento de
tensão cisalhante proporcional à carga aplicada.
Algo curioso aconteceu nos ensaios: percebe-se
que as amostras de massa específica de 10
kg/m³, apresentaram valores maiores de
resistência quando submetidas a uma tensão de
confinamento de 20 kPa, sendo essa resistência
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menor, em geral, para tensões confinantes As envoltórias estão representadas na figura


maiores. Não há uma explicação para esse fato, 7 e foram agrupadas para facilitar a comparação
pois os valores de confinamento deveriam dos resultados entre as diferentes densidades. O
conduzir a maiores valores de resistência ao resumo dos parâmetros de resistência obtidos
cisalhamento. está apresentado na Tabela 1.

Figura 4. Resultdo do ensaio na amostra de 10 kg/m³.


Figura 7. Envoltória de resistência das amostras de EPS.

Tabela 1. Valores de coesão e ângulo de atrito para cada


densidade estudada.
Densidade (kg/m³) Coesão (kPa) Ângulo de atrito (Ø')
10 11 3,4
20 8,6 27,7
30 5,2 38,2

Figura 5. Resultdo do ensaio na amostra de 20 kg/m³. Nota-se pela figura 7 que o material possui
uma envoltória diferente para valores de massa
específica mais elevada (20 e 30 kg/m³) quando
comparada à envoltória de massa esspecífica de
10 kg/m³.
Nas massas específicas mais elevadas,
observou-se que há uma parcela de ângulo de
atrito significativa, sendo estes bem maiores
que os obtidos nas amostras de massa específica
menor, a qual apresentou um comportamento
predominantemente coesivo.
Observa-se ainda que o ângulo de atrito é
Figura 6. Resultdo do ensaio na amostra de 30 kg/m³. proporcional à massa específica do EPS, assim
como foi observado por Avesani Neto (2008).
Com os dados do ensaio, foi possível traçar Isso mostra que para valores superiores de
as envoltórias de resistência para cada massa massa específica, há um aumento do ângulo de
específica estudada e desta envoltória atrito. Além disso, é nítido uma relação
determinaram-se os valores de coesão e ângulo inversamente proporcional entre o ângulo de
de atrito. Como não há valores de pico, adotou- atrito e a coesão, de modo que com o aumento
se a tensão de cisalhamento para um da massa específica, o ângulo de atrito aumenta
deslocamento de 20 mm.
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e a parcela coesiva diminui. seria um valor de transição entre amostras de


Analisando ainda a figura 7, verifica-se que baixa e elevada massa específica.
para valores maiores de massa específica, os
valores de tensão normal elevados conduzem a
valores maiores de resistência. No entanto, para AGRADECIMENTOS
a tensão normal de 10 kPa, a amostra de menor
massa específica possui maior resistência. Esse Os autores agradecem a Fapesp pelo apoio
fenômemo também foi observado por Avesani financeiro obtido para a realização da pesquisa;
Neto (2008) que afirma que isto se deve a maior ao Laboratório de Geotecnia da Faculdade de
plastificação sofrida pelas amostras de menor Engenharia de Bauru – UNESP e à empresa
massa específica para altas cargas de Termotécnica pelo fornecimento do material.
confinamento, de modo que “para valores de
confinamento reduzido (sem plastificação
excessiva) a sua superfície com maior REFERÊNCIAS
rugosidade incrementa o atrito entre os blocos,
porém, para confinamentos mais elevados a Abu-Hejleh, N.M., Zornberg, J.G., Elias, V.
plastificação é excessiva em ambos os blocos, Watcharamonthein, J. (2003). Design assessment of
the founders/meadows GRS abutment structure. In:
tornando a transferência de carga menos Proceedings of TRB 2003 Annual Meeting CD-ROM.
eficiente e, consequentemente, reduzindo o Athanasopoulos, G.A., Nikolopoulou, C.P., Xenaki, V.C.,
atrito de interface.” Stathopoulou, V.D. (2007). Reducing the seismic
Isso mostra que quando submetido a tensões earth pressure on retainingwalls by EPS geofoam
confinantes reduzidas, o que é comumente buffers – numerical parametric study. In: CD
Proceedings of 2007 Geosynthetics Conference,
observado na prática, as amostras de EPS de Washington DC, USA, p. 15.
baixas densidades apresentam um Atmatzidis, D.K., Missirlis, E.G., Chrysikos, D.A.
comportamento satisfatório. (2001). An investigation of EPS geofoam behaviour
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O ensaio de cisalhamento direto de interface comportamento geotécnico do EPS através de ensaios
mostrou que não há um pico de tensão definido mecânicos e hidráulicos. Dissertação de Mestrado,
nas curvas obtidas, de modo que essas tendem a São Carlos, SP. 227 p.
Bartlett, S.F., Bret N. Lingwall, B.N., Vaslestad, J.
ficar constantes. (2015). Methods of protecting buried pipelines and
Em termos de envoltórias obtidas, verificou- culverts in transportation infrastructure using EPS
se que com o aumento da massa específica, o geofoam. Geotextiles and Geomembranes, 43, p. 450-
ângulo de atrito aumenta e a parcela coesiva 461.
diminui. Alem disso, devido à plastificação Bartlett, S. F., Lawton, E. C. (2008). Evaluating the
seismic stability and performance of freestanding
sofrida pelas amostras de menor massa geofoam embankment. Proc., 6th National Seismic
específica para altas cargas de confinamento, as Conf. on Bridges and Highways, Federal Highways
amostras de EPS com maiores massas Administration (FHA) and Multidisciplinary Center
específicas possuem maior resistência sob for Earthquake Engineering Resarch (MCEER),
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Notou-se ainda que, de forma geral, existe Horvath, J.S. (2008). Extended Veletsos-Younan model
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amostras de massa específica inferiores e non-yielding earth-retaining structures. In:
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superiores a 20 kg/m³, de modo que este valor Earthquake Engineering and Soil Dynamics
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Revestimento com Geocélulas de PEAD preenchidas com


concreto em substituição a estruturas rígidas de concreto armado
para drenagem superficial em pilhas estéril
Wladimir Caressato Junior
TDM Tecnologia de Materiais Brasil Ltda., Campinas, Brasil, wcaressato@tdmbrasil.com.br

Carlos Antônio Centurión Panta


TDM Tecnologia de Materiais Brasil Ltda., Campinas, Brasil, ccenturion@tdmbrasil.com.br

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a vantagens da utilização das
Geocélulas de PEAD – Polietileno de Alta Densidade – para revestimento de canais e descidas
hidráulicas, em substituição às estruturas rígidas de concreto armado. Devido à flexibilidade do
sistema de revestimento composto pelas Geocélulas de PEAD, o mesmo se adapta perfeitamente
aos possíveis recalques que a estrutura possa apresentar ao longo do tempo, sem perder sua função
estrutural, conduzindo, assim, a água durante toda a vida útil da estrutura, além de outros
benefícios, se comparado às estruturas convencionais. Serão apresentados ensaios de laboratório
realizados para determinação da resistência ao arrancamento do material de preenchimento de
dentro da “célula” e o atrito existente entre o material de preenchimento e as perfurações e
texturizações das paredes das Geocélulas de PEAD, justificando a importância e necessidade de tais
características para um correto dimensionamento de um projeto de drenagem superficial.

PALAVRAS-CHAVE: Geocélulas de PEAD, Pilha de Estéril, Drenagem Superficial,


Geossintéticos.

1 INTRODUÇÃO e de erosão, além da redução da capacidade de


condução pela diminuição da vazão
Em sua totalidade, seja na mineração, aterros transportada, que podem se transformar em
sanitários, drenagem urbana, canais são grandes custos de reparação ou recuperação, o
comumente revestidos em concreto reforçado que compromete altamente a viabilidade dos
ou pedra argamassada. Para tanto, os custos projetos hidráulicos.
construtivos destas estruturas consomem altas A função da engenharia atual é buscar
porcentagens dos investimentos totais alternativas que permitam, de maneira segura e
reservados para nova infraestrutura hídrica e responsável, combinar ou até substituir
manutenção. Nesses custos inclui-se ainda a estruturas convencionais de concreto reforçado
escassez de material pétreo que pode com outras que representem vantagens
inviabilizar obras com pedra argamassada, a econômicas reais, com a finalidade de reduzir
pouca flexibilidade para se adaptar a possíveis custos e viabilizar projetos. A figura 1
deformações do solo no caso de drenagem em apresenta o processo construtivo de
pilhas de rejeito ou estéril, as deficiências canais/descidas hidráulicas em concreto
construtivas e/ou de manutenção devido a mão armado.
de obra pouco treinada da região, etc., o que É neste cenário que os geossintéticos
pode ocasionar vazamentos que gerem riscos tornam-se uma alternativa altamente
ambientais, através de danos de tipo geotécnico interessante para projetos de irrigação,
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condução e/ou drenagem. Para isto têm-se características permitem à estrutura final
especificamente materiais como as geocélulas trabalhar como um conjunto de blocos
de Polietileno de Alta Densidade (PEAD), as interconectados, oferecendo melhor
quais torna possível eliminação do uso de aço desempenho que estruturas convencionais
nas estruturas de concreto reforçado e ainda quando instaladas sobre solos não controlados.
redução na espessura da camada de concreto,
conformando estruturas com uma “relativa”
flexibilidade para se adaptar a formas
complexas e superfícies pouco irregulares.

Figura 2. Utilização de geocélulas PEAD para canais.

O uso de geocélulas de PEAD em projetos


de canalização e drenagem superficial vem
crescendo em ritmo acelerado, basicamente
Figura 1. Processo construtivo de canais/descidas pelas grandes vantagens que as geocélulas
hidraulicas em concreto armado. oferecem, se comparadas com estruturas
Fonte: MARTINS, 2015. convencionais como enrocamentos, concreto
reforçado ou colchões metálicos preenchidos
com pedra. Apenas citando um exemplo, os
2 GEOCÉLULAS DE PEAD revestimentos executados com geocélulas de
PEAD eliminam o uso do aço de reforço,
As Geocélulas de PEAD são materiais colocação e retirada de formas, execução de
geossintéticos desenvolvidos pelo Corpo de juntas de construção e dilatação, e ainda
Engenheiros dos U.S.A., e consistem em um permitem o uso de materiais locais de fácil
conjunto de faixas de PEAD conectadas por obtenção para seu preenchimento, como por
uma série de cordões de solda ultrassônica, exemplo a utilização de solo cimento em
distribuídos em toda a largura da faixa, regiões onde não a disponibilidade de agregado.
alinhados perpendicularmente ao eixo
longitudinal das faixas. Ao se estender, as
faixas interconectadas formam paredes de uma 3 REVESTIMENTO COM GEOCÉLULAS
estrutura de "confinamento celular", tipo
colmeia de abelhas, que pode ser preenchidas Quando preenchidas com concreto, as
com materiais como substratos com vegetação, geocélulas de PEAD conformam um
solo-cimento, brita, argamassa ou concreto, em revestimento suficientemente pesado para
funções das solicitações de cada projeto, suportar as forças de tração geradas pelo fluxo
controlando seu escorregamento, ocasionado transportado, suficientemente resistente à
por forças hidrodinâmicas e gravitacionais. abrasão (diretamente relacionado à resistência à
Cada “célula” atua como um pequeno vaso que compressão do concreto usado) e, devido à
sustenta o concreto e elimina o requerimento do presença das geocélulas, altamente flexível,
aço de reforço. Com relação às texturas e capaz de se adaptar às diferentes geometrias
perfurações presentes em todas as paredes, tais usadas em canais, assim como à possíveis
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deformações na fundação. Disto último, existe útil da estrutura, característica que está
no Chile excelentes referências de canais de diretamente relacionada com a interação do
geocélulas funcionando, inclusive após os preenchimento com as paredes da geocélula.
terremotos em 2010 e 2015. Nas figuras 3, 4 e 5 na continuação, podemos
O sucesso dos revestimentos de canais observar alguns tipos de geocélulas que podem
usando geocélulas preenchidas, principalmente, ser encontradas no mercado.
com concreto, tem levado ao uso delas em
aplicações cada vez mais ambiciosas, como a
construção de canaletas para suportar fluxos
com altas velocidades geradas pelo escoamento
em taludes muito íngremes, conformados por
estéril ou rejeitos não compactados e com alto
potencial de deformação. Lamentavelmente
essas aplicações, em alguns dos casos, têm sido
acompanhadas de materiais de baixa qualidade,
fora de especificação (p.e. GRI GS15), ou sem
as características corretas para interatuar
adequadamente com o material de
preenchimento, gerando resultados adiversos,
tanto satisfatórios quanto desastrosos. Na Figura 3. Geocélulas sem perfurações .
maioria dos casos de insucesso, foi encontrado
como principal problema a perda (ou expulsão)
de blocos de concreto de dentro das geocélulas
por falta de um travamento mecânico, e
consequentes problemas de desagregação do
solo embaixo do revestimento.

4 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DAS


GEOCÉLULAS

A utilização de revestimentos como uso de


geocélulas de PEAD não é uma novidade, seja
para canais, descidas hidráulicas com grandes Figura 4. Geocélulas texturizadas.
declividades, drenagem superficiais submetidas
a grandes recalques, como é o caso de
fechameno de aterros sanitários. Porém, é
importante, para evitar casos de insucessos,
conhecer quais as propriedades críticas no
momento de calcular e especificar geocélulas.

4.1 Perfurações e texturas nas paredes

Devido serem materiais poliméricos, as


geocélulas não se aderem ao concreto, portanto,
necessitam caracteristicas para poderem
trabalhar em conjunto com o mesmo, evitando Figura 5. Geocélulas texturizas e perfuradas.
principalmente a perda de blocos durante a vida
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Para garantir essa iteração entre o material


de preenchimento e as paredes da geocélula, é Para garantir esse embricamento mecânico
necessário que as mesmas possuam tanto entre o concreto e as paredes da geocélula de
perfurações quanto uma textura para garantir PEAD, deve também se controlar a contração
esse travamento e, que o mesmo não seja do concreto instalado dentro da mesma. A
retirado com simples esforços, sejam de contração do bloco de concreto está diretamente
extração ou pressão. Ensaios de extração relacionada à abertura da geocélula, uma vez
realizados com geocélulas preenchidas com que, quanto maior a abertura e tamanho do
concreto, demostraram que as paredes rígidas bloco de concreto, maior a contração do
de PEAD, perfuradas uniformemente com furos mesmo. O importante é calcular a abertura para
de 10 milímetros de diâmetro e texturizadas que a contração do concreto seja menor à
com 22 a 31 losangos por centímetro quadrado, profundidade da texturização, em formato de
permitem o travamento mecânico do agregado losango, estampada nas paredes da geocélula de
grosso e fino do concreto respectivamente com PEAD. Caso o solo de implantação da descida
as paredes da geocélula, de forma que, para possua potencial de erosão, analisar o uso de
conseguir extrair o bloco, a força aplicada deve um geotêxtil não tecido pode ser uma excelente
ser suficientemente grande para quebrar o opção para controlar a perda de finos e
agregado e o concreto primeiro. desagregação do solo embaixo do revestimento.
Mesmo parecendo itens irrelevantes, são
fundamentais para o desempenho da solução a
longo prazo.

4.3 Altura das Células.

Para aplicação em canais é amplamente usado o


relatório CIRIA R116 “Design of reinforced
grass waterways (1987)”, o qual sugere o uso
de uma determinada altura de concreto em
função da velocidade de escoamento, baseados
em resultados de ensaios hidráulicos realizados
Figura 6. Ensaio de extração do preenchimento. em revestimentos de blocos articulados e semi
articulados. Tal estudo recomenda o uso de
revestimentos de até 200mm de altura, quando
submetidos a velocidades iguais ou maiores a
7,0m/s. Se falamos especificamente de
drenagem em pilhas de estéril ou rejeito, as
velocidades são quase sempre superiores a
10m/s, pelo que o relatório CIRIA R116 não é
necessariamente aplicável, ou gera estruturas
pouco econômicas, portanto, para canaletas
com velocidades muito maiores existem duas
alternativas e analises adicionais a serem
realizadas para o correto dimensionamento das
Figura 7. Resultado do ensaio de extração do bloco. estruturas.

4.4 Dissipadores de Energia.


4.2 Abertura das Células
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Devido as grandes velocidades geradas necessitam de um elemento com alta resistência


decorrentes de grandes precipitações em à tração para poder suportar os esforços de
conjunto com declividades acentuadas, existem cisalhamento gerados, devido as geocélulas
alternativas para poder reduzir a velocidade e a terem como principal objetivo o confinamento
espessura do mesmo, de tal maneira que a de material e não resistir a esforços de tração.
estrutura em Geocélulas de PEAD possa se Sem essas análises adicionais, os esforços no
tornar uma alternativa viável. Como principais revestimento podem ser demasiadamente
alternativas geralmente utilizadas, temos: a) A elevados e estaríamos condenando o sistema
incorporação de dissipadores de energia ao com geocélulas à falha antes mesmo da sua
longo do canal, ou, b) a utilização de bacias de conclusão.
dissipação nos trechos planos. Nas figuras 8 e 9,
na sequência, apresentam uma descida 4.4 Tendões Poliméricos e Acessórios para
hidráulica com dissipadores de energia e uma Aporte Estrutural
bacia de dissipação, respectivamente.
A utilização de tendões poliméricos ou outros
acessórios como geogrelhas, vergalhões de aço,
ou uma combinação de ambos, é amplamente
utilizado, principalmente nas estruturas de
revestimento com geocélulas de PEAD com
grandes declividades, com intuito de distribuir
os esforços gerados, seja pelo fluxo ou peso
próprio da estrutura.

Figura 8. Descidas em geocélulas com dissipador.


Fonte: FIERRO, 2005.

Figura 10. Tensor multidirecional com resistência radial à


tração.

O uso desses elementos, como apresentado


nas figuras 10 e 11, apresentam vantagens
importantíssimas para esse tipo de estruturas
como: a) controla os elevados esforços de
cisalhamento devido à velocidade de
escoamento do fluxo; b) permite reduzir as
espessuras de concreto devido ao aporte
estrutural e distribuição de cargas; c) reduz ou
Figura 9. Bacia de dissipação em geocélulas de PEAD. elimina o uso de estacas de aço utilizadas como
Quando utilizada em grandes declividades ancoragem em projetos que não permitem o uso
ou mesmo nos taludes de canais, as geocélulas
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da mesma, d) Constitui um elemento adicional cisalhamento das estruturas, pode-se utilizar a


de fixação e retenção dos blocos de concreto. formula 1 que é apresentada na continuação.

     (1) 

Onde:

  : Peso volumétrico do fluido (kN/m³);


A : Área Molhada (m²).
L : Comprimento (m).
 : Tensão de Cisalhamento (kN/m²).
P : Perímetro Molhado (m).
Figura 11. Tendões poliméricos.
Existem inúmeras formulas para determinar
os valores de tensão de cisalhamento. Para
5 DIMENSIONAMENTO DO pequenas declividades, com ângulos pequenos
REVESTIMENTO COM GEOCÉLULAS (α < 6°), como são os casos dos canais, para
obter o valor da tensão média de cisalhamento
Para o dimensionamento das estruturas de pode ser encontrado através da formula 2,
revestimentos, tanto de canais quanto de desmonstrada a seguir. PORTO (2006).
descidas hidráulicas, é de extrema importância
para determinação das dimensões da geocélula (2)
a ser utilizada e dos componentes (dissipadores,
tensores multidirecionais, etc.) que deverão ser Onde:
inclusos para que a estrutura possa ser estável,
que são as forças resistentes geradas pelo fluido Rh  : Raio Hidráulico (m);
a ser transportado pela estrutura hidráulica. I0 : Declividade (m/m).

Segundo PORTO (2006), essas forças Por outro lado, as descidas hidráulicas,
resistentes são geradas em função as perdas de devido possuírem declividades mais
cargas geradas pelas velocidades ou vazões em acentuadas, deve-se atentar-se para as
determinados trechos e da rugosidade da velocidades geradas ao longo da estrutura, tal
estrutura. Na figura 11 na continuação, que a velocidade média do sistema seja inferior
podemos encontrar as componentes a serem a velocidade máxima suportada para cada tipo
consideradas para o cálculo. de material, evitando assim erosões no fundo e
nas paredes do revestimento. PORTO (2006)

Em função destes contratempos existem


metodologias e soluções para reduzir a energia
cinética gerada ao longo da estrutura, que
podem ser desce o incremento de bacias ou
blocos de dissipação, até macro rugosidades.
 
Figura 12. Forças atuantes da seção. PORTO (2006).

Para a determinação da tensão de 6 CASOS DE OBRAS DE SUCESSO


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Na sequencia serão apresentados alguns casos 7 CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS


de obra realizados no Brasil onde foram
empregadas as Geocélulas de PEAD em Existem uma ampla gama de geocélulas no
substituição as estruturas de concreto armado mercado, cabe ao projetista a seleção do
convencial. material mais apropriado, frente as adversidades
de cada projeto, determinar qual o melhor tipo a
ser considerado.
Com principais vantagens da utilização das
geocélulas de PEAD, podemos citar a
velocidade de instalação e ausência da mão de
obra especializada para a execução que, mesmo
gerando um valor inicial maior na compra de
materiais, se comparado as estruturas
convencionais, o retorno final desse
investimento pode chegar de 25% a 30% de
Figura 13. Drenagem superficial com geocélulas de economia para o cliente.
PEAD preenchido com solo cimento implantado em São Atualmente, vários pesquisadores vêm
João do Piauì/TO.
apoiando ativamente a execução de trabalhos
nesta área, com intuito de levar aos seus
clientes informação técnica e processos de
cálculo detalhados, assim como materiais
fabricados com as melhores resinas disponíveis,
garantindo bom desempenho e durabilidade à
longo prazo. Uma longa lista de obras de
sucesso fornecem a confiança necessária para
calcular e construir descidas hidráulicas com
segurança e com a certeza de que as grandes
vantagens das geocélulas de PEAD, neste tipo
de aplicação, vão se manter ao longo do tempo.
Figura 14. Canal Periférico com geocélulas de PEAD
preenchido em concreto implantado em Conceição do
Mato Dentro/MG. AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradecemos ao Eng. Gustavo


Fierro, gerente de produto do Grupo TDM,
pelas fotos e informações cedidas para a
elaboração do presente artigo, assim como a
todos os clientes que optaram pela implantação
dos revestimentos com geocélulas em suas
localidades.

REFERÊNCIAS

Figura 15. Descida hidráulica com geocélulas de PEAD Carter, L.; Bernardi, M. (2014) NCMA’s Design Manual
preenchido com concreto implantada em Itabirito/MG. for Segmental Retaining Walls, National Concrete
Masonry Association, Geosynthetics Magazine, 4 p.
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Scholsser, F., Mitchell, J. K. & Dunnicliff, J. (1990)
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FHWA-RD-89-043, Novembro, 287 pp.
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Porto Alegre, p. 81–100.
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Solo Reforçado – Projeto e Execução, Oficina de
textos, p,126.
Fierro, G. (2005) Arquivo pessoal. Peru.
Koerner, R.M. (2012) Designing with Geosynthetics 6th
Edition, p. 914
Martins, D (2015) Elementos de Fundações, Disponível
em:<http://elementosdefundacoes.blogspot.com/2015/
05/paraa-adequada-concretagem-da-escada.html>.
Acessado em: 02 de jul. 2018 22:08 il. color.
Porto, R. D. M. (2006) Hidráulica Básica, 4ª Edição,
EESC – USP, São Carlos, SP, p. 519.
Vertematti J. C. (2004) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, Editora Edgard Blucher, São Paulo,
Brasil, p. 413
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Soluções em Geossintéticos na Comunidade São Rafael, João


Pessoa, Paraíba
Camila de Andrade Oliveira
UFPB, João Pessoa, Brasil, camisandrade95@hotmail.com

Hanna Barreto de Araújo Falcão


UFPB, João Pessoa, Brasil, hanna.barreto@hotmail.com

Jorge Luiz de Souza Junior


UFPB, João Pessoa, Brasil, jr29souza@gmail.com

Leonardo Ferreira da Silva


UFPB, João Pessoa, Brasil, leonardo.fesilva21@gmail.com

Fábio Lopes Soares


UFPB, João Pessoa, Brasil, flseng@uol.com.br

Aline Flávia Nunes Remígio Antunes


UFPB, João Pessoa, Brasil, eng.remigio@gmail.com

RESUMO: A falta de infraestrutura das cidades atrelada à vulnerabilidade econômico-financeira de


parte da população favorece o surgimento de comunidades instaladas em áreas consideradas de
risco, como é o caso da comunidade São Rafael, localizada na cidade de João Pessoa, Paraíba, que
se encontra situada ao longo de um talude às margens da BR 230. As áreas de risco caracterizam-se
pela probabilidade e suscetibilidade aos deslizamentos de solo, solicitando, assim, da engenharia
geotécnica soluções a fim de mitigar e erradicar os riscos. No que diz respeito à comunidade
houveram tentativas de reforço e contenção, mas que serviram apenas de paliativos sem apresentar
eficiência como sistema de estabilização. Neste sentido, foi realizada a avaliação do grau de risco
do talude da comunidade e propostas soluções técnicas efetivas envolvendo geossintéticos, de
forma a avaliar qualitativamente suas funções e aplicações.

PALAVRAS-CHAVE: Áreas de Risco, Obras de Contenção, Geossintéticos.

1 INTRODUÇÃO de massa e/ou inundações.


As áreas de risco estão inseridas em taludes
Com o constante crescimento populacional naturais, superfícies inclinadas que ligam dois
urbano atrelado a ausência de investimentos na planos, que estão desocupadas devido à
infraestrutura das cidades tem-se o surgimento dificuldade de construção para estas condições
de comunidades instaladas em áreas (PEREIRA, 2017).
consideradas de risco (PEREIRA, 2017). Estas De acordo com a Coordenadoria Municipal
áreas são caracterizadas pela probabilidade e de Proteção da Defesa Civil de João Pessoa, 27
suscetibilidade ao risco envolvendo vidas comunidades estão inseridas em áreas de risco,
humanas e bens materiais (HORA e GOMES, sendo uma delas a São Rafael, objeto de estudo
2009), que podem ser causados por movimentos deste trabalho. A comunidade São Rafael está
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situada às margens da BR 230 com edificações cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. O
em toda extensão do talude. processo de surgimento da comunidade deu-se
São recorrentes os acidentes envolvendo na década de 70 quando famílias instalaram-se
deslizamento de solo e inundações na em um terreno repassado ao estado para a
comunidade, representando um risco iminente à criação de um bairro (FIGUEIREDO, 2017).
vida dos moradores da região. Frente a isto, A área da comunidade, como mostra a
foram adotadas medidas paliativas a respeito da Figura 1 representado pela poligonal rosa, está
segurança e estabilidade do talude, como, por compreendida em duas regiões: uma parte mais
exemplo, um muro de revestimento do talude alta (talude) que está às margens da BR 230
com sistema parcial de drenagem de águas (poligonal azul) e outra mais baixa situada
pluviais e barras metálicas com a função de próximo ao Rio Jaguaribe. Por essas diferenças
escora inseridas com o intuito de proporcionar existem duas situações problemas principais:
maior resistência à encosta. deslizamentos por movimentos de massa e
A fim de resolver estas problemáticas que inundações.
envolvem áreas de risco, foram desenvolvidas
ao longo dos anos diversas técnicas pela
engenharia geotécnica, como por exemplo,
muros de arrimo, cortinas atirantadas, solo
grampeado, entre outros, que vão desde
soluções mais complexas e dispendiosas a
recursos mais simples e menos onerosos
(RANZINI e NEGRO Jr, 1998).
Uma das soluções para conter deslizamentos
e aumentar a estabilidade dos taludes emprega
geossintéticos que vêm sendo muito utilizados
no Brasil. Os geossintéticos são materiais que Figura 1. Localização da comunidade
apresentam forma e características variadas, as
quais permitem múltiplas funções e aplicações, O solo que constitui o talude no qual a
que vão desde a impermeabilização de comunidade está localizada é classificado como
superfícies a controle de erosão superficial solo residual da formação Barreiras (GUSMÃO
(VERTEMATTI, 2015). FILHO, 1982). Para a caracterização
Além da viabilidade técnica dos granulométrica da comunidade, foi retirada
geossintéticos, os mesmos competem com os amostra do solo constituinte do talude a fim de
materiais naturais pela rapidez de execução, classificá-lo. De acordo com a classificação
economia e sustentabilidade. Por essas granulométrica proposta pela NBR 6502
perspectivas foram adotados os geossintéticos (ABNT, 1995), o solo amostrado apresenta
como integrante das soluções propostas. pouco teor de finos como é apresentado na
Assim, neste trabalho foi abordado de forma Figura 2.
qualitativa a aplicação de geossintéticos e suas
combinações no talude constituinte da São
Rafael como solução técnica para mitigar e
erradicar o risco de deslizamento.

2 METODOLOGIA

2.1 Descrição da Comunidade


A comunidade São Rafael está localizada na
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2.2 Geossintéticos
Figura 2. Curva granulométrica do solo
Os geossintéticos são materiais poliméricos
A caracterização do solo foi desenvolvida de produzidos industrialmente com o intuito de
modo a nortear de forma simplificada a escolha melhorar ou substituir um produto natural
do tipo de geossintético utilizado. através da combinação com materiais naturais
Previamente, foi realizado o mapeamento de em obras de diversos tipos e portes. A utilização
risco da comunidade, de acordo com a destes materiais compete e apresenta soluções
metodologia do Ministério das Cidades (2007). mais econômicas, mais leves, mais rápidas,
Para tanto, foi verificada a proximidade das mais esbeltas e mais confiáveis nas obras de
habitações ao talude, presença de lixo e de engenharia (VERTEMATTI, 2015).
vegetação de grande porte, sinais de Estes materiais são capazes de exercer
movimentação do solo constituinte do talude, múltiplas funções de acordo com a solução a ser
entre outros. Dessa forma, a região do talude foi empregada, ou seja, existem diversos tipos de
classificada em risco muito alto e as áreas geossintéticos que atendem a diversas
sujeitas à inundação como risco baixo como é solicitações a depender da aplicação requerida
apresentado na Figura 3. (VERTEMATTI, 2015).
Baseado nisto, tem-se que os geossintéticos
podem ser utilizados em obras de engenharia
com função de: separação, filtração, drenagem,
reforço, controle de erosão superficial, entre
outras.
As soluções propostas para as áreas de risco
da comunidade São Rafael levaram em
consideração tanto a estabilização do talude
como a revitalização da área da encosta de
modo a proporcionar qualidade de vida aos
moradores desconstruindo a imagem de
insegurança da habitação.

3 RESULTADOS

Para a estabilização do talude foi proposta a


Figura 3. Mapa da área de risco comunidade São utilização de geotêxteis não tecidos utilizados
Rafael com a função de reforço de modo a limitar
deformações da encosta. O alteamento do talude
Como pode ser visto a área roxa representa
poderá ser realizado através do sistema
risco muito alto, correspondente a região do
construtivo autoenvelopado visto que não
talude, e a área amarela refere-se à zona sujeita
necessita de mão de obra especializada e custos
a inundação.
elevados (VERTEMATTI, 2015).
O objeto de estudo do presente artigo é a
Para finalização do talude estabilizado com
área constituída pelo talude em vista a
geossintético, é necessário um sistema de
sensibilidade da área e necessidade de
proteção contra as intempéries e danos
proposição de soluções que sejam capazes de
mecânicos. Nesse caso, o faceamento final
aumentar a estabilidade do talude e
proposto foi em cobertura vegetal, a ser
proporcionar melhores condições de habitação
instalada sobre geocélulas preenchidas com solo
para os moradores da comunidade.
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natural com o intuito de proporcionar uma


estabilidade inicial maior às gramíneas.
O efeito do impacto das gotas da chuva na
face do talude é um dos principais responsáveis
pelo desencadeamento do fenômeno da erosão
superficial. Tal efeito pode ser minimizado com
a aplicação de geossintéticos na cobertura da
face do talude. Dessa forma, foi proposta a
associação de geomantas à cobertura vegetal.
Outra alternativa para a proteção do talude é a
utilização de geocélulas preenchidas com solo
natural e aplicação de gramíneas.
Os sistemas de drenagem são de suma
importância em obras de estabilização de Figura 4. Situação com intervenção do muro
taludes, visto que a água pode infiltrar e causar
a saturação do solo ou ocasionar o processo de Nota-se a existência de uma cicatriz no
erosão superficial (CARVALHO et al., 1991). talude mostrado na Figura 4 que constitui um
Por este motivo deve ser determinado um indício de deslizamento recente causado pela
sistema de drenagem interna composto por chuva, relatado por moradores.
colchão drenante capaz de conduzir a água Neste sentido foi proposta a criação de uma
contida no maciço para um geotubo a ser escadaria hidráulica, Figura 5, com função de
interligado no sistema de drenagem pública. dissipar a energia da água precipitada na crista
O colchão drenante pode ser executado com do talude que não é capaz de penetrar, visto a
geoespaçadores e geotêxtil não tecido para presença da área impermeabilizada da BR 230.
separação entre o material do dreno e o solo de A escadaria conduzirá a água para o sistema de
composição do maciço. O elemento separador é drenagem de águas pluviais da rede pública.
necessário para que não haja o
comprometimento da funcionalidade dos
materiais distintos (VERTEMATTI, 2015).
As propostas apresentadas neste trabalho
tratam de soluções em pontos específicos do
talude, pois apresentm maior vulnerabilidade ao
deslizamento. Além disso, foram observadas as
característica dos taludes, ou seja, para os
pontos onde há a intervenção do muro de
arrimo foi proposto um sistema de estabilização
e drenagem e onde não há o muro a solução foi
dada com solo envelopado.
O primeiro ponto estudado apresenta uma
solução paliativa constituída de um muro com Figura 5. Solução proposta para área com o muro
função apenas de revestimento associado a um
sistema de drenagem representado pelos A escadaria é formada pela associação de
barbacãs, como é apresentado na Figura 4. gabião, caixas prismáticas formadas com tela de
arame galvanizado e preenchidas com pedra de
mão (RANZINI e NEGRO Jr, 1998), com
geotêxteis colocados como elemento separador
entre o maciço de solo e a escadaria, de maneira
a evitar a interpenetração dos materiais.
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Além de promover a dissipação da energia, é vegetação de grande porte, cortes no talude para
necessário solucionar a erosão superficial edificação da casa e o sobrepeso das próprias
provocada pela precipitação direta no talude, residências.
neste sentido foi proposto o emprego de
geomantas combinadas com gramínea para
promover menor impacto visual e proporcionar
a revitalização da área. Estes detalhes podem
ser observados na Figura 6, abaixo.

Figura 8. Residências a meia altura do talude

Devido ao alto grau de risco é necessária a


retirada dessas residências e alocação desses
moradores em áreas próximas. Após a retirada
Figura 6. Detalhes construtivos da solução foi proposto o envelopamento do aterro com
geotêxtil não tecido, de modo a promover o
Outro ponto analisado foi uma área que se reforço e estabilização do talude, para
apresenta bem crítica com diversas residências reconstrução da configuração original, como é
instaladas bem próximas ao talude onde, na apresentado na Figura 9.
tentativa de conter os escorregamentos,
instalaram-se hastes metálicas e escoras em um
muro de arrimo, como é apresentado na Figura
7.

Figura 9. Solução com solo envelopado

Figura 7. Escoras do muro de arrimo


Outra situação analisada foi com relação a No processo de alteamento do talude é
moradias que estão instaladas no meio da altura inserido o sistema de drenagem composto de
do talude, Figura 8, e que apresenta risco tanto geoespaçadores para drenar e conduzir a água
de deslizamento superior como inferior. Os interna ao maciço.
riscos nesta área são agravados pela presença de
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Por ser uma área que também está abaixo da Tecnológicas – IPT (2007). Mapeamento de Riscos
BR 230 faz-se necessária a implantação de uma em Encostas e Margem de Rios, Brasília: Ministério
das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas –
escadaria hidráulica de gabião com geotêxtil IPT.
como elemento separador. Carvalho, P. A. S. (1991) Manual de geotecnia: Taludes
Além disso, é necessário o faceamento final de rodovias: orientação para diagnóstico e soluções de
do talude de modo a proteger os geossintéticos seus problemas, São Paulo, Departamento de Estradas
das intempéries e dos danos mecânicos. Este e Rodagens do Estado de São Paulo, Instituto de
Pesquisa Tecnológicas, 388 p.
faceamento é composto de geocélulas Figueiredo, K.P. (2017) Vulnerabilidade Socioambiental
preenchidas com solo natural cobertas com na Comunidade São Rafael em João Pessoa - PB,
vegetação natural, visto na Figura 10. Trabalho de Conclusão de Curso, Departamento de
Ciências Biológicas, Universidade Estadual da
Paraíba, 37 p. Disponível
em:<http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123
456789/13827/1/PDF%20-
%20Kimberly%20Palmeira%20Figueiredo.pdf>.
Acesso em: 17 jan. 2018.
Gusmão Filho, J.A., (1982) Prática de Fundações nas
Capitais Nordestinas, VII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações,
ABMS, Recife, v. 7, p.189-206.
Hora, S.B. e Gomes, R.L. (2009). Mapeamento e
Avaliação do Risco a Inundação do Rio Cachoeira em
Trecho da Área Urbana do Município de Itabuna/BA,
Sociedade e Natureza, Uberlândia, p.57-75.
Disponível
em:<http://www.scielo.br/pdf/sn/v21n2/a05v21n2.pdf
Figura 10. Detalhes construtivos da solução >. Acesso em: 14 jan. 2018.
Pereira, N.N.T. (2017) Proposta de Metodologia para
Mapeamento de Risco Geológico Geotécnico de
4 CONCLUSÃO Escorregamentos em João Pessoa - PB, Trabalho de
Conclusão de Curso, Departamento de Engenharia
Civil, Universidade Federal da Paraíba, 57p.
O presente trabalho teve o intuito de fazer uma Disponível
análise qualitativa e propor soluções de em:<http://security.ufpb.br/ccec/contents/documentos
estabilização do talude utilizando /tccs/2017.1/proposta-de-metodologia-para-
geossintéticos, de maneira a demonstrar as mapeamento-de-risco-geologico-geotecnico-de-
diversas aplicações do material. escorregamentos-em-joao-pessoa-2013-pb.pdf>.
Acesso em 17 jan. 2018
As propostas aplicam geossintéticos como Ranzini, S.M.T, e Negro Jr, A. (1998) Fundações: Teoria
material competitivo e viável tecnicamente para e Prática, 2 ed., Pini, São Paulo, Brasil, p. 497-516.
solucionar questões de estabilidade do talude, Vertematti, J.C. (Coord.), (2015) Manual Brasileiro de
drenagem das águas pluviais e controle de Geossintéticos, 2 ed., Blucher, São Paulo, Brasil.
erosão superficial. São materiais que podem ser
empregados em áreas de risco frente à rapidez
de execução, economia e segurança.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1995) NBR


6502: Rochas e Solos, Rio de Janeiro, p.18.
Brasil. Ministério das Cidades / Instituto de Pesquisas
 

TEMA:  
GEOTECNIA AMBIENTAL 
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Análise Comparativa entre os Tijolos Cerâmicos Convencionais e


os Tijolos de Adobe.
João Guilherme Rassi Almeida
Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
jgmeioambiente@gmail.com

Mharessa da Rosa Machado Cruz


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
mharessacruz@gmail.com

Yara Carina Rodrigues Trindade Rosa


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
yaracarina16@gmail.com

Brunno Odorico Nascimento Calaça


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
calaca33@gmail.com

Thainá Silva Santos


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
thainassantos96@gmail.com

Glacielle Fernandes Medeiros


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
medeiros.agrimensura@gmail.com

Palloma Borges Soares


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
pallomaborges24@gmail.com

RESUMO: O tijolo de adobe é constituído de solo e fibras vegetais e, seu processo de secagem é
feito sem queima. Para sua confecção é necessária a execução das fôrmas e ensaios laboratoriais,
para a verificação de resistência. As dimensões para fôrmas, executadas em madeira sem fundo,
foram baseadas em Corrêa et al (2006) adotando-se as medidas de 23x11x5,5cm. Este artigo
utilizou o solo típico da região do norte do Tocantins, o qual apresenta uma granulometria arenosa
mal graduada. O solo, para a construção do tijolo de adobe, precisa apresentar-se coesivo, por essa
razão adicionou-se Resíduos Sólidos da Construção Civil (RCD), os quais continham em grande
parte tijolos cerâmicos - compostos de argila, para a correção granulométrica e o reaproveitamento
de resíduos, visando acrescentar às pesquisas de sustentabilidade no meio da construção civil.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentável, Tijolos de Adobe, RCD.

1 INTRODUÇÃO se perceber uma ênfase na preocupação com os


impactos ambientais, consumo de matérias-
Se tratando de um contexto ambiental, pode- primas, como também dos recursos naturais,
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que vem crescendo de forma acelerada. Tais Tais moldes são feitos conforme Corrêa et al
impactos são causados, principalmente, pelo (2006), sendo as fôrmas executadas de madeira
descaso em relação ao descarte correto dos sem fundo, para facilitar a desforma nas
resíduos industriais, entre os quais destacam-se dimensões de 0,23 m de comprimento, 0,11 m
os produzidos pela construção civil, onde de largura e 0,055 m de altura, sendo assim,
grande parte é descartada de forma inadequada, executadas de forma a moldar os tijolos.
representando assim um problema De acordo com Taveira et al (2007), para
ecossistêmico. melhor conhecimento do comportamento do
Para Pinto (2015), investir em construções de RCD, é necessário fazer a análise da umidade,
baixo custo com materiais reutilizáveis, que massa específica e sedimentação, pois
causem menor impacto ambiental, é relacionar influenciam diretamente no volume de água
economia com o meio ambiente. Sendo assim, armazenado, bem como a sua resistência, e a
buscou-se realizar análise comparativa entre os adoção de determinadas práticas de manejo,
tijolos de adobe com fibra e os tijolos de adobe sendo que essas propriedades influenciam
com Resíduo de Construção e Demolição outras, no produto final.
(RCD), tendo em vista a carência de materiais Para a confecção do tijolo de adobe, também
ecologicamente corretos no mercado, assim são necessários ensaios laboratoriais, para a
como materiais de baixo custo. verificação do solo utilizado. Sendo assim,
Os tijolos de adobe são feitos de uma mistura foram realizados ensaios de umidade, massa
de solo, água, fibra, RCD ou outro específica e sedimentação, regulamentados
complemento, secados ao sol. Não passam pelo respectivamente pelas normas NBR 6457
processo de queima, e reduz os impactos que (ABNT, 1986), NBR 6508 (ABNT, 1984) e
geram a poluição ambiental, tornando as NBR 7181 (ABNT, 1984) para analisar o
construções mais resistentes e sustentáveis, comportamento do RCD e do solo e a adesão
dando excelente isolamento térmico e acústico entre eles.
ao ambiente. A adição da fibra ao tijolo, ajuda Conforme Cancian (2013) utiliza-se várias
no processo de estabilização do mesmo, técnicas para melhorar o comportamento do
desempenhando o papel de trazê-lo como tijolo de adobe, tornando-o com maior
matéria-prima construtiva. resistência a intempéries, como por exemplo, a
Ainda segundo Pinto (2015), o RCD é utilização de fibras e RCD. A estabilização de
composto por qualquer tipo de material solos refere-se aos processos naturais ou
descartado em obra, possuindo também, a artificiais, nos quais o mesmo, com cargas
função de complemento na composição do aplicadas, consegue maior resistência, com a
tijolo de adobe. Geralmente composto por obtenção de um produto final que tenha
cimento, argamassa, tijolos, blocos, cerâmica, estabilidade dimensional e resistência mecânica.
solo, concreto, telhas, entre outros, sendo que
grande parte destes materiais possuem potencial
de reciclagem. 2 MATERIAIS E MÉTODOS
A adição do RCD além de melhorar a
qualidade dos tijolos é uma boa alternativa para Os tijolos de adobe foram produzidos nos
seu destino final, pois reintroduz uma matéria- laboratórios do Centro Universitário
prima no processo construtivo cumprindo um Tocantinense Presidente Antônio Carlos –
papel ecológico. UNITPAC, instituição localizada na cidade de
Por ser uma mistura de solo, fibras, RCD e Araguaína – TO, norte do Brasil. O solo
água, o tijolo de adobe é moldado sem a utilizado foi coletado no setor Lago Sul da
necessidade de adensamento mecânico, com referida cidade, em uma área de empréstimo
auxílio de moldes, normalmente retangulares.
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conforme Figura 1, com latitude 7°14'13.4"S e


longitude 48°14'15.5"W.
A escolha do local e respectivamente do
solo em questão foi devido a expansão urbana
que se direciona no sentido deste loteamento,
sendo assim, espera-se que o solo em questão
possa ser utilizado para novas construções
habitacionais. Ressalva-se também que a fibra
vegetal utilizada na pesquisa, também foi
coletada na região.
O RCD foi obtido em uma área de
disposição irregular, mais precisamente em um Figura 1. Localização via satélite de local da coleta de
solo.
lote baldio.
Após a coleta, o RCD foi passado no britador
Foram determinados dois tipos de tijolos:
de Mandíbula1 e posteriormente submetido a tijolo de adobe com fibra de palha sem RCD,
1000 rotações na máquina Abrasão Los denominado de Solo-Fibra (SF), e tijolo de
Angeles2, equipamento este semelhante ao adobe com fibra de palha e com 10% de RCD
moinho de bolas. Em seguida foi realizado o cerâmico, denominado de Solo-Fibra-
peneiramento do material na peneira de 4,8 mm, Resíduo_10% (SFR_10%). Ressalva-se que
sendo descartado o material retido. Ressalva-se ambas as amostras foram produzidas com teor
que o RCD utilizado, era composto somente por de umidade de 18,5%, de forma artesanal, e
material cerâmico (telhas e tijolos). com a mesma proporção de fibra adicionada,
Em seguida foram reaizados os ensaios de 10g em cada corpo de prova.
caracterização do solo e do RCD cerâmico. A mistura da massa foi feita utilizando como
As fôrmas dos tijolos de adobe foram vasilhame, bandejas metálicas. Primeiro foi
fabricadas artesanalmente em laboratório, com colocado o solo, depois o RCD, a água e por
material de madeira compensada, e dimensões ultimo as fibras. Depois de se obter uma mistura
segundo critérios estabelecidos por Corrêa et al. homogênea, foi feito a modelagem dos tijolos.
(2006), com largura, altura e comprimento de As fôrmas foram postas sobre uma bandeja de
11 x 5,5 x 23 cm, respectivamente, pois madeira forrada por plástico (a fim de não reter
segundo o mesmo “adobes robustos não são a umidade do tijolo) conforme Figura 2.
sinônimo de maior resistência”.
Antes da execução dos tijolos, determinou-se
os teores de umidade do solo e do RCD
cerâmico, para que a composição de RCD a ser
adicionada fosse em função da massa seca.

1 Britador de mandíbulas: São máquinas utilizadas para


britagens primárias e secundárias de materiais de grandes
dimensões, possibilitando a fragmentação dos mesmos e
reduzindo-os para processos seguintes.
2 Abrasão Los Angeles: Máquina utilizada para medir o Figura 2. Moldagem dos tijolos de adobe.
desgaste sofrido pelo agregado quando submetido a certo
número de revoluções, podendo, também, ser utilizada
para reduzir grãos.
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Em seguida, a mistura foi lançada sobre as


fôrmas com energia aproximadamente
constante, de modo a diminuir os vazios dos
tijolos ao máximo possível. Para o acabamento
passava-se a mão úmida sobre a face do tijolo.
Na desforma, primeiro desgrudava-se com uma
espátula as laterais dos tijolos da fôrma e em
seguida, a mesma era erguida com cuidado até
que se desprendessem totalmente as laterais da
fôrma.
Após processo de cura, os corpos-de-prova
foram analisados quanto à planeza, a face, a
Figura 4. Ensaio de compressão.
geometria, as características visuais e o possível
surgimento de fissura. Para cada tipo de tijolo,
foram feitos 3 corpos-de-prova. Depois de 12
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
dias, eles eram capeados com argamassa de
assentamento em um dos lados, conforme
3.1 Caracterização dos materiais
Figura 3, após um período de 24 horas eram
capeados do outro lado e, com mais 24 horas
Assim foram feitos os ensaios necessários
eram submetidos aos ensaios de resistência à
para a caracterização do solo e RCD cerâmico.
compressão aos 14 dias de cura, conforme a
Os resultados apontaram o solo como uma areia
NBR 15270-1 (ABNT, 2005).
mal graduada, com menos de 5% de argila. Já o
RCD_cerâmico moído pôde ser classificado
granulometricamente, como uma areia silto-
argilosa. As curvas granulométricas podem ser
visualizadas na Figura 5.

Figura 3. Capeamento dos tijolos de adobe.

Os ensaios de compressão foram executados


mecanicamente na Prensa Hidráulica
Pavitest/Contenco conforme segue na Figura 4.
Figura 05. Curva Granulométrica do Solo e
RCD_cerâmico.

Ressalva-se que não foi possível realizar os


ensaios de limites de liquidez e plasticidade, em
ambas as amostras. Tal fato se justifica no solo
por ser extremamente arenoso e no
RCD_cerâmico segure-se que a argila presente
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no material deva ter perdido parte de suas


propriedades coesivas. A tabela 01 apresenta as
principais características do solo e do
RCD_cerâmico.

Tabela 1. Propriedades físicas dos materiais.


RCD
Ensaio Solo
Cerâmico
Massa Específica dos Grãos
2,65 2,85
(g/cm³)
Limite de Liquidez (%) ND ND
Limite de Plasticidade (%) ND ND
Coeficiente de
3,33 -
Uniformidade (Cu)
Coeficiente de
1,2 - Figura 6. Tijolo SF após período de cura.
Continuidade (CC)

3.2 Fabricação do Tijolo de adobe O peso e as dimensões verificadas pouco


antes do capeamento para posterior ensaio de
Foi produzido um corpo-de-prova apenas compressão, estão descriminados nas Tabelas
com solo para ver quanto de água ele precisaria, 02 e 03.
logo notou-se que a umidade ideal para a
Tabela 2. Pesos e dimensões dos tijolos Solo-Fibra.
moldagem era de quase cinco vezes maior que a Largura Altura Comprimento
umidade ótima do solo obtida durante a Tijolo SF Peso (Kg)
(cm) (cm) (cm)
compactação. Assim, foi preciso cerca de 18% 1 2,3 12,2 5 23,7
de água, em relação ao seu peso seco, tendo 2 2,32 12,25 4,9 24,1
como principal objetivo a determinação do 3 2,28 12,1 5,1 23,5
melhor ponto de plasticidade do solo, visando a
facilidade durante a moldagem e desforma do Tabela 3. Pesos e dimensões dos tijolos Solo-Fibra-RCD.
tijolo. Tijolo Largura Altura Comprimento
Peso (Kg)
Dos tijolos produzidos para análise SFR (cm) (cm) (cm)
comparativa, percebeu-se que houve alterações 1 2,42 12,15 5 23,75
quanto às dimensões, principalmente quanto à 2 2,34 12,25 5,1 23,6
altura que, após a desfôrma reduziam em torno 3 2,36 12,15 5,1 23,65
de 0,5 cm. Acredita-se que isso aconteceu
devido à quantidade de água na mistura, e o Nas dimensões de ambos os tijolos tanto para
processo de desfôrma imediata após sua as larguras, quanto para os comprimentos, foi
fabricação. necessário calcular uma média entre o lado em
Ressalva-se que em nenhum corpo de prova contato com a bandeija de madeira (inferior), e
apresentou fissuras em sua estrutura, entretanto, o lado exposto (superior), pois apresentavam
conforme pode ser observado na Figura 6, uma variação de até 1,8 cm.
houve uma problemática com relação a estética Os tijolos SFR_10%, em sua maioria,
causada pela adição da fibra vegetal, por esta apresentaram peso pouco maior em relação aos
ficar visível, deixando assim a superfície do tijolos SF, em média de 0,8 Kg. Acredita-se que
tijolo com relevos. isso ocorreu devido o peso específico do RCD
ser maior que o do solo utilizado.
O capeamento teve espessura máxima de 02
cm e foi realizado a fim de que a força aplicada
pela prensa fosse distribuída uniformemente. A
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argamassa utilizada foi preparada com traço de


1:3 sendo o aglomerante um CPII-E e a areia 4 CONCLUSÕES
média.
Na região de Araguaína – TO há uma grande
Tabela 4. Resistências à compressão dos tijolos. recorrência de solos extremamente arenosos,
SFR_10% dificultando assim a sua aplicação direta na
SF (MPa)
(MPa)
fabricação de tijolos de adobe, sendo assim,
1 5,18 5,96
sugere-se uma correção da granulometria para o
2 6,78 5,31
aumento da coesão entre seus grãos, ou seja,
3 3,17 8,53 uma adição de fração argila.
Média 5,04 6,6 O resíduo da construção e demolição
Variância 3,27 2,90 cerâmico mostrou-se relativamente satisfatório
Desvio com relação a adição argila na composição dos
1,81 1,70
Padrão tijolos de adobe. Contudo, por meio dos ensaios
de limite de liquidez e plasticidade pode-se
Para obtenção de resistencia foi realizado perceber uma signmificativa perda de coesão
para ambos os tijolos o ensaio de compressão das argilas, devido ao fato de terem perdido
axial em prensa hidráulica. Foram obtidos parte de suas propriedades cimentícias devido o
resultados satisfatórios para os dois tipos de cozimento em seu processo de fabricação.
tijolos fabricados, pois a menor resistência foi Sugere-se para trabalhos futuros que o
de 3,17 MPa, mais que o mínimo exigido por processo de moagem do tijolo cerâmico seja
norma para a categoria B dos tijolos maciços mais acentuado de forma a garantir uma parcela
cerâmicos para alvenaria, que é de 2,5 MPa maior de fração argila, podendo assim obter
segundo a NBR 7170 (ABNT, 1983). uma coesão residual.
Com a finalidade de verificar a margem de
erro das médias feitas sobre os valores das
resistências, calculou-se o desvio padrão para AGRADECIMENTOS
cada tipo de tijolo, como mostrado na tabela 4.
Observou-se um desvio padrão considerável, Ao Centro Universitário Tocantinense
principalmente com relação ao tijolo SF, isso Presidente Antônio Carlos – UNITPAC pelo
deve-se ao fato da prensa ser manual, ou seja, a apoio e financiamento do Projeto de Pesquisa
compressão era interrompida ao verifcar-se intitulado Tijolos Ecológicos de Adobe com o
visualmente a fissuração no corpo do tijolo de uso de Resíduos Sólidos da Construção Civil.
adobe.
Percebeu-se que a adição dos 10% de RCD
na mistura do tijolo aumentou sua resistência REFERÊNCIAS
em uma média de 1,5 MPa, sendo que a maior
resistência do SF foi de 6,78 MPa, enquanto que ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
o SFR apresentou 8,53 MPa, resultando uma TÉCNICAS. NBR 15270-1 – Componentes
diferença de 1,75 MPa em suas melhores Cerâmicos Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria
resistências. As menores resistências de vedação — Terminologia e requisitos. Rio de
Janeiro, 2005.
apresentaram uma diferença de 2,14 MPa
favoráveis ao SFR_10%. Os tijolos com adição ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
de RCD, satisfazem a categoria C da NBR 7170 TÉCNICAS. NBR 7170 – Tijolo maciço cerâmico
(ABNT, 1983), que exige uma resistência para alvenaria. Rio de Janeiro, 1983.
mínima de 4,0 MPa.
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ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 7181 – Solo – Análise
Granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6457 – Amostras de Solo –
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro, 1986.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6508 – Determinação da massa
específica. Rio de Janeiro, 1984.

CANCIAN, Max Alberto. Influência do teor de umidade,


porosidade e do tempo de aplicação na mistura solo-
cimento para pavimento rodoviário de um solo da
bacia do Paraná. Universidade Estadual de Londrina.
Londrina, 2013.

CORRÊA, A. A. R. et al. Avaliação das propriedades


físicas e mecânicas do adobe (Tijolo de terra crua),
Ciênc. agrotec., Lavras, v. 30, n. 3, p. 503-515,
maio./jun. 2006.

PINTO, Lucas Mazzoleni. Estudo de tijolos de solo


cimento com adição de resíduo de construção civil.
UFSM- Universidade Federal de Santa Maria. Santa
Maria, 2015.

TAVEIRA, Márcio Rodrigues et al. Determinação do


conteúdo de água de solo pelo método da frigideira
em um latossolo vermelho escuro. Goiás, 2007.
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Análise da Resistência Mecânica de Solos de Cruz das Almas-BA


quando Contaminado com Diesel
Jennyfer Drielle Santos Pereira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, jds_drielle@hotmail.com

Weiner Gustavo Silva Costa


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner@ufrb.edu.br

Mário Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, mario.almeida@ufrb.edu.br

RESUMO: A geotecnia é um ramo da Engenharia Civil que busca avaliar o comportamento dos
solos e rochas e como estes reagem a ações antrópicas, assim, este trabalho tem por objetivo
caracterizar dois solos típico do recôncavo e verificar a sua resistência mecânica quando
contaminado por diesel. Para esta pesquisa foram coletadas duas amostras deformadas dos solos
numa topo-sequência em Cruz das Almas-BA que foram caracterizados, compactados,
contaminados e nessas condições avaliou-se a resistência à compressão simples. O solo 1, foi
caracterizado como uma argila-arenosa de baixa plasticidade, atividade das argila. Já o solo 2, uma
areia silto-argilosa onde o teor de argila com alta atividade, confere uma maior plasticidade. Da
análise da resistência à compressão não confinada, observou-se que a resistência dos solos
inundados com água apresentou valores abaixo dos contaminados com diesel.

PALAVRAS-CHAVES: Geotecnia, Caracterização Física, Constante Dielétrica, Resistência dos


Solos.

1 INTRODUÇÃO No intemperismo químico ocorre a


transformação mineralógica e química da rocha
O Solo é considerado um corpo dinâmico, formadora, onde o principal agente modificador
trifásico, constituído por um sistema de é a água. Os principais mecanismos de ação são
partículas com fluido (geralmente água) e ar nos a hidratação, oxidação, efeitos químicos da
seus espaços vazios e que possui o seu vegetação e a carbonatação. Neste processo de
comportamento dependente do movimento que intemperismo, as argilas são os últimos
ocorre entre essas partículas que se deslocam produtos formados (CAPUTO, 1988).
entre si assumindo propriedades diferentes Uma das propriedades que exerce grande
conforme a ocorrência dessa interação (PINTO, influência nas características físicas e químicas
2006). dos solos é a superfície específica. Ela é
O processo de formação dos solos ocorrer de definida como a relação entre a área superficial
acordo com a atuação do intemperismo físico exposta por unidade de peso. Dessa forma as
ou químico. A decomposição física é decorrente argilas possuem uma maior representatividade
da ação de agentes como temperatura, ventos e da área superficial devido a sua natureza
vegetação. Esta desagregação mecânica é coloidal, apresentando maior área para
responsável pela formação de solos com ocorrência de reações (GROHMANN, 1972).
partículas mais grossas, como pedregulhos e A superfície específica dos solos finos pode
areia, podendo formar partículas intermediárias, ser avaliada por meio da atividade das argilas
como areia fina e silte (CAPUTO, 1988). ou da sua plasticidade. Via de regra, quanto
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maior a superficie específica maior a Segundo Rodrigues et al. (2009) estes solos são
plasticidade dos solos (VARGAS, 1981). Além bastante profundos, desenvolvidos sobre
disso, como na fração argila do solo material sedimentar e ocupando áreas de relevo
concentram-se cargas negativas em sua plano e suave ondulado dos tabuleiros.
superfície, a interação com água forma uma Já a Amostra 2, segundo o estudo de
dupla camada mais espessa nas proximidades Rodrigues et al. (2009) é típico de área de
superficiais das partículas. As características Planossolos que desenvolveram-se a partir de
dessa camada variam dentre algumas fatores, materiais oriundos de rochas cristalinas do
com a constante dielétrica do meio (ALMEIDA, complexo charnockito-granulítico. Esse
2016). material foi coletado no horizonte saprolítico.
A constante dielétrica é uma importante Os pontos de coleta são apresentados na
propriedade do material, pois pode influenciar Figura 1 e na Tabela 1. Na Figura 2 está o perfil
nas propriedades dos solos como a sua do solo analisado.
estrutura, floculação ou dispersão,
condutividade hidráulica entre outras
propriedades. Ela quantifica a facilidade que
uma substância tem de ser polarizada, ou seja,
ter seu campo elétrico modificado
temporariamente (ALMEIDA, 2016).
Quando na presença de um fluido, tem-se
que o comportamento tensão-deformação dos
solos depende da interação da fração sólida com
a líquida (ALMEIDA, 2016). Quanto maior a
superfície específica interna e externa do
coloide na presença de um fluido com constante
dielétrica elevada, maior será a interação e Figura 1. Pontos de coletas das Amostras 1 e 2.
absorção devido à atração entre cargas
(BRADY e WEIL, 2012). Tabela 1. Coordenadas dos pontos de coleta
Nesse contexto, o presente trabalho tem Ponto Latitude Longitude
Amostra 1 12°39'43.12"S 39° 4'47.11"O
como objetivo avaliar a interação entre dois 12°39'37.82"S 39° 4'39.02"O
Amostra 2
solos compactados, típicos do Recôncavo da
Bahia, quando em contato com água e com
diesel.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais Solo 1

O estudo foi realizado utilizando solos


coletados na cidade de Cruz das Almas - BA.
Segundo Rodrigues et al. ( 2009) o relevo de
Cruz das Almas é composto por tabuleiros
sedimentares em processo de dissecação onde a Solo 2
parte leste da cidade apresenta maior desnível, Figura 2. Perfil dos solos analisados.
acelerando o processo de desagregação do solo.
O solo dito Amostra 1 é representante do Para o estudo da resistência mecânica dos
grupo dos Latossolos, muito presente na região. solos, foi realizada numa primeira fase, a
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saturação dos CP’s com água potável para


servir de parâmetro comparativo para análise. A
segunda etapa foi realizada utilizando óleo
diesel S10 comercializado em postos Petrobras
adquirido em um lote único, para manter as
propriedades constantes no decorrer do
experimento. Na tabela 2 estão descritas as
características de ambos os fluidos.

Tabela 2. Viscosidade, densidade e constante dielétrica


para água e diesel (Adaptado de CARDOSO, 2011)
Fluido µ ( cP ) ρ ( g/cm³ ) 𝛆𝐫 ( - )
Água 1,00 1,00 80,00
Diesel 3,75 0,83 2,13
Figura 3. Execução da compactação estática.
2.2 Métodos
Após o processo de moldagem, os CP’s
A fim de caracterizar as amostras de solo, foram ficaram cerca de 5 dias expostos a temperatura
realizados os ensaios para determinação da ambiente para secagem ao ar. Para a saturação
massa específica dos sólidos (ABNT, 1984), os corpos de prova passaram 4 dias em contato
limites de Atterberg (ABNT, 2016b; ABNT, com os fluidos por imersão parcial (Figura 4).
2016c), análise granulométrica (ABNT, 2016d). Para a contaminação, os corpos de prova
A Caracterização mecânica foi feita através ficaram em contato direto com o líquido em um
do ensaio de compactação seguindo a NBR recipiente plástico com diesel até a sua metade.
7182/16. Para a obtenção da umidade ótima e Já para a saturação com água foi usado o
massa específica aparente seca máxima, as mesmo procedimento, porém foi necessário
amostras foram ensaiadas na energia de Normal colocar papel filtro no fundo dos CP’s, pois em
de Proctor sem a reutilização do material. contato com a água o solo desagregava-se
devido a uma maior interação.
2.2.1 Ensaio de Resistência a Compressão
Simples

A análise da resistência à compressão não


confinada foi realizada a partir da moldagem de
corpos de prova (CP’s) em triplicata, inundados
com água e com diesel, que foram rompidos
segundo a norma para ensaio de compressão a a)
ABNT (1992).
Após determinados os parâmetros ótimos de
compactação, foram moldados CP’s no teor de
umidade ótima a fim de reproduzir nos CP’s a
massa especifica aparente seca máxima. A
moldagem foi por meio de compactação estática
em duas camadas com o auxílio de uma prensa
manual (Figura 3). Os CP’s foram moldados em b)
Figura 4. a) Corpos de prova moldados; b) corpos de
tubos de PVC para atender a especificações de prova em imersão.
dimensões dos corpos de prova, sendo de 40
mm de diâmetro e altura aproximada de 100
mm. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
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a predominância de argilas cauliníticas. A


3.1 Caracterização Física Amostra 2 possui alta plasticidade e seu IA
aponta para argilas com atividade normal.
Os resultados da análise granulométrica são Segundo Rodrigues et al. (2009) esses solos
apresentados na Figura 5 e na Tabela 3. originários do complexo granulíticos
apresentam argilas de alta atividade, o que pode
explicar esse valor maior para o índice de
atividade.
Pela definição do sistema AASTHO as duas
amostras se enquadram na categoria de solos
finos. Solos nesta categoria tem um
desempenho satisfatório a deficiente quanto à
empregabilidade para fins rodoviários.
Segundo o sistema de classificação da
SUCS, o solo da Amostra 1 pertence ao grupo
Figura 5. Resumo das Curvas Granulométricas. CL caracterizados por argila inorgânica de
baixa compressibilidade, sendo esta de baixa
Conforme Tabela 3, tem-se que a Amostra 1 plasticidade enquanto a Amostra 2 pertence a
pode ser classificada como uma argila arenosa classe SC formada por areias siltosas.
com pedregulho e a Amostra 2, como uma areia Na Tabela 5 está disposto um resumo dos
silto-argilosa com pedregulho. dois sistemas de classificação.

Tabela 3. Resultado da Classificação Granulométrica Tabela 5. Classificações das amostras por meio da
segundo ABNT (1995) AASHTO e SUCS
Distribuição Granulométrica Sistemas de Amostra 1 Amostra 2
Dimensões Amostra 1 Amostra 2 classificação
Argila (%) 50 22 AASHTO A.7-5 A.7-6
Silte (%) 8 22 SUCS CL SC
Areia (%) 31 44
Pedregulho (%) 12 12 Do ensaio de determinação da massa
específica dos sólidos tem-se que ponto de
Na Tabela 4 são apresentados os resultados menor cota, material proveniente do complexo
dos limites de consistência dos solos: limite de cristalino (Amostra 2), apresenta maior valor
liquidez (LL), limite de plasticidade (LP), sendo de 2,75 g/cm³. Enquanto o material de
índice de plasticidade (IP) e índice de atividade maior cota (Amostra 1) , oriundo de material
(IA). sedimentar intemperizado apresenta menor
valor, sendo de 2,67 g/cm³.
Tabela 4. Características físicas dos solos estudados
Características Amostra 1 Amostra 2 3.2 Caracterização Mecânica
LL (%) 42 42
LP (%) 26 24 Com os dados obtidos através do ensaio de
IP (%) 16 18
IA (%) 0,32 0,82
compactação foi possível obter as curvas de
compactação dos solos apresentados na Figura
A partir desses dados, pode-se observar que 6.
a Amostra 1 apresenta média plasticidade e
baixo índice de atividade das argilas, o que
pode ser correlacionado com a formação
pedológica dos seus materiais constituintes, que
devido a atuação do intemperismo proporcionou
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Figura 7. Resistência à compressão simples (RSC) para


espécimes imersos em água.

Figura 6. Resumo das curvas de compactação. A partir dos resultados, verificou-se que a
Amostra 1 alcançou tensão máxima aproximada
A Tabela 6 apresenta os resultados dos de 95 kPa, e a Amostra 2 de 71 kPa. Como a
parâmetros ótimos de compactação. Amostra 2 é a que apresenta argilas ativas, estas
apresentam maior interação com a água
Tabela 6. Parâmetros ótimos de compactação diminuindo a sua resistência conforme pode se
ρdmáx (g/cm³) wót (%)
verificar. É possível inferir também que solos
Amostra 1 1,82 14,93
Amostra 2 1,75 15,24 com maior grau de saturação obtiveram menor
resistência devido à maior interação solo-água.
A partir de uma análise das curvas de Além da saturação, a plasticidade do solo
compactação é possível perceber a influência do também influenciou nos resultados, pois quanto
tipo de solo na delimitação da curva. A Amostra maior for a plasticidade do solo, menor será a
2 apesar de ser um solo mais grosso, sua resistência.
classificada como areia com finos, possui em Na Figura 8 estão apresentados os valores
sua fração mais fina, argilas ativas que médios da resistência à compressão simples dos
conferem a este solo mais plasticidade fazendo solos contaminados com diesel. Foram
com que apresente um comportamento diferente observados que os resultados de tensões
do esperado. Apesar de não ser mais arenosa, a máximas médias aproximadas de 1111 kPa para
Amostra 1 foi a que apresentou o a Amostra 1 e 1258 kPa para Amotra 2.
comportamento mais característico deste tipo de
solo.

3.3 Resistência à Compressão Simples


(RCS)

Para avaliar a resistência à compressão simples


buscou-se ensaiar corpos de prova sob as
mesmas condições de moldagem. Na Figura 7
são apresentados os valores médios da
resistência à compressão simples dos solos Figura 8. Resistência à compressão simples (RCS) para
quando inundados com água. Esses valores espécimes imersos em diesel.
equivalem à média das máximas tensões
resistidas à compressão pelo material. Ao analisar esses resultados é possível
perceber que a Amostra 2 apresentou, para essa
situação, o maior valor de resistência.
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A alta resistência suportada pela Amostra 2 Diante de todo o estudo realizado, é possível
pode ser atribuída a uma maior coesão e atrito concluir que as características dos solos
entre as partículas que na presença do diesel analisados variam entre si de acordo com a
não são influenciados. Com uma distribuição topografia, tendo seus materiais e processos de
granulométrica que pode proporcionar um formação uma grande contribuição para essas
melhor empacotamento dos grãos, a resistência características.
por atrito pode ter sido evidenciada. Da análise da resistência à compressão não
A tensão de ruptura teve um aumento confinada observou-se que a resistência dos
significativo para corpos de prova solos inundados com água apresentou valores
contaminados com diesel comparado com os muito abaixo dos valores obtidos para esses
imersos em água. A Figura 9 apresenta uma solos contaminados com diesel. Ou seja, a
comparação entre os resultados obtidos do maior interação da água com esses materiais do
ensaio de compressão tanto para o diesel quanto que no caso do diesel leva a uma redução
para água. significativa na resistência. Tal fato se deve à
diferença de polaridade desses dois fluidos.

REFERÊNCIAS

Almeida, M. S. de S. (2016) Estudo da resistência ao


cisalhamento de um solo não saturado quando
percolado por fluidos de diferentes constantes
dielétricas. 230 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Ciências, Energia e Ambientes, Universidade Federal
da Bahia, Salvador.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
(2016a) NBR 6457: Amostra de solo – Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro, 8p.
Figura 9. Comparação da Resistência a Compressão Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
simples (RCS) dos solos contaminados por diesel e (2016b) NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
imersos em água. liquidez. Rio de Janeiro, 5p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
A diferença entre os resultados é decorrente (1995) NBR 6502: Rochas e Solos – Terminologia.
da forma de interação dos solos com esses Rio de Janeiro, RJ, 18 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
fluidos. O diesel sendo um fluido apolar de
(1984) NBR 6508: Grãos de solos que passam na
baixa constante dielétrica apresenta menor peneira de 4,8 mm – determinação da massa
interação com as partículas sólidas, logo, especifica. Rio de Janeiro, 8p.
provoca poucas variações na estrutura do solo Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
levando a valores maiores de resistência. (2016c) NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro, 3p.
No caso da água, que é um fluido polar de
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
constante dielétrica alta ocorre uma (2016d) NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
interferência maior na estrutura do solo Rio de Janeiro, 12p.
evidenciando propriedades como plasticidade e Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
atividade (superfície específica) do material, (2016e) NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
Rio de Janeiro, 9p.
levando a valores baixos de resistência.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
(1992) NBR 12770: solo coesivo – determinação da
resistência à compressão não confinada. Rio de
4 CONCLUSÃO Janeiro, 4p.
Brady, N. C; Weil, R. R. (2012) Elementos da Natureza e
Propriedades Dos Solos. 3. ed. Porto Alegre:
Bookman. 716 p.
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Cardoso, L. S. P. (2011) Estudo do transporte de


poluentes imiscíveis em solos. Tese de Doutorado.
Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA, 145p.
Caputo, H P. Mecânica dos solos e suas aplicações:
Fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 1988. 1 v.
Grohmann, F. (1972) Superfície específica dos solos de
unidades de mapeamento do estado de São Paulo: -
Estudo de perfis com horizonte B textural e horizonte
B Latossólico. Bragantia: Boletim Cientifico do
Instituto Agronômico do Estado de S.
Paulo, Campinas, v. 31, n. 13, p.145-164, abr.
Rodrigues, M. Da G. F.; Nacif, P. G. S.; Costa, O. P. G.
V. (2009) Solos e suas relações com as paisagens
naturais no município de Cruz das Almas -
BA. Revista de Biologia e Ciências da Terra, Paraíba,
v. 9, n. 2, p.193-205.
Vargas, M. et al. Introdução à mecânica dos solos. 3. ed.
São Paulo: Mcgraw-hill, 1981. 509 p
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Análise de Estabilidade de Aterro de Resíduos Classe I


Sarah Kirchmaier Fayer
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sarah.kirchmaier@engenharia.ufjf.br

Júlia Righi de Almeida


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, juliarighi@gmail.com

Mário Vicente Riccio Filho


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

Jordan Henrique de Souza


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br

Gislaine dos Santos


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br

RESUMO: Em virtude do aumento da geração de resíduos, os aterros vêm atingindo alturas cada vez
maiores, de forma a expandir sua vida útil. Consequentemente, aumenta-se a preocupação com a
estabilidade geotécnica da estrutura, sendo de suma importância uma avaliação cautelosa de modo a
impedir sua ruptura e verificar os atuais fatores de segurança em relação à estabilidade de talude. O
presente trabalho tem como objetivo apresentar e discutir os resultados das análises de estabilidade
feitas a partir do monitoramento geotécnico realizado em um aterro de resíduos Classe I. As
análises foram feitas em cinco seções pré-determinadas, empregando o método Morgenstern-Price,
utilizando o software Slide, v. 5.0. Para realização das análises e avaliação das condições de
segurança dos taludes de resíduo, foram utilizados como base levantamentos topográficos, nível do
percolado no interior do maciço e informações do subsolo. Concluiu-se que os taludes encontram-se
estáveis para as condições retratadas.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro de Resíduos, Estabilidade de Taludes, Parâmetros de Resistência.

1 INTRODUÇÃO quanto em aterros de classe II, é


consideravelmente heterogênea.
A estabilidade de aterros de resíduos tem sido Essa heterogeneidade dificulta a
analisada adotando os métodos clássicos da determinação dos parâmetros de resistência, que
teoria do equilíbrio limite, empregando podem ser influenciados por propriedades
parâmetros de resistência, coesão (c) e ângulo químicas, físicas e mecânicas, como
de atrito (ϕ), para o material. A determinação composição gravimétrica e granulométrica,
desses parâmetros pode ser realizada através de peso específico, poropressão, teor de umidade,
referências da literatura, ensaios de campo e permeabilidade, compressibilidade, resistência
laboratório e ainda retroanálises de aterros ao cisalhamento, entre outras.
rompidos. Este trabalho contém uma descrição de um
Para a análise de estabilidade de taludes de procedimento de análise de estabilidade de
aterros sanitários, deve-se levar em aterro de resíduos Classe I (resíduos perigosos)
consideração sua composição que, tanto em em operação desde 2014. A célula analisada já
aterros de classe I, caso retratado neste trabalho, se encontra encerrada tendo sido operada nos
anos de 2014 e 2015 (Figura 1). No momento, a
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disposição está sendo direcionada para uma aterrado e cinco perfis topográficos foram
célula ao lado, também licenciada para usados para a análise de estabilidade do maciço,
disposição de resíduos Classe I, denominada de forma a auxiliar o estudo.
Fase 2.
2.1 Pluviometria

A Figura 3 mostra o histórico acumulado


mensal de pluviometria registrado na unidade
no ano de 2017. Observa-se que, a partir de
outubro, o volume de chuva superou a média
(73,32 mm/m²), sendo o maior registro no mês
de novembro (170,3 mm/m²). Entretanto, os
meses de julho e agosto se apresentaram
praticamente secos, com uma precipitação
acumulada de 11,5 mm/m² e 10,1 mm/m²,
respectivamente.

Figura 1. Imagem aérea do local do levantamento e a


indicação das fases 1(à esquerda) e 2 (à direita) nas
células do aterro. Google Earth, 2017.

A célula representada na Figura 2 já atingiu


o último patamar de alteamento e teve sua vida
útil encerrada em novembro de 2015. Seus
taludes apresentam alturas variando entre 3 e
16m (sendo a altura máxima de resíduos de
11m), bermas de até 7m, e inclinações entre 13º Figura 3. Pluviometria no aterro de resíduos, em 2017.
e 36º. A cobertura do maciço é realizada com
solo compactado de baixa permeabilidade. 2.2 Percolado

Além do histórico de chuvas, o nível do


percolado foi medido durante os meses de
operação do aterro. Analisando a Figura 4 é
possível perceber, como esperado, que a altura
da coluna de líquido percolado medida no poço
de monitoramento no maciço foi maior
exatamente nos meses em que ocorreram as
Figura 2. Vista panorâmica do aterro de resíduos Classe I.
maiores precipitações. No entanto, a variação
foi muito pequena no decorrer do ano,
mostrando estabilidade quanto ao nível da
2 DADOS OPERACIONAIS coluna d´água.

Além do as built, dados referentes à


pluviometria, altura piezométrica do percolado
no interior do aterro, a tipologia do resíduo
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adequado à exatidão pretendida,


primordialmente, implanta e materializa pontos
de apoio no terreno. Para este levantamento,
inicialmente foram definidos os cinco vértices
da poligonal fechada para a utilização da
Estação Total Topcon - GTS235w. e acessórios,
sendo denominados e localizados conforme
descrição a seguir (Figura 5):

E1: Localizado na estrada principal, após a


bifurcação, no lado esquerdo, com vista ampla
para os taludes, limítrofe à torre de transmissão
Figura 4. Variação do nível de percolado no interior do da companhia energética.
maciço ao longo do monitoramento, em 2017.
E2: Localizado no platô superior dos taludes de
corte, sendo possível fazer medições em grande
2.3 Recebimento de Resíduos
parte do terreno, incluindo os taludes, o aterro e
a área de descarga dos caminhões.
O histórico mensal de recebimento de resíduos
E3: Localizado na entrada do segundo platô dos
foi controlado e os dados são apresentados na
taludes, possibilitando a medição de pontos do
Tabela 1.
aterro não vistos em E2.
Tabela 1. Histórico mensal de recebimentos de resíduos. E4: Localizado na base do aterro, próximo à
Histórico mensal de recebimento de caixa d’água, ao lado da entrada que leva à área
resíduos de descarga de caminhões, permitindo a
medição das estradas e do lado oposto do aterro.
Mês 2014 (ton) 2015 (ton)
E5: Localizado no lado oposto de E4, no outro
Janeiro 112,5 2380,5 lado do aterro, complementa as medições da
Fevereiro 1103,0 4917,6 estrada e do aterro.
Março 1260,6 7178,9
Abril 2186,2 5689,9
Maio 1566,6 3471,0
Junho 2637,6 3306,0
Julho 3275,7 4470,5
Agosto 3254,0 4249,7
Setembro 2870,4 4113,4
Outubro 2454,6 2719,2
Novembro 1866,1 1503,4
Dezembro 1859,2 -

2.4 Levantamento Topográfico


Figura 5. Posicionamento da poligonal e dos Marcos
Superficiais.
Segundo a NBR 13.133:94 o levantamento
topográfico é o conjunto de métodos e
O levantamento topográfico foi amarrado
processos que, através de medição de ângulos
nos dois marcos existentes no Aterro de uma
horizontais e verticais, de distâncias horizontais,
antiga medição fornecida pela empresa que
verticais e inclinadas, com instrumental
gerencia o aterro. Foram obtidas, portanto, as
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coordenadas tridimensionais de cada vértice da correção do nivelamento conforme NBR


poligonal implantada na área, dos pontos 13.133:94, e dos erros cometidos inferiores aos
irradiados e Marcos Superficiais (MS) de erros tolerados por norma. O instrumento
monitoramento geotécnico. Os marcos utilizado foi o Nível DS232, cuja classificação
superficiais estão apresentados na Figura 6. pela NBR 13.133:94 é de precisão muito alta.
O levantamento topográfico planialtimétrico Os recalques obtidos são demonstrados na
foi realizado na célula do aterro (Fase 1 e 2) Tabela 2.
considerando os MS definidos pela equipe
técnica de Geotecnia na Fase 1 da célula. Tabela 2. Dados dos recalques dos Marcos Superficiais
Foram levantados 60 pontos irradiados, com obtidos por meio do Nivelamento Geométrico.
instalação do equipamento (estação total) em Implantação
1ª Medição - 23/04/2018
18/01/2018
E1 e E2 bem como a cravação dos marcos Ponto
geodésicos metálicos com proteção Recalque Recalque
T (dias) mm/dia
(mm) (mm)
anticorrosiva de comprimento aproximado de
50 cm no maciço do aterro. No momento da MS1 0,0 3,0 96 0,031
cravação dos marcos foi observado que a MS2 0,0 2,0 96 0,021
camada superficial não estava plenamente
MS3 0,0 4,0 96 0,042
compactada.
A estação total foi instalada em E2, E3, E4 e MS4 0,0 1,0 96 0,010
E5, coletando 320 pontos irradiados, incluindo 0,0 1,0 96 0,010
MS5
pontos de especial interesse na célula do aterro,
MS de monitoramento, drenos e valetas. E1 0,0 0,0 96 0,000

E5 0,0 0,0 96 0,000

M189 RN

Figura 6. Localização dos marcos superficiais


implantados no aterro encerrado (Fase 1).

2.5 Monitoramento Geotécnico Figura 7. Nivelamento geométrico realizado.

Sobre o monitoramento dos MS (Figura 7 e


Figura 8), o mesmo foi
obtido por meio de nivelamento geométrico
(nivelamento e contra-nivelamento, tendo como
referência de nível , o M189, previamente
instalado pela empresa que fez o levantamento
topográfico antecedentemente), sendo feita a
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3 PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA

Os parâmetros de resistência do lixo vêm sendo


analisados de forma mais detalhada devido sua
influência na estabilidade das células de
disposição de resíduos. Observa-se uma
dificuldade em analisar esses parâmetros, fato
que os torna suscetíveis a muitas interpretações
e discussões.
Para determinar os parâmetros, normalmente
ensaios de laboratório são realizados como, por
exemplo, cisalhamento direto e triaxiais, onde
são utilizados para tal, equipamentos de grande
Figura 8. Nivelamento geométrico realizado. porte, amostras re-moldadas e retro-análise,
com base em observações do tipo de ruptura
Os Pontos E1 e E5 são vértices de poligonal que se verificou em campo. Ainda podem ser
materializados previamente e servem de realizados ensaios in situ, como sondagens à
pontos de segurança no caso de percussão (SPT), cone ou piezocone,
indisponibilidade do M189. pressiométricos, penetração dinâmica, e de
Por meio dos dados da Tabela 2, pode-se Palheta (Vane Test). Ensaios de cisalhamento
observar que o recalque observado é de direto no campo com amostras indeformadas
pequena relevância. De acordo com a NBR (amostras superficiais) e equipamentos (caixas
11682:91, para que o grau de risco seja de grande porte) tem sido desenvolvidos
considerado baixo, o deslocamento recentemente, de modo que as características
característico vertical deve ser menor que 2 cm desses parâmetros possam ser mais bem
e a velocidade característica média deve ser avaliadas.
menor que 1 mm/dia. Ainda assim, o aterro Em ensaios de laboratório, a maior
deve continuar sendo monitorado dificuldade encontrada se refere à coleta e
periodicamente. obtenção de amostras representativas em função
da composição muito heterogênea e com
2.5 Seções elementos de grandes dimensões presentes no
lixo. Além disso, a necessidade de
Para a modelagem dos taludes no software equipamentos (triaxial e cisalhamento direto) de
foram determinadas 5 seções consideradas porte, com dimensões compatíveis (no mínimo
críticas. As seções são apresentadas na Figura 9. 5 a 10 vezes superiores à partícula de maior
diâmetro do lixo) e proteção adequada quanto à
corrosão e segurança dos operadores contribui
para a elevação dos custos destes ensaios (DE
LAMARE NETO, 2004).
Diante das dificuldades de realizar ensaios,
para a análise em questão, uma pequena revisão
bibliográfica foi feita para concentrar alguns
parâmetros de aterros sanitários, aterros
controlados e até mesmo lixões presentes na
literatura. Os dados são apresentados na Tabela
3.
Figura 9. Representação das seções utilizadas para
modelagem dos taludes.
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Tabela 3. Parâmetros de Resistência dos Resíduos. 32°) e a coesão (c’ = 10 kPa). Além disso,
Parâmetos de Resistência dos Resíduos considerou-se a posição da linha freática.
O nível piezométrico foi estimado em função
γ
(kN/m³)
φ (º) c' (kPa) Referência dos aspectos observados na vistoria e a partir
Mahler e Lamare Neto
das medidas da cota piezométrica no poço de
10 25º 0 a 30 monitoramento do aterro. Foram medidas cotas
(2000)
dos meses de março a dezembro. Diante de uma
10 10 5,5
regularidade nos valores ao longo dos meses
15 25 8 Silva (2014) determinou-se a cota de 2,32 m pela média dos
meses.
20 40 10,5 Os perfis, procedentes das seções transversais,
9 28 15 Peng et al. (2016) foram traçados no programa pelas coordenadas
obtidas no levantamento topográfico,
considerando a camada de subsolo e o aterro.
Foram estabelecidos para esta modelagem os
Para o cálculo da estabilidade das seções
mesmos valores dos parâmetros de resistência
consideradas foi usado o programa Slide v. 5.0.
dos resíduos estabelecidos para outro aterro
Por último, para cada perfil foi calculado o fator
Classe I, também operado pela empresa do
de segurança (FS) de cada lado, considerando
aterro em análise, uma vez que possuem
os taludes mais críticos.
composições semelhantes e correspondiam ao
intervalo de valores da pesquisa mostrada
anteriormente na Tabela 3. Deste modo, foi
5 RESULTADOS
mantido também o peso específico dos resíduos
(γ) determinados em ensaios in situ naquele
Como resultado, obteve-se 10 interfaces do
aterro. Os parâmetros utilizados estão descritos
programa, 2 para cada perfil inserido, com a
na Tabela 4.
superfície de ruptura e o fator de segurança
Tabela 4. Parâmetros do resíduo utilizados mais críticos. Os resultados apresentados nas
Figuras 10 a 14 demonstram que os taludes se
Parâmetros utilizados
mantém estáveis para as condições atuais e o
resumo de todos os valores obtidos encontra-se
γ(kN/m³) φ(º) c’ (kPa)
na Tabela 5 e na Figura 15. Observa-se que o
FS ficou acima de 1,40 em todas as seções
9,3 28,5 5
analisadas. Apenas os taludes da seção 1 (lado
direito) e seção 2 (lado direito) apresentaram FS
aproximadamente 3% abaixo de 1,5.
4 MODELAGEM GEOTÉCNICA

A partir do levantamento topográfico, foram


traçadas 5 seções transversais e foram
escolhidos os taludes considerados como os
mais desfavoráveis para o cálculo do fator de
segurança. Empregou-se o método de
Morgenstern-Price, admitindo-se como
constantes o peso específico (γ = 9,3 kN/m ³), o
ângulo de atrito interno (φ = 28,5°) e a coesão
(c’ = 5 kPa) para a camada de resíduo. Para o
solo residual, empregou-se o peso específico (γ Figura 10. Análise de estabilidade da seção 1 (lado
= 18 kN/m ³), o ângulo de atrito interno (φ = direito): FS = 1,475.
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Figura 11. Análise de estabilidade da seção 2 (lado Figura 14. Análise de estabilidade da seção 5 (lado
direito): FS = 1,446. direito): FS = 1,863.

Tabela 5. Fatores de segurança obtidos para as seções do


aterro.
Fatores de Segurança

Seção Lado Direito Lado Esquerdo

Seção 1 1,475 2,123

Seção 2 1,446 1,998

Seção 3 2,163 2,645

Seção 4 2,501 2,811

Figura 12. Análise de estabilidade da seção 3 (lado Seção 5 1,863 2,576


direito): FS = 2,163.

Figura 13. Análise de estabilidade da seção 4 (lado


esquerdo): FS = 2,811. Figura 15. Fatores de segurança obtidos para as seções do
aterro.

6 CONCLUSÃO

Segundo a NBR 11.682:2009 – Estabilidade de


encostas, o fator de segurança deve ser de no
mínimo 1,5, se tratando de níveis de segurança
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alto. Considerando para o aterro em questão que Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
o risco de perdas de vidas humanas seja baixo e Ambiental, Porto Alegre, RS, 8 p.
Peng, R.; Hou, Y.; Zhan, L. e Yao, Y. (2016). Back-
de danos ambientais e materiais seja alto, o Analyses of Landfill Instability Induced by
fator de segurança mínimo passa a ser 1,40. High Water Level: Case Study of Shenzhen Landfill.
Por meio dos dados da primeira leitura dos International Journal of Environmental Research and
MS, pode-se observar que o recalque é de Public Health, v. 13, 17p.
pequeno valor. De acordo com a NBR Silva, B.V. (2014) Estabilidade de taludes de aterros não
controlados de resíduos, Dissertação de Mestrado em
11682:91, para que o grau de risco seja Engenharia Geológica (Geotecnia), Faculdade de
considerado baixo, o deslocamento Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa,
característico vertical deve ser menor que 2 cm 183 p.
e a velocidade característica média deve ser
menor que 1 mm/dia. Ainda assim, o aterro
deve continuar sendo monitorado
periodicamente
Em face ao exposto, considera-se que a
estabilidade do maciço do aterro encerrado
Classe I se encontra satisfatória, ratificando o
projeto e as boas práticas de engenharia
executadas através da operação local.

AGRADECIMENTOS

À Secretaria de Educação Superior (SESu) do


Ministério da Educação (MEC) pela
participação de uma bolsista do Programa de
Educação Tutorial (PET).

REFERÊNCIAS

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas


(2009) NBR 11682. Estabilidade de encostas, Rio de
Janeiro, 33 p.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1991) NBR 11682. Estabilidade de encostas, Rio de
Janeiro, 33 p.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1994) NBR 13133. Execução de levantamento
topográfico, Rio de Janeiro, 35 p.
De Lamare Neto, A. (2004). Resistência ao cisalhamento
de resíduos sólidos urbanos e de materiais
granulares. Tese de Doutorado em Ciências em
Engenharia Civil, Universidade federal do Rio de
Janeiro, UFRJ/COPPE, Rio de Janeiro, 190p.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Noções Básicas de Cartografia: Elementos de
Representação, ww2.ibge.gov.br, Acesso em: 19 jan.
2018.
Mahler, C.F. e De Lamare Neto, A. (2000). Análise da
estabilidade do vazadouro da rua Duarte da Silveira
(Petrópolis), considerando o efeito de fibras, XXVII
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Análise de misturas de fosfogesso, solo tropical e cimento em


termos de durabilidade e resistência
Millena Vasconcelos Silva
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, millenarcc@hotmail.com

David Reis Cavalcante,


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, david.reisc@live.com

Lucas Alves Xavier


Instituto Federal de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil, lucasywk@hotmail.com

Lilian Ribeiro de Rezende


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, lrezende@ufg.br

RESUMO: O fosfogesso é um subproduto das indústrias de fertilizantes e possui potencial para ser
aproveitado na construção civil. Nessa linha, este estudo foi realizado com objetivo de analisar a
influência do teor de fosfogesso hemidratado (HH) nas características de durabilidade e resistência
em misturas de solo tropical e cimento para fins de pavimentação. Foram avaliados dois tipos de
misturas: Amostra A, composta de 80% de solo, 11% de HH e 9% de cimento, e Amostra B, composta
de 50% de solo, 41% de HH e 9% de cimento. Com as amostras fez-se o ensaio de compactação, o
estudo da durabilidade quando o material é submetido a molhagem e secagem. Também foi analisada
a resistência à compressão simples aos 7 dias de cura em câmara úmida seguida de imersão. Com os
resultados obtidos, foi possível verificar que o teor de HH reduz o peso específico aparente seco e
aumenta o teor de umidade ótima. O maior teor de HH leva a uma menor perda de massa e maior
resistência. Dessa forma, o uso de HH contribui para maior estabilidade das misturas mediante a
presença de água e gera material mais durável.

PALAVRAS-CHAVE: Molhagem e secagem, Reidratação, Fosfogesso Hemidratado, Durabilidade,


Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO (2016), são produzidas cerca de 720 mil


toneladas de fosfogesso por ano, justificando a
A sustentabilidade aliada ao crescimento demanda por pesquisas quanto à reutilização
econômico é um dos principais desafios desse desse material.
século. O reaproveitamento dos resíduos antes O sulfato de cálcio é o principal componente do
que se tornem prejudiciais ao meio ambiente é fosfogesso, sendo que dependendo da
uma preocupação frequente dentre os temperatura que for submetido são produzidos
profissionais que buscam utilizar cada vez mais três variações de sulfato de cálcio, a saber: o
materias sustentáveis com uma boa relação dihidratado ou DH (CaSO42H2O) que possui
custo/benefício. Na engenharia civil, a duas moléculas de água em sua composição, a
preocupação com reaproveitamento de resíduos, mesma do gesso comum e pode ser obtido
redução dos impatos ambientais e relação quando manipulado em temperaturas abaixo de
custo/benefício é recorrente. 70°C, o hemihidratado ou HH (CaSO41/2H2O),
Nesse cenário, o fosfogesso, que é um possui meia molécula de água e, assim, necessita
subproduto da indústria de fertilizantes de ser tratado em temperaturas maiores que
fosfatados, surge como um material alternativo. 120°C para ser formado; e o anidro (CaSO4) que
No estado de Goiás, segundo Rezende et al. não possui água em sua composição e é obtido a
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temperaturas acima de 300°C. DH, produzida na indústria, em HH. Em seguida,


Estudos realizados anteriormente por Silva et fez-se o destorroamento e peneiramento na
al. (2013), Alves (2015) e Rezende et al. (2016) peneira 2mm. As amostras definidas estão
apresentam o procedimento de obtenção do apresentados na Tabela 1. A escolha dos teores
fosfogesso HH em laboratório por meio do dos materiais utilizados nas misturas foi baseada
tratamento do DH em estufa a 130ºC. Esses nos resultados obtidos por Rezende et al. (2016)
autores, em estudos com misturas de solo e Alves (2015), onde o cimento utilizado foi o
tropical, fosfogesso e estabilizantes, mostraram CP II–Z-32 RS. A quantidade de cimento foi
que o comportamento mecânico com o fixada em 9%, a fim de observar como se
hemidratado (HH) é mais satisfatório do que o comportam as misturas com a variação apenas da
dihidratado (DH). Alves (2015) estudou a quantidade de fosfogesso.
influência da reidratação do composto HH para A caracterização do solo foi feita por meio
DH e observou variação no comportamento dos seguinte ensaios: análise granulométrica
físico e mecânico para tempos de cura úmida pela NBR 7181 (ABNT, 2016a) com uso e sem
diferentes. o uso de defloculante, limite de liquidez pela
Nessa linha, o objetivo deste trabalho foi NBR 6459 (ABNT, 2016b), limite de
utilizar metodologias de dosagem de solo- plasticidade pela NBR 7180 (ABNT, 2016c) e a
cimento para avaliar o comportamento de determinação da massa específica dos grãos pela
misturas com solo tropical, HH e cimento para NBR 6458 (ABNT, 2016d). Esses parâmetros
fins de pavimentação. Os objetivos específicos foram úteis para classificação do solo e
foram: analisar a influência do teor de HH no comparação com estudos anteriores realizados
comportamento mediante os ciclos de molhagem com solo da mesma jazida.
e secagem, analisar o efeito da reidratação na Os dados de compactação foram obtidos
resistência e durabilidade e compará-los a através da metodologia MCT, para a energia
estudos anteriores. intermediária, seguindo a norma ME 228
(DNER, 1994a). A compactação das misturas foi
feita analisando as variações mediante o período
2 METODOLOGIA de cura úmida, como também foi estudado por
Alves (2015). Assim sendo, os tempos
O solo utilizado no estudo foi coletado de uma determinados para obtenção dos parâmetros de
jazida no setor em Aparecida de Goiânia (GO), compactação das misturas foram de 5 min e 25
(16°44’45.21”S – 49°15’28.35”W), o qual min após o umedecimento e as umidades foram
também compôs os estudos de Rezende et al. determinadas em estufa a 130°C.
(2016) e Alves (2015). Foram seguidas as O primeiro ensaio de dosagem seguiu o
normas brasileiras para a preparação e método da durabilidade da norma ASTM D559
caracterização do solo em termos de (ASTM, 2015) própria para dosagem de solo
granulometria, massa específica dos grãos e cimento. Esse ensaio considera parâmetros de a
limites de consistência. variação de volume e de umidade quando o
corpo de prova (CP) está imerso em água, e
O fosfogesso utilizado foi cedido por uma perda de massa quando submetidos a escovação.
empresa de fertilizantes localizada em Goiás. Foram compactados 2 CPs cilíndricos para cada
Todo o fosfogesso foi tratado termicamente em
estufa a 130°C para a transformação da forma

Tabela 1. Amostras estudadas.


Amostra A B
Nomenclatura 80S-11HH-9C 50S-41HH-9C
Solo (S) 80 50
Composição (%) Fosfogesso hemidratado (HH) 11 41
Cimento (C) 9 9
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amostra na umidade ótima e no peso específico (FIGURA 1b). Após cada molhagem e secagem,
aparente seco máximo determinados nos ensaios novamente foram determinadas as medidas de
de compactação, nas dimensões 10 x 13 cm. massa, altura e diâmetro dos CPs. Todo o
Então, os corpos de prova foram mantidos em procedimento foi então repetido 12 vezes.
câmara úmida por 7 dias a 97% de umidade Para o ensaio de determinação da resistência
relativa do ar e temperatura de 22,5°C, à compressão simples (RCS), outro grupo de
aproximadamente. corpos de prova foi moldado e curado nas
Inicialmente, os CPs foram submergidos em mesmas condições que os do ensaios de
água durante 5 h (FIGURA 1a), sendo que após durabilidade conforme orientações das normas
esse período de imersão, foram medidas as ME 202 (DNER, 1994b). O ensaio de
massas de todos eles e a alturas e diâmetro do CP compressão simples seguiu as recomendações da
1. Em seguida, conforme a norma, eles foram norma ME 201 (DNER, 1994c), a qual
levados para a estufa a 70°C onde ficariam por determina que os CPs devem ser submetidos a
42h. Por conter o fosfogesso, adotaram-se imersão durante 4 horas antes da ruptura. Esse
temperaturas abaixo de 70°C durante a secagem método também está previsto na norma ET 35
para evitar que acorram alterações químicas. (ABCP, 2004) como critério de dosagem de
misturas de solo-cimento.

3 RESULTADOS

3.1 Caracterização e Compactação

Os dados de caracterização do solo estão


apresentados nas Tabela 2. Pela análise
granulométrica é possível observar a existência
de agregações estáveis na presença de água pela
diferença nas frações finas, essa característica é
típica de solos tropicais lateríticos, que
(a) (b)
apresentam partículas de argila agregadas
durante o processo de laterização que
Figura 1. Ensaio de durabilidade: (a) Corpos de prova em
imersão; (b) Escovação do corpo de prova.
permanecem estáveis na presença de água. O
solo estudado foi classificado como ML (SUCS)
Para avaliação da variação volumétrica e de e A-4 (TRB). Quanto aos demais parâmetros de
umidade foi utilizado o CP 1, enquanto que, a caracterização, os valores obtidos são
perda de massa utilizou-se do CP 2 que fora semelhantes àqueles encontrados por Alves
submetido aos mesmos 12 ciclos acrescentado o (2015) para o solo da mesma jazida.
procedimento de escovação após cada secagem Paras as misturas fez-se o ensaio de
determinação da massa específica dos sólidos
Tabela 2. Caracterização do solo.
% % areia % areia % areia
Partícula Pedregulho % silte % argila
grossa média fina
Granulometria Sem defloculante. 0,2 1,09 3,71 58,56 29,09 7,34
Com defloculante 0,2 1,01 3,73 38,69 25,14 31,23
Nesta pesquisa Alves (2015)
Limite de liquidez (%) 39 38
Limite de plasticidade (%) 30 27
Índice de plasticidade (%) 9 11
Massa específica dos sólidos (g/cm³) 2,664 2,822
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pela mesma metodologia do solo resultando em solo, verifica-se aumento no valor da umidade
2,589g/cm³ para a amostra A, com 11% de HH e ótima e redução no peso específico aparente seco
2,715 g/cm³ para a amostra B, com 41% de HH. máximo. Também observa-se que o teor de
Esses valores mostram que o teor de HH gera fosfogesso atua reduzindo o peso específico
aumento na massa específica, da mesma forma aparente seco máximo e aumentando a umidade
que em estudos anteriores utilizando ótima, devido ao processo de reidratação do HH
pentapicnômetro de gás hélio (Pentapyc 5200e – que requer maior umidade. Com o aumento do
Automatic Density Analyser), Silva et al. (2013) tempo de cura nas misturas, é possível observar
obtiveram 2,475 g/cm³ para a amostra A e Alves uma queda da densidade máxima do material e
(2015) obteve 2,682 g/cm³ para amostra B. variação na umidade ótima de compactação. Os
Na Tabela 3 estão apresentados os valores de valores obtidos estão próximos aos apresentados
umidade ótima e peso específico aparente seco em estudos anteriores feitos por outros autores
máximo do solo e das misturas. Comparando os com as mesmas misturas.
parâmetros de compactação das misturas com o

Tabela 3. Valores encontrados de umidade ótima (wot) e peso específico aparente seco máximo (γdmáx) e comparações
com outros trabalhos
Nesta pesquisa Literatura
Amostra wot wot
γdmáx (kN/m³) γdmáx (kN/m³)
(%) (%)
Solo 24,30 15,35 21,80* 15,63*
A (5 min) 22,26 15,37 20,90** 15,20**
(25 min) 24,84 15,00
(5 min) 27,40 14,82 23,85* 15,21*
B (25 min) 26,56 14,60 23,96* 14,81*
Obs.: *Alves (2015); **Silva et al. (2013) onde a compactação feita após o umedecimento sem controle do tempo e
umidade determinada a 105°C.
termos de durabilidade. A norma ET 35 (ABCP,
3.2 Durabilidade 2004) especifica valores de até 14% a depender
da classificação do material, sendo que para
Na moldagem dos CPs para os ensaios de solos A-4 o máximo admitido é de 10%, mas
durabilidade adotou-se a média das umidades como essa norma não contempla as
ótimas obtidas nos ensaios de compactação classificações próprias para solo tropical. Além
miniatura com 5 e 25 minutos, uma vez que as disso, nas misturas estudadas existe fosfogesso.
amostras foram moldadas em dimensões maiores Sendo assim, entende-se que esse valor limite
e o processo de umedecimento e compactação não pode ser considerado para as amostras em
ficou compreendido nesse intervalo de tempo. questão. Os resultados de perda de massa estão
Os parâmetros de compactação definidos, o grau apresentados na Figura 2a.
de compactação (GC) e a umidade obtidos estão
apresentados na Tabela 4, em que se percebe Tabela 4. Parâmetros da compactação dos corpos de prova
maior dificuldade nos ajustes de umidade na utilizados nos ensaios de durabilidade.
Amostra B, onde há maior quantidade de A B
Amostra
80S-11HH-9C 50S-41HH-9C
fosfogesso.
A perda de massa das Amostras A e B wot (%) 23,55 26,98
γd máx (kN/m3) 15,19 14,71
submetidas a ciclos de molhagem e secagem e
escovação, apresentram valores acumulados de Corpo de Prova CP1 CP2 CP1 CP2
16% e 14%, respectivamente. Esse resultado w obtida (%) 25,17 25,36 23,42 23,83
mostra que maiores teores de fosfogesso HH Variação wot (%) +1,20 +0,60 -3,56 -3,15
melhoram o comportamento da mistura em γd obtido (kN/m3) 15,04 15,01 14,70 14,51
GC (%) 99,0 98,8 99,9 98,7
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dos 12 ciclos. Para amostras com 20% de GHH


Perda de massa acumulada (a) a perda de massa foi reduzida a menos da
20%
metade. A menor perda de massa foi obtida em
16% amostra contendo 20% GHH e 5% cimento, cujo
16% Amostra A 14% valor aproximado da perda foi de 10%. Os
12% Amostra B autores concluiram que o acréscimo de GHH
8% gera redução da perda de massa, da mesma forma
4% que os ensaios executados nesta pesquisa.
0% Observou-se que no CP 1 da Amostra B
-4% houve deterioração incomum. Assim sendo, os
-8%
resultados obtidos a partir do oitavo ciclo foram
0 1 desconsiderados nas análises de variação
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 volmétrica e absorção de umidade. Analisado a
Nº de ciclos variação volumétrica nos ciclos de molhagem e
Variação volumétrica (b)
secagem, verificou-se oscilação na Amostra A
de -1,7% a +1,6% e para amostra B de -4,4% a +
8%
Amostra A 6,1% (FIGURA 2b). Comparando os
6%
comportamentos da variação volumétrica e de
4%
Amostra B
umidade (FIGURA 2c) das duas amostras
2% observou-se maior constância na Amostra A.
0%
Outros estudos contendo GHH observaram
variação volumétrica insignificante, da ordem de
-2%
apenas 1% (AHMED e UGAI, 2011, KAMEI et
-4% al., 2012 e KAMEI et al., 2013), sendo que os
-6% autores não observaram influência do teor de
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 GHH na variação volumétrica. A maior variação
N° de ciclos volumétrica presente na Amostra B desta
(c) pesquisa pode ser justificada por alguma
Absorção de Umidade
deficiência na moldagem e pode não ter relação
35%
com o teor de HH.
30%
Amostra A

25% Amostra B 3.3 Resistência à Compressão Simples


20%
Quanto aos parâmetros de moldagem para a
15%
determinação da RCS (Tabela 5), da mesma
10% forma que os CPs da durabilidade, verificou-se
5% maior dificuldade nos ajustes de umidade quanto
0% maior era a quantidade de fosfogesso existente
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 na mistura. Observa-se que os valores de
N° de ciclos resistência após a imersão dos CPs da Amostra
Figura 2. Resultados do ensaio de durabilidade: (a) Perda A foram próximos, enquanto os da Amostra B
massa acumludada; (b) Variação volumétrica; (c) apresentaram valores variáveis, o que pode ser
Absorção de umidade.
devido a variação da umidade de compactação.
Os resultados dos ensaios estão na Tabela 5,
Ahmed e Ugai (2011) estudaram amostras de onde é possível observar resistência maior para a
um solo arenoso, gesso reciclado (GHH) e Amostra B, com 41% de HH, mostrando maior
cimento. Em amostras contendo 10% de GHH e estabilidade frente a ação na água na cura e
5% de cimento, os autores relatam que a perda imersão com o teor de HH. A menor resistência
de massa foi de aproximadamente 40% ao final
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Tabela 5. Dados do ensaio de Resistência à compressão simples.


Amostra A B
Corpo de Prova 1 2 3 1 2 3
w moldagem (%) 24,75 24,73 24,6 27,66 28,82 30,00
Variação wot (%) 1,20 1,18 1,05 0,68 1,84 3,02
γd moldagem (kN/m ) 3
15,06 14,87 14,80 14,64 14,38 14,27
GC (%) 99,1 97,9 97,4 99,5 97,8 97,0
RCS aos 7 dias (MPa) 0,388 0,396 0,323 1,161 0,800 1,047
média RCS aos 7 dias (MPa) 0,369 1,003

na Amostra A também pode estar relacionada ao resistência e que o teor de HH aumenta a


teor de solo uma vez que o solo por si só não tem resistência.
estabilidade frente ação da água, como mostrado Em estudos submetendo amostras à cura
por Alves (2015) em ensaios de desagregação. úmida e imersão, Ahmed e Ugai (2011)
Outros autores analisaram a resistência em obtiveram tensões em torno de 0,3 MPa com
amostras semelhantes, porém com cura selada, 10% de GHH e 0,9 MPa com 20% de GHH em
sem utilizar câmara úmida. Rezende et al. (2016) amostras de solo e 2,5% de cimento. Kamei et al.
obteviveram tensões de ruptura aos 7 dias de 3,2 (2013) obtiveram tensões de 0,1 e 0,25 MPa para
MPa para a amostra Amostra A contendo HH e, amostras com 10% e 40% de GHH,
aos 28 dias, 6,6 MPa. Alves (2015) obteve, aos respectivamente, em amostras de solo com 10%
28 dias, tensões de 5,3 a 7,8 MPa para a amostra de cimento. Os autores também observaram o
Amostra B com 41% de HH. Comparando os aumento de resistência com o teor de GHH e
resultados deste artigo com os estudos obtiveram valores próximos dos encontrados
apresentados, observa-se que a cura úmida e a nesta pesquisa.
imersão geram valores mais baixos de resistência Durante a realização dos ensaios, foram
e que o teor de HH aumenta a resistência. observadas trincas nos CPs da amostra A como
Em estudos submetendo amostras à cura mostra a Figura 3. Foram medidas as dimensões
úmida e imersão, Ahmed e Ugai (2011) após os 7 dias, para determinação da variação
obtiveram tensões em torno de 0,3 MPa com volumétrica verificando que houve expansão
10% de GHH e 0,9 MPa com 20% de GHH em média de 13,1% e 5,3% para as amostras A e B,
amostras de solo e 2,5% de cimento. Kamei et al. respectivamente. Determinou-se a umidade após
(2013) obtiveram tensões de 0,1 e 0,25 MPa para a ruptura para obter a absorção de água durante
amostras com 10% e 40% de GHH, a cura úmida. O ganho médio de umidade obtido
respectivamente, em amostras de solo com 10% em relação aos teores de moldagem foi de 11,6%
de cimento. Os autores também observaram o e 5,2% nas amostras A e B, respectivamente,
aumento de resistência com o teor de GHH e mostrando que o teor de HH reduz a umidade
obtiveram valores próximos dos encontrados retida, o que também pode ser verificado na
nesta pesquisa. variação de umidade durante o ensaio de
Outros autores analisaram a resistência em durabilidade (FIGURA 2c).
amostras semelhantes, porém com cura selada, Dentre as reações envolvidas com umidade
sem utilizar câmara úmida. Rezende et al. (2016) estão a reidratação do HH em contato com água
obteviveram tensões de ruptura aos 7 dias de 3,2 e as reações de hidratação do cimento resultando
MPa para a Amostra A contendo HH e ,aos 28 em compostos pozolânicos que conferem
dias, 6,6 MPa. Alves (2015) obteve aos 28 dias resistência e durabilidade. Também é possível
tensões de 5,3 a 7,8 MPa para a Amostra B com que a expansão seja relacionada aos minerais
41% de HH. Comparando os resultados deste formados nesses processos conforme discutido a
artigo com esses autores, observa-se que a cura seguir ou a argilominerais expansivos presentes
úmida e aimersão geram valores mais baixos de no próprio solo. Além das reações químicas, o
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ganho de umidade pode resultar em redução da resistência mínima de 2,1 MPa aos 7 dias de cura
sucção e, consequentemente, na coesão entre as e após imersão. As normas de dosagem são
partículas, fato que reduz a resistência. utilizadas para determinação do teor ideal de
cimento que resulte na resistência requerida, sem
considerar outros critérios indicadores de
viabilidade do emprego em camada de
pavimento. Como o teor de cimento foi fixado, é
possível apenas a verificação da influência do
teor de fosfogesso, sendo que para atestar a
viabilidade técnica se faz necessária a análise de
outros parâmetros, como por exemplo o Módulo
Resiliente.

Amostra A topo Amostra B topo


4 CONCLUSÕES

Com os resultados obtidos nesta pesquisa pode-


se concluir que:
 Os resultados se mostraram compatíveis com
os estudos anteriores;
 As características de umidade ótima e peso
específico aparente seco máximo variam de
acordo com o tempo de umedecimento da
mistura composta por solo tropical,
fosfogesso e cimento antes da compactação.
Amostra A lateral Amostra B lateral Essa constatação está de acordo com estudos
Figura 3. Aspecto dos corpos de prova após 7 dias de cura anteriores e se torna um parâmetro importante
em câmara úmida e imersão por 4 horas. de se avaliar no processo de compactação em
campo;
Alguns estudos identificaram a presença de  A Amostra B, composta de 41% de
carbonatos de cálcio, etringita e gipsita em
fosfogesso HH, apresentou melhor
misturas com fosfogesso por meio da realização
de ensaios de Difração de Raios-X. Alves (2015) durabilidade do que a Amostra A, com 11%
identificou que as fases do sulfato de cálcio de fosfogesso em termos de perda de massa.
obtidas no tratamento térmico, anidrita e Quanto ao critério da resistência à
bassanita, reidratam formando gipsita compressão simples aos 7 dias após a
ocasionando crescimento dos cristais imersão, a Amostra B também mostrou
observáveis com auxílio de imagens obtidas por melhor comportamento mecânico.
meio do Microscópio Eletrônico de Varredura Comparando com outros estudos percebe-se
(MEV). A autora observou também que que a cura úmida e imersão gera resistências
expansão elevada está relacionada a queda na mais baixas, porém não é possível relacionar
capacidade de suporte por meio de ensaio Mini- a queda diretamente a reidratação do HH, de
CBR. Apesar da reidratação a autora observou forma o teor de 41% de HH obteve melhor
que o composto reidratado tem comportamento
comportamento mecânico mediante a ação da
melhor que o DH em termos de resistência e
água.
expansão.
A norma NBR 12253 (ABNT, 2012)  Apesar das amostras pesquisadas não
determina a aceitação da amostra que apresente atenderem os critérios das normas de solo-
cimento, outros estudos têm verificado a
viabilidade de emprego dessas misturas em
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camadas de base de pavimento. Portanto, Ambiental, Universidade Federal de Goiás, Goiânia,


Goiás, 2015.
considerar isoladamente os critérios fixados
ASTM. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
para solo-cimento nas normas vigentes não é MATERIALS. D 559: Standard Test Methods for
adequado para as misturas estudadas de solo Wetting and Drying Compacted Soil-Cement
tropical, fosfogesso hemidratado e cimento, Mixtures, EUA, 2015.
DNER. DEPARTAMENTO NACIONAL DE
uma vez que as metodologias utilizadas não ESTRADAS DE RODAGEM. ME-228: Solos –
se destinam a esses materiais. compactação em equipamento miniatura. Rio de
Janeiro, 1994a, 14p.
Para estudos futuros, recomenda-se a DNER. . ME 202: Solo-cimento – moldagem e cura
realização de ensaios complementares para de corpos de prova cilíndricos, MT, 1994b, 7p.
analisar a influência do processo de DNER. . ME 201: Solo-cimento – compressão axial
de corpos de prova cilíndricos, MT, 1994c, 4p.
umedecimento e secagem nas reações entre os Kamei, T.; Ahmed, A.; Shibi, T. (2012). The use of
materiais, como por exemplo microscopia recycled bassanite and coal ash to enhance the strength
eletrônica de varredura e difração de raios-X, of very soft clay in dry and wet environmental
além de ensaios para determinação do módulo de conditions, Construction and building materials, 12f,
resiliência. 2012.
Kamei, T.; Ahmed, A. e Ugai, K. (2013). Durability of
soft clay soil stabilized with recycled Bassanite and
furnace cement mixtures. Soils and Foundations, 53,
AGRADECIMENTOS p 155- 165. 2013.
Rezende, L. R.; Curado, T. S.; Silva, M. V.;
Os autores agradecem à CMOC International Mascarenha, M. M. A.; Metogo, D. A. N.; Neto, M.
P. C. e Bernucci, L. L. B. (2016). Laboratory
Brasil, ao CNPq e à CAPES pelo apoio no Study of Phosphogypsum, Stabilizers, and Tropical
desenvolvimento da pesquisa. Soil Mixtures, Journal of Materials in Civil
Engineering, DOI:10.1061/(ASCE)MT.1943-5533.
2016.
REFERÊNCIAS Silva, M.V.; Curado, T.S.; Rezende, L.R. e
Moura, E. (2013). Estudo Laboratorial de Misturas de
Solo Tropical, Estabilizantes Químicos e Fosfogesso
AHMED, A.; Ugai, K. (2011). Environmental effects on
Anidro. 13p. In: 42ª Reunião Anual de Pavimentação,
durability of soil stabilized with recycled gypsum.
16º Encontro Nacional de Conservação Rodoviária,
Cold Regions Science and Technology, 66, p. 84–92,
Gramado. Anais... Gramado: ABDER/ABPV, 2013.
2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO
PORTLAND (ABCP). ET-35: Dosagem das misturas
de solo-cimento; normas de dosagem e métodos de
ensaios. 3.ed. atual. Revisada pelo Eng. Márcio Rocha
Pitta. São Paulo, 2004. 57p.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da
massa específica, da massa específica aparente e da
absorção de água. Rio de Janeiro, 2016d, 10 p.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do limite
de liquidez. Rio de Janeiro, 2016b, 5 p.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016c, 3 p.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise Granulométrica.
Rio de Janeiro, 2016a, 12 p.
ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 12253: Solo-cimento – Dosagem para
emprego. Rio de Janeiro, 2012, 4p.
Alves, K.C.S.K. (2015). Estudo do fosfogesso tratado
termicamente e de suas misturas com solo tropical.
Dissertação (Mestrado em Geotecnia, Estruturas e
Construção Civil) - Escola de Engenharia Civil e
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
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Análise de Quebra de Grãos em Rejeito Areno-Siltoso Submetido


à Ensaio de Adensamento
Thainá Pölzl
UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, thainapolzl@poli.ufrj.br

Ana Cláudia de Mattos Telles


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, anac.telles@poli.ufrj.br

Juliana Santos Fabre


COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, juliana.fabre@coc.ufrj.br

Leonardo De Bona Becker


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, leonardobecker@poli.ufrj.br

Maria Claudia Barbosa


COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mclaudia@coc.ufrj.br

RESUMO: No trabalho de Silva (2017) constatou-se uma possível quebra de grãos em rejeito arenoso
de minério de ferro proveniente da Barragem do Fundão, em Mariana/MG, que se rompeu em 2015.
Com o objetivo de verificar a existência desse fenômeno foram realizados ensaios de adensamento
convencionais segundo a NBR 12007 (ABNT, 1990) e também ensaios de adensamento rápido, em
corpos de prova formados pelo rejeito da barragem, variando o teor de finos e as tensões aplicadas.
Por fim, foram determinados os índices de quebra relativa, Br, proposto por Hardin (1985), com o
objetivo de avaliar o potencial de quebra e o comportamento do material. Os resultados indicaram
que as porcentagens de quebra foram baixas para tensões de até 1.600kPa, que o maior valor de Br
ocorre para a fração com 50% de finos e que, para o rejeito natural com 34% de finos, a quebra de
grãos se inicia no intervalo entre 400 e 800 kPa.

PALAVRAS – CHAVE: Quebra de Grãos, Rejeito Arenoso, Adensamento.

1 INTRODUÇÃO Evidências experimentais apontam também


para o crescimento da quebra com o aumento do
A quebra de grãos consiste na ruptura de diâmetro das partículas (GERSCOVICH, 2010).
partículas de solo quando submetidas a Sabe-se ainda que muitas aplicações da
determinada tensão, modificando assim a engenharia geotécnica podem submeter o solo a
granulometria original do material.Essa cisalhamento e tensões normais bastante altas,
fragmentação em associação com o movimento especialmente barragens de rejeito de grande
relativo dos grãos são os principais responsáveis altura. Desse modo, esse fator se torna
pela deformação do solo. importantejá que pode ser responsável pela
Esse fenômeno costuma ocorrer em materiais alteraçãodo comportamento e das características
grosseiros e segundo Hardin (1985) depende de de um solo.
uma série de fatores: distribuição A quebra pode aumentar a compressibilidade,
granulométrica, dureza e formato das partículas diminuir a condutividade hidráulica e pode
que constituem o solo. também modificar parâmetros de resistência do
solo e a forma da envoltória de ruptura, que pode
se apresentar de maneira não-linear
(SADREKARIMI & OLSON, 2010).
O mecanismo da quebra já foi estudado em
solos por autores como Hardin (1985), Coop et
al. (2004) e Afsharet al. (2017). No entanto, o
comportamento de um rejeito quanto a esse
evento ainda não foi amplamente analisado, o
que motivou a realização de ensaios para avaliar
e quantificar a quebra de grãos ao ser alterada a
sua fração de finos (FC) e ao ser submetido a
diversas tensões de compressão. O estudo de
diferentes teores de finos é importante porque o Figura 1. Posicionamento dos Diques na Barragem do
Fundão em 2012 (REZENDE, 2013)
processo de produção do rejeito é variável e afeta
as proporções de cada fração granulométrica.
Partindo-se do pressuposto que durante o
processo de adensamento o rejeito tem 3 METODOLOGIA DE ENSAIOS
comportamento similar a um solo, pode-se
analisá-lo por meio de ensaios de compressão 3.1 Ensaio de Caracterização
edométrica (RAFAEL, 2012). Devido à alta
permeabilidade do rejeito, optou-se por utilizar Com o objetivo de caracterizar o rejeito foram
uma metodologia denominada de Adensamento realizados ensaios de granulometria e ensaios
Rápido, em que o solo seco é submetido à cargas para determinar a densidade relativa dos grãos
com estágios de 10 min até se chegar a tensão (Gs) para diversas frações de finos. Os métodos
final de ensaio. Esse método propiciou menores utilizados estão de acordo com as normas NBR
desvios e erros no índice Br quando comparado 7181:2016 (ABNT, 2016) e NBR 6508:1984
com o ensaio de adensamento convencional. (ABNT, 1984), respectivamente. Não foram
determinados os Limites de Atterberg, já que o
rejeito não apresentava características plásticas.
2 MATERIAL DE ESTUDO Antes da realização dos ensaios, o rejeito foi
destorroado, quarteado em amostras
O material estudado consiste em rejeitos de homogêneas com a ajuda de um quarteador tipo
minério de ferro provenientes da Barragem do Jones e seco em estufa, conforme a NBR
Fundão, em Mariana-MG, que se rompeu em 6457:1984 (ABNT, 1986).
novembro de 2015. A barragem era responsável
tanto pelo armazenamento de rejeito "arenoso" 3.2 Ensaio de Adensamento Convencional
como de rejeito "fino", também chamado de
"lama". Ambos eram gerados através dos Foram realizados ensaios de compressão
processos de beneficiamento de minério. edométrica de acordo com a norma NBR 12007
O rejeito utilizado neste trabalho consiste (ABNT, 1990), com o objetivo de avaliar o
apenas na parte do material que era disposta no comportamento do rejeito quando comprimido
Dique 1, cuja altura final prevista seria de 130m pela ação do peso de novas camadas de material
(Figura 1). A coleta foi realizada por membros que se depositam sobre ele. Os dois corpos de
da mineradora Samarco Mineração S.A em 2013 prova ensaiados continham 34% (rejeito natural)
e, logo após, o rejeito foi transportado e e 50% de finos, respectivamente. Esses foram
armazenado no laboratório de Geotecnia da submetidos à estágios de carregamento de 6,25;
COPPE/UFRJ, onde serviu de base para os 12,5; 25; 50; 100; 200; 400; 800; 1600 kPa, com
trabalhos de Flórez (2015), Telles (2017) e Silva duração de 24h cada.
(2017). O procedimento padrão de adensamento gerou
maiores erros na determinação da quebra de
grãos porque o ensaio é feito com o corpo de
prova inundado. Logo, após a realização do  Pesar o conjunto pedra porosa, papel filtro e
ensaio seria necessária a retirada do corpo de anel de adensamento (o anel já deve ficar
prova da célula através de lavagem com posterior centralizado);
secagem em estufa, processos esses que  Homogeneizar o solo previamente peneirado;
acarretam perda de partículas. Além disto,  Moldar o corpo de prova dentro do anel (foi
percebeu-se, devido à elevada permeabilidade do criado um funil que pudesse produzir índices
rejeito, que a maior parte dos recalques ocorre de vazios próximos à 0,96, como mostrado na
nos primeiros minutos. Por isso, optou-se por Figura 2);
realizar o adensamento rápido, no qual aguarda-  Rasar o anel com o auxílio da espátula de
se 10 minutos antes de aplicar a etapa de modo a retirar o excesso de solo (Figura 2);
carregamento seguinte.

3.3 Ensaio de Adensamento Rápido

Foram realizados ensaios de adensamento rápido


no rejeito variando sua fração de finos (0, 20, 34,
50 e 70%) para observar como a quebra é afetada
pela granulometria inicial do material. Os
estágios de carregamento utilizado foram de 12,5
kPa, 25 kPa, 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa, 400 kPa,
800 kPa, 1600 kPa e 3200 kPa. Figura 2. Moldagem do Corpo de Prova
Posteriormente, com o objetivo de determinar
a tensão em que a quebra de grãos começa a ser  Com a ajuda do pincel, retirar o solo que ficou
evidenciada, e para avaliar o seu retido no conjunto;
desenvolvimento de acordo com o aumento das  Pesar o conjunto pedra porosa, papel filtro,
cargas, foram realizados ensaios de adensamento anel de adensamento e solo;
rápido em corpos de prova com 34% e 50%  Com a diferença entre os pesos do conjunto
variando as tensões finais.
antes e depois, calcular o índice de vazios
Por não haver um procedimento normalizado
inicial de ensaio através da fórmula abaixo.
para o ensaio em questão, está indicada a seguir
a metodologia completa do ensaio de
𝑉×𝐺𝑠
adensamento rápido. 𝑒= −1 (1)
𝑃

3.3.1 Preparação No qual:


V é o volume interno do anel;
 Separar uma determinada quantidade de solo Gs é a densidade real dos sólidos
previamente destorroada e quarteada de P é o peso do rejeito contido no anel (diferença
acordo com o índice de vazios que se deseja de peso do conjunto antes e depois)
atingir (no caso deste ensaio foi utilizado  Colocar o conjunto dentro da célula com
aproximadamente 65g de solo já cuidado de modo a não deixar variar o índice
contabilizando possíveis perdas); de vazios;
 Realizar peneiramento fino dessa amostra de  Fechar a célula e colocar o cabeçote (Figura
solo e anotar os resultados para posterior 3);
determinação da quebra (as peneiras
utilizadas são as de nº 20, 30, 40, 60, 100 e
200).

3.3.2 Moldagem
Figura 3 - Corpo de prova na célula

 Colocar a célula de adensamento na prensa e


nivelar. Figura 4. Definição de quebra relativa – (HARDIN, 1985
adaptado por COOP et al., 2004 e citado em SILVA,
2017)
3.3.3 Execução

Devido à grande tensão necessária para romper


 Realizar a leitura inicial no extensômetro; partículas menores como o silte e argila, apenas
 Aplicar a carga e fazer a leitura das alturas
as frações granulométricas com diâmetro maior
antes da aplicação da carga e após 10 min
(este tempo foi suficiente para que não que 0,075mm foram consideradas no cálculo do
houvesse mais variação na altura das Br. Sendo assim, para analisar a mudança na
amostras); curva devido à quebra, os rejeitos utilizados
 Aplicar a nova carga até chegar ao como corpos de prova no adensamento rápido
carregamento final desejado; foram submetidos ao peneiramento fino antes e
 Após o término do ensaio, retirar o rejeito da depois do ensaio, não sendo necessária a
célula e realizar novamente o peneiramento repetição da sedimentação.tm
fino a fim de quantificar a quebra.

3.4 Quebra de Grãos e Determinação de Br


4 RESULTADOS E ANÁLISES

O método utilizado neste artigo para analisar a


4.1 Ensaios de Caracterização
quebra de grãos foi o proposto por Hardin (1985)
e adotado também por Sadrekarimi&Olson
(2010), no qual são definidos os índices Bp, Bt e A curva granulométrica do rejeito natural
Br, sendo o último o parâmetro utilizado para a encontra-se na Figura 5. Pode-se verificar que o
quantificação da quebra. Segundo essa material é formado por 1% de Argila, 25% de
Silte e 74% de Areia (Tabela 1).
abordagem, os índices de quebra são calculados
Ao se obter os valores da porcentagem de finos
a partir da mudança na curva granulométrica
(FC), do coeficiente de não-uniformidade (CNU)
após a aplicação da tensão no rejeito. Se houver e do coeficiente de curvatura (CC) encontrados
quebra, a curva tenderá a se elevar e através da na Tabela 2, pôde-se determinar que o rejeito é
diferença de áreas entre a curva inicial e a final classificado como areno-siltoso (SM) pelo
podem ser calculados os índices que quantificam Sistema Unificado de Classificação de Solos.
a quebra (Figura 4).
existem óxidos de ferro com densidades maiores
que a da sílica.
No trabalho de Silva (2017), a densidade da
fração de 50% de finos e das demais frações foi
determinada através da média ponderada entre o
Gs das frações de 0% e 100%, o que se apresenta
razoável, visto que ao se fazer a ponderação dos
resultados, chegou-se a valores muito próximos
aos encontrados nos ensaios, sem erros
significantes. Para a fração de 50%, por
exemplo, o valor de Gs encontrado por média
ponderada é de 2,89, que foi o mesmo resultado
Figura 5. Curva Granulométrica do Rejeito Natural do ensaio. Dessa maneira, foi utilizada a
ponderação para calcular o Gs do rejeito com as
Tabela 1 – Composição Granulométrica do material demais frações de finos utilizadas neste trabalho
Composição Granulométrica (%) (Escala ABNT) que foram as de 20% e 70%.
Areia
Argila Silte Pedregulho
Fina Média Grossa 4.2 Adensamento Convencional
1 25 62 12 0 0
Encontram-se nas figuras 6 e 7 os gráficos
Tabela 2 – Resultado da análise granulométrica obtidos nos ensaios para os corpos de prova com
34% e 50% de finos, respectivamente. Para o
Resultados obtidos pela curva
primeiro, o índice de vazios inicial foi de 0,92 e,
FC (%) 34,31
para o segundo de 1,00. Os valores de índices de
D50 (mm) 0,09 compressão virgem (Cc) e descompressão (Cs)
CNU 3,53 estão na tabela 4.Tendo em vista que o gráfico de
CC 1,04 compressão virgem é acentuadamente não linear
foram calculados dois valores de CC: um para o
Foi determinado o Gs para a amostra em seu intervalo 6,25 a 100kPa e outro para o intervalo
estado natural com 34% de finos e para amostras 100 a 1600kPa. Ressalta-se que para
com frações de 0 %, 50 % e 100 %, considerando quantificar a quebra de grãos este ensaio não foi
material fino como aquele que passa na peneira utilizado, devido à erros e desvios.
#200. Foram obtidos os seguintes resultados que
se encontram na Tabela 3.

Tabela 3– Densidade dos grãos para diferentes teores de


finos
Densidade Relativa dos Grãos (Gs)
0% 2,69
34% (Natural) 2,81
50% 2,89
100% 3,09

Pode-se observar que, ao aumentar a fração de


Figura 6.Gráfico Índice de Vazios x Tensão vertical
finos, aumenta-se também o valor encontrado (kPa), FC=34%, e = 0,92
para Gs, o que já era esperado. Isso ocorre porque
a fração grossa do rejeito apresenta o quartzo
como principal constituinte e na fração fina
esse ponto, a quebra decresce. Pode-se verificar
que o rejeito não se comporta exatamente como
um solo, no qual o crescimento das partículas de
diâmetro maior levaria a uma maior quebra de
grãos. Uma hipótese para explicar o ocorrido é
que no rejeito existe uma diferença muito grande
na composição e resistência das partículas finas
e grossas. As primeiras são constituídas por
óxidos de ferro e as segundas tem como principal
elemento o quartzo.
A relação entre o índice de quebra relativa e a
Figura 7. Gráfico Índice de Vazios x Tensão vertical tensão final aplicada no corpo de prova de 34%
(kPa), FC=50%, e = 1,00
de finos encontra-se na figura 9.

Tabela 4:Índices de Compressão e de Descompressão


para os CPs ensaiados
Índice de Índice de
Compressão Compressão Índice de
FC
(Cc) (Cc) Descompressão
(%) 6,25 à 100 100 à 1600 (Cs)
kPa kPa
34% 0,031 0,096 0,017
50% 0,039 0,069 0,015

4.3 Quebra de Grãos Figura 9 – Gráfico Índice de quebra relativa (Br) x


Tensão máxima aplicada do adensamento (kPa) FC34%
A figura 8 apresenta a relação entre o índice de
quebra Br e a fração de finos no corpo de prova. O gráfico mostra que a quebra começa a
ocorrer após a tensão de 400 kPa. Além disso,
pode-se verificar que ao aumentarmos a carga de
ensaio significativamente, o índice Br pouco se
modifica após a tensão de 800kPa.
A mesma análise foi realizada para a fração de
50% de finos e o resultado encontra-se na figura
10.

Figura 8 - Gráfico Índice de Quebra Relativa (Br) x


Fração de Finos (FC)

Os valores obtidos mostram resultados muito


baixos para quebra. Porém eles apontam um
crescimento inicial da quebra com o aumento do Figura 10 - Gráfico Índice de quebra relativa (Br) x
FC até se chegar a um ponto máximo que Tensão máxima aplicada do adensamento (kPa) FC 50%
corresponde ao rejeito com 50 % de finos e, após
Neste caso, verifica-se que a quebra só é
significativa a partir da tensão de 800 kPa. Pode-
se ver também que a tensão de 3200 kPa gerou
AGRADECIMENTOS
uma menor quebra, isso pode ter acontecido
devido a erros associados ao procedimento de Os autores agradecem ao financiamento
ensaio. Este último fator reafirma a hipótese que recebido pelo CNPQ e o apoio recebido pela
a modificação da tensão de 1600 para 3200 kPa UFRJ.
não tem um efeito significativo na quebra.

REFERÊNCIAS
5 CONCLUSÕES
Afshar, T. et al. (2017). Changes to Grain Properties due
Avaliar o comportamento do rejeito em altas to Breakage in a Sand Assembly using Synchrotron
tensões, verificando também a quebra de grãos, Tomography, Powders & Grains, v.140.
se mostrou interessante já que as tensões atuantes Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR
no Dique 1 alcançariam cerca de 2600 kPa, 6457:1984 – Amostras de solo – Preparação para
devido a altura final prevista de 130m. ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
Então, foram realizados ensaios de Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
adensamento rápido em rejeitos com cinco 6508:1984 – Grãos de solo que passam na peneira de
frações de finos diferentes e foi verificado que a 4,8 mm - Determinação da massa específica
quebra é maior para a fração de 50%, o que difere Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
do comportamento típico solos, no qual 7181:2016 – Solo – Análise Granulométrica.
materiais com grãos de diâmetro maior tendem a
ter rupturas de partículas mais elevadas como foi Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR
12007:1990 – Ensaio de adensamento unidimensional.
descrito por (GERSCOVICH, 2010). A provável
causa deste comportamento é a diferença entre Becker, L. D. B. (2017). Análises estatísticas de ensaios de
os minerais predominantes das duas frações. peneiramento com solos lateríticos para verificação de
quebra de grumos. Comunicação Pessoal,.
Verificou-se também que para o rejeito natural
(FC = 34%) a quebra começa a ocorrer a partir Coop, M. R. et al.(2004). Particle breakage during shearing
da tensão de 400 kPa e não se altera de maneira of carbonate sand, Géotechnique, v.54, n.3, p. 157-163.
significativa com o aumento da tensão até 3200 Gerscovich, D. M. S. (2010). ResistênciaaoCisalhamento,
kPa. Já para o rejeito com FC = 50%, a quebra FEUERJ – PGECIV,
começa a partir da tensão de 800 kPa.
Hardin, B.O. (1985). Crushing of soil particles,
Entretanto, como os resultados indicaram JournalofGeotechnicalEngineering, v.111, n. 10.
valores do índice Br reduzidos, conclui-se que o
rejeito foi pouco suscetível à quebra por Pinto, C. S. (2006).Curso Básico de Mecânica dos Solos
em 16 Aulas, 3ª ed., Oficina de Textos, São Paulo.
compressão unidimensional nas tensões
estudadas, tensões estas maiores que aquelas Rafael, H.M.A.M. (2012). Análise do potencial de
atuantes em campo. Cabe ressaltar, que valores liquefação de uma barragem de rejeito. Dissertação de
M.Sc., Puc-Rio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
de Br próximos a 1% são muito imprecisos, não
garantindo que realmente houve quebra. Rezende, V. A. (2013).Estudo do comportamento de
BECKER (2017) estudou a quebra de grumos barragem de rejeito arenoso alteada por montante.
Dissertação de M.Sc., NUGEO/UFOP, Ouro Preto,
de um solo laterítico e verificou que valores de MG, Brasil.
Br abaixo de 1,1% não apresentam significado
físico, podendo representar apenas a Sadrekarimi, A.; Olson, S. M. (2010). Particle damage
variabilidade inerente do procedimento de observed in ring shea rtests on sands. Can. Geotech,
v.47, p. 497-515.
execução.
Silva, C. G. C. (2017). Estudo Da Influência Do Teor De
Finos No Comportamento De Um Rejeito De Minério
De Ferro A Partir De Ensaios Edométricos. Projeto de
Graduação – POLI/UFRJ.

Tarazona, C. F. (2015).Estudo da alteração em


laboratório de rejeitos de mineração de ferro para
análise em logo prazo. Tese de D.Sc, COPPE/UFRJ,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Telles, A. C. M. (2017). Análise do comportamento de um


rejeito de minério de ferro noestado de regime
permanente. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil.
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Análise do Comportamento de uma Amostra de Solo com Adição


de Pó de Pedra
Luan Fontenelle Vieira Rodrigues
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
luanfontenelle@gmail.com

Livia Ingrid de Oliveira Costa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza, Brasil,
liviaengenhariams@gmail.com

Líris Silveira Campelo Carneiro


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Ceará, Brasil,
lirissc@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem o intuito de analisar o comportamento da mistura de solo natural de
predominância arenosa com adição de 20% de pó de pedra. Para isso, realizaram-se ensaios
laboratoriais como granulometria, densidade real, compactação e Índice de Suporte Califórnia
(ISC). Para o solo executou-se os ensaios de granulometria por peneiramento, densidade real,
compactação na energia intermediária e ISC. Já para o pó de pedra realizou-se o ensaio de
granulometria para agregados e para a amostra solo com pó de pedra o ensaio de compactação e
CBR. A mistura solo- pó de pedra apresentou umidade ótima de 7,52%, um peso específico
aparente seco máximo de 1,78 gf/cm³ e capacidade de suporte de 7,02% contra 7,56% e 1,56 gf/cm³
para a amostra de solo natural. O pó de pedra apresentou baixa melhoria na capacidade de suporte
desse solo, sendo indicada sua utilização para misturas com solos em projetos que exijam um valor
de suporte mínimo.
PALAVRAS-CHAVE: Pó de pedra, Estabilização, Solo arenoso, Comportamento.

1 INTRODUÇÃO gerados.
Além disso, segundo Valverde (2001),
O setor da construção civil embora com uma embora seja um produto de baixo valor unitário,
retração de 16,5% no ano de 2015 comparado os agregados constituem-se em um importante
ao ano anterior segundo a Pesquisa Anual da indicador da situação econômica e social.
Indústria da Construção (PAIC) e divulgada Enquanto nos Estados Unidos consomem
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e anualmente por habitante cerca de 7,5 toneladas
Estatística (IBGE), ainda tem grande de agregados e a Europa Ocidental, de 5 a 8
representatividade no PIB nacional, um toneladas por habitante por ano, no Brasil o
mercado a qual requer um número expressivo consumo se encontra um pouco acima de 2
de mão de obra, com grande consumo de toneladas. A consequência do consumo baixo
insumos e materiais, está diretamente de uma matéria prima barata, está diretamente
correlacionado a economia e desenvolvimento ligada a uma malha rodoviária que não suporta
local. Entretanto, mesmo com os incentivos de a demanda crescente, e que por consequência,
políticas públicas relacionadas a meio ambiente, os custos de transporte representam um grande
ainda tem-se um grande impacto ambiental valor significativo. O consumo da cidade mais
relacionado à produção de resíduos de desenvolvida do país, São Paulo, por exemplo,
pedreiras, sendo reconhecida a dificuldade em chega a 4,5 toneladas por habitante por ano,
se realizar a deposição correta desses resíduos enquanto que cidades como Fortaleza e
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Salvador não atingem 2 toneladas por habitante uma coesão dos seus grãos, sendo um solo
por ano. considerado estabilizado naturalmente quando a
sua granulometria obedece à curva
correspondente aos solos bem graduados.
2 ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS Esses processos podem ser classificados,
segundo Kezdi (1979) apud Nunez (1991) em
Um dos problemas enfrentados atualmente três categorias especiais: métodos mecânicos,
pelos engenheiros rodoviários é a escassez de onde processos que promovem ao solo
materiais adequados para o uso em camadas de estabilidade sem a mistura de aditivos. Assim,
base e sub-base de pavimentos, ou seja, que as propriedades do solo podem ser melhoradas
apresentem características que atendam às por compactação, drenagem e/ou pela mistura
especificações vigentes. Dessa forma, surge de diferentes tipos de solos. Métodos físicos, a
como alternativa para solucionar este problema qual reações físicas que conduzem à
a utilização de técnicas de estabilização que estabilização mudança de temperatura, a
confiram ao solo compactado a capacidade de hidratação, evaporação e adsorção, e métodos
suporte necessário a projetos de infraestrutura e químicos, quando reações químicas que
pavimentação (Araújo, 2009). proporcionam à estabilização do solo a troca de
Com denominação de estabilização de solos, íons, a precipitação, a polimerização e a
essas técnicas têm por objetivo melhorar a oxidação. Como pode ser visto também
resistência mecânica, diminuir a conforme a Figura 1:
deformabilidade e reduzir a possibilidade de
amolecimento em presença da água através da
ligação entre as partículas ou controlando a Compactação
presença da água. Os processos mais simples de Vibroflutuação
estabilização são a compactação e a drenagem, Estabilização Compactação dinâmica
Compactação com explosivos
Estabilização de Solos

outros processos consistem em melhorar a Mecânica


granulometria ou adicionar ligantes (Cardoso, Aceleração da consolidação
2016). Correções granulométricas
Segundo definição de Baptista (1976),
estabilizar um solo se trata de um processo o
qual pode ser físico, físico-químico, químico ou Eletro-osmose
Estabilização
mecânico, de modo que o solo obtenha as Física
Aquecimento
características necessárias, como resistência, Tratamento Térmico
Congelação
para suportar cargas e ações das intempéries.
Além disso, analisando em relação à construção Cimento
Estabilização Cal
rodoviária, o uso de outros materiais para
Química Betume
estabilização de camadas do pavimento e
esporadicamente o revestimento, sendo útil para
suportar as cargas dos tráfegos, gerando assim Figura 1. Métodos de estabilização de solos (Cruz e
em relação ao custo da obra e vida útil do Jalali, 2010)
pavimento mais economia.
Para Vargas (1977), estabilização de solos é Dos pontos de vista técnico e econômico,
o processo pelo qual se confere ao solo uma vários dos métodos citados podem ser
maior resistência às cargas, desgaste ou à adaptados para solucionar determinados
erosão, por meio de métodos como a adição de problemas. Em relação ao solo, os seguintes
substâncias, compactação, correção da sua fatores devem ser levados em consideração de
granulometria e plasticidade, que lhe confiram forma a selecionar o melhor método:
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propriedades do solo no estado natural, grãos médios, e os vazios desses grãos pelos
propriedades desejadas para o solo estabilizado grãos menores, reduzindo a permeabilidade,
e executados no solo após a estabilização resistência e o seu peso específico (Pinto,
(Nuñez, 1991). 2002). Alguns processos de cálculo são
dispostos para facilitar e aperfeiçoar esta
2.1 Estabilização Mecânica técnica, sendo mais utilizados o método das
tentativas, o método analítico e o de Rothfuchs.
Trata-se do método mais utilizado e mais antigo (Senço, 2007).
na construção de estradas. Por aplicação de uma Segundo Caputo (1988) um solo é
energia de compactação aplicada ao solo, considerado estabilizado naturalmente quando
diminuem-se os vazios, tornando-os mais sua curva granulométrica é similar a uma curva
resistentes aos esforços externos, alterando-se a de solos bem graduados. A relação entre as
compressibilidade e a permeabilidade, podendo frações granulométricas presentes no solo
ser realizado individualmente ou em conjunto influenciam diretamente no seu comportamento.
com outros métodos de estabilização. Este Solos com pouco finos possuem estabilidade a
método visa à melhoria das características dos partir do contato grão a grão, tem baixa
solos através da organização das suas partículas densidade, permeabilidade elevada e
sólidas e/ou recorrendo a correções da sua trabalhabilidade difícil. Os solos que possuem
composição granulométrica (Medina e Motta, finos suficientes para preencher os vazios
2005; Cruz e Jalali, 2010). apresentam alta densidade, baixa
A estabilização mecânica por compactação permeabilidade, moderada dificuldade de
refere-se ao processo de tratamento de um solo compactação e resistência ao cisalhamento
com a finalidade de minimizar sua porosidade relativamente alta. Já os solos que possuem
pela aplicação de sucessivas cargas, grande quantidade de finos possuem baixa
pressupondo que a redução de volume de vazios densidade, são considerados impermeáveis,
está diretamente relacionada ao ganho de porém com boa trabalhabilidade (Das, 1999;
resistência mecânica. (Santos et. al, 1995). Esta Pinto, 2002).
densificação é utilizada em todas as camadas do
pavimento, sejam estas estabilizadas por outro 2.2 Estabilização Física
processo ou não, e realizada por meio de
equipamento mecânico, geralmente um rolo Quando as características de estabilidade não
compactador, embora, em alguns casos, como podem ser obtidas mecanicamente, ou quando
em pequenas valetas, até soquetes manuais são necessários elevados valores da resistência e
possam ser empregados (Pinto, 2002). rigidez de um solo, é válido considerar métodos
Além disso, a estabilização mecânica por alternativos de estabilização. Neste caso
correção granulométrica engloba as melhorias recorre-se normalmente a aditivos como o
induzidas em um solo pela mistura deste com cimento ou a cal, ou a tratamentos especiais que
um ou mais solos que possibilitem a obtenção envolvam reações físicas capazes de modificar
de um novo produto com propriedades as propriedades do solo (Cristelo, 2001).
adequadas para determinados fins de engenharia Na estabilização física as propriedades dos
(Santos et. al, 1995). solos são alteradas através do uso do calor ou da
A estabilização granulométrica tem em vista aplicação de um potencial elétrico. Estes
adequar a distribuição das diversas porções de tratamentos são a estabilização térmica e a
diâmetro de partículas no solo (Wallau, 2004) estabilização por electro-osmose, que de uma
visando a melhor distribuição das porções de forma são pouco viáveis economicamente,
diferentes tamanhos, fazendo com que os vazios sendo normalmente utilizados apenas quando
dos grãos maiores sejam preenchidos com os algum tipo de dificuldade impede o uso de
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métodos mais baratos. Contudo, continuam a granulometria, origem e teor de material


ser estudados e desenvolvidos, tendo a sua pulverulento, que podem ou não constituir o pó
eficácia sido melhorada ao longo das últimas de pedra.
décadas, à medida que vão sendo cada vez mais Andriolo (2005) define pó de pedra como
conhecidos (Cristelo, 2001). sendo o material fino, com partículas de
diâmetro inferior a 0,075 mm, obtida pela
2.3 Estabilização Química britagem de rocha. Enquanto Bauer (1995) o pó
de pedra é um material mais fino que o
A estabilização química consiste na adição de pedrisco, sua graduação genérica, mas não
alguma substância química ao solo, de modo a rigorosa, é de 0 a 4,8 mm. Quando são
acarretar mudanças que venham a influenciar provenientes de rochas graníticas, geralmente
nas propriedades de resistência mecânica, apresentam forma cúbica e superfícies rugosas
permeabilidade e deformabilidade, com intuito (Neves e Silva, 2007).
de estabiliza-lo (Santos et. al, 1995). Genericamente, o processo de britagem pode
Neste tipo de estabilização ocorrem reações ser definido como um conjunto de operações
químicas modificadas através da mistura com que tem como o objetivo a fragmentação de
outros materiais, onde as partículas do solo blocos de minérios oriundos de minas, de forma
reagem com vários tipos de aditivos químicos. que produza as granulometrias compatíveis para
A estabilização química utilizada em obras de utilização direta ou para posterior
pavimentação rodoviária recorre normalmente processamento. A britagem é um estágio no
ao cimento, à cal, aos materiais betuminosos processamento de minérios, que utiliza, em
(Cristelo, 2011). sucessivas etapas, equipamentos apropriados
Ainda Cristelo (2011), o tratamento de solos para a redução de tamanhos convenientes
com estes materiais em obras de terraplenagem (Figueira et. al, 2010).
tem dois objetivos: a alteração no A obtenção do pó de pedra é realizada
comportamento do solo de modo a possibilitar a através de um conjunto de operações que
circulação de equipamentos de obra e a envolvem desde a retirada de pedra natural da
execução de terraplenagem melhorando os solos jazida até a redução para formas e tamanhos
muito úmidos, sejam eles solos “in situ” ou compatíveis para o uso e aplicação em obras de
solos a serem reutilizados, e realizar uma engenharia, como demonstrado na Figura 2.
transformação do solo original num material
nobre através da alteração permanente das suas
propriedades, gerando camadas de solo
suficientemente rígidas e estáveis às variações
hídricas, capazes de permitir o tráfego de obra e
suportar a construção das camadas superiores.

3 PÓ DE PEDRA

Segundo Duarte (2013), na bibliografia Figura 2. Fluxograma do processo produtivo (Iramina et.
encontram-se diferentes nomenclaturas para o al, 2009)
resíduo pó de pedra, como: pó de brita, areia
artificial, finos de pedreira, finos de pedra É importante esclarecer que não existe um
britada, finos de britagem e até areia clonada, processo padrão para a realização das etapas da
sendo o pó de pedra a nomenclatura mais britagem, podendo existir apenas a britagem
utilizada. Também há diferenças quanto à primária, como também a britagem secundária e
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assim sucessivamente, podendo até atingir a mais suas dimensões (Figueira et. al, 2010).
britagem quaternária. De forma geral, a britagem terciária é o
Os processos iniciais envolvem o último estágio de britagem, sendo possível
desmatamento e decapagem, basicamente a encontrar usinas com mais de três estágios de
preparação da jazida para a extração do acordo com a necessidade.
material. No processo de desmatamento e A produção de uma pedreira se divide em
decapagem do terreno é efetuada a limpeza cinco produtos, brita 3 (25,0 mm a 38,0 mm),
utilizando máquinas e caminhões com intuito de brita 2 (19,0 mm a 25,0 mm), brita 1 (9,5 mm a
remoção da camada superficial, vegetação e 19,0 mm), brita 0 (4,8 mm a 9,5 mm), e finos de
solo orgânico existente no local, sendo o solo britagem (material de dimensões inferiores a 4,8
arável aproveitado para recuperação da área mm), denominados de areia artificial ou pó de
degradada (Koppe e Costa, 2009). A fase de pedra, dentre outros nomes (Faganello, 2006). O
preparação do terreno é delicada, pois pó de pedra é resíduo de britas menores que 4,8
dependendo do modo a qual é executado pode mm, e representam, em massa, cerca de 20% do
gerar uma superfície irregular dificultando as material processado nas pedreiras (Mendes,
primeiras operações de perfuração e desmonte 1999), o que corresponde a uma geração de
(Figueira et. al, 2010). 18,62 milhões de toneladas em 2000, conforme
Após o processo de preparação, dar se início dados de Valverde (2001).
ao processo de desmonte através das Porém, o seu aproveitamento na construção é
perfurações. Segundo Koppe e Costa (2009), ainda limitado, e por esta razão os finos são
perfurações são furos realizados com estocados em pilhas nos pátios das pedreiras,
perfuratrizes rotativas na berma da bancada, que contribuindo para alteração da paisagem,
serão posteriormente carregadas com explosivos causando impactos ambientais, obstrução de
seguindo um plano de fogo. Este processo é canais de drenagem, geração de poeira nas
realizado por profissionais especializados e operações de britagem e formação de pilha
habilitados pelo Ministério do Exército, (Gonçalves, 2005). Em função da dificuldade
chamados de blasters, que realizam o em se comercializar toda a produção deste
carregamento com explosivo e posterior sua material devido à pequena procura, o pó de
detonação. A rocha desmontada é então pedra acaba sendo estocado em grandes pilhas
transportada utilizando pá carregadeiras, como em áreas adjacentes às pedreiras, trazendo
também caminhões fora de estrada, caminhões impactos ambientais como pode ser visto na
basculantes, que carregam o material da mina Tabela 1 (Faganello, 2006).
até a britagem primária.
A britagem primária possui britadores de
grande porte, com capacidade máxima de
alimentação de 1000 mm e produção de 100
mm, operando em circuito aberto, sem o
descarte da fração fina e com razão de redução
em torno de 8:1. Para esta etapa, são utilizados
britadores do tipo mandíbula, giratório, de
impacto e rolos dentados. Em seguida ao
processo de trituração da britagem primária,
ocorre a britagem secundária, onde, de forma
geral, o termo é aplicado para todo o processo
posterior à primária. Esse processo tem com
função, na maioria dos casos, a redução da
granulometria do material, diminuindo ainda
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Tabela 1. Aspectos e impactos ambientais de pedreira em conciliar a exploração e o meio ambiente.


área urbana (Bacci et. al Adaptado, 2006). Dentre os principais impactos ambientais está a
ATIVIDADES ASPECTOS IMPACTOS
poluição do ar com a produção de pó em
Riscos de danos a suspensão, a poluição das águas causadas por
construções civis,
Geração e
desconforto à drenagem de materiais finos provenientes das
propagação de minas e a poluição visual (Faganello, 2006).
população
ondas sísmicas no
terreno e no ar
vizinha, riscos de Além disso, a instalação de infraestrutura
incidentes e de antes inexistente e o baixo valor dos terrenos no
vida
entorno da mineração, aliados ao crescimento
Desconforto à
Geração de população e periférico das grandes cidades, à falta de
ruídos,fumos e riscos de planejamento urbano e à inexistência de
gases incidentes e instrumentos legais que criem uma área de
Desmonte das intoxicação proteção ao redor do sítio mineiro, faz com que
bancadas com Escorregamentos a atividade de extração mineral, antes localizada
Riscos de
detonação dos de taludes fora do em uma área isolada, passe ao longo do tempo
acidentes
explosivos setor de desmonte de sua vida útil a se inserir em um contexto de
Dimensionamento pressão urbana, onerando os custos de produção
Redução das
correto das cargas
vibrações e da e criando conflitos sociais muitas vezes de
explosivas e dos
sobrepressão solução difícil (Silva, 2005).
parâmetros do
atmosférica, não No caso de novas atividades que venham a se
plano de fogo
ocorrência de
(perfuração,
ultralançamentos,
instalar em áreas de baixa densidade
carregamento, demográfica, faz-se necessário a previsão de
diminuição dos
amarração dos
gases, além do impactos envolvendo a avaliação das possíveis
furos, limpeza da
fraturamento ideal cadeias de consequências geradas por um
face, tempos de
da rocha determinado empreendimento de mineração,
retardo, etc)
Poluição do ar e considerando-se inclusive o desenvolvimento
sonora, riscos de local futuro de forma a prevenir riscos e custos
Geração de poeira doenças
ambientais e sociais futuros (Silva, 2005).
e ruído pulmonares e
desconforto aos A grande disponibilidade de pó de pedra nas
trabalhadores pedreiras e o investimento de algumas destas na
Britagem da
rocha Riscos de Perdas de vida e melhoria das características de seus produtos,
acidentes materiais também tem contribuído, beneficiando não só
Consumo de Utilização de as próprias pedreiras e centrais dosadoras de
energia recursos naturais
concreto, como também o próprio consumidor.
Vibração dos Perdas de
Com a aplicação deste resíduo na indústria da
equipamentos rendimento
construção, reduz-se a presença de elementos
Geração de ruído,
poeira e emissão
Poluição do ar e poluidores do ambiente, pois, geralmente este
sonora, subproduto é armazenado em pilhas de estoque
de gases
intoxicação por
produzidos pelas ao ar livre, sujeito à ação dos ventos e das
gases
Estocagem do máquinas chuvas e à liberação de material particulado
produto Contaminação das para as drenagens e corpos de água (IBRACON,
águas superficiais
Perdas de 2012).
e assoreamento de
material
córregos
próximos
4 METODOLOGIA
Com a produção de pedra britada, as
empresas enfrentam um grande desafio: Para a execução dos ensaios, realizou-se uma
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coleta de solo localizado na cidade de Fortaleza pedregulho, areia grossa e silte e argila. Com os
- CE, mais precisamente próximo à obra da valores obtidos do que ficou retido em cada
construção do Templo de Fortaleza, no bairro peneira, determina-se a curva granulométrica do
Dunas, como pode ser visto na Figura 3, a qual solo em estudo, como pode ser visto na Figura
ilustra melhor a localização de onde se procede 4.
à retirada do material.

Figura 3. Vista superior do local de coleta do solo


(Google Earth, 2017). Figura 4. Curva granulométrica da amostra de solo

Para verificar o comportamento da mistura de Nos ensaios de consistência, o solo foi


solo natural com adição de 20% de pó de pedra, classificado como NP, não plástico. Já pela
executaram-se os ensaios de compactação e classificação TRB foi denominado A – 3, tendo
ISC. Sendo realizados os ensaios de como materiais constituintes fragmentos de
granulometria, compactação e ISC somente com pedras, pedregulho fino e areia e um
o solo e o ensaio de granulometria para comportamento como subleito de excelente a
agregados para o pó de pedra. bom.
O solo possui uma porcentagem, onde mais
da metade é maior que a abertura da peneira de
5 RESULTADOS nº 40 (0,42 mm), sendo considerado solo de
granulação grossa, areia ou pedregulho (G ou S)
Com o resultado do ensaio de granulometria na classificação SUCS (Sistema Unificado de
analisou-se a composição do solo, como pode Classificação do solo). Por possuir elevada
ser visto na Tabela 2. quantidade de material menor que a peneira de
nº 10, o solo é classificado como areia, sem
Tabela 2. Resumo da granulometria
quantidade de finos representativo, é
Pedregulho ( > 4,8 mm) 2,88%
Areia Grossa
considerada como areias puras (SW ou SP).
2,09% Assim, em razão da predominância de areia
(4,8 mm – 2,0 mm)
Areia Média fina, o solo por fim é classificado como SP, a
14,68%
(2,0 mm – 0,42 mm) qual possui designação características de areias
Areia Fina mal graduadas, areias pedregulhosas, com
76,93%
(0,42 mm – 0,075 mm)
pouco ou nenhum fino.
Silte e Argila
( < 0,075 mm)
3,43% Para o ensaio de granulometria com o pó de
pedra obteve-se um módulo de finura de 2,65
tendo como classificação média. Segundo a
É notório a predominância de areia fina na
NBR 7217/87, os resultantes do peneiramento
amostra e a pouca representatividade de
da Amostra 1 e da Amostra 2 não podem diferir
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de 4% um do outro, sendo obtidos os valores e


realizado a média para a obtenção da curva
como demonstrado na Figura 5.

Figura 7. Curva de compactação do solo com acréscimo


de 20% de Pó de Pedra

Figura 5. Curva granulométrica do Pó de Pedra Assim, para a compactação somente do solo,


utilizou-se de uma umidade maior para obter
O ensaio de compactação realizado na um peso específico aparente seco máximo
energia Proctor intermediária somente da menor que o do solo acrescido do pó de pedra,
amostra de solo obteve peso específico aparente com uma diferença de 0,2389 gf/cm³ de peso
seco máximo de 1,559 gf/cm³ e uma umidade específico e 5,38% de umidade ótima. Tal
ótima de 12,9% como mostra a Figura 6. resultado pode ser explicado devido à amostra
de solo acrescido de pó de pedra possuir uma
superfície específica maior em relação à
somente da amostra sem adição. Na Figura 8,
pode ser visto a curva de compactação da
amostra com adição representada pela
nomenclatura de “Série2” e a curva de
compactação somente do solo pela
nomenclatura de “Série1”.

Figura 6. Curva de compactação do solo

Para o solo acrescido de 20% de pó de pedra,


obteve um peso específico aparente seco
máximo de 1,7676 gf/cm³ e uma umidade ótima
de 7,52%, apresentando uma umidade inferior e
um peso específico aparente seco maior em
relação ao ensaio de compactação somente do
solo, como na Figura 7. Figura 8. Comparativo entre o resultado do ensaio de
ISC.
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Passados quatro dias com as amostras Assim, para esse tipo de solo definido como
submersas, ambas não obtiveram variação da fragmentos de pedras, pedregulho fino e areia,
expansibilidade, permanecendo em 0%. Já em A – 3, segundo classificação HRB, se torna
relação à penetração, a amostra de solo obteve viável a adiçao do pó de pedra para aplicação,
7,56% como o valor do ISC. A amostra com por exemplo, em camada de subleito e reforço
20% de adição do pó obteve 7,02% como valor do subleito, segundo especificações do DNIT
do ISC, de acordo com a Figura 9. (2006) em obras de pavimentaçao.
Contribuindo, assim, com que esse rejeito tenha
uma utilizaçao sustentavel ao invés de causar
impactos ambientais quando permanecido em
estoque a céu aberto em pedreiras.
Entretanto, é necessário que os estudos
continuem pela busca por alternativas e
materiais que possibilitem o aumento da
eficiência dos solos representa grande ganho
ambiental e no âmbito da engenharia,
mostrando que a cada dia é possível a
Figura 9. Comparativo entre o resultado do ensaio de
ISC.
reutilização de materiais como forma de auxílio
nas características do solo.
Assim, ambos os valores são possíveis de
aplicação em terraplenagem, visto que segundo
o DNIT (2009), para o uso do material é AGRADECIMENTOS
necessário o material conter um ICS maior ou
igual a 2 e uma expansibilidade menor ou igual Agradecemos ao Instituto Federal de Educação,
a 4%. Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE pela
permissão para realização dos ensaios. E a todos
que estiveram envolvidos direta ou
6 CONCLUSÃO indiretamente.

Através dos ensaios realizados conclui-se que REFERÊNCIAS


para esse tipo de solo classificado como SP, que
ANDRIOLO, F. R. Usos e abusos do pó de pedra em
possui definição como sendo areias mal
diversos tipos de concreto. In: Seminário: O uso da
graduada, areias pedregulhosas, com pouco ou fração fina da britagem II SUFFIB. São Paulo, 2005.
nenhum fino, a adição de 20% de pó de pedra Anais, São Paulo, EPUSP, 2005.
promoveu um desempenho inferior relacionado ARAÚJO, A. F. Avaliação de misturas de solos
ao ensaio de Índice de Suporte Califórnia estabilizadores com cal, em pó e em pasta, para
aplicação em rodovias do Estado do Ceará. 207 f.
(CBR) quando comparado ao solo natural. Já o Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em
solo obteve um peso específico aparente seco Engenharia de Transportes, Universidade Federal do
maior e uma umidade ótima menor em relação a Ceará, Fortaleza, 2009.
mistura quando analisado a compactação. Tal BACCI, D. L. C.; LANDIM, P. M. B.; ESTON, S. M.
motivo pode ser explicado devido ao tipo de Aspectos e impactos ambientais de pedreira em área
urbana. Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 59.
solo ser predominantemente arenosa, tendo p. 47-54, 2006.
como uma das suas características pouca
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Análise do Melhoramento do Solo com Adição de Resíduo de


Blocos de Concreto aplicado à Pavimentação
Tamires da Silva Campos
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tamiresscampos@gmail.com

Laís Vieira Romão


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, lais-vr@hotmail.com

Caio Araujo Marinho


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, caio.araujo.marinho@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Juliane Cristina Romualdo


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, juliane.cromualdo@yahoo.com.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaushenrique@hotmail.com

RESUMO: Em busca do ganho de resistência nas camadas de pavimentação de forma sustentável,


surgem soluções construtivas baseadas na reciclagem e destinação de resíduos de materiais de
construção. O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento de um solo com adição
de resíduo de blocos de concreto pré-moldados, visando o melhoramento das propriedades de
resistência mecânica e capacidade de suporte, para então empregá-lo nas camadas de pavimentação.
Foram confeccionados corpos de prova com misturas nos teores de 5%, 10% e 20% de resíduo em
relação à massa de solo seco, os quais foram submetidos aos ensaios de resistência à compressão
simples após períodos de cura de 7, 14, 28 e 210 dias, sendo realizado também o ensaio de CBR
para a mistura que apresentou melhor resistência. Em relação aos teores de resíduo os resultados
mostram ganho de resistência para todas as porcentagens definidas, sendo a de 20% aquela que
apresenta um comportamento crescente de resistência com o tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo de blocos de concreto (RBC), Solo melhorado, Ensaios de


Laboratório, Resistência à Compressão Simples, Índice de Suporte Califórnia.

1 INTRODUÇÃO pessoas e mercadorias. Uma vez que é o


principal meio de integração, as rodovias são
O modal rodoviário desempenha, mesmo com o substanciais e compõem uma grande massa das
investimento e crescimento das outras matrizes obras de infraestrutura atuais.
de transporte, um significativo papel no Com o aumento da utilização do modal
desenvolvimento econômico e social do Brasil. rodoviário, foi necessário aperfeiçoar e
Segundo Ford (1967 apud Pereira & Lessa, racionalizar as maneiras de conservação
2011), a expansão dos meios de transportes (SENÇO, 2001). Em contrapartida, medidas
facilitaria a comunicação e circulação de preventivas contribuem para o retardamento do
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processo destrutivo a que um pavimento é consequentemente, propor uma nova alternativa


sujeito desde o instante da abertura ao tráfego. para destinação do resíduo e posível
Da mesma maneira que as obras de minimização do custo final da obra.
pavimentação se intensificaram, a geração os
resíduos sólidos crescem ainda mais. Todo tipo
de produto não importando de que material seja 2 MATERIAIS E MÉTODOS
feito ou propósito para utilização, provoca um
impacto no meio ambiente, seja em função de O programa experimental deste trabalho
seu processo produtivo, das matérias primas que consiste em duas etapas: inicialmente, foram
consome, ou devido ao seu uso ou disposição definidas as porcentagens de resíduo de blocos
final (CHEHEBE, 1997). de concreto adotadas para as misturas, com base
Segundo Silva (2014), o Brasil carece de em trabalhos realizados anteriormente. A partir
uma política adequada quanto a uma correta disso, foram realizados ensaios de
disposição e reciclagem dos resíduos sólidos. caracterização física e mecânica dos materiais.
No mesmo caminho das demais empresas, a
indústria de pré-moldados também tem a 2.1 Materiais
preocupação com a destinação dos resíduos
gerados, mas devido à falta de incentivo através Esta pesquisa propõe uma mistura de um solo
de uma correta gestão dos resíduos acaba residual característico da região do Alto
adotando o simples deslocamento de todos os Paraopeba-MG com resíduo de blocos de
resíduos gerados a aterros. concreto (RBC), formando um material com
Outro ponto relevante é a possibilidade de características melhoradas.
redução da extração de solos de melhor
qualidade de outras áreas, e consequentes 2.1.1 Solo
impactos ocasionados ao meio ambiente,
através do melhoramento do solo natural do A amostra de solo utilizada no presente trabalho
local da obra. Pinheiro (2011) afirma que o solo foi coletada em jazida destinada à pesquisa e
natural constitui simultaneamente um material estudo geotécnico da Universidade Federal de
complexo e variável de acordo com a sua São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba,
localização, mas devido a sua universalidade e localizado no km 7 da rodovia MG 443, da
baixo custo, apresenta normalmente uma grande cidade de Ouro Branco – MG.
utilidade enquanto material de engenharia. No Para determinação dos parâmetros de ensaio,
entanto, é frequente encontrar solos naturais empregou-se o uso das normas do DNER -
sem os requisitos necessários para cumprir Departamento Nacional de Estradas de
adequadamente a função a que estão destinados Rodagem e da ABNT – Associação Brasileira
(CRUZ e JALALI, 2010). Assim, podem ser de Normas Técnicas. Assim como, antes do
aplicadas técnicas de melhoramento do solo, início de qualquer um dos ensaios, foi realizado
como a adição de outros materiais a fim de o preparo do solo e das amostras de acordo com
melhorar certas propriedades e condições do a NBR 6457/16.
solo, tornando-os capazes de responder de
forma satisfatória às solicitações previstas. 2.1.2 Resíduo de bloco concreto
Desta forma, o presente estudo objetiva
analisar o comportamento de um solo com Empregou-se resíduo de bloco de concreto do
adição de resíduo de blocos de concreto pré- tipo “M15”, destinado à alvenaria de vedação,
moldados, visando o melhoramento das de resistência à compressão simples de 3 MPa,
propriedades de resistência mecânica e cedidos por uma empresa de pré-moldados de
capacidade de suporte, para então empregá-lo concreto da cidade de Ouro Branco – MG. A
nas camadas de pavimentação e, Figura 1 ilustra alguns dos blocos utilizados.
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natural. Amostras do solo natural e das misturas


estão apresentadas na Figura 3.

Figura 1. Blocos de concreto.

Os pré-moldados de concreto são elementos


construtivos produzidos fora do local de
utilização definitiva, com controle de qualidade
e capaz de garantir a grande homogeneidade
dos elementos. Devem atingir grande
resistência com pouca idade, proporcionando
maior velocidade à obra ou ser utilizado para
atender situações emergenciais. Habitualmente,
em indústrias de pré-moldados, para maior
produtividade, utiliza-se o cimento CP V – ARI.
Os blocos foram cominuídos em partículas
menores com a utilização do equipamento de Figura 3. Amostras de solo natural e misturas.
abrasão “Los Angeles”. Após este processo, foi
feito o peneiramento e utilizou-se para os 2.2 Procedimento Experimental
ensaios o material com diâmetro inferior a
0,075 mm. A Figura 2 apresenta uma amostra 2.2.1 Ensaios de caracterização
do resíduo após peneiramento.
A caracterização física do solo e os ensaios para
avaliação da resistência à compressão simples e
capacidade de suporte do solo natural e da
mistura seguiram as normas específicas. Os
principais ensaios executados durante a
pesquisa e seus respectivos referenciais teóricos
estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Referenciais teóricos para ensaios.


Figura 2. Partículas de blocos de concreto. Ensaios Referência Normativa
Massa Específica NBR 6508/84
2.1.3 Mistura Granulometria NBR 7181/84
Limite de Liquidez (LL) NBR 6459/84
A mistura dos materiais ocorreu de forma Limite de Plasticidade (LP) NBR 7180/84
manual, tendo uma homogeneização prévia Compactação NBR 7182/84
entre o solo natural e resíduo de bloco de Compressão Simples NBR 12770/92
concreto para posterior adição de água à Índice de Suporte Califórnia DNIT 049/14
mistura. As amostras das misturas propostas
foram preparadas com teores de 5%, 10% e
20% de resíduo em relação à massa seca de solo
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2.2.2 Preparação dos corpos de prova em um intervalo de 30 segundos. Após a


ruptura foi aferido o teor de umidade.
Os corpos de prova para os ensaios de O parâmetro de resistência usado para a
compressão simples foram moldados na qualificação do uso do material para as camadas
umidade ótima e peso específico aparente seco de base e sub-base, para misturas de solo, é o
máximo obtido em ensaio prévio de ensaio de Resistência à Compressão Simples.
compactação do Proctor Normal do solo De acordo com a DER/PR ES-P 11/05 para a
natural. Os corpos de prova foram, então, aplicação do material ensaiado, como solo
embalados em sacos plásticos, vedados e tratado com cimento, em camadas de sub-base
transportados para câmara úmida para ou base de pavimentos rodoviários, a mistura
realização da cura. com RBC deve apresentar Resistência à
Foram moldados 3 corpos de prova para Compressão Simples igual ou superior a 1,2
cada teor de resíduo, inclusive solo natural, e MPa para sub-base e 1,5 MPa para base.
idade de cura. Assim, corpos de prova de solo
natural e solo-resíduo com 5%, 10% e 20% 2.2.4 Ensaio de Índice de Suporte Califórnia
foram rompidos aos 7, 14, 28 e 210 dias de
cura. Para o ensaio de ISC (Índice de Suporte
Califórnia) foi moldado um corpo de prova para
2.2.3 Ensaio de Compressão Simples solo natural e um com o percentual de RBC que
apresentou melhor Resistência à Compressão
Decorrido o período de cura pré-determinado, Simples aos 210 dias. O ensaio foi realizado
foi realizada a avaliação de sua resistência para fins comparativos de capacidade de
através dos ensaios de compressão simples, suporte do solo.
conforme apresentado na Figura 4.
2.2.5 Correlação entre CBR e Módulo de
Resiliência

A deformação elástica ou recuperável das


camadas de pavimentos quando submetidos a
carregamentos repetidos é chamada deformação
resiliente (RODRIGUES, 2018). Neto (2004)
afirma que o Módulo de Resiliência (MR) é
necessário para o cálculo de tensões e
deformações nos diferentes pontos do
pavimento.
Preussler (2007) desenvolveu a Equação 1
abaixo a fim de obter o MR a partir de valores
obtidos em ensaio CBR.

MR (MPa) = 32,60 + 6,70 x (CBR) (1)


Figura 4. Ensaio de Resistência à compressão simples.
Onde:
O ensaio de compressão simples foi MR: Módulo de resiliência do solo argiloso
realizado com amostras não confinadas compactado na umidade ótima e determinado à
mediante a aplicação de carga axial com tensão-desvio de 0,2 MPa (2 kgf/cm²);
controle de deformação, sendo que foram CBR: Índice de Suporte Califórnia de
anotadas as medidas de deformação do anel amostras embebidas em água durante 4 dias
dinamométrico e deslocamento vertical de (%).
acordo com a variação do relógio comparador
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES cimento, o solo natural deve apresentar limite


de liquidez igual ou inferior a 40% e índice de
3.1 Caracterização geotécnica plasticidade igual ou inferior a 18%. Dessa
forma, o solo apresenta um IP satisfatório, mas
Os ensaios realizados utilizando o solo tiveram o mesmo não acontece para o LL.
o intuito de classificá-lo segundo a HRB Quanto à classificação SUCS, verifica-se que
(Highway Research Board), classificação o solo natural é classificado como ML, ou seja,
recomendada pela AASHTO (American material siltoso e areias muito finas, ou siltes
Association of State Highway and argilosos com baixa plasticidade. Segundo a
Transportation), que tem sido aplicada no classificação rodoviária HRB, o solo natural e
reconhecimento de solos para construção de pertence ao grupo A-5 com IG = 8,20 (Índice de
pavimentos, bem como pela classificação SUCS Grupo), definido como solo siltoso, sendo seu
(Sistema Unificado de Classificação dos Solos). comportamento, como solo natural, em subleito
Os valores referentes aos ensaios de de fraco a pobre.
caracterização do solo em análise - Portanto, de acordo com a norma específica
granulometria, limites de consistência, massa vigente, o solo analisado não apresenta bons
específica dos sólidos e compactação- estão parâmetros relativos à caracterização, tanto para
apresentados na Tabela 2. o uso em camadas de base e sub-base quando
para o uso em subleito.
Tabela 2. Resultados da Caracterização Geotécnica.
Ensaios Resultados 3.2 Resistência à Compressão Simples (RCS)
Massa Específica 2,79 g/cm³
Granulometria (%) Conforme metodologia disposta em 2.2.3,
Fração Pedregulho - apresentam-se os resultados médios entre 3
Fração Areia 29 corpos de prova para cada parâmetro do ensaio
Fração Silte 38 de compressão simples na Tabela 3.
Fração Argila 33
Limites de Atterberg (%) Tabela 3. Resultados médios do ensaio de RCS em
Limite de Liquidez (LL) 44,61 kgf/cm².
Limite de Plasticidade (LP) 34,28 0 7 14 28 210
Misturas
Índice de Plasticidade (IP) 10,33 Dias Dias Dias Dias Dias
Compactação Solo 2,48 - - - -
Umidade ótima 24,5% Solo + 5% RBC - 1,95 2,87 4,27 3,75
Massa específica aparente seca máxima 1,55 g/cm3 Solo + 10% RBC - 1,56 2,82 3,68 3,71
Solo + 20% RBC - 1,52 2,77 3,13 3,82
É possível observar que há uma alta
porcentagem de fração fina, referindo mais de Lançados os valores obtidos em um gráfico,
70% do solo, sendo que esta porcentagem de Figura 6, é possível observar que os corpos de
finos influencia diretamente no comportamento prova com teores de 5% de RCS indicam uma
da mistura solo-resíduo. Os solos coesivos maior resistência à compressão até os 28 dias,
tendem a exigir maior teor de cimento para a porém aos 210 dias apresentam queda de
estabilização, como maior quantidade de água resistência. Os corpos de prova com 10%
para hidratação. também mostraram um ganho de resistência até
Quanto ao estudo dos Limites de Atterberg, a os 28 dias, entretanto esse crescimento não foi
amostra se apresenta de média plasticidade, significante após esse período. Já os corpos de
com Índice de Plasticidade entre 7% e 15% e prova de 20% apresentaram um ganho contínuo
com Limite de Liquidez de 44,61%. De acordo de resistência até os 210 dias.
com a DNIT 142/2010, para aplicação em
camada de base e com melhoramento com
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4,50 reações químicas com os aglomerantes já


ocorreu.
Resistência à Compressão

4,00
3,50

Teor de Umidade (%)


3,00
Teor de 30
2,50
(kgf/cm²)

2,00 RBC: 25
1,50 5% 20 Teor de
1,00 15 RBC:
10%
0,50 10
0,00 20% 5 5%
0
10%
20%

Figura 6. Resistências à compressão simples.


Figura 8. Relação de Teor de umidade x Tempo de cura
É importante observar que os corpos de x Teor de Resíduo.
prova aos 210 dias, com 5% e 10% de resíduo, Com vistas gerais, nota-se aumento da
exibiram presença de bolores de fungos, como resistência com a adição de resíduo quando
mostra a Figura 7. comparado ao solo natural, alcançando, por
exemplo, para o teor de 20% aos 210 dias, um
crescimento de 54% de resistência em relação
ao solo puro. No entanto, a mistura solo-resíduo
não atende os requisitos de norma para
estabilização das camadas de base e sub-base,
podendo então ser utilizada apenas para reforço
de subleito ou aterros aplicados à pavimentação.

3.3 Índice de Suporte Califórnia

Figura 7. Corpos de prova com 5% e 10% de resíduo, aos O ensaio de Índice de Suporte Califórnia foi
210 dias.
realizado para o solo puro e para a mistura de
teor de 20% de RBC, visto que com 210 dias de
Ressalta-se, também, que aos 7 dias
cura obteve uma maior resistência à
nenhuma mistura mostrou ganho de resistência
compressão. Como explicado nos métodos, este
quando comparado ao solo natural. Isso
ensaio foi feito a fim de verificar se sua
aconteceu pois o solo natural foi compactado
expansão foi alterada e se houve melhorias na
em uma umidade inferior à ótima, apresentando
capacidade de suporte da mistura.
assim maior resistência quando submetido à
Na Tabela 4 pode-se verificar os dados
compressão, e essa divergência na preparação,
obtidos de ISC e expansão para o solo natural e
relacionada à quantidade de água, deve ser
solo melhorado com resíduo.
considerada.
Foram aferidos os teores de umidade após a Tabela 4. Resultados de ISC e expansão.
ruptura e, consequentemente, após o período de
Materiais ISC (%) Expansão (%)
cura, no caso das misturas, os quais estão
Solo 1,07 1,42
apresentados na Figura 8. Dessa forma,
Solo + 20% RBC 223,50 0,03
analisando os resultados, as misturas que
apresentaram maior resistência foram aquelas
com menores teores de umidade, para 28 e 210 Conforme os parâmetros especificados no
dias, tempos de cura nos quais a maior parte das Manual de Pavimentação do DNIT (2006), para
o solo puro ser aplicado como base deve possuir
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ISC > 80% e expansão < 0,5, já para sub-base, neste caso, o Módulo de Resiliência é mais
ISC >20% e expansão <1%. Sendo assim, conveniente para se avaliar melhor o
apenas o solo melhorado atende a esses comportamento das misturas. Neste trabalho,
requisitos. Apesar de a RCS ser o parâmetro de foi realizada apenas uma correlação entre o
avaliação do solo melhorado, é nítido o Módulo de Resiliência e o CBR, cabendo uma
aumento da capacidade de suporte do solo com posterior realização de ensaios triaxiais de carga
adição de resíduo em relação ao solo puro e a repetida para verificação dos resultados.
diminuição da expansão, apontando um melhor Atentando-se ao fato que esta pesquisa teve
comportamento do solo e estimulando o uso do como objetivo verificar o comportamento da
resíduo de bloco de concreto. mistura como uma alternativa para o descarte de
blocos de concreto que não seriam utilizados e
3.4 Correlação entre CBR e Módulo de como uma perspectiva favorável ao meio
Resiliência ambiente, a utilização do teor de 20% de
resíduo se mostra interessante. Isso se
O dado colhido do ensaio de CBR para o solo comprova por apresentar o melhor
natural e para mistura pode ser utilizado para o comportamento de capacidade de suporte e de
cálculo do módulo de resiliência conforme a resistência à compressão, sendo este crescente
Equação 1. Os resultados obtidos dos cálculos em relação ao tempo até 210 dias, quando
foram 39,77 MPa para o solo natural e 1530,05 comparado ao solo natural, além da destinação
MPa para a mistura solo-resíduo. de maior quantidade de resíduo que seria
Apesar de não ter uma correlação efetiva simplesmente descartada e não aproveitada.
para CBR e MR, uma vez que o CBR considera
a ruptura do material por deformação
permanente excessiva e o MR considera baixas AGRADECIMENTOS
deformações elásticas, os cálculos realizados
por meio de correlação é um ponto de partida Os autores agradecem ao Grupo de Pesquisa
para um dimensionamento estrutural através de INFRAGEO – Infraestrutura de Vias Terrestres
métodos mecanísticos-empíricos. e Obras Geotécnicas por todo apoio.

4 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

A adição de resíduos de blocos de concreto ao Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
solo analisado, um solo silto argiloso e 6457:2016. Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
classificado ruim para o uso na pavimentação, São Paulo.
possibilitou uma notável melhoria da resistência Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
à compressão. A mistura se apresenta viável 6459: 1984. Determinação do Limite de Liquidez. São
para utilização em reforço de subleito, aterros Paulo.
aplicados também à pavimentação, entre outras Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
6508: 1984. Ensaio de Massa Específica dos Grãos.
situações, porém não alcançou os requisitos São Paulo.
necessários para as camadas de base e sub-base, Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR
de acordo com normas específicas vigentes, 7180:1984. Determinação do Limite de Plasticidade.
como a DER/PR ES-P 11/05, para solos Rio de Janeiro.
tratados com cimento para essa aplicação. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
7181:1984. Análise Granulométrica. Rio de Janeiro.
É importante salientar que todas as análises Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
foram feitas a partir de ensaios estáticos, 7182:1984. Ensaio de Compactação. São Paulo.
diferente da situação real de camadas de Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR
pavimentos, em que a solicitação é dinâmica, e, 12770:1992. Solo Coesivo. Determinação da
Resistência à Compressão não Confinada. São Paulo.
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Chehebe, J.R. (1997) Análise do ciclo de vida de


produtos: ferramenta gerencial da ISO 14000. Rio de
janeiro: Qualitymark, CNI.
Cruz, M., Jalali, S. (2010). Melhoramento do
desempenho de misturas solo-cimento, 12º Congresso
Nacional de Geotecnia, Guimarães, p. 639-648.
Departamento de Estradas de Rodagem do estado do
Paraná – DER/PR ES-P 11/05 (2005). Pavimentação:
Solo-cimento e Solo Tratado com Cimento. Paraná.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-
DNIT 049/2014 – ME – Solos – Determinação do
Índice de Suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas – Método de ensaio. IPR. Rio de Janeiro.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-
DNIT 142/2010 – ES – Pavimentação – Base de solo
melhorado com cimento – Especificação de serviço.
IPR. Rio de Janeiro.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-
DNIT (2006) Manual de pavimentação. 3ed, IPR-719,
Rio de Janeiro, RJ. 274p.
Neto, R. S. B. (2004) Análise comparativa de pavimentos
dimensionados através dos métodos empírico do
DNER e mecanístico e proposta de um catálogo
simplificado de pavimentos para a região de Campo
Grande (MS). São Carlos, 2004.
Pereira, L. A. G; Lessa, S. N. (2011) O Processo de
Planejamento e Desenvolvimento do Transporte
Rodoviário no Brasil. CAMINHO DE
GEOGRAFICA – Revista On-Line, Uberlândia, v. 12,
n. 40.
Pinheiro, R. (2011) Princípios da estabilização dos solos.
In: Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil,
Santa Maria.
Preussler, Leonardo Appel. (2007) Contribuição ao
estudo da deformabilidade de camadas de pavimento.
São Paulo, 2007. 80 p.
Rodrigues, K. H. P. (2018) Estudo de estabilização
granulométrica de solos utilizando rejeito de
mineração. Dissertação (Mestrado) – UFOP. Ouro
Preto, MG. Fev. 2018.
Senço, W. (2001) Manual de Técnicas de Pavimentação.
Capítulo 4, v. II. São Paulo: Pini, p. 46-143.
Silva, A. (2014) Reciclagem de resíduos produzidos pela
indústria de pré-moldados em concreto na região de
Chapecó-SC. IPOG - Revista Especialize On-Line,
Santa Catarina, v. 01, n.9.
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AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DO SOLO


BIOCIMENTADO
Igor Decol
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, Brasil, igor2311decol@gmail.com

Vinicius Luiz Pacheco


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, Brasil, vinimanfroipacheco@gmail.com

Yohan Casiraghi
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, Brasil, yohancasi@hotmail.com

Antônio Thomé, Dr.


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS, Brasil, thome@upf.br

RESUMO: Esta pesquisa foi desenvolvida com o intuito de analisar o acréscimo na capacidade de
suporte do solo arenoso tratado com solução biocimentante e heterogeneidade das amostras de solo.
Foram moldados corpos de prova cilíndricos, e fez-se uso dos ensaios de ultrassom e compressão
simples para verificar o acréscimo na capacidade de carga e heterogeneidade da cimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Biocimentação, Ultrassom, Compressão Simples.

1 INTRODUÇÃO a resistência do solo aumenta após o tratamento


com a solução biocimentante, porém a
A engenharia cada vez mais demonstra sua dificuldade encontrada no momento é a falta de
preocupação, bem como está priorizando informação sobre o comportamento mecânico
projetos com menor consumo de materiais e deste solo melhorado. Com isso, e também
também com menor emissão de poluentes. Este visando a continuidade dos trabalhos de
interesse faz com que a fabricação do cimento, conclusão de curso elaborados por Gregório
um dos materiais mais utilizados na Rigo Garbin no ano de 2015 e Vinicius Luiz
estabilização de solos, torne-se um desafio Pacheco no ano de 2016, elabora-se este
devido ao fato de que é necessário uma grande trabalho utilizando o solo já biocimentado,
emissão de gás carbônico (CO2 ) para fabricá- almejando a análise da resistência a compressão
lo. Com isso, a busca por alternativas menos do solo arenoso tratado através do fenômeno da
agressivas ao meio ambiente são pautas de biocimentação, facilitando o desenvolvimento
vários estudos recentes. Uma destas alternativas de projetos com este método de melhoramento
é a biocimentação do solo, porém há pouco de solo.
conhecimento em relação ao dimensionamento
de estruturas em áreas nas quais o solo recebeu
tratamento biocimentante. Desta forma, o 2 METODOLOGIA
presente projeto almeja constatar o acréscimo
de resistência do solo arenoso ao ser submetido O solo arenoso utilizado nesta pesquisa é
ao tratamento da biocimentação, assim como o solo biocimentado da pesquisa realizada por
quantificá-lo. Pacheco (2016). A partir deste, foram extraídos
Através de estudos já realizados nota-se que manualmente 10 corpos de prova, com diâmetro
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de aproximadamente 50 mm e altura É possivel analisar na tabela 1 que os corpos de


aproximada de 100mm. A altura das amostras prova possuem variação nas medidas, isso se
corresponderá aproximadamente aos 100 mm deve ao método aplicado para extração dos
superiores do solo biocimentado, pois, como corpos de prova.
pode-se identificar nos artigos e teses referentes
ao assunto, é nas camadas superiores que a
biocimentação alcança um maior desempenho.
Assim ressalta-se que devido ao fato de a
cimentação ocorrer de forma mais acentuada na
parte superior do solo tratado, todas as amostras
foram retiradas das camadas mais superficiais
do solo biocimentado.
Após este processo obteve-se 10 corpos
de prova, porém, visando a continuidade da
pesquisa foram escolhidos aleatoriamente 3
corpos de prova para serem analisados com o
uso do ensaio triaxial em uma pesquisa futura.
Foi realizado um ensaio de ultrassom nos
corpos de prova para verificar a consistência
dos mesmos, e a presença de eventuais falhas.
Os resultados deste ensaio servirão como Figura 1: Processo de moldagem
parâmetro para eventual descarte dos corpos de
prova que apresentarem coeficiente de variação
maior que 20% na velocidade de propagação da
onda emitida.
Durante o período de moldagem dos CP’s
foram obtidas 3 medidas de diâmetro e 3
medidas de altura. Na tabela 1 estão descritas as
médias das medidas verificadas em todos os
CP’s.

Tabela 1: Dados dos corpos de porva extraídos.

Diâmetro Altura Volume


(mm) (mm) (mm³)
CP 1 51,00 106,40 217356,11
CP 2 51,27 111,53 230231,49
CP 3 53,46 110,40 247767,68 Figura 2: Processo de moldagem
CP 4 53,40 107,80 241429,96
CP 5 50,73 115,27 233013,14 Todos os CP’s foram submetidos ao
CP 6 52,60 106,20 230773,47 ensaio de ultrassom, pois este ensaio é não
CP 7 53,76 106,93 242688,78 destrutivo, possibilitando que outros ensaios
CP 8 55,38 107,73 259484,26
sejam realizados posteriores a este. Para o
ensaio de compressão simples foram escolhidos
CP 9 57,97 109,47 288887,29
7 corpos de prova de forma aleatória, através de
CP 10 53,68 109,33 247418,13
sorteio. O sorteio dos CP’s deu-se da seguinte
forma: depositou-se os números dos CP’s em
um recipiente, o qual possibilitou embaralhar os
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números, após esta etapa deu-se início o sorteio, compressão, a velocidade média e o desvio
sendo os primeiros sete bilhetes retirados os padrão, obteve-se os seguintes resultados
escolhidos para este ensaio. Com isso, os CP’s 2189,67 m/s e 159,45 m/s, respectivamente.
escolhidos para este ensaio foram os seguintes: Deste modo, o coeficiente de variação resultou
CP 1, CP 2, CP 5, CP 6, CP 8, CP 9, CP 10. em 7%. Assim pressupõe-se que os corpos de
Após sorteio, os corpos de prova prova não apresentavam imperfeições e, devido
destinados ao ensaio de compressão simples ao coeficiente de variação ser menor que o
foram capeados com nata de cimento. Passadas maximo estipulado de acordo com a
24 horas do capeamento, deu-se inicio ao metodologia, que é de 20%. Portanto, todos os
processo de saturação das amostras dispondo-as corpos de prova estão aptos a serem submetidos
em um recipiente de modo que os CP’s aos ensaios de compressão simples.
permanecessem submersos em água por 24
horas.
Durante o processo de saturação
identificou-se pequenas perdas de solo nas
regiões dos corpos de prova em que a
cimentação alcançou menor grau.

Figura 5: Velocidade das ondas de compressão em m/s

Figura 3: Processo de capeamento dos CP's

Figura 6: Velocidade das ondas de cisalhamento em m/s

O ensaio de ultrassom possibilita a análise


do corpo de prova, de forma não destrutiva,
Figura 4: Processo de saturação identificando a existência de fissuras internas
através da variação da velocidade das ondas.
Além disto este ensaio permite algumas
2 RESULTADOS E DISCUSSÕES correlações, uma delas é o cálculo do módulo
de cisalhamento, o qual é dado a partir da
Através do ensaio de ultrassom é possível fórmula descrita abaixo:
observar os dados exibidos nas figuras 5 e 6,
onde calculou-se para a velocidade de 𝐺 = 𝛾𝑛 ∗ 𝑉 (Eq. 01)
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Onde:
G: Módulo de cisalhamento (Pa)
γn: Densidade natural do solo (kg/m³)
V: Velocidade das ondas (m/s)

Ressalta-se que em comparação com


bibliografias sobre solo cimento, o solo
biocimentado atingiu um valor elevado para
módulo de cisalhamento, cerca de 3 Gpa, em
média.

Figura 9: Tensão de ruptura, em kPa, na compressão


simples

Verificou-se que existe uma relação entre


a velocidade das ondas de compressão e a
resistência a compressão simples, sendo esta
relação diretamente proporcional.
Figura 7: Velocidade das ondas de cisalhamento x
Módulo de cisalhamento

Na compressão simples, constatou-se que,


diferentemente da areia sem cimentação, foi
possível a moldagem das amostras.
Adicionalmente, observamos uma diferença
significativa no resultado das tensões calculadas
em cada corpo de prova, este fato evidencia a
heterogeneidade da cimentação no solo.

Figura 10: Velocidade das ondas de compressão x Tensão


de ruptura

Após o ensaio de compressão simples


foram analisadas as formas de ruptura
apresentadas pelos corpos de prova. A ruptura
apresentada pelos corpos de prova são
características de materiais com baixa
cimentação, ou seja, as rupturas estão situadas
nas camadas de menor grau de cimentação.
É possível observar na figura 11 que a
ruptura do solo ocorre da base até próximo ao
centro dos CP’s, pois é aproximadamente neste
ponto em que o grau de compactação passa a
aumentar significativamente. Provocando a
Figura 8: Ensaio de compressão simples
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ruptura na camada inferior onde a cimentação é CRUZ, R. C. Influência de parâmetros fundamentais na


menor. rigidez, resistência e dilatância de uma areia
artificialmente cimentada. Tese (Doutorado em
Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre. 218p. 2008.
DALLA ROSA, F. Efeito do Estado de Tensões de Cura
no Comportamento de Uma Areia Artificialmente
Cimentada. 2009. Tese (Doutorado em Engenharia
Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil. UFRGS. Porto Alegre.
DIAS, DÉBORA REGINA. Resistência à compressão
não confinada de misturas de solo-cimento visando à
aplicação do sistema de estabilização Dry-Mix.
Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Engenharia
Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP, 2011.
FOPPA, D. Novo Método para Cálculo da Capacidade
de Carga de Fundações Superficiais Assentes sobre
Camada de Reforço em Solo-Cimento. 2016. 229p.
Tese (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós-
Figura 11: Ruptura dos corpos de prova (CP09 e CP01) Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
Alegre.
GARBIN, R. G. Avaliação de biocimentação em solo
arenoso. UPF. 2015. Trabalho de conclusão de curso.
4 CONCLUSÕES Faculdade de Engenharia e Arquitetura – Curso de
Engenharia Civil, Universidade de Passo Fundo,
As correlações dos ensaios de ultrassom com Passo Fundo.
ensaio de compressão simples para solo LOPES JUNIOR, Luizmar da Silva. Metodologia de
biocimentado permite a aproximação de Previsão do Comportamento Mecânico de Solos
Tratados com Cal. 2011. Tese (Doutorado em
resultados. Com isso conclui-se que: Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em
 O método da biocimentação acrescenta Engenharia Civil. UFRGS. Porto Alegre.
resistência ao solo, através da coesão, ORTIGÃO, J. A. R.; Introdução a Mecânica dos Solos
pois o mesmo permite que corpos de dos Estados Críticos. 3 ed., 2007.
PACHECO, V. L. Avaliação Da Resistência De Solo
prova de solo arenoso sejam moldados e
Arenoso Biocimentado. UPF. 2016. Trabalho de
saturados sem perda significativa de conclusão de curso. Faculdade de Engenharia e
matéria. Arquitetura – Curso de Engenharia Civil,
 É possível aplicar o ensaio de ultrassom Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo.
para estimar a resistencia a compressão RITA, R. P.; Bio – Cimentação de Solos Arenosos para
Melhoramento das suas Características
simples, bem como o módulo de Hidromecânicas. Tese (Mestrado em Engenharia) –
cisalhamento. Programa de PósGraduação em Engenharia Civil,
 A partir da variação da velocidade das IST, Lisboa. 2014.
ondas nos diferentes corpos de prova,
constatou-se a heterogeneidade da
biocimentação.

REFERÊNCIAS

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.


Projeto e Execução de Fundações. NBR 6122. Rio de
Janeiro, 1996.
ANDREUCCI, R.; Ensaio por Ultrassom: Aplicação
industrial. Ed: Julho/2016, ABENDI/SP, 2016.
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Caracterização geotécnica de misturas de lodo de estação de


tratamento de água (ETA) com cal
Kelly Fiama Santos Pereira
Graduanda, Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, kelly.fiama.pereira@usp.br

Juliana Keiko Tsugawa


Doutoranda, Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, jukeiko@usp.br

Profª Drª Maria Eugenia Gimenez Boscov


Titular, Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, meboscov@usp.br

RESUMO: A substituição parcial ou total do solo natural em obras geotécncias por lodo de estação
de tratamento de água (ETA) pode ser uma alternativa promissora. Mesmo após desaguamento, o
lodo apresenta elevado teor de umidade, dificultando sua reutilização. A cal é utilizada para reduzir
a plasticidade e melhorar a trabalhabilidade de solos muito plásticos. O tratamento do lodo com cal
pode ser uma estratégia promissora para a sua reutilização. O objetivo deste trabalho é caracterizar
geotecnicamente misturas de lodo e cal em diferente umidades e proporções. Os resultados dos
ensaios de limites de liquidez, limite de plasticidade, densidade dos grãos e granulometria indicam
que o tratamento do lodo com cal reduz sua plasticidade à medida que o teor de cal aumenta,
melhorando sua trabalhabilidade. Adicionalmente, o lodo passa a apresentar comportamento
semelhante a dos solos naturais quando a relação umidade final e teor de cal estiver em torno de 0,6.

PALAVRAS-CHAVE: lodo de estação de tratamento de água, reuso, material geotécnico, tratamento


com cal.

1 INTRODUÇÃO seca diariamente. A Região Metropolitana de


São Paulo consome cerca de 67.000 L/s de água
No Brasil, o destino final do lodo de ETA ainda potável, produzida em 28 estações de tratamento
é um gargalo ambiental, uma vez que a maior de água, gerando 77 toneladas de lodo sólido por
parte do que é produzido é destinada em córregos dia (Boscov, 2013).
e rios. Este lodo é o subproduto da produção de Uma alternativa bastante promissora é a
água potável, gerado durante o processo de reutilização do lodo em obras geotécnicas
tratamento da água bruta coletada de rios, lagos (Montalvan e Boscov, 2015; Raghu et al., 1987;
e outros tipos de mananciais. É composto de Roque; Carvalho, 2006; Wang et al., 1992;
água e de sólidos suspensos, constituídos de Rodriguez et al., 2011; De Castilhos Junior,
partículas em geral coloidais a finas (argilas e Prim; Pimentel, 2012) devido ao seu potencial de
siltes), além de algas, bactérias, vírus, partículas absorver quantidades significativas de material.
orgânicas e produtos químicos aplicados durante Porém, mesmo após drenagem em leitos de
o processo de tratamento, incluindo adição de secagem, o lodo de ETA apresenta elevado teor
cloro (desinfecção), sulfato de alumínio e/ou de umidade, o que o torna de difícil manuseio e
cloreto férrico (coagulação), cal ou soda cáustica reutilização.
(ajuste de pH), e flúor (proteção dentária). Por outro lado, a cal é usualmente utilizada na
No Estado de São Paulo, a capacidade de estabilização de solos muito plásticos. Quando a
produção de água potável atinge 105.000 L/s, cal é misturada a solos de granulometria fina
gerando cerca de 186 toneladas de lodo em base ocorrem reações que podem ser classificadas em
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dois estágios: um processo rápido (minutos a plasticidade e umidade em torno de 240% (após
dias, podendo atingir meses), no qual há uma o processo de centrifugação da ETA Cubatão). A
melhora na plasticidade e trabalhabilidade do densidade dos grãos é proxima à encontrada para
material, mas é desenvolvida pouca resistência, solos lateríticos, possivelmente também
e um processo lento (semanas a anos) em que há influenciada pela presença de cloreto férrico. A
um aumento de resistência com a formação de composição mineralógica está de acordo com a
produtos cimentantes. A resistência dos solos geologia local predominantemente composta
estabilizados com cal aumenta ao longo do por granitos e gnaisses. Além dessas
tempo de cura e também com o aumento do teor características o lodo Cubatão apresenta
de cal (Boscov, 1990). Além disso, quando comportamento tixotrópico (Tsugawa et al.,
estabilizados com cal, solos argilosos sofrem um 2017).
aumento da permeabilidade e a velocidade de
expansão e contração é reduzido ao longo do Tabela 1. Caracterização do lodo Cubatão.
tempo (Loch, 2013). Lote 1(a) Lote 2(b)
Tipo Propriedade
(04/2015) (02/2016)
O objetivo deste trabalho é caracterizar
Composição
geotecnicamente misturas de lodo de ETA e cal Fe2O3 46,0% 47,5%
em diferente proporções, visando avaliar sua SiO2 18,3% 18,6%
aplicação em obras geoténicas. Foram realizados Al2O3 8,9% 10,1%
ensaios de limite de liquidez, limite de Perda ao fogo
Química 22 19
plasticidade, densidade dos grãos e (%)
granulometria, analisando a influência do teor de Matéria
26 -
cal e da umidade inicial do lodo sobre os Orgânica (g/kg)
parâmetros analisados. CTC
255,2 -
(mmolc/kg)
pH (em H2O) 7,2 -
2 MATERIAIS E MÉTODOS Granulometria
Argila 69,4% 68,0%
2.1 Lodo Silte 25,7% 18,0%
Areia
4,7% 14,0%
fina
O lodo utilizado neste trabalho foi gerado
Areia
durante a lavagem dos decantadores e filtros da média e
0,2% 0,0%
ETA de Cubatão, São Paulo, durante o período grossa
Geotécnica
de 23/05 a 29/05/17 (denominado Lote 6). A Densidade
ETA Cubatão utiliza o cloreto férrico como 2,85 – 2,95
específica dos 2,97
coagulante e gera cerca de 70 t/dia de lodo grãos (g/cm³)
Limite de
férrico, aqui denominado lodo Cubatão. O lodo 239% 170%
liquidez (LL)
Cubatão foi coletado diretamente na saída das
Limite de
centrífugas de desaguamento, apresentando plasticidade
81% 71%
cerca de 30% de concentração de sólidos. (LP)
Amostras do lodo Cubatão, coletados em duas Quartzo
Quartzo
datas distintas, foram caracterizadas química, Mineralógica Composição
Goetita
Goetita
geotécnica, e mineralogicamente (Tabela 1). O Muscovita
Muscovita
lodo Cubatão é composto por ferro, sílica e (a) Caulinita
amostra coletada em abril de 2015. Adaptado de
alumínio. O elevado teor de ferro é devido,
Montalvan (2016).
provavelmente, à presença de cloreto férrico (b) amostra coletada em fevereiro de 2016. Adaptado de
usado no tratamento da água bruta. Trata-se de Tsugawa et al. (em elaboração).
material fino composto em sua maioria por - dado não analisado.
partículas na fração argila com elevada
2.2 Cal
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Utilizou-se na pesquisa uma cal cálcica da marca As misturas lodo-cal foram realizadas em um
Tradical tipo CH-I produzida pela Mineração misturador planetário por 5 minutos. A Tabela 3
Belocal – Lhoist do Brasil, localizada em São apresenta uma síntese das misturas investigadas.
José da Lapa, Minas Gerais. A Tabela 2
apresenta os resultados da caracterização Tabela 3. Misturas realizadas.
química e geotécnica da cal. Teor de Teor de
umidade cal (massa
Nomenclatura
inicial seca)
Tabela 2. Caracterização da cal
(%) (%)
70 Lodo (w = 160%) + 70% cal
Tipo Propriedade 160
140 Lodo (w = 160%) + 140% cal
70 Lodo (w = 240%) + 70% cal
240
68,0% - CaO 140 Lodo (w = 240%) + 140% cal
Composição
0,353% - MgO
Química
Perda ao fogo
30,3 2.4 Cura
(%)
pH (em H2O) 12,7
Predominante- Para que seja possível avaliar o efeito da cura
Granulometria sobre as propriedades geotécnicas estudadas
mente silte
Densidade neste trabalho, as misturas lodo-cal, formuladas
específica dos 2,47 e misturadas conforme o item anterior, foram
grãos (g/cm³) ensaiadas após cura de 7 dias além daquelas
Geotécnica
Limite de ensaiadas imediatamnte após a mistura.
66%
liquidez (LL) A cura ocorreu em câmara úmida sob
Limite de temperatura constante de 25°C e umidade de
plasticidade 45%
(LP) 95% ± 5%.

A cal é composta predominantemente por 2.5 Procedimentos Experimentais


cálcio e traços de magnésio, como esperado.
Devido à alta aglomeração das partículas de cal Os ensaios de análise granulométrica, limites de
não foi possível determinar a sua granulometria consistência e peso específico dos grãos foram
pela aplicação da Lei de Stokes, já que a cal não realizados segundo os métodos indicados nas
obedeceu a condição de queda livre das normas ABNT-NBR 7181/1984, ABNT-NBR
partículas para a medição da velocidade limite 6459/1984, ABNT-NBR 7180/1984, ABNT-
pelo ensaio de sedimentação. Porém, através da NBR 6508/1984. No entanto, no ensaio de
análise tátil-visual observou-se que a cal é granulometria por sedimentação as amostras de
composta predominantemente de silte. lodo e as misturas lodo-cal foram ensaiadas na
umidade natural e umidade de mistura,
2.3 Misturas respectivamente. Para os ensaios dos limites de
consistência, o lodo e as misturas lodo-cal foram
As misturas de lodo e cal foram preparadas com secos até próximo ao valor do LP.
dois teores de cal (70 e 140%) em relação à
massa seca do lodo. Além disso, o lodo utilizado 2.6 Análise de Significância
nas misturas foi preparado com dois teores de
umidade inicial (160 e 240%) para analisar o A significância dos resultados foi testada a partir
efeito da umidade sobre o comportamento da análise fatorial, com significância de 5%. O
geotécnico das misturas. A umidade de 240% do objetivo foi analisar a influência da umidade
lodo foi obtida após o processo de centrifugação inicial do lodo, do teor de cal e do tempo de cura
na ETA. A umidade de 160% foi obtida após nas características geotécnicas analisadas.
secagem ao ar.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização geotécnica do lodo


Cubatão e misturas lodo-cal

A Tabela 4 apresenta os resultados da


caracterização geotécnica do lodo Cubatão
utilizado nesta pesquisa, denominado Lote 6,
coletado em maio de 2017.

Tabela 4. Caracterização geotécnica do lodo Cubatão.


Umidade 222,9%
64,8%- Argila
Figura 1 –Ensaio de sedimentação realizado para uma
23,2%- Silte
mistura lodo-cal.
Granulometria 9,1%- Areia Fina
2,9% - Areia média e
Tabela 5. Granulometria.
grossa
Areia
Densidade específica dos Areia média
3,08 Argila Silte
grãos (g/cm³) Mistura Fina e
(%) (%)
(%) grossa
Limite de liquidez (LL) 153% (%)
Limite de plasticidade Lodo (w = 160%)
119% 0,0 86,4 4,9 8,7
(LP) + 70% cal
Lodo (w = 160%)
0,0 86,2 8,9 4,9
+ 140% cal
3.1.1 Granulometria Lodo (w = 240%)
0,0 76,9 18,2 4,9
+ 70% cal
Comparando-se a granulometria do lodo Lodo (w = 240%)
0,0 82,0 14,0 4,0
Cubatão obtida em três diferentes eventos de + 140% cal
coleta (Tabelas 2 e 4), observa-se que a fração
argila corresponde em média a 67% do material, Oberva-se que para o lodo a 240% de
sendo que as frações silte e areia fina umidade (umidade in natura), a adição de cal
compreendem cerca de 30%. A densidade dos causou um aumento da fração de areia fina para
grãos do lodo do lote 6, utilizado nesta pesquisa, os dois teores de cal, enquanto para o lodo a
apresentou valor superior ao dos lotes 1 e 2. 160% de umidade a porcentagem de areia fina
Possivelmente, este aumento está associado à foi maior para 140% de cal e praticamente igual
concentração de cloreto férrico utilizado no para 70% de cal ao valor do lodo sem secagem e
processo de tratamento de água na ETA Cubatão. sem cal.
Em contrapartida, ocorreu um decréscimo do IP Para o lodo a 160% de umidade ocorreu o
de 158% (lote 1) para 34% (lote 6). aumento da fração areia com o aumento do teor
De acordo com o Unified Soil Classification de cal, fato que isoladamente poderia ser
System (USCS), o lodo Cubatão é classificado consequência da aglomeração das partículas.
como silte de alta compressibilidade (MH). Porém, para o lodo a 240% de umidade ocorreu
Quando adicionada cal, o material flocula diminuição da fração areia fina com o aumento
(Figura 1). Assim, devido à ação aglomerante da do teor de cal. Assim, investigação adicional será
cal, a granulometria das misturas lodo-cal tende necessária para explicar esta tendência, que pode
a ser predominantemente silte, pois as partículas estar relacionada inclusive com a
argilosas devem estar formando flocos na faixa heterogeneidade das amostras.
granulométrica de silte (Tabela 5).
3.1.2 Plasticidade
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Os resultados do ensaios de limites de Atterberg 3.1.3 Umidade Final e Densidade dos Grãos
e do índice de plasticidade (IP) são mostrados na
Tabela 6. De acordo com o USCS, as misturas As Tabelas 7 e 8 mostram, respectivamente, a
são classificadas como silte de alta umidade final e a densidade dos grãos de cada
compressibilidade (MH), assim como o lodo mistura em dois tempos: imediatamente após a
Cubatão. mistura e após 7 dias de cura. Todos os ensaios
Tabela 6. Limites de Attenberg. foram realizados em triplicatas.
LL LP IP
Mistura
(%) (%) (%) Tabela 7. Umidade Final (%).
Lodo (w = 160%) + 70% cal 92 66 26 Tempo de Cura
Lodo (w = 160%) + 140% cal 61 49 12 Mistura (dias)
0 7
Lodo (w = 240%) + 70% cal 106 75 31
Lodo (w = 160%) + 70% cal 98,5 98,4
Lodo (w = 240%) + 140% cal 86 65 21 Lodo (w = 160%) + 140% cal 60,1 59,5
Lodo (w = 240%) + 70% cal 141,2 138,2
Analisando a Tabela 6, observa-se que tanto o Lodo (w = 240%) + 140% cal 99,0 97,0
LL quanto o LP diminuem com o acréscimo do
teor de cal, fato também observado no trabalho Observa-se que com o aumento do teor de cal
realizado por Lim et al. (2002). Além disso, nota- ocorre tanto a diminuição da umidade quanto da
se que o IP diminui com o acréscimo do teor de densidade específica dos grãos. A diminuição da
cal e aumenta com o aumento da umidade inicial. umidade é consequência do aumento do teor de
A partir da relação entre a umidade inicial do sólidos imposto pela presença da cal. Já a
lodo e o teor de cal, conforme a equação 1, diminuição da densidade deve-se ao acréscimo
obtém-se uma boa correlação (R2=0,97) para o de um material de menor densidade às misturas.
IP, conforme apresentado na Figura 2. Observa-se também que a densidade dos grãos
não é influenciada pela mudança da umidade
w i umidade inicial do lodo (%) inicial do lodo. Por outro lado, o aumento da
 (1)
tc teor de cal (%) umidade inicial do lodo provoca um aumento da
umidade final das misturas, conforme esperado.
35 O tempo de cura parece causar uma
redução da umidade final, maior para o lodo de
30
240% de teor de umidade (redução proporcional
25 da ordem de 2%). A densidade dos grãos
20 diminuiu para 70% de cal e aumentou para 140%
IP (%)

15 de cal com a cura de 7 dias, porém é necessário


verificar se essas variações estão dentro da faixa
10
da variação experimental.
5
0 Tabela 8. Densidade específica dos grãos (g/cm³).
0 1 2 3 4 5 Tempo de Cura
wi/tc Mistura (dias)
Figura 2. Índice de Plasticidade (IP) versus Umidade 0 7
Inicial (wi)/Teor de Cal (tc). Lodo (w = 160%) + 70% cal 3,03 2,98
Lodo (w = 160%) + 140% cal 2,71 2,77
Para as condições ensaiadas, é válida a
Lodo (w = 240%) + 70% cal 2,90 2,94
equação (2):
Lodo (w = 240%) + 140% cal 2,74 2,76
w 
IP (%)  16,99 ln  i   10,87 (2)
 tc  A Figura 3 apresenta a relação entre a
umidade final das misturas (wf) e o teor de cal
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(tc), conforme a equação 3. As curvas obtidas e ABC) na umidade final e densidade dos grãos
apresentaram uma boa correlação (equações 4 a (Tabelas 9 e 10, respectivamente).
6). F0, dado pela equação 7, corresponde a um
valor da Distribuição F e P-valor é a
wf umidade final do lodo (%) probabilidade de F0 ser maior do que Fn1,n2
0,14
 (3)
tc teor de cal (%) elevado a 0,14 (equação 8). Se P-valor for menor do que 5%,
então o fator é significante.
O valor do expoente igual a 0,14 corresponde
ao maior coeficiente de correlação possível para MQFator
F0  (7)
os dados. MQerro

Onde: MQ= Média da Soma dos Quadrados,


a qual é calculada pela relação entre a Soma dos
Quadrados (SQ) e o Grau de Liberdade (GL).

Pvalor  P(F0  Fn1,n2 ) (8)

Onde: Fn1,n2 = valor da distribuição F com


numerador n1 igual ao GLfator e denominador n2
igual ao GLerro.

Tabela 9. Análise Fatorial para a Umidade Final.


Fator GL SQ MQ F0 P-valor
Figura 3. Umidade versus relação wf/tc0,14. A 1 9460 9460 21088 0,0000%
B 1 9666 9666 21547 0,0000%
 w  27,723
LL (%)  47 ,90 ln  0,f14   88,67 R ²  0,99 (4) C 1 12,44 12,44 0,0077%
t 
 c  AB 1 13,33 13,33 29,708 0,0053%
AC 1 6,598 6,598 14,708 0,1461%
 w  BC 1 0,1448 0,1448 0,2558 61,990%
LP (%)  27 ,72 ln  0,f14   65,28 R²  0,99 (5) ABC 1 0,8667 0,8667 1,9320 18,352%
t 
 c  Erro 16 7,177 0,4486
Total 23 19166
 w 
IP(%)  20,18 ln  0,f14   23,39 R²  0,98 (6)
t  Analisando a Tabela 9, nota-se que os fatores
 c 
A, B e C e as interações AB e AC são
significativas para a umidade final e que o efeito
A partir destas curvas (Figura 3) observa-se
dos fatores A e B são bem maiores do que do
que para uma relação wf/tc0,14 em torno de 0,6 e
fator C e das interações AB e AC. Em resumo,
um teor de umidade final de aproximadamente
os resultados indicam que a umidade inicial do
50%, as misturas tendem a apresentar
lodo e o teor de cal são os fatores de maior
comportamento próximo a dos solos naturais
relevância na umidade final das misturas.
(umidade final inferior aos limites de Attenberg).
Tabela 10. Análise Fatorial para a Densidade.
3.2 Análise de significância
Fator GL SQ MQ F0 P-valor
A partir da análise de significância dos A 1 0,0069 0,0069 1,6493 21,734%
resultados, foi avaliada a influência dos fatores B 1 0,2856 0,2856 68,079 0,0000%
umidade inicial (A), teor de cal (B) e tempo de C 1 0,0014 0,0014 0,3330 57,191%
cura (C) e as interações entre eles (AB, AC, BC
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AB 1 0,0131 0,0131 3,1279 9,6020% CONCLUSÕES


AC 1 0,0012 0,0012 0,2893 59,8085
BC 1 0,0029 0,0029 0,7029 41,416% O lodo Cubatão em seu estado in natura (após a
ABC 1 0,0060 0,0060 1,4302 24,915%
Erro 16 0,0671 0,0042
centrifugação na ETA Cubatão) apresenta
Total 23 0,3843 elevada umidade e plasticidade. O tratamento do
lodo com cal reduz significativamente a sua
Da tabela 10, conclui-se que apenas o teor de umidade e plasticidade, melhorando a
cal (fator B) é significativo para a densidade trabalhabidade do produto final.
específica dos grãos. Para o tempo de cura de 7 dias, não se
Considerando os resultados da análise observou mudança significativa na umidade e
fatorial, avaliou-se a significância dos fatores A densidade dos grãos das misturas.
e B na umidade final (Tabela 11) e do fator B na O ensaio de sedimentação em água não se
densidade dos grãos (Tabela 12). Também, mostrou eficiente para a determinação da
calculou-se o fator de correlação (R²) para estas granulometria das misturas, considerando que,
análises reduzidas (Equação 9). devido à alta aglomeração das partículas de cal,
a aplicação da Lei de Stokes não é válida.
SQ erro Com os resultados obtidos foi possível
R²  1  (9) verificar que o lodo possivelmente passará a ter
SQ total
comportamento semelhante a solos naturais
Tabela 11. Análise Fatorial Reduzida para a Umidade quando a relação entre umidade final e teor de
Final. cal estiver em torno de 0,6.
A análise de significância comprovou que a
Fator GL SQ MQ F0 P-valor
umidade inicial do lodo e o teor de cal são os
A 1 9460 9460 4902,8 0,0000% fatores de maior relevância na umidade final das
B 1 9666 9666 5009,5 0,0000% misturas. Observa-se, também, a importância da
Erro 21 40,52 1,929 análise de significância para separar a influência
Total 23 19166 dos diferentes fatores analisados das variações
experimentais relacionadas a amostragem, tipo
Conforme os resultados apresentados na de ensaio e/ou material.
Tabela 11 e sabendo que o fator de correlação é
igual a 0,998, a umidade inicial do lodo e o teor
de cal são suficientes para determinar a umidade AGRADECIMENTOS
final.
Os autores agradecem a Fundação de Amparo a
Tabela 12. Análise Fatorial Reduzida para a Densidade
dos Grãos.
Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP,
Companhia de Saneamento Básico do Estado de
Fator GL SQ MQ F0 P-valor São Paulo – SABESP e Conselho Nacional de
B 1 0,2856 0,2856 63,645 0,0000% Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
Erro 22 0,0987 0,0045 CNPq por patrocinarem este projeto de pesquisa.
Total 23 0,3843

Analisando a influência do teor de cal na REFERÊNCIAS


densidade final das misturas (Tabela 12) e dado
que o fator de correlação é igual a 0,743, o teor ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
de cal sozinho não é suficiente para determinar a TÉCNICAS. Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
densidade dos grãos das misturas, sendo ABNT-NBR 6457. 1986.
necessário conhecer as densidades iniciais dos ___. Grãos de solo que passam na peneira 4,8 mm –
materiais puros. Determinação da massa específica. ABNT-NBR 6508.
1984.
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___. Solo – Análise Granulométrica. ABNT-NBR 7181. drinking water sludge as geotechnical material. In: 5th
1984. International Congress on Environmental Geotechnics,
___. Solo – Determinação do limite de liquidez. ABNT- London.
NBR 6459. 1984. Silva, A. S. (2017). Avaliação de misturas lodo de ETA r
___. Solo – Determinação do limite de plasticidade. cal visando sua aplicação como cobertura diária em
ABNT-NBR 7180. 1984. aterros sanitários. 2017. Instituto de Tecnologia
___. Solo – Ensaio de adensamento unidimensional - Aeronáutica. Dissertação de Mestrado. Orientador:
Método de ensaio. ABNT-MB 3336. 1991. Prof. Dr. Paulo Scarano Hemsi.
___. Requisitos gerais para a competência de laboratórios Tsugawa, J. K.; Pereira, K. F. S.; Boscov, M. E. (2017)
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Comparação entre envoltórias de resistência de pico e residual de


um rejeito de minério de ouro reforçado com fibras de
polipropileno distribuídas aleatoriamente
Juan Manuel Girao Sotomayor
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
girao.sotomayor@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: O processo de obtenção de ouro gera rejeitos que são filtrados e colocados em
terraplenos com alturas até de 50 m. Estes materiais perdem as propriedades originais apresentando
baixa ou nula coesão sendo os taludes vulneráveis com deslizamentos na fase exposta e trincamento
interno sob fortes mudanças de temperatura. Geosintéticos planares podem gerar planos de fraqueza
entre as camadas enrijecidas pela compactação, enquanto que fibras discretas provocam uma melhor
redistribuição das tensões dentro da matriz. O presente trabalho analisa o comportamento mecânico
de um rejeito de minério de ouro reforçado com fibras de polipropileno mediante ensaios de
cisalhamento direto convencional e de plano cisalhado com superfície polida sob condição inundada
utilizando tensões normais verticais de 25, 50, 100, 200 e 400 kPa. O teor de fibras foi 0,5 % do
peso seco da matriz. Os resultados mostram um comportamento tensão-deslocamento bi-linear do
rejeito sem reforço, o reforço reduz a bi-linearidade conseguindo uma resposta mais homogênea do
material, incrementa o ângulo de atrito máximo e residual e muda a tendência volumétrica
contrativa para dilatante. O uso do reforço é recomendável em zonas críticas e manutenção de
aterros deste rejeito afetados por deslizamentos fornecendo melhores caraterísticas de resistência.

PALAVRAS-CHAVE: rejeito de minério de ouro, cilsahamento direto, plano cisalhado com


superficie polida, fibras de polipropileno.

1 INTRODUÇÃO movimenta 7,77 toneladas de material por cada


onça de ouro, gerando grandes quantidades de
O ouro é um dos minerais mais prezados do rejeitos de mineração após o processo.
planeta e para sua obtenção se mobilizam O U.S.Geological Survey (2018) indica que
grandes esforços econômicos que se traduzem Peru é o sexto produtor de ouro a nível mundial
em novas tecnologias para exploração dos e o primeiro em América Latina, embora tem
depósitos. Atualmente a exploração mineira a um grande problema, encontrar suficiente
céu aberto é mais atrativa para empresas espaço para depositar os rejeitos de minerio
mineradoras devido que os equipamentos devido à acidentada geografía. Para o total
utilizados deslocam grandes quantidades de aproveitamento dos locais de deposição se
material que após um processo de desgaste utiliza a técnica de filtrado dos rejeitos que
mecânico e químico, retiram o minério retira o excesso de umidade permitindo a
suficiente para que a atividade seja muito mais compactação em aterros. Estes aterros podem
rentável do que a exploração por lavras atingir alturas até de 50 m tendo problemas de
subterrâneas. Uma exploração a céu aberto instabilidades nos taludes de jusante em zonas
considerada em média como rentável localizadas.
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Com a finalidade de melhorar as de não apresentar nenhuma porcentagem de


caraterísticas de resistência de diferentes tipos ouro, a presença da As2O3 confirma a
de solos foram desenvolvidos reforços procedência dos rejeitos, devido que esse
geosintéticos que inseridos dentro da matriz composto se gera na retirada do ouro quando é
anfitriã conseguem um aumento da resistência separado do óxido de ferro (Fe2O3). O pH do
ao cisalhamento melhorando o comportamento rejeito de ouro é 5.7 portanto ácido. A tabela 1
pós ruptura da matriz. Reforços de tipo planar apresenta as porcentagens dos constituintes do
(geogrelhas uniaxiais, biaxiais, triaxiais, etc.) rejeito de minério de ouro.
são os mais utilizados por seu alto desempenho
e fácil colocação, embora, são susceptíveis de Tabela 1. Análise Mineralógico
gerar planos de fraqueza (Li e Zornberg, 2013) SiO2 SO3 Al2O3 Fe2O3 As2O3 Outro
% 31,64 30,40 17,96 15,16 2,06 2,78
o reforço ideal deveria manter um aumento
isotrópico da resistência devido a uma melhor
distribuição das tensões em toda a matriz. Realizou-se a curva granulometria utilizando
O presente trabalho analisou a resistência um granulómetro laser tomando 3 amostras
mecânica de um rejeito de minério de ouro sem coletadas de diferentes pontos do depósito, as
reforço e reforçado com fibras de polipropileno. amostras foram destorroadas, secadas na estufa
Para tal fim, se utilizaram ensaios de a 50ºC, e submersas em uma solução de
cisalhamento direto convencional e de plano hexametafosfato de sódio os resultados são
cisalhado com superfície polida para observar a mostrados na tabela 2 e as curvas
resistência de pico e residual da matriz. granulométricas na Figura 1.

2 CARATERISTICAS DOS MATERIAIS

2.1 Rejeito de Minério de Ouro

O rejeito de minério de ouro procede de um


depósito de rejeitos filtrados localizado no
departamento de La Libertad no Peru. Os
rejeitos são transportados em camiões até o
ponto de descarga final, onde são compactados
Figura 1. Curva granulométrica
com maquinaria pesada formando um aterro de
rejeito de 30 m. de altura. Amostras deformadas Tabela 2. Análise Granulométrico
com uma umidade de 14.5% foram coletadas Argila Silte Areia
em sacolas plásticas de 10 quilogramas por RM (%) (%) Fina Media Grossa
pessoal da empresa mineradora e entregues no (%) (%) (%)
Peru para seu transporte ao Brasil sendo Au1 3,33 94,93 1,74 0,00 0,00
Au2 3,04 88,50 8,46 0,00 0,00
armazenados no Laboratório de Geotecnia e
Au3 3,63 94,63 1,74 0,00 0,00
Meio Ambiente da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
O valor da densidade relativa dos grãos do
Resultados de analises mineralógicas por
rejeito de minério de ouro é 3.777. Os limites de
fluorescência de raios X, efetuadas em amostras
Attemberg são LL=19%, LP=13%, IP=6%.
secas na estufa e destorroadas indicaram
O rejeito de minério de ouro é considerado
maiores porcentagens de quartzo (SiO2),
pelo Sistema Único de Classificação de Solos
trióxido de enxofre (SO3) -por minerais como a
(SUCS) como um silte com traços de argila de
pirita e arsenopirita- e alumínio (Al2O3). Além
baixa plasticidade (ML-CL).
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As caraterísticas de compactação foram com outra camada de rejeito, a seguir


obtidas utilizando ensaios dinâmicos de tipo espalhava-se o teor de agua correspondente à
Proctor normal. O material foi inicialmente seco umidade ótima e mediante uma régua de aço se
na estufa de 50º C e compactado após a adição procedia a misturar o conjunto. Para assegurar a
da água destilada em diferentes teores. O uniformidade da mistura a quantidade total de
material foi reutilizado e neste trabalho não se material foi dividida em 3 partes e depois
realizou um estudo para determinar a influência colocada no molde para compactação.
na curva de compactação pela reutilização do Análises de varredura de microscopia
material. O peso especifico aparente seco eletrônica mostraram a boa interação fibra-
máximo é 2,235 g/cm3 para um teor de umidade rejeito (Fig. 2). Após a compactação, os corpos
ótimo de 16,0%. de prova foram talhados utilizando um anel de
aço de 100 mm x 100 mm de lado e 20 mm de
2.2 Fibras de polipropileno altura (Fig. 3).

Os monofilamentos de polipropileno
apresentam-se em forma de pequenos pacotes
de fibras que são desfiadas para se misturar com
a matriz de rejeito. O teor de fibra utilizado é
0,5% do peso seco do rejeito e este valor foi
adotado devido que na literatura se apresenta
como o um teor ótimo para reforço de solos
(Anagnostopoulos et al, 2013). No processo de
mistura é importante uniformizar as camadas de
rejeito-fibra, para assegurar uma boa
distribuição que gere um material homogêneo, Figura 2. Análises MEV: Interação fibra-rejeito de ouro
para tal fim se deve evitar que as fibras entrem
em contato e formem pelotas. As caraterísticas
das fibras se mostram na tabela 3.

Tabela 3. Fibras de reforço


Tipo Polipropileno
Cor Transparente
Diâmetro (mm) 0,03
Comprimento (mm) 24
Modulo de Elasticidade (Gpa) 5
Densidade Relativa 0,92

Figura 3. Moldagem no anel de aço

3 ESTUDO EXPERIMENTAL
3.2 Equipamento e Instrumentação
3.1 Moldagem dos corpos de prova
O equipamento de cisalhamento direto utiliza
um motor elétrico que impulsa as engrenagens
A pesagem das fibras e do rejeito de ouro foi
responsáveis da taxa de deslocamento.
feita em balanças de precisão de 0,001 g. e 0,01
Seguindo as recomendações de Head (1998)
g. respectivamente.
utilizando os dados do adensamento a taxa de
O processo de mistura consistiu em colocar
deslocamento calculada foi de 0,06 mm/min.
primeiro uma camada fina de rejeito e acima
A instrumentação baseou-se em um anel de
fibras desfiadas manualmente para finalizar
carga instrumentado de 500 kg de capacidade -
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desenvolvido na Pontifícia Universidade fibra-matriz. Sob tensões maiores se verifica


Católica do Rio de Janeiro- e transdutores de nas curvas que o rejeito reforçado possui maior
deslocamento tipo LSCDT de 20 mm de rigidez inicial do que sem reforço.
comprimento.

3.3 Ensaio de cisalhamento direto

Os parâmetros de resistência foram


determinados por meio da envoltória composta
por tensões normais verticais baixas (25, 50,
100 kPa) e altas (200 e 400 kPa). Os ensaios
convencionais visam determinar a tensão
cisalhante de pico enquanto que os ensaios de
plano cisalhado com superfície polida são feitos
como alternativa para obter parâmetros
residuais.
Os ensaios de cisalhamento direto de plano
cisalhado com superfície polida se realizam
após o ensaio convencional, retira-se a caixa de
cisalhamento do equipamento, e realiza-se o
corte do corpo de prova ao longo da interfase
das caixas superior e inferior. No caso Figura 4. Ensaio convencional
reforçado, existem fibras que se encontram Curvas Tensão cisalhante – deslocamento horizontal
ancoradas nos segmentos superior e inferior do
rejeito portanto usou-se uma pequena serra de
aço para cortar aquelas fibras. Depois de
separadas as caixas, por médio de uma
superfície acrílica plana se uniformizam as
faces expostas tentando polir a superfícies.
Finalmente, as caixas superior e inferior
colocam-se em contato se realizando o ensaio
novamente.

4 RESULTADOS E ANALISES

4.1 Comportamento tensão cisalhante-


deformação horizontal Figura 5. Ensaio plano cisalhado com superficie polida
Curvas Tensão cisalhante – deslocamento horizontal
As curvas tensão cisalhante-deslocamento
horizontal do ensaio convencional (Fig. 4) Tensões de 100 e 200 kPa sem reforço
mostram que para tensões normais verticais apresentam picos de tensão, embora nestes
baixas de 25, 50 kPa a matriz sem reforço casos a rigidez inicial da matriz pura e reforçada
inicialmente apresenta maior rigidez do que no é similar. Sob tensão de 400 kPa, a matriz sem
caso reforçado. Sob baixas tensões, fibras reforço observa uma mudança de
geram maior quantidade de vazios porque a comportamento não existindo uma tensão de
tensão não contribui no aumento da interação pico, se mostra um incremento proporcional da
tensão cisalhante e uma certa estabilização ao
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final do ensaio. Note-se que o comportamento mostram que esta relação deve estar como
da matriz é diferente e depende do nível de mínimo entre 10 e 100 para ativar a interação
tensão vertical aplicada. Em nenhum caso fibra-matriz, e no caso especifico das fibras de
reforçado se apresentou tensão de pico. polipropileno a eficiência é dada quando Lf /Df
No ensaio de plano cisalhado com superfície > 500, neste caso Lf /Df = 800, portanto
polida (Fig. 5), não existe tensão de pico adequada. De igual maneira, mostraram que na
obviamente porque o material já foi cisalhado relação com o diâmetro dos grãos da matriz
mas existe uma maior resistência ao (D50) o rendimento das fibras de polipropileno é
cisalhamento quando o rejeito é reforçado. maximizado aproximadamente quando Lf /D50 >
16, sendo neste caso o valor de Lf /D50=1600.
4.2 Perda da Rigidez inicial Estas relações são importantes porque mostram
que os grãos de rejeito podem ocupar os
A matriz possui uma capacidade limitada para espaços vazios que existem perto da superfície
suportar a energia de deformação gerada pelo da fibra sob um adequado nível de tensão.
deslocamento horizontal da caixa de ensaio.
A matriz apresenta inicialmente uma rigidez
que diminui com o deslocamento, portanto, a
perda total da rigidez inicial é um indicativo
direto do início da ruptura da matriz.
Na figura 6, se apresenta a evolução da perda
de rigidez inicial na matriz sem reforço e
reforçada. Quando a tensão vertical normal é
aplicada, as fibras ocupam os espaços vazios da
matriz fazendo-a mais densa, mas quando a
tensão vertical é baixa, as fibras não ocupam
completamente estes espaços não interagindo
profundamente com a matriz, produzindo um
efeito adverso, as fibras geram mais vazios
devido que evitam o contato entre grãos de
rejeito, impedindo um maior adensamento da Figura 6. Evolução da perda de rigidez inicial sem
matriz. reforço
Nota-se esse comportamento na tensão de 25
kPa na Figura 7, a matriz sem reforço perde o
95% da rigidez inicial em 5 mm enquanto que a
matriz reforçada em 3 mm. Em tensões maiores
note-se que a adição de fibras evita uma rápida
perda da rigidez inicial.
Os deslocamentos mínimos para alcançar
diferentes valores em porcentagem da perda de
rigidez inicial do rejeito sem reforço e reforçado
são apresentados na tabela 4, claramente o
efeito da fibra é favorável à matriz de rejeito de
minério de ouro.
A eficiência do reforço também pode ser
antecipada pela relação entre o comprimento
(Lf) e o diâmetro da fibra (Df) chamada relação Figura 7. Evolução da perda de rigidez inicial reforçado
de aspecto (Lf/Df), Diambra e Ibraim (2015)
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Tabela 4. Perda da Rigidez inicial devido que em tensões altas existe um arranjo
Porcentagem de Sem distinto dos grãos durante o adensamento. Este
Perda Reforço Reforçado
(%) (mm) (mm)
comportamento bi linear é reduzido quando o
25 1,0 1,0 rejeito é reforçado.
50 1,0 1,0 Em ambos trechos da envoltória existe um
75 2,5 3,0 incremento na resistência dado pela adição de
100 6,0 9,2 fibras de polipropileno. Na envoltória, separada
em trechos de (1) baixas e (2) altas tensões, o
4.3 Parâmetros de Resistência acréscimo no ângulo de atrito é de 36,6º para
41,9º no trecho (1) e de 23,5º para 43,8º no
Nas figuras 8(a) e (b) são apresentadas as trecho (2), um incremento significativo de 15%
envoltórias de resistência dos ensaios e 86%, respectivamente. O intercepto coesivo
convencional e de plano cisalhado com da envoltória total apresentou-se um decréscimo
superfície polida, respectivamente. Quando não de 5,6 para 4,8 kPa, mostrando que para valores
se apresenta tensão cisalhante de pico, adotou- máximos de tensão as fibras interrompem o
se o critério de De Campos e Carrillo (1995) contato grão-grão de rejeito impedindo o
onde se assume que a ruptura é alcançada desenvolvimento da coesão aproximadamente
quando a curva tensão-deslocamento atinge uma em um 15%.
inclinação constante ou nula. No ensaio de plano cisalhado com superfície
polida (Fig. 8b), o intercepto coesivo zero da
matriz confirma a não continuidade da estrutura
do rejeito, não existe bi linearidade e permanece
o incremento da resistência pelo acréscimo do
ângulo de atrito de 29,5º para 35,8º um 20% de
incremento.

4.4 Mobilização do ângulo de atrito e do


intercepto coesivo

As envoltórias de resistência utilizam os


máximos valores obtidos em cada nível de
tensão aplicada, mas além disso, é importante
conhecer a evolução do valor do ângulo de
atrito e do intercepto coesivo durante o
deslocamento horizontal.
Realizaram-se envoltórias de resistência para
cada 0,5 mm de deslocamento da matriz sem
reforço e reforçada nos ensaios convencional e
de plano cisalhado com superfície polida, se
calculando os parâmetros de resistência em cada
Figura 8. Envoltoria de resistencia ponto.
(a) Ensaio convencional
No ensaio convencional, existe a bi
(b) Ensaio de plano cisalhado com superfície polida
linearidade, portanto nas figuras 9 e 10, se
Note-se que no ensaio convencional (Fig. 8a) apresentam os gráficos da mobilização do
sem reforço a envoltória de resistência é bi ângulo de atrito separados para cada trecho. A
linear a partir de uma tensão normal vertical de figura 11 mostra a mobilização do intercepto
200 kPa, mostrando diferente comportamento coesivo geral.
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Figura 9. Mobilização do ângulo de atrito Figura 11. Mobilização do intercepto coesivo


Baixas tensões – 25, 50 e 100 kPa
Em altas tensões (Fig. 10), a mobilização do
ângulo de atrito sem reforço também atinge um
valor constante ao final do ensaio não
apresentando uma queda por tensão de pico se
inferindo um rearranjo de grãos após uma
primeira estabilização. No caso reforçado, se
mostra um valor constante máximo de 43,3º
desde 7,5 mm de deslocamento até o final do
ensaio.
Na mobilização do intercepto coesivo (Fig.
11), o rejeito sem reforço atinge um intercepto
coesivo de pico de 6,5 kPa em 3,5 mm de
deslocamento e depois reduz para 1,4 kPa após
a ruptura, se considerando nulo para fins de
engenharia, enquanto no caso reforçado o é
Figura 10. Mobilização do ângulo de atrito nulo, mostrando que o aporte da fibra é
Altas tensões – 200 e 400 kPa
especificamente no ângulo de atrito para este
tipo de plano de ruptura.
Em baixas tensões (Fig. 9), a mobilização do
No ensaio de plano cisalhado com superfície
ângulo de atrito ao final do ensaio atinge um
polida (Fig. 12), o rejeito puro alcança um
valor constante tanto no rejeito sem reforço
ângulo de atrito de pico de 30,3º em 7,0 mm de
como reforçado. No rejeito sem reforço, se
deslocamento e sofre uma queda constante até
alcança um ângulo de atrito de pico de 36,8º
chegar a 29,4º no fim do ensaio.
para um deslocamento de 7,5 mm e depois sofre
No caso do rejeito reforçado, o ângulo de
uma queda até ficar no valor constante de 33,3º
atrito atinge um valor de 15,0º e permanece
até o fim do ensaio.
constante entre 1 e 2,5 mm seguido de um
No caso reforçado, não existe um ângulo de
acréscimo até um valor de 35,7º que permanece
atrito de pico claramente definido, atingindo-se
constante até o fim do ensaio.
um máximo valor constante de 42º desde 7,5
mm de deslocamento até o final do ensaio, por
conseguinte a fibra mantém o máximo valor do
ângulo de atrito da mistura.
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No ensaio de plano cisalhado com superfície


polida (Fig. 15), as curvas mostram que sem
reforço os deslocamentos permanecem
constantes indicando que a fase residual foi
totalmente atingida, enquanto que reforçado
(Fig. 16), existe um comportamento com
tendência à dilatação que é devido que a fibra
localizada na superfície de ruptura é puxada
pelo atrito de contato gerando uma expansão de
volume no material.

Figura 12. Mobilização do ângulo de atrito


Ensaio de plano cisalhado com superfície polida

4.5 Variação Volumétrica

No ensaio convencional, as curvas de variação


volumétrica sem reforço (Fig. 13), mostram um
comportamento contrativo produto da
Figura 15. Variação volumetrica sem reforço
compressão vertical normal, mas quando Ensaio plano cisalhado com superfície polida
reforçado (Fig. 14), em 6,0 mm passa a ser
dilatante até o final do ensaio.

Figura 16. Variação volumetrica reforçada


Ensaio plano cisalhado com superfície polida
Figura 13. Variação volumetrica sem reforço

5 CONCLUSÕES

A resistência ao cisalhamento de um rejeito de


minério de ouro foi analisada mediante ensaios
de cisalhamento direto convencionais e de plano
cisalhado com superfície polida sob condição
inundada, sem reforço e reforçado com fibras de
polipropileno aleatoriamente distribuídas
assegurando-se de alcançar à homogeneidade. A
Figura 14. Variação volumetrica reforçada seguir se apresentam as conclusões do trabalho:
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A adição de fibras de polipropileno com um As curvas de deslocamento horizontal e


teor de 0,5% consegue parâmetros de resistência vertical sem reforço mostram um
ao cisalhamento maiores daqueles obtidos no comportamento totalmente contrativo mas
rejeito sem reforço. quando reforçado o comportamento é contrativo
O rejeito sem reforço apresenta uma até certo ponto e depois muda a dilatante.
envoltória de resistência com comportamento Finalmente, as aplicações deste reforço
bi-linear separado em dois trechos de baixas podem ser utilizadas utilizando o mesmo
(25, 50 e 100 kPa) e altas (200 e 400 kPa) material em zonas críticas e para manutenção de
tensões, a bi-linearidade é reduzida quando o taludes de aterros de rejeito afetados.
rejeito é reforçado.
Com a adição de fibra os parâmetros de
resistência do rejeito para baixas e altas tensões AGRADECIMENTOS
mudam de 36,6º para 41,9º e 23,5º para 43,8º,
respectivamente. O intercepto coesivo diminui Os autores expressam seu agradecimento para
de 5,6 kPa para 4,8 kPa, mas para fins de as instituições que deram suporte técnico e
engenharia pode se considerar nulo devido que econômico: Pontifícia Universidade Católica do
na mobilização do intercepto coesivo se Rio de Janeiro (PUC-Rio) pela disponibilidade
verificou que os valores correspondem a um do Laboratório de Geotecnia e Meio Ambiente
valor pico mas que se reduz com o (LGMA) e ao Conselho Nacional de
deslocamento. O acréscimo dos parâmetros é Desenvolvimento Científico e Tecnológico
dado pelas fibras que interceptam a superfície (CNPq) pelos auxílios dados para esta pesquisa.
de ruptura que trabalhando em tração
contribuem com uma resistência adicional,
como revelou Zornberg (2002); REFERÊNCIAS
Nos ensaios de plano cisalhado com
superfície polida, também existe um incremento Anagnostopoulos A., Papaliangas T., Konstantinidis D.,
nos parâmetros de resistência de 29,5º para Patronis C. (2013). Shear Strength of Sands
Reinforced with Polypropylene Fibers. Geotech Geol
35,8º, demostrando que depois da ruptura ainda Eng (2013) 31:401–423.
as fibras oferecem o acréscimo de resistência; Diambra A, Ibraim E. (2015). Fiber reinforced sand:
A comparação entre a perda da rigidez inicial interaction at the fiber and grain scale. Geotechnique.
do rejeito sem reforço e reforçado, mostrou que 65(4), .296-308.
sob tensões baixas fibras geram maiores vazios De Campos, T.M.P, Carrillo, C.W. (1995). Direct Shear
Testing on an Unsaturated Soil from Rio de Janeiro.
devido à pouca interação rejeito-fibra. Em Unsaturated Soils, Alonso & Delage (eds.), pp. 31-38.
tensões maiores se consegue uma melhor K.H. Head (1998). Manual of Soil Laboratory Testing.
interação rejeito-fibra notando que o rejeito sem Second Edition. Wiley.
reforço perde o 100% da rigidez inicial em 6 Li, C., & Zornberg, J. G. (2013). Mobilization of
mm enquanto que o reforçado em 9 mm de reinforcement forces in fiber-reinforced soil. Journal
of Geotechnical and Geoenvironmental
deslocamento; Engineering, 139(1),107-115.
A análise da mobilização dos parâmetros DOI: 10.1061/(ASCE)GT.1943-5606.0000745
evidenciou que sem reforço o rejeito possui um U.S.Geological Survey, Mineral Commodity Summaries,
ângulo de atrito de pico que diminui com o January. (2018). Data de accesso: 17 de março de
2018.www.focus-economics.com/blog/gold-the-most-
deslocamento enquanto que reforçado se
precious-of-metals-part3.
alcança um valor máximo constante até o final Zornberg J.G. (2002). Discrete framework for limit
do ensaio, importante para a caraterização da equilibrium analysis of fibre-reinforced soil.
mistura. No caso cisalhado também se observa Geotechnique 52, No. 8, 593–604
o mesmo comportamento.
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Dosagem de Pré-Misturado a Frio com Inserção de Escória de


Aciaria como Agregado
Juliana de Paula Rezende
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, jupaulaprod@gmail.com

Maicon de Ávila Fernandes


Universidade Federal de São João Del-Rei, Ouro Branco - MG, Brasil, maiconavila89@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João Del-Rei, Ouro Branco - MG, Brasil, talesciv@gmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João Del-Rei, Ouro Branco - MG, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

RESUMO: Esta pesquisa consistiu na dosagem de pré-misturado a frio com inserção de escória de
aciaria como agregado e emulsão de ruptura rápida (RR) como ligante. Foram realizados os ensaios
Estabilidade Marshall e Resistência à tração por compressão diametral para averiguar a viabilidade
desse agregado siderúrgico. Verificou-se a ocorrência de reações, provavelmente químicas, que
impediram um entrosamento adequado entre o agregado siderúrgico e o ligante. Portanto, os
resultados dos ensaios realizados não se mostraram satisfatórios devido à falta de aderência entre o
ligante e os agregados siderúrgicos, inviabilizando o seu uso como agregado em misturas asfálticas
a frio, salvo na possibilidade de utilização de aditivos que promovam a afinidade físico/química na
interface ligante/agregado corrigindo a deficiência de aderência entre o ligante e os agregados.
Outro fator que pode ter interferido no insucesso dessa mistura foi a utilização de emulsão RR-1C,
sendo mais indicadas rupturas lenta (RL) ou média (RM).

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento, Pré-misturado a frio, Escória de aciaria, agregado siderúrgico.

1 INTRODUÇÃO (graúdo e miúdo), é usualmente o mais utilizado


no Brasil e no mundo. De acordo com o manual
Conforme Senço (2008), pavimento é a de pavimentação do Departamento Nacional de
estrutura construída sobre a terraplenagem, Infraestrutura de Transportes (DNIT), no
destinado tanto técnica quanto economicamente pavimento flexível, todas as camadas estão
a resistir aos esforços verticais oriundos do submetidas à deformação elástica significativa
tráfego e distribuí-los, melhorar as condições de sob o carregamento aplicado e, deste modo, a
rolamento quanto ao conforto e segurança e carga se distribui em parcelas aproximadamente
resistir aos esforços horizontais (desgaste), equivalentes entre as camadas (DNIT, 2006).
tornando mais durável a superfície de A maioria das rodovias pavimentadas no
rolamento. Brasil é constituída de pavimentos com
Os pavimentos, constituídos por material revestimentos asfálticos. Os esforços
asfáltico ou concreto, são estruturalmente provocados pelas cargas atuantes nestes
classificados em flexíveis, rígidos, semi-rígidos pavimentos induzem o desenvolvimento de
ou compostos. O pavimento flexível, deformações elásticas ou resilientes e de
constituído por material asfáltico e agregado deformações irreversíveis ou permanentes. As
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deformações elásticas repetidas geradas pelo  Utilização de equipamentos simples de


tráfego são responsáveis pela ruptura por fadiga usinagem e aplicação a frio;
da mistura asfáltica, que provoca o surgimento e  Trabalhabilidade à temperatura
a evolução das trincas observadas nos ambiente, sem necessidade de aquecimento dos
revestimentos. As deformações permanentes materiais empregados;
acumuladas são responsáveis pelo afundamento  Possibilidade de trabalhar com
de trilhas de rodas que se manifesta na agregados miúdos;
superfície de rolamento (MEDINA e MOTTA,  Possibilidade de utilizar agregados
2015). britados provenientes de quase todos os tipos de
A seleção de agregados destinados ao rocha, devido à adesividade das emulsões
emprego em revestimentos asfálticos está catiônicas;
relacionada à sua disponibilidade, custo e  Alta produtividade, possibilitando a
qualidade, bem como ao tipo de aplicação. estocagem do PMF para posterior aplicação, em
Estudos publicados na literatura mostram a serviços de tapa buracos;
importância das propriedades dos agregados no  Baixo consumo de energia térmica e
que se refere ao comportamento mecânico de elétrica envolvida durante as operações de
misturas asfálticas (BESSA; CASTELO transporte, manuseio, estocagem e aplicação dos
BRANCO; SOARES, 2012; BESSA et al., materiais (cerca de 60% a 70% da energia total
2014). consumida pelas misturas asfálticas à quente);
Segundo Senço (2008), o emprego dos  Elevada capacidade de suporte às
agregados em pavimentação destina-se a grandes deflexões das camadas subjacentes,
misturas betuminosas, concreto de cimento, sem fissurar ou trincar;
base de calçamentos, lastros de obras e outros.  Reduzida emanação de gases tóxicos
Podem-se apresentar, para esses fins, resultantes e/ou poluentes melhorando as condições de
de rochas fragmentadas em britadores, seixos saúde, segurança e preservando o meio
rolados encontrados nos leitos atuais dos rios e ambiente.
em antigos leitos, em jazidas resultantes de Grandes quantidades de resíduos industriais
alterações de rocha, e de escórias de alto-forno. são geradas pelas siderúrgicas, o que torna
Os ligantes asfálticos são materiais crescente a preocupação com o
termossensíveis e, ao serem empregados numa desenvolvimento econômico sustentável.
mistura com agregados, influenciam na resposta Devido ao gradual esgotamento de recursos
mecânica do conjunto pela variação não naturais e efeitos negativos que a extração de
somente da amplitude, frequência e duração do agregados para a construção de pavimentos
carregamento, mas, principalmente, pela pode causar ao meio ambiente, busca-se
variação da temperatura. Segundo o DNIT aproveitar estes resíduos produzidos em grande
(2006) quando os agregados e ligantes escala em obras rodoviárias. Tal alternativa tem
utilizados nas misturas asfálticas, permitem que se mostrado bastante vantajosa, pois além de
o seu espalhamento seja feito a temperatura reduzir custo e degradação ambiental, reduz
ambiente, denomina-o de revestimento pré- gastos com estocagem e tratamento agregando
misturado a frio. valor aos rejeitos.
Por definição, os pré-misturados a frio A escória é um resíduo siderúrgico gerado na
(PMF) consistem em misturas usinadas de fabricação do aço, o qual é dividido em dois
agregados graúdos, miúdos e de enchimento, tipos: de alto-forno e de aciaria. Quando a
misturados com emulsão asfáltica de petróleo escória de aciaria recebe tratamento adequado
(EAP) à temperatura ambiente (BERNUCCI et para uso em obras civis, desde o controle da
al., 2006). Segundo a Abeda (2001), as expansão até a britagem em tamanhos diversos
principais vantagens dessa técnica são: e adequados ao uso que se pretende, passa a ser
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denominada de agregado siderúrgico. É um  Agregado na produção de concreto, por


insumo de baixo custo de aquisição podendo ser possuir alta resistência à compressão e
utilizado como material alternativo para as durabilidade à abrasão;
camadas de pavimento.  Construção de lastros no leito de
Segundo o DNER (1994) – EM 262, a ferrovias, por possuir alta massa específica;
escória de aciaria, para ser empregada como  Utilização na infra e superestrutura
agregado na pavimentação asfáltica, deve rodoviária, bem como em forma de cascalho em
atender aos seguintes requisitos e limites: vias não pavimentadas para evitar a formação
 Granulometria: [...] deve-se manter na de poeira;
proporção de 40% na faixa de até 1,27 cm  Outros fins, tais como: execução de
(1/2”) e 60% na faixa de 1,27 cm a 5,08 cm (2”) aterros, construção de peças de quebra-mar,
de abertura nominal e deve atender à contenção sendo utilizada na fabricação de
granulometria de projeto; gabiões, etc.
 Massa especifica: de 3 g/cm³ a 3,5 Este trabalho visa verificar a viabilidade
g/cm³, determinada pela ABNT (2009) NM 53. técnica dos resíduos siderúrgicos adicionados às
As propriedades características do agregado misturas asfálticas na função de agregado para
siderúrgico são (RAMOS, 2018): confecção de revestimentos de pavimento
 Elevada resistência mecânica, aliada a flexível. Para isso, foram analisadas misturas
uma textura rugosa e a uma morfologia de alta asfálticas usinadas a frio, por meio da obtenção
cubicidade, favorecendo resistência a maior de parâmetros através de ensaios de laboratório.
tração e, consequentemente, maior atrito;
 Estrutura física caracterizada por uma
elevada densidade e porosidade acentuada; 2 MATERIAIS E MÉTODOS
 Coloração predominante cinza clara;
 Elevada resistência a variações 2.1 Materiais
climáticas e à abrasão, ocasionando menor
desgaste e, consequentemente, maior 2.1.1 Agregados
permeabilidade;
 Alta estabilidade com longa durabilidade O agregado utilizado nesse trabalho foi a
(vida) para todas as aplicações; escória de aciaria, proveniente de forno elétrico,
 Inexistência de material orgânico, em substituição aos agregados miúdos e
atuando como inibidor natural para a vegetação; graúdos oriundos de pedreiras, tradicionalmente
 Intertravamento automático, produzindo utilizados.
uma superfície estável (excelente tração), em
virtude de seu formato cúbico; 2.1.1 Ligante asfáltico
 Alto peso específico, proporcionando
elevada resistência a movimentos laterais. O ligante asfáltico utilizado na pesquisa foi a
Conforme Branco (2004), os principais usos emulsão de ruptura rápida RR-1C, em
da escória de aciaria são: substituição a emulsões de ruptura lenta (RL)
 Estabilização de solos; ou ruptura média (RM), tradicionalmente
 Matéria Prima para produção de utilizadas em pré-misturados a frio. Esse fato se
cimento; deu devido a disponibilidade da mesma no
laboratório de Geotecnia e Estradas da UFSJ -
 Nas próprias siderúrgicas, tanto como
CAP.
material reciclado ou como protetor do
revestimento refratário dos fornos;
2.2 Métodos e procedimentos
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Adiante, serão apresentados todos os métodos


utilizados para a caracterização da emulsão 2.2.3 Caracterização da mistura
asfáltica, assim como para a caracterização da
escória de aciaria. Após essas determinações, A caracterização da mistura betuminosa foi
foram realizados os ensaios Marshall e realizada por meio dos ensaios descritos abaixo:
Resistência à tração por compressão diametral  Ensaio de resistência à tração por
para a obtenção dos parâmetros necessários na compressão diametral seguindo procedimentos
definição da viabilidade do agregado descritos na norma DNER (1994c) – ME 138;
siderúrgico, em substituição a agregados  Ensaio Marshall de acordo com os
tradicionais, para misturas asfálticas. procedimentos da norma DNER (1994b) – ME
Para a utilização da escória de aciaria nesta 107.
pesquisa, foi necessária a desagregação da Foram confeccionados 15 corpos de prova,
mesma, devido aos "grumos" presentes em sua sendo 3 para cada um dos teores de ligante
composição. Esse procedimento foi necessário, estudados. Todos os procedimentos realizados
principalmente, na determinação de sua seguiram, rigorosamente, a norma DNER
granulometria, de maneira que o material se (1994b) – ME 107 - mistura betuminosa a frio,
enquadrasse nos limites superior e inferior da com emulsão asfáltica – ensaio Marshall.
faixa C especificada na norma DER/PR (2005) Com base na faixa granulométrica C
ES-P 23. predefinida para este estudo, determinou-se o
teor ótimo de ligante para a mistura em análise.
2.2.1 Caracterização da Emulsão asfáltica A partir desse valor encontrado foram traçadas
retas verticais nos gráficos dos parâmetros
Para realizar a caracterização da emulsão volumétricos e mecânicos determinados em
asfáltica foram realizados os ensaios descritos função do teor de asfalto obtendo-se assim os
abaixo: dados referentes a uma mistura dimensionada
 Ensaio de viscosidade Saybolt Furol: de para o teor ótimo de ligante. Abaixo os gráficos:
acordo com procedimentos detalhados pela  Massa especifica aparente X teor de
ABNT (2007b) NBR-14491; CAP;
 Densidade e massa específica pelo uso  Índice de vazios X teor de CAP;
de picnômetro: conforme a DNER (1996) – ME  Vazios no agregado X teor de CAP;
193;  Relação Betume vazios X teor de CAP;
 Ensaio de resíduo por evaporação:  Estabilidade X teor de CAP;
conforme prescrição da ABNT (2007a) NBR  Fluência X teor de CAP;
14376.  Estabilidade X teor de CAP;
 Tração X teor de CAP.
2.2.2 Caracterização da Escória de aciaria

A classificação da escória de aciaria foi 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES


realizada através dos seguintes procedimentos:
 Peneiramento seguindo as instruções da 3.1 Caracterização da Emulsão Asfáltica
norma DNER (1998a) – ME 083;
 Ensaio de massa específica do agregado 3.1.1 Ensaio de viscosidade Saybolt-Furol
miúdo segundo as orientações da norma DNER
(1998b) – ME 194; O resultado deste ensaio determina o tempo, em
 Ensaio de massa específica do agregado segundos, para que 60 ml de amostra escoe em
graúdo e absorção obedecendo ao DNER (1997) fluxo contínuo, através de um orifício de
– ME 195. dimensões padronizadas sob condições
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especificadas na ABNT (2007b) NBR 14491. A


Tabela 1 fornece o tempo gasto para o completo Neste ensaio a emulsão é aquecida, de forma
escoamento de duas amostras de emulsão a branda e com agitação contínua a fim de evitar a
temperatura de 50°C. ocorrência de respingos, até a total evaporação
da água (ou da água e solvente) e, no decorrer
Tabela 1: Viscosidade do ensaio, observa-se a formação de uma fase
Amostra Tempo (s) pastosa devido a essa evaporação. O ensaio
1 7,55 deverá ser interrompido no momento em que
2 8,25
esta fase pastosa se transforma em um fluido de
superfície espelhada, constituído pelo resíduo
O tempo marcado no ensaio está de acordo asfáltico. Logo após, a amostra deve ser pesada.
com o estipulado pela DNIT (2013) - EM 165, A Tabela 3 mostra o valor encontrado para o
que indica para a emulsão RR-1C, o tempo teor de Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP)
máximo de 90 segundos de viscosidade a 25ºC. contido na emulsão utilizada em estudo para
duas amostras de emulsão.
3.1.2 Determinação da densidade e da massa
específica pelo uso de picnômetro Tabela 3: Teor de CAP presente na emulsão
Tempo Massa 1 Massa 2 Média Teor de
A densidade, segundo a DNER (1996) – ME (h) (g) (g) (g) CAP (%)
193, é a relação de massa de um dado volume 0 50,270 50,420 50,345
de material a 25°C ou 15,6°C, para a de igual 2 22,120 22,460 22,290 44,200
volume de água destilada à mesma temperatura. 3 22,020 22,400 22,210
A Tabela 2 apresenta a massa especifica e a
densidade de duas amostras de emulsão A porcentagem de CAP presente na emulsão
asfáltica obtidas de acordo com o protocolo asfáltica em estudo está abaixo da estabelecida
prescrito na norma citada acima. pela DNIT (2013) - EM 165, que determina
para emulsão do tipo RR-1C o valor mínimo de
Tabela 2: Massa específica e densidade da emulsão CAP de 62%.
Massas do picnômetro 1 2 Média
Massa Vazio (g) 26,330 25,330 25,830
Massa cheio de água 55,190 52,524 53,865
3.2 Caracterização da Escória de Aciaria
(g)
Massa com 1/3 de 35,710 34,290 35,000 3.2.1 Granulometria
emulsão (g)
Massa com 1/3 de 56,680 55,570 56,125 Trabalhou-se com a Faixa C, pré-misturado a
emulsão + 2/3 de água
(g)
frio semi-aberto ou semi-denso (PMFSD),
Densidade da emulsão 1,189 1,511 1,350 conforme o item 5.3.1 da especificação técnica
Massa específica 1,184 1,504 1,344 DER/PR (2005) ES-P 23.
(g/cm³) Segundo a DER/PR (2005) ES-P 23,
Massa específica da água 0,996 PMFSD é a mistura asfáltica executada à
(g/cm³)
temperatura ambiente, em usina apropriada,
composta de agregados minerais de
Os resultados obtidos para massa específica e
granulometria descontínua e emulsão asfáltica,
para densidade da emulsão foram maiores do
espalhada e compactada a frio, com volume de
que esperados, já que a temperatura de 25°C a
vazios nos limites de 10 a 20%.
massa específica é de aproximadamente 1
Realizou-se a análise granulométrica de
g/cm³.
acordo com a DNER (1998a) – ME 083. Os
3.1.3 Ensaio de resíduo por evaporação
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resultados estão apresentados na Tabela 4 e Tabela 5: Massa específica do agregado miúdo


Figura 1. Frasco com
água Massa Vol. do Massa
Agreg.
agreg. conjunto específica
Miúdo Vol. Massa
(g) (cm³) (g/cm³)
(cm³) (g)
Amostra
300 556,25 487,06 435,30 3,60
1
Amostra
300 556,58 506,50 442,40 3,56
2
Massa Específica Média (g/cm³) 3,58
Vol.: volume

Figura 1: Curva granulométrica do agregado utilizado na 3.2.3 Ensaio de massa específica e absorção
mistura e os limites superior e inferior da Faixa C do agregado graúdo
Tabela 4: Granulometria da amostra de agregados
Por meio dos valores de massa, pode-se calcular
Massa
Peneira
(g)
% Retida % Passa a massa específica na condição seca, a massa
1” 25,400 0,0 0,000 100,000 específica na condição saturada com a
3/4” 19,100 276,0 5,979 94,021 superfície seca e a absorção que mede o
3/8” 9,520 155,5 33,701 60,320 aumento da massa do agregado devido ao
4 4,760 166,5 36,083 24,236 preenchimento dos seus poros por água,
10 2,000 680,0 14,729 9,508 expresso como percentagem de sua massa seca.
200 0,074 439,0 9,508 0,000
Massa Total (g): 4614 A
 (1)
B-C
Verificou-se que a curva granulométrica do
agregado siderúrgico se enquadrava nos limites Em que:
inferiores e superiores da Faixa C, de acordo : massa específica do agregado na
com a norma DER/PR (2005) ES-P 23. condição seca [g/cm³];
A: massa da amostra, após a secagem na
3.2.2 Ensaio de massa específica do agregado estufa e resfriamento à temperatura ambiente
miúdo massa seca em estufa) [g];
B: massa da amostra na condição saturada
A massa específica do agregado miúdo é obtida com a superfície seca [g];
através da leitura fornecida pelo frasco C: massa da amostra imersa em água (massa
Chapman sendo que o volume em m³ é dado hidrostática) [g];
pelo conjunto água-agregado miúdo. Para este ensaio é recomendado por norma o
Com base nas etapas estabelecidas pela uso de peneiras com abertura de 4,8 mm e 2,4
DNER (1998b) – ME 194, obteve os seguintes mm, mas se necessário podem ser utilizados
resultados para a massa específica da escória de outras peneiras.
aciaria analisadas para duas amostras Na Tabela 6 se encontra os valores de massa
representadas na Tabela 5. específica e de absorção do agregado graúdo
composta pela escória de aciaria para uma
amostra de agregado graúdo.
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Tabela 6: Massa específica e absorção do agregado


graúdo Para a obtenção do teor ótimo de ligante para a
Massa Massa mistura em análise, foi feita uma comparação
Massa Massa
Agreg. seca em esp. Absorção
Graúdo
Seca Hidr.
estufa seca (%)
entre as médias das especificações encontradas na
(g) (g) DER/PR (2005) ES-P 23, como mostra a Tabela
(g) (g/cm³)
1 3106,20 2152,20 3036,26 3,18 2,3 8, e o teor de ligante para cada valor das
Tara do recipiente 694,2
características a serem alcançadas. A partir do
valor encontrado foram traçadas retas verticais
Recipiente + agregado 2846,4
em cada um dos gráficos dos parâmetros
Massa Hidr. : massa hidrostática
volumétricos e mecânicos para a aquisição dos
Agreg.: agregado
Esp. : específica dados referentes a uma mistura dimensionada
para o teor ótimo de ligante.
3.3 Caracterização da mistura A Tabela 9 mostra os valores coletados para
cada característica da mistura referentes a uma
3.3.1 Ensaio Marshall mistura dimensionada para o teor ótimo de
ligante.
Foram confeccionados 15 corpos de prova,
Tabela 8: Teor ótimo encontrado
sendo 3 para cada um dos teores de ligante Valor de teor
estudados. Os teores de resíduo (CAP) de ligante
utilizados foram iguais a 3,03%, 3,37%, 3,71%, Características Limites Média encontrado no
4,06%, 4,41% para os traços 1, 2, 3, 4 e 5 gráfico (%)
respectivamente. Os teores correspondentes de Índice de 10 - 20 15 -
emulsão para os traços 1, 2, 3, 4 e 5 foram Vazios (%)
Estabilidade ≥ 300 - 3,71
iguais a 4,74%, 5,23%, 5,81%, 6,36% e 6,90%
(Kgf)
respectivamente. Fluência (mm) 2,0 – 4,5 3,25 4,06
A Tabela 7 fornece os valores médios das Teor de 4,5 – 6,5 5,50 -
características dos corpos de prova para cada Emulsão (%)
teor de CAP adotado. Teor ótimo encontrado (%) 3,90

Tabela 7: Dados médios dos corpos de prova Tabela 9: Valores encontrados para o Teor ótimo do CAP
Traço 1 2 3 4 5
Índice de vazios (%)

Estabilidade (Kgf)

Tração (Kgf/cm³)
Massa especifica
aparente (g/cm³)
Teor ótimo (%)

Fluência (mm)

Massa esp.
VAM (%)

RBV (%)

aparente 2,29 2,34 2,34 2,32 2,35


(g/cm³)
DMT
3,09 3,07 3,06 3,04 3,03
(g/cm³)
Vazios (%) 25,81 23,63 24,52 23,7 22,34
VCB (%) 5,14 5,92 6,42 6,97 7,60
3,90 2,29 24,30 31 21,10 339 5,75 3,85
VAM (%) 30,95 29,55 30,94 30,70 29,94
RBV (%) 16,60 20,04 21,45 22,8 25,37 VAM: vazios no agregado mineral
Estabilidade RBV: relação betume-vazios
339,4 331,7 391,9 261 279,8
(Kgf)
Fluência
5,56 5,16 5,03 5,95 5,56 Observou-se que o valor da estabilidade
(mm) Marshall, encontrado para o teor ótimo de CAP,
Tração
3,26 3,05 3,51 2,22 2,36 atendeu à exigência prescrita pela norma de
(Kgf/cm³)
DMT: densidade máxima teórica apresentar estabilidade mínima de 300 kgf para
VCB: vazios cheios com betume 75 golpes.
VAM: vazios no agregado mineral
RBV: relação betume-vazios
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3.3.2 Ensaio de resistência à tração por


compressão diametral Como especificado no DNER (1994b) – ME
107, após 24 horas em estufa a uma temperatura
A Tabela 10, a seguir, mostra o resultado obtido de 60°C e após 2 horas em temperatura
no ensaio de tração por compressão diametral ambiente ocorreu à extração do corpo de prova,
para cinco corpos de prova. Figura 3. Pode-se observar, na Figura 2 (c e d)
que não ocorreu uma mistura íntima entre a
Tabela 10: Tração por compressão diametral escória e o agregado, pois a escória apresenta
Corpos Altura Estabilidade Diâmetro Tração em sua constituição aditivos químicos capazes
de média (Kgf) (cm) (Kgf/cm²)
prova (cm)
de retrair o ligante, conclusão que pode ser
definitiva por meio da realização do ensaio de
1 6,56 339,60 3,26
adesividade, DNER (1994a) - ME 078 –
2 6,86 331,70 3,05
3 7,03 391,90 3,51 Agregado graúdo – adesividade a ligante
10,10
4 7,40 261,00 2,22 betuminoso.
5 7,46 279,80 2,36 Outro fator que pode ter interferido no
insucesso dessa mistura foi a utilização de
Com relação ao ensaio de resistência à tração emulsão RR-1C, sendo mais indicada emulsões
por compressão diametral, observando-se os de rupturas lenta (RL) ou média (RM).
valores contidos na Tabela 10 e comparando-os
com os valores da referida resistência citados
por Medina e Motta (2005), para misturas a
quente, observou-se que para a função de capa a
resistência à tração do PMF foi baixa e para a
função de binder, os valores foram mais
adequados.
A Figura 2, a seguir, mostra etapas durante o
ensaio.

Figura 3: Corpo de Prova

4.2 Teor de ligante

O teor de emulsão asfáltica ótimo encontrado


Figura 2: Etapas realizadas durante os ensaios no Ensaio Marshall (Tabela 9) apesar de ter
ficado dentro da faixa estabelecida pela norma
DER/PR ES-P 23/05, como é observado na
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tabela 8, não proporcionou um recobrimento
satisfatório do agregado pela emulsão asfáltica.
4.1 Corpo de Prova
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4.3 Mistura utilização de aditivo dope que tem como


finalidade promover a afinidade físico/química
Durante a preparação da mistura observou-se na interface ligante/agregado, corrigindo a
um endurecimento muito rápido da emulsão deficiência de aderência entre os ligantes e os
acrescentada aos agregados. Assim, houve agregados.
dificuldade na homogeneização da mistura Outro fator que pode ter influenciado no
durante a agitação mecânica. Esse evento pode insucesso da mistura foi o uso de emulsão de
ser explicado pelo uso de emulsão de ruptura ruptura rápida, ao invés das tradicionais
rápida, ao invés das tradicionais indicadas para indicadas para pré-misturados a frio (RL ou
pré-misturados a frio (RL ou RM). Em serviços RM). Ao utilizar a emulsão de ruptura rápida à
de pré-misturado a frio, cuja emulsão ruptura se inicia com o contato da emulsão com
recomenda é a do tipo média RM ou RL, a a superfície dos agregados e se conclui em
ruptura se inicia logo após a misturação da poucos minutos, dificultando uma perfeita
emulsão com os materiais pétreos que compõem homogeneização da mistura.
o traço, concluindo-se após alguns minutos. Ao Com relação à dosagem Marshall, observou-
utilizar a emulsão de ruptura rápida a ruptura se se que, quanto à estabilidade Marshall os corpos
inicia com o contato da emulsão com a de prova atenderam à exigência de
superfície dos agregados e se conclui em poucos apresentarem estabilidade mínima de 300 kgf
minutos, dificultando uma perfeita para 75 golpes de acordo com a norma DER/PR
homogeneização da mistura, e com isso tendo ES-P 23/05.
um recobrimento insatisfatório da mistura. Com relação ao comportamento do material
Outro fator que pode te interferido no submetido ao ensaio de resistência à tração por
insucesso da mistura é devido ao compressão diametral, concluiu-se que os
comportamento termo-viscoso do ligante resultados foram consideravelmente inferiores
asfáltico, pois a medida da viscosidade está aos das misturas a quente apresentados por
relacionada com a força de atração das Medina e Motta (2005). Sendo assim, os
moléculas. Como a viscosidade é inversamente resultados do pré-misturado a frio, indicaram
proporcional à temperatura, quanto maior a que esse material é mais indicado para ser
temperatura, menos viscoso é o liquido. Durante utilizado na função de binder (camada de
a execução dos ensaios a temperatura ambiente ligação posicionada imediatamente abaixo da
do laboratório estava baixa, por consequência a capa) que requer uma menor resistência.
emulsão mostrou-se mais viscosa e isso pode, Em vista disso, os resultados aqui
também, justificar o endurecimento mais preliminares, não impedem a possibilidade de
rápido. uso desta escória de aciaria em pré-misturado a
frio. Portanto, essa pesquisa poderá contribuir
para o enriquecimento do banco de dados
5 CONCLUSÕES referentes ao uso de escória de aciaria em
misturas asfálticas, estimulando a adoção desses
Pode-se concluir que não ocorreu a completa agregados siderúrgicos na pavimentação.
reação entre os componentes da mistura
confeccionada na pesquisa. De acordo com o
comportamento vislumbrado ao longo dos AGRADECIMENTOS
ensaios verificou-se a ocorrência de reações,
provavelmente químicas, não identificadas por DTECH/UFSJ, Grupo de Pesquisa em
este trabalho, que impedem um entrosamento Infraestrutura de Transportes e Obras
adequado entre o agregado siderúrgico testado e Geotécnicas – INFRAGEO e FAPEMIG.
a emulsão utilizada. Sugere-se então a
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massa específica de agregado graúdo. Departamento


REFERÊNCIAS Nacional de Estradas De Rodagem. DNER – ME 195
– Rio de Janeiro, 1997.
DNER Agregados – Análise Granulométrica.
Abeda (2001). Manual Básico de Emulsões Asfáltica. Departamento Nacional de Estradas De Rodagem.
Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de DNER - ME 083 –, Rio de Janeiro, 1998a.
Asfalto. Soluções para Pavimentar sua Cidade, Rio de DNER Agregados – Determinação da Massa Específica
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DER/PR Pavimentação: Pré-Misturado A Frio.
Departamento De Estradas de Rodagem do Estado do
Paraná. DER/PR – ES-P 23 –18p, 2005.
DNER Escórias de aciaria para pavimentos rodoviários.
Departamento Nacional de Estradas De Rodagem,
DNER – EM 262 – Rio de Janeiro, 1994.
DNER Agregado graúdo – adesividade a ligante
betuminoso. Departamento Nacional de Estradas De
Rodagem, DNER – ME 078 – Rio de Janeiro, 1994a.
DNER Mistura betuminosa a frio, com emulsão asfáltica
– ensaio Marshall. Departamento Nacional de
Estradas De Rodagem. DNER – ME 107 - Rio de
Janeiro, 1994b.
DNER Misturas betuminosas - determinação da
resistência à tração por compressão diametral.
Departamento Nacional de Estradas De Rodagem.
DNER – ME 138 – Rio de Janeiro, 1994c.
DNER Materiais Betuminosos Líquidos e Semi – Sólidos
- Determinação da densidade e da massa específica.
Departamento Nacional de Estradas De Rodagem.
DNER – ME 193 – Rio de Janeiro, 1996.
DNER Agregados – Determinação da absorção e da
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Efeito da Adição de Resíduos de Construção e Demolição na


Resistência ao Cisalhamento de um Solo Argiloso da Formação
Geológica Guabirotuba
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
eclesielter_ebm@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Jair Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, yaderbal@hotmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, izzo@utfpr.edu.br

Juliana Lundgren Rose


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, julrose@gmail.com

RESUMO: A resistência ao cisalhamento é um importante parâmetro a ser analisando dentro do


comportamento mecânico dos solos. Seu conhecimento é imprescindível na análise de estabilidade
taludes e encostas, capacidade de carga, estruturas de contenção e subleito de pavimentação. Na
presente pesquisa foram realizados ensaios de resistência ao cisalhamento em um solo da Formação
Geológica Guabirotuba, e adicionando resíduos de construção e demolição (RCD) em quatro teores
diferentes. Esta pesquisa foi composta de ensaios laboratoriais, visando o aproveitamento deste
resíduos de construção e demolição em obras geotécnicas, bem como analisar o efeito da adição
desses resíduos nas propriedades físicas das misturas. Os ensaios utilizados na etapa experimental
foram os de caracterização, compactação na energia Proctor normal e resistência ao cisalhamento do
solo e das misturas solo-RCD. Após a análise dos resultados, observa-se que a adição do RCD ao
solo aumenta o ângulo de atrito em 13% na energia de compactação Proctor Normal, assim como
melhora as propriedades plásticas do solo, diminuindo o índice de plasticidade do mesmo em até
86%. Nota-se que com o aumento do teor de RCD o intercepto coesivo diminui, chegando a diminuir
até 53%.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-RCD, Resistência ao cisalhamento, Ângulo de atrito.

1 INTRODUÇÃO tensões e o índice de vazios. Já nos solos


residuais se destacam a estrutura do solo,
A resistência ao cisalhamento é um importante composição mineralógica, distribuição das
parâmetro a ser analisando dentro do partículas, a saturação e as ações de
comportamento mecânico dos solos. Sabe-se que intemperismo (ROCIO et al., 2012).
solos residuais e sedimentares apresentam Seu conhecimento é imprescindível na análise
diferenças em tal parâmetro, uma vez que, nos de estabilidade taludes e encostas, capacidade de
solos sedimentares a resistência ao cisalhamento carga, estruturas de contenção e subleito de
é influenciada principalmente pelo histórico de pavimentação. Usualmente o critério de Mohr-
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Coulomb é utilizado na descrição desse efeito os casos em que se há ou não dados referentes ao
para solos saturados, sendo possível obter dois adensamento. Para os casos em que não há dados
parâmetros importantes: o intercepto de coesão e de adensamento do solo, a ASTM D3080 (2011)
o ângulo de atrito (RAHARDJO et al., 2012; sugere os seguintes tempos de execução do
MARINHO, 2013; SCHNELLMANN; ensaio (Tabela 1):
RAHARDJO; SCHNEIDER, 2013;
PECAPEDRA, 2016). Tabela 1: Tempo mínimo de ruptura
O intercepto de coesão do solo pode ser Classificação USCS Tempo mínimo de
definido como a força de atração entre as suas ruptura
partículas. A coesão real é dada pela ação de SW, SP (<5% finos) 10 min
agentes cimentantes e a denominada coesão SW-SM, SP-SM, SM
aparente se dá pela presença da tensão superficial 60 min
(>5% finos)
da água nos capilares de solo tendendo a SC, ML, CL, SP-SC 200 min
aproximação entre si. Em solos argilosos a
resistência ao cisalhamento está relacionada ao MH, CH 24 horas
atrito destas partículas juntamente com a ação da
coesão, já em solos arenosos onde a coesão é Quase toda atividade industrial e humana produz
baixa a resistência se dá basicamente através do resíduos, e o incremento e acumulação desses
atrito entre as partículas (BARBOSA; LIMA, causam sérios problemas ambientais e
2012; SILVA; CARVALHO, 2007). econômicos ao redor do mundo (CARDOSO et
Avaliando a tensão de cisalhamento dos solos, al., 2016). O crescimento urbano, bem como a
Silva e Carvalho (2007) concluem que esta geração de resíduos, particularmente os de
propriedade mecânica aumenta construção civil (RCD), trouxeram sérios
significativamente com a redução do teor de problemas de gerenciamento às cidades
água e, quanto maior a coesão apresentada no (RODRIGUEZ et al., 2007). O problema
solo maior é a resistência a penetração. Além ambiental resultante da disposição irregular
disso, a resistência a penetração também é desses resíduos é uma das causas da preocupação
influenciada pelo estado de compactação do solo governamentista, em função dos impactos que a
(IORI; DIAS JUNIOR; SILVA, 2011). disposição ilegal tem nas cidades e seus
Em casos em que a resistência ao arredores (MELO; GONÇALVES; MARTINS,
cisalhamento é menor que os esforços 2011).
solicitantes se faz necessária a execução de Em qualquer técnica de aproveitamento de
algum tipo de intervenção, neste caso, pesquisas materiais oriundos de reciclagem é fundamental
relacionadas ao desenvolvimento de técnicas de a realização de estudos preliminares,
reforço estão sendo desenvolvidas a fim de contemplando principalmente aspectos da
suprir tais falhas. Os autores Barbosa e Lima geometria do pavimento, à natureza e modos em
(2012) e Rahardjo et al., (2014), avaliam o ganho que se realizará a manutenção necessária durante
de resistência utilizando a cobertura vegetal em o período de vida útil do pavimento, a
taludes. Já no estudo de Asce, Ghazavi e Moayed caracterização dos materiais reciclados, a
(2017), foi avaliada a aplicação de geossintéticos espessura de intervenção utilizada como base e a
para a garantia de estabilidade de encostas, delimitação de teores da mistura final dos
problemas estes oriundos da redução da materiais a aplicar para o tipo de pavimento.
resistência ao cisalhamento do solo. (MOREIRA, 2005). Dessa forma, o presente
Segundo Marinho (2013), o ensaio deve ser estudo tem objetiva analisar o comportamento
executado em uma velocidade relativamente mecânico do solo no que se refere à resistência
baixa para garantir as condições plenas de ao cisalhamento quando se incorpora diferentes
drenagem. Desta forma, a ASTM D 3080 (2011), teores de RCD.
estabelece o tempo de realização do ensaio para
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2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1.2 RCD

2.1 Materiais O resíduo de construção civil utilizado foi


coletado na usina de reciclagem da cidade de
2.1.1 Solo Almirante Tamandaré, Região metropolitana de
Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou
O solo utilizado para o estudo foi coletado em seja, composto por resíduos cinzas (concreto,
uma obra próximo à cidade de Curitiba, no argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e
município de Fazenda Rio Grande (PR), em um brancos (cal, gesso, etc.). Foram escolhidas duas
local de construção de casas populares com granulometrias de RCD: areia (material ≤
localização geográfica 25°41'03.9"S e 4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo
49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada realizada a granulometria do RCD, representada
da Formação Guabirotuba, a qual é composto por na Figura 2.
35,5% de argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte
(0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia fina (0,074 a 100
Solo
0,42 mm). 90
Areia (RCD)
80
A Figura 1 mostra a curva granulométrica do Pedrisco (RCD)
70
solo. A umidade higroscópica encontrada do
Passante (%)

60
solo in situ é próxima a 40%. 50
40
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)

Figura 2. Curva Granulométrica do RCD

A Tabela 3, mostra algumas propriedades do


RCD coletado:

Tabela 3. Propriedade do RCD. Fonte: USIPAR, 2003.


Pedrisco Areia
Propriedade Valores Propriedade Valores
Figura 1. Curva granulométrica do solo Sulfatos < 1% Sulfatos < 1%
Teor de fragmentos à base de > 90% Teor de combinantes > 3%
A Tabela 2 apresenta as propriedades físicas do cimento e rocha
Cloretos < 1% Cloretos < 1%
solo estudado.
Materiais não minerais < 2% Materiais não minerais < 2%
Absorção de água < 8% Absorção de água < 13 %
Tabela 2. Propriedades físicas do solo Torrões de argila < 2% Torrões de argila < 2%
Valores Teor máximo de material < 10% Teor máximo de material < 13%
Propriedades Físicas passante na malha 75μm passante na malha 75μm
Médios
Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³ Densidade natural Kg/m3 1.384 Densidade natural 1.323
7,5 % Kg/m3
Areia média
Areia fina 25,9%
Silte 57,6% 2.1.3 Água
Argila 9%
Limite de liquidez, LL 53,1% A água empregada tanto para os ensaios de
Índice de plasticidade, IP 21,3% caracterização do solo, quanto de Proctor
Normal e de Indice de Suporte Califórnia – ISC
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– foi destilada conforme as especificações das Ainda durante a preparação dos corpos de
normas, enquanto está livre de impurezas e evita prova, são inseridas pedras porosas nas faces
as reações não desejadas. inferior e superior da amostra para garantir a
drenagem intersticial durante a realização do
2.2 Métodos ensaio. Em seguida a amostra passa por um
processo de saturação.
2.2.1 Dosagem das misturas A fase de adensamento foi realizada com
tensões normais de 50 kPa, 100 kPa, 200 kPa e
Foi realizado uma estabilização granulométrica 400 kPa utilizando o equipamento de
para este solo, conforme reportado por Moreira cisalhamento direto em velocidade constante de
(2018), para determinar o teor ótimo da mistura 1 mm/min. A variação de tensões normais é
do solo com RCD e tendo em consideração importante na construção da envoltória de
diferentes pesquisas sobre reforço de solos com resistência do solo (Figura 3).
RCD, definiu-se para o presente estudo 4 teores
de RCD. Para facilitar o estudo adotou-se as
nomenclaturas: Solo, M1, M2, M3 e M4; de
acordo com a Tabela 4.

Tabela 4. Dosagem dos Insumos.


Porcentagem de cada Insumo
Mistura
Solo Areia Pedrisco
Solo 100% 0% 0%
M1 60% 30% 10%
M2 60% 20% 20%
M3 50% 30% 20%
M4 40% 30% 30% Figura 3 – Equipamento de cisalhamento direto
Fonte: Moreira (2018)
3 RESULTADOS
2.2.2 Ensaios de Compactação
3.1 Limites de Atterberg do solo e das misturas
Foram feitos ensaios de compactação do solo e solo-RCD
das misturas solo-RCD (normal, intermediária e
modificada), conforme a norma DNIT – Na Tabela 5 é apresentado o resumo dos Limites
164/2012 - ME. de Atterberg do solo e das misturas solo-RCD.

Tabela 5. Limites de Atteberg.


2.2.3 Ensaios de Resistência ao Cisalhamento
Direto Propriedades Solo M1 M2 M3 M4
LL 53,1% 43,8% 50,2% 44,6% 47,1%
Os ensaios de cisalhamento direto foram LP 31,8% 27,8% 28,8% 35,3% 44,0%
realizados seguindo as especificações da norma IP 21,3% 16,0% 21,4% 9,3% 3,1%
D3080 (ASTM, 2011). As amostras deveriam
obter as mesmas condições de γdmáx e ωót obtidos Observa-se que com a adição de RCD no solo, o
no ensaio de compactação e foram previamente Índice de Plasticidade do solo diminui,
moldadas utilizando um suporte metálico com melhorando as propriedades plásticas do solo,
dimensões de 100 x 100 x 20 mm, e diminuindo o índice de plasticidade do mesmo
posteriormente inseridos em uma caixa metálica em 86%.
bipartida denominada caixa de cisalhamento.
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3.1 Ensaio de compactação Nota-se que com o aumento do teor de RCD


o intercepto coesivo diminui, chegando a
A Figura 4 mostra as curvas de compactação do diminuir em 53%. Isto acontece em função do
solo estudado e de cada mistura usada, na energia acréscimo de material não coesivo (RCD) nas
normal. misturas.

17 250
M0: =41,8+ σ tan (22,7); R2=0,99
M1: =15,4+ σ tan (25,7); R2=0,97
16 M2: =21,0+ σ tan (25,1); R2=0,97
Peso Específico Seco (kN/m3)

M3: =15,0+ σ tan (25,9); R2=0,97


200 M4: =22,5+ σ tan (25,5); R2=0,97

15

Tensão Cisalhante (kPa)


150
14

13
100

Mistura 0
12
Mistura 4
10 20 30 40
50
Teor de Umidade (%) Mistura 3

Ajuste Solo Ajuste Mistura 1 Mistura 2


Ajuste Mistura 2 Ajuste Mistura 3 Mistura 1
Ajuste Mistura 4 Saturação 100% 0
Saturação 80% 0 100 200 300 400
Tensão Normal Aplicada (kPa)
Figura 4. Curvas de compactação do solo e misturas solo-
RCD Figura 5. Envoltórias de Ruptura Mohr-Coulomb

A Tabela 6 apresenta a variação do peso O novo intercepto coesivo se assemelha com


específico seco máximo e a umidade ótima para materiais arenosos, entre 15 e 22 kPa. Esses
diferentes misturas de RCD: resultados impactam em uma obra, uma vez que
pode haver a necessidade de confinamento do
Tabela 6. Propriedades de compactação da argila material para o seu uso.
com diferentes misturas. Foi observado que à medida que se aumenta o
Peso especifico Umidade
seco máximo,
teor de RCD, o ângulo de atrito do solo aumenta,
Mistura ótima,
γdmáx (kN/m3) Wot (%) isso acontece, pois há a incorporação de RCD na
0 1,358 32,5 fração areia e pedrisco, aumentando o contato
M1 1,521 25,2 entre os grãos do solo e um maior
M2 1,512 24,0 empacotamento do corpo de prova compactado.
M3 1,581 21,3 Observa-se que a adição do RCD ao solo
M4 1,613 20,2 aumenta o ângulo de atrito em 13% na energia
de compactação Proctor Normal. No entanto
3.1 Influência do teor de RCD na resistência com a diminuição do intercepto coesivo e o
ao cisalhamento - τ. aumento do ângulo de atrito, as misturas
apresentaram uma maior resistência ao
Os resultados de cisalhamento direto do solo e cisalhamento em relação ao solo quando
das misturas M1, M2, M3 e M4 no ponto ótimo submetida à tensões acima de 260 kPa para a
da energia de compactação proctor normal (EN) mistura 4, e acima de 350 kPa para as demais
encontram-se na Figura 6. misturas, logo o tipo de mistura a ser utilizada
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dependerá do nível de tensões que o solo será em Central: contribuição para o seu estudo e
submetido. aplicação. Dissertação (Doutorado) - FCTU de
Coimbra, grau de Doutor em Engenharia Civil,
Coimbra, 2006.
4 CONCLUSÕES Cardoso, R.; Silva, R. V.; De Brito, J.; Dhir, R. Use of
recycled aggregates from construction and demolition
A partir dos resultados e dados apresentados waste in geotechnical applications: A literature
neste trabalho é possível fazer algumas review. Waste Management. vol. 49, p. 131 – 145,
2016.
considerações: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
DNIT 164/2012 – ME - Compactação utilizando
• O uso de RCD em solos finos melhoram a amostras não trabalhadas. 2013.
plasticidade, haja vista que a granulometria do Iori, P., Junior, D., de Souza, M., & da Silva, R. B. (2012).
material muda, e por conseguinte a porcentagem Resistência do solo à penetração e ao cisalhamento em
diversos usos do solo em áreas de preservação
de finos diminui, diminuindo assim o índice de permanente. Bioscience Journal, 185-195.
plasicidade do material; De Melo, A. B.; Gonçalves, A. F.; Martins, I. M.
Construction and demolition waste generation and
• A utilização de RCD diminui o intercepto management in Lisbon (Portugal). Resources,
coesivo, em função da diminuição de finos; Conservation and Recycling, vol. 55, p. 1252–1264,
2011.
Mehdipour, I., Ghazavi, M., & Ziaie Moayed, R. (2017).
• Quanto maior a incorporação de RCD ao solo, Stability Analysis of Geocell-Reinforced Slopes Using
maior será o angulo de atrito, pois há a the Limit Equilibrium Horizontal Slice Method.
incorporação de material de fração areia e International Journal of Geomechanics, 17(9),
pedrisco nas misturas; 06017007.
Moreira, E.B. (2018). Comportamento mecânico de um
solo argiloso misturado com resíduos de construção e
• A mistura de solo-RCD a ser utilizada demolição para utilização em pavimentação.
dependerá do nível de tensões que será imposto Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação
na obra, pois acima de 260 kPa a mistura 4 de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade
garante uma maior resistencia ao cisalhamento Tecnológica Federal do Paraná, 144 p.
Moreira, J. P. Contribuição para a reutilização de
que o solo. material fresado em camadas estruturais de
pavimento. Dissertação (mestrado) - Universidade do
AGRADECIMENTOS Minho. Engenharia Rodoviária. Guimarães, 2005.
Pecapedra, L. L. (2016). Estudo da resistência ao
Os autores agradecem o apoio do Programa de cisalhamento não saturada de solos residuais de
granito e diabásico de Florianópolis/SC.
Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) Schnellmann, R., Rahardjo, H., & Schneider, H. R. (2013).
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Unsaturated shear strength of a silty sand.
(Curitiba, Brasil). Também querem agradecer à Engineering Geology, 162, 88-96.
instituição de fomento de pesquisa brasileira, Rodriguez, G.; Alegre, F.J.; Martinez, G. The contribution
CAPES, pelo apoio financeiro. of environmental management systems to the
management of construction and demolition waste: the
case of the Autonomous Community of Madrid (Spain).
REFERÊNCIAS Resources, Conservation and Recycling, vol. 50, p.
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American Society for Testing and Materials. D 3080: Rahardjo, H., Vilayvong, K., & Leong, E. C. (2010).
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Conshohocken, Estados Unidos, 1998. Rocio, M. A. R., Silva, M. M. D., Carvalho, P. S. L. D., e
Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). NBR Cardoso, J. G. D. R. (2012). Terras-raras: situação
15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da atual e perspectivas. BNDES Setorial, n. 35, mar.
construção civil – Utilização em pavimentação e 2012, p. 369-420.
preparo de concreto sem função estrutural –
Requisitos. Rio de Janeiro, 2004.
Baptista, A. Misturas Betuminosas Recicladas a Quente
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Efeito da contaminação por petróleo bruto nas propriedades


físico-químicas de solos finos tropicais
Carolina Trindade Paiva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil, carolina.paiva.015@gmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil, nati.scorreia@gmail.com

Simone Cristina de Jesus


Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil, simone.jesus@uftm.edu.br

RESUMO: Em todo o mundo, acidentes envolvendo contaminação de solos através de


derramamentos e vazamentos de petróleo bruto são comuns, muitas vezes inviabilizando o uso do
solo. No entanto, a depender do teor de contaminação, é possível avaliar a reutilização deste solo,
tal como indicado em atuais políticas de orientação de reuso de solos contaminados com petróleos e
derivados. Entre as formas de reuso de solos contaminados estão: usinas de produção de asfalto,
camadas de sub-base de pavimentos, camada de cobertura ou fechamento de aterros sanitários,
pátios de estacionamentos e depósitos de resíduos. Diante deste contexto, esta pesquisa visa analisar
o comportamento geotécnico do solo quando contaminado por petróleo bruto. Assim, este trabalho
consiste em avaliar o comportamento físico-químico de dois solos finos tropicais artificialmente
contaminados com petróleo bruto, em teores de 4, 8, 12 e 16% em relação à massa seca dos solos.
Serão avaliadas alterações na granulometria, plasticidade, pH e capacidade de troca catiônica de um
solo areno-argiloso e um solo silto-argiloso. Os resultados mostraram que o petróleo não provocou
alterações significativas nos valores de pH e nas cargas elétricas dos solos. Alterações na CTC do
solo areno-argiloso foram verificadas, indicando a presença de Caulinita. Análises de argila dispersa
em água mostraram que não houve dispersão da argila com a presença do Petróleo. A contaminação
influenciou na plasticidade do solo silto-argiloso, enquanto o solo mais arenoso não foi impactado
pela presença do contaminante.

Palavras-chave – Solo contaminado, petróleo, propriedades geotécnicas, poluição do solo.

1 INTRODUÇÃO necessários para realização dessas atividades


são, infelizmente, muitas vezes negligenciados.
O petróleo e seus derivados são substâncias Casos de derramamento de petróleo bruto no
amplamente utilizadas para diversos fins no solo são relatados na literatura mundial, sendo
mercado mundial, sendo um recurso natural não que, em muitos casos, houve necessidade de
renovável de suma importância econômica. investigação geotécnica do solo local
Assim, a exploração, extração e transporte contaminado (Izdebska-Mucha e Trzciński,
destes são cada vez mais frequentes. No 2008; Okoro et al. 2011; Oluremi e Osuolal,
entanto, devido a falhas humanas ou mecânicas, 2014). Para Onyelowe et al. (2015), o
vazamentos e derramamentos podem ocorrer na derramamento de óleos no solo atraiu ao longo
fase de extração do petróleo, na produção dos dos anos muitos pesquisadores que, com vários
combustiveis, ou transporte e estocagem destes, processos, tentam recuperar ou reutilizar o solo
bem como vandalismos em óleodutos. Cuidados contaminado.
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Em relação ao reuso de solos contaminados O estudo comparativo entre o pH do solo


com petróleos e derivados, existem atualmente natural e do solo contaminado por petróleo é
politicas de orientação de reuso e descarte, tais importante para entender como um
como a Petroleum-contaminated Soil Guidance contaminante orgânico afeta as propriedades
Policy, do Departamento de Conservação químicas do solo. No caso do petróleo, devido
Ambiental do Estado de Nova Iorque (New apresença de hidrocarbonetos cíclicos e não-
York State Regulations and Enforcement, ciclicos, a presença de íons hidroxil (OH-),
2010). Algumas formas de reuso indicadas são classifica a substancia como dependente pH, e a
em usinas de produção de asfalto, camadas de tendencia é que a matéria orgânica aumente o
sub-base de pavimentos, material de camada de pH do solo, devido a presença de grupos –OH
cobertura ou fechamento de aterros sanitários, (Meurer, 2006).
pátios de estacionamentos e depósitos de Okoro et al. (2011) avaliaram a capacidade
resíduos. No entanto, é necessário conhecer o de troca de cátions (CTC) e verificaram que foi
comportamento geotécnico destes solos na ligeiramente maior nos solos contaminados com
condição pós-contaminação. petróleo em comparação ao solo natural, e que o
Pesquisas recentes como as de Habib-ur- comportameno foi esperado, uma vez que há
Rehman et al. (2007), Khamehchiyan et al. maior teor de matéria orgânica no solo
(2007), Okoro et al. (2011), Alhassan e Fagge et contaminado. A pesquisa de Habib-ur-Rehman
al. (2013), Akinwumi et al. (2014), Onyelowe et et al. (2007) mostrou que uma argila de alta
al. (2015) e Ukpong e Umoh (2015) avaliaram o plasticidade contaminada com petróleo bruto
comportamento geotécnico de solos teve a CTC reduzida devido o revestimento de
contaminados com petróleo bruto. petróleo nos locais onde ocorreria a troca
Khamehchiyan et al. (2007) mostram que o catiônica, além de um aumento na plasticidade.
efeito da contaminação por petróleo bruto na Diante deste contexto e do potencial reuso de
resistência ao cisalhamento do solo não é solos contaminados com petróleo, nota-se a
uniforme e depende do solo tipo, e que o efeito necessidade de estudos que explorem a
a longo prazo da contaminação por deve ser interação entre solos e petróleo bruto,
determinado. A pesquisa de Alhassan e Fagge et especialmente como o petróleo afeta as
al. (2013) indica que com teor máximo de 6% propriedades físico-químicas dos solos. Nesta
de petróleo bruto, os solos podem ser usados em pesquisa, foram investigados um solo areno-
obras de engenharia. Já Akinwumi et al. (2014), argiloso (laterítico) e um solo silto-argiloso
enfatiza que o solo contaminado com petróleo (não-lateritico), contaminados artificialmente
bruto contaminado requer estabilização ou com petróleo bruto nos teores de 4, 8, 12 e 16%
remediação antes de usá-lo como material de em relação à massa seca de solo. Foram
construção. investigadas alterações na granulometria,
De acordo com Shayler et al. (2009), plasticidade, pH e CTC dos solos após a
algumas caracteristicas físico-químicas e contaminação.
mineralógicas dos solos, tais como teor de
argila, pH, quantidade de matéria orgânica,
umidade do solo, temperatura e presença de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
elementos quimicos, são afetadas pela
contaminação. Onyelowe et al. (2015) enfatiza 2.1 Solos
que, uma vez que o petróleo bruto entra em
contato com o solo, este altera suas O solo areno-argiloso laterítico foi extraído no
propriedades físicas e químicas, e que, o grau de campus sede da Universidade Federal de São
alteração depende do tipo de solo e da Carlos (UFSCar) e o solo silto-argiloso não
composição específica do óleo derramado. laterítico foi extraído das margens da SP215
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Km 152+600m entre São Carlos e Ribeirão Os solos foram manualmente misturados


Bonito-SP. De acordo com a classificação com o petróleo, em teores de 4, 8, 12 e 16%,
SUCS, o solo areno-argiloso é SC, e para a relativos à massa seca do solo, até que as
classificação MCT é um solo LA’. O solo silto- amostras apresentassem aspecto homogêneo. As
argiloso é classificado na SUCS como MH e na amostras foram ensacadas, vedadas e deixadas
classificação MCT é um solo NG’. Os solos em descanso durante 24 horas.
utilizados neste trabalho são representativos de
regiões tropicais, amplamente encontrados no
territorio nacional. 2.3 Ensaios
Após coletados, estes foram preparados tal
como prescrito na NBR 6457 (ABNT, 2016). 2.3.1 Ensaio de Granulometria com Argila
Os solos foram caracterizados pelos ensaios Dispersa em Água (ADA) – agitação rápida
granulometria conjunta - NBR 7181 (ABNT,
2016), limite de liquidez - NBR 6459 (ABNT, O ensaio ADA consiste em um tipo de ensaio
2016), limite de plasticidade - NBR 7180 de granulometria na qual a água é único meio
(ABNT, 2016), peso específico dos sólidos - dispersante. Esse ensaio é importante para
NBR 6508 (ABNT, 1984), e pH de acordo com verificar como a argila constituinte do solo se
o Manual Embrapa (2011). As propriedades comporta em meio aquoso, observando se as
geotécnicas dos solos na condição natural são particulas de argila se dispersam em contato
apresentados na Tabela 1. com a água, e assim, detectar se há argilas
ativas. Este ensaio foi escolhido em relação ao
Tabela 1. Propriedades geotécnicas dos solos naturais ensaio convencional de granulometria por não
Solo Solo silto- necessitar de defloculante, e não ter alterações
Propriedades areno- argiloso
argiloso
nas análises na presença do contaminante.
Fração areia (%) 70 20 Nesta pesquisa, foram utilizadas amostras de
Fração silte (%) 2,5 75 4% e 8% de contaminação, além de amostras
Fração argila (%) 27,5 5 sem contaminante, para os dois tipos de solos.
Peso esp. dos sólidos (kN/m³) 28,4 29,6 O procedimento utilizado foi o método
Limite de liquidez (%) 33,40 57,54
Limite de plasticidade (%) 21,46 33,37
desenvolvido no Laboratório de Física do Solo
Índice de plasticidade (%) 11,94 24,17 do Departamento de Solos da Universidade
Peso esp. seco máx. (kN/m³) 17,7 15,52 Federal de Viçosa (LFS/DPS/UFV).
Teor de Umidade ótimo (%) 14,8 28
pH em água 8,8 9,0 2.3.2 Ensaio para determinação do pH
pH em KCl 6,5 6,5
Fonte: Autores (2018)
Para as análises de alterações no pH dos
solos após a contaminação com Petróleo, foram
2.2 Contaminação solo-petróleo
utilizadas as recomendações da Embrapa
(Manual de Método de Análise de Solo, 2011).
O contaminante orgânico utilizado nesta
Neste ensaio, foram analisadas amostras com 4,
pesquisa é o Petróleo natural, classificado de
8, 12 e 16% de contaminação, comparadas com
acordo com a American Petroleum Institute
as amostras sem contaminante, para os dois
(API) como petróleo médio, ou de base
tipos de solos.
naftênica, o qual foi extraído a 120 quilometros
As análises de pH foram realizadas na na
do litoral de Cabo Frio, na Bacia de Campos –
presença de água destilada e na presença de KCl
RJ, região dos lagos. As caracteristicas do
com concentração 74,5 g/L.
Petróleo são: densidade relativa à água à 16°C
(g/cm³) igual a 0,893, pH igual a 6,39, e API
igual a 27°.
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2.3.3 Ensaio de Azul de Metileno para 3 RESULTADOS


determinação da CTC
3.1 Análise de pH
O ensaio de azul de metileno foi realizado de
acordo com Pejon (1992). O ensaio funciona A Figura 2, a seguir, ilustra os resultados dos
como um corante catiônico, pois em contato ensaios para a determinação das alterações do
com a água, a composição C16H18N3SCl.3H2O pH do solo areno-argiloso laterítico e solo silo-
sofre dissociação em ânions cloreto e cátions argiloso não laterítico, contaminados com
azul de metileno. Assim, esse método determina petróleo bruto. Para os dois solos analisados,
a capacidade de troca cationica (CTC) e da verifica-se que houve pouca alteração no pH do
superficie especifica (SE) dos argilominerais. solo em água após a contaminação. Nenhuma
Através do método do papel filtro, amostras do alteração no pH em solução KCl foi verificada
solo areno-argiloso laterítico com 4% e 8% de em ambos os casos.
contaminação, além de uma amostra sem
contaminante, foram imersas em uma solução 10.0
Solo areno-argiloso
1,5g/l de azul de metileno e homogeneizadas
9.0
com um agitador mecânico (Figura 1).
8.0
pH

7.0

6.0

5.0
pH água ph KCl
4.0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Teor de Petróleo (%)
(a)
10.0
(a) (b)
Solo silto-argiloso
Figura 1 – Imagens do ensaio de azul de metileno: (a) 9.0
agitador mecânico; (b) resultados no papel filtro.
8.0
2.3.4 Ensaio de Limites de Atterberg
pH

7.0
Conhecido também como limites de 6.0
consistência, este ensaio tem a finalidade de
caracterizar um solo fino quanto ao seu 5.0
comportamento em diferentes condições de pH água pH KCl
4.0
umidade, estabelecendo limites de consistência
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
do solo. Após a contaminação, os solos tem a Teor de Petróleo (%)
consistência alterada. As porcentagens de (b)
contaminantes (4, 8, 12 e 16%) foram Figura 2 – Resultado das análises de pH com solos
adicionadas a massa seca dos solos para a contaminados com petróleo bruto: (a) solo areno-argiloso;
(b) solo silto-argiloso.
realização dos ensaios, segundo as
especificações NBR: 7180 (ABNT, 2016) e
A Figura 3 apresenta os resultados de ∆pH
NBR: 6459 (ABNT, 2016).
para os dois solos contaminados com petróleo.
A análise ∆pH é realizada de forma a verificar
alterações nas cargas elétricas do solo.
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Verificam-se, na Figura 3, pequenas variações pouco menor se comparado ao solo com 4% de


positivas no ∆pH para todos os teores de contaminação. Nota-se que o aumento na
contaminação, e portanto, o contaminante não concentração de Petróleo (teor de 8%) não
provocou alterações significativas nas cargas provoca aumento da CTC do solo, o que pode
elétricas do solo. estar relacionado a capacidade de interação do
solo com esse contaminante. Acredita-se que
3.0 ocorre aderência de uma parcela do
contaminante as partículas de solo, e uma outra
2.5
parcela fica em suspensão, não interagindo com
2.0 o solo.
Uma outra análise realizada a partir desta
ΔpH

1.5 investigação foi a verificação do principal


argilomineral constituinte do solo, conforme os
1.0
intervalos apresentados na Tabela 4. De acordo
Areno-argiloso
0.5 com os resultados o argilomineral predominante
Silto-argiloso foi a Caulinita. Verificou-se, também, que a
0.0 CTC do solo contaminado nos teores de 4 e 8%
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Teor de Petróleo (%) de Petróleo aumentou significativamente a
Figura 3 – Resultados de ∆pH para os solos contaminados CTC, mas mantendo ao solo característica
com petróleo bruto. semelhantes a de minerais cauliníticos.

Desta forma, os solos avaliados continuam Tabela 4. CTC dos principais argilominerais
com suas caracteristicas eletronegativas, mesmo Argila CTC (meq/100g)
com a presença do contaminante. O fato de um Caulinita 3 – 15
solo ser laterizado e o outro não, também não Haloisita 2 H2O 5 – 10
Haloisita 4 H2O 10 – 40
afetou as cargas elétricas do solo. Ilita 10 – 40
Montmorilonita 80 – 150
Clorita 10 – 40
3.2 Análise da CTC Atapulgita 20 – 30
Vermiculita 100 – 150
O ensaio azul de metileno foi utilizado para Fonte: Pejon (1992)
verificar a CTC do solo areno-argiloso
contaminado com Petróleo (Tabela 2). Por falta
de Petróleo, não foi possível realizar o ensaio 3.3 Análise Granulométrica ADA
para o solo silto-argiloso.
Os resultados encontrados no ensaio de ADA
Tabela 3. Resultados de CTC para solo areno-argiloso para o solo silto-argiloso estão apresentados na
Grau de Principal Tabela 5. Na Figura 4 está exposto o ensaio
CTC
contaminação argilomineral
0% 0,71
ADA do solo silto-argiloso.
4% 15,53 Caulinita
8% 12,04 Tabela 5. Resultados do ensaio ADA para solo silto-
Fonte: Autores (2018) argiloso não laterítico
Grau de contaminação 0% 4% 8%
A partir dos resultados, observa-se que o Dispersão de argila Não houve
Floculação de argila Floculação total das argilas
contaminante aumentou a CTC do solo, como
Relação silte/argila 0,69 0,69 0,69
era de se esperar devido a característica
Fonte: Autores (2018)
orgânica do Petróleo. Para o teor de 8% de
contaminação, a CTC apresentou um valor
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dispersa em água, propriamente dito. A Figura 5


apresenta o ensaio ADA do solo areno-argiloso.

Natural 4% 8%

Figura 4. Ensaio ADA para o solo silto-argiloso natural e


contaminado. Fonte: Próprio autor (2018).

Observou-se durante este ensaio que grande


parte da amostra do solo silto-argiloso Figura 5. Ensaio ADA em solo areno-argiloso natural e
depositou no fundo da proveta rapidamente e de contaminado. Fonte: Próprio autor (2018).
acordo com os resultados da ADA, do solo
natural ou conatminado, nenhuma argila 3.4 Análise da plasticidade
permaneceu em suspensão. Sendo assim, este
solo não apresentou susceptibilidade a dispersão As análises de plasticidade do solo areno-
de argilas, o que demonstra a capacidade de argiloso são apresentadas na Figura 6. Os
estabilização dos agregados. resultados mostram que tanto os limites de
Os resultados do ensaio ADA para o solo liquidez (LL) e plasticidade (LP), quanto o
areno-argiloso laterítico são apresentados na índice de plasticidade (IP), não sofreram
Tabela 6. Observou-se durante o ensaio que, alterações significativas após a contaminação
tanto para a amostra natural, como para a com Petróleo. Os resultados indicam uma
amostra contaminada com Petróleo, que a argila tendência de redução na plasticidade do solo
não permaneceu na solução. para maiores teores, muito provavelmente
devido ao efeito floculante do óleo.
Tabela 6. Resultados do ensaio ADA para solo areno- 40
argiloso laterítico Solo areno-argiloso
Grau de contaminação 0% 4% 8% 35
Teor de umidade (%)

Dispersão de argila Não houve 2,04% 30


Floculação de argila Floculação total 0,99996
25
Relação silte/argila 0,11 0,11 0,11
Fonte: Autores (2018) 20
15
Na amostra com 8% de Petróleo, notou-se 10
que uma a fração de finos ficou aglomerada ao
5
petróleo e flutuou na água, isso provavelmente LL LP IP
por conta da interação solo-contaminante e da 0
densidade do petróleo. Acredita-se que o valor 6 0 2 4
8 10 12 14 16 18
Teor de Petróleo (%)
de ADA encontrada para a amostra com 8% de Figura 6 - Resultados de LL, LP e IP para solo areno-
petróleo esteja relacionada ao solo que ficou em argiloso natural e contaminado. Fonte: Próprio autor
suspensão, agregado ao petróleo, e não a argila (2018).
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A Figura 7 apresenta os resultados da 4 CONCLUSÕES


contaminação por Petróleo no solo silto-
argiloso não laterítico. Observa-se que para este Este trabalho avaliou o efeito da contaminação
solo, diferentemente do que ocorreu com o solo por Petróleo bruto nas propriedades fisico-
arenoso, houve aumentos significativos nos quimicas de dois solos tropicais. Nesta
valores de LL e LP. Nota-se que o limite de pesquisa, as seguintes conclusões foram
plasticidade sofreu alterações significativas. obtidas:
Os resultados encontrados são semelhantes  A contaminação com Petróleo bruto não
aos obtidos nas pesquisas de Habib-ur-Rehman provocou alterações significativas nos
et al. (2007), Kermani e Ebadi (2012), Ota valores de pH e nas cargas elétricas dos
(2013), Nasehi et al. (2016), que também solos areno-argiloso e silto-argiloso, o
utilizaram solos finos. De acordo com Kermani que mostra a baixa influência do
e Ebadi (2012), quando o petróleo bruto é contaminante na eletronegatividade dos
misturado com solo e este envolve as partículas solos;
de solo, ocorre um impedimento da formação da  A contaminação com Petróleo bruto
camada dupla difusa pela água, sendo aumentou a CTC do solo areno-argiloso,
necessária maiores quantidades de água para porém não significativa com o aumento
que o solo adquira propriedades plásticas. Essa dos teores. Verificou-se que o principal
seria uma interpretação para justificar o argilomineral constituinte deste solo é a
crescimento do limite de plasticidade no Caulinita, e que a contaminação não
gráfico. alterou os argilominerais presentes no
solo;
80
 As análises de argila dispersa em água
70 mostraram que não houve dispersão da
Teor de umidade (%)

60 argila com a presença do Petróleo, sendo


50 as argilas presentes nos solos não
40
apresentam características de suspensão
em água, favorecendo a estabilidade de
30
agregados e menor susceptibilidade à
20 erosão hídrica;
10 Solo silto-argiloso  A contaminação com Petróleo bruto
LL LP IP
0 influenciou significativamente a
6 0 2 4
8 10 12 14 16 18 plasticidade do solo silto-argiloso,
Teor de Petróleo (%) enquanto o solo mais arenoso não foi
Figura 8 - Resultados de LL, LP e IP para solo silto- impactado pela presença do
argiloso natural e contaminado. Fonte: Próprio autor
(2018).
contaminante, com tendência a redução
da plasticidade.
Também de acordo com Ota (2013), o Assim, em concordância com trabalhos da
aumento do limite de liquidez ocorre devido a literatura, os solos podem sofrer alterações
coesão extra entre as partículas do solo argiloso físico-químicas, a depender da quantidade de
causada pela presença de petróleo. Devido ao contaminante em sua estrutura. Este estudo
Petróleo ser mais viscoso do que a água, o evidencia a importância do potencial reuso dos
contaminante fica retido entre as partículas de solos contaminados por petróleos e derivados
solo, o que demanda maior quantidade de água em obras geotécnicas, e a necessidade de
para o solo atingir o limite de liquidez do solo. aprofundar estudos que visam o conhecimento
das propriedades geotécnicas destes materiais.
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AGRADECIMENTOS ANDMORSALI, A. (2016). Influence of gas oil


contamination on geotechnical properties of fine and
coarse-grained soils. Geotechnical ad Geological
Os autores agradecem ao LabGEO/UFSCar pelo Engineering, 34, issue 1, 333-345.
apoio institucional a esta pesquisa e ao técnico NEW YORK STATE REGULATIONS AND
Sidnei Muzetti pelo apoio na realização dos ENFORCEMENT. (2010). Spill Response and
ensaios. Remediation Guidance Documents. Petroleum-
Contaminated Soil Guidance Policy.
RUIZ, H. (2005). Notas de aula de Física do Solo,
REFERÊNCIAS Departamento de Solos, Universidade Federal de
Viçosa (DPS/UFV), 2005.
AKINWUMI, I. I.; DIWA D.; OBIANIGWE N. (2014). OKORO D.; OVIASOGIE P.O.; OVIASOGIE F.E.
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ALHASSAN, H. M.; FAGGE, S. A. (2013). Effects of OLUREMI, J., R.; OSUOLALE, O. (2014). Oil
Crude Oil, Low Point Pour Fuel Oil and Vacuum Gas Contaminated Soil as Potential Applicable Material in
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Sand, Clay and Laterite Soils. International Journal University of Technology.
of Engineering Research and Applications, Vol. 3, ONYELOWE, K. C. (2015). Pure Crude Oil
Issue 1, pp.1947-1954. Contamination on Amaoba Lateritic Soil. Department
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA de NORMAS of Civil Engineering, College of Engineering, Michael
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ensaios de compactação e ensaios de caracterização. contamination on the geotechinical properties of
Rio de Janeiro, 2016, 8p. kaolinite clay soil. Thesis (Doctor of Philosophy).
____ . NBR 6459 – Solo: Determinação do Limite de Universidade de Anglia Ruskin Manchester.
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016, versão corrigida: PEJON, O. J. (1992). Mapeamento Geotécnico Regional
2017. 6p. da Folha de Piracicaba-SP (escala 1:100.000): Estudo
____ . NBR 7180 - Solo: Determinação do Limite de de Aspectos Metodológicos, de Caracterização e de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. 3p. Apresentação de Atributos. Tese (Doutorado em
____ . NBR 7181 - Solo: Análise Granulométrica por Geotecnia) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Peneiramento. Rio de Janeiro, 2016. 13p. Universidade de São Paulo, São Carlos, 2v.
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IZDEBSKA-MUCHA, D.; TRZCIŃSKI, J. (2008). Journal of Engineering and Applied Sciences, June.
Effects of petroleum pollution on clay soil 2015. Vol. 7. No. 01 ISSN2305-8269.
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MANUAL DE MÉTODOS DE ANÁLISE DE SOLO.
(2011). Embrapa. 2ª Edição. Rio De Janeiro, p. 97,98.
MEURER, E. J. (2006). Fundamentos de química do
solo. 3ª Ed. Porto Alegre, 285 p.
NASEHI, S. A.; UROMEIHY, A; NIKUDEL, M. R.
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Estudo da Incorporação de Resíduos de Concreto na Composição


de Concreto para Uso em Estacas Hélice Contínua
Welington de Sousa Cruz
Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, welingtoncruzufpa@gmail.com

Vinícius Costa Machado


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, viniciusfox.gp@gmail.com

Isaque Guerreiro Lima


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, isaqlima21@gmail.com

Luciana de Nazaré Pinheiro Cordeiro


Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil, lucianapc@ufpa.br

RESUMO: Este artigo objetiva avaliar a viabilidade de implementar diferentes proporções de


agregado graúdo reciclado de concreto, substituindo em massa o natural, em concretos destinados a
confecção de estacas hélice contínua. Foram confeccionados concretos com teores de 0%, 20%,
40% e 60% de AGR. A influência desta substituição foi avaliada sobre as propriedades no estado
fresco: trabalhabilidade, índice de consistência, teor de ar incorporado e massa específica. No
estado endurecido, aos 28 dias de idade, foram: compressão axial, módulo de elasticidade e
absorção de água por capilaridade. A incorporação de RCC em concretos afetou sua
trabalhabilidade exigindo o uso de aditivo plastificante para atingir o abatimento desejado,
possibilitando seu bombeamento. Também, apresentou desempenho superior ao concreto
convencional em todos os percentuais analisados, baixa porosidade, sendo eficiente contra a
deterioração das armaduras pela umidade do solo, quando da despassivação do aço e presença de
oxigênio, podendo neste caso ser utilizado com segurança.

PALAVRAS-CHAVE: Concreto, fundações, RCC, agregado graúdo reciclado, estacas, hélice


contínua.

1 INTRODUÇÃO resultando numa produção de 0,600 Kg/hab/dia


contra 0,605 Kg/hab/dia do ano anterior. A
O setor produtivo da construção civil é um Resolução nº 307 do Conselho Nacional do
importante agente modificador da paisagem de Meio Ambiente – CONAMA (Brasil, 2002),
nossas cidades e gerador de resíduos. estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos
Acompanhando os ritmos do crescimento para a gestão dos resíduos da construção civil,
demográfico bem como da expansão urbana, trazendo em seu corpo a classificação dos
sua participação é evidenciada por meio da diversos tipos de rejeitos com o intuito de
exploração de recursos naturais; preparação e identificar aquilo que pode ou não ser
escavação de terrenos; descarte de entulhos reaproveitado além de responsabilizar os
oriundos de reformas, desperdícios e demolição geradores destes materiais pelo gerenciamento
após o uso ou catástrofes, de construções. dos mesmos.
Segundo a Abrelpe (2017), no Brasil foram Apesar dos benefícios ao meio ambiente que
coletados 45,1 milhões de toneladas de resíduos o reaproveitamento dos resíduos da construção
de construção e demolição (RCD) em 2016, civil proporcionaria, este setor da economia
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ainda age com cautela no que tange o assunto. própria haste central do trado simultaneamente
Tal postura é explicada pela heterogeneidade com a sua retirada, sendo que a armadura é
destes materiais e pela presença de resíduos introduzida após a concretagem da estaca.
perigosos, tais como, solventes, graxas, tintas, Conforme as especificações da NBR 6122
amianto e outros produtos nocivos à saúde. (2010), o concreto destinado para confecção de
Após verificação da qualidade e posterior estacas hélice contínua deve satisfazer as
reciclagem do RCC, os mesmos poderiam seguintes exigências mostradas na Tabela 1.
retornar para a obra como subprodutos,
sustituindo parcialmente as matérias-primas Tabela 1. Exigências normativas para estacas do tipo
naturais em diversas etapas da obra, como em hélice contínua
Consumo de cimento ≥ 400 kg/m³
blocos de vedação e elementos de fundação, Abatimento 220 ±30 mm
evidenciando a importância ambiental e Fator água cimento ≤ 0,6
financeira do seu reúso. Em fundações, os casos Agregado Areia e pedrisco
encontrados estão voltados à pesquisas, não Teor de argamassa ≥ 55%
tendo ainda sido implatadas em campo. Tipo de traço Bombeado
Fck aos 28 dias ≥ 20 MPa
WADA, (2010), usou resíduos de cerâmica
vermelha em concretos destinados à estacas
moldadas In Loco, na qual avaliou sua Dito isto, o presente trabalho objetiva avaliar
influência tanto no concreto quanto no elemento a viabilidade da implementação em diferentes
de fundação. Conclui-se que o resíduo proporções de agregado graúdo reciclado de
proporcionou o aumento tanto na resistência à concreto substituindo em massa o seixo rolado
compressão como no módulo de elasticidade e, em concretos destinados a confecção de estacas
as curvas carga versus recalque obtidas hélice contínua. Para isto, fez-se um estudo do
apresentaram comportamento similar tanto para comportamento mecânico do concreto
as estacas produzidas com concreto confeccionado com resíduos de concreto de tal
convencional quanto para aquelas com resíduos. modo que este apresente plenas condições de
GOMES et al., (2017) relata um estudo de uso para este tipo de elemento de fundação,
caso numa fábrica de blocos de concreto que atendendo às exigências da NBR 6122 – Projeto
usa resíduos de blocos como agregados para e execução de fundações (ABNT, 2010).
uso na construção de casas. Como prova,
realizou-se testes nestes blocos reciclados e
constatou-se a possibilidade de implantação 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
destes subprodutos da ICC, uma vez que
atenderam às prescrições normativas. O 2.1 Materiais
Instituto de Pesquisa Tecnológicas – SP, (IPT)
também empregou o RCD na composição de 2.1.1 Agregado Graúdo Reciclado (AGR)
camadas de suporte de vias com tráfego de
veículos baixo ou moderado em Guarulhos - SP O agregado foi beneficiado num britador de
na qual propiciou maior durabilidade à via mandíbulas e posteriormente fez-se o
(SANTOS, 2018). peneiramento do resíduo coletado numa
concreteira da cidade de Belém. Como
1.1 Estacas Hélice Contínua alternativa para amenizar os efeitos da
heterogeneidade deste material, realizou-se uma
Este tipo de elemento de fundação configura-se única coleta em quantidade suficiente para
como estaca moldada in loco. Sua execução se realização da pesquisa. Conforme a NBR 6122
dá mediante deslocamento do solo ou pela (2010), a faixa granulométrica adotada foi a do
introdução, por rotação, de um trado helicoidal material passante pela peneira de malha # 12,5
contínuo no terreno, e injeção de concreto pela mm e retido na peneira de malha # 4,8 mm,
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classificado como pedrisco. O material possui 2.2 Metodologia


massa específica de 2,32 g/cm³, massa unitária
de 1,28 kg/dm³ e taxa de absorção de 5,70%. 2.2.1 Dosagem Experimental

2.1.2 Agregado Graúdo Natural (AGN) O estudo de dosagem de concreto desta


pesquisa foi realizado tomando como referência
Como agregado graúdo natural optou-se pelo o método do IPT/EPUSP (HELENE &
uso de seixo rolado, por se tratar do tipo de TERZIAN, 1992).
agregado disponível na região metropolitana de Seguindo as exigências da NBR 6122,
Belém. O diâmetro máximo utilizado foi de determinou-se uma trabalhabilidade de 220 ±
12,5 mm, sendo o mesmo submetido ao 30 mm e um teor ideal de argamassa de 59%
processo de peneiramento e posterior lavagem, para o traço intermediário 1:5 em massa. Neste
descartando a fração passante na peneira de valor já se encontra um acréscimo de 2%
malha 4,8 mm, e colocando-o para secar ao ar. referente as perdas oriundas do processo de
Este material possui massa específica de 2,57 bombeamento e transporte, recomendado pelo
g/cm³ e massa unitária igual a 1,40 kg/dm³. método. Uma vez determinado este teor e
fixado o slump, moldaram-se dois traços
2.1.3 Agregado Miúdo Natural (AMN) auxiliares: um mais rico (1:3,5) e outro mais
pobre (1:6,5).
A areia é de origem quartzosa e optou-se pelo Para atingir o Slump usou-se aditivo
seu uso por se tratar do tipo de agregado plastificante a taxa de 0,5% da massa de
disponível na RMB. O procedimento de cimento. Moldou-se 9 corpos-de-prova por
caracterização física e mecânica do material foi traço para ensaiá-los aos 28 dias na resistência à
realizada conforme a ABNT NM 248 (2003). compressão, módulo de elasticidade e absorção
Este material apresenta massa específica de de água por capilaridade. Os resultados
2,59 g/cm³ e massa unitária igual a 1,54 kg/dm³. encontram-se na Tabela 2.

2.1.4 Cimento (C) Tabela 2. Misturas experimentais para os traços rico,


intermediário e pobre.
Traço 1:m 3,5 5,0 6,5
O cimento escolhido para a produção dos
Teor de argamassa (%) 59 59 59
concretos foi adquirido na cidade de Belém, a Cimento (kg/m³) 472,1 351,4 289,9
saber: CP II E-32. A opção por este produto se Agregado graúdo 873,5 864,4 891,3
deve ao fato do mesmo combinar um baixo (kg/m³)
calor de hidratação, aumento da resistência final Agregado miúdo (kg/m³) 781,4 892,5 992,8
além de ser resistente ao ataque de sulfatos Água (kg/m³) 203,02 203,80 173,9
Aditivo (%) 0,50 0,50 0,50
presentes no solo. Este material possui massa Água/cimento 0,43 0,58 0,60
específica de 3,01 g/cm³, módulo de finura de Abatimento (mm) 220 220 220
2,00 % e tempo de pega igual a 3 horas. fc 14 dias (Mpa) 27,00 18,60 10,75

2.1.5 Aditivo Obtidos os dados de relação água/cimento,


resistência à compressão e consumo de cimento
Para a confecção das misturas, utilizou-se o por metro cúbico, plotou-se o diagrama de
aditivo plastificante Sikament PF 175, por ser dosagem do concreto para o abatimento de 220
um redutor de água de alta eficiência, com ± 30 mm, determinado conforme NBR NM 67,
densidade de 1,19 ± 0,02 kg/ litro e com (ABNT,1998), apresentado na Figura 1.
dosagem recomendada pelo fabricante de
1,20% sobre o peso de aglomerantes.
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Figura 1. Diagrama de dosagem de concreto com seixo.

do resíduo de concreto promove uma


2.2.2 Determinação dos Traços dos Concretos discrepância considerável entre as massas
de Referência e Reciclado específicas dos agregados naturais e reciclados.
Diante disso, para amenizar os efeitos desta
A partir do diagrama de dosagem, primeiro particularidade do material dentro do concreto,
determinou-se o traço do concreto de referência realizou-se uma compensação de volume dos
para estacas hélice contínua. A Tabela 3 mesmo através do método proposto pela autora
apresenta as características do traço adotado. em sua tese de doutorado.
Na Tabela 4 encontram-se os traços, em
Tabela 3. Características do traço em massa utilizado massa, resultantes do estudo de dosagem, já
para o concreto de referência tendo sido realizada a compensação
Traço 1:m 3,72
volumétrica dos agregados, assim como os
Teor de argamassa (%) 59
Cimento (kg/m³) 449,80 teores de substituição do agregado graúdo
Agregado graúdo (kg/m³) 872,61 reciclado.
Agregado miúdo (kg/m³) 800,64
Água (kg/m³) 202,41 Tabela 4. Traço unitários, em massa, utilizados na
Aditivo (%) 0,50 produção dos concretos com diferentes teores de RCC.
Água/cimento 0,45 Traço a/c AGR AMN AGN AGR
Abatimento (mm) 215 %
Fc 28 dias (MPa) 27,23 T0 0,45 0 1,78 1,94 -
T20 0,45 20 1,78 1,55 0,35
Os traços do concreto com agregado T40 0,45 40 1,78 1,16 0,70
reciclado foram determinados por meio do traço T60 0,45 60 1,78 0,77 1,05
de referência, levando em consideração o
percentual de substituição do agregado graúdo 2.3 Produção do Concreto Reciclado
reciclado. Os percentuais de agregado reciclado
de concreto determinados para a mistura foram 2.3.1 Mistura dos Materiais
0%, 20%, 40% e 60%, nomeados como T0,
T20, T40 e T60, respectivamente. Para a execução dos traços descritos na Tabela
Segundo Leite (2001), a elevada porosidade 4, seguiu-se o procedimento proposto por
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(HELENE & TERZIAN, 1992). Foram feitas a feita a cura ao ar, por um período de 24 horas, e
partir do traço padrão, as substituições em em seguida desmoldados e colocados em
massa do agregado graúdo natural pelo solução saturada de Ca(OH)2 por 28 dias.
reciclado de concreto, em teores iguais a 20%,
40% e 60%. Através dos ensaios realizados
nestes traços foi possível determinar o teor ideal 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
de substituição para concretos destinados a RESULTADOS
fabricação de estacas hélice contínua.
Vizando atenuar os efeitos causados pela alta 3.1 Concreto no Estado Fresco
porosidade do RCC, houve a necessidade de
realizar a compensação de parte da absorção de 3.1.1 Índice de Consistência, Massa Específica
água pelo mesmo, quantidade esta que foi e Teor de Ar Incorporado
descontada da água de amassamento. Este
procedimento foi realizada durante um intervalo A análise da trabalhabilidade do concreto foi
de 10 minutos, antes de misturar os materiais na realizada através do Slump Test, sendo este um
betoneira, por meio do método desenvolvido dos requisitos a ser atendido pela norma que
por (LEITE, 2001), de modo a evitar que parte trata sobre projetos e execução de fundações. A
da água da mistura fosse absorvida pelo mesmo. Tabela 5 apresenta os valores do abatimento do
A quantidade de água utilizada na pré- tronco de cone, massa específica (ρ), teor de ar
molhagem do agregado reciclado foi incorporado (A%) e os percentuais de aditivo
determinada em função do percentual de adicionados às misturas como forma de se
substituição do resíduo em cada traço, atingir o abatimento de 220 ± 30 mm.
correspondendo a 80% da absorção total do
mesmo. Tabela 5. Resultados dos índices de consistência, massas
Visando minimizar os efeitos da forma específicas e teores de ar incorporado para cada
percentual de substituição de agregado reciclado de
irregular, elevada porosidade e textura áspera concreto.
do agregado reciclado, acrescentou-se à mistura Traço Slump ρ. (kg/m³) Aditivo A
aditivo plastificante. O mesmo foi colocado (mm) (%) (%)
junto a água de amassamento do concreto antes T0 215 2313 0,50 0,54
da colocação da areia, para promover uma T20 200 2291 0,73 0,76
maior dispersão dos grãos de cimento. Após o T40 223 2271 1,28 0,90
T60 212 2251 1,46 1,04
término da mistura dos materiais na betoneira,
realizou-se o ensaio de abatimento do tronco de
Os concretos com agregados reciclados
cone, prescrito na NBR NM 67, (ABNT,1998).
apresentaram menor trabalhabilidade em
comparação àquele produzido com agregado
2.3.2 Moldagem, Adensamento e Cura dos
natural, fazendo-se necessário adicionar uma
Corpos-de-Prova
maior quantidade de aditivo. Este fato se
explica pela maior porosidade do resíduo
Os corpos-de-prova de concreto foram
reciclado, que mesmo após realizada a pré-
moldados de acordo com a NBR 5738,
saturação do mesmo, promoveu uma maior
(ABNT,2015) e ensaiados de acordo com a
absorção da água da mistura, diminuindo a
NBR 5739, (ABNT, 2007). Foram moldados
quantidade de água livre presente para reagir
para cada traço de concreto, 9 corpos-de-prova,
com o cimento (ARAÚJO et al., 2016). A
em moldes metálicos com dimensões 10 cm de
textura rugosa e a forma mais angular dos
diâmetro e 20 cm de altura, e em cada um
agregados reciclado de concreto também
destes foi adotado adensamento manual, feito
afetaram negativamente a trabalhabilidade dos
em duas camadas iguais com 12 golpes cada.
concretos, em razão do maior atrito entre os
Após a moldagem dos CP’s, primeiramente foi
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materiais constituintes.
Para os traços com 40% e 60% de
substituição, foi necessário utilizar uma
quantidade de aditivo superior àquela
especificada pelo fabricante de 1,20% sobre ao
peso de aglomerantes. Em consequência desta
superdosagem, o concreto apresentou retardo
excessivo nos tempos de início e fim de pega,
demorando mais de 24 horas para o completo
endurecimento destes concretos, porém sem
apresentar exsudação. Figura 3. Consequências do agregado graúdo reciclado
As massas específicas dos concretos de concreto na mistura: Gráfico do teor de ar incorporado
reciclados de concreto diminuiram conforme em função do teor de substituição do RCC %.
aumentava-se o teor de substituição,
apresentando redução de até 2,68%. Esse Tal fato deve-se a estrutura porosa dos
comportamento sofre grande influência pelo resíduos de concreto, do tamanho das partículas
teor de ar incorporado à mistura em razão do e da maior quantidade de vazios incorporados
RCC adicionado, observando a relação às misturas com estes materiais. Além disso, o
indiretamente proporcional entre estes dois seixo rolado apresenta uma extrutura granular
parâmetros do estado fresco, como observado mais densa que a do RCC, contribuindo assim
também por SILVA et al., (2014). para a diminuição da massa específica dos
A partir dos gráficos das Figuras 2 e 3, nota- concretos produzidos com estes subprodutos da
se o comportamento das propriedades dos construção civil. O uso de pedrísco na mistura,
concretos no estado fresco com o aumento no exigida pela NBR 6122 (2010), contribuiu para
teor de substituição. Os valores de R² obtidos não reduzir ainda mais a massa específica
foram bastante próximos da unidade, o que destes concretos reciclados, uma vez que
confere um ajustamento satisfatório, validando devido ao menor tamanho dos agregados houve
as hipóteses levantadas através da revisão um maior empacotamento dos grãos dentro da
bibliográfica e dos ensaios realizados no mistura.
presente trabalho. Em função da maior quantidade de RCC
presente na mistura observa-se que há uma
tendência de crescimento do teor de ar
incorporado no concreto, reafirmando os
pensamentos de KIKUCHI et al., (1993) e
ARAÚJO et al., (2016). Esse comportamento
já era esperado, uma vez que, o acréscimo de
resíduo provocaria uma menor trabalhabilidade
ao concreto para uma mesma relação a/c, o que
exigiria uma maior quantidade de aditivo
plastificante para atingir o abatimento fixado
por norma.
Figura 2. Consequências do agregado graúdo reciclado
de concreto na mistura: Gráfico da massa específica em
3.2 Concreto no Estado Endurecido
função do teor de substituição do RCC %;

3.2.1 Compressão Axial

Os resultados obtidos dos ensaios de resistência


à compressão axial e módulo de elasticidade na
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idade de 28 dias dos concretos de referência e maiores resistências à compressão e módulo de


reciclados são expostos nas Tabelas 6 e 7. elasticidade quando comparadas ao concreto
referência. O baixo fator a/c adotado
Tabela 6. Resultados dos ensaios de compressão axial influenciou no desempenho final do concreto
dos concretos para cada percentual de substituição de em virtude da água presente na mistura ser
agregado reciclado de concreto.
destinada, em sua maior parte, a reagir com os
Resistência à compressão (MPa)
Traço T0 T20 T40 T60 grãos de cimentos, sobrando assim pouca
CP1 27,48 34,30 37,54 32,03 quantidade de água que pudesse evaporar
CP2 25,94 35,49 36,56 30,49 deixando vazios. A pré-saturação do RCC foi
CP3 28,27 36,60 36,14 30,32 de 80% da sua absorção total. Assim, sua alta
Média (MPa) 27,23 35,46 36,75 31,05 porosidade, juntamente com o fator a/c, fizeram
Desvio Padrão 1,18 1,15 0,72 0,85 com que o agregado absorvesse parte da água
(%) livre, contribuindo para a densificação da zona
Coef. de 4,35 3,24 1,96 2,75 de transição entre pasta e agregado.
Variação (%) Observa-se, através das tabelas, que para
valores de substituição até 40%, o módulo e a
Tabela 7. Resultados dos ensaios de módulo de resistência à compressão aumentam conforme
elasticidade dos concretos para cada percentual de
eleva-se o teor de resíduo. Para teores maiores
substituição de agregado reciclado de concreto.
Módulo de elasticidade (GPa)
que 40%, observa-se um comportamento
Traço T0 T20 T40 T60 inverso destes parâmetros, ou seja, a partir deste
CP1 23,23 26,51 26,99 24,06 limítrofe, os valores de resistência e módulo
CP2 24,69 28,18 28,68 25,57 começam a decrescer. A razão deste
CP3 23,82 27,18 27,67 24,66 comportamento, pode estar intimamente ligada
Média (MPa) 23,91 27,29 27,78 24,76 a forma mais angular dos grãos do agregado
Desvio Padrão 0,73 0,84 0,85 0,76 reciclado de concreto, combinada com a
(%) superfície irregular dos mesmos, contribuindo
Coef. de 3,07 3,08 3,06 3,07 para uma melhor aderência e maior travamento
Variação (%) entre a pasta de cimento e os agregados.

Analisando os resultados, conclui-se que os 3.2.2 Absorção de Água por Capilaridade


concretos com substituição parcial do AGN
pelo AGR apresentaram comportamento A Tabela 8 e o gráfico da Figura 4 trazem os
superior ao de referência. Os dados obtidos dos coeficientes de capilaridade, apresentados na
ensaios mostraram-se representativos e com um forma de absorção de água em massa por área
desvio padrão satisfatório, conferindo-se então medida em concretos com idade de 28 dias,
uma confiabilidade nos resultados obtidos com conforme a NBR 9779, (ABNT, 2012).
as amostras de resíduos de concreto.
Resultados semelhantes foram encontrados Tabela 8. Resultado da absorção média de água por
por GONÇALVES (2011) e WERLE (2010), capilaridade dos traços avaliados.
para concretos com incorporação parcial de Absorção por capilaridade (g/cm²)
resíduos de concreto com a/c próximas a 0,45. Tempo (horas)
Essas resistências superiores apresentadas pela Traço 3 6 24 48 72
substituição, podem ser explicadas pela
T0 0,172 0,244 0,307 0,357 0,385
resistência do concreto que deu origem aos T20 0,185 0,272 0,312 0,376 0,415
resíduos, que caso seja maior que a do concreto T40 0,165 0,305 0,379 0,431 0,465
de referência, o desempenho do concreto T60 0,240 0,376 0,466 0,556 0,601
reciclado frente ao convencional será melhor.
Os concretos com resíduos apresentaram
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Figura 4. Absorção de água por capilaridade para Figura 5. Alturas máximas de ascensão capilar após 72
concretos reciclados com diferentes teores de RCC. horas para concretos na idade de 28 dias.

O menor coeficiente de capilaridade foi Aos 28 dias de idade os concretos reciclados


obtido para o traço sem substituição T0 (0,385 com teores de substituição de 0%, 20% e 40%
g/cm²) e o maior, para o traço T60 (0,601 apresentaram ascensão capilar semelhantes, de
g/cm²). A absorção de água por capilaridade aproximadamente 2,5 cm, enquanto que para o
sofreu um aumento gradativo a medida que traço com 60% atingiu 3,6cm. Em virtude
aumentava o teor de substituição do agregado destas amostras apresentarem baixos valores
reciclado no concreto. O teor de 20% para a relação água/cimento, influenciados pela
apresentou um coeficiente de capilaridade alta absorção do RCC, os poros existentes
ligeiramente superior ao de 0%, podendo ser possuem menores diâmetros e são menos
explicado pela baixa quantidade de argamassa comunicáveis entre si, resultando num menor
aderida à superfície do agregado reciclado e sua volume absorvido e menores alturas de
menor absorção e pela menor quantidade de ascensão capilar.
poros interconectados que pudessem servir de Os traços de referência e com 60% de
entrada para a água. substituição apresentaram as maiores alturas de
A maior absorção de água foi registrada para ascensão de água nos materiais cimentícios.
o concreto com 60% de substituição, Isso pode ser justificado pelo refinamento dos
corroborando com a bibliografia. Devido ao poros do concreto, que por sua vez originam
tamanho dos grãos de agregado graúdo maiores pressões capilares. A Figura 6
utilizados, a estrutura interna do concreto apresenta os corpos-de-prova, logo após a
apresentou maior porosidade e com eles ruptura por compressão diametral, em que é
interligados, facilitando o fluxo de água no possível observar a ascensão capilar no seu
interior da estrutura contribuindo para o interior.
processo de degradação do material a partir da
entrada de água, gases e sulfatos.
Vizando determinar a ascensão capilar no
interior dos corpos-de-prova, procedeu-se com
a ruptura dos mesmos por compressão diametral
e fez-se a aferição das alturas da ascensão
capilar. A Figura 5 apresenta os resultados
encontrados para a ascensão capilar máxima
medida no interior dos concretos.
Figura 6. Corpos-de-prova do ensaio de absorção de água
por capilaridade aos 28 dias, após ruptura. Da esquerda
para a direita encontram-se os seguintes teores de
substituição: 0%, 20%, 40% e 60%.
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AGRADECIMENTOS

4 CONCLUSÕES Este trabalho contou desde a fase de


planejamento até o término do artigo com o
A indústria da construção civil ao mesmo apoio do Grupo de Pesquisa de Materiais de
tempo que atua como uma das principais Construção Civil, GPMAC, da Universidade
responsáveis pela poluição do meio ambiente, Federal do Pará. Os autores gostariam de
mostra-se também como a solução para este registrar os seus agradecimentos à equipe
problema. Neste sentido, a inserção dos coordenadora do Laboratório de Engenharia
resíduos deste setor produtivo como também de Civil e professores que prontamente
outros polos geradores, como matéria prima contribuíram para a realização deste trabalho.
para novos materiais, se apresenta como
alternativa para a redução dos rejeitos que são
depositados em locais inadequados e para a REFERÊNCIAS
preservação dos recursos naturais disponíveis.
Neste sentido, a presente pesquisa avaliou os Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos
efeitos da incorporação do RCC em concretos Especiais. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil
2016. São Paulo: Abrelpe, 2017. Disponível em:
destinados à produção de estacas hélice <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2016.
contínua com diferentes teores de agregado pdf> Acesso em: 23 março. 2018.
graúdo reciclado de concreto. Os resultados Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos
obtidos indicaram que: Especiais. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil
2015. São Paulo: Abrelpe, 2016. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.
A. Os resultados obtidos possibilitam pdf> Acesso em: 23 março. 2018.
concluir que o concreto produzido com Associação Brasileira de Normas Técnicas. Agregados –
resíduos de concreto (RCC) apresentam Determinação da composição granulométrica: NBR
plenas condições de uso na confecção de NM 248. Rio de Janeiro, 2003. 6p.
estacas hélice contínua, e assim, . Agregados – Determinação da massa unitária e do
volume de vazios: NBR NM 45. Rio de Janeiro, 2006.
podendo neste caso ser empregado com 8p.
segurança. . Agregado graúdo – Determinação de massa
B. O uso de agregado graúdo reciclado de específica, massa específica aparente e absorção de
concreto afeta diretamente a água: NBR NM 53. Rio de Janeiro, 2003. 8p.
trabalhabilidade do concreto em razão . Agregado miúdo – Determinação da massa
específica e massa específica aparente: NBR NM 52.
da sua forma mais angular e de sua
Rio de Janeiro, 2003. 6p.
superfície porosa. Contudo, o uso de . Argamassa e concretos endurecidos – Determinação
aditivo plastificante proporcionou uma da absorção de água por capilaridade: NBR 9779. Rio
melhora desta propriedade sem que seus de Janeiro, 2013. 3p.
componentes se separem por . Cimento Portland e outros materiais em pó –
Determinação da massa específica: NBR 16605. Rio
segregação, assim possibilitando o seu
de Janeiro, 2017. 4p.
bombeamento. . Concreto – Determinação da consistência pelo
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Estudo de propriedades geotécnicas de Areia RCD-Bentonita


como material alternativo para camada de cobertura de aterros
sanitários
Renan César Silva Caldas
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, renan.csc@hotmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

RESUMO: Solos ou misturas potencialmente utilizáveis como camadas de cobertura ou liners de


aterros sanitários devem apresentar características geotécnicas, tais como baixa permeabilidade. No
contexto de materiais alternativos para camadas de aterros sanitários estão os resíduos de construção
civil e demolição (RCD), os quais, isoladamente, não atendem aos requisitos geotécnicos
necessários. Para tanto, recorre-se a técnica de misturas com Bentonitas, uma vez que estas
apresentam-se extremamente finas, plásticas e com muito baixa permeabilidade. Assim, esta
pesquisa apresenta o estudo de propriedades geotécnicas de uma areia de RCD com Bentonita para
reuso como material alternativo em camadas de aterros sanitários. A areia de RCD é produzida em
usina na cidade de São Carlos-SP e nesta foram adicionados diferentes teores de Bentonita natural
sódica Argentina (2 a 16%). Foram investigadas alterações nas propriedades granulométricas,
plasticidade, compactação, permeabilidade e pH das misturas. Os resultados mostraram que a
mistura atingiu 20% finos (#200) com 8% de Bentonita, conforme recomendações da literatura. Os
limites de liquidez e índices de plasticidades foram significativamente alterados com poucos teores
de Bentonita. A adição de Bentonita na areia de RCD pouco alterou os valores de pH e de massa
específica dos sólidos. No entanto, os parâmetros ótimos de compactação foram alterados, com
aumentos nos teores ótimos de umidade com o acréscimo de Bentonita. Os ensaios de
permeabilidade revelaram que a condutividade hidráulica da areia RCD de 1x10-3 cm/s atinge
valores da ordem de 1x10-7 cm/s com cerca de 19% de Bentonita, sendo este valor especificado na
literatura para material de camada de aterro sanitário.

PALAVRAS-CHAVE: Areia RCD; Bentonita; Camada de Cobertura; Aterro sanitário.

1 INTRODUÇÃO também do comportamento químico, devido a


necessidade de retenção e atenuação dos fluidos
Barreiras impermeabilizantes de argilas percolados contaminantes.
compactadas ou mistura de solos com Bentonita De acordo com Quissini (2009), as
são utilizadas para a contenção lateral dos características geotécnicas mais relevantes para
fluídos, na base do aterro para reduzir a material de cobertura de aterros sanitários não
percolação de lixiviados do aterro sanitário ou são ainda muito claras na literatura, e aparecem
na cobertura final para evitar infiltração de como requisitos para camada de base, de
águas superficiais em aterros sanitários. Para cobertura ou impermeabilização (ROCCA et al.,
Gueddouda et al. (2008), a eficiência com que 1993; DANIEL, 1993 e QASIM e CHIANG;
as camadas impermeabilizantes de aterro 1994). A Tabela 1 resume as principais
sanitário atuam depende do comportamento características geotécnicas indicadas na
hidromecânico do material compactado e literatura.
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Tabela 1. Referências e características necessárias para Catapreta e Simões (2011) enfatizam que, a
camada impermeabilizante de aterros sanitários. utilização de RCD como camada de cobertura
Rocca et al. (1993) Daniel Qasim e
em aterros, também contribui para que esses
CETESB (1993) Chiang (1994) resíduos não sejam dispostos de forma irregular
k<10-7 cm/s k<10-7 cm/s k<10-7cm/s em áreas e lotes vagos, assim como em margens
Classificação SUCS %Retido na #4 %Retido na #4
(CL, CH, SC ou OH) <30% <50%
de rios e vias, contribuindo para a preservação
ambiental. No entanto, isoladamente, os RCDs
% Passante na % Passante na % Passante na
#200 >30% #200 >20% #200 > 30%
não atendem aos requisitos geotécnicos
LL>30% - - mínimos para camadas de cobertura.
IP>15% IP>7% IP 7% a 15% Considerando a baixa plasticidade e elevada
pH>7 - -
permeabilidade dos RCDs, e a necessidade do
SUCS=Classificação Unificada dos solos; k = condutividade
hidráulica; LL = Limite de liquidez; IP = Índice de plasticidade bom comportamento hidráulico e mecânico dos
aterros sanitários, estes podem ser misturados
Assim, quando o solo local não apresenta com Bentonita com a finalidade de constituir
estas características necessárias, é comum a um material com comportamento geotécnico
adição de alguns teores de Bentonita, um adequado. No trabalho de Gutierrez (2015),
material altamente plástico e de baixa misturas de RCD-Bentonita para camada
condutividade hidráulica. Diversos estudos impermeável em aterros sanitários mostraram
apresentam resultados de efetiva redução da que, para 14% de teor de Bentonita, houve uma
permeabilidade de solos arenosos após a adição redução da condutividade hidráulica de 1x10-4
de Bentonita (Hoeks et al., 1987; Rowe, 2000; cm/s para 1x10-7 cm/s, compatível com as
Lukiantchuki, 2007; Ameta e Wayal, 2008; recomendações da literatura.
Gueddouda et al., 2008; Jawad e Baqir, 2009). Esta pesquisa apresenta o estudo de
Para Rowe (2000), adições de Bentonita em propriedades geotécnicas de Areia RCD (no pH
solos arenosos nos teores de 4 a 10% são das misturas) com Bentonita (natural sódica
suficientes para aumentar a plasticidade e Argentina) para reuso como material alternativo
reduzir significativamente a condutividade em camada de cobertura de aterros sanitários.
hidráulica do solo. A Bentonita, por ser um Serão investigadas alterações no pH das
material expansivo, com índice de plasticidade misturas, granulométricas, de plasticidade, de
extremamente alto (da ordem de 400%), é compactação e de permeabilidade, de forma a
indicada quando se deseja evitar a formação de verificar os teores mínimos para enquadramento
trincas, decorrentes do ressecamento das como material de camada de cobertura de
camadas de cobertura (Huse, 2007). aterros.
No contexto de materiais alternativos para
camada de cobertura diária de aterros sanitários
estão os resíduos de construção civil e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
demolição (RCD), os quais muitas vezes
seguem para destinação nos aterros sanitários. 2.1 Materiais
Segundo o CONAMA 307/2002 o RCD possui
alto grau de reaproveitamento. Coelho et al. A areia de resíduo de construção e demolição
(2005) enfatiza que esses resíduos exercem (areia-RCD) é um agregado miúdo resultante de
adequadamente a função sanitária, evitando a um processo de trituração e peneiramento,
proliferação de vetores, a exalação de odores e realizado em empresa da cidade de São Carlos –
proporcionam boas condições para o tráfego de SP (Figura 1). A curva de distribuição
máquinas e veículos durante a operação do granulométrica da areia de RCD é apresentada
aterro. na Figura 2, conforme as especificações da
NBR: 7181 (ABNT, 2016).
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Os teores de Bentonita foram adicionados a


areia RCD, sendo de 2, 4, 8, 12 e 16%, em
relação a massa seca da areia, até que a amostra
apresentasse aspecto homogêneo. Nesta
pesquisa, as misturas serão identificadas como:
RCD+2%, RCD+4%, RCD+6%, RCD+8%,
RCD+12% e RCD+16%.

Figura 1. Usina de britagem da areia de RCD. Fonte: 2.2 Ensaios


Próprio Autor (2018).

100
De forma a identificar alterações na distribuição
90 Areia RCD granulométrica conjunta das misturas, foram
Porcentagem que passa (%)

80
realizados ensaios conforme NBR: 7181
70
(ABNT, 2016). A determinação da massa
60
específica dos sólidos, conforme NBR: 6458
50
(ABNT, 2017), foi utilizada no cálculo da
40
granulometria por sedimentação.
30 Para as alterações na plasticidade da areia
20 RCD após a adição de Bentonita, e verificações
10 dos requisitos mínimos indicados na literatura,
0 foram realizados ensaios de limite de liquidez
0,001 0,01 0,1 1 10 (LL) e plasticidade (LP), respectivamente de
Diâmetro dos grãos (mm) acordo com NBR: 7180 (ABNT, 2016) e NBR:
Figura 2. Distribuição granulométrica da areia de RCD. 6459 (ABNT, 2016).
Fonte: Próprio Autor (2018). Com a finalidade de se verificar alterações
nos parâmetros ótimos de compactação da
A Bentonita utilizada nesta pesquisa é uma areia-RCD devido a adição de Bentonita, foram
argila esmectítica sódica natural Argentina, realizados ensaios de compactação na energia
comercializada como Bentonita Creme ARGEL Proctor Normal de acordo com a NBR: 7182
CN 35. A Figura 3 apresenta a Bentonita, a (ABNT, 2016). Com os parâmetros ótimos,
areia RCD e um exemplo da mistura. moldou-se os corpos-de-prova para os ensaios
de permeabilidade.
A determinação da condutividade hidráulica
Bentonita para solos finos (baixa permeabilidade) foi
obtida por meio de ensaios de permeabilidade
de carga variável, conforme as especificações
da NBR: 14545 (ABNT, 2000).
Uma investigação do pH das misturas areia
de RCD-Bentonita também foi realizada, sendo
este um importante indicativo de acidez ou
Areia RCD Mistura
alcalinidade das misturas, e um requisito para
uso destas como material de camada de
(a) (b)
cobertura de aterros, conforme especificações
Figura 3. Materiais utilizados: (a) areia RCD e Bentonita
Sódica Argentina; (b) mistura areia RCD-Bentonita.
da CETESB em Rocca et al. (1993).
Fonte: Próprio Autor (2018).
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3 ANÁLISE DE RESULTADOS Daniel (1993), o mínimo de 20% de finos foi


atingido pela mistura com adição 8% de
3.1 Efeito da adição de Bentonita na Bentonita.
granulometria da areia RCD
3.2 Efeito da adição de Bentonita na massa
A Figura 4 apresenta uma comparação da específica dos sólidos da areia RCD
distribuição granulométrica das misturas areia
RCD-Bentonita. Como esperado, a adição de A Figura 6 apresenta os resultados de massa
Bentonita alterou a distribuição granulométrica, específica dos sólidos para as misturas areia
aumentando a fração fina das misturas. A RCD-Bentonita. A adição de Bentonita
Figura 5 apresenta o aumento na porcentagem apresentou um pequeno incremento na massa
de finos (#200) com a adição de Bentonita. específica dos sólidos da areia RCD, devido a
massa específica da Bentonita ser maior do que
100 a areia.
Areia RCD
90
Porcentagem que passa (%)

RCD+2%
80 RCD+4% Massa específica dos sólidos (g/cm³) 2,80
70 RCD+8%
RCD+12% 2,75
60
RCD+16%
50 2,70
40
30 2,65

20 2,60
10
0 2,55 Areia RCD+Bentonita
0,001 0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos grãos (mm) 2,50
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Figura 4. Distribuição granulométrica das misturas areia Teor de Bentonita (%)
RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor (2018).
Figura 6. Resultados de massa específica dos sólidos das
misturas areia RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor
30 (2018).

3.3 Efeito da adição de Bentonita na


% Passante na #200

25 plasticidade da areia RCD

A Figura 7 apresenta os resultados dos ensaios


20 de limites de Atterberg obtidos para a as
misturas areia RCD-Bentonita. Observam-se
alterações significativas no limite de liquidez
Areia RCD + Bentonita
15 das misturas com poucos teores de Bentonita,
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 atendendo as especificações de Rocca et al.
Teor de Bentonita (%) (1993) de LL > 30% com 2 a 4% de Bentonita.
Figura 5. Porcentagem de finos (#200) das misturas areia O limite de plasticidade não foi
RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor (2018).
significativamente alterado, mas destacam-se as
alterações nos índices de plasticidade (IP) das
De acordo com a Figura 5, nenhuma das
misturas. A areia RCD passou de não plástica
misturas atingiu o mínimo de 30% de finos
(NP) para plástica com adição de 2% de
recomendado por Rocca et al. (1993) e Qasim e
Bentonita.
Chiang (1994). Porém, pelas recomendações de
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120 A Figura 9 apresenta uma comparação dos


Areia RCD + Bentonita
100
resultados dos parâmetros ótimos de
compactação para todas as misturas. Observa-se
Teor de umidade (%)

80 que com o aumento da adição da Bentonita


houve um aumento no teor de umidade ótimo.
60 LL
De fato, era esperado comportamento crescente
LP
40 no teor de umidade, uma vez que a Bentonita
IP
tem partículas muito finas.
20
1,77 19,0

Massa específica seca máxima (g/cm³)


0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 1,76

Teor de umidade ótimo (%)


1,75 18,5
Teor de Bentonita (%)
Figura 7. Resultados de limites de Atterberg das misturas 1,74 18,0
areia RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor (2018). 1,73
1,72 17,5
De acordo com Daniel (1993), que sugere 1,71
1,70 17,0
IP>7%, este requisito seria atingido com 4% de
1,69
Bentonita na areia RCD. Para Rocca et al. Massa específica seca máx. 16,5
1,68
(1993), que sugerem IP>15%, este requisito Teor de umidade ótimo
1,67 16,0
seria atingido com 8% de Bentonita. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Teor de Bentonita (%)
3.4 Efeito da adição de Bentonita nas Figura 9. Parâmetros ótimos de compactação das misturas
propriedades de compactação da areia RCD areia RCD-Bentonita.

A Figura 8 apresenta o efeito da adição de Ainda na Figura 9, os valores de massa


Bentonita nas propriedades de compactação da específica aparente seca máxima aumentaram
areia RCD. Verifica-se nos resultados que significativamente com poucos teores de
houve alteração significativa nos parâmetros Bentonita. Para os demais teores, o aumento
ótimos (massa específica aparente seca e teor de não foi tão expressivo, uma vez que a Bentonita
umidade) da areia RCD após a adição de é um material argiloso e apresenta menor massa
Bentonita. específica aparente seca máxima do que as
areias. Estes dados são importantes, pois é
1.80 necessário conhecer as propriedades de
Massa específica aparente seca (g/cm³)

Areia RCD
RCD+2%
compactação para aplicação destes materiais no
1.75 RCD+4% campo.
RCD+8%
RCD+12%
1.70 RCD+16% 3.5 Efeito da adição de Bentonita no pH da
areia RCD
1.65
Conforme a Rocca (1993), é necessário um
1.60 valor de pH>7 (em água) para a mistura se
enquadrar como camada de cobertura em
1.55 aterros sanitários. De acordo com os resultados
8 10 12 14 16 18 20 22 24 da Figura 10, a adição de Bentonita não mostrou
Teor de umidade (%) variação significativa no pH das misturas areia
Figura 8. Resultados de compactação das misturas areia RCD-Bentonita, mantendo os valores acima dos
RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor (2018).
indicados na literatura.
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8.5 De modo a melhor visualizar os resultados


de permeabilidade das misturas são
8.0 apresentados na Figura 12 os valores de
condutividade hidráulica nos teores de 2 a 16%
pH (em água)

de Bentonita. É interessante notar que os


7.5
valores de condutividade hidráulica saíram da
ordem de 4,5x10-5 cm/s (2% de Bentonita) para
7.0 3,5x10-7 cm/s (16% de Bentonita).
Areia RCD + Bentonita 5.0E-05
6.5 Areia RCD + Bentonita
4.5E-05

Condutividade hidráulica (cm/s)


0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Teor de Bentonita (%) 4.0E-05
y = 8E-05e-0.335x
Figura 10. Resultados do pH das misturas areia RCD- 3.5E-05
R² = 0.984
Bentonita. Fonte: Próprio Autor (2018). 3.0E-05
2.5E-05
3.6 Efeito da adição de Bentonita na 2.0E-05
condutividade hidráulica da areia RCD 1.5E-05
1.0E-05
3.52x10-7
A Figura 11 apresenta os resultados obtidos no 5.0E-06
ensaio de permeabilidade com carga variável 0.0E+00
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
para as misturas areia RCD-Bentonita. De modo Teor de Bentonita (%)
a comparar os resultados de permeabilidade da Figura 12. Resultados de condutividade hidráulica das
areia RCD, foi realizado o ensaio de carga misturas areia RCD-Bentonita. Fonte: Próprio Autor
constante, conforme NBR:13292 (ABNT, (2018).
1995).
Com os dados, também pôde ser gerada uma
1.2E-03 função que descreve o comportamento da
Areia RCD + Bentonita condutividade hidráulica das misturas, a qual
Condutividade hidráulica (cm/s)

1.0E-03
pode ser usada para a determinação deste
8.0E-04 parâmetro para qualquer teor de Bentonita.
Neste caso, de acordo com a função gerada, esta
6.0E-04 mistura de areia RCD-Bentonita atingiria a
condutividade hidráulica de 1,0x10-7 cm/s com
4.0E-04
19,8% de Bentonita, tal como nas
2.0E-04 especificações da Tabela 1 para material
impermeabilizante de aterros sanitários.
0.0E+00
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Teor de Bentonita (%)
4 CONCLUSÕES
Figura 11. Resultados de condutividade hidráulica da
areia RCD e das misturas areia RCD-Bentonita. Fonte:
Próprio Autor (2018). Esta pesquisa apresenta um estudo das
propriedades geotécnicas de uma areia de RCD
Verifica-se na Figura 11 que a condutividade misturada com diferentes teores de Bentonita
hidráulica da areia RCD foi da ordem de 1x10-3 para uso como material alternativo em camada
cm/s, e que as misturas com Bentonita de cobertura ou liner de aterros sanitários. Com
atingiram valores de condutividade hidráulica base nos resultados obtidos, verificou-se que:
significativamente menores.
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 A adição de 8% Bentonita na areia RCD foi AGRADECIMENTOS


suficiente para atingir as recomendações
mínimas de 20% de finos, conforme Daniel Os autores agradecem ao LabGEO UFSCar pelo
(1993). No entanto, as misturas não apoio institucional e ao técnico Sidnei Muzetti
atingiram os 30% de finos estabelecido nas pelo apoio durante a realização dos ensaios. Os
recomendações de Rocca et al. (1993); autores agradecem também as empresas
 Foram observadas alterações significativas BUNTECH – Tecnologia em Insumos e AMX
no limite de liquidez (LL) das misturas com Ambiental pelos materiais.
poucos teores de Bentonita, atendendo as
especificações (LL>30%) com cerca de 2% REFERÊNCIAS
de Bentonita. A areia RCD passou da
condição não plástica para plástica com AMETA, N. K.; WAYAL, A. S. 2008. Effect of bentonite
on permeability of dune sand. Electronic Journal of
adição de 4% de Bentonita, também Geotechnical Engineering, Vol 13, Bund. A., 2008.
atendendo as especificações (IP>7%); Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6458
 Foi verificada uma alteração significativa nos Versão corrigida 2 – Grãos de pedregulho retidos na
parâmetros ótimos de compactação da areia peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa
RCD após a adição de Bentonita. Houve um específica, da massa específica aparente e da absorção
aumento nos teores de umidade ótimos para de água. Rio de Janeiro, 2017.
____ . NBR 6459 – Solo - Determinação Do Limite de
todos os teores de Bentonita, e aumento da
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016.
massa específica seca máxima com poucos
____ . NBR 7180 – Solo - Determinação do limite de
teores de Bentonita; plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
 A adição de Bentonita não mostrou variação ____ . NBR 7182 – Solo - Ensaio de Compactação. Rio
significativa nos valores de pH da areia de Janeiro, 2016.
RCD, mantendo-se acima dos valores ____ . NBR 7181 – Solo - Análise Granulométrica. Rio
indicados na literatura (pH>7); de Janeiro, 2016.
 A condutividade hidráulica da areia RCD da ____ . NBR 13292 – Solo - Determinação do coeficiente
de permeabilidade de solos granulares à carga
ordem de 1x10-3 cm/s atingiu valores de constante - Metodo de ensaio. Rio de Janeiro, 1995.
4,5x10-5 cm/s com 2% de Bentonita e ____ . NBR 14545 – Solo - Determinação do coeficiente
3,5x10-7 cm/s com 16%. Foi possível gerar de permeabilidade de solos argilosos a carga variável.
uma função que descreve a condutividade Rio de Janeiro, 2000.
hidráulica da mistura, a qual indica que com CATAPRETA, C. A. A.; SIMÕES, G. F. Utilização de
cerca de 19 % de Bentonita, a mistura atinge resíduos de construção e demolição para cobertura
1x10-7 cm/s, conforme as especificações para intermediária de resíduos sólidos urbanos dispostos
em aterros sanitários. In.: 26º Congresso Brasileiro de
material impermeabilizante de aterros Engenharia Sanitária e Ambiental, 2011.
sanitários. COELHO, H. M. G, LANGE, L. C., SIMÕES, G. F.,
FERREIRA, C. F. A., VIANA, D. F. Avaliação do
Estas análises indicam a viabilidade do uso desempenho de camadas de cobertura intermediárias e
de areia RCD-Bentonita, uma vez que esta finais em células experimentais de disposição de
mistura atende todos os requisitos geotécnicos resíduos sólidos urbanos. IN; Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, 23, 2005.
para uso em camada de aterros sanitários, e é ao
CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
mesmo tempo, uma solução para a disposição Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece
irregular dos resíduos de construção e diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos
demolição, e também para a diminuição do uso resíduos da construção civil. Ministério do Meio
de recursos naturais. Ambiente, Brasil, 2002
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Estudo do Comportamento Mecânico de um Solo Estabilizado


com Cimento e Roadcem
Roberto Rosselini Ferreira da Silva
Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia, Manaus, Brasil, obertor@hotmail.com

Carlos Eduardo Neves de Castro


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia, Manaus, Brasil,
carlosnvscastro@gmail.com

Cláudio Augusto de Paula Lima


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia, Manaus, Brasil, cadpl.eng@gmail.com

Consuelo Alves da Frota


Universidade Federal do Amazonas, Grupo de Geotecnia, Manaus, Brasil, cafrota@yahoo.com.br

RESUMO: Os solos naturais nem sempre possuem as especificações geotécnicas adequadas para a
construção de estradas. Neste caso, melhorar o material de jazida deve ser uma das primeiras
opções, uma vez que transportá-lo de outra localidade pode implicar em prática antieconômica.
Com isso, a estabilização de solos surge como uma alternativa, ou seja, solos inadequados podem
ser utilizados na pavimentação sem a necessidade de descartá-los, seja por meio de processos
físicos ou químicos. No trabalho em pauta, empregou-se a metodologia química, por meio da
inserção do cimento Portland e o aditivo RoadCem, produzido e comercializado pela empresa
PowerCem Technologies. O solo aditivado é proveniente da Província Petrolífera de Urucu, situada
a cerca de 650 km a sudoeste de Manaus (AM), no Município de Coari-AM, a qual apresenta solos
superficiais com predominância de finos e insuficiência de material pétreo. Determinaram-se a
granulometria, os parâmetros de compactação, o limite de liquidez (LL), o limite de plasticidade
(LP), e o comportamento mecânico a partir do ensaio de flexão a quatro pontos. O solo mostrou
textura com silte (26%) e argila (62%). A porcentagem de cimento e do RoadCem adicionadas as
misturas, segundo o manual da empresa holandesa, ficaram estabelecidas em 13% e 0,13%,
respectivamente. Para obtenção do módulo de rigidez dinâmico, moldaram-se vigas prismáticas,
prensados sob controle do grau de compactação, do solo natural (SN), solo-cimento (SC) e solo-
cimento-RoadCem (SCR). Foram submetidas a cura ao ar livre durante o período de três dias,
segundo as frequências de 1 Hz, 3 Hz e 10 Hz, sob a temperatura de 25°C. Os resultados
evidenciaram o módulo de rigidez dinâmico das composições com valor 80% superior ao do solo in
natura, para todas as formulações (SC e SCR). Portanto, destaca-se a potencialidade dessa
estabilização.

Palavras-chave: cimento portland, RoadCem, estabilização química, Urucu, flexão a quatro pontos,
módulo de rigidez dinâmico.

1 INTRODUÇÃO Confederação Nacional dos Transportes (CNT,


2017), a qualidade das rodovias no país é
A pavimentação no Brasil continua como um precária e, no ano de 2017, esse quadro se
desafio para os engenheiros. Segundo a agravou. A pesquisa avaliou 106 mil
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quilômetros de rodovia, dos quais, cerca de principalmente, em situações climáticas


50% foram classificados como regular, ruim ou difíceis, por exemplo, solos com excessiva
péssimo. Ainda, segundo o citado órgão, as umidade.
rodovias não cumprem sua vida útil, devido a No presente trabalho pesquisou-se a mistura
utilização de metodologias ultrapassadas, do solo típico de Urucu com cimento e
deficiências técnicas na execução, baixo RoadCem, com o fito de se determinar o
investimento e falhas na fiscalização das comportamento mecânico, em termos do
intervenções e manutenções. módulo de rigidez dinâmico.
Na Amazônia, especificamente, no Estado
do Amazonas, solos, em regra, não apresentam 2 MATERIAIS E MÉTODOS
os padrões geotécnicos adequados para
construção de estradas devido a predominância 2.1 Solo
superficial de granulometria fina. Motivo, pelo
qual, a estabilização de solos, mostra-se como O solo estudado foi proveniente da Província
alternativa. Petrolífera de Urucu, no Município de Coari-
A estabilização de materiais localizados AM, região com alto índice pluviométrico,
próximos a obra, constitui uma importante perfil geotécnico de solos com predominância
ajuda econômica à pavimentação. Dentre essas de finos, e ausência de material pétreo
técnicas, tem-se a química, que por meio de superficial.
aditivos (cal, cimento, etc), pode melhorar as Preparou-se o material natural para os
características do solo “in natura”. A literatura ensaios de caracterização a partir da NBR 6457
evidencia vários estudos sobre esse assunto. (2016). Foram submetidos a secagem ao ar livre
Destaca-se a utilização do solo-cimento (SC), e, em seguida, destorroados (figura 1).
como uma aplicação das mais antigas no Brasil.
Balbo (2015) menciona que a ideia do emprego
desse tipo de mistura, em bases de pavimento,
surgiu pelo fato de não se ter disponibilidade de
materiais britados a baixo custo, causado por
grandes distâncias de transporte. Ainda,
segundo o autor, o cimento proporciona o
envolvimento aos grãos, que funcionam como
uma barreira contra a água, evitando, também, a
expansão de solos sensíveis à umidade. Larsen
(1967), citado por Balbo (2015), sugere teores
de cimento não inferiores a 7% em massa ou
8% em volume para solos finos.
Outros produtos surgiram no mercado Figura 1. Amostra de solo seco e destorroado de Urucu.
visando tal metodologia, caso do RoadCem,
fabricado pela empresa PowerCem 2.2 Cimento e RoadCem
Technologies. Este material tem como principal
objetivo reagir com o cimento, alterando sua Utilizou-se o cimento CP II-E 32. Material
estrutura molecular por meio do crescimento e formado pela adição de escória de alto-forno e
desenvolvimento de uma estrutura densa pozolanas, com baixo calor de hidratação e
mineral cristalina, que une o material recomendado para aplicação em misturas solo-
firmemente (MARJANOVIC et al, 2008). O cimento, conforme a Associação Brasileira de
fabricante recomenda sua participação em Cimento Portland (ABCP, 2003). O aditivo
formulações com todos tipos de solo, RoadCem possui em sua composição metais
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alcalinos e zeólitas, que agem diretamente no


processo de hidratação do cimento,
desenvolvendo estruturas cristalinas que
aumentam a resistência das camadas
estabilizadas.

2.3 Ensaios de Caracterização

Na caracterização geotécnica encontrou-se a


granulometria (NBR 7181/16), o limite de
liquidez (NBR 6459/16), o limite de
plasticidade (NBR 7180/16), e os parâmetros de
compactação pelo Proctor modificado (NBR
7182/16).
Figura 2. Vigas moldadas e gabarito.
2.4 Dosagem
2.6 Comportamento Mecânico
Os percentuais dos materiais a serem inseridos
nas misturas acompanharam as recomendações Examinou-se o comportamento mecânico a
do manual do fabricante da PowerCem partir do módulo de rigidez dinâmico.
Technologies (MARJANOVIC et al, 2008). A Executou-se o experimento por meio do ensaio
partir dessas dosagens, realizaram-se os ensaios de flexão a quatro pontos, usando uma
de caracterização e quanto ao desempenho Pneumatic Standalone 4 Point Bending da IPC
mecânico para as composições: solo natural Global, sob as frequências de 1 Hz, 3 Hz e 10
(SN), solo-cimento (SC) e solo-cimento- Hz. A viga prismática possui quatro pontos de
RoadCem (SCR). apoio. Os dois apoios entre o vão tem por
finalidade aplicar a carga, a partir das
2.5 Moldagem das Vigas de Solo frequências programadas, enquanto os externos,
sendo articulados, possibilitam que a
Partindo dos parâmetros obtidos moldaram-se extremidade da viga se mova sem mostrar
os corpos de prova prismáticos, ou vigas de deslocamento. Assim, tal disposição permite
solo, Figura 2, segundo a ASTM D1632/07, em que se trabalhe à flexão pura (SILVA, 2014).
uma prensa hidráulica, controlando-se o grau de
compactação. Foram curadas durante 3 dias, em 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
que borrifava-se água para representar as
condições executadas em campo (Urucu). Por meio do ensaio de granulometria,
encontrou-se a distribuição dos grãos do solo,
como disposto na Figura 3, em que se constatou
as porcentagens de pedregulho (0%), areia
(8,92%), silte (25,91%) e argila (61,97%).
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Figura 3. Curva de distribuição granulométrica

A Figura 4 e a Tabela 1 indicam os


resultados dos limites de Atterberg para o
material de jazida e composições. Nota-se uma
Figura 5. Curvas de compactação.
pequena variação no índice de plasticidade.
Partindo desses valores e da granulometria,
classificou-se o solo e formulações pelo SUCS Tabela 2. Umidade ótima e peso específico aparente seco
e a AASHTO, respectivamente, como: MH máximo.
(silte inorgânico de alta plasticidade), e A7. As Material wot dmáx
dosagens consoante as recomendações, (%) (g/cm³)
resultaram em termos percentuais, 13% SN 23 1,614
SC 21,34 1,649
(cimento) e 0,13% (RoadCem). SCR 21,09 1,656

Os valores para o módulo dinâmico


apontaram, em geral, um moderado acréscimo
com o aumento da frequência. Esse
comportamento foi, igualmente, observado por
Fernandes (2017) e Silva (2014). Salienta-se
também que, apesar desse incremento, a
composição com o RoadCem mostrou, na
frequência de 3 Hz para 10 Hz, um pequeno
decréscimo.
Figura 4. Limites de Liquidez. WU (2015) cita, ao analisar o módulo
dinâmico em misturas solo argiloso-cimento-
RoadCem, que não obteve também um
Tabela 1. Limites de Atterberg.
Material LL LP IP
comportamento padrão, houve situações que o
(%) (%) (%) valor desse parâmetro decrescia com o aumento
SN 73,66 46,78 26,88 da frequência. Mas, é importante ressaltar que
SC 70,41 42,50 27,91 são vários os fatores que podem influenciar tais
SCR 69,52 40,79 28,73 resultados: processo de cura, número de ciclos,
tipo de solo e dosagem.
Para o ensaio de Proctor, traçaram-se as Comparando-se, portanto, o módulo de
curvas constantes na Figura 5. Observou-se a rigidez dinâmico das formulações alusivo ao
pequena redução na umidade ótima e um leve material de jazida, nota-se, em geral, a elevação
acréscimo no peso específico aparente seco desse parâmetro em cerca de 80%. A Tabela 3
máximo das misturas (Tabela 2). dispõe esses valores, bem como a Figura 6 que
representa o gráfico do módulo dinâmico (MPa)
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em função da frequência (Hz).

Tabela 3. Valores do módulo dinâmico com as


frequências.
Material Frequência
1Hz 3Hz 10Hz 1Hz
SN 1337 1364 1448 1321
SC 2409 2437 2503 2398
SCR 2427 2476 2449 2434

Figura 7. Vigas com o RoadCem perfeitas e com cimento


a presença de fissuradas durante o ensaio.

4 CONCLUSÕES

Pelo exposto, conclui-se que as misturas


demonstraram eficácia. Porquanto, houve um
incremento do módulo de rigidez dinâmico em
mais da metade respeitante ao solo in natura,
notadamente para a composição SCR. Além
Figura 6. Módulo dinâmico x frequência. disso, a composição com a presença de
RoadCem exibiu discretas ou nenhuma fissura
Lembra-se que a repetição da frequência quando submetida as condições de “molhagem”
de 1 Hertz (Tabela 3) teve como finalidade ou movimentação durante o manuseio e ao
verificar se houve danos ao corpo de prova, longo dos experimentos.
durante a aplicação das cargas. Deve-se
respeitar uma variação máxima de 3% do valor
da frequência inicial à frequência repetida. AGRADECIMENTOS
Sendo assim, para todas as composições este
critério se mostrou de acordo, visto que a Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
variação foi inferior a porcentagem máxima Científico e Tecnológico (CNPq) pela
estipulada. concessão da bolsa ao primeiro autor.
Sublinha-se que as vigas SC, pela alta
rigidez durante e pós cura, fissuraram e
rompiam de forma brusca, enquanto a REFERÊNCIAS
composição SCR não exibiram tais evidências,
ficaram intactas. Vale ressaltar que devido a AASHTO. AASHTO Guide for Design of Pavement
essa fragilidade das formulações SC, teve-se Structures. [S.l.]: [s.n.], 2008.
um extremo cuidado e cautela no manuseio, ABCP, A. B. D. C. P. Guia Básico de Utilização do
enquanto as misturas com a presença do Cimento Portland. 7a. ed. São Paulo: [s.n.], 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
RoadCem não se fez necessário devido a TÉCNICAS - ABNT. NBR 6457: Amostras de Solo –
notável estabilidade que o corpo de prova Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
apresentava. Referente ao período de cura, de Caracterização. Rio de Janeiro, 2016.
simulou-se as condições de campo executadas ______.NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de
em Urucu durante 3 dias. Liquidez – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT,
2016.
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______ . NBR 7180: Solo – determinação do limite de


plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
______ . NBR 7181: Solo – análise granulométrica. Rio
de Janeiro, 2016.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio
de Janeiro, 2016.
ASTM D1632-07 (2007): Standard practice for making
and curing soil-cement compression and flexure test
specimens in the laboratory.
BALBO, J. T. Pavimentação asfáltica: materiais, projeto e
restauração. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
CNT, Confederação Nacional dos Transportes. Pesquisa
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FERNANDES, R.M. “Misturas do Material Solo com
Aditivos Químicos para Construção de Pavimentos”.
Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Amazonas,
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MARJANOVIC, P. et al. The Road to the Future. Manual
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RoadCem Additive. [S.l.]: [s.n.], 2015.
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Estudo do Potencial de Encapsulamento de um Solo Contaminado


com Cloreto de Zinco por meio da Adição de Cal.
Isabel Amado Perez 1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil, isabel.aperez@hotmail.com

Rossana Gonçalves de Valadares 2


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil, rossana.valadares@yahoo.com.br

Maria Isabel Pais 3


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil, isapais@puc-rio.br

Michéle Dal Toé Casagrande 4


Universidade de Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: Esse estudo tem como objetivo analisar o comportamento de um solo argiloso
contaminado por cloreto de zinco quando submetido à técnica de encapsulamento. O agente
cimentante empregado na parte experimental foi a cal hidratada do tipo CH-III. Para isso foram
desenvolvidas diversas misturas contendo solo argiloso, cloreto de zinco (nos teores de 5 e 10%) e o
agente encapsulante (cal, nos teores de 5 e 10%), em diferentes tempos de cura. Porquanto os
resultados deste estudo se mostraram satisfatórios, uma vez que houve uma significativa redução da
concentração de contaminante nos lixiviados quando as amostras continham maior quantidade do
agente cimentante, prevenindo assim a poluição do lençol freático. Além disso, notou-se a partir dos
resultados de resistência à compressão simples, que o tempo de cura, as concentrações de
contaminante e a inserção da cal hidratada influenciaram na resistência do solo contaminado. Por
fim, a técnica se tornou viável e aplicável, demonstrando resultados satisfatórios para o emprego do
solo contaminado com adição de cal, por exemplo, em base de pavimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Encapsulamento, Solo contaminado, Cal, Estabilização, Pavimentos.

1 INTRODUÇÃO correta ambientalmente.


Para isso teve-se a necessidade de implantar
A falta de controle e condicionantes para a programas de preservação e gerenciamento,
disposição de resíduos industriais leva à estudos apresentando métodos de remedição
contaminação das águas e do solo, afetando eficientes para atenuar o volume e a toxicidade
diretamente a saúde humana e o meio ambiente. dos resíduos industriais.
Isso ocorre devido à falta de uma política A tecnologia de solidificação/estabilização
ambiental pertinente que rege as diretrizes para por meio de encapsulamento é um dos
a correta destinação dos resíduos industriais. Ao processos de controle e remediação de solos
longo dos anos o controle para disposição final contaminados. Essa alternativa de tratamento é
dos resíduos tem se tornado mais severo e as aplicada para a disposição de resíduos perigosos
indústrias passaram a buscar técnicas mais em aterros, pois proporciona melhorias das
seguras para tratar estes resíduos de forma mais características físicas e toxicológicas do
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resíduo, permitindo o seu gerenciamento de poluentes no solo, além de reduzir a


forma segura e eficaz. Ressalta-se também o solubilidade e toxicidade. Tem um grande
baixo custo em relação a outras técnicas de potencial de uso na redução do poder de
tratamento, enfatizando o seu emprego nos contaminação por hidrocarbonetos e metais
últimos anos. pesados, porém ainda não possui tecnologia
Neste estudo foi utilizada a técnica de nacional capacitada para seu emprego correto
encapsulamento devido ao número elevado de (KNOP, 2003).
áreas contaminadas por atividades industriais,
considerou-se também o fato do 2.2 A Técnica de Encapsulamento
encapsulamento geotécnico ser um tratamento
de remediação pouco utilizado no Brasil. Segundo Wiles (1987), a técnica consiste no
completo revestimento de um resíduo tóxico
2 REVISÃO DA LITERATURA por um agente encapsulante, que pode ser cal ou
cimento Portland. É um sistema de tratamento
2.1 Técnicas de Remediação de Solos que utiliza técnicas de solidificação e
Contaminados estabilização para alcançar melhorias nas
características físicas e de manuseio de um
A princípio a remediação de solos resíduo, como também reduzir o nível de
contaminados consiste na redução dos teores de toxicidade. Além disso, vale destacar que a
contaminantes a níveis seguros para a saúde aplicação desta técnica transforma o solo
humana. Essa redução pode ser feita para contaminado em um material com elevada
impedir ou dificultar a disseminação de resistência, podendo ser empregado em obras
substâncias nocivas ao ambiente (TAVARES, civis e geotécnicas e até mesmo como base e
2013). sub-base de pavimentos.
Perante a grande ocorrência de acidentes A Environmental Protection Agency (EPA,
ambientais inúmeros métodos surgiram para 2012), se refere ao processo de
remediação e mitigação dos passivos solidificação/estabilização como um grupo de
ambientais. Alguns desses são realizados in métodos de limpeza que previne ou retarda a
situ, já em outros, a massa contaminada é liberação de produtos químicos perigosos
removida, tratada e depois pode retornar ao oriundos de solos contaminados. Os processos
local de onde foi retirada, estes são utilizados na técnica de encapsulamento podem
denominados ex situ. (ROJAS e FONINI, ser in situ ou ex situ. No primeiro é realizada a
2006). mistura de agentes cimentantes no local onde se
Ainda assim, Tavares (2013), relata que encontra o solo contaminado, prevenindo a
atualmente as técnicas de remediação in situ lixiviação do contaminante para o lençol
têm sido mais utilizadas por apresentarem baixo freático. E no segundo ocorre a escavação do
custo e não provocarem contaminações material contaminado que é levado para uma
secundárias, o que já foi observado na unidade onde será misturado com o reagente e
remediação ex situ, devido ao transporte do por fim é utilizado em um aterro ou reaterro do
material contaminado até o local de tratamento. solo tratado (KNOP, 2003).
No entanto, a escolha da tecnologia adotada Os reagentes adicionados aos contaminantes
deve ser realizada conforme as características para gerar a estabilização e solidificação podem
de cada área contaminada, além de atender à ser orgânicos ou inorgânicos. Os reagentes mais
legislação ambiental vigente. A técnica de empregados para o encapsulamento são o
encapsulamento geotécnico consiste na inserção cimento Portland e a cal (ROJAS 2007).
de um agente cimentante no solo contaminado Para a estabilização de solos um dos métodos
que diminui ou impede o movimento dos mais conhecidos é a utilização da cal que possui
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diversas aplicações como em base ou sub-base pela amostra, se tornando um potencial poluidor
de pavimento ou em aterros. As propriedades da do lençol freático. O cloreto de zinco utilizado
adição da cal ao solo promovem melhorias na nesta pesquisa foi adquirido através da empresa
deformabilidade, permeabilidade e resistência. B’Herzog e a Tabela 1 apresenta as
especificações do contaminante:
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 1. Especificação do Cloreto de Zinco. (Fonte:
B’Herzog)
3.1 Materiais
Especificações
3.1.1 Solo Argiloso Dosagem 96,0% (mín)
Limite máximo de impurezas
As amostras do solo estudado são procedentes Ferro (Fe) 0,001%
da encosta do Campo experimental II da Sulfato (So4) 0,01%
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Chumbo (Pb) 0,005%
Janeiro. Consiste em um solo coluvionar de
tonalidade vermelho amarelado devido à 3.1.3 Cal
presença de óxido de ferro e alumínio,
demonstrado na Figura 1. O agente encapsulante adotado neste estudo foi
a cal hidratada calcítica, do tipo CH-III, da
marca Votorantim Cimentos. Silva (2009),
informa que a cal virgem é o principal produto
da calcinação das rochas carbonatas cálcicas e
cálcio-magnesianas. A cal hidratada é resultante
da hidratação da cal virgem encontrada em
forma de pó seco. É classificada também,
conforme o hidróxido predominante presente ou
de acordo com a cal virgem que lhe dá origem.
A figura 2 apresenta o agente encapsulante.

Figura 1. Solo Coluvionar.

3.1.2 Contaminante

Inicialmente, o contaminante utilizado foi o


zinco, porém nos ensaios de lixiviação adaptado
ao permeâmetro, realizados para as diversas
misturas, não foi detectado a presença de zinco
nas análises químicas dos lixiviados nem
mesmo nas amostras que continham apenas solo
e zinco. No entanto, foi adotado um modelo Figura 2. Cal (CHIII).
com cloreto de zinco onde substituiu o zinco
puro por conta da facilidade de quantificar o 3.2 Métodos
quanto de zinco poderia ser adsorvido no
sistema. Assim foi possível observar que nessa Para a parte experimental foram realizados
forma o zinco passa para a água que percola ensaios de caracterização dos parâmetros físicos
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do solo e a partir disso preparado os corpos-de- resultados apresentados. Contudo a


prova para 06 misturas diferentes: classificação geral do solo é a mesma, sendo
definido como uma argila inorgânica de alta
✓ 95% Solo + 5% ZnCl2; plasticidade.
✓ 90% Solo + 10% ZnCl2;
✓ 90% Solo + 5% ZnCl2 + 5% Cal; Tabela 2. Caracterização Física dos Solos do Campo
✓ 85% Solo + 5% ZnCl2 + 10% Cal; Experimental II da PUC-Rio.
✓ 85% Solo + 10% ZnCl2 + 5% Cal; Autor Gs LL LP IP SUCS
✓ 80% Solo + 10% ZnCl2 + 10% Cal. Beneveli
2.76 56 31 25 CH
(2002)
Foram executados os ensaios de resistência à Soares
2.74 54 28 25 CH
compressão simples e ensaios químicos nos (2005)
Duran
materiais lixiviados, para todas as misturas. Os (2012)
2.72 53 39 14 CH
ensaios de lixiviação foram executados em um Jaramillo
permeâmetro adaptado para a coleta do material 2.72 61 33 28 CH
(2016)
lixiviado com aplicação de pressão. Perez
2.69 51,6 33,8 17,8 CH
(2017)
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.2 Compactação Proctor Normal
4.1 Caracterização Física do Solo
Para determinar a umidade ótima e o peso
A Figura 3 demonstra a curva granulométrica específico máximo seco foi realizado o ensaio
do solo. O solo é coluvionar e pode ser de compactação Proctor Normal para o solo
classificado como uma argila inorgânica de alta puro, o solo com dois teores de contaminante,
plasticidade (CH) segundo o Sistema Unificado 5% e 10% e para o solo com os mesmos teores
de Classificação dos Solos (SUCS). de contaminante com a adição da cal em teores
diferentes, 5% e 10%. Os resultados para o solo
puro e solo com contaminante estão
apresentados na Figura 4.

Figura 3. Curva Granulométrica do Solo Argiloso.

Trata-se de um solo coluvionar que pode


sofrer variações de suas características ao longo
do perfil. A Tabela 2 compara os resultados dos Figura 4. Curva de Compactação Solo Puro e Solo com
índices físicos encontrados com resultados de Contaminante.
estudos anteriores para o mesmo solo. Nota-se
que os valores de limite de liquidez e densidade Pode-se observar que com a adição de 5% de
real dos grãos, do estudo em questão, são contaminante ao solo, houve um aumento no
menores e o limite de plasticidade se encontra peso específico seco máximo, de 1,55 g/cm³ do
na faixa média em comparação com os solo puro para 1,608 kN/m³ com cloreto de
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zinco. Para o solo com 10% de cloreto de zinco, Observa-se que a presença do contaminante
o aumento foi mais significante, resultando em provoca uma redução na resistência do solo, e
1,729 g/cm³ para o peso específico. No entanto, quanto maior a concentração deste
com o aumento da concentração de contaminante o solo se torna mais suscetível às
contaminante houve uma queda da umidade deformações.
ótima, reduzindo para 19,4% para o solo com Para as 04 misturas de solo/contaminante/cal
10% de contaminante. Isto ocorreu devido à foram realizados ensaios para tempos de cura de
presença de moléculas de água na composição 7, 28 e 60 dias. A Figura 7 apresenta os
do cloreto de zinco. A figura 5 apresenta as resultados encontrados para os diferentes teores
curvas de compactação das misturas de solo e e tempos de cura.
contaminante com cal.

Figura 5. Curva de Compactação para misturas contendo


Solo, ZnCL2 e Cal.

Nota-se que quanto maior a quantidade de cal


na mistura menor o peso específico seco
máximo, como também os valores de umidade
ótima são menores que os valores da mistura de
solo puro, não apresentando grandes variações
entre si.

4.2 Resistência à Compressão Simples

O comportamento mecânico quanto à


resistência à compressão simples do solo puro e
do solo com duas porcentagens diferentes de Figura 7. Resistência à Compressão Simples de misturas
cloreto de zinco é apresentado na Figura 6. com Cal para (a) 7; (b) 28; (c) 60 dias de cura.

A partir dos resultados, percebe-se a


evolução da resistência de acordo com o tempo
de cura, porém com a reação do cloreto de zinco
e da cal nas misturas em diferentes teores, o
aumento não foi significativo. Para 7 dias de
cura, a mistura de 10% ZnCl2 + 5% de cal
Figura 6. Resistência à compressão simples para solo mostrou ser a mais resistente, enquanto que em
puro e solo contaminado.
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60 dias de cura a mistura mais resistente foi a de A concentração do contaminante não


5% ZnCl2 + 5% de cal. Já em 28 dias de cura, influenciou na direção do plano de ruptura das
os resultados foram semelhante, exceto a amostras. Independente da quantidade do agente
mistura de 5% ZnCl2 + 5% de cal que se cimentante e do contaminante obteve-se o
mostrou mais suscetível à deformações com mesmo comportamento para os diferentes
menores valores de tensão. tempos de cura. Quanto maior foi o tempo de
Foram escolhidas as mesmas concentrações cura, menor a inclinação das fissuras.
de cloreto de zinco e cal para fazer os ensaios
de 7 e 28 dias de cura sem imersão, os 4.3 Análises Químicas dos Lixiviados
resultados são demonstrados na Figura 8.
Quanto à análise química a Tabela 3 apresenta
os resultados obtidos nas análises químicas das
amostras submetidas ao ensaio de lixiviação
adaptado ao permeâmetro. Tais resultados
foram importantes para assegurar a eficiência da
técnica de encapsulamento para um solo
contaminado com cloreto de zinco.

Tabela 3. Resultados das análises químicas dos lixiviados


Figura 8. Resistência à Compressão Simples, sem (%).
imersão, para 10% ZnCl2 + 10% de Cal (0, 7, 28 dias de Amostras Elementos
cura), argila pura e 10% ZnCl2. Zn Cl Ca S Fe Al Si
5%
ND ND ND 0,7 43,2 25,8 25,2
Verifica-se semelhança entre a mistura com ZnCl2
cal para 0 dia de cura, a argila pura e com 10% 10%
72,2 22,9 0,9 1,4 ND ND 0,8
ZnCl2
cloreto de zinco. Também se pode afirmar que 5%
quanto for o maior tempo de cura maior será a ZnCl2 1,3 42,7 49,2 0,2 ND ND ND
resistência da mistura. +5% Cal
Ao final dos ensaios de resistência à 5%
compressão simples, notou-se que para as ZnCl2
ND 31,4 67,0 1,0 ND ND 0,6
+10%
misturas de solo com adição da cal os planos de Cal
ruptura foram bem definidos, a Figura 9 10%
demonstra os resultados para os diferentes ZnCl2 37,0 36,9 24,8 0,7 ND ND 0,5
tempos de cura. +5% Cal
10%
ZnCl2
2,0 46,3 49,8 1,1 ND 0,8 ND
+10%
Cal
*ND: não detectado

É notável que quanto maior a quantidade de


agente encapsulante menor é a quantidade de
zinco presente nas misturas. Como também é
visível a redução da quantidade de ferro,
Figura 9. Planos de Ruptura: (a) 10% ZnCl2 + 5% de Cal, alumínio e silício, que são elementos que
0 dias de cura; (b) 5% ZnCl2 + 10% de Cal, 7 dias de proporcionam resistência ao solo, O cloro, está
cura; (c) 5% ZnCl2 + 5% de Cal, 28 dias de cura. presente em maior quantidade na amostra de
10% cloreto de zinco e 10% de cal. A mistura
contendo 5% de contaminante e 10% de cal foi
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a única que não detectou a presença de zinco no


lixiviado, sendo assim a mais eficiente em
relação às outras analisadas.
A Figura 10 apresenta a comparação dos
valores da concentração de zinco obtidos no
ensaio de espectrometria de absorção atômica,
em mg/L, com os valores de intervenção ou
investigação definidos pelas Resoluções
CONAMA nº 396/2008 e nº 420/2009.

Figura 11. Efeito da quantidade de cal sobre a resistência


à compressão simples para alguns solos tratados com cal
e curdos por 7 dias (fonte: adaptado de Ingles & Metcalf,
1972 apud Dalla Rosa, 2009).

A literatura afirma que não há,


Figura 10. Gráfico de comparação entre os valores de aparentemente, um teor ótimo de cal que
concentração de Zinco encontrados nas análises químicas
do lixiviado e os valores definidos nas Resoluções
produza a máxima resistência em um solo
CONAMA. estabilizado. Os principais fatores que
influenciam a resistência são o teor e o tipo de
4.4 Influência da Adição da Cal cal, o tipo de solo, o peso específico, o tempo e
tipo de cura. (Dalla Rosa, 2009).
A inserção da cal nas misturas de solo com Logo, a partir das análises químicas dos
contaminantes promoveu um aumento na lixiviados, notou-se que a concentração de
resistência à compressão simples. No entanto contaminante afetou o emprego da cal como
devido à presença do contaminante são geradas encapsulante. As misturas de
reações químicas adversas ao ganho de solo/contaminante/cal que se apresentaram de
resistência, o que torna a mistura com cal forma eficiente a reduzir a concentração de
inferior à misturas com outros contaminantes, zinco no lixiviado foram as que continham 5%
como por exemplo o cimento. ou 10% de cal com apenas 5% de cloreto de
As misturas contendo 5% de cal tiveram zinco.
resistência à compressão simples superior às
misturas com 10%. De acordo com Ingles & 4.5 Influência do tempo de cura
Metcalf (1972), na Figura 11 é explicado que,
em geral, a presença de cal provoca um Verifica-se na figura 12 os valores de
aumento linear da resistência até certo nível, resistência à compressão simples em relação aos
normalmente 8% para solos argilosos. A partir tempos de cura de 7, 28 e 60 dias.
deste ponto a taxa de acréscimo de resistência Percebeu-se que a mistura com 5% ZnCl2 +
reduz com a quantidade de cal, por apresentar 5% de cal apresentou elevado valor de
uma cimentação lenta que depende do tipo de resistência ao longo dos 60 dias de cura, ainda
solo. que demonstrou uma perda entre 7 e 28 dias.
Foi a mistura com o maior ganho de resistência,
sendo alcançado o resultado de 189 kPa. Para a
mistura com 10% ZnCl2 + 5% de cal a
resistência se deu elevada aos 7 dias de cura,
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logo após houve uma perda, porém aos 60 dias a presença do cloreto de zinco no solo reduz
de cura essa perda foi recuperada. Ao final de significativamente a resistência do solo. Com o
60 dias as resistências das misturas foram a adição da cal ao solo contaminado houve um
semelhantes. ganho de resistência. Comparado a resistência
do solo puro, as amostras com cal que não
foram imersas em água e que ficaram 7 e 28
dias em cura, obtiveram resultados mais
elevados.
Ressalta-se que as misturas ensaiadas em 0 dias
de cura alcançaram valores similares ao da
argila pura. Com isso, percebeu-se que o tempo
de cura não influenciou tanto, devido à lenta
cimentação da cal. As maiores resistências
alcançadas foram para as misturas contendo 5%
Figura 12. Resistência à compressão simples x Tempo de de cal.
cura. Quanto as análises químicas os resultados
mostraram que com a presença da cal a
As misturas estudadas não apresentaram concentração do zinco diminui no lixiviado.
variações significativas de valores de resistência Esse fato evidencia a efetividade da técnica de
devido às reações da cal com o cloreto de zinco encapsulamento do solo contaminado por
ao longo do tempo. Como também pode ter cloreto de zinco. A mistura de 5% de cloreto de
ocorrido o impedimento das reações zinco + 10% de cal obteve o resultado mais
pozolânicas ou a quantidade de cal foi favorável para este ensaio.
insuficiente para cimentar as partículas. Logo a técnica de encapsulamento não
De acordo com Thomé (1994) as reações engloba apenas a redução da concentração do
pozolânicas podem ser dificultadas por três contaminante no lixiviado, como também a
fatores independentes ou conjuntos: falta de resistência que o solo adquire com a adição do
água, temperatura de cura muito baixa ou teor agente encapsulante.
de cal insuficiente. Neste estudo as amostras Portanto, a mistura de 5% ZnCl2 e 10% de
foram moldadas de acordo com a umidade cal atendeu as condições do encapsulamento do
ótima de cada mistura obtida nos ensaios de contaminante, sendo esta mistura viável para
compactação, cerca de 23%. aplicação em pavimentação, como por exemplo
Em relação à temperatura, Anday (1963, base estabilizada de pavimentos ou blocos para
apud Thomé, 1994) cita que as reações pavimentos intertravados, por apresentar
diminuem de intensidade às temperaturas em também resultados satisfatórios no
torno de 16°C e cessam completamente abaixo comportamento mecânico à compressão
de 4°C. Neste caso, as amostras foram simples.
moldadas e curadas em temperatura ambiente,
isto é, 25°C. Portanto, é possível que a REFERÊNCIAS
quantidade de cal tenha sido insuficiente para
que as reações pozolânicas continuassem a Beneveli, R. M. Estudo dos efeitos de umedecimento e
secagem na resistência ao cisalhamento de um solo
ocorrer ao longo do tempo de cura. compactado em laboratório. Dissertação de Mestrado,
Programa Pós-Graduação em Engenharia Civil,
5 CONCLUSÕES Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2002.
Analisando os resultados dos ensaios de Dalla Rosa, A. Estudos dos Parâmetro-Chave no Contrle
da Resistência de Misturas Solo-Cinza-Cal. Tese de
resistência à compressão simples, notou-se que Mestrado, Programa de Pós Graduação em
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Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Graduação em Engenharia Civil da Universidade


Grande do Sul. 198 p, 2009. Federal do Rio Grande do Sul. 149 p, 1994.
Duran, G. G. R. Estudo experimental de solos reforçados Wiles, C. C. A review of solidification/stabilization
com borracha de pneus inservíveis. Dissertação de technology. Journal of Hazardous Materials.
Mestrado, Programa Pós-Graduação em Engenharia Amsterdam, Vol. 14. p. 5-21. 1987.
Civil, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 145 p, 2012.
Environmental Protection Agency. A Citizen’s Guide to
Solidification and Stabilization. USA, 2012.
Jaramillo, N. A. D. Comportamento mecânico de solos
reforçados com borracha de pneus. Dissertação de
Mestrado, Programa Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 112 p,
2016.Rojas, J. W. J.; Fonini, A. Técnicas Empregadas
na Remediação de Solos Contaminados. Porto Alegre,
Rio Grande do Sul. 2006.
Knop, A. Encapsulamento de solos contaminados por
hidrocarbonetos. Dissertação de Mestrado, Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 67 p, 2003.
Rojas, J. W. J. Estudo de remediação de solo
contaminado por borra oleosa ácida utilizando a
técnica de encapsulamento. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 130 p, 2007.
Resoulção CONAMA nº 396/2008. Dispõe sobre a
classificação e diretrizes ambientais para o
enquadramento das ágas subterrâneas e dá outras
providêcnias.
Resolução CONAMA nº 420/2009. Dispõe sobre critérios
e valores orientados de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece
diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas por essas substâncias em decorrência de
atividades antrópicas.
Rojas, J. W. J.; Heineck, K. S.; Consoli, N. C. Resistência
à compressão simples de um solo contaminado e
cimentado. Teoria e Prática na Engenharia Civil, p.
13-18, 2009
Silva, J. O. Perfil da Cal. Ministério de Minas e Energia.
Secretaria de geologia, mineração e transformação
mineral. Setembro de 2009.
Soares, R. M. Resistência ao cisalhamento de um solo
coluvionar não saturado do Rio de Janeiro, RJ.
Dissertação de Mestrado, Programa PósGraduação em
Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
196 p, 2005.
Tavares, S. R. L. Remediação de solos e águas
contaminadas: conceitos básicos e fundamentos. 1ª ed.
2013.
Thomé, A. Estudo do comportamento de um solo mole
tratado com cal, visando seu uso em fundações
superficiais. Tese de Mestrado, Programa de Pós
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Estudo em colunas da migração de água de produção e efluente


tratado de petróleo em solos naturais do Ceará
Ramile Gomes Uzeda Sousa
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, ramileuzeda@gmail.com

Sandro Lemos Machado,


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, sandrolemosmachado@gmail.com

Iara Brandão de Oliveira,


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, oliveira@ufba.br

Gustavo Alonso Muñoz Magna


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, ingmag@gmail.com

Zenite da Silva Carvalho


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, zenite.esa@gmail.com

André Moreira de Souza Filho,


Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, andre.moreira@petrobras.com.br

Edeweis Rodrigues de Carvalho Júnior,


Petrobras, Rio de Janeiro, Brasil, edeweis@petrobras.com.br

RESUMO: Diante da escassez de dados sobre o transporte da parte dissolvida dos componentes
existentes em misturas óleo/água de produção este trabalho visa estudar o comportamento
hidrodispersivo de solutos em fluidos provenientes de campos maduros de petróleo, anterior a etapa
de refino, quando percolados em solos arenosos. Os fluidos escolhidos foram: água produzida de
petróleo e efluente tratado da água produzida, os quais percolaram separadamente em solos naturais
provenientes do estado do Ceará/Brasil. O trabalho buscou determinar os parâmetros de transporte
como: fator de retardo (Rd), coeficiente de dispersão hidrodinâmica (Dh) e dispersividade (αL) em
amostras indeformadas de solo. A determinação dos parâmetros de transporte foi realizada em
laboratório por meio de ensaios de colunas. As colunas de solo constituíram em amostras
cilíndricas indeformadas de grandes dimensões, 20 centímetros de diâmetro e 40 centímetros de
altura. Os ensaios realizados, sob condições de saturação, para verificação dos valores de
hidrocarbonetos totais de petróleo (HTP), consistiram na verdade, em medições de condutividade
elétrica em função do tempo, já que esses dois parâmetros podem ser correlacionados. Assim,
pôde-se determinar a curva de chegada com aplicação do modelo analítico proposto por Ogata e
Banks (1961). Por meio do ajuste incremental da solução analítica aos dados experimentais, os
fatores de retardo ficaram próximos de 1,0 indicando que os solutos não interagiram com a matriz
porosa. Verificou-se valores de dispersividade variando de 2 a 5 cm e dispersão hidrodinâmica na
ordem de 10-2 cm²/s, indicativo do comportamento advectivo/dispersivo.
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PALAVRAS-CHAVE: Transporte de contaminantes, hidrocarbonetos totais de petróleo (HTP),


ensaio de colunas.

1 INTRODUÇÃO hidrodinâmicos: advecção e dispersão


hidrodinâmica. Os mecanismos químicos
O transporte de contaminantes em solos, relacionam-se com a interação soluto/solo, ou
saturados ou não, é um dos principais temas de seja, há a transferência do contaminante da
pesquisa em geotecnia ambiental. Tal solução para as partículas sólidas ou vice-versa
preocupação está refletida nas inúmeras (MACHADO, 2002; VASCONCELOS, 2008;
pesquisas sobre a percolação de contaminantes DÍAZ-SANCHEZ, 2011; TEIXEIRAS, 2012).
em meios porosos, nas técnicas de contenção de O processo advectivo representa o movimento
áreas afetadas por vazamentos de da água, sem a alteração da concentração da
hidrocarbonetos, metais, lixiviados, entre outros. solução (DÍAZ-SANCHEZ, 2011). O fluxo
Embora muitos dados na literatura existam advectivo unidirecional na direção x pode ser
sobre o assunto, os parâmetros relativos ao expresso segundo a Equação diferencial (1).
transporte de contaminantes devem refletir a
realidade de cada local. dC dC
Devido à escassez de parâmetros físicos de =−v x . (1)
dt dx
transporte de solos brasileiros quando
percolados por misturas água/óleo de produção e
efluente tratado proveniente da água de k
vx = . i (2)
produção de campos de petróleo, o artigo propõe n
por meio da realização de ensaios de coluna a
determinação de tais parâmetros, sendo estes Em que C é a concentração do soluto (g/cm³),
ajustado pela solução analítica de Ogata e Banks vx é a velocidade de percolação na direção x -
(1961). direção do fluxo (cm/s); k é o coeficiente de
permeabilidade (cm/s) e i é o gradiente
hidráulico (adimensional).
1.1 Transporte de solutos em meios porosos A dispersão hidrodinâmica (Dh), Equação (3),
é caracterizada pelo espalhamento das
Para Van der Perk (2007) o termo transporte no partículas dos contaminantes e é dividida em
contexto de contaminação é descrito como o duas parcelas, a dispersão mecânica (Dm) e a
fenômeno de movimentação e migração de difusão (D0), ambas expressas em cm2/s.
solutos na matriz porosa, saturada ou não, sendo
o transporte realizado por meio da percolação Dh =D m +D0 (3)
de líquidos e/ou gases. A movimentação desses
solutos em subsuperfície dependerá da
propriedade dos solutos, do meio poroso e, A dispersão mecânica é função da velocidade,
consequentemente, das interações meio/fluido vx, e da dispersividade, α (cm). A difusão
(MONCADA, 2004). acontece, basicamente, para meios com
Os mecanismos físicos que controlam a gradientes de concentração, sendo importante
migração de contaminantes no meio poroso em problemas com vx < 1 x 10-6 cm/s (DÍAZ-
podem ser dividido em dois processos SÁNCHEZ, 2011; TEIXEIRA, 2012). Já a
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dispersão mecânica ocorre devido às


tortuosidades da matriz porosa, que força os
íons a seguirem caminhos mais longos que
numa solução livre. Assim, a dispersão torna-se
função da tortuosidade do meio (BERKOWITZ
et al., 2008). Desse modo, a Equação (3) pode
ser reescrita conforme Equação (4).

Dh =α v x +D0 τ (4)

Figura 1: Representação esquemática do ensaio de coluna


Parker (1989) estimou, conforme Equação (5), com concentração constante na fonte (ADAPTADO
que o fator de tortuosidade é função da SHACKELFORD, 1991).
porosidade (n) e do grau de saturação do meio
(Sr ) .
τ=n 1 /3 .S r 0,9 (5)

No que concerne aos mecanismos químicos,


estes se referem aos processos de interação
solo/fluido e são caracterizados por fenômenos
de sorção, troca iônica, precipitação/dissolução,
entre outros. Contudo, neste estudo, por conta Figura 2: Curva breakthrough para De<<Dh
da natureza arenosa dos solos ensaiados, não (ADAPTADO SHACKELFORD, 1991).
aprofundaremos nessa temática.

1.2 Determinação de parâmetros de transporte


em ensaios de laboratório

Os parâmetros de transporte podem ser


determinados por meio de ensaios laboratoriais.
Dentre as metodologias existentes pode-se
destacar: Método do Time-Lag, Método do Figura 3: Curva breakthrough para De ≈Dh
Regime Permanente e Método de Coluna. O (ADAPTADO SHACKELFORD, 1991).
ensaio de coluna, de maior interesse para o
presente artigo, assemelha-se a um ensaios de Podem-se obter também perfis de
determinação da permeabilidade, contudo, o concentração de um contaminante dentro da
objetivo do ensaio é obter as curvas de chegada coluna de solo permitindo, desse modo, avaliar
ou curvas breakthrough. Estas curvas exibem a a capacidade de retardo ou avanço de espécies
concentração relativa (C/C0) dos compostos de químicas (SHACKELFORD, 1994b;
interesse função do volume de poros percolado MONCADA, 2004).
ao longo do ensaio. A Figura 1 ilustra o Para Shackelford (1991), os resultados dos
esquema do ensaio de coluna com coleta de testes de coluna são analisados usando modelos
efluente na base. A Figura 2 e Figura 3 exibem analíticos de equações de transporte. Ogata e
as curvas de acordo a reatividade do soluto. Banks (1961) estipularam para transportes
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unidirecionais de solutos na matriz porosa a no intuito de proteger mecanicamente as


Equação (6), a qual considera os fenômenos de amostras e evitar fluxo preferencial nos ensaios
atenuação/dispersão em um meio semi-infinito de coluna.
submetido a um campo de velocidades A Figura 7 ilustra o aparato utilizado e as
unidirecional, vx. amostras de solo. Vale ressaltar que nove corpos
C 1 R x−v x t v x R x+v x t de prova foram removidos do município de
= [erfc( d )+exp ( x )erfc ( d )] (6) Aracati/CE sendo que seis de uma areia de
C0 2 2 √R d Dh t Dh 2 √R d Dh t
coloração vermelha e três de uma areia branca,
semelhante a uma areia de duna.
Ogata e Banks (1961) estabeleceram como
condições de contorno:
•condição de contorno inicial: C(x,0)=0; x ≥ 0;
•condição de contorno 1: C(0,t)=C0; t ≥ 0;
•condição de contorno 2: C(∞,t)=0; t ≥ 0.

Em que R d (adimensional) é o fator de retardo


e revela a capacidade de interação da matriz
porosa para um dado composto químico
(SHACKELFORD, 1994b).

2 METODOLOGIA Figura 4: Localização das áreas de coleta.

2.1. Área de coleta

As áreas de coleta do material (solos e fluidos)


estão situadas na bacia sedimentar petrolífera
Potiguar no estado brasileiro do Ceará, mais
precisamente no município Aracati/CE. Esta
região apresenta elevadas temperaturas durante
todo o ano, decorrente da proximidade da Linha
do Equador. A Figura 4 exibe a localização
geográfica das áreas de coleta e a Figura 5 e
Figura 6 apresentam os perfis dos solos
coletados. Figura 5: Solo de Aracati/CE -areia vermelha.
Para a coleta das amostras indeformadas de
solo, inicialmente foi feita uma limpeza no local
e foi utilizado o aparato desenvolvido por
Almeida e Machado (2016) para que o solo
fosse talhado, conforme Figura 7a. As amostras
indeformadas consistiram em corpos de prova
cilíndricos acondicionadas em tubos de PVC
com dimensões nominais aproximadamente de
20 cm de diâmetro e 40 cm de altura. O espaço
anelar entre as paredes do solo e dos tubos de
PVC foi preenchido com resina para laminação, Figura 6: Solo de Aracati/ CE - areia branca.
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Tabela 2. Limites de consistência e índice de plasticidade


(a) (b) dos solos.
ρd W WL WP IP
Solo Tipo CP
(g/ cm³) (%) (%) (%) (%)
CP1
CP2
1,653

Aracati/CE
Areia CP3
0,54
quatzosa NL NP -
vermelha CP4
1,717
CP5
Figura 7: Coleta de amostras: (a) aparato desenvolvido CP6
por Almeida e Machado (2016); (b) corpos de prova

Aracati/CE
extraídos em tubos de PVC. Areia CP1
quatzosa CP2 1,665 0,52 NL NP -
branca CP3
2.2. Caracterização dos Solos
NL - Não Líquido; NP - Não Plástico.

A caracterização dos solos consistiu na


determinação da distribuição granulométrica 2.3. Caracterização dos fluidos
(NBR 7181/1984), massa específica (NBR
6458/2016), limite de liquidez, WL, limite de Os fluidos utilizados foram água de produção e
plasticidade, WP e classificação conforme o efluente tratado da água de produção, sendo
SUCS (Sistema Unificado De Classificação Dos estes extraídos da Unidade de Operações da
Solos) e a NBR 6502/05. A Tabela 1 apresenta a Petrobras RNCE e transportados em galões
caracterização dos solos. plásticos para o Laboratório de Geotecnia
Os limites de consistência, índice de Ambiental da UFBA (GEOAMB). As águas de
plasticidade e umidade gravimétrica natural do produção foram extraídas de duas áreas da UO-
solo estão apresentados na Tabela 2. O valor de RNCE, uma da Fazenda Belém e outra próxima
ρd foi obtido mediante pesagem das amostras e a Área de Aterro de Resíduos Perigosos. O
determinação dos índices físicos. Os solos foram efluente tratado refere-se ao líquido de pós-
caracterizados basicamente como areias. tratamento da água de produção, o qual foi
extraído da área de produção de petróleo
Tabela 1. Distribuição Granulométrica e Classificação do
solos de estudo.
denominada Fazenda Belém.
Ensaio de
A Tabela 3 indica o local de coleta do fluido,
ρs Classificação a descrição do seu aspecto visual e os solos
Solo Granulometria (%)
(g/cm³) destinados à percolação pelo fluído. O aspecto
P AG AM AF S A SUCS NBR 6502
visual faz referência à proporção de água/óleo
Areia com encontrada nas amostras dos líquidos.
Aracati/CE

pouco silte
Solo 1

SP- Percebe-se que a condutividade elétrica (CE)


0 3 63 24 6 4 2,684 e com
SM vestígios de variou de acordo com fluido utilizado,
argila correlacionando-se diretamente com a
Areia com quantidade de íons que estão presentes na
Aracati/CE

pouca solução, embora não seja uma medida direta de


Solo 2

SP-
0 2 68 21 3 6 2,674 argila e concentração (BEAR & CHENG, 2010).
SM com vestí-
Para o solo arenoso vermelho foram per-
gios de silte
colados dois fluidos distintos, um para cada
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triplicata. O traçador escolhido para execução funcionou como um permeâmetro de grande


dos ensaios de coluna foram os hidrocarbonetos dimensão. Na parte inferior foi acoplado um
totais de petróleo (HTP), presentes nas águas de cap de PVC internamente preenchido com
produção e efluente tratado. material filtrante (pedriscos e manta de
geotêxtil). Na parte superior, foram acoplados
Tabela 3. Caracterização dos fluídos. um tubo biselado metálico, anéis e hastes de
Descrição do
aspecto
sustentação. A Figura 9 apresenta o corpo de
ID Local de CE
fluido1 coleta visual e (mS/cm) Área CP prova (amostra de solo) com os acessórios
BSW total acoplados.
Água de
coloração Solo
Fazenda CP1
AP-FZB

clara Aracati/CE
Belém 3,34 CP2
misturada areia
(FZB) CP3
com óleo vermelha

Estação de
Água de
efluente Solo
coloração CP1
ET-FZB

tratado- Aracati/CE
clara 8,22 CP2
Fazenda areia
misturada CP3
Belém vermelha
com óleo
(FZB)
Aterro de Água com
AP- ARIP

Resíduos coloração Solo CP1


Industriais turva 4,62 Aracati/CE- CP2
Perigosos misturada areia branca CP3 Figura 8: Croqui da coluna de percolação.
(ARIP) com óleo
1-AP-FZB Água de produção extraída da Fazenda Belém; ET-FZB Efluente

tratado da área da Fazenda Belém; AP-ARIP Água de produção extraída próximo

da Área de Aterro de Resíduos Perigosos (ARIP).

2.4. Colunas de percolação e ensaios de coluna

As colunas de percolação (Figura 8) utilizadas


no estudo foram desenvolvidas pela equipe do
GEOAMB e consistiram num aparato
experimental composto por: (1) torre metálica
(haste metálica circular presa a uma base
quadrada); (2) reservatório (tubo de Mariotte); Figura 9: Corpo de prova e acessórios.
(3) permeâmetro com corpo de prova de grandes
dimensões e (4) bandeja suporte.
Para o estabelecimento do fluxo estacionário,
O reservatório metálico possuiu capacidade de
os corpos de prova (item 3 da Figura 8), foram
armazenagem em torno de 20 litros de fluido e
saturados com água deionizada (0,05μS/cm).
funcionou de acordo ao princípio de Mariotte,
Posteriormente, os ensaios de coluna foram
com regulagem de fluxo por meio de um tubo
iniciados, sendo que o óleo livre contido nas
concêntrico de PVC (Ф 25 mm) acoplado ao
águas de produção foi removido. A adoção
topo do reservatório. O corpo de prova
desse procedimento justificou-se pelo fato do
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óleo ficar sobrenadante, dificultando o controle parâmetros e no ajuste, a Figura 11 apresenta o


da carga hidráulica. A carga hidráulica mantida fluxograma utilizado para o presente estudo.
foi de (3 ± 1 cm) e alíquotas de efluente foram
coletadas na base das colunas para que a
condutividade elétrica fosse medida.
Para determinação das concentrações de HTP
as amostras efluentes foram levadas para o
Laboratório de Estudos do Petróleo
(LEPETRO/UFBA), porém com intuito de
acelerar os ensaios, correlações entre
condutividade elétrica e concentração de HTP
foram obtidas. Figura 10: Concentração de HTP versus condutividade
A variação da condutividade elétrica durante elétrica.
os ensaios indicou o avanço da frente de
contaminação e, consequentemente, o aumento
da concentração de hidrocarbonetos totais. A
obtenção da correlação deu-se mediante diluição
dos fluidos com água deionizada nas proporções
(fluido/água) de 75, 50 e 25% respectivamente,
além da utilização do fluido puro (100%). Com
esta análise foi verificada uma correlação linear
entre HTP e condutividade elétrica. A Figura 9
ilustra a relação obtida do fluido AP-FZB para
as diferentes concentrações de HTP, os outros
fluidos seguiram o mesmo padrão.
Com a realização dos ensaios de coluna a
concentração relativa do efluente (C/C0) foi
estipulada pela Equação (7)

μ alíquota −μ min C
= (7) Figura 11: Procedimento de ajuste da curva breakthrough
μ max− μ min C
0
e parâmetros de transporte.

Em que µalíquota é a condutividade elétrica de O coeficiente de dispersão hidrodinâmica foi


cada alíquota coletada expressa em µS/cm, µ min obtido pela Equação (4) e levou em
é a condutividade elétrica de finalização do consideração a velocidade incial de cada ensaio
ensaio de saturação expressa em µS/cm; e µ max e o αLmodeloglobal. A dispersividade αL foi
inicialmente determinada pela média das
é a condutividade elétrica do líquido de entrada inclinações do trecho reto da curva C/C0 versus
expressa em µS/cm. Essa relação se aproxima tempo de percolação e foi utilizada como valor
da concentração relativa C/C0 de HTP. de previsão de αLmodeloglobal. O Rd foi obtido pela
Os parâmetros de transporte foram deter- curva experimental de C/C0 versus volumes de
minados segundo ajuste dos dados poros, para um valor de concentração relativa de
experimentais à solução analítica (8). Para 0,5.
auxiliar na compreensão da obtenção dos
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O coeficiente de difusão foi adotado como


sendo D0,=7x10-6cm²/s (GUSTAFSON, 1997).
O ajuste da curva de chegada e,
consequentemente, determinação dos
parâmetros de transporte foram obtidos por
meio do ajuste incremental da equação de Ogata
e Banks (1961), ou seja, pela Equação (8).

y2
dC 1 −2 −y 2
−2e −y 2

= [ e dy1 +e y dy 2 erfc(y 3 )+
1 2
e dy 3 ]
3
(8)
C0 2 √ π √π

Em que: Figura 12: Curva breakthrough para os solutos do fluido


AP-FZB no solo areia vermelha.
Rd x−v x t
y 1 =( ) (9)
2 √ R d Dh t

vx x
y 2 =( ) (10)
Dh

R d x+ vx t
y 3 =( ) (11)
2 √ R d Dh t

Os valores de R² foram calculados pelo método Figura 13: Curva breakthrough para os solutos do fluido
dos mínimos quadrados até que os parâmetros ET-FZB no solo areia vermelha.
de transporte possibilitassem o melhor ajuste.

3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Da Figura 12 até a Figura 14 são exibidas as


curvas breakthrough para os solos da região de
Aracati/CE quando percolados pelos fluidos AP-
FZB, ET-FZB e AP-ARIP.
A maioria das curvas de chegada
apresentaram um deslocamento para a esquerda,
fator improvável, que a velocidade de Figura
Figura 14:
14: Curva
Curva breakthrough
breakthrough para
para os
os solutos
solutos do
do fluido
fluido
deslocamento do soluto não pode ser maior que EP-FZB no solo areia vermelha.
AP-ARIP no solo areia branca.
a velocidade média de fluxo e não houve
processos de dessorção. Assim, o deslocamento A Figura 15 até a Figura 17, exibem o
pode ser justificado por regiões de estagnação comportamento da concentração relativa (C/C0)
dos fluidos percolados ou pela superestimativa de cada triplicata em função do tempo. A
do volume de poros, dado que a espessura de dispersividade αL foi utilizada como previsão
penetração da resina anelar pode ter gerado inicial do valor a ser adotado no modelo
alguma imprecisão nos valores dos índices analítico; o valor de Rd foi estipulado mediante
físicos das amostras. análise gráfica dos resultados. Assim, para cada
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CP, a curva breakthrough foi ajustada segundo a são similares aos valores ajustados com o uso da
Equação (8)., sendo então determinados os Equação (8)., ou seja, aos valores de αLmodeloglobal.
valores finais de dispersividade (αLmodeloglobal), Rd Os valores de Rd foram em torno de 1 revelando
e R2 para cada área de estudo. O valor de R2 foi a baixa capacidade de retardo e,
ajustado de acordo aos parâmetros de transporte consequentemente, a baixa interação dos solutos
para os três CPs de maneira a gerar, pelo método na matriz porosa. Ao comparar a média das
dos mínimos quadrados, os maiores R2. velocidades iniciais e finais de ensaios, percebe-
A Tabela 4 apresenta um resumo dos se que não há uma variação significativa.
parâmetros de transporte obtidos mediante
Tabela 4. Parâmetros de transporte e de ensaios.
realização dos ensaios de coluna com
Parâmetros do Areia Areia
concentração constante na fonte. Solo vermelha branca
Tipo de fluido AP-FZB ET-FZB AP-ARIP
CE do fluido
3,34 8,22 4,62
(mS/cm)
C0-HTP (mg/L) 1,92 3,65 4,79
Rdglobal (-) 1,00 1,20 1,0
Dhmodelo1
(cm²/s) 4,05x10-2 2,33x10-2 3,90 x10-2
αLmodeloglobal (cm) 4,00 3,20 3,00
αLinclinação 4,62 2,63 2,39
Figura 15: Parâmetros de transporte para o solo areia R2 global 0,93 0,91 0,97
vermelha - Aracati/CE quando percolado por AP-FZB. n (-) 0,38 0,36 0,38
τ(-) 0,72 0,73 0,72
D0 (cm²/s) 7,00 x10-6 7,00x10-6 7x10-6
v̄ xinicial ²(cm/s) 1,12 x10-2 5,02 x10-3 1,15 x10-2
v̄ xfinal 3(cm/s) 1,78 x10-2 7,60 x10-3 1,78 x10-2
v̄ xensaio 4(cm/s) 1,62 x10-2 6,88 x10-3 1,78 x10-2
Temperatura (ºC) 26,00 ± 1 26,00 ± 1 26,00 ± 1
1
Dh calculado com a velocidade inicial de ensaio; ²média
das velocidade iniciais da triplicata; ³média das
4
velocidade finais da triplicata; média das velocidades
Figura 16: Parâmetros de transporte para o solo areia dos ensaios da triplicata.
vermelha -Aracati/CE quando percolado por ET-FZB.
4 CONCLUSÕES

A partir da realização dos ensaios de coluna


pôde-se concluir que a utilização do aparato
experimental com as colunas de percolação de
grandes dimensões foi satisfatório.
A correlação obtida entre hidrocarbonetos
totais de petróleo (HTP) e condutividade
Figura 17: Parâmetros de transporte para o solo areia elétrica apresentaram uma relação linear, daí a
branca – Aracati/CE quando percolado por AP-ARIP.
possibilidade de estabelecer num curto espaço
de tempo a curva breakthrough com o uso da
Percebe-se que os valores de dispersividade condutividade elétrica.
calculados pela inclinação dos trechos retos (αL)
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Os valores de αLmodeloglobal e αL variaram entre 2 BERKOWITZ, B., DROR, I. & YARON, B. (2008).
e 5 indicando a baixa dispersividade Contaminant Geochemistry, Interations and
Transport in the Subsurface Environment. Ed,
longitudinal dos solutos. A dispersão Springer, Berlin, Hedelberg. 11 p.
hidrodinâmica variou na ordem de 10-2 cm²/s e a Díaz - Sánchez, J. F. (2011). Modelagem
velocidade média na ordem de ordem de 10-2 e multidimensional de transporte de contaminantes
10-3 cm/s, indicando que o mecanismo de inorgânicos em solos tropicais lateríticos. Dissertação
transporte dos solutos do estudo, pode ser do Mestrado em Geotecnia. Universidade de Brasília,
184 p.
considerado como mecanismo Gustafson, J. B. Selection of Representative HTP
advectivo/dispersivo, daí a acentuada inclinação Fractions Based on Fate and Transport
das curvas. Os valores de Rd próximo a 1 Considerations. (1997) [S.l.]: Amherst Scientific
revelaram a baixa interação solo/soluto, Publishers, 112 p. ISBN 1884940129.
condizentes com a natureza arenosa de ambos os Machado, S. L. (2002). Projeto PURIFICA- proposta
para remediação de áreas impactadas pela atividade
solos. Assim, diante dos resultados obtidos extrativa de chumbo em Santo Amaro-BA. Disponível
conclui-se que o avanço dos solutos em meios em: http://www.geoamb.eng.ufba.br/site/arquivos.
saturados apresentam significativa dispersão e Acesso em: 16 abr. 2018.
aumento da concentração relativa em um curto Moncada, M. P. H. (2004). Estudo em laboratório de
espaço de tempo revelando, para estes solos, características de colapso e transporte de soluto
associadas à infiltração de licor cáustico em um solo
preocupação na disponibilização dos HTPs em laterítico. Dissertação de Mestrado. Pontifícia
subsuperfície. Universidade Católica do Rio de Janeiro, 219 p.
Ogata, A.; Banks, R. B. (1961). A Solution of the
Diferential Equation of Longitudinal Dispersion in
Porous Media. U. S. Geological Survey. Prof. paper
AGRADECIMENTOS
411-A.
Shackelford, C. D. (1994b). Critical Concepts for Column
À FAPESB. Ao laboratório de Geotecnia Testing. Journal of Geotechnical Engineering, ASCE,
Ambiental da Universidade Federal da Bahia. 120(10): 1804-1828.
Ao Laboratório de Mecânica dos Solos da Shackelford, C. D. (1991). Laboratory diffusion for waste
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Universidade Católica de Salvador. À
Hidrology, n.7. p.177-217.
PETROBRAS. Teixeira, T. M. A. (2007). Montagem e teste laboratorial
de coluna para obtenção de parâmetros de transporte
e pré-avaliação da técnica oxidação química em
REFERÊNCIAS solos contaminados por 1,2-DBC. Dissertação de
ABNT. (1995). NBR 6502: Rochas e Solos, Rio de Mestrado. Universidade Federal da Bahia.. 173 p.
Janeiro, 18 p. Van Der Perk, M. (2007). Soil and Water Contamination:
ABNT. (1984). NBR 7181: Solo-Análise Granulométrica, From Molecular To Catchment Scale. Ed, Taylor &
Rio de Janeiro, 13 p. Francis, London, UK, 171-214 p.
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na peneira de 4,8 mm - Determinação da massa em Meios Porosos Saturados e não Saturados. Estudo
específica, Rio de Janeiro, 8 p. de Caso: Vazamento de Gasolina. (Dissertação –
Almeida, V. A.; Machado, S. L. (2016). Desenvolvimento Engenharia Geotécnica). Universidade Federal de
de aparato para a coleta de amostras indeformadas de Ouro Preto. 169 p.
grandes dimensões. COBRAMSEG 2016- XVIII.
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica - O Futuro Sustentável do
Brasil passa por Minas. Belo Horizonte, Minas
Gerais. 7p.
Bear, J. & Cheng. (2010). A. Modeling Ground Water
Flow and Contaminant Transport. Ed, Springer, New
York, NY. USA, 834p
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Estudo para aproveitamento de escória de ferro cromo de baixo


carbono em camada de pavimento
Evelin Marques de Oliveira
Unijorge, Salvador, Brasil, evelin.94@hotmail.com

Lucas Silva e Rocha


Unijorge, Salvador, Brasil, lucasrocha2025@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho apresenta o estudo sobre o aproveitamento de escória de ferro cromo de
baixo carbono (FeCrBC), produzida pela Indústria de Ferros e Ligas da Bahia (FERBASA) para
estabilizar granulometricamente um solo arenoso da cidade de Catu, para aplicação em obras de
pavimentação. A FERBASA, tem fundamental importância para a região, e no seu processo produtivo
também gera a escória de FeCrBC, sendo esse um subproduto, com baixa demanda comercial. O
município de Catu, interior da Bahia, apresenta situação típica de muitas cidades brasileiras com
várias vias sem pavimentação, ou com pavimento precário, tornando o aproveitamento dos solos
locais, objetivando redução de custo para implantação de pavimentação, uma importante ferramenta
para ampliar a pavimentação de vias num município com recursos bastante limitados. Foram
realizados ensaios de granulometria, compactção e ISC para caracterização dos materiais e
determinação do Índice de Suporte California de diversos corpos de prova moldados com percentuais
diferentes de solo e escória de modo a identificar a ideal proporção dos materiais para que seja
assegurada a resistência exigida pelas normas do Departamento Nacional de Infraeestrutura e
Transporte – DNIT, para aplicação em base e sub-base. Após a execução dos ensaios verificou-se
comportamento satisfatório da mistura de solo com escória, atingindo ISC de 66,80% para o máximo
percentual de escória adotado na mistura.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Escória, Solo.

1 INTRODUÇÃO e Transporte, que conforme VILLIBOR (2009),


se baseiam em entidades americanas como:
A malha rodoviária brasileira é composta American Association of State Highway and
por 1,72 milhões de quilômetros de rodovias Transportation Officials (AASHATO);
pavimentadas e não pavimentadas. De acordo American Society for Testing and Materials
com a Pesquisa Nacional da CNT - (ASTM); Asphalt Institute (AI), e Portland
Conferderação Nacional de Transporte – (2016) Cement Association (PCA).
, cerca de 1,35 milhões de quilômetros da malha O município de Catu, no interior da Bahia,
rodoviária não é pavimentada. A maioria destas conforme Gomes (2017), representa a situação
rodovias não-pavimentadas ligam os municípios da malha rodoviária de inúmeras cidades do país,
à malha pavimentada ou aos distritos e com vários locais ainda sem pavimentação, ou
povoados. com pavimento precário. Segundo Paixão
Conforme Villibor (2009), as técnicas (2017), a Indústria de Ferros e Ligas da Bahia, a
utilizadas para pavimentação nos países em FERBASA, tem fundamental importância para a
desenvolvimento, como o Brasil, baseiam-se nas região, e no seu processo produtivo gera a
já utilizadas nos países desenvolvidos. Aqui no escória de ferro cromo de baixo carbono,
país são utilizadas as normas estabelecidas pelo FeCrBC, resíduo esse não comercializado.
DNIT- Departamento Nacional de Infraestrutura Visando o aproveitamento do passivo e a
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melhoria da pavimentação em Catu, o estudo necessárias grandes intervenções.


busca analisar o aproveitamento da escória de
FeCrBC como estabilização granulométrica de 2.1.2 Camadas de Pavimento
um solo arenoso da cidade catuense para
aplicação em camada de pavimento. O pavimento é composto por camadas, sendo
elas basicamente: revestimento, base, sub-base e
2 ASPECTOS GERAIS subleito. A base é a camada imediatamente
abaixo do revestimento do pavimento e possui
2.1 Pavimento grande importância estrutural, sendo responsável
por resistir aos esforços originados pelo tráfego,
Segundo Senço(2007), pavimento é a estrutura aliviar as tensões no revestimento, e distribuir as
construída após a terraplenagem capaz de resistir tensões nas camadas inferiores. Sub-bases, são
e distribuir os esforços verticais devido ao camadas de pavimentação complementares à
tráfego, resistir aos esforços horizontais, base e que possuem o mesmo ofício da base. O
tornando maior a durabilidade da superfície de subleito é a última camada do pavimento, sendo
rolamento, oferecendo condições de segurança e portanto a sua fundação.
conforto ao usuário. Segundo as especificações de serviço do
Conforme o DNIT (2006) os pavimentos DNIT (2010), são requisitos mínimos para a
podem ser classificados em flexíveis, semi- camada de base do pavimento: ISC (Índice de
rígidos e rígidos. Essa classificação ocorre de Suporte Califórnia) maior ou igual a 80% e
acordo com o nível de absorção e distribuição expansão máxima de 0,5%, no entanto, em casos
dos esforços, sendo mais rígido à medida que o onde o número N de solicitações do eixo simples
revestimento superficial absorve mais tensões e padrão de 80KN que o pavimento deverá
mais flexível à medida em que ocorre suportar durante o período previsto, a partir da
distribuição relativamente equivalente dos construção, for inferior ou igual a 5𝑥106 o ISC
esforços entre as camadas. deverá ser maior ou igual a 60%.
Em geral os pavimentos utilizam materiais Ainda conforme o DNIT (2010) para
terrosos para a sub-base e britados para base. camadas de sub-base os requisitos são: ISC
Esses materiais, via de regra, são importados de maior ou igual a 20% e expansão máxima de 1%.
jazidas ou adquiridos comercialmente, o que Em relação a quantificação do número N
eleva o custo dos pavimentos. de solicitações do pavimento a AGETOP (2016),
estima para vias urbanas de tráfego muito leve a
2.1.1 Pavimento econômico médio – ruas e avenidas com previsão de
passagem de ônibus e caminhões em número de
Este tipo de pavimentação, como sugere o termo até 400 por dia – N típico de 5𝑥105 solicitações
econômico, é uma forma menos onerosa que a do eixo simples padrão para um período de 10
tradicional, onde busca-se maximizar o uso do anos.
material existente no local e/ou a substituição de
insumos de custo elevado por similares, que 2.2 A Escória de FeCrBC
adicionados ao solo melhorem suas
características afim de que estes atendam aos
padrões normativos geotécnicos para o tipo De acordo com a FERBASA (2017), dentre as
específico de uso. Além disso alguns autores, ligas e materiais que produz, estão presentes a
entre eles, Senço (2007) descrevem liga de ferro cromo alto carbono – FeCrAC, e a
pavimentação de baixo custo como sendo àquela liga de ferro cromo baixo carbono – FeCrBC.
de menor durabilidade ou com menor exigências Segundo Paixão (2017), o FeCrAC é utilizado na
técnicas de modo que o aperfeiçoamento do fabricação de aço inoxidável, que por sua vez
fluxo seja priorizado, sem que para tanto sejam tem utilização na indústria química,
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petroquimíca, bem como na construção civil; e o utilizada na correção de teores de cromo para
FeCrBC, figura 1, tem como característica a produção de aços.
presença máxima de Carbono em 0,15%, sendo
utilizada na correção de teores de cromo para Minério de Ferro
produção de aços. Cromo Sílico
Concentrado Cal Virgem Refusão
Cromo
Silo de Forno
Pesagem Elétrico

Cadinho
Ferro Dosagem Misturador
Amostragem
Sílico Cadinho Gangorra
Cromo Cadinho
Análise
Química
Lingotamento Escória
Limpeza
Quebra
Liga
Classificação
Granulometria

Amostragem Baias de
Clientes
e Análise Estocagem
Figura 2. Fluxograma de produção da liga de FeCrBC
Fonte: FERBASA 2017

Essa liga tem como sub-produto a escória,


e segundo Silva (2006, apud ERDEM 2005)
apenas uma pequena porcentagem do que é
gerado a cada ano é aproveitada, ficando a maior
parte depositada a céu aberto. Por conta disso,
pretende-se estudar sua viabilidade na
construção civil, como agregado para
Figura 1. Amostra de escória no laboratório. estabilização granulométrica de solo, podendo
ser utilizado ou não em camada de base ou sub-
A composição química típica da liga base, por exemplo. Para realização dos ensaios
FeCrBC, segundo a FERBASA (2017), é de laboratório foram coletadas duas amostras,
mostrada na tabela 1. O processo fabril está num total de 91kg, da escória de FeCrBC com
descrito no fluxograma da figura 2. diâmetros entre 0 e 10mm.
No laboratório a escória foi submetida a
Tabela 1. Composição química da liga de FeCrBC ensaio de granulometria, a curva granulométrica
Fonte: FERBASA 2017 está expressa na figura 3.
Composto Químico Percentual (%)
Cromo (Cr) 61%
Carbono (C) 0,15%
Sílicio (Si) 1,0%
Fósforo (P) 0,035%
Enxofre (S) 0,015%

Figura 3. Curva granulométrica da escória de FeCrBC


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2.3 Área de estudo perceber que as curvas granulométricas das duas


amostras apresentam curvas semelhantes, sendo
Afim de assegurar a viabilidade do estudo, do a variação da porcentagem passante na peneira
ponto de vista logístico e financeiro, foi 200 entre 28,01% e 28,89%.
selecionada uma área para estudo próxima a
cidade de Salvador, onde os ensaios de
laboratórios foram realizados, e próximo a
Ferbasa que produz a escória de FeCrBC, objeto
desse estudo, que deseja demonstrar a
exequibilidade da aplicação da escória em
projetos futuros de pavimentação nas cidades do
entorno da fábrica.
Dessa forma, a área selecionada para
estudo fica situada à 78km de Salvador, às
margens da BR 110, na cidade de Catu,
município do Agreste Baiano, com pouco mais Figura 5. Curvas granulométrica das amostras de solo
de 50 mil habitantes e que padece com a falta de
infraestrutura de estradas e rodovias,
A partir da Classificação de Solos SUCS
precariedade que se concentra nos bairros mais
identificou-se esse material como “SC” – Sand
pobres. Após definição conjunta com a
Clay –, areia argilosa. Pela classificação da HRB
Secretaria Municipal de Infraestutura foi
esse material pode ser classificado como uma
realizada a coleta de amostra do solo da Rua
areia siltosa.
Simões Filho, no bairro do Bom Viver, conforme
A figura 6 apresenta a curva de
figura 2.4, localizada à cerca de 9,5km da fábrica
compactação do solo. A umidade ótima
da Ferbasa em Pojuca, via BR-110 e BA-507.
encontrada para a amostra 1 foi de 9,0% e o
máximo peso específico seco de 20,30kN/m³,
para a amostra 2 a umidade ótima foi de 9,4% e
o máximo peso específico seco de 20,15kN/m³.

Figura 4. Rua Simões Filho


Figura 6. Curva de Compactação do solo
2.4 A amostra de solo

Foram coletadas duas amostras deformadas de No ensaio para determinação do ISC, vide
solo, num total de 200kg. As amostras foram figura 7, as amostras 1 e 2 foram compactadas na
identificadas por análise tátil visual como sendo umidade ótima e densidade máxima, e
de areia siltosa marrom. No laboratório as apresentaram, respectivamente, índice de 16,80
amostras foram submetidas a ensaios de % e 16,10%, demonstrando que o solo possui
granulometria, limites de Attenberg, resistência significativa e está próximo de atingir
compactação e ISC. Os ensaios de granulometria a resistência mínima necessária para ser usado
estão dispostos na figura 5. Na figura é possível como sub-base.
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3.3 Resultados obtidos

Os dados provenientes do ensaio de


granulometria foram analisados levando em
consideração o enquadramento das misturas nas
faixas de projeto estabelecidas pelo DNIT para
número N de tráfego menor que 5𝑥106 . As
curvas granulométricas estão apresentadas na
figura 8.

Figura 7. Índice de Suporte Califórnia

3 MATERIAIS, MÉTODOS E
RESULTADOS
Figura 8. Curva granulométrica das misturas
3.1 Ensaios
Nos ensaios de compactação os valores de
Os ensaios realizados estão de acordo as normas umidade ótima encontrada para as misturas
do DNIT, e estão listados a seguir: foram de 9,6% para a mistura 5%, 9,0% para a
Análise Granulométrica, DNIT – ME 051/94; mistura 10%, 8,9% para a mistura 20% e 8,4%
Compactação utilizando amostras não para a mistura 30%. Em relação ao peso
trabalhadas, DNIT 164/2013-ME; específico seco máximo os valores foram de
Determinação de Índice Suporte Califórnia 20,51kN/m³ para a mistura 5%, 20,55kN/m³ para
utilizando amostras não trabalhadas, DNIT a mistura 10%, 20,92kN/m³ para a mistura 20%
172/2016-ME; e 21,32kN/m³ para a mistura 30%. As curvas de
Determinação do Limite de Liquidez – compactação estão dispostas na figura 9.
métodos de resistência, DNIT – ME 122/94;
Determinação do Limite de Plasticidade -
DNIT – ME 082/94.

3.2 Metodologia

Para identificar o comportamento da resistência


do solo após a adição da escória, foram
realizadas quatro misturas com percentuais de
escória, respectivamente, de 5%, 10%, 20% e
30%. Essas misturas foram submetidas a ensaios Figura 9. Curvas de compactação das misturas
de granulometria, compactação e ISC. Afim de
garantir a umidade do solo mais próxima da Observa-se, com aumento da porcentagem
ótima, a escória fora submetida a ensaio de de escória, um acréscimo no valor do peso
absorção, e pulverizada com a quantidade de específico seco e consequente redução da
água necessária para minimizar a absorção da umidade ótima.
água no solo.
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Os valores de ISC obtidos para as quatro conforme a figura 8, a mistura de 30% foi a única
misturas diferentes estão disposto no gráfico da enquadrada dentro da faixa de projeto F.
figura 10. Segundo Paixão (2017) a Ferbasa não
realizou os estudos comerciais necessários para
estipular o preço de venda da escória de FeCrBC,
uma vez que não houve nenhuma procura pelo
produto. Tal fato desperta a preocupação da
empresa que acumula toneladas do passivo. No
entanto, Silva (2006) estima o preço da tonelada
de escória em torno de dez reais, que corrigidos
com base no IPCA dos últimos dez anos
indicaria um valor atual entorno de dezenove
reais.
Em cotação realizada no municipio de
Catu o preço médio encontrado para a tonelada
Figura 10. ISC encontrado para as misturas
de brita foi de cinquenta e três reais. Dessa forma
a escória mostra-se uma alternativa menos
onerosa que a brita, e mais viável
ANÁLISE DOS RESULTADOS E financeiramente para o município catuense que
CONCLUSÃO dispõe de recursos bastante limitados e possui
ampla carência de pavimentos de qualidade.
Com base nos resultados apresentados pode-se Por fim, tendo em vista que o acumulo dos
concluir que a escória de FeCrBC mostrou-se um depósitos de escória é fator ambiental
agregado eficaz para estabilização preocupante e tendo em vista a urgência de
granulométrica do solo estudado. As misturas encontrar materiais alternativos para atender a
não apresentaram variações significativas de demanda do setor de construção civil por fontes
expansão quando comparadas ao solo, mantendo alternativas de insumos, faz-se necessário que
expansão inferior a 0,2%. Devido a boa novos estudos venham a ser realizados para uso
resistência do solo, a mistura de 5% apresentou desse e outros passivos na construção civil.
resistência 46,50% superior a resistência mínima Em relação ao uso da escória de FeCrBC
exigida para sub-bases. em projetos de pavimentação faz-se necessários
Até o percentual de 30%, máximo que estudos físico-químicos da escória sejam
adicionado, a mistura teve ascendencia da realizados afim de analisar os teores de Cromo
resistência, estima-se que esse comportamento presente na escória, gerada pela fábrica da
se mantenha. Além disso, com base no gráfico Ferbasa em Pojuca, bem como ensaio de
da figura 10, é possível lançar mão da determinação de Abrasão “Los Angeles”. Além
interpolação para estimar os percentuais de de ensaios para determinação do potencial de
escória necessário para obter um determinado contaminação do meio-ambiente.
ISC desejado. Nesse estudo, fora interpolado
linearmente os dados conhecidos de forma que
se estimou em 2% o percentual necessário de
escória para atingir um ISC de 20% e 36% o AGRADECIMENTOS
percentual necessário para atingir ISC de 80%.
O ISC de 66,8% encontrado para a mistura Os autores deste trabalho agradecem a Pétrea
de 30% é viável para vias de tráfego leve a Engenharia por todo suporte para realização dos
moderado, que segundo Gomes (2017) é o tipo ensaios geotécnicos, a secretaria de
de tráfego da imensa maioria das ruas do infraestrutura de Catu e a FERBASA por toda
município de Catu. É importante ressaltar, que informação e auxílio concedido.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Gomes, Márcio. Insfraestrutura das vias urbanas do


município de Catu. 2017. Entrevista concedida aos
Balbo, José Tadeu. Pavimentação asfáltica: materiais, autores, Catu, 3 de março de 2017.
projetos e restauração. São Paulo, SP: Oficina de Núcleo de Estudos e Projetos. Instrução Técnica
Textos, 2007. AGETOP – Manual de Pavimentação Urbana 2016.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Disponível em
Transportes. Norma DNIT 141/2010 – ES. Disponível <http://www.agetop.go.gov.br/arquivos/documentos/6
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e- 8839_it_020_instrucao_tecnica.pdf>. Acessado em 21
manuais/normas/especificacao-de-servicos- de maio de 2017 às 22hrs13min.
es/dnit141_2010_es.pdf>. Acessado em 20 de Paixão, Rogério. Resíduos FERBASA. 2017. Entrevista
fevereiro de 2017 às 0hrs45min. concedida aos autores, Pojuca, 6 de março de 2017.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Senço, Wlastemiler de. Manual de técnicas de
Transportes. Manual de pavimentação. ITR, 3.ed. – pavimentação. 2. ed. – São Paulo, SP: Pini, 2007.
Rio de Janeiro, 2006, 274p. Silva, Antônio Sérgio Ramos da. Avaliação de
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de desempenho de concreto contendo agregado graúdo
Transportes. Norma rodoviária ME 051/94. Disponível de escória de ferro-cromo. Disponível em
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e- <http://www.ppec.ufba.br/site/node/372>. Acessado
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-me/dner-me051- em 10 de maio de 2017 às 01hrs24min.
94.pdf>. Acessado em 20 de fevereiro de 2017 às
01hrs28min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Norma rodoviária ME 081/94. Disponível
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-me/dner-me082-
94.pdf>. Acessado em 20 de fevereiro de 2017 às
01hrs43min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Norma rodoviária ME 122/94. Disponível
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-me/dner-me122-
94.pdf>. Acessado em 20 de fevereiro de 2017 às
02hrs18min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Norma rodoviária ME 162/94. Disponível
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-me/dner-me162-
94.pdf>. Acessado em 20 de fevereiro de 2017 às
02hrs23min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Norma DNIT 164/2013 – ME. Disponível
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-
me/dnit164_2013-me.pdf>. Acessado em 20 de
fevereiro de 2017 às 02hrs37min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes. Norma DNIT 172/2016. Disponível em
<http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/meetodo-de-ensaio-
me/dnit172_2016-me.pdf>. Acessado em 20 de
fevereiro de 2017 às 02hrs48min.
Brasil. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes.Norma DNIT 139/2010 – ES. Disponível
em <http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-
manuais/normas/especificacao-de-servicos-
es/dnit139_2010_es.pdf>. Acessado em 20 de
fevereiro de 2017 às 01hrs18min.
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Influência de Insumos Agrícolas em Propriedades Físicas de Solos


Tropicais
Andrea Cardona Pérez
Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, andreita-29@hotmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Cabral Guimarães


FURNAS Centrais Elétricas S.A e Universidade Estadual de Goiás, Goiânia GO, Brasil,
renatocg@furnas.com.br

RESUMO: Para conhecer se os insumos agrícolas geram um efeito nas propriedades físicas de solos
tropicais, foi feita, para o solo das profundidades de 5 m e 11 m coletados de um campo
experimental da Universidade de Brasília, a análise da composição química do solo natural e
ensaios de sedimentação, limites de Atterberg e avaliação visual por meio de lupa eletrônica, tanto
para o solo em estado natural, quanto para o solo misturado com 4% e 10% em peso de quatro
compostos preparados a partir dos insumos, Calcário Dolomítico, Calcário Calcítico, Cloreto de
Potássio, Ureia e Super Simples. Foi considerado um tempo de exposição do solo aos produtos
químicos de 24 horas, 7 dias e 15 dias. Se obteve que os fertilizantes geram principalmente
desagregação na granulometria do solo, assim como mudanças nos limites de Atterberg e na textura
do solo. Essas alterações não apresentam mudanças muito significativas com o tempo de exposição.

PALAVRAS-CHAVE: Insumos Agrícolas, Propriedades Físicas, Solos Tropicais,


Desagregação/Defloculação, Agregação.

1 INTRODUÇÃO agrícolas com o passar dos anos, segundo os


dados apresentados pelo International Plant
A precipitação e os abalos sísmicos são dois Nutrition Institute (IPNI, 2017), o que leva a
fenômenos naturais considerados propiciadores pensar que a quantidade destes produtos
de instabilidade nos maciços. No primeiro caso químicos que vão se acumulando no solo é cada
isto ocorre devido à diminuição da vez maior, podendo reagir com os
sucção/capilaridade atuante no solo e/ou devido argilominerais do solo e gerar com isso
à própria saturação do maciço, e no segundo, mudanças na interação entre partículas e na
em decorrência da atuação de ondas sísmicas própria estrutura dos mesmos. Cabe destacar
que geram um efeito mecânico. Além dessas que tem sido poucos os estudos desenvolvidos
causas naturais, existe ainda uma terceira que sobre este tema na área de Geotecnia, já que as
merece ser melhor estudada: a alteração das diferentes pesquisas encontradas estão
propriedades químicas do maciço em função de relacionadas sobretudo com aspectos da
ações antrópicas, como por exemplo, o uso de agronomia e em menor escala com o
insumos na prática da agricultura. comportamento mecânico dos solos.
No Brasil, tem-se apresentado um Com base no exposto, este estudo avaliou o
incremento no consumo de fertilizantes impacto dos insumos agrícolas na estabilidade
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estrutural das agregações e pacotes de argila e geralmente apresentam estruturas mais estáveis
na interação entre partículas de um perfil de podendo ser expansivos, são menos permeáveis
solo tropical. Para tal avaliação foram usados e apresentam maior CTC que os solos
respectivamente, ensaios de análise profundamente intemperizados.
granulométrica e de limites de Atterberg.
2.2 Íons Trocáveis

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os íons são divididos em cátions (carga


positiva) e ânions (carga negativa) e quando se
2.1 Aspectos Químicos das Argilas apresenta um intercambio iônico está-se
influindo nas propriedades físicas do material.
Devido as argilas possuírem partículas com Cabe destacar que o intercâmbio de íons gera
tamanhos inferiores a 0,002mm de diâmetro, uma mudança na carga da partícula, mas não na
são em grande parte consideradas coloides. sua estrutura.
Estas estão caraterizadas por apresentar elevada A Capacidade de Troca de Cátions (CTC),
superfície específica e carga elétrica permanente consiste na capacidade que apresenta o solo
ou variável, a qual gera alta reatividade. para liberar e reter íons positivos. Este
A carga permanente é gerada por fenômeno em solos com minerais argilosos,
substituições isomórficas (Jaramillo, 2000) geralmente amplia com a diminuição do
enquanto que a carga variável é gerada pela tamanho de partículas (Grim, 1962), com o tipo
adsorção de íons determinantes de potencial e quantidade de argila presente no solo e com o
(H+ e OH-) na superfície dos coloides que incremento do conteúdo de matéria orgânica
podem alterar a carga da partícula (Fontes et al., (Besoain et al., 1985).
2001). Outro conceito a considerar corresponde à
Em regiões tropicais o perfil de saturação por bases (V%), a qual representa a
intemperismo é geralmente composto a partir da porcentagem de ions básicos (Ca, Mg, Na e K)
superfície de solos profundamente disponíveis na superfície das partículas para
intemperizados, solos lateríticos, que se intercambio iônico, a porcentagem restante
sobrepõem a zona de transição para os solos representa os cátions ácidos (Al e H).
pouco intemperizados, solos saprolíticos. No As séries liotrópicas, representam nos solos a
Brasil, os solos predominantes nas camadas ordem de preferência de absorção de íons de
mais superficiais são os solos lateríticos como uma substância ou partícula. No caso da
os Latossolos e Argissolos, os quais possuem Caulinita, sua série liotrópica é Li-Na-H-K-Mg-
principalmente minerais silicatados do tipo 1:1 Ca, sendo o Li o de maior preferência para esse
do grupo da Caulinita, além dos óxi-hidróxidos intercâmbio e o Ca o de menor preferência
de ferro e alumínio e outros minerais em menor (Fernández-d’Arlas, 2016).
quantidade. Esses solos podem também serem
ricos em quartzo, mineral resistente ao 2.3 Contaminantes no Solo
intemperismo, mas que também pode, segundo
hipótese apresentada por Rodrigues (2017), ser O solo apresenta diferentes funções como por
oriundo de alteração da caulinita ao dar origem exemplo, a retenção do carbono, purificação da
à Gibbsita. Estes tipos de solos apresentam água e a diminuição dos contaminantes no solo,
como principais características: alta porosidade ou seja, trabalha como um filtro (Murphy,
com distribuição de poros bimodal, alta 2014). Com o tempo, a infiltração, deposição e
permeabilidade, baixa capacidade de troca acumulação de diferentes substâncias como os
catiônica (CTC) e alta capacidade de adsorção fertilizantes, vão diminuindo a capacidade de
aniônica. Já os solos pouco intemperizados filtração do solo, mas algumas características
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como a mineralogia, conteúdo de argila, nível Solo Ltda., a composição química do solo em
de umidade, temperatura e a presença de outros seu estado natural.
compostos químicos, podem influir na interação Os solos foram analisados no estado natural
com essas substâncias (Hannah et al., 2009). e misturados a teores de aditivo variando entre
Os contaminantes podem ser inorgânicos 2% e 10% em peso (Pérez, 2018), sendo aqui
como os fertilizantes, ou orgânicos como parte apresentados os resultados obtidos para o solo
do lixo e esgoto doméstico. Todos esses tipos natural e para os teores de 4% e 10% dos 4
de contaminantes geram uma quebra da cadeia compostos utilizados. Esses, foram preparados a
da microfauna (fungos, bactérias, minhocas partir da mistura em quantidades iguais em peso
etc.) importante para a fertilidade do solo, dos aditivos químicos puros, Calcário
tornando necessária com o tempo uma maior Dolomitico, Calcário Calcítico, Ureia, Super
quantidade de fertilizantes (Kist Steffen et al., Simples e Cloreto de Potássio. O primeiro
2011). composto está formado da mistura do Super
O Carbonato de Cálcio (CaCO3) é um Simples, Ureia e Cloreto de Potássio. Nessa
insumo amplamente utilizado na indústria pesquisa, essa combinação foi titulada SUC e
agrícola. Diferentes estudos têm demonstrado foi feita porque estes são os compostos
que a presença ou precipitação desta sustância químicos que compõem um dos fertilizantes
química, pode melhorar os parâmetros físicos e mais utilizados no Brasil, o qual é conhecido
mecânicos dos solos (Chahal et al., 2011). como NPK (Nitrogênio, Fosforo e Potássio). O
Considerando esse aspecto, Gonzales (2009), segundo composto corresponde à mistura do
determinou na sua tese de doutorado, que a SUC com o Calcário Dolomítico e o terceiro
incubação de baterias nativas do solo durante 15 resulta da mistura do SUC com o Calcário
dias num meio contendo Ureia, gerava uma Calcítico. Essas duas combinações foram feitas
precipitação do Carbonato de Cálcio. tendo em conta que os Calcários Dolomítico e
Calcítico são muito utilizados para correção do
pH dos solos. Finalmente o quarto composto
3 METODOLOGIA surge da mistura da Ureia com o Calcário
Calcítico. A seleção dessa última combinação
Estudos prévios foram realizados com o surgiu dos resultados obtidos por Gonzales
objetivo de avaliar se os aditivos químicos (2009).
utilizados, uma vez em contato com a água, Inicialmente o solo ficou, após mistura,
reduziam seu tamanho de tal forma que não exposto ao contato com os compostos por um
gerassem algum tipo de influência nos período de 24 horas, mas como se obtiveram
resultados de sedimentação por meio da mudanças nas granulometrias de cada uma das
incorporação de partículas sólidas ao meio. misturas, se decidiu trabalhar com mais dois
Para o desenvolvimento dos diferentes tempos de exposição para verificar se elas se
ensaios, foram usadas amostras deformadas de ampliavam, sendo adotados, 7 dias para as
um perfil de intemperismo tropical localizado misturas com SUC e SUC + Calcário
no Campo Experimental do Programa de Pós- Dolomítico e 15 dias de exposição para as
Graduação em Geotecnia da Universidade de misturas com SUC + Calcário Calcítico e Ureia
Brasília, sendo dada ênfase neste artigo, aos + Calcário Calcítico.
resultados das amostras coletadas nas Realizou-se ensaios de sedimentação para
profundidades de 5 m e 11 m por representarem avaliar se o solo apresentava ou não, algum
diferentes níveis de intemperização no perfil de nível de agregação ou desagregação estrutural.
solo estudado. Para estes ensaios não foram utilizados
Para essas profundidades foi determinada, defloculantes nem o aparelho de dispersão
pelo laboratório SOLOQUÍMICA Análises de porque eles gerariam a separação das partículas
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e o objetivo era conhecer qual era o efeito oxi-hidróxidos de Alumínio e Ferro na sua
gerado apenas pelos teores dos contaminantes. composição químico-mineralógica os quais,
Adicionalmente se avaliou visualmente por segundo o teor presente em cada uma das
meio de uma lupa eletrônica, se ocorriam camadas, podem contribuir de modo
mudanças na textura das misturas, com relação significativo para alterações consideráveis no
ao solo natural. Finalmente realizou-se ensaios comportamento mecânico do solo (Camapum
de limites de Atterberg, para conhecer se os de Carvalho et al., 2012).
aditivos químicos poderiam gerar variações nas Na Tabela 1 se observa que a profundidade
forças interativas entre as partículas do solo de 11 m, apresenta uma maior disponibilidade
para uma mesma umidade. Neste ensaio de cátions básicos na superfície do solo para o
utilizou-se apenas o teor 10% por ter sido o que intercambio iônico (V%) e maior acidez
gerou as maiores variações nos resultados dos (H+Al), em comparação com o solo oriundo de
outros ensaios. 5 m de profundidade, o que contribui para uma
maior CTC para essa profundidade como se
mostra nessa tabela.
3 RESULTADOS E ANÁLISES O conteúdo de matéria orgânica (MO) pode
contribuir para o incremento da CTC, mas os
Inicialmente analisou-se se os fertilizantes teores registrados são muito pequenos e a CTC
apresentavam uma porcentagem considerável de para 11 m é maior por sofrer maior influência
solubilidade em água, considerando-se como da mineralogia do solo.
material não solubilizado o retido na peneira Os resultados dos ensaios de sedimentação
com abertura de malha 0,045 mm. Os resultados feitos para 4% e 10% dos diferentes insumos
mostraram que os produtos analisados não para a profundidade de 5 m, considerando-se o
geravam quanto à textura um efeito tempo de exposição 24 horas, são apresentados
significativo na sedimentação. nas Figuras 1 e 2.
As análises químicas para as amostras de solo
em seu estado natural, são apresentadas na
Tabela 1.

Tabela 1. Composição química dos solos no estado


natural.
Composição Quimica Unidades 5m 11m
Fosforo (P) mg/dm3 0,5 11,6
Cálcio (Ca) mE/100mL 0,1 0,2
Magnésio (Mg) mE/100mL 0,1 0,1
Potássio (K) mE/100mL 0 0,03
Sodio (Na) mE/100mL 0,03 0,03
Aluminio (Al) mE/100mL 0,1 0,6
Acidez (H+Al) mE/100mL 2,2 3
Figura 1. Solo de 5 m de profundidade com 4% de teor
Soma das bases mE/100mL 0,2 0,4
dos compostos e tempo de exposição de 24h.
CTC mE/100mL 2,4 3,4
Saturação por bases % 10 11
Pode-se observar que os insumos geram
Saturação por Al % 30 62
Carbono Orgánico g/kg 1,6 0,1
desagregação das partículas que se encontram
Matéria Orgánica (MO) g/kg 2,8 0,2
entre os tamanhos 0,075 mm e 0,015 mm sem
Ferro disponível ppm 31,7 13,2 que, no entanto, amplie o teor de argila. Essa
desagregação é ampliada com o aumento do
Uma das características dos solos teor de aditivo químico, e é gerada devido à
profundamente intemperizados é a presença de nitrificação que experimenta a Ureia, contida
ooooooo
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Figura 2. Solo de 5 m de profundidade com 10% de teor Figura 4. Solo de 11 m de profundidade com 4% de teor
dos compostos e tempo de exposição de 24h. dos compostos e tempo de exposição de 24h.

nos compostos, quando em contato com outras


substâncias. Nesse ponto dá-se uma liberação
de H+, os quais deslocam os cátions presentes
no solo dificultando a união das partículas
devido à menor presença destes íons, fazendo
com que o solo fique mais susceptível à
desagregação.
Observa-se ainda que a fração fina do solo,
fração inferior 0,015 mm, tende a se agregar.
Esta agregação pode estar ligada a presença da
sericita nesta profundidade, pois em estudos
anteriores se verificou que a presença de ilita,
Figura 5. Solo de 11 m de profundidade com 10% de teor
mineral da mesma família, gerava a agregação dos compostos e tempo de exposição de 24h.
do solo quando do uso de defloculante
(Guimarães, 2002). Neste caso se observa que em geral, está-se
Destaca-se que o composto SUC, gera apresentando maior defloculação com relação à
agregação das partículas com diâmetro superior desagregação registrada para o solo de 5 m. Isto
a 0,075 mm. Neste caso, esse comportamento pode dever-se a que nesse solo, além da
poderia estar sendo gerado pelo fosforo contido Caulinita, tem-se a Ilita (Perez, 2018) e esta
no Super Simples uma vez que ele pode reagir última apresenta maior capacidade de troca
com a sericita. catiônica (10 a 40 meq/100g) que a Caulinita (3
Fazendo a avalição das possíveis mudanças a 15 meq/100g), isto é, a Ilita pode estar
físicas (Figura 3), observa-se que os compostos gerando um maior intercâmbio iônico com as
propiciaram a junção dos agregados presentes substâncias químicas, criando ligações mais
no solo tendendo a gerar uma massa única, fracas em comparação com as ligações do solo
sendo essa junção mais intensa no SUC. proveniente de profundidade menores e por isso
apresentando maior defloculação das partículas.
Na Figura 6 se observa para esta
profundidade, a presença de grãos grandes.
Devido a essa característica, torna-se difícil
apontar interferências dos aditivos no solo. A
Figura 3. Imagens obtidas com a lupa para o solo de 5 m umidade na superfície deles, se deve
misturado com 10% de teor dos compostos e tempo de provavelmente à liberação de Hidrogênios pela
exposição de 24h. Aumento 100 vezes.
1
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Figura 6. Imagens obtidas com a lupa para o solo oriundo


da profundidade 11 m em estado natural e misturado com
10% de teor dos compostos, considerando o tempo de
exposição de 24h. Aumento 100 vezes. Figura 8. Solo de 5 m de profundidade com 10% de teor
dos compostos e tempo de exposição de 7 dias.
Ureia, os quais reagem com os oxigênios livres
gerando uma maior quantidade de água. Também não se apresentaram mudanças na
Os resultados dos ensaios de sedimentação textura do solo com o tempo de exposição como
para a profundidade de 5 m e tempo de se observa na Figura 9.
exposição 7 dias, são apresentados nas Figuras
7 e 8. Os compostos avaliados nesse tempo,
foram o SUC e o SUC + Calcário Dolomítico.
Para esta profundidade não se observaram
alterações significativas na granulometria com a
ampliação do tempo após mistura de 24 horas Figura 9. Imagens obtidas com a lupa para o solo de 5 m
para 7 dias. Apenas no caso da mistura com 4% misturado com 10% de teor dos compostos e tempo de
de SUC + Calcário Dolomítico, se apresentou exposição de 7 dias. Aumento 100 vezes.
uma pequena agregação das partículas entre
0,010 mm e 0,075 mm. Nas Figuras 10 e 11 se encontram os
resultados dos ensaios de sedimentação para a
profundidade de 11 m e tempo de exposição 7
dias.
Neste caso também se observa que o
incremento do tempo de exposição não gerou
calma

Figura 7. Solo de 5 m de profundidade com 4% de teor


dos compostos e tempo de exposição de 7 dias.

Figura 10. Solo de 11 m de profundidade com 4% de teor


dos compostos e tempo de exposição de 7 dias.
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superficie da amostra Ureia mais Calcário


Calcítico (Figura 15).

Figura 11. Solo de 11 m de profundidade com 10% de


teor dos compostos e tempo de exposição de 7 dias.

mudanças significativas nas curvas de Figura 13. Solo de 5 m de profundidade com 4% de teor
sedimentação, nem na textura do material, como dos compostos e tempo de exposição de 15 dias.
pode ser observado na Figura 12.

Figura 12. Imagens obtidas com a lupa para o solo de 11


m misturado com 10% de teor dos compostos e tempo de
exposição de 7 dias. Aumento 100 vezes.

As Figuras 13 e 14 apresentam
comparativamente os resultados de
sedimentação obtidos para a profundidade de 5
m após 24 horas e 15 dias de exposição. Figura 14. Solo de 5 m de profundidade com 10% de teor
Conforme descrito na metodologia, os dos compostos e tempo de exposição de 15 dias.
compostos avaliados no tempo de exposição de
15 dias foram o SUC + Calcário Calcítico e a
Ureia + Calcário Calcítico.
Com o tempo de exposição ocorrem
pequenas mudanças apenas para a mistura com
o SUC mais Calcário Calcítico. Nesse caso após Figura 15. Imagens obtidas com a lupa para o solo de 5m
15 dias se verifica em relação aos resultados misturado com 10% de teor dos compostos e tempo de
obtidos após 24 horas de exposição que ocorre, exposição de 15 dias. Aumento 100 vezes.
tanto para o teor 4% como para o teor 10%,
Para a profundidade de 11 m os resultados
pequena desagregação na fração interior à 0,01
apresentados nas Figuras 16 e 17, mostram que
mm e pequena agregação na fração
o tempo de exposição de 15 dias em relação ao
compreendida entre 0,01 mm e 0,074 mm.
período de exposição de 24 horas, ampliou a
Igualmente as texturas, não apresentaram
desagregação do composto Ureia mais Calcário
mudanças consideráveis no tamanho dos grãos,
Calcítico na fração inferior à 0,074 mm, e
percebendo-se apenas um pequeno aumento de
aumentou a agregação gerada pelo composto
umidade após 15 dias de exposição na
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SUC mais Calcário Calcítico na fração


compreendida entre 0,02 mm e 0,074 mm. A
agregação da mistura do solo com SUC mais
Calcário Calcítico, se dá reduzindo o teor de
partículas com diâmetro equivalente inferior a Figura 18. Imagens obtidas com a lupa para o solo de
0,02 mm. Esses fenômenos de desagregação nos 11m misturado com 10% de teor dos compostos e tempo
dois tipos de misturas tendem a se ampliar de exposição de 15 dias. Aumento 100 vezes.
quando se passa de 4% para 10% de insumo.
perfil de solo e tempo de exposição de 24h,
encontram-se nas Figuras 19 e 20.

Figura 16. Solo de 11 m de profundidade com 4% de teor Figura 19. Resultados do limite de liquidez (wl), com
dos compostos e tempo de exposição de 15 dias. tempo de exposição de 24h.

Figura 20. Resultados do limite de plasticidade (wp), com


tempo de exposição de 24h.
Figura 17. Solo de 11 m de profundidade com 10% de
teor dos compostos e tempo de exposição de 15 dias.
Observa-se tanto nos resultados de wL como
Novamente nas análises das imagens de wP, uma diminuição significativa nos valores
mostradas na Figura 18, se observa um obtidos para as misturas do solo com os
incremento da umidade com o tempo de compostos agrícolas, com relação ao solo
exposição para a mistura com o composto SUC natural. Com fundamento em Grim (1962), isto
+ Calcário Calcítico, mas em geral não se indica que com a adição dos fertilizantes, estaria
apresentaram variações texturais claras em ocorrendo uma diminuição da resistência do
comparação com as imagens obtidas para o solo para um mesmo teor de umidade, devido à
tempo de 24h de exposição. diminuição das forças de adsorção.
Os resultados dos limites de Atterberg para o Observa-se que de um modo geral o
composto Ureia mais Calcário Calcítico, foi o
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que apresentou a menor diminuição dos limites agrícolas por meses e até anos o que deve gerar
de Atterberg com relação ao solo natural, um efeito ainda maior em sua estrutura e
certamente devido ao efeito da Ureia, a qual comportamento mecânico. Os resultados de wp,
tende a aumenta-lo segundo os resultados para este tempo de exposição, ficaram quase
obtidos por Pérez (2018). constantes.
Os resultados dos limites de Atterberg para o As Figuras 23 e 24 apresentam
tempo de exposição de 7 dias, encontram-se nas comparativamente, os resultados dos limites de
Figuras 21 e 22. Cabe lembrar que nesse tempo Atterberg obtidos para o perfil de solo após 24
de exposição, foram usados apenas os aditivos horas e 15 dias de exposição. Cabe lembrar que
SUC e SUC + Calcário Dolomítico e um teor de nesse tempo de exposição, foram usados apenas
10%. os aditivos SUC + Calcário Calcítico e Ureia +
Calcário Calcítico e um teor de 10% de aditivo.

Figura 21. Resultados do limite de liquidez (wl), com


tempo de exposição de 7dias. Figura 23. Resultados do limite de liquidez (wl), com
tempo de exposição de 15dias.

Figura 22. Resultados do limite de plasticidade (wp), com


tempo de exposição de 7 dias. Figura 22. Resultados do limite de plasticidade (wp), com
tempo de exposição de 15 dias.
Neste tempo de exposição os aditivos
apresentaram em geral, uma pequena Conforme apresentado por White (1955)
diminuição nos resultados de wl, ou seja, como citado por Grim (1962), sabe-se que os cátions
discutido anteriormente, estes últimos estariam afetam os limites de Atterberg dos solos
apresentando uma diminuição na sua resistência compostos por caulinita e ilita. Tendo em conta
para um mesmo teor de umidade. Mesmo que o exposto, ao se comparar os resultados obtidos
essas mudanças apresentadas tenham sido muito para os diferentes tempos de exposição, se
pequenas, é importante ter em conta que no observa que a mistura do solo com o composto
campo o solo fica exposto a estes insumos Ureia mais Calcário Calcítico, diminui o limite
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de plasticidade com o tempo, em especial para as pesquisas que subsidiaram esse artigo.
os solos mais ricos em caulinita, evidenciando
que o efeito da Ureia predomina sobre o gerado REFERÊNCIAS
pelo Calcário Calcítico. Para o caso da mistura
com o composto SUC mais Calcário Calcítico, Besoain, E., Borie, F., Carrasco, A., Escudey, M. &
não é clara a influência na plasticidade dos Galindo, G. (1985). Suelos volcánicos de chile.
Tosso, J. (Org.), Instituto de Investigaciones
solos estudados já que o comportamento varia Agropecuarias INIA, Santiago de Chile, pp. 327–330
muito de uma profundidade a outra. p.
Camapum De Carvalho, J., Gitirana Jr, G.F.N. & Leão
CONCLUSÕES Carvalho, E.T. (2012). Tópicos Sobre Infiltração:
Teoria e Prática Aplicadas a Solos Tropicais.
Chahal, N., Rajor, A. & Siddique, R. (2011). Calcium
Os resultados obtidos nos diferentes ensaios, carbonate precipitation by different bacterial strains.
African J. Biotechnol., 10(42): 8359–8372
mostram que a reação dos solos das
Fernández-D’arlas, B. (2016). Series liotrópicas en la
profundidades 5 m e 11 m aos agentes químicos química macromolecular. An. la Química, 112(2): p
mais usados na agricultura, realmente gera 79–94.
alterações nas suas propriedades físicas e na Fontes, M.P., Camargo, O.A., Sposito G. e ET, A.
estrutura textural do solo. Estas mudanças vão (2001). Eletroquímica das partículas coloidais e sua
relação com a mineralogia de solos altamente
depender do grau de intemperização
intemperizados p. 20
mineralógica que o solo já sofreu e do tipo de Gonzales, Y. (2009). Influência da biomineralização nas
produto químico utilizado. propriedades físico - mecânicas de um perfil de solo
Dos resultados de granulometria se obteve tropical afetado por processos erosivos. Tese de
que os aditivos químicos geram desagregação doutorado. Programa de Pós Graduação em
Geotecnia. Universidade de Brasilia, Brasilia DF. p.
das partículas do solo. Essas variações na 208.Grim, R. (1962). Applied Clay Mineralogy.
granulometria foram também observadas nas McGRAW-HILL Book Company, Inc, Illinois.
imagens obtidas com a lupa, onde se Guimarães, R.C. (2002). Análise das propriedades e
apresentaram alterações na textura do solo, comportamento de um perfil de solo laterítico
como por exemplo, a formação de grumos aplicada ao estudo do desempenho de estacas
escavadas. Dissertação de mestrado, publicação g.dm-
devido à desagregação de partículas menores 090a/02, Programa de Pós Graduação em Geotecnia,
que permitiam a união dos grãos maiores e o Universidade de Brasília, Brasília, df, 180p : 60–61 p.
incremento de umidade na superfície do solo Hannah, S., Murray, M. & Ellen, H. (2009). Sources and
devido às reações químicas. Finalmente, dos impacts of contaminants in soils. Soil Science.
limites de Atterberg, se evidenciou uma International Plant Nutrition Institute IPNI. (2017).
Fertilizantes. URL http://brasil.ipni.net/ article/BRS-
diminuição dos valores das misturas com 3132#aparente
relação ao solo natural de cada profundidade; Jaramillo, D. (2000). Introducción a la ciencia del suelo.
essa diminuição representa uma perda de Soil Science, 321–328 p.
resistência do solo misturado com os Kist Steffen, G.P., Steffen, R.B. & Antoniolli, Z.I.
fertilizantes, para um mesmo teor de umidade. (2011). Contaminação do solo e da água pelo uso de
agrotóxicos. TECNO-LÓGICA, : 15–21 p.
O conjunto de resultados apresentados Murphy, B.W. (2014). Soil organic matter and soil
apontam para o fato de que os fertilizantes function – review of the literature and underlying data
agrícolas geram alterações nas propriedades (May): 155 p.
físicas dos solos tropicais, o qual poderia, Pérez, A. C. (2018). Influência de insumos agrícolas em
eventualmente, gerar mudanças no seu propriedades físicas de solos tropicais. Dissertação de
Mestrado em Geotecnia - Universidade de Brasilia,
comportamento mecânico. Brasilia DF. p 103.
Rodriquez, S.M. (2017) Caracterização mineralógica e
AGRADECIMENTOS microestrutural de um perfil intemperizado de
Brasília. Anápolis: UEG, Monografia de conclusão do
Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio dado Curso de Engenharia Civil. p 133.
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Influência do teor de cimento no comportamento da resistência à


compressão simples de resíduos de construção civil (RCC)
Lígia de Araújo Moreira Preis
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, ligiapreis@gmail.com

Fabiana Artuso
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, fabianaartuso@gmail.com

Juliana Azoia Lukiantchuki


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jazoia@yahoo.com.br

RESUMO: A adição de cimento ao resíduo de construção civil (RCC) proporciona melhoria em


suas propriedades de resistência. Para avaliar a influência do tipo e do teor de cimento no
comportamento de resistência à compressão simples, uma amostra de RCC foi misturada com dois
tipos de Cimento Portland: o CP II Z-32 e o CP V ARI em teores entre 3 a 40%. O resíduo foi
caracterizado seguindo ensaios de caracterização geotécnica e de difração de raios X (DRX). O
comportamento mecânico das misturas foi avaliado pelo ensaio de resistência à compressão simples
em corpos de provas submetidos ao período de 7 dias de cura. Conforme esperado, os resultados de
resistência à compressão simples aumentaram com a adição do teor de cimento para os dois tipos de
cimento. O comportamento da resistência possibilitou identificar as regiões ativa e inerte de atuação
do cimento. De maneira geral, a resistência para o cimento CP V ARI apresentou-se superior a do
cimento CP II Z-32.

PALAVRAS-CHAVE: resíduo de construção civil, cimento Portland, resistência à compressão


simples

1 INTRODUÇÃO Quando o RCC não apresenta


comportamento de resistência requeridas ao seu
A utilização de resíduos de construção civil uso (NBR 151

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