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Marcos Antônio Barros (Org.

NOVAS ABORDAGENS
METODOLÓGICAS E TECNOLÓGICAS
INTEGRADORAS NA FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO CIVIL

Campina Grande - PB
2020
SUMÁRIO

PREFÁCIO, 7

APRESENTAÇÃO, 9

ANÁLISE DE APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM

UMA ESCOLA MUNICIPAL NA CIDADE DE ITATUBA-PB, 15

TENSÕES NAS PAREDES DE UM SILO VERTICAL PELO MEF, 35

VALIDAÇÃO DE MODELO NUMÉRICO DAS PRESSÕES EM UM


SILO VERTICAL PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ,
51

ANÁLISE DO ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO DO MUNICÍPIO DE


CAMPINA GRANDE (1962-2019), 65

DESENVOLVIMENTO DE SIMULADOR SÍSMICO PARA


ESTUDO DE ESTRUTURAS COM AUXÍLIO DO KIT
ESTRUTURAL MOLA, 79

AVALIAÇÃO DE MODELOS ESTRUTURAIS TRELIÇADOS


COMO PRÁTICA NO APRENDIZADO EM MECÂNICA GERAL,
93

ANÁLISE DOS PROCESSOS CONSTRUTIVOS DE UM EDIFÍCIO


RESIDENCIAL DE 12 PAVIMENTOS, COM ÊNFASE EM
ALVENARIA ESTRUTURAL EM CAMPINA GRANDE-PB, 105
ANÁLISE SÓCIO-URBANÍSTICA DA CONSERVAÇÃO DOS
EDIFÍCIOS CENTRAIS EM CAMPINA GRANDE-PB, 129

UTILIZAÇÃO DO PAVEMENT CONDITION INDEX NA


AVALIAÇÃO DE PAVIMENTOS AEROPORTUÁRIOS , 147

EAD COMO UMA FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO EM


REGIÕES DA ZONA RURAL , 163
PREFÁCIO

MAIS UM LIVRO, QUE BOM!


Estamos no meio de uma pandemia que assombra o mundo todo. Quem
pode se “exilar” dentro de sua casa e repensar a civilização, indaga-se sobre
a razão de tudo isso e, acima de tudo, reflete: por que, para que e para quem
dirigimos todas as nossas potencialidades em termos de repensar esse pro-
cesso civilizatório? Isso evidencia, ainda, o imprescindível papel da leitura
e escrita para a disseminação dos estudos, das conquistas da ciência e da
tecnologia, em sua incessante busca por condições mínimas para uma vida
digna da população humana.
Quem me conhece sabe que sou um ávido leitor e que, na qualidade de
educador, trabalho diuturnamente com meus alunos, orientados, e, tam-
bém, colegas professores, enfatizando que sem leitura não existe apren-
dizado. Diante disso, recebo um convite, nesse processo pandêmico, para
prefaciar um livro. Que satisfação e honra! O livro, no seu conjunto, tem
um projeto bem definido. É a compilação de vários trabalhos de TCCs e
pesquisas concluídos. Os estudos passeiam por diversos temas abordados
no contexto da Engenharia Civil da UNIFACISA, sinalizando, de forma
mais significativa, para as áreas técnicas e relativizando mais os aspectos
quantitativos, inerentes à formação de seus autores. Alguns destes traba-
lhos, aqui capítulos do livro, se voltam para a contextualização da formação
do engenheiro, subsidiando aspectos conceituais e fenomenológicos, tendo
em vista um contexto de novas ferramentas metodológicas, coerente com
as inovações inerentes às novas DCNs.
Esse é o objetivo pragmático desse livro, o qual é cumprido com bas-
tante propriedade. No entanto, ao ser convidado para prefaciá-lo, sei mui-
to bem que o fui pela minha longa e permanente diligência em relação à
importância da leitura. Para que a leitura seja possível, é inexorável que
as experiências, os estudos, as pesquisas, as histórias de vidas contextua-
lizadas sejam trazidas através da escrita, principalmente de livros. E eles,

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independentemente de sua área de atuação, têm de ter como objetivo o
bem-estar da humanidade, a busca da amenização da desigualdade social
e a volta da razão ao processo civilizatório, senão perde a sua essência. Pa-
rece-me que a contextualização dos diferentes trabalhos e pesquisas, aqui
estabelecidos, têm a pretensão de atender a estes requisitos. Esta é a minha
constante preocupação para o aprimoramento da educação em todos os
níveis e áreas. Posto isso, desejo que este livro possa servir como mais um
exemplo para outras possíveis publicações.
Boa leitura e, acima de tudo, boas reflexões.

Walter Antonio Bazzo – Engenheiro Mecânico e doutor em Educação


Professor titular da UFSC, do PPGECT e do EMC/CTC
Coordenador do NEPET
(Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica)

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APRESENTAÇÃO

Tendo como foco principal as novas ferramentas educacionais


vinculadas às Ciências e tecnologias, com ênfase na Engenharia Civil, e
à produção de novos conhecimentos, este livro, o primeiro de uma série
educacional, apresenta, um passeio por diversos temas abordados e viven-
ciados por seus professores, mestres e doutores, no contexto do Centro
Universitário - Unifacisa.
A proposta de lançarmos mão das pesquisas realizadas, ao longo da
graduação do curso de Engenharia Civil, teve sua origem a partir dos di-
versos eventos (TCCs, workshop, Congressos, etc) que a Unifacisa oferece
aos seus docentes e discentes, incentivando-nos à publicação dos melhores
trabalhos.
Cada artigo, aqui descrito, revela, em sua essência, as propostas de pes-
quisas gerenciadas por seus professores e alunos, articulando teorias, dados
empíricos, aspectos experimentais e análises fenomenológicas diversas, le-
vando-nos a criar conexões no processo de ensino-aprendizagem na for-
mação do Engenheiro e sinaliza para as diversas articulações entre Ciência,
tecnologia e sociedade.
Para compor esta obra, foram produzidos dez artigos científicos cujo
objetivo é fornecer possíveis subsídios de pesquisa para professores, es-
tudantes, profissionais e demais interessados, uma vez que as discussões,
ideias e reflexões, aqui relatadas, são significativamente consistentes e se-
dimentadas, servindo de parâmetro para estudos futuros. Ressaltamos que
o conteúdo de cada artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Assim, ao apresentar esta obra, deixo aqui registrado o meu agradecimento
e meus parabéns a todos os autores, que não mediram esforços para a sua
concretização. Ademais, agradeço à coordenação do curso de Engenha-
ria Civil, na pessoa do professor Fabrício Furtado, que, com criatividade
e compromisso assumido, tem nos proporcionado uma maior leveza na
condução de todo o processo inerente às novas DCNs, humanizando as

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Ciências e tecnologias. Finalmente, para melhor compreensão e interesse
do leitor(a), faremos uma breve síntese de cada artigo deste livro.
Análise de aproveitamento de águas pluviais em uma escola municipal na
cidade de Itatuba-pb: este texto trata de uma pesquisa realizada pela Profa.
Dra. Alexandra Chaves e seu aluno de graduação Marlon Magno, objeti-
vando analisar o aproveitamento de águas pluviais em uma escola munici-
pal na cidade de Itatuba – PB. Para execução desta pesquisa, foi realizada a
caracterização da área e da região em estudo, observando-se clima, preci-
pitações médias, temperaturas e consumo de água nas atividades da escola.
Foram aplicados três métodos de dimensionamento de reservatórios suge-
ridos pela Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) e apresenta-
dos na NBR 15527/2007, método de Rippl, Simulação Mensal e método de
Azevedo Neto. De acordo com os resultados obtidos, foi possível observar
que o aproveitamento de água pluvial proporcionou economia com redu-
ção no consumo de água potável nos meses de escassez hídrica de 18% e
nos meses chuvosos de 72%, além de 60% de economia anual de recursos
públicos. Esse trabalho apontou que a utilização da água pluvial constitui
uma alternativa viável para implantação na unidade escolar, visto que aten-
de à demanda de fontes hídrica, se possibilita à escola conciliar redução de
gastos públicos com sustentabilidade ambiental.
Tensões nas paredes de um silo vertical pelo MEF: a autora deste artigo,
Profa. Dra. Cassia dos Anjos, partiu do pressuposto de que é possível se
determinar as tensões na parede de um silo vertical, quando submetido
ao descarregamento de grãos de milho. Para tal, foram desenvolvidas 5
simulações produzidas a partir da alteração do modelo numérico já vali-
dado, em que foram modificadas características de espessura de parede e
esbeltez. Analisaram-se as tensões circunferenciais nas paredes ao longo
da altura do silo, além do critério de Von Mises para dimensionamento.
Concluiu-se, portanto, a existência da proporcionalidade entre os esforços
circunferenciais e o raio do silo, bem como a relação inversa entre tensões
circunferenciais e a espessura da parede. Observou-se, também, o efeito de
ovalização para o silo 4, que apresentou valores de tensões superiores ao
limite de Von Mises.
Validação de modelo numérico das pressões em um silo vertical pelo mé-
todo dos elementos finitos: Ainda na mesma linha de pensamento referente
ao artigo anterior, neste artigo, a sua autora, Profa. Dra. Cassia dos Anjos,
avança um pouco mais sobre o desenvolvimento de um modelo numérico
de um silo vertical concêntrico de parede lisa submetido a um descarrega-
mento a partir do método dos elementos finitos (MEF) por meio da apli-
cação do software ANSYS. Resultados teóricos das pressões calculados de

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acordo com as especificações da norma europeia EN 1991-4 (2002), além
de resultados experimentais obtidos em um silo construído em escala real
foram utilizados para a validação do modelo numérico. Concluiu-se, por-
tanto, que a curva das pressões representou a mesma tendência de compor-
tamento, com valores simulados próximos aos experimentais e inferiores
aos teóricos.
Análise do índice pluviométrico do município de campina grande (1962-
2019): reconhecendo a importância do gerenciamento de recursos hídricos
em nossa cidade, os autores deste artigo, Prof. Msc. Danyllo Vieira, Prof.
Msc. Gutemberg Silva e o aluno de graduação Carlos Augusto, propuseram
realizar um estudo probabilístico dos dados pluviométricos do município
de Campina Grande – PB, a partir de uma série de 58 anos. Através de dados
pertencentes ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e à (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) EMBRAPA, realizou-se o tratamento
estatístico, utilizando-se o Software R e análise de variância (ANOVA), vi-
sando identificar e discutir um provável padrão pluviométrico para cidade
em estudo. Identificamos, através da série da histórica, um desvio padrão
de 230,68 mm.ano-1. Notou-se, ainda, que os seis meses mais chuvosos cor-
respondem a 68,8% do valor anual dos dias de chuva, que coincidem com
as maiores precipitações, totalizando uma estimativa de 76,16% da precipi-
tação anual. Através de regressões lineares, não foi identificada discrepân-
cia no modelo, o que representa uma consistência dos dados analisados,
viabilizando-os, assim, para utilização na tomada de decisões estruturan-
tes. Este comportamento está, fundamentalmente, relacionado aos aspec-
tos naturais e hidrológicos da região semiárida Nordestina.
Desenvolvimento de simulador sísmico para estudo de estruturas com
auxílio do kit estrutural mola: este artigo, seus autores, Profo. Dr. Marcos
Barros e o Profo. Dro. Claudio Soares, analisaram as reações de tensões
em diferentes modelos de edificações, a partir da construção e desenvolvi-
mento de uma mesa simuladora de abalos sísmicos com auxílio do kit es-
trutural mola. O modelo do simulador sísmico constou de uma plataforma
de madeira MDF, com trilhos de alumínio que serviram como guia para
as roldanas fixadas em outra base superior. A base superior foi interligada
ao disco giratório por meio de uma haste metálica, o qual permitiu o mo-
vimento horizontal oscilatório da base superior, acionada através de uma
parafusadeira elétrica. Verificou-se que a mesa simuladora foi capaz de de-
monstrar os efeitos sísmicos nas estruturas modelos, o que pôde ser com-
provado pelos alunos através de cálculos matemáticos. Desta forma, este
modelo pode ser utilizado, de forma satisfatória, como ferramenta de apoio
didático nas aulas de mecânica geral e em outras disciplinas que analisem

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as forças incidentes numa estrutura edificada.
Avaliação de modelos estruturais treliçados como prática no aprendizado
em mecânica geral: ainda dentro da perspectiva de humanizar o ensino de
assuntos considerados duros pela maioria dos alunos, os autores do arti-
go anterior, Profs. Drs. Marcos Barros e Claudio Soares, seguem a mes-
ma linha estilística aqui neste artigo, objetivando a confecção de modelos
didáticos reduzidos, do tipo sistemas mecânicos treliçados, utilizando-se
materiais com baixo custo, do tipo palito de picolé, para que, a partir de
uma carga concentrada, fosse possível calcular os esforços internos nos
elementos treliçados, identificar elementos em compressão ou tração, bem
como esboçar os diagramas de esforço cortante e momento fletor. Todos os
modelos apresentados em sala aula foram, inicialmente, pensados a partir
do “Mola Structural Kit”, calculados manualmente e com o uso do software
Ftool, para, depois, serem aplicados aos modelos com uso de palitos. Ao fi-
nal das apresentações, utilizando-se dos critérios qualitativo e quantitativo,
como beleza estrutural, determinação do esforço cortante, momento fletor
e os seus respectivos diagramas, os trabalhos foram avaliados. Desta forma,
conclui-se que a aplicação dos modelos qualitativos evidenciou o desen-
volvimento dos conteúdos teóricos relacionados à disciplina de Mecânica
Geral, de forma mais motivante, a exemplo do uso de treliças com palitos
de picolé, associado à metodologia centrada na experimentação concreta e
visual, e tornou os alunos mais participativos e criativos.
Análise dos processos construtivos de um edifício residencial de 12 pavi-
mentos, com ênfase em alvenaria estrutural em campina grande-pb: dentro
de uma perspectiva de análise concreta, o Profo. Dro. Fábio Remy e sua
aluna de graduação Morgana Barros, objetivaram neste estudo analisar os
principais pontos do sistema construtivo de um edifício multifamiliar de 12
pavimentos, apresentando as suas características, componentes e proces-
so de execução. Para esse fim, foi realizado um estudo teórico-analítico,
caracterizado como estudo de caso, em uma obra na cidade de Campina
Grande – PB, que foi executada em alvenaria estrutural. Metodologica-
mente, trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória. Como re-
sultado, ressaltasse a viabilidade da alvenaria estrutural para esta tipologia
de empreendimento, além de proposituras para melhoria do seu processo,
porém, apesar de apresentar diversas vantagens, o sistema ainda é pouco
utilizado na região estudada, por consequência das limitações do projeto
arquitetônico e escassez de mão de obra. Desse modo, espera-se contribuir
para o desenvolvimento de um sistema de gestão adequado.
Análise sócio-urbanística da conservação dos edifícios centrais em campi-
na grande-pb: utilizando-se de um a pesquisa qualitativa, os seus autores,

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Profo. Dro. Fábio Remy e seus alunos(as) da graduação, Dalva Damiana,
Tailine Mendes, Eudes Matheus, Emerson David, Larissa Quitéria e Mor-
gana Silva Barros, analisar a conservação dos edifícios centrais e seu im-
pacto no contexto sócio-urbanístico da cidade de Campina Grande-PB. A
metodologia consistiu em visitas in loco nas edificações situadas na área
central e feira central, com o intuito de realizar inspeções nas estruturas,
vistorias para avaliação dos imóveis, caracterização, monitoramento do es-
tado de conservação e levantamento do impacto no aspecto urbanístico
no centro da cidade. Foi aplicado um Check-List para coleta de dados dos
problemas detectados e realizado registros fotográficos. Durante o estudo,
verificou-se que a maioria das não conformidades evidenciadas ocorreu
pela falta de manutenção preventiva, corretiva e abandono, bem como pela
falta de planejamento urbano. O tempo de uso das estruturas, as sobrecar-
gas, os desvios de função e a adequação ao uso colaboram para o desgas-
te estrutural. Neste sentido, a detecção desses problemas nas edificações
é importante para prevenir, antecipadamente, acidentes que possam vir a
ocasionar desastres, além de preservar a segurança e promoção das inter-
venções urbanas.
Utilização do pavement condition index na avaliação de pavimentos aero-
portuários: este artigo trata de uma pesquisa realizada a nível internacional,
conduzida pelo Profo. Msc. Tairone Albuquerque, junto a outros colabora-
dores da Universidade de Coimbra, Adelino Ferreira, Fabio Simões e Tiago
Cardoso, que objetivou apresentar uma primeira abordagem do Sistema
de gestão de Pavimentos do aeródromo Bissaya Barreto que apoiará a sua
administração com a informação necessária para tornar o aeródromo mais
eficiente, melhorar o desempenho e a durabilidade dos seus pavimentos e
reduzir os seus custos de conservação e reabilitação. A qualidade dos pa-
vimentos do aeródromo será avaliada através da utilização do índice Pa-
vement Condition Index (PCI), que representa o estado de qualidade dos
pavimentos em função de várias degradações de acordo com o Standard
Test Method for Airport Pavement Condition Index Surveys publicado pela
American Society for Testing and Materials. Com este trabalho, o aeródro-
mo municipal Bissaya Barreto terá um inventário completo sobre os pavi-
mentos, uma avaliação da sua qualidade e um programa de conservação e
reabilitação.
Ead como uma ferramenta de transformação em regiões da zona rural:
reconhecendo a importância do ensino a distancia, em especial na zona
rural, o autor deste artigo, o Profo. Msc. Macel Wallace, buscou amparo
da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) para a realiza-
ção da pesquisa bibliográfica que deu suporte ao embasamento teórico do

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presente estudo, de caráter dedutivo e qualitativo metodologicamente. Os
dados nos permitiram observar a predominância de faixa etária dos edu-
candos entre os 21 a 30 anos e 31 e 40 anos que procuram cursos em EaD.
Isso se deve ao fato de muitos constituírem grupos que exercem atividade
produtiva e não dispõem de tempo. Fica claro, também, na pesquisa, que
para a faixa abaixo dos 20 anos, correspondente ao ensino básico e médio,
o acesso aos benefícios das novas tecnologias é bem tímido. Conclui-se que
o EaD é ainda mais forte quando aliado às novas tecnologias para se levar
conhecimento às comunidades da zona rural.

Profo. Dr. Marcos Barros.

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ANÁLISE DE APROVEITAMENTO DE ÁGUAS
PLUVIAIS EM UMA ESCOLA MUNICIPAL
NA CIDADE DE ITATUBA-PB

Alexandra Chaves Braga 1


Marlon Magno de Andrade Germano2

RESUMO
As crises de abastecimento de água têm se tornado cada vez mais fre-
quentes na região semiárida do Brasil, sendo provocadas por vários fatores,
como a escassez de chuvas, falta de gestão dos recursos hídricos e baixa
oferta de abastecimento. Dentre as alternativas empregadas a fim de reduzir
a demanda por fontes hídricas, destaca-se o aproveitamento de águas plu-
viais em edificações. Desse modo, a água captada nesses locais pode aten-
der, parcialmente ou completamente, a demanda por água não potável da
edificação, como também gerar economia. Nesse contexto, essa pesquisa
teve como objetivo analisar o aproveitamento de águas pluviais em uma
escola municipal na cidade de Itatuba – PB. Para execução desta pesquisa,
foi realizada a caracterização da área e da região m estudo, observando-se
clima, precipitações médias, temperaturas e consumo de água nas ativida-
des da escola. Foram aplicados três métodos de dimensionamento de reser-
vatórios sugeridos pela Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT)
e apresentados na NBR 15527/2007, método de Rippl, Simulação Mensal e
método de Azevedo Neto. De acordo com os resultados obtidos, foi possí-
vel observar que o aproveitamento de água pluvial proporcionou economia
com redução no consumo de água potável nos meses de escassez hídrica
de 18% e nos meses chuvosos de 72%, além de 60% de economia anual de

1 Professora do Curso de Bacharelado em Engenharia Civil da UniFacisa – Centro Uni-


versitário – E-mail: alexandra.braga@maisunifacisa.com.br
2 Graduando do Curso de Bacharelado em Engenharia Civil da UniFacisa – Centro Uni-
versitário – E-mail: marlon.germano@maisunifacisa.com.br

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recursos públicos. Esse trabalho apontou que a utilização da água pluvial
constitui uma alternativa viável para implantação na unidade escolar, visto
que atende à demanda de fontes hídrica, se possibilita à escola conciliar
redução de gastos públicos com sustentabilidade ambiental.

Palavras-chave: Precipitação. Captação de água. Métodos de dimensio-


namento. Unidade Escolar.

1 INTRODUÇÃO
O Brasil apresenta uma vasta área territorial, por essa razão suas regiões
apresentam climas, temperaturas, estações chuvosas e secas bem distintas.
A Região Nordeste é marcada por períodos prolongados de secas recor-
rentes, com baixas precipitações, comprometendo o desenvolvimento so-
cioeconômico desta população. Segundo o IBGE (2020), o Brasil já possui
211 milhões de habitantes e as projeções indicam que, até 2050, a nossa po-
pulação deverá atingir 240 milhões de habitantes, o que representará uma
grande pressão por água doce, particularmente no semiárido brasileiro,
pelo fato de esse ser, reconhecidamente, deficitário em termos de recursos
hídricos e apresentar a maior densidade populacional dentre as diversas
regiões semiáridas do planeta terra (BRAGA, 2014). Marcado, ainda, pela
distribuição irregular das chuvas, de acordo com o IBGE (2019), corres-
ponde a uma área que abrange 89,5% da Região Nordeste com cerca de 22
milhões de habitantes, que vivem em locais com elevadas temperaturas,
baixa pluviosidade e um dos maiores índices de evaporação.
Para enfrentar o problema da falta de água, alguns recursos têm sido
utilizados, como construções de açudes, barragens subterrâneas e poços ar-
tesianos (ANGRILL et al., 2012). Além dos recursos citados, o uso da água
da chuva pode ser uma estratégia de gestão hídrica em locais que possuem
abastecimento ineficaz. Esse cenário correlaciona-se com o que defendem
Paiva et al. (2019): a economia financeira anual possui valor significativo
e mais relevante ainda, quando considerado todo o gasto produzido pelos
sistemas de abastecimento de água, minimizando, assim, os impactos am-
bientais. Os sistemas de captação de água da chuva, enquanto um meio de
preservar as fontes hídricas em tempos de seca, têm como principais fatores
área disponível, presença de chuvas, soluções viáveis para gerar economia
na água de abastecimento, reservas insuficientes de água subterrâneas e co-
nhecimento tecnológico internacional e nacional sobre esse tipo de tecno-
logia (ALVES et al., 2014).
A captação da água da chuva utiliza estruturas já existentes em edifi-
cações, como telhados e instalações prediais pluviais, e o reservatório

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(FASOLA, 2011). Neste sentido, um dos maiores desafios da utilização da
água da chuva é o dimensionamento do reservatório de forma que o uso do
recurso seja viável, técnica e financeiramente (FASOLA, 2011).
Atualmente, no Brasil, a captação e a utilização de águas pluviais são
regulamentadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
por meio da norma NBR 15527/07. Esse documento sugere seis métodos de
dimensionamento de reservatório de água pluvial e fornece os requisitos
necessários para esse aproveitamento por meio de coberturas em áreas ur-
banas para fins não potáveis. A água captada, após passar por tratamento
adequado pode ser utilizada em descargas de bacias sanitárias, irrigação de
gramados e plantas ornamentais, lavagem de veículos, limpeza de calçadas,
ruas e pátios, além de usos industriais (ABNT, 2007).
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, o município de
Itatuba/PB está incluído na área geográfica de abrangência do semiárido
brasileiro, no nordeste setentrional. A cidade passou por rápido crescimen-
to populacional durante as últimas décadas, teve sua área urbana expan-
dida, fenômeno acentuado pela migração da população do campo para o
meio urbano. A população sofre com frequentes períodos de estiagem e, ao
mesmo tempo, convive com dificuldades de abastecimento e insuficiência
de água potável.
O único reservatório que abastece a cidade de Itatuba, o Açude Arge-
miro de Figueiredo (Acauã), conforme revelam os dados da AESA - Agên-
cia Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba-, esteve totalmente
cheio pela última vez, no ano de 2011, e chegou ao final de 2017 com apenas
3% de sua capacidade (AESA, 2020).
De acordo com a Agência Nacional das Águas - ANA (2019), o muni-
cípio é classificado com segurança e garantia hídrica baixas. Apesar disso,
ainda não há nenhuma orientação ou legislação voltada para o aproveita-
mento de água pluvial.
Dentro desse quadro, uma alternativa viável para garantir o abasteci-
mento e a manutenção de atividades essenciais como o funcionamento de
escolas, creches, unidades de saúde, entre outros, é o aproveitamento de
águas pluviais para utilização em determinadas atividades.
Nessa perspectiva, o presente estudo é direcionado à avaliação do po-
tencial de captação das águas pluviais e dimensionamento de reservatório
da maior escola da rede municipal, que, de acordo com dados da Secre-
taria Municipal de Educação, é responsável por atender cerca de 40% dos
discentes de toda a esfera pública municipal. Essa porcentagem, quando
comparada à das escolas municipais situadas na zona urbana, observa-se
que a unidade tem matriculados 54% deles. De acordo com o potencial da

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captação e a demanda da unidade escolar, o armazenamento para aprovei-
tamento das águas da chuva pode garantir a disponibilidade hídrica neces-
sária para usos não potáveis além de gerar economia de recursos públicos.

2 METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado na Escola Municipal Maurino Rodrigues de
Andrade – Unidade II (Figura 1), situada no município de Itatuba-PB, lo-
calizado no estado da Paraíba na mesorregião do agreste e na microrregião
de Itabaiana. De acordo com os dados do último censo do IBGE (2010), a
população estimada para o ano de 2019 é de 10.962 habitantes. Segundo a
classificação climática de Koppen-Geiger, o clima é tropical com estação
seca. As médias anuais de temperatura e precipitação são, respectivamente,
25,3ºC e 665,7 mm.

Figura 1 – Imagem aérea da Escola Municipal Maurino Rodrigues de Andrade –


Unidade II

Fonte: Arquivo da Empresa GPS Consultoria e Serviços (2020)

Com atividades educacionais relativas às séries de ensino fundamental,


a escola tem uma área coberta de 1.500m², conforme mostra a Figura 2.
Atualmente, tem, aproximadamente, setecentos e quinze alunos (715) alu-
nos, além de funcionários, professores e prestadores de serviço, distribuí-
dos nos turnos manhã e tarde.

18
Figura 2 – Planta de Coberta da Unidade Escolar

Fonte: Prefeitura Municipal de Itatuba

O estudo foi realizado durante o mês de abril de 2020, com levantamen-


to da área a partir da planta, dados administrativos, faturas de consumo de
água potável, dentre outros aspectos obtidos junto à Prefeitura Municipal.
Inicialmente, foram coletados os dados, seguido por cálculo do volume
aproveitável de água. Em seguida, aplicando-se a NBR 15527/07, foram en-
contrados os volumes dos reservatórios e analisando-se os resultados foi
possível avaliar a viabilidade da implantação do sistema de aproveitamento
de águas pluviais, conforme demonstra a Figura 3.

Figura 3 – Fluxograma do estudo

Fonte: Elaborado pelo autor

O cálculo do volume de água de chuva aproveitável está descrito na

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NBR 15.527/2007 e depende do coeficiente de escoamento superficial da
cobertura (Coeficiente de Runoff), bem como da eficiência do sistema de
descarte do escoamento inicial (first flush), conforme ilustrado na Equa-
ção1 a seguir:
V= P x A x C x η fator de captação (1)

Onde:
V= volume anual, mensal ou diário de água d5e chuva aproveitável, em
litros;
P= precipitação média anual, mensal ou diária, em milímetros;
A= área de coleta, em metros quadrados;
C=coeficiente de runoff;
η fator de captação = eficiência do sistema de captação, levando em con-
ta o descarte do first flush.
Segundo Tomaz (2015), a eficiência do first flush ou do descarte de filtros
e telas variam de 0,50 a 0,90. Um valor prático, quando não se tem dados, é
adotar: C x η= 0,80 ou, no caso de o projetista não considerar o first flush,
é sugerido adotar n=0,90.
Os dados pluviométricos foram obtidos por meio da AESA, que forne-
ceu os volumes mensais de precipitação do ano de 1994 a 2019.
O sistema de armazenamento de águas pluviais -objeto desse estudo-
tem sua viabilidade definida através da área disponível para captação e dos
índices pluviométricos da região aplicados aos métodos de dimensiona-
mento do reservatório apontados pela norma.
O cálculo da demanda de água não potável é baseado na metodologia
utilizada por Fasola et al. (2011), devido à semelhança do perfil escolar, que,
em síntese, aponta que 72% da água potável, consumida por uma unidade
de ensino similar ao caso em estudo, é consumida por mictórios, vasos sa-
nitários, lavagens de pátios e limpeza em geral.
Assim, a demanda total de água não potável será a parcela de água potá-
vel que pode ter seu uso substituído por água pluvial. Os métodos utilizados
para dimensionamento do reservatório de acordo com a NBR 15527/2007
foram os de Rippl, da Simulação e o de Azevedo Neto.

2.1 MÉTODO DE RIPPL


O método permite a utilização de séries mensais ou diárias de precipitação.
Para obtenção do volume de água do reservatório realizamos os cálculos
descritos na Equação 2 (ABNT, 2007):
S (t) = D (t) - Q (t) (2)

20
Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação
V = Σ S(t), somente para valores S(t)> 0
Sendo que: Σ D (t) < Σ Q (t)
Onde:
S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;
Q(t) é o volume de chuva aproveitável no tempo t;
D(t) é a demanda ou consumo no tempo t;
V é o volume do reservatório, em metros cúbicos;
C é o coeficiente de escoamento superficial.

2.2 MÉTODO DA SIMULAÇÃO


Esse método baseia-se na determinação do percentual de consumo que
será atendido em função de um tamanho de reservatório previamente de-
finido. Também é chamado de Método de Análise de Simulação de um
reservatório com capacidade suposta.
Segundo Tomaz (2015), esse método possibilita a determinação da efi-
ciência do sistema, pois os períodos em que o reservatório está, suficiente-
mente, abastecido com água pluvial são relacionados com todo o período
simulado. Tal período pode ser de, apenas, um ano, mas, quanto maior
a série histórica de precipitação utilizada, maior será a confiabilidade da
simulação.
A NBR 15527 (ABNT, 2007) recomenda, ainda, que, nesse método, a
evaporação da água não seja levada em conta. Inicia-se o dimensionamento
do reservatório de água pluvial pelo método da Simulação, calculando-se o
volume de água pluvial no tempo t e o volume de água pluvial no reserva-
tório no tempo t, através das Equações3 e 4 respectivamente, que devem ser
aplicadas para cada mês do ano.

Q(t) = C x P x A (3)
S(t) = Q(t) + S(t-1) – D(t) (4)

Onde:
Q(t) é o volume de água pluvial no tempo t (L);
C é o coeficiente de escoamento superficial (0,80);
P é a precipitação média no tempo t (mm);
A é a área de captação em projeção no terreno (m²);
S(t) é o volume de água pluvial no reservatório no tempo t (L);
S(t-1) é o volume de água pluvial no reservatório no tempo t-1 (L); e
D(t) é o consumo ou demanda de água pluvial no tempo t (L).

21
Na sequência, determina-se um volume de reservatório V que atenda,
para o mês de janeiro, à condição V ≥ S(t) ≥ 0. Se essa condição for aten-
dida, ao longo dos demais 11 meses do ano, esse volume V é o volume do
reservatório. Caso contrário, deve-se determinar outro volume de reserva-
tório V até que se atenda à condição V ≥ S(t) ≥ 0 para os 12 meses do ano.

2.3 MÉTODO DE AZEVEDO NETO (MÉTODO PRÁTICO


BRASILEIRO)
O método Prático Brasileiro é o primeiro método empírico apresentado na
NBR 15527 (ABNT, 2007). Sendo assim, o volume de chuva é obtido utili-
zando-se a seguinte equação.

V = 0,042 x P x A x T (5)

Onde:
P é o valor numérico da precipitação média anual expresso em milíme-
tros (mm);
T é o valor numérico do número de meses de pouca chuva ou seca;
A é o valor numérico da área de coleta em projeção, expresso em metros
quadrados (m2);
V é o valor numérico do volume de água aproveitável e o volume de
água do reservatório, litros (L).
A NBR 15527(ABNT, 2007) não especifica como determinar o número
de meses de pouca chuva. Desse modo, neste trabalho, os meses que pos-
suem a precipitação (volume aproveitável de água) menor que a demanda
serão considerados meses de pouca chuva.
A Equação 6 é utilizada para estimar a economia gerada pelo sistema de
captação de água da chuva segundo descrito por Costa et al. (2015).

𝐸 = (𝑉𝑐𝑎𝑝𝑥100)/𝐶 (6)

Onde:
Vcap: Volume captado m³/mês;
C: Consumo estimado em m³/mês;
E: Economia percentual estimada em %.
Nesse sentido, é necessário analisar se o volume captado é proveitoso
na economia de água potável. Os valores obtidos, nessa etapa, poderão
contribuir na tomada de decisão sobre a implantação ou não do sistema,

22
submetendo-se ao seu potencial de economia.
Para avaliar a viabilidade do sistema e provar se esse é ou não eficaz na
economia de água potável será calculado o percentual de economia mensal
de água potável como definido por Costa et al. (2015).

3 RESULTADOS
A partir da coleta de dados, por meio de análises documentais, foi possível
observar que a média de consumo mensal de água potável é de 53,17m³, em
que 38,3m³ são destinados ao uso em atividades que podem ser desenvol-
vidas com água não potável. O mês de maior consumo de água é Abril e o
menor Janeiro.
Observou-se, também, que o volume acumulado do mês de janeiro a
agosto representa aproximadamente 82,8% do acumulado total. Porém,
o período de setembro a dezembro apresentou o menor volume de água
aproveitável.

3.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA DA DISTRIBUIÇÃO DA CHUVA NA


REGIÃO ESTUDADA
A partir do Fluxograma de estudo apresentado na Figura 3, foi possível ob-
servar que, no período estudado (1994-2019), 82,8% do volume acumulado
estão entre os meses de Janeiro a Agosto e 17,2% do volume entre os meses
de Setembro a Dezembro. O mês de Junho apresentou a maior média de
precipitação de toda a série em estudo (117,4 mm), seguido pelo mês de
julho com (101,9 mm) e as menores médias de precipitações correspon-
dem aos meses de outubro e novembro, representando 1,3 % e 1,2% respec-
tivamente do volume acumulado. O estudo estatístico evidencia a média
(55,5mm), mediana de (52,3 mm) e os coeficientes de curtose (-0,88) e as-
simetria (0,21). Os coeficientes de Curtose e Assimetria estão relacionados
com o grau de achatamento da curva em relação à curva da distribuição
normal, evidenciado pelo comportamento do gráfico da figura 4.

23
Figura 4 - Distribuição da média climatológica do período de 1994-2019 da região
estudada.

Fonte: Elaborado pelo autor

3.2 MÉTODO DE RIPPL


A partir dos parâmetros obtidos, foi possível observar que a análise dos vo-
lumes do reservatório foi obtida com a variabilidade mensal da chuva para
destacar os possíveis meses que atendem à demanda por água não potável
D(t) da Escola Municipal Maurino Rodrigues de Andrade - Unidade II.
A demanda por água não potável foi calculada pela média das últimas
contas de água disponíveis, aplicando-se o percentual apontado por Fasola
(2011) de 72,0%.
A Tabela 1 expressa o resultado do dimensionamento do reservatório
pelo Rippl para a demanda com relação a toda área coberta. O modelo
resultou em um volume de 73,12m³. Os valores obtidos demonstram, clara-
mente, que, nos meses de janeiro a agosto, foram suficientes para suprir as
demandas de água.

24
Tabela 1 - Resultados da aplicação do método de Rippl para o consumo médio mensal
de água não potável nas bacias sanitárias, pias de banheiro e limpeza de piso.
Área
Mês P Total V D(t) St (m3) Vac=SSt SR

Jan 50,6 1500 61 38,3 -22,7 0 E


Fev 52,6 1500 63 38,3 -24,7 0 E
Mar 72,1 1500 86 38,3 -47,7 0 E
Abr 75,1 1500 90 38,3 -51,7 0 E
Mai 81,8 1500 98 38,3 -59,7 0 E
Jun 117,4 1500 141 38,3 -102,7 0 E
Jul 101,9 1500 122 38,3 -83,7 0 E
Ago 52,1 1500 63 38,3 -24,7 0 E
Set 21,2 1500 25 38,3 13,3 13,3 D
Out 8,6 1500 10 38,3 28,3 41,6 D
Nov 8,0 1500 10 38,3 28,3 69,9 D
Dez 24,5 1500 29 38,3 9,3 79,2 D
TOTAL

665,8 Volume(m³) 79,2

Fonte: Elaborado pelo autor

P-Precipitação mensal (mm), Área total-Área de captação (m2), V-Volu-


me aproveitável (m3), D(t)- Demanda mensal (m3), S(t)- Volume de água no
reservatório (m3), E- Período onde ocorre sobra de água, D- Período onde
o nível de água vai diminuindo.

3.3 MÉTODO DE AZEVEDO NETO


Como a NBR 15527/07 não estabelece critérios para a escolha do parâmetro
T e, na presente pesquisa, é fácil verificar que os meses de outubro e no-
vembro tiveram precipitação inferior à demanda, o valor do parâmetro T
utilizado foi T=2.
Aponta-se como o método prático brasileiro, por considerar os meses
de pouca chuva e ser calculado de forma direta. Após o cálculo, o volume
estimado foi de, aproximadamente, 84 m³ para o reservatório.

3.2 MÉTODO DA SIMULAÇÃO MENSAL


O cálculo é feito a partir de um volume pré-estabelecido do reservatório e
o método aponta se haverá necessidade de suprimento externo. Neste caso,
foi observado que, utilizando o resultado obtido pelo método de Rippl (80

25
m³), o reservatório atenderia à unidade escolar, por não haver necessidade
de suprimento externo, conforme demonstrado a seguir na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultados da aplicação do método da Simulação Mensal para o consumo


médio mensal de água não potável nas bacias sanitárias, mictórios e limpeza.
Mês P D(t) Área V Vf Vt-1 Vt Overflow Suprimento

Jan 50,6 38,3 1500 61 80 0 80 0 0


Fev 52,6 38,3 1500 63 80 80 80 24,7 0
Mar 72,1 38,3 1500 86 80 80 80 47,7 0
Abr 75,1 38,3 1500 90 80 80 80 51,7 0
Mai 81,8 38,3 1500 98 80 80 80 59,7 0
Jun 117,4 38,3 1500 141 80 80 80 102,7 0
Jul 101,9 38,3 1500 122 80 80 80 83,7 0
Ago 52,1 38,3 1500 63 80 80 80 24,7 0
Set 21,2 38,3 1500 25 80 80 66,7 0 0
Out 8,6 38,3 1500 10 80 66,7 38,4 0 0
Nov 8,0 38,3 1500 10 80 38,4 10,1 0 0
Dez 38,3 80 0

24,5 1500 29 10,1 0,8 0

Fonte: Elaborado pelo autor

P-Precipitação mensal (mm), Área 3-Área de captação (m2), D(t)- De-


manda mensal (m3), V- Volume aproveitável (m3), Vf(m3) – Volume do re-
servatório fixado; V(t-1) - Volume do reservatório no tempo (t-1) (m3).

A Figura 5 expressa o Volume de água captada (Va) e a demanda (Da)


do consumo de água nas bacias sanitárias, mictórios e limpeza ao longo do
ano.

26
Figura 5- Volume de água captada (Va) e a demanda média (Da) do consumo de água
nas bacias sanitárias, mictórios e limpeza ao longo do ano.

Fonte: Elaborado pelo Autor

O volume de chuva aproveitável, de acordo com a NBR 15527/2007, foi


calculado, mensalmente, de acordo com a média da precipitação e encon-
trados os volumes captados, que sofrem variação ao longo do ano pela irre-
gularidade da precipitação.
A análise dos resultados sugere uma estimativa do quanto estará sendo
acumulado e ao mesmo tempo sendo consumido pela escola, como pode
ser observado na figura 6.

Figura 6- Acumulada do volume de água captada (Va) e a acumulada da demanda (Da)


do consumo de água nas bacias sanitárias, mictórios e limpeza de piso ao longo do
ano.

Fonte: Elaborado pelo autor

27
A figura 7 destaca que a economia de água potável no período de Janeiro
a Agosto é de 72%, pois o volume de chuva acumulado é maior do que a
demanda da escola. Nos meses de setembro a dezembro, essa economia fica
em torno de 47%, 19%, 19% e 55% respectivamente.

28
Figura 7 - Potencial médio de economia de água potável no consumo de água nas
bacias sanitárias, pias de banheiro e limpeza de piso.

Fonte: Elaborado pelo autor

Considerando o volume de chuva acumulado, a necessidade de um re-


servatório fica mais do que evidenciado. Como bem destacado por Paiva
et al. (2019), a economia financeira anual possui valor significativo e mais
relevante ainda, quando considerado todo o gasto produzido pelos siste-
mas de tratamento e de abastecimento da água, minimizando, assim, os
impactos ambientais.
Comparando a demanda de água não potável da escola com a capaci-
dade do sistema em captar e dispor dessa água para consumo, é possível
inferir a eficiência do sistema, conforme demonstrado na figura 8.

Figura 8 – Eficiência do sistema em captar e disponibilizar água não potável para


consumo na unidade escolar.

Fonte: Elaborado pelo Autor

29
4 CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos, conclui-se que os meses chuvosos em
Itatuba estão entre janeiro e agosto e os meses mais secos entre setembro e
dezembro, sendo outubro e novembro os meses com maior deficiência hí-
drica. Essa análise foi de suma importância para compreender a distribui-
ção do volume de água potável a ser captada, apontando que a utilização da
água pluvial se torna uma alternativa viável para implantação na unidade
escolar por suprir a sua demanda.
Os métodos aplicados para dimensionar o reservatório geraram um
resultado imerso em uma perspectiva possível de realização pelo volume
encontrado de 79,2m³ pelo método de Rippl; 80m³ pelo método da Simu-
lação e 84m³ pelo método de Azevedo Neto. Portanto, adotando um valor
de 80m³ para o reservatório, é possível atender ao sistema de captação da
edificação.
A economia de água potável, gerada pelo consumo de água não potável
para atividades com finalidades específicas, tem média anual de 60%, o que
gera o mesmo percentual de economia de recursos públicos. Nos meses
de escassez hídrica, a economia é de 19%, e nos meses chuvosos de 72%,
tornando o projeto um importante fator de garantia hídrica para unidade
escolar, haja vista o potencial de eficiência e economia, possibilitando à es-
cola aliar redução de gastos públicos com sustentabilidade ambiental.
O estudo apontou dados de acumulação de água aproveitável e volume
do reservatório, possível de ser investigado, em análises futuras, o melhor
sistema de captação, melhores índices de aproveitamento e implantação de
projetos correlatos.

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34
TENSÕES NAS PAREDES DE UM
SILO VERTICAL PELO MEF

Cássia Mendonça dos Anjos 3

RESUMO
Silos são estruturas submetidas a tensões provenientes do armazenamento,
carga e descarga de grãos. Em virtude da interação entre as partículas, entre
as partículas e a parede e das cargas estáticas e dinâmicas, o dimensiona-
mento mais eficiente de um silo depende de uma adequada combinação de
suas propriedades. A presente pesquisa objetivou determinar as tensões na
parede de um silo vertical, quando submetido ao descarregamento de grãos
de milho. Para tal, foram desenvolvidas 5 simulações produzidas a partir
da alteração do modelo numérico já validado, em que foram modificadas
características de espessura de parede e esbeltez. Analisaram-se as tensões
circunferenciais nas paredes ao longo da altura do silo, além do critério de
Von Mises para dimensionamento. Concluiu-se, portanto, a existência da
proporcionalidade entre os esforços circunferenciais e o raio do silo, bem
como a relação inversa entre tensões circunferenciais e a espessura da pare-
de. Observou-se, também, o efeito de ovalização para o silo 4, que apresen-
tou valores de tensões superiores ao limite de Von Mises.

Palavras-chave: Simulação. Ansys. Silos. Dimensionamento. Esbeltez.

1 INTRODUÇÃO
O Método de Elementos Finitos (MEF) consiste em uma ferramenta que
permite calcular áreas de tensão e deformação em vários tipos de estru-
turas, das simples às mais complexas (SAMESHIMA & MELNICK, 1994).
O princípio é baseado em segmentar uma estrutura complexa em pe-
quenas e simples secções, chamadas de elementos. Nas extremidades de

3 Professora do Centro Universitário Unifacisa. E-mail: cassia.anjos@gmail.com

35
cada elemento finito, encontram-se pontos ou nós, que conectam os ele-
mentos entre si, formando uma malha arranjada (LOTTI et al, 2006).
Para o estudo das tensões nas paredes dos silos, os métodos numéricos
auxiliam a análise em caso de geometrias particulares (como descarga ex-
cêntrica ou silos com fundo inclinado), além de possibilitar a escolha de
uma teoria de comportamento mais coerente com a realidade para o pro-
duto armazenado, incluindo comportamento plástico e não linear (MA-
DRONA, 2008).
Quanto à determinação analítica de tensões, um dos métodos que tem
sido amplamente utilizado para analisar e dimensionar grande parte dos
pequenos e médios silos, segundo Leite (2008), é a teoria da membrana. De
acordo com a EN 1993-1-4, item 4.2 (Análise de estrutura de uma casca de
silo), a modelagem da casca estrutural do silo deve ser realizada seguindo
as análises, em conformidade com as classes do silo, sendo utilizada a teo-
ria da membrana para determinação das tensões primárias, na classe 1, e a
opção entre a teoria da membrana e uma análise numérica validada (como
a análise de cascas por elemento finito, definido na EN 1993-1-6) na classe 2.
Rotter (1985) resume o princípio da teoria da membrana como a apli-
cação de tensões relevantes na casca causadas por forças no plano; essas
variam com a espessura e se estendem do zero até o meio da superfície da
casca.
Essa análise admite que o elemento possui pequena rigidez à flexão e à
torção, ou seja, os momentos fletores e os momentos de torção não são sig-
nificativos em presença dos esforços de compressão (ANDRADE JUNIOR,
1998).
O presente estudo baseou-se, portanto, em uma análise numérica por
meio do software ANSYS das tensões em um silo vertical submetido a um
descarregamento de grãos de milho, sob diferentes condições de espessura
de parede e esbeltez.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Para a análise das tensões, foi utilizado um modelo de silo já validado atra-
vés da comparação dos resultados das pressões teóricas advindas das espe-
cificações da EN 1991-4 (2002) e dos obtidos experimentalmente em escala
real.
O silo, localizado no município de Cascavel (PR), apresentava como
características:
• Diâmetro interno: 18,42m;
• Altura total: 25,35m (20,03m de corpo e 5,32m de cobertura);
• Classificação: medianamente esbelto;

36
• Volume total: 5810 m³;
• Grão armazenado: milho;
Em relação ao aço das paredes, tem-se: módulo de elasticidade longitu-
dinal (Es) = 210 GPa; coeficiente de Poisson (υ) = 0,3; tensão limite de esco-
amento (fy) = 345 MPa e limite de resistência à tração (fu) = 430 MPa.
A simulação da fase de descarregamento, através do software ANSYS,
caracterizou-se pelo uso dos seguintes elementos:
• elemento de casca: SHELL63;
• produto armazenado: SOLID45;
• elemento de origem: CONTA173;
• elemento de alvo: TARGE170;
• corpo do silo: SHELL63;
A malha dos elementos, portanto, pode ser visualizada, na Figura 1, e o
modelo simulado, permitindo o deslocamento dos nós na base pelo orifício
de descarga e as restrições na horizontal, é representado na Figura 2.

Figura 1 - Representação da malha.

Fonte: Autoria Própria (2018)

37
Figura 2 - Representação do modelo simulado.

Fonte: Autoria Própria (2018)

O modelo validado apresentava as seguintes características:


• Relação H/D = 1,09, caracterizado como medianamente esbelto,
pela norma EN 1991-4;
• Parede corrugada com espessura de 1,5mm;
• Saída concêntrica.

As características alteradas para as simulações foram em relação ao tipo


de parede (modelada como plana), à espessura (mudança do valor e inser-
ção de 2 espessuras de parede distintas ao longo do corpo do silo referente
à utilização de anéis de rigidez) e à esbeltez (mudança para esbelto).
Em relação à espessura, os valores comerciais, normalmente emprega-
dos, são 0,95; 1,25; 1,55; 1,95; 2,30; 2,70 e 3mm. Para o aço utilizado (ZAR345),
a variação é de 0,55 a 3mm, segundo o catálogo de chapas de aço da Com-
panhia Siderúrgica Nacional (CSN). Como as solicitações de pressões são
maiores na parte inferior do silo, utilizou-se uma espessura maior nessa re-
gião do que ao longo da altura. Também se testou a utilização de uma única
espessura, porém maior, com a finalidade de simular uma parede rígida.
Quanto à esbeltez, verificou-se o caso do silo esbelto, em que ocorre a
relação H/D 2, e suas combinações com as diferentes espessuras.
Portanto, foram desenvolvidas as seguintes simulações para os silos ci-
líndricos metálicos (Tabela 1):

38
Tabela 1 - Simulações dos silos metálicos (H = altura do silo; D = diâmetro; t1 =
espessura da parte inferior da parede; h1 = altura da parede com a espessura t1; t2 =
espessura da parte restante da parede)
Simulação H (m) D (m) H/D t1 (mm) h1 (m) t2 (mm)
1 20 18,4 1,08 10 - 10
2 20 9 2,2 1,5 - 1,5
3 20 9 2,2 10 - 10
4 20 18,4 1,08 10 3,0 1,5
5 20 9 2,2 10 3,0 1,5

Fonte: Autoria Própria (2018)

Para cada simulação, foram verificadas as tensões obtidas nas paredes


do silo: circunferenciais, de cisalhamento e de Von Mises. Tais resultados
foram comparados com os analíticos por meio de critérios descritos na EN
1993-1-6 (2007):
• O valor de dimensionamento da resistência à ruptura pelo critério de
Von Mises é dado por:

(1)

Onde: fy = tensão de escoamento do aço


= fator parcial da combinação de dimensionamento dado
em EN 1993-1-4 (2007).
Em todos os pontos, a tensão efetiva de dimensionamento deve
ser menor que a resistência à ruptura .
As tensões circunferenciais pela teoria da membrana:


(2)

Em que:
= tensão circunferencial

39
pressão horizontal
r = raio
t = espessura

Para o caso de parede com mais de uma espessura (Figura 3), a equação
(1) é corrigida para:

(3)

Em que:

= tensão circunferencial

coeficiente definido em função da es-


pessura menor/ espessura maior

t = menor espessura

Figura 3 - Esquema da parede do silo com mudança de espessura.

Fonte: EN 1993-1-6 (2007).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As tensões circunferenciais, ou seja, as definidas, ao longo da altura, em
função dos esforços Fx aplicados estão apresentadas na Figura 4:

40
Figura 4 - Tensões circunferenciais das paredes ao longo da altura do silo.

Fonte: Autoria Própria (2018)

Proporcionalmente aos resultados dos esforços normais aplicados des-


critos na seção anterior, estão os valores das tensões circunferenciais, quan-
do comparados a casos de mesma espessura. Entre os casos 1 e 3 (10mm
de espessura), o maior esforço verificado, no primeiro, produziu maiores
tensões circunferenciais, atingindo um valor máximo de 300,38 kPa para a
simulação 1 e 125,25 kPa para a simulação 3.
Analiticamente, as tensões circunferenciais pela teoria da membrana
são calculadas de acordo com a equação (2), conforme as especificações da
EN 1993-1-4 (2007).
Portanto, quanto menor a espessura, maior a tensão circunferencial na
parede. Foi o que se verificou na simulação 2, em que a espessura de 1,5mm
resultou na tensão circunferencial máxima de 771,64 kPa. Como as pres-
sões aplicadas são as mesmas e a simulação 2 apresenta o mesmo raio do
silo da simulação 3, a proporcionalidade entre as tensões verificando suas
espessuras é na ordem de 6,7 vezes. Observando as tensões numéricas para
uma mesma altura (1m em relação à base, por exemplo), tem-se que:

= 115,07 kPa
= 771,64 kPa
A razão entre as duas tensões é de 6,7, tal como descrito na equação
2, validando novamente o modelo embasado no método dos elementos
finitos.
Para o caso de parede com mais de uma espessura, a equação 3 utiliza o
coeficiente , que, segundo o anexo C da EN 1993-1-6 (2007), é tabela-
do apenas para algumas relações (Tabela 2):

41
Tabela 2 - Determinação do em função das espessuras da parede

1,0 1
0,8 1,010
0,667 1,019
0,571 1,023
0,5 1,027
Fonte: EN 1993-1-6 (2007)

Nas simulações 4 e 5, a relação seria 1,5/10 = 0,15, não apresentada na


norma. Utilizando as maiores tensões circunferenciais nessas simulações,
além dos outros dados, é possível determinar o coeficiente para essa relação.

Da simulação 4:
= 2218,8 kPa (valor máximo obtido para h = 3,5m)

r = 9,2m

= 49,4 kPa (do modelo validado, para a altura mencionada)

Tem-se que:

2218,8 = .49,4. = 0,007

Repetindo o cálculo para a simulação 5:

= 1036 kPa (valor máximo obtido para h = 3,5m)


r = 4,5m

= 49,4 kPa

Tem-se que:

42
1036 = .49,4. = 0,007

Sugere-se, portanto, o coeficiente 0,007 para a relação de espessuras


0,15.
As tensões diminuem, drasticamente, próximas à altura do anel (até
3m), devido ao aumento de espessura e, consequentemente, de rigidez. São
casos em que a espessura do silo não precisaria ser de 10mm ao longo de
toda a parede, como nas simulações 1 e 3, mas apenas na região de maiores
pressões aplicadas.
As tensões de cisalhamento nas paredes do silo estão dispostas na Fi-
gura 5.

Figura 5 - Tensões de cisalhamento e ovalização: a) Simulação 1; b) Simulação 2; c)


Simulação 3; d) Simulação 4; e) Simulação 5.

Figura 5a - Simulação 1

Fonte: ANSYS (2018)

43
Figura 5b - Simulação 2

Fonte: ANSYS (2018)


Figura 5c - Simulação 3

Fonte: ANSYS (2018)

44
Figura 5d - Simulação 4

Fonte: ANSYS (2018)

Figura 5e - Simulação 1

Fonte: ANSYS (2018)

Observa-se que, quanto menos rígida é a parede, maiores são as tensões


e a tendência de ruptura da casca. Além disso, a contenção do efeito de
ovalização é mais eficiente, o que deve implicar em menores tensões de
flambagem.

45
Pesquisas sugerem a diminuição do efeito da ovalização (perda de es-
tabilidade) das paredes do silo com o uso de anéis de rigidez Dall’Acqua
(2018) e com a utilização de montantes (ANDRADE JUNIOR & CALIL
JUNIOR, 2004).
Esse fato é verificado nas figuras 5 (b) e (c), em que as tensões de cisa-
lhamento máximas diminuíram de 71,7MPa para 10,2MPa, devido ao au-
mento da espessura da parede. Logo, a simulação 3 tem menor tendência à
ruptura pela tensão circunferencial e é menos favorável quanto à incidência
de flambagem. Deve-se verificar, no dimensionamento, a espessura mais
adequada que atenda a esses extremos, calculando as tensões de ruptura
pelo critério Von Mises e as tensões de flambagem limite pela teoria da
membrana, analisados mais adiante.
A inserção dos anéis de base dos casos 4 e 5 promoveu uma maior con-
tenção da região de ovalização, mas as tensões máximas verificadas foram
maiores que nas simulações anteriores. Os valores máximos foram de
205,27 MPa e 97,7 MPa para as simulações 4 e 5, respectivamente, acima
do anel, sugerindo que essa maior espessura fosse utilizada além dos 3m
iniciais. Nas regiões abrangidas pelo anel, as tensões atingiram um máximo
de 22,8 e 10,8 MPa, respectivamente, diminuindo o efeito na base.
Quanto ao critério de Von Mises, que representa a resultante das tensões
para análise quanto à ruptura, o valor de dimensionamento da resistência
foi dado por:

Em todos os pontos, deveria ser obedecida a condição de


, em que a tensão de dimensionamento de Von Mises foi ob-
tida em cada caso de simulação (Tabela 3):

Tabela 3 - Verificação das tensões de Von Mises


Simulação Verificação
(MPa)
1 77,597 ok
2 190,77 ok
3 35,508 ok
4 395,097 não

46
5 192,719 ok

Fonte: Autoria Própria (2018)

De acordo com o critério de ruptura de Von Mises, o único caso em


que seria ultrapassada a tensão de dimensionamento seria o 4, referente ao
silo, medianamente esbelto, com espessura de parede de 10mm até os 3m
de altura e de 1,5mm para o restante. As tensões ultrapassariam a limite, no
intervalo de 3,5m a 8m de altura em relação à base, atingindo os valores de
362,62 MPa a 395,097 MPa (Figura 6).
Portanto, os picos de tensão circunferencial gerados no caso 4, devido à
inserção do anel, representam o mesmo caso da tensão de ruptura pelo cri-
tério de Von Mises, em que há uma diminuição dos valores na base (onde
se encontra o anel e há maior espessura) e um crescimento do topo até pró-
ximo ao anel, coincidindo, também, com a tensão de ovalização na mesma
altura, sendo necessário um aumento da altura do anel.
Para o caso 5, as tensões permaneceram dentro do limite de ruptura,
porque o raio do silo era menor, conforme já analisado anteriormente (Fi-
gura 7).

Figura 6 - Tensões de Von Mises para o silo 4.

Fonte: ANSYS (2018)

47
Figura 7 - Tensões de Von Mises para o silo 5.

Fonte: ANSYS (2018)

Verifica-se, ainda, um aumento de tensões do topo até o pico próximo


ao anel e depois uma diminuição dos valores. Como elas dependem apenas
do raio e não da esbeltez, esse caso foi favorável ao dimensionamento.
A Figura 8 mostra a mesma tendência das tensões de Von Mises e as
tensões circunferenciais.

Figura 8 - Tensões de Von Mises das paredes ao longo da altura do silo.

Fonte: Autoria Própria (2018)

48
4 CONCLUSÃO
Diante das simulações desenvolvidas, verificou-se que os esforços circunfe-
renciais sobre a parede são proporcionais ao raio do silo, conforme descrito
analiticamente.
Além disso, observou-se que, quanto maiores as tensões circunferen-
ciais, menores serão as espessuras da parede. No caso do silo com anéis de
base, foi possível determinar o coeficiente , definido em função da
espessura menor/espessura maior como 0,007 para relação 0,15, não apre-
sentada na norma.
Finalmente, o silo 4 apresentou tensões de ruptura superiores ao limite
definido pelo critério de Von Mises, com boa parte do efeito de ovalização
contido nos anéis, mas com picos de tensão na região superior atingindo
205,27 MPa.

REFERÊNCIAS:

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cilíndricos. São Paulo: Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 1998.

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49
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MADRONA, F. S. Pressões em silos esbeltos com descarga excêntrica.


Tese de doutorado em Engenharia de Estruturas. São Carlos: Escola de En-
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50
VALIDAÇÃO DE MODELO NUMÉRICO DAS
PRESSÕES EM UM SILO VERTICAL PELO
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Cássia Mendonça dos Anjos4

RESUMO
Diversos são os fatores que interferem na predição das pressões provenien-
tes do produto armazenado sobre a estrutura de um silo, como coesão e
atrito entre as partículas e entre as paredes. Em virtude da complexidade
do estudo analítico das pressões, utiliza-se a simulação computacional ba-
seada no método numérico, que trata de técnicas de aproximação dos re-
sultados para simplificação das equações. A presente pesquisa baseou-se no
desenvolvimento de um modelo numérico de um silo vertical concêntrico
de parede lisa submetido a um descarregamento a partir do método dos
elementos finitos (MEF) por meio da aplicação do software ANSYS. Resul-
tados teóricos das pressões calculados de acordo com as especificações da
norma europeia EN 1991-4 (2002), além de resultados experimentais obti-
dos em um silo construído em escala real foram utilizados para a validação
do modelo numérico. Concluiu-se, portanto, que a curva das pressões re-
presentou a mesma tendência de comportamento, com valores simulados
próximos aos experimentais e inferiores aos teóricos.

Palavras-Chave: Simulação. Modelo. Ansys. Silos. Pressões.

1 INTRODUÇÃO
Na Engenharia Agrícola, um tema de grande relevância é a armazenagem
de grãos através de estruturas denominadas silos. Essa construção repre-
senta um ponto favorável à expansão da agricultura, uma vez que possibi-
lita a economia de espaço físico, mão-de-obra e conservação do produto

4 Professora do Centro Universitário Unifacisa. E-mail: cassia.anjos@gmail.com

51
(DA COSTA et. al, 2014).
Os silos são construções feitas em células, geralmente de forma cilín-
drica, podendo utilizar os mais diversos tipos de materiais para sua cons-
trução, como concreto, chapas metálicas e madeiras (GARBAZZA, 2001).
A determinação das ações é importante para a determinação dos esfor-
ços atuantes, dimensionamento, estabilidade e segurança estrutural. Estas
ações, normalmente, decorrem de causas externas que ocasionam esforços
internos e deformações na estrutura. Como exemplo, pode-se citar o peso
próprio dos elementos estruturais e construtivos, dilatações térmicas, ven-
to, etc. (CALIL JUNIOR & PALMA, 2008)
No projeto de silos, as principais ações a serem consideradas são as pro-
venientes dos produtos armazenados que exercem pressões nas paredes
verticais e no fundo do silo. Na parede vertical, atuam pressões perpendi-
culares, denominadas pressões horizontais e pressões de atrito do produto
com a parede. Já no fundo do silo, atuam pressões denominadas pressões
verticais (CALIL JUNIOR & PALMA, 2008).
Segundo Madrona (2008), a dificuldade de se obter teorias clássicas sa-
tisfatórias para prever, com precisão, as pressões exercidas pelo produto
armazenado nas paredes dos silos, aliado ao avanço extraordinário da com-
putação nos últimos anos, incentivou a utilização dos métodos numéricos
como uma nova forma de abordagem no estudo das pressões nos silos.
O princípio do Método dos Elementos Finitos (MEF) é baseado em seg-
mentar uma estrutura complexa em pequenas e simples secções, chama-
das de elementos. Nas extremidades de cada elemento finito, encontram-se
pontos, ou nós, que conectam os elementos entre si, formando uma malha
arranjada (LOTTI et al, 2006).
Os processos de criação da malha, dos elementos e dos seus respectivos
nós compreendem o processo de discretização do domínio do problema.
Esta etapa do estudo é muito importante, uma vez que o desempenho da
simulação é dependente da qualidade e das características da malha gerada
para uma determinada complexidade geométrica (ERDEMIR et al., 2012).
Diferentes pesquisas já foram desenvolvidas sobre estudos de pressões
em silos por meio do MEF:
• Zaccari & Cudemo (2016) utilizaram uma análise linear para simular
um reforço para diminuir as pressões sobre as paredes de um silo me-
tálico, com as seguintes características: capacidade de 11000 toneladas,
estrutura de aço com anéis de concreto, descarga excêntrica e armaze-
namento de calcário. O modelo desenvolvido na simulação se baseou
na análise LBA (descrita na EN 1993-1-6), que, embora seja mais rá-
pida, não considera o comportamento elastoplástico do material nem

52
a imperfeição da estrutura devido às solicitações e, portanto, utiliza
altos coeficientes de segurança;
• Hillewaere et al. (2013) realizaram seus estudos, motivados por aci-
dentes devido à ação do vento, ocorrido em uma bateria de 40 silos,
que provocou a ovalização das paredes de alguns silos. O sistema foi
discretizado no conjunto de equações do programa ANSYS FLUENT,
concluindo que as simulações também são, qualitativamente, valida-
das através da comparação do presente fluxo com fluxos geometrica-
mente semelhantes.
• Iwicki et al. (2016) simularam, por meio do método dos elementos fi-
nitos, um silo com paredes corrugadas a partir de um modelo ortotró-
pico de casca, cilíndrico, semi-esbelto, com altura de 20 m, diâmetro
de 8 m (H/D = 2,5) e ondulação da parede de 76 mm na horizontal e
18 mm na vertical.
Apesar do comportamento à flambagem de cascas cilíndricas submeti-
das à pressão do vento ser um tema bastante difundido, Zhao et al. (2013)
destacam que poucos estudos têm avaliado os efeitos da pressão do vento
sobre o silo, quando esse se encontra vazio ou cheio, além da ação combi-
nada do vento e dos produtos armazenados no estudo da flambagem.
Nesse contexto, a pesquisa desenvolveu-se por meio de uma análise te-
órico-computacional das pressões horizontais exercidas pelos grãos de mi-
lho nas paredes do silo durante a descarga, com o objetivo de validação do
modelo numérico desenvolvido.

2 MATERIAL E MÉTODOS
Após a análise dos resultados experimentais do cisalhamento direto com o
produto e com a amostra da parede do silo, Fank (2017) determinou os va-
lores das propriedades físicas e mecânicas dos grãos de milho (Tabela 1) no
Laboratório de Construções Rurais e Ambiência (LaCRA) de Engenharia
Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Tabela 1: Propriedades experimentais do grão de milho.

53
g: peso específico; Ângulo de repouso (

; ;

Fonte: FANK (2017)

Além dos citados, utilizaram-se também os seguintes dados: (- Módulo


de elasticidade longitudinal (Es) = 35733 kPa; - Coeficiente de Poisson (υ)
= 0,31; - Ângulo de dilatância: 32,7°). Esses foram obtidos em experimen-
tos realizados para determinação das propriedades mecânicas e de fluxo de
produtos granulares por Moya et al (2013).
O silo que foi analisado, experimentalmente, localiza-se no municí-
pio de Entre Rio do Oeste (PR) e foi fabricado e instalado pela indústria
CONSILOS, do município de Cascavel (PR). Suas dimensões são 18,42m de
diâmetro interno e altura total de 25,35m (20,03m de corpo e 5,32m de co-
bertura) sendo, portanto, caracterizado como, medianamente, esbelto pela
norma EN 1991-4. Quanto ao volume total, trata-se de 5810 m³ e capacidade
de armazenamento de 4357t de grãos de milho.
Em relação à carga e descarga, os processos são executados, concentri-
camente, pela parte superior e inferior do silo. Há um orifício de descarga
principal no centro do fundo medindo 42x42 cm e 4 orifícios auxiliares de
30x30 cm distribuídos ao longo do diâmetro. O fundo é plano e de concreto
armado e a parede lateral de chapas corrugadas produzidas com aço de alta
resistência (ZAR 345).
Quanto às propriedades mecânicas do aço constituinte, tem-se:
- Módulo de elasticidade longitudinal (Es) = 210 GPa;
- Coeficiente de Poisson (υ) = 0,3
- Tensão limite de escoamento (fy) = 345 MPa;
- Limite de resistência à tração (fu) = 430 MPa.
As paredes verticais do silo são de chapa metálica corrugada, com onda
de 1,5” de comprimento e espessura de 1,55 mm.
Ao realizar 3 ciclos de carregamento, armazenamento e descarregamen-
to, Fank (2017) observou que as células instaladas na parede do silo nas
alturas mais próximas à cobertura tiveram seu desempenho prejudicado,
devido a deslocamentos e, até, arrancamento de cabos das células pelo

54
produto durante as fases de carregamento e descarregamento dos grãos
(Figura 1). Como estas estavam instaladas em região de difícil acesso, mes-
mo constatando problemas, não foi possível a correção, motivo pelo qual
em cada ciclo nem todas as células forneceram valores consistentes. Assim,
sempre que a resposta da célula correspondeu a um valor não significativo
dos esforços provocados pelos grãos armazenados, essa foi descartada das
análises na respectiva fase.
Mediante a razão apresentada, para a presente pesquisa foram con-
siderados os resultados obtidos no primeiro ciclo como a referência
experimental.

Figura 1 - Distribuição das células em ¼ do silo: A) Locação geral, em planta, dos


pontos de instrumentação do silo; B) Vista.

Fonte: Fank (2017).

No orifício de descarga, na face relacionada ao produto (ponto B, da


Figura 1), foi modificada a condição de restrição do apoio para a liberação
dos elementos, que, por sua vez, trazem para a parte inferior os demais ele-
mentos a que estão associados na malha. A análise foi do tipo estática, em
que são determinados os deslocamentos, deformações, tensões e forças na
estrutura causadas por cargas que não induzem efeito na inércia, causado
por variação do tempo.

55
Figura 2 - Condições de restrição e apoio.

Fonte: Autoria Própria (2018)

Para a análise computacional embasada no método dos elementos fini-


tos por meio do software comercial ANSYS, o silo foi desenvolvido através
de um elemento de casca (SHELL63), obedecendo ao modelo de análise
descrito na EN 1993-1-6. O elemento possui capacidade de flexão e permite
carregamento normal e paralelo ao plano. É um elemento de 4 nós com 6
graus de liberdade em cada nó: translações nas direções x, y e z e rotações
em torno dos eixos x, y e z. É utilizado para aplicação linear, grande rotação
e/ou grandes deformações não-lineares (ANSYS, 2013).
O produto armazenado foi simulado por meio do elemento SOLID45,
usado para modelagem de estruturas sólidas em 3D. É definido por 8 nós,
com 3 graus de liberdade em cada um (translações nas direções x, y e z).
O elemento suporta plasticidade, fluência, grande deflexão e capacidade
de grandes deformações. Além disso, tem formulação mista para viabilizar
simulação de deformações de materiais elastoplásticos quase incompressí-
veis e materiais hiperelásticos totalmente incompressíveis (ANSYS, 2013).
Para a representação do contato do produto armazenado com a base
e com as paredes do silo, são utilizados elementos de origem (CONTA)
e alvo (TARGE), que descrevem o sentido da ação. A deformação do silo,
por exemplo, foi observada a partir da pressão exercida pelos grãos (ori-
gem) sobre as paredes (alvo). Logo, foi utilizado o elemento TARGE170,
aplicado para superfícies em 3D, o qual pode ser associado aos seguintes
elementos de contato: CONTA173 e CONTA174, CONTA175, CONTA176
e CONTA177. Observa-se que, ao se tratar de superfície para superfície,
os elementos ficam restritos a CONTA173 e CONTA174. Dentre esses, o

56
elemento SHELL63, proposto para simular o corpo do silo, associa-se ao
CONTA173, pois é um elemento de casca sem nós intermediários.
A malha dos elementos, portanto, pode ser visualizada na Figura 3 e o
modelo simulado, permitindo o deslocamento dos nós na base pelo orifício
de descarga e as restrições na horizontal, é representado na Figura 4.
O modelo numérico foi constituído pelo seguinte número de elementos:
SOLID45: 61200
TARGE170: 4000
CONTA173: 4000
SHELL63: 4000

Figura 3 - Representação da malha.

Fonte: Autoria Própria (2018)

Figura 4 – Modelo simulado

Fonte: Autoria Própria (2018)

57
As pressões obtidas pelo método computacional foram comparadas,
ainda, às pressões teóricas segundo as equações de Janssen adaptadas pela
metodologia da norma EN 1991-1-4 (2002).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizou-se a determinação das pressões horizontais com a parede no mo-
delo numérico em três dimensões e comparou-se com os resultados ob-
tidos por meio da EN-1991-4-1 (2002) e por experimento de Fank (2017).
Na simulação em 3D, foi possível determinar os resultados das pressões
nos eixos x e z, que fariam a correspondência com os resultados nas células
de alinhamento P1 e P3, respectivamente, enquanto o eixo y representou a
altura do silo (Figura 5).

Figura 5 - Eixos coordenados do silo e localização das células de pressão

Fonte: Autoria Própria (2018)

As pressões horizontais aplicadas na parede obtidas pela simulação no


ANSYS demonstram uma simetria de resultados no plano horizontal XZ,
havendo variação, apenas, na altura (Figura 6). Tal fato reside na constata-
ção de que se trata de uma estrutura com descarga concêntrica, demons-
trando um equilíbrio entre a distribuição de esforços ao longo do compri-
mento da circunferência.

58
Figura 6 - Pressões horizontais na validação do silo

Fonte: Autoria Própria (2018)

Portanto, com o resultado da simulação, compararam-se as pressões ho-


rizontais com as obtidas, experimentalmente, e com as calculadas segundo
as diretrizes da EN 1991-4-1 (2002) (Figura 7).
Observa-se a aproximação da curva dos resultados numéricos com os
experimentais. Apenas um ponto divergiu, a 9,10m de altura em relação
à base, coincidindo, nesse caso, com a curva representativa da EN-1991-4
(2002). Essa, por sua vez, descreveu resultados superiores de pressões, de-
vido aos conservativos coeficientes de majoração descritos no seu código.

Figura 7 - Pressões horizontais ao longo da altura do silo

Fonte: Autoria Própria (2018)

59
Comparando a média dos resultados experimentais das células de pres-
são, observa-se um desvio percentual dos valores numéricos de 1,2% para o
ponto A, 28,6% no ponto B, 1,3% para o ponto C e 54,2% para D (Tabela 2).
No ponto B, há a possiblidade de a altura de ter interferido na manutenção
da célula, conforme citado anteriormente. Em relação à comparação dos
resultados numéricos e teóricos, verificam-se os seguintes desvios percen-
tuais com referência na EN 1991-4: 33,3% (ponto A), 28,1% (ponto B), 23,8%
(ponto C) e 61,5% (ponto D).

Tabela 2 - Pressões horizontais na parede


z (m) h (m) ALIN. P1 P2 P3 MÉDIA MEF EN
1991-4

6,42 13,58 A - 20,52 20,56 20,54 20,79 31,20

10,9 9,10 B 45,15 - 51,30 48,22 34,43 47,91

15,58 4,42 C 55,99 39,56 - 47,78 47,17 61,90

19,9 0,09 D 79,26 45,16 57,81 60,74 27,82 72,29

z = profundidade medida a partir do topo; h = altura em relação à base; ALIN =


alinhamento das células de pressão; P1, P2, P3 = localização das células de pressão
Fonte: Autoria Própria (2018)

Analisando os efeitos na casca do silo, embora as pressões aplicadas te-


nham se mostrado constantes no plano horizontal para cada altura do silo,
os efeitos estruturais divergiram ao longo dos eixos x e z. As tensões de ci-
salhamento, no plano xz, são iguais em módulo, mas com sentido opostos,
sugerindo valores máximo no eixo x (resultando deformações para fora da
parede) e mínimo no eixo z (com deformação no sentido para o eixo do
silo), conforme observado na Figura 8.

60
Figura 8 - Ovalização das paredes do silo validado

Fonte: Autoria Própria (2018)

Os resultados sugerem a ovalização das paredes do silo (Figura 8), tal


como descrito por Madrona (2008), que atribuiu o efeito da descarga ao
fato de essa ser excêntrica, além da elevada esbeltez do silo. No estudo em
questão, que se trata de saída concêntrica, não houve variação dos resul-
tados nas extremidades de cada eixo, o que é coerente com a simetria da
descarga.
De acordo com Sadowski & Rotter (2011), em silos cilíndricos submeti-
dos à descarga concêntrica, a compressão axial na parede do silo é causada
pelo atrito entre a parede e o produto armazenado. A tensão compressiva
resultante na membrana axial é acumulativa com a profundidade, então o
risco de flambagem é, substancialmente, aumentado em direção à base do
silo.
Além disso, sabe-se que a carga crítica de flambagem de uma casca sob
compressão axial é sensível à amplitude e forma de imperfeições geomé-
tricas na parede (ROTTER, 2004). De modo inverso, as pressões internas
e tensões circunferenciais na membrana tendem a um valor assintótico a
uma grande profundidade, logo, o risco de ruptura não aumenta além de
uma certa profundidade.
Como o silo em questão não apresenta montantes, elementos verticais
que conferem rigidez, a estrutura é caracterizada por instabilidade devido
a uma flambagem local.

61
4 CONCLUSÃO
Diante dos resultados expostos, verificou-se que o modelo numérico repre-
senta a descarga dos produtos armazenados em um silo metálico concên-
trico de parede lisa.
Em relação às pressões, embora a curva tenha seguido a mesma tendên-
cia, os resultados da simulação se assemelharam aos experimentais e foram
inferiores aos obtidos teoricamente por meio de cálculo descrito na norma
EN 1991-4 (2002).
Por fim, considerou-se, então, o modelo validado, uma vez que os valo-
res obtidos, por meio de normas, tendem a ser superiores em virtude dos
coeficientes de segurança que são incorporados.

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63
64
ANÁLISE DO ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO DO
MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE (1962-2019)

Danyllo Vieira de Lucena5


Carlos Augusto Freitas Silva 6
Gutemberg Gonçalves da Silva7

RESUMO
A análise de dados pluviométricos é uma importante ferramenta que au-
xilia a tomada de decisões para o gerenciamento de recursos hídricos, es-
pecialmente, em regiões com baixos índices de precipitação como é o caso
da localidade objeto desse estudo. Objetivamos, neste artigo, realizar um
estudo probabilístico dos dados pluviométricos do município de Campina
Grande – PB, a partir de uma série de 58 anos. Através de dados pertencen-
tes ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e à (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária) EMBRAPA, realizou-se o tratamento estatísti-
co, utilizando-se o Software R e análise de variância (ANOVA), visando
identificar e discutir um provável padrão pluviométrico para cidade em
estudo. Identificamos, através da série da histórica, um desvio padrão de
230,68 mm.ano-1. Notou-se, ainda, que os seis meses mais chuvosos corres-
pondem a 68,8% do valor anual dos dias de chuva, que coincidem com as
maiores precipitações, totalizando uma estimativa de 76,16% da precipita-
ção anual. Através de regressões lineares, não foi identificada discrepância
no modelo, o que representa uma consistência dos dados analisados, via-
bilizando-os, assim, para utilização na tomada de decisões estruturantes.

5 Professor do Centro Universitário Unifacisa – PB. Doutorando em Engenharia Civil e


Ambiental. E-mail: danyllo.lucena@maisunifacisa.com.br
6 Graduando em Engenharia Civil no Centro Universitário Unifacisa – PB. E-mail: carlos.
freitas@maisunifacisa.com.br
7 Professor do Centro Universitário Unifacisa – PB. Mestre em Engenharia Civil e Am-
biental. E-mail: gutemberg.silva@maisunifacisa.com.br

65
Este comportamento está, fundamentalmente, relacionado aos aspectos
naturais e hidrológicos da região semiárida Nordestina.

Palavras-chave: Dados pluviométricos. Recursos Hídricos. Precipita-


ção. Tratamento Estatístico.

1 INTRODUÇÃO
A água é um elemento indispensável à vida e, por isso, seu consumo exa-
cerbado e irracional constitui um dos maiores problemas sociais, especial-
mente, porque o crescimento populacional só aumenta. A maior parte da
região Nordeste do Brasil se situa na zona semiárida, apresentando grandes
problemas para a sociedade e para os ecossistemas naturais, decorrentes
das secas periódicas (ALVES et al., 2015).
Os recursos hídricos no Brasil são abundantes, mas nem sempre bem
distribuídos e estudados nas diferentes regiões do país. Deve-se, então, me-
lhor distribuí-los no espaço e no tempo e, principalmente, planejá-los e
projetá-los, de forma a aperfeiçoar os sistemas de aproveitamento de recur-
sos hídricos. Para isto, deve-se, em primeiro lugar, conhecer-se a hidrologia
de sistemas, observando, antes de tudo, os fenômenos hidrológicos pecu-
liares às bacias em estudo e a partir dos dados observados, elaborar-se es-
tudos compreensivos, de forma a caracterizar e prever seu comportamento
objetivando a sua melhor utilização (SWAMI & MATTOS, 1975).
Em virtude de a água ser o principal componente na constituição dos
seres vivos, as distribuições temporal e espacial das precipitações são dois
dos fatores que condicionam o clima e que estabelecem o tipo de vida de
uma região.
As regiões semiáridas apresentam, como característica principal, irre-
gularidade em chuvas, variando espacialmente e de um ano para outro e,
até mesmo, em alguns quilômetros de distância e escalas de tempo diferen-
tes, tornando as colheitas das culturas imprevisíveis.
A precipitação pluviométrica é uma das variáveis meteorológicas mais
importantes e representativas para os estudos climáticos do Brasil, tendo
em vista a caracterização do regime pluviométrico de uma localidade, o
auxílio no planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos (MENE-
ZES, FERNANDES, 2016). Para que a precipitação ocorra, é necessária a
coalescência de gotículas através de algum agente aglutinador, que pode ser
a turbulência, a vibração promovida pelas descargas elétricas, etc.
Sendo a precipitação uma variável aleatória contínua, pode‐se estimar
a precipitação provável por alguma distribuição teórica de probabilidade
(ALVES et al., 2013). A precipitação provável pode ser entendida como a

66
precipitação pluviométrica mínima que tem uma probabilidade específica
de ocorrência baseada na análise de uma longa série de dados.
Na engenharia, geralmente, refere-se à precipitação como sinônimo de
chuva pelo fato de que outras formas ou representam uma parcela pou-
co significativa do ciclo hidrológico ou são incomuns em algumas regiões,
como é o caso da neve no Brasil. O presente artigo trata, portanto, da pre-
cipitação na forma de chuva.
Devido a eventos de seca, entre os anos de 1979 a 1983, assim como nos
anos de 1998 e 1999, o sistema de abastecimento de água da cidade de Cam-
pina Grande quase alcançou o colapso (MACEDO et al. 2011). Em 2014,
a cidade voltou a ter problemas sérios com a falta de água, uma vez que o
sistema de abastecimento teve que entrar em racionamento. Iniciado no dia
06 de dezembro de 2014, a sua represa, o açude Epitácio Pessoa, manancial
que abastece 18 municípios, tinha cerca de 24% da capacidade total. Em
Março de 2017, chegou à mínima de sua capacidade, aproximadamente 3%.
Em 18 de abril de 2017, o Açude Epitácio Pessoa começou a receber as águas
da transposição do rio São Francisco, principal fator que ocasionou o fim
do racionamento em agosto do mesmo ano.
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou analisar a variação da
precipitação pluvial de Campina Grande entre os anos de 1962 a 2019, rea-
lizando-se o tratamento estatístico da série de dados, por meio do Software
R e análise de variância (ANOVA) para identificar e discutir um provável
padrão pluviométrico para cidade de Campina Grande – PB.
Para isso, organizamos este artigo da seguinte forma: primeiramente,
apresentamos os materiais e métodos, seguido dos resultados e discussões
e, por fim, as considerações finais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O município de Campina Grande é a segunda maior cidade do estado da
Paraíba, localizado na região semiárida do Nordeste Brasileiro, possuindo,
aproximadamente, uma população de 640 mil habitantes, em sua região
metropolitana (FNEM, 2020). Com o segundo maior PIB do estado, a ci-
dade é considerada um grande polo tecnológico e industrial. Tem a média
anual pluviométrica de 804,9mm e temperaturas variando de 16 a 32 °C
(MACEDO et al. 2011).
O município está localizado na mesorregião do agreste, no Planalto da
Borborema, a 7º 13’11’’ de latitude Sul e a 35º 52’31’’ de longitude Oeste, se-
gundo o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). A área

67
total do município é de, aproximadamente, 621Km2, dos quais 525 Km2 são
de zona rural e 96 Km2 de zona urbana, conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1 – Localização do Município de Campina Grande – PB

Fonte: Adaptado do IBGE (2010), utilizando QGIS 2.18.14.

OBTENÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS


Os dados da série histórica foram adquiridos no site oficial do Instituto Na-
cional de Meteorologia (INMET) em um arquivo do tipo xslx. O banco de
dados apresentava diversas informações sobre precipitação, temperatura,
insolação solar, data e hora, entre outros, no período de 1963 até 2019. Al-
guns anos desta base apresentaram informações faltantes. Com o objetivo
de obter uma base de dados uniforme, foram utilizados valores da EM-
BRAPA encontrados no trabalho de Macedo et al. (2011), para precipitação
anual total dos seguintes períodos de anos: 1962, 1971-1972 e 1985-1994.
Primeiramente, foi utilizada a estatística descritiva, com a finalidade de
obtenção de resultados mais representativos. Desta forma, foi realizada a
estruturação dos dados, ou seja, os valores foram extraídos e reorganiza-
dos, para assim, passarem pelo processo de tratamento estatístico e, poste-
riormente, serem visualizados em gráficos de pizza e Boxplot. Esse traba-
lho é chamado de ETL (Extract, Transform and Load), jargão utilizado por
analistas e cientistas de dados para descrever a etapa de sistematização do

68
tratamento e limpeza dos dados (DENNEY et al., 2016).
Em seguida, fez-se uma verificação com a intenção de determinar se os
dados apresentavam distribuição normal também conhecida como distri-
buição gaussiana dos conjuntos amostrais. Para tanto, foi utilizada a análise
de variância de fator único (ANOVA) com o Software R, para avaliar todos
os conjuntos de dados de mesma variável, com o nível de significância de
0,05, visando a checagem do resultado do P-valor, com o objetivo de verifi-
car a existência de diferenças significativas entre os eles, sendo confirmada,
quando o P < 0,05 e negada com o P > 0,05. Cabe registrar que os outliers
(valores atípicos) não foram retirados, por se tratarem de dados explicáveis
através de ocorrências verídicas.
A pesquisa seguiu uma série de etapas metodológicas e foi conduzida de
acordo com o fluxograma ilustrado a seguir na Figura 2 - 1º Etapa: Carate-
rização da área de estudos, em que foram levantados os dados necessários
para realização do trabalho; 2º Etapa: Organização dos dados obtidos, para
interpretação das informações pertinentes; 3º Etapa: Tratamento estatísti-
co, sendo feitas as análises necessárias para validação dos dados e, por fim,
na 4º Etapa: Análise dos resultados, foram gerados os gráficos com os re-
sultados obtidos no estudo.

Figura 2 – Etapas metodológicas do trabalho

Fonte: Autoria própria, 2020.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A precipitação mensal de Campina Grande apresenta alta variabilida-
de (SILVA, et al., 2003). A Figura 3 (A) ilustra as precipitações anuais do

69
município de Campina Grande - PB e suas variações ao longo do período
de 1962 até 2019, vale ressaltar que essa série de dados foi retirada do site
do INMET e de trabalhos de MACEDO et al 2011, devido à dificuldade de
obter uma base de dados tão longa de uma mesma fonte.

Figura 3 – Total pluviométrico anual da cidade de Campina Grande – PB, entre os anos
de 1962-2019

Fonte: Adaptado do INMET e MACEDO et al 2011.

Ao observar a Figura 3 (B) nota-se a ocorrência de oscilações nas pre-


cipitações, contudo, é importante analisar que, com o passar dos anos, há
uma espécie de agravamento nessa situação, em que é possível notar uma
mudança gradativa entre pontos máximos e mínimos, tal qual ocorre em
anos mais recentes, principalmente, nos anos a partir de 1985. Sendo as-
sim, pode-se perceber, através da análise precipitação, que, com o passar
dos anos, os eventos climáticos estão ficando mais severos, os anos de
chuvas têm pluviosidade bem acima do normal, bem como os períodos
de secas têm uma estiagem mais severa. Tais variações climáticas exercem
um grande peso sobre o controle dos dados de variáveis climáticas, como
precipitação, temperatura e umidade, influenciando assim, diretamente no

70
desvio patrão (FERREIRA & KEMENES, 2019; SANTOS & AQUINO, 2017;
FRANCISCO & SANTOS, 2017). Esses ciclos vão diminuindo de compri-
mento e aumentando sua amplitude com o passar dos anos.
Ao avaliar os dados da Tabela 1, conseguimos informações importantes
para a análise da evolução da precipitação do município de Campina Gran-
de – PB. É possível identificar os valores máximos e mínimos encontrados,
respectivamente, de 1495, 4mm.ano-1 e 361,1 mm.ano-1, com uma média ob-
servada de 742, 65mm.ano-1. Conseguimos compreender que essa variação
é significativa, alcançando um desvio padrão de 230,68 mm.ano-1. Com a
finalidade de garantir a coerência dos dados, analisamos o coeficiente de
variação, também conhecido como o desvio padrão relativo e obtivemos o
valor de 0,297, o que comprova a uniformidade da série trabalhada.

Tabela 1 – Descrição das propriedades estatísticas analisadas da série anual de


precipitações pluviométricas registradas (1963-2019)

Precipitação Anual (mm)

Desvio Coeficiente de
Média Mediana Máximo Mínimo
Padrão variação

777,44 742,65 1495,4 361,1 230,68 0,297

Fonte: Autoria própria, 2020.

Nota-se, ao avaliar a Figura 3 juntamente com a Tabela 1, que os anos


iniciais obtiveram precipitações anuais mais atenuantes e próximas das
situações mais recorrentes (valores próximos da mediana anual, ou seja,
742,65 milímetros). Já os anos recentes mostram um contraste mais agra-
vante entre os anos de menor precipitação com os de maior precipitação.
Esse fato é destacado nos anos que estão bem acima da média (2000, 2004
e 2011) e nos anos de valores muito baixo (1998, 2001 e 2016).
A Figura 4 (A e D) demonstra que os 6 meses de maior precipitação são
seguidos de março a agosto e totalizam o valor de 76,16% de toda a precipi-
tação anual. É importante enfatizar que, também, nesse período se encontra
os meses mais chuvosos, com cerca de 68,8% dos dias de chuva anual. Isso
mostra que, além das chuvas se concentrarem durante um período do ano,
existe uma ligação com a quantidade total de precipitação, ocasionando,
assim, uma conformidade entre a precipitação mensal e os dias chovidos, o
que corrobora com as inferências mostradas a partir dos estudos de Silva et
al (2019), Costa, Becker e Brito (2013) e Oliveira et al (2019).

71
Os gráficos presentes na figura 4, equivalentes à distribuição de pre-
cipitação e dias de chuva, foram plotados, utilizando-se as séries de anos
seguintes: 1963-1970, 1973-1984 e 1995-2013, os quais não continham dados
faltantes ou NA (Not Available), contribuindo, então, para uma melhor
consistência dos resultados.

Figura 4 – Porcentagem equivalente a distribuição da Precipitação durante o ano (A).


Boxplot da precipitação mensal (B). Porcentagem equivalente a distribuição dos dias
de chuva durante o ano (C). Boxplot dos dias de chuva mensal (D).

Fonte: Autoria própria, 2020.

Apesar de alguns meses apresentarem outliers ver Figura 4 (B), chuvas


fora do padrão, os meses mais chuvosos exibem precipitações com media-
nas entre 50 e 120 milímetros, ocasionadas entre 11 e 18 dias. A soma de to-
das as medianas mensais Figuras 4 (B) equivale a 683,05 milímetros. Já a Fi-
gura 3 (A) reflete uma estimativa de pluviosidade anual mais conservadora
e mais propícia para a abordagem desse estudo, refletindo uma estimativa
anual de chuvas mais coerente com a realidade, já que os dados têm distri-
buição assimétrica (RODRIGUES et al 2017). O somatório das medianas
mensais para dias de chuva é de 133 mm Figura 4 (D). Esses valores foram
encontrados, utilizando-se apenas os dados do INMET.
O estudo, também, realizou a análise de variância (ANOVA), com o
objetivo de verificar se existiam diferenças significavas entre as médias da
série de dados utilizados, como observa-se na Figura 5. Os resultados mos-
traram que a amostra avaliada se adequa bem ao modelo de reta proposto

72
e não tem diferenças significativas, o que comprova a viabilidade da utili-
zação do banco de dados.

Figura 5 – Gráfico Q-Q Normal

Fonte: Autoria própria, 2020.

Foi realizada a análise de regressão linear com o Software R para a com-


provação de que o modelo encontrado se aplica bem aos dados utilizados.
Os resíduos ou sobras podem ser difíceis de explicar, por isso é fundamen-
tal que esses estejam adequados ao modelo ajustado. O gráfico da Figura
6 nos mostra se os resíduos têm padrões não lineares. Como percebe-se,
os resíduos encontrados são, em sua maioria, igualmente espalhados em
torno da linha horizontal sem padrões distintos, o que nos mostra uma boa
indicação de que não temos relacionamentos não lineares.

Figura 6 – Gráfico Residuais versus instalados

Fonte: Autoria própria, 2020.

O gráfico Residuais versus alavancagem ajuda a identificar pontos dis-


crepantes dos dados influentes em seu modelo, sendo assim, tornam-se

73
dignos de observação os valores distantes no canto superior direito ou no
canto inferior direito. Esses são os locais, onde os pontos analisados podem
ter influência contra uma linha de regressão. A Figura 7 ilustra que o ponto
429 está na parte superior direita, entretanto, ele se enquadra fora da linha
tracejada vermelha (distancia Cook), linha essa que não chega a ser plota-
da no gráfico, o que nos indica que não existe nenhum ponto discrepante
influente no modelo.

Figura 7 – Gráfico Residuais versus alavancagem

Fonte: Autoria própria, 2020.

O gráfico de Escala-localização auxilia na verificação da hipótese da ho-


mocedasticidade dos resíduos, ou seja, se a variância constante na regres-
são linear. Como ilustra a Figura 8, a linha vermelha está bem horizontal, o
que significa que a magnitude média dos resíduos padronizados não muda
muito em função dos valores ajustados.

74
Figura 8 – Gráfico Escala-localização

Fonte: Autoria própria, 2020.

É importante, ainda, analisar o espalhamento dos pontos ao longo da


linha vermelha, pois demonstra que a variabilidade das magnitudes, tam-
bém, não varia muito em função dos valores ajustados. É notável que há
uma concentração de pontos na região do 60, o que pode indicar uma va-
riação na regressão linear, entretanto essa hipótese só pode ser comprovada
com um teste de Breusch Pagan.

4 CONCLUSÕES
As séries temporais são de grande importância para analisar a pluviometria
de cidades específicas, dada as suas peculiaridades climatológicas e espa-
ciais. Quanto maior e mais completa for a série temporal, mais informações
robustas podem ser observadas nas análises. Tendo em vista o objetivo pro-
posto neste estudo e com base na série histórica de Campina Grande – PB,
pode-se concluir que os dados observados indicam uma gradativa mudan-
ça nos ciclos de precipitação, o que pode ser comprovado pela discrepância
identificada nos últimos anos, quando comparados aos anteriores.
Com o passar dos anos, os eventos climáticos estão apresentando, cada
vez mais, características extremas, em que os ciclos hidrológicos então per-
dendo a sua tendência de repetição, como pode-se observar através da in-
tensidade das secas e da elevação dos volumes das precipitações (1993, 1998,
2001 e 2016) ou chuvas acima do normal (2000, 2004 e 2011). Consideran-
do-se que tal fenômeno deve abranger uma área considerável dessa região,
pode-se afirmar que outras cidades da região do semiárido Nordestino
estão ou irão passar pela mesma variação climática e, consequentemente,
de precipitação, afetando, assim, no gerenciamento dos recursos hídricos
locais, sendo necessário uma reavaliação das autoridades competentes em
busca de uma adequação a essa nova realidade.

75
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78
DESENVOLVIMENTO DE SIMULADOR
SÍSMICO PARA ESTUDO DE ESTRUTURAS COM
AUXÍLIO DO KIT ESTRUTURAL MOLA

Marcos Antônio Barros 8


Cláudio Silva Soares 9

RESUMO
Atualmente, os cursos de engenharia vêm contando, cada vez mais, com
ferramentas didáticas que fogem do atual modelo de aulas teóricas e uma
das principais é a utilização de modelos qualitativos. No intuito de compro-
var tal afirmativa, objetivou-se, neste estudo, analisar as reações de tensões
em diferentes modelos de edificações, a partir da construção e desenvol-
vimento de uma mesa simuladora de abalos sísmicos com auxílio do kit
estrutural mola. O modelo do simulador sísmico constou de uma plata-
forma de madeira MDF, com trilhos de alumínio que serviram como guia
para as roldanas fixadas em outra base superior. A base superior foi inter-
ligada ao disco giratório por meio de uma haste metálica, o qual permitiu
o movimento horizontal oscilatório da base superior, acionada através de
uma parafusadeira elétrica. Verificou-se que a mesa simuladora foi capaz
de demonstrar os efeitos sísmicos nas estruturas modelos, o que pôde ser
comprovado pelos alunos através de cálculos matemáticos. Desta forma,
este modelo pode ser utilizado, de forma satisfatória, como ferramenta de
apoio didático nas aulas de mecânica geral e em outras disciplinas que ana-
lisem as forças incidentes numa estrutura edificada.

Palavras-chave: Mecânica. Modelo qualitativo. Ferramentas Didáticas.

8 Unifacisa – Centro Universitário - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: – mar-


cos_fis@hotmail.com
9 Universidade Estadual da Paraíba, Departamento de Agroecologia e Agropecuária.
E-mail: claudio@uepb.edu.br

79
1 INTRODUÇÃO
Os cursos de engenharia, principalmente o de engenharia civil, possuem
muitas disciplinas que envolvem bastante teoria e, na maioria das vezes,
poucas aulas práticas relacionadas, devido a dificuldades inerentes aos pro-
cedimentos didáticos, peculiares à formação de engenheiros. Essa lacuna
gera uma insatisfação na maioria dos professores, em especial naqueles que
desejam ultrapassar um caráter puramente técnico e descontextualizado,
próprio das engenharias. Tal fato sinaliza para a necessidade de aspectos
relacionados à evolução tecnológica, tendo em vista um contexto com im-
plicações de caráter social, humano e, principalmente, que seja possível a
integralização dos conhecimentos inerentes às disciplinas lecionadas em
cada período, de forma a despertar diferentes habilidades nos estudantes.
Didaticamente falando, é notado que uma aula dinâmica, aparentemen-
te informal e descompromissada com livros didáticos e roteiros, com cer-
teza, renda muito mais e gere mais resultados positivos em comparação
com uma aula formal (ROCHA et al., 2017). Partindo desse pressuposto,
entende-se que os resultados didáticos que fogem do habitual, com a de-
monstração prática do que é ensinado, alcançam melhores efeitos em um
estimado período.
Assim, entendemos que uma das possibilidades de articular, em sala de
aula, o processo de construção do conhecimento, a partir da prática, tem
sido o uso de modelos didáticos, vendidos comercialmente, largamente
utilizados por professores e alunos. Esses modelos são capazes de repro-
duzir estruturas estáticas iguais às que encontramos no dia a dia de um
engenheiro, oferecendo-lhe uma perspectiva pedagógica dentro do contex-
to da engenharia. De acordo com Lobosco & Câmara (2018), esses mode-
los apresentam certa flexibilidade construtiva, pois são construídos para
a observação da mecânica estrutural, a partir de suas deformações, logo,
precisam ser capazes de evidenciar o comportamento estrutural, através da
visualização das deformações apresentadas pela montagem.
Diante do exposto, o presente trabalho tem o objetivo de analisar as
reações de tensões em diferentes modelos de edificações, a partir da cons-
trução e desenvolvimento de uma mesa simuladora de abalos sísmicos com
auxílio do kit estrutural mola. Nessa perspectiva, este estudo foi organizado
em mais três seções. Na segunda, apresentou-se o percurso metodológico
utilizado para realizar a pesquisa. Na terceira, debateu-se acerca dos resul-
tados e, por fim, foram delineadas algumas considerações finais.

2 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado, no departamento de Engenharia Civil da

80
UNIFACISA, no período de fevereiro a abril de 2019, envolvendo quatro
alunos e perfazendo uma carga horária de oito horas semanais. O modelo
do simulador sísmico (Figura 1) constou de uma plataforma de madeira
MDF (Medium Density Fiberboard), sobre a qual foram instalados trilhos
de alumínio que serviram como guia para as roldanas fixadas em outra base
superior. Por sua vez, a base superior foi interligada ao disco giratório, por
meio de uma haste metálica, o qual permitia o movimento horizontal osci-
latório da base superior. O acionamento do movimento deste disco foi feito
através de uma parafusadeira elétrica acoplada ao seu parafuso central.

Figura 1- Simulador sísmico e estrutura representada por Kit Estrutural Mola.

Fonte: Elaboração Própria

As variações de velocidade e, consequentemente, a intensidade do abalo


sísmico, foram obtidas com os diferentes níveis de rotações que a para-
fusadeira possui e com a variação da disposição da barra de ligação nos
diferentes orifícios do disco.
Com relação à medição da intensidade sísmica, ela foi determinada
através de um App de Smartphone, denominado Vibrationanalysis que for-
nece dados em gráficos e números, como deslocamento nos eixos x, y e z,
amplitude da aceleração, distância e frequência do movimento.
Para avaliação do simulador sísmico, foram aplicados exemplos de mo-
delos qualitativos ou elásticos, elaborados a partir da semelhança geométri-
ca direta com a estrutura proposta de diferentes edificações, segundo des-
crito no delineamento experimental. Nessa maquete estrutural, os pilares
e vigas foram representados por molas metálicas que permitem tração e
compressão se deformando, quando carregadas por alguma força externa

81
e retornando à sua forma original após o descarregamento. Neste caso, em
especial, esta força seria gerada pelas vibrações da mesa simuladora de aba-
los sísmicos.
Na presente investigação, foram utilizados diferentes modelos de estru-
turas elaborados com o kit mola estrutural (OLIVEIRA, 2008), sendo esses
representados por 2 (duas) alturas de pavimento (7,5 cm e 4,5 cm) e varia-
das opções de contraventamentos. Em seguida, cada modelo foi submetido
aos movimentos sísmicos da mesa simuladora e, em sequência, analisados,
separadamente, através das seguintes variáveis:
a) Resistência ao rompimento: foi verificado o momento em que cada
tipo de estrutura-modelo, eventualmente, ruísse com a retirada de apoios e
ou contraventamentos.
b) Constante de rigidez (K) do sistema modelo, considerando a mola
como uma coluna biengastada de seção circular com flexão em seu eixo
x. A constante de rigidez foi calculada, segundo a Equação (01) e figura 2.

Figura 2 - Demonstração dos elementos da mola.

Fonte: Elaboração Própria

(01)
Onde, K = Constante da mola; G = Módulo de elasticidade; n = Número
de espiras; R = Raio da espira; d = diâmetro do fio da mola.
O módulo de elasticidade transversal (G), para uma mola de aço, possui
um valor correspondente a 75,0 GPa (HIBBELER, 2010).
A Figura 3 mostra, para a primeira plataforma de massa 𝑚1, a disposição
paralela das molas com seus respectivos coeficientes de rigidez 𝑘1, 𝑘2, 𝑘3, 𝑘4
para cada pavimento. As demais plataformas seguem o mesmo princípio
para m2 e m3, com seus respectivos valores de k. Como as quatro molas res-
tringem o movimento da massa 𝑚1 a um eixo em comum, utiliza-se a equa-
ção 2, para se obter a constante de mola equivalente. Como as plataformas
do dispositivo kit mola são paralelas, as molas de uma mesma plataforma
foram mantidas sempre com o mesmo comprimento. Para o comprimento

82
𝑙 = 75 mm e 𝑙 = 45 mm, a figura 3 mostra o 𝑘𝑒𝑞1 da massa 𝑚1. No primeiro
caso, se considerou a distância entre as plataformas de 75 mm e, no segun-
do, de 45 mm, sendo, deste modo, esses os comprimentos das molas.

Figura 3 - Molas k1em paralelo agindo sob massam1da plataforma.

Fonte: Elaboração Própria

Deste modo, a constante de rigidez equivalente para a primeira platafor-


ma é mostrada na Equação (2).

(02)

Com a constante elástica da mola, é possível saber a força máxima que


ela pode receber, descobrindo o ∆x máximo da mola. Para isso, é necessário
multiplicar a quantidade de elos, descontando os elos que servem como
base, pelo diâmetro do arame da mola e, com esse resultado, subtrair do
comprimento total da mola:

∆x= l−(n∗d) (03)

Onde,
l= comprimento da mola; n= número de elos da mola; d= diâmetro do
fio da mola.
Com estes resultados, basta substituí-los na fórmula de força elástica:

Fel = K∗∆x (04)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro teste que se refere à resistência ao rompimento total dos mo-
delos estruturais, após ativação da mesa sísmica, foi verificado que as duas

83
estruturas, independentemente da distância entre pavimentos, apresenta-
ram-se intactas ao final da aplicação das frequências sísmicas. Isso se deve
ao fato de que ambas se apresentavam com todos os apoios e contraventa-
mentos, impedindo que as estruturas sofressem movimentos horizontais.
Nas figuras a seguir, pode se verificar os tipos e disposições destes contra-
ventamentos (4A), assim como as frequências utilizadas na mesa sísmica
(4 B).
A importância dos contraventamentos para estabilizar uma edificação,
também, foi verificada por outros autores, pois, segundo Silva et al. (2018),
o contraventamento é um sistema indispensável, para minimizar os efeitos
das ações horizontais, tendo, ainda, a função de aumentar a rigidez da es-
trutura, reduzindo os deslocamentos e a magnitude dos efeitos de 2ª ordem.

Figura 4 - Disposição dos apoios (4 A) e dados sísmicos da mesa modelo (4 B)

Fonte: Elaboração Própria

Num segundo teste, foram retirados os apoios de 90º que estavam lo-
calizados no segundo pavimento das duas edificações. Da mesma forma
que na primeira situação, não houve desmoronamento de nenhuma das
estruturas avaliada (Figura 5 A e 5B).

84
Figura 5 - Disposição dos apoios (5 A) e dados sísmicos da mesa modelo (5 B).

Fonte: Elaboração Própria

Em uma terceira configuração, foram retirados todos os apoios das jun-


ções laterais nas duas estruturas e, em seguida, foram acionados os mo-
vimentos oscilatórios da mesa sísmica, em que se se obteve, como con-
sequência, o desabamento da estrutura com maior espaçamento entre os
pavimentos (Figura 6A e 6B).

Figura 6 - Disposição dos apoios (6A) e dados sísmicos da mesa modelo (6 B).

Fonte: Elaboração Própria

Esse efeito, na estrutura de maior altura, corrobora com observações


de Silva et al. (2018), quando comentam que, em edificações mais altas
e esbeltas, um sistema de contraventamento ineficiente pode gerar

85
instabilidade para algumas combinações de ações, pois, no caso de es-
truturas de concreto, os próprios elementos estruturais, ou seja, os pila-
res, as vigas e as lajes funcionam como estruturas de contraventamentos.
Em última análise, a edificação que sobrou intacta, no teste anterior, foi
submetida, novamente, aos movimentos oscilatórios da mesa sísmica, no
entanto, foram retirados os contraventamentos de dois lados do pavimento
superior. Neste caso, a estrutura não resistiu aos movimentos da mesa e
apresentou desmoronamento total (Figura 7 A e 7 B).
Quando os elementos de uma estrutura estão sujeitos a esforços e a de-
formação ocorre, o eixo das barras não se mantém retilíneo. Esta mudança
de posição, no espaço, gera um momento chamado momento de 2ª ordem,
que, em princípio, aumenta os valores dos esforços solicitantes ao longo
delas (NBR 6118/2014).

Figura 7- Disposição dos apoios (7A) e dados sísmicos da mesa modelo (7B).

Fonte: Elaboração Própria

Para determinação do peso de cada modelo estrutural formado com


o kit estrutural Mola, foi utilizada uma balança de precisão 0,001g. Des-
te modo, o peso total de cada estrutura foi determinado, multiplicando-se
o peso unitário de cada peça por sua respectiva quantidade presente em
cada modelo de edificação (Tabela 1). No caso da estrutura formada com
maiores distâncias entre pavimentos (75 mm), obteve-se um peso total de
508,52g. Por outro lado, a estrutura com distâncias de 45 mm entre pavi-
mentos apresentou um peso de 491, 93g, ou seja, uma diferença de 16,59 g

86
entre os dois modelos.

Tabela 1 - Peso de cada componente do modelo de prédio. * Média de três repetições.


Estrutura com 75 mm entre plataforma
Peça Massa unitária (g)* Quantidade Total (g)
Mola 75 mm 4,64 12 55,68
Ligação contínua 2,99 16 47,84
Esfera 13,95 12 167,4
Ligação 90º 2,17 12 26,04
Tirante 110 mm 1,45 18 26,01
Placa 19,61 03 58,83
Ligação base 31,68 04 126,72
Peso total (g) = 508,52
Estrutura com 45 mm entre plataforma
Mola 45 mm 3,31 12 39,72
Ligação contínua 2,99 16 47,84
Esfera 13,95 12 167,4
Ligação 90º 2,17 12 26,04
Tirante 93 mm 1,41 18 25,38
Placa 19,61 03 58,83
Ligação base 31,68 04 126,72
Peso total (g) = 491,93

Fonte: Elaboração Própria

Cabe salientar que a determinação destes dados é de extrema importân-


cia, quando se trabalha com modelos representativos, pois, a partir desses,
o aluno pode extrapolar os cálculos para os demais materiais utilizados nas
edificações de tamanho e material natural.
Neste contexto, Moura et al. (2016) ressaltam que a possibilidade de
comparação entre os resultados calculados, utilizando as teorias da resis-
tência dos materiais e das estruturas, auxilia no aprendizado, uma vez que
permite apresentar as bases teóricas dos problemas aos alunos, aplicá-las na
resolução de exercícios e comprová-las com a comparação do calculado ao
medido no modelo.
A partir da Equação 01, foram determinados os valores da constante de
rigidez (K) para os dois tipos de molas utilizadas nos modelos estruturais
(75mm e 45mm).

87
Na Tabela 2, estão dispostos estes resultados para uma única mola, de
acordo com seu tamanho. A partir dos resultados apresentados, pode-se
verificar que a constante de rigidez da mola aumenta, à medida que dimi-
nui seu comprimento ou número de elos. Essa rigidez é, facilmente, per-
cebida pelos alunos, quando flexionam os dois modelos de molas com as
mãos, ou seja, a utilização deste tipo de modelo lhes permite verificar e
comprovar, de forma prática, os resultados obtidos nos cálculos, quando se
utilizam fórmulas matemáticas.

Tabela 2 - Cálculo da constante de rigidez (k).


Estrutura com 75mm entre plataforma Estrutura com 45mm entre plataforma
G (GPa) d (mm) n (ud) R (mm) G (GPa) d (mm) n (ud) R (mm)
75,0 1,0 30 3,0 75,0 1,0 16 3,0

Fonte: Elaboração Própria

Quando se verificam os dados referentes à constante de rigidez equi-


valente (k𝑒𝑞1) das quatro molas de um pavimento do modelo estrutural,
pode-se verificar e constatar o mesmo comportamento da constante de ri-
gidez em, apenas, uma mola, ou seja, aquele pavimento, composto por mo-
las de menor comprimento, apresentou maior valor em relação à variável
estudada (Tabela 3).

Tabela 3 - Cálculo da constante de rigidez equivalente para cada pavimento (k𝑒𝑞1).


Estrutura com 75mm entre plataforma Estrutura com 45mm entre plataforma
k1 (N/m) k2 k3 k𝑒𝑞1 k1 k2 k3 k𝑒𝑞1 (N/m)
(N/m) (N/m) (N/m) (N/m) (N/m) (N/m)
1.446,76 1.446,76 1.446,76 4.340,28 2.712,67 2.712,67 2.712,67 8.138,01

Fonte: Elaboração Própria

88
A ideia de que os modelos, utilizados nas aulas práticas, trazem mui-
tos benefícios ao processo de aprendizagem dos alunos é reforçada por
Anastasiou e Alves (2012), quando comentam que estes alunos não, apenas,
memorizam conteúdos e processos de cálculo, mas também podem enten-
der e compreender o conteúdo, além de serem introduzidos no método
científico.
Em seguida, foi utilizada a equação 03 para determinação das forças
máximas que cada tipo de mola poderia receber (∆x).

∆x= l−(n∗d) ∆x= 75−(30∗1) ∆x= 45 mm (molas 75mm)

∆x= l−(n∗d) ∆x= 75−(16∗1) ∆x= 59 mm (molas 45mm)

Com os resultados das forças máximas suportadas por cada mola (∆x) e
suas respectivas constantes de rigidez (K), foi possível determinar sua força
elástica máxima (Fel max), utilizando-se a equação 04.

Fel = K∗∆x Fel = 1.446,76 N/m∗0,045m = 65,10 N (molas 75mm)

Fel = K∗∆x Fel = 2.712,67 N/m∗0,059m = 160,05 N (molas 45mm)

Estes resultados indicam que aquele modelo com estrutura de menor


espaçamento entre pavimentos apresenta maior força elástica máxima, ou
seja, ela é mais resistente às forças impostas pelas vibrações da mesa sís-
mica. Os cálculos, mais uma vez, corroboram com o que foi verificado,
anteriormente, quando se aplicaram os testes com a mesa sísmica e verifi-
cou-se que a estrutura de menor espaçamento entre pavimentos resistiu a
um maior número de vibrações.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os testes e cálculos realizados neste experimento, verifi-
cou-se que a mesa simuladora foi capaz de demonstrar os efeitos sísmicos
nas estruturas-modelo, o que pode ser comprovado pelos alunos durante a
realização do experimento. Desta forma, o presente modelo experimental
mostrou-se eficaz, no sentido de que pôde-se ter um grau de confiabili-
dade maior nos cálculos realizados, para obtenção de valores relativos às
constantes de rigidez, força elástica, etc. Além disso, há traços qualitativos
que podem ser observados no Kit Estrutural Mola (Oliveira, 2008), em que
os modelos desenvolvidos oferecem uma ferramenta didática com grande

89
potencial para facilitar o processo de aprendizagem dos conceitos, métodos
e cálculo utilizados no estudo de estruturas edificadas.
Constatou-se que, durante o processo, os alunos trabalharam com en-
tusiasmo e motivação, desempenhando, em cada unidade, um papel de
agente do processo de aprendizagem, interagindo com o professor, com os
demais componentes do grupo e de outros grupos, num diálogo que prio-
rizou a construção do conhecimento.
Durante os ensaios, os alunos puderam observar quais eram os pontos
mais solicitados das estruturas construídas, de acordo com as suas geome-
trias. Comparando-se o desempenho desses alunos, em cada um dos mo-
delos desenvolvidos, bem como nos resultados por eles obtidos, constatou-
se um maior rendimento acadêmico, de forma que esse ganho conceitual
foi sentido no processo de avaliação bimestral.
Por fim, somando-se as várias estratégias de ensino e aprendizagem
orientadoras das práticas pedagógicas no contexto da engenharia, conclui-
se que a aplicação desta proposta, tendo por base modelos didáticos capa-
zes de prover situações reais no cotidiano da engenharia civil, a partir do
esboço teórico de uma das disciplinas (Mecânica Geral) que compõem o
perfil curricular de um futuro engenheiro, foi capaz de subsidiá-lo a ou-
tras competências e habilidades, além de tornar os conteúdos, ali inseridos,
mais motivantes e inovadores.

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91
92
AVALIAÇÃO DE MODELOS ESTRUTURAIS
TRELIÇADOS COMO PRÁTICA NO
APRENDIZADO EM MECÂNICA GERAL

Marcos Antônio Barros 10


Cláudio Silva Soares 11

RESUMO
No anseio por se investigar o processo de ensino e aprendizagem, a partir
de metodologias ativas, esta pesquisa parte da premissa que, nas disciplinas
do curso de engenharia Civil, em especial Mecânica Geral, os alunos se
deparam com a necessidade de projetar diversos componentes ou sistemas
mecânicos, saindo das figuras representativas e estáticas dos livros, sobre a
qual eles calculam momentos fletores e esforços cortantes, para algo mais
concreto em que eles possam “vislumbrar” os esforços ali calculados, com-
preendendo seus significados, em associação aos conhecimentos teóricos
adquiridos nessas disciplinas. Na presente pesquisa, foi sugerida, aos estu-
dantes da disciplina de Mecânica Geral, a confecção de modelos didáticos
reduzidos, do tipo sistemas mecânicos treliçados, utilizando-se materiais
com baixo custo, do tipo palito de picolé, para que, a partir de uma carga
concentrada, fosse possível calcular os esforços internos nos elementos tre-
liçados, identificar elementos em compressão ou tração, bem como esbo-
çar os diagramas de esforço cortante e momento fletor. Todos os modelos
apresentados em sala aula foram, inicialmente, pensados a partir do “Mola
Structural Kit”, calculados manualmente e com o uso do software Ftool,
para, depois, serem aplicados aos modelos com uso de palitos. Ao final das
apresentações, utilizando-se dos critérios qualitativo e quantitativo, como

10 Professor Doutor, Unifacisa – Centro Universitário - Departamento de Engenharia


Civil. E-mail: marcos_fis@hotmail.com
11 Graduando do Curso de Engenharia Civil da Unifacisa. E-mail: claudioccaauepb@
gmail.com

93
beleza estrutural, determinação do esforço cortante, momento fletor e os
seus respectivos diagramas, os trabalhos foram avaliados. Desta forma,
conclui-se que a aplicação dos modelos qualitativos evidenciou o desen-
volvimento dos conteúdos teóricos relacionados à disciplina de Mecânica
Geral, de forma mais motivante, a exemplo do uso de treliças com palitos
de picolé, associado à metodologia centrada na experimentação concreta e
visual, e tornou os alunos mais participativos e criativos.

Palavras-chave: Pontes. Treliças. Ferramenta Didática. Metodologias


Ativas.

1 INTRODUÇÃO
A disciplina Mecânica Geral representa a base da fundamentação teórica e
prática para a formação gradual de um engenheiro civil, fornecendo os co-
nhecimentos necessários para a solução de problemas reais em disciplinas
posteriores e no contexto profissional. Essa integração disciplinar, capita-
neada por ações proativas, permite motivação, envolvimento e, portanto,
maior rendimento acadêmico que, consequentemente, reduz o índice de
reprovação e evasão na área.
Hoje, já entendemos que, em qualquer área de conhecimento, para um
bom aprendizado, o conteúdo deve ser transmitido de forma racional, par-
tindo dos assuntos mais simples aos mais complexos. No entanto, Barros et
al. (2018) ressaltam que, na maioria das vezes, isso não acontece na prática
das disciplinas em questão, uma vez que grande parte dos professores cui-
da, exclusivamente, dos aspectos quantitativos, deixando o conhecimento
qualitativo em segundo plano.
Quando se analisa didaticamente esse processo de aprendizado nos cur-
sos de engenharia, é notado que uma aula dinâmica, aparentemente infor-
mal e descompromissada com livros didáticos e roteiros, com certeza, rende
muito mais e gera mais resultados positivos em comparação com uma aula
formal (ROCHA et al., 2017). Partindo desse pressuposto, entende-se que
os resultados didáticos que fogem do habitual, com a demonstração prática
do que é ensinado, alcançam melhores efeitos em um estimado período.
Neste sentido, Margarido (2007) comenta que o treino com os modelos
qualitativos/quantitativos é extremamente importante para a bagagem do
futuro engenheiro, pois, antes de este aluno ser um calculista de estrutura,
ele deverá ser o arquiteto que, ao conceber o projeto, sente a estrutura que
constituirá o esqueleto da sua obra.
De acordo com Lobosco e Câmara (2018), esses modelos apresentam
certa flexibilidade construtiva, pois são construídos para a observação da

94
mecânica estrutural, a partir de suas deformações, logo, precisam ser capa-
zes de evidenciar o comportamento estrutural, através da visualização das
deformações apresentadas pela montagem.
Desta forma, quando se toma essas afirmações como referência para o
atual momento de reflexão, em especial no curso de Engenharia Civil, acre-
dita-se que a implementação dessas metodologias ativas possibilita aos alu-
nos uma melhor compreensão dos aspectos teóricos vistos em sala de aula.
Sendo assim, quando se propõe dinamizar suas disciplinas, tomando
como base os aspectos experimentais possíveis de serem elaborados nos
laboratórios ou em sala de aula, proporciona-se uma aprendizagem dife-
renciada, como preconiza esse tipo de metodologia (BARROS et al., 2018).
Os protótipos elaborados no Mola Structural Kit (OLIVEIRA, 2008),
projetados e executados em sala de aula, durante explicação dos conceitos
teóricos necessários ao desenvolvimento do projeto, dinamizaram o pro-
cesso de ensino e aprendizagem, quanto a alguns aspectos que dizem res-
peito a estruturas mecânicas e suas características, inerentes às disciplinas
de Mecânica Geral e Estrutura, ao tempo que desenvolveu a intuição dos
alunos, a respeito da confecção de modelos diferentes dos que já haviam
sido apresentados. Por outro lado, o uso de ferramentas virtuais, do tipo
Ftool, facilita os cálculos realizados, bem como mostra, graficamente, como
a estrutura se comporta. Notadamente, essa associação, apesar da limitação
do tempo, permitiu aos estudantes “ver” os deslocamentos e deformações
em cada elemento estrutural, calcular seus esforços internos, tornando, di-
daticamente, mais compreensível o seu comportamento e proporcionando
resultados positivos, no aprendizado, como foi observado no entusiasmo
final de cada apresentação.
Partindo dessa premissa, a pesquisa em questão apresenta como objeti-
vo geral analisar a eficácia da elaboração de sistemas mecânicos treliçados
(pontes) que auxiliem no processo de ensino e aprendizagem da disciplina
Mecânica Geral.
Uma ferramenta que vem ajudando nesse aprendizado é a utilização de
modelos qualitativos, muitos desses vendidos, comercialmente, ou feitos
pelos próprios professores e alunos. Exemplificando como esses modelos
ajudam o aluno a entender, de forma mais prática, pode-se imaginar a es-
trutura de uma edificação formada pela associação das diversas barras de
sustentação e o funcionamento dos vínculos externos e internos para ga-
rantir sua estabilidade, o que também torna a aula mais prática e parti-
cipativa, embora não permitam a comparação de resultados obtidos por
cálculos em sala de aula (como reações, esforços internos solicitantes e des-
locamentos) (MOURA et al., 2016).

95
2 METODOLOGIA
Este experimento foi realizado com os alunos do curso de Engenharia Ci-
vil da UNIFACISA, no período de abril a maio de 2019, quando os alunos
foram reunidos em grupos de quatro para confecção de kits experimentais
que possibilitaram a modelização dos sistemas mecânicos, discutidos em
sala de aula, do tipo pontes treliçadas. A metodologia usada, nesta pesqui-
sa, voltou-se para integralização de alguns dos conhecimentos teóricos vis-
lumbrados na disciplina de Mecânica Geral, a exemplo de momento fletor
e esforço cortante, com os possíveis aspectos práticos que esses mesmos
conhecimentos podiam proporcionar, a partir da utilização de estruturas
estáticas e reduzidas, próximas de modelos reais. Esses modelos, aqui cha-
mados de qualitativos, auxiliam na pré-visualização do seu comportamen-
to e permitem desenvolver, através da vivência dos ensaios, um sentimento
intuitivo do comportamento dos sistemas estruturais.
Cada grupo de alunos ficou livre para escolher o tipo de treliça, confor-
me pode-se observar na figura 01.

Figura 1 - Modelos (1,2, 3,4,5) de pontes utilizadas no experimento

96
Fonte: Os autores.

Na primeira etapa deste trabalho, foram escolhidas algumas estruturas,


a exemplo de treliças simples, que permitiram a fixação dos conhecimen-
tos adquiridos, ao longo do desenvolvimento da disciplina Mecânica Geral,
especificamente, utilizando-se de assuntos que possibilitaram aos alunos o
cálculo de esforços internos e momentos para futuras aplicações na cons-
trução dos aparatos treliçados, visando à construção de uma ponte feita a
partir de palitos de picolé.
Com o uso do Mola Structural Kit (OLIVEIRA, 2008), foram desenvolvi-
dos alguns modelos treliçados em sala de aula, similar ao que encontramos
em Beer e Dewolf, (2015). Usando uma carga externa de valor variável e de
acordo com cada treliça pensada no programa, foi pedido que cada grupo
calculasse os esforços internos nos seus diversos elementos, mostrando se
havia compressão ou tração, além de calcular as reações nos apoios.
Com a finalidade de se obter um grau de confiabilidade maior dos cál-
culos realizados de forma usual (manual), realizou-se, em sala de aula, todo
procedimento de cálculo com auxílio do software FTOOL (MARTHA,
2012), para a obtenção de valores relativos às trações e compressões dos ele-
mentos da treliça, valores das reações de apoio, esforço cortante e normal,
momento fletor e as possíveis deformações.

97
A avaliação de cada estrutura construída e apresentada levou em consi-
deração alguns critérios qualitativos (arquitetura, tipos de treliças) e quan-
titativos (cálculo dos esforços internos e resistência à carga externa con-
centrada), objetivando sinalizar para a qualidade dos modelos de pontes
construídas.
Antes da realização do processo de colagem dos modelos reduzidos,
foi preciso realizar algumas simulações no software FTOOL e no Structure
Mola Kit (OLIVEIRA, 2008), no sentido de se obter o melhor design da
ponte. Para a sua construção, realizou-se uma minuciosa seleção dos pali-
tos, já que esses não apresentavam uniformidade.
Na confecção das pontes, foram utilizados os seguintes materiais com
baixo custo de aquisição:
a) Papel milimétrico;
b) Lápis;
c) Cola para madeira;
d) Palitos de picolé;
e) Régua e trena.
Os palitos utilizados nas treliças possuem as seguintes dimensões: 115
mm de comprimento, 2,0 mm de espessura e 8,4 mm de largura. A resistên-
cia do palito à tração é de 90 kgf ou 882,9 N. Sua resistência à compressão
é de 4,9 kgf ou 48,07 N. Já a resistência à compressão de uma composição
formada por dois palitos de 110 mm é de 27 kgf ou 264,87 N. As juntas para
as barras foram feitas com emenda por superposição de três palitos. As
pontes em questão teriam que apresentar comprimento de 1,10 m e altura
máxima de 0,30 m.
Para fins de avaliação dos modelos de pontes apresentados pelos alunos,
foram levados em consideração o peso, a carga concentrada suportada e
a eficiência da ponte. A carga concentrada foi determinada, colocando-se
pesos no centro de gravidade de cada modelo de ponte até se obter seu
completo colapso. Já a eficiência de cada modelo foi determinada através
da equação 01.

(01)

Os dados dos parâmetros foram submetidos à análise de variância


pelo teste F e teste de Tukey a 5% de probabilidade. A análise estatística foi

98
realizada no programa SISVAR (FERREIRA, 2014).

3 DESENVOLVIMENTO
É notório que o processo didático pedagógico, principalmente, na área de
engenharia, apresenta algumas necessidades que precisam ser sanadas,
tendo em vista uma absorção mais eficiente do conteúdo ministrado por
professores, uma vez que, geralmente, esses não possuem disciplinas de
formação pedagógica em seus cursos de formação.
Muitas vezes, essas necessidades são representadas pela falta da associa-
ção entre teoria e prática, ocorridas devido à ausência de interdisciplinari-
dade nos cursos, ou seja, muitas disciplinas, estritamente teóricas, deixam
de ser exploradas, de forma a incitar, no aluno, uma visão de aplicação prá-
tica em outras disciplinas ou, até mesmo, no exercício do futuro profissio-
nal engenheiro. Aliado a isso, a grade curricular dos cursos de engenharia
civil possui muitas disciplinas com carga horária, quase na sua totalidade,
abrangendo bastante teoria e, na maioria das vezes, poucas aulas práticas,
devido a uma base curricular desatualizada e muito aquém das necessida-
des atuais.
Desta forma, é de fundamental importância que os profissionais envol-
vidos na concepção dos projetos estruturais tenham habilidade de visuali-
zar e compreender o comportamento da referida estrutura em diferentes
hipóteses de combinações das ações e carregamentos e, assim como co-
mentam Barros et al. (2018), até mesmo, compreendam como funcionam
os vínculos externos e internos, permitindo a comparação de resultados
obtidos em cálculos em sala de aula (como reações, esforços internos soli-
citantes, momento fletor).
Neste sentido, Brito et al. (2017) comentam que, para isso, é essencial-
mente necessário que os alunos desenvolvam a percepção espacial intuiti-
va, para compreender o comportamento local e global de uma determinada
estrutura, a fim de idealizar o projeto arquitetônico aliado ao conhecimen-
to e à percepção da importância da otimização na modelagem da estrutura.
No entanto, segundo Teixeira (2016), atualmente, no ensino de enge-
nharia, a exploração desta vertente intuitiva é deixada, de certa forma, para
segundo plano, já que a exposição dos conceitos estruturais é feita, quase
exclusivamente, por via analítica, menosprezando noções qualitativas, o
que dificulta a compreensão dos conceitos teóricos por parte dos alunos.
Dentre os modelos existentes, há os qualitativos, a exemplo do que foi
utilizado nesta pesquisa (OLIVEIRA, 2008), que permitem ao estudante
de engenharia a habilidade de visualizar e compreender o comportamento
das estruturas em diferentes circunstâncias, como cargas laterais, verticais,

99
inclinadas e o modo como a forma da estrutura vai influenciar no seu
comportamento.
Segundo observações feitas por Barros et al. (2018), esse sentimento,
na fase da concepção estrutural e na de escolha da forma dos elementos a
serem utilizados, ajuda o aluno a entender, de forma mais prática, como a
estrutura é formada e como se trabalha cada elemento que a compõe.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do teste de Tukey (Tabela 1) revelaram diferenças estatísticas
entre os modelos estruturais das pontes de palito de picolé, para todas as
variáveis analisadas.

Tabela 1 - Resultados do teste de Tukey para peso, carga concentrada suportada e


eficiência dos modelos de pontes de palito de picolé.
Ponte Peso (kg) Carga suportada (kg) Eficiência
Modelo 01 0,418 b 42,0 a 100,0 a
Modelo 02 0,353 e 26,0 b 73,65 b
Modelo 03 0,379 d 15,0 c 39,58 c
Modelo 04 0,397 c 09,0 d 22,67 d
Modelo 05 0,430 a 06,0 e 13,95 e

Fonte: Próprio Autor

Na variável peso da ponte, pode-se verificar que o modelo 01 apresentou


maior valor, quando comparado aos demais modelos, em virtude de apre-
sentar um maior reforço com o aumento do número de palitos de picolé e
cola. Por outro lado, esse mesmo modelo apresentou menor capacidade de
suporte de carga concentrada e menor eficiência.
Isso reforça o pressuposto de que, em alguns casos, não adianta aumen-
tar a quantidade de palitos ou outros materiais, pois, se o projeto não for
bem elaborado, esse peso pode atuar como mais uma carga que a estrutura
terá que suportar.
Embora o modelo 01 tenha apresentado o segundo maior peso, ele apre-
sentou a maior capacidade de suporte de carga concentrada e maior efi-
ciência. Esse fato pode ter ocorrido devido à eficiente concepção de seu
projeto estrutural (Figura 1), já que fora elaborado em forma de arco. Pé-
rez-Fadón (2005) comentam que os sumérios, por volta de 3.500 a.C., no
vale do rio Eufrates, já colocavam pedras formando um arco para que essas
trabalhassem a compressão e não a flexão como nas vigas.
Neste sentido, Calisto (2011) reforça que o arco, com sua forma que
acompanha a linha de pressões, devido ao seu próprio peso, é o tipo

100
estrutural mais adequado aos materiais de construção maciços. Desta for-
ma, os alunos puderam confirmar essa teoria com auxílio do modelo de
palito de picolé confeccionado por eles.
Numa perspectiva didática, é importante salientar que a determina-
ção destes dados é de extrema importância, pois, quando se trabalha com
modelos representativos, o aluno pode extrapolar os cálculos para os ou-
tros materiais utilizados nas edificações de tamanho e material em escala
natural.
Essa ideia é corroborada por Moura et al. (2016), quando ressaltam a
possibilidade de comparação de resultados calculados em modelos, utili-
zando-se as teorias da resistência dos materiais e das estruturas, podendo
auxiliar no aprendizado, uma vez que permite apresentar bases teóricas dos
problemas aos alunos, aplicá-las na resolução de exercícios e comprová-las
com a comparação daquilo calculado ao que foi medido no modelo.
A ideia de que os modelos utilizados nas aulas práticas trazem muitos
benefícios ao processo de aprendizagem dos alunos é reforçada por Anas-
tasiou & Alves (2012), quando comentam que estes alunos não, apenas,
memorizam conteúdos e processos de cálculo, mas também podem enten-
der e compreender o conteúdo, além de estarem se inserindo no método
científico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o objetivo proposto para este artigo, concluímos algumas
vantagens da elaboração de sistemas mecânicos treliçados (pontes) para
o processo de ensino e aprendizagem da disciplina Mecânica Geral. Após
aplicação das cargas concentradas em cada modelo de ponte de palitos, os
grupos de alunos relataram sobre os esforços calculados com auxílios do
software FTOOL, em comparação àquilo observado durante aplicação das
cargas concentradas. Essa ferramenta computacional, usada após o cálcu-
lo manual, torna mais prático o trabalho do engenheiro estrutural, permi-
tindo executar corretamente diagramas e informando as reações de apoio.
Além disso, foi verificado pelos alunos que sistemas e softwares não são
capazes de substituírem o ser humano por completo, pois apenas as pesso-
as são capazes de analisar as estruturas com subjetividade, assim como as
consequências que essas trarão.
Os alunos puderam observar esses traços qualitativos nos modelos das
pontes de palito, as quais constituíram uma ferramenta didática com gran-
de potencial para facilitar o processo de aprendizado dos conceitos, méto-
dos e cálculo utilizados no estudo de estruturas.
Também foi observado que, durante o processo, os alunos trabalharam

101
com entusiasmo e motivação, desempenhando, em cada unidade, um papel
de agente do processo de aprendizagem, interagindo com o professor, com
os demais componentes do grupo e de outros grupos, num diálogo que
priorizou a construção do conhecimento.
Desta forma, conclui-se que a aplicação dos modelos qualitativos evi-
denciou o desenvolvimento dos conteúdos teóricos relacionados à disci-
plina de Mecânica Geral de forma mais motivante, a exemplo do uso de
treliças com palitos de picolé, associado à metodologia centrada na ex-
perimentação concreta e visual e tornou os alunos mais participativos e
criativos.

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103
104
ANÁLISE DOS PROCESSOS CONSTRUTIVOS
DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL DE 12
PAVIMENTOS, COM ÊNFASE EM ALVENARIA
ESTRUTURAL EM CAMPINA GRANDE-PB12

Fábio Remy de Assunção Rios13


Morgana Silva de Barros 14

RESUMO
Em um processo construtivo de edifícios com alvenaria estrutural, a função
dos blocos de concreto ou cerâmica que compõem as paredes é suportar
as cargas da estrutura e transmitir para as fundações. Nesse contexto, o
presente estudo visa analisar os principais pontos do sistema construtivo
de um edifício multifamiliar de 12 pavimentos, apresentando as suas carac-
terísticas, componentes e processo de execução. Para esse fim, foi realizado
um estudo teórico-analítico, caracterizado como estudo de caso, em uma
obra na cidade de Campina Grande – PB, que foi executada em alvena-
ria estrutural. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa do
tipo exploratória. Como resultado, ressaltasse a viabilidade da alvenaria es-
trutural para esta tipologia de empreendimento, além de proposituras para
melhoria do seu processo, porém, apesar de apresentar diversas vantagens,
o sistema ainda é pouco utilizado na região estudada, por consequência
das limitações do projeto arquitetônico e escassez de mão de obra. Desse
modo, espera-se contribuir para o desenvolvimento de um sistema de ges-
tão adequado.

12 Parte do Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Civil (UNIFACISA) da


coautora
13 Professor Doutor do Curso de Bacharelado em Engenharia Civil da UniFacisa – Cen-
tro Universitário – E-mail: fabio.rios@maisunifacisa.com.br
14 Graduanda do Curso de Bacharelado em Engenharia Civil da UniFacisa – Centro Uni-
versitário – E-mail: morgana.barros@maisunifacisa.com.br

105
Palavras-Chave: Alvenaria Estrutural. Sistema Construtivo. Viabili-
dade. Construção Civil.

1 INTRODUÇÃO
O alto índice de crescimento populacional mundial e a migração rural para
as grandes cidades fazem com que a engenharia busque novos conheci-
mentos tecnológicos para a solução de moradia digna para seus cidadãos.
Uma possível alternativa alcançada foi a verticalização dos empreendimen-
tos. Com isso, a construção civil tornou-se uma atividade das mais impor-
tantes e úteis na atualidade.
Os avanços tecnológicos na arte de construir têm proporcionado o uso
de novos equipamentos e técnicas de racionalização que possibilitam uma
maior qualidade, rapidez e economia nos processos construtivos. Este fato
permite que as empresas procurem reduzir ou eliminar todas as deficiên-
cias na gestão dos processos, visando aumentar sua produtividade e sua
capacidade competitiva no mercado.
É importante salientar que o gerenciamento de uma obra possui inú-
meros gargalos, devido à baixa qualificação dos profissionais que atuam
na execução de várias atividades. Logo, é de extrema importância a busca
por alternativas, estudos e metodologias eficazes que auxiliem as empresas
construtoras e agilizem os prazos corretos, bem como a disponibilização
dos insumos necessários para execução das obras.
A alvenaria estrutural é um sistema construtivo que se caracteriza por
ter os vazados verticais dos blocos preenchidos por graute, envolvendo bar-
ras de aço de fácil execução, oferecendo, assim, significativa redução de
custos, pois diminui o uso de armaduras e fôrmas e utiliza processos racio-
nalizados. Além disso, propicia obras mais limpas, rápidas e extremamente
seguras. O bloco de concreto, em comparação com outros artefatos, tem
precisão dimensional e a possibilidade de oferecer várias faixas de resistên-
cia para diferentes tipologias de obra.
Diante do contexto apresentado, o presente estudo visa analisar os prin-
cipais pontos do sistema construtivo de um edifício multifamiliar de 12 pa-
vimentos, apresentando as suas características de edificação, o canteiro de
obras, bem como as atividades realizadas durante o processo da alvenaria
estrutural, com ênfase no uso desse sistema construtivo, que, com os avan-
ços tecnológicos, se desenvolveu satisfatoriamente.
Para uma execução racionalizada e sem desperdícios, é necessário co-
nhecer bem a gestão dessas atividades e as etapas da construção, suas van-
tagens e desvantagens, bem como conhecer as correlações na obra que irão

106
dar suporte à execução da alvenaria, além dos equipamentos, técnicas e
metodologias necessárias para a realização do processo da alvenaria estru-
tural na obra.
Portanto, este estudo torna-se relevante, no sentido de levantar infor-
mações a respeito dessa prática construtiva, elaborar o mapeamento das
etapas dos processos no canteiro de obra, além do seu processamento, ge-
rando, assim, um diagnóstico, que inclui os pontos críticos, e propondo
soluções para mitigação dos gargalos na produção, o que permite agregar
valor à construção e confirmar a nossa hipótese inicial: A alvenaria estru-
tural, como foi concebida no projeto, agrega valor no cronograma de exe-
cução e na eficácia no processo de execução da alvenaria de uma obra de
edificação?
Além da presente introdução, este artigo organiza-se em mais quatro
tópicos. Na segunda seção, é realizada uma revisão bibliográfica do assun-
to, contendo informações sobre alvenaria estrutural, vantagens e desvanta-
gens. Na seção 3, é apresentada a metodologia empregada no desenvolvi-
mento do trabalho. O quarto tópico apresenta as discussões e resultados do
estudo, com definições importantes e informações do projeto em alvenaria
estrutural. Por fim, o tópico 5 consiste na conclusão, sugerindo propositu-
ras para melhoria do processo apresentado ao longo do trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Conforme Kalil (2009), a alvenaria estrutural consiste em um sistema
construtivo monolítico que utiliza peças industrializadas ligadas por arga-
massa. As peças podem ter dimensões e peso diferentes desde que sejam
manuseáveis.
A alvenaria estrutural engloba desde elementos de suporte das cargas
até os de fundação. Não existem pilares ou vigas convencionais. No entanto,
em um edifício em alvenaria estrutural nem todas as paredes são portantes
(FREITAS JÚNIOR, 2013).
Em resumo, a alvenaria pode ser definida como um componente consti-
tuído por blocos ou tijolos unidos entre si por juntas de argamassa, forman-
do um conjunto rígido e coeso. Além das funções de alvenaria de vedação,
conforto térmico e acústico, estanqueidade, resistência ao fogo, durabilida-
de, a alvenaria estrutural tem a função de absorver e transmitir ao solo, ou
à estrutura de transição, todos os esforços a que o edifício possa ser subme-
tido (PARSEKIAN; SOARES, 2010).
O que diferencia a alvenaria estrutural da alvenaria comum é que esta
possui a função básica de vedação ou fechamento. Enquanto a alvenaria es-
trutural substitui dois principais sistemas de uma construção: a estrutura de

107
concreto armado e os fechamentos de alvenaria, onde as paredes da edifi-
cação são, também, a estrutura que suporta todas as cargas; o próprio peso,
as lajes, coberturas e cargas adicionais, além de fatores externos, como por
exemplo, o vento (CAMPOS, 2012).
Em um projeto de alvenaria, seja estrutural ou de vedação, não se deve
permitir a quebra de blocos. Para tanto, é necessário que as dimensões ar-
quitetônicas sigam o padrão modular dos blocos, ou seja, tenham medidas
múltiplas da dimensão padrão. Dessa forma, será possível o ajuste perfeito
dos blocos na planta de arquitetura (PARSEKIAN; SOARES, 2010).
Ao contrário dos métodos mais tradicionais, a alvenaria estrutural tem
ampla relação com todos os sistemas e subsistemas integrantes de uma edi-
ficação. Na alvenaria estrutural, muito mais que em outro sistema constru-
tivo, é de suma importância que o projeto arquitetônico esteja compatibi-
lizado com os demais projetos. Isso verifica-se pela necessidade de não ser
admissível improvisos como rasgos e remoção de paredes estruturais, uma
vez que, feito isso, comprometerá a segurança da edificação.
Para Ribeiro (2010), o principal parâmetro estrutural para a escolha do
bloco é a sua resistência à compressão. Os blocos de concreto estrutural
conseguem chegar a altas resistências quando comparados com os blocos
cerâmicos. Assim, por serem mais resistentes, permitem construções com
número maior de pavimentos, pois, quanto maior a resistência do bloco,
maior a resistência da parede.
Para Gregório (2010), é de suma importância que o projetista escolha
uma medida modular compatível com as dimensões dos blocos a serem
utilizados e trabalhe com o conceito de módulo desde o início da concep-
ção. No entanto, existe uma forte resistência ao uso do módulo em proje-
tos arquitetônicos e o principal motivo deste empecilho é que existe uma
tendência a se privilegiar o coeficiente de aproveitamento máximo possível
dos cômodos, o que se leva a adotar medidas sem nenhum compromisso
com a modularidade. Em alvenaria estrutural, a não adoção do módulo in-
viabiliza o empreendimento, tornando-se, portanto, medida indispensável.
Conforme Gregório (2010), a modulação é fundamental para garantir a
racionalização possibilitada pelo uso da alvenaria estrutural. Caso isto não
seja relevado na elaboração do projeto, serão necessários cortes nos blo-
cos e enchimentos nas paredes que resultam, automaticamente, em perda
econômica e falta de agilidade na construção. Isto sem mencionar a lacuna
na coesão estrutural das paredes, que leva ao hiperdimensionamento dos
blocos e consequente aumento dos custos.
Atualmente, em vários países, como Estados Unidos, Inglaterra e Ale-
manha, a alvenaria estrutural dispõe níveis de cálculo, ação e controle,

108
semelhantes aos colocados nas estruturas de aço e de concreto armado,
se tornando um sistema econômico, flexível e de simples industrialização,
em função das dimensões do bloco modular empregado (CAVALHEIRO,
2009). Projetar em alvenaria estrutural implica acatar certas restrições que
são inerentes ao sistema construtivo. Dessa forma, é necessário que o pro-
jetista tenha conhecimento dos aspectos construtivos do produto edificado
para poder aplicar medidas eficientes no projeto (GREGÓRIO, 2010).
Vale ressaltar que, assim como todo tipo de construção, a alvenaria es-
trutural proporciona vantagens e desvantagens aos projetos, por isso a ex-
trema relevância de conhecer alguns pontos e compará-los de acordo com
o objetivo do projeto, antes de iniciar uma edificação. Segundo Ramalho
& Corrêa (2011), a alvenaria estrutural é o método que gera menor custo
no mercado de obras, minimizando cerca de 30% do valor final. Em con-
trapartida, quando há um acréscimo no custo para a sua produção, esse é
suprido livremente com a economia gerada, devido à remoção das vigas e
dos pilares.
Logo, uma das principais vantagens do uso deste tipo de estrutura é a
diminuição do gasto com materiais como a madeira e o aço. Afinal, mes-
mo quando utilizados, os produtos aparecem em menor quantidade, tendo
em vista que se os blocos de concreto são maiores que tijolos cerâmicos
comuns, assim a quantidade de argamassa utilizada para sua junção será
menor. Em relação às vantagens que este sistema pode proporcionar, Tauil
e Nese (2010, p.19) afirmam que “a alvenaria de blocos de concreto, quando
tratada de forma adequada, proporciona vantagens significativas no pro-
cesso de racionalização da construção quando comparada a outros proces-
sos mais tradicionais”.
Também considerando o tamanho dos blocos e a quantidade de mate-
riais utilizados, o modo estrutural de construção é mais rápido. O prédio
que levaria meses para ser erguido, pode ficar pronto na metade do tempo,
desde que, os trabalhadores contratados sejam capacitados.
Ademais, é possível afirmar que a obra com blocos de concreto é mais
econômica. Não exatamente em relação aos blocos, pois eles são mais caros
dos que os tijolos clássicos, mas tendo em vista que não é necessário fazer
cortes na estrutura, o que diminui seu desperdício. Assim, a quantidade de
material comprada é menor, o que acaba por trazer economia, que também
ocorre devido a pouca quantidade e pouca variedade dos outros materiais
utilizados, há menor geração de entulho no canteiro de obras.
Dessa forma, a necessidade de limpeza é menos frequente e a organização
para a realização da construção bem maior. Um tipo de obra menos traba-
lhoso, pois não é necessário estabelecer vigas ou pilares para a sustentação.

109
Ao mesmo tempo, a mão de obra pode ser rapidamente treinada.
Pozzobon (2011, p. 05) afirma que “a alvenaria estrutural apresenta limi-
tações com relação à impossibilidade da remoção das paredes, ao número
de pavimentos possíveis de serem alcançados, a distribuição das paredes e a
necessidade de amarração entre os elementos”. Entre as desvantagens da al-
venaria autoportante está o fato de a edificação não poder ter suas paredes
derrubadas, o que acarreta restrições de possibilidades de mudanças não
planejadas, não sendo possível criar novos cômodos no imóvel. A alvenaria
estrutural exige maior esforço quanto à elaboração e estudo do projeto, pois
há limitação de grandes vãos e balanços.

3 MATERIAIS E MÉTODOS
O local da pesquisa em análise foi num canteiro de obra, no bairro das
Malvinas na cidade de Campina Grande- PB, numa construtora que tra-
balha com o sistema de alvenaria estrutural nos seus fluxos e processos
construtivos, o que possibilita avaliar a eficácia do sistema construtivo na
gestão das obras e obter informações sobre a eficiência deste procedimento
(Figura 01).

Figura 01 - Localização do município de Campina Grande-PB.

Fonte: Adaptado do IBGE (2007), http://infoaplicgeoufcg.blogspot.com (2015).

A metodologia empregada neste estudo caracteriza-se como qualitati-


va exploratória, considerando-se os procedimentos utilizados: apresenta as
características, componentes e processo de execução, com base em fontes

110
já estudadas anteriormente, como artigos, sites, livros, observações, verifi-
cações no canteiro de obra, consultas às normas de execução do serviço e
detalhamento do projeto arquitetônico.
Na pesquisa foi utilizado, ainda, um check list com perguntas relativas
ao andamento e controle da execução da obra, bem como anotações e regis-
tros fotográficos com equipamentos, a exemplo do celular.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A obra em estudo trata-se da construção de um edifício residencial em
alvenaria estrutural, com área total de 9.485m². O empreendimento é com-
posto de 03 torres residenciais de 12 pavimentos, um total de 272 unidades.
O apartamento possui planta baixa de 64,60 m², distribuídos em 3 quartos
sendo 1 suíte, sala para 2 ambientes, cozinha, área de serviço, varanda e
banheiro social, por unidade.
O prédio foi revestido em pastilhas 10x10cm, possui 02 elevadores por
bloco com capacidade para 08 pessoas cada. A área comum do empreen-
dimento usufrui de quadra recreativa, piscina, espaço gourmet, churras-
queiras, brinquedotecas, salão de festas, academia, playground, guarita e
depósito de lixo (Figura 02).

111
Figura 02- Edifício Residencial em alvenaria Estrutural

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020

A construtora conta com um fluxograma do processo de construção


para gerir e acompanhar a obra, a ferramenta representa graficamente
como se dá a divisão, as etapas a movimentação das equipes para a execu-
ção da alvenaria, e as frentes de trabalhos definidas, os controles estabele-
cidos desde a etapa inicial até a finalização do processo construtivo, como
mostra o esquema (figura 03).

112
Figura 03 - Fluxograma do processo de execução do serviço de alvenaria estrutural.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

A alvenaria estrutural é um processo construtivo em que a estrutura e


a vedação do edifício são executadas simultaneamente, sendo reconhecido
como um processo bastante eficiente e racional. O sistema dispensa o uso
de vigas e pilares, ficando a cargo dos blocos estruturais a função portante
da estrutura. Os principais elementos que compõem esse sistema constru-
tivo são os blocos, a argamassa, o graute e as armaduras.
Dentre os tipos de blocos estruturais de concreto existentes, pode-se
encontrar dois tipos de “famílias” de blocos, a exemplo da família de 29 cm
e de 39 cm de comprimento. Foi definido, em projeto, como procedimento
construtivo para a obra, utilizar bloco da família de 29cm com as seguintes
dimensões 14x19x29cm, usando unidade modular 15 e múltiplos de 15, em
que 15 é a medida do bloco de 14cm, mais 1 cm de espessura das juntas.
Isso evita o uso dos elementos compensadores, salvo para ajuste de vãos de
esquadrias.
A determinação das propriedades mecânicas de um bloco de concreto

113
segue prescrições da NBR 7184 “Blocos vazados de concreto simples para
alvenaria – Determinação da resistência à compressão” (Tabela 01).

Tabela 01 - Resistência dos blocos à compressão.

Fonte: (Próprio autor, adaptado da NBR 7184, 1992).

No canteiro de obra estudado, existem blocos estruturais em concreto


com resistência a compressões diferentes e, à medida que aumenta a altura
da edificação, a resistência do bloco vai diminuindo, isto porque a carga
atuante nos blocos, devido à atuação do peso próprio, tende a ficar menor,
em consequência do menor número de pavimentos.
Como forma de controle na execução das alvenarias, foi realizado o pre-
enchimento do formulário de rastreabilidade dos blocos de concreto es-
truturais, reunindo informações técnicas para a verificação da resistência
e local de aplicação e possibilitando, dessa maneira, o acompanhamento,
inspeção e a avaliação.
O procedimento resultou em algumas etapas: retirada de dois blocos de
cada dimensão, para o ensaio de determinação da resistência característica
à compressão (Fck). Assim, era possível identificar sua posterior localização
e a realização de correções, no caso do não atendimento às exigências do
projeto.
O local de aplicação dos lotes foi identificado no formulário, as planilhas
eram finalizadas após emissão dos laudos com respectivos resultados para
cada carga. Todas essas ações são ferramentas de grande valia no auxílio do
controle da qualidade dos serviços executados, bem como no controle dos
materiais (Figura 04).

114
Figura 04 - Blocos 14 x 19 x 29cm separados para ensaio.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

A argamassa de assentamento utilizada na obra é o elemento de união


entre as unidades de alvenaria, composta de cimento, areia, cal e aditivo es-
pecificado em projeto, utilizada na obra, foi adquirida pronta, diretamente
da usina, otimizada para o contexto do projeto, na medida exata solicitada
e com entrega que flexibilizou o cronograma.
Assim evita-se desperdícios, diminui o impacto e otimização da mão
de obra, tudo isso com um custo inferior ao da argamassa ou preparada no
canteiro. Na obra, a espessura ideal para a junta horizontal acabada aplica-
da foi de aproximadamente 1cm.
Sempre que possível, era verificada, na paginação do projeto estrutural,
a espessura da argamassa e o pé direito da obra. De acordo com as defini-
ções de projeto, todas as juntas verticais da alvenaria externa foram preen-
chidas. A resistência da argamassa variou de 70% a 100% da resistência do
bloco utilizado no andar, conforme especificado no projeto da obra.
Dessa forma, assim como os blocos de concreto, a argamassa também
teve suas características especificadas no projeto estrutural (Tabela 02).

115
Tabela 02 - Resistência média da argamassa.
PAVIMENTOS Dimensões dos blocos Resistência Resistência média
(comprimento x largura x características mínimas da argamassa
altura) cm dos blocos de concreto (mpa)
fck (mpa)

Casa de Máquina 29 x 14 x 19 4,0 4,0


e caixa d’água

8° ao 12° 29 x 14 x 19 4,0 4,0


5° ao 7° 29 x 14 x 19 6,0 5,0

3° ao 4° 29 x 14 x 19 8,0 8,0
1° ao 2° 29 x 14 x 19 10,0 8,0

Fonte: (Próprio autor, adaptado da NBR 13276, 2005).

O graute utilizado na obra é um micro concreto, resultante da mistura


de materiais com agregados graúdos de pequeno diâmetro. Os insumos que
compõem a mistura são cimento, areia, pedrisco e água, é auto adensável
de grande fluidez, não precisa de vibração, usado para preenchimento de
espaços vazios de blocos, com a finalidade de solidarizar armaduras à alve-
naria, aumentando sua capacidade de resistência.
Nos pontos de graute verificados no canteiro de obra, foi posicionado
um ferro de bitola de 10,0mm (3/8”), com comprimento especificado em
projeto e transpasse mínimo de 50cm. Nos pontos de grauteamentos, foram
deixadas janelas de inspeção (“furos no bloco” na 1° e 8° fiada) com a fina-
lidade de conferência se o graute preenche todas as “cavidades” dos blocos
(Figura 05).

Figura 05 - Janela de inspeção do graute.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

116
Vale salientar que a utilização do graute na obra não se resume só à
direção vertical, mas também foi utilizado em vergas, contravergas e cin-
tas, moldando-se a forma da canaleta e envolvendo a respectiva armação.
Assim, como os blocos estruturais e a argamassa de assentamento, o graute
também possui características especificadas no projeto da obra, cabendo à
empresa enviar para um laboratório a seu critério para especificar o traço
que deve ser utilizado.
Na obra, as contravergas foram executadas por meio de canaletas de
concreto e vergalhões, conforme o seguinte procedimento: para o detalha-
mento da posição, armação e tamanho, foi realizado, conforme o projeto de
elevação estrutural, com 30cm a mais que o vão da janela para cada lado.
Para o concreto utilizado nas contravergas, foi adotado igual ao graute, de
tal forma que não se permitia utilizar argamassa para grautear as mesmas.
Para as vergas de portas, foram utilizadas canaletas de concreto estrutu-
ral com resistência e armação conforme projeto estrutural e o seguinte pro-
cedimento: apoio de 10cm de cada lado, considerando-se sempre a largura
do vão e não a medida nominal da porta. As vergas de janelas são, também,
as próprias cintas de travamento, com exceção da janela do banheiro. Os
vergalhões posicionados na horizontal dentro do bloco estrutural, sempre
abaixo e acima de uma janela, onde foi colocada uma fiada de canaleta
grauteada com ferro de 10,0mm (3/8”), e 8,0mm (5/16”), envolvidos pelo
graute (Figura 06).

Figura 06 - Concretagem da Verga/Cinta.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

Ao atingir a última fiada da verga, obrigatoriamente era conferida a con-


cretagem da própria verga, dos reforços estruturais, bem como o nível das
paredes e as passagens da tubulação na alvenaria estrutural. Para nivelar e

117
aprumar as fiadas de alvenaria na obra, utilizadas para elevação de alvena-
ria estrutural, onde não existe laje superior, foi utilizado os escantilhões.
O mesmo foi instalado nos cantos das alvenarias em construção, au-
xiliando no assentamento do bloco, garantindo o prumo e o nivelamento
adequado. É essencial para eliminar qualquer possibilidade de erro durante
a elevação da alvenaria. Sua fixação é feita com pregos de aço, parafusos ou
buchas, sendo que a fixação é importante para que eventuais esbarrões não
comprometam o alinhamento das paredes (Figura 07).

Figura 07 - Escantilhão graduado.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

Foi aplicado o seguinte procedimento para uso do equipamento escanti-


lhão: foram colocados no prumo utilizando-se, preferencialmente, a régua
prumo-nível, com opção de uso do fio de prumo convencional. Na sequ-
ência, colocou-se os escantilhões após o término da marcação (1ª fiada).
Então, fazia-se a conferência do prumo e do nível dos escantilhões. Além
da conferência do prumo da alvenaria, foi utilizada uma linha de nylon, a
cada fiada das paredes externas, para conferir o nivelamento da alvenaria,
efetuando as correções nas fiadas subsequentes até a laje.
Outro equipamento utilizado nessa execução da alvenaria estrutural,
foi o nível a laser que atinge um nivelamento de grandes dimensões com
extensão até 100m, onde o prumo no tripé deixa confiável a medição, pos-
suindo diversos ajustes de altura. Quando posicionado no tripé, o aparelho
projeta o laser para fazer a marcação. Após a primeira marcação, é necessá-
rio girar o laser 180º e fazer a marca na próxima posição (Figuras 08 e 09).

118
Figura 08 – Primeira marcação do nível

Figura 09 – Segunda marcação do nível

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020

Para aplicação do nível a laser na obra foi utilizado o seguinte proce-


dimento: determinou-se o ponto mais alto do pavimento com auxílio do
equipamento a laser, apoiando o aparelho nos ferros de espera da alvena-
ria na vertical e no ponto indicado do nível, onde foi criado uma marca a
1,60m do pavimento. Logo após esse procedimento, houve transferência do
nível para cada escantilhão e ajustou-se a primeira marca da régua gradua-
da, fazendo coincidir com a marca da régua de transferência de nível.
Uma das características marcantes da obra foi à aplicação da alvenaria
estrutural onde a estrutura e a vedação do edifício são executadas, simulta-
neamente, e conforme o projeto. Neste sistema, a parede não tem apenas a

119
função de vedação, desempenha, também, o papel de estrutura da edifica-
ção, de tal forma que nessa obra, as fachadas e divisórias foram executadas
em alvenaria estrutural em conformidade com a norma NBR 15961/2011
(Figuras 10 e 11).

Figura 10 - Início do processo de revesti-mento da fachada.

Figura 11 - Revestimento externo em fase de conclusão

Fonte: (Próprio autor, 2020).

120
Tendo em vista a padronização do procedimento, a empresa adotou as
seguintes etapas para execução do serviço da fachada. Na primeira subida,
foi feita toda a regularização da estrutura, tanto das paredes de alvenaria
estrutural como da face da laje de concreto entre os pavimentos, no que se
refere à limpeza a seco (retirada de ferros, rebarbas de concreto, argamassa,
possíveis pedaços de madeira utilizados para fixar prumos e etc.).
Fez-se o tratamento dos frisos ou juntas de dilatação, relocou-se os ara-
mes guias para a cerâmica, utilizando um prumo a cada 1m, para garantir a
paginação vertical e coincidência do espaçamento. Depois, fez-se o assen-
tamento das cerâmicas, tendo cuidado com a abertura de plano com apro-
ximadamente 1m², com argamassa colante industrial tipo ACIII. Esperado
o tempo mínimo de 72 horas, iniciou-se o rejuntamento das 3 primeiras e 3
últimas fiadas de cerâmica entre as lajes dos pavimentos tipos, tratando as
juntas de dilatação e utilizando sempre rejunte flexível.
O projeto estrutural foi definido pelo conjunto de informações referen-
tes ao dimensionamento de toda estrutura que faz parte da edificação e foi
utilizado como um instrumento cujo objetivo é trazer mais segurança na
condução da obra, economia na própria resistência e durabilidade do em-
preendimento. Sua importância se definiu pela precisão nos cálculos, capaz
de evitar custos a mais e desnecessários para a conclusão da obra (Figura
12).

Figura 12 - Parte do projeto de modulação da 1ª fiada

Fonte: (Projeto da alvenaria estrutural da obra em estudo, 2020).

121
Na obra, foi fornecida à equipe de campo uma pasta de projetos que
continha todos os projetos, de primeira e segunda fiada, bem como a pa-
ginação das paredes. Estas foram enumeradas e essa numeração consta no
projeto de marcação que constam ainda, todos os pontos de grautes e, nos
projetos de modulação, todas as vergas e canaletas (Figura 13).

Figura 13 - Paginação da parede com respectivas amarrações e definições da utilização


dos blocos

Fonte: (Projeto da alvenaria estrutural da obra em estudo, 2020).

Relativo à marcação da 1ª fiada, foi consultado o projeto estrutural, antes


de executar o serviço. O procedimento utilizado foi conforme a sequência
a seguir: a marcação da alvenaria iniciada pelos blocos dos cantos externos.
Em seguida, foram assentados os blocos dos cantos da laje. Verificado o
prumo destes blocos com o andar inferior, foi executada a 1ª fiada da alve-
naria externa, utilizando-se as medidas acumuladas (figura 14).

122
Figura 14 - Marcação 1ª fiada.

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

O recebimento do serviço foi feito mediante as conferências, levando-se


em consideração o projeto e as tolerâncias da empresa em relação ao pru-
mo, esquadro e marcação.

5 DISCUSSÃO
Deve-se ser observada, cuidadosamente, a resistência dos blocos, a prepa-
ração do graute para estrutura, manuseio dos equipamentos entre outros
procedimentos tais como: Planejamento do material em obra; Transporte
do material em obra; Forma de aplicação e treinamento dos colaboradores;
Acompanhamento de rotina dos serviços, detalhando as mudanças de pro-
jeto; Verificação de dispositivos para aplicação do material.
Outro ponto a ser observado é que os processos construtivos em uma
obra deverão sempre ser planejados criteriosamente, considerando-se pro-
jeto específico com detalhamento e propriedades dos materiais, concilian-
do-se com outros elementos integrantes do sistema.
No tocante a obra, foi possível observar a influência da rotatividade
de profissionais, pois a equipe que substituíam os antigos, sem nenhum
treinamento, como também a substituição de matérias, gerou, uma perda
na produtividade e alguns erros de interpretações do projeto. Por isso, é
fundamental que o projeto seja claramente interpretado na obra, pois uma
interpretação errada, bem como a falta de detalhes pode ocasionar atrasos
nos prazos, desperdícios, retrabalho e diminuição da produtividade.
Portanto, para que haja melhor comunicação e interação entre o pro-
jeto e a obra, deverão ser fornecidas todas as informações necessárias,

123
treinamentos, disponibilizando projetos e detalhes construtivos em locais
de fácil acesso e utilização.
Esta abordagem, no canteiro de obra, foi de extrema importância para
ampliação dos conhecimentos teóricos aplicados, como forma de ampliar
os conceitos e vivenciar a rotina dos processos construtivos. As informações
levantadas, nesta pesquisa, comprovam a hipótese inicial de que a alvenaria
estrutural, como foi concebida no projeto, agrega valor ao cronograma de
execução e à eficácia no processo de execução da alvenaria de uma obra de
edificação, sobretudo na relação tempo e custo da obra.

6 CONCLUSÃO
• Através da análise crítica da pesquisa realizada para composição des-
se trabalho, pode-se constatar a importância do levantamento dessas
etapas que compõem o processo construtivo de alvenaria estrutural.
A determinação de todas essas características é indispensável para a
realização de uma edificação segura e produtiva, assim como o conhe-
cimento de toda a documentação, seja ela por projetos, registros em
fichas entre outros, coerente com as normas vigentes;
• Conforme o objetivo proposto para este estudo, considera-se que
atendeu às expectativas, contribuindo para aprimorar os conhecimen-
tos adquiridos, bem como colocá-los em evidência, servindo como
uma grande experiência;
• Com este estudo, sugere-se que as alterações realizadas durante a exe-
cução da obra deverão ser comunicadas imediatamente ao escritório
ou, caso a alteração aconteça no escritório, o projetista deve informar
as mudanças realizadas nos projetos e carimbá-los depois de alterados.
• Os resultados construtivos observados, neste estudo de caso, são pro-
cedimentos que podem ser adotados em qualquer obra de alvenaria
estrutural. A empresa deve ter uma equipe capacitada nos diversos
serviços, podendo, de maneira fácil, seguirem-se as recomendações e
executar um serviço com menor custo e de melhor qualidade, seguin-
do sempre os padrões das Normas Técnicas da Associação Brasileira
e do Projeto;
• Por fim, é importante ressaltar as limitações deste estudo, tais como
o tempo de realização da pesquisa e o grande volume de informação
que disponibiliza quanto ao conceito investigado, abre perspectivas e
incita a realização de outros estudos sobre este tema no futuro.

124
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TAUIL, C. A.; NESE, F. J. M. Alvenaria Estrutural. 1. ed. São Paulo: Pini,


2010.184p.

127
128
ANÁLISE SÓCIO-URBANÍSTICA DA CONSERVAÇÃO
DOS EDIFÍCIOS CENTRAIS EM CAMPINA GRANDE-PB

Fábio Remy de Assunção Rios15,


Dalva Damiana Estevam da Silva16,
Tailine Mendes Martins Dutra17,
Eudes Matheus Caciano de Lima18,
Emerson David Barbosa Sousa19,
Larissa Quitéria B. Diniz20,
Morgana Silva Barros21

RESUMO
Esse estudo teve como objetivo analisar a conservação dos edifícios cen-
trais e seu impacto no contexto sócio-urbanístico da cidade de Campina
Grande-PB. A metodologia consistiu em visitas in loco nas edificações situ-
adas na área central e feira central, com o intuito de realizar inspeções nas
estruturas, vistorias para avaliação dos imóveis, caracterização, monitora-
mento do estado de conservação e levantamento do impacto no aspecto
urbanístico no centro da cidade. Foi aplicado um Check-List para coleta de
dados dos problemas detectados e realizado registros fotográficos. Durante
o estudo, verificou-se que a maioria das não-conformidades evidenciadas

15 Dr. em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFCG - Professor da UNIFACISA. E-mail:


fabioremy@gmail.com
16 Graduanda em Geografia pela UEPB. Tecnóloga em Gestora Ambiental - IFPB. Mestra
em Engenharia Agrícola (UFCG). E-mail: dalvaestevampb@gmail.com
17 Tecnólogo em Construção de Edifícios. E-mail: mendes_martins@yahoo.com
18 Tecnólogo em Construção de Edifícios. E-mail: eudesmatheus27@gmail.com
19 Tecnólogo em Construção de Edifícios. E-mail: emersondbs1@gmail.com
20 Tecnólogo em Construção de Edifícios. E-mail: larysadiniz@hotmail.com
21 Tecnólogo em Construção de Edifícios. E-mail: morgana.barros@maisunifacisa.com.
br

129
ocorreram pela falta de manutenção preventiva, corretiva e abandono, bem
como pela falta de planejamento urbano. O tempo de uso das estruturas,
as sobrecargas, os desvios de função e a adequação ao uso colaboram para
o desgaste estrutural. Neste sentido, a detecção desses problemas nas edifi-
cações é importante para prevenir, antecipadamente, acidentes que possam
vir a ocasionar desastres, além de preservar a segurança e promoção das
intervenções urbanas.

Palavras-Chave: Patologias Construtivas. Urbanismo. Manutenção.


Edifícios Centrais.

1 INTRODUÇÃO
A expansão urbana e a ocupação periférica das cidades, em conjunto com
as práticas de intervenção em áreas históricas e as políticas de preservação
do patrimônio histórico, culminaram no esvaziamento populacional dos
centros e na mudança de uso do solo das áreas centrais das cidades. Todos
esses processos contribuíram, de forma significativa, para a degradação dos
centros históricos, prédios, edifícios e casarões e para o surgimento de áreas
obsoletas e de vazios urbanos nessas áreas (VAZ e SILVEIRA, 1999).
Em se tratando de cidades médias, a exemplo de Campina Grande-PB,
que se destaca pela sua função de capital regional no estado, tendo em vista
a sua oferta de bens e serviços no setor secundário e terciário, atraindo
pessoas de outras localidades, pode-se levar em consideração que o espaço
geográfico campinense sofreu variadas mutações em sua estrutura enquan-
to cidade (SOUZA, 2012).
As mudanças pelas quais essa cidade passou, no que se refere ao seu pa-
pel na rede urbana, principalmente com o crescimento populacional e um
grande crescimento espacial, provocaram alterações na sua estrutura ur-
bana. De início, só existia um centro polarizador das atividades comerciais
de bens e serviços. Com o crescimento populacional impulsionado pela
vasta oferta de emprego e um bom mercado consumidor, depois, Campina
Grande expandiu seu tecido urbano, gerando a necessidade de outras áreas
comerciais para atender a sua população.
No início do século XX, mais precisamente após a estação ferroviária, as
feiras representavam, ainda, uma das principais atividades econômicas da
cidade. A criação do núcleo comercial de Campina Grande sempre esteve
relacionada com a formação de sua feira central, devido a sua localização
geográfica. Em função desse processo histórico, ocorreu o desenvolvimen-
to do comércio de uma forma geral. A partir da metade do século XX,
mais precisamente na década de 1940, o comércio de Campina Grande

130
encontrava-se espalhado pelo centro, principalmente na Rua Maciel Pi-
nheiro e Venâncio Neiva, entre outras (SOUZA, 2012).
Consequentemente, o avanço do comércio na área central e na feira
proporcionou a construção de prédios comerciais, casarões e edifícios, os
quais, ao longo do tempo, vem se deteriorando e degradando, seja por au-
sência de conservação ou de políticas públicas de preservação. Por outro
lado, a situação da conservação dos edifícios nos grandes centros, sobretu-
do dos edifícios centrais e históricos, tem se tornado um grave problema no
Brasil e em Campina Grande-PB a situação não é diferente.
O abandono das edificações no Centro Histórico de Campina Grande é
visível, basta passar por esse local que é possível verificar tal situação. Neste
sentido se propõe esboçar uma cartografia da destruição deste patrimônio,
pois é simplesmente assombroso o processo de desaparecimento do patri-
mônio histórico e os órgãos públicos fiscalizadores não têm uma participa-
ção efetiva na salvaguarda destes testemunhos do passado. Esse fato não se
deve à ausência de denúncias, isso pode ser explicado (mas não compreen-
dido!) pela falta de estrutura e de pessoal disponível nestas instituições. A
verdade é que, a cada novo dia, o caminhar pelas ruas da cidade “Rainha
da Borborema” revela uma situação caótica das edificações históricas: além
do total abandono, verificou-se o BOTA-ABAIXO dessas edificações (OLI-
VEIRA e SANTOS, 2010).
Partindo dessa premissa, surgem diversas questões e variáveis a serem
discutidas no âmbito urbano de preservação e segurança predial na região
central de Campina Grande, tais como a quantidade de imóveis subutiliza-
dos, suas localizações, as características e tipologias dos imóveis, as prin-
cipais patologias construtivas, dentre outras. A importância desse estudo
consiste em mostrar ao público, em geral, os riscos e os impactos sócio-ur-
banísticos, devido à falta de manutenção, o tempo de uso, o abandono de
prédios e edifícios na cidade de Campina Grande PB.
Para isso, organizou-se este artigo em quatro seções, além desta intro-
dução. Na segunda, situam-se os materiais e métodos utilizados. Na tercei-
ra apresentaram-se os resultados e discussão e, por fim, foram traçados os
apontamentos finais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
A rota de inspeção foi discutida e traçada conforme o mapeamento da
região central de Campina Grande-PB. Para investigação da conservação
dos edifícios e prédios, foi realizado um estudo de caso, que segundo Gil
(2008), consiste no conhecimento profundo e exaustivo de um ou poucos
objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, de

131
abordagem qualitativa, na qual, de acordo com Martins e Campos (2004),
estuda-se a realidade em seu contexto natural, tal como acontece e procura
dar sentido ou interpretar os fenômenos de acordo com os significados que
possuem para as pessoas.
Conforme Paschoarelli, Medola e Bonfim (2015, p. 67), pode-se enten-
der a pesquisa quantitativa como a “explicação de fenômenos por meio da
coleta de dados numéricos que serão analisados através de métodos ma-
temáticos (em particular, os estatísticos)”. Nota-se, então, que esse tipo de
pesquisa busca uma precisão dos resultados, a fim de evitar equívocos na
análise e interpretação dos dados, gerando maior segurança em relação às
interferências obtidas. Sua aplicação é frequente em estudos descritivos, os
quais procuram relações entre variáveis, buscando descobrir características
de um fenômeno (RICHARDSON, 2008).
O presente estudo foi realizado na área central de Campina Grande.
Para facilitar o estudo, os setores foram divididos em dois, sendo A e B. O
setor A compreende a área central (ruas Maciel Pinheiro, Barão do Abiaí,
Venâncio Neiva, João Suassuna, Peregrino de Carvalho, Afonso Campos,
Marquês do Herval, João Pessoa e Félix Araújo) e o setor B corresponde à
Feira Central (ruas Quebra Quilos, Carlos Agra, Cristóvão Colombo, Ma-
noel Pereira de Araújo, Marcílio Dias e Pedro Álvares Cabral), onde foram
vistoriados em torno 200 prédios durante os meses de fevereiro a novem-
bro de 2014 e 2015 (Figura 1).

Figura 1- Localização dos setores A (Área Central) e B (Feira Central) em Campina


Grande-PB.

Fonte: Adaptado do IBGE (2007), http://infoaplicgeoufcg.blogspot.com (2015), Google


Earth (2017).

132
Estes setores foram escolhidos por corresponderem a uma área de gran-
de importância urbanística, que apresenta grande incidência de patologias
construtivas e possibilidade de colapso estrutural e acidentes. Além dis-
so, alguns prédios apresentam um estágio avançado de depreciação e de-
gradação. As visitas in loco aos prédios e edifícios foram realizadas com a
colaboração da Defesa Civil de Campina Grande-PB, as quais permitiram
definir, separadamente, a natureza e as causas dos problemas nas constru-
ções, através da aplicação do Check-List e coleta dos dados com anotações
dos problemas detectados nas instalações.
Nessa fase, realizou-se a identificação da agressividade do ambiente
construído (fraca, moderada, forte ou muito forte), com análise visual das
armaduras expostas, identificação das zonas de desagregação do concreto,
tomando nota dos aspectos gerais do concreto, além de descolamentos de
cerâmicas, trincas, fissuras, rachaduras22, infiltrações, manchas e o estado
geral das estruturas. Foi realizado, ainda, o registro fotográfico das patolo-
gias construtivas observadas em cada prédio ou edifício visitado e/ou ins-
pecionado e utilizado o programa Excell para a construção dos gráficos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ANÁLISE DO SETOR A - ÁREA CENTRAL


O setor A compreende a zona urbana e as edificações centrais da cidade,
mais precisamente as seguintes ruas: João Suassuna, Peregrino de Carva-
lho, Barão de Abiaí, Maciel Pinheiro, Afonso Cunha, Venâncio Neiva, Mar-
ques do Herval, João Pessoa e Félix Araújo. Os resultados levantados proce-
deram da realização das atividades previstas no plano de ação da pesquisa,
considerando as diretrizes e visitas técnicas realizadas in loco.
Analisando as estruturas visitadas, foi possível descrever as inúmeras
patologias construtivas decorrentes do seu uso prolongado, falta de ma-
nutenção, depreciações devido à ação das intempéries e desvio de função.
Dentre os prédios visitados, foram detectadas várias inconformidades,
pontos de degradação, riscos ocultos e interferências urbanísticas provo-
cadas por construções irregulares, abandonadas ou em péssimo estado de
conservação (Figura 2).

22 Fissuras, trincas e rachaduras são manifestações patológicas causadas geralmente


por tensões de tração em materiais frágeis como o concreto e materiais cerâmicos
(OLIVEIRA, 2012, p. 8).

133
Figura 2 - (A) Aspecto urbano da área central com prédios e edifícios e (B) Vias de
pedestres e poluição visual.

Fonte: Próprio autor (2015).

Percebe-se, neste caso, a questão da interferência no aspecto urbano,


decorrente da alta densidade de prédios comerciais e edifícios na zona cen-
tral da cidade, presença de pontos comerciais em áreas de passeio público,
inclusive com riscos ocultos e provocando pontos cegos, bem como o en-
trelaçamento de ruas que provocam congestionamento e dificuldades na
mobilidade urbana. Outros problemas encontrados foram os descolamen-
tos de reboco, fachadas prediais desgastadas, devido à ação do tempo. As
figuras mostram o estado de conservação das estruturas e área de passeio

134
público no centro (Figura 3).

Figura 3 - (A) Estado de Conservação da marquise com queda de reboco e exposição


das ferragens no centro da cidade e (B) Estado de conservação das áreas de passeio
público na zona central.

Fonte: Próprio autor (2015).

É possível perceber que houve descolamentos do revestimento na mar-


quise, com consequente aparecimento das ferragens, o que acarreta pontos
de oxidação, enfraquecendo a resistência da estrutura e, consequentemente,
gerando riscos urbanos, além do estado deplorável das calçadas em alguns

135
pontos, que resulta em um gargalo urbano. As figuras mostram o estado
de conservação dos prédios centrais com fachadas danificadas (Figura 4).

Figura 4 - (A) Estado de conservação dos prédios na Rua João Suassuna com estrutura
danificada, visto pelas laterais e (B) Vista central dos prédios na Rua João Suassuna.

Fonte: Próprio autor (2015).

É importante ressaltar que a presença de edifícios, abandonados e de-


teriorados causam alteração na corrente natural de ar, modificando a

136
passagem do vento. Além disso, provoca impacto visual no contexto ur-
banístico e paisagístico, bem como impacto nas condições do conforto dos
pedestres e na questão da segurança predial.
A falta de manutenção preventiva, bem como a corretiva, aliada à falta
de inspeção periódica dos órgãos fiscalizadores, tem contribuído para o
aumento dos problemas nos edifícios centrais da cidade, haja vista que, na
maioria das vezes, essas não-conformidades são em menor grau e propor-
ção e vão avançando com o passar do tempo, devido a inúmeros fatores
como: poluição, uso, baixa qualidade dos materiais empregados na cons-
trução, sobrecargas, desvio de função, abandono dos prédios, dentre outros
fatores.
A figura mostra, em termo de percentagem e distribuição, as principais
patologias dos edifícios encontrados nesta pesquisa (Figura 5).

Figura 5 - Percentagem e distribuição das principais patologias construtivas dos


edifícios visitados.

Fonte: Próprio autor (2015).

De acordo com o gráfico, 60% dos casos são relativos à presença de ta-
pumes em fachadas e marquises, apresentando os riscos ocultos que podem
ser de intensidade fraca a muito forte, além de criar uma poluição visual,
prejudicial ao aspecto urbano. Percebe-se, ainda, a presença de vegetação,
umidade, lodo, infiltração e péssima conservação das fachadas (janelas

137
com rachaduras, etc.) com 3% das patologias construtivas.
A figura abaixo mostra os indicadores de ocorrências registrados no
espaço amostral de edifícios visitados por ruas na área central (Figura 6).

Figura 6 - Indicadores de ocorrências registrados por rua visitada.

Fonte: Próprio autor (2015).

Percebe-se que o número de ocorrências de patologias construtivas, por


rua visitada, é considerável, haja vista o quantitativo de problemas levanta-
dos, os quais são inúmeros, indo desde simples presença de vegetação nas
marquises, passando por deterioriação e degradação das estruturas, até fer-
ragens expostas que colocam os prédios em situação de risco ou problemas
mais graves, que tornam o aspecto urbano insalubre, no que diz respeito à
segurança predial e de seus transeuntes.

3.2 ANÁLISE DO SETOR B - FEIRA CENTRAL


O setor B se refere às edificações da feira central da cidade, mais precisa-
mente, às ruas: Quebra Quilos, Carlos Agra, Cristóvão Colombo, Manoel
Prereira de Araújo e Marcílio Dias. Os resultados levantados, também, pro-
vêm da realização das atividades previstas no plano de ação.
A feira central se caracteriza por uma intensa rede urbana, com a pre-
sença de ruas entrelaçadas e cruzadas com prédios antigos e deteriora-
dos que possuem problemas internos e externos de grande complexida-
de, além da ausência de mobilidade satisfatória, sobretudo nos dias mais
movimentados.
Todos estes fatores contribuem para a degradação dos prédios e, ao

138
longo do tempo, para a depreciação das estruturas, que, muitas vezes, ge-
ram consequências graves para a questão urbana, sobretudo da população
que utiliza essas estruturas para abrigos e moradias, bem como, os tran-
seuntes que circulam nas imediações, pois podem ser alvos da queda de
algum material que eventualmente pode se descolar da estrutura ou até
mesmo o próprio desmoronamento.
Dentre o grupo de prédios visitados, foram detectadas várias não-con-
formidades, avarias e pontos de degradação, conforme demonstra abaixo
(Figura 7).

Figura 7 - (A) Ferragens expostas, devido às infiltrações na laje e (B) Ferragens expostas
na marquise na área da Feira Central da cidade.

Fonte: Próprio autor (2015).

139
Durante as inspeções, foi possível detectar nas edificações, fiação elétri-
ca em péssimo estado de conservação com prováveis pontos de vazamentos
de energia, trincas, rachaduras, bem como, sobrecargas, prédios abandona-
dos, com desvio de função e subutilizados. Além disso, observou-se desco-
lamento de reboco e fachadas desgastadas (Figura 8).

Figura 8 - (A) Estado de conservação predial “Cassino Eldorado” e (B) Fachadas dos
prédios na área da Feira Central de Campina Grande.

Fonte: Próprio autor (2015).

140
Em todas as ruas inspecionadas, foram encontradas avarias prediais,
riscos ocultos e marquises apresentando vegetação, sendo um tipo de pato-
logia de menor gravidade, mas de grande importância, pois, se não tratada,
pode ocasionar desabamento. Para Monteiro et al. (2010, p. 15) “o cresci-
mento de vegetação nas estruturas inicialmente não representa grandes
problemas, mas se não for tratada em tempo pode enfraquecer a estrutura”.
As patologias com maior grau de severidade foram classificadas como
muito forte, encontradas na área B, sendo possível citar as ferragens expos-
tas e oxidadas, identificadas em cinco ruas da feira central.
Os resultados mostram que as não-conformidades foram identificadas
nas edificações em todas as ruas, sendo algumas mais graves e outras com
menor gravidade. O levantamento das principais patologias construtivas
encontradas nas edificações visitadas foi quantificado (Figura 9).

Figura 9 - Principais patologias construtivas identificadas nas edificações


inspecionadas nas seis ruas do centro de Campina Grande.

Fonte: Os autores (2015).

Esses dados são preocupantes, tendo em vista a quantidade de pesso-


as que circulam por essa área, por ser um centro comercial e urbano de
grande proporção e movimento, observou-se que as marquises de muitos
prédios inspecionados estão em mau estado de conservação, favorecendo a
degradação, devido às intempéries e o risco urbano.
Os dados coletados no setor B mostram, também, que a rua que mais
apresentou avarias construtivas foi a Cristóvão Colombo com 29 casos de

141
diferentes patologias construtivas. Em seguida, aparece a rua Quebra Qui-
los, apresentando 17 casos. A menor incidência ocorreu na Rua Pedro Ál-
vares Cabral que apresentou 3 casos, considerados fortes e médios (Figura
10).

Figura 10 - Índices de patologias construtivas identificadas por rua visitada na área da


Feira Central.

Fonte: Próprio Autor (2015).

A grande maioria das edificações são construções antigas e não apresen-


tam a manutenção preventiva ou corretiva, gerando gargalos urbanos, bem
como riscos de incêndios e desabamentos. Dentro da amostra selecionada
para estudo, percebeu-se que, nesta área, a rua mais crítica é a Cristovão
Colombo e a menos crítica é a Rua Pedro Alvares Cabral.

3.3 ANÁLISE GERAL DOS SETORES A E B


Conforme a análise, é possível perceber que o estado de conservação dos
prédios, edifícios, casarões, tanto no setor A quanto no setor B, são impor-
tantes na análise do contexto social e urbano, relativo às áreas centrais de
Campina Grande, sobretudo, no aspecto da interferência urbana, mobili-
dade, prevenção e segurança predial.
Nota-se a falta de uma cultura de conservação e manutenção dos pré-
dios e edificios em muitos casos, até mesmo, a questão da fiscalização, tem-
po de uso e desvio de função predial, bem como ausência de intervenções
urbanas com vista à gestão das edificações antigas e tombamentos. Isso tem
provocado à invasão e geração de submoradias tanto na área central como
na feira central, gerando problemas sociais e urbanos de extrema relevân-
cia, sendo necessário um intenso trabalho de mapeamento dos imóveis

142
degradados e abandonados, manutenção e recuperação, para aumentar a
segurança, confiabilidade, durabilidade das estruturas e mitigar os impac-
tos urbanisticos.
De acordo com análise, percebe-se que houve várias ocorrências de
patologias construtivas na área A, permitindo concluir que, em termos
percentuais, o maior número de degradação predial ocorreu na rua João
Pessoa com 38% das ocorrências encontradas, isso, talvez, pela idade dos
prédios presentes naquele setor e pela falta de manutenção.
Nesta área, o problema mais detectado foi à presença de tapumes de
propagandas cobrindo as fachadas e marquises, apresentando, assim, os
riscos ocultos com 168 casos. Outro item que, também, apresentou várias
ocorrências foram os pontos de degradação nas vigas, colunas, lajes, mar-
quises (ferragem expostas com corrosão e oxidação avançada, queda de re-
boco, etc.) com 23 casos apresentados em relação ao total.
Com relação aos prédios abandonados e sem acesso para manutenção,
o estudo apresentou 11 casos, inclusive, um edifício que se encontra, há 50
anos, abandonado e sem manutenção, configurando-se num problema re-
lativo ao seu uso. Esse prédio é motivo de várias discussões por parte da
população e órgãos públicos, bem como universidades e interessados no
assunto.
No setor B, foi possível perceber a grande presença de prédios e estrutu-
ras em péssimo estado de conservação em várias ruas, onde o movimento
de pedestres é considerável, muitos passam pelas calçadas desapercebidos
dos riscos que essas estruturas oferecem.
Outros aspectos urbanos levantados nesta área são: a baixa eficiência
da infraestrutura básica, invasões e ocupações dos prédios abandonados,
favelização, ocupação em áreas impróprias para uso de moradia, além do
alastramento, degradação urbana, inadequação arquitetônica, baixa quali-
dade das vias e dos traçados de circulação.

4 CONCLUSÕES
A relevância desse estudo sobre o estado de conservação dos prédios e edi-
fícios centrais da cidade de Campina Grande-PB está na discussão sobre a
segurança predial e sua influência, sobretudo, no aspecto urbano, pois inú-
meras estruturas são abandonadas, degradadas, sobrecarregadas ou usadas
para outros fins, com desvio de função, o que provoca possibilidades de
sinistros e/ou colapsos nas estruturas, colocando em risco a população.
Percebeu-se que, em inúmeros casos ocorrem ausência de uma fisca-
lização por parte dos órgãos públicos, bem como falta de interesse dos
proprietários em solucionar as correções necessárias para a prevenção e

143
manutenção predial. Atrelado a este fato, a população fica à mercê de uma
situação de risco que pode, eventualmente, acontecer, seja por descolamen-
to de revestimentos, desabamentos ou, até, o colapso das marquises que
aconteceu em diversas partes do país.
Outro aspecto relevante é a conclusão de que os problemas, relaciona-
dos à conservação predial na região central e na feira central, constituem
um grande problema urbano que inclui desde a poluição visual, riscos
ocultos, construções irregulares, riscos de desabamentos, incêndios, inva-
sões, submoradias, ocupações dos prédios abandonados, favelização cen-
tral, obstruções de passagem, além da degradação urbana e a inadequação
arquitetônica.
Essa pesquisa chama a atenção para problemas corriqueiros e imper-
ceptíveis pela população que passa desapercebida nessas áreas, estando ex-
posta a riscos e perigos. Neste sentido, aborda um tema importante para
o aspecto social e a questão do urbanismo, que poderá ser ampliado em
outros estudos subsequentes.

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urbanos. Revista Território, v. 7, p. 51-66, 1999.

145
146
UTILIZAÇÃO DO PAVEMENT CONDITION INDEX NA
AVALIAÇÃO DE PAVIMENTOS AEROPORTUÁRIOS23

Tairone Albuquerque24
Adelino Ferreira25
Fábio Simões26
Tiago Cardoso27

RESUMO
Atualmente, as administrações aeroportuárias, responsáveis pela gestão
dos pavimentos dos aeroportos e aeródromos, são confrontadas com a di-
fícil tarefa de gerir limitados recursos financeiros e humanos considerando
as necessidades de conservação e reabilitação dos pavimentos. Isto é es-
pecialmente verdadeiro já que os níveis de financiamento se tornam cada
vez mais escassos e as necessidades de conservação e reabilitação dos pavi-
mentos têm aumentado. As administrações aeroportuárias são capazes de
enfrentar estes problemas se tiverem ferramentas de apoio a sua disposição,
para as ajudarem a determinar as necessidades de conservação e reabilita-
ção dos pavimentos, otimizando a seleção das intervenções, durante um
período de planeamento multianual, e avaliando os seus impactos a longo
prazo. Historicamente, a maioria das administrações aeroportuárias têm

23 Os autores agradecem à Fundação da Ciência e Tecnologia o apoio financeiro a este


trabalho através do Projeto PTDC/ECM/112775/2009 – MODAT – Multi-Objective Deci-
sion-Aid Tool for Highway Asset Management, comparticipando pelo Fundo Comuni-
tário Europeu FEDER.
24 Unifacisa, Brasil - Unidade Acadêmica de Engenharia Civil. O autor agradece à CA-
PES/CnPq pela bolsa de graduação sanduíche 238979/2012-1, que lhe permitiu reali-
zar este estudo e adquirir experiência com uma equipe muito qualificada.
25 Universidade de Coimbra, Portugal, Departamento de Engenharia Civil
26 Universidade de Coimbra, Portugal, Departamento de Engenharia Civil
27 Câmara Municipal de Coimbra, Portugal, Departamento de Obras e Infraestruturas

147
tomado decisões, em termos de conservação e reabilitação dos pavimen-
tos, com base na experiência e nas melhores práticas de engenharia. Em
Portugal, existem alguns Sistemas de Gestão de Pavimentos para estradas e
autoestradas, mas não existem Sistemas de Gestão de Pavimentos de aero-
portos e aeródromos. O presente estudo tem como objetivo apresentar uma
primeira abordagem do Sistema de gestão de Pavimentos do aeródromo
Bissaya Barreto que apoiará a sua administração com a informação neces-
sária para tornar o aeródromo mais eficiente, melhorar o desempenho e a
durabilidade dos seus pavimentos e reduzir os seus custos de conservação e
reabilitação. A qualidade dos pavimentos do aeródromo será avaliada atra-
vés da utilização do índice Pavement Condition Index (PCI), que representa
o estado de qualidade dos pavimentos em função de várias degradações de
acordo com o Standard Test Method for Airport Pavement Condition Index
Surveys publicado pela American Society for Testing and Materials. Com
este trabalho, o aeródromo municipal Bissaya Barreto terá um inventário
completo sobre os pavimentos, uma avaliação da sua qualidade e um pro-
grama de conservação e reabilitação.

Palavras-chave: Estrutura de pavimento. Parâmetros de qualidade.


Conservação. Reabilitação.

1 INTRODUÇÃO
Um dos fatores importantes, na realização de operações em aeroportos e
aeródromos, corresponde ao estado do pavimento, no qual as aeronaves
operam em boas condições de segurança e conforto. São essenciais as ca-
racterísticas específicas antiderrapantes, a regularidade e a consistência es-
trutural para a realização de todas as manobras das aeronaves.
Em Portugal, estão em funcionamento alguns Sistemas de Gestão de
Pavimentos (SGP) de redes rodoviárias, mas não existe nenhum sistema
aplicado a aeroportos ou aeródromos em pleno funcionamento. Os SGP
permitem às administrações de aeroportos e aeródromos desenvolver os
seus planos de conservação e definir orçamentos que permitem assegurar
a segurança e a operacionalidade das aeronaves. A gestão de pavimentos
baseia-se, sobretudo, em índices de avaliação da qualidade dos pavimentos
e, posteriormente, na seleção das melhores alternativas de conservação e
reabilitação de pavimentos de aeroportos ou aeródromos.
Nos Estados Unidos da América (EUA), com a aprovação da Public Law
103-305, em 1995, que apresenta, explicitamente, que um aeroporto ou aeró-
dromo, para ser elegível, em termos de financiamento, tem que demonstrar
a implementação de um eficaz SGP (TRB, 2008; APT, 2006), a utilização

148
de SGP sofreu um incremento considerável, embora a sua utilização já es-
tivesse a crescer desde 1985.
A eficácia de um SGP é, cada vez mais, importante para as administra-
ções aeroportuárias. Considerando as grandes limitações econômicas, é es-
sencial a otimização das verbas na conservação e reabilitação dos pavimen-
tos. Uma conservação dos pavimentos desajustada e fora de tempo pode
levar a um aumento de custos de reabilitação de quase 50%, aumentando,
também, o risco de ocorrência de acidentes e o tempo de encerramento do
tráfego (SHAHIN, 2005).

2 METODOLOGIA DE CÁLCULO DO PCI


A metodologia do PCI pretende avaliar a condição de um pavimento em
manter um determinado nível de serviço. O índice PCI assume valores en-
tre 0 e 100, correspondendo aos estados de ruína e pavimento novo, res-
pectivamente. Esses são considerados como um conjunto de anomalias
presentes na superfície do pavimento, organizandas em função do seu tipo
e gravidade. A aplicação da metodologia inicia-se com a divisão da rede de
pavimentos do aeródromo em ramos, seções e amostras (SHAHIN, 2005;
ASTM, 2004; AL, 1987; HDA, 1982). Em seguida, é determinado o PCI de
cada seção que depende do PCI das várias amostras. O PCI de todas as
seções representa, assim, o estado de conservação da rede de pavimentos
aeroportuários.
O cálculo de PCI de cada amostra tem como fórmula básica a diminui-
ção do valor máximo do PCI (100). O valor a subtrair é o Valor Deduzido
Corrigido (CDV) que traduz, de uma forma ponderada, o peso de todas as
degradações presentes na amostra. O processo de cálculo do PCI inicia-se
utilizando os dados colocados na ficha de inspeção individual após o le-
vantamento das anomalias. Começa-se por determinar a densidade (D) e o
respectivo valor deduzido (DV) de cada anomalia que traduz a influência
de sua densidade e gravidade na qualidade de conservação do pavimento.
Em seguida, para funcionar como atenuante do peso de todas as anoma-
lias na condição do pavimento, calcula-se o número máximo de deduções
(m), considerando o cálculo do PCI. No final, determina-se, em função do
número máximo de deduções (m) e dos valores deduzidos (DV) de cada
anomalia, o Valor Deduzido Corrigido (CDV) máximo através de um pro-
cesso iterativo que relaciona as três variáveis referidas. O resultado final do
PCI da amostra é calculado através da seguinte expressão:

149
(1)

3 APLICAÇÃO AO AERÓDROMO MUNICIPAL BISSAYA


BARRETO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO AERÓDROMO


O Aeródromo Municipal Bissaya Barreto está localizado na zona central de
Portugal, acerca de 8 km do centro da cidade de Coimbra. As coordenadas
do aeródromo são N 40º 09’ 41’’ e W 8º 28’ 20’’ e situa-se a uma altitude
máxima de 179 metros (INAC, 2004). O aeródromo possui segurança no
período noturno, sala de planeamento de voo, iluminação para voos no-
turnos e combustível AVGAS 100 LL. Na Figura 1, é apresentada uma vista
aérea do aeródromo.

Figura 1 – Vista aérea do Aeródromo Municipal Bissaya Barreto

Fonte: Google Earth

O aeródromo ilustrado é constituído por uma pista com um pavimento


flexível, tendo 920,00 metros de extensão, 30,00 metros de largura e orien-
tação 16-34; uma plataforma de estacionamento de 100,00 metros de exten-
são e 60,00 metros de largura; um caminho de circulação que liga a pista à
plataforma de estacionamento com 73,00 metros de comprimento e 15,00
metros de largura; um edifício terminal; um hangar com oficina perten-
cente ao Aeroclube de Coimbra e um caminho de circulação que permite

150
a ligação entre a pista e o hangar. A pista tem luzes laterais, luzes de soleira
de pista e luzes de fim de pista. O caminho de circulação e a plataforma de
estacionamento contêm também sinalização luminosa. Existem bermas de
proteção em terra batida das áreas operacionais, apresentando uma largura
de 35,00 metros, lateralmente à pista, uma extensão de 40,00 metros no
topo da pista e 60,00 metros lateralmente ao caminho de circulação. No
Aeródromo Municipal Bissaya Barreto, não existe nenhum heliporto isola-
do, mas existe uma zona na plataforma de estacionamento, onde, normal-
mente, os helicópteros podem aterrissar ou decolar. A pista, plataforma de
estacionamento e o caminho de circulação principal são constituídos por
um pavimento flexível com a estrutura apresentada na Figura 2.

Figura 2 – Estrutura do pavimento flexível

Fonte: Autoria Própria

O Aeródromo Municipal Bissaya Barreto é, também, a sede do Aero-


clube de Coimbra e serve de base operacional do Aeroclube da Figueira da
Foz. Usualmente, o aeródromo é utilizado por aviões particulares, aerona-
ves pertencentes ao Aeroclube de Coimbra e ao Aeroclube da Figueira da
Foz e por alguns aviões e helicópteros de apoio ao combate de incêndios.
Nos últimos anos, são registrados, em média, 6055 movimentos (aterrissa-
gens ou decolagens), 3042 escalas e 3758 passageiros.

3.2 DIVISÃO DO AERÓDROMO EM RAMOS SEÇÕES E


AMOSTRAS
A aplicação da metodologia de avaliação da qualidade dos pavimentos de
aeroportos e aeródromos, através do índice PCI, inicia-se dividindo, em
primeiro lugar, todo o pavimento em Ramos, Seções e Amostras. Essa
divisão é feita em função da estrutura dos pavimentos, da história das

151
intervenções, do estado de conservação do pavimento e da função de cada
parte do aeródromo.
Apresentando de uma forma mais detalhada, a rede de pavimentos de
um aeródromo é constituída por vários ramos, cada um com uma fun-
ção específica dentro da rede. De acordo com a norma ASTM (2004), os
ramos constituintes de um aeroporto ou aeródromo são: R – Pista Prin-
cipal (Runway); T – Caminho de Circulação (Taxiway); A – Plataforma
de Estacionamento (Apron); M – Placa de Manutenção (Maintenance); S
– Bermas (Shoulders), O – Cabeceira de Pista (Overruns); H – Placa de
Helicópteros (Helipad).
Não há nenhum histórico de intervenções na rede de pavimentos do
Aeródromo Municipal Bissaya Barreto. Existe, apenas, o projeto inicial, que
previa uma única estrutura de pavimento para todo o aeródromo. Deste
modo, a divisão em Ramos e Seções será feita apenas em função do estado
de conservação e da função na rede.
O Aeródromo Municipal Bissaya Barreto foi dividido nos ramos, nas
seções e nas amostras apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Ramos, seções e amostras do Aeródromo Municipal Bissaya Barreto


Tipo de Área
Código Designação Seções Amostras
Pavimento (m2)
A 01 Plataforma de Estacionamento Flexível 6000 1 12

R 01 Pista Flexível 27600 3 61

T 01 Caminho Circulação Flexível 1288 1 3

Total 34888 6 76

Fonte:Autoria Própria

Pelos motivos apresentados anteriormente, a divisão em seções foi feita,


apenas, em função do estado do pavimento. Após uma visualização inicial
dos pavimentos do aeródromo, se tornou necessária a divisão da pista, ape-
nas, em três seções. Na plataforma de estacionamento e no caminho de cir-
culação, foi considerada apenas uma seção. Na Figura 3, é apresentado um
mapa com os ramos e as seções do Aeródromo Municipal Bissaya Barreto.
Relativamente à divisão em amostras, o seu tamanho ideal para pavi-
mentos flexíveis é de 450 m2, podendo variar em ± 180 m2. Considerando
as dimensões de cada ramo, foram definidas 60 amostras de 450 m2 para a
pista (15x30 m2) e uma com 600 m2 (20x30 m2). A plataforma de estacio-
namento foi dividida em 12 amostras de 500 m2 (20x25 m2). O caminho de
circulação foi dividido em três amostras com área semelhante.

152
Figura 3 – Ramos e seções do Aeródromo Municipal Bissaya Barreto

Fonte: Autoria Própria

3.3 INSPEÇÃO DOS PAVIMENTOS


Concluída a divisão do aeródromo em ramos, seções e amostras, foi neces-
sário efetuar o levantamento do estado dos pavimentos. O método da Fede-
ral Aviation Administration (FAA) estabelece que deve ser determinado um
número de amostras a se inspecionar, evitando, assim, o levantamento de
toda a rede de pavimentos. Uma vez que a área total da rede não é extensa,
decidiu-se fazer o levantamento de toda a rede, de modo a evitar a seleção
aleatória de algumas amostras. Assim, todas as anomalias são registradas
em todo o aeródromo. Após esta decisão, procedeu-se o levantamento e
contabilização das anomalias. Foram feitos, individualmente em cada
amostra, sendo registrado numa ficha de inspeção, a dimensão e o nível de
gravidade das anomalias observadas.
A ficha de inspeção com as anomalias definidas em FAA é apresentada
na Tabela 2 a seguir. Estes dados são necessários para o posterior cálculo
do PCI da seção (FAA, 2007; USACE, 2005; SHAHIN, 2005; ASTM, 2004;
HDA, 1982). O levantamento das anomalias das 76 amostras foi realizado
durante os meses de Abril e Maio de 2013, usando-se os procedimentos
descritos em FAA (2007), FAA (2003) e ASTM (2004). Foi utilizada uma
régua e uma fita métrica para medição das anomalias. Das várias anomalias
registradas, as fendas longitudinais e transversais são claramente as mais
predominantes. Na Figura 4, é apresentado um exemplo de uma fenda lon-
gitudinal. Esta anomalia será determinante nos valores do PCI. Na Tabela
2, é apresentado o levantamento de duas amostras.

153
Figura 4 – Exemplo de fenda longitudinal

Fonte: Autoria Própria

Tabela 2 – Ficha de inspeção com dados de duas amostras

Aeródromo: Bissaya Barreto Seção: R 01 (1) Data: 14-05-2013


Amostra: 8 Amostra: 9
Pavimentos Flexíveis Área: 450
Gravidade Gravidade Área: 450 m2
m2
Fendas “pele de crocodilo” ou L 33,5
1 L 31,5
fadiga
2 Exudação
3 Fendas cruzadas
4 Ondulação
5 Depressões
6 Erosão por “Jet-Blast”
7 Fendas de reflexão
Fendas longitudinais/ L/M 55/25
8 L/M 65/30
transversais
9 Derrame de combustível
10 Remendos/cortes técnicos L 0,92
11 Polimento de agregados
12 Desagregação superficial L 56 L 24
13 Rodeiras
14 Escorregamento lateral
15 Fendas em “Meia-Lua”
16 Empolamento

Fonte: Autoria Própria

3.4 RESULTADOS DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE


CÁLCULO DO PCI
Após a divisão da rede de pavimentos e do levantamento das anomalias

154
existentes, foi aplicada a metodologia de cálculo do PCI descrita no ponto
2. Apresentam-se, na Tabela 3, os resultados do estado de conservação da
rede de pavimentos. A Figura 5 apresenta a classificação dos valores do PCI
em termos qualitativos. Já a Figura 6 e a Figura 7 representam, respecti-
vamente, o valor do PCI em cada seção e amostra da rede de pavimentos.
Verifica-se que, na parte inicial da pista, onde as aeronaves iniciam a
sua aceleração para a decolagem, se registram os valores de PCI mais bai-
xos. A segunda parte da pista onde os valores são mais baixos é na zona de
impacto onde as aeronaves aterram, decolam e fazem inversão de marcha
para regressarem à plataforma de estacionamento. Verifica-se também que
a plataforma de estacionamento apresenta um pior estado de conservação
comparativamente ao caminho de circulação.

Tabela 3 – Valor do PCI de cada seção da rede de pavimentos do aeródromo


Tipo de Área PCI
Seção Designação PCI
Pavimento (m )
2
Ramo
Plataforma de
A 01 Flexível 6000 50 50
Estacionamento
R 01 (1) Pista Flexível 4500 44

R 01 (2) Pista Flexível 11700 53 55

R 01 (3) Pista Flexível 11400 61


T 01 Caminho Circulação Flexível 1288 55 55

Fonte: Autoria Própria

Figura 5 – Classificação dos valores do PCI

Fonte: Autoria Própria

155
Figura 6 – Representação do valor do PCI das seções

Fonte: Autoria Própria

Figura 7 - Representação do valor do PCI das amostras

Fonte: Autoria Própria

3.5 PLANO DE REABILITAÇÃO DOS PAVIMENTOS


O objetivo do plano de reabilitação dos pavimentos é permitir que um ae-
roporto ou aeródromo se mantenha em boas condições de operacionalida-
de e segurança durante o período de serviço. Diversos estudos demonstram
que é mais econômico manter um pavimento em boas condições, ao invés
de realizar intervenções periódicas num pavimento em más condições. Na
definição das intervenções, foram considerados os valores críticos do PCI
apresentados na Tabela 4 (FAA, 2006). Na Tabela 5, são apresentadas as es-
timativas de custos unitários para cada tipo de intervenção de conservação
corrente localizada em pavimentos flexíveis (BARROS, 2008; FAA, 2007;
FAA, 2003; VELOSO, 2001).

Tabela 4 – Valores críticos do PCI


Caminho de Plataforma de
Classe Descrição Pista
circulação estacionamento
1a Aeroportos Comerciais Principais 65 60 50

1b Aeroportos Comerciais Secundários 65 60 50

2 Aeroportos de Negócios 65 60 50

3 Aeroportos Regionais 60 55 50

156
4 Aeródromos Municipais 60 55 50
Aeródromos de Baixo Volume de
5 55 50 45
Tráfego
Fonte: Autoria Própria

Tabela 5 – Custo unitário de conservação corrente localizada em pavimentos flexíveis


Nível de Custo
N.º Tipo de degradação Intervenção
gravidade Unitário

Fendas “pele de crocodilo” Baixo Monitorização -


1
ou fadiga Médio e Alto Reparação porfunda 36,00 €/m2

2 Exudação - Monitorização -

Baixo Monitorização -
3 Fendas cruzadas
Médio e Alto Selagem de fendas 13,20 €/m

Baixo Monitorização -
4 Ondulação
Médio e Alto Reparação porfunda 36,00 €/m2

Baixo e Médio Monitorização -


5 Depressões
Alto Reparação porfunda 36,00 €/m2

6 Erosão por “Jet-Blast” - Reparação superficial 14,40 €/m2

Baixo Monitorização -
7 Fendas de reflexão
Médio e Alto Selagem de fendas 13,20 €/m

Fendas longitudinais e Baixo Monitorização -


8
transversais Médio e Alto Selagem de fendas 13,20 €/m

9 Derrame de combustível - Reparação superficial 14,40 €/m2

Baixo e Médio Monitorização -


10 Remendos e cortes técnicos
Alto Reparação porfunda 36,00 €/m2

11 Polimento de agregados - Monitorização 7,20 €/m2

- Monitorização -
12 Desagregação superficial
Médio e Alto Reparação superficial 7,20 €/m2

157
Baixo e Médio Monitorização -
13 Rodeiras
Alto Reparação porfunda 14,40 €/m2

Baixo Monitorização -
14 Escorregamento lateral
Médio e Alto Reparação porfunda 14,40 €/m2

15 Fendas em “Meia-Lua” - Reparação porfunda 36,00 €/m2

Baixo e Médio Monitorização -


16 Empolamento
Alto Reparação porfunda 36,00 €/m2

Fonte: Autoria Própria

Geralmente até ao valor crítico, o pavimento apresenta um bom desem-


penho, necessitando apenas de intervenções de conservação corrente. A
partir desse valor, o pavimento começa a deteriorar-se rapidamente, sendo
necessária uma reabilitação ou, até mesmo, a reconstrução no caso de bai-
xos valores de PCI. Considerando essa classificação, o Aeródromo Munici-
pal Bissaya Barreto é classificado como classe 4. Embora seja um aeródro-
mo municipal, registram-se baixos níveis de tráfego, permitindo considerar
os valores críticos da classe 5, que são os seguintes: 55 para a pista, 50 para o
caminho de circulação e 45 para a plataforma de estacionamento.
Considerando estes valores e voltando a consultar os valores do PCI na
Tabela 3, temos as seções R01 (1) e R01 (2) com valores de PCI abaixo do
valor crítico. Este baixo valor resulta, sobretudo, da existência de fendas
longitudinais presentes em grande parte da rede de pavimentos, pelo que
se torna aconselhável uma selagem de fendas a curto prazo. Com o objetivo
de definição de um plano de conservação dos pavimentos do aeródromo,
foram propostas as seguintes estratégias alternativas de conservação:

• Estratégia I: Selagem imediata das fendas de nível de gravidade média


ou alta e posteriores intervenções de conservação corrente;
• Estratégia II: Reabilitação das seções com valor de PCI inferior a 55 e
conservação corrente nas restantes seções.

3.5.1 ESTRATÉGIA I
A aplicação desta estratégia passa, inicialmente, por uma selagem de fen-
das de nível de gravidade média e elevada, que deverá ser feita, ainda, no
decorrer do ano de 2013. Com esta intervenção, prevê-se uma melhoria
significativa dos valores do PCI. Na Tabela 6, são apresentados os custos

158
desta intervenção e os valores do PCI após a intervenção.
Como se pode verificar, com a selagem das fendas de maior gravidade,
deixam de existir seções com valores de PCI abaixo do valor crítico. Após
esta intervenção, pôde-se prosseguir com as intervenções de conservação
corrente localizada, definindo um plano de intervenções para 2014.
Na Tabela 7, são apresentadas as propostas de intervenção e as respecti-
vas estimativas de custo. Somando a intervenção de conservação corrente
à intervenção inicial de selagem de fendas, prevê-se um investimento total
de 38.518,98 € para a estratégia I.

Tabela 6 – Estimativa de custos para selagem de fendas e novo PCI

Total de Custo Custo PCI


Área Custo
Seção fendilhamento Unitário Parcial
(m )
2
Total (€) Inicial Final
(m) (€) (€)
A 01 6000 288,1 3.802,92 50 57
3.709,46
R 01 (1) 4500 281,0 44 56
R 01 (2) 11700 330,8 13,20 4.365,90 15.425,41 53 59
R 01 (3) 11400 192,1 2.535,89 61 66
T 01 1288 76,0 1.003,20 55 68

Fonte: Autoria Própria

Tabela 7 – Estimativa de custo para intervenção de conservação corrente


Seção Anomalia Custo Custo
Área Quantidade Un. Unitário Parcial Custo Total (€)
Código Nº
(m2) (€/un) (€)
A 01 6000 9 37,42 m2 14,40 538,85
R 01 (1) 4500 12 753,7 m2 7,20 5.426,64
R 01 (2) 11700 12 1284,5 m2
7,20 9.248,40 23.093,57
R 01 (3) 11400 12 901,0 m2
7,20 6.487,20
T 01 1288 12 193,4 m2 7,20 1.392,48

Fonte: Autoria Própria

3.5.2 ESTRATÉGIA II
A aplicação da Estratégia II propõe uma melhor intervenção, logo no início,
nas seções com valor de PCI crítico. Neste caso, o aconselhável seria uma
reabilitação das seções R 01 (1) e R 01 (2), que passaria pela colocação de
uma camada de betão betuminoso. Tendo em conta os constrangimentos
econômicos, essa proposta não seria posta em prática num futuro próximo,

159
já que, em alternativa, se propõe a aplicação de um slurry seal em toda a
área das referidas seções. Para as seções restantes, mantém-se o plano de
intervenções de conservação corrente. Na Tabela 8, é apresentada a estima-
tiva de custos de todo o plano de intervenções para 2014.
Além dessas intervenções, será necessária uma monitorização periódica
do estado do pavimento, especificamente para as fendas longitudinais e a
pele de crocodilo de nível de gravidade baixa. Não foram contabilizados
custos para esta atividade, uma vez que essa pode ser efetuada pelos recur-
sos humanos do Aeródromo Municipal Bissaya Barreto ou pela entidade
gestora.

Tabela 8 - Estimativa de custo da reabilitação e da intervenção de conservação


corrente
Seção Anomalia Custo
Custo Parcial Custo Total
Área Quantidade Un. Unitário
Código Nº (€) (€)
(m2) (€/un)
A 01 6000 8 288,1 m 13,20 3.802,92
A 01 6000 9 37,42 m2 14,40 538,85
R 01 (1) 4500 - 4500 m2 3,13 14.085,00
R 01 (2) 11700 - 11700 m2 3,13 36.621,00
192,1 66.466,54
R 01 (3) 11400 8 m 13,20 2.535,89
R 01 (3) 11400 12 901,0 m2 7,20 6.487,20
T 01 1288 8 76,0 m 13,20 1.003,20
T 01 1288 12 193,4 m 2
7,20 1.392,48

Fonte: Autoria Própria

A Estratégia II é muito mais vantajosa em termos de qualidade de ope-


racionalidade, segurança e longevidade do aeródromo. A longo prazo, a
Estratégia II e políticas de investimento do mesmo tipo conduzem a maio-
res poupanças na conservação de pavimentos de aeroportos e aeródromos.
No entanto, como existe uma diferença de investimento de 27.947,56 € e,
considerando a grave crise econômica atual, é possível que seja adotada a
Estratégia I por parte da entidade gestora.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho descreve uma primeira abordagem do SGP do Aeródromo
Municipal Bissaya Barreto que será muito útil à gestão das condições de
operacionalidade e segurança do aeródromo. A entidade gestora do ae-
ródromo terá ao seu dispor, a partir de agora, informação importante da
rede de pavimentos, avaliação do seu estado de conservação e um plano de

160
conservação com duas alternativas a curto e médio prazo. Assim, já conhe-
cem que intervenções de conservação são necessárias, quando devem ser
aplicadas e quais as seções a intervir.
Os SGP de Aeroportos e Aeródromos, por razões históricas, são mui-
to baseados no sistema PAVER (SHAHIN, 2005; SHAHIN, 1997; USACE,
2002; FAA, 1988), nomeadamente no que se refere à utilização do índice
PCI. No entanto, alguns desenvolvimentos importantes, verificados nos úl-
timos anos nos SGP de redes rodoviárias, podem, facilmente e com utilida-
de, ser aplicados aos aeroportos e aeródromos.

REFERÊNCIAS:

APT. Ephrata Municipal Airport 2005 Pavement Management Report,


Applied Pavement Technology, Illinois, USA, 1-115, 2006

ARTMAN, D. Optimization of Long Range Major Rehabilitation of


Airfield Pavements. Air Force Engineering and Services Center, Tyndall,
USA, 1987.

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Surveys, D5340-04, American Society for Testing and Materials, USA, 1-54,
2004.

BARROS, R. Gestão da Conservação de Pavimentos de Aeroportos e Ae-


ródromos. Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Coimbra,
Portugal, 1-72, 2008.

FAA. Guidelines and Procedures for Maintenance of Airport Pavements.


Advisory Circular 150/5380-6B, Federal Aviation Administration, U.S. De-
partment of Transportation, USA, 2007.

FAA. Airport Pavement Management Program. Advisory Circular


150/5380-7A, Federal Aviation Administration, U.S. Department of Trans-
portation, USA, 2006.

FAA. Guidelines and Procedures for Maintenance of Airport Pavements.


Advisory Circular 150/5380-6A, Federal Aviation Administration, U.S. De-
partment of Transportation, USA, 2003.

FAA. Pavement Management System. Advisory Circular 150/5380-7,

161
Federal Aviation Administration, U.S. Department of Transportation,
USA, 1988.

HAD. Pavement Maintenance Management. TM 5-623, Headquarters De-


partment of the Army, USA, 1982.

INAC. Aeródromo de Coimbra – LPCO. Instituto Nacional de Aviação


Civil, Lisboa, Portugal, 2004.

SHAHIN, M. Pavement Management for Airports, Roads, and Parking


Lots. Springer, 2nd Edition, New York, 2005.

SHAHIN, M. PAVER Asphalt Distress Manual. United States Corps of


Engineers – Construction Engineering Research Laboratory, USA, 1997.

TRB. Implementation of an Airport Pavement Management System.


Transportation Research Circular E-C127. Transportation Research Board,
Washington, USA, 1-18, 2008.

USACE. Unified Facilities Criteria (UFC): Paver Asphalt Surfaced Airfiel-


ds Pavement Condition Index (PCI). United States Army Corps of Engine-
ers, USA, 1-86, 2005.

USACE. Micro PAVER Version 5.0 – User Manual. United States Army
Corps of Engineers, USA, 1-170, 2002.

VELOSO, J. Gestão de Pavimentos Aeronáuticos. Instituto Superior Téc-


nico, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, 2001.

162
EAD COMO UMA FERRAMENTA DE
TRANSFORMAÇÃO EM REGIÕES DA ZONA RURAL28

Macel Wallace Queiroz Fernandes29

RESUMO
O desenvolvimento de uma nação só é possível com investimento em edu-
cação e este investimento deve ultrapassar os limites periféricos das gran-
des cidades. Políticas públicas devem proporcionar um ambiente educacio-
nal adequado, no intuito de reduzir o êxodo rural provocado pela busca de
oportunidades nos grandes centros. A falta de infraestrutura nas escolas, da
oferta de qualificação continuada aos professores, principalmente, de qua-
lificação da Gestão Pública são fatores primordiais que podem comprome-
ter o bom desempenho da educação em zona rural. Diante desse contexto,
o objetivo deste artigo é analisar a contribuição da Educação a Distância
(EaD) enquanto ferramenta educacional viável para uma aprendizagem
mais efetiva dos alunos em zona rural e, sobretudo, para capacitação contí-
nua do docente. O EaD voltado para a zona rural deve ser flexível à realida-
de do habitante local e dotado de currículo compatível, o qual, em conjunto
com as Metodologias Ativas, pode maximizar a forma de aprender. Neste
artigo, buscou-se o amparo da Associação Brasileira de Educação a Distân-
cia (ABED) para a realização da pesquisa bibliográfica que deu suporte ao
embasamento teórico do presente estudo, de caráter dedutivo e qualitativo
metodologicamente. Os dados nos permitiram observar a predominância
de faixa etária dos educandos entre os 21 a 30 anos e 31 e 40 anos que procu-
ram cursos em EaD. Isso se deve ao fato de muitos constituírem grupos que

28 Este artigo apresenta alguns dos elementos estudados no Curso “de Pós Graduação”
e foi apresentado ao final do curso de Metodologias Ativas sob a orientação da Profª
Drª Érika Maria A. Costa. Doutorado em Ciência da Linguagem. UNICAP
29 Mestre em Engenharia Civil – Universidade Federal de Campina Grande – Campina
Grande / PB – E-mail: professormacel@gmail.com.

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exercem atividade produtiva e não dispõem de tempo. Fica claro, também,
na pesquisa, que para a faixa abaixo dos 20 anos, correspondente ao ensino
básico e médio, o acesso aos benefícios das novas tecnologias é bem tímido.
Conclui-se que o EaD é ainda mais forte quando aliado às novas tecnolo-
gias para se levar conhecimento às comunidades da zona rural.

palavras-chave: ABED. Zona rural. Ensino-aprendizagem. Metodolo-


gias Ativas.

1 INTRODUÇÃO
Historicamente, a zona rural sempre foi considerada como lugar da rustici-
dade, do atraso, entre tantos outros atributos negativos. E nessa perspecti-
va, pensa-se que, para as pessoas que vivem no campo, o desenvolvimento
nunca chega, a menos que esse campo se transforme em perspectiva de
capital e assim deixa de ser compreendido como o lugar do atrasado, que
deverá, inevitavelmente, ser superado (SILVA et al., 2010).
Em um olhar histórico, percebe-se, claramente, um afastamento maciço
dos habitantes da zona rural em direção aos grandes centros urbanos quan-
do o assunto é educação. São diversos os motivos, dentre os quais se pode
destacar, em grande parte, a má qualidade no ensino, falta de professores,
escassez de recursos e falta de perspectiva profissional.
Em muitas regiões, é normal, ainda, se encontrar alunos “de sítios” em
ambientes de aula com turmas multisseriadas, em que o professor é respon-
sável pelo atendimento de séries diversificadas e faixas etárias diferentes.
Antônio e Lucini (2007) destacam que a falta de estrutura da grande
maioria das escolas fez com que os professores da zona rural sejam mora-
dores da própria região e que a educação se segmentasse, tendo de um lado
os profissionais e alunos urbanos e de outro os profissionais da zona rural e
os alunos “do sítio”. A educação rural não tem a mesma atenção das escolas
urbanas e isso ocasiona “êxodo rural escolar”.
Ao chegar aos grandes centros, os desafios tornam-se maiores, pois,
além do impacto cultural, movimentos discriminatórios podem ser vistos e
muitos são vítimas de desconfiança e preconceito, sendo taxados, até, como
incapazes.
A educação na zona rural precisa ser impactada por ações mais enér-
gicas e duradouras, seguindo um plano de desenvolvimento mais extenso
e que não seja solúvel às mudanças de “partidos políticos”. Deve haver um
mecanismo permanente que permita a qualificação contínua dos professo-
res, alunos e, principalmente, que envolva a família dos interessados.
Neste aspecto, conforme Antônio e Lucini (2007), sempre será um

164
grande desafio levar e manter educação de qualidade no ambiente rural
e, quando se pensa em proporcionar conteúdo atualizado com aplicação
de ferramentas modernas, o desafio é muito maior. Pensar em alternativas
com capacidade de proporcionar uma maior inclusão é emergencial. Nesse
contexto, o EaD pode ressurgir e se reinventar como uma alternativa ami-
gável nos tempos de hoje, haja vista o grande acesso de grande parte da
população aos recursos tecnológicos.
Com base no discutido anteriormente, resta saber se há interesse dos su-
jeitos envolvidos (estado, sociedade, ONG’s e etc.) para o desenvolvimento
e manutenibilidade de uma estrutura educacional na zona rural. Alguns
questionamentos podem ser feitos, tais como: O EaD pode ser considerado,
pelos interessados, como uma alternativa de levar conhecimento? A infra-
estrutura é suficiente para a modalidade EaD?
O objetivo deste artigo é analisar a contribuição da Educação a Distân-
cia (EaD) enquanto ferramenta educacional viável para uma aprendizagem
mais efetiva dos alunos em zona rural e, sobretudo, para capacitação con-
tínua do docente.
No decorrer do artigo tem-se os desafios para se transpor barreiras e
distância com a EaD, com abordagem da educação à distância e na zona
rural, e com análise de dados tem-se a conclusões do quanto é necessário
avançar no tema.

2 TRANSPONDO BARREIRAS E ENCURTANDO DISTÂNCIAS


COM A EAD
Observa-se que, na sociedade contemporânea, os desafios se tornam cons-
tantes. Na educação, o processo de ensinar e aprender ganham aliados e,
com isso, tem-se novas perspectivas. A tecnologia, por exemplo, quando
bem utilizada tem encurtado distâncias e a sala de aula tradicional recebe
diariamente novas modelagens (LIBÂNEO, 1992).
Os professores, no novo cenário, não são mais o centro das atenções e
dividem esta responsabilidade com os próprios alunos em um contexto de
colaboração e de construção do saber. O professor passa a ser um curador,
mentor, ou como se pode classificar, um articulador do conhecimento, com
habilidades para utilizar diversas ferramentas.
A educação a distância (EaD) é uma modalidade de aprendizagem que
aliada às novas tecnologias vem se fortalecendo. O grande desafio é enten-
der de que forma estes novos recursos vão integrar a sociedade como um
todo, sem excluir os menos favorecidos ou os que habitam lugares distantes
dos grandes centros, como é o caso da zona rural.

165
EDUCAÇÃO NA ZONA RURAL
No passado era oferecido apenas o ensino primário, hoje, denominado de
educação de base. Quando o número de alunos não era satisfatório, abria-
se uma sala mista e o docente era desafiado a lecionar conteúdos distintos
para alunos de distintas faixas etárias, ocupando o mesmo espaço físico: “A
instalação das escolas multisseriadas do ensino primário traduz a precarie-
dade da escolarização oferecida pelo poder público aos jovens camponeses”
(SKRZYPCZAK & SCHLOSSER, 2014, p. 142-143).
Para os moradores da zona rural, existem no máximo duas alternativas:
estudar na cidade mais próxima ou optar por frequentar a escola rural na
região, onde moram, caso exista. A alternativa dos que permanecem na
zona rural é recorrer à escola da cidade mais próxima. Apesar da existência
de escolas no campo ser uma realidade no Brasil, havendo uma drástica
redução decorrente do processo de urbanização, segundo Oliveira e Dal-
magro (2014), somente a partir da década de 90 do século XX, os projetos
relacionados à Educação do Campo passam a fazer parte da pauta dos mo-
vimentos sociais e da academia.
Gusso e Almeida (2009) citam que, no período de 1930 a 1960, a educa-
ção na zona rural foi vista como um dos fatores essenciais para a solução
do problema da migração rural, de modo que a Constituição de 1934 esta-
beleceu a importância de uma concepção de educação profissional voltada
ao contexto industrial, sendo à educação rural instituído os seguintes apon-
tamentos em seu artigo 156: “Parágrafo único - Para a realização do ensino
nas zonas rurais, a União reservará no mínimo, vinte por cento das cotas
destinadas à educação no respectivo orçamento anual.” (BRASIL, 1934). Já,
em 1946, com a nova Constituição, propôs-se responsabilizar as empresas
privadas pelo provimento da educação das pessoas da zona rural que nelas
trabalhavam após sua vinda para a cidade.
As propostas do ensino rural eram as seguintes: “Uma escola única
igualmente para área urbana e rural, com relação a incentivos e direitos;
ensino diferenciado, com assuntos especificamente ligados à classe rural”
(BRASIL, 2001). Em seus aspectos técnico/pedagógicos, ressalta-se, nas
palavras de Antônio e Lucini (2007), que o direcionamento da Educação
Rural objetivava evitar e/ou reduzir o número de faltas e de desistências
de seus alunos, adotando modelos pedagógicos que se adequavam às ne-
cessidades da vida rural, em que o calendário escolar seguia a orientação
de mudança pautada nas épocas de colheita e plantio, como meio de res-
peitar as necessidades das famílias. Destaca-se ainda, com base nesses au-
tores, que a formação do professor rural pretendia a adoção e o uso de
uma linguagem mais próxima a dos alunos, sendo sua capacitação focada

166
em conhecimentos pertinentes ao cotidiano do aluno e isso incluía noções
sobre agricultura, zootecnia/veterinária, pecuária, entre outros. De forma
geral, o principal objetivo destas escolas era equiparar, ao máximo, a popu-
lação brasileira, culturalmente, e diminuir o índice de analfabetismo.
Ainda neste enfoque, a perspectiva de educação e desenvolvimento
evidenciavam o campo como um espaço atrasado, que não considerava a
diversidade de povos existentes na zona rural (os negros quilombolas, os
indígenas, os assentados, os acampados da reforma agrária, os pequenos
agricultores, os faxinalenses, entre outros).
Tais avanços são corroborados pela Constituição de 1988, que institui
em suas bases a aprovação de políticas de direitos educacionais bastante
significativas, rezando em seu artigo 211, a responsabilidade da União, Es-
tado, Distrito Federal e Municípios em regime de colaboração na garantia
de uma educação de qualidade.

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)


No século XXI, estudar está relacionado a desenvolver competências e apri-
morar habilidades com foco no mercado de trabalho. O processo educa-
cional, ao longo da vida, é de suma importância. À medida que existe a
necessidade de reformulação da formação inicial, há uma necessidade de
desenvolvimento contínuo e de mudanças dos locais de trabalho. Um dos
aspectos importantes do EaD está nos processos de ensino, que envolve o
papel do professor e o processo de aprendizagem, envolvendo o papel do
estudante.
A Educação a Distância é uma modalidade de ensino e estudo que existe
há muito tempo no Brasil e o seu crescimento tem se mostrado bastan-
te expressivo nos últimos tempos. Esse crescimento tem sido sustentado
pelo desenvolvimento de novas tecnologias, em especial as Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs). A legislação brasileira, através do De-
creto nº 5.622/2005, em seu artigo 1º, estabelece que a educação a distância
é uma modalidade educacional, na qual alunos e professores desenvolvem
atividades educativas em lugares e tempos diversos, em um processo de en-
sino-aprendizagem com a mediação didático-pedagógica adequada (BRA-
SIL, 2005).
Deve-se, então, entender o EaD como a modalidade educacional em
que as atividades são desenvolvidas, majoritariamente, sem que alunos e
professores estejam presentes no mesmo lugar, na mesma hora (ABED,
2014, p. 19)
Existe, portanto, uma diversidade de formas para conceber a Educação a
Distância, que vão desde a oferta de formações consorciadas, ou seja, parte

167
a distância e parte presencial, com predominância da primeira, até cursos
ofertados, totalmente, online. A tecnologia, nesse caso, objetiva funcionar
como uma ferramenta capaz de alavancar a educação em regiões perifé-
ricas, atuando como um agente catalizador do desenvolvimento humano
social. Por isso, um programa ou projeto de EaD deve ser flexível e estar
focado no aluno, bem como no ambiente em que vive e interage. No en-
tanto, a implementação e uso dessas tecnologias requer uma ruptura com
os modelos e práticas educacionais, até então vigentes, conforme destaca
Lévy (2005).
Portanto, não se trata de utilizar a tecnologia por modismo, mas sim de
moldar-se a uma realidade já consolidada. Usufruir das tecnologias de for-
ma a gerar maior produtividade nos processos educacionais e maior como-
didade aos sujeitos envolvidos. Além da evasão, constituem obstáculos a
serem superados na implementação da EaD “os desafios organizacionais da
migração de presencial para distância, a resistência dos alunos e a resistên-
cia dos professores” (ABED, 2014, p. 22). Configura-se como um processo
ainda não concluído e que, talvez, nunca o chegue a ser, pois as inovações
fazem parte do ciclo evolutivo da própria humanidade.
Maia & Mattar (2007) descrevem que o século XXI inicia-se sob o signo
da transição na educação, citando o avanço, cada vez maior, das tecnologias
e das ciências; a substituição dos livros por outras formas de transmissão
de conteúdo e a aprendizagem de linguagens de programação. A Educação
a distância, nesse sentido, tem ditado as regras para a educação do futuro.
A Educação a Distância deve propiciar condições mais favoráveis para
uma efetiva aprendizagem pelo discente, em dias, horários e ritmos custo-
mizados às particularidades de cada um. A jornada de trabalho no campo
costuma começar muito cedo. É uma rotina árdua e que envolve os sete
dias da semana. O EaD, pensado ao nível da população rural, deve contem-
plar, além da flexibilidade para se realizar as atividades inerentes a qualquer
hora, componentes curriculares próximos de sua realidade, concatenados à
resolução de dilemas diários.
O Censo do EaD, realizado pela ABED (2014), aponta que, desde 2010,
à exceção de alguns casos muito específicos, predominam alunos com certa
maturidade, alunos entre 31 e 40 anos, conforme demonstra a Figura 1 abai-
xo. A Figura 2, por sua vez, associa o perfil ocupacional dos educandos com
a modalidade de EaD procurada.

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Figura 1 - Perfil etário dos educandos dos cursos EaD oferecidos pelas instituições
formadoras participantes do Censo EaD.

Fonte: BRASIL, 2019.

Figura 2 - Perfil ocupacional dos educandos dos cursos EaD das instituições
participantes do Censo EAD segundo tipo e nível de curso.

Fonte: BRASIL, 2019.

Na Figura 2, o censo realizado permite visualizar que boa parte dos


interessados no EaD já atua profissionalmente e se concentra nos cursos
de graduação e pós-graduação. No entanto, merece destaque o fato de que
12,40% dos entrevistados frequentam curso de Educação de Jovens e Adul-
tos (EJA), o que reflete a existência de uma parcela da população em atraso

169
escolar. Ao se considerar que há um envelhecimento da população rural,
em especial nos assentamentos rurais, pois os jovens estão migrando do
campo para a cidade, em busca de melhores condições de vida e sobrevi-
vência, é possível especular que esta seja uma modalidade que poderia ter
uma considerável aplicabilidade nestas localidades.

3 ANÁLISE DOS DADOS OBSERVADOS


Pode-se observar, nos dados anteriores, que existe um predomínio etário
dos educandos dos cursos EaD entre 21 e 30 anos e alunos entre 31 e 40
anos. Muito disso é explicado pelo fato de estes educandos fazerem parte
de um grupo de pessoas, potencialmente, ativas e produtivas que necessi-
tam trabalhar para se manterem e, então, o EaD atende ao que surge como
maior desafio para eles que é o “tempo”.
Na zona rural, são poucos que conseguem ter disponibilidade de sair da
sua região para estudarem nos grandes centros. Mas o que fica claro é que
a faixa etária mais importante, abaixo dos 20 anos, tem baixo acesso aos
recursos e benesses do EaD e, neste momento, pode-se constatar grandes
lacunas na formação e capacitação de curadores, gestores.
Verdade é que quem mais busca o EaD na zona rural o faz, pois, em
função de suas ocupações como uma maneira de superar obstáculos. Ajus-
tar este contexto, criando políticas públicas com foco na educação de base
poderá trazer para estas regiões grandes transformações.

4 CONCLUSÃO
O EaD como ferramenta educacional pode ser viável para uma aprendiza-
gem mais efetiva dos alunos em zona rural e, sobretudo, para capacitação
contínua do docente mas é fato que sua abrangência á mais visível em si-
tuações específicas como é o caso dos perfis sociais que mais a utiliza, ou
seja, pessoal com idade entre 21 e 40 anos e que em sua maioria estudam e
trabalham.
A Educação a Distância se mostra como uma das alternativas para se
levar o conhecimento às comunidades da zona rural. Existe um grande
caminho a ser percorrido até que isso se torne abrangente. A falta de in-
fraestrutura adequada ou, até mesmo, sua inexistência, em muitos casos,
dificulta implementações simples.
Apesar dos avanços apresentados pelas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC’s), constata-se que os seus benefícios permanecem, na
maioria dos casos, restritos ao espaço urbano e a uma parcela privilegiada
da sociedade.
A ausência ou o baixo índice da presença de EaD encontrada na

170
realidade rural brasileira demonstra a baixa priorização, em todos os sen-
tidos, que os sucessivos governos têm dado às necessidades da população
rural, em especial à educação no campo. As salas multisseriadas, os pro-
blemas de transporte, o fechamento de escolas, a falta de infraestrutura e,
por fim, a ausência de componentes curriculares específicos para o meio
rural demonstram a falta de interesse dos governantes em promover, de
fato, uma educação de qualidade no campo. Pelo contrário, cooptado pelo
capital, o Estado empreende todos os esforços necessários para deslocar
os jovens do campo para a cidade e lhes ofertar uma educação que vai de
encontro aos interesses do capital. Isso coloca em risco a sustentabilidade e
o futuro das pequenas propriedades agrárias.

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Sobre o livro

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