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16º CONGRESSO

NACIONAL DE

GEOTECNIA
16 CNG - Congresso Nacional de Geotecnia
ATAS 6 JLEG - Jornadas Luso-Españolas de Geotecnia
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16º CONGRESSO

NACIONAL DE

GEOTECNIA
16 CNG - Congresso Nacional de Geotecnia
ATAS 6 JLEG - Jornadas Luso-Españolas de Geotecnia

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FICHA TÉCNICA

Título
Atas do 16º Congresso Nacional de Geotecnia

Autores
Sem Autor

Co-autor(es)
Vários

Edição
Laboratório Regional de Engenharia Civil
(Açores)

Suporte
Eletrónico

Data
julho de 2020

ISBN
978-989-96043-3-9

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Organização
Laboratório Regional de Engenharia Civil (LREC)- Açores
Sociedade Portuguesa de Geotecnia (SPG)

Comissão Organizadora
Presidente: Francisco Fernandes (LREC-A)
Ana Malheiro (LREC-A)
António Trota (UAç)
Carlos Fraga (LREC-A)
Diogo Caetano (LabGeo)
Filipe Marques (LREC-A)
Helena Brasil (LREC-A)
Isabel Dias (LREC-A)
João Medeiros (CMVFC)
Paulo Amaral (LREC-A)
Paulo Melo (Tecnovia Açores)
Roberto Dutra (LREC-A)

Comissão de Acompanhamento
Presidente: Manuel Matos Fernandes (SPG, UP)
Alberto Sayão (PUC-Rio)
Alexandre Pinto (SPG, JETSJ, UL)
Ana Vieira (SPG, LNEC)
António J.F. Cristóvão (SPG)
António Topa Gomes (UP)
José Luíz Antunes (SPG, KELLER)
Helder Chaminé (SPG, ISEP)
Nuno Guerra (UNL)

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Comissão de Revisão

Agostinho Mendonça (ISEP)


Alberto Sayão (PUC-Rio)
Alessander Kormann (ABMS, FUGRO IN SITU)
Alexandre Pinto (SPG, JETSJ, UL)
Ana Cristina Freire (LNEC)
Ana Malheiro (LREC-A)
Ana Teresa Carvalho (Bachy Soletanche)
Ana Vieira (LNEC)
André Assis (U. Brasília)
António Alberto Correia (UC)
António Campos e Matos (GEG)
António Gomes Correia (UM)
António J.F. Cristóvão (SPG)
António Pedro (UC)
António Pinelo (LNEC, CRP)
António Roque (LNEC)
António Silva Cardoso (UP)
António Topa Gomes (UP)
António Trota (UAç)
António Viana da Fonseca (UP)
Armando Antão (UNL)
Baldomiro Xavier (Teixeira Duarte)
Carlos Rodrigues (IPG)
Castorina Vieira (UP)
Celeste Jorge (LNEC)
Celso Lima (EDP, UP)
Cesar Sagaseta Millán (UNICAN)
Cristiana Ferreira (UP)
Eduardo Fortunato (LNEC, UP)
Emanuel Maranha das Neves (UL)
Fernando Pardo de Santayana (SEMSIG, CEDEX)
Fernando Vieira (LREC-M)
Filipe Telmo Jeremias (LNEC)
Francisco Fernandes (LREC-A)
Francisco Salgado (LNEC)
Frederico Melâneo (Ferconsult)
Helder Chaminé (SPG, ISEP)
Isabel Falorca (UBI)
Isabel Lopes (TPF Planege Cenor)
Isabel Moitinho de Almeida (UL)
Ivo Rosa (TEIXEIRA DUARTE)
Jaime Santos (UL)
Joana Carreto (LNEC)
João Bilé Serra (LNEC)
João Luís Gaspar (UAç)
João Maranha (LNEC)
João Marcelino (LNEC)
João Portugal (LNEC)
Joaquim Tinoco (UM)
Jorge Almeida e Sousa (UC)
Jorge Sousa Cruz (LSW Consult)

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Jorge Vazquez (EDIA)
José Alcino Rodrigues Carvalho (UNL)
José Claudino Cardoso (UA)
José Couto Marques (UP)
José Delgado Muralha (LNEC)
José Delgado Rodrigues (LNEC)
José Luiz Antunes (SPG, KELLER)
José Machado Vale (CARPITECH)
José Mateus de Brito (TPF PLANEGE CENOR)
José Neves (UL)
José Ricardo Resende (IUL)
José Vieira de Lemos (LNEC)
Laura Caldeira (LNEC)
Luciana Neves (UP)
Luís Lamas (LNEC)
Luis Lemos (UC)
Luís Pais (UBI)
Luísa Braga (LNEC)
Madalena Barroso (LNEC)
Manuel Matos Fernandes (SPG, UP)
Margarida Espada (LNEC)
Margarida Pinho Lopes (U. Southampton)
Maria da Graça Lopes (ISEL)
Maria de Lurdes Lopes (UP)
Maria Teresa Santana (UNL)
Mariana Carvalho (LNEC)
Mário Quinta Ferreira (UC)
Nuno Cristelo (UTAD)
Nuno Grossman (LNEC)
Nuno Guerra (UNL)
Nuno Raposo (IPV)
Paulo Coelho (UC)
Paulo da Venda Oliveira (UC)
Paulo Maia de Carvalho (UBI)
Paulo Pinto (UC)
Pedro Alves Costa (UP)
Pedro Guedes de Melo (UNL)
Pedro Lamas (UNL)
Pedro Sêco e Pinto (LNEC)
Rafaela Cardoso (UL)
Raul Pistone (COBA)
Ricardo Correia Santos (LNEC)
Ricardo Oliveira (COBA)
Rogério Mota (LNEC)
Rui Carrilho Gomes (UL)
Rui Manuel Correia (LNEC)
Rui Micaelo (UNL)
Sara Rios (UP)
Sónia Hortênsia Marques (IPG)
Teresa Bodas Freitas (UL)
Tiago Miranda (UM)
Victor Cavaleiro (UBI)
Waldemar Hachich (USP)

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Comissão Científica

Presidente: Francisco Fernandes (LREC-A)


Alberto Sayão (PUC-Rio)
Alessander Kormann (ABMS, FUGRO IN SITU)
Alexandre Pinto (SPG, JETSJ, UL)
Ana Malheiro (LREC-A)
André Assis (U. Brasília)
António J.F. Cristóvão (SPG)
António Gomes Correia (UM)
António Pinelo (LNEC, CRP)
António Roque (LNEC)
António Silva Cardoso (UP)
António Topa Gomes (UP)
António Trota (UAç)
António Viana da Fonseca (UP)
Armando Antão (UNL)
Celso Lima (EDP, UP)
Eduardo Fortunato (LNEC, UP)
Emanuel Maranha das Neves (UL)
Fernando Pardo de Santayana (SEMSIG, CEDEX)
Fernando Vieira (LREC-M)
Francisco Salgado (LNEC)
Helder Chaminé (SPG, ISEP)
Ivo Rosa (TEIXEIRA DUARTE)
Jaime Santos (UL)
João Bilé Serra (LNEC)
João Luís Gaspar (UAç)
João Marcelino (LNEC)
Jorge Almeida e Sousa (UC)
Jorge Sousa Cruz (LSW Consult)
José Alcino Rodrigues Carvalho (UNL)
José Couto Marques (UP)
José Delgado Muralha (LNEC)
José Delgado Rodrigues (LNEC)
José Luiz Antunes (SPG, KELLER)
José Machado Vale (CARPITECH)
José Mateus de Brito (TPF PLANEGE CENOR)
José Vieira de Lemos (LNEC)
Laura Caldeira (LNEC)
Luís Lamas (LNEC)
Luis Lemos (UC)
Manuel Matos Fernandes (SPG, UP)
Maria da Graça Lopes (ISEL)
Maria de Lurdes Lopes (UP)
Nuno Grossman (LNEC)
Nuno Guerra (UNL)
Pedro Sêco e Pinto (LNEC)
Rafaela Cardoso (UL)
Raul Pistone (COBA)
Ricardo Oliveira (COBA)
Rui Manuel Correia (LNEC)
Victor Cavaleiro (UBI)
Waldemar Hachich (USP)

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6as JLEG

Comissão Organizadora
Presidente: Manuel Matos Fernandes (SPG, UP)
Vice-Presidente: Fernando Pardo (SEMSIG, CEDEX)
Vogais:
Herminia Cano Linares (CEDEX)
Goran Vukotic (KELLER-Cimentaciones)
Ana Malheiro (LREC-A)
Francisco Fernandes (LREC-A)

Comissão Técnica
Presidente: José Mateus de Brito (TPF PLANEGE CENOR)
Vogais:
Ana Vieira (SPG, LNEC)
António Trota (UAç)
César Sagaseta Millán (UNICAN)
Claudio Olalla Marañón (UPM)

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PREFÁCIO

A 16ª edição do Congresso Nacional de Geotecnia subordinada ao tema “Geotecnia, Riscos


Naturais e Geotécnicos e Sustentabilidade”, organizada pela Sociedade Portuguesa de Geotecnia
e pelo Laboratório Regional de Engenharia Civil dos Açores realizou-se, pela primeira vez nos
Açores, na ilha de São Miguel, beneficiando do contacto direto com condições geológicas e
geotécnicas específicas de uma região vulcânica.
O principal evento promovido pela SPG desde 1985, com uma periodicidade bienal, tem como
principal objetivo fomentar o debate técnico e científico entre a comunidade geotécnica e
proporcionar o convívio associado à troca e à atualização de conhecimentos entre os profissionais
ligados à investigação, ao ensino, ao projeto, à construção, à manutenção e à exploração de obras
na área da Geotecnia. Associado a este evento realizou-se a 6a edição das Jornadas Luso-
Espanholas de Geotecnia, subordinadas ao tema “Obras Geotécnicas em Terrenos Vulcânicos”,
organizadas em conjunto com a Sociedad Española de Mécanica del Suelo e Inginiería
Geotécnica.
Foram registados 428 resumos submetidos por 911 autores provenientes de 26 países, em especial
de Portugal, Brasil e Espanha. O empenho de 104 revisores permitiu que fossem atempadamente
feitas 744 revisões de artigos. Todo o processo de revisão científica conduziu a um interessante
número de 266 comunicações aceites, das quais 158 foram apresentadas durante o evento. Com
330 inscrições registadas, 25 patrocinadores e 12 expositores, o Congresso dos Açores superou
as expectativas determinadas inicialmente.
O 16CNG foi estruturado de acordo com os onze temas em que se subdivide o tema geral, em 20
Sessões Paralelas, que decorreram em 4 salas (Aula Magna, Anfiteatro Norte, Anfiteatro Sul e
Anfiteatro VII), e em 8 Sessões Plenárias. Para além das sessões de Abertura e de Encerramento,
decorreram em sessões plenárias: as 4 conferências proferidas por especialistas nacionais e
estrangeiros, a apresentação dos trabalhos submetidos ao Prémio José Folque “Jovens
Geotécnicos” da SPG e a apresentação dos projetos vencedores do Prémio Ricardo Esquível
Teixeira Duarte (RETD) 2018.
As 6JLEG realizaram-se na tarde do dia 28 na Aula Magna, em 2 sessões plenárias, enriquecidas
por 2 conferências proferidas por especialistas convidados.

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ÍNDICE ARTIGOS

CONFERÊNCIAS

 ASPETOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS ASSOCIADOS A OBRAS RODOVIÁRIAS EM AMBIENTE VULCÂNICO (ILHA DA


MADEIRA)__________________________________________________________________________________________________________ 56
FREITAS, RUI

 GEOTERMIA NOS AÇORES: DA ROCHA À TURBINA____________________________________________________________________66


NUNES, JOÃO CARLOS

 GUÍAS GEOTÉCNICAS APLICABLES A PROYECTOS Y OBRAS EN TERRENOS VOLCÁNICOS: DE GETCAN A MACASTAB__73


GUTIÉRREZ, LUIS ENRIQUE HERNÁNDEZ

 INFLUÊNCIA DA FORMA DA BACIA DE RECALQUES NA AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DE ESCAVAÇÕES


SUBTERRÂNEAS____________________________________________________________________________________________________ 85
CELESTINO, TARCÍSIO B.

 THE INFLUENCE OF OBSTACLES IN DEBRIS-FLOW DYNAMICS: THE CASE STUDY OF CANCIA (ITALIAN
DOLOMITES)________________________________________________________________________________________________________86
MANASSERO, MARIO; PIRULLI, MARINA; TERRIOTI, CARMINE

ENCOSTAS E TALUDES

 ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA___________________________97


COÊLHO, DOUGLAS JOSÉ; GANEM, JOÃO LUCAS LIMA AQUINO; LANDIM, MATEUS DE PAULA; MARQUES, EDUARDO ANTONIO
GOMES; RANGEL, LUIZ VINÍCIUS

 ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO– RETROANÁLISE_______________________________________105


SOARES, ECIDINÉIA PINTO; MOURÃO, ARTHUR MATEUS; DUTRA, MATHEUS REZENDE; GUABIROBA, JOÃO VICTOR; MENDONÇA,
ANTÔNIO

 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE PARÂMETROS GEOMORFOLÓGICOS NA ESTABILIDADE DE TALUDES 116


SILVA, ISABELA GROSSI; MIKOS, ANA PAULA; FARO, VÍTOR PEREIRA

 ANÁLISES DE FORÇAS DE IMPACTO DE FLUXOS DE DETRITOS 124


SACOTO, CARLOS ANDRÉS GRAU; NUNES, ANNA LAURA L. S.

 ANÁLISIS DE LA PATOLOGÍA DE UN DESMONTE EN LA AUTOVÍA A-7. GRANADA (ESPAÑA)___________________________ 137


ROBLES, JAVIER MORENO; GONZÁLEZ-GALLEGO, JAVIER; GARCÍA DE LA OLIVA, JOSÉ LUIS

 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA A1 E DO


MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
CHITAS, PEDRO; SANTOS, JAIME; LOPES, ISABEL; ALMEIDA, FÁBIO; FONSECA, ANTÓNIO; BARRADAS, JOÃO; SALGADO, FRANCISCO;
SOUSA, ARLINDO; BAPTISTA, MARIA DORA; GONZALEZ, ISABEL; MARTINS, JOANA

 CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO_________________________162


PRAZERES, RICARDO DIAS DOS; FERNANDES, ISABEL; BODAS FREITAS, TERESA M; NETO DE CARVALHO, CARLOS; CALVÃO, JOÃO

 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (C’ E ᶲ) DE MISTURAS DE UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES DE CAL
E CINZA DE CASCA DE ARROZ______________________________________________________________________________________ 173
STEIN, KATJUSA; BUDNY, JAELSON; HARTMANN, DIEGO ARTHUR; TAPAHUASCO, WILBER FELICIANO

 ESCORREGAMENTO DO TALUDE ADJACENTE À CORTINA DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO HIPERMERCADO DE


MACHICO NA ILHA DA MADEIRA___________________________________________________________________________________185
MATEUS DE BRITO, JOSÉ

 ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO_____________198


PINTO, SÓNIA; QUINTELA, ANA; PENA, ISABEL; PEDROSA, MÁRIO

 ESTABILIZAÇÃO DOS TALUDES DO SETOR CAVA OESTE DA MINA DE ÁGUAS CLARAS. BELO HORIZONTE. BRASIL ___ 210
DINIS, JORGE; LOPES, JOÃO; MAIA, PEDRO

 ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE CASO__219


CARNEIRO, JESSÉ JOABE VIEIRA; ISHIHARA, MARINA KEIKO; RANGEL, LUIZ VINÍCIUS DE CASTRO; BARBOSA, PAULO SÉRGIO DE
ALMEIDA; MARQUES, EDUARDO ANTÔNIO GOMES

 ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
PISTONE, RAUL; FERREIRA, SANDRA; RIBEIRO, JOANA; CACILHAS, FILIPA; SALGADO, FRANCISCO; SOUSA, ARLINDO; MOURO, LÉNIA;
AMARO, JOSÉ

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 INFLUÊNCIA DA CONDIÇÃO NÃO SATURADA NA SEGURANÇA DE UM MURO DE CONTENÇÃO 244
NARDELLI, ANDREI; FUTAI, MARCOS MASSAO

 INSPEÇÃO VISUAL DE MUROS E TALUDES 255


FERREIRA, ALEXANDRA; NEVES, ADRIANA; SANCHES, SARA

 LINHA FERROVIÁRIA DO SUL: CASOS DE INSTABILIDADE EM TALUDES DE ESCAVAÇÃO, OCORRÊNCIAS E MEDIDAS DE


ESTABILIZAÇÃO 267
BORGES, ALEXANDRA; GRADE, SARA

 MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS 277


PEREIRA, MIGUEL ALEXANDRE ARAÚJO; NETO, OSVALDO DE FREITAS; JUNIOR, OLAVO FRANCISCO DOS SANTOS; CUNHA, RENATO
PINTO DA; MONTEIRO, FERNANDO FEITOSA

 PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO


APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA___________________________________________________________________ 286
KATERENIUK, SORAIA B.; THÁ, PEDRO C.; KRAEMER, SÉRGIO M.; KENZO, PAULO; ESTEVÃO, ELIAS D.

 PROTEÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONJUNTO DE SOLUÇÕES E ESTRUTURAS PASSIVAS EM PEDRO DO


RIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL 296
PELIZONI, ANDREA; PEREIRA, FERNANDO

 SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO DE ARRIBAS COSTEIRAS COM REDUZIDO IMPACTO VISUAL 307


ALEIXO, VANESSA; TOMÁSIO, RUI; PEREIRA, ANA

 TRÊS SOLUÇÕES COM PREGAGENS E UMA COM UM MURO EM SOLO REFORÇADO COM GEOGRELHAS 319
PEREIRA, FERNANDO

 USO DE FERRAMENTAS DE DATA MINING NA IDENTIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM


ATERRO___________________________________________________________________________________________________________ 327
TINOCO, JOAQUIM; GOMES CORREIA, ANTÓNIO; CORTEZ, PAULO

BARRAGENS E ATERROS

 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE FOZ TUA (AHFT) OBSERVAÇÃO ESTRUTURAL DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS
DE OBRA POR SISTEMAS DE OBSERVAÇÂO FIXOS___________________________________________________________________338
ALMEIDA, FERNANDO; GARRIDO, SANDRA; GIL, SARA

 AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO 350


FREIRE, FREDERICO C.; DELMIRO, THAYSE D.; LINO, WRIAS E. F.; BORGES, JESCE J. DA S.; FERREIRA, SÍLVIO R. M.

 COMPORTAMENTO DA BARRAGEM DE TERRA DA MARGEM ESQUERDA DE ITAIPU EM PERÍODO DE OPERAÇÃO 362


RODRIGUES, RODRIGO DE LIMA; SAYÃO, ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM; PATIAS, JOSIELE

 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE UM TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO COM AGREGADO SIDERÚRGICO INERTE


PARA CONSTRUÇÃO (ASIC)_________________________________________________________________________________________374
FORTUNATO, EDUARDO; ROQUE, ANTÓNIO JOSÉ; GOMES CORREIA, ANTÓNIO

 COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO DA


ALBUFEIRA________________________________________________________________________________________________________387
FIGUEIREDO, JOSÉ NUNO; PLASENCIA, NADIR; GARRIDO, SANDRA; SILVA MATOS, DOMINGOS; LIMA, CELSO

 CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA EN230___401


MARTINS, LARA; PEDROSA, MÁRIO; LEAL, CAROLINA; CRUZ, SÓNIA; CARDOSO, ANA

 ESTUDO COMPARATIVO DE DIVERSAS TÉCNICAS DE COMPACTAÇÃO LABORATORIAL 413


PINHEIRO SILVA, JOANA; ARAÚJO SANTOS, LUIS

 ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA, EM MOÇAMBIQUE 423


ROQUE, MAGDA; PIMENTA, LURDES; SARDINHA, RICARDO

 EXPERIENCIA DA IP ENGENHARIA EM ESTUDOS GEOTÉCNICOS E PROJETOS DE TERRAPLENAGEM NA FERROVIA DA


ARGÉLIA__________________________________________________________________________________________________________ 436
MIDÕES, TIAGO; FERREIRA, LUIS; GONÇALVES, JORGE

 FUNDAÇÃO ROCHOSA DA BARRAGEM DE MISICUNI 449


SIACARA, ADRIAN TORRICO; SALINAS, MAURICIO; FUTAI, MARCOS MASSAO

 GEOLOGIA E GEOTECNIA DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA 459


PLASENCIA, NADIR; FIGUEIREDO, JOSÉ NUNO

 MODELAÇÃO DE PERCOLAÇÃO EM FUNDAÇÕES DE BARRAGENS FRATURADAS USANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS


FINITOS ESTENDIDO (XFEM) 472
CRUZ, FRANCISCO; ROEHL, DEANE; VARGAS, EURÍPEDES

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 PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO
DE REFERÊNCIA___________________________________________________________________________________________________ 483
ROQUE, MAGDA; PIMENTA, LURDES; SARDINHA, RICARDO; CARVALHO, MARTINS; ROSA, ALEXANDRA; FERHAT, HASSINA

 PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO PRECONIZADA_____ 495
ROSA, ALEXANDRA; PIMENTA, LURDES; SARDINHA, RICARDO; ROQUE, MAGDA; FERHAT, HASSINA

 PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA___________________________________________________________507


SARDINHA, RICARDO; PIMENTA, LURDES; ROSA, ALEXANDRA; ROQUE, MAGDA

 PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA) 517


TAVARES, GONÇALO; MATEUS DE BRITO, JOSÉ; ROMEIRO, MANUEL; FERREIRA, GONÇALO

 RAMAL DE NEVES CORVO: REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA, ROTURA CONTROLADA E CONSTRUÇÃO DE
NOVO ATERRO FERROVIÁRIO______________________________________________________________________________________528
BORGES, ALEXANDRA; CURIÃO, VALENTIM; GRADE, SARA

 REVISÃO E ATUALIZAÇÃO DO PROJETO GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE SAÏDA 538


ANTUNES, JOANA; PIMENTA, LURDES; ROQUE, MAGDA; SARDINHA, RICARDO; ROSA, ALEXANDRA

 SOLUÇÕES GEOTÉCNICAS ADOTADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES: REVISÃO DA
LITERATURA______________________________________________________________________________________________________ 551
FRANÇA, FAGNER A. N. DE; SILVA, CAROLINY A. G.; CARDOSO, RAYMISON R.

FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS

 ANÁLISE COMPARADA DE MÉTODOS EMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS__565


PIRES, LUÍS; GRAZINA, JOSÉ; PINTO, PAULO

 ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO DO


NORDESTE BRASILEIRO 577
MONTEIRO, FERNANDO FEITOSA; CARVALHO, LEILA MARIA COELHO DE; AGUIAR, MARCOS FÁBIO PORTO DE; CUNHA, RENATO
PINTO DA; MATOS, YAGO MACHADO PEREIRA DE MATOS

 ANÁLISE COMPARATIVA DE RECALQUES MEDIDOS E PREVISTOS UTILIZANDO-SE ABORDAGEM DE EFEITO DE GRUPO


EM OBRA NA REGIÃO DE ICARAI, NITERÓI 589
PEREIRA, PEDRO GOMES DOS S.; FREITAS, ALESSANDRA C.; DANZIGER, BERNADETE R.

 ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO EM


CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA 601
PAULA, DANIEL CAVALCANTE DE; AGUIAR, MARCOS FÁBIO PORTO DE; MENDES, GIULLIA CAROLINA DE MELO; DE OLIVEIRA,
FRANCISCO HEBER LACERDA

 ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA PRÉ-MOLDADA INSTRUMENTADA POR MEIO DE MÉTODOS


SEMIEMPÍRICOS E NUMÉRICO 611
BARBOSA, YURI; ALBUQUERQUE, PAULO JOSÉ ROCHA; GARCIA, JEAN RODRIGO

 ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
OLIVEIRA, TALES; COELHO, HIGOR; GOMES, THIAGO; CARVALHO, FLAVIO; MARINHO, CAIO; CAMPOS, TAMIRES; ROCHA, SABRINA

 ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO SITUADO


NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
OLIVEIRA, MANOELY S. DE; ROMA, RODRIGO F.; ALMEIDA, ALLAN K. L. DE; GUSMÃO, ALEXANDRE D.; MAIA, GILMAR DE B.

 ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM PROVA
DE CARGA CONVENCIONAL 646
OLIVEIRA, TALES; COELHO, HIGOR; GOMES, THIAGO; CARVALHO, FLAVIO; MARINHO, CAIO; CAMPOS, TAMIRES; ROCHA, SABRINA

 ANÁLISE DA VIABILIDADE DE CUSTO DE DUAS METODOLOGIAS DE PROJETO PARA FUNDAÇÕES PROFUNDAS EM


RECIFE-FE 658
DA SILVA, THIAGO AUGUSTO; OLIVEIRA, PEDRO EUGENIO SILVA DE

 ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO 669
SILVA, PEDRO; CÂMARA, RAYANNE; COSTA, YURI; COSTA, CARINA

 ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO DE MICROESTACAS EM SOLOS


TROPICAIS 679
DE ALMEIDA, CAIQUE ROBERTO; AMANN, KURT ANDRÉ PEREIRA

 ANTECIPAÇÃO DO RMR EM DOIS TIPOS DE MACIÇOS - METASSEDIMENTAR E GRANÍTICO 692


SANTOS, VÍTOR; SILVA, PAULA F. DA; BRITO, M. GRAÇA

17
 ANTEVISÃO DA EN ISO 22477-5 ENSAIOS DE ANCORAGENS NO TERRENO 702
CARVALHO, MARIANA; PINA, JOÃO

 APLICAÇÃO DA SIMULAÇÃO MONTE CARLO NA ANÁLISE DE PROBABILIDADE DE RUÍNA E CONFIABILIDADE EM


PROJETO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS 715
SILVA NETO, ALFREDO NUNES; OLIVEIRA, JOAQUIM TEODORO ROMÃO DE

 APLICAÇÃO PRÁTICA DE METODOLOGIAS DE INTERPRETAÇÃO DE ENSAIOS BIDIRECIONAIS EM ESTACAS ESCAVADAS


NO BRASIL 728
DADA, THAÍS L.; MASSAD, FAIÇAL

 APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM


ESTACA HÉLICE CONTÍNUA 741
ALENCAR JÚNIOR, JÚLIO AUGUSTO DE; BANHA, GABRIEL LUIS SOTO; VELOSO, LUIS AUGUSTO CONTE MENDES; RODRIGUES
JUNIOR, SANDOVAL RODRIGUES; PINHEIRO, FERNANDO

 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA DAS FUNDAÇÕES EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA
DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL EMMACIÇO SEDIMENTAR 752
PRELLWITZ, M.F.; MAIA, P.C.A.; ZAMPIROLLI, N.

 BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE NA ZONA SUL DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE 763
OLIVEIRA, PEDRO EUGENIO SILVA DE; ALMEIDA, ALLAN KLEBER LEITE DE; COSTA, MARCELO SABINO; PEREIRA, ANDRÉ PEREZ
GUEDES

 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS 774
BITTENCOURT, EDUARDO DE CASTRO; FREITAS NETO, OSVALDO DE; DE FREITAS, ANA PAULA; CUNHA, RENATO PINTO DA

 COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_____786


GOMES, RONEY DE MOURA; JUVÊNCIO, ERISVALDO DE LIMA; VARGAS, JOSÉ WELLINGTON SANTOS; PINHEIRO, ARTHUR VEIGA
SILVERIO; JÚNIOR, JOSÉ ALVES DA SILVA; SILVA, ALEX DE LIMA

 COMPARACIÓN DE LOS MÉTODOS NUMERICOS Y ANALITICOS EN EL ANÁLISIS DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE


CIMENTACIONES SUPERFICIALES 799
ALENCAR, ANA; GALINDO, RUBÉN; MELENTIJEVIC, SVETLANA

 CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO SUPERIOR DO CIRCUITO HIDRÁULICO DO REFORÇO DE POTÊNCIA DE


VENDA NOVA III 809
ESTEVES, CARLOS; PLASENCIA, NADIR; LIMA, CELSO

 DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS DE GOUVÃES 821
LAMAS, LUÍS; ESPADA, MARGARIDA; MURALHA, JOSÉ; LEMOS, JOSÉ VIEIRA

 ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA CUF TEJO, EM LISBOA 832
PINA, JOÃO; REIS, SANDRA; GONÇALVES, NUNO; XAVIER, BALDOMIRO

 ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE COPACABANA, RIO DE JANEIRO 846


GOMES, RONEY DE MOURA; DANZIGER, FERNANDO ARTUR BRASIL; GUIMARÃES, GUSTAVO VAZ DE MELLO; LOPES, FRANCISCO
DE REZENDE

 ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER, LUANDA, ANGOLA 858
REIS, SANDRA; XAVIER, BALDOMIRO; PINA, JOÃO; ESTEVES, LAURA

 ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO, LISBOA 869


REIS, SANDRA; XAVIER, BALDOMIRO; PINA, JOÃO; ESTEVES, LAURA

 ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE


ESTUDO 884
RODRIGUES, ANA; ANJOS, BRUNO; COSTA, CARLOS; SANTOS, PAULO

 ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA 896


BENTO, JORGE; PISTONE, RAÚL; FERREIRA, SANDRA; RIBEIRO, JOANA; CACILHAS, FILIPA

 IMPACTO DA REVISÃO DO CCP NA EXECUÇÃO DE TÚNEIS E OBRAS GEOTECNICAS COMPLEXAS 906


DINIZ VIEIRA, GONÇALO

 IMPULSOS ACTIVOS DEVIDOS A SOBRECARGAS SOBRE MUROS DE SUPORTE EM CONSOLA 918


GUERRA, NUNO M. DA COSTA; ANDRADE VIANA, LAÍS

 INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS FÍSICOS NA INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA


INSTRUMENTADAS EM ESTACAS ESCAVADAS DE GRANDE DIÂMETRO EM AREIAS 929
SILVEIRA, JOSÉ EDUARDO PALUDO; ODEBRECHT, EDGAR; SCHNAID, FERNANDO

 METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS DE CÁLCULO


DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA DE ESTACAS 941
AMANN, KURT A. P.; KUBOYAMA, CAROLINA T.; SILVA, CAIO DE O.

18
 MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE MINÉRIOS__954
PISCO, GUILHERME; FARTARIA, CATARINA; TOMÁSIO, RUI; AZEVEDO, JOSÉ PEDRO; COSTA, JOEL

 PREVENÇÃO DA LIQUEFACÇÃO ATRAVÉS DE COLUNAS DE JET GROUTING DISPOSTAS EM CELULAS -CHRISTCHURCH


TOWN HALL – NOVA ZELÂNDIA 966
CRISTÓVÃO, ANTÓNIO; BRITO, DAVID; NOGUEIRA, ABÍLIO

 PROBABILIDADE DE DANOS EM UM CONJUNTO HABITACIONAL CONSTRUÍDO EM ALVENARIA RESISTENTE NA CIDADE


DO RECIFE 977
NASCIMENTO, NICOLE; OLIVEIRA, JOAQUIM

 RAPID LOAD TESTING: UNA EFICIENTE TÉCNICA PARA PRUEBAS DE CARGA EN PILOTES 987
MOSCOSO DEL PRADO MAZZA, NICOLÁS; BIELEFELD, MARCEL; FERNÁNDEZ TADEO, CARLOS

 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES DIÂMETROS EM AREIA 998
SILVA, PEDRO; COSTA, CARINA; COSTA, YURI; ARAÚJO, DUÍLIO

 SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO E RECALÇAMENTO DE FACHADA, ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES


DE UM EDIFÍCIO CENTENÁRIO EM MEIO URBANO ____________________________________________________________1006
PISCO, GUILHERME; TOMÁSIO, RUI; LOURENÇO, JOÃO PEDRO

 SOLUÇÕES DE CONTENÇÂO PERIFÉRICA PARA AMPLIAÇÃO SUBTERRÂNEA DO HOSPITAL DA LUZ EM LISBOA ____1018
TOMÁSIO, RUI; PINTO, ALEXANDRE

 SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA____ 1027


ALEIXO, VANESSA; TOMÁSIO, RUI; PINTO, FRANCISCO; CABRAL, ALBERTO

 SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO EDIFÍCIO FPM41 1037


PINTO, ALEXANDRE; FARTARIA, CATARINA; PITA, XAVIER; VELOSO, FILIPE

 UMA NOVA ABORDAGEM NO CONTROLE EXECUTIVO DE ESTACAS RAIZ __________________________________________1047


MONTEIRO, FERNANDO FEITOSA; MOURA, ALFRAN SAMPAIO

GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE

 A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS 1061


MONTEIRO, ANTÓNIO; ANDRADE PAIS, LUÍS JOSÉ; RODRIGUES, CARLOS MANUEL; CAVALEIRO, VICTOR

 ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM


REFORÇO DE SOLOS 1069
PINHEIRO, CLAVER; MOLINA-GÓMEZ, FAUSTO; RIOS, SARA; SOUSA, FERNANDA; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO

 AVALIAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DE RODOVIA EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE PATRIMÔNIO


ESPELEOLÓGICO 1080
NASCIMENTO NETO, DURVAL; CAVALI DA LUZ, CRISTHYANO; RATTON, EDUARDO

 AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE ZEÓLITAS CLINOPTILOLITA EM BARREIRAS REATIVAS PERMEÁVEIS 1088


ROCHA, LIANA CAROLINA CARVALHO; ZUQUETTE, LAZARO VALENTIN

 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO EM SEDIMENTOS ARENOARGILOSOS COM COBERTURA DE


PASTAGEM______________________________________________________________________________________________________1100
FAILACHE, MOISÉS; ZUQUETTE, LÁZARO

 AVALIAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA EM ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A DESLIZAMENTOS RASOS PRESENTES NO


CONDOMÍNIO SOL NASCENTE, DISTRITO FEDERAL, BRASIL 1111
LUISA AMARAL, BRUNA; FERNANDES AZEVEDO, GEORGE; PORFÍRIO CORDÃO NETO, MANOEL

 AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE CAL
E CIMENTO 1121
THOMAS, MAURÍCIO; BUDNY, JAELSON; BICA, BRUNO OLIVEIRA; LEON, HELENA BATISTA

 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE TIJOLOS DE SOLO CIMENTO


MANUFATURADOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE PET (POLITEREFTALATO DE ETILENO) 1131
PASCHOALIN FILHO, JOÃO ALEXANDRE; STOROPOLI, JOÃO HENRIQUE; DIAS, ANTONIO JOSÉ GUERNER

 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTE 1141
FREIRE, ANA CRISTINA; NEVES, JOSÉ; MARTINS, ISABEL M.; ROQUE, ANTÓNIO JOSÉ; CORREIA, EUGÉNIA; FERREIRA, CLÁUDIA;
VIEIRA, CASTORINA SILVA; GONÇALVES, JORGE; PINTO, ISABEL

 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
COUTO, LEONARDO; CÂMARA, RAILTON; MEDEIROS, GLÊNIO; BRAZÃO, ABRAÃO; SANTOS, EWERTON; FRANÇA, FAGNER

19
 CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO SUDOESTE
DE ANGOLA 1163
WACHILALA, PIEDADE; DUARTE, ISABEL; PINHO, ANTÓNIO; MIRÃO, JOSÉ

 COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO 1174


ROQUE, ANTÓNIO JOSÉ; MARTINS, ISABEL; FREIRE, ANA CRISTINA; NEVES, JOSÉ; ANTUNES, MARIA DE LURDES

 COMPORTAMENTO TENSÃO CISALHANTE-DEFORMAÇÃO DE UM REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO REFORÇADO COM


FIBRAS DE POLIPROPILENO DISTRIBUÍDAS ALEATORIAMENTE 1185
G. SOTOMAYOR, JUAN MANUEL; D.T. CASAGRANDE, MICHÉLE

 DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUPERFICIAL COMO GEOINDICADORES DE


ANTROPIZAÇÃO: TESTE DE APLICAÇÃO EM BACIA HIDROGRÁFICA NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL_________ 1194
MENEZES, DENISE B.; LORANDI, REINALDO; LOLLO, JOSÉ AUGUSTO

 EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO- RCD 1205


BATISTA MOREIRA, ECLESIELTER; ARRIETA BALDOVINO, JAIR DE JESÚS; DOS SANTOS IZZO, RONALDO LUIS; LUNDGREN ROSE,
JULIANA; RISSARDI, JOÃO LUIZ

 ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
ASSIS, LAÍS EMILY DE; SOUZA, LEONARDO ANDRADE DE; MENDONÇA, MARCOS BARRETO DE; SILVA, UIARA MARIA DA; ROQUE,
LEANDRO ANTÔNIO; BARBOSA, CASSIANO VIEIRA; VENTURIN, AMADEU MAGNONI; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES

 ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREA DE MANANCIAL,


SUDESTE DO BRASIL 1225
LORANDI, REINALDO; FALEIROS, CÁSSIA A.R.J.; NEVES, MONIQUE P.; LOLLO, JOSÉ A. DE

 ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE


DESSULFURAÇÃO 1238
MENEGUETE, DAYANNE SEVERIANO; SALGADO, NAYCOU GIOVANI DE PAULA; PIRES, PATRÍCIO JOSÉ MOREIRA; IZOTON,
SIDINEIDY

 ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, DE AGRESTINA – PE, COM A UTILIZAÇÃO DA CINZA DA


CASCA DE ARROZ 1248
SILVA, JAYNE; BELLO, ISABELA; JÚNIOR, RÔMULO; FERREIRA, SILVIO

 ESTUDO DA ELECTROCINESE COMO TÉCNICA DE DESCONTAMINAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS COM


LIXIVIADOS_____________________________________________________________________________________________________1257
BORGES, INÊS; GINGINE, VIKAS; CARDOSO, RAFAELA

 ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO ARENO-SILTOSO COM ADIÇÃO DE CAL E CINZA VOLANTE 1269
THOMAS, MAURÍCIO; BUDNY, JAELSON; JUNIOR, LAUDERI MARONEZI

 ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO DA


ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
RAMOS, MARIANA; DANTAS, ANDRÉ; CAMOZZI, ALEXANDRE; FILHO, MILTON; MENDES, THIAGO

 ESTUDO DOS EFEITOS PROVOCADOS POR RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) NUMA GEOGRELHA DE
POLIÉSTER 1293
VIEIRA, CASTORINA SILVA; PEREIRA, PAULO M.; LOPES, MARIA DE LURDES

 FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO SILTOSO
CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
ARRIETA BALDOVINO, JAIR DE JESÚS; BATISTA MOREIRA, ECLESIELTER; DOS SANTOS IZZO, RONALDO LUIS; VIEIRA DE GOES
ROCHA, EDUARDO; CHUN YAN PAN, ROBERTO

 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DE UM SOLO


COMPACTADO__________________________________________________________________________________________________ 1310
BITENCOURT, BÁRBARA MARIA OLIVEIRA; FREITAS NETO, OSVALDO DE; SANTOS JÚNIOR, OLAVO FRANCISCO DOS; FRANÇA,
FAGNER ALEXANDRE NUNES DE

 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA,
CABROBÓ E BREJO DA MADRE DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1321
LACERDA, LUIZ SANTIAGO S. DO N. DE; CONSTANTINO, CAMILA DE S.; BEZERRA, ANDRÉ LUIS; FERREIRA, SILVIO ROMERO DE M.

 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
CONSTANTINO, CAMILA DE S.; SANTOS, BRUNA NAIANE; PAIVA, SÉRGIO C.; CAVALCANTI, LUÍZA; FERREIRA, SILVIO ROMERO DE M.

 MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL BASEADO NA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS – O


CASO DO MUNICÍPIO DE DELFINÓPOLIS (MG) – BRASIL 1340
CARVALHO, ANA PAULA PEREIRA; PEJON, OSNI JOSÉ; COLLARES, EDUARDO GOULART

 METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO


BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE 1351
BALESTRIN, DEISI B.; RAMPANELLI, GREICE B.; BRAUN, ADELI B.; TRENTIN, ADAN W. DA SILVA; VISENTIN, CAROLINE; THOMÉ, ANTONIO

20
 MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL 1362
BRAUN, ADELI BEATRIZ; TRENTIN, ADAN WILLIAM DA SILVA; BALESTRIN, DEISI; RAMPANELLI, GREICI BARUFALDI; VISENTIN,
CAROLINE; THOMÉ, ANTÔNIO

 OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,


CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
BORGES, ALEXANDRA; CASTRO, CÂNDIDA; GRADE, SARA; PEIXOTO, MARIE; RODRIGUES, FILIPE

 OTIMIZAÇÃO DO TRAÇADO DE VIA E DO PERFIL TRANSVERSAL TIPO, NO PONTO DE VISTA DA GEOTECNIA, EM LINHAS
FERROVIÁRIAS A MODERNIZAR 1387
LIMA, PEDRO MIGUEL; ROSA, ANA ISABEL

 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO 1397


SOARES, ECIDINÉIA PINTO; GUABIROBA, JOÃO VICTOR DE OLIVEIRA COELHO; MENDONÇA, ANTÔNIO ANANIAS; DUTRA, MATHEUS
REZENDE

 UTILIZAÇÃO DA RUGOSIDADE RANDÔMICA PARA A AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE INFILTRAÇÃO,


ARMAZENAMENTO SUPERFICIAL E ESCOAMENTO SUPERFICIAL 1408
ROTTA, CLÁUDIA MARISSE DOS SANTOS; ZUQUETTE, LÁZARO VALENTIN

GEOTECNIA DE MINERAÇÃO

 ANÁLISE DA INSTRUMENTAÇÃO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA DE NEVES-CORVO 1422


CRUZ, BEATRIZ; QUINTA-FERREIRA, MÁRIO; OLIVEIRA, MAFALDA

 ANÁLISE DA SEGURANÇA DE UM TALUDE DE MINERAÇÃO 1434


VECCI, ANDREA N.; SAYÃO, ALBERTO S. F. J.

 APLICAÇÃO DE PILARES ARTIFICIAIS COMO SUBSTITUIÇÃO DE PILARES NATURAIS EM ÁREAS DE LAVRA_________1439


BARBOSA PEREIRA, LUISA; FOCHI RAMIRES, JOÃO EDUARDO; PACHECO DE ASSIS, ANDRÉ

 AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIRDE REGRESSÕES 1452
DANTAS, ANDRÉ; MENDES, THIAGO; PEREIRA, EDUARDO; SOUZA, WEBER; PEREIRA, SANSARA; MELO, KEVEN; INGUNZA, MARIA;
REBOLLEDO, JUAN

 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL 1461


MARCELLINO, LÁZARO CORRÊA; GALINDO, JOSÉ ROBERTO FERNANDES; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; ARÊDES, ANA
CAROLINA NASCIMENTO DE BARROS; CARVALHO, JULIANA ABRANTES

 CONSTRUÇÃO DE UM MODELO GEOMECÂNICO 3D ATRAVÉS DO SOFTWARE LEAPFROG GEO 1469


PEREIRA, LUANA CLAUDIA; CÔELHO, DOUGLAS; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; SANTOS, GÉRSON RODRIGUES DOS

 DETONADORES ELETRÓNICOS: AS CONSEQUÊNCIAS TÉCNICOECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE ROCHA


INDUSTRIAL____________________________________________________________________________________________________ 1478
RAMOS, LUÍS; FERNANDES, JOSÉ; FONSECA, LUÍS; CALDEIRA, JOÃO

 OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO


DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
FERREIRA, GONÇALO; TAVARES, GONÇALO; LOPES, ISABEL; MATEUS DE BRITO, JOSÉ; ROMEIRO, MANUEL; OLIVEIRA, MAFALDA;
RODRIGUES, ANA

 REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS, BRASIL___ 1502
CAMPOS, LUCAS ALMEIDA; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; COSTA, TEÓFILO AQUINO VIEIRA; FERREIRA, FLÁVIO
AFFONSO; MARCHI, OTHÁVIO AFONSO; ALVES, HENRIQUE OLIVEIRA

GEOTECNIA PORTUÁRIA

 INTEGRIDADE E VALIDAÇÃO ESTRUTURAL DE FUNDAÇÕES MARÍTIMAS PORTUÁRIAS 1509


CAVALI DA LUZ, CRISTHYANO; RATTON, EDUARDO; RATTON, PHILIPE

 REABILITAÇÃO DA RESTINGA DE OFIR: UMA ANÁLISE À UTILIZAÇÃODE GEOCILINDROS 1521


PALMA, DANIELA; SANTOS-FERREIRA, ALEXANDRE; F. DA SILVA, PAULA

GEOTERMIA

 AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE UMA ESTACA TERMOATIVA INTEGRADA NUM SISTEMA GEOTÉRMICO
SUPERFICIAL 1532
VIEIRA, ANA; SEQUEIRA, JOÃO; CARDOSO, RAFAELA

21
 EDIFICIOS ESCOLARES CLIMATIZADOS POR RECURSOS NATURAIS. A GEOTERMIA COMO APOSTA DO PRESENTE__1542
FIGUEIREDO, ANTÓNIO; LAPA, JOSÉ; CARDOSO, CLAUDINO

 EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMOACTIVO MEDIANTE MÉTODOS


NUMÉRICOS_____________________________________________________________________________________________________1554
DE SANTIAGO, CRISTINA; MELENTIJEVIC, SVETLANA; NOPE, FREDDY; PARDO DE SANTAYANA, FERNANDO; DE GROOT, MARÍA;
SARTORIUS, GONZALO; GARCÍA, JOSÉ LUIS

 MEDIÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE DOIS SOLOS DIFERENTES CONSIDERANDO O SEU GRAU DE SATURAÇÃO
PARA MODELAÇÃO DE FUNDAÇÕES TERMOACTIVAS _1566
CARDOSO, RAFAELA; CRUZ, MIGUEL Q.; SOUSA, MARIANA A.; VIEIRA, ANA

PROSPEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA

 A UTILIZAÇÃO DO MEV NA IDENTIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA FORMAÇÃO DAS ‘ARGILAS E CALCÁRIOS DOS


PRAZERES’ 1578
MATEUS, ANDRÉ; SILVA, ANDRÉ; PEDRO, ANTÓNIO M. G.; ALMEIDA E SOUSA, JORGE

 ANÁLISE DA CAPACIDADE DO MÉTODO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA DETETAR ALVOS RESISTIVOS (NÃO
CONDUTORES) 1590
MOTA, ROGÉRIO

 ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR 1602


SOUZA, WEBER; COSTA, CARINA; COSTA, YURI; FLORÊNCIO, LUIZ; SILVA, PEDRO

 APLICAÇÃO DA RELAÇÃO VAZIOS/CAL NA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E DA RIGIDEZ


INICIAL DE MISTURAS SOLO-CAL 1611
DALLA ROSA JOHANN, AMANDA; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO; CONSOLI, NILO CESAR

 APLICAÇÃO DO FALL CONE TEST NA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA DE SOLOS
COESIVOS 1623
CANELAS, DIOGO; FERNANDES, ISABEL; LOPES, MARIA DA GRAÇA

 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DO HARDENING SOIL MODEL EM REPRODUZIR A RESPOSTA DE UM SOLO A DIFERENTES


TRAJETÓRIAS DE TENSÃO 1632
FERREIRA, TIAGO; PEDRO, ANTÓNIO; ALMEIDA E SOUSA, JORGE

 AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE SEGUNDO CONDIÇÕES DE UMIDADE DISTINTAS DE DOIS HORIZONTES TROPICAIS


DAS ÁREAS DE RISCO DA REGIÃO DO GRANDE ABC-SÃO PAULO-BRASIL 1644
PINHEIRO, PALOMA CAPISTRANO; PAIVA, CLÁUDIA F. ESCOBAR

 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À LIQUEFAÇÃO CÍCLICA EM ENSAIOS LABORATORIAIS EM SOLOS LIQUIDIFICÁVEIS DO


VALE DO TEJO INFERIOR 1654
RAMOS, CATARINA; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO; COELHO, DANIELA

 AVALIAÇÃO DO USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE COMPRESSÃO DE ARGILAS


MARINHAS 1664
OLIVEIRA FILHO, AMANDIO G.; BICALHO, KÁTIA VANESSA; ROMANEL, CELSO; CREVELIN, LETÍCIA

 CAMPO EXPERIMENTAL LIQUEFACT NA REGIÃO DA GRANDE LISBOA: MICROZONAMENTO PRELIMINAR DE


SUSCETIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO 1676
VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO; RAMOS, CATARINA; FERREIRA, CRISTIANA; SALDANHA, ANA SOFIA

 CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688


RODRIGUES, CARLOS; CRUZ, NUNO; CRUZ, JORGE; CRUZ, MANUEL; MONTEIRO, PEDRO

 CARACTERIZAÇÃO DA SUBSUPERFÍCIE NA TRANSIÇÃO ENTRE FORMAÇÃO BARREIRAS E DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS


EM VITÓRIA – ES 1698
SANTOS, AGNA ALINY; BRIDI, LUCAS; PIRES, PATRICIO

 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM


PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1711
BRAZÃO, ABRAÃO; CÂMARA, RAILTON; MEDEIROS, GLÊNIO; SANTOS, EWERTON; COUTO, LEONARDO; FRANÇA, FAGNER

 CARACTERIZAÇÃO NO HOLLOW CYLINDER APPARATUS DO COMPORTAMENTO MONOTÓNICO DA AREIA DE


HOSTUN 1719
RAMOS, RITA C.; COELHO, PAULO A. L. F.; ARAÚJO SANTOS, LUIS M.

 CARACTERIZACIÓN DEL TERRENO BAJO LA COLEGIATA DE CASPE (ZARAGOZA-ESPAÑA) PARA DETERMINAR LAS
CAUSAS DE SU PATOLOGÍA 1729
RODRÍGUEZ-MONTEVERDE, PILAR; BUSTAMANTE MONTORO, ROSA; MONJO CARRIÓ, JUAN

 CLASSIFICAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS PARA DEPÓSITOS ANTROPOGÊNICOS/TECNOGÊNICOS_____________ 1741


OLIVEIRA, VINICIUS GUSTAVO DE; MENEZES, DENISE BALESTRERO

22
 COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E TRATADO
COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
CAVALCANTI, LUÍZA; VILAÇA, GABRIELA; GOUVEIA, ALINE; PEREIRA, KALINY; MORAIS, JOANDERSON; FERREIRA, SILVIO

 COMPORTAMENTO DO LASTRO FERROVIÁRIO DE AGREGADO DE ESCÓRIA DE ACIARIA SOB CARREGAMENTO


TRIAXIAL MONOTÔNICO 1756
DELGADO, BRUNO G.; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO; FORTUNATO, EDUARDO; COELHO, DANIELA R.

 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPOSTA DA AREIA DE COIMBRA CONFINADA LATERALMENTE SOB CARREGAMENTOS


UNIAXIAIS 1768
DA FONSECA, M. P.; ARAÚJO SANTOS, L. M.

 DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE EM


MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
FERREIRA, DIOGO; PEDRO, ANTÓNIO M. G.; COELHO, PAULO; ALMEIDA E SOUSA, JORGE; TABORDA, DAVID

 ESTUDO DA DINÂMICA DE VIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE FRAGILIDADES NA INFRAESTRUTURA FERROVIÁRIA __ 1792


SILVA FILHO, J. C.; GUIMARÃES, ANTONIO C. R.

 ESTUDO DA EVOLUÇÃO GRANULOMÉTRICA EM ENSAIOS EDOMÉTRICOS DE ENROCAMENTO, COM CONTROLO DE


SUCÇÃO 1802
MANSO, JOÃO; MARCELINO, JOÃO; CALDEIRA, LAURA

 ESTUDO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO SOLO COM VARIAÇÃO DA UMIDADE E ÍNDIDE DE VAZIOS 1812
MIKOS, ANA PAULA; RIBEIRO, THIAGO DA SILVA; FARO, VÍTOR PEREIRA; TEIXEIRA, SIDNEI HELDER CARDOSO

 ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE ARENITOS DE OLHO MARINHO, VILA NOVA DE POIARES,
PORTUGAL 1820
SIMOCO, LUCAS J.; ANDRADE, PEDRO SANTARÉM; FIGUEIREDO, FERNANDO PEDRO

 ESTUDO DE SHAKEDOWN PARA VALIDAÇÃO DE JAZIDAS EXAURIDAS NO NORTE DO BRASIL 1829


SILVA FILHO, J. C; GUIMARÃES, ANTONIO C. R.

 ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO_______________ 1840


RIBEIRO, JOANA; LARANJEIRA, VANESSA; TEIXEIRA, TIAGO; AZEVEDO, PEDRO; VIEIRA, BRUNO; MOTA, JOSÉ; MOURA, RUI;
SANT’OVAIA, HELENA

 ESTUDO PRELIMINAR DE VIABILIDADE DE BRITA REFORÇADA COM FIBRA PARA APLICAÇÕES FERROVIÁRIAS ___ 1850
PARENTE, MANUEL; GOMES CORREIA, ANTÓNIO; FANGUEIRO, RAUL

 INFLUÊNCIA DA POROSIDADE E DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADAO NA ASCENSÃO CAPILAR DE UM


SOLO ARENOSO 1858
ARRIETA BALDOVINO, JAIR DE JESÚS; BATISTA MOREIRA, ECLESIELTER; DOS SANTOS IZZO, RONALDO LUIS; LUNDGREN ROSE,
JULIANA

 INSTABILIZAÇÕES GEOTÉCNICAS DE ATERROS EM VIAS RODOVIÁRIAS EM EXPLORAÇÃO: CASO DA EN3-1 ENTRE O


KM 1+100 E 1+300, NA AZAMBUJA 1867
SOUSA ROSA, ANA; LIMA, NUNO; RAFAEL, HELENA

 INTERPRETAÇÃO ESTATÍSTICA DA CLASSIFICAÇÃO DO SOLO A PARTIR DE ENSAIOS CPTU EM SEDIMENTOS


FLUVIAIS_______________________________________________________________________________________________________ 1879
MOLINA-GÓMEZ, FAUSTO; PINHEIRO, CLAVER; RIOS, SARA; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO

 METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DE LINHAS FERROVIÁRIAS EXISTENTES COM VISTA À ELABORAÇÃO DE


PROJETOS DE REABILITAÇÃO / MODERNIZAÇÃO NA ÁREA DA GEOTECNIA 1888
LIMA, PEDRO MIGUEL; ROSA, ANA ISABEL

 MONTAGEM E EMPREGO DE UM SISTEMA AUTÔNOMO DE MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE (CONDUTIVIDADE) DO


SOLO___________________________________________________________________________________________________________ 1898
PAIVA, CLÁUDIA F. ESCOBAR; PEROTONI, MARCELO BENDER; JUNIOR, WILSON C. DA SILVA; MANFRIN, STILANTE KOCH

 O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E


GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE 1910
LOPES, ISABEL; TAVARES, GONÇALO; PENICHE, BÁRBARA; FERREIRA, GONÇALO; SANTOS, JAIME

 PARA O CONHECIMENTO DA CONSOLIDAÇÃO SECUNDÁRIA DOS SOLOS LODOSOS DA RIA DE AVEIRO 1922
SOUSA MARQUES, RÚBEN; FERREIRA GOMES, LUÍS MANUEL; ANDRADE PAIS, LUÍS JOSÉ

 PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO INDIRECTOS E DIRECTOS DA RESISTÊNCIA GEOMECÂNICA DO MÁRMORE DA


FORMAÇÃO SETE LAGOAS 1930
ILAMBWETSI, ARCHANGE MICHAEL; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; LEÃO, MARCIO FERNANDES

 PARÂMETROS FÍSICOS E DE IDENTIFICAÇÃO DAS ALUVIÕES SILTO-ARGILOSAS MOLES DE PORTUGAL 1936


ESTEVES, ELISABETE; MATOS FERNANDES, MANUEL

 PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET-ANÁPOLIS-GO_1948


SANTOS, ANTONIO LÁZARO FERREIRA; OLIVEIRA, NATÁLIA GODOI DE; OLIVEIRA, VIRLEI ÁLVARO DE; MEIRA, GABRIEL DE SOUSA;
GONÇALVES, LUCAS PEREIRA; MOURA, RAFAEL VELOSO DE; LEÃO, NATHÁLIA APARECIDA ARAÚJO

23
 PERFIS DE INTEMPERISMO DE FILITO SOB CLIMA TROPICAL, NA REGIÃO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG,
BRASIL__________________________________________________________________________________________________________1955
CARVALHO, TATIANE ROBAINA RANGEL; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; LEÃO, MARCIO FERNANDES; ILAMBWETSI,
ARCHANGE MICHAEL

 PETI3+, CENÁRIO FERROVIA 2020. DEFINIÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROSPEÇÃO GEOLÓGICO GEOTÉCNICA
ASSOCIADAS À CONTRATAÇÃO DA FASE DE ESTUDOS E PROJETOS 1961
BORGES, ALEXANDRA; PEDRO, CARLOS; PEIXOTO, MARIE; RODRIGUES, FILIPE

 RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS DA
FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
ARRIETA BALDOVINO, JAIR DE JESÚS; BATISTA MOREIRA, ECLESIELTER; DOS SANTOS IZZO, RONALDO LUIS; LUNDGREN ROSE,
JULIANA; PERRETTO, FELIPE

 RELAÇÃO ENTRE MÓDULO DE DEFORMABILIDADE E CBR PARA CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DA FUNDAÇAO DE


PAVIMENTOS 1985
MORAIS, HERMÍNIA MARIA MESQUITA; MORAIS, HERMÍNIA MARIA MESQUITA; MINHOTO, MANUEL J. COSTA; PAULA, ANTÓNIO
MIGUEL

 RESISTÊNCIA DE JUNTAS ROCHOSAS ALTERADAS COM MARTELO SCHMIDT 1995


OLIVEIRA, JULIANA RAIMUNDO; STEFFENS, ALINE HELENA DELFINO; NUNES, ANNA LAURA L. S.

 RESISTÊNCIA NÃO DRENADA NAS ARGILAS MIOCÉNICAS DE LISBOA “CAMADAS DE PRAZERES” – REAVALIAÇÃO COM
BASE NO ACERVO DE RESULTADOS DE ENSAIOS TRIAXIAIS 2007
LOPES LARANJO, MAFALDA; MATOS FERNANDES, MANUEL

 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS APLICADOS ÀS UNIDADES INFERIORES DO GRUPO BAMBUÍ 2019


ILAMBWETSI, ARCHANGE MICHAEL; MARQUES, EDUARDO ANTONIO GOMES; LEÃO, MARCIO FERNANDES

 UMA METODOLOGIA PARA A CARATERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA E ESTIMATIVA DE VOLUMES


EXPLORÁVEIS DE UMA PEDREIRA PARA A PRODUÇÃO DE AGREGADOS PARA BETÃO PARA CONSTRUÇÃO DE UM
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO 2028
NEVES, JORGE; CERQUEIRA, FILIPE

 UTILIZAÇÃO DE DADOS DE SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT PARA PERFILAGEM DO SUBSOLO
NA CIDADEDE MARINGÁ-BRASIL 2040
LUIZ, A. M. F.; GUTIERREZ, N. H. M.

 UTILIZAÇÃO DO GEORADAR NA DETEÇÃO DE INFRAESTRUTURAS_ _2048


PEREIRA, MARÍLIA; COELHO, MARIA JOÃO

RISCOS NATURAIS E GEOTÉCNICOS

 A AÇÃO SÍSMICA DE UM LOCAL (EM PORTUGAL CONTINENTAL) NA POTENCIAL GERAÇÃO DE MOVIMENTOS DE MASSA
EM VERTENTES. O CASO DAS VERTENTES A NORTE DE LISBOA – COSTEIRA 2062
JORGE, CELESTE

 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UMA BARREIRA FLEXÍVEL PARA DESLIZAMENTOS SUPERFICIAIS SOB MÚLTIPLOS
TIPOS DE CARGAS: DESLIZAMENTO DE LAMAS E QUEDA DE BLOCOS 2072
WENDELER, CORINNA; LUIS, ROBERTO; PRIETO, JULIO

 AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS DAS MOVIMENTAÇÕES DE MASSA DO TRECHO DE SERRA DA RODOVIA DOS
TAMOIOS – CARAGUATATUBA– BRASIL 2082
SANTOS, PALLOMA; SEGRE, THIAGO; ARAUJO, VINICIUS

 CARTOGRAFIA DE SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INSTABILIDADES EM VERTENTES PARA A RESERVA


ECOLÓGICA NACIONAL NO CONCELHO DE ALMADA 2095
MARQUES, FERNANDO; QUEIROZ, SÓNIA; GOUVEIA, LUÍS; VASCONCELOS, MANUEL

 DISCUSSÃO SOBRE OS LIMIARES CRÍTICOS DE PRECIPITAÇÃO NA GESTÃO DE RISCOS A MOVIMENTOS DE MASSA NO


BRASIL 2105
DAMASCENO, ALOA DANDARA OLIVEIRA; CARDOSO, ANDREA DE OLIVEIRA; PAIVA, CLÁUDIA F. ESCOBAR

 ESTABELECER O LIMIAR DE PRECIPITAÇÃO - A PARTIR DA ANÁLISE CLIMATOLÓGICA - QUE CONDUZ A


ESCORREGAMENTOS NA VERTENTE A NORTE DE LISBOA – COSTEIRA 2118
JORGE, CELESTE

 ESTABILIZAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E REFORÇO URGENTE DE MUROS DE SUPORTE DE GRANDE ALTURA EM


LISBOA__________________________________________________________________________________________________________2130
FARTARIA, CATARINA; PINTO, ALEXANDRE; FARINHA, JOÃO; LOPES GONÇALO

 MAPEAMENTO DE ÁREAS POTENCIALMENTE INUNDÁVEIS: HANDVERSUS ARCHYDRO 2142


MARTELI, ALICE; SANTOS, FRANCIANE; LORANDI, REINALDO; LOLLO, JOSÉ

24
 MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR BRASILEIRA:
PR/SP 2153
TREVIZOLLI, MARINA; FURMAN, JORDANA; ZONTA, JHONATAN; PASSINI, LARISSA; SESTREM, LIAMARA; FARO, VITOR

 METODOLOGIA HEURÍSTICA E HOLÍSTICA PARA A DEFINIÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À INSTABILIZAÇÃO DE


ENCOSTAS COM OCUPAÇÃO URBANA 2165
JORGE, CELESTE

 MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM


LISBOA__________________________________________________________________________________________________________2177
PINTO, ALEXANDRE; CRISTÓVÃO, ANTÓNIO; FARTARIA, CATARINA; GODINHO, LUÍS; ROCHA, MIGUEL

 VUELCO ATÍPICO: CASO DE ESTUDIO 2188


GARCÍA-MOYA, SERGIO ANTONIO; GONZÁLEZ-GALINDO, JESÚS; OLALLA, CLAUDIO

TRATAMENTO E REFORÇO DE MACIÇOS

 ANÁLISE COMPARATIVA DE FORMULAÇÕES DA SEGURANÇA DE SOLOS REFORÇADOS À LUZ DE CONCEITOS DE


FIABILIDADE 2201
HACHICH, WALDEMAR; VIEIRA DA CUNHA, EUGENIO PABST; BUENO DE CAMARGO, VÍCTOR ENRIQUE LEÓN

 APLICAÇÃO DE ANCORAGENS DEFINITIVAS SEGUNDO A NORMA EN1537 – EXEMPLOS E PROBLEMÁTICA


ASSOCIADA_______________________________________________________________________________________________________2210
PEREIRA, A. MIGUEL

 ATERROS SOBRE SOLOS MOLES REFORÇADOS COM COLUNAS DE BRITA – ANÁLISE TRIDIMENSIONAL E ESTUDOS
PARAMÊTRICOS 2222
MARQUES, DANIELA OLIVEIRA; BORGES, JOSÉ LEITÃO

 COMPORTAMENTO CÍCLICO DE UM SOLO ESTABILIZADO QUIMICAMENTE COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE


POLIPROPILENO 2234
CORREIA, ANTÓNIO ALBERTO SANTOS; PORÉM, MANUEL VARELA DIAS; VENDA OLIVEIRA, PAULO JOSÉ

 COMPORTAMENTO EM TRAÇÃO A LONGO PRAZO DE UM GEOTÊXTIL TECIDO – EXTRAPOLAÇÃO DE RESULTADOS


EXPERIMENTAIS PARA TEMPOS DE SERVIÇO ATÉ 100 ANOS 2242
PAULA, ANTÓNIO MIGUEL; PINHO-LOPES, MARGARIDA; LOPES, MARIA DE LURDES

 COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS ARTIFICIALMENTE CIMENTADOS 2254


LEMOS, LUÍS JOAQUIM LEAL; CORREIA, ANTÓNIO ALBERTO SANTOS; VENDA OLIVEIRA, PAULO JOSÉ

 CONSIDERAÇÕES SOBRE O REFORÇO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NA LINHA DO NORTE, COM RECURSO A


MICROESTACAS______________________ 2261
PEDROSA, MÁRIO; CARDOSO, ANA

 DIMENSIONAMENTO DA INFRAESTRUTURA DE VIA EM OBRAS FERROVIÁRIAS E TIPOLOGIA DOS TRATAMENTOS DE


PLATAFORMA 2274
LIMA, PEDRO MIGUEL; ROSA, ANA ISABEL

 ESTABILIDADE DE UM TALUDE GRAMPEADO SUBMETIDO A SOBRECARGA PROVENIENTE DE TESTE HIDROSTÁTICO


CONDUZIDOS EM ESFERAS DE GLP (GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO) 2287
PASCHOALIN FILHO, JOÃO ALEXANDRE; VERSOLATTO, BRENNO AUGUSTO MARCONDE; DIAS, ANTONIO JOSÉ GUERNER

 ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA 2297
NUNES, ANNA LAURA L. S.; RIOS FILHO, MARCELO GOMES; MASCARENHAS, MARCELO T. S.; MENDONÇA, CLAYTON TOBIAS; ROCHA,
PETERSON CHAGAS; PELIZONI, ANDREA BALBUZANO

 ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COMSUBESTRUTURA REFORÇADA 2310


MARTINS, MARGARIDA; PAIXÃO, ANDRÉ; FORTUNATO, EDUARDO; ASSEICEIRO, FRANCISCO; CRUZ, JORGE; CRUZ, NUNO

 EXPERIÊNCIA RECENTE NA EXECUÇÃO DE OBRAS DE TRATAMENTO DE SOLO NA AMÉRICA LATINA 2323


CARVAJAL DÍAZ, ENMANUEL; VUKOTIČ, GORAN; BARROS, PEDRO JORGE M. A.

 INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO CÍCLICO NO RESISTÊNCIA DE SOLOS ESTABILIZADOS QUIMICAMENTE 2336


VENDA OLIVEIRA, PAULO JOSÉ; CAJADA, JOÃO CARLOS ATALAIA; CORREIA, ANTÓNIO ALBERTO SANTOS; LEMOS, LUÍS JOAQUIM
LEAL

 MELHORAMENTO DE SOLOS COM RECURSO A ENZIMAS - ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO TEOR EM MATÉRIA


ORGÂNICA_______________________________________________________________________________________________________ 2343
GONÇALVES NEVES, J.P.G.; VENDA OLIVEIRA, P.J.

 MELHORAMENTO DE UM SOLO ARENOSO POR ATIVAÇÃO ALCALINA PARA MITIGAÇÃO DA LIQUEFAÇÃO_________ 2353
RIOS, SARA; FERREIRA, CRISTIANA; VIANA DA FONSECA, ANTÓNIO

25
 O MÉTODO GERAL NA REAVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSAIO DE CARGA EM ANCORAGENS _________________ 2364
CARVALHO, MARIANA; SALGADO, FRANCISCO

 O PAPEL DAS GEOGRELHAS NA ESTABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BALASTRO DE INFRAESTRUTURAS FERROVIÁRIAS:


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2376
PIRES, DIOGO; BARROSO, MADALENA; FONTUL, SIMONA; DIMITROVOVÁ, ZUZANA

 POLIESTIRENO EXPANDIDO EM ATERROS SOBRESOLOS MOLES 2388


CARVALHO, DAVID; KASSOUF, ROBERTO; SCATENA, PEDRO; SCATENA, VILSON

 RELAÇÕES EMPÍRICAS PARA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA AO ARRANCAMENTO DE GRAMPOS 2401


D’HYPPOLITO, LAYS CRISTINA B. S.; NUNES, ANNA LAURA L. S.

 TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO – PROCEDIMENTOS
EXECUTIVOS 2413
PEREIRA, MIGUEL; COSTA, HÉLDER; MALVAR, WENDY; FIGUEIREDO, JOSÉ NUNO; PINHO, PAULO

 UTILIZAÇÃO DE POLÍMEROS PARA O MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 2426


BARRETO, THIAGO; REPSOLD, LUCAS; VIEIRA, CARLOS GUSTAVO; CASAGRANDE, MICHÉLE

 VALORES LIMITE DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA PARA A EXECUÇÃO DE COLUNAS DE BRITA EM SOLOS
MOLES 2438
CARVAJAL DÍAZ, ENMANUEL; VUKOTIČ, GORAN; BARROS, PEDRO JORGE M. A.

6 JLEG

 AGREGADOS VULCÂNICOS E A REAÇÃO ÁLCALIS-SÍLICA A NÍVEL MUNDIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO 2451


MEDEIROS, SARA; FERNANDES, ISABEL; FOURNIER, BENOIT; NUNES, JOÃO CARLOS

 ALGUNAS EXPERIENCIAS EN TÚNELES EXCAVADOS EN TERRENOS VOLCÁNICOS 2457


OTEO, CARLOS

 APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS


VOLCÁNICOS ____________________________________________________________________________________________________2469
ARCOS, JOSÉ LUÍS; RODRIGUES, ANA TERESA; GIL, RAFAEL; LOPEZ, JUAN IGNACIO; RUIZ-TERAN, PABLO

 APLICACIÓN DEL CRITERIO DE ROTURA PARABÓLICO COLAPSABLE AL CÁLCULO DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE


CIMENTACIONES SUPERFICIALES ______________________________________________________________________________2481
SERRANO, ALCIBÍADES; PERUCHO, ÁUREA; GALINDO, RUBÉN

 APROXIMACIONES ENTRE EL COMPORTAMIENTO GEOTÉCNICO Y EL MATERIAL PARENTAL DE MUESTRAS DE SUELO


PROCEDENTES DE TENERIFE Y DE GRAN CANARIA (ISLASCANARIAS, ESPAÑA) 2490
MARTÍN AFONSO, CARMEN GLORIA; HERNÁNDEZ GUTIÉRREZ, LUIS ENRIQUE

 CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS


AÇORES E MADEIRA 2501
MALHEIRO, ANA; AMARAL, PAULO; VIEIRA DE SOUSA, JOSÉ F.; MIRANDA, VIDÁLIA; SANTOS, ANDRÉ

 CARACTERIZACIÓN GEOLÓGICA Y GEOTÉCNICA DE DEPÓSITOS LAHÁRICOS DESDE UNA PERSPECTIVA DE INGENIERÍA


FORENSE EN LA CONSTRUCCIÓN DE UN TÚNEL_________________________________________________________________2513
PÉREZ MARTÍN, ÁLVARO

 CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO EIXO SUL DA SCUT DA ILHA DE SÃO MIGUEL, AÇORES 2521
RODRIGUES, VITÓRIA DA CONCEIÇÃO; ROSA, SÉRGIO PAULO P.; BRITO, JOSÉ A. MATEUS; SANTOS, JAIME

 ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES NA VILA DE POVOAÇÃO EM SÃO MIGUEL, AÇORES 2533


NUNES, ALFREDO C. N.; MATEUS DE BRITO, JOSÉ; ROSA, SÉRGIO

 ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE_________________________2542
AMARAL, PAULO; MALHEIRO, ANA; MARQUES, FILIPE; MONIZ, LETÍCIA; TEIXEIRA, LUÍS

 FACTORES DIFERENCIALES EN EL DIAGNÓSTICO E IMPLANTACIÓN DE MEDIDAS DE PROTECCIÓN CONTRA


DESPRENDIMIENTOS EN LA GEOLOGÍA VOLCÁNICA_______________________________________________________________ 2554
LUQUE, JAVIER

 METODOLOGÍA SENCILLA PARA LA EVALUACIÓN DE RIESGOS EN TALUDES EN ROCAS VOLCÁNICAS DE LAS ISLAS
CANARIAS: PRIMEROS PASOS________________________________________________________________________________2566
GONZÁLEZ-GALLEGO, JAVIER; MUÑIZ MENÉNDEZ, MAURO

 OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES _______________________2578


TROTA, ANTÓNIO; MALHEIRO, ANA; AMARAL, PAULO; BERNARDO, MIGUEL; RAPOSO, PEDRO; COSTA, FRANCISCO; FURTADO,
ANDRÉ

26
 PROCESSOS EROSIVOS EM SOLOS VULCÂNICOS PROVENIENTES DE ERUPÇÕES HISTÓRICAS NAS FURNAS (S. MIGUEL,
AÇORES, PORTUGAL) – AVALIAÇÃO PRELIMINAR 2587
FURTADO, A; BRITO, M.G; SILVA, P.F. DA; TROTA, A

 PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ROCHAS VULCÂNICAS DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL________________2599


VIEIRA DE SOUSA, JOSÉ F.; CUETO MENDOZA, NORA; PEREIRA, PEDRO N. A.; PERNETA, JOÃO P. S.

 PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO


VOLCÁNICO______________________________________________________________________________________________________2610
CAÑIZAL, JORGE; CASTRO, JORGE; DA COSTA, ALMUDENA; SAGASETA, CÉSAR; VELASCO NÚÑEZ, JAVIER

 SWELLING SOILS IN THE CAMPO DE CALATRAVA VOLCANIC FIELD, SPAIN: GENERAL VIEW _______________________2615
HERRERO-DEBÓN, L.; HIDALGO-SIGNES, C.; TORRIJO, F.J.; CORTÉS, R.

 TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS DE
DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE _____________________________________________________________________________ 2625
CUETO MENDOZA, NORA; VIEIRA DE SOUSA, JOSÉ F.; FERNANDES, CÉSAR; BENAVENTE, DAVID; URBANI, FRANCO; MEZA, RONNY;
FERNANDES, ÉNIO; GARCÍA-DEL-CURA, MARÍA ÁNGELES

9º ENCONTRO DE JOVENS GEOTÉCNICOS

 DISCRETE NUMERICAL MODELLING OF THE MECHANICAL BEHAVIOUR OF ROCKFILL IN A OEDOMETER TEST WITH
SUCTION CONTROL 2639
MANSO, JOÃO

 EFEITO DA PRESENÇA DE FINOS NA BIO-CIMENTAÇÃO DE SOLOS 2649


PIRES, INÊS

 ESCAVAÇÃO DE POÇOS VERTICAIS EM ROCHA ATRAVÉS DO MÉTODO DE CARGAS SUSPENSAS NA CENTRAL


HIDROELÉCTRICA DE GOUVÃES 2659
MATOS, MARTIM P.S.R.; BLANCH, ALEJANDRO R.; MATOS, EDUARDO J.

 ESTABILIDADE DE TALUDES EM MEIO URBANO – CASO DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA 2669
CARVALHO, NEUZA

 ESTUDO DA TÉCNICA DE ELETROOSMOSE PARA DESCONTAMINAÇÃO DE TERRENOS ESTRATIFICADOS 2679


BORGES, INÊS

 LABORATORY TESTING AND NUMERICAL MODELLING OF THE DYNAMIC BEHAVIOUR OF TAGUS RIVER SAND_____ 2689
MIRANDA, LUÍS; CALDEIRA, LAURA; BILÉ SERRA, JOÃO; BARBOSA, ANDRÉ

 MODELAÇÃO DE ESCAVAÇÕES URBANAS COM PRESERVAÇÃO DE FACHADA DE EDIFÍCIO DEMOLIDO 2699


LUZ, LUÍS C. NEVES DA

 MODELAÇÃO NUMÉRICA DOS EFEITOS DA LIQUEFAÇÃO EM EDIFÍCIOS FUNDADOS SUPERFICIALMENTE 2709


TOVAR, PEDRO; VIANA, ANTÓNIO; HEDEDAL, OLE

 MULTI-TECHNICAL MONITORING SYSTEM INSTALLED IN THE UNSTABILIZED ZONE IN LAJEDO – FLORES ISLAND 2719
MONIZ, LETÍCIA; AMARAL, PAULO; MARQUES, FILIPE; MALHEIRO, ANA

27
ÍNDICE AUTORES

 ABÍLIO NOGUEIRA
o PREVENÇÃO DA LIQUEFACÇÃO ATRAVÉS DE COLUNAS DE JET GROUTING DISPOSTAS EM CELULAS -
CHRISTCHURCH TOWN HALL – NOVA ZELÂNDIA 966
 ABRAÃO BRAZÃO
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_____________________________1153
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_ 1711
 ADAN W. DA SILVA TRENTIN
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 ADELI B. BRAUN
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 ADRIANA NEVES
o INSPEÇÃO VISUAL DE MUROS E TALUDES__________________________________________________________________255
 AGNA ALINY SANTOS
o CARACTERIZAÇÃO DA SUBSUPERFÍCIE NA TRANSIÇÃO ENTRE FORMAÇÃO BARREIRAS E DEPÓSITOS
QUATERNÁRIOS EM VITÓRIA – ES 1698
 ALBERTO CABRAL
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA__1027
 ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO
o ANÁLISE DA SEGURANÇA DE UM TALUDE DE MINERAÇÃO 1434
o COMPORTAMENTO DA BARRAGEM DE TERRA DA MARGEM ESQUERDA DE ITAIPU EM PERÍODO DE
OPERAÇÃO______________________________________________________________________________________________ 362
 ALEJANDRO BLANCH
o ESCAVAÇÃO DE POÇOS VERTICAIS EM ROCHA ATRAVÉS DO MÉTODO DE CARGAS SUSPENSAS NA CENTRAL
HIDROELÉCTRICA DE GOUVÃES 2659
 ALESSANDRA CONDE DE FREITAS
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RECALQUES MEDIDOS E PREVISTOS UTILIZANDO-SE ABORDAGEM DE EFEITO DE
GRUPO EM OBRA NA REGIÃO DE ICARAI, NITERÓI 589
 ALEX DE LIMA SILVA
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_ 786
 ALEXANDRA BORGES
o LINHA FERROVIÁRIA DO SUL: CASOS DE INSTABILIDADE EM TALUDES DE ESCAVAÇÃO, OCORRÊNCIAS E MEDIDAS
DE ESTABILIZAÇÃO _______________ 267
o OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,
CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
o PETI3+, CENÁRIO FERROVIA 2020. DEFINIÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROSPEÇÃO GEOLÓGICO GEOTÉCNICA
ASSOCIADAS À CONTRATAÇÃO DA FASE DE ESTUDOS E PROJETOS 1961
o RAMAL DE NEVES CORVO: REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA, ROTURA CONTROLADA E CONSTRUÇÃO
DE NOVO ATERRO FERROVIÁRIO 528
 ALEXANDRA FERREIRA
o INSPEÇÃO VISUAL DE MUROS E TALUDES_________________________________________________________________ 255
 ALEXANDRA ROSA
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA _______ 483
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO
PRECONIZADA___________________________________________________________________________________________ 495
o PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA 507
 ALEXANDRE CAMOZZI
o ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO
DA ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
 ALEXANDRE D. GUSMÃO
o ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO
SITUADO NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
 ALEXANDRE PINTO
o ESTABILIZAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E REFORÇO URGENTE DE MUROS DE SUPORTE DE GRANDE ALTURA EM
LISBOA_________________________________________________________________________________________________ 2130
o MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM
LISBOA 2177
o SOLUÇÕES DE CONTENÇÂO PERIFÉRICA PARA AMPLIAÇÃO SUBTERRÂNEA DO HOSPITAL DA LUZ EM
LISBOA_________________________________________________________________________________________________ 1018
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO EDIFÍCIO FPM41 __________________ 1037
 ALEXANDRE SANTOS-FERREIRA
o REABILITAÇÃO DA RESTINGA DE OFIR: UMA ANÁLISE À UTILIZAÇÃO DE GEOCILINDROS 1521
 ALFRAN SAMPAIO MOURA
o UMA NOVA ABORDAGEM NO CONTROLE EXECUTIVO DE ESTACAS RAIZ_ 1047
 ALFREDO NUNES
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES NA VILA DE POVOAÇÃO EM SÃO MIGUEL, AÇORES____________________________2533
 ALFREDO NUNES SILVA NETO
o APLICAÇÃO DA SIMULAÇÃO MONTE CARLO NA ANÁLISE DE PROBABILIDADE DE RUÍNA E CONFIABILIDADE EM
PROJETO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS __715

28
 ALICE MARTELI
o MAPEAMENTO DE ÁREAS POTENCIALMENTE INUNDÁVEIS: HAND VERSUS ARCHYDRO 2142
 ALINE GOUVEIA
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
 ALINE HELENA DELFINO STEFFENS
o RESISTÊNCIA DE JUNTAS ROCHOSAS ALTERADAS COM MARTELO SCHMIDT 1995
 ALLAN K. L. DE ALMEIDA
o ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO
SITUADO NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
o BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE NA ZONA SUL DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE 763
 ALMUDENA DA COSTA
o PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO
VOLCÁNICO ___________________________________________________________________________________________ 2610
 ALOA DANDARA OLIVEIRA DAMASCENO
o DISCUSSÃO SOBRE OS LIMIARES CRÍTICOS DE PRECIPITAÇÃO NA GESTÃO DE RISCOS A MOVIMENTOS DE MASSA
NO BRASIL_ 2105
 ÁLVARO PÉREZ MARTÍN
o CARACTERIZACIÓN GEOLÓGICA Y GEOTÉCNICA DE DEPÓSITOS LAHÁRICOS DESDE UNA PERSPECTIVA DE
INGENIERÍA FORENSE EN LA CONSTRUCCIÓN DE UN TÚNEL 2513
 AMADEU MAGNONI VENTURIN
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 AMANDA DALLA ROSA JOHANN
o APLICAÇÃO DA RELAÇÃO VAZIOS/CAL NA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E DA RIGIDEZ
INICIAL DE MISTURAS SOLO-CAL 1611
 AMANDIO G. OLIVEIRA FILHO
o AVALIAÇÃO DO USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE COMPRESSÃO DE ARGILAS
MARINHAS_ 1664
 ANA CARDOSO
o CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA
EN230___________________________________________________________________________________________________ 401
o CONSIDERAÇÕES SOBRE O REFORÇO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NA LINHA DO NORTE, COM RECURSO A
MICROESTACAS 2261
 ANA CAROLINA NASCIMENTO DE BARROS ARÊDES
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL __1461
 ANA CRISTINA FREIRE
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO__ 1174
 ANA ISABEL ROSA
o DIMENSIONAMENTO DA INFRAESTRUTURA DE VIA EM OBRAS FERROVIÁRIAS E TIPOLOGIA DOS TRATAMENTOS
DE PLATAFORMA 2274
o INSTABILIZAÇÕES GEOTÉCNICAS DE ATERROS EM VIAS RODOVIÁRIAS EM EXPLORAÇÃO: CASO DA EN3-1 ENTRE
O KM 1+100 E 1+300, NA AZAMBUJA_ 1867
o METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DE LINHAS FERROVIÁRIAS EXISTENTES COM VISTA À ELABORAÇÃO DE
PROJETOS DE REABILITAÇÃO / MODERNIZAÇÃO NA ÁREA DA GEOTECNIA __1888
o OTIMIZAÇÃO DO TRAÇADO DE VIA E DO PERFIL TRANSVERSAL TIPO, NO PONTO DE VISTA DA GEOTECNIA, EM
LINHAS FERROVIÁRIAS A MODERNIZAR _1387
 ANA MARIA MALHEIRO
o CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS
AÇORES E MADEIRA_ 2501
o ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE ___________________ 2542
o MULTI-TECHNICAL MONITORING SYSTEM INSTALLED IN THE UNSTABILIZED ZONE IN LAJEDO – FLORES
ISLAND_________________________________________________________________________________________________2719
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES______________________ 2578
 ANA PAULA DE FREITAS
o COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS ___774
 ANA PAULA MIKOS
o ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE PARÂMETROS GEOMORFOLÓGICOS NA ESTABILIDADE DE TALUDES 116
o ESTUDO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO SOLO COM VARIAÇÃO DA UMIDADE E ÍNDIDE DE VAZIOS__________1814
 ANA PAULA PEREIRA CARVALHO
o MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL BASEADO NA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS
- O CASO DO MUNICÍPIO DE DELFINÓPOLIS (MG) – BRASIL _______________________________________1340
 ANA PEREIRA
o SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO DE ARRIBAS COSTEIRAS COM REDUZIDO IMPACTO VISUAL_ 307
 ANA QUINTELA
o ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO_____ 198
 ANA RODRIGUES
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
 ANA TERESA RODRIGUES
o APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS
VOLCÁNICOS___________________________________________________________________________________________ 2469

29
o ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE
ESTUDO _ 884
 ANA TERESA SANTOS DE ALENCAR
o COMPARACIÓN DE LOS MÉTODOS NUMERICOS Y ANALITICOS EN EL ANÁLISIS DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE
CIMENTACIONES SUPERFICIALES 799
 ANA VIEIRA
o AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE UMA ESTACA TERMOATIVA INTEGRADA NUM SISTEMA
GEOTÉRMICO SUPERFICIAL 1532
o MEDIÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE DOIS SOLOS DIFERENTES CONSIDERANDO O SEU GRAU DE
SATURAÇÃO PARA MODELAÇÃO DE FUNDAÇÕES TERMOACTIVAS _ 1566
 ANDRÉ BARBOSA
o LABORATORY TESTING AND NUMERICAL MODELLING OF THE DYNAMIC BEHAVIOUR OF TAGUS RIVER SAND _2689
 ANDRÉ DANTAS
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
o ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO
DA ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
 ANDRÉ FURTADO
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES _ 2578
o PROCESSOS EROSIVOS EM SOLOS VULCÂNICOS PROVENIENTES DE ERUPÇÕES HISTÓRICAS NAS FURNAS (S.
MIGUEL, AÇORES, PORTUGAL) – AVALIAÇÃO PRELIMINAR 2587
 ANDRÉ LUIS BEZERRA
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA,
CABROBÓ E BREJO DA MADRE DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1321
 ANDRÉ MATEUS
o A UTILIZAÇÃO DO MEV NA IDENTIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA FORMAÇÃO DAS ‘ARGILAS E CALCÁRIOS DOS
PRAZERES’ 1578
 ANDRÉ PACHECO DE ASSIS
o APLICAÇÃO DE PILARES ARTIFICIAIS COMO SUBSTITUIÇÃO DE PILARES NATURAIS EM ÁREAS DE LAVRA _ _ _ 1439
 ANDRÉ PAIXÃO
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA_ 2310
 ANDRÉ PEREZ GUEDES PEREIRA
o BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE NA ZONA SUL DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE 763
 ANDRÉ SANTOS
o CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS
AÇORES E MADEIRA_ 2501
 ANDRÉ SILVA
o A UTILIZAÇÃO DO MEV NA IDENTIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA FORMAÇÃO DAS ‘ARGILAS E CALCÁRIOS DOS
PRAZERES’ 1578
 ANDREA BALBUZANO PELIZONI
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__2297
o PROTEÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONJUNTO DE SOLUÇÕES E ESTRUTURAS PASSIVAS EM PEDRO
DO RIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL _ 296
 ANDREA DE OLIVEIRA CARDOSO
o DISCUSSÃO SOBRE OS LIMIARES CRÍTICOS DE PRECIPITAÇÃO NA GESTÃO DE RISCOS A MOVIMENTOS DE MASSA
NO BRASIL_ 2105
 ANDREA N. VECCI
o ANÁLISE DA SEGURANÇA DE UM TALUDE DE MINERAÇÃO 1434
 ANNA LAURA L. S. NUNES
o ANÁLISES DE FORÇAS DE IMPACTO DE FLUXOS DE DETRITOS 124
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__2297
o RELAÇÕES EMPÍRICAS PARA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA AO ARRANCAMENTO DE GRAMPOS _ 2401
o RESISTÊNCIA DE JUNTAS ROCHOSAS ALTERADAS COM MARTELO SCHMIDT 1995
 ANTÓNIO ALBERTO SANTOS CORREIA
o COMPORTAMENTO CÍCLICO DE UM SOLO ESTABILIZADO QUIMICAMENTE COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE
POLIPROPILENO 2234
o COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS ARTIFICIALMENTE CIMENTADOS 2254
o INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO CÍCLICO NO RESISTÊNCIA DE SOLOS ESTABILIZADOS QUIMICAMENTE 2336
 ANTÓNIO C. R. GUIMARÃES
o ESTUDO DA DINÂMICA DE VIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE FRAGILIDADES NA INFRAESTRUTURA FERROVIÁRIA_1792
o ESTUDO DE SHAKEDOWN PARA VALIDAÇÃO DE JAZIDAS EXAURIDAS NO NORTE DO BRASIL 1829
 ANTÓNIO CRISTOVÃO
o MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM
LISBOA 2177
o PREVENÇÃO DA LIQUEFACÇÃO ATRAVÉS DE COLUNAS DE JET GROUTING DISPOSTAS EM CELULAS -
CHRISTCHURCH TOWN HALL – NOVA ZELÂNDIA _966
 ANTÓNIO FIGUEIREDO
o EDIFÍCIOS ESCOLARES CLIMATIZADOS POR RECURSOS NATURAIS. A GEOTERMIA COMO APOSTA DO
PRESENTE______________________________________________________________________________________________ 1542
 ANTÓNIO FONSECA
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10 150
 ANTÓNIO GOMES CORREIA
o COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE UM TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO COM AGREGADO SIDERÚRGICO

30
INERTE PARA CONSTRUÇÃO (ASIC)_ 374
o ESTUDO PRELIMINAR DE VIABILIDADE DE BRITA REFORÇADA COM FIBRA PARA APLICAÇÕES
FERROVIÁRIAS__________________________________________________________________________________________1850
o USO DE FERRAMENTAS DE DATA MINING NA IDENTIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM
ATERRO 327
 ANTONIO JOSÉ GUERNER DIAS
o AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE TIJOLOS DE SOLO CIMENTO
MANUFATURADOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE PET (POLITEREFTALATO DEETILENO) 1131
o ESTABILIDADE DE UM TALUDE GRAMPEADO SUBMETIDO A SOBRECARGA PROVENIENTE DE TESTE
HIDROSTÁTICO CONDUZIDOS EM ESFERAS DE GLP (GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO) 2287
 ANTÓNIO JOSÉ ROQUE
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO__ 1174
o COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE UM TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO COM AGREGADO SIDERÚRGICO
INERTE PARA CONSTRUÇÃO (ASIC) _ 374
 ANTÓNIO LÁZARO FERREIRA SANTOS
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 ANTÓNIO M. G. PEDRO
o A UTILIZAÇÃO DO MEV NA IDENTIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA FORMAÇÃO DAS ‘ARGILAS E CALCÁRIOS DOS
PRAZERES’ 1578
o AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DO HARDENING SOIL MODEL EM REPRODUZIR A RESPOSTA DE UM SOLO A
DIFERENTES TRAJETÓRIAS DE TENSÃO_ _ 1632
o DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE
EM MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
 ANTÔNIO MENDONÇA
o ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO – RETROANÁLISE _ 105
o RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO 1397
 ANTÓNIO MIGUEL PAULA
o COMPORTAMENTO EM TRAÇÃO A LONGO PRAZO DE UM GEOTÊXTIL TECIDO – EXTRAPOLAÇÃO DE RESULTADOS
EXPERIMENTAIS PARA TEMPOS DE SERVIÇO ATÉ 100 ANOS 2242
o RELAÇÃO ENTRE MÓDULO DE DEFORMABILIDADE E CBR PARA CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DA FUNDAÇAO DE
PAVIMENTOS 1985
 ANTÓNIO MIGUEL PEREIRA
o APLICAÇÃO DE ANCORAGENS DEFINITIVAS SEGUNDO A NORMA EN1537 – EXEMPLOS E PROBLEMÁTICA
ASSOCIADA __ 2210
o TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO –
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS __ 2413
 ANTÓNIO MONTEIRO
o A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS 1061
 ANTÓNIO PINHO
o CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO
SUDOESTE DE ANGOLA 1163
 ANTONIO THOMÉ
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 ANTÓNIO TROTA
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES _ 2578
o PROCESSOS EROSIVOS EM SOLOS VULCÂNICOS PROVENIENTES DE ERUPÇÕES HISTÓRICAS NAS FURNAS (S.
MIGUEL, AÇORES, PORTUGAL) – AVALIAÇÃO PRELIMINAR _ 2587
 ANTÓNIO VIANA DA FONSECA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM
REFORÇO DE SOLOS 1069
o APLICAÇÃO DA RELAÇÃO VAZIOS/CAL NA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E DA RIGIDEZ
INICIAL DE MISTURAS SOLO-CAL 1611
o COMPORTAMENTO DO LASTRO FERROVIÁRIO DE AGREGADO DE ESCÓRIA DE ACIARIA SOB CARREGAMENTO
TRIAXIAL MONOTÔNICO 1756
o INTERPRETAÇÃO ESTATÍSTICA DA CLASSIFICAÇÃO DO SOLO A PARTIR DE ENSAIOS CPTU EM SEDIMENTOS
FLUVIAIS 1879
o MELHORAMENTO DE UM SOLO ARENOSO POR ATIVAÇÃO ALCALINA PARA MITIGAÇÃO DA LIQUEFAÇÃO_ _ _ 2353
o MODELAÇÃO NUMÉRICA DOS EFEITOS DA LIQUEFAÇÃO EM EDIFÍCIOS FUNDADOS SUPERFICIALMENTE_ 2709
 ARCHANGE MICHAEL ILAMBWETSI
o PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO INDIRECTOS E DIRECTOS DA RESISTÊNCIA GEOMECÂNICA DO MÁRMORE DA
FORMAÇÃO SETE LAGOAS 1930
o PERFIS DE INTEMPERISMO DE FILITO SOB CLIMA TROPICAL, NA REGIÃO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG,
BRASIL_________________________________________________________________________________________________ 1955
o SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS APLICADOS ÀS UNIDADES INFERIORES DO GRUPO BAMBUÍ__2019
 ARLINDO SOUSA
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ ____ 150
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
 ARTHUR MATEUS MOURÃO
o ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO – RETROANÁLISE _ 105
 ARTHUR VEIGA SILVERIO PINHEIRO
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO__786

31
 AUGUSTO MONTOR DE FREITAS LUIZ
o UTILIZAÇÃO DE DADOS DE SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT PARA PERFILAGEM DO
SUBSOLO NA CIDADE DE MARINGÁ-BRASIL 2040
 BALDOMIRO XAVIER
o ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA CUF TEJO, EM LISBOA 832
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER, LUANDA, ANGOLA_ _858
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO, LISBOA __869
 BÁRBARA MARIA OLIVEIRA BITENCOURT
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DE UM SOLO
COMPACTADO 1310
 BÁRBARA PENICHE
o O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E
GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE _ 1910
 BEATRIZ CRUZ
o ANÁLISE DA INSTRUMENTAÇÃO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA DE NEVES-CORVO_________________1423
 BENOIT FOURNIER
o AGREGADOS VULCÂNICOS E A REAÇÃO ÁLCALIS-SÍLICA A NÍVEL MUNDIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO____ 2451
 BERNADETE R. DANZIGER
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RECALQUES MEDIDOS E PREVISTOS UTILIZANDO-SE ABORDAGEM DE EFEITO DE
GRUPO EM OBRA NA REGIÃO DE ICARAI, NITERÓI 589
 BRENNO AUGUSTO MARCONDE VERSOLATTO
o ESTABILIDADE DE UM TALUDE GRAMPEADO SUBMETIDO A SOBRECARGA PROVENIENTE DE TESTE
HIDROSTÁTICO CONDUZIDOS EM ESFERAS DE GLP (GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO) 2287
 BRUNA LUISA AMARAL
o AVALIAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA EM ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A DESLIZAMENTOS RASOS PRESENTES NO
CONDOMÍNIO SOL NASCENTE, DISTRITO FEDERAL, BRASIL _ 1111
 BRUNA NAIANE A. SANTOS
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
 BRUNO ANJOS
o ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE
ESTUDO _ 884
 BRUNO G. DELGADO
o COMPORTAMENTO DO LASTRO FERROVIÁRIO DE AGREGADO DE ESCÓRIA DE ACIARIA SOB CARREGAMENTO
TRIAXIAL MONOTÔNICO 1756
 BRUNO OLIVEIRA BICA
o AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE
CAL E CIMENTO 1121
 BRUNO VIEIRA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO __1840
 CAIO DE O. SILVA
o METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE MÉTODOS SEMI- EMPÍRICOS DE
CÁLCULO DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA DE ESTACAS 941
 CAIO MARINHO
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_ 646
 CAIQUE ROBERTO DE ALMEIDA
o ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO DE MICROESTACAS EM SOLOS
TROPICAIS_______________________________________________________________________________________ 679
 CAMILA DE S. CONSTANTINO
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA,
CABROBÓ E BREJO DA MADRE DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1321
 CÂNDIDA CASTRO
o OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,
CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
 CARINA COSTA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR __________________________ 1604
o ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO__________669
o SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES DIÂMETROS EM AREIA__________ 999
 CARLOS ANDRÉS GRAU SACOTO
o ANÁLISES DE FORÇAS DE IMPACTO DE FLUXOS DE DETRITOS_______________________________________________124
 CARLOS COSTA
o ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE
ESTUDO____________________________ 849
 CARLOS ESTEVES
o CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO SUPERIOR DO CIRCUITO HIDRÁULICO DO REFORÇO DE POTÊNCIA
DE VENDA NOVA III_______________________________________________________________________________________809
 CARLOS GUSTAVO VIEIRA
o UTILIZAÇÃO DE POLÍMEROS PARA O MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 2426
 CARLOS MANUEL RODRIGUES
o A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS_______1062
o CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688
 CARLOS NETO DE CARVALHO

32
o CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO __162
 CARLOS OTEO
o ALGUNAS EXPERIENCIAS EN TÚNELES EXCAVADOS EN TERRENOS VOLCÁNICOS_ 2457
 CARLOS PEDRO
o PETI3+, CENÁRIO FERROVIA 2020. DEFINIÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROSPEÇÃO GEOLÓGICO GEOTÉCNICA
ASSOCIADAS À CONTRATAÇÃO DA FASE DE ESTUDOS E PROJETOS 1961
 CARMEN GLORIA MARTÍN AFONSO
o APROXIMACIONES ENTRE EL COMPORTAMIENTO GEOTÉCNICO Y EL MATERIAL PARENTAL DE MUESTRAS DE
SUELO PROCEDENTES DE TENERIFE Y DE GRAN CANARIA (ISLAS CANARIAS, ESPAÑA) 2490
 CARMINE TERRIOTI
o THE INFLUENCE OF OBSTACLES IN DEBRIS-FLOW DYNAMICS: THE CASE STUDY OF CANCIA (ITALIAN
DOLOMITES)______________________________________________________________________________________________ 86
 CAROLINA LEAL
o CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA
EN230___________________________________________________________________________________________________ 401
 CAROLINA T. KUBOYAMA
o METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE MÉTODOS SEMI- EMPÍRICOS DE
CÁLCULO DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA DE ESTACAS _ 941
 CAROLINE VISENTIN
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 CAROLINY A. G. SILVA
o SOLUÇÕES GEOTÉCNICAS ADOTADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES: REVISÃO DA
LITERATURA_ 551
 CÁSSIA A.R.J. FALEIROS
o ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREA DE MANANCIAL,
SUDESTE DO BRASIL 1225
 CASSIANO VIEIRA BARBOSA
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 CASTORINA SILVA VIEIRA
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o ESTUDO DOS EFEITOS PROVOCADOS POR RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) NUMA GEOGRELHA DE
POLIÉSTER _ 1293
 CATARINA FARTARIA
o ESTABILIZAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E REFORÇO URGENTE DE MUROS DE SUPORTE DE GRANDE ALTURA EM
LISBOA_________________________________________________________________________________________________ 2130
o MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM
LISBOA 2177
o MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE
MINÉRIOS_______________________________________________________________________________________________ 954
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO EDIFÍCIO FPM41 1037
 CELESTE JORGE
o A AÇÃO SÍSMICA DE UM LOCAL (EM PORTUGAL CONTINENTAL) NA POTENCIAL GERAÇÃO DE MOVIMENTOS DE
MASSA EM VERTENTES. O CASO DAS VERTENTES A NORTE DE LISBOA – COSTEIRA__________________________ 2062
o ESTABELECER O LIMIAR DE PRECIPITAÇÃO - A PARTIR DA ANÁLISE CLIMATOLÓGICA - QUE CONDUZ A
ESCORREGAMENTOS NA VERTENTE A NORTE DE LISBOA – COSTEIRA 2118
o METODOLOGIA HEURÍSTICA E HOLÍSTICA PARA A DEFINIÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À INSTABILIZAÇÃO DE
ENCOSTAS COM OCUPAÇÃO URBANA 2165
 CELSO LIMA
o COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO
DA ALBUFEIRA 387
o CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO SUPERIOR DO CIRCUITO HIDRÁULICO DO REFORÇO DE POTÊNCIA
DE VENDA NOVA III 809
 CELSO ROMANEL
o AVALIAÇÃO DO USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE COMPRESSÃO DE ARGILAS
MARINHAS_ 1664
 CÉSAR FERNANDES
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE __________________________________________________________________ 2625
 CÉSAR SAGASETA
o PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO
VOLCÁNICO _______________________________________________________________ 2610
 CLÁUDIA F. ESCOBAR PAIVA
o AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE SEGUNDO CONDIÇÕES DE UMIDADE DISTINTAS DE DOIS HORIZONTES
TROPICAIS DAS ÁREAS DE RISCO DA REGIÃO DO GRANDE ABC-SÃO PAULO-BRASIL 1644
o DISCUSSÃO SOBRE OS LIMIARES CRÍTICOS DE PRECIPITAÇÃO NA GESTÃO DE RISCOS A MOVIMENTOS DE MASSA
NO BRASIL_____________________________________________________________________________________________ 2105
o MONTAGEM E EMPREGO DE UM SISTEMA AUTÔNOMO DE MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE (CONDUTIVIDADE) DO
SOLO 1898
 CLÁUDIA FERREIRA
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
 CLÁUDIA MARISSE DOS SANTOS ROTTA
o UTILIZAÇÃO DA RUGOSIDADE RANDÔMICA PARA A AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE INFILTRAÇÃO,
ARMAZENAMENTO SUPERFICIAL E ESCOAMENTO SUPERFICIAL 1408

33
 CLAUDINO CARDOSO
o EDIFÍCIOS ESCOLARES CLIMATIZADOS POR RECURSOS NATURAIS. A GEOTERMIA COMO APOSTA DO
PRESENTE______________________________________________________________________________________________ 1542
 CLAUDIO OLALLA
o VUELCO ATÍPICO: CASO DE ESTUDIO 2188
 CLAVER PINHEIRO
o ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM
REFORÇO DE SOLOS 1069
o INTERPRETAÇÃO ESTATÍSTICA DA CLASSIFICAÇÃO DO SOLO A PARTIR DE ENSAIOS CPTU EM SEDIMENTOS
FLUVIAIS 1879
 CLAYTON TOBIAS MENDONÇA
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__ 2297
 CORINNA WENDELER
o ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UMA BARREIRA FLEXÍVEL PARA DESLIZAMENTOS SUPERFICIAIS SOB
MÚLTIPLOS TIPOS DE CARGAS: DESLIZAMENTO DE LAMAS E QUEDA DE BLOCOS _ 2072
 CRISTHYANO CAVALI DA LUZ
o AVALIAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DE RODOVIA EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE PATRIMÔNIO
ESPELEOLÓGICO 1080
o INTEGRIDADE E VALIDAÇÃO ESTRUTURAL DE FUNDAÇÕES MARÍTIMAS PORTUÁRIAS_______________________1509
 CRISTIANA FERREIRA
o MELHORAMENTO DE UM SOLO ARENOSO POR ATIVAÇÃO ALCALINA PARA MITIGAÇÃO DA LIQUEFAÇÃO_____2353
 CRISTINA DE SANTIAGO
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 DANIEL CAVALCANTE DE PAULA
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO
EM CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA 601
 DANIELA COELHO
o COMPORTAMENTO DO LASTRO FERROVIÁRIO DE AGREGADO DE ESCÓRIA DE ACIARIA SOB CARREGAMENTO
TRIAXIAL MONOTÔNICO 1756
 DANIELA OLIVEIRA MARQUES
o ATERROS SOBRE SOLOS MOLES REFORÇADOS COM COLUNAS DE BRITA – ANÁLISE TRIDIMENSIONAL E ESTUDOS
PARAMÊTRICOS 2222
 DANIELA PALMA
o REABILITAÇÃO DA RESTINGA DE OFIR: UMA ANÁLISE À UTILIZAÇÃO DE GEOCILINDROS 1521
 DAVID BENAVENTE
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE___________________________________________________________________2625
 DAVID BRITO
o PREVENÇÃO DA LIQUEFACÇÃO ATRAVÉS DE COLUNAS DE JET GROUTING DISPOSTAS EM CELULAS -
CHRISTCHURCH TOWN HALL – NOVA ZELÂNDIA _966
 DAVID CARVALHO
o POLIESTIRENO EXPANDIDO EM ATERROS SOBRE SOLOS MOLES _2388
 DAVID TABORDA
o DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE
EM MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
 DAYANNE SEVERIANO MENEGUETE
o ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE
DESSULFURAÇÃO_ _ 1239
 DEANE ROEHL
o MODELAÇÃO DE PERCOLAÇÃO EM FUNDAÇÕES DE BARRAGENS FRATURADAS USANDO O MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDO (XFEM) 472
 DEISI B. BALESTRIN
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 DENISE BALESTRERO MENEZES
o CLASSIFICAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS PARA DEPÓSITOS ANTROPOGÊNICOS/TECNOGÊNICOS 1741
o DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUPERFICIAL COMO GEOINDICADORES DE
ANTROPIZAÇÃO: TESTE DE APLICAÇÃO EM BACIA HIDROGRÁFICA NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL 1194
 DIEGO ARTHUR HARTMANN
o DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (C’ E ᶲ) DE MISTURAS DE UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES
DE CAL E CINZA DE CASCA DE ARROZ 173
 DIOGO CANELAS
o APLICAÇÃO DO FALL CONE TEST NA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA DE SOLOS
COESIVOS_ 1623
 DIOGO FERREIRA
o DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE
EM MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
 DIOGO PIRES
o O PAPEL DAS GEOGRELHAS NA ESTABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BALASTRO DE INFRAESTRUTURAS
FERROVIÁRIAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2376
 DOMINGOS SILVA MATOS
o COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO
DA ALBUFEIRA 387
 DOUGLAS CÔELHO
o CONSTRUÇÃO DE UM MODELO GEOMECÂNICO 3D ATRAVÉS DO SOFTWARE LEAPFROG GEO _ 1469

34
 DOUGLAS JOSÉ COELHO
o ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA 97
 DUÍLIO ARAÚJO
o SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES DIÂMETROS EM AREIA _ 998
 DURVAL NASCIMENTO NETO
o AVALIAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DE RODOVIA EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE PATRIMÔNIO
ESPELEOLÓGICO 1080
 ECIDINÉIA PINTO SOARES
o ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO – RETROANÁLISE _ 105
o RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO _ 1397
 ECLESIELTER BATISTA MOREIRA
o EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-RCD__________________________ 1205
o FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO
SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
o INFLUÊNCIA DA POROSIDADE E DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADAO NA ASCENSÃO CAPILAR DE
UM SOLO ARENOSO 1858
o RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS
DA FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
 EDGAR ODEBRECHT
o INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS FÍSICOS NA INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA
INSTRUMENTADAS EM ESTACAS ESCAVADAS DE GRANDE DIÂMETRO EM AREIAS 929
 EDUARDO ANTONIO GOMES MARQUES
o ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA 97
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL 1461
o CONSTRUÇÃO DE UM MODELO GEOMECÂNICO 3D ATRAVÉS DO SOFTWARE LEAPFROG GEO _ 1469
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
o ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE
CASO____________________________________________________________________________________________________219
o PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO INDIRECTOS E DIRECTOS DA RESISTÊNCIA GEOMECÂNICA DO MÁRMORE DA
FORMAÇÃO SETE LAGOAS 1930
o PERFIS DE INTEMPERISMO DE FILITO SOB CLIMA TROPICAL, NA REGIÃO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG,
BRASIL_________________________________________________________________________________________________ 1955
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS,
BRASIL 1503
o SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS APLICADOS ÀS UNIDADES INFERIORES DO GRUPO BAMBUÍ__2019
 EDUARDO DE CASTRO BITTENCOURT
o COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS __ 774
 EDUARDO FORTUNATO
o COMPORTAMENTO DO LASTRO FERROVIÁRIO DE AGREGADO DE ESCÓRIA DE ACIARIA SOB CARREGAMENTO
TRIAXIAL MONOTÔNICO 1756
o COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE UM TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO COM AGREGADO SIDERÚRGICO
INERTE PARA CONSTRUÇÃO (ASIC) _ 374
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA 2310
 EDUARDO GOULART COLLARES
o MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL BASEADO NA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS
- O CASO DO MUNICÍPIO DE DELFINÓPOLIS (MG) – BRASIL 1340
 EDUARDO MATOS
o ESCAVAÇÃO DE POÇOS VERTICAIS EM ROCHA ATRAVÉS DO MÉTODO DE CARGAS SUSPENSAS NA CENTRAL
HIDROELÉCTRICA DE GOUVÃES 2659
 EDUARDO PEREIRA
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 EDUARDO VIEIRA DE GOES ROCHA
o FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO
SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
 EDUARTO RATTON
o AVALIAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DE RODOVIA EM ÁREA DE INFLUÊNCIA DE PATRIMÔNIO
ESPELEOLÓGICO 1080
o INTEGRIDADE E VALIDAÇÃO ESTRUTURAL DE FUNDAÇÕES MARÍTIMAS PORTUÁRIAS_______________________1509
 ELIAS DANIEL ESTEVÃO
o PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA 286
 ELISABETE ESTEVES
o PARÂMETROS FÍSICOS E DE IDENTIFICAÇÃO DAS ALUVIÕES SILTO ARGILOSAS MOLES DE PORTUGAL 1936
 ÉNIO FERNANDES
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE__________________________________________________________________ 2625
 ENMANUEL CARVAJAL DÍAZ
o EXPERIÊNCIA RECENTE NA EXECUÇÃO DE OBRAS DE TRATAMENTO DE SOLO NA AMÉRICA LATINA __________2323
o VALORES LIMITE DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA PARA A EXECUÇÃO DE COLUNAS DE BRITA EM
SOLOS MOLES_ 2438
 ERISVALDO DE LIMA JUVÊNCIO
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_ 786
 EUGÉNIA CORREIA
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
 EUGENIO PABST VIEIRA DA CUNHA

35
o ANÁLISE COMPARATIVA DE FORMULAÇÕES DA SEGURANÇA DE SOLOS REFORÇADOS À LUZ DE CONCEITOS DE
FIABILIDADE ___________________________________________________________________________________________ 2201
 EURÍPEDES VARGAS
o MODELAÇÃO DE PERCOLAÇÃO EM FUNDAÇÕES DE BARRAGENS FRATURADAS USANDO O MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDO (XFEM) 472
 EWERTON SANTOS
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_ 1711
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
 FÁBIO ALMEIDA
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
 FAGNER ALEXANDRE NUNES DE FRANÇA
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_ 1711
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DE UM SOLO
COMPACTADO 1310
o SOLUÇÕES GEOTÉCNICAS ADOTADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES: REVISÃO DA
LITERATURA_ 551
 FAIÇAL MASSAD
o APLICAÇÃO PRÁTICA DE METODOLOGIAS DE INTERPRETAÇÃO DE ENSAIOS BIDIRECIONAIS EM ESTACAS
ESCAVADAS NO BRASIL 728
 FAUSTO MOLINA-GÓMEZ
o ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM
REFORÇO DE SOLOS _____________________________________________________________________________________1069
o INTERPRETAÇÃO ESTATÍSTICA DA CLASSIFICAÇÃO DO SOLO A PARTIR DE ENSAIOS CPTU EM SEDIMENTOS
FLUVIAIS 1879
 FELIPE PERRETTO
o RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS
DA FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
 FERNANDA SOUSA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM
REFORÇO DE SOLOS 1069
 FERNANDO ALMEIDA
o APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE FOZ TUA (AHFT) 338
 FERNANDO ARTUR BRASIL DANZIGER
o ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE COPACABANA, RIO DE JANEIRO __846
 FERNANDO FEITOSA MONTEIRO
o ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO
DO NORDESTE BRASILEIRO 577
o COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS___ 774
o MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS ____________________________________277
o UMA NOVA ABORDAGEM NO CONTROLE EXECUTIVO DE ESTACAS RAIZ_ 1047
 FERNANDO MARQUES
o CARTOGRAFIA DE SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INSTABILIDADES EM VERTENTES PARA A RESERVA
ECOLÓGICA NACIONAL NO CONCELHO DE ALMADA 2095
 FERNANDO PARDO DE SANTAYANA
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 FERNANDO PEDRO FIGUEIREDO
o ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE ARENITOS DE OLHO MARINHO, VILA NOVA DE POIARES,
PORTUGAL 1820
 FERNANDO PEREIRA
o TRÊS SOLUÇÕES COM PREGAGENS E UMA COM UM MURO EM SOLO REFORÇADO COM GEOGRELHAS _ 319
 FERNANDO PEREIRA
o PROTEÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONJUNTO DE SOLUÇÕES E ESTRUTURAS PASSIVAS EM PEDRO
DO RIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL 296
 FERNANDO PINHEIRO
o APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM
ESTACA HÉLICE CONTÍNUA 741
 FERNANDO SCHNAID
o INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS FÍSICOS NA INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA
INSTRUMENTADAS EM ESTACAS ESCAVADAS DE GRANDE DIÂMETRO EM AREIAS 929
 FILIPA CACILHAS
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
o ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA 896
 FILIPE CERQUEIRA
o UMA METODOLOGIA PARA A CARATERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA E ESTIMATIVA DE VOLUMES
EXPLORÁVEIS DE UMA PEDREIRA PARA A PRODUÇÃO DE AGREGADOS PARA BETÃO PARA CONSTRUÇÃO DE UM
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO 2028
 FILIPE MARQUES
o ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE____________________2542
o MULTI-TECHNICAL MONITORING SYSTEM INSTALLED IN THE UNSTABILIZED ZONE IN LAJEDO – FLORES

36
ISLAND 2719
 FILIPE RODRIGUES
o OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,
CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
o PETI3+, CENÁRIO FERROVIA 2020. DEFINIÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROSPEÇÃO GEOLÓGICO GEOTÉCNICA
ASSOCIADAS À CONTRATAÇÃO DA FASE DE ESTUDOS E PROJETOS _________________________________________1961
 FILIPE VELOSO
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO EDIFÍCIO FPM41__________________ 1037
 FLÁVIO AFFONSO FERREIRA
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS, BRASIL_1502
 FLAVIO CARVALHO
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_______________________________________________________________________ 646
 FRANCIANE SANTOS
o MAPEAMENTO DE ÁREAS POTENCIALMENTE INUNDÁVEIS: HAND VERSUS ARCHYDRO ______________________ 2142
 FRANCISCO ASSEICEIRO
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA______________2310
 FRANCISCO COSTA
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES_______________________2578
 FRANCISCO CRUZ
o MODELAÇÃO DE PERCOLAÇÃO EM FUNDAÇÕES DE BARRAGENS FRATURADAS USANDO O MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDO (XFEM) 472
 FRANCISCO DE REZENDE LOPES
o ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE COPACABANA, RIO DE JANEIRO __846
 FRANCISCO HEBER LACERDA DE OLIVEIRA
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO
EM CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA 601
 FRANCISCO PINTO
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA__1027
 FRANCISCO SALGADO
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
o O MÉTODO GERAL NA REAVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSAIO DE CARGA EM ANCORAGENS 2364
 FRANCO URBANI
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE__________________________________________________________________ 2625
 FREDDY NOPE
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 FREDERICO C. FREIRE
o AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO 350
 GABRIEL DE SOUSA MEIRA
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 GABRIEL LUIS SOTO BANHA
o APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM
ESTACA HÉLICE CONTÍNUA 741
 GABRIELA VILAÇA
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
 GEORGE FERNANDES AZEVEDO
o AVALIAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA EM ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A DESLIZAMENTOS RASOS PRESENTES NO
CONDOMÍNIO SOL NASCENTE, DISTRITO FEDERAL, BRASIL 1111
 GÉRSON RODRIGUES DOS SANTOS
o CONSTRUÇÃO DE UM MODELO GEOMECÂNICO 3D ATRAVÉS DO SOFTWARE LEAPFROG GEO 1469
 GILMAR DE B. MAIA
o ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO
SITUADO NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
 GIULLIA CAROLINA DE MELO MENDES
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO
EM CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA 601
 GLÊNIO MEDEIROS
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_ 1711
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
 GONÇALO DINIZ VIEIRA
o IMPACTO DA REVISÃO DO CCP NA EXECUÇÃO DE TÚNEIS E OBRAS GEOTECNICAS COMPLEXAS 906
 GONÇALO FERREIRA
o O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E
GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE _ 1910
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489

37
o PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA) 517
 GONÇALO LOPES
o ESTABILIZAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E REFORÇO URGENTE DE MUROS DE SUPORTE DE GRANDE ALTURA EM
LISBOA_________________________________________________________________________________________________ 2130
 GONÇALO TAVARES
o O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E
GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE _ 1910
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
o PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA) 517
 GONZALO SARTORIUS
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 GORAN VUKOTIČ
o EXPERIÊNCIARECENTE NA EXECUÇÃO DE OBRAS DE TRATAMENTO DE SOLO NA AMÉRICA LATINA __________ 2325
o VALORES LIMITE DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA PARA A EXECUÇÃO DE COLUNAS DE BRITA EM
SOLOS MOLES_ 2438
 GREICE B. RAMPANELLI
o METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO
BRASILEIRO DE MÉDIO PORTE_ 1351
o MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL_ 1362
 GUILHERME PISCO
o MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE
MINÉRIOS_______________________________________________________________________________________________ 954
o SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO E RECALÇAMENTO DE FACHADA, ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA E
FUNDAÇÕES DE UM EDIFÍCIO CENTENÁRIO EM MEIO URBANO ____________________________________1006
 GUSTAVO VAZ DE MELLO GUIMARÃES
o ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE COPACABANA, RIO DE JANEIRO _ 846
 HASSINA FERHAT
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA_ _ 483
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO PRECONIZADA_495
 HÉLDER COSTA
o TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO –
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS _ 2413
 HELENA BATISTA LEON
o AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE
CAL E CIMENTO 1121
 HELENA RAFAEL
o INSTABILIZAÇÕES GEOTÉCNICAS DE ATERROS EM VIAS RODOVIÁRIAS EM EXPLORAÇÃO: CASO DA EN3-1 ENTRE
O KM 1+100 E 1+300, NA AZAMBUJA_ 1867
 HELENA SANT’OVAIA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO __ 1840
 HENRIQUE OLIVEIRA ALVES
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS, BRASIL_1502
 HERMÍNIA MARIA MESQUITA MORAIS
o RELAÇÃO ENTRE MÓDULO DE DEFORMABILIDADE E CBR PARA CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DA FUNDAÇAO DE
PAVIMENTOS 1985
 HIGOR COELHO
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_ 646
 INÊS BORGES
o ESTUDO DA ELECTROCINESE COMO TÉCNICA DE DESCONTAMINAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS COM
LIXIVIADOS 1257
o ESTUDO DA TÉCNICA DE ELETROOSMOSE PARA DESCONTAMINAÇÃO DE TERRENOS ESTRATIFICADOS________2679
 INÊS PIRES
o EFEITO DA PRESENÇA DE FINOS NA BIO-CIMENTAÇÃO DE SOLOS 2649
 ISABEL DUARTE
o CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO
SUDOESTE DE ANGOLA 1163
 ISABEL FERNANDES
o AGREGADOS VULCÂNICOS E A REAÇÃO ÁLCALIS-SÍLICA A NÍVEL MUNDIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO____ 2451
o APLICAÇÃO DO FALL CONE TEST NA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA DE SOLOS
COESIVOS_ 1623
o CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO__________________162
 ISABEL GONZALEZ
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
 ISABEL LOPES
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
o O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E
GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE 1910
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO

38
CERRO DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1490
 ISABEL M. MARTINS
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO___1174
 ISABEL PENA
o ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO _198
 ISABEL PINTO
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
 ISABELA BELLO
o ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, DE AGRESTINA – PE, COM A UTILIZAÇÃO DA CINZA
DA CASCA DE ARROZ 1248
 ISABELA GROSSI SILVA
o ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE PARÂMETROS GEOMORFOLÓGICOS NA ESTABILIDADE DE TALUDES 116
 JAELSON BUDNY
o AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE
CAL E CIMENTO 1121
o DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (C’ E ᶲ) DE MISTURAS DE UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES
DE CAL E CINZA DE CASCA DE ARROZ 173
o ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO ARENO-SILTOSO COM ADIÇÃO DE CAL E CINZAVOLANTE 1269
 JAIME SANTOS
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10________________________________________________________________________150
o CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO EIXO SUL DA SCUT DA ILHA DE SÃO MIGUEL, AÇORES____________2521
o O USO DE ENSAIOS SÍSMICOS COM BASE EM ONDAS DE SUPERFÍCIE NA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E
GEOTÉCNICA DOS TERRENOS DE FUNDAÇÃO DA PLATAFORMA LOGÍSTICA DE LISBOA NORTE 1910
 JAIR DE JESÚS ARRIETA BALDOVINO
o EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-RCD 1205
o FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO
SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
o INFLUÊNCIA DA POROSIDADE E DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADAO NA ASCENSÃO CAPILAR DE
UM SOLO ARENOSO 1858
o RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS
DA FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
 JAVIER GONZÁLES-GALLEGO
o ANÁLISIS DE LA PATOLOGÍA DE UN DESMONTE EN LA AUTOVÍA A-7. GRANADA (ESPAÑA) _ 137
o METODOLOGÍA SENCILLA PARA LA EVALUACIÓN DE RIESGOS EN TALUDES EN ROCAS VOLCÁNICAS DE LAS ISLAS
CANARIAS: PRIMEROS PASOS 2566
 JAVIER LUQUE
o FACTORES DIFERENCIALES EN EL DIAGNÓSTICO E IMPLANTACIÓN DE MEDIDAS DE PROTECCIÓN CONTRA
DESPRENDIMIENTOS EN LA GEOLOGÍA VOLCÁNICA_______________________________________________________ 2554
 JAVIER MORENO ROBLES
o ANÁLISIS DE LA PATOLOGÍA DE UN DESMONTE EN LA AUTOVÍA A-7. GRANADA (ESPAÑA) 137
 JAVIER VELASCO NÚÑEZ
o PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO
VOLCÁNICO ____________________________________________________________________________________________ 2610
 JAYNE SILVA
o ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, DE AGRESTINA – PE, COM A UTILIZAÇÃO DA CINZA
DA CASCA DE ARROZ 1248
 JEAN RODRIGO GARCIA
o ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA PRÉ-MOLDADA INSTRUMENTADA POR MEIO DE MÉTODOS
SEMIEMPÍRICOS E NUMÉRICO 611
 JESCE J. DA S. BORGES
o AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO 350
 JESSÉ JOABE VIEIRA CARNEIRO
o ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE
CASO____________________________________________________________________________________________________219
 JESÚS GONZÁLEZ-GALINDO
o VUELCO ATÍPICO: CASO DE ESTUDIO 2188
 JHONATAN ZONTA
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 JOANA MARTINS
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
 JOANA PINHEIRO SILVA
o ESTUDO COMPARATIVO DE DIVERSAS TÉCNICAS DE COMPACTAÇÃO LABORATORIAL _413
 JOANA RIBEIRO
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
o ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA 896
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO___________________1840
 JOANDERSON MORAIS
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
 JOÃO ALEXANDRE PASCHOALIN FILHO
o AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE TIJOLOS DE SOLO CIMENTO

39
MANUFATURADOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE PET (POLITEREFTALATO DEETILENO) 1132
o ESTABILIDADE DE UM TALUDE GRAMPEADO SUBMETIDO A SOBRECARGA PROVENIENTE DE TESTE
HIDROSTÁTICO CONDUZIDOS EM ESFERAS DE GLP (GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO) 2287
 JOÃO BARRADAS
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10 150
 JOÃO BILÉ SERRA
o LABORATORY TESTING AND NUMERICAL MODELLING OF THE DYNAMIC BEHAVIOUR OF TAGUS RIVER
SAND___________________________________________________________________________________________________2689
 JOÃO CALDEIRA
o DETONADORES ELETRÓNICOS: AS CONSEQUÊNCIAS TÉCNICO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE ROCHA
INDUSTRIAL 1478
 JOÃO CALVÃO
o CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO 162
 JOÃO CARLOS ATALAIA CAJADA
o INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO CÍCLICO NO RESISTÊNCIA DE SOLOS ESTABILIZADOS QUIMICAMENTE 2336
 JOÃO CARLOS NUNES
o AGREGADOS VULCÂNICOS E A REAÇÃO ÁLCALIS-SÍLICA A NÍVEL MUNDIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO___ 2451
o GEOTERMIA NOS AÇORES: DA ROCHA À TURBINA 66
 JOÃO EDUARDO FOCHI RAMIRES
o APLICAÇÃO DE PILARES ARTIFICIAIS COMO SUBSTITUIÇÃO DE PILARES NATURAIS EM ÁREAS DE LAVRA 1439
 JOÃO FARINHA
o ESTABILIZAÇÃO, RECONSTRUÇÃO E REFORÇO URGENTE DE MUROS DE SUPORTE DE GRANDE ALTURA EM
LISBOA_________________________________________________________________________________________________ 2130
 JOÃO HENRIQUE STOROPOLI
o AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE TIJOLOS DE SOLO CIMENTO
MANUFATURADOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE PET (POLITEREFTALATO DEETILENO) 1131
 JOÃO LOPES
o ESTABILIZAÇÃO DOS TALUDES DO SETOR CAVA OESTE DA MINA DE ÁGUAS CLARAS. BELO HORIZONTE.
BRASIL__________________________________________________________________________________________________ 210
 JOÃO LUCAS LIMA AQUINO GANEM
o ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA 97
 JOÃO LUIZ RISSARDI
o EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-RCD 1205
 JOÃO MANSO
o ESTUDO DA EVOLUÇÃO GRANULOMÉTRICA EM ENSAIOS EDOMÉTRICOS DE ENROCAMENTO, COM CONTROLO DE
SUCÇÃO 1802
o DISCRETE NUMERICAL MODELLING OF THE MECHANICAL BEHAVIOUR OF ROCKFILL IN A OEDOMETER TEST WITH
SUCTION CONTROL 2639
 JOÃO MARCELINO
o ESTUDO DA EVOLUÇÃO GRANULOMÉTRICA EM ENSAIOS EDOMÉTRICOS DE ENROCAMENTO, COM CONTROLO DE
SUCÇÃO 1802
 JOÃO P. S. PERNETA
o PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ROCHAS VULCÂNICAS DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL 2599
 JOÃO P.G. GONÇALVES NEVES
o MELHORAMENTO DE SOLOS COM RECURSO A ENZIMAS - ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO TEOR EM MATÉRIA
ORGÂNICA 2343
 JOÃO PEDRO LOURENÇO
o SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO E RECALÇAMENTO DE FACHADA, ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA E
FUNDAÇÕES DE UM EDIFÍCIO CENTENÁRIO EM MEIO URBANO ____________________________________1006
 JOÃO PINA
o ANTEVISÃO DA EN ISO 22477-5 ENSAIOS DE ANCORAGENS NO TERRENO 702
o ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA CUF TEJO, EM LISBOA 832
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER, LUANDA, ANGOLA 858
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO, LISBOA 869
 JOÃO SEQUEIRA
o AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE UMA ESTACA TERMOATIVA INTEGRADA NUM SISTEMA
GEOTÉRMICO SUPERFICIAL 1532
 JOÃO VICTOR GUABIROBA
o ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO – RETROANÁLISE _105
o RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO _ 1397
 JOAQUIM OLIVEIRA
o APLICAÇÃO DA SIMULAÇÃO MONTE CARLO NA ANÁLISE DE PROBABILIDADE DE RUÍNA E CONFIABILIDADE EM
PROJETO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS _ 715
o PROBABILIDADE DE DANOS EM UM CONJUNTO HABITACIONAL CONSTRUÍDO EM ALVENARIA RESISTENTE NA
CIDADE DO RECIFE _977
 JOAQUIM TINOCO
o USO DE FERRAMENTAS DE DATA MINING NA IDENTIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM
ATERRO 327
 JOEL COSTA
o MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE
MINÉRIOS_______________________________________________________________________________________________ 954
 JORDANA FURMAN
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 JORGE ALMEIDA E SOUSA
o A UTILIZAÇÃO DO MEV NA IDENTIFICAÇÃO DA ESTRUTURA DA FORMAÇÃO DAS ‘ARGILAS E CALCÁRIOS DOS

40
PRAZERES’ 1579
o AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DO HARDENING SOIL MODEL EM REPRODUZIR A RESPOSTA DE UM SOLO A
DIFERENTES TRAJETÓRIAS DE TENSÃO _ 1632
o DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE
EM MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
 JORGE BENTO
o ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA 896
 JORGE CAÑIZAL
o PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO
VOLCÁNICO ____________________________________________________________________________________________2610
 JORGE CASTRO
o PROYECTO Y EJECUCIÓN DE UNA EXCAVACIÓN DE SÓTANOS BAJO EL NIVEL FREÁTICO EN UN TERRENO
VOLCÁNICO ____________________________________________________________________________________________2610
 JORGE CRUZ
o CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA____________ 2310
 JORGE DINIS
o ESTABILIZAÇÃO DOS TALUDES DO SETOR CAVA OESTE DA MINA DE ÁGUAS CLARAS. BELO HORIZONTE.
BRASIL__________________________________________________________________________________________________210
 JORGE GONÇALVES
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o EXPERIENCIA DA IP ENGENHARIA EM ESTUDOS GEOTÉCNICOS E PROJETOS DE TERRAPLENAGEM NA FERROVIA
DA ARGÉLIA 436
 JORGE NEVES
o UMA METODOLOGIA PARA A CARATERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA E ESTIMATIVA DE VOLUMES
EXPLORÁVEIS DE UMA PEDREIRA PARA A PRODUÇÃO DE AGREGADOS PARA BETÃO PARA CONSTRUÇÃO DE UM
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO 2028
 JOSÉ A. DE LOLLO
o ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREA DE MANANCIAL,
SUDESTE DO BRASIL 1225
 JOSÉ ALVES DA SILVA JÚNIOR
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_786
 JOSÉ AMARO
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL _ 231
 JOSÉ AUGUSTO LOLLO
o DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUPERFICIAL COMO GEOINDICADORES DE
ANTROPIZAÇÃO: TESTE DE APLICAÇÃO EM BACIA HIDROGRÁFICA NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL_____ 1194
o MAPEAMENTO DE ÁREAS POTENCIALMENTE INUNDÁVEIS: HAND VERSUS ARCHYDRO ______________________2142
 JOSÉ CARLOS SILVA FILHO
o ESTUDO DA DINÂMICA DE VIA PARA IDENTIFICAÇÃO DE FRAGILIDADES NA INFRAESTRUTURA FERROVIÁRIA_1792
o ESTUDO DE SHAKEDOWN PARA VALIDAÇÃO DE JAZIDAS EXAURIDAS NO NORTE DO BRASIL _________________1829
 JOSÉ EDUARDO PALUDO SILVEIRA
o INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS FÍSICOS NA INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA
INSTRUMENTADAS EM ESTACAS ESCAVADAS DE GRANDE DIÂMETRO EM AREIAS 929
 JOSÉ F. VIEIRA DE SOUSA
o CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS
AÇORES E MADEIRA_ 2501
o PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ROCHAS VULCÂNICAS DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL _________2599
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE __________________________________________________________________ 2625
 JOSÉ FERNANDES
o DETONADORES ELETRÓNICOS: AS CONSEQUÊNCIAS TÉCNICO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE ROCHA
INDUSTRIAL 1478
 JOSÉ GRAZINA
o ANÁLISE COMPARADA DE MÉTODOS EMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DE
ESTACAS________________________________________________________________________________________________ 565
 JOSÉ LAPA
o EDIFÍCIOS ESCOLARES CLIMATIZADOS POR RECURSOS NATURAIS. A GEOTERMIA COMO APOSTA DO
PRESENTE______________________________________________________________________________________________ 1542
 JOSÉ LEITÃO BORGES
o ATERROS SOBRE SOLOS MOLES REFORÇADOS COM COLUNAS DE BRITA – ANÁLISE TRIDIMENSIONAL E ESTUDOS
PARAMÊTRICOS 2222
 JOSÉ LUÍS ARCOS ALVAREZ
o APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS
VOLCÁNICOS __________________________________________________________________________________________ 2469
 JOSÉ LUÍS GARCIA DE LA OLIVA
o ANÁLISIS DE LA PATOLOGÍA DE UN DESMONTE EN LA AUTOVÍA A-7. GRANADA (ESPAÑA) 137
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 JOSÉ MARTINS CARVALHO
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA 483
 JOSÉ MATEUS DE BRITO
o CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO EIXO SUL DA SCUT DA ILHA DE SÃO MIGUEL, AÇORES____________2521
o ESCORREGAMENTO DO TALUDE ADJACENTE À CORTINA DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO HIPERMERCADO DE

41
MACHICO NA ILHA DA MADEIRA _ 185
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES NA VILA DE POVOAÇÃO EM SÃO MIGUEL, AÇORES 2533
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
o PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA) _ 517
 JOSÉ MIRÃO
o CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO
SUDOESTE DE ANGOLA 1163
 JOSÉ MOTA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO __ 1840
 JOSÉ MURALHA
o DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS DE GOUVÃES_821
 JOSÉ NEVES
o AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES 1141
o COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO__ 1174
 JOSÉ NUNO FIGUEIREDO
o COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO
DA ALBUFEIRA 387
o GEOLOGIA E GEOTECNIA DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA 459
o TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO –
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS __ 2413
 JOSÉ PEDRO AZEVEDO
o MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE
MINÉRIOS_______________________________________________________________________________________________ 954
 JOSÉ ROBERTO FERNANDES GALINDO
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL 1461
 JOSÉ VIEIRA LEMOS
o DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS DE
GOUVÃES________________________________________________________________________________________________821
 JOSÉ WELLINGTON SANTOS VARGAS
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_ 786
 JOSIELE PATIAS
o COMPORTAMENTO DA BARRAGEM DE TERRA DA MARGEM ESQUERDA DE ITAIPU EM PERÍODO DE
OPERAÇÃO______________________________________________________________________________________________ 362
 JUAN IGNACIO LOPEZ BALDERAS
o APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS
VOLCÁNICOS___________________________________________________________________________________________ 2469
 JUAN MONJO CARRIÓ
o CARACTERIZACIÓN DEL TERRENO BAJO LA COLEGIATA DE CASPE (ZARAGOZA-ESPAÑA) PARA DETERMINAR LAS
CAUSAS DE SU PATOLOGÍA 1729
 JUAN REBOLLEDO
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 JULIANA ABRANTES CARVALHO
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL 1461
 JULIANA LUNDGREN ROSE
o EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-RCD_ 1205
o INFLUÊNCIA DA POROSIDADE E DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADAO NA ASCENSÃO CAPILAR DE
UM SOLO ARENOSO 1858
o RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS
DA FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
 JULIANA RAIMUNDO OLIVEIRA
o RESISTÊNCIA DE JUNTAS ROCHOSAS ALTERADAS COM MARTELO SCHMIDT 1995
 JÚLIO AUGUSTO DE ALENCAR JÚNIOR
o APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM
ESTACA HÉLICE CONTÍNUA _ 741
 JULIO PRIETO
o ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UMA BARREIRA FLEXÍVEL PARA DESLIZAMENTOS SUPERFICIAIS SOB
MÚLTIPLOS TIPOS DE CARGAS: DESLIZAMENTO DE LAMAS E QUEDA DE BLOCOS _ 2072
 KALINY PEREIRA
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
 KATIA VANESSA BICALHO
o AVALIAÇÃO DO USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE COMPRESSÃO DE ARGILAS
MARINHAS_ _ 1664
 KATJUSA STEIN
o DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (C’ E ᶲ) DE MISTURAS DE UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES
DE CAL E CINZA DE CASCA DE ARROZ 173
 KEVEN MELO
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 KURT A. P. AMANN
o ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO DE MICROESTACAS EM SOLOS
TROPICAIS _ 679
o METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE MÉTODOS SEMI- EMPÍRICOS DE

42
CÁLCULO DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA DE ESTACAS 941
 LAÍS ANDRADE VIANA
o IMPULSOS ACTIVOS DEVIDOS A SOBRECARGAS SOBRE MUROS DE SUPORTE EM CONSOLA 918
 LAÍS EMILY DE ASSIS
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 LARA MARTINS
o CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA
EN230___________________________________________________________________________________________________ 401
 LARISSA PASSINI
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 LAUDERI MARONEZI JUNIOR
o ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO ARENO-SILTOSO COM ADIÇÃO DE CAL E CINZAVOLANTE 1269
 LAURA CALDEIRA
o ESTUDO DA EVOLUÇÃO GRANULOMÉTRICA EM ENSAIOS EDOMÉTRICOS DE ENROCAMENTO, COM CONTROLO DE
SUCÇÃO 1802
o LABORATORY TESTING AND NUMERICAL MODELLING OF THE DYNAMIC BEHAVIOUR OF TAGUS RIVER
SAND___________________________________________________________________________________________________2689
 LAURA ESTEVES
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO, LISBOA _ 869
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER, LUANDA, ANGOLA _ 823
 LAYS CRISTINA B. S. D’HYPPOLITO
o RELAÇÕES EMPÍRICAS PARA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA AO ARRANCAMENTO DE GRAMPOS_ _ 2401
 LÁZARO CORRÊA MARCELLINO
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA EXPEDITA DE UM ANFIBOLITO DA MINA TAMANDUÁ, BRASIL 1461
 LÁZARO ZUQUETTE
o AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE ZEÓLITAS CLINOPTILOLITA EM BARREIRAS REATIVAS PERMEÁVEIS____1088
o AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO EM SEDIMENTOS ARENO-ARGILOSOS COM COBERTURA DE
PASTAGEM 1100
o UTILIZAÇÃO DA RUGOSIDADE RANDÔMICA PARA A AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE INFILTRAÇÃO,
ARMAZENAMENTO SUPERFICIAL E ESCOAMENTO SUPERFICIAL 1408
 LEANDRO ANTÔNIO ROQUE
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 LEILA MARIA COELHO DE CARVALHO
o ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO
DO NORDESTE BRASILEIRO _577
 LÉNIA MOURO
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
 LEONARDO ANDRADE DE SOUSA
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 LEONARDO COUTO
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA_ 1711
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
 LETÍCIA CREVELIN
o AVALIAÇÃO DO USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA ESTIMATIVA DO ÍNDICE DE COMPRESSÃO DE ARGILAS
MARINHAS_ 1664
 LETÍCIA MONIZ
o ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE____________________2542
o MULTI-TECHNICAL MONITORING SYSTEM INSTALLED IN THE UNSTABILIZED ZONE IN LAJEDO – FLORES
ISLAND_________________________________________________________________________________________________2719
 LIAMARA SESTREM
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 LIANA CAROLINA CARVALHO ROCHA
o AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE ZEÓLITAS CLINOPTILOLITA EM BARREIRAS REATIVAS PERMEÁVEIS____1088
 LUANA CLAUDIA PEREIRA
o CONSTRUÇÃO DE UM MODELO GEOMECÂNICO 3D ATRAVÉS DO SOFTWARE LEAPFROG GEO__________________1469
 LUCAS ALMEIDA CAMPOS
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS, BRASIL_1502
 LUCAS BRIDI
o CARACTERIZAÇÃO DA SUBSUPERFÍCIE NA TRANSIÇÃO ENTRE FORMAÇÃO BARREIRAS E DEPÓSITOS
QUATERNÁRIOS EM VITÓRIA – ES 1698
 LUCAS J. SIMOCO
o ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE ARENITOS DE OLHO MARINHO, VILA NOVA DE POIARES,
PORTUGAL 1820
 LUCAS PEREIRA GONÇALVES
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 LUCAS REPSOLD
o UTILIZAÇÃO DE POLÍMEROS PARA O MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 2426
 LUIS ANTONIO FERREIRA
o EXPERIENCIA DA IP ENGENHARIA EM ESTUDOS GEOTÉCNICOS E PROJETOS DE TERRAPLENAGEM NA FERROVIA
DA ARGÉLIA 436

43
 LUIS AUGUSTO CONTE MENDES VELOSO
o APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM
ESTACA HÉLICE CONTÍNUA ______________________________________________________________________________ 741
 LUIS C. NEVES DA LUZ
o MODELAÇÃO DE ESCAVAÇÕES URBANAS COM PRESERVAÇÃO DE FACHADA DE EDIFÍCIO DEMOLIDO 2699
 LUIS ENRIQUE HERNÁNDEZ GUTIÉRREZ
o APROXIMACIONES ENTRE EL COMPORTAMIENTO GEOTÉCNICO Y EL MATERIAL PARENTAL DE MUESTRAS DE
SUELO PROCEDENTES DE TENERIFE Y DE GRAN CANARIA (ISLAS CANARIAS, ESPAÑA) _______________________ 2490
o GUÍAS GEOTÉCNICAS APLICABLES A PROYECTOS Y OBRAS EN TERRENOS VOLCÁNICOS: DE GETCAN A
MACASTAB_ 73
 LUÍS FONSECA
o DETONADORES ELETRÓNICOS: AS CONSEQUÊNCIAS TÉCNICO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE ROCHA
INDUSTRIAL 1478
 LUÍS GODINHO
o MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM
LISBOA 2177
 LUÍS GOUVEIA
o CARTOGRAFIA DE SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INSTABILIDADES EM VERTENTES PARA A RESERVA
ECOLÓGICA NACIONAL NO CONCELHO DE ALMADA 2095
 LUÍS JOAQUIM LEAL LEMOS
o COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS ARTIFICIALMENTE CIMENTADOS 2254
o INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO CÍCLICO NO RESISTÊNCIA DE SOLOS ESTABILIZADOS QUIMICAMENTE 2336
 LUIS JOSÉ ANDRADE PAIS
o A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS 1061
o PARA O CONHECIMENTO DA CONSOLIDAÇÃO SECUNDÁRIA DOS SOLOS LODOSOS DA RIA DE AVEIRO 1922
 LUÍS LAMAS
o DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS DE
GOUVÃES________________________________________________________________________________________________821
 LUIS M. ARAÚJO SANTOS
o CARACTERIZAÇÃO NO HOLLOW CYLINDER APPARATUS DO COMPORTAMENTO MONOTÓNICO DA AREIA DE
HOSTUN 1719
o CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPOSTA DA AREIA DE COIMBRA CONFINADA LATERALMENTE SOB
CARREGAMENTOS UNIAXIAIS 1768
o ESTUDO COMPARATIVO DE DIVERSAS TÉCNICAS DE COMPACTAÇÃO LABORATORIAL 413
 LUÍS MANUEL FERREIRA GOMES
o PARA O CONHECIMENTO DA CONSOLIDAÇÃO SECUNDÁRIA DOS SOLOS LODOSOS DA RIA DE AVEIRO 1922
 LUIS MIRANDA
o LABORATORY TESTING AND NUMERICAL MODELLING OF THE DYNAMIC BEHAVIOUR OF TAGUS RIVER
SAND___________________________________________________________________________________________________2689
 LUÍS PIRES
o ANÁLISE COMPARADA DE MÉTODOS EMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DE
ESTACAS________________________________________________________________________________________________ 530
 LUÍS RAMOS
o DETONADORES ELETRÓNICOS: AS CONSEQUÊNCIAS TÉCNICO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE ROCHA
INDUSTRIAL 1478
 LUÍS TEIXEIRA
o ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE____________________2542
 LUISA BARBOSA PEREIRA
o APLICAÇÃO DE PILARES ARTIFICIAIS COMO SUBSTITUIÇÃO DE PILARES NATURAIS EM ÁREAS DE LAVRA 1439
 LUIZ FLORÊNCIO
o ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR __________________________ 1604
 LUIZ SANTIAGO S. DO N. DE LACERDA
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA,
CABROBÓ E BREJO DA MADRE DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1321
 LUIZ VINÍCIUS DE CASTRO RANGEL
o ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA 97
o ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE
CASO____________________________________________________________________________________________________219
 LUÍZA CAVALCANTI
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
 LURDES PIMENTA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA, EM MOÇAMBIQUE_______________________ 423
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA__________ 483
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO
PRECONIZADA___________________________________________________________________________________________ 495
o PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA 507
 M. F. PRELLWITZ
o AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA DAS FUNDAÇÕES EM ESTACA HÉLICE
CONTÍNUA DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL EM MACIÇO SEDIMENTAR_________________________________________ 752
 M. G. BRITO
o ANTECIPAÇÃO DO RMR EM DOIS TIPOS DE MACIÇOS - METASSEDIMENTAR E GRANÍTICO______________________ 692
o PROCESSOS EROSIVOS EM SOLOS VULCÂNICOS PROVENIENTES DE ERUPÇÕES HISTÓRICAS NAS FURNAS (S.

44
MIGUEL, AÇORES, PORTUGAL) – AVALIAÇÃO PRELIMINAR 2587
 MADALENA BARROSO
o O PAPEL DAS GEOGRELHAS NA ESTABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BALASTRO DE INFRAESTRUTURAS
FERROVIÁRIAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2376
 MAFALDA LOPES LARANJO
o RESISTÊNCIA NÃO DRENADA NAS ARGILAS MIOCÉNICAS DE LISBOA “CAMADAS DE PRAZERES” – REAVALIAÇÃO
COM BASE NO ACERVO DE RESULTADOS DE ENSAIOS TRIAXIAIS 2007
 MAFALDA OLIVEIRA
o ANÁLISE DA INSTRUMENTAÇÃO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA DE NEVES-CORVO _1422
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
 MAGDA ROQUE
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA, EM MOÇAMBIQUE 423
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA_ _ 483
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO
PRECONIZADA___________________________________________________________________________________________ 495
o PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA 507
 MANOEL PORFÍRIO CORDÃO NETO
o AVALIAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA EM ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A DESLIZAMENTOS RASOS PRESENTES NO
CONDOMÍNIO SOL NASCENTE, DISTRITO FEDERAL, BRASIL 1111
 MANOELY S. DE OLIVEIRA
o ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO
SITUADO NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
 MANUEL CRUZ
o CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688
 MANUEL J. COSTA MINHOTO
o RELAÇÃO ENTRE MÓDULO DE DEFORMABILIDADE E CBR PARA CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DA FUNDAÇAO DE
PAVIMENTOS 1985
 MANUEL MATOS FERNANDES
o PARÂMETROS FÍSICOS E DE IDENTIFICAÇÃO DAS ALUVIÕES SILTO ARGILOSAS MOLES DE PORTUGAL 1936
o RESISTÊNCIA NÃO DRENADA NAS ARGILAS MIOCÉNICAS DE LISBOA “CAMADAS DE PRAZERES” – REAVALIAÇÃO
COM BASE NO ACERVO DE RESULTADOS DE ENSAIOS TRIAXIAIS 2007
 MANUEL PARENTE
o ESTUDO PRELIMINAR DE VIABILIDADE DE BRITA REFORÇADA COM FIBRA PARA APLICAÇÕES
FERROVIÁRIAS__________________________________________________________________________________________1850
 MANUEL ROMEIRO
o OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DE COMPORTAMENTO DAS OBRAS DE ATERRO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DO CERRO
DO LOBO E DO RESERVATÓRIO DO CERRO DA MINA, NA MINA DE NEVES-CORVO DA SOMINCOR 1489
o PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA) _ 517
 MANUEL VARELA DIAS PORÉM
o COMPORTAMENTO CÍCLICO DE UM SOLO ESTABILIZADO QUIMICAMENTE COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE
POLIPROPILENO 2234
 MANUEL VASCONCELOS
o CARTOGRAFIA DE SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INSTABILIDADES EM VERTENTES PARA A RESERVA
ECOLÓGICA NACIONAL NO CONCELHO DE ALMADA 2095
 MARCELO BENDER PEROTONI
o MONTAGEM E EMPREGO DE UM SISTEMA AUTÔNOMO DE MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE (CONDUTIVIDADE) DO
SOLO 1898
 MARCELO GOMES RIOS FILHO
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__2297
 MARCELO SABINO COSTA
o BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE NA ZONA SUL DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE 763
 MARCELO T. S. MASCARENHAS
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__ 2297
 MARCIO FERNANDES LEÃO
o PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO INDIRECTOS E DIRECTOS DA RESISTÊNCIA GEOMECÂNICA DO MÁRMORE DA
FORMAÇÃO SETE LAGOAS 1930
o PERFIS DE INTEMPERISMO DE FILITO SOB CLIMA TROPICAL, NA REGIÃO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG,
BRASIL_________________________________________________________________________________________________ 1955
o SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS APLICADOS ÀS UNIDADES INFERIORES DO GRUPO BAMBUÍ__2019
 MARCOS BARRETO DE MENDONÇA
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 MARCOS FÁBIO PORTO DE AGUIAR
o ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO
DO NORDESTE BRASILEIRO 577
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO
EM CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA 601
 MARGARIDA ESPADA
o DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS DE
GOUVÃES________________________________________________________________________________________________821
 MARGARIDA MARTINS
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA 2310
 MARGARIDA PINHO-LOPES
o COMPORTAMENTO EM TRAÇÃO A LONGO PRAZO DE UM GEOTÊXTIL TECIDO – EXTRAPOLAÇÃO DE RESULTADOS
EXPERIMENTAIS PARA TEMPOS DE SERVIÇO ATÉ 100 ANOS 2242

45
 MARÍA ÁNGELES GARCÍA-DEL-CURA
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE __________________________________ 2625
 MARIA DA GRAÇA LOPES
o APLICAÇÃO DO FALL CONE TEST NA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA DE SOLOS
COESIVOS_ 1623
 MARÍA DE GROOT
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 MARIA DE LURDES ANTUNES
o COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS EM LABORATÓRIO E NO CAMPO__1174
 MARIA DE LURDES LOPES
o COMPORTAMENTO EM TRAÇÃO A LONGO PRAZO DE UM GEOTÊXTIL TECIDO – EXTRAPOLAÇÃO DE RESULTADOS
EXPERIMENTAIS PARA TEMPOS DE SERVIÇO ATÉ 100 ANOS 2242
o ESTUDO DOS EFEITOS PROVOCADOS POR RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) NUMA GEOGRELHA DE
POLIÉSTER 1293
 MARIA DORA BAPTISTA
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10 150
 MARIA INGUNZA
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 MARIA JOÃO COELHO
o UTILIZAÇÃO DO GEORADAR NA DETEÇÃO DE INFRAESTRUTURAS 2048
 MARIANA A. SOUSA
o MEDIÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE DOIS SOLOS DIFERENTES CONSIDERANDO O SEU GRAU DE
SATURAÇÃO PARA MODELAÇÃO DE FUNDAÇÕES TERMOACTIVAS 1566
 MARIANA CARVALHO
o ANTEVISÃO DA EN ISO 22477-5 ENSAIOS DE ANCORAGENS NO TERRENO 702
o O MÉTODO GERAL NA REAVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSAIO DE CARGA EM ANCORAGENS 2364
 MARIANA P. DA FONSECA
o CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPOSTA DA AREIA DE COIMBRA CONFINADA LATERALMENTE SOB
CARREGAMENTOS UNIAXIAIS 1768
 MARIANA RAMOS
o ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO
DA ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
 MARIE PEIXOTO
o OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,
CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
o PETI3+, CENÁRIO FERROVIA 2020. DEFINIÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROSPEÇÃO GEOLÓGICO GEOTÉCNICA
ASSOCIADAS À CONTRATAÇÃO DA FASE DE ESTUDOS E PROJETOS 1961
 MARÍLIA PEREIRA
o UTILIZAÇÃO DO GEORADAR NA DETEÇÃO DE INFRAESTRUTURAS 2048
 MARINA KEIKO ISHIHARA
o ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE
CASO____________________________________________________________________________________________________219
 MARINA PIRULLI
o THE INFLUENCE OF OBSTACLES IN DEBRIS-FLOW DYNAMICS: THE CASE STUDY OF CANCIA (ITALIAN
DOLOMITES)______________________________________________________________________________________________ 86
 MARINA TREVIZOLLI
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 MÁRIO MANASSERO
o THE INFLUENCE OF OBSTACLES IN DEBRIS-FLOW DYNAMICS: THE CASE STUDY OF CANCIA (ITALIAN
DOLOMITES)______________________________________________________________________________________________ 86
 MÁRIO PEDROSA
o CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA
EN230___________________________________________________________________________________________________ 401
o CONSIDERAÇÕES SOBRE O REFORÇO DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE NA LINHA DO NORTE, COM RECURSO A
MICROESTACAS 2261
o ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO _198
 MÁRIO QUINTA-FERREIRA
o ANÁLISE DA INSTRUMENTAÇÃO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA DE NEVES-CORVO 1422
 MARTIM MATOS
o ESCAVAÇÃO DE POÇOS VERTICAIS EM ROCHA ATRAVÉS DO MÉTODO DE CARGAS SUSPENSAS NA CENTRAL
HIDROELÉCTRICA DE GOUVÃES 2659
 MATEUS DE PAULA LANDIM
o ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA URBANA 97
 MATHEUS REZENDE DUTRA
o ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM ESTEATITO – RETROANÁLISE _105
o RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO _1397
 MAURICÍO THOMAS
o AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE
CAL E CIMENTO 1121
o ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO ARENO-SILTOSO COM ADIÇÃO DE CAL E CINZAVOLANTE 1269
 MAURO MUÑIZ MENÉNDEZ

46
o METODOLOGÍA SENCILLA PARA LA EVALUACIÓN DE RIESGOS EN TALUDES EN ROCAS VOLCÁNICAS DE LAS ISLAS
CANARIAS: PRIMEROS PASOS_ 2566
 MICHÉLE CASAGRANDE
o UTILIZAÇÃO DE POLÍMEROS PARA O MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 2426
 MIGUEL ALEXANDRE ARAÚJO PEREIRA
o MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS 277
 MIGUEL BERNARDO
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES _ 2578
 MIGUEL Q. CRUZ
o MEDIÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE DOIS SOLOS DIFERENTES CONSIDERANDO O SEU GRAU DE
SATURAÇÃO PARA MODELAÇÃO DE FUNDAÇÕES TERMOACTIVAS 1566
 MIGUEL ROCHA
o MITIGAÇÃO DO RISCO DE INSTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM
LISBOA 2177
 MILTON FILHO
o ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO
DA ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
 MOISÉS FAILACHE
o AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO EM SEDIMENTOS ARENO-ARGILOSOS COM COBERTURA DE
PASTAGEM 1100
 MONIQUE P. NEVES
o ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREA DE MANANCIAL,
SUDESTE DO BRASIL 1225
 N. H. M. GUTIERREZ
o UTILIZAÇÃO DE DADOS DE SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT PARA PERFILAGEM DO
SUBSOLO NA CIDADE DE MARINGÁ-BRASIL 2040
 NADIR PLASENCIA
o GEOLOGIA E GEOTECNIA DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA_______________________________________459
o COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO
ENCHIMENTO DA ALBUFEIRA 387
o CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO SUPERIOR DO CIRCUITO HIDRÁULICO DO REFORÇO DE POTÊNCIA
DE VENDA NOVA III 809
 NATÁLIA GODOI DE OLIVEIRA
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 NATHÁLIA APARECIDA LEÃO
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 NATHANI ZAMPIROLLI
o AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA DAS FUNDAÇÕES EM ESTACA HÉLICE
CONTÍNUA DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL EM MACIÇO SEDIMENTAR 752
 NAYCOU GIOVANI DE PAULA SALGADO
o ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE
DESSULFURAÇÃO_ 1239
 NEUZA CARVALHO
o ESTABILIDADE DE TALUDES EM MEIO URBANO – CASO DO MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA 2669
 NICOLE NASCIMENTO
o PROBABILIDADE DE DANOS EM UM CONJUNTO HABITACIONAL CONSTRUÍDO EM ALVENARIA RESISTENTE NA
CIDADE DO RECIFE 977
 NILO CESAR CONSOLI
o APLICAÇÃO DA RELAÇÃO VAZIOS/CAL NA ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E DA RIGIDEZ
INICIAL DE MISTURAS SOLO-CAL 1611
 NORA CUETO MENDOZA
o PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ROCHAS VULCÂNICAS DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL _________ 2599
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE __________________________________________________________________ 2625
 NUNO CRUZ
o CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688
o ESTUDOS SOBRE A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VIA-FÉRREA COM SUBESTRUTURA REFORÇADA 2310
 NUNO GONÇALVES
o ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA CUF TEJO, EM LISBOA 832
 NUNO LIMA
o INSTABILIZAÇÕES GEOTÉCNICAS DE ATERROS EM VIAS RODOVIÁRIAS EM EXPLORAÇÃO: CASO DA EN3-1 ENTRE
O KM 1+100 E 1+300, NA AZAMBUJA 1867
 NUNO M. DA COSTA GUERRA
o IMPULSOS ACTIVOS DEVIDOS A SOBRECARGAS SOBRE MUROS DE SUPORTE EM CONSOLA 918
 OLAVO FRANCISCO DOS SANTOS JUNIOR
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DE UM SOLO
COMPACTADO 1310
o MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS 277
 OLE HEDEDAL
o MODELAÇÃO NUMÉRICA DOS EFEITOS DA LIQUEFAÇÃO EM EDIFÍCIOS FUNDADOS SUPERFICIALMENTE 2713
 OSNI JOSÉ PEJON
o MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL BASEADO NA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS DE PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS
- O CASO DO MUNICÍPIO DE DELFINÓPOLIS (MG) – BRASIL 1340
 OSVALDO DE FREITAS NETO
o COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS__ 774

47
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DE UM SOLO
COMPACTADO 1310
o MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS 277
 OTHÁVIO AFONSO MARCHI
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS,
BRASIL_________________________________________________________________________________________________ 1503
 PABLO RUIZ-TERAN
o APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS
VOLCÁNICOS___________________________________________________________________________________________ 2469
 PALLOMA SANTOS
o AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS DAS MOVIMENTAÇÕES DE MASSA DO TRECHO DE SERRA DA RODOVIA
DOS TAMOIOS – CARAGUATATUBA – BRASIL 2082
 PALOMA CAPISTRANO PINHEIRO
o AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE SEGUNDO CONDIÇÕES DE UMIDADE DISTINTAS DE DOIS HORIZONTES
TROPICAIS DAS ÁREAS DE RISCO DA REGIÃO DO GRANDE ABC-SÃO PAULO-BRASIL 1644
 PATRÍCIO JOSÉ MOREIRA PIRES
o CARACTERIZAÇÃO DA SUBSUPERFÍCIE NA TRANSIÇÃO ENTRE FORMAÇÃO BARREIRAS E DEPÓSITOS
QUATERNÁRIOS EM VITÓRIA – ES 1698
o ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE
DESSULFURAÇÃO_ 1239
 PAULA F. DA SILVA
o ANTECIPAÇÃO DO RMR EM DOIS TIPOS DE MACIÇOS - METASSEDIMENTAR E GRANÍTICO 692
o PROCESSOS EROSIVOS EM SOLOS VULCÂNICOS PROVENIENTES DE ERUPÇÕES HISTÓRICAS NAS FURNAS (S.
MIGUEL, AÇORES, PORTUGAL) – AVALIAÇÃO PRELIMINAR________________________________________________ 2587
o REABILITAÇÃO DA RESTINGA DE OFIR: UMA ANÁLISE À UTILIZAÇÃO DE GEOCILINDROS 1521
 PAULO A. L. F. COELHO
o CARACTERIZAÇÃO NO HOLLOW CYLINDER APPARATUS DO COMPORTAMENTO MONOTÓNICO DA AREIA DE
HOSTUN 1719
o DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UMA FERRAMENTA PARA A MODELAÇÃO NUMÉRICA DA VARIABILIDADE
EM MACIÇOS ROCHOSOS E TERROSOS 1780
 PAULO ALEXANDRE PIMENTEL AMARAL
o CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS
AÇORES E MADEIRA_ 2501
o ESTIMAÇÃO DA FAIXA DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM SEGMENTO DE ARRIBA COSTEIRA EM ÁGUA D’ALTO – SÃO
MIGUEL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE POR MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE ___________________ 2542
o MULTI-TECHNICAL MONITORING SYSTEM INSTALLED IN THE UNSTABILIZED ZONE IN LAJEDO – FLORES
ISLAND_________________________________________________________________________________________________2719
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES______________________ 2578
 PAULO C. A. MAIA
o AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA DAS FUNDAÇÕES EM ESTACA HÉLICE
CONTÍNUA DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL EM MACIÇO SEDIMENTAR________________________________________ 717
 PAULO CORTEZ
o USO DE FERRAMENTAS DE DATA MINING NA IDENTIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ESTABILIDADE DE TALUDES EM
ATERRO 327
 PAULO JOSÉ ROCHA ALBUQUERQUE
o ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA PRÉ-MOLDADA INSTRUMENTADA POR MEIO DE MÉTODOS
SEMIEMPÍRICOS E NUMÉRICO _____________________________________________________________________________ 611
 PAULO JOSÉ VENDA OLIVEIRA
o COMPORTAMENTO CÍCLICO DE UM SOLO ESTABILIZADO QUIMICAMENTE COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE
POLIPROPILENO 2234
o COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS ARTIFICIALMENTE CIMENTADOS 2254
o INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO CÍCLICO NO RESISTÊNCIA DE SOLOS ESTABILIZADOS QUIMICAMENTE 2336
o MELHORAMENTO DE SOLOS COM RECURSO A ENZIMAS - ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO TEOR EM MATÉRIA
ORGÂNICA 2343
 PAULO KENZO
o PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA 286
 PAULO M. PEREIRA
o ESTUDO DOS EFEITOS PROVOCADOS POR RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) NUMA GEOGRELHA DE
POLIÉSTER___________________________ 1294
 PAULO PINHO
o TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO –
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS_________________________________________________________________________ _2415
 PAULO PINTO
o ANÁLISE COMPARADA DE MÉTODOS EMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DE
ESTACAS________________________________________________________________________________________________ 565
 PAULO SANTOS
o ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE
ESTUDO____________________________________ 884
 PAULO SÉRGIO DE ALMEIDA BARBOSA
o ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA RESIDENCIAL: ESTUDO DE
CASO____________________________________________________________________________________________________219
 PEDRO AZEVEDO
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO___________________1840
 PEDRO C. THÁ
o PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA 286

48
 PEDRO CHITAS
o AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA
A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10_ 150
 PEDRO EUGENIO SILVA DE OLIVEIRA
o BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE NA ZONA SUL DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE 763
 PEDRO GOMES DOS SANTOS PEREIRA
o ANÁLISE COMPARATIVA DE RECALQUES MEDIDOS E PREVISTOS UTILIZANDO-SE ABORDAGEM DE EFEITO DE
GRUPO EM OBRA NA REGIÃO DE ICARAI, NITERÓI 589
 PEDRO JORGE M. A. BARROS
o EXPERIÊNCIA RECENTE NA EXECUÇÃO DE OBRAS DE TRATAMENTO DE SOLO NA AMÉRICA LATINA _ 2323
o VALORES LIMITE DA RESISTÊNCIA AO CORTE NÃO DRENADA PARA A EXECUÇÃO DE COLUNAS DE BRITA EM
SOLOS MOLES_ 2438
 PEDRO MAIA
o ESTABILIZAÇÃO DOS TALUDES DO SETOR CAVA OESTE DA MINA DE ÁGUAS CLARAS. BELO HORIZONTE.
BRASIL__________________________________________________________________________________________________ 210
 PEDRO MIGUEL LIMA
o DIMENSIONAMENTO DA INFRAESTRUTURA DE VIA EM OBRAS FERROVIÁRIAS E TIPOLOGIA DOS TRATAMENTOS
DE PLATAFORMA________________________________________________________________________________________2274
o METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DE LINHAS FERROVIÁRIAS EXISTENTES COM VISTA À ELABORAÇÃO DE
PROJETOS DE REABILITAÇÃO / MODERNIZAÇÃO NA ÁREA DA GEOTECNIA _1888
o OTIMIZAÇÃO DO TRAÇADO DE VIA E DO PERFIL TRANSVERSAL TIPO, NO PONTO DE VISTA DA GEOTECNIA, EM
LINHAS FERROVIÁRIAS A MODERNIZAR _1387
 PEDRO MONTEIRO
o CARACTERIZAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS RESIDUAIS GRANÍTICOS ATRAVÉS DE ENSAIOS SCPTU 1688
 PEDRO N. A. PEREIRA
o PROPRIEDADES MECÂNICAS E FÍSICAS DE ROCHAS VULCÂNICAS DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL_________ 2599
 PEDRO RAPOSO
o OS DESAFIOS DA PROSPEÇÃO GEOTÉCNICA EM TERRENOS VULCÂNICOS DOS AÇORES _ 2578
 PEDRO SANTARÉM ANDRADE
o ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E MECÂNICA DE ARENITOS DE OLHO MARINHO, VILA NOVA DE POIARES,
PORTUGAL 1820
 PEDRO SCATENA
o POLIESTIRENO EXPANDIDO EM ATERROS SOBRE SOLOS MOLES 2388
 PEDRO SILVA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR 1602
o ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO 669
o SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES DIÂMETROS EM AREIA _________ 998
 PEDRO TOVAR
o MODELAÇÃO NUMÉRICA DOS EFEITOS DA LIQUEFAÇÃO EM EDIFÍCIOS FUNDADOS SUPERFICIALMENTE 2709
 PETERSON CHAGAS ROCHA
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ROCHOSO ALTERADO NO POLO INDUSTRIAL VERDE NA BAÍA DE GUANABARA__2297
 PHILIPE RATTON
o INTEGRIDADE E VALIDAÇÃO ESTRUTURAL DE FUNDAÇÕES MARÍTIMAS PORTUÁRIAS 1509
 PIEDADE WACHILALA
o CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO
SUDOESTE DE ANGOLA 1163
 PILAR RODRÍGUEZ-MONTEVERDE
o CARACTERIZACIÓN DEL TERRENO BAJO LA COLEGIATA DE CASPE (ZARAGOZA-ESPAÑA) PARA DETERMINAR LAS
CAUSAS DE SU PATOLOGÍA 1729
 RAFAEL GIL
o APLICACIÓN DE LA TÉCNICA DE PILOTES HINCADOS DE HORMIGÓN INYECTADOS POR EL FUSTE EN PIROCLASTOS
VOLCÁNICOS___________________________________________________________________________________________ 2469
 RAFAEL VELOSO DE MOURA
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________ 1948
 RAFAELA CARDOSO
o AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE UMA ESTACA TERMOATIVA INTEGRADA NUM SISTEMA
GEOTÉRMICO SUPERFICIAL______________________________________________________________________________ 1532
o ESTUDO DA ELECTROCINESE COMO TÉCNICA DE DESCONTAMINAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS COM
LIXIVIADOS____________________________________________________________________________________________ 1257
o MEDIÇÃO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE DOIS SOLOS DIFERENTES CONSIDERANDO O SEU GRAU DE
SATURAÇÃO PARA MODELAÇÃO DE FUNDAÇÕES TERMOACTIVAS 1566
 RAILTON CÂMARA
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1153
o CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA BRITAGEM DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA USO EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA 1711
 RAUL FANGUEIRO
o ESTUDO PRELIMINAR DE VIABILIDADE DE BRITA REFORÇADA COM FIBRA PARA APLICAÇÕES
FERROVIÁRIAS__________________________________________________________________________________________1850
 RAÚL PISTONE
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
o ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA _896
 RAYANNE CÂMARA
o ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO 669
 RAYMISON R. CARDOSO

49
o SOLUÇÕES GEOTÉCNICAS ADOTADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS SOBRE SOLOS MOLES: REVISÃO DA
LITERATURA_ 551
 REINALDO LORANDI
o DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUPERFICIAL COMO GEOINDICADORES DE
ANTROPIZAÇÃO: TESTE DE APLICAÇÃO EM BACIA HIDROGRÁFICA NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL 1194
o ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS EM ÁREA DE MANANCIAL,
SUDESTE DO BRASIL 1226
o MAPEAMENTO DE ÁREAS POTENCIALMENTE INUNDÁVEIS: HAND VERSUS ARCHYDRO 2142
 RENATO PINTO CUNHA
o ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO
DO NORDESTE BRASILEIRO _577
o COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS___ 774
o MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS ____________________________________277
 RICARDO SARDINHA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA, EM MOÇAMBIQUE 423
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA
SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA_ _ 483
o PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE REABILITAÇÃO
PRECONIZADA__________________________________________________________________________________________ 2584
o PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA 507
 RICARDOS DIAS DOS PRAZERES
o CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO 162
 RITA C. RAMOS
o CARACTERIZAÇÃO NO HOLLOW CYLINDER APPARATUS DO COMPORTAMENTO MONOTÓNICO DA AREIA DE
HOSTUN 1719
 ROBERTO CHUN YAN PAN
o FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO
SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
 ROBERTO KASSOUF
o POLIESTIRENO EXPANDIDO EM ATERROS SOBRE SOLOS MOLES _2388
 ROBERTO LUIS
o ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UMA BARREIRA FLEXÍVEL PARA DESLIZAMENTOS SUPERFICIAIS SOB
MÚLTIPLOS TIPOS DE CARGAS: DESLIZAMENTO DE LAMAS E QUEDA DE BLOCOS _2072
 RODRIGO DE LIMA RODRIGUES
o COMPORTAMENTO DA BARRAGEM DE TERRA DA MARGEM ESQUERDA DE ITAIPU EM PERÍODO DE
OPERAÇÃO______________________________________________________________________________________________ 362
 RODRIGO F. ROMA
o ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE SAPATAS EM TERRENO MELHORADO
SITUADO NA CIDADE DO RECIFE, BRASIL 635
 ROGÉRIO MOTA
o ANÁLISE DA CAPACIDADE DO MÉTODO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA DETETAR ALVOS RESISTIVOS (NÃO
CONDUTORES) 1590
 RONALDO LUIS DOS SANTOS IZZO
o EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-RCD_ 1205
o FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO
SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE COM CAL HIDRATADA 1301
o INFLUÊNCIA DA POROSIDADE E DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADAO NA ASCENSÃO CAPILAR DE
UM SOLO ARENOSO 1858
o RELAÇÃO ENTRE A RESISTÊNCIA À TRAÇÃO INDIRETA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE TRÊS SOLOS
DA FORMAÇÃO GEOLÓGICA GUABIROTUBA DE CURITIBA (BRASIL) ESTABILIZADOS COM CAL 1973
 RONEY DE MOURA GOMES
o COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO_ 786
o ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE COPACABANA, RIO DE JANEIRO __846
 RONNY MEZA
o TRANSPORTE DE ÁGUA EM TUFOS DE LAPILLI DA ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL: IMPLICAÇÕES NOS MECANISMOS
DE DEGRADAÇÂO E NA DURABILIDADE___________________________________________________________________2625
 ROSA BUSTAMANTE MONTORO
o CARACTERIZACIÓN DEL TERRENO BAJO LA COLEGIATA DE CASPE (ZARAGOZA-ESPAÑA) PARA DETERMINAR LAS
CAUSAS DE SU PATOLOGÍA 1729
 RUBÉN GALINDO
o COMPARACIÓN DE LOS MÉTODOS NUMERICOS Y ANALITICOS EN EL ANÁLISIS DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE
CIMENTACIONES SUPERFICIALES 799
 RÚBEN SOUSA MARQUES
o PARA O CONHECIMENTO DA CONSOLIDAÇÃO SECUNDÁRIA DOS SOLOS LODOSOS DA RIA DE AVEIRO _1922
 RUI FREITAS
o ASPETOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS ASSOCIADOS A OBRAS RODOVIÁRIAS EM AMBIENTE VULCÂNICO (ILHA DA
MADEIRA) 56
 RUI MOURA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO 1840
 RUI TOMÁSIO
o MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE
MINÉRIOS_______________________________________________________________________________________________ 955
o SOLUÇÕES DE CONTENÇÂO PERIFÉRICA PARA AMPLIAÇÃO SUBTERRÂNEA DO HOSPITAL DA LUZ EM LISBOA__ 1018
o SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO E RECALÇAMENTO DE FACHADA, ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA E
FUNDAÇÕES DE UM EDIFÍCIO CENTENÁRIO EM MEIO URBANO_____________________________________________ 1007
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA__1027
o SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO DE ARRIBAS COSTEIRAS COM REDUZIDO IMPACTO VISUAL 307

50
 SABRINA ROCHA
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL _______________________________________________________________________ 646
 SANDOVAL RODRIGUES JUNIOR
o APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM
ESTACA HÉLICE CONTÍNUA 741
 SANDRA FERREIRA
o ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL 231
o ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-DJELFA, ARGÉLIA 896
 SANDRA GARRIDO
o APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE FOZ TUA (AHFT) 338
o COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO
DA ALBUFEIRA _ 387
 SANDRA REIS
o ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA CUF TEJO, EM LISBOA 832
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER, LUANDA, ANGOLA 858
o ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO, LISBOA __869
 SANSARA PEREIRA
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 SARA CARDOSO GIL
o APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE FOZ TUA (AHFT) 338
 SARA MEDEIROS
o AGREGADOS VULCÂNICOS E A REAÇÃO ÁLCALIS-SÍLICA A NÍVEL MUNDIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO____ 2451
 SARA RENDIM GRADE
o LINHA FERROVIÁRIA DO SUL: CASOS DE INSTABILIDADE EM TALUDES DE ESCAVAÇÃO, OCORRÊNCIAS E MEDIDAS
DE ESTABILIZAÇÃO _ 267
o OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA,
CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO 1375
o RAMAL DE NEVES CORVO: REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA, ROTURA CONTROLADA E CONSTRUÇÃO
DE NOVO ATERRO FERROVIÁRIO 528
 SARA RIOS
o ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM
REFORÇO DE SOLOS 1069
o INTERPRETAÇÃO ESTATÍSTICA DA CLASSIFICAÇÃO DO SOLO A PARTIR DE ENSAIOS CPTU EM SEDIMENTOS
FLUVIAIS 1879
o MELHORAMENTO DE UM SOLO ARENOSO POR ATIVAÇÃO ALCALINA PARA MITIGAÇÃO DA LIQUEFAÇÃO 2353
 SARA SANCHES
o INSPEÇÃO VISUAL DE MUROS E TALUDES _ 255
 SERGIO ANTONIO GARCÍA-MOYA
o VUELCO ATÍPICO: CASO DE ESTUDIO 2188
 SÉRGIO C. PAIVA
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
 SÉRGIO M. KRAEMER
o PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA 286
 SÉRGIO ROSA
o CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO EIXO SUL DA SCUT DA ILHA DE SÃO MIGUEL, AÇORES____________2521
o ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES NA VILA DE POVOAÇÃO EM SÃO MIGUEL, AÇORES___________________________ 2533
 SIDINEIDY IZOTON
o ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE
DESSULFURAÇÃO 1238
 SIDNEI HELDER CARDOSO TEIXEIRA
o ESTUDO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO SOLO COM VARIAÇÃO DA UMIDADE E ÍNDIDE DE VAZIOS 1812
 SILVIO ROMERO DE M. FERREIRA
o AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO _350
o COMPARATIVO ENTRE A IDENTIFICAÇÃO DIRETA E INDIRETA DA EXPANSIVIDADE DE UM SOLO NATURAL E
TRATADO COM AREIA DO MUNICÍPIO DE PAULISTA-PE 1749
o ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, DE AGRESTINA – PE, COM A UTILIZAÇÃO DA CINZA
DA CASCA DE ARROZ 1248
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE
PAULISTA NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1330
o INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA,
CABROBÓ E BREJO DA MADRE DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL 1321
 SIMONA FONTUL
o O PAPEL DAS GEOGRELHAS NA ESTABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BALASTRO DE INFRAESTRUTURAS
FERROVIÁRIAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2376
 SÓNIA CRUZ
o CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA
EN230___________________________________________________________________________________________________ 401
 SÓNIA PINTO
o ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO 198
 SÓNIA QUEIROZ
o CARTOGRAFIA DE SUSCEPTIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INSTABILIDADES EM VERTENTES PARA A RESERVA

51
ECOLÓGICA NACIONAL NO CONCELHO DE ALMADA 2097
 SORAIA BASTOS KATERENIUK
o PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO
APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE LAÚCA 286
 STILANTE KOCH MANFRIN
o MONTAGEM E EMPREGO DE UM SISTEMA AUTÔNOMO DE MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE (CONDUTIVIDADE) DO
SOLO 1898
 SVETLANA MELENTIJEVIC
o COMPARACIÓN DE LOS MÉTODOS NUMERICOS Y ANALITICOS EN EL ANÁLISIS DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE
CIMENTACIONES SUPERFICIALES 799
o EVALUACIÓN DEL COMPORTAMIENTO TÉRMICO DE UN PILOTE TERMO-ACTIVO MEDIANTE MÉTODOS
NUMÉRICOS____________________________________________________________________________________________ 1554
 TALES MOREIRA DE OLIVEIRA
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_ 646
 TAMIRES CAMPOS
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_ 646
 TATIANE ROBAINA RANGEL CARVALHO
o PERFIS DE INTEMPERISMO DE FILITO SOB CLIMA TROPICAL, NA REGIÃO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG,
BRASIL 1955
 TEÓFILO AQUINO VIEIRA COSTA
o REAVALIAÇÃO DA RMR PARA AS MINAS DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFICO EM MINAS GERAIS,
BRASIL_________________________________________________________________________________________________ 1503
 TERESA M. BODAS FREITAS
o CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA DE MONSANTO __162
 THAÍS L. DADA
o APLICAÇÃO PRÁTICA DE METODOLOGIAS DE INTERPRETAÇÃO DE ENSAIOS BIDIRECIONAIS EM ESTACAS
ESCAVADAS NO BRASIL 728
 THAYSE D. DELMIRO
o AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO __ 350
 THIAGO BARRETO
o UTILIZAÇÃO DE POLÍMEROS PARA O MELHORAMENTO DE SOLOS ARENOSOS 2426
 THIAGO DA SILVA RIBEIRO
o ESTUDO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO SOLO COM VARIAÇÃO DA UMIDADE E ÍNDIDE DE VAZIOS 1812
 THIAGO GOMES
o ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL 623
o ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM
PROVA DE CARGA CONVENCIONAL_ 646
 THIAGO MENDES
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
o ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO
DA ROCHA CALCÁRIA PARA CAMADAS DE PAVIMENTOS 1281
 THIAGO SEGRE
o AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS DAS MOVIMENTAÇÕES DE MASSA DO TRECHO DE SERRA DA RODOVIA
DOS TAMOIOS – CARAGUATATUBA – BRASIL 2082
 TIAGO FERREIRA
o AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DO HARDENING SOIL MODEL EM REPRODUZIR A RESPOSTA DE UM SOLO A
DIFERENTES TRAJETÓRIAS DE TENSÃO___________________________________________________________________ 1632
 TIAGO PINTO MIDÕES
o EXPERIENCIA DA IP ENGENHARIA EM ESTUDOS GEOTÉCNICOS E PROJETOS DE TERRAPLENAGEM NA FERROVIA
DA ARGÉLIA 436
 TIAGO TEIXEIRA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO 1840
 UIARA MARIA DA SILVA
o ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM PARAÍBA (MG), BRASIL 1213
 VALENTIM CURIÃO
o RAMAL DE NEVES CORVO: REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA, ROTURA CONTROLADA E CONSTRUÇÃO
DE NOVO ATERRO FERROVIÁRIO 528
 VANESSA ALEIXO
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA__1027
o SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO DE ARRIBAS COSTEIRAS COM REDUZIDO IMPACTO VISUAL 307
 VANESSA LARANJEIRA
o ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DE UMA ÁREA DE MACIÇO GRANÍTICO HETEROGÉNEO 1840
 VICTOR CAVALEIRO
o A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS 1061
 VÍCTOR ENRIQUE LEÓN BUENO DE CAMARGO
o ANÁLISE COMPARATIVA DE FORMULAÇÕES DA SEGURANÇA DE SOLOS REFORÇADOS À LUZ DE CONCEITOS DE
FIABILIDADE ___________________________________________________________________________________________ 2201
 VIDÁLIA MIRANDA
o CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DE MATERIAIS ROCHOSOS DE ORIGEM VULCÂNICA DOS ARQUIPÉLAGOS DOS
AÇORES E MADEIRA 2501
 VIKAS GINGINE
o ESTUDO DA ELECTROCINESE COMO TÉCNICA DE DESCONTAMINAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS COM

52
LIXIVIADOS 1258
 VILSON SCATENA
o POLIESTIRENO EXPANDIDO EM ATERROS SOBRE SOLOS MOLES 2388
 VINICIUS ARAÚJO
o AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS MITIGADORAS DAS MOVIMENTAÇÕES DE MASSA DO TRECHO DE SERRA DA RODOVIA
DOS TAMOIOS – CARAGUATATUBA – BRASIL 2082
 VINICIUS GUSTAVO DE OLIVEIRA
o CLASSIFICAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS PARA DEPÓSITOS ANTROPOGÊNICOS/TECNOGÊNICOS 1741
 VIRLEI ÁLVARO DE OLIVEIRA
o PEDOGEOTECNIA DE UM LATOSSOLO DO CÂMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS-CCET- ANÁPOLIS-
GO_____________________________________________________________________________________________________1948
 VÍTOR PEREIRA FARO
o ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE PARÂMETROS GEOMORFOLÓGICOS NA ESTABILIDADE DE TALUDES 116
o ESTUDO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO SOLO COM VARIAÇÃO DA UMIDADE E ÍNDIDE DE VAZIOS 1812
o MAPEAMENTO DOS MOVIMENTOS DE MASSA DE SOLO EM UM TALUDE RODOVIÁRIO DA SERRA DO MAR
BRASILEIRA: PR/SP 2153
 VITOR SANTOS
o ANTECIPAÇÃO DO RMR EM DOIS TIPOS DE MACIÇOS - METASSEDIMENTAR E GRANÍTICO 692
 VITÓRIA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES
o CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO EIXO SUL DA SCUT DA ILHA DE SÃO MIGUEL, AÇORES __________ 2521
 WALDEMAR HACHICH
o ANÁLISE COMPARATIVA DE FORMULAÇÕES DA SEGURANÇA DE SOLOS REFORÇADOS À LUZ DE CONCEITOS DE
FIABILIDADE 2201
 WEBER SOUZA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR 1602
o AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MISTURAS DE SOLO LATERÍTICO E RESÍDUO DO MINÉRIO DE FERRO PARA FINS
RODOVIÁRIOS A PARTIR DE REGRESSÕES 1452
 WENDY MALVAR
o TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO –
PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS 2413
 WILBER FELICIANO TAPAHUASCO
o DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (C’ E ᶲ) DE MISTURAS DE UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES
DE CAL E CINZA DE CASCA DE ARROZ 173
 WILSON C. DA SILVA JUNIOR
o MONTAGEM E EMPREGO DE UM SISTEMA AUTÔNOMO DE MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE (CONDUTIVIDADE) DO
SOLO 1898
 WRIAS E. LINO
o AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO _350
 XAVIER PITA
o SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO EDIFÍCIO FPM41___________________1037
 YAGO MACHADO PEREIRA DE MATOS
o ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO
DO NORDESTE BRASILEIRO 577
 YURI BARBOSA
o ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA PRÉ-MOLDADA INSTRUMENTADA POR MEIO DE MÉTODOS
SEMIEMPÍRICOS E NUMÉRICO 611
 YURI COSTA
o ANÁLISE ESTATÍSTICA DO ÂNGULO DE ATRITO DE SOLO ARENOSO SEDIMENTAR___________________________ 1604
o ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO__________ 669
o SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES DIÂMETROS EM AREIA ___________ 998
 ZUZANA DIMITROVOVÁ
o O PAPEL DAS GEOGRELHAS NA ESTABILIZAÇÃO DA CAMADA DE BALASTRO DE INFRAESTRUTURAS
FERROVIÁRIAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2376

53
54
CONFERÊNCIAS
55
CONFERÊNCIAS| 16 CNG
_____________________________________________________________________________________

ASPETOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS ASSOCIADOS A OBRAS RODOVIÁRIAS


EM AMBIENTE VULCÂNICO (ILHA DA MADEIRA)

GEOLOGICAL AND GEOTECHNICAL ISSUES RELATED WIH ROAD WORKS IN


VOLCANIC ENVIRONMENT (MADEIRA ISLAND)

Freitas, Rui; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, r.freitas@cobagroup.com

RESUMO

O peculiar enquadramento geológico e geomorfológico da ilha da Madeira, caracterizado pela natureza


vulcânica que se desenvolve em encostas inclinadas talhadas por linhas de água encaixadas, confere
características únicas à região tornando-se determinante na definição de novas vias de acesso rodoviário e
uma das principais condicionantes do tipo de soluções de obras a adotar.

Na conferência em referência abordam-se os principais aspetos geológico-geotécnicos de âmbito geral da


ilha da Madeira, nomeadamente a natureza das formações e a sua estrutura, os problemas geotécnicos
mais comuns e um enquadramento geral relativo à caraterização geotécnica das formações. Relacionam-
se ainda com algumas obras rodoviárias recentes.

ABSTRACT

The peculiar geological and geomorphological environment of the island of Madeira, characterized by the
volcanic nature that develops on steep slopes carved by embedded streams, confers unique characteristics
to the region becoming determinant in the definition of new road access roads and one of the main
constrains of the type of work solutions to be adopted.

In this conference, the main geological and geotechnical aspects of the island of Madeira are approached,
namely the nature of the formations and their structure, the most common geotechnical problems, as well
as a general framework about the formations geotechnical parameters. They are also related to some recent
road construction works.

1- INTRODUÇÃO

A ilha da Madeira caracteriza-se morfologicamente por uma sucessão de relevos intensamente dissecados
pela erosão vertical e horizontal, que contribui para a existência de vales profundamente encaixados, de
declives e perfis longitudinais extremamente acentuados, e para uma morfologia costeira de elevada
altitude, composta por arribas alcantiladas. É, portanto, uma ilha de relevo contrastante e vigoroso, que se
considera desprovida de litoral, com arribas irregulares derivado da intensa erosão.

Esta morfologia exuberante e acidentada expressa a atuação de diversos fatores que, embora diferenciados,
modificam e contribuem para a modelação do relevo, tais como: a estrutura, a forma e a idade do edifício
vulcânico; a natureza litológica dos seus materiais e respetiva disposição; e o “tipo e intensidade dos
agentes externos próprios da respetiva situação geográfica”, os quais dependem da atuação dos processos
e mecanismos associados ao quadro climático local.

É neste contexto, intrinsecamente vulcânico, que obras rodoviárias encontram os principais condicionantes
ao seu planeamento e execução, observando-se não raramente situações de complexidade geológico-
geotécnica locais que condicionam grandemente as soluções técnicas implementadas.

2- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO GERAL

2.1 - Geologia, estrutura e tectónica

A história geológica do arquipélago da Madeira está intrinsecamente ligada à abertura e expansão do


Atlântico, iniciada há cerca de 200 Ma, durante o Triássico, a qual prossegue ainda no tempo corrente.
Expansão essa que dita o afastamento do arquipélago ao Rift, o que contribui também para que a
sismicidade no Arquipélago da Madeira, seja, na maior parte das ocorrências, o reflexo dos abalos que
afetam o Arquipélago dos Açores e Portugal Continental, cujos focos se situam, na maior parte dos casos,
na direção Açores – Gibraltar.

O Arquipélago da Madeira está situado na placa africana, mais concretamente, na região intraplaca limitada
a oeste pela crista média atlântica, a norte pela complexa estrutura Açores-Gibraltar e a sudeste pelo cratão
56
CONFERÊNCIAS| 16 CNG
_____________________________________________________________________________________

oeste-africano (Figura 1). A atividade sísmica de tal região é baixa sendo, na maior parte dos casos, reflexo
dos sismos que são gerados na fronteira de placas Açores-Gibraltar ou nas falhas ativas que retalham as
plataformas continentais oeste-ibérica e africana (Moreira, 1991 in Mata et al., 2013).

Figura 1 – Enquadramento tectónico do arquipélago da Madeira. Grupo Madeira-Desertas-Porto Santo e batimetria da


zona envolvente, com indicação das zonas de rift da posição aproximada da Crista do Funchal (in Mata, J. et al., 2013)

A forma alongada do edifício insular emerso (E-W a NW-SE) reflete a atividade vulcânica em dois sistemas
de fracturação distintos. A zona de rift de direção E-W parece ter sido a estrutura responsável pelo
vulcanismo ocorrido durante as duas primeiras fases eruptivas, expressas nos complexos vulcânicos Inferior
e Intermédio, enquanto o sistema fissural de direção geral NW-SE, terá controlado estruturalmente o
vulcanismo de idade mais recente relativo ao Complexo Vulcânico Superior (CVS).

Identificam-se três sistemas de fraturas com direções NW-SE, E-W e NNE-SSE, encontrando-se
representados por falhas, sistemas de filões, alinhamentos de cones do CVS, traços geomorfológicos
lineares e lineamentos deduzidos de análise de imagem de satélite e fotografia aérea (Fonseca et al., 1998
in Mata et al., 2013). Este autor identificou cerca de uma centena de lineamentos com comprimentos
superiores a 1 km, totalizando cerca de 450 km (Figura 2).

Figura 2 – Lineamentos tectónicos na ilha da Madeira (Fonseca et al., 1998, in Mata J. et al. 2013).

O maior deles (Lineamento Seixal–Machico), identificável numa extensão de 38.5 km e com uma direção
quase paralela ao alongamento da ilha (N108º), foi confirmado por observações de campo como
correspondendo a uma falha normal, com abatimento do bloco norte e com uma expressiva componente de
desligamento direito.

A componente de abertura deste acidente em regime direito, está também expressa pelo padrão cartográfico
dos filões da região central da ilha. Com espessuras na maioria das vezes superiores a 10 metros, estes
filões apresentam direções N150º compatíveis com uma abertura de fendas escalonadas em regime direito.
A observação de encraves de natureza ultramáfica em alguns deles e a emergência de águas com teores de
CO2 e temperaturas elevadas em fraturas intersetadas por túneis (Fonseca et al, 2000) é de alguma forma
sugestiva de um enraizamento profundo de alguns destes acidentes, apontando para a presença de sistemas
vulcanotectónicos ativos na ilha da Madeira (Mata, J. et al., 2013).

O conhecimento da localização exata e da orientação destes grandes acidentes é de grande importância do


ponto de vista económico, sendo instrumento indispensável ao planeamento e projeto quer de grandes
obras de engenharia (e.g. túneis rodoviários), quer de captações de água. Refira-se o túnel de prospeção
de água da Fajã da Ama onde se obtiveram caudais entre os 285 e 350 l/s na dependência de uma única

57
CONFERÊNCIAS| 16 CNG
_____________________________________________________________________________________

zona de fratura (N80º) que funciona como zona preferencial de fluxo subterrâneo (e.g. Fonseca et al.,
2000).

A ilha da Madeira corresponde à parte emersa de um grande edifício vulcânico de tipo escudo, de idade
miocénica a holocénica (7 Ma), construído sobre crosta oceânica de idade cretácica, na Placa Africana. A
sua edificação ocorreu, por atividade vulcânica submarina e, posteriormente, por empilhamento de
erupções subaéreas geradas maioritariamente por atividade vulcânica fissural, ao longo de um eixo
principal de direção aproximada E-W.

Figura 3 – Carta geológica da ilha da Madeira (Madeira, J. et al, 2007)

As suas lavas são alcalinas, predominando os litótipos de carácter pouco diferenciado como basanitos e
basaltos alcalinos, estando as rochas intermédias como mugearitos e traquitos representadas em raros
afloramentos.

Na ilha da Madeira foram identificados três complexos vulcânicos compostos por um total de sete unidades
ou formações estratigráficas principais, limitadas por superfícies de inconformidade expressas à escala
regional da ilha (Madeira, J. et al., 2007; Brum da Silveira, A et al., 2010).

O Complexo Vulcânico Inferior (CVI) (Miocénico > 5,57 Ma) representa o final da fase submarina do vulcão
escudo e subdivide-se em:

 Formação de Porto da Cruz (CVI1) - constituída por rochas muito alteradas de origem
hidromagmática (hialoclastitos, brechas hialoclastíticas e derrames lávicos submarinos), cortadas
por uma rede densa de filões;

 Formação dos Lameiros (CVI2) - constituída por uma sequência fossilífera de sedimentos
carbonatados marinhos de baixa profundidade. Encontra-se exposta a 400 m de altitude na região
dos Lameiros, sugerindo importante levantamento da ilha.

O Complexo Vulcânico Intermédio (CVM) (Plio-Plistocénico ~ 5,57 – 1,8 Ma) corresponde à principal fase de
construção subaérea do vulcão escudo, subdividindo-se em:

 Formação da Encumeada (CVM1) - caracterizada por erupções de estilo estromboliano e vulcaniano


em cones ou sistemas fissurais situados ao longo de uma zona de rift de direção E-W, abrangendo
os atuais setores central e oriental da ilha, observando-se em alternâncias de derrames lávicos com
tufos de piroclastos de queda, ocasionalmente com níveis constituídos por brechas vulcânicas e
depósitos de fluxo piroclástico;

 Formação da Penha de Águia (CVM2) - caraterizada por numerosas erupções (de estilo
estromboliano e havaiano) que emitiram derrames lávicos volumosos a partir de centros eruptivos
localizados no Maciço Montanhoso Central, aumentando significativamente o volume insular imerso.
As sequências de derrames lávicos formam grandes empilhamentos de escoadas de basaltos e
basanitos de espessura reduzida intercaladas com níveis de piroclastos de queda distais (lapilli e
cinzas), bem como tufos de escórias e ocasionalmente produtos de atividade freato-magmática;

 Formação do Curral das Freiras (CVM3) - caracterizada por vulcanismo de estilo essencialmente
havaiano (ou estromboliano) em bocas fissurais situadas provavelmente na região do Paul da Serra,
correspondendo à fase de crescimento da ilha no sector oeste. É constituída, no geral da ilha, por
escoadas basálticas, por vezes espessas, com intercalações de piroclastos de queda (escoras, lapilli
e cinzas), tufitos e produtos freato-magmáticos.
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O Complexo Vulcânico Superior (CVS) (Plisto-Holocénico ~ 1,8 – 0,007 Ma) corresponde à fase de
revestimento vulcânico da ilha e vulcanismo pós-erosivo, em centros eruptivos ou sistemas fissurais
situados ao longo de zonas de rift vulcânico de direção NW-SE a WNW-ESE, sendo formado por:

 Formação dos Lombos (CVS1) - etapa de revestimento vulcânico insular em posição morfológica
culminante e, nalguns casos, preenchendo vales relacionados com a morfologia atual;

 Formação do Funchal (CVS2) - etapa de vulcanismo pós-erosão, isto é, contemporâneo da


morfologia atual.

Depósitos sedimentares epiclásticos de brechas e conglomerados estão presentes nas várias unidades
estratigráficas e testemunham, entre outros, importantes movimentos de massa (enxurradas,
deslizamentos, etc.) relacionados com o forte relevo da ilha.

Para além das formações mencionadas, destacam-se ainda rochas granulares que ocorrem no Complexo
Vulcânico Inferior – Unidade do Porto da Cruz (CVI1); filões e massa filonianas de que são exemplos o
Maciço Montanhoso Central e a Ponta de São Lourenço; areias de praia; depósitos eólicos; depósitos
glaciares e periglaciares.

2.2 - Perigosidade geológica

Os depósitos de movimentos de massa ocorrem um pouco por toda a ilha, resultantes fundamentalmente
da ação da gravidade sobre as vertentes de pendor elevado e grande desnível, e potenciados mais
geralmente por condições climatéricas adversas, podem envolver volume de massa de grandes proporções,
destacando-se os mais importantes por tipologia:

a) Penha de Águia e Cabo Girão (desabamentos);

b) Ribeira dos Socorridos (tombamento);

c) Curral das Freiras, Fajã do Marques, Boaventura e Fajã da Nogueira (deslizamentos rotacionais);

d) Arco de São Jorge, Arco da Calheta (deslizamentos translacionais).

Estes depósitos gerados por deslizamentos podem apresentar associações de fácies brechoides,
conglomeráticas e areníticas, ou ocorrerem como “fácies de mega-bloco”, incorporando grandes blocos de
rocha muito fraturada e vários níveis de sequências vulcânicas.

A última erupção data de há cerca de 6850 anos, sendo que atualmente ainda ocorrem manifestações de
vulcanismo secundário, tais como libertação de gases (CO2) e águas termais, de que é exemplo a
emergência de águas com teores de CO2 superiores a 2000 ppm e temperaturas próximas de 30ºC em
fraturas intersetadas pelos túneis da Encumeada e Machico-Porto da Cruz (Fonseca et al., 2000) e o caso da
captação da Fajã da Ama onde a interseção de uma zona de falha ocasionou a libertação de grandes
quantidades de gás (cerca de 100% de CO2 e pequena parte de gás Radão (222Rn). Estes factos apontam
para a presença de sistemas vulcanotectónicos ativos na ilha da Madeira, podendo afirmar-se que, embora
reduzido, o risco de uma erupção na ilha da Madeira não é nulo (Mata, J. et al., 2013).

Historicamente a sismicidade registada na Madeira é fraca e sentida com baixa intensidade, tendo os
epicentros dos últimos sismos sido registados a cerca de 70 km a sul do Funchal. O principal perigo
decorrente dos sismos é a possibilidade de despoletar movimentos de massa em locais com condições
precárias de estabilidade.

Os fluxos de detritos e de lamas (aluviões) associados a episódios de grandes inundações, são um dos
perigos naturais de maior incidência na Madeira. Vários fatores contribuem para este risco, nomeadamente
o próprio relevo, com encostas muito evolutivas que fornecem gradualmente o material sólido aos ribeiros,
e os fortes declives dos talvegues favorecendo condições para grande velocidade de escoamento, associados
a períodos de forte e persistente pluviosidade.

Por outro lado, as mesmas encostas ocorrem desprendimentos ocasionais de grandes massas de material
sobre o leito dos ribeiros, ora estreitando o leito ora bloqueando-o, contribuindo para uma concentração
de importantes caudais e carga sólida a jusante. No registo geológico observam-se várias situações de
depósitos conglomeráticos resultantes de eventos deste tipo, encontrando-se intercalados com outras
unidades geológicas, permanecendo fossilizados. O episódio mais recente ocorreu em 2010 acarretando
grandes prejuízos na zona do Funchal.

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3 - CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA DAS FORMAÇÕES VULCÂNICAS

Na sequência da caracterização geológica é necessário realizar a campanha de investigação geotécnica com


vista à definição dos parâmetros geotécnicos de projeto. Os trabalhos de prospeção geotécnica e ensaios
de laboratório mais utilizados não diferem muito dos realizados em materiais de ambientes não vulcânicos.

As formações geológicas vulcânicas têm sido correntemente caracterizadas no âmbito de projetos de


investigação e de projetos de engenharia. Os ensaios mais utilizados na caracterização das formações
rochosas são os ensaios de compressão uniaxial com determinação da tensão de rotura e módulo de
deformabilidade, bem como a determinação do peso volúmico. No caso das amostras de índole mais terrosa
os ensaios de caracterização de resistência têm sido a compressão triaxial e corte direto.

Contudo, face à heterogeneidade das formações e à dificuldade de colheita de amostras de qualidade


adequada para os ensaios laboratoriais normalmente preconizados, com impacto negativo na quantidade
de amostras que se pode considerar como mínima para uma caracterização adequada deste tipo de
materiais, é comum recorrer-se a dados bibliográficos compilados de outras obras que interessaram as
mesmas formações geológicas.

Assim, comparam-se os resultados obtidos em algumas das principais obras realizadas nos últimos 15 anos
na Madeira com outros publicados que abrangem um maior número de obras e de ensaios, referentes a
materiais da ilha da Madeira. Desta comparação, conclui-se que na generalidade existe uma dispersão
razoável de resultados, quer no caso das rochas piroclásticas, quer no caso das brechas, quer no caso dos
basaltos, facto que é devido à diversidade das amostras, pois a comparação englobou amostras de materiais
com diferentes compacidades e estados de alteração. Apesar desta dispersão, os valores obtidos
enquadram-se nos valores existentes na bibliografia. Na Figura 4 apresentam-se os resultados obtidos no
presente trabalho (a preto) com outros publicados (a cores) por Lourenço et al. (2010) sobre materiais da
ilha da Madeira. Os resultados obtidos enquadram-se com os resultados existentes na bibliografia.

Figura 4 - Comparação dos resultados obtidos em ensaios de compressão uniaxial com resultados publicados por
outros autores, para i) basaltos; ii) brechas e iii) tufos

Na Figura 5 apresentam-se os resultados que correlacionam os valores da resistência à compressão uniaxial


e do peso volúmico seco obtidos no presente trabalho (a preto) com outros publicados (a cores) por
Lourenço et al. (2010) sobre materiais da ilha da Madeira e com outros resultados publicados por Serrano
et al. (2007) sobre materiais das ilhas Canárias. Os resultados obtidos enquadram-se com os resultados
existentes na bibliografia.

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Figura 5 - Comparação dos resultados obtidos com resultados publicados por outros autores.

No que se refere à determinação dos parâmetros de resistência, tem-se verificado muito dificuldade em
obter amostras suficientemente homogéneas para a realização de ensaios específicos e em quantidade
suficiente que permita uma análise fundamentada e criteriosa da gama de resultados obtidos. Como meio
de obviar a insuficiência de ensaios de base para a determinação deste tipo de parâmetros, utilizam-se
outro tipo de abordagens, nomeadamente a correlação com os ensaios SPT realizados in situ em materiais
mais terrosos. Quando os estudos estão numa fase mais preliminar, e, portanto, sem resultados de ensaios
atempadamente, recorre-se à utilização de ábacos que foram desenvolvidos com base em resultados
obtidos e experiência adquirida em outras obras, como aquele que se apresenta na Figura 6.

Figura 6 – Ábaco de definição de parâmetros geotécnicos de resistência (Lourenço, et al, 2010).

Com base em toda a experiência adquirida a partir das missões de reconhecimento geológico e de análise
contínua das formações vulcânicas em sondagens, afloramentos e escavações em obras, foi possível definir
intervalos de referência de valores típicos de GSI. Na Figura 7 apresenta-se uma classificação proposta por
Lourenço et al. (2010) para as formações vulcânicas segundo o seu grau de alteração, e que, grosso modo,
corrobora a experiência acumulada em outras obras.

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Figura 7 – Classificação GSI proposta para as formações vulcânicas da ilha da Madeira (Lourenço, et al, 2010).

4 - ASPETOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS ASSOCIADOS A ALGUMAS OBRAS

Em seguida apresentam-se 3 casos de obra onde as particularidades de natureza geológico-geotécnica


revelaram aspetos determinantes no decurso das obras.

Figura 8 – Localização das obras rodoviárias em análise. 1) Acesso Oeste ao Porto do Funchal, 2) Variante à Madalena
do Mar, 3) Ligação Vasco Gil / Fundoa

4.1 - Acesso Oeste ao Porto do Funchal

O Acesso Oeste ao Porto do Funchal envolve várias infraestruturas numa extensão de 1,2 km,
nomeadamente um viaduto de 120 m, várias estruturas de contenção, uma ponte de 100 m e ainda um
túnel urbano de 600 m. A cidade do Funchal, localiza-se num anfiteatro natural com morfologia agressiva
caracterizado por encostas inclinadas talhadas por linhas de água encaixadas. A este quadro acrescem
ainda dificuldades geotécnicas resultantes da heterogeneidade litológica e da sua variação espacial,
consequência da natureza vulcânica da ilha. Nas condições geomorfológicas, geológicas e geotécnicas em
que se desenvolve o traçado, foi necessário suportar os estudos por um total de 550 m de sondagens e
ensaios associados.

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Figura 9 – Enquadramento do Acesso Oeste ao Porto do Funchal

As principais condicionantes originais do projeto envolveram a fundação de um encontro do viaduto em


solos de cones de escórias desagregadas com mais de 60 m de profundidade, a presença de falhas
atravessando o túnel, e o baixo recobrimento do túnel com importantes edifícios sobre o seu alinhamento.

4.2 - Variante à Madalena do Mar

O traçado da Variante à Madalena do Mar, localizado na zona Sudoeste da ilha da Madeira, desenvolve-se
essencialmente ao longo de dois túneis rodoviários de tipo bidireccional que, juntamente com as galerias
de emergência associadas, totalizam cerca de 4 775 m de escavações subterrâneas.

Os túneis desenvolvem-se nas proximidades de arribas costeiras, interessando fundamentalmente


alternâncias de escoadas lávicas com depósitos piroclásticos, ambos pertencentes ao complexo vulcânico
intermédio. Junto aos emboquilhamentos ocorrem ainda depósitos de vertente. Estes depósitos de vertente,
na entrada do primeiro túnel, encontram-se associados a uma grande massa escorregada, na zona central
entre túneis, associados à Ribeira da Madalena de grande dinâmica erosiva e, na zona terminal do traçado
na saída do segundo túnel, à ação erosiva marinha.

Figura 10 – Enquadramento da Variante à Madalena do Mar.

Foi dado especial enfoque às soluções construtivas adotadas no atravessamento de depósitos piroclásticos
finos de carácter evolutivo e de depósitos de vertente.

4.3 - Ligação Vasco Gil / Fundoa (Cota 500)

Dada a urbanização em terrenos muito inclinados, as vias rápidas que circundam o litoral foram sendo
construídas a distintas cotas, cada vez mais elevadas. À Cota 500 o projeto de uma ligação ao noroeste do

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Funchal, entre as localidades de Vasco Gil e Fundoa, relativamente curta, de cerca de 4.1km, requereu um
projeto de 7 túneis viários bidirecionais, totalizando cerca de 1 750m de comprimento total.

A obra começou a ser construída em 2008 e parou em 2011 por falta de financiamento. Os restantes 500m
de obra foram retomados em 2018 prevendo-se terminar os viadutos V4 e V5 e o túnel T2 até abril de
2019.

No trecho relativo à Fase 1, que incluiu os túneis T1 e T2, o túnel T1 tem 361m de comprimento e foi
construído pelo método convencional. O túnel T2 consiste numa estrutura de betão construída em trincheira
pelo método de “cut & cover”.

Juntamente com o trecho da Fase 2, cujo concurso foi adiado em 2011, a obra da Cota 500 terá 7 túneis,
8 viadutos, 10 PS/PI/pontões e várias dezenas de estruturas de contenção de várias tipologias situadas
quer na plena via quer associadas às fundações das obras de arte, numa extensão de cerca de 4,1 km.

O traçado da via foi implantado em terrenos do complexo vulcânico pós-miocénicos basálticos com
intercalações piroclásticas, interessando também depósitos recentes coluvionares e aluvionares. São
também interessados pontualmente depósitos de vertente de espessura reduzida.

Figura 8 – Enquadramento da Ligação Vasco Gil / Fundoa, à Cota 500

As principais condicionantes observadas em obra deveram-se essencialmente à interseção dos depósitos de


vertente nas escavações e aterros das ligações à rede viária existente ao longo da encosta. É de salientar que
a maior preocupação com este tipo de material de cobertura, por vezes de grande espessura, mesmo não
sendo interessada pela obra, é o fato de episodicamente puderem afetar as vias, conforme sucedeu em
fevereiro de 2010, período de grande temporal e precipitação intensa.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A execução de obras lineares com desnivelamento transversal às linhas de drenagem, neste tipo de
morfologia jovem, muito acidentada, em ambiente geológico vulcânico de características muito
heterogéneas a que acresce o enquadramento urbano, obriga em sede de projeto a optar por soluções
abrangentes do ponto de vista geotécnico, que permitam uma resposta de largo espectro e uma fácil
adaptação em obra à realidade encontrada, nomeadamente nos túneis, na fundação das obras de arte e
nas obras de contenção.

No presente caso as obras pautaram-se por um rigoroso controlo de execução e pelo acompanhamento
geológico-geotécnico das escavações em geral.

Durante a Assistência Técnica à fase construtiva, a comunicação entre a obra (Dono de Obra/ Adjudicatário
e Fiscalização) e a engenharia de projeto foi fundamental na adequação e adaptação das soluções previstas.
Tendo por base a versatilidade das soluções abrangentes e também apoiando as decisões num apertado
controle geológico dos terrenos encontrados nos trabalhos à medida que vão sendo realizados, contribuiu-
se para a execução das obras em segurança, com rapidez e economia acrescida.

A abordagem adotada, no que diz respeito às metodologias de projeto, revelaram-se adequadas para
ultrapassar as dificuldades criadas pelas diferentes condicionantes inerentes à execução das obras em
maciço vulcânico em meio urbano.

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REFERÊNCIAS

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GEOTERMIA NOS AÇORES: DA ROCHA À TURBINA


João Carlos Nunes
PhD Vulcanologia, Univ. Açores

As ilhas dos Açores, com 2324 km2 de superfície total, localizam-se no Atlântico Norte, a cerca
de 1800 km de Portugal Continental e 2600 km do Canadá. As ilhas estão dispostas segundo um
alinhamento ONO-ESE com 600 km de extensão, de Santa Maria ao Corvo e ocupam a Junção
Tripla dos Açores, onde as placas tectónicas Euroasiática, Norte Americana e Africana interagem
(Figura 1).
Todas as ilhas dos Açores são ilhas oceânicas vulcânicas, que se elevaram do fundo mar desde
há cerca de 35 milhões de anos (Ma) e foram emergindo e crescendo ao longo dos milénios. O
vulcanismo terrestre mais antigo existe na ilha de Santa Maria (com cerca de 8 a 10 Ma) e a ilha
mais jovem é a do Pico (com cerca de 300 mil anos).

FIGURA 1. Enquadramento geotectónico geral da região dos Açores.

São 27 os sistemas vulcânicos principais existentes no arquipélago: 16 são vulcões poligenéticos


(na sua maioria grandes vulcões centrais siliciosos, com caldeira de subsidência no topo) e 11
correspondem a sistemas fissurais basálticos (segundo extensas cordilheiras ou plataformas
vulcânicas). Destes, 9 vulcões poligenéticos e 7 sistemas fissurais basálticos são considerados
ativos, embora atualmente adormecidos e localizam-se nas ilhas do Grupo Central e em São
Miguel e no Banco D. João de Castro. Ao largo das ilhas existem, ainda,

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diversas cristas vulcânicas submarinas ativas, como o Banco do Mónaco (a sul de São Miguel), o
Banco Princesa Alice (a sudoeste do Faial) ou a Crista SE do Pico.
Existem cerca de 1750 vulcões monogenéticos nos Açores, quer nos flancos e dentro das
caldeiras dos vulcões poligenéticos, quer nos sistemas fissurais basálticos. Estes pequenos
vulcões incluem cones de escórias, domos e coulées traquíticos, cones e anéis de tufos, maars e
fissuras eruptivas, que frequentemente definem alinhamentos vulcano-tectónicos locais ou
regionais ou estão implantados em fracturas radiais/circulares dos vulcões poligenéticos.
Essa localização geográfica e o enquadramento geotectónico do arquipélago dos Açores
traduzem-se numa actividade sísmica e vulcânica significativas (e.g. 26 erupções históricas),
incluindo numerosas manifestações de vulcanismo secundário, como campos fumarólicos e de
desgaseificação e nascentes, poços e furos com águas termais. No total estão identificadas nos
Açores 48 ocorrências geotérmicas superficiais de baixa entalpia (com temperaturas entre 22 e
98°C), a maioria das quais (25 ocorrências) ocorrendo na chamada “Hidrópole das Furnas”, na
ilha de São Miguel (Quadro I e Figura 2).
Desde os primórdios do povoamento dos Açores (em meados do século XV) que tal riqueza
termal se manifesta em diversos aproveitamentos nos domínios balneológico, balneoterápico e
nos famosos “cozidos” (nas Furnas e nas Caldeiras da Ribeira Grande), estando atualmente em
funcionamento regular diversos estabelecimentos e empreendimentos termais, públicos e
privados, de bem-estar e lúdico-recreativos. É o caso das termas do Carapacho (ilha Graciosa) e
Ferraria (São Miguel) e da Caldeira Velha, Poça da Dona Beija, Banhos da Coroa/Caldeiras da
Ribeira Grande, Parque Terra Nostra e Furnas Boutique Hotel Thermal & Spa (São Miguel).
Por outro lado, e no que respeita ao aproveitamento dos recursos geotérmicos de alta entalpia
para a produção de energia elétrica, os trabalhos de prospecção geológica, geofísica e
geomecânica tiveram início nos anos 70 do século passado. Em 1980 foi instalada a central
geotérmica piloto do Pico Vermelho, com capacidade instalada de 3 MW, no vulcão do Fogo (ilha
de São Miguel), que esteve em funcionamento até 2005, embora com uma produção pequena,
da ordem de 1 MW. A utilização à escala industrial teve início em 1994, com a Central
Geotérmica da Ribeira Grande, com capacidade instalada de 5,8 MW. Atualmente estão em
funcionamento duas centrais geotérmicas de fluido binário na ilha de São Miguel (a Central
Geotérmica da Ribeira Grande e a Central Geotérmica do Pico Vermelho), com uma capacidade
total instalada de 27,8 MW, uma potência total de 23,2 MW e uma energia líquida produzida de
183,1 GWh (ano de 2017), energia correspondente a cerca de 44% dos consumos eléctricos da
ilha.
Na ilha Terceira está em funcionamento, desde agosto de 2017, a Central Geotérmica do Pico Alto,
com uma capacidade máxima instalada de 4,5 MW, produzindo 16% dos consumos elétricos da ilha.
O concessionário dos recursos geotérmicos das ilhas de São Miguel e Terceira é a EDA RENOVÁVEIS
S.A., que coordena, também, todo o ciclo produtivo nas centrais geotérmicas.
Na Região Autónoma dos Açores estão qualificados como recurso geotérmico:
 o Campo Geotérmico do Pico Alto (ilha Terceira – Figura 3), constituído pelas formações
geológicas atravessadas e pelo calor dos fluidos captados nos poços de produção PA2, PA3
e PA4, bem como pelas formações geológicas atravessadas pelo poço de reinjeção PA8;
estes poços asseguram o funcionamento da central geotérmica do Pico Alto;
 o Campo Geotérmico da Ribeira Grande (ilha de São Miguel – Figura 4), constituído pelas
formações geológicas atravessadas e pelo calor dos fluidos captados nos poços CL1, CL2, CL3,
CL5, CL6, CL7, PV2, PV3, PV4, PV7 e PV8, bem como pelas formações geológicas atravessadas
pelos poços de reinjeção CL4, CL4A, PV5, PV6, PV9, PV10 e PV11; estes poços asseguram o
funcionamento das centrais geotérmicas da Ribeira Grande e do Pico Vermelho;

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Quadro I – Caracterização sumária das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia nos Açores. In:
Carvalho et al. (2017).

(*) integra a Concessão Hidromineral "Estância Termal das Furnas" (Alvará nº 6317, 26.Fev.1965)

 as formações geológicas atravessadas e o calor dos fluidos captados no furo AC3, na Ponta
da Ferraria (ilha de São Miguel – nº 35, Quadro I); este furo de captação assegura a
produção de água quente para utilização no balneário termal da Ferraria (balneário e
piscina exterior); o recurso apresenta uma temperatura de 61°C e uma mineralização total
de 20485 mg/L;
 as formações geológicas atravessadas e o calor dos fluidos captados no furo AC1, no
Carapacho (ilha Graciosa – nº 40, Quadro I), anteriormente direcionado para usos
recreativos mas, actualmente, sem utilização.

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FIGURA 2. Enquadramento vulcano-estratigráfico das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia nos


Açores (ver também Quadro I). Base geológica de Nunes (2004). Nas ilhas São Miguel e Terceira é indicada
a área de concessão de exploração de recursos geotérmicos de alta entalpia. Em baixo, à direita, é
pormenorizada a localização das ocorrências da “Hidrópole das Furnas”. In: Carvalho et al. (2017).

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FIGURA 3. Perfis geológicos interpretativos do Campo Geotérmico do Pico Alto (ilha Terceira), numa
perspectiva local (perfil em cima) e numa perspectiva regional (perfil em baixo). In: Nunes (2017).

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FIGURA 4. Perfil geral do Campo Geotérmico da Ribeira Grande (ilha de São Miguel). In: GeothermEx (2008).

No domínio dos usos directos, há a destacar as estufas do INOVA – Instituto de Inovação


Tecnológica dos Açores, financiadas no âmbito do Programa THERMIE e aquecidas
geotermicamente entre 1997 e 2005, cuja reactivação está em avaliação. Não são conhecidas
utilizações do tipo geotermia superficial (GSHP) nos Açores. Por outro lado, parte dos efluentes
das centrais geotérmicas, atualmente reinjetados na totalidade, poderá vir a ter aproveitamento
a jusante, em cascata térmica, quer em projetos ligados à indústria turística (e.g.
empreendimentos termais), quer na distribuição urbana de calor, estufas, agroindústrias e
piscicultura.

Referências Bibliográficas
CARVALHO, J.M., J.C. NUNES & M.R. CARVALHO (2017) - Ocorrências geotérmicas dos Açores.
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GUÍAS GEOTÉCNICAS APLICABLES A PROYECTOS Y OBRAS EN


TERRENOS VOLCÁNICOS: DE GETCAN A MACASTAB

GEOTECHNICAL GUIDES TO BE APPLICABLE TO PROJECTS AND WORKS IN


VOLCANIC ENVIRONMENTS: FROM GETCAN TO MACASTAB

Hernández Gutiérrez, Luis Enrique; Proyecto MACASTAB, Feder Interreg-Mac 2014-2020, Gobierno de
Canarias, Santa Cruz de Tenerife, España, lhergut@gobiernodecanarias.org

RESUMEN

Los gobiernos regionales de Canarias, Azores y Madeira deben desarrollar documentos normativos que
recojan la singularidad de sus terrenos volcánicos y que faciliten la aplicación de las normas que dictan sus
respectivos países en materia constructiva. Por este motivo, surge la guía GETCAN-011, como metodología
para la realización de estudios geotécnicos para edificación en Canarias, pero que se puede aplicar a
cualquier territorio volcánico. A raíz de la convocatoria de proyectos del Programa de Cooperación INTERREG
V-A España-Portugal MAC (Madeira-Azores-Canarias) 2014-2020, los gobiernos regionales de Canarias,
Azores y Madeira, junto a la Universidad de Cabo Verde, se han unido para trabajar en el proyecto MACASTAB,
que pretende facilitar la gestión de un problema geotécnico común, los movimientos de laderas y taludes. En
este artículo se presentan las aportaciones de ambos proyectos al ámbito de la Geotecnia en terrenos
volcánicos.

ABSTRACT

The regional governments of the Canary Islands, Azores and Madeira must develop normative documents
that reflect the uniqueness of their volcanic lands and that facilitate the application of the norms that their
respective countries dictate in constructive matters. For this reason, the guide GETCAN-011 arises as a
methodology for carrying out geotechnical studies for building in the Canary Islands, but can be applied to
any volcanic territory. Following the call for projects of the INTERREG VA Spain-Portugal MAC (Madeira-
Azores-Canarias) 2014-2020 Cooperation Program, the regional governments of the Canary Islands, the
Azores and Madeira, together with the University of Cape Verde, have joined forces to work on the
MACASTAB project, which intend to facilitate the management of a common geotechnical problem, the
movements of hillsides and slopes. This article presents the contributions of both projects to the field of
Geotechnics in volcanic terrains.

1- INTRODUCCIÓN

España y Portugal tienen en común que la mayoría de su territorio se ubica en territorio continental, en la
Península Ibérica, pero además que ambos países poseen territorios insulares atlánticos, que se
corresponden con archipiélagos de naturaleza volcánica (Canarias, Azores y Madeira). Con frec uencia, las
normas y códigos, que en materia de construcción se dictan en los respectivos países, no recogen las
singularidades de estos archipiélagos volcánicos, lo que dificulta la aplicación de las mismas por parte de
los técnicos que desarrollan allí su actividad. Esto obliga a los gobiernos regionales a realizar un esfuerzo
adicional para desarrollar documentos propios que recojan las peculiaridades de su territorio volcánico, que
permitan interpretar, adaptar y aplicar la normativa estatal con garantía y rigor.

En España, la irrupción del Código Técnico de la Edificación (CTE) en el panorama normativo del país ha
supuesto un hito en la regulación de los estudios geotécnicos para edificación, ya que, por primera vez, se
define la intensidad y alcance de los reconocimientos, así como la obligatoriedad de acompañar estos
estudios al proyecto de edificación. Esto supuso un reto y una oportunidad para el Gobierno de Canarias,
pues se hacía necesaria la interpretación de la norma estatal con un documento que recogiera las
peculiaridades geotécnicas de los terrenos volcánicos de Canarias; y que más tarde serviría de base para
otros documentos normativos, así como para otros estudios e investigaciones en la materia. Así surge la
guía GETCAN-011, que además, en 2013, fue aprobada por el Ministerio de Fomento del Gobierno de España
como Documento Reconocido del CTE, con referencia CTE-DR/045/13.

GETCAN requirió de trabajos previos de investigación de las propiedades geotécnicas de los materiales
volcánicos, porque los estudios realizados eran escasos y dispersos, y estaban circunscritos únicamente a
casos puntuales relacionados con algunas obras. Así, en 2002, se iniciaron varios proyectos de
caracterización de los materiales volcánicos de Canarias que sirvieron de base para la redacción de la guía
y cuyos resultados actualmente siguen utilizándose por la comunidad científica y técnica, y en particular en
el proyecto MACASTAB.

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Por otro lado, la elevada incidencia, en las últimas décadas, de eventos meteorológicos causantes de
procesos de inestabilidad de laderas y taludes en los archipiélagos volcánicos de la Macaronesia, como
consecuencia del cambio climático, la creciente urbanización y su desarrollo en áreas expuestas a estos
fenómenos, demandaba por parte de técnicos y responsables públicos, un documento normativo y/o guía
que estableciera los procedimientos de actuación adecuados ante la ocurrencia de estos procesos, que
garantice por un lado la efectividad de las soluciones técnicas aportadas por los profesionales y por otro que
delimite la responsabilidad civil de los distintos agentes intervinientes en los mismos (técnicos y
responsables públicos). Así, en 2016, surge el proyecto MACASTAB, cuyo objetivo principal es obtener un
documento de bases para que las regiones implicadas puedan elaborar sus guías metodológicas para la
gestión de este tipo de riesgos naturales. El ámbito de actuación abarca a los archipiélagos de Azor es,
Madeira, Canarias y Cabo Verde.

En este artículo se presentan ambos proyectos, GETCAN y MACASTAB y se exponen algunas de las
aportaciones más importantes que de ellos se han derivado para la Geotecnia en terrenos volcánicos.

2 - GUÍA DE ESTUDIOS GEOTÉCNICOS PARA LA EDIFICACIÓN EN CANARIAS, GETCAN-011

2.1 - Antecedentes de la guía GETCAN-011

La publicación de la Guía para la Planificación y Realización de Estudios Geotécnicos para la Edificación en la


Comunidad Autónoma de Canarias, GETCAN-011 (Gobierno de Canarias, 2011), formó parte de un plan de
proyectos que comenzó a gestarse por parte de la Consejería de Obras Públicas y Transportes del Gobierno
de Canarias en el año 2002. Este plan consistió, en sus primeras etapas, en la caracterización geotécnica de
los materiales volcánicos presentes en Canarias y posteriormente, la información obtenida se empleó para
la elaboración de la cartografía geotécnica y la guía de estudios geotécnicos para edificación.

El primero de los proyectos denominado “Estudio de caracterización geotécnica de las rocas volcánicas de
las Islas Canarias”, consistió en la elaboración de una base de datos con las propiedades geomecánicas y
geoquímicas de todas las formaciones rocosas del Archipiélago, así como de las correlaciones entre los
parámetros más empleados en la práctica geotécnica.

El segundo de los proyectos, denominado “Caracterización geotécnica de los piroclastos canarios débilmente
cementados”, fue realizado en colaboración con el Laboratorio de Geotecnia del Centro de Estudios y
Experimentación de Obras Públicas (CEDEX) del Ministerio de Fomento, Gobierno de España.

En el proceso de desarrollo de estos proyectos irrumpe en el panorama normativo español un documento


de gran importancia en el sector de la construcción: el Código Técnico de la Edificación, CTE (Gobierno de
España, 2006). Este código, aprobado por el Real Decreto 314/2006, de 17 de marzo, se estructura en
varios documentos que regulan los distintos aspectos que intervienen en el proceso edificatorio, entre ellos
interesa destacar el Documento Básico de Seguridad Estructural, Cimientos, DB SE-C (CTE, 2006), que
dedica su capítulo 3 al Estudio Geotécnico. Este documento de planificación emplea como criterio básico
para tal fin los tipos de terrenos, clasificándolos en tres grupos o categorías: T-1 Terrenos favorables, T-2
Terrenos intermedios y T-3 Terrenos desfavorables. La aplicación de este documento a los terrenos
volcánicos de Canarias requería de una herramienta que permitiera su interpretación, surgiendo la necesidad
de elaborar la correspondiente guía.

La guía GETCAN-011 es un documento, dirigido a los distintos agentes que intervienen en el proceso
edificatorio, donde se articula una metodología adecuada para la planificación de los reconocimientos
geotécnicos preceptivos en los proyectos de edificación (CTE, 2006), así como para la realización de los
Estudios Geotécnicos correspondientes, de acuerdo con la normativa vigente y teniendo en cuenta las
peculiaridades de los terrenos volcánicos de las Islas Canarias.

El Estudio Geotécnico deberá contar, de acuerdo a esta Guía, con un contenido suficiente que satisfaga los
requerimientos del Proyectista y del Director de la Obra para poder proceder al análisis y dimensionado de
los cimientos y elementos de contención del edificio.

Con objeto de facilitar su manejo, la estructura y contenido de la guía GETCAN-011 se organiza en diferentes
partes, atendiendo al interés que cada una de ellas pueda despertar en los usuarios del documento; como
aportación importante a la geotecnia en terrenos volcánicos, se destacan las siguientes que se exponen a
continuación.

2.2 - Mapas de zonificación geotécnica de las Islas Canarias

Para la elaboración de los mapas de zonificación geotécnica del Archipiélago se ha empleado como base la
cartografía geológica digital del IGME, Instituto Geológico y Minero de España, a escala 1:25.000,
suministrada por GRAFCAN, Cartográfica de Canarias, S.A. (Barrera & García, 2011). En este sentido,
tomando como base las trazas cartográficas de las distintas unidades geológicas de la cartografía del IGME,
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se establecieron un conjunto de unidades geotécnicas integrando dentro de las mismas una o varias
unidades geológicas.

La metodología empelada consistió en realizar una parcelación del territorio insular en áreas de
características litológico-geotécnicas similares, que permitiera establecer, en cada unidad/unidades
geotécnicas, los criterios mínimos a contemplar en el reconocimiento o investigación geotécnica. De esta
forma, y en función de las características de la construcción y de los problemas geotécnicos asociados a
cada unidad geotécnica diferenciada, se propondrían los reconocimientos mínimos exigibles en cada caso.

Como resultado de esta zonificación se confeccionó una clasificación de unidades geotécnicas del
archipiélago canario (Tabla 1). Cada una de estas unidades se asignó a su vez a uno de los tres tipos de
terrenos que define el CTE para la planificación de la campaña de reconocimiento geotécnico.

Tabla 1- Clasificación de unidades geotécnicas de las Islas Canarias y tipo de terreno del CTE.
Terreno
Unidad Subunidad CTE

Unidad I: Complejos basales T3


Unidad II: Coladas y macizos sálicos T1

Unidad III: Macizos basálticos alterados T3


Unidad IV: Coladas basálticas sanas IVa: Coladas “aa” poco escoriáceas T1
IVb: Coladas “pahoehoe” y “aa” muy T3
escoriáceas
Unidad V: Materiales piroclásticos Va: Ignimbritas y tobas T2
Vb: Depósitos piroclásticos sueltos o T3
débilmente cementados
Unidad VI: Materiales brechoides T2
Unidad VII: Depósitos aluviales y coluviales T3
Unidad VIII: Suelos arenosos T3
Unidad IX: Suelos arcillosos y/o limosos T3
Unidad X: Rellenos antrópicos T3

2.3 - Planificación del reconocimiento geotécnico en terrenos volcánicos

La planificación de la campaña de reconocimiento geotécnico es el conjunto de actividades destinadas a


determinar las características del terreno, cuyos resultados quedarán reflejados en el Estudio Geotécnico.
En esta parte se establece la intensidad y alcance del reconocimiento geotécnico de acuerdo con los
preceptos recogidos en el capítulo 3 “Estudio Geotécnico” del DB SE-C del CTE y teniendo en cuenta las
singularidades del territorio insular volcánico.

Como criterios de planificación se han de considerar, según el CTE, el tipo de terreno (unidad geotécnica) y
el tipo de edificio. El CTE define cinco categorías de edificio atendiendo al número de plantas y a la superficie
construida, que de menor a mayor son: C-0, C-1, C-2, C-3 y C-4. A partir del tipo de edificio y de la unidad
geotécnica el CTE establece un protocolo que permite concretar el número de prospecciones y ensayos que
es preciso realizar para un caso concreto. En cuanto a la profundidad de los sondeos mecánicos y de las
penetraciones dinámicas, el CTE indica unas profundidades orientativas, pero no obligatorias, mientras que
la guía GETCAN-011 establece unas profundidades mínimas obligatorias para cada unidad geotécnica en
función del tipo de edificio proyectado (Tabla 2). Será obligación del autor del Estudio Geotécnico, en base
a sus conocimientos y experiencia, prolongar la profundidad final de los reconocimientos hasta que resulte
suficiente para alcanzar una cota del terreno por debajo de la cual se pueda garantizar que no se
desarrollarán asientos significativos bajo las cargas que pueda transmitir el edificio.

Tabla 2- Profundidad mínima de sondeos (m)


Unidad Geotécnica I II III IVa IVb Va Vb VI VII VIII IX
(Terreno CTE) / (T-1) (T-3) (T-1) (T-3) (T-2) (T-3) (T-2) (T-3) (T-3) (T-3)
Tipo de Edificio (T-3)

C-0 5 4 5 4 5 5 5 5 5 5 5
C-1 8 6 8 6 8 7 8 7 8 8 8

C-2 12 8 12 8 12 10 12 10 12 12 12

C-3 16 10 16 10 16 12 16 12 16 16 16

C-4 20 12 20 12 20 14 20 14 20 20 20

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2.4 - Otras herramientas geotécnicas de la guía GETCAN

Otras aportaciones de la guía GETCAN-011 útiles y prácticas para los profesionales de la geotecnia, que
desarrollen su actividad en ambientes volcánicos, son las siguientes.

2.4.1 - Clasificación de litotipos volcánicos aplicados a la Ingeniería Civil y a la Arquitectura

Se aporta una clasificación simplificada del amplio espectro de tipos de rocas o litotipos volcánicos, para su
aplicación en el sector de la construcción. El objeto de esta clasificación es facilitar al ingeniero civil y al
arquitecto, con conocimientos limitados de geología, un medio para asignar un nombre a una roca, que tal
vez no sea estrictamente correcto desde el punto de vista geológico, pero que permite situar a la misma
dentro de una familia y, por tanto, ayudar a la identificación de problemas ingenieriles asociados con esa
familia. Los nombres se han seleccionado principalmente entre aquellos que se utilizan en los libros no
especializados en geología, y no se utilizan en sentido estricto, sino en término general para un amplio grupo
de tipos de rocas (litotipos) relacionadas.

En base a criterios sencillos y de fácil aplicación por no expertos en petrología volcánica, como son conceptos
litológicos básicos, texturas fácilmente identificables y contenido en vacuolas, se elaboró la clasificación que
se presentan en la Tabla 3, para los materiales volcánicos altamente cohesivos (rocas duras).

Tabla 3- Clasificación de litotipos volcánicos de las Islas Canarias: materiales altamente cohesivos (ROCAS)

OLIVÍNICO-PIROXÉNICOS VACUOLARES (V) B-OP-V


(OP) MASIVOS (M) B-OP-M

VACUOLARES (V) B-PL-V


PLAGIOCLÁSICOS (PL)
BASALTOS (B) MASIVOS (M) B-PL-M

VACUOLARES (V) B-AF-V


AFANÍTICOS (AF)
MASIVOS (M) B-AF-M

ESCORIÁCEOS (ES) B-ES


TRAQUIBASALTOS (TRQB) TRQB

TRAQUITAS (TRQ) TRQ


FONOLITAS (FON) FON
SOLDADAS IG-S
IGNIMBRITAS (IG)
NO SOLDADAS IG-NS

Para los materiales volcánicos granulares sueltos o poco cohesivos, como es el caso de los depósitos
piroclásticos, se elaboró una clasificación aparte (Tabla 4); en este caso se aplicaron, además de los criterios
litológicos básicos, el de tamaño de partículas y el de grado de cementación.

Tabla 4- Clasificación de litotipos volcánicos de las Islas Canarias: materiales sueltos o poco cohesivos (PIROCLASTOS)
SUELTO (S) LPS
LAPILLI (LP)
CEMENTADO (T) LPT

SUELTO (S) ESS


PIROCLASTOS BASALTICOS ESCORIAS (ES)
CEMENTADO (T) EST

CENIZAS SUELTO (S) CBS


BASÁLTICAS (CB) CEMENTADO (T) CBT

SUELTO (S) PZS


PÓMEZ (PZ)
CEMENTADO (T) PZT
PIROCLASTOS SÁLICOS
CENIZAS SUELTO (S) CSS
SÁLICAS (CS) CEMENTADO (T) CST

A cada uno de los litotipos resultantes de estas clasificaciones, se le asignó un acrónimo de tres o cuatro
letras, que hace referencia a los criterios de clasificación (litología, textura, vesicularidad, tamaño de
partículas y grado de cementación).

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2.4.2 - Correlaciones entre los ensayos de caracterización geomecánica de las rocas volcánicas

A partir de los estudios de caracterización de rocas volcánicas de Canarias, realizados por el Gobierno de
Canarias, se generó una base de datos de parámetros físico-mecánicos cuya síntesis se presenta como
apéndice en la guía, quedando a disposición de los profesionales de la geotecnia. Con este conjunto de
parámetros, además, se estudiaron las correlaciones más significativas entre ellos, de manera que se fuera
posible estimar determinados parámetros geomecánicos más costosos y complejos, a partir de otros
obtenidos mediante ensayos de bajo coste y fácil ejecución. Estas correlaciones se establecieron para cada
uno de los litotipos rocosos definidos. Este es el caso del valor de la resistencia a compresión simple, la
resistencia a tracción o el módulo de deformación elástica.

Para estimar en una primera aproximación el valor de la resistencia a compresión simple (σ c) a partir de la
resistencia deducida del esclerómetro (σcSchmidt) se obtuvo la expresión:

𝜎" = 𝐾1 ∗ 𝜎cSchmidt
[1]

Donde K1 vale para el conjunto de litotipos 1.18


Para cada litotipo específico, los valores de K son:

Litotipo BOPM BOPV BPLM BAFV BAFM BES TRQB TRQ FON IGNS IGS
K1 1.40 1.00 1.50 0.50 1.30 0.90 1.00 1.20 1.40 0.55 0.75

También es posible directamente con el índice de rebote (R) obtenido con el esclerómetro, estimar la
resistencia a compresión simple (σ cSchmidt), a partir del peso específico, utilizando la expresión indicada a
continuación, modificada a partir de las de (Miller, 1965 y Deere y Miller, 1966) y adaptada a la población
de rocas volcánicas de Canarias:

log𝜎"Schmidt = 0.00034𝛾𝑅 + 0.0426𝛾 − 0.0017𝑅 + 0.41


[2]

Donde σc está expresado en MPa y  (peso específico aparente) en KN/m 3.

A partir del ensayo de carga puntual (PLT) se recomienda, para obtener el valor de la resistencia a
compresión simple, utilizar la expresión:

𝜎" = 𝐾=𝐼?(50)
[3]

Con un valor para el parámetro k 2 en conjunto de 15.


Por litotipos los valores a utilizar son los siguientes:

Litotipo BOPM BOPV BPLM BPLV BAFV BAFM BES TRQB TRQ FON IGNS IGS
K2 17 9 12 14 5 16 10 12 18 22 9 13

Para obtener en una primera aproximación el valor de la resistencia a tracción indirecta se recomienda
utilizar la expresión:

𝜎" = 𝐾3 ∗ 𝜎C,brasileño
[4]

Con un valor para el parámetro k 3 en conjunto de 2.2.


Considerando litotipos de manera individualizada, se puede aplicar los siguientes valores de k 3:

Litotipo BOPM BOPV BPLM BPLV BAFV BAFM BES TRQB TRQ FON IGNS IGS
K3 2.5 1.9 2.6 1.9 1.1 2 1.6 1.5 2.3 2.9 1.5 1.2

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3 - PROYECTO MACASTAB: ELABORACIÓN DE GUÍAS DE MOVIMIENTOS DE LADERAS PARA LOS


ARCHIPÉLAGOS VOLCÁNICOS DE LA MACARONESIA

3.1 - Antecedentes del proyecto MACASTAB

Los movimientos de ladera son fenómenos que constituyen uno de los riesgos naturales más importa ntes
que afectan a los archipiélagos volcánicos de la Macaronesia y que inciden en ellos con una frecuencia mucho
más intensa de lo que lo hacen en el territorio continental. Consisten en la movilización pendiente abajo de
una masa de suelo, derrubios y/o roca, impulsada por intensas fuerzas gravitacionales. En estos fenómenos
intervienen un gran número de factores condicionantes y desencadenantes, tipologías y mecanismos de
rotura, propios de los archipiélagos volcánicos, que es preciso concretar, definir y clasificar para poder
abordar con éxito esta problemática y adoptar las medidas adecuadas para reducir al máximo los riesgos
para la sociedad.

La Comisión Europea aprobó el Programa de Cooperación INTERREG V-A España-Portugal MAC (Madeira-
Azores-Canarias) 2014-2020 que interviene en cinco grandes ámbitos u objetivos temáticos, uno de los
cuales, el Eje 3, está dedicado a promover la adaptación al cambio climático y la prevención y gestión de
riesgos. El objetivo específico de la prioridad de inversión de este eje es mejorar la capacidad de respuesta
ante los posibles riesgos naturales que afectan al espacio de cooperación. Con estas premisas, la
Viceconsejería de Infraestructuras y Transportes del Gobierno de Canarias toma la iniciativa de liderar una
candidatura de proyecto a este programa, junto a los socios del Laboratorio Regional de Ingeniería Civil de
la Región Autónoma de Madeira, el Laboratorio Regional de Ingeniería Civil de la Región Autónoma de Azores
y la Universidad de Cabo Verde. El proyecto, aprobado en la 1ª convocatoria del programa con el código
MAC/3.5b/027, lleva por título: “Bases para la elaboración de una guía metodológica para la gestión del
riesgo natural producido por la inestabilidad de laderas y taludes de naturaleza volcánica en la Macaronesia”.

Actualmente en desarrollo, el proyecto MACASTAB ya ha dado como frutos algunas herramientas y


aplicaciones geotécnicas de gran interés para profesionales e instituciones del ámbito de la ingeniería
geológica y los riesgos naturales, que se exponen en los siguientes apartados.

3.2 - Objetivos y metodología del proyecto MACASTAB

El objetivo general del proyecto es disponer de un documento técnico de bases que permita elaborar una
guía metodológica que facilite la adecuada gestión de los riesgos naturales derivados de los movimientos de
laderas y taludes adaptada a las circunstancias propias de las islas volcánicas de la Macaronesia. Con este
documento, cada región volcánica insular de la Macaronesia podrá redactar su propia guía de gestión de los
riesgos naturales derivados de los movimientos de ladera, adaptado a su singularidades territoriales,
sociales, administrativas y políticas, incorporando aquellos documentos técnicos y/o normativos que
consideren más apropiados o que sean preceptivos en sus respectivos territorios.
Los objetivos específicos del proyecto son:

- Objetivo específico 1: Ofrecer un sistema de evaluación de inestabilidades de laderas en función de


los factores que provocan su presencia y de los que finalmente desencadenan su colapso.

- Objetivo específico 2: Proponer métodos analíticos de identificación y valoración de inestabilidad de


laderas así como criterios de diseño de medidas de protección adecuados a cada caso.

- Objetivo específico 3: Identificar el grado de exposición a los riesgos naturales que se asume en
cada situación a partir de la aplicación de metodologías para el análisis de riesgos por movimiento
de laderas en función de la probabilidad del suceso, considerando los efectos del cambio climático y
de sus consecuencias.

Para la consecución de estos objetivos, se ha configurado un equipo técnico constituido por expertos de los
distintos archipiélagos participantes, con experiencia en la gestión de este tipo de riesgos y vinculados a
entidades de reconocido prestigio en el ámbito de la ingeniería civil radicadas en los mismos. La metodología
empleada consiste en la elaboración de los documentos correspondientes a cada una de las actividades
previstas para cada uno de los objetivos planteados. Estas actividades son las siguientes:

Actividades del objetivo específico 1:


a) Identificar y clasificar los factores condicionantes de la inestabilidad de laderas en los archipiélagos
volcánicos de la Macaronesia.
b) Identificar de los factores desencadenantes de la inestabilidad de laderas en la Macaronesia.
c) Elaborar una clasificación de laderas volcánicas en función de los factores que intervienen en su
inestabilidad.

Actividades del objetivo específico 2:


d) Propuesta de una clasificación geomecánica para los terrenos volcánicos macaronésicos.

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e) Propuesta y adaptación de métodos analíticos de cálculo para la valoración de inestabilidad de


laderas.
f) Propuesta de medidas preventivas de control y protección de laderas.

Actividades del objetivo específico 3:


g) Elaboración de unas bases metodológicas para el análisis de riesgos por deslizamientos y
desprendimientos en terrenos volcánicos.
h) Estudiar la relación entre el cambio climático y la incidencia en la ocurrencia de movimientos de
ladera en la región de la Macaronesia.
i) Realizar varias experiencias piloto en la que se aplique el procedimiento y las herramientas
propuestas a casos de inestabilidades reales.

3.3 - Aplicaciones geotécnicas aportadas por el proyecto MACASTAB

Como aplicaciones geotécnicas destacables, fruto de ejecución de las actividades del proyecto, que se han
desarrollado hasta la fecha, se destacan las siguientes.

3.3.1 - Actuaciones iniciales ante inestabilidades de laderas y taludes: Índice ISTV.

La primera actuación debe consistir en realizar un reconocimiento del lugar y emitir un diagnóstico previo
en el que se valore de forma preliminar las condiciones en las que se ha producido la incidencia que han
dado lugar a la inestabilidad.

Como herramientas para la selección y aplicación de las distintas bases metodológicas que aporta el
proyecto, se han elaborado una serie de diagramas de flujo. Uno de ellos es el que se muestra en la figura
1 y que corresponde a las “Actuaciones previas por incidencias de inestabilidad de taludes”.

Figura 1 – Diagrama de flujo para determinar las actuaciones previas por incidencias de inestabilidad de taludes.

A partir de este diagrama, para resolver la cuestión de si se “¿Requiere estudio y proyecto?” y avanzar en
el diagrama de flujo, se ha propuesto un procedimiento de valoración de la situación de inestabilidad por
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un técnico no experto que, a partir de una serie de criterios de fácil aplicación en el campo es capaz de
decidir sobre la necesidad de la intervención o no de expertos que realicen un estudio exhaustivo. Es
frecuente que la primera valoración de la incidencia la realice personal técnico no especializado o no experto
en estabilidad de taludes y laderas, motivo por lo que se ha implementado esta aplicación, el índice ISTV,
cuyo acrónimo significa índice de Susceptibilidad de Taludes en Macizos Volcánicos.

El ISTV es un procedimiento de evaluación preliminar del grado de inestabilidad de un talud. Si el grado de


inestabilidad es superior a 2, se recomienda hacer un estudio más detallado. Para la aplicación del ISTV se
debe tener en cuenta lo siguiente:
- El grado de susceptibilidad indica la posibilidad de ocurrencia de fenómenos de inestabilidad en el
talud: a mayor grado, mayor probabilidad de inestabilidades.
- No es aplicable a taludes con pendiente <25º, ni a taludes formados por suelos o rocas muy
meteorizadas.
- La máxima puntuación del ISTV es 100.
- El ISTV es aplicable a los macizos A (rocas duras), B (Materiales piroclásticos de caída) o C
(secuencia de materiales de distinta competencia). En otro tipo de macizos no es aplicable. De las
opciones A, B o C solo podrá elegirse una de ellas.

Para los macizos de tipo A, se evalúa visualmente el grado de fracturación y el buzamiento de la estructura
geológica; para los macizos de tipo B se evalúa el grado de compactación o soldamiento de las partículas
entre si; y para los macizos de tipo C se evalúa el grado de erosión diferencial y la presencia de cornisas.
Además, para los tres tipos de macizos se valora la pendiente del talud, la cercanía a zonas costeras y la
presencia de indicadores de inestabilidad en el terreno y en infraestructuras (grietas, deformaciones,
desprendimientos, etc.). A cada uno de estos criterios se le asigna una puntuación cuya suma final nos
permitirá encuadrar la incidencia en uno de las 4 grados definidos en la tabla 5.

Tabla 5- Puntuación y valoración del índice ISTV.


Grado Puntuación ISTV Susceptibilidad
1  30 Baja
2  30  55 Moderada
3  55  80 Alta
4  80 Muy Alta

3.3.2 - Clasificación de unidades geotécnicas de los archipiélagos volcánicos de la Macaronesia

Se han clasificado todos los materiales geológicos que se pueden encontrar en los archipiélagos volcánicos
de la Macaronesia, en unidades geotécnicas a las que se les puede atribuir un comportamiento geomecánico
y geotécnico similar, con el fin de simplificar la gran variedad de materiales presentes en las islas. Tomando
como base la clasificación de unidades geotécnicas de Canarias (GETCAN-011), el grupo de expertos ha
elaborado la clasificación de Unidades Geotécnicas de la Macaronesia que se presenta en la figura 2.

Figura 2 – Clasificación de Unidades Geotécnicas de la Macaronesia.

80
CONFERÊNCIAS| 16 CNG
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3.3.3 - Tipos de inestabilidades de ladera que afectan a las unidades geotécnicas de la Macaronesia

A modo orientativo, se ha establecido que tipologías de inestabilidades son las características o habituales
de cada unidad geotécnica, para determinar el tipo de movimiento de ladera que podría afectar al talud o
ladera en cuestión. Empleando las tablas 6A y 6B, podemos realizar la “Estimación previa del tipo de
inestabilidad” que se indica en el diagrama de flujo de la figura 1 y así poder dirimir entre las dos opciones:
- “Caída de rocas, ir a diagrama de flujo 3”
- “Otro tipo: ir a diagrama de flujo 4”.

Tabla 6A- Tipos de inestabilidades habituales en las unidades geotécnicas de la Macaronesia


Tipo de Unidad
Descripción del movimiento Observaciones
inestabilidad geotécnica
Caída de bloques y "chineos"

I
Vb  Desprendimientos de
Vc bloques de tamaño
Vd decimétrico a métrico
por erosión de la matriz.
Ve  Caída de partículas de
Vf tamaño centimétrico a
Vg milimétrico (Chineo).
VI

Caídas por descalces

Erosión de los niveles


IVb piroclásticos o de
niveles escoriáceos de
V
coladas basálticas "aa",
que provocan caída por
X descalce de prismas
rocosos.

Desprendimientos

Vuelcos

II
III  Vuelco de prismas
rocosos aislados por
IVa
diaclasado de
IVb retracción.

Colapsos

 Colapso de tubos o
cavidades formadas en
IVa
el seno de lavas
"pahoehoe".

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Tabla 6B- Tipos de inestabilidades habituales en las unidades geotécnicas de la Macaronesia


Tipo de Unidad
Descripción del movimiento Observaciones
inestabilidad geotécnica
I
II
III  Puede afectar a cualquier
IV unidad geotécnica, que
Deslizamientos
V se moviliza a favor de
traslacionales en
VI una superficie plana de
rocas o suelos debilidad o de una
VII
VIII discontinuidad.
IX
X

Suelos Rocas
 Son más frecuentes en
I suelos cohesivos.
II  También en macizos
III rocosos blandos o con
Deslizamientos IV alto grado de
rotacionales V fracturación o alteración,
VI donde las
VIII discontinuidades no
IX constituyen superficies
de debilidad preferentes.

II  Movimiento de grandes
III masas de roca, que
forman depósitos
IVa
Avalanchas caóticos y masivos, con
IVb
rocosas megabloques de
Va estructuras volcánicas
Ve originales y facies de
Vh matriz.

 Se dan en materiales
predominantemente
finos y homogéneos,
VIII
Flujos de barro ocasionados por la
IX
pérdida de resistencia
del material por su
saturación en agua.

 Depósitos de
VI granulometría diversa
Flujo de tierra y
VII (finos y gruesos) que se
derrubios movilizan por acción del
XI
agua.

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CONFERÊNCIAS| 16 CNG
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3.3.4 - Clasificación geomecánica para macizos rocosos volcánicos

Las clasificaciones geomecánicas de macizos rocosos son herramientas muy utilizadas por los profesionales
para la obtención de parámetros geomecánicos necesarios en el proyecto y diseño en la ingeniería de
taludes. Con frecuencia, las clasificaciones disponibles resultan poco prácticas en los terrenos volcánicos,
pues no llegan a recoger todas las singularidades de este tipo de materiales, por lo que su aplicación, aunque
útil, tiene un éxito parcial. Por tal motivo, el proyecto MACASTAB pretende poner a disposición de los técnicos
una clasificación geomecánica exclusiva para macizos rocosos volcánicos. Este trabajo ha sido encomendado
a un equipo de expertos del Laboratorio de Geotecnia del CEDEX (Ministerio de Fomento, Gobierno de
España), integrado por el Dr. Mauro Muñiz y D. Javier González-Gallego. Estos expertos han ideado una
clasificación (Muñiz & González-Gallego, 2018) que permite valorar la estabilidad de taludes en macizos
rocosos volcánicos a partir de un conjunto de parámetros que están siendo verificados con la práctica. Los
parámetros empleados han sido los siguientes:
- Resistencia de la roca
- Tamaño de bloque
- Estado de las juntas
- Índice de heterogeneidad (IH)
- Altura del talud
- Ángulo del talud
- Regularidad de la cara del talud
- Tamaño del bloque inestables
- Espesor de las capas
- Buzamiento de las juntas

Con una configuración similar al RMR (Bieniawski, 1989), los autores asignan un valor numérico a la
valoración de cada parámetro, para sumarlos todos y obtener un número final para el talud estudiado. Con
el número obtenido, se puede establecer el grado de estabilidad del talud aplicando la tabla 7.

Tabla 7- Grados de estabilidad de taludes (Muñiz & González-Gallego, 2018)


Puntuación obtenida Grado de estabilidad Características
Taludes totalmente estables, sin ningún signo de estabilidad
100-80 I visible ni depósitos de ningún tipo en su pie. Estos taludes no
presentarán bloques sueltos ni caídas, incluso ligeras, de cantos.
Taludes estables, sin ningún signo de inestabilidad importante,
80-60 II
más allá de leves acumulaciones de depósitos finos en su pie.
Taludes que presenten algún tipo de inestabilidad de escasa o
media importancia como: bloques caídos de tamaño decimétrico,
60-40 III
o presencia de paquetes en voladizo.
El grado de estabilidad II será
Taludes con evidentes signos de inestabilidad como: bloques
caídos de gran tamaño, bloques en situación inestable en la
40-20 IV
ladera, importantes grietas en coronación, signos de eventos
recientes de rotura.
Taludes en los que ya se haya producido algún fenómeno
20-0 V
importante de inestabilidad.

AGRADECIMENTOS

Al Programa de Cooperación INTERREG V-A España-Portugal MAC (Madeira-Azores-Canarias) 2014-2020,


que ha financiado a través de los Fondeos FEDER el proyecto MACASTAB (código MAC/3.5b/027).

A la Consejería de Obras Públicas y Transporte del Gobierno de Canarias, que promovió, coordinó y financió
la guía GETCAN-011 y lidera el proyecto MACASTAB.

Al Instituto Volcanológico de Canarias, INVOLCAN, adjudicatario del contrato para la elaboración de los
documentos del proyecto MACASTAB, trabajo que realiza a través de sus expertos, el Dr. Luis I. González
de Vallejo y Dª Ana Miranda Hardisson.

A los socios del proyecto MACASTAB: el Laboratorio Regional de Ingeniería Civil de la Región Autónoma de
Azores, el Laboratorio Regional de Ingeniería Civil de la Región Autónoma de Madeira y la Universidad de
Cabo Verde.

Al Laboratorio de Geotecnia del CEDEX, Ministerio de Fomento, Gobierno de España, especialmente a sus
expertos, la Dra. Aurea Perucho, el Dr. Mauro Muñiz y D. Javier González-Gallego.

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CONFERÊNCIAS| 16 CNG
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A la empresa Trazas Ingeniería S.L., adjudicataria de la redacción de la guía GETCAN-011, y a su equipo de


expertos integrado por el Dr. Claudio Olalla Marañón, el Dr. José Antonio Rodríguez Losada y Dª Silvia
Hernández Fernández.

Al Profesor Alcibíades Serrano González, por sus brillantes aportaciones a la Geotecnia de los materiales
volcánicos y por su apoyo a los proyectos desarrollados por el Gobierno de Canarias en esta materia.

REFERENCIAS

Barrera Morate, J.L. & García Moral, R. (2011). Mapa Geológico de Canarias. GRAFCAN. Santa Cruz de Tenerife.

Bieniawski, Z. T. (1989). Engineering rock mass classifications: a complete manual for engineers and geologists in
mining, civil and petroleum engineering: John Wiley & Sons, cop.

CTE (2006). Código Técnico de la Edificación. Documento Básico de Seguridad Estructural, Cimientos (DB SE-C).

Gobierno de Canarias GETCAN-011 (2011). Guía para la Planificación y la Realización de Estudios Geotécnicos para la
Edificación en la Comunidad Autónoma de Canarias, GETCAN-011.

Gobierno de España. (2006) – R.D. 314/2006, de 17 de marzo, por el que se aprueba el Código Técnico de la Edificación,
CTE. BOE núm. 74, de 28 de marzo de 2006, pp. 11816–11831.

Muñiz Menéndez, M. & González-Gallego, J. (2018) “A simple methodology for hazard assessment of slopes in volcanic
rocks from the Canary Islands: First steps. MACASTAB project” Geomechanics and Geodynamics of Rock Masses.
Proceedings of the 2018 European Rock Mechanics Symposium (EUROCK 2018, Saint Petersburg Russia, 22-26
May 2018).

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Influência da forma da bacia de recalques na avaliação da segurança de


escavações subterrâneas

Tarcísio B. Celestino

Tradicionalmente, curvas de Gauss invertidas têm sido adotadas para ajustar bacias de
recalques decorrentes da escavação de túneis. O ajuste de tais curvas é melhor em solos
argilosos e em túneis mais profundos. Em outras situações, a qualidade dos ajustes pode não
ser boa, comprometendo a estimativa de distorções angulares impostas ao maciço pela
escavação. Isto pode afetar negativamente a avaliação de segurança das escavações e o grau
de dano provocado a edificações lindeiras. Depois da proposição de curvas tipo Yield Density
(YD) para bacias de recalques, surgiram na literatura proposições de outras curvas para a
mesma finalidade. Dados de ensaios recentes em centrífugas e de instrumentação de
qualidade em túneis escavados em areia têm mostrado que as curvas YD continuam a ser as
que melhor se ajustam a leituras de recalques.

Serão mostrados exemplos de erros potenciais na avaliação de segurança de escavações


quando se adotam curvas Gaussianas bem como na estimativa de danos a edificações
lindeiras.

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THE INFLUENCE OF OBSTACLES IN DEBRIS-FLOW DYNAMICS: THE CASE


STUDY OF CANCIA (ITALIAN DOLOMITES)

Manassero, Mario; Politecnico di Torino, Torino, Italy, mario.manassero@polito.it


Pirulli, Marina; Politecnico di Torino, Torino, Italy, marina.pirulli@polito.it
Terrioti, Carmine; Geotechnical Engineering, Torino, Italy, carmine.terrioti@geotechnical-engineering.com

ABSTRACT

The village of Cancia, close to Cortina d’Ampezzo (Italian Dolomites), is hit by destructive debris-flows for
a long time, a storage basin delimited by natural and gabion barriers was built in 2000 as temporary
mitigation structure, while waiting for a permanent structure. In 2009 a severe event caused the partial
collapse of the gabion barriers and the consequent death of two people in a downstream located house.
The present paper analyses through numerical modelling if there was a role of the abandoned building in
the defining the flow dynamics and main trajectory and which was the storage basin effectiveness and
retention capacity. Obtained results underline that an adequate and rational design of mitigation
structures against rapid flow-like landslides, like debris-flows, is fundamental to guarantee risk reduction.

1- INTRODUCTION

Debris-flows are one of the most frequent mass movement processes and occur in all regions with steep
relief and at least occasional rainfall. They are a mixture of saturated non-plastic debris flowing in a steep
channel (plasticity index < 5 percent in sand and finer fractions) (Hungr et al., 2001). A debris flow event
may occur in a series of surges, ranging in number from one to several hundred. A distinguishing
characteristic of this type of flow-like movements is the presence of a certain degree of rough sorting,
which tends to bring the largest clasts close to the flow surface producing inverse grading (Costa, 1984).
The same process, combined with a strong velocity vertical gradient, also leads to longitudinal sorting and
the building of an accumulation of boulders and timber debris near the front of the surge (Pierson, 1980;
Iverson, 1997). As a result of the surging behavior and the building of coarse surge fronts, peak discharges
of debris flows are up to 40 times greater than those of extreme floods (Van Dine, 1985; Hungr, 2000).
This gives debris flows a high destructive potential.

An essential aspect of debris-flow risk management is the design of mitigation measures which reduce the
existing risk to an accepted level of residual risk, by reducing the potential damage that the moving mass
can produce in terms of loss of human life and destruction of structures and infrastructures. Discussion of
various types of mitigation structures can be found in several sources within the technical literature (e.g.
Hungr et al 1984; Huebl and Fiebiger 2005). Among these, transverse retention structures can be used to
delimit storage basins and prevent dangerous debris-flows from reaching high-consequence areas
(Volkwein et al., 2011; Wendeler and Volkwein, 2015).

Due to the enormous impact forces that debris-flows can exert on obstacles in their path, a reasonable
planning requires that dynamic stresses have to be taken into account during the structural designing
process, regardless of the complete (solid body barrier) or partial (open barrier) retention function that the
type of selected structure can exert on the flowing mass. Equations to aid in their design have been outlined
by various Authors (e.g. VanDine 1996; Lo 2000; Vagnon and Segalini, 2016).

A contribution to the knowledge of retention structures effectiveness and evaluation of dynamic stresses at
which they are subjecjed can be obtained through numerical modelling that allows to investigate the
dynamics of these natural phenomena, within realistic geological contexts, and their interaction with
retention structures. In this framework, continuum dynamic modelling has emerged as a useful tool for
landslide runout analysis and risk assessment. With increasing attention and coinciding advances in
computational capabilities, a large number of models have been developed or are currently in development
(e.g., Iverson and Denlinger 2001; Pitman and Le 2005; Pudasaini et al. 2005; Pirulli 2005). Several of
these models have included innovations that have significantly advanced both our ability to simulate real
events and our fundamental understanding of rapid landslide processes (McDougall et al., 2008).

In the present paper, the numerical code RASH3D (Pirulli, 2005), based on a continuum mechanics approach
and on the long wave approximation, has been selected and used to back-analyse the debris-flow event that
occured in July 2009 closed to the village of Cancia, near Cortina d’Ampezzo (Italian Dolomites). Since this
area is hit by destructive debris-flows for a long time, a storage basin delimited by a compacted soil
embankment surmounted by gabion barriers was built in 2000 as temporary mitigation structure, while
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waiting for a permanent structure. In 2009 a severe event caused the partial collapse of the gabion barriers
and the consequent death of two people in a house located downstream of the retention structure.
Numerical modelling carried out with the RASH3D was aimed to analyse if there was a role of an
abandonded building, located in the storage basin, on the 2009 flow dynamics and trajectory and which
was the effectiveness and retention capacity of the existing storage basin.
After a brief description of the numerical model main characteristics and of the Cancia case study, a
description of numerical results is given.

2 - NUMERICAL MODEL

RASH3D is the last update of a code (SHWCIN) that was originally worked out by Audusse et al. (2000)
and Bristeau et al. (2001) to model hydraulic problems with shallow water equations using a finite volume
scheme. It was first extended to simulate dry granular flows by Mangeney-Castelnau et al. (2003) and then
updated to enable simulation of motion across irregular 3D terrain and selection of more than one rheology
by Pirulli (2005). Through constant improvements, the entrainment process (Pirulli and Pastor, 2012) and
the change of the flow rhelogical properties (Pirulli, 2010) along the runout path have progressively been
implemented in RASH3D.

2.1 - Balance equations

The classical shallow-water assumptions are used to derive the governing equations: (i) the depth and
length of a flowing mass are usually large compared to the characteristic dimension of the particles involved
in the movement (ii) the vertical structure of the flow is much smaller than the characteristic length, (iii)
the material is incompressible, and (iv) the flow surface is stress free (McDougall and Hungr, 2004). The
resulting depth-averaged (St. Venant) shallow water equations are as follows:
𝜕ℎ 𝜕(𝑣𝑥ℎ) 𝜕(𝑣𝑦ℎ) 𝜕𝑧 [1]
+ + =
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑡

𝜕 (𝑣𝑥ℎ)
+
𝜕(𝑣𝑥2 ℎ)
+
𝜕(𝑣𝑥𝑣𝑦ℎ)
+
2
𝑧 ℎ ⁄2)
𝜕(𝑔
= 𝑇+ 𝑔 ℎ
1 [2]
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜌 𝑥 𝑥

𝜕(𝑣𝑦ℎ)
+
𝜕(𝑣𝑥𝑣𝑦ℎ)
+
𝜕(𝑣2𝑦ℎ)
+
𝜕(𝑔𝑧ℎ2⁄2)
= 𝑇 +𝑔 ℎ
1 [3]
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜌 𝑦 𝑦

where h is the depth of the flow, v=(vx,vy) denotes the depth-averaged flow velocity, T=(Tx,Ty) is the
traction vector, g=(gx,gy,gz) is the gravity vector, (𝜕𝑧⁄𝜕𝑡) is the time rate of bed erosion or “entrainment
rate”, that is the rate at which path material is added to the moving mass, t is time,  is the mass density.

2.2 - Rheological laws

The frictional rheology originally was the only rheology implemented in the RASH3D code. But, analyses of
debris-flows carried out with a frictional rheology frequently result in a large overestimation of velocity and
sometimes in an unrealistic behaviour of the mass (e.g. Pirulli and Sorbino, 2008).

Even if the Voellmy rheology was initially developed for snow avalanche propagation, it has been
successfully applied to debris flow propagation by many Authors (e.g. Rickenmann and Koch, 1997). That
is way it was also implemented in RASH3D (Pirulli and Mangeney, 2008) and used here for the analysis of
the Cancia study case.

The Voellmy flow relation consists of a turbulent term (), which accounts for velocity-dependent friction
losses, and a Coulomb or basal friction term (=tan). When adopting the Voellmy law, the friction slope
components are the following:
2
𝑣𝑖
𝑇𝑖 = − (𝜌𝑔 𝑧ℎtan𝜑+𝜌𝑔 𝑧𝑣 )𝑖 ‖𝑣‖
[4]
𝜉

where  is the bulk basal friction angle; the other terms have already been defined.

2.3 - Numerical solver

Within the proposed code, the system of equations is discretized on a general triangular grid with a finite
element data structure using a particular control volume which is the median based dual cell. Dual cells Ci
are obtained by joining the centres of mass of the triangles surrounding each vertex Pi (Figure 1).
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Figura 1 - Finite Volume Method: Ci dual cell, ij boundary edge belonging to cells Ci and Cj, nij unit normal to ij
outward to Ci (modified after Mangeney et al. 2003).

In this frame, Equations [1]-[3] can be rewritten in their conservative form and integrated in time and over
an arbitrary dual cell Ci as
𝑡𝑛+1 𝑡𝑛+1 𝑡𝑛+1
∫ ∫ 𝜕𝑼 𝑑𝐶𝑑𝑡 + ∫ ∫ ∇ ∙ 𝑭(𝑼)𝑑𝐶𝑑𝑡 = ∫ ∫ 𝑩(𝑼)𝑑𝐶𝑑𝑡 [6]

𝑡𝑛 𝐶𝑖 𝜕𝑡 𝑡𝑛 𝐶𝑖 𝑡𝑛 𝐶𝑖

where

ℎ𝑣𝑥 ℎ𝑣𝑦 𝐸𝑡
ℎ 2 𝑔𝑧ℎ2 ℎ𝑔 + 1 𝑇
𝑼 = [ℎ𝑣𝑥] 𝑭(𝑼) = ℎ𝑣𝑥 + ℎ𝑣𝑥𝑣𝑦 𝑩(𝑼) = 𝑥
2 𝜌𝑥
ℎ𝑣𝑥 𝑔𝑧ℎ2 1
[ ℎ𝑣𝑥𝑣𝑦
2
ℎ𝑣𝑦 + 2 ] [ℎ𝑔𝑦 + 𝜌 𝑇𝑦]

Applying Gauss theorem and discretizing Eq.[6] results as


∆𝑡𝐿𝑖𝑗
𝑼𝑛+1 = 𝑼𝑛 − ∑ 𝑭(𝑼𝑛, 𝑼𝑛, 𝒏 ) + ∆𝑡 ∫ 𝑩(𝑼)𝑑𝐶 [7]

𝑖 𝑖 𝑗𝜖𝐾𝑖 |𝐶 | 𝑖 𝑗 𝑖𝑗 |𝐶𝑖| 𝐶𝑖
𝑖

where Ki is the set of nodes Pj surrounding the node Pi, |Ci| is the area of Ci, Lij is the length of the boundary
edge ij that divides cell Ci from Cj (Figure 1). 𝑭(𝑼𝑛𝑖 , 𝑼𝑛𝑗 , 𝒏𝑖𝑗) denotes an interpolation of the normal
component of the flux 𝑭(𝑼)𝒏𝑖𝑗 along the boundary edge ij and t is the time step (tn=nΔt).

3 - THE CANCIA STUDY CASE

The study area is called Ravina di Cancia and is located in the municipality of Borca di Cadore (Belluno,
Dolomites, Northeast Italy). Because of the large number of flow events that have historically occurred, a
combination of land use planning and structural measures has been progressively adopted to mitigate the
existing risk for the village of Cancia located in the valley bottom (Figure 2).

The basin that drains this area covers a surface of about 1.8km2. Its main channel, namely Ravina di
Cancia, has a length of about 2400m with a mean slope of about 20°. It originates at the feet of the Salvella
Fork (2500m a.s.l.) and ends in a storage basin (low deposition area) at 1005m a.s.l.. At the confluence
with the Bus del Diau torrent (1335 m a.s.l.), the Ravina di Cancia pattern intersects a flat area (high
deposition area) that was specifically built to divert and slow down flow events (Figure 2).

No sediments usually cumulate along the Bus del Diau, while debris are widely present in the upper part of
the Ravina di Cancia. Such debris is systematically mobilized during rainfall events in the form of flow-like
landslides, like debris flows. During an event, the Bus del Diau contribution usually consists in supplying
additional water to the solid-fluid mixture that moves through the Ravina di Cancia towards the urban area
of Cancia.

The first and largest (about 100.000m3) documented event occurred in this area dates back to 1868. Since
then, successive large and small events (Table 1) result, which have in some cases damaged the existing
houses and infrastructures. The most critical recent event occurred in 2009, when two people were killed
by the flowing mass. This event will be discussed in detail in Section 3.1.

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Figure 2 – General scheme of the Ravina di Cancia study area

Table 1- Main documented debris flow events occurred in Ravina di Cancia


Date Volume [m3]
27/07/1868 >100.000
27/05/1957 25.000
05/11/1966 25.000
19/07/1987 >10.000-15.000
02/07/1994 25.000-30.000
07/08/1996 40.000-60.000
16/08/1999 6.000-7.000
01/08/2002 800
04/09/2005 900
18/07/2009 10.000-25.000
26/07/2013 9.340
19/08/2013 5.000
23/07/2015 14.700

3.1 - Description of the 2009 Cancia debris flow

The catastrophic flow-like movement that occurred on the night between 17 and 18 July 2009 was triggered
by heavy but not exceptional rainfall. During its movement towars the bottom of the valley, the mobilized
mass, which triggered from the upper part of the Ravina di Cancia channel and the Bus del Diau (Figure
2), extensively eroded edges and bottom of the runout channel. Along the runout path, some gabion
barriers located upstream (1013m a.s.l.) and at the end (1001m a.s.l.) of a storage basin, which was built
in 2000 to protect the Cancia village, partially collapsed (Figure 3).

The partial collapse of the 1001m a.s.l. gabions allowed the mass to continue its running downstream and
impact against an house located along its main propagation trajectory. Two people sleeping in the house
were killed by the impact of flowing mass (Figure 3).

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Figure 3 – Aerial phototography of the storage basin and the two partially collapsed gabion barriers.

In order to evidence to role played by an abandoned building (Mi.No.Ter. in Figure 3) existing inside the
storage basin and the presence of the storage basin itself in the flow main trajectory and dynamics, a set
of numerical analyses in presence and absence of the Mi.No.Ter. have been first carried out. Then, the role
of the storage basin itself has been analysed running analyses in presence and absence of this retention
basin.

3.2 - Description of the numerical model

Three steps are necessary to run numerical analyses with RASH3D:

1. Uploading the topography of the study area as a digital elevation model (DEM). For the analysed
case, the LIDAR surveys carried out in 2008 by the Ministry for the Environment and Protection of
the Territory and the Sea as part of the Extraordinary Plan of Remote Sensing were acquired. The
data provide information on a square mesh of 1m x 1m side and have very high precision ( 15cm
for the height and  30cm in the plan). This topographic base (Figure 4) was used for all the
analysed evolution scenarios (Table 2).

2. Determining the landslide initial volume and position. According with other Authors (e.g. Cascini,
2011), a volume V = 30,000 m3 was released starting from the confluence of Ravina di Cancia with
Bus del Diau torrent at 1335m a.s.l (Figure 4).

Figure 4 – Triggering volume (blue area) superimposed to the LIDAR 2008 as used in RASH3D numerical simulations.

90
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3. Selecting the rheological law and calibrating its parameters. According to the Authors experience,
the literature on numerical simulation of debris-flows and the characteristics of the flow events in
the study area, the Voellmy rheology was selected for modeling the flow dynamics. Calibration of
the rheological parameters was based on the parameter combination (,) that better reproduces
velocity and deposit depth distribution of the event occurred in 2009. The best fit parameters
resulted a friction coefficient () equal to 0.1 and a turbulence coefficient () equal to 300m/s2. A
comparison between numerical simulations with the above calibrated parameters and survey data
collection is presented in Figure 5.

Figure 5 – Comparison of deposit depth distribution as surveyed on site (a) and simulated with RASH3D (b) for
calibration of the Voellmy rheology parameters ( = 0.1;  =300m/s2).

4 - NUMERICAL RESULTS

In consideration of the consequences that the event of 18 July 2009 produced, the numerical modeling
described in this section was carried out with the aim of highlighting the role of the Mi.No.Ter building
(Figure 3) on the dynamics of the event occurred and on the impact of the flowing mass on the house
located downstream of the storage basin. Two different scenarios where then analysed:

- Scenario A. Presence of the Mi.No.Ter building in the storage basin;

- Scenario B. Absence of the Mi.No.Ter builing in the storage basin.

The comparison of numerical results obtained with the two scenarios is presented in Figure 6.

Figure 6 – Comparison between (a) scenario A and (b) scenario B numerical results in terms of flow depth distribution
obtained with RASH3D. Red arrow indicated the house impacted by the flow, where two people died. Red square
indicate flow depth where the flow impacted the house.

It can be observed that the demolition of the Mi.No.Ter. building would not have prevented the mass from
exiting the storage basin (Fig. 6b, Scenario B). However, in this latter situation, the quantity of material

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that would have escaped and impacted the inhabited center would have been smaller and, in particular, the
consequences for the mainly impacted house would have been much less severe. The maximum impact
heights on the house (highlighted with red squares in the legend of Figure 6a and 6b) would have gone
from a maximum value up to 2m (Fig. 6a, Scenario A in the presence of Mi.No.Ter.) to a maximum value
up to 1.4m (Fig. 6b, Scenario B in the absence of Mi.No.Ter.). Because of the height from the ground to
which the windows of the considered house are located, a reduction in the impact thickness would have led
to a more contained inflow of material in the house and possibly resulting in very different consequences
for the people sleeping inside.

4.1 - Analysis concerning the storage basin

With the aim of evaluating the effectiveness of the storage basin, a further analysis was carried out using
the Regional Technical Map (CTR) 1:5000 of 1999 as topographic basis. The use of the CTR allowed to
simulate the evolution of the phenomenon on the configuration that the slope had before the construction
of the storage basin. In this case, the demolition of the Mi.No.Ter building was not considered, as it is
believed that this possibility would not have been taken into consideration in the absence of the construction
of the storage basin.

The results obtained (Figure 7) show that the event of 18 July 2009 would have had minor consequences
for the house where two people died in 2009. In fact, the distribution of the flow over a larger area would
have determined lower impact heights on the considered building.

Figure 7 – Numerical results in terms of flow depth distribution obtained with RASH3D in absence of the storage basin.
Red arrow indicates the house impacted by the flow in 2009, where two people died.

5 - CONCLUSIONS

The July 2009 debris-flow at Ravina di Cancia caused the death of two people. Since debris-flows regularly
occur in this area, a structural mitigation system for vulnerability reduction of the inhabited area located in
the valley bottom was progressively built over time.

Through numerical modelling with the continuum mechanics based numerical code RASH3D, this paper
aims at investigating the role of a storage basin located in the valley bottom and of an abandoned building
located inside the storage basin on the dynamics and trajectory of the event that occurred on July 2009.

After the code calibration, on the basis of the deposit shape and depth distribution surveyed on site for the
2009 event, different evolution scenarios have been numerically investigated.

A first set of analyses has focused on the role of the abandoned building Mi.No.Ter., located in the storage
basin, on the flow trajectory and impact depth on the house where two people died. To this aim, simulations
in presence and absence of the abandoned building were carried out and results compared. It resulted that
the absence of the building would not have prevented the mass from exiting the storage basin. But, without
the abandoned building the impact depth of the flowing mass would have decreased from about 2m to
1.4m. This would have led to a more contained inflow of material in the house.

92
CONFERÊNCIAS| 16 CNG
_____________________________________________________________________________________

A second set of analyses has investigated the effectiveness of the storage basin in contrasting the flowing
mass propagation and reducing the impact on the downstream inhabited area. A comparison between
numerical results on a topography that includes or not the storage basin geometry evidenced that in the
absence of the storage basin the impact of the 18 July 2009 event would have had minor consequences for
the house where two people died. The distribution of the flow over a larger area would have determined
lower impact heights on the considered building.

Obtained results underline that even if the complex dynamics of flow-like landslides makes of this type of
natural event a complex phenomenon to be modelled, its comprehension is fundamental to properly design
mitigation measures for controlling and reducing the effects of the flow impact against existing
infrastructures and inhabited environments.

Furthermore, it results that a rational design of mitigation structures against rapid flow-like landslides is
necessary to guarantee their effectiveness in contrasting damages and casualties.

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ENCOSTAS E

TALUDES
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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE EM SOLO GNÁISSICO EM ÁREA


URBANA

STABILITY ANALYSIS OF A GNEISS RESIDUAL SOIL SLOPE IN AN URBAN


AREA

Coêlho, Douglas José; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, douglas.j.coelho@ufv.br


Ganem, João Lucas Lima Aquino; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil,
j.lucas_ganem@hotmail.com
Landim, Mateus de Paula; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, mateus.landim@ufv.br
Marques, Eduardo Antonio Gomes; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, emarques@ufv.br
Rangel, Luiz Vinícius; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, luiz.rangel@ufv.br

RESUMO

Os deslizamentos de encostas em áreas urbanas são recorrentes no Brasil, sendo, muitas vezes,
responsáveis por vítimas fatais. Por si só, são fenômenos naturais que podem ocorrer em qualquer local
de alta declividade. Além disso, é certo dizer que em uma escala de tempo geológica (milhares de anos)
todas as encostas sofrerão um deslizamento. Tem-se como um fator acelerador desse processo a ação
humana, seja pela remoção da vegetação ou ocupação desordenada do espaço. No presente trabalho,
apresentam-se os resultados para a análise de estabilidade de um talude localizado no bairro de Nova
Viçosa, Viçosa-MG, o qual apresenta um relevo acidentado, o que, aliado a um processo de ocupação
desordenada resultou no surgimento de uma área de risco de movimentos de massa. A realização de
sondagem de reconhecimento da área resultou em dois tipos de solo: siltoso, localizado na parte superior,
e arenoso, localizado na parte inferior. A partir de ensaios de laboratório determinou-se, para os solos
siltoso e arenoso, no estado natural e inundado, a coesão, o ângulo de atrito e o peso específico natural,
parâmetros quais, juntamente com o perfil do terreno, obtido através de levantamento topográfico,
serviram como dados de entrada do programa de análise de estabilidade Slope/W.

ABSTRACT

Slope landslides in urban areas are recurrent in Brazil, and are often responsible for fatalities. Slope
landslides are a natural phenomenon that can occur in any place of high inclination. In addition, it is
possible to state that in a geological time scale (thousands of years) all the slopes will undergo a
landslide. Human action is an accelerating factor of this process, either by the removal of vegetation or
disordered occupation of space. In the present work, the results are presented for the stability analysis of
a slope located in the neighborhood of Nova Viçosa, Viçosa-MG, which presents a rugged relief, which,
together with a disordered occupation process, resulted in the emergence of an area of risk of mass
movements. Field investigation conducted in the area revealed two types of gneiss residual soils: silty,
located at the top; and sandy, located at the bottom. Cohesion, friction angle and natural specific gravity,
which were determined for the soils in the natural and flooded state, together with the terrain profile
obtained by topographic survey, served as input data for carrying out stability analysis with Slope/W
software.

1- INTRODUÇÃO

O crescimento acelerado da ocupação em áreas urbanas associado às características do relevo de


algumas regiões do Brasil torna inevitável a ocupação de áreas de encostas naturais para a implantação
de moradias e empreendimentos. Regiões de topografia mais acidentada e impróprias à ocupação
comumente dão origem a bairros habitados por famílias de baixa condição social que recorrem a essas
áreas pelos baixos valores dos terrenos ou até mesmo através de invasões. Assim, na maior parte dos
casos, essas ocupações ocorrem de forma desordenada, sem atender aos critérios de segurança e sem o
devido acompanhamento e permissões dos órgãos públicos.

A ocupação de áreas de risco resulta no surgimento cada vez mais frequente de problemas de
instabilidade de encostas, os quais têm potencial para provocar acidentes catastróficos com danos e
perdas de caráter social, econômico e ambiental. Épocas chuvosas com elevado índice pluviométrico têm
se tornado verdadeiros tormentos para a população, pois são nesses períodos quando as encostas ficam
mais suscetíveis a escorregamentos devido ao aumento do excesso de poro-pressão que provoca redução
da resistência do solo ao cisalhamento.

Atento a esta situação e a fim de promover uma política de gerenciamento de riscos, o Ministério das
Cidades do governo brasileiro elaborou uma metodologia nacional que permite um mapeamento menos

97
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

complexo para a determinação e hierarquização de áreas de risco (Brasil, 2007). Essa metodologia foi
aplicada à área urbana de Viçosa e permitiu a identificação de diversas áreas classificadas como de alto
risco a movimentos de massa. Uma destas áreas foi selecionada para a realização de um estudo mais
detalhado, envolvendo análise de estabilidade da encosta.

Neste contexto, o presente artigo tem como objetivo avaliar as condições de estabilidade de uma encosta
situada no bairro Nova Viçosa, no município de Viçosa, Minas Gerais, presente em uma área classificada
como de alto risco geológico-geotécnico de movimento de massa. Esta análise servirá como auxílio para o
desenvolvimento de uma solução para mitigar a instabilidade do local, caso se demonstre necessário.

2- METODOLOGIA

2.1 - Descrição da Área de Estudo

O processo de ocupação da área do bairro de Nova Viçosa, no município de Viçosa, Minas Gerais, iniciou-
se no ano de 1978 através da venda de alguns lotes e doação de outros pelo senhor Antônio Chequer
(Silva, 2014). O local, atualmente, dispõe de infraestrutura básica, como rede de abastecimento de água,
rede de esgoto, rede elétrica, iluminação pública e pavimentação, assim como edifícios para o
funcionamento de serviços públicos, como posto de saúde e escolas.

Segundo o censo demográfico do IBGE do ano de 2010, o bairro possui uma população de 4.867
moradores divididos em 77 ruas, 3.034 lotes e 1500 domicílios. A topografia é em maior parte acidentada
e as residências, em sua grande maioria, construídas pelo sistema de autoconstrução.

Roque e Marques (2015) avaliaram as condições de uso do solo, definiram e hierarquizaram as áreas de
risco geológico-geotécnico de movimentos de massa no bairro Nova Viçosa (Viçosa-MG) com enfoque na
identificação de áreas de risco de movimentos de massa, aplicando uma metodologia nacional proposta
pelo Ministério das Cidades. Por meio de visitas técnicas e levantamento de informações, os autores
determinaram o grau de risco de diversos pontos dentro do bairro e delimitaram as áreas de risco
utilizando de cores semafóricas para sua caracterização, sendo (Verde - Baixo Risco), (Amarelo – Médio
Risco) e (Vermelho – Alto Risco) (Figura 1).

Figura 1 - Mapa de risco de escorregamento do Bairro Nova Viçosa. Viçosa-MG (Roque e Marques, 2015)

98
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2.2 - Descrição do problema

O caso apresentado neste artigo é relativo aos indícios de movimentação de massa de solo identificados
em uma encosta localizada às margens da rua Chotaro Shimoya, no bairro de Nova Viçosa (Viçosa-MG).
No estudo conduzido por Roque e Marques (2015), abordado previamente, esta encosta encontra-se
parcialmente dentro da área delimitada pela cor vermelha, indicando ser de Alto Risco (R3).

A face da encosta é coberta por gramíneas e, devido à sua declividade considerável, não há residências
assentadas sobre a encosta, podendo estas serem encontradas apenas ao pé da mesma. Os indícios de
instabilidade do local foram percebidos ao se observar o afundamento e trincamento do pavimento da
rodovia que está assentada sobre a parte alta da mesma, como visto na Figura 2.

Figura 2 - Indícios de movimento de massa observados na via pública sobre a encosta

2.3 - Caracterização da área da encosta

2.3.1 - Levantamento planialtimétrico

O levantamento topográfico da encosta foi realizado utilizando-se de um equipamento Laser Scanner


operado por funcionários do setor de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica do Departamento de
Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa. Como auxílio, utilizou-se um modelo digital de
superfície gerado a partir de fotografias aéreas obtidas com veículo não tripulado, o qual foi
disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Viçosa.

2.3.2 - Caracterização geológico-geotécnica

Os trabalhos iniciaram-se com visitas a campo a fim de efetuar um levantamento geológico-geotécnico


das condições do local, tal como definir os ensaios de caracterização do solo e a localização dos pontos de
extração de corpos de prova necessários. Com intuito de determinar o perfil geológico do solo optou-se
por realizar a investigação do subsolo através de sondagens a trado mecânico.

As amostras para a realização de investigações laboratoriais foram coletadas e preparadas conforme a


ABNT NBR 6457:1986. Os ensaios de laboratório consistiram da caracterização física pela análise táctil-
visual, conforme a ABNT NBR 7250:1982, pelo ensaio de análise granulométrica, conforme a ABNT NBR
7181:2016, e determinação da massa específica dos grãos, conforme a ABNT NBR 6508:1984.

Após a determinação do perfil geológico e a identificação de duas camadas diferentes de solo procedeu-
se a extração das amostras indeformadas de ambos os solos, residual jovem e residual maduro. Para a
extração de duas amostras de cada solo utilizou-se cilindros de PVC de 200 mm de diâmetro e 300 mm
de comprimento. A partir das amostras indeformadas de cada tipo de solo preparou-se quatro corpos de
prova para a execução dos ensaios de cisalhamento direto utilizando tensões normais de 50, 100, 150 e
200 kPa na condição natural, seguindo as recomendações da norma técnica ABNT NBR 11682:2009. Além
disso, após a ruptura de cada corpo de prova, inundou-se o solo e continuou-se o ensaio para tentar
simular o efeito de saturação do solo durante o período das chuvas. De posse dos resultados destes
ensaios, determinou-se as envoltórias de resistência do solo em condição natural e inundada.

99
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2.3.3 - Análise de estabilidade do talude

A estabilidade do talude foi avaliada através do método do equilíbrio limite de Morgenstern e Price (1965),
o qual utiliza uma metodologia analítica bidimensional, o qual admite superfícies de deslizamento
circulares e não circulares. Este método de equilíbrio limite foi escolhido por se tratar de um método mais
rigoroso quanto à análise de esforços entre as lamelas, considerando tanto o equilíbrio de forças verticais
e horizontais quanto o equilíbrio de momentos.

A análise computacional foi realizada através do software Slope/W considerando as hipóteses descritas
acima, utilizando a geometria do problema obtida pelo levantamento planialtimétrico da encosta e os
parâmetros geotécnicos obtidos nos ensaios de laboratório (peso volúmico do solo (), coesão (c) e
ângulo de atrito (), das camadas de solo residual jovem e residual maduro.)

Para uma análise mais detalhada da área onde identificou-se a movimentação de solo na rodovia,
considerou-se dois cenários. No primeiro, fez-se a avaliação da estabilidade do perfil global, ou seja, de
seção total da encosta, contendo as áreas superior e inferior à rodovia; no segundo, fez-se a avaliação do
perfil local, de seção parcial, apenas com a parte da encosta abaixo da pista de tráfego (Figura 3).

Figura 3 – Perfis Global e Local da encosta adotados nas análises de estabilidade

Para cada perfil, global e local, foram determinados os fatores de segurança (FS) para ambos estados do
solo, natural e inundado, observando o valor FS=1,5 como limite mínimo para a presente análise, pois os
danos humanos, materiais e ambientais que podem surgir devido à movimentação de massa na área em
que se encontra o talude são altos, conforme definido na ABNT NBR 11682:2009.

3- RESULTADOS

3.1 - Ensaios Laboratoriais

Os resultados dos ensaios de laboratório demonstram que o solo caracteriza-se predominantemente


como solo residual de gnaisse (maduro na faixa superficial e jovem em uma faixa mais profunda).
Identificou-se ainda níveis de manganês e os minerais quartzo, feldspato e mica. No Quadro 1,
encontram-se os resultados da determinação da massa específica dos grãos e as frações granulométricas.
Quadro 1 – Resultados dos ensaios de caracterização física do solo

Solo
Fração Granulométrica (%)
 s
Argila Silte Areia (kN/m³)

Residual Maduro 14.3 31.1 54.6 27.2

Residual Jovem 11.4 23.9 64.7 26.6

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A amostra caracterizada como solo residual maduro (SRM) apresenta cor vermelha-clara, sendo
composta por 54,6% de areia, 27,8% de silte e 17,5% de argila, enquanto a amostra caracterizada como
solo residual jovem (SRJ) possui cor verde-escuro e verde-claro, sendo composta por 64,7% de areia,
23,9% de silte e 11,4% de argila.

Após a realização do ensaio de cisalhamento direto, traçou-se as envoltórias de Mohr-Coulomb para o


solo residual maduro, a partir das quais obteve-se um ângulo de atrito () de 32,7º e coesão (c) de 39,0
kPa para o solo em estado natural e ângulo de atrito () de 28,7º e coesão (c) de 20,2 kPa para o solo
em estado inundado. A partir das envoltórias de Mohr-Coulomb para o solo residual jovem obteve-se um
ângulo de atrito () de 32,6º e uma coesão (c) de 37,0 kPa para o solo natural e ângulo de atrito () de
27,1º e coesão (c) de 23,3 kPa para o solo inundado.

O Quadro 2 apresenta os parâmetros obtidos para as respectivas amostras de solo.


Quadro 2 – Parâmetros geotécnicos dos solos utilizados na análise de estabilidade

Solo Residual Maduro Solo Residual Jovem

( )
o
32.7 32.6

Coesão (kPa) 39.0 37.0


Natural
nat (kN/m³) 14.5 16.1

w (%) 28.4 22.3

 (o) 28.7 27.1


Inundado
Coesão (kPa) 20.2 23.3

3.2 - Análise da estabilidade

As simulações foram executadas no programa Slope/W a partir de um modelo geotécnico do perfil


transversal do local de estudo considerando as informações obtidas a partir do levantamento topográfico
e os parâmetros geotécnicos obtidos através do ensaio de cisalhamento direto (Quadro 2). A Figura 4
ilustra os resultados da modelagem considerando a seção global da encosta e os parâmetros do solo em
estado natural enquanto a Figura 5 apresenta os resultados para a seção global e parâmetros inundados.
Em verde tem-se destacadas as superfícies de ruptura.

Figura 4 – Perfil de ruptura e definição do fator de segurança (FS) para a seção global e solo natural

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 5 - Perfil de ruptura e definição do fator de segurança (FS) para a seção global e solo inundado

Na Figura 6 e na Figura 7 apresentam-se os resultados da modelagem utilizando o perfil local da encosta


e parâmetros do solo em estado natural e inundado, respectivamente.

Figura 6 - Perfil de ruptura e definição do fator de Figura 7 - Perfil de ruptura e definição do fator de
segurança (FS) para a seção local e solo natural segurança (FS) para a seção local e solo natural

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

No Quadro 3 apresenta-se um resumo dos resultados das análises de estabilidade para as diferentes
geometrias e condições do solo.
Quadro 3 – Fatores de Segurança (FS) obtidos para os cenários analisados

Geometria Estado do solo F.S.

Normal 1,74
Global
Inundado 1,27
Normal 2,05
Local
Inundado 1,49

Os resultados demonstram que, caso prevaleçam as condições do momento de coleta das amostras, o
talude dificilmente romperá, uma vez que o menor fator de segurança encontrado, nas condições normais,
é 1,74. Além disso, todos os valores de FS calculados para o solo em condições normais estão acima do
recomendado pela ABNT NBR 11682/2009 em condições de risco elevado de perda de vidas humanas e
materiais (FS>=1,5).

Em ambas as seções transversais observou-se um decréscimo do Fator de Segurança (FS) ao inundar o


solo, o que se deve à variação da coesão, que é afetada consideravelmente quando o solo é saturado.
Percebe-se que, para os parâmetros residuais inundados, a encosta apresenta Fatores de Segurança
abaixo do preconizado pela ABNT NBR 11682/2009. Para a seção global, o FS apresentado é de 1,27,
enquanto para a seção local o FS é de 1,49.

Mesmo sem poder precisar os motivos causadores do surgimento de indícios de movimentos de massa na
encosta em estudo, com base nos dados obtidos nas análises de estabilidade e nas patologias observadas
no local pode-se levantar a hipótese de estar havendo algum fenômeno (alívio, vibração causada por
tráfego ou infiltração) que reduz a coesão do material localmente.

4- CONCLUSÃO

De acordo com os dados levantados e a análise dos mesmos, pode-se concluir que o maciço avaliado, em
condições naturais, apresenta condição de segurança acima do recomendado pela ABNT NBR 11682/2009.

Assim, a comparação dos valores encontrados nas simulações para a avaliação da estabilidade com o
definido pela norma técnica brasileira identifica que apenas o solo em estado natural enquadra-se em um
nível de segurança desejado quanto aos danos a materiais, meio ambiente e vidas humanas. Para o solo
em condição saturada, o talude apresenta certa instabilidade. Portanto, considerando que a rodovia
assentada sobre o talude não possui infraestrutura de drenagem adequada e a drenagem natural se
encontra danificada, em uma condição de chuva prolongada, o talude poderá, pelo menos localmente,
atingir um estado de saturação que o aproxime de uma situação de equilíbrio limite.

Logo, nota-se a necessidade de discutir alternativas de projetos de estabilização viáveis para a área que
garantam o índice mínimo de segurança, de propor uma solução adequada para as águas que incidem na
encosta e realizar uma fiscalização sistemática que impeça a ocupação desta área.

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RESUMO

A rocha metamórfica esteatito, também chamada pedra sabão, é amplamente conhecida no Brasil por sua
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Gerais. No entanto, documentos técnicos de engenharia, disponíveis, que envolvam este material específico
são quase inexistentes. Este trabalho apresenta um estudo de caso de estabilização de taludes em solo de
alteração de esteatito, em obra rodoviária, localizado na região sudeste do Brasil, especificamente no
Estado de Minas Gerais. Em razão da dinâmica e cronograma do empreendimento, foi executado um
retaludamento inicial e, depois de observada ruptura localizada, realizada retroanálise para melhor
quantificação dos parâmentos geotécnicos que, a seguir, foram confirmados a partir de ensaios especiais
de laboratório. A convergência dos valores obtidos e as várias hipóteses de solicitação imposta ao maciço
são apresentadas, bem como as respectivas análises de estabilidade executadas.

ABSTRACT

The steatite metamorphic rock, also known as soapstone, is well-known in Brazil for its use in culinary
utensils, paving stones and sculptures, typical of the state of Minas Gerais. However geotechnical studies
available about this specific material are rare. This paper presents a case study of slope stabilization in
steatite soil, during a road construction, located in the State of Minas Gerais, Brazil. Due to the schedule
of the project, an initial re-sloping was carried out and, after verified a local failure surface, a back analysis
was performed in order to better quantify the geotechnical parameters of this material, which were then
confirmed by laboratory tests. The convergence of the values obtained and the hypothesis of loadings and
boundary conditions are presented, as well as the slope stability analysis.

1- INTRODUÇÃO

O esteatito, também conhecido como pedra sabão, se destaca por sua posição no menor grau da Escala de
Dureza de Mohs, na qual os minerais são classificados conforme sua dureza relativa entre um e dez (Perrin,
1975). Essa característica permite sua utilização tanto na forma artesanal como industrial e o Estado de
Minas Gerais é conhecido por possuir grandes depósitos de esteatito com valor comercial, sendo usado na
confecção de esculturas e utensílios culinários. A cor pode variar de cinza a verde e, ao tato, fornece
sensação de ser sedosa ou saponácea, advindo daí sua designação de pedra sabão. Renomados artistas,
como Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, o mais importante entalhador, escultor e
arquiteto da época do Brasil colonial, deu fama a esta matéria prima por utilizá-la em suas esculturas.

A construção de uma obra de engenharia, com retaludamento da encosta natural paralela a uma importante
rodovia do sudeste do Brasil, impôs a reconformação destes taludes adjacentes e estudos preliminares
indicaram o esteatito como principal material componente do maciço a ser estabilizado. Assim, este
trabalho apresenta as principais considerações referentes às análises de estabilidade dos taludes inseridos
no projeto geométrico de terraplanagem.

As análises de estabilidade contemplam os cenários de estabilidade interna e global, nas considerações de


taludes secos e saturados quando de chuvas intensas e prolongadas e incidência de linha freática.

2- CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.1 - Histórico

Fatores como o cronograma do empreendimento, dinâmica da construção e características sazonais

105
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

impuseram três etapas ao projeto, sendo que as primeiras análises realizadas consideraram como base
informativa alguns estudos preexistentes como parecer geológico-geotécnico, sondagens e mapeamento
de campo a fim de se catalogar informações sobre litologia, morfologia e anisotropia do terreno local, bem
como surgências de água de infiltração de comportamento errático e migratório de difícil previsibilidade.
Após os primeiros trabalhos de retaludamento e chuvas intensas, uma instabilização em terreno natural foi
observada nas proximidades dos cortes realizados, sendo nesta etapa concluída a análise paramétrica, a
partir de retroanálise. Simultaneamente, foram executadas novas sondagens mistas e retiradas amostras
deformadas e indeformadas para confirmação dos parâmetros geomecânicos considerados. Nesta última
etapa as análises de estabilidade foram concluídas, confirmando o modelo inicialmente proposto e fatores
de segurança obtidos de acordo com a Norma Brasileira ABNT NBR 11682:2009 – Estabilidade de Encostas.

2.2 - Caracterização geológico geotécnica

De acordo com informações preliminares, a geologia-geotecnia local se caracteriza por solo de cobertura,
aterro argiloso, constituído de material inconsolidado a consolidado originado de lavra de esteatito
depositado sobrejacente a solo residual jovem, solo argiloso vermelho, e subjacente, se encontra rocha
esteatito, de existência exclusiva e integrante do Grupo A34rn (subgrupo Rio das Velhas Nova Lima,
constante do Mapa Geológico de Minas Gerais), conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Subgrupo Rio das Velhas Nova Lima (Mapa Geológico da Folha de Conselheiro Lafaiete)

A Figura 2 apresenta a região em estudo, bem como a locação em planta das investigações de campo e
laboratoriais subsequentes, como sondagens mistas e amostras deformadas e indeformadas. O perfil final,
após trabalhos de retaludamento, está apresentado na Figura 3.

As sondagens indicaram substrato rochoso estável sob condições de confinamento com estruturas planares
em manifestações subverticais garantindo ao maciço maior estabilidade com relação a deslocamentos
horizontais.

De forma geral, o esteatito é classificado como rocha metamórfica composta por dolomita, anfibólios e
grande quantidade de talco, o que lhe confere as características de rocha branda e de baixa dureza. Outros
minerais também são encontrados como magnesita, clorita, tremolita e quartzo.

106
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Local da
AMOSTRA 01 instabilização
observada
RETROANÁLISE
AMOSTRA 03 SM-02
SM-02
AMOSTRA 02

SM-04
SM-04

SM-01
SM-01 SM-06
SM-03
SM-03

SM-05
SM-05
A’

Figura 2 – Locação dos furos de sondagens mistas e posição de retirada das amostras

SM-06

SM-04

SM-02

Figura 3 – Perfil geológico geotécnico retaludado (Seção AA’)

3- METODOLOGIA

O trabalho consistiu, inicialmente, no levantamento das informações planialtimétricas originais e


conformações após retaludamento e ruptura observada. A partir desses dados, foram executadas as
análises de estabilidade com parâmetros de resistência obtidos por retroanálise e confirmados,
posteriormente, por ensaios laboratoriais.

3.1 - Retroanálise

O objetivo de uma retroanálise é estabelecer, à medida do possível, as prováveis causas de uma ruptura e
o mecanismo em que ela ocorreu. Para isso, é necessário refazer o talude original antes do seu colapso e
as condições de solicitações relevantes observadas. O modelo geomecânico considerado no momento da
ruptura é construído a partir de dados tais como geometria inicial do talude e da superfície de ruptura, dos
parâmetros do solo e o nível de água no maciço. A consideração do fator de segurança no momento da
ruptura (FS=1) permite a investigação dos prováveis valores dos parâmetros do solo. Portanto, a

107
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

retroanálise consiste da definição de um modelo de ruptura e das suas condições de contorno.

Outro propósito fundamental nesta análise é avaliar o efeito da variação desses parâmetros de resistência
sobre a segurança do maciço.

Foram consideradas combinações de coesão e ângulo de atrito que representem valores comumente
esperados para o material com as características apresentadas nas investigações realizadas.

Vale ressaltar que vários pares de valores podem conduzir a fatores de segurança unitários, porém sem
que a realidade do material em estudo seja retratada. Duncan (2014) apresenta um estudo hipotético no
qual duas soluções diferentes foram avaliadas em função da análise realizada. Outro aspecto fundamental
é o conhecimento da geometria do talude antes e, principalmente, na ruptura, dados muitas vezes de difícil
obtenção.

Enfatiza-se, portanto, os cuidados com relação às retroanálises face às suas limitações, como determinação
das condições no rompimento e a complexidade dos padrões da resistência ao cisalhamento: variação da
resistência não drenada cisalhante com a profundidade pode modificar substancialmente os valores da
retroanálise.

3.2 - Ensaios de laboratório

Adicionalmente às sondagens mistas realizadas, foram retiradas amostras deformadas e indeformadas do


solo local em aterro e solo residual de esteatito com a finalidade de confirmação das características físicas
e de resistência geomecânica obtidas na retroanálise. O Quadro 1 especifica as amostras coletadas e
identificadas na Figura 1.

Quadro 1- Identificação das amostras


AMOSTRA MATERIAL CLASSIFICAÇÃO
Amostra 01 Solo residual maduro Indeformada
Indeformada
Amostra 02 Aterro
Deformada
Indeformada
Amostra 03 Solo residual maduro
Deformada

As amostras foram submetidas a ensaios geotécnicos de laboratório, especificamente caracterização e


ensaios de cisalhamento direto, obtendo-se os parâmetros de resistência de coesão e do ângulo de atrito
interno de resistência ao corte. O Quadro 2 especifica os ensaios realizados e as respectivas normas
técnicas consideradas.

Quadro 2 – Ensaios realizados e normatização


Ensaio Norma Técnica
Norma ABNT NBR-6458- Grãos de pedregulho retidos na peneira de
Densidade real dos grãos abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica, da massa
específica aparente e da absorção de água
Granulometria Norma ABNT NBR-7181-Solo-Análise Granulométrica
Limite de liquidez Norma ABNT NBR-6459-Solo-Determinação do limite de liquidez
Limite de plasticidade Norma ABNT NBR-7180-Solo-Determinação do limite de plasticidade
Densidade aparente Norma ABNT NBR-10838- Determinação da Massa Específica

3.3 - Estabilidade de taludes

Análises de estabilidade de taludes são realizadas a partir da definição de um modelo geomecânico


específico, representativo das reais condições locais, como geometria do talude, parâmetros de resistência
ao cisalhamento e peso específico do solo e condições do nível de água no maciço. A partir destes
parâmetros, e definição do método de análise, são realizados os estudos para conhecimento do fator de
segurança determinístico.

As análises de estabilidade realizadas consideraram os taludes da encosta natural retaludada, secos e


saturados na variação de incidência da linha freática de infiltração, resultando em efeitos de saturação
quando de chuvas intensas e prolongadas. Foram verificadas rupturas superficiais e profundas, a partir da
utilização da teoria de equilíbrio limite, métodos de Bishop Simplificado e Morgenstern-Price, através do
programa Slide da Rocscience.

108
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

4- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos após a realização dos estudos paramétricos e laboratoriais estão apresentados a
seguir.

4.1 - Retroanálise

As análises paramétricas foram realizadas com o objetivo de estimar, preliminarmente, os parâmetros de


resistência possíveis para o material de aterro (retro analisados), ou seja, Fator de Segurança igual a 1 por
ocasião da ruptura. A Figura 4 apresenta a seção utilizada nestas análises.

Figura 4 – Retroanálise: seção considerada antes da ruptura

As seguintes combinações de parâmetros foram definidas e utilizadas nas análises:

 variação do ângulo de atrito de 10º, 15º, 20º e 25º, mantendo-se a coesão de 10kPa (estimado); e
 variação da coesão de 1, 5, 10 e 15kPa, mantendo-se o ângulo de atrito igual a 20º (estimado).

O Quadro 3 apresenta as combinações de parâmetros de resistência analisados e os fatores de segurança


obtido.

Quadro 3 – Combinações de parâmetros de resistência utilizados nas análises paramétricas


FATOR DE SEGURANÇA
Ângulo de Peso Esp.
MATERIAL Coesão
atrito interno Natural MORGENSTERN BISHOP
𝒄′ (𝒌𝑷𝒂)
φ′(°) γnat (kN/m3 )
1 0,662 0,658
5 0,853 0,849
Aterro 20 17
10 1,069 1,065
15 1,183 1,179
VALORES PARA COESÃO: próximo de 10kPa
FATOR DE SEGURANÇA
Peso Esp. Ângulo de
MATERIAL Coesão
Naturalatrito interno MORGENSTERN BISHOP
𝒄′ (𝒌𝑷𝒂)
γnat (kN/m3 ) φ′(°)
10 0,732 0,733
15 0,896 0,896
Aterro 10 17
20 1,069 1,065
25 1,146 1,143
VALORES PARA ÂNGULO DE ATRITO: próximo de 20°

Os resultados das análises paramétricas estão apresentados nas Figuras 5 e 6.

109
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Análise Paramétrica c = 10kPa


Aterro
30

25
Ângulo de Atrito (°)

20

15

10

5
0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 0,95 1 1,05 1,1 1,15

Fator de Segurança

Figura 5 – Variação dos fatores de segurança para coesão e peso específico constantes, com variação do
ângulo de atrito

Análise Paramétrica f = 20º


Aterro
20

15
Coesão (kPa)

10

0
0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 0,95 1 1,05 1,1 1,15 1,2

Fator de Segurança

Figura 6 – Variação dos fatores de segurança para ângulo de atrito e peso específico constantes, com variação
da coesão

4.2 - Ensaios de laboratório

Os resultados obtidos nos ensaios geotécnicos de laboratório estão apresentados nos Quadros 4 a 6. A
Figura 7 mostra o gráfico tensão x deformação e a envoltória de resistência obtida para o aterro.

110
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 4 – Amostras e parâmetros obtidos no ensaio de granulometria


%
MATERIAL CLASSIFICAÇÃO AMOSTRA Areia Areia Areia
Argila Silte Pedregulho
grossa média fina
Indeformada - - - - - -
Aterro AM02 1,8 23,4 3,1 3,7 22,8 45,2
Deformada
Pedregulhos com areia siltosa
1,5 37,1 6,1 6,4 28,8 20,1
Indeformada AM01
Solo Areia siltosa com pedregulhos
Residual Indeformada - - - - - -
Maduro AM03 2,7 35,3 4,5 5,9 21,5 30,1
Deformada
Silte arenoso com pedregulhos

Quadro 5 – Amostras e parâmetros obtidos nos ensaios de Limites de Atterberg e Balança Hidrostática
% kN/m3 % kN/m3
MATERIAL CLASSIFICAÇÃO AMOSTRA Peso esp. Teor de
LL LP IP Peso esp.
grãos umidade
Indeformada - - - - 24,87 15,5
Aterro AM02
Deformada 49 25 24 28,67 - -
Solo Indeformada AM01 48 22 26 28,7 20,04 17,55
Residual Indeformada - - - - 17,06 18,40
AM03
Maduro Deformada 50 25 25 28,92 - -

Quadro 6 – Amostras e parâmetros obtidos no ensaio de Cisalhamento Direto


Coesão Ângulo de atrito interno
MATERIAL CLASSIFICAÇÃO AMOSTRA
c′ (kPa) φ′(°)
Aterro Indeformada AM02 8 21,36
Solo Indeformada AM01 20,2 15,7
Residual Indeformada AM03 12,6 21,7
Maduro Média 16,4 19
Tensão de cisalhamento
(x10 kN/m2)

c =0,8 kN/m2
Tensão de cisalhamento

f = 21,26°
(x10 kN/m2)

111
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 7 – Gráfico Tensão x deformação e envoltória de resistência da amostra indeformada (aterro)

4.3 - Estabilidade de taludes

As análises de estabilidade determinísticas dos taludes foram realizadas considerando o perfil apresentado
na Figura 3, os parâmetros de resistência obtidos na retroanálise e confirmados nos ensaios de laboratório
para o material de aterro e solo residual maduro, conforme Quadro 6 e Figura 4.

O Quadro 7 resume os parâmetros de resistência admitidos nas análises, para cada litotipo considerado.

Quadro 7 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento considerados

MATERIAL Coesão Peso Específico Natural Ângulo de atrito interno


𝒄′ (𝒌𝑷𝒂) γnat (kN/m3 ) φ′(°)
Aterro 8 17 21,36
Solo residual maduro 16,4 18 19
Rocha 70 26 35
Enrocamento 0 24 40

A análise realizada considerou a estabilidade geotécnica em dois estágios distintos, ou seja:

 taludes de acordo com a geometria proposta, seco (N.A. observado nas sondagens abaixo da cota
do retaludamento); e
 taludes de acordo com a geometria proposta e variação da linha freática no interior do maciço.

O Quadro 8 e as Figuras 8 a 13 apresentam os resultados obtidos.

Quadro 8 – Resultados obtidos a partir das análises de estabilidade realizadas


FS

CONDIÇÃO OBS. BISHOP MORGENSTERN-


SIMPLIFICADO PRICE
Talude seco Figura 8 Talude seco 1,479 1,475
Figura 9 Talude totalmente saturado 0,903 0,906
Figura 10 Freática próxima à superfície 1,146 1,141
Variação da linha
Figura 11 Freática intermediária 1,247 1,25
freática
Figura 12 Freática afastada da superfície 1,36 1,356
Figura 13 Freática próxima à 1ª bancada 1,479 1,475

112
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 8 – Fator de segurança obtido: talude seco

Figura 9 – Fator de segurança obtido: talude totalmente saturado

Figura 10 – Fator de segurança obtido: freática próxima à superfície

113
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 11 – Fator de segurança obtido: freática intermediária à superfície

Figura 12 – Fator de segurança obtido: freática afastada da superfície

114
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 13 – Fator de segurança obtido: freática próxima à 1ª bancada

5- CONCLUSÃO

A partir do estudo apresentado, ressalta-se que os parâmetros de resistência admitidos, inicialmente com
retroanálise da seção original, antes de colapso observado na área, foram confirmados em ensaios
específicos, de laboratório.

Os parâmetros foram utilizados nas seções retaludadas e apresentaram fatores variáveis, em função das
hipóteses de elevação do N.A. dentro do maciço, sendo imprescindível, assim, a manutenção destes níveis
controlados, de modo a conferir fatores de segurança mínimos de acordo com a normatização.

As condições de realização dos ensaios se mostraram adequadas ao tipo de material ensaiado


(pedregulhos/siltes arenosos), sem xistosidade marcante que interferisse na resistência obtida, bem como
a execução do pre-adensamento na fase inicial do ensaio (cisalhamento direto), que tem como objetivo
dissipar a poro pressão gerada, definir a velocidade do ensaio (no caso de solo granular esta se dissipa
mais rapidamente, portanto, sem interferência).

Por fim, reitera-se a importância de um estudo inicial criterioso do caso a ser estudado face às incertezas
e limitações do processo, a fim de se evitar avaliações equivocadas.

REFERÊNCIAS

ABNT (2016) - Solo - Determinação do Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 7180.

ABNT (2016) - Solo – Analise Granulométrica. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 7181.

ABNT (2016) - Solo - Determinação do Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6459.

ABNT (2016) - Solo - Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica,
da massa específica aparente e da absorção de água. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6458.

ABNT (1988) - Solo – Determinação da massa especifica aparente de amostras indeformadas, com emprego da balança
hidrostática. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 10838.

ABNT (2009) - Estabilidade de talude. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 11682.

Ducan. J. M. (2014) - Soil Strength and Slope Stability. John Wiley & Sons, New York, 336 p.

Perrin, M. B. (1975) - An Introduction to the Chemistry of Rocks and Minerals. John Wiley & Sons, New York, 97 p.

115
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE PARÂMETROS GEOMORFOLÓGICOS NA


ESTABILIDADE DE TALUDES

SENSITIVITY ANALYSIS OF GEOMORPHOLOGICAL PARAMETERS IN THE


STABILITY OF SLOPES

Silva, Isabela Grossi; Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, isa.grossisilva@gmail.com


Mikos, Ana Paula; Universidade Federal do Paraná; Curitiba; Brasil; anapaulamikos@hotmail.com
Faro, Vítor Pereira; Universidade Federal do Paraná; Curitiba; Brasil; vitorpereirafaro@gmail.com

RESUMO

Anualmente, há diversos casos de deslizamento de massa de solo em todo o mundo, deixando milhares de
pessoas desabrigadas e causando prejuízo financeiro, social e ambiental. No Brasil, este desastre natural
gera enormes consequências pelo atual déficit habitacional e pela grande presença de encostas em todo
país. Neste contexto, o presente artigo aborda o estudo sobre as variáveis que interferem na estabilidade
de taludes. Para isto, foi idealizado um perfil tipo com um talude de 10 metros de altura e 10 metros de
fundação. Os parâmetros avaliados foram a inclinação, o nível d’água, a coesão, o ângulo de atrito e o peso
específico. Dessa forma, conclui-se que a inclinação e o nível d’água no talude são decisórios no problema
de instabilização e, que dentre coesão, ângulo de atrito e peso específico, a coesão é a variável de maior
interferência no fator de segurança do talude, devendo, assim, atentar-se em sua determinação, sendo
que o uso de ensaios laboratoriais é a melhor forma de obtê-la mais próxima do valor real.

ABSTRACT

Annually, there are several cases of landslide of soil around the world, leaving thousands of people homeless
and creating financial and social losses. In Brazil, this natural disaster has big consequences due to the
current housing deficit and the large presence of slopes throughout the country. In this context, the present
article brings the study on the variables that interfere in slope stability. For this, a simple profile type slope
with 10 meters of height and 10 meters of foundation ground was devised. The variable parameters for the
generation of results were inclination, water level, cohesion, angle of friction and specific weight. Thus, it
is concluded that slope and water level in the slope are decisive in the problem of instabilization and, that
between cohesion, angle of friction and specific weight, cohesion is the variable of greater interference in
slope safety, so, more attention should be devoted to their determination and the use of laboratory tests
is the better way to get it closer to the real value.

1- INTRODUÇÃO

Parte da população dos grandes centros urbanos ocupa áreas inapropriadas como encostas e margens de
rios devido ao déficit habitacional existente no país. Nos períodos chuvosos, tais regiões tornam-se
vulneráveis à ocorrência de deslizamentos de encostas e inundações, causando acidentes que resultam em
perdas humanas e/ou materiais (Brasil, 2007). Segundo Almeida e Carneiro (1998), as encostas naturais
estão presentes em grande parte da costa brasileira devido à formação da Serra do Mar, que se localiza ao
norte de Santa Catarina até o estado do Rio de Janeiro, tendo cerca de 1.000 quilômetros de extensão.

Um total de 895 municípios foram atingidos pelos diversos tipos de movimentos de massa em seus taludes
entre 2009 e 2013 e dentre a principal causa pode-se citar a combinação da infiltração da água da chuva
com as mudanças geométricas devido à ação antrópica. Nesse mesmo período, das 30.858 ocorrências de
escorregamentos ou deslizamentos no Brasil, 27.940 se concentraram nas regiões Sudeste e Nordeste do
país (Brasil, 2014). Além disso, o desastre natural que causa mais perda humana no Brasil são os
deslizamentos de terra, afirma o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do
Ministério da Ciência e Tecnologia e, devido a isto morreram aproximadamente 2.500 pessoas entre os
anos de 2008 e 2011 (Ministério da Ciência e Tecnologia, 2011).

Farah (2003) traz diversos dados sobre o prejuízo anual decorrente dos processos de instabilização de
taludes, girando em torno de bilhões de dólares e, além dos gastos diretos, ainda existem os gastos
indiretos e os transtornos sociais consequentes dos deslizamentos. Com isso, o estudo da estabilidade de
talude faz-se importante no contexto brasileiro.

Sabe-se que a segurança de um talude pode ser expressa pelo seu menor fator de segurança (FS), o qual
é a relação entre a tensão resistente ao cisalhamento e a tensão atuante na superfície crítica de ruptura.
A resistência do solo depende dos parâmetros de coesão e ângulo de atrito interno e a tensão atuante é
constituída pelo peso próprio, forças devido ao escoamento da água, sobrecarga, entre outras forças

116
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

externas. Para o cálculo desse coeficiente existem diversos métodos de estabilidade, os quais possuem
diferentes hipóteses simplificadoras que auxiliam na resolução dos problemas. Além disso, faz-se
necessário conhecer a geometria, o comportamento do nível d’água (N.A), o peso específico (ɤ) e
propriedades mecânicas como a coesão efetiva (c’) e o ângulo de atrito efetivo (Ø’). Para essas
determinações devem ser realizados levantamentos topográficos, sondagens e ensaios labotatoriais como
triaxial ou cisalhamento direto.

A NBR 11.682 (ABNT, 2009) apresenta fatores mínimos de deslizamentos que variam de 1,2 a 1,5, os quais
dependem do risco à vida humana e dos possíveis danos materiais e ambientais presentes na região caso
ocorra tal desastre natural. A necessidade do uso desses coeficientes advém das incertezas imbutidas nas
etapas de projeto e construção.

Com o estudo de Dell’Avanzi e Silva (2013) é possível observar a grande variabilidade dos parâmetros
geomorfológicos em consequência da heterogeneidade de rochas que originam os solos através do
intemperismo, principalmente em solos residuais. Com isso, a variação obtida pelos autores foi de 0 a
73,23 kPa para a coesão, o ângulo de atrito variou de 12 a 51º e o peso específico natural de 13,07 a 18
kN/m³.

Em relação ao lençol freático tem-se que a presença da água nas encostas promove a variação da sucção
e o aumento do peso específico, com isso há o decaimento do fator de segurança. (Carvalho et al., 2012).
A chuva é um fator preponderante na variação do nível d’água no solo, causando a diminuição da tensão
efetiva e o acúmulo de água nas fendas existentes na massa de solo, acarretando, assim, a diminuição do
fator de segurança (Fiori e Carmignami, 2009).

Dessa forma, torna-se importante o entendimento de como as variáveis influenciam na estabilidade dos
taludes. Para isso, foi utilizada a análise de sensibilidade, a qual permite avaliar a intervenção dos
parâmetros (Fellin et al., 2005). O presente estudo possui como objetivo a análise de sensibilidade através
da variação dos parâmetros do solo e análise dos resultados.

2- METODOLOGIA

As análises foram realizadas a partir dos resultados obtidos com o software Geoslope, versão estudante, o
qual permite calcular o fator de segurança crítico do talude e obter a superfície de ruptura para o mesmo.
Assim, foi possível determinar as variáveis que deviam ser analisadas nas tentativas produzidas. Conclui-
se que os parâmetros a serem variados deveriam ser a coesão, o ângulo de atrito, o peso específico natural,
a inclinação e o nível d’água do talude. Com isso, através do embasamento teórico e prático, foram
arbitrados os valores dos parâmetros, que pode ser observada no Quadro 1 e, dessa forma, foram obtidos
1008 resultados para análise das variáveis. Em cada resultado de FS gerado variou-se apenas um
parâmetro de cada vez, com o intuito de observar a contribuição de cada fator na variação do fator de
segurança.
Quadro 1 - Valores adotados para as análises
Variáveis Valores possíveis
Inclinação (V:H) 1:2 1:1 2:1 - - - -
Peso específico natural (KN/m³) 15 18 21 - - - -
c' (KPa) 5 10 20 40 - - -
Ø' (°) 25 30 35 40 - - -
sem
Nível d'água (N.A) (m) 20 18 16 14 12 10
N.A

Observa-se que há uma variação considerável das variáveis, em concordância com Suzuki (2004), que
afirma que nos solos tropicais há grande heterogeneidade devido ao alto intemperismo, conferindo
variabilidade em suas propriedades.

O talude idealizado é constituido de solo homogêneo, possui 10 metros de altura nas inclinações
consideradas (1:2, 1:1 e 2:1) e 10 metros de profundidade abaixo do pé do talude, para não influenciar
no cálculo do fator de segurança. Para o desenho da linha piezométrica foi considerado um padrão de
mudança de declividade no pé e na crista do talude e com variação de 2 metros entre elas, sendo
referenciadas pela cota e, sabe-se que o software considera solo saturado abaixo da linha d’água. No cálculo
do fator de segurança foi utilizado o método de Morgenstern-Price por ser o mais rigoroso, segundo Massad
(2003) e, por satisfazer as três equações de equilíbrio (equilíbrio de forças verticais, horizontais e de
momentos).

Após as definições, os taludes obtidos pelo software são representados na Figura 1, com as diferentes
inclinações e os níveis d’água avaliados.

117
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 1 - Compilação dos níveis d'água para o talude de inclinação: (a) 1:2; (b) 1:1; (c) 2:1

3- RESULTADOS

A análise dos resultados contemplou o estudo da inclinação, do nível d’água e qual a variável, dentre o
peso específico, coesão e ângulo de atrito, que mais influencia na estabilidade de um talude através da
análise de sensibilidade.

3.1 – Análise da inclinação

Para a formulação do Quadro 2 foi realizada a média considerando todas as variações de N.A, para a mesma
inclinação e pelos demais parâmetros. Com isso, observa-se que a inclinação e o fator de segurança são
inversamente proporcionais. A declividade faz com que haja maiores componentes de forças verticais,
favorecendo os processos de instabilização.
Quadro 2 - Comparação entre as inclinações

Inclinação
Parâmetros
1:2 1:1 2:1
c'=5 kPa 1,47 0,90 0,56
c'=10 kPa 1,74 1,13 0,76
c'=20 kPa 2,20 1,54 1,15
c'=40 kPa 3,02 2,28 1,91
Ø'= 25º 1,74 1,26 0,99
Ø'= 30º 1,97 1,39 1,06
Ø'= 35º 2,22 1,53 1,13
Ø'= 40º 2,49 1,68 1,21
ɤ=15 kN/m³ 2,15 1,55 1,19
ɤ=18 kN/m³ 2,11 1,46 1,09
ɤ=21 kN/m³ 2,06 1,39 1,01

Para facilitar a visualização dos resultados foram compilados os gráficos mostrados na Figura 2. Dessa
forma, é possível observar a tendência das variáveis em relação ao fator de segurança: a coesão e o ângulo
de atrito favorecem a segurança do talude, enquanto o peso específico decresce o FS.

118
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 2 – Comparação para as três inclinações de: (a) Coesão efetiva versus FS; (b) Ângulo de atrito efetivo versus
FS; (c) Peso específico natural versus FS

3.2 – Análise dos parâmetros geomorfológicos

Em relação ao estudo da intervenção dos parâmetros geomorfológicos na estabilidade de talude foi


produzido o Quadro 3, o qual apresenta a média dos FS para cada variável analisada, considerando todas
as inclinações e níveis d’água.
Quadro 3 – Média dos FS
c'=5 kPa 0,98
c'=10 kPa 1,21
c'=20 kPa 1,63
c'=40 kPa 2,4
Ø'= 25º 1,33
Ø'= 30º 1,47
Ø'= 35º 1,63
Ø'= 40º 1,8
ɤ=15 kN/m³ 1,63
ɤ=18 kN/m³ 1,55
ɤ=21 kN/m³ 1,49

Com isso, calculou-se a média do fator de segurança obtendo-se, aproximadamente, 1,56 para os três
parâmetros, e o desvio padrão para a coesão foi de 62,68%, de 20,08% para o ângulo de atrito e 7,17%
para o peso específico natural. Através de tais valores tem-se a Figura 3, a qual mostra a curva normal
elaborada com a média e o desvio padrão dos itens analisados. Como a coesão resultou no maior desvio
padrão, ela possui maior dispersão dos valores de FS em relação à média.

119
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 3 – Curva normal comparando os três parâmetros geomorfológicos

Outra forma de realizar a comparação entre as três variáveis é através da inclinação da reta obtida pela
média dos FS, sendo que a reta de maior inclinação traz o parâmetro que possui maior influência no valor
de FS, pois uma pequena mudança em seu valor causa grande variação no fator de segurança. Assim,
obteve-se a Figura 4, pela qual observa-se que a coesão possui a reta de maior inclinação, então, através
da Figura 3 e Figura 4 conclui-se que a coesão é o parâmetro que mais interfere na estabilidade do talude.
Além disso, observa-se que a coesão e o ângulo de atrito são diretamente proporcionais ao FS, uma vez o
aumento desses parâmetros favorece a segurança da obra. Por outro lado, o aumento do peso específico
favorece os movimentos de massa, assim, é inversamente proporcional ao valor do FS.

Figura 4 – Comparação da inclinação das retas dos três parâmetros geomorfológicos

Ainda com relação ao estudo da coesão, tem-se a Figura 5 e Figura 6, as quais possuem a intenção de
ilustrar a modificação da superfície crítica de deslizamento do talude apenas com a modificação de uma
propriedade mecânica, no caso a coesão. Para isso, escolheu-se a representação em um talude 1:1 por ser
de inclinação intermediária no estudo realizado, sem a presença do nível d’água a fim de eliminar a
interferência deste nos resultados, com peso específico natural e ângulo de atrito efetivo constantes de,
respectivamente, 18 kN/m³ e 30º. A coesão adotada foi de 5 kPa para a Figura 5 e de 20 kPa para a Figura
6.

120
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 5 – Talude 1:1 com peso específico natural de 18 kN/m³, coesão efetiva de 5 kPa, ângulo de atrito de 30° e
sem N.A

Figura 6 - Talude 1:1 com peso específico natural de 18 kN/m³, coesão efetiva de 20 kPa, ângulo de atrito de 30° e
sem N.A

Dessa forma, observa-se que ao aumentar a coesão, a superfície crítica se torna mais profunda, isso devido
ao ganho de resistência proporcionado ao solo, necessitando, assim, de maior quantidade de solo para a
ocorrência do processo de instabilização. O aumento da resistência também é observado pelo aumento do
fator de segurança, com aumento de 0,998, para coesão de 5 kPa para um FS de 1,677 para coesão de 20
kPa. Esses resultados indicam a importância da escolha desse parâmetro.

3.3 – Análise dos níveis d’água

Para o estudo dos diferentes níveis d’água considerados tem-se o Quadro 4, pelo qual se constata que
níveis d’água mais superfíciais, isto é, de maiores cotas, fornecem maior variação dos fatores de segurança
quando comparado com níveis mais profundos. Isto decorre pelo fato de que quanto mais profundo se
encontra o nível freático, menor tende a ser a interferência deste na superfície de ruptura e,
consequentemente, no fator de segurança.
Quadro 4 – Médias dos FS para as variações de N.A
Parâmetros Sem N.A N.A de 10 m N.A de 12 m N.A de 14 m N.A de 16 m N.A de 18 m N.A de 20 m
c'=5 kPa 1,21 1,20 1,18 1,13 0,96 0,72 0,45
c'=10 kPa 1,47 1,46 1,43 1,36 1,17 0,92 0,65
c'=20 kPa 1,93 1,90 1,86 1,76 1,58 1,33 1,04
c'=40 kPa 2,76 2,69 2,64 2,52 2,34 2,10 1,78
Ø'= 25º 1,55 1,52 1,49 1,42 1,29 1,11 0,91
Ø'= 30º 1,74 1,71 1,67 1,59 1,43 1,21 0,95
Ø'= 35º 1,93 1,90 1,87 1,78 1,58 1,32 1,00
Ø'= 40º 2,15 2,12 2,08 1,98 1,75 1,43 1,06
ɤ=15 kN/m³ 1,99 1,94 1,89 1,78 1,56 1,28 0,97
ɤ=18 kN/m³ 1,83 1,80 1,77 1,69 1,51 1,27 0,98
ɤ=21 kN/m³ 1,71 1,70 1,68 1,61 1,46 1,25 0,99

121
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A Figura 7 ilustra graficamente a interferência do nível d’água no solo, na qual se tem a média dos FS para
cada inclinação e também uma média global. Observa-se que para a maior inclinação (2:1) o nível do lençol
freático promove variação no FS a partir da cota de 14 m e, para a menor inclinação (1:2) essa variação já é
constatada no primeiro intervalo.

Figura 7 – Comparação entre as três inclinações versus nível d’água

4- CONCLUSÕES

O presente artigo permite obter conclusões relevantes sobre o estudo da estabilidade de taludes. Sobre a
inclinação, quanto mais inclinado o terreno menor será o fator de segurança para os mesmos parâmetros
do solo. Isso ocorre, pois a superfície crítica de deslizamento se torna mais superficial com o aumento da
inclinação, devido a maiores cargas verticais, diminuindo o FS. É possível observar que este fator é decisório
no processo de instabilização e, por isso, deve-se dar atenção especial em relação à condição geométrica
do talude.

A variável que mais interfere no fator de segurança é a coesão, o que pode ser observado tanto no gráfico
da curva normal entre as três variáveis analisadas, em que a coesão apresenta maior desvio padrão, e na
comparação entre as retas, que o parâmetro apresenta maior inclinação. Nesse caso, deve-se atentar ao
determinar o valor desse parâmetro, para que seja o mais próximo do encontrado in situ, através da
realização de ensaios laboratoriais e investigação geotécnica no terreno. A execução de ensaios triaxiais ou
cisalhamento direto e o uso da investigação são importantes para a obtenção de valores mais verídicos dos
parâmetros e, por ser possível considerar fatores tais como chuva, infiltração de água no solo, sucção que
o solo pode apresentar, entre outras características que comprometem o comportamento do solo, tornam-
se essenciais. Além disso, observa-se que ao aumentar a coesão ou o ângulo de atrito o talude se torna
mais seguro, no entanto, por facilitar o movimento de massa, o aumento do peso específico diminui o valor
do fator de segurança.

Ao analisar os resultados das médias dos fatores de segurança para os diferentes níveis d’água, tem-se
que quanto mais superficial é o nível freático, menor é o fator de segurança, isto porquê a presença da
água no talude satura o solo, aumentando o peso específico e diminuindo a coesão. Além disso, os níveis
d’água mais profundos geram menor influência no fator de segurança, pois não interceptam a cunha de
ruptura do talude.

REFERÊNCIAS

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Rio de Janeiro.

123
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ANÁLISES DE FORÇAS DE IMPACTO DE FLUXOS DE DETRITOS

ANALYSIS OF IMPACT FORCES OF DEBRIS FLOWS

Grau Sacoto, Carlos Andrés; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, carlosgrau@coc.ufrj.br


Nunes, Anna Laura L. S.; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, alaura@coc.ufrj.br

RESUMO

Os fluxos de detritos são os movimentos de massa mais catastróficos e difíceis de serem previstos. Os
danos provocados por estes movimentos são expressivos devido às energias muito altas, grandes volumes
de detritos e extensa área de deposição. Embora os agentes deflagradores e condicionantes sejam
conhecidos, tais eventos possuem características específicas da região onde ocorrem. Diversas pesquisas
do grupo COPPE-UFRJ/PUC-Rio têm investigado esse fenômeno no Brasil. A velocidade, altura do fluxo,
energia e força de impacto são parâmetros muito difíceis de serem medidos e/ou calculados. Desta forma,
o trabalho objetiva aprofundar o estudo destes parâmetros, visando a estimativa dos esforços de impacto
para o dimensionamento de barreiras de proteção. São analisados diferentes modelos de força de impacto
e realizadas simulações de fluxos de detritos com os programas DAN-W e DAN3D. As análises consideraram
os resultados de ensaios de campo de fluxos de detritos de Pieve di Alpago e Velthein, além do fluxo de
detritos Córrego D’Antas na Região Serrana do Rio de janeiro em 2011. Os resultados indicam que o modelo
hidrodinâmico e Método de Mizuyama são capazes de estimar as pressões de impacto, calculadas com as
velocidades obtidas numericamente com o DAN-W e DAN3D, usando reologia de Voellmy. As análises
realizadas permitiram propor recomendações para a determinação da força de impacto de fluxos de detritos.

ABSTRACT

Debris flows are the most difficult landslide to be predicted and they can cause catastrophic lost. The
damages caused by these movements are relevant because debris flows produce high energies, involving
large volumes of debris and a large area of deposition. Although triggers and conditioning agents are known,
such events have unique local characteristics. The COPPE-UFRJ/PUC-RIO DEBRIS FLOW group has
developed researches of this phenomenon in Brazil. However, parameters such as velocity, flow height,
energy and impact force are very difficult to measure and compute. The objective of this research is to
study these parameters in order to obtain more knowledge for the design of dynamic and static impact
barriers. Different models of impact forces were analyzed. In addition, several simulations were made with
the softwares DAN-W and DAN3D. The analysis considered the results of field tests of debris flows at Pieve
di Alpago and Velthein, in addition to the Córrego D’Antas debris flow occurred in 2011 at the Região
Serrana do Rio de Janeiro. The results indicate that the hydrodynamic model and Mizuyama method are
able to estimate impact pressures, calculated with the velocity obtained numerically with the DAN-W and
DAN3D, using rheology of Voellmy. The analysis made it possible to propose recommendations for
determining the impact forces of debris flows.

1- INTRODUÇÃO

Os movimentos de massa são deslocamentos de materiais de diversas granulometrias ao longo de uma


encosta natural ou talude, que podem ser induzidos pelo homem ou por fenômenos naturais e que estão
relacionados com a ação da gravidade. Os fluxos de detritos são movimentos que deslocam grandes massas,
compostas por solo, rocha, árvores, lama e que ocorrem com elevadas velocidades, resultando em grande
poder de destruição e, infelizmente, perdas humanas e econômicas consideráveis. Segundo Nunes e Sayão
(2014), os fluxos de detritos são os mais catastróficos e difíceis de prever. Estudos indicam que, de 2002
a 2012, 90 mil mortes foram provocadas por movimentos de massa, em sua maioria fluxo de detritos.

As rupturas de taludes dependem muito da topografia, condições climáticas, geologia, geomorfologia e de


outras características intrínsecas das regiões. Portanto, os fluxos de detritos no Brasil apresentam
características específicas e diferentes daqueles que acontecem, por exemplo, em regiões de clima
temperado. Nas regiões tropicais o mecanismo deflagrador mais comum é a intensa precipitação de curta
ou longa duração, a qual produz uma elevação na poropressão e, consequentemente, uma diminuição na
resistência ao cisalhamento do material.

O estudo dos fluxos de detritos é muito complexo pela diversidade do movimento e variação em função da
região, além de apresentar grandes desafios representados pela estimativa dos diferentes parâmetros
envolvidos, dimensionamento de estruturas de deflexão e proteção, além da delimitação das áreas de risco.

124
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Para o dimensionamento ou seleção de medidas de mitigação e convivência têm sido desenvolvidos


métodos empíricos e analíticos baseados em observações e registros de dados coletados de fluxos de
detritos ocorridos. Alguns parâmetros importantes podem ser estimados com acurácia por meio de
investigações de campo e análises de fluxos de detritos que ocorreram no passado, tais como volume total,
magnitude do evento, composição dos sedimentos e chuvas deflagradoras. No entanto, outros fatores de
determinação mais complexa, como a vazão, velocidade do fluxo e força de impacto, exigem o uso de
alternativas indiretas tais como as expressões empíricas ou simulações numéricas.

O grupo de pesquisa COPPE-UFRJ/PUC-Rio tem investigado os fluxos de detritos no Brasil e concluíram que
as simulações numéricas com os programas computacionais DAN-W (2D) e DAN3D (3D) fornecem
resultados consistentes e representativos dos eventos de fluxo de detritos estudados. As simulações com
esses programas mostraram uma boa representação de parâmetros tais como distância percorrida, área
de deposição e volume final de fluxos de detritos ocorridos no Brasil. Porém, parâmetros como velocidade,
altura do fluxo e forças de impacto não podem ser avaliados, uma vez que os fluxos de detritos não foram
instrumentados e, portanto, não se dispõe de resultados. Desta forma, o programa DAN-W foi testado para
avaliar fluxos de detritos instrumentados nas áreas de testes de Pieve di Alpago e Veltheim, mostrando
resultados representativos. Esta comunicação apresenta os resultados das investigações desses
parâmetros, visando o dimensionamento de barreiras de proteção.

2- MODELOS DE FORÇA DE IMPACTO

As forças de impacto geradas pelos fluxos de detritos são muito difíceis de estimar, principalmente porque
dependem de muitos fatores de determinação complexa. Hubl et al. (2009) selecionam parâmetros como
a velocidade, densidade e altura do fluxo, e sugerem que não é possível desenvolver modelos de força de
impacto baseados em considerações teóricas.

A literatura técnica indica que os modelos de forças de impacto podem ser classificados em: (i) Hidráulicos,
subdivididos em Hidrostáticos e Hidrodinâmicos; (ii) Ondas de colisão; (iii) Impacto de corpos sólidos; e
(iv) Empíricos.

Os modelos hidráulicos têm sido atualmente os mais usados para analisar as forças de impacto. O primeiro
modelo hidráulico hidrostático para fluxos de detritos foi desenvolvido por Lichtenhahn (1973) e, apesar
de sua antiguidade, ainda é empregado com frequência. O modelo proposto pelo autor é simples e prático
e considera a força de impacto como uma força hidrostática, exigindo apenas a altura do fluxo de detritos.
Saliente-se que normalmente as estruturas de proteção são dimensionadas especificamente como alturas
dos fluxos de detritos (Hubl et al., 2009). Muitas teorias foram desenvolvidas baseadas nessa proposta,
apesar de autores como Moriguchi et al. (2009) considerarem que a força de impacto deve ser relacionada
a outros fatores tais como a velocidade do fluxo e o fator de impacto dinâmico.

Os modelos hidrostáticos, portanto, consideram que a força de impacto é função principalmente da altura
do fluxo de detritos, sendo expressa por (Lichtenhahn, 1973):

𝑃𝑚á𝑥 = 𝑘 ∙ 𝜌𝑀𝑢 ∙ 𝑔 ∙ ℎ𝑀𝑢 [1]

Onde Pmáx é a pressão máxima de impacto do fluxo de detritos, g é a gravidade, ρMu é a massa específica
do fluxo, hMu é a altura do fluxo e k é chamado de fator empírico ou fator de impacto variando de 2,5 a 7,5.

Hubl et al. (2009) consideram o fator empírico como um fator de segurança, uma vez que todos os modelos
hidráulicos são baseados em fluidos newtonianos e a viscosidade é independente da velocidade. Porém, os
fluxos de detritos são uma mistura de sedimentos e água, e existe uma resistência ao cisalhamento viscoso
dependente da velocidade.

Os modelos hidráulicos hidrodinâmicos consideram que o principal parâmetro é a velocidade do fluxo.


Diversas pesquisas sobre o impacto dinâmico de fluxos de detritos, realizadas em ensaios de campo em
escalas real e reduzida e ensaios de laboratório, indicam uma inequívoca relação entre o impacto dinâmico
e o quadrado da velocidade do fluxo, expressa por:

𝑃𝑚á𝑥 = 𝛼 ∙ 𝜌𝑀𝑢 ∙ 𝑣 2 [2]

Onde Pmáx é a pressão máxima de impacto do fluxo de detritos, ρMu é a massa específica do fluxo, v é a
velocidade do fluxo e α é chamado de fator de impacto.

O fator de impacto é o mais controverso, com valores variando entre 1 e 5. A Geo Hong Kong recomenda
valores entre 2 e 3 (Kwan, 2012). Grau Sacoto (2017) sustenta que o fator de impacto deve ser estudado
para cada região, pois depende da sua geologia, geomoformologia e materias do fluxo de detritos. Cui et
al. (2015) consideram que o fator de impacto representa os tipos de regime do fluxo e suas composições.

125
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Modelos hidráulicos mistos (hidrostáticos e hidrodinâmicos) também têm sido estudados, destacando-se o
de Segalini et al. (2013), que considera 3 componentes de forças aplicadas em barreiras flexíveis, as quais
são geradas em sequencia após o impacto do fluxo de detritos: (i) Força dinâmica produzida pelo impacto
do fluxo de detritos na barreira Fdyn, calculada com o modelo hidrodinâmico; (ii) Força estática produzida
pelo acúmulo de detritos na barreira Fstat, calculada com o modelo hidrostático; e (iii) Força de arraste
produzida quando o fluxo de detritos passa por cima da barreira Fdrag (galgamento da barreira), expressas
por:

𝐹𝑚𝑎𝑥 = 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡 + 𝐹𝑑𝑦𝑛 ± 𝐹𝑑𝑟𝑎𝑔 [3]

𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡 = 𝑘 ∙ 𝜌𝑀𝑢 ∙ 𝑔 ∙ ℎ𝑀𝑢 [4]

𝐹𝑑𝑦𝑛 = 𝛼 ∙ 𝜌𝑀𝑢 ∙ 𝑣 2 [5]

𝐹𝑑𝑟𝑎𝑔 = 𝑡𝑎𝑛𝜑 ∙ 𝜌𝑀𝑢 ∙ 𝑔 ∙ ℎ𝑑 [6]

Onde Fmáx é a força máxima de impacto do fluxo de detritos, g é a gravidade, ρMu é a massa específica do
fluxo, hMu é a altura do fluxo, hd é a altura do fluxo de detritos que galga a barreira, v é a velocidade do
fluxo, ϕ é o ângulo de atrito do fluxo, α é um fator empirico (recomedado igual a 2) e k é o coeficiente de
empuxo de terra igual a 1.

Alguns modelos de forças de impacto envolvem parâmetros de entrada muito difíceis, visto que são obtidos
no momento em que ocorrem os fluxos de detritos, como por exemplo a altura de galgamento da barreira
do modelo de Segalini et al. (2013). Portanto, acredita-se que os parâmetros desses modelos na prática
não poderiam ser estimados.

Além disso, reconhece-se que quanto maior é a quantidade de parâmetros de entrada dos diferentes
modelos de força de impacto, maior é a susceptibilidade aos erros, acarretando avaliações não
representativas e potencialmente perigosas. Desta forma, os autores consideram o emprego preferencial
de modelos simples como os hidrodinâmicos para a estimativa de forças de impacto, objetivando o
dimensionamento adequado de estruturas de proteção contra fluxos de detritos.

2.1 - Método de impacto de blocos – Único e múltiplos

Frequentemente, os fluxos de detritos, além dos detritos e da água, apresentam blocos rochosos de
diversos volumes. Em geral, os blocos são os primeiros a produzir o impacto, seguido dos outros materiais
que formam os fluxos de detritos. Vandine (1996) afirma que o depósito dos detritos que atingem a barreira
nos primeiros momentos promove uma redução progressiva das forças de impacto dos fluxos de detritos
subsequentes.

O impacto dos blocos pode ser mais importante que o do fluxo, visto que os esforços gerados podem ser
maiores (Mizuyama, 1979; Hungr et al., 1984; Yamaguchi, 1985; Zhang, 1993; Lien, 2002; Huang et al.,
2007; He, 2010). He et al. (2016) afirmam que quando o bloco flutua sobre a lama do fluxo de detritos, a
velocidade do bloco é igual a velocidade do fluxo de detritos. Porém, quando o bloco se desloca
independentemente do fluxo de detritos, sua velocidade é menor.

Yamaguchi (1985), Mizuyama (1979), Lien (2002) e Huang et al. (2007) consideram que a força de impacto
do bloco pode ser derivada da teoria da colisão elástica, porém ela é melhor estimada por meio de
investigações de campo e testes em modelos reduzidos. A força de impacto depende principalmente da
velocidade e do diâmetro do bloco e pode ser expressa por:

𝐹 = 𝐴 ∙ 𝑅2 ∙ 𝑉1,2 [7]

Onde F é a força de impacto do bloco, R é o raio do bloco, V é a velocidade do bloco e A é o coeficiente de


ajuste da relação. Este coeficiente pode ser obtido por meio da teoria da colisão elástica, variando de 80,8
(Lien, 2002) a 426 (Yamaguchi, 1985) e igual a 241 conforme Mizuyama (1979). Os coeficientes
determinados em ensaios de campo indicam valores muito inferiores, variando de 30,8 (Huang et al., 2007)
a 50 (Yamaguchi, 1985) e igual a 48,2 proposto por Mizuyama (1979).

A proposta de Mizuyama (1979) modificada por resultados de investigações de campo tem representado
consistentemente o impacto dos blocos é a adotada neste trabalho para as análises de força de impacto de
bloco e, portanto, expressa por:

𝐹 = 48,2 ∙ 𝑅2 ∙ 𝑉1,2 [8]

O impacto dos fluxos de detritos pode ocorrer de diferentes formas. Alguns fluxos de detritos se
desenvolvem em vários pulsos, e assim múltiplos ciclos de carga devem ser considerados para garantir a
estabilidade e o desempenho das barreiras de proteção. A Figura 1 apresenta os diferentes cenários

126
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

possíveis para impactos dos detritos. Neste trabalho considerou-se que o primeiro impacto de fluxo de
detritos com blocos rochosos é o mais relevante para a determinação da força de impacto, visto ser o de
maior magnitude e, portanto, o mais crítico para o dimensionamento de estruturas de proteção. Vale ainda
mencionar que as barreiras flexíveis permitem uma redução dos efeitos dos blocos devido a grande área
de contato entre a barreira e o bloco (Canelli et al., 2012).

Figura 1 - Cenários de dimensionamento de barreiras com múltiplos impactos dos detritos (Kwan, 2012)

2.2 - Método da Energia

O método de energia pode ser uma opção interessante para estimativa da energia de impacto de fluxos de
detritos em barreiras de proteção, uma vez que a capacidade de absorção de energia dessas estruturas
são fornecidas por seus fabricantes.

A abordagem tradicional do método da energia é diretamente relacionada à energia cinética do movimento


e expressa por:
1
𝐸 = 𝑀 𝑣2
2
[9]

Onde M é a massa efetiva do fluxo de detritos e v é a velocidade do fluxo de detritos.


Wenderler et al. (2008) inserem o conceito de massa efetiva e estabelecem que a massa varia entre 10.000
e 20.000kg, pois depende da vazão do fluxo e é expressa por:

𝑀 = 𝜌𝑄𝑇 [10]

Onde ρ é a densidade do fluxo de detritos, Q é a vazão de pico e T é a duração de impacto do fluxo.

Esta relação pode ser muito imprecisa, visto que depende da duração de impacto dos fluxos de detritos.
Investigações de eventos ocorridos mostram que a duração do impacto varia de 1 até 4 segundos, embora
outros autores reportem valores de até 12 segundos. Em adição, a vazão de pico do fluxo de detritos
depende do volume do material que potencialmente pode ser retido na barreira e ainda pode variar de 5
até 30m3/s. Assim, a relação de massa efetiva de Wendeler et al. (2008) pode resultar em valores pouco

127
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

representativos do fluxo de detritos, principalmente para previsão de novos eventos, visto a dependência
de fatores como duração do impacto e vazão de pico, necessariamente medidos em eventos passados.

Luiz-Fonseca et al. (2011) apresentam uma relação baseada na premissa de que a energia deve ser
transformada em força de impacto na barreira e, portanto, por meio da segunda lei de Newton,
recomendam que a força de impacto seja determinada por:

𝐹𝑖𝑚𝑝 = 𝑀. 𝑎 = 2(𝐸/𝐷) [11]

Onde D é a máxima deflexão da barreira, que pode variar de 2 até 7m, em função do tipo e fabricante.

Em relação à proposta de Luiz-Fonseca et al. (2011), os autores acreditam que a estabelecimento de uma
relação entre a energia de impacto e a força de impacto não é recomendável, pois ela é influenciada por
vários fatores que não podem ser calculados, especialmente a dissipação da energia ao longo do movimento.
Além disto, essa relação considera a velocidade de fluxo de detritos constante, o que claramente já foi
comprovado não ser verdadeiro. Assim sendo, essa relação deve ser evitada ou usada com muito cuidado.

Ressalte-se que observações in situ de fluxos de detritos na Suíça mostraram que a abordagem da energia
apresenta várias limitações de modelagem do fluxo de detritos, incluindo-se a não consideração dos efeitos
da força de arraste quando o fluxo galga a barreira (Kwan et al., 2014). Este tipo de método não é avaliado
neste trabalho.

3- CARACTERIZAÇÃO DO FLUXO DE DETRITOS

O fluxo de detritos selecionado para estudo neste trabalho é chamado de Córrego D’Antas e ocorreu em
janeiro de 2011 na cidade de Nova Friburgo, Região Serrana Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Ele é um dos 3.000 movimentos de massa contabilizados na tragédia da região, a qual foi deflagrada pela
entrada de massas de ar da Zona de Convergência do Atlântico Sul e que resultaram em temporais de
297mm de chuva na noite do dia 11 para 12 de janeiro de 2011. Estes 297mm de chuva haviam sido
precedidos por 388mm de precipitação no mês de dezembro de 2010 (Nunes e Sayao, 2014). A tragédia
da região serrana do Rio ultrapassou o maior desastre de movimentos de massa da história do País,
representado pela deflagração de múltiplos deslizamentos e fluxos de detritos ocorridos em Caraguatatuba
em 1967. O desastre também entra para os registros da ONU como o 8º pior deslizamento da história
mundial com perdas e danos da ordem de 1,6 bilhões de euros, estimados pelo Banco Mundial.

O movimento de massa do Córrego D’Antas foi desenvolvido na vertente norte da encosta íngreme, com
declividade média de 45°, na zona de iniciação (Figura 2). Iniciou-se no contato solo-rocha e prosseguiu
orientado por uma linha de fraturas, erodindo a camada de solo residual e expondo o topo rochoso alterado
(Portella et al., 2013). Durante a queda, o material ganhou energia cinética que se dissipou ao atingir um
depósito de tálus situado na base da escarpa, gerando movimentos secundários com volumes muito
superiores ao movimento primário (Motta, 2014). Alguns blocos de grande volume da zona de iniciação
tiveram deslocamento reduziram e não foram agregados ao fluxo de detritos. Estima-se que cerca de
1.000m3 de material, contendo solo e blocos de rocha tenham sido inicialmente mobilizados, originando o
movimento que foi agregando mais massa ao se encaixar no talvegue.

O fluxo de detritos se desenvolveu ao longo de 3 canais preferenciais e 1 canal secundário, sendo possível
identificar 2 zonas distintas, Zona 1 e Zona 2, apresentadas na Figura 3. Os parâmetros do evento avaliados
e/ou medidos em campo são: Área de deposição de 35.600m2, volume final igual a 17.000m3, distância
percorrida de 770 a 780m e espessura da erosão de canais variando de 0,5 a 1,0m. A velocidade do fluxo
não pode ser aferida.

Pesquisadores do grupo Debris Flow da COPPE-UFRJ/PUC-Rio têm investigado vários fluxos de detritos,
especialmente o de Córrego D’Antas, destacando-se os trabalhos de Grau Sacoto (2017), Valverde (2016),
Pelizoni e Nunes (2016), Teixeira Silva (2016), Xavier Silva (2015), Nunes e Sayão (2014), Pelizoni (2014)
e Motta (2014).

Pelizoni (2014) foi a primeira a investigar o fluxo de detritos Córrego D´Antas usando o programa DAN3D.
Xavier Silva (2015) fez análises paramétricas dos valores de entrada que mais influenciam os resultados
do programa. Pelizoni (2014) e Xavier Silva (2015) usaram duas reologias para o fluxo, a de atrito e Voellmy,
a qual recomendam fortemente em função da maior aderência dos resultados numéricos aos parâmetros
reais do fluxo de detritos. Valverde (2016) também usou a reologia de Voellmy em simulações com DAN-
W e DAN3D. Esta comunicação apresenta os resultados das simulações numéricas do Córrego D’Antas com
os programas DAN3D E DAN-W e a reologia de Voellmy, voltadas para a estimativa de velocidades e
pressões de impacto do fluxo de detritos.

128
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

(b) Zona de iniciação

(a) Vista aérea (c) Zona de deposição


Figura 2 - Fluxo de detritos Córrego D’Antas e as zonas de iniciação e deposição (Nunes e Sayão, 2014)

Figura 3 - Fluxos de detritos Córrego D’Antas divididos em duas zonas, Zona 1 e Zona 2 (Valverde, 2016)

129
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

4- SIMULAÇÕES DAN-W DE ENSAIOS DE CAMPO DE FLUXOS DE DETRITOS

O DAN3D e o DAN-W foram desenvolvidos para simular movimentos de massa reais por meio de um modelo
langrageano bidimensional para a solução das equações de fluxo ao longo de um modelo de elevação digital.
O programa DAN3D (McDougall, 2006) representa uma evolução do programa bidimensional DAN-W
elaborado por Hungr (1995), visto utilizar uma formulação langrageana em 3D, incorporando o método
numérico de SPH (Smooth Particle Hydrodinamics).

O programa DAN-W é uma ferramenta mais simples, de fácil uso e que exige menor capacidade
computacional que o DAN3D. Ele foi pouco utilizado para as simulações de Córrego D’Antas. Estes motivos
levaram os autores a desenvolverem análises adicionais que comprovassem a reprodução de resultados de
fluxo de detritos com o DAN-W.

Além do evento natural de Córrego D’Antas, duas campanhas de ensaios de fluxo de detritos artificiais
realizadas em campo foram selecionadas para as análises com o DAN-W. Os campos de testes adotados
para as simulações foram os fluxos de detritos de Pieve di Alpago na Itália (Figura 4) e Veltheim na Suíça
(Figura 5). Os testes foram instrumentados e monitorados, permitindo as medidas de velocidade e pressão
de impacto nas barreiras flexíveis. Os resultados experimentais foram essenciais para também se verificar
a qualidade e representatividade dos principais de modelos de pressão de impacto de fluxos de detritos.

A área de teste de Pieve di Alpago foi preparada em encosta com canal natural de forma trapezoidal de 40º
de inclinação, 40m de comprimento e 2m de largura. Uma barreira flexível de 3000kJoules com 6m de
altura e 20m de comprimento foi instalada na extremidade do canal próxima à área de deposição. A barreira
flexível foi instrumentada com células de carga e sensores de deslocamento e a área de teste foi monitorada
por câmeras especiais para a medição da altura do fluxo, velocidade e força de impacto na barreira. Os
ensaios de fluxo de detritos foram realizados com uma mistura de blocos rochosos, solos finos e água com
massa específica de 1790kg/m3. O volume total lançado na cota superior do canal foi de 500m 3
aproximadamente. Os 12 lançamentos sucessivos foram realizados com volume de 40m3 cada. Os registros
das células de carga nos 12 lançamentos foram tratados, obtendo-se uma pressão de impacto média na
barreira de 214,kPa. A altura de impacto na barreira foi de 0,7m com velocidade variando de 2,5 a 9,0m/s.

A área de teste de Veltheim consiste em uma encosta natural, preparada por meio de escavação do canal
de fluxo com 40m de comprimento, 8m de largura e inclinação de 30º. A barreira flexível foi instrumentada
com células de carga. O canal foi instrumentado com câmeras, lasers e sensores de deslocamento para
medir a velocidade e altura do fluxo de detrito em 3 pontos de controle ao longo do canal. Foram realizados
16 lançamentos com diferentes misturas e configurações em volumes de 50m3. Os resultados reportados
nas pesquisas de Veltheim apresentam valores muito diferentes entre si. As alturas do fluxo variaram de
0,29 a 0,99m, com média igual a 0,56m. As velocidades de fluxo variaram de 5,2 a 11,9m/s, obtendo-se
um valor médio de 8,9m/s. As pressões de impacto medidas mostram uma faixa de valores ainda mais
ampla, de 28kPa até200 kPa.

As simulações numéricas com DAN-W dos ensaios de fluxo de detritos forneceram resultados consistentes
para ambos os casos, Pieve di Alpago e Veltheim. Grau Sacoto (2017) apresenta em detalhes as simulações
e resultados do DAN-W e suas comparações com os valores medidos nos ensaios de fluxos. Note-se que o
menor número de dados de entrada do programa DAN-W em relação ao DAN 3D facilitou a representação
da realidade mais simples dos testes, além de produzir resultados com menor esforço computacional.

Neste trabalho são apresentados os valores de altura de fluxo e velocidade nos pontos de controle da
barreira, os quais permitem a determinação da pressão de impacto com os modelos hidráulicos hidrostático
(Equação 1) e hidrodinâmico (Equação 2). Os valores assim calculados podem ser comparados com os
valores medidos pela instrumentação dos ensaios de campo e, desta forma, é possível avaliar a qualidade
dos 2 modelos hidráulicos para a estimativa das pressões de impacto.

Os Quadros 1 e 2 apresentam os principais resultados obtidos das simulações de fluxos de detritos e as


comparações com os valores medidos em campo durante os ensaios de Pieve di Alpago e Veltheim,
respectivamente. Apresentam também as pressões de impacto calculadas conforme os modelos
hidrostático (Equação 1 com fator de impacto mínimo igual a 2,5) e hidrodinâmico (Equação 2 com fator
de impacto mínimo igual 2,0). Observa-se que, para os dois campos de teste, os valores obtidos com as
simulações do DAN-W são consistentes com os valores medidos nos ensaios de fluxos de detritos. Nota-se
também que as pressões de impacto calculadas com o modelo hidrodinâmico são representativas das
medidas com as células de carga das barreiras, ao contrário dos valores calculados com o modelo
hidrostático. Isto indica que este tipo de modelo não representa adequadamente as pressões de impacto
dos fluxos de detritos e seu emprego deve ser cuidadoso, uma vez que as pressões são muito reduzidas e
contra a segurança para uso em projetos de barreiras de proteção. Os autores recomendam que o modelo
hidrostático seja adotado preferencialmente para fluxos de detritos com velocidades reduzidas. Para fluxos
de detritos com velocidades altas, o modelo hidrodinâmico com fator de impacto entre 2 e 3 oferece
resultados mais representativos.

130
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

(a) Vista geral (b) Antes e depois do fluxo de detritos

Figura 4 - Campo de testes de fluxos de detritos Pieve di Alpago na Itália (Segalini et al., 2016)

(a) Vista geral (b) Depois do fluxo de detritos


Figura 5 - Campo de testes de fluxos de detritos Veltheim (Bugnion et al., 2011)

Quadro 1 - Comparação de resultados do DAN-W com os resultados reais de Pieve di Alpago

Pressão de Impacto
Resultados Altura do Fluxo Velocidade Modelo Hidrostático Modelo Hidrodinâmico
Eq. 1 (k = 2,5) Eq.2 ( = 2,0)

Simulação DAN-W 0,72 m 7,5 m/s 32,4 kPa 202,5 kPa

Medições de Campo 0,70 m 2,5 – 9,0 m/s 214,1 kPa

131
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 2 - Comparação de resultados do DAN-W com os resultados reais de Veltheim

Pressão de Impacto
Resultados Altura do Fluxo Velocidade Modelo Hidrostático Modelo Hidrodinâmico
Eq. 1 (k = 2,5) Eq.2 ( = 2,0)

Simulação DAN-W 0,41 m 8,4 m/s 19,5 kPa 268,1 kPa

Medições de Campo 0,70 m 8,9 m/s 28,0 – 200,0 kPa

5- SIMULAÇÕES DAN-W E DAN3D DE CÓRREGO D’ANTAS - VELOCIDADES E PRESSÕES DE


IMPACTO

As simulações do fluxo de detritos Córrego D’Antas com os programas DAN-W e DAN3D forneceram vários
parâmetros, destacando-se a velocidade do fluxo ao longo da distância percorrida, a qual foi utilizada para
estimar as pressões de impacto com o modelo hidrodinâmico e o modelo de impacto de blocos de Mizuyama
(1979) aferido com dados de campo. Os resultados são apresentados em função da divisão do fluxo de
detritos Córrego D’Antas em 2 zonas, Zona 1 e Zona 2.

5.1 - Velocidade de fluxo

As análises de velocidade do fluxo de detritos são realizadas considerando as simulações com a reologia de
Voellmy nos programas DAN-W e DAN3D. Os resultados são apresentados nas Figuras 6 e 7 para as Zonas
1 e 2 do fluxo de detritos Córrego D’Antas, respectivamente. Nota-se que as velocidades obtidas com os
dois programas apresentam a mesma tendência, porém valores diferentes para as duas zonas.

Figura 6 - Variação da velocidade do fluxo de detritos Córrego D’Antas Zona 1 com a distância – DAN-W e DAN3D

132
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 7 - Variação da velocidade do fluxo de detritos Córrego D’Antas Zona 2 com a distância – DAN-W e DAN3D

Pode-se observar que, nas zonas de iniciação e transporte, as velocidades calculadas pelo DAN3D são
superiores às calculadas pelo DAN-W. Em contrapartida, na zona de deposição, as velocidades obtidas com
DAN3D são inferiores às obtidas com DAN-W. Verifica-se variações significativas nos valores instantâneos
calculados nos pontos de controle a cada 25m ao longo da trajetória. As diferenças se acentuam ainda mais
ao final da zona de deposição, superando 100% de diferença percentual na Zona 2. Uma possível explicação
se reside na maior sensibilidade do programa DAN3D em relação à topografia do terreno.

5.2 - Pressão de impacto do fluxo de detritos

A pressão de impacto de fluxos de detritos foi determinada por meio de duas abordagens: (i) Modelo
hidrodinâmico de fluxo de detritos conforme a Equação 2 com um fator de impacto igual a 3, a favor da
segurança e recomendado por LO (2000); e (ii) Método de impacto de blocos de Mizuyama (1979) conforme
a Equação 8, devido à presença de grandes blocos de rocha nos fluxos de detritos Córrego D’Antas. Nos
dois modelos foram utilizados os valores de velocidade do fluxo, determinados numericamente com os
programas DAN-W e DAN3D. Os resultados das duas abordagens de impacto de bloco e fluxo de detritos
para a estimativa da pressão de impacto são apresentados nas Figuras 8 e 9, para as zonas 1 e 2 de
Córrego D’Antas, respectivamente.

Figura 8 - Variação da pressão de impacto com a distância em função do Modelo Hidrodinâmico e Método de
Mizuyama - Fluxo de detritos Córrego D’Antas Zona 1

133
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 9 - Variação da pressão de impacto com a distância em função do Modelo Hidrodinâmico e Método de
Mizuyama - Fluxo de detritos Córrego D’Antas Zona 2

Para comparação das abordagens, considerou-se a queda de um bloco com volume de 6m 3 e uma massa
específica de 2700kg/m3. A seleção do volume de 6m3 se deve à presença de blocos desse tamanho na
zona de transporte e deposição do fluxo de detritos. A área de impacto foi selecionada como uma barreira
dinâmica de 3000 kJoules, com altura residual de 3,3m, resultando em área residual de 33,0m2.

As Figuras 8 e 9 mostram que os valores de pressões de impacto são consistentes, pois as diferenças
percentuais são em sua maioria reduzidas e inferiores a 50%, em especial os resultados usando o programa
DAN3D. Embora os dois programas representem os fluxos de detritos, o DAN3D mostra resultados mais
próximos do método de impacto de blocos de Mizuyama. As diferenças de valores são consideradas
desprezíveis a partir de 300m de distância, início da zona de deposição, nas duas zonas de fluxos.

As pressões na zona de iniciação são elevadas e se reduzem na zona de transporte e, novamente,


aumentam no início da zona de deposição. Ao final da trajetória, representado pelo final da zona de
deposição, as pressões sofrem reduções consideráveis. Observa-se que valores de pressões de impacto
inferiores a 100kPa ocorrem principalmente no final da zona de deposição, a 600m de distância da zona de
iniciação.

A consistência de resultados das duas abordagens indica que a seleção do bloco de 6m3 e 2700 kg/m3
representa um fluxo de detritos equivalente para estimativa das pressões de impacto dos fluxos reais de
Córrego D’Antas na zona de deposição. Além disto, indica também que método de queda de bloco pode ser
considerado válido para estimar as pressões de impacto de fluxo de detritos, na zona de deposição.

6- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As análises apresentadas nesta comunicação permitem sumariar as seguintes conclusões: (i) As simulações
com o programa DAN-W com reologia de Voellmy conseguem representar os ensaios de fluxos de detritos
de Pieve di Alpago e Velltheim e o fluxo de detritos Córrego D’Antas; (ii) O modelo hidrodinâmico é capaz
de estimar as pressões de impacto dos ensaios de fluxo de detritos em função das velocidades de fluxo
obtidas com DAN-W e fator de impacto igual a 2, ao contrário do modelo hidrostático, que não reproduz as
pressões de impacto; (iii) As velocidades de fluxo de detritos ao longo da distância de Córrego D’Antas
podem ser determinadas com DAN-W e DAN3D e adotadas para estimativa das pressões de impacto com
o modelo hidrodinâmico e fator de impacto 3, a favor da segurança;(iv) As pressões de impacto estimadas
com o modelo hidrodinâmico e o método de Mizuyama (1979) para impacto de blocos em função das
velocidades de fluxo obtidas com DAN-W e DAN3D e reologia de Voellmy apresentam resultados
consistentes, especialmente na área de deposição, a mais indicada para a implantação de barreiras de
proteção; (v) O método de Mizuyama (1979) de impacto de blocos pode ser usado para estimar as pressões
de impacto de fluxo de detritos, desde que sejam conhecidos os tamanhos de blocos, geologia e topografia
da área.

As principais recomendações para a análise e estimativa de esforços de impacto de fluxos de detritos,


visando o projeto de estruturas de proteção são as seguintes: (i) Levantamento das características da área
de ocorrência de fluxos de detritos, com ênfase nos tipos de materiais presentes no canal ou superfície da

134
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

encosta; (ii) Seleção do programa numérico com reologia de Voellmy para obtenção da envoltória de
velocidade de fluxo, destacando-se DAN3D e DAN-W, este último de mais fácil utilização e menor esforço
computacional; (iii) Estimativas das pressões de impacto com as velocidades de fluxo determinadas
numericamente e modelo hidráulico hidrodinâmico com fator de impacto entre 2 e 3.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro dado ao primeiro autor durante seu curso de mestrado,
à Maccaferri Brasil pela disponibilização de dados de ensaios de fluxos de detritos de Pieve di Alpago e ao
Prof. Oldrich Hungr (in memorian) pela disponibilização dos Programas DAN-W e DAN3D.

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136
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ANÁLISIS DE LA PATOLOGÍA DE UN DESMONTE EN LA AUTOVÍA A-7.


GRANADA (ESPAÑA)

ANALYSIS OF THE PATHOLOGY AND STABILIZATION ON AN EXCAVATED


SLOPE ON MOTORWAY A-7. GRANADA (SPAIN)

Moreno Robles, Javier; Laboratorio de Geotecnia (CEDEX), España, Javier.Moreno@cedex.es


González-Gallego, Javier; Laboratorio de Geotecnia (CEDEX), España, Javier.Gonzalez@cedex.es
García de la Oliva, José Luis; Laboratorio de Geotecnia (CEDEX), España, Jose.G.Oliva@cedex.es

RESUMO

A realização das obras da autoestrada A-7 na zona da costa da Província de Granada (Espanha), no lanço
entre Adra e Motril tem sido muito complexa devido à particular configuração tectónica, lito-estrutural e
orográfica da zona. As grandes inclinações naturais das serras Béticas nesta área, que atingem o mar,
acrescido com a heterogeneidade, a estrutura e as características resistentes dos materiais, têm provocado
a aparição dalgumas patologias, relacionadas com o movimento das encostas, de grandes dimensões.
Desde há vários anos, o Laboratório de Geotecnia do CEDEX tem participado no estudo e definição de
soluções para várias destas patologias.

Nesta comunicação trata-se o caso recente dum grande deslizamento de ladeira, em mármores e filitos,
com 80m de desnível, 370m de comprimento e 225m de distancia desde o pavimento da estrada até às
fendas de coroamento da instabilidade. A existência duma grande lagoa de agua, na zona alta da encosta,
a 60m de distancia das fendas de cabeça, condicionou o estudo e solução da patologia para assegurar que
esta lagoa não se visse afetada pela instabilidade.

Foi realizada uma extensa campanha de investigação, com execução de 14 sondagens, instalação de
inclinómetros e piezómetros, e 120 pontos de controlo topográfico superficial.

A singular cinemática do movimento e a orografia da encosta motivaram que, para o cálculo de estabilidade
e definição das soluções, se optasse por realizar uma modelização numérica incluindo tanto cálculos 2D,
que são mais habituais e permitem uma maior versatilidade, como 3D que são os que, neste caso concreto,
se considera que reproduzem o problema duma maneira mais acertada.

RESUMEN

La ejecución de las obras de la autovía A-7 en la zona de la costa de Granada (España), en el tramo entre
Adra y Motril, ha sido muy compleja debido a la particular configuración tectónica, lito-estructural y
orografía de la zona. Las grandes pendientes naturales de las cordilleras Béticas en esta zona, que llegan
hasta el mar, sumadas a la heterogeneidad, estructura y características resistentes de los materiales han
provocado la aparición de algunas patologías, relacionadas con el movimiento de laderas, de grandes
dimensiones. Desde hace varios años, el Laboratorio de Geotecnia del CEDEX ha participado en el estudio
y definición de soluciones para varias de estas patologías.

En esta ponencia se trata el caso reciente de un gran deslizamiento de ladera, en mármoles y filitas, con
80m de desnivel, 370m de longitud y 225m de distancia desde la calzada hasta las grietas de cabecera. La
existencia de una gran balsa de agua, en la zona alta de la ladera, a 60m de distancia de las grietas de
cabecera ha condicionado el estudio y solución de la patología para asegurar que la misma no se vea
afectada por la inestabilidad.

Se ha realizado una extensa campaña de investigación en la que se han ejecutado 14 sondeos con
instalación de inclinómetros y piezómetros, y 120 puntos de control topográfico superficial.

La singular cinemática del movimiento y orografía de la ladera han motivado que para el cálculo de
estabilidad y soluciones se haya optado por hacer una modelización numérica que incluya tanto cálculos
2D, que son más habituales y que permiten una mayor versatilidad, como 3D que son los que, en este caso
concreto, se considera que reproducen el problema de una manera más acertada.

1- MARCO GEOLÓGICO

La autovía A-7, en la costa de la provincia de Granada, entre las localidades de Adra y Motril transcurre
paralela a la costa y muy próxima a la misma (Figura 1). En esta zona, de orografía muy complicada, las
pendientes de las laderas naturales son muy acusadas (20º-35º) por lo que el trazado se caracteriza por
grandes desmontes en los taludes del lado montaña (norte).

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 1 - Vista extraída de Google Earth del trazado de la A7 entre Adra y Motril

Si algo caracteriza especialmente, desde el punto de vista geológico, a esta zona es la superposición en el
espacio de un número elevado de mantos de cabalgamiento, alternándose, en la vertical, capas con
diferentes grados de metamorfismo y distintas edades. Estos cabalgamientos se produjeron durante la
orogenia Alpina, a principios del Cenozoico, cuando el choque en dirección norte-sur de las placas de
Alborán e Ibérica provocó el levantamiento de los materiales metamórficos y sedimentarios que hoy
conforman las Cordilleras Béticas, dando lugar a la elevación de Sierra Nevada y la cuenca del Guadalquivir.

Los cabalgamientos que fueron apilando materiales de sur a norte motivaron que tanto la esquistosidad
como los planos de contacto entre diferentes materiales tengan una dirección de buzamiento general hacia
el sur. En la Figura 2 se puede apreciar un corte, a escala regional, en dirección NNO-SSE del entorno de
la zona de estudio, tomado de la cartografía geológica del sur de la provincia de Granada elaborada por el
IGME (Serie MAGNA 50.000, hoja 1056 Albuñol).

Figura 2 - Corte geológico general del Sistema Bético por la zona en la que se han desarrollado las obras

Entrando en detalle en la zona de estudio existe un manto de cabalgamiento, en materiales triásicos, de


una unidad de mármoles sobre filitas, cuarcitas y calcoesquistos. Estos mármoles, a consecuencia de los
movimientos que han sufrido, se encuentran muy fracturados, lo que ha facilitado la aparición de procesos
de disolución, encontrando estructuras típicas kársticas tanto en superficie como en profundidad. De esta
forma, los mármoles resultan muy permeables a través de la red de fracturas llegando el agua con gran
rapidez a los materiales sobre los que están apoyados.

Estos materiales infrayacentes son filitas grises con una esquistosidad que, en general, presentan
buzamientos suaves hacia el SSO. En los sondeos realizados esta unidad aparece con grados de alteración
muy altos GM IV-V con aspecto de materiales arcillosos poco competentes.

En la Figura 3 se muestra una imagen de satélite de la zona de estudio con la geología del MAGNA
superpuesta. Se representa en rojo el trazado de la autovía, y en color rosado los mármoles que están
encima de las filitas (morado). Se indica la dirección de buzamiento general de la zona, que es hacia el mar.
Se puede observar que la traza de la autovía discurre sub-paralela al contacto mecánico entre las dos
unidades (mármoles sobre filitas) y perpendicular a la dirección general de la esquistosidad.

138
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 3 - Imagen de satélite para ilustrar la configuración lito-estructural de la zona

En esta zona la superficie de contacto entre las filitas y los mármoles buza entre 10º y 15º hacia el SSO.
Esta orientación, tanto de los planos de esquistosidad como del contacto entre las dos unidades, unida a la
del trazado de la autovía en esta zona (NO-SE) es, desde el punto de vista de la estabilidad de los taludes,
claramente desfavorable. Además, al tratarse de mantos de cabalgamiento muchas capas están
desplazadas respecto a las que las rodean por lo que el ángulo de rozamiento de estas superficies puede
ser próximo al residual.

2- DESCRIPCIÓN DE LA PATOLOGÍA OBSERVADA

El talud objeto de esta ponencia está excavado a media ladera, siendo una trinchera muy asimétrica,
teniendo una altura de 77m en la margen del lado montaña y 15m en el lado mar. Su longitud total es de
370 m, teniendo dos zonas claramente diferenciadas.

En la primera de ella entre los pp.kk. 0+250 y 0+420 el pie del talud está excavado en filitas (mármoles
en cabecera) y la inclinación media del mismo es de 25º. En la segunda, entre los pp.kk. 0+420 y 0+620,
el talud está excavado en toda su altura en mármoles dolomíticos con una pendiente en sus taludes de 60º
y una berma intermedia.

Desde el punto de vista litológico en el talud aparecen básicamente dos materiales (ver Figura 4), las filitas
en su parte inferior y sobre ellas, a través de un contacto mecánico, los mármoles dolomíticos. El plano de
contacto, deducido con tres de los sondeos realizados, tiene una dirección de buzamiento de 207º y un
buzamiento de 11º lo que hace que aparezca de forma oblicua en el talud, dejando las dos partes
diferenciadas que se ha mencionado en el párrafo anterior.

En el talud, durante la fase de ejecución, se produjeron algunas inestabilidades que afectaron


fundamentalmente a la zona de filitas. Para paliar estas inestabilidades se ejecutó un muro de escollera en
la base y unas costillas drenantes en una de las zonas que habían presentado síntomas de inestabilidad.

Actualmente las grietas se han ido extendiendo marcando claramente una zona inestable que afecta a gran
parte del desmonte (Foto 1a). Desde las grietas de cabecera más alejadas hasta la autovía hay 225m de
distancia y 80m de desnivel. La rigidez de los mármoles ha contribuido a que estas grietas marcaran
rápidamente y con nitidez la geometría del movimiento. En las paredes de las grietas se han encontrado
signos de disolución y circulación de agua.

Además, en el pie del talud y en la calzada aparecieron deformaciones, levantamientos del firme así como
un claro desplazamiento lateral de la mediana, que parecían indicar una posible salida del movimiento (Foto
1b).

3- INVESTIGACIÓN REALIZADA

Debido a la envergadura del problema se realizó una investigación exhaustiva para conocer la cinemática
del movimiento y obtener los datos necesarios para poder plantear soluciones a la patología existente en
la ladera.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Con el objetivo de investigar y verificar las litologías, hidrogeología del macizo y superficies de rotura se
planteó la ejecución de 13 sondeos con profundidades entre 15m y 60m (Figura 5).

Figura 4 - Vista general del talud donde se aprecian las dos partes diferenciadas. En rojo la zona movilizada

Foto 1 - Vista de las grietas de cabecera (a) y deformaciones en la calzada de la autovía (b)

Los sondeos S2 y S14p se equiparon con tubería de PVC ranurada para conocer la posición y fluctuaciones
del nivel freático. El resto de sondeos quedaron equipados con tubería inclinométrica para poder identificar
las posibles deformaciones del terreno y superficies de rotura.

En la Figura 6 se muestra un perfil litológico simplificado realizado con la información de los sondeos y
afloramientos existentes en la ladera. El contacto mecánico entre mármoles y filitas hace que la orientación
estructural de estos materiales, aunque es similar, no sea concordante. La zona de techo de las filitas
presenta grados de alteración IV y V, y en muchas ocasiones se encuentran saturadas. Es de resaltar la
posición del sondeo S11 que se ejecutó junto a un gran depósito de agua que existe ladera arriba con el
objetivo de confirmar que el entorno de la balsa era estable.

Los sondeos S15 a S19 se situaron en el arcén del lado del talud y sobre la escollera con el objetivo de
reconocer las características geotécnicas de los materiales en esa zona de cara a posibles soluciones y para
identificar la superficie de rotura en la zona del pie. En concreto, el S15 y el S17 están sobre la escollera y
marcan superficies de rotura entre 13m y 18m de profundidad con velocidades de hasta 400mm/año. Los
sondeos S16 y S18, se realizaron en el arcén del lado interior y marcan superficies de rotura entre 6m y
10m de profundidad con velocidades de hasta 350 mm/año (Figura 7).

El sondeo S14 se ejecutó con 30m de profundidad, con una diferencia de altura entre su boca y la calzada
también de 30m. En las primeras medidas de inclinometría mostraba varias bandas de rotura a diferentes
profundidades, sin embargo el movimiento de la cabeza tomado por topografía era mayor que el medido
con el inclinómetro lo que indicaba que la superficie de rotura principal debía de estar situada a más
profundidad lo que justificó la ejecución del sondeo inclinométrico S20 en el que se detectó la banda de
rotura principal a 35m de profundidad, por debajo de la cota de la calzada de la autovía (Figura 8).

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 5 - Vista de la ubicación de los sondeos ejecutados

Grietas
S2 S1

Mármoles
80m

S20

S17
S18
Filitas

230m

Figura 6 - Perfil litológico simplificado deducido del levantamiento de los sondeos y afloramientos

Figura 1. Detalle de lecturas de inclinometría en el Figura 2. Detalle de lecturas de inclinometría en el


S18 (arcén) S20

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Además se estableció una red de 120 de puntos de control topográfico tanto en la ladera como en la calzada
para poder identificar la cinemática y límites del movimiento que se aprecia en el desmonte. Esta red de
puntos de control topográfico permitió determinar con precisión el área de la ladera que está en movimiento
y su cinemática. Así, en la Figura 9 se muestra con una línea rosa el área que delimitan las grietas más
exteriores existentes en la ladera y con líneas azules los vectores de movimiento magnificados de cada uno
de los puntos de control topográfico.

Se aprecia en dicha figura como toda la zona excavada con menos pendiente y en la que afloran las filitas
en la parte inferior del talud, tiene una componente de movimiento muy marcada hacia la calzada. Sin
embargo, la zona englobada por las grietas en la cual los mármoles llegan hasta el pie del desmonte (p.k.
0+420 a 0+620) registra muy poco movimiento.

Puede verse una clara componente rotacional en los vectores de la zona con más movimiento. Al tener la
estructura del macizo una clara componente hacia el sur-suroeste el movimiento natural de la masa que
está deslizando sería en esa dirección (vector amarillo de la Figura 9) pero el macizo de mármoles, en la
zona en la que llegan a cota de rasante, impide ese movimiento provocando que el movimiento tenga esa
componente rotacional con el eje de giro situado en el entorno del límite Este de la grieta exterior (zona
inferior central de la Figura 9) que coincide con la zona en la que los mármoles empiezan a tener continuidad
bajo la calzada, actuando como contrafuerte natural.

Figura 9 - Vista de los vectores de movimiento en los puntos de superficie controlados por topografía

En la Figura 10 se muestra, en un perfil realizado por el p.k. 0+360, una línea verde que representa la
supuesta superficie de deslizamiento deducida con la información que han proporcionado los inclinómetros
(S1, S20, S17 y S18) y los vectores de los puntos de control de movimiento superficial.

Los vectores de los puntos de control topográfico se representan en color azul y muestran como en la zona
próxima a las grietas de cabecera el movimiento es claramente de hundimiento. En la zona media de la
ladera el movimiento tiene una componente traslacional más acusada y en la zona de pie y en la calzada
es de levantamiento y refleja perfectamente lo que se puede percibir en la Foto 1b.

Figura 10 - Perfil litológico con la superficie de deslizamiento supuesta (color verde) con los vectores de movimiento

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

4- PLANTEAMIENTO DE SOLUCIONES DE ESTABILIZACIÓN

Cuando se pretende plantear y/o diseñar los trabajos de estabilización para un desmonte de grandes
dimensiones, tal y como se considera el analizado en este documento, habitualmente se manejan tres
diferentes filosofías de solución.

La primera de ellas, de una gran eficacia siempre que se consiga el efecto deseado, es la modificación de
la situación del nivel freático en sentido de rebajar su cota, especialmente en la zona que se encuentre por
encima de la superficie de deslizamiento considerada. Habitualmente, cuando se modeliza el efecto de un
rebajamiento del nivel freático en la estabilidad de una ladera, se puede observar que el efecto estabilizador
es muy notable. Sin embargo, la mayor dificultad reside en materializar efectivamente dicho rebajamiento
mediante drenes, zanjas o pozos, de forma que se garantice su eficacia a lo largo del tiempo.

La segunda opción de estabilización que habitualmente se contempla es el empleo de elementos


estructurales que aporten una fuerza de estabilización. Estos elementos habitualmente son pantallas de
pilotes, elementos de pantalla continua dispuestos con el lado mayor en la dirección del deslizamiento y
anclajes (aislados o con muro de reparto). En dicho diseño, las fuerzas de estabilización deben suponer un
cierto porcentaje del peso de material afectado por la inestabilidad para que su influencia sea razonable.
Por este motivo, cuando la masa inestable es de dimensiones considerables, disponer elementos
estructurales que aporten una fuerza de estabilización suficiente puede ser inviable económicamente.

Por último, la tercera tipología de solución de estabilización consiste en realizar un movimiento de tierras,
retirando material en la parte superior de la masa inestable (que aporta fuerza inestabilizadora) y, en
ocasiones, aportando material en la parte inferior del talud (siempre que la geometría de la superficie de
deslizamiento en dicha zona sea tal que el peso del terreno añadido aporte una fuerza estabilizadora). Esta
solución presenta el problema de que habitualmente se requieren grandes movimientos de tierra (también
un porcentaje razonable del volumen de material movilizado por la inestabilidad) con el consiguiente coste
económico y medioambiental, y está muy condicionado por la existencia de vertederos próximos a la obra.

5- SOLUCIÓN DE ESTABILIZACIÓN ADOPTADA

A partir de las tres soluciones genéricas de estabilización referidas en el apartado anterior, se analizó su
posible empleo en la estabilización del desmonte objeto del presente documento.

En relación a la opción de rebajamiento del nivel freático, se estimó que la litología y estructura del
desmonte complicaba notablemente su materialización. Los mármoles superiores, que se encuentran muy
fracturados, aportan el agua a las filitas inferiores. Así, realizar un drenaje en los mármoles sería muy poco
eficaz ya que éstos drenan de forma natural por vías preferentes (grietas), trasladando el agua del macizo
a la filitas. En el caso de las filitas, de muy reducida permeabilidad, la disposición de elementos de drenaje
debería ser muy densa para conseguir un drenaje eficaz. Además, estos elementos de drenaje (drenes
subhorizontales conectados con pozos verticales) deberían atravesar los mármoles superiores, lo que
supondría una muy compleja ejecución y elevado coste y su integridad estaría muy condicionada por la
dinámica actual de la inestabilidad.

La opción de emplear elementos estructurales de contención se desestimó cuando tras analizar los
resultados de la campaña de reconocimiento se calculó que la masa potencialmente inestable superaba
1.500.000 m3. La ejecución de anclajes se desestimó por la elevada longitud que deberían tener
(claramente superior a 50m) y por el importante número de elementos necesarios para aportar una fuerza
de estabilización proporcionada con la masa de material movilizado. Por otro lado al estar los mármoles
fracturados y formando grandes bloques podrían sufrir movimientos diferenciales que podrían modificar la
carga de los anclajes (descargándolos o llevándolos a rotura). En el caso de emplear elementos
estructurales tipo pantalla, éstos deberían tener unas dimensiones y características que los harían
económicamente inviables.

Finalmente se estudió la opción de realizar un movimiento de tierras que se ha diseñado en dos fases
secuenciales. En esta comunicación se describe únicamente la primera fase.

El perfil de la excavación propuesta se incluye en la Figura 11. En el pie del desmonte se ha previsto excavar
una banda de unos 20m paralela a la calzada (donde actualmente existe un muro de escollera). A partir de
esta excavación se reperfila la excavación con una inclinación aproximada del 2H:1V, hasta intersectar con
el plano que, siendo paralelo al contacto mármoles-filitas, se encuentra a unos 7,5-10m en la vertical por
encima del contacto. Este espesor de mármol aporta un grado de confinamiento a las filitas para evitar su
degradación y meteorización.

143
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 11 - Esquema de solución estabilizadora mediante movimiento de tierras

La inclinación del plano de excavación en mármoles es aproximadamente de unos 9º (similar, lógicamente,


al contacto mármoles-filitas) y se extiende hasta que se intersecta con un plano de excavación 1H:1V que
se sitúa unos 20m ladera arriba de las grietas.

Con el perfil de excavación diseñado se consigue retirar parte de la masa inestable existente en la zona
superior del desmonte, lo que tiene un carácter estabilizador. Sin embargo, también se excava material en
la parte inferior del desmonte lo que, por el contrario, no mejora su estabilidad. Lo que se pretende es
crear una zona de debilidad (o “zona fusible”) al pie del desmonte para desplazar la salida de la inestabilidad
a esa banda evitando la situación actual en la que la salida de la cinemática de rotura alcanza la calzada
de la autovía. El volumen excavado en dicha zona (según se puede ver en el perfil de la Figura 11) es
bastante reducido en comparación con el excavado en la parte superior del talud, con lo que el efecto
desfavorable de realizar la excavación en el pie es muy inferior al efecto estabilizador provocado por la
excavación en cabeza.

Cuando se realizan trabajos de estabilización en un deslizamiento de grandes dimensiones, tal y como es


el referido en el presente documento, es demasiado atrevido pensar que los movimientos se van a detener
de forma instantánea y total. Por el contrario, el proceso habitual es que tras los trabajos de estabilización
la velocidad de los movimientos disminuya notablemente a lo largo de un periodo de tiempo que se mide
en meses debido, entre otros aspectos, a que la masa deslizada no es un sólido rígido y se tiene que ir
reacomodando a su nuevo estado tensional. Por los motivos anteriores, la “zona fusible” se crea para forzar
que la salida de la rotura se sitúe en la zona de 20m excavada paralela a la calzada, de forma que ésta no
se vea afectada por la inestabilidad.

Adicionalmente, y en una segunda fase de actuaciones, el sobreancho de 20m de excavación permitirá la


posible ejecución de una solución estructural (pantalla de pilotes o elementos de pantalla dispuestos con
la dimensión mayor paralelos a la dirección del deslizamiento) que forzará en mayor medida que la salida
de la rotura no afecte a la calzada. Es importante explicitar que estos elementos estructurales no tienen el
cometido de estabilizar la ladera sino el de proteger la calzada evitando que la salida de la rotura pueda
afectarla.

La solución genérica de excavación prevista es la indicada anteriormente y se ha definido considerando un


perfil del terreno. Sin embargo, según se puede ver en la información disponible, el desmonte a estabilizar
y la cinemática observada no son fácilmente asimilables a una geometría bidimensional. Por este motivo,
es importante definir correctamente las superficies de excavación que delimitan el volumen a retirar.

Teniendo en cuenta aspectos tales como volumen resultante a excavar, afección posible de las voladuras al
tráfico, presencia de la balsa de riego, líneas de alta tensión, etc. se definió tridimensionalmente la
excavación que se realizará en la primera fase de actuación (Figura 12).

144
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 12 - Planta de la primera fase de excavación

La eficacia de esta primera fase de excavación se comprobará con los registros de movimientos tanto
topográficos superficiales como inclinométricos. Del análisis de dichas medidas se podrá establecer si es
necesaria la construcción de los elementos estructurales al pie del desmonte y realizar una excavación
adicional de la zona de mármoles más próxima a la calzada en los pp.kk. crecientes, lo que constituiría una
posible segunda fase de actuación.

6- MODELIZACIÓN REALIZADA

6.1 - Modelo bidimensional (2D)

A partir de la geometría de la sección de la Figura 11 se realizó un modelo bidimensional de elementos


finitos empleando el código numérico Plaxis 2D v.2016 (Delft, Países Bajos), que está especialmente
diseñado para la resolución de problemas geotécnicos y geotécnico-estructurales. La malla empleada se
puede ver en la Figura 13, donde se observa que se ha considerado un nivel superior de mármoles (azul)
que se sitúa sobre las filitas (verde). Bajo éstas se ha dispuesto un material con un comportamiento
resistente suficientemente competente para evitar que la rotura pueda penetrar por el mismo.

En el caso de los mármoles se ha empleado una linealización tipo Mohr-Coulomb de la envolvente de rotura
tipo Hoek&Brown, ajustándose en el rango de presiones normales esperables y eliminándose la resistencia
a tracción del material para poder simular el efecto de las grietas de tracción detectadas en el terreno.

Figura 13 - Malla de elementos finitos empleada en el modelo 2D (Plaxis)

En el caso de las filitas inferiores, y como estimación inicial de la resistencia del material existente en la
banda de corte, se realizaron en el Laboratorio de Geotecnia del CEDEX ensayos de corte anular para la
obtención de los parámetros resistentes residuales, obteniéndose un ángulo de rozamiento del orden de
13-15º (Figura 14).

La cinemática de rotura obtenida con el modelo 2D en la situación actual se muestra en la Figura 15,
pudiéndose ver cómo reproduce adecuadamente la geometría de la inestabilidad en dicho perfil (Figura

145
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

11), tanto en superficie (puntos de salida y entrada de la rotura) como en profundidad (bandas de rotura
de los inclinómetros).

A partir de dicho modelo, y empleando los mismos parámetros resistentes y deformacionales de los
materiales y manteniendo el nivel freático con la misma geometría, se ha modelizado el efecto de la
excavación en la estabilidad de la ladera (Figura 16). El incremento del factor de seguridad obtenido debido
a la excavación es del orden de ΔFS ≈ 0,096.

La comparación de las cinemáticas de rotura anteriores permite observar cómo la zona con un factor de
seguridad más reducido en el caso de la situación actual está más localizada, mientras que en el caso del
modelo con excavación, el pie de la rotura se aleja de la calzada debido a la efectividad de la “zona fusible”.

Figura 14 - Resultado del ensayo de corte anular realizado en una muestra de filitas. Sondeo S-16

Figura 15 - Cinemática de rotura obtenida con el modelo 2D. Situación actual

Figura 16 - Cinemática de rotura obtenida con el modelo 2D. Situación excavación fase 1

146
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

6.2 - Modelo tridimensional (3D)

A partir de los cálculos anteriores, y debido al marcado carácter tridimensional del desmonte y a su
importancia y dimensiones, se consideró necesario realizar un modelo 3D que incluyera la geometría real
de la ladera, así como de la excavación, al menos en su primera fase.

El programa empleado en la modelización ha sido el Midas GTS NX v.2016 (Seúl, Corea) que es un código
numérico bi-tridimensional que está especialmente diseñado para la resolución de problemas geotécnicos
y geotécnico-estructurales.

En la modelización realizada se han aprovechado las capacidades de generación de geometrías complejas


del código Midas GTS NX, entre las que destaca la posibilidad de generación de una superficie tridimensional
a partir de una cartografía digitalizada (Figura 17). La geometría de la excavación de la fase 1 (Figura 12)
se puede importar directamente en el modelo (Figura 18) para generar el volumen que será incluido como
excavación. El nivel freático se ha situado en función del reconocimiento geotécnico disponible.

Los parámetros resistentes y deformacionales de los materiales son los mismos que los empleados en el
modelo 2D (Plaxis).

Figura 17 - Volumen 3D del modelo MIDAS GTS NX. Subdivisión de materiales

Figura 18 - Geometría 3D de la excavación fase 1

La cinemática de rotura obtenida en el modelo 3D en la situación actual se incluye en la Figura 19,


pudiéndose observar cómo las isolíneas de movimientos presenta un marcado carácter tridimensional.

147
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 19 - Vista de la cinemática de rotura del modelo 3D. Situación actual

Empleando el mismo procedimiento de cálculo, se ha obtenido la cinemática de rotura del desmonte tras
la fase de excavación 1.

En la Figura 20 se puede ver la planta de la cinemática de rotura actual y tras la excavación de la fase 1.
En el caso de la situación actual se puede observar cómo se ajustan con razonable precisión a la envolvente
de grietas del terreno (líneas naranja).

(a) (b)
Figura 20 - Planta de la cinemática de rotura del modelo 3D. Situación actual y tras excavación fase 1

Se puede ver en la Figura 20b cómo la zona excavada presenta unos movimientos menores, no viéndose
afectada la zona de la calzada más próxima a la excavación inferior debido al efecto de la “zona fusible”.
Así mismo se observa la no afección de la excavación planteada a la balsa situada en la zona de coronación.

El incremento de factor de seguridad obtenido en el modelo 3D es, para la fase de excavación 1, del orden
de ΔFS ≈ 0,045. Este incremento de seguridad de valor reducido debido a la gran magnitud de la masa
inestable hace necesario realizar un seguimiento posterior mediante instrumentación (inclinómetros y
control topográfico de movimientos) con el fin de comprobar la eficacia del tratamiento y, en su caso,
disponer medidas complementarias como los elementos estructurales junto a la calzada y un posible
incremento del volumen de excavación.

7- RESUMEN Y CONCLUSIONES

En esta ponencia se trata el caso reciente de un gran deslizamiento de ladera, en mármoles y filitas, con
80m de desnivel, 370m de longitud y 225m de distancia desde la calzada hasta las grietas de cabecera. La
singular cinemática del movimiento y orografía de la ladera así como la presencia de una balsa en el entorno
de la coronación del desmonte han motivado que para el cálculo de estabilidad y soluciones se haya optado
por hacer una modelización numérica que incluya tanto cálculos 2D, que son más habituales y que permiten
una mayor versatilidad, como 3D que son los que, en este caso concreto, se considera que reproducen el
problema de una manera más acertada y permiten valorar la afección a la balsa con los tratamientos de
estabilización planteados.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Al tener la estructura del macizo una clara componente hacia el sur-suroeste el movimiento natural de la
masa que está deslizando sería en esa dirección pero el macizo de mármoles, en la zona en la que llegan
a cota de rasante, impide ese movimiento provocando que el movimiento tenga esa componente rotacional
con el eje de giro situado en el entorno del límite Este de la grieta exterior que coincide con la zona en la
que los mármoles empiezan a tener continuidad bajo la calzada, actuando como contrafuerte natural

Se ha estudiado la opción de realizar un movimiento de tierras que se ha diseñado en dos fases secuenciales.
La eficacia de esta primera fase de excavación se comprobará con los registros de movimientos tanto
topográficos superficiales como inclinométricos. Del análisis de dichas medidas se podrá establecer si es
necesaria la construcción de los elementos estructurales al pie del desmonte y realizar una excavación
adicional de la zona de mármoles más próxima a la calzada en los pp.kk. crecientes, lo que constituiría una
posible segunda fase de actuación.

Para comprobar el efecto de la excavación se ha realizado un primer estudio de estabilidad en 2D a partir


de una sección considerada como representativa empleando el programa Plaxis 2D. Por este procedimiento
se ha realizado un primer ajuste de la geometría de la excavación con el fin de conseguir un incremento
del factor de seguridad en el entorno de 0,1. Posteriormente, y debido al marcado carácter tridimensional
del desmonte y a su importancia y dimensiones, se ha efectuado un modelo 3D incluyendo la geometría
real de la ladera, así como de la excavación, al menos en su primera fase. Este cálculo tridimensional ha
permitido reproducir la cinemática del movimiento observada en la ladera y estimar el incremento de
coeficiente de seguridad producido por el tratamiento previsto con un modelo de comportamiento más
aproximado al real. El incremento de factor de seguridad obtenido (0,045), de valor reducido debido a la
gran magnitud de la masa inestable, hace necesario realizar un seguimiento posterior mediante
instrumentación (inclinómetros y control topográfico de movimientos) con el fin de comprobar la eficacia
del tratamiento y, en su caso, disponer medidas complementarias como los elementos estructurales junto
a la calzada y un posible incremento del volumen de excavación.

8- AGRADECIMIENTOS

Se desea agradecer a las personas que han colaborado en los trabajos a los que se refiere este documento,
tanto de la Dirección General de Carreteras del Ministerio de Fomento de España como de la empresa
constructora.

9- REFERENCIAS

IGME. Instituto Geológico y Minero de España. Serie MAGNA 50.000, hoja 1056 Albuñol.

Gonzalez-Gallego, J., Moreno Robles, J., de la Oliva, JLG, de Santayana, FP (2008) - Stabilization of a large paleo-
landslide reactivated because of the works to install a new ski lift in Formigal skiing resort. Landslides and
engineered slopes: from the past to the future, Vols 1 and 2.

Plaxis User Manual (2016) - Plaxis bv. Delf (Países Bajos).

MIDAS GTS NX User Manual (2016) - Midas It. Seul (Corea).

149
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DO TALUDE DE ATERRO SITO


AO KM 21+750 DA AUTOESTRADA A1 E DO MURO DE ESPERA DA EN10

ASSESSMENT OF STABILIY CONDITIONS CONCERNING THE A1 MOTORWAY’S


EMBANKMENT SLOPE AT KM 21+750 AND THE RETAINING WALL AT EN10
NATIONAL ROAD

Chitas, Pedro; TPF Planege Cenor, Lisboa, Portugal, pedro.chitas@tpf.pt


Santos, Jaime; TPF Planege Cenor, Lisboa, Portugal, jaime.santos@tpf.pt
Lopes, Isabel; TPF Planege Cenor, Lisboa, Portugal, isabel.lopes@tpf.pt
Almeida, Fábio; TPF Planege Cenor, Lisboa, Portugal, fabio.almeida@tpf.pt
Fonseca, António; TPF Planege Cenor, Lisboa, Portugal, antonio.fonseca@tpf.pt
Barradas, João; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, jbarradas@lnec.pt
Salgado, Francisco; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, fsalgado@lnec.pt
Sousa, Arlindo; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, asousa@lnec.pt
Baptista, Maria Dora; Ex-Brisa Gestão de Infraestruturas, Lisboa, Portugal, mariabaptista@sapo.pt
Gonzalez, Isabel; Brisa Gestão de Infraestruturas, Lisboa, Portugal, isabel.gonzalez@brisa.pt
Martins, Joana; Brisa Gestão de Infraestruturas, Lisboa, Portugal, joana.martins@brisa.pt

RESUMO

O Sublanço Sacavém - Vila Franca de Xira da A1, foi concluído no ano de 1964. Pouco tempo decorrido
após a abertura ao público deste sublanço da autoestrada, ocorreu um escorregamento importante do
talude ao km 21+700, que levou à realização de trabalhos significativos com vista à estabilização da zona,
caracterizada pela presença de um muro de espera na base do aterro, dada a proximidade da EN10. Estes
trabalhos revelaram-se insuficientes, tendo havido a necessidade de realizar diversas intervenções
importantes ao longo das últimas quatro décadas, entre as quais se destaca a execução de uma cortina de
estacas ancorada que atualmente contém a A1 entre o km 21+750 e o km 21+900. Contudo, e no
seguimento da monitorização do talude pelo LNEC, constatou-se que a zona continuou a ter um
comportamento anómalo. Previamente ao desenvolvimento de novo projeto para a estabilização do talude,
procedeu-se à compilação dos dados existentes de prospeção e observação, à caracterização dos
geomateriais e dos elementos e estruturas de suporte existentes. Nesta comunicação apresenta-se a
metodologia usada neste trabalho inicial, que permitiu a identificação de dois mecanismos de instabilidade.
O primeiro mecanismo traduz-se na instabilidade superficial dos aterros, caracterizando-se por superfícies
potenciais de rotura com uma profundidade da ordem de 2 a 3 m; no segundo mecanismo, mais profundo,
a banda de distorção ocorre a cerca de 8 a 11 m de profundidade, envolvendo uma superfície potencial de
rotura que, numa dada zona, intersecta a A1.

ABSTRACT

The subsection of A1 motorway between Sacavém and Vila Franca de Xira was concluded in 1964. Shortly
after its opening to service, a significant landslide occurred at km 21+700. Subsequently important
stabilization works have been performed, and a retaining wall was constructed at the toe of the slope.
These works were not sufficient, leading to several important additional interventions during the last four
decades, among which the construction of an anchored pile wall, between the km 21+750 and km 21+900,
was the most significant. Despite these interventions, and taking advantage of the continuous monitoring
performed by LNEC, an anomalous behaviour has been observed. Before developing a new stabilization
design, several preliminary works have been carried out, consisting of compilation of all data concerning
soil investigation and monitoring, characterization of geomaterials, support elements and retaining walls.
The methodology used in the preliminary works, which allowed the identification of two mechanisms
governing the global stability, is presented. The first mechanism is characterized by the loss of stability of
the first 2 to 3m of top soil; the second mechanism is deeper and the main distortion occurs at depth
between 8m and 11 m, involving a potential failure surface that, at some points, intersects the A1 motorway.

1- INTRODUÇÃO. ANTECEDENTES

O Sublanço Sacavém - Vila Franca de Xira da Autoestrada do Norte foi concluído, no seu projeto inicial, no
ano de 1964. Pouco tempo decorrido após a abertura ao público deste sublanço da autoestrada, ocorreu
um escorregamento importante do talude ao km 21+700 que levou à realização de trabalhos importantes
de drenagem profunda, entre 1964 e 1965. Estes trabalhos tiveram como objetivo captar e proteger o
aterro das águas existentes nos terrenos a Poente e consistiram na abertura de uma galeria a cerca de
10,0 m de profundidade sob a valeta do lado Poente da autoestrada, aproximadamente desde o km 21+650
até ao km 21+940, a execução de um ramal de saída transversal à autoestrada para a EN10 perto do km

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

21+690, e ainda na realização de poços e furos de sondagem preenchidos com brita para funcionarem
como drenos verticais.

Importa referir que no limite norte do aterro, entre aproximadamente, o km 21+925 e 22+000, o traçado
da autoestrada interseta um troço da conduta da EPAL (Aqueduto Tejo), cuja construção remonta aos anos
30, tendo sido desviada para a atual localização, no ano de 1961, devido à construção da autoestrada.

Em fevereiro de 1978, e após um período de chuvas persistentes, as condições de estabilidade do talude


agravaram-se, verificando-se escorregamentos em três zonas. Estes escorregamentos terão posto em risco
a circulação, quer na A1, quer na EN10. Foi então elaborado um projeto de reforço e iniciaram-se na crista
do talude da A1 obras de estabilização de emergência que consistiram na execução de uma cortina de
estacas moldadas em betão armado com um nível de ancoragens definitivas, sensivelmente entre os kms
21+738 e 21+900 – cortina Central (Fig. 1a)). As estacas têm cerca de 11,5 m de comprimento, diâmetro
de 0,5 m e afastamento de 1,0 m entre eixos. O espaço entre estacas é preenchido por uma parede de
revestimento em betão com 0,2 m de espessura. As ancoragens, que apoiam numa viga de distribuição
situada cerca de 2,0 m abaixo da cabeça das estacas têm afastamento entre 3 e 4 m, têm um comprimento
de selagem de 6 m, um comprimento livre de 10,5 m, uma inclinação de 30° em relação à horizontal e
pré-esforços, consoante a sua posição, entre 412 e 638 kN. Cada ancoragem é constituída por 18 fios.
Dado que a solução contemplava a redução da inclinação do talude, de cerca de 35º para 25º, foi necessário
altear o muro de espera da EN10 em cerca de 1,0 m, tendo-se, no outono de 1978, procedido aos respetivos
trabalhos de adoçamento do talude. Simultaneamente à execução da cortina de estacas foram realizados
trabalhos de prospeção, compostos por seis sondagens, com o objetivo de confirmar o diagnóstico da
situação anteriormente feito e apoiar a tomada de decisões acerca da necessidade da realização de
trabalhos de estabilização complementares aos de emergência então em curso. Em quatro dos seis furos
foram instalados inclinómetros e piezómetros.

Em setembro de 1985, face aos resultados do estudo da estabilidade da encosta e da evolução dos
deslocamentos observados nos inclinómetros instalados, procedeu-se à realização de obras de reforço do
muro de espera dado que o seu estado fazia perigar a cortina de estacas executada em 1978.

Os trabalhos de reforço do muro de espera consistiram na execução de ancoragens definitivas com 540 kN
de capacidade, espaçadas de 3,0 m, com uma inclinação de 25º em relação à horizontal, situadas a cerca
de 1,5 m acima da plataforma da EN10 e com cerca de 15,0 m de comprimento tendo sido seladas no
substrato. Foram ainda executados dois níveis de drenos sub-horizontais com um afastamento de cerca de
3,0 m.

Em abril de 1986, foi elaborado um projeto de prolongamento da cortina de estacas ancorada, quer para
Norte, quer para Sul. Para o lado Norte a solução adotada foi a de uma cortina de estacas moldadas de
betão armado tangentes com 0,5 m de diâmetro. As estacas têm, alternadamente, comprimentos de 15,5
m e 4 m. As estacas foram solidarizadas por uma viga de coroamento tendo sido executada ainda uma
viga de distribuição de ancoragens situada 2,0 m abaixo da plataforma da autoestrada (Fig. 1b)). As
ancoragens têm um comprimento de selagem de 9 m, um comprimento livre de 12, uma inclinação de 30°
em relação à horizontal e são constituídas por 6 cordões de 12,7 mm de diâmetro. Cada ancoragem foi
pré-esforçada com 534 kN. No lado Sul a solução adotada foi a de uma cortina de estacas moldadas de
betão armado, com diâmetro de 0,5 m e cerca de 11,5 m de comprimento, afastadas de 1,0 m entre os
eixos e com uma viga de distribuição de ancoragens executada na cabeça das estacas. A continuidade da
cortina foi assegurada por meio de estacas intercalares com um comprimento de cerca de 4 m. As estacas
foram solidarizadas por uma viga de coroamento ancorada. As ancoragens têm um comprimento de
selagem de 9 m, um comprimento livre de 12, uma inclinação de 30° em relação à horizontal e são
constituídas por 6 cordões de 12,7 mm de diâmetro nominal. Cada ancoragem foi pré-esforçada com 534
kN. Acima da viga de distribuição, e ligado a esta, foi executado um muro de contenção com 0,3 m de
espessura e cerca de 2,2 m de altura até à cota da plataforma da autoestrada (Fig. 1c)).

Foi em 1985 que a Brisa solicitou ao LNEC a colaboração no acompanhamento e na análise da estabilidade
do talude. Assim, desde o final de 1986 até 1990 foram sendo progressivamente instalados vários
dispositivos de observação, cujas leituras têm sido objeto de análise e deram origem a vários relatórios
elaborados pelo LNEC. Os dispositivos de observação instalados compreendem calhas inclinométricas,
células de carga de ancoragens, bases de clinómetro, marcas de nivelamento, mestras em betão e
fissurómetros.

Em junho de 1999 foi detetada a abertura de uma fissura aproximadamente horizontal na zona central do
muro de espera, com um desenvolvimento de 18,0 m e localizada a cerca de 3 m do coroamento (Fig. 2).
Os movimentos observados nesta fenda agravaram-se no início de 2001 indicando a correspondente
instabilização da zona superior do muro. De 2003 até 2006, e no seguimento do projeto desenvolvido pela
Cenorgeo em 2002, foi efetuada uma intervenção no muro de espera, tendo-se construído uma parede
ancorada para reforço estrutural do referido muro.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

a) b)

c)

Figura 1 - Vista geral da cortina de estacas: a) Cortina Central (construída em 1978). b) Cortina Norte (construída em
1986). c) Cortina Sul (construída em 1986)

Fissura

Figura 2 - Fissura na zona central do muro de espera junto à EN10

Esta parede, localizada aproximadamente entre o km 21+790 e o km 21+830, tem um desenvolvimento


de 39,0 m e uma altura de cerca de 8,5 m. Dispõe de um rebordo superior com 0,40 m de espessura
assente sobre o coroamento do muro por forma a garantir o confinamento e a compressão da zona superior
do muro de alvenaria. A espessura da parede foi fixada em 0,30 m. As ancoragens definitivas foram
distribuídas por dois níveis, têm uma inclinação de 20º com a horizontal, um espaçamento na horizontal
de 2,0 m em quincôncio e a carga de serviço prevista foi 540 kN. O comprimento total das ancoragens é
de 26,0 m correspondente a um comprimento livre de 18,0 m e um comprimento de selagem de 8,0 m
realizado na formação miocénica.

Complementarmente às obras de estabilização do muro e para além da regularização do talude com uma
camada de solos argilosos e terra viva para a fixação do revestimento vegetal e da criação da plataforma
de circulação junto à cortina de estacas com 1,5 m de largura, foi igualmente executado um sistema de
drenagem sub-superficial composto por um conjunto de esporões drenantes envolvidos em geotêxtil com
um espaçamento longitudinal de 15,0 m, 2,5 m de altura e 0,8 m de largura e com comprimento variável.
A drenagem superficial também foi melhorada.

152
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

No entanto, apesar das diversas intervenções, existem diversas patologias ao longo da zona em análise,
de diferente natureza e gravidade, que serão apresentadas de seguida.

2- CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL

2.1 - Introdução

De seguida, faz-se uma descrição das principais patologias identificadas na zona onde se insere o talude.
Optou-se pela caraterização separada da cortina de estacas e das respetivas ancoragens definitivas, uma
vez que estas foram alvo de uma inspeção visual detalhada e de ensaios de verificação.

2.2 - Cortina de estacas

A situação atual da cortina de estacas e do seu contacto com o aterro é caracterizada pela presença das
seguintes patologias, que são listadas no Quadro 1.

Quadro 1- Síntese das patologias identificadas na cortina

Cortina Patologia

Descolamento e assentamento do terreno na frente da cortina;


Cortina Sul Na ancoragem A4S, deslocamento da campânula amovível face à placa de apoio da
ancoragem.
Descolamento e assentamento do terreno na frente da cortina, sendo mais gravosa na
zona de transição entre as cortinas Norte e Central;
Cortina Central Existência de algumas ancoragens com deficiente selagem da campânula de proteção;
Presença de finos em alguns drenos e bueiros da parede existente entre estacas;
Degradação do betão na ligação entre a guarda da A1 e a cortina.
Fissuração do pavimento da plataforma de circulação da autoestrada;
Descolamento e assentamento do terreno na frente da cortina, na parte sul deste troço ;
Cortina Norte Existência de algumas ancoragens com deficiente selagem da campânula de proteção;
Arrastamento de finos através dos interstícios das estacas;
Presença de vegetação nos espaços entre estacas.

A patologia mais significativa e mais visível no que respeita à cortina é o evidente descolamento entre a
cortina e o terreno na sua frente, bem como o assentamento do terreno. Tanto o descolamento como o
assentamento são significativos (decimétricos) na extensão correspondente à zona de transição entre as
cortinas Central e Norte, que corresponde à zona de maior altura do talude.

No que respeita a descolamentos e assentamentos, a restante parte da Cortina Central não apresenta, de
modo geral, evidências desta patologia.

Este tipo de patologia também foi identificado na zona da cortina Sul, através da fissuração e rejeito da
banqueta em betão (usada como plataforma de circulação) junto à cortina de estacas construída no âmbito
da intervenção da Cenorgeo. No entanto, o valor destes deslocamentos é menor do que na zona da cortina
Central- cortina Norte, sendo de ordem centimétrica. É de referir que é nesta zona que o talude apresenta
maior inclinação.

2.3 - Ancoragens

2.3.1 - Inspeção visual

Considerando os sinais exteriores de patologias em algumas ancoragens da cortina de estacas, procedeu-


se à inspeção de 28 ancoragens, às quais acrescem, ainda, as ancoragens instrumentadas. A seleção das
ancoragens teve por base os seguintes critérios: Sinais de deficiente selagem da cabeça; Sinais exteriores
de corrosão; Amostragem em zonas onde as ancoragens não evidenciam problema (Cortina Sul).

Da inspeção visual efetuada, foi possível aferir que todas as ancoragens da cortina Norte evidenciavam
sinais de deformação da placa de distribuição, dando-se, em algumas, deslocamento relativo entre a base
e a placa na periferia. Para além disso, todas as ancoragens da cortina Norte apresentavam sinais de
corrosão nos cordões, com agravamento crescente de Sul para Norte. Apesar da identificação desta
patologia, não havia sinais de perda de carga em nenhuma das ancoragens.

A selagem foi mais adequada na cortina Central do que na cortina Norte, mas todas as ancoragens
inspecionadas na Cortina Central evidenciavam perda de carga, uma vez que, em todas há diferentes
comprimentos exteriores dos fios de ancoragem. Três ancoragens da Cortina Central romperam mesmo,
havendo sinais de fissuração da viga de distribuição e exposição parcial da armadura da mesma.

153
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Relativamente às ancoragens localizadas na cortina Sul, as únicas patologias identificadas correspondiam


à existência de corrosão superficial da placa de distribuição, na área de contacto com o vedante da
campânula, e deformação por punçoamento da placa de distribuição.

Salienta-se que a inspeção das ancoragens da cortina Norte e da cortina Sul foi complementada com o
recurso a endoscópio para verificação do preenchimento no tardoz da cabeça de ancoragem, tendo sido
detetados 4 casos, todos na cortina Norte, em que o preenchimento das cabeças de ancoragem não foi
adequado. Na cortina Central, a inspeção com recurso ao endoscópio não foi efetuada por razões de
segurança (a inspeção requereria a perfuração da chapa da cabeça).

A inspeção permite concluir que o comportamento das ancoragens está claramente comprometido na
cortina Central. No caso da cortina Norte, e dada a necessidade de garantir adequado comportamento ao
longo de uma vida útil extensa, considera-se que estas ancoragens, apesar de ainda terem carga, não
terão comportamento adequado.

2.3.2 - Ensaios de Verificação de Tração e Ensaios de Adequabilidade

Com o objetivo de analisar o comportamento mecânico das ancoragens, realizaram-se ensaios de


verificação da tração instalada (EVT) e ensaios de adequabilidade (EA) de 3 das ancoragens instrumentadas,
duas na cortina Sul e outra na cortina Norte. O procedimento e a discussão dos resultados está apresentada
de forma detalhada em LNEC (2017a).

Da análise dos resultados dos EVT, foi possível concluir que as cargas de serviço nas ancoragens
instrumentadas são próximas das cargas de pré-esforço previstas em projeto. Verificou-se, ainda, a
existência de anomalias na calibração das células de carga, uma vez que as trações de serviço obtidas no
EVT são bastante díspares das trações registadas nas células de carga antes da realização dos EVT.

O Quadro 2 contém as principais conclusões dos ensaios de adequabilidade realizados nas ancoragens.

Quadro 2- Resultados dos ensaios de adequabilidade das ancoragens analisadas


Ancoragem Comportamento mecânico Comportamento de fluência
Os coeficientes da fluência são da ordem
Os resultados da verificação do comportamento mecânico da
de 0,5 mm, no patamar da tração de
ancoragem não são totalmente conclusivos devido à rotação
serviço, e inferiores a 1 mm, no patamar
verificada na ancoragem e ao atrito do contacto da armadura
A4S da tração de ensaio. Consideram-se, por
com o Tubo Metálico em consequência do facto de o
isso, satisfatórios e não diferem
diâmetro da cabeça (chapa de cunhas) utilizada no EA ser
significativamente dos obtidos nos ensaios
maior do que o da cabeça original.
realizados em 1986.
Os resultados da verificação do comportamento mecânico da Os coeficientes da fluência são da ordem
ancoragem não são totalmente conclusivos devido à rotação de 0,5 mm, no patamar da tração de
verificada na ancoragem e ao atrito do contacto da armadura serviço, e inferiores a 1 mm, no patamar
A15S com o Tubo Metálico em consequência do facto de o da tração de ensaio. Consideram-se, por
diâmetro da cabeça (chapa de cunhas) utilizada no EA ser isso, satisfatórios e não diferem
maior do que o da cabeça original. Nesta ancoragem o atrito significativamente dos obtidos nos ensaios
teve ainda maior efeito do que na ancoragem A4S. realizados em 1986.
Não foi realizado EA porque rompeu um fio de um dos
A2N -
cordões.

3- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

3.1 - Introdução

O aterro encontra-se fundado sobre terrenos Miocénicos, argilosos e siltosos com nódulos calcários e
concreções margosas de cor castanho-avermelhada pertencentes à Formação do Tortoniano – M4VII que
se encontram cobertos por antigos depósitos de vertente, argilosos com bolcos calcários pouco rolados
(Plio-Plistocénicos).

Não obstante, e de acordo com as Folhas 30-D (Alenquer) e 34-B (Loures) da Carta Geológica de Portugal,
à escala 1:50.000, os terrenos cartografados na zona correspondem a materiais do Jurássico, Kimeridgiano,
pertencendo ao Complexo Pteroceriano (J4). Esta unidade é descrita na notícia explicativa como sendo
constituída por calcários, grés e margas, essencialmente com cor branca e cinzenta. Segundo a cartografia,
em contacto com estes materiais, para oeste, encontram-se as Camadas de Abadia (J3c), descritas como
um complexo composto por argilas e margas, cinzentas e azuladas, que se tornam amareladas por
alteração. Estas margas são por vezes arenosas e micáceas e contêm nódulos calcários, intercalações de
grés e conglomerados mais ou menos desenvolvidos. Os materiais do Jurássico são ricos em fósseis, como
por exemplo, moluscos e coraliários.

154
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O maciço jurássico é, nesta região, atravessado por um conjunto de falhas paralelas ao eixo do rio, de
direção NE-SW, que constituem o chamado degrau anticlinal de Vila Franca de Xira. Além destas, aparecem
também identificadas nesta zona, algumas falhas com direção NW-SE. De acordo com a carta geológica, a
sul do talude em estudo, uma destas falhas NW-SE coloca em contacto lateral os materiais do Jurássico
com materiais do Miocénico marinho, Tortoniano (M4VII). Os materiais desta unidade miocénica são
caracterizados pela presença de areias, por vezes finas outras grosseiras, brancas, amarelas ou
avermelhadas, alternando com camadas gresosas e algumas intercalações argilosas. Encontram-se
descritas nesta unidade, para além da presença dominante de areolas, a presença de argilas mais ou menos
arenosas, por vezes margosas, de cor amarelada, avermelhada e cinzenta.

3.2 - Descrição geral

Nas diversas fases de estabilização do talude, descritas anteriormente, foram efetuadas algumas
campanhas de prospeção geológica e geotécnica, com recurso à realização de sondagens, instalação de
piezómetros e inclinómetros. Todas as sondagens e ensaios de laboratório cuja localização é conhecida
foram usados para a interpretação conjunta da geologia e do fenómeno de instabilidade.

Conforme referido, a sequência geológica que foi identificada nas sondagens é diferente da que se encontra
referida nas Cartas Geológicas, à escala 1:50.000, sendo constituída por:

Holocénico: At - Aterros

Depósitos de aterro heterogéneos constituídos essencialmente por solos argilosos e argilo-siltosos, por
vezes com seixos finos e grosseiros. Com cor acastanhada a castanha-acinzentada. Parte destes materiais
terão origem em zonas de escavação da auto-estrada, tendo sido remexidos nas diversas fases de
estabilização da vertente.

Apresentam consistência dura a muito dura, com valores do número de pancadas N do ensaio de penetração
dinâmica SPT entre 5 e 60, com valores mais frequentes entre cerca de 10 e 22.

Plio-Plistocénico: D – Depósitos antigos

São depósitos argilosos a argilo-siltosos, com blocos de natureza calcária, pouco rolados. Apresentam-se
essencialmente com cor castanha a castanha-avermelhada, com nódulos de argila cinzenta no interior de
comportamento mais brando. Esta unidade deverá corresponder a antigos depósitos de vertente.

Trata-se de uma formação com consistência muito dura a rija, tendo-se obtido valores de NSPT entre 9 e
60, com valores mais frequentes entre 17 e 34. No seio desta unidade é possível identificar zonas onde se
observa uma redução nos valores de NSPT, evidenciando a superfície de escorregamento.

Miocénico (Tortoniano): M – Argilas, argilas margosas e areias

Esta formação é constituída por argilas, argilas siltosas, por vezes com nódulos calcários, veios
carbonatados e concreções margosas, de cor castanha a castanha-avermelhada, por vezes com nódulos de
argila cinzenta. Trata-se de uma formação com consistência rija com valores de NSPT superiores a 60.

3.3 - Caracterização mecânica

De acordo com os resultados dos ensaios de laboratório verifica-se que os materiais apresentam curvas
granulométricas muito semelhantes, independentemente da unidade geológica a que pertencem (At, D ou
M). São solos finos, silto-argilosos, classificados na sua maioria como argilas magras com areia. O índice
de consistência (IC), calculado para as amostras da campanha de 2016, é sempre superior a 1
(1,12≤IC≤1,54), classificando-se estas quanto à consistência como argilas duras.

Em termos dos parâmetros de resistência, os ensaios triaxiais indicam que as amostras das diferentes
unidades geológicas apresentam um comportamento de pico e de rotura semelhante.

Os ensaios de corte direto lento evidenciam que as amostras não apresentam, apesar da muito baixa
velocidade de ensaio, um comportamento compatível com a condição de rotura em condições drenadas,
sendo os resultados muito variáveis e apresentando valores de coesão não desprezáveis e ângulos de
resistência ao corte baixos. Assim, para os Depósitos, foi efetuada uma análise conjunta dos resultados
obtidos com este ensaio, considerando que o comportamento na rotura é perfeitamente drenado, isto é,
considerando a ordenada na origem (c’=0 kPa). Desta análise, e apesar da dispersão dos dados
experimentais, obteve-se um ângulo de resistência ao corte na rotura (φ’cv) de 25º, compatível com os
resultados obtidos nos ensaios triaxiais.

Para a interpretação geológica global, reuniram-se os dados geológico-geotécnicos das 4 campanhas de


prospeção in situ (1978, 2002, 2003, 2016), e foram projetados os resultados dos ensaios SPT por unidade
geológica em função da profundidade. Desta distribuição de resultados observa-se que os comportamentos

155
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

mecânicos das formações são diferentes. Verifica-se que há um aumento da resistência à penetração
dinâmica dos materiais com a profundidade nos Aterros e Depósitos, que se desenvolve ao longo da
espessura destes materiais, até cerca dos 15 m de profundidade. A resistência dos materiais do Miocénico
é muito elevada e traduzida por valores de NSPT>60 pancadas em toda a profundidade atravessada e com
valores pontuais mais baixos, não representativos do comportamento mecânico da unidade geológica.

Com base nos resultados dos ensaios SPT corrigidos (N60) de acordo com a norma ISO 22476-3:2005 foi
efetuada uma estimativa da resistência ao corte não drenada, 𝑐𝑢 . Para tal recorreu-se à relação indicada
em Kulhawy & Mayne (1990):
𝑐𝑢
= 0,06 ∙ 𝑁60 [1]
𝑝𝑎

em que pa corresponde à pressão atmosférica.

Aos resultados das campanhas in situ foram adicionados os resultados obtidos nos ensaios de laboratório

(ensaio triaxial e ensaio de corte direto rápido) e foi determinado o valor característico da relação 𝑐𝑢 /𝜎𝑣0 ,e
de 𝑐𝑢 , de acordo com o recomendado no Eurocódigo 7, seguindo o procedimento proposto em Schneider
(1997). Desta análise, verifica-se que com exceção da zona superficial (cerca de 2 m) em que os materiais

de Aterro se encontram mais sobreconsolidados, constata-se que a relação 𝑐𝑢 /𝜎𝑣0 dos Aterros e dos
Depósitos é idêntica, apresentando os materiais o mesmo comportamento, independentemente da unidade
a que pertencem.

A relação 𝑐𝑢 /𝜎𝑣0 obtida é claramente superior ao valor habitualmente observado em argilas normalmente
consolidadas, podendo-se classificar como solos medianamente sobreconsolidados, na sua maior parte,
com grau de sobreconsolidação 2≤OCR≤4, de acordo com estudos experimentais conhecidos da bibliografia.

No caso dos materiais do Miocénico, correspondentes a solos rijos, os valores de N SPT registados são de 60
pancadas, verificando-se que na maior parte dos casos a penetração de 30 cm não é atingida. Os materiais
constituintes desta unidade geológica apresentam resistência muito elevada podendo, para efeitos da
análise da estabilidade global do talude, ser considerados como substrato rígido.

Com base nos resultados obtidos, decorrentes de ensaios in situ e de laboratório, e da sua análise crítica,
foram estabelecidos os parâmetros geotécnicos característicos para as diversas unidades geológicas
apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 - Parâmetros geotécnicos característicos (drenados e não drenados) das unidades geológicas
Unidade
 (kN/m3) 𝒄𝒖,𝒌 (kPa) ’cv,k(º) ’p,k(º) c’k (kPa)
Geológica
Até 2 m profundidade 42
Aterros ′
20 >2 m profundidade 0,71×𝜎𝑣0 25 32 0

Depósitos 0,71×𝜎𝑣0
Miocénico Substrato rígido

4- RESULTADOS DOS DADOS DE OBSERVAÇÃO

Os resultados de observação revelam a existência de dois mecanismos de instabilidade.

O primeiro mecanismo está associado à perda de estabilidade superficial dos aterros, caracterizando-se
por uma superfície potencial de rotura com uma profundidade da ordem de 2 a 3 m. Os movimentos
superficiais do talude atingem valores entre 6 a 17 cm e a sua manifestação depende fundamentalmente
das características de resistência versus a inclinação elevada do talude, agravando-se em períodos de maior
pluviosidade. Estes movimentos não estão diretamente associados à existência do muro de suporte na
zona inferior do talude, uma vez que a superfície de escorregamento poderá não intercetar o muro (ponto
de saída da superfície no topo do muro). Este mecanismo manifesta-se em todas as zonas e é corroborado
pelo aparecimento de certas patologias, nomeadamente o descolamento e assentamento do terreno na
frente da cortina, o esmagamento de alguns trechos de valeta no topo do muro de espera e as fissuras que
se observam nesse mesmo muro.

O segundo mecanismo é mais profundo e a superfície potencial de rotura ocorre a cerca de 8 a 11 m de


profundidade. Esse mecanismo é particularmente notório na zona cortina Central, nos troços em que não
existe o reforço de parede ancorada, construído em 2003, do muro de suporte em alvenaria na zona inferior
do talude. A superfície de rotura ocorre nos próprios aterros, na zona de transição entre os aterros e os
depósitos de vertente e por vezes na zona de transição entre os depósitos e o Miocénico. Nestas zonas
observam-se valores de NSPT mais baixos devido ao amolecimento (resistência pós-pico) dos materiais,
apresentando valores de NSPT entre 10 e 15. A profundidade da superfície de rotura e a magnitude dos
deslocamentos é condicionada pelas estruturas de suporte existentes. Nas situações em que a cortina está

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

fundada nos depósitos e os bolbos de selagem das ancoragens também se encontram localizados nos
depósitos, os deslocamentos são francamente mais desfavoráveis, proporcionando uma superfície de
escorregamento mais profunda que poderá vir a intersectar a autoestrada A1, conforme se pode observar
na zona cortina Central – cortina Norte. Efetivamente, a zona da cortina Central – cortina Norte constitui a
zona mais crítica, dado que o substrato rígido do miocénico se encontra a maior profundidade, a inclinação
do talude é bastante desfavorável e o mesmo tem uma grande altura. Além disso, a base da cortina e as
ancoragens interessam solos menos resistentes (aterros ou depósitos) e o pé do talude é, na parte norte,
suportado por um muro de gabiões cuja resistência ao escorregamento é francamente limitada.

Igualmente, verifica-se uma diferença considerável entre os níveis de água medidos no tardoz da cortina
na zona Sul do talude e na zona Norte. Enquanto que nos piezómetros localizados no tardoz da cortina Sul,
o nível da água encontra-se a uma profundidade de cerca de 10 m, nos dois piezómetros localizados no
tardoz da cortina Norte, na faixa de sentido oposto da A1, a água encontra-se a um nível superior a cerca
de 5 m de profundidade. Estes valores são corroborados pelos níveis de água medidos nos piezómetros
situados no talude Este da A1, já instalados no âmbito do presente projeto, em que os níveis de água
encontram-se a 6,5 e 4,5 m de profundidade respetivamente.

Constata-se que o nível freático é mais superficial nos tubos da Cortina Norte mais próximos da Cortina
Central quando comparado com os outros piezómetros instalados no tardoz da mesma cortina. Este facto
poderá estar relacionado com o maior efeito de barreira que a cortina terá neste trecho, uma vez que na
zona mais a Norte há evidência de arrastamento de partículas e afluência de água pelos interstícios das
estacas.

5- AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE

5.1 - Metodologia

Com o objetivo de avaliar as condições de estabilidade atuais da obra em estudo, para a situação estática,
realizou-se um conjunto de cálculos, para a determinação dos coeficientes globais de segurança face ao
estado limite de perda de estabilidade global do talude. Uma vez que as características das estruturas de
suporte, nomeadamente tipo e condições de apoio, não são constantes ao longo do desenvolvimento do
talude, analisaram-se 5 secções, criteriosamente escolhidas, de modo a representarem as características
específicas de cada zona: Cortina Sul e muro de gabiões no pé do talude (corte A-A); Cortina Central e
muro de espera não reforçado (corte C-C); Cortina Central e muro de espera reforçado (corte D-D); Cortina
Central – cortina Norte e muro de gabiões no pé do talude (corte E-E) e Cortina Norte (corte F-F). A análise
da situação sísmica, também considerada no projeto, não se encontra no âmbito desta comunicação.

Para este estudo utilizou-se o programa de cálculo automático SLOPE/W da GeoStudio que se baseia no
método de equilíbrio limite, dividindo a massa de solo potencialmente instável em fatias, aplicando, a cada
uma dessas fatias, as equações de equilíbrio limite. Neste programa podem ser utilizados vários métodos
para a resolução do problema. Para este estudo optou-se pelo método de Morgenstern-Price, que permite
a análise de equilíbrio de forças e momentos (assumindo-se uma dada distribuição de forças entre fatias).

Para analisar as condições de estabilidade existentes em cada uma das zonas da cortina foram feitos dois
tipos distintos de análises. A primeira análise consistiu em avaliar as condições de cada zona com base nos
parâmetros dos ensaios de caracterização geotécnica e, recorrendo ao software SLOPE/W, pesquisar as
superfícies de rotura mais prováveis e os respetivos coeficientes de segurança globais.

Na segunda análise recorreu-se à instrumentação instalada em cada uma das zonas da cortina através dos
resultados verificados ao longo dos anos nos inclinómetros (Fig.3). Foi feita uma avaliação de quais seriam
as superfícies potenciais de rotura mais prováveis de acordo com as zonas de maior distorção determinadas
pelas medições inclinométricas e, mais uma vez recorrendo ao software SLOPE/W, foi imposta essa
superfície de rotura no modelo de cálculo e procedeu-se à redução dos parâmetros geotécnicos, por
comparação com os obtidos nos ensaios, até se obter um coeficiente de segurança global unitário.

5.2 - Cálculos considerando os parâmetros resultantes dos ensaios de caracterização

Os cálculos foram realizados para a situação estática. No programa de cálculo automático, para a pesquisa
da superfície crítica, optou-se pela ferramenta “Autolocate”, tendo por objetivo confirmar numericamente
a interpretação efetuada. Para cada secção analisaram-se três situações de cálculo, designadas situações
de cálculo 1, 2 e 3 (C1, C2 e C3, respetivamente).

Com C1 pretende-se analisar o mecanismo de rotura superficial, tendo em conta a grandeza das distorções
inferidas dos resultados dos inclinómetros (LNEC, 2017b), correspondentes a este mecanismo, assume-se
que nestas superfícies seja mobilizada a resistência para além do pico e provavelmente próxima da
resistência em estado crítico. Com efeito, para esta situação de cálculo consideraram-se os parâmetros
geomecânicos obtidos nos ensaios triaxiais para o estado crítico ( ’cv=25° e c’=0kPa).

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

a)

b)

Figura 3 – Corte transversal com os mecanismos identificados pelos dispositivos de observação:


a) zona com muro de espera. b) zona de transição Cortina Central – Cortina Norte

Por outro lado, as C2 e C3 visam analisar o mecanismo de rotura profundo. Tendo em conta o valor das
distorções medidas nos inclinómetros, correspondentes ao mecanismo de rotura profundo, assume-se que
a resistência mobilizada ainda esteja aquém da resistência de pico. Assim sendo, para estas situações
consideram-se os parâmetros geomecânicos obtidos nos ensaios triaxiais correspondentes ao estado de
pico ( ’ =32° e c’=0kPa).

Relativamente à posição do nível freático no talude, analisaram-se dois cenários, um com o nível de água
expectável no início do ano hidrológico (C1 e C2) e outro com o nível extremo de água após período de
chuva prolongado (C3). Para a definição dos níveis de água teve-se em conta os valores observados nos
piezómetros instalados. Os níveis de água apresentados em C1 e C2 estão em consonância com os valores
medidos nas leituras efetuadas em dezembro de 2016, ao passo que o nível de água considerado em C3
foi fixado considerando o conjunto dos resultados de observação existentes.

Nas situações em que o nível de água se encontra acima do pé da cortina (C3 e corte F-F em C1 e C2)
considerou-se uma variação brusca do nível de água para ter em conta a restrição ao escoamento imposta
pela presença das estacas.

158
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Em todas as análises, considerou-se que a resposta ao carregamento é lenta, pelo que foram consideradas
condições drenadas. Para C1 e C2, considerou-se que o coeficiente de segurança mínimo admissível para
se ter um comportamento adequado do talude é de 1,50, ao passo que para C3 o valor do coeficiente de
segurança cifrou-se em 1,35. Os resultados da análise usando os parâmetros obtidos pelos ensaios são
apresentados no Quadro 4.

Quadro 4 - Resultados dos cálculos com base nos ensaios de caracterização


Mecanismo superficial Mecanismo profundo
Situação de cálculo 1 (C1) Situação de cálculo 2 (C2) Situação de cálculo 3 (C3)
Corte A-A 0,95 1,33 1,15
Corte C-C 1,03 1,38 1,09
Corte D-D 0,97 1,30 1,12
Corte E-E 0,94 1,25 1,14
Corte F-F 1,03 1,42 1,19

5.3 - Cálculos através da redução dos parâmetros geotécnicos

Da informação retirada dos inclinómetros, é possível interpretar superfícies de rotura superficiais, profundas
ou ambas. Dentro de cada um destes casos, a interpretação da superfície pode ser mais ou menos completa,
dependo do local onde se encontra e se há apenas 1 ou 2 inclinómetros com informação para avaliar esta
superfície.

Os ângulos de resistência ao corte obtidos através desta abordagem serão comparados com os valores
característicos apresentados no Quadro 3 de modo a avaliar a margem de segurança do talude, que será
tanto menor quanto mais próximo o ângulo de resistência determinado pela retroanálise for do ângulo de
resistência característico para a situação em análise.

Para o caso do mecanismo superficial, os parâmetros de resistência inicial utilizados são os de rotura, ou
seja, em estado crítico, dadas as grandes distorções superficiais medidas, consentâneas com uma
mobilização de resistência claramente além do estado de pico.

Para o caso do mecanismo profundo, tal como na análise feita anteriormente para C2 e C3, considerou-se
que a resistência inicial a mobilizar é a resistência de pico. Do mesmo modo que na análise baseada
diretamente nos ensaios de caracterização, foram analisados os dois cenários para o nível de água descritos
no ponto 5.2.

Os resultados da análise impondo a superfície de rotura são apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 - Resultados dos cálculos da retroanálise impondo a superfície de rotura


Mecanismo superficial Mecanismo profundo
Comparação com Comparação com
’cv = 25° ’ = 32°
Nível freático corrente (C1) Nível freático corrente (C2) Nível freático alto (C3)
Corte A-A 24,7° - -
Corte C-C 23,3° 24,5° 29,8°
Corte D-D 21,6° - -
Corte E-E 24,5° 24,1° 28,1°
Corte F-F 20,4° - -

5.4 - Comparação entre as abordagens adotadas

De modo geral, para os diversos cortes, existe alguma diferença entre a espessura da superfície de rotura
do mecanismo superficial da primeira análise por comparação com a da retroanálise na zona do topo do
talude (Fig. 4a)). Apesar disto, ambas as análises apontam para um comportamento insatisfatório da zona
mais superficial do talude.

Quanto ao mecanismo profundo, a geometria obtida para a superfície de rotura é muito parecida em ambas
as análises (Fig.4b)), levando a estimativas do nível de segurança da atual situação em tudo semelhantes.
As condições de estabilidade da obra são claramente insatisfatórias para a situação estática e muito menos
para uma situação sísmica.

5.5 - Avaliação da cortina da A1

Para além da análise já apresentada, que incide sobre a estabilidade global do talude, houve que analisar
a cortina de estacas isoladamente, tanto ao nível do funcionamento geotécnico como estrutural, assumindo
um modelo de cortina mono-apoiada. De forma a melhor avaliar as condições em que se encontra a cortina

159
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

de estacas a nível geotécnico e estrutural, foi feita uma análise do problema recorrendo ao software MSheet,
uma ferramenta de cálculo usada para o dimensionamento de estruturas de contenção flexíveis.

a)

b)
Figura 4 – Sobreposição da superfície de rotura da análise com pesquisa da superfície mais desfavorável (linha
vermelha) com a da análise baseada nos resultados da observação inclinométrica (área a verde):
a) mecanismo superficial. b) mecanismo profundo

A existência de uma fenda entre a cortina de estacas e o talude adjacente faz com que exista um aumento
do vão entre o apoio conferido pela ancoragem e a resistência mobilizada do lado passivo na cortina. Esta
situação foi simulada através da escavação de uma altura de solo de acordo com a altura da fenda de
tração e aplicação de uma sobrecarga correspondente ao peso deste mesmo solo.

A altura da fenda de tração de cada secção de cálculo foi definida em função dos mecanismos superficiais
estimados através dos dados obtidos pela instrumentação instalada em cada uma das zonas da cortina,
sobretudo os resultados verificados ao longo dos anos nos inclinómetros.

A verificação da segurança da cortina de estacas foi efetuada através da aplicação de coeficientes parciais
para estados limites de rotura estruturais (STR) ou de rotura do terreno (GEO) de acordo com as disposições
da NP EN1997-1:2010.

O Quadro 6 mostra um resumo dos esforços estruturais obtidos na cortina de estacas, admitindo que não
há rotura nas ancoragens. Para cada situação de cálculo, é apresentada a variação desse valor
(percentagem dentro de parêntesis) em relação ao respetivo esforço resistente – 116,9 kN.m para o
momento fletor e 100 kN para o esforço transverso.

Para a combinação 2, considerando a carga de serviço teórica e a geometria da cortina, com exceção do
Corte F-F, a segurança face aos estados limites de rotura por rotação ou translação nunca é verificada. Para
a combinação 1, é possível chegar a uma situação de equilíbrio, mas mobilizando esforços sempre
superiores aos resistentes, pelo que não se verifica a segurança face ao estado limite de rotura estrutural.

6- CONCLUSÕES

O presente artigo incidiu sobre a análise da estabilidade global do talude sito entre o km 21+750 e o km
21+900, bem como sobre a análise das condições de estabilidade da cortina de estacas ancorada que
contém a A1.

160
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 6 - Resultados dos cálculos de estabilidade da cortina ancorada


Momentos fletores (kN.m/m) Esforço transverso (kN/m)
Combinação 1 Combinação 2 Combinação 1 Combinação 2
Corte A-A 112,7 (-3,6%) Instável 106,4 (+6,4%) Instável
Corte C-C 128,1 (+9,6%) Instável 124,1 (+24,1%) Instável
Corte D-D 120,4 (+3,0%) Instável 112,6 (+12,6%) Instável
Corte E-E 129,3 (+10,6%) Instável 114,8 (+14,8%) Instável
Corte F-F 310,6 (+165,7%) 600,3 (+413,5%) 268,1 (+168,1%) 286,7 (+186,7%)

Os cálculos confirmaram a interpretação do fenómeno de instabilidade a partir dos registos inclinométricos,


tendo-se conseguido identificar dois mecanismos de perda de estabilidade, um superficial e outro mais
profundo, com níveis de segurança baixos, corroborando as patologias existentes e os dados de observação.
O mecanismo superficial é mais desfavorável que o mecanismo profundo, apresentando coeficientes de
segurança mais baixos, o que está de acordo com a maior magnitude das distorções na zona superficial do
talude. O mecanismo profundo apresenta coeficientes de segurança insatisfatórios para C2 (nível de água
no início do ano hidrológico) e para C3 (subida do nível de água) com coeficientes de segurança próximos
da unidade corroborando os movimentos que se tem observado para o mecanismo profundo. Igualmente,
para o C2 o talude não satisfaz as condições de estabilidade para a ação sísmica regulamentar. Importa
referir que o mecanismo profundo condiciona fortemente a estabilidade externa do muro de espera da
EN10, pelo que se conclui que o muro não apresenta condições de estabilidade adequadas. Os ciclos
hidrológicos que conduzem à subida e descida do nível freático contribuem para uma degradação da
resistência dos solos ao longo da superfície potencial de escorregamento (aproximando progressivamente
ou ultrapassando mesmo o estado de pico) e corroboram as variações sazonais dos movimentos do talude.

No que respeita à cortina de estacas, e para cada secção, verificou-se a segurança em relação à rotura por
rotação ou por translação da cortina (verificação geotécnica) bem como a segurança estrutural em relação
à flexão e ao corte (verificação estrutural), de acordo com o Eurocódigo 7. Nas análises efetuadas
considerou-se a instalação de uma fenda de tração no talude e junto à cortina. Para a combinação 1 da
Abordagem de Cálculo 1 do Eurocódigo 7, é possível chegar a uma situação de equilíbrio, mas mobilizando
esforços de cálculo sempre superiores aos resistentes. Para a combinação de cálculo 2 da Abordagem de
Cálculo 1 do Eurocódigo 7, com exceção do corte F-F (Cortina Norte), não é possível chegar a uma solução
equilibrada. Assim, os resultados mostram condições de segurança inaceitáveis da cortina de estacas para
os três trechos.

No seguimento das análises efetuadas, foi estipulado que o talude de aterro da A1 ao km 21+750, incluindo
a cortina de estacas e o muro de espera da EN10, seria alvo de uma intervenção no sentido de conferir
adequadas condições de estabilidade ao longo de toda a sua extensão. Por último, importa referir que a
metodologia de avaliação das condições de estabilidade aqui descrita só foi possível dada a existência de
um adequado sistema de instrumentação e monitorização do talude, cuja redundância e fiabilidade se
revelou fundamental para o diagnóstico da situação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Brisa Concessão Rodoviária a autorização para publicação dos resultados da
observação e para a apresentação dos resultados de avaliação da estabilidade.

REFERÊNCIAS

ISO 22476-3:2005. Geotechnical investigation and testing - Field testing - Part 3: Standard penetration test;

Kulhawy, F.H., P.W. Mayne. (1990) - Manual on Estimating Soil Properties for Foundation Design, EPRI – Electric Power
Research Institute. Cornell University, New York;

LNEC (2017a) - A1-Vila Franca de Xira II/ Vila Franca de Xira I. Estabilização do talude ao km 21+750 (s/n) e muro da
EN 10. Ensaios de verificação das ancoragens A4S, A15S e A2N. Relatório nº 141/2017. Estudo realizado para a
Cenor Consultores S.A.

LNEC (2017b) - Talude ao km 21+750 da A1, perto de Vila Franca de Xira. Relatório sumário com a apresentação dos e
análise dos resultados de observação obtidos pelo LNEC até Dezembro de 2016. Relatório em impressão. Estudo
realizado para a BRISA

NP-EN-1997-1:2010. Eurocódigo 7 – Projecto geotécnico. Parte 1: Regras gerais. Portugal. IPQ;

Schneider, H.R. (1997) - Panel Discussion: Definition and determination of characteristic soil properties. 14th
International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering XIV ICSMFE.

161
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DA ALDEIA


DE MONSANTO

CHARACTERIZATION OF THE GEOLOGICAL AND GEOTECHNICAL CONDITIONS


AT THE VILLAGE OF MONSANTO

Prazeres, Ricardo Dias dos; Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal,
dias.dos.prazeres@gmail.com
Fernandes, Isabel; IDL e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal,
mifernandes@fc.ul.pt
Bodas Freitas, Teresa M; CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal,
teresabodas@tecnico.ulisboa.pt
Neto de Carvalho, Carlos; colaborador IDL; Município de Idanha-a-Nova; Geopark Naturtejo UNESCO,
Castelo Branco, Portugal, carlos.praedichnia@gmail.com
João Calvão; IDL e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, jmrodrigues@fc.ul.pt

RESUMO

A estabilidade de taludes e encostas envolvendo maciços rochosos ou terrosos depende de forma


determinante das condições geológico-geotécnicas ocorrentes. A aldeia de Monsanto, concelho de Idanha-
a-Nova, encontra-se implantada num inselberg granítico. O interesse turístico da aldeia reside em grande
medida na fusão do maciço rochoso com as construções humanas e na estética de vários blocos graníticos
dispersos pela aldeia. Este artigo apresenta uma descrição dos trabalhos de caracterização geológica e
geotécnica efetuados, nomeadamente os resultados do levantamento de campo de toda a zona de
intervenção e de um conjunto de ensaios de laboratório realizados sobre amostras recolhidas no local
(velocidade de propagação de ultrassons e ensaio de compressão uniaxial). Com base nesta informação é
efetuada a estimativa da resistência ao corte das descontinuidades e realizada uma análise cinemática
recorrendo ao programa comercial Dips 7.0, tendo por objetivo identificar os mecanismos de rotura mais
prováveis em cada zona da encosta e as famílias de diaclases associadas.

ABSTRACT

The stability of slopes and hillsides involving rock or soil masses depends crucially on the occurring
geological and geotechnical conditions. The village of Monsanto, municipality of Idanha-a-Nova, is located
on a granite inselberg. The tourist interest of the village lies largely in the fusion of the granitic rock mass
with the man-made constructions and in the aesthetics of several granitic boulders scattered throughout
the village. In the present work the geological and geotechnical characterization of the rock mass has been
carried out, namely by the field survey of the entire intervention area and by a set of laboratory tests on
samples collected in the field (ultrasonic propagation velocity and the uniaxial compression strength). Based
on this information the shear strength of the discontinuities is estimated and a kinematic analysis was
performed using the Dips 7.0 commercial software, with the objective of identifying the most probable
failure mechanisms in each slope zone and the associated families of discontinuities.

1- INTRODUÇÃO

Monsanto é uma aldeia histórica construída sobre o plutonito granítico sinorogénico de Penamacor-
Monsanto, que tem o turismo como uma das principais atividades económicas. Situa-se a NE de Castelo
Branco, num inselberg constituído por um maciço granítico em que afloram blocos rochosos de grande
dimensão e os caos de blocos são abundantes.

Em encostas íngremes como as que se encontram junto e no interior da área urbana de Monsanto, os
movimentos de terreno que ocorrem são essencialmente a queda de blocos e o deslizamento translacional
ao longo das superfícies de descontinuidade. A queda de blocos ocorre quando existem blocos rochosos de
grandes dimensões, em declives acentuados, e estes encontram-se em condições de estabilidade precária
devido a fatores geológicos, topográficos e climáticos (Dorren, 2003). De acordo com Jaedicke et al. (2014)
a suscetibilidade de ocorrência de deslizamentos aumenta com o declive das vertentes, sendo também
função da litologia; materiais soltos são em geral estáveis para inclinações inferiores a 27º, taludes com
inclinação superior a 30° não permitem, em geral, a acumulação de blocos de rocha ou outros materiais
soltos e para inclinações superiores a 45° verificam-se apenas movimentos do tipo queda de blocos e
grandes avalanches de rocha. Por consequência, na avaliação da suscetibilidade e risco associado a
movimentos do terreno, a inclinação das vertentes é por norma um dos parâmetros considerados
(Pourghasemi et al., 2013; Gupta e Albalagan, 1997, entre outros).

162
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A inclinação da vertente influencia o tipo de movimento e a trajetória dos blocos uma vez iniciado o
movimento; no seu caso de estudo, Braathen et al. (2004) consideram que podem ocorrer deslizamentos
em vertentes de inclinação inferior a 45º, verificando-se queda de blocos e possivelmente tombamento em
vertentes com inclinação de 60-75º, em especial quando existem descontinuidades subverticais. Dorren
(2003) apresenta uma revisão sobre os trabalhos publicados à data quanto aos principais tipos de
movimentos que se podem verificar na trajetória de um bloco em movimento e que incluem, dependendo
da inclinação média da vertente, queda (i>70º), saltação (45≤i≤70º) e rolamento (i<45º).

A iniciação do movimento e sua progressão dependem assim da geomorfologia - inclinação do talude,


existência de obstáculos ao deslocamento do bloco - mas também das características físicas do bloco -
forma, litologia, grau de alteração, posição do centro de massa, condições de apoio, carga de outros blocos
(Durren, 2003; Alejano et al., 2010; Almeida e Kullberg, 2011).

A avaliação da probabilidade de iniciação de movimentos por rotura em cunha, planar ou tombamento pode
ser realizada através de análise cinemática. Por outro lado, a trajetória de um bloco em movimento
apresenta uma elevada incerteza devido ao grande número de variáveis associado. Vários programas de
cálculo, de caracter académico e/ou comercial, têm sido propostos para prever a trajetória de blocos
(Guzzetti et al., 2010; Almeida e Kullberg, 2011; Rockfall da Rocscience), os quais podem ser usados como
suporte para uma análise de risco. Assim, o estudo da iniciação de movimentos em maciço rochoso e
previsão de trajetórias de blocos requer um conhecimento detalhado das condições geológicas e
geotécnicas ocorrentes, nomeadamente os parâmetros mecânicos e geométricos.

Este trabalho insere-se num protocolo estabelecido entre o IDL (Instituto Dom Luís) e o Município de
Idanha-a-Nova, com o apoio do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO, tendo em vista a avaliação do
risco associado a movimentos de terreno na aldeia de Monsanto. No presente artigo apresentam-se os
primeiros resultados do estudo em desenvolvimento, nomeadamente os trabalhos de caracterização
geológico-geotécnica efetuados e a análise cinemática para a identificação dos mecanismos de iniciação de
movimento mais prováveis.

2- ENQUADRAMENTO

2.1 - Geologia

A zona de estudo situa-se no Maciço Ibérico, na área de Castelo Branco, Idanha-a-Nova. De acordo com
Antunes (2006), afloram na área o plutão pré-varisco de Oledo-Idanha-a-Nova e o plutão de Castelo Branco.
Este tem uma área de cerca de 390 km2 e é formado por granito moscovítico-biotítico, granodiorito de grão
médio, granodiorito biotítico-moscovítico e granito porfiróide de duas micas.

O plutão granítico de Penamacor-Monsanto apresenta uma área de afloramento de 136km2, com forma
alongada de disposição elíptica de eixo maior N35ºW, intruindo litologias do Grupo das Beiras. Em Monsanto
a litologia mais abundante é o granito de duas micas de grão médio a grosseiro, de tendência porfiroide,
mostrando forte alteração hidrotermal e diaclasamento ortogonal e vertical, com orientações
predominantes N34ºE e N54ºW (Neiva e Campos, 1992;1993; Rodrigues et al., 2009). Na Figura 1
apresenta-se a carta geológica simplificada da região.

2.2 - Topografia

Na Figura 2 apresentam-se os mapas de altitude e de declives obtidos por modelo digital de terreno e
utilização de ArcGIS. A altitude do inselberg granítico varia aproximadamente entre 400 e 754 m, ou seja,
chega a atingir 350 metros de altitude acima da superfície de aplanação de Castelo Branco. Destaca-se da
paisagem circundante, de relevo suave e plano, que aqui se encontra a uma cota de cerca de 400 m
(Rodrigues et al., 2009).

A área urbana está concentrada no extremo NW da elevação, numa zona de declive um pouco mais suave,
entre as cotas 620 e 670 m. O declive é mais acentuado nas cotas mais elevadas da encosta SW, acima
dos 600 m, diminuindo entre as cotas de 450 e 600 m. O perfil é maioritariamente convexo na encosta
Este e concavo na encosta Oeste, formando socalcos aplanados e separados entre si por declives que
podem ter inclinação até 65º. Nas áreas ocupadas por terrenos agrícolas, os socalcos estão divididos por
muros de alvenaria. Devido à existência dos socalcos, verifica-se que a inclinação média é
predominantemente inferior a 35º, classificando-se como vertente moderadamente inclinada (Gupta e
Albalagan, 1997).

163
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Legenda (Ma – Milhões de Anos)

Aluvião – Plistocénico – Holocénico (1 Ma – Presente)


Arcoses, Brechas e Conglomerados (50-2,6 Ma) Quartzito Armoricano e Metapelitos do Ordovícico
Conglomerado de Almeirim ao Silúrico Inferior (488-435 Ma)
Grupo Rio Ceira
Grupo da Marracha
Legenda
Legenda (Ma– –Milhões
Fm.(Ma
Milhões
Silveirinha dede
dos Figos
Anos)
Anos) Grupo Sanguinheira
Grupo Cácemes
Fm. Cabeço do Infante
Aluvião– –Plistocénico
Aluvião Plistocénico – Holocénico
– Holocénico (1 Ma
(1 Ma – Presente)
– Presente) Quartzito Armoricano
Granitos Orogénicos Tardi-Variscos (315-310 Ma)
Arcoses,Brechas
Arcoses, Brechase eConglomerados
Conglomerados (50-2,6
(50-2,6 Ma)Ma) GrupoQuartzito Armoricano
dasArmoricano
Quartzito Beiras e Metapelitos
do Neoproterozóico
e Metapelitos do Ordovícico
do(610-542 Ma)
Ordovícico
Granito biotítico
Conglomerado ao Silúrico
ao Silúrico Inferior
Inferior do (488-435
(488-435
Conglomerado Ma)
Ma)das Beiras
Grupo
Granito biotíticodeporfiróide
Conglomerado Almeirim
de Almeirim
Grupo Grupo
Rio Ceira
Grupo da Marracha
Grupo moscovítico-biotítico
da Murracha Fm. AlmacedaRio Ceira
Granito
Grupo Grupo
Sanguinheira
Sanguinheira
Fm.
Fm.Silveirinha
Silveirinhados Figos
dos Figos Fm. Rosmaninhal
Granito gnáissico
Grupo Grupo
Cácemes
Fm. Cabeço do Infante Fm. Ferais Cácemes
Ortognaisse
Fm. Cabeço do Infante Quartzito Armoricano
Granitos Quartzito Armoricano
Fm. Malpica
GranitosOrogénicos
Granodioritos Tardi-Variscos
Pré-Variscos
Orogénicos (480-472(315-310
Tardi-VariscosMa) Ma)Ma)
(315-310
Grupo dasIndiferenciado
Granito
Granito biotítico GrupoBeiras do Neoproterozóico (610-542 Ma)
das Beiras do Neoproterozóico (610-542 Ma)
Granitoe biotítico
granadorito não porfiróide
Tectónica Conglomerado do Grupo das Beiras
Granito biotítico porfiróide
Granadiorito biotítico e quartzodiorito FalhasConglomerado do Grupo das Beiras
Granito biotítico porfiróide Fm. Almaceda
Granito
Granito moscovítico-biotítico
monzenitico com megacristais Fm. Almaceda
Cavalgamentos
Granito moscovítico-biotítico Fm. Rosmaninhal
Granito gnáissico
Fm. Romaninhal
Granito gnaissico
Ortognaisse
Fm. Ferais
Fm. Perais
Fm. Malpica
Ortognaisse
Granodioritos Pré-Variscos (480-472 Ma)
Fm. Malpica
Indiferenciado
Granodioritos Pré-Variscos (480-472 Ma)
Granito e granadorito não porfiróide Indiferenciado
Tectónica
Granito e granodiorito
Granadiorito não porfiróide
biotítico e quartzodiorito Falhas
Tectónica
Granodiorito
Granito biotítico
monzenitico comemegacristais
quartzodiorito Falhas
Cavalgamentos
Granito monzonítico com megacristais Cavalgamentos

Figura 1 – Carta geológica simplificada da área onde se situa Monsanto

164
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Legenda
Mapa de declives
0.00 - 4.60
4.60 – 8.68
8.68 – 12.77
12.77 – 16.60
16.60 – 20.43
20.43 -24.26
24.26 – 28.09
28.09 – 31.92
31.92 – 35.50
Legenda 35.50 – 39.08
39.08 – 42.65
Linhas hipsométricas 42.65 – 46.48
High 760.0 46.48 – 50.83
50.83 – 55.68
Low 562.8 55.68 – 65.13

Figura 2 – Mapa hipsométrico e mapa de declives da área urbana de Monsanto

3- METODOLOGIA

Tendo em vista a caracterização geotécnica do maciço foi realizado um trabalho de campo detalhado e um
número limitado de ensaios de laboratório.

O trabalho de campo realizado teve como objetivo caracterizar o maciço rochoso quanto ao grau de
alteração (W) e fracturação (F) de acordo com as indicações da ISRM (1979a). Selecionaram-se 10 locais
para levantamento de campo (estações de diaclasamento), cuja localização se indica na Figura 3. Estes
locais correspondem aos que apresentavam condições de afloramento mais favoráveis para as observações
necessárias. Embora a encosta Este não pertença à área urbana de Monsanto, foi realizado também o seu
estudo com o objetivo de definir as principais famílias de diaclases do maciço rochoso.

Em cada estação foram registadas as seguintes características das diaclases: atitude, espaçamento,
persistência, rugosidade, abertura, preenchimento, de acordo com as folhas de registo sugeridas em Ferrer
e Vallejo (2007). A rugosidade foi avaliada através do Joint roughness Coefficient (JRC), obtido por
comparação da superfície das diaclases com perfis tipo (Barton e Choubey, 1977). Em cada descontinuidade
foi utilizado o martelo de Schmidt para obtenção da dureza (ISRM, 1978a) e estimativa da resistência à
compressão uniaxial utilizando a correlação proposta por Deere e Miller (1966).

A atitude mais frequente de cada família de diaclases foi determinada por projeção das atitudes em rede
de igual área e realização de diagramas de isodensidades utilizando o programa DIPs 7.0 da Rocsicence.
Os valores médios das características acima elencadas foram determinados por construção de histogramas,
o que permitiu obter a dimensão média dos blocos em cada estação.

Para realização de ensaios de laboratório foram recolhidos alguns blocos de granito numa escavação em
curso. A partir destes blocos foram preparados, por carotagem, 4 provetes com 54 mm de diâmetro e 142
mm de altura, sobre os quais foram realizados o ensaio de determinação da velocidade de ultrassons (ISRM,
1978b) e o ensaio de compressão uniaxial (ISRM, 1979b). Os resultados destes ensaios permitem
complementar a informação obtida no levantamento de campo.

Em seguida, procedeu-se à estimativa da resistência ao corte das descontinuidades, utilizando a proposta


de Barton e Choubey (1977).

Após definição das principais famílias de diaclases nas 10 estações de diaclasamento, os dados foram
agrupados em 5 locais, de acordo com a proximidade geográfica dos locais de levantamento ou a
semelhança entre as famílias predominantes. Na Figura 3 os retângulos representam o agrupamento
efetuado. Apenas a estação 7 permaneceu independente por apresentar características diferentes das
restantes estações.

165
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 3 – Localização das estações de diaclasamento e seu agrupamento para realização da análise cinemática

A análise cinemática foi realizada para os seguintes tipos de movimento: deslizamento planar, em cunha,
tombamento flexural e tombamento direto, obtendo-se informação acerca dos movimentos mais prováveis
para o conjunto das famílias de diaclases em cada local e também para cada família.

4- RESULTADOS

4.1 – Trabalho de campo

Os afloramentos rochosos no interior da aldeia são escassos e encontram-se em geral parcialmente


cobertos por edifícios e muros em alvenaria. Na área circundante à aldeia, são comuns os caos de blocos,
predominando blocos que caíram ou rolaram a partir de cotas mais altas. Estas características condicionam
a exposição do maciço rochoso, pelo que foram selecionadas 10 estações de diaclasamento nos locais em
que os blocos rochosos se encontravam in situ e com possibilidade de acesso para fazer o levantamento.
Na Figura 4 apresentam-se dois exemplos das condições de exposição do maciço rochoso.

Os blocos rochosos são constituídos por granito que à superfície mostra uma patine esbranquiçada ou
escurecida pela presença de líquenes, dependendo das condições de exposição. É um granito de tonalidade
amarelada, classificado como W3, frequentemente friável (W4). Localmente mostra tonalidade avermelhada
e indícios de oxidação. Por vezes observa-se à superfície, em especial nas diaclases subhorizontais, cristais
de quartzo em relevo relativamente aos de feldspato e micas que terão sido erodidos após alteração química
e física. Os blocos rochosos são maioritariamente de dimensões métricas e apresentam arestas e vértices
arredondados devido à percolação de água ao longo das diaclases que compartimentam o maciço. Observa-
se frequentemente arenização nos contactos entre blocos, com área de contacto parcial ou apenas pontual.
Os blocos são predominantemente prismáticos na encosta Oeste e NW, com a maior dimensão próximo da
vertical, e tabulares na encosta Este, limitados por diaclases subhorizontais.

166
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 4 – Exemplos das condições de exposição do maciço rochoso: a) encosta Oeste, junto ao castelo; b) encosta
Este

Nas Figuras 5 e 6 apresentam-se os diagramas de isodensidades considerando as estações de


diaclasamento agrupadas em 5 locais. Genericamente, verifica-se que predominam as famílias subverticais
de orientação NNE-SSW a NNW-SSE e ENE-WSW a ESE-WNW. As famílias subhorizontais mostram maior
dispersão, e pendem maioritariamente para Norte.

Após a definição das famílias de diaclases, foram realizados histogramas para os diferentes parâmetros
observados no campo. O Quadro 1 apresenta o resumo das características das diaclases em cada local e
para cada uma das famílias identificadas.

Local 1 (ED 1 + 2; 76 pólos)

Local 2 (ED 3 + 4; 62 pólos)

Figura 5 – Diagramas de isodensidades com representação das principais famílias de diaclases e ilustração das
condições de exposição do maciço nos locais 1 e 2. (ED – estação de diaclasamento)

167
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Local 3 (ED 5 + 6; 33 pólos)

Local 4 (ED 7; 18 pólos)

Local 5 (ED 8 + 9 + 10; 101 pólos)

Figura 6 – Diagramas de isodensidades com representação das principais famílias de diaclases e ilustração das
condições de exposição do maciço nos locais 3 a 5. (ED – estação de diaclasamento)

168
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 1 – Características das diaclases em cada local estudado

Atitude Espaçamento (F) Persistência (m) Rugosidade (JRC) Abertura (mm)

Local 1
Família 1 N151º; 78ºNE F2 1-3 6-8 0,25-0,5
Família 2 N68º; 9ºNW F2 <1 6-8 <0,1
Família 3 N31º; 84ºSE F3 <1 6-8 0,25-0,5
Família 4 N86º; 72ºSSE F2 1-3 6-8 0,1-0,25
Família 5 N62º; 47ºNW F2-3 <1 6-8/8-10 0,25-0,5

Local 2
Família 1 N154º; 86ºNE F4 1-3 4-6 2,5-10
Família 2 N52º; 18ºNW F3 1-3 4-6 10-100
Família 3 N15º; 28ºESE F2 1-3 10-12 10-100

Local 3
Família 1 N12º; 90º F3 1-3 4-6 0,25-0,5
Família 2 N61º; 89ºNW F3 3-10 6-8 0,25-0,5
Família 3 N138º; 25ºNE F2 1-3 6-8 >1000

Local 4
Família 1 N78º; 84ºSSE F2-3 1-3/3-10 6-8/10-12 10-100
Família 2 N168º; 82ºWSW F1-2 3-10 6-8/8-10 10-100
Família 3 N2º; 28ºE F3 3-10 6-8 10-100
Família 4 N96º; 22ºNNE F3 1-3 8-10 0,25-0,5

Local 5
Família 1 N9º; 86ºESE F2-3 1-3 8-10 2,5-10
Família 2 N95º; 71ºSSW F3 >20 4-6 0,1-0,25
Família 3 N159º; 74ºSW F3 1-3 10-12 <0,1
Família 4 N65º; 12ºSE F2 3-10 10-12 2,5-10

O espaçamento das diaclases é predominantemente F2 a F3 (medianamente espaçadas a espaçadas) e as


diaclases são pouco contínuas (1-3 m) a medianamente contínuas (3-10 m). Os valores mais baixos de
persistência foram observados em taludes de corte de estrada, de altura reduzida. As superfícies
apresentam rugosidade baixa a moderada em resultado da erosão, a qual originou também que se
observem aberturas que atingem 100 mm, em especial nos locais de exposição em que o maciço está mais
descomprimido. O levantamento de campo foi realizado em época seca mas existem frequentemente
depósitos acastanhados ou negros que indiciam percolação nas diaclases. Não foi encontrado
preenchimento nas diaclases.

Os valores de dureza de Schmidt obtidos em cada superfície das diaclases variaram entre 18 e 58,
predominando valores entre 25 e 35. Utilizando o gráfico de Deere e Miller (1966), estimaram-se valores
para a resistência à compressão uniaxial de 30 a 60 MPa. De acordo com a classificação em ISRM (1979a),
pode dizer-se que estes valores correspondem a rocha moderadamente dura a dura.

4.2 - Ensaios de laboratório

Foi efetuada em laboratório a determinação da velocidade de ultrassons sobre quatro provetes, tendo sido
obtidos valores compreendidos entre 2554 m/s e 3357 m/s, com um valor médio de 2879 m/s. Sobre o
mesmo conjunto de provetes foram realizados ensaios de compressão uniaxial sob tensão constante a uma
taxa de cerca de 1.8 KN/s, tendo-se registado valores entre 44,0 MPa e 55,4 MPa, com um valor médio de
49,9 MPa. Esta gama de valores enquadra-se nos valores de resistência à compressão uniaxial estimados
a partir do ressalto do martelo de Schmidt em diaclases que se apresentavam mediamente alteradas (W3).

A dispersão de valores pode ser explicada pela presença de cristais de dimensão mais elevada,
nomeadamente megacristais de feldspato, localmente em alguns provetes, ou ainda devido a pequenas
imperfeições nas bases dos provetes.

Uma comparação dos valores obtidos com valores padrão publicados na literatura (Vallejo et al. 2002;
Rocha 2013), para materiais semelhantes, permitem confirmar a caracterização visual realizada in situ que
indicava que o granito analisado se encontra alterado (W3, localmente W4) resultante de alteração
hidrotermal e de meteorização.

169
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

4.3 - Resistência ao corte das descontinuidades

O ângulo de resistência ao corte das descontinuidades foi estimado com base na equação seguinte proposta
por Barton e Choubey (1977):
𝐽𝐶𝑆
𝜏 = 𝜎𝑛 ∙ 𝑡𝑔 [𝐽𝑅𝐶. log ( 𝜎´ ) + 𝜙𝑟 ] [1]
𝑛
onde 𝜎´𝑛 é a tensão normal efetiva,  é a resistência ao corte disponível, 𝜙𝑟 é o ângulo de atrito residual,
que depende apenas da natureza do maciço e do grau de alteração, JRC é o Joint Roughness Coefficient
mencionado anteriormente e JCS (Joint Wall Compressive Strength) é a resistência à compressão uniaxial
da parede da descontinuidade.

O ângulo de atrito residual, ɸr foi estimado através da seguinte equação (Barton e Choubey, 1977):

ɸr = (ɸb-20) + 20 (r/R) [2]

em que ɸb é o ângulo de atrito base medido em superfícies lisas de rocha intacta, o qual varia entre 31° e
35° para granito de grão grosseiro; R é o ressalto do martelo de Schmidt em superfícies intactas e secas,
que se estima igual a cerca de 50 para granito de grão grosseiro; r é o ressalto do martelo de Schmidt em
superfícies de diaclases em condições naturais (alteradas). Para diaclases mediamente alteradas o valor de
ressalto medido durante o levantamento de campo foi em média de 32, a que corresponde uma resistência
à compressão uniaxial de cerca de 50 MPa. Assim, para um ɸb igual a 31° obtém-se ɸr igual a 24°.

Considerando JCS igual a 6 e JRC igual a 50 MPa (a resistência à compressão uniaxial estimada com o
martelo de Schmidt em diaclases mediamente alteradas), para uma gama de tensão normal entre 1 a 2
MPa (tendo em consideração a dimensão média dos blocos e que a área de contacto é em muitos casos
reduzida devido às condições de apoio), o ângulo de resistência ao corte das descontinuidades varia entre
32° e 34°. Em casos em que as superfícies das diaclases se apresentem muito alteradas o valor deverá ser
inferior.

5- ANÁLISE CINEMÁTICA

Tendo em consideração a variabilidade das famílias de diaclases, a análise cinemática foi realizada para
cada um dos 5 locais identificados acima. Optou-se por analisar o pior cenário, ou seja, a inclinação máxima
de 60º para todas as estações da encosta Oeste. Na encosta Este, para a qual não existe cartografia de
pormenor, foi considerado um declive máximo de 45º obtido a partir da carta topográfica 258 de Monsanto,
Idanha-a-Nova, à escala 1:25.000.

Tendo em consideração a discussão apresentada na secção 4.3, de forma conservativa, na análise


cinemática foi adotado um ângulo de atrito das descontinuidades igual a 30°.

No Quadro 2 apresenta-se uma síntese dos resultados obtidos da análise cinemática. Para o local 5
consideraram-se duas orientações gerais da encosta, nomeadamente N6º e N35º e incluiram-se no quadro
os resultados respetivos. O local 1, situado junto à estrada de acesso à aldeia, e o local 4, situado a cota
mais elevada na mesma encosta, são os que apresentam probabilidade mais elevada de ocorrência de
tombamento de blocos. Em todos os locais analisados, o movimento que apresenta probabilidade mais
elevada de ocorrência é o tombamento direto para blocos apoiados em diaclases subhorizontais.

Quadro 2- Probabilidade (máxima prevista) de ocorrência de movimentos de terreno em cinco locais do maciço de
Monsanto (ED – estação de diaclasamento). Valores em percentagem e indicação da atitude das descontinuidades para
as probabilidades mais elevadas de movimento
Local 1 Local 2 Local 3 Local 4 Local 5 (N6º) Local 5 (N35º)
ED 1+2 ED 3+4 ED 5+6 ED 7 ED 8+9+10 ED 8+9+10
Deslizamento 36 75 9 0 2 2
planar N15º; 38ºESE
Deslizamento 25 16 12 3 3 2
em cunha
Tombamento 100 3 6 100 27 0
flexural N86º; 72ºSSE N78º; 84ºSE
Tombamento 100 100 100 100 63 100
direto N68º; 9ºNW N15º; 38ºESE N138º; 25ºNE N96º; 22ºNNE N65º; 12ºSE N65º; 12ºSE

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi realizado o estudo geológico-geotécnico do maciço granítico no qual se encontra a aldeia de Monsanto.
O trabalho de campo permitiu definir o sistema de diaclases que compartimenta o maciço rochoso e, para

170
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

cada local estudado, obtiveram-se as principais famílias de diaclases e as suas características físicas.
Predominam as famílias subverticais e diaclases subhorizontais de atitude variável que individualizam
grandes blocos prismáticos. Estes apresentam frequentemente altura superior à base de apoio. O contacto
entre os blocos é frequentemente parcial a pontual devido à intensa alteração e arenização da rocha junto
às descontinuidades. A rocha mostra tonalidade amarelada correspondente a alteração moderada, tal como
confirmado pela utilização do martelo de Schmidt e pela realização de ensaios de laboratório.

A análise cinemática indica elevada probabilidade de tombamento de blocos em todos os locais estudados,
em especial para os blocos que se encontram apoiados em diaclases subhorizontais (tombamento direto).
Existe ainda possibilidade de ocorrência de deslizamento planar na encosta WNW e tombamento flexural
no extremo ENE da povoação, sobre a estrada de acesso à aldeia.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer à Naturtejo e à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova pela informação


cartográfica fornecida e pelo apoio logístico e de alojamento para realização do trabalho de campo. O
presente trabalho foi desenvolvido no âmbito das atividades do Instituto Dom Luiz, com financiamento da
FCT-projeto UID/GEO/50019/2013.

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172
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS (c’ e ᶲ) DE MISTURAS DE


UM SOLO LATERÍTICO COM ADIÇÕES DE CAL E CINZA DE CASCA DE ARROZ
DETERMINATION OF GEOTECHNICAL PARAMETERS (c’ and ᶲ) OF A LATERITIC
SOIL WITH DIFFERENT LIME AND RICE HUSK ASH CONTENTS

Stein, Katjusa; Universidade Federal do Pampa, Alegrete - RS, Brasil, katjusa.civil@gmail.com


Budny, Jaelson; Universidade Federal do Pampa, Alegrete - RS, Brasil, jaelsonbudny@gmail.com
Hartmann, Diego Arthur; Universidade Federal do Pampa, Alegrete - RS, Brasil,
diego.hartmann@unipampa.edu.br
Tapahuasco, Wilber Feliciano; Universidade Federal do Pampa, Alegrete - RS, Brasil,
wilbertapahuasco@unipampa.edu.br

RESUMO

A utilização de solos locais em pavimentação é uma alternativa que se provou eficiente em diferentes
estudos, diminuindo o tempo de transporte e custos. Os solos tropicais, comuns em climas úmidos como
no Brasil, apresentam peculiaridade de comportamento que os tornam muito eficientes para a construção
de bases e sub-bases de pavimentos. O estudo objetivou analisar o comportamento mecânico de um solo
laterítico para uso em pavimentação através de ensaios de cisalhamento direto nas condições seca
(umidade de moldagem) e saturada. Foram verificados os parâmetros geotécnicos quando acrescidas
porcentagens de cal e cinza de casca de arroz (CCA). Os corpos de prova (CP’s) foram moldados com
umidade ótima do material e ensaiados com 28 dias de cura em temperatura controlada. Os ensaios
realizados na condição saturada resultaram em queda da resistência ao cisalhamento. Conclui-se que houve
ganho de resistência para a mistura de solo + cal + CCA.

ABSTRACT

The use of local soils in paving is an efficient alternative which reduces transport time and general costs.
Tropical soils, common in humid climates such as Brazil’s, present a peculiar behavior that makes them
particularly useful as pavement grade and subgrade materials. This study analyzed the mechanical behavior
of a lateritic soil for paving purposes, by means of direct shear tests on dry (compaction moisture) and
saturated conditions, with different lime and rice husk ash (RHA) contents. The specimens were compacted
at the optimum moisture content with and tested after 28 days of curing at controlled temperature. Results
shown that specimens with both lime and RHA improved shear resistance compared to the reference spec-
imens. Specimens with only RHA showed a performance loss, with decreased shear strength. Specimens
with only lime did not indicate any gain or loss in resistance. The addition of both lime and RHA in a
combined manner was the one that proved to be the most suitable solution.

1- INTRODUÇÃO

Os solos lateríticos são encontrados em regiões tropicais de clima úmido, abundantes no Brasil. Devido a
esta disponibilidade, a sua utilização como material de base e sub-base de pavimentos vem sendo estudada
a fim de se aproveitar eficientemente este material. De acordo com Villibor et al. (2009), o desenvolvimento
de pavimentos regionalizados e com tecnologia nacional se justifica devido à grande extensão territorial,
às condições climáticas típicas de ambientes tropicais, ao grande déficit de pavimentos e à falta de recursos
financeiros.

Os primeiros estudos realizados sobre a utilização de solos tropicais em pavimentação foram realizados em
trechos experimentais, analisando o uso desses materiais como subleito, reforço de subleito, sub-base e
base de pavimentos (Villibor, 1974; Correa, 1975; e Barros 1978). Nestes trabalhos foram observados
resultados satisfatórios de suporte de carga dos solos tropicais para trechos com tráfego variando de médio
a leve.

O estudo do comportamento mecânico de solos lateríticos se justifica pela grande importância econômico
e financeira da utilização desses solos em pavimentação urbana. As características dos solos tropicais
variam muito de acordo com as peculiaridades do local em que são encontrados, é necessário a realização
de ensaios para melhor caracterização dos diversos solos existentes no país. Com maior conhecimento dos
materiais disponíveis em abundância no país, é possível otimizar a construção de pavimentos urbanos e
rodovias, diminuindo custos e aumentando sua durabilidade.

173
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento, quanto a resistência ao cisalhamento, de um solo


laterítico para uso em pavimentação quando adicionados diferentes teores de cal e de cinza de casca de
arroz. Para tal, ensaios de cisalhamento direto foram realizados variando os teores das adições. Ainda, com
os parâmetros de resistência determinados, busca-se simular a estabilidade de dois casos de taludes
rodoviários a fim de se avaliar o emprego do solo em estudo para estes casos de obra.

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 - Solos Tropicais

Os solos tropicais apresentam peculiaridades de propriedades e de comportamento em relação a outros


solos, decorrentes de processos geológicos e/ou pedológicos em sua formação (Cruz e Maiolino, 1985). Em
seu estado natural, não saturados e com índice de vazios elevado, sua capacidade de suporte é muito
pequena, porém quando compactados sua capacidade de suporte é elevada e não apresentam expansão
na presença de água. Estas características tornam os solos tropicais muito eficientes para uso em
pavimentação e aterros (Pinto, 2006).

Segundo Braja (2007), os sistemas mais utilizados para classificar os solos do ponto de vista da engenharia
são o sistema de classificação da AASHTO e o Sistema Unificado de Classificação dos Solos. Ambos os
sistemas levam em consideração a distribuição granulométrica e os limites de Atterberg. Estes métodos
tradicionais são ineficientes para classificar solos lateríticos devido às peculiaridades existentes em seu
comportamento.

Nogami e Villibor (1995) desenvolveram a metodologia MCT que utiliza corpos de prova miniatura,
compactados através de um procedimento especial e destinados especialmente para solos tropicais. Esta
metodologia surgiu como uma necessidade mediante as limitações dos métodos existentes de
caracterização e classificação de solos e permite a identificação dos solos de comportamento laterítico,
prevendo suas qualidades.

2.2 - Ensaio de Cisalhamento Direto

Um dos ensaios de laboratório mais empregados para a determinação dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo é o ensaio de cisalhamento direto. Este ensaio consiste em induzir um plano de
ruptura linear em um corpo de prova de forma prismática e seção quadrada. Aplicando uma tensão normal
ao solo, é obtido o valor da tensão de cisalhamento no momento da ruptura. Com esses valores plotados
em um gráfico é possível determinar os parâmetro de resistência ao cisalhamento do solo (Braja, 2007).

Este ensaio é de simples realização e econômico, entretanto possui algumas deficiências. A confiabilidade
dos resultados pode ser questionada pelo fato de que o plano de ruptura do solo é forçado, não permitindo
que o solo rompa ao longo do plano mais frágil. Além disso, a distribuição das tensões de cisalhamento
não é uniforme no plano de ruptura.

2.3 - Estabilização de Solos

Quando os solos naturais não possuem as propriedades necessárias para cumprir adequadamente os
requisitos à que são projetados, uma das soluções é a alteração das suas características de maneira a
melhorar o seu comportamento, tornando-os capazes de responder de forma satisfatória às solicitações
previstas. Esta alteração é definida como estabilização de solos (Cruz e Jalali, 2010).

Segundo Teixeira (2010), os métodos de estabilização de solos mais frequentes são estabilização mecânica,
estabilização física e estabilização química, quando as propriedades são alteradas permanentemente
através de aditivos.

Do ponto de vista ambiental, econômico e de segurança, os benefícios da estabilização são diversos.


Conforme Cruz e Jalali (2010), podem-se citar a minimização da perda de material ocasionada pela erosão
ou pelo tráfego nas estradas de terra, redução dos custos de compra e transporte de agregados e
minimização da agressão ambiental causada pela instalação de pedreiras e britagem.

3- MATERIAIS E MÉTODOS

Como o solo utilizado nessa pesquisa é o mesmo solo utilizado no trabalho de Leon (2015), os resultados
da classificação granulométrica, massa específica dos materiais, limites de Atterberg, ensaio físico químico
para determinação das dosagens e ensaios de compressão simples foram importados do trabalho em
questão para esta pesquisa.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Os ensaios foram realizados com as mesmas dosagens de Leon (2015), com o intuito de dar continuidade
ao estudo realizado, com a adição de ensaios de cisalhamento direto e simulações utilizando o Software
GeoSlide.

3.1 - Materiais

O solo utilizado foi coletado em uma jazida localizada na BR 307 no km 28, próxima a cidade de Cândido
Godói no estado do Rio Grande do Sul. O solo é um latossolo roxo, classificado como argiloso laterítico
(LG') segundo a metodologia MCT (Leon, 2015).

Como materiais estabilizantes foram utilizados cal hidratada da classe CH-II Dolomitica e cinza da casca
de arroz cedida pela empresa CAAL (Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda.), este resíduo é proveniente
da Usina Termoelétrica da empresa.

3.2 - Métodos

Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados para as dosagens mostradas no Quadro 1, conforme
Leon (2015), nas condições de ensaio saturado drenado e seco (umidade de moldagem).

Quadro 1 - Dosagens executadas


Solo Solo + Cal Solo + Cal + CCA Solo + CCA
Massa Específica (g/cm³) 1,98 1,94 1,95 1,96
Umidade Ótima (%) 28,0 29,0 27,0 28,8
Solo (%) 100 94,0 94,0 94,0
Cal (%) - 6,0 2,4 -
CCA (%) - - 3,6 6,0

3.2.1 - Cura e moldagem dos corpos de prova

Previamente à moldagem dos corpos de prova (CP) foram corrigidos os teores de umidade do solo e das
misturas, atingindo a umidade ótima em cada situação. Os corpos de prova moldados possuíam dimensões
de 5 cm x 5 cm e 2 cm de altura. A moldagem foi feita com auxílio de macaco hidráulico através de
compactação estática.

Todos os CP’s foram envoltos por plástico filme e parafina para não ocorrer variação de umidade e seguiram
para cura em ambiente com temperatura controlada durante 28 dias. As etapas de moldagem dos CPs para
ensaio de cisalhamento direto estão apresentadas na Figura 1.

Figura 1 – Etapas de moldagem

3.2.2 - Ensaio de cisalhamento direto

A taxa de cisalhamento para o solo utilizado foi determinada a partir de três ensaios teste, com solo natural
não saturado, nas velocidades estimadas de 0,1 mm/min, 0,2 mm/min e 0,5 mm/min. Não havendo
alteração nos resultados é possível adotar a maior velocidade, caso contrário é feita uma análise para a
escolha da velocidade ideal para este tipo de solo. Os ensaios foram realizados com equipamento da
empresa Conteco, seguindo as normativas da ASTM D3080. A coleta de dados é feita de forma automática
através do software da Pavitest.

A primeira etapa do ensaio consiste no adensamento do corpo de prova, até atingir deformação constante.
Os ensaios foram realizados para 6 carregamentos diferentes, 25, 50, 75, 100, 200 e 400 kPa, para que
houvesse maior confiabilidade na obtenção dos parâmetros de resistência. Os resultados obtidos pelo

175
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

software permitem a plotagem das envoltórias de ruptura, sendo possível o cálculo dos parâmetros de
ângulo de atrito e coesão.

Para fazer a saturação dos CP’s foi utilizada uma bomba de vácuo acoplada a um equipamento que permitia
manter a caixa bipartida submersa, juntamente com o CP. O tempo de aplicação da bomba de vácuo foi de
30 min para todos os CP’s para melhor padronização durante os ensaios.

3.2.3 - Modelagem dos perfis

As simulações do comportamento do solo em talude foram realizadas utilizando o software GeoSlide,


determinando os fatores de segurança com os métodos de Bishop Simplificado, Janbu Simplificado e Janbu
Corrigido.

A figura 2 apresenta a geometria dos taludes utilizado e a localização do carregamento. Foram realizadas
simulações para as declividades de talude nas proporções 1:3 e 1:2, com os materiais utilizados na
pesquisa, considerando o nível da água em todo o talude para os ensaios saturados.

Para a modelagem dos perfis utilizados no software GeoSlide foram considerados fatores como
carregamento, tipo de eixo e inclinação do talude. A geometria do talude foi feita de acordo com as
recomendações do Manual de Conservação Rodoviária do DNIT. Segundo o DNIT, aterros sujeitos a
inundação devem ter altura de 3m e inclinação do talude 1:3 (vertical : horizontal). A inclinação de talude
1:2 (vertical : horizontal) foi adotada devida a grande utilização em obras rodoviárias no país.

Para o carregamento foi adotado o eixo tandem triplo, que segundo os limites legais do DNIT possui carga
de 25.500 kg. Para esse carregamento a pressão transmitida pela roda é de 809,05 kN/m².

Figura 2 – Modelos de perfis utilizados

Para as simulações foram utilizados os parâmetros obtidos pelos ensaios de cisalhamento direto como
dados de entrada no software, juntamente com os valores de massa específica obtidos pela pesquisa de
Leon (2015).

4- ANÁLISE DOS RESULTADOS

A velocidade utilizada nos ensaios foi determinada após análise do comportamento dos resultados de trâs
ensaios com velocidades de 0,1 mm/min, 0,2 mm/min e 0,5 mm/min. Os resultados obtidos estão
apresentados na figura 3. Como pode ser observado no gráfico, para as velocidades de 0,1 e 0,2 mm/min
o comportamento do solo foi muito semelhante e varia significativamente da velocidade de 0,5 mm/min.
Desta forma, foi optado pela utilização da velocidade de 0,2 mm/min, com a intenção de acelerar a
realização dos ensaios sem interferir no comportamento do material.

Após a aquisição dos dados pelos ensaios de cisalhamento direto foram plotados os gráficos de tensão em
função da deformação. Conhecendo as tensões confinante e máxima cisalhante foram traçadas as
envoltórias de ruptura, utilizando linhas de tendência entre os pontos.

176
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 3 – Determinação da velocidade de ensaio

4.1 - Ensaios de Cisalhamento Direto Seco

Os resultados obtidos pelos ensaios de cisalhamento direto na condição seca, umidade ótima do material,
para as amostras de solo natural, estão apresentados nas Figuras 4 e 5. O gráfico de tensão versus
deformação para as diferentes tensões de adensamento utilizadas é apresentado na Figura 4.

E possível perceber que, nas tensões confinantes de 25, 50, 75 e 100 kPa o comportamento do solo é
característico de um solo no estado pré-adensado. Já nas tensões maiores, 200 e 400 kPa, o solo se
comporta como normalmente adensado, não apresentando um pico de tensão no momento da ruptura.

Figura 4 – Solo natural não saturado

A envoltória de ruptura gerada para os ensaios de solo natural é apresentada na Figura 5. A inclinação da
envoltória corresponde ao ângulo de atrito interno do solo (∅), calculado através da Equação 1. Em que 𝜏
é a resistência ao cisalhamento do solo e 𝜎 a tensão normal no corpo de prova.
𝜏
∅ = 𝑡𝑔−1 𝜎 [1]

A partir dos ensaios de cisalhamento direto, para o solo natural, foi obtido um intercepto coesivo igual a
145 kPa e um ângulo de atrito igual a 37,7°.

177
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 5 – Envoltória de ruptura para amostra de solo natural não saturado

De forma semelhante aos gráficos mostrados nas Figuras 4 e 5 para as amostras de solo natural, foram
plotados gráficos para as misturas estabilizadas na condição não saturada, resultando em parâmetros de
resistência ao cisalhamento conforme mostrados no Quadro 2.

Quadro 2 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto não saturado


Amostras c’ (kPa) ∅ (°)
Solo Natural 145 37,7
Solo + Cal 142 32,4
Solo + CCA 166 26,8
Solo + Cal + CCA 190 39,8

4.2 - Ensaios de Cisalhamento Direto Saturados

Os resultados obtidos pelos ensaios de cisalhamento direto na condição saturada, para as amostras de solo
natural, estão apresentados nas Figuras 6 e 7. A obtenção dos parâmetros geotécnicos, c' e ∅, é feita da
mesma forma aos ensaios na condição não saturada.

O gráfico de tensão versus deformação está apresentado na figura 6, e nele é possível observar que todos
os CPs apresentam comportamento de solo normalmente adensado, o que é esperado no caso de solos
saturados.

Figura 6 – Solo natural saturado

178
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Através da envoltória de ruptura, mostrada na figura 7, o valor de intercepto coesivo obtido para estas
amostras foi de 20 kPa e ângulo de atrito igual a 27,7°.

Figura 7 – Envoltória de ruptura para amostra de solo natural saturado

De forma semelhante aos gráficos mostrados nas Figuras 6 e 7 para as amostras de solo natural, foram
plotados gráficos para as misturas estabilizadas na condição saturada, resultando em parâmetros de
resistência ao cisalhamento conforme mostrados no Quadro 3.

Quadro 3 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto saturado


Amostras c’ (kPa) ∅ (°)
Solo Natural 20 27,7
Solo + Cal 37 26,3
Solo + CCA 23 29,9
Solo + Cal + CCA 56 24,3

4.3 - Comparação Entre as Diferentes Condições de Ensaio

Segundo os resultados apresentados foi observada uma queda na resistência do solo quando havia
presença de água de forma saturada. Nos ensaios em condição saturada a coesão, parcela da resistência
ao cisalhamento proveniente da atração química entre as partículas, é muito inferior.

No caso do solo natural, quando não é possível a obtenção dos parâmetros na condição saturada Terzaghi
propõe uma redução de um terço dos valores obtidos na condição não saturada (Cintra, 2011). Essa
redução não é utilizada no caso de solos estabilizados. Os valores encontrados nesta pesquisa mostram
uma redução muito maior, fato que questiona se a teoria de Terzaghi é suficiente para definir a capacidade
de suporte de solos saturados.

Por mais que a presença de água nas camadas de base e sub-base dos pavimentos possa ser evitada
utilizando estruturas de drenagem, o dimensionamento dessas camadas deve sempre levar em
consideração o pior caso possível, ou seja, quando há percolação de água.

4.4 - Comparação Entre as Diferentes Amostras Ensaiadas

A Figura 8 apresenta a variação do intercepto coesivo nas diferentes condições de ensaios realizadas. Houve
uma grande variação nos valores de intercepto coesivo encontrados, com queda significativa nos ensaios
de cisalhamento direto na condição saturada. A mistura que apresentou melhor comportamento, em relação
ao intercepto coesivo foi com adição de cal + CCA, ultrapassando os valores de solo natural, em ambas
condições de ensaio.

179
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 8 – Influência da estabilização no intercepto coesivo

A Figura 9 apresenta a variação do ângulo de atrito nas diferentes condições de ensaios realizadas. Os
valores de ângulo de atrito não apresentaram variação tão significativa, como mostrado na Figura 9. As
misturas de solo + cal e solo + CCA apresentaram desempenho inferior às misturas de solo natural, com
queda de resistência ao cisalhamento. A mistura com adição de cal + CCA obteve destaque, se mostrando
a mais eficiente, com maior ganho de resistência.

O comportamento apresentado pelas misturas estabilizadas com CCA é justificável pelo fato de que, a
adição de CCA de forma isolada não possui poder cimentício, a cimentação somente é verificada quando a
cinza é adicionada em conjunto com a cal, o que pode ser verificado com o ganho de resistência.

Um fator significativo para o desempenho inferior da mistura estabilizada com cal pode ter sido o tempo
de cura definido na pesquisa. No estudo realizado por Leon (2015), a mistura estabilizada com cal
apresentou perda de resistência nos ensaios de compressão simples realizados aos 28 dias de cura e teve
um aumento significativo aos 56 dias de cura.

Figura 9 – Influência da estabilização no ângulo de atrito

4.5 - Estabilidade dos Taludes em Estudo

Com os resultados obtidos pelos ensaios de cisalhamento direto foram verificadas as estabilidades dos
taludes mostrados nos itens a seguir. Os taludes foram construídos com inclinações 1:2 e 1:3, a partir dos
materiais estudados e analisados pelos métodos de Bishop Simplificado (BS), Janbu Simplificado (JS) e
Janbu Corrigido (JC).

4.5.1 - Estabilidade dos taludes com declividade 1:2

O Quadro 4 apresenta os fatores de segurança obtidos nas simulações realizadas com os resultados dos
ensaios de cisalhamento direto na condição não saturada, com inclinação 1:2.

180
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 4 – Fatores de segurança para ensaios de cisalhamento direto não saturados


Solo Natural Solo + Cal Solo + CCA Solo + Cal + CCA
BS JS JC BS JS JC BS JS JC BS JS JC
4,85 3,45 3,74 4,57 3,21 3,48 4,97 3,40 3,69 6,09 4,27 4,63

É possível perceber, através dos resultados apresentados no Quadro 4, que o método de Janbu Simplificado
é o mais conservador entre os três analisados, resultando em fatores de segurança menores. A Figura 10
apresenta as simulações realizadas nas condições apresentadas acima para o método de Jambu
Simplificado.

Figura 10 – Superfícies de ruptura críticas para o método de JS (não saturado)

O fator de segurança mínimo que deve-se alcançar em taludes de corte em rodovias é 1,5. Nestas
simulações todas as amostras obtiveram resultado satisfatório.

O Quadro 5 apresenta os fatores de segurança obtidos a partir dos ensaios de cisalhamento direto na
condição saturada. Os valores obtidos para esses ensaios são muito inferiores, apenas a amostra
estabilizada com cal + CCA apresentou resultado satisfatório para o fator de segurança, acima de 1,5.

Quadro 5 – Fatores de segurança para ensaios de cisalhamento direto saturados


Solo Natural Solo + Cal Solo + CCA Solo + Cal + CCA
BS JS JC BS JS JC BS JS JC BS JS JC
1,12 0,84 0,91 1,50 1,04 1,13 1,25 0,94 1,02 1,61 1,19 1,29

A Figura 11 apresenta as simulações feitas para os ensaios de cisalhamento direto na condição saturada,
com taludes de declividade 1:2 para o método de Janbu Simplificado. Nessas simulações foi considerado o
nível de água saturando toda a área do talude, conforme mostrado na figura 11.

181
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 11 – Superfícies de ruptura críticas para o método de JS (saturado)

4.5.2 - Estabilidade dos taludes com declividade 1:3

O Quadro 6 apresenta os fatores de segurança obtidos nas simulações feitas com os resultados dos ensaios
de cisalhamento direto na condição não saturada, com inclinação 1:3.

Quadro 6 – Fatores de segurança para ensaios de cisalhamento direto não saturados


Solo Natural Solo + Cal Solo + CCA Solo + Cal + CCA
BS JS JC BS JS JC BS JS JC BS JS JC
6,55 4,25 4,61 6,19 4,00 4,34 6,41 4,18 4,54 7,25 5,11 5,54

É possível perceber, através dos resultados apresentados no Quadro 6, que o método de Janbu Simplificado
é o mais conservador entre os três analisados. Nestas simulações todas as amostras obtiveram resultado
satisfatório para o fator de segurança, acima de 1,5.

Os valores obtidos para os taludes com declividade 1:3 são significativamente superiores aos com
declividade 1:2. Esse fato ressalta para a importância da execução de cortes conforme as recomendações
do DNIT.

A Figura 12 apresenta as simulações feita com o método de Janbu Simplificado para os ensaios de
cisalhamento direto na condição não saturada, taludes com declividade 1:3.

182
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 12 – Superfícies de ruptura críticas para o método de JS (não saturado)

O Quadro 7 apresenta os fatores de segurança obtidos a partir dos ensaios de cisalhamento direto na
condição saturada. Os valores obtidos são muito inferiores, apenas as amostras estabilizadas apresentaram
resultado satisfatório para o fator de segurança, maior que 1,5.

Quadro 7 – Fatores de segurança para ensaios de cisalhamento direto saturados


Solo Natural Solo + Cal Solo + CCA Solo + Cal + CCA
BS JS JC BS JS JC BS JS JC BS JS JC
1,43 1,05 1,13 1,70 1,31 1,42 1,60 1,16 1,26 1,81 1,48 1,61

A Figura 13 apresenta as simulações para os ensaios na condição saturada, com taludes de declividade
1:3, para o método de Janbu Simplificado.

Figura 13 – Superfícies de ruptura críticas para o método de JS (saturado)

183
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

5- CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou a análise da influência da adição de combinações de cal e CCA, na resistência ao
cisalhamento em um solo tropical típico da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

Através deste trabalho, pôde-se verificar a viabilidade da utilização da mistura de cal + CCA em camadas
de pavimentos, visto que apresentou comportamento satisfatório, superior ao solo natural e às outras
misturas. A mistura com adição de CCA apresentou perda de desempenho, com diminuição da resistência
ao cisalhamento. Esse comportamento era esperado, visto que a CCA não possui poder de cimentação
quando utilizada de forma isolada, sendo necessário o acréscimo de um material cimentante como a cal. A
mistura estabilizada com cal não apresentou acréscimo de resistência, não sendo economicamente viável
seu uso nestes teores, para as condições e o solo estudado.

As amostras ensaiadas na condição saturada apresentaram perda significativa de resistência, com valores
de intercepto coesivo e ângulo de atrito inferiores aos ensaios realizados na condição não saturada. A
presença de água no solo é um fator crucial que deve ser analisado cuidadosamente ao se projetar toda
obra de engenharia, pois, como mostrados na análise dos resultados, influencia na resistência do solo.

Os fatores de segurança obtidos através das simulações pelo software GeoSlide reforçam a necessidade da
realização de ensaios na condição saturada, visto que são os resultados mais críticos.

As análises feitas através do software GeoSlide apresentaram resultados satisfatórios para os fatores de
segurança de taludes simulados com os resultados dos ensaios de cisalhamento direto na condição não
saturada.

REFERÊNCIAS

Barros, C. (1978) – Bases estabilizadas executadas com solos argilosos laterizados. Dissertação de mestrado, Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Braja, M.D. (2007) - Fundamentos de engenharia geotécnica, 6nd ed., Thomson Learning, São Paulo, SP, Brasil, 632 p.

Cintra, J.C.A. (2011) - Fundações diretas, Oficina de Textos, São Paulo, SP, Brasil.

Correa, F. (1975) – Comportamento de trechos experimentais com bases de solos arenosos finos. Dissertação de
mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos.

Cruz, M.L. e Jalali, S. (2010) – Melhoramento do desempenho de misturas de solo-cimento com recurso a ativadores de
baixo custo. Revista Luso-Brasileira de Geotecnia.

Cruz, P.T. e Maiolino, A. (1985) – Peculiarities of geotechnical behavior of tropical lateritic and saprolitic soils. Committee
on Tropical Soils of the ISSMFE, ABMS.

Leon, H.B. (2015) – Estabilização de solos lateríticos: uma alternativa para resíduos de cinza de casca de arroz. Trabalho
de Conclusão do Curso Engenharia Civil, Universidade Federal do Pampa, Alegrete.

Nogami, J.S. e Villibor, D.F. (1995) - Pavimentação de baixo custo com solos lateríticos, São Paulo, SP, Brasil, 213 p.

Pinto, C. (2006) - Curso básico de mecânica dos solos, 3nd ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP, Brasil, 367 p.

Teixeira, C.C.R. (2010) – Avaliação do potencial de ligantes a base de sódio e cinzas volantes na estabilização de solos
– comparação com soluções tradicionais. Dissertação de mestrado, Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade
de Alto Douro.

Villibor, D.F. (1974) – Utilização de solo arenoso fino na execução de bases para pavimentação de baixo custo.
Dissertação de mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos.

Villibor, D.F., Nogami, J.S., Cincerre, J.R., Serra, M. e Zuppolini, A. (2009) - Pavimentos de Baixo Custo para Vias Urbanas,
2nd ed., Arte e Ciência, São Paulo, SP, Brasil, 193 p.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ESCORREGAMENTO DO TALUDE ADJACENTE À CORTINA DE CONTENÇÃO


PERIFÉRICA DO HIPERMERCADO DE MACHICO NA ILHA DA MADEIRA

FAILURE OF THE ADJACENT SLOPE OF THE PERIMETRAL PROVISIONAL WALL


OF MACHICO HYPERMARKET IN MADEIRA ISLAND

Mateus de Brito, José; TPF - Consultores de Engenharia e Arquitetura, S.A., Lisboa, jose.brito@tpf.pt

RESUMO

A execução da cortina de contenção periférica e das escavações do hipermercado de Machico, com altura
compreendida entre 6 e 15 m, abrangendo uma área de 4 000 m2, provocou a instabilização de uma grande
massa de depósitos de vertente numa superfície de 20 000 m2. Os primeiros sinais da instabilização
verificaram-se pouco tempo depois do início da execução da cortina de impermeabilização em colunas de
jet grouting e dos primeiros painéis da cortina de contenção tipo Berlim definitiva e das respectivas
ancoragens. Para minimizar o efeito desestabilizante provocado por estas técnicas executivas, foi alterada
a solução de contenção para estacas moldadas com uma parede de forro em betão armado, mas não foi
possível controlar a instalação de uma franca superfície de escorregamento cujo deslocamento máximo
atingiu cerca de 30 cm e envolveu cerca de 30 habitações de 1 a 2 pisos e um conjunto de 3 edifícios de 5
pisos. O diagnóstico da situação obrigou a um período de paragem da obra de sete meses. Durante este
período foram implementadas as medidas necessárias para o prosseguimento dos trabalhos em segurança
incluindo o estudo geológico-geotécnico complementar, a revisão do plano de observação, a retroanálise
da estabilidade da massa deslizante, a estimativa dos deslocamentos máximos admissíveis e a definição
das necessárias alterações ao projeto. Com o retomar dos trabalhos verificou-se ainda a necessidade de
introduzir alterações adicionais ao projeto por forma a controlar de forma efetiva os deslocamentos da
massa instabilizada.

ABSTRACT

The execution of the provisional retaining wall and the excavations for Machico hypermarket, with a height
between 6 and 15 m and covering an area of 4 000 m2, caused the destabilization of a large mass of slope
deposits, occupying a surface of 20 000 m2. The first signs of the destabilization occurred shortly after the
beginning of the construction of the waterproofing wall in jet grouting columns and the first panels of the
definitive Berlin-type wall and the anchorages. In order to minimize the destabilizing effect of these
techniques, the containment solution was modified for bored piles with a reinforced concrete wall, but it
was not possible to control the installation of a sliding surface whose maximum displacement reached about
30 cm and involved about 30 houses, of 1 and 2 floors and also a set of 3 buildings of 5 floors. The diagnosis
of the situation forced to stop the works for seven months. During this period, the necessary measures
were taken to continue work in safety conditions, including the complementary geological-geotechnical
study, revision of the observation plan, back-analysis of sliding mass stability, estimation of maximum
allowable displacements and definition of necessary changes to the design. In the following phase of
construction, there was also the need to introduce some additional changes to the design in order to
effectively control the displacements of the sliding mass.

1- INTRODUÇÃO

Em julho de 2008, quando decorria a execução das obras de escavação e contenção periférica do edifício
destinado ao Hipermercado Sá na Cidade de Machico na Ilha da Madeira, verificou-se um agravamento
muito significativo das anomalias que já se vinham a observar na envolvente da área de intervenção e que
eram resultantes da instabilização de uma grande massa de depósitos de vertente. A zona instabilizada
situa-se a nordeste, com a localização que se apresenta na Figura 1 sobre um extrato da Carta Geológica
da Ilha da Madeira na escala 1/50 000 (2010) para evidenciar que o local da obra se insere numa extensa
mancha de depósitos de vertente da encosta direita da ribeira de Machico, onde está, em grande parte,
construída a cidade.

Na Figura 2 observa-se uma vista aérea do vale de Machico com a localização do hipermercado e do
escorregamento. Na Figura 3 apresenta-se uma vista para poente do estado da obra e da massa
instabilizada em julho de 2008. Neste escorregamento foram envolvidas mais de 30 habitações de um e
de dois pisos, três edifícios de 5 pisos, um posto de abastecimento de combustíveis e vários arruamentos
e outras infraestruturas.

185
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2- CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA

A cortina de contenção abrange toda a área de 4 000 m 2 do hipermercado e tem altura variável entre 6 e
15 m. A parede de maior altura situa-se a poente do recinto e tem uma configuração irregular em planta,
conforme se pode observar na Figura 4, sendo de cerca de 100 m o seu desenvolvimento segundo a direção
longitudinal da escavação.

Em agosto de 2008 a superfície do terreno escavado no canto sul da parede encontrava-se à cota 9,50 m
e subia na zona central para a cota 18,10 m (Fig. 3 e Fig. 5).

Figura 1 – Planta geológica da zona de Machico com a localização dos escorregamentos ocorridos nos últimos 40 anos

Figura 2 – Vista aérea de Machico e da localização do escorregamento do Hiper Sá

A solução inicial, que já era uma variante do projeto base de concurso, como se mostra na Figura 6,
consistiu numa cortina de contenção tipo Berlim definitiva com 4 níveis de ancoragens, previamente
impermeabilizada no tardoz por uma cortina em colunas de jet grouting. A execução da contenção iniciou-
se em novembro de 2007. Os primeiros sinais da instabilização da cortina e dos depósitos de vertente
suportados, evidenciados por deformações significativas na envolvente da obra, que afetavam algumas
edificações e os pavimentos dos arruamentos, verificaram-se logo após o início da execução das colunas
de jet grouting e dos primeiros painéis de betão e das respetivas ancoragens.

Verificando-se que a evolução das anomalias estava relacionada com a execução das colunas de jet, a
solução de contenção foi alterada para uma solução alternativa, desenvolvida e projetada pelo empreiteiro,
consistindo numa cortina também ancorada constituída por estacas de betão armado ϕ 800 afastadas entre
eixos de 1,40 m e por uma parede de forro de betão armado com 0,30 m de espessura. Esta parede era
executada, à medida do avanço da escavação, por painéis ancorados a 4 níveis por ancoragens provisórias
com inclinações variáveis, de cima para baixo, entre 40º e 25º, afastadas de 2,80 m e pré-esforçadas a
700 kN (Fig. 6). Do lado norte, onde a parede poente está mais no interior do recinto a escavar e onde se
situa a rampa de acesso, a estrutura de contenção é idêntica, mas na zona superior, com altura variável, é

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constituída por uma parede tipo Berlim com perfis verticais metálicos e uma fiada de ancoragens inclinadas
a 35º, pré-esforçadas também a 700 kN.

Figura 3 – Vista do estado da obra em julho de 2008 e da localização da massa instabilizada

Figura 4 – Planta do recinto de escavação e de localização dos alvos topográficos e dos inclinómetros nas paredes de
contenção e nas imediações

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Figura 5 – Posição dos trabalhos da cortina de contenção poente em agosto de 2008

Figura 6 – Secções transversais da cortina de contenção do projecto base de concurso, do projecto de execução
variante e da solução executada

A execução das estacas decorreu de março a junho de 2008. Ainda em junho iniciou-se a escavação e a
execução da parede de forro e das ancoragens do lado sul. Em julho de 2008 a escavação no lado sudoeste
entre o vértice A e a posição intermédia dos vértices B e C (Fig. 4), com um desenvolvimento de cerca de
30 m, estava concluída, como se pode observar na Figura 5. Da zona sul para a zona central da parede
(entre a posição intermédia dos vértices B e C e o vértice D), a escavação estava em talude. Do vértice D
até ao vértice E1 a escavação tinha cerca de 5,5 m de altura. No alinhamento E2E3 tinha sido realizada
apenas parte da parede até à rampa de acesso (entre os vértices E3 e G).

Face à desfavorável evolução das deformações da massa instabilizada, constatou-se que seria expectável
que, com a continuação da execução da escavação e da contenção nos mesmos moldes, estas iriam
continuar a evoluir de modo pouco previsível, pondo certamente em risco uma área mais significativa,
envolvendo outras edificações, arruamentos e infra-estruturas. Assim, foi decidido interromper os trabalhos
durante o tempo necessário à avaliação global da situação e à introdução das alterações ao projecto da
contenção para controlar de forma efectiva os deslocamentos da massa instabilizada e ao projecto da
estrutura definitiva para resistir aos esforços induzidos por esta massa.

Logo desde o início da execução dos trabalhos de contenção, em especial dos pré-furos para materialização
das colunas de jet grouting, foram registados movimentos dos depósitos de vertente que provocaram a
abertura de fendas antigas e de novas fendas nas edificações existentes na envolvente da obra. Estes
movimentos aumentaram de forma mais pronunciada durante o período de execução das estacas, da
contenção e da escavação do lado sul. A área instabilizada apresentava um desenvolvimento de cerca de
100 m, praticamente coincidente com a frente da obra, e um comprimento máximo segundo a linha de
maior declive de cerca de 220 m. Atingia a cota 60, correspondendo a um desnível de 42 m em relação ao
coroamento da contenção. As edificações e os pavimentos dos arruamentos mais afectados situavam-se,
em geral, na proximidade dos bordos da massa de terreno instabilizado, onde ocorriam as maiores
distorções. Algumas fendas observadas nos arruamentos, nos muros e nas paredes das habitações
apresentavam aberturas superiores à dezena de centímetro (Fig. 7). Algumas das edificações encontravam-
se em estado de pré-ruína, tendo sido evacuadas.

A obra foi interrompida em agosto, mas, até outubro de 2008, ainda foram realizados alguns trabalhos nas
paredes E2E3 e FG, compreendendo alguns painéis de betão armado e ancoragens na parede E2E3 e a laje
da rampa entre as duas paredes, o que ainda originou deslocamentos adicionais embora com menor taxa.
A partir de novembro de 2008 verificou-se, quer nos dispositivos de observação, quer nas fendas dos
pavimentos entretanto refechadas com argamassa, uma clara tendência para a estabilização dos
movimentos.

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3- ACÇÕES IMPLEMENTADAS DURANTE O PERÍODO DE INTERRUPÇÃO

Os trabalhos de escavação e de contenção acabaram por ficar interrompidos até dezembro de 2008, por
forma a permitir a reavaliação global da situação e a realização das necessárias alterações ao projeto da
contenção e da estrutura definitiva do edifício.

No âmbito desta reavaliação da situação desenvolveram-se as seguintes medidas, sugeridas no parecer


elaborado pela Cenorgeo (2008):
- Levantamento, sobre uma planta topográfica atualizada à escala 1/5 000 de todas as anomalias
existentes (fendas, abatimentos, etc.) e suas características, acompanhado de registo fotográfico
e dos limites da massa instabilizada;
- Refechamento de todas as fendas existentes nos pavimentos, nos pátios e nos muros das
habitações, para permitir uma melhor observação posterior da sua abertura e também para evitar
a entrada de águas das chuvas;
- Adaptação do plano de observação existente para abranger toda a envolvente da obra e a massa
instabilizada, constituída por alvos topográficos, fissurómetros e inclinómetros, incluindo a
substituição dos que já estavam inoperacionais;
- Reconhecimento geológico de toda a área instabilizada, aproveitando os furos a realizar para a
instalação dos inclinómetros;
- Realização de estudos de retroanálise da estabilidade da massa deslizante para avaliação da
resistência mobilizada ao longo da superfície de deslizamento e reavaliação dos impulsos atuantes
nas paredes de contenção;
- Definição das medidas a adotar para garantir as condições de segurança, quer das estruturas de
contenção da fase provisória, quer da estrutura definitiva do edifício, tirando partido da resistência
transversal da estrutura definitiva que é determinante para a transmissão dos impulsos laterais
para as fundações da estrutura, quer na eventual utilização de ancoragens definitivas;
- Estimativa dos deslocamentos máximos expectáveis na envolvente da obra resultantes do
prosseguimento dos trabalhos e a fixação dos deslocamentos máximos admissíveis e dos respetivos
limites de alerta.

Figura 7 – Fendas nas habitações e nos arruamentos existentes em julho de 2008

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4- CONDIÇÕES GEOLOGICO-GEOTÉCNICAS E HIDROGEOLÓGICAS

O talude desenvolve-se na base da encosta direita do vale de Machico, ao longo de uma zona caracterizada
por uma topografia muito declivosa (Fig. 1). Na parte superior da encosta são visíveis escoadas de basaltos
compactos, por vezes fraturados, intercalados com níveis menos espessos de brechas, constituindo zonas
escarpadas com grande declive. A erosão diferencial origina degradação mais rápida dos níveis mais
brandos e desagregáveis, constituídos pelas brechas, o que leva a que fiquem em saliência as escoadas de
rochas basálticas mais compactas e resistentes. Estas escoadas, por se encontrarem fraturadas, dão origem
a condições favoráveis à queda de blocos ou a desmoronamentos, que conduzem à formação de depósitos
de vertente. A base desta encosta apresenta um declive mais suave, verificando-se, em geral um aumento
gradual da espessura do topo para a base dos depósitos, os quais chegam a atingir espessura superior à
dezena de metros. São muito heterogéneos, constituídos por fragmentos e blocos de rocha,
predominantemente basálticos, desde fragmentos angulosos ou sub-rolados até blocos de grandes
dimensões, que chegam a atingir cerca de 2 m, envolvidos por uma matriz argilo-siltosa, exibindo cor
castanho-avermelhada escura (Fig. 8), verificando-se quase sempre um aumento gradual do número de
blocos rochosos na base.

Figura 8 – Depósitos de vertente com matriz argilo-siltosa de cor castanho-avermelhada escura

A matriz é constituída essencialmente por argilas de alta plasticidade, com fração argila montemorilonítica.
Sabe-se que, em geral, as argilas de cor escura acastanhada ou anegrada, resultantes da alteração de
rochas basálticas em topografias com deficiente drenagem, apresentam um teor dominante de
montemorilonite, o que lhes confere uma alta plasticidade e baixa resistência.

Em geral, estes escorregamentos dos depósitos de vertente têm como principal característica as
velocidades lentas (poucos centímetros por ano), os declives suaves com inclinações entre 10º (1V/6H) e
20º (1V/3H), atingem espessuras máximas de 20 a 30 m, estão saturados e o nível freático situa-se, em
geral, no contacto com o substrato mas pode chegar perto da superfície nos períodos de chuva mais
intensos.

Subjacentes aos depósitos de vertente ocorrem os complexos vulcânicos pós-miocénico 2 e mio--pliocénico


1, de constituição muito heterogénea. O primeiro é formado por alternâncias de escoadas de lavas
basálticas com níveis de materiais piroclásticos brechóides e de tufos vulcânicos, enquanto no segundo
predominam os níveis de tufos com bombas vulcânicas (Carta Geológica da Madeira, 1974).

5- CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DOS DEPÓSITOS DE VERTENTE

5.1 - Informação disponível

Em face das limitações de tempo resultantes da dinâmica associada à execução da obra, não foi possível
implementar uma campanha complementar de recolha de amostras remexidas e intactas e de ensaios
laboratoriais de identificação e de caracterização geomecânica da massa instabilizada. Recorreu-se, por
isso, à informação disponível de ensaios realizados na matriz fina dos depósitos de vertente do vale da
ribeira de Machico. Um primeiro conjunto de ensaios foi realizado sobre seis amostras representativas
recolhidas nos poços de prospeção efetuados no âmbito do estudo da Variante à ER101 na vertente direita
da Ribeira do Machico (Cenor, 1991). Um segundo conjunto de ensaios foi realizado no âmbito do estudo
Nó de Machico Sul da Via Rápida Machico-Caniçal (Cenorplan, 2002, Rosa et al 2004 e Brito et al 2008),
com um traçado muito próximo do da Variante à ER101, mas apenas sobre duas amostras representativas
da matriz fina que foi possível recolher devido á presença de muitos blocos de dimensão variada. Um
terceiro conjunto de ensaios sobre duas amostras foi realizado no escorregamento que ocorreu no sítio do

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Poço do Gil em 1984. Um outro conjunto de ensaios respeita aos três locais de escorregamentos ocorridos
na vertente esquerda de Machico (Misericórdia, Graça, Poço do Gil/Paraíso), estudados por Rodrigues
(2005).

5.2 - Características de identificação

No que respeita às análises granulométricas verifica-se uma variabilidade granulométrica muito significativa
dos depósitos de vertente. Esta é devida fundamentalmente à grande variabilidade da percentagem das
partículas superiores a 2 mm. Se se excluírem as duas amostras com menor percentagem de argila,
verifica-se que a percentagem passada no #200 se situa entre 80 e 95% e a percentagem de partículas
de dimensão inferior à fração “argila” (2) fica compreendida no intervalo de 61 a 74%, parecendo ser
estes os valores mais representativos da fração fina dos depósitos. Quanto aos limites de consistência
obtiveram-se valores do limite de liquidez entre 56 e 122% e do índice de plasticidade entre 21 e 80%. Na
Fig. 9 faz-se a respetiva representação na carta de plasticidade e também a representação dos resultados
dos ensaios dos depósitos de alguns dos escorregamentos referidos. Verifica-se que os depósitos de
vertente se situam ao longo da linha A, abaixo e acima mas muito próximos desta. O teor em água, obtido
em apenas 3 das amostras, é muito próximo do limite de plasticidade.

Figura 9 – Carta de plasticidade dos depósitos de vertente

A análise efetuada à fração argila de uma da amostra A3 pelo método da difração por raios X, mostrou que
a fração argilosa é constituída essencialmente por montmorilonite (cerca de 95%), sendo os restantes
minerais a caulinite e a clorite (cerca de 5%) e a ilite (vestígios). Nos quatro locais de escorregamento a
determinação da mineralogia argilosa por difração dos raios X evidenciou a presença dominante de minerais
do grupo da esmectite, a que pertence a montmorilonite, e em muito menor quantidade a caulinite e
alguma ilite.

5.3 - Resistência ao corte residual

No âmbito da Variante à ER101 foi realizado um ensaio de corte direto alternado segundo a técnica de
ensaio indicada em Blondeau e Josseaume (1976). Estes ensaios forneceram os valores dos parâmetros de
resistência máxima e residual, para o primeiro curso de 10 mm da caixa de corte e para o curso total
alternado de 90 mm, que se indicam no Quadro 1. No âmbito do estudo do Nó de Machico Sul foram
realizados apenas ensaios de corte direto lentos sobre as duas amostras. Obtiveram-se os parâmetros de
resistência máxima indicados no Quadro 1. Neste quadro indicam-se ainda os valores das envolventes dos
resultados dos ensaios de corte de amostras dos escorregamentos da Misericórdia, Graça e Poço do
Gil/Paraíso.

Quadro 1 – Resultados dos ensaios de corte


2 IP w Resistência de Pico Resistência Residual Tipo de
Local Amostra
(%) (%) (%) c’ (kPa) Φ’ (°) c’res (kPa) Φ’res (°) ensaio

Via Rápida AI1 66 47 39 20 16 - -

Machico – Caniçal AI2 61 80 42 30 19 - - CDR

Variante à ER101 A2 71 36 38 30 16 12 14

Misericórdia Várias 72 28 a 47 76* 12,4 12,9 - 9,3 CR

Poço do Gil 1 Várias 50 a 65 19 a 56 67* 10,2 11,8 - 9,7 CR

Paraíso Várias 60 25 a 49 - - - 13-14 CR

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CDR – Corte direto reversível CR – Corte rotativo * Amostra remoldada

O ângulo de atrito residual pode ser correlacionado com índices físicos sendo as relações mais correntes
com a percentagem de partículas de dimensão “argila” (%<2) e com o índice de plasticidade. Para a
relação de Skempton (1985) que se apresenta na Figura 10, verifica-se que os resultados obtidos se
enquadram bem na banda proposta e que, para os valores mais representativos da percentagem de argila
obtidos nos ensaios, situados entre 61 e 74%, se está perante corte deslizante, sendo razoável considerar
o ângulo de atrito residual da matriz argilo-siltosa compreendido entre 9° e 14°.

Para além da fração argila, a mineralogia da argila também tem influência na resistência residual, sendo
esta é tanto maior quanto maior é a fração argila (o que em certa medida é traduzido pelo IP). Segundo a
relação de Kanji, que se apresenta na Figura 11, verifica-se que para os valores médios de IP entre 36 e
38% correspondentes a cada ensaio de corte, os valores de ϕ’res se enquadram bem na banda proposta,
situando-se também entre 9º e 14º.

Figura 10 – Relação entre ângulo de atrito Figura 11 – Relação entre ângulo de atrito residual e índice de
residual e percentagem de argila da matriz argilo- plasticidade da matriz argilo-siltosa dos depósitos de vertente
siltosa dos DV (adaptado de Lancellotta, 1995)

6- ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS DISPOSITIVOS DE OBSERVAÇÃO

A obra começou a ser observada no início de 2008. Foram instalados inicialmente os seguintes dispositivos
de observação (Fig. 4): 6 inclinómetros no tardoz da parede de contenção poente, alvos topográficos na
envolvente da contenção do lado poente e dos lados norte e sul, alvos topográficos na parede do forro e
células de carga nas ancoragens. A análise dos deslocamentos observados nos inclinómetros até agosto de
2008, mostrou um estado já avançado de deformações na envolvente da obra e a existência de uma
superfície de escorregamento localizada a cerca de 10,5 m de profundidade na zona central da parede
(inclinómetros I2 e I3 adjacentes à parede e I6 mais afastado da parede na direção de I3). No inclinómetro
I5, mais afastado da parede na direção do I2, a superfície de escorregamento situava-se a 6,5 m de
profundidade e no inclinómetro I1 a superfície de escorregamento situava-se a 4,5 m de profundidade. A
importância dos deslocamentos e da superfície de escorregamento foi evidenciada pelos alvos e pelos
inclinómetros logo nas leituras iniciais, não tendo sido dada a devida importância à situação, tendo
prosseguido a execução da obra. Os deslocamentos máximos horizontais registados pelos inclinómetros
foram observados à superfície, tendo-se obtido valores máximos superiores a 20 cm. No inclinómetro I3 o
deslocamento observado à superfície foi de 23 cm (dos quais 15 cm ocorreram desde junho) e no
inclinómetro I2 obteve-se, até 12 de junho, data em ficou obstruído, um deslocamento à superfície de 19
cm. Em agosto praticamente todos os inclinómetros estavam inoperacionais. Em setembro e outubro foram
instalados os novos inclinómetros I1A, I2A, I4A e I6A em substituição dos inclinómetros inoperacionais.

Os alvos topográficos localizados na envolvente da obra conduziram a deslocamentos idênticos aos dos
inclinómetros. Na Figura 12 apresenta-se o gráfico dos deslocamentos horizontais nas duas direções M e P
e dos assentamentos (Z) no alvo topográfico A2, cuja localização consta da Figura 4, que é representativo
das deformações na zona central da parede. Em agosto de 2008, o alvo A2 atingiu o máximo deslocamento
observado de 25 cm e um assentamento de 6 cm. Na Figura 12 pode ainda observar-se os deslocamentos
correspondentes às fases de obra mais importantes, o que permite verificar que a fase de obra C foi a
responsável por maiores deslocamentos, onde foi determinante a execução das ancoragens. De facto,
verifica-se que neste alvo A2, situado na zona de influência da parede AC, onde a escavação já tinha sido
praticamente realizada até ao fundo em agosto de 2008, o deslocamento correspondente à fase C foi da
ordem de 12,5 cm.

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Nesta fase de obra parece que a execução das ancoragens com martelo de fundo de furo e com utilização
de água e ar foi o fator mais perturbador dos depósitos de vertente com grandes reflexos nas anomalias
ocorridas. Após a interrupção dos trabalhos, em que decorreu ainda a execução de alguns trabalhos
registaram-se deslocamentos de 2 a 3 cm, como se pode verificar na mesma figura.

Na sequência de interrupção dos trabalhos foram instalados novos dispositivos de observação na massa
instabilizada e na área limítrofe, constituída por 20 alvos topográficos instalados em edifícios localizados
na massa deslizante e na área limítrofe e 6 inclinómetros, cuja localização se apresenta na Figura 13. Na
furação para a instalação dos inclinómetros foram reconhecidas as espessuras dos depósitos de vertente,
que se situaram entre 22 m e 29 m.

Desde a data de instalação (outubro e novembro de 2008) os inclinómetros I21 a I24 registaram
deslocamentos à superfície da ordem de 5 a 7 mm, mas nos dois meses seguintes mostraram tendência
para a estabilização. Estes inclinómetros situados perto da crista da massa instabilizada revelaram que a
superfície de escorregamento se situava a 4 m de profundidade. Os inclinómetros situados numa posição
intermédia da massa instabilizada revelaram que a profundidade da superfície de escorregamento para 5
m (I24), 7 m (I23) e 8 m (I25 e I26) atingindo cerca de 10,5 m junto à contenção. Os alvos topográficos
foram observados a partir de outubro e forneceram nos dois primeiros meses deslocamentos máximos
entre 4 e 7 mm em 9 alvos situados sobre a massa deslizante. Todos os alvos apresentaram em novembro
e dezembro de 2008 uma tendência para a estabilização.

Figura 12 – Evolução dos deslocamentos com o tempo no alvo A2

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Figura 13 – Planta de localização dos alvos topográficos e dos inclinómetros adicionais na massa deslizante

Em face dos elementos disponíveis relativos à observação da obra e das anomalias de superfície foi possível
constatar que, praticamente desde o início da execução dos trabalhos, se verificou a ocorrência de
movimentos associados à instalação de uma superfície de deslizamento. A massa deslizante, determinada
por esta superfície, tem uma largura da ordem de 100 m, correspondente ao desenvolvimento longitudinal
do recinto da obra, e um desenvolvimento segundo o talude da ordem de 235 m. A espessura da massa
deslizante apresenta um valor máximo da ordem de 10,5 m na zona central adjacente à parede de
contenção oeste (alinhamento AG) e diminui progressivamente para 4 m até perto da crista como se mostra
no corte longitudinal da Figura 15 segundo os inclinómetros I25, I23 e I21 na zona central do
escorregamento. À área instabilizada de cerca de 20 000 m2, corresponde um volume de cerca de 150 000
m3. A inclinação do terreno neste corte varia entre 11º e 12,5 º.

Figura 14 – Corte longitudinal na zona central do escorregamento

Tendo em vista a avaliação do valor de ’res instalado na superfície de escorregamento e do correspondente


impulso na parede de contenção, fez-se uma análise paramétrica utilizando o programa de cálculo SlopeW
da Geostudio (Fig. 15). Fez-se variar o valor de ’res e determinou-se a força horizontal necessária na
contenção para um coeficiente de segurança ao deslizamento unitário. À força de 800 kN/m, que se estimou
estar instalada na contenção, corresponde ’res da ordem de 11,5º. Para o prosseguimento dos trabalhos
considerou-se ajustado adoptar um coeficiente de segurança de 1,3, a que corresponde uma força na
contenção de 2000 kN/m.

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Figura 15 – Variação do impulso na parede da contenção em função de ’res para FS=1 e FS=1,3

7- CARACTERISTICAS DO PROJECTO REVISTO

Conforme referido, o projeto de reforço designado “Aditamento ao Projeto de Execução, Escavação,


Contenção Periférica e Fundações Indiretas” foi concluído em outubro de 2008. Este projeto de reforço
partiu do pressuposto de base que a magnitude da força atuante sobre a cortina de contenção relativa à
ação da massa deslizante seria de 1300 kN/m, valor que pareceu ajustado em função das análises de
estabilidade efetuadas e que foram objeto de análise aprofundada pelos intervenientes em obra.

Este projeto previu as seguintes alterações:


- Passagem de todas as ancoragens por executar na contenção periférica a definitivas com 700 kN
de capacidade;
- Introdução na contenção de 2 níveis adicionais de ancoragens definitivas de reforço com 700 kN
de capacidade;
- Execução de reforço com 45 cm de forro de betão armado na parede de contenção já executada
anteriormente com 30 cm (alinhamentos AB e BC) executado de baixo para cima;
- Execução do forro em betão armado em falta ao nível do alinhamento AG através com um aumento
da espessura de 30 cm para 50 cm;
- Passagem da frequência mínima das leituras da instrumentação a bissemanal, devendo ser
controlados rigorosamente os deslocamentos da contenção, tendo como critério de atenção um
incremento de deslocamento máximo da ordem de 4 cm, ou seja, cerca de 1 a 2 cm por nível da
contenção, e a continuação da tendência de estabilização na zona sul da contenção onde a
escavação já atingiu o fundo.

A solução proposta pareceu ser suficientemente ajustada em função do valor do impulso transmitido pela
massa deslizante. Atendendo a que se pretendia reduzir, o mais possível, as deformações associadas à
execução dos painéis e das escavações, foi ainda decidido reduzir o comprimento dos painéis e prever um
faseamento de execução em que em nenhuma situação existissem painéis em escavação e betonagem sem
que as ancoragens dos painéis adjacentes já tivessem sido tensionadas.

Foi recomendado que o faseamento contemplasse o desenvolvimento dos trabalhos de forma progressiva
do vértice A (Sudeste) para o vértice G (Nordeste) contemplando numa 1.ª fase a execução das ancoragens
de reforço definitivas no alçado AB e metade do desenvolvimento do alçado BC e a execução da estrutura
definitiva nesse alçado, conforme definido na Figura 16. Por outro lado, considerou-se que a estrutura fosse
executada de nascente para poente, enquanto decorresse a execução das ancoragens de reforço.

Deveria seguir-se uma 2ª fase, até ao vértice E, escavando-se o mínimo possível o terreno ainda existente
as paredes EF e FG. Também nesta 2ª fase a estrutura definitiva deveria ser executada de nascente para
poente, enquanto decorresse a execução das ancoragens de reforço. Finalmente, seria executada a 3.ª
fase numa sequência idêntica à das outras duas fases. Sendo a execução das ancoragens um fator muto
perturbador dos depósitos de vertente, foi proposta a revisão do modo executivo das ancoragens,
nomeadamente com a minimização do efeito do ar através da utilização de aditivos ou a utilização da
furação à rotação com bit destrutivo, eventualmente perdido.

A previsão de 1 cm a 2 cm de deslocamento por cada nível de ancoragem foi considerada muito otimista
tendo em conta que na zona da parede ABC já totalmente escavada e ancorada se verificaram
deslocamentos de 12 cm na fase C de execução de escavação e das ancoragens. De igual modo se
considerou que deveriam ser definidos os deslocamentos máximos admissíveis na parede de contenção e
as cargas máximas das ancoragens e definidos os limites de alerta (atenção e alarme) associados a cada
uma das fases de execução da obra, os quais, a verificarem-se, obrigariam necessariamente à reanálise
global da situação e, eventualmente, à alteração destes limites ou à interrupção dos trabalhos.

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Figura 16 – Faseamento executivo Figura 17 – Execução em socalcos e com contrafortes

8- REINíCIO E CONCLUSÃO DOS TRABALHOS

Os trabalhos foram retomados em meados de fevereiro de 2009. Continuou a escavação, a execução de


alguns painéis e a furação para as ancoragens (que neste período foi em número de 24) tendo ocorrido
deslocamentos de algum significado, e sido atingida a tensão de serviço nas ancoragens A18 e A63. Só
com o pré-esforço das ancoragens destes painéis se verificou a tendência para a estabilização dos alvos
situados na parede e nas imediações desta, mas os restantes alvos mantiveram a mesma taxa de
deformação. Neste período verificou-se um acréscimo de deslocamento na massa deslizante entre cerca
de 10 e 20 mm, tendo-se ultrapassado o deslocamento máximo de 10 mm por nível de contenção. A
contenção voltou a ser interrompida em meados de abril de 2009, face ao não cumprimento dos limites de
alerta estabelecidos devido à continuação da desfavorável evolução dos deslocamentos, os quais
resultavam claramente do processo executivo das ancoragens, tendo-se verificado logo de seguida
tendência para a estabilização das deformações. Entretanto foi concluída a estrutura definitiva na zona sul
correspondente à 1.ª fase de execução. Foi reconhecido que executar mais ancoragens agravaria muito a
situação face ao elevado risco associado, tanto mais que se estava próximo de se atingir o limite da
capacidade de carga das ancoragens bem como o nível de alarme de vários alvos. Foi, assim, decidido
pelos intervenientes na obra que deveriam ser implementadas soluções alternativas que deveriam passar
não só pela execução de cima para baixo com recurso ao reforço dos elementos estruturais com contrafortes
com capacidade para resistir às forças transmitidas pelas paredes de contenção e para as transmitir às
fundações e a microestacas inclinadas (2.ª fase), mas também pela redução das áreas de estacionamento
do lado noroeste (3.ª fase) por forma a minimizar a escavação mantendo o terreno em rampa do lado do
alinhamento EFG e a executar a estrutura em socalcos com contrafortes abrangendo os pisos -2, -1 e 0
(Fig. 17). Os trabalhos foram retomados em agosto de 2009 e a estrutura acabou por ser concluída no
início de 2010.

9- CONCLUSÕES

A área instabilizada insere-se numa zona já bem identificada como zona muito vulnerável e de elevado
risco de instabilização de taludes, com margens de segurança muito reduzidas em relação ao equilíbrio
limite dos taludes, pelo que a conceção e o projeto do Hipermercado de Machico deveria ter tido em conta
estas condições locais, no que se refere quer ao valor dos impulsos a adotar no dimensionamento das
paredes de contenção, quer às dificuldades executivas resultantes dos efeitos adversos da destruturação
dos terrenos devido aos processos executivos.

Com os trabalhos a decorrer e com todos os meios mobilizados, foi muito difícil convencer a entidade
executante e as restantes entidades envolvidas da necessidade de interrupção dos trabalhos, tendo estes
sido prolongados até situações extremas com elevado risco de colapso, tendo sido necessária a interrupção
dos trabalhos por duas vezes, durante o período de paragem total de 10 meses, para fazer a reavaliação
global da situação e do projeto da contenção e da estrutura definitiva. E evitar maiores danos.

196
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Verificados os problemas surgidos na fase de obra, esta deveria ter sido interrompida mais cedo, com a
consequente controlo e limitação dos deslocamentos na massa instabilizada e nas edificações e
infraestruturas a valores admissíveis e a evitar os elevados custos associados à reconstrução e reabilitação
de dezenas de habitações.

O modo como foram executados os trabalhos e os respetivos procedimentos executivos foram os fatores
responsáveis pelas deformações ocorridas. A execução das ancoragens foi o fator mais agravante uma vez
que só por si originou mais de um terço dos deslocamentos observados.

REFERÊNCIAS

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Liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées. Numéro Spécial II. Março.
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No. 1.

197
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ESTABILIZAÇÃO DO TALUDE DE ESCAVAÇÃO AO KM 124 DA LINHA DO


DOURO - PÓRTICO DE PROTEÇÃO

STABILIZATION OF THE EXCAVATION SLOPE AT KM 124 OF THE DOURO LINE


– ROCK FALL SHED

Pinto, Sónia; Tetraplano Engenharia, Lda, Lisboa, Portugal, spinto@tetraplano.com


Quintela, Ana; Tetraplano Engenharia, Lda, Lisboa, Portugal, aquintela@tetraplano.com
Pena, Isabel; Infraestruturas de Portugal, Lisboa, Portugal, isabel.pena@infraestruturasdeportugal.pt
Pedrosa, Mário; Infraestruturas de Portugal, Lisboa, Portugal, mario.pedrosa@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

A TETRAPLANO Engenharia desenvolveu para a REFER E.P.E. o projeto de estabilização do talude de


escavação ao km 124+500, na Linha do Douro, na região do Alto Douro Vinhateiro. Trata-se de um talude
com 200 m de desenvolvimento e cerca de 30 m de altura total, com inclinação muito acentuada,
prolongando-se em encosta após a crista e intersetando formações grauvacóides. No trecho em estudo, o
traçado da via segue em curva, confinado entre taludes de escavação quase verticais com gabarito muito
reduzido, havendo um histórico significativo de queda de blocos para a via. Neste contexto, foi ponderada
a execução de um pórtico de proteção (falso túnel), complementado pela colocação de redes metálicas e
de pregagens. Inserindo-se em pleno Alto Douro Vinhateiro, foi previsto o revestimento com xisto da região
de todos os elementos de betão, de forma a minimizar o impacte visual da intervenção. Neste artigo são
apresentadas as três fases dos estudos, designadamente: i) a fase de reconhecimento, em que se procedeu
à caraterização das formações geológicas, à identificação das patologias existentes e ao levantamento
topográfico por varrimento laser; ii) a fase de projeto de execução, com a definição das soluções e os
respetivos critérios de dimensionamento, bem como elaboração dos processos de licenciamento ambiental
instruídos e; iii) a fase de execução, com o acompanhamento da construção do pórtico e de implementação
das soluções para estabilização do talude de escavação.

ABSTRACT

TETRAPLANO Engenharia developed for REFER E.P.E. the slope stabilization design at km 124+500 on the
Douro Line in the Alto Douro Vinhateiro region. It is a 200 m long excavation slope, about 30 m high, very
steep, extending in the natural slope after the ridge and intersecting greywacke formations. On this section
the railway follows in a curve, confined between almost vertical excavation slopes with very reduced jig,
having a significant history of blocks falling on the line. In this context, the execution of a rockfall shed
(false tunnel) was considered, complemented by the placement of metallic meshes and nails. Located in
Alto Douro Vinhateiro region, the design was made with the concern of minimizing the visual impact of the
intervention. In this article the three phases of the studies are presented, namely: i) the recognition phase,
in which the geological formations were characterized, the existing pathologies were identified and a
topographic survey by laser scanning was performed; ii) the detail design phase, with the definition of the
solutions and the design criteria, as well as the elaboration of the environmental licensing processes; (iii)
the implementation phase, with the follow-up of the construction of the shed and the implementation of
stabilization solutions for the excavation slope.

1- INTRODUÇÃO

A Tetraplano, Engenharia, Lda. desenvolveu para a REFER E.P.E. o projeto de execução para Estabilização
do talude de escavação entre os kms 124+500 e 124+700, na Linha do Douro.

Trata-se de um talude com 200 m de desenvolvimento e cerca de 30 m de altura total, prolongando-se em


encosta após a crista, com inclinação muito acentuada. Interseta formações grauvacóides, resistentes,
caraterizadas por uma alternância de estratos de espessura muito variável. No trecho em estudo, o traçado
da via segue em curva, com gabarito muito reduzido, tendo-se previsto a construção de um pórtico de
proteção (falso túnel), complementado pela colocação de redes metálicas e de pregagens.

A área de intervenção insere-se numa paisagem de elevada qualidade e valor cultural, reconhecida através
da classificação da região do Alto Douro Vinhateiro na Lista do Património Mundial da UNESCO. Encontra-
se igualmente abrangida pela Reserva Ecológica Nacional que visa a proteção das áreas de maior valor e
sensibilidade ecológicos.

A Empreitada para execução deste falso túnel decorreu em duas fases, a primeira entre junho de 2012 e
setembro de 2013, tendo sido suspensa sem que os trabalhos de construção civil estivessem terminados,
e a segunda fase entre maio e novembro de 2014.

198
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2- DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA ZONA DE INTERVENÇÃO

A Linha do Douro segue desde Peso da Régua até junto a Vale de Figueira ao longo da margem direita do
rio Douro, na denominada zona do Alto Douro Vinhateiro (Figura 1). Neste troço, a linha foi implantada ao
longo da encosta xistenta e grauváquica, seguindo predominantemente em flanco de encosta.

km 124

Figura 1 – Localização geográfica. Extrato da Carta Militar de Portugal na escala 1:25 000, Folhas 127 (1998) e 128
(1997), editadas pelo IGeoE – sem escala associada

Os taludes de escavação apresentam do lado esquerdo da via uma altura máxima da ordem de 30 m,
culminando com os terrenos de vinha centenária que se distribuem até à cumeada. Do lado direito da via,
o talude de escavação apresenta uma altura máxima da ordem de 8 m, desenvolvendo-se a topografia, em
sentido descendente, até ao plano de água do rio Douro.

Este troço apresenta um gabarito reduzido, que embora dentro dos limites regulamentares, associado ao
facto de a via se desenvolver em curva acentuada, reduz significativamente a distância de visibilidade na
via.

3- CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

O talude de escavação a estabilizar insere-se numa mancha de rochas xistentas paleozóicas que fazem
parte do Super-Grupo Dúrico Beirão, normalmente designado por Complexo Xisto-Grauváquico (CXG),
tendo sido alvo de importantes ações tectónicas, as quais originaram intenso dobramento e produziram
alguns acidentes do tipo carreamento, cavalgamento e outros tipos de falhas (Figura 2).

Litologicamente, os principais litotipos ocorrentes nesta formação correspondem a: (1) metagrauvaques


(por vezes metaquartzovaques); (2) xistos negros (filitos negros grafitosos) e (3) filitos.

Estruturalmente, a Figura 2 permite perceber que as formações do CXG se desenvolvem segundo bandas
orientadas sensivelmente segundo a direção WNW-ESE, conjuntamente com inúmeras variações (ou
intercalações) litológicas, aqui assinaladas como se fossem corpos filoneanos, bem como alguns acidentes
tectónicos, registando-se ainda alguns planos conjugados das falhas.

Do ponto de vista geomorfológico, a região enquadrante ao estudo apresenta uma morfologia típica do
substrato xisto-grauváquico, caraterizada por um conjunto de relevos vigorosos com declives acentuados,
cumes arredondados, dissecados por uma rede de drenagem pouco hierarquizada com as principais linhas
de água a correrem em vales apertados.

O local em estudo interessa a Formação de Bateiras, descrita como sendo constituída por um conjunto de
intercalações de xistos negros, metagrauvaques e filitos (rochas de granulometria fina).

199
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

km 124

Figura 2 – Enquadramento geológico. Adaptação a partir da Carta Geológica de Portugal


na escala 1:50 000, Folha 10-D (SGP, 1989)

O troço em estudo desenvolve-se ao longo de aproximadamente 200 m, numa zona em curva, onde o
traçado passa da direção N60ºE para N25ºW.

Do lado esquerdo, a via é bordejada por taludes rochosos vigorosos e irregulares, que atingem 30 m de
altura, na maior parte dos casos completamente desnudados e que exibem de forma bem visível a
constituição litológica e estrutural, sendo muitas vezes notório o controlo desta última. Do lado direito, os
taludes são menos expressivos, com altura máxima que pode atingir 8 m – Figura 3.

Figura 3 – Vista do talude de escavação na fase anterior ao projeto de execução

A estes taludes foi possível adaptar um perfil tipo transversal no qual se podem considerar três sectores,
da base para o topo (Figura 4):

 Sector A – junto à base, normalmente não ultrapassa 8 m de altura e nele podem observar-se
zonas próximas da verticalidade ou mesmo com pendor negativo, com infraescavações e/ou
cavidades;

 Sector B – zona intermédia que oscila entre 5 e 30 m de altura, com inclinação geral de cerca de
60º em relação à horizontal. A relação entre a linha do seu desenvolvimento e a geometria
evidenciada pelo perfil topográfico aponta para que este troço se constitua como uma zona em que
o processo de recuo do talude se verifique com maior intensidade;

 Sector C – troço mais suave que exibe normalmente inclinação entre 25 e 35º, desenvolvendo-se
em cota muito variável, correspondendo à morfologia do terreno original.

200
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 4 – Aplicação da setorização considerada

4- LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES LOCAIS

4.1 - Levantamento por varrimento a laser

Como bases de apoio utilizaram-se não só os elementos bibliográficos existentes, o reconhecimento de


campo, mas também um levantamento topográfico com recurso a varrimento a laser realizado pela
empresa 3D Total. Este tipo de levantamento revelou-se muito vantajoso relativamente ao levantamento
topográfico tradicional (Figura 5).

Foi levantada de uma nuvem de vários milhões de pontos que, depois de tratada, permitiu obter conjuntos
de curvas de nível com equidistâncias de 0,1 e 0,2 m, e perfis de terreno espaçados de 10 m, nos quais
são facilmente identificáveis as situações de ocorrência de zonas de pendor negativo que definem, zonas
de toppling, zonas em consola, e/ou infraescavações, como se pode observar na Figura 6.

Além da vantagem deste método no que respeita ao detalhe, surge como vantagem adicional a facilidade
em relacionar a morfologia das vertentes com a geologia local, concretamente no que respeita às suas
condições estruturais (fraturação/diaclasamento).

Figura 5 – Imagens resultantes do levantamento por Figura 6 – Pormenor de um dos perfis de terreno, no qual se
varrimento a laser adicionou a informação respeitante à
fraturação/diaclasamento (linhas a tracejado)

201
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

4.2 - Levantamento das descontinuidades

Procedeu-se a um reconhecimento geológico de superfície detalhado, durante o qual se fez o levantamento


exaustivo das principais descontinuidades (diaclasamento, fraturação e xistosidade) e dos principais tipos
litológicos que poderiam estar a influenciar os taludes rochosos em termos de estabilidade.

O levantamento foi efetuado a partir da base dos taludes dada a dificuldade de acesso às respetivas
vertentes. Tomou-se ainda em conta a apreciação de campo no que respeita aos elementos estruturais que
condicionavam a estrutura de forma mais visível e que normalmente produzem grandes blocos (principais)
e os que a afetam de forma menos expressiva (secundários) mas que afetam os blocos principais
enfraquecendo-os consoante a densidade ou frequência destes planos.

A apreciação dos dados recolhidos revelou dispersão dos planos de fraturação/diaclasamento e dos planos
de xistosidade, facto que se deve às variações espaciais que estes elementos estruturais registam.

No que respeita à xistosidade, a Figura 7 permite observar que esta apresenta uma direção média de WNW-
ESE, com inclinação a assumir valores próximos da verticalidade, tendo, no entanto, sido registados alguns
valores de inclinação de 75 e 40º para sul.

Em relação à fraturação principal considerou-se que a mesma se desenvolvia segundo os seguintes planos
médios (quase ortogonais): N65ºW,70ºN a SV e N35ºE, com inclinação variável entre 70ºN a 90º.

Como tentativa de correlação


/verificação destes dados
com os compilados a partir
da cartografia geológica na
escala 1:50 000, procedeu-
se à elaboração do diagrama
estrutural presente na Figura
7.

Deste diagrama estrutural


pode observar-se que os
dados e apreciações de
campo se enquadram dentro
dos valores recolhidos dos
elementos bibliográficos,
apresentando no entanto,
uma variação espacial mais
significativa.
Figura 7 – Diagrama estrutural que integra os elementos
de campo e bibliográficos

4.3 - Levantamento fotográfico

Durante o reconhecimento de campo foi realizado um exaustivo levantamento fotográfico que permitiu,
durante todo o trabalho desenvolvido em gabinete, ter acesso a um alçado virtual do talude, permitindo
identificar assim as zonas de blocos instáveis, zonas em consola ou outras singularidades.

4.4 - Considerações de âmbito geotécnico. Definição do risco

No decurso do estudo, procurou-se identificar quais os fatores de risco que poderiam condicionar a
estabilidade dos taludes e, consequentemente, o normal funcionamento da via.

Atendendo às dificuldades de acesso, houve necessidade de extrapolar alguma informação recolhida na


base dos taludes para as zonas localizadas a cotas superiores, tendo esta sido complementada com a
observação visual (local ou apoiada em fotografia).

Procurou-se interpretar o andamento natural da vertente onde se instalou a via e relacioná-lo com o
desenvolvimento verificado nos perfis topográficos, com o intuito de perceber se existiriam zonas que
tivessem sido alvo de processos erosivos mais intensos (ou que evoluíram de forma mais significativa).

Identificaram-se como principais fatores negativos:

 Qualidade do maciço rochoso, seu estado de alteração e fraturação (espaçamento, preenchimento


e frequência/intensidade);

202
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

 Relação dos planos de fraturação com a face do talude e, consequentemente, com a direção da via
nesse local;

 Zonas em consola, presença de cavidades ou infraescavações;

 Blocos em maior risco de queda;

 Presença de água ou indicadores desta (ressurgências, sinais de oxidação, vegetação, etc.);

 Altura do talude;

 Setorização do talude (relacionada com o perfil do talude, atrás apresentada na descrição dos
troços);

 Proximidade da via ao talude;

 Presença de vegetação.

Foram assim definidas três zonas de risco, discretizadas no Quadro 1 e representadas em perfil conforme
Figura 8.

Quadro 1 – Zonas de risco

BAIXO Zonas sem problemas de instabilidade visíveis ou previsíveis.


Maciço rochoso com carácter maciço e pouco alterado. diaclasamento/fraturação, em regra, com espa-
çamento superior a 60 cm (F2), com poucos ou nenhuns sinais de circulação de água. Podem registar-se
situações de individualização de blocos rochosos ou de zonas mais fraturadas/diaclasadas mas sem pro-
blemas previsíveis de afetação da linha férrea. Declive moderado a baixo.

MÉDIO Zonas que potencialmente podem desenvolver situações de maior risco de queda ou escorregamento de
blocos rochosos.
O maciço rochoso pode evidenciar graus de alteração variável entre o alterado e o medianamente alte-
rado (W4 a W3). Diaclasamento/fraturação em regra com espaçamento inferior a 60 cm, com evidências
de que a relação geométrica entre estes planos e o definido pela face do talude seja favorável à queda
ou ao escorregamento de blocos rochosos. Zonas cuja relação entre o andamento atual verificado em
perfil indicie existência de ação mais intensa do processo erosivo (interpretação de recuo da vertente).
Declive moderado, por vezes forte.

ALTO Zonas em que se verificam situações de subescavações, zonas em consola, maciço rochoso desapoiado,
blocos em maior risco de queda (por basculamento ou escorregamento do tipo planar). O maciço rochoso
pode apresentar vários graus de alteração (em regra entre o medianamente alterado (W3-2) e o muito
alterado (W5)), podendo existir sinais de circulação de água (zonas húmidas e/ou oxidadas). Fraturação
ou diaclasamento muito variável, sendo possível a existência de fraturas abertas. Declive em regra forte,
superior a 45º.

Na identificação das zonas de maior risco o


levantamento topográfico por varrimento a
laser, bem como o levantamento fotográfico
constituíram uma excelente ferramenta.

Na Figura 9 e Figura 10 apresentam-se, a


título de exemplo, algumas fotografias em que
se pretende apontar os principais problemas
relacionados com risco geológico identificado.

Figura 8 – Zonas de risco

203
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 9 – km 124+550 e km 124+600. Maciço rochoso medianamente alterado, com fraturação evidente a inclinar no
sentido da linha. Ao km 124+600, pormenor da proximidade da via ao talude, agravada pela inclinação do comboio em
curva. Zona de risco alto a médio

Figura 10 – km 124+610. Cavidade de dimensão métrica controlada estruturalmente e zona de ocorrência de água, na
base do talude e na dependência de uma fratura. Zona de risco alto

Os principais problemas identificados prendem-se assim com os seguintes processos:

 individualização de cunhas rochosas (normalmente na dependência de planos de descontinuidades);

 escorregamentos planares de “panos de rocha”;

 queda de blocos de rocha originados principalmente pelo desconjuntamento dos níveis mais
superficiais do maciço;

 “toppling” ou basculamento de blocos rochosos;

 existência de consolas, que podem potenciar o maior risco de queda e de desprendimento de blocos
para a via.

5- SOLUÇÂO ESTABILIZAÇÃO

5.1 - Conceção da solução a implementar em zona classificada como Património Mundial da


UNESCO

A área de intervenção localiza-se na região do Alto Douro Vinhateiro, inserida numa paisagem de elevada
qualidade e valor cultural, tendo sido classificada como Património Mundial da UNESCO, encontrando-se
igualmente abrangida pelo regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional.

Face a este contexto cultural e natural, tornava-se necessário acautelar eventuais efeitos negativos
induzidos pela execução de obras para estabilização do talude de escavação.

204
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Assim, a solução definida no projeto teve em conta não só o objetivo de garantir a correta estabilização
dos taludes como garantir o menor impacte paisagístico possível, pelo que teve subjacente as seguintes
orientações:

 Limitar ao mínimo possível o desmonte de blocos de pedras que impliquem alterações significativas
na morfologia dos taludes;

 Adotar técnicas de estabilização dos taludes com menor impacto possível, que possibilitem a
posterior “renaturalização” das zonas afetadas através da regeneração natural da vegetação ou da
introdução de espécies de recobrimento vegetal adequadas;

 Não deixar visíveis na face do talude superfícies em betão;

 Aproximar o mais possível o aspeto exterior das intervenções aos materiais, formas, cores e
texturas características da paisagem duriense.

Tendo em conta o perfil transversal dos taludes de escavação ao km 124, foi consentâneo que a construção
de um pórtico ao longo de grande parte do troço estaria mais “adaptada” à topografia original da encosta
do que a realização de importantes escavações/desmontes para obtenção de um perfil estável para o talude.
De modo a garantir a integração paisagística desta estrutura, foram consideradas as seguintes opções:

 construção do lado do rio de um muro vertical, revestido com pedra de xisto da região, de modo a
dissimular o apoio da laje de cobertura e “aproximar” formalmente esta construção ao modo
tradicional de armação do terreno com socalcos suportados por muros de pedra;

 utilização do mesmo revestimento em pedra para os emboquilhamentos norte e sul do pórtico -


falso túnel (Figura 11);

 revestimento vegetal da cobertura do pórtico com vegetação dos estratos herbáceo e arbustivo, de
modo a diminuir consideravelmente as superfícies visíveis com material inerte.

Figura 11 – Emboquilhamento do túnel. Desenho do projeto e aspeto final

As superfícies de betão resultantes dos preenchimentos e regularizações pontuais de algumas zonas do


talude foram igualmente revestidas com lajes de pedra de xisto da região.

Considerando o crescente interesse pela utilização de tecnologias e materiais tradicionais na


recuperação/reconstrução de muros em pedra seca, fazia parte do caderno de encargos do projeto que
estes muros fossem executados com recurso a mão-de-obra devidamente qualificada.

5.2 - Pórtico de proteção

O pórtico de proteção é constituído por uma laje de betão armado que cobre a via existente, de modo a
protegê-la da queda de blocos.

Esta estrutura permite absorver o impacto da queda de eventuais blocos e a sua definição geométrica
permite redirecioná-los, para que sejam encaminhados para fora da via existente (Figura 12).

205
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

No dimensionamento da laje considerou-se o impacto de um bloco com uma configuração intermédia entre
o cubo e a esfera, com dimensão média de 0,75 m, ao qual corresponde um peso, W, de 0,77 tf. A dimensão
do bloco foi estimada a partir do levantamento geológico do talude sobrejacente.

A força de impacto, Pmax, foi estimada a partir da seguinte formulação (Manual For Slope Protection, Japan
Road Association, May 1984):
2 2 3
𝑃𝑚𝑎𝑥=2,55× W× 𝜆 × 𝐻 [1]
3 5 5

Sendo: W – peso do bloco (tf); H – altura de queda (m);  – constante de Lamé (t/m2) que transmite a
influência da camada de proteção (100 t/m2).

Admitindo uma altura H de 15 m, obteve-se uma força de impacto, Pmax, de 66 t, para a qual foi necessária
considerar uma laje com 1,0 m de espessura.

De modo a reduzir a força do impacto sobre a laje, foi considerada a colocação de uma camada de proteção
constituída por material xistoso britado com dimensões entre 1 e 10 cm, com 0,90 m de espessura.

O pórtico tem ao eixo da via uma altura e largura mínima livres de 6,4 e 6,0 m, respetivamente.

Figura 12 – Interior do pórtico. Desenho do projeto e aspeto final

A laje inclina 15º para o lado do rio Douro de modo a que eventuais blocos que caiam sobre a mesma
tendam a rolar e a estabilizar ou a cair diretamente para o rio. Os blocos que porventura fiquem sobre a
estrutura poderão posteriormente ser desmontados e/ou empurrados para o rio.

A laje do lado esquerdo da via ficou predominantemente apoiada no maciço rochoso e, no lado direito,
sobre uma parede resistente, cobrindo assim a via existente.

Sobre a laje foi colocada a camada de proteção, sobre a qual foi colocada uma camada de terra vegetal
com 0,20 m de espessura, potenciando o crescimento de vegetação autóctone. Entre a camada de proteção
e laje foram colocadas duas membranas betuminosas, de proteção e de impermeabilização, uma delas com
função “anti raiz”, de modo a evitar que as raízes das plantas danifiquem a laje de betão. Sobre as telas
foi ainda colocada uma manta geotêxtil, do tipo não tecido, com uma gramagem mínima de 600 g/m2.

5.3 - Gabarito da via

Durante a primeira fase da Empreitada (2012/2013), ao preparar a construção do pórtico entre os kms
124+560 a 124+570, verificou-se a necessidade de prever um sistema alternativo ao sistema de cimbre
que estava a ser materializado, dada a exiguidade do espaço existente do lado esquerdo da via.

De acordo com os elementos fornecidos pela REFER, o traçado nesse troço contemplava uma curva
esquerda apertada com um raio de 295 m (curva número 228) e escala de via de 176 mm, existindo um
tráfego de passageiros e de mercadorias (cimento), circulando normalmente automotoras diesel da série
UTD 592 e locomotivas diesel da série 1900.

206
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

De acordo com o referido estudo, elaborado com base no contorno de referência cinemático Ptb+ ter-se-ia
que a distância ao eixo da via deveria ser superior a 2,45 m e 1,85 m do lado interior e exterior da curva,
respetivamente. Colocando estas distâncias nos perfis entre os kms 124+550 a 124+570 verificou-se,
conforme Figura 13, ao km 124+560 que o gabarito intersetava o talude rochoso (linha a azul), o que
obrigou a considerar, para essa zona, uma solução que permitisse a execução do pórtico sem recurso aos
cimbres e/ou de eventualmente restringir a circulação a determinado material circulante (Figura 14).

Figura 13 – Implantação do gabarito da via ao km 124+560 Figura 14 – Restrições do gabarito da via

5.4 - Soluções de estabilização no exterior do pórtico de proteção

Para além da execução do pórtico, considerou-se ainda i) o preenchimento com betão das zonas sob as
consolas existentes, ii) a remoção dos blocos instáveis e/ou a colocação de pregagens e iii) a colocação de
redes metálicas de alta resistência.

Figura 15 – Preenchimento de consolas e seu Figura 16 – Redes de alta resistência


revestimento com pedra da região

Numa primeira fase, procedeu-se à identificação pelo projetista dos blocos instáveis, a estabilizar pela
colocação de pregagens com 32 mm de diâmetro e/ou a desmontar e remover. Procedeu-se igualmente ao
preenchimento de zonas em consola com betão e ao seu revestimento com xisto da região (Figura 15).

Numa segunda fase foram colocadas redes metálicas de alta resistência, num sistema constituído por redes
de tripla torção, com arame de 2,7 mm, sobre as quais foram colocados painéis de cabo de aço com 8 mm
de diâmetro, com uma malha 300×300 mm, com uma resistência mínima de 1770 N/mm2, ligados entre

207
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

si por cabos com 20 mm de diâmetro. As redes foram fixadas ao talude através de pregagens com 32 mm
de diâmetro e 4 m de comprimento, distribuídas segundo uma malha de 2,5×5,0 m2.

Numa zona entre os kms 124+604 a 124+625, onde o maciço apresentava uma fraturação praticamente
horizontal, mas espaçada, foram colocadas pregagens com 32 mm de diâmetro, com 12 m de comprimento,
distribuídas segundo a mesma malha.

6- EXECUÇÃO DA OBRA

As principais condicionantes da execução da obra foram as seguintes:

 a via estava em exploração, apenas com restrição de velocidade;

 gabarito estrito, com a passagem de comboios de mercadorias;

 troço em curva, com reduzida visibilidade;

 materiais rochosos muito resistentes a desmontar;

 trabalhos a terem que ser realizados maioritariamente durante os períodos de interdição noturnos,
nomeadamente, entre as 22h00 e 6h00.

A Empreitada decorreu em duas fases, a primeira entre junho de 2012 e setembro de 2013 (Obrecol) e a
segunda entre maio e novembro de 2014 (Fernandes Remelhe, Lda).

A solução base para o pórtico de proteção previa que a laje de betão armado, com 1 m de espessura,
ficasse apoiada de forma contínua do lado esquerdo da via sobre o maciço rochosos xistento, e do lado
direito sobre uma parede contínua.

Na primeira fase, recorreu-se para execução da laje a cimbres especiais do tipo Peri (Figura 17). Atendendo
à elevada resistência dos materiais a desmontar, e dada a dificuldade de o fazer com recurso a martelo
pneumático, recorreu-se a explosivos de fraca potência do tipo Rockracker (Figura 18).

Figura 17 – Execução da laje com recurso a Figura 18 – Colocação dos explosivos de


cimbres do tipo Peri fraca potência Rockracker

No final da primeira fase, o pórtico encontrava-se construído entre os kms 124+487 a 124+550 e 124+590
a 124+593, sendo que entre os kms 124+550 a 124+590 estavam apenas executadas as paredes laterais,
faltando a execução da laje do topo.

Na segunda fase, em que se previa o fecho da laje numa zona em que o espaço disponível era menor, não
permitindo a colocação do cimbre, foi necessário prever a execução de uma plataforma provisória e que
considerar o apoio da laje em apenas cinco apoios, materializados sobre a forma de nichos abertos na
formação rochosa, com dimensão mínima de 0,8×1,0×1,0 m 3; estes nichos foram abertos com recurso a
corte de fio diamantado ou discos diamantados (Figura 19).

208
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Nesta fase foi ainda permitido ao Empreiteiro proceder a uma ligeira retificação da via, puxando a via
alguns centímetros para o lado direito, o que permitiu aumentar o gabarito existente.

Na Figura 20 apresenta-se uma vista atual do pórtico, obtida a partir da margem esquerda do rio Douro.

Figura 19 – Abertura dos nichos Figura 20 – Vista atual do talude de escavação com o pórtico de proteção
na base

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Tetraplano Engenharia elaborou para a REFER (atual IP) o projeto de estabilização dos taludes de
escavação entre os kms 124+500 e 124+700, na Linha do Douro, localizado na Região do Alto Douro
Vinhateiro, classificada como património da Unesco.

Interessava que a solução desenvolvida garantisse não só a circulação ferroviária em segurança durante e
após a obra, como também que acautelasse eventuais efeitos visuais negativos, devendo ficar devidamente
integrada na paisagem do Alto Douro Vinhateiro.

Foi construído um pórtico (falso túnel) que permite que eventuais blocos que se desprendam do talude
e/ou da encosta adjacente não afetem a circulação da via e possam ser encaminhados para o rio Douro.
De modo a que ficasse integrado na paisagem procedeu-se ao revestimento das paredes exteriores com
pedra de xisto da região.

AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer às Infraestruturas de Portugal, IP, a oportunidade que lhes foi concedida de
desenvolver e colaborar na implementação deste projeto, bem como a autorização concedida para
apresentar este caso ao meio técnico nacional.

REFERÊNCIAS

Japan Road Association (may, 1984) - Manual for Slope Protection. Highway Earth Series.

Tetraplano Engenharia (2010) - Estabilização dos taludes de escavação entre o km 124+500 e o km 124+700 e entre o
km 125+460 e o km 125+810, na Linha do Douro. Projeto de execução.

Tetraplano Engenharia (2015) - Estabilização do talude de escavação aos kms 124+500/700, na Linha do Douro. Pórtico
de proteção. Projeto de execução.

209
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ESTABILIZAÇÃO DOS TALUDES DO SETOR CAVA OESTE DA MINA DE ÁGUAS


CLARAS. BELO HORIZONTE. BRASIL

WEST CAVA SECTOR SLOPE STABILIZATION OF ÁGUAS CLARAS MINE. BELO


HORIZONTE. BRAZIL

Dinis, Jorge; Teixeira Duarte Engenharia e Construções, S.A., Porto Salvo, Portugal, jd@teixeiraduarte.pt
Lopes, João; Teixeira Duarte Engenharia e Construções, S.A., São Paulo, Brasil,
jal@teixeiraduarte.com.br
Maia, Pedro; Teixeira Duarte Engenharia e Construções, S.A., Porto Salvo, Portugal,
pma@teixeiraduarte.pt

RESUMO

A comunicação apresenta os aspectos construtivos de uma das maiores obras de recuperação de antigas
áreas de mineração no Brasil. Executada no setor Cava Oeste da Mina de Águas Claras, com topografia e
geologia complexas, que favorecem a evolução muito rápida da erosão, quase atingindo a crista da Serra
do Curral, ambiente protegido legalmente, nos arredores da cidade de Belo Horizonte. São descritas as
soluções adotadas, bem como as dificuldades enfrentadas durante a fase executiva da obra. A grande
movimentação de equipamentos pesados, indispensáveis para atender os prazos exigidos pelo cliente
para a implementação da solução de reperfilamento dos taludes, associado a trabalhos manuais de
instalação de redes metálicas, execução de pregagens e drenagem superficial na encosta,
concomitantemente com a terraplanagem, envolvendo acessos de larguras limitadas e elevadas
inclinações, em terrenos extremamente heterogéneos, sujeitos a rápidas erosões que podiam
comprometer o acesso pelas banquetas, exigiu procedimentos e técnicas especiais para vencer estes
desafios, que são descritos neste trabalho.

ABSTRACT

The document describes the construction features of one of the largest old mine site rehabilitation
projects in Brazil. This project was undertaken in the West Pit of the Águas Claras Mine, with complex
topography and geology, favouring very rapid erosion, which almost reaches the crest of Serra do Curral,
a legally protected environment, in the outskirts of the city of Belo Horizonte. The solutions adopted, as
well as the difficulties encountered during the construction phase of the project are described herein. The
extensive movement of heavy equipment needed to meet the deadlines required by the client for the
implementation of the slope reshaping solution, associated with the manual works of installing wire mesh
screens, rock-bolting and surface drainage on the slope, in conjunction with the earthworks, involving
accesses of limited widths and high gradients, in extremely heterogeneous ground conditions, subject to
rapid erosion that could undermine access from the berms, required special procedures and techniques to
overcome these challenges, which are described in this work.

1- INTRODUÇÃO

A obra de estabilização dos taludes do setor Cava Oeste da mina de Águas Claras, situa-se na vertente
sudeste da Serra do Curral, no município de Nova Lima, estado de Minas Gerais, Brasil. Do ponto de vista
geológico/geotécnico a área de intervenção é constituída por formações com propriedades geomecânicas
bastante distintas, ocorrendo itabiritos friáveis a pouco friáveis e hematitas compactas, subjacentes a
coluvios laterizados (canga). Estruturalmente é possível identificar no maciço rochoso uma estrutura
bandada, predominante sub-paralela à face do talude, originada pelo contato entre as diferentes
formações, e também pelos planos de fraturas e/ou foliações existentes nos materiais mais compactos.

Os fenómenos erosivos concentram-se nas áreas onde afloram os itabiritos mais friáveis, formando
ravinamentos com dimensões variadas, delimitadas pelas formações mais resistentes (hematita e o
itabirito compacto). A erosão diferencial associada à desfavorável orientação dos planos de fraqueza
existentes no maciço rochoso (contatos litológicos, foliação, fracturação), relativamente à face do talude,
bem como a surgência de água em pontos isolados na superfície dos taludes, principalmente durante
períodos chuvosos, originou ruturas nos materiais mais competentes, geralmente por processos de
descalçamento e deslizamento. Este mecanismo erosivo provoca o carreamento de materiais para os
sistemas de drenagem existentes, assoreando-os, originando assim um fluxo descontrolado da água de
escoamento superficial, levando à formação de grandes ravinamentos, instabilizando essas áreas e as
que se situam a montante. Este mecanismo cíclico terá sido a principal causa para o avançado estado de
degradação de algumas áreas da Cava Oeste da Mina de Águas Claras. (Figura 1).

210
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 1 - Aspeto geral das erosões no setor Cava Oeste

Por se enquadrarem numa região protegida, as soluções de projeto preconizadas pelas empresas
projetistas (BVP Engenharia e VOGBR) para a estabilização dos taludes foram condicionadas por fatores
de ordem Ambiental/Paisagística e adaptadas às características geológico/geotécnicas muito particulares
da Serra do Curral.

2- SOLUÇÕES PRECONIZADAS

Tendo sido devidamente caraterizada a situação e determinadas as causas que levaram à instabilização
do setor Cava Oeste, o projeto definitivo contemplou um conjunto de soluções e técnicas para a
estabilização dos taludes, considerando as particularidades de cada área.

Na região superior da Cava Oeste, entre as cotas 1330m e 1280m, a estabilização previu o
reperfilamento dos taludes existentes através de escavação, criando-se taludes com altura variável entre
15 e 25 metros e inclinação entre 35º e 50º. Complementarmente e para aumento do fator de segurança,
foi previsto também a aplicação de um sistema de contenção, constituído por rede metálica de alta
resistência, associada a uma malha de pregagens com espaçamento variável entre 1,70x1,70m e
2,20x2,20m e comprimento compreendido entre 4 e 12 metros. Para mitigar os fenómenos de erosão
superficial, provocada pela água de escorrência superficial, e ainda potenciar o rápido crescimento de
vegetação nestes taludes, foi prevista a aplicação de uma manta sintética de controlo de erosão
superficial, sob a rede metálica, e a aplicação de hidrossementeiras em toda a área, com sementes de
espécies nativas.

Na região inferior da Cava Oeste, entre a cota 1280m e 1200m, a estabilização foi garantida somente
através do reperfilamento da geometria da cava, construindo-se um conjunto de taludes com cerca de 15
metros de altura e 40º de inclinação. Nestes taludes foi previsto a aplicação de manta vegetal projetada
(MVP) e Biomanta, composta por fibras vegetais biodegradáveis, para proteção superficial contra erosão
e facilitar a fixação e germinação do mix de sementes que incorpora a MVP.

Quando identificados pontos de surgência de água na superfície do talude, durante a etapa de escavação,
foram instalados elementos de drenagem profunda (drenos).

Em todo o setor da Cava Oeste, desde os taludes superiores até à cota 1157m, previu-se a construção de
um sistema de drenagem superficial composto por canaletas em betão armado, construídas nas
banquetas dos taludes de escavação, com geometria retangular de 0,70x0,70m e 0,90x0,90m, e
trapezoidais de 0,90x0,30x0,30m, de modo a disciplinar todas as águas de escoamento superficial e
encaminhá-las para uma escada hidráulica em betão armado, construída nos taludes de escavação, com
seções internas compreendidas entre 1,30x1,30m e 1,70x1,70m, a qual termina num canal em
enrocamento, que escoa para o lago ali existente na base das Cavas. Para diminuir a infiltração ao nível
das banquetas dos taludes, foi previsto também a sua impermeabilização com material betuminoso
aditivado.

211
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- EXECUÇÃO DAS OBRAS – METODOLOGIAS, DIFICULDADES E IMPREVISTOS


ENCONTRADOS

3.1 - Preparação dos trabalhos

Face às condicionantes locais, nomeadamente as de ordem ambiental, orográfica e de natureza geológica


e geotécnica, que dificultaram a execução de acessos às diferentes frentes de serviço, e ainda à
necessidade de realizar diversas atividades em simultâneo ao longo dos taludes, a níveis diferentes e por
vezes sobrepostos, fez-se necessária a elaboração de um planeamento de elevada complexidade, pela
interdependência de todas as atividades, e que teria que ser de aplicação simples e eficaz, de forma a
garantir, em primeiro lugar, a segurança de todos os trabalhadores e o cumprimento a todas as
exigências contratuais. Assim, optou-se por estruturar a obra por setores de atividade (terraplenagem,
contenção e drenagem), criando-se equipas autónomas e experientes, dotadas dos meios necessários
para cumprir todas as condicionantes de segurança e produção, articuladas por uma equipe única de
coordenação que garantia a ligação entre as diversas atividades, revelando-se crucial para o sucesso do
projeto, dada a elevada interdependência entre as diversas atividades.

3.2 - Trabalhos de escavação e reperfilamento

Tal como referido anteriormente, os trabalhos de escavação e reperfilamento iniciaram-se próximo à


crista da Serra Curral, cota 1330m e terminaram aproximadamente na cota 1200m. A estratégia de
abordagem à atividade de terraplenagem focou-se em dois princípios básicos, a segurança e a
produtividade. Assim os planos de escavação para cada área e cada nível de escavação foram
meticulosamente preparados com base em minuciosos levantamentos topográficos da geometria dos
taludes existentes, de modo a que em qualquer condição fosse possível a utilização de equipamentos
pesados de escavação e transporte. Com esta análise e preparação prévia, verificou-se que em grande
parte da área de reperfilamento, devido à irregularidade da geometria do talude, a largura das
plataformas de escavação não seriam suficientemente largas para a utilização contínua de equipamentos
de grande porte. Para que fosse possível a sua utilização, foi decidido executar plataformas em aterro,
com os materiais da própria escavação, tendo-se efetuado na totalidade da obra mais de 50.000m3 de
aterros lançados, para alargamento das plataformas de trabalho, e que em algumas situações atingiram
cerca de 15 a 20m de altura. Estes aterros foram sendo removidos a vazadouro à medida que a
escavação progredia para cotas inferiores (Figura 2).

Figura 2 - Vista geral dos trabalhos de terraplenagem

No decorrer da empreitada, a grande variação das condições de trabalho, particularmente o espaço


disponível em cada frente, a largura das plataformas de trabalho e condições dos caminhos de acesso,
principalmente no que se refere à sua inclinação, obrigou a uma constante análise da condição de
trabalho, respeitando os requisitos de segurança e garantindo a produtividade esperada dos
equipamentos. Esta gestão criteriosa das interfaces levou a oscilação razoável da quantidade de
equipamentos disponíveis na obra, vislumbrando a otimização dos recursos, evitando ociosidade e
minimizando os custos de implementação do projeto. Durante a fase crítica dos trabalhos de escavação
foram alocadas 9 escavadoras giratórias de 20 e 35 Ton., 25 camiões basculantes de 12 a 16m3 de
capacidade e 2 tratores de lâmina.

De um modo geral, e apesar da elevada competência de alguns estratos, a escavação foi efetuada com
giratórias equipadas com baldes de grande dimensão, apropriadas para rocha, aproveitando para tal os
planos de fraqueza existentes no maciço. No entanto, verificou-se frequentemente a necessidade de
utilização de martelos hidráulicos pesados para desmonte das formações mais resistentes (itabiritos e

212
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

hematitas compactas), os quais não apresentavam planos de descontinuidade favoráveis ao desmonte


com balde (Figura 3).

Figura 3 - Escavadora giratória com martelo hidráulico

Fenómenos como o grau de alteração, a orientação dos planos de descontinuidade, xistosidade,


fraturamento do maciço rochoso, e a existência de áreas relativamente instáveis devido ao avanço dos
fenómenos de erosão, além do vasto conhecimento local e exigências do Cliente quanto à capacidade
técnica do executante e para garantia dos requisitos de qualidade, levaram a que todas as atividades de
movimentação de terra fossem acompanhadas por profissionais com formação em geologia e geotecnia.

De uma forma genérica e dada a condição local, foi previamente definido que os avanços de cada
patamar de escavação não poderiam ultrapassar 4 metros de altura sem que o sistema de contenção
estivesse completamente instalado a montante. Com o avanço da escavação e numa base diária ou
sempre que se justificava, a equipa de técnicos efetuava análise das condições de estabilidade dos
taludes de escavação, determinando o avanço ou a interrupção desta etapa, de modo a garantir a
segurança de pessoas e equipamentos envolvidos na obra, além de garantir a integridade do próprio
talude.

Nos patamares inferiores de escavação, nomeadamente entre o 3º e 7º patamar, devido à pequena


profundidade de escavação, para atingir o perfil final, e também à grande irregularidade da geometria
inicial dos taludes, provocados principalmente pelos profundos sulcos erosivos, verificou-se que após
conformação do talude ainda ocorriam materiais coluvionares ou de aterro. Nestes casos, os materiais de
menor resistência foram saneados e substituídos por enrocamentos ou “rip-rap” (solo-cimento ensacado),
dependendo da condição de cada local (Figura 4).

Figura 4 - Técnica de “rip-rap” aplicada no talude

3.3 - Trabalhos de contenção e revegetação

O sistema de contenção foi apenas executado nos taludes superiores, acima da cota 1280m. Este sistema
é constituído por uma rede metálica de alta resistência associada a uma malha de pregagens com
comprimentos variáveis, e por uma manta sintética de proteção contra a erosão superficial. A instalação
do sistema de contenção teve início pela execução da malha de pregagens, as quais tiveram
comprimentos compreendidos entre 4 e 12m.

213
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Do mesmo modo que o preconizado para a escavação, a furação foi realizada com equipamentos pesados
pelo que, no decurso dos trabalhos, houve sempre a preocupação de criar condições que privilegiassem a
utilização desse tipo de equipamentos, que garantiam elevada produtividade e menor utilização de mão-
de-obra (minimizando-se desta forma a probabilidade de ocorrência de acidentes). Assim para a
perfuração das pregagens foram utilizadas 8 sondas hidráulicas e pneumáticas montadas sobre lagartas,
(Figura 5).

Figura 5 - Furação para instalação de pregagens

A perfuração foi, de um modo geral, efetuada sem revestimento com recurso a martelos fundo de furo e
de superfície, equipados com bits de 3’’. No entanto e dadas as características muito específicas de
algumas áreas, especificamente rocha muito fraturada e materiais freáveis com presença de água, houve
necessidade de perfurar com recurso a revestimento, devido às paredes dos furos colapsarem durante a
perfuração, não permitindo o avanço da furação ou a introdução da armadura das pregagens sem que o
furo estivesse revestido. Assim, equiparam-se duas das máquinas hidráulicas com um sistema constituído
por martelo de fundo excêntrico e tubos metálicos acoplados, que à medida da progressão do martelo
fundo reveste o furo. Este sistema permitia que, atingida a profundidade definida em projeto, fosse
removido o martelo de fundo e as respetivas varas, mantendo o revestimento no furo, o qual somente
era retirado após a introdução do varão de aço e o preenchimento do furo com calda de cimento.

Pelas condições de acesso e exiguidade de espaço disponível nas diversas frentes de trabalho, além da
sua constante evolução com o avanço da escavação, bem como devido a questões ambientais, que
obrigaram à tomada de medidas de contenção dos desperdícios da calda de cimento das pregagens, não
seria viável instalar pontos de produção de calda nas proximidades da maioria dos locais onde se
instalaram pregagens. Desta forma, foram criadas duas centrais de injeção fixas de modo que
permitissem a execução dos trabalhos ao longo de toda a obra. No entanto, esta decisão logística levou a
que se verificassem distâncias aos pontos de selagem das pregagens da ordem dos 400 a 500 metros.
Para garantir o fluxo e a qualidade da calda de cimento exigida em projeto, foram utilizados
equipamentos com capacidade para injeção de caldas cimentícias a grandes distâncias. Este fato revelou-
se de extrema importância pois permitiu diminuir o número de equipamentos presentes em cada frente
de trabalho, bem como reduzir o número de mão-de-obra associado a esta atividade.

Terminada a execução das pregagens em cada área, era instalada a manta de proteção, a rede metálica,
cabos de contorno e aplicadas as placas e porcas devidamente torqueadas, para conclusão do sistema de
contenção. Destaca-se que o avanço da execução das pregagens relativamente à conclusão do sistema
nunca foi superior a 4 metros de altura, por questões de segurança.

Após a completa instalação do sistema, em algumas áreas e principalmente devido às irregularidades


geométricas dos taludes a rede de alta resistência não se adaptava na perfeição à superfície do talude.
Nestes locais foram realizadas pregagens adicionais com 2 metros de comprimento, garantindo assim a
conformação do sistema de contenção ao talude. Em função do avanço das escavações nestes locais as
pregagens foram executados por profissionais com formação em técnicas de alpinismo industrial, com
certificação internacional e utilização de equipamentos leves de perfuração (Figura 6). Apesar de
apresentarem produtividades reduzidas, tem como vantagem a flexibilidade e a facilidade de acesso ao
longo dos taludes já conformados.

214
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 6 - Furação realizada com acesso por corda

Para proteção adicional contra a erosão e permitir a fixação dos terrenos mais superficiais, através das
raízes das plantas, foi aplicada acima da cota 1280m, nas áreas onde se instalou o sistema de contenção,
hidrossementeiras. Esta atividade foi executada ao passo do avanço da etapa de escavação e da
aplicação do sistema de contenção.

Abaixo da cota 1280m estava previsto unicamente a aplicação de manta vegetal projetada, após o
reperfilamento do talude. No entanto durante a fase de escavação verificou-se que os taludes nestas
áreas eram bastante friáveis, tendo-se decidido aplicar uma biomanta biodegradável, fixada ao solo por
pregagens cravadas em forma de “U”, para uma maior proteção contra a erosão durante a fase de
crescimento da vegetação. Esta atividade também foi executada por equipas suspensas por cordas
(Figura 7).

Figura 7 - Aplicação de Biomanta com acesso por corda

3.4 - Construção do sistema de drenagem

Para controlo e condução da água de escoamento superficial até ao lago existente na base da cava, foi
construído um sistema de drenagem constituído por canaletas retangulares e trapezoidais e escadas
hidráulicas em betão armado.

As canaletas retangulares e trapezoidais foram construídas sobre as banquetas de cada talude, somente
após a conclusão de cada nível por forma a não condicionar a normal progressão das atividades críticas
(escavação e contenção). Por este fato, e também pela dimensão das canaletas trapezoidais, a escavação
destes elementos teve de ser efetuada com recurso a mini-giratórias hidráulicas de 3 toneladas.

Relativamente às escadas hidráulicas, e sempre que se localizavam nos taludes a reperfilar, foram
parcialmente escavadas com recurso a escavadoras giratórias de grande porte equipadas com baldes e
martelo hidráulico, à medida do avanço das etapas de escavação.

Nos trechos de escadas hidráulicas localizadas em taludes de escavação fora da área de intervenção
recorreu-se a escavadoras giratórias com braço de longo alcance (16 metros). No entanto em diversos
locais a escavação ocorreu de forma manual, realizada por equipas suspensas por cordas, por não haver
acesso a qualquer tipo de equipamentos. Este facto veio a revelar-se uma forte condicionante para o

215
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

normal desenvolvimento da atividade, pois em grande parte das descidas de água foram encontrados
materiais de elevada resistência, o que levou à frequente utilização de martelos pneumáticos leves e à
utilização de argamassas expansivas para desmonte da rocha, diminuindo assim as produtividades
inicialmente previstas. Em face desta situação e para cumprimento dos prazos contratuais, houve a
necessidade de reforçar os meios envolvidos nesta atividade, o que originou por si só, um problema de
segurança por sobreposição de frentes de trabalho. Para que fosse possível o trabalho em sobreposição
foram construídas barreiras em rede metálica, devidamente dimensionadas para o impacto de blocos de
rocha, para que assim fosse possível a realização destas atividades sobrepostas em níveis diferentes
(Figura 8).

Figura 8 - Barreira de proteção em rede metálica

Conforme já citado, as descidas de água foram dimensionadas com alturas (medida perpendicularmente
ao plano de fundo) entre 1,30m e 1,70m, originando escavações mínimas de 2,00m de profundidade,
dependendo da geometria dos taludes em cada local. Assim, sempre que não foi possível suavizar os
taludes de escavação, as valas, com inclinações variáveis entre os 40º e 50º, foram escoradas
provisoriamente a fim de garantir a integridade dos colaboradores. As mesmas foram executadas em
trechos curtos e alternados de forma a garantir que a área aberta de vala sem escoramento fosse a
mínima possível, tornando a atividade complexa quer pela falta de espaço para colocação de armaduras e
cofragem, quer para a mobilidade e acessos ao local por parte dos trabalhadores (Figura 9).

Figura 9. Trecho de escada hidráulica concluída.

Durante a construção dos elementos de drenagem ocorreram períodos chuvosos de grande intensidade
que provocaram erosões e escorregamentos de materiais dos taludes, que se acumularam ao longo dos
elementos de drenagem. Estes episódios de assoreamento geraram extravasamento da água, provocando
erosões de grande dimensão nos taludes já concluídos, principalmente nas regiões formadas por solos
friáveis e de baixa resistência. Após uma criteriosa análise da situação e com o objetivo de reconstruir as
banquetas e o perfil de escavação dos taludes, estas erosões foram preenchidas por blocos de rocha com
dimensões variadas e em alguns casos com “rip-rap” (Figura 10). Para cada caso foi vislumbrada a
melhor solução em função da permissão de acesso de equipamentos pesados aos pontos erodidos.

216
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 10 - Preenchimento lateral das escadas hidráulicas

Para diminuir a infiltração nas banquetas dos taludes de escavação foi previsto, em fase de projeto, a
impermeabilização das banquetas com material argiloso, proveniente dos materiais de escavação. Como
durante a etapa de escavação não foram detetados materiais com estas características, optou-se pela
aplicação de CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente) por ser impermeabilizante e flexível,
diferente de uma estrutura em betão armado de maior rigidez.

Em função da reduzida largura das banquetas não foi possível fazer a aplicação do CBUQ com utilização
de equipamentos mecânicos tradicionais, pelo que todo o pavimento betuminoso foi aplicado
manualmente. Nestas condições e tendo em consideração que não seria possível alcançar o rendimento
necessário para que o asfalto betuminoso fosse aplicado na temperatura correta, optou-se pela aplicação
de CBUQ aditivado, o qual permite a sua aplicação a frio, garantindo os requisitos de qualidade
especificados para este produto (Figura 11).

Figura 11 - Banqueta impermeabilizada com CBUQ aditivado

4- CONCLUSÕES

A implementação das soluções de projeto ao nível da estabilização dos taludes, o volume de trabalho, os
exíguos acessos, a distância entre as frentes de serviço e ainda por vezes as difíceis condições de
trabalho (como por o exemplo a reduzida largura das banquetas), conduziram à mobilização e formação
de grande número de trabalhadores especializados e à utilização de grande número de equipamentos
leves e pesados adaptáveis as condicionantes locais.

Nesta obra foram realizados aproximadamente 200.000m3 escavações mecanizadas e manuais, aplicados
34.000m de pregagens, tendo-se injetado cerca de 400m3 de calda de cimento para fixação das mesmas.
Para conformação das faces dos taludes foram instalados 18.000m2 de mantas e redes de alta resistência,
e aplicados 40.000m2 de revegetação (17.000m2 de hidrossementeira e 23.000m2 de Biomanta e manta
vegetal projetada). No que se refere às estruturas de drenagem em betão armado foram realizadas
aproximadamente 1.500m de canaletas retangulares e trapezoidais nas banquetas e 700m de escadas
hidráulicas nos taludes. A geometria final da Cava Oeste ficou conforme se apresenta na Figura 12.

217
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 12 - Vista geral da geometria final da Cava Oeste

REFERÊNCIAS

BVP Engenharia (2013) - Projeto Executivo de Estabilização do Setor Cava Oeste.

VOGBR Recursos Hídricos e Geotecnia (2016) - Revisão do Projeto Executivo de Estabilidade da Cava Oeste.

218
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ESTUDO E PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO E CONTENÇÃO DE TALUDE EM ÁREA


RESIDENCIAL: ESTUDO DE CASO

STUDY AND PROPOSAL OF SOIL STABILIZATION AND CONTENTION WORK IN


A RESIDENTIAL AREA: CASE-STUDY

Carneiro, Jessé Joabe Vieira; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brazil, jesse.carneiro@ufv.br
Ishihara, Marina Keiko; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brazil, marina.ishihara@ufv.br
Rangel, Luiz Vinícius de Castro; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brazil, luiz.rangel@ufv.br
Barbosa, Paulo Sérgio de Almeida; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brazil, pbarbosa@ufv.br
Marques, Eduardo Antônio Gomes; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brazil, emarques@ufv.br

RESUMO

É histórica a problemática causada pelo excesso de chuvas no município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
Em particular, a rua João Franklin Fontes, no bairro de Fátima, apresenta constantes problemas de
recalque e deslizamentos de terra nas propriedades da margem esquerda do Córrego da Conceição. Em
2011, o Ministério Público ordenou a desapropriação de sete lotes localizados nessa rua. Porém, em
conjunto com a Prefeitura Municipal de Viçosa, estudos geológicos-geotécnicos foram realizados com o
objetivo de viabilizar uma obra de estabilização e contenção do talude ao longo do córrego, e a criação de
uma bacia de retenção de água das chuvas, a fim de reduzir o impacto destas no Centro da cidade.
Foram realizadas sondagens SPT e ensaios de laboratório como cisalhamento direto e caracterização,
para obtenção dos parâmetros geotécnicos do solo. Com base nos parâmetros de resistência obtidos dos
ensaios, foram realizadas analises de estabilidade a partir do método dos estados limites e chegou-se à
conclusão que a contenção mais adequada para o caso seria o gabião, executado em toda a extensão do
talude. Contudo, nos taludes mais críticos, seria necessário o reforço do maciço, e a técnica proposta foi
o grampeamento do solo. Além disso, foram analisadas duas hipóteses: uma considerando o solo com
resistência inferior, devido às incertezas quanto à resistência das camadas mais profundas; e segunda,
utilizando parâmetros de resistência obtidos a partir de correlações com o N SPT. Os resultados mostram a
importância de novas investigações do terreno para adequar o projeto final à situação real do maciço de
solo.

ABSTRACT

The excessive rainfall related problems are historical in Viçosa, Minas Gerais, Brazil. Particularly, the
Franklin Fontes street, located in the Fatima’s neighborhood, has been presenting constant problems of
soil settlement and landslide on the left side of the Córrego da Conceição creek. In 2011, the Public
Prosecution ordered the expropriation of seven lots located on this street. However, together with the City
Hall of Viçosa, geological-geotechnical studies were performed to analyze the possibility of a soil
stabilization and retaining work alongside the stream. The studies also aim the development of a
rainwater retention basin to reduce the damages of heavy rainfalls in the city Centre. Standard
Penetration Tests (SPT) and laboratory tests, such as direct shear, physical indexes and soil granulometry
characterization, were performed to obtain the soil’s geotechnical parameters. Based on the collected
parameters, slope stability analyses using the limit equilibrium method have been made and it was
concluded that the most suitable containment system for the case is the gabion wall, which should be
executed alongside the whole slope extension. Nonetheless, in the critical regions, it would be necessary
to reinforce the soil mass, and the proposed technique would be the soil nailing. Moreover, two different
hypotheses were analyzed: first, the soil was considered with low resistance, due to the uncertainties
regarding the resistance of the deeper layers; then, in a second moment, the soil resistance was obtained
through correlations with the NSPT. The results show the importance of new investigations of the
underground to adapt the final project to the real situation of the soil mass.

1- INTRODUÇÃO

O Ministério Público de Viçosa, em 2011, ordenou a desapropriação de sete lotes localizados na rua João
Franklin Fontes, bairro de Fátima, Viçosa – MG devido à ocorrência de movimentações significativas de
terra que se agravam durante o período das chuvas e geram diversas manifestações patológicas nas
edificações; uma trinca se estende ao longo dos quintais das casas, os quais apresentam taludes
irregulares de inclinações variáveis voltados para o leito do córrego da Conceição.

A execução de cortes em maciços de solo pode ocasionar movimentos de massa ou escorregamentos de


taludes quando as tensões cisalhantes ultrapassam a resistência ao cisalhamento do solo (Oliveira e Brito,

219
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

1998). Também, os taludes provenientes de má compactação de aterros podem levar ao mesmo


movimento de massas de solo.

A execução de qualquer obra na engenharia civil provoca movimentação do solo ou alteração dos
esforços transmitidos ao solo. Por isso, a execução dessas obras pode estar atrelada à necessidade de
implantação de uma obra de estabilização, que tem o propósito de prover estabilidade contra a ruptura
do maciço de solo.

As obras de estabilização de taludes e encostas podem ser divididas em dois grupos: as sem estrutura de
contenção, como drenagem e proteção superficial, e as com estrutura de contenção, como
atirantamentos, aterros reforçados, estabilização de blocos e grampeamento dos solos. A escolha do
método de estabilização é feita de acordo com as características geológicas-geotécnicas do solo,
condições de vizinhança, métodos construtivos, dentre outros. Independente da forma construtiva, todos
têm como objetivo conter uma possível ruptura do solo, suportando as pressões laterais exercidas por ele.

A disposição construtiva do muro de gabião apresenta resistência mecânica elevada, pois o muro de
gabião é considerado uma construção monolítica, ou seja, todos os elementos que o compõem são unidas
firmemente pela malha, o que resulta em um bloco homogêneo com resistência constante ao longo da
estrutura. O principal foco de desgaste deste tipo de construção é o arame dos gabiões, que é revestido
por uma camada galvanizada dupla ou por um revestimento de uma camada de PVC. Esse tipo de
proteção garante a eficiência contra ação de intempéries e de águas e solos agressivos (Maccaferri
Gabiões do Brasil LTDA, 1990).

A técnica de reforço de solo por meio de grampos consiste numa técnica relativamente recente, sendo a
construção de um muro em Versalhes, a primeira obra datada de 1972 (Clouterre, 1991). Com grande
aceitação, a técnica se difundiu pelo mundo a fora devido ao seu baixo custo, quando comparado a outros
métodos de reforço de solo, alta velocidade de execução e capacidade de aplicação em terrenos com
formas variadas e em solos com baixa capacidade de suporte.

Trata-se de uma técnica de contenção por meio de ancoragem passiva, ou seja, a solicitação do grampo
só ocorre quando há movimentação do maciço (Massad, 2003). O sistema é constituído por três
componentes: chumbadores, os quais promovem a estabilidade global do talude e podem ser cravados
(menos usual) ou em pré-furos preenchidos com nata de cimento, concreto projetado com fibras ou
armado, que promove a estabilidade local da face do maciço e o sistema de drenagem, que ajuda a
promover tanto a estabilidade global, quanto local.

Por se tratar de uma técnica recente não existe nenhuma norma brasileira que regulamente a técnica de
solo grampeado e, muito do que se sabe da mesma no Brasil, baseia-se em experiência de execução e
acompanhamento de obras já realizadas. Por isso, existe uma grande carência de estudos ligados a
modelagens numéricas e computacionais que otimizem os processos executivos (Pereira, 2014).

A execução da técnica de solo grampeado deve ser aliada a um eficiente sistema de drenagem,
principalmente quando localizado em meio urbano, pois há a possibilidade de vazamento de redes de
abastecimento e esgoto e infiltração da água da chuva no solo, bem como o aumento no nível d’água
(Rangel et al., 2014).

Quanto ao muro de gabião, apesar deste ser uma estrutura auto drenante, é necessário a execução de
um sistema complementar de drenagem, de modo a evitar o carregamento de solo para o interior dos
gabiões e erosão interna, ou piping.

O intuito principal deste trabalho é apresentar uma proposta de estabilização e contenção de um talude
utilizando a técnica de solo grampeado e estruturas de gabião respectivamente, tendo como foco
principal o estudo e aplicabilidade da técnica de solo grampeado e apresentação de uma sequência lógica
para a execução da solução proposta. Ainda, através deste, procurou-se fazer um estudo das
características geológicas-geotécnicas do maciço analisado, contribuindo assim com uma base de dados
para o município de Viçosa.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Descrição do caso

A cidade de Viçosa, em Minas Gerais, Brasil, possui um vasto histórico de problemas causados pela chuva
em seu meio urbano, como deslizamentos, desmoronamentos e enchentes. A situação é crítica
principalmente em áreas que são cortadas por rios ou córregos. Este é o caso da rua João Franklin Fontes,
localizada adjacente ao leito do córrego da Conceição, no bairro de Fátima (Figura 1).

220
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Em 2011, o Ministério Público ordenou, por meio do processo nº2055/4, a desapropriação de lotes de
numeração 55 ao 255, localizados na rua João Franklin Fontes, devido à ocorrência de movimentações
significativas de terra que se agravam durante o período das chuvas e geram diversas manifestações
patológicas nas edificações, em especial destaca-se o incidente ocorrido em dezembro de 2010 quando
parte da edificação, ainda em construção, aos fundos do lote 141, colapsou vide Figura 1. Uma fenda se
estende ao longo dos quintais das casas, os quais apresentam taludes irregulares de inclinações variáveis
voltadas para o leito do córrego da Conceição.

Figura 1 – Conformação do local após ruptura do solo e respectiva localização da área de estudo (Fonte: Google Earth)

Contudo, após uma análise prévia, a Secretaria de Obras do Município juntamente com o Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa, acionados pela Defesa Civil, decidiram que antes
de tomar qualquer providência seria necessário realizar um estudo geológico-geotécnico envolvendo
ensaios de campo e laboratoriais que caracterizassem o solo e, a partir dos resultados, fosse possível
avaliar a estabilidade do maciço e a viabilidade de uma obra de contenção, reforço de fundação ou ambos;
medidas as quais seriam menos onerosas que a desapropriação dos lotes.

A própria natureza de ocupação dos lotes evidencia que não poderiam ser aplicadas técnicas que
gerassem movimentações de terra elevadas após a conclusão da obra.

2.2 - Levantamento topográfico

O levantamento foi realizado com o aparelho GNSS RTK TOPOMAP T10 com duas frequências (L1/L2),
com o auxílio do professor Antônio Santana Ferraz e do técnico em cartografia Tiago Oliveira Lopes do
setor de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica do Departamento de Engenharia Civil da Universidade
Federal de Viçosa.

Com a planta topográfica do local, definiu-se a posição da contenção com gabião ao longo do córrego, e a
partir daí foram feitos cortes perpendiculares ao traçado da rua passando pelos pontos onde foram
realizadas as sondagens SPT.

2.3 - Parâmetros do solo

Para a obtenção dos parâmetros do solo foram realizados inicialmente seis furos de sondagem SPT
localizados nos fundos dos lotes de números 25, 55, 141, 175, 215 e 255, todos eles a uma distância de
aproximadamente 12 metros do leito do córrego da Conceição.

Com base na classificação táctil-visual apresentada no relatório de sondagem e no NSPT obtido para cada
camada de solo determinou-se os parâmetros de resistência do solo a partir das equações [1], [2] e [3]
sugeridas por Godoy e Teixeira (1996) e a partir do Quadro 1.

221
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

c = 10NSPT [1]

φ=28°+0,4NSPT [2]

φ=√20NSPT +15° [3]

Quadro 1 - Parâmetros Médios do Solo (Joppert Jr., 2007)


Parâmetros Médios do Solo

Peso específico (γ) Ângulo


Faixa de Módulo de Coesão efetiva
Tipo de solo atrito efetivo
SPT elasticidade (kPa) Natural Saturado (kPa)
(kN/m3) (kN/m3) (φ)

0-4 20000 - 50000 17 18 25.0 -


5-8 40000 - 80000 18 19 30.0 -
Areia pouco siltosa /
9 - 18 50000 - 100000 19 20 32.0 -
pouco argilosa
19 - 41 80000 - 150000 20 21 35.0 -
≥ 41 160000 - 200000 20 21 38.0 -
0-4 20000 17 18 25.0 0
Areia média e fina 5-8 40000 18 19 28.0 5
muito argilosa 9 - 18 50000 19 20 30.0 8
19 - 41 100000 20 21 32.0 10
0-2 2000 - 5000 15 17 20.0 8
Argila porosa vermelha 3-5 5000 - 10000 16 17 23.0 15
e amarela 6 - 10 10000 - 20000 17 18 25.0 30
≥ 10 20000 - 30000 18 19 25.0 30 a 70
0-2 1000 17 18 20.0 8
3-5 1000 - 2500 18 19 23.0 15
Argila siltosa pouco 6 - 10 2500 - 5000 19 19 24.0 20
arenosa (terciário) 11 - 19 5000 - 10000 19 19 24.0 30
20 - 30 30000 - 100000 20 20 25.0 40
≥ 30 100000 - 15000 20 20 25.0 50
0-2 5000 15 17 15.0 10
3-5 5000 - 15000 17 18 15.0 20
Argila arenosa pouco
6 - 10 15000 - 20000 18 19 18.0 35
siltosa
11 - 19 20000 - 35000 19 19 20.0 50
≥ 20 35000 - 50000 20 20 25.0 65

Turfa / argila orgânica 0-1 400 - 1000 11 11 15.0 5


(quaternário) 2-5 1000 - 1500 12 12 15.0 10
5-8 80000 18 19 25.0 15
Silte arenoso pouco 9 - 18 10000 19 20 26.0 20
argiloso (residual) 19 - 41 150000 20 20 27.0 30
≥ 41 200000 21 21 28.0 50

Obtiveram-se também os valores de resistência ao arrancamento do grampo, por meio das correlações
apresentadas nos Quadro 2.

Quadro 2 - Determinação do qs por correlações empíricas (Lima, 2007)

Referência Correlação Valor de qs para NSPT = 10


Ortigão (1997) qs = 50 + 7,5 NSPT 125 kPa ≈ 0,13 Mpa
Ortigão et al. (1997) qs = 67 + 60 ln NSPT 205 kPa ≈ 0,21 Mpa
Springer (2006) qs = 45,12 ln NSPT - 14,99 89 kPa ≈ 0,09 Mpa

222
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Além das sondagens foram coletadas ainda, a 0,50 m de profundidade, amostras indeformadas cilíndricas
(d = 20 cm e h = 30 cm) de solo no lote nº 215 localizado na rua João Franklin Fontes, bairro de Fátima
em Viçosa – MG, Brazil, as quais foram utilizadas para fazer ensaios de caracterização e cisalhamento
direto, este último foi realizado com base na norma ASTM D3080, 1998. A partir destes, foram obtidos os
parâmetros de resistência do solo e estimou-se a resistência ao arrancamento do grampo.

Para a obtenção da envoltória de resistência do solo, cada corpo de prova foi ensaiado sob uma tensão
normal diferente. Para este trabalho, foram moldados 8 corpos de prova, cada um deles ensaiado sob
uma das seguintes tensões normais: 22,3 kPa, 48,3 kPa, 74,3 kPa, 122,5 kPa, 170,8 kPa, 219,1 kPa,
267,3 kPa e 315,6 kPa.

Ainda, com o intuito de simular o efeito da chuva na saturação do solo e evidenciar a perda de resistência
que ocorre com o aumento na umidade no maciço, os ensaios foram inundados após a ruptura e as
leituras continuaram a ser feitas. Em nenhum dos ensaios realizados foi feito o controle de sucção,
medida a favor da segurança, o que resultaria em maiores valores de coesão do solo.

2.4 - Projeto básico

O foco do estudo é a proposição de uma solução de engenharia que promova a estabilização do talude.
Dentre as diversas opções consideradas, a que melhor se adapta às condições geológico-geotécnicas e
geométricas locais foi o solo grampeado. Porém, pela possibilidade da implantação futura de uma bacia
de retenção no local, adotou-se uma estrutura de contenção mista, com a implantação do gabião, que
apresenta vantagens que se adequam ao projeto.

2.5 - Análise de estabilidade

Para a realização das análises de estabilidade, utilizou-se o software Slope/W®, uma ferramenta
computacional que auxilia no dimensionamento de obras de terra. O programa analisa a estabilidade do
maciço do solo para diferentes formas de superfície de deslizamento, perfis de poro pressão,
propriedades do solo, métodos de análise e condições de carga. Além disso, permite o cálculo e a
estimativa dos fatores de segurança por métodos consagrados na Mecânica dos Solos.

O programa foi utilizado neste trabalho para a verificação da estabilidade do maciço por meio do método
das lamelas de Morgenstern-Price devido a maior precisão do método ao considerar a interação das
lamelas com todas as condições de equilíbrio (forças verticais, horizontais e momentos) e de fronteira,
além de permitir superfícies de ruptura com formas variadas. Como modelo de cálculo da resistência ao
cisalhamento, foi adotado o critério de Möhr-Coulomb.

Com base nos cortes obtidos a partir do levantamento topográfico, foram feitas diversas análises com a
finalidade de apresentar doze resultados, seis deles com a inclinação natural do solo presente atualmente,
outros seis com o perfil cortado, apresentando a estrutura de contenção necessária.

Além disso, com o intuito de enfatizar a importância de um estudo mais detalhado do solo, baseado no
corte que apresentou a situação mais crítica, foi realizada uma análise apresentando solo de fundação
com baixa capacidade de suporte (mesmo solo utilizado na superfície, com parâmetros de resistência
obtidos por meio do ensaio de cisalhamento direto).

Exceto para a análise descrita anteriormente adotou-se, a partir do primeiro metro de sondagem,
camadas de solo com parâmetros de resistência correspondentes ao N SPT obtido em cada uma delas.
Admitiu-se que as camadas para os solos de fundação se prolongavam ao longo de todo o perfil,
enquanto que as camadas acima da base do gabião se estendiam somente até a posição do furo de
sondagem, considerando todo o solo a frente do furo de sondagem com parâmetros de resistência iguais
aos obtidos pelo ensaio de cisalhamento direto com o solo inundado.

Para cada corte analisado utilizou-se gabiões de 3 metros de base, posicionados com uma inclinação de 6°
em relação a superfície do córrego da Conceição. A altura dos gabiões foi definida com base na altura do
perfil de solo cortado e retaludado, considerando-se ainda a cota máxima de água que o córrego
alcançará com a implantação de um dique de retenção de 3 metros de altura na cota 658,5 – com base
na altura do dique e na topografia ao longo do corrego, foi possível determinar a altura dos gabiões
fazendo a diferença entre a cota máxima de água e a cota do terreno em cada ponto, admintindo a altura
dos gabiões sempre 20 centímetros mais alto que a conta máxima de água na seção em questão. Vale
ressaltar, ainda, que o retaludamento foi feito com uma inclinação de 45°, subdividido com bermas de
2,0 metros de largura.

Por fim, nos pontos onde a solução de gabião não foi suficiente para garantir a estabilidade do talude,
houve a implantação de grampos, dimensionados com a ajuda do Slope/W®, através de interações para
determinar a melhor inclinação dos grampos, melhor espaçamento e o comprimento mínimo dos mesmos
para atender as exigências de segurança.

223
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Levantamento topográfico

A planta topográfica detalhada está representada na Figura 2.

Figura 2 - Levantamento Topográfico

224
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3.2 - Parâmetros do solo

Os parâmetros de resistência obtidos a partir das correlações com o NSPT para o perfil 2, considerado o
mais crítico após a realização das análises, estão dispostos no Quadro 3. Nota-se que os valores do
intercepto de coesão e do ângulo de atrito obtidos para o solo em condições não drenadas (correlações
apresentadas por Godoy e Teixeira (1996)) se apresentaram bastante discrepantes dos valores obtidos a
partir do ensaio de cisalhamento direto (Figura 3), tendo sido utilizados, portanto, os valores de coesão e
ângulo de atrito efetivos apresentados por Joppert Junior (2007).

Quadro 3 - Parâmetros de resistência obtidos a partir do NSPT e da classificação do solo (perfil 2)

Sondagem SPT - Lote 175

γ Natural ϕGodoy ϕTeixeira c'Joppert Jr ϕ'Joppert Jr


Profundidade* (m) Nspt Tipo de solo c (kPa)
(kN/m3) (˚) (˚) (kPa) (˚)
1
1 2 15 20 28.8 21.3 15.0
Argila 0.0
2 2 arenosa 15 20 28.8 21.3 10.0 15.0
pouco
3 2 15 20 28.8 21.3 10.0 15.0
siltosa
4 4 17 40 29.6 23.9 20.0 15.0
5 6 Silte 18 60 30.4 26.0 15.0 25.0
6 50 arenoso 21 500 48 46.6 50.0 28.0
*Profundidade a partir da cota do furo de sondagem (elevação 6,5 m das Figuras 5 e 7)

Envoltória de Ruptura
120,0

100,0
122,5 170,8

80,0

74,3 170,8
122,5
τ (kPa)

60,0

40,0 48,3
74,3
22,3
20,0
48,3
Solo Natural : τ' = 25.9 + σ' tg( 25.3°)

22,3 Solo Inundado : τ' = 0.7 + σ' tg( 24.9°)


0,0
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 160,0 180,0
σ (kPa)

Solo Natural Solo Inundado Linear (Solo Natural) Linear (Solo Inundado)

Figura 3 - Envoltórias de ruptura do solo natural e do solo inundado

Dos ensaios de caracterização, obteve-se um peso específico dos sólidos de 27,00 kN/m³. A curva
granulométrica (Figura 4) evidencia um solo bem graduado, sendo 60% composto de partículas menores
que 0,06 mm (silte). A classificação granulométrica também evidencia que o solo possui porcentagem
significativa de areia, sendo, portanto, denominado predominantemente solo silto arenoso, o qual não
possui estabilidade prolongada, a despeito de apresentar coesão apreciável, pois é suscetível aos
processos de erosão e desagregação natural.

O peso específico natural do solo (γ) foi determinado diretamente a partir dos corpos de prova utilizados
no ensaio de cisalhamento direto, apresentando valor médio igual a 15,62 kN/m³. Os valores adotados
para o traçado da envoltória de ruptura apresentada na Figura 3 são as máximas tensões cisalhantes

225
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

efetivas do solo no estado natural e mínimas tensões cisalhantes efetivas para o solo inundado, as quais
estão dispostas no Quadro 4. Vale ressaltar que para o traçado da envoltória foram removidos os pontos
mais discrepantes da média geral.

Granulometria Conjunta
Argila Silte Areia
100,00

90,00

80,00

70,00

60,00

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00
0,0 0.002 0,0 0.06 0,1 1,0 2.0 10,0

Granular Finos

Figura 4 - Determinação granulométrica do solo.

Quadro 4 - Valores de tensões cisalhantes obtidos através do ensaio de cisalhamento direto


Envoltória de Ruptura
Tensão Normal Tensão Cisalhante (Natural) Tensão Cisalhante (Inundado)
22.3 30.5 8.7
48.3 43.5 23.9
74.3 74.0 35.9
122.5 90.3 60.9
170.8 99.0 77.2
219.1 109.8 71.8
267.3 132.7 106.6
315.6 128.3 92.4

3.3 - Análises de estabilidade

A proposta inicial da bacia de retenção é a colocação de um dique de 3 m de altura na cota 658,5 do


terreno natural. Logo, com base nas cotas em que os perfis analisados se encontram, obteve-se as
alturas máximas do nível d’água em cada perfil transversal apresentadas no Quadro 5.

Quadro 5 - Cota máxima do nível d'água ao longo do córrego


Elevação do nível d'água Cota do nível d'água
Referência Cota (m)
(m) (m)
Dique 658.5 3.0 661.5
Perfil 1 659.0 2.5 661.5
Perfil 2 659.5 2.0 661.5
Perfil 3 661.0 0.5 661.5
Perfil 4 662.5 0.0 662.5
Perfil 5 664.0 0.0 664.0
Perfil 6 662.5 0.0 662.5

Com o intuito de verificar a situação de rebaixamento rápido, admitiu-se a queda da linha freática da cota
mais alta à cota mais baixa na face interna da estrutura do gabião. Vale ressaltar que não foram feitas

226
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

analises mais precisas devido à ausência de parâmetros que embasassem tais análises. Os valores de
parâmetros em situação não drenada do solo e de parâmetros efetivos obtidos através das correlações
com o NSPT se mostraram bastante discrepantes, não sendo adequada a utilização de ambos em uma
mesma análise. Assim, para a realização das análises de estabilidade, estabeleceu-se que para as
camadas de solo acima da cota inicial do furo de sondagem, nas quais o solo foi classificado como silte
arenoso, os parâmetros de resistência utilizados, de forma a se trabalhar a favor da segurança, foram os
obtidos através do ensaio de cisalhamento direto em condição inundada, e para as camadas de solo
abaixo da cota inicial do furo de sondagem, identificadas através do SPT, os parâmetros utilizados foram
os obtidos através das correlações apresentadas no Quadro 1.

Além da linha freática, foram implantados nas análises, carregamentos devido às construções existentes
no local, considerando haver em cada lote construções com três pavimentos e cada pavimento com uma
sobrecarga de 12 kN/m2, totalizando uma sobrecarga de 36 kN/m2. As delimitações das construções
estão indicadas no levantamento topográfico indicado na Figura 2.

3.3.1 - Dimensionamento do grampo

A resistência ao arrancamento (qs) do grampo foi obtida a partir das correlações com o NSPT apresentadas
no Quadro 2. Os resultados obtidos para cada camada de solo de acordo com as diferentes correlações,
estão apresentados no Quadro 6 para o segundo corte. Para o projeto, optou-se por utilizar os menores
valores de qs devido à falta de conhecimento quanto ao comportamento do solo, enfatizando-se assim, a
necessidade de se fazer ensaios de arrancamento, para a elaboração da solução definitiva. Pela mesma
razão, o valor de qs adotado para a camada de solo com parâmetros obtidos pelo cisalhamento direto foi
igual ao valor correspondente à camada com NSPT = 2. Além disso, para os grampos que se estendem por
mais de uma camada de solo, utilizou-se como qs a média dos valores obtidos para cada camada.

Quadro 6 - Valores de qs obtidos a partir das correlações com o NSPT (perfil 2)


Sondagem SPT- Lote 175
Profundidade* (m) Nspt qs (Ortigão) qs (Ortigão et al.) qs (Springer) qs, adotado (kPa)

1 2 65 108.59 16.28 16.28

2 2 65 108.59 16.28 16.28

3 2 65 108.59 16.28 16.28


4 4 80 150.18 47.56 47.56

5 6 95 174.51 65.85 65.85


6 50 425 301.72 161.52 161.52
*Profundidade a partir da cota do furo de sondagem (elevação 6,5 m das Figuras 5 e 7)

A armadura adotada para o grampo foi de aço CA-50 com diâmetro d = 20 mm, por ser o maior diâmetro
de barra que não exige aplicação de placa e porca na extremidade em contato com o paramento. A força
de resistência ao escoamento característica da barra é dada por:
kN (2cm)2
F=50 .π. =157 kN [4]
cm2 4

A face de concreto projetado serve não somente para proteger a face do talude contra erosão, como
também para conectar os grampos e promover um melhor desempenho conjunto dos mesmos. De acordo
com Ehrlich (2002), estruturas de concreto projetado são uma simples proteção superficial do talude,
inibidora de instabilidades localizadas na região da face do mesmo. Por conta disso, foram rodadas
análises com a opção “Anchorage” do Slope/W® marcada. Além disso, considerou-se o fator de segurança
dos grampos dependente do fator de segurança global da cunha de ruptura mais crítica, ativando a opção
“F of S Dependent”.

Foi adotado inicialmente, para cada perfil analisado, comprimento dos grampos de 12 m, inclinação de 15°
com a horizontal, diâmetro do bulbo do chumbador de 10 cm, espaçamento vertical de 1 m e
espaçamento horizontal de 2 m.

3.3.2 - Resultados Finais

Após as análises iterativas, chegou-se às melhores soluções para os diferentes cortes. Com base nas
considerações e hipóteses adotadas, foram obtidos valores do fator de segurança acima de 1,5,
superiores ao mínimo estabelecido pela NBR 11682:1991 para locais próximos a edificações habitacionais.

O perfil 2 se mostrou o mais crítico, o que pode ser explicado pelo fato de tanto as sondagens realizadas
no local, quanto o ensaio de cisalhamento direto, indicarem solos com baixa resistência. Além disso,
nota-se que, devido à correlação com o NSPT, o qs utilizado em todos os grampos foi muito baixo (qs =

227
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

16,3 kPa), exigindo assim, uma alta densidade de grampos longos (12 m) por m², como está indicado
nas Figuras 5 e 6.

Os resultados obtidos no SPT podem ter sido influenciados pela época do ano em que o ensaio foi
executado, podendo o solo estar mais úmido ou não. Também pode sofrer influência do operador do
ensaio, tanto na execução do furo quanto na análise tátil-visual com o material do amostrador. Portanto,
apesar de ser um método de investigação do solo amplamente utilizado, os resultados podem ser
controversos. Afim de considerar essa possível variação nos resultados obtidos a partir do SPT, o perfil 2
foi analisado, ainda, considerando-se o solo de fundação com as características do solo ensaiado em
laboratório em condição inundada, e notou-se uma queda significativa do coeficiente de segurança, assim
como é mostrado nas Figuras 7 e 8, o que enfatiza a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o
solo de fundação.

Figura 5 - Solução final encontrada para o perfil 2

Figura 6 – Resultado da análise de estabilidade da solução final encontrada para o perfil 2

Figura 7 - Solução final encontrada para o perfil 2, solo de fundação com parâmetros obtidos a partir do ensaio de
cisalhamento direto (solo inundado)

228
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 8 - Resultado da análise de estabilidade da solução final encontrada para o perfil 2, solo de fundação com
parâmetros obtidos a partir do ensaio de cisalhamento direto (solo inundado)

Pelas análises realizadas, fica evidente ainda que o solo inundado apresenta situação crítica, com baixos
parâmetros de resistência que causam a instabilidade do maciço. Como aumentar o número de grampos
ou diminuir o espaçamento entre eles torna o método inviável economicamente, optou-se pela utilização
do dreno sub-horizontal profundo (DHP). Desta forma, além do dreno vertical ao longo de todo o gabião,
propõe-se a instalação de DHPs em toda a extensão grampeada, considerando o raio de influência dos
drenos de 2 metros. Isto permite que os parâmetros de resistência do solo não decaiam à mesma faixa
de valores obtidos com o solo inundado. A utilização de um eficiente sistema de drenagem se faz
necessário também pelas condições de ocupação e uso do solo. Por ser uma área urbana, a mesma está
sujeita a vazamentos da rede hidro sanitária, além de ser local de escape para águas que não infiltram na
área pavimentada. Também, em épocas de chuva, a umidade presente no solo é prejudicial à resistência
ao cisalhamento do solo.

A seguir, nas figuras 9 e 10, é apresentada a solução detalhada para o perfil 2, lote 175, da obra de
contenção da margem esquerda do Córrego da Conceição. Neles estão indicados o volume de corte, os
espaçamentos entre os grampos, altura dos gabiões, largura e altura das bermas.

Figura 9 – Caracterização do solo com base na sondagem SPT e representação do volume de corte para execução da
solução proposta (perfil 2)

Figura 10 – Detalhamento da solução de grampos apresentada (perfil 2)

4- CONCLUSÃO

As análises de estabilidade rodadas indicaram que a solução adotada se mostrou estável, porém neste
trabalho, a escolha dos parâmetros do solo para a realização de um projeto seguro e econômico
dependeu da confiabilidade no ensaio SPT, que sofre grande influência da equipe de sondagem. Devido às
incertezas quanto ao solo de fundação, conclui-se que novas investigações devem ser realizadas no local,
para que se possa definir a solução final.

229
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

São necessárias outras sondagens na parte inferior do talude, associado com a escavação de poços de
investigação para a retirada de novas amostras. Essas amostras deverão ser submetidas à ensaios de
cisalhamento triaxial CU (consolidado e não drenado), condição real de campo. Desta forma, deverá ser
possível correlacionar os resultados das sondagens SPT com parâmetros reais obtidos a partir do poço.

Quanto ao solo grampeado, devem ser realizados ensaios de arrancamento antes ou durante sua
execução para que, se necessário, seja feito ajuste de projeto com base nas condições de campo.

AGRADECIMENTOS

Ao engenheiro Rodrigo Cardoso e todos os membros da Defesa Civil do Município de Viçosa, por fornecer
informações importantes ao projeto, além de auxiliar na obtenção do levantamento topográfico e
realização das sondagens SPT. Aos técnicos do Laboratório de Engenharia Civil, pelo apoio na coleta de
amostras e realização de ensaios. Ao professor Antônio Santana Ferraz e ao técnico em cartografia Tiago
Oliveira Lopes que, apesar da difícil acessibilidade ao local, se dipuseram a realizar o levantamento
topográfico do local de estudo.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10514 - Redes de aço com malha hexagonal de dupla torção, para
confecção de gabiões. Rio de Janeiro, p. 4. 1988.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682 - Estabilidade de taludes. Rio de Janeiro, p. 39. 1991.

ASTM-D3080. Standard Test Method for Direct Shear Test of Soils Under Consolidated Drained Conditions.
Subcommittee D18.05. [S.l.]: ASTM International. 1998. p. 9.

Clouterre. Recomendations Clouterre 1991 (ENGLISH TRANSLATION). Paris: [s.n.], 1991.

Ehrlich, M. (2002) - Minicurso de Solo Grampeado. COPPE/UFRJ. Universidade Federal da Bahia. Politécnica. Salvador.

Godoy, N. S. e Teixeira, A. T. (1996) - Análise, Projeto e Execução da Fundações Rasas. [S.l.]: [s.n.].

Joppert Jr. (2007) - I. Fundações e contenções de edifícios: qualidade total na gestão do projeto e execução. 1. ed.
[S.l.]: PINI.

Lima, A. P. (2007) - Comportamento de uma escavação grampeada em solo residual de gnaisse. Rio de Janeiro:
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Maccaferri Gabiões do Brasil LTDA. (1990) - Estruturas flexíveis em gabiões para obras de contenção. [S.l.]:
Publicação técnica.

Maccaferri Gabiões do Brasil LTDA. (2015) - Obras de Contenção - Manual Técnico. [S.l.]: [s.n.].

Massad, F. (2003) - Obras de Terra curso básico de Geotecnia. 2. ed. São Paulo: [s.n.], 216 p.

Oliveira, A. M. S. e Brito, S. N. A. (1998) - Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia (ABGE).

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ABMS. 20:1, pp.39-43.

Ortigão, J. A. R., Palmeira, E. M. e Zirlis, A. (1997) - Optimised design for soil nailed walls, Proceedings of 3rd lnt. Conf.
on Ground lmprovement Geosystems. London. T Telford. pp. 368-374.

Pereira, A. B. (2014) - Análise da influência da inclinação dos grampos no aumento da estabilidade global de talude
idealizado contido em solo grampeado. Téchne, 4.

Rangel, L. V. D. C., Toniêto, F. P. e Menezes, A. C. C. D. (2014) - Estudo e projeto de estabilização de talude utilizando
a técnica de solo grampeado. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa.

Springer, F. O. (2006) - Ensaios de arrancamento de grampos em solo residual de gnaisse. Tese de Doutorado. PUC-Rio.
Rio de Janeiro, 310p.

230
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

ESTUDOS BASE PARA A ESTABILIZAÇÃO DA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO


FILIPE EM SETÚBAL

BASE STUDIES FOR THE STABILIZATION OF THE SLOPE OF SÃO FILIPE


FORTRESS IN SETÚBAL

Pistone, Raul; COBA - Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, r.pistone@cobagroup.com


Ferreira, Sandra; COBA - Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal,
s.ferreira@cobagroup.com
Ribeiro, Joana; COBA - Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, j.ribeiro@cobagroup.com
Filipa Cacilhas; COBA - Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, f.cacilhas@cobagroup.com
Salgado, Francisco; LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, fsalgado@lnec.pt
Sousa, Arlindo; LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal, asousa@lnec.pt
Mouro, Lénia; Câmara Municipal de Setúbal, Setúbal, Portugal, lenia.mouro@mun-setubal.pt
Amaro, José; Câmara Municipal de Setúbal, Setúbal, Portugal, jose.amaro@mun-setubal.pt

RESUMO

O forte de São Filipe encontra-se localizado no Parque Natural da Arrábida, no concelho e distrito de Setúbal.
Terá sido edificado no início do século XVII, encontrando-se desde 1933 classificado como Monumento
Nacional. O trabalho apresentado aborda as condições geológicas locais no enquadramento regional,
descrevem-se os trabalhos de prospeção e ensaios realizados na presente fase do estudo e em fases
anteriores, incluindo respetivos resultados, bem como a sua interpretação, em termos de definição e
caracterização das unidades geológicas interessadas. Estes elementos, junto com os dados de
monitorização histórica das encostas e da estrutura do forte, foram essenciais na obtenção dos dados
necessários para a caracterização da problemática da situação atual, que permitiu a elaboração de um
diagnóstico da situação e, em consequência, a definição das soluções de estabilização da encosta.

ABSTRACT

The São Filipe fortress is located in the Arrábida Natural Park, in the municipality and district of Setúbal. It
was built at the beginning of the 17th century and has been classified as a National Monument since 1933.
The present work deals with the local geological conditions in the regional framework, describes the site
investigations and laboratory tests carried out in the present phase of the study and in previous phases,
including their results, as well as their interpretation, in terms of the definition and characterization of the
geological units interested. These elements, together with the historical monitoring data of the slopes and
the fortress structure, were essential in obtaining the necessary data for the characterization of the
problematic of the current situation, which allowed the elaboration of a diagnosis of the situation and,
consequently, the definition of solutions for the stabilization of the hill.

1- INTRODUÇÃO

O forte de São Filipe de Setúbal localiza-se no Parque Natural da Arrábida, no concelho e distrito de Setúbal,
numa zona topograficamente acidentada, posicionando-se parte da sua estrutura, muralhas Nascente e
Sul, no topo de uma encosta, bordejada inferiormente pela estrada Nacional, N 10-4. A base das muralhas
do forte encontra-se apoiada em maciço sedimentar heterogéneo no que respeita às suas características
de resistência e deformabilidade.

A presente comunicação descreve os trabalhos realizados pela Coba para a Câmara Municipal de Setúbal
(CMS), visando a elaboração de um diagnóstico e o desenvolvimento de soluções que viabilizassem a
estabilização da encosta do forte.

2- ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

O forte de São Filipe foi mandado construir pelo rei Filipe I (Filipe II de Espanha), em 1582, com o objetivo
de constituir uma fortaleza para defesa da costa que protege Setúbal e a foz do rio Sado. Por não ser
consensual a sua importância como posto de defesa, ao longo dos séculos, esta fortaleza não foi objeto de
melhoramentos e inovações estratégicas, por oposição ao forte do Outão, esse sim a principal fortaleza
defensiva da zona.

231
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O seu espaço interior, que originalmente incluía a Casa do Governador e demais edifícios militares, foi
substancialmente transformado a partir de 1964, com o objetivo de ai se instalar uma das Pousadas de
Portugal.

Segundo os registos militares, até 1755, não foram observadas anomalias no forte. Com o sismo de 1755,
registaram-se inúmeras fissuras, que não impediram a continuação da sua utilização apesar de as suas
abóbodas internas terem sofrido danos sem por em causa a estabilidade do forte.

O sismo de 1969 voltou a agravar a situação, tendo ocorrido nessa época um deslizamento de terras na
escarpa Sudeste. Em 1970, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) propôs uma campanha de
prospeção e um sistema de observação para o local. Finalmente, em 1979 foi implementada uma campanha
de prospeção (diferente da inicial), realizada pela empresa Sondagens Rodio. Em 1986, foram executadas
as obras de estabilização associadas à estabilidade ocorrida na dita escarpa Sudeste, cujo projeto,
elaborado no espaço temporal 1982 e 1983, foi desenvolvido pela empresa Geoplano.

Nos anos seguintes e até à presente data, ainda que com alguns interregnos, o LNEC tem vindo a
acompanhar a evolução do comportamento da zona de intervenção através do sistema de monitorização
existente, procedendo sempre que possível à sua substituição / incremento do tipo e número de dispositivos.
Com base nas observações realizadas no último trimestre de 2011, o LNEC identificou um cenário de
elevado risco, salientando a “necessidade de realização de obras de estabilização e a reposição e reforço
do sistema de monitorização”.

No ano de 2014, foram executadas obras de estabilização ao nível das galerias subterrâneas do forte,
através da colocação de escoramentos metálicos e fecho das fendas, bem como, impermeabilização dos
pátios e selagem das fendas exteriores.

No final de 2016, foi adjudicado à COBA o Projeto de Execução da estabilização da encosta.

Caminho de
ronda (CR)

Figura 1 – Fotografia atual do Forte de Setúbal, encosta Sudeste (estabilizada em 1983)

3- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

As unidades geológicas ocorrentes na zona de intervenção são:

Recente – Aterro (At)

Os aterros são caracterizados por material argiloso e silto-margoso com presença de blocos
conglomeráticos e restos de cerâmica.

Jurássico – Conglomerados da Comenda (J3CO)

Esta é a unidade geológica dominante no local caracterizada por intercalações de camadas de


conglomerados, grés, siltitos, margas e calcarenitos, com uma grande heterogeneidade e variabilidade
lateral. Estes conglomerados contem seixos, maioritariamente, rolados desde 0,5 cm a 10,0 cm de diâmetro,

232
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

constituídos por quartzo, quartzito e calcário e uma matriz composta por argila-margosa, ou, por vezes
margo-calcária. O cimento é maioritariamente ferruginoso.

As formações geológicas apresentam uma estratificação com direção variável entre N15ºE a N40ºE, com
predominância de N25 a 30ºE, e com uma orientação entre 40º a 75º para SE, com predominância para
uma inclinação de 65ºSE.

4- TOPOGRAFIA E PROSPEÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

4.1 - Condicionamentos

Devido à morfologia acidentada do local, em conjunto com uma vegetação muito densa composta por
árvores de grande porte (essencialmente pinheiros) e vegetação rasteira tipo arbusto existiu uma grande
dificuldade na execução do levantamento topográfico (Figura 3) da encosta e na posterior execução dos
trabalhos de prospeção (Figura 2).

Figura 2 – Criação de acessos com giratória. Figura 3 – Descida em rapel junto à muralha do Caminho de Ronda (CR)

Além dessas condicionantes de acesso e pelo facto do local em estudo se encontrar inserido no Parque
Natural da Arrábida foi necessária uma autorização específica por parte do ICNF (Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas) para operar no local.

A eventual possibilidade de serem encontrados vestígios arqueológicos, traduziu-se na necessidade de se


obterem autorizações específicas junta da DGPC (Direção Geral do Património Cultural), sendo obrigatório
garantir o acompanhamento permanente de um arqueólogo ao longo de todos os trabalhos de campo,
incluindo os acessos.

No início de Março de 2017 foram iniciados os trabalhos de prospeção, após a autorização da entrada no
local ser dada pelas várias entidades envolvidas no processo. A realização dos acessos aos locais a
prospetar implicou a desmatação das áreas correspondentes, sendo possível complementar o levantamento
topográfico e geológico, realizado com precisão à escala 1/200, através de descida em rapel (Figura 3),
recorrendo à ajuda dos Bombeiros Sapadores de Setúbal.

4.2 - Trabalhos de prospeção realizados em fases anteriores a 2017

Foi recolhida informação de três campanhas de prospeção distintas. A primeira realizada em 1979, uma
segunda executada em 1982 e a terceira efetuada em 2003.

Em 1979, com o objetivo de obter uma caracterização geotécnica que pudesse dar suporte ao projeto das
obras de estabilização das fundações do forte e da encosta, foram realizadas sete sondagens verticais,
quatro sondagens sub-horizontais e uma sondagem com inclinação de 30º com a horizontal.

Em 1987 foram executadas duas furações para instalação de inclinómetros S4-CR e S5-ENC das quais só
foi obtida informação geológica da S5-ENC.

Em 2003, foi efetuada uma nova campanha de prospeção, composta por quatro furos de sondagem com
colheita de amostras, acompanhados pela execução de ensaios SPT cujo principal objetivo prendia-se com
a necessidade de instalação dos tubos inclinométricos S1B PI6 e S2B PI6 no pátio do forte e dos tubos S1A
CR e S3A CR no Caminho de Ronda. Para além destas sondagens foram efetuados furos para instalação de
piezómetros (PS1B PI6, PS2B PI6, PS1A CR PS3A CR) dos quais não foi possível obter claramente o método
de furação utilizado e, consequentemente a informação da geologia atravessada.

233
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Os resultados destas campanhas de prospeção identificaram uma sucessão de camadas de grés, margas e
conglomerados (com matriz argilo-margosa ou margo-calcária) intercaladas, com percentagens de
recuperação que rondam os 30 % no caso das margas e dos 60 % aos 100 %, no caso dos grés e
conglomerados. Os grés e conglomerados apresentaram valores frequentes de RQD aproximadamente
entre 20 % e 60 %.

Foram ainda instalados piezómetros simples nas sondagens realizadas em 1979 e executados 4
piezómetros triplos em 2003.

4.3 - Trabalhos de prospeção realizados em 2017

Foi preconizada uma campanha de prospeção de forma a complementar a informação geológica já existente
na zona de intervenção.

4.3.1 - Prospeção mecânica

Na presente campanha de prospeção foram preconizados 8 poços localizados essencialmente na zona da


base das muralhas (do forte e do caminho de ronda) com o objetivo de fazer um reconhecimento da base
da sua fundação. Em geral, verificou-se que, tanto a base da muralha do forte, como a base da muralha
do caminho de ronda, encontravam-se fundadas no maciço competente, caracterizado por conglomerados
ou grés. Não foi detetada a presença de água, apesar do terreno se encontrar bastante húmido (devido à
época do ano - Março). Foram colhidas amostras remexidas em quase todos os poços, para realização dos
ensaios de identificação.

Foram definidos três locais para realização de sondagens, verticais e inclinadas, todas com furação à
rotação. No decurso dos trabalhos houve necessidade de ajustar por diversas vezes o plano de prospeção
face às condicionantes topográficas, arqueológicas, ambientais e geológicas, tendo-se optado pela
execução de uma sondagem vertical próxima da muralha Nascente (S1) e duas sondagens inclinadas (S2
e S3) em direção à muralha do caminho de ronda.

Posteriormente, com base na informação já obtida através da sondagem inclinada, as sondagens anteriores
foram acompanhadas pela realização de 3 furos verticais de pouca profundidade, até ao máximo de 8
metros, executados imediatamente ao lado, com o objetivo de recolher amostras indeformadas e
representativas das margas.

Os grés/calcarenitos apresentaram um RQD de cerca de 40 % a 50 %, enquanto que os conglomerados


apresentaram valores em torno dos 30 %, podendo considerar-se um maciço no seu todo como de fraca
qualidade (RQD < 50%).

Os conglomerados apresentam valores de SPT elevados, salvo na zona mais superficial. As margas
consideram-se medianamente compactas a compactas com valores entre as 30 pancadas e as 45 pancadas
e os grés e calcarenitos com resultados entre as 29 pancadas e nega brusca, considerando-se compactos
a muito compactos, com passagens mais alteradas. Estes valores foram considerados congruentes com os
resultados obtidos nas campanhas de prospeção anteriores.

4.3.2 - Ensaios de laboratório

Foram executados diversos ensaios de laboratório, consoante as formações apresentavam características


mais aproximadas de solos compactos ou rochas brandas. Foram também analisados os valores obtidos da
campanha de prospeção executada em 1982, que incluía a colheita de amostras indeformadas para a
realização de ensaios de identificação e para determinação dos parâmetros de resistência ao corte.

Análises granulométricas

Por ser considerado um fator importante na instabilização das encostas, a componente argilosa foi estudada
com especial pormenor. As análises granulométricas foram realizadas essencialmente sobre as formações
margosas e apresentam uma percentagem de elementos de dimensão inferior a 2 mm entre 66 e 99%.
Das análises sedimentométricas executadas observou-se que a percentagem de argila variava entre 9 % e
21 %, com alguns valores mais elevados de 30 e 43 %. As curvas de distribuição granulométrica referentes
à campanha de 1982 demonstram que a percentagem de argila se verifica maioritariamente entre 10 e
22 %, no entanto existe uma percentagem com algum significado com percentagens muito superiores
entre 28 e 48%.

Na Figura 4 apresentam-se as curvas granulométricas dos vários ensaios realizados. Os resultados a azul
são representativos da campanha de 2017 e os a laranja da campanha de 1982.

Atividade das argilas

234
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O grau de atividade das argilas estimou-se preliminarmente a partir do parâmetro (A), que permite inferir
a composição da fração argilosa, caracterizando a importância dessa composição no comportamento do
material. Para valores de (A) variáveis entre 0,75 e 1,25 a argila é considerada com atividade normal,
menores que 0,75 a argila é considerada pouco ativa e acima de 1,25 a argila é definida como muito ativa
(Figura 6).

Expansibilidade

A grande maioria dos resultados obtidos no ensaio de Atterberg sobre um universo de 56 amostras,
representou à partida, argilas com um baixo potencial expansivo, excetuando duas amostras, uma delas
com um Índice de Plasticidade (IP) de 28 % e uma outra com um valor de IP de 44 %, com valores de
Limite de Liquidez de 45 % e 61 %, respetivamente (Figura 5).

Dada a natureza argilosa das formações margosas considerou-se importante avaliar o seu carácter
expansivo, com consequências ao nível da descompressão do terreno. Assim sendo, foram realizados
ensaios de laboratório, de forma a se poder avaliar o fenómeno.

No que respeita aos ensaios de expansibilidade, estes avaliam a suscetibilidade do comportamento dos
materiais argilosos, como das margas, à presença de água, calculando a sua variação de volume quando
este tipo de material absorve água por capilaridade, através de uma placa porosa (Especificação LNEC
E200-1967).

Figura 4 – Análises granulométricas dos vários ensaios realizados em 2017 (azuis) e em 1982 (laranja)

Figura 5 – Gráfico de distribuição dos resultados dos índices de plasticidade / limites de plasticidade.

A = IP / % argila (< 0,002 mm)


Figura 6 – Gráfico de distribuição dos resultados da atividade das argilas.

Os resultados obtidos nos ensaios realizados evidenciam alguns valores de expansibilidade com expressão,
uma vez que o resultado mais alto representa um aumento de 1/3 do volume da amostra. Os valores
obtidos variaram entre 18 e 35 %, indiciando a existência de potencial de expansibilidade, em particular,
na amostra recolhida na sondagem S1, a cerca dos 12 m de profundidade.

Na perspetiva de caracterizar qualitativamente a presença de diferentes tipos de argila nas margas, nas
amostras que apresentavam valores mais elevados de percentagem de argila, assim como de valores de
IP, para além dos ensaios de expansibilidade, foram também realizados ensaios de análise mineralógica
por difratometria de raio-x. No Quadro 1 encontra-se a comparação entre os resultados obtidos nos ensaios
de expansibilidade e os limites de Atterberg.

Os difratogramas evidenciam a presença vestigial de esmectites/montmorilonite (Sc - minerais de elevada


variação volumétrica) na amostra com expansibilidade de 18 % (LNEC, E200-1967) e fraca presença nas
restantes amostras ensaiadas (Quadro 1).

235
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Em conclusão destaca-se que em geral, as margas possuem uma componente argilosa considerada como
estável, exceto pontualmente onde os seus minerais constituintes, apesar de terem fraca presença,
apresentam uma elevada variação volumétrica, sendo a mesma suficiente para originar um comportamento
de expansibilidade importante.

Quadro 1 – Comparação entre os resultados obtidos nos ensaios de expansibilidade e os limites de Atterberg (2017).
Resultados obtidos na análise por difratometria de raios
Expansibilidade Potencial expansivo
Prof. Análise por difratometria
(ensaio LNEC IP LL (U.S. Department of
(m) de raios x
E200-1967) the Army)
Presença vestigial de
6,10 m – 6,30 m
18,01 % 28 % 45 % Médio esmectites/montmorilonite
(S2)
(Sc)
Fraca proporção de
12,00 m – 12,33 m
35,18 % 44 % 61 % Alto esmectites/montmorilonite
(S1)
(Sc)
Fraca proporção de
3,20 m – 3,55 m
18,53 % 11 % 32 % Baixo esmectites/montmorilonite
(S3)
(Sc)

Ensaios para determinação da pressão de expansão

Foram realizados ensaios de determinação da pressão de expansão, associada à expansibilidade das


margas, utilizando o equipamento do ensaio edométrico.

Partindo de uma condição inicial de carga de 8,83 N e uma tensão de 3,53 kPa, a menor possível, o provete,
já preparado, foi saturado e deixado em repouso cerca de 5 dias, tendo-se registando as leituras de
assentamentos/empolamentos obtidas pelo defletómetro. No caso das três amostras ensaiadas estes
valores não apresentaram diferenças significativas dos valores, relativos ao estado inicial, considerando-se
que as amostras não apresentam expansão ou expansão sem significado, tendo-se assim dado o ensaio
por terminado.

Quadro 2 – Propriedades das amostras e leituras obtidas no ensaio de determinação da pressão de expansão
Prof. % de % de IP LL Atividade Class. Class. Leitura Leitura Empolamento.
(Sond.) finos argila (%) (%) (A) Unificada AASHTO inicial final (cm)
1,5 m –
0,6 (pouco
2,0 m 84,4 14,0 8 25 CL A-6 (10) 407 407,2 -0,0002*
ativa)
(S2)
2,7 m –
0,7 (pouco
3,3 m 79,7 13,0 9 23 CL A-4 (8) 481 466 0,015
ativa)
(S2)
5,5 m – 0,9
5,9 m 78,7 15,5 14 26 (atividade CL A-6 (10) 320 320 0
(S2) normal)
Nota: * Este valor negativo corresponde ao erro do equipamento.

Estes resultados são concordantes com as propriedades das amostras, representativas da caracterização
global das margas, reforçando o conceito de que as argilas mais expansivas ocorrem apenas pontualmente.

Em complemento aos ensaios de determinação da pressão de expansão foram realizados ensaios


edométricos sobre as amostras recolhidas.

Ensaios triaxiais

De forma a melhor quantificar as propriedades mecânicas das margas, em particular a resistência ao corte
e avaliação do comportamento ao nível da tensão-deformação, foram realizados um conjunto de ensaios
triaxiais CU, com medição de tensões neutras.

Foram analisados todos os dados obtidos nas várias campanhas realizadas, tendo sido efetuados vários
tipos de ensaios triaxiais: consolidados drenados, não consolidados não drenados e consolidados não
drenados com medição das pressões neutras. Em termos de tensões efetivas, os resultados obtidos
encontram-se resumidos no Quadro 3.

236
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Foi também calculada a resistência não drenada (Cu), em estado de deformação plana (compressão), cujo
valor obtido foi de 189 kPa, recorrendo-se à expressão de Mineiro (1978).

Para a amostra colhida na sondagem S1 aos 13,4 m -13,9 m de profundidade, o valor do módulo de
deformabilidade (E) calculado foi de 17 MPa e o resultado da resistência não drenada, em estado de
deformação plana (compressão) de 120 kPa.

Quadro 3 – Intervalo de valores e valores médios obtidos dos parâmetros de resistência ao corte, em termos de
tensões efetivas

Parâmetros de resistência ao corte

Intervalo de valores Valores médios

c’ (kPa) ’ (º) c’ (kPa) ’ (º)

0 32
37 25
60 20

Resistência à compressão uniaxial

De forma a caracterizar a resistência dos materiais rochosos foram realizados ensaios de resistência à
compressão uniaxial. Através dos resultados obtidos verificou-se que os conglomerados apresentavam os
valores mais elevados de resistência entre 11,7 MPa a 16,5 MPa. Os valores obtidos para os calcarenitos
variaram entre 4,8 MPa a 7,2 MPa. Conforme seria expectável, as margas apresentaram os valores mais
baixos de resistência entre 0,4 MPa e 3,6 MPa. Estes últimos resultados indiciam valores de resistência não
drenada, Cu, de 200 kPa e 1800 kPa.

Deslizamento de diaclases

Nos ensaios de deslizamento de diáclases, realizados durante a campanha de 1982, obtiveram-se valores
de 37º e 38º para o ângulo de atrito das descontinuidades. Possivelmente, esta ordem de grandeza advém
da rugosidade resultante da presença de clastos de rocha dura e às baixas tensões normais aplicadas.

Análises de água

As análises de água para determinação da agressividade ao betão foram realizadas sobre uma amostra de
água colhida no interior do inclinómetro S3A CR aos 12 m de profundidade. O tipo de ensaio teve por base
o prescrito na norma NP EN 206-1. Por se tratar de um ambiente próximo do mar foi também ensaiado o
teor de cloretos.

Em geral, os valores obtidos indiciaram um meio pouco agressivo ou de baixa agressividade.

5- CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS DO MACIÇO DE FUNDAÇÃO DO FORTE

O forte foi edificado maioritariamente sobre as formações caracterizadas por conglomerados e grés, que,
por sua vez se encontram intercalados por margas, em estrutura monoclinal, com cerca de 65-70º de
inclinação para o SE.

As margas podem ser classificadas como rochas brandas evolutivas, que se alteram rapidamente na
presença de água, e que apresentam na sua constituição alguns minerais argilosos com algum potencial
expansivo fenómeno, que muito provavelmente, potenciou um agravamento do estado de alteração do
maciço ao longo dos anos, podendo ter induzido a deformabilidade da encosta, com as consequências
visíveis de abertura de fendas nas muralhas do forte.

Outro aspeto importante de mencionar diz respeito à existência de vazios. Para além dos dois vazios
detetados na sondagem S2 e no poço P6 (ambos da campanha de prospeção de 2017), foi ainda detetada,
durante o reconhecimento de campo, a existência de dois vazios à superfície, o maior com cerca de 1 m
de diâmetro e 5 m a 6 m de comprimento (Figura 7). Em profundidade, foram encontrados, na sondagem
S2, dos 14,3 m aos 16,0 m e dos 21,6 m aos 22,6 m. O vazio do poço P6 apresentava cerca de 30 cm de
diâmetro, localizando-se aproximadamente a 4 m de profundidade (base do poço).

Na encosta virada para o Sul, mais ingreme que os outros flancos, verifica-se também a existência de
fenómenos de reptação das camadas mais superficiais evidenciados pela inclinação geral das árvores
(Figura 8). Esta deformação, dá-se essencialmente nos materiais mais brandos que apresentam um

237
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

movimento diferenciado das camadas mais rijas. Este fator, conjugado com a inclinação das camadas
poderá ter dado origem à abertura de fendas, que função da percolação de água podem evoluir para os
vazios mais superficiais.

Em termos de níveis de água e tendo presente a cota do forte relativamente à cota da praia, constata-se
que o maciço não se encontra saturado, não apresentando grandes variações nos níveis de água registados
nos piezómetros.

Figura 7 – Vazio junto à sondagem S1, com cerca de 1 m de diâmetro e profundidade mínima de 5 m (à esquerda).
Figura 8 – Árvore inclinada evidenciando fenómeno de reptação (à direita).

5.1 - Métodos construtivos associados à fundação das muralhas

Após a conclusão dos trabalhos de prospeção foi possível inferir quais os métodos construtivos que muito
provavelmente se aplicavam na altura da construção do forte.

Devido à heterogeneidade do maciço, era escavada uma vala até se encontrar um terreno relativamente
rijo, neste caso, maioritariamente, conglomerados, que poderiam estar à superfície sendo a muralha
construída através da utilização de argamassa e blocos de pedra, ligados diretamente ao maciço e, por
vezes, incorporando-os na própria muralha (Figura 9 e Figura 10).

Figura 9 – Ligação direta (através da argamassa) entre o maciço conglomerático e a fundação da muralha (à esquerda).
Figura 10 - Muralha na zona interior do forte construída à volta do maciço conglomerático (à direita)

Quando não era possível detetar um maciço mais compacto, enchia-se a vala com blocos de pedra com
dimensões variáveis entre 0,1 m e 0,5 m de lado, de forma a criar uma base de fundação mais consistente
à posterior construção do forte (Figura 11). No caminho de ronda foi possível observar que a muralha foi
construída, recorrendo a uma escavação prévia, tendo-se preenchido à posteriori o local, com material de
aterro até à cota desejada.

238
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Muralha

Blocos
menores

Blocos maiores
Fundação da muralha
Maciço
margoso

Figura 11– Poço P5, onde se observa a vala de enchimento quando na presença de margas.

6- MONITORIZAÇÃO E INSTABILIDADE DA ENCOSTA

Conforme mencionado tem sido possível acompanhar a evolução do comportamento da encosta do forte
de São Filipe desde há muitos anos atrás. O sistema de observação instalado permitiu ao LNEC efetuar
esse acompanhamento, apesar que uma grande parte desses dispositivos foram ficando desativados ao
longo do tempo. Até à presente data, aproximadamente, 65% de todos os dispositivos instalados
encontram-se inoperacionais.

6.1 - Deslocamentos horizontais: Inclinómetros

Os deslocamentos horizontais máximos acumulados dos inclinómetros encontram-se descritos no Quadro


4.

Quadro 4 – Deslocamentos horizontais acumulados em distintas fases. Medições nos inclinómetros.


Deslocamento total acumulado em distintas fases
Deslocamento total
Inclinómetro (mm)
acumulado (mm)
1979 a 1984 1987 a 2003 2004 a 2016
S1B PI6 - 23,10 23,10
S2B PI6 - 20,20 20,20
S1A CR 16,60 64,65 31,50 112,75
S2 CR 13,63 27,44 19,10 60,17
S3A CR 18,04 17,04 11,20 46,28
S4 CR - 17,50 8,90 26,40
S5 EC - 19,10 5,90 25,00

De notar que o valor do deslocamento total acumulado entre 1979 e 2016, muito provavelmente é superior
aos valores indicados no quadro anterior, dado que as leituras foram descontinuadas em várias
oportunidades.

Os resultados obtidos e as evidências observadas, indiciam um movimento de destacamento do baluarte


Sul do forte, no sentido Sudeste. Através dos perfis transversais de alguns dos inclinómetros, constata-se
que devido ao tipo de distorção registada, em profundidades distintas, muito provavelmente a zona de
intervenção pode ser atravessada por várias superfícies potenciais de deslizamento. Na Figura 12 pode
visualizar-se um esquema, em planta, com a orientação do movimento associado à instabilidade.

6.2 - Tração nas ancoragens

Duas das ancoragens definitivas da solução de contenção da escarpa Sudeste executadas em 1986
(ancoragens A7 e A15) foram sujeitas a ensaios de verificação da tração instalada no ano de 2003, pois as
medições realizadas nas células de carga indicavam perdas de tração elevadas (mais de 78 % na A7 e
superiores a 60 % na A15). As causas dessa perda de carga poderiam estar associadas aos seguintes
fatores:

 Deslocamentos ao longo da ancoragem devidos às redistribuições de tensões e às diferentes


condições de drenagem nas duas épocas do ensaio

239
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

 Deslocamentos por compressão, em particular na zona ativa, consequência da fracturação normal


ao plano de estratificação das camadas

Na sequência destes resultados foram realizados ensaios de receção, detalhado na A7 e simplificado na


A15, onde se pode concluir que as ancoragens mantinham características mecânicas satisfatórias. Face aos
resultados obtidos estas ancoragens foram colocadas em serviço, com uma tração idêntica à instalada em
1986.

Figura 12 – Esquema (em planta) da amplitude/orientação do movimento, em profundidade, associado à instabilidade

7- ESTADO ACTUAL DO FORTE - FENDILHAÇÃO

Atualmente, o forte apresenta um vasto conjunto de fendas dispersas ao longo das suas muralhas, incluindo
fundações e pátios.

Em 1979, as fendas cingiam-se apenas à sua zona Sul. No entanto, em 2004, observou-se a existência de
fendilhação dispersa por toda a estrutura, mas com particular incidência na zona Sul e com maior
severidade a Sudeste. Na data anterior foi ainda possível observar a existência de fendas recentes
tendencialmente verticais, com maior gravidade nos muros e muralhas correspondentes ao baluarte Sul.
Em 2017, o cenário é semelhante, ou seja detetou-se o aparecimento de fissuras adicionais, em particular,
na muralha do forte localizada a Sudeste.

Desde 1979, muitas das fendas inicialmente fechadas entretanto reabriram, observando-se em 2004,
aberturas superiores a 10 mm nas muralhas do forte, registando-se pontualmente valores máximos de 500
mm na muralha Poente. As fendas dos pátios apresentavam aberturas de cerca de 20 mm / 30 mm.
Atualmente os fissurómetros e testemunhos encontram-se, em geral, muito deteriorados ou destruídos,
permitiram ao longo do tempo constatar que em cerca de 4/5 anos, abriram-se fendas nas muralhas do
caminho de ronda com movimentos próximos dos 4 mm, sendo que na zona dos pátios os valores máximos
são de cerca de 8 mm. As fendas dos pátios do forte correspondem, em geral, às fendas das muralhas,
constituindo muitas vezes um prolongamento das mesmas. Todo o movimento da encosta e consequente
instabilidade, induziu a formação de fendas ao nível das galerias subterrâneas do forte.

8- MODELO DE INSTABILIDADE

Face ao conhecimento disponível relativo aos movimentos da encosta ocorridos desde 1979, às soluções
de estabilização entretanto executadas e ao estado de degradação das muralhas do forte, com o intuito de
avaliar os parâmetros de resistência ao corte, de forma conservativa, considerou-se a rotura ao nível da
estabilidade global da encosta como eminente ou seja com fator de segurança unitário. Assim sendo, nas
secções de cálculo consideradas como representativas da globalidade da encosta – P2A, P4 e P5 –
definiram-se potenciais superfícies de deslizamento da encosta, tendo por base os seguintes fatores:

 Distorções mais significativas obtidas a várias profundidades nas leituras efetuadas aos
inclinómetros

 Fendas existentes ao nível dos pátios do forte e das muralhas

 Direção da estratificação

240
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

 Localização dos vazios detetados

Face ao exposto, na Figura 13, Figura 14 e Figura 15 encontram-se representadas as hipotéticas superfícies
de deslizamento consideradas nos modelos de cálculo.

Figura 13 – Perfil de cálculo representativo - P2A. Figura 14 – Perfil de cálculo representativo – P4.

Figura 15 – Perfil de cálculo representativo – P5 (a Sul)

Tendo presente a estratificação do meio e a dificuldade em materializar a sua representação,


simplificadamente, nos modelos de cálculo o maciço considerou-se homogéneo. As potenciais superfícies
de deslizamento foram modeladas recorrendo a uma camada de 0,5 m de espessura. Os cálculos de
estabilidade global associados foram efetuados recorrendo ao método de equilíbrio limite, induzindo a
rotura pelas superfícies de instabilidade identificadas através do método de elementos finitos por redução
progressiva dos parâmetros de resistência.

Os pressupostos anteriores permitiram, através da realização de retroanálises, a atribuição de valores aos


parâmetros de resistência ao corte dos materiais associados aos modelos (para um fator de segurança
unitário). No Quadro 5 apresentam-se os valores obtidos.

Quadro 5 – Parâmetros de resistência ao corte obtidos para os materiais através das retroanálises

Parâmetros de P2A P5
Material resistência ao
Estabilidade Elementos Estabilidade Elementos
corte
global finitos global finitos
Meio c’ (kPa) 50 50 30 30
homogéneo ’ (º) 38 38 32 32
c’ (kPa) 10 25 10 10

241
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Parâmetros de P2A P5
Material resistência ao
Estabilidade Elementos Estabilidade Elementos
corte
global finitos global finitos
Camada de
’ (º) 20 32 20 20
deslizamento

Verificou-se que os parâmetros de resistência apresentavam valores mais elevados na seção P2A, muito
provavelmente devido à maior ocorrência de formações conglomeráticas, em coincidência com a inclinação
mais acentuada da encosta.

A análise dos ensaios laboratoriais realizados, e no que respeita às formações margosas de baixas
características de resistência, a coesão efetiva e o ângulo de atrito efetivo apresentam uma variação de,
respetivamente, 14 kPa (marga de maior componente siltosa) e 58 kPa (marga argilosa) e de 32º e 19º.
Confrontando os valores anteriores com os obtidos para a virtual camada de deslizamento, de 10 kPa e
20º, considerou-se que o modelo de retroanálise em grande escala, se aproximou razoavelmente aos
mínimos obtidos através dos ensaios. No que respeita ao módulo de deformabilidade, o mesmo foi
determinado recorrendo aos valores das tensões-deformações obtidos nos ensaios triaxiais de 2017, sendo
a ordem de grandeza nas duas amostras ensaiadas relativamente próxima.

Assim sendo, face ao exposto, de forma conservativa considerou-se nos modelos de cálculo associados à
verificação de segurança os parâmetros mencionados no Quadro 6.

Quadro 6 – Parâmetros considerados para os materiais (valor caraterístico), associados aos modelos de cálculo
Parâmetros
Material
Perfis P2A P4 e P5
c’ (kPa) 50 30
’ (º) 38 32
Meio homogéneo
E’ (MPa) 150 60
 (kN/m3) 22
c’ (kPa) 10
’ (º) 20
Camada de
Cu (kPa) 120
deslizamento
E’ (MPa) 15
 (kN/m3) 21

9- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dada a importância do património histórico construído e a constante atenção das entidades responsáveis,
a CMS, como representante desse grupo, promoveu o procedimento necessário para a realização da
estabilização da encosta do Forte de Setúbal.

A constante e perseverante observação do comportamento da encosta e da estrutura do forte, assegurada


pelo LNEC durante os últimos 40 anos permitiu contar com um registo de monitorização a grande escala
temporal. Os estudos geológico-geotécnicos realizados na presente fase do projeto integraram o conjunto
de investigações realizadas também nesse período.

Toda essa informação possibilitou a elaboração de um modelo de comportamento geológico-estrutural do


conjunto, que permitiu a elaboração de um projeto de execução de estabilização da encosta e das fundações
do forte que permitiu à CMS lançar o concurso da empreitada de construção que se iniciou muito
recentemente.

10 - AGRADECIMENTOS

À Camara Municipal de Setúbal pela autorização concedida na publicação deste artigo, assim como em todo
o apoio prestado à realização dos trabalhos de prospeção e topografia.

Ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, por todo o apoio prestado durante a elaboração dos estudos,
pela disponibilidade de diálogo e de informação e ainda pela revisão cuidada do projeto.

242
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

REFERÊNCIAS

COBA, (2017) - INTERVENÇÃO DE NATUREZA ESTRUTURAL PARA EVITAR DERROCADAS NA ENCOSTA DO FORTE DE SÃO FILIPE EM SETÚBAL
-Projeto de Execução”, Realizado para a Câmara Municipal de Setúbal (não publicado).

LNEC (2016) - Forte de S. Filipe, em Setúbal. Procedimento PCO/202/AD/S/16 – Monitorização no sistema instalado.
Atualização do relatório de 2012 (não publicado).

LNEC, Forte de S. Filipe, em Setúbal. Procedimento PCO/202/AD/S/16 – Serviços de monitorização no sistema de


observação instalado no Forte de S. Filipe. Atualização do relatório de 2012. Nota Técnica (não publicado).

Mineiro, A.J.C. (1978) - Mecânica dos Solos e Fundações. Universidade Nova de Lisboa.

243
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

INFLUÊNCIA DA CONDIÇÃO NÃO SATURADA NA SEGURANÇA DE UM MURO DE


CONTENÇÃO

INFLUENCE OF UNSATURATED SOIL CONDITION ON THE SAFETY OF


RETAINING WALLS

Nardelli, Andrei; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, andrei.nardelli@usp.br


Futai, Marcos Massao; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO

A interface solo-sólido possui grande relevância no comportamento de estruturas, como fundações e


contenções. Quando o solo em contato com a estrutura está no estado não saturado, a resistência desta
interface é alterada. Desta forma, realizou-se uma análise analítica do empuxo atuante e da resistência
ao deslizamento de uma contenção hipotética a fim de avaliar o impacto da coesão aparente – presente
nos solos não saturados - no fator de segurança à translação e ao tombamento. Para determinar a
resistência ao deslizamento da interface solo-concreto na base da contenção, três metodologias distintas
foram empregadas. O método convencional, que não considera a sucção e adota uma redução nos
parâmetros de resistência do solo, forneceu um coeficiente de segurança mais conservador. Os métodos
que se embasaram em ensaios de cisalhamento direto não saturado com planos de ruptura no solo ou na
interface resultaram em fatores de segurança superiores. Empregando a Teoria de Rankine, pôde-se
perceber o grande impacto do aumento da sucção na redução do empuxo atuante na contenção. Por fim,
foi possível concluir que a coesão aparente colabora significantemente para o aumento do fator de
segurança à translação e ao tombamento da contenção uma vez que reduz o empuxo atuante e aumenta
a resistência ao deslizamento na base. Apesar do aumento da resistência ao cisalhamento sob a base da
contenção, efeito do aumento da sucção é mais significativo no aumento do coeficiente de segurança
através da redução do empuxo atuante. Por outro lado, a infiltração de água também pode gerar a perda
de resistência e aumento do expuxo atuante. Por isso, cortes sem estruturas de contenção realizados em
estações secas podem ter problemas em estações chuvosas. Assim, é necessário conhecer o perfil de
sucção ao longo do ano e definir um valor mínimo a fim de utilizar a metodologia proposta.

ABSTRACT

Soil-structure interaction has great relevance in the stability and service of structures, such as
foundations and retaining walls. If the soil adjacent to the structure is on the unsaturated state, the
interface behavior and strength is modified. Thus, an analytical analysis of the earth pressure and slide
resistance of a fictitious retaining wall was conducted in order to evaluate the influence of matrix suction
on the safety factor. Interface shear strength was determined through three distinct methodologies. The
conventional method, by disregarding matrix suction and applying reductions factors in soil resistance
parameters, gave a more conservative result. Methods based on direct shear tests on unsaturated
interfaces resulted in higher safety factors. Rankine theory’s was used to determine earth pressure acting
on the retaining wall. It was noticed the decrease of earth pressure by increasing matrix suction. Finally,
it was concluded that apparent cohesion contributes significantly to the increase of the safety factor
regarding sliding and overturning due to the increase on interface strength, and principally, to the
decrease of earth pressure. On the other hand, water infiltration can cause loss of interface strength and
increase of earth pressure. Therefore, performing excavations and cuts without retaining walls during dry
seasons may have problems in rainy seasons. It is necessary to know the suction profile throughout the
seasons in order define minimum suction value in order to use the proposed methodology.

1- INTRODUÇÃO

Estruturas, como fundações e contenções, transmitem esforços ao solo através de uma interface de
contato. Esta interface possui grande relevância na segurança e serviço dessas estruturas. Atualmente,
diversos estudos são realizados a fim de melhor compreender a influência da coesão aparente - presente
nos solos não saturados - na relação tensão-deformação desta interface (Hamid e Miller, 2009; Hossain e
Yin, 2014; Borana et al., 2015; Borana et al., 2016). Hamid e Miller (2009) apontam que esta interface,
quando está em contato com o solo não saturado, pode ser referida como “interface não saturada”.

Em algumas regiões do Brasil, onde a precipitação varia significantemente entre as estações do ano, a
variação do lençol freático é um fator de relevância. Desta forma, o grau de saturação do solo é alterado
no decorrer do ano e, consequentemente, o comportamento da relação tensão-deformação na interface
solo-estrutura é modificada. Liang et al. (2016), por exemplo, observaram a redução do ângulo de atrito
na interface conforme o aumento do teor de umidade do solo. Borana et al. (2015) e Hossain e Yin (2014)

244
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

salientam que o estudo da interface não saturada é de grande importância, contudo o número de estudos
que tratam sobre o assunto ainda é exíguo.

Nas contenções, que possuem tanto a face lateral quanto a base em contato com solo, deve-se
considerar a possibilidade da interface estar em contato com o solo saturado ou não saturado, além do
surgimento de pressão de água nos poros positiva. Neste estudo, será realizada uma análise analítica do
empuxo atuante e da resistência à translação de uma contenção hipotética a fim de avaliar o impacto da
variação da sucção no fator de segurança.

1.1 - Resistência ao cisalhamento de solos não saturados

De maneira simplificada, pode-se considerar uma variação linear da resistência ao cisalhamento do solo
conforme a sucção aplicada. Fredlund et al. (1978) propõem empregar a envoltória de Mohr-Coulomb
modificada para determina a resistência ao cisalhamento (τ) dos solos não saturados (Equação 1).

𝜏 = 𝑐 ′ + (𝜎𝑛 − 𝑢𝑎 ) tan 𝜙′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) tan 𝜙 𝑏 [1]

Onde: c′ é a coesão efetiva na condição saturada; σn é a tensão normal; ua é a pressão do ar; uw é a


poro-pressão; ϕ′ é o ângulo de atrito efetivo; e ϕb é ângulo que indica a taxa de incremento da
resistência ao cisalhamento em relação à sucção.

No estado saturado, ϕb é aproximadamente igual a ϕ’. A partir do momento em que começa a entrar ar no
solo, ϕb tende a diminuir conforme o aumento da sucção. Devido à influência da sucção na tensão
intergranular do solo, diversos estudos apontam a variação não linear da resistência ao cisalhamento com
a sucção (Vanapalli et al., 1996; Hamid e Miller, 2009; Cardoso Jr. e Futai, 2005; Zambrana e Futai,
2014).

Vanapalli et al. (1996) propõem utilizar uma envoltória de resistência não linear (Equação 2) a fim de
considerar a variação da área de contato entre as fases do solo. Os valores de umidade volumétrica
podem ser obtidos por meio da curva de rentenção do solo.
𝜃 − 𝜃𝑟 𝑘
𝜏 = 𝑐 ′ + (𝜎𝑛 − 𝑢𝑎 ) tan 𝜙′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) ( ) tan 𝜙′ [2]
𝜃𝑠 − 𝜃𝑟

Onde: θ é a umidade volumétrica; θr é a umidade volumétrica na condição residual; θ s é a umidade


volumétrica na condição saturada.

1.2 - Resistência ao cisalhamento de interfaces não saturadas

Para a resistência ao cisalhamento de interfaces não saturadas, Hamid e Miller (2009) propõem empregar
diretamente as equações propostas por Fredlund et al. (1978) e Vanapalli et al. (1996). Contudo,
substitui-se o ângulo de atrito do solo (ϕ’) pelo ângulo de atrito na interface (δ’), conforme apresentado
nas Equações 3 e 4, além de ϕb por δb. Resultados de ensaios de cisalhamento direto em interfaces não
saturadas permitiram concluir que estes modelos de envoltórias de resistência são satisfatórios.

𝜏 = 𝑐 ′ + (𝜎𝑛 − 𝑢𝑎 ) tan 𝛿′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) tan 𝛿 𝑏 [3]


𝜃 − 𝜃𝑟 𝑘
𝜏 = 𝑐 ′ + (𝜎𝑛 − 𝑢𝑎 ) tan 𝛿′ + (𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ) ( ) tan 𝛿′ [4]
𝜃𝑠 − 𝜃𝑟

2- MATERIAIS E MÉTODO

Neste trabalho buscou-se avaliar a influência da interface não saturada na translação de muros de
contenção, além de analisar o efeito do empuxo na condição não saturada na segurança em relação ao
tombamento. Foi selecionado um caso hipotético em que se atende o coeficiente de segurança para a
situação de tombamento – maior que 2,0 -, porém, o mesmo não ocorre para o deslizamento –
coeficiente de segurança menor que 1,5. As verificações de capacidade de carga da fundação e
escorregamento rotacional abaixo da contenção não foram objeto do presente estudo, nem a análise do
elemento estrutural. Optou-se por embasar o presente estudo em um muro de flexão em formato de “T”
invertido de concreto armado (Figura 1) aplicado em um talude com inclinação de 20º.

2.1 - Perfil de sucção

Conforme pode ser visualizado na Figura 1, o nível do lençol freático pode variar de acordo com o clima e
regime de precipitações, além das características do solo. Para gerar o perfil de sucção, é necessário
considerar o cenário de um fluxo transiente pelo Método de Elementos Finitos por um determinado
período. Da mesma forma, por meio de instrumentos específicos, como tensiômetros ou níveis
piezométricos, podem ser obtidas estas informações em campo.

245
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 1 – Representação do muro de contenção

Desta maneira, visto que o objetivo do presente trabalho não é determinar as variações do perfil de
sucção, considerar-se-ão diretamente sucções ao nível da base da contenção iguais a: 0 kPa; 10 kPa; 20
kPa; e 50 kPa. Selecionaram-se estes valores a fim de que os dois primeiros pontos estejam com o solo
ainda saturado, e os dois últimos no estado não saturado.

Da mesma forma, realizou-se uma análise da influência da condição não saturada no empuxo atuante
sobre a contenção. Para isso, consideraram-se duas hipóteses do perfil de sucção adjacente a face lateral
da contenção: sucção constante com a profundidade; sucção variando conforme uma parábola, sendo
zero na superfície do terreno e de mesmo valor na base e na metade da altura da contenção. Observa-se
que não foi considerada a possibilidade de ocorrer uma pressão neutra positiva atuando sobre a
contenção.

2.2 - Empuxo de terra

A fim de determinar a força de empuxo atuando sobre o muro, adotou-se o método proposto pela Teoria
de Rankine. Além disso, considerou-se que o muro de contenção pode sofrer deslocamentos e, assim,
será determinado o empuxo ativo do solo. Por meio das Equações 5 a 7, serão determinados as forças
solicitantes horizontal (Fsh) e vertical (Fsv), e o momento de tombamento (Ms), respectivamente.
𝛾 𝐷² cos 𝛼− √cos ²𝛼− cos ²𝜙
𝐹𝑠ℎ = cos ²𝛼 [5]
2 cos 𝛼+ √cos ²𝛼− cos ²𝜙
𝛾 𝐷² cos 𝛼− √cos ²𝛼− cos ²𝜙
𝐹𝑠𝑣 = sin 𝛼 cos 𝛼 [6]
2 cos 𝛼+ √cos ²𝛼− cos ²𝜙
𝐷
𝑀𝑠 = 𝐹𝑠ℎ [7]
3

Onde: γ é a densidade do solo; D é a altura da contenção; α é a inclinação do talude a montante; e ϕ′ é


ângulo de atrito efetivo do solo.

Uma vez que o sistema de drenagem impede a formação de poro-pressão na face lateral do muro, a
sucção presente no solo não saturado tende a diminuir os esforços de empuxo ativo aplicados ao muro.
Desta forma, os coeficientes de segurança ao tombamento e à translação tendem a aumentar. Mazindrani
e Ganjali (1997) apresentaram uma solução análita para a Teoria de Rankine considerando a presença
dos parâmetros de resistência de coesão e ângulo de atrito (Equação 8). Assim, a fim de avaliar a
influência do estado não saturado do solo na pressão de empuxo será considerado que a coesão total do
solo é composta de duas parcelas: coesão efetiva; e coesão aparente.

cos 𝛼
𝑝𝑎 = −𝛾𝑧 cos 𝛼 + {2𝛾𝑧 cos ²𝛼 + 2𝑐 cos 𝜙 sin 𝜙 − √[4 cos ²𝛼 (cos ²𝛼 − cos ²𝛼) 𝛾²𝑧² + 4𝑐² cos ²𝜙 + 8𝑐𝛾𝑧 cos ²𝛼 sin 𝜙 cos 𝜙]}[8]
cos ²𝜙

Onde: pa é a pressão de empuxo; e z é a profundidade considerada.

2.3 - Parâmetros empregados

A fim de realizar a análise proposta neste trabalho, há a necessidade de utilizar dados documentados na
literatura de ensaios em interface de solo não saturado com concreto. Contudo, visto que existe uma
carência de estudos nessa área, empregaram-se os dados expostos no trabalho desenvolvido na
Universidade Politécnica de Hong Kong. Este trabalho é intitulado “Unsaturated soil-cement interface
behaviour in direct shear tests” (Hossain e Yin, 2013 e 2014). Nesse trabalho, realizaram-se ensaios de
cisalhamento direto em interfaces não saturadas com sucção controlada através da técnica de translação

246
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

de eixos. Os resultados dos parâmetros de resistência para a interface não saturada e para o solo serão
apresentados nos itens 2.3.1 e 2.3.2.

2.3.1 - Solo

O solo, típico da região de Hong Kong, se trata de uma areia siltosa proveniente da Decomposição
Completa do Granito (DCG). Este solo possui uma densidade seca e massa específica dos grãos iguais a
1,75 g/cm³ e 2,60 g/cm³, respectivamente. Quando necessário nos cálculos, empregou-se uma
densidade natural do solo igual a 20 kN/m³.

Além disso, quando está saturado, o solo possui um ângulo de atrito efetivo de 30° e uma coesão efetiva
igual à zero. Para a condição não saturada – entrada de ar no solo a partir de 11 kPa de sucção - , a
resistência ao cisalhamento é modificada, como pode ser visualizado na Figura 2. Nesta figura, observa-
se que a tensão de cisalhamento possui um comportamento não linear conforme a sucção aplicada na
amostra. Além disso, para valores de até 100 kPa de sucção, percebe-se que a resistência da interface é
superior que a do solo.
400
Tensão Cisalhante, τ (kPa)

300

200

100

0
0 50 100 150 200 250 300
Sucção, ψ (kPa)

Solo (σn=50kPa) Interface (σn=50kPa)


Solo (σn=100kPa) Interface (σn=100kPa)
Solo (σn=300kPa) Interface (σn=300kPa)

Figura 2 - Comparação entre os resultados dos ensaios para a interface e para o solo em função da sucção (Adaptado
de Hossain e Yin, 2014)

2.3.2 - Interface solo-concreto

A Figura 3 apresenta as envoltórias de resistência para diferentes valores de sucção em função da tensão
normal. Conforme pode ser visualizado nesta figura, o ângulo de atrito efetivo e o intercepto de coesão
aumentam de acordo com a sucção aplicada (Quadro 1). Além disso, ocorre um intercepto de coesão
igual a 16,4 kPa mesmo quando a sucção é igual a zero, tal fato pode ser justificado uma vez que a placa
de concreto foi moldada adjacente a uma camada de solo (CDG) compactado.

247
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

300

Tensão Cisalhante, τ (kPa)


250

200

150

100

50

0
0 50 100 150 200 250 300
Tensão Normal, σn (kPa)

S=0kPa R²=0,9992 S=200kPa R²=0,9989


S=50kPa R²=0,9777 S=300kPa R²=0,9835
S=100kPa R²=0,9971

Figura 3 - Envoltórias de resistência da interface para diferentes valores de sucção (Adaptado de Hossain e Yin, 2014)

Quadro 1 - Valores dos ângulos de atrito conforme a sucção aplicada (Adaptado de Hossain e Yin, 2013)

Sucção (kPa) 0 50 100 200 300


Interface - δ' (°) 31,5 33,2 37,0 37,5 38,1
Interface - δᵝ (°) 31,5 22,9 14,2 10,7 8,0
Solo - φ' (°) 30,0 33,1 37,1 37,6 38,7
Solo - φᵝ (°) 30,0 22,4 19,9 18,8 17,3

2.4 - Resistência ao tombamento e translação

Os cálculos de estabilidade da contenção foram realizados para uma extensão de um metro de contenção.
Em relação à segurança ao tombamento, o momento resistente foi determinado através da Equação 9.

𝑀𝑟𝑒𝑠 = (𝑊 + 𝐹𝑠𝑣 ) 𝑧𝑖 [9]

Onde: W é o peso do muro; Fsv é a força vertical de empuxo; e zi são as distâncias horizontais do ponto
de aplicação de cada força até o ponto de rotação.

A fim de determinar a resistência à translação (Fres), multiplicou-se o comprimento da base (B) pela
resistência ao cisalhamento (τ), conforme apresentado na Equação 10. Foram empregadas três formas
distintas de determinar a resistência ao cisalhamento na base, conforme será detalhado nos próximos
itens.

𝐹𝑟𝑒𝑠 = 𝐵 𝜏 [10]

2.4.1 - Método 1: convencional

O método 1, também denominado como método convencional, emprega o critério de ruptura de Mohr-
Coulomb. Além disso, não considera a influência do grau de saturação do solo, ou seja, a tensão de
cisalhamento mobilizada (τmob) é função da coesão efetiva mobilizada (c’mob) e do ângulo de atrito efetivo
mobilizado (ϕ’mob) (Equação 11).

𝜏𝑟𝑒𝑠 = 𝑐′𝑚𝑜𝑏 + 𝜎𝑛 tan 𝜙′𝑚𝑜𝑏 [11]

Usualmente, estima-se que o valor da coesão mobilizada seja dois terços da coesão efetiva do solo e que
o valor do ângulo de atrito mobilizado seja dois terços do ângulo de atrito efetivo do solo. Desta forma, a
força resistente à translação (FresM1) é determinada conforme apresentado na Equação 12.
2 2
𝐹𝑟𝑒𝑠𝑀1 = 𝐵 𝑐 ′ + (𝑊 + 𝐹𝑠𝑣 ) tan 𝜙′ [11]
3 3

248
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2.4.2 - Método 2: plano de ruptura na interface

O método 2 emprega a envoltória de Mohr-Coulomb modificada a fim de considerar a sucção do solo. Os


dados empregados neste método - δ′ e δb - serão obtidos a partir de correlações realizadas por meio da
Figura 3. Para determinar a tensão de cisalhamento, será utilizada a Equação 3, proposta por Hamid &
Miller (2009), para interfaces não saturadas.

2.4.3 - Método 3: plano de ruptura no solo

Os ensaios de cisalhamento direto realizados por Hossain e Yin (2013; 2014) mediram a resistência de
um plano localizado a 2,0 milímetros de distância da interface. Borana et al. (2015) realizaram um estudo
sobre a relevância desta distância no comportamento da interface não saturada com solo CDG e aço.
Esses autores concluiram que há uma influência na resistência ao cisalhamento da interface devido a
essa distância. Contudo, por mais que os ensaios realizados por Hossain e Yin (2013; 2014) tenham
empregado uma espessura de 2,0 mm, acredita-se que, pela maior rugosidade do concreto em relação
ao aço e pelo baixo valor de sucção aplicada neste trabalho, o plano de ruptura provavelmente ocorrerá
no solo.

A rugosidade elevada de uma superfície transfere o plano de ruptura da interface para o solo adjacente,
conforme uma relação bilinear (Uesugi e Kishida, 1986). Além disso, diversos autores apontam que a o
ângulo de atrito da interface é aproximadamente igual ao ângulo de atrito do solo para uma interface
entre solo e concretro (Potyondy, 1961; Brumund e Leonards, 1973; Frost et al., 2002; Chu and Yin,
2006).

Desta maneira, neste método será considerado que a ruptura ocorrerá no plano do solo, e não na
interface. Para determinar a tensão de cisalhamento, será utilizada a Equação 1, proposta por Fredlund et
al. (1978). Os dados empregados neste método - ϕ′ e ϕb - serão obtidos a partir de correlações realizadas
por meio do Quadro 1.

3- RESULTADOS

Por meio dos dados experimentais apresentados no Quadro 1, realizaram-se as curvas para obtenção dos
ângulos de atrito da interface (δ’) e do solo (ϕ’) conforme a sucção aplicada (Figura 4), além do δb e do ϕb.
Por meio dessas correlações logarítmicas, foram extraídos os valores os desses ângulos de acordo com a
sucção aplicada. Estes valores estão expostos adiante nos Quadros 2 e 3.
40,0

35,0
Ângulo de atrito (°)

30,0

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
0 100 200 300

Sucção (kPa)
δ' (°) δᵝ (°) φ' (°) φᵝ (°)

Figura 4 - Valores dos ângulos de resistência na interface e no solo conforme a sucção (Dados do Quadro 1)

A Figura 1 apresenta a situação estudada. Realizou-se o projeto geotécnico de um muro de contenção


que atendesse o coeficiente de segurança ao tombamento, e que não atendesse a segurança à translação.
Assim, considerou-se a altura da contenção (D) igual a 3,0 m e uma espessura de 30 cm. A base possui
uma distância à esquerda (e) igual a 1,0 m, e à direita (p) igual a 0,4 m, além da espessura de 30 cm,
totalizando 1,7 m.

249
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Por meio das Equações 5 a 7, determinaram-se as forças de empuxo ativo horizontal e vertical - iguais a
44,0 kN e 16,0 kN, repectivamente - , além do momento solicitante igual a 49,4 kN.m. Ressalta-se que
estes valores foram determinados sem considerar o efeito da coesão aparente no empuxo.

A fim de considerar o efeito da coesão aparente, adotaram-se dois perfis de sucção distintos. Por meio da
Equação 8 e dos dados apresentados no Quadro 3, determinaram-se os diagramas de empuxo, conforme
pode ser visualizado na Figura 5.

Com base nas dimensões do muro de contenção, determinaram-se as parcelas resistentes. O peso do
muro é constituído do peso da estrutura de concreto armado, igual a 33,0 kN, e do peso do solo
sobrejacente, igual a 54,2 kN, totalizando 87,2 kN – onde o ponto de aplicação está a uma distância
horizontal de 1,00 metro. Além disso, considerou-se a força de empuxo vertical. Desta forma, o momento
resistente do muro é de 114,2 kN.m, resultando em um coeficiente de segurança em relação ao
tombamento igual a 2,31, desconsiderando-se os efeitos da sucção no empuxo.

A Figura 6 apresenta a redução da força de empuxo em relação ao empuxo inicial conforme a sucção.
Além disso, a Figura 6 mostra o aumento do coeficiente de segurança em relação ao tombamento devido
à redução do empuxo por causa da coesão aparente no solo.

Em relação ao coeficiente de segurança à translação, três metodologias diferentes foram empregadas.


Pelo método 1, ou convencional, foi obtida uma tensão de cisalhamento igual a 22,1 kPa, resultando em
uma força resistente de 37,6 kN. Os resultados, pelos métodos 2 e 3, variam de acordo com a sucção
aplicada e, assim, os Quadros 2 e 3 apresentam os resultados obtidos. Além disso, a Figura 7 expõe, de
forma gráfica, as tensões de cisalhamento resistentes - sob a base da contenção - em função do método
empregado e sucção considerada.
Tensão horizontal (kN/m²)
-30 -20 -10 0 10 20 30
0,00
(a)
0,50
Profundidade (m)

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

Tensão horizontal (kN/m²)

-30 -20 -10 0 10 20 30


0,00
(b)
0,50
Profundidade (m)

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50
S = 0 kPa S = 20 kPa S = 5 kPa

S = 50 kPa S = 10 kPa

Figura 5 - Diagramas de empuxo considerando um perfil de sucção constante (a) e parabólico (b)

250
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

1,0 10,0

Empuxo normalizado, En
0,8 8,0

Fator de segurança, Fs
0,6 6,0

0,4 4,0

0,2 2,0

0,0 0,0
0 10 20 30 40 50
Sucção (kPa)
Sucção Constante [En] Sucção Parabólica [En]
Sucção Constante [Fs] Sucção parabólica [Fs]
Figura 6 - Força de empuxo normalizada versus sucção

Quadro 2 - Resultados obtidos para o Método 2, conforme a sucção aplicada

Sucção (kPa) 0 10 20 50
δ' (°) 31,5 31,5 32,5 34,4
δᵝ (°) 31,5 31,5 27,6 20,9
Tensão Cisalhante τ (kPa) 53,6 59,7 65,5 77,2
Força Resistente (kN) 91,1 101,5 111,4 131,2

Quadro 3 - Resultados obtidos para o Método 3, conforme a sucção aplicada

Sucção (kPa) 0 10 20 50
φ' (°) 30,0 30,0 31,5 34,0
φᵝ (°) 30,0 30,0 26,9 23,5
Tensão Cisalhante τ (kPa) 35,1 40,8 47,4 62,7
Força Resistente (kN) 59,6 69,4 80,5 106,5

90

80
Tensão Cisalhante (kPa)

70

60

50
Método 1
40
Método 2
30 Método 3
20

10

0
0 10 20 30 40 50
Sucção (kPa)
Figura 7 - Resultados das tensões de cisalhamento sob a base da contenção, conforme a sucção considerada.

251
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A partir dos resultados obtidos de forças resistentes ao deslizamento e força horizontal solicitante,
determinaram-se os coeficientes de segurança à translação (Quadro 4). Da mesma forma, na Figura 8,
são apresentados os fatores de segurança à translação. Uma vez que os perfis de sucção adotados
apresentaram resultados similares de empuxo, empregou-se no Quadro 4 e Figura 8 somente o caso de
sucção constante com a profundidade.
Quadro 4 - Fatores de segurança à translação conforme a sucção e método considerado. * considerando o efeito da
sucção no empuxo.

Sucção (kPa) Sucção* (kPa)


Método
0 10 20 50 0 10 20 50
Método 1: Convencional 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 1,83 4,08 >10
Método 2: Interface 2,07 2,31 2,53 2,98 2,07 4,96 >10 >10
Método 3: Solo 1,35 1,58 1,83 2,42 1,35 3,39 8,75 >10

8,00

7,00

6,00
Fator de Segurança

5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Sucção (kPa)
Método 1 Método 1 (*)
Método 2 Método 2 (*)
Método 3 Método 3 (*)

Figura 8 - Fatores de segurança à translação conforme a sucção considerada. (*) considerando o efeito da sucção no
empuxo.

4- CONCLUSÕES

Neste estudo, realizou-se uma análise analítica da segurança à translação e ao tombamento de uma
contenção hipotética, avaliando-se o impacto da variação da sucção e do método empregado na
segurança. Apesar de se tratar de um caso hipotético e das limitações da metodologia utilizada, como na
determinação do perfil de sucção, foi possível realizar as seguintes conclusões.

A presença de um solo não saturado modifica consideravelmente o diagrama de tensões horizontais, bem
como a força de empuxo atuante sob o muro. Mesmo adotando um processo simples, com valores de
sucção de 10 kPa, o coeficiente de segurança em relação ao tombamento foi multiplicado por dois, e com
20 kPa de sucção, este coeficiente foi multiplicado por dez. Para valores de sucção maiores de 50 kPa, o
próprio solo teria resistência suficiente para suportar um corte vertical. Desta forma, há grande
relevância do solo na condição não saturada na segurança e comportamento de estruturas de contenções.
É evidente que a contenção possui grande importância a fim de evitar o surgimento de processos
erosivos e o avanço de frentes de saturação. A fim de evitar a saturação do solo, algumas soluções
específicas podem ser adotadas, como: sistema de barreira capilar, impermeabilização da superfície, ou o
uso de vegetação.

Em relação à resistência à translação, o método 1, ou convencional, forneceu resultados considerados


conservadores uma vez que, ao não ter conhecimento sobre o atrito na interface solo-sólido, subestima-
se a resistência ao cisalhamento a favor da segurança. Os métodos 2 e 3 forneceram fatores de
segurança superiores ao método convencional. Contudo, pelo método 2 – interface – , obteve-se uma

252
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

resistência superior que a do próprio solo e, desta maneira, pode-se esperar que o plano de ruptura
ocorra no solo, e não na interface. Percebe-se que uma superfície com rugosidade elevada, como o caso
de um concreto moldado in situ, condiciona provalvemente a ruptura ao plano solo-solo. Por fim, apesar
do aumento da resistência ao cisalhamento sob a base da contenção, efeito do aumento da sucção é mais
significativo no aumento do coeficiente de segurança através da redução do empuxo atuante.

É notório que as metodologias se basearam em ensaios de laboratório com escala reduzida. Assim, deve-
se considerar o possível efeito de escala. Da mesma forma, a equação proposta por Hamid e Miller (2009)
– adaptada de Fredlund et al. (1978) - para interfaces de concreto demanda de mais estudos científicos a
fim de validar seu emprego.

Por fim, é possível concluir que a coesão aparente colabora para o aumento da segurança à translação e
ao tombamento de contenções uma vez que reduz a força de empuxo atuante sobre o muro e aumenta a
resistência ao deslizamento sob a base. Por outro lado, a infiltração de água também pode gerar a perda
de resistência. Por isso, cortes sem estruturas de contenção realizados em estações secas podem ter
problemas em estações chuvosas. Assim, é necessário conhecer o perfil de sucção ao longo do ano e
definir um valor mínimo a fim de utilizar a metodologia proposta.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro e institucional
(processo nº 2017/07341-9).

REFERÊNCIAS

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Borana, L., Yin, J.-H, Singh, D. N. e Shukla, S. K. (2016) - Interface Behavior from suction-controlled direct shear test
on completely decomposed granitic soil and steel surfaces. International Journal of Geomechanics, vol. 16, 14 p.

Brumund, W. F. e Leonards, G. A. (1973) - Experimental Study of Static And Dynamic Friction Between Soil And Typical
Construction Materials. Journal of testing and Evaluation, vol. 1, pp. 162–165.

Cardoso Jr., C. R. e Futai, M. M. (2005) Simulação do efeito de um fluxo transiente na estabilidade dos taludes. IV
Conferência Brasileira de Estabilidade de Encostas, vol. 1, Salvador, Brasil (CD-ROM).

Chu, L. M. e Yin, J. H. (2006) - Study on soil–cement grout interface shear strength of soil nailing by direct shear box
testing method. Geomechanics and Geoengineering: An International Journal, vol. 1, pp. 259–273.

Frost, J. D., DeJong, J. T. e Recalde, M. (2002) - Shear failure behavior of granular-continuum interfaces. Engineering
Fracture Mechanics, vol. 69, pp. 2029–2048.

Fredlund, D. G., Morgenstern, N. R. e Widger, R. A. (1978) - The shear strenght on unsaturated soil. Canadian
Geotechinical Journal, vol. 15, pp 313-321.

Hamid, T. B. e Miller, G. A. (2009) - Shear strenght of unsaturated soil interfaces. Canadian Geotechinical Journal, vol.
46, pp 595-606.

Hossain, M. A. e Yin, J. H. (2013) - Dilatancy Unsaturated Soil-Cement Interface Behaviour In Direct Shear Tests.
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tests. International Journal of Geomechanics, vol. 15, 10 p.

Liang, Y., Lu, X., Wang, J. e Liu, M. (2016) - Experimental study of shear behaviour of interfaces between crushed
sandstone-mudstone particle mixture and smooth steel plate. Soil Mechanics and Foudation Engineering, vol.
53, pp 158-165.

Mazindrani Z. H. e Ganjali M.H. (1997) - Lateral Earth Pressure Problem Of Cohesive Backfill With Inclined Surface.
Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, vol. 123, pp 110-112.

Potyondy, J. G. (1961) - Skin Friction between Various Soils and Construction Materials. Géotechnique, vol. 11, pp.
339–353.

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253
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Vanapalli, S. K., Freudlund, D. G., Pufahl, D. E. e Clifton, A. G. (1996) - Model for prediction of shear strenght with
respect to soil suction. Canadian Geotechinical Journal, v. 33, pp 379-392.

Zambrana, V. D. e Futai, M. M. (2014) - Análise numérica da influência de chuvas extremas na estabilidade de taludes,
Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Geotécnica, Departamento de
Engenharia Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 297 p.

254
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

INSPEÇÃO VISUAL DE MUROS E TALUDES

VISUAL INSPECTIONS OF WALLS AND SLOPES

Ferreira, Alexandra; ASCENDI, Porto, Portugal, aferreira@ascendi.pt


Neves, Adriana; ASCENDI, Porto, Portugal, aneves@ascendi.pt
Sanches, Sara; ASCENDI, Porto, Portugal, ssanches@ascendi.pt

RESUMO

A atividade de inspeção visual de muros e taludes desenvolve-se durante o período de Operação e


Manutenção duma infraestrutura. Face à premência no cumprimento do Plano de Controlo de Qualidade,
houve necessidade de desenvolver uma metodologia que permitisse dar resposta às obrigações
Contratuais das Concessões e Subconcessões que integram o Grupo ASCENDI. Tendo em consideração o
elevado número de muros e taludes a inspecionar, o desafio foi desenvolver um processo expedito e de
baixo custo que possibilitasse a identificação de patologias/ocorrências e a atribuição de estados de
manutenção e conservação. A inspeção visual divide-se em 3 fases principais: 1) seleção dos taludes a
inspecionar e pré-preenchimento das fichas, 2) trabalho de campo e 3) elaboração de relatório. Esta
atividade revelou-se de extrema importância no período de exploração, ao possibilitar a recolha de
informações de cadastro e o acompanhamento da evolução do estado de manutenção e conservação dos
muros e taludes. Este conhecimento permite à Concessionaria/Subconcessionária a tomada de decisões
preventivas, no que diz respeito à manutenção/conservação das mesmas, otimizando custos e
minimizando/anulando a ocorrência de incidentes com consequências mais graves, contribuindo de forma
muito expressiva para a segurança na circulação. Faz parte do ciclo anual de atividades, sendo o primeiro
contributo nos inputs para o planeamento e orçamentação das atividades de manutenção e conservação
do ano seguinte. Esta metodologia de análise e acompanhamento da condição global dos muros e taludes,
cuja atribuição e cálculo do estado recorre a parâmetros geotécnicos, embora suportada em critérios
objetivos e rigorosos, tem um suporte empírico. Assim, em pareceria com as Universidades do Minho e
Nova de Lisboa, a ASCENDI desenvolveu um método que consiste na avaliação de diferentes fatores
internos e externos ao talude que influenciam a sua condição, e que se traduz na determinação dum
parâmetro numérico - Índice de Qualidade (IQ).

ABSTRACT

The activity of visual inspection of walls and slopes develops during the period of Operation and
Maintenance of an infrastructure. Faced with the urgency to respect the Quality Control Plan, it was
necessary to develop a methodology that would allow us to respond to the Contractual obligations of the
Concessions and Subconcessions that are part of the Ascendi Group. Considering the high number of
walls and slopes to be inspected, the challenge was to develop an expedited and inexpensive process that
would allow the identification of pathologies / occurrences and the assignment of maintenance and
conservation states. The visual inspection is divided into 3 main phases: 1) selection of slopes to inspect
and pre-fill the files, 2) field work and 3) final report. This activity was extremely important during the
exploration period, as it enabled the collection of information on the cadastre and the monitoring of the
evolution of the state of maintenance and conservation of the walls and slopes. This knowledge allows the
Concessionaire/Subconcessionary to make preventive decisions regarding the maintenance / conservation,
optimizing costs and minimizing/canceling the occurrence of incidents with severe consequences,
contributing in a very expressive way to the safety in the circulation. It is part of the annual cycle of
activities, being the first input in the role for the planning and budgeting the maintenance and
conservation activities for the following year. This methodology of analysis and monitoring the global
condition of the walls and slopes, whose attribution and calculation of the state uses geotechnical
parameters, although supported by objective and rigorous criteria, has an empirical support. Thus, in
association with the Minho and Nova de Lisboa Universities, Ascendi developed a method that consists in
the evaluation of different factors internal and external to the slope that influence its condition, and that
is translated in the determination of a numerical parameter - Quality Index (IQ).

1- INTRODUÇÃO

Uma infraestrutura rodoviária tem um ciclo de vida que se inicia no Projeto, materializa-se com a
Construção e perpetua-se na fase de Operação & Manutenção (O&M). Durante esta fase, O&M, há três
pilares chave retratados na Figura 1.

255
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Manutenção

Operação &
Manutenção

Planos de
Observação e Inspeção Visual
Instrumentação

Figura 1 - Pilares durante o período de exploração

Os muros e taludes são elementos estruturais laterais à plataforma, constituindo faixas de proteção e
delimitando fisicamente a infraestrutura.

Anualmente são desenvolvidas atividades que têm como base manter o nível de serviço da infraestrutura,
garantindo a circulação dos utentes com segurança. Estas atividades desenvolvem-se ciclicamente de
acordo com o planeamento anual da forma como está ilustrado na Figura 2.

Desmatação

Limpeza
Órgão de
drenagem

Inspeção
visual

Figura 2 - Atividades anuais

Este artigo centra-se especificamente na inspeção visual de taludes e muros, fulcral durante a fase de
O&M duma infraestrutura rodoviária.

As campanhas de inspeção visual são de extrema importância neste período, permitindo o


acompanhamento da evolução do estado de manutenção e conservação dos muros e taludes,
conhecimento que auxilia na tomada de decisões, no que diz respeito às ações de
manutenção/conservação, otimizando custos e minimizando ou mitigando a ocorrência de incidentes com
consequências mais graves para a infraestrutura, contribuindo de forma muito expressiva para a
segurança na circulação.

2- ENQUADRAMENTO

A inspeção visual de muros e taludes (M&T) enquadra-se no âmbito da monitorização da infraestrutura,


cujo planeamento e periodicidade é elaborado de acordo com o preconizado no Plano de Controlo de
Qualidade (PCQ) implementado no grupo de Concessões e Subconcessões da Ascendi. Esta atividade
surge da necessidade de registar o estado dos muros e taludes, num dado momento, de forma a

256
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

identificar e monitorizar a evolução de patologias. É desenvolvida por inspetores com formação em


Engenharia e Geologia, permitindo recolher informações de cadastro, identificar patologias/ocorrências,
atribuir estados manutenção e conservação e planear ações de manutenção e/ou conservação. Faz parte
do ciclo anual de atividades, sendo o primeiro contributo nos inputs para o planeamento e orçamentação
das atividades de manutenção e conservação do ano seguinte.

Este processo de levantamento de informação de campo tem como principal objetivo avaliar a
necessidade de implementação de ações de manutenção e/ou de conservação. De notar que o
acompanhamento dos taludes é de extrema importância para a segurança das vias, por serem elementos
muito suscetíveis à alteração e degradação pela ação de agentes erosivos, como a chuva, o vento e o
efeito gelo-degelo. Com este acompanhamento - inspeção visual de taludes - é possível atuar ou intervir
preventivamente, acautelando eventuais ravinamentos, escorregamentos, roturas em maciços rochosos
e/ou efeitos de erosão e, subsequentemente, possíveis deslocações de terrenos à superfície ou em
profundidade. Neste contexto as inspeções visuais permitem:

 editar ou recolher informações de cadastro – elementos constituintes dos taludes;


 identificar patologias/ocorrências;
 definir ações de manutenção/conservação, isto é, trabalhos a realizar de forma a tratar
patologias identificadas;
 atribuir Estados de Manutenção e de Conservação.

Por forma a sistematizar a informação observada e recolhida no terreno, os registos são efetuados, por
talude, de acordo com a divisão apresentada no Quadro 1.

Quadro 1 - Informação presente nas fichas de inspeção visual de taludes

Componente Informação
Data e entidade executante;
Dados gerais do talude - localização e geometria;
Fotografias de contexto;
Geral Existência de órgãos de drenagem, proteção superficial, obras de contenção, equipamentos de
(Folha de Rosto) instrumentação e indícios de instabilização;
Estados de Manutenção e de Conservação;
Recomendações/Trabalhos propostos;
Observações gerais.
Caracterização individual – altura e inclinação;
Registo de patologias – PK inicial e final, Pano, Tipo de Patologia, identificação de fotografias
Panos
representativas e Recomendações;
Observações.
Caracterização individual – largura;
Registo de patologias – PK inicial e final, Pano, Tipo de Patologia, identificação de fotografias
Banquetas
representativas e Recomendações;
Observações.
Cadastro dos diferentes órgãos de drenagem – tipo, PK inicial e final;
Registo de patologias – PK inicial e final, Pano, Tipo de Patologia, identificação de fotografias
Drenagem Superficial
representativas e Recomendações;
Observações gerais.
Cadastro dos diferentes tipos de Proteção Superficial;
Registo de patologias – PK inicial e final, Pano, Tipo de Patologia, identificação de fotografias
representativas e Recomendações.
Proteção Superficial Cadastro de Obras de Contenção.
Nota: Apenas se regista o cadastro, uma vez que este tipo de estruturas tem uma ficha de
inspeção própria, onde também são registadas as patologias que lhe dizem respeito.
Observações gerais.
Identificação de eventuais indícios de instabilização em determinadas infraestruturas – PK inicial
e final, identificação de fotos e observações.
Equipamentos
Cadastro de instrumentação implementada como por exemplo, células de carga, piezómetros,
inclinómetros e alvos topográficos.

Neste artigo, dado a metodologia desta atividade ser a mesma para ambas as infraestruturas (M&T),
apenas se apresenta com detalhe a inspeção visual aplicada a um universo de 7.000 taludes cadastrados
nas autoestradas do Grupo Ascendi.

257
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- DESCRIÇÃO

3.1 - Recolha de informação de projeto

A fase inicial ou preparatória compreende o estudo bibliográfico das Telas Finais (peças escritas e
desenhadas), com particular incidência na geologia e hidrogeologia das zonas em estudo e existência de
zonas “particulares” de antigos acidentes ou de problemas ocorridos durante a fase de construção.

Esta análise inicial proporciona uma orientação para aquilo que poderá ser observado durante o trabalho
de campo, sobretudo no que diz respeito a patologias com maior probabilidade de ocorrência.

O registo desta(s) informação(ões) é realizado, de forma sucinta, na ficha de inspeção, na informação


Geral (Figura 3) e Panos/Banquetas (Figura 4) se for apropriado. São, também, registados os elementos
Proteção Superficial, Obras de Contenção (Figura 5) e Drenagem (Figura 6), com o objetivo de os
localizar e identificar e, caso seja necessário, proceder a alterações de cadastro.

De salientar que as informações de âmbito geral de cadastro, designadamente tipo de talude, localização
(PK inicio e fim, sentido, lado, autoestradas, sublanço) e geometria (altura, nº de panos, altura), são
fornecidas pela Ascendi com base no cadastro do(s) talude(s) a inspecionar.

Figura 3 - Aspeto (parcial) da ficha de inspeção visual: Geral

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 4 - Aspeto (parcial) da ficha de inspeção visual: Panos

Figura 5 - Aspeto (parcial) da ficha de inspeção visual: Drenagem

Figura 6 - Aspeto (parcial) da ficha de inspeção visual: Proteção Superficial e Obras de Contenção

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3.2 - Campanha de campo

Após o pré-preenchimento das fichas em gabinete, segue-se a segunda etapa, o planeamento das
campanhas de campo. O agendamento desta atividade está condicionada pelas condições climatéricas e o
progresso dos trabalhos de desmatação dos taludes e pelas condições climatológicas.

Em campo, realiza-se o levantamento e a catalogação pormenorizada das patologias existentes em todos


os seus componentes do talude: panos, banquetas, drenagem superficial e profunda, proteção superficial,
equipamentos e obras de contenção, percorrendo integralmente o talude (panos, banquetas, cristas),
como exemplificado nas fotos da Figura 7.

Figura 7 - Fotografias ilustrativas de uma campanha de inspeções visuais – trabalho de campo (COBA, 2016)

As patologias são registadas nas fichas pré-preenchidas em Excel, utilizando um tablet PC, referenciadas
com a localização (PK) e/ou extensão (com o auxílio de um tropómetro), fotografadas, e recomendadas
ações de manutenção, tirando assim partido do equipamento tablet, que possibilita o preenchimento das
fichas em simultâneo com a realização da inspeção. A utilização do tablet também é uma mais-valia na
redução de erros no registo de informação.

Os dados geológico-geotécnicos são aferidos durante a inspeção, com base nos elementos do Projeto de
Execução previamente registados. Procede-se também à validação e complemento do cadastro relativo
aos elementos drenagem, equipamentos e proteção superficial, registando a sua localização.

Após a conclusão do registo das patologias e das respetivas recomendações, atribuem-se os estados de
manutenção e conservação a cada um dos componentes, com base no Quadro 2 e no Quadro 3.
Quadro 2 – Estado de Conservação

Estado Descrição

1 Bom Não é necessário efetuar qualquer manutenção

Terão de ser efetuados os trabalhos de manu-


2 Médio
tenção referidos num prazo de 6 meses.

Terão de ser efetuados os trabalhos de manu-


3 Mau
tenção referidos num prazo de 3 meses.

Quadro 3 – Estado de Conservação

Estado Descrição
1 Muito Bom Sem patologias, não é necessário efetuar qualquer reparação.

2 Bom Terão de ser efetuados pequenos trabalhos de reparação num prazo inferior a 2 anos.

Terão de ser efetuados trabalhos de reparação nos órgãos de drenagem, preenchimento de


ravinamentos, impermeabilização de fissuras, etc., num prazo inferior a 1 ano, com meios próprios, caso
3 Médio seja possível.
Caso contrário deverá proceder-se a elaboração de uma Nota Técnica e consequente execução da
Empreitada.
Verificar a necessidade de implementação de medidas de intervenção imediatas. Verificar a necessidade
4 Mau de promover campanhas de monitorização.
Proceder à elaboração de uma Nota Técnica/Projeto para a sua reparação num prazo de 3 a 6 meses.
Criar estado de alerta imediato.
Ativar todos os mecanismos inerentes à implementação de medidas de intervenção imediatas.
5 Muito Mau Monitorizar diariamente.
Proceder à elaboração de uma Nota Técnica/Projeto para a sua reparação num prazo curto de 0 a 3
meses.

260
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Tendo em consideração o risco associado a esta atividade, antes do início da realização das campanhas
de campo, são avaliadas as condições de segurança de cada talude a inspecionar, através do
preenchimento duma Ficha de Procedimentos de Segurança, cuja elaboração tem em conta o Manual de
Segurança e Circulação e o Manual de Sinalização Temporária da Ascendi.

3.3 - Relatório

Posteriormente, em gabinete, desenvolve-se a terceira fase que consiste na validação da conformidade


de todas as fichas de inspeção elaboradas e do Relatório de Inspeção.

Com base em todos os registos de campo efetua-se então uma análise global qualitativa e estabelece-se
a classificação do estado geral de conservação do talude, com base no Quadro 4.
Quadro 4 – Estado Geral de Conservação

Estado Descrição
1 Muito Bom Sem patologias, não é necessário efetuar qualquer reparação.

Terão de ser efetuados trabalhos de reparação tais como, selagem dos órgãos de drenagem,
2 Bom preenchimento de ravinamentos, impermeabilização de fissuras, campanhas de observação visual etc.,
num prazo inferior a 2 anos, com meios próprios, caso seja possível.

Terão de ser efetuados trabalhos de reparação tais como, reparações dos órgãos de drenagem,
Preenchimento de ravinamentos, impermeabilização de fissuras, campanhas de monitorização etc.,
3 Médio num prazo inferior a 1 ano, com meios próprios, caso seja possível.
Caso contrário deverá proceder-se a elaboração de uma Nota Técnica e consequente execução da
Empreitada.

Verificar a necessidade de implementação de medidas de intervenção imediatas. Verificar a


4 Mau necessidade de promover campanhas de monitorização.
Proceder à elaboração de uma Nota Técnica/Projeto para a sua reparação num prazo de 3 a 6 meses.
Criar estado de alerta imediato.
Ativar todos os mecanismos inerentes à implementação de medidas de intervenção imediatas.
5 Muito Mau Monitorizar diariamente.
Proceder à elaboração de uma Nota Técnica/Projeto para a sua reparação num prazo curto de 0 a 3
meses.

De modo a organizar e compilar a informação recolhida, é elaborado um relatório final que contempla os
seguintes conteúdos principais:

 Introdução com a descrição do âmbito da inspeção e enquadramento geográfico (Concessão,


Autoestrada(s), N.º de taludes inspecionados,…);

 Caracterização geográfica e geológica da zona de localização dos taludes inspecionados;

 Metodologia aplicada no processo global da realização das inspeções visuais;

 Apresentação de resultados com a distribuição da tipologia dos taludes inspecionados (talude


escavação em rocha, talude escavação em solo e talude de aterro), das patologias observadas
por componente e do estado de manutenção e conservação dos componentes. Esta análise
permite obter uma informação mais clara e elucidativa quanto à representatividade e localização
das patologias;

 Considerações finais – neste capítulo é efetuada uma análise global da inspeção realizada,
sustentada numa análise estatística representada em quadros resumo da distribuição percentual
das patologias, do estado de manutenção e conservação. É também efetuada uma avaliação
qualitativa das infraestruturas inspecionadas e propostas ações de manutenção e conservação

A título de exemplo, na Figura 8, apresentam-se alguns gráficos ilustrativos da análise estatística


efetuada por tipo de talude e componente.

Este documento representa um importante contributo para o planeamento e orçamentação das


atividades de manutenção e conservação do ano seguinte, permitindo a separação das atividades de
manutenção corrente, de carácter predominantemente paliativo, a desenvolver com equipas internas, e
de conservação que carecem dum estudo antes da realização da ação corretiva. Permite também
identificar situações que carecem dum plano de observação e reforço ou instalação de instrumentação
para monitorização da infraestrutura.

261
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Altura dos Taludes de Escavação (H) Nº de Panos dos Taludes de Escavação Extensão dos Taludes de Escavação (E)

Distribuição de patologias no Sistema de Estados de Manutenção Taludes – Estados de Conservação - Taludes –


Drenagem – Taludes de Aterro Sistema de Drenagem Sistema de Drenagem

Estados de Manutenção (análise global) Estados de Conservação (análise global)

Figura 8 - Gráficos exemplificativos da análise estatística (COBA, 2017)

4- ESTADOS DE MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO

O estado de manutenção dum talude é classificado de bom (1) a mau (3), em função do tipo e extensão
das patologias, às quais são associadas ações de manutenção necessárias para manter a funcionalidade e
integridade dos componentes existentes, durante um determinado período de tempo. Estas ações
permitem eliminar fenómenos de degradação progressiva que, no limite, podem afetar vários
componentes, contribuindo assim para a redução da degradação do talude.

Deste modo, as ações de manutenção são de carácter paliativo e têm como principal objetivo atenuar ou
nomeadamente mitigar a existência de patologias de reduzida complexidade técnica.

São designadas como ações de manutenção os trabalhos de desmatação, limpeza, selagem e


preenchimentos localizados.

O estado de conservação é classificado de 1 (muito bom) a 5 (muito mau), em função do tipo e extensão
das patologias para as quais são implementadas ações de conservação necessárias para repor a
estabilidade global do talude, requerendo uma caracterização geológica-geotécnica e hidrogeológica.
Assim, as ações desenvolvidas neste âmbito são de carácter corretivo e englobam a execução de
trabalhos que exigem conhecimentos técnicos aprofundados.

São designadas como ações de conservação os trabalhos de reabilitação, reparação e reforço.

262
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

5- ÍNDICE DE QUALIDADE (IQ)

A metodologia utilizada pela Ascendi para análise e acompanhamento da condição global dos taludes,
com recurso a campanhas de inspeções visuais, nas quais a atribuição e cálculo do estado recorre a um
método, que embora tenha como base pressupostos objetivos, com parâmetros geotécnicos, tem um
suporte empírico. Neste âmbito, surgiu a necessidade de criar um sistema que permitisse corroborar a
definição dos Estados de Conservação realizado, com fundamento num método científico para validação
do cálculo obtido.

Assim, em pareceria com a Universidade do Minho, a Ascendi desenvolveu um método, que consiste na
avaliação de diferentes fatores internos e externos ao talude que influenciam a sua condição, e que se
traduz na determinação dum parâmetro numérico - Índice de Qualidade (IQ).

Neste artigo apresenta-se o IQ para taludes de escavação em rocha, embora também tenham sido
desenvolvidos outros “fatores”, para taludes de aterro e taludes de escavação em solos e muros. O
processo de cálculo ou a determinação do IQ é igual em todos os casos e a diferença existente diz
respeito, apenas, aos “fatores” e “parâmetros” intervenientes.

Este trabalho – IQ para taludes de escavação em rocha, desenvolvido em cooperação com a Universidade
do Minho, pode ser analisado mais detalhadamente com a consulta do artigo em Pinheiro et al. (2015).

Tal como já foi mencionado, a principal vantagem de se efetuar esta abordagem quantitativa e qualitativa,
consiste em desenvolver ações preventivas, de forma a mitigar a ocorrência de sinistros e incidentes e,
ainda, em promover o apoio à decisão, no controlo e gestão financeira das infraestruturas,
nomeadamente ao nível dos taludes.

Atualmente existe uma diversidade de métodos que permitem fazer a avaliação de talude em fase de
projeto. Contudo, a realização de uma avaliação para fases posteriores, nomeadamente para fases de
exploração, pauta-se por uma evidente escassez de métodos. Ainda assim, foram propostos, ao longo
dos últimos anos, alguns índices que contemplam apenas um número reduzido de fatores ou que avaliam
apenas um fator específico, como é o caso do Rockfall Hazard Rating System (RHRS), proposto por
Pierson et al. (1990), do Rockfall Hazard Ontario (RHON), proposto por Franklin e Senior (1997), que
surge como alternativa ao primeiro sistema, possibilitando a sua aplicação a taludes com alturas
reduzidas, do Missouri Rockfall Hazard Rating System (MORFH RS), proposto por Youssef et al. (2003) e
do Rockfall Risk Assessment for Quarries (ROFRAQ), proposto por Alejano et al. (2008) mais direcionado
para pedreiras a céu aberto. Estes sistemas avaliam apenas a qualidade do talude face ao potencial de
queda de blocos, não tendo em consideração outros fatores que, após construção, influenciam a
qualidade e estabilidade global dos taludes.

O sistema desenvolvido pela Ascendi consiste na quantificação de um IQ, que considera nove categorias
de fatores, hierarquizados por grau de importância e influência, através da atribuição de pesos – Quadro
5. Estes fatores influenciam o comportamento dos taludes e permitem determinar a qualidade e,
subsequentemente, o risco de ocorrência de dano ou colapso.

A metodologia de cálculo do IQ considera a existência de vários subsistemas de avaliação de


determinados parâmetros do talude, alguns já existentes e outros desenvolvidos especificamente para o
efeito. Por fim, as avaliações parciais dos subsistemas são ponderadas para a obtenção de uma avaliação
final – IQ.

Na primeira fase de cálculo do IQ são avaliados vários parâmetros, que estão agrupados em fatores.
Depois dos parâmetros serem avaliados, são ponderados através dos pesos atribuídos aos fatores, que
por sua vez permitem a obtenção do IQ. A importância dos diferentes fatores - pesos – foi estabelecida
através da recolha da opinião de vários profissionais/peritos na área da geotecnia.

O cálculo do IQ deverá ser realizado de acordo com:

𝐼𝑄 = 𝑊𝐴 × ∑𝑛𝑖=1 𝑋𝑖 + ⋯ + 𝑊𝑁 × ∑𝑛𝑖=1 𝑋𝑖 [1]

onde 𝑊 representa o peso definido para cada uma dos 9 fatores e 𝑋 representa a cotação afetada de uma
ponderação (𝑊𝑖 ′), que é atribuída a cada um dos parâmetros que constituem os 9 fatores selecionados.
Por sua vez, a cotação atribuída a cada um dos parâmetros é dada pela equação:

𝑋𝑖 = 𝑊𝑖 ′ × ∑𝑛𝑖=1 𝑋𝑖 ′ [2]

onde 𝑊𝑖 ′ representa o peso atribuído a cada parâmetro e 𝑋𝑖 ′ a cotação, que varia de 1 a 5, a atribuir a
cada um dos parâmetros.

263
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 5 - Fatores e parâmetros intervenientes no IQ

Parâmetros
Fatores
𝑊 𝑊𝑖 ′ 𝑊𝑖 ′
Altura do talude 0,25
Inclinação do talude 0,35
Geométrico 0,17
Inclinação da banqueta 0,15
Largura da banqueta 0,25
Formação Geológica 0,5 Tipo 0,4
Grau de Alteração 0,3
Falhas 0,3
Geológico 0,15 Blocos 0,2 RHRSm2 1,0
Sistemas de Classificação 0,3 Q 0,33
RMR 0,34
SMR 0,33
Drenagem Superficial 0,6 Estado de Conservação 0,35
Estado de Manutenção 0,45
Sistema de Drenagem 0,12 Presença 0,2
Drenagem Profunda 0,2 Presença 1
Impermeabilização das Banquetas 0,2
Estado de Conservação 0,6
Inspeções Visuais 0,11
Estado de Manutenção 0,4
Células de Carga 0,25
Inclinómetros 0,25
Monitorização 0,11
Piezómetros 0,25
Alvos Topográficos 0,25
Acidentes no Talude 0,7 Queda de Blocos 0,25
Deslizamento Planar 0,25
Historial 0,07 Cunha de Rocha 0,25
Diretriz Circular 0,25
Intervenções 0,3
Zona Sísmica 0,3 Tipo 1 0,4
Tipo 2 0,6
Ambiental/Tráfego 0,08 Precipitação média anual 0,5
Tráfego Velocidade máxima 0,5
Tráfego médio diário 0,5
Proteção superficial 0,8
Revestimento 0,10
Cobertura vegetal 0,2
Sobrecarga 0,6
Imediações 0,09
Vibrações nas proximidades 0,4
𝑊 peso correspondente aos fatores
𝑊𝑖 ′ peso correspondente aos parâmetros

Depois de efetuado o cálculo do IQ, este valor numérico é convertido para uma escala qualitativa
fornecendo, assim, uma compreensão mais intuitiva do estado de qualidade do talude em avaliação –
Quadro 6.
Quadro 6 – Escala qualitativa do IQ

IQ Estado do Talude
[1; 1,4] Muito Bom
[1,5; 2,4] Bom
[2,5; 3,4] Médio
[3,5; 4,2] Mau
[4,3; 5] Muito Mau

Os parâmetros e fatores definidos para o cálculo do IQ foram selecionados com base nas principais
causas associadas à instabilidade de taludes (internas, intermédias e externas), apontadas por Terzaghi
(1950) e considerando sugestões fornecidas pelas Estradas de Portugal (2009), assim como, pelo
mapeamento de riscos em encostas e margens de rios desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (Carvalho et al., 2007), Gao et al. (2011), Lindsay et al. (2001) e Naghadehi et al. (2013).

A metodologia desenvolvida garante uma cotação “parcial” para cada um dos fatores, o que permite uma
perceção rápida e funcional dos taludes que apresentam maior risco de colapso ou dano. Por outro lado, é

264
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

possível identificar quais os fatores/parâmetros que mais contribuem para o IQ, fornecendo indicações
acerca dos aspetos em que deve incidir uma possível intervenção. Realça-se, ainda, que nesta primeira
fase de implementação de obtenção do IQ, a definição dos parâmetros é determinística. No entanto,
ambiciona-se, no futuro, introduzir uma abordagem probabilística, de modo a lidar com incertezas
existentes na avaliação de vários parâmetros, como por exemplo a ausência de informação necessária ao
cálculo do IQ.

Pela relevância que assume o Fator Geológico importa referir, que nos taludes de escavação em rocha, no
que diz respeito à queda de blocos e dada a variedade de propostas existentes na área, se optou por
considerar o Rockfall Hazard Rating System (RHRS) (Pierson et al., 1990), por se julgar ser mais fácil de
implementar e incorporar na metodologia de cálculo do IQ. Este método inclui 8 categorias, que são
cotadas através de uma escala exponencial que varia desde 3 até 81, correspondendo uma cotação mais
elevada a um talude com maior risco de queda de blocos. Contudo, de forma a adaptar este sistema ao
sistema rodoviário da Ascendi, uma vez que as necessidades e condições geotécnicas e ambientais
diferem consideravelmente nos diferentes países, foram efetuadas algumas modificações, salientando-se:
1) a alteração da classificação final/nível de risco a atribuir ao talude (5 intervalos de risco) e 2) a
consideração de 6 novas categorias, nomeadamente, inclinação do talude, zona de influência, quantidade
de blocos soltos, largura da plataforma e largura das banquetas.

O sistema adaptado e desenvolvido (RHRSm2) consiste em atribuir pontuações aos parâmetros que se
assumiram como mais importantes ao nível da queda de blocos, com 4 pesos distintos, sendo possível
analisar detalhadamente este método no artigo de Pinheiro et al. (2015). Importa, contudo, referir que
existe sempre uma ligação direta entre a formação geológica e a geometria, uma vez que condicionam,
em paralelo, a análise da estabilidade dos taludes. Esta circunstância ajuda a compreender os pesos
(mais elevados) definidos para estes fatores. A importância da definição e classificação da formação
geológica atribui-se em virtude das características geotécnicas que lhe estão implícitas. Por exemplo, nos
maciços calcários subentende-se, de imediato, a possibilidade de ocorrência de fenómenos de subsidência
e colapso e, no caso dos maciços graníticos, xistosos ou basálticos, o estado de alteração, de fraturação,
presença ou ausência de material de enchimento das diaclases são fatores que influenciam sobremaneira
as características dos maciços (Lima et al., 2012). Por outro lado, a questão da drenagem das águas
superficiais e profundas também assume um papel relevante. A presença de água é uma das principais
origens de instabilidades e incidentes observados em taludes.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inspeção visual faz parte do ciclo de atividades principais desenvolvidas anualmente nas Concessões e
Subconcessões da Ascendi, no âmbito da Operação e Manutenção das infraestruturas. A simbiose desta
atividade com a observação e leitura da instrumentação instalada nos M&T, permite traçar um plano de
ações paliativas, de manutenção, e corretivas, de conservação que, para além de possibilitar uma
racionalização dos investimentos, também mitiga e retarda a evolução de patologias que podem
comprometer a circulação em segurança e reduzir o nível de serviço.

A Ascendi desenvolveu uma metodologia sustentada num método rigoroso, com base em critérios
geotécnicos de levantamento e registo de patologias por especialistas. Este trabalho exaustivo e
detalhado é registado numa ficha desenvolvida com parâmetros específicos para cada tipo de Muro ou
Talude. Com a análise qualitativa e quantitativa dos inputs obtidos na campanha de campo, é
desenvolvido um Relatório que, para além do tratamento estatístico da informação, propõe ações de
redução, melhoria ou retardamento das patologias observadas, permitindo a separação das ações de
manutenção e conservação, auxiliando na elaboração do planeamento e orçamento do ano seguinte.
Assim, com base na aplicação duma metodologia expedita, de baixo custo, analisando o histórico e o
registo efetuado numa ficha parametrizada, é possível atribuir com fiabilidade, um estado de condição a
um muro e talude.

No projeto realizado em pareceria com as Universidades do Minho e Nova de Lisboa, a Ascendi


desenvolveu um método de cálculo do índice de Qualidade (IQ), parâmetro que caracteriza a condição
global da infraestrutura avaliada - Muro ou Talude. Foi efetuado o cálculo do IQ para a mesma
infraestrutura (Muro ou Talude) aplicando a metodologia de inspeção visual e o método de cálculo do
Índice de Qualidade, tendo-se obtido um resultado da mesma ordem de grandeza, o que corresponde à
atribuição do mesmo estado. Com base no histórico das inspeções realizadas numa amostragem dos
últimos cinco anos, constatou-se que os fatores: geometria, geologia e sistema de drenagem são os que
mais contribuem no cálculo do IQ. Coincidentemente, as ações de manutenção realizadas incidem,
fundamentalmente, no sistema de drenagem. As ações de conservação desenvolvem-se,
maioritariamente, ao nível da geometria, geologia da estrutura e sistema de drenagem.

265
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

REFERÊNCIAS

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Final de Inspeções Visuais em Muros e Taludes

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266
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

LINHA FERROVIÁRIA DO SUL: CASOS DE INSTABILIDADE EM TALUDES DE


ESCAVAÇÃO, OCORRÊNCIAS E MEDIDAS DE ESTABILIZAÇÃO

SOUTHERN RAILWAY LINE: INSTABILITY CASES IN CUTTINGS,


OCCURRENCES AND STABILIZATION MEASURES

Borges, Alexandra; IP, Almada, Portugal, alexandra.borges@infraestruturasdeportugal.pt


Grade, Sara; IP, Almada, Portugal, sara.grade@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

A Linha Ferroviária do Sul, no troço Amoreiras-Messines, encontra-se inserida no Grupo do Flysch do Baixo
Alentejo (Formação de Mira), num ambiente geológico-geotécnico de maciços rochosos de baixa resistência
e com uma especificidade própria duma zona fortemente tectonizada. Na sequência de intensos períodos
de precipitação, foram identificados fenómenos de instabilidade em diversos taludes ao longo do troço
Amoreiras-Messines, que obrigaram a restrições na circulação ferroviária, por forma a garantir as condições
de segurança. No presente artigo descrevem-se três casos de escorregamentos detetados em taludes de
escavação, situados no lado direito da via férrea, ao km 237+400 (T237), km 250+800 (T250) e km
286+800 (T286). Os taludes T237, T250 e T286 correspondem a taludes de grande altura, respetivamente,
com 23 m, 16 m e 22 m. São também descritas as medidas de estabilização implementadas que permitiram
repor as condições de segurança na exploração ferroviária naquele troço da Linha do Sul. De salientar que
as empreitadas de estabilização decorreram sempre com a linha ferroviária em exploração, tendo assim
resultado uma forte condicionante às soluções e medidas preconizadas.

ABSTRACT

The Southern Railway Line, in the Amoreiras-Messines section, is part of the Flysch Group of the Baixo
Alentejo (Mira Formation), in a geological-geotechnical environment of low resistance bedrock and with
inherent characteristics of a strongly tectonized zone. After intense precipitation periods, instability
phenomena were identified in several slopes along the Amoreiras-Messines section, forcing restrictions on
railway traffic, in order to guarantee the safety conditions. This paper describes three landslide cases
detected on cuttings, situated on the right side of the railway line, at km 237+400 (T237), km 250+800
(T250) and km 286+800 (T286). The cuttings T237, T250 and T286 correspond to slopes of great height,
respectively, with 23 m, 16 m and 22 m. It is also described the stabilization measures implemented that
allowed to restore the safety conditions of the railway in that section of the Southern Line. It should be
noted that the stabilization works were always carried out with the railway line in operation, thus resulting
in a strong constraint to the solutions and measures used.

1- INTRODUÇÃO

Em março de 2010, na sequência de intensos períodos de precipitação, foram identificados fenómenos de


instabilidade em diversos taludes da Linha do Sul, no troço Amoreiras-Messines.

No presente artigo, e após uma breve descrição de enquadramento sobre a Linha ferroviária do Sul,
apresentam-se, pela sua representatividade, três casos de escorregamentos detetados em taludes de
escavação, ao km 237+400 (T237), km 250+800 (T250) e km 286+800 (T286). Descrevem-se igualmente
as medidas de estabilização preconizadas, as principais condicionantes em obra e as adaptações das
soluções de projeto às reais condições geológico-geotécnicas encontradas durante os trabalhos. Procurou-
se salientar a problemática da reabilitação de taludes de escavação em maciços de baixa resistência e
abordar as limitações impostas em obra de forma a não comprometer a exploração da linha férrea.

2- DESCRIÇÃO GERAL

A Linha do Sul desenvolve-se entre a estação de Campolide, em Lisboa, e a estação de Tunes, no Algarve,
com uma extensão de cerca de 300 km. O primeiro troço entrou em exploração em 1861 (Pinhal Novo a
Setúbal) e em 1889 é construído o troço em análise (Amoreiras a Faro). Entre 2000 e 2004 a Linha do Sul
é modernizada, eletrificada e prolongada até Lisboa.

Os três taludes em análise localizam-se do lado direito da via entre o km 237+369 e o km 237+446 (T237),
a 5 km para Norte da estação de Luzianes (Fig. 1), entre o km 250+758 e o km 250+885 (T250), a 2 km
para Norte de Santa Clara-a-Velha (Fig. 2) e entre o km 286+738 e o km 286+932 (T286), a 2,5 km para
Norte de São Bartolomeu de Messines (Fig. 3).

267
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

T237

Figura 1 - Localização geográfica do talude T237. Extrato da Carta Militar de Portugal - Folha 554 - São Martinho das
Amoreiras, escala 1:25 000 (IGEOE, 2010a)

T250

Figura 2 - Localização geográfica do talude T250. Extrato da Carta Militar de Portugal - Folha 562 - Santa Clara-a-
Velha, escala 1:25 000 (IGEOE, 2010b)

T286

Figura 3 - Localização geográfica do talude T286. Extrato da Carta Militar de Portugal - Folha 587 - São Bartolomeu de
Messines, escala 1:25 000 (IGEOE, 2006)

Os taludes T237, T250 e T286, desenvolvem-se ao longo de encostas predominantemente xistentas, com
alturas que chegam a atingir os 23 m, tendo os mesmos sido alvo de intervenções aquando da
modernização da Linha do Sul entre 2000 e 2004 (reperfilamentos a 1V:1,5H, criação de banquetas e
execução de drenagens).

268
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- BREVE ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

Os taludes T237, T250 e T286 situam-se em plena unidade morfo-estrutural designada por Zona Sul
Portuguesa, interessando formações de natureza xisto-grauvacóide do denominado Grupo do Flysch
Carbónico do Baixo Alentejo, que se encontra fortemente tectonizado e onde se observa grandes variações
litológicas e paleontológicas, sendo que os taludes em estudo interessam unicamente a Formação do Mira
(Fig. 5).

A Formação do Mira (HMi) caracteriza-se por ser uma formação metassedimentar, com predominância de
turbiditos finamente estratificados, que variam de espessura ao longo da faixa. Na região envolvente ao
anticlinório do Cercal, aparecem na base rochas silico-carbonatadas dolomíticas e um conglomerado (Vale
Longo) que é composto por tufitos, quartzitos, xistos negros e rochas vulcânicas muito alteradas. São
igualmente visíveis os xistos sericíticos, predominantemente argilosos. Esta sequência foi afetada por um
metamorfismo de médio a baixo grau, que é visível através da alternância de níveis centimétricos de
grauvaques de grão fino e xistos (xistos negros, xistos pelíticos e xistos sericíticos), essencialmente
argilosos.

A Folha 7 da carta geológica à escala 1:200 000 (Oliveira, J.T. (Coord.), 1989) apresenta uma falha foto-
interpretada que acompanha o traçado da via desde São Bartolomeu de Messines até Santa Clara-a-Velha,
infletindo de seguida para NE.

T237

T250

Legenda:

T286

Figura 5 - Extrato da Folha 7 da Carta Geológica de Portugal (1983), na escala 1:200 000

De acordo com o reconhecimento de campo e prospeção efetuada, os locais em análise interessam um


substrato xistento. Nos três taludes são visíveis xistos com elevada componente argilosa, apresentando-se
pouco dobrados mas muito fraturados (F5 e F4/5). Observa-se que o maciço se encontra afetado pela
fracturação induzida pelos mecanismos tectónicos que aqui atuaram. As fraturas, quando abertas,
apresentam-se na maioria dos casos preenchidas por sedimentos areno-argilosos. O perfil de meteorização
do substrato rochoso é, de uma forma geral, evoluído, ou seja, o maciço encontra-se muito alterado a
decomposto (W4/5), com horizontes medianamente alterados (W3/4) (COBA, 2010).

Do ponto de vista hidrogeológico, o maciço xistento tende a exibir características de meio fissurado com
redes aquíferas descontínuas.

4- OCORRÊNCIAS

O ano de 2010, em Portugal Continental, foi caracterizado por valores da quantidade de precipitação
superiores ao valor normal do período de referência 1971-2000, sendo mesmo considerado o ano mais

269
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

chuvoso da última década (2001-2010) com 1063 mm, o que supera em quase 20% o valor da normal
1971-2000 (IPMA, 2011b).

Em fevereiro de 2010 verificaram-se episódios de elevada precipitação, 250 a 300% superiores à média do
período de referência 1971-2000, sendo o fevereiro mais chuvoso dos últimos 24 anos e em março do
mesmo ano registou-se o 3º valor mais alto de precipitação dos últimos 30 anos, 150% a 200% superior
ao valor médio do período de referência (IPMA, 2010a, 2010b).

Na sequência destes episódios, detetaram-se fenómenos de instabilidade em vários taludes da Linha do


Sul (com maior incidência em taludes com registos anteriores de anomalias).

Os fenómenos de escorregamento observados estão associados a zonas de falha, constituídas por materiais
meteorizados e friáveis, predominantemente argilosos e com características geomecânicas inferiores às do
maciço envolvente, sendo igualmente zonas de percolação preferenciais.

De seguida abordam-se as instabilizações detetadas nos taludes T237, o T250 e o T286 (REFER, 2010).

4.1 - Talude de escavação T237

No talude T237, com cerca de 23 m de altura, três níveis de escavação e duas banquetas com cerca de
3 m a 6 m de largura, detetou-se a abertura de fendas longitudinais na crista do talude e um
escorregamento segundo um plano de falha existente. A massa de material mobilizada atingiu o passeio
da via-férrea e danificou parte da drenagem existente (Fig. 6).

Superfície de falha

Figura 6 – Talude T237 - Fotografias do escorregamento, sendo visível as fendas longitudinais, a superfície de falha
(após remoção da massa instável) e a barreira provisória implementada

4.2 - Talude de escavação T250

No T250, com cerca 16 m de altura, três níveis de escavação com inclinações de 1V:1,5H e duas banquetas,
detetou-se uma superfície de rotura que afetou o talude em toda a sua altura e com abertura de fendas
circulares na crista (Fig. 7). Registou-se igualmente um desnível de aproximadamente 0,10 m e um
deslocamento na horizontal de cerca de 0,70 m (medido na caleira da banqueta inferior). O escorregamento
danificou o sistema de drenagem e uma mina de água em alvenaria existente na base do talude.

Figura 7 – Talude T250 - Fotografias da rotura

4.3 - Talude de escavação T286

No T286, com cerca de 22 m de altura, o escorregamento surge associado a um plano de falha, oblíquo à
via, afetando o talude acima da primeira banqueta. O escorregamento manifestou-se pela queda de
material para o passeio de via e pela abertura de fendas no topo do talude (Fig. 8). A drenagem de crista
ficou danificada.

270
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 8 – Talude T286 - Fotografia do escorregamento, observando-se a abertura de fendas longitudinais e as valetas
danificadas

5- DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS INTERVENÇÕES

As medidas de estabilização implementadas foram definidas em função das características geotécnicas do


maciço e das condicionantes impostas por uma linha ferroviária em exploração.

5.1 - Medidas mitigadoras

Numa primeira fase, imediatamente após os escorregamentos, implementaram-se as seguintes medidas


mitigadoras:

 No T237 procedeu-se à remoção do material escorregado, à regularização da superfície afetada e


à colocação de duas barreiras protetoras nas banquetas, constituídas por travessas de madeira e
perfis metálicos, de forma a não comprometer a segurança da exploração ferroviária;

 No T250 procedeu-se à remoção de grande parte do material mobilizado pelo escorregamento, à


criação de uma nova banqueta e alargamento de uma das banquetas existentes, com 3 m e 8 m
respetivamente, minimizando assim o risco de invasão do gabarito de via;

 No T286, à semelhança dos dois taludes anteriores, procedeu-se a obras de terraplenagem que
levaram ao adoçamento do talude e à criação de uma nova banqueta.

Adicionalmente, tendo como objetivo manter a segurança da circulação ferroviária, implementaram-se


afrouxamentos de velocidade, para 30 km/h, nos troços abrangidos pelos escorregamentos e deu-se início
a uma observação semanal dos taludes, sendo esta frequência aumentada nos períodos de pluviosidade
intensa.

Durante o período de observação, registou-se o aparecimento de novas fendas paralelas à via, na crista
dos taludes T237 e T250, procedendo-se então à colocação de tela impermeável, por forma a minimizar
infiltrações de água.

5.2 - Soluções de estabilização

Nos estudos desenvolvidos (COBA, 2010) preconizou-se a adoção de inclinações mais suaves nos taludes
(1V:2H) e a beneficiação das banquetas existentes. Considerou-se ainda, como solução de estabilização, a
colocação de materiais drenantes que permitissem rebaixar o nível freático e consequentemente diminuir
a pressão intersticial, nomeadamente pela colocação de máscaras drenantes e prismas de enrocamento no
T237, esporões drenantes no T250 e máscaras drenantes no T286.

Para todos os troços considerou-se a reabilitação e realização de drenagem superficial pela colocação de
valetas de crista, de banqueta e junto à via.

Nas banquetas, inclinadas a 2% para o interior do talude, em direção às valetas, considerou-se o


revestimento com betão projetado com malhassol garantido a impermeabilização e facilidade de
manutenção.

Previu-se ainda, nos níveis inferiores de escavação, a colocação de betão projetado com malhassol
associado a pregagens e geodrenos de PVC.

No talude T237 preconizou-se, para a estabilização da parte superior do talude, na zona dos depósitos de
cobertura, a construção de um muro de gabiões.

As medidas acima descritas implicaram a realização de movimentos de terra relevantes e expropriações de


terrenos nos três taludes.

271
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

5.3 - Empreitada

Em novembro de 2010, consignou-se a empreitada de estabilização dos taludes de escavação T237, T250
e T286 na Linha do Sul.

As obras de estabilização dos três taludes foram fortemente condicionadas pelos seguintes aspetos:

 A empreitada decorreu com a Linha ferroviária do Sul em exploração, assumindo-se como premissa
prioritária o não condicionamento do transporte de passageiros e mercadorias.

Para o cumprimento desta premissa, para além de um controlo diário dos processos de
instabilização em curso, implementaram-se medidas de segurança que permitiram realizar os
trabalhos a cotas mais elevadas em período diurno. No entanto, nos níveis inferiores, e sempre que
houvesse o risco de invadir o gabarito ferroviário, os trabalhos decorreram em período noturno com
interdição de via e corte de tensão elétrica (com apenas 3 horas de via livre por noite);

 Após a consignação da obra, registam-se novamente episódios de elevada precipitação, em


particular nos meses de dezembro de 2010, janeiro 2011 e fevereiro 2011 com, respetivamente,
150-200%, 100-125% e 100-125% do valor normal do período de referência 1971-2000 (IPMA
2011a, 2011c, 2011d);

 Estando na presença de rochas de baixa resistência da Formação do Mira verificou-se que os xistos
argilosos em análise, devido à sua génese, apresentavam-se bastante meteorizados e com planos
de falha cujas orientações, conjugadas com as dos taludes, condicionavam a respetiva estabilidade
durante a execução dos trabalhos de terraplenagem. Como resultado da anisotropia e
heterogeneidade dos maciços, as faixas de alteração encontradas apresentavam limites irregulares,
por vezes, com desníveis de vários metros até ao substrato rochoso;

 Do ponto de vista hidrogeológico, verificou-se que os taludes se apresentavam com alteração


elevada e com fracturação intensa, proporcionando assim características permeáveis ao maciço.

No decorrer da obra, no talude T250, após se ter concluído os trabalhos de reperfilamento, constatou-se
que as condições meteorológicas acima assinaladas, aliadas às características geomecânicas e
hidrogeológicas do maciço xistento, potenciaram a ocorrência de três novos escorregamentos, a 31 de
janeiro de 2011 e a 14 e 15 de fevereiro do mesmo ano.

O primeiro escorregamento, com aproximadamente 55 m de extensão, ocorreu na terceira face do talude


(com cerca de 8 m de altura) segundo uma superfície subvertical argilosa, que separava os materiais de
depósito de vertente do substrato xistento (Fig. 9). O escorregamento afetou ainda parte da terceira
banqueta e potenciou o aparecimento de nova fenda longitudinal (que veio a dar origem ao escorregamento
de 15 de fevereiro). Consequentemente, foi necessário adaptar as soluções de projeto e em substituição
dos esporões drenantes procedeu-se à construção de um prisma de enrocamento com um muro de gabiões
na base (após remoção da massa instável). Garantiu-se assim a estabilização da zona afetada e a reposição
da banqueta e drenagem prevista no projeto.

Figura 9 – Talude T250 - Fotografias do escorregamento a 31-01-2011

272
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O segundo escorregamento ocorreu igualmente na terceira face do talude, após um período de intensa
pluviosidade. Constatou-se que se tratava de um escorregamento planar (Fig. 10).

Figura 10 – Talude T250 - Fotografias do escorregamento planar a 14-02-2011

A abertura da fenda longitudinal, detetada na terceira banqueta, foi evoluindo e a 15 de fevereiro ocorreu
um novo escorregamento circular, com cerca de 60 m de extensão, potenciado pela existência de uma
superfície de falha (Fig. 11). A concha de escorregamento, com 8 m de altura, afetou parte dos esporões
drenantes construídos. Tendo em conta as reais condições geotécnicas detetadas em obra, foi necessário
adaptar as soluções de projeto e em substituição dos esporões drenantes procedeu-se, à semelhança do
primeiro escorregamento, à construção de um prisma de enrocamento com muro de gabiões na base.
Garantiu-se assim a estabilização da zona afetada e a reposição da banqueta e drenagem prevista no
projeto.

Escorregamento Escorregamento
31-01-2011 15-02-2011

Figura 11 – Talude T250 - Fotografias do escorregamento a 15-02-2011

A 1 de fevereiro de 2011, iniciaram-se os trabalhos no talude T286. No referido dia, após a entrada dos
equipamentos em obra, registou-se o aparecimento de fenda com 20 m de extensão, a 17 m da crista do
talude, indiciando o aparecimento de um novo escorregamento. Nos dias que se seguiram registou-se um
agravamento da situação, a uma velocidade extremamente elevada. A massa instável, afetou
predominantemente a terceira face do talude, com 15 m de altura, e processou-se segundo uma superfície
de descontinuidade, com preenchimento argiloso. Na referida camada de argila, eram visíveis as estrias
decorrentes do movimento em curso (Fig. 12 e Fig. 13).

Fenda na crista
Fenda detetada a do talude
01-02-2011

Figura 12 – Talude T286 - Fotografias do escorregamento

273
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 13 – Talude T286 - Fotografias do escorregamento

Com o objetivo de minimizar o risco de invasão do gabarito de via, procedeu-se à remoção da massa
instável. A disposição litoestratigráfica encontrada, com uma zona de falha/dobra em forma de sinclinal
abrangendo praticamente toda a zona superior do talude, diferiu do modelo traçado com os elementos da
campanha de prospeção (duas sondagens) em fase de projeto de execução.

Assim, face às reais condições geológico-geotécnicas encontradas durante os trabalhos e à nova modelação
do terreno, foi necessário proceder à reformulação das soluções de estabilização para o talude de escavação
T286.

Os trabalhos nas três frentes de obra decorreram, durante 7 meses, sem comprometer a exploração da
via-férrea e garantindo sempre a sua segurança (Fig. 14, Fig. 15 e Fig. 16). Nos três taludes instalaram-
se marcas de nivelamento e tubos inclinométricos. As leituras tiveram início em julho de 2011 e,
atualmente, os taludes continuam a ser observados, mantendo-se as condições de estabilidade requeridas.

Figura 14 – Talude T237 após conclusão da obra

Figura 15 – Talude T250 após conclusão da obra

Figura 16 – Talude T286 após conclusão da obra

274
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Linha Ferroviária do Sul, no troço Amoreiras-Messines, encontra-se inserida no Grupo do Flysch do Baixo
Alentejo (Formação de Mira), num ambiente geológico-geotécnico de maciços rochosos de baixa resistência
e com uma especificidade própria duma zona fortemente tectonizada.

Os maciços de baixa resistência analisados –xistos argilosos- devido à sua génese, apresentavam-se
bastante meteorizados e com planos de falha cujas orientações, conjugadas com as dos taludes,
condicionaram a respetiva estabilidade. Constatou-se, igualmente, que a anisotropia e heterogeneidade
dos maciços conduziram a faixas de alteração com limites irregulares, por vezes, com desníveis de vários
metros até ao substrato rochoso. Verificou-se ainda que as condições meteorológicas adversas aliadas às
características hidrogeológicas de um maciço muito alterado e fraturado, potenciaram não só os primeiros
escorregamentos como posteriormente novos escorregamentos durante o decorrer das obras de
estabilização do T250 e do T286.

Conforme descrito, face ao carácter evolutivo dos mecanismos de instabilização e às reais condições
geológico-geotécnicas encontradas durante os trabalhos, foi necessário proceder ao ajuste das soluções de
estabilização e otimizar o faseamento construtivo a adotar em obra, de forma a não condicionar a
exploração do canal ferroviário da Linha do Sul.

Por último, à semelhança de outros casos não mencionados na presente comunicação, registou-se que os
fenómenos de instabilidade nos taludes de escavação da formação do Mira surgem, na sua maioria,
associados a descontinuidades, constituídas por materiais meteorizados e friáveis, predominantemente
argilosos e com características geomecânicas inferiores às do maciço envolvente, sendo igualmente zonas
de percolação preferenciais.

Os casos descritos na presente comunicação permitiram aprofundar o conhecimento das características


geotécnicas e dos mecanismos de instabilização dos maciços rochosos inseridos na formação do Mira, do
Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, e assim contribuir para uma melhoria nas ações de atuação em situações
semelhantes na Linha ferroviária do Sul.

AGRADECIMENTOS

Ao apresentar-se sumariamente os casos de obra dos taludes T237, T250 e T286, dificilmente se descreve
a totalidade de desafios enfrentados pela equipa de fiscalização, assegurada pela ex-REFER Rede Ferroviária
Nacional E.P.E. (atual Infraestruturas de Portugal, S.A.). Assim, agradece-se a todos os membros da equipa
que contribuíram para ultrapassar as vicissitudes encontradas, garantindo uma simbiose entre a
experiência adquirida em obras de cariz geotécnico e as necessidades específicas de um canal ferroviário
em exploração.

Os autores agradecem à Infraestruturas de Portugal a oportunidade de participar no 16º Congresso


Nacional de Geotecnia.

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20100101_20101231_pcl_aa_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

IPMA (2011c). Boletim Climatológico Mensal – Janeiro 2011.


http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20110211/LOUKYpiWjLPBWZNKCkkH/c
li_20110101_20110131_pcl_mm_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

IPMA (2011d). Boletim Climatológico Mensal – Fevereiro 2011.


http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20110307/soPqrOmwHbGaKDgiTVcG/cl
i_20110201_20110228_pcl_mm_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

Oliveira, J.T. (Coord.) (1989) - Carta Geológica do Sul de Portugal, folha 7, escala 1:200.000. Serviços Geológicos de
Portugal, Lisboa.

REFER (2010) - Situações de instabilidade geotécnica decorrentes de intempéries. Rede Ferroviária Nacional E.P.E.,
Unidade Operacional Sul – Gestão Técnica, Tunes (não publicado).

276
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

MODELAGEM MECÂNICA DE TALUDES EM DIQUES IMPERMEABILIZADOS

MECHANICAL MODELING OF SLOPES IN WATERPROOFED DIKES

Araújo Pereira, Miguel Alexandre; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil,
miguel.alexandre.uf@gmail.com
Neto, Osvaldo de Freitas; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil,
osvaldocivil@ufrn.edu.br
Junior, Olavo Francisco dos Santos; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil,
olavo.santos@ufrn.edu.br
Cunha, Renato Pinto da; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br
Monteiro, Fernando Feitosa; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

RESUMO

A exploração e produção de petróleo no Brasil possui uma geração substancial de resíduos. O Rio Grande
do Norte possui uma participação significativa na exploração de hidrocarbonetos onshore no país. Dada a
atual conscientização por parte das empresas e a legislação ambiental mais atuante, fatalmente se faz
necessário um armazenamento temporário a uma destinação final ambientalmente correta de resíduos de
perfuração. O presente trabalho tem o objetivo de avaliar as condições de estabilidade de diques de um
aterro industrial de resíduos perigosos e não perigosos no estado do Rio Grande do Norte – Brasil. Nas
simulações numéricas foi utilizado o Programa SLOPE/W, do pacote GeoStudio da Geoslope Internacional
considerando dois cenários condizentes com a realidade existente e praticada atualmente nos respectivos
diques.

ABSTRACT

The exploration and production of oil in Brazil has a substantial generation of waste. The state of Rio Grande
do Norte has a significant portion in the exploration of onshore hydrocarbons in the country. Given the
current awareness on most of the companies and the most effective environmental legislation, it is
necessary, previously to an environmentally correct disposal method, to temporarily store drilling waste,
such as in unfilled landfills (dams). The present work aims to diagnose the dyke situation of a hazardous
and non-hazardous waste industrial landfill in the state of Rio Grande do Norte, with respect to the stability
of its slopes, using SLOPE / W, software of the GeoStudio package of Geoslope International. For this, two
scenarios were simulated in accordance with the existing reality practiced on the structure.

1- INTRODUÇÃO

O crescimento de um país é dado a partir de seu desenvolvimento econômico. A indústria de petróleo é


responsável por uma parcela significativa no crescimento do Brasil nas últimas décadas. No entanto, essa
atividade produz, inevitavelmente, resíduos sólidos e líquidos, que demandam métodos de destinação
ambientalmente corretos. Sendo assim, normalmente se faz necessário o armazenamento temporário,
previamente à destinação final, dos resíduos em aterros industriais, galpões e outras estruturas de
armazenamento.

Os solos, por sua vez, vêm sendo utilizados frequentemente como parte de sistemas de armazenamento
na disposição de resíduos, com a finalidade de inibir o fluxo de contaminantes líquidos para o meio ambiente.
Os contaminantes podem ser produzidos no estado líquido (efluentes) ou serem resultados da degradação
ou percolação de águas pluviais por resíduos sólidos (chorume ou percolado) (Boscov, 2008).

Por outro lado, a crescente expansão e ocupação territorial da humanidade é notória. Ela é ocasionada
pelas mais diversas necessidades da sociedade, seja para habitação, ou exploração de recursos naturais.
Dado esse aumento progressivo na ocupação, os taludes se enquadram como estruturas de solo ou rocha
que surgem com a execução de cortes e aterros, barragens, estruturas de rejeitos e encostas naturais
(Gerscovich, 2012), ou seja, elementos necessários à expansão. A partir da realidade de situações de
ocupação desordenada e de exploração de recursos, problemas referentes a estabilidades de taludes se
mostram frequentes.

Segundo Santos (2004), a ruptura de um talude está condicionada a diversos fatores, que agem isolada
ou conjuntamente na deflagração do movimento de massa. Com isso, fatores geológicos, geotécnicos,
hidrológicos, climáticos e antrópicos podem agir no solo ocasionando aumento da solicitação (aumento de
tensões cisalhantes) ou ainda redução na resistência do solo.

277
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Nesse contexto, os aterros industriais de resíduos podem ser utilizados como unidades de armazenamento
de resíduos e demandam, portanto, fluxo de veículos e maquinário pesados para sua operação. Além disso,
são estruturas que utilizam solos propriamente ditos como sistemas de armazenamento.

O presente trabalho apresenta estudos geotécnicos de estabilidade de taludes referente a um aterro


industrial de resíduos industriais oriundos da perfuração e exploração de petróleo no interior do estado do
Rio Grande do Norte – Brasil (RN).

As análises foram conduzidas em um dique de armazenamento de resíduos sólidos pertencente a um Aterro


Industrial de 5 hectares localizado entre Mossoró e Areia Branca, no RN. O aterro serve de unidade de
armazenamento temporária de resíduos líquidos e sólidos classe I (perigosos) e classe II (não perigosos),
de acordo com classificação da NBR 10.004 (ABNT, 2004). Dessa forma, os resíduos são dispostos
internamente aos diques. A geometria do aterro e de seus taludes varia ao longo de sua extensão.

A Figura 1 abaixo apresenta a vista aérea do aterro Industrial antes de sua operação, com a identificação,
em vermelho, da área em que o estudo teve maior enfoque, por possuírem taludes com maior altura.

706821.913967 X
9434702.46267 Y

Figura 1 – Vista aérea do Aterro Industrial antes de sua operação

Nesse contexto, resíduos sólidos armazenados são enviados para tratamento ou destinação final através
de veículos de carga, que transitam nos coroamentos dos diques de armazenamento. Os veículos utilizados
nesse transporte podem chegar a aproximadamente 70 toneladas. A estrutura do aterro é composta por
uma camada de areia pouco argilosa com alto grau de compactação (CG > 101%) sobre uma camada de
areia pouco argilosa pertencente ao solo natural da região.

A formação geológica da área do Aterro, conforme Estudo de Impacto Ambiental (EIA) realizado
previamente, é composta por Formação Jandaíra, Formação Barreiras, Depósitos Aluviais/Coluviais, as
quais afloram na região.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

Com vistas a alcançar os objetivos traçados para este estudo foi necessário a obtenção de dados
topográficos e geométricos do aterro, estimar os parâmetros geotécnicos dos solos constituintes,
determinar a forma e a magnitude do carregamento atuante, sobretudo na crista do aterro, e por fim
realizar as simulações numéricas para definir a estabilidade de taludes para os dois cenários adotados.

2.1 - Levantamento de dados topográficos e geométricos

Em função das informações obtidas no projeto executivo do aterro foi adotada a seção transversal
apresentada na Figura 2 como a seção de referência para as análises de estabilidade. O talude com maior
desnível tem 7 metros de altura e inclinação de 1:1,6 (v:h), sendo este o talude externo ao armazenamento
de resíduos, conforme Figura 2.

278
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 2 - Seção transversal do maciço

2.2 - Obtenção dos parâmetros do solo

O parâmetros de resistência adotados nas análises de estabilidade foram obtidas por meio de ensaios de
sondagens de simples reconhecimento do tipo SPT (Standard Penetration Test). Ao todo foram realizadas
4 (quatro) sondagens SPT, de acordo com a NBR 6484 (ABNT, 2001). A partir desses resultados, foram
utilizadas correlações empíricas com objetivo de estimar os parâmetros de resistência dos solos.

De acordo com Schnaid e Odebrecht (2012), existem limitações envolvidas no ensaio de SPT. Com isso,
abordagens modernas recomendam, por exemplo, a correção do valor 𝑁𝑆𝑃𝑇 a partir da consideração dos
efeitos do nível de tensões e da energia de cravação. Para o ajuste referente a energia de cravação, a
prática internacional é de normalizar o número de golpes com base no padrão internacional 𝑁60 ,
representando um valor de penetração de referência. Conforme Schnaid e Odebrecht (2012), a energia de
referência no Brasil é 66%. Sendo assim, calcula-se o número de pancadas com a consideração de uma
relação entre a energia aplicada e a energia de referência, conforme equação 01 abaixo.

𝑁𝑆𝑃𝑇 ×𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎 [01]


𝑁𝑆𝑃𝑇,60 =
0,60

Para correção referente a energia de cravação, considera-se a influência do nível geostático de tensões in
situ em se tratando de solos granulares. A equação foi estabelecida por Skempton (1986) (equação 02).

𝑁
𝑆𝑃𝑇 ×200
𝑁𝑆𝑃𝑇,1 = (100+ [02]
𝜎′ 𝑣)

De posse dos valores de 𝑁𝑆𝑃𝑇 corrigidos, foi obtido o ângulo de atrito interno do solo a partir de correlações
empíricas de Teixeira (1996) e Hatanaka e Uchida (1996), respectivamente, equação 03 e 04, adotando-
se como referência a média dessas duas correlações.

∅ = 15° + √24 × 𝑁𝑆𝑃𝑇 [03]

[04]
∅ = 20° + √15,4 × 𝑁𝑆𝑃𝑇,60

Os valores de peso específico foram determinados a partir do valor de 𝑁𝑆𝑃𝑇 , segundo Godoy (1972) apud
Cintra, Aoki e Albiero (2011).

Os solos utilizados no maciço do aterro industrial, por serem classificados como areia pouco argilosa sob
condição não saturada, apresentam intercepto de coesão. Em função da dificuldade de estimar este
parâmetro a partir do 𝑁𝑆𝑃𝑇 optou-se por parametrizá-lo e assim avaliar sua influência na estabilidade dos
taludes analisados.

279
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2.3 - Cálculo do carregamento atuante

Como a área de estudo está em operação nos dias atuais, foram obtidas as especificações e as pesagens
de todos os veículos que realizam carga e descarga no aterro e, consequentemente, trafegam no
coroamento dos diques. Dessa forma, foram mapeados os diferentes carregamentos possíveis existentes
na área e estes podem ser calculados a partir da consideração do tipo de veículo e da distribuição de seus
pesos.

De acordo com a Resolução n° 12/98 do Conselho Nacional de Trânsito do Brasil (CONTRAN), para veículos
de carga com três eixos a carga máxima no eixo é de 25,5 toneladas. Através da Resolução nº 104 de
21/12/99, o CONTRAN alterou a tolerância para o excesso de peso por eixo para 7,5%. O veículo de carga
utilizado mais rotineiramente nas operações de carga e descarga na área em estudo é o caminhão trator
trucado com semirreboque.

Figura 3 – Veículo de carga utilizado em carga e descarga no Aterro Industrial

No presente estudo, foram consideradas duas cargas distribuídas uniformemente, as quais representam os
pneus, baseadas na carga máxima permitida pelo CONTRAN. A carga máxima permitida pelo eixo triplo
do veículo irá ser dividida nos dois conjuntos de pneus e então considerada uniformemente distribuída
pelos 60 cm das fileiras de pneu de cada lado, conforme cálculos a seguir

𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 = 25,5 toneladas × 1,075 = 27,41 toneladas por eixo

𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢í𝑑𝑎 = 27,41 toneladas/(2 × 0,60 metro) = 22,84 toneladas/metro

Figura 4 – Esquema de aplicação da carga pelo eixo triplo

A consideração da carga total através aplicação das duas cargas alinhadas distribuídas no coroamento do
talude está a favor da segurança, já que se sabe que, na prática, o carregamento seria distribuído por
todos os pneus conforme apresentado na Figura 4.

2.4 - Análise de Estabilidade dos Taludes

A análise foi realizada considerando a ação dos carregamentos atuantes na crista do aterro, e os parâmetros
geotécnicos apresentados na Tabela 2. A Figura 5 apresenta a seção transversal analisada com a respectiva
distribuição dos solos considerados. Assumiu-se que o Solo de Aterro (corpo do talude) tem espessura de
5 metros quando a partir de então entra-se no terreno natural, que é constituído de areia pouco argilosa.
Nessa figura também se observa a sugestão da instalação de uma geomembrana PEAD no talude interno
à célula do aterro. Tal premissa reforça a necessidade de voltar as atenções para a estabilidade do talude
externo à célula do aterro, pois além de ser mais alto, não dispõe de proteção contra a ação da precipitação
atmosférica, como tem o talude interno à célula do aterro. O talude externo à célula tem 7 (sete) metros
de altura e 32° de inclinação (cerca de 1:1,60). O carregamento considerado é de 22,8 kN/m. As Figuras

280
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

6 e 7 apresentam uma vista panorâmica do aterro de resíduos de perfuração de poços de petróleo e o


detalhe do talude interno à célula do aterro revestido pela geomembrana de PEAD, respectivamente.

Conforme supramencionado, avaliação da estabilidade do Aterro industrial de resíduos industriais foi


dividida em dois cenários, onde a diferença entre os mesmos repousou na consideração ou não do
carregamento externo atuante na crista do aterro, promovido pela passagem de maquinários. Todos os
outros parâmetros geotécnicos e geométricos foram mantidos constantes, com exceção da coesão, a qual
foi variada de 0kPa a 40kPa. Tal consideração foi importante para avaliar a evolução dos fatores de
segurança do aterro em função do incremento de coesão, uma vez que se trata de uma região onde o
potencial de evaporação é maior que o de precipitação, mantendo o solo predominantemente não saturado
com coesão aparente comandando as condições de estabilidade do maciço.

Sendo assim, para uma seção transversal da borda do dique de armazenamento, fez-se a comparação dos
fatores de segurança referentes ao talude externo e ao talude interno, sendo identificado, então, que
sempre os fatores de segurança relacionados ao talude externo são mais baixos, devido à sua altura mais
elevada. Dessa forma, infere-se que o referido talude se caracteriza como crítico e será o foco das análises
do presente estudo.

Tabela 1 - Parâmetros de análise de estabilidade dos taludes

Solo  (kN/m³) ' (°) c (kPa)

Solo do Aterro (0 - 5 m) 18 42 0 – 40
Areia pouco argilosa (5 - 13 m) 17 32 0 – 40

Geomembrana
PEAD

1 Solo de Aterro 1
1,60 1,60

Solo Natural

Figura 5 - Seção Transversal da estrutura do Aterro Industrial

Figura 6 – Vista panorâmica do aterro de industrial de resíduos

281
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 7 – Talude interno à célula do aterro industrial analisado com o revestimento da membrana de PEAD

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados das análises parametrizadas da coesão para os cenários 01 e 02 estão dispostos nas Tabelas
3 e 4. Percebe-se que para o cenário 01, sem a atuação do carregamento externo, os fatores de segurança
quadruplicam o seu valor ao sair de coesão igual a 0 kPa até a consideração de 40 kPa, conforme se observa
na Figura 8. Optou-se por fazer uma avaliação comparativa dos resultados entre os métodos de cálculo de
estabilidade de taludes e, de uma forma geral, não há uma variação significativa dos FS entre os métodos
escolhidos. Apesar disto, o método de Morgenstern-Price e Spencer são os mais gerais e considerados
nestes cenários na atualidade.

De acordo com os valores de fator de segurança observados, nota-se que ao considerar coesão igual a zero,
em ambos os cenários ocorreria ruptura do talude. No entanto, essas rupturas ocorrem a uma profundidade
não tão elevada, muito embora já prejudique a estabilidade da estrutura parcialmente, conforme Figura 9.
Porém, sabe-se que não haveria um comprometimento da estabilidade global do aterro. Vale ressaltar que
a condição de coesão igual a zero, é uma condição extrema e hipotética, devido às condições de
compactação do aterro e principalmente as condições climáticas locais, as quais proporcionam a ocorrência
de elevada sucção e consequentemente coesão aparente.

Tabela 2 - Resultados de Fator de Segurança para o Cenário 01 – Coesão parametrizada


Morgenstern- Corps of
Coesão (kPa) Bishop Janbu Spencer
Price Engineer
0 1,54 1,45 1,53 1,53 1,54
5 1,82 1,68 1,79 1,80 1,82
10 2,19 2,00 2,16 2,16 2,19
15 2,51 2,31 2,48 2,48 2,54
20 2,81 2,59 2,78 2,78 2,86
40 3,95 3,67 3,93 3,93 4,09

Tabela 3 - Resultados de Fator de Segurança para o Cenário 02 – Coesão parametrizada


Morgenstern- Corps of
Coesão (kPa) Bishop Janbu Spencer
Price Engineer
0 1,48 1,29 1,44 1,46 1,42
5 1,64 1,40 1,59 1,59 1,57
10 1,83 1,58 1,78 1,78 1,76
15 2,01 1,72 1,96 1,96 1,94
20 2,16 1,86 2,14 2,14 2,12
40 2,89 2,41 2,82 2,81 2,80

282
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3,50

3,00

Fator de Segurança (FS) 2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
c = 0 kPa c = 5 kPa c = 10 kPa c = 15 kPa c = 20 kPa c = 40 kPa
Bishop Janbu Morgenstern-Price Spencer Corps of Engineer

Figura 8 – Análise comparativa entre os FS do Cenário 01

Figura 9 – Superfície potencial de ruptura – Cenário 01 (c = 0 kPa) – Morgenstern-Price

Na perspectiva de comparar os métodos de análise de estabilidade, foi observado tanto para o cenário 01
e 02 que o método de Janbu apresentou valores de fator de segurança mais conservadores, porém,
normalmente não é o método mais indicado para análise de superfícies circulares. Na Figura 10 pode-se
observar de forma comparativa os Fatores de Segurança dos dois cenários referidos para todos os métodos
utilizados.

Também é possível visualizar, conforme esperado, a diminuição do fator de segurança dos taludes mediante
a aplicação do carregamento máximo oriundo do tráfego. A porcentagem desta redução depende da coesão
adotada, e varia conforme a Figura 11. Em outras palavras, quanto maior a coesão, maior a redução do
fator de segurança do maciço ao inserir-se o carregamento.

283
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Corps of Engineer
Spencer
02
Cenário 02
Morgenstern-Price
01 01 Cenário

Janbu
Bishop
Coesão
Cenário Cenário

Corps of Engineer
Spencer
Morgenstern-Price
Janbu
Bishop
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50

c = 40 kPa c = 20 kPa c = 15 kPa c = 10 kPa c = 5 kPa c = 0 kPa

Figura 10 – Análise comparativa entre os FS do Cenário 01 e 02

35%
entre cenári 01 e 02

30%
Redução do FS

R² = 0,9917
25%
20%
15%
10%
5%
0%
c = 0 kPa c = 5 kPa c = 10 kPa c = 15 kPa c = 20 kPa c = 40 kPa

Figura 11 – Redução percentual dos fatores de segurança entre os cenários 1 e 2 em função dos valores de coesão

Percebe-se, portanto, que quanto maior a coesão do solo considerada, maior será a redução do fator de
segurança no cenário 02 se comparado com os fatores de segurança obtidos para o cenário 01. As
modelagens com coesão do solo igual a 40 kPa chegaram a patamares de 30% de redução, somente com
a incidência do carregamento.

A NBR 11682 (ABNT, 2009) propõe que os Fatores de segurança tenham a finalidade de cobrir as incertezas
naturais das etapas de projeto e construção dos taludes. Sendo assim, a referida norma enquadra a
estrutura de acordo com nível de segurança desejado contra perdas de vidas humana e o nível de segurança
contra danos materiais e ambientais para determinação do FS mínimo, o qual varia de 1,2 a 1,5.

Percebe-se que todos os resultados encontrados no presente estudo apresentaram valores que atendem
as recomendações mínimas da NBR 11682 (ABNT, 2009), considerando nível de segurança médio. Com
exceção das modelagens que consideraram coesão igual a 0 kPa, que, seriam cenários improváveis para
região, dada as condições normais de pluviosidade da região, visto que a classificação pelo SPT indicou
fração de argila ao longo de todo perfil do solo, além de outros fatores que contribuiriam para uma coesão
mínima (não nula), como cimentação entre partículas.

4- CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos nas modelagens, pode-se chegar ao diagnóstico que o aterro industrial de
resíduos, não apresenta problemas significativos com relação a estabilidade de seus taludes. No entanto,

284
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

em cenário de precipitação intensa (condição saturada) a coesão aparente reduziria significativamente,


representando a condição menos segura. Até mesmo no cenário 02, com carregamento externo máximo
submetido, os Fatores de Seguranças se apresentaram satisfatórios do ponto de vista da segurança.
Inclusive, este atende a norma NBR 11682 (ABNT, 2009). No entanto, é importante ressaltar que devido a
não caracterização completa dos materiais por meio de ensaios laboratoriais, e sim correlações dos
resultados de sondagens SPT, os resultados podem apresentar certo grau de imprecisão.

Mesmo que a estrutura apresente uma condição segura com relação aos seus taludes, sugere-se a
implantação de cobertura vegetal (gramíneas) ao longo da face deles, proporcionando um aumento na
resistência ao cisalhamento do solo superficial (Tozzato, 2005). Além disso, sugere-se a manutenção
periódica das canaletas de drenagem para que favoreça o escoamento superficial da água, visto que
potencialmente poderia reduzir o Fator de Segurança.

Este trabalho também conclui que a modelagem de um aterro industrial, no que diz respeito a estabilidade
de taludes, pode ser muito bem representada e avaliada através do software SLOPE/W, visto que consegue
simular cenários reais inclusive com diferentes formas de carregamentos. Com isso, torna-se uma
ferramenta útil, também, para o projeto e manutenção de estruturas de armazenamento de resíduos que
utilizam o próprio solo.

No entanto, a realização de inspeções periódicas em busca patologias no aterro, além da instrumentação


dos maciços para avaliação de pressão e deformação, são duas sugestões que reforçam a segurança da
estrutura ao longo de sua vida útil.

Por fim, também se sugere o aprofundamento do presente estudo utilizando parâmetros de solo adquiridos
por ensaios de laboratório, como o triaxial, para condições saturada e não saturada, cisalhamento direto e
de permeabilidade, buscando, portanto, uma maior confiabilidade das análises.

REFERÊNCIAS

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ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo - Sondagens de simples reconhecimento
com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.

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Oficina de Textos.

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173 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade do Porto, Porto.

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Relative Density, Particle Size, Ageing and Overconsolidation. Géotechnique, v. 36, n.3, p. 425-447.

285
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

PROJETO DE ESCAVAÇÃO E TRATAMENTOS GEOTÉCNICOS DE ENCOSTA PARA


CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE
LAÚCA

HILLSIDE EXCAVATION AND TREATMENT DESIGN FOR CONSTRUCTION OF


LAUCA’S HYDROELETRIC POWER PLANT DAM

Katereniuk, Soraia B.; Intertechne Consultores, Curitiba - PR, Brasil, sbk@intertechne.com.br


Thá, Pedro C.; Intertechne Consultores, Curitiba - PR, Brasil, pdct@intertechne.com.br
Kraemer, Sérgio M.; Intertechne Consultores, Curitiba - PR, Brasil, srmk@intertechne.com.br
Kenzo, Paulo; Odebrecht Engenharia e Construção, Luanda, Angola, pkenzo@odebrecht.com
Estevão, Elias D.; GAMEK, Luanda, Angola, danielestevao@hotmail.com

RESUMO

O Aproveitamento Hidroelétrico de Laúca está localizado em Angola, distante aproximadamente 300 km


de Luanda, capital do país. O arranjo geral do empreendimento consiste em uma barragem de concreto
compactado com rolo para fechamento do rio, associada a um vertedouro. O circuito de geração é
formado por uma tomada de água, seis túneis de adução com aproximadamente 1900 m de extensão
cada, central principal subterrânea, seis túneis de fuga e um canal de fuga. A barragem possui 132 m de
altura. Está fundada no leito do rio em maciço integralmente gnáissico; nas ombreiras, a porção superior
do maciço é composta principalmente por rochas metassedimentares seguidas por maciço gnáissico. As
escavações para o assentamento da barragem nas ombreiras foram definidas observando-se os
condicionantes: necessidade de incorporação de acesso de construção; condições geológico-geotécnicas;
divisão racional dos blocos da barragem e processo executivo das escavações. De maneira geral o projeto
de escavação consiste em taludes com altura de 12 e 15 m, bermas com largura de 0,5 a 8 m e
inclinação de 0,3H:1V e 0,17H:1V. O presente artigo descreve a metodologia empregada para o
dimensionamento do tratamento geotécnico proposto para estabilização das escavações para a ombreira
esquerda da barragem. Para o dimensionamento do tratamento geotécnico verificou-se a estabilidade
global das escavações através de análises de equilíbrio limite e a estabilidade local através de análises de
ruptura planar, por cunha e por tombamento. O tratamento geotécnico resultante consiste na aplicação
sistemática de concreto projetado reforçado com fibras para estabilização de pequenas cunhas e
ancoragens passivas em alguns trechos. Atualmente as escavações da encosta encontram-se concluídas e
a execução transcorreu sem nenhum incidente. A instrumentação geotécnica instalada, composta por
extensômetros múltiplos de haste e marcos superficiais, indica deslocamentos estabilizados, de pequena
magnitude, conforme esperado.

ABSTRACT

Lauca Hydroelectric Power Plant is implemented in Angola, located approximately 300 km from Luanda,
the capital of the country. The general arrangement of Lauca consists of a roller-compacted concrete dam
to close the river, associated with a flood spillway. The hydraulic circuit generation is formed by a water
intake, six headrace tunnels with approximately 1900 m of extension each, underground main power-
house, six tailrace tunnels and a tailrace channel. The dam is 132 m height. It is consolidated on the river
bed in gneiss rock mass; on abutments, the upper rock mass is composed of metasedimentary rocks
followed by gneiss mass. The excavations for dam’s support on the abutments were defined regarding the
conditioners: incorporation of constructions accesses necessity; geological-geotechnical conditions; ra-
tional dam blocks division and excavation technique. In general, the excavation design defined 12 to
15 m height slopes, 0,5 to 8 m width benches and slope inclination of 0,3H:1V and 0,17H:1V. This paper
describes the methodology used for determination of geotechnical treatment for stabilization of the exca-
vations at the left dam abutment. The geotechnical design verified local excavation stability using planar,
wedge and toppling analysis; and global excavation stability using limit equilibrium analysis. The ge-
otechnical treatment resultant consists in systematic application of sprayed concrete reinforced with fi-
bers to stabilize small wedges and passive anchors in some areas. Currently the abutment excavations
are concluded and the works occurred with no incidents. The installed geotechnical monitoring, consisting
of multiple point rod extensometers and surveying, indicates stabilized displacements, of small magni-
tude, as expected.

1- INTRODUÇÃO

Projetado para se tornar a principal fonte geradora de energia do sistema elétrico angolano, o
Aproveitamento Hidroelétrico de Laúca, quando concluído, terá capacidade total instalada de 2070 MW. O

286
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

empreendimento aproveita o desnível natural do rio Kwanza, de aproximadamente 100 m, que ocorre ao
longo de 2 km de extensão neste rio.

Para formação do reservatório é prevista a construção de uma barragem de concreto compactado com
rolo (CCR), com 132 m de altura, sobre o leito do rio Kwanza. No vale escolhido para materializar o
barramento, ambas as margens são formadas por uma encosta natural com mais de 100 m de altura.

A fundação da barragem no leito do rio se dá integralmente em maciço gnáissico. Nas ombreiras, o


encosto da barragem ocorre em maciço metassedimentar e maciço gnáissico.

As escavações necessárias para o assentamento da barragem nas margens do vale foram definidas
observando-se os seguintes condicionantes: necessidade de incorporação de acesso de construção,
condições geológico-geotécnicas, divisão racional dos blocos da barragem de CCR e processo executivo
das escavações.

Definida a geometria dos taludes de escavação dimensionaram-se os tratamentos geotécnicos avaliando-


se a estabilidade global da escavação e também a estabilidade de possíveis blocos formados pela
combinação de descontinuidades presentes no maciço rochoso.

Nesse contexto, o presente artigo objetiva descrever a metodologia empregada no dimensionamento do


tratamento geotécnico das escavações em rocha, bem como discorrer sobre os fatores condicionantes
para determinação da geometria das escavações.

2- ASPECTOS GEOLÓGICOS

2.1 - Geologia local

As encostas das margens do rio Kwanza na área da barragem, nas quais se materializam as ombreiras do
barramento, são compostas por rochas metassedimentares com níveis de arenitos silicificados na porção
superior seguidas de intercalações de siltitos e arenitos. A transição entre os arenitos e o gnaisse é
caracterizada por um pacote de siltito finamente estratificado, sobreposto a um nível basal de brecha
conglomerática. No sopé das escarpas ocorrem depósitos de tálus e coluvios quaternários que encobrem
em grande parte o contato do gnaisse com os metassedimentos.

2.2 - Geologia estrutural

Durante as escavações do canal de aproximação dos túneis de desvio, etapa anterior às escavações das
ombreiras, foi realizado o mapeamento estrutural das descontinuidades nas porções expostas do maciço.
Foram tiradas medidas de orientação e características geomecânicas das descontinuidades detectadas. As
informações coletadas foram: direção do mergulho e mergulho, espaçamento, persistência, rugosidade,
abertura, preenchimento, presença de água e resistência das paredes das descontinuidades.

Os dados coletados foram tratados estatisticamente, através de projeção estereográfica, para obtenção
de estereogramas para cada litologia. A metodologia empregada consistiu em representar todos os pólos
das descontinuidades medidas, obtendo em seguida as isolinhas de concentração. Posteriormente, foram
delimitadas as áreas de maior densidade de pólos e, de modo estatístico, obteve-se o pólo médio
representativo de cada família de descontinuidade.

Nas figuras 1 e 2 são apresentados os estereogramas utilizados nas análises de estabilidade local para
maciço de metarenito, metassiltito e gnaisse alterado.

287
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 1 - Estereograma para metarenitos acima da elevação 760 manm (esquerda) e estereograma para metassiltito
entre elevações 760 manm e 748,5 manm (direita)

Figura 2 - Estereograma para gnaisse alterado abaixo da elevação 748,5 manm

3- CRITÉRIOS DE ESCAVAÇÃO

Os critérios propostos para as escavações da ombreira esquerda foram definidos de forma a conciliar as
condicionantes geológico-geotécnicas, atendimento ao cronograma de obra, racionalidade e estabilidade
da barragem de CCR.

Do ponto de vista geológico foi necessário prever uma escavação suficiente para remover as porções de
maciço mais alteradas e aliviadas, associadas à proximidade da encosta natural.

Em função da exiguidade de espaço para o desenvolvimento de acessos de construção e para o


atendimento ao cronograma de obra foi necessária a incorporação de rampas de acesso na escavação da
ombreira. Dessa forma foi garantida a chegada dos equipamentos nas frentes de serviços, a manutenção
dos mesmos e o transporte do concreto convencional.

A incorporação deste acesso resultou em benefícios não só do ponto de vista do tempo de execução, mas
também contribuiu para a estabilidade das escavações devido à adição de bermas entre taludes. O
acesso é constituído por três rampas com inclinação de 15% e largura de 8 m, ascendentes na direção
montante-jusante.

O projeto do maciço da barragem de CCR necessitou de estudo conjunto com o projeto de escavação
para que houvesse compatibilidade com as rampas de acesso e para assegurar a divisão mais adequada
dos blocos da barragem, garantindo condições de estabilidade consistentes e seguras.

288
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Além de todos os condicionantes anteriormente citados foi necessário prever um acréscimo nas
escavações nesta margem para proteção da Central Ecológica, projetada para produzir energia
aproveitando a vazão sanitária do rio e locada junto ao pé de jusante do barramento. Estas escavações
tem por objetivo a remoção de taludes negativos e porção superficial do maciço rochoso com grau de
alteração mais elevado.

A geometria de escavação resultante é ilustrada na Figura 3. Os taludes do encosto da barragem


possuem direção de mergulho de 350° e, simplificadamente, 12 e 15 m de altura, inclinação de 0,17H:1V,
intercalados por bermas de largura de 0,5 ou 8 m.

82 N 8.92 0,17H:1V
5 0,17H:1V 2.700
820,00
3,00

8,00
i=15%
8,00

(TÍP.)

808,00

8,00
0,17H:1V
808,00
3,00

8,00
(TÍP.) 0,3H:1V ESCAVAÇÃO PARA
i=15%
8,00

i=15% 789,50 1H:1V PROTEÇÃO DA


796,00

CENTRAL ECOLÓGICA

8,00
0,17H:1V

784,00

8,00
0,17H:1V
772,00

1H:1V i=15%
8,00

i=15% 766,60

3,00
(TÍP.)
0,3H:1V 760,00 0,3H:1V
0
3,(T0ÍP.)
9,80

731,00 0,3H:1V
800

ESCAVAÇÃO PARA ENCOSTO


DA BARRAGEM N 8.92
2.750
722,00
BARRAGEM

775 0,3H:1V 760,00


RIO KWANZA 750
745,00
750
C
L

725
950

800
900

700
725

750
850

0,3H:1V 731,00
E 513.

E 513.
E 513.

E 513.
E 513.
E 513.

N 8.92
2.800

Figura 3 – Escavações da ombreira direita da barragem de CCR

4- AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE LOCAL DAS ESCAVAÇÕES

A estabilidade local foi avaliada considerando as estruturas presentes no maciço, tais como estratificação,
descontinuidades, etc. Utilizando os estereogramas definidos para cada litologia foram feitas análises
cinemáticas buscando identificar os possíveis modos de ruptura para as diferentes direções e inclinações
das escavações. Estas análises foram realizadas com o software Dips.

Os resultados indicaram probabilidade de ruptura planar, por tombamento e de formação de possíveis


cunhas. Uma vez detectada a possibilidade de ocorrência de tais mecanismos de ruptura, foram avaliados
os tratamentos necessários à garantia da estabilidade, utilizando o método de equilíbrio limite, com os
softwares Swedge, RocPlane e RocTopple.

As potenciais cunhas e blocos instáveis foram avaliados considerando os diversos carregamentos aos
quais o talude pode ser submetido durante sua vida útil. Os casos de carregamento estudados foram:
final de construção, operação, sismo e rebaixamento rápido do reservatório.

O modelo constitutivo utilizado para representar a resistência das descontinuidades foi o de Mohr-
Coulomb. O ângulo de atrito inicialmente foi estimado de maneira empírica, através dos parâmetros Jr e
Ja de Barton (1974), que indicam a rugosidade, alteração e o preenchimento das paredes das
decontinuidades. Considerou-se coesão nula.

Nos trechos em arenito, as descontinuidades foram descritas como planas e rugosas, com contato rocha-
rocha, paredes sãs, oxidadas ou levemente alteradas. As descontinuidades observadas no siltito foram
descritas como planas e lisas, levemente alteradas. As descontinuidades no gnaisse alterado foram
descritas como planas e rugosas com paredes alteradas. No quadro 1 são mostrados os ângulos de atrito
estimados em função dos valores de Jr e Ja. Para o arenito a faixa de variação do ângulo de atrito situa-
se entre 63° e 37°. Para o siltito o valor sugerido é de 27°. Para o gnaisse alterado o valor está entre 21º
e 27º.

289
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 1 - Estimativas de ângulo de atrito em função de Jr e Ja – (Barton et al., 1974)


Contato entre as Ja
Jr
paredes de rocha 0,75 1,0 2,0 3,0 4,0
Descontínuas 79° 76° 63° 53° 45°
Rugosas, onduladas 4,0 76° 72° 56° 45° 37°
Suaves, onduladas 3,0 69° 63° 45° 34° 27°
Polidas, onduladas 2,0 63° 56° 37° 27° 21°
Rugosas, planas 1,5 63° 56° 37° 27° 21°
Lisas, planas 1,5 53° 45° 27° 18° 14°
Polidas, planas 1,0 34° 27° 14° 9,5° 7,1°

Efetuou-se em campo um levantamento dos parâmetros JRC (joint roughness coeficient) e JCS (joint
compressive strength) da envoltória de resistência de Barton-Bandis. O ângulo de atrito residual foi
estimado com base em referências da literatura. Os valores obtidos são mostrados no quadro 2.

Quadro 2 - Parâmetros da envoltória de Barton-Bandis


JCS ∅𝑟
Litologia JRC
(MPa) (°)
Metarenito silicificado 9,8 108 30
Metarenito poroso 11,3 31 27
Metassiltito 4,1 68 25
Gnaisse 8,7 105 30

Posteriormente, ensaios de cisalhamento direto foram realizados em descontinuidades de testemunhos de


sondagens. Os pares de valores de tensão normal e cisalhante obtidos foram comparados com as
envoltórias de Mohr-Coulomb e Barton-Bandis avaliadas anteriormente. Os resultados são mostrados nas
Figuras 4 a 7.

2500

2000

1500
(τ )kPa

1000

500

0
0 500 1000 1500 2000 2500
(σ )kPa
Cisalhamento Direto Barton - Bandis Mohr - Coulomb
Figura 4 – Envoltórias de resistência para o metarenito silicificado

290
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

2500

2000

1500
(τ) kPa
1000

500

0
0 500 1000 1500 2000 2500
(σ) kPa
Cisalhamento Direto Barton - Bandis Mohr - Coulomb
Figura 5 – Envoltórias de resistência para metarenito poroso

1600

1400

1200

1000
(τ )kPa

800

600

400

200

0
0 500 1000 1500 2000 2500
(σ) kPa
Cisalhamento Direto Barton - Bandis Mohr - Coulomb
Figura 6 – Envoltórias de resistência para o metassiltito

2500

2000

1500
(τ )kPa

1000

500

0
0 500 1000 1500 2000 2500
(σ) kPa
Cisalhamento Direto Barton - Bandis Mohr - Coulomb
Figura 7 – Envoltórias de resistência para o gnaisse

Nota-se que para todas as litologias a envoltória de Mohr-Coulomb é inferior à envoltória de Barton-
Bandis e aos resultados dos ensaios de cisalhamento direto. Conservadoramente, nas análises de
estabilidade, foi adotado um valor de ângulo de atrito de 40° para as descontinuidades de metarenitos

291
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

(poroso e silicificado), 25° para as descontinuidades do siltito e 21° para o gnaisse alterado, com modelo
constitutivo de Mohr-Coulomb. Em todos os casos a coesão foi considerada nula.

Durante as análises de equilíbrio limite, quando detectada a necessidade de aplicação de algum tipo de
tratamento geotécnico, especificou-se a aplicação de concreto projetado com espessura mínima de 8 cm
e resistência de 21 MPa aos 28 dias. Este tratamento foi suficiente para estabilização das diversas
potenciais cunhas. Sempre que o tratamento geotécnico considerou o uso de concreto projetado indicou-
se a execução de drenos barbacãs para dissipar a poropressão sob este revestimento.

Nas regiões onde se configura o encosto da barragem de CCR com o maciço, o tratamento geotécnico
resultante para estabilizar a escavação consiste na aplicação sistemática de ancoragens passivas em aço
CA-50, diâmetro de 25 mm, comprimento de 3 m, em malha de 4 x 4 m. Indicou-se este tratamento para
as áreas de talude acima da elevação 760 manm, região na qual o maciço é composto por rochas sãs de
alta resistência. Abaixo desta elevação o tratamento geotécnico necessário foi mais rigoroso uma vez que
o maciço apresenta-se aliviado, levemente alterado e com maior grau de fraturamento. Para este caso as
ancoragens preconizadas foram de 32 mm de diâmetro, 5 m de comprimento e aplicadas em malha de
1,6 x 1,6 m.

O comprimento das barras de ancoragem foi definido de forma a garantir que as barras atravessassem a
totalidade da extensão da cunha e que fossem ancoradas em maciço firme. O cálculo para o comprimento
mínimo de ancoragem em rocha firme considerou a extensão mínima necessária para ancoragem da
barra de aço na calda de cimento e também do conjunto barra + calda no maciço rochoso.

Figura 8 – Detalhe do encosto da barragem no maciço.

5- AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESCAVAÇÕES

A estabilidade global foi avaliada admitindo-se o maciço rochoso como um meio homogêneo, contínuo,
isotrópico e considerando o critério de resistência de Hoek e Brown (2002). Os parâmetros de resistência
foram estimados a partir de dados obtidos nos mapeamentos geológicos e nos ensaios de laboratório
realizados em amostras de testemunhos de sondagens rotativas. Foram realizados ensaios triaxiais e de
compressão simples (quadros 3 e 4).

Quadro 3 - Média dos ensaios de compressão simples


Litologia UCS (MPa)
Metarenito Poroso 31,1
Metarenito Silicificado 108,0
Gnaisse 105,1
Metassiltito 68,4

292
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 4 - Média dos ensaios de módulo de deformabilidade


Módulo de
Litologia
Deformabilidade (GPa)
Metarenito Poroso 24,4
Metarenito Silicificado 36,5
Gnaisse 81,3
Metassiltito 36,4

Com os resultados dos ensaios triaxiais foi possível calcular o parâmetro mi da envoltória de Hoek e
Brown, com exceção do metassiltito, litologia na qual não foram realizados ensaios triaxiais.

Os valores obtidos nos ensaios foram comparados com os valores sugeridos por Hoek e Brown (1997).
Quando o valor obtido nos ensaios era superior ao sugerido por Hoek e Brown, de forma conservadora
era adotado o limite superior sugerido. Para o metassiltito foi adotado o valor médio sugerido (quadro 5).

Quadro 5 - Valores de mi

Litologia Obtido nos ensaios Sugerido Hoek - Brown (1997)

Metarenito Poroso 13,6 17±4


Metarenito Silicificado 23,3 17±4
Gnaisse 50,0 28±5
Metassiltito - 7±2

A envoltória de resistência de Hoek-Brown para cada material foi avaliada com os parâmetros indicados
no quadro 6. Os valores de GSI (Geological Strength Index) foram avaliados a partir dos dados coletados
nos mapeamentos de campo.

Quadro 6 - Parâmetros de resistência


Material GSI UCS (MPa) mi
Metarenito 50 108 21
Metarenito poroso 50 31,1 13
Metassiltito 50 68,4 7
Gnaisse alterado 30 70,1 23
Gnaisse 65 105,1 33

A estabilidade global da escavação foi verificada através do método de equilíbrio limite, pelo método de
Spencer, com a utilização do software Slide. Os casos de carregamento analisados foram os mesmos
utilizados para verificação da estabilidade local.

O modelo de análise, apresentado na Figura 9, foi concebido de forma a retratar regiões com mesmo
comportamento e parâmetros de resistência, segundo a estratificação inferida com base nas sondagens
realizadas nas proximidades e dados de mapeamento obtidos durante as escavações do canal de entrada.

Os resultados das análises indicaram que do ponto de vista da estabilidade global, o maciço é estável
sem necessidade de aplicação de nenhum tipo de tratamento.

293
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 9 – Estratigrafia considerada para o modelo de cálculo das análises de estabilidade globais

6- CONCLUSÕES

As escavações para assentamento da barragem de CCR do Aproveitamento Hidroelétrico de Laúca, na


margem esquerda do rio Kwanza, foram realizadas predominantemente em maciço metassedimentar
composto por metarenitos silicificados, metarenitos porosos e metassiltitos. É característica deste maciço
apresentar foliação metassedimentar subhorizontal, fato que contribui para o travamento de blocos
instáveis, principalmente se possuirem direção de mergulho contrária à do talude de escavação.

As geometrias das escavações foram definidas de forma a conciliar aspectos construtivos bem como
compatibilização entre projeto do maciço da barragem de CCR e geológico-geotécnico das escavações.

O tratamento geotécnico para as escavações baseou-se nos resultados obtidos de análises de


estabilidade globais e análises locais, nas quais os mecanismos de ruptura estão associados às
descontinuidades existentes no maciço rochoso.

Os parâmetros de resistência utilizados nas análises locais foram inicialmente avaliados através de
métodos empíricos e posteriormente confirmados através de ensaios de laboratório e mapeamentos de
campo.

Verificou-se através de análises cinemáticas que haveria a possibilidade de formação de cunhas e blocos
instáveis. Para a estabilização da maior parte das cunhas e blocos especificou-se tratamento com
aplicação de 8 cm de concreto projetado reforçado com fibras de forma a atingir os fatores de segurança
mínimos exigidos.

Em locais onde o maciço rochoso possui maior grau de alteração e fraturamento indicou-se tratamento
com ancoragens e concreto projetado.

Adicionalmente, tomou-se a precaução de indicar aplicação de concreto projetado convencional de 10 cm


de espessura, reforçado com tela de aço, para locais onde houvesse maciço friável/incoerente.

As análises de estabilidade globais indicaram que não há necessidade de aplicação de suporte para a
obtenção de fatores de segurança adequados para os diversos casos de carregamento.

Atualmente as escavações da encosta encontram-se concluídas e a execução transcorreu sem nenhum


incidente. A instrumentação geotécnica instalada, composta por extensômetros múltiplos de haste e
marcos superficiais, indica deslocamentos estabilizados, de pequena magnitude, conforme esperado.

294
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK), à Intertechne


Consultores e à Odebrecht Engenharia e Construção Internacional pela disponibilização de informações.

REFERÊNCIAS

Barton, N., Bandis, S. (1990) - “Review of Predictive Capabilities of JRC-JCS Model in Engineering Practice, Reprinted
from Barton, N. R. & Stephanson (eds), Rock Joints Proc. Of a regional conference of the International Society
of Rock Mechanics, Leon, 820 pp.

Barton, N., Lien, R. e Lunde, J. (1974) - Engineering Classification of Rock Masses for the Design of Tunnel Support.
Rock Mechanics, Springer-verlag, Vol. 6, pp189-236.

Dips 6.0. “Graphical and Statistical Analyses of Orientation Data”. Rocscience Inc.

Hoek, E. e Brown, E. T. (1997) - Practical estimates of rock mass strength. International Journal of Rock Mechanics
and Mining Sciences, Vol 34, No 8, 1997, pages 1165-1186.

Hoek, E., Carranza-Torres, C. e Corkum, B. (2002) - Hoek-Brown criterion – 2002 edition. Proc. NARMS-TAC
Conference, Toronto, 2002, 1, 267-273.

Slide 6.0. "2D Limit Equilibrium Slope Stability Analysis" Rocscience Inc.

Swedge 6.0. “3D Surface Wedge Analysis for Slopes”. Rocscience Inc.

Rocplane “Planar Sliding Stability Analysis for Rock Slopes”. Rocscience Inc.

RocTopple “Toppling stability analysis”. Rocscience Inc.

295
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

PROTEÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONJUNTO DE SOLUÇÕES E


ESTRUTURAS PASSIVAS EM PEDRO DO RIO, RIO DE JANEIRO, BRASIL

PROTECTION AND STABILIZATION OF NATURAL SLOPE WITH PASSIVE


SOLUTIONS SETS AND STRUCTURES IN PEDRO DO RIO, RIO DE JANEIRO,
BRAZIL

Pelizoni, Andrea; Maccaferri do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, andrea.pelizoni@maccaferri.com.br


Pereira, Fernando; Maccaferri do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, fernando.pereira@maccaferri.com.br

RESUMO

Este trabalho apresenta as soluções e técnicas passivas empregadas para estabilização e proteção da área
de uma encosta após um movimento de massa. A área onde ocorreu o movimento de massa se encontra
em um condomínio em Pedro do Rio, 4º distrito do município de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, Região
Sudeste do Brasil. No dia 16 de janeiro de 2016, durante fortes chuvas, a casa localizada no terreno do
condomínio foi severamente danificada após um grande movimento de massa iniciado na região mais
elevada da encosta. A trajetória deste movimento seguiu o talvegue natural atingindo a infraestrutura a
jusante. O movimento deflagrado foi do tipo “complexo”, iniciou-se no topo da encosta, com uma ruptura
planar do solo, carreando este material na direção da trajetória natural do talvegue, induzindo uma corrida
de detritos. Para recuperação e estabilização do talude natural a montante da casa, estudou-se um conjunto
de técnicas de engenharia geotécnica consideradas soluções inovadoras, que quando aplicadas em conjunto
conseguem promover mitigação e proteção. Tais soluções devem ser de baixo custo e rápida execução,
conseguindo assim num curto período de tempo, recuperar, estabilizar e proteger a área da infraestrutura
de um novo movimento de massa. A intervenção da área foi definida a partir do risco oferecido pelas
condições de potencial instabilidade da área e dos materiais remanescentes depositados na trajetória do
talvegue, uma vez que foi identificada a possibilidade de um novo movimento. As técnicas de contenção
estudadas foram: Solo Grampeado Verde, barreira dinâmica, Sistema de revestimento superficial com tela
de alta resistência e chumbadores, barreira de impacto, ancoragens individuais com uso de chumbadores
(em alguns blocos e lascas), além de um sistema de drenagem no formato espinha de peixe ao longo do
talvegue, de forma de canalizar a água proveniente de futuras chuvas.

ABSTRACT

This work presents the solutions and passive techniques used to stabilize and protect the area of a slope
after a mass movement. The area where the mass movement occurred is located inside a condominium in
Pedro do Rio, 4th district of the municipality of Petrópolis, state of Rio de Janeiro, in southeastern Brazil.
On January 16, 2016, during heavy rains, the house located in the condominium lot suffered great damages
after a great mass movement that began in the highest region of the slope, whose trajectory followed the
natural thalweg, reaching the infrastructure to downstream. The movement was characterized as "complex"
type, starting at the top of the slope, with a planar rupture of the soil, carrying this material in the direction
of the natural trajectory of the thalweg, inducing a run of debris. For the recovery and stabilization of the
natural slope upstream from the house, geotechnical engineering solutions and techniques considered
innovative solutions were studied. Those solutions when applied together, can mitigate and protect, as well
as they have low cost and fast execution, recovering, stabilizing and protecting the infrastructure area from
a new mass movement. The area intervention was defined based on the risk offered by the instability
conditions of the area and the remaining materials in the thalweg trajectory, once the possibility of a new
movement was observed. The containment techniques studied to implement in the area were passive
solutions and structures of the following types: Green Stapled Soil, Dynamic barrier for the mitigation of
new debris races, Surface coating system with high resistance screen and anchors, impact barrier, individual
anchorages with use of anchors in some blocks and splinters scattered in the area and finally drainage
system in the shape of fishbone along the thalweg, in order to channel water from future rains.

1- INTRODUÇÃO

Movimentos de massa complexos são fenômeno de difícil previsão e costumam ser catastróficos, de acordo
com inúmeros registros em diferentes partes do mundo. Tais eventos ocorrem geralmente em áreas
escarpadas e/ou preenchidas por material depositado durante movimentos anteriores. Estes movimentos
se iniciam geralmente em áreas de topografia acidentada, taludes naturais ou artificiais, e são deflagrados
por fatores naturais como sismos, chuvas torrenciais, ou, em muitos casos, pela ação do homem. Os danos
provocados por estes movimentos de massa são, na maioria dos casos, muito significativos, uma vez que
envolvem grandes volumes de materiais, altas energias e vastas áreas de abrangência.

296
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

No Brasil, a região serrana do Rio de Janeiro é uma área muito afetada por movimentos de massas, que
são recorrentes durante eventos de intensas chuvas, principalmente no período de verão (entre dezembro
e março). Nesta região, os escorregamentos e corridas de massa são governados pelos altos declives
associados a chuvas extraordinárias, sem muita influência do tipo de material presente na área.

Este tipo de evento, somado às ocupações sem mapeamentos e sem planejamento de áreas susceptíveis
a movimentos de massa, leva, em alguns casos, à ocorrência de eventos catastróficos, causando estragos
e muitas vezes perdas materiais e de vidas humanas.

Um evento foi registrado no dia 16 de janeiro de 2016 no distrito de Pedro do Rio, durante um período de
intensa precipitação que deflagrou um escorregamento no topo da encosta. A trajetória seguiu a
geomorfologia natural do talvegue até atingir a área a jusante, onde se encontrava uma casa habitada. Ao
longo da trajetória, o material proveniente do escorregamento ganhou volume e energia cinética,
configurando-se um fluxo de detritos com alto potencial de destruição.

Este trabalho apresenta um caso de estudo na área da encosta afetada pelo evento acima descrito, onde -
após a ruptura - foram avaliadas diversas técnicas e soluções para estabilizar e proteger as áreas contra
novos movimentos. Foi adotado um conjunto de soluções e estruturas modernas combinando técnica,
facilidade de execução e baixo custo.

2- CARATERÍSTICAS DO EVENTO

2.1 - Localização

A área de estudo, objeto deste trabalho, localiza-se na região serrana do Rio de Janeiro, em um dos lotes
do condomínio residencial Fazenda Montes Alpha, no bairro de Santa Monica, em Pedro do Rio, 4º Distrito
do município de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

A infraestrutura locada na área em estudo, encontra-se no exutório do talvegue natural, onde converge
grande parte da água da bacia natural de drenagem desta área. A Figura 1 apresenta a localização do
distrito de Pedro do Rio, na região serrana do estado do Rio de Janeiro. A Figura 2 indica o local do
condomínio no contexto geomorfológico da região serrana.

2.2 - Caracterização geológica-geotécnica e geometria da área

Em termos geológico-geotécnicos, a área em questão faz parte da região das escarpas e reversos da Serra
do Mar, e está inserida na Unidade Geomorfológica da Serra dos Órgãos.

As rochas encontradas na região são predominantemente pertencentes ao complexo granítico‐gnáissico‐


migmatítico de idade Pré‐Cambriana. Nessas rochas se encontram frequentes fraturas e falhas de extensão
regional, com fortes consequências na topografia, pois toda região de abrangência destas unidades foi
submetida aos mesmos eventos tectônicos durante a era de sua formação. Em decorrência desse fato, as

Figura 1 – Localização do Municipio Petrópolis Figura 2 – Visão geral da geomorfologia da área de estudo

Figura 1 – Localização do Municipio Petrópolis Figura 2 - Visão geral da geormorfologia da área de estudo

297
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

características gerais do seu relevo são determinadas por um mesmo padrão de fraturamento e posição
em relação à escarpa principal, que é o limite meridional do domínio serrano. Essas estruturas geológicas
regionais desempenham um importante papel na organização da rede de drenagem e na formação do
relevo municipal.

Estas características resultaram em solos originados de sucessivas fases erosionais, com intensa
remobilização de blocos graníticos, agravadas pela presença de vales alongados, segmentos de drenagem
retilíneos, maciços graníticos circundados por camadas de solo relativamente pouco espessas. Por conta do
descrito, as encostas de toda a região são afeitas a movimentos de massa, especialmente escorregamentos
e fluxos de detritos, o que requer especial atenção aos processos de ocupação antrópica.

O local de estudo pertence ao zoneamento do Alto Curso do Rio Piabanha, que drena toda a carga fluvial
do município para o Rio Paraíba do Sul. Do ponto de vista geomorfológico, a área possui um relevo
acidentado, mostrando o papel da geologia no seu desenvolvimento, e apresentando um quadro
morfológico relacionado aos efeitos de um tectonismo regional e de sucessivas fases erosionais (Penha et
al., 1981; Gonçalves e Guerra, 2005).

A caracterização geométrica da área em questão se deu com base em levantamentos planimétricos antes
e depois do evento. O talude possui extensão total de 180m, desnível máximo de 110m e declividade
variando de 20° a 77º ao longo da trajetória, sendo aproximadamente 56º de inclinação máxima na parte
alta do talude (caracterizada como zona de iniciação do movimento), entre 53º e 77º no afloramento
rochoso (zona de transporte e trajetória), e inclinação média de 20º na zona de deposição, considerada o
terço final da área da encosta, onde se encontra a infraestrutura.

2.3 - Características do Movimento de Massa

O movimento deflagrado foi do tipo “complexo”, e se iniciou no topo da encosta. A massa de material
decorrente do movimento inicial carreou detritos depositados no talvegue por movimentos anteriores ao
longo da trajetória, ganhando energia e caracterizando um fluxo de detritos com deposição na zona plana
da área, onde se encontrava a infraestrutura. As imagens de satélite (Google Earth) antes da ruptura,
datadas de janeiro de 2016, mostram que a área se encontrava totalmente vegetada e sem indícios de
movimentação, conforme Figura 3(a). A Figura 3(b) indica uma imagem de satélite da área imediatamente
(após o movimento de massa, em março de 2016.

As rupturas conhecidas como movimentos complexos são movimentos de massa, geralmente em encostas
naturais, que envolvem uma combinação de um ou mais movimentos dos tipos quedas, deslizamentos e
corridas, em diferentes estágios durante sua trajetória (Varnes, 1978).

Figura 3 – Área afetada pelo movimento de massa

O evento registrado no lote do condomínio Montes Alpha se caracterizou como um movimento complexo
iniciado por um deslizamento raso no topo da encosta a montante da infraestrutura, deflagrado pela perda
de resistência provocada pela saturação do material durante fortes precipitações registradas nos dias 15 e
16 de janeiro de 2016.

298
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 4 – Danos à infraestrutura Figura 5 – Depósito de material remanescente após movimento

A partir da ruptura inicial, o movimento continuou sua trajetória seguindo o caminho natural do talvegue,
ganhando massa por conta de material disposto na trajetória do movimento inicial, e potencializado pelo
fluxo de água que levou o material até o ponto mais baixo, onde se encontrava a infraestrutura da casa,
causando danos à construção, conforme indicado nas Figuras 4 e 5.

As características das diferentes zonas de trajetória do movimento, seguindo a classificação de Vandine


(1996) foram definidas a partir das observações e investigações de campo após o movimento, conforme
apresentado na Figura 6.

O movimento teve suas “zonas” bem definidas, permitindo entender o comportamento e as características
do movimento, o que permitiu estimar os parâmetros e características básicas para reproduzir o movimento
e entender o mecanismo de ruptura que deflagrou o movimento e o volume de material depositado na área,
como também os danos causados na infraestrutura.

A área definida como zona de iniciação do movimento (Figura 6a) está localizada no topo da encosta, com
declividade média de 42º e área deslizada de aproximadamente 660m², conforme observado após o
movimento. As características da superfície deslizada foram determinadas a partir de investigações in situ
e observações na área, sendo a ruptura caracterizada como deslizamento raso de espessura máxima igual
a 1,2m.

A zona de transporte e erosão do material, conforme apresentado na Figura (6b), apresentou uma extensão
de 65m e declividade variável de 20° a 77°. O material da área se caracterizou por um afloramento rochoso
exposto após o movimento de massa, seguido de um trecho de menor declividade, e uma camada de
material depositado durante o evento.

Finalmente, a área de deposição do material foi identificada no final do talvegue (Fig. 6c e 6d), onde a
topografia forma uma espécie de leque nas proximidades da infraestrutura da casa. Esta área apresentou
inclinação variável de 0 a 10°, e espessura de depósito variável de 1 a 2m.

As características do material de deposito encontrado na área, indica que além do material movimentado,
existia um deposito antigo proveniente de depósitos anteriores. Parte deste material que se encontrava na
zona de transporte e erosão foi então mobilizado durante o último evento.

299
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 6 – Zonas características do movimento de massa

3- TECNICAS DE PROTEÇÃO E CONVIVENCIA ADOTADAS

Prever a deflagração de um movimento de massa complexo e definir as variáveis envolvidas é um dos


grandes desafios da engenharia geotécnica moderna, uma vez que se trata da análise de um número
considerável de variáveis em um contexto de fenômenos naturais complexos.

Existem diversas técnicas e soluções que podem ser empregadas para estabilizar, proteger e mitigar
movimentos de massa e fluxos de detritos. A escolha da solução implica na avaliação de diversas fases,
segundo a Norma Brasileira NBR 11682, passando pela vistoria e diagnóstico, análises de estabilidade,
detalhamento de projeto, implantação e monitoramento.

Recentemente, técnicas e estruturas “passivas” de proteção e mitigação vêm sendo empregadas para
diversas situações de estabilização e convivência com o problema. Estas técnicas visam promover
interceptação de massas, estabilidade superficial e reforço de solo. Tais técnicas se apresentam como
soluções mais práticas do ponto de vista de instalação e custo, quando comparadas com estruturas
convencionais. Além disso, são – de certa forma – soluções de baixo impacto ambiental, representando
uma relação de custo-benefício adequada.

Após o evento na área de estudo foram realizadas verificações locais e um parecer técnico foi emitido por
um grupo de consultores especialistas. Foi executado também um mapeamento geológico-geotécnico, além
de investigações geotécnicas por meio de sondagens a percussão. Adicionalmente, foram realizadas
imagens aéreas com uso de drones, que auxiliaram o reconhecimento e entendimento do mecanismo do
movimento de massa.

A seleção do conjunto de soluções/estruturas adotadas no projeto considerou os fatores e as características


topográficas, os riscos associados a condição de instabilidade remanescente na área (definidos a partir das

300
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

investigações geológico-geotécnicas de modelagens geomecânicas) e a dificuldade de acesso ao local de


implantação.

Inicialmente, haviam sido consideradas estruturas convencionais de impacto e estabilização, através de


muros de peso em concreto armado, concreto projetado na área por onde passou o movimento, e
contrafortes e tirantes ativos para contenção de blocos. Estas soluções preliminarmente concebidas no
projeto foram descartadas por conta de dificuldades e prazos de execução, custos associados, e impactos
visuais e ambientais.

Então, foram avaliadas outras alternativas, chegando a uma combinação de soluções de estabilização,
proteção e mitigação que, em conjunto, ofereceriam adequada segurança à área.

Foram utilizados diferentes métodos de análises na elaboração do projeto: análises de estabilidade por
método de equilíbrio limite com uso do programa computacional Slide (Rocsience inc), verificação da
estabilidade superficial com uso do programa MacRo Studio (Maccaferri), e métodos empíricos e numéricos
para definição do volume de material, velocidade do movimento e energia de impacto nas barreiras.

3.1 - Soluções Adotadas

3.1.1 - Solo Grampeado Verde

O solo grampeado com revestimento de face verde é uma técnica de estabilização de talude em grande
difusão no Brasil na última década. No projeto relatado neste trabalho, foi adotada a solução em solo
grampeado verde para estabilização da área remanescente ao deslizamento, no topo da encosta. Neste
trecho, onde se originou o movimento de massa, identificou-se a possibilidade de uma nova instabilização.
As características e parâmetros dos materiais da área foram adotados em função das sondagens executadas
e de dados coletados durante as observações de campo.

O dimensionamento levou a grampos com 5m de comprimento e revestimento de face em geomanta


reforçada com tela de alta resistência, designada MacMat R1 (Maccaferri). Este conjunto de geomanta e
tela visa aumentar as forças resistentes da massa de solo instável, evitar erosão ou ruptura superficial do
talude, e promover a revegetação da área (Figura 4a). Buscou-se atender a um Fator de Segurança superior
a 1,5, conforme requerido na Norma Brasileira de Estabilidade de Encostas (NBR 11682:2009).

3.1.2 - Revestimento Superficial com Sistema HEA Panel

O revestimento superficial consiste na associação de tela de alta resistência e malha de chumbadores com
o objetivo de estabilizar superficialmente um talude rochoso, de modo a evitar a movimentação ou
desprendimento desta massa. Este tipo de solução vem sendo muito adotado por ser considerado um
sistema de baixo custo, rápida execução e alta resistência, capaz de estabilizar blocos de grandes
dimensões.

No projeto foi adotado o Sistema HEA Panel 300 (Maccaferri) e chumbadores dispostos com espaçamento
de 1m de espaçamento na área dos blocos. O local tratado foi a margem do talvegue, após desmonte de
rocha nesta mesma área (Figura 7b). O dimensionamento dos chumbadores e da malha se deu a partir das
condições da área de estudo, considerando, principalmente, espessura instável, geometria do talude,
características da rocha, características geológicas da descontinuidade crítica e resistência ao arrancamento
(qs) dos chumbadores.

3.1.3 - Barreira de Impacto

As barreiras de impacto são estruturas que visam a interceptação ou desaceleração de massas em


movimento, além de mitigação e proteção de áreas das consequências de eventos do tipo de queda de
blocos e corridas de massa. Estas estruturas podem ser rígidas, semirrígidas ou flexíveis, e constituídas de
diversos materiais, entre os mais comuns, concreto, solo natural compactado, gabião, solo reforçado, e aço
(barreiras flexíveis).

Para o dimensionamento deste tipo de estrutura é necessário avaliar a energia de impacto provocada pela
massa em movimento, o impacto dinâmico na estrutura e, finalmente, a estabilidade do corpo geométrico
da estrutura adotada.

No estudo em questão foi adotada uma barreira rígida em gabião, com extensão de 15m e altura de 4m.
A finalidade da estrutura é interceptar uma massa passante pela barreira dinâmica durante um possível
evento (Figura 7c).

3.1.4 - Barreira Dinâmica de Fluxo de Detritos

As barreiras dinâmicas consistem em estruturas relativamente leves e esbeltas, constituídas em telas, rede
de anéis e cabos de aço ancorados passivamente em maciço estável. Estes elementos devem ser capazes

301
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

de interceptar uma massa tendo a liberdade de se deslocar, dissipando a energia envolvida no impacto.
Este tipo de solução tem como vantagens as facilidades de transporte e adaptação a diferentes geometrias
de talude, o que possibilita a instalação em lugares de difícil acesso. A utilização deste tipo de estrutura
ainda não é pratica corrente no Brasil, embora esteja em crescente difusão no país nos últimos anos.

No projeto da área em estudo, foi adotada uma linha de barreira conhecida como barreira em canal, por
ter geometria capaz de se adaptar à geometria da seção topográfica no local de instalação. A capacidade
da barreira é de 200kPa de pressão de impacto, modelo RMC 200 DF (Maccaferri), com dimensões de 38m²
(área no formato trapezoidal) e altura de 4m, conforme figura 5d.

O dimensionamento da barreira foi definido a partir do volume estimado de material em função das
características da área e da pressão que poderia ser gerada na barreira. A locação foi realizada buscando
uma posição mais eficiente e com condições apropriadas para fundação e engaste. Foram estimados para
o dimensionamento os seguintes dados de um possível movimento de massa: volume, velocidade, distância
e forças de impacto associadas à energia cinética envolvida.

3.1.5 - Sistema de Drenagem Superficial

O histórico de movimentos de massas da região serrana do Rio de Janeiro no Brasil mostra uma relação
direta entre precipitação e escorregamento. No movimento de massa estudado, se evidenciou que a água
foi o deflagrador do movimento, causando a redução de resistência do material e consequentemente o
deslizamento na parte alta do talude.

Figura 7 – Soluções adotadas para tratamento e proteção da área

302
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

De modo a minimizar a ação da água em erosões e futuros mecanismos de ruptura, foram implementados
sistemas de drenagem superficial e profunda. Foram adotadas canaletas de drenagem, descida em degrau,
caixas de passagem e bateria de dreno horizontal profundo ao longo do eixo do talvegue.

4- EXECUÇÃO DA OBRA

A execução da obra em questão representava um grau de dificuldade considerável, uma vez que existiam
alguns fatores determinantes, como (1) prazo de execução, uma vez que a obra precisaria de ser executada
antes da próxima estação de verão; (2) dificuldade para acesso de equipamento e materiais à área de
implantação; (3) logística e sequência executiva; e (4) custos de execução, visto que se tratava de uma
propriedade privada, e o custo total da obra seria arcado pelo proprietário da casa.

A obra foi dividida em 4 principais fases executivas, definidas em função da segurança e do prazo necessário:
(i) limpeza e remoção; (ii) execução do solo grampeado verde; (iii) execução das estruturas de
estabilização e proteção; e (iv) execução do sistema de drenagem.

Figura 8a - Limpeza e remoção do material Figura 8b - Execução solo grampeado verde


depositado

Nesta primeira etapa foi feita a limpeza do material depositado pelo movimento. Foram removidos blocos
métricos depositados na área da casa, além do material depositado ao longo do talvegue, conforme
apresentado na Figura 8a e 8b. Uma vez removido o material depositado no talvegue, foram iniciados os
serviços de corte do talude na área superior para execução do solo grampeado verde, desmonte de rocha
na margem esquerda do talvegue, conformação da área para instalação do sistema de drenagem e
adequação das áreas de instalação das barreiras e revestimento superficial do afloramento rochoso.

4.1 - Execução do Solo Grampeado Verde

Na cicatriz do escorregamento, onde foi executado o solo grampeado verde, foi realizada uma regularização
manual do talude até se atingir uma declividade adequada. Posteriormente foi feita a perfuração para
execução dos grampos, instalação das barras e injeção de nata. Na sequência foi realizada a instalação do
sistema MacMat R1 (Maccaferri) e o plantio das espécies para revegetação da área.

A execução do solo grampeado verde foi realizada, na sua totalidade, mediante trabalho em altura por
alpinistas certificados e equipamentos manuais devido à dificuldade de acesso à área. Na figura 8b é
possível visualizar a área do solo grampeado verde, ainda durante sua execução.

4.2 - Execução das Estruturas de Estabilização e Proteção

As estruturas de estabilização e proteção da área foram executadas numa sequência que dependia
basicamente da liberação da área após limpeza, uma vez que cada uma destas estruturas é independente
das outras, o que permitiu que fosse possível executar os quatros sistemas em paralelo, num curto prazo
de tempo de quatro meses.

Foi realizada a execução das três estruturas em paralelo: o revestimento superficial com Sistematização
da malha de cabos de aço HEA Panel e chumbadores dos blocos remanescentes ao desmonte com polímero
expansivo na área da margem direita do talvegue, conforme visto na Figura 8c.

303
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Em paralelo, foi feita a montagem da barreira dinâmica, a qual foi instalada em 7 dias. A execução foi
iniciada pelas ancoragens, uma vez feita a perfuração, foram introduzidos os cabos de ancoragem e logo
ocorreu a injeção de calda de cimento. Na sequência foram instaladas as linhas de cabos que formam parte
da estrutura da barreira, bem como os cabos perimetrais e, finalmente, o painel de interceptação
constituído pelos anéis de aço vazados, conforme indicado na Figura 8d

A barreira de impacto em gabião foi executada no ponto mais baixo do talvegue, conforme apresentado na
Figura 8e. O muro foi erguido em paralelo com as estruturas já mencionadas. Uma das grandes vantagens
oferecidas pela escolha desta solução foi que o material de preenchimento utilizado no corpo da estrutura
de impacto foi o material proveniente do desmonte de rocha, distante cerca de 25m, o que facilitou o
transporte e a disposição do material. A execução seguiu o processo convencional de um muro em gabião.

Adicionalmente às estruturas apresentadas, foram também executados chumbadores individuais para


contenção de lascas e blocos característicos da alteração de maciços de granito-gnaisses no contexto
geológico da região. Estes chumbadores isolados foram dimensionados a partir de esforços (tração, flexão
e cisalhamento) estimados em função do volume e geometria dos materiais potencialmente instáveis.

Figura 8c - Limpeza e desmonte de maciço rochoso alterado

Figura 8d - Instalação da barreria dinâmica

304
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Figura 8e - Barreira de impacto em gabião Figura 8f - Sistema de drenagem superficial

4.3 - Execução do sistema de drenagem

O sistema de drenagem foi dimensionado a partir dos dados de precipitação da região e da área de
contribuição da bacia. Foram adotados dois tipos de sistemas de drenagem: Drenagem Profunda com
bateria de Drenos Horizontais Profundos (DHP´s) no contato solo Rocha para reduzir as poro-pressões
atuantes no maciço no trecho superior do talvegue, e drenagem superficial com um conjunto de canaletas
e descidas em degraus, conforme observado na Figura 8f. Foram também adotados drenos profundos no
contato solo-rocha. A execução se deu a partir da perfuração de 8m para os drenos profundos, espaçados
1m. Já na execução do sistema superficial, foi feita inicialmente a canaleta central e caixas de passagem
em concreto armado e engastada 50cm, seguido das canaletas laterais, sendo conectadas à canaleta
central. A água recolhida no sistema, foi finalmente conectada ao sistema principal de drenagem do lote.

5- CONCLUSÕES

Este trabalho teve como objetivo apresentar o caso de obra em um condomínio de luxo na região serrana
do Rio de Janeiro, no sudeste do Brasil, onde foi utilizado um conjunto de soluções e estruturas de proteção
e mitigação de movimentos de massas. A intervenção ocorreu após evento catastrófico, que causou danos
à residência localizada no terreno.

O movimento aconteceu durante um curto período de fortes chuvas, na noite de 16 de janeiro de 2016. As
soluções adotadas foram: solo grampeado verde, estruturas de impacto rígidas e flexíveis, sistematização
de malha de alta resistência e chumbadores, além de sistemas de drenagem superficial e profunda. Esta
concepção buscou atender tanto as necessidades técnicas, quanto as condições de prazo, logística e custo.
Tais soluções permitiram uma economia da ordem de 30%, se comparadas com as soluções inicialmente
estudadas, que foram: muros de peso em concreto armado, contrafortes e tirantes com sistema de
ancoragem. A obra foi executada em 4 meses, cumprindo com o cronograma previsto, que preconizava a
conclusão antes do início do período chuvoso.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às equipes conjugadas e colaboradoras que permitiram o desenvolvimento da obra


no prazo adequado, e respeitando as condições de segurança. Agradecem a empresa gerenciadora da obra
e aos consultores envolvidos no projeto. Agradecem, ainda, à Maccaferri por disponibilizar recursos para
acompanhamento do projeto e da obra.

REFERÊNCIAS

Gonçalves, L.F.H. e Guerra, A.J.T. (2005) –Movimento s de massa na cidade de Petrópolis (Rio de Janeiro). In: Guerra,
A.J.T. & Cunha, S.B. (Orgs.). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil.
pp. 189-252.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Iverson, R.M. (1997) - The physics of debris flows, n 97, pp. 245–296.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11682: Informação e Documentação - Referências - Elaboração.
Rio de Janeiro: ABNT, 2009

Penha, H. M., Ferrari, A. L., Junho, M. C. B., Souza, S. L. A. e Brenner, T. L. (1982) - Projeto Folha Itaipava, Relatório
Final. Convênio IG/UFRJ - DRM (inédito).

Vandine, D. F. (1996) - “Debris Flow control structures for forest engineering”, Ministry of Forests Research, Victoria,
British Columbia, Canada, 69p.

Varnes, D. J (1978) - “Slope Movement Types and Process”, Special Report 176, Transportation Research Board,
Washington, USA, pp. 11-33.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO DE ARRIBAS COSTEIRAS COM REDUZIDO


IMPACTO VISUAL

COASTAL CLIFFS STABILIZATON SOLUTIONS WITH REDUCED VISUAL IMPACT

Aleixo, Vanessa; JetSJ-Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, valeixo@jetsj.com


Tomásio, Rui; JetSJ-Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.com
Pereira, Ana; JetSJ-Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, apereira@jetsj.com

RESUMO

A costa portuguesa é caracterizada pela existência de arribas que, pela sua localização, estão sujeitas a
fenómenos de erosão. A ação do vento, em conjunto com a chuva, as próprias marés e as características
geológicas, contribuem para a desagregação do material que constitui a arriba, levando à sua consequente
instabilidade.

Complementarmente, a integração paisagística constitui, cada vez mais, um dos aspetos condicionantes
ao desenvolvimento de soluções de estabilização em arribas, implicando a adoção de soluções mais “leves”,
cujo impacto visual seja reduzido.

No presente artigo são apresentados exemplos de soluções de estabilização de arribas na costa portuguesa,
as quais se destacam pelo reduzido impacto visual, comparativamente com soluções mais robustas,
proporcionando equivalente grau de segurança e contribuindo para uma evolução controlada dos
fenómenos de erosão.

ABSTRACT

The Portuguese coastline is known by its cliffs. Due to its location, the coastal cliffs are subject to erosion
phenomena. The wind action, allied with the rain, the tides and also its geological features provide the cliff
material loose, driving to its own instability.

The landscape assimilation has become one of the most conditioning aspects that lead to the development
of cliff stabilization solutions, considering the adoption of “soft” solutions, with reduced visual impact.

In this paper are presented some examples of coast cliff stabilization solutions executed in the Portuguese
coast, which are remarkable due to its reduced visual impact, comparing with robust solutions. The
presented solutions provide the equivalent safety level and also a restrained erosion phenomena evolution.

I- CASO A – ARRIBA DA PRAIA DA ZAMBUJEIRA DO MAR (ODEMIRA)

1- ÁREA DE INTERVENÇÃO

A arriba da praia da Zambujeira do Mar, localizada no concelho de Odemira (Figura 1), compreende uma
extensão de cerca de 280,0m, e altura variável entre 15,0m e 33,0m.

Setor B
Arriba Este
Setor A
Arriba Norte
Área de Setor C
intervenção Arriba Este

Figura 1 – Localização da área de intervenção

307
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Tendo por base a informação geológico-geotécnica recolhida, foram adotados como critério para delimitação
das zonas de intervenção os seguintes pontos:

 Existência de estruturas em consola com importante balanço;

 Caracterização geológico-geotécnica;

 Resultados da avaliação de estabilidade;

 Orientação da arriba face à erosão marinha.

Neste seguimento, foram definidos três setores de intervenção cujas soluções de estabilização, apesar de
semelhantes, diferem entre si na sua capacidade de resistência. Os setores de intervenção considerados
são os seguintes:

 Setor A – Capela de Nª. Srª do Mar – Arriba Norte;

 Setor B – Alinhamento ao longo da estrada marginal – Arriba Este;

 Sector C – Zona das escadas de acesso à praia – Arriba Este.

Na Figura 2 é possível observar o aspeto da arriba antes do início dos trabalhos, em particular o
escorregamento de material localizado na Arriba Norte junto da falha, bem como parte da Arriba Este,
sendo visível a existência de depósitos junto da base da arriba.

Figura 2 – Vista da Arriba Norte (esquerda) e Arriba Este (direita) antes da intervenção de estabilização

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

No que se refere aos condicionamentos associados à execução das soluções de estabilização das arribas
destacam-se a necessidade de execução dos trabalhos com equipamentos ligeiros, que possam ser
transportados por bailéu, de forma a permitir o seu acesso à arriba, assim como as condições geológicas e
geotécnicas.

De um modo geral, as arribas da praia da Zambujeira do Mar são caracterizadas pela existência das
seguintes zonas geotécnicas:

ZG1 - Xistos negros de boas a médias características geotécnicas (L4-5; F2; S2; A4 (W1-2)) em que as
diaclases se apresentam, de modo geral, afastadas, muito pouco contínuas, com paredes frescas, fechadas
a moderadamente largas e enchimento argiloso esporádico;

ZG2 - Grauvaques, com boas características geotécnicas, praticamente sãos (L3; F3; S2; A3; (W1-2)),
intersetados por diaclases muito pouco contínuas, moderadamente afastadas, abertas a medianamente
largas, de paredes frescas a descoloradas e, esporadicamente, com enchimento de quartzo ou material
arenoso;

ZG3 - Xisto cinzento e grauvaques. Esta zona abrange trechos de arriba de deficientes características
geotécnicas (L4-5; F3; S3; A4-5 (W5)) em virtude da predominância de litologias pelíticas, por vezes

308
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

fortemente meteorizadas. As diaclases que as compartimentam exibem, em grande parte das suas
características, um amplo espectro de valores;

ZG4 - Praticamente idêntica à ZG3, diferencia-se essencialmente pela direção que a sua frente toma,
inviabilizando a ocorrência de certos mecanismos de instabilidade que ocorrem no caso anterior;

ZG5 - Grauvaques descolorados (L3; F3; S2; A2 (W3)), alternando com alguns níveis xistentos, com boas
a médias características geotécnicas. As características geométricas das descontinuidades que
compartimentam esta zona são semelhantes às já descritas para as zonas ZG3 e ZG4 observando-se,
nalguns casos, fraturas abertas com preenchimento argiloso;

ZG6 - Materiais detríticos de cobertura com variáveis graus de consolidação, suscetíveis à ocorrência de
instabilizações superficiais (escorregamentos peliculares/sulcos).

3- SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO

3.1 SETOR A – ARRIBA NORTE E SETOR B – ARRIBA ESTE

Tendo em consideração os possíveis mecanismos de instabilização associados ao Setor A e B da arriba,


definiu-se uma solução de estabilização materializada pela aplicação de uma rede pregada com o objetivo
de conter eventuais blocos instáveis e prevenir a sua queda.

Neste enquadramento, a solução de estabilização definida consiste no sistema Tecco S30, com rede Tecco
G65/4 da Geobrugg (suporte unitário de 30kN/m2), com proteção contra a corrosão do tipo supercoating
(conforme EN ISSO 9227). De acordo com o referido sistema, as pregagens, constituídas por varões
40mm de aço Gewi, com dupla proteção contra a corrosão e com comprimento variável são dispostas ao
longo de uma malha de 2,5V:5H (ajustada sempre que as irregularidades da superfície da arriba assim o
justifiquem, de forma a assegurar que as pregagens se localizem sempre em depressões, garantindo desta
forma o sistemático ajuste da rede contra o paramento da arriba). As pregagens foram introduzidas em
furos de 100mm de diâmetro e seladas com injeção de calda de acordo com a técnica IGU (Clouterre,
2002).

Sobre a rede foram colocados cabos horizontais de reforço das pregagens, com afastamento vertical de
2,50m, firmemente seguros pelas placas de aperto das pregagens, em forma de U. Estas são colocadas
nas pregagens através de porcas que contribuem para a correta fixação dos cabos de reforço. Nas
extremidades dos cabos foram colocadas ancoragens, com 3,0m de comprimento, de forma a garantir o
tensionamento dos cabos e a adequada fixação da rede ao talude. Nas zonas de remate nas extremidades
superior e inferior, adotou-se um cabo Geobinex Ø22mm de aço galvanizado e ancoragens de cabo GA-
7001 tipo III. Nos remates laterais foram aplicados cabos de aço galvanizado Ø22mm e ancoragens de
cabo GA-7001 tipo IV. Além das disposições descritas, a malha de pregagens foi adaptada e/ou
complementada, sempre que se revelou necessário recorrer à aplicação pontual de pregagens para conter
alguns blocos isolados e de maior dimensão com potencial de instabilização.

Na Figura 3 é apresentado um corte tipo representativo do Setor A, bem como uma imagem que ilustra os
trabalhos de aplicação das redes na referida zona. Na mesma imagem é ainda identificada, no topo do
talude, uma consola de dimensões consideráveis, a qual foi saneada durante a execução dos trabalhos.

Saneamento

Rede Tecco S30

Pregagens
Gewi
Ø40mm

Figura 3 – Corte tipo da solução implementada (esquerda) e colocação das redes (direita) – Setor A

309
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Relativamente à zona da fenda de tração, na extremidade da arriba norte, a solução proposta consistiu,
numa primeira fase, na remoção do cone de detritos depositados na parte inferior do talude, bem como na
limpeza e saneamento da face da arriba e no saneamento dos blocos potencialmente instáveis.
Complementarmente, definiu-se a realização de um enchimento e reperfilamento desta zona de reentrância
da arriba com betão ciclópico C20/25, colocado por camadas com espessura máxima de 40cm. Entre o
enchimento e a face da arriba, definiu-se a colocação de brita 20/40mm, com um dreno 200mm na base,
de forma a garantir a drenagem do maciço. Adicionalmente, foram instalados geodrenos sub-horizontais,
com 50mm de diâmetro e comprimento de 6,0m.

De forma a contribuir para um melhor enquadramento paisagístico, definiu-se a colocação de um


revestimento na face do enchimento com betão ciclópico, com pedra argamassada proveniente do
saneamento realizado ao longo da arriba.

No topo da arriba localiza-se um muro, cuja fundação se localiza em alguns trechos muito próximo da crista
da arriba. Para reforço da estabilidade da fundação do muro nestas zonas, definiu-se a colocação de betão
projetado, armado com fibras de polipropileno e pigmentado de acordo com a coloração natural da arriba.

Na Figura 4 apresenta-se um corte transversal representativo da zona da fenda, sendo igualmente visível
a execução de alguns trabalhos, em particular a colocação do dreno Ø200mm que terá como função o
encaminhamento de águas provenientes do maciço e que se encontram a tardoz do enchimento. Na mesma
figura pode observar-se os trabalhos de projeção de betão com fibras de polipropileno para revestimento
das fundações do muro existente no topo da arriba.

Betão
ciclópico

Rede Tecco S30

Brita

Dreno
Ø200m
m

Pregagens
Gewi
Ø40mm

Figura 4 – Corte tipo da solução implementada (esquerda) e trabalhos de preenchimento da falha – Setor A

Na Figura 5 é apresentada uma vista da Arriba Este após execução dos trabalhos, verificando-se um
eficiente ajuste da rede à arriba, motivado pelo tensionamento dos cabos horizontais, contribuindo para
que a solução apresente, visualmente, menor impacto.

Ancoragem
GA - 7001

Centralizador
Placa em U

Porca

Figura 5 – Vista geral da Arriba Este – Setor B, após intervenção

310
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3.2 SETOR C - ZONA DE ACESSO DAS ESCADAS DE ACESSO À PRAIA

Na zona das escadas de acesso à praia, o pendor do talude tem a direção da estratificação, de sul para
norte, existindo a possibilidade de ocorrência de roturas planares. Para garantir o confinamento do maciço
e evitar os mecanismos descritos a solução desenvolvida consistiu, igualmente, num sistema de redes
pregadas. Na zona superior do talude, em que a inclinação é maior, definiu-se a colocação de rede de
estabilização do tipo Deltax G80/3 da Geobrugg, com proteção contra a corrosão ultracoating (revestimento
de zinco/alumínio), fixada nos extremos superiores e laterais com ancoragens GA 7001 Tipo II, com 3,0 m
de comprimento.

O presente sistema é composto por uma malha de pregagens com varões Ø25mm de aço Gewi, com dupla
proteção contra a corrosão e com comprimento de 4,0m, dispostas ao longo de alinhamentos horizontais,
com afastamento médio de 4,0 m (ajustado sempre que as irregularidades da superfície da arriba assim o
justifiquem, de forma a assegurar que as pregagens se localizem sempre em depressões, garantindo o
sistemático ajuste da rede contra o paramento da arriba). As pregagens foram introduzidas em furos de
100mm de diâmetro e seladas com injeção de calda de acordo com a técnica IGU (Clouterre, 2002).

Nas zonas inferiores do talude e na zona onde a direção da estratificação não é desfavorável definiu-se
uma rede de encaminhamento romboidal de arame de alta resistência, do tipo Deltax G80/2, com proteção
contra a corrosão ultracoating. A rede é fixada nas extremidades do topo e da base do talude, com
ancoragens de cabo GA-7001 tipo II, e ao longo do talude e do topo e da base com pregagens em varão
de aço.

Previu-se ainda a execução de pregagens adicionais em todos os blocos potencialmente instáveis não
passíveis de ser saneados e em todas as concavidades do talude, de forma a garantir o ajuste da rede
metálica à face do talude, aumentando desta forma a sua eficácia.

A solução descrita é ilustrada no corte transversal apresentado na Figura 6, sendo igualmente apresentada
uma vista superior da zona em questão após a intervenção. Como se pode observar, a rede é praticamente
impercetível, em particular nas zonas em que existe vegetação, sendo parcialmente visível a existência de
cabos de topo.

Rede Deltax G80/3

Escadas de
acesso à praia

Rede Deltax G80/2


Pregagens
Gewi
Ø25mm

Pregagens
eventuais

Figura 6 – Corte tipo solução implementada (esquerda) e vista superior das redes metálicas (direita) – Setor C

4- MODELAÇÃO

No que se refere ao dimensionamento da solução de estabilização da arriba, foram efetuadas análises de


estabilidade global dos perfis transversais, recorrendo para tal ao programa de cálculo automático Slide V6
(slope Stability da Rocscience Inc.). Este programa determina, em termos de equilíbrio limite, para um
conjunto de superfícies de deslizamento pré-definidas, o coeficiente de segurança associado à potencial
superfície de deslizamento crítica. Esta análise foi realizada através pelo método de Bishop simplificado.

Na modelação desenvolvida foi considerada a informação disponível relativa aos condicionamentos


geológico-geotécnicos do local, tendo sido adotados parâmetros geomecânicos estimados para o tipo de
terreno em análise, assim como as características dos elementos de reforço do talude. De igual forma,
considerou-se uma sobrecarga uniforme de 10kN/m2 de forma a simular a circulação rodoviária no topo da
arriba.

311
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A análise sísmica foi realizada através de métodos pseudo-estáticos, recorrendo igualmente ao método de
Bishop simplificado. Os métodos pseudo-estáticos constituem análises simplificadas que simulam o efeito
de cada fatia pelos coeficientes sísmicos adotados, tendo em consideração que a arriba se localiza numa
zona sísmica 1.2, sendo a ação sísmica tipo 1 a mais condicionante.

Na Figura 7 apresenta-se um exemplo dos resultados obtidos para a análise de estabilidade global da arriba
em análise, referente ao caso estático e pseudo-estático.

10 kPa
1.592

1.539 10 kPa

Praia

Praia

Caso Estático Caso Pseudo-Estático

Figura 7 – Exemplo dos resultados da Análise de Estabilidade Global da arriba (Caso Estático e Pseudo-Estático)

5- INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Tendo por base o tipo de obra em questão, assim como a sensibilidade das estruturas e infraestruturas
vizinhas, definiu-se um Plano de Instrumentação e Observação que permitiu aferir a seguinte informação:

- Deslocamentos horizontais e verticais do muro existente no topo da arriba;

- Deslocamentos horizontais e verticais da arriba.

Para medição das grandezas referidas, foram instalados em obra alvos topográficos. À data da redação do
presente artigo apenas se encontrava disponível a informação referente aos alvos colocados no muro
existente no topo da arriba, como se pode observar na Figura 8. Pela análise da referida figura, verifica-se
que os valores observados não atingiram os critérios de alerta definidos.

Figura 8 – Leituras realizadas nos alvos topográficos instalados no muro existente no topo da arriba

312
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

II - CASO B – ARRIBA DA PRAIA DO MAGOITO (SINTRA)

1- ÁREA DE INTERVENÇÃO

A intervenção realizada na arriba da praia do Magoito, localizada em Sintra, incluiu trabalhos de


estabilização, essencialmente em duas localizações, como ilustrado esquematicamente na Figura 9:

 Arriba adjacente ao acesso ao estacionamento automóvel (Norte);

 Rampa de acesso à praia, junto à Arriba / Duna Fóssil.

Estacionamento

Arriba Norte

Rampa de
acesso à
praia

Figura 9 – Localização da área de intervenção

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

No que se refere aos principais condicionamentos existentes, destaque para a necessidade de executar os
trabalhos de estabilização da arriba adjacente ao acesso ao estacionamento automóvel (Norte) com recurso
a equipamentos ligeiros, que possam ser transportados por bailéu, de forma a acederem à zona da arriba.
Relativamente à rampa de aceso à praia/Duna Fóssil, os trabalhos de construção do novo passadiço
suspenso implicaram, igualmente, a utilização de equipamentos ligeiros na medida em que a rampa
existente dispõe de uma largura de cerca de 3,0m.

No que diz respeito aos condicionamentos geológico-geotécnicos, na Arriba adjacente à estrada de acesso
ao estacionamento Norte (Figura 10 – esquerda), os terrenos que afloram na área em estudo têm idade
compreendida entre o período Cretácico e o período Quaternário. A principal formação geológica presente
denomina-se Calcário e Margas do Cacém Terrugem, sendo constituída por calcários, margas, argilas e
arenitos. À superfície da arriba aflora um filão de natureza basáltica com espessura de cerca de 3,0m, junto
da base do parque de estacionamento, encontrando-se bastante alterado com disjunção esferoidal. Os
nódulos de basalto conservam as suas características enquanto a matriz envolvente está completamente
alterada.

Subjacente existe um estrato de arenito, cinzento, muito duro, com aproximadamente 2,0m de espessura
e um estrato de natureza calcária, detrítico, com camadas lenticulares de depósitos de conchas e moluscos.
Junto às fraturas observam-se halos de alteração de cor amarelo (ocre). A circulação de água no interior
das descontinuidades produz superfícies de alteração que estão na génese de manifestações de morfologia
cársica.

A maior profundidade ocorre o arenito grosseiro de cor castanho claro rico em quartzo que se estende até
ao mar sobrejacente ao estrato margo-calcário, com preenchimento de calcite nas descontinuidades, que
se prolonga abaixo da superfície.

Relativamente à Arriba adjacente à rampa de acesso à praia (Figura 10 - direita) esta é constituída no topo
pela formação de dunas consolidadas do Plistocénico (dc), que cobre as formações de calcários e margas
do Albiano-Cenomaniano inferior a médio. As dunas consolidadas são formadas por areias monogranulares
agregadas por um cimento, que lhes confere um grau de consolidação relativamente elevado. No entanto,
apesar de constituir uma formação compacta e relativamente resistente, com a exposição aos agentes
atmosféricos torna-se friável e facilmente erodível. Com efeito, ao longo da arriba que fica compreendida
entre o parque de estacionamento situado no topo e o caminho que dá acesso à praia, observam-se várias

313
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

zonas francamente erodidas, apresentando grandes depressões, faces com inclinações negativas e em
consola, que podem, a curto ou médio prazo, vir a originar desprendimentos envolvendo volumes
significativos de materiais terrosos, mas também de blocos de areias mais consolidados. Ao longo deste
caminho encontravam-se acumulados na base da arriba vários metros cúbicos de areias e blocos de areia
mais consolidados resultantes de desprendimentos anteriores. No Quadro 1 são apresentadas as
características geomecânicas das zonas geotécnicas que caracterizam esta zona.

Quadro 1- Parâmetros Geotécnicos considerados

Zona Ø c’ h E’
Litologia NSPT
Geotécnica (º) (kPa) (kN/m3) (MPa)
ZG2 Areias Soltas ou Aterros <20 25 0 18 6
Maciço Rochoso muito
ZG1 >40 35 15 20 45
alterado

Figura 10 – Arriba Norte (esquerda) e rampa de acesso à praia (direita) antes da intervenção

3- SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO

3.1 ARRIBA ADJACENTE AO ACESSO DO ESTACIONAMENTO NORTE

Face à morfologia da arriba e à proximidade do mar, definiu-se uma solução de estabilização materializada
pela aplicação de uma rede pregada, combinada com um enchimento com betão ciclópico ao nível das
cavernas existentes no pé da arriba (zona onde existe maior erosão por parte do mar, evidenciada pela
existência das referidas cavidades no pé da arriba), revestido com uma camada de pedra argamassada,
com aproximadamente 0,30m, resultante dos trabalhos de saneamento executados ao longo da arriba.

Conforme descrito, a solução de estabilização proposta consiste no preenchimento das cavidades existentes
na base da arriba e na instalação de redes de malha romboidal com aço de alta resistência, combinadas
com cabos de aço e ancoradas à arriba através de pregagens em varão de aço com dupla proteção contra
a corrosão. Face às características da arriba, considerou-se o sistema de redes de estabilização Deltax S15
da Geobrugg (suporte unitário de 15kN/m2) com o objetivo de conter eventuais blocos instáveis e prevenir
a sua queda.

De acordo com o referido sistema, as pregagens, constituídas por varões 25mm de aço Gewi, com dupla
proteção contra a corrosão e com 6,0m de comprimento, são dispostas ao longo de alinhamentos
horizontais, com afastamento médio de 4,0m (ajustado sempre que as irregularidades da superfície da
arriba assim o justifiquem, de forma a assegurar que as pregagens se localizem sempre em depressões e
assim garantam o sistemático ajuste da rede contra o paramento da arriba).

Sobre a rede romboidal de arame de alta resistência, Deltax G80/3, devidamente protegida contra a
corrosão por um sistema de ultracoating (conforme EN ISO 9227), foram colocados os cabos de aço
galvanizados Ø16mm, afastados na vertical de cerca de 2,50m e devidamente solidarizados às pregagens
interiores e às ancoragens de cabos de extremidade (GA-7001) previamente instaladas em furos diâmetro

314
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

mínimo de Ø110mm e seladas com calda de cimento, de acordo com a técnica IGU (Clouterre, 2002). O
recobrimento do varão de pregagem e a sua posição no furo são assegurados através da colocação de
centralizadores afastados de 0,5m. Além do exposto, preconizou-se a sua proteção contra a corrosão
através da galvanização de todos os elementos e colocação de bainha plástica a envolver as pregagens.

Preconizou-se ainda, o enchimento do alinhamento da arriba mais erodido (zonas margosas alteradas ou
erodidas), com betão projetado devidamente drenado com recurso a bueiros Ø50mm.

Na Figura 11 é apresentado um corte transversal representativo da solução adotada na Arriba Norte junto
das zonas de cavidades anteriormente descrita. Observa-se igualmente a fase final dos trabalhos de
preenchimento da cavidade, em particular, o revestimento com pedra argamassada, conferindo um
acabamento com aspeto natural à intervenção.

Muro existente

Rede Deltax G80/3 Basalto

Calcário margoso

Pedra
argamassada Margas
Pregagens
Gewi Ø25mm

Calcário margoso

Betão ciclópico

Figura 11 – Corte representativo da solução preconizada a Arriba Norte (esquerda) e vista dos trabalhos executados
em obra (direita)

Na Figura 12 são ilustrados igualmente os trabalhos de estabilização executados na Arriba Norte,


destacando-se a colocação do sistema de redes Deltax S15 e o saneamento de alguns blocos instáveis.

Na figura seguinte

Figura 12(Figura 12) são igualmente apresentados os trabalhos de estabilização executados na Arriba
Norte, evidenciando-se a colocação das redes e o saneamento dos blocos instáveis.

Figura 12 – Representação dos trabalhos de estabilização com recurso a redes pregadas na Arriba Norte

3.2 ARRIBA ADJACENTE AO ACESSO À PRAIA E NOVO PASSADIÇO

A duna fóssil existente junto à rampa de acesso à praia apresenta características totalmente distintas da
arriba anteriormente abordada. Reconhecendo a importância patrimonial da mesma, dado se encontrar
classificada como um geo-monumento que deverá preservar o mais possível o seu estado natural,

315
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

preconizou-se uma solução onde não existe intervenção significativa. Assim sendo, definiu-se o
alargamento do passadiço de acesso à praia por forma a afastar a circulação de pessoas da arriba existente
e, consequentemente, da zona com maior risco de queda de blocos. A solução preconizada inclui a
construção de um passadiço suspenso, paralelo ao alinhamento da rampa existente.

O passadiço é materializado por uma estrutura mista de betão e de madeira, fundada indiretamente através
de microestacas tubulares, em aço N80 (API 5A) Ø60,3x5,5mm, seladas 4,0m através do sistema de
injeção IRS (Bustamante, M. e Doix, B., 1985), (com obturador duplo e válvulas anti-retorno colocadas a
cada 1,0m), no substrato competente e geologicamente estável face à geometria da arriba.

Sobre as microestacas, afastadas longitudinalmente de 3,0m, preconizou-se a colocação de vigas


transversais com secção variável, em betão armado, pré-fabricadas, de forma a facilitar a sua instalação
em consola sobre a praia. Por forma a materializar a plataforma do passadiço definiu-se a colocação de
vigas longitudinais (longarinas), afastadas de 37cm, em madeira de pinho silvestre, com secção
95x195mm2, sobre as quais assenta um ripado de tábuas de pinho com espessura de 30mm. Como guarda-
corpos preconizou-se uma estrutura de madeira, ligado às vigas transversais pré-fabricadas e à longarina
de madeira, prevista na extremidade.

A zona mais próxima da arriba e com maior probabilidade de queda de blocos será utilizada apenas por
veículos de emergência, sendo que o pavimento desta zona é materializado por uma laje em betão armado,
apoiada nas vigas transversais pré-fabricadas, com espessura de 20cm. Lateralmente, a laje é delimitada
por dois muros contínuos de 0,30x1,0m sobre os quais assenta uma estrutura metálica, que permitirá
minimizar o volume de material proveniente da arriba que possa atingir a plataforma de acesso. Esta
estrutura é materializada por perfis TRSØ88.9x4mm verticais, perfis TRSØ48.3x2.9mm transversais, e por
uma rede galvanizada.

Na extremidade Sul do passadiço, junto à chegada à praia, preconizou-se a execução de muros de apoio
para as rampas de acesso para pessoas com mobilidade condicionada. Estas estruturas são apoiadas numa
sapata de grandes dimensões, a qual é fundada diretamente no terreno (NSPT>40 pancadas). O interior
desta estrutura é constituído por um enchimento com aterro, sobre o qual será executada uma laje de
massame armado com 15cm de espessura. Paralelamente à praia, preconizou-se ainda a realização de um
passadiço de madeira suportado por um muro de betão armado em consola, que permitirá assegurar a
ligação entre o novo passadiço e a rampa existentes a Nascente (junto à ribeira).

A Figura 13 ilustra a implantação da solução preconizada para o acesso à praia, sendo igualmente
apresentados os trabalhos de colocação das vigas de betão armado pré-fabricadas ao longo da rampa.

Figura 13 – Implantação do passadiço e rampa e acesso à praia

Seguidamente, na Figura 14 é apresentado um corte transversal ilustrativo da solução preconizada para o


passadiço. Na mesma imagem são ainda apresentados os trabalhos de furação na rampa existente para
execução das microestacas de fundação das vigas pré-fabricadas, sendo igualmente visível a execução de
rasgos para a colocação das mesmas.

316
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Arriba fóssil
Guarda corpos

ZG2

ZG1

Microestacas N-80
Ø66,3x5,5mm

Figura 14 – Corte representativo da solução preconizada para o passadiço de acesso à praia (esquerda) e vista das
vigas pré-fabricadas para suporte do passadiço de acesso pedonal à praia (direita)

4- MODELAÇÃO

No que se refere à arriba Norte, à semelhança do Caso A, procedeu-se a uma análise de Equilíbrio Limite,
de acordo com o método de Bishop simplificado, recorrendo ao software Slide V6, de forma a avaliar do
ponto de vista da segurança a solução implementada, quer para as ações estáticas quer para as ações
pseudo-estáticas.

De forma a dimensionar os elementos estruturais que constituem o passadiço, rampa de acesso à praia,
assim como a estrutura de retenção de blocos, recorreu-se ao programa de elementos finitos, SAP2000.
No modelo efetuado, vigas foram modeladas com elementos do tipo “Frame”, lajes e muros com elementos
do tipo “Shell thick”. Na Figura 15 é apresentada a malha de elemento finitos do modelo realizado em
SAP2000 para um módulo do passadiço de acesso à praia, assim como as envolventes dos diagramas de
momento fletor referentes à laje.

Envolvente dos diagramas


de momento fletor
M11

Envolvente dos diagramas


de momento fletor
M22

Figura 15 – Modelo do módulo do passadiço de acesso à praia e esforços obtidos na laje (Envolvente dos diagramas de
momento fletor M11 e M22) – SAP2000

5- INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Atendendo ao caráter da intervenção desenvolvida, implementou-se um Plano de Instrumentação e


Observação cujo objetivo consistiu na observação dos seguintes parâmetros:
- Deslocamentos horizontais e verticais da arriba adjacente ao acesso ao estacionamento Norte;
- Deslocamentos horizontais da arriba localizada sob a rampa existente de acesso à praia.
Para consecução deste objetivo, foram instalados alvos topográficos na face da Arriba Norte e inclinómetros
ao longo da rampa de acesso à praia, para observação das grandezas anteriormente referidas,
respetivamente. Na Figura 16 são apresentados os resultados obtidos através de dois inclinómetros I1 e

317
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

I2, ambos instalados na rampa de acesso à praia existente. Através dos resultados obtidos, constata-se
que os critérios de alerta definidos não foram atingidos, estando de acordo com os deslocamentos
expectáveis.

Figura 16 – Deslocamentos acumulados registados nos inclinómetros I1 (Esquerda) e I2 (direita)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente artigo foram apresentados dois casos de estabilização de arribas costeiras localizadas em
Portugal. A escolha das soluções de estabilização adotadas teve como base os principais condicionamentos
existentes nas obras apresentadas mas, sobretudo, o respetivo impacto visual atendendo à natureza dos
locais de intervenção.

O recurso a soluções estruturais flexíveis na estabilização de arribas, como é o caso das redes pregadas,
apresenta diversas vantagens face a soluções mais robustas. Estas soluções requerem trabalhos mínimos
de tratamento e de regularização da superfície, devido à sua capacidade para se moldarem a superfícies
irregulares, permitem a drenagem natural do maciço, assim como o crescimento de vegetação, conferindo
um aspeto mais natural à solução. Não obstante, a eficácia a longo prazo deste tipo de solução depende
da durabilidade e da capacidade resistente dos materiais de revestimento e das placas de apoio, de forma
a prevenirem roturas por deformações excessivas e (ou) punçoamento.

Por fim, importa salientar que à data da redação do presente artigo, os trabalhos de estabilização referentes
ao Caso B ainda não se encontravam concluídos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos donos de obra, Polis Litoral Sudoeste (Caso A) e Agência Portuguesa do Ambi-
ente (Caso A e B), a permissão para a redação do presente artigo. Destaca-se ainda que os trabalhos de
estabilização de ambos os casos apresentados no presente documento foram realizados pela empresa TEC-
NASOL.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - Une méthode pour le calcul de tirants et des micropieux injectés. Bulletin de Liaison
des Laboratoires des Ponts et Chaussées, Ministère de L’Équipement, du Logement, des Transports et de la Mer,
Paris. nº140, pp.75-92.

Clouterre (2002) - Projet National Clouterre II, Additif 2002 aux Recommandations Clouterre 1991: pour la conception,
le calcul, l'exécution et le contrôle des soutènements réalisés par clouage des sols. Presses de l'ENPC, Paris.

318
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

TRÊS SOLUÇÕES COM PREGAGENS E UMA COM UM MURO EM SOLO


REFORÇADO COM GEOGRELHAS

THREE ROCK BOLTS SOLUTIONS AND ONE RETAINING WALL IN SOIL


REINFORCED WITH GEOGRIDS

Pereira, Fernando; Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas, Ponta Delgada, Portugal,
Fernando.AD.Pereira@azores.gov.pt

RESUMO

Nos terrenos vulcânicos, pelas suas estruturas complexas, são exigidas muitas vezes soluções geotécnicas
também complexas, mas ligeiras, de modo a se adaptarem às capacidades e configurações locais.
Pregagens, geogrelhas, aterros armados, entre outras técnicas, são soluções que se têm revelado eficazes,
apesar da sua ainda limitada utilização nas ilhas dos Açores e que importa divulgar para eliminar dúvidas
e incertezas sobre a validade deste tipo de soluções técnicas.

ABSTRACT

Volcanic fields, due to the complexity of their geological structures, demands many of times complex but
light solutions able to be adapted to local configurations and specificities, to solve geotechnical problems.
Rock bolts. geogrids, reinforced landfills, among other techniques, are solutions that did proven to be
effective, despite their limited use in Azores islands. Therefore, it is important to disclose about the validity
of this type of technical solutions in a way to clarify doubts and uncertainties.

1- INTRODUÇÃO

Soluções geotécnicas, que à primeira vista podem parecer adequadas, de fácil execução e impacto mínimo,
independentemente da maior ou menor dificuldade ou complexidade de dimensionamento, podem sempre
suscitar dúvidas e reações adversas por parte de decisores e forças influentes, assentes em fundamentos
abstratos relativos a soluções mais convencionais ou tradicionais. Como forma de contrariar estas situações,
muitas vezes difíceis, torna-se importante incluir na análise da solução o contexto paisagístico e social onde
serão integradas e, sobretudo, marcarão presença durante algum tempo.

Os quatro casos de estabilização de taludes, abordados no presente trabalho, três com recurso a pregagens
e um, que em gíria comum se designou por muro, mas consiste essencialmente numa contenção frontal
em aterro armado com geogrelhas sobre uma base de betão, são projetos que envolveram, em nosso
entender, uma análise cuidada dos aspetos paisagísticos, sociais e, em dois dos casos, de conformidade
com conceitos arquitetónicos e patrimoniais. A abordagem aqui apresentada refere-se exclusivamente às
situações de origem e aos aspetos que condicionaram e reforçaram a escolha das soluções por parte dos
técnicos da entidade que geriu os processos e o resultado final.

2- APRESENTAÇÃO DOS PROJETOS

Os projetos são apresentados por ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo e abrangem um
período de tempo de cerca de vinte anos. Não se pretende fazer um resumo histórico, mas expor projetos
executados e que ao longo do tempo se têm ido diluindo na paisagem e deixando de ser percetíveis para
os seus beneficiários.

2.1 - Estabilização do talude sobranceiro ao edifício sede da Assembleia Legislativa da Região


Autónoma dos Açores (ALRAA)

2.1.1 - Origem e enquadramento

A intervenção surge pelo facto de terem ocorrido quedas de alguns blocos, pelo menos um de dimensão
significativa, do talude que limita o jardim envolvente do edifício sede da Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores, na Cidade da Horta, Ilha do Faial. No seguimento da ocorrência foi solicitada uma
vistoria para análise das condições de segurança ao Laboratório Regional de Engenharia Civil (LREC).

O talude onde ocorreram os movimentos resulta em grande parte das escavações feitas para implantação
e construção do edifício Sede da ALRAA e seus jardins envolventes e desenvolve-se numa extensão de

319
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

cerca de 130 metros, com alturas entre 5 e 8 metros, delimitando a noroeste o conjunto arquitetónico da
ALRAA.

Geologicamente é constituído por uma espessa bancada basáltica, com fracturação orientada segundo duas
famílias predominantes, uma sub-horizontal e outra sub-vertical, assente sobre um nível de clinker
basáltico muito desagregado (LREC, 2010). A estrutura geológica mergulha para sul, apresentando no
extremo norte uma menor possança da bancada basáltica e maior altura exposta do nível de clinker que
no extremo sul. Apesar desta continuidade estrutural, podem-se diferenciar três ambientes distintos ao
longo do talude, em conformidade com o seu enquadramento urbano e paisagístico.

Assim, o troço mais a norte, com cerca de 45 metros de extensão, confina no seu topo, em cerca de 30
metros, com um arruamento e os restantes com uma banda de moradias. Sob a bancada basáltica, pouco
espessa, mas muito fraturada, a camada de base apresentava significativos sinais de erosão interna com
um franco recuo da frente do talude, deixando a bancada de basalto em consola, levando à queda de blocos.
Na base deste troço encontra-se uma área ajardinada e um acesso de serviço às instalações da ALRAA.
Aproveitando a intervenção no talude executou-se também nesta zona uma área de estacionamento. O
troço central, com cerca de 50 metros de extensão, confronta superiormente com uma banda de moradias
eestá confinado e protegido na sua base por um anfiteatro ao ar livre, contudo no extremo norte, na
continuidade do troço norte, apresentava alguns blocos basálticos instáveis com risco de queda sobre o
anfiteatro. No troço sul, em cuja base foi feito um arranjo ajardinado, que inclui o aproveitamento de duas
pequenas grutas, formadas na camada de clinker e teto pela bancada de basalto em consola, uma das
quais integra um espelho de água, a bancada rochosa apresenta-se menos fraturada e coberta por um
nível de solos pomíticos (Figura 1).

a) b) c)

Figura 1 – Aspetos do talude: a) troço sul, b) troço central, c) troço norte


(Perfis adaptados do projeto de execução)

Todo este conjunto, inaugurado em 1990, localiza-se na encosta sobre a cidade, com vista para o canal
Faial-Pico e grande exposição para quem se aproxima da Horta por via aérea ou marítima, é um projeto
dos arquitetos Manuel Correia Fernandes e Luis Miranda e foi “... concebido como um objeto saído das
entranhas da terra ...” (ALRAA, 2018).

2.1.2 - Avaliação e Solução

Na avaliação da situação, para além da análise dos riscos associados à queda de blocos, á erosão do talude
e á segurança do arruamento e das moradias, foram sempre tidas em conta três condições de referência,
designadamente, a sede da Assembleia Legislativa é um edifício importante no sistema político-
administrativo da Região e um elemento arquitetónico estruturante da paisagem moderna dos Açores e da
Cidade da Horta em particular, sendo, portanto, todo o seu enquadramento preservável, os elementos que
existem, particularmente, os jardins, as grutas, o espelho de água e a rocha exposta, são parte integrante
da conceção do autor e não são alteráveis e, a intervenção requerida visa eliminar ou minimizar os riscos
para que se mantenha o usufruto do espaço existente.

Outro aspeto essencial tido em conta, refere-se ao facto de que a Assembleia teria de manter o seu
funcionamento, com sessões plenárias e atos e eventos de relevante representatividade.

Por entre várias hipóteses de solução para estabilizar os taludes, entre as quais se encontram sempre
aquelas que aparentemente parecem mais fáceis e de menor custo, as condições prévias direcionavam,
forçosamente para uma solução de controlo da erosão na camada inferior de clinker basáltico e a fixação
dos blocos da bancada superior, sem introdução de elementos que alterassem a configuração do talude.

320
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Deste modo a solução adotada consistiu num conjunto de pregagens com comprimento da ordem dos 6
metros, para fixação dos blocos rochosos, após saneamento dos que não tinham quaisquer condições de
ser estabilizados e na drenagem da camada de clinker e enchimento das cavidades com pedra argamassada
e capeamento com murete também em pedra argamassada, com exceção das grutas, especialmente a do
espelho de água, que seriam preservadas. Na bancada de basalto, para além das pregagens, foi incluído o
tratamento das zonas mais fraturadas com betão projetado, pigmentado, complementado na parte superior
com a aplicação de revestimento com rede metálica tensionada e manta de polipropileno, para permitir o
desenvolvimento de vegetação, à semelhança do existente antes da intervenção. A solução, em termos
práticos não alterou os espaços úteis da ALRAA.

Na configuração final, o capeamento da camada de clinker foi executado como muro rebocado e pintado
na cor exterior do conjunto, dado que os serviços da ALRAA pretenderam proceder a um arranjo do jardim,
melhorando as condições do acesso de serviço e aumento da área de estacionamento automóvel.

Dada a importância do local, o projeto foi apresentado aos serviços da ALRAA e às entidades e proprietários
confinantes, de modo a esclarecer o motivo e tipologia da intervenção, as potenciais perturbações,
nomeadamente, vibrações e poeiras e as medidas de minimização, assim como os efeitos que a solução
teria na estabilização do talude e reforço de todo o maciço e aumento de segurança para as construções
limítrofes.

2.2 - Estabilização dos taludes na Estrada do Caldeirão, Ilha do Corvo

2.2.1 - Origem e enquadramento

Esta intervenção surge na sequência da ocorrência de movimentos de massa nos taludes que suportam a
estrada que liga a Vila Nova do Corvo ao Caldeirão. No troço em questão, a estrada corta a encosta em
três níveis (Figura 2), tendo o movimento de massa ocorrido no nível superior, mas os níveis inferiores
apresentavam também indícios de instabilidade.

Figura 2 - Perspetiva do troço de estrada sendo visível a cicatriz do movimento de massa (Foto LREC)

A Ilha do Corvo, a mais pequena parcela territorial do arquipélago e Região Autónoma dos Açores, tem
uma superfície de cerca de 17 km2, e uma altitude máxima de 718 metros. A área urbana, com cerca de
430 residentes, localiza-se numa plataforma relativamente baixa, no extremo sul da ilha e para norte
desenvolve-se a estrutura vulcânica, um cone bastante erodido na vertente ocidental e no topo uma
caldeira com uma lagoa, o Caldeirão. Esta pequena ilha foi reconhecida em 2007 como reserva da biosfera,
pelo programa “O Homem e a Biosfera” da UNESCO.

A intervenção situa-se na zona de transição da área urbana para a parte montanhosa da ilha, nos taludes
de uma estrada com trânsito nos dois sentidos, encaixada na encosta, essencialmente em escavação. Em
termos geológicos, a encosta é constituída por clinker basáltico misturado com solos (LREC, 2013). Quanto
aos aspetos geotécnicos pode-se considerar a existência de aterros, principalmente na caixa de pavimento,
clinker muito alterado e solos na zona superficial do talude e um núcleo de clinker mais coerente para o
interior do maciço.

321
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

O troço onde ocorreu o movimento tem cerca de 16 m de altura com um declive entre 45º a 50º (LREC,
2013). Outros dois pontos apresentavam fissuras e deformações no pavimento, não tendo, no entanto,
atingido a rotura. A face dos taludes, com revestimento vegetal e arbustivo, é totalmente visível da área
urbana.

2.2.2 - Avaliação e Solução

Na análise da solução, a primeira abordagem passou praticamente pela execução de muros de contenção
ou de suporte, contudo, numa avaliação mais pormenorizada, tiveram de ser tidos em conta alguns aspetos
que, basicamente, limitam as opções técnicas, nomeadamente, por ser uma pequena parcela de território,
em termos de população e de superfície, apresenta as condicionantes normais dos meios pequenos, como
sejam limitações na disponibilidade de equipamentos e de materiais, mas acrescidas pelo facto de ser uma
ilha, das dificuldades de fazer lá chegar esses recursos, devido à distância e ao tipo de meios de transporte.

Outras condicionantes encontradas referem-se ao facto de que a estrada, única via rodoviária de ligação
entre a área urbana e os terrenos de cultivo e pastoreio e ainda à principal atração turística, o Caldeirão,
teria de ser mantida em funcionamento, as bermas e plataforma não terem dimensões e folgas para
permitir escavações e reperfilamento de taludes e, por último, todos os materiais e equipamentos
necessários à intervenção teriam de ser transportados, por via marítima, preferencialmente, de uma única
vez devido à frequência das ligações.

Assim, soluções pesadas, à base de significativas movimentações de terras e grandes volumes de materiais,
teriam de ser postas de parte e mesmo estruturas ambientalmente mais simpáticas como gabiões ou
colchões de revestimento, foram também eliminadas por terem uma volumetria significativa e à escassez
local de materiais.

Face às condicionantes, a solução desenvolvida consistiu no reperfilamento dos taludes, configurando-os


nos limites existentes entre bermas, capeamento da sua superfície com betão projetado, pigmentado em
ocre na camada exterior, reforçado com malha eletrosoldada, e um conjunto de pregagens, de 4 e 6 metros,
penetrantes até à zona mais resistentes do maciço de clinker. A solução foi complementada com um sistema
de drenagem para reduzir a presença de água no interior do maciço e por pequenas janelas na superfície
de betão para permitir o plantio ou o desenvolvimento natural de vegetação que contribua para diluir a
presença da estrutura na paisagem.

Esta solução, aderente e fazendo uso do próprio maciço, reforçando-o internamente, recorrendo a materiais
e equipamentos ligeiros e de fácil operação, permitiu fazer a intervenção com o mínimo de perturbação
para todos os utilizadores e beneficiários daquela via. A juventude da obra ainda não permite avaliar se o
objetivo de esbater a sua presença na paisagem será totalmente conseguido (Figura 3).

Figura 3 - Zona de intervenção identificável na encosta (Foto João Câmara)

2.3 - Estabilização do talude sobranceiro à Escola Maria Isabel do Carmo Medeiros, Povoação

2.3.1 - Origem e enquadramento

Este processo surge a partir das preocupações manifestadas pelo Conselho Executivo da Escola EB 2,3/S
Maria Isabel do Carmo Medeiros, na Vila da Povoação, na sequência de alguns movimentos de massa e
queda de blocos, em ambos os casos de pequena dimensão, no talude existente próximo da área escolar,
tendo a situação sido analisada pelo LREC.

322
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A Vila da Povoação localiza-se na costa sul da Ilha de S. Miguel, numa plataforma baixa, delimitada pelo
mar e por uma escarpa sub-vertical de ignimbrito, junto à qual se situa a atual escola (Figura 4). A escola
entrou em atividade no ano letivo 1969/1970 e nela são lecionados os segundo e terceiro ciclos do ensino
básico e o ensino secundário.

Figura 4 – Panorâmica da escola e da escarpa de ignimbrito (foto Miguel Bernardo)

O talude sobranceiro à escola, parte da escarpa, é formado por um nível de ignimbrito soldado, sobre o
qual se encontra um nível bastante espesso de materiais pomíticos (LREC, 2008). Na base do talude
encontra-se um expressivo depósito de vertente, de declive suave, contido frontalmente pelos muros que
o separam do espaço escolar.

Este depósito com aproveitamento agrícola, apresenta ainda alguns pequenos socalcos estabilizados com
muretes de pedra seca, também utilizados para estabilizar as irregularidades do nível de ignimbrito e conter
a queda de terras do nível superior. No topo do depósito, aflorando pelas fissuras da parede de ignimbrito,
encontra-se uma nascente de água e ligeiramente abaixo, um antigo reservatório. Enraizados nas fendas
do maciço existem diversos arbustos que cobrem significativamente a superfície do talude, alguns com
porte considerável e no topo, os solos pomíticos estão plantados com criptomérias.

Neste talude, pela sua geologia e exposição aos elementos atmosféricos, têm, ao longo do tempo, ocorrido
diversos eventos de quedas de blocos, de terras e, a alguns (poucos) metros de distância, movimentos de
massa de dimensão significativa.

A intervenção para a estabilização deste talude, levantou desde o início algumas questões pertinentes,
como sejam a sua localização em pleno centro urbano, com queda de blocos e terras, grande exposição a
fenómenos atmosféricos, ventos fortes e chuvas intensas, cobertura vegetal com algum porte e um
depósito de base, confinado pelos edifícios, instável, muito limitado em termos de área e de acesso a
equipamentos mecânicos e totalmente vulnerável às ocorrências no talude.

2.3.2 - Avaliação e Solução

Da avaliação inicial feita pelo LREC (2008) resultaram algumas recomendações relativas a intervenções
imediatas, nomeadamente a remoção da vegetação da face e topo do talude, o saneamento dos blocos
instáveis e o desenvolvimento de um projeto de estabilização para minimizar os riscos. Em alternativa era
apontada a construção de uma nova escola em local de menor risco.

Não pondo em questão a alternativa sugerida, cuja execução, no entanto exige um período alargado de
tempo, procurou-se uma solução que respondesse às recomendações para minimizar os riscos existentes
e salvaguardar o funcionamento da atual escola e a segurança dos seus utilizadores.

Ora, uma parede rochosa, com cerca de 50 metros de altura, sub-vertical, fraturada, com nascentes de
água, sobranceiro a uma escola, levanta logo à partida dois problemas, o primeiro refere-se ao facto de
que mesmo a atividade mais imediata como o corte e remoção da vegetação requeria trabalhadores
especializados, e o segundo é que a estabilização teria de ser feita diretamente na face do talude por não
haver condições de acesso, nem estabilidade nem capacidade de suporte na base, para obras de contenção
frontal ou de espera. Acresce ainda que blocos que se soltassem do topo do talude, por rolamento e ressalto
poderiam atingir a área escolar, ultrapassando as contenções frontais.

323
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Deste modo, a solução consistiu na remoção da vegetação e saneamento dos blocos instáveis, respondendo
às recomendações do LREC. Para a estabilização optou-se pela execução de uma malha de pregagens de
6 metros de comprimento para reforço do maciço e fixação de blocos, refechamento de fendas com calda
de cimento para minimizar o risco de destacamento de blocos, revestimento de toda a superfície rochosa
exposta com rede metálica tensionada e introdução de um sistema de drenagem para controlar as águas
emergentes do interior do maciço. Dada a instabilidade e os riscos presentes, muitos dos trabalhos foram
executados com os trabalhadores e os equipamentos suspensos no talude.

O projeto foi exposto ao Conselho Executivo da escola, envolvendo-o na solução, sendo um parceiro ativo
no acompanhamento dos trabalhos. Foi também apresentado à Câmara Municipal que alertou para a
necessidade de preservar o pequeno reservatório de água, o que veio reforçar a validade da opção, por
não ser viável ocupar o depósito de vertente com estruturas de contenção.

Tendo em conta que o prazo para a execução se estendia para além do tempo disponível em período de
férias escolares, conseguiu-se conciliar os trabalhos com o normal funcionamento da escola, apenas com
pequenas limitações decorrentes de instalar um estaleiro de obra no seu espaço escolar, nomeadamente
no campo de jogos, que de algum modo já existiam devido ao sentimento de insegurança face ao talude.

Uma obra desta natureza e nestas condições exige uma manutenção atenta, sempre com recurso a meios
muitos especializados, o que tem vindo a ser feito, com o controlo da vegetação de maior porte que se vai
desenvolvendo e a verificação e tratamento de pontos de corrosão e aperto das fixações. Apesar destas
intervenções específicas, esta é uma obra que se encontra praticamente diluída na paisagem e esquecida
da população.

2.4 - Estabilização do talude na margem direita da Ribeira Grande, Matriz, Ribeira Grande

2.4.1 - Origem e enquadramento

Na margem direita da ribeira, a poucos metros da foz, encontra-se um depósito de mistura de materiais
pomíticos, aluvionares e aterros, cuja superfície foi urbanizada com a construção de algumas moradias.

Após uma sucessão de fortes precipitações e consequentes caudais de cheia, uma das faces do depósito
sofreu uma rotura, desmoronando para o leito e arrastando parte de um arruamento e deixando em elevado
risco uma das moradias. À semelhança de todos os anteriores casos expostos, também este foi primeiro
analisado pelo LREC, tendo resultado numa recomendação para a elaboração de um projeto de estabilização.

O talude localiza-se na zona central da cidade da Ribeira Grande, na margem direita da ribeira com o
mesmo nome, logo a jusante da denominada Ponte da Ribeira Grande ou Ponte dos Oito Arcos, uma ponte
rodoviária em alvenaria de pedra, “... erguida sobre oito arcos de volta perfeita, assentes em pilares de
seção retangular ... reforçados, nas faces externas, por pilastras que se prolongam até à guarda ... A
guarda do tabuleiro é perfurada em todo o comprimento e assenta sobre uma cornija …” (Wikipedia, 2018).
Esta ponte, que se transformou num símbolo da cidade ao ponto de figurar no seu brasão de armas, foi
construída em finais do século XIX.

O talude localiza-se também no extradorso de uma curvatura do leito, numa posição quase frontal ao
escoamento das águas, portanto, numa zona de forte embate das águas e elevada erosão. Apesar da sua
posição a jusante, integra-se na área ajardinada a montante denominada “Jardim do Paraíso”, que ocupa
o leito de cheia da ribeira e onde se encontram as ruínas de um antigo moinho de água e toda uma área
lúdica no centro da cidade.

Pela localização e importância patrimonial dos elementos envolventes, a intervenção teria de ser a mais
discreta possível, estabilizando o talude, sem interferir com a estrutura da ponte nem com as condições de
escoamento da ribeira e sobretudo, de modo a não alterar a imagem da ponte e do vale que atravessa.

2.4.2 - Avaliação e Solução

As condições à partida para a intervenção eram a estabilização do talude para segurar as moradias e repor
o arruamento. As condicionantes técnicas consistiam na posição quase frontal ao escoamento e, portanto,
zona de forte embate de caudais de cheia, no limite do leito que não poderia ser alterado, o arruamento a
repor com dimensões adequadas e todas as condicionantes urbanas, patrimoniais e ambientais já citadas,
ou seja, a intervenção teria de ser feita, mas quase que não existir. O espaço de execução era
exclusivamente o do movimento de massa.

Considerando também que todas as margens do leito da ribeira estavam relativamente revestidas de
vegetação ou por construções em alvenaria de pedra, não se pretendia de forma alguma introduzir
elementos construídos que se sobrepusessem à imagem relativamente harmonizada da área.

324
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A solução adotada consistiu num aterro em solo armado com geogrelhas, estruturado por camadas e a face
do talude formada pela disposição, interior às geogrelhas, de sacos biodegradáveis, cheios de terra vegetal,
que no final da construção foram picados para permitir a sementeira e o consequente revestimento com
cobertura vegetal. Para a base do aterro e delimitação do leito de máxima cheia foi definido um
embasamento de betão que na parte visível, tem cerca de 2,5 metros de altura (Figura 5). Como medida
de prevenção para uma eventual subida da água acima do nível de cheia, nos primeiros dois metros de
aterro acima da base de betão foi incluído um revestimento da face com enrocamento.

Figura 5 – Esquema da solução. a) Análise estrutural; b) Solução proposta.


(Perfis adaptados do projeto de execução)

O aterro foi executado com materiais vulcânicos de projeção, bagacinas e solos pomíticos, em camadas de
0,30 m de espessura com as geogrelhas principais espaçadas de 0,60 m, sendo intercaladas por geogrelhas
secundárias para evitar deformações excessivas do paramento. A execução do aterro em camadas finas
permitiu a utilização de equipamentos de compactação ligeiros com maior facilidade para aceder ao local e
reduzir significativamente as vibrações transmitidas a todo o conjunto, que poderiam originar danos nas
moradias.

No total esta proteção tem uma extensão de 67 metros, com a altura variando entre 8 e 12 metros e o
paramento uma inclinação da ordem dos 70º. Desde o início as sementeiras resultaram muito bem, tendo
rapidamente revestido o talude e escondido a estrutura (Figura 6), estando atualmente completamente
integrada e esquecida pela população.

Figura 6 – Aspeto atual da proteção

325
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um projeto geotécnico surge muitas vezes para solucionar problemas em áreas construídas, com limitações
de espaço e acesso e ainda património que importa preservar, pelo que a intervenção ao solucionar o
problema não se deve destacar ou sobrepor à envolvente.

O sucesso da solução resulta da capacidade de integração e diluição na paisagem, tornando a intervenção


maioritariamente despercebida pelos utilizadores e beneficiários diretos.

Mas o sucesso vai também depender, num primeiro momento, da capacidade negocial e assertividade de
quem a propõe, expondo as mais valias e a eficácia da solução face às dúvidas e incertezas de quem a vai
aceitar.

Neste tipo de projeto, o tempo real de execução muitas vezes tem de ser calibrado pelas condições locais,
que podem ter particularidades, que mesmo as técnicas mais modernas ou eficientes não conseguem
ultrapassar, devendo, portanto, ser consideradas nas estimativas de prazos de execução.

Soluções como pregagens e aterros armados permitem utilizar materiais e equipamentos ligeiros, fáceis
de transportar para locais de difícil acesso ou com grandes limitações de espaço, resultando em mínimas
alterações às condições iniciais e limitados efeitos perturbadores de terceiros.

O sucesso pela diluição na paisagem e esquecimento pelos beneficiários não deve ser acompanhado de
esquecimento pelos promotores da intervenção, sendo aconselhável manter uma monitorização e
manutenção atenta da sua evolução.

AGRADECIMENTOS

Aqui pretende-se muito humildemente deixar um agradecimento a todos os intervenientes que de forma
direta ou indireta tornaram possível a execução destes projetos e sobretudo referenciar aqueles que
diretamente contribuíram para a conceção e execução das soluções.

O projeto de execução da estabilização do talude sobranceiro ao edifício sede da Assembleia Legislativa da


Região Autónoma dos Açores foi desenvolvido pelo gabinete Eng. Tavares Vieira, Estudos e Projetos de
Arquitetura e Engenharia Lda. e Profico, Projetos, Fiscalização e Consultoria, Lda. e a obra executada pela
Tecnovia-Açores, Sociedade de Empreitadas, SA. A fiscalização ficou à responsabilidade da Delegação da
Ilha do Faial da Secretaria Regional do Turismo e Transportes.

O projeto geotécnico de reabilitação e estabilização dos taludes na estrada de acesso ao Caldeirão, na Ilha
do Corvo foi desenvolvido pela AÇORGEO, Sociedade de Estudos Geotécnicos, Lda. e a obra executada pela
Tecnovia-Açores, Sociedade de Empreitadas, SA. A fiscalização foi assegurada pela Norma Açores, SA.

O projeto de execução da estabilização do talude sobranceiro à Escola EB 2,3/S Maria Isabel do Carmo
Medeiros, na Vila da Povoação, foi desenvolvido pela Cenorgeo, Engenharia Geotécnica, Lda e a obra
executada pela Construções Meneses e McFadden, Lda. A fiscalização foi assegurada pelo Gabinete 118,
Gestão de Obras e Projetos Lda.

O muro de proteção do talude junto à ponte da Ribeira Grande, teve o projeto de execução desenvolvido
pela Arco Systems Portuguesa, Produtos de Construção, Lda e a obra executada pela Tecnovia-Açores,
Sociedade de Empreitadas, SA. A fiscalização foi da responsabilidade da Secretaria Regional da Agricultura,
Pescas e Ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALRAA (2018) - O Símbolo da Autonomia. http://www.alra.pt/docs/artigo_visitas_guiadas.pdf. Acedido em 21-01-2018.

LREC (2008) - Parecer sobre a estabilidade do talude sobranceiro à Escola EB 2,3/S Maria Isabel do Carmo Medeiros -
Concelho da Povoação. Nota Técnica 48/2008. Ponta Delgada.

LREC (2010) - Vistoria ao talude (DENOMINADO "PAREDÃO") sobranceiro à ALRAA. Nota Técnica 22/2010. Ponta Delgada.

LREC (2013) - Parecer sobre a estabilização de um talude na Ilha do Corvo. Nota Técnica 103/2013, Ponta Delgada.

Wikipedia. Ponte dos Oito Arcos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_dos_Oito_Arcos. Acedido em 20-01-2018

326
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

USO DE FERRAMENTAS DE DATA MINING NA IDENTIFICAÇÃO DO NÍVEL DE


ESTABILIDADE DE TALUDES EM ATERRO

USE OF DATA MINING TOOLS FOR STABILITY CONDITION IDENTIFICATION


OF SOIL EMBANKMENTS

Tinoco, Joaquim; ISISE, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal, jtinoco@civil.uminho.pt


Gomes Correia, António; ISISE, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal, agc@civil.uminho.pt
Cortez, Paulo; Algoritmi, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal, pcortez@dsi.uminho.pt

RESUMO

Para uma eficiente gestão das infraestruturas viárias (rodo-ferroviárias), nomeadamente da rede de taludes,
é essencial proceder ao levantamento do nível de estabilidade dos diferentes elementos, nomeadamente
dos taludes. Este levantamento, de caracter periódico, permitirá uma quantificação e priorização dos
recursos disponíveis para ações de manutenção e conservação da rede. Por outro lado, a informação
recolhida necessária para a categorização dos taludes deverá permitir uma classificação realista do nível
de estabilidade do mesmo e ao menor custo possível. Esta tarefa tem-se revelado complexa e até ao
momento apenas parcialmente concluída. Usualmente procura-se ponderar o nível de fiabilidade da
classificação atribuída a cada talude e o investimento realizado na recolha da informação necessária para
a classificação. Neste trabalho é apresentada uma proposta de avaliação do nível de estabilidade de taludes
em aterro. O sistema proposto utiliza informação recolhida durante inspeções de rotina, por norma de fácil
obtenção, bem como todo um conjunto de características geométricas e geográficas do talude e atribui
uma classe ao nível de estabilidade do talude em análise. Esta proposta, desenvolvida através da aplicação
de ferramentas de data mining, procura maximizar a informação disponível visando uma classificação
realista do nível de estabilidade do talude. Os resultados obtidos utilizando um conjunto significativo de
taludes da rede ferroviária britânica evidenciam um bom desempenho dos modelos propostos na
identificação do nível de estabilidade de um determinado talude com base em informação essencialmente
visual. De sublinhar ainda o contributo dos modelos propostos para uma gestão mais eficiente dos recursos
disponíveis ao nível das ações de manutenção e conservação da rede de taludes.

ABSTRACT

Keeping in mind an efficient management of the transportation infrastructures, namely the slopes network,
it is fundamental to measure the stability condition of the different element of the network. This information
will allow a more efficient management of the available budgets for maintenance tasks of the network.
Moreover, it is important that the information used to define the stability condition of each slope allow a
reliable classification and at the same time be easy to collect and cheap as possible. This task has proved
to be complex and so for only partially concluded. Until now what have been done is to try to balance the
reliability of the defined stability condition and the investment needed to get the information required by
the classification systems. In this work a new approach to measure the stability condition of soil
embankments is presented. The proposed system is feed with information that can be easily obtained
through visual routine inspections, as well as geographic and geologic data, and calculate the stability
condition level of a given soil embankment. This proposal was developed through the application of data
mining tools and aims to maximize all available information in order to get the stability condition of a soil
embankment as realistic as possible. Based on a representative database from the railway network of the
UK, the achieved results shows a good performance of the proposed models in stability condition
identification of a given soil embankment, using as model attributes almost only visual information. It is
also important to underline the contribution of the proposed models for a more efficient management of
the available budgets for maintenance and repair tasks.

1- INTRODUÇÃO

Após um longo período de investimento e desenvolvimento, Portugal dispõe atualmente de uma rede de
infraestruturas de transporte, nomeadamente rodo e ferroviária, bastante completa. O desafio atual
prende-se com a manutenção da rede existente de forma a assegurar todas as condições de segurança e
mobilidade. Face ao elevado número de elementos constituintes da rede e das limitações orçamentais
disponíveis para gestão de toda a infraestrutura, torna-se fundamental dispor de um conjunto de
ferramentas que auxiliem os gestores responsáveis nas suas tarefas de forma a otimizar os recursos
disponíveis.

Um dos elementos que requerem particular atenção, necessitando de uma observação/manutenção com
regularidade, é a rede de taludes que constitui a rede rodo e ferroviária. A falta de manutenção pode levar

327
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

à ocorrência de deslizamentos/derrocadas com graves perdas económicas e humanas. Por outro lado, a
gestão de toda a rede representa um custo significativo para as respetivas concessionárias. Torna--se
portanto fundamental desenvolver um conjunto de ferramentas capazes de identificar o nível de
estabilidade de um determinado talude preferencialmente através de informação recolhida durante as
inspeções de rotina. Desta forma será possível priorizar intervenções, minimizando os custos de
manutenção e a ocorrência de acidentes.

Embora existam alguns sistemas para a previsão da ocorrência de deslizamentos/derrocadas, uma parte
significativa tem como alvo os taludes naturais, não sendo adequados à avaliação de taludes feitos pelo
homem. Além disso, estes sistemas apresentam como principal desvantagem o facto de requerem
informação por vezes de difícil obtenção, como por exemplo através de ensaios específicos ou equipamentos
de monitorização dispendiosos, acrescentando ainda o facto de em alguns casos terem sido desenvolvidos
utilizando informação proveniente de casos de estudo muito concretos, limitando um pouco o respetivo
domínio de aplicação. Há ainda a sublinhar o facto de alguns sistemas serem caracterizados por uma forte
componente de subjetividade. A título de referência, é de sublinhar os sistemas propostos por Cheng e
Hoang (2014) onde é apresentado um método de classificação que calcula a probabilidade de rotura de um
determinado talude. Também Ahangar-Asr et al. (2010) propuseram um modelo para a determinação do
fator de segurança de taludes em rocha e em solo, através da aplicação de técnicas de data mining (DM).
Lu e Rosenbaum (2003) e Sakellariou e Ferentinou (2005) fizeram também uso de técnicas de DM mas
neste caso para prever diretamente se um determinado talude iria ruir ou não. Todas estas três abordagens,
embora tenham conseguido um desempenho satisfatório, apresentam como principal limitação o facto de
terem de assumir a priori o tipo de rotura do talude. Além disso, foram desenvolvidos utilizando uma base
de dados com um número de registos bastante reduzido. Mais recentemente, um novo sistema foi
apresentado por Pinheiro et al. (2015). O sistema SQI (Slope Quality Index), caracterizado pela sua grande
flexibilidade, assenta na avaliação de diferentes fatores que influenciam o comportamento de um talude,
sendo aplicável quer a taludes em rocha quer em solo. Através da ponderação dos diferentes fatores obtém-
se uma classificação final do talude, representativa do nível de estabilidade do mesmo.

O comportamento de um talude depende de um elevado número de fatores, alguns deles de difícil avaliação
(AGC, 2007), (Fay et al., 2012). Por outro lado, existem atualmente poderosas ferramentas capazes de
explorar grandes volumes de dados e extrair conhecimento útil. Estas ferramentas, usualmente conhecidas
por DM, têm sido aplicadas com sucesso em diversas áreas do conhecimento, nomeadamente na área de
Engenharia Civil e em particular em geotecnia (Tinoco et al., 2014a), (Miranda et al., 2011). Ao nível do
estudo da estabilidade de taludes, Gavin e Xue (2009) calcularam o índice de fiabilidade de um determinado
talude, bem como a posição do nível freático com recurso a algoritmos genéticos. Também Wang et al.
(2005) avaliaram a estabilidade de um talude através da aplicação de redes neuronais artificiais. Duas
outras propostas desenvolvidas através da aplicação de máquinas de vetor de suporte foram apresentadas
por Cheng et al. (2012) e Yao et al. (2008).

O presente trabalho, tem como principal objetivo o uso de ferramentas de inteligência artificial no
desenvolvimento de um sistema de identificação do nível de estabilidade de taludes em aterro, alimentado
por informação recolhida durante inspeções de rotina (informação visual) e complementada com alguma
informação geométrica, geológica e geográfica. Para questões de treino/validação do sistema foi utilizada
uma base de dados relativa à rede de taludes da rede ferroviária do Reino Unido, disponibilizada pela
NetworkRail. O problema em estudo foi abordado seguindo duas estratégias distintas: como um problema
de classificação nominal; convertido num problema de regressão. Para cada uma destes estratégias foram
aplicados dois algoritmos de DM, nomeadamente as Redes Neuronais Artificiais (RNAs) e as Máquinas de
Vetores de Suporte (MVSs).

2- BASE DE DADOS

Um elemento fundamental para a realização de qualquer estudo assente na aplicação de ferramentas de


DM é a existência de uma base de dados representativa do problema em estudo. A proposta apresentada
neste trabalho para a identificação do nível de estabilidade de taludes em aterro foi desenvolvido com uma
base de dados constituída por 25673 registos, tendo sido disponibilizada pela NetworkRail e é relativa à
rede ferroviária de Inglaterra.

O modelo apresentado para a classificação do nível de estabilidade de um determinado talude em aterro,


daqui em diante designado por EHC (“Earthwork Hazard Categorization”) é alimentado por 53 variáveis
usualmente medidas durante inspeções de rotina. Abaixo são apresentadas algumas das variáveis
consideradas:

328
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

 Drenagem dos terrenos envolventes;


 Altura;
 Atividade animal;
 Inclinação;
 Existência de construções na base;
 Geologia da base;
 Existência de árvores;
 Proteção da superfície;
 etc.
 Drenagem subterrânea;

Adicionalmente às variáveis acima mencionadas e às restantes utilizadas no desenvolvimento da proposta


aqui apresentada, é sabido que muitas outras têm uma forte influência no estudo da estabilidade de taludes,
como por exemplo a quantidade de precipitação durante um determinado período de tempo. No entanto,
como tal informação não está disponível na base de dados utilizada no presente estudo, as mesmas não
foram consideradas. De sublinhar contudo, que um dos objetivos deste estudo passa por tentar desenvolver
um sistema de identificação do nível de estabilidade de taludes em aterro utilizando essencialmente
informação visual recolhida durante inspeções de rotina e que seja de fácil obtenção. Além disso, a proposta
apresentada tem como principal objetivo dar apoio à tomada de decisão do ponto de vista de gestão de
uma rede de taludes, não se pretendendo uma análise detalhada da estabilidade de um determinado talude.

A cada registo da base de dados está atribuída uma classe EHC, constituída por 4 níveis (A, B, C e D), onde
A representa um elevado nível de estabilidade e D corresponde a um nível de estabilidade com uma
probabilidade de rotura superior. A definição da classe atribuída a cada talude resulta da experiencia dos
Engenheiros e Técnicos da NetworkRail e será assumida como representativa do real nível de estabilidade
do talude.

A Figura 1 ilustra a distribuição dos 25673 registos da base de dados pelas 4 classes EHC. Da sua análise
é possível observar uma assimétrica bastante pronunciada, a qual terá um efeito preponderante na resposta
dos modelos para cada uma das classes, tal como analisado e discutido mais detalhadamente na secção 4.
Embora do ponto de visto de aprendizagem dos modelos tal distribuição assimétrica da informação tenha
um efeito negativo, a mesma é representativa da realidade, tendo em conta que é espectável que uma
parte significativa dos taludes da rede apresente um nível de estabilidade elevado (classe A), e que apenas
alguns apresentem um elevada probabilidade de rotura (classe D).

16218

15000
Numero de registos

10000

6040

5000

2772

643
0

A B C D
EHC
Figura 1 - Distribuição do número de registos pelas 4 classes EHC

329
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

3- METODOLOGIA E ALGORITMOS

Como referido anteriormente, o sistema proposto para a previsão do EHC de taludes em aterro foi
desenvolvido através da aplicação de ferramentas de DM. Atualmente existe disponíveis diversos algoritmos
de DM que podem ser aplicados a problemas de regressão ou de classificação. Neste estudo foram treinados
dois algoritmos de referência na abordagem de problemas de regressão e classificação, nomeadamente as
RNAs e as MVSs. Ambos os algoritmos têm evidenciado elevada eficiência na resolução de problemas reais
(Tinoco et al., 2011), (Tinoco et al., 2014b), (Freitas et al., 2015).

As RNAs procuram imitar alguns aspetos do cérebro humano (Kenig et al., 2001), como o processamento
de informação através da iteração entre vários neurónios (Perzyk e Kochanski, 2001). Neste trabalho
adotou-se o modelo de RNA do tipo unidirecional e multicamada (multilayer perceptron), com uma camada
intermédia e com H unidades de processamento. Controlando o valor de H podem ser realizadas análises
mais complexas, ainda que um valor elevado de H poderá levar a um sobre-ajustamento do modelo aos
dados de treino e consequente perda de capacidade de generalização deste. Para ultrapassar esta questão,
o valor de H foi definido utilizando uma procura em grelha {0, 2, 4, 6, 8} (𝐻 = 0 corresponde a uma regressão
múltipla).

As MVS (Cortes e Vapnik, 1995), inicialmente desenvolvidas para problemas de classificação, foram mais
tarde também aplicadas a problemas de regressão (Smola e Scholkopf, 2004) após a introdução da função
perda ε-insensitiva. As MVS apresentam vantagens teóricas sobre as RNA tais como a ausência de mínimos
locais durante a fase de aprendizagem. Isto é, estes modelos convergem sempre para a solução ótima. A
ideia subjacente a uma MVS é transformar os dados de entrada num espaço característico de elevada
dimensão usando um mapeamento não linear. Posteriormente, a MVS encontra o melhor hiperplano dentro
do espaço característico. Esta transformação depende da função kernel adotada. O kernel Gaussiano é o
mais popular por apresentar um menor número de parâmetros, tendo sido adaptado no presente estudo.
Para auxiliar a escolha dos valores dos diferentes hiperparâmetros (γ, C e ε), foram adotadas as heurísticas
propostas por Cherkassky e Ma (2004). Assim, para C foi adotado o valor de C=3 e a largura da zona ε-
insensitiva foi definida de acordo com ε = σ ̂/√N, onde σ̂ = 1.5/N × ∑N ̂ i )2 , ŷi é o valor previsto pelo
i=1(yi − y
algoritmo dos 3-vizinhos próximos e N representa o número de registos da base de dados. O parâmetro
kernel γ foi definido usando uma procura em grelha entre {1, 3, 5, 7, 9}.

Como ilustrado anteriormente na Figura 1, a distribuição dos registos pelas 4 classes EHC apresenta uma
forte assimetria, aspeto que tem um efeito preponderante no desempenho dos algoritmos de aprendizagem.
No sentido de ultrapassar esta questão, foram aplicadas duas abordagens visando o balanceamento da
base de dados antes de iniciar o processo de aprendizagem. Assim, foram aplicadas as abordagens SMOTE
(Synthetic Minority Over-sampling Technique) e sobre-amostragem (Oversampling) O SMOTE (Chawla et
al., 2002) permite criar uma “nova” base de dados através da criação de novos registos tendo por base
registos semelhantes (k vizinhos próximos). Esta estratégia é aplicada à classe minoritária.
Simultaneamente são também removidos alguns registos da classe maioritária. Embora o SMOTE seja uma
abordagem direcionada a problemas de classificação, Torgo et al., (2015) adaptaram esta metodologia a
problemas de regressão. A sobre-amostragem corresponde a uma simplificação do SMOTE onde,
aleatoriamente, registos da classe minoritária são repetidos para que todas as classes fiquem com o mesmo
número de registos.

A avaliação do desempenho dos modelos foi realizada através do cálculo de diferentes métricas,
nomeadamente (Baía, 2015): pontuação média de utilidade (PMU); precisão e exatidão. A PMU permite
bonificar ou penalizar uma determinada classe em detrimento de outra. Assim, para o cálculo da PMU
considerou-se a seguinte matriz custo-benefício:

Quadro 1- Matriz custo-benefício


Observado/Previsto A B C D
A 1 -4 -8 -16
B -2 1 -4 -8
C -4 -2 1 -4
DE -8 -4 -2 1

A ideia subjacente à matriz apresentada no Quadro 1 consiste em penalizar qualquer classificação não
correta, distinguindo se o erro é por excesso ou defeito. Por exemplo, prever um registo como D quando
ele é A (penalização de -8) é menos penalizado em comparação a uma previsão de A quando o real nível
de estabilidade é D (penalização de -16). Para todas as métricas quanto maior o valor da métrica melhor
o desempenho do modelo. O PMU pode apresentar valores negativos (se em média as previsões
representarem um custo) e o modelo ideal apresentará um PMU de 1. As restantes métricas, exatidão e
precisão, podem variar entre 0% e 100%.

330
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

A capacidade de generalização dos modelos foi avaliada através da aplicação de uma validação cruzada
com 5-fold (Hastie et al., 2009) e repetição de cada experiencia 20 vezes.

Todas as experiências foram conduzidas no ambiente estatístico R (R Development Core Team, 2009), com
o auxílio do pacote rminer (Cortez, 2010), o qual é particularmente adequado para o treino dos algoritmos
RNAs e MVSs.

4- RESULTADOS

4.1 - Classificação nominal

Abordando a previsão do EHC como um problema de classificação, os algoritmos RNAs e MVSs foram
treinados com a base de dados original mas também com uma base de dados balanceada (igual número
de registos por classe) resultante da aplicação das abordagens SMOTE e sobre-amostragem.

O Quadro 2 compara o desempenho dos algoritmos RNAs e MVSs na previsão de EHC utilizando três
métricas distintas. É também comparada a influência do balanceamento da base de dados através das
abordagens SMOTE e sobre-amostragem.

Quadro 2 – Métricas de desempenho dos modelos – classificação nominal (melhores valores a negrito)
Exatidão & Precisão
Modelo PMU
A B C D
Normal 0.28 94.14 & 91.05 68.53 & 69.36 66.22 & 68.55 45.29 & 69.18
RNA SMOTed 0.18 86.31 & 93.88 72.75 & 59.34 48.85 & 63.03 65.93 & 35.07
OVERed 0.24 86.25 & 94.33 67.59 & 60.12 67.12 & 57.87 65.29 & 50.05
Normal 0.08 95.03 & 88.59 64.89 & 64.66 49.76 & 62.41 0.55 & 77.17
MVS SMOTed -0.12 76.39 & 94.17 72.23 & 49.13 47.26 & 45.13 37.94 & 33.22
OVERed -0.35 89.82 & 81.75 53.72 & 55.39 38.75 & 58.26 14.00 & 57.67

A Figura 2 ilustra e compara o desempenho dos algoritmos RNAs e MVSs, bem como o efeito do
balanceamento da base de dados através das abordagens SMOTE e sobre-amostragem para os quatro
modelos com a melhor resposta na previsão do EHC de taludes em aterro. Em cada um dos gráficos, as
quatro barras representam as classes observadas e a graduação do preenchimento corresponde à classe
prevista pelo modelo. Por exemplo, na Figura 2a (RNAs sem balanceamento da base de dados), mais de
68% dos registos da classe B foram corretamente previstos como pertencendo à classe B, menos de 25%
foram classificados com a classe A e os restantes (cerca de 7%) como pertencendo à classe C (nenhum
caso foi previsto como D).

Da análise conjunta do Quadro 2 e da Figura 2 observa-se um excelente desempenho na identificação dos


taludes em aterro pertencentes à classe A (exatidão superior 90%), em particular nas situações sem
balanceamento da base de dados. Para as restantes classes, embora se observe uma ligeira diminuição na
resposta dos modelos, o desempenho obtido continua bastante elevado. De sublinhar os valores de exatidão
superiores a 65% para as classes C e D, alcançados através do balanceamento da base de dados pela
abordagem sobre-amostragem a aplicação do algoritmo RNAs. Comparando os algoritmos RNA e MVS, o
primeiro apresenta um desempenho bastante superior, nomeadamente para as classes C e D, para as quais
a probabilidade de rotura é superior.

Analisando o efeito das abordagens de balanceamento da base de dados SMOTE e sobre-amostragem,


observa-se uma melhoria na resposta dos modelos na identificação dos taludes da classe D, em particular
com a utilização do algoritmo RNAs. Relativamente às outras classes, o ganho é aproximadamente residual
sendo mesmo em alguns casos negativo. Por exemplo, para a classe A e de acordo com o algoritmo RNAs
observa-se uma diminuição da exatidão de 94% para 86% quando é aplicada uma abordagem de
balanceamento da base de dados. Comparando o efeito global das duas abordagens de balanceamento da
base de dados, a sobre-amostragem apresenta ser mais efetiva que o SMOTE.

331
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

a) b)
RNA :: Normal - Classificação Nominal RNA :: OVERed - Classificação Nominal

1.00 1.00

0.75 0.75

EHC previsto EHC previsto


Frequência

Frequência
A A
0.50 B 0.50 B
C C
D D

0.25 0.25

0.00 0.00

A B C D A B C D
EHC Experimental EHC Experimental
c) d)
MVS :: Normal - Classificação Nominal MVS :: SMOTEd - Classificação Nominal

1.00 1.00

0.75 0.75

EHC previsto EHC previsto


Frequência

Frequência

A A
0.50 B 0.50 B
C C
D D

0.25 0.25

0.00 0.00

A B C D A B C D
EHC Experimental EHC Experimental
Figura 2 – Comparação do desempenho dos modelos – classificação nominal: a) RNAs sem balanceamento da base de
dados; b) RNAs com sobre-amostragem; c) MVSs sem balanceamento da base de dados; d) MVSs com SMOTE

4.2 - Regressão

Tendo como objetivo melhorar o desempenho dos modelos, o problema em estudo foi convertido num
problema de regressão e resolvido como tal. Para o efeito foram selecionadas diferentes escalas de
regressão, tendo-se no final adotado a escala A=1, B=2, C=4 e D=10.

O Quadro 3 e a Figura 3 mostram e comparam o desempenho dos modelos de regressão na previsão do


EHC de taludes em aterro. Também aqui as RNAs apresentam um desempenho superior às MVSs, em
particular para as classes C e D. Por outro lado, e à semelhança dos modelos de classificação nominal,
observa-se uma elevada exatidão na identificação de talude em aterro da classe A, com valores da exatidão
superiores a 90%. Para as restantes classes o desempenho dos modelos diminui ligeiramente, observando-
se ainda assim valores da exatidão superiores a 64% para as classes B e C e perto de 50% para a classe
D, de acordo com o algoritmo RNA. Em particular para a classe D, a estratégia de classificação nominal
mostrou ser mais eficiente na previsão do EHC de taludes em aterro. A Figura 3 ilustra a relação entre os
valores observados e previstos de EHC de acordo com os melhores modelos RNA e MVS, evidenciando a
melhor resposta das RNAs. A maior diferença de desempenho é observada para a classe D onde as MVS
apresentam alguma dificuldade em identificar corretamente os taludes em aterro pertencentes a esta classe.
O balanceamento da base de dados através da aplicação das abordagens sobre-amostragem e SMOTE
apresenta um efeito pouco expressivo mesmo para as classes minoritárias.

332
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

Quadro 3 – Métricas de desempenho dos modelos – regressão


Exatidão e Precisão
Modelo PMU
A B C D
Normal 0.43 93.53 & 90.23 64.53 & 67.89 64.38 & 67.27 50.33 & 69.30
RNA
SMOTed 0.44 90.21 & 92.60 71.00 & 64.40 67.91 & 65.37 40.43 & 77.92
Normal 0.45 86.40 & 93.58 82.60 & 55.34 36.94 & 60.79 0.08 & 100
MVS
SMOTed 0.35 73.01 & 95.91 84.59 & 46.55 50.21 & 59.86 3.71 & 89.66

a) b)
RNA :: Normal - Regressão [1-2-4-10] MVS :: SMOTEd - Regressão [1-2-4-10]

1.00 1.00

0.75 0.75

EHC Previsto EHC Previsto


Frequência

Frequência
A A
0.50 B 0.50 B
C C
D D

0.25 0.25

0.00 0.00

A B C D A B C D
EHC Experimental EHC Experimental
Figura 3 – Comparação do desempenho dos modelos – regressão; a) RNAs sem balanceamento da base de dados; b)
MVSs com SMOTE;

5- OBSERVAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi apresentada uma proposta para a previsão do nível de estabilidade de taludes em aterro
(EHC Earthwork Hazard Category), avaliado por quatro classes (A, B, C e D), através da aplicação de
ferramentas de data mining e considerando como dados de entrada do modelo informação usualmente
recolhida durante as inspeções de rotina (informação visual). Os resultados obtidos demonstram um
desempenho muito promissor, tendo-se conseguido valores de exatidão superiores a 91% para classe A,
aproximadamente 67% para as restantes classes. Verificou-se também que as Redes Neuronais Artificiais
(RNA) apresentam um melhor desempenho na previsão do EHC comparativamente às Maquinas de Vetores
de Suporte (MVS). Por outro lado, a aplicação de abordagens de balanceamento da base de dados, em
particular a sobre-amostragem, permite uma melhoria do desempenho dos modelos, nomeadamente na
previsão dos taludes da classe minoritária D. Observou-se ainda que abordando a previsão do EHC de
taludes em aterro como um problema de classificação nominal é ligeiramente mais eficiente que seguindo
uma abordagem de regressão.

Em jeito de observação final, gostaríamos de referir que o desempenho global obtido na previsão do EHC
de taludes em aterro abre boas expectativas ao desenvolvimento de trabalhos futuros. Em particular, e
tendo em conta o elevado número de variáveis utilizadas como atributos dos modelos, em trabalhos futuros
pretende-se reduzir o número variáveis consideradas através da aplicação de metodologias de seleção de
variáveis (e.g., recorrendo a técnicas de otimização como os algoritmos genéticos). Com isto pretender-
se-á reduzir a complexidade dos modelos e eventualmente melhorar o desempenho dos mesmos. Será
também de equacionar em desenvolvimentos futuros a aplicação de uma aprendizagem não supervisionada.
Desta forma pretende-se minimizar a subjetividade inerente aos modelos apresentados, no que diz respeito
à influência da equipa de Engenheiros e Técnicos especialistas na classificação atribuída a cada talude, a
qual poderá não ser representativa do real nível de estabilidade do mesmo.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado pela FCT - “Fundação para a Ciência e a Tecnologia”, no âmbito do ISISE,
projeto: UID/ECI/04029/2013 e no âmbito do projeto: UID/CEC/00319/2013, bem como através da bolsa
de pós-doutoramento com a referência SFRH/BPD/94792/2013 (POCH e FSE). Este trabalho foi também

333
ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

financiado pelo COMPETE: POCI-01-0145-FEDER-007043. Um agradecimento especial ao Professor David


Toll pela colaboração no desenvolvimento dos trabalhos, bem como à NetworkRail pela disponibilização da
informação utilizada no presente estudo.

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ENCOSTAS E TALUDES| 16 CNG

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335
336
BARRAGENS E

ATERROS
337
BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
_____________________________________________________________________________________

APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE FOZ TUA (AHFT)

OBSERVAÇÃO ESTRUTURAL DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE OBRA POR


SISTEMAS DE OBSERVAÇÂO FIXOS

Almeida, Fernando; EDP Produção, Porto, Portugal, fernando.almeida@edp.pt


Garrido, Sandra; EDP Produção, Porto, Portugal, sandra.garrido@edp.pt
Gil, Sara; Mota-Engil, Lisboa, Portugal, sara.gil@mota-engil.pt

RESUMO

No decorrer da construção do Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua (situado no rio Tua, afluente da margem
direita do Douro), empreendimento da EDP Produção, foram instalados dispositivos de observação estrutural
em alguns elementos das obras da Central e da Barragem, que decorreram da implementação dos respetivos
Planos de Observação, permitindo o acompanhamento do seu comportamento durante a construção e, mais
tarde, nas fases de enchimento da albufeira e exploração. Neste artigo pretende-se detalhar o tipo e os
procedimentos de instalação dos aparelhos de observação.

ABSTRACT

A monitoring plan was implemented during the construction works of Foz Tua, an EDP Produção hydroelectric
scheme.

The monitoring devices were applied in the dam body, underground tunnels and hydroelectric power plant,
with the purpose to monitor the structures behavior during the lifetime of the scheme including the first
filling of the reservoir and of the hydraulic circuits.

This paper intends to detail the type and the installing procedures of the monitoring devices.

1. CARATERIZAÇÃO GERAL DO AHFT

O Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua, empreendimento da EDP Produção, situa-se no rio Tua, afluente
da margem direita do rio Douro, que faz a separação entre os concelhos de Alijó e de Carrazeda de Ansiães
(respetivamente distritos de Vila Real e Bragança), próximo da confluência destes dois rios.

Na zona de implantação da Barragem o vale é profundamente encaixado e insere-se num maciço granítico
com grau de alteração em geral baixo. Os trabalhos de prospeção realizados permitiram concluir que tanto o
grau de alteração e fracturação como o afastamento das descontinuidades diminuem rapidamente com a
profundidade evidenciando um maciço de fundação com boas características mecânicas.

Na zona da Central e restituição o maciço é constituído por rochas metassedimentares do CXG – Grupo do
Douro, Formação de Pinhão. Esta unidade apresenta alternâncias rítmicas, com estratos de metagrauvaques
e filitos ou micaxistos, de cor esverdeada quando não alterados.

Genericamente o AHFT é constituído pelos seguintes elementos principais:

 Barragem em betão vibrado (Fig.1) do tipo abóbada de dupla curvatura com 108 m de altura e 275
m de desenvolvimento do coroamento, cuja conceção, definição de formas e projeto para licencia-
mento, foram da autoria da EDP Produção, tendo esta empresa atribuído à COBA - Consultores de
Engenharia e Ambiente S.A. a responsabilidade da realização do projeto de detalhe para construção;
coube ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), entre outras atividades, a apreciação do
Projeto para Licenciamento, a verificação do projeto da barragem para os cenários de rotura e a
supervisão das atividades de instrumentação no âmbito da segurança de estruturas; inserido no
corpo da barragem existe um descarregador de cheias, equipado com 4 portadas (5500 m³/s para
NMC), uma descarga de fundo (200 m³/s) e um dispositivo para libertação de caudal ecológico (0,5
m³/s a 10 m³/s);

 Complexo Subterrâneo da Central formado por uma central em poço (Fig.2) com dois grupos gera-
dores reversíveis (262 MW) e por um circuito hidráulico constituído por dois túneis independentes
para cada grupo (CH1 com 580 m e o CH2 com 630 m) teve conceção e projeto da autoria da EDP
Produção.

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Figura 1 – Barragem Figura 2 – Central

A construção do AHFT foi realizada por um agrupamento complementar de empresas especialmente


constituído para esta empreitada, sendo formado pelas construtoras Mota-Engil, Somague e MSF, designado
por Barragem de Foz Tua, A.C.E.; coube ao consórcio constituído pelas empresas Mota-Engil e Tecnasol a
realização de todas as atividades relacionadas com os sistemas de observação fixos.

Do ponto de vista do Regulamento de Segurança de Barragens a barragem de Foz Tua entrou em fase de
exploração em junho de 2017, passando a integrar o parque hidroelétrico do Centro de Produção Douro, da
EDP Produção.

2. OBSERVAÇÃO DAS AÇÕES E DA RESPOSTA ESTRUTURAL E HIDRÁULICA

A observação das ações e da resposta estrutural e hidráulica da Barragem e do Complexo Subterrâneo da


Central, previamente definida em Planos de Observação independentes, elaborados pela EDP Produção e
revistos pelo LNEC, previu Sistemas de Observação para acompanhamento das obras nas fases de construção,
de primeiro enchimento da albufeira e do circuito hidráulico, e da entrada em serviço e exploração. No caso
das obras subterrâneas, onde as ações que assumiram maior relevância foram as relacionadas com a
libertação do estado de tensão e com a presença e escoamento da água no maciço, quase sempre mutantes
ao longo da construção, obrigaram a ajustamentos mais frequentes nos Sistemas de Observação.

Parte importante dos Planos de Observação é a relativa à definição do Sistema de Observação que na fase de
construção, e agora na fase de exploração, permite a medição das grandezas representativas das ações, das
propriedades dos materiais e das respostas estruturais.

Na caraterização destas grandezas destacam-se: a observação das ações da água, meteorológicas, térmicas,
sísmicas e de vibrações induzidas pelos métodos de escavação; a caracterização das propriedades do betão e
do maciço de fundação; a determinação dos deslocamentos da supraestrutura, do contacto com a fundação,
de movimentos relativos entre blocos e fissuras, de deformações, tensões, caudais e subpressões.

3. OBJECTIVOS DOS SISTEMAS DE OBSERVAÇÃO FIXOS

Aos sistemas de observação que integram instrumentos e dispositivos permanentemente instalados e de


leitura frequente ou praticamente contínua, designados por Sistemas de Observação Fixos, é atribuída a função
de verificar que se cumpram os estados limite de segurança e funcionalidade, exigindo-se deles a deteção
precoce de deteriorações cuja ocorrência e evolução possam vir a originar o não cumprimento desses estados
limite.

A complexidade da preparação e colocação de instrumentos nas diversas fases evolutivas das obras, associada
à necessidade de se obterem níveis elevados de fiabilidade funcional, a maior parte das vezes sem
possibilidade de posterior correção, obrigou a EDP Produção a adotar um modelo organizacional que, para
além da coordenação implementada pela Gestão da Construção do Aproveitamento Hidroelétrico (Direção de
Foz Tua) e da Entidade Instaladora (consórcio Mota-Engil / Tecnasol), contou com o apoio permanente da
Direção de Engenharia de Barragens (DEB) e da Área de Segurança de Estruturas da Direção de Otimização e
Gestão de Ativos Hídricos (DOH-ASE). Este modelo teve, também, a participação de uma equipa especializada
de instrumentação, constituída por técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC-EEI/FT), que
teve como principais atribuições a supervisão das atividades relacionadas com a receção e calibração de
instrumentos de observação, a escolha das melhores soluções para os dispositivos de colocação de
instrumentos e o acompanhamento da preparação e colocação de instrumentos de observação.

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No presente texto serão abordados alguns dos sistemas de observação fixos aplicados no AHFT.

4. DISPOSITIVOS FIXOS INSTALADOS

4.1- Extensómetros de Varas

4.1.1- Descrição

Estes dispositivos foram instalados no Complexo Subterrâneo da Central e na Barragem.

No Complexo Subterrâneo da Central foram instalados sete extensómetros horizontais duplos e triplos para
acompanhar o comportamento das obras associadas à parede de contenção dos poços dos Grupos.

Na Barragem foram instalados treze extensómetros verticais e horizontais, simples e duplos, para permitir a
medição dos deslocamentos do contacto barragem-fundação durante as fases de betonagem dos blocos,
injeção de juntas de construção, primeiro enchimento e exploração da barragem (Fig.3).

Figura 3 – Extensómetros de varas instalados na barragem

4.1.2- Instalação

Estes instrumentos foram instalados em furos realizados para o efeito, sendo constituídos (Fig.4) por um
conjunto de varas devidamente acopladas e protegidas por um tubo-bainha que, na extremidade de fundo-
do-furo, se encontra devidamente selado ao maciço de fundação através de um conjunto packer/peça de
selagem. Na extremidade livre, localizada em local acessível, em conjunto com uma peça de ligação à estrutura,
designada por cabeça do extensómetro (Fig.5), são feitas as leituras do instrumento, através da utilização de
defletómetro ou de um transdutor de deslocamento.

Packer Cabeça
Varas
Extensométricas

Figura 4 – Extensómetro de Varas

A furação para estes dispositivos foi realizada através da utilização de sondas com recolha de amostra,
diâmetro 86 mm. De 5 em 5 metros de avanço da furação foram realizados ensaios de absorção de água do
tipo Lugeon; no caso em que os troços ensaiados tinham absorções superiores a duas unidades Lugeon foi
necessário injetar o furo com calda de cimento, esperar que a calda ganhasse presa, reperfurar e repetir o
ensaio Lugeon tantas vezes quantas as necessárias até que a absorção tivesse valores abaixo dos previstos.

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Quando se atingia a profundidade estabelecida em projeto dava-se por terminada esta atividade,
classificavam-se as amostras recolhidas e fazia-se o LOG. Só após a análise efetuada pelos representantes da
EDP Produção é que era definida a profundidade a que seriam selados os conjuntos packer/peça de selagem.

Figura 5 – Cabeça de Extensómetro de Varas

As amostras provenientes da furação foram dispostas em caixas de sondagem com indicação da frente,
dispositivo e profundidade de furação.

Posteriormente era efetuada a preparação do material em estaleiro para instalação nos furos realizados.

Nos extensómetros do Complexo Subterrâneo da Central foram instalados transdutores de deslocamento na


cabeça dos extensómetros que permite a realização de leituras à distância (Fig.6).

Figura 6 – Cabeça de Extensómetro de Varas com transdutores de deslocamento

4.2 Células de carga

4.2.1- Descrição

Estes dispositivos foram instalados no Complexo Subterrâneo da Central

A instalação das células de carga nas ancoragens (Fig.7) teve por objetivo a medição das variações da força
instalada nessas ancoragens ainda durante a realização das escavações de construção da Tomada de Água e
da Central, prolongando-se a sua utilização na fase de exploração do AHFT.

Figura 7 – Ancoragem com célula de carga

4.2.2- Instalação

As células de carga aplicadas nas ancoragens são do tipo hidráulico equipadas com transdutores de pressão
do tipo corda vibrante. Para execução das leituras foi efetuado o encaminhamento dos cabos até uma central
de leitura.

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A sua instalação é efetuada após a execução dos ensaios de receção das ancoragens.

4.3 Piezómetros

4.3.1- Descrição

Estes dispositivos foram instalados na Barragem e no Complexo Subterrâneo da Central

Na Barragem foram instalados vinte e cinco piezómetros verticais com o objetivo de se avaliar a subpressões
na zona do maciço subjacente à base dos blocos da barragem (Fig.8). O material utilizado foi todo em aço
inox, incluindo os manómetros aplicados.

Piezómetros

Drenos

Figura 8 – Piezómetros e drenos instalados na barragem

Na Central foram instalados seis piezómetros horizontais e três verticais para a medição das subpressões
transmitidas pelos maciços rochosos às paredes de contenção dos poços dos grupos.

4.3.2- Instalação

Estes dispositivos foram instalados em furos para o efeito realizados, não revestidos, e são constituídos (Fig.9
e 11) por um tubo de emboquilhamento em aço inox, selado no betão, ao qual foram acoplados tubos e
acessórios também em aço inox para a tomada de pressão, constituída por torneira de três vias e manómetro.

A geometria da tomada de pressão varia consoante o furo do piezómetro é horizontal (Fig.10) ou vertical
(Fig.12).

Figura 9 – Esquema emboquilhamento de Figura 10 – Emboquilhamento de piezómetro


piezómetros horizontais horizontal

A furação para a instalação destes dipositivos foi de acordo com os procedimentos descritos para os
extensómetros de varas.

A instalação dos piezómetros inicia-se pela selagem a seco do tubo de emboquilhamento no furo, através da
utilização de obturadores de furo. Após a calda de cimento ganhar presa são colocados os restantes acessórios
para permitir a colocação das tomadas de pressão.

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Figura 11 – Esquema emboquilhamento de Figura 12 – Emboquilhamento piezómetro vertical


piezómetros verticais

4.4 Drenos

4.4.1- Descrição

Estes dispositivos foram instalados na Barragem para a medição dos caudais drenados pela fundação (Fig.13).

4.4.2- Instalação

Os emboquilhamentos dos drenos foram instalados em furos executados sem recolha de amostra e são
constituídos por um tubo de emboquilhamento em aço inox, selado no betão, ao qual foram acoplados tubos
e acessórios em aço inox para o encaminhamento das águas para a caleira (Fig.14).

Figura 13 – Esquema dreno Figura 14 – Dreno

4.5 Instrumentação embebida

4.5.1- Descrição

Designada genericamente por aparelhagem elétrica refere-se a um diverso conjunto de instrumentos que são
colocados na massa do betão, aquando da realização das betonagens, destinados a medir grandezas
relacionadas com as variações de tensões, extensões, temperatura e de movimentos relativos entre blocos
(Fig.15).

Este tipo de instrumentação foi instalado na Barragem e compreendeu os seguintes dispositivos:

 Extensómetros de resistência elétrica – para determinação indireta do estado de tensão no betão;

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 Células tensométricas ou tensómetros – para medição direta de tensões de compressão; quando utili-
zadas em conjunto com os grupos de extensómetros de resistência elétrica permitem a caraterização
da relação entre tensões e deformações.

 Termómetros de resistência – para medição das temperaturas do corpo da barragem;

 Medidores do movimento de juntas - para controlar os movimentos relativos entre blocos.

Figura 15 – Instrumentação embebida instalada

4.5.2- Instalação

A instalação destes dispositivos é efetuada durante a betonagem dos blocos (Fig.16 a 19), iniciando-se a sua
preparação em estaleiro através da calibração dos instrumentos, da colocação em suportes especiais e da
ligação dos instrumentos a cabos de sinal adequados.

Figura 16 – Instalação de grupo de extensómetros de resistência Figura 17 – Instalação de célula tensométrica

Figura 18 – Instalação de medidor do movimento de juntas Figura 19 – Instalação de termómetro de resistência

Na Barragem foram instalados 172 extensómetros de resistência, 12 células tensométricas, 41 termómetros


de resistência e 98 medidores do movimento de juntas, tendo sido aplicados 8650 m de cabo de sinal
(vulgarmente designado por cabo de barragens, devido às suas particulares aptidões para poder ser embebido
no betão). Para a leitura dos dispositivos de resistência foi efetuada a condução do cabo através de condutas
(Fig.20) e esteiras (Fig.21 e 22) e instaladas dezanove centrais de leitura (Fig.23).

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Figura 20 – Encaminhamento dos cabos Figura 21 – Saída de cabo de conduta para esteira

Figura 22 – Condução de cabo em esteira Figura 23 – Central de leitura

4.6 Bases Tridimensionais

4.6.1- Descrição

As bases tridimensionais permitem a medição, à superfície, dos deslocamentos relativos entre blocos,
nomeadamente de abertura/fecho das juntas e dos deslizamentos entre as faces dos blocos nos sentidos
vertical e horizontal. Juntamente com a informação recolhida nos medidores do movimento de juntas, as bases
tridimensionais foram fundamentais durante a injeção das juntas de contração (Fig.24).

Figura 24 – Bases tridimensionais instaladas

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4.6.2- Instalação

Estes equipamentos (Fig.25) são constituídos por duas peças em aço inox, uma haste e um cilindro instalados
com recurso a uma cércea própria (Fig.26), onde através de um comparador (defletómetro) são efetuadas as
leituras mecânicas em três direções, representativas dos movimentos de abertura/fecho e dos dois tipos de
deslizamento.

Cilindro
Haste

Figura 25 – Base Tridimensional Figura 26 – Instalação de Base Tridimensional

4.7 Fios-de-prumo (direitos e invertidos)

4.7.1- Descrição

Para controlo dos deslocamentos horizontais em duas direções ortogonais, foram instalados fios de prumo
direitos na Central e direitos e invertidos na Barragem (Fig.27).

Figura 27 – Fios-de-prumo instalados na Barragem

4.7.2- Instalação

Os fios-de-prumo direitos (Fig.28 e 29) são instalados no interior das estruturas, em poços verticais pré-
entubados no betão de construção das estruturas através de manilhas de Ø 400 mm, possuindo o ponto de
amarração à estrutura numa cota que se considera o mais elevada possível. O sistema é composto por um fio
de aço inox em que na extremidade superior é feita a suspensão e na outra é colocado um peso mergulhado
em água, para amortecer as oscilações.

Os fios de prumo invertidos (Fig.30 e 31) atravessam também a zona de contato barragem/fundação
penetrando no maciço de fundação através de furos entubados até uma cota onde se considera poder selar o
fio de aço de forma a que o ponto de selagem seja considerado fixo. O sistema é composto por um fio de aço

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inox em que a extremidade inferior se encontra selada no maciço de fundação e a superior amarrada a um
flutuador mergulhado num depósito com água, de forma a garantir o necessário tensionamento do fio de aço.

Figura 28 – Esquema de Fio-de-prumo direito Figura 29 – Base de coordinómetro e peso de Fio-


de-prumo direito

Figura 30 – Esquema de Fio-de-prumo invertido Figura 31 – Base de coordinómetro e depósito em


Fio-de-prumo invertido

Para a furação do maciço rochoso de fundação é necessário efetuar um posicionamento rigoroso do


equipamento de furação sobre a plataforma de trabalho, de modo a que o eixo do furo a executar tenha
continuidade e retilinearidade, em todo o seu comprimento, com o eixo do cilindro útil resultante dos troços
pré-entubados, acima localizados.

A furação foi realizada por meios rotativos não destrutivos com recolha contínua de amostra com o Ø 95 mm,
sendo depois o furo alargado para o diâmetro final Ø 250mm. Tendo em conta a exigência de verticalidade
foram efetuadas verificações em cada avanço de 1 metro; quando ocorriam desvios era feita uma cimentação
do troço desalinhado, seguida de reperfuração. Foram realizados ensaios de permeabilidade a cada 5 metros
de perfuração no maciço rochoso, para avaliação das características do maciço atravessado. Após a conclusão
estes furos foram revestidos com um tubo metálico com diâmetro de 164 mm, provido de juntas elásticas.

Antes da instalação dos dispositivos dos fios‐de‐prumo, direitos ou invertidos, foi efetuado um levantamento
dos poços, no caso dos fios direitos, e do conjunto poço / furo, no caso dos invertidos, de forma a se determinar
a posição do eixo do cilindro útil, materializado pelo posicionamento definitivo do fio de aço inox.

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Para a leitura dos fios-de-prumo são colocadas bases de leitura fixas à estrutura (bases de coordinómetro –
Fig.32), onde é possível estacionar o dispositivo de medida utilizado (coordinómetro ótico – Fig.33), que
permite medir os deslocamentos entre o fio e a estrutura, em duas direções ortogonais, sendo uma delas
coincidente com a radial do local. Para o posicionamento das bases de coordinómetro recorreu-se a controlo
topográfico.

Figura 32 – Base de coordinómetro Figura 33 – Coordinómetro ótico

5. MEIOS MOBILIZADOS

Os trabalhos acima descritos, tendo em conta a sua natureza diversa e a grande dimensão da obra em causa
implicam a mobilização de equipamento de vários tipos, assim como mão-de-obra qualificada para a sua
instalação. Da análise da figura 34, podemos verificar que a mobilização de meios humanos para a
implementação do plano de observação decorreu entre maio de 2013 e maio de 2017, não tendo uma carga
constante ao longo da obra.

14

12

10

Figura 34 – Mão-de-obra da Entidade Executante afeta às catividades da instrumentação


durante os trabalhos de construção do AHFT

Por outro lado, salienta-se a dimensão dos dois principais elementos de obra e a quantidade e complexidade
de leitura dos respetivos sistemas de observação fixos, conforme abaixo indicado:

Barragem:

Volume de betão aplicado, de 396.567 m³


Abóbada com 18 blocos e 17 juntas de contração verticais
Nº de betonagens, de 1098 (colocado 1 instrumento em cada 2 betonagens)
Período de colocação do betão, de 34 meses (colocados 18 instrumentos / mês)
Nº de instrumentos do S.O. Fixo, 584 instrumentos
Nº de grandezas lidas no S.O. Fixo, 1018 grandezas

Complexo das Obras Subterrâneas:

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Volume de escavação subterrânea, de 158.073 m³


Volume de escavação a céu aberto, de 206.679 m³
Volume de escavação total, de 364.752 m³
Período de escavações, de 30 meses
Nº de instrumentos do S.O. Fixo, 47 instrumentos (colocados 5 instrumentos / trimestre)
Nº de grandezas lidas no S.O. Fixo, 49 grandezas

6. CONCLUSÕES

O modelo organizacional adotado pela EDP Produção, que contou com a colaboração de diversas UO internas
e a participação direta do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC-EEI/FT), veio a mostrar-se eficiente
e capaz, no âmbito da receção, preparação e colocação de todo o tipo de materiais associados à
instrumentação.

As taxas verificadas na instalação de instrumentos da Barragem correspondem à colocação de 18 unidades


por mês e de uma por cada betonagem alternada. Estes valores indicam claramente que, não só a instalação,
mas também a aquisição e aferição dos instrumentos do sistema de observação da Barragem, correspondem
a uma atividade inserida no caminho crítico da construção da obra, muitas vezes responsável pela definição
de datas-chave do desenvolvimento da construção do aproveitamento hidroelétrico.

Importa salientar que a instalação de alguns instrumentos e sistemas de observação está dependente da
realização de infraestrutura própria, muitas vezes de elevada complexidade de execução (caso dos furos para
fios de prumo invertido), outras vezes, dependem da evolução de outras frentes de obra, como por exemplo
a furação para as redes de drenagem e piezometria, que depende do avanço dos trabalhos de consolidação e
impermeabilização do maciço de fundação. Por este facto a auscultação mecânica e hidráulica das fundações
foi responsável pela maior concentração de mão-de-obra no período de maio 2015 a junho 2016, conforme
gráfico apresentado.

Tendo em conta a dimensão do AHFT e a diversidade de dispositivos instalados foi importante ter garantida a
mobilização de equipamentos e mão-de-obra qualificada adequados. Decorrente dos resultados obtidos nos
trabalhos relacionados com o maciço de fundação e garantindo o cumprimento dos prazos definidos, por vezes,
foi necessária a implementação de alterações, ou mesmo de reforços dos meios.

Não só as preocupações relacionadas com a realização de centenas de milhares de m³ de escavações e idêntica


quantidade de m³ de colocação de betões, os gestores de obra devem estar sensibilizados para a
implementação dos sistemas de observação, muitas vezes tratada como de menor importância, os quais
devem merecer preocupação relevante na gestão deste tipo de empreitadas.

REFERÊNCIAS

Elementos de projeto do Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua:

 Volume III – Tomo III-A5 – Plano de Observação

 Volume II – Tomo II-C – Caderno de Encargos – Condições técnicas

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AVALIAÇÃO DE UMA CAMADA COMPACTADA PARA PAVIMENTO EM ASFALTO

EVALUATION OF A COMPACTED LAYER FOR ASPHALT PAVEMENT

Freire, Frederico C.; Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, fredfreire@hotmail.com


Delmiro, Thayse D.; Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, thaysedayse@hotmail.com
Lino, Wrias E. F.; Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, wrias.lino@hotmail.com
Borges, Jesce J. da S.; Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jescejohn@hotmail.com
Ferreira, Sílvio R. M.; Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO

As rodovias e ferrovias exigem um elevado nível de desempenho requerendo um rigoroso controle de


compactação do solo. Na verificação são utilizados ensaios do frasco de areia ou cilindro de cravação,
umidade, compactação e ensaio do índice de suporte califórnia (ISC). O conhecimento técnico na
engenharia vem mostrando métodos mais modernos que provocam mínimas perturbações na estrutura,
caracterizados por não destrutivos, apresentando vantagens sobre os métodos tradicionais. O artigo tem
por objetivo avaliar o desempenho de uma camada compactada de solo em um trecho experimental de
um pavimento com revestimento de asfalto em uma via que liga os bairros de Guabiraba a Dois Irmãos
no Recife-PE, Brasil. Em laboratório, foram realizados ensaios de caracterização física e química. Em
campo, o controle de compactação foi realizado por meio do grau de compactação e da umidade e, ainda,
por ensaios não destrutivos realizados com penetrômetro dinâmico (DPL) e deflectômetro de impacto
ligeiro (LWD) para averiguações da homogeneidade, da resistência de ponta e do módulo de elasticidade,
da camada compactada. Os ensaios não destrutivos foram realizados a cada duas passadas do rolo liso
vibratório, em seis seções, e em cada seção, seis determinações. O solo é uma areia siltosa (SM), com
ISC de 37,0 % com energia normal, 62,8 % com energia intermediária e 68,4 % com energia modificada.
O grau de compactação após a última passada é 101,8 %; a resistência de ponta (DPL) in situ é 14,61
MPa; o módulo de elasticidade (LWD) é 34,83 MPa. Os resultados comprovam a eficácia de uma análise
apropriada durante a fase construtiva de rodovias, obtendo o incremento da sua vida útil e minimizando
a degradação estrutural, em conformidade com as normas vigentes.

ABSTRACT

Roads and railways require a high level of performance requiring strict soil compaction control. In the
verification are used sand replacement method or core cutter test, moisture, compaction and the
california bearing ratio (CBR) test. The technical knowledge in engineering has been showing more
modern methods that cause minimum disturbances in the structure, characterized by nondestructive,
presenting advantages over traditional methods. The objective of this article is to evaluate the
performance of a compacted soil layer in an experimental section of an asphalt pavement in a road
linking the neighborhoods of Guabiraba to Dois Irmãos in Recife-PE, Brazil. In the laboratory, physical and
chemical characterization tests were carried out. In the field, the compaction control was carried out by
means of the degree of compaction and moisture, and also by nondestructive tests performed with
dynamic penetrometer light (DPL) and light weight deflectometer (LWD) for homogeneity, tip resistance
and the modulus of elasticity, of the compacted layer. The nondestructive tests were performed every two
passes of the vibrating flat roller, in six sections, and in each section, six determinations. The soil is silty
sand (SM), with CBR of 37.0 % with normal energy, 62.8 % with intermediate energy and 68.4 % with
modified energy. The degree of compaction after the last pass is 101.8 %; the tip resistance (DPL) in situ
is 14.61 MPa; the modulus of elasticity (LWD) is 34.83 MPa. The results prove the effectiveness of an
appropriate analysis during the construction phase of highways, obtaining an increase in their useful life
and minimizing the structural degradation, in accordance with current standards.

1- INTRODUÇÃO

A necessidade de novas rodovias contribuiu bastante para o desenvolvimento de teorias e conhecimentos


sobre os processos de compactação de solos (Ribeiro, 2008). A compactação é um processo de
estabilização mecânica que se faz necessário quando o solo não apresenta as propriedades requeridas em
projeto para execução de uma obra. Na engenharia rodoviária, uma boa compactação do solo na sua
base e sub-base é imprescindível para uma manutenção menos onerosa e uma maior durabilidade dentro
das condições físicas aceitáveis para o local a ser executado o sistema viário.

O processo de compactação é realizado por meio de ação mecânica no intuito de diminuir do índice de
vazios do solo, sob um esforço de compressão aplicado repetitivamente sobre o mesmo, que chamamos

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de passadas. Esse procedimento faz com que o ar seja expulso dos poros do solo, sem reduções
relevantes da parte líquida representada pela água, e da parte sólida representada pelos grãos. Altera
positivamente suas propriedades mecânicas pelo aumento do seu peso específico, tornando-o mais denso,
incrementando sua resistência ao cisalhamento e reduz seu coeficiente de permeabilidade e
compressibilidade e, consequentemente, reduzindo as variações volumétricas pela ação de solicitações
externas ou mesmo pela ação da água (Claus, 2014).

Esse trabalho tem como objetivo avaliar o processo de compactação de uma camada de solo utilizada na
fase executiva da estrutura de um sistema viário, visando um desempenho satisfatório para pavimento
em asfalto, por meio de ensaios realizados durante as passadas do rolo liso vibratório em uma praça
experimental em campo e em laboratório. O controle da compactação foi realizado por meio da
caracterização fisico-mecânica do solo; dos métodos não destrutíveis do penetrômetro dinâmico (DPL) e
do Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD); da escolha dos equipamentos a serem utilizados neste
processo; do número de passadas necessárias; e do controle da umidade (ω) e do peso específico
aparente seco (Ɣs) em campo (métodos tradicionais destrutíveis).

Na execução de rodovias, em um mercado competitivo e globalizado, o diferencial está em uma gestão


de qualidade e uma excelência dos serviços, que se traduz em economia e durabilidade. Pois é
fundamental o desenvolvimento de novas tecnologias em equipamentos e em procedimentos para os
ensaios de campo e de laboratório, que resultem em novos dados e solicitações, os quais, quando
analisados, tornam o controle de execução da compactação mais eficiente e confiável.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

A jazida do material da estrutura do sistema viário em estudo está situada geologicamente na Formação
Barreiras (Paiva, 2004), com a classe dos solos identificado como Argissolos Amarelos e Latossolos
Amarelos (EMBRAPA, 1999), numa altitude média, em relação ao nível do mar, de 73 m (GOOGLE Inc.-
topographic-map.com, 2017) e com classificação climática de Köppen-Geiger tipo “Am”, clima tropical de
monção (Nunes, 2012). A temperatura média anual de 25,5°C, com umidade relativa do ar média de 80%
e o índice pluviométrico médio é de 2.000 mm/ano (INMET, 2017).

Fez-se uso dos aparelhos automóveis em campo: Motoniveladora Patrol-CAT, modelo 135H, no terreno
natural para o espalhamento e na regularização da camada; Rolo Liso Vibratório-Dynapac, modelo CA25,
para a compactação do solo por meio das passadas; e Caminhão Pipa com chuveiro trazeiro, utilizado
antes da passada 8, para o umedececimento do solo e evitar a perda de umidade como resultante da
evapotranspiração intensa na Mata Atlântica (Delmiro, 2016).

Os ensaios de campo foram realizados numa área experimental, adjacente ao sistema viário e
segmentada em seis seções consecutivas com dimensões de 2,40 m de largura por 3,00 m de
comprimento, relativas às amostras 1 a 6. Na amostra 1, foi investigado o solo em seu estado natural,
passada 0, por meio dos ensaios de campo e procedida a coleta de amostras para os ensaios de
laboratório. Seguiu-se a investigação, utilizando a mesma metodologia, a cada duas passadas do rolo liso
vibratório, para as amostras 2, 3, 4, 5 e 6 referentes ao número de passadas 2, 4, 6, 8 e 10 (Fig.1).

Figura 1 – Área Experimental dividida em seções

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BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
____________________________________________________________________________________

2.1 - Ensaios de campo

Iniciaram-se os ensaios a partir do solo no seu estado natural e a cada duas passadas. Foram realizados
os ensaios de caracterização física em campo: umidade pelo método “Speedy”, para a verificação da
necessidade de reposição da umidade, nos conformes da norma ABNT NBR 16097:2012; e Determinação
da massa específica aparente pelo método do frasco de areia, nos conformes da norma ABNT NBR
7185:2016 (Quadro 1).

Quadro 1 - Distribuição dos ensaios de campo


Amostra Passadas Ws (%) Ɣs (KN/m³) qc (Mpa) ELWD (MN/m²)
do Rolo
1 0 MS0 FA0 DPL0-1 ao DPL0-6 LWD0-1 ao LWD0-15
2 2 MS2 FA2 DPL2-1 ao DPL2-6 LWD2-1 ao LWD2-8
3 4 MS4 FA4 DPL4-1 ao DPL4-6 LWD4-1 ao LWD4-11
4 6 MS6 FA6 DPL6-1 ao DPL6-6 LWD6-1 ao LWD6-8
5 8 MS8 FA8 DPL8-1 ao DPL8-6 LWD8-1 ao LWD8-16
6 10 MS10 FA10 DPL10-1 ao DPL10-6 LWD10-1 ao LWD10-8

Onde: MSi = umidade pelo metodo “Speedy” na passada i; FAi = peso específico aparente seco pelo método do frasco
de areia na passada i; DPLi-j = penetrômetro dinâmico (DPL) na passada i e na seção da amostra j; e LWDi-k =
deflectômetro de impacto ligeiro (LWD) na passada i e no número de ensaio k.

Coletou-se a amostra geral do solo, abrangendo as 6 (seis) seções da área experimental investigada,
referentes a cada uma das amostras, de 1 a 6, nos conformes da norma ABNT NBR 6457:2016. Na
caracterização mecânica em campo, foram realizados os ensaios não destrutíveis que se apresentam nas
subseções seguintes:

2.1.1 - Penetrômetro dinâmico (DPL)

Para a determinação da resistência de ponta em campo, foi usado o ensaio do Penetrômetro Dinâmico
(DPL), do modelo “IAA / Planalsucar–Stolf”, nos conformes das normas internacionais ISO 22476-2: 2005 +
Amd 1: 2011 e EN ISO 22476-2: 2005 + A1: 2011. Foi convencionada a profundidade limite de investigação
em 25 cm (Fig.2).

Figura 2 – Procedimento do ensaio do Penetrômetro Dinâmico (DPL), adaptado (Stolf, 2011).

Para a análise da homogeneidade da camada compactada em toda extenção da área experimental, foram
realizados os ensaios nas 6 (seis) seções, locais da coleta de amostras de 1 à 6, para as passadas 0, 2, 4,

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6, 8 e 10. A evolução da resistência do solo foi determinada através dos seis ensaios referentes aos
estados de compactação, as passadas 0, 2, 4, 6, 8 e 10, realizados para cada seção descrita
anteriormente.

A resistência à penetração foi calculada por meio da Fórmula dos Holandeses (Eq.1) e foi adotado o fator
de segurança 10 como recomendação para utilização de fórmulas dinâmicas (Maia et al., 1997, Apud
Claus, 2014).
𝑀 𝑀𝑔ℎ
𝑀𝑔+𝑚𝑔+( )
qc= 𝑀+𝑚 𝑥
[1]
𝐴

Onde: qc = resistência à penetração (Kgf/cm²); M = massa do martelo (3,992 Kg); g = aceleração da gravidade
(9,8067 m/s²); m = massa do equipamento com exceção do martelo (2,444 Kg); h = altura da queda do martelo (0,4
m); x = penetração unitário decorrente de um impacto (cm/impacto); e A = área da base do cone (0,000129 m²)
(Borges, 2016).

2.1.2 - Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD)

Para as avaliações do módulo de elasticidade dinâmico, da deflexão máxima e do grau de


compactabilidade do solo, foi usado o ensaio do Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD), do modelo
“TERRATEST 4000 USB”, nos conformes da norma internacional ASTM E2583 – 07 (2015).

Utilizou-se a carga dinâmica de 10 Kg para as passadas 0, 2, 4, 6, 8 e 10 e a carga dinâmica de 15 Kg


para as passadas 0, 4 e 8 (Fig.3a). Para realizar os ensaios do Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD),
foi demarcado um quadrado de dimensão de 1,50 m por 1,50 m e iniciaram-se os ensaios para
determinação dos resultados em cada seção da amostra referente a cada passada (Fig.3b).

Figura 3 – Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD): a) Equipamento do LWD, b) Procedimento do Ensaio do LWD.

2.2 - Ensaios de laboratório

Foram realizados os ensaios de caracterização física nas amostras coletadas em campo: umidade pelo
método da estufa, nos conformes das normas ABNT NBR 6457:2016 e DNER-ME 213/94; determinação da
massa específica (densidade real), nos conformes das normas ABNT NBR 6508:1984 e DNER-ME 093/94;
determinação do limite de liquidez, nos conformes das normas ABNT NBR 6459:2016 e DNER-ME 122/94,
e limite de plasticidade, nos conformes das normas ABNT NBR 7180:2016 e DNER-ME 082/94; análise
granulométrica, nos conformes das normas ABNT NBR 7181:2017 e DNER-ME 051/94; compactação, nos
conformes das normas ABNT NBR 7182:2016 e DNIT 164/2013-ME, realizados nas amostras 1, 4 e 6 com
energia de compactação normal e na amostra geral com energias de compactação normal, intermediária
e modificada; e índice de suporte califórnia (ISC), nos conformes das normas ABNT NBR 9895:2017 e
DNIT 172/2016-ME, realizados nas amostras 2, 4, 6 com energia de compactação normal e na amostra
geral com energias de compactação intermediária e modificada.

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3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados e suas análises serão abordados por meio dos dados coletados de campo e de laboratório e
divididos em caracterizações físicas e mecânicas. Os resultados de campo e de laboratório que se inter-
ralacionarem, serão apresentados em conjunto. As análises dos resultados serão norteadas nos
conformes das normas vigentes no Brasil.

3.1 - Caracterização Física

O solo apresentou a fração areia com variação de 76% na Amostra 1 a 85% na Amostra 2, a fração argila
com variação de 10% na Amostra 2 a 14% na Amostra 5 e a fração pedregulho com variação de 2% na
Amostra 3 a 7% na Amostra 1 (Fig.4).

Argila Silte Areia Pedregulho


Fina Média Grossa
100

90
Percentual passando (%)

80

70

60

50
Amostra 1
40
Amostra 2
30 Amostra 3
20 Amostra 4
Amostra 5
10
Amostra 6
0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 4 – Curvas granulométricas

Devido a forte presença da fração areia, todas as amostras resultaram na alta permeabilidade e na
ausência do limite de liquidez e de plasticidade. Conclui-se que ocorre um insignificante incremento da
pressão neutra, sem que a água possa atuar como amortecedor de energia (Lamber, 1958, apud Delmiro,
2016) e que o acréscimo de umidade no solo influencia pouco para o processo de compactação (Quadro
2).

Quadro 2 - Caracterização Física das Amostras


Parâmetros Amostras Amostra
1 2 3 4 5 6 Geral
Pedregulho (%) 7 2 2 3 5 6 4
Areia (%) 76 85 84 82 77 79 80
Silte (%) 6 4 4 2 4 4 4
Argila (%) 11 10 11 13 14 11 11
WL (%) NL NL NL NL NL NL NL
IP (%) NP NP NP NP NP NP NP
Ia Inativo Inativo Inativo Inativo Inativo Inativo Inativo
ωs (%) 8,1 6,8 6,8 6,8 8,1 8,1 -
ωe (%) 6,6 6,0 5,5 5,3 6,2 6,6 -
Ɣs (KN/m³) 18,8 18,6 18,5 18,5 19,6 18,9 -
GC (%) 97,9 96,5 96,1 96,2 101,8 98,3 -

Onde: WL = limite de liquidez (%); IP = índice de plasticidade (%); Ia = índice de atividade ; ωs = umidade pelo
método de Speedy (%); ωe = umidade pelo método da estufa (%); Ɣs = peso específico aparente seco (KN/m³); e GC
= grau de compactação (%).

A classificação do solo pelo Sistema Unificado (SUCS) da ASTM, todas as amostras foram determinadas
como areia siltosa de baixa compressibilidade e pelo conselho de pesquisa de transporte (TRB) da
AASHTO, as amostras 4 e 6 pertencentes ao Grupo A-1-b como fragmentos de pedra, pedregulho e areia

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com comportamento de subleito de excelente a bom e as amostras 1, 2, 3 e 5 pertencentes ao Grupo A-


2-4 como pedregulhos e areias siltosas com comportamento de subleito de excelente a bom.

As formas das curvas de compactação do gráfico da umidade versus peso específico aparente seco são do
Tipo A, formato de sino, segundo a classificação Lee e Suedkamp (1972).

Por meio dos ensaios de compactação (Fig.5a), foi determinada a umidade ótima do solo (ωot) = 9,8% e
do peso específico aparente seco máximo do solo (Ɣsmáx) = 19,2 KN/m³ (Fig.5b). Foram verificadas as
curvas de compactação da amostra geral utilizando as energias: normal, intermediária e modificada.
Verificou-se que a partir da energia normal para a modificada, a umidade ótima declina, em oposição ao
peso específico aparente seco máximo, que tem seu valor incrementado (Fig.6).

a) 20,0 Amostra 1 b) 20,0


Amostra 1

Amostra 4 Amostra 4

Peso Específico Aparente Seco Máx


Peso Específico Aparente Seco Máx

19,5 Amostra 6 19,5 Amostra 6

Amostra Geral Amostra Geral


19,0 19,0

(ɣsmáx) (KN/m³)
(ɣsmáx) (KN/m³)

18,5 ωot = 9,9 % 18,5 ωot = 9,8 %


ɣsmáx = 18,96 KN/m³ ɣsmáx = 19,22 KN/m³

18,0 ωot = 9,8 % 18,0


ɣsmáx = 19,13 KN/m³

17,5 ωot = 9,5 % 17,5


ɣsmáx = 19,20 KN/m³

17,0 ωot = 9,9 % 17,0


0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
ɣsmáx = 19,37 KN/m³
Umidade (ω) (%) Umidade (ω) (%)

Figura 5 – Curvas de compactação com energia normal: a) amostras 1, 4, 6 e geral, b) média geral das amostras

20,0 Energia Normal

Energia Intermediária
Peso Específico Aparente Seco Máx

Energia Modificada
19,5
(ɣsmáx) (KN/m³)

ωot = 9,9 %
ɣsmáx = 19,37 KN/m³

19,0
ωot = 8,5 %
ɣsmáx = 19,39 KN/m³

18,5 ωot = 8,0 %


ɣsmáx = 19,68 KN/m³

18,0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Umidade (ω) (%)

Figura 6 – Curvas de compactação para amostra com energias normal, intermediária e modificada

Por meio dos ensaios do ISC nas amostras 2, 4 e 6 (Fig.7a), foi determinado seu valor médio = 37,0 %,
com expansão = 0,0013 % (Fig.7b).

a) 6 I.S.C. = 30,3 % b) 6 I.S.C. = 37,0 %


Expansão = 0,0000 % Expansão = 0,0013 %

5 5
I.S.C. = 32,4 %
Expansão = 0,0040 %
Pressão (MPa)

4
Pressão (MPa)

4
I.S.C. = 48,4 %
Expansão = 0,0000 %
3 3
Amostra 2
2 2 Amostra 4
Amostra 2
Amostra 6
1
Amostra 4
1
Media das Amostras
Amostra 6

0 0
0 5 10 15 0 5 10 15
Penetração (mm) Penetração (mm)

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Figura 7 – Determinações do ISC: a) amostras 2, 4 e 6, b) média geral das amostras

Na verificação das especificações normativas para materiais adequados para a compactação de estrutura
em rodovias, temos: subleito, ISC = 37,0 % (≥ 2%) e expansão = 0,0025 % (≤ 2%), compactação com
energia normal, nos conformes da norma DNIT 137/2010-ES; aterro, ISC = 37,0 % (≥ 2%) e expansão
= 0,0025 % (≤ 4%), compactação com energia normal, nos conformes da norma DNIT 108/2009-ES
(Fig.7); reforço do subleito, nos conformes da norma DNIT 138/2010-ES, regularização do subleito, nos
conformes da norma DNIT 137/2010-ES, camada final do aterro, nos conformes da norma DNIT
108/2009-ES, ISC = 62,8 % (≥ ISC do subleito do projeto) e expansão = 0,0100 % (≤ 1%),
compactação com energia intermediária; sub-base, ISC = 62,8 % (≥ 20 %), expansão = 0,0100 % (≤
1%) e o índice de grupo (IG) = 0 (devido a granulometria do solo ocorrer nos grupos A-1-b e A-2-4 da
classificação TRB), compactação com energia intermediária, nos conformes da norma DNIT 139/2010-ES;
e base, ISC = 68,4 % (≥ 60 % para N ≤ 5.10 6), expansão = 0,0000 % (≤ 0,5%), compactação com
energia modificada, LL = NL (≤ 25 %), IP = 0 (≤ 6 %), material passante na peneira #200 = 17,23 ≤
2/3 material passante na peneira #40 = 34,06, nos conformes da norma DNIT 141/2010-ES e da
metodologia do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA (USACE) (Fig.8).

8 I.S.C. = 37,0 %
Expansão = 0,0025 %
7
I.S.C. = 62,8 %
6 Expansão = 0,0100 %
Pressão (MPa)

5 I.S.C. = 68,4 %
Expansão = 0,0000 %
4

Energia Normal
2
Energia Intermediária
1 Energia Modificada

0
0 5 10 15
Penetração (mm)

Figura 8 – Determinações do ISC para a amostra geral com energia de compactação normal, intermediária e
modificada

Foram realizados os ensaios de campo utilizando o Penetrômetro Dinâmico (DPL) para a verificação da
homogeneidade da camada compactada e da evolução da Resistência de Ponta (qc) com o acréscimo das
passadas, ao longo da área experimental. O procedimento dos ensaios do DPL de campo foram
satisfatórios, exceto pela seção da amostra 1, que apresentou o solo mais compactado no estado natural
e em todas as passadas realizadas neste. Isso decorre pela utilização eventual do local, como estrada
com tráfego de veículos e pela classificação TBR com a determinação de ocorrência de pedregulhos.
Ocorre nos ensaios do penetrômetro dinâmico: DPL 0-1, DPL 2-1, DPL 4-1, DPL 6-1, DPL 8-1 e DPL 10-1.

Na verificação nos ensaios do DPL para a homogeneidade da camada compactada em toda a extenção da
área experimental e, para todas as passadas, exceto nas determinações da seção da amostra 1, foi
evidenciado no ganho uniforme da resistência de ponta para todas as seções (amostras), passadas 2 e 8,
(Fig.9a e Fig.10a) e, consequentemente, do número de impactos com a profundidade (Fig.9b e Fig.10b).

qc (Resistência de Ponta) (MPa) Número de Impactos


a) b) 0 5 10 15 20 25
0 5 10 15 20 25
0 0

DPL 2-2 DPL 2-2


5 5
DPL 2-3 DPL 2-3
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)

10 DPL 2-4 10 DPL 2-4

DPL 2-5 DPL 2-5


15 15
DPL 2-6 DPL 2-6

20 20

25 25

30 30

Figura 9 – Passada 2: a) Resistência de Ponta (qc) versus profundidade, b)Número de Impactos versus profundidade

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Onde: DPLi-j = penetrômetro dinâmico (DPL) na passada i e na seção da amostra j.

qc (Resistência de Ponta) (MPa) Número de Impactos


a) b)
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
0 0

DPL 8-2 DPL 8-2


5 5
DPL 8-3 DPL 8-3

Profundidade (cm)
Profundidade (cm)

10 DPL 8-4 10 DPL 8-4

DPL 8-5 DPL 8-5


15 DPL 8-6 15 DPL 8-6

20 20

25 25

30 30

Figura 10 – Passada 8: a) resistência de ponta (qc) versus profundidade, b) número de impactos versus profundidade

Onde: DPLi-j = penetrômetro dinâmico (DPL) na passada i e na seção da amostra j.

Na evolução da resistência de ponta nas seções, foi verificado que as determinações crescem por meio do
aumento de passadas, amostras 3 e 5 (Fig.11a e Fig.12a) e, do mesmo modo, número de impactos,
principalmente a partir da reposição da umidade antes da passada 8 (Fig.11b e Fig.12b).

qc (Resistência de Ponta) (MPa) Número de Impactos


a) b) 0 5 10 15 20 25
0 5 10 15 20 25
0 0

DPL 0-3 DPL 0-3


5 5
DPL 2-3 DPL 2-3
Profundidade (cm)

DPL 4-3 DPL 4-3


Profundidade (cm)

10 10
DPL 6-3 DPL 6-3
DPL 8-3 DPL 8-3
15 15
DPL 10-3 DPL 10-3

20
20

25
25

30
30

Figura 11 – Amostra 3: a) resistência de ponta (qc) versus profundidade, b) Número de Impactos versus profundidade

Onde: DPLi-j = penetrômetro dinâmico (DPL) na passada i e na seção da amostra j.

qc (Resistência de Ponta) (MPa) Número de Impactos


a) b)
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
0 0

DPL 0-5 DPL 0-5


5 5
DPL 2-5 DPL 2-5
Profundidade (cm)

DPL 4-5 DPL 4-5


Profundidade (cm)

10 DPL 6-5 10 DPL 6-5


DPL 8-5 DPL 8-5
15 DPL 10-5 15 DPL 10-5

20 20

25 25

30 30

Figura 12 – Amostra 5: a) resistência de ponta (qc) versus profundidade, b) número de impactos versus profundidade

Onde: DPLi-j = penetrômetro dinâmico (DPL) na passada i e na seção da amostra j.

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Foi determinada nos ensaios a ocorrência de resultados crescentes da resistência de ponta ao longo da
profundidade da camada investigada, como confirmação de uma compactação não homogênea (Claus,
2014).

Também foi analizado, por meio das médias de cada passada, a evolução da resistência de ponta versus
profundidade para todas as seções (amostras) da área experimental (Fig.13). Foi verificado que na
passada 8 o solo se encontra satisfatoriamente compactado para obras de engenharia.

qc (Resistência de Ponta) (MPa)


0 5 10 15 20
0

Média Passada 0
5
Média Passada 2
Média Passada 4
Profundidade (cm)

10
Média Passada 6
Média Passada 8
15
Média Passada 10

20

25

30

Figura 13 – Média das passadas para a evolução da resistência de Ponta (qc) versus profundidade

Foram realizados os ensaios de campo utilizando o Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD) para verificar
o módulo de elasticidade (ELWD) (MPa), a deflexão média (Sm) (mm) e o grau de compactabilidade do solo
(S/v) (ms). Foi verificado que na passada 8, para carga dinâmica de 10 Kg, ocorreu a maior média do
módulo de elasticidade (ELWD) = 34,8 MPa (Quadro 3) e a média da deflexão (Sm) = 0,651 mm (Fig.14 a).

Os resultados do ensaio do LWD obtidos para o solo no estado natural, passada 0, foram descartados
devido ao seu procedimento ter se realizado na seção da amostra 1, justificado anteriormente. A
verificação dos resultados para carga dinâmica de 15 Kg ficou prejudicada pela pouca quantidade de
ensaios procedidos em decorrência da forte presença de pedregulhos em determinada profundidade do
solo, também já citado anteriormente, majorando os valores do módulo de elasticidade (ELWD), minorando
a deflexão média (Sm) e inviabilizando a realização de 5 (cinco) dos 8 (oito) ensaios previstos na seção
da amostra 3, para a passada 4 (Fig.14 b).

Quadro 3 - Determinações do Ensaio de Campo do Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD)


Parâmetros Passadas
0 2 4 6 8 10
ELWD (MPa) (10 Kg) - 30,0 31,3 29,6 34,8 27,2
S/v (ms) (10 Kg) - 3,36 3,20 3,14 3,23 3,98
ELWD (MPa) (15 Kg) - - 31,7 - 31,5 -
S/v (ms) (15 Kg) - - 3,19 - 3,88 -

Onde: ELWD = módulo de elasticidade dinâmico (MPa); e S/v = grau de compactabilidade.

Tempo (ms) Tempo (ms)


a) 0 5 10 15 20 25
b) 0 5 10 15 20 25
0,0 0,0

0,2 0,2

0,4 0,4
Deflexão (mm)

Deflexão (mm)

0,6 0,6

0,8 0,8

1,0 Passada 2
1,0
Passada 4
1,2 Passada 6 1,2
Passada 8 Passada 4
1,4 Passada 10 1,4 Passada 8

Figura 14 – Verificação da média das deflexões (Sm) versus tempo para as cargas dinâmicas: a) 10 Kg, b) 15 Kg

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Para a análise do grau de compactabilidade (S/v), usou-se a interpretação empírica, verificada em


experiências práticas de obras rodoviárias. A determinação do valor de S/v > 3,5 recomenda que realize
mais passadas do rolo liso vibratório e, caso contrário, para o S/v ≤ 3,5 sugere que o solo já está bem
compactado (Borges, 2016).

Foi verificado nos resultados dos ensaios da passada 8, que a média do S/v = 3,23, um solo bem
compactado. Pode-se avaliar a compactação por meio da proximidade das curvas de deflexões e, como
ideal, da sobreposição destas, como indicativo do solo bem compactado e resistente (Borges, 2016). Foi
verificado que na camada investigada para carga dinâmica de 10 Kg, após a passada 8, os resultados das
curvas de deflexões médias S1, S2 e S3 apresentaram-se próximas, dentro dos conformes da boa
compactação (Fig.15a) e a média das deflexões (Sm) = 0,651 mm (Fig.15b). As determinações relativas
à carga dinâmica de 15 Kg, pelo motivo já citado anteriormente, foram descartadas.

Tempo (ms) Tempo (ms)


a) 0 5 10 15 20 25
b) 0 5 10 15 20 25
0,0 0,0

0,2 0,2

0,4 0,4

Deflexão (mm)
Deflexão (mm)

Média S1
0,6 10Kg 0,6
Média S2
10Kg
0,8 0,8
Média S3
10Kg
1,0 Média S1 1,0
15Kg
Média S2 Média
1,2 1,2
15Kg 10Kg
Média S3 Média
1,4 15Kg 1,4 15Kg

Figura 15 – Verificação da passada 8: a) Deflexões médias, S1, S2 e S3, para as cargas dinâmicas de 10 Kg e 15 Kg, b)
média das deflexões para as cargas dinâmicas de 10 Kg e 15 Kg

4- CONCLUSÃO

O solo é uma areia siltosa com pedregulhos, adequado para o uso do equipamento do rolo liso vibratório,
cuja ação repetitiva do processo de compactação provoca um rearranjo progressivo das partículas
intergranulares na camada. Foi determinada a umidade ótima do solo (ωot) = 9,8%, o peso específico
aparente seco máximo do solo (Ɣsmáx) = 19,2 KN/m³ e o máximo grau de compactação (GC) = 101,8%
para a oitava passada.

O solo atende a todas as normativas de utilização do material para as camadas da estrutura com a
determinação do índice de suporte califórnia por meio da compactação com energia normal ISC = 37,0 %
e expansão = 0,0025 %, para uso no subleito e corpo do aterro; com energia intermediária ISC = 62,8 %
e expansão = 0,0100 %, para uso no reforço do subleito, camada final do aterro e sub-base; e com
energia modificada ISC = 68,4 % e expansão = 0,0000 % , para uso na base com o número equivalente
de operação de um eixo tomado como padrão (N) ≤ 5.106.

Nos ensaios do penetrômetro dinâmico (DPL) em campo observa-se um acréscimo uniforme da


resistência de ponta (qc) para todas as seções (amostras) e do número de impactos com a profundidade,
evidenciando uma homogeneidade da camada compactada em toda a extenção da área experimental.
Também é verificado o ganho de resistência de ponta, para cada seção por meio do aumento de passadas,
resultando na oitava passada com o qc = 14,61 MPa.

Nos ensaios do Deflectômetro de Impacto Ligeiro (LWD) indicam para carga dinâmica de 10 Kg, que após
a oitava passada a maior média do módulo de elasticidade (ELWD) = 34,8 MPa, a menor média da
deflexão (Sm) = 0,651 mm e o grau de compactabilidade (S/v) = 3,23, confirmando a não necessidade
de novas passadas.

Os resultados por meio das determinações dos ensaios de campo e de laboratório evidenciam que o
objetivo da investigação foi alcançado, quando os resultados apontam para um solo bem compactado
para a oitava passada do rolo liso vibratório, estando nos conformes normativos para um bom
desempenho do pavimento asfáltico.

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AGRADECIMENTO

À empresa SEFE – Serviços Especiais de Fundações e Estruturas LTDA, representada por André Campelo
de Melo e Henrique Soares de Azevedo de Melo, por ter cedido gentilmente o equipamento Light Weight
Deflectometer – LWD, usado no estudo de caso deste trabalho.

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361
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COMPORTAMENTO DA BARRAGEM DE TERRA DA MARGEM ESQUERDA DE


ITAIPU EM PERÍODO DE OPERAÇÃO

BEHAVIOR OF THE LEFT EARTH DAM OF ITAIPU IN OPERATION PERIOD

Rodrigues, Rodrigo de Lima; CEASB - FPTI, Foz do Iguaçu, Brasil, rodrigo.lr@pti.org.br


Sayão, Alberto de Sampaio Ferraz Jardim; PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, sayao@puc-rio.br
Patias, Josiele; Itaipu Binacional, Foz do Iguaçu, Brasil, jpatias@itaipu.gov.br

RESUMO

A Usina Hidrelétrica de Itaipu localiza-se no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai. O reservatório
é formado por uma sucessão de barragens de diferentes tipos: concreto, na região central (do tipo
gravidade, contrafortes, e gravidade aliviada), e terra e enrocamento, nas margens do rio. Após o
fechamento das comportas, em 1984, o nível do reservatório manteve-se nos níveis normais de operação
da usina, entre as elevações 219,0 e 220,5 m. Em raras ocasiões ficou abaixo de 219,0 m. Entre os anos
de 2012 e 2015, devido à crise hídrica no Brasil, Itaipu entrou em um regime diferenciado de operação, e
o reservatório variou entre as cotas 216,5 e 220,5 m, com maior permanência em níveis abaixo do normal.
Este trabalho apresenta as análises de fluxo e estabilidade da Barragem de Terra da Margem Esquerda no
período de maiores oscilações do reservatório. As análises permitiram observar as poropressões na
fundação e no maciço compactado, de forma a obter os fatores de segurança críticos nos taludes de
montante e jusante da barragem de terra.

ABSTRACT

The Itaipu Hydroelectric Power Plant is located on the Paraná River, on the Brazil-Paraguay border. The
structure that forms the reservoir is made up of a combination of different dam types: gravity and buttress
concrete, in the central portion, and earth and rockfill embankments on the abutments. After filling of the
reservoir in 1984, the reservoir level remained with an average variation of 1.5 m, between elevations
219.0 and 220.5 m. In some occasions, the level dropped below 219.0 m. Between years 2012 and 2015,
due to the water crisis in Brazil, Itaipu was put to operate in a special differentiated regime. This caused
the reservoir to oscillate between 216.5 m and 220.5 m, for longer periods in the lower levels. This paper
presents the water flow and stability studies related to these abnormal level variations, for the Left Earth
Dam. The results show the pore pressure behavior in the natural foundation and in the compacted soils,
and indicate the critical safety factors in the upstream and downstream dam slopes and the associated
conditions.

1- INTRODUÇÃO

A ação da água, quando infiltra através do maciço compactado ou fundação de uma barragem, é um fator
importante para a segurança. O fluxo, seja permanente ou transiente, deve ser controlado adequadamente
(Cedergren, 1977). A quantidade de água armazenada a montante de uma barragem possui grande
potencial energético, tornando perigosa uma liberação descontrolada (Penman, 1986).

A estabilidade dos taludes de uma barragem de terra deve ser verificada para três situações distintas: final
de construção, regime permanente e rebaixamento rápido. Para as condições de final de construção e
regime permanente, deve ser verificada a estabilidade dos taludes de montante e jusante. Para a condição
de rebaixamento rápido, a estabilidade deve ser verificada no talude de montante (Cruz, 1996). Quando
ocorre um rebaixamento rápido, a segurança do talude de montante diminui principalmente devido à
redução da força estabilizadora do reservatório a montante, sem redução das poropressões que atuam no
maciço argiloso compactado (Lopes e Santana, 2016).

A barragem de Itaipu tem 196 metros de altura máxima e 8 km de extensão, ao longo dos quais possui
estruturas de concreto, terra e enrocamento. A barragem principal e estruturas adjacentes, tais como o
vertedouro e a casa de força, são de concreto (figura 1). As barragens de aterro fazem o fechamento nas
ombreiras direita e esquerda. A figura 2 apresenta a disposição em planta das estruturas que compõem a
Barragem de Itaipu.

A barragem de terra da margem esquerda (BTME), objeto deste estudo, possui 2 km de extensão e altura
máxima de 30 m. Existem duas seções típicas da barragem, uma que caracteriza o trecho com altura até
10 m e outra de 10 a 30 m. A principal diferença entre elas é a existência de bermas de aterro no trecho
com maior altura (Itaipu Binacional, 2009).

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Figura 1 – Barragem principal e casa de força de Itaipu

Figura 2 – Disposição das estruturas de Itaipu (Itaipu Binacional, 2009)

O reservatório de Itaipu opera usualmente entre as elevações 219,0 e 220,5 m. Eventuais alterações para
níveis mais baixos são atribuídas a curtos períodos de seca. Entretanto, entre 2012 e 2015, a variação
passou de 1,5 m para 4,0 m, e o reservatório permaneceu abaixo da cota 219,0 por longos períodos. Tal
fato foi devido à crise hídrica no país, quando diversas hidrelétricas reduziram sua produção e Itaipu, com
chuvas acima da média, aumentou a produção de energia, para suprir a demanda do Sistema Interligado
Nacional (SIN).

Apesar de não ser sujeita à legislação brasileira, por ser binacional, Itaipu procura observar às normas e
leis nacionais e internacionais, a fim de manter seu alto padrão de segurança. A lei nº 12.334 de 2010
impõe que seja realizada uma Revisão Periódica de Segurança de Barragem, com o objetivo de atestar sua
segurança, considerando o estado da arte dos critérios de projeto, atualização dos dados hidrológicos e
possíveis alterações das condições a montante e a jusante da barragem.

Este trabalho tem por objetivo revisar as condições de segurança da barragem utilizando métodos
modernos para os critérios de projeto e considerando alterações recentes na condição de operação do nível
de água do reservatório (NAR) a montante da barragem, bem como, a inclusão das séries temporais dos
instrumentos nos modelos.

Estão apresentados neste artigo os resultados das poropressões, linha freática e respectivos fatores de
segurança (FS) dos taludes de montante e jusante, em três seções distintas.

2- METODOLOGIA

As análises foram realizadas com os pacotes SEEP/W e SLOPE/W do programa GeoSlope, de uso corrente.
O SEEP/W permite análises numéricas de fluxo em materiais porosos pelo método dos elementos finitos,
com base na equação diferencial de Laplace. O SLOPE/W realiza análises de estabilidade com os dados de
saída do SEEP/W, sendo o fator de segurança calculado pelos métodos tradicionais. Neste trabalho, foi
utilizado o método de Bishop, indicado para superfícies de deslizamento em maciços homogêneos.

Para o presente trabalho, foi selecionado o trecho da BTME sem bermas, com altura menor que 10 m. Para
representar este trecho, foram escolhidas 3 seções instrumentadas com medidores de nível de água e
piezômetros Casagrande (tubo aberto), utilizados respectivamente para definir a condição de contorno e
para validar as poropressões obtidas pela simulação numérica. As seções escolhidas para as análises

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referem-se às estacas 129+50, 132+00 e 135+50. Outras seções também instrumentadas foram
desconsideradas por estarem próximas da ombreira. A figura 3 apresenta a área e as seções estudadas.

Figura 3 – Área estudada da BTME (adaptado do Google Maps)

As seções foram modeladas em AutoCAD e em seguida utilizadas no programa Geo-Slope. A geometria do


maciço compactado foi definida de acordo com o projeto e dados de campo, obtidos durante a construção.
A fundação foi modelada com base nas sondagens realizadas no período de projeto e nos perfis de
instalação dos piezômetros e medidores de nível de água. As seções modeladas em AutoCAD são mostradas
nas figuras 4, 5 e 6. O Quadro 1 resume as características dessas seções.

Figura 4 – Seção 129+50 modelada em CAD

Figura 5 – Seção 132+00 modelada em CAD

Figura 6 – Seção 135+50 modelada em CAD

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Quadro 1 –Características das seções estudadas


H do maciço Espessura da argila Espessura do saprolito (m) Cota do pé do talude
Seção
compactado (m) vermelha (m) de montante (m)
129+50 9,5 5,0 12,5 215,60
132+00 9,0 4,0 7,0 216,21
135+50 10,5 4,0 3,0 214,35

Os parâmetros geotécnicos da fundação foram definidos a partir dos ensaios realizados no período de
projeto. Os parâmetros do maciço compactado foram obtidos nos ensaios de controle de qualidade
realizados durante a construção. A validação das permeabilidades utilizadas no modelo foi reportada por
Rodrigues (2017), comparando os valores de poropressão registrados no campo com os obtidos na
simulação numérica.

Em cada seção estudada, as condições de contorno do fluxo foram dadas pelo NAR a montante e pelos
medidores de nível de água a jusante das seções. Para representar o período com o reservatório sob
operação diferenciada, foi considerada a variação diária do NAR entre 08/10/2012 e 19/10/2015,
totalizando mais de mil registros de leituras. Neste período, o NAR esteve abaixo da cota normal de
operação (219,0 m) em 70% do tempo. Os valores do nível de água a jusante foram medidos
quinzenalmente. A figura 7 apresenta o NAR entre 2010 e 2016, com destaque para o período acima
referido.

Figura 7 – NAR do período estudado

Considerando a baixa permeabilidade do solo e a taxa de variação do NAR nas análises de estabilidade,
foram utilizados os parâmetros de resistência obtidos em ensaios triaxiais não drenados. O Quadro 2
apresenta os parâmetros de resistência e permeabilidade dos materiais do maciço compactado e da
fundação.

Quadro 2 –Características geotécnicas dos materiais


Material Permeabilidade (cm/s) c’ (kPa) Φ’ (º)
kh = 3,4 x 10 -7

Argila compactada 36 29,3


kv = 1,3 x 10-7
Argila da fundação 4,4 x 10-5 10 23
Dreno 8 x 10 -1
0 40
Enrocamento 0,1 0 40
Saprolito da fundação 2,5 x 10-3 20 25

As análises de fluxo e estabilidade foram realizadas em 1106 etapas, considerando a variação diária do
NAR, sendo obtidos os respectivos resultados de linha freática e poropressões. Nas análises de estabilidade,
foram calculados valores de FS para os taludes de montante e jusante, totalizando 2212 fatores de
segurança por seção.

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3- RESULTADOS

Serão apresentadas as análises de fluxo e estabilidade realizadas nas três seções selecionadas, para o
período de 08/10/2012 a 19/10/2015.

3.1 - Seção 129+50

A seção da Estaca 129+50 possui 9,5 m de altura e o pé do talude a montante situa-se na cota 215,5 m.
A seção é monitorada por um medidor de nível de água a jusante da barragem e três piezômetros, sendo
dois instalados na fundação, na base do saprolito, e o outro no tapete drenante. Para o período considerado,
o piezômetro no tapete drenante não registrou valores positivos de poropressão.

3.1.1 - Análise de fluxo

A figura 8 apresenta a seção usada para análise pelo método de elementos finitos. As figuras 9 e 10
mostram os valores obtidos na simulação numérica e os registrados no campo para o NAR e piezômetros
PS-L-18 e PS-L-20, respectivamente.

Figura 8 –Seção 129+50 usada no SEEP/W

Figura 9 – Cotas piezométricas do PS-L-18 e NAR

Figura 10 – Cotas piezométricas do PS-L-20 e NAR

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Os valores obtidos na simulação numérica ficaram próximos dos registrados pelos piezômetros. Os erros
médios foram de 32 e 31 cm para os piezômetros PS-L-18 e PS-L-20, respectivamente. O coeficiente de
correlação (r) entre as leituras foi de 0,98 em ambos os piezômetros, indicando uma correlação excelente.

Os piezômetros apresentam correlação adequada com o NAR, ou seja, o piezômetro apresenta correlação
direta com as variações do reservatório. O instrumento PS-L-20 indica cargas piezométricas e variações
menores que as do PS-L-18, pois está instalado mais a jusante, na mesma seção. Isto indica uma perda
de carga de montante para jusante. Ambos mostram variação dentro de uma faixa de 4 m.

A seção 129+50 é a que possui maior camada de solo na fundação, com 5,0 m de argila vermelha e 12,5
m de saprolito. Como previsto no projeto, o fluxo através da barragem concentra-se pelo saprolito, que
possui permeabilidade maior que a dos demais materiais.

A figura 11 mostra os vetores de velocidade de fluxo permanente, através da barragem e da fundação.


Nota-se que o fluxo se inicia vertical a montante, passa pela camada de argila e chega no saprolito, de
onde segue para jusante. Uma pequena parte da vazão que ocorre na fundação, chega ao tapete drenante,
mas parte infiltra novamente na camada argilosa. Como a maior parte do fluxo ocorre pela fundação,
apenas uma pequena porção do maciço compactado fica saturada.

Figura 11 – Seção 129+50: fluxo através da barragem

A linha freática mostra-se diferente para cada seção, em função da geometria e características geotécnicas
da mesma. Rodrigues et al. (2017) mostra como a espessura da camada de solo na fundação afeta a
posição da linha freática no corpo da barragem, nas condições de fluxo permanente e rebaixamento rápido.

3.1.2 - Análise de estabilidade

A figura 12 mostra a evolução do NAR e dos fatores de segurança para superfície de ruptura crítica nos
taludes de montante e jusante, durante o período considerado.

Figura 12 – Seção 129+50: fatores de segurança dos taludes da barragem

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O empuxo resultante da água no reservatório contribui para aumentar a estabilidade do talude de montante,
onde o fator de segurança apresenta correlação direta com o NAR.

Essa correlação não é válida quando o NAR atinge cotas abaixo do pé da barragem, passando a ser inversa.
Com o nível freático na fundação abaixado, ocorre redução das poropressões e aumento da resistência do
solo superficial, elevando o fator de segurança. Pode-se observar na figura 12 que, quando o NAR fica
abaixo da cota 215,5 m (janeiro a março de 2014), o fator de segurança aumenta simultaneamente.

A variação de FS do talude de jusante é devido às poropressões na fundação, que por sua vez, decorrem
da variação do NAR. Assim, o fator de segurança de jusante apresenta correlação inversa com o NAR, ou
seja, o aumento do NAR provoca redução do FS.

As linhas de tendência, mostradas em pontilhado na figura 12, confirmam que o fator de segurança de
montante varia com o NAR. Entretanto, o fator de segurança de jusante mostra tendência inversa.

O menor fator de segurança de montante foi de 2,63 no final de outubro de 2014, quando houve um
rebaixamento rápido de 219,37 para 216,2 m em 24 dias, o que corresponde a uma taxa de 13,2 cm/dia.
Neste período o fator de segurança variou de 0,79.

No talude de jusante, o menor fator de segurança foi de 2,35, em junho de 2013, quando o reservatório
ficou vários dias acima da cota 220,0 m. A variação entre os valores mínimo e o máximo de FS foi de 0,43.

A figura 13 apresenta as superfícies potenciais de ruptura, referentes aos fatores de segurança críticos nos
taludes de montante e jusante. As demais superfícies de ruptura não apresentam alterações significativas,
e tendem a ter a base próxima à interface da argila com o saprolito, pois este possui maior resistência.

(a) (b)
Figura 13 – Seção 129+50: superfície potencial de ruptura: (a) montante; (b) jusante

3.2 - Seção da Estaca 132+00

A seção 132+00 tem aproximadamente 11 m de solo na fundação e o maciço compactado tem 9 m de


altura. O pé do talude de montante fica na cota 216,21 m. A seção é possui um medidor de nível de água
a jusante e dois piezômetros instalados na fundação, no contato do saprolito com a rocha sã.

3.2.1 - Análise de fluxo

A figura 14 mostra a seção utilizada para análise do problema pelo método dos elementos finitos. A figura
15 mostra os valores obtidos pela simulação numérica e os registros de campo para o PS-L-21 (situado
abaixo do maciço compactado), e o NAR. Nota-se que os valores apresentaram boa correlação, porém com
defasagem de aproximadamente dois metros entre os valores da instrumentação e da simulação.

Figura 14 – Seção 132+00 no SEEP/W

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Figura 15 – Cotas piezométricas do PS-L-21 e NAR

Ao comparar as leituras dos dois piezômetros desta seção no mesmo gráfico (figura 16), nota-se que o PS-
L-21, instalado abaixo do maciço compactado, apresenta valores de carga menores que o PS-L-22, instalado
a jusante. Isso indica que, diferente do observado nas demais seções, não houve nesta seção perda de
carga no sentido montante-jusante.

Tal fenômeno é devido ao nível freático elevado a jusante da barragem. Neste local, existe um sistema de
drenagem que coleta água do terreno a jusante.

A solução foi a adoção dos valores de PS-L-21 como condição de contorno. Outra solução seria modelar o
terreno a jusante para representar o sistema de drenagem e apontar o elevado nível da linha freática no
local. Porém, não há informações topográficas e geotécnicas suficientes para tal. A partir da primeira
solução, os valores obtidos no PS-L-22 ficaram próximos aos da instrumentação em campo (figura 17).

Figura 16 – Cotas piezométricas nos instrumentos PS-L-21 e PS-L-22 e NAR

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Figura 17 – Cotas piezométricas do PS-L-22 e NAR

3.2.2 - Análise de estabilidade

Os fatores de segurança para os taludes de montante e jusante nesta seção se comportam de maneira
semelhante aos da seção anterior. O fenômeno de incremento do fator de segurança a montante com o
rebaixamento do NAR ocorre com maior frequência que na seção anterior.

Isso acontece, pois, o pé do talude de montante encontra-se em cotas mais altas e, consequentemente, o
nível freático fica na fundação por um período maior. Tal comportamento é evidenciado, por exemplo, no
gráfico dos fatores de segurança (figura 18) para o período entre janeiro e março de 2014.

Figura 18 – Seção 132+00: fatores de segurança dos taludes da barragem

O maior fator de segurança do talude de montante é de 2,57 após um rebaixamento rápido em março de
2013. No talude de jusante, menor fator de segurança foi de 2,35, de modo semelhante ao observado no
talude da seção 129+50, em junho de 2013, quando o NAR se manteve por vários dias acima da cota
220,0 m, conforme mostra a figura 7.

A figura 19 mostra as superfícies de ruptura para os fatores de segurança críticos dos taludes de montante
e jusante, respectivamente

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(a) (b)
Figura 19 – Seção 132+00: superfície potencial de ruptura: a) montante; b) jusante

3.3 - Seção da Estaca 135+50

A seção da Estaca 135+50 tem aproximadamente 7 m de solo na fundação e maciço compactado com
10,5 m de altura. Esta seção possui a menor espessura de solo na fundação e a maior altura de maciço
compactado dentre as seções estudadas. O pé do talude de montante encontra-se na cota 214,4 m. A
seção possui um medidor de nível de água instalado a jusante da barragem, e dois piezômetros na fundação,
no contato entre o saprolito e a rocha sã.

3.3.1 - Análise de fluxo

A figura 20 mostra a seção usada para solução do problema pelo método dos elementos finitos. As figuras
21 e 22 apresentam os valores obtidos pela simulação numérica e em campo para os piezômetros PS-L-23
e PS-L-24, e o medidor NAR.

Figura 20 –Seção 135+50 no SEEP/W.

Figura 21 – Cotas piezométricas do PS-L-23 e NAR

Novamente os valores obtidos pela simulação e pela instrumentação apresentaram boa correlação com um
erro de 28 e 54 cm para os PS-L-23 e PS-L-24 m, respectivamente. Tais diferenças podem ser consideradas
pequenas para este estudo.

Nota-se que os piezômetros instalados na fundação desta seção apresentam variação menor que nas seções
anteriores. O PS-L-23 varia dentro de 2 m, enquanto o PS-L-24 varia menos que 1 m. Esse comportamento
deve-se ao fluxo pela fundação que é menor, neste caso, devido à menor espessura do solo na fundação.
Isto também induz um maior fluxo pelo maciço compactado e o aumento da linha freática, que atinge o
tapete drenante. A figura 23 mostra os vetores de velocidade para a condição usual de fluxo permanente
e NAR na cota 220,0 m.

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Figura 22 – Cotas piezométricas do PS-L-24 e NAR

Figura 23 – Seção 135+50: fluxo através da barragem

3.3.2 - Análise de estabilidade

A segurança dos taludes de montante e jusante desta seção segue o mesmo comportamento das demais.
Por ser a seção mais alta entre as estudadas, com o pé do talude de montante na cota 214,4 m, o NAR fica
sempre acima do pé, e não ocorre o aumento de FS a montante, devido à redução do NAR. A figura 24
mostra o NAR e os respectivos fatores de segurança para ambos os taludes.

Figura 24 – Seção 135+50: fatores de segurança dos taludes da barragem


Nota-se que, para valores mais baixos de NAR, menor é a sua influência na estabilidade do talude de
montante. Entre janeiro e março de 2014, o NAR variou bastante entre as cotas 215,5 m e 216,0 m, mas
o fator de segurança do talude de montante ficou praticamente constante (FS = 2,4), com variação de
apenas 0,64 nesta seção.
No talude de jusante, o fator de segurança varia em função das poropressões na fundação. Nesta seção, a
variação das poropressões é menor, e o fator de segurança também varia pouco (apenas 0,13, entre os
valores mínimo e o máximo de FS).

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No período estudado, o menor fator de segurança do talude de montante observado foi de 2,40 e,
novamente, para o dia 31 de outubro de 2014, quando o reservatório sofreu um rebaixamento rápido e
atingiu a cota 216,2 m. A jusante, o menor fator de segurança foi de 2,19 em junho de 2014, quando o
NAR atingiu valores acima de 220 m.

As superfícies potenciais de ruptura para os taludes de montante e jusante estão mostradas na figura 26.

(a) (b)
Figura 26 – Seção 135+50: superfícies de ruptura: a) montante; b) jusante

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vazão através da barragem está concentrada na camada de saprolito, na fundação. Isso ocorre devido à
maior permeabilidade deste solo natural, em relação aos demais. O fato da vazão ser concentrada na
fundação faz com que as poropressões apresentem valores diferentes, em seções com alturas semelhantes
do maciço compactado. Quanto maior a espessura de solo na fundação, mais intenso é o fluxo, e maior a
variação das poropressões, com a variação do reservatório. A linha freática, por sua vez, também está
associada à espessura da camada de solo na fundação que, quando é reduzida, eleva a posição da linha
freática.
As análises indicam que o fator de segurança do talude de montante se correlaciona positivamente com a
variação do nível do reservatório (NAR). A causa determinante para variação do valor de FS é o peso do
reservatório no talude a montante, que, em geral, contribui para a estabilidade. Quando o NAR fica abaixo
do pé da barragem, a correlação passa a invertida, e o fator de segurança aumenta com a redução do nível
freático na fundação.
A estabilidade do talude de jusante varia com as poropressões na fundação, pois não existe fluxo na área
do maciço compactado, a jusante do dreno. Assim, o valor de FS exibe correlação negativa com a altura
do NAR, ou seja, a elevação do nível de água a montante causa o aumento das poropressões na fundação
e, consequentemente, no decréscimo do fator de segurança do talude de jusante.
Este trabalho permitiu verificar o efeito da variação no NAR nas poropressões e na estabilidade dos taludes
de montante e jusante. Constatou-se que, mesmo para o período que o reservatório foi operado com
variações não rotineiras, a condição de estabilidade foi mantida, com um valor de FS mínimo de 2,19.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio pelo


apoio, à Itaipu Binacional e ao Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens (CEASB) da
Fundação Parque Tecnológico Itaipu, pelo apoio financeiro e disponibilidade de infraestrutura que viabilizou
a pesquisa.

REFERÊNCIAS

Cedergren, H. R. (1997) - Seepage, drainage and flow nets. John Wiley & Sons.

Cruz, P. T. (1996) - 100 barragens brasileiras: casos históricos, materiais de construção, projeto. São Paulo: Ed. Oficina
de Textos, São Paulo.

Itaipu Binacional (2009) - Usina Hidrelétrica de Itaipu: Aspectos de Engenharia. Livro produzido e publicado pela
Diretoria Técnica de Itaipu, Foz do Iguaçu - PR.

Lopes, S., e Santana, T. (2016) - Barragens de Aterro – Análise de Estabilidade para Diferentes Condições de
Esvaziamento em Regime Transitório. 15º Congresso Nacional de Geotecnia, SPG, Porto.

Penman, A. D. M. (1986 - On the Embankment Dam. Géotechnique 36 (3), pp 303-348.

Rodrigues, R. L. (2017) - Comportamento da Barragem de Terra da Margem Esquerda de Itaipu Durante Período de
Operação. Dissertação de Mestrado. PUC-Rio, 169p.

Rodrigues, R. L., Patias, J. e Sayão, A. S. F. J. (2017) - Barragem de Terra da Margem Esquerda de Itaipu: Estudo de
Caso para Rebaixamento Rápido. Revista Brasileira de Engenharia de Barragens, Comitê Brasileiro de Barragens,
Ano IV Nº 05, pp. 28-35.

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COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE UM TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO


COM AGREGADO SIDERÚRGICO INERTE PARA CONSTRUÇÃO (ASIC)

STRUCTURAL BEHAVIOUR OF A ROAD SECTION BUILT WITH INERT STEEL


AGGREGATE FOR CONSTRUCTION (ISAC)

Fortunato, Eduardo; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, efortunato@lnec.pt


Roque, António José; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, aroque@lnec.pt
Gomes Correia, António; Universidade do Minho, Escola de Engenharia, ISISE, Guimarães, Portugal,
agc@civil.uminho.pt

RESUMO

A utilização de materiais alternativos, nomeadamente subprodutos industriais e materiais reciclados, na


construção de infraestruturas de transporte e de obras geotécnicas, tem vindo a ser promovida por todo o
mundo. Para garantir que a aplicação desses materiais é feita de forma eficiente, cumprindo os requisitos
técnicos e ambientais das obras onde são utilizados, têm sido realizados diversos estudos e desenvolvidas
especificações técnicas. No entanto, atendendo a que, na maioria das situações, as aplicações de alguns
destes materiais são relativamente recentes, existe ainda pouca informação relativa ao desempenho a
longo prazo das infraestruturas onde foram utilizados, nomeadamente no que se relaciona com o respetivo
comportamento estrutural. Neste trabalho apresentam-se alguns resultados relativos à caracterização do
agregado siderúrgico inerte para construção (ASIC), processado a partir das escórias de aciaria de forno
de arco elétrico da Siderurgia Nacional, e à evolução das características de superfície e do comportamento
estrutural de um trecho experimental construído em 2007 num troço de estrada em Portugal, no qual foi
utilizado ASIC em aterro e em diversas camadas do pavimento. A inspeção visual, os resultados dos ensaios
mecânicos realizados e o valor dos assentamentos medidos em marcas superficiais, no âmbito de uma
campanha de monitorização levada a cabo em 2017, cerca de dez anos após a entrada em serviço do
referido trecho, permitem concluir que o pavimento existente na zona onde se aplicou ASIC como material
de construção encontra-se, em geral, em melhor estado e exibe um melhor comportamento estrutural,
quando se compara com as zonas adjacentes que foram construídas com materiais naturais. Em termos de
assentamentos máximos do aterro, não se observaram diferenças significativas quando se compararam as
zonas com ASIC com as zonas adjacentes.

ABSTRACT

The use of alternative materials, namely industrial by-products and recycled materials, has been worldwide
promoted in the construction of transport infrastructure and geotechnical works. To ensure that the
application of these materials is carried out efficiently, in compliance with the technical and environmental
requirements of the works where they are used, several studies have been carried out and technical
specifications have been developed. However, given that in most situations the applications of some of
these materials are relatively recent, there is still little information on the long-term performance of the
infrastructures where they have been used, in particular as regards their structural behaviour. This paper
presents some results related to the evolution of the surface characteristics and structural behaviour of a
trail section built in 2007 on a section of road in Portugal, in which the inert steel aggregate for construction
(ISAC) was used in embankment and pavement layers. A monitoring campaign and some mechanical tests
carried out in 2017, about 10 years after construction, allow us to conclude that the pavement existing in
the area where ISAC was applied is generally in a better condition and exhibits better structural behaviour
when compared to adjacent areas that were constructed with traditional materials. In terms of maximum
settlements of the embankment, no significant differences were observed when comparing the zones with
ISAC with the adjacent zones.

1- INTRODUÇÃO

As escórias de aciaria são subprodutos resultantes do fabrico do aço relativamente aos quais se têm
desenvolvido estudos, por todo o mundo, no sentido de promover a sua utilização, nomeadamente como
agregados artificiais, em obras geotécnicas e em infraestruturas de transporte. De facto, tem-se
demonstrado que, após processamento adequado (Roque et al., 2007), estes subprodutos podem constituir
uma excelente alternativa aos agregados naturais, como materiais de construção (Sofilić et al., 2012). Para
além do adequado desempenho técnico e de a sua utilização poder traduzir-se por vantagens económicas
para os empreendimentos em que são utilizados, a sua aplicação neste tipo de obras, nomeadamente
utilizando volumes consideráveis, pode constituir uma vantagem em termos ambientais, no sentido de

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fazer escoar as mais de 400 milhões de toneladas de escórias de ferro e de aço produzidas anualmente em
todo o mundo (Worldsteel, 2016).

Segundo a EUROSLAG, associação europeia dos produtores e transformadores de escórias, em 2014 eram
produzidas na Europa, anualmente, cerca de 21 milhões de toneladas de escórias de aciaria (Blast Oxygen
Furnace - BOF, Electric Arc Furnace - EAF e secundárias) e cerca de 26 milhões de toneladas de escórias
de alto forno (Blast Furnace Slag - BFS). Daquelas escórias, cerca de 17% e 54%, respetivamente, eram
utilizadas na construção rodoviária (EUROSLAG, 2016).

Em Portugal existem duas unidades de produção de aço que utilizam forno de arco elétrico, uma na Maia
e outra no Seixal, as quais, decorrente da produção do aço, geram, entre outros subprodutos, escórias de
aciaria. No âmbito de um projeto de investigação desenvolvido em Portugal, pelo Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC), pela Universidade do Minho (UM) e pelo Centro para a Valorização de Resíduos
(CVR), cofinanciado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), entre 2006 e 2010, procedeu-se
ao estudo do material obtido a partir do processamento daquelas escórias - Agregado Siderúrgico Inerte
para Construção (ASIC) – com o objetivo de avaliar a viabilidade da sua aplicação na construção de
infraestruturas rodoviárias, nomeadamente em camadas de base, de sub-base, de leito de pavimento e de
aterro.

Nesse trabalho desenvolveu-se uma análise laboratorial no sentido de avaliar as características


mineralógicas, físicas, químicas, geométricas e mecânicas dos agregados recolhidos nas duas unidades de
produção. Posteriormente, em 2007, procedeu-se à conceção, construção, instrumentação e monitorização
de um trecho experimental localizado ao km 13+600 do itinerário rodoviário EN 311 (Fafe – Cabeceiras de
Basto). Esses estudos permitiram concluir que o ASIC exibia características adequadas à sua utilização
naquele tipo de obras.

Nesta comunicação, para além de serem referidas as principais conclusões então obtidas, apresentam-se
alguns resultados relativos ao comportamento estrutural que o trecho experimental exibe atualmente,
cerca de dez anos após a entrada em serviço, e tecem-se considerações relativas às características
superficiais do pavimento da estrada.

2- CONSTRUÇÃO E MONITORIZAÇÃO DE UM TRECHO RODOVIÁRIO COM ASIC

2.1 - Caracterização laboratorial dos materiais utilizados

Os estudos laboratoriais realizados sobre o ASIC entre os anos de 2006 e 2010 tiveram como objetivo
avaliar as propriedades químicas, mineralógicas, geométricas, físicas e mecânicas do material, de forma a
verificar se o mesmo cumpre os requisitos estabelecidos nos documentos técnicos normalmente utilizados
em Portugal no âmbito da construção rodoviária. Para além dos ensaios laboratoriais tradicionalmente
utilizados na determinação dessas propriedades, foram também realizados ensaios de compressão
unidimensional e triaxiais convencionais em provetes de grandes dimensões (granulometria integral), para
determinar a resistência mecânica dos materiais, e ensaios triaxiais de precisão para avaliar a
deformabilidade no domínio das pequenas a médias deformações (Gomes Correia et al., 2009a).

No Quadro 1 estão resumidos alguns dos resultados obtidos, os quais permitiram concluir que os materiais
exibiam propriedades adequadas às referidas aplicações (Gomes Correia et al., 2005, 2006). Com exceção
das granulometrias, os valores encontrados para o ASIC do Seixal foram relativamente semelhantes aos
encontrados para o ASIC da Maia.

Em termos de resistência ao corte, obtiveram-se valores da tensão deviatórica de pico (q máx.) de 1558 e
1863 kPa, para valores da tensão média na rotura de 718 e 825 kPa, respetivamente para as escórias do
Seixal e da Maia. Na Figura 1 apresentam-se os resultados obtidos para o módulo de deformabilidade nos
ensaios de precisão. Uma análise global permite concluir que, quando comparado com os materiais naturais
habitualmente utilizados nas camadas de aterro, de leito e de base do pavimento, o ASIC evidenciou
melhores propriedades mecânicas (Gomes Correia et al., 2012).

Relativamente ao estudo da perda ao rubro, verificou-se que todas as amostras (duas de cada Siderurgia)
apresentaram um ganho em massa. Os resultados quantitativos do ensaio do sulfato de magnésio
mostraram que as perdas dos provetes foram insignificantes. Os resultados qualitativos mostraram que
nenhuma das partículas sofreu fissuração nem fragmentação, verificando-se uma ligeira esfoliação.

No que se refere à caracterização química, da análise do eluato (na sequência da lixiviação de 20 amostras
de escória), para diversos parâmetros que se entendeu como relevantes para a avaliação do eventual
impacto ambiental das escórias, se colocadas em aterros de resíduos, concluiu-se que todos os resultados

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evidenciaram, de forma clara, o carácter inerte do material (pela legislação em vigor à data do estudo:
Decreto-Lei n.º 152/2002, de 23 de maio).

Quadro 1 - Propriedades obtidas para o ASIC da Siderurgia Nacional do Seixal e da Maia (Gomes Correia et al., 2006)

Propriedades Parâmetros Seixal Maia


Dmax (mm) 38,1 76,1
2<D (mm)<60 (%) 74,0 88,5
0,06<D (mm)<2 (%) 19,5 8,50
D (mm)<0,075 6,5 1,5
Geométricas
Coeficiente de uniformidade 33,20 9,64
Coeficiente de curvatura 4,30 1,95
Índice de achatamento (%) 5 10
Índice de forma (%) 6 7
Equivalente de areia (%) 80 100
Azul de metileno (%) 0 0
Limites de Atterberg NP NP
Peso volúmico seco máximo, Proctor mod. (103 kg/m3) 2,32 2,43
Físicas Teor em água ótimo, Proctor mod. (%) 5,00 3,45
Massa volúmica do material impermeável (103 kg/m3) 3,31 3,45
Massa volúmica das partículas saturadas (103 kg/m3) 3,05 3,25
Massa volúmica das partículas secas (103 kg/m3) 2,94 3,17
Absorção de água (%) 3,87 2,59
Los Angeles (%) 23 28
Micro-Deval (%) 11 11
CBR imediato (%) 100 72
Mecânicas
CBR c/ embebição (%) 51 48
Expansão determinada no ensaio CBR 0 0
Expansibilidade 1,5 nd

Figura 1 – Módulo de deformabilidade do ASIC em função da tensão vertical total (Gomes Correia et al., 2009a)

2.2 - Construção, instrumentação e controlo da qualidade durante a construção

Com o objetivo de realizar um estudo de campo para validar as propriedades dos materiais estudados em
laboratório e para avaliar o seu comportamento em camadas de base, de leito de pavimento e de aterro,
foi construído, entre outubro e novembro de 2007, ao km 13+600 do itinerário que estabelece a ligação

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entre Fafe e Cabeceiras de Basto (EN 311), um trecho experimental em aterro, com cerca de 60 m de
comprimento e altura mínima de cerca de 3 m. Este itinerário tem duas vias (uma plataforma de 11,5 m
de largura, compreendendo uma faixa de rodagem de 7,0 m e duas bermas com 2,5 m de largura cada) e
um Tráfego Médio Diário Anual de Veículos Pesados (TMDA) no intervalo de 300 a 500 (Gomes Correia et
al., 2008b).

O trecho experimental foi construído com três secções distintas, de acordo com a Figura 2: i) uma secção
correspondente aos materiais tradicionais de construção rodoviária, constituída por saibro granítico, no
corpo do aterro e na camada de leito de pavimento, e por agregado britado de granulometria extensa
(ABGE) na camada de base; ii) uma secção com saibro granítico no corpo do aterro e na camada de leito
de pavimento, e ASIC na camada de base; e iii) uma última secção com aterro, camadas de leito de
pavimento e de base granulares em ASIC.

Figura 2 – Esquema do perfil longitudinal do trecho experimental (Gomes Correia et al., 2008b)

As curvas granulométricas dos materiais utilizados são apresentadas na Figura 3. O processo construtivo
das camadas de saibro, ASIC e ABGE conduziu a valores do grau de compactação superiores a 95% do
valor do ensaio Proctor modificado de referência.

Figura 3 – Curvas granulométricas dos materiais utilizados no trecho (Gomes Correia et al., 2008a)

Os resultados obtidos durante o controlo da qualidade da construção, em particular no que se refere ao


comportamento mecânico das diferentes camadas do pavimento e respetiva fundação, mostraram o melhor
desempenho mecânico das camadas de material ASIC, em relação às camadas construídas com material
natural (solo e agregado britado de granulometria extensa) (Gomes Correia et al., 2008a). Na Figura 4
apresentam-se, a título de exemplo, os valores do módulo de deformabilidade obtidos para a camada de
leito de pavimento, medidos com o Portancemètre (a) e com o defletómetro de impacto portátil (DIP) (b),
em ambas as vias, sobre o ASIC e sobre o saibro granítico. Da análise dos resultados pode concluir-se que
os valores obtidos na zona construída com ASIC são superiores aos obtidos sobre o saibro granítico.

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a) b)
Figura 4 – Módulo de deformabilidade obtido para a camada de leito de pavimento: a) medido com Portancemètre; b)
medido com DIP (Gomes Correia et al., 2008a)

Nos ensaios executados com defletómetro de impacto pesado (Falling Weight Deflectometer - FWD), sobre
as camadas de regularização e de desgaste do pavimento, recorrendo a uma placa de carga com diâmetro
de 0,45 m, aplicando forças relativamente baixas (20 kN), não existiu uma diferença significativa do
desempenho mecânico entre a secção construída em ASIC e a secção construída com materiais naturais.
No entanto, para cargas mais elevadas (47 kN), representativas do tráfego pesado, para as quais são
induzidos maiores níveis de tensão e deformação, verificou-se um melhor desempenho mecânico da secção
em ASIC, nomeadamente traduzido por menores valores de deflexão (Figura 5). Estes resultados indiciam,
tipicamente, uma maior duração da vida da estrutura do pavimento, em particular para os casos de
itinerários submetidos a tráfego pesado intenso.

Figura 5 – Deflexão máxima na campanha de ensaios FWD realizada sobre o pavimento a 15-02-2008 (Gomes Correia
et al., 2009b)

Durante a construção instrumentou-se o trecho em causa, de acordo com a Figura 6, colocando,


nomeadamente (Gomes Correia et al., 2008b): a) no aterro e terreno subjacente, marcas superficiais para
medição dos deslocamentos superficiais verticais (assentamentos), varões para medição dos
deslocamentos verticais internos, lisímetros para avaliar a evolução da massa poluente ao longo do tempo;
b) na camada de leito de pavimento, extensómetros verticais para medição das extensões de compressão
ao nível do topo da camada; c) nas camadas granulares, extensómetros transversais colocados sobre a
camada de base, para medição das extensões de tração na base da camada de regularização; d) na camada
de betão betuminoso, termopares para medição da temperatura nesta camada, a diferentes profundidades.

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FAFE CABECEIRAS
A

ZONA DE TRANSIÇÃO ZONA DE TRANSIÇÃO


SAIBRO GRANÍTICO ASIC Saibro Granítico SAIBRO GRANÍTICO

ASIC ABGE

2/1 3/2 ASIC 5 6 ABGE


ZONA DE TRANSIÇÃO ZONA DE TRANSIÇÃO
SAIBRO GRANÍTICO ASIC Saibro Granítico SAIBRO GRANÍTICO

LEGENDA
a)
7,5m
A'
LEGENDA 12,5m
16m
EXTENSÓMETRO VERTICAL

0,06
0,14
0,34
0,5m 0,5m 0,5m 0,5m

LA58 LA55 TA68 LA68 TA65 TA55 ASIC L01 ABGE

LEGENDA
ACELERÓMETRO UNIAXIAL
V09
LEGENDA V06 V02
EXTENSÓMETRO VERTICA
V01

V04 Ac7656 V05 Ac7658


ZONA DE ZONA DE
TRANSIÇÃO 0,5m 0,5m TRANSIÇÃO

3,34m
EM SAIBRO
EXTENSÓMETRO VERTICAL EM SAIBRO
GRANÍTICO EXTENSÓMETRO VERTICAL GRANÍTICO

EXTENSÓMETRO HORIZONTAL ACELERÓMETRO UNIAXIAL


ACELERÓMETRO UNIAXIA
1,6m

ASIC
ACELERÓMETRO UNIAXIAL Saibro Granítico
LONGITUDINAL EXTENSÓMETRO HORIZONTAL

LEGENDA LEGENDA EXTENSÓMETRO HORIZONTAL


LONGITUDINAL

5,5m
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL
LONGITUDINAL
LEGENDAEXTENSÓMETRO HORIZONTAL
FUNDAÇÃO
TRANSVERSAL
EXTENSÓMETRO VERTICAL TRANSVERSAL
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL
MARCAS SUPERFICIAIS EXTENSÓMETRO HORIZON
TRANSVERSAL
LEGENDA
ACELERÓMETRO UNIAXIAL
20m
EXTENSÓMETRO VERTICAL
MARCAS SUPERFICIAIS
MARCAS10m
EXTENSÓMETRO VERTICAL
SUPERFICIAIS
TERMOPAR
BEDROCK

20m LONGITUDINAL
10m
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL
LONGITUDINAL b) UNIAXIAL
ACELERÓMETRO
TERMOPAR PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO
EXTENSÓMETROEXTENSÓMETRO
HORIZONTAL VERTICALACELERÓMETRO UNIAXIAL EXTENSÓMETRO HORIZON
Legenda: extensómetro vertical
TRANSVERSAL acelerómetro uniaxial extensómetro
EXTENSÓMETROhorizontal longitudinal
HORIZONTAL extensómetro horizontal transversal
termopar TERMOPAR
LONGITUDINAL
marcas superficiais
MARCAS SUPERFICIAIS
plataforma de infiltração lisímetro
PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO LISÍMETRO
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL TRANSVERSAL
Figura 6 – Localização
TERMOPAR
do sistema LISÍMETRO
de instrumentação no trecho experimental: a) planta; b) perfil longitudinal (Gomes
ACELERÓMETRO UNIAXIALEXTENSÓMETRO HORIZONTAL TRANSVERSAL
MARCAS SUPERFICIAIS
LONGITUDINAL Correia
PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO
PLATAFORMA DE et al., 2008b)
INFILTRAÇÃO MARCAS SUPERFICIAIS
LISÍMETRO
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL TERMOPAR
LONGITUDINAL EXTENSÓMETRO HORIZONTAL
2.3 - Monitorização do comportamento
TRANSVERSAL após a construção
PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO
EXTENSÓMETRO HORIZONTAL
LISÍMETRO
TRANSVERSAL MARCAS SUPERFICIAIS TERMOPAR
Após a conclusão do trecho rodoviário, foram
MARCAS SUPERFICIAIS
realizadas campanhas de monitorização periódicas para
LISÍMETRO

avaliação do desempenho mecânico e ambiental do ASIC aplicado na construção das camadas do corpo do
TERMOPAR
aterro, de leito de pavimento e de base do pavimento, e para comparação desse desempenho com o dos
TERMOPAR
materiais naturais. PLATAFORMA DE INFILTR
PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO
PLATAFORMA DE INFILTRAÇÃO
Os resultados obtidos nessas campanhas, durante cerca de dois anos e meio após a conclusão do trecho,
mostraram que o desempenhoLISÍMETRO
LISÍMETRO mecânico da estrutura do pavimento, avaliado através de ensaios de FWD,
LISÍMETRO
era melhor nas secções construídas com os materiais ASIC do que naquelas construídas com os materiais
naturais (saibro granítico e ABGE) (Figura 7). Este comportamento foi particularmente evidente quando o
pavimento foi solicitado por cargas mais elevadas, nomeadamente de 47 kN (Gomes Correia et al., 2010).
De facto, as deflexões registadas à superfície na zona construída sobre o ASIC foram cerca de cinco vezes
inferiores às registadas nas zonas construídas sobre materiais naturais.

Verifica-se que a capacidade de suporte do pavimento depende fortemente da camada de betuminoso, uma
vez que a evolução das deflexões medidas é significativamente influenciada pela temperatura do pavimento
(ver Figura 7, zona inferior). De facto, um aumento da temperatura na camada de betuminoso provoca
uma redução da sua rigidez e, consequentemente, da rigidez global do pavimento, induzindo um aumento
da deflexão medida à superfície.

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Figura 7 – Evolução das deflexões máximas, para uma carga aproximadamente igual a 47 kN (em cima) e temperatura
medida na superfície do pavimento (em baixo) (Gomes Correia et al., 2010)

Da análise dos resultados obtidos no âmbito da monitorização do referido trecho, verificaram-se maiores
assentamentos na fundação da secção com ASIC, na fase inicial, devido à maior densidade deste material,
ainda assim com um valor máximo absoluto registado de apenas 1 mm. Posteriormente os assentamentos
na fundação foram praticamente nulos. Relativamente ao corpo do aterro verificou-se um assentamento
duas vezes superior na camada de saibro granítico em relação ao registado no ASIC (ainda assim com
valores inferiores a 1 mm), medido a uma altura de 1,6 m da fundação, traduzindo assim um melhor
desempenho da camada construída com ASIC. Estes resultados corroboraram, assim, tanto os resultados
obtidos em laboratório, como os resultados obtidos aquando do controlo da qualidade de construção do
trecho experimental.

Os resultados da monitorização ambiental, relativos à composição química das amostras dos lixiviados
recolhidos nos dois lisímetros instalados no trecho (um na secção construída em ASIC e o outro na secção
construída com o material tradicional - saibro granítico) mostraram que o ASIC, do ponto de vista da sua
lixiviabilidade, pode ser considerado um material inerte, ou seja, não se prevê que a construção de
infraestruturas de transporte com o ASIC venha a contribuir para a degradação da qualidade do meio
ambiente, designadamente dos solos e das águas superficiais e subterrâneas e que coloque em risco a
saúde pública (Gomes Correia et al., 2009b, 2010).

Nestas circunstâncias, concluiu-se que o ASIC podia ser utilizado ao nível das camadas de base, de
sub-base, de leito de pavimento e do corpo do aterro, em substituição dos materiais naturais, não
renováveis, que vêm sendo aplicados.

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3- COMPORTAMENTO A LONGO PRAZO DO TRECHO RODOVIÁRIO CONSTRUÍDO COM ASIC

3.1 - Inspeção visual e ensaios mecânicos

Cerca de dez anos após a construção do trecho experimental, procedeu-se a uma nova campanha para
avaliar o seu comportamento estrutural. Para levar a cabo a análise que se apresenta em seguida, o LNEC
realizou uma campanha de inspeção visual e efetuou ensaios sobre o pavimento, em março de 2017.

No sentido de avaliar o comportamento mecânico, nomeadamente as deflexões observadas na superfície


do pavimento na sequência de cargas impostas, realizaram-se ensaios de carga com FWD. Neste caso
realizaram-se ensaios em diversos locais do pavimento, em ambas as vias (Figura 8), sendo que em cada
um deles se procedeu, sucessivamente, à aplicação de três níveis de força (30 kN, 47 kN e 65 kN) sobre
uma placa de 0,45 m de diâmetro.

a) b)
Figura 8– Aspetos dos ensaios com FWD sobre o pavimento do trecho em análise: a) equipamento; b) execução dos
ensaios

Na Figura 9 apresentam-se as deflexões máximas medidas sob a placa de carga, para os distintos valores
de força. Da análise destes resultados, conclui-se que nos locais onde existe ASIC, as deflexões são
inferiores, o que indicia um melhor comportamento do pavimento nessas zonas. Este melhor
comportamento é mais acentuado para valores mais elevados da força aplicada, o que realça a baixa
deformabilidade do ASIC, pois para valores da solicitação mais elevados são interessadas na resposta
estrutural as camadas mais profundas do pavimento (base e leito).

Na Figura 9 indica-se ainda o tipo de fendas que foram observadas no pavimento, em ambas as vias,
aquando da inspeção visual realizada na mesma data. Conclui-se que, em geral, as fendas no pavimento,
nomeadamente fendas longitudinais e “pele de crocodilo” (Estradas de Portugal, 2008) são menos graves
e menos frequentes nas zonas onde foi utilizado ASIC.

Quando se comparam as deflexões máximas (D0) medidas nesta campanha, para valores de força aplicada
de 30 e 47 kN, com as medidas em 2008 (Figura 10), conclui-se que na zona em que se utilizou ASIC as
deflexões são agora significativamente inferiores às medidas em 2008 e nas outras zonas as deflexões
atuais são maiores do que as medidas em 2008. Estes resultados parecem indiciar que, ao longo do tempo,
a estrutura do pavimento se tornou mais rígida nas zonas em que se aplicou ASIC e mais flexível nas outras
zonas, o que indicia, mais uma vez, um melhor comportamento das secções com ASIC.

Pela análise da informação, concluiu-se que o pavimento existente na zona onde se aplicou ASIC como
material de construção encontra-se, em geral, em melhor estado, no que que se refere à existência de
fendas, e exibe um melhor comportamento estrutural, quando se compara com as zonas adjacentes que
foram construídas com materiais naturais.

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Figura 9 – Deflexões medidas com o FWD e resultados da inspeção visual do pavimento

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a)

b)
Figura 10 – Deflexões máximas (D0) medidas com o FWD no sentido Fafe-Cabeceiras de Basto em 2008 e em 2017,
em ambas as vias: a) força aplicada de 30 kN; b) força aplicada de 47 kN

3.2 - Nivelamento geométrico

Na sequência das campanhas de medição de assentamentos realizadas anteriormente pelo LNEC no trecho
experimental em análise, em 10 de outubro de 2007 e em 15 de janeiro de 2008, procedeu-se em abril de
2017 a uma nova campanha de nivelamento geométrico de precisão na linha de nivelamento instalada
(Figura 11), com vista a determinar os deslocamentos verticais que, entretanto, possam ter ocorrido.
Considerando como referência a campanha de 10 de outubro de 2007, foram medidos em 2017, nas marcas
superficiais colocadas no aterro, deslocamentos máximos de cerca de 8,2 mm (Figura 12), quer na secção
com ASIC quer na secção com saibro granítico. Estes deslocamentos correspondem a deformações

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máximas de cerca de 0,25%, passados cerca de dez anos, o que evidencia um bom comportamento da
estrutura, quando comparado com o de outros aterros rodoviários (Fortunato e Veiga Pinto, 1998).

a) b)
Figura 11 – Aspetos da campanha de nivelamento: a) ponto objeto no aterro; b) operações de nivelamento
FAFE CABECEIRAS
A

ZONA DE TRANSIÇÃO ZONA DE TRANSIÇÃO


SAIBRO GRANÍTICO ASIC Saibro Granítico SAIBRO GRANÍTICO

ASIC ABGE

2/1 3/2 ASIC 5 6 ABGE


ZONA DE TRANSIÇÃO ZONA DE TRANSIÇÃO
SAIBRO GRANÍTICO ASIC Saibro Granítico SAIBRO GRANÍTICO

A'

Figura 12 – Deslocamentos verticais (assentamentos) medidos nas marcas superficiais

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos reportados neste trabalho, realizados no sentido de avaliar as características dos agregados
(ASIC) obtidos a partir do processamento de escórias de aciaria produzidas em Portugal, permitiram
concluir que estes materiais exibem características similares ou superiores às dos materiais naturais,

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quando se consideram as exigências relativas à construção de camadas de aterro, de leito de pavimento,


de base e de sub-base de pavimentos.

As campanhas de observação efetuadas num trecho experimental durante dois anos e meio após a
conclusão da sua construção, mostram que o desempenho mecânico da estrutura do pavimento, avaliado
através de ensaios FWD, era melhor nas secções que foram construídas com os materiais ASIC do que nas
que foram construídas com os materiais naturais (saibro granítico e ABGE), corroborando, assim, tanto os
resultados obtidos em laboratório como os resultados obtidos aquando do controlo da qualidade da
construção do trecho experimental. Dos resultados da monitorização ambiental realizada naquele período,
verificou-se que o ASIC, do ponto de vista da sua lixiviabilidade, podia ser considerado um resíduo inerte,
ou seja, não contribuía para a degradação da qualidade do meio ambiente, designadamente dos solos e
das águas superficiais e subterrâneas e não colocava em risco a saúde pública.

A inspeção visual e os resultados dos ensaios mecânicos realizados no âmbito de uma campanha de
monitorização levada a cabo em 2017, cerca de dez anos após a entrada em operação do trecho
experimental, permitem concluir que o pavimento existente na zona onde se aplicou ASIC como material
de construção encontra-se, em geral, em melhor estado e exibe um melhor comportamento estrutural,
quando se compara com as zonas adjacentes que foram construídas com materiais naturais. Em termos de
assentamentos máximos do aterro, a análise dos valores medidos em marcas superficiais permite concluir
que não se observaram diferenças significativas quando se compararam as zonas em ASIC com as outras.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à empresa Megasa a autorização para a publicação dos resultados.

REFERÊNCIAS

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Centro para a Valorização de Resíduos, Universidade do Minho, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
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COMPORTAMENTO HIDRÁULICO DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA


DURANTE O PRIMEIRO ENCHIMENTO DA ALBUFEIRA

SEEPAGE BEHAVIOUR OF FOZ TUA DAM FOUNDATION DURING FIRST


FILLING OF THE RESERVOIR

Figueiredo, José Nuno; EDP Produção, Porto, Portugal, josenuno.figueiredo@edp.pt


Plasencia, Nadir; EDP Produção, Porto, Portugal, nadir.plasencia@edp.pt
Garrido, Sandra; EDP Produção, Porto, Portugal, sandra.garrido@edp.pt
Silva Matos, Domingos; EDP Produção, Porto, Portugal, domingossilva.matos@edp.pt
Lima, Celso; EDP Produção, Porto, Portugal, celso.lima@edp.pt

RESUMO

O Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua situa-se no rio Tua, afluente da margem direita do rio Douro. A
barragem, que tem cerca de 110 m de altura máxima, é de betão, do tipo abóbada de dupla curvatura, e
a sua fundação foi alvo de tratamento de consolidação e de impermeabilização. Ao longo da fundação foram
executadas redes de drenagem e piezometria. Durante o primeiro enchimento da albufeira, e em particular
aquando dos patamares de enchimento e níveis de estabilização pré-estabelecidos, analisou-se, entre
outros aspetos relevantes, o comportamento hidráulico da fundação da barragem, nomeadamente a
evolução dos caudais afluentes aos drenos e das pressões registadas nos piezómetros. Neste âmbito,
verificou-se a existência de zonas da fundação com valores de pressão ou caudal considerados elevados.
Afigurando-se justificada uma análise mais detalhada destas situações e a ponderação de eventuais
medidas complementares, definiu‐se um conjunto de ensaios tendo em vista obter informação adicional e
verificar se as afluências ou as pressões registadas seriam mais significativas a determinadas profundidades
ou assumiam uma distribuição relativamente homogénea ao longo de cada furo ensaiado. Na sequência da
realização desses ensaios, definiram-se oito drenos e um piezómetro complementares. Este artigo aborda
os aspetos acima referidos e analisa o efeito da implementação das medidas adicionais no comportamento
hidráulico da fundação da barragem de Foz Tua. Sendo o primeiro enchimento da albufeira a fase mais
crítica da vida da obra em termos do risco envolvido, é enfatizada a importância de um acompanhamento
próximo nesse período para identificar eventuais desvios em relação ao esperado e permitir, quando
necessário, uma adequação atempada das redes de drenagem e piezometria previamente executadas, ou
eventualmente outro tipo de medida de tratamento.

ABSTRACT

The Foz Tua hydroelectric scheme is located in Tua river, a tributary of Douro river’s right bank. The double-
curvature concrete arch dam is approximately 110 m high and a consolidation treatment and a cutoff
cement grout curtain were performed on its foundation. Drainage and piezometric networks were also
installed along the dam’s foundation. During the first filling of the reservoir and particularly when the
previously defined observation levels were reached, the foundation’s seepage behavior was analyzed, along
with other relevant behavior components. Some zones of the foundation with values of uplift or seepage
that were considered high were identified. A more detailed analysis of these situations and an evaluation
of additional actions to be taken was considered necessary, leading to the definition and execution of a set
of tests to gather further information and to investigate if the flow or pressure were higher at certain depths
or if they were relatively homogeneous along the tested drain and piezometer holes. As a result, a set of
eight supplementary drains and one piezometer was implemented. The scope of this paper includes the
above-mentioned matters and also the effect of the additional drains and piezometer on Foz Tua dam
foundation’s seepage behavior. Given that the first filling of the reservoir is, risk-wise, the most critical
stage of the dam’s service life, emphasis is given on the importance of closely monitoring the results
obtained during that period in order to detect possible deviations from the expected behavior and to allow,
when necessary, a timely adjustment of the previously executed drainage and piezometric networks, or
eventually the implementation of other treatment measures.

1- INTRODUÇÃO

O Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua situa-se no rio Tua, afluente da margem direita do rio Douro,
que faz a separação entre os concelhos de Alijó (distrito de Vila Real) e de Carrazeda de Ansiães (distrito
de Bragança). A barragem, que se localiza a cerca de 1100 m da confluência dos rios Tua e Douro, é do
tipo abóbada de dupla curvatura, de betão, e tem cerca de 110 m de altura máxima e 275 m de

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desenvolvimento do coroamento. A sua fundação foi alvo de tratamento de consolidação e de


impermeabilização, tendo igualmente sido executadas redes de drenagem e piezometria.

Na Figura 1 apresenta-se, à esquerda, a localização da barragem de Foz Tua e, à direita, uma fotografia da
mesma em fase intermédia do enchimento da albufeira.

Figura 1 – Localização da barragem de Foz Tua (esq.) e fotografia em fase intermédia do enchimento da albufeira (dir.)

Na Figura 2 representa-se um perfil transversal da barragem pela zona do fundo do vale, evidenciando um
dos vãos do descarregador de cheias de superfície, equipados com comporta segmento, e a bacia de
dissipação a jusante.

Figura 2 – Perfil transversal da barragem de Foz Tua e respetiva bacia de dissipação

À cota (170,00), correspondente ao nível de pleno armazenamento (NPA), a albufeira tem um volume de
cerca de 106 hm3 e uma área inundada de cerca de 421 ha. Em condições normais, o regime de exploração
enquadra-se entre o nível de pleno armazenamento e o nível mínimo de exploração (Nme) à cota (167,00).
O nível mínimo de exploração extraordinário (NmE) situa-se à cota (162,00) e o nível de máxima cheia
(NMC) corresponde à cota (171,00).

A definição de formas e o projeto da barragem de Foz Tua foram realizados pela Direção de Engenharia de
Barragens (DEB) da EDP Produção (2010) e o respetivo detalhe em fase de Projeto de Execução foi
elaborado pela empresa COBA (2011-2018). Os projetos dos tratamentos de consolidação e
impermeabilização da fundação, a definição das redes de drenagem e piezometria e, ainda, os
procedimentos relativos aos trabalhos de injeção das juntas entre blocos da barragem, foram desenvolvidos

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pela DEB desde as fases preliminares de Projeto até ao Projeto de Execução (EDP Produção, 2014-2017),
tendo igualmente ficado a seu cargo a correspondente assistência técnica em obra.

A construção deste empreendimento hidroelétrico teve inicio em 2011, tendo o mesmo entrado em
operação em 2017, integrando um conjunto de investimentos em novos centros de produção hidroelétrica
realizados pela EDP Produção nesta última década.

2- TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO POR INJEÇÃO DE CALDA DE CIMENTO

Tendo em consideração as características da barragem de Foz Tua e do maciço rochoso da sua fundação,
preconizou-se um tratamento por injeção de calda de cimento compreendendo duas componentes,
designadamente a consolidação e a impermeabilização.

O tratamento de consolidação, que abrange a consolidação profunda e a ligação betão-rocha, foi


concretizado mediante injeção de calda de cimento através de furos abertos a partir das galerias da
barragem e da blocagem do pé de jusante, dispostos em leques e constituindo perfis de tratamento.
Favorece um comportamento da fundação mais homogéneo e menos deformável, contribuindo também
para tornar o maciço globalmente menos permeável.

O tratamento de impermeabilização recorreu à injeção de calda de cimento através de furos executados a


partir da galeria geral de drenagem, com pendor para montante, materializando uma cortina que
acompanha toda a fundação da barragem e ultrapassa em profundidade o tratamento de consolidação. Tem
a função de constituir, na zona de montante, um obstáculo à circulação da água, promovendo a redução
dos gradientes hidráulicos e, consequentemente, a diminuição das subpressões na fundação da barragem,
bem como das velocidades e caudais de percolação através da mesma.

Nas Figuras 3 e 4 apresenta-se, respetivamente, um perfil transversal tipo e um alçado planificado pela
superfície de referência da barragem, com representação do tratamento de consolidação e da cortina de
impermeabilização.

Figura 3 - Perfil transversal tipo do tratamento de consolidação e da cortina de impermeabilização

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Figura 4 – Alçado planificado do tratamento de consolidação e da cortina de impermeabilização

O tratamento de consolidação abrange a região do maciço de fundação mais afetada pela descompressão
resultante das escavações para a inserção da barragem, pela fraturação induzida pelo uso de explosivos e
pela maior exposição à ação dos agentes de meteorização, e simultaneamente onde ocorre o maior
incremento no estado de tensão aquando da entrada em serviço daquela estrutura. Os leques de furos de
consolidação atingem uma profundidade de cerca de 35 m no fundo do vale e cerca de 15 m a cotas mais
altas, nas margens, em correspondência com o critério de abranger as zonas onde se espera um incremento
do estado de tensão igual ou superior a 1 MPa.

A disposição em leques radiais favorece, nas zonas próximas do contacto entre o betão e a rocha, uma
maior densidade de furação e, em consequência, uma maior proximidade dos pontos de irradiação da
injeção para as descontinuidades aí existentes. Os leques apresentam um afastamento médio de cerca de
5 m, correspondendo a quatro leques em cada um dos três blocos centrais da barragem e a três leques em
cada um dos restantes blocos.

Relativamente à cortina de impermeabilização, utilizou-se uma metodologia corrente neste tipo de


trabalhos, tendo sido definida uma furação primária e um conjunto de critérios para execução de furos
secundários e terciários, tornando a cortina localmente mais densa, onde necessário. A configuração final
da cortina ficou, portanto, diretamente associada à resposta do maciço de fundação ao tratamento efetuado.

A furação primária foi definida com afastamento médio de cerca de 5 m entre furos, o que conduz a
quantidades deste tipo de furo, por bloco, equivalentes às atrás indicadas a propósito dos leques de
consolidação. O seu comprimento em rocha, que variou entre cerca de 45 m no fundo de vale e cerca de
20 m a cotas mais elevadas, foi definido de forma a cobrir as zonas do maciço com permeabilidade média
superior a 1 unidade Lugeon (U.L.) e a ultrapassar, genericamente, em pelo menos 10 m a zona abrangida
pelo tratamento de consolidação, atingindo profundidades que correspondem no mínimo a cerca de 40%
da carga hidráulica máxima medida junto ao pé de montante da barragem.

Após a realização de cada furo da cortina de impermeabilização, e previamente à sua injeção, foram
realizados ensaios de absorção de água. Tanto estes ensaios como as operações de injeção foram realizadas
de forma ascendente e por troços de 5 m de comprimento máximo.

Foram executados furos secundários na vizinhança dos furos primários onde se registaram troços com
absorções de água superiores ao equivalente a 1 U.L. e/ou absorções de calda superiores a 50 kg de
cimento por metro de furo, a meia distância entre esse furo e o furo primário adjacente. A ocorrência de
uma destas condições em furos secundários conduziu à execução de furos terciários na sua vizinhança,
também a meia distância entre esse furo e o furo primário adjacente.

O comprimento dos furos secundários foi definido caso a caso, de forma a ultrapassar em pelo menos 5
metros a cota da base do troço do furo primário onde se registou a absorção de água ou calda considerada
elevada, seguindo-se idêntico critério para fixação do comprimento dos furos terciários.

Na zona de influência da galeria de derivação provisória, a cortina de impermeabilização é localmente mais


curta, tendo o fecho desta zona sido realizado posteriormente, mediante injeções executadas a partir do
interior da própria galeria, na zona do respetivo rolhão de betão armado.

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3- REDES DE DRENAGEM E PIEZOMETRIA

As redes de drenagem e piezometria são elementos essenciais no controlo de segurança da barragem,


tendo sido devidamente contempladas no respetivo projeto.

A rede de drenagem foi materializada mediante a abertura de furos com 3 polegadas de diâmetro e origem
na galeria geral de drenagem e na galeria de drenagem de jusante. Tem por objetivos evitar o
estabelecimento de subpressões elevadas e, simultaneamente, permitir a análise das condições de
percolação através do maciço de fundação da barragem a partir dos caudais afluentes aos drenos.

A rede piezométrica é constituída por um conjunto de furos, também com 3 polegadas de diâmetro, e
respetivos manómetros, executados a partir da galeria geral de drenagem, da galeria de drenagem de
jusante, das galerias de ligação entre ambas e ainda da galeria de visita GV2. Permite aferir as subpressões
que se verificam na fundação da barragem, que têm implicação direta na sua estabilidade, e avaliar a
eficácia da cortina de impermeabilização e da rede de drenagem.

Nas Figuras 5, 6 e 7 apresenta-se respetivamente um perfil transversal tipo, um alçado planificado pela
superfície de referência da barragem e uma planta com representação dos furos das redes de drenagem e
de piezometria. No perfil tipo indica-se também, para referência, a cortina de impermeabilização, e no
alçado e na planta representam-se os extensómetros de fundação.

Figura 5 - Perfil transversal tipo das redes de drenagem e piezometria

Figura 6 - Alçado planificado com representação dos drenos, piezómetros e extensómetros de fundação

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Figura 7 – Planta com representação dos drenos, piezómetros e extensómetros de fundação

Os furos da rede de drenagem são verticais e foram definidos com um afastamento médio de cerca de 4
m, correspondendo geralmente a quatro furos por bloco, exceto os seis drenos da galeria geral de drenagem
localizados no bloco central, que têm um afastamento médio de cerca de 3,5 m entre si.

O comprimento em rocha dos drenos localizados na galeria geral de drenagem varia entre cerca de 30 m
no fundo do vale e cerca de 15 m nas margens, a cotas superiores, enquanto que o comprimento em rocha
dos drenos localizados na galeria de drenagem de jusante, que apenas abrange o fundo do vale, é de cerca
de 17 m. Nas galerias de visita da barragem GV2 e GV4, na extensão que se prolonga através do maciço
de fundação, realizaram-se drenos com comprimento em rocha de cerca de 3 m, incluídos em perfis normais
ao eixo da galeria e afastados de 3 m, sendo que a quantidade por perfil alterna sucessivamente entre 2 e
3 drenos. Pretende-se com tal configuração que estas galerias funcionem como drenos de grandes
dimensões.

Quanto à rede piezométrica, executou-se em ambas as margens um piezómetro por cada bloco, ao longo
da galeria geral de drenagem (pontualmente na galeria de visita GV2). Nos cinco blocos do fundo do vale
executou-se ainda um piezómetro por bloco na galeria de drenagem de jusante e outro piezómetro
sensivelmente a meio de cada uma das duas galerias de ligação entre a galeria geral de drenagem e a
galeria de drenagem de jusante. Desta forma, no fundo do vale foram materializados cinco perfis
piezométricos transversais com dois ou três piezómetros. Os piezómetros são geralmente sub-verticais,
com pendor para a zona central da fundação, com exceção dos dois localizados nas galerias de ligação, que
são efetivamente verticais.

O comprimento em rocha dos furos piezométricos localizados na galeria geral de drenagem varia entre
cerca de 17 m no fundo do vale e cerca de 9 m nas margens, a cotas superiores, enquanto que o
comprimento em rocha dos furos piezométricos localizados na galeria de drenagem de jusante é de cerca
de 11 m e o dos localizados nas galerias de ligação é de cerca de 13 m.

Transversalmente, no sentido montante-jusante, adotaram-se comprimentos dos furos da rede de


drenagem inferiores aos da cortina de impermeabilização e comprimentos dos furos da rede piezométrica
inferiores aos da rede de drenagem.

Note-se que, em resultado do comportamento hidráulico da fundação da barragem observado durante o


primeiro enchimento da albufeira, vieram a executar-se complementos às redes de drenagem e de
piezometria, conforme adiante detalhado em ponto próprio.

4- PRIMEIRO ENCHIMENTO DA ALBUFEIRA

4.1 - Enquadramento dos aspetos mais relevantes

O Regulamento de Segurança de Barragens (2007) define o primeiro enchimento da albufeira como sendo
a fase durante a qual o nível da água na albufeira sobe pela primeira vez até ao nível máximo de exploração
e em que deve ser verificada a normalidade do comportamento da barragem e a fiabilidade dos
equipamentos. Nele é referido que o controlo de segurança durante o primeiro enchimento, etapa mais
crítica da vida da obra do ponto de vista do risco envolvido, deve ser realizado com base num plano
especificamente desenvolvido para o efeito, tendo como principais objetivos: evitar a ocorrência de
acidentes e incidentes ou minimizar os seus efeitos; assegurar que as obras e os equipamentos estão em
condições de suportar as ações de serviço e que em particular os equipamentos funcionam adequadamente;
avaliar a eficácia do sistema de observação.

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O Regulamento refere ainda que o plano de primeiro enchimento deverá conter indicações relativas a:
inspeções visuais; seleção de grandezas a observar para controlo expedito de segurança; frequência de
recolha de dados em função do programa de enchimento da albufeira; patamares de enchimento, quando
se justifique, correspondendo a cada patamar uma visita de inspeção e uma avaliação das condições de
segurança; velocidade de enchimento da albufeira; modelos de comportamento para apoio da avaliação da
segurança estrutural; verificação da operacionalidade dos órgãos de segurança e exploração.

Considera-se importante referir, embora se depreenda dos aspetos acima elencados, que a análise do
comportamento hidráulico da fundação deve ser entendida como um de múltiplos elementos a ter em conta
para efeito da avaliação das condições de segurança no decorrer do primeiro enchimento da albufeira.

O Plano de Primeiro Enchimento da Albufeira de Foz Tua (EDP Produção, 2015) foi elaborado de forma a
dar cumprimento aos requisitos do Regulamento de Segurança de Barragens. Uma vez que a barragem de
Foz Tua pertence à Classe I, esse plano foi revisto pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e
submetido à aprovação da Autoridade Nacional de Segurança de Barragens (ANSB), organismo integrado
na Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

No Quadro 1 sistematiza-se o faseamento implementado, que considerou um conjunto de patamares de


enchimento e níveis de estabilização durante os quais se procurou impor um nível de água
aproximadamente constante, com o objetivo de avaliar a segurança antes de prosseguir com o enchimento.
O primeiro enchimento considerou-se concluído quando o nível da água na albufeira atingiu a cota (170,00),
correspondente ao NPA. No entanto, caso em situação de cheia excecional seja atingida a cota (171,00),
correspondente ao patamar P4, está prevista a realização de uma campanha de observação idêntica às
efetuadas aquando dos restantes patamares de enchimento.

Quadro 1- Patamares de Enchimento e Níveis de Estabilização


Tempo de retenção
Designação Cota (m) Representação gráfica
de nível (dias)
P0 64 -
NE1 130 3
P1 150 5
NEi 159 3
NE2 163 3
P2 168 5
P3 170 (NPA) 5
P4 171 (NMC) 5

4.2 - Resultados obtidos

No âmbito do acompanhamento do primeiro enchimento da albufeira de Foz Tua, e em particular aquando


dos patamares de enchimento e níveis de estabilização pré-estabelecidos, foram recolhidas e analisadas as
leituras dos diversos dispositivos que integram o sistema de observação da barragem.

As análises efetuadas de forma independente por técnicos da EDP Produção e técnicos do LNEC, debatidas
conjuntamente em reuniões especificamente realizadas para esse efeito e englobadas em visitas de
inspeção da obra, nas quais a APA participou ou se fez representar, permitiram concluir que a barragem
apresentou um comportamento adequado durante o primeiro enchimento da albufeira.

Concretamente no que diz respeito ao comportamento hidráulico da fundação, as avaliações que foram
sendo realizadas permitiram também inferir um comportamento globalmente adequado. Não obstante,
identificaram-se algumas zonas com valores de pressão ou caudal considerados elevados, situação que
ficou mais evidente em meados de Fevereiro de 2017, aquando das análises e visita de inspeção do patamar
P2, com a albufeira à cota (168,00). Tais zonas passaram a ser alvo de uma atenção particular, embora se
tenha considerado que não estava em causa a continuidade do primeiro enchimento em adequadas
condições de segurança.

No que diz respeito às pressões registadas nos piezómetros, os valores esperados seriam inferiores a um
terço da carga hidrostática referida à cota do contacto maciço rochoso / betão. Quanto aos caudais
afluentes aos drenos, atendendo à variabilidade imposta pelas condições geológico-geotécnicas locais do
maciço rochoso de fundação, em particular os respetivos estados de fraturação e alteração, torna-se difícil
estabelecer um valor de referência. Ainda assim, atendendo à experiência adquirida em obras análogas, às
características evidenciadas pelo maciço de fundação da barragem de Foz Tua e aos tratamentos que foram

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efetuados, considerou-se que afluências a um dreno superiores a 10 l/min deveriam implicar uma análise
e acompanhamento particularmente cuidados.

Na Figura 8 apresentam-se os resultados obtidos nos drenos e piezómetros localizados ao longo da galeria
geral de drenagem (e pontualmente na galeria de visita GV2) no início de Março de 2017, com a albufeira
muito próxima do NPA. Representa-se ainda a extrapolação, em profundidade, das falhas e filões
cartografados na superfície da fundação da barragem. Assinalam-se apenas os valores de caudal afluente
a drenos iguais ou superiores a 2 l/min.

É possível constatar que, em termos médios, a subpressão registada ao longo da fundação, no alinhamento
da galeria geral de drenagem, é inferior à referência de um terço da carga hidrostática e que a afluência
média aos drenos nessa galeria não é particularmente elevada.

Ainda assim, tais resultados denotam também a existência de duas zonas da fundação onde as leituras dos
piezómetros ultrapassaram a referência de um terço da carga da albufeira: uma no topo da margem
esquerda, nos blocos E/E9 e E9/E8, onde se encontram instalados respetivamente os piezómetros PZ‐E/E9
e PZ‐E9/E8 e outra sensivelmente a meio da margem direita, nos blocos D3/D4 e D4/D5, onde se encontram
instalados respetivamente os piezómetros PZ‐D3/D4 e PZ‐D4/D5.

Quanto aos caudais, os valores mais elevados registaram‐se no fundo de vale e na metade inferior da
margem esquerda, destacando‐se: em particular o fundo do vale, nomeadamente o bloco E1/D1, onde se
encontram instalados os drenos D-E1/D1‐1 e D‐E1/D1‐4, o bloco D1/D2, onde se encontra instalado o dreno
D‐D1/D2‐1 e o bloco D2/D3, onde se encontra instalado o dreno D‐D2/D3‐1; com menor expressão a zona
sensivelmente a meio da margem esquerda, nomeadamente o bloco E6/E5, onde se encontra instalado o
dreno D‐E6/E5‐1. Os valores dos caudais afluentes a cada um dos drenos atrás referidos ultrapassavam,
no início de Março de 2017, 10 l/min.

Figura 8 – Alçado planificado com representação dos resultados obtidos nos drenos e piezómetros da galeria geral de
drenagem / galeria de visita GV2 (Março de 2017) e das estruturas geológicas principais cartografadas na fundação

Na Figura 9 apresenta-se a evolução, ao longo do primeiro enchimento da albufeira, dos valores de pressão
observados nos piezómetros atrás referidos e dos caudais afluentes aos drenos, agrupados por zonas. É
também discriminado o caso particular do dreno D-D1/D2-1, no qual se verificou o caudal mais elevado
(38 l/min).

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Figura 9 – Evolução registada nos drenos (esq.) e piezómetros (dir.) até ao início de Março de 2017

É possível verificar que, na galeria geral de drenagem, os caudais se revelaram bastante mais elevados nos
blocos do fundo do vale, embora mereçam também algum destaque os valores registados na margem
esquerda. Fica também evidente a evolução significativa, e que aparentemente ainda estava em curso,
dos caudais afluentes aos drenos nessas zonas, situação merecedora de uma atenção particular, até por
não ter uma relação linear com a subida da cota da albufeira. Por outro lado, verificou-se que na galeria
de drenagem de jusante as afluências aos drenos registaram valores reduzidos.

Relativamente às subpressões, consideram-se de destaque os casos do PZ-E9/E8, que registava um valor


de 47% da carga da albufeira, do PZ-D3/D4, que na altura registava um valor de 36% mas que pouco
tempo antes havia registado valores da ordem de 48% (a pressão neste piezómetro estava em recuperação
após ter sido corrigida uma avaria que permitia perdas de água na tubagem a montante do manómetro,
situação que havia causado uma descida súbita do valor registado) e particularmente do PZ-D4/D5, que
registava um valor de 71% da carga da albufeira.

Não sendo claro que as estruturas geológicas principais cartografadas na fundação da barragem
providenciassem, por si só, uma explicação cabal para as situações atrás elencadas, considerou-se que
seria de interesse realizar um conjunto de ensaios de diagnóstico tendo em vista a obtenção de informação
adicional.

Tais ensaios, adiante descritos em detalhe, tiveram início ainda durante o mês de Março de 2017, tendo
contemplado, para além dos drenos e piezómetros atrás mencionados, o dreno D‐E1/D1‐5, também
localizado no fundo do vale, que entretanto havia passado a debitar um caudal superior a 10 l/min.

5- ENSAIOS PARA DIAGNÓSTICO EM ZONAS COM PRESSÃO OU CAUDAL CONSIDERADO


ELEVADO

Afigurando-se justificada uma análise mais detalhada das situações onde se verificaram valores elevados
de pressão ou caudal, bem como a ponderação de eventuais medidas complementares referentes às redes
de drenagem e piezometria, definiu‐se um conjunto de ensaios tendo em vista aprofundar a informação
disponível.

Tais ensaios visaram essencialmente: conhecer a distribuição da pressão e do caudal afluente ao longo de
cada furo de piezómetro que tivesse apresentado leituras acima do valor de referência e avaliar a eventual
existência de uma profundidade à qual se verificasse o maior incremento de pressão e/ou caudal; verificar
a pressão à boca dos drenos na vizinhança dos piezómetros com pressão elevada; conhecer a distribuição
do caudal afluente ao longo de cada dreno que tivesse apresentado leituras acima do valor de referência e
avaliar a eventual existência de uma profundidade à qual se verificasse um maior incremento de caudal;
conhecer a pressão à boca de cada dreno com caudal elevado e a influência que essa tomada de pressão,
ao obturar o dreno, teria nos aparelhos vizinhos.
Foram definidas à partida várias fases para a realização dos ensaios, tendo em vista a possibilidade de
ajustar os mesmos em função da informação que se fosse obtendo. Procurou‐se também garantir que os
trabalhos simultâneos decorressem em zonas suficientemente afastadas umas das outras, minimizando
possíveis interferências que dificultassem a interpretação dos resultados. Numa fase adiantada da
realização dos trabalhos acima referidos, considerou‐se importante complementar o conjunto de ensaios

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inicialmente previsto. Nesse sentido, efetuou-se a medição do caudal afluente à boca de cada um dos doze
piezómetros localizados nos cinco blocos do fundo do vale.

Relativamente aos procedimentos de ensaio, no caso dos piezómetros com pressão elevada realizou‐se a
análise por troços, medindo em cada troço a pressão e o caudal afluente. Fez‐se uso de um obturador
simples, começando por posicioná‐lo a 5 m do fundo do furo, e progrediu‐se subindo 5 m de cada vez. Em
cada troço, começou‐se por realizar a leitura de pressão, aguardando o tempo necessário para a respetiva
subida e estabilização, que normalmente se verificou um ou mais dias após a obturação. Antes de avançar
para o troço seguinte, realizou‐se a leitura do caudal afluente ao troço obturado, procurando‐se ter o
cuidado de aguardar a estabilização do caudal medido. Tal procedimento só seria aplicável caso a cota
piezométrica fosse superior à cota do manómetro em questão, o que à data dos ensaios não se verificava
no PZ-E9/E8.

Posteriormente, mediu‐se a pressão à boca dos drenos na vizinhança dos piezómetros com pressão elevada.
Após tomada de pressão, esta foi aliviada mediante abertura criteriosa da torneira do obturador,
procurando‐se registar pares caudal/pressão em patamares intermédios antes da abertura total da torneira.
Durante os ensaios de tomada de pressão à boca dos drenos, registaram‐se os valores obtidos nos
piezómetros e drenos mais próximos do dreno em análise.

No que se refere aos drenos com caudal elevado, realizou‐se a análise por troços do caudal afluente. Fez‐
se igualmente uso de um obturador simples, começando por posicioná‐lo a 5 m do fundo do furo, e
progrediu‐se subindo 5 m de cada vez. Em cada troço realizou‐se a leitura do caudal afluente ao troço
obturado, após a respetiva estabilização. No troço final, com obturação à boca, mediu‐se também a pressão
conforme já descrito a propósito dos piezómetros.

Posteriormente, mediu‐se o caudal afluente à boca dos doze piezómetros localizados nos cinco blocos do
fundo do vale. Fez‐se igualmente, durante os ensaios acima referidos, o registo dos valores obtidos nos
drenos e piezómetros mais próximos do aparelho em análise.

Na Figura 10, a título de exemplo, apresentam-se alguns dos resultados obtidos nos ensaios de diagnóstico
realizados, que tiveram a sua conclusão no início de Maio de 2017.

Os resultados indicaram, nomeadamente na zona de meia encosta da margem esquerda, no fundo do vale
e na zona de meia encosta da margem direita, que grande parte da entrada de caudal nos drenos ensaiados
e também os valores de pressão mais significativos nos piezómetros ensaiados se verificavam nos troços
que abrangem o contacto maciço rochoso / betão. Tal foi considerado indicador de um caminho preferencial
de percolação através dessa superfície. Na zona superior da margem esquerda (blocos E/E9 e E9/E8), no
entanto, tal cenário não se verificou. Não obstante, é de referir que o alcance da interpretação da
informação obtida nesta zona ficou limitado pela impossibilidade de ensaiar o piezómetro PZ-E9/E8, dado
que o nível de água que nele se registava era inferior ao da boca do respetivo furo.

Figura 10 – Resultados obtidos nos ensaios de diagnóstico em drenos (esq.) e piezómetros (dir.)

Analisados os resultados obtidos nos extensómetros nas imediações dos drenos mais produtivos,
verificaram-se movimentos de empolamento a montante (que resultam, tendencialmente, na abertura do
contacto maciço rochoso-betão nessa zona) coincidentes no tempo com o aumento expressivo que ocorreu
nos caudais afluentes, o que tende a confirmar a hipótese atrás enunciada.

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6- MEDIDAS COMPLEMENTARES PARA REDUÇÃO E CONTROLO DE SUBPRESSÕES

6.1 - Descrição das medidas complementares

A informação disponível permitiu apoiar a tomada de decisões quanto às zonas que deveriam ser alvo de
medidas corretivas. No caso da zona superior da encosta da margem esquerda considerou‐se que não seria
necessário, naquela fase, implementar medidas complementares, atendendo a que nessa zona se havia
entretanto verificado uma tendência de redução dos valores de pressão obtidos nos piezómetros.

Quanto à zona a meia encosta da margem direita abrangida pelos blocos D3/D4 e D4/D5, considerou-se
inicialmente que deveria ser promovido um reforço da rede de drenagem com seis drenos adicionais. Sendo
a zona mais relevante a do contacto maciço rochoso / betão, foram definidos drenos complementares pouco
profundos, com cerca de 10 m em rocha. A sua orientação também foi distinta da dos drenos anteriormente
executados, tendo-se procurado, adicionalmente à interseção do contacto, favorecer o cruzamento de
descontinuidades subverticais. A resposta hidráulica verificada, que adiante se aborda, conduziu à definição
de outros dois drenos complementares, tendo estes sido definidos com pendor vertical dada a exiguidade
de espaço disponível, e ainda de um piezómetro complementar. Na Figura 11 destacam-se os elementos
adicionais.

Figura 11 – Pormenores da planta (esq.) e do alçado planificado (dir.) da barragem, com representação dos drenos e
piezómetro complementares executados

Relativamente às zonas com caudais drenados elevados, verificou-se que as hipóteses de intervenção
ponderadas implicavam dificuldades executivas não desprezáveis, além de levantarem dúvidas quanto à
sua real eficácia ou mesmo quanto ao risco que poderiam acarretar para a integridade de outros aparelhos
instalados. Atendendo ao facto de se ter, entretanto, verificado uma redução dos valores registados,
considerou-se que, à data, o mais adequado seria simplesmente garantir que a evolução dos caudais
afluentes continuaria a ser acompanhada atentamente.

Em suma, decidiu-se intervir desde logo em zonas que apresentavam subpressões elevadas, procurando
que fossem atingidos valores mais próximos da referência de um terço da carga hidrostática referida à cota
do contacto maciço rochoso / betão, bem como constituir um histórico de acompanhamento mais alargado
que permitisse concluir, num horizonte de um a dois anos, se seria de facto recomendável ou mesmo
imprescindível vir a avançar com medidas mitigadoras dos caudais afluentes.

6.2 - Resultados obtidos após implementação das medidas complementares

A execução dos drenos complementares na zona de meia encosta na margem direita produziu efeitos
relevantes em termos de redução dos valores de subpressão registados nos piezómetros PZ-D3/D4 e PZ-
D4/D5, implicando também um incremento do caudal afluente nessa zona, conforme é visível na Figura 12.

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Figura 12 – Evolução registada nos drenos (esq.) e piezómetros (dir.) de Fevereiro de 2017 a Janeiro de 2018

A situação foi reavaliada à luz dos resultados da execução dos seis drenos complementares inicialmente
definidos, tendo-se considerado justificada, e com boas hipóteses de sucesso, a realização de mais um
dreno complementar tendo em vista nova redução da subpressão no PZ-D4/D5 para valores inferiores à
referência, objetivo que foi atingido. Por outro lado, para conhecer com maior detalhe a distribuição da
subpressão nesta zona que tinha atingido valores mais elevados, executou-se um piezómetro complementar,
denominado PZC-D4/D5, sensivelmente a meia distância entre o PZ-D3/D4 e o PZ-D4/D5. Tendo este novo
piezómetro registado valores de subpressão elevados (na ordem do máximo evidenciados pelo PZ-D4/D5),
executou-se um oitavo dreno complementar, que resultou numa redução satisfatória da subpressão.

No que diz respeito aos caudais drenados, os resultados ilustrados na Figura 12, que se reportam a um
período de cerca de um ano no qual a cota da albufeira variou dentro de uma faixa estreita, indiciam a
existência de um efeito sazonal, em particular no fundo do vale, com afluências no Inverno
significativamente superiores às verificadas no Verão. Este comportamento poderá estar associado ao
efeito da sazonalidade nos deslocamentos da barragem. Nomeadamente nos extensómetros localizados no
fundo do vale, na zona de montante, registaram-se empolamentos no Inverno e assentamentos no Verão,
o que poderá indiciar a ocorrência de movimentos de abertura e fecho do contacto maciço rochoso / betão,
nessa zona. Pese embora os caudais afluentes totais não sejam particularmente elevados, afigura-se
relevante dar continuidade ao acompanhamento, no sentido de detetar atempadamente uma
eventual tendência de evolução desfavorável dos valores máximos anuais.

Regista-se, ainda, que apesar de se verificar um comportamento sazonal nos drenos com maiores
afluências, tal aparenta não se verificar nos piezómetros, o que indicia um comportamento adequado, no
global, da rede de drenagem.

Na Figura 13 apresentam-se os resultados obtidos nos drenos e piezómetros localizados ao longo da galeria
geral de drenagem (e pontualmente na galeria de visita GV2) no final de Janeiro de 2018. Tal como sucede
na Figura 8, assinalam-se apenas os valores de caudal afluente a drenos iguais ou superiores a 2 l/min.

É possível constatar que os valores de subpressão que se verificam ao longo da fundação são de forma
geral reduzidos, inclusive nas zonas onde anteriormente se registaram valores considerados elevados. O
valor médio da subpressão registada nos piezómetros de montante, após execução dos drenos
complementares, tem-se mantido abaixo de 20% da carga da albufeira. Quanto aos caudais afluentes aos
drenos, mantém-se o fundo do vale como a zona com valores mais elevados, apesar do incremento
verificado na margem direita, resultante da execução dos drenos complementares. Não obstante, podem
considerar-se aceitáveis tanto os valores registados nessas zonas quanto o caudal total afluente aos drenos.

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Figura 13 – Alçado planificado com representação dos resultados obtidos nos drenos e piezómetros da galeria geral de
drenagem / galeria de visita GV2 (Janeiro de 2018) e das estruturas geológicas principais cartografadas na fundação

7- CONCLUSÕES

A barragem de Foz Tua revelou um comportamento adequado durante o primeiro enchimento da albufeira,
tal como se concluiu das análises aos resultados dos dispositivos que integram o sistema de observação e
da sua comparação com os resultados dos modelos desenvolvidos em Projeto, bem como das visitas de
inspeção realizadas. Não obstante, em relação ao comportamento hidráulico da fundação, identificaram-se
zonas com valores de pressão ou caudal considerados elevados, que passaram a ser alvo de uma atenção
particular.

A análise da informação geológico-geotécnica disponível, dos resultados dos ensaios de diagnóstico


realizados para obtenção de informação adicional e da tendência de evolução das grandezas observadas
permitiram apoiar a tomada de decisões quanto às zonas que deveriam ser alvo de medidas corretivas.

Como resultado, decidiu-se intervir em zonas que apresentavam subpressões elevadas, tendo para tal sido
realizados drenos complementares que surtiram o efeito de redução pretendido. Foi ainda executado um
piezómetro adicional para maior discretização da informação referente à distribuição da subpressão ao
longo da fundação.

Sendo o primeiro enchimento da albufeira a fase mais crítica da vida da obra em termos do risco envolvido,
ficou bastante evidente a importância de um acompanhamento próximo nesse período para identificar
eventuais desvios em relação ao esperado e permitir, quando necessário, uma adequação atempada das
redes de drenagem e piezometria previamente executadas. Tal acompanhamento deve naturalmente
estender-se à fase de exploração da obra, no sentido de detetar, em tempo útil, eventuais tendências de
evolução desfavorável dos valores registados, tanto de subpressão quanto de caudal afluente aos drenos.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam os seus agradecimentos à Barragem de Foz Tua, ACE e ao consórcio FASE/GIBB,
responsáveis respetivamente pela execução e fiscalização da empreitada geral do Aproveitamento
Hidroelétrico de Foz Tua. Uma palavra especial de reconhecimento é devida pelos valorosos contributos da
Eng.ª Wendy Malvar (consórcio FASE/GIBB) no acompanhamento da obra e do primeiro enchimento da
albufeira, bem como do Sr. Paulo Santos (EDP Produção) no acompanhamento dos ensaios para diagnóstico
e da implementação das medidas complementares. A interação de ambos com a equipa projetista foi um
fator relevante para o sucesso daquelas etapas.

REFERÊNCIAS

COBA (2011-2018) – Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua – Projeto de Execução referente à barragem.
Decreto-Lei n.º 344/2007 (2007) - Regulamento de Segurança de Barragens (RSB).
EDP Produção (2010) – Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua – Projeto para licenciamento referente à barragem.

EDP Produção (2014-2017) – Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua – Projeto de Execução do tratamento de fundação.

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EDP Produção (2015) – Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua – Plano de Primeiro Enchimento da Albufeira.

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CONDICIONAMENTOS À REABILITAÇÃO DE ATERROS EM ESTRADAS DE


MONTANHA – CASO DE ESTUDO NA EN230

CONSTRAINTS TO THE REHABILITATION OF EMBANKMENTS IN MOUNTAIN


ROADWAYS – CASE STUDY ON EN230

Martins, Lara; IP, S.A., Lisboa, Portugal, lara.martins@infraestruturasdeportugal.pt


Pedrosa, Mário; IP, S.A., Lisboa, Portugal, mario.pedrosa@infraestruturasdeportugal.pt
Leal, Carolina; IP, S.A., Lisboa, Portugal, carolina.leal@infraestruturasdeportugal.pt
Cruz, Sónia; IPE, S.A., Lisboa, Portugal, sonia.cruz@ipengenharia.pt
Cardoso, Ana; IP, S.A., Lisboa, Portugal, ana.cardoso@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

A reabilitação de aterros rodoviários com alturas apreciáveis obriga, frequentemente, a uma avaliação
preliminar do benefício técnico-económico da solução a executar, função quer da(s) tipologia(s) de
instabilidade(s) detetada(s) quer da ponderação de fatores socio-económicos intrínsecos. Quando, à
necessária reabilitação do aterro, se associam: i) a premência em restabelecer a circulação rodoviária, ii)
a sinuosidade de um traçado de estrada em montanha, iii) condições geotécnicas e hidrogeológicas
particulares e iv) a necessidade de preservar e/ou reabilitar estruturas em alvenaria antigas e enterradas,
é-se confrontado com um conjunto de importantes condicionalismos ao desenvolvimento de uma solução
expedita. No presente artigo são descritas, e ilustradas com registos de obra, as principais premissas que
suportaram a escolha da solução de reabilitação de um aterro na Estrada Nacional 230, onde a circulação
havia sido interrompida no seguimento de escorregamentos significativos nos seus taludes.

ABSTRACT

The rehabilitation of road embankments of considerable heights often raises the demand for a preliminary
cost-benefit assessment of the designed solution, due to both the type of instability detected and the
weighing of intrinsic socioeconomic factors. When, to the necessary rehabilitation of the embankment, one
associates: i) the urge to restore road traffic, ii) the sinuosity of a mountain road layout, iii) specific
geotechnical and hydrogeological conditions and iv) the need to preserve and/or rehabilitate buried old
masonry structures, one gets confronted by a set of important constraints towards the achievement of a
swift solution. This article highlights, and illustrates with records from a case study, the foremost premises
supporting the development of the solution regarding the rehabilitation of a roadway embankment on
EN230, where road traffic had been suspended following the identification of several substantial slip
surfaces on the embankment slopes.

1- INTRODUÇÃO

Na presente comunicação pretende-se expor os principais condicionalismos referentes à reabilitação de um


aterro de uma estrada nacional, localizada em ambiente de montanha em pleno parque natural da Serra
da Estrela. Este caso de estudo decorre de eventos graves de instabilidade verificados nos taludes de aterro,
materializados por escorregamentos significativos que tiveram origem numa rotura na passagem hidráulica
existente na base do aterro rodoviário.

O aterro em questão situa-se ao km 160+400 da EN230, junto à povoação de Teixeira de Cima, no concelho
de Seia, distrito da Guarda – ver Figura 1. Neste troço, a EN230 insere-se no corredor do Itinerário
Complementar 6, constituindo a principal via de acesso local entre Vide e Unhais da Serra. No local em
apreço, esta estrada descreve uma curva de raio reduzido e desenvolve-se sobre um aterro com 12 m de
altura, associado a um perfil típico de transposição de um vale “encaixado”, onde cursam linhas de água
vigorosas sob o maciço rochoso sub-aflorante.

Do lado direito da rodovia, os abruptos desníveis no curso da linha de água destacam a presença de uma
queda de água, que levou à necessidade de suportar o talude com um muro de contenção com cerca de
9 m de altura subjacente a um talude de aterro de altura inferior a 3 m e, do lado esquerdo, o talude
desenvolve-se com uma inclinação geral de 1/1.5 (V/H) atingindo alturas de 12m. Na base do aterro e do
muro de contenção, foram identificadas duas estruturas hidráulicas, uma das quais garante o
atravessamento à via de uma linha de água (Passagem Hidráulica) e a outra (Aqueduto) permite o acesso
a uma “mina de água” e o aproveitamento de águas para rega com ligação a um reservatório de água
existente a jusante.

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Figura 1 – Localização do talude sobre cartografia militar

A intervenção neste talude decorre de escorregamentos nos taludes de aterro, de ambos os lados da
plataforma rodoviária, criando “cavidades” nos taludes que ocupavam uma área (em planta) na ordem dos
180 m2. No local constatou-se que as cavidades identificadas coincidiam com o alinhamento em planta das
estruturas hidráulicas. Relativamente à Passagem Hidráulica (PH), e por aferição do que foi possível
observar junto às bocas, depreendeu-se que as paredes seriam constituídas por pedra argamassada, com
teto reforçado em betão e exibindo na base o maciço rochoso local. Constatou-se ainda que a PH descrevia
no seu interior mudanças de direção, bem como “degraus”, tendo ocorrido a ruína de uma das suas paredes
numa destas inflexões. Refira-se que a reduzida secção destas estruturas hidráulicas, aliada à falta de
condições de segurança em consequência da rotura da parede da PH, dificultaram fortemente a avaliação
do estado de integridade das mesmas em todo o seu desenvolvimento.

Face à ausência de patologias no muro em alvenaria de pedra que suporta o aterro do lado direito, bem
como à inexistência de evidências de fenómenos de instabilização global (tais como patologias no próprio
pavimento rodoviário ou anomalias nos terrenos agrícolas contíguos à base do aterro), concluiu-se que as
instabilidades verificadas ao nível dos taludes se encontravam fundamentalmente associadas à ruína parcial
da Passagem Hidráulica. As Figuras 2 a 7 procuram enquadrar o descrito.

Figura 2 – Perspetiva geral do escorregamento no talude Figura 3 – Vista das bocas de entrada da Passagem
do lado esquerdo e da boca de saída do Aqueduto Hidráulica e do Aqueduto na base do muro (lado direito)

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Figura 4 – Vista de jusante da boca de saída da Figura 5 – Pormenor da secção de entrada da Passagem
Passagem Hidráulica Hidráulica, evidenciando “degraus”

Figura 7 – Pormenor da “cavidade” verificada no tardoz


do muro (lado direito)

Figura 6 – Perspetiva do muro de suporte existente em


alvenaria de pedra (lado direito)

Tendo por base este contexto, procurar-se-á nesta comunicação apresentar as soluções adotadas em fase
de projeto de execução para a reabilitação deste talude. Assim, e numa primeira fase, será feito um breve
enquadramento dos trabalhos de prospeção executados no âmbito do projeto de execução, após o qual se
procurarão salientar os principais condicionalismos à escolha e definição da solução e abordar alguns
pormenores relativos ao seu dimensionamento. Para um melhor enquadramento dos tópicos aduzidos,
serão apresentados alguns registos do acompanhamento técnico à empreitada, procurando evidenciar as
repercussões que as opções técnicas de projeto tiveram no decorrer da obra. No final, serão tecidas
algumas considerações gerais relativas a todo o processo de reabilitação deste talude.

2- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

A área em apreço localiza-se, do ponto de vista geológico, em terrenos pertencentes à Zona Centro-Ibérica,
dominada localmente por um substrato atribuído ao Complexo Xisto-Grauváquico ante-Ordovicico e séries
metamórficas derivadas (X) – ver Figura 8. Em face da premência em repor as normais condições de
circulação, foi efetuado um procedimento expedito de caracterização geológico-geotécnica que, não

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obstante, permitisse o reconhecimento efetivo do dispositivo geológico e geotécnico inerente. Para tal foram
realizadas cinco sondagens mecânicas, ensaios de penetração dinâmica (SPT), e ensaios laboratoriais de
caracterização, que permitiram identificar um substrato metamórfico constituído por xistos quartzo-
micáceos e filitos micáceos, compactos, resistentes, pouco alterado (W2) e geralmente muito fraturado
(F5-4), recobertos por aterros (At), depósitos coluvionares (Co/a) e solos orgânicos (So).

Figura 8 – Localização do talude sobre Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000 – Folha 20-B, Covilhã

Com os dados adquiridos, e pese embora o caráter pontual da amostragem, associada aos trabalhos de
prospeção, foi possível inferir um cenário geológico e geotécnico interpretativo da zona alvo de intervenção,
destacando-se a presença de aterros descomprimidos constituídos por seixos de calibre variável, em matriz
areno-siltosa, classificados como (GM)s de acordo com a Classificação Unificada. Estes materiais constituem
a atual plataforma rodoviária (4<NSPT<15) com espessuras reconhecidas entre 7 e 12 m –ver Figura 9,
seguido a cotas inferiores por um substrato rochoso compacto, onde predomina a orientação de 70º dos
planos de xistosidade, de faces rugosas, por vezes lisas, com preenchimento de natureza argilosa com
caráter pontual, mas fortes evidências de circulação. Foram ainda identificados a jusante do aterro (lado
esquerdo), a presença de solos orgânicos e depósitos aluvio-coluvionares, cuja resistência mecânica é em
muito condicionada pelas condições hidrogeológicas ocorrentes.

Figura 9 – Perfis Geológicos Interpretativos do troço em análise

Do ponto de vista hidrogeológico apenas foram detetados níveis de água em alguns dos locais prospetados
e a profundidades que os associam à zona de transição aterro/substrato rochoso. De facto além da litologia
(maciço metamórfico com permeabilidade em grande), a morfologia concorre para o controle da infiltração,
uma vez que, os declives acentuados no vale de montanha conduzem a um escoamento rápido, pouco
propício à infiltração.

Sobre as amostras intactas recolhidas referentes aos materiais de aterro, foram realizados 3 ensaios de
corte direto, cujos resultados revelam um ângulo de atrito interno entre os 35 e os 41º e uma coesão
efetiva entre os 42 e os 70 kPa.

Complementarmente, realizaram-se duas carotes horizontais na obra de contenção existente, de modo a


identificar as características e espessura desta estrutura de construção antiga e eventuais implicações na
definição da solução preconizada.

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3- CONCEÇÃO DA SOLUÇÃO

3.1 - Considerações Gerais

Apresentado o cenário geológico-geotécnico presente, e face ao diagnóstico traçado, definiu-se em fase de


projeto uma solução de reposição da planta/perfil do aterro rodoviário nas suas condições iniciais,
envolvendo a execução de novas estruturas hidráulicas, com secções compatíveis com os caudais existentes
e com exigências de manutenção futuras, e ainda de um novo muro de contenção, que responda
simultaneamente aos esforços instalados e às disposições construtivas de segurança a imprimir para
alcançar o interior/fundação do aterro.

Esta solução, pese embora implique a mobilização de um volume significativo de terras (a escavar e,
posteriormente, a repor), constitui um compromisso de melhor eficiência face às patologias identificadas,
aos condicionalismos identificados, e à necessidade de assegurar adequados níveis de fiabilidade e
manutenção da infraestrutura rodoviária a longo prazo.

Assim, de um modo geral, definiu-se uma solução que previa a demolição e reconstrução do aterro e da
plataforma rodoviária, em cerca de 158 m de extensão, e incluindo a substituição das estruturas de
contenção e de drenagem transversal existentes. A substituição das estruturas hidráulicas justifica-se quer
por o seu desempenho se encontrar comprometido quer porque as necessárias ações de
conservação/reforço se revelavam impraticáveis para a secção e condições de segurança existentes.
Complementarmente, e uma vez que se iria intervir nestas estruturas, previram-se algumas disposições
construtivas adicionais de reforço/reabilitação do conjunto, nomeadamente ao nível da drenagem interna.

As condições topográficas associadas às instabilidades presentes no local, levaram à necessidade de prever


em projeto a criação de acessos para equipamentos que, na medida do possível, foram projetados a partir
da plataforma rodoviária, em complementaridade com a solução projetada e de modo a minimizar a
afetação de terrenos particulares contíguos.

Nas Figura 10 e Figura 11 apresenta-se a planta e o perfil transversal tipo da solução adotada, tendo como
referência o perfil geológico interpretativo inferido em fase de projeto.

Figura 10 – Planta de localização das intervenções adotadas em projeto

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Figura 11 – Perfil transversal tipo da solução adotada em projeto

3.2 - Condicionalismos Existentes

Desde logo, o principal condicionalismo a considerar para a escolha e definição da solução de reabilitação
consistia na necessidade de reduzir, tanto quanto possível, o período de interrupção da circulação rodoviária
na EN230, uma vez que o percurso alternativo provisório obrigava a um desvio de mais de 30 km num
percurso de montanha. Simultaneamente, impunha-se que os trabalhos a preconizar na demolição do
aterro e reconstrução da PH, se efetuassem em período de estio, quando o caudal da linha de água seria
menor.

Por outro lado as soluções a promover teriam que necessariamente cingir-se à área associada à
infraestrutura rodoviária, minimizando a área de afetação de terrenos e estruturas contíguas, bem como a
necessidade de minimização dos impactes ambientais associados, uma vez que, o local se insere no Parque
Natural da Serra da Estrela (PNSE), e simultaneamente em áreas de RAN, REN e Domínio Publico Hídrico.
Neste âmbito, em projeto, a missão de reutilizar o material de aterro existente, ainda que parcialmente e
após adequada gestão, revelava-se uma premissa de projeto, até porque eventuais manchas de
empréstimo de materiais se encontravam bastante afastadas da frente de obra.

Ao se perspetivar a execução de novas estruturas, nomeadamente em betão armado, o facto de a


intervenção se localizar a distâncias consideráveis (em extensão e tempo de percurso) de uma central de
betão, poderia igualmente resultar em condições muito desfavoráveis à execução de uma obra de arte.
Ainda neste contexto foram, adicionalmente, equacionadas as seguintes premissas em fase de projeto:

i. Otimização dos rendimentos de compactação do aterro, através da viabilização da utilização de


cilindros vibradores num maior volume de aterro, tendo sido verificada a solução estrutural do
muro projetado para os acréscimos de tensão induzidos pela compactação nas condições
expectáveis em obra;

ii. Preconização de um período de cura mínimo entre a betonagem de um dado troço do muro e a
execução de qualquer camada contígua ao mesmo, de forma a evitar o aparecimento de fendas
nestas estruturas. Dependendo este estado limite da resistência do próprio betão e da taxa de
armadura do elemento, e por forma a acelerar o processo construtivo (e, consequentemente,
diminuir o prazo da empreitada), avaliou-se em fase de projeto uma resistência mínima que deveria
ser obtida nos ensaios de controlo de qualidade do betão, a partir da qual seria viável a execução
de camadas de aterro junto ao elemento em questão.

Do ponto de vista geotécnico, e face ao carácter pontual do reconhecimento efetuado referem-se as


incertezas associadas à localização do maciço rochoso no alinhamento das fundações quer do muro de
contenção quer das estruturas hidráulicas. Estas incertezas condicionaram não apenas a geometria das
secções idealizadas, mas principalmente o seu comportamento estrutural, uma vez que conviria que os
seus pontos de apoio (p.ex. contrafortes) se localizassem em pontos de reconhecimento efetivos à data de
projeto. Ainda neste âmbito, e face às incertezas existentes, ter-se-ia que admitir soluções pontuais de
reforço na fundação em caso de desnível de cotas relativamente ao previsto.

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Importa referir que, paralelamente a estes condicionamentos ao projeto, coexistia também no local uma
mina de água na base do aterro associada ao aqueduto, cuja presença era reportada por vários
responsáveis locais, mas cuja localização, tipologia e extensão eram desconhecidas. Dada a impossibilidade
de caracterização desta mina de água à data de execução do projeto, e desconhecendo-se de que modo se
processaria a interseção desta mina no aqueduto (hasteais, tecto, etc.), ou até mesmo o modo e tipo de
captação que permitiria a recolha e encaminhamento da água, este foi um importante condicionamento ao
dimensionamento do novo aqueduto.

Finalmente, a intervenção a realizar teria também que garantir, durante e após os trabalhos, a continuidade
das condutas de abastecimento de água à população, que se localizavam sobre a berma rodoviária
esquerda.

3.3 - Nova Passagem Hidráulica

Com base nos diversos condicionamentos mencionados anteriormente, nomeadamente geométricos,


hidráulicos, geológico-geotécnicos, etc., determinou-se o perfil longitudinal e secções transversais das duas
estruturas enterradas, designadas por Passagem Hidráulica e Aqueduto.

3.3.1 - Dimensionamento hidrológico e hidráulico

No que se refere à Passagem Hidráulica (PH) foi realizado o seu estudo hidráulico considerando o caudal
de ponta de cheia (9,83 m3/s), para um período de retorno de 100 anos, obtido no estudo hidrológico da
linha de água.

A secção da PH foi definida tendo em conta, não só considerações hidráulicas, como também o seu inter-
relacionamento com o espaço disponível entre os contrafortes do muro de contenção, isto é, pela
necessidade de situar as bocas de entrada de ambas as estruturas hidráulicas entre os contrafortes do
muro.

Por questões de dificuldade de implantação da passagem hidráulica, cujas características do terreno


conduzem a uma inclinação elevada da estrutura (declive médio de aproximadamente 17%), inviabilizando
a opção por uma solução clássica, optou-se pelo dimensionamento da PH com soleira em degraus.

Assim, na procura de um eficiente desempenho hidráulico da estrutura, face às condicionantes existentes,


foi definida uma estrutura em secção retangular de altura útil disponível de 2,5 m, em degraus com espelho
de 1,0 m e patamares com 5,0 m, num total de 7 degraus, e com uma inflexão em planta na zona do 4º
degrau.

O declive da linha de água natural imediatamente a montante da passagem hidráulica é forte, pelo que se
admitiu que o escoamento ocorreria em regime rápido à entrada do aqueduto, com uma altura pequena e
uma velocidade elevada. No interior da passagem hidráulica, o declive era igualmente acentuado, pelo que
o escoamento permaneceria em regime rápido. No entanto, era também viável assumir que, devido às
perdas de energia na zona de transição do leito natural para a passagem hidráulica, o escoamento ocorra
em regime crítico na secção inicial do mesmo. Assim, e por ser a opção de cálculo menos favorável em
termos de avaliação da capacidade de vazão da passagem hidráulica, foi considerada esta última hipótese
no dimensionamento desta estrutura.

O dimensionamento hidráulico foi baseado na metodologia proposta por Boes e Hager (2003), cujas
formulações se baseiam em resultados experimentais obtidos em modelos reduzidos de estruturas em
degraus que formam ângulos com a horizontal de 30, 40 e 50º. No presente projeto, admitiu-se a
aplicabilidade destas formulações ao dimensionamento da passagem hidráulica em questão, a qual
descreve um ângulo de 11,31º.

Neste contexto, e de acordo com as formulações dos referidos autores, numa estrutura com soleira em
degraus, dois tipos de escoamento poderão ocorrer, em função do caudal circulante e da inclinação da
estrutura: i) escoamento em quedas sucessivas e; ii) escoamento deslizante sobre turbilhões. Na passagem
hidráulica ter-se-á escoamento deslizante sobre turbilhões e não se atinge o regime uniforme na saída da
estrutura, tendo-se assim um regime gradualmente variado. Obteve-se desta forma um valor de Hres de
4,15 m, um valor da altura de água, hw, de 1,40 m e uma velocidade no pé da estrutura de 3,51 m/s – ver
Figura 12.

No que concerne ao aqueduto, este não restabelece uma linha de água, dando apenas acesso a uma mina
de água existente sob o aterro e, promovendo o encaminhamento das águas provenientes desta para o
tanque existente a jusante. Não foi possível identificar em fase projeto a localização desta mina, pelo que
se optou por adotar características para a nova estrutura (aqueduto) idênticas às da estrutura existente,
tendo sido admitido o eventual preenchimento da mina e encaminhamento das águas pelo aqueduto, bem

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como a colocação de uma malha de geodrenos sub-horizontais. Em fase de obra, este grau de incerteza
motivaria adaptações ao projeto face à realidade reconhecida.

Figura 12 – Características de dimensionamento da passagem hidráulica

3.3.2 - Dimensionamento estrutural

A solução estrutural para a Passagem Hidráulica consistiu num quadro fechado em betão armado, com uma
extensão total de cerca de 40,00 m e os degraus do tecto desfasados dos degraus na soleira em 3,00 m.
Sensivelmente a 17,00 m da boca de entrada da Passagem Hidráulica previu-se uma junta de dilatação,
na localização da inflexão em planta da mesma (ver Figuras 13 e 15). As secções transversais tipo são de
1,50 x 2,50 m2 e 1,50 x 3,50 m2 com laje, soleira e montantes com 0,25 m de espessura. A solução
estrutural para o Aqueduto consistiu igualmente num quadro fechado em betão armado, com uma extensão
total de cerca de 30,60 m (ver Figuras. 14 e 16). A secção transversal consiste numa secção útil de 1,00 x
1,50 m2, com laje, soleira e montantes com 0,25 m de espessura. Nos quatro cantos interiores dos quadros
previram-se chanfros de 0,20 m x 0,20 m, de forma a melhorar a rigidez dos nós.

Figura 13 – Planta da Passagem Hidráulica


Figura 14 – Planta do Aqueduto

Figura 15 – Corte Longitudinal da Passagem Hidráulica Figura 16 – Corte Longitudinal do Aqueduto

A análise estrutural destas estruturas hidráulicas foi efetuada com recursos a modelos planos, simulados
no programa de cálculo automático SAP2000 através de elementos de barra. A interação solo/estrutura na
laje de soleira foi modelada através de apoios elásticos verticais. Para além disso, foram consideradas as
ações e combinações de ações correntemente utilizadas para esta tipologia de estruturas, nomeadamente
as ações permanentes (peso próprio e impulso de terras) e as ações variáveis (sobrecarga rodoviária,
sobrecarga em estruturas enterradas, neve e ação sísmica). De salientar que, para a verificação do estado
limite de serviço, a abertura de fendas foi limitada a 0,2 mm, tendo em conta um ambiente moderadamente
agressivo do local (sujeito a ciclos de gelo/degelo).

Finalmente, importa referir que, em projeto, se procurou compatibilizar a localização da inflexão em planta
da PH quer com os pontos de reconhecimento geológico e geotécnicos interpretados (pontos de apoio) quer
com a localização dos degraus, decorrentes do dimensionamento hidráulico.

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3.4 - Muro em betão armado com contrafortes

No âmbito desta intervenção, previu-se a execução de um muro em T invertido, com uma secção
transversal variável em função da altura de aterro a suportar. O fuste do muro apresentaria uma largura
mínima de 0,4 m no topo, aumentando em altura a uma razão de 1H:25V, sendo encabeçado por um
murete de guarda com 0,5 m de altura e 0,4 m de largura. Na maior parte da sua extensão o muro seria
suportado por uma sapata com 0,8 m de altura e 4,0 m de base, descentrada 0,45 m para o interior do
aterro, relativamente ao eixo do murete de guarda – Secção Tipo I, ver Figura 17 e Quadro 1. No entanto,
na sua secção mais alta, a sapata teria 6,0 m de base, estando descentrada 0,95 m para o interior do
aterro, relativamente ao eixo do murete de guarda – Secção Tipo II, ver Figura 18 e Quadro 1.

Figura 17 – Secção transversal tipo I do muro em Figura 18 – Secção transversal tipo II do muro em
betão armado betão armado

Quadro 1 – Características geométricas das secções transversais tipo do muro em betão armado
Secção B1 B2 B3 H1 H2 (máx.) H3 E1 E2 E3
Tipo (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m) (m)
I 1,50 2,00 0,50 0,50 9,50 0,80 0,40 0,40 1,50
II 2,05 3,45 0,50 0,50 10,60 0,80 0,40 0,40 3,00

Por forma a assegurar uma distribuição mais uniforme dos esforços mobilizados no fuste do muro, e tendo
em consideração a necessidade de moldar a sapata ao maciço rochoso sub-aflorante, previu-se a execução
de quatro contrafortes no intradorso, com uma espessura de 0,50 m e uma largura no topo de 0,40 m. Os
contrafortes extremos teriam um comprimento na base de 1,50 m e os contrafortes intermédios, que
coincidiriam com a localização das paredes das novas estruturas hidráulicas, apresentariam um
comprimento na base de 3,00 m.

De igual modo, para evitar excentricidades elevadas na sapata e garantir as condições de fundação
assumidas para o cálculo do muro, seriam executadas pregagens de reforço Ø32 mm em aço A500 NR,
com 5,0 m de comprimento e seladas com calda de cimento em furos de 101 mm de diâmetro. Todas as
pregagens seriam embebidas na sapata e ligadas à armadura da face superior desta por intermédio de
dobragem do varão e entrega de 0,50 metros para o interior da sapata.

Por forma a melhorar o comportamento do conjunto muro/estruturas hidráulicas na localização das bocas
de entrada (aberturas em laje), optou-se pelo reforço estrutural do septo entre as duas estruturas,
conferindo maior rigidez global às estruturas neste ponto particular. Deste modo, foi realizado um modelo
tridimensional para a verificação do efeito do conjunto muro / aberturas de entrada das estruturas
hidráulicas (Figura 19), recorrendo para tal ao programa de cálculo automático de elementos finitos
SAP2000 e modelando os contrafortes e septo por intermédio de elementos de barra e o paramento do
muro através de elementos de casca, tendo em conta a variabilidade de espessura dos diversos elementos
em altura.

Complementarmente, para o dimensionamento estrutural do novo muro de contenção em betão armado,


além das ações de cálculo usualmente contabilizadas (tais como o peso próprio do muro, o peso do material
de aterro e a sobrecarga rodoviária), foram igualmente considerados os acréscimos de tensão no muro

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provocados pela compactação do próprio aterro. A contabilização desta ação visou, acima de tudo, balizar
o tipo de equipamento de compactação passível de ser utilizado em obra e otimizar a distância em relação
ao tardoz do muro a partir da qual a sua utilização não seria permitida.

Figura 19 – Modelo Tridimensional do Muro de Suporte

Neste contexto, foi adotado um veículo tipo de 8 toneladas, equipado com um cilindro com 1.60 m de
comprimento e que, em baixas frequências, transmite à camada a compactar uma força centrífuga de
110 kN, correspondendo a uma sobrecarga de cerca de 120 kN/m. Para este veículo tipo avaliaram-se os
diagramas de tensão horizontal mobilizados no tardoz do muro através da metodologia simplificada
proposta por Terzaghi et al. (1996), segundo a qual estes serão limitados por:

i. Pressão horizontal devida ao peso próprio do aterro compactado, avaliada segundo a expressão [1]
na qual Ø’ representa o ângulo de atrito efetivo do solo, γ o seu peso volúmico e z a profundidade
relativamente ao topo do aterro;

𝜎′ℎ =(1 − sin ∅′)𝛾𝑧 [1]

ii. Pressão horizontal correspondente ao estado de equilíbrio limite passivo, definida pela equação [2].
Esta expressão traduz a condição de que as pressões laterais não poderão exceder o limite passivo
do solo;
∅′
𝜎′ℎ =𝑡𝑎𝑛2 (45 + ) 𝛾𝑧 [2]
2

iii. Pressão horizontal resultante do peso do aterro e das tensões residuais induzidas pela
compactação, traduzidas pela expressão [3]. Nesta equação Δσh corresponde ao acréscimo de
pressão decorrente da compactação, podendo ser estimado através da expressão [4], onde p
representa a sobrecarga transmitida pelo cilindro, ν o coeficiente de Poisson do material de aterro
e x1 e x2 as distâncias entre o tardoz do muro e, respetivamente, o início e fim da linha de atuação
da sobrecarga;
1
𝜎′ℎ =(1 − sin ∅′)𝛾𝑧 + (5sin ∅′ − 1)∆𝜎ℎ [3]
4
𝑝 1 1−2𝜈 1 1−2𝜈
∆𝜎ℎ = ( 3⁄2 − 1⁄2 − 3⁄2 + 1⁄2 ) [4]
𝜋𝑧 𝑧 2 𝑧 2 𝑧 𝑧 2 𝑧 2 𝑧
[1+( ) ] [1+( ) ] + [1+( ) ] [1+( ) ] +
𝑥2 𝑥2 𝑥2 𝑥1 𝑥1 𝑥1
iv. Um perfil de pressões laterais definidos por uma linha que delimita as pressões laterais residuais
resultantes da aplicação e compactação das sucessivas camadas de aterro. Esta envolvente inicia-
se no ponto máximo da equação [3] e aumenta linearmente com a profundidade de acordo com a
expressão [5].
1−sin ∅′
∆𝜎′ℎ = (5 − 5sin ∅′ )𝛾∆𝑧 [5]
4

A Figura 20 esquematiza a forma como as quatro condições expostas deverão ser contabilizadas na
determinação do diagrama de tensões resultante, bem como a aplicação desta teoria ao muro em análise,
assumindo que o cilindro não circulará a menos de 1,0 m do tardoz do muro.

A adoção desta metodologia de cálculo permitiu ainda avaliar com maior precisão os esforços atuantes em
serviço correspondentes à fase de obra e, consequentemente, a determinação da resistência mínima a
obter durante o controlo de qualidade do betão que viabilizasse a execução de camadas de aterro junto às
estruturas.

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Figura 20 – Método para cálculo das pressões induzidas pela compactação de um aterro contra uma parede vertical
rígida. Diagrama esquemático à esquerda (adaptado de Terzaghi et al, 1996) e a aplicação ao muro projetado à direita

3.5 - Acompanhamento à obra

Os trabalhos de escavação realizados para atingir o interior do aterro e fundação das estruturas hidráulicas
existentes, consubstanciaram na generalidade, o cenário geológico e geotécnico interpretado, exceção feita
à identificação de uma espessura de materiais com fracas características geotécnicas, superior à prevista,
numa zona pontual de um dos lados da fundação do muro – ver Figura 21. Na sequência da identificação
desta espessura adicional, houve necessidade de proceder a adaptações na geometria da fundação do
muro, nomeadamente ao rebaixamento pontual da cota de fundação. Não obstante, estas adaptações não
se traduziram em alterações significativas no dimensionamento estrutural do próprio muro, nem num
acréscimo relevante das quantidades de trabalho contratadas, fruto das premissas consideradas em fase
de projeto – Figura 22.

Tal como se havia perspetivado em fase de projeto, durante a demolição das estruturas existentes foi
possível identificar e manter a mina de água existente, materializada por uma abertura (aproximadamente
0,60x1,40m) no hasteal do antigo aqueduto – Figura 23. Neste contexto, em obra foi materializada uma
abertura idêntica à existente no aqueduto novo, que permitisse o seu funcionamento, tendo a mesma sido
complementada com o necessário reforço estrutural do aqueduto.

Apresenta-se, na Figura 24, o aspeto geral da intervenção após a sua conclusão.

Figura 21 – Pormenor da espessura adicional de material Figura 22 – Pormenor da execução da sapata do muro e
não competente para fundação do muro da base das novas estruturas hidráulicas

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Figura 24 – Vista geral da fase final da intervenção

Figura 23 – Pormenor da mina de água no hasteal do


aqueduto existente

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conceção e otimização da solução de reabilitação preconizada resultaram de um processo iterativo


multidisciplinar, que passou necessariamente pela identificação das várias condicionantes e pela sua
compatibilização ao nível das diferentes especialidades de âmbito rodoviário.

Neste artigo, pretendeu-se assim expor os condicionalismos que estiveram na base da escolha e definição
da solução de reabilitação do aterro, em particular os que se relacionam com o ambiente de montanha
interessado, os relacionados com a imponderabilidade geológico-geotécnica e os inerentes à necessidade
de repor a circulação rodoviária no menor espaço de tempo.

Ao longo desta comunicação, procurou-se ainda destacar a importância que determinadas opções de
projeto tiveram no controlo processual e orçamental da empreitada, contribuindo significativamente para
que esta terminasse no prazo e orçamento previstos. Reforça-se ainda que estas opções de projeto
permitiram minimizar substancialmente as possíveis condicionantes na execução e os impactes ambientais
associados a uma empreitada de terraplenagens.

REFERÊNCIAS

Boes, R.M e Hager, W.H. (2003) - Hydraulic Design of Stepped Spillways, Journal of Hydraulic Engineering, Vol.129. No.
9.

Terzaghi, K., Peck, R.B. e Mesri, G. (1996) - Soil Mechanics in Engineering Practice, 3rd ed., John Wiley and Sons, New
York, NY, USA, 549 p.

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ESTUDO COMPARATIVO DE DIVERSAS TÉCNICAS DE COMPACTAÇÃO


LABORATORIAL

COMPARATIVE STUDY OF DIFFERENT COMPACTION TECHNIQUES

Pinheiro Silva, Joana; Militar da Força Aérea Portuguesa em RC, Portugal, silva.joanapinheiro@gmail.com
Araújo Santos, Luis; Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra, Portugal, lmsantos@isec.pt

RESUMO

A compactação de solos é uma das formas de melhoramento de maciços terrosos mais utilizados em todo
o mundo. Para alcançar os melhores resultados, torna-se necessário estudar previamente as propriedades
do solo que se pretende compactar, determinando-se nomeadamente o peso volúmico seco máximo e o
teor em água ótimo. No presente estudo, a determinação laboratorial destes parâmetros é feita recorrendo
a três ensaios diferentes que se distinguem pela forma como aplicam a energia de compactação ao provete,
permitindo desta forma validar um procedimento de ensaio proposto em estudos anteriores para um dos
equipamentos de compactação utilizados. Adicionalmente, para poder avaliar o efeito do tipo de
compactação em solos, são efetuados ensaios CBR e ensaios de compressão simples não confinada com
intuito de determinar a resistência à compressão bem como o módulo de deformabilidade. Por fim, é
verificada a aplicabilidade de formulações semi-empíricas disponíveis na literatura para avaliar os vários
parâmetros de compactação ou de resistência enunciados.

ABSTRACT

Soil compaction is probably one of the most widely used forms of soil improvement techniques in the world.
To achieve the best results, it is necessary to previously study the properties of the soil to be compacted,
namely the maximum dry unit weight and the optimum water content. In the present study, the laboratory
determination of these parameters is done using three different compaction technics that are distinguished
by the way they apply the compaction energy to the sample. The direct comparison of these technics will,
firstly, allow to validate a test procedure proposed in previous studies for one of the compaction equipment
used. In addition, in order to evaluate the effect of soil compaction type, CBR tests and triaxial UCS-type
tests are performed in order to determine the compressive strength as well as the deformability modulus.
Finally, the applicability of semi-empirical formulations available in the literature is evaluated to assess both
the various compaction or resistance parameters stated.

1- INTRODUÇÃO

A compactação de solos é, provavelmente, a técnica de melhoramento de maciços terrosos mais utilizada


na engenharia geotécnica e rodoviária. Com vista a avaliar a influência do tipo de compactação em vários
tipos de solos, nomeadamente em termos de comportamento mecânico, foram realizados três tipos de
ensaios laboratoriais de compactação: i) o ensaio Proctor (compactação dinâmica); ii) o ensaio de Harvard
(compactação estática) e iii) ensaio de compactação por vibração. A escolha destes três ensaios de
compactação deve-se ao facto de se pretender simular com maior exatidão as solicitações impostas pelos
meios de compactação in situ. Importa realçar que o recurso ao compactador miniatura de Harvard permite
também validar e dar continuidade a trabalhos anteriores efetuados no Instituto Superior de Engenharia
de Coimbra por Lopes (2014).

Tendo por base os resultados dos ensaios de compactação, este estudo incide igualmente sobre o
comportamento mecânico dos solos analisados, dando especial ênfase à comparação de dois dos ensaios
mais utilizados para avaliação (direta ou indireta) da resistência de solos. De facto, para a avaliação do
comportamento mecânico dos solos foram realizados dois ensaios: i) o ensaio CBR por ser o ensaio de
referência em engenharia geotécnica rodoviária e o ensaio de compressão simples não drenado e não
confinado (UCS) pela sua simplicidade de execução e por também se usualmente utilizado no estudo de
agregados. Embora este último ensaio seja mais usual na comparação das resistências de solos naturais e
tratados, a realização de ensaios UCS fornece uma base de comparação que permite inferir sobre a
influência que, para as mesmas condições, o tipo de compactação tem nos solos não só em termos de
resistência mas também em termos de deformabilidade.

Por fim, será avaliada a aplicabilidade de expressões semi-empíricas disponíveis na literatura da


especialidade para a estimativa não só do índice CBR e da resistência não confinada do solo, mas também
de correlação entre os dois últimos parâmetros.

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2- EQUIPAMENTOS E MATERIAIS DE INVESTIGAÇÃO

2.1 - Materiais utilizados

Todos os solos utilizados nos ensaios foram recolhidos no campo em estado natural. Três dos quatro solos
utilizados já tinham sido ensaiados em estudos anteriores, nomeadamente por Lopes (2014), estando
assim garantidas as características pretendidas para o estudo da compactação. No que concerne o quarto
solo, designado por “Remessa”, efetuaram-se os ensaios de determinação dos limites de consistência
segundo a NP143 (1969), a fim de se poder concluir qual a plasticidade do mesmo. Importa referir que
todos os solos foram previamente preparados segundo a especificação do LNEC E195-1966 para
posteriormente serem utilizados nos ensaios de compactação planeados, respeitando-se as condicionantes
de cada ensaio. No Quadro 1 apresentam-se os quatro solos estudados e as respetivas classificações
segundo a especificação E240-1970 do LNEC e a norma ASTM D2497-06.

Quadro 1 – Classificação dos solos


Índice de Constituintes Símbolo Nome do
Designação Grupo/subgrupo
grupo significativos do grupo grupo
Hospital Areia siltosa
A-4 1 Solo siltoso SC-SM
Pediátrico * ou argilosa
Zona
A-4 5 Solo siltoso SC Areia argilosa
Industrial *
Seixo e areia
Ladeiras * A-2-6 1 siltosa ou SC Areia argilosa
argilosa
Remessa A-6 4 Solo argiloso CL Argila magra
* Resultados publicados por Lopes (2014)

2.2 - Ensaios realizados

Os estudos laboratoriais consistiram, como referido na secção anterior, em ensaios de compactação, ensaios
de determinação do índice CBR e ensaios triaxiais do tipo UCS. Nas secções seguintes descrevem-se
sumariamente os vários ensaios.

2.2.1 - Ensaios laboratoriais de compactação

O estudo da compactação baseou-se na realização de três ensaios diferentes (Proctor, Harvard e


compactação por vibração). Como cada ensaio requer equipamentos diferentes e tem procedimentos
próprios, opta-se por apresentar isoladamente cada um deles. A escolha destes três métodos de
compactação resulta da necessidade de simular em laboratório o que acontece em obra. Embora o ensaio
mais divulgado internacionalmente seja o ensaio Proctor, as suas características próprias não lhe permitem
replicar de forma conveniente os mecanismos de compactação de todos os meios de compactação
existentes.

Estes três ensaios, apesar de partilharem procedimentos idênticos, diferem no método de aplicação da
carga ao solo. No ensaio Proctor, a compactação é feita dinamicamente por impacto, no ensaio com recurso
ao compactador miniatura de Harvard, a compactação é feita por pressão (compactação estática) e, no
ensaio de compactação por vibração, como o nome indica, por vibração.

Ensaio Proctor

O procedimento e equipamentos do ensaio Proctor encontram-se expostos e normalizados na especificação


E197-1966 do LNEC. Atendendo à grande divulgação deste ensaio nos meios técnicos e científicos, apenas
se refere que foram realizados ensaios para os dois níveis de energia preconizados (compactação leve e
pesada).

Ensaio de Harvard usando o procedimento MCH-ISEC/2014

O procedimento de ensaio de Harvard segue o procedimento proposto por Lopes (2014), tendo sido
designado por MCH-ISEC/2014. Este procedimento, tal como é referido pela autora, baseia-se em diversos
procedimentos, designadamente Wilson (1970) e pelo State Nevada Department of Transportation: Material
Division (TMN, 2008).

No procedimento adotado, a aplicação de energias de compactação diferentes resulta da combinação de


diferentes números de camadas e de molas com rigidezes diferentes. Assim, para uma compactação leve
utilizar-se-á a mola de 20lb, aplicando-se três ciclos de dez pressões em quinze segundos em quatro
camadas. Para a compactação pesada, o procedimento requer a utilização da mola de 40lb, sendo o provete
efetuado em cinco camadas e mantendo-se o número de pressões e a cadência. A sequência das pressões

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segue os padrões ilustrados na Figura 1. Lopes (2016) apresenta de forma detalhada o procedimento de
ensaio de compactação com o compactador miniatura de Harvard.

Figura 1 – Sequência de compactação (Lopes, 2016): a) primeira fase; b) segunda fase

Ensaio de compactação por Vibração

Para o ensaio de compactação por vibração, na ausência de normas nacionais, a preparação e realização
dos ensaios baseou-se na norma britânica BS1377 – part 4 de 1990, no ensaio Proctor e nas conclusões
de Caldeira e Brito (2007). Como referem estes últimos autores, verifica-se uma convergência do teor em
água obtido em ensaios de compactação por vibração com os resultantes de ensaios Proctor. Assim, as
amostras foram preparadas com os teores em água ótimos resultantes dos ensaios Proctor, sendo os
provetes obtidos pela compactação por vibração com diferentes camadas durante trinta segundos. Tendo
por base o ensaio Proctor, para simular uma compactação leve dividiu-se o solo em 3 camadas. Para uma
maior energia de compactação, o solo foi dividido em 5 camadas. Note-se que o tempo de vibração resulta
de uma análise de sensibilidade efetuada em ensaios prévios, tendo-se concluído que tempos superiores
induzem um grande aumento de temperatura dos provetes (até variações de +20ºC) que afetam
consideravelmente o teor em água final do provete (Silva, 2017).

O equipamento utilizado neste ensaio foi:


a) Molde cilíndrico metálico com 102,0 mm de diâmetro e 117,0 mm de altura;
b) Ponteira metálica acoplada a uma placa cilíndrica com diâmetro interior de 97 mm, e com uma
massa igual 1507,00 g;
c) Martelo elétrico;
d) Cronómetro

A obtenção dos provetes é muito semelhante ao procedimento estipulado para o ensaio Proctor, com
exceção do processo de compactação, remetendo-se para a E197-1966 do LNEC qualquer esclarecimento
adicional.

2.2.2 – Ensaios laboratoriais de caracterização do comportamento mecânico

A resposta mecânica dos provetes, preparados pelos três métodos de compactação descritos na secção
anterior, a solicitações foi avaliada e estudada recorrendo aos ensaios de Índice de Suporte de Califórnia
(CBR) e através de ensaios de compressão simples não confinada (UCS), cujas principais características se
descrevem seguidamente.

Ensaio de Índice de Suporte de Califórnia (CBR)

O ensaio mais frequentemente utilizado para avaliação indireta da resistência mecânica de um solo é o
ensaio CBR que, quer pela facilidade de execução quer pela sua grande utilização na área de engenharia
de pavimentos, é um índice que geralmente é utilizado como referência nos projetos de dimensionamento
de pavimentos.

O ensaio CBR tem assim como objetivo estimar um índice de resistência de um solo previamente
compactado para a sua utilização principalmente no dimensionamento de pavimentos. A sequência do
ensaio inicia-se com a determinação do teor em água ótimo e do peso volúmico seco máximo com recurso
a ensaios de compactação, procedendo-se de seguida à determinação das propriedades expansivas do
material e à determinação do índice CBR, como sugere Cunha (2014).

O procedimento do ensaio para a determinação do índice CBR está exposto na especificação E198-1967 do
LNEC. Essencialmente, consiste num ensaio de penetração de um êmbolo a velocidade lenta (1mm/min) e
constante num provete de solo previamente compactado com o teor em água ótimo. Durante o ensaio
devem ser registados os valores de penetração (mm) bem como a força de penetração em kgf. Após
correção da curva força-deformação, o índice CBR para as penetrações de 2,5 mm e 5,0 mm é obtido

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dividindo as forças para as deformações indicadas pela força de provetes padrão, respetivamente, 1355
kgf e 2033 kgf, respetivamente. Remete-se para a leitura da especificação E198-1967 do LNEC para uma
descrição mais detalhada do ensaio (equipamento, procedimento).

Ensaio de compressão simples não confinada (UCS)

Neste estudo também se realizou o ensaio de compressão simples não confinado (UCS), sendo que este
tipo de ensaio é muito popular e mais comum dos testes de resistência dos solos, devido à sua rapidez de
execução e economia. Para realizar um teste à compressão simples de amostra não confinada, a amostra
deve ser previamente tratada e tornada cilíndrica de tal maneira que as suas extremidades sejam
razoavelmente suaves e que a proporção entre o diâmetro e o comprimento seja 2. A amostra de solo é
colocada numa célula de carga e, sobre esta, é colocado um disco acrílico, onde é aplicada a carga axial a
uma velocidade constante. A carga é gradualmente aumentada para levar a amostra à rotura, sendo as
leituras da força aplicada e da deformação resultante registadas periodicamente. O aumento referido
continua até o solo desenvolver um plano de corte óbvio ou as suas deformações serem excessivas. Os
dados medidos são usados para determinar a resistência de amostra de solo e as suas características
tensão-deformação (Lai, 2004).

No presente estudo, a realização do ensaio é precedida da preparação dos provetes que resultam da
realização dos ensaios de compactação descritos na Secção 2.2.1. As dimensões dos provetes são 38 mm
de diâmetro e 76 mm de altura, com exceção dos provetes derivados da compactação com o compactador
miniatura de Harvard, cuja amostra resultante tem apenas 33,34 mm de diâmetro e 71,5 mm de altura
(Lopes, 2014). Os ensaios foram realizados numa prensa Wykeham Farrance modelo Tritech 50 kN e o
sistema de recolha de informações foi o Triaxial Automated System (Load Frame type) da GDSinstruments.
Para realizar a correta leitura também foram utilizados um defletómetro e uma célula de carga Mil U400
com a capacidade de 500kg.

Antes da realização dos ensaios, procedeu-se à calibração dos vários equipamentos de leitura. No presente
estudo, optou-se por calibrar a célula de carga com recurso ao método electrónico, tendo sido utilizada
uma célula de carga da NovaTech do tipo F256CFROKN, de caracteristicas S/N 24398 de 10kN, emprestada
pelo Laboratório de Geotecnia do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra. Quanto
à calibração do defletómetro, recorreu-se a um micrómetro cuja margem de erro é 0,001 mm.

3- ANÁLISE E TRATAMENTO DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS

3.1 - Resultados dos ensaios de compactação

Os resultados dos vários ensaios de compactação estão resumidos no Quadro 2. Analisando unicamente os
resultados dos ensaios de compactação pelo método de Proctor conclui-se que, como seria expectável, em
todos os solos o peso volúmico seco máximo é sempre superior na compactação pesada em relação à
compactação leve.

Na compactação pelo método de Harvard, observa-se que os valores da compactação leve e compactação
pesada andam muito próximos no que toca ao peso volúmico seco máximo. No primeiro solo (“Hospital
Pediátrico”), os valores são os mesmos. Nos dois solos seguintes (“Ladeiras” e “Zona Industrial”) a
compactação leve é ligeiramente superior. Por fim, no solo (“Remessa”), observa-se que o valor do peso
volúmico seco máximo na compactação pesada é consideravelmente superior ao da compactação leve.

Os resultados dos ensaios de compactação pelo método de Harvard com a mola de 40lb não foram os
esperados. De facto, a utilização de uma energia de compactação maior deve conduzir a pesos volúmicos
superiores. No entanto após várias repetições dos ensaios, os resultados foram sempre idênticos. Assim,
conclui-se que ou os ensaios foram afetados por um erro sistemático que não foi possível identificar ou
durante a compactação com a mola de 40lb, desenvolveu-se algum mecanismo de rotura do qual resulta
um solo mais fraco, nomeadamente por punçoamento

Na compactação por vibração observa-se que, à exceção de um solo (“Remessa”), o valor do peso volúmico
seco máximo na compactação pesada é superior ao obtido na compactação leve. Relativamente ao solo
“Remessa”, os valores dos pesos volúmicos secos máximos da compactação leve e da compactação pesada
encontram-se muito próximos. Esta diferença pode dever-se à alteração dos teores em água durante a
compactação devido ao aquecimento do solo ou, simplesmente, por esta técnica de compactação não ser
a mais adequada para este solo. De facto, a compactação por vibração só deve ser aplicada a solos arenosos
e, tal como está descrito no Quadro 1, contrariamente aos outros três solos que se classificam como sendo
areias, o solo “Remessa” é uma argila magra.

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No que toca ao teor em água ótimo, pode concluir-se que se verifica em todos os solos que este é superior
na compactação leve em relação à compactação pesada.

Quadro 2 – Quadro comparativo entre os três métodos de compactação analisados


Proctor Harvard Vibração
Hospital Pediátrico 12,70 12,40 12,00

Teor em água Ladeiras 13,60 13,00 12,60


(%) Zona Industrial 12,60 12,00 12,00

Compactação Remessa 15,70 17,10 16,20


Leve Hospital Pediátrico 18,10 17,00 19,60

Peso volúmico Ladeiras 18,30 18,20 19,10


seco (kN/m3) Zona Industrial 17,90 18,20 19,30
Remessa 17,00 16,40 17,30
Hospital Pediátrico 9,40 10,90 9,40

Teor em água Ladeiras 8,90 8,80 8,50


(%) Zona Industrial 7,80 7,80 7,60

Compactação Remessa 10,80 15,50 12,50


Pesada Hospital Pediátrico 20,10 17,00 19,90

Peso volúmico Ladeiras 19,90 17,90 20,70


seco (kN/m3) Zona Industrial 20,10 17,90 20,70
Remessa 19,50 17,60 16,80

Comparando os resultados da compactação leve, verifica-se que não existe nenhum padrão
comportamental distinto que permita concluir acerca da melhor ou pior adequação de um dado tipo de
ensaio laboratorial de compactação, em função do tipo de solo. De facto, se para a compactação pesada
parece existir uma clara tendência de obtenção de pesos volúmicos superiores como resultado da
compactação por vibração, o mesmo não se aplica na compactação leve. De facto, o valor máximo para os
solos “Hospital Pediátrico” e “Remessa” é obtido através da compactação de Proctor. Já nos solos “Ladeiras”
e “Zona Industrial” verifica-se este máximo na compactação por vibração.

A obtenção de melhores resultados na compactação pesada por vibração qualquer que seja o solo dever-
se-á, certamente, ao facto de se conseguir uma maior propagação em profundidade dos efeitos da
compactação, tal como acontece em obra com a utilização de cilindros vibratórios (Moreira, 2008).

Se os resultados obtidos forem analisados em função da granulometria dos solos, verificam-se também
algumas incongruências com o que seria de esperar. Por exemplo, seria expectável que os melhores
resultados obtidos por compactação pesada por vibração fossem referentes a um solo com uma
granulometria mais grossa. Contudo, é o solo com uma elevada percentagem de finos (“Zona Industrial”)
que apresenta maior peso volúmico. Já o resultado referente ao solo “Ladeiras” era espectável dado que
se trata do solo com maior percentagem de retidos no peneiro n.º 10 da série ASTM.

Do ponto de vista de execução dos ensaios verificaram-se as dificuldades próprias de cada tipo de ensaio.
Por exemplo, nos ensaios Proctor, verificam-se dificuldades de execução dos ensaios tanto para baixos
como para elevados valores de teores em água. Note-se que estes problemas foram mais significativos nos
ensaios com energia de compactação mais elevada. Já nos ensaios de compactação com o compactador
miniatura de Harvard, e para teores em água mais elevados, não é possível a correta penetração do martelo
de compactação, uma vez que, quando são aplicadas as pressões, a ponteira do martelo “cola-se” ao solo
a compactar. Devido à cadência da aplicação das pressões ter de ser constante, não é possível limpar a
ponteira e a superfície de compactação deixa de ser horizontal, afetando, certamente, os resultados obtidos.

3.2 - Resultados dos ensaios laboratoriais de caracterização do comportamento mecânico

Tal como é referido na Secção 2.2.2, foram realizados 2 tipos de ensaios laboratoriais de caracterização do
comportamento mecânico. Os resultados dos ensaios CBR, tanto para o do CBRi (sem embebição) como
para o CBR (com embebição durante 96 horas), estão expressos no Quadro 3. Como era espectável, o CBRi
é sempre superior ao CBR, qualquer que seja o tipo de solos e a penetração analisada.

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Quadro 3 - Comparação dos valores de CBR e CBRi


Força de CBRi Força de CBR
Penetração
Penetração Corrigido Penetração Corrigido
(mm)
(kgf) (%) (kgf) (%)
Hospital Pediátrico 2,5 999,322 73,80 292,659 21,60
Ladeiras 5,0 813,734 40,00 642,421 31,60
Zona Industrial 5,0 1203,265 59,20 654,658 32,20
Remessa 2,5 757,649 55,90 49,966 3,70

Importa referir que, para os solos “Hospital Pediátrico” e “Remessa”, e tal como sugere a especificação do
LNEC E198-1967, o valor de CBR para a penetração de 2,5mm é superior ao valor de CBR para a penetração
de 5,0mm. Já para os solos “Ladeiras” e “Zona Industrial”, o CBR para a penetração de 5,0mm apresenta
valores superiores aos referentes a 2,5mm de penetração. Estes resultados foram confirmados em novos
ensaios, tomando-se, desta forma, estes valores como referência para estes solos. Note-se que este
comportamento foi verificado tanto nos ensaios sem embebição (CBR i) como nos ensaios realizados após
96h de imersão em água (CBR). Comparado os resultados obtidos para cada solo e os valores comummente
aceites em função da classificação, os valores alcançados coadunam-se satisfatoriamente.

No Quadro 4 resumem-se os resultados dos ensaios UCS realizados sobre as várias amostras para os dois
níveis de energia em estudo (leve e pesado). Observando unicamente os resultados obtidos em amostras
preparadas por via da compactação Proctor ou por vibração, o efeito da energia de compactação é bem
visível, obtendo-se resistências à compressão simples não confinada superiores. Analisando os resultados
obtidos em amostras preparadas com o compactador miniatura de Harvard, as diferenças são bem mais
ténues, verificando-se, inclusive para o solo “Hospital Pediátrico” a obtenção de um valor despropositado,
com a resistência do provete preparado com menor energia a ser superior à resistência do provete
preparado com maior energia. Esta incongruência reforça a tese apresentada na Secção 3.1 sobre a
ocorrência de fenómenos de rotura do solo, nomeadamente de punçoamento, durante a preparação do
provete.

Quadro 4 - Resultados dos ensaios UCS


Origem do provete

Energia de Proctor Harvard Vibração


compactação qu (kPa) qu (kPa) qu (kPa)

Hospital Leve 161,30 163,60 149,60


Pediátrico Pesada 843,80 141,40 775,60
Leve 80,60 125,00 94,60
Ladeiras
Pesada 570,30 203,30 308,40

Zona Leve 54,90 75,90 23,30


Industrial Pesada 113,30 100,50 120,30
Leve 262,90 106,30 147,20
Remessa
Pesada 1513,40 139,00 310,80

Comparando, para cada solo e para o nível de energia mais baixo, verifica-se que a existência de alguma
coerência nos resultados. Com exceção do solo “Remessa”, onde as discrepâncias são maiores, a resistência
à compressão simples não confinada demonstra ser pouco dependente do tipo de compactação,
nomeadamente se o solo apresentar uma granulometria extensa, tal como são os casos dos solos “Hospital
Pediátrico” e “Ladeiras”. Para a energia de compactação mais elevada, as discrepâncias são mais
acentuadas. Importa, no entanto, referir que para o solo “Hospital Pediátrico” os resultados continuam a
ser muito semelhantes.

A realização dos ensaios UCS permite igualmente estimar o módulo de deformabilidade para os vários tipos
de provetes preparados. No presente estudo optou-se por determinar o módulo de deformabilidade secante
correspondente a 50% da tensão máxima alcançada durante o ensaio, isto é o E50. Os resultados obtidos
estão resumidos no Quadro 5. Note-se que, apesar dos cuidados tidos no ajuste dos provetes à célula de
carga da prensa triaxial, foi necessário proceder à correção de algumas curvas tensão-deformação devido
à ocorrência dos comummente designados bedding errors. A correção efetuada consistiu na translação do

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início do referencial de modo a garantir que o início da aplicação de carga correspondesse ao início do
registo de deformações.

Quadro 5 – Módulos de deformabilidade secante em função do tipo de compactação e energia aplicada


Origem do provete

Extensão Extensão Extensão


Energia de Proctor Harvard Vibração
axial, axial, axial,
compactação E50 (kPa) E50 (kPa) E50 (kPa)
εax (%) εax (%) εax (%)

Hospital Leve 27,90 7,63 66,30 4,98 48,40 4,99


Pediátrico Pesada 287,70 3,39 151,40 1,51 441,80 2,26
Leve 15,00 7,92 26,00 7,72 40,50 2,64
Ladeiras
Pesada 185,10 4,30 156,20 2,05 235,50 2,00

Zona Leve 10,20 5,83 32,70 4,70 34,40 3,40


Industrial Pesada 44,40 2,99 31,10 3,21 48,80 2,70
Leve 119,20 5,09 17,90 12,89 50,30 4,63
Remessa
Pesada 621,60 3,26 17,01 14,45 126,10 4,63

À semelhança do que foi referido para os resultados de resistência não confinada dos vários solos, os
resultados alcançados sobre amostras preparados por compactação dinâmica ou por vibração são coerentes.
Ou seja, o aumento da energia de compactação traduz-se num aumento da rigidez da amostra,
apresentando, deste modo, módulos de deformabilidade secante maiores. Contudo, identificam-se algumas
incongruências nos resultados referentes aos provetes preparados com auxílio do compactador miniatura
de Harvard. Para os solos “Remessa” e “Zona Industrial”, verifica-se uma diminuição do módulo de
deformabilidade com o aumento de energia. Mais uma vez, este comportamento identifica a ocorrência de
algum tipo de mecanismo de rotura que, devido à forma como a compactação é efetuada, se pense ser por
punçoamento.

Contrariamente ao observado para a resistência à compressão simples, o módulo de deformabilidade


aparenta ser muito dependente do tipo de compactação, observando-se variações três vezes em amostras
preparadas por compactação leve e sensivelmente cinco vezes em amostras preparadas por compactação
pesada. Estes resultados ilustram a dependência da maior ou menor rigidez do solo em função da estrutura
criada aquando da compactação. Com exceção do solo “Remessa”, verifica-se que a vibração do solo conduz
a um melhor arranjo das partículas e, consequentemente, a uma maior rigidez. Note-se, contudo, que este
arranjo não se traduz inequivocamente em maior resistência por parte do solo.

4- FORMULAÇÕES E CORRELAÇÕES SEMI-EMPÍRICAS

A caracterização laboratorial de qualquer solo é um processo moroso e oneroso. Desta forma, é frequente
que o processo de caracterização laboratorial seja complementado com a obtenção de outros parâmetros
de resistência, de deformabilidade ou outros por via da utilização de expressões sei-empíricas cuja validade
está devidamente fundamentada.

São várias as formulações e correlações propostas na literatura da especialidade. No presente trabalho


optou-se por trabalhar com propostas que dependessem de características intrínsecas do solo, tal como a
sua plasticidade. Deste modo, para a estimativa do CBR, apresenta-se a formulação proposta por Talukdar
(2014), em que LL é o limite de liquidez, IP é o índice de plasticidade, γ dmáx é o peso volúmico seco máximo
e ωópt é o teor em água ótimo.

𝐶𝐵𝑅 = 0,127 × (𝐿𝐿) − 0,1598 × (𝐼𝑃) + 1,405 × 𝛾𝑑𝑚á𝑥 − 0,259 × 𝜔ó𝑝𝑡 + 4,618 [1]

Para a estimativa da resistência à compressão simples, opta-se por aplicar a formulação apresentada por
Al-Kahdaar e Al-Ameri (2010), na qual ωópt é o teor em água ótimo, LL é o limite de liquidez e LP é o limite
de plasticidade.
𝜔ó𝑝𝑡 −𝐿𝑃 𝜔ó𝑝𝑡 −𝐿𝑃 2
𝑞𝑢 = 186,3 − 172,5 × + 24,2 × ( ) [2]
𝐿𝐿−𝐿𝑃 𝐿𝐿−𝐿𝑃

Por fim, apresenta-se a solução proposta por Paige-Green e Du Plessis (2009) que correlaciona o CBR e o
qu através da Equação [3]

𝑞𝑢 = 15 × 𝐶𝐵𝑅0,88 [3]

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4.1 - Estimativa do CBR

Os resultados das estimativas obtidas pela aplicação da equação [1] forneceu os resultados resumidos no
Quadro 6. Note-se que, como o ensaio de CBR prossupõe a compactação do provete pelo procedimento
preconizado no ensaio Proctor, apenas faz sentido comparar os resultados experimentais com as
estimativas que têm como premissas o teor em água ótimo e peso volúmico seco máximo resultantes dos
ensaios de compactação pesado.

Quadro 6 – Estimativa do CBR por aplicação da formulação proposta por Talukdar (2014)
Solo CBRest (%)
Hospital Pediátrico 32,10
Ladeiras 32,50
Zona Industrial 32,20
Remessa 30,70

Comparando estes resultados com os expostos no Quadro 3, verifica-se que, com exceção do solo “Remessa”
para o qual se obteve um resultado laboratorial muito baixo, as estimativas para os restantes são aceitáveis,
nomeadamente para os solos “Ladeiras” e “Zona Indistrial”.

4.2 - Estimativa da resistência à compressão simples não confinada, qu

O Quadro 7 expõe os resultados das estimativas alcançadas para a resistência não confinada para os vários
solos e energias de compactação. Da comparação destes resultados com os resultados dos ensaios UCS
resumidos no Quadro 4, facilmente se conclui que não existe grande coerência entre os resultados. Não se
verifica nenhum padrão comportamental em função da energia de compactação, do tipo de compactação
ou do tipo de solo. Deste modo, estes tipos de estimativas são desaconselhados, pois tanto se podem
traduzir na obtenção de valores conservadores como sobrestimados.

Quadro 7 - Estimativa do qu por aplicação da formulação proposta por Al-Kahdaar e Al-Ameri (2010)
Origem do provete

Energia de Proctor Harvard Vibração


compactação qu,est (kPa) qu,est (kPa) qu,est (kPa)

Hospital Leve 246,10 253,20 264,70


Pediátrico Pesada 339,80 295,40 339,80
Leve 284,80 291,50 298,50
Ladeiras
Pesada 352,10 354,20 359,60

Zona Leve 356,40 379,50 383,00


Industrial Pesada 581,40 584,60 596,10
Leve 197,00 184,90 192,90
Remessa
Pesada 239,00 198,70 224,40

4.3 - Correlação entre qu e CBR

A estimativa da resistência à compressão simples não confinada pela aplicação da equação [3] devolveu
os resultados resumidos no Quadro 8. À semelhança dos resultados para a estimativa do qu em função dos
limites de liquidez (ver secção 4.2), os resultados não são satisfatórios, desaconselhando-se, igualmente a
aplicação desta expressão para os solos analisados.

Quadro 8 – Estimativa da resistência à compressão simples não confinada em função do CBR por aplicação da
expressão proposta por Paige-Green e Du Plessis (2009)
Solo qu,est (kPa)

Hospital Pediátrico 224,10

Ladeiras 313,20

Zona Industrial 318,40

Remessa 47,30

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5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização do presente trabalho permitiu identificar vários aspetos que, do ponto de vista do estudo da
compactação em ambiente laboratorial, importam ser sintetizados.

Do ponto de vista da compactação de solos, os resultados obtidos com a compactação Proctor são os mais
consistentes tanto do ponto de vista da influência do tipo de solo bem como da energia de compactação.
Neste aspeto em concreto, deve salientar-se a dificuldade na preparação de provetes com o compactador
miniatura de Harvard com a mola de 40lb. De facto, contrariamente ao que era expectável, verificou-se,
de forma sistemática, a obtenção de piores resultados para este nível de energia do que os alcançados na
compactação leve. A análise dos subsequentemente resultados dos ensaios de compressão uniaxial não
confinados corrobora a suposição da ocorrência de algum fenómeno de rotura do solo aquando da
compactação do provete. Atendendo à forma de aplicação da carga durante a compactação (pressões
estáticas), pressupõe-se que o solo sofra rotura por punçoamento quando compactado com a molda de
maior rigidez. Só desta forma podem ser explicadas as obtenções de pesos volúmicos secos máximos
inferiores bem como resistências não confinadas e módulos de deformabilidade secantes para 50% da
carga de rotura também inferiores aos medidos para uma energia de compactação inferior.

Estes resultados permitem questionar o procedimento de compactação com o compactador miniatura de


Harvard estabelecido por Lopes (2014), nomeadamente aquando da realizada dos ensaios de compactação
pesada com recurso à mola de 40lb. Note-se que, as incongruências abordadas no parágrafo anterior não
obedecem a nenhum padrão observável, afastando a hipótese da ocorrência de erros sistemáticos aquando
da preparação do provete. As diferenças também identificadas nos resultados de compactação entre o
presente estudo e o trabalho proposto por Lopes (2014) para os solos “Hospital Pediátrico”, “Ladeiras” e
“Zona Industrial” ilustra igualmente a necessidade do estabelecimento de procedimentos de ensaios
devidamente estabelecidos e independentes do técnico. Relembra-se que não existem, tanto quanto é
conhecimento da autora, normas para a realização deste ensaio, existindo unicamente procedimentos
básicos publicados por quem desenvolveu o equipamento (Wilson, 1970) ou por fabricantes.

A comparação das várias técnicas de compactação não identificou nenhum padrão no que se refere aos
resultados da compactação, isto é, aos valores de peso volúmico seco máximo ou teores em água ótimos
alcançados nos três métodos. Contudo, quando ensaiados na prensa triaxial, é possível identificar alguma
independência da resistência à compressão simples não confinada do tipo de compactação. De facto, com
exceção do solo “remessa”, para o qual as discrepâncias são mais elevadas, para os restantes solos, os
resultados são bastante satisfatórios. Contudo, a generalização deste tipo de conclusão carece da realização
de mais ensaios bem como da utilização mais solos com características diferentes. Analisando os módulos
de deformabilidade secantes obtidos, conclui-se que este parâmetro é altamente dependente do tipo de
compactação, sendo as discrepâncias tanto maiores quanto maior a energia de compactação.

Por fim, importa salientar que a aplicação de correlações ou formulações semi-empíricas para a estimativas
do peso volúmico seco, CBR ou resistência à compressão simples não confinada apenas permitiram alcançar
valores aceitáveis na determinação do índice CBR através da expressão [1], proposta por Talukdar (2014).
As restantes soluções estudas não fornecem valores consistentes ou minimamente aproximados,
sugerindo-se cautela na utilização das mesmas.

REFERÊNCIAS

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Soil in Messan Governorate. Journal of Engineering, Vol 16, Issue 4.

ASTM (2006) - Practice for Classification of soils for engineering purposes: Unified soil Classification System. D-2487-
06, American Society for Testing and Materials, USA.

British Standard (1990) - British Standard Methods of test for Soils for Civil Engineering Purposes: Part 4. Compaction-
related test, BS1377. UK.

Caldeira, L. e Brito, A. (2007) - Controlo da compactação de misturas de solo-enrocamento da barragem de Odelouca


através de ensaios de vibração. Geotecnia, nº 109.

Cunha, R. A. F. (2014) - Contribuição para a Metodologia de Estudo de Melhoria de um Solo com Cimento no Âmbito de
uma Obra Rodoviária. Tese de Mestrado, Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências e Tecnologia. Porto.

Lai, J (2004) – Advanced Geotechnical Laboratory, Unconfined Compression Test, Department of Construction
Engineering Chaoyang University of Technology. Chaoyang

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LNEC (1966) - Preparação por via seca das amostras para ensaios de identificação. E 195, Especificação do LNEC para
solos: Laboratório Nacional da Engenharia Civil. Portugal.

LNEC (1966) - Ensaio de Compactação, E-197. Especificação do LNEC para solos: Laboratório Nacional da Engenharia
Civil. Portugal.

LNEC (1967) - Determinação do CBR, E-198. Especificação do LNEC para solos: Laboratório Nacional da Engenharia Civil.
Portugal.

LNEC (1969) - Determinação dos Limites de Consistência, NP-143. Norma Portuguesa e Especificação do LNEC para
solos: Laboratório Nacional da Engenharia Civil. Portugal.

LNEC (1970) - Classificação para fins rodoviários, E-240. Especificação do LNEC para solos: Laboratório Nacional da
Engenharia Civil. Portugal.

Lopes, S. (2014) - Validação do compactador de Harvard no estudo da compactação de solos. Tese de Mestrado, Instituto
Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra.

Lopes, S. e Araújo Santos, L. M. (2016) - Validação do compactador de Harvard no estudo de compactação de solos.
Atas do XV Congresso Nacional de Geotecnia e VIII Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, Porto.

Moreira, C. M. (2008) - Noções Gerais sobre Compactação. Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Coimbra.

Paige-Green, P. e Du Plessis, L. (2009) - The use and Interpretation of the Dynamic Cone Penetrometer (DCP) Test.
Version 2, CSIR.

Silva, J. P. (2017) - Estudo comparativo de diversas técnicas de compactação laboratorial e suas implicações. Tese de
Mestrado, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Coimbra.

Talukdar, D. K. (2014) - A Study of Correlation Between California Bearing Ratio (CBR) Value With Other Properties of
Soil. International Journal of Emerging Technology and Advanced Engineering, Volume 4, Issue 1.

TMN (2008) - Method of test for maximum density and relative compaction of soils using the Harvard miniature
compaction device, State of Nevada Department of Transportation: Materials Division. Nevada.

Wilson, S. D. (1970) - Suggested Method of Test for Moisture-Density relations of soils using Harvard Compaction
Apparatus. Special procedures for testing soil and rock for engineering purpose. ASTM STP 479.

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ESTUDO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA, EM


MOÇAMBIQUE

GEOLOGICAL AND GEOTECHNICAL STUDIES OF MEGARUMA DAM,


MOZAMBIQUE

Roque, Magda; Aqualogus, Lisboa, Portugal, mroque@aqualogus.pt


Pimenta, Lurdes; Aqualogus, Lisboa, Portugal, lpimenta@aqualogus.pt
Sardinha, Ricardo; Aqualogus, Lisboa, Portugal, rsardinha@aqualogus.pt

RESUMO

Na presente comunicação são apresentados os estudos geológico-geotécnicos realizados no Projeto Base


da Barragem de Megaruma, localizada na província de Cabo Delgado, em Moçambique. Trata-se de uma
barragem inserida num aproveitamento de fins múltiplos que pretende fornecer água para abastecimento
à cidade de Pemba, para regadio e para produção elétrica. A barragem com cerca de 2700 m de
comprimento e 35 m de altura apresenta um perfil misto, com uma estrutura central em betão, que
integra o descarregador de cheias, a tomada de água e a descarga de fundo, e dois trechos laterais em
aterro. Os estudos geológico-geotécnicos realizados incluíram reconhecimentos de superfície, trabalhos
de prospeção in situ e ensaios laboratoriais e permitiram a caracterização geotécnica da fundação da
barragem e a avaliação da disponibilidade de materiais de empréstimo na proximidade, com impacte na
definição geral das obras, no faseamento construtivo e nos custos gerais da empreitada.

ABSTRACT

This paper presents the geological and geotechnical studies performed under the scope of the Conceptual
Design of Megaruma Dam, at Cabo Delgado Province, Mozambique. Megaruma Dam is included on a
multiple purposes system and intends to produce water for Pemba city public supply, for agricultural uses
and for hydroelectric production. This dam, with about 2700 m long and 35 m high is an earth dam with a
concrete structure in the center of the valley incorporating the spillway, the water intake and the bottom
outlet. The geological and geotechnical studies included site visits, site investigation works and laboratory
tests. Regarding those, the geotechnical characterization of dam foundation and the construction
materials availability were accomplished. The subsequent analysis had great impact on the structures
conceptual design, on the construction planning, as well as on the global costs.

1- INTRODUÇÃO

A barragem de Megaruma será implantada numa secção do rio Megaruma, a cerca de 98 km da cidade de
Pemba, na Província de Cabo Delgado, em Moçambique. Esta barragem é parte integrante de um sistema
de fins-múltiplos e tem como objetivos simultâneos o abastecimento público à cidade de Pemba, o
fornecimento de água para regadio e a produção de energia elétrica.

Na Figura 1 apresenta-se um esquema geral de localização da barragem de Megaruma e da respectiva


bacia hidrográfica.

Figura 1 – Localização da barragem de Megaruma e da respectiva bacia hidrográfica

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O sistema inclui a própria barragem, uma tomada de água e uma central hidroelétrica de pé de
barragem, localizada a jusante.

Do ponto de vista geotécnico, quando está em causa a construção de uma barragem com consequente
criação de uma albufeira a montante, os principais aspetos a estudar dizem respeito à resistência e à
deformabilidade dos terrenos de fundação da estrutura e à possibilidade de ocorrerem percolações de
água pela fundação e/ou pela própria albufeira.

Dado que a solução projetada pressupõe a construção de uma barragem mista de betão e aterro, importa
também avaliar a disponibilidade de materiais de empréstimo, nomeadamente solos para a construção do
corpo dos aterros e materiais rochosos para a produção de agregados para os betões da barragem, para
os drenos e para os enrocamentos de proteção.

Estas questões têm impacte direto na definição geral das soluções de conceção a adotar, nomeadamente
no que respeita às cotas de fundação das estruturas de betão, ao perfil tipo dos trechos de aterro e ao
tratamento de impermeabilização a realizar, refletindo-se também no planeamento do faseamento
construtivo da obra e nos custos gerais da empreitada.

2- APRESENTAÇÃO GERAL DA BARRAGEM

A Barragem de Megaruma, com um comprimento total de 2713 m e altura máxima acima da fundação de
35 m, apresenta um perfil misto, com uma estrutura central em betão, que alberga o descarregador de
cheias, a tomada de água e a descarga de fundo e dois trechos laterais em aterro. À cota do NPA - nível
de pleno armazenamento (263), a albufeira apresenta uma área inundada de 20 km2, que corresponde a
um volume armazenado de 162,5 hm3.

A obra de betão tem um perfil tipo de gravidade e integra o descarregador de cheias que, dimensionado
para um caudal de 9299 m3/s (T= 2000 anos), apresenta cerca de 90 m de extensão e soleira do tipo
WES, dividida em 5 vãos, controlados por comportas segmento. A descarga de fundo localiza-se num dos
pilares centrais e a tomada de água para a central hidroelétrica localiza-se lateralmente, na margem
esquerda do descarregador.

Os aterros latearias apresentam um perfil de terra zonada, com uma largura de 7,5 m à cota de
coroamento (267) e uma banqueta à cota (264). O talude do paramento de montante apresenta uma
inclinação de 1:2,5 (V:H). O talude de jusante apresenta uma inclinação de 1:2,25 (V:H), acima da cota
do pé de jusante (242,5) e de 1:1,8 (V:H), abaixo dessa cota. O núcleo interior apresenta um perfil
simétrico, com um filtro a montante e um filtro chaminé a jusante que se prolonga subhorizontalmente
sob o maciço estabilizador de jusante.

Na transição aterro-betão existem dois muros laterais de betão.

Na Figura 2, apresenta-se a planta geral da barragem, na Figura 3, a secção transversal tipo do


descarregador de cheias e na Figura 4, a secção transversal tipo do aterro.

Figura 2 – Planta geral da barragem

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Figura 3 – Secção transversal tipo do descarregador de cheias

Figura 4 – Secção transversal tipo do aterro

3- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO REGIONAL E RECONHECIMENTO DE SUPERFICIE

A área de implantação da barragem de Megaruma e respetiva albufeira encontra-se cartografada na folha


1339 (Montepuez) da Série Geológica 1:250 000 de Moçambique, cujo extrato se mostra na Figura 5.
LITOLOGIAS:

P2NRgr – Gnaisse granítico a tonalitico e migmatítico


P3MPqf – Gnaisse quartzo-feldspático
P3MPbg – Gnaisse biotítico
P3LMgr - Gnaisse granítico
P3LMma – Mármore

SÍMBOLOS GEOLÓGICOS

- Foliação
------- - Direção estrutural

Figura 5 - Enquadramento geológico da Barragem de Megaruma (extrato da Folha 1339 da Série Geológica 1:250 000)

A área de estudo localiza-se numa zona de dominância de rochas gnáissicas de idade proterozóica,
atribuídas aos supergrupos de Nampula, Montepuez e Lalamo, onde são também comuns ocorrências de
rochas marmórias e quartezíticas, dispersas no seio dos gnaisses.

No decurso das fases orogénicas pré-câmbricas moçambicanas, as rochas mais antigas foram intruídas
por massas granitóides que, também afetadas por metamorfismo, deram origem a formações miloníticas,
blastomiloníticas, migmatíticas e granodioríticas, de que são exemplos alguns afloramentos identificados
a Norte da área de estudo.

As ações tectónicas resultam também na ocorrência de falhas e cavalgamentos geológicos à escala


regional, que muitas vezes põem em contacto formações de diferentes idades, pelo que a estrutura
geológica da área de estudo define um padrão complexo, onde se identificam alinhamentos estruturais

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com direções muito variadas.

O local selecionado para implantação do eixo da barragem corresponde a uma secção do rio Megaruma,
onde o leito menor, com uma extensão de cerca 100 m, se encontra preenchido por depósitos aluvionares
arenosos e areno-siltosos, com espessuras da ordem dos 3,0 m. Nesta secção do vale, os afloramentos
rochosos expostos são raros (Figura 6), ao contrário do que ocorre nas secções de jusante.

Figura 6 – Aspeto geral do leito do rio Megaruma.

Os raros afloramentos rochosos expostos no leito do rio são constituídos por gnaisses que se apresentam,
em geral, pouco alterados e pouco fraturados, com foliação sub-horizontal, tendencialmente inclinada
para a margem esquerda.

A transição do leito menor do rio para ambas as margens é mais ou menos abrupta, como se mostra na
Figura 7.

Figura 7 – Leito do rio Megaruma e vertente direita (vista a partir da vertente esquerda).

Na secção de implantação da barragem, verifica-se que ao longo das vertentes o maciço rochoso é
sub-aflorante, encontrando-se, em geral, coberto por solos residuais de alteração de cor acastanhada e
por depósitos coluvionares, de coloração castanha avermelhada.

4- PROGRAMA DE PROSPECÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

4.1 - Introdução

No decurso do Projeto Base da Barragem de Megaruma foi realizado um conjunto de trabalhos de


prospeção in situ e de ensaios laboratoriais adequados a essa fase dos estudos.

Os trabalhos decorreram no local selecionado para implantação da barragem, de forma a avaliar as


respetivas condições de fundação, e na área envolvente, para avaliar a disponibilidade de materiais de
empréstimo para a construção da barragem.

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4.2 - Prospeção no local da barragem

No local da barragem foram realizadas visitas de reconhecimento, trabalhos de prospeção in situ e


ensaios de caracterização laboratorial, com o objetivo de:

- Determinar a espessura dos coluviões e dos solos residuais, nas vertentes, e das aluviões, no
leito do rio;

- Identificar a sequência litológica dos terrenos de fundação da barragem;

- Caracterizar a permeabilidade dos solos de cobertura (aluviões, solos residuais e coluviões);

- Caracterizar a resistência, a deformabilidade e a permeabilidade das formações rochosas da


fundação da barragem.

A campanha de prospeção in situ incluiu a abertura de poços de reconhecimento com recolha de


amostras, a realização de perfis sísmicos de refração e de sondagens mecânicas, acompanhadas da
execução de ensaios SPT - Standard Penetration Test e de ensaios Lefranc, nos trechos de solo, e, ainda
da execução de ensaio de absorção de água do tipo Lugeon, nos trechos de rocha.

As amostras recolhidas nos poços foram caracterizadas em laboratório, nomeadamente através da


realização de análises granulométricas e de ensaios de determinação dos limites de consistência (limite
de liquidez e limite de plasticidade).

De entre os testemunhos das sondagens efetuadas no local de implantação da estrutura de betão foram
selecionadas amostras de rocha representativas das características geotécnicas do maciço para realização
de ensaios de resistência à compressão uniaxial e de ensaios de determinação de massa volúmica,
porosidade e absorção de água.

4.3 - Prospeção de materiais de empréstimo

A solução conceptual em estudo para este aproveitamento corresponde a uma barragem mista, que
incluiu um trecho central em betão e dois aterros laterais de terra zonada.

Assim, a pesquisa de materiais de empréstimo foi realizada com o objetivo de avaliar a disponibilidade
local em solos para os trechos de aterro e também em materiais rochosos para a produção de agregados
para betão, para drenos e para os enrocamentos de proteção.

A pesquisa de solos decorreu tanto quanto possível dentro da área a inundar pela futura albufeira da
barragem e incidiu na procura de áreas de empréstimo de dois tipos de material: solos finos para o
núcleo dos aterros da barragem, e solos grosseiros para os maciços estabilizadores. Foram efetuados
perfis sísmicos de refração e poços de reconhecimento com recolha de amostras para caracterização
laboratorial, tendo sido realizados os ensaios que se apresentam no Quadro 1.

Em relação à pesquisa de materiais rochosos esta foi concretizada a partir da realização de sondagens
mecânicas numa zona definida como potencial mancha de empréstimo e da caracterização laboratorial
das amostras recolhidas a partir dos testemunhos dessas sondagens, tendo-se efetuado os ensaios que
se apresentam no Quadro 1.

Quadro 1- Ensaios laboratoriais dos materiais de empréstimo. Amostras de solo e rocha


Solos Rocha
Análises granulométricas Massa volúmica, porosidade e absorção
Limites de consistência (liquidez e plasticidade) Resistência à compressão uniaxial
Teor em água Índices de achatamento e forma
Proctor Normal Equivalente de areia
Ensaios triaxiais Ensaio micro-Deval
Ensaios edométricos Ensaio de desgaste Los Angeles
Ensaios de permeabilidade em permeâmetro Reação alcalis-sílica
--- Teor em sulfatos

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5- Condições geotécnicas da fundação da barragem

5.1 - Zonamento geomecânico da fundação

Os trabalhos de prospeção realizados no local de implantação da barragem, complementados com as


observações de campo, permitiram a elaboração do modelo geológico-geotécnico dos terrenos de
fundação da barragem.

A definição do modelo teve por base a classificação dos testemunhos das sondagens, em termos
litológicos, grau de alteração (W), espaçamento entre fracturas (F), percentagem de recuperação (%REC)
e Rock Quality Designation (RQD), de acordo com as normas da Sociedade Internacional da Mecânica das
Rochas. No caso dos solos, além da litologia, foram considerados os valores de NSPT.

Foram também tidos em conta os resultados dos ensaios de permeabilidade Lefranc (k), no caso dos
solos, e dos ensaios de absorção de água (Abs), no caso do maciço rochoso, e ainda os valores de
velocidade de propagação das ondas sísmicas longitudinais (Vp).

O modelo definido é composto por três zonas geotécnicas – ZG3, ZG2 e ZG1 -, que expressam uma
melhoria progressiva das características geomecânicas e hidráulicas dos terrenos em profundidade. No
Quadro 2 apresentam-se as características de cada uma das zonas geotécnicas. Nas Figura 8 e 9
apresenta-se o zonamento geotécnico dos terrenos, no alinhamento do eixo da barragem e no perfil
transversal pelo descarregador, respectivamente.

Quadro 2- Características das zonas geotécnicas


Zona Material NSPT W F REC RQD Vp k Abs
(%) (%) (m/s) (m/s) (UL)
ZG3 Aluviões/ solos de cobertura 20-60 2,0x10-7*
--- --- --- --- <750 ---
/ solos residuais <15 2,6x10-6
ZG2 0 - 10
Maciço rochoso gnáissico --- 3-4/5 3-4/5 80-100 0-20 750 - 2000 ---
ou superior
ZG1 Maciço rochoso gnáissico --- 2-3 3-4 100 80-100 >2000 --- < 3 **
W – grau de alteração; F – afastamento entre fraturas, REC – percentagem de recuperação, RQD – Rock Quality Designation, Vp –
velocidade de propagação das ondas sísmicas longitudinais, k – coeficientes de permeabilidade, Abs – absorções, em unidades Lugeon.
* - Excepto nas aluviões; ** - Excecionalmente, valores entre 12 e 14 UL.

(NPA =263,0) (NPA =263,0)

Possível falha
geológica

Figura 8 – Zonamento geotécnico dos terrenos de fundação da barragem. Perfil longitudinal.

(NPA =263,0)

Possível falha
geológica

Figura 9 – Zonamento geotécnico dos terrenos de fundação da barragem. Perfil transversal pelo descarregador de
cheias.

A zona geotécnica ZG3 é a mais superficial e integra os coluviões e os solos residuais que ocupam as
vertentes das margens do rio Megaruma e, ainda, as aluviões que preenchem o fundo do vale. Trata-se
de materiais de moderadas características geotécnicas, caracterizados por valores de NSPT médios entre

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20 e 60 e valores de Vp, em regra, inferiores a 750 m/s. Os coeficientes de permeabilidade determinados


nos solos coluvionares e nos solos residuais variam entre 2,0x10-7 e 2,6x10-6 m/s.

A zona geotécnica ZG2 integra maciço rochoso gnáissico moderadamente a muito alterado (W 3 a W4) e
pontualmente decomposto (W5), com fraturas medianamente afastadas a próximas (F3 a F4,
pontualmente F5), com %REC entre 80 e 100%, RQD de 0 a 20% e valores de Vp, em regra, entre 750 e
2 000 m/s. Os ensaios Lugeon realizados indicam valores de absorções muito variáveis, desde 0 a 10 UL,
admitindo-se que, face à fraturação do maciço, estes possam ser superiores.

A zona geotécnica ZG1 corresponde ao maciço rochoso de melhores características geotécnicas, que se
apresenta moderadamente a pouco alterado (W3 a W2), com fraturas medianamente afastadas a
próximas (F3 a F4), % REC de 100%, RQD superiores a 80%, Vp superiores a 2 000 m/s e absorções, em
regra, inferiores a 3 UL (localmente, registam-se valores entre 12 e 14 UL, associados a zonas de
fracturas particularmente abertas).

No centro do vale, o maciço rochoso apresenta-se particularmente alterado e fraturado, sem que se
verifique uma melhoria significativa dos parâmetros geotécnicos em profundidade, pelo que este trecho
não foi integrado em nenhuma das zonas geotécnicas referidas, necessitando de caracterização
complementar. Embora nos testemunhos da sondagem realizada no local não se tenham identificado
indicadores inequívocos de se tratar de uma zona de falha, não se exclui, nesta fase, essa hipótese.

De forma a ilustrar as características do maciço atribuído a cada uma das zonas geotécnicas, apresenta-
se no Figura 10 o log de uma sondagem realizada na margem direita do vale. Na mesma figura
apresenta-se o log da sondagem realizada no centro do vale, onde se identificou o maciço rochoso de
fracas características geotécnicas.

Figura 10 – Log de uma sondagem da margem direita do vale com identificação das zonas geotécnicas e log da
sondagem do fundo do vale

5.2 - Zonamento hidráulico da fundação e tratamento de impermeabilização

Tendo em consideração os resultados dos ensaios de permeabilidade e de absorção de água disponíveis


definiu-se o zonamento hidráulico dos terrenos de fundação.

O zonamento definido é constituído por três zonas hidráulicas, ZH3, ZH2 e ZH1, cujas características se
sintetizam no Quadro 3. Na Figura 11, apresenta-se o zonamento hidráulico dos terrenos ao longo do
eixo da barragem.

Quadro 3 - Características das zonas hidráulicas


Zona Material k Abs
(m/s) (UL)
ZH3 Solos de cobertura / solos 2,0x10-7
---
residuais 2,6x10-6
ZH2 3 - 14
Maciço rochoso gnáissico ---
ou superior
ZH1 Maciço rochoso gnáissico --- <3
k – coeficientes de permeabilidade, Abs – absorções, em unidades Lugeon.

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(NPA =263,0) (NPA =263,0)

Figura 11 – Zonamento hidráulico dos terrenos de fundação da barragem

A zona hidráulica ZH3 é a mais superficial e é composta por solos residuais de alteração do maciço
gnáissico e por coluviões. Esta zona caracteriza-se por valores médios de coeficientes de permeabilidade
(k), determinados a partir dos ensaios Lefranc, variáveis entre 2,0x10-7 e 2,6x10-6 m/s.

A zona ZH2, subjacente à anterior, integra o horizonte superficial mais alterado e fraturado do maciço
rochoso gnáissico e caracteriza-se por valores de absorção variáveis entre 3 e 14 UL. Face às
características do maciço, admite-se que, localmente, a permeabilidade deste horizonte possa ser
superior.

Finalmente, a zona ZH1 corresponde aos terrenos considerados impermeáveis e integra maciço rochoso
medianamente a pouco alterado e fraturado, com fraturas tendencialmente fechadas ou pouco abertas,
com valores de absorção inferiores a 3 UL.

Tendo em conta o modelo hidráulico dos terrenos de fundação da barragem, preconizou-se um


tratamento de impermeabilização do maciço, com vista a garantir as condições de estanqueidade
necessárias.

O tratamento consiste genericamente numa cortina de injeção de calda de cimento, que se desenvolve ao
longo de todo do comprimento da barragem e se estende 50 m além do plano de intersecção do NPA com
o terreno natural, em cada encontro.

A profundidade do tratamento é variável ao longo do eixo da barragem, conforme as características dos


terrenos a atravessar, apresentando uma profundidade média de 18,0 m.

A cortina será composta por uma sequência de furos primários (P), secundários (S) e terciários (T),
espaçados respetivamente de 12,0 m, 12,0 m e 6,0 m, o que resulta num espaçamento final entre furos
de 3,0 m. Na Figura 12, apresenta-se o esquema da cortina de impermeabilização.

Figura 12 – Esquema do tratamento de impermeabilização

5.3 - Saneamento dos terrenos para implantação dos aterros

Tendo em conta as características geotécnicas dos terrenos no local de implantação da barragem, definiu-
se uma profundidade de saneamento para fundação dos maciços estabilizadores e do núcleo dos trechos
de aterro da barragem variável entre 2,0 e 4,0 m.

Em termos de escavabilidade dos terrenos, estima-se que cerca de 85% do material a sanear para
fundação dos aterros da barragem corresponda a solos que podem ser escaváveis com equipamentos
ligeiros.

Em alguns trechos curtos e localizados, onde o maciço rochoso se encontra mais próximo da superfície,
poderá ser necessário recorrer a ripper e/ou à aplicação de carga explosiva para desmonte do maciço.

5.4 - Condições de fundação das obras de betão

O descarregador de cheias, localizado na zona central do vale do rio Magaruma, será fundado cerca das
cotas (217) e (224).

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Com exceção da zona que poderá corresponder a uma falha geológica, admite-se que no fundo do vale
existem razoáveis a boas condições de fundação, apresentando o maciço rochoso características
atribuíveis à zona geotécnica ZG1.

As restantes obras de betão, nomeadamente muros laterais de transição e tomada de água serão
fundados em maciço rochoso com razoáveis a boas características geotécnicas, atribuídas também à zona
geotécnica ZG1.

Para desmonte dos terrenos até às cotas de fundação destas estruturas será necessário recorrer a
equipamentos ligeiros e rippers, nos horizontes mais superficiais, e a explosivos, em profundidade.

5.5 - Condições de estabilidade das vertentes e risco de perdas de água pela albufeira

No local de implantação da barragem, a secção do vale apresenta um perfil assimétrico, em que a


vertente direita inclina cerca de 2º para NE e a vertente esquerda, cerca de 1º para SW. Dentro do
perímetro a inundar pela futura albufeira as vertentes do rio são também suaves.

Nas visitas realizadas não se reconheceram situações evidentes de instabilidade, nem indicadores do
potencial de ocorrência de tais fenómenos.

Face à morfologia do vale e às características dos terrenos, não é expetável a ocorrência de fenómenos
de instabilidade que ponham em causa a segurança da obra, resultantes dos ciclos de enchimento e
esvaziamento da albufeira.

Em relação à estanqueidade da albufeira, esta, em princípio, é garantida pelas relativamente baixas


permeabilidades do maciço rochoso.

6- MATERIAIS DE EMPRÉSTIMO

6.1 - Solos finos e grosseiros para os aterros

Para os trechos de aterro da barragem foi adoptado um perfil tipo de terra zonada, com núcleo central
impermeabilizante. A solução de conceção coaduna-se com as características e volumetria dos materiais
que se estimam disponíveis na proximidade do local da empreitada.

No Quadro 4 apresenta-se a estimativa dos volumes de material necessários para integrar as diferentes
partes constituintes dos aterros da estrutura.

Quadro 4 – Volumes necessários estimados para as obras de aterro


Volumes necessários
Material estimados
(m3)
Maciço estabilizador de montante 1 706 000
Maciço estabilizador de jusante 1 300 000
Núcleo 560 000

Face aos resultados obtidos nos trabalhos de reconhecimento e nos ensaios de caracterização
laboratorial, foram definidas 4 potenciais manchas de empréstimo (1, 2, 3 e 4), localizadas a distâncias
inferiores a 3 000 m do eixo da barragem (Figura 13).

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Figura 13 – Localização das manchas de empréstimo

No Quadro 5 apresentam-se as características das manchas de empréstimo e dos materiais que as


compõem. Na Figura 14 apresentam-se as curvas granulométricas dos materiais de empréstimo a
integrar no núcleo e nos maciços estabilizadores.

Quadro 5 – Características das manchas de empréstimo e dos materiais constituintes


Volume
Área Espessura
Mancha estimado Litologias Características dos materiais Escavabilidade
(m2) (m)
(m3)
1 10<%finos<35; IP<15%
1,4 1 744 400 Solos residuais Escavável
(superior) SC, SM, SW-SC, SP-SM e GP-GC*
1 256 000
1 %finos estimada superior à da
3,0 3 738 000 Maciço W5 a W4 Ripável
(inferior) mancha 1 superior

2 10<%finos<35; IP<20%
3,0 2 250 000 Solos residuais Escavável
(superior) SC, SM, SC-SM, SW-SC e GW-GC*
750 000
2 %finos estimada superior à da
3,0 2 250 000 Maciço W5 a W4 Ripável
(inferior) mancha 2 superior
3 10<%finos<35; IP<15%
1,3 1 063 660 Solos residuais Escavável
(superior) SC*
818 200
3 %finos estimada superior à da
3,0 2 454 600 Maciço W5 a W4 Ripável
(inferior) mancha 3 superior
35 <%finos< 64; IP<15%
4 932 500 1,0 932 500 Solos argilosos Escavável
ML, SC e SM*
*
IP – índice de plasticidade, - Designações da Classificação Unificada de Solos

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Figura 14 – Curvas granulométricas dos materiais de empréstimo

As manchas de empréstimo 1, 2 e 3 localizam-se em zonas de ocorrência de solos residuais de alteração


do gnaisse (horizontes superiores) e de maciço rochoso decomposto a muito alterado (horizontes
inferiores), com características que se adequam à construção dos maciços estabilizadores dos aterros da
barragem. Nestas manchas estimou-se um volume de material explorável da ordem de 13 500 600 m3,
pelo que, em princípio, se perfazem e ultrapassam largamente as necessidades de material para os
maciços da barragem.

Os materiais mais superficiais, integrados nas designadas manchas 1, 2 e 3 superiores, correspondem


aos solos residuais e apresentam percentagens de finos variáveis entre 10 e 35 %, são não plásticos ou
com índices de plasticidade (IP) máximos de 20% e são classificados como SC, SM, SW-SC, SP-SM e
SG-GC, segundo a Classificação Unificada de Solos.

Subjacentemente, nas manchas 1, 2 e 3 inferiores, foram reconhecidos materiais mais grosseiros,


correspondentes ao maciço rochoso decomposto a muito alterado, cuja percentagem de finos se estima
inferior à dos solos residuais das camadas superiores e que podem igualmente ser integrados nos
maciços estabilizadores da barragem.

Em termos de exploração, pode dar-se preferência à utilização dos materiais mais superficiais, resultando
em áreas de exploração menos profundas mas mais extensas e localizadas a maiores distâncias do local
da barragem. Em alternativa, pode optar-se pela exploração mais profunda das manchas de empréstimo
mais próximas da barragem.

Os materiais da mancha de empréstimo 4 correspondem a solos de cobertura silto-argilosos e areno-


argilosos, com % de finos entre 36 e 64%, IP inferiores a 15%, classificados como ML, SC e SM, segundo
a Classificação Unificada de Solos. Estes solos poderão perfazer as necessidades em termos de
características de materiais para o núcleo impermeabilizante da barragem. Não obstante, a mancha 4
deverá, em fases subsequentes do projeto, ser submetida à realização de trabalhos de prospeção e
ensaios de caracterização laboratoriais adicionais, de forma a avaliar a homogeneidade dos materiais e
confirmar as disponibilidades reais.

Uma vez que nesta fase se disponha de uma reduzida quantidade de elementos de caracterização dos
materiais da mancha 4, considerou-se, de forma conservativa, que apenas 70% do material para o
núcleo possa ser obtido nesta mancha.

6.2 - Filtros, drenos, enrocamentos de proteção e agregados para betão

Tendo por base os reconhecimentos de superfície realizados, admite-se que as aluviões mais arenosas do
fundo do vale do rio Megaruma possam cumprir os requisitos necessários para integrar os filtros, o que
deverá ser confirmado em fases posteriores dos estudos.

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Em relação aos materiais rochosos que foram pesquisados no âmbito do Projeto Base para drenos,
enrocamentos de proteção e produção de agregados, a sua pesquisa e caracterização complementar será
também enquadrada no âmbito dos estudos a realizar do Projeto de Execução.

7- PROGRAMA DE PROSPEÇÃO COMPLEMENTAR

Os estudos geológico-geotécnicos realizados foram enquadrados no âmbito da fase de Projeto Base e


deverão ser complementados, como é comum neste tipo de obras, na fase de Projeto de Execução,
mediante a realização de novos reconhecimentos de superfície, trabalhos de prospeção in situ e ensaios
de caracterização laboratorial.

Esses trabalhos incidirão no local de implantação da barragem, com vista a detalhar o modelo geológico-
geotécnico dos terrenos de fundação da barragem, com particular relevo para a fundação da obra de
betão, e também na pesquisa e caracterização dos materiais de empréstimo, nomeadamente solos para
os aterros, agregados para os betões e materiais para drenos, filtros e enrocamentos de proteção.

Assim para o local da barragem são propostas sondagens mecânicas verticais, com ensaios SPT, Lefranc e
Lugeon, distribuídas ao longo do eixo da estrutura e ainda a montante e a jusante do descarregador de
cheias. Para o centro do vale, preconiza-se a realização de sondagens inclinadas, com o objectivo de
confirmar a extensão da zona do maciço com fracas características geotécnicas e de averiguar se se trata
ou não de uma falha geológica. Preconiza-se também a recolha de amostras de rocha, para
caracterização das propriedades geomecânicas do maciço de fundação das obras de betão, através da
realização dos ensaios indicados no Quadro 6.

Dentro da área das manchas de empréstimo 1, 2, 3 e 4 e ainda dentro de outras a áreas a definir, serão
realizados trabalhos de prospeção adicionais, nomeadamente perfis sísmicos de refração e poços de
reconhecimento com recolha de amostras. As amostras recolhidas serão ensaiadas em laboratório,
tendo-se preconizado a realização dos ensaios indicados no Quadro 6.

Para os locais a definir como potenciais zonas de pedreira para obtenção de materiais rochosos foi
preconizada a realização de sondagens mecânicas e a seleção de amostras para caracterização
laboratorial, através do conjunto de ensaios indicados no Quadro 6.

Quadro 6 - Programa de prospeção complementar. Ensaios laboratoriais em solo e rocha


Solos Rocha
Empréstimos Fundação Pedreira
Massa volúmica, porosidade e Massa volúmica, porosidade e
Análises granulométricas
absorção absorção
Limites de consistência Resistência à compressão Resistência à compressão
(liquidez e plasticidade) uniaxial uniaxial
Índices de achatamento e
Teor em água ---
forma
Proctor Normal --- Equivalente de areia
Ensaios triaxiais --- Ensaio micro-Deval
Ensaio de desgaste Los
Ensaios edométricos ---
Angeles
Ensaios de permeabilidade
--- Reação alcalis-sílica
em permeâmetro
Análise mineralógica --- Teor em sulfatos
Dispersividade das argilas --- Análise petrográfica
Ensaio de expansibilidade --- ---

8- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos geológico-geotécnicos realizados no local da Barragem de Megaruma foram enquadrados na


fase de Projeto Base, tendo permitido dar resposta às principais questões de índole geotécnica que se
colocam à construção de uma obra desta natureza, nesta fase dos estudos, e que se repercutem na
definição geral das estruturas a edificar, no faseamento construtivo da obra e nos custos gerais da
empreitada.

Os trabalhos realizados permitiram, por um lado, avaliar as condições de fundação dos diversos
elementos da obra, a estanqueidade da fundação e da albufeira, a estabilidade das vertentes e a

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disponibilidade de materiais de empréstimo na proximidade. Por outro lado, permitiram identificar


situações geotécnicas que devem ser abordados e detalhados na fase de Projeto de Execução.

Em relação à fundação da barragem, foi possível definir o modelo geológico-geotécnico dos terrenos, que
é composto por maciço rochoso gnáissico com razoáveis a boas características geotécnicas, coberto pelos
respetivos solos residuais e coluviões, nas vertentes e por aluviões, no leito do rio. No centro do vale,
identificou-se uma zona de mais fracas características geotécnicas, que será alvo de caracterização
complementar, de forma a avaliar a sua influência nas soluções de engenharia projetadas.

O modelo geológico-geotécnico definido baseou a definição dos planos de fundação das obras de betão e
permitiu definir as cotas de saneamento dos terrenos superficiais, para implantação dos trechos de aterro
da barragem. Este e outros aspectos relacionados com o projeto geotécnico da Barragem de Megaruma
são objeto de um artigo próprio, a apresentar também no 16º Congresso Nacional de Geotecnia.

Em termos de percolações pela fundação da barragem, verificou-se que o maciço rochoso apresenta uma
franja superficial com moderada a elevada permeabilidade, pelo que se preconizou um tratamento de
impermeabilização com injeção de caldas de cimento, que foi definido com uma profundidade média de
18 m. A estanqueidade da albufeira está, em princípio, assegurada.

No que respeita às condições de estabilidade das vertentes da barragem e da albufeira, não se


reconheceram indicadores de fenómenos de instabilidade.

Em relação a materiais de empréstimo, os estudos realizados permitiram identificar zonas de solos com
características adequadas à construção dos aterros da barragem, localizadas a distâncias inferiores a
3 000 m, cujos volumes disponíveis se admitem, nesta fase, perfazerem a quase totalidade das
necessidades de material estimadas. No caso dos materiais rochosos para drenos, agregados para betão
e enrocamentos de protecção e às areias para filtros, as suas características e disponibilidades serão
objeto de avaliação na Fase de Projeto de Execução.

Os trabalhos de prospecção complementares a realizar na fase de Projeto de Execução irão


complementar a informação geológico-geotécnica disponível, esclarecer as questões que ainda se
encontram em aberto nesta fase e detalhar o modelo geológico-geotécnico da fundação.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam o seu agradecimento à Inzag pela autorização de divulgação dos dados e dos
trabalhos efetuados no âmbito do Projecto Base da Barragem de Megaruma e a colaboração prestada,
nomeadamente no decurso das visitas de reconhecimento.

REFERÊNCIAS

Projeto Base da Barragem de Megaruma – Volume 2: Estudos Geológico-Geotécnicos

Projeto Base da Barragem de Megaruma – Volume 3: Barragem

Folha 1339 - Montepuez da Série 1:250 000, da Carta Geológica de Moçambique, Direcção Nacional de Geologia de
Moçambique

Carta Geológica de Moçambique na escala 1:1 000 000, Direcção Nacional de Geologia de Moçambique

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EXPERIENCIA DA IP ENGENHARIA EM ESTUDOS GEOTÉCNICOS E PROJETOS


DE TERRAPLENAGEM NA FERROVIA DA ARGÉLIA

IP ENGINEERING EXPERIENCE IN GEOTECHNICAL STUDIES AND


EARTHWORKS PROJECTS IN THE ALGERIA RAILWAY

Midões, Tiago; IP Engenharia, Lisboa, Portugal, tiago.midoes@ipengenharia.pt


Ferreira, Luis; IP Engenharia, Lisboa, Portugal, luis.ferreira@ ipengenharia.pt
Gonçalves, Jorge; TPF Planege, Lisboa, Portugal, jg.geologia@gmail.com

RESUMO

No âmbito da sua estratégia de internacionalização, a IP Engenharia, em consórcio com a TPF Planege,


ganhou nos últimos anos um conjunto de projetos ferroviários, tanto para construção de linha nova como
para modernização e duplicação de linha existente, que fazem parte do grande plano de modernização e
expansão da rede ferroviária da Argélia. Tendo em atenção o seu enquadramento numa realidade social e
política diferentes, e as especificidades técnicas das várias entidades argelinas intervenientes, é feita
nesta comunicação uma caracterização dos estudos geotécnicos e projetos de terraplenagem
desenvolvidos, referindo-se alguns dos problemas sentidos e as soluções adotadas.

ABSTRACT

As part of its internationalization strategy, IP Engenharia, in consortium with TPF Planege, has gained in
recent years a number of railway projects, for new rail lines construction and for modernization and
duplication of existing lines, which are part of the grand plan for the modernization and expansion of
Algeria's rail network. Taking into account its context in a different social and political reality and the
technical specificities of the various Algerian entities involved, this paper presents a characterization of
geotechnical studies and earthworks projects developed, referring to some of the problems felt and the
adopted solutions.

1- INTRODUÇÃO

Na presente comunicação são apresentados os projetos ferroviários desenvolvidos recentemente pelo


consórcio IPE / TPF na Argélia. Para além do seu enquadramento geral, a descrição e caracterização
destes projetos centra-se na descrição dos estudos geológicos e geotécnicos realizados e nas soluções do
projeto de terraplenagens, fazendo, sempre que necessário, referência à interação que a realidade
Argelina teve no desenrolar dos mesmos.

No que se refere aos estudos geológicos e geotécnicos, de forma sucinta, é feito um enquadramento
geológico geral e descrita a metodologia dos trabalhos de reconhecimento geológico e geotécnicos
realizados, dando algum enfâse ao estudo e classificação dos materiais (solos e rochas) envolvidos nas
terraplenagens. De seguida, relativamente ao Projeto de Terraplenagens é explicado o dimensionamento
das partes que constituem a infraestrutura da via-férrea (sub-balastro e plataforma), são caracterizadas
as questões relativas às escavações e aos aterros e são apresentadas as soluções definidas para os
blocos técnicos a construir.

1.1 - PROJETOS FERROVIÁRIOS NA ARGÉLIA

Entre 2013 e 2015, no âmbito da sua estratégia de internacionalização, a IP Engenharia, em consórcio


com a TPF Planege, ganhou três concursos públicos internacionais na Argélia para desenvolvimento de
três projetos ferroviários, os quais integram o grande plano de modernização e expansão da rede
ferroviária Argelina, representado na figura 1.

Dois dos projetos, troços Ksar El Boukhari / Bughezoul e Boughezoul / Djelfa, correspondem ao
desenvolvimento de um total de 182km de linha nova a construir nas montanhas e planaltos do Atlas,
que integrarão a rede ferroviária que ligará a futura cidade de Boughezoul (atualmente em construção),
projetada para ser o futuro centro administrativo da Argélia. Enquanto o Ksar El Boukhari / Boughezoul,
com 42km de extensão será construído em via dupla, o troço Boughezoul / Djelfa, com 140km, será
executado apenas em via única, prevendo-se o cruzamento de comboios nas 2 gares e 3 estações de
cruzamento a construir.

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O terceiro projeto, situado na zona da chamada “Kabilia”, junto à costa, corresponde à modernização e
duplicação de uma linha existente, que se desenvolve ao longo do grande vale do rio Soummam, entre
Beni Mansour e Bejaia, numa extensão de 87km.

Os traçados foram desenvolvidos por forma a garantir a circulação de comboios de mercadorias com
velocidade máxima de 100km/h e de comboios de passageiros com velocidade máxima entre 160km/h e
200km/h.

Os três projetos de execução, suportados por Caderno de Encargos num APD (“Avant Projet Détaillée”),
envolveram, para além de todos os trabalhos preliminares de Topografia e Prospeção Geotécnica, o
desenvolvimento das especialidades de Via Férrea, Geologia e Geotecnia, Hidrologia, Terraplenagem e
Drenagem, Restabelecimentos Rodoviários e Estruturas Complementares. Embora os projetos das Obras
de Arte, Túneis e Arquitetura das Gares não estivessem contratualizados foi sempre necessário assegurar
a compatibilização entre todas as especialidades.

Beni Mansour / Béjaia


Ksar El Boukhari
/ Bhoughezoul

Bhoughezoul / Djelfa

Figura 1 – Localização dos troços desenvolvidos sobre o plano de modernização da rede ferroviária Argelina

Face ao cliente dos três projetos (COSIDER Travaux Publics) corresponder à empresa construtora argelina
que os iria executar, os Cadernos de Encargos impunham sempre a disponibilização faseada dos projetos
em lotes de 20km, com o objetivo de permitir o avanço rápido dos trabalhos em obra.

2- A GEOLOGIA, A CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E O EGG

2.1 - Enquadramento geológico geral

Tendo como referência a carta geológica simplificada representativa dos grandes domínios geológicos em
que se encontra dividida a zona do Magreb (figura 2), verifica-se que o traçado do troço Ksar El Boukhari
/ Boughezoul desenvolve-se essencialmente no domínio designado por “Atlas Tellien”, atravessando de
norte para sul os relevos do sopé da cadeia montanhosa do Atlas Norte, terminando já na zona dos
chamados altos planaltos (“Hauts Plateaux”). O troço Boughezoul / Djelfa, que faz a continuação em
direção a sul, desenvolve-se, na sua maior parte, ao longo da orografia bastante aplanada que
caracteriza os altos planaltos. Nos últimos 30 km, na aproximação à cidade de Djelfa, o traçado
intercepta os relevos algo acentuados dos contrafortes da montanha do Atlas Sul (“Atlas Saharien”).

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Figura 2 – localização dos troços de projeto na carta geológica dos grandes domínios geológicos do Magreb

É uma região que apresenta-se bastante seca e árida, de clima mediterrâneo continental. Em termos
hidrológicos caracteriza-se pela ocorrência de precipitação baixa e irregular, ou seja, a precipitação é
muito reduzida, mas com ocorrência de episódios pontuais de chuvas intensas, que provocam inundações
curtas mas de elevado poder erosivo. Em resultado, as linhas de água, de regime efémero e torrencial,
apresentam-se secas a maior parte do ano (figura 3).

Do ponto de vista litoestratigráfico, de acordo com o definido na folha Norte da Carta Geológica da
Argélia na escala 1/500 000 (Cornet et al., 1951-1952) e confirmado nos reconhecimentos de campo,
com base em dezenas de pontos de observação geológica, estes dois troços desenvolvem-se em terrenos
constituídos por formações exclusivamente sedimentares. São, no entanto, de natureza bastante variada
no que se refere às litologias e idades estratigráficas e apresentam um comportamento geomecânico
diferenciado, tanto no domínio dos solos como no das rochas. Algumas das formações e formas de relevo
presentes são tipicamente resultantes do tipo de clima ocorrente e da consequente erosão resultante,
como os exemplos da ocorrência de crostas superficiais de sais (sal e gesso) e argila, a existência de
pequenos cordões dunares de origem eólica ou os relevos com cornija de resistência nos grés (figura 3).

Figura 3 – Linha de água; Cordão dunar; Crosta de sal e argila e relevo de resistência em grés – troços novos na zona
de Boughezoul

As idades das formações geológicas aflorantes vão desde os depósitos recentes do Quaternário
(Holocénicos e Plistocénicos), formados por depósitos aluvionares (Qal), depósitos de aluviões antigas e
terraços (Qt), depósitos de vertente (Qdp), crostas de precipitação (Qsbk) e areias de duna (D),
passando por várias formações do Terciário (Pliocénicas, Miocénicas, Oligocénicas e Eocénicas), com solos
e rochas brandas, de composição argilosa, siltosa, arenosa, calco-margosa ou conglomerática (Pi, Mp, Mi,
O e Ei), e interessando mesmo os terrenos mais antigos desta região, pertencentes à era Mesozoica
(Cretácicos e Triásicos), de natureza essencialmente rochosa (brandas a duras), formados sobretudo por
calcários, margas, arenitos e argilitos (formações Cs; Ct; Cn; Ci e Tk).

Relativamente à modernização e duplicação da linha existente entre Beni Mansour e Bejaia, o grande vale
do rio Soummam, ao longo do qual serpenteia o traçado, encontra-se próximo da costa encaixado entre
as formações do “Flyschs Maghrébins” e o domínio do “Atlas Tellien”, sensivelmente com uma orientação
NE-SW, rodeado claramente pelos relevos montanhosos. É uma zona de clima mediterrâneo com duas
estações bem marcadas, uma quente e seca e outra húmida, com precipitação intensa e abundante, que
origina o arraste de grande quantidade de materiais ao longo das linhas de água nas encostas do vale
assim como processos recorrentes de cheias na planície do Soummam.

Tal como no caso dos traçados novos, a linha existente estende-se exclusivamente em formações
sedimentares, sobre litologias variadas e com idades estratigráficas que, sem contar com os aterros
antrópicos atuais, vão desde o Quaternário até ao Jurássico. Ainda assim, o traçado interessa na sua
grande maioria as formações recentes do Quaternário, compostas por solos não consolidados (aluviões

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(A), depósitos de terraços (Qt), cones de dejeção (Qcd) de vertente (Qc) e depósitos deltaicos (QD)), que
preenchem a grande planície aluvionar do rio Soummam e o sopé das vertentes do vale (figura 4).

..
Figura 4 – O vale do rio Soummam e as formações recentes que preenchem a sua planície aluvionar

Em alguns locais a linha existente desenvolve-se um pouco mais nas encostas do vale, interessando já as
formações mais antigas, Miocénicas (Mi), Eocénicas (em), Cretácicas (Ci e Cm) e Jurássicas (Ji)),
constituídas em parte por solos argilosos e argilo margosos geralmente cascalhentos, mas sobretudo por
rochas, relativamente brandas (margas, calcários, conglomerados), bastante alteradas e/ou fraturadas
(figura 5).

Por forma a conseguir garantir as exigências de caderno de encargos, nomeadamente no que se refere à
velocidade máxima definida e também o espaço necessário para a duplicação da via, existem alguns
troços em que foi impossível manter o canal existente, obrigando ao desenvolvimento de variantes ao
atual traçado. Como resultado em alguns locais a via-férrea desenvolve-se claramente nas vertentes do
vale, em situações de meia encosta, intercetando as formações mais antigas.

..
Figura 5 – Aspeto das formações rochosas constituem as encostas do vale

2.2 - Caracterização Geotécnica

A partir da caracterização das formações geológicas obtida nos reconhecimentos de superfície e tendo por
base a informação geotécnica resultante dos trabalhos de prospeção e ensaios existentes em cada APD,
foram definidos programas de prospeção geotécnica complementares que permitissem uma
caracterização adequada dos terrenos e a definição de todos os elementos necessários ao
desenvolvimento das diferentes questões de projeto. No Quadro 1 são sumariados os trabalhos previstos
executar em cada projeto.

Quadro 1- Quantidades de trabalhos de prospeção geotécnica previstos executar


Boughezoul / Ksar El Boukhari / Beni Mansour /
Trabalhos de prospeção geotécnica TOTAIS
Djelfa (140km) Boughezoul (42km) Bejaia (87km)
Poços de prospeção 140 43 62 245
Perfis sísmicos 38 7 2 47
Sondagens mecânicas com execução de
30 13 18 61
ensaios SPT
Ensaios de penetração dinâmica pesada
118 41 67 226
(DPSH)

Se no projeto Boughezoul / Djelfa a execução dos trabalhos de prospeção correu sem grandes
sobressaltos, não se realizando apenas alguns trabalhos pontuais por dificuldade significativa de acesso
em zona de orografia acentuada, já no caso do projeto Ksar El Boukhari / Boughezoul, e especialmente
no troço Beni Mansour / Bejaia, verificaram-se grandes dificuldades para cumprir os programas previstos,
não só por dificuldades de acesso, mas sobretudo por oposição de proprietários de terrenos.

Apesar dos condicionamentos relativos à circulação no terreno, uma vez que todos os estrangeiros tem
obrigatoriamente que ser escoltados em permanência por forças policiais nas suas deslocações fora da

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capital Argel, os técnicos da IPE/TPF acompanharam sempre que possível a execução dos trabalhos
(figura 6), tendo mesmo no caso dos troços novos (Ksar El Boukhari/ Boughezoul e Boughezoul / Djelfa)
sido responsáveis pelo processo de observação e descrição da totalidade dos 183 poços executados o que
se traduziu numa clara mais-valia para o desenvolvimento da cartografia geológica dos projetos.

Figura 6 – Execução de alguns dos trabalhos de prospeção e ensaios respetivamente nos troços Ksar El Boukhari /
Boughezoul; Boughezoul / Djelfa e Beni Mansour / Bejaia

Para uma caracterização geotécnica rigorosa de todos os materiais envolvidos nas terraplenagens de cada
projeto foi realizado um conjunto muito significativo de ensaios laboratoriais sobre amostras de solos
(granulometrias, limites de Atterberg, azul de metileno, equivalente de areia, teor em água natural,
proctor modificado, CBR, ensaios químicos, ensaios edométricos e de corte direto) e sobre amostras de
rochas (resistência à compressão simples, ensaios de resistência à fragmentação (“Los Angeles”) e
desgaste (“Micro-Deval”)), recolhidas nos poços e sondagens executados ao longo dos traçados. Foram
ainda ensaiadas várias amostras recolhidas em áreas estudadas em redor dos mesmos, com o objetivo
de avaliar o seu potencial para constituírem manchas de materiais de empréstimo para execução dos
aterros.

Com base nos resultados dos ensaios de laboratório foi feita a caracterização e análise dos materiais
resultantes das diferentes formações geológicas, procedendo-se à sua identificação segundo a
classificação Unificada (USCS) e as classificações Francesas GTR (LCPC/SETRA) (1992) e ficha UIC 719R.
A partir desta caracterização foi feita a definição das percentagens de reutilização dos materiais
escavados nas diferentes partes dos terraplenos a construir. A classificação dos materiais permitiu ainda o
zonamento dos tipos de solos ou rocha que ocorrerão à cota da plataforma com vista ao seu posterior
dimensionamento de projeto.

Todos os projetos implicam um conjunto de escavações e aterros com dimensões bastante significativas,
pelo que os movimentos de terras envolvidos são bastante consideráveis, atingindo vários milhões de
metros cubitos de terraplenagens. Uma vez que a seleção e gestão dos materiais para a construção dos
aterros estava condicionada, por Caderno de Encargos, ao balanço do movimento de terras por cada Lote
de 20km, com imposição de distâncias de transporte máximo de 15km, o trabalho de caracterização de
manchas de empréstimo ao longo dos traçados revestiu-se de grande importância, uma vez que existiam
lotes com défices muito significativos, de várias centenas de metros cúbicos, que teriam que ser
compensados com manchas a menos de 15km de distância.

Nesse sentido, com base nos dados dos reconhecimentos de campo complementados posteriormente com
resultados dos ensaios de laboratório sobre amostras recolhidas em poços, foi definido e caracterizado
um conjunto de 12 manchas de empréstimo no traçado entre Boughezoul / Djelfa com um potencial de
cerca de 4.130.000m3 de solos adequados para os aterros, 11 manchas no troço Ksar El Boukhari /
Boughezoul com capacidade da ordem dos 5.814.000m3 e um total de 34 áreas de empréstimo ao longo
do Beni Mansour / Bejaia que permitiam garantir a disponibilização de cerca de 21.157.000m3.

3- O PROJETO DE TERREPLENAGENS E AS SUAS SOLUÇÕES

3.1 - Dimensionamento da infraestrutura (sub-balastro e plataforma)

Por definição, a superestrutura de uma via-férrea (constituída pelos carris, as travessas e o balastro)
assenta sobre a infraestrutura, a qual é constituída geralmente pela camada de sub-balastro e pela
plataforma. Tendo por base o dimensionamento definido na ficha 719R da UIC, que utiliza determinados
parâmetros da via (tipo de comboios em exploração, as cargas máximas por eixo, o tipo de travessas, a
plataforma e as condições de execução de obra) e sendo fixada à partida uma espessura mínima para o
balastro de 0,30m sob o carril da fila baixa, os cálculos de projetos definiram a necessidade de uma
espessura de sub-balastro de 0,25m nos troços novos (Boughezoul / Djelfa e Ksar El Boukari /
Boughezoul) e de 0,28m na modernização e duplicação do troço Beni Mansour / Bejaia.

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O dimensionamento da plataforma ferroviária foi, de igual forma, executado de acordo com o definido na
ficha 719R, no qual basicamente são definidos três tipos de plataforma, designados por P1, P2 e P3, que
correspondem respetivamente a uma plataforma de qualidade de suporte medíocre, plataforma de
qualidade de suporte média e a uma plataforma de boa qualidade de suporte. Nos três projetos
desenvolvidos, o APD definia a plataforma P3 como a plataforma a implementar em obra, o que
corresponde ao geralmente exigido para plataformas de linhas novas ou para a modernização de
plataformas de linhas existentes com velocidades iguais ou superiores a 100km/h.

A definição do tipo de plataforma está diretamente ligada com a classificação dos solos ou rochas (classes
de solos QS segundo a ficha UIC 719R) previstos ocorrerem à cota do fundo das escavações ou serem
colocados na parte superior dos aterros. A classificação QS, que inclui os solos QS0 (solos maus ou
impróprios para constituir a plataforma), os solos QS1 (solos medíocres), os solos QS2 (solos médios) e
os solos QS3 (solos bons) resulta das características e propriedades físicas dos solos ou rochas. No
entanto, a ficha UIC define ainda que a classificação QS poderá em alguns casos ser ajustada em função
das condições hidrológicas/ hidrogeológicas e/ou das condições de drenagem da plataforma, uma vez que
o estado hídrico dos solos pode afetar a capacidade de suporte dos mesmos.

Com exceção dos solos QS3, todos os restantes solos obrigam à colocação de coroamento (designado por
“couché de forme”) de forma a garantir uma plataforma boa qualidade de suporte (tipo P3), ou seja,
garantindo um módulo de deformabilidade em recarga (Ev2) igual ou superior a 80MPa.

Com base no estudo dos materiais ensaiados em laboratório e da sua classificação, verificou-se que,
tendo em atenção as percentagens relevantes de finos, os valores de plasticidade e o estado hídrico, a
maioria dos solos nos dois troços a construir nas montanhas e planaltos do Atlas corresponderiam a solos
e rochas do tipo QS1, compostos por solos areno argilosos, siltosos ou argilosos e rochas margosas
brandas. Nos restantes materiais, ocorreria ainda uma percentagem relevante de solos do tipo QS2,
correspondentes sobretudos a solos arenosos com poucos finos ou cascalhos arenosos e a materiais
rochosos de dureza média (calcários e grés). Alguns dos solos ensaiados, sobretudo os com maior
percentagem de finos (siltes e argilas), devido aos valores muito elevados de plasticidade, a estados
hídricos húmidos / muito húmidos e/ou a contaminação resultantes de sais (sal e/ou gesso) foram
classificados como QS0.

Já no caso dos solos analisados para o troço de modernização e duplicação da linha existente entre Beni
Mansour e Bejaia verificou-se por norma a ocorrência de solos de fraca qualidade geotécnica, com
percentagens relevantes de finos, classificados geralmente apenas como QS1. Para além disso, face ao
facto de o traçado se desenvolver em grande parte ao longo da planície aluvionar do rio Soummam, com
níveis freáticos elevados, ocorrem situações frequentes de solos classificados como QS0 e com
capacidade de suporte reduzida.

Perante esta variabilidade de materiais, foram então definidas as espessuras das camadas que
constituem o coroamento, de forma a garantir a plataforma com a qualidade de suporte pretendida. A
pedido do cliente, por razões de gestão dos materiais em obra, o coroamento foi por regra dividido em
duas camadas (“couche de fondation” e “couche de forme”), cujos materiais, embora com características
diferentes, cumpriam os valores mínimos exigidos para os materiais do tipo QS3.

Para os três projetos, em situação de aterro, tendo em atenção que foi admitida a utilização de solos do
tipo QS1 na construção da parte superior do aterro, a espessura do coroamento será sempre 0,50m em
materiais do tipo QS3 (figura 7).

Figura 7 – Perfil transversal do projeto em situação de aterro com representação do coroamento com 0,50m de
espessura total (em materiais QS3)

No que se refere às zonas em escavação dos troços novos a construir, com base no zonamento dos solos
ou rocha previstos ocorrerem à cota do fundo de caixa, a espessura das camadas que constituem o

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coroamento será de 0,35m ou 0,50m (em materiais do tipo QS3), respetivamente nos troços com solos
QS2 ou QS1.

Em alguns troços em escavação ou com plataforma a cota próxima do terreno natural (situações de
aterro com altura inferior a 0,50m) verificou-se no zonamento elaborado no estudo geológico e
geotécnico que ocorrerão solos com estado hídrico húmido a muito húmido, denunciando situações de
nível freático junto à plataforma e/ou com contaminação de sais, classificados como QS0, e como tal
considerados impróprios à execução de uma plataforma. Nestas situações foi considerado o seu
tratamento através da colocação de uma camada de reforço da fundação com 0,50m de espessura,
constituída por materiais granulares drenantes envoltos em geotêxtil, que precederá a execução da
camada de coroamento com 0,50m de espessura.

No troço final da linha existente, em que a mesma se desenvolve de forma bastante agarrada ao terreno
plano da planície aluvionar, a menor capacidade de suporte dos solos QS0 obrigou ao ajuste da solução,
executando-se a camada de materiais granulares drenantes com uma espessura de 1,0m, envolta em
geotêxtil de reforço, precedida do melhoramento do terreno por meio de rachão penetrado (figura 8).

3.2 - ESCAVAÇÕES E ATERROS

3.2.1 - Escavações

Nos dois projetos de traçados novos (Ksar / Boughezoul e Boughezoul / Djelfa), tendo em atenção que
em algumas zonas são atravessados relevos rochosos relativamente proeminentes, a materialização do
traçado implica a execução de escavações que em alguns casos atingem dimensões bastantes
significativas. Em cerca de 13 escavações a altura atingida ao eixo ultrapassa os 15m, chegando a um
máximo de 34m e 35m, respetivamente no troço Ksar / Boughezoul e Boughezoul / Djelfa.

Figura 8 – Perfil transversal do projeto Beni Mansour / Bejaia com solução de tratamento da plataforma em zona de
solos QS0 precedido de reforço do terreno com rachão penetrado

Já no caso do troço existente, a maioria das escavações resultantes da duplicação da via, regra geral, não
ultrapassa os 10m de altura ao eixo, atingindo pontualmente os 15 a 18m. É, no entanto, exceção um
troço com cerca de 20km, correspondente a uma zona de variante inserida na encosta do vale, no qual as
escavações atingem alturas ao eixo entre 20 a 25m (na embocadura de 3 túneis a executar) e que
originam taludes com alturas até 35 a 40m, em resultado da inserção em situação de meia encosta.

Como habitual, tendo como referência as alturas previstas atingir nos taludes de escavação, foi feita a
definição das geometrias / inclinações dos mesmos tendo em consideração as características litológicas,
estruturais e geotécnicas dos terrenos a escavar.

Na maior parte das escavações dos dois troços novos serão interessados terrenos compostos por solos
granulares compactos ou rocha decomposta a muito alterada e muito fraturada, tendo sido adotada uma
geometria geral de 1/1,5 (V/H). Nos taludes com altura superior a 10m considerou-se a execução de
banqueta de 4,0m de largura, espaçadas de 8,0m por forma a reduzir-lhe a inclinação média e a
extensão de escorrência sobre a face conferindo-lhe maior estabilidade.

Em algumas situações, face às características dos solos presentes, pouco compactos e/ ou


descomprimidos, foi necessário suavizar a geometria prevista por forma a garantir a estabilidade dos
taludes. Em alguns casos o último talude após a banqueta foi suavizado com uma inclinação de 1/2
(V/H). No atravessamento de um pequeno campo de dunas, composto por areias finas soltas com pouco
finos, foi definida uma geometria de 1/2 (V/H) com execução de uma banqueta com 4m de largura aos
4,0m de altura. Nesta escavação, tendo em atenção a grande suscetibilidade da face do talude a
fenómenos de erosão / ravinamento em períodos de chuva e/ou de vento intenso, foi ainda definida uma

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solução de revestimento / estabilização dos taludes por meio de uma estrutura alveolar composta por
“geo-favos” de malha hexagonal, preenchidos por “terra vegetal” com sementes (Figura 9).

Figura 9 – Perfil transversal com solução de revestimento por “geo-favos” na escavação em zona dunar

No troço final do Boughezoul / Djelfa, que atravessa zonas de escavações em terrenos de comportamento
essencialmente rochoso, pouco a medianamente alterado, com taludes de altura significativa, foram
consideradas inclinações mais acentuadas de 1/1, 1,5/1 ou mesmo de 2/1 (V/H). A sua definição foi
balizada em grande parte em função das análises de estabilidade resultantes da projeção estereográfica
das atitudes do plano do talude e dos planos de estratificação e fracturação do maciço rochoso,
determinados em estações geomecânicas de campo. Nestes taludes foi considerada a execução de
banquetas espaçadas de 10m.

Em algumas das situações de taludes rochosos verificou-se que, embora a estabilidade global do maciço
pouco alterado estivesse assegurada, existia possibilidade efetiva de queda de blocos para a plataforma.
Nestas situações, quando não se verificava um agravamento lateral significativo da altura do talude
optou-se pela execução de banquetas laterais de pé de talude para acomodação de blocos caídos. O
dimensionamento da largura e profundidade destas banquetas foi feito tendo em atenção a altura e
inclinação dos taludes de acordo com o proposto por Ritchie (1963). Esta solução foi complementada em
alguns locais com o revestimento da face do talude por meio de redes de encaminhamento por forma a
potenciar a paragem dos blocos nas banquetas e evitar as alturas de queda com ressalto superiores a
10m.

No troço Beni Mansour / Bejaia, tendo em atenção que a grande maioria das escavações interessa
formações com solos não consolidados e/ou pouco compactos e rochas brandas, foram adotadas por
norma geometrias de 1/1,5 (V/H) ou mesmo 1/2 (V/H). Apenas em troços pontuais, de meia encosta,
com ocorrência de rocha foi possível admitir inclinações mais acentuadas de 1/1 (V/H), mas
frequentemente complementadas com reforço dos taludes de escavação por meio de pregagens, betão
projetado e malha eletrossoldada em zonas de maciço rochoso muito alterado e/ou fraturado. Neste
projeto, tendo em atenção, por um lado, os valores dos parâmetros geotécnicos (compacidade, alteração
resistência e deformabilidade) frequentemente baixos e, por outro, os condicionamentos frequentes de
espaço (por ocupação urbana ou pela inserção a meia encosta), foi necessário recorrer, em algumas
situações, à delimitação dos taludes por meio de estruturas de contenção.

3.2.2 - Aterros

Em face da orografia algo variável em que se desenvolvem os projetos, pode-se dizer que as dimensões
dos aterros a construir, no que se refere à sua extensão e altura, são algo variáveis. Ainda assim,
verifica-se que os três projetos têm em comum o facto de apresentarem uma maioria de aterros com
alturas relativamente modestas, que não ultrapassam os 6 a 10m, em virtude da implantação em zonas
relativamente planas, mas obrigarem à execução de alguns aterros de alturas bastante significativas, em
zonas de orografia mais acidentada, por vezes com linhas de água bastante encaixadas, que chegam a
atingir os 15 a 18m ao eixo e/ou em situação de meia encosta com alturas de talude entre os 16 a 19m.

No que se refere às inclinações dos taludes de aterro, tendo em atenção as alturas previstas, os materiais
definidos para a sua construção e as condições de fundação, foi adotada uma geometria geral de 1/2
(V/H) em todos os projetos. Nas situações de taludes com altura superior a 15m considerou-se a
execução de banqueta de 4,0m de largura a partir dos 10m por forma a reduzir a inclinação média e a
extensão de escorrência sobre a face conferindo-lhe maior estabilidade.

Nas situações de aterros a meia encosta (com inclinação >12º em aterros com H≥10m ou >15º em
aterros com H<10m), para garantir a estabilidade da fundação e dos próprios aterros, foi definida uma
solução de endentamento sistemático do terreno, após decapagem e eventual saneamento dos solos
mais superficiais soltos ou pouco coesos. Nos casos mais desfavoráveis, com altura superior a 15m no
talude e/ou com linhas de água próximas do pé do mesmo, foi prevista a constituição da base do aterro

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em materiais granulares insensíveis à água e o reforço do pé do talude por meio de um trapézio de


enrocamento (figura 10).

Figura 10 – Perfil transversal de aterro de grande altura em zona de meia encosta com endentamento da fundação
base me material granular e reforço do pé do talude em enrocamento

De acordo com o descrito anteriormente, o clima e regime hidrológico existentes nas regiões dos projetos
dão origem a episódios de inundação relativamente frequentes, abrangendo por exemplo áreas
relativamente extensas e espraiadas nos planaltos do Atlas e na planície do rio Soummam ou atingindo
zonas bastante localizadas, de linhas de água encaixadas nas zonas de maior relevo, com elevado poder
erosivo, ocorrentes nas vertentes do vale do rio Soumman ou nos relevos do Atlas.

Devido a esta situação era desde logo indicado nos cadernos de encargos a necessidade do estudo e
definição de perfis tipos para construção de aterros em zonas não inundáveis e em zonas inundáveis que
garantissem a estabilidade dos aterros (Figura 11).

Assim, nos perfis tipo dos aterros a construir em zona não inundável, salvo situações particulares de
aterros de alargamento da linha existente, poderão ser utilizados na parte inferior e corpo dos aterros
todos os materiais do tipo solos ou rocha resultantes das escavações definidos como materiais
reutilizáveis. Apenas na parte superior do aterro - PSA (últimos 0,50m) deverão ser utilizados os
melhores solos, tendo que garantir um módulo de deformabilidade EV2≥45MPa no caso de solos coesivos
ou de EV2≥60MPa em solos granulares.

No que se refere aos perfis tipo para construção dos aterros em zona inundável foi definido que a parte
inferior do aterro, até 0,50m acima da cota de cheia (C.F.E.– Cote file d´eau) determinada no estudo
hidrológico/hidráulico, será construída com solos granulares pouco sensíveis à água ou com materiais
rochosos. Na construção da restante parte do corpo do aterro e na parte superior do aterro serão
utilizados os materiais previstos para os aterros de zona não inundável.

Nos perfis de zona inundável foi ainda prevista a proteção dos taludes por meio da colocação de materiais
rochosos, de acordo com as características definidas na ficha Nº7 – Matériaux de zone inondable da
especificação técnica da SNCF ST Nº590B (1999), nomeadamente 63mm<D<200 ou 500mm, coeficiente
de desgaste LA+MDE80% e #20012%, com uma espessura entre 0,60m e 1,5m. Em alguns aterros a
construir em zonas de linhas de água encaixadas com elevado poder erosivo, a proteção com
enrocamento do lado de montante foi incorporada no corpo do próprio aterro, sendo definida com uma
largura de 3,0m e executada até 0,5m acima da cota C.F.E.

Figura 11 – Perfis transversais de aterro em zona não inundável e em zona inundável – troço Boughezoul / Djelfa

Tal como referido, a partir dos ensaios laboratoriais sobre amostras de solos e rocha foi feito um estudo
rigoroso dos materiais resultantes das escavações e de várias manchas de empréstimo com vista à

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definição da sua utilização na construção dos aterros, permitindo uma seleção, gestão e controlo dos
materiais que garanta as características definidas.

Com base na análise dos resultados obtidos nos ensaios laboratoriais para os materiais que serão
escavados ao longo de cada lote, as respetivas classes de materiais segundo as classificações Unificada
(USCS) e as classificações Francesas GTR (LCPC/SETRA) (1992) e ficha UIC 719R (2008) e seguindo as
condições gerais definidas na especificação técnica ST Nº590B, foram definidas as percentagens de
reutilização dos materiais escavados com aptidão geotécnica adequada para a sua colocação nas
diferentes partes que constituem os aterros (corpo, parte inferior do aterro e parte superior do aterro).

Na análise e definição das percentagens de reutilização dos materiais escavados foi tido ainda em
consideração o definido no guia técnico do LCPC / SETRA (1992) que, para além das características dos
próprios solos, também define a classificação dos materiais utilizáveis na construção dos aterros e nas
camadas do coroamento (“couche de forme”) tendo em atenção o estado hídrico dos materiais, as
condições atmosféricas existentes durante a construção dos aterros e a altura dos mesmos.

De acordo com a ficha UIC 719R foram excluídos da colocação em aterro os solos da classe QS0,
correspondentes ao solos contaminado com sais e/ou com estados hídricos húmidos a muito húmidos (h
ou th) assim como os solos da classe QS1(a) que apresentavam plasticidade elevada e/ou
expansibilidade, definidos por um limite de liquidez (LL) igual ou superior a 50% e um índice de
plasticidade (IP) igual ou superior a 20% e /ou que apresentassem teores em água natural que na
comparação com o valor de teor em água ótimo do ensaio Proctor os classificassem como húmidos ou
muito húmidos.

Assim, tendo por base a análise referida, preconizou-se a reutilização dos solos de melhor qualidade dos
tipos GM, GC, GM-GC, GW-GC, SP e SM (classificação USCS) C1B4, C1B5, B2, B5 e B6 (classificação GTR
LCPC/SETRA) e QS1(b), QS2 (ficha UIC 719R) na construção da parte superior dos aterros (PSA).

Em zonas não inundáveis, para o corpo e parte inferior dos aterros definiu-se que poderiam ser utilizados
todos os solos admitidos na PSA e ainda os solos dos tipos SC, CL e ML (classificação USCS), C1A1, A1 e
A2 (classificação GTR LCPC/SETRA) e QS1(a) (ficha UIC 719R). Foi definido que estes aterros poderiam
ser também construídos sob a forma de aterros de enrocamentos de granulometria extensa ou de solo
enrocamento tendo por base os materiais classificados como R21, R22, R41 e R42 (classificação GTR
LCPC/SETRA) e QS1(b), QS2 ou QS3 (ficha UIC 719R).

Relativamente à fundação dos aterros, esta irá ocorrer sobre um conjunto de terrenos com características
bastante diversas tendo em atenção a variabilidade das formações geológicas atravessadas pelos
traçados. Nos dois troços novos a executar, com base nas observações realizadas nos reconhecimentos
de campo e na análise dos resultados dos trabalhos de prospeção realizados, verificou-se ainda assim
que, na maior parte das situações, após a decapagem da “terra vegetal”, a escarificação (em cerca de
15cm), regularização e compactação da superfície da fundação, os terrenos deverão possuir boas
características no que concerne à resistência e deformabilidade para a fundação dos aterros, não se
prevendo problemas de estabilidade ou assentamento desde que sejam cumpridas as especificações
definidas no projeto relativas aos materiais e metodologias de construção dos aterros.

Nestes troços apenas em alguns locais a fundação dos aterros irá ocorrer sobre depósitos recentes não
consolidados, formados por aluviões silto-argilosas ou argilosas, plásticas, ou constituídos pelas crostas
de sais e argilas, os quais correspondem assim a terrenos moles com possibilidade de ocorrência de nível
freático elevado e como tal com capacidade de suporte reduzida e deformáveis. Nestes casos face às
espessuras relativamente reduzidas dos materiais menos competentes foram executadas soluções de
tratamento por meio de saneamento total e substituição por solos granulares ou, nos casos de nível
freático a pequena profundidade, saneamento parcial dos depósitos e substituição por material rochoso
sobre o qual é colocado um geotêxtil de reforço.

Já no caso da linha existente verificou-se uma situação quase inversa, ocorrendo com frequência a
necessidade de soluções para tratamento e reforço dos terrenos de fundação, em particular nos casos de
alargamento dos aterros da linha existente para o lado da planície aluvionar do rio Soummam. Os
tratamentos passam na maioria dos casos por saneamentos e substituição por materiais granulares
envoltos em geotêxtil ou mesmo por materiais de enrocamento com penetração no terreno por forma a
garantir a sua estabilização. Nos aterros de pequena altura (H≤1,5m), resultantes de pequenas subidas
da rasante, por forma a garantir um comportamento estável e homogéneo da nova plataforma, foi
preconizada a sua construção apenas com solos granulares (do tipo QS2 ou QS3) ou com agregados
(figura 12).

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Figura 12 – Perfil transversal de aterro de altura reduzida (H≤1,5m) com tratamento e reforço da fundação na zona de
alargamento da plataforma

3.3 - BLOCOS TÉCNICOS

Nas infraestruturas lineares rodoviárias e ferroviárias as zonas de transição entre os aterros e as obras de
arte / estruturas enterradas são locais particularmente sensíveis, pelo que deverão ser executados os
chamados “Blocos Técnicos” de modo a garantir uma transição suave da rigidez da plataforma entre a
obra em terra e a obra de arte ou na zona de estrutura enterrada.

Nas linhas férreas, face à dimensão e comportamento das solicitações verticais induzidas pelas cargas
circulantes, estas transições são particularmente sensíveis, em especial nos troços de plena via, uma vez
que as velocidades de projeto são mais elevadas, sendo potenciadas as consequências na plataforma de
via dos contrastes de rigidez verificados. São geralmente privilegiadas soluções com materiais granulares
em detrimento de soluções com lajes de transição em betão, uma vez que estas têm tendência a acabar
por quebrar, provocando deficiências nos parâmetros de circulação da via e condicionamentos na mesma.

Em face da relevância desta questão, em obras ferroviárias de grande dimensão, velocidade elevada e ou
correspondentes a linhas importantes, o ideal é que na definição e dimensionamento dos blocos técnicos
seja feita uma análise do comportamento dos mesmos através da modelação por meio de elementos
finitos. No entanto, tendo em atenção os custos e os tempos significativos associados a esse trabalho, é
geralmente aceite a definição e ajuste dos mesmos com base em soluções já estudadas e tipificadas por
entidades ou organismos técnicos reconhecidos e aceites pelos donos / gestores das redes ferroviárias.

Nos três projetos desenvolvidos as soluções adotadas na definição para os blocos técnicos a construir nos
troços novos correspondem ao ajuste das soluções definidas pela SNCF (Société Nationale de Transport
Ferroviaire), aceites pelas entidades ferroviárias na Argélia. As soluções, a executar nos encontros das
Obras de arte (viadutos, pontes passagens inferiores), sobre estruturas enterradas (proteções de
gasodutos, passagens hidráulicas em quadro ou passagens hidráulicas circulares com recobrimento igual
ou inferior a 2,0m), foram definidas em função do tipo de estrutura, das condições de implantação dos
blocos e do faseamento de obra.

Correspondendo a blocos técnicos a construir antes da execução dos aterros da plataforma, refere-se, em
termos muito gerais, que são constituídas por dois tipos de materiais (mistura de agregado-cimento (GT)
e agregados britados de granulometria extensa (GNT)), com características muito distintas dos materiais
dos aterros (RMC), com o objetivo de garantir um aumento gradual da rigidez na aproximação à
estrutura.

Na figura 13 são apresentados alguns exemplos das soluções respetivamente para o encontro de pontes,
para passagens inferiores ou quadros (com espessura de recobrimento ER maior que 0,70m e menor que
0,70m) e para passagens hidráulicas com recobrimento ER inferior ou igual a 2,0m, sendo que a
espessura ER é medida entre a base do balastro e o extradorso da estrutura.

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Figura 13 – Soluções de blocos técnicos para pontes, quadros e passagens hidráulicas circulares

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A execução de projetos ferroviários na Argélia corresponde a um trabalho que ultrapassa em larga


medida as questões meramente técnicas a eles associados, por força da interação com a realidade
Argelina e as suas especificidades. Deste modo, o desenvolvimento de projetos com a dimensão dos aqui
descritos tendo em atenção essas especificidades, o enquadramento geomorfológico muito próprio e as
questões técnicas específicas fizeram destes projetos um desafio muito aliciante de ultrapassar, cujo
resultado teve um desfecho, no global, muito positivo com a definição de soluções técnicas claramente
adequadas e ajustadas.

Face à postura de uma resistência relativamente recorrente dos intervenientes Argelinos perante ajustes
ou mudanças significativas no definido no APD, a abordagem de desenvolvimento do projeto teve que ser
feita de forma por vezes pragmática, ou seja, ajustando o mesmo apenas no que se verificava
imprescindível, com soluções técnicas adequadas aos problemas mas que correspondessem
essencialmente a soluções claramente habituais no desenvolvimento de projetos de terraplenagem e
exequíveis na realidade Argelina.

Os projetos encontram-se presentemente em fases distintas. No que se refere aos dois troços de traçado
novo, os projetos estão terminados, encontrando-se o troço Boughezoul / Djelfa em execução, numa fase
já bastante avançada da obra (figuras 14 a 16), enquanto que o troço Ksar El Boukari / Boughezoul,
aguarda a indicação para se iniciarem os trabalhos. No que se refere à modernização e duplicação da
linha existente entre Beni Mansour e Bejaia, o projeto encontra-se em fase de conclusão, tendo já
arrancado a execução em obra.

Figura 14 – Execução dos trabalhos de terraplenagem do troço Boughezoul / Djelfa

Figura 15 – Execução dos trabalhos de terraplenagem do troço Boughezoul / Djelfa

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Figura 16 – Plataforma e superestrutura de via no troço Boughezoul / Djelfa

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à empresa COSIDER a autorização concedida para a divulgação dos resultados dos
estudos e projetos apresentados.

REFERÊNCIAS

Askri, H., Belmecheri, A., Benrabah, B., Boudjema, A., Boumendjel, K., Daoudi, M., Drid, M., Ghalem, T., Docca, A. M.,
Ghandriche, H., Ghomari, A et al. (1995) - Géologie de l’Algérie. Contribution de SONATRACH Division
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FOUNDATION ON ROCK OF THE MISICUNI DAM

FUNDAÇÃO ROCHOSA DA BARRAGEM DE MISICUNI

Siacara, Adrian Torrico; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, adrian.torrico@usp.br
Salinas, Mauricio; Universidad Mayor de San Simón, Cochabamba, Bolivia, mauricio.salinas.0@gmail.com
Futai, Marcos Massao; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

ABSTRACT

This article aims to determine the correct dimension and the stability against sliding of the foundation at
the Misicuni Dam from the characterization of the rock and rock properties. The type of dam is a concrete
face rockfill dams (CFRD) with 120 m of height and a foundation that is called plinth. The studied plinth
was based on the proposed methodologies in order to determine its classification and shear strength of
the rock mass. The Rock Mass Ratings (RMR) was determined through Bieniawski (1989) and other RMR
that was used in this project (RMRfi). Based on the tests and the RMRfi in the foundation of the plinth the
width of the plinth was determined; in addition, the loads that are applied in the plinth were determined
in order to evaluate the stability of the plinth against sliding. The dimension of the plinth and the
determination the stability of the plinth against sliding is determined from the collection of information,
geological structure, rock properties and characteristics of the foundation in rock where the following
sequence will be followed. The first step is to determine the RMRfi, after that the applied loads in the
plinth are determined in order to dimension the plinth and determine the stability of the plinth against
sliding.

RESUMO

Este artigo visa determinar a dimensão correta e a estabilidade contra deslizamento da fundação da
Barragem de Misicuni a partir da caracterização da rocha e das propriedades da rocha. O tipo de
barragem é uma barragem de enrocamento com face de concreto (CFRD) com 120 m de altura e uma
fundação que é chamada de plinto. O plinto estudado baseou-se nas metodologias propostas para
determinar a classificação e resistência ao cisalhamento da massa de rocha. A classificacao da massa de
rocha (RMR) foi determinada através de Bieniawski (1989) e outro RMR que foi utilizado neste projeto
(RMRfi). Com base nos ensaios e no RMRfi na base do plinto foi determinada a dimensão do plinto. Além
disso, as cargas que são aplicadas no plinto foram determinadas para calcular a estabilidade do plinto
contra deslizamento. A dimensão do plinto e a determinação da estabilidade do plinto contra o
deslizamento são determinadas a partir da coleta de informações, estrutura geológica, propriedades de
rocha e características da fundação em rocha, onde a sequência a seguir será seguida. O primeiro passo
é determinar o RMRfi, depois disso determinam-se as cargas aplicadas no plinto para dimensionar o plinto
e determina-se a estabilidade do plinto contra deslizamento.

1- INTRODUCTION

The historical necessity for additional water for the central valley of Cochabamba has led to the
implementation of the Misicuni multiple project, where one of the works of the project is the construction
of a dam that will have a final height of 120 m. The project is located in the mountain range of Tunari in
the city of Cochabamba, and involves the use of the Misicuni, Viscachas and Putucuni rivers with the
damming and transferring of its waters. The dam has a height of 120 m, a length of 537 m in the crest,
and the height of the crest is 3784 meters above sea level (Misicuni Company, 2008). The CFRD consists
of a waterproof face of upstream concrete slabs, and it is connected to the rock foundation through the
plinth (Hunter, 2003). The plinth is a non-erodible element that connects the dam and the rock
foundation (Cruz, 2009).

The geological and geotechnical studies of dams are developed in line with the different phases of the
dam project and construction. It is necessary to carry out a geological-geotechnical control during the
construction of the dam in order to verify the geological conditions of the project and its adaptation to the
work (Gonzales de Vallejo, 2002). In the construction of the Misicuni Dam, it is necessary to carry out the
geological and geotechnical studies because during the construction or the excavation the rock mass
could change and the conditions could be unfavorable; therefore, the geological and geotechnical study is
very important in order to be sure that the proposed design is adequate.

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During the design and construction of a dam is not enough to know about the rock or soil (type and
properties). However, the understanding geological processes that have developed in the region where
the project is implemented is one of the most important things (Espinosa, 2010).

Rock mass characterization refers to the compilation of information and data to build a conceptual model
of the rock foundation in which all geologic features that might control the stability of project structures,
as well as the physical properties of those features, are identified and defined (USACE, 1994).

Dam foundations typically require significantly more extensive investigation and design programs than do
buildings, and most bridges. These programs will often comprise driving exploration adits in the
foundations and abutments, comprehensive laboratory and in situ soil and rock strength test, and a
detailed analysis of gravity and seepage forces induced in the foundation (Duncan, 1999)

2- GEOLOGICAL STRUCTURE

The corresponding study was carried out in the excavations and laboratory of all outcrops in order to
characterize, describe and classify the rock mass (Gonzales de Vallejo, 2002).

The Rock Mass Rating (RMR) of Bieniawski (1989) is a classification system of the rock mass that allows
relating the quality indices with geotechnical parameters. The following parameters are quantified by a
series of terms defined values whose sum in each case gives the RMR and the classification of the final
rock mass (RMRfi), and both of them vary between 0-100. The difference between the two classifications
is the water parameter; furthermore, the RMRfi is the sum of the first four terms of the RMR, and the last
term because of the difficulty of measuring the water pressure taken as 7 (Romana, 2004).

The most complete documentation of foundation failures has been made for dams because the
consequences of failure are often catastrophic. Also, the loading conditions on dam foundations are
usually more severe than those of other structures so study of these failures gives a good insight on the
behavior and failure modes of rock foundations. The importance of foundation design is illustrated by
Gruner’s examination of dam failures in which he found that one third could be directly attributed to
foundation failure (Gruner, 1964 and 1967).

3- CARACTERISTIC OF THE FOUNDATION ON ROCK

The foundation design process requires organization and analysis of all the available information about
the structure to be supported and the subsurface conditions. The optimal foundation solution transfers
the structural loads to the ground in a way that minimizes cost over the life of the structure without
sacrificing safety or performance. This requires engineers to consider all things that could go wrong so
that they can prevent them from happening. Most foundations were built without empirical rules and
arbitrary judgments. Now, we have the tools to build much more rational and economical foundations
(Salgado, 2006). The stability and safety of a structure depend upon the proper performance of its
foundation. Hence, the first step in the successful design of any structure is that of achieving a proper
foundation design (Baban, 2016).

3.1 - Plinth

The foot of the concrete slab of a CFRD dam is usually hard, not erodible and is called a plinth (Figure 1).
A careful excavation must be made in order to avoid the perturbation and fracturing the rock mass. After
making a trench, an estimate is made of the base of the foundation where the criterion is to eliminate the
possibility of erosion in the foundation. It is necessary to use air or air with water just before placing the
concrete to obtain an adequate bond between the concrete and the rock foundation (Cooke and Sherar,
1987).

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Figure 1 - Typical design of the plinth (based on Chau, 2004)

The plinth has an important role in the performance of CFRDs dams in controlling water flow through the
foundation. When the foundation is not made on solid rock, different treatments are carried out (USACE,
2004). In the design of the plinth, force and deformation must be taken into account to avoid possible
faults (Chau, 2004).

3.2 - Dimensions of the Plinth

When undertaking the design of a plinth, the following aspects must be taken into account: Permissible
hydraulic gradients, Geological characteristics of the foundation rock and Geometry of the intersection of
the surface of the ground and the face of the water upstream of the dam (Espinosa, 2010).

3.2.1 - Width of the Plinth

They are based on the RMR found on the plinth and the height of the water load (H). Table 1 shows the
relationship to find the width of the plinth.

Table 1- RMR related to the width of the plinth (Cruz, 2009)


RMR With of the plinth
80-100 0.053*H
60-80 0.065*H
40-60 0.083*H
20-40 -
<20 -

Other option, if the classification RMR is less than 40, is to use the definition of hydraulic gradient (i)
(Table 2) expressed by the following equation.
∆ℎ
i= [1]
𝐵

Where Δh is the height difference of the water table and B is the width of the plinth.

Table 2- RMR related with the hydraulic gradient (Sierra, 1985)


RMR Hydraulic gradient
80-100 18-20
60-80 14-18
40-60 10-14
20-40 4-10
<20 Deeper foundation or cutting wall

3.2.2 - Thickness of the plinth

It varies according to the height of the dam (> 120 m) of 0.9 - 1 m in the section of river bed and reduce
thickness to 0.6 to 0.4 m in the abutment. As a first attempt the thickness of the plinth can be
established as the same as the face of the slab (Materón, 2008).

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3.3 - STRUCTURAL LOADS

The plinth must withstand the horizontal thrust load of the water (R 9) on the plinth without the help of
the body of the dam and it should have a sufficient thickness to have a sufficient friction to resist the
thrust of the water (Figure 2).

Figure 2 - Action of the forces in the plinth (based on Cruz, 2009)

The Figure 2 shows the loads R1, R2 and R3 that are a vertical load of water, the loads R4, R5 and R6 that
are the weight of the plinth and the concrete face, the loads R 7 and R8 that are the weight of the rock
mass. There are other loads that act on the dam (sediment and wave thrust) that are less important
because of the height of the dam and the time it would cause effects on the dam and the plinth. A load
that is taken into account is the load of earthquake that will produce an additional increase of loads that
affect the dam and the plinth from 10 to 20% (Vallarino, 1998).

The water impounded in a reservoir induces a horizontal force on the dam structure that must be resisted
by the shear strength of the rock in the foundation to prevent sliding type failure (Deere, 1976).

4- STABILITY OF THE PLINTH AGAINST SLIDING

The following equation ensures stability against sliding of the plinth (FSP).
0.67∗𝑁∗𝑡𝑎𝑛(𝜑)+0.33∗𝑐∗𝐿
𝐹𝑆𝑃= ≥1 [2]
𝑇

Where N is the normal net force in the fault plane, L is the length of the flat fails and T is the resultant of
the shear strength of the fault plane (Mauro, 2007).

The design of the plinth has to solve the problem of the integrity of the seal body of the dam as a
structural transition between the concrete screen and the natural formation of the existing ground on the
site. The conditions of location and construction of the plinth during this stage will not always be given, in
case of considerable thicknesses as in some places where the bedrock is covered by powerful
accumulations of loose materials. In these cases, diaphragms or walls have been used (Espinosa, 2010).

The ability of the rock in the foundation to resist sliding failure depends on the orientation and continuity
of faults, joints and bedding planes in the foundation, the shear strength of these discontinuities, and the
uplift pressures generated by the water head in the reservoir (Wahlstrom, 1974 and Rescher, 1981)

5- RESULT AND ANALYSIS

A field study of all outcrops was carried out in order to characterize, describe, and classify the rock mass
in all the plinth slopes and in the slopes near the plinth, obtaining maps of the outcrops with the most
important data, and their respective field sheets, with the necessary information for the study of the rock
mass. Figure 3 shows all the stations of study of the rock mass of the plinth.

The sequence of the study was the classification of the rock, determination of the shear strength,
deformation modulus, determination of the loads in the plinth and the determination of the stability of the
plinth against sliding. All the design of the plinth was performed with the RMRfi and not with the RMR
presented in the theoretical part. The RMRfi was used because there was a lot of doubt about the water
parameter during the classification.

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These rock mass classification systems can be very useful practical engineering tools, not only because
they provide a starting point for the design foundations like the plinth but also because they force users
to examine the properties of the rock mass in a very systematic manner.

One of the major problems confronting designers of engineering structures in rock is that of estimating
the strength of the rock mass. This rock mass is usually made up of an interlocking matrix of discrete
blocks. These blocks may have been weathered or altered to varying degrees and the contact surfaces
between the blocks may vary from clean and fresh to clay covered and slickensided.

The results and the analysis of the geological structure, shear strength and deformation modulus were
presented in the article Torrico and Salinas (2016). They present in a systematic way the results of the
classification of the RMR and RMRfi from laboratory and field tests. They also present the resistant and
deformation properties of the intact mass, rock mass and the discontinuities of the rock mass.

In a typical engineering project, the samples tested in the laboratory represent only a very small fraction
of one percent of the volume of the rock mass. In addition, since only those specimens which survive the
collection and preparation process are tested, the results of these tests represent a highly biased sample.

One step to approve the design of the dam was to determine the RMR fi of the foundation of rock in the
plinth during the construction; in addition, it was compared with the classification of the feasibility studies.
This comparison has been made through the design of the plinth with the method of Cruz (2009) and
with the design of the feasibility studies; furthermore, there were no significant variations in the width.

Figure 3 - Stations of study of the rock mass of the plinth with the name and the height above sea level

The width of the plinth was determined (Table 3) from the classification RMRfi with the criteria of Cruz
(2009) and the width of the construction of the plinth in the Misicuni Dam is showed in the Figure 4.

Table 3 - Width of the plinth of the Misicuni dam from the RMRfi

Calculated Design Hydraulic


Station Abutment Elevation RMRfinal H (m)
Width width gradient (i)
ED1p Rigth 3771 54 9.4 0.8 10 0.9
ED2ap Rigth 3771 51 9.4 0.8 10 0.9
ED2p Rigth 3769 46 11.4 0.9 10 1.1
ED3p Rigth 3766 51 14.4 1.2 10 1.4
ED4p Rigth 3761 52 19.4 1.6 17 1.1
ED5p Rigth 3756 52 24.4 2 17 1.4
ED6p Rigth 3751 49 29.4 2.4 17 1.7
ED7ap Rigth 3739 52 41.4 3.4 10 4.1
ED7p Rigth 3737 49 43.4 3.6 10 4.3
ED8p Rigth 3733 52 47.4 3.9 10 4.7
ED9p Rigth 3725 49 55.4 4.6 5 11.1

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ED10p Rigth 3717 52 63.4 5.3 4 15.9


ED11p Rigth 3709 52 71.4 5.9 6 11.9
ED12p Rigth 3698 49 82.4 6.8 7 11.8
ED13p Rigth 3684 49 96.4 8 8 12.1
ED14p Rigth 3674 49 106.4 8.8 9 11.8
ED15p Rigth 3662 51 118.4 9.8 10 11.8
EI4p Left 3750 46 30.4 2.5 17 1.8
EI5p Left 3750 48 30.4 2.5 17 1.8
EI6p Left 3748 47 32.4 2.7 5 6.5
EI7p Left 3745 49 35.4 2.9 5 7.1
EI8p Left 3741 48 39.4 3.3 5 7.9
EI9p Left 3733 48 47.4 3.9 5 9.5
EI10p Left 3722 54 58.4 4.8 5 11.7
EI11p Left 3718 54 62.4 5.2 5 12.5
EI12p Left 3713 56 67.4 5.6 6 11.2
EI13p Left 3704 52 76.4 6.3 6 12.7
EI14p Left 3697 53 83.4 6.9 7 11.9
EI15p Left 3688 52 92.4 7.7 8 11.6
EI16p Left 3679 56 101.4 8.4 8 12.7

From the stations that determined the width of the plinth less than 4 meters, this length will be taken as
the minimum width of the plinth according to the plans of the Misicuni dam. The criterion advised by
Materon (2008) is not to have a width less than 3 meters.

Figure 4 – Width of the plinth for construction

In the different stations where the width of the plinth was estimated during the construction, it coincides
with the width of the plinth that was defined during the feasibility project and the construction plans of
the Misicuni dam. There are some exceptions in the width of the plinth as shown in the Figure 5.

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Figure 5 - Width of the plinth that differs to the design and the construction

The variation of the width of the plinth that was show in Table 3 and in Figure 4 is due to the fact that the
studies carried out were made before the excavation or during the feasibility studies; therefore, the rock
mass was verified during the excavation, and the rock conditions were not the conditions that were
planned.

The results of the Schmidt hammer, Franklin point load and simple compression tests done in field and
laboratory showed strength of 50 to 100 MPa that was used in the classification of the rock and the
determination of the shear strength.

The different rotational tests at the plinth foundation and the geological reports present geological faults
of clay filling between 0.5 m and 1.2 m wide and a depth greater than 20 m where special treatments
were made in the plinth foundation.

During the studies carried out prior to the excavation of the foundation in rock, it was concluded that the
rock in place was very fractured with a RMRfi less than 40 according to the classification of Bieniawski
(1989). After the excavation of the rock foundation of the plinth, it was found that the RMR fi is greater
than 40 in the whole area that was supposed to be a much more fractured rock in the previous studies.

The designers used equation 1, that considers the hydraulic load, to calcule the width of the plinth that
depends on the height of the hydraulic load where there is a relation for an RMRfi less than 40 according
to the classification of Bieniawski (1989).

If a RMRfi value of less than 20 is found in the rock where the plinth is to be found, according to the
classification of Bieniawski (1989), a deeper foundation or a cut wall must be made.

During the construction, in order to measure and make comparisons with the project phase, through the
width of the plinth was used the correction of Romana (2004) to approach the final conditions of the dam.
In this phase was used the RMRfi of the classification of the rock.

With the variations of the widths of the plinth it is shown that during the feasibility studies the conditions
found can vary during the excavation of the rock which also demonstrates the importance that must be
had during the excavation of the rock. The variation of the width of the plinth means an increase in cost
and execution time.

Table 4 shows the loads that act on the plinth (Rtotal), hydraulic load (H), eccentricity (e), horizontal loads
(Rh) and the loads product of the eccentricity (q1 and q2) of all the stations shown in Figure 3.

Table 4 shows an eccentricity less than L/6 in the entire plinth; in addition, the loads were increased 1.2
by the effect of the earthquake according to Cruz (2009). There is variation in the eccentricity of the
plinth of the Misicuni dam taking into account variation factors in the loads that were taken into account
in the estimation of the load on the rock foundation. The loads that were taken into account are those
that act on the plinth taken from Cruz (2009) and USACE (1994 and 2004).

In the estimation of the loads was used, a specific gravity of the water (γa) of 10 kN/m3, specific gravity
of the concrete (γc) of 24 kN/m3, a specific weight of the rock mass (γe) of 26 kN/m3 and the height of
water load (H) which is the subtraction of the maximum water level with that of the rock foundation. This
information were presented in the article Torrico and Salinas (2016).

Table 4- Estimated loads of all stations

Rtotal q1 q2 Rh
N Station Elevation H [m] e [m]
[KN] [KN/m] [KN/m] [KN]
1 ED1p 3771 9,4 0,56 1546,67 -212,93 -109,11 53,56
2 ED2p 3771 9,4 0,56 1546,67 -212,93 -109,11 53,56
3 ED2ap 3769 11,4 0,49 1782,11 -109,04 -5,22 65,33
4 ED3p 3766 14,4 0,41 2135,27 -120,42 -16,60 82,99
5 ED4p 3761 19,4 0,90 5345,13 -103,44 95,80 112,42
6 ED5p 3756 24,4 0,76 6345,75 -193,09 6,15 141,85
7 ED6p 3751 29,4 0,65 7346,37 -149,94 49,30 171,28
8 ED7p 3739 41,4 0,16 5313,72 -42,73 61,10 241,91
9 ED7ap 3737 43,4 0,16 5549,60 25,75 129,57 253,69
10 ED8p 3733 47,4 0,14 6020,04 14,27 118,09 277,23
11 ED9p 3725 55,4 0,02 3346,07 73,70 102,63 324,32
12 ED10p 3717 63,4 0,02 3816,95 177,69 206,62 371,41

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13 ED11p 3709 71,4 0,03 5180,88 236,75 288,68 418,49


14 ED12p 3698 82,4 0,03 6979,60 488,51 548,29 483,24
15 ED13p 3684 96,4 0,04 9339,15 573,85 648,68 565,64
16 ED14p 3674 106,4 0,05 11616,80 971,18 1060,57 624,50
17 ED15p 3662 118,4 0,06 14378,20 1059,82 1163,64 695,14
18 EI4p 3750 30,4 0,64 7546,49 -43,59 155,64 117,17
19 EI5p 3750 30,4 0,64 7546,49 83,35 282,58 117,17
20 EI6p 3748 32,4 0,03 1992,29 136,29 165,22 188,94
21 EI7p 3745 35,4 0,03 2168,87 132,95 161,89 206,60
22 EI8p 3741 39,4 0,03 2404,31 218,99 247,92 230,14
23 EI9p 3733 47,4 0,02 2875,19 392,53 421,46 277,23
24 EI10p 3722 58,4 0,02 3522,65 585,44 614,37 341,98
25 EI11p 3718 62,4 0,02 3758,09 614,43 643,36 365,52
26 EI12p 3713 67,4 0,03 4891,65 651,71 696,12 394,95
27 EI13p 3704 76,4 0,02 5527,34 728,72 773,13 447,92
28 EI14p 3697 83,4 0,03 7062,00 809,94 869,72 489,13
29 EI15p 3688 92,4 0,04 8962,44 915,63 990,46 542,10
30 EI16p 3679 101,4 0,04 9810,03 907,39 982,22 595,07

The incidence of the earthquake on the Misicuni dam was taken as the increase of all the load affecting
the plinth by 20%. This increase in load has no more than economic effect, because the effect of the
earthquake is to decrease the specific weight of the materials, it avoided that the earthquake has a
destructive effect on the plinth.

The hydraulic gradient (i) that was showed in Table 4 was determined Table 2 where a gradient less than
tolerable is obtained.

During the dimensioning of the plinth it is important not to have an eccentricity greater than L/6 and if a
greater eccentricity would be available it would be necessary to increase the width of the plinth to avoid
this case.

6- CONCLUSIONS

A rock type III score of 40-60 was determined throughout the plinth foundation from the characterization
of the rock mass of the plinth and the rotating tests. The type of rock III that was determined in the
study was used in the design of the plinth, the determination of the settlements, and the determination
of the capacity of support of the rock of the foundation. The concrete face of the dam is supported on the
filling of the dam according to Cruz (2009) and not on the plinth.

The rock classification can be concluded that almost all of the foundation of rock has discontinuities;
therefore, it means that the foundation of rock is a rock mass and not a rock intact. At the beginning of
the foundation's construction in many geological reports and in some bibliographies one had a
misconception regarding the foundation rock's resistance because they had only focused on the
resistance of the intact rock and not on the resistance of the rock mass.

The width of the plinth was determined according to the type of rock mass taking into account a
minimum width of 4 meters, and was compared with the width that was determined in the stage of the
feasibility studies; furthermore, the construction lengths are higher in the higher levels in both abutment.

The structural load of the plinth was estimated taking into account the effects of the earthquake that
could occur in the area taking a more unfavorable estimate of the geometry and the earthquake.

The concrete face of the dam rests exclusively on the filling of the dam according to Cruz (2009) and not
on the plinth.

The plinth tends to slide downstream according to Cruz (2009) and it was determined that the safety
factor is greater than one in the whole plinth which means that the plinth is stable against sliding.

The dimension of the plinth defined feasibility studies may vary during the construction of the plinth
foundation; in addition, the excavation of the rock during the construction is very important since it can
be an important factor to take the decision to redesign the foundation of the plinth.

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ACKNOWLEDGMENTS

The authors wish to thank the Catholic University of Bolivia (UCB) and the São Paulo University (USP) for
funding the research group.

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GEOLOGIA E GEOTECNIA DA FUNDAÇÃO DA BARRAGEM DE FOZ TUA

GEOLOGY AND GEOTECHNICS OF FOZ TUA DAM FOUNDATION

Plasencia, Nadir; EDP Produção, Porto, Portugal, nadir.plasencia@edp.pt


Figueiredo, José Nuno; EDP Produção, Porto, Portugal, josenuno.figueiredo@edp.pt

RESUMO

A barragem de Foz Tua é uma abóbada de dupla curvatura de betão convencional, com cerca de 110 m
de altura máxima e 275 m de desenvolvimento do coroamento. O maciço rochoso onde se insere a
barragem é constituído por granito cujo diaclasamento origina a formação de blocos de grandes
dimensões, sendo a família principal de descontinuidades subvertical e aproximadamente paralela ao eixo
do rio. Estas características geoestruturais dão origem a um vale geomorfologicamente fechado.
Superficialmente os blocos do maciço rochoso são pouco alterados. A caracterização geológico-geotécnica
foi condicionada pelas difíceis condições de acesso ao local, no entanto foram realizadas trincheiras e
galerias de reconhecimento geológico em cada uma das margens. Foram também realizadas sondagens e
perfis geofísicos, assim como ensaios “in situ” e laboratoriais, que permitiram a determinação das
características físicas e mecânicas do maciço rochoso. Os ensaios “in situ” incluíram ensaios de absorção
de água, ensaios dilatométricos e almofadas de grande área. Foram realizados ensaios laboratoriais que
incluíram ensaios de compressão, deslizamento de diaclases e de desgaste. No decurso das escavações
para a fundação da barragem foi realizada cartografia geológica sistemática das superfícies. Neste
trabalho serão apresentados os resultados da caraterização em fase de projeto, nomeadamente o
zonamento geológico-geotécnico, assim como a caracterização após escavações. É realçada a importância
da informação recolhida para o projeto do tratamento de fundações da barragem, assim como para a
avaliação da segurança da barragem para cenários de rotura pela fundação. Destaca-se a particularidade
da localização deste projeto, junto a diversas infraestruturas, obrigando à coordenação com várias
entidades por elas responsáveis.

ABSTRACT

The Foz Tua dam is a concrete double arch one, with a height of 110 m and its crest is approximately
275 m long. The rock mass where the dam is located is a granitic one with a set of joints which
characteristics result in large blocks and a major set almost parallel to the river. Those geostrutural
characteristics result in a geomorphologically closed valley. Superficially the rock mass blocks are slightly
weathered. The access to the site was the main difficulty that affected the geological and geotechnical
investigation works. Nevertheless, survey galleries and trenches were executed in each bank. Also carried
out were boreholes, “in situ” and laboratory tests, which allowed the determination of the mechanical and
physical characteristics of the rock mass. The “in situ” tests included permeability tests, dilatometric tests
and large flat jack (LFJ). The laboratory tests included uniaxial compression, joint shear and abrasiveness
tests. During the excavations for the dam foundation a systematic geological mapping was performed. In
this paper, it will be presented the results of the geological and geotechnical investigation executed for
the design phase, namely the predicted geological-geotechnical model, as well the characterization after
the excavation. The importance of that data for the design of the foundation treatment will be
emphasized, as well as the safety assessment of scenarios of dam foundation failure. The particularity of
this project location, along with several infrastructures implied the coordination with different entities.

1- INTRODUÇÃO

O Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua (AHFT) localiza-se em Portugal continental, no rio Tua, a
1,1 km da confluência com o rio Douro e é constituído pelos seguintes elementos principais: barragem de
betão, do tipo abóbada de dupla curvatura, dispondo de um descarregador de cheias inserido no corpo da
barragem (equipado com comportas), de uma descarga de fundo e de um dispositivo para libertação de
caudal ecológico; central em poço, equipada com dois grupos geradores reversíveis (turbina-bomba),
localizada na margem direita a jusante da barragem; o circuito hidráulico subterrâneo, na margem
direita, constituído por túneis independentes para cada grupo gerador.

A barragem, com cerca de 110 m de altura, domina uma bacia hidrográfica com 3809 km 2 e cria uma
albufeira que para o nível de pleno armazenamento (NPA) à cota (170) tem um volume de 106.1 hm3 e
uma área inundada de 420.9 ha. A albufeira terá, em condições normais, um regime de exploração entre
o nível de pleno armazenamento e o nível mínimo de exploração à cota (167). O nível mínimo de
exploração extraordinário situa-se à cota (162). O coroamento da barragem situa-se à cota (172) e tem
um desenvolvimento de 275 m. Na sua zona central insere-se o descarregador de cheias, com

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capacidade máxima de vazão de 5500 m3/s sob o nível de máxima cheia (NMC=171), e que é constituído
por uma estrutura descarregadora, funcionando em superfície livre, e uma estrutura de dissipação de
energia por impacto.

A central, a cerca de 500 m a jusante da barragem, está equipada com dois grupos geradores
reversíveis, instalados em dois poços com diâmetro de escavação de 19 m, um afastamento entre eixos
de 38.0 m e uma altura 50 m. A extensão total, incluindo a tomada de água, o túnel de adução, o trecho
que abrange a central e a restituição, é de cerca de 700 m para o “circuito hidráulico 1” (do lado do rio) e
de cerca de 770 m para o “circuito hidráulico 2” (do lado da encosta). As estruturas de descarga e
comando situam-se a montante do encontro direito da ponte rodoviária que, nas proximidades da foz do
rio Tua, liga os concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães.

A construção deste empreendimento hidroelétrico teve início em 2011 e entrou em operação em 2017,
integrando um conjunto de investimentos da EDP em centros de produção hidroelétrica na última década.

2- ESTUDOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS

Os estudos geológicos e geotécnicos foram desenvolvidos em diversas fases e para os diferentes


elementos do aproveitamento hidroelétrico, nomeadamente: barragem, túnel de desvio, bacia de
dissipação, circuito hidráulico e respetiva central, mas também para o troço de rio previsto para canal de
restituição, para a zona prevista para a mancha de empréstimo e para a albufeira.

Neste artigo faz-se referência aos estudos relacionados com a caracterização do maciço de fundação da
barragem, nomeadamente os que contribuíram para a definição dos parâmetros geotécnicos de projeto
das escavações e da sua fundação.

A nível do estudo prévio, os estudos geológicos e geotécnicos foram conduzidos admitindo que a
barragem a construir seria compatível com a fixação do nível de pleno armazenamento (NPA) a três
alternativas de cotas (170, 180 e 195), a que corresponderiam alturas da barragem acima da então cota
do leito do rio (≈ 80) de cerca de 90 metros até 115 metros. Entretanto, a DIA (Declaração de Impacto
Ambiental) veio impor o NPA à cota (170) para o aproveitamento hidroelétrico. Assim sendo, na fase de
projeto, a campanha de prospeção e ensaios circunscreveu-se aos estudos para o aproveitamento com
NPA à cota 170, e, também de acordo com as conclusões do estudo prévio, com a barragem abóbada de
betão convencional, circuito hidráulico na margem direita e solução de central em poço. A mancha de
empréstimo estaria localizada imediatamente a montante das tomadas de água do circuito hidráulico,
preferencialmente na margem direita, não tendo sido excluída a hipótese de ser necessária também a
exploração de agregados na mesma mancha litológica, na margem esquerda.

Para a campanha de prospeção e ensaios, foi solicitado pela CCDR-N, ao abrigo do Decreto-Lei n.º
180/2006, publicado a 6 de setembro, a apresentação de medidas minimizadoras para os impactes
inerentes à realização das atividades de prospeção geológico-geotécnica, que vieram a integrar o estudo
de impacto ambiental (EIA) do AHFT.

Os trabalhos foram iniciados em 2005, terminando apenas em 2010, sendo que aqueles específicos para
a fase de projeto se realizaram entre setembro de 2009 e junho de 2010, e foram desenvolvidos com
grandes condicionamentos, designadamente: (i) a dificuldade na obtenção das autorizações junto das
entidades competentes (à data REFER, CCDR-N e EP) para arranque dos trabalhos de campo; (ii)
questões de segurança na margem esquerda, implicando a inoperacionalidade da linha de caminho de
ferro à cota (115); (iii) a dificuldade de criação de pistas de acesso na margem esquerda devido às
elevadas pendentes das encostas e à existência de zonas com condições precárias de estabilidade acima
e abaixo das zonas de trabalhos; (iv) a necessidade de cumprimento da DIA impedindo a realização de
um acesso definitivo na margem esquerda da barragem; e (v) a existência de povoamentos de sobreiros
e azinheiras entre a estrada nacional para Carrazeda e as cotas onde se pretendia a realização da
campanha de prospeção.

2.1 - Geomorfologia e geologia

Na região do aproveitamento predominam os sistemas de fraturas com orientação NNE-SSW que


impuseram uma estruturação em blocos, com reflexo no atual estado morfológico e hidrográfico. O
contraste regional entre formações graníticas e formações xistentas também se reflete na morfologia. Na
mancha xistenta, o relevo corresponde a uma superfície mais ou menos aplanada que se situa entre as
cotas 600 e 650, surgindo os sulcos dos rios Douro, Tua, Pinhão e outros em vales mais ou menos
apertados, aos quais dificilmente se associam depósitos aluvionares. Nas manchas graníticas, as cotas
mais elevadas atingem planuras da ordem dos 900 a 950m. Desníveis topográficos da ordem das
centenas de metros são frequentes na região, sobretudo na vizinhança dos encaixes dos principais rios.

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O vale do rio Tua, no local da barragem, foi escavado por erosão remontante e alargado lateralmente por
ação erosiva do rio e por escorrência e desmoronamento de massas. A fracturação existente,
principalmente as descontinuidades extensas paralelas ao rio terão tido uma contribuição decisiva na
erosão. São visíveis algumas linhas de água, em geral incipientes, que terão contribuído para esse
alargamento. À semelhança do vale do rio Douro, parte do traçado do rio Tua sofreu repetidas inflexões,
traduzidas por alinhamentos de orientação NNE-SSW e WNW-ESE, que refletem o seu forte
condicionamento pela tectónica regional.

A localização da barragem e, em particular a definição da área objeto de estudo geológico e geotécnico,


foi inicialmente condicionada por critérios de produtibilidade pretendidos para o aproveitamento e, numa
fase posterior, pelas condições geológicas e topográficas. No que respeita aos aspetos topográficos, foram
condições de seleção a menor abertura e a simetria do vale. Procurou-se que a barragem se localizasse
em terrenos de natureza granítica (Figura 1). Observa-se que o troço do rio que intersecta a área em
estudo tem aproximadamente 700m em alinhamento retilíneo, encontrando-se o fundo do vale próximo
da cota (80). O fundo do vale tem largura que varia entre 20 e 30 m. Este trecho onde se inseriu o
aproveitamento hidroelétrico desenvolve-se subordinadamente à extensa fracturação existente. Esse
facto, em conjunto com a descida do nível de base na foz do Tua, que se encontra condicionada pela do
vale do Douro, terá facilitado o seu encaixe.

Assim, pese embora a envolvente metamórfica, toda a área principal considerada como potencial para a
implantação do aproveitamento, incluindo a mancha de empréstimo e o circuito hidráulico, foi
globalmente inserida numa mancha granítica correspondente ao granito de Sabrosa (Figura 1). Para os
estudos geológicos iniciais foram analisados elementos bibliográficos, documentos existentes e
fotointerpretação, nomeadamente informação geológico-geotécnica de base recolhida nos anos 50 e a
cartografia de Portugal existente. Numa segunda fase, envolvendo o reconhecimento de superfície e o
desenvolvimento de alguns trabalhos de prospeção, foi possível observar o enquadramento geológico e
morfológico das duas margens na área onde se prevê a construção da barragem. A análise da fotografia
aérea permitiu ainda identificar alguns alinhamentos que poderiam corresponder a possíveis zonas de
características geotécnicas menos favoráveis.

Figura 1 - Enquadramento geológico do local do aproveitamento em extrato da Carta Geológica de Portugal à escala
1:50000, folha 10-D Alijó (sem escala definida)

De acordo com o observado num corte coincidente com a superfície de referência da barragem, no local
onde a estrutura foi construída, a encosta direita apresenta declive médio de 45º desde a cota (200) até
à cota (120), a partir da qual passa a 65º até à cota (90) e a partir daqui 35º, com a horizontal, até ao
fundo do vale. A encosta da margem esquerda evidencia uma inclinação média aparente de 35º, com a
horizontal. As inclinações predominantes nas encostas no alinhamento do seu maior declive, variam entre
35º e escarpas subverticais, subordinadas às inclinações das descontinuidades, revelando uma
morfologia próxima de canhão, típica de vales muito encaixados em rochas cristalinas. Efetivamente, a
topografia está associada à presença de alinhamentos geoestruturais subverticais paralelos ao trecho do
rio. De igual forma, quando da maior suavidade das encostas, esta pode atribuir-se à presença de uma
família de diaclases com pendente para o vale que, em conjunto com as outras famílias subverticais e
subparalelas às encostas, conduzem a uma maior erosão por desmoronamento e escorregamento de
blocos de rocha. A erosão de blocos graníticos é ainda ajudada por fenómenos de escorrência e erosão

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meteórica. A morfologia do vale indica que, neste troço, o rio está em fase de juventude, o que justifica a
ausência de depósitos finos no leito do mesmo. Encontram-se, no entanto, depositados areia grosseira e
cascalho assim como calhaus, observando-se, por vezes, o maciço aflorante. Para jusante, após a ponte
rodoviária da EN 212 e em direção à foz do rio Tua, as condições geomorfológicas são completamente
distintas e condicionadas pela estrutura geológica (litológica e estrutural). Efetivamente nesta zona
verifica-se a passagem das formações graníticas para as xistentas e, consequentemente, a diminuição da
pendente das encostas, o alargamento do fundo do vale, os depósitos finos no leito do rio e a plantação
de vinhas nas encostas.

De acordo com o mapa da publicação “Principais Falhas no Território Português”, o local do


aproveitamento estará ligeiramente a Sul da Falha de Alijó e entre as falhas da Régua e da Vilariça.
Segundo a Carta Neotectónica de Portugal (escala 1:1000000), a falha ativa certa mais próxima do local
corresponde ao filão-falha NNE-SSW coincidente com a ribeira de Ribalonga. Esta estrutura geológica é o
acidente tectónico mais relevante na região localizando-se a cerca de 2.5 km a leste do local da
barragem. Podem ser observadas algumas manchas de granito róseo paralelas a esta falha. Este sistema
de orientação NE-SW (N30-35ºE) e o seu conjugado, geralmente materializado por filões quartzosos,
corresponde aos desligamentos tardi-hercínicos, usualmente com movimentação esquerda predominante.
Os granitos aflorantes na zona da barragem são sin-F3, ou seja, registaram apenas os efeitos da última
fase da orogenia Hercínica.

2.2 - Reconhecimento geológico, prospeção e ensaios

O desenvolvimento dos estudos geológicos e geotécnicos no âmbito do projeto do AHFT abrangeram um


conjunto de trabalhos que foram permitindo um progressivo aprofundamento do conhecimento das
características geológicas e geotécnicas, o que contribuiu para a posição definitiva da barragem e para a
caraterização do maciço de fundação da mesma, e incluíram: análise de fotografia aérea e
reconhecimento geológico de superfície para a cartografia geológica do local do aproveitamento e sua
envolvente; recolha de informação nas trincheiras e galerias de reconhecimento geológico; e avaliação e
análise da informação recolhida nas campanhas de sondagens e ensaios.

Tendo em vista a realização das duas primeiras tarefas, os projetistas da EDP Produção contaram, entre
2009 e 2010, com a colaboração da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) em
associação com o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG). A prospeção geofísica foi realizada
pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). As trincheiras de reconhecimento geológico na
margem direita foram abertas pela firma Jeremias de Macedo e Cª Lda, as trincheiras da margem
esquerda e as galerias de reconhecimento geológico foram realizadas pela firma Explo. As campanhas de
sondagens e ensaios laboratoriais foram realizadas pela Teixeira Duarte, Engenharia e Construções S.A.
em 2006/07 (estudo prévio) e Tecnasol-FGE em 2009/10 (projeto). Os ensaios “in situ” foram realizados
pelo LNEC em 2009/10.

A análise da informação foi realizada englobando os elementos obtidos em todas as fases de prospeção e
ensaios realizados. Na Figura 2 está representada a localização de todos os trabalhos de prospeção.

2.2.1 - Reconhecimento litológico e estrutural de superfície

Como resultado dos estudos de caracterização de superfície pode-se constatar que este troço final do
vale do Tua a montante da ponte da estrada nacional EN 212, correspondente a um vale profundamente
encaixado, coincide com um afloramento granítico que faz parte de uma fácies de grão fino a médio,
porfiróide, moscovítico-biotítico, com encraves de metassedimentos, que forma um conjunto de
afloramentos onde se integram os afloramentos descontínuos desde Favaios-Alijó até à barragem da
Valeira, numa direção NW-SE, associando-se quase sempre com o granito moscovítico, ou intruído nos
metassedimentos. As formações metassedimentares envolventes são constituídas por metagrauvaques e
metaquartzovaques, alternando com intercalações pelíticas finas. Intercalados nesta unidade ocorrem
ainda níveis de microconglomerados e conglomerados. Apresentam, na envolvente do local em estudo,
orientação N58ºW e pendor de 34º para SW.

A análise da fotografia aérea permitiu a identificação de diversos alinhamentos com orientação NE-SW e
NW-SE e ainda outros mais raros. Entretanto, o reconhecimento de campo permitiu confirmar estas
orientações para as famílias principais de diaclases verticais mas também o diaclasamento paralelo ao
tramo do rio (NE-SW - N30º-35ºE). No geral, o granito apresenta-se superficialmente bastante
diaclasado. O maciço onde se implantou a barragem tem cerca de 1 km de extensão e é constituído por
um granito de duas micas de grão médio a fino, predominantemente porfiróide, com megacristais
euédricos e tabulares de feldspato, com distribuição heterogénea, apresentando pontualmente orientação
preferencial.

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Já na fase de desenvolvimento do projeto, o reconhecimento geológico de superfície e a cartografia


geológica que havia sido elaborada no estudo prévio e fases anteriores, foi complementado e
pormenorizado com a colaboração do Departamento de Geologia da FCUP e considerou a superfície que
abrange a área de implantação do layout entretanto em estudo, correspondente à barragem, circuito
hidráulico, mancha de empréstimo, canal de restituição e albufeira. Para a zona da barragem, a
cartografia geológica foi realizada para a escala 1:500.

No reconhecimento de superfície realizado nesta fase foram confirmados como falhas, fundamentalmente
os alinhamentos estruturais subverticas que apresentam como orientação dominante N30ºE, tendo-se
também detetado como relevantes as falhas com orientação N60ºE. Confirmou-se também no campo a
presença de uma terceira família menos abundante de orientação NW-SE a NNW-SSE. Foram também
reconhecidos filões de quartzo que, embora preencham fraturas, apresentam preenchimento sem
cataclase e/ou esmagamento nítido. A espessura da argilização e cataclase e do preenchimento
quartzoso, quando existe, é muito variável lateralmente ao longo da extensão das falhas, observando-se
na maioria dos casos fraturas com espelhos de falha estriados, com vestígios peliculares de quartzo, mas
sem caixa de falha argilizada. Existem corredores de fracturação, que correspondem a planos estriados
paralelos e próximos.

Figura 2 – Trabalhos de prospeção e análise estatística das descontinuidades

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O estudo do diaclasamento evidenciou a fracturação NE-SW, com duas orientações bem discriminadas na
margem esquerda e com um leque de orientações mais disperso na margem direita, em paralelo com a
existência de diaclasamento subhorizontal, inclinando no sentido da vertente em ambas as margens.

As fraturas subhorizontais presentes nas duas margens com declives no sentido da vertente apresentam
atitude variável, com ondulações. Embora à superfície apresentem alguma abertura, não têm cataclase
ou argilização associadas.

Na margem direita o levantamento das diaclases foi realizado nas superfícies expostas do talude da
estrada, das trincheiras e das galerias, tendo sido medidas 1726 descontinuidades. Na margem esquerda
o levantamento foi realizado nos taludes da linha de caminho de ferro, nas trincheiras e nas galerias,
tendo sido medidas 532 diaclases. Foram utilizadas para esta análise informações recolhidas pela EDP e
pela FCUP. Para a mancha granítica os resultados obtidos foram semelhantes nas duas margens no que
diz respeito às descontinuidades subverticais. Na Figura 2 é possível observar a projeção estereográfica
das diaclases em cada margem. É possível, em ambas as margens, a identificação de famílias de
diaclases com cerca de 30º de inclinação no sentido do leito do rio, cuja direção é aproximadamente
paralela ao vale. Na projeção estereográfica das diaclases da margem esquerda deteta-se ainda a
presença de diaclases a inclinar cerca de 60º para SW que são também observadas no campo, nas duas
margens, com grande espaçamento.

Para a descrição quantitativa das diaclases foram seguidos os métodos sugeridos pela ISRM. No Quadro 1
são apresentadas as características mais frequentes para cada uma das famílias identificadas,
respetivamente para a margem direita e para a margem esquerda.

Na margem direita verifica-se que as diaclases se apresentam preferencialmente pouco contínuas; no


entanto verifica-se que, para qualquer uma das famílias observadas, algumas das descontinuidades com
as mesmas orientações destas diaclases apresentam persistência superior a 20 m, ou seja, são muito
contínuas. Chegaram a ser observadas continuidades superiores a 100 m associadas à família F4. Quanto
à rugosidade observa-se que as descontinuidades das famílias F1, F2 são globalmente onduladas, no
entanto com superfícies ligeiramente rugosas, enquanto que as descontinuidades da família F3
apresentam superfícies rugosas sendo igualmente onduladas. Na margem esquerda também se verifica
que as descontinuidades se apresentam preferencialmente pouco contínuas, mas que para qualquer uma
das famílias observadas algumas das descontinuidades apresentam persistência superior a 20 m, ou seja,
que são muito contínuas. Quanto à rugosidade observa-se que todas as famílias de descontinuidades são
globalmente onduladas com superfícies muito rugosas.

Quadro 1 - Síntese das características das descontinuidades na margem direita (md) e na margem esquerda (me)
Família F1 F2 F3 F4
Margem md me md me md me md me
Direcção N75ºE N62ºE N32ºE N31ºE N24ºE N14ºE N12ºW N02ºE
Pendor 86ºSE 89ºSE 88ºNW 83ºSE 30ºSE 34ºNW 88ºNE 87ºNW
Continuidade 1a3m <3m 3-10m 3-10m <3m
Alteração das paredes W3 W3 W3 W3
Abertura Fechada Fechada ou <0.5mm Fechada <0.5mm
Espessura preenchimento Nenhuma Nenhuma Nenhuma Nenhuma
Rugosidade – JRC 6-8 10 a 16 6-8 8-10 14 a 18 6-8
Percolação de água Seca Seca a húmida Óxidos Seca Seca Seca a húmida

2.2.2 - Prospeção geofísica

A prospeção geofísica foi realizada pelo LNEC e decorreu em duas fases: 2005 e 2009/10 (Figura 2).

Em 2005 os trabalhos constaram da realização de 2 perfis de resistividade elétrica na margem esquerda,


abrangendo as zonas em estudo para o local da barragem (PGII e PGIII), no alinhamento da plataforma
da linha de caminho de ferro. Os resultados do perfil PGII, posicionado a jusante, permitiram admitir a
possibilidade da linha de água intersectada corresponder a uma zona geomecânica mais desfavorável,
associada a uma possível falha. Refira-se, no entanto, que na realização deste perfil estiveram várias
dificuldades associadas aos contactos entre elétrodos e terreno. O perfil PGIII, realizado para montante
do anterior, permitiu identificar duas zonas de baixa resistividade, possivelmente associadas a uma maior
perturbação do maciço rochoso.

Posteriormente, numa fase de melhor acessibilidade ao terreno (desenvolvimento da fase de projeto),


foram realizados 7 perfis geofísicos por métodos sísmicos, designados por PS, e 7 perfis de resistividade
elétrica, designados por TRE. A identificação dos perfis, de 1 a 7, foi feita da cota mais elevada da

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margem direita para a cota mais elevada da margem esquerda, passando pelas cotas mais próximas do
fundo do vale. Os perfis foram localizados na zona das trincheiras e na linha de caminho de ferro, num
alinhamento complementar entre a zona de montante e a zona de jusante estudadas no alinhamento da
via férrea na fase de estudo prévio.

Os perfis de resistividade TRE1 e TRE2 realizados nas trincheiras 2 e 3 da margem direita apresentaram
zonas extensas de resistividade inferior a 1000 ohm.m, sendo indicativo da presença de um maciço
alterado que facilita a percolação de água. Tanto o TRE1 como o PS1 indicaram a presença de anomalias
que se associaram a zonas de maciço rochoso de fracas características mecânicas localizadas entre os 30
e 50 m do ponto mais a jusante do perfil. Nos perfis TRE2 e PS2, entre os 30 e 50 m a contar também do
ponto mais a jusante, foi detetada uma diminuição tanto da velocidade de propagação das ondas
sísmicas como da resistividade elétrica, havendo também aqui razões para admitir a existência de zonas
de piores características geomecânicas. A zona de melhores características situa-se entre os 70 e 100 m
do perfil 2. Nos perfis executados na margem direita, no fundo do vale, foi possível identificar uma zona
de boas características geomecânicas entre a sondagem S5 e a SD4.

Ao contrário do que acontece na margem direita, a análise dos modelos geofísicos da margem esquerda
revelou que o maciço rochoso possui boas características mecânicas. Na margem esquerda, nos perfis
executados na linha de caminho de ferro foi possível identificar uma zona de boas características situada
sensivelmente a 20 m para montante da sondagem S13. É identificável no extremo jusante dos perfis
realizados na margem esquerda, quer nos modelos de resistividade, quer nos modelos de refração
sísmica, uma região de baixa resistividade e de baixa velocidade das ondas P, que corresponderá a uma
zona de piores características mecânicas, situação que vem reforçar a suspeição da presença de uma
falha já aventada pelo perfil PGII. Idêntica situação ocorre no extremo montante dos perfis 6 e 7 (a cota
mais elevada).

2.2.3 - Prospeção mecânica

Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizada informação proveniente de várias fases de prospeção
mecânica que envolveram a realização de trincheiras e galerias de reconhecimento geológico e sondagens
à rotação com recolha contínua de amostra (Figura 2).

As trincheiras da margem direita foram realizadas no segundo semestre de 2006, na fase de estudo
prévio e abrangendo distintas alternativas para o local da barragem, tendo sido completadas em 2010
após trabalhos de recuperação paisagística das mesmas. As trincheiras da margem esquerda foram
realizadas entre abril e maio de 2010, já na fase de desenvolvimento do projeto. A existência da linha de
caminho de ferro na margem esquerda se, por um lado, foi um contribuinte positivo para os estudos visto
ter permitido a primeira recolha de informação, por outro lado, as restrições impostas decorrentes da sua
presença condicionaram a realização de trincheiras na mesma margem. Na margem direita foi realizado
um total de 5 trincheiras designadas por TD1 a TD5. As cotas das trincheiras TD1 a TD5 são
respetivamente e aproximadamente (80), (145), (150), (170) e (185). O talude da estrada nacional
EN212 existente ligeiramente acima da cota (200) foi também observado, tendo sido ainda recolhida
informação nos acessos abertos para execução das trincheiras. A abertura destas trincheiras foi realizada
a partir de um acesso criado desde a estrada nacional EN212. Na margem esquerda foi realizado um total
de 3 trincheiras designadas por TE1 a TE3. Estas trincheiras, dados os condicionamentos já descritos,
foram abertas a partir da via férrea, ou seja, o ataque foi ascendente. Posteriormente a limpeza foi
realizada de cima para baixo. Desenvolvem-se em zig-zag entre as cotas (114) e (164). As cotas das
trincheiras TE1 a TE3 variam respetivamente e aproximadamente entre (114) e (139), (141) e (149) e
ainda entre (155) e (164). O talude da linha de caminho de ferro, aproximadamente à cota (115), foi
também observado.

Foram abertas 4 galerias de reconhecimento geológico, duas em cada margem. Na margem direita a GD1
(cota 84) com 33m de comprimento e GD2 (cota 143) numa extensão de 42m, respetivamente a partir
das trincheiras TD1 e TD2. Na margem esquerda a GE1 (cota 115) com 52m de extensão e GE2 (cota
145) com 40m de comprimento, respetivamente a partir da plataforma da linha de caminho de ferro e a
partir da TE2.

Numa empreitada que teve início em novembro de 2006 e terminou em novembro de 2007, com um
interregno de dezembro de 2006 a junho de 2007, foi realizada a primeira campanha de sondagens. Esta
campanha, realizada em fase de estudo prévio, foi dimensionada tendo em consideração a informação
obtida nos trabalhos de cartografia das trincheiras, prospeção geofísica e análise da fotografia aérea,
assim como a localização entretanto prevista para a barragem e o traçado do circuito hidráulico. Foi
realizado um total de 16 furos: nove na zona em estudo para a barragem (S2, S5, S6, S7 na margem
direita e S4, S12, S13, S14, S15 na margem esquerda) e sete direcionados para a zona de implantação
do circuito hidráulico (S1, S3, S8, S9A, S10, S11 e S16). Estes furos foram executados com recurso a
equipamentos de rotação, com amostragem contínua, acompanhados da realização de ensaios de

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absorção de água do tipo Lugeon. O comprimento das sondagens variou entre 25.00 m (sondagem S1) e
90.10m (sondagem S16), num total de 1086.75 m de furação. As inclinações variaram entre 5º
ascendentes e 80º descendentes. Nos furos com comprimento superior a 50m foram efetuadas medições
de desvios com espaçamentos de 25m.

A campanha de sondagens realizada em 2009/10 foi dimensionada para a configuração selecionada pelo
estudo prévio, de modo a permitir o conhecimento do maciço do local da barragem, do circuito hidráulico,
do túnel de desvio, da mancha de empréstimo e do canal da restituição. Tendo em vista os estudos
geológicos para todo o aproveitamento, foram realizadas 43 sondagens à rotação com recolha contínua
de amostra; excetuando-se as sondagens da zona do canal e da mancha de empréstimo, em todas se
realizaram ensaios de absorção de água. Para a barragem foram realizadas na margem esquerda 8
sondagens (SE3 a SE7 e SE9 a SE11) e na margem direita 4 sondagens (SD1 a SD4), em complemento
das sondagens realizadas no estudo prévio. O comprimento das sondagens variou entre 30.05 m
(sondagem SD1 e SD4) e 85.30 m (sondagem SD3), totalizando 666.55 m de furação.

No reconhecimento de superfície alguns alinhamentos foram identificados no terreno ou como zonas


pontuais de fracturação e permeabilidade mais intensa, ou como uma única superfície de grande
continuidade. No entanto, nem todos esses alinhamentos foram confirmados em profundidade pelas
sondagens e galerias. Concluiu-se, pela amostragem das sondagens, que as descontinuidades com
abertura, observadas nas superfícies das trincheiras ou até nas galerias de reconhecimento geológico,
tenderiam a fechar em profundidade.

2.2.4 - Ensaios de absorção de água

Acompanhando o avanço dos furos efetuados nas campanhas de 2007 e 2010 foram realizados ensaios
de permeabilidade do tipo Lugeon, com cinco patamares de pressão (0.25, 0.5, 1.0, 0.5 e 0.25 MPa) em
troços de 5 metros. Com o intuito de aferir as características do maciço rochoso na zona de fundação da
barragem e avaliar a necessidade de melhorar as condições de estanqueidade do mesmo, selecionaram-
se sondagens que, pela sua localização, permitem uma melhor caraterização do maciço na zona da
fundação (Quadro 2). Assim, dividiram-se os ensaios por locais e por troços considerando
aproximadamente o limite da superfície teórica de escavação. Concluiu-se que os ensaios com absorções
nulas ou muito baixas são superiores a 50%, no volume de maciço a escavar, e que no maciço para
fundação as absorções nulas serão superiores a 72%, refletindo o seu carácter global impermeável. Os
valores das unidades Lugeon variam predominantemente entre 1 e 6 u.L., pontualmente atingiram-se
absorções de 18 u.L., 27 e 29 u.L., situações associadas a zonas de falha.

Quadro 2 - Ensaios de permeabilidade realizados nas campanhas de prospeção no maciço de fundação da barragem
Sondagens localizadas nas proximidades da fundação da barragem
Sondagens S5 a S7, S12 a S13, SD1 a SD4, SE1, SE3 a SE4, SE6 a SE7 e SE9 a SE11
Total de troços de Troços acima da cota de Troços de ensaio abaixo da cota de
158
ensaio fundação (57 ensaios) fundação (101 ensaios)
Troços de ensaio % Troços de ensaio %
Não atingiu a pressão de ensaio 8 14 7 7
Absorções superiores a 1U.L. 20 35 21 21
Absorção nula ou muito baixa 29 51 73 72

2.2.5 - Ensaios de caracterização mecânica

Tendo em vista a caracterização geomecânica das rochas e do maciço rochoso foi realizado, pelo LNEC,
um conjunto de ensaios laboratoriais e “in situ”. Em laboratório foram realizados ensaios de compressão
simples para determinação do módulo de deformabilidade da rocha, do coeficiente de Poisson e da
resistência à compressão uniaxial, e ensaios de deslizamento sobre diaclases para determinação das
caraterísticas da resistência ao corte. “In situ” foram realizados ensaios dilatométricos-BHD em furos das
sondagens e ensaios com almofadas de grande área-LFJ nas galerias, para determinação da
deformabilidade do maciço rochoso.

Foram realizados ensaios à compressão uniaxial num total de 55 amostras provenientes de 15 furos de
sondagens (S5, S6, S7, S10, S12, S13, S14, S15, SD1, SD4, SH1, SE8, SE1, SE10 e SH9). O valor médio
do módulo de elasticidade e da tensão de rotura obtido nos ensaios de compressão uniaxial em 50
provetes de granito é de, respetivamente, 41.3 GPa e 140 MPa. Nos mesmos provetes em que se
realizaram os ensaios de compressão uniaxial, foram previamente determinadas as velocidades de
propagação das ondas P e S. Com estes valores determinaram-se os valores dinâmicos do módulo de
deformabilidade que resultaram em 46 GPa para os granitos. Os ensaios de deslizamento de diaclases
foram efetuados em 28 amostras retiradas das sondagens S6, S7, S10, S12, S13, S14, S15, SH5, SH6 e
SD4. Das 25 diaclases de granito ensaiadas concluiu-se que os valores do ângulo de atrito são em geral

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altos, 37.1º, e os valores médios obtidos para a coesão foram 0.126 MPa. Nos ensaios de compressão
diametral realizados sobre 47 provetes de granito obteve-se um valor médio da resistência à tração de
12.3 MPa. Verificou-se não existir uma correlação entre os valores das resistências à compressão e à
tração, nos provetes ensaiados. Referem-se ainda os valores obtidos em amostras retirados de tarolos de
sondagem que foram, para a massa volúmica, entre 2.560 kg/m3 e 2.680 kg/m3, para a porosidade,
entre 0.7% e 1.9%, e para o teor em água máximo, entre 0.2% e 0.7%. Os resultados dos ensaios de
abrasividade apresentam valores de ICA (índice Cerchar de abrasividade) variando entre 3.9 e 4.1,
indicadores de rochas de muito elevada abrasividade. Nos resultados das análises petrográficas
realizadas nas amostras de granito verifica-se que o mineral mais abundante em todas as amostras é o
quartzo seguido do feldspato potássico. Evidencia-se a presença de quartzo miocrocristalino, goticular e
gráfico, presente em cristais de pequena dimensão, em geral com uma percentagem inferior a 3.2%, o
que indica a presença de sílica potencialmente reativa. As micas (evidenciando-se a moscovite)
constituem normalmente o quarto mineral mais abundante também em percentagens importantes, entre
9 e 13%. O quartzo apresenta dimensões máximas na ordem dos 1 mm.

Tendo em vista a determinação do módulo de deformabilidade do maciço rochoso foram realizados 57


ensaios dilatométricos (BHD) e 4 ensaios de almofadas planas de grande área. Os ensaios BHD foram
realizados em 12 furos, sendo 11 da zona da barragem e obras anexas (tomada de água e túnel de
derivação provisório), em granito: nas sondagens S5, S6, S7, SD1 e SH1, na margem direita, e nos furos
SE1 a SE3, SE6, SE8 e SE9, na margem esquerda. Foram obtidos valores médios do módulo
dilatométrico para o granito de 9.1 GPa (média da primeira descarga e de segunda carga). Foram
realizados 4 ensaios LFJ em rasgos abertos nas câmaras das galerias de reconhecimento geológico. Os
valores dos módulos de deformabilidade obtidos nos quatro ensaios LFJ foram consideravelmente
superiores aos dos módulos dilatométricos. Na margem direita, obteve-se um módulo de deformabilidade
de 13 GPa (média da primeira descarga e de segunda carga), na galeria à cota (83), e um valor de
35 GPa, na galeria à cota superior (143). Na margem esquerda, na galeria à cota inferior (115), obteve-
se um valor de 25 GPa e, na galeria à cota superior (145), um valor muito elevado de 56 GPa. A variação
dos valores do módulo de deformabilidade poderá estar relacionada com a variação da orientação dos
rasgos dos ensaios e alguma anisotropia do maciço rochoso. Constata-se que os resultados dos ensaios
LFJ aumentavam com o aumento da cota a que foi realizado cada ensaio, mas também com a
verticalidade do rasgo. O valor mais baixo de Em (13 GPa) está associado a um rasgo com 30º com a
horizontal e na galeria inferior (GD1). O valor mais elevado (53 GPa) foi obtido na galeria mais elevada
(GD2) num rasgo a 80º com a horizontal. Poderá eventualmente admitir-se que o maciço será mais
deformável numa direção próxima da vertical devido à sua descompressão ou à presença de
descontinuidades subhorizontais abertas.

2.3 - Modelo geológico-geotécnico

A análise de todos os elementos geológico-geotécnicos disponíveis na fase de projeto permitiu a definição


do zonamento geológico-geotécnico (Figura 3). A cada zona geológico-geotécnica (ZG) foram atribuídos
parâmetros geomecânicos provenientes da análise dos resultados obtidos pelos ensaios laboratoriais e “in
situ” (Quadro 3). A materialização da inserção da barragem e as características morfológicas conduziram
que a escavação atingisse profundidades de cerca de 35 metros na margem esquerda e 40 metros na
margem direita. Assim sendo, tendo em conta o zonamento geológico-geotécnico, foi possível prever que
a superfície para fundação da barragem se iria inserir fundamentalmente na zona ZGA, mas que, na
margem direita se esperava à cota da fundação, maciço da zona ZGC. Numa perspetiva do grau de
alteração, esperava-se que, genericamente, a base de fundação fosse em maciço granítico são ou pouco
alterado (W1 a W2) mas, no alinhamento de zonas de falha, medianamente alterado a alterado (W3 a
W4). Quanto à fracturação, na zona de fundação da barragem, estimou-se que a mesma pudesse variar
entre F1 e F2, mas que junto a zonas de falha se apresentasse F3 e ou F4-5.

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Figura 3 – Zonamento geológico-geotécnico pelo perfil de referência da barragem

Os perfis geofísicos pelo método de refração sísmica, realizados ao longo das trincheiras, permitiram
caracterizar cada zona geotécnica em termos de velocidade da propagação das ondas P. Assim, para a
ZGC admitiu-se uma velocidade entre 500 e 2000 m/s, situação característica de uma zona bastante
heterogénea do ponto de vista da alteração como da fracturação do maciço rochoso. À zona ZGA
associou-se uma propagação das ondas a velocidades superiores a 3500m/s e na ZGB as velocidades de
propagação variam entre 1500 e 3500 m/s, predominando, no entanto, o intervalo entre 2000 e
3500m/s.

Em relação ao módulo de deformabilidade do maciço rochoso (Em) apresentado no Quadro 3, será


importante registar que o valor apresentado para a ZGA corresponde à média aritmética obtida a partir
dos 4 ensaios LFJ realizados em cada galeria de reconhecimento geológico. Salienta-se, no entanto, que
cada ensaio foi realizado a cotas distintas e em rasgos com diferentes orientações. Os valores de
resistência das diaclases e resistência à compressão uniaxial, registados neste mesmo quadro,
representam a média aritmética do conjunto de resultados dos ensaios realizados pelo LNEC em amostras
correspondentes à zona geológico-geotécnica respetiva, tendo em consideração a profundidades de
recolha da mesma. O valor médio obtido pelos ensaios de resistência à compressão uniaxial da rocha
enquadrada em ZGC, mais elevado que o valor obtido para a ZGB, poderá ser justificado pela
heterogeneidade do maciço rochoso nesta zona e pelo facto de não terem sido realizados ensaios de
compressão simples na rocha mais alterada.

Quadro 3 - Zonamento geológico-geotécnico


Zona ZG Grau de Alteração Grau de Fracturação RQD % Características das descontinuidades
Contínuas, ligeiramente rugosas e
Predominantemente
Predominantemente onduladas, preenchimento areno-argiloso,
ZGC W3, por vezes W2, 0-75
F3, localmente F4-5 paredes alteradas. Percolação predominante
localmente W4-W5
pelas fraturas
Medianamente contínuas a contínuas,
Predominantemente Predominantemente
ZGB 75-90 ligeiramente rugosas, fechadas,
W2, localmente W3 F2, localmente F3
pontualmente permitindo circulação de água.
Medianamente contínuas a contínuas,
ZGA W1 a W2 F1 a F2 >90 ligeiramente rugosas, fechadas, por vezes
com vestígios de circulação de água.
Parâmetros da rocha Resistência das diaclases Deformabilidade do maciço
Zona ZG RMR
UCS (MPa) Er (GPa) Ø(º) coesão(MPa) Em (GPa) Ed (GPa)
ZGC <95 36 41 0.22 - 7 30-50
ZGB 85 42 34 0.15 - 11 50-70
ZGA 133 44 38 0.09 32 19 >70
Nota: Em–módulo de deformabilidade; Ed–módulo dilatométrico; UCS–resistência à compressão uniaxial; Er–módulo de
deformabilidade da rocha; Ø–atrito; RQD–rock quality designation; RMR-rock mass rating.

Os resultados dos ensaios de permeabilidade permitiram prever um maciço rochoso globalmente pouco
permeável abaixo das cotas de fundação, mas condicionado pelas falhas existentes. Estimou-se que a
curva de permeabilidade de 1 unidade Lugeon atingisse pontualmente profundidades superiores a 20
metros, relativamente à superfície de fundação, no encontro direito e no fundo do vale, em zonas
localizadas associadas a falhas; no entanto, globalmente, estaria próxima ou acima da cota de escavação.
No encontro esquerdo também era espectável que a curva de 1 unidade Lugeon se localizasse acima da

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cota de escavação para a fundação da barragem. Às cotas mais elevadas dos encontros, onde as zonas
geotécnicas caracterizadas por maior fracturação apresentavam maiores espessuras, a curva de 1
unidade Lugeon atingiria também maiores profundidades; esta situação era mais evidente no encontro
direito onde a curva de 1 unidade Lugeon se localizaria a profundidades superiores a 40 metros.
Pontualmente, abaixo da superfície de fundação estimada, foram registados valores de permeabilidade
bastante elevados, o que reforçou a importância da realização de tratamentos de impermeabilização e
consolidação da fundação por injeção de calda de cimento.

3- CARATERIZAÇÃO APÓS ESCAVAÇÕES

Na fase de construção da barragem, a cartografia geológica das escavações da fundação foi realizada
pela equipa de geologia do ACE de Foz Tua (Geoárea - Consultores de Geotecnia e Ambiente, Lda). Na
Figura 4 apresenta-se uma planta simplificada desse trabalho, fiscalizado pelo Consórcio Fase/Gibb.
Apesar da EDP Produção ter sido responsável pelo projeto do AHFT, contou com a colaboração da COBA
para o desenvolvimento do projeto de execução da barragem. Nesse sentido, antecedendo todas as
primeiras betonagens, elementos da COBA integraram uma equipa constituída por projetistas da EDP
(donos de obra, responsáveis pelo dimensionamento da estrutura da barragem e do projeto de execução
do tratamento de fundações da mesma) que se deslocava à obra para validação da fundação. As
escavações foram realizadas das cotas superiores para as inferiores. Apesar de não ser um procedimento
comum, por razões operacionais do empreiteiro, as galerias de observação da barragem foram realizadas
após a escavação integral da fundação da barragem. Entretanto, dada a acentuada pendente das
encostas, dadas as características geológicas do maciço rochoso e dado o elevado período decorrido entre
a escavação e a betonagem, verificou-se uma descompressão do maciço de fundação que originou, com
alguma frequência, a formação de blocos soltos. Assim, para que os trabalhos a cotas inferiores
decorressem em segurança, esta situação exigiu a aplicação de contenção provisória, constituída por
malha e pregagens, na superfície da fundação da barragem.

A escavação atravessou, em toda a sua profundidade e extensão, um maciço essencialmente constituído


por granitos de duas micas de grão médio a grosseiro. Nas cotas mais elevadas da margem direita, acima
da estrutura geológica designada nesta fase por FP31-A, a superfície exposta é constituída sobretudo por
maciço pouco a medianamente alterado (W2-W3); no entanto, nesta zona, observou-se uma extensa
faixa associada aos alinhamentos estruturais designados como falhas F3, F12 e F11, constituída por
maciço medianamente alterado a muito alterado (W3-W4) e por vezes muito alterado a decomposto (W4-
5). Abaixo da geoestrutura acima mencionada, verificou-se em geral o predomínio de maciço são a pouco
alterado (W1-2), com tendência para a ocorrência de maciço são (W1) até à (64) no fundo do vale.
Quanto à fracturação foi possível observar-se que na fundação, acima da geoestrutura FP31-A, no geral
ocorreu um maciço com fraturas medianamente afastadas a próximas (F3-F4). Abaixo dessa zona, a
fundação apresentou-se genericamente com fraturas afastadas (F2) a medianamente afastadas (F3).
Localmente, na zona envolvente das estruturas geológicas F3, F11, F12 e F13, observou-se maciço com
fraturas muito próximas (F5). À cota (64), na superfície da fundação, verificaram-se pontualmente
fraturas muito afastadas (F1) e medianamente afastadas (F3), pontualmente próximas (F4).

Na margem esquerda, a escavação para a fundação da barragem atravessou, em toda a sua


profundidade e extensão, um maciço essencialmente constituído por granitos acinzentados, de grão
médio a grosseiro. As escavações foram realizadas maioritariamente em maciço são a pouco alterado
(W1-2), sendo que se verificou maior predominância de maciço são (W1) com a aproximação à cota de
escavação mais baixa (64). Em determinadas zonas, associadas a alinhamentos geoestruturais,
designadamente a falha F20 e FP39, o maciço apresentou-se pouco a medianamente alterado (W2 a W3).
Quanto à fracturação, em geral, o maciço escavado caracterizou-se pela existência de descontinuidades
afastadas (F2), alternando pontualmente com fraturas medianamente afastadas (F3). As zonas não
enquadráveis nas condições descritas, ocorreram com fraturas medianamente afastadas a próximas (F3 a
F4), estando sobretudo associadas aos alinhamentos F20, F21 e FP39, bem como a um alinhamento de
menor relevância, junto do poço de bombagem, que corresponde a um corredor de maior diaclasamento.

As condições geológicas e geotécnicas encontradas no decorrer dos trabalhos de escavação foram ainda
consideradas para a realização de uma análise da segurança do conjunto barragem-fundação, elaborado
pelo LNEC, e considerando cenários de rotura através da fundação.

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Figura 4 – À esquerda, fotografia aérea das escavações da barragem (Skyeye, 2013); à direita, cartografia geológica
das escavações da fundação da barragem (baseado em Espada et al., 2017)

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que diz respeito às características mecânicas dos maciços rochosos em que se apoiam, as barragens
de abóbada serão as mais exigentes. Foi o caso da barragem de Foz Tua em que a caracterização
geológica, geomecânica e hidráulica do maciço de fundação empreendida ao longo das várias fases de
projeto, desde os estudos preliminares até ao acompanhamento das escavações, teve um
desenvolvimento congruente com a relevância deste tipo de estruturas.

A localização deste projeto junto a diversas infraestruturas, por um lado exigiu a coordenação com várias
entidades por elas responsáveis, por outro lado possibilitou a recolha de informação geológica pois
facultou a exposição de taludes, tanto na linha de caminho de ferro como na estrada nacional EN212,
tornando-se uma mais valia nas fases iniciais dos estudos.

As características geológicas previstas na fase de estudos vieram globalmente a confirmar-se durante a


realização das escavações. O maciço de fundação constituído predominantemente por granito de grão
médio de duas micas com pequenos fenocristais de feldspato, apresentando alguns núcleos de granito
mais fino e alguns filonetes de quartzo e a existência de alguns encraves de migmatitos, foram as
características encontradas. No reconhecimento de superfície foram identificados no terreno alguns
alinhamentos geoestruturais, caracterizados por zonas de maior erosão ou planos bem marcados à
superfície, sendo que na margem direita foi detetada uma maior tendência para alinhamentos N30ºE
subverticais, extensos, persistentes e paralelos ao tramo do rio em estudo. Junto ao rio era evidente o
diaclasamento subvertical extenso assim como as descontinuidades com pendente de cerca de 30º para o
vale. Os alinhamentos geoestruturais associados a zonas de maior erosão e a planos de fraturas paralelas
e próximas, que se consideraram como falhas geológicas potenciais, foram globalmente identificados nas
escavações para a inserção da barragem.

A análise dos elementos de caracterização do maciço, nomeadamente do reconhecimento de superfície e


da prospeção e ensaios realizados, permitiu a definição de um modelo geológico-geotécnico de apoio ao
projeto. De acordo com esse modelo, foi previsto que a escavação para fundação da barragem iria
encontrar, genericamente, maciço granítico são ou pouco alterado mas medianamente alterado a alterado
junto a zonas de falha. Quanto à fracturação, estimou-se que a mesma se apresentasse afastada, mas
que, junto a zonas de falha se apresentasse medianamente próxima a muito próxima. A cartografia
geológica realizada durante as escavações para a fundação da barragem evidenciou as características
previstas. Efetivamente, de um modo geral, em zonas não influenciadas pela presença de estruturas
geológicas relevantes, o maciço granítico apresentou um grau de alteração W1-2 a W1 e um grau de
fraturação F2 a F3; junto a zonas de falha a fraturação é bastante mais marcada com associação a maior
alteração.

As descontinuidades subhorizontais, com pendente para o vale, afetaram pontualmente algumas zonas
da fundação, tendo havido necessidade de remoção dos blocos individualizados por essas diaclases. Nas
zonas de falha, identificadas na margem direita, foi necessário recorrer a tratamentos específicos
antecedendo a colocação do betão da barragem que constaram, por exemplo, na remoção de maciço

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mais alterado e fraturado, com substituição por betão de regularização e de enchimento ou realização de
recravas de betão armado.

A mancha de empréstimo, inicialmente prevista junto à barragem e integrada na zona da albufeira, foi
abandonada por opção do ACE construtor. Assim, os agregados graníticos para o betão foram obtidos a
maior distância da barragem e numa pedreira já em exploração.

Os estudos geológicos foram uma peça fundamental para o projeto da barragem de Foz Tua, tanto na
fase inicial de escolha da sua localização, como no apoio à análise da segurança do conjunto barragem-
fundação.

A cartografia geológica das escavações, nomeadamente a geometria e caraterísticas das estruturas


geológicas mais relevantes, mas também a análise das características das diaclases, foi fundamental para
o dimensionamento da consolidação da fundação, da cortina de impermeabilização, da rede de drenagem
e da piezometria. Na fase de primeiro enchimento e analise do comportamento hidráulico-estrutural, o
conhecimento da geologia da fundação voltou a revelar-se uma peça fulcral.

REFERÊNCIAS

EDP (2010) - Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Projeto. Estudos de caracterização geológica e geotécnica do
local de implantação das obras.

Espada, M., Muralha, J., Vieira de Lemos, J., Plasencia, N. e Paixão, J. (2017) – Avaliação da segurança para cenários
de rotura pela fundação da barragem de Foz Tua. 15º Congresso Nacional de Geotecnia, Porto.

FCUP (2009) – Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Reconhecimento de Superfície e Cartografia Geológica das
Trincheiras e Galerias. Porto.

Geoárea (2014) - Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Relatório Geológico-Geotécnico Barragem e Bacia de
Dissipação.

LNEC (2006) - Prospeção Geofísica para o Estudo Prévio do Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Lisboa.

LNEC (2010) - AHFT. Reconhecimento geológico-geotécnico. Caraterização Geomecânica. Lisboa.

LNEC (2010) - AHFT. Reconhecimento geológico-geotécnico. Prospeção Geofísica. Lisboa.

Tecnasol-FGE (2010) - Aproveitamento Hidroelétrico de Foz Tua. Empreitada de Prospeção e Ensaios. Porto.

Teixeira Duarte, Engenharia e Construções S.A. (2008) - Empreendimento Hidroeléctrico de Foz Tua. Reconhecimento
Geológico. Empreitada de Prospeção Mecânica. Sondagens. Porto Salvo.

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MODELAÇÃO DE PERCOLAÇÃO EM FUNDAÇÕES DE BARRAGENS FRATURADAS


USANDO O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDO (XFEM)

MODELLING OF PERCOLATION IN DAM FOUNDATIONS USING THE EXTENDED


FINITE ELEMENT METHOD (XFEM)

Cruz, Francisco; Instituto Tecgraf – PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, fcruz@tecgraf.puc-rio.br


Roehl, Deane; Instituto Tecgraf – PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, deane@tecgraf.puc-rio.br
Vargas, Eurípedes; Departamento de Engenharia Civil e Ambiental PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil,
vargas@puc-rio.br

RESUMO

A presença de fraturas naturais pode ter uma influência vital no dimensionamento e eficiência de fundações
de barragens em meios rochosos, tendo em conta os caminhos de elevada permeabilidade que podem ser
criados. Considerando a sua importância, a presença de fraturas naturais deve ser tida em conta em
estudos de percolação, seja implicitamente ou explicitamente. O Método dos Elementos Finitos Estendidos
(XFEM) é uma técnica recente que tem sido apontada por inúmeros académicos como uma ferramenta com
boa aplicabilidade para modelar fraturas estacionárias ou propagação de fraturas. Este método junta as
vantagens do Método dos Elementos Finitos convencional com a possibilidade de juntar campos de
deslocamentos descontínuos em qualquer região da malha através de graus de liberdade adicionais,
ultrapassando a necessidade de adaptar a malha à posição da fratura. Neste trabalho, o XFEM é usado para
modelar um problema de percolação em fundação de uma barragem, mostrando a aplicabilidade do método.
Diferentes condições de abertura de fratura são testadas, considerando o seu efeito na permeabilidade
dado pela lei cúbica. Diferentes redes de fraturas são representadas de forma a entender a influência que
a sua posição pode ter na resposta hidráulica da fundação. É observado que o XFEM é uma técnica credível
para aplicação neste tipo de problemas.

ABSTRACT

The presence of natural fractures may have a vital influence on the design and efficiency of dam foundations
in rocks, due to the high permeability pathways that may be formed. Considering its importance, the
presence of natural fractures must be taken into account in seepage studies and calculations, either
explicitly or implicitly. The eXtended Finite Element Method (XFEM) is a recent technique that has been
appointed by several researchers as a valuable tool to model stationary and propagating discontinuities.
This method brings together the advantages of the conventional Finite Element Method and the possibility
of representing discontinuous displacement fields in any region of the mesh using additional degrees of
freedom, overcoming the necessity to adapt the mesh to the fracture position. In this paper, the XFEM is
used to model a benchmark dam problem, showing how this technique can be used to study the seepage.
Different conditions of fracture aperture are tested, considering its effect on fracture permeability given by
a cubic law. Different fracture networks are also represented in order to understand the influence of fracture
geometry in the hydraulic response of the foundation. It is shown that the XFEM is a credible technique to
model this type of problems.

1- INTRODUÇÃO

A modelação de meios fraturados com representação explícita das descontinuidades tem vindo a ser foco
de trabalho de muitas pesquisas na área de geomecânica. Diferentes técnicas como o Método dos
Elementos Discretos, Elementos de Contorno ou o Método de Elementos Finitos podem ser aplicadas para
este tipo de problema. No âmbito do Método dos Elementos Finitos, surgiu recentemente uma técnica
chamada de Método dos Elementos Finitos Estendidos, XFEM segundo o acrônimo em inglês comumente
usado. O XFEM foi introduzido por Belytschko e Black (1999) e Moes e Dolbow (1999), e posteriormente
aplicado em problemas com materiais quasi-frágeis por Moes e Belytschko (2002). Este método apresenta-
se como muito interessante porque não obriga a que a malha de elementos seja adaptada à posição das
fraturas e assim permite que fraturas propaguem livremente pela malha. O método permite também a
representação de múltiplas fraturas no mesmo domínio, inclusive interseções entre as fraturas.

É sabido que maior parte das rochas sedimentares são compostas por camadas que refletem condições de
deposição temporal e que rochas mais competentes estão frequentemente fraturadas devido a deformações
estruturais ou movimentos tectônicos (Lamont e Jessen, 1963). Assim, a presença de fraturas pode tomar
importância fulcral numa correta modelação de um problema de engenharia geotécnica.

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Este trabalho visa apresentar a metodologia do XFEM, a qual foi implementada num elemento com recurso
às sub-rotinas de utilizador UEXTERNALDB e UEL do software Abaqus (Simulia, 2014). A primeira organiza
e chama os procedimentos necessários, enquanto a segunda calcula as matrizes elementares que
contribuem para o sistema global de equações. À ferramenta numérica que inclui as funcionalidades de
XFEM e que trabalha em conjunto com o software Abaqus é atribuído o nome XFEMHF. A formulação
implementada tem capacidade de representar múltiplas fraturas intersetadas num único elemento. O
comportamento do elemento é acoplado, representando assim efeitos mecânicos e hidráulicos, não só do
meio poroso como do fluido das fraturas.

Posteriormente, o comportamento hidráulico de uma fundação rochosa é estudado em dois conjuntos de


cálculos. No primeiro conjunto, uma fundação com uma família de fraturas igualmente espaçadas é sujeita
à variação dos parâmetros que influenciam a permeabilidade longitudinal e transversal das fraturas. Os
modelos são baseados no trabalho desenvolvido por Segura e Carol (2004) e resultados são comparados
com os obtidos pelos autores. Segura e Carol (2004) utilizaram três tipos de elementos de interface para
modelar o comportamento da fundação: com um, dois e três pontos nodais na direção transversal dos
elementos. As simulações efetuadas neste trabalho são comparadas com a solução do elemento de três
pontos nodais. No segundo conjunto de cálculos, uma segunda família de fraturas é introduzida no modelo
e a sua influência analisada, com base nos parâmetros hidráulicos das fraturas. Em todas as simulações
efetuadas apenas a componente hidráulica do problema foi analisada, ou seja, não são consideradas
deformações da fundação da barragem.

2- FORMULAÇÃO DO XFEM

2.1 - Formulação teórica

A modelação de fluxo em meios porosos fraturados envolve acoplamento de vários fenômenos físicos:
deformação do meio contínuo, deslocamento e fricção nas fraturas, fluxo de fluido no meio poroso, fluxo
de fluido nas fraturas e troca de fluido entre a fratura e o meio poroso. Para tal, algumas hipóteses
simplificadoras devem ser colocadas. É assumido que o meio poroso está saturado e que tanto o fluxo
poroso como na fratura são laminares. Também se considera que tanto os grãos do meio poroso como o
fluido têm uma rigidez de uma ordem de grandeza maior que a rigidez do esqueleto sólido, de tal forma
que possam ser considerados incompressíveis. Também é considerado que os efeitos de inércia e de forças
de corpo podem ser negligenciados. Apesar de relevantes em algumas situações, estas hipóteses não
afetam substancialmente o comportamento global dos problemas a estudar.

Figura 1 – Domínio fraturado generalizado. a) Condições de fronteira de um corpo fraturado Ω com uma
descontinuidade 𝛤𝑑 . b) Domínio de uma descontinuidade Ω’ com abertura ω (adaptado de Khoei et al. (2014))

As equações diferenciais parciais aplicam-se ao domínio generalizado apresentado na Figura 1.


Considerando 𝑛𝛤 o vetor normal unitário da fronteira do domínio Ω, as condições de fronteira (CF) do
domínio são dadas por:

 𝑢 = 𝑢̅ em 𝛤𝑢 (CF essenciais) e 𝜎 ∙ 𝑛𝛤 = 𝑡̅ em 𝛤𝑡 (CF naturais) – Fase sólida

 𝑝 = 𝑝̅ em 𝛤𝑝 (CF essenciais) e 𝑤̇ ∙ 𝑛𝛤 = 𝑞̅ em 𝛤𝑤 (CF naturais) – Fase de fluido

Condições de fronteira adicionais são aplicadas nas descontinuidades, tendo 𝑛𝛤𝑑 como o vetor unitário
normal à descontinuidade, o qual aponta para o lado positivo do domínio 𝛺+ , e ⟦𝑤̇ ⟧ como o salto da
velocidade de fluido através da descontinuidade:

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 𝜎 ∙ 𝑛𝛤𝑑 = −𝑝𝐹 ∙ 𝑛𝛤𝑑 e ⟦𝑤̇ ⟧ ∙ 𝑛𝛤𝑑 = 𝑞 𝐹 em 𝛤𝑑 (CF naturais).


̅̅̅

O balanço de momento linear que caracteriza o comportamento mecânico no meio poroso é apresentado
na Equação 1. O tensor de tensões é dado por 𝜎 = 𝜎′ − 𝑝. 𝐼 , em que 𝜎′ é o tensor das tensões efetivas, p é
a pressão do fluido nos poros e I a matriz identidade. Neste contexto, admite-se que as tensões de
compressão são negativas. A fase de fluido é governada pela equação de continuidade, a qual pode ser
representada na Equação 2, considerando que o material é saturado. Nesta equação, 𝑤̇ é a velocidade de
fluido e 𝑢̇ é a velocidade de deformação do meio poroso ou da fratura, consoante o domínio a aplicar.

∇∙𝜎 =0 [1]

∇ ∙ 𝑤̇ + ∇ ∙ 𝑢̇ = 0 [2]

O comportamento constitutivo do meio poroso é introduzido como uma relação tensão-deformação, tal
como apresenta a Equação 3. Considerando um problema de deslocamentos infinitesimais, a relação
cinemática tensão-deslocamento é dada pela Equação 4. O comportamento mecânico da fratura é dado
pela relação tensão-deformação apresentado na Equação 5, sendo 𝐷𝐹 a matriz constitutiva de segunda
ordem, 𝑡𝐹 o vetor de tensões na fratura e ⟦𝑢⟧ os deslocamentos relativos das faces da fratura.

𝑑𝜎 ′ = D. dε [3]

ε = ∇𝑠 𝑢 [4]

𝑑𝑡𝑓 = 𝐷𝐹 . 𝑑⟦𝑢⟧ [5]

𝑤̇ = −k. ∇p [6]

Sendo assumido um fluxo laminar, a Lei de Darcy é válida, na forma apresentada na Equação 6. A
permeabilidade k depende do domínio de interesse. No caso do meio poroso, é a matriz de permeabilidade
intrínseca do meio. No caso do fluxo na direção tangencial da fratura, representa a permeabilidade
longitudinal da fratura, a qual segue uma lei cúbica que depende da abertura da fratura ω e da viscosidade
dinâmica do fluido µ, 𝑘𝑓𝐹 = 𝜔2 ⁄12𝜇.

Na interface entre a fratura e o meio poroso, k representa a permeabilidade de uma camada de espessura
muito fina que provoca perda de pressão na direção transversal à fratura. Um parâmetro escalar c, o qual
pode ser chamado de coeficiente de leak-off ou permeabilidade transversal consoante a aplicação,
quantifica este efeito. Considerando 𝑝𝐹 a pressão do fluido na fratura, p a pressão no meio poroso junto à
fratura e 𝑞𝐹 a vazão entre a fratura a o meio poroso, a adaptação da lei de Darcy é dada por q𝐹 = c(𝑝 − 𝑝𝐹 ).

A formulação fraca das equações diferenciais é obtida integrando o produto entre cada equação e funções
de teste admissíveis. De forma a representar corretamente o domínio fraturado, o Teorema da Divergência
generalizado para múltiplas descontinuidades apresentado na Equação 7 é aplicado.
𝑁
∫𝛺 𝑑𝑖𝑣 𝐹 𝑑𝛺 = ∫𝛤 𝐹 ∙ 𝑛𝛤 𝑑𝛤 − ∑𝑖 𝑐 ∫𝛤 ⟦𝐹𝑖 ⟧ ∙ 𝑛𝛤𝑑𝑖 𝑑𝛤 [7]
𝑑𝑖

⟦𝐹⟧ representa o solto da função F, sendo ⟦𝐹⟧ = 𝐹 + − 𝐹 − , i.e. 𝐹 + é o valor de F na fronteira 𝑛𝛤+ e 𝐹 − é o valor
de F em 𝑛𝛤− ; 𝑁𝑐 é o número de descontinuidades no domínio.

Usando a formulação fraca das equações diferenciais, definindo 𝛿𝑢(𝑥, 𝑡), 𝛿𝑝(𝑥, 𝑡) e 𝛿𝑝𝐹 (𝑥, 𝑡) como funções de
teste, integrando sobre os domínios Ω e Ω’ e introduzindo as relações constitutivas apresentadas nas
Equações 3 a 6, obtém-se

∫𝛺 𝛿𝜀. 𝜎′ 𝑑𝛺 − ∫𝛺 𝛿𝜀. 𝑚. 𝑝 𝑑𝛺 + ∫𝛤 ⟦𝛿𝑢⟧ (𝑡𝐹 − 𝑝𝐹 . 𝑛𝛤𝑑 )𝑑𝛤 − ∫𝛤 𝛿𝑢. 𝑡̅ 𝑑𝛤 = 0 [8]


𝑑 𝑡

∫𝛺 ∇𝛿𝑝𝑘𝑓 ∇𝑝 𝑑𝛺 + ∫𝛤 𝛿𝑝⟦𝑤̇ ⟧𝑛𝛤𝑑 𝑑𝛤 + ∫𝛺 𝛿𝑝. ∇𝑢̇ 𝑑𝛺 + ∫𝛤 𝛿𝑝. 𝑞̅ 𝑑𝛤 = 0 [9]


𝑑 𝑤

∫𝛺′ ∇𝛿𝑝𝐹 𝑘𝑓𝐹 ∇𝑝𝐹 𝑑𝛺 − ∫𝛤 𝛿𝑝𝐹 ⟦𝑤̇⟧𝑛𝛤𝑑 𝑑𝛤 + ∫𝛺′ 𝛿𝑝𝐹 . ∇𝑢̇ 𝑑𝛺 = 0 [10]
𝑑

Para facilidade de leitura, as Equações 8, 9 e 10 refletem a presença de apenas uma descontinuidade, no


entanto, a formulação pode ser generalizada para qualquer número de descontinuidades, seguindo a
Equação 7. Para os integrais no domínio da fratura Ω’ apresentados na Equação 10, pode fazer-se uma
simplificação considerando que a espessura da fratura é de várias ordens de grandeza menor que as
restantes dimensões. Dessa forma, considera-se que as pressões do fluido ao longo da seção transversal
da fratura são constantes, reduzindo assim a ordem de integração em uma ordem – de Ω’ para 𝛤. Assim,
a Equação 10 é redefinida para
∂𝛿𝑝𝐹 ∂𝑝𝐹 𝜕𝑢̇ 𝑥′
∫𝛤 𝑘𝑓𝐹 . 2h. 𝑑𝛤 − ∫𝛤 𝛿𝑝𝐹 . q𝐹 𝑛𝛤𝑑 𝑑𝛤 + ∫𝛤 𝛿𝑝𝐹 . 2h. 〈 〉 𝑑𝛤 + ∫𝛤 𝛿𝑝𝐹 . ⟦𝑢̇ 𝑦′ ⟧ 𝑑𝛤 = 0 [11]
𝑑 ∂𝑥′ ∂𝑥′ 𝑑 𝑑 𝜕𝑥 ′ 𝑑

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em que x’ e y’ são as coordenadas locais da fratura, como visto na Figura 1b. As componentes do vetor de
velocidade projetado na direção transversal e longitudinal são 𝑢̇ 𝑥′ e 𝑢̇ 𝑦′ , respectivamente, as quais se
assumem de variação linear na direção transversal. De acordo com esta hipótese, a derivada da velocidade
na direção x’ pode ser dada por um valor médio obtido pela forma 〈𝛯〉 = (𝛯 + + 𝛯− )⁄2.

2.2 - Discretização espacial

O uso do XFEM para discretizar as Equações 8 e 9 consiste em adotar funções especiais para representar
os campos de deslocamentos ou pressões. No Método de Elementos Finitos comum, os campos de
deslocamento e pressão de um elemento, 𝑢(𝑥, 𝑡) e 𝑝(𝑥, 𝑡), respectivamente, são dados por um produto do
tipo 𝑢(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑢𝑖 (𝑡). 𝑁𝑖 em que 𝑢𝑖 (𝑡) representa o vetor de variáveis nodais de um elemento e 𝑁𝑖 as
funções de interpolação (ou de forma para elementos isoparamétricos) de cada nó do conjunto 𝒩 dos nós
do domínio. Independentemente do número de nós por elemento, as funções de forma usadas neste caso
tẽm de ser sempre contínuas e apresentar variações suaves. Como consequência, os campos e suas
derivadas são sempre contínuos.

A ideia base do XFEM consiste em introduzir funções de forma de forma a representar descontinuidades no
campo de deslocamentos ou de pressões. Por exemplo, de forma a representar uma fratura explicitamente
dentro de um elemento, a cada grau de liberdade de deslocamento o XFEM considera um grau de liberdade
adicional (ou “grau de liberdade enriquecido”) que é multiplicado por uma função de forma descontínua,
tal como apresentado na Equação 12.

𝑢(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑢𝑖 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑


𝑖
+ ∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑎𝑗 (𝑡). 𝑁𝑢𝑒𝑛𝑟
𝑗
[12]

Os graus de liberdade adicionais aj são definidos para os nós do conjunto 𝒩 𝑑𝑖𝑠 , que no caso em estudo são
coincidentes com os nós comuns do elemento. A função de forma dos graus de liberdade adicionais 𝑁𝑢𝑒𝑛𝑟 𝑗
é
dada pelo produto entre a função de forma comum 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑 𝑗
e uma função de enriquecimento 𝜗.

𝑁𝑢𝑒𝑛𝑟 = 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑 . 𝜗 [13]

Para modelar corretamente a presença de fraturas, as funções de enriquecimento devem cumprir os


seguintes requisitos: 1) apresentar uma descontinuidade na posição da fratura. 2) ter uma derivada
descontínua na posição da fratura, e 3) ser lineares no meio contínuo. A função de sinal da função level set
garante os requisitos referidos, a qual é apresentada na Equação 14.

𝜑(𝑥) = 𝑚𝑖𝑛‖𝑥 − 𝑥 ∗ ‖. 𝑠𝑖𝑔𝑛 ((𝑥 − 𝑥 ∗ ) ∙ 𝑛𝛤𝑑 ) [14]

A função level set num ponto x é dada pela menor distância entre x e qualquer ponto 𝑥 ∗ localizado na
descontinuidade. Assim, a função de sinal do level set, H, é dada por
+1, 𝜑(𝑥) ≥ 0
𝐻(𝜑(𝑥)) = { [15]
−1, 𝜑(𝑥) < 0
Para acoplamento hidromecânico no domínio do elemento, pode referir-se que os conjuntos 𝒩 e 𝒩 𝑑𝑖𝑠 são
os mesmos para a discretização mecânica e hidráulica, sendo dada a discretização por

𝑢(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑢𝑖 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑


𝑖
+ ∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑎𝑗 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑗
. 𝐻(𝑥) [16]

𝑝(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑝𝑖 (𝑡). 𝑁𝑝𝑠𝑡𝑑


𝑖
+ ∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑝𝑎𝑗 (𝑡). 𝑁𝑝𝑠𝑡𝑑
𝑗
. 𝐻(𝑥) [17]

De acordo com Belytschko et al. (2001), a função de enriquecimento das Equações 16 e 17 pode ser
substituída por uma formulação shifted dada por (𝐻(𝑥) − 𝐻𝑗 ). Porém, de forma a simplificar o presente texto,
a formulação shifted será sempre representada apenas por H. Com base na Equação 7 verifica-se que o
problema pode ser expandido para várias fraturas. A Equação 18 apresenta a discretização de deslocamento
para um domínio com 𝑁𝑐 fraturas.
𝑁
𝑢(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑢𝑖 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑖
+ ∑𝑘=1
𝑐
∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑎𝑗,𝑘 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑗
. 𝐻𝑘 (𝑥) [18]

Se ocorrerem interseções entre fraturas, então a Discretização necessita ser adaptada de forma a
representar essas interseções corretamente. Para tal, uma função do tipo junction, J, representa a
interseção entre fraturas (Daux, Moes e Dolbow, 2000). Esta função depende das funções de
enriquecimento de cada uma das fraturas intersectadas, tal como representado na Equação 19 e na Figura
2.
0, 𝐻𝐼 (𝑥) ≥ 0
𝐽(𝑥) = { [19]
𝐻𝐼𝐼 (𝑥), 𝐻𝐼 (𝑥) < 0

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Figura 2 – Função de enriquecimento J (adaptado de Daux, Moes e Dolbow (2000))

A introdução de novas funções de enriquecimento requer a atribuição de novos graus de liberdade. A Figura
3 ilustra os diferentes graus de liberdade enriquecidos e suas funções usados num problema com interseção
entre fraturas.

Figura 3 – Graus de liberdade enriquecidos e suas posições na malha

Tal como referido para o caso de múltiplas descontinuidades, a generalização para aplicação da função J
num problema com várias interseções é direta. No entanto, há um caso particular que requer especial
atenção. O cruzamento entre duas fraturas deve ser tratado como se de duas interseções se tratassem.
Nesse caso, uma fratura principal e duas fraturas secundárias são definidas. Dessa forma, duas funções
junction, 𝐽𝐼 e 𝐽𝐼𝐼 , descrevem a interseção entre a fratura principal e cada fratura secundária. A Figura 4
descreve esta situação e as funções de enriquecimento a usar.

Figura 4 – Enriquecimento de fratura secundaria quando ocorre cruzamento de fraturas

As Equações 20 e 21 apresentam o campo de deslocamentos e de pressões, respectivamente, para uma


situação generalizada com 𝑁𝑥 interseções e 𝑁𝑐 fraturas.
𝑁 𝑁
𝑢(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑢𝑖 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑖
+ ∑𝑘=1
𝑐
∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑎𝑗,𝑘 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑗
. 𝐻𝑘 (𝑥) + ∑𝑘=1
𝑥
∑𝑗∈𝒩 𝑖𝑛𝑡 𝑏𝑗,𝑘 (𝑡). 𝑁𝑢𝑠𝑡𝑑
𝑗
. 𝐽𝑘 (𝑥) [20]

𝑝(𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑝𝑖 (𝑡). 𝑁𝑝𝑠𝑡𝑑


𝑖
+ ∑𝑁 𝑠𝑡𝑑
𝑘=1 ∑𝑗∈𝒩 𝑑𝑖𝑠 𝑝𝑎 𝑗,𝑘 (𝑡). 𝑁𝑝𝑗 . 𝐻𝑘 (𝑥) +
𝑐
∑𝑁 𝑠𝑡𝑑
𝑘=1 ∑𝑗∈𝒩 𝑖𝑛𝑡 𝑝𝑏 𝑗,𝑘 (𝑡). 𝑁𝑝𝑗 . 𝐽𝑘 (𝑥)
𝑥
[21]

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O elemento em que esta formulação foi implementada é do tipo Q4, linear em estado plano de deformação,
no qual os nós dos cantos armazenam os graus de liberdade convencionais e enriquecidos, tanto para os
deslocamentos como para as pressões do meio poroso.

Ao contrário dos deslocamentos e das pressões no meio poroso, os quais são integrados no domínio Ω, a
pressão do fluido dentro da fratura, representada por 𝑝𝐹 , é integrada e discretizada ao nível do domínio da
fratura Γ. Assim, a discretização das pressões de fluido na fratura é efetuada usando a Equação 22, usando
graus de liberdade que são colocados em todas as interseções entre fraturas e lados ou nós dos elementos,
tal como apresentado na Figura 5.

𝑝𝐹 (𝑥, 𝑡) = ∑𝑖∈𝒩 𝑑 𝑝𝐹 𝑖 (𝑡). 𝑁𝑝𝑠𝑡𝑑


𝐹𝑖
[22]

Figura 5 – Graus de liberdade de pressão de fratura e suas posições

2.3 - Integração numérica

No XFEM, o domínio do meio poroso e da fratura podem ocorrer simultaneamente no mesmo elemento,
sendo que em 2D a fratura requer integração de linha e o meio poroso integração de área. Dessa forma, a
consideração explícita de fraturas dentro de um elemento requer o uso de técnicas não convencionais para
integração. Devido à presença da descontinuidade, a função a integrar deixa de ser contínua com derivada
contínua (classe C1). Porém, as funções que se desenvolvem para um lado ou outro da fratura são contínuas,
e assim em cada uma dessas regiões a técnica de integração de Gauss pode ser aplicada. Assim, sub-
regiões dentro do elemento onde se verifica a continuidade das funções podem ser integradas
separadamente e os seus resultados somados. A Equação 23 mostra como uma integração de Gauss pode
ser aplicado a nsubreg sub-regiões do elemento, sendo 𝑘𝐼𝑃𝑠𝑢𝑏 o número de pontos de integração na sub-
região, W o peso do ponto de integração e f a função a ser integrada.
1 𝑛𝑆𝑢𝑏𝑅𝑒𝑔
∬−1 𝑓(𝑥, 𝑦)𝑑𝑥𝑑𝑦 = ∑𝑗=1 ∑𝑘𝐼𝑃𝑠𝑢𝑏
𝑖=1 𝑊𝑖,𝑗 . 𝑓(𝑥𝑖,𝑗 , 𝑦𝑖,𝑗 ) [23]

3- APLICAÇÃO DO XFEM A PROBLEMA DE FUNDAÇÃO DE BARRAGENS

3.1 - Descrição dos modelos

Quatro diferentes geometrias - Dam0, Dam1, Dam2 e Dam3 – foram definidas para realizar as análises e
todas foram definidas com base na representação esquemática do trabalho de Segura e Carol (2004),
apresentada na Figura 6. As malhas dos modelos definidos para este trabalho são apresentadas na Figura
7.

Figura 6 – Modelo esquemático definido por Segura e Carol (2004)

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a) b)

c) d)

Figura 7 – Geometria e condições de fronteira para os modelos: a) Dam0. b) Dam1. c) Dam2. d) Dam3

A primeira geometria (Dam0) simula um meio homogéneo não fraturado e serve como referência para os
restantes cálculos. A geometria Dam1, que é usada no primeiro conjunto de cálculos, tem 29 fraturas
igualmente espaçadas de 1,41m com ângulo de inclinação de 45º. As geometrias Dam2 e Dam3 são usadas
no segundo conjunto de cálculos. Na geometria Dam2 uma fratura com inclinação de 10º para montante é
introduzida e na geometria Dam3 essa fratura é replicada em todo o modelo com um espaçamento de
1,5 m.

As geometrias Dam0 e Dam1 têm malhas regulares compostas por 15x60 elementos quadrilaterais,
enquanto que as geometrias Dam2 e Dam3 têm malhas regulares compostas por 30x120 elementos
quadrilaterais.

Como pode ser visto na Figura 7, as condições de fronteira são iguais em todos os modelos. A altura de
água a montante e jusante é considerada através de pressões impostas nas fronteiras do modelo, com
valores de 120 kPa e 60 kPa. As restantes fronteiras: laterais, da base e na posição da barragem,
consideram-se impermeáveis. Tendo em conta que deslocamentos não são considerados e que a carga
hidráulica é constante, a percolação ocorre em regime permanente.

Os parâmetros escolhidos para a região porosa e para a fratura são apresentados nos Quadros 1, 2 e 3.
Tal como referido anteriormente, o parâmetro c controla a permeabilidade transversal. Tendo unidades
[L/T]/[F/L2], pode ser considerado igual ao parâmetro de permeabilidade transversal apresentado por
Segura e Carol (2004) (unidades [1/T]/[F/L3]) dividido pelo peso volúmico da água, ou seja, 𝑐 = 𝑘𝑡 ⁄𝛾𝑤 .

Quadro 1 - Propriedades hidráulicas usadas nas simulações


Dam0 Dam1 Dam2 Dam3
Meio Permeabilidade
10 -7
Poroso k = kx = ky (m/s)
Abertura de fratura Ver Ver Ver Quadro
-
winit (m) Quadro 2 Quadro 3 3

Permeabilidade transversal Ver


Fraturas - 10-5 10-5
c (m/s.kPa-1) Quadro 2
Viscosidade dinâmica da água
10-6
μ (kPa.s)

No primeiro conjunto de cálculos, os parâmetros hidráulicos das fraturas variam de acordo com as análises
realizadas por Segura e Carol (2004). O Quadro 2 apresenta os valores usados nos nove cálculos
pertencentes a este conjunto.

No segundo conjunto de cálculos, uma segunda família de fraturas é introduzida. As propriedades das
fraturas variam para que se compreenda a influência que a segunda família tem no comportamento da
fundação. De forma a reduzir a complexidade da análise, apenas a abertura da fratura varia, enquanto a
permeabilidade transversal é mantida constante e com um valor suficientemente alto de 10 -5 m/s.kPa de
forma a que não afete os resultados. Os valores da abertura de fratura usada em cada cálculo são
apresentados no Quadro 3.

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Quadro 2 - Propriedades hidráulicas variáveis no primeiro conjunto de cálculos


Cálculo winit (m) c (m/s.kPa-1)
Dam1a 1x10-4 10-5
Dam1b 1x 10-4 10-8
Dam1c 1x 10-4 10-9
Dam1d 5x10-5 10-5
Dam1e 5x10-5 10-8
Dam1f 5x10-5 10-9
Dam1g 1x10-5 10-5
Dam1h 1x10-5 10-8
Dam1i 1x10-5 10-9

Quadro 3 - Propriedades hidráulicas variáveis no segundo conjunto de cálculos


Cálculo Família de fraturas winit (m)
45° 1x10-4
Dam2a
10° 1x 10-4
45° 1x 10-4
Dam2b
10° 1x 10-3
45° 1x10-4
Dam3a
10° 1x10-4
45° 1x10-4
Dam3b
10° 1x10-3
45° 1x10-3
Dam3c
10° 1x10-4

3.2 - Resultados do primeiro conjunto de cálculos

Os campos de pressão para todos os cálculos realizados com geometria Dam1 são apresentados na Figura
8. Pode ser facilmente observado que os campos de pressão variam consideravelmente entre cálculos. Para
cálculos com valores mais baixos de permeabilidade transversal (coluna esquerda), as fraturas condicionam
a percolação, fazendo com que valores similares de pressão ocorram entre cada par de fraturas. Com o
aumento da permeabilidade transversal (coluna média e direita), a percolação ocorre com menor perda de
energia, como seria de esperar.

Quanto à permeabilidade longitudinal, a qual está diretamente relacionada com a abertura de fratura, é
visível que uma menor permeabilidade transversal (linha superior) resulta num campo de pressões mais
distribuído. Valores mais altos de abertura de fratura (linha do meio e inferior) facilitam a percolação na
fundação, fazendo as fraturas funcionar como “canais”. Isto leva a que o gradiente de pressões seja maior
na região central da fundação, uma vez que nesta zona o fluido precisa atravessar a região porosa.

c (m/s.kPa-1)
1x10 -9
1x10-8 1x10-5
1x10-5
winit (m)

5x10-5
1x10-4

Figura 8 – Campos de pressão no meio poroso para os cálculos Dam1a a Dam1i

Da análise da Figura 9, pode ser observado como o volume de fluido que entra (ou sai) do modelo decresce
com a diminuição da permeabilidade transversal ou longitudinal, tal como esperado. Nos casos com valores
altos de permeabilidade transversal, os resultados praticamente coincidem com os de Segura e Carol (2004).
À medida que a permeabilidade transversal diminui, o erro relativo entre métodos aumenta. As mesmas
conclusões podem obter-se na visualização da Figura 10, a qual apresenta a pressão ao longo de uma linha
horizontal a meia altura do modelo, tal como indicado na Figura 6. Verifica-se uma similaridade elevada na
variação de pressões em cada caso, confirmando-se a existência de um ligeiro erro nos casos de menor
permeabilidade transversal.

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Figura 9 – Vazão na fundação para os modelos Dam1a a Dam1i

Deve referir-se que esta se trata de uma comparação entre modelos que usam elementos XFEM e elementos
interface. Também se deve realçar o fato de não ter sido encontrada informação no trabalho de Segura e
Carol (2004) sobre a malha usada e a forma como as condições de fronteira foram aplicadas. Dessa forma,
podem explicar-se as ligeiras diferenças verificadas e admitir-se que a modelação usando elementos XFEM
apresenta bons resultados.

a)

b)

c)

Figura 10 – Valores da pressão no meio poroso na secção a meia altura. a) Cálculos Dam1a, Dam1b e Dam1c –
winit=10 4 m. b) Cálculos Dam1d, Dam1e e Dam1f – winit=5x10-5 m. c) Cálculos Dam1g, Dam1h e Dam1i – winit=10-5 m

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3.3 - Resultados do segundo conjunto de cálculos

No segundo conjunto de cálculos, mais fraturas são introduzidas e diferentes permeabilidades longitudinais
são usadas, de forma a quantificar o seu efeito nos resultados. Os resultados são também comparados
com o modelo de referência Dam0, o qual simula uma fundação homogênea sem fraturas, e com o modelo
Dam1a, do primeiro conjunto de cálculos.

A Figura 11 apresenta as vazões que percolam pela fundação, enquanto que a Figura 12 mostra os campos
de pressões no meio poroso para os cálculos a comparar. Pode verificar-se que o comportamento hidráulico
da fundação é muito diferente entre os vários casos de cálculo. Como esperado, e tendo em conta que a
permeabilidade transversal das fraturas é alta, em qualquer dos casos em que existem fraturas na fundação
a vazão percolada é maior do que no caso de referência. Pode observar-se que com a introdução de apenas
uma fratura, existe um aumento de vazão entre os modelos Dam1a e Dam2a. No entanto, esse aumento
é muito mais notado ao aumentar a permeabilidade longitudinal dessa fratura (modelo Dam2b). Também
o campo de pressões muda drasticamente, tendo em conta que a pressão dissipa ao atingir a fratura de
maior permeabilidade longitudinal, verificando-se assim um efeito de “canal” para fluxo do fluido até à
fronteira de saída.

Figura 11 – Vazão na fundação para os modelos Dam0, Dam1a, Dam2a, Dam2b, Dam3a, Dam3b e Dam3c

Dam0 Dam1a (45° winit = 1x10-4)

Dam2a (45° winit = 1x10-4 , 10° winit = 1x10-4) Dam2b (45° winit = 1x10-4 , 10° winit = 1x10-3)

Dam3a (45° winit = 1x10-4 , 10° winit = 1x10-4) Dam3b (45° winit = 1x10-4 , 10° winit = 1x10-3)

Dam3c (45° winit = 1x10-3 , 10° winit = 1x10-4)

Figura 12 – Pressão no meio poroso para os modelos Dam0, Dam1a, Dam2a, Dam2b, Dam3a, Dam3b e Dam3c

Os resultados dos modelos Dam3a, Dam3b e Dm3c mostram que a permeabilidade longitudinal e a posição
das fraturas têm muito mais influência do que o número de fraturas. O cálculo Dam3a demonstra que,
mesmo aumentando consideravelmente o número de fraturas, o aumento de vazão não é elevado. No

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entanto, ao aumentar a permeabilidade longitudinal de qualquer uma das famílias de fraturas (Dam3b e
Dam3c), o aumento de vazão e considerável. A comparação entre os cálculos Dam3b e Dam3c permite
verificar que o aumento de permeabilidade é muito mais efetivo nas fraturas de 10°, as quais têm inclinação
e posição que reduzem o caminho que o fluido percorre até à fronteira de saída. Também pela comparação
entre os modelos Dam2b e Dam3b se verifica que a posição e inclinação das fraturas influencia muito mais
do que o seu número, uma vez que um número mais elevado de fraturas (modelo Dam3b) não resulta num
aumento muito elevado da vazão.

4- CONCLUSÕES

O método XFEM permite a consideração explícita de fraturas num modelo de elementos finitos sem que a
malha tenha que ser conforme à sua posição. O elemento implementado contempla o acoplamento entre
efeitos mecânicos e hidráulicos, incluindo a pressão no interior da fratura e a troca de fluido entre a fratura
e o meio poroso. Considera também a interseção entre fraturas, fenômeno muito decorrente na natureza.
Verifica-se que as características do elemento se adequam à modelação de problemas em meios porosos
multi-fraturados.

Neste artigo, o elemento implementado XFEM foi aplicado num problema de percolação em fundação de
barragem. Verifica-se num primeiro conjunto de cálculos que a solução apresenta resultados semelhantes
aos de um problema da literatura, confirmando-se a influência que as permeabilidades transversal e
longitudinal têm na percolação da fundação. Num segundo conjunto de cálculos, verifica-se que a posição
das fraturas relativamente aos pontos de entrada e de saída de fluido do modelo têm mais impacto nas
vazões medidas do que o número de fraturas no modelo. De uma forma geral, pode concluir-se que o XFEM
se apresenta como uma solução viável e interessante para modelar a percolação em meios fraturados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro por parte da Shell Brasil, da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).

REFERÊNCIAS

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for Numerical Methods in Engineering, 45(5), p. 601–620.

Belytschko, T., Moës, N., Usui, S. e Parimi, C. (2001) - Arbitrary discontinuities in finite elements. International Journal
for Numerical Methods in Engineering, 50(4), p. 993–1013.

Daux, C., Moes, N. e Dolbow, J. (2000) - Arbitrary branched and intersecting cracks with the extended finite element
method. International Journal for Numerical Methods in Engineering, 48(12), p. 1741–1760.

Khoei, A. R., Vahab, M., Haghighat, E. e Moallemi, S. (2014) - A mesh-independent finite element formulation for
modeling crack growth in saturated porous media based on an enriched-FEM technique. International Journal of
Fracture, 188(1), p. 79–108.

Lamont, N. e Jessen, F. W. (1963) - The Effects of Existing Fractures in Rocks on the Extension of Hydraulic Fractures.
Journal of Petroleum Technology, 15(2), p. 203–209.

Moës, N. e Belytschko, T. (2002) - Extended finite element method for cohesive crack growth. Engineering Fracture
Mechanics, 69(7), p. 813–833.

Moes, N. e Dolbow, J. (1999) - A finite element method for crack growth without remeshing. Int. J. Numer., 150(February),
p. 131–150.

Segura, J. M. e Carol, I. (2004) - On zero-thickness interface elements for diffusion problems. International Journal for
Numerical and Analytical Methods in Geomechanics, 28(9), p. 947–962.

Simulia (2014) - Abaqus v6.14, Abaqus Documentation. Providence, RI, USA.

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PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT.


ATUALIZAÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA

WATER LOSSES THROUGH THE LEFT BANK OF OUIZERT DAM. SITE


CHARACTERISATION UPDATE

Roque, Magda; Aqualogus, Lisboa, Portugal, mroque@aqualogus.pt


Pimenta, Lurdes; Aqualogus, Lisboa, Portugal, lpimenta@aqualogus.pt
Sardinha, Ricardo; Aqualogus, Lisboa, Portugal, rsardinha@aqualogus.pt
Martins Carvalho, José; TARH, Sacavém, Portugal, jmc@tarh.pt
Rosa, Alexandra; Aqualogus, Lisboa, Portugal, arosa@aqualogus.pt
Ferhat, Hassina; ANBT, Argel, Argélia, ferhathassina@yahoo.fr

RESUMO

A Barragem de Ouizert, concluída em 1986, localiza-se no rio Sahouate, na província de Mascara, na


Argélia. A barragem tem como objetivos o aprovisionamento de água às cidades de Oran e de Arzew e a
irrigação de perímetros agrícolas a jusante. Trata-se de uma barragem de aterro com 60 m de altura, 100
hm3 de volume armazenado e bacia hidrográfica de 2 100 km2. Desde o primeiro enchimento nunca foi
atingido o NPA de projeto, devido a perdas de água a partir de margem esquerda da albufeira, que
ascenderam a 1 300 l/s. O estudo preliminar, resumido em artigo apresentado no 15º CNG, demonstrou
haver uma relação direta entre as ressurgências a jusante e o nível de água na albufeira. No âmbito do
desenvolvimento e conclusão dos estudos foi realizada uma campanha complementar de prospeção
geológica e geotécnica e atualizado o modelo geológico-geotécnico e hidrogeológico da margem esquerda
da albufeira de Ouizert. No presente artigo é apresentado o modelo geológico e hidrogeológico final e os
resultados da análise dos dados de observação, elementos que fundamentaram a solução de reabilitação
projetada.

ABSTRACT

Ouizert Dam, constructed in 1986, is located in Sahouate River, in the province of Mascara, Algeria. The
main purposes of this dam are the water supply to the cities of Oran and Arzew and the water delivery to
the downstream agricultural areas. It is a 60 m high earthfill dam with 100 hm3 of storage capacity and 2
100 km2 of catchment area. Since the first filling so far, the designed normal water level (NWL) has never
been reached, due to water losses through the left bank of the reservoir, which reached 1 300 l/s. The
preliminary study, presented at 15º National Congress of Geotechnics, showed a direct correlation
between the downstream water resurgences and the retention water level in the reservoir. Under the
scope of new site investigations, including site geological and in situ geotechnical surveys, the
actualization of the geological, geotechnical and hydrogeological model of the area was achieved. In this
paper we present the new update of the conceptual site model and the analysis of the monitoring data,
elements that based the rehabilitation solution designed.

1- INTRODUÇÃO

A Barragem de Ouizert localiza-se numa secção do vale do rio Sahouate, a jusante da confluência dos
rios Taghia e Saida, cerca de 17 km a sul de Ain-Fekan, na Wilaya de Mascara, no Norte da Argélia
(Figura 1). O aproveitamento foi concluído em 1986 com o objetivo de abastecer as cidades de Oran e de
Arzew e de fornecer água aos perímetros agrícolas existentes a jusante da barragem.

Barragem de Ouizert
Ain-Fekan

Rio Sahouate

Ouizert

Figura 1 – Localização da Barragem de Ouizert

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A barragem tem um perfil tipo de terra zonada, com núcleo central, com um desenvolvimento de 950 m à
cota de coroamento – cota (451) - e com 60 m de altura máxima. O talude de montante tem uma
inclinação de 1:1,8 (V:H) e 1:1,35 (V:H), respetivamente, abaixo e acima da cota de coroamento da
ensecadeira (441). O talude de jusante tem uma inclinação de 1:1,17 (V:H).

A barragem tem um descarregador de cheias principal, localizado na margem direita, em canal, com
soleira controlada por três comportas de sector e dissipação de energia por salto de ski, e um
descarregador secundário, do tipo dique fusível, localizado na margem esquerda, com coroamento à cota
(450).

Na Figura 2 apresenta-se uma vista geral da albufeira e paramento de montante da barragem.

Figura 2 – Barragem de Ouizert (vista de montante para jusante, a partir da margem esquerda da albufeira)

Desde o primeiro enchimento nunca foi atingido o nível de pleno armazenamento (NPA) de projecto,
definido à cota (448), tendo sido identificadas diversas ressurgências na margem esquerda da albufeira,
sobretudo no Chabet1 Aufirès (afluente do rio Sahouate, na margem esquerda) e num dos seus afluentes
direitos.

Entre 1982 e 1999 foram realizados diversos estudos para caracterização da questão das perdas de água
na margem esquerda da albufeira e instalada uma rede de piezómetros hidráulicos para observação dos
níveis de água na área em análise. Os estudos foram retomados recentemente, tendo sido adjudicados
pela ANBT – Agence Nationale de Barrages et Transferts à Aqualogus, Engenharia e Ambiente, Lda.

Com base nos dados disponíveis das campanhas iniciais de prospeção foi definido um modelo geológico e
hidrogeológico preliminar dos terrenos da margem esquerda da albufeira da barragem de Ouizert e foram
reconhecidas as condições gerais de percolações do meio, identificando-se, nomeadamente, as formações
geológicas mais propícias ao escoamento, os tipos de permeabilidade em causa e os sentidos de
percolação preferenciais. As conclusões obtidas nesta primeira abordagem ao problema foram objeto de
um artigo apresentado no 15º Congresso Nacional de Geotecnia, em 2016.

Com o objetivo de caracterizar e solucionar o problema das perdas de água da albufeira de Ouizert, a
AQUALOGUS – Engenharia e Ambiente, Lda. procedeu a novos estudos na área, nomeadamente, à
realização de novas campanhas de prospeção in situ.

A análise conjunta dos resultados dos trabalhos complementares realizados no local e dos dados de
observação, permitiram a atualização do modelo geológico-geotécnico e hidrogeológico dos terrenos da
margem esquerda da barragem de Ouizert, elementos que basearam os estudos de percolação realizados
e a concessão e pormenorização das soluções de tratamento.

A atualização do modelo conceptual dos terrenos e a análise dos dados de observação piezométrica são
apresentados nesta comunicação.

2- QUADRO GEOLÓGICO E HIDROGEOLÓGICO GERAL

A barragem de Ouizert localiza-se numa secção meandriforme do vale do rio Sahouate, que entalha
localmente terrenos sedimentares do período Cretácico, cobertos por formações detríticas mais recentes,
datados do Miocénico e do Quaternário.

1
Chabet – designação árabe para cursos de água de regime temporário.

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Os terrenos cretácicos constituem a fundação de praticamente toda a extensão da barragem e afloram


essencialmente a jusante da barragem e do dique fusível. Correspondem a formações do tipo flysch,
constituídas por alternâncias de grés, margas, calcários-gresosos, calcários azuis e calcários marmórios,
dispostas em monoclinal segundo a direção NNE-SSW e com pendor de 5 a 10º para SE.

O sistema de fracturação principal do flysch é composto pela família de fraturas F1 - coincidente com a
estratificação (NNE-SSW, 5-10ºSE) e por mais duas famílias sub-verticais (F2 e F3). A família F2, com
direção N120º-140ºE; e a F3, com direção N30ºE.

A montante do eixo, as formações carbonadas do flysch encontram-se cobertas por espessos depósitos
de origem continental do tipo poudingues, datados do Miocénico. Esta formação corresponde
essencialmente a conglomerados bem rolados, unidos por um cimento arenoso, argiloso ou carbonatado.
Muitas vezes, o cimento é dissolvido, sobretudo o carbonatado, apresentando os poudingues o aspeto de
cascalho solto.

Os poudingues assentam em discordância sobre o substrato cretácico (Figura 3), preenchendo paleo-
depressões morfológicas, pelo que a sua a espessura é muito variável. Na margem esquerda da albufeira,
a possança destes materiais aumenta substancialmente no sentido de montante, variando desde menos
de 1 m, junto ao encontro da barragem, até cerca de 90 m, aproximadamente 1 500 m a sul, o que faz
com que esta formação seja a mais representativa (em extensão e profundidade) da margem esquerda
da albufeira.

Poudingues

Flysch

Figura 3 – Sequência litológica dos terrenos (afloramento da margem esquerda da albufeira)

No flysch a percolação processa-se essencialmente por fracturação e também por porosidade, nos
horizontes mais alterados do maciço. Os primeiros estudos realizados, datados da fase de projeto da
barragem, apontam para coeficientes de permeabilidade entre cerca de k = 2x10-7 m/s a 5x10-7m/s.

No caso dos poudingues, a permeabilidade é sobretudo do tipo intersticial, ocorrendo também por
dissolução do cimento quando este é carbonatado. Os valores de absorção de água obtidos nos estudos
anteriores são variáveis, registando-se sistematicamente valores de absorções nulas imediatamente após
trechos de perdas totais e vice-versa.

No domínio da hidrogeologia regional, não se dispõe de muita informação de base, havendo contudo
notícia da existência de algumas nascentes naturais, instaladas quer nos poudingues quer no flysch,
anteriores à construção da barragem, o que revela o potencial aquífero da região. É o caso de algumas
nascentes naturais existentes na margem esquerda do rio Sahouate (a jusante e a montante da
barragem) e o caso da designada nascente Sid Bensoak, localizada a cerca de 2 200 m a NW da
barragem (ver capítulo 3).

3- HISTÓRICO DE RESSURGÊNCIAS DA BARRAGEM DE OUIZERT

Desde os primeiros estudos realizados para a construção da barragem de Ouizert, que remontam à
década de 70, que há registo de nascentes nas margens do rio Sahouate e da zona de confluência deste
com o Chabet Aufirès. À data, tinham sido identificadas ressurgências (assinaladas a rosa, na Figura 4),
cerca das cotas (384) e (395), numa altura em que o leito do rio se encontrava à cota (400).

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Em 1987, já depois da construção da barragem e consequente criação da albufeira, foram documentadas


novas ressurgências no Chabet Aufirès e num dos seus afluentes direitos (assinaladas a azul, na Figura 4),
às cotas (405) e (426). Mais recentemente, em 2015, foi reportada uma outra ressurgência no Chabet
Aufirès, à cota (426).

Rio Sahouate Cota: (384)

Cota: (385)

Cota: (385)

Cota: (405)
Cota: (426)

Ressurgências
Chabet Afluente direito
Aufirès do Chabet
- Registo em 1971
Aufirès
- Registo depois de 1987
- Registo em 2015
Cota: (426)

Figura 4 – Localização das ressurgências na margem esquerda da barragem de Ouizert (fonte Google Earth)

Ao longo dos anos, tem-se verificado que consoante as variações do nível de água na albufeira também a
cota de ocorrência da vegetação a montante das ressurgências varia. Este fenómeno é visível nas
imagens de satélite de datas diferentes, a que correspondem cotas de albufeira também diferentes. Na
Figura 5 apresenta-se uma imagem de 2009, quando a albufeira se encontrava à cota (439,6), e outra de
2012, com nível de água na albufeira à cota (424,89), onde se podem observar diferenças na vegetação.

a) b)
Figura 5 – Imagens de satélite das zonas do Chabet Aufirès (fonte Google Earth): a) 07-10-2009, albufeira à cota
(439,6); b) 02-09-2012, albufeira à cota (424,58)

No que se refere aos volumes das ressurgências, não existem sistemas fiáveis de medição de caudais e
as leituras não são feitas de forma sistemática. Os registos disponíveis correspondem a medições de
caudal realizadas de forma expedita numa secção do Chabet Aufirès, a jusante das ressurgências 5 a 9,
como se mostra na Figura 6. Os caudais registados são bastante variáveis, com aparente relação com os
níveis de água na albufeira, apresentando-se como exemplo o volume de 173-208 l/s, medido a 24-05-

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2015 com albufeira à cota (425,3); e o volume de 1504-1970 l/s, medido a 15-05-2013 com albufeira à
cota (444,42).

a) b)

c) d)
Figura 6 – Medição expedida do caudal das ressurgências: a) medição da largura da secção; b) medição da altura
média da secção; c) medição do comprimento da secção; e c) libertação de uma folha de papel e medição do tempo
necessário para esta se deslocar do ponto inicial ao final da secção

4- CAMPANHA DE PROSPEÇÃO

Tendo por base os elementos disponíveis foi definido o modelo geológico e hidrogeológico conceptual da
área, contudo subsistiam dúvidas quanto às características geotécnicas e à condutividade hidráulica das
formações geológicas, sobretudo dos poudingues. Subsistiam também dúvidas em relação aos caminhos
preferências de circulação de água que dão origem às ressurgências, aos caudais percolados e, ainda, ao
contributo relativo das águas de albufeira e das descargas naturais do sistema aquífero regional para
alimentar esses caudais.

Em 2016 realizou-se uma campanha de prospeção complementar na margem esquerda da albufeira da


barragem de Ouizert que incluiu:
- 5 Sondagens geotécnicas (SG) com profundidades variáveis de 78 a 96 m, acompanhadas de
ensaios Lefranc e Lugeon e da instalação de piezómetros hidráulicos;
- 12 Sondagens elétricas verticais (SE) com AB=400 m, alinhadas segundo as direções NNW-SSE
(perpendicular à direção das camadas do flysch) e WNW-ESSE (paralela à direção das camadas
do flysch);
- 7 Perfis eléctricos (TE), com AB=50 m e AB=200 m.

Foi também realizada uma campanha de medição in situ dos parâmetros pH, condutividade elétrica (CE)
e Temperatura (T) das águas da albufeira (pontos 1 e 2, na Figura 7), das ressurgências (pontos 1 a 6 e
8, na Figura 7), de uma captação de água existente na povoação de Ouizert (ponto 7, na Figura 7) e da
nascente Sid Bensoak, que se encontra fora da área de influência da albufeira e representa o aquífero
regional (ponto 9, na Figura 7).

Na Figura 7 apresenta-se a localização de todos os trabalhos efetuados.

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Chabet Aufirès

Afluente direito do
Chabet Aufirès

1 e 2 – Água da albufeira;
3 a 6 e 8 – Água das ressurgências;
7 – Água da captação subterrânea;
9 – Água da nascente Sid Bensoak.

-Sondagem geotécnica
- Perfil geoélectrico
- Sondagem eéctrica vertical

Figura 7 – Campanha de prospeção: a) localização dos trabalhos de prospeção geotécnica e geofísica, b) localização
dos pontos de medição in situ dos parâmetros físico-químicos das águas

5- ANÁLISE DE RESULTADOS DA PROSPEÇÃO IN SITU

As sondagens realizadas permitiram verificar que os poudingues em geral apresentam boas


características geomecânicas, com valores de RQD – Rock Quality Designation superiores a 70%, abaixo
dos 12 de profundidade.

Em termos de permeabilidade obtiveram-se valores muito variáveis, sobretudo nos ensaios Lugeon
realizados, que incluem desde absorções nulas a perdas totais. Verifica-se que não há uma relação direta
entre as permeabilidades obtidas e as cotas do terreno, mostrando aleatoriedade na distribuição espacial
dos resultados (Figura 8).

Figura 8 – Relação entre os valores de absorção de água obtidos nos ensaios Lugeon e as cotas do terreno.

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Da observação dos carotes das sondagens verificou-se também que não há uma relação clara entre as
permeabilidades obtidas e as características mecânicas do maciço, nomeadamente com o grau de
alteração ou com os valores de RQD.

No que respeita à estimativa dos coeficientes de permeabilidade dos poudingues, foi feita a interpretação
conjunta dos resultados dos ensaios LeFranc e dos ensaios Lugeon (incluindo os valores das perdas totais,
tendo em conta os volumes injetados e as pressões impostas). As condutividades hidráulicas obtidas são
muito variáveis, desde 7x10-9 m/s a 8x10-4 m/s, como se mostra na Figura 9.

Figura 9 – Valores de k (m/s) estimados a partir dos ensaios Lugeon em função da profundidade

Em relação aos parâmetros físico-químicos das águas, analisou-se em particular a CE por ser o
parâmetro mais estável. Na Figura 10 apresentam-se as isolinhas de CE obtidas.

Figura 10 – Valores de CE das águas da albufeira e da margem esquerda da albufeira da barragem de Ouizert

Verifica-se que há uma afinidade físico-química entre as águas das ressurgências mais próximas da
albufeira (pontos 3 a 6) e as águas da própria albufeira (pontos 1 e 2), com valores de CE de 1 600 a
1 800 µS/cm.

As águas da captação subterrânea (ponto 7) e da ressurgência mais distante (ponto 8) aparentam ser
águas mistas, com contributo simultâneo da albufeira e das descargas regionais, denotando-se um
aumento da mineralização, a que correspondem CE entre 1 750 e 2 600 µS/cm.

Finalmente, as águas da nascente Sid Bensoak, que representam o aquífero regional, apresentam valores
de CE elevados, que são superiores a 2 600 µS/cm.

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A distribuição espacial dos resultados revela uma segregação dos valores de CE, em que com o
afastamento à albufeira aumenta a mineralização das águas, que tendem a assemelhar-se mais às das
águas do aquífero regional do que às da albufeira.

Confirma-se assim que de facto há um contributo importante da albufeira para alimentar as


ressurgências, mas que há igualmente um contributo por parte do aquífero regional.

Para concluir a análise dos dados, refere-se que a prospeção geofísica identifica um eixo de resistividade
elétrica com valores da ordem de 100 a 500 ohm.m, localizado entre a margem esquerda da albufeira e o
Chabet Aufères. Este eixo coincide com o eixo de aumento dos valores de CE e também com o
alinhamento preferencial de perda de carga piezométrica, que se analisará no Capítulo 6.

6- ANALISE DOS DADOS DE OBSERVAÇÃO

Desde o final da década de 80 que se tem vindo a estudar os fenómenos de perdas de água a partir da
albufeira de Ouizert, nomeadamente através das diversas campanhas de instalação de piezómetros e
medição de níveis. No presente capítulo analisam-se os dados disponíveis: de outubro de 1987 a
Dezembro de 2016.

Na Figura 11 apresenta-se a localização dos piezómetros instalados e o alinhamento de quatro perfis ao


longo dos quais se efetuou a análise da evolução dos níveis piezométricos da área. Apresenta-se também
a data de instalação dos diferentes piezómetros.

Figura 11 – Localização dos piezómetros instalados na margem esquerda da albufeira de Ouizert e dos perfis
analisados. (fonte: Google Earth)

A análise dos dados de observação revela que, para as mesmas datas, os níveis de água nos piezómetros
e na albufeira são muito próximos em cota. Verifica-se também que há uma resposta praticamente
imediata à variação dos níveis da albufeira, como se ilustra para o caso do piezómetro P20, na Figura 12.

Figura 12 – Variação dos níveis piezométricos no piezómetro P20 e do nível de água na albufeira

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Constata-se também que ocorre uma perda de carga que aumenta com a distância dos piezómetros à
albufeira (perfis 1, 2 e 4). Essa perda de carga é particularmente acentuada entre os piezómetros P10 e
P13 (perfis 1 e 2), contribuindo para esta situação o facto de neste local se reduzir drasticamente a
espessura dos poudingues, mais permeáveis, passando a circulação a dar-se através do flysch, menos
permeável.

Com o objetivo de ilustrar as diferenças registadas na perda de carga, na Figura 13, apresentam-se os
gráficos obtidos para os perfis 2 e 4, para o dia 28-07-2016, com albufeira à cota (436,16). Nos gráficos
representa-se o nível de água na albufeira, as cotas de base e de topo dos piezómetros e a cota de base
dos poudingues.

a) b)

Figura 13 – Variação dos níveis piezométricos para albufeira à cota (436,16). Leituras realizadas a 28-07-2016: a) ao
longo do perfil 2; b) ao longo do perfil 4

A análise espacial do conjunto de dados piezométricos revela a existência de um eixo preferencial de


percolação a partir da albufeira em direção ao Chabet Aufirès e ao seu afluente direito. Esta situação é
evidenciada nas cartas de isopiezas reproduzidas para diferentes datas. Na Figura 14 apresentam-se as
isopiezas obtidas para o dia 28-07-2016, para um nível de água na albufeira à cota (436,16), e para o dia
18-12-2016, para a albufeira à cota (432,57).

Na Figura 14 é também possível observar a variação de cotas piezométricas em função da variação do


nível de água na albufeira, como se existisse uma espécie de extensão subterrânea da albufeira, que
responde rapidamente à variação de cota da albufeira.

a) b)
Legenda Cotas piezométricas

- Ressurgência (registo em 1971)


- Ressurgências (registo depois de 1987)
- Ressurgência (registo em 2015)
- Sondagem geotécnica

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- Sentido de percolação

Figura 14 – Cartas de isopiezas da margem esquerda da albufeira de Ouizert: a) leituras realizadas a 28-07-2016,
para albufeira à cota (436,16); b) leituras realizadas a 18-12-2016, para albufeira à cota (432,57)

7- MODELO HIDROGEOLÓGICO CONCEPTUAL

Os estudos realizados na margem esquerda da albufeira da barragem de Ouizert permitiram atualizar o


modelo geológico, geotécnico e hidrogeológico deste local.

A barragem em causa localiza-se num meandro do rio Sahouate, que entalha formações geológicas
diferentes a montante e a jusante do eixo. A jusante, dominam formações cretácicas carbonatadas do
tipo flysch, dispostas em monoclinal com pendor para SE. A montante, e portanto dentro do perímetro
ocupado pela albufeira, o flysch encontra-se coberto por formações miocénicas do tipo poudingues, cuja
espessura aumenta progressivamente para montante.

Relativamente ao escoamento subterrâneo, no caso do flysch, a percolação ocorre maioritariamente por


fracturação, mas também por porosidade, no horizonte mais alterado, estimando-se coeficientes de
permeabilidade de cerca de 2x10-7 m/s a 5x10-7m/s. m/s. No caso dos poudingues, a percolação é
essencialmente intersticial, podendo ocorrer grandes vazios devido à dissolução do cimento, sobretudo no
caso deste ser carbonatado. As permeabilidades são particularmente variáveis, estimando-se valores que
oscilam de 7x10-9 m/s a 8x10-4 m/s.

Até à década de 70, antes da construção da barragem, o nível freático estava instalado quer nos
poudingues quer no flysch e o escoamento subterrâneo acompanhava a topografia, sendo o rio Sahouate
o principal eixo drenante da área.

Depois da construção da barragem e, portanto, em regime influenciado pela albufeira, a percolação


subterrânea continua a seguir a topografia em direção ao rio Sahouate, porém surgiram outros
subsistemas de percolação. Nestes subsistemas, instalados sobretudo nos poudingues, o escoamento
processa-se através de uma rede de percolação difusa, controlada pela porosidade. O bordo da albufeira
funciona como uma barreira a potencial constante que alimenta o escoamento subterrâneo. Os principais
pontos de descarga são as ressurgências identificadas no Chabet Aufirès e no seu afluente direito.

A piezometria da margem esquerda é influenciada pela variação dos níveis da albufeira, exibindo na zona
mais próxima da margem da albufeira uma resposta praticamente imediata, como se se tratasse de uma
extensão subterrânea desta.

As análises físico-químicas das águas revelam que há claramente influência da albufeira na alimentação
das ressurgências, mas que há também um contributo importante das descargas naturais do aquífero
regional. Por um lado, há uma afinidade entre as águas da albufeira e as das ressurgências mais
próximas, por outro, as ressurgências mais distantes apresentam características mistas entre as do
aquífero regional e as da albufeira.

A semelhança físico-química das águas mais próximas da albufeira, bem como a resposta praticamente
imediata por parte dos piezómetros à variação dos níveis da albufeira, indica que se está perante um
meio de percolação subterrânea rápido e relativamente pouco profundo.

Na Figura 15 apresenta-se a carta geológica e hidrogeológica esquemática da área de estudo. Nesta


figura representa-se a cartografia geológica de superfície, a localização das ressurgências, as isolinhas
das cotas de base dos poudingues e as isopiezas do dia 28-07-2016, correspondentes a nível de albufeira
à cota (436,16).

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Rio Sahouate
(meandro a
jusante da
barragem)

Geologia
A - aluviões
P – Poudingues
G – Grés (flysch)
C – Calcários (flysch)
M – Margas (flysch)
– Cotas de base dos poudingues

Hidrogeologia
- Isopiézas (28-07-2016)
- Ressurgências (1971)
- Ressurgências (depois 1987)
- Ressurgência (2015)
- Sentido de percolação
Chabet
Aufirès
Outra simbologia
- Barragem
- Nível de água a 28-07-2016
- NPA
Afluente
direito do
Chabet Aufirès

Figura 15 – Carta geológica e hidrogeológica da margem esquerda da albufeira da barragem de Ouizert

8- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A barragem de Ouizert, no Norte da Argélia, na Wilaya de Mascara, foi concluída em 1986, com o
objectivo de fornecer água às cidades de Oran e de Arzew e de irrigar os perímetros agrícolas existentes
a jusante. Desde o primeiro enchimento, nunca foi atingido o NPA de projeto, definido à cota (448),
devido a perdas de água a partir da margem esquerda da albufeira.

O ambiente geológico da área difere a montante e a jusante da barragem. A jusante, dominam as


formações rochosas do tipo flysch, compostas essencialmente por alternâncias de grés e de margas,
dispostas em monoclinal com pendor para SE (montante). Nestas formações a percolação processa-se
sobretudo por fracturação.

A montante, dominam as formações detríticas do tipo poudingues com cimento carbonatado, arenoso ou
argiloso, cuja espessura na margem esquerda aumenta consideravelmente para montante do local de
implantação da barragem. A percolação nestas formações ocorre principalmente por porosidade, a qual é
condicionada pelas características do maciço, nomeadamente pela presença ou ausência de cimento e/ou
pelo tipo de cimento. A condutividade hidráulica dos poudingues é muito variáveis e não apresenta
correlação nem com as características geotécnicas do maciço nem com as cotas do terreno, admitindo-se
que se trata de um meio de percolação aleatório, complexo e heterogéneo.

Antes da construção do aproveitamento, já havia notícia de ressurgências instaladas quer nos poudingues
quer no flysch, as quais se localizam sobretudo a jusante do local da barragem, cerca das cotas (385) e
(395), quando o leito do rio Sahouate corria à cota (400). Depois da construção criaram-se novos
subsistemas de percolação, influenciados pelos níveis da água da albufeira. Estes subsistemas estão
instalados sobretudo nos poudingues, têm a albufeira como principal ponto de recarga e têm o Chabet
Aufirès e o seu afluente direito como principais pontos de descarga, onde se passaram a registar novas
ressurgências.

A influência da albufeira para a criação destes subsistemas de percolação é clara. Por um lado, a
piezometria da área mostra um eixo preferencial em direção ao Chabet Aufirès e ao seu afluente direito,

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com uma acentuada perda de carga neste sentido no trecho em que a espessura dos poudingues se
reduz e anula. Por outro lado, a distribuição dos parâmetros físico-químicos das águas revela uma
seriação das águas subterrâneas, em que as águas mais próximas da albufeira apresentam maior
afinidade com estas últimas. Não obstante o contributo relativo que o aquífero regional possa ter.

Os estudos efetuados permitiram caracterizar o problema, nomeadamente através da identificação dos


caminhos de percolação principais e da caracterização mecânicas e de permeabilidade das formações
geológicas que controlam a percolação.

Desta forma, foi possível definir uma solução de impermeabilização do maciço. O tratamento preconizado
tem uma extensão de cerca de 2 000 m e pretende minimizar o problema das perdas de água da
albufeira, com consequente aumento do volume armazenado. As diferentes soluções estudadas, os
estudos de percolação efetuados e o dimensionamento da solução final são apresentados noutro artigo.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam o seu agradecimento à Agence Nationale des Barrages et Transferts da Argélia -
ANBT, pela autorização na divulgação dos dados e pelo acompanhamento nas visitas de reconhecimento
efetuadas.

BIBLIOGRAFIA

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la Wilaya de Mascara. Mission 3 – Étude géologique et hydrogéologique de la rive gauche de la cuvette.
AQUALOGUS (2015) - Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 2 – Définition des Reconnaissances Géophysiques, Géologiques et des Essais
d’eau.
AQUALOGUS (2015) - Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 1 – Examen Et Critique des Donnes Existants et Visites des Experts.
ENERGOPROJEKT (1973) - Barrage d’Ouizert. Phase C. Avant-Projet Détaillé. Tomes 1/4, 2/4 et ¾ e 4/4 – Résultats
des Travaux de Reconnaissances et Essais.

Pimenta, L., Roque, M., Sardinha, R., Martins Carvalho, J. e Djir, K. (2016) - Perdas de Água pela Albufeira de Ouizert.
Estudos de Diagnóstico e de Reabilitação. 15º Congresso Nacional de Geotecnia, Porto (Pen Drive).
SOCIETE GENERALE POUR L’INDUSTRIE – INGENIEURS-CONSEILS (1979) - Aménagement d’El Fakia. Barrage et
Ouvrages Annexes. Note sur les Options Techniques. Volume 1.
SOCIETE GENERALE POUR L’INDUSTRIE - INGENIEURS – CONSEILS (1982) - Aménagement d’El Fakia. Etanchéité de
la Cuvette. Rapport Final. Mission II. Assistance Technique.
TORAN ET CIA (1970) - Rapport Complémentaire – Géologie et construction.
TORAN ET CIA (1970) - Étude Préliminaire du site de Ouizert sur l’Oued Sahouate (Oranie).
TORAN ET CIA (1970) - Étude Préliminaire des Barrages Projetés dans l’Oranie. Plan de la Cuvette d’Ouizert.
UKRVODPROEKT ET ENHYD (2000) - Etude du Problème des Pertes d’Eau par Infiltration à travers la Rive Gauche de
La Retenue du Barrage d’Ouizert. Mission I : Diagnostic General.
Feuille Ouest de la Carte Géologique d’Algérie, échelle 1 :500 000 (Direction du Commerce de l’Énergie et de
l’Industrie, 1951-1952).
Feuille 212 (Mascara) de la Carte Géologique d’Algérie, échelle 1 :50 000 (Service Géologique de l’Algérie, 1992).
Feuille 273 (Berthelot) de la Carte Géologique d’Algérie, échelle 1 :50 000 (Service Géologique de l’Algérie, 1967).

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PERDAS DE ÁGUA PELA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DE OUIZERT. SOLUÇÃO DE


REABILITAÇÃO PRECONIZADA

WATER LOSSES THROUGH THE DAM LEFT BANK OUIZERT DAM.


REHABILITATION SOLUTION.

Rosa, Alexandra; Aqualogus, Lisboa, Portugal, arosa@aqualogus.pt


Pimenta, Lurdes; Aqualogus, Lisboa, Portugal, lpimenta@aqualogus.pt
Sardinha, Ricardo; Aqualogus, Lisboa, Portugal, rsardinha@aqualogus.pt
Roque, Magda; Aqualogus, Lisboa, Portugal, mroque@aqualogus.pt
Ferhat, Hassina; ANBT, Argel, Argélia, ferhathassina@yahoo.fr

RESUMO

A Barragem de Ouizert, construída em 1986, localiza-se no rio Sahouate na província Mascara, na Argélia,
destinando-se ao abastecimento público das cidades de Oran e Arzew e à irrigação de perímetros de rega
a jusante da barragem. Trata-se de uma barragem de terra zonada, com 60 m de altura máxima e um
volume armazenado de cerca de 100 hm3. Desde o primeiro enchimento manifestou perdas importantes
de água pela margem esquerda da albufeira, nunca se tendo atingido o NPA definido no projecto. A
caracterização complementar da situação de referência, os modelos geológico-geotécnicos e
hidrogeológico da área e a análise do sistema de observação são objecto de uma comunicação própria
submetida no presente congresso. Nesta comunicação apresenta-se a concepção e o dimensionamento
da solução de tratamento prevista e o respectivo plano de observação.

ABSTRACT

Ouizert Dam, constructed in 1986, is located in Sahouate River, in the province of Mascara, in Algeria. Its
main purposes are to supply a public water system to the cities of Oran and Arzew and deliver water to
irrigation perimeters downstream of the dam. This dam is an earthfill dam with a maximum of 60 m high
and storage capacity of 100 hm3. Since the first filling, major water losses were registered through the
left bank of the reservoir. The designed retention water level has never been reached. The site
characterisation, the geological, geotechnical and hydrogeological models and the monitoring data
analysis are discussed on another paper presented also in this same congress. In this paper, the
conception and design of the proposed treatment solution and its monitoring system are presented.

1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A barragem de Ouizert, construída em 1986, localiza-se a cerca de 17 km a Sul de Ain-Fekan e a 7 km a


jusante da localidade de Ouizert, na Wilaya de Mascara (Figura 1). Situa-se no vale do rio Sahouate, na
confluência dos rios Taghia e Saida e tem como objectivo satisfazer as necessidades de água potável às
cidades de Oran e Arzew e à irrigação dos perímetros agrícolas a jusante da barragem.

Figura 1 – Localização da Barragem de Ouizert

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Trata-se de uma barragem de aterro, com um perfil tipo de terra zonada, com núcleo central, uma
extensão de 950 m à cota do coroamento (451) m e uma altura máxima de 60 m. Os taludes de
montante estão inclinados a 1:1,8 (V:H) e 1:3,5 (V:H), respectivamente, acima e abaixo da cota do
coroamento da ensecadeira (441). O talude de jusante tem inclinação 1:1,7 (V:H). Os órgãos de
segurança desta barragem incluem um descarregador de cheias principal em canal, com três vãos
controlados por comportas e dissipação de energia por salto de ski, na margem direita, e um
descarregador complementar, do tipo dique fusível, na margem esquerda.

Desde o seu primeiro enchimento, em 1986, o nível de pleno armazenamento (NPA) desta barragem –
cota (448) m – nunca foi atingido. Desde o primeiro enchimento que se observaram graves problemas de
perdas de água, com o aparecimento de ressurgências na margem esquerda da albufeira, nomeadamente
no Chabet Aufirès e seu afluente direito. Em 1986, deu-se início ao estudo das condições de percolação
na margem esquerda da albufeira, com vista a reduzir as perdas de água observadas e a aumentar a
capacidade de armazenamento da barragem. Como forma de observar e caracterizar o comportamento
da rede de percolação foram implementados entre 1982 e 1999 um conjunto de piezómetros hidráulicos.
A AQUALOGUS realizou recentemente novos trabalhos de prospeção in situ que permitiram complementar
a informação disponível e instalar novos piezómetros. O estudo geológico-geotécnico e as condições de
fundação são descritos num artigo também publicado neste congresso.

Neste artigo apresentam-se os estudos de percolação da situação de referência, a análise de soluções de


tratamento alternativas e a solução de reabilitação projectada bem como o respectivo plano de
observação.

2- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

A barragem de Ouizert e o local em estudo localizam-se junto do rio Sahouate, o qual atravessa terrenos
montanhosos pouco ondulados e essencialmente compostos por sedimentos cretácicos do tipo flysch,
cobertos por poudingues datados do Miocénico.

As formações de flysch são visíveis a noroeste da zona de estudo, junto ao rio Sahouate, a jusante da
barragem e na zona do dique fusível. São compostas por sequências de calcários, grés e margas
dispostas em monoclinal segundo a direcção NNE-SSO e pendor de 5º a 10º para ESE. O sistema de
fracturação principal é composto por fracturas coincidentes com a estratificação (NNE-SSO, 5-10º ESE) e
por duas famílias subverticais com direções N120º-140ºE e N30ºE.

À superfície, os poudingues cobrem a maior parte da margem esquerda da barragem, aflorando entre o
dique fusível e a localidade de Ouizert. Têm maior expressão que o flysch, quer em planta quer em
profundidade. Os poudingues são depósitos de origem torrencial ou fluvio-lacustre, compostos por
materiais detríticos arredondados de diferentes litologias e unidos por um ligante arenoso, carbonatado
ou argiloso. Em algumas zonas, o ligante encontra-se lavado contribuindo para o seu aspecto de cascalho
solto. A sua espessura aumenta na direcção su-sudeste da zona de estudo.

A percolação no flysch ocorre geralmente por fracturação e por porosidade (nos horizontes mais alterados
do maciço), enquanto nos poudingues a percolação será essencialmente do tipo intersticial.

3- ESTUDOS DE PERCOLAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA

3.1 - Considerações gerais

Com vista à avaliação dos caudais percolados pela margem esquerda da albufeira da barragem de Ouizert
foram realizadas análises de sensibilidade, nomeadamente cálculos de percolação. Com base na
resolução da lei de Darcy, consideraram-se duas situações: uma utilizando uma geometria bidimensional
no plano vertical (método dos elementos finitos), e outra utilizando uma geometria unidimensional.

Foram definidos 3 alinhamentos de cálculo, SC1 a SC3, cuja localização em planta e respectivo corte
geológico-geotécnico se encontram representados na Figura 2. A sua definição teve em conta os
caminhos preferenciais de percolação deduzidos do sistema de observação e dos pontos de ressurgência
nas linhas de água próximas.

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(a) Legenda: - Ressurgências; - Piezómetros existentes


P21
(433,32)
P20
Sb13 Sb10 Sb6 (432,97) SG1
(417,22) (430,44) (430,09) (431,88)
Cota de saída Cota da albufeira
Cota (m)

470 (Chabet Aufirès)


430
390
350
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7

Distância (m) (x 1000)


(b) SC1
SG5 SG4 SG3
(427,44) (427,61) (430,04)
Cota de saída Cota da albufeira
Cota (m)

470 (Chabet Aufirès)


430
390
350
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5

Distância (m) (x 1000)


(c) SC2
SG3
(430,04)
Cota de saída
Cota da albufeira
Cota (m)

470 (Chabet Aufirès)


430
390
350
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7

Distância (m) (x 1000)


(d) SC3
Figura 2 – (a) Localização em planta das secções de cálculo analisadas; (b) SC1; (c) SC2; (d) SC3

3.2 - Análise bidimensional de percolação

3.2.1 - Modelo de cálculo

Os cálculos de percolação pelo método dos elementos finitos (análise bidimensional) foram realizados por
intermédio do programa de cálculo SEEP/W. As malhas adotadas são compostas por elementos finitos
triangulares isoparamétricos do 2º grau.

As condições de fronteiras definidas foram (ver o exemplo na Figura 3):

 Limite inferior – fronteira impermeável;

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 Limite lateral de montante (albufeira) – linha equipotencial definida pela cota da albufeira:
(448) m correspondente ao NPA e (436,16) m correspondente ao máximo registado
(28-07-2016);
 Limite lateral de jusante (Chabet Aufirès) – linha equipotencial definida pela cota das
ressurgências; na análise da secção SC3, este limite foi considerado infinito e correspondente à
cota do rio Sahouate de (380) m;
 Limite superior – escoamento de superfície livre (calibrado pelos resultados dos dados de
observação piezométricos).

Chabet Aufirès
H=constante Cota da albufeira
+ H=constante
Q=0 Q=0;P=0
Cota (m)

470 Fronteira infinita


430
390
350
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7

Distância (m) (x 1000)


Figura 3 – Malha e condições de fronteira da SC3

Dos cálculos de sensibilidade efectuados foram retidos três cenários geológico-geotécnicos que se
apresentam no Quadro 1.

Quadro 1- Cenários geológico-geotécnicos adotados


Cenários Poudingues Interface Flysch
kv=1x10-6 m/s
C.1 kv=kh= 5x10 -4
m/s kv=kh= 5x10-7 m/s
kh=5x10-5 m/s
kv=1x10-6 m/s
C.2 - kv=kh= 5x10-7 m/s
kh=5x10-5 m/s
kv=1x10-6 m/s
C.3 - kv=kh= 5x10-6 m/s
kh=5x10-5 m/s

As permeabilidades vertical e horizontal dos poudingues foram obtidas através da média dos coeficientes
de permeabilidade equivalente vertical e horizontal resultantes dos ensaios Lugeon realizados nas
sondagens SG1 a SG5, abaixo da cota do NPA.

A permeabilidade do flysch foi determinada tendo em consideração os resultados dos trabalhos de


prospecção de fases de estudo anteriores e da fase de obra.

A existência de uma interface poudingues-flysch de elevada permeabilidade parece deduzir-se de alguns


trabalhos de prospecção realizados, não se afigurando, no entanto, que esta tenha continuidade. Não
obstante foi considerada no âmbito das análises de sensibilidade realizadas.

3.2.2 - Apresentação de resultados

A calibração dos modelos de cálculo foi efectuada com base nos dados de observação piezométricos
disponíveis. Observou-se que as diferenças entre as leituras dos piezómetros e a cota da linha de
saturação são baixas para as 3 secções de cálculo (Figura 4).

Figura 4 – Linha de saturação vs. leituras dos piezómetros (SC1)

Para o cálculo do caudal total foram apenas considerados os caudais totais Q obtidos para as secções de
cálculo SC1 e SC3, (consideradas as mais representativas das condições de percolação na zona de estudo)
para cada cenário geológico-geotécnico e cota de albufeira anteriormente descritos. O cálculo do caudal
total teve também em conta a largura de influência b associada a cada secção de cálculo: 1000 m para a
SC1 e 700 m para a SC3. O Quadro 2 apresenta os resultados obtidos.

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Quadro 2- Resultados dos caudais totais (método dos elementos finitos)


Cota da
Secção Cota de Coef. de permeabilidade
albufeira Zonamento Q (l/s) QTOTAL (l/s)
de cálculo saída (m) horiz. (m/s)
(m)
Poudingues 5x10-5 7,98
Interface 5x10-4 7,07 15,1
Flysch 5x10-7 2,11x10-2
436,16 Poudingues 5x10-5 6,06
6,1
Flysch 5x10-7 1,23x10-2
Poudingues 5x10-5 17,7
18,0
Flysch 5x10-6 0,36
SC1 405
Poudingues 5x10-5 40,6
Interface 5x10-4 28,0 68,8
Flysch 5x10-7 0,17
448 Poudingues 5x10-5 29,4
29,5
Flysch 5x10-7 0,11
Poudingues 5x10-5 35,8
37,1
Flysch 5x10-6 1,34
Poudingues 5x10-5 35,5
Interface 5x10-4 22,9 58,5
Flysch 5x10-7 6,00x10-2
436,16 Poudingues 5x10-5 23,3
23,3
Flysch 5x10-7 3,61x10-2
Poudingues 5x10-5 27,5
27,9
Flysch 5x10-6 0,43
SC3 380
Poudingues 5x10-5 50,0
Interface 5x10-4 31,4 81,5
Flysch 5x10-7 8,25x10-2
448 Poudingues 5x10-5 33,2
33,2
Flysch 5x10-7 5,01x10-2
Poudingues 5x10-5 39,0
39,6
Flysch 5x10-6 0,59

De uma forma geral, verificou-se que a existência de uma interface poudingues-flysch aumenta
consideravelmente o caudal percolado. Para um nível de albufeira de (436,16) m, o caudal da SC1
aumentou de 6 para 15 l/s e o da SC3 de 23 a 58 l/s. Para o NPA de (448) m, o caudal na SC1 aumenta
de 29,5 l/s para 69 l/s e na SC3 de 33 a 81,5 l/s.

No que concerne a variabilidade da permeabilidade do flysch (comparação entre os cenários 5x10-7 m/s e
5x10-6 m/s), para as secções de cálculo SC1 e SC3, observa-se um ligeiro aumento do caudal estimado.
Para um nível de albufeira de (436,16) m, o caudal da SC1 aumentou de 6 para 18 l/s e o da SC3 de 23 a
28 l/s. Para o NPA de (448) m, o caudal na SC1 aumenta de 29,5 l/s para 37 l/s e na SC3 de 33 a 40 l/s.

Em relação aos valores totais, a secção SC3 apresenta maior quantidade de caudal percolado, o que seria
de esperar, já que a diferença de carga hidráulica montante-jusante é superior face àquela da SC1.

A estimativa do caudal anual total percolado na zona de estudo, correspondente à soma dos caudais
obtidos nas duas secções, considerando uma cota de saída de (380) m para as duas secções de cálculo e
larguras de influência b de 1000 m para a SC1 e de 700 m para a SC3, encontra-se indicada na Figura 5.

5
QTOTAL (hm3/ano)

4
2,57
3
4,67

2 1,25
1,05
2,44

1,84
2,35

0,88
1,98
1,72

1 2,10
0,93

0,74 0,84 0,93 1,19


0,50 0,20
0
Cota da albufeira (m): (436,16) (448)
Cenários: C.1 C.2 C.3 C.1 C.2 C.3
SC1 SC3 Total

Figura 5 – Caudal anual total percolado (método dos elementos finitos)

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Desta análise, o caudal total percolado na zona de estudo pode variar entre 2 a 5 hm3/ano para um nível
de albufeira igual ao NPA. Ressalte-se a importância de obter valores fiáveis dos caudais das
ressurgências por forma a melhorar a calibração do modelo e, consequentemente, a estimativa obtida (à
data não existem dados de caudais disponíveis).

3.3 - Análise unidimensional de percolação

Tendo em conta os parâmetros de cálculo indicados no capítulo 3.1.1, a lei de Darcy foi adotada por
forma a estimar os caudais percolados:

v=ki [1]

Q= A v [2]

onde, v representa a velocidade de escoamento (m/s), k o coeficiente de permeabilidade (m/s), i o


gradiente hidráulico (-), Q o caudal percolado (m3/s) e A a secção de escoamento (m2).

Para a secção de cálculo SC1, considerou-se apenas uma camada de flysch (cenário C.1b), tendo o seu
coeficiente de permeabilidade sido adaptado por forma a contemplar a existência de poudingues nesse
perfil, uma vez que a sua presença não é contínua. Os cenários geológico-geotécnicos adotados para a
secção SC3 foram: C.2b Poudingues (k=5x10-5 m/s) + Interface (k=5x10-4 m/s); C.3b Poudingues
(k=5x10-5 m/s).

Considerando uma largura de influência b de 1000 m e de 700 m para as secções SC1 e SC3,
respectivamente, apresentam-se no Quadro 3 os resultados dos caudais totais estimados.

Quadro 3 - Resultados dos caudais totais para a situação de referência (lei de Darcy)
Secção Cota da Cota de Coef. Perm.
Zonamento A (m2) Q (l/s) QTOTAL (l/s)
de cálculo albufeira (m) saída (m) (m/s)
436,16 Flysch 5x10-5 40 000 43,3 43,3
SC1 405
448 Flysch 5x10-5 40 000 59,7 59,7
Poudingues 5x10-5 24 500 28,7
69,6
436,16 Interface 5x10-4 3 500 41,0
Poudingues 5x10-5 24 500 28,7 28,7
SC3 380
Poudingues 5x10-5 24 500 34,7
84,3
448 Interface 5x10-4 3 500 49,58
Poudingues 5x10-5 24 500 34,7 34,7

Os cálculos são consistentes com as hipóteses consideradas: o caudal aumenta com o aumento do nível
da albufeira, sendo que o mesmo é superior para a secção SC3 do que para a SC1, e o caudal aumenta
proporcionalmente à permeabilidade do meio de escoamento.

A Figura 6 apresenta os resultados do caudal anual total percolado na zona de estudo. Admitiu-se uma
cota de saída igual a (380) m para as duas secções de cálculo.

5
QTOTAL (hm3/ano)

4
1,56
3 0,90
1,09 4,45 1,09
2 1,29 0,90
3,67
2,88
1 2,38
1,48 1,48 1,79 1,79

0
Cota da albufeira (m): (436,16) (436,16) (448) (448)
Cenários: C.1b+C.2b C.1b+C.3b C.1b+C.2b C.1b+C.3b
Flysch (SC1) Interface (SC3) Poudingues (SC3) Total

Figura 6 – Caudal anual total percolado (lei de Darcy)

Estima-se assim que o caudal anual perdido através da margem esquerda da albufeira seja da ordem de
2 a 4 hm3/ano, para uma cota de albufeira de (436,16) m, e de 3 a 5 hm3/ano, para o NPA.

Os valores obtidos pelo método dos elementos finitos e pelo método unidimensional da Lei de Darcy são
similares. Isto deve-se, em parte, devido ao facto da zona em estudo ter um meio de percolação com
uma disposição espacial bastante homogénea (poudingues), com exceção da secção de cálculo SC1, para
a qual foi utilizado um coeficiente de permeabilidade equivalente, no método unidimensional, de valor
igual ao coeficiente de permeabilidade dos poudingues.

500
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4- DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO DE TRATAMENTO PROPOSTA

De forma a reduzir os caudais percolados foram discutidas soluções de tratamento de impermeabilização


alternativas, tendo-se optado pelo prolongamento da cortina de impermeabilização por injeção de caldas
de cimento realizada na fundação da barragem, segundo o alinhamento de tratamento que permitiu
optimizar a área de injecções a realizar, estimado através da análise conjunta dos resultados dos
trabalhos de prospeção, dos estudos de percolação e dos dados de observação piezométrica (Figura 7).

Figura 7 – Zona preferencial de percolação

O eixo de tratamento tem cerca de 1340 m de extensão e é composto por 5 alinhamentos, com uma
profundidade variável de 40 a 80 m (Figura 8). O tratamento tem origem na zona do descarregador de
cheias auxiliar de forma a fazer ligação ao tratamento já existente.

(a)

(b)
Figura 8 – Solução de tratamento: (a) planta; (b) corte

A solução preconizada consiste na realização de injeções de calda de cimento materializadas por furos
primários, secundários, terciários, quaternários e quinquenários, respectivamente com afastamentos de
48, 24, 12, 6 e 3 m.

O plano de tratamento é limitado superiormente pela cota (450) m, correspondente à cota do


coroamento do descarregador de cheias auxiliar.

O tratamento foi subdividido em cinco trechos:

i) Trecho 1 e 2 - Nestes trechos a camada de poudingues é pouco espessa e os caminhos de


percolação preferenciais são controlados sobretudo por uma rede de descontinuidades
existente no flysch.

O plano de tratamento é limitado inferiormente pela cota (408) m, definida em conformidade


com a profundidade da cortina de injeção da fundação da barragem e do descarregador
auxiliar.

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Tendo em conta a rede de fraturação existente, o plano de tratamento será inclinado 30º
para Este (com a vertical). Nesse plano, a injeções serão inclinadas 45º segundo NE e terão
um comprimento de 65 m. Desta forma, as famílias de descontinuidades serão atravessadas
de forma oblíqua pelas injeções (Figura 9).

Figura 9 – Pormenor da cortina de injeção nos trechos 1 e 2

ii) Trecho 3 a 5 - Nos trechos 3 a 5 a espessura da camada de poudingues aumenta de 18 até


78 m abaixo da cota (450) m. Neste meio, a percolação faz-se pelas fraturas existentes,
pelas zonas de blocos sem cimentação e por porosidade. Inferiormente, o plano de
tratamento é limitado pela cota (408) m, admitindo-se uma profundidade mínima de 6 m
abaixo da interface poudingues-flysch. Nestes trechos são preconizadas furações de injeção
verticais.

iii) Zona de transição - Foi definida uma zona de transição que assegurasse a continuidade do
tratamento, face às diferenças geométricas no plano da cortina de injeção definida entre os
trechos 2 e 3. Assim, estabeleceu-se uma extensão de 96 m de sobreposição entre os dois
planos.

5- ESTUDOS DE PERCOLAÇÃO

5.1 - Análises de sensibilidade

No âmbito dos estudos de percolação e com vista a definir a solução de tratamento, foram realizadas
várias análises de sensibilidade para avaliar: a localização do eixo da solução de tratamento, a
profundidade da cortina e o número de cortinas.

Foram considerados os três cenários geológico-geotécnicos e as condições de fronteira que se


apresentam no capítulo 3.1.1. A cota da albufeira foi considerada igual ao NPA (448) m e a cota de saída
igual a (380) m. As larguras de influência b consideradas nesta fase dos estudos foram de 940 m para a
SC1 e de 403,3 m para a SC3.

5.1.1 - Localização do eixo da solução de tratamento

Para esta análise foram estudados 2 alinhamentos (Al.2 e Al.3) que se apresentam na Figura 10. Admitiu-
se uma profundidade da cortina de injeção até ao flysch, 3 cenários geológico-geotécnicos possíveis (C.1
a C.3) e um coeficiente de permeabilidade para a cortina de 1x10 -7 e 1x10-8 m/s. A Figura 10 resume os
resultados obtidos dos caudais totais e respectivas diferenças, relativamente aos resultados sem solução
de tratamento.

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Figura 10 – Resultados dos caudais totais (alinhamentos) e localização dos alinhamentos

Os valores dos caudais percolados pelos alinhamentos estudados são muito próximos, não sendo, pois,
determinantes para a escolha do alinhamento de tratamento (Al.1) que acabou por ser seleccionado de
modo a minimizar a área de tratamento a executar.

5.1.2 - Profundidade da cortina

Para a secção de cálculo SC1, segundo o alinhamento Al.2 (Figura 10), foram analisados os caudais
considerando a profundidade da cortina de injeção até ao flysch, e até cerca de 3 m, 6 m e 12 m no
flysch. Para esta análise foi considerada uma permeabilidade de 1x10-7 m/s para a cortina de injeção. A
Figura 11 resume os resultados obtidos.

80
70
60
QTOTAL (l/s)

50
(38%) (39%) (43%) (44%)
40
30
20
10
0
Sem
0m 3m 6m 12 m
cortina
Cenário 1 67,4 25,0 23,3 22,7 22,5
Cenário 2 30,3 15,7 15,3 15,0 15,0
Cenário 3 36,9 22,9 22,5 21,2 20,7
Encastramento da cortina no flysch

Figura 11 – Resultados dos caudais totais para a SC1 segundo o Al.2 (profundidade da cortina)

Verificou-se que, embora exista um ganho com o aprofundamento da cortina, este não é significativo. A
título exemplificativo, no cenário 3, a diminuição de caudal percolado foi de 38% com profundidade até
ao flysch e 44% com um encastramento de 12 m (Figura 11). Tendo em conta a possibilidade de nalguns
trechos existir uma interface poudingues-flysch com maior permeabilidade, a solução adotada considerou
a cortina encastrada no flysch numa profundidade de 6 m.

5.1.3 - Número de cortinas

Duas soluções alternativas foram analisadas: uma cortina complementar a montante da cortina principal
(num total de 2 cortinas) e duas cortinas complementares a montante e a jusante da cortina principal
(num total de 3 cortinas), como representado na Figura 12, segundo os alinhamentos Al.2 e Al.3. A
mesma figura resume os resultados estimados dos caudais totais percolados segundo o alinhamento Al.2,
para as SC1 e SC3, onde são considerados também dois coeficientes de permeabilidade diferentes para a
cortina de injecção: 1x10-7 m/s e 1x10-8 m/s.

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Figura 12 – Resultados dos caudais totais (número de cortinas) segundo o Al.2 e cortes das soluções analisadas

Como seria de esperar, o aumento do número de cortinas de injecção resulta numa diminuição do caudal
percolado, embora o ganho que advém dessa diminuição não seja significativo, do ponto de vista custo-
eficácia.

Considerando o cenário geológico mais desfavorável (o cenário C.3) e uma permeabilidade da cortina de
injecção de 1x10-8 m/s, a variação do caudal percolado em relação à situação de referência (sem cortina)
para o número crescente de cortinas (1, 2 e 3 respectivamente) é de 46 – 47 – 49%, para a SC1 e de
45 – 48 – 49% para a SC3, diferença esta obtida em relação à situação sem cortina.

Para o cenário considerado o mais representativo das condições de percolação existentes (cenário C.2),
com permeabilidade da cortina de 1x10-8 m/s, as variações obtidas foram de 75 – 80 – 83% para a SC1 e
de 64 – 71 – 74% para a SC3.

5.2 - Resultados do estudo de percolação (com solução de tratamento)

Após a realização das análises de sensibilidade, foram efectuados os estudos de percolação para a
solução preconizada.

Admitiram-se apenas as secções de cálculo SC1 e SC3, com a cota da albufeira ao nível do NPA de
(448) m e cota de saída igual a (380) m. A permeabilidade dos poudingues adotada foi de 1x10-6 m/s (kv)
e de 5x10-5 m/s (kh), a permeabilidade do flysch foi de 5x10-7 m/s (kv=kh) e o coeficiente de
permeabilidade da cortina de injeção com o valor de 1x10-8 m/s. As larguras de influência b foram de 940
m para a SC1 e de 403,3 m para a SC3.

As condições de fronteira adotadas foram semelhantes às definidas no capítulo 3.1, com exceção de:

 Limite lateral de montante (albufeira) – linha equipotencial definida pelo NPA (448) m;
 Limite lateral de jusante (rio Sahouate) – linha equipotencial definida pela cota do rio Sahouate
(380) m, o limite a jusante foi considerado infinito para as duas secções de cálculo.

O Quadro 4 apresenta os caudais totais obtidos, comparando um cenário sem solução de tratamento com
um cenário que inclui a solução de tratamento segundo o alinhamento Al.1.

Quadro 4- Resultados dos caudais totais para as secções SC1 e SC3 segundo o alinhamento Al.1
Secção de Cota da Cota de QTOTAL (l/s) Q (m3/ano)
Diferença (%)
cálculo albufeira (m) saída (m) Sem cortina 1 cortina Sem cortina 1 cortina
SC1 28,48 6,78 76 898 278 213 836
448 380
SC3 20,36 6,84 66 642 072 215 720
QTOTAL (m3/ano) 1 540 351 429 556

Apesar das diferenças entre os valores dos caudais sem solução de tratamento para cada secção de
cálculo (SC1 de 28,5 l/s e SC3 de 20,4 l/s), os valores finais obtidos após a execução da cortina de
injeção são bastante próximos (SC1 de 6,78 l/s e SC3 de 6,84 l/s). Isso traduz a contribuição significativa
dos poudingues para as perdas de água e para o desenvolvimento de zonas de percolação subterrânea.

Da análise de resultados dos caudais totais anuais estimados, verifica-se que o caudal percolado varia de
1,5 hm3/ano para 0,4 hm3/ano, para as condições acima descritas, obtendo-se uma redução de cerca de
72% do caudal percolado para a solução de tratamento preconizada.

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6- Sistema de observação preconizado

Por forma a avaliar o comportamento e a eficácia da solução de tratamento como barreira à passagem da
água ao longo do tempo, foi proposta a instalação de dois tipos de dispositivos de observação:

i) Instalação de 38 piezómetros hidráulicos, dispostos conforme representado na Figura 13.


Esta rede piezométrica permitirá a observação da variação dos níveis de água a montante e a
jusante da cortina de injecção, e deverá ser executada antes da execução do trecho de
cortina de injecção respectivo;

ii) Instalação de 4 medidores de caudal, 2 a executar no Chabet Aufirès, 1 no seu afluente


direito e 1 no rio Sahouate (Figura 13); estes deverão ser executados previamente à
execução da cortina de injecção.

A periodicidade de leituras recomendada dos dois tipos de dispositivo deverá ser semanal durante a fase
de execução da obra e mensal no restante período de serviço.

Legenda: - Piezómetros; - Dispositivos medidores de caudal


Figura 13 – Rede de dispositivos de observação a instalar na margem esquerda da albufeira

7- CONCLUSÕES

O objectivo principal deste estudo prende-se com a necessidade de satisfazer o fornecimento de água às
cidades de Oran e Arzew e aos perímetros agrícolas a jusante da barragem de Ouizert. Desde o primeiro
enchimento, em 1986, que o NPA nunca foi atingido, devido a perdas de água observadas na margem
esquerda da albufeira e às próprias características de permeabilidade dos terrenos existentes
(poudingues e flysch).

Face às características dos poudingues, à sua espessura e disposição espacial, a eliminação total das
perdas de água pela margem esquerda da barragem de Ouizert é muito difícil, quer do ponto de vista
técnico, quer do ponto de vista económico. No entanto, estas podem ser reduzidas, como estimado nos
cálculos de percolação.

Os estudos de percolação que serviram de base para a análise da solução de tratamento permitiram
obter caudais anuais percolados da ordem de 2 a 5 hm 3/ano para uma cota de albufeira igual ao NPA
(448) m, quer recorrendo a uma análise bidimensional (método dos elementos finitos), quer através de
uma análise unidimensional, utilizando a lei de Darcy para esse efeito.

A solução adotada consiste numa cortina de injeção, disposta sensivelmente transversalmente ao sentido
de percolação preferencial (NO), com um comprimento de cerca de 1340 m. É composta por 5
alinhamentos e uma profundidade variável de 40 a 80 m. O tratamento é limitado superiormente pela
cota (450) m e inferiormente pela cota (408) m nos trechos 1 e 2, onde a furação é inclinada. Nos
restantes trechos, o plano inferior de tratamento deverá ser no mínimo igual à cota (408) m, devendo

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considerar-se uma profundidade mínima de 6 m abaixo da interface poudingues-flysch. Foi também


preconizada uma zona de transição entre os trechos 2 e 3, por forma a assegurar a continuidade do
tratamento.

Os estudos de percolação que levaram à definição da solução de tratamento foram desenvolvidos com
base nos resultados dos trabalhos de prospeção geotécnica e geofísica realizados e através da análise dos
dados de observação existentes. Foram realizadas diversas análises de sensibilidade, variando os
coeficientes de permeabilidade, as cotas da albufeira a montante e as cotas de saída a jusante, por forma
a cobrir as incertezas principais associadas aos modelos e aos parâmetros utilizados.

Das análises de sensibilidade referentes à solução de tratamento, destacam-se as seguintes


considerações:

 Posição do eixo de tratamento – verificou-se que a redução dos caudais não é significativa,
independentemente dos vários alinhamentos analisados. Neste sentido, o alinhamento escolhido
(Al.1) teve em conta a economia da solução, com o objectivo de diminuir a quantidade de
injeções a executar;
 Número de cortinas de injeção – verificou-se que o ganho de eficácia face à duplicação (2
cortinas) ou à triplicação (3 cortinas) de custos, não era significativo, pelo que apenas 1 cortina
foi preconizada;
 Profundidade da cortina de injecção – foram analisadas várias profundidades de encastramento
no flysch, tendo-se observado que as diferenças nos resultados obtidos são pouco significativas;
tendo em conta a possibilidade de uma permeabilidade elevada na interface poudingues-flysch,
considerou-se um encastramento de cerca de 6 m no flysch.

Dos estudos de percolação efectuados, a solução de tratamento projectada poderá conduzir a uma
redução do caudal total anual percolado na margem esquerda da albufeira de cerca de 72%.

A implementação do novo sistema de observação (piezómetros e medidores de caudais) na margem


esquerda da albufeira reveste-se de uma importância fundamental, na medida em que estes permitirão
avaliar a eficácia da solução do tratamento a executar.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam o seu agradecimento à ANBT (Agence National des Barrages et Transferts) pela
autorização de divulgação dos dados e dos trabalhos efectuados no âmbito do Projeto de Étanchéisation
de la rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert e a colaboração prestada.

REFERÊNCIAS

AQUALOGUS (2017) – Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 4 – Solution de traitement et dossier d’appel d’offres. Solution de traitement.
Relatório técnico, Lisboa.

AQUALOGUS (2017) – Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 3 – Etude Géologique et Hydrogeologique de la Rive Gauche de la Cuvette et ces
Abords. Relatório técnico, Lisboa.

AQUALOGUS (2015) – Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 2 – Définition des Reconnaissances Géophysiques, Géologiques et des Essais
d’eau. Relatório técnico, Lisboa.

AQUALOGUS (2015) – Etude d’Etanchéisation de la Rive Gauche de la Cuvette du Barrage Ouizert en Exploitation Dans
la Wilaya de Mascara. Mission 1 – Examen Et Critique des Donnes Existants et Visites des Experts. Relatório
técnico, Lisboa.

Pimenta, L., Roque, M., Sardinha, R., Martins Carvalho, J. e Djir, K. (2016) - Perdas de Água pela Albufeira de Ouizert.
Estudos de Diagnóstico e de Reabilitação. 15º Congresso Nacional de Geotecnia, Porto (Pen Drive).

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BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
____________________________________________________________________________________

PROJECTO GEOTECNICO DA BARRAGEM DE MEGARUMA

MEGARUMA DAM GEOTECHNICAL PROJECT

Sardinha, Ricardo; Aqualogus, Lisboa, Portugal, rsardinha@aqualogus.pt


Pimenta, Lurdes; Aqualogus, Lisboa, Portugal, lpimenta@aqualogus.pt
Rosa, Alexandra; Aqualogus, Lisboa, Portugal, arosa@aqualogus.pt
Roque, Magda; Aqualogus, Lisboa, Portugal, mroque@aqualogus.pt

RESUMO

A Barragem de Megaruma tem por objetivo principal o abastecimento de água à cidade de Pemba,
localizada na Província de Cabo Delgado, Moçambique. A barragem localiza-se numa secção do rio
Megaruma, a cerca de 80 km da cidade de Pemba, e está integrada num aproveitamento de fins múltiplos
onde, além do fornecimento de água para abastecimento público, está previsto o fornecimento de água
para rega e para a central hidroelétrica, a executar a jusante da barragem. A barragem tem cerca de
35 m de altura máxima e 2 700 m de extensão e consiste numa solução mista de aterro/betão.

No presente artigo descrevem-se os aspetos relacionados com a conceção e o projeto geotécnico do


trecho de aterro da barragem, condicionados pelas condições de implantação, bem como as
características dos terrenos de fundação e dos materiais de construção. Apresentam-se, também, os
resultados dos estudos de dimensionamento e verificação da segurança.

ABSTRACT

Megaruma dam aims to provide water to Pemba city, located in Cabo Delgado Province, Mozambique. It is
located in Megaruma River in a site located about 80 km from Pemba. The dam is integrated in a
multipurpose system in order to provide water to the Pemba city water supply system, to agricultural
irrigation and to a hydroelectric power plant located downstream the dam.

The dam is about 35 m high and 2 700 m length and consists in a concrete/embankment dam mixed
solution. The concrete structures - with about 103 m in length - are located in the center of the valley,
and integrate the spillway, the bottom outlet and the water intakes to water supply and hydropower
circuits.

The earth dam, in the left and right abutment of the concrete structures, has a zoned cross-section with a
central clay core and includes a chimney filter downstream.

In the present article the main aspects related to the conception and the geotechnical design of the dam
are described. These were mainly determined by the relevant site conditions, the foundation
characteristics and construction materials. The results of the design studies and safety verifications are
also presented.

1- INTRODUÇÃO

A Barragem de Megaruma tem por objetivo principal o abastecimento de água à cidade de Pemba,
localizada na Província de Cabo Delgado, Moçambique. A barragem localiza-se numa secção do rio
Megaruma, a cerca de 80 km da cidade de Pemba, e está integrada num aproveitamento de fins múltiplos
onde, além do fornecimento de água para abastecimento público, está previsto o fornecimento de água
para rega e para a central hidroelétrica, a executar a jusante da barragem.

Com cerca de 35 m de altura máxima e 2 700 m de extensão, a barragem é composta por uma solução
mista de aterro/betão. Na parte central do vale, na zona de betão, são materializados o descarregador de
cheias e os circuitos de tomada de água e descarga de fundo reservatório, numa extensão total de cerca
de 103 m. Nas vertentes do vale é materializado o perfil de aterro, do tipo zonado, com núcleo argiloso e
filtro chaminé a jusante do núcleo.

2- PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA OBRA

A Barragem de Megaruma implanta-se no rio Megaruma, cerca da cota (232) m. A bacia hidrográfica tem
4043 km2 na secção de implantação da barragem (Figura 1). Tem uma forma alongada, segundo a
direção W-E e a altitude máxima da bacia hidrográfica é de 860 m.

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Figura 1 – Barragem de Megaruma. Bacia hidrográfica

Na secção da barragem, o escoamento anual médio é de cerca de 252 hm 3. O vale de implantação da


obra é aberto e assimétrico, com o encontro direito mais suave que o esquerdo. À cota de pleno
armazenamento (263) m, a área inundada é de 20 km2 e o volume armazenado de 162,5 hm3 (Figuras 2
e 3).

Figura 2 – Barragem de Megaruma. Curva de volumes armazenados e curva de áreas inundadas

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Figura 3 – Barragem de Megaruma. Albufeira

A barragem é mista, com um trecho central em betão, onde estão integrados os órgãos hidráulicos de
segurança e exploração, e trechos laterais em terra zonada. O coroamento, localizado à cota (267) m,
tem uma largura de 7,5 m e um comprimento total (trecho de aterro e trecho de betão) de 2713 m
(Figura 4). A cota de coroamento foi condicionada pela combinação de ações correspondente à ocorrência
simultânea do NPA e de um vento excecional.

Figura 4 – Barragem de Megaruma. Planta geral

A obra de aterro tem um perfil tipo zonado com uma altura máxima acima do terreno natural de 32 m e,
acima da fundação, de 34 m. A sua extensão total é de 2609,5 m.

Os taludes exteriores da obra de aterro têm inclinações de 1:2,5 (V:H), a montante, e, a jusante, de
1:2,25 (V:H) e 1:1,8 (V:H), respectivamente, acima e abaixo da cota do coroamento do pé de jusante de
enrocamento (242,5) m.

O talude de montante é protegido contra a acção erosiva da ondulação na albufeira por uma camada de
enrocamento arrumado. O talude de jusante possui também uma camada de protecção de enrocamento
arrumado.

No que se refere ao zonamento interno do corpo da barragem, o perfil tipo adotado é em terra zonada,
com um núcleo central, simétrico, com taludes inclinados a 1:0,3 (V:H), com coroamento à cota (264) m
com 4 m de largura. A jusante do núcleo existe um filtro chaminé com espessura de 3 m em toda a altura
que se prolonga sub-horizontalmente no contacto com a fundação, sob o maciço estabilizador de jusante,
com 0,5 m de espessura. O talude de montante do núcleo é também protegido por um filtro, com 2 m de
espessura.

Na intersecção do talude de jusante do núcleo com a fundação desenvolve-se uma vala longitudinal
filtrante/drenante que capta os caudais percolados pelo núcleo da barragem e parte dos caudais
percolados pela fundação. Esta vala transporta os caudais colectados para oito valas transversais que os
devolvem posteriormente à ribeira, quatro localizadas no encontro esquerdo e quatro no encontro direito.

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Nas cotas inferiores do aterro de jusante da barragem definiu-se uma zona de enrocamento compactado,
na zona central do vale, de protecção do pé da barragem contra variações do nível de água no rio
resultantes da operação do descarregador de cheias.

Os materiais a utilizar nos maciços estabilizadores da barragem serão provenientes de manchas de


empréstimo localizadas dentro da área da futura albufeira. Os materiais para o núcleo serão,
parcialmente, explorados em manchas de empréstimo nas cotas superiores do encontro direito,
interessando marginalmente a área da futura albufeira, estimando-se que cerca de 30% do volume
necessário deva ser proveniente de outras áreas. Os materiais de filtro, dreno e enrocamento (do pé de
jusante e de protecção do paramento de montante) serão provenientes de pedreiras (britados ou não),
ou exteriores à área da futura albufeira ou a explorar no interior da área da albufeira.

Na Figura 5 apresenta-se o perfil tipo da obra de aterro.

Figura 5 – Barragem de Megaruma. Obra de aterro perfil tipo

Os volumes de aterro estimados para os maciços de montante e de jusante são de 1 706 000 e
1 300 000 m3, respetivamente. O volume do núcleo é de 560 000 m3.

A obra de betão tem um perfil tipo de gravidade e integra o descarregador de cheias (Figura 6), cuja
soleira é dividida em 5 vãos, controlados por comportas de segmento, e tem um comprimento útil de
70 m de comprimento. A descarga de fundo insere-se num dos pilares da estrutura descarregadora. Os
sistemas de tomada localizam-se no muro esquerdo do descarregador de cheias, integrando duas
tomadas de água para abastecimento público e uma tomada de água para a central hidroeléctrica,
localizada a jusante da barragem.

Figura 6 – Barragem de Megaruma. Obra de betão. Perfil tipo

O descarregador de cheias foi dimensionado para uma cheia com um período de retorno (T) de 2000
anos - caudal máximo afluente de 9299 m3/s e NMC à cota (263,25) m - e verificado para uma cheia com
T=5000 anos – caudal máximo afluente de 10302 m3/s e NMC à cota (263,88) m.

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3- QUADRO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICO

O quadro geológico-geotécnico do local da barragem de Megaruma é descrito com maior detalhe em


artigo específico também apresentado neste congresso. No presente ponto apresentam-se as suas
principais características.

Conforme indicado na Figura 7, a área de estudo localiza-se numa zona de dominância de rochas
gnáissicas de idade proterozóica, atribuídas aos supergrupos de Nampula, Montepuez e Lalamo. Em
termos litológicos pode considerar-se que a área de estudo e a sua envolvente mais próxima não
apresenta grandes variações.

Genericamente, os gnaisses correspondem a rochas granulares afectadas por diferentes graus de


metamorfismo consequentes das acções tectónicas a que o continente africano esteve sujeito, dando
origem a rochas brandas com segregação de minerais máficos e félsicos e com níveis aluminosos. São
também comuns as ocorrências de rochas marmóreas e quartzíticas dispersas no seio dos gnaisses.

LITOLOGIAS:

P2NRgr – Gnaisse granítico a tonalitico e migmatítico


P3MPqf – Gnaisse quartzo-feldspático
P3MPbg – Gnaisse biotítico
P3LMgr - Gnaisse granítico
P3LMma – Mármore

SÍMBOLOS GEOLÓGICOS

- Foliação
------- - Direção estrutural
- Estrada 106

Figura 7 – Enquadramento geológico da Barragem de Megaruma (extrato da Folha 1339 da CGM na escala
1:250 000)

O local seleccionado para implantação do eixo da barragem corresponde a uma secção do rio Megaruma,
onde o leito menor, com uma extensão de cerca 100 m, se encontra preenchido por depósitos aluvionares
(Figura 8). Nesta secção do leito do rio são raros os afloramentos rochosos.

Figura 8 – Aspecto geral do leito do rio Megaruma

As aluviões apresentam possanças variáveis, tendo sido identificadas nos trabalhos de prospecção com
espessuras da ordem dos 3,0 m. Estes materiais são, essencialmente, arenosos e areno-siltosos, exibindo
algumas vezes, cascalho fino. O nível freático estima-se próximo da superfície.

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Os afloramentos rochosos expostos são constituídos por gnaisses, apresentando-se, em geral, pouco
alterados e pouco fraturados, com foliação sub-horizontal, tendencialmente inclinada para a margem
esquerda. Ao longo das vertentes do rio, quer no local da barragem quer na área inspeccionada no
âmbito das visitas de reconhecimento realizadas, os afloramentos rochosos expostos com continuidade
são raros (Figura 9), encontrando-se o maciço, em regra, coberto por solos residuais de alteração de cor
acastanhada e por coluviões de coloração castanha avermelhada.

Figura 9 – Afloramentos rochosos ao longo do eixo da barragem

Em alguns locais, foram reconhecidas áreas com extensão significativa de solos de cobertura silto-
argilosos de coloração avermelhada (Figura 10).

Figura 10 – Solos de cobertura silto-argilosos

Nas vertentes do rio, os solos são cobertos por escassa vegetação, essencialmente, do tipo arbustivo e
herbáceo.

De forma a obter uma caracterização geológico-geotécnica do local de implantação da barragem de


Megaruma foi realizado um conjunto de trabalhos de prospecção adequados à fase de Projecto Base. Os
trabalhos foram realizados essencialmente com o objectivo de determinar as características
geomecânicas e hidráulicas dos terrenos de fundação das obras, bem como de pesquisar materiais para
os aterros da barragem, para os agregados para betão, drenos e enrocamentos de proteção.

Relativamente à caracterização da fundação da barragem, foram realizados poços de reconhecimento


com recolha de amostras, assim como perfis sísmicos de refração e sondagens mecânicas com
amostragem contínua e execução de ensaios SPT e ensaios de água Lefranc (solos) e Lugeon (rocha). A
caracterização laboratorial foi realizada através de análises granulométricas e ensaios de determinação
dos limites de consistência (limite de liquidez e de plasticidade).

No local de implantação da estrutura de betão foram também selecionadas amostras de rocha


representativas das características geotécnicas do maciço, às quais foram executados ensaios de
resistência à compressão uniaxial, determinação de massa volúmica, porosidade e absorção de água.

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BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
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Quanto às manchas de empréstimo, distinguem-se os trabalhos de prospeção e ensaios para dois tipos
de materiais: para solos foram efetuados perfis sísmicos de refração e poços de reconhecimento com
recolha de amostras para caracterização laboratorial (análises granulométricas, limites de liquidez e
plasticidade, teor em água, Proctor normal, ensaios triaxiais, edométricos e de permeabilidade em
permeâmetro); e para materiais rochosos para os quais foram realizadas sondagens mecânicas e cujas
amostras daí recolhidas foram efetuados ensaios laboratoriais (massa volúmica, porosidade e absorção,
resistência à compressão uniaxial, índices de achatamento e forma, equivalente de areia, ensaio micro-
Deval e de desgaste de Los Angeles, reação alcalis-sílica e teor em sulfatos).

4- PROJECTO GEOTÉCNICO

4.1 - Concepção estrutural

A barragem implanta-se segundo um eixo essencialmente rectilíneo, com orientação aproximada NNE-
SSW. As excepções são duas zonas que se desenvolvem em curva perto do descarregador de cheias: uma
na margem direita da barragem, com concavidade para montante e um raio de 2000 m, e, outra, na
margem esquerda com concavidade para jusante e um raio de 1000 m.

O comprimento total do eixo do coroamento é cerca de 2713 m. Os trechos rectilíneos têm um


desenvolvimento total de 2521 m e os trechos curvos de 192 m.

O corpo da barragem implanta-se num vale com uma relação corda altura de cerca de 77,5,
correspondendo a um desenvolvimento, à cota do coroamento, de cerca de 2713 m e uma altura máxima
acima do terreno natural de 35 m. A altura máxima da obra de aterro acima do terreno natural é de 32 m.

4.2 - Materiais de construção

Os materiais a utilizar nos aterros são, no caso dos maciços estabilizadores, provenientes de manchas de
empréstimo localizadas dentro da albufeira.

Na Figura 11 apresenta-se os fusos granulométricos definidos para os materiais de construção dos


aterros. O perfil tipo da barragem de Megaruma encontra-se representado na Figura 5.
#200
#140

#80
#60

#40

#20

3/8"

3/4"
#10

#4

1"

2"
3"
4"

Sedimentação Peneiração

100

90
Percentagem de material passado

80

70

60

50 3
5 #20
4 #10
40 #4
1 2 3/8"
6
30 3/4"
1"
20 7 1.5"
2"
10 8
3"
4"
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Diâmetro das particulas em mm

Finos Médios Grossos Finas Médias Grossas Finos Médios Grossos Finos Médios
Argila

Siltes Areias Cascalhos Blocos

Figura 11 – Fusos granulométricos dos materiais da obra de aterro da Barragem de Megaruma: 1 – Núcleo; 2 –
Maciços estabilizadores; 3 – Filtro; 4 – Dreno; 5 – Dreno; 6 – Enrocamento de pé de jusante; 7 – Enrocamento de
protecção de jusante; 8 – Enrocamento de protecção de montante

No que se refere aos materiais do núcleo, estima-se que uma parte dos materiais (cerca de 70%) seja
explorada na mancha localizada nas cotas superiores da margem direita, nas proximidades da área de
implantação da barragem mas, no essencial, fora da área da futura albufeira. A restante parte poderá ser
explorada em áreas exteriores às identificadas.

Os materiais do núcleo são, essencialmente, silto-argilosos e areno-argilosos e os materiais dos maciços


estabilizadores, solos residuais do maciço gnáissico e solos resultantes do maciço muito alterado e
fracturado.

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4.3 - Estudos de dimensionamento e verificação

A barragem de Megaruma foi objeto de verificações de segurança relativas aos estados limites últimos e
aos estados limites de utilização condicionantes do dimensionamento deste tipo de soluções.

No que se refere aos estados limite últimos, procedeu-se às verificações de segurança afins aos seguintes
modos de rotura:

1. Erosão externa por galgamento;

2. Erosão interna por arrastamento mecânico;

3. Perda de estabilidade global.

A verificação da segurança à erosão externa por galgamento fez-se por intermédio de uma adequada
fixação da folga, em relação ao NPA e em relação ao NMC, que serviu de base à fixação da cota do
coroamento.

A cota do coroamento (267) foi, assim, estabelecida tendo por base um determinado nível de água na
albufeira – NPA e NMC – que se combinou com a ocorrência de ventos actuantes sobre a albufeira e os
seus efeitos (sobreelevação da maré e ondulação com espraiamento sobre o paramento de montante da
barragem) e com a ocorrência dos assentamentos de longo prazo da barragem.

A verificação da segurança à erosão interna por arrastamento mecânico fez-se, no que se refere aos
materiais finos do núcleo, por intermédio do adequado dimensionamento do filtro chaminé (recorrendo
aos critérios de filtro e relações granulométricas definidas pelo US Army Corps of Engineers, bem como,
pelo USBR), pela verificação da segurança à erosão interna da fundação, por intermédio da comparação
entre os gradientes hidráulicos de saída e os gradientes hidráulicos críticos.

Os gradientes hidráulicos na fundação foram avaliados por intermédio dos estudos de fluxo realizados
pelo programa SEEP/W que utiliza o método dos elementos finitos.

A verificação de segurança à perda de estabilidade global fez-se através de métodos de equilíbrio limite
que avaliam os coeficientes de segurança de superfícies de rotura por insuficiente resistência ao corte,
em situação estática e sísmica.

As verificações de segurança ao colapso por perda de estabilidade global estática foram realizadas para
dois perfis transversais representativos da maior altura da obra de aterro e de condições de fundação
condicionantes. Foram avaliados, por métodos de equilíbrio limite, os coeficientes de segurança para as
seguintes situações de cálculo:

- Fase de construção, paramento de montante;

- Fase de construção, paramento de jusante;

- Pleno armazenamento, paramento de jusante;

- Esvaziamento rápido, paramento de montante.

Nas Figuras 12 a 14 apresenta-se parte dos cálculos realizados.

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1.889

275
270
265
260
255
Cotas (m)

250
245
240
235
230
225
220
215
210
-150 -140 -130 -120 -110 -100 -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150

Distância (m)

Figura 12 – Verificação de segurança ao colapso por perda de estabilidade global. Situação estática. Fase de
construção. Talude de jusante

1.685
275
270
265
260
255
Cotas (m)

250
245
240
235
230
225
220
215
210
-150 -140 -130 -120 -110 -100 -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150

Distância (m)

Figura 13 – Verificação de segurança ao colapso por perda de estabilidade global. Situação estática. Pleno
armazenamento. Talude de jusante

1.504

275
270
265
260
255
Cotas (m)

250
245
240
235
230
225
220
215
210
-150 -140 -130 -120 -110 -100 -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150

Distância (m)

Figura 14 – Verificação de segurança ao colapso por perda de estabilidade global. Situação estática. Esvaziamento
rápido. Talude de montante

As verificações de segurança ao colapso por perda de estabilidade global em condições sísmicas foram
realizadas por intermédio de métodos de equilíbrio limite, sendo o efeito da acção sísmica contabilizado
por intermédio de forças adicionais de inércia aplicadas no centro de gravidade de cada fatia da superfície
de deslizamento.

Foram verificadas as condições de segurança para a situação de pleno armazenamento e para um valor
da aceleração máxima na fundação de 120 cm/s 2. A aceleração máxima foi obtida com base na

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bibliografia disponível, estando prevista a realização de um estudo sismológico para o local de barragem
na fase seguinte dos estudos (Projecto de Execução).

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo tratou o dimensionamento da Barragem de Megaruma tendo sido abordados os aspetos
mais relevantes sob o ponto de vista do projecto geotécnico.

Tratando-se de um vale muito aberto e, consequentemente, de uma obra muito extensa, a variabilidade
espacial das condições geológico-geotécnicas foi uma preocupação atendida no programa de prospecção
realizado no âmbito do Projecto Base e, também, no programa de prospecção geológico-geotécnico
definido para a fase de Projecto de Execução.

Do ponto de vista da concepção da obra, procurou-se, utilizando os materiais locais disponíveis e tendo
em atenção as suas características, obter uma solução optimizada do ponto de vista técnico-económico,
questão que tem particular relevo dados os volumes envolvidos.

A opção por uma solução mista, com trecho de betão integrando os órgãos hidráulicos anexos, resultou,
essencialmente, dos caudais de cheias particularmente elevados de dimensionamento do descarregador
de cheias. A solução selecionada, concentrando os órgãos hidráulicos numa estrutura de betão localizada
na zona central do vale, permitiu minimizar os custos de desvio do rio e de prever a construção dos
aterros por partes.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam o seu agradecimento à INZAG, pela autorização de divulgação dos dados e dos
trabalhos efetuados no âmbito do Projeto Base da Barragem de Megaruma.

REFERÊNCIAS

AQUALOGUS (2016) – Barragem de Megaruma. Projeto Base.

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PROJETO DA BARRAGEM DE BOZKURT, EM SIVAS (TURQUIA)

DESIGN OF BOZKURT DAM, IN SIVAS (TURKEY)

Tavares, Gonçalo; TPF - Consultores de Engenharia e Arquitetura, S.A., Lisboa, goncalo.tavares@tpf.pt


Mateus de Brito, José; TPF - Consultores de Engenharia e Arquitetura, S.A., Lisboa, jose.brito@tpf.pt
Romeiro, Manuel; TPF - Consultores de Engenharia e Arquitetura, S.A., Lisboa, manuel.romeiro@tpf.pt
Ferreira, Gonçalo; TPF - Consultores de Engenharia e Arquitetura, S.A., Lisboa, goncalo.ferreira@tpf.pt

RESUMO

A Barragem de Sivas localiza-se na província de Sivas, na Anatólia central, Turquia. A barragem será
construída na ribeira de Akçakışla, afluente da margem direita do rio Kizilirmak, e irá fornecer água para
irrigação de uma área de 3 500 ha, localizada no vale do mesmo rio. A barragem é constituída por um
aterro zonado, com uma altura máxima de cerca de 56 m acima da fundação e um comprimento do
coroamento de cerca de 650 m. O projeto da barragem englobou ainda o estudo de soluções para o
tratamento da margem esquerda da albufeira, devido à presença de uma camada de conglomerados
permeável. No presente artigo são apresentados os principais aspetos do projeto da barragem,
nomeadamente a descrição do local de implantação, a geologia e a sismicidade do local, a conceção do
aterro e das obras hidráulicas, o tratamento da fundação, os cálculos do aterro e os problemas de
permeabilidade relacionados com a presença da camada de conglomerados na albufeira.

ABSTRACT

Bozkurt Dam is located in Sivas Province, central Anatolia, Turkey. The dam will be constructed in the
Akçakışla creek, a tributary of the Kizilirmak River, and it will supply water for irrigation of an area of
3 500 hectares, located in the valley of the same river. The dam is materialized by a zoned earthfill
embankment, with a maximum height of about 56 m above the foundation level and a crest length of
about 650 m. The dam design also involved the solutions study for the reservoir’s left bank treatment,
due to the presence of a permeable conglomerate layer in this bank. In this paper the main design
aspects will be presented, namely the implantation site description, the site geology and seismicity, the
design of the zoned embankment and of the appurtenant works, the foundation treatment, the
embankment’s calculations and the main permeability issues related with the presence of the
conglomerate layers in the reservoir’s left bank.

1- LOCAL DA BARRAGEM

A barragem localiza-se na ribeira de Akçakışla, afluente da margem direita do Rio Kizilirmak,


imediatamente a montante da vila de Bozkurt, província de Sivas, na Anatólia Central, Turquia. A
albufeira estende-se ao longo de 4 km, no último troço da ribeira, atingindo os limites da vila de
Akçakışla. A secção do vale onde a barragem será construída é ampla, com o leito praticamente
horizontal e taludes relativamente inclinados. A Fig.1 apresenta uma vista geral do vale da ribeira de
Akçakışla e a localização, em planta, da albufeira.

Figura 1 – a) Vista geral do vale da ribeira de Akçakışla, a partir de montante; b) Localização da albufeira e do aterro
da barragem (vista aérea do Google Earth)

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O fundo do vale, à cota 1 210 m, tem uma largura de cerca de 300 m e está assente numa plataforma
antiga à cota 1 350 m, que tem sido erodida pela rede hidrográfica da ribeira de Akçakisla (Fig.2). No seu
troço final, onde será implantada a barragem, a ribeira de Akçakisla corre quase paralelamente ao
alinhamento do rio Kizilirmak (Fig.1), a uma distância inferior a 1 km.

2- GEOLOGIA E SISMOLOGIA DO LOCAL

A barragem e os repetivos órgãos hidráulicos, assim como toda a albufeira, encontram-se implantadas
sobre a formação Burhan (Teb) da Formação Continental Egerci, do Neogénico. O substrato consiste em
sucessões de camadas subhorizontais de facies litológicas endurecidas, englobando: i) facies finas
(argilitos e siltitos), as quais ocorrem em camadas espessas com mais de 10 m; ii) facies médias a
grosseiras (arenitos e conglomerados); iii) facies carbonatadas (calcários), que ocorrem em camadas
com espessuras entre 2 e 10 m. Na Fig.2 apresenta-se um corte geológico pelo eixo da barragem (Cenor,
2015a). No fundo do vale o substrato encontra-se coberto por depósitos Quaternários do Holocénico,
consistindo em depósitos aluvionares finos a grosseiros com espessura máxima de 16 m e 300 m de
largura. O encontro direito é declivoso e não apresenta ravinas importantes (Fig.3a). Os depósitos
aluvionares acumulados na base do talude são pouco espessos (1 a 2 m) e cobrem um terraço antigo
constituído por uma camada de cascalho arenoso, pouco cimentado e permeável. Esta camada assenta
sobre o substrato numa superfície de erosão a cerca da cota 1213 e apresenta uma espessura máxima de
6 a 10 m. A margem esquerda é também declivosa, apresentando um ravinamento importante e linhas
de água profundas (Fig.3b). Os depósitos aluvionares incluem também cones de dejeção, os quais
apresentam espessuras variáveis. O aterro da barragem será fundado nos depósitos aluvionares
grosseiros e no substrato rochoso, que consiste essencialmente em argilitos e siltitos.

Figura 2 – Corte geológico pelo eixo da barragem

Os resultados dos ensaios de permeabilidade (ensaios Lugeon) executados no substrato rochoso


mostraram que a formação Burhan apresenta, em geral, permeabilidades baixas a muito baixas,
obtendo-se valores inferiores a 5 UL em 87% dos ensaios realizados. Apenas no topo do substrato, onde
este se apresenta mais descomprimido, obtiveram-se permeabilidades moderadas e por vezes elevadas.

Nas campanhas de prospeção foi ainda identificada uma camada mais permeável de conglomerados
arenosos pouco cimentados, ocorrendo tanto na margem esquerda da albufeira como na margem direita.
Estes conglomerados consistem em calhaus rolados envoltos por uma matriz arenosa pouco cimentada, e
ocorrem entre as cotas 1225 m e 1230 m, com uma espessura máxima de cerca de 10 m. A camada de

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conglomerados será sujeita a uma carga hidráulica máxima de cerca de 20 m quando a albufeira atingir o
NPA, o que pode originar fugas de água a partir da margem esquerda da albufeira para a margem direita
do rio Kizilirmak. Numa fase prévia ao projeto de execução da barragem foram realizados ensaios de
permeabilidade do tipo Lugeon na camada de conglomerados, nos quais se obtiveram valores de
permeabilidade média a elevada (valores mínimos de 30 UL, em geral superiores a 50 UL). Já na fase de
projeto de execução foi prevista a realização de ensaios de permeabilidade para confirmar os resultados
obtidos. Com efeito, devido à natureza friável dos conglomerados e à consequente irregularidade do furo,
suspeitou-se que os resultados dos ensaios poderiam ter sido condicionados por uma obturação do
isolamento da câmara de ensaio.

Figura 3 – Vistas dos encontros da barragem (outubro de 2014): a) encontro direito; b) encontro esquerdo

Assim, nos ensaios de permeabilidade de confirmação foi definido um faseamento executivo em 3 fases
(Fig.4): na primeira fase, furação até 2,0 m abaixo do topo da camada de conglomerados, colocação do
obturador cerca de 1,0 m acima do topo dessa camada, por forma a evitar a zona de transição entre a
camada permeável e a camada sobrejacente impermeável e realização de um ensaio Lugeon nos
conglomerados (câmara de ensaio com 2 m nos conglomerados); na segunda fase, furação até 1,0 m
abaixo da base da camada de conglomerados, colocação do obturador cerca de 1,0 m acima do topo
dessa camada, tal como na fase anterior e realização de um ensaio Lugeon nos conglomerados (câmara
de ensaio a intersetar a totalidade dos conglomerados); na terceira fase, furação até 4,0 m abaixo da
base da camada de conglomerados; colocação do obturador cerca de 2,0 m abaixo da base dessa
camada, por forma a garantir que o ensaio é realizado na camada impermeável subjacente aos
conglomerados, e realização de um ensaio Lugeon para confirmação da baixa permeabilidade da camada
subjacente. Por aplicação da metodologia descrita anteriormente obtiveram-se permeabilidades dos
conglomerados, em geral inferiores a 30 UL.

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Figura 4 – Faseamento de execução dos ensaios de permeabilidade (Lugeon) na camada de conglomerados

No que se refere à sismicidade do local, a barragem de Bozkurt situa-se na placa da Anatólia, numa zona
de atividade sísmica fraca a moderada. Esta placa é empurrada para oeste pela convergência das placas
Arábica e Euroasiática e é limitada por duas falhas principais: a Falha da Anatólia Norte (NAF) e a Falha
da Anatólia Este (EAF). A zona da barragem é também afetada por uma zona tectonizada localizada entre
a NAF e a EAF (Tosun e Seyrek, 2010), onde se identificam um conjunto de falhas secundárias, que
contudo condicionam a sismicidade do local. No estudo sismológico foram consideradas quatro fontes de
geração principais, coincidentes com quatro falhas (Cenor, 2015c), entre as quais a NAF. Baseado nos
dados sismológicos disponíveis, as ações sísmicas consideradas no dimensionamento da barragem e das
obras hidráulicas foram definidas recorrendo-se a análises determinística e probabilística (ICOLD, 2010).
As ações sísmicas foram definidas através de um espetro de resposta de dimensionamento e uma
aceleração de pico no substrato (PGA), associado ao Sismo Máximo de Projeto (SMP) e ao Sismo Base de
Projeto (SBP). Os valores adotados para a PGA são 0,14g para o SMP e 0,08g para o SBP.

3- DESCRIÇÃO GERAL DA BARRAGEM E DAS OBRAS HIDRÁULICAS

3.1 - Considerações gerais

A Fig.5 apresenta a planta geral da barragem e das obras hidráulicas. A barragem permite a criação de
um reservatório com um volume total de armazenamento, para o nível pleno de armazenamento (NPA =
1246,00), de 24,20 hm3, com uma área inundada (para o NPA) de 1,46 km2. O volume morto estimado
para 50 anos de vida útil da barragem é de 5,5 hm3, resultando num volume útil de 18,7 hm3.

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Figura 5 – Planta geral da barragem e das obras anexas

Numa fase preliminar do projeto da barragem de Bozkurt, foram estudadas seis soluções alternativas
(Cenor, 2015b), considerando: 3 soluções para o corpo da barragem, nomeadamente uma barragem de
terra zonada, uma barragem de enrocamento com núcleo argiloso central e uma barragem de
enrocamento com cortina de betão a montante; e 2 soluções alternativas para as obras hidráulicas,
consistindo a primeira num descarregador de cheias lateral e uma galeria em cut-and-cover para o desvio
provisório do rio, descarga de fundo e sistema de tomada de água e a segunda consistindo num
descarregador de cheias em tulipa (descarregador em poço) associado a um túnel, o qual seria utilizado
como desvio provisório do rio e posteriormente adaptado para servir de descarga de fundo e sistema de
tomada de água. Tendo por base uma análise técnico-económica das soluções alternativas, a solução de
barragem de terra zonada com descarregador de cheias lateral foi adotada na solução final do projeto
(Cenor, 2016b). Além do descarregador de cheias lateral, esta solução engloba ainda uma galeria em
betão sob o aterro da barragem, para o desvio provisório do rio, a qual é posteriormente adaptada para
servir de descarga de fundo, sistema de tomada de água e para albergar o circuito de caudal ecológico.
Com base nas condições morfológicas e geológicas do local, foi adotado um alinhamento linear para o
aterro da barragem. O descarregador localiza-se na margem direita e a galeria em cut-and-cover
localiza-se na base da margem direita.

3.2 - Descrição do aterro da barragem

O aterro da barragem apresenta um comprimento do coroamento de cerca de 653,00 m e uma altura


máxima acima da fundação de cerca de 56 m. O volume estimado de aterro é de cerca de 2,5x106 m3. O
corte tipo do corpo da barragem (Fig.6) compreende um núcleo central argiloso (material tipo 1) e
maciços estabilizadores constituídos por materiais dos depósitos de terraços antigos (material tipo 2). Foi
definido um filtro chaminé (Fk) a jusante do núcleo para proteger o núcleo argiloso contra a erosão
interna. Foi ainda definido um filtro de areia (Fk) a montante do núcleo que funcionará como material de
colmatação na eventual ocorrência de alguma fissura no núcleo. Adicionalmente, para controlar a
percolação interna do corpo da barragem, foi definido um tapete drenante (Fç) localizado na base do
maciço estabilizador de jusante.

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Figura 6 – Corte tipo do aterro da barragem

No maciço estabilizador de jusante foi definido ainda um pé de enrocamento (4), o qual garante melhores
condições de segurança ao aterro, tanto por questões de estabilidade como de permeabilidade,
protegendo ainda o aterro durante a ocorrência de uma grande cheia. Para a proteção do talude de
montante contra a erosão devido à ação das ondas, foi adotado uma camada de proteção em
enrocamento (R), a colocar entre o coroamento da barragem e o coroamento da ensecadeira de
montante, sobre uma camada de transição (Ft) que funciona como um filtro entre o material dos maciços
estabilizadores e o enrocamento. Para proteger o talude de jusante foi também considerada uma camada
de enrocamento (K). A Fig.7 apresenta os fusos granulométricos dos materiais do corpo da barragem.

Figura 7 – Curvas granulométricas dos materiais do corpo da barragem

Refere-se que a definição do material a adotar nos filtros foi efetuada de acordo com a metodologia
definida pela Federal Emergency Management Agency (FEMA, 2011) e pela Natural Resources
Conservation (USDA, 1994). Para efeitos de dimensionamento, esta metodologia classifica o solo de base
de acordo com a sua granulometria e rege-se por cinco critérios: critério de filtro, critério de filtro
secundário, critério de permeabilidade, critério de não plasticidade e critério de segregação.

Para controlar a percolação pela fundação da barragem, foi definida uma vala corta-águas na base do
núcleo, intersetando os solos aluvionares grosseiros (Qal1) da fundação. A vala corta-águas encontra-se
centrada com o eixo da barragem e será preenchida com solos argilosos de baixa permeabilidade. Nos
encontros, onde o núcleo assenta diretamente no substrato, não foi definida vala corta-águas. Para
limitar a percolação pela fundação da barragem, foi definida uma cortina de injeções. Na zona central do
vale, este tratamento consiste em: dois alinhamentos paralelos de injeções, que têm como função
consolidarem a zona mais superficial e mais descomprimida da fundação, com furos verticais com 5,0 m
de comprimento, distribuídos numa malha de 4,0x3,0 m2, bem como criar uma melhor ligação ao plinto
sobrejacente; e um alinhamento de injeções com furos com profundidade máxima de cerca de 35 m,
espaçados de 3,00 m ao longo do eixo da barragem. Nos encontros, onde ocorre a camada de
conglomerados, o tratamento foi reforçado consistindo numa cortina de injeções tripla (um alinhamento a

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jusante, outro a montante e um intermédio) com a mesma malha da cortina da zona central do vale,
tendo todos os furos a mesma profundidade.

3.3 - Obras hidráulicas

3.3.1 - Descarregador de cheias

O descarregador de cheias de alimentação lateral, está implantado no encontro direito da albufeira e


compreende as seguintes estruturas (de montante para jusante): soleira de controlo com uma largura de
55 mm, com um perfil do tipo Creagar com a crista à cota 1246,00; canal coletor com uma largura
variável entre 10 m e 20 m; canal retangular, com um primeiro trecho linear com cerca de 116 m de
comprimento, um segundo trecho em curva com 55,0 m de raio e um terceiro trecho em rampa com
cerca de 130 m de comprimento e uma inclinação de 30,4% dividido por uma soleira também do tipo
Creagar; bacia de dissipação divergente do tipo II do USBR, com largura variável entre 20 m e 30 m e
um comprimento de cerca de 50 m, prevendo-se a proteção do leito da linha de água na restituição com
um tapete em enrocamento (Fig.5). A capacidade de vazão do descarregador é de 624,13 m3/s, a qual
resulta de uma cheia máxima provável de 649,5 m3/s para um período de retorno superior a 10000 anos,
com uma carga hidráulica na soleira de 2,96 m.

3.3.2 - Desvio provisório do rio

O sistema de desvio provisório do rio engloba as ensecadeiras de montante e de jusante e a galeria de


betão armado em cut-and-cover. As duas ensecadeiras consistem em aterros zonados: a ensecadeira de
montante tem o coroamento à cota 1221,50 m e cerca de 18,5 m de altura máxima e a ensecadeira de
jusante tem o coroamento à cota 1209,50 m e uma altura máxima de cerca de 2,5 m. A ensecadeira de
montante (Fig.5), a qual é parcialmente incorporada no maciço estabilizador de montante (Fig.6), inclui
uma parede moldada provisória associada ao núcleo, de modo a controlar a percolação através da
camada de aluviões grosseira da fundação durante a construção da vala corta-águas do aterro da
barragem. A parede moldada, com uma espessura de 0,8 m, será constituída por betão plástico
(bentonite de cimento). A galeria apresenta um comprimento total de cerca de 273 m (Fig.5) e uma
altura largura internas de 4,0 m. No final da galeria adotou-se uma bacia de dissipação divergente do
tipo III do USBR. O sistema de desvio provisório foi dimensionado para uma cheia com um período de
retorno de 50 anos, com um caudal de 111,16 m3/s. Na fase de exploração a galeria e a bacia de
dissipação serão adaptadas para assegurar a operação de descarga de fundo, de tomada de água para o
sistema de irrigação e para o circuito de caudal ecológico.

3.3.3 - Descarga de fundo e circuitos de irrigação e de caudal ecológico

O circuito de descarga de fundo engloba uma torre de tomada de água totalmente submersa, a qual é
seguida de um primeiro trecho em galeria, uma câmara de válvula de montante, um segundo trecho em
conduta instalada no interior da galeria (parte acessível), uma câmara de válvulas no extremo jusante da
galeria e uma bacia de dissipação. Como referido, a galeria e a bacia de dissipação são as mesmas da
fase de desvio provisório. A conduta da descarga de fundo é uma conduta em aço DN1200, terminando
numa válvula do tipo Howell-Bunger DN1000, instalada imediatamente a montante da bacia de
dissipação. Foi ainda adotada uma válvula de seccionamento do tipo borboleta DN1400 no extremo de
montante da conduta DN1200. A descarga de fundo permitirá um esvaziamento rápido da albufeira, até à
cota do topo da torre de tomada de água (NME), em cerca de 21 dias. Os circuitos para irrigação e do
caudal ecológico são encaminhados ao longo do mesmo circuito da descarga de fundo, até uma derivação
localizada imediatamente a montante da válvula de controlo do tipo Howell-Bunger.

4- DIMENSIONAMENTO DO ATERRO

De modo a validar o dimensionamento do aterro da barragem, foram realizados vários cálculos,


nomeadamente: cálculos de tensão-deformação, de percolação, resposta dinâmica do aterro e
estabilidade global estática e sísmica. Os cálculos foram realizados recorrendo-se ao software Geostudio,
da GEO-SLOPE. O modelo de cálculo adotado diz respeito à zona de maior altura do aterro, na zona do
fundo vale. Foi ainda analisado um segundo modelo, representativo da secção do aterro na zona dos
encontros, por forma a estimar o caudal de percolação através da barragem e da fundação. O Quadro 1
apresenta os parâmetros físicos e mecânicos adotados para os materiais da barragem e a Fig.8 apresenta
as curvas de degradação dos materiais do aterro.

Quadro 1 – Propriedades físicas e mecânicas adotadas para os materiais da barragem de Bozkurt (Cenor, 2016a)
Material γ (kN/m3) kv (m/s) Rácio kh/kv ru c’ kPa ϕ' (º) E (MPa) G0 (MPa)
Núcleo argiloso 19,5 1,0x10-9 5 0,2 - 25 20 80
Maciços estabilizadores 21,5 1,0x10-6 2 0,1 - 36 45 250

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Maciços da ensecadeira 34
Filtros (areia) 5,0x10-4
20,0 1 0 - 36 35 250
Dreno (brita) 1,0x10-2
Enrocamento 22,0 1,0x10-2 1 0 - 42 60 250
Solo aluvionar grosseiro 21,5 1,0x10-5 1 - - 38 45 250
Formação Burhan Member 22,0 1,0x10-7 1 - 80 32 200 to 250 -

Figura 8 – Curvas de degradação dos materiais da barragem

A análise de tensão-deformação foi realizada para determinar as condições de tensão-deformação


durante a construção do aterro e durante a exploração da barragem. Os resultados destes cálculos foram
utilizados para determinar a distribuição de tensões no aterro e para estimar os valores de referência das
deformações do mesmo durante a fase de construção e durante a fase de exploração (Fig.9). Os cálculos
englobaram as seguintes fases: i) construção da ensecadeira; ii) escavação da vala corta-águas;
iii) execução da vala corta-águas; iv) construção do aterro dividida em 5 fases (2ª a 6ª fase na Fig.9);
v) enchimento da albufeira. O assentamento total estimado durante a fase de construção foi de cerca de
35 mm e o deslocamento horizontal máximo estimado durante a exploração foi de cerca de 4 cm.

Figura 9 – Deformações da barragem: a) assentamentos parciais durante a construção (por fases); b) assentamento
total durante a construção; c) deslocamento horizontal total durante exploração (para o NPA)

Foram realizadas duas análises de percolação: uma análise de percolação permanente, simulando as
condições de percolação durante a exploração para o nível pleno de armazenamento na albufeira, e uma
análise em condições transientes, simulando um esvaziamento rápido da albufeira e considerando a curva
de vazão da descarga de fundo. Com os resultados destes cálculos foram determinadas as linhas
piezométricas no aterro, as quais foram utilizadas nas análises de estabilidade global estática e dinâmica.
Os referidos resultados foram ainda utilizados para estimar o caudal total percolado através da barragem,
o qual foi utilizado para dimensionar o sistema de drenagem interno do aterro (Quadro 2). Foram
também verificados os gradientes hidráulicos no núcleo, de modo a assegurar que os riscos de erosão
interna fossem diminutos. Os gradientes hidráulicos obtidos no aterro e no contacto aterro-fundação
foram, de um modo geral, inferiores a 1, incluindo na transição do núcleo para o tapete drenante.

Quadro 2 – Caudais de percolação unitários através do aterro e da fundação e através do dreno (Cenor, 2016b)
Condição de percolação permanente - q (m3/s/m)
Situação de cálculo
Situação de referência: Situação mais desfavorável:

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kbedrock = 1x10-7 m/s kbedrock = 5x10-7 m/s

Aterro e fundação 2,6x10-6 1,2x10-5


Modelo 1 (Fundo do vale)
Dreno 2,5x10-6 1,1x10-5
Aterro e fundação 1,6x10-6 7,0x10-6
Modelo 2 (Encontro)
Dreno 1,3x10-6 5,5x10-6

A análise de estabilidade global estática foi realizada recorrendo-se à teoria de estado limite, adotando o
método de Morgenstern-Price, e foi efetuada para as seguintes fases: i) no final da construção;
ii) percolação permanente para o NPA; iii) para condições de esvaziamento rápido. Nas primeiras duas
fases, a análise foi apenas efetuada para o talude de jusante e na terceira fase foi realizada para o talude
de montante, uma vez que se geram subpressões neste talude aquando do esvaziamento rápido. Os
Fatores de Segurança mínimos obtidos para as superfícies de deslizamento críticas em cada fase são
apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 – Fatores de Segurança obtidos nas análises de estabilidade global estática


Fator de
Situação de cálculo Talude
Segurança
Final da construção Modelo 1 (Fundo do vale) Jusante 1,80
Nível pleno de armazenamento Modelo 1 (Fundo do vale) Jusante 2,04
kmaciços = 1x10-6 m/s 1,96
Modelo 1 (Fundo do vale)
kmaciços = 5x10-8 m/s 2,05(1)
Esvaziamento rápido Montante
kmaciços = 1x10-6 m/s 1,86
Modelo 2 (Encontro)
kmaciços = 5x10-8 m/s 1,70
(1)
Este valor devia ser menor do que o valor obtido para kmaciços = 1x10-6 m/s. No entanto, devido a problemas numéricos, é
ligeiramente maior mas semelhante.

A resposta sísmica do aterro foi calculada através de uma análise dependente do tempo, considerando
três acelerogramas artificias (Turkish Republic, 2009), gerados a partir do espetro de resposta de
dimensionamento. Cada acelerograma foi escalado de acordo com a aceleração máxima determinada
para cada ação sísmica considerada (SBP e SMP). Recorreu-se a uma análise equivalente linear para
simular a não-linearidade do solo. De acordo com os cálculos efetuados, estima-se que a distorção no
aterro seja relativamente pequena durante um sismo (menor que 0,002) e que a máxima aceleração no
topo do aterro seja cerca de 2,25 a 2,50 vezes a aceleração de pico no substrato (Fig.10). Com os
resultados obtidos na análise da resposta dinâmica do aterro foi realizada a análise de estabilidade
sísmica da barragem, onde foi verificado que, quer para o SBP, quer para o SMP, os fatores de segurança
obtidos são sempre superiores 1,0.

Figura 10 – Acelerações horizontais de pico [g] no aterro para o acelerograma artificial 1 escalado para o SMP

5- TRATAMENTO DA MARGEM ESQUERDA DA ALBUFEIRA

Os trabalhos de prospeção geológica realizados no encontro esquerdo da albufeira e no encontro direito


do rio Kizilirmak permitiram identificar uma camada de conglomerados mais permeável que o maciço
encaixante. Esta camada pouco cimentada de conglomerados foi identificada como uma camada de
permeabilidade moderada a elevada, a qual podia levar a fugas de água do reservatório para a margem
direita do rio Kizilirmak. Os ensaios de permeabilidade realizados nesta camada mostraram ainda que a
mesma é intercalada com camadas de facies argilosas e siltosas de baixa permeabilidade (Fig.11). A
camada de conglomerados apresenta uma espessura máxima de cerca de 10 m (apesar de apresentar
algumas intercalações mais finas), mas, em geral, apresenta uma espessura menor que 6 m. O
comprimento mínimo de permeabilidade, isto é, a menor distância entre a albufeira e o ponto de saída no
encontro direito do rio Kizilirmak, é cerca de 700 m.

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Figura 11 – Planta e corte geológicos da margem esquerda, mostrando a camada de conglomerados

Tendo por base vários cálculos de percolação (Cenor, 2015d) foi verificado que o volume de água
percolada pela camada permeável era relativamente reduzido, não sendo crítico para o balanço de água
na albufeira. Estes resultados decorrem fundamentalmente da extensão do caminho de percolação e do
gradiente hidráulico médio que é reduzido.

Não obstante, de modo a minimizar os riscos de percolação através da referida camada, bem como os
riscos de erosão devido às forças de percolação, o que pode resultar num incremento do caudal
percolado, decidiu-se definir um tapete argiloso de modo a cobrir a camada de conglomerados, ao longo
de toda a sua extensão. O comprimento estimado para o tratamento de impermeabilização é de cerca de
1 000 m para montante do eixo do aterro, por forma a atingir uma zona onde a camada permeável de
conglomerados assenta no fundo do vale, reduzindo a possibilidade de percolação. O tapete argiloso é
composto por uma camada de argila (1) com uma espessura de 4,5 m, executada contra um talude de
escavação, cortando assim a camada de conglomerados, e protegida por um material mais grosseiro (2).
Foram ainda previstas camadas de filtro arenoso (Fk) entre a argila e o material de proteção, bem como
entre a argila e os conglomerados. Previu-se também um enchimento com material proveniente das
escavações (Z) à frente do tapete, até uma cota superior ao topo da camada de conglomerados.

A Fig.12 apresenta o tratamento previsto para a impermeabilização da camada de conglomerados.

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Figura 12 – Solução de tratamento da margem esquerda

6- CONCLUSÕES

Neste artigo apresenta-se uma descrição dos aspetos principais do projeto da barragem de Bozkurt. No
presente caso, tal como na generalidade das barragens, a extensa prospeção geológica foi fulcral para o
estabelecimento de um adequado modelo geológico, a qual permitiu prever alguns aspetos cruciais do
dimensionamento, entre outros: a espessura e largura da camada aluvionar no fundo do vale, levando à
adoção de uma parede moldada de impermeabilização provisória sob a ensecadeira de montante,
permitindo ainda definir um encastramento adequado da vala corta águas do aterro da barragem; a
identificação da camada de conglomerados no encontro esquerdo, a qual pode levar a fugas de água do
reservatório.

Outro aspeto importante considerado aquando do dimensionamento da barragem foi a importância de se


adotar um zonamento do aterro que permitisse o uso racional dos materiais disponíveis na zona,
nomeadamente as aluviões finas e grosseiras e os depósitos de terraços. As condições topográficas do
sítio permitiram um estudo detalhado da geometria do descarregador de cheias, assegurando um
comportamento hidráulico adequado durante grandes cheias.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à restante equipa técnica que colaborou na elaboração do projeto da barragem,
nomeadamente, à Engª Ayçin Mungan, ao Engº Mário Samora, ao Engº Rui Fortes Monteiro, ao Engº João
Cavilhas e à Engª Ana Teresa Dias.

REFERÊNCIAS

Cenor (2015a) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Geological Study.

Cenor (2015b) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Preliminary Report.

Cenor (2015c) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Seismic hazard Analysis.

Cenor (2015d) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Treatment of the reservoir's left bank.

Cenor (2016a) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Design Criteria Report.

Cenor (2016b) - DSI. Sivas-Şarkişla Bozkurt Dam. Final Design.

FEMA (2011) - Filters for Embankment Dams - Best Practices for Design and Construction. Bulletin 9.

ICOLD (2010) - Bulletin No: 148 (Revision of Bulletin 72). Selecting Seismic Parameters for Large Dams. Guidelines.

Tosun, H. e Seyrek, E. (2010) - Total risk analyses for large dams in Kizilirmak basin, Turkey. Natural Hazards and
Earth System Sciences, 10, 979–987.

Turkish Republic the Ministry of Public Works and Settlement (2009) - Turkish Earthquake Design Code TEC 2007.
Ankara, Turkey.

USDA (1994) - Gradation Design of Sand and Gravel Filters, National Engineering Handbook. Part 633. Natural
Resources Conservation Service.

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RAMAL DE NEVES CORVO: REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA,


ROTURA CONTROLADA E CONSTRUÇÃO DE NOVO ATERRO FERROVIÁRIO

NEVES CORVO BRANCH LINE: REPLACEMENT OF SAFETY CONDITIONS,


CONTROLLED FAILURE AND CONSTRUCTION OF A NEW RAILWAY
EMBANKMENT

Borges, Alexandra; IP, Almada, Portugal, alexandra.borges@infraestruturasdeportugal.pt


Curião, Valentim; IP, Almada, Portugal, valentim.curiao@infraestruturasdeportugal.pt
Grade, Sara; IP, Almada, Portugal, sara.grade@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

No Ramal de Neves Corvo, entre o km 14+000 e o km 14+300, a via férrea desenvolve-se em perfil de
aterro e intercepta a Ribeira da Zambujeira. Na sequência de um conjunto de episódios de precipitação
intensa de curta duração, aliado a solos com elevado potencial de escoamento superficial, verificou-se uma
subida brusca do caudal da ribeira. Paralelamente a esta situação, ocorreu a obstrução da passagem
hidráulica existente sob o aterro ferroviário. Como consequência, o caudal ficou retido a montante do
aterro, passando o talude a comportar-se como uma barragem, apesar de não estar dimensionado para
desempenhar esta função. Em resposta a esta ocorrência, suspendeu-se de imediato a circulação ferroviária
no Ramal de acesso à Mina de Neves Corvo. Adicionalmente, face à ameaça de colapso da infraestrutura
ferroviária, foram desencadeadas ações para a descarga progressiva da água retida e posterior rotura
controlada do aterro. No presente artigo descreve-se esta ocorrência, as medidas urgentes adotadas e a
construção de um novo aterro dotado de um sistema de drenagem adequado às condições hidrológicas
locais.

ABSTRACT

In the Neves Corvo Branch Line, between km 14+000 and km 14+300, the railway develops on an
embankment cross section and intercepts the Zambujeira Stream. After a series of intense short-term
precipitation episodes, combined with soils with high potential for runoff, there was an abrupt rise in the
stream water flow. Parallel to this situation, a culvert under the railway embankment was obstructed. As a
result, the water flow was retained upstream of the embankment and the slope start behaving as a dam,
even though it was not design to perform this function. In response to this incident, railway traffic was
immediately suspended on the branch line to the Neves Corvo Mine. Additionally, knowing that there was
a threat of collapse of the railway infrastructure, actions were taken to progressively discharge the retained
water and subsequent controlled failure of the embankment. This paper describes this occurrence, the
urgent measures adopted and the construction of a new embankment with a drainage system appropriate
to the local hydrological conditions.

1- INTRODUÇÃO

No presente artigo descreve-se uma ocorrência extraordinária que levou à interdição do Ramal de Neves
Corvo durante cerca de três meses. Após um breve enquadramento, expõem-se as medidas de emergência
adotadas e a solução implementada para repor, de forma célere, o transporte de mercadorias por via férrea
entre uma das mais importantes indústrias extrativas de minério do nosso país e os portos marítimos do
Sul.

2- DESCRIÇÃO GERAL

O Ramal de Neves Corvo, com uma extensão de 31,2 km, faz a ligação ferroviária entre as minas de Neves
Corvo (exploradas atualmente pela empresa Somincor-Sociedade Mineira de Neves Corvo S.A., subsidiária
da Lundin Mining Corporation) e a Linha do Alentejo (estação de Ourique). A Linha do Alentejo liga à Linha
do Sul, na Funcheira, permitindo o acesso ferroviário aos portos de Setúbal e de Sines (Fig. 1). Assim, com
a entrada do Ramal em serviço, em 1992, passou a ser possível o transporte ferroviário de concentrados
da mina para os principais Portos marítimos do Sul de Portugal e o transporte de material de aterro para o
enchimento da mina.

A linha férrea encontra-se preparada para suportar cargas de 22,5 tonelada-força por eixo (de comboio) e
8 tonelada-força por metro (IP, 2018).

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Entre o km 14+000 e o km 14+300, a linha desenvolve-se em aterro com uma altura máxima de 12 m.
Os materiais utilizados na construção do aterro são resultantes das escavações efetuadas nos troços
adjacentes, colocados de forma controlada resultando, em regra, num aterro compacto. As faces do talude
apresentam uma inclinação de 1:1,5 (V:H) e encontram-se revestidas por um coberto vegetal herbáceo.

Neste aterro, ao km 14+105, existe uma passagem hidráulica no ponto de interseção com a ribeira da
Zambujeira (Fig. 1). Esta ribeira é afluente da margem direita da ribeira de Maria Delgada, pertencente à
bacia hidrográfica do rio Guadiana.

PH 14+105

N
Figura 1 – Localização geográfica da passagem hidráulica ao km 14+105 do Ramal de Neves Corvo. Extrato da Carta
Militar de Portugal - Folha 556 - Rosário (Almodôvar), escala 1:25 000 (IGEOE, 2010)

Originalmente, a passagem hidráulica era constituída por dois tubos metálicos de 3,00 m de diâmetro, em
aço corrugado, com uma extensão de 40 metros (Fig. 2).

Figura 2 – Ramal de Neves Corvo – Vista de montante da passagem hidráulica ao km 14+105 (antes da ocorrência) e
vista geral da via sobre a PH

3- BREVE ENQUADRAMENTO

Do ponto de vista geológico o Ramal de Neves Corvo situa-se na unidade morfo-estrutural designada por
Zona Sul Portuguesa, faixa piritosa, interessando a Formação de Mértola do Grupo do Flysch do Baixo
Alentejo e o Complexo Vulcano-Sedimentar. O Complexo Vulcano-Sedimentar é composto por xistos,
siltitos, tufitos, jaspes, rochas vulcânicas ácidas, e rochas vulcânicas básicas. A formação de Mértola é
composta por grauvaques, siltitos, pelitos e conglomerados (Fig. 3).

De acordo com o reconhecimento de campo efetuado, a zona em análise interessa, predominantemente,


xistos e grauvaques.

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Legenda:

km 14+105

N
Figura 3 - Extrato da Folha 8 da Carta Geológica de Portugal, na escala 1:200 000 (Oliveira, J.T. (Coord.), 1988)

Os solos na área em análise, do ponto de vista hidrológico, classificam-se como solos de baixa ou muito
reduzida permeabilidade, promovendo assim um elevado potencial de escoamento superficial.

Do ponto de vista geomorfológico está-se na presença de uma paisagem pouco acidentada, de baixo relevo,
com um coberto vegetal herbáceo associado a pastagens.

Nesta região a precipitação é irregular, podendo sofrer grandes variações de ano para ano. A pluviosidade
média anual é da ordem dos 500 mm. A época do ano mais chuvosa é a compreendida entre os meses de
novembro a março, com valores médios mensais de 80 mm. A época do ano mais seca é o período de
junho a agosto, com valores médios nunca superiores a 15 mm por mês.

Tal como referido anteriormente, a área em análise insere-se na bacia hidrográfica do Rio Guadiana. A
ribeira da Zambujeira desenvolve-se ao longo de 13,5 km, até à interceção da mesma com o Ramal de
Neves Corvo. Para jusante, e até à confluência com a ribeira de Maria Delgada, a ribeira da Zambujeira
conta com mais 3,7 km. A rede de drenagem local apresenta uma direção de escoamento de Sudoeste
para Nordeste.

No vale a jusante não existem povoações junto ao leito da ribeira da Zambujeira, no entanto, junto à
confluência com a ribeira de Maria Delgada encontram-se alguns edificados, uma estação de tratamentos
de águas residuais (ETAR urbana de Castro Verde), uma ponte rodoviária (Ponte da Ribeira de Maria
Delgada – Estrada Nacional 2) e uma bomba de gasolina.

4- OCORRÊNCIA

Em dezembro de 2009 a quantidade de precipitação, em Portugal Continental, foi superior ao valor médio
do período de referência 1971-2000, classificando-se este mês como o mais chuvoso do século
(IPMA, 2010a).

Na estação meteorológica de Castro Verde registaram-se vários episódios de precipitação intensa,


nomeadamente nos dias 19 e 23 de dezembro de 2009, com valores diários de 50,4 mm e 47,5 mm
respetivamente (Fig. 4).

Figura 4 – Dados pluviométricos na estação de Castro Verde (27I/01G) (SNIRH, 2010, 2009)

A precipitação elevada que se fez sentir entre os dias 19 e 23 de dezembro, aliada a solos baixa
permeabilidade e com elevado potencial de escoamento, originou uma subida nos caudais das linhas de
água da região, do tipo enxurrada, nomeadamente na ribeira da Zambujeira.

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Paralelamente a esta situação, devido ao arrastamento de resíduos (vegetação), ocorreu a obstrução da


passagem hidráulica existente ao km 14+105 do Ramal de Neves Corvo, o que potenciou uma rápida subida
do nível de água ao longo do aterro. Como consequência, formou-se uma albufeira a montante da
infraestrutura ferroviária, pondo em causa a estabilidade do talude e a segurança da circulação ferroviária.

Nas figuras 5 e 6 é visível a albufeira a montante do aterro ferroviário assim como o reduzido escoamento
de caudal na boca de jusante da passagem hidráulica, indiciando a obstrução do elemento de drenagem
transversal.

Albufeira a montante do aterro

PH ao km 14+105 Albufeira a montante do aterro

Figura 5 – Vista geral do aterro ferroviário ao km 14+105 do Ramal de Neves Corvo e vista da albufeira a montante a
24/12/2018

PH ao km 14+105 Área a jusante do aterro


Vista de jusante

Figura 6 – Vista de jusante da passagem hidráulica, com caudal reduzido face ao caudal afluente a 24/12/2018

Estando na presença de um aterro não dimensionado para suportar uma albufeira verificou-se, como
espectável, o aparecimento de uma série de anomalias que se foram agravando entre o dia 23 e 27 de
dezembro, nomeadamente:

 A 23 de dezembro detetou-se o aparecimento de fendas longitudinais no aterro, no lado de jusante


(Fig. 7);

 A 24 de dezembro detetaram-se fenómenos de erosão na face de montante do aterro. Constatou-


se um agravamento progressivo desta anomalia até ao dia 27 de dezembro (Fig. 7);

 A 24 de dezembro detetou-se um assentamento do aterro, na zona sobre a passagem hidráulica.


Constatou-se um agravamento progressivo desta anomalia até ao dia 27 de dezembro (Fig. 7);

 A 27 de dezembro detetaram-se fenómenos de percolação de água na face do talude a jusante.

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Figura 7 – Fendas no aterro a jusante e assentamento do aterro na zona da passagem hidráulica a 27/12/2009

5- DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS INTERVENÇÕES

A formação de uma albufeira a montante de um aterro ferroviário, inapto para funcionar como uma
barragem em terra, acarreta um risco elevado de rotura.

De forma a evitar este cenário, a ex-REFER E.P.E. (atual Infraestruturas de Portugal S.A.) em parceria com
a Proteção Civil, implementou entre os dias 23 e 27 de dezembro as medidas de emergência que de seguida
se expõem.

No presente ponto descrevem-se igualmente as soluções adotadas para a reposição das condições de
exploração ferroviária.

5.1 - Medidas de emergência adotadas

Na manhã de 23 de dezembro de 2009 a ex-REFER E.P.E., após detetar uma acumulação de água a
montante do aterro ao km 14+105, ordenou a interdição da circulação ferroviária no Ramal de Neves Corvo
e a supressão de todos os comboios previstos para esta linha, até aviso em contrário. Em paralelo, deu
início a uma observação permanente do talude (REFER, 2010a).

Na manhã de 24 de dezembro constatou-se que o nível de água a montante tinha subido drasticamente e
detetou-se o aparecimento de sinais evidentes de instabilidade no aterro, potenciados pela precipitação
intensa que se fez sentir no dia anterior (47,5 mm). Face à precariedade da estabilidade do talude,
desencadearam-se de imediato as devidas ações para minimizar a probabilidade de ocorrência de uma
rotura não controlada do aterro e, caso este cenário se viesse a verificar, garantir a não afetação de pessoas
e bens. Assim, com a participação da Proteção Civil, os habitantes no vale a jusante foram avisados para
se retirarem e retirarem igualmente bens e animais que eventualmente pudessem ser afetados pela onda
de cheia. Simultaneamente, promoveu-se a redução do nível de água na albufeira, através da
materialização de um “descarregador de superfície” no extremo do aterro ferroviário, na margem direita
do curso de água, de modo a forçar um escoamento rápido e de forma controlada (para o efeito efetuou-
se um rasgo no aterro com o auxílio de uma retroescavadora) (Fig. 8).

A 26 de dezembro de 2009, o nível de água na albufeira tinha descido apenas cerca de 20 cm, derivado da
drenagem da bacia hidrográfica a montante e da contínua precipitação nos dias seguintes à deteção da
ocorrência. Após nova apreciação da situação, decidiu-se aumentar a secção do “descarregador de
superfície”, tendo-se para o efeito alargado e aprofundado o corte efetuado no talude, promovendo assim
um maior volume de caudal escoado (Fig. 8).

Caudal proveniente
do descarregador

Figura 8 – Escavação no extremo do aterro ferroviário, na margem direita do curso de água, para materialização de
um “descarregador de superfície” (24/12/2009) e vista do escoamento a jusante após o alargamento do referido
descarregador (26/12/2009)

Nesta primeira fase, conseguiu-se assegurar o não galgamento do aterro e salvaguardaram-se não só as
pessoas e bens como também as infraestruturas existentes a jusante, como é o caso de uma bomba de
gasolina e a ponte sobre a ribeira de Maria Delgada correspondente a um troço da Estrada Nacional 2,
entre Castro Verde e Almodôvar.

A 27 de dezembro de 2009 constatou-se que, apesar das medidas adotadas para a descarga progressiva
do caudal, o nível de água na albufeira mantinha-se pouco abaixo do registado no dia anterior, motivado
em parte pela precipitação intensa que se manteve durante este período. Verificou-se igualmente um
agravamento das anomalias detetadas no aterro (Fig. 7) e, de acordo com as previsões meteorológicas,
não se previa um melhoramento das condições climatéricas. A ex-REFER e a Proteção Civil, após uma nova
reavaliação cuidada da situação e ponderação de todos os riscos inerentes a uma eminente rotura não

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controlada do aterro ferroviário, decidiram efetuar o desmonte do talude. Posto isto, depois de a Proteção
Civil ter interrompido o trânsito na ponte sobre a ribeira de Maria Delgada (Estrada Nacional 2) e acautelado
que não existiam pessoas, animais e equipamentos móveis na área de influência da onda de cheia, a ex-
REFER retirou a superestrutura de via e iniciou os trabalhos de escavação, de forma progressiva, na zona
central do aterro (Fig. 9). Nesta segunda fase conseguiu-se promover o escoamento total do caudal retido
a montante do aterro ferroviário (cujos efeitos se demonstram nas Figuras 10 e 11) sem colocar em risco
a segurança de pessoas, bens e das infraestruturas existentes a jusante do Ramal de Neves Corvo.

As intervenções descritas foram efetuadas com grande urgência, num período extremamente curto,
obrigando à constante ponderação dos vários cenários possíveis e dos riscos (humanos e económicos) ao
longo de todo o processo, conjugando-se a participação de todas as entidades intervenientes (ex-REFER,
Proteção Civil, ex-Estradas de Portugal, Câmara Municipal de Castro Verde, Guarda Nacional Republicana).

Figura 9 – Vista de jusante no início da escavação do troço central do aterro ferroviário do Ramal de Neves Corvo e
vista após o desmonte parcial do aterro a 27/12/2009

Figura 10 – Vista para jusante durante e após o escoamento das águas da albufeira (muros tímpano da PH arrastados
e tubos de aço corrugado destruídos)

Ponte EN2

Aterro ferroviário

Figura 11 – Ponte da ribeira de Maria Delgada (EN2) – Vista do escoamento da onda de cheia imediatamente após o
desmonte do aterro a 27/12/2009, vista da ponte e leito da Ribeira em situação normal e localização da obra de arte

Com a circulação ferroviária interrompida, foi necessário assegurar a circulação de mercadorias, com
destino ou provenientes das minas de Neves Corvo, por via rodoviária. No entanto, o modo rodoviário não
estava preparado para o fluxo de tráfego pesado necessário, pelo que se tornava urgente a reparação do
troço de linha férrea ao km 14+105.

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5.2 - Reposição do aterro e da Circulação Ferroviária

Com o propósito de rapidamente reestabelecer a circulação ferroviária no Ramal de Neves Corvo foi
elaborado o projeto de reposição do aterro ferroviário e respetivo órgão de drenagem transversal, tendo
por base um estudo hidráulico detalhado e adequado às condições vigentes (REFER, 2010b).

Para o dimensionamento da secção transversal da passagem hidráulica, tiveram-se em conta os seguintes


princípios:

 Considerou-se para o cálculo do caudal de ponta de cheia um período de retorno de 100 anos;

 Apesar de se admitir que o escoamento se pudesse realizar em pressão, sempre que possível,
preferiu-se que o mesmo não ocorresse, aumentando-se para tal a secção da passagem hidráulica;

 Não se permitiu que a cota do nível de montante fosse superior à cota da plataforma, aumentando-
se a secção e refazendo-se os cálculos para cumprir esta premissa;

 Atendendo ao fenómeno registado de obstrução da passagem hidráulica existente, com


consequente formação de albufeira a montante, optou-se por adotar uma secção com uma área
superior (+35 %) para prevenir possíveis ocorrências idênticas (obstruções);

 Para a nova passagem hidráulica, composta por duas secções retangulares, admitiu-se ainda um
cenário extremo de obstrução de um dos módulos.

Assim, tendo por base os princípios identificados adotou-se para a nova passagem hidráulica uma secção
dupla em betão armado com 2 x (L=5,00 x h=4,50).

Para a linha de água da ribeira da Zambujeira previram-se os seguintes trabalhos:

 Limpeza da linha de água a montante e a jusante do talude de aterro ferroviário;

 Proteção do leito menor da linha de água, junto à boca de montante do órgão de drenagem
transversal, com revestimento em enrocamento, numa extensão de 10,0 m e com cerca de 0,5 m
de espessura;

 Proteção do leito menor da linha de água, junto à boca de jusante do órgão de drenagem
transversal, com a construção de revestimento em colchão tipo “RENO”, numa extensão de 15,0 m,
de modo a evitar-se a ocorrência de fenómenos de erosão no leito da linha de água;

 Proteção das margens do leito menor da linha de água, com a construção de pequenos muros de
gabiões, de modo a evitar-se a ocorrência de fenómenos de erosão.

Para a reposição do aterro ferroviário preconizaram-se os seguintes trabalhos:

 Saneamento da fundação e preenchimento com enrocamento, granulometria 150-300 m, disposto


em camadas com 0,50 m de espessura, compactadas com equipamento pesado, tendo por objetivo
criar uma superfície sólida e capaz de receber em boas condições o corpo do aterro;

 Reconstrução do aterro, entre o km 14+075 e o km 14+125 do Ramal de Neves Corvo, com recurso
a agregado britado de granulometria extensa (AGBE 0-45) compactado a 98% OPM, em camadas
com espessura máxima de 0,30 m. Faces do talude com inclinação 1:1,5 (V:H);

 Transição entre o aterro existente e o novo aterro, efetuada com uma inclinação de 1:2 (V/H),
através de endentamentos;

 Camada de coroamento e de sub-balastro com inclinações transversais de 5%;

 Proteção das faces de montante e jusante do aterro, entre o km 14+000 e o km 14+250, com
enrocamento de granulometria 150 a 300 mm, com uma espessura de 1,50 m e assente sobre
geotêxtil.

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Figura 12 – Projeto de execução da reposição do aterro. Alçado, corte transversal pela estrutura da PH e corte
transversal pelo aterro

No dia 3 de fevereiro de 2010, consignou-se a empreitada de reconstrução do aterro ferroviário e passagem


hidráulica ao km 14+105 do Ramal de Neves Corvo, com um prazo de execução de dois meses.

Após a consignação da obra, registam-se novamente condições meteorológicas adversas, em particular nos
meses de fevereiro com episódios de elevada precipitação, 250 a 300% superiores à média do período de
referência 1971-2000, sendo o fevereiro mais chuvoso dos últimos 24 anos (1986-2010) e em março com
episódios de pluviosidade 150% a 200% superior ao valor médio do período de referência, sendo o março
com o 3º valor mais alto de precipitação dos últimos 30 anos (1980-2010) (IPMA 2010b, 2010c).

Apesar das condições meteorológicas registadas, verificou-se que a escolha de agregado britado de
granulometria extensa para a construção do corpo do aterro, permitiu executar os trabalhos de
terraplenagem dentro do prazo estimado e cumprindo os requisitos exigidos para um talude de aterro
ferroviário. No âmbito do controlo de qualidade in situ todas as camadas de material de aterro foram
sujeitas no mínimo a dois ensaios de compactação relativa, tendo-se obtido valores médios do grau de
compactação de 99% do ensaio proctor modificado. Para avaliar o módulo de deformabilidade realizaram-
se dois ensaios de carga com placa, ao nível do sub-balastro, tendo-se obtido valores no segundo ciclo de
carga superiores a 120 MPa.

Após estar concluída a construção do aterro, procedeu-se à colocação da superestrutura de via (via única,
com bitola ibérica de 1668 mm, carril de barra longa soldada, travessas bibloco de betão armado e balastro
31,5/50 mm).

Nas Figuras 13 a 16 apresentam-se alguns aspetos construtivos do novo aterro ferroviário e respetiva
passagem hidráulica, assim como do descarregador de superfície.

Figura 13 – Início da construção da PH ao km 14+105 com desvio provisório da Ribeira da Zambujeira

Figura 14 – Construção do aterro em ABGE e construção do colchão tipo “reno” a jusante da PH para proteção do leito
da Ribeira da Zambujeira

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Figura 15 – Execução das últimas camadas do aterro, ensaio de carga e vista da reposição da superestrutura de via

Figura 16 – Vistas de montante e jusante após conclusão da obra ao km 14+105

A nova infraestrutura ferroviária entrou ao serviço no dia 12 de abril de 2010, tendo sido repostas, nesta
data, as condições de circulação ferroviária em segurança e respetivo acesso às minas de Neves Corvo
através do Ramal de Neves Corvo.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocorrência de condições excecionais de pluviosidade deram origem a um conjunto de situações que


colocaram em causa a estabilidade do aterro ferroviário situado ao km 14 do Ramal de Neves Corvo, tendo
como consequência direta a interrupção da circulação ferroviária fundamental para escoar o produto das
minas de Neves Corvo.

A pronta observação e compreensão da ocorrência e a adoção de medidas de emergência permitiram


salvaguardar as infraestruturas localizadas a jusante da via férrea, permitindo à IP o desenvolvimento do
projeto de um novo aterro ferroviário dimensionado às condições sobretudo hidráulicas do local, na
perspetiva de obviar novas ocorrências da mesma natureza.

A construção da nova estrutura ferroviária e posterior entrada ao serviço permitiu restabelecer, em


condições de segurança, a circulação ferroviária e retomar o acesso às minas de Neves Corvo, sem novas
ocorrências desde então.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Infraestruturas de Portugal a oportunidade de participar no 16º Congresso


Nacional de Geotecnia.

Os autores agradecem também aos intervenientes que estiveram diretamente envolvidos na identificação
e resolução da ocorrência descrita.

REFERÊNCIAS

IGEOE (2010) - Carta Militar de Portugal, escala 1:25.000, Folha 556 – Rosário (Almodôvar). Instituto Geográfico do
Exército, Lisboa.

SNIRH (2009) - Gráfico de precipitação Dezembro de 2009 estação de Castro Verde (27I/01G).
http://snirh.apambiente.pt/snirh/_dadosbase/site/janela_grafico.php?sites=920685218&pars=413026594&tmi
n=01/12/2009&tmax=31/12/2009, acedido em 29/01/2018.

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SNIRH (2010) - Boletim de Precipitação 2009/2010 estação de Castro Verde (27I/01G).


http://snirh.apambiente.pt/index.php?idMain=1&idItem=1.1, acedido em 29/01/2018.

IPMA (2010a) - Boletim Climatológico Mensal – Dezembro 2009.


http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20110318/hIwJTCxnOQUMKsITswtg/cli
_20091201_20091231_pcl_mm_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

IPMA (2010b) - Boletim Climatológico Mensal – Fevereiro 2010.


http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20100408/YkuMWAdzywcuqQoCfppW/c
li_20100201_20100228_pcl_mm_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

IPMA (2010c) - Boletim Climatológico Mensal – Março 2010.


http://www.ipma.pt/resources.www/docs/im.publicacoes/edicoes.online/20100407/BzDwaOWyqlVyaCKqZzEl/cli
_20100301_20100331_pcl_mm_co_pt.pdf, acedido em 15/01/2018.

IP (2018) - Diretório da Rede 2019 Infraestruturas de Portugal S.A..


http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sites/default/files/files/files/diretorio_da_rede_2019.pdf, acedido em
29/01/2018.

Oliveira, J.T. (Coord.) (1988) - Carta Geológica do Sul de Portugal, folha 8, escala 1:200.000. Serviços Geológicos de
Portugal, Lisboa.

REFER (2010a) - Relatório nº1/10 “Relatório sobre a ocorrência verificada ao km 14,100 do Ramal de Neves Corvo, no
dia 23 de Dezembro de 2009”. Rede Ferroviária Nacional E.P.E., Unidade Operacional Sul – Gestão Técnica, Tunes
(não publicado).

REFER (2010b) - Reposição e Estabilização do Aterro entre o km 14,075 e o km 14,125 do Ramal de Neves Corvo. Estudo
hidrológico e drenagem transversal. Rede Ferroviária Nacional E.P.E., Direção de Engenharia da Infraestrutura,
Santa Apolónia (não publicado).

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REVISÃO E ATUALIZAÇÃO DO PROJETO GEOTÉCNICO DA BARRAGEM DE


SAÏDA

REVISION AND UPDATE OF SAÏDA DAM GEOTECHNICAL PROJECT

Antunes, Joana; AQUALOGUS, Lisboa, Portugal, jantunes@aqualogus.pt


Pimenta, Lurdes; AQUALOGUS, Lisboa, Portugal, lpimenta@aqualogus.pt
Roque, Magda; AQUALOGUS, Lisboa, Portugal, mroque@aqualogus.pt
Sardinha, Ricardo; AQUALOGUS, Lisboa, Portugal, rsardinha@aqualogus.pt
Rosa, Alexandra; AQUALOGUS, Lisboa, Portugal, arosa@aqualogus.pt

RESUMO

A barragem de Saïda localiza-se no norte da Tunísia, cerca de 12 km a oeste de Tunes. O Projeto original,
objeto de revisão e atualização pelo consórcio Aqualogus/Concept, data de 1999. Trata-se de uma
barragem de aterro com 48 m de altura máxima e cerca de 2500 m de desenvolvimento à cota de
coroamento, a que corresponde um volume armazenado de cerca de 45 hm3. No âmbito dos estudos em
curso, identificaram-se situações geotécnicas complexas, no que respeita às condições de fundação e aos
materiais de construção, com repercussões importantes nas condições de segurança e funcionalidade das
obras. No presente artigo resume-se a análise crítica dos elementos geológico-geotécnicos de base, da
conceção e do arranjo geral da solução do projeto original; e apresentam-se o programa de prospeção
complementar definido, as alterações conceptuais do corpo da barragem e do tratamento da fundação e
os respetivos cálculos justificativos.

ABSTRACT

Saïda dam is located in the north of Tunisia, about 12 km west of Tunis. The original project, which is
being reviewed and updated by the consortium Aqualogus/Concept, is dated from 1999. It comprises an
embankment dam with 48 m height, 2 500 m of crest length and a storage capacity of about 45 hm3.
Under the scope the studies, complex geotechnical situations were identified concerning both foundation
conditions and construction materials, that may lead to important safety and functionality consequences
to the dam. This article summarizes the critical analysis of the initial geological data and geotechnical
elements, so as the design and the general arrangement of the original project. It also presents the
proposed complementary site investigations plan, the introduced conceptual changes to the embankment
and to the foundation treatment solution and the respective supporting calculations.

1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A barragem de Saïda localiza-se no norte da Tunísia, numa secção do rio El Melah pertencente à bacia
hidrográfica de Medjerdah, cerca de 12 km a oeste da cidade de Tunes (Figura 1).

Figura 1 – Localização da barragem de Saïda (Fonte: Google Earth)

Esta barragem é parte integrante do Sistema Geral de Aproveitamento das Águas do Norte da Tunísia,
constituído por sete zonas: zona 1 – Extremo Norte, até à estação de Béjaoua; zona 2 – Bacia do rio
Medjerdah; Zona 3 – Barragens de Ben Métir e de Kasseb; zona 4 – Grande Tunes; zona 5 – Cap Bon;
zona 6 – Sahel e Kairouan; e zona 7 – Sfax e Sidi Bouzid.

O objetivo principal deste aproveitamento é a regularização sazonal dos recursos hídricos excedentários
das barragens da zona 1, prevendo-se o enchimento da albufeira durante o inverno e a sua exploração
essencialmente nos meses de verão, de maior consumo.

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O projeto original data de 1999 e foi elaborado pela empresa Selkhozpromexport, e previa as seguintes
características para barragem:
• Coroamento: cota (103,5)  Altura máxima acima do terreno: 48 m
• NPA: cota (100,5)  Comprimento à cota de coroamento: 2500
m (1 100 m correspondentes à barragem
• NMC: cota (101,8)
principal)
• Volume armazenado: 45 hm3
 Largura do coroamento: 8 m
• Volume útil: 41 hm3
 Inclinação do paramento de montante: va-
• Tipo de barragem: terra zonada riável de 1:3 (V:H) a 1:4, com berma esta-
(1 barragem principal e duas portelas) bilizadora

 Volume total do aterro: 4 200 000 m3  Inclinação do paramento de jusante: 1:3


(V:H), com berma estabilizadora

No âmbito dos estudos de revisão e de atualização do projeto original, que se encontra em curso e a
cargo do Consorcio Aqualogus/Concept, foram identificadas diversas condicionantes geotécnicas
relacionadas quer com as condições de fundação da barragem, quer com os materiais de construção
previstos, as quais poderiam colocar em causa a segurança e a funcionalidade das obras projetadas.

No seguindo dos problemas identificados foram realizados trabalhos de prospeção adicionais e procedeu-
se à atualização do modelo geológico-geotécnico dos terrenos de fundação e à reformulação do perfil tipo
da barragem e do respetivo tratamento da fundação.

No presente artigo resume-se a análise crítica dos elementos geológico-geotécnicos de base e do arranjo
geral da solução do projeto original. São apresentadas as alterações conceptuais do corpo da barragem e
do tratamento da fundação, bem como o programa de prospeção complementar a realizar antes da
construção da barragem.

2- ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO GERAL E LOCAL

No local de implantação da barragem de Saïda ocorrem essencialmente grés e margas atribuídos a uma
grande unidade fluvio-deltaica de idade pliocénica, que ocupa extensões importantes a oeste da cidade
de Tunes. Trata-se de um conjunto de afloramentos com orientação geral NE-SW, cujas principais
estruturas são a de Ariana-Belvédère e a de Jebel Ain Krima, onde se localiza a barragem.

Na Figura 2 apresenta-se um extrato da Carta Geológica de Tunes à escala 1/50 000, com a localização
da barragem e da respetiva albufeira. Importa salientar que esta corresponde a uma carta provisória e
ainda em fase de revisão.

GEOLOGIA

Quaternário recente

- Aluviões recentes
- Incrustações calcárias

Pliocénico

- Unidade flúvio-deltaica
a: Margas cinzentas;
b: Areias e grés amarelos.

OUTRA SIMBOLOGIA

- Eixo e albufeira da barragem

Figura 2 - Extrato da Carta geológica de Tunes à escala 1:50 000 (versão provisoria)

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BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
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O afloramento Jebel Ain Krima é uma estrutura do tipo sinclinal, onde se pode identificar a série detrítica
pliocénica completa, reconhecendo-se, da base para o topo, as seguintes unidades:

 a: Margas cinzentas (Formação de Raf): com cerca de 200 m de espessura, é uma unidade
composta essencialmente por margas gipsíferas cinzentas, com inúmeras intercalações gresosas
contendo, por vezes, níveis métricos de conglomerados.

 b - Areias e grés amarelos (Formação Porto Farina): com cerca de 100 m de espessura, é uma
unidade formada principalmente por bancos métricos de grés, maioritariamente grosseiros e por
areias com algumas intercalações de argila esverdeadas.

No local da barragem, o substrato é composto por alternâncias areno-gresosas e argilo-margosas,


dispostas em monoclinal segundo a direção N60-80ºE com pendor de 15-20º NE (Figura 3).

( - Direção geral do eixo da barragem)

Figura 3 – Diagrama de fracturação do maciço rochoso

O eixo da barragem é praticamente perpendicular à direção das camadas, o que é favorável à ocorrência
de percolações montante-jusante.

O substrato pliocénico encontra-se coberto em quase toda a área de implantação da barragem e da


respetiva albufeira por depósitos de cobertura quaternários. Nas encostas dominam coluviões argilo-
siltosos, com variável fração arenosa ou mesmo cascalhenta. No leito das linhas de água, sobretudo do
rio El Melah, encontram-se depósitos aluvionares areno-argilosos, por vezes cascalhentos.

Devido à presença de solos de cobertura, não existem muitos afloramentos rochosos expostos à
superfície. No eixo da barragem, os afloramentos argilo-margosos ocorrem sobretudo nas cotas
superiores e ocupam extensões mais ou menos significativas. Os afloramentos gessosos são pouco
contínuos e de possanças reduzidas, localizando-se sobretudo na margem direita do rio, no local do eixo
e a jusante deste, quase sempre abaixo da cota (85).

Na Figura 4 apresenta-se o esboço da cartografia geológica de superfície do local da barragem e da


respetiva albufeira.

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LITOESTRATIGRAFIA

Quaternário

- Aluviões areno-argiloso com cascalho

- Aluviões arenosos

- Argilas carbonatadas com lenticulas


arenosas

- Argilas siltosas não carbonatadas

Pliocénico

- Argilas com inclusões arenosas

- Grés duros e areias

OUTRA SIMBOLOGIA

- direção e inclinação das camadas

Figura 4 – Cartografia de superfície do local da barragem e da respetiva albufeira

3- ESTUDOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS

3.1 - Elementos de base e condicionantes geotécnicas

A barragem de Saïda foi objeto de diversos estudos e trabalhos anteriores, nomeadamente, Estudo de
Viabilidade, datado de 1982 e o Anteprojeto, de 1999. A revisão e atualização do projeto foram
realizadas pelo consórcio Aqulogus/Concept, em 2017.

De acordo com informações fornecidas pela DGBGTH - Direction Generale des Barrages et des Grands
Travaux Hydrauliques, na fase de Estudo de Viabilidade foram realizados trabalhos de prospeção
geológico-geotécnica no local de implantação da barragem e numa mancha de empréstimo, localizada na
margem esquerda da futura albufeira. Contudo, só foi possível recuperar parte dos dados
correspondentes aos ensaios laboratoriais da mancha de empréstimo.

Na fase de Anteprojeto foram realizados novos trabalhos de prospeção no local da barragem e numa
mancha de empréstimo na margem direita da albufeira.

No local da barragem foram realizadas 26 sondagens com ensaios Lugeon e Lefranc e com recolha de
amostras, 10 ensaios pressiométricos, 2 ensaios de penetração estática (CPT) e 2 ensaios de penetração
SPT (não associados às sondagens) e 2 ensaios de bombagem. As amostras recolhidas foram submetidas
a ensaios de identificação, ensaios edométricos, de expansão livre e a ensaios de corte direto.

No local da mancha de empréstimo, foram realizados 13 poços de reconhecimento com recolha de


amostras, as quais foram submetidas aos mesmos ensaios que as amostras do local da barragem.

Foram ainda realizadas análises químicas das águas subterrâneas.

Em relação aos trabalhos realizados no eixo da barragem, verificou-se que apesar do elevado número de
sondagens realizadas, estas não produziram informação geotécnica útil, dado que não foram
determinados parâmetros como os graus de alteração e de fracturação, a % de recuperação ou o RQD.
Além disso, os resultados dos ensaios Lefranc e Lugeon terão sido afetados pelo uso de bentonite durante
a furação das sondagens, sobretudo no caso dos níveis arenosos. Esta situação comprova-se pelo facto
dos coeficientes de permeabilidade (k) calculados não estarem coerentes com as características dos
materiais ensaiados (por exemplo: solos arenosos com percentagem finos de 7% com k= 10-8 m/s).

A permeabilidade dos níveis areno-gresosos terá sido estimada a partir de ensaios de bombagem, mas
sobre os quais não foi fornecida qualquer informação. Foram estimados valores de k médios de cerca de
4x10-05 a 2x10-04 m/s, o que se afigura de acordo com as características dos materiais, a que
correspondem transmissividade de 10 a 100 m2/dia. Para os níveis argilosos, estimaram-se valores de k
de 7x10-8 à 6x10-10 m/s.

Em relação aos resultados dos ensaios laboratoriais dos terrenos de fundação da barragem e dos
materiais de empréstimo, verificou-se que apenas os ensaios de identificação terão permitido a obtenção

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de resultados válidos. Os ensaios edométricos apresentam anomalias várias e os ensaios de corte direto
(realizados apenas as argilas) foram do tipo UU ou CU com rápida velocidade de corte, o que não permite
determinar os parâmetros de resistência em termos de tensões efetivas.

Dos ensaios de identificação concluiu-se que os solos arenosos apresentam em regra % de finos < 20 %
e IP <18%.

Os solos argilosos, apresentam geralmente % de finos> 40-50 %, com IP e LL (limites de liquidez)


variáveis. Nalguns casos, os IP são superiores 40% ou 50%, com LL superiores a 60%, sendo as
amostras classificadas como CH de acordo com a Classificação Unificada de Solos. Noutros casos, as
amostras têm IP<35%, LL<50 e são classificadas como CL segundo a Classificação Unificada de Solos. As
argilas de alta plasticidade têm expansibilidade livre que atingiu valores de cerca de 14%, e pressões de
expansão nula de 1 a 3 kg/cm2, por vezes de 4 a 5 kg/cm2. Algumas amostras apresentam importantes
teores em sulfatos e gesso.

Importa ainda referir que as análises químicas das águas indicam um potencial dispersivo dos solos
argilosos, o que carecerá de confirmação, mediante a realização de ensaios de dispersividade dos solos.

Apesar das limitações dos dados de base, foi possível retirar algumas considerações sobre os terrenos de
fundação e sobre os materiais de empréstimo estudados, e ainda identificar os potenciais problemas
geotécnicos associados.

No que se refere às condições de fundação, verificou-se que os terrenos são constituídos níveis argilo-
margosos, de baixa permeabilidade, por vezes muito plásticos, expansivos e eventualmente dispersivos,
intercalados com níveis areno-gresosos, de elevada permeabilidade. A estrutura geológica em monoclinal
apresenta direção praticamente perpendicular ao eixo da barragem, o que é favorável à ocorrência de
percolações montante-jusante, através dos níveis arenosos de elevada permeabilidade. Acresce que, se
por um lado os níveis arenosos podem resultar em problemas de estanqueidade da fundação e também
de segurança para o conjunto barragem-fundação, a presença de argilas expansivas e eventualmente
dispersivas na fundação poderá colocar em causa a estabilidade global da obra.

Ficou clara a necessidade de complementar a caracterização dos terrenos de fundação. Por um lado,
importava determinar a continuidade espacial dos níveis arenosos para o interior da albufeira e estimar a
sua permeabilidade, de forma a avaliar o impacto das percolações montante-jusante. Por outro lado,
importava determinar as características geotécnicas dos terrenos, sobretudo dos níveis argilo-margosos.

No que se refere aos materiais de empréstimo, embora sem informação fiável sobre os parâmetros de
resistência e deformabilidade, foi possível verificar que dentro da albufeira existem materiais com
adequadas características para a construção da barragem, como é o caso dos solos argilosos (de
cobertura e de alteração do substrato pliocénico) de baixa plasticidade (CL) e os solos argilo-arenosos.
No entanto, a distribuição espacial e em profundidade destes materiais não é clara, coexistindo com solos
finos de alta plasticidade, de difícil trabalhabilidade e compactação. Por esclarecer permaneciam também
questões relacionadas com as suas características mineralógicas, potencial de dispersividade e de
expansibilidade.

Face ao cenário apresentado, o consórcio Aqualogus/Concept realizou uma campanha de prospeção


adicional, composta pelos seguintes trabalhos:

Local da barragem:

 5 sondagens geotécnicas (3 no eixo e 2 a montante) com ensaios tipo SPT e Lefranc e recolha de
amostras;

 13 poços de reconhecimento e 8 valas (no eixo, a montante e a jusante), com recolha de


amostras;

 Ensaios de caracterização laboratorial de amostras de solo: ensaios de identificação, ensaios de


determinação do teor de carbonatos, de gesso e de sulfato, ensaios triaxiais do tipo CU+U
(consolidado não drenado com medição das pressões intersticiais) e ensaios de determinação do
coeficiente de permeabilidade;

Manchas de empréstimo (em ambas as margens da albufeira):

 10 poços de reconhecimento, com recolha de amostras;

 Ensaios de caracterização laboratorial de amostras de solo: ensaios de identificação e ensaios de


compactação do tipo Proctor Normal.

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Importa referir que a campanha realizada, embora insuficiente para a caracterização do problema, foi a
possível, dado tratar-se de uma revisão de projeto, para a qual não estavam previstos quaisquer
trabalhos de prospeção. A campanha cumpriu os objetivos para a qual foi proposta, nomeadamente: i)
localizar as camadas arenosas do eixo, avaliar a sua continuidade para montante e estimar a sua
permeabilidade; ii) proceder à caracterização preliminar da resistência e deformabilidade das
margas/argilas e das areias/grés da fundação e dos materiais de empréstimo.

3.2 - Modelo geológico-geotécnico dos terrenos de fundação

Com base na análise dos dados das campanhas de prospeção realizadas e nos reconhecimentos de
superfície procedeu-se à atualização do modelo geológico-geotécnico dos terrenos de fundação da
barragem.

À superfície, o local caracteriza-se pela presença de solos de cobertura, que incluem as aluviões arenosos
do fundo do vale do rio El Melah e dos seus afluentes, bem como os coluviões argilosos que cobrem as
encostas da albufeira.

O substrato pliocénico subjacente é composto por camadas argilo-margosas com intercalações areno-
gresosas, dispostas em monoclinal com ligeiro pendor (10-15º) para NE, ou seja praticamente
perpendiculares à direção geral do eixo da barragem, o que é favorável à ocorrência de percolações
montante-jusante.

Os níveis argilo-margosos apresentam baixa permeabilidade, com k da ordem de 7x10-8 à 6x10-10 m/s e
dividem-se em dois grupos: as argilas de baixa plasticidade; e as de alta plasticidade, expansivas e
potencialmente dispersivas. Os ensaios laboratoriais realizados apontam para as argilas de baixa
plasticidade (CL), ângulo de atrito interno efetivo (’) de 24º e coesão efetiva (c’) de 50 KPa, enquanto
para as argilas de elevada plasticidade (CH), se estima ’ de 20º e c’ de 65-75 kPa.

Os níveis areno-gresosos apresentam permeabilidades elevadas, da ordem de 4x10-05 a 2x10-04 m/s, a


que correspondem transmissividades de 10 a 100 m2/dia. Apresentam baixo teor em finos (em regra,
inferiores a 20%).

No que respeita ao modelo geológico dos terrenos em profundidade, verifica-se que as intercalações
argilo-margosas são mais representativas que as areno-gresosas, sendo mais espessas e comuns. No
eixo da barragem, estas últimas tendem a ocorrer preferencialmente na margem direita (Figura 5). A
jusante do eixo, as acamadas arenosas ocorrem igualmente de forma mais persistente na margem direita,
mas também nas cotas mais baixas da margem esquerda (Figura 6).

Margem direita Margem esquerda

Legenda:
- Aluviões (Quaternário); - Coluviões (Quaternário); - Níveis areno-gresosos (Pliocénico), - Níveis argilo-margosos (Pliocénico)

Figura 5 – Modelo geológico simplificados dos terrenos ao longo do eixo da barragem.

Legenda:
- Aluviões (Quaternário); - Coluviões (Quaternário); - Níveis areno-gresosos (Pliocénico), - Níveis argilo-margosos (Pliocénico)

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Figura 6 – Modelo geológico simplificados dos terrenos segundo um alinhamento paralelo ao eixo da barragem, a
jusante

Além da maior persistência das camadas areno-gresosas na margem direita (eixo e jusante), verificou-se
que estas são mais grosseiras que as restantes intercalações e foi para as quais se estimaram
permeabilidades e transmissividades mais elevadas.

Os trabalhos realizados recentemente permitiram confirmar que as camadas areno-gresosas da margem


direita se estendem para montante do eixo, pelo que este local acarreta potenciais problemas para a
estanqueidade da fundação e para a segurança da obra.

Pelo contrário, as camadas areno-gresosas existentes a jusante do eixo nas cotas mais baixas da
margem esquerda não parecem estender-se para montante em direção ao eixo e à albufeira. Porém, fica
a ressalva da necessidade de prospeção adicional nesta margem, dado o reduzido número de trabalhos
disponíveis à data.

3.3 - Materiais de empréstimo

A pesquisa de solos finos para o corpo da barragem foi realizada dentro da área da futura albufeira, nas
várias fases de estudos. A caracterização preliminar dos solos indica que na área ocorrem essencialmente
solos finos, que podem ser agrupados em dois tipos, de acordo com as suas percentagens de finos e
plasticidade

 Tipo 1 - Solos com % de finos > 60%, LL > 60% e IP > 35%;

 Tipo 2 - Solos com % entre 40 e 85%, LL <60% IP<35%.

Os solos do tipo 1, com IP e LL mais elevados, colocando problemas de trabalhabilidade, são mais
comuns na margem direita da albufeira.

Os solos tipo 2 são frequentes em ambas as margens e apresentam IP e LL mais baixos e mais
adequados à construção dos aterros do corpo da barragem.

Concluiu-se que na área da albufeira é possível obter os solos finos necessários à construção da
barragem, no entanto, a sua distribuição espacial não é totalmente clara, estando os mesmos
intercalados com solos de alta plasticidade. A utilização destes materiais requererá a sua exploração
seletiva e com recurso a depósitos provisórios.

Continuam a subsistir dúvidas em relação às características de resistência e deformabilidade destes


materiais. Acresce a importância de despistar o potencial dispersivo destes solos, bem como o teor em
gesso (ou outros minerais solúveis) e o teor em sulfatos.

Em relação a outros materiais, como enrocamento de proteção, filtros, drenos e rip-rap, estes devem ser
obtidos a partir de pedreiras ativas na região.

3.4 - Campanha de prospeção adicional

Da análise conjunta dos resultados dos trabalhos de prospeção in situ e dos ensaios laboratoriais, foi
possível atualizar o modelo geológico-geotécnico dos terrenos de fundação da barragem e avaliar as
características preliminares dos materiais de construção existentes na área da albufeira.

Identificaram-se, porém, questões importantes relacionadas com os terrenos de fundação e com os


materiais de empréstimo, que careciam de caracterização complementar, de forma a ratificar ou retificar
a conceção e o arranjo geral da solução definida quer para a barragem quer para o tratamento da
fundação.

No caso da fundação, importa por um lado determinar a permeabilidade real dos níveis areno-gresosos e,
por outro lado determinar as características de deformabilidade, o potencial dispersivo e o teor em
minerais solúveis dos níveis argilo-margosos. Importa também confirmar a inexistência de camadas
areno-gresosas, na margem esquerda do rio, o que teria forte impacto nomeadamente na extensão do
tratamento de impermeabilização da fundação.

No caso dos materiais de empréstimo, importa identificar a distribuição espacial e em profundidade dos
solos finos de baixa plasticidade e determinar as suas características mecânicas, de deformabilidade, de
permeabilidade e químicas (mineralogia, teor em minerais solúveis e potencial dispersivo).

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Desta forma, foi proposto um programa de prospeção complementar, a ser realizado antes do Projeto de
Execução e do início da empreitada de construção, o qual inclui trabalhos de prospeção in situ e ensaios
de caracterização laboratorial.

Para caracterização dos terrenos de fundação, preconizam-se os seguintes trabalhos:

 19 sondagens mecânicas à rotação (sem uso de lamas ou outros aditivos durante a furação), com
ensaios SPT, Lefranc e/ou Lugeon, instalação de piezómetros e recolha de amostras do maciço e
de águas freáticas. As sondagens localizam-se ao longo do eixo da barragem e a montante e no
local dos órgãos hidráulicos;

 10 poços de reconhecimentos, com recolha de amostras.

 2 ensaios de bombagem, instalados em níveis areno-gresosos identificados, com medição dos


níveis de água nas sondagens vizinhas;

 Ensaios laboratoriais sobre as amostras de maciço recolhidas: ensaios de identificação, ensaios


de permeabilidade, ensaios triaxiais CU+U, ensaios edométricos, ensaios de expansibilidade com
medição da pressão de expansão nula, análises mineralógicas, ensaios de dispersividade das
argilas, ensaios de determinação do teor em sulfatos, minerais solúveis e gesso.

 Análise química das águas freáticas: Determinação do pH, condutividade elétrica, temperatura,
total de sólidos dissolvidos e identificação da composição em iões maiores.

Para caracterização dos solos finos de empréstimo dentro da área da albufeira, dando-se preferência à
margem esquerda do rio, preconizam-se os seguintes trabalhos:

 35 poços de reconhecimento, com recolha de amostras;

 Ensaios laboratoriais sobre as amostras de maciço e de solo recolhidas: ensaios de identificação,


ensaios de permeabilidade, ensaios triaxiais CU+U, ensaios edométricos, ensaios de
expansibilidade com medição da pressão de expansão nula, ensaios de compactação Proctor
Normal, análise mineralógica, ensaios de dispersividade das argilas, ensaios de determinação do
teor em sulfatos, minerais solúveis e gesso.

Importa referir que caso os materiais disponíveis dentro da área da albufeira não reunirem características
adequadas ou não perfaçam os volumes necessários, se prevê um conjunto de trabalhos in situ e de
ensaios laboratoriais adicionais, a realizar noutros locais de empréstimo.

4- PROJETO GEOTÉCNICO

4.1 - Conceção estrutural

A barragem principal implanta-se essencialmente segundo um alinhamento retilíneo de orientação NNE-


SSW e, nas cotas superiores do encontro direito, segundo um alinhamento curvo com 235 m de raio que
faz a transição para o alinhamento retilíneo da portela da margem direita. Na margem esquerda, a uma
distância de cerca de 500 m do encontro esquerdo da barragem existe uma pequena portela com cerca
de 610 m de comprimento (Figura 7).

Figura 7 – Planta geral da barragem e portelas

O vale de implantação da barragem é um vale aberto, com uma relação corda-altura (no vale principal)
de cerca de 23.

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O comprimento total do eixo do coroamento é cerca de 2 490 m, dos quais 335 m correspondem à
portela da margem direita, 1 100 m à barragem principal, 445 m ao trecho de escavação e 610 m à
portela da margem esquerda.

A altura máxima (acima do terreno natural) da barragem principal é de 48,5 m e as alturas máximas das
portelas de 11 e 7 m, respetivamente, portela da margem direita e portela da margem esquerda.

4.2 - Perfil tipo e materiais de construção

4.2.1 – Solução inicial

O perfil tipo da barragem de Saϊda do projeto original (Figura 8) era, no essencial, um perfil de terra
homogénea com pé de jusante em enrocamento. No que se refere à geometria exterior, o coroamento foi
definido com 8 m de largura, à cota 103,5, e o paramento de montante com inclinação de 1:4 e 1:3
(V:H), respetivamente, abaixo e acima da cota da banqueta estabilizadora, cota 80, com 15 m de largura.
O paramento de jusante tinha uma inclinação de 1:3 (V:H) acima da cota do coroamento do pé de
jusante em enrocamento, cota 75, e de 1:2 (V:H) abaixo desta cota.

Figura 8 – Perfil tipo da barragem Saϊda (projeto original)

Na fundação, havia sido prevista a execução de uma vala corta-águas para intersetar as camadas
arenosas superficiais, com 10 m de largura da base, taludes inclinados a 1:0,5 (V:H) e uma profundidade
máxima de 15 m.

O volume de aterro foi avaliado em cerca de 3,5 milhões de m 3, sendo os materiais granulares e os
enrocamentos provenientes de pedreira e os materiais finos argilosos de exploração na área da futura
albufeira.

4.2.2 – Solução revista

Na fase de revisão do projeto, o perfil tipo foi alterado para um perfil de aterro zonado, atentas as
características dos materiais de empréstimo, as condições de fundação e a sismicidade local. As
alterações visaram, no essencial, melhorar as condições de trabalhabilidade e a resposta dinâmica do
corpo da barragem, tendo sido introduzidas zonas interiores e exteriores de materiais granulares com o
objetivo de promoverem uma mais fácil dissipação das pressões intersticiais. No que se refere aos
materiais finos, foi limitado o seu indicie de plasticidade a um valor máximo de 35%. A Figura 9 mostra o
perfil tipo revisto da barragem de Saϊda.

Figura 9 – Perfil tipo da barragem Saϊda (projeto revisto)

No que se refere à geometria exterior, foi estimada a cota do coroamento (104,5), definida com base nos
estudos da folga e condicionada pela combinação de ações correspondente à ocorrência simultânea do
NMC e de um vento habitual. O coroamento tem uma largura de 8 m.

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A inclinação do paramento de montante é de 1:3 (V:H), acima e abaixo da cota da berma estabilizadora
de 25 m de largura (cota 80). A inclinação do talude de jusante é de 1:3 (V:H) e 1:2,5, respetivamente,
acima e abaixo da cota do coroamento do pé de jusante em enrocamento (cota 75 m) que se prolonga
numa berma estabilizadora também com 25 m.

No que se refere ao zonamento interno, o perfil tipo integra um núcleo central simétrico, com taludes a
montante e a jusante inclinados a 1:0,75 (V:H), coroamento à cota 102,8 e 4 m de largura. A jusante do
núcleo existe um filtro chaminé com largura de 3 m. O filtro prolonga-se sob o maciço estabilizador de
jusante, no contacto com a fundação, até ao pé da barragem. A água percolada pelo filtro chaminé é
recolhida por uma vala drenante longitudinal que a conduz, juntamente com a água percolada pela
fundação da barragem, até às valas de drenagem transversais de perfil misto (filtro-dreno-filtro) e,
posteriormente, até ao pé de jusante da barragem. O talude de montante do núcleo é também protegido
por um filtro com 2 m de largura.

As zonas internas dos maciços estabilizadores de montante e de jusante são constituídas por materiais
finos, nomeadamente, por argilas de baixo e de alta plasticidade, argilas arenosas ou areias-argilosas. As
zonas exteriores são constituídas por enrocamento compactado de granulometria extensa e os respetivos
paramentos protegidos por enrocamento arrumado.

No Quadro 1, apresentam-se suas principais características dos materiais de construção do aterro e na


Figura 10, os fusos granulométricos definidos.

Quadro 1 – Características dos materiais de aterro


Materiais % finos IP (%) LL (%) ’ (º) c’ (kPa)
1 ≥70 15-35 30-65 22 10
2 ≤5 - - 35 -
3 - - - 35 -
4 35-80 10-25 25-45 25 5
5 ≤5 - - 45 -
6 ≤3 - - 45 -

Legenda dos materiais:

1 – Núcleo (solos argilosos)

2 - Filtros

3 - Dreno

4 - Maciços estabilizadores (solos


argilosos)

5 - Enrocamento dos maciços


estabilizadores

6 - Enrocamento do pé de jusante

7 – Rip-rap

Figura 10 - Fusos granulométricos dos materiais da obra de aterro da Barragem de Saϊda

Os materiais argilosos, solos 1 e 4, serão, em princípio, provenientes das manchas de empréstimo


localizadas no interior da área da futura albufeira, tendo sido previsto um programa de prospeção
complementar a executar antes do início da obra (dentro e fora da área da futura albufeira).

Os solos argilosos ocorrem na área da futura albufeira em quantidade que se estima superabundante,
não obstante, a sua exploração seletiva, de modo a excluir os materiais de elevada plasticidade e
expansibilidade dos materiais que se pretende utilizar, afigura-se, à partida, difícil, em particular na
margem direita.

4.3 - Tratamento da fundação

A solução de tratamento proposta consiste numa parede moldada, de betão plástico, com uma espessura
de 0,80 m e uma profundidade variável, com um valor máximo de cerca de 25 m. A parede moldada

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desenvolve-se ao longo de 714 m, sob a fundação das cotas superiores do encontro direito da barragem
principal e da portela da margem direita, interessando as zonas onde as camadas gresosas e arenosas de
elevada permeabilidade têm mais expressão e continuidade montante-jusante.

A parede moldada será de betão plástico com a 0,80 m de espessura e executada por painéis primários e
secundários, construídos alternadamente. O comprimento preconizado para os painéis primários é 2,80 m
e o espaçamento entre painéis primários igual ou inferior a 1,40 m, podendo ser ajustada de acordo com
o equipamento disponível.

4.4 - Estudos de dimensionamento e verificação

A barragem de Saϊda foi objeto de verificações de segurança relativas aos estados limites últimos e aos
estados limites de utilização condicionantes do dimensionamento deste tipo de soluções.

No que se refere aos estados limite últimos, procedeu-se às verificações de segurança afins aos seguintes
modos de rotura:

 erosão externa por galgamento;

 erosão interna por arrastamento mecânico;

 perda de estabilidade global.

A verificação da segurança à erosão externa por galgamento fez-se por intermédio de uma adequada
fixação da folga, em relação ao NPA e em relação ao NMC, que serviu de base à fixação da cota do
coroamento.

A cota do coroamento (104,50) foi, assim, estabelecida tendo por base um determinado nível de água na
albufeira – NPA e NMC – que se combinou com a ocorrência de ventos atuantes sobre a albufeira e os
seus efeitos (sobre-elevação da maré e ondulação com espraiamento sobre o paramento de montante da
barragem) e com a ocorrência dos assentamentos de longo prazo da barragem.

A verificação da segurança à erosão interna por arrastamento mecânico fez-se, no que se refere aos
materiais finos do núcleo, por intermédio do adequado dimensionamento do filtro chaminé (recorrendo
aos critérios de filtro e relações granulométricas definidas pelo US Army Corps of Engineers, bem como,
pelo USBR), pela verificação da segurança à erosão interna da fundação, por intermédio da comparação
entre os gradientes hidráulicos de saída e os gradientes hidráulicos críticos.

Os gradientes hidráulicos na fundação foram avaliados por intermédio dos estudos de fluxo realizados
pelo programa SEEP/W que utiliza o método dos elementos finitos.

A verificação de segurança à perda de estabilidade global fez-se através de métodos de equilíbrio limite
que avaliam os coeficientes de segurança de superfícies de rotura por insuficiente resistência ao corte,
em situação estática e sísmica.

As verificações de segurança ao colapso por perda de estabilidade global foram realizadas para os perfis
transversais considerados representativos da altura e geometria da barragem e das condições de
fundação. Para estes perfis, foram estudadas as seguintes situações de cálculo:

 Fase de construção, paramento de montante;

 Fase de construção, paramento de jusante;

 Pleno armazenamento, paramento de jusante;

 Esvaziamento rápido, paramento de montante.

Para a análise sísmica da barragem, pela metodologia pseudo-estática, foi considerada uma aceleração
máxima na fundação de 255 cm/s2 para a situação de pleno armazenamento. A aceleração máxima de
cálculo foi definida no estudo sismológico realizado, tendo por base o método probabilístico, e
correspondendo a um período de retorno de 1000 anos.

Na Figura 11 apresenta-se alguns exemplos ilustrativos dos cálculos realizados.

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1,711
1,863

a) b)

1,534

c)
Figura 11 – Verificação de segurança ao colapso por perda de estabilidade global. Situação estática. a) Fase de
construção. Talude de jusante. FS = 1,863; b) Pleno armazenamento. Talude de jusante. FS = 1,711; c) Esvaziamento
rápido. Talude de montante. FS = 1,534

5- CONCLUSÕES

No presente artigo sumarizou-se a análise crítica dos elementos geológico-geotécnicos de base e da


conceção e arranjo geral da solução do projeto original.

O modelo geológico-geotécnico desenvolvido no âmbito da revisão de projeto identificou a presença de


camadas arenosas de elevada permeabilidade, com continuidade montante-jusante na margem direita do
vale, zona onde foi definido um tratamento com recurso a parede moldada de betão plástico.

Relativamente aos materiais de construção, existem na área da futura albufeira disponibilidades


superabundantes, pese embora o elevado volume de materiais em questão. Não obstante, a ocorrência
de argilas muito plásticas (de difícil trabalhabilidade, expansivas e com indicadores de dispersividade)
intercaladas com argilas de baixa plasticidade e atividade e com solos areno-argilosos, dificultará os
trabalhos de exploração seletiva dos materiais de aterro. Por este motivo restringiu-se, à partida, a
exploração dos materiais finos à margem esquerda da albufeira, onde se afigura mais fácil a sua
exploração seletiva.

Os estudos de revisão do projeto não contemplavam a realização de trabalhos de prospeção


complementar. No entanto, as incertezas associadas quer às complexas condições de fundação da
barragem quer aos materiais de construção fundamentaram a realização de um programa de prospeção
complementar implementado em duas fases: i. uma primeira acompanhando os estudos de revisão, já
concluída, e que permitiu reduzir significativamente as incertezas relativas às zonas de percolação
preferencial pela fundação da barragem e aos materiais de construção e ii. uma segunda, a realizar antes
do início da obra e do projeto de execução, para ratificação ou retificação dos modelos e soluções do
projeto geotécnico adotados.

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AGRADECIMENTOS

Os autores expressam o seu agradecimento à DGBGTH, pela autorização de divulgação dos dados e dos
trabalhos efetuados no âmbito do Projeto Base da Barragem de Saïda.

REFERÊNCIAS

Aqualogus, (2017) - Barrage Saida et ses Ouvrages de Transfert. Actualisation de l’Avant-Projet Detaille.

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SOLUÇÕES GEOTÉCNICAS ADOTADAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS


SOBRE SOLOS MOLES: REVISÃO DA LITERATURA

GEOTECHNICAL SOLUTIONS FOR CONSTRUCTION OF EMBANKMENTS ON


SOFT SOILS: LITERATURE REVIEW

França, Fagner A. N. de; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, fagneranfranca@gmail.com
Silva, Caroliny A. G.; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, caroliny_azevedo@hotmail.com
Cardoso, Raymison R.; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, raymisonrc@hotmail.com

RESUMO

A construção de aterros sobre solos moles tem sido uma prática cada vez mais comum, visto que o aumento
populacional em todo o mundo impõe a necessidade de melhorias em obras de infraestrutura, adequando
e garantindo espaços para acompanhar esse crescimento. Existem inúmeros estudos relacionados a esse
tipo de obra, buscando descobrir novas tecnologias e aprimorar as técnicas existentes. Esses estudos
permitem ao engenheiro fazer uma melhor análise de qual solução é mais adequada para determinada
situação. Este artigo tem o objetivo de elaborar uma revisão das soluções geotécnicas empregadas para
mitigar os problemas de recalque e ruptura que acometem a construção de aterros sobre solos moles. Para
isso, foram reunidos estudos de caso de obras reais nos quais foram aplicadas algumas destas soluções.
Relataram-se, para cada caso, as condições de aplicação, desempenho e benefícios ou problemas
executivos. A coleta de dados foi realizada no Portal de Periódicos CAPES/MEC, do governo brasileiro, para
o período de 2012 a 2017. Foi possível identificar que alguns métodos podem ser aplicados em conjunto e
que a utilização de drenos verticais pré-fabricados (PVDs) é a técnica mais adotada, seguida de reforço
com geossintéticos. Além disso, concluiu-se que a Ásia foi o continente com maior número de estudos de
construções sobre solos moles, segundo os critérios de busca empregados, e a aplicação em rodovias é a
principal finalidade desse tipo de obra.

ABSTRACT

Building on soft soils has been an increasingly common practice, considering that the population growth
around the world imposes improvements in country infrastructure. There are numerous studies related to
the construction of embankments over soft soils, seeking to investigate new technologies and to improve
the existing techniques. This approach helps the engineer to make a better analysis of which solution is the
most appropriate for a given situation. This paper presents a review of geotechnical solutions used to
mitigate the problems of settlement and failure that affect the design of embankments on soft soils, in
order to gather real case studies in which some of these solutions have been fixed. Reporting, for each
case, the conditions of application, performance and executive benefits. Data was collected at the
CAPES/MEC Portal, a brazilian government platform in which academics can find several distinct journals.
Papers published between 2012 and 2017 were investigated. The results showed that some methods can
be applied altogether and the prefabricated vertical drains (PVDs) are the most widely adopted technique,
followed by geosynthetics reinforcement. It was also concluded that Asia is the continent with the largest
number of studies regarding constructions on soft soils and highways are the main purpose of this type of
work.

1 - INTRODUÇÃO

Pinto (2006) afirma que o objetivo da classificação dos solos, sob o ponto de vista de engenharia, é poder
estimar seu provável comportamento ou, pelo menos, orientar o programa de investigação necessário para
permitir a adequada análise de um problema. Os solos moles apresentam baixa capacidade de carga, baixa
permeabilidade e alta compressibilidade. Quando solicitados por aterros, demonstram problemas de
recalque e instabilidade.

No Brasil, em toda faixa litorânea é comum serem encontrados depósitos que apresentam solos moles em
sua formação, além de regiões próximas a rios. Os estudos mostram aterros com diversas funções, como
as rodovias, entre o Sul e Nordeste do país; e edificações, devido a ocupação, em Santos e no Rio de
Janeiro (Futai, 2010).

Aterros sobre solos moles podem ser construídos aplicando-se diversos métodos construtivos, que
estabelecem dificuldades extras às análises de recalques, mas que viabilizam, em muitos casos, as
construções sobre este tipo de solo (Teixeira, 2012). O objetivo dos reforços é diminuir as forças que
causam a ruptura e aumentar as forças resistentes.

Nesse contexto, a construção de aterros sobre solos moles exige um estudo detalhado dos parâmetros
geotécnicos, bem como do mercado atual da engenharia, no que diz respeito a valores, disponibilidade e
prazos, além das limitações impostas ao uso do meio ambiente.

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Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura sobre as soluções geotécnicas adotadas
para a construção de aterros sobre solos moles e reunir estudos de caso com suas aplicações reais em
campo. Os estudos de caso apresentados foram abordados em artigos científicos, teses e dissertações
encontrados na plataforma científica do Portal de Periódicos CAPES/MEC, do governo brasileiro. São
relatadas suas aplicações, desempenhos diante da finalidade da obra e benefícios ou problemas executivos.

2 - REVISÃO DA LITERATURA

Massad (2010) afirma que solos moles são os solos sedimentares com baixa resistência a penetração
(valores de SPT não superiores a 4 golpes), em que a fração argila imprime as características de solo
coesivo e compressível. São em geral, argilas moles ou areias argilosas fofas, de deposição recente, isto
é, formadas durante o quaternário.

Comuns em todo o litoral brasileiro e em regiões lacustres, os depósitos de solos moles ganharam destaque
no Brasil e no mundo, devido ao aumento da densidade populacional dos centros urbanos. Com isso,
tornou-se imprescindível a expansão e o melhoramento da infraestrutura de transportes dos países, sendo
necessário a construção de aterros sobre solos instáveis que, hoje em dia, são comuns na Engenharia
Geotécnica. Práticas de construção deficientes nesse tipo de trabalho podem levar a falhas ou deformação
excessiva do aterro, o que pode comprometer a sua função (Araújo et al., 2012).

A problemática desse tipo de obra envolve não apenas recalques excessivos, como também a ocorrência
de ruptura. Os recalques são possibilitados pela alta compressibilidade, que pode causar grandes
deformações, enquanto que a ruptura da estrutura ocorre devido à baixa resistência não drenada desse
tipo de solo, que pré-determina um nível de carregamento máximo a ser colocado.

O reforço do solo torna-se indispensável em situações onde há a possibilidade de recalques perceptíveis ou


ruptura, e sua função é promover o melhoramento das características do solo, como resistência ao
cisalhamento, compressibilidade, capacidade de carga e densidade.

Diversas técnicas executivas são aplicadas e estudadas no mundo todo. A Figura 1, adaptada de Leroueil
(1997), mostra um resumo das soluções mais comuns e clássicas que ajudam no beneficiamento do solo,
indicadas para problemas de estabilidade e recalque.

Figura 1 – Técnicas executivas de aterros sobre solos moles. Fonte: Leroueil, 1997. Adaptado pelo autor

Algumas dessas técnicas ainda são ineficazes para finalidades específicas, e de custo elevado, o que
desperta o interesse em estudar o funcionamento de novos materiais e tratamentos. A seguir, serão
apresentadas as soluções geotécnicas abordadas nos estudos de caso coletados ao longo da pesquisa.

2.1. Sobrecarga

Também conhecida por pré carregamento, o DNER (1998) explica o processo como “aplicar uma sobrecarga
temporária, em geral da ordem de 25 a 30% do peso do aterro para acelerar os recalques”. A verificação
em campo dos recalques e poropressões, juntamente com estudos de adensamento, determinam o tempo
de permanência dessa sobrecarga.

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A sobrecarga, ao ser aplicada, gera um excesso de poropressão que é transmitida aos grãos do solo, ao
mesmo tempo que a água é expulsa e os grãos tornam-se mais próximos, aumentando a resistência do
solo e provocando recalques aos longo do tempo, até estabilizar. É um método clássico e tradicional, além
de ser econômico. Porém, em regiões com camadas profundas de solo mole, pode não ter efeito significativo
e provocar falhas que levam a ruptura do aterro. Além de que, devido à baixa permeabilidade e ausência
de um sistema de drenagem eficiente, o tempo de estabilização pode ser muito maior que o esperado.

Desse modo, ainda é bastante combinado aos drenos verticais pré-fabricados, para juntos desempenharem
a função de manter o aterro dentro dos limites de recalque e ruptura. O que dificulta a utilização dessa
técnica, é o fato de ela necessitar de bermas de equilíbrio, maiores alturas, não garantir grande estabilidade
e apresentar maior movimentação lateral.

2.2. Pré-carregamento a vácuo

O pré-carregamento a vácuo é adotado para situações em que não permite grandes sobrecargas e o
cronograma é curto. Isso se deve ao fato desta técnica reduzir a poropressão enquanto mantém a tensão
total constante. Seu efeito é equivalente ao da aplicação de uma sobrecarga adicional ao solo, o que é,
frequentemente, feito nas fases iniciais para satisfazer os requisitos de segurança (Zhuang e Cui, 2016).

Essa solução é, geralmente, aplicada de maneira associada aos drenos verticais. A técnica consiste na
aplicação de uma pressão constante e sucessiva de vácuo, que chega à camada de solo por meio dos
drenos, os quais também conduzem a água que é expulsa ao passo que a poropressão é reduzida, sendo
a tensão efetiva aumentada na mesma proporção e a tensão total invariável. Tudo isso ocorre através de
um dispositivo de ar-água que interliga o sistema. A combinação, pré carga a vácuo + PVD, é considerada
um dos métodos de melhoramento mais baratos existentes atualmente e tem sido amplamente utilizado.

Em relação ao processo de sobrecarga, o pré carregamento a vácuo dispensa a construção de bermas de


equilíbrio e utilização de material de aterro adicional, diminui a sobrecarga, demonstra melhor controle de
estabilidade, menor movimento lateral e um tempo de construção mais acelerado. Pode ser utilizado com
ou sem membrana.

2.3. Drenos verticais pré-fabricados (PVDs)

O processo executivo dos drenos verticais pré-fabricados consiste em um furo feito no solo por um mandril,
envolvido por uma membrana geotêxtil, que atua permitindo a passagem de água entre os poros e retendo
o material argiloso. O objetivo de sua aplicação é reduzir o comprimento de drenagem, reduzindo também
o tempo de consolidação.

A perfuração gera um estresse no solo, principalmente próximo ao mandril. Essa perturbação significativa
pode diminuir a permeabilidade do solo na região afetada, chamada de smear zone (Pajouh, 2014). A
Figura 2 mostra a indicação da smear zone no dreno vertical pré-fabricado.

Zona intacta

Smear zone

PVD

2.a 2.b

Figura 2 – PVD com indicação de zona perturbada: 2.a) dreno instalado, 2.b) perfil A-A. Fonte: Pajouh (2014)

Podem estar associados a outras técnicas que resultem em parâmetros do solo mais aceitáveis.
Concomitantemente ao pré carregamento à vácuo, os drenos transmitem a pressão a vácuo para as
camadas de solo mais profundas, reduzindo o tempo de consolidação do solo e de finalização da construção.
Por não influenciar na estabilidade da inclinação, os PVDs se associam à colunas de brita e estacas, por
exemplo, para garantir que não ocorra o rompimento da estrutura. Além disso, o uso combinado com
camadas de geossintéticos pode reduzir significativamente os deslocamentos, tensões e os momentos de
flexão sobre as estacas de fundação.

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2.4. Geossintéticos

A Associação Brasileira de Geossintéticos define-os como “produtos industrializados com pelo menos um
de seus componentes fabricado com polímero sintético ou natural. Apresentam-se na forma de manta, tira,
ou estrutura tridimensional, e são utilizados em contato com o solo ou com outros materiais em aplicações
da engenharia civil, geotécnica e ambiental.”

Os geossintéticos tem sido amplamente utilizados para reforço do solo por apresentarem praticidade,
economia, facilidade de execução e eficiência, além de estarem dispostos em diversas opções que se
adaptam a qualquer situação. Camadas desse reforço são introduzidas horizontalmente sob uma camada
de solo bem compactada, para promover a distribuição das tensões horizontais, aumentando a capacidade
de carga do maciço e prevenindo a ruptura.

Palmeira (1999) diz que os benefícios da presença desse reforço são: distribuição de tensões mais favorável
para o solo mole; aceleração do processo de adensamento, caso o reforço seja drenante; execução de
taludes mais íngremes; e aumento do fator de segurança.

Podem atuar simultaneamente junto aos PVDs, colunas de brita, estacas, aterros leves e outras técnicas
usuais. Diante de uma classificação de diversos tipos de geossintéticos, os principais utilizados em solos e
que atuam como reforço são os geotêxteis, geogrelhas e geocélulas.

2.5. Colunas de brita

Segundo Etezad et al. (2014) as colunas de brita são feitas de agregado compactado, encamisadas com
um tecido geossintético para evitar a colmatação e são instaladas em solos moles como reforços para
aumentar a resistência ao cisalhamento da massa do solo e, consequentemente, a sua capacidade de carga.

Assim como os drenos verticais pré-fabricados, as colunas de brita proporcionam um encurtamento do


caminho de drenagem, aumentando a taxa de consolidação e acelerando os recalques. Além disso, é vista
como uma técnica econômica e prática.

Na constante busca por melhorias, estudos mostram adaptações a esse método, como é o caso de colunas
de brita argamassadas, que consiste em adicionar argamassa à coluna, por injeção, cujo objetivo é reduzir
o assentamento pós-construção. Também é interessante o uso de placas centralizadas no topo das colunas,
isso possibilita uma maior transferência de carga para as pilhas (Liu, 2015).

2.6. Colunas de areia

São usualmente praticadas relacionadas a sobrecargas, para acelerar o processo de recalque. Do mesmo
modo que os PVDs e as colunas de brita, as colunas de areia também são encamisadas com geossintético
e auxiliam na rápida dissipação do excesso de poropressão, com a diminuição do percurso de drenagem.
São geralmente empregadas como uma alternativa barata e em substituição as colunas de brita.

Também apresentam o efeito da chamada “smear zone” que, como relatada anteriormente, resulta em
uma diminuição do coeficiente de permeabilidade na região perturbada.

Falhas frequentes são relatadas e Al Saudi et al. (2016), diz que uma das desvantagens da areia é o seu
menor ângulo de atrito interno e menor rigidez em relação à brita. Isso implica em resultados desfavoráveis
e causam desinteresse para sua utilização, tendo em vista as diversas opções de técnicas eficientes que
estão em constante aperfeiçoamento.

2.7. Substituição de solo

Este é um método eficaz e rápido, porém a remoção da camada de solo mole para substituição por materiais
alternativos depende de sua espessura, pois a relação custo/benefício precisa ser analisada. Camadas
profundas necessitam de mais mão de obra especializada e mais material para preenchimento, além de
ocasionar um grande impacto ambiental, devido a exigência de encontrar um local adequado para
deposição do material retirado.

De acordo com Almeida e Marques (2010), é uma técnica utilizada para camadas de solo mole de até 4,0m
de espessura. O processo executivo consiste na formação de um aterro de conquista com o material que
preencherá a escavação, para permitir a circulação dos equipamentos sem danos ao solos. Em seguida, é

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feita a remoção do solo acompanhada do uso de drenos e bombas que desviam a água da escavação. Por
fim, preenche-se com o material escolhido, que é compactado em etapas.

2.8. Bermas de equilíbrio

Conforme o DNER (1998) é um procedimento utilizado para estabilizar e suavizar a inclinação de um talude,
aumentando seu fator de segurança. O processo é realizado por tentativas, alterando a geometria até se
obter o fator de segurança desejado.

Garantem a estabilidade do aterro, evitando a ruptura em casos que sua altura seja superior a altura crítica
do aterro. Os principais fatores de restrição para o emprego desta técnica são a quantidade de material de
aterro necessário e a obrigação de áreas laterais para sua implantação.

O processo de execução do aterro apoiado por bermas compreende, inicialmente, a construção da primeira
camada com altura menor que a altura crítica do aterro, e as bermas laterais de mesma altura para
contrapeso. Logo depois, o aterro é finalizado com a altura prevista. A sobrecarga gera uma superfície de
ruptura, inibida pelo peso das bermas, promovendo a estabilidade do solo.

2.9. Estacas

O aterro estruturado sobre estacas transmite o carregamento para o solo mais resistente, localizado abaixo
da camada de solo mole, através de capitéis ou laje sobrepostos às estacas. É comum a utilização
simultânea com geossintéticos.

O processo construtivo baseia-se na execução de estacas sobre as quais são assentados capitéis em
concreto. Posteriormente, é disposta uma camada de geossintético em toda a extensão da base sob o
aterro final, que permite maior espaçamento entre as estacas, redução das dimensões dos capitéis e
neutraliza o empuxo horizontal do maciço. Quando o geossintético não é utilizado, as estacas das
extremidades do grupo precisam estar inclinadas.

Entre os inúmeros tipos de estacas encontrados, serão citadas as que foram abordadas nos artigos em
estudo. Zhang et al. (2015) apontou que as estacas chamadas de colunas de mistura profunda ou deep
mixed (DM) podem ser fabricadas por mistura mecânica de solo in situ com cimento ou outros agentes. Já
as estacas de concreto de grande diâmetro (PCC), em comparação com as de alta resistência (PHC) e a de
cascalho com cimento (CFG), tornou-se mais econômica, por utilizar menos barras de reforço e menos
concreto (ZHOU et al., 2016).

Para Cheng et al. (2014), a combinação entre geossintético e estaca, chamada GRCS (geosynthetic-
reinforced and column-supported) pode, de fato, aliviar as tensões em aterros e ser uma medida eficiente
e econômica.

Os fatores que influenciam no desempenho dessa solução são, basicamente, iguais aos PVDs e colunas de
brita e areia. São eles: o tipo de arranjo, triangular ou quadrado, o diâmetro da estaca e ao espaçamento
entre elas.

2.10. Jet grouting

Jet grouting são colunas de solo-cimento que consistem na introdução de um jato da pasta de cimento no
terreno, a altas pressões, grandes velocidade e impacto, desagregando o solo e misturando-se a este. Isso
produz uma coluna de jato de forma cilíndrica, que melhora as propriedades mecânicas e de permeabilidade
do solo.

Primeiramente é feito um furo com perfuratriz, até a cota final. Em seguida, inicia-se, de baixo para cima,
a injeção da calda de cimento que se mistura ao solo por movimentos rotativos, até a base. Essa técnica
por ser utilizada em qualquer tipo de solo, sendo muito eficiente nos solos moles.

Segundo a norma europeia EN 12.716 (2001), a técnica pode ser classificada em três tipos, de acordo com
o número de fluidos injetados no subsolo:

 Fluido único: uma mistura de água/cimento é injetada para quebrar e, simultaneamente,


misturar o solo in-situ. Os diâmetros variam de 0,40 a 1,00 metro.
 Fluido duplo: uma combinação de ar e mistura de água/cimento é injetada para quebrar e,
simultaneamente, misturar o solo in-situ. Variação de diâmetro entre 0,80 e 2,50 metros.

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 Fluido triplo: uma combinação de jato de água/ar é usada para quebrar e remover
parcialmente o solo in-situ, enquanto a mistura do solo é assegurada por uma menor injeção
de água/cimento.

O contínuo estudo por novas tecnologias fez surgir o método horizontal de duplo jet grouting, que utiliza
ar comprimido e dois tipos de ligantes (cimento e silicato de sódio), injetados separadamente através dos
diferentes canais de hastes de fluido triplo (WANG et al, 2013).

2.11. Aterros leves

Esse tipo de solução faz uso de materiais chamados de leves no corpo do aterro, que permitem aliviar as
cargas verticais, evitando grandes assentamentos e perda de estabilidade, e acelerando o tempo de
construção. A Figura 4 mostra um esquema de comparação da funcionalidade entre o material tradicional
e o leve.

Figura 4 – 4.a) Diagrama de carga e assentamentos para aterro com material tradicional; 4.b) Diagrama de carga e
assentamentos para aterro com material leve. Fonte: Reis e Ramos, 2009

O método executivo começa com o nivelamento do terreno para depois ser posicionado o material leve.
Logo após, é ideal a utilização de um geossintético para proteção do material contra ataques químicos e
uniformizar a distribuição das cargas no material leve. Por fim, é executado o aterro que terá uma redução
considerável da pressão de superfície.

Esses materiais tem como característica principal o baixo peso específico, devido a elevada porosidade. Os
mais conhecidos e utilizados são o poliestireno expandido (EPS), argila expandida, e espuma de vidro
(Patriarca, 2012), mas também há estudos com pneus picados, serragem e tubos de concreto vazados.
Neste artigo, o estudo de caso com material leve, trata-se do GCM, um tapete celular em que sua estrutura
permite o livre fluxo de água enquanto iguala qualquer assentamento diferencial e que atendeu as
exigências de projeto (Wijeyesekera et al., 2016).

Para evitar rupturas é necessário proteger o material leve com mantas impermeabilizantes na parte
superior, para evitar contato com material solvente; fixa-lo, para evitar deslocamentos; e promover o uso
conjunto com geodrenos na base do aterro, para a remoção de água em caso de elevação do nível da água.

3 - MATERIAIS E MÉTODOS

A busca persistente por estudos de caso, com aplicações em campo, que apresentassem situações de
construção sobre solos moles se deu por meio eletrônico, no sítio do Portal de Periódicos CAPES/MEC. A
plataforma, totalmente financiada pelo governo brasileiro, “é uma biblioteca virtual que reúne e
disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional.”
(CAPES).

A procura foi realizada entre os meses de março e abril de 2017, visando acumular trabalhos publicados
entre os anos de 2012 e 2017. Portanto, ainda que as obras tenham sido realizadas antes desse período,
as medidas mitigadoras foram adotadas há pouco tempo e os resultados são recentes.

Fez-se uma pré-seleção de mais de 70 artigos com o tema em questão, disponibilizados na plataforma de
estudos escolhida, seguida de uma leitura objetiva de cada um. Assim, puderam ser identificados aqueles
que abordavam estudos de campo com situações reais e, posteriormente, analisados seus desempenhos.

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Diante das inúmeras produções coletadas para a época e biblioteca virtual determinadas, foram
descartadas aquelas que tratavam apenas de estudos empíricos, em laboratório. Dessa maneira, a
prioridade foi para as produções que compreendiam construções sobre solos moles com aplicações reais
das soluções em campo. Dos 22 trabalhos identificados com essa característica, resultaram 24 estudos de
caso, que estão dispostos a seguir, com suas finalidades, localização e conclusão.

O propósito das construções variaram entre infraestrutura de transportes, aterro de ensaio e central
nuclear. As conclusões foram influenciadas pelas condições nas quais a solução foi submetida, no que diz
respeito a finalidade da obra, parâmetros do solo e execução, bem como as limitações de cada uma.

A Figura 5 apresenta o número de casos de obra em relação ao tipo de estrutura em construção. Percebe-
se claramente a preponderância de casos de execução de aterros sobre solos moles na construção de
rodovias. Isso pode ser devido a sua grande extensão, comumente atravessando terrenos diversificados.
A Figura 6, por sua vez, indica o número de casos de obra considerados neste estudo em função do
continente em que foram executados. Verificou-se um maior número de estudos referentes à obras
executadas no continente asiático.

12
NÚMERO DE CASOS

10
8
6
4
2
0
Rodovia Ferrovia Ponte Metrô Aterro de Cais Central Porto
ensaio nuclear
TIPO DE CONSTRUÇÃO

Figura 5 – Número de casos por tipo de construção. Fonte: Autor

15
NÚMERO DE

10
CASOS

5
0
Ásia Oceania África América Europa
CONTINENTE

Figura 6 – Número de casos por continente. Fonte: Autor

Na Tabela 1, são exibidos casos em que foram utilizados drenos verticais pré-fabricados, solução mais
adotada, seguida dos geossintéticos, na Tabela 2. A Tabela 3, mostra cenários em que foram empregadas
colunas de jet grouting, estacas e pré-carregamento a vácuo. A Tabela 4 retrata os métodos de substituição
de solo, berma de equilíbrio, aterro leve, sobrecarga, colunas de brita e areia. Essa última, reúne as técnicas
menos aplicadas, diante da amostragem que foi estudada.

Salienta-se que esses artigos foram selecionados em uma única biblioteca virtual, a plataforma de
periódicos da CAPES, para o período de divulgação entre 2012 e 2017. Foi estabelecido o critério de
contabilizar apenas aqueles que citavam situações de obras reais.

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Tabela 1 – Resumo das pesquisas realizadas sobre drenos verticais


SOLUÇÃO REFERÊNCIA FINALIDADE LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS CONCLUSÕES
Zuang e Cui - O recalque na superfície aumentou à medida que o comprimento e o coeficiente de
Rodovia Jiangdong, China
(2016) permeabilidade aumentaram, e diminuiu com o aumento do espaçamento entre os PVDs.

- O solo se tornou cada vez mais perturbado em direção ao dreno.


Rujikiatkamjorn e
- A compressibilidade do solo, o histórico de tensões e as características da zona perturbada
Indraratna Rodovia Ballina, Austrália
foram fatores significativos que influenciaram a consolidação de argilas moles estabilizadas com
(2015)
PVD.
- O máximo de poropressão ocorreu no final do processo de construção.
Cumbalum,
Pajouh (2014) Rodovia - Os recalques calculados e medidos tiveram pouca diferença, sendo o observado em campo
Austrália
maior que o calculado, ao final da construção.
Costa Sunshine, - Em fase inicial, o recalque medido foi 60% menor que o previsto.
Pajouh (2014) Rodovia
Austrália - Em fase final, a diferença entre os recalques medidos e previstos foi de 10%.
DRENOS Chittagong,
VERTICAIS PRÉ Pajouh (2014) Porto - A maior parte dos recalques ocorreram na fase de pré-carga.
Bangladesh
FABRICADOS - Espaçamentos maiores entre drenos reduziram a taxa de assentamento;
Zhou (2016) Ponte Xangai, China
- A maior parte dos recalques ocorreram durante o período de pré-carregamento.
- Ocorreu aumento inesperado de poropressão e movimento horizontal em forma de arco no pé
Xue (2014) Rodovia Xangai, China do talude;
- A falha pode ter sido causada por uma desativação manual dos drenos durante a construção.

Araújo et al. Santa Catarina, - Reduziu os deslocamentos horizontais na região das estacas da ponte mais próximas ao pé do
Rodovia
(2012) Brasil aterro.
- Atingiu um grau de consolidação de 90% em 1 ano;
Ni (2012) Ferrovia Sangdate, Austrália - Os PVDs diminuíram os movimentos laterais em 25-30%, de acordo com o espaçamento do
dreno.
Ho Chi Minh, - A influência da espessura de PVD (3 mm ou 7 mm) foi desprezível. O PVD com 3 mm teve
Long (2015) Rodovia
Vietnam desempenho melhor que o de 7 mm.

Tabela 2 – Resumo das pesquisas realizadas sobre geossintéticos


SOLUÇÃO REFERÊNCIA FINALIDADE LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS CONCLUSÕES
- 13,6% do recalque final ocorreu durante o período de construção do aterro;
Liu (2015) Rodovia Ningbo, China - A relação poropressão/tensão vertical foi de 0,18, valor menor que o limite máximo de
0,34 recomendado. O aterro estava longe de falha;

- O reforço acilitou grandemente a construção do aterro, sem recalques diferenciais


Benmebarek et. Chott El Hodna, significativos;
GEOSSINTÉTICO Rodovia - Quando a rigidez do geossintético variou de 500 a 2000 kN/m, reduz os recalque
Al. (2015) Argélia
diferenciais na base do aterro.
- O reforço foi útel para proporcionar drenagem e reduzir a poropressão em excesso na
Rio Grande Do camada de argila;
Schnaid (2017) Ponte - Reduziu a magnitude dos recalques e a pressão horizontal máxima da terra que atua sobre
Sul, Brasil
estruturas adjacentes.

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- Não teve efeito benéfico significativo em termos de redistribuição da tensão de


Taechakumthorn e cisalhamento na fundação solo;
Aterro de ensaio Quebec, Canadá
Rowe (2012) - Não foi rígido suficiente para evitar o início da falha da fundação, e não foi forte para
controlar a falha uma vez que iniciada.
- O recalque máximo pôde ser reduzido em 10% a longo prazo;
Zhang (2015) Central nuclear Qinshan, China
- Aumentou o fator de segurança.
Araújo et al Santa Catarina, - Os resultados obtidos sugerem que as camadas de reforço não seriam necessárias.
Rodovia
(2012) Brasil
- O alongamento da geogrelha aumenta com a altura de construção;
Cheng (2014) Ferrovia Chaoshan, China - A taxa de assentamento e a tensão da geogrelha localizada no solo entre estacas são
maiores do que os valores correspondentes no topo da estaca.
- Os recalques medidos foram cerca de 70 e 80% das previsões teóricas;
Alston et al (2015) Cais Hamilton, Canadá - A solução resultou em uma economia de custo de cerca de 60% em comparação com o
sistema de fundação inicialmente recomendado.

Tabela 3 – Resumo das pesquisas realizadas sobre jet grouting, estacas e colunas de brita
SOLUÇÃO REFERÊNCIA FINALIDADE LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS CONCLUSÕES

- O deslocamento da superfície e lateral do solo foi menor que o máximo permitido;


Wang (2013) Linha 11 Metrô Xangai, China
- A poropressão aumentou durante a injeção e diminuiu durante a remoção da haste;
JET GROUTING
- O aterro foi elevado para compensar os assentamentos;
Wu (2016) Rodovia Jiangsu, China - Os valores médios medidos em campo são cerca de 60% menores que os valores
estimados.
- O recalque foi acelerado com o aumento do diâmetro das colunas DM;
Zhang et al
Ponte Xangai, China - O grau de permeabilidade da coluna teve grande influência no recalque quando inferior
(2015)
a 1/100 do grau de permeabilidade do solo.
Pequim-Xangai, - Desempenho satisfatório, devido ao arranjo triangular das estacas, ao grande diâmetro,
Zhou (2016) Ferrovia
China à parede grossa da estaca e ao espaçamento entre elas.
ESTACAS - Cerca de 75% do recalque total medido ocorreu nos dois primeiros anos;
Di et al (2016) Metrô Nanjing, China
- A profundidade das estacas foi insuficiente.
- A razão de tensão estaca-solo aumentou com o tempo e a carga;
- Ao término da construção, a razão de tensão estaca-solo atinge 17, o que indica que a
Cheng (2014) Ferrovia Chaoshan, China
maioria da carga é suportada pelas estacas;
- A tensão no solo entre estacas foi maior que a tensão no topo delas;
Zuang e Cui - Atingiu grande parte do grau de consolidação final previsto ainda na fase de pré-
Rodovia Jiangdong, China
(2016) carregamento à vácuo.
PRÉ CARREGAMENTO
A VÁCUO Ho Chi Minh, - A consolidação à vácuo com membrana permitiu um grau de consolidação de mais de
Long (2015) Rodovia
Vietnam 90% em menos de 8 meses.

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Tabela 4 - Resumo das pesquisas realizadas sobre substituição de solo, berma de equilíbrio, aterro leve, sobrecarga, pré-carregamento a vácuo e colunas de
areia
SOLUÇÃO REFERÊNCIA FINALIDADE LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS CONCLUSÕES
- Reduziu o recalque da fundação em cerca de 50% e aumentou a capacidade de carga em
SUBSTITUIÇÃO DE cerca de 100%;
Ali (2015) Aterro de ensaio Borg Al-Arab, Egito
SOLO - A capacidade de carga aumentou com o aumento da espessura da camada de substituição
de areia compacta.
BERMA DE Araújo et al Santa Catarina, - Foi utilizada devido à baixa resistência à tração da geogrelha na direção transversal;
Rodovia
EQUILÍBRIO (2012) Brasil - O comprimento utilizado foi conservador. Metade desse comprimento seria suficiente.
- Reduziu o recalque no solo em 41%, usando GCM com 0,6 m + 0,4 m de areia;
ATERRO LEVE Wijeyesekera
Rodovia Johor, Malásia - A estrutura celular do material leve inovador funcionou bem na redução da flutuação,
(GCM) (2016)
permitindo o fluxo de água através dela.
- O solo se tornou cada vez mais perturbado em direção ao dreno.
Rujikiatkamjorn e
- A compressibilidade do solo, o histórico de tensões e as características da zona perturbada
SOBRECARGA Indraratna Rodovia Ballina, Austrália
foram fatores significativos que influenciaram a consolidação de argilas moles estabilizadas
(2015)
com PVD.
- Não funcionaram com sucesso como esperado;
COLUNAS DE Bouassida e Klai - O objetivo era obter um grau de consolidação de 90% em seis meses, mas os registros
Ponte La Charguia, Tunísia
AREIA (2012) em campo mostraram apenas 80% durante oito meses.
- 13,6% do recalque final ocorreu durante o período de construção do aterro;
- A relação poropressão/tensão vertical foi de 0,18, valor menor que o limite máximo de
COLUNAS DE
Liu (2015) Rodovia Ningbo, China 0,34 recomendado. Assim, o aterro estava longe de falha;
BRITA
- O uso de tampas de coluna permite que quase o dobro da carga seja transferida para as
colunas.

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5 - CONCLUSÃO

Este artigo fez uma revisão das soluções geotécnicas empregadas para atenuar problemas de recalque e
ruptura em construções sobre solos moles, com o objetivo de reunir estudos de caso concretos e existentes
em todo território mundial, nos quais foram aplicadas algumas destas soluções. A plataforma de pesquisa
escolhida foi o Portal de Periódicos CAPES/MEC para o período estabelecido entre 2012 e 2017. As tabelas
evidenciam que cada situação de reforço apresentou uma conclusão específica, que variou de acordo com
o tipo de construção, os parâmetros geotécnicos do solo, os cuidados durante a execução e as limitações
da própria solução. Em sua maioria, os resultados foram positivos e os métodos aplicados atingiram a
expectativa desejada.

Baseado no que foi apresentado neste trabalho, fica evidente que o melhoramento em solos moles é
possível quando se escolhe a técnica mais adequada para as condições impostas pelo solo e ambiente, e
que é comum a prática conjunta entre algumas delas. Além disso, é extremamente necessário o
monitoramento do reforço, para analisar se o solo irá resistir e suportar a carga a qual foi submetido, sem
que ocorram falhas significativas. Caso ocorram, uma intervenção deverá ser realizada para desacelerar
os danos. Diante do exposto, percebe-se que a busca por novas soluções e aprimoramento das técnicas já
existentes tem crescido bastante, visando atingir e melhorar um número cada vez maior de regiões sobre
solos moles e, assim, permitir o maior desenvolvimento territorial de todas as nações.

6 - REFERÊNCIAS

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BARRAGENS E ATERROS | 16 CNG
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562
563
FUNDAÇÕES,

ESCAVAÇÕES E OBRAS

SUBTERRÂNEAS
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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE COMPARADA DE MÉTODOS EMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA


CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS

COMPARATIVE ANALYSIS OF EMPÍRICAL METHODS FOR ASSESSMENT OF


PILE BEARING CAPACITY

Pires, Luís; FCTUC, Coimbra, Portugal, luisfmsp@gmail.com


Grazina, José; Coimbra, Portugal, graza@dec.uc.pt
Pinto, Paulo; FCTUC, Coimbra, Portugal, ppinto@dec.uc.pt

RESUMO

O valor da capacidade de carga de estacas pode ser definido através da aplicação de métodos empíricos
aos resultados de ensaios de carga estática. Os métodos mais usualmente utilizados são os que se baseiam
em critérios de assentamento limite e em critérios de carga limite, sendo alguns deles transpostos em
documentos normativos em diversos países, tais como Brasil, EUA, França e China. Em alguns casos, a
aplicabilidade destes métodos depende da forma de execução dos ensaios de carga e dos valores dos
assentamentos aí atingidos, assim como da geometria das estacas. Neste artigo são apresentados os
resultados da aplicação de diversos métodos empíricos na avaliação da capacidade de carga de 6 estacas
moldadas, com 3 configurações geométricas diferentes. As estacas foram executadas em condições
geológico-geotécnicas semelhantes e submetidas a ensaios com patamares de carga crescentes. Os
resultados obtidos pelos métodos são analisados e comparados entre si salientando-se, nesta análise, os
métodos mais e menos conservativos na obtenção da capacidade de carga, sendo também avaliada a sua
aptidão na determinação dos assentamentos correspondentes à rotura.

ABSTRACT

The bearing capacity of piles can be determined using empirical methods based on results of static loading
tests. The most commonly used methods are those related to settlement limit and to load limit criteria,
which are in some cases transposed to normative codes in several countries such as Brazil, USA, France
and China. The appropriateness of those methods depends on how the loading tests were performed, the
maximum reached pile settlement and the piles’ geometry. This paper presents results of the use of several
empirical methods for assessment of bearing capacity of 6 cast in-situ piles with 3 different sets of
geometry. These piles were installed in similar ground conditions and subjected to maintained loading tests.
The results obtained by the several methods are then compared among themselves, and their ability to
determine the settlements corresponding to failure is also accessed.

1- INTRODUÇÃO

A forma mais comum de avaliar o comportamento das estacas é através da realização de ensaios de carga
estática, sendo de notar, contudo, que os ensaios de carga dinâmicos têm sido usados cada vez com maior
frequência. Nos casos de ensaios de carga axial, para além de se obter a relação entre as cargas aplicadas
e os assentamentos, o principal objetivo é o de se conseguir determinar (ou estimar) a carga de rotura da
estaca. Na grande maioria dos casos a rotura não é evidente nas curvas Carga-Assentamento, recorrendo-
se a critérios que a relacionam com assentamentos limite, considerados representativos da rotura, assim
como a critérios que definem a carga de rotura com base na evolução das curvas dos ensaios, geralmente
apoiados por transformações matemáticas de linearização e/ou extrapolação dessas curvas. Existem
também métodos específicos para ensaios de tração, tais como o proposto por Kulhawy et al. (1983) mas
que saem fora do âmbito deste trabalho.

Nos pontos que se seguem, são apresentados os aspetos mais relevantes de alguns dos métodos mais
frequentemente usados para definir a carga de rotura, sendo posteriormente aplicados a seis ensaios de
carga realizados sobre estacas moldadas executadas num terreno argiloso. Os resultados da aplicação
destes métodos permitem avaliar a sua tendência na quantificação da carga de rotura, como também
evidenciar algumas das suas limitações.

2- CASO DE ESTUDO

O caso de estudo consiste num conjunto de ensaios de carga estática realizados em seis estacas, que são
parte constituinte de um sistema de fundações de uma estrutura desportiva de grande envergadura
localizada no Médio Oriente. As estacas são de betão armado, com propriedades mecânicas

565
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

correspondentes à classe de betão C20/25, executadas pelo processo de moldagem in-situ com extração
de solo. O maciço é constituído por um solo predominantemente argiloso e, dada a proximidade entre as
estacas, assumido com características comuns em todos os casos. No conjunto das 6 estacas existem 3
configurações geométricas distintas, com comprimentos de 20 m e 25 m e diâmetros de 1,0 m e 1,2 m.
Na Figura 1 estão representados os resultados dos ensaios SPT executados em duas sondagens na
proximidade da implantação das estacas. O nível freático encontrava-se a cerca de 2,40 m de profundidade.
NSPT
0 10 20 30 40 50
0

5 Ensaios 1 e 2 Ensaios 3 a 6

10

15
Profundidade. (m)

20

25

30

35

Figura 1 – Resultados das sondagens SPT

A metodologia de execução dos ensaios, com exceção do Ensaio 4, consistiu na aplicação de patamares de
carga seguindo os procedimentos do ensaio lento referido na norma ASTM D 1143-07 (2013). A sequência
de aplicação das cargas foi a seguinte: (1) fase de carga até 100% do valor de dimensionamento (Q dim);
(2) fase de descarga; (3) fase de recarga/carga até 200%Qdim; (4) fase de descarga final. Nas fases de
carga/recarga foram aplicados patamares com incrementos de 25%Qdim, enquanto as descargas foram
executadas em patamares de 50%Qdim. Quanto ao Ensaio 4, após a fase (3) de recarga/carga até
200%Qdim, o ensaio prosseguiu de forma rápida com aumento da carga em patamares de menor duração,
até um valor de 300%Qdim, podendo-se classificar este ensaio como misto. Em todos os ensaios a
instrumentação utilizada permitiu o registo das cargas aplicadas e dos assentamentos no topo das estacas.

No Quadro 1 são apresentadas as características geométricas das estacas ensaiadas, os valores das cargas
de serviço ou de dimensionamento (Qdim) e respetivos assentamentos (sdim), assim como os valores das
cargas máximas aplicadas (Qmax) e respetivos assentamentos registados (smax). Na Figura 2 são
apresentadas as curvas Carga-Assentamento registadas durante os 6 ensaios.

Quadro 1 – Características das estacas ensaiadas, cargas e assentamentos atingidos nos ensaios
Dimensões da estaca Dimensionamento Valores de Ensaio de Carga
D L Qdim sdim Qmáx Qmáx/Qdim smáx
Ensaio
(m) (m) (kN) (mm) (kN) (%) (mm)
1 1,00 20 2158 2,3 4316 200 11,4
2 1,00 20 2158 2,9 4316 200 18,7
3 1,20 25 3434 16,9 6867 200 77,6
4 1,20 25 3434 3,3 10301 300 54,8
5 1,20 25 3434 2,4 6867 200 18,5
6 1,00 25 2698 2,9 5396 200 13,0

566
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Pela análise da figura, comparando as curvas correspondentes a estacas com a mesma geometria, constata-
se que as estacas dos Ensaios 4 e 5 têm curvas com evoluções semelhantes, com a estaca do Ensaio 5 a
apresentar a maior rigidez inicial de todo o conjunto ensaiado. Contudo, ambas têm rigidez bastante mais
elevada do que a estaca do Ensaio 3, com a mesma geometria, que apresenta uma quebra súbita de rigidez
para cargas superiores a 2575 kN, pelo que é de prever a obtenção de cargas de rotura significativamente
mais baixas para este caso. Pelo andamento da curva é expectável que este tipo de comportamento se
fique a dever a uma resistência de ponta reduzida, possivelmente causada por deficiências na execução
desta estaca. Também em relação aos Ensaios 1 e 2 é visível uma diferença de rigidez entre as estacas,
com a estaca do Ensaio 1 a apresentar a maior rigidez. Refira-se ainda que os resultados das cargas de
rotura obtidos pelos métodos que seguidamente se apresentam são indissociáveis da evolução das curvas
Carga-Assentamento apresentadas na Figura 2.

Q (kN)
0 2000 4000 6000 8000 10000
0
Q (kN)
0 2000 4000
10 0

20 1

st (mm)
2
30

3
st (mm)

40

4 a)
50 b)
Ensaio 1
60 Ensaio 2

Ensaio 3

70 Ensaio 4

Ensaio 5
a)
80 Ensaio 6

Figura 2 – Curvas Carga-Assentamento: a) curvas completas; b) detalhe para carga de dimensionamento

3- AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA

Os métodos empíricos utilizados neste artigo para a avaliação da capacidade de carga baseiam-se nas
curvas carga-assentamento (Figura 2) e estão organizados em dois conjuntos de critérios, de acordo com
Novais-Ferreira (1995): critérios de assentamento limite e critérios de carga limite. No primeiro grupo, os
critérios utilizados são os de Mansur-Kaufman (1956), Davisson (1973), norma brasileira NBR 6122:2010
(ABNT, 2010) e norma do exército norte-americano EM 1110-2-2906 (USACE, 1991). O segundo grupo é
composto pelos critérios de Van Der Veen (1953), Brinch-Hansen (1963) nas versões 80% e 90%, De Beer
(1968), Chin-Kondner (1970), Mazurkiewicz (1972), Shen-Niu (1991), Décourt (1999, 2008), Paraíso
(2017), Housel (1956) e a norma francesa NF P94-262:2012 (AFNOR, 2012).

Nas secções seguintes é feita uma apresentação breve dos princípios que regem cada critério, ilustrada
com a aplicação do método ao caso do Ensaio 4. A escolha deste ensaio deve-se ao facto de ser o único,
de entre os 6 ensaios, que reuniu as condições de aplicabilidade de todos os critérios utilizados. Os
resultados da carga de rotura, Qu, e respetivos assentamentos, su, obtidos para os 6 ensaios são
apresentados e discutidos na Secção 3.3.

567
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.1 - Métodos baseados em critérios de assentamento limite

3.1.1 - Mansur-Kaufman (1956)

Neste critério, também designado por Método de Intersecção de Tangentes (“Tangent Intersection
Method”), a carga de rotura da estaca é definida através da intersecção das retas tangentes aos trechos
final e inicial da curva Carga-Assentamento, conforme exemplificado na Figura 3 para o Ensaio 4.

Q (kN)
0 5000 10000
0

10

20
st (mm)

30

40 Qu = 6065 kN
su = 13,9 mm
50

60
Figura 3 – Método de Mansur-Kaufman aplicado ao Ensaio 4

3.1.2 - Davisson (1973)

Este critério define um assentamento limite dependente de uma parcela variável, correspondente à
deformação elástica da estaca (Q.L/E.A) e de uma parcela fixa em função do diâmetro da estaca acrescida
de um valor de 4 mm:
Q.L D
st = + (4+ ) [1]
E.A 120

em que Q é a carga aplicada, L o comprimento da estaca, E o módulo de Young do material da estaca, para
o qual foi assumido um valor de 30 GPa correspondente a um betão C20/25, A e D são a área e o diâmetro
da sua secção transversal, com todas as unidades de comprimento definidas em mm. O assentamento
limite, determinado pela interseção da reta definida pela Eq. 1 com a curva Carga-Assentamento define o
ponto correspondente à carga limite equivalente, assumida como a carga de rotura. Este processo está
exemplificado na Figura 4 para o Ensaio 4.
Q (kN)
0 2000 4000 6000 8000
0

10
st (mm)

15

20

25 Qu = 6592 kN
su = 18,9 mm
30
Figura 4 - Método de Davisson aplicado ao Ensaio 4

3.1.3 - NBR 6122:2010

A norma brasileira NBR 6122:2010 utiliza um critério e procedimento baseado em Davisson (1973), com a
reta a ser agora definida pela seguinte equação:
Q.L D
st = + [2]
E.A 30

com os parâmetros da Eq. 2 anteriormente apresentados para a Eq. 1. Como se pode constatar pela
equação, o valor do assentamento limite obtido por esta norma, logo também da carga de rotura, é na
generalidade dos casos (desde que D>96 mm) superior ao obtido pelo critério de Davisson (1973).

568
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Q (kN)
0 2000 4000 6000 8000 10000
0
Qu = 9737 kN
10
su = 47,2 mm

st (mm)
20

30

40

50

60
Figura 5 - Método da norma NBR 6122:2010 aplicado ao Ensaio 4

3.1.4 - EM 1110-2-2906

A norma do exército norte-americano (USACE - United States Army Corps of Engineers) sugere o cálculo
da carga de rotura como a média das cargas obtidas pelos seguintes critérios:
o Interseção da curva do ensaio correspondente a um assentamento líquido de 0,25'' (6,35 mm);
o Método da Interseção das Tangentes (Mansur-Kaufman, 1956);
o Método da inclinação da curva, no qual a carga de rotura é a correspondente ao ponto de tan-
gência com inclinação de 0,01''/Ton (28,5 mm/MN).

As normas referem ainda que quando uma das cargas apresenta um valor pouco razoável ou se afasta
muito das restantes, o cálculo da média deverá ser feito excluindo essa carga. Esta situação ocorre em
todos os ensaios no caso de estudo, com a rigidez das curvas Carga-Assentamento a ser sempre bastante
superior à inclinação da tangente definida no 3º critério, pelo que em nenhum dos casos este critério pôde
ser incluído no cálculo da carga de rotura. É de salientar que o método sugerido nestas normas foi
desenvolvido para estacas cravadas e, portanto, para áreas da secção transversal e respetiva rigidez axial
bastante inferiores às das estacas em análise.

Na Figura 6 é ilustrado o resultado da aplicação deste método ao Ensaio 4, estando assinalados os valores
das cargas obtidos pelos 2 primeiros critérios e o valor ponderado da carga de rotura. Para melhor ilustrar
a opção assumida, é também representada uma linha com inclinação correspondente ao 3º critério. A
aplicação do 1º e 2º critérios ao Ensaio 4 forneceram cargas muito próximas entre si, com valores de 5156
kN e 4993 kN, respetivamente, sendo a carga de rotura calculada pela média desses valores com 5075 kN.
Q (kN)

0 2000 4000 6000 8000


0

5 Qu

Qu=5075 kN Interseção 0,25"


10
st (mm)

su=6,1 mm
Mansur-Kaufman
15
Tang. 0,01"/Ton.
20

25

30
Figura 6 - Método das normas EM 1110-2-2906 aplicado ao Ensaio 4

3.2 - Métodos baseados em critérios de carga limite

3.2.1 - Van der Veen (1953)

O método de van der Veen (1953) recorre a um processo matemático de extrapolação da carga de rotura
da estaca que se baseia na hipótese de a curva Carga-Assentamento seguir um comportamento
exponencial, definido pela seguinte equação:

Q=Qu (1-e-a.st ) [3]

que pode ser reescrita na forma logarítmica como:


Q
a= -log (1- )⁄st [4]
Qu

569
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em que “a” representa a equação de uma reta no plano –log(1-Q/Qu) vs st. A solução para a carga última,
Qu, é obtida, por tentativas, atribuindo valores a este parâmetro de forma a se conseguir a melhor
correlação linear pelo Método dos Mínimos Quadrados, ou seja, a melhor aproximação a 1,00 do coeficiente
de correlação linear R2.

Na Figura 7 está exemplificada a aplicação do método ao Ensaio 4, onde se representam as diversas


tentativas de atribuição de valores a Qu até se atingir a melhor correlação linear (R2=0,9933) para um valor
de Qu=5795 kN. É de referir que na aplicação do método para os restantes ensaios, foram sempre
conseguidos valores de R2 superiores àquele, ou seja, com melhores aproximações lineares.

st (mm)
0 5 10 15 20 25 30 35
0
Q(1) = 3500 kN (R2=0,7495)

Q(i) crescente Q(2) = 4000 kN (R2=0,9006)


1
Qu = 5795 kN (R2=0,9933)

Q(4) = 7000 kN (R2=0,9682)


-Ln(1-Q/Q(i))

2 Q(5) = 8000 kN (R2=0,9104)

3 R² = 0,9933

5
Figura 7 - Método de Van der Veen aplicado ao Ensaio 4

3.2.2 - Brinch-Hansen 80% e 90% (1963)

Brinch e Hansen (1963) estabelecem dois critérios para a determinação da capacidade de carga, ambos
baseados no princípio de que a rotura da estaca ocorre quando se verifica um aumento rápido do
assentamento para incrementos uniformes da carga aplicada. Na aplicação deste método os resultados do
ensaio são traçados no plano √st ⁄Q vs st, descritos através de uma relação linear definida por:
√st √st
Q= ⇔ =C1 .st +C2 [5]
C1 .st +C2 Q

em que C1 é a inclinação da reta no plano √st ⁄Q vs st e C2 é a interseção no eixo √st ⁄Q. Esta equação
define uma parábola que se aproxima à curva do ensaio, podendo fornecer valores para a rotura por
extrapolação.

No critério de 80% a carga de rotura é definida como a que provoca quatro vezes o assentamento
correspondente a 80% dessa carga. Desta forma, a carga e o assentamento na rotura são dados pelas
seguintes expressões:
1 C2
Qu = ; su = [6]
2√C1 .C2 C1

A versão do critério de 90% considera que a carga de rotura é definida quando o dobro do assentamento
medido ocorre para 90% dessa carga. Neste caso, as expressões para cálculo da carga e assentamentos
na rotura são:
2√2 3C2
Qu = ; su = [7]
7√C1 .C2 4C1

Na Figura 8 exemplifica-se a aplicação do método para o Ensaio 4, com a aproximação linear a ser feita
para os 3 últimos valores obtidos no ensaio de carga, por estes apresentarem uma boa aproximação linear
e serem mais representativos da iminência de rotura. Para os valores de C1 e C2 calculados, os valores da
carga de rotura são de 6947 kN e de 6876 kN, com os correspondentes assentamentos de 34,5 mm e de
25,8 mm para os critérios de 80% e de 90%, respetivamente.

570
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0,0010

0,0008

√st/Q
0,0006
C1 = 1,23E-5
C2 = 4,22E-4
0,0004

0,0002
0 10 20 30
st (mm)

Figura 8 - Método de Brinch-Hansen aplicado ao Ensaio 4

3.2.3 - De Beer (1968)

O Método de De Beer (também designado por “Log-Log Method” ou “Intersection Load Method”) recorre à
representação em escala logarítmica dos valores de Q e de st obtidos no ensaio de carga. A curva Carga-
Assentamento representada no plano Log(Q) vs Log(st) apresenta dois alinhamentos distintos, cada qual
correspondente ao ramo inicial e ao ramo final da curva. Este método define a carga de rotura como sendo
a que resulta da interseção desses dois alinhamentos, podendo ser obtida, em termos práticos, através da
interseção das respetivas retas de aproximação linear. A aplicação deste método está exemplificada na
Figura 9 para o Ensaio 4, com os valores da rotura a serem determinados por conversão exponencial a
partir dos valores obtidos nos eixos logarítmicos.

3,8
Log(Q)

3,6

3,4
Qu = 4734 kN
su = 5,31 mm
3,2

3
0 0,5 1 1,5
Log(st)
Figura 9 - Método de De Beer aplicado ao Ensaio 4

3.2.4 - Chin-Kondner (1970)

Este método utiliza uma aproximação hiperbólica à curva do ensaio, que se traduz numa correlação linear
entre os inversos das cargas e os assentamentos, traduzida pela seguinte equação:
st Q 1
Q= ⇔ = [8]
C1 .st +C2 st C1 .st +C2

em que C1 é a inclinação da reta no plano st/Q vs st e C2 a sua interseção no eixo st/Q. Após a representação
dos resultados do ensaio de carga no plano st/Q vs st, os valores de C1 e C2 são calculados através de uma
aproximação linear, com a carga de rotura definida por:
1
Qu = [9]
C1

O valor de Qu é obtido por extrapolação e corresponde ao valor da assimptota representada pela Eq. 8 no
plano Q vs st. Portanto, o método pode fornecer valores superiores aos experimentados durante o ensaio
pelo que os valores assumidos para a rotura não deverão ser em caso algum superiores a estes (Fellenius,
2015).

Na Figura 10 está representada a aplicação do método para o Ensaio 4, verificando-se que para os valores
de C1 e de C2 obtidos o valor da carga de rotura é de 7994 kN e o respetivo assentamento de 30,4 mm.

571
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

0,004

st/Q (mm/kN)
0,003 C1 = 1,25E-4
C2 = 4,8E-4
0,002

Qu = 7994 kN
0,001 su = 30,4 mm

0,000
0 5 10 15 20 25
st (mm)
Figura 10 - Método de Chin-Kondner aplicado ao Ensaio 4

3.2.5 - Mazurkiewicz (1972)

Este método assume que a curva do ensaio é parabólica e recorre a um processo gráfico para a
determinação da carga de rotura que se pode resumir nos seguintes pontos: i) traçado de linhas horizontais
com um espaçamento arbitrado e igual entre si; ii) traçado de linhas verticais a partir dos pontos de
interseção das linhas horizontais com a curva do ensaio; iii) traçado de linhas inclinadas de 45º a partir da
interseção das linhas verticais com o eixo horizontal Q; iv) definição dos pontos de interseção das linhas
inclinadas com as linhas verticais; v) traçado da reta que se aproxima aos pontos de interseção definidos
em iv). A interseção desta reta com o eixo horizontal Q corresponde à carga de rotura.

Através da construção gráfica descrita, aplicada ao Ensaio 4 e ilustrada na Figura 11, observa-se que o
valor da carga de rotura obtida pode ser muito elevada, sendo mesmo superior à experimentada pelo
ensaio, impossibilitando a determinação do assentamento associado àquela carga.

Q (kN)
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
-20

-10 Qu = 11195 kN

0
st (mm)

10

20

30

40

50

Figura 11 - Método de Mazurkiewicz aplicado ao Ensaio 4

3.2.6 - Shen-Niu (1991)

Este método estabelece a carga de rotura com base na variação do valor da curvatura da curva do ensaio.
Para o efeito, o processo inicia-se pela determinação da evolução dos valores da inclinação da curva para
intervalos sucessivos da carga (ΔQ) e do assentamento (Δs):
∆s si+1 -si
K= = [12]
∆Q Qi+1 -Qi

Com a curvatura, ρ, a ser calculada pela seguinte equação:

∆2 K
ρ= 1,5 [13]
(1+K2 )

em que Δ2K é:

2 ∆2 K ∆Ki+1 -∆Ki
∆ K= = [14]
∆2 Q ∆Qi+1 -∆Qi

572
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Traçando a evolução dos valores da curvatura num gráfico ρ vs Q, obtêm-se diversos valores de pico da
curvatura, aos quais os autores atribuem a carga de cedência e a carga de rotura para o primeiro e segundo
picos, respetivamente. Para o caso do Ensaio 4, a evolução das curvaturas está representada na Figura 12,
com o segundo pico correspondente a um valor da carga de rotura de 6524 kN, sendo o respetivo
assentamento medido sobre a curva do ensaio de 18,2 mm.

2,E-05

1,E-05

Curvadura, ρ
0,E+00

-1,E-05

Qu = 6524 kN
-2,E-05 su = 18,2 mm

-3,E-05
0 2000 4000 6000 8000 10000
Q (kN)

Figura 12 - Método de Shen-Niu aplicado ao Ensaio 4

3.2.7 - Décourt (1999, 2008) e Paraíso (2017)

O método de Décourt estabelece que a rotura da estaca ocorre quando a rigidez ao carregamento axial se
anula. Para a determinação da carga de rotura, associada ao valor nulo da rigidez, são representados os
resultados do ensaio no plano Q/st vs Q e assumida uma relação linear para os valores nesse plano, segundo
a equação:
C2 .st
Q= [15]
1-C1 .st

em que C1 é a inclinação da reta no plano Q/st vs Q e C2 a interseção da reta no eixo Q/st. O valor da carga
de rotura é determinado pela interseção desta reta com o eixo Q, ou seja, para Q/st=0, sendo definido por:
C2
Q= [16]
C1

À semelhança de Chin-Kondner (Secção 3.2.4), neste método a curva do ensaio é aproximada por uma
hipérbole e a carga de rotura determinada por extrapolação, o que resulta igualmente em valores elevados
para esta carga. Paraíso (2017) propõe uma reinterpretação do método, considerando que a carga de rotura
é a definida pela transição do comportamento elástico-plástico da resistência de ponta, onde se verifica
uma quebra substancial da rigidez. Este ponto de transição é determinado pela interseção de duas retas
definidas por aproximação linear a alinhamentos dos dados no plano Q/st vs Q.

A aplicação dos métodos de Décourt e de Paraíso ao Ensaio 4 está representada na Figura 13 a) e b),
respetivamente, onde naturalmente a carga de rotura obtida pelo primeiro método é substancialmente
mais elevada.

1600 1600
Qu = 7835 kN Qu = 4358 kN
su = 29,1 mm su = 4,4 mm
Q/st (kN/mm)

1200 1200
Q/st (kN/mm)

800 800

400 400
C1 = -0,289
C2 = 2263,9
0 0
0 2000 4000 6000 8000 0 2000 4000 6000 8000
Q (kN) Q (kN)
Figura 13 – Aplicação ao Ensaio 4: a) método de Décourt; b) método de Paraíso

573
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3.2.8 - Housel (1956) e AFNOR (2012)

Também designado por critério de fluência ou “Creep Method”, o critério de Housel (1956) define a carga
de rotura com base na evolução das deformações por fluência ao longo do ensaio. O requisito para a
aplicação deste critério é que os intervalos de tempo sejam iguais nos diversos patamares de carga, com
duração típica de 60 minutos, mas que pode depender da metodologia adotada para o ensaio. Os
acréscimos de assentamento, Δst, são medidos para cada escalão, entre as leituras dos 30 e 60 minutos,
sendo marcados estes valores no plano Δst vs Q. A norma francesa NF P94-262 (AFNOR, 2012) adota, para
o mesmo intervalo dos 30 e 60 minutos, V30-60, a velocidade de deformação da estaca em vez do acréscimo
de assentamento st. O acréscimo brusco das deformações de fluência, ou da velocidade de deformação,
define a carga de fluência Qcr, aqui assumida como carga de rotura Qu, que pode ser determinada pela
interseção das 2 retas de tendência que aproximam aos primeiros e aos últimos pontos do ensaio,
respetivamente. A versão corrente do método considera que carga de rotura é definida para um
assentamento de 10%B. Contudo, tal não pôde ser aplicado aos casos em análise por não terem sido
atingidos os assentamentos correspondentes àquela relação.

Na Figura 14 está representada a aplicação destes métodos ao Ensaio 4, com a escolha da carga de cedência
a ser feita pelo ponto onde ocorre um acréscimo de assentamento (e velocidade) mais elevado, já que os
resultados não permitem a intersecção das duas retas referidas acima.

1,00 2,00
Ensaio 4 Ensaio 4
0,80 a) Housel V30-60 (mm/h) 1,50 b) AFNOR
0,60
Δst (mm)

1,00
Qu = 6009 kN Qu = 6009 kN
0,40 su = 13,5 mm
su = 13,5 mm
0,50
0,20

0,00 0,00
0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000
Q (kN) Q (kN)

Figura 14 – Critérios de fluência aplicados aos Ensaio 4: a) Housel; b) AFNOR

3.3 - Resumo e análise dos resultados

No Quadro 2 são apresentados os valores das cargas de rotura e respetivos assentamentos resultantes da
aplicação dos diversos métodos utilizados. No que respeita aos métodos baseados em critérios de
assentamento limite, é de salientar o facto de apenas serem aplicáveis os métodos de Mansur-Kaufman e
da norma EM 1110-2-2906 a todos os ensaios. Nos restantes casos não foram atingidos, até ao final dos
ensaios, os valores dos assentamentos limite definidos pelos métodos, mesmo para o método de Davisson
que é muito conservador para estacas de diâmetro elevado.

Quanto à aplicação dos critérios de carga limite, nos métodos de extrapolação de Chin-Kondner, Décourt e
de Mazurkiewicz, são omitidos os valores dos assentamentos respeitantes às cargas de rotura (Qu) quando
estas excedem a carga máxima aplicada durante o ensaio (Qmax). No primeiro método Qu é calculada para
o valor da assimptota da hipérbole e no segundo método para o valor correspondente à rigidez nula da
estaca, pelo que quando Qu>Qmax os valores obtidos para os assentamentos na rotura não são
representativos do ensaio. Em relação ao método de Mazurkiewicz, com os assentamentos a serem
determinados diretamente sobre a curva do ensaio, não é possível obter esses valores na rotura quando a
carga de rotura excede o valor máximo do ensaio. Ainda em relação a este método, o resultado de Qu
obtido através da construção geométrica verifica-se ser muito sensível à evolução da curva do ensaio. De
facto, quando esta se afasta significativamente da forma hiperbólica – como acontece no Ensaio 3, em que
tem um desenvolvimento próximo do linear – a carga de rotura tende a ser irrealisticamente elevada. Já
para o método de extrapolação de Brinch-Hansen, em que é definida uma parábola que se ajusta à curva
do ensaio, os valores dos assentamentos na rotura são apresentados no Quadro 2, mesmo quando a carga
última excede a carga máxima do ensaio. Nestes casos os assentamentos são calculados com base na
parábola, assumindo-se que esta representa uma extrapolação do ensaio para cargas superiores às
aplicadas.

Atendendo a que existem 3 configurações geométricas distintas das estacas, pretende-se eliminar este
efeito na análise comparada dos diferentes critérios através da utilização de um parâmetro adimensional
correspondente à divisão da carga de rotura obtida pela carga de dimensionamento (ou de serviço) Qu/Qdim.
Os valores deste parâmetro são apresentados no Quadro 3 para a totalidade dos casos analisados.

574
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 2 – Cargas de rotura e assentamentos obtidos pela aplicação dos métodos


Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4 Ensaio 5 Ensaio 6
Qu su Qu su Qu su Qu su Qu su Qu su
Método
(kN) (mm) (kN) (mm) (kN) (mm) (kN) (mm) (kN) (mm) (kN) (mm)
Mansur-Kaufman 3229 4,1 3036 6,9 3085 11,9 6065 13,9 4974 6,7 3768 5,7
Davisson -- -- 4104 15,8 3400 16,5 6592 18,9 -- -- -- --
NBR 6122:2010 -- -- -- -- 5243 44,4 9737 47,2 -- -- -- --
EM 1110-2-2906(1) 3507 5,2 2996 6,6 2918 9,5 5075 6,1 4933 6,5 3943 6,0
Van der Veen 4263 10,9 2420 3,6 4033 26,0 5795 11,7 3895 3,2 3784 5,7
Brinch-Hansen 80% 4639 24,3 4918 53,7 6867 75,4 6947 34,5 7263 38,4 6221 38,8
Brinch-Hansen 90% 4592 18,2 4867 40,3 6797 56,6 6876 25,8 7189 28,8 6157 29,1
De Beer 2933 3,3 2229 3,0 3232 14,0 4734 5,3 3932 3,2 3336 4,9
Chin-Kondner 5292 -- 5539 -- 9560 -- 7994 30,4 8582 -- 7129 --
Mazurkiewicz 3831 7,0 3920 13,3 -- -- 11195 -- 6261 13,1 5835 --
Shen-Niu 4316 11,4 3237 8,3 4292 30,0 6524 18,2 5150 7,5 4047 6,1
Décourt 5384 -- 5340 -- 9191 -- 7835 29,1 8004 -- 7743 --
Paraíso 3311 4,4 2996 6,6 3666 20,5 4358 4,4 5045 7,0 4413 7,3
Housel e AFNOR -- -- 3777 11,4 2000 2,4 6009 13,5 6009 10,8 4721 8,2
Máximo no Ensaio 4316 11,4 4316 18,7 6867 77,6 10301 54,8 6867 18,5 5396 13,0
(1) Calculado com o critério de assentamento limite (0,25”) e com o Método da Intersecção das Tangentes.

Quadro 3 – Relação entre as cargas de rotura obtidas pela aplicação dos métodos e a carga de dimensionamento
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4 Ensaio 5 Ensaio 6
Qu/Qdim Qu/Qdim Qu/Qdim Qu/Qdim Qu/Qdim Qu/Qdim
Método
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
Mansur-Kaufman 150 141 90 177 145 140
Davisson -- 190 99 192 -- --
NBR 6122:2010 -- -- 153 284 -- --
EM 1110-2-2906(1) 163 139 85 148 144 146
Van der Veen 198 112 117 169 113 140
Brinch-Hansen 80% 215 228 200 202 212 231
Brinch-Hansen 90% 213 226 198 200 209 228
De Beer 136 103 94 138 115 124
Chin-Kondner 245 257 278 233 250 264
Mazurkiewicz 178 182 -- 326 182 216
Shen-Niu 200 150 125 190 150 150
Décourt 249 247 268 228 233 287
Paraíso 153 139 107 127 147 164
Housel e AFNOR -- 175 58 175 175 175
(1) Calculado com o critério de Assentamento Limite (0,25”) e com o Método da Intersecção das Tangentes.

Verifica-se existir, no global, uma grande variabilidade nos resultados obtidos, a qual não pode ser apenas
imputável às diferentes abordagens de cada método, mas em certa parte também devido às diferenças
entre as curvas dos ensaios. De facto, no total dos resultados os valores de Q u/Qdim variam num intervalo
entre 58% e 326%, com a generalidade dos valores mais baixos a ocorrerem no Ensaio 3 e os valores mais
elevados no Ensaio 4. Este facto pode ser explicável pela menor rigidez apresentada pelo primeiro ensaio
e também por a carga aplicada no Ensaio 4 ter atingido valores bastante superiores às dos restantes
ensaios.

No conjunto dos métodos com critério de assentamento limite, os resultados obtidos estão de acordo com
o expectável e, na generalidade, a variar dentro de um intervalo reduzido, com o método da NBR 6122,
apesar de apenas utilizado em dois ensaios, a fornecer os valores mais elevados. Fazendo a mesma análise
para os métodos com critério de carga limite, o mais conservativo é o método de De Beer, podendo ainda
incluir-se neste grupo os métodos de Van der Veen, Housel-AFNOR e Paraíso, enquanto que os métodos de
Chin-Kondner e Décourt, são os que apresentam os valores mais elevados para a carga de rotura.

4- CONCLUSÕES

Neste trabalho é apresentada a aplicação de alguns dos métodos mais correntes na avaliação de capacidade
de carga de estacas com base nas curvas Carga-Assentamento registadas em ensaios de carga estática

575
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

axial. Para o efeito, foi utilizada uma amostra de seis ensaios executados em estacas moldadas com
diferentes geometrias e cargas de dimensionamento.

Em alguns dos métodos sob análise, como de Davisson e da norma brasileira NBR 6122:2010, a sua
aplicação exige que se atinjam assentamentos mais elevados do que os observados em alguns dos ensaios.
Também o método de Mazurkiewicz, para além de ser trabalhoso e com pouca repetibilidade, é muito
sensível à forma da curva do ensaio e ineficaz quando esta se afasta significativamente da forma
hiperbólica. Existem também diversos métodos (Chin-Kondner, Brinch-Hansen e Décourt) cujo valor da
carga de rotura chega a ser superior à carga máxima aplicada no ensaio. Contudo, como nestas situações
não existe informação suficiente sobre o comportamento das estacas para esses níveis de carregamento,
Fellenius (2015) refere que não devem ser tomados como referência para a verificação do dimensionamento
valores da carga de rotura superiores aos máximos aplicados nos ensaios.

De uma forma geral, a utilização dos diversos critérios conduziu a resultados das cargas de rotura com
diferenças significativas, mesmo quando relativas ao mesmo ensaio, tendo sido identificados os métodos
mais e menos conservativos. No entanto, não foi possível identificar qual dos fundamentos para os critérios
– assentamento limite ou carga limite – resulta em valores mais elevados para a carga de rotura, sendo
esta uma característica dependente da formulação do próprio método.

REFERÊNCIAS

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Geotechnical Engineering Congress 2008, New Orleans, USA.
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Foundation” Proceedings of American Society for Testing and Materials, USA, Vol. 56.
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Sociedade Portuguesa de Geotecnia, No. 73: 65-93.
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Mestrado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra.
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Van der Veen, C. (1953) - “The Bearing Capacity of a Pile”. Proceedings of the 3rd ICSMFE, Zurich, Switzerland.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE COMPARATIVA DE ESTIMATIVAS DE RECALQUE EM ESTACA RAIZ


ASSENTE EM SOLO ARENO-SILTOSO DO NORDESTE BRASILEIRO

COMPARATIVE ANALYSIS OF SETTLEMENT ESTIMATION OF ROOT PILES


SEATED ON SILTY SAND SOIL OF NORTHEAST BRAZIL

Monteiro, Fernando Feitosa; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com


Carvalho, Leila Maria Coelho de; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, leila.mariacarvalho@hotmail.com
Aguiar, Marcos Fábio Porto de; Instiuto Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, marcosfpa@hotmail.com
Cunha, Renato Pinto da; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br
Matos, Yago Machado Pereira de Matos; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, yago_mpm@hotmail.com

RESUMO

No Brasil, o projeto de fundações por muitas vezes é concebido a partir de ensaios SPT (Standard
Penetration Test) e ensaios complementares normalmente não são realizados, fazendo com que a utilização
de correlações para obtenção de parâmetros de resistência do solo seja recorrente. Assim, a estimativa
dos recalques em fundações profundas, pode ser realizada a partir de métodos teóricos, semi-empiricos,
empíricos e numéricos, sendo necessária a realização de ensaios de prova de carga para a verificação do
comportamento previsto. O presente artigo tem como objetivo principal analisar a eficiência de métodos
semi-empiricos para cálculo de recalques em estacas raiz a partir de resultados de ensaios de sondagem a
percussão, através de uma comparação com ensaios de prova de carga e simulações numéricas. Foram
realizadas sondagens à percussão tipo SPT e construída uma estaca do tipo raiz com diâmetro de 310mm
e comprimento de 6m. A partir das análises e considerando as restrições conceituais, pode-se obter uma
melhor avaliação dos métodos semi-empíricos, que partem do NSPT, na estimativa de recalques, para
regiões que possuem estratigrafia de solos areno-siltosos, assim aprimorando a previsão de recalques
adotados em projetos. Verificou-se que os métodos semi-empíricos apresentaram estimativas razoáveis na
previsão de recalque em fundações profundas para solo areno-siltoso da cidade de Fortaleza, partindo de
dados de ensaio de percussão, pois as estimativas de recalques através dos métodos semi-empíricos
apresentaram valores superiores aos valores obtidos pelo ensaio de prova de carga. No estudo percebe-se
a importância de uma satisfatória estimativa da capacidade de carga, pois a mesma influência diretamente
na determinação dos recalques avaliados.

ABSTRACT

In Brazil, the foundations project is often designed from Standard Penetration Test (SPT) and
complementary tests are usually not performed, making use of correlations to obtain soil resistance
parameters a common practice in those projects. Thus, the estimation of deep foundations settlement can
be carried out using theoretical, semi-empirical, empirical and numerical methods, being necessary to
perform load tests, in order to verify the predicted behavior. The main objective of this paper is to analyze
the efficiency of semi-empirical methods for calculating root piles settlement using SPT tests results through
a comparison with load test and numerical simulations. SPT tests were performed and a root pile with a
310mm diameter and 6m length was executed. From the analysis and considering the conceptual
constraints, a better evaluation of the semi-empirical methods, using the NSPT, in the estimation of
settlements, can be obtained for regions that presents a silty sand soil stratigraphy, thus improving the
prediction of settlements adopted in projects. It was verified that the semi-empirical methods presented
inconsistent estimates in the prediction of deep foundations settlement in silty sand soil of the city of
Fortaleza, based on standard penetration test data, since the settlement estimations using semi-empirical
methods presented higher values than the values obtained by the load test. In the study, it is perceived
the importance of a satisfactory estimate of the load capacity, since the same influence directly in the
determination of the evaluated settlements.

1- INTRODUÇÃO

O conhecimento adequado do solo é indispensável para a execução de obras. Sejam as obras rodoviárias
ou edificações, os estudos geotécnicos são essenciais para obtenção de parâmetros do solo. Assim, são
identificadas, classificadas e avaliadas as diversas camadas que compõem o subsolo. A elaboração do
projeto de fundação é de suma importância, pois toda a carga da estrutura é transferida para a fundação
e, subsequentemente, para o solo. No Brasil, o projeto de fundações por muitas vezes é concebido a partir
de ensaios SPT (Standard Penetration Test) e ensaios complementares normalmente não são realizados,
fazendo com que a utilização de correlações para obtenção de parâmetros de resistência do solo seja

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

recorrente. O dimensionamento geotécnico de fundações profundas considera, em sua maioria, somente


capacidade de carga. Porém, vale destacar, a importância da análise de recalque, sendo este um dado
primordial para realizar a execução de uma fundação e assegurar a segurança do elemento estrutural de
fundação e de toda a superestrutura. Existem diversos métodos teóricos, semi-empiricos, empíricos e
numéricos para a estimativa dos recalques em fundações profundas utilizadas no Brasil e no mundo. Assim,
o presente trabalho possui o objetivo de avaliar a estimativa de recalques em fundações profundas do tipo
raiz, comparado os resultados obtidos com ensaios de prova de carga e simulações numéricas.

2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 - Métodos semi-empíricos de determinação de capacidade de carga

Segundo Amann (2010) os métodos semi-empíricos podem ser definidos como os que partem das
formulações teóricas já consagradas, mas que permitem determinar as tensões máximas de atrito e de
ponta a partir de correlações com ensaios de campo. De acordo com a ABNT (2010), são considerados
métodos semi-empíricos aqueles em que as propriedades dos materiais, estimados com base em
correlações, são usadas em teorias adaptadas da Mecânica dos Solos.

Capacidade de carga de ruptura é a carga limite (ou máxima) a partir da qual a fundação provoca a ruptura
do terreno e se desloca sensivelmente (ruptura frágil ou generalizada), ou se desloca excessivamente
(ruptura plástica ou localizada), o que pode provocar a ruína da superestrutura. Ressalta-se que na
determinação da capacidade de carga devem-se considerar duas condições fundamentais de
comportamento: ruptura e deformação (Marangon, 2013).

2.1.1 - Método de Cabral (1986)

Segundo Cabral (1986), a capacidade de carga de estacas tipo raiz com um diâmetro final B ≤ 0,45m e
injetada com uma pressão p ≤ 400 kPa pode ser estimada com:

𝑄𝑢𝑙𝑡 =(𝛽0 𝛽2 𝑁𝑏 )𝐴𝑏 + U ∑(𝛽0 𝛽1 N) ∆L [1]

Onde: ΔL é a espessura de solo caracterizado por um dado N SPT, Nb é o NSPT no nível da ponta, β1 e β2
fatores que dependem do tipo de solo (Quadro 2) e βo fator que depende do diâmetro da estaca B e da
pressão de injeção p (Quadro 1), podendo ser calculado pela seguinte equação.

𝛽0 = 1 + 0,11𝑝 − 0,01 𝐵 [2]

Quadro 1- Fator o
p (kPa)
B (cm)
0 100 200 300

10 90 101 112 123

12 88 99 110 121

15 85 96 107 118

16 84 95 106 117

20 80 91 102 113

25 75 86 097 108

31 69 80 091 102

42 58 69 080 091

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Quadro 2- Fatores 1 e 2

Solo β1 (%) β2

Areia 7 3

Areia siltosa 8 2,8

Areia argilosa 8 2,3

Silte 5 1,8

Silte arenoso 6 2

Silte argiloso 3,5 1

Argila 5 1

Argila arenosa 5 1,5

Argila siltosa 4 1

Nota: β1N e β2Nb em kPa, βoβ1N ≤ 200 kPa; βoβ2Nb ≤


5000 kPa

2.1.2 - Método de Lizzi (1982)

A proposta de Lizzi (1982), não leva em consideração a resistência de ponta das estacas e atribui a resposta
ao carregamento aplicado ao atrito lateral. O autor propõe que a capacidade de carga última das estacas
raiz e dada por:

𝑄𝑢𝑙𝑡 = 𝜋𝑑𝐿𝐾𝐼 [3]

Onde: d é o diâmetro nominal da estaca, isto é, o diâmetro de perfuração; K é o coeficiente que representa
a interação média entre a estaca e o solo, ou seja, a aderência solo-estaca, ou as tensões induzidas no
solo pela estaca, ou a coesão do solo etc. (Quadro 3); L é o comprimento da estaca; I é o coeficiente
adimensional de forma, que depende do diâmetro nominal da estaca (Quadro 4).

Quadro 3- Valores de K em função das características do solo

Características do solo kPa

Mole 50
Solto 100
Medianamente compacto 150
Muito compacto (pedregulho e areia) 200

Quadro 4- Valores de I em função do diâmetro nominal da estaca

Diâmetro nominal da estaca (mm) I

100 1,00
150 0,90
200 0,85
250 0,80
310 0,74
410 0,64

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2.2 - Recalque em fundações profundas

A performance de uma obra de engenharia civil, ao longo de sua vida útil, especialmente da sua fundação,
é consequência do grau de alteração do maciço do solo durante a fase de execução desta última (Aoki,
2000). Conforme a ABNT (2010), um projeto de fundações deve obedecer aos seguintes requisitos básicos:
segurança adequada ao colapso do solo de fundação e dos elementos estruturais, e deformações aceitáveis
sob as condições de trabalho. Esses requisitos são atendidos através da verificação dos estados limites de
utilização ou de serviço (ELS) e dos estados limites últimos (ELU).

Nogueira (2004) ressalta que a estimativa de recalque é importante para a previsão do comportamento
das fundações por estacas, pois os recalques, principalmente os diferenciais, podem prejudicar o bom
desempenho da estrutura. Nogueira (2004) afirma que a carga de trabalho depende dos recalques que a
estrutura pode tolerar. Contudo, Anjos (2006) observa que a maioria dos projetos de fundações profundas
são realizados levando em consideração apenas a capacidade de suporte das fundações por métodos
empíricos ou semi-empíricos, quer dizer, ainda persiste a total despretensão quanto ao cálculo de recalques
e consideração do mecanismo de transferência de carga.

Segundo Bowles (2001), os recalques em estacas podem ser calculados em três etapas, onde na primeira
etapa se calcula a força axial média em cada segmento de comprimento ΔL, área da seção da estaca (Amed),
e o módulo de elasticidade (Ep) da estaca, assim:

𝑃𝑚𝑒𝑑 ∆𝐿
∆𝐻𝑠,𝑠 = [4]
𝐴𝑚𝑒𝑑 𝐸𝑝

Somando-se os diversos valores obtidos para obter a compressão axial total da estaca:

∆𝐻𝑎 = ∑ ∆𝐻𝑠,𝑠 [5]

Na segunda etapa calcula-se o recalque na ponta de acordo com a equação:

1−𝜇2
∆𝐻𝑝𝑡 = ∆𝑞 𝐷 𝑚 𝐼𝑠 𝐼𝑓 𝐹1 [6]
𝐸𝑠

Onde: mIs = 1 (fator de forma); If é o fator de embutimento (If = 0,55 se L/D ≤ 5; If = 0,5 se L/D > 5);
D é o diâmetro da estaca ou menor dimensão da estaca ; μ é o coeficiente de poisson ( sugere-se usar um
valor de 0,35); Δq é a carga sobre a fundação; Es é o modulo de elasticidade do solo abaixo da ponta da
estaca, podendo ser obtido pelas seguintes relações: SPT - Es = 500 (N+15) em kPa e CPT - Es = 3 a 6 qc
( usar valores de 5,6 se o OCR for maior que 1) em kPa; F1 é o fator de redução variando entre valores de
0,25 se a resistência lateral reduz a carga de ponta Pp ≤ 0 ; 0,5 se a carga na ponta Pp > 0 ; 0,75 se
houver apenas carga de ponta. O fator F1 é usado pela razão da região da ponta da estaca se mover para
baixo devido à carga na ponta e o recalque na ponta devido à resistência lateral ao longo do fuste puxar o
sistema solo-fundação para baixo. Esse método usa a carga axial total, que é conhecida, e o fator F1, que
é um valor estimado. Na terceira etapa soma-se o recalque axial e o recalque da ponta para se obter o
recalque total, como visto na equação:

∆𝐻𝑝 = ∆𝐻𝑎 + ∆𝐻𝑝𝑡 [7]

2.3 - Previsão da curva carga-recalque

Aoki (1979) propõe uma metodologia para a precisão da curva carga-recalque de um elemento de fundação
por estaca, conhecido um ponto dessa curva e considerando aplicável a expressão de Van der Veen (1953):

𝑃 = 𝑅 (1 − 𝑒 −𝛼 𝜌 ) [8]

Em que o parâmetro  define a forma da curva, podendo ser determinado por:

𝑃
− ln(1− )
𝛼= 𝑅
[9]
𝑝

Assim, calculada a capacidade de carga R e feita a estimativa do recalque (ρ), para uma carga (P), pode-
se determinar o valor de 

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3- ESTUDO DE CASO

O estudo de caso foi realizado no campo experimental de fundações da Universidade de Fortaleza (UNIFOR),
localizado na cidade de Fortaleza, no nordeste brasileiro. Na área em estudo, foram implantadas 4 estacas
de reação e 1 estaca raiz como visto na Figura 1. A estaca foi executada com uso de argamassa com traço
de 1: 1,2: 0,5 (cimento, areia, água) e com pressão de injeção de 300 kPa. A argamassa foi feita no próprio
campo com o auxílio de um misturador. O cimento utilizado foi o CPII-E-32. A estaca raiz analisada possui
6 m de comprimento e um diâmetro de 0,31m.

Figura 1 – Localização do campo experimental

Foram executados ensaios de caracterização do solo, em laboratório, com o objetivo de obter os parâmetros
dos solos tais como a densidade real do grão, os limites de Atterberg, a dimensão dos grãos que compõem
o solo e classificá-los. O Quadro 5 apresenta os resultados dos ensaios de caracterização do solo feitos no
campo experimental da UNIFOR. Verifica-se que a estatigrafia do campo experimental é composta na sua
totalidade de um solo areno siltoso não plástico.

Quadro 5 – Caracterização do campo experimental da UNIFOR


Análise Granulométrica (%)
Densidade
Profundidade (m) Areia Areia Areia Silte LL LP
Pedregulho Real
Grossa Média Fina e Argila
1m 0 0,57 15,49 67,83 16,11 - NP 2,62
2m 0 0,27 16,71 61,87 21,15 - NP 2,63
3m 0 0,34 13,75 67,00 18,91 - NP 2,59
4m 0 0,46 15,58 63,34 20,62 - NP 2,60

3.1 - Ensaio SPT

No estudo de caso, o ensaio à percussão do tipo SPT foi executado conforme a ABNT (2001), utilizou-se
lama betonítica durante a execução da sondagem para que fosse possível atingir a cota do impenetrável.
Na Figura 2, apresenta-se o resultado do ensaio de sondagem a percussão, bem como o comprimento da
estaca, o diâmetro e a estratigrafia geral do solo. Verifica-se que a estratigrafia do terreno é composta por
dois tipos de solos, uma camada de areia siltosa com 6 m e uma camada de silte argiloso de 14 m. Os
valores de índice de resistência a penetração (NSPT) apresentaram baixos valores até 9 m de profundidade.
Nota-se ainda a presença do lençol freático na profundidade de 5 m.

581
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 2 – Resultado do ensaio SPT

3.2 - Prova de carga estática

A estaca foi submetida à prova de carga lenta, de acordo com a ABNT (2006). O carregamento das estacas
ensaiadas foi realizado em 10 estágios de carga correspondente, cada um, a 20% da carga de trabalho da
mesma. A Figura 3 exibe a curva carga-recalque obtida para o ensaio de prova de carga da estaca. Durante
o ensaio de prova de carga estática, a estaca foi submetida a uma carga máxima de 500,85 kN, alcançando
um recalque máximo de 35,57 mm. Após o descarregamento, observa-se um recalque residual no valor de
32,74 mm.

Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600 700
0

10
Recalque (mm)

15

20

25

30

35

40

Figura 3 – Curva carga-recalque do ensaio de prova de carga

3.3 - Simulação numérica

O ensaio de prova de carga foi simulado no software Plaxis 2D, a analise numérica foi realizada em 2
estágios, no primeiro foi simulado a construção da estaca e no segundo estágio, avaliou-se o carregamento.
Devido ao caso estudado, utilizou-se uma análise axissimetrica para ganho de tempo computacional nas
simulações, escolheram-se elementos de 15 nós. Para a simulação da estaca, adotou-se um comprimento
de 6 m e um diâmetro de 0,31 m. Adotou-se um módulo de elasticidade de 22 GPa, de acordo com os
valores indicados por Benati (2007) para o traço utilizado de argamassa. Para a implementação dos
parâmetros de resistência do solo, foi necessário utilizar correlações semi-empirícas que utilizam o NSPT,

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

assim estimando valores para coesão, ângulo de atrito e modulo de deformabilidade do solo em função da
profundidade. As equações utilizadas para obter os parâmetros são exibidas abaixo:

𝜑 = √20 + 𝑁𝑆𝑃𝑇 + 150 Teixeira (1996) [10]

𝐶 = 10 𝑁𝑆𝑃𝑇 (kPa) Teixeira e Godoy (1996) [11]

𝐸𝑠 = 3500 𝑁𝑆𝑃𝑇 (𝑘𝑃𝑎) Décourt (1995) [12]

Vale ressaltar que as equações que correlacionam o índice de resistência a penetração (NSPT) com os
parâmetros de resistência do solo possuem limitações quanto a sua aplicabilidade. Teixeira (1996)
recomenda a utilização da equação de estimativa do ângulo de atrito para solos granulares. Décourt (1995)
propôs equações que estimam o modulo de deformabilidade para diferentes tipos de solo, sendo a equação
12 recomendada para solos granulares. Por fim, a proposta de Texeira e Godoy (1996) não faz menção ao
tipo de solo. Em termos de capacidade de carga de fundações, geralmente predomina como crítica a
condição não-drenada, pois a capacidade de carga tende a aumentar com a dissipação das poropressões.
Por isso, é habitual o cálculo da capacidade de carga apenas com valores não drenados de coesão e ângulo
de atrito, como percebido nas equações 10 e 11. Possibilitando assim, a estimativa dos parâmetros do solo
para realização da simulação numérica, como mostrado no Quadro 6. Para cada camada de solo, realizou-
se a média do NSPT para que se aplicasse as correlações semi-empirícas. Na Figura 4, observa-se a
geometria do estudo desenhada no software Plaxis 2D.

Quadro 6 – Parâmetros de resistência dos materiais


Peso Modulo de
Coesão
Material Modelo especifico Ângulo de Atrito (o) elasticidade 
(kPa)
(kN/m³) (kPa)

Areia Siltosa Mohr-Coulomb 18 27 70 24500 0,3


Silte Argiloso Mohr-Coulomb 21 37 250 75643 0,4
Estaca Linear-Elástico 24 x x 22000000 0,15

Figura 4 – Geometria da simulação numérica

Para realizar a análise numérica utilizando o software PLAXIS 2D, é necessário determinar as seguintes
condições de contorno: a geometria do problema e as restrições quanto ao deslocamento. A geometria do
terreno onde se encontra a fundação, possui uma forma retangular, a profundidade do impenetrável, que
foi determinada a partir de ensaio SPT realizado na Universidade de Fortaleza, a partir de 20 metros de
profundidade os deslocamentos verticais serão restringidos. A largura da região analisada será tomada
como aproximadamente 5 m, assim, as fronteiras horizontais serão consideradas com deslocamentos
horizontais nulos. Em seguida, a geometria da estaca é inserida sob a geometria do solo de fundação. Após
a construção do contorno, a área de interesse é dividida, formando as camadas do solo. A definição do
modelo físico ocorre a partir da configuração da metodologia de análise do software PLAXIS 2D. Definem-
se as unidades, o método de solução numérica e o tipo de análise. Neste problema foram utilizadas a
unidade de comprimento em metros, tensões em kPa, a solução por eliminação Gaussiana e a análise do
tipo axissimetrica. Para a modelagem, foram considerados os modelos de Mohr-Coulomb para o solo e
linear elástico para a estaca. O ponto utilizado para a análise, está localizado no topo e no centro da estaca.

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Definem-se os estágios de análise, totalizando 2 estágios, onde o 1º estágio refere-se a construção da


estaca. No 2º estágio, realiza-se o carregamento da estaca. Vale comentar que o efeito da pressão de
injeção inerente às estacas raiz não foi considerado na modelagem numérica.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para estimativa de recalque pelo método de Bowles, primeiramente determinou-se a capacidade de carga
utilizando os métodos de Cabral (1986) e de Lizzi (1982). A determinação da capacidade de carga, pelo
método de Cabral (1986) é utilizada apenas para estaca raiz e faz-se necessário os dados do ensaio de
percussão com os valores de NSPT e tipo de solo a cada metro perfurado, pois na sua expressão matemática
utilizam-se dados dos Quadros 1 e 2, como fatores β (de acordo com o diâmetro da estaca e pressão de
injeção) e fatores β1 e β2 (de acordo com o tipo de solo). O método de Lizzi (1982) não leva em
consideração a resistência de ponta das estacas e atribui a resposta ao carregamento aplicado ao atrito
lateral. A capacidade de carga é estimada a partir da geometria da estaca (comprimento e diâmetro), um
valor K que representa a interação média entre a estaca e o solo, ou seja, a aderência solo-estaca e um
valor de I, coeficiente adimensional de forma, que depende do diâmetro nominal da estaca. No Quadro 7,
apresenta-se os valores estimados para a capacidade de carga para os métodos de Cabral (1986) e de Lizzi
(1982). Em seguida utilizam-se os dados de capacidade de carga para determinação de recalque pelo
método de Bowles, que será calculado em três etapas. Na primeira etapa calcula-se a força axial média em
cada segmento de comprimento ΔL, área da seção da estaca (Amed), e o módulo de elasticidade da estaca
(Ep). Na segunda etapa calcula-se o recalque na ponta e, por último, na terceira etapa soma-se o recalque
axial e o recalque da ponta para se atingir o recalque total, como se pode observar no Quadro 8.

Quadro 7 – Capacidade de Carga - Método de Cabral (1986) e Lizzi (1982)

Método Capacidade de carga (kN)

Cabral (1986) 484,6


Lizzi (1982) 701,2

Quadro 8– Recalque - Método de Bowles (2001)


Método Cabral (1986) Lizzi (1982)

Recalque Axial (mm) 0,84 0,18


Recalque da Ponta (mm) 41,59 60,17
Recalque Total (mm) 41,77 60,35

De acordo com o Quadro 8, observa-se que os valores de recalque axial são bastante inferiores do que os
valores de recalque da ponta, tendo essa maior relevância no valor do recalque total. Por fim, para a
previsão da curva carga-recalque, utilizou-se o método de Van der Veen (1953), assim, adota-se uma carga
maior que a capacidade de carga lateral e menor ou igual a carga de ruptura, de acordo com a equação
10, e em seguida, determina-se o recalque para a carga adotada pelo método de Bowles. Encontra-se um
valor de (fator que define a forma da curva), assim, estimam-se os valores de recalque e obtêm-se as
cargas correspondentes a estes recalques, como mostra o Quadro 9, resultando na expressão matemática
da curva carga-recalque, de acordo com a Figura 5.

Quadro 9– Dados para curva carga-recalque - Método de Van der Veen (1953)
Prova de Carga Lizzi (1982) Cabral (1986)
Carga (kN) Recalque (mm) Carga (kN) Recalque (mm) Carga (kN) Recalque (mm)
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
80,0 0,1 190,3 3,0 181,7 3,0
160,0 0,3 329,0 6,0 295,3 6,0
240,0 0,4 430,0 9,0 366,3 9,0
320,0 2,8 503,6 12,0 410,7 12,0
400,0 5,8 557,3 15,0 438,4 15,0
440,0 7,4 596,3 18,0 455,8 18,0
480,0 8,9 624,8 21,0 466,6 21,0
520,0 11,9 645,5 24,0 473,4 24,0
560,0 22,1 660,6 27,0 477,6 27,0
585,9 35,6 671,7 30,0 480,3 30,0
683,8 35,0 482,7 35,0

584
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600 700 800
0
5
10
Recalque (mm)
15
20
25
30
35
40
45

Prova de Carga Lizzi - Bowles Cabral-Bowles

Figura 5 – Comparação Prova de carga x Métodos Semi-Empirícos

A partir dos resultados, verifica-se que as curvas apresentaram comportamentos semelhantes até uma
carga de 100 kN. Para a carga de trabalho da estaca que é de 300 kN, verifica-se um recalque de 2,5 mm,
enquanto que para os métodos semi-empirícos foram estimados recalques de 5,1 mm para o de Lizzi (1982)
e 7,3 mm para o de Cabral (1986), apesar de os métodos apresentarem recalques com o dobro do valor
de referência, os mesmos apresentam uma mesma ordem de grandeza. Quanto a capacidade de carga,
observa-se uma diferença de 17,2% entre o ensaio de prova de carga e o método de Cabral (1986), sendo
este um método conservador e que está a favor da segurança. Já o método de Lizzi (1982) se mostrou
contra a segurança, pois apresentou uma capacidade de carga superior ao do ensaio de prova de carga em
torno de 16,5%.

Na análise numérica, as condições de contorno são definidas na modelagem, restringindo deslocamentos


na fronteira inferior em contato com o impenetrável, onde não ocorrerão deslocamentos verticais e nas
fronteiras laterais não ocorrerão deslocamentos. As condições de deslocamento utilizadas foram as mesmas
para todos os estágios da análise, criando-se uma malha de elementos finitos, assim, o software realiza a
computação da situação apresentada no estudo de caso (Figura 6a). Após a simulação, é possível avaliar
a deformação da malha de elementos finitos e determinar o recalque da estaca (Figura 6b).

Figura 6 – (a) Malha de elementos finitos; (b) Malha de elementos finitos deformada

No Quadro 10 estão apresentados os valores das curvas carga-recalque para as diferentes metodologias
utilizadas e a Figura 7 apresenta a curva carga-recalque obtida pelas mesmas metodologias. Verifica-se
que a modelagem numérica apresentou concordância com os valores de recalque dos métodos semi-
empiríco até uma carga de 400 kN. A simulação numérica estimou um recalque de 6,2 mm para carga de
trabalho de 300 kN, enquanto a prova de carga apresentou um recalque de 2,5 mm, assim, verificando

585
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

que a simulação numérica apresenta um recalque 3 vezes maior do que o observado na prova de carga.
Vale comentar ainda, que apesar de a simulação numérica apresentar um recalque superior ao recalque
verificado no ensaio de prova de carga, a ordem de grandeza dos valores obtidos é semelhante, e do ponto
de vista da engenharia de fundações, pode-se inferir que o recalque avaliado pela simulação numérica é
concordante com o obtido pelo ensaio de prova de carga. Já quando comparado com os recalques obtidos
pelos métodos semi-empirícos, observam-se valores de recalque convergentes. Avaliando o
comportamento da curva carga-recalque do ensaio de prova de carga, a simulação numérica foi a
metodologia que apresentou a melhor estimativa de comportamento. Enquanto os métodos semi-empirícos,
apresentaram divergências notórias ao simular o comportamento da curva carga-recalque do ensaio de
prova de carga.

Quadro 10 – Curva carga-recalque estimada pelo Método de Van der Veen (1953)
Prova de Carga PLAXIS 2D Lizzi (1982) Cabral (1986)
Carga (kN) Recalque (mm) Carga (kN) Recalque (mm) Carga (kN) Recalque (mm) Carga (kN) Recalque (mm)

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0


80,0 0,1 71,6 1,4 190,3 3,0 181,7 3,0
160,0 0,3 179,2 3,5 329,0 6,0 295,3 6,0
240,0 0,4 215,0 4,3 430,0 9,0 366,3 9,0
320,0 2,8 250,8 5,0 503,6 12,0 410,7 12,0
400,0 5,8 286,7 5,8 557,3 15,0 438,4 15,0
440,0 7,4 321,0 6,6 596,3 18,0 455,8 18,0
480,0 8,9 458,0 15,3 624,8 21,0 466,6 21,0
520,0 11,9 550,6 29,9 645,5 24,0 473,4 24,0
560,0 22,1 585,8 36,6 660,6 27,0 477,6 27,0
585,9 35,6 600,5 39,8 671,7 30,0 480,3 30,0
629,6 46,2 683,8 35,0 482,7 35,0

Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600 700 800
0
5
10
Recalque (mm)

15
20
25
30
35
40
45
50

Prova de Carga Lizzi - Bowles Cabral-Bowles Plaxis 2D

Figura 7 – Comparação Prova de carga x Métodos Analisados

Para o valor da carga de ruptura de 585,9 kN, a simulação numérica apresentou um recalque de 36,6 mm,
enquanto que a prova de carga apresenta um valor de 35,6 mm. Assim, indicando que a modelagem
apresentou valores de recalques convergentes com os do ensaio de prova de carga para a carga de ruptura
da estaca. Vale comentar ainda que os parâmetros utilizados para a simulação numérica foram obtidos a
partir de correlações com o NSPT, fato que pode explicar a concordância da simulação com os métodos
semi-empirícos de estimativa de recalque para a carga de trabalho analisada.

586
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5- CONCLUSÕES

Por meio do presente trabalho, observou-se que, apesar de ser um método de investigação geotécnica de
simples execução e baixo custo, o ensaio SPT possui algumas limitações que podem gerar uma grande
diversidade nos resultados de cálculos fundamentados em seus dados. Por conta disso, foi verificado que
a estimativa de recalques em uma estaca do tipo raiz através de métodos baseados em ensaios SPT pode
fornecer recalques diferentes daqueles obtidos nos ensaios de prova de carga, cujas medições,
normalmente, são considerados como referência em projetos de fundações.

A partir das análises realizadas, foi possível constatar que os métodos semi-empíricos de previsão de
recalque em fundações profundas para solos silto-arenosos apresentaram estimativas razoáveis do ponto
de vista de engenharia. Porém, do ponto de vista numérico, os mesmos apresentaram valores de recalque
superiores da ordem de 2 ou 3 vezes. Apesar de os métodos semi-empíricos apresentarem recalques com
o dobro do valor de referência, os mesmos apresentaram uma mesma ordem de grandeza. Vale ressaltar
ainda, a importância de uma estimativa razoável da capacidade de carga, pois a mesma influencia
diretamente no cálculo dos recalques avaliados neste estudo. Avaliando a capacidade de carga, verificou-
se um valor inferior da ordem de 17,2%, ao comparar o método de Cabral (1986) e o ensaio de prova de
carga, já o método de Lizzi (1982) apresentou uma capacidade de carga superior ao do ensaio de prova de
carga em torno de 16,5%, superestimando a capacidade de carga da estaca.

A modelagem numérica utilizando parâmetros baseados no NSPT apresentaram concordância com os valores
de recalque dos métodos semi-empirícos até uma carga de 400 kN. A simulação numérica estimou um
recalque 2,5 vezes superior ao obtido pelo ensaio de prova de carga quando comparados os recalques para
a carga de trabalho. Apesar disso, é possível inferir que o resultado da análise numérica apresentou uma
estimativa satisfatória, tendo em vista que os valores de racalque observados foram da mesma ordem de
grandeza e que os parâmetros de resistência do solo utilizados na análise numérica foram obtidos a partir
de correlações com os valores de NSPT.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo apoio
financeiro e concessão de bolsas.

REFERÊNCIAS

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23, pp. 137-142.

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com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro: Moderna, 17 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2006) - ABNT 12131: Estacas – Prova de carga estática – Métodos
de ensaio. Rio de Janeiro: Moderna, 16 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2010) - ABNT 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro:
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(Doutorado em Engenharia Civil) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. 430 p.

Benati, J. B. (2007) - Metodologia de Execução e Determinação da Capacidade de Carga de Estacas de Pequeno Diâmetro
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588
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE COMPARATIVA DE RECALQUES MEDIDOS E PREVISTOS


UTILIZANDO-SE ABORDAGEM DE EFEITO DE GRUPO EM OBRA NA REGIÃO DE
ICARAI, NITERÓI

COMPARATIVE ANALYSIS OF MEASURED AND EXPECTED SETTLEMENTS


USING GROUP EFFECTS APPROACH IN A SITE LOCATED IN ICARAÍ, NITERÓI

Pereira, Pedro Gomes dos S.; Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
pgomes.eng@gmail.com
Freitas, Alessandra C.; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
alessandracfreitas@poli.ufrj.com
Danziger, Bernadete R.; Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
bernadeterd@hotmail.com

RESUMO

Para profissionais envolvidos em obras geotécnicas de fundações tais como engenheiros, projetistas e
executores, assim como para o cliente final, é de grande interesse avaliar cuidadosamente o desempenho
das obras construídas. Isto pode ser feito com base na instrumentação das mesmas e, consequentemente,
através da comparação dos valores obtidos experimentalmente com aqueles previstos por ocasião de
projeto. O caso estudado trata-se de um edifício residencial de vários andares construído em Jardim Icaraí,
bairro localizado no município de Niterói, no Rio de Janeiro, onde foi realizada uma análise em termos de
recalque. A obra foi instrumentada durante sua construção, possibilitando, assim, a obtenção dos recalques
das fundações após a sua realização. Devido à proximidade das fundações da parte interna da edificação,
foi avaliada a metodologia para previsão de recalque de fundações superficiais sugerida por Barata (1962),
que contempla a interação entre os elementos de fundação, ou seja, o efeito de grupo (abordagem do
radier fictício equivalente). Além da análise do problema considerando-se o efeito de grupo, o conceito de
fronteira rígida abordado por Shultze e Sherif (1973) também é utilizado neste trabalho, bem como a
consideração de flexibilidade da fundação. Por fim, os recalques estimados com base no do método
preconizado por Barata (1962) são comparados com o mapa de recalque da obra, obtido com base nos
resultados oriundos da instrumentação. Observou-se desejável proximidade entre os valores estimados
com os obtidos por instrumentação, ratificando a relevância do método para este caso estudado.

ABSTRACT

For many professionals involved in geotechnical aspects of foundations, such as engineers, designers and
contractors, as well as for the construction owner, it is very interesting to carefully evaluate the performance
of the building during construction and after the loadings application. This can be done by means of the
instrumentation and by comparing the predicted settlements with those obtained experimentally. The case
study refers to a residential building built in Jardim Icaraí, a neighborhood located in Niterói, in Rio de
Janeiro, where a settlement analysis was carried out. The geotechnical designer option consisted in shallow
footings in the central region and steel piles in the periphery of the building. Furthermore, the foundations
have been instrumented since the beginning of the construction. Due to the proximity of the shallow
foundations, the group effect for settlement estimation suggested by Barata (1962) has been considered
in the calculations. This procedure has taken into due account the interaction between the foundation
elements. In addition to this analysis considering the group effect, as an equivalent raft foundation, the
concept of a rigid boundary, as discussed by Shultze and Sherif (1973) has also been evaluated. The
flexibility of the foundation has been considered too. Finally, the estimated values have been compared to
the measured settlements, obtained by the instrumentation. Very good agreement has been observed when
estimated settlements have been compared to the experimental ones. The authors expectations have been
confirmed, indicating the relevancy of the method adopted.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

Na engenharia geotécnica, o recalque, deslocamento vertical descendente da fundação ou de um ponto da


mesma, é um fenômeno que desperta bastante interesse e, portanto, existem diversos estudos
relacionados à sua estimativa. Este fenômeno é a causa direta de inúmeros problemas estruturais e
estéticos amplamente observados em diversas construções. Portanto, torna-se de suma importância uma
estimativa acurada dos recalques que poderão ocorrer durante o período construtivo e depois de finalizada
a obra.

Este artigo visa comparar o recalque estimado pelo método de Barata, tendo sido incorporada a análise do
efeito de grupo, com os valores decorrentes de instrumentação realizada por Rosa (2015).

2- CASO ESTUDADO

Trata-se de um edifício residencial de vários andares cuja obra foi realizada em Jardim Icaraí, bairro
localizado no município de Niterói, no Rio de Janeiro. Como projeto de fundações foram utilizadas sapatas
na parte interna da área construída e estacas metálicas na região periférica, como pode ser visto na Figura
1. Nesta figura são também indicadas as posições em planta das seis sondagens de simples reconhecimento
“SPT” (standard penetration test) nomeadas de SP01 a SP06.

As cargas distribuídas por pilares foram disponibilizadas previamente pelo engenheiro responsável. Já os
dados obtidos na investigação geotécnica bem como os perfis estratigráficos definidos com base nestas
sondagens, foram obtidos através de documentos relativos ao projeto, cujos detalhes podem ser obtidos
em Rosa (2015) que também apresenta uma série de ensaios de caracterização realizados em amostras
retiradas por ocasião das escavações. Os ensaios de caracterização foram úteis na confirmação da
estratigrafia e definição do tipo de solo obtida diretamente nas sondagens.

Neste artigo serão analisadas apenas as fundações superficiais, conforme apresentadas na Figura 1,
embora tenham sido utilizadas fundações superficiais na região central e fundações profundas na periferia
da área construída. Como as fundações profundas consistiram em estacas metálicas longas, trabalhando
predominantemente por atrito, o recalque provocado pelas mesmas é insignificante quando comparado ao
recalque causado pelas fundações diretas.

Figura 1 - Planta baixa com numeração das sapatas e locação das sondagens (adaptado de Rosa 2015)

590
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Nas Figuras 2 e 3 são apresentados os perfis estratigráficos obtidos com base nos ensaios realizados. No
perfil apresentado na Figura 2, foram utilizadas as sondagens SP01, SP03, SP04 e SP06. Já na Figura 3
foram utilizadas as designadas por SP05, SP04, SP03 e SP02. Nestas figuras também é indicada a posição
do nível d’água (NA) do lençol freático e o limite do impenetrável às ferramentas de percussão do
equipamento, em cada uma das sondagens, sendo representados nas figuras apenas como “impenetrável”.

Figura 2 - Perfil geotécnico 1 (adaptado de Rosa 2015)

Figura 3 - Perfil geotécnico 2 (adaptado de Rosa 2015)

Os perfis estratigráficos apresentados nas Figuras 2 e 3 são detalhados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente,
apresentadas a seguir. Nestas tabelas são apresentados os valores do índice de penetração do amostrador
(NSPT) obtidos a cada metro e as respectivas profundidades ensaiadas. Também é apresentada a
profundidade (média) do nível d’água (NA) em relação ao nível do terreno (NT). Nas referidas tabelas o
impenetrável à percussão é designado pela sigla “Imp.”.

Embora no perfil geotécnico local se observe a presença de duas camadas de argila arenosa, os ensaios de
caracterização indicaram uma porcentagem elevada de areia. Como não se observou, após o final da
construção, o aumento do recalque com o tempo, considerou-se nas estimativas todo o maciço como de
compressibilidade rápida, predominantemente arenoso.

591
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Tabela 1 - Valores de NSPT obtidos para o perfil estratigráfico 1 em função da profundidade


Profundidade
(m) SP06 SP04 SP03 SP01

0 - - - -
1 7 7 8 8
2 17 15 12 11
3 19 19 19 17
4 29 28 31 30
5 25 16 25 31
6 17 21 26 34
7 31 27 27 27
8 17 21 12 25
9 16 24 19 27
10 19 29 27 31
11 25 29 25 24
12 28 26 25 28
13 28 25 28 30
14 30 28 31 Imp.
15 31 33 29
16 34 34 31
17 Imp. Imp. 35
18 Imp.
Posição do NA ≈ 2,0 metros abaixo do NT

Como a faixa de variação dos valores de NSPT obtidos nas distintas camadas é relativamente pequena, até
mesmo nas camadas argilo arenosas, todo o perfil foi considerado como predominantemente arenoso com
presença de finos para fins de dimensionamento das fundações. Além disso, foi estabelecido um único perfil
representivo da área estudada, definido com base na média dos valores obtidos a cada metro de
profundidade a partir das sondagens SP03 e SP04. Tal procedimento foi estabelecido em função destas
duas sondagens terem sido realizadas na parte central da área estudada, onde se concentram as fundações
superficiais.

Tabela 2 - Valores de NSPT obtidos para o perfil estratigráfico 2 em função da profundidade


Profundidade
SP05 SP04 SP03 SP02
(m)
0 - - - -
1 10 7 8 10
2 29 15 12 13
3 24 19 19 17
4 18 28 31 25
5 27 16 25 27
6 24 21 26 29
7 25 27 27 32
8 27 21 12 34
9 25 24 19 13
10 27 29 27 25
11 15 29 25 29
12 28 26 25 29
13 25 25 28 27
14 26 28 31 31
15 31 33 29 34
16 35 35 31 Imp.
17 Imp. Imp. 35
18 Imp.
Posição do NA ≈ 2,0 metros abaixo do NT

Além disso, como parte fundamental do projeto, as cargas nos pilares estimadas pelo projetista responsável
são apresentadas a seguir, na Tabela 3. Estas são relacionadas às respectivas sapatas que foram
apresentadas anteriormente, na Figura 1. Na tabela 3 também é destacada a soma destes valores, que

592
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

serão muito importantes para o desenvolvimento das estimativas de recalque considerando-se a


abordagem de radier fictício equivalente.

Tabela 3 - Valores de carga de projeto de cada sapata (Rosa, 2015)

Sapata Carga (kN) Sapata Carga (kN)

M11 5114 M27 6848


M15 6038 M17 5286
P13+P36 14286 P18 13219
M25 6181 M28 6200
P14+P21 11048 P24 5924
M26 4676 M29 7476
M16 6029 M22 12971

Somatório das cargas nas sapatas = 111 296 kN

3- ESTIMATIVA DE RECALQUE

3.1 - Abordagem do radier fictício equivalente

A estimativa do recalque relativo às sapatas executadas, por estarem muito próximas uma das outras, foi
realizada através da abordagem que considera o efeito de grupo, conforme sugerido por Barata (1962).
Segundo Barata (1986), quando sapatas se aproximam bastante a ponto de ocasionar uma interferência
lateral entre os bulbos de tensões, estas tendem para uma condição cada vez mais semelhante àquela do
radier. Assim, para a previsão dos recalques de um prédio sobre sapatas consideradas pouco afastadas
entre si, Barata (1986) comenta que é possível calcular-se o recalque como se fora um radier geral (com
a pressão média correspondente). Portanto, para o caso estudado, a área de terreno ocupada pelas
fundações superficiais projetadas foi considerada, para fins de dimensionamento, como um grande radier
flexível equivalente.

A Figura 4 apresenta em planta a área hachurada e, em vermelho, a que corresponde à posição relativa do
radier hipotético equivalente considerado. A área do radier equivalente, com 21 x 31m, e sua posição foram
definidas de modo que a distribuição das sapatas em planta fossem contempladas. Destaca-se também
que a área selecionada do radier procurou também atender a posição do centro de gravidade do
carregamento, para que o mesmo se aproximasse do centro geométrico da área do radier e, ao mesmo
tempo, não incluisse os pilares com fundação profunda. Portanto, a excentricidade existente no radier pode
ser desconsiderada.

Figura 4 - Representação, em planta, do radier equivalente (adaptado de Rosa, 2015)

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Na Figura 4 pode-se observar que o radier equivalente não irá conter integralmente as projeções, em
planta, das sapatas projetadas. Parte das sapatas posicionadas na periferia do radier tem parte de sua
área, em planta, fora da região compreendida pelo radier fictício. No presente caso o critério utilizado foi
manter fora da área do radier fictício equivalente (651 m2) apenas aproximadamente 81 m2 de área de
projeções das sapatas, que representa cerca de 13% da área do radier considerado.

Conforme mencionado anteriormente, para o solo sob o radier foi considerado um perfil estratigráfico
equivalente em que os valores de NSPT foram estimados com base na média dos valores obtidos a cada
metro de profundidade, a partir das sondagens SP03 e SP04, por serem as representativas da região do
radier equivalente.

A estimativa do recalque considerando-se a abordagem de radier fictício é apresentada no item 4.

3.2 - Fronteira Rígida

Foram considerados dois cenários distintos para a estimativa do recalque: (i) no primeiro, considerou-se o
trecho do perfil impenetrável à percussão como fronteira rígida, e (ii) no segundo cenário, ao trecho do
perfil caracterizado como fronteira rígida foi atribuído um valor de NSPT constante (NSPT = 34).

A noção de fronteira rígida, conforme indicada na Figura 5, foi tratada por Harr (1966) e Shultze e Sherif
(1973). Neste conceito, a descontinuidade em termos de resistência do terreno deve ocorrer a uma
distância entre a base da fundação e a fronteira rígida “H” não muito maior que a menor dimensão “B” da
fundação (H<2.B). Para o caso estudado H≈13m, inferior à 2B = 42m, sendo B = 21m a menor dimensão
do radier fictício equivalente considerado.

Figura 5 - Noção de fronteira rígida, adaptado de Harr (1966) e Shultze e Sherif (1973)

Para casos dessa natureza, Barata (1986) indica que o recalque estimado (Δhestimado) deve ser corrigido
(Δhcorrigido) de modo que este seja minimizado, levando-se em consideração a influência da fronteira rígida
na fundação, conforme indicado na equação seguinte.

Δhcorrigido =I×Δhestimado [1]

Esta correção é feita com base na adoção de coeficiente de redução de recalque (I) preconizado por Shultze
e Sherif (1973), cujos valores são apresentados na Tabela 4. Este coeficiente (I) é função das dimensões,
em planta, da fundação (B e L) e da distância entre a base da mesma e a fronteira rígida existente abaixo
da base da fundação (H), conforme indicado na Figura 5.

Tabela 4 - Valor do coeficiente I relacionado à fronteira rígida (Shultze e Sherif, 1973)


L/B 1 2 5 100
H/B

1,5 0,97 0,89 0,87 0,85


1,0 0,76 0,73 0,65 0,55
0,5 0,52 0,48 0,43 0,39

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.3 - Recalque

O recalque estimado (Δh = Δhestimado) é obtido com base na metodologia proposta por Barata (1984).
Cumpre salientar que esta metodologia, segundo Barata (1984 e 1986), pode ser aplicada para previsão
de recalque de fundações superficiais assentes em terrenos de compressibilidade rápida, como é o caso do
perfil predominantemente arenoso do caso em estudo. Barata (1962 e 1966) propõe a seguinte expressão:
B
∆h =λ.c∆ .p. .(1-μ) [2]
Ez

onde Δh é o recalque estimado da fundação na profundidade de assentamento h; λ é o coeficiente que


considera o efeito da profundidade de assentamento da fundação, designado por coeficiente de Mindlin; cΔ
é o fator de forma da fundação que leva em consideração a relação entre as dimensões da fundação (L/B);
p é a tensão líquida uniformemente distribuída na fundação; B é a menor dimensão da fundação; Ez e μ
são respectivamente o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do solo.

Barata (1962) admite a relação da seguinte equação entre o módulo de elasticidade e a resistência de
ponta do do ensaio de cone:
Ez =α.qc [3]

Na ausência do ensaio de cone, correlaciona-se os valores obtidos no ensaio SPT pela seguinte equação:
qc =K.NSPT [4]

Nesta equação, α é o coeficiente de Buisman e K é o fator que correlaciona os ensaios de cone e SPT,
sugerido por Danziger e Velloso (1995), que dependem do tipo de solo. Para o caso estudado, no entanto,
o módulo de elasticidade foi obtido a partir da correlação proposta por Freitas et al.(2012) como será visto
mais adiante, no item 4.

De acordo com o sugerido pela metodologia preconizada por Barata, o valor adotado na estimativa de
recalque será o módulo de elasticidade (Ez) relativo à profundidade do meio do bulbo de tensões. Valor
este que será representativo para o solo estudado. Para a estimativa da profundidade do bulbo de tensões
(profundidade do bulbo =  . B), foi utilizada a tabela 5, na qual L é a maior dimensão da fundação e B a
sua menor dimensão.

Tabela 5 - Valores de  para estimativa da profundidade do bulbo de tensões de uma fundação de comprimento L e
largura B (Barata, 1984)

Relação L/B Valor aproximado de 

1 2,0

1,5 2,5

2 3,0

3 3,5

4 4,0

5 4,25

10 5,25

20 5,50

infinito 6,50

Complementando as variáveis utilizadas para a estimativa do recalque, a Figura 6 apresenta o ábaco


introduzido por Barata(1962) que permite estimar valores do coeficiente de Mindlin (λ) para fundações
retangulares, enquanto a tabela 6 apresenta os coeficientes de forma (C) de acordo com as dimensões da
fundação.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 6 - Coeficiente de Mindlin (λ) para fundações retangulares (adaptado de Barata, 1962)

Tabela 6 - Fatores de forma (C) relacionados às dimensões da fundação (Barata, 1984)


Sapatas Flexíveis
Forma Sapatas Rígidas
Centro Borda Médio
Circular 1 0,64 0,85 0,88
Quadrada 1,12 0,56 0,95 0,82
L/B = 1,5 1,36 0,68 1,2 1,06
Retangular

L/B = 2,0 1,53 0,77 1,31 1,2


L/B = 5,0 2,1 1,05 1,83 1,7
L/B = 10 2,52 1,26 2,25 2,1
L/B = 100 3,3 1,69 2,96 3,4

4- RESULTADOS OBTIDOS

Para se estimar o recalque, considerando-se o efeito de grupo, foi utilizado o radier equivalente
representado pela área hachurada, ilustrada na Figura 4, cujas dimensões são de 31 x 21 metros conforme
descrito anteriormente. Por possuir grandes dimensões, de acordo com o método de Barata (1962), o radier
utilizado para projeto será considerado flexível. Além disso, será adotada, para o radier fictício equivalente,
a cota de assentamento de 4 metros, por ser um valor mediano entre 3,58m e 5,45m que são as
profundidades de assentamento das sapatas consideradas, como informado na Tabela 7.

Tabela 7 - Cota de assentamento das sapatas

Cota de assentamento
Sapatas
(m)

P13+P36, P14+P21, M15, M16, M17, M22, P18, P24 +3,58

Demais +5,45

Em relação ao perfil estudado, foram utilizados valores medianos relacionados às sondagens 03 e 04, visto
que são os ensaios que mais refletem as características do solo em que o radier se encontra. Freitas et al.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

(2012) apresentam correlações estatísticas para o cálculo do módulo de elasticidade (Ez) e o N60, que
corresponde a 60% da energia potencial teórica do ensaio SPT para areias sedimentares puras. Esta
correlação se encontra indicada na equação seguinte, proposta por Freitas et al. (2012), em que o módulo
de elasticidade pode ser expresso em números redondos (para estimativas de recalques em areias puras):
0,8
EZ =8000×N60 [5]

No caso em apreço, por não se tratar de uma areia totalmente pura, para a estimativa do módulo de
elasticidade do solo foi utilizada a equação seguinte, adaptada de Freitas et al. (2012) e baseada em
intervalos de confiança propostos por Freitas (2010):
0,8
EZ =6000×N60 [6]

Nesta equação, Ez é o módulo de elasticidade e N60 é o número de golpes relativos a 60% da energia
potencial teórica do ensaio SPT.

Na Tabela 8 são apresentados os valores do módulo de elasticidade (Ez) adotados conforme à profundidade
e ao número de golpes (NSPT) do perfil representativo. Cabe salientar que os valores de N60 apresentados
na Tabela 8 foram obtidos a partir da equação seguinte introduzida por Cavalcante et al. (2003, 2004,
2011), para uma padronização geral de resultados:

N60 =1,37×NSPT [7]

Tabela 8 - Valores de NSPT, N60 e Ez em função da profundidade


Profundidade NSPT Ez
N60
(m) (Brasil) (kPa)
1 7 9,59 36610,5
2 13 17,81 60073,4

3 19 26,03 81382,4

4 29 39,73 114142,2

5 20 27,4 84791,4

6 23 31,51 94822,2

7 27 36,99 107800,0

8 17 23,29 74453,8

9 21 28,77 88166,4

10 28 38,36 110982,4

11 27 36,99 107800,0

12 25 34,25 101363,1

13 26 35,62 104593,9

14 29 39,73 114142,2

15 31 42,47 120397,4

16 33 45,21 126572,4
17 34 46,58 129631,6

Com base nos valores de módulos de elasticidade encontrados e apresentados na Tabela 8, foram plotados
os pares de valores de módulo de elasticidade (kPa) versus profundidade (m). A estes pontos foi ajustada
uma reta com a finalidade de representar a tendência de comportamento do módulo de elasticidade ao
longo da profundidade avaliada, levando-se em consideração a ordem de grandeza dos valores
encontrados. A Figura 7, a seguir, ilustra a reta adotada.

597
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 7 – Curva módulo de elasticidade (Ez) em kPa versus profundidade em metros

Como o radier equivalente está assente em uma profundidade de 4 metros a partir do nível do terreno, seu
bulbo se situará a uma profundidade de 4 até 4 + 2,5B metros, o que significa que o final do bulbo de
tensões se encontrará a 56,5 metros da superfície do terreno. Assim, o valor do módulo de elasticidade
(Ez) a ser utilizado na estimativa do recalque será o valor correspondente à metade do bulbo de tensões
(1,25B). Deste modo, a profundidade utilizada para a estimativa do módulo de elasticidade será de
aproximadamente 30 metros.

Por fim, calcula-se a pressão líquida relativa à parcela do radier equivalente no solo onde este será
construido. Para isto, o valor de peso específico natural arbitrado para o solo através dos valores de
sondagens encontrados no ensaio SPT será de 20 kN/m³. Com isso, o peso específico submerso equivale à
10 kN/m³.

Neste caso, para a tensão líquida serão consideradas as seguintes parcelas:

psolo =(20×2)+(10×2)=60 kPa

psapata =111296÷(21×31)=170,96 kPa

Por ser considerado um radier equivalente flexível, o recalque encontrado no centro será diferente quando
comparado às bordas. Para elaboração da estimativa de recalque segundo essas premissas, foi utilizada a
tabela 6, que introduz os fatores de forma relacionado às dimensões do radier analisado.

CASO 1: Desprezando-se a consideração de fronteira rígida na análise do recalque do radier equivalente.

Para a consideração do radier equivalente e flexível, substituindo os valores encontrados ao longo deste
trabalho na Equação 2 explicitada anteriormente, chega-se aos seguintes resultados, tendo sido desprezada
a consideração da fronteira rígida:

Δhcentro =1,11 cm

Δhbordas =0,55 cm

onde:

λ =0,99;µ=0,3; B=21 m;

Fatores de forma: Δccentro =1,36 ; Δcbordas =0,68 ;

p=110,96 kPa e Ez = 257000 kPa

598
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

CASO 2: Considerando-se a fronteira rígida na análise do recalque do radier equivalente.

Ao ser considerada a fronteira rígida, os valores dos recalques estimados devem ser multiplicados pelo
coeficiente “I” indicado na tabela 4, e de acordo com a Equação 1, correspondente à relação L/B = 1,47 e
H/B = 0,81.

Assim, os recalques estimados para o radier equivalente e flexível, considerando-se a existencia de fronteira
rígida, são:

Δhcentro =1,11×0,65=0,72 cm

Δhbordas =0,55×0,65=0,36 cm

Na Figura 8 os valores dos recalques instrumentados por Rosa (2015) são apresentados por meio de curvas
de isorecalques. Nestas curvas os valores de recalques são fornecidos em centímetros. Ainda na Figura 8
é possível observar (curva vermelha tracejada) a projeção do radier fictício utilizado na estimativa de
recalque. Os eixos, na figura, apresentam valores em metros.

Com base na Figura 8, observa-se uma melhor concordância dos valores obtidos experimentalmente com
os valores de recalques estimados no presente trabalho, tanto no centro quanto na região periférica do
radier, de acordo com o CASO 1 apresentado anteriormente, em que considerou-se o radier fictício
equivalente flexível e tendo sido desprezada a fronteira rígida. Já o CASO 2, em que se considerou a redução
do recalque em função da existência da fronteira rígida, forneceu valores ligeiramente inferiores aos obtidos
experimentalmente. Cabe também destacar, que nas bordas extremas do radier equivalente os valores de
recalque são aproximadamente da mesma ordem, confirmando a consideração de pequena excentricidade.
Ou seja, o centro geométrico do radier se localiza bem próximo ao centro de carga resultante dos pilares.

Figura 8 - Mapa de recalque, em centímetros, com radier equivalente fictício representado pela curva tracejada.
Valores na escala externa fornecidos em metros (adaptado de Rosa, 2015)

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho foram analisados os recalques previstos e medidos referentes a um edifício localizado
no municipio de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Para o projeto em questão, foram previstas fundações
superficiais no interior da área construida e fundações profundas na região periférica da edificação.
Ressalta-se que foram analisados os recalques provenientes das fundações superficiais adotadas na região
central da edificação.

Foram utilizados como base para a elaboração deste trabalho: o mapa de cargas nos pilares e as curvas de
isorecalques obtidas por Rosa (2015), os ensaios de caracterização geotécnica da região estudada e a
metodologia de estimativa de recalque sugerida por Barata (1962 a 1986) que permite estimar o recalque
de fundação superficial. Adicionalmente, a metodologia permite avaliar a influência da existência de
fronteira rígida na redução do recalque estimado bem como considerar o efeito de grupo para o caso de

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

fundações superficiais próximas umas das outras, com base na substituição das fundações superficiais
existentes por um radier fictício equivalente.

Com base nas informações baseadas nos boletins de sondagens associadas ao SPT, foram realizadas
estimativas de recalque para duas situações de análise destacadas a seguir; Caso 1: ausência de fronteira
rígida e Caso 2: presença de fronteira rigida. Nos dois casos estudados adotou-se radier fictício equivalente
para considerar o efeito de grupo.

As estimativas de recalque efetuadas permitiram concluir que para o Caso 1, houve uma melhor
concordância entre os valores de recalque encontrados tanto no centro (1,11cm) quanto na região periférica
(0,55cm) do radier equivalente flexível considerado na análise com os valores obtidos experimentalmente
por Rosa (2015) (cerca de 0,9 cm no centro e 0,6 na periferia). Já o CASO 2, forneceu valores ligeiramente
inferiores aos obtidos experimentalmente (centro: 0,72 cm e na periferia: 0,36 cm). Assim, de acordo com
os resultados encontrados no presente trabalho, a estimativa de recalque realizada considerando-se o efeito
e grupo e desprezando-se a fronteira rígida configura-se como uma alternativa mais assertiva para o caso
estudado.

Por fim, sugere-se a continuação do presente estudo em trabalhos futuros a partir de diferentes abordagens
e considerações de projeto, no intuito de contribuir para o melhor entendimento do comportamento, em
termos de recalque, de fundações superficiais utilizadas em edificações, o que contribuirá, também, para
o acervo técnico da comunidade geotécnica.

REFERÊNCIAS

Barata, F. E. (1962) - Tentativa de Racionalização do Problema da Taxa Admissível de Fundações Direta. Tese de Livre
Docência – Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil.

Barata, F. E. (1966) – Ensaios de placa para fixação de taxa admissível de fundações diretas. III Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos. Belo Horizonte.

Barata, F. E. (1984) - Propriedades Mecânicas dos Solos: Uma Introdução ao Projeto de Fundações. ed. 1. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos.

Barata, F.E. (1986) - Recalque de Edifícios sobre Fundações Diretas em Terrenos de Compressibilidade Rápida e com a
Consideração da Rigidez da Estrutura. Tese de Concurso para Professor Titular, Departamento de Construção Civil,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Cavalcante et al. (2003) - Recent experience on SPT instrumentation. XII Pan-American Conference on Soil Mechanics
and Geotechnical Engineering, vol.1, 423-428.

Cavalcante et al. (2004) - Estimating the SPT penetration resistance from rod penetration based on
instrumentation. Second Conference on Site Characterization - Geotechnical and Geophysical Site
Characterization, Milpress Netherlands, v. 1, pp. 293-298.

Cavalcante et al. (2011) - Measurement of drop height and impact velocity in the Brazilian SPT system. Soils and Rocks,
vol.34, 207-218.

Danziger, B. R. e Velloso, D. A. (1995) - Correlations between the CPT and the SPT for some Brazilian soils. Proc. CPT’95,
Linkoping, Vol. 2.

Freitas, A. C. (2010) - Contribuição ao estudo do efeito tridimensional de instalação e de grupo em estacas cravadas em
areias. Dissertação de mestrado em geotecnia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

Freitas et al. (2012) - Estimating Young Moduli in Sands from Normalized N60 Blow Count. Soils & Rocks, v. 35, p. 89-
98, 2012.

Harr, M.E. (1966) - Foundations of Theoretical Soil Mechanics. NY, Brass DolphinBooks, 1966.

Rosa, L. M. P. (2015) - Interação solo x estrutura: Análise contemplando a consideração da fluência do concreto. Tese
de doutorado em engenharia civil. Universidade Federal Fluminense. Niterói.

Shultze, E. e Sherif, G. (1973) - Prediction of Settlements from Evaluated Settlement Observation for Sand. Proceeding
of the 8th International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Vol 1.3, pp 225-230.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS DE PROVAS DE CARGA EM PLACA


EM SOLO COLAPSÍVEL BRASILEIRO EM CONDIÇÕES NATURAL E INUNDADA

COMPARATIVE ANALYSIS OF PLATE LOAD TEST RESULTS IN BRAZILIAN


COLLAPSIBLE SOIL IN NATURAL AND FLOOD CONDITION

Paula, Daniel Cavalcante de; Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE, Brasil, danielcavcp@gmail.com


Aguiar, Marcos Fábio Porto de; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza-CE,
Brasil, marcosporto@ifce.edu.br
Mendes, Giullia Carolina de Melo; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Fortaleza-
CE, Brasil, giucmendes@gmail.com
Oliveira, Francisco Heber Lacerda de; Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, Brasil,
heber@det.ufc.br

RESUMO

O território brasileiro apresenta uma grande diversidade de tipos de solos com os mais variados
comportamentos, entre esses os solos colapsíveis, que são aqueles que sofrem uma brusca e acentuada
redução de volume, quando submetido a um determinado estado de tensão, com o aumento do teor de
umidade até um valor crítico, mesmo sem atingir a saturação completa. Dessa forma, é preciso prever sua
capacidade de suporte, através de provas de carga em placa, para que seja feita a escolha correta do tipo
de fundação a ser utilizada. O presente trabalho visa prever o comportamento de um solo superficial
localizado na cidade de Fortaleza-Ce, no Brasil, nas condições de umidade natural e inundado, submetidos
a carregamentos lentos decorrentes de provas de carga sobre placa. Para a realização desta pesquisa,
foram feitas coletas de dados de dois ensaios de prova de carga direta e ensaios de sondagens à percussão
(SPT). A análise dos dados foi feita através dos gráficos de pressão x deslocamento, resultante dos ensaios
de placa, com o intuito de se verificar a discrepância nos resultados obtidos em carregamentos com o solo
em condição natural e quando há presença de água. Notou-se, para a mesma tensão de projeto, nesse
caso, 200 kPa, significativa diferença de recalques para as variadas condições. Concluiu-se que é importante
verificar o comportamento do solo saturado, de forma a evitar que o projetista recomende a utilização
indevida de fundação direta, que pode acarretar em recalques excessivos e comprometer a estrutura da
edificação.

ABSTRACT

The Brazilian territory presents a great diversity soil types with the most variable behaviors, among them
the collapsible soils, the ones that suffer an abrupt and sharp volume reduction when pass by a certain
state of tension, increasing the moisture content to a critical value, even without reaching the complete
saturation. This way, it is necessary to predict the supporting capacity, through plate load test, for make
the right decision about the foundation type that will be used. The present paper aim to predict the behavior
of a superficial soil situated in the City of Fortaleza – CE, in Brazil, in conditions of natural content and
flooded, submitted by slow loads result of plate load tests. For this research achievement, data collections
of two plate load tests and SPT were made. The data analysis was made through the load x settlement
graphics, in order to verify the discrepancy in the results from loads with soil in natural condition and in
the presence of water. It was noticed for the same project tension, in this case, 200 KPa, a significant
settlement difference for the various conditions. It was concluded that it is important to verify the
unsaturated soil behavior, in order to avoid that the project planner recommends the wrong superficial
foundation, which can cause excessive settlements and compromise the building structure.

1- INTRODUÇÃO

Do ponto de vista da engenharia, a classificação de um solo é muito importante, para fins de avaliação do
seu comportamento quanto às solicitações em que será submetido. Por conta da diversidade existente, é
necessário realizar investigações prévias, para a correta classificação e identificação de características
mecânicas e, em alguns casos, reconhecimento de sua estrutura, como por exemplo, em casos de solos
expansivos e colapsivos. Quando em contato com água, esses solos podem comprovar problemas não
desejados, causando patologias nas fundações. Dessa forma, o presente trabalho visa identificar o
comportamento de um solo colapsível, localizado na cidade de Fortaleza-CE, Brasil, nas condições de
umidade natural e inundado, submetidos a carregamentos lentos decorrentes de provas de carga sobre
placa.

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2- SOLOS COLAPSÍVEIS

O entendimento do fenômeno do colapso dos solos é de suma importância para diversos tipos de obras de
engenharia, sejam fundações, barragens, entre outros, podendo, inclusive, interferir nas soluções de
projetos utilizadas para tais obras. Quando identificado, o colapso do solo natural pode evitar sérios
transtornos em muitas obras, tais como: desenvolvimento de trincas e rachaduras nas construções, ruptura
de aterros construídos sobre estes materiais, deslizamento de taludes, danos estruturais em pavimentos e
desabamento de túneis.

Segundo Vilar et al. (1981), praticamente todo o território brasileiro é propício para o desenvolvimento de
estruturas de solo colapsível, pois são comuns nas regiões de clima tropical, devido ao fato de dependerem
de fatores climáticos regionais e do ambiente geológico.

Na literatura, algumas difinições foram propostas, tais como a de Cintra (1998), no qual os solos colapsíveis
são aqueles que sofrem uma brusca e acentuada redução de volume, quando submetidos a um determinado
estado de tensões, com o aumento do teor de umidade até um valor crítico, mesmo sem atingir a saturação
completa. Já Cintra et al. (2011), definiram como solos não saturados, situados acima do lençol freático,
com alto índice de vazios e baixo teor de umidade. Vale salientar também, que, segundo Reginatto e Ferrero
(1973), os solos colapsíveis podem ser definidos de duas maneiras: solos verdadeiramente colapsíveis, que
quando inundados, colapsam devido à atuação do seu peso próprio; e os solos condicionados ao colapso,
cuja ocorrência de colapso está condicionada ao nível de tensão atuante no solo.

Segundo Menezes e Fraga (1994), as principais características e propriedades dos solos colapsíveis são:
solos jovens, com estrutura fofa e altamente porosa; matriz granular impregnada por partículas de silte ou
argila, com raros contatos grão a grão; não apresentam continuidade na relação tensão-deformação, o que
significa uma enorme mudança na estrutura do solo devido a alterações no nível de sobrecargas ou do
aumento do grau de saturação. Quando secas, as partículas apresentam forças intergranulares suficientes
para se manterem estáveis, sendo desfeitas com o umedecimento.

Gonçalves (2006) ressalta que, o fenômeno de colapso não pode ser confundido com o fenômeno de
adensamento, pois, enquanto que no adensamento ocorre a expulsão de água, no colapso ocorre expulsão
de ar. Outro fator importante, segundo o mesmo autor, é que a variação de volume ocorre lentamente no
adensamento, enquanto que no colapso ocorre em curto espaço de tempo.

2.1 - Estrutura dos Solos Colapsíveis

Para melhor se entender o processo de colapso dos solos, faz-se necessário conhecer a sua estrutura básica.
Segundo Rocha e Camapum de Carvalho (1989), a estrutura é altamente determinante para o
comportamento e características que os solos colapsíveis exibem. Ou seja, o solo colapsível apresenta uma
estrutura capaz de influenciar no comportamento do solo que, embora instável, possui uma rigidez
temporária mantida pela pressão de sucção ou cimentação. Toda via, essa resistência pode ser alterada
mediante o aumento do teor de umidade, que, ao ultrapassar um determinado limite crítico e
simultaneamente carregado, chega ao colapso. Portanto, conclui-se que a estabilidade provisória ou
aparente da estrutura deste solo é interrompida quando ocorrem variações de sucção por umedecimento,
alterações do equilíbrio eletromagnético das partículas e por alterações no estado de tensões.

Para Dudley (1970), a resistência adicional do solo está ligada diretamente às tensões capilares que atuam
no interior do maciço, em que a interface ar-água existente nos vazios do solo produz poropressão. Isto
faz com que a estrutura possua uma considerável resistência à deformação e ao cisalhamento.

2.2 - Processo de Colapso dos Solos

Quando algum agente externo é introduzido, geralmente água, tem-se uma diminuição da ação dos
mecanismos de suporte, o qual pode originar uma situação de desequilíbrio, fazendo com que os grãos
sejam capazes de deslizar (cisalhar) em direção aos espaços vazios, gerando, desta forma, o colapso da
estrutura do solo (Dudley, 1970).

Segundo Mathias e Radhakrishna (1968) apud. Mota (2006), para solos em que a ação de tensões capilares
e sucção são responsáveis pela sua resistência, o aumento do teor de umidade ocasionado por algum
processo de inundação faz com que os meniscos capilares diminuam e, consequentemente, ocorra uma
diminuição da sucção e da resistência ao cisalhamento do solo não saturado, acarretando em uma grande
redução de volume do solo, ou seja, do colapso. Para solos submetidos a estabilidades temporárias de sua
estrutura por meio de vínculos de argila, a ocorrência de carregamentos sob a umidade natural ou próxima
dela não é o suficiente para grandes deslocamentos entre suas partículas, visto que a resistência dos
vínculos de argila é elevada, podendo resistir à compressão. O aumento do teor de umidade do solo
ocasiona um enfraquecimento dos vínculos, ou, em alguns casos, a sua dissolução dada pelo espaçamento
excessivo dos grãos, levando o solo ao colapso.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

De acordo com Jennings e Knight (1957), qualquer redução de volume seria oriunda da compressão dos
finos entre os grãos maiores. Entretanto, se o solo recebe carga e ganha uma determinada umidade, os
vínculos podem não resistir às forças de deformação e a estrutura colapsa. Dudley (1970) sugere que a
resistência à deformação em estruturas mantidas por vínculos de argila é função, além da concentração de
sais, da temperatura e do índice de vazios da estrutura floculada.

Para solos com vínculos de partículas com arranjo floculado, há uma diminuição das tensões capilares com
o aumento do teor de umidade, reduzindo a concentração iônica do fluido e a coesão mantida pelos vínculos,
devido ao surgimento de forças repulsivas, acarretando na queda da resistência ao cisalhamento, e até
mesmo na dissolução das agregações, ocasionando o colapso do solo.

3- PROVA DE CARGA EM SOLO

A prova de carga em solo ou ensaio de placa é um ensaio estático de campo, realizado na superfície ou em
uma determinada profundidade, cuja finalidade é correlacionar cargas aplicadas ao terreno de fundação
direta e os recalques do solo ocasionados por essas cargas. Segundo Aguiar et al. (2014), o ensaio de
prova de carga em placa é um método experimental para determinação de parâmetros do comportamento
tensão x deslocamento de solos devido as solicitações.

O ensaio de placa, descrito pela ABNT (1984), consiste na instalação de uma placa rígida com área não
inferior a 0,5 m², equivalente ao diâmetro de 80 cm, instalada sobre o solo natural na mesma cota prevista
no projeto das fundações superficiais. Aplicam-se cargas verticalmente no centro da placa, através de
macacos hidráulicos, que são acoplados a um sistema de reação que pode ser de diversos tipos como, por
exemplo: caixões de areia (Figura 1a), plataformas carregadas (Figura 1b), estruturas ou vigas ancoradas
no terreno (Figura 1c), entre outros, de modo a não produzir choques ou trepidações, em estágios, e
medem-se os deslocamentos verticais simultaneamente com os incrementos de carga. Os resultados são
apresentados em gráficos de pressão x recalque.

Figura 1 – Tipos de sistemas de reação (Fonte: Barata, 1984)

De acordo com Cintra (1998), o ensaio de placa só é aplicável para solos razoavelmente uniformes em
profundidade, pois em caso de existência de camadas compressíveis mais profundas que não sejam
solicitadas pela placa, mas que sejam solicitadas pela fundação, essa prova de carga não terá validade,
visto que os bulbos de pressões serão diferentes, a não ser que se aumente o tamanho da placa para que
englobe a camada compressível, conforme ilustra a Figura 2.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 2 – Diferença de bulbos de pressão (Fonte: Vellos e Lopes, 1984)

É importante ponderar a influência da umidade do solo na camada suporte da fundação. Para isso, são
realizadas provas de carga com e sem inundação. Entretanto, existem diferenças entre o procedimento de
inundação e sua relação com a prova de carga. O procedimento de inundação do solo para a prova de carga
tem grande valor na dimensão dos resultados da curva pressão-recalque. Em geral, os métodos mais
utilizados são: inundação através de uma cava em torno do topo da estaca ou sapata; inundação através
de furos verticais próximos às fundações. Outro detalhe que deve ser levado em consideração é o tempo
de inundação, pois quanto maior a fundação, mais tempo será necessário para inundar toda a área
adjacente, ou seja, maior será o volume e a profundidade dos solos que serão atingidos pela variação do
grau de saturação (Camapum de Carvalho et al., 2015).

4- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Seque a apresentação das principais informações da pesquisa, dados para o estudo e resultados com
interpretação e análise.

4.1 - Local de Estudo

O estudo foi realizado no bairro Maraponga, na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, cuja localização é
apresentada na Figura 3.

Figura 3 – Localização dos ensaios de campo (Fonte: Elaborado pelo autor)

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Foram realizadas quatro sondagens à percussão SPT, nas condições inundada e não inundada, bem como
dois ensaios de placa, também nas condições inundada e não inundada. A localização dos furos de
sondagem e dos pontos de ensaio de placa são apresentados na Figura 4.

Figura 4 – Locação das sondagens SPT e ensaios de placa (Fonte: Elaborado pelo autor)

Os ensaios de prova de carga foram feitos nos pontos que apresentaram um menor índice de resistência à
penetração, de forma a considerar a situação mais desfavorável. Dessa forma, realizou-se dois ensaios: o
primeiro em condição natural, e o outro iniciado em condição natural e prosseguido inundado, a partir do
5º estágio de carregamento.

No ensaio de placa na condição natural, ou não inundada, as cargas foram aplicadas por meio de
carregamentos do tipo lento, divididos em dez estágios de carga de aproximadamente 0,40 kgf/cm², ou
40 kPa, atingindo-se uma tensão total no ensaio de 4,00 kgf/cm², ou 400 kPa, equivalente ao dobro da
tensão de projeto. A descarga foi executada em quatro estágios de 1,00 kgf/cm², ou 100 kPa. Em todos
os estágios de carga, o carregamento foi mantido até a estabilização dos deslocamentos, com tolerância
máxima permitida de 5% do recalque total obtido no estágio, entre leituras sucessivas.

Para a execução da prova de carga sob condição inundada, foram escavados 10 poços, tipo estacas broca,
com 30cm de diâmetro e 3,00m de profundidade, distribuídos radialmente ao redor da placa, que também
teve a área do seu entorno inundada. A Figura 5 ilustra a metodologia executiva do ensaio de prova de
carga mista, identificando a disposição das estacas de areia ao redor da região da placa para inundação,
vista em planta, assim como os demais equipamentos utilizados.

Figura 5 – Metodologia executiva da prova de carga sob condição inundada (Elaborado pelo autor)

Nesse procedimento, inicialmente, as tensões foram aplicadas por meio de carregamentos do tipo lento até
o 5º estágio, em condições naturais, de aproximadamente 0,40 kgf/cm², ou 40 kPa, cada, atingindo-se
uma tensão total no ensaio de 2,00 kgf/cm², ou 200 kPa. Após a estabilização dos recalques do 5º estágio,
iniciou-se a inundação ininterrupta das estacas de areia e sobre a região da placa, mantendo-se a tensão
aplicada de 2,00 kgf/cm², ou 200 kPa, e realizando as respectivas leituras, até que o critério de paralisação
da ABNT (1984) fosse obtido. A tensão foi mantida e iniciou-se a fase de descarregamento, dividida em 4
estágios de 0,50 kgf/cm², ou 50 kPa.

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4.2 - Sondagens à percussão

Com os resultados obtidos na sondagem a percussão, onde apresentou-se até a profundidade de 4,00m
para todos os furos um solo do tipo areia siltosa com baixo índice de resistência a penetração (NSPT), optou-
se em comparar os resultados obtidos nas sondagens SP-01 e SP-02, realizados na condição natural, e as
sondagens SP-03 e SP-04 para a condição inundada. Na Figura 6 são apresentados os resultados de NSPT
das sondagens SP-01 e SP-03.

Figura 6 – Comparação do NSPT entre as sondagens SP-01 e SP-03 (Elaborado pelo autor)

É notável os valores de NSPT semelhantes para ambas as sondagens. Isto pode ter ocorrido devido ao SP-
03 possuir, a partir de 1,10m, uma camada de areia siltosa com pedregulhos de quartzo, que proporciona
uma maior resistência ao solo, apesar da diminuição de pressão efetiva. A Figura 7 apresenta a comparação
entre os resultados do NSPT das duas sondagens SP-02 e SP-04.

Figura 7 – Comparação do NSPT entre as sondagens SP-02 e SP-04 (Elaborado pelo autor)

Neste caso, há uma distinção clara dos resultados obtidos nas sondagens nas condições inundada e não
inundada. Apesar de possuir uma camada de pedregulho de quartzo em toda a sua estratigrafia, o SP-04
(condição inundada) apresentou uma resistência inferior em relação ao SP-02 até a penetração do SPT em
3,00m, profundidade esta que foi inundada previamente ao ensaio. A maior distorção foi na cota de 1,00m,
em que a sondagem SP-02 apresentou NSPT igual a 13 enquanto que o SP-04 obteve NSPT igual a 2, ou
seja, uma diferença de 550%. Nas profundidades seguintes, a diferença foi de 100% na cravação de 2,00m,
e de 50% na de 3,00m. Com 4,00m o NSPT do SP-04 ficou muito próximo ao valor encontrado no SP-02,
fato este que pode ser influenciado pela baixa poropressão no solo, pois a inundação foi realizada até
3,00m.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Verificou-se, através destas análises, que o valor do NSPT pode ter grande variação em um mesmo tipo de
solo. Um fator importante é a presença da água, visto que o acréscimo da poropressão faz com que ocorra
uma redução da tensão efetiva das partículas do maciço, e ainda na condição não saturada o solo apresenta
o acréscimo de resistência dado pela coesão aparente.

4.3 - Provas de carga em solo (ensaios de placa)

As tensões de projeto para as duas condições, natural e inundada, foram inicialmente adotadas em 2,00
kgf/cm², ou 200 kPa. Com o objetivo de analisar o comportamento do solo na prova de carga realizada
inicialmente em condição natural, a Figura 8 apresenta o gráfico da curva pressão x deslocamento vertical
(recalque) obtida através da aplicação de pressões crescentes, divididas em dez estágios, cada um
representando 10% do valor da pressão final, que é equivalente ao dobro da tensão de projeto (4,00
kgf/cm² ou 400 kPa).

Figura 8 – Curva pressão x deslocamento resultante do ensaio de placa em condição natural (Elaborado pelo autor)

Nota-se que o recalque total do ensaio foi de 16,82 mm quando estabilizada a pressão de 4,00 kgf/cm²,
equivalente ao 10º estágio do carregamento. Porém, verifica-se através do gráfico pressão x deslocamento
que o recalque obtido no 5º estágio, equivalente à pressão de 2,00 kgf/cm², ou 200 kPa, que corresponde
à tensão de projeto, foi de apenas 3,61 mm. A diferença entre o recalque na tensão de projeto comparado
com o recalque da tensão de ensaio foi de aproximadamente 366%.

Embora o recalque total obtido tenha sido considerado excessivo, é necessário realizar o ensaio até se
observar um deslocamento total de 25 mm, ou atingir-se o dobro da tensão admitida prevista para o solo,
conforme recomendado por ABNT (1984).

A segunda prova de carga foi executada em condição mista, ou seja, executada até o 5º estágio do
carregamento com o solo em condições naturais e, a partir da estabilização deste estágio, iniciou-se a
inundação da região da placa e das estacas de areia adjacentes até o final do ensaio, de forma ininterrupta.
A Figura 9 apresenta os resultados encontrados neste ensaio.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 9 – Curva pressão x deslocamento resultante do ensaio de placa em condição mista (natural e inundada)
(Elaborado pelo autor)

Verifica-se que o recalque obtido no 5º estágio de carregamento antes do início da inundação, ou seja, na
tensão de projeto de 2,00 kgf/cm², ou 200 kPa, foi de 4,00mm, valor este bastante semelhante ao
encontrado no mesmo estágio na primeira prova de carga.

Ao iniciar o processo de inundação, houve acréscimo significativo do recalque no solo, com o carregamento
constante, alcançando o valor de 25,04mm. Dessa maneira, de acordo com parâmetros estabelecidos pela
ABNT (1984), houve ruptura do solo. Portanto, interrompeu-se a fase de carregamento e iniciou-se o
descarregamento.

Com a finalidade de comparar o desempenho do solo na etapa de carregamento nas provas de carga em
condição natural e inundada, a Figura 10 apresenta as curvas pressão x deslocamento resultantes dos dois
ensaios.

Figura 10 - Comparação dos gráficos pressão-deslocamento dos ensaios realizados (Elaborado pelo autor)

Percebe-se que para a tensão de projeto de 2,00 kgf/cm² (200 kPa) tem-se um recalque de 3,61mm na
prova de carga não inundada, enquanto que na condição mista para o mesmo valor de pressão foi verificado
um recalque de 4,00mm logo depois da aplicação da carga, antes do início da inundação, e de 25,04mm
depois da inundação, mantida a mesma pressão. Neste caso, o comportamento do solo antes da saturação
é satisfatório até sofrer um recalque adicional de magnitude significativa, ocasionado por um acréscimo de
água não considerada, capaz de inundar o solo, levando-o ao colapso.

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Os resultados apresentados evidenciam a mudança de comportamento do solo na condição inundada e a


perda de rigidez do solo na presença de água. Do mesmo modo, a curva carga x deslocamento na condição
inundada apresenta desnível característico do colapso, e mostra claramente a redução da capacidade de
carga devida à inundação do solo.

A interpretação da prova de carga inundada foi de essencial importância na análise dos resultados, pois
nesse ensaio apresentam-se as condições mais críticas, visto que resultaram em recalques expressivos na
tensão de projeto. Assim, constata-se o quanto a variação da saturação pode influenciar no comportamento
do solo colapsível e, consequentemente, no comportamento das fundações.

5- CONCLUSÃO

O estudo de caso descreveu a realização de dois ensaios de placa, sendo um com o solo em condição
natural e o outro em condição mista, ou seja, iniciado sem inundação e prosseguido com inundação da
região da placa e estacas adjacentes durante o processo de carregamento.

A partir das implicações deste estudo, conclui-se o quão relevante é a análise do potencial de colapso do
solo de uma determinada região, principalmente quando existe a possibilidade do emprego de fundações
diretas. Neste tipo de solo, a inundação do material de apoio durante a realização da prova de carga fornece
informações relevantes ao projetista geotécnico, além daquelas já fornecidas através dos ensaios de SPT.
Pondera-se, ainda, a importância da realização de sondagens à percussão nas mesmas condições, ou seja,
com inundação do solo, pois, como analisado neste trabalho, os resultados do NSPT podem variar de acordo
com o nível de saturação de um determinado maciço de solo.

Vale ressaltar que na execução da prova de carga com o solo em condição natural, o ensaio foi realizado
por completo, ou seja, com aplicação da pressão até o dobro da tensão admissível prevista em projeto,
sem ocorrência de colapso do solo, ou seja, recalque inferior a 25,0mm. Já no ensaio seguinte, o solo se
comportou como essencialmente elástico até o estágio sem inundação. Após este, houve o colapso da
estrutura devido à diminuição da tensão efetiva do solo, ocasionando a sua ruptura. Ou seja, na prova de
carga inundada o desempenho do solo é satisfatório até o momento em que há um recalque significativo,
ocasionado devido à inundação, levando-o ao colapso.

Conclui-se que o grau de saturação de solos com características semelhantes às do solo estudado é
importante para a definição do tipo de fundação a ser utilizada, pois a presença de água pode acarretar na
redução da rigidez do solo. Caso este fator não tivesse sido considerado, o projetista poderia recomendar
a utilização de fundações diretas, sem estas análises detalhadas, podendo ocorrer excessivos recalques e
possíveis patologias à edificação.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se ao Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa do autor3,
à RochaBrasil Engenharia pela execução dos ensaios de campo.

REFERÊNCIAS

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Reação em Solos Arenosos para Fundações a Partir de Provas de Carga em Placa, XVII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Goiânia-GO.

Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT (1984) - NBR 6489: Prova de carga direta sobre terreno de fundação.
Rio de Janeiro.

Barata, F.E. (1984) - Propriedades mecânicas dos solos: uma introdução ao projeto de fundações. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos S.A.

Camapum de Carvalho, J. et al. (2015) - Solos não saturados no contexto geotécnico, p. 759.

Cintra, J. C. A. (1998) - Fundações em solos colapsíveis. São Carlos: Serviço Gráfico da EESC/USP, 116. p.

Cintra, J. C. A. e Aoki, N. E Albiero, J. H. (2011) – Fundações diretas. São Paulo: Oficina de Textos, 40. p.

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n. SM3, p. 925-947.

Gonçalves, R. L. (2006) – Estudo do comportamento de estacas apiloadas em solo colapsível da região de Londrina-PR.
Dissertação (Mestrado), Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Londrina, Paraná.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Jennings, J. E, e Knight, K. (1957) - The additional settlement of foundations due to a collapse structure of sandy subsoils
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Mota, E.Q. (2006) - Análise do colapso de um solo compactado devido à inundação e à interação solo-líquido
contaminante. 2006. 114 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Universidade Federal de Pernambuco,
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Reginatto, A. R e Ferrero, J. C. (1973) - Collapse Potencial of Soils and Soil Water Chemistry. VIII ICSMFE, Moscow, v.
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de Brasília - Enc. I.C.G. 001, 24 p.

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Vilar, O. M., Rodrigues, J. E. e Nogueira, J. B. (1981) - Solos colapsíveis: um problema para a engenharia de solos
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610
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA PRÉ-MOLDADA


INSTRUMENTADA POR MEIO DE MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS E NUMÉRICO

ANALYSES OF THE BEARING CAPACITY OF INSTRUMENTED DRIVEN PILE BY


SEMI-EMPIRICAL AND NUMERIC METHODS

Barbosa, Yuri; UNICAMP, Campinas, Brasil, ybarbosa39@gmail.com


Albuquerque, Paulo José Rocha; UNICAMP, Campinas, Brasil, pjra@fec.unicamp.br
Garcia, Jean Rodrigo; UFU, Uberlândia, Brasil, jean.garcia@ufu.br

RESUMO

Neste trabalho analisa-se o comportamento de uma estaca pré-moldada de pequeno diâmetro (=0,18m)
e comprimento 14 m, instrumentada, executada em solo de diabásio na cidade de Campinas, São Paulo,
Brasil. A estaca foi submetida à prova de carga lenta (SML) e os resultados foram comparados com valores
obtidos através de modelagem numérica tridimensional e dos métodos semiempíricos para estimativa de
capacidade de carga. A simulação da prova de carga foi realizada por meio do programa CESAR v.5 e para
interpretação de seus resultados foi utilizado o software UNIPILE. Os métodos semiempíricos empregados
foram aqueles referentes aos ensaios SPT e CPT mecânico (cone Begeman), por meio dos quais se obteve
os parâmetros geotécnicos do solo. O método Lobo (2005) foi o que apresentou melhor resultado em
relação à carga última, encontrando mesmo valor que o encontrado na prova de carga (262kN), enquanto
o método de Décourt & Quaresma (1978) teve melhor desempenho na previsão da carga lateral e de ponta
da estaca, com diferença de 3% acima e 5% abaixo, respectivamente, do ensaiado em campo.

ABSTRACT

It is analyzed the behavior of a pre-cast concrete pile of small diameter (=0.18m) and 14 m length,
instrumented, performed in diabase soil in the city of Campinas, São Paulo, Brazil. The pile was submitted
to the Slow Maintained Load Test (SML) and the results were compared with values obtained through three-
dimensional numerical modeling and semi-empirical methods to estimate the load capacity. The simulation
of the load test was performed through the CESAR v.5 software and for the interpretation of its results was
utilized the UNIPILE software. The semi-empirical methods employed were those referring to the SPT and
mechanical CPT (Begeman cone) tests, through which geotechnical parameters of the soil were obtained.
The Lobo method (2005) was the one that presented the best result in relation to the last load, finding the
same value as the one found in the load test (262kN), while the method of Décourt & Quaresma (1978)
got better results to the skin friction and tip loads, with difference of 3 % above and 5% below, respectively,
compared with the load test.

1- INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do Brasil durante os últimos anos vem sendo evidenciado principalmente pela evolução
de seus centros urbanos a partir de grandes obras de infraestrutura, tais como estradas, pontes, escavações
e edificações de grande porte. Dentre essas regiões em desenvolvimento, destaca-se a região de Campinas,
Estado de São Paulo, consolidada atualmente como uma das regiões mais ricas do país e que forma, junto
com a Grande São Paulo e a Baixada Santista, a primeira macro metrópole do hemisfério sul. Tendo em
vista a evolução desta região através de obras de edificação cada vez mais complexas, torna-se
indispensável o conhecimento mais amplo do subsolo, bem como seu comportamento frente aos diferentes
tipos de fundações adotadas nos projetos, o que demonstra a necessidade de estruturas de suporte mais
eficazes e com maiores valores de capacidades de carga. Assim, estudos mais refinados de tal desempenho
e de previsões das capacidades de carga próximas ao comportamento real são vantajosos para a prática
de uma engenharia de fundações mais confiável e economicamente eficiente.

Desta maneira, é necessário o conhecimento das variáveis do problema em questão, que podem ser obtidas
através do emprego de provas de carga estática. Tal ensaio possibilita a observação do comportamento da
resistência e da capacidade de carga do sistema solo-estaca quando submetido a um carregamento. Além
disso, a realização correta dos ensaios de campo é importante na determinação das propriedades do solo
e dos parâmetros a serem utilizados nos cálculos.

No Brasil é comum o emprego dos métodos semiempíricos para a previsão da capacidade de carga de
estacas. Estes métodos foram propostos a partir da análise dos conhecimentos empíricos, obtidos por meio
de estudos de casos, provas de cargas e conhecimentos teóricos, provenientes de bases físicas e
matemáticas dos parâmetros do solo. O ideal é que se tenha equilíbrio entre esses dois fatores, de tal
forma que o valor calculado seja o mais próximo possível do valor que seria obtido em prova de carga.

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É possível também analisar o comportamento do sistema e estipular a capacidade de carga de uma estaca
através de análises numéricas, que se baseiam nos parâmetros e nas condições físicas do solo em que o
elemento está embutido. Alguns programas obtêm estes valores a partir de métodos teóricos, empíricos
ou semiempíricos de previsão de carga de estacas, enquanto outros estimam a partir de modelagem
numérica por elementos finitos bidimensionais ou tridimensionais, levando em consideração o
comportamento elasto-plástico do solo, a magnitude e a quantidade de estágios dos carregamentos
realizados, possibilitando também simular seu descarregamento (Garcia et al., 2016).

Sendo assim, idealizou-se este trabalho que teve o objetivo de verificar a capacidade de carga de uma
estaca pré-moldada de concreto instrumentada a partir da aplicação de métodos semiempíricos e na análise
numérica, por meio dos softwares Unipile versão 5.0 e Cesar® versão 5.0.

2- REVISÃO DE LITERATURA

2.1 - Investigação geotécnica

O meio físico é de suma importância quando se trata de uma edificação, uma vez que toda obra de
engenharia civil tem como apoio o solo. Desta maneira, as condições que o subsolo apresenta são de suma
importância para a elaboração de projetos geotécnicos seguros e econômicos. No Brasil, os custos
abrangidos na execução de sondagens variam entre 0,2% e 0,5% do valor total da obra. Trata-se de um
investimento de baixo custo, porém de muita importância, uma vez que as causas mais frequentes de
problemas das fundações estão relacionadas a investigações mal executadas ou inexistentes (Schnaid e
Odebrecht, 2012).

A investigação geotécnica permite a estimativa de determinados parâmetros de resistência do solo por


meio de correlações empíricas e semiempíricas, comumente empregados em projetos ou métodos de
modelagem numérica. Exemplos de tais parâmetros são apresentados nas equações a seguir:

φ = 28° + 0,4.NSPT (Godoy, 1983) [1]

φ = √20.NSPT +15° (Teixeira, 1996) [2]

cu = 10.NSPT (Teixeira e Godoy, 1996) [3]

Ei = K.NSPT .3,4+130 (Trofimenkov, 1974) [4]

Onde φ mede o ângulo de atrito em º, cu a coesão em kPa, Ei o módulo de atrito em kgf/cm² e NSPT refere-
se ao parâmetro de resistência obtido por meio do SPT. As equações de Godoy (1996), Teixeira (1996) e
Teixeira e Godoy (1996) foram desenvolvidas para qualquer tipo de solo (coerente ou incoerente). No
entanto o módulo de deformabilidade estimado por Trofimenkov (1974) diz respeito a solos granulares.

2.2 - Métodos semiempíricos fundamentados no SPT

Os métodos baseados no SPT são os mais empregados no Brasil, uma vez que este tipo de investigação de
subsolo é usual no país.

Os métodos de previsão de carga partem do princípio que a resistência do sistema solo-estaca é


proveniente da reação da ponta da estaca (Rp) acrescida da reação por atrito lateral (Rl) exercida pelo fuste.
Tal fundamento pode ser expresso também como a soma dos produtos da ruptura de ponta unitária (rp) e
da ruptura lateral unitária (rl) com suas respectivas áreas (Ap e Al). Assim sendo, os métodos partem da
seguinte expressão:

R = Rp + Rl = rp .Ap + rl .Al [5]

Dessa forma, neste trabalho serão utilizados os métodos de Aoki e Velloso (1975), Décourt e Quaresma
(1978), Meyerhof (1976), Milititsky e Alves (1985), Teixeira (1996) e Lobo (2005).

2.2.1 - Método de Aoki-Velloso (1975)

O método foi desenvolvido pelos autores a partir de valores de ruptura extrapolados da curva carga vs.
recalque provenientes de provas de carga (Schulze, 2013).

A equação é descrita da seguinte maneira:

K.Np p
R= ( ) .Ap + .Ʃn1 (αAoki .K.Nl .ΔL ) [6]
F1 F2

Onde K é o coeficiente que depende do tipo de solo, N p o índice de resistência à penetração na cota de

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apoio da ponta da estaca, Nl o índice médio de resistência à penetração na camada de solo de espessura
ΔL, F1 e F2 os fatores de correção de acordo com o tipo de estaca a ser utilizada, α Aoki a razão de atrito, Ap
a área de ponta e P o perímetro da estaca.

Existem ainda dois métodos que foram obtidos a partir de modificações da proposta inicial de Aoki-Velloso
(1975): o de Alonso (1981) e o de Laprovitera (1988). No primeiro caso, Alonso (1981) propõe mudanças
nos valores de K e α, enquanto são mantidos os coeficientes F 1 e F2. Já no segundo caso, são propostas
alterações nas medidas de α de acordo com a confiabilidade da sondagem, sugerindo também outros
valores para F1 e F2, enquanto que para os valores de K o autor sugere o uso dos propostos por Danziger
(1982).

2.2.2 - Método Meyerhof (1976)

O autor propôs a seguinte equação para estimativa da capacidade de carga de uma estaca:

R = m.Np .Ap +n.Nl .Al .L [7]

Onde m é o coeficiente de ponta, n o do fuste, Np o valor do SPT na ponta da estaca, Nl a média dos valores
de N ao longo do fuste e L o comprimento embutido da estaca.

2.2.3 - Método de Décourt e Quaresma (1978)

O método é descrito pela seguinte equação:


N
R = Ap .αDec .K.Np + [βDec .10. ( l +1) .P.L] [8]
3

Onde K é o coeficiente característico do solo determinado através de 41 provas de carga em estacas pré-
moldadas, Np a média dos valores na ponta da estaca do valor imediatamente acima até o imediatamente
abaixo da ponta, Nl o índice médio de resistência à penetração ao longo do fuste da estaca, α Dec o fator
aplicado à parcela de ponta e βDec o fator aplicado à parcela de atrito lateral. Estes fatores são variantes
de acordo com o tipo de solo e o tipo de estaca utilizada.

De acordo com Schulze (2013), o valor da tensão de ruptura de ponta é considerado como a carga que
gera o deslocamento do topo da estaca igual a 30% do seu diâmetro, o que caracteriza sua ruptura
convencional.

2.2.4 - Método Milititsky e Alves (1985)

Foi fundamentada nos estudos estatísticos de provas de carga realizadas em estacas do tipo escavadas no
Rio Grande do Sul. A equação proposta pelos autores foi a seguinte:

R = Ap .M2 .Np +M1 .NL .P.L [9]

Sendo M1 e M2 coeficientes de proporcionalidade propostos pelos autores, N p a média dos valores na ponta
da estaca do valor imediatamente acima até o imediatamente abaixo da ponta, N L a média dos valores de
N ao longo do fuste da estaca até o valor imediatamente acima da cota da ponta da estaca, excluindo o
mesmo, P o perímetro e L o comprimento da estaca.

2.2.5 - Método de Teixeira (1996)

Neste caso o autor adotou parâmetros para o cálculo da capacidade de carga do sistema solo-estaca,
unificando os métodos de Aoki-Velloso (1975) e Décourt e Quaresma (1978) em uma única equação
(Schulze, 2013). Desta maneira, obteve:

R = αTex .Np .Ap +βTex .Nl .P.L [10]

Onde Np é o valor médio do índice de resistência à penetração no intervalo de 4 diâmetros acima da ponta
da estaca até 1 diâmetro abaixo, Nl a média dos valores de resistência ao longo do fuste, αTex o parâmetro
em função do tipo do solo e de estaca, β Tex o parâmetro em função do tipo de estaca, P o perímetro e L o
comprimento da estaca.

2.2.6 - Método de Lobo (2005)

De acordo com o autor, este método é baseado nos conceitos de conservação de energia, relacionando a
força de reação dinâmica, imposta ao solo pela cravação do amostrador SPT, e a capacidade de carga do
sistema solo-estaca.
Ap 0,2P
R = (βUFRGS .0,7.Fd . ) + (αUFRGS . .ƩFd .ΔL) [11]
αp al

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Sendo αUFRGS e βUFRGS os coeficientes de ajuste aplicado à resistência lateral e de ponta, respectivamente,
Fd a variação da energia potencial, Ap a área da ponta da estaca, ap a área da ponta do amostrador SPT, al
a área lateral total do amostrador SPT e ΔL a espessura de camada de solo considerada. A variação da
energia potencial descrita é dada a partir da seguinte equação:
η3
R= .[η1 (0,75+Δρ).Mm .g+η2 .Δρ.Mh .g] [12]
Δρ

Onde η1 é a eficiência do golpe com valor de 0,764, η2 a eficiência das hastes com valor igual a 1, Mm a
massa do martelo utilizado, Mh a massa das hastes, g a aceleração da gravidade, η3 a eficiência do sistema
e Δρ a penetração do golpe. Estas duas últimas parcelas são expressas, respectivamente, pelas equações
13 e 14 a seguir:

η3 = 0,907-0,0066.z [13]

Δρ = 0,3⁄NSPT [14]

Sendo z o comprimento da haste.

As unidades em questão para este método são empregadas de acordo com o Sistema Internacional de
Unidades.

2.3 - Métodos semiempíricos fundamentados no CPT

Paralelamente, os métodos semiempíricos fundamentados no CPT partem do mesmo conceito descrito pela
equação 5, atribuindo uma parcela da resistência à ponta e outra ao atrito lateral da estaca. Desta forma,
utilizar-se-ão os métodos de Aoki-Velloso (1975), Clisby et al. (1978), Philipponnat (1980), Pedro Paulo
Velloso (1981) e o método de Bustamante e Gianeselli (1982), este último também conhecido como método
LCPC.

2.3.1 - Método Aoki-Velloso (1975)

A formulação deste método parte da seguinte equação:

R = rp .Ap +[P.Ʃ(rl .Δl )] [15]

Onde as variáveis expressas são as mesmas citadas anteriormente. As incógnitas r p e rl são correlações
com os valores da resistência de ponta do cone (q c) e do atrito lateral unitário da luva (fsCPT) apresentadas
pelas equações 16 e 17, respectivamente:

𝑟𝑝 = 𝑞𝑐 ⁄𝐹1 [16]

𝑟𝑙 = 𝑓𝑠𝐶𝑃𝑇 ⁄𝐹2 [17]

Em que F1 e F2 são os mesmos fatores de correção explanados anteriormente.

2.3.2 - Método de Clisby et al. (1978)

O modelo foi desenvolvido pelo Departamento de Transporte de Mississipi. Neste método, a resistência de
ponta unitária do sistema solo-estaca (rp) é calculada da seguinte maneira:

rp = 0,25.qc [18]

Para ponta da estaca em argila. No caso de ponta da estaca em areia:

rp = 0,125.qc [19]

Onde qc é a média de 3 valores de resistência de ponta do cone na região da ponta da estaca. Já para o
caso da resistência unitária por atrito lateral (rl), tem-se:
fsCPT
rl = [20]
1,5++0,1.fsCPT

Tendo o fsCPT como unidade o psi (libras/polegadas²).

2.3.3 - Método de Philipponnat (1980)

As resistências de ponta e lateral neste método são calculadas pelas seguintes equações:

RP = Ap .αp .qc [21]

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αF .qc
RL = Al . [22]
αs

Onde qc é a média dos valores da resistência de cone em uma região de três diâmetros acima até três
abaixo da ponta da estaca, αp o coeficiente em função do tipo do solo, α F o coeficiente em função do tipo
de estaca e αs o coeficiente em função do tipo do solo e da resistência do cone.

2.3.4 - Método de Pedro Paulo Velloso (1981)

A carga de ruptura por este método é obtida através da seguinte equação, sendo dividida entre ruptura de
ponta e lateral, respectivamente:

RP = αpp .β.qcp .Ap +αpp .λp .Ʃn1 pi .fui .∆zi [23]

Em que αpp é o fator de carga lateral em função do tipo de estaca, λ p o fator em função do carregamento
da estaca, fui o atrito lateral em kPa, β o fator de carga de ponta e q cp a resistência média de cone dada
por:
qca +qcb
qcp = [24]
2

Sendo qca a resistência média de cone numa faixa de 8Ф acima da cota de ponta e qcb a resistência média
3,5Ф abaixo desta cota.

2.3.5 - Método de Bustamante e Gianeselli ou Método LCPC (1982)

Este método é determinado pelas seguintes equações:

RP = Ap .CLCPC .qcaa [25]

RL = Al .KLCPC .qc [26]

Sendo CLCPC e KLCPC coeficientes adimensionais que dependem do tipo de solo e de estaca utilizados e q caa
um valor obtido por meio de correlações numéricas e estatísticas de acordo com a cota de apoio da ponta
da estaca.

3- METODOLOGIA

A área onde foi executada a prova de carga se situa no campus da Unicamp em Campinas-SP, junto ao
prédio do Laboratório de Ensaios de Materiais da Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI). Localizada
na região Centro-Leste do Estado de São Paulo, o local é composto por rochas intrusivas básicas da
formação Serra Geral (diabásio). O subsolo é composto por solo residual de diabásio, apresentando uma
camada superficial de 6 m de espessura, constituída de argila silto-arenosa de alta porosidade, seguida de
uma camada de silte argilo-arenoso. O nível d’água é encontrado apenas em profundidades abaixo de 20m.

Foi executada uma estaca pré-moldada de diâmetro nominal de 0,18m e comprimento 14 m, sendo
composta por dois segmentos: o primeiro com 8m e o segundo com 6m, unidos por meio de um cordão de
solda no anel metálico. A armadura longitudinal constituiu de seis fios de aço RN150 de diâmetro 5mm. Os
dados da estaca são apresentados a seguir:

Quadro 1 – Propriedades da estaca ensaiada


Q M Ac P Rc Ec
(kN) (kg/m) (m²) (m) (MPa) (MPa)
360 64 0,0254 0,565 41,5 34.543

Onde Q é a capacidade estrutural da estaca, M a massa linear, Ac a área da seção transversal, P o perímetro,
Rc a resistência à compressão simples do concreto empregado e Ec seu módulo de elasticidade.

A instrumentação foi realizada com a utilização de extensômetros especiais para aço (KFG-2-120-D16-11
– Kowa Electronic Instruments), com ligações do tipo ponte completa. Posteriormente, foram colados sobre
barras de aço do tipo CA-50, com 12,5 mm de diâmetro e 0,60 m de comprimento e para proteção de sua
superfície foi utilizado verniz de proteção especial para extensômetros e resina contra choques mecânicos.
As barras foram instaladas nas profundidades 1, 5, 10 e 14 m do topo da estaca.

Para a realização da prova de carga, os carregamentos foram realizados em estágios de 40 kN até que se
a carga que caracterizasse ruptura do sistema solo-estaca. O descarregamento foi feito em estágios
sucessivos, com reduções de carga iguais a 25% da carga total atingida na ruptura.

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A modelagem numérica foi realizada empregando-se o software CESAR v.5 da Itech-soft, em que foi
utilizado ¼ do problema devido à simetria ao longo do eixo da estaca, que resulta em um bloco retangular
de seção 12 m x 12 m com profundidade variável em função do comprimento da estaca, que possui no
mínimo 10 m abaixo da ponta da estaca, o que determina o levantamento de dados de 24 m do perfil do
solo. Tais condições foram determinadas de modo que garantissem a estabilidade das extremidades dos
problemas, ou garantir que os deslocamentos fossem muito baixos, evitando a influência na análise. As
propriedades das camadas de solo necessárias na modelagem foram estipuladas a partir das formulações
dadas pelas equações 1, 2, 3 e 4.

Foi realizada também outra análise computacional utilizando o software Unipile 5.0, em que se utiliza
resultados obtidos pelas investigações geotécnicas e modelos de comportamento de transferência de carga
de estacas. Por meio deste programa e da curva carga vs recalque obtida na prova de carga, foi possível
fazer uma simulação do ensaio por meio da análise e ajuste do modelo teórico com o experimental.
Resultados preliminares mostraram que o modelo exponencial foi o que melhor se adaptou ao experimental.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 - Parâmetros geotécnicos

Por meio dos ensaios SPT e CPT, obteve-se os perfis geotécnicos expressos na figura 1 a seguir,
respectivamente:

Figura 1 – Perfil de sondagem SPT e CPT

Onde NSPT representa o parâmetro de resistência do solo obtido pelo SPT, q c a resistência de ponta, fs a
resistência de atrito lateral e Rf a razão de atrito adimensional entre estes dois últimos parâmetros.

Por meio destas sondagens, os valores empregados nas análises numéricas foram calculados e são
apresentados no Quadro 2:

Quadro 2 – Parâmetros estimados para cada material para modelagem numérica


Camada de solo  c   Ei
(kN/m³) (kN/m²) (°) (MPa)
0 a 6,5m 13 20 25 0,4 64
6,5 a 19m 15 64 28 0,3 92
19 a 24m 16 213 36 0,3 128
Obs.: condição dos parâmetros em situação não-drenada

A determinação do módulo de deformabilidade através do proposto por Trofimenkov (1974) se deu devido
ao comportamento do solo local ser típico de solos granulares, apesar de sua textura obtida pelos ensaios
convencionais de laboratório o indique como solo incoerente.

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4.2 - Prova de carga e modelagens numéricas

Os resultados da prova de carga estática realizada e das simulações realizadas pelos programas CESAR e
Unipile são apresentados a seguir:

Quadro 3 – Parâmetros estimados para cada material para modelagem numérica


Camada de solo Qlateral Qponta Qtotal Ql/Qlu Qp/Qpu Qt/Qtu
(kN) (kN) (kN)
Prova de carga lenta (SML) 220 42 262 1,00 1,00 1,00
CESAR (MEF 3D) 335 47 382 1,52 1,12 1,46
Unipile 345 12 357 1,57 0,29 1,36

Figura 2 – Curvas carga-recalque da prova de carga e modelagens numéricas

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Figura 3 – Transferência de carga da prova de carga e modelagens numéricas

Por meio dos resultados apresentados observou-se certa semelhança no comportamento da curva carga-
recalque entre as simulações, que apresentaram carga de ruptura superior ao experimental. A modelagem
feita pelo Unipile obteve maior aproximação do valor de resistência última da prova de carga. Por outro
lado, o CESAR mostrou uma carga de ponta muito próxima a experimental.

No que se refere a transferência de carga, a simulação pelo Unipile apresentou próxima ao comportamento
experimental, mostrando a mesma tendência.

4.3 - Métodos semiempíricos fundamentados no SPT

Os resultados apresentados pelos métodos empíricos baseados no SPT são apresentados no Quadro 4 e
nas Figuras 4, 5 e 6.

Quadro 4 – Capacidades de carga para métodos semiempíricos baseados no SPT


Método Qlateral Qponta Qtotal Ql/Qlu Qp/Qpu Qt/Qtu
(kN) (kN) (kN)
Aoki-Velloso (1975) 101 29 130 0,46 0,69 0,50
AV modif. Laprovitera (1988) 167 39 206 0,76 0,93 0,79
AV modif. Alonso (1981) 160 46 206 0,73 1,10 0,79
Meyerhof (1976) 87 61 148 0,40 1,45 0,56
Décourt e Quaresma (1978) 226 41 267 1,03 0,98 1,02
Milititsky e Alves (1985) 100 18 118 0,45 0,43 0,45
Teixeira (1996) 176 43 219 0,80 1,02 0,84
Lobo (2005) 182 80 262 0,83 1,90 1,00

Figura 4 – Relação entre capacidades de carga estimadas por meio do SPT e ruptura em prova de carga

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Figura 5 – Relação entre capacidades de carga lateral estimadas por meio do SPT e ruptura lateral em prova de carga

Figura 6 – Relação entre capacidades de carga de ponta estimadas por meio do SPT e ruptura de ponta em prova de
carga

Na análise da carga de ruptura total verificou-se que os métodos se mostraram conservadores, uma vez
que a maioria se encontrou abaixo da carga de ruptura obtida na prova de carga. Vale destacar os métodos
Décourt e Quaresma (1978), Teixeira (1996) e Lobo (2005), que apresentaram valores dentro da margem
de 20% em relação ao valor real, considerando esta margem como aceitável.

No caso das cargas de ruptura lateral, os mesmos métodos citados no parágrafo anterior apresentaram
estimativas dentro da margem de 20%, destacando-se o de Décourt e Quaresma (1978) como o mais
próximo do valor real. Já para o caso da carga final de ponta, os métodos Aoki e Velloso modificado por
Laprovitera (1988), o modificado por Alonso (1981), o de Décourt e Quaresma (1978) e o de Teixeira (1996)
estimaram valores coerentes com a faixa de 20%, com destaque para os dois últimos.

4.4 - Métodos semiempíricos fundamentados no CPT

Os valores expressos para estes métodos são apresentados no Quadro 5 e nas Figuras 7, 8 e 9 a seguir:

Quadro 5 – Capacidades de carga para métodos semiempíricos baseados no CPT


Método Qlateral Qponta Qtotal Ql/Qlu Qp/Qpu Qt/Qtu
(kN) (kN) (kN)
Aoki-Velloso (1975) 312 38 350 1,42 0,90 1,34
Philipponnat (1980) 321 30 351 1,46 0,71 1,34
Clisby et al. (1978) 322 17 339 1,46 0,40 1,29
Pedro Paulo Velloso (1981) 1092 61 1153 4,96 1,45 4,40
Bustamante e Gianeselli (1982) 381 30 411 1,73 0,71 1,57

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Figura 7 – Relação entre capacidades de carga estimadas por meio do CPT e ruptura em prova de carga

Figura 8 – Relação entre capacidades de carga lateral estimadas por meio do CPT e ruptura lateral em prova de carga

Figura 9 – Relação entre capacidades de carga de ponta estimadas por meio do CPT e ruptura de ponta em prova de
carga

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Para o estudo em questão, todas as estimativas resultaram em valores superiores quando comparados com
o experimental, sendo todos superiores a margem de 20%, em especial o método de Pedro Paulo Velloso
(1981), que obteve uma relação de 4,4 vezes acima deste.

O mesmo ocorreu para o caso do atrito lateral na ruptura, com relações entre 1,42 a 1,73 acima do
encontrado em campo. Apesar disso, os valores para a capacidade de carga na ponta da estaca
encontraram-se abaixo da capacidade real, com exceção do modelo Aoki-Velloso (1975), que se encontra
dentro da faixa de 20% do valor real, e de Pedro Paulo Velloso (1981), cuja estimativa excedeu ao valor
real em 1,45.

5- CONCLUSÃO

No caso dos métodos semiempíricos fundamentados no SPT, alguns resultados se mostraram coerentes
quanto ao resultado experimental, quando não, os valores encontrados em cálculo se mantiveram dentro
de uma faixa de segurança que mantinha seu módulo abaixo do valor obtido na prova de carga. Para estes
casos, vale trabalhar no refinamento dos modelos estudados de modo a tornar sua aplicação à engenharia
de fundação mais econômica.

Quanto aos métodos baseados no CPT, os resultados obtidos foram superiores ao valor experimental,
indicando que as metodologias precisam ser revisadas e ajustadas para o emprego deste tipo de estaca
neste tipo de solo.

No que se refere a modelagem, os valores encontrados foram próximos aos métodos baseados no CPT. As
curvas carga-recalque obtidas tanto pelo CESAR quanto pelo Unipile apresentaram um comportamento
semelhante entre elas, apesar de terem excedido o valor real da prova de carga estática. Desta maneira,
os modelos teóricos empregados no desenvolvimento de tais software apresentam as mesmas limitações
dos métodos fundamentados no CPT. As formulações empíricas para estimativa dos parâmetros do solo,
utilizados na primeira modelagem, foram adequadas para o estudo em questão, dadas suas vastas
aplicações e do comportamento típico do solo local.

Em suma, os modelos semiempíricos baseados no SPT se mostraram mais eficientes na estimativa da


capacidade de carga, subestimando as resistências a favor da segurança. Em contraposição, deve-se ter
cuidado no emprego de análises numéricas e métodos fundamentados no CPT para o caso de estacas pré-
moldadas executadas neste tipo de solo, uma vez que ambas não levam em consideração as alterações na
estrutura do solo provocadas por tal processo.

REFERÊNCIAS

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622
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ANÁLISE DA INTEGRIDADE FÍSICA DE ESTACAS SUBMETIDA A UMA


PROVA DE CARGA BIDIRECIONAL
ANALYSIS OF THE INTEGRITY OF A BORED PILE SUBMITTED TO
BIDIRECTIONAL LOAD TEST

Oliveira, Tales; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, talesciv@gmail.com
Coelho, Higor; Geominas, Parauopebas, Brasil, higor@geominasgeo.com.br
Gomes, Thiago; Geominas, Parauopebas, Brasil, thiago@geominasgeo.com.br
Carvalho, Flavio; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, flaviocs.sl@gmail.com
Marinho, Caio; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil,
caio.araujo.marinho@gmail.com
Campos, Tamires; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil,
tamiresscampos@gmail.com
Rocha, Sabrina; Geominas, Parauopebas, Brasil, sabrina@geominasgeo.com.br

RESUMO

Este trabalho contempla a verificação da integridade de uma estaca escavada submetida à prova de carga
Bidirecional com célula expansiva hidrodinâmica Arcos. A instrumentação foi realizada em estaca “teste”,
denominada E3, escavada com trado e levada até a ruptura geotécnica. Foi realizada escavação contígua
à estaca, possibilitando a verificação visual e sensorial de sua integridade, já que se discute sobre a
possibilidade da ocorrência de uma ruptura estrutural da estaca no contato célula-estaca. A verificação
supracitada tornou-se de precisa constatação devido à injeção da mistura de calda de cimento com azul de
metileno, sob pressão, após realização do ensaio de prova de carga. Fez-se necessário a análise por meio
de ensaios dos materiais empregados na execução da estaca, de modo a aferir a contribuição destes
perante possível anomalia estrutural. Conclui-se que não existe efeito deletério sobre a estaca se as tensões
aplicadas pela célula estiverem a um nível de tensão inferior a de resistência do material construtivo da
estaca.

ABSTRACT

This work contemplates the verification of the integrity of a bored pile submitted to Bidirectional load test
with Arcos hydrodynamic expansion cell. The instrumentation was carried out in a pile test, called E3, drilled
with auger, carried out until geotechnical rupture. An excavation was carried out adjacent to the pile,
allowing the visual and sensorial verification of its integrity, since it is discussed the possibility of a structural
break of the pile in the cell-cutting contact. The verification became accurate as a result of the injection of
the methylene blue cement mixture under pressure after the load test. It was necessary to test the
materials used in the execution of the pile in order to assess their contribution to possible structural anomaly.
It is concluded that there is no deleterious effect on the pile if the stresses applied by the cell are at a level
below of the resistance of the construction material of the pile.

1- INTRODUÇÃO

A prova de carga Bidirecional surge como uma alternativa à prova de carga convencional, ao propor um
método que independe da construção de um sistema de reação externo, conseguindo, portanto, ser menos
onerosa e mais segura para os operadores do sistema, perante essa perspectiva apresentada.
Alternativamente, o sistema permite ainda a determinação dos parâmetros de resistência - atrito lateral e
carga de ponta - separados.

Com sua maior rapidez, simplicidade e redução de custos devido à eliminação de complexas estruturas de
reação no topo da estaca em análise, já que esta é o próprio sistema de reação, em que o fuste reage
contra a ponta, através de uma célula expansiva hidrodinâmica, a tendência é que a prova de carga
bidirecional ganhe cada vez mais espaço.

Entretanto, a aceitabilidade no meio técnico requer que a nova tecnologia seja explorada técnica e
cientificamente até que a mesma consiga quebrar todos os paradigmas e assim contribuir plenamente ou
substituir sistemas anteriores, como é o caso da prova de carga bidirecional em relação à convencional.
Este processo requer criteriosos ensaios e comparações de resultados, procedimentos, metodologias e
análises físicas para garantir plena aceitação.

Com base neste contexto, um tipo de pesquisa que certamente contribui neste processo de aceitação é a
verificação da integridade de uma estaca submetida à prova de carga Bidirecional Arcos, através de sua

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

exumação. A instrumentação em estudo foi realizada em uma estaca “teste”, denominada E3, escavada
com trado, levada até a ruptura geotécnica. Com o intuito de verificar a integridade do elemento ensaiado,
de modo também a avaliar se as tensões de compressão aplicadas ultrapassaram o valor característico da
resistência à compressão fck do elemento, foi realizada a escavação contígua da estaca de forma a
possibilitar a verificação visual e sensorial desta, além da examinação da célula.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - O Campo Experimental

O objeto de estudo encontra-se contido em Campo Experimental de aproximadamente 2.500 m² de área


destinada a pesquisas e estudos geotécnicos, na Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto
Paraopeba, localizado no km 7 da rodovia MG 443, da cidade de Ouro Branco (MG). O esquema de
localização do campo experimental se dá conforme Figura 1, apresentada logo abaixo.

Figura 1 – Localização do Campo Experimental de Geotecnia

Neste campo experimental, a fim de se caracterizar geotecnicamente o solo, realizou-se uma campanha
composta pelo ensaio de simples reconhecimento à trado, designado nesta pesquisa como SRT, bem como
sondagem de simples reconhecimento do solo à percussão (SPT) e ensaio com pressiômetro de Ménard
(PMT). O Quadro 1, abaixo, apresenta o diâmetro e a profundidade da estaca teste E3, bem como dos
ensaios supracitados, realizados no campo experimental da Figura 1.

Quadro 1 – Diâmetro e profundidade das estacas e ensaios no campo experimental


Elemento Descrição Diâmetro (cm) Profundidade (m)
E3 Estaca argamassada 3 - Teste Bidirecional 15 6,15
SRT Sondagem de Simples Reconhecimento à Trado - 6,00
SPT Sondagem à Percussão tipo SPT - 6,00
PMT Ensaio pressiométrico tipo PMT - 5,00

2.2 - Análise Geológica Geotécnica

O Campo experimental do INFRAGEO, da UFSJ, foi submetido à uma série de ensaios de campo, através
de métodos diretos, como a sondagem de simples reconhecimento à trado e à percussão (SPT) e também
de métodos semi-diretos, através do pressiômetro de Ménard (PMT). A estaca “teste” estudada encontra-
se executada a uma distância de aproximadamente 3,0 metros do furo de sondagem à trado; 2,0 metros
do furo de sondagem à precussão tipo SPT e a 1,5 metros do ensaio pressiométrico tipo PMT.

2.2.1 - Ensaio de Sondagem de Simples Reconhecimento à Trado

É importante ressaltar que as amostras retiradas da sondagem à trado, segundo a ABNT NBR 9603 (2015),
bem como à percussão, conforme ABNT NBR 6484 (2001), foram destinadas ao laboratório para testes
complementares de identificação, dos quais citar-se-á a Resistência do Solo Seco na Forma de Torrão, Teste
de Sujar as Mãos, Dispersão em Água, Teste de Desagregação do Solo Submerso e Exame Tátil Visual.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2.2.2 - Capacidade de carga das estacas baseada em métodos semi-empírico

A capacidade de carga da estaca E3 foi calculada através de métodos semi-empíricos baseados no resultado
do ensaio de simples reconhecimento do solo (SPT). Para o cálculo da capacidade de carga por atrito lateral
foram usados os métodos: Velloso (1981), Teixeira (1996), Decourt e Quaresma (1978), Aoki e Velloso
(1975), Monteiro (1997) e Antunes e Cabral (1996). Assim, foi proposto um valor mínimo estatístico para
o cálculo da capacidade de carga, para o universo de métodos consagrados supracitados, utilizando a
distribuição “t” de student, adequada ao controle pela capacidade de carga média desse universo e com
nível de confiança de 95% para suporte ao estudo, tendo em vista ainda que os diferentes métodos foram
desenvolvidos em condições particulares cada um.

S x t 0,90
X proj  X  (1)
N

X 
X (2)
N

 (X  X)
2

S (3)
N 1

Em que:
N – Número de métodos semi-empíricos utilizados;
X – Valor de capacidade de carga encontrado em cada método semi-empírico;
X – Média aritmética das capacidades de carga encontradas individualmente;
S – Desvio padrão;
Xmin – Capacidade de carga mínima provável, estatisticamente.

2.3 - Execução da Estaca Escavada com a Célula Expansiva Hidrodinâmica Arcos

2.3.1 – Escavação e Apiloamento

Utilizou-se o trado mecanizado para realizar a escavação da estaca E3, conforme diâmetro e profundidade
definidos no Quadro 1. Após a realização do furo, procedeu-se o apiloamento da base com soquete de
apiloamento, objetivando-se compactar o fundo a fim de diminuir a influência da sujeira de ponta.

2.3.2 – Preparação da Argamassa

De acordo com Venâncio (2008), o traço de argamassa mostrado no Quadro 2 e usado em estacas raiz,
confere resistência à compressão de 22 MPa prevista aos 28 dias.

Quadro 2 – Traço utilizado nas estacas (Venâncio, 2008)


Traço unitário em massa (kg)
Traço A (%) Cc (kg/m³) fck 28 (Mpa)
Cimento Areia a/c
AF1 - C600 1 1,566 0,752 29 600 22

O cimento utilizado na argamassa foi o CP2-E32 e o agregado miúdo foi a areia fina (AF1), conforme
Venâncio (2008).

Na preparação da argamassa, utilizou-se a betoneira para o processo de mistura segundo o traço


estabelecido no Quadro 2. O lançamento nas estacas se deu manualmente.

A escolha pela aplicação de argamassa em detrimento do concreto se fez justamente pelas condições de
lançamento. Houve uma preocupação no que se refere à segregação do concreto, que é justamente a
separação dos constituintes da mistura, impedindo a obtenção de um concreto com características
uniformes razoáveis (Effting, C. 2014). A elevada altura de lançamento (6,15 m) atrelada ao pequeno
diâmetro da estaca (0,15 m) seriam grandes precursores para a segregação em caso da utilização do
concreto.

2.3.4 – Retirada dos corpos de prova representativos da argamassa

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De acordo com os pertinentes procedimentos da ABNT NBR 5738 (2015), fez-se a retirada dos corpos de
prova representativos da argamassa utilizada e lançada na execução da estaca E3, através de moldes
cilíndricos com dimensões básicas de 100mm.

2.3.5 – Instalação da célula expansiva hidrodinâmica arcos

Conforme mencionado, a estaca E3 possui 6,15 m. A célula hidrodinâmica Arcos foi projetada para ser
posicionada a 4,15 m de profundidade, tendo assim o fuste 4,0 m e a continuação da ponta 2,0 m. Os 0,15
m restantes são correspondentes à altura da célula, que é observada através da Figura 2. Porém, devido a
questões executivas, o posicionamento da célula se deu a 3,75 m de profundidade, de modo que sua parte
superior ficou com 3,60 m e a inferior com 2,40 m. Tal esquema é ilustrado na Figura 3.

Figura 2 – Célula Hidrodinâmica Arcos Figura 3 – a) Posicionamento idealizado da célula


b) Posicionamento executado da célula

Para o cálculo do posicionamento da célula, utilizou-se como base os métodos semi-empíricos de


determinação da capacidade de carga. Segundo Pereira (2016), tais cálculos visam buscar equilíbrio entre
a resistência lateral do fuste acrescido do peso próprio da estaca (parte superior) e a parte inferior a esta,
que apresenta resistências do atrito lateral e ponta. Observa-se que quanto mais preciso o posicionamento
desta célula, mais próximas, em termos de carga, estarão as rupturas entre as partes abaixo e acima da
célula.

2.4 - Ensaio de Prova de Carga Bidirecional Arcos

Para realização da prova de carga estática com célula expansiva hidrodinâmica, é necessário que a célula
de carga, previamente aferida, seja instalada dentro do fuste da estaca, durante o processo de
argamassagem. O ensaio consiste basicamente na aplicação de carga na célula através de pressurização
de fluido hidráulico, que solicita o segmento inferior ao equipamento (fuste e ponta), fazendo-a reagir
contra o segmento superior (fuste), com uma força igual, porém de sentido contrário. Para a escolha da
profundidade de implantação da célula de carga, busca-se o equilíbrio entre a resistência lateral do fuste
acrescido do peso próprio da estaca (parte superior) e a parte inferior a esta, que apresenta resistências
do atrito lateral e ponta. Os recalques do segmento inferior são medidos através de tell-tales previamente
instalados na célula. O deslocamento do fuste é medido através do movimento ascendente da parte superior
da estaca, através de extensômetros com precisão de leitura direta de 0,01mm.

A Figura 4 abaixo mostra o posicionamento dos três relógios comparadores de 0,01 mm de precisão
instalados sob a viga de referência e utilizados para medir diferentes deslocamentos sendo: dois relógios
apoiados sob os tell-tales, posicionados na célula para transmitir a medida dos deslocamentos ascendentes
da parte superior (acima da célula) da estaca; e para medir o deslocamento descendente da parte inferior
(abaixo da célula) da estaca. Ainda sob o topo da estaca foi instalado mais um relógio comparador, que dá
ao ensaio Bidirecional a grande vantagem de fornecer a medida do encurtamento elástico no fuste da
estaca, não obtido no ensaio convencional.

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Figura 4 – Instrumentação usada para leitura de recalques no Ensaio Bidirecional

Sucedeu-se a prova de carga através do processo de carregamento rápido, conforme ABNT NBR 12131
(2006), com carga máxima de 140 kN divididos entre parte superior (fuste) e parte inferior (fuste e ponta).

2.5 - Injeção de Azul de Metileno

Após a finalização do ensaio de prova de carga Bidirecional, injetou-se com o auxílio de um funil, uma
mistura de azul de metileno com calda de cimento branco sob pressão, pelo tubo central da estaca, usado
para fazer a interligação entre bomba hidráulica e célula hidrodinâmica Arcos. Esse procedimento foi
realizado com o intuito de refinar a verificação da integridade da estaca, pois a coloração azul evidencia
nitidamente a presença de possíveis microfissuras.

2.6 – Exumação da Estaca Submetida à Prova de Carga Bidirecional Arcos

O processo de escavação contígua da estaca, alcançando a cota de instalação da célula, foi realizado através
de uma retroescavadeira, conforme Figura 5. Para permitir a visualização da estaca fora executada uma
trincheira, conforme Figura 6. O trabalho realizado fora assistido pela equipe técnica envolvida na pesquisa,
de forma a garantir uma análise fidedigna à realidade encontrada após o teste Bidirecional. Garantiu-se
desta forma a não ocorrência de contato entre a escavadeira e o elemento de fundação.

Figura 5 – Processo inicial da exumação- Figura 6 – Processo final da exumação –


escavação feita pela retroescavadeira escavação feita pela retroescavadeira

Após abertura da trincheira que permitiu acesso e análise sensorial e fotográfica da célula, desceu-se até
o local. Para um recolhimento plausível de informações que sejam pertinentes e pontuais à discussão sobre
a integridade da estaca, foi necessário um levantamento considerável de imagens, que consistem em
provas, sobre a integridade do elemento de fundação ensaiado.

3 – RESULTADOS

3.1 – Investigação Geológico Geotécnica

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De posse da Sondagem à Trado complementada pelos ensaios de laboratório, obteve-se até a profundidade
de 4,20 metros o solo classificado como Silte Areno Argiloso, com coloração marrom.

O ensaio de sondagem de simples reconhecimento a percusão tipo (SPT) apresentou os resultados


mostrados no Quadro 3 abaixo.

Quadro 3 – Resultado do ensaio de simples reconhecimento do solo (SPT)

Profundidade (m) 1 2 3 4 5
NSPT 30 cm 19 11 8 8 7
Tipo de solo Silte Areno argilo com coloração marrom

A Figura 7 apresenta esquema que ilustra o perfil geotécnico da sondagem SPT realizada próximo a estaca
ensaiada e eventual posicionamento do elemento de fundação, com destaque à célula hidrodinâmica. A
estaca ensaiada está imersa em subsolo cujo perfil é basicamente composto por solo silte arenoso, com
traços de feudspato, cor variegada com predominância de marrom, baixa plasticidade. A estaca ensaiada
foi escavada até a profundidade de 6,15 m, apoiando-a no solo residual de NSPT (Índice de Resistência à
Penetração) igual a 93 golpes / 30 cm.

Figura 7 – Desenho esquemático da prova de carga bidirecional com célula expansiva hidrodinâmica Arcos junto ao
perfil de sondagem spt realizado próximo à estaca ensaiada

Feito o reconhecimento do perfil do solo local e de posse do índice de resistência NSPT, a capacidade de
carga geotécnica da estaca, para carga lateral é apresentada no Quadro 4, cujos valores foram tratados
estatisticamente a fim de se obter carga lateral estimada estatisticamente basendo-se nos diferentes
métodos semi-empiricos.

Quadro 4 – Determinação e análise estatística da capacidade de carga obtida por métodos semi-empíricos baseados no
Ensaio de Sondagem SPT, obtido apenas para carga lateral
Método Q ult (tf) Q med (tf) S t0,90 Q proj (tf)

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Velloso (1981) 14,02


Teixeira (1996) 19,42
Decourt e Quaresma (1978) 8,33
14,08 1,47 4,18 11,56
Aoki e Velloso (1975) 10,2
Monteiro (1997) 15,54
Antunes e Cabral (1996) 16,99

No quadro 5, dispõe-se os valores obtidos finais após determinação estatística, tanto para carga lateral
como para carga de ponta, conforme explicitado no item 2.2.2 desta pesquisa.

Quadro 5 - Capacidade de carga mínima


Capacidade de Carga (tf)
Estatística - Semi-empíricos Bidirecional
-
Ponta Lateral Total Abaixo da Célula Acima da célula
Q proj (tf) 7,2 11,56 18,76 14,00 14,00

3.2 – Execução da Estaca Escavada com a Célula Expansiva Hidrodinâmica Arcos

3.2.1 – Definição do traço da argamassa

É importante considerar a capacidade de retenção de água dos agregados miúdos que compõem o concreto
ou a argamassa. Através da curva de inchamento da areia torna-se factível uma definição prática do traço,
considerando a porcentagem de umidade do agregado miúdo a ser incorporado na argamassa, uma vez
que esta curva permite relacionar uma verdadeira grandeza entre massa e volume para qualquer umidade
em que se encontre a areia a ser utilizada. A Figura 8 mostra a curva de inchamento obtida para o agregado
miúdo empregado na mistura da argamassa diante da execução da estaca E3.

CURVA DE INCHAMENTO
1,6
COEFICIENTES (VH / VS)

1,5
RELAÇÃO DOS

1,4
1,3
1,2
1,1
1,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

PORCENTAGENS DE UMIDADES
Figura 8 – Curva de Inchamento da Areia Utilizada como Agregado Miúdo no Traço da Argamassa

Com a curva da Figura 8 pôde-se obter que a porcentagem crítica de umidade é 4,9% e que o coeficiente
de inchamento médio vale 1,64. Todo procedimento para determinação da curva de inchamento do
agregado miúdo se deu em conformidade com a ABNT NBR 6467 (2006).

3.2.2 – Retirada do corpo de prova representativo de argamassa

A fim de se verificar a conformidade da resistência característica da argamassa utilizada, resultante do


traço determinado conforme Quadro 2, realizou-se o ensaio de compressão axial dos corpos de prova em
conformidade com a ABNT NBR 5739 (2007) e representado através da Figura 9(a) e da Figura 9(b). A
resistência à compressão após 28 dias do corpo de prova representativo da argamassa utilizada foi de
25,01 MPa, conforme Quadro 6. Como a ABNT NBR 6122 (2010) prevê um fck máximo não inferior a 15
MPa para estacas escavadas sem fluido estabilizante, julgou-se satisfatória a adoção do referido traço.

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Figura 9(a) – Início do ensaio de Figura 9(b) – Fim do ensaio de


compressão compressão

Quadro 6 – Determinação e análise estatística da capacidade de carga obtida por métodos semi-empíricos baseados no
Ensaio de Sondagem SPT
Tensão
Carga Tensão de Pico
D H Massa ÁREA de Desvio
CP N de Pico Média (MPa)
(mm) (mm) (g) (m²) Pico Padrão
(tf)
(MPa)
B3 CP 3 50,15 83,5 335,4 5,1 1,9*10-3 25,7
25,8
B3 CP 4* 50,26 80,6 328,2 3,8 1,9*10-3 19,1
25,0 1,05
B4 CP 5 50,25 84,2 334,4 4,8 1,9*10-3 24,3
24,3
B4 CP 6* 50,23 83,2 333,7 3,1 1,9*10 -3
15,9
Legenda: CP: Corpo de prova; N: Número; D: Diâmetro médio; H: Altura média;
*: Erro ao preparar o corpo de prova

É importante frisar que no Quadro 7, B3 se refere aos corpos de prova da argamassagem na profundidade
0,0m - 2,0m e B4 aos corpos de prova da argamassagem na profundidade2,0m - 6,15m, da estaca E3.

3.3 – Ensaio de Prova de Carga Bidirecional Arcos

Durante o ensaio foram atingidos os 20 estágios previstos por norma, havendo extensão a 28 estágios até
o alcance da carga de ruptura geotécnica, inicialmente observada pela ausência de estabilização do
deslocamento do segmento inferior com consequente exaustão das resistências do domínio de transferência
de carga pelo atrito lateral e do domínio de transferência de carga pela ponta.

Devido à metodologia da prova de carga bidirecional, onde a célula de carga é implantanda dentro do fuste
da estaca, neste caso a 3,75 m de profundidade, se faz necessário correção dos valores lidos durante a
instrumentação. Nas cargas corrigidas, o peso flutuante do segmento superior, considerando a densidade
de concreto armado (25 kN/m³) acima da célula de carga, foi descontado das cargas mobilizadas para o
fuste, devido ao carregamento ascendente. Na carga da ponta houve acréscimo do peso próprio do
segmento posicionado abaixo da célula expansiva.

O Quadro 8 abaixo apresenta os valores dos carregamentos atingidos no último estágio do ensaio estático
e os valores corrigidos.

Quadro 8 – Dados dos Carregamentos do Estágio Final do Ensaio


Pressão
Carga Total (kN) Carga Parte Superior (kN) Carga Parte Inferior (kN) Manômetro
(kgf/cm²)
Corrigida
Aplicada Corrigida Aplicada Corrigida Aplicada
(Média)
280
280,09 280 139,01 140 141,08 140

A partir dos resultados é possível avaliar o comportamento do trecho superior e o trecho inferior
separadamente, como demonstrado na Figura 10, representada pelo gráfico de carga x deslocamento.

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Figura – Curva carga x deslocamento da prova de carga Bidirecional

Também se pôde obter a curva ajustada de carga x deslocamento da prova de carga Bidirecional Arcos,
conforme Figura 11 abaixo:

Figura 11 – Curva ajustada carga x deslocamento da prova de carga Bidirecional

3.4 – Exumação da Estaca Submetida à Prova de Carga Bidirecional Arcos

Motivada pelos fatores retromencionados, foi realizada escavação adjacente à estaca, alcançando a cota
de instalação da célula, confirmando a divisão do corpo e analisando a integridade dos segmentos.
Na verificação da integridade da estaca, analisou-se, de um modo geral, a estaca e a célula. Na parte
abaixo da célula, a estaca se manteve íntegra, não apresentando nenhum indício de fissuração, conforme
demonstra a Figura 12. Constatou-se que a estaca apresentou microfissuras na parte superior da célula.
Tal constatação se deu através da presença de azul de metileno que foi identificado no interior da estaca,
constantemente de 0 a 10 cm e pontualmente na altura dos 20 cm e 40 cm, acima do topo da célula
hidrodinâmica Arcos, conforme se observa Figura 15. A perícia da célula também foi realizada, conforme
pode-se observar nas Figuras 13 e 14, que constatam, respectivamente a sua integridade, bem como a
ocorrência da abertura total do êmbolo.

Ainda retirou-se de maneira mais intacta possível o concreto do fuste envolto na parte superior da célula,
para se fazer uma verificação mais minuciosa da presença do azul de metileno. Pode-se constatar
claramente sua presença nas fissuras conforme Figura 16.

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Figura 12 – Verificação da integridade da Figura 13 – Verificação da integridade da Figura 14 – Verificação de


estaca com o indicador azul de metileno célula abertura do êmbolo da célua

Figura 15 – Verificação da integridade da estaca com o indicador azul de metileno

Figura 16 – Verificação da integridade da estaca com o indicador azul de metileno

4 – DISCUSSÕES

A integridade da estaca na região de ponta, ou seja, a continuação da estaca abaixo da célula encontre-se
intacta, ao passo que na região do fuste, acima da célula, encontra-se danificada fisicamente. Quando se
injetou o azul de metileno no centro da estaca, através do tubo que liga a célula ao macaco, o intuito foi
justamente deixar evidente a danificação ocorrida, podendo-se constatar a presença de microfissuras.

Algumas hipóteses podem ser assumidas. Observa-se que, conforme já apresentado na Figura 10, a região
do fuste se desloca pouco para um mesmo acréscimo de carga, se comparado com a ponta da estaca.
Pensando em um sistema de reação, mesmo que a carga proveniente seja a mesma e a célula consiga
transmiti-la de forma equivalente tanto para cima, quanto para baixo, deve-se atentar à tensão proveniente
tanto no contato “célula-fuste” quanto no contato “célula-ponta”.

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É importante salientar, que conforme explicitado, a resistência característica do corpo de prova ensaiado
foi de 25,01 MPa, o que seria suficiente para suportar a tensão aplicada pela célula na estaca, durante a
prova de carga, que foi de 20,93 MPa. Porém, é essencial relembrar a presença dos dois tell-tales e mais
do tubo central por onde a bomba conecta-se à célula, conforme medidas foram aferidas na Figura 17.
Temos uma redução considerável de área preenchida por argamassa, fazendo com que a tensão aplicada
na região superior de contato da célula com a estaca passe a ser de 31,14 MPa. Julga-se necessário, antes
da realização da prova de carga bidirecional, verificar a tensão esperada tendo em conta a área de contato
real em cada uma das interfaces, ou seja, inferior e superior à célula, compatibilizando a tensão geotécnica
solicitante com a capacidade estrutural da estaca.

Figura 17 – Dimensões levantadas para cálculo da tensão aplicada na argamassa no topo da célula

Na parte da ponta, conforme supracitado na Figura 20, não ocorreu nenhum tipo de fissuração, uma vez
que a tensão entre a parte inferior de contato da célula com a argamassa é de 20,93 MPa. Vale mencionar
que a região inferior da estaca não contém nenhum tubo, sendo a argamassa responsável por absorver
integralmente os carregamentos oriundos da execução da prova de carga Bidirecional.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme Silva (1986), o estudo de provas de carga tem ocupado grande parte dos estudiosos de
engenharia de fundações justamente pela necessidade de se buscar, no campo experimental, informações
que aproximem o comportamento das fundações projetadas do comportamento previsto pelos critérios
disponíveis.

De acordo com a hipótese proposta inicialmente, observa-se pós-ruptura geotécnica, que não existe um
efeito deletério sobre a região da estaca que faz interação com a parte inferior da célula, uma vez que as
tensões aplicadas pela célula foram abaixo do nível de resistência do material construtivo da estaca. O
efeito contrário também evidencia a hipótese, ao se constatar através da presença do azul de metileno no
interior do elemento estrutural de fundação que na região de contato entre a parte superior da célula e a
estaca ocorreram microfissuras, devido às tensões excessivas oriundas da menor área de contato da seção
transversal na região do fuste.

6 – AGRADECIMENTOS

À Arcos – Engenharia de Solos, ao Grupo de Pesquisa Infraestruturas de Vias Terrestres e Obras Geotécnicas
INFRAGEO e à Universidade Federal de São João Del Rei - Campus Alto Paraopeba.

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 12131:2006. Estacas – Prova de carga estática – Método de
ensaio

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 5738:2015. Concreto – Procedimento Para Moldagem e Cura de
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Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 5739:2007. Concreto – Ensaio de Compressão de Corpos de
Prova Cilíndricos.

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 6122:2010. Projeto e execução de fundações

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 6467:2006. Agregados - Determinação do inchamento de
agregado miúdo - Método de ensaio

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 6484:2001. Sondagem de simples reconhecimento SPT – Método
de ensaio

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 9603:1986. Sondagem a Trado - Procedimento

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Antunes, W. R e Cabral D. A. (1996) - Capacidade de carga de estacas hélice contínua. In: SEFE, 3, 1996, São Paulo.
Anais… São Paulo.

Aoki, n. e velloso, d. A. (1975) - An Approximate Method to Estimate the Bearing Capacity of Piles. In: Panamerican
Conference On Soil Mechanics And Foundation Engineering (Pcsmfe), 5., Buenos Aires, 1975. Proceedings... Bue-
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634
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM UM EDIFÍCIO SOBRE


SAPATAS EM TERRENO MELHORADO SITUADO NA CIDADE DO RECIFE,
BRASIL

ANALYSIS OF THE SOIL-STRUCTURE INTERACTION IN A BUILDING ON


FOOTINGS ON IMPROVED SOIL LOCATED IN THE CITY OF RECIFE, BRAZIL

Oliveira, Manoely S. de; Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, manoely.oliveira@hotmail.com


Roma, Rodrigo F.; Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, rodrigo.f.roma@gmail.com
Almeida, Allan K. L. de; Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, allan92leite@gmail.com
Gusmão, Alexandre D.; Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, gusmao.alex@ig.com.br
Maia, Gilmar de B.; Gusmão Engenheiros Associados Ltda, Recife, Brasil, gilmar@gusmao.eng.br

RESUMO

Usualmente, define-se a edificação como o conjunto formado por três partes independentes: superestrutura,
infraestrutura e terreno de fundação. A maior parte dos projetos de estruturas e fundações de edificações
tem sido desenvolvida a partir de métodos tradicionais que admitem esta hipótese. O que acontece, no
entanto, é que a edificação se comporta como um sistema único, sendo o seu desempenho governado pela
ação mútua entre essas três partes através de um mecanismo denominado interação solo-estrutura (ISE),
que, caso desprezado, pode provocar uma série de efeitos às obras, que tanto podem beneficiá-las quanto
prejudicá-las. Diante deste contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar o desempenho de um
edifício residencial de 29 lajes, situado na cidade do Recife, Brasil, cujas fundações são superficiais do tipo
sapatas, executadas sobre terreno previamente melhorado com estacas de compactação. É apresentada a
variação da resistência à penetração no ensaio SPT (NSPT) antes e após a execução do melhoramento. É
analisada a influência da interação solo-estrutura através da compilação de 17 medições de recalques
realizadas desde o início até o final da construção. Em relação ao melhoramento do solo, observa-se o
incremento da resistência das camadas superficiais do terreno após a execução da técnica, sendo estes
observados a partir do acréscimo do NSPT. Os resultados mostram recalques absolutos medidos entre 43 e
61mm, e o desempenho do prédio foi plenamente satisfatório, sem nenhuma patologia associada a
movimentos da fundação. Também são demonstrados os efeitos da redistribuição de cargas nos pilares, da
uniformização da deformada dos recalques e da sequência construtiva, resultantes do mecanismo da ISE.

ABSTRACT

Usually a building is defined as a set formed by three independent parts: superstructure, infrastructure and
foundation ground; most structural and foundation projects are elaborated using traditional methods that
support this hypothesis. However, a building behaves as a single system, its performance is governed by
the mutual action between these three parties through a mechanism called soil-structure interaction (SSI).
If ignored, this can cause a number of effects to the building, which can both do benefit or harm. On this
context this research presents the performance of a residential building with 29 floors located in the city of
Recife, Brazil, its foundations are footing executed on a previously improved ground by using compaction
piles. The variation on the number of the Standard Penetration Test (NSPT) before and after the improvement
was showed. Soil-structure interaction was analyzed through compilation of 17 displacements
measurements carried out from the beginning to the end of the construction of the building. In relation to
the ground improvement it is observed an increase in the resistance of the superficial layers after the
execution of the improvement technique shown as an increase on N SPT. The measured absolute settlements
varied between 43 and 61mm, and the performance of the building was satisfactory, without damages that
can be associated to foundation movements. It also shows the effects of load redistribution on the columns
of the building, the uniformization of displacements and the constructive sequence, all of it resulted from
SSI’s mechanisms.

1- INTRODUÇÃO

1.1 - Geologia da planície do Recife

A cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco, fica localizada no litoral do nordeste brasileiro e ocupa
uma posição geográfica entre o continente e o mar. Limita-se ao norte com as cidades de Olinda e Paulista,
ao sul com Jaboatão dos Guararapes, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com São Lourenço da Mata
e Camaragibe, conforme ilustrado na Figura 1.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A formação dos solos da cidade é resultante de eventos geológicos diversos que deram origem à sua atual
configuração e à sua morfologia, constituída, basicamente, por duas unidades topográficas distintas: os
morros e a planície.

O subsolo da planície, cujos mais influentes processos que desencadearam sua formação foram as duas
transgressões e regressões marinhas ocorridas durante o Período Quarternário, é muito variado e complexo
do ponto de vista geotécnico. Nele, podem ser encontrados materiais como areias, turfas, siltes, conchas
e outros, porém há a predominância de solos argilosos orgânicos moles que podem alcançar espessuras
superiores a 30 metros e que, devido à reduzida altitude da planície em relação ao nível do mar, encontram-
se geralmente saturados.

Figura 1 – Localização da cidade do Recife (Oliveira, 2018)

Associado a isto, o Recife possui a segunda menor área urbana entre as capitais dos estados brasileiros e
uma elevada densidade populacional resultante do crescimento do estado de Pernambuco nos últimos anos.
“Tais fatos acarretam na execução de obras cada vez mais esbeltas sobre solos com baixa capacidade de
suporte e elevada compressibilidade, pois, como a cidade possui espaço reduzido, a solução encontrada
para suportar o número de habitantes é a verticalização das edificações” (Oliveira et al., 2016).

Desta forma, frente às características do subsolo recifense - onde se encontram camadas de areia fina e
média, de compacidade fofa, intercaladas ou seguidas por outras, seja de argila orgânica mole, seja de
areia concrecionada muito compacta ou arenitos bem consolidados (Gusmão, 2005) – e à verticalização de
suas edificações, os projetos de fundações são, muitas vezes, governados pelo critério dos recalques.

1.2 - Técnica de melhoramento de solos

O melhoramento de solos é uma técnica que tem sido bastante utilizada em obras do nordeste brasileiro.
Isto porque, segundo Gusmão (2000), a implantação da solução de melhoramento da camada superficial
através de estacas de compactação pode viabilizar o uso de fundações superficiais e reduzir de forma
significativa os custos da fundação.

O objetivo de melhorar a camada arenosa superficial é assegurar estabilidade à fundação e evitar recalques
excessivos que possam trazer danos à obra. De acordo com Gusmão Filho (1998), o melhoramento
possibilita uma elevação da taxa de trabalho do terreno, o que implica em uma substancial diminuição nos
volumes de escavação e de concreto das fundações projetadas.

Existem diversas técnicas para o melhoramento dos terrenos, dentre as quais as estacas de compactação.
Estas, por sua vez, podem ser constituídas por dois tipos de materiais, cuja escolha influencia diretamente
no dimensionamento e método de transferência das cargas ao terreno de fundação: as estacas de
compactação em areia e brita, e aquelas em que há adição de cimento, localmente conhecidas como “estaca
de argamassa” (Oliveira, 2018).

As estacas de compactação em areia e brita são usadas em solos preponderantemente granulares e visam
elevar a compacidade do terreno, reduzir o seu nível de deformabilidade, aumentando a rigidez do terreno

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

melhorado. O objetivo é densificar o solo através de três efeitos: (i) introdução de material compactado no
terreno; (ii) deslocamento do material do terreno igual ao volume do tubo introduzido e; (iii) o efeito de
vibração decorrente do processo de cravação dinâmica (Gusmão, 2005). ”Esta técnica consiste na execução
de uma malha quadrangular cobrindo toda a área de projeção da lâmina do prédio, estendendo-se uma ou
duas filas de estacas além dos limites da lâmina, visando cobrir regiões influenciadas pelo espraiamento
das pressões” (Gusmão et al., 2000).

As estacas de argamassa, por outro lado, são variantes das constituídas em areia e brita e foram
desenvolvidas frente às características geotécnicas da cidade do Recife. Seu funcionamento é, na realidade,
semelhante a uma fundação mista, visto que é capaz de conduzir às camadas mais profundas determinada
porcentagem da carga transmitida pela superestrutura. Por esta razão, as estacas são executadas apenas
na área de projeção das fundações superficiais da lâmina do edifício. Seu emprego é determinado em
função da granulometria do terreno superficial e da presença de camadas argilosas moles, que devem ser
ultrapassadas para diminuição das deformações do terreno (Gusmão, 2005).

1.3 - Interação solo-estrutura

A maioria dos projetos de estabilidade, na rotina da engenharia brasileira, despreza a interação solo-
estrutura, sendo elaborados a partir de métodos tradicionais que admitem a hipótese de que a edificação
seja dividida em partes, como se não constituísse um conjunto. Desta forma, são realizados,
separadamente, um projeto para dimensionamento da superestrutura - denominado projeto estrutural - e
outro para infraestrutura - intitulado projeto de fundações.

O que acontece, no entanto, é que a edificação não se comporta como partes, mas como um sistema único,
sendo o seu desempenho governado pela ação mútua entre a superestrutura, a infraestrutura e o terreno
de fundação, através de um mecanismo denominado interação solo-estrutura (ISE). Assim, caso
desprezada, esta interação pode produzir uma série de efeitos às obras, já que o comportamento previsto
nos métodos tradicionais difere do comportamento real da estrutura (Cunha et al., 2014).

Um dos efeitos provocados pela ISE é a redistribuição de esforços nos elementos estruturais, em especial
as cargas nos pilares, onde, devido, principalmente, à rigidez relativa estrutura-solo e à deformada de
recalques, os pilares mais carregados tendem a sofrer alívio de carga, e os pilares menos carregados
tendem a sofrer um acréscimo de carga (Aoki, 1987 apud Gusmão, 1990, p.3; Gonçalves et al., 2007).

O mecanismo também é responsável pela solidariedade entre os elementos da estrutura, conferindo-a de


considerável rigidez de forma a influenciar diretamente nos movimentos das fundações: a ISE faz com que
os recalques diferenciais sejam menores que os estimados convencionalmente, resultando em deformadas
de recalque com curvatura menor que a prevista (Gusmão, 2000; Savaris et al., 2011).

Assim, caso este efeito seja desprezado durante o dimensionamento das edificações, tal pode tanto
provocar o surgimento de danos às mesmas, quanto viabilizar projetos de fundação que não seriam aceitos
por uma análise convencional (Gusmão, 1990).

Diante deste contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar o desempenho de um edifício residencial
situado na cidade do Recife/PE/BR, cujas fundações são superficiais do tipo sapata, executadas sobre
terreno previamente melhorado com estacas de compactação em argamassa.

2- CARACTERIZAÇÃO DA OBRA

O edifício analisado é composto por uma estrutura aporticada em concreto armado com 29 lajes e 16 pilares
sob a projeção da lâmina do prédio, cujas cargas verticais variam de 2.730 a 13.430 kN. A cota de
implantação é igual a -1,20m em relação ao nível do meio-fio da rua em frente ao edifício.

O terreno em estudo está situado na unidade geológica das Praias - associada à última regressão marinha
que ocorreu no período holocênico -, na qual a presença de arenitos em subsuperfície permite, em alguns
casos, a adoção de fundações superficiais em edifícios altos, que trabalham com efeito de placa devido à
camada subjacente compressível característica da unidade geológica em questão (Gusmão Filho, 1998).

As sondagens realizadas mostram que o subsolo do terreno da obra em questão apresentava inicialmente
uma camada de aterro até à cota -2,50, seguida por uma camada de areia medianamente compacta a
compacta até à cota -5,00. Logo após, há uma camada de areia fofa até à cota -6,60, acima de uma
camada de areia medianamente compacta a compacta até à cota -9,00. Adiante, há uma camada de argila
siltosa de consistência muito mole a mole até à cota -9,90, acima de uma camada de areia compacta até
à cota -19,10.

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Posteriormente, encontra-se uma camada de silte argiloso mole a médio até à cota -22,30, que é seguido
por uma camada de areia compacta a muito compacta até à cota -27,90, correspondente ao limite de
sondagem. As consistências e compacidades dos solos descritos são baseadas na norma brasileira NBR
6484 (ABNT, 2001), que prescreve o método de execução das sondagens de simples reconhecimento (SPT).
O nível d´água freático se encontra em torno da cota -2,50m.

Diante do porte do edifício, bem como das características geotécnicas do terreno, foram projetadas
fundações diretas do tipo sapata com prévio melhoramento do subsolo através da execução de 520 estacas
de compactação em argamassa com 320 mm de diâmetro e comprimento médio de 6 m, dispostas sob a
área de projeção das sapatas em malha quadrada de 0,80 m (Figura 2). A eficiência do melhoramento pôde
ser observada através da comparação entre as compacidades do terreno antes e após execução da técnica,
onde verificou-se expressivo incremento do NSPT das camadas de solo melhoradas (Figura 3).

Figura 2 – Planta de locação das sapatas com as malhas quadrangulares das estacas de compactação

Os recalques do prédio foram estimados de maneira convencional, ou seja, sem a consideração da interação
solo-estrutura. Foram consideradas as camadas do terreno abaixo da cota de assentamento das sapatas (-
3,80m para os pilares do poço do elevador e -2,80m para os demais pilares). As pressões transmitidas ao
maciço, por sua vez, foram calculadas utilizando-se a Fórmula de Midlin, e os parâmetros geotécnicos das
camadas foram estimados a partir de correlações com as sondagens, bem como a partir de valores típicos
para os solos locais.

3- MEDIÇÃO DOS RECALQUES

O monitoramento de recalques permite averiguar o desempenho das edificações por ter embutido nos seus
resultados os efeitos causados pela interação solo-estrutura. A técnica, segundo Savaris (2008), tem a
finalidade de investigar o comportamento das fundações com o aumento progressivo das cargas dos pilares,
constituindo uma importante ferramenta à compreensão do comportamento do solo e ao desenvolvimento
de novas metodologias de estimativa de recalques.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

No que se refere aos sistemas empregados para a medição dos recalques, podem-se utilizar dois diferentes
tipos, ambos baseados em nivelamento. O mais utilizado é feito com o emprego de níveis óticos.

Os procedimentos metodológicos empregados para o nivelamento com niveis ópticos são relativamente
simples: inicialmente, é instalado um referencial de nível no terreno da obra, ou em locais vizinhos, ou
seja, um ponto fixo que não sofra deslocamentos provenientes da própria obra ou de fatores adjacentes;
em seguida, inserem-se pinos com base no sistema tipo macho-fêmea nos pilares a serem monitorados ao
longo da construção; então, as leituras de recalque são efetuadas a partir da colocação de uma mira
graduada sobre a extremidade esférica do pino de monitoramento macho a fim de elevar a cota do ponto
observado e compará-la à cota do RN com o auxílio de um nível óptico.

Figura 3 – Perfil do terreno com indicativo do NSPT antes e após a execução do melhoramento

Em cada leitura de recalque, a cota do ponto é analisada e da diferença entre a cota da primeira leitura
(nivelamento) e a cota de uma leitura subsequente tem-se o valor do recalque absoluto à data de realização
da última leitura. Desta forma, conforme as medições vão sendo realizadas, a evolução da magnitude
destes recalques pode ser acompanhada.

Para monitoramento do edifício, realizado por uma empresa local, foram instalados pinos em todos os
pilares da lâmina do prédio. Ao total, realizaram-se 17 campanhas de leitura, incluindo o nivelamento, que
ocorreram entre fevereiro de 2008, quando a estrutura estava com apenas 6 lajes, a janeiro de 2012, com
a obra já concluída. Em cada etapa de medição dos recalques, estimou-se o carregamento médio do prédio
de modo proporcional às etapas concluídas, seguindo-se a distribuição de carregamento mostrada no
Quadro 1.

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Quadro 1- Distribuição das cargas na estrutura


TIPO CARREGAMENTO PARCIAL (%)*
Estrutura de concreto armado 40
Alvenarias 20
Revestimento externo 7,5
Revesimento interno 7,5
Pisos 10
Sobrecargas 15
TOTAL 100
*Em relação ao carregamento total

4- METODOLOGIA

Para desenvolvimento da pesquisa, foram compilados os dados dos 17 relatórios de monitoramento de


recalques do edifício. Nesta etapa, foram verificadas as magnitudes dos recalques em cada apoio, além dos
carregamentos da estrutura, em peso e em percentual, e o tempo decorrido para o nivelamento e cada
campanha de medição. Ao mesmo tempo, foram verificados, no projeto de fundações, os métodos
empregados para estimativa dos recalques, tais quais os seus valores obtidos.

A partir da compilação dos relatórios de monitoramento, foram criadas tabelas, figuras e gráficos auxiliares
à interpretação dos dados, que mostram, por exemplo, a evolução dos recalques ao longo do tempo, as
velocidades com que estes se processam e as curvas de isolinhas de recalques.

Os dados obtidos no relatório de monitoramento também permitiram a análise da ISE através do método
proposto por Gusmão (1990). O autor mostrou que o recalque médio de uma edificação depende apenas
do carregamento e das propriedades do terreno, e independe da rigidez solo-estrutura. Já a dispersão dos
recalques (e o próprio recalque diferencial máximo) depende apenas da ISE. Se forem comparados os
recalques calculados de modo convencional (sem a consideração da ISE) com os recalques medidos, o
recalque médio convencional tende a ter a mesma magnitude do recalque medido (que inclui os efeitos da
ISE). Por sua vez, a ISE tende a reduzir o recalque máximo e aumentar o recalque mínimo, fazendo com
que haja uma redução dos recalques diferenciais.

Gusmão (1990) definiu o fator de recalque absoluto (AR) como um parâmetro que serve para avaliar o
efeito da redistribuição de cargas nos pilares:
𝑆𝑖
AR= [1]
𝑆𝑚

onde 𝑆𝑖 é o recalque absoluto no apoio i; e 𝑆𝑚 o recalque absoluto médio.

Gusmão (1990) também afirmou que a dispersão dos recalques é fortemente influenciada pela ISE. Com
isso, a dispersão dos recalques calculados sem a ISE tende a ser maior que a dispersão dos recalques
medidos. O autor propôs que o efeito da ISE nos recalques poderia ser representada pelo coeficiente de
variação (CV), que é a razão entre o desvio-padrão e o recalque médio:
𝑆𝑛
CV= [2]
𝑆𝑚

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onde 𝑆𝑛 é o desvio padrão dos recalques e 𝑆𝑚 o recalque absoluto médio. Na Figura 4 é apresentada, de
forma resumida, a metodologia empregada.

Figura 4 – Metodologia empregada para desenvolvimento da pesquisa

5- RESULTADOS

Para análise do desempenho do edifício em questão, foram plotados gráficos de acompanhamento os quais
apresentam a evolução dos recalques absolutos, velocidades dos recalques, estágios de construção,
coeficiente de variação (CV), coeficientes de recalque (AR) e rigidez média global da edificação, todos em
função do tempo correspondentes às medições. Também foi elaborado um mapa de isolinhas de recalque
para a 17ª medição, realizada a 47 meses após a 1ª medição (nivelamento).

A Figura 5 mostra a evolução do carregamento médio da edificação, assim como dos recalques mínimo,
médio e máximo ao longo do tempo. A partir do gráfico, nota-se um incremento mais acentuado dos
recalques até em torno de 50% do total construído, o que corresponde a aproximadamente um ano após
o nivelamento. Percebe-se que após esses 50%, há uma redução da velocidade de recalque. Na última
leitura, o recalque absoluto mínimo foi de 20,7 mm, médio de 40,3 mm e máximo de 61,1 mm.

Figura 5 – Evolução do carregamento e recalque absoluto ao longo do tempo

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Na Figura 6, é apresentada a evolução da velocidade de recalque ao longo do tempo. Nota-se um


crescimento acentuado nas primeiras etapas construtivas (concretagem da estrutura e assentamento das
alvenarias), devido à magnitude do recalque inicial e ao curto período de tempo. Na 17ª medição
identificou-se uma velocidade média dos recalques de 28,3 μm/dia, dentro dos padrões de estabilização e
sem riscos de patologias ou danos estruturais. Admitindo-se uma regressão linear, foi verificado que a
completa estabilização dos recalques ocorreria em um período de 20 dias após a última medição, com um
valor de recalque médio final correspondente a 40,8 mm, ou seja, o recalque médio da 17ª medição
corresponde a 98% do recalque total extrapolado.

Figura 6 – Evolução do carregamento e velocidade de recalque ao longo do tempo

A Figura 7 apresenta a comparação entre o recalque calculado de modo convencional, ou seja, sem ISE, e
os recalques medidos. Observa-se que os recalques médios são praticamente iguais a 40mm, mas há
diferenças quando se compara pilar a pilar. Isso decorre exatamente do efeito da ISE, que tende a reduzir
os recalques máximos e aumentar os recalques mínimos.

Figura 7 – Comparação entre o recalque previsto sem ISE e o recalque medido.

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Foram elaborados mapas de isolinhas de recalque com os dados obtidos nas medições. Na Figura 8, são
apresentadas as isolinhas referentes à última leitura. Observa-se que o prédio apresentou uma inclinação
no canto superior esquerdo, mesmo sendo o carregamento da estrutura praticamente simétrico. Isso ocorre
devido à heterogeneidade natural do terreno em planta.

Figura 8 – Isolinhas de Recalque da 17ª medição (mm)

Na Figura 9 são apresentadas as distorções angulares medidas entre os pilares na última medição (o
desaprumo foi desprezado). Constatou-se que o valor máximo fica abaixo do limite 1/300 que, segundo
Bjerrum (1963), representa o limite em que são esperadas as primeiras fissuras em paredes divisórias. Os
resultados são coerentes com o desempenho do prédio, onde não foram observadas patologias relacionadas
a movimentos da fundação.

Figura 9 – Distorções angulares medidas na 17ª medição

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A Figura 10 mostra a evolução da rigidez média global do edifício, obtida através da razão entre o
carregamento total da estrutura e o recalque médio dos pilares, representada em MN/m. Percebe-se a
convergência para um valor na ordem de 2.500 MN/m a partir da 7ª medição, correspondente a 11 meses
após o início da construção.

Figura 10 – Rigidez média global da edificação ao longo do tempo

Na Figura 11 é apresentada a evolução dos valores de AR medido máximo e mínimo ao longo do tempo.
Observa-se, conforme previsto por Gusmão (1990), que há uma tendência do AR máximo diminuir e do AR
mínimo aumentar com o tempo. Isso ocorre porque durante a construção há um aumento da rigidez da
estrutura, que provoca uma tendência à uniformização dos recalques.

Figura 11 – Variação dos valores de AR máximo e mínimo ao longo do tempo

6- CONCLUSÕES

Neste trabalho foi apresentado os resultados do monitoramento da construção de um edifício residencial


com 29 andares (29 lajes) localizado em Recife, Brasil, sendo encontrados recalques absolutos com valor
médio de 40,3 mm e valor máximo 61,1 mm. Apesar da magnitude dos recalques absolutos, as distorções
angulares foram inferiores aos limites para aparecimento de danos na edificação. Isso confirma o

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desempenho satisfatório do prédio, não possui patologias que possam ser associadas aos movimentos da
fundação.

Resultados obtidos através da compilação dos dados do monitoramento permitiram mostrar como o
desempenho da obra é afetado pela interação solo-estrutura, especialmente na redistribuição de cargas,
diminuição dos recalques diferenciais e na sequência construtiva.

Juntamente com outros autores, é necessário afirmar que a medição de recalques é um procedimento que
deve se tornar prática comum nas construções civis de médio e grande porte, garantindo não só a qualidade
da obra, como também fonte de dados para calibração de métodos e criação de novas teorias.

AGRADECIMENTOS

À CAPES pelo apoio financeiro e à Gusmão Engenheiros Associados pelo fornecimento dos dados e projetos
referentes à obra analisada.

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645
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE DA RESISTÊNCIA POR ATRITO LATERAL MEDIDA EM PROVA DE


CARGA BIDIRECIONAL ARCOS E EM PROVA DE CARGA CONVENCIONAL

ANALYSIS OF THE SIDE SHEAR STRESS RESISTANCE IN BIODIRECTIONAL


LOAD TEST AND CONVENTIONAL LOAD TEST

Oliveira, Tales; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, talesciv@gmail.com
Gomes, Thiago; Geomias,Parauopebas, Brasil, thiago@geominasgeo.com.br
Rocha, Sabrina; Geomias,Parauopebas, Brasil, sabrina@geominasgeo.com.br
Coelho, Higor; Geomias,Parauopebas, Brasil, higor@geominasgeo.com.br
Marinho, Caio; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil,
caio.araujo.marinho@gmail.com
Campos, Tamires; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil,
tamiresscampos@gmail.com
Carvalho, Flávio; Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, flaviocs.sl@gmail.com

RESUMO

A prova de carga convencional é, sem dúvida, o mais usado e estudado método de controle da qualidade
de fundações no mundo. Todavia, se aplicadas sem instrumentação, são incapazes de quantificar o
encurtamento elástico provocado pela compressão do elemento estrutural de fundação e de separar a
parcela da resistência suportada pela ponta da estaca e a parcela suportada pelo atrito ao longo do fuste.
Por outro lado, o ensaio bidirecional que é capaz de fornecer os dados supracitados é contestado quanto
ao seu princípio de funcionamento, sob alegação de que a ação bidirecional da célula empregada no
ensaio, bem como a forma de interpretação do mesmo, não retratam a realidade. Sobre este contexto,
propõe-se uma análise comparativa entre a resistência devida ao atrito lateral medida em ensaio
convencional e bidirecional. Observa-se que o fator determinante para o sucesso de uma prova de carga
bidirecional é o correto posicionamento da célula.

ABSTRACT

Conventional load testing is undoubtedly the most widely used and studied method of quality control
foundations in the world. However, if applied without instrumentation, they are unable to quantify the
elastic shortening caused by compression of the foundation structural and separate the portion of the
resistance borne by the pile’s bottom and the portion supported by the friction along the shaft. On the
other hand, the bidirectional test that is capable of providing the aforementioned data is contested as to
its operating principle, on the grounds that the bi-directional action of the cell used in the test, as well as
the way in which it is interpreted, does not depict reality . In this context, it is proposed a comparative
analysis between the resistance due to the lateral friction measured in conventional and bidirectional load
tests. It is observed that the determining factor for the success of a bidirectional load test is the correct
positioning of the cell.

1- INTRODUÇÃO

Existem alguns entraves atrelados à aceitação do método bidirecional de prova de carga estática com
questionamentos em torno do sentido de aplicação de carga, especialmente no fuste acima da célula bem
como a interpretação do ensaio como um todo e a geração da curva equivalente, carga x deslocamento,
considerando a ação integral do atrito lateral somado a resistência de ponta.

Há divergência entre alguns autores quando se trata do tipo de esforço gerado no fuste da estaca.
Enquanto uma parte deles considera o esforço de tração, por estar sendo aplicado em um elemento de
fundação no sentido ascendente, outros alegam se tratar de um esforço de compressão em sentido
diferente do que normalmente se emprega em elementos geotécnicos.

O presente trabalho tem por objetivo entender e comparar o comportamento de prova de carga
bidirecional frente a realização também de prova de carga convencional em estacas de argamassa,
visando estudar a influência do sentido de aplicação das cargas na fidelidade dos resultados gerados no
ensaio bidirecional e averiguar a tipologia do esforço gerado no fuste de uma estaca carregada em
sentido ascendente, fomentando discussões em torno da interpretação da curva equivalente e
principalmente no que tange aos valores e deslocamentos aferidos em cada um dos métodos citados.

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2- METODOLOGIA

2.1 - O Campo Experimental

O campo experimental onde foram realizadas as atividades do presente trabalho encontra-se no Brasil,
na Universidade Federal de São João Del Rei, Campus Alto Paraopeba, localizado no km 7 da rodovia MG
443, da cidade de Ouro Branco – MG, como destaca a Figura 1:

Figura 1 – Localização do Campo Experimental de Geotecnia

As estacas utilizadas nos testes convencional e bidirecional, bem como os pontos de investigação
geológico geotécnico por meio de sondagens e ensaios de campo, estão dispostos na Figura 2, sendo os
respectivos diâmetros e profundidades descritos no Quadro 1 a seguir:

Figura 2 – Disposição das estacas no campo experimental em cm

Quadro 1 – Diâmetro e profundidade das estacas e ensaios no campo experimental


Elemento Descrição Diâmetro (cm) Profundidade (m)
E1 Estaca argamassada 1 - Teste Convencional 15 4,20
E3 Estaca argamassada 3 - Teste Bidirecional 15 6,15
T1 Estaca de Reação à Estaca E1 15 4,00
T2 Estaca de Reação à Estacas E1 15 4,00
SPT Ensaio de Percussão tipo SPT - 6,00
PMT Ensaio pressiométrico tipo PMT - 5,00

2.2 - Geotecnia Local

Para a caracterização geotécnica do solo local, foram realizados ensaios de campo através de métodos
direto e semidireto de sondagem, acrescidos de uma série de ensaios de laboratório realizados com
amostras retiradas da sondagem à trado.

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2.2.1 - Ensaios de Campo

Para a investigação geotécnica do campo experimental, lançou-se mão dos métodos diretos de Sondagem
à Trado, segundo a ABNT NBR 9603 (1986), Sondagem de Simples Reconhecimento a Percussão, em
conformidade com a ABNT NBR 6484 (2001) e do método semidireto Ensaio Pressiométrico tipo Menárd,
não normatizado no Brasil. Da Sondagem à Trado, foram recolhidas amostras a cada 0,5 m de
profundidade, para posterior caracterização em laboratório.

2.2.2 - Ensaios de laboratório

Para a classificação do solo do campo experimental, foram realizados as seguintes análises rápidas com
as amostras recolhidas da Sondagem à Trado: resistência do solo seco na forma de torrão, teste de sujar
as mãos, dispersão em água, teste de desagregação do solo submerso e exame tátil visual. O solo
analisado pode ser caracterizado como residual jovem de gnaisse com traços marcantes de feldspato
situado em uma região de clima quente e tropical úmido, sendo granulometricamente classificado como
silte arenoso de cor marrom.

2.3 - Construção das Estacas

2.3.1 - Escavação

As estacas foram escavadas com o uso de um trado mecânico portátil com os diâmetros e profundidades
já especificados pelo Quadro 1 e dispostas no campo experimental conforme a Figura 2.

2.3.2 - Argamassa

A argamassa utilizada foi misturada em uma betoneira e lançada manualmente nas estacas. A opção pelo
uso de argamassa em detrimento do concreto se fez justamente pelas condições de lançamento, já que
as estacas possuem pequeno diâmetro (15 cm) e alturas relevantes para o lançamento (4 m a 6,15 m).

2.3.3 - Definição do Traço

De acordo com Venâncio (2008), o traço de argamassa mostrado no Quadro 2 e usado em estacas raiz,
confere resistência à compressão de 22 MPa, prevista aos 28 dias.

Quadro 2 – Traço utilizado nas estacas (Venâncio, 2008)

Traço unitário em massa (kg) fck 28 dias


Traço A (%) Cc (kg/m³)
Cimento Areia a/c (MPa)

AF1 - C600 1 1,566 0,752 29 600 22

O cimento usado na argamassa foi o CP2-E32 e o agregado miúdo foi a areia fina (AF1), conforme
Venâncio (2008).

2.3.4 - Ensaio de compressão dos corpos de prova da argamassa usada

O ensaio de compressão axial dos corpos de prova foi realizado em conformidade com a ABNT NBR 5739
(2007). A resistência à compressão após 28 dias do corpo de prova, cuja determinação se deu
estatisticamente, apresentou um valor característico para a argamassa utilizada de 17,03 MPa. Como a
ABNT NBR 6122 (2010) prevê que o fck mínimo de projeto seja igual a 15 MPa para estacas escavadas
sem fluido estabilizante, julgou-se satisfatória a adoção do referido traço.

2.4 - Estaca submetida à Prova de Carga Convencional

A estaca E1 foi submetida ao teste convencional de prova de carga (Figura 2) para a verificação da
resistência por atrito lateral exclusivamente, com o objetivo de confrontar os dados obtidos com o atrito
lateral medido no ensaio bidirecional, permitindo assim, sustentar discussões em relação às diferenças
comumente discutidas no meio técnico sobre a possível diferença entre o atrito lateral medido em sentido
ascendente e descendente.

Para tanto, construiu-se uma estaca especialmente desenvolvida para esta finalidade, onde a ponta não
toca o fundo do furo prévio a sua execução, que possuía uma profundidade de 4,20 m, cujo processo
executivo se deu da seguinte forma: i) antes do início da argamassagem, a base do furo pré executado
foi apiloada com um dispositivo contendo uma base metálica, com um diâmetro de 1 cm inferior ao do
furo executado no solo; ii) em seguida foram lançados 20 cm de solo solto, depositados no fundo do furo;
iii) instalou-se um dispositivo metálico à aproximadamente 4 m de profundidade, construído com um

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tubo de aço, vazado de 2”, contendo na sua ponta inferior, levemente soldada, uma sapata metálica de
13 cm de diâmetro. Duas barras de aço (uma em cada lado), como mostra a Figura 3, foram instaladas
superficialmente na estaca, logo após a argamassagem da estaca e também encontrava-se soldada no
tubo de aço colocado no centro da estaca; iv) passados os dias necessários à cura da argamassa,
introduziu-se uma barra de Dywidag, pelo interior do tubo de aço vazado de 2” apoiando-o sobre a
sapata, localizada na ponta e levemente soldada ao tubo de aço; v) sobre as barras localizados na lateral
do tubo, montou-se um sistema de reação; onde dispô-se um macaco hidráulico, ligado a uma pequena
viga de reação travada lateralmente nestas barras laterais, permitindo que o macaco hidráulico, quando
acionado, movimente a barra de Dywidag em sentido descendente; vii) ao sistema de reação e macaco
hidráulico, instalou-se um relógio comparador com objetivo de medir o deslocamento da barra de
Dywidag em sendito descendente; viii) movimentou-se a barra de Dywidag pelo tubo central, medindo o
seu deslocamento, com o acionamento do macaco hidráulico, promovendo a ruptura da solda da sapata
com o tubo e, consequentemente,a compactação do solo solto disposto conforme item ii, no fundo do
furo, Figura 4.

Figura 3 – Instalação do sistema de compressão de sujeira na estaca E1

Figura 4– Execução da compressão de sujeira de ponta da estaca E1

A Figura 5 mostra a sequência executiva, anteriormente detalhada, da estaca E1 até o teste convencional
por resistência lateral.

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Figura 5 – Sequência executiva da preparação da estaca E1 para o teste convencional

Com este procedimento, conseguiu-se 6 cm de recalque do solo solto (medido com o relógio comparador
colocado na base do macaco hidráulico), sendo o recalque de 6 cm corresponde a 45% do diâmetro da
estaca.

2.5 - Estaca de teste bidirecional

A Estaca E3 foi escavada até 6,15 m de profundidade e projetou-se a altura de instalação da célula
hidroespassiva arcos, também conhecida como célula de sacrifício a 4,15 m de profundidade, estando,
portanto, o fuste acima da estaca com o comprimento de 4 m (igual ao da estaca submetida ao teste
convencional) e o segmento de fuste abaixo da estaca com o comprimento de 2 m, sendo os 15 cm
faltantes, relativo à altura da célula. Entretanto, por questões de ordem executiva, foi possível a
instalação da célula a 2,40 m da base e 3,75 m do topo. A posição de projeto da célula foi calculada com
base em métodos semi-empíricos de determinação da capacidade de carga, em que busca-se um
equilíbrio entre a resistência por atrito lateral do fuste superior e a resistência de ponta aliada à
resistência do fuste inferior da estaca. Assim, determina-se esta altura de modo que, ao estar submetida
à ação bidirecional, o macaco hidráulico posicionado em seu fuste possa reagir de maneira
aproximadamente igual tanto pelo fuste acima da célula quanto pelo somatório de resistência ao atrito e
carga de ponta gerado no segmento de fuste abaixo da célula bidirecional. Observa-se que quanto mais
preciso o posicionamento desta célula, mais próximas, em termos de carga, estão as rupturas.

2.6 - Estimativa de carga através de métodos semi-empíricos de dimensionamento

A resistência por atrito lateral da estaca E1 foi calculada através de métodos semi-empíricos baseados no
resultado do ensaio de simples reconhecimento do solo (SPT). Para o cálculo da capacidade de carga por
atrito lateral foram usados os métodos: Velloso (1981), Teixeira 1996), Decourt e Quaresma (1978), Aoki
e Velloso (1975), Monteiro (1997) e Antunes e Cabral (1996). Assim, foi proposto um valor mínimo
estatístico para o cálculo da capacidade de carga, para o universo de métodos consagrados supracitados,
utilizando a distribuição “t” de student, adequada ao controle pela capacidade de carga média desse
universo e com nível de confiança de 95% para suporte ao estudo.

S x t 0,90
X proj  X  [1]
N

X 
X [2]
N

 (X  X)
2

S [3]
N 1

Em que:

N – Número de métodos semi-empíricos utilizados;

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X – Valor de capacidade de carga encontrado em cada método semi-empírico;

X – Média aritmética das capacidades de carga encontradas individualmente;

S – Desvio padrão;

Xmin – Capacidade de carga mínima provável, estatisticamente.

2.7 - Estimativa de carga através de método baseado em ensaio pressiométrico (PMT)

A capacidade de carga também foi calculada pelo método empírico publicado pelo Eurocódigo 7 (1999)
baseado no Ensaio Pressiométrico tipo Menárd.

2.8 - Provas de carga

2.8.1 - Ensaio de prova de carga convencional

Foi realizado um teste convencional na estaca E1 em conformidade com a ABNT NBR 12131 (2006),
seguindo o procedimento de carregamento rápido descrito por essa norma. Foram usadas duas estacas
de reação com um sistema de tirante reaproveitável, conforme Figura 6. Pelo fato de a estaca ser
construida sem apoio na ponta, a prova de carga convencional mediu a capacidade de carga por atrito
lateral da estaca E1. O ensaio foi controlado por manômetro analógico e bomba hidráulica manual. O
macaco hidráulico usado tem capacidade de carga de 30 toneladas. Baseando-se no histórico de provas
de carga em estacas no campo experimental, adotou-se 10 tf como carga de ruptura estimada.

Figura 6 – Sistema de reação por tirante reaproveitável

O teste foi instrumentado com dois relógios comparadores de 0,01 mm de precisão, que indicaram os
valores de deslocamento, a partir dos quais foi feito a média e realizado a curva carga x deslocamento do
ensaio.

Nestas estacas de reação, antes da argamassagem, um tubo central soldado à uma sapata metálica é
introduzido no furo realizado no solo. A superfície superior da sapata foi solidarizada, também por solda,
à uma luva roscável de aço, com rosca compatível ao sistema Dywidag. Estando a estaca de reação
argamassada, introduziu-se uma barra Dywidag pelo tubo central e a mesma foi rosqueada à luva. Ao
final do uso, a barra dywidag rosqueada na luva pôde ser retirada, uma vez que a argamassa não entra
em contato com a mesma. Desta forma obteve-se um sistema de reação cujo elemento de transmissão
de carga pode ser reaproveitado.

2.8.2 - Ensaio de prova de carga bidirecional

O teste de carga bidirecional foi realizado, assim como o convencional, pelo método de carregamento
rápido proposto pela ABNT NBR 12131 (2006). A injeção de pressão na célula, que teve água como fluido,
foi controlada por manômetro analógico e bomba hidráulica manual. O macaco hidráulico usado possui
capacidade de carga de 30 toneladas.

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O ensaio foi instrumentado por dois tell tales, posicionados na célula para transmitir a medida dos
deslocamentos ascendente e descendente e, ainda, sobre o topo da estaca foi posicionado um relógio
comparador de 0,01 mm de precisão, e outros dois relógios comparadores, de mesma precisão, foram
dispostos sobre os tell tales, como mostra a Figura 7. É pertinente ressaltar que o fato de se ter um tell
tale na célula ligado a um relógio comparador para medida de deslocamento ascendente juntamente com
o posicionado no topo da estaca, dá ao ensaio bidirecional a possibilidade de fornecer com certa exatidão
a medida do encurtamento elástico no fuste estaca, não fornecido no ensaio convencional.

Figura 7 – Instrumentação usada para leitura de recalques no Ensaio Bidirecional

3- RESULTADOS

De posse da Sondagem à Trado complementada pelos ensaios de laboratório, obteve-se até a


profundidade de 4,20 metros o solo classificado como Silte Areno Argiloso, com coloração marrom.

O ensaio de sondagem de simples reconhecimento a percussão (SPT) apresentou os seguintes resultados:

Quadro 4 – Resultado do Ensaio de Simples Reconhecimento do Solo (SPT)

Profundidade (m) 1 2 3 4 5
NSPT 30 cm 19 11 8 8 7
Tipo de solo Silte Areno argilo com coloração marrom

Feito o reconhecimento do perfil do solo local e de posse do índice de resistência Nspt, a capacidade de
carga geotécnica da estaca foi calculada e tratada estatisticamente:

Quadro 5 – Determinação e análise estatística da capacidade de carga obtida por métodos semi-empíricos baseados no
Ensaio de Sondagem SPT e o método empírico baseado no Ensaio Pressiométrico, apenas para resistência lateral
Método Qult (tf) Qmed (tf) S t0,90 Qproj (tf)

Velloso (1981) 7,30

Teixeira (1996) 9,10

Decourt e Quaresma (1978) 6,72

Aoki e Velloso (1975) 4,78 7,30 2,09 1,44 6,07

Monteiro (1997) 7,28

Antunes e Cabral (1996) 7,97

Eurocódigo 7 (1999) 11,50

O resultado do ensaio de prova de carga convencional com medida unicamente de atrito lateral realizado
na estaca E1, mostrou o comportamento expresso na Figura 8. Já a curva carga x deslocamento obtida
no ensaio de prova de carga bidirecional, realizado na estaca E3, é apresentado na Figura 9.

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Carga x Deslocamento - (Atrito Lateral)

Carga (tf)
0 2 4 6 8 10 12
0

2 Momento que a ponta


Deslocamento (mm)

da estaca toca o
4

10

12

14

Convencional (Sem Ponta)

Figura 8 – Curva carga x deslocamento resultante de Prova de Carga Convencional realizada na estaca E1

Carga x Deslocamento - (Atrito Lateral)

Carga (tf)
0 2 4 6 8 10 12 14
0
2
Deslocamento (mm)

4
6
8
10
12
14
16
18

Bidirecional - Atrito Lateral

Figura 9 – Curva Carga x Deslocamento resultante de Prova de Carga Bidirecional realizada na estaca E3

A Figura 10 apresenta um gráfico comparativo entre as duas Provas de Carga com as respectivas curvas
carga x deslocamento obtidas:

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Carga x Deslocamento - (Atrito Lateral)

Carga (tf)
0 2 4 6 8 10 12 14
0
2
Deslocamento (mm)

4
6
8
10
12
14
16
18

Convencional (Sem Ponta) Bidirecional - Atrito Lateral

Figura 10 – Gráfico comparativo entre Prova de Carga Bidirecional e Convencional

A Figura 11 detalha o gráfico de carga x deslocamento obtidos separadamente para o fuste e para a
ponta da estaca E3 ensaiada pelo método bidirecional.

Figura 11 – Curva carga x deslocamento completa da prova de carga bidirecional

4- DISCUSSÕES

Vale ressaltar que o deslocamento para cima é governado pelas características de resistência ao
cisalhamento do solo ao longo do fuste da estaca, enquanto o deslocamento descendente é regulado pela
compressibilidade do solo abaixo da ponta da mesma (para uma célula colocada próximo à ponta). O fato
de que em um teste convencional o fuste se move para baixo, enquanto que no teste bidirecional se
move para cima, é irrelevante para a determinação da resistência por atrito lateral, afinal, estando a
estaca comprimida, como no ensaio, a resistência de cima para baixo ou de baixo para cima são iguais,
de acordo com Fellenius (2016). Segundo Langone (2012), quando a estaca está submetida à tração, há
uma diminuição do seu diâmetro, que gera um desconfinamento da mesma junto ao solo, dando origem

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a uma perda de resistência por atrito lateral, no entanto, o esforço atuante no fuste acima da estaca é de
compressão.

O ensaio de prova de carga bidirecional teve, por muito tempo, a soma de cargas de mesmo recalque
como forma de interpretação do gráfico para obtenção da chamada “curva equivalente” à curva
convencional. Essa forma de interpretação foi proposta tanto pelo brasileiro Pedro Elísio da Silva,
precursor do método bidirecional, em Silva (1986), quanto por Jorj O. Osterberg, professor americano
que desenvolveu a O’Cell, semelhante à célula hidrodinâmica brasileira, em Osterberg (1989). A estaca
submetida ao teste convencional foi dimensionada a partir de sete métodos semi-empíricos consagrados
baseados em ensaio de sondagem SPT e do método proposto pelo Eurocódigo 7, com base no Ensaio
Pressiométrico. De posse dos valores de capacidade de carga resultantes de cada método, aplicou-se
uma metodologia estatística capaz de determinar a carga ultima de projeto da estaca. Vale ressaltar que
em todas as metodologias de cálculo aplicadas, apenas a resistência por atrito lateral até a profundidade
de 4 m foi considerada. Julgou-se necessária uma análise estatística dos valores obtidos para os métodos
semi-empíricos, visando obter uma confiabilidade de 95%, segundo o teste de probabilidade t-students
cuja resposta aproximou-se da carga de ruptura da estaca submetida ao teste convencional, sem ponta,
testemunha desse estudo, com um erro de 16,63%.

O gráfico da Figura 8 mostra o comportamento da estaca submetida ao teste convencional. Percebe-se,


segundo o gráfico que a carga de ruptura apresentou um valor de carga igual 8 tf e recalque de 10,97
mm. De acordo com Vesic (1997), todo atrito lateral seria mobilizado com deslocamentos da ordem de 2%
do diâmetro do fuste, em termos admissíveis. Tendo em vista que a estaca atingiu recalques da ordem de
7% do valor do diâmetro da estaca, que é de 15 cm, o critério de ruptura supracitado foi atingido.
Também é possível perceber que após sofrer maiores recalques a estaca volta a ganhar resistência, isso
acontece porque a partir de 8 tf a estaca encosta no fundo do furo, e passa a contar com um ganho de
resistência devido a ponta.

Verifica-se por meio dos resultados contidos nas Figuras 8, 9 e 10, que o mau posicionamento da célula
na estaca, ou seja, determinar a posição de instalação que permite o equilíbrio das forças que gerem os
mesmos valores de deslocamentos, é o fator chave para que o ensaio bidirecional não se distancie, em
termos de carga de ruptura, do resultado obtido em ensaios convencionais. O entendimento desta
verificação não é trivial e está embasado por conceitos físicos de difícil compreensão no conjunto de
funcionamento entre os elementos da estaca acima e abaixo da célula. Estes conceitos físicos seriam as
pressões deferidas pelo sistema, a força, o trabalho, a energia e por fim a relação entre a resposta do
conjunto de cargas (força) e deslocamentos ocorridos ao longo do ensaio. Destes conceitos, merecem
devida atenção a força, o trabalho e a energia, tendo em vista que o trabalho é a medida da energia que
é transferida para um corpo, em razão da aplicação de uma força responsável por gerar um
deslocamento sobre um corpo. Outro importante conceito físico é a lei fundamental da conservação da
energia, em que podemos afirmar que a energia apenas se transforma.

Desta forma, ao se aplicar uma carga sobre um corpo, quanto maior o seu deslocamento, maior será o
trabalho realizado e menor será a transformação da energia em carga de reação (resistiva) do corpo. Por
outro lado, quando o corpo apresenta resistência elevada ao deslocamento, menor será o trabalho
realizado e maiores serão as intensidades das cargas normais e resistivas, ou seja, maior deverá ser a
energia empregada para desenvolver um mesmo trabalho, tendo em vista que grande parte da energia
inicial é transformada em uma carga resistiva que apresenta uma força normal de igual direção e sentido
oposto.

Pela Figura 11 é possível perceber que a mesma energia inicial aplicada pela célula, abaixo e acima da
mesma, geram deslocamentos diferentes no fuste (acima) e no segmento (abaixo), desta forma o
trabalho realizado também é diferente, ou seja, a curva carga x deslocamento mostra um fuste com
rigidez elevada em relação à ponta. Em outras palavras, quase toda a energia aplicada no fuste da estaca
é convertida em reação normal (resistência por atrito lateral) já que ocorre um pequeno deslocamento e,
por consequência, um pequeno trabalho. Já na ponta, pode-se observar que há realização de trabalho e
boa parte da energia é absorvida por esse segmento da estaca, fazendo com que a reação (resistência
por atrito lateral no segmento abaixo da célula mais resistência de ponta) seja diminuída. Diante de tal
fato, infere-se que, com uma melhor distribuição de carga, ao estar submetido à ação bidirecional, o
macaco hidráulico realizaria trabalho de forma igual acima e abaixo da célula, o que diminuiria a reação
do fuste da estaca, promovendo um equilíbrio de esforços e aproximando as rupturas por ponta mais
atrito lateral medido abaixo da célula àquelas por atrito lateral medido acima da célula.

Olhando criteriosamente para a figura 10 que compara o comportamento do atrito medido de forma
ascendente e descendente, pode se observar que a apesar do mau posicionamento da célula hidro
expansiva Arcos que culminou em capacidades resistivas de valores próximos mais diferentes, é possível
a ferir que o deslocamento da estaca, quando acionada de forma descendente, é proporcional ao ganho
de resistência, enquanto que na medição ascendente é necessário aplicar-se uma grande carga para que

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ocorra deslocamento significativo, a princípio acredita-se que isto ocorra devido a diferença do valor da
distribuição da tensão confinante com a profundidade, visto que no ponto de aplicação da carga descente
o valor da tensão confinante é zero aumentando com a profundidade, enquanto no ascendente verifica-se
comportamento contrário e no ponto de aplicação da carga o valor da tensão confinante é máximo.

Uma grande vantagem do ensaio bidirecional é a obtenção de recalques em longo prazo, ou seja, análise
do comportamento da fundação em trabalho. Isso pode ser feito solicitando a estaca com sua carga de
trabalho e fechando o circuito, mantendo essa carga no macaco. Esse procedimento pode ser feito sem
nenhuma interferência no cronograma de execução da obra e permitir um monitoramento do elemento de
fundação (Silva, 1986).

O método é cada vez mais difundido no meio geotécnico e traz a importante missão de democratizar as
provas de cargas estáticas, o que impulsiona a engenharia de fundações, principalmente no que diz
respeito ao controle e qualidade de estaqueamentos.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluiu-se, portanto, de acordo com Fellenius (2016), que o sentido de aplicação da carga no ensaio
não interfere no valor apurado para a resistência por atrito lateral medida na estaca. O cálculo da
capacidade de carga aliado ao tratamento estatístico foi efetivo e a prova de carga comprovou que a
carga de ruptura da estaca submetida ao teste convencional sem ponta estava contida entre os valores
máximos e mínimos estatísticos propostos.

De acordo com Vesic (1977), concluiu-se que o comportamento notado na prova de carga convencional
entre as cargas de 5 tf e 8 tf representou ruptura da estaca. A análise da curva carga x deslocamento
através dos conceitos de energia e trabalho realizado possibilitaram identificar a incorreta distribuição dos
esforços na estaca, o que comprometeu seu equilíbrio de cargas.

AGRADECIMENTOS

À Arcos – Engenharia de Solos, ao Grupo de Pesquisa Infraestruturas de Vias Terrestres e Obras


Geotécnicas INFRAGEO e à Universidade Federal de São João Del-Rei - Campus Alto Paraopeba.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ensaio

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 6122:2010. Projeto e execução de fundações

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657
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE CUSTO DE DUAS METODOLOGIAS DE PROJETO


PARA FUNDAÇÕES PROFUNDAS EM RECIFE-FE

VIABILITY ANALYSIS OF THE COST BETWEEN TWO METHODS OF PROJECT


FOR PROFOUND FOUNDATIONS AT RECIFE-PE

Da Silva, Thiago Augusto; Universidade de Pernambuco, Recife-PE, BRASIL, thsilva05@gmail.com


Oliveira, Pedro Eugenio Silva de; Universidade Católica de Pernambuco, Recife-PE, BRASIL,
pedrocivil@hotmail.com

RESUMO

Com imensa variedade no seu subsolo, a cidade do Recife é o berço de importantes estudos no meio da
geotecnia. Essa diversidade está intrinsecamente ligada as regressões marinhas que acometeram a
região, em especial a área correspondente ao bairro do Rosarinho, durante o período quaternário. Por
esses e outros motivos a região é palco de diversas soluções de fundações, das rasas às profundas. Na
virada do milênio a região apresentou aumento significativo do número de fundações profundas, com
significância destacada para as estacas tipo hélice contínua. Para compactuar com essa diversificação do
mercado, os métodos de concepção de projetos tiveram que se aprimorar com o intuito de se adequar à
recente demanda. Com as metodologias de provas de carga, que apresentam de forma mais real o
comportamento de uma fundação profunda se comparada com os métodos de cálculo semi-empírico, foi
possível o desenvolvimento de projetos menos conservadores. Nesse contexto foram analisados dados de
duas obras de edifícios residenciais no Rosarinho, com 27 e 29 pavimentos e perfis estratigráficos, com
24 e 31 metros de profundidade, respectivamente. É apresentado o comparativo de duas metodologias
de projeto utilizando prova de carga estática: uma realizada a priori, como diretriz de projeto e outra
após a execução da fundação, como verificação do desempenho do sistema. Foi avaliado o impacto no
estaqueamento e no custo de execução. Sendo a comparação realizada com base no preço de mercado,
fornecido por empresas atuantes no Recife, planilhas de insumos além do software de orçamento CYPE.
Os resultados atestaram viabilidade para a metodologia com provas de carga executadas no início da
obra, atingindo uma margem de economia de 12,50% para ambas as obras, fato que também reflete de
forma aproximada, o ganho na carga admissível apresentada que é de aproximadamente 11,11% e
13,51% para as duas obras respectivamente.

ABSTRACT

Due to its immense subsoil variety, the city of Recife is the cradle of important geotechnical field studies.
This diversity is linked inextricably to the marine regressions that affected the region during the
quaternary period, especially the area corresponding to the neighbourhood of Rosarinho. For these and
several other reasons, the region is the scene of diverse solutions of foundations, from shallow to deep.
At the turn of the millennium, the region showed a significant increase in the number of deep foundations,
with the piled foundation type significantly contributing. The project design methods had to be improved,
in order to be more competitive with this diversified market and to adapt to the recent demand. If
compared with the usual methods, the load test methodologies represent the behaviour of a deep
foundation in a much more realistic way, which made possible the development of less conservative
designs. In this context were studied the data of works, from two residential buildings in the
neighbourhood of Rosarinho. With 27 and 29 floors and soil profiles reaching 24 and 31 meters of depth,
respectively. A comparison of two design methods, using static load tests, is presented: the first made at
the beginning, as a project guideline and the other after the construction works, as a system
performance check. The impact on the implantation and on the execution cost was evaluated. That was
made, based on the market price of the necessary services provided by companies operating at Recife,
input spreadsheets and the CYPE Budget Software. The results show feasibility for the first methodology,
with the static load tests done at first, saving margin of 12.50% for both constructions, which
approximately reflects, the gain in the conceived admissible load, which are 11.11% and 13.51 % for
both, respectively.

1- INTRODUÇÃO

Toda e qualquer edificação é constituída de superestrutura e infraestrutura, sendo as duas


respectivamente responsáveis pela distribuição dos esforços (pilares, vigas, lajes, etc.) e transferência de
cargas ao solo (fundação). No atual mercado de fundações do Brasil destacam se as soluções profundas
(estacas, tubulões, etc.) e as superficiais (sapatas, blocos, caixões, etc.), sendo as primeiras mais

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comumente usadas para empreendimentos com cargas elevadas e/ou solos superficiais de baixa
resistência, salvo exceções, pois o projeto varia de caso à caso.

A estaca hélice contínua monitorada vem se destacando no cenário atual, sendo um dos tipos de solução
que mais crescem em aplicabilidade, fato que se deve em grande parte a sua metodologia executiva, que
permite monitoramento minucioso durante a furação da mesma. Essas estacas são moldadas “in loco”,
consistindo na perfuração do solo com a consequente injeção de concreto e posicionamento da armadura
de aço.

Atualmente, para estabelecer o projeto de fundações em estacas hélice contínua são utilizados,
principalmente, os métodos de cálculo semi-empíricos (Aoki-Veloso, Decourt-Quaresma, etc.). Esses
métodos foram, em grande parte, baseados em bancos de dados relativamente pequenos, que aliados ao
alto fator de segurança global previsto para as mesmas, pode ocasionar em subdimensionamento ou,
mais comumente, superdimensionamento do empreendimento.

Tendo em vista um melhor vislumbre da eficiência, em função do custo, de modalidades recentes de


projeto de fundações profundas no Brasil, no caso, as que envolvem o projeto com base em provas de
carga estáticas e aliado com o período de grandes desafios em que o mercado enfrenta, a difusão do
conhecimento desses métodos se faz cada vez mais importante.

2- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

2.1 - Geologia do Local de Estudo

Na história de formação dos perfis do subsolo do Recife, vários processos geodinâmicos contribuíram para
as variadas estratigrafias encontradas na cidade. De acordo com Gusmão Filho (1998) a coluna
estratigráfica é composta basicamente pelo embasamento cristalino, pacotes de deposição sedimentar e
os sedimentos recentes.

Segundo Gusmão Filho (1998), a falha geológica existente na direção Norte-Nordeste do embasamento
cristalino e o desnível abrupto em direção à costa, contribuíram para a deposição de pacotes
sedimentares, assim como os sucessivos ciclos de transgressões e regressões do mar no período do
Quaternário, que tipificam a área.

Já o bairro do Rosarinho está situado em uma área de planície, de Terraços Indiferenciados. As unidades
de relevo, que englobam os bairros dessa área, apresentam o resultado de uma intersecção de vários
sistemas de deposição presentes em vários pontos da planície do Recife (Souza, 2013).

Ainda segundo Souza (2013) esses sedimentos encontrados na área comprovam, o seu alto grau de
heterogeneidade e a presença de grandes interferências marinhas, flúvio-marinhas, fluviais e continentais.
Nos setores da planície mais internos, região rica com essa unidade de relevo, o perfil da coluna de
sedimentos atinge profundidades de 30 à 40 metros de espessura, até o substrato rochoso.

Este bairro pertence à Microrregião 2.1 da cidade, fazendo limite com os bairros do Arruda, Tamarineira,
Graças, Encruzilhada e Aflitos. Faz parte do grupo dos bairros de maior poder aquisitivo da cidade e
possui predominantemente obras de grande porte urbano, em sua maioria edifícios residenciais e alguns
empresariais (Gusmão Filho, 1998).

2.2 - Histórico das Fundações na Cidade

Com a explosão demográfica que ocorreu e vem ocorrendo no Brasil, do fim do século XX ao início do
século XXI, a demanda por empreendimentos de construção civil cresceu de forma associada. Quase
simultaneamente ao período transicional na demografia, a construção de edifícios (com foco no mercado
de fundações), também sofreu um período de transição.

Até então as principais soluções para fundações praticadas no Recife eram em maioria, superficiais
(Gusmão, 2005). Metodologias de solução largamente adotadas até o fim da década de 90, destacando-
se as sapatas isoladas e estacas moldadas in loco (Oliveira, 2013). No Quadro 1, são expressos os
resultados de um levantamento feito por Santos (2011), acerca das modalidades de soluções de
fundações mais difundidas.

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Quadro 1 – Ocorrência de Fundações no Recife. (Fonte: Santos, 2011; Adaptado de Oliveira, 2013)

Dentre as estacas moldadas in loco (objeto deste artigo), no estudo de Santos (2011), destacaram-se as
tipologias Franki e a Hélice contínua. A estaca Franki teve um grande avanço no Recife no fim dos anos
90 e início dos 2000, passando a ser menos utilizada em torno dos anos 2000, com o início da utilização
das estacas hélice contínua na região, como apresentado na Figura 2. A quantidade de obras utilizando as
duas soluções praticamente inverteu na última década, assumindo o posto de solução de fundação
profunda mais utilizada, dentre as moldadas in loco.

Figura 2 – Obras realizadas estaca Franki 2000-2010 (Fonte: Oliveira, 2013)

3- MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 - Levantamento de Dados

A análise dos resultados foi feita de forma sistemática e com base no conhecimento histórico das
soluções de fundações executadas na região. Com esses pressupostos em mente, serão descritos
brevemente, aspectos importantes dos empreendimentos em estudo (perfil geotécnico, arquitetura,
localização geológica), fornecidos pela empresa de engenharia responsável pelo dimensionamento das
respectivas fundações.

No comparativo das metodologias de projeto das fundações, são apresentados os resultados e as


locações das provas de carga estática obtidas e os valores de carga de dimensionamento utilizados na

660
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

concepção dos projetos. A partir desses resultados foi utilizado o método de Nokkentved para o cálculo
da carga de trabalho, tomando as provas de carga estáticas como parâmetro.

Na determinação das planilhas orçamentárias fez se o uso de valores cotados em empresas


especializadas nesse tipo de serviço (provas de carga estática, fundação hélice continua monitorada),
além do auxílio de planilhas de insumo e softwares de cálculo orçamentário disponíveis gratuitamente na
internet.

Os dados sobre os empreendimentos e as empresas, que auxiliaram com os preços cotados, serão
identificados com codinomes por questões de propaganda e sigilo.

3.2 - Resumo das Obras

As duas obras analisadas (A e B) são de edificações com função residencial, de parâmetros similares no
tocante as características estruturais, sendo ambas estruturas, aporticadas de concreto de 29 e 27
pavimentos, com 15 pilares para a primeira torre e 14 na segunda, sendo suas cargas permanentes nas
lâminas variando de 3.100 a 12.050 kN e 2.700 a 10.180 kN, respectivamente.

Os subsolos foram analisados a partir de sondagens a percussão (Nspt). Foi constatada, como mostrado
resumidamente na Figura 3 as sondagens utilizadas como base para cada obra, a presença de picos de
tensão para ambos os solos analisados nas profundidades de 9.00 e 4.00 metros. Com os solos sendo
predominantemente formado por areias medianamente à muito compactas, até as cotas de 31.10 e
23.27 metros onde o amostrador atingiu uma camada de solo impenetrável para as obras A e B,
respectivamente.

661

Figura 3 – Sondagens Spt, para as obras A e B, respectivamente (Fonte: Adaptado de Silva, 2016)
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3.3 - Soluções de Fundações

Neste item são detalhadas as duas metodologias de que se deseja confrontar. A primeira representa o
método tradicional de cálculo que elabora o projeto de fundações baseado em correlações das
resistências por atrito lateral e ponta com os resultados da sondagem N SPT. A segunda tenta simular qual
seria o possível ganho econômico caso as provas de carga estáticas fossem realizadas antes do
empreendimento servindo de diretriz para a elaboração do projeto de fundações. Para esse segundo
cenário foi levado em consideração a necessidade de mobilizar a máquina de perfuração das estacas
hélice contínua em dois momentos distintos, sendo o primeiro para perfuração das estacas piloto a serem
ensaiadas (provas de carga estáticas - PCEs) e um segundo momento para perfuração efetiva do sistema
de fundações.

3.3.1 - Metodologia de Cálculo Baseada em Métodos Semi-empíricos

Dentre os váriados métodos semi-empíricos existentes na literatura para o cálculo da capacidade de


carga de um terreno, os mais difundidos, no Brasil, são os desenvolvidos por Aoki-Velloso (1975) e o de
Décourt-Quaresma (1978), que fazem uso do índice de resistência à penetração Nspt, do ensaio SPT
(Alonso, 1996).

Existem ainda dois métodos que valem a menção, os métodos de Antunes e Cabral (1996) e o de Alonso
(1996) que são voltados exclusivamente para estacas hélice contínua, estes foram expostos para a
academia em 1996 no Seminário de Fundações Especiais e Geotécnia (SEFE III).

3.3.2 - Metodologia de Cálculo Baseada no Resultado de Provas de Carga

A metodologia através das provas de carga representam de forma mais acurada o comportamento real de
uma fundação profunda. Segundo a NBR 6122, devem ser realizados ensaios de prova de carga estática
pelo menos 1% das estacas da edificação.

No item 6.2.1.2.2 da NBR 6122 (ABNT, 2010) é esclarecido que para se obter a carga admissível de
estacas à partir das PCE é requerido que:

a) As provas de carga sejam, como supracitado, estáticas;

b) As provas de carga, sejam planejadas na fase de projeto da obra e executadas no seu inicio, para
adequação das demais ao projeto;

c) Os carregamentos aplicados na prova de carga sejam de no mínimo duas vezes o valor da carga
admissível de projeto.

O valor do fator de segurança global mínimo, a ser empregado, será de 1.6 enquanto que, quando
determinada através de métodos semi-empíricos esse fator é de 2.0.

A prova de carga pode ser realizada através de ensaios de carga dinâmica ou estática, método a ser
utilizado nesse trabalho, como descrito nas normas NBR 12131 (ABNT, 2006) e NBR 13208 –
Estacas/Prova de Carga Estática (ABNT, 2007).

As mesmas apresentam, comprovadamente, os melhores resultados no que se trata em avaliar a


capacidade de carga das fundações profundas (Oliveira, 2013). Contudo é uma metodologia que exige
um grande sistema de reação, o que pode vir a encarecer a sua execução. Tal prova de carga pode ser
executada de maneira lenta, rápida e/ou mista, (Alonso et al, 1997).

Além de, conforme Oliveira (2013), quanto a sua execução podem ser divididas em três tipos:

 Plataforma carregada;

 Estruturas fixas ao terreno por meio de elementos tracionados;

 A própria estrutura, devidamente verificada.

As etapas do procedimento das provas de carga estática devem obedecer a ordem de 10%
aproximadamente da sua carga de ruptura calculada e devem garantir carga de ensaio de no mínimo
duas vezes a carga de trabalho, (Oliveira, 2013).

Para obtenção das cargas nas estacas foi utilizado o método de Nokkentved. Essa metodologia faz uso
das seguintes postulações:

 As estacas como elementos estruturais bi-rotulados;

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 A rigidez do bloco de coroamento;

 O carregamento e o deslocamento atuantes no “topo” da estaca, na direção de seu eixo, são


proporcionais;

 Desconsidera-se o bloco de coroamento como elemento de fundação superficial.

Logo, o dimensionamento consiste no cálculo das distribuições das forças pelas estacas (para cada
componente das solicitações), e posterior soma das parcelas.

Para estimativa dos volumes de concreto foi utilizado o método das bielas de compressão.

Os dois empreendimentos foram realizados com fundações em estacas tipo hélice contínua. Os
dimensionamentos das capacidades de carga, referentes ao estaqueamento, foram realizados através dos
métodos de Urbano Alonso (1996) e Antunes-Cabral (1996), resultando nos valores do Quadro 2:

Quadro 2 – Resumo métodos semi-empíricos

Diâmetro das
Seção Comprimento Carga Admissível
Obra Estacas (Ø) Quantidade
Transversal (d) (kN)
(mm)

A CIRCULAR 600 85 30 1600

B CIRCULAR 600 73 24 1550

3.4 - Verificação do Desempenho (Prova de Carga)

Como previsto nos projetos originais foram executadas provas de carga estáticas, durante as
implantações dos projetos, uma para cada obra como mostrado nas Figuras 4 e 5. Os valores suportados
nas provas de carga foram superiores ao previsto para as mesmas, através do método de projeto usual.

Figura 4 - Diagrama Carga x Recalque Obra A

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Figura 5 - Diagrama Carga x Recalque Obra B

4- ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 - Interpretação das Provas de Carga

De acordo com os valores das provas de carga, Figuras 4 e 5, os valores de carregamento máximo, a
qual foram submetidas as estacas foi de 2.899 kN e 2.950 kN, para as Obra A e B, respectivamente. A
norma permite o uso do fator de segurança de 1.6 para essa modalidade do projeto de fundações
profundas, Logo:

Carga Última (Qult ) Qult


FS= ∴ Qadm = [1]
Carga Admissível (Qadm ) FS

Obtendo-se:
2.899 kN
Qadm (Obra A)= ≅1800 kN [2]
1,6

2.950 kN
Qadm (Obra B)= ≅1800 kN [3]
1,6

Aplicando o Método de Nokkentved (Prova de Carga), levando em conta o cenário de atuação dos ventos,
esforços horizontais e 30% de acrescimo de carga, chega-se ao encontrado no Quadro 3:

Quadro 3 – Resumo método de Nokkentved

Vol. de Concreto
Carga De Projeto
Obra Quantidade Comprimento (m) Blocos De
(kN)
Coroamento(m³)*

A 74 1800 30 112

B 60 1800 24 110

*Valores estimativos que foram calculados considerando o método das bielas de compressão.

Comparando os valores de quantidade de estacas encontrados com os do Quadro 2 nota-se economia na


quantidade de estacas a serem processadas, fato esse que não se deve exclusivamente ao aumento da
capacidade de carga, refletido por exemplo na redução do volume de concreto apresentado.

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4.2 - Composição de Custo das Obras

Os preços utilizados como base para os custos, dos serviços e materiais, foram cotados levando em conta
duas mobilizações para as provas de carga (vale salientar que os preços aqui apresentados são
referentes ao ano de 2016).

Os valores foram obtidos através:

 Da cotação e coleta direta de preços com empresas do setor;

 De tabelas de custo orçamentário com valores relevantes para a realidade da cidade do Recife e
Região Metropolitana;

 Do auxílio do software gratuito de cálculo de orçamento voltado para estacas hélice contínua
“Gerador de Preços” da empresa CYPE Ingenieros, S.A.

Todo o custo de serviços relacionados (ex: mão de obra, mobilização de maquinário, etc.) foi adaptado à
razão (preço/metro de estaca), facilitando a progressão da pesquisa. Os valores de orçamento obtidos
foram corrigidos através da comparação do valor do dólar na época de concepção dos projetos com o
periodo de análise, em 2016.

No total foram utilizados para a pesquisa 5 fontes, aqui identificadas como Empresas de 1 a 5.

 Empresa 1: Representa os valores cotados através do software de cálculo de orçamento e


insumos, com base de valores atualizados para o valor de mercado do dólar, cotado para
novembro de 2016;

 Empresa 2: Cotado de valores atualizados da tabela de insumos da construção civil da Fundação


de Desenvolvimento da Educação - SP (FDE), com valores obtidos para o mês de novembro de
2016;

 Empresa 3: Cotado de empresa do Recife especializada em serviços dessa natureza. Para os


valores de prova de carga foram cotados de estimativas do departamento de engenharia da
mesma, quanto aos valores de fundação, obtidos através de planilhas de cálculo fornecidas e
atualizadas para o valor de mercado do dólar para novembro de 2016;

 Empresa 4: Obtido dos preços de mercado, fornecidos por empresa do mercado do Recife e
Região Metropolitana, os valores foram atualizados para o preço de mercado do dólar, para
novembro de 2016 sendo o fator multiplicativo de 1,6593 para os preços cotados;

 Empresa 5: Para a empresa 5 foram cotados diretamente das tabela de insumos da construção
civil fornecidas pela SINAPI de janeiro de 2016. Valores atualizados com fator multiplicativo do
dólar de mercado em 1,146.

Obtenção dos preços unitários.

Indexando os valores de cada serviço com sua respectiva quantidade, obtêm-se o encontrado nos Quadro
4 e 5:

Quadro 4 – Orçamento por metodologia de cálculo Obra A

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Quadro 5 – Orçamento por metodologia de cálculo Obra B

Nota-se a diferença de preço entre os métodos, com a segunda metodologia a possuir valores mais em
conta. Como o valor estimado de um projeto de fundação gira em torno de 3% a 5% do valor total da
fundação, esses valores à primeira vista, representam uma redução pequena caso extrapolado o valor de
todo o empreendimento.

As Figuras 6 e 7, mostram o comparativo para cada corelação de economia entre os métodos.

Figura 6 – Comparativo de metodologias Obra

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Figura 7 – Comparativo de metodologias Obra B

Quadro 6 – Economia entre metodologias de projeto, Obra A

Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5

13.72% 10.68% 12.62% 13.17% 14.23%

Quadro 7 – Economia entre metodologias de projeto, Obra B

Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3 Empresa 4 Empresa 5

13.10% 9.56% 11.66% 13.09% 13.81%

A média aritmética entre as porcentagens de economia é de 12.88% e 12.24% para as obras A e B


respectivamente. Logo a taxa de economia para os casos gira em torno de 12.50% em favor do método
das provas de carga que, se correlacionado com o ganho de carga, como mostrado no Quadro 8,
apresenta valores similares.

Quadro 8 – Relação econômica e ganho de carga

Obra Carga Admissível (kN) Acréscimo à Carga Economia (%)


Admissível (%)
Antes Depois

A 1600 1800 11.11 12.88

B 1550 1800 13.89 12.24

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o seguinte estudo, segunda metodologia de projeto pelas provas de carga foi mais vantajosa com a
taxa de economia em torno de 12.50%, para ambos os casos, apesar das obras serem de pequeno porte.

Apesar dessa taxa de economia não depender exclusivamente do aumento da capacidade de carga, mas
também de outros fatores, como a redução apresentada pelo volume do concreto, essa metodologia
merece atento como possibilidade de solução para a execução de uma fundação profunda, visto que para
o presente caso há o pressuposto do conhecimento prévio de soluções de fundações executadas na
região.

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Para os casos em que a carga admissível seja inferior para o calculado para o encontrado nos métodos
semi-empíricos, o emprego dessa solução pode não se justificar apenas pela capacidade de carga, tendo
que ser analisados outros fatores.

Projeto se bem compatibilizado com o tempo de implantação garante a possível economia prevista pelo
fator de segurança reduzido da metodologia, se posto em conjunto com uma investigação bem
executada, mesmo se tomada uma abordagem propositalmente conservadora como foi a dessa análise,
principalmente no caso de obras de grande porte onde o tempo de execução das obras de fundação, pode
ser melhor administrado com o escopo de planejamento executivo.

No cenário, de mercado que o país se encontra, a possibilidade de economia no projeto em função de


uma metodologia merece atento, ainda que pequena no quadro geral.

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160p..

668
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE DE RESISTÊNCIA MOBILIZADA ATRAVÉS DE NEGA E REPIQUE


ELÁSTICO – ESTUDO DE CASO

ANALYSIS OF MOBILIZED RESISTANCE THROUGH FINAL SET AND ELASTIC


REBOUND – CASE STUDY

Silva, Pedro; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, eng.phsilva@outlook.com
Câmara, Rayanne; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
rayannecamara@hotmail.com
Costa, Yuri; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, ydjcosta@ct.ufrn.br
Costa, Carina; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, carina@ct.ufrn.br

RESUMO

Este trabalho analisou a aplicação de métodos dinâmicos (fórmulas de Chellis, Smith modificado por Aoki,
Energy Approach e Holandeses) na estimativa da capacidade de carga de 42 estacas metálicas com perfil
“H”, através de valores de nega e repique elástico, cravadas por um bate-estaca hidráulico em uma obra
de viaduto. Os valores de nega e repique elástico foram obtidos em campo durante a cravação das estacas
e utilizados para o cálculo da resistência mobilizada de cada estaca. A capacidade de carga calculada através
das formulações foi comparada com o valor estimado pelo método semiempírico de Decourt e Quaresma.
Para isso, foi usado o perfil médio de três sondagens a percussão com SPT realizado no solo onde as estacas
foram cravadas. Foi observado que a fórmula de Smith modificado por Aoki apresentou uma capacidade de
carga média próxima ao método semiempírico considerado, a fórmula dos holandeses superestimou o valor
da capacidade de carga média e a fórmula de Chellis foi a mais conservadora.

ABSTRACT

This work analyzed tha application of dynamic methods (Chellis, Smith modified by Aoki, Energy Approach
and the “Dutch” formulations) to estimate the bearing capacity of 42 steel “H”-section piles driven by a
hydraulic hammer on a road bridge construction. The values of final set and elastic rebound were collected
in the field during pile driving and were used for the calculation of the mobilized resistance of each pile.
The bearing capacity calculated by the formulations was compared with the value estimated by the semi-
empirical method by Decourt and Quaresma. The semi-empirical method was calculated using the average
profile from three SPT tests carried out in the soil where the piles were driven. It was observed that the
Chellis formula had an average bearing capacity very close to that estimated by the Decourt-Quaresma
method, the “Dutch” formula overestimated the average bearing capacity and the Brix formula was the
most conservative.

1- INTRODUÇÃO

A capacidade de carga de fundações por estaca pode ser estimada por meio de formulações teóricas e
semiempíricas que consideram parâmetros do solo e da estaca. Na prática, observa-se um maior uso dos
métodos semiempíricos por estarem baseados em correlações e ajustes proveniente dos ensaios de campo.
Mesmo assim, os resultados encontrados pelos métodos semiempíricos constituem apenas uma estimativa
da resistência da fundação e, portanto, devem ser avaliados após a execução da fundação. Essa avaliação
depende do processo executivo da estaca e é realizada por meio de ensaios e controles realizados em
campo.

Um dos mecanismos utilizados para avaliar a capacidade de carga consiste no monitoramento da cravação
de estacas. Nesse mecanismo é possível verificar a homogeneidade do estaqueamento e são obtidos valores
de nega e repique elástico utilizados nas formulações dinâmicas para o cálculo da resistência mobilizada
com posterior comparação com a capacidade de carga estimada na etapa de projeto. Apesar do uso
rotineiro na prática, as fórmulas dinâmicas sempre estiveram em discussões técnicas haja vista a enorme
variedade de equações disponíveis aliado ao empirismo, total ou parcial, na qual estão fundamentadas.

Diante do exposto, percebe-se a importância em empreender um estudo dos métodos dinâmicos tendo em
vista a elevada variabilidade dos resultados de resistência mobilizada proveniente das diversas equações
existentes. Dessa forma, o objetivo deste artigo consiste em analisar a aplicação de métodos dinâmicos,
por meio de valores de nega e repique elástico, na estimativa da capacidade de carga de 42 estacas
metálicas com perfil “H” cravadas por um bate-estaca hidráulico em um viaduto.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2- ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES POR ESTACAS

2.1 - Método semiempírico de Decourt-Quaresma

Decourt e Quaresma (1978) apresentaram um método para a estimativa da capacidade de carga de


fundações por estacas baseado nos resultados de sondagens à percussão com SPT e ajustados através de
provas de carga. Nessa metodologia, a capacidade de carga é constituída por duas parcelas, sendo uma
relacionada ao fuste da estaca (resistência lateral) e a outra relacionada à ponta da estaca (resistência de
ponta). A Equação 1, proposta inicialmente pelos autores, permite a estimativa da capacidade de carga de
fundações por estacas, onde Ru é a capacidade de carga em kN, rL é a tensão resistente por atrito lateral
em kPa, U é o perímetro da seção transversal da estaca em m, L é o comprimento do fuste da estaca em
m, rP é a tensão resistente normal na ponta em kPa e AP é a área da seção transversal da ponta em m².

Ru =rL UL+rP AP [1]

Os autores sugeriram os valores para a tensão resistente por atrito lateral, considerando o valor médio do
Nspt ao longo do fuste, sem distinção quanto ao tipo de solo. Já para a tensão resistente normal na ponta,
os autores propuseram a utilização da Equação 2, onde rP é a tensão resistente normal na ponta em kPa,
C é o coeficiente que depende do tipo de solo em kPa e NP é o valor do Nspt médio na ponta da estaca, 1
m acima e 1 m abaixo.

rP =CNP [2]

Posteriormente, Decourt (1982) promoveu algumas alterações no trabalho original e recomendou a


utilização da Equação 3 para a determinação da tensão resistente por atrito lateral, onde rL é a tensão
resistente por atrito lateral em kPa, NL é o valor do Nspt médio ao longo do fuste da estaca sem considerar
os valores usados para a resistência de ponta.
NL
rL =10( +1) [3]
3

Além disso, alterou os limites de valores de Nspt para a utilização do método, sendo o limite inferior igual
a 3 e o superior igual a 50, exceção feita às estacas Strauss e tubulões a céu aberto no qual o limite
superior continuou sendo de 15. O método de Decourt-Quaresma se aplicava apenas à estacas de
deslocamento e, por isso, Decourt (1996) acrescentou os coeficientes α e β na fórmula de capacidade de
carga a fim de estender o método para outros tipos de estacas.

Dessa forma, a estimativa da capacidade de carga pelo método de Decourt-Quaresma pode ser feita pela
Equação 4, onde Ru é a capacidade de carga em kN, α e β são coeficientes em função do tipo de estaca,
com α = β = 1 para estacas pré-moldadas, metálicas e tipo Franki, C é o coeficiente que depende do tipo
de solo em kPa, NP é o valor do Nspt médio na ponta da estaca, 1 m acima e 1 m abaixo, AP é a área da
seção transversal da ponta em m², NL é o valor do Nspt médio ao longo do fuste da estaca sem considerar
os valores usados para a resistência de ponta, U é o perímetro da seção transversal da estaca em m e L é
o comprimento do fuste da estaca em m.
NL
Ru =αCNP AP +β10 ( +1) UL [4]
3

2.2 - Fórmulas dinâmicas

As fórmulas dinâmicas relacionam medidas de deslocamento da estaca (nega e repique elástico), obtidas
durante o processo de cravação, aos valores de resistência mobilizada, que pode ou não representar a
capacidade de carga estática da estaca. Essas fórmulas baseiam-se na teoria do choque de corpos rígidos
de Newton, na Lei de Hooke, na Lei da Conservação de Energia ou na teoria da equação da onda (Medrano,
2014). Mesmo com o uso rotineiro das fórmulas dinâmicas, os resultados observados ainda não podem ser
considerados satisfatório em aplicações generalizadas, haja vista uma série de incertezas associadas à
validade das teorias empregadas, às condições de contorno relacionadas à variabilidade do solo, à confiança
dos resultados obtidos e à grande variabilidade dos fatores de correção que descontam a parcela dinâmica
da resistência (Poulos e Davis, 1980; Liang e Zhou, 1997; Rosa, 2000; Cabette e Murakami, 2014).

A ABNT NBR 6122 (2010) define a nega como a medida de penetração permanente de uma estaca causada
pela aplicação de um golpe de martelo ou pilão sempre relacionada com a energia de cravação e define o
repique elástico como a parcela elástica do deslocamento máximo de uma estaca decorrente da aplicação
de um golpe do martelo ou pilão. A obtenção da nega e repique elástico pode ser feito de maneira simples
durante o processo de cravação, utilizando uma folha de papel presa ao fuste da estaca sobre a qual um
lápis é movimentado horizontalmente durante o golpe do martelo ou pilão com o auxílio de uma régua de
referência apoiada no terreno (Alves et al., 2004). Com os valores de nega e repique elástico obtidos
durante o processo de cravação, é possível estimar a resistência estática máxima mobilizada, que, nesse
caso, representa a capacidade de carga do sistema, através do uso de fórmulas dinâmicas.

670
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Segundo Gonçalves et al. (2007), a fórmula dos Holandeses, proposta em 1812, baseia-se na teoria do
choque de corpos rígidos de Newton e desconsidera todas as perdas proveniente das deformações elásticas
da estaca, substituindo-as por uma relação entre o peso da estaca e o peso do martelo ou pilão. Ainda
segundo os autores, a fórmula considera que o choque no impacto entre o martelo ou pilão e a estaca é
perfeitamente inelástico e que, após a ocorrência do impacto, a estaca e o martelo ou pilão separam-se,
de forma que este não influencia mais na penetração da estaca no solo. A Equação 5 apresenta a fórmula
dos Holandeses, onde Ru é a capacidade de carga em kN, FC é o fator de correção (recomenda-se 10 para
martelos em queda livre e 6 para martelos a vapor), W é o peso do martelo ou pilão em kN, h é a altura
de queda em m, S é a nega em m, ρ é a massa específica linear da estaca em kN/m e L é o comprimento
total cravado em m.
1 W2 h
Ru = [ ] [5]
FC S(W+ρL)

Chellis (1951) apresentou uma fórmula baseada na Lei de Hook, considerando a estaca com um
comportamento perfeitamente elástico. Essa hipótese é válida, apenas, para carregamentos estáticos, uma
vez que não consideram os efeitos das ondas geradas por um carregamento e descarregamento dinâmico,
mas, apesar disso, tem apresentados bons resultados (Rosa, 2000). Aoki (1986) propôs, a partir da fórmula
de Chellis, que a resistência estática máxima mobilizada é diretamente proporcional a deformação elástica
da estaca, a qual, segundo o autor, pode ser calculada subtraindo o valor do repique elástico do valor da
parcela de deformação elástica do solo com valores sugeridos por Souza Filho e Abreu (1990). Segundo
Silva (2013), a grande vantagem em utilizar o repique elástico no cálculo da resistência estática máxima
mobilizada consiste em evitar a necessidade de estimar as perdas ocasionadas pelo sistema de cravação.

Velloso (1987) propôs um fator de ajuste para o comprimento de cravação em função do diagrama de
transferência de carga, variando de 0,5, para estacas que resiste apenas por atrito lateral, a 1,0, no caso
de estacas que resiste apenas pela ponta. A Equação 6 apresenta a fórmula de Chellis com as contribuições
de Aoki e Velloso, onde Ru é a capacidade de carga em kN, K é o repique elástico em m, C3 é a deformação
elástica do solo em m, A é a área da seção transversal da estaca em m², E é o módulo de elasticidade da
estaca em kPa, α é o fator de ajuste para o comprimento de cravação e L é o comprimento total cravado
em m.
(K-C3 )EA
Ru = [6]
αL

Paikowsky e Chernauskas (1992) apresentaram uma equação considerando a abordagem da energia


(Energy Approach) que consiste no balanço entre a energia total transferida e o trabalho realizado pelo
sistema estaca-solo. Nessa situação, a resistência estática segue um modelo elastoplástico que obedece a
uma relação de força por deslocamento. A equação do Energy Approach se baseia na energia de entrada
no sistema e, portanto, apenas na seção instrumentada. Embora as perdas devido aos efeitos dinâmicos
sejam consideradas pelo amortecimento viscoso, elas não são representadas na equação dinâmica e,
portanto, a velocidade da partícula ao longo da estaca não é válida. A Equação 7 apresenta a fórmula do
Energy Approach, a partir de uma relação força-deslocamento elastoplástica, onde Ru é a capacidade de
carga em kN, FC é o fator de correção (variando de 0,8 a 1,0), W é o peso do martelo ou pilão em kN, h é
a altura de queda em m, S é a nega em m e K é o repique elástico em m.
Wh
Ru =FC ( K ) [7]
S+
2

Segundo Cintra et al. (2013), o advento da teoria da equação da onda permitiu a análise de forma mais
apropriada da capacidade de carga em estacas cravadas, uma vez que a cravação de uma estaca é um
fenômeno mais relacionado a transmissão de ondas de tensão do que ao impacto puro e simples entre dois
corpos. Smith (1960) desenvolveu um modelo matemático baseado na teoria de propagação da onda, que
passou a ser considerada para representar fisicamente o fenômeno de cravação das estacas. Nesse modelo,
os diversos componentes envolvidos no processo de cravação da estaca são representados como uma série
de pesos e molas capaz de simular o deslocamento de uma onda de tensão longitudinal ocasionada pelo
golpe do martelo e a resistência do solo (Silva, 2013).

Aoki, observando apenas a curva de resistência estática e o modelo de Smith, analisou a fórmula de energia
e propôs uma aproximação para o cálculo da energia de deformação do sistema substituindo a área sob a
curva resistência estática x deslocamento pela área de um trapézio equivalente. De acordo com Aoki e
Cintra (1997), o valor da energia de deformação do sistema obtido por meio do trapézio equivalente é um
percentual da energia cinética total e, por isso, Aoki propôs a utilização de um fator de ajuste no cálculo
da resistência estática que, na prática, varia de 1 a 2.

Para a aplicação do modelo de Smith modificado por Aoki, Cintra et al. (2013) afirmam ser necessária a
instrumentação adequada no topo da estaca para se medir a energia cinética máxima no momento do
golpe do martelo. Não havendo a instrumentação, essa energia pode ser estimada em função da eficiência
do sistema de cravação que varia de acordo com o tipo de martelo, sendo entre 40% e 60% para martelos
em queda livre, entre 30% a 60% para martelos a diesel e em torno de 80% para martelos hidráulicos

671
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

(Gonçalves et al., 2007). A Equação 8 apresenta a fórmula de Smith modificado por Aoki, para os casos
sem instrumentação da estaca, onde Ru é a capacidade de carga em kN, ζ é o fator de ajuste, ef é a
eficiência do sistema de cravação, W é o peso do martelo ou pilão em kN, h é a altura de queda em m, S
é a nega em m e K é o repique elástico em m.
ζef Wh
Ru = [8]
2S+K

3- APRESENTAÇÃO DO CASO

O caso estudado foi a fundação de um viaduto composta por 42 estacas metálicas com perfil H de 10
polegadas divididas em nove blocos de coroamento contendo quatro ou seis estacas em cada bloco. As
estacas, cujas especificações técnicas estão apresentadas no Quadro 1, foram cravadas através de um
bate-estaca do tipo hidráulico com martelo de 66 kN e o subsolo foi investigado através de três furos de
sondagem à percussão (SP-01, SP-02 e SP-03) com SPT. A Figura 1 representa as dimensões do perfil
analisado e a Figura 2 apresenta a posição dos blocos, das sondagens à percussão e das estacas.

Figura 1 – Representação das dimensões do perfil

Quadro 1 – Especificações técnicas do perfil metálico das estacas


BITOLA MASSA d bf tw tf h d' ÁREA MÓDULO DE
(mm x kg/m) LINEAR (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (cm²) ELASTICIDADE
(kg/m) (MPa)
HP 250 x 62,0 (H) 62,0 246 256 10,5 10,7 225 201 79,6 210000

Figura 2 – Posição dos blocos, das sondagens à percussão e das estacas (cotas em cm)

672
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

As sondagens apresentaram características semelhantes com camadas iniciais de areia fina fofa a pouco
compacta, seguido de camadas com argila orgânica mole e areia argilosa medianamente compacta,
sobrejacente a camadas de areia fina pouco compacta a muito compacta. A Figura 3 apresenta o perfil
representativo do subsolo com os valores de Nspt obtidos nas três sondagens.

Figura 3 – Representação gráfica das sondagens

O controle de cravação foi realizado através de fichas de cravação obtidas pela elaboração manual dos
gráficos com auxílio de lápis e papel fixados à seção do fuste das estacas. Nas fichas foram registradas o
número de golpes por profundidade cravada, a altura de queda do martelo (50 cm no final da cravação), o
valor de nega, o repique elástico e o comprimento total cravado. O Quadro 2 apresenta os parâmetros, que
são necessários para a utilização das fórmulas dinâmicas, retirados das fichas de cravação, onde L é o
comprimento total cravado, K é o repique elástico e S é a nega.

Quadro 2 – Comprimento total de cravação, repique elástico e nega das estacas


ESTACA L (m) K (mm) S (mm/golpe) ESTACA L (m) K (mm) S (mm/golpe)
1 26,00 16,50 1,40 22 26,70 17,00 0,80
2 27,50 19,00 1,10 23 28,00 19,00 0,90
3 26,08 16,50 1,65 24 24,00 16,50 1,35
4 26,00 19,50 1,60 25 29,36 16,00 1,00
5 22,00 19,00 1,20 26 25,50 14,00 1,40
6 22,08 18,00 0,90 27 25,60 19,00 1,40
7 22,04 21,00 1,40 28 24,38 19,00 0,70
8 22,11 20,00 0,60 29 39,00 17,00 1,00
9 25,62 19,50 1,40 30 31,65 18,00 1,50
10 27,75 13,00 1,50 31 27,30 20,00 1,50
11 23,50 18,00 1,30 32 40,90 22,00 0,90
12 24,15 19,50 1,00 33 35,34 22,00 0,50
13 33,35 14,00 1,80 34 41,70 20,00 0,70
14 36,00 17,00 0,70 35 34,25 17,50 0,50
15 42,90 11,00 0,80 36 26,00 18,00 1,10
16 28,00 19,00 1,00 37 23,15 18,00 1,50
17 26,10 20,00 1,40 38 22,36 18,00 0,90
18 22,10 17,00 0,85 39 23,85 21,50 2,00

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19 28,30 19,50 2,25 40 23,15 16,50 1,30


20 23,90 18,00 1,70 41 22,50 17,00 1,40
21 26,17 18,00 0,60 42 22,10 21,50 0,80

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A capacidade de carga foi estimada pelo método de Decourt-Quaresma considerando o comprimento médio
das estacas (L = 27,82 m) e os valores de Nspt médio apresentados na Figura 3. Como as sondagens
atingiram uma profundidade máxima de 20 m, foi considerado o limite superior do método nos valores de
Nspt para as profundidades subsequentes. Além disso, segundo Alonso (2008), no caso de estacas
metálicas cravadas, pode-se adotar as Equações 9 e 10 para o cálculo da área da seção transversal da
ponta e o perímetro da estaca, respectivamente, onde bf é a largura da seção transversal e d é a altura da
seção transversal. Dessa forma, a capacidade de carga estimada pelo método de Decourt-Quaresma foi
igual à 2605,84 kN.

AP =0,3bf d [9]

U=2(bf +d) [10]

Para a aplicação das fórmulas dinâmicas, foram utilizadas os dados apresentados no Quadro 2, as
especificações técnicas para o perfil metálico apresentados no Quadro 1, um FC igual à 6, na fórmula dos
Holandeses, um C3 igual à 2,50 mm e um α igual à 0,70, na fórmula de Chellis, um FC igual à 1, na fórmula
do Energy Approach, e um ζ igual à 2 e um ef igual à 80%, na fórmula de Smith modificado por Aoki. Dessa
forma, com os valores de capacidade de carga calculados para cada estaca, utilizando as fórmulas dos
Holandeses, Chellis, Energy Approach e Smith modificado por Aoki, foram elaborados os gráficos
apresentados nas Figuras 4 a 7, as quais contém o histograma, a distribuição normal de Gauss, os valores
máximo e mínimo, a média, o desvio padrão e o coeficiente de variação da capacidade de carga.

35% 0,00030
MÍNIMO: 1931 kN;
MÁXIMO: 8322 kN;
30%
MÉDIA: 4239 kN; 0,00025
DESVIO PADRÃO: 1600 kN;

DENSIDADE DE PROBABILIDADE
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO: 38%.
25%
0,00020
FREQUÊNCIA

20%
0,00015
15%

0,00010
10%

0,00005
5%

0% 0,00000
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
CAPACIDADE DE CARGA (kN)

Figura 4 – Histograma e distribuição normal da capacidade de carga através da fórmula dos Holandeses

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

45% MÍNIMO: 473 kN; 0,00140


MÁXIMO: 2053 kN;
40% MÉDIA: 1403 kN;
DESVIO PADRÃO: 327 kN; 0,00120
35% COEFICIENTE DE VARIAÇÃO: 23%.

DENSIDADE DE PROBABILIDADE
0,00100
30%
FREQUÊNCIA

25% 0,00080

20% 0,00060

15%
0,00040
10%
0,00020
5%

0% 0,00000
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
CAPACIDADE DE CARGA (kN)

Figura 5 – Histograma e distribuição normal da capacidade de carga através da fórmula de Chellis

50% 0,00100
MÍNIMO: 2588 kN;
45% MÁXIMO: 5238 kN; 0,00090
MÉDIA: 3280 kN;
40% DESVIO PADRÃO: 444 kN; 0,00080

DENSIDADE DE PROBABILIDADE
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO: 14%.
35% 0,00070
FREQUÊNCIA

30% 0,00060

25% 0,00050

20% 0,00040

15% 0,00030

10% 0,00020

5% 0,00010

0% 0,00000
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
CAPACIDADE DE CARGA (kN)

Figura 6 – Histograma e distribuição normal da capacidade de carga através da fórmula do Energy Approach

675
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

50% 0,00120
MÍNIMO: 2071 kN;
45% MÁXIMO: 4190 kN;
MÉDIA: 2624 kN; 0,00100
40% DESVIO PADRÃO: 355 kN;

DENSIDADE DE PROBABILIDADE
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO: 14%.
35%
0,00080
FREQUÊNCIA

30%

25% 0,00060

20%
0,00040
15%

10%
0,00020
5%

0% 0,00000
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
CAPACIDADE DE CARGA (kN)

Figura 7 – Histograma e distribuição normal da capacidade de carga através da fórmula de Smith modificado por Aoki

A análise dos resultados permite observar que a fórmula de Smith modificado por Aoki apresentou um valor
de capacidade de carga média muito próximo ao valor de capacidade de carga estimado pelo método de
Decourt-Quaresma, a fórmula de Chellis apresentou um valor de capacidade de carga média inferior ao
valor de capacidade de carga estimado pelo método de Decourt-Quaresma e as fórmulas do Energy
Approach e dos Holandeses apresentaram um valor de capacidade de carga média superior ao valor de
capacidade de carga estimado pelo método de Decourt-Quaresma. Além disso, também foi possível
visualizar que as fórmulas do Energy Approach e de Smith modificado por Aoki apresentaram um bom
ajuste à distribuição normal de Gauss, com maiores frequências de ocorrência de valores em torno do valor
médio da capacidade de carga, a fórmula dos Holandeses apresentou maior frequência de ocorrência de
valores abaixo do valor médio de capacidade de carga e a fórmula de Chellis apresentou maior frequência
de ocorrência de valores acima do valor médio de capacidade de carga. Por fim, foi verificado que as
fórmulas do Energy Approach e de Smith modificado por Aoki apresentaram valores de capacidade de carga
mais homogêneos, com coeficientes de variação de 14%, e as fórmulas de Chellis e dos Holandeses
apresentaram coeficientes de variação de 23% e 38%, respectivamente.

A justificativa para os resultados observados pode estar associada às teorias que fundamentam as fórmulas
dinâmicas. A fórmula dos Holandeses não considera, adequadamente, todas as perdas de energia
proveniente das deformações elásticas da estaca, uma vez que está baseada na teoria do choque de corpos
rígidos de Newton. Além disso, as hipóteses simplificadoras consideradas não representam,
verdadeiramente, o que ocorre durante o fenômeno da cravação (Gonçalves et al., 2007). Já a fórmula de
Chellis é baseada na Lei de Hook e considera a estaca com um comportamento perfeitamente elástico, não
considerando os efeitos das ondas geradas por um carregamento e descarregamento dinâmico (Rosa,
2000). A fórmula do Energy Approach, por sua vez, considera o balanço entre a energia total transferida,
baseado na energia de entrada no sistema, e o trabalho realizado pelo sistema estaca-solo, sem representar
as perdas devido aos efeitos dinâmicos (Paikowsky e Chernauskas, 1992). Já a fórmula de Smith modificado
por Aoki é baseada em um modelo desenvolvido a partir da teoria da equação da onda que representa, de
forma mais adequada, o fenômeno de cravação da estaca, uma vez que esse fenômeno está mais
relacionado à transmissão de ondas de tensão do que ao impacto puro e simples entre dois corpos (Cintra
et al., 2013).

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo analisou a aplicação de métodos dinâmicos, por meio de valores de nega e repique
elástico, na estimativa da capacidade de carga de 42 estacas metálicas com perfil “H” cravadas por um
bate-estaca hidráulico em um viaduto. Com os registros de campo (nega e repique elástico), foi possível
avaliar a homogeneidade do estaqueamento e estimar a resistência estática máxima mobilizada no final da
cravação para todas as estacas através da utilização das fórmulas dinâmicas.

676
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A fórmula de Smith modificado por Aoki apresentou um valor de capacidade de carga média muito próximo
ao valor de capacidade de carga estimado pelo método semiempírico de Decourt-Quaresma, com um
coeficiente de variação de 14% e um bom ajuste à distribuição normal de Gauss. Já a fórmula de Chellis,
por sua vez, apresentou um valor de capacidade de carga média inferior ao valor de capacidade de carga
estimado pelo método semiempírico de Decourt-Quaresma, com maior frequência de ocorrência de valores
acima do valor médio de capacidade de carga e um coeficiente de variação de 23%. No caso das fórmulas
do Energy Approach e dos Holandeses, o valor de capacidade de carga média foi superior ao valor de
capacidade de carga estimado pelo método semiempírico de Decourt-Quaresma, com um bom ajuste à
distribuição normal de Gauss e um coeficiente de variação de 14%, para a fórmula do Energy Approach, e
maior frequência de ocorrência de valores abaixo do valor médio de capacidade de carga e um coeficiente
de variação de 38%, para a fórmula dos Holandeses.

REFERÊNCIAS

Alonso, U. R. (2008) – Previsão da capacidade de carga geotécnica de estacas metálicas com ponta em solo pouco
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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANÁLISE E ADEQUAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO


DE MICROESTACAS EM SOLOS TROPICAIS

ANALYSIS AND ADEQUACY OF GEOTECHNICAL DESIGN METHODS OF


MICROPILES IN TROPICAL SOILS

De Almeida, Caique Roberto; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, crdealme@usp.br
Amann, Kurt André Pereira; Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu.br

RESUMO

O projeto de microestacas assentes em solos tropicais brasileiros está usualmente relacionado à aplicação
de métodos semiempíricos originalmente desenvolvidos para microestacas executadas em solos
transportados ou estacas raiz implantadas em solos tropicais. Nesse sentido, é necessário argumentar que
a confiabilidade e as limitações dos métodos de projeto utilizados para a previsão da capacidade de carga
de estacas injetadas de pequeno diâmetro em solos tropicais constituem itens pouco explorados pela
literatura geotécnica. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a precisão dos critérios de
dimensionamento geotécnico de microestacas frequentemente utilizados no meio profissional a fim de
assinalar sua confiabilidade no que tange a previsão do comportamento geomecânico de sistemas solo-
estrutura tipicamente tropicais. Cabe destacar que a metodologia utilizada prevê a comparação de
resultados obtidos a partir de três diferentes enfoques: a análise do desempenho de curvas carga x recalque
(por meio de procedimentos estatísticos propostos em Amann (2010)), provenientes de provas de carga
estática realizadas sobre microestacas; a modelagem computacional, através do software Rocscience, das
fundações ensaiadas e a aplicação de métodos de dimensionamento geotécnico às microestacas em estudo.
Pretende-se que os resultados obtidos experimentalmente sejam corroborados pela modelagem
geotécnico-computacional e constituam base comparativa para aferição da acurácia e confiabilidade das
estimativas de capacidade de carga apresentadas por diferentes métodos de projeto. Dessa forma, almeja-
se propor, em caráter preliminar e por meio de abordagem matemática exposta em Amann (2010), a
adequação de procedimentos habitualmente utilizados de forma a se obter projetos mais econômicos e
seguros.

ABSTRACT

The design of micropiles in Brazilian tropical soils is usually related to the application of semiempirical
methods originally developed for micropiles executed on transported soils or different kinds of piles
implanted in tropical soils. Therefore, it is necessary to argue that the reliability and limitations of the
design methods used to predict the load capacity of small diameter injected piles in tropical soils are items
that are not properly explored in the geotechnical literature. Thus, the present paper has the objective of
evaluating the precision of the frequently used geotechnical design criteria of micropiles in order to indicate
their reliability in relation to the prediction of the geomechanical behavior of typically tropical soil-structure
systems. It should be pointed out that the methodology addresses the comparison of the results obtained
from three different approaches: the performance analysis of load-displacement curves (using statistical
procedures proposed in Amann (2010)), from static load tests performed on micropiles; the computational
modeling, through the Rocscience software, of the tested foundations and the application of methods of
geotechnical design to the studied micropiles. It is also intended that the experimentally obtained results
will be corroborated by the geotechnical-computational modeling in order to compose a comparative basis
for the evaluation of the accuracy and reliability of the load capacity estimates presented by different design
methods. In this way, it is proposed, in a preliminary way and through a mathematical approach exposed
in Amann (2010), the adequacy of routinely used procedures in order to obtain more economical and safe
projects.

1- INTRODUÇÃO

Concebidas no início dos anos 1950, na Itália, fundações por microestacas originaram-se como inovações
técnicas para a estabilização de monumentos históricos deteriorados pelo tempo. Inicialmente
denominadas “palo radice”, microestacas são hoje uma evolução do sistema projetado por Fernando Lizzi,
em que pequenas estacas moldadas in loco desempenham diferentes funções no âmbito da Engenharia
Geotécnica, entre as quais é possível citar-se a proteção contra liquefação em caso de abalos sísmicos,
reforço de fundações, proteção contra erosão, reparo ou substituição de fundações existentes e
estabilização e prevenção de recalques.

O dimensionamento de microestacas, por sua vez, pressupõe o levantamento de séries de dados e


pressupostos de projeto fundamentais para o adequado desenvolvimento de obras seguras e
economicamente viáveis, a exemplo da caracterização geológico e geotécnica de solos adjacentes, da carga

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estrutural responsável por solicitar o sistema solo-estrutura, bem como o tipo de armadura empregada e
a função desempenhada em obra.

Nesse sentido, é conveniente registrar que os métodos internacionalmente consagrados para o projeto de
microestacas demandam cuidadoso estudo, haja vista a existência de limitações no que tange a atribuição
de parâmetros e especificidades comportamentais do solo em que se pretende instalar determinado sistema
de fundações. Cita-se, por conseguinte, que as célebres metodologias empregadas em países da América
do Norte e Europa, representados pelo Federal Highway Administration Manual e pelos Eurocódigos 3 e 7,
respectivamente, apresentam consideráveis divergências quando comparadas aos procedimentos
semiempíricos amplamente empregados em território brasileiro, a exemplo dos métodos de Aoki-Velloso e
Décourt-Quaresma.

2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A seção a seguir apresenta conceitos imprescindíveis à compreensão das principais questões relacionadas
ao comportamento e à previsão da capacidade de carga de microestacas assentes em solos tropicais.

2.1 - Generalidades

Microestacas são definidas como fundações profundas e sem deslocamentos (escavadas), com diâmetros
inferiores a 300mm e injetadas, sendo costumeiramente armadas (FHWA, 2000). Seu método executivo
básico consiste na escavação do solo para o posicionamento da armadura, bem como a injeção de calda de
cimento por meio de equipamentos e acessórios apropriados. Sua capacidade de carga estrutural contempla
esforços de tração, compressão e carregamentos laterais, sendo que a parcela de resistência de ponta,
amplamente influenciada por processos geológicos em solos adjacentes, é insignificante quando comparada
à carga lateral mobilizada no contato injeção-solo (Alonso, 1996).

A classificação de microestacas ocorre por meio de critérios que levam em consideração a finalidade de
projeto e o método de injeção utilizado (FHWA, 2000). Dessa forma, os números 1 (que representa
elementos de fundação carregados diretamente, axialmente e lateralmente) e 2 (utilizado para
microestacas que reforçam o solo por meio de um retículo composto que resiste a solicitações externas)
definem o primeiro índice de classificação, enquanto as letras A (ao não se aplicar na escavação pressão
de injeção externa, com ação exclusiva da pressão da gravidade), B (quando se injeta calda de cimento
sob baixa pressão), C (ocasião em que a escavação é preenchida com calda de cimento sob pressão da
gravidade, com posterior introdução de nova calda com tubo de injeção) e D (em que calda de cimento é
injetada sob pressão da gravidade ou externa, seguida por uma etapa de injeção por válvulas, através de
tubo manchete) finalizam o processo de categorização por meio do segundo critério (FHWA, 2000).

Dessa forma, o emprego de microestacas em obras de engenharia é bastante difundido em diferentes


aplicações, a exemplo de fundações de novas estruturas, proteção contra liquefação em caso de abalos
sísmicos, reforço de fundações, proteção contra erosão, reparo ou substituição de fundações existentes,
estabilização e prevenção de recalques, reforço e proteção do solo, entre outras (De Lima, 2008).

A aderência entre armadura e calda, fundamentais para o desempenho geotécnico e estrutural de


microestacas, é frequentemente obtida por meio da soldagem de cintas helicoidais de simples execução.
Por outro lado, especial cuidado deve ser direcionado às ligações entre microestaca e fundação existente,
haja vista a preocupação de que o conjunto apresente comportamento monolítico (Teixeira, 2014).

As situações gerais em que se pode identificar o uso de microestacas são ilustradas nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Função de suporte estrutural (FHWA,2000) Figura 2 –Função de reforço do solo (FHWA,2000)

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2.2 - Métodos de projeto geotécnico de microestacas

A filosofia de projeto envolvida no dimensionamento de microestacas obedece aos pressupostos existentes


em outros âmbitos da Engenharia Geotécnica: o sistema deve ser capaz de absorver as condições de
carregamento previstas em etapas precedentes de planejamento, além de apresentar níveis de recalque
condizentes com a performance da obra. Diferentemente de estacas convencionais, em que as
consideráveis áreas de seções transversais conferem rigidez e resistência suficientes ao sistema de
fundações para que o comportamento em termos estruturais proporcione segurança superior às
verificações geotécnicas, sistemas compostos por microestacas possuem reduzidas áreas de seção
transversal, fator que impõe comportamento geralmente governado por considerações de enfoque
estrutural (FHWA, 2000).

Fundamentalmente, o projeto de microestacas submetidas a carregamentos axiais, laterais ou combinados


pressupõe a verificação de dois itens:

 A avaliação da capacidade de carga geotécnica, que deve ser precedida pela estimativa dos
parâmetros existentes na interface grout-solo, bem como pelo estudo do estado de tensões no solo
após a instalação do sistema de fundações;

 A estimativa da capacidade de carga estrutural e da performance em termos de rigidez de


microestacas, aspectos dependentes do comportamento dos materiais empregados na execução
do sistema de fundações.

Os métodos de dimensionamento apresentados e explorados a seguir concentram-se no aspecto geotécnico


do projeto de microestacas.

2.2.1 - Método de projeto Federal Highway Administration

A estimativa do parâmetro representativo da capacidade de carga mobilizada por atrito entre grout e solo,
de acordo com Federal Highway Administration, depende da diferenciação entre os efeitos de normatização
SLD e LFD (FHWA, 2000):

- SLD (Service Load Design): neste tipo de enfoque de projeto o fator de segurança é selecionado por meio
de critérios intuitivos e baseados em experiência e capacidade de julgamento do projetista. Cargas e
resistência dos materiais são tratadas como constantes determinísticas. Por seu caráter intuitivo, tal
método de projeto tem entrado em desuso.

- LFD (Load Factor Design): assim como o método LRFD (Load and Resistance Factor Design), tal
procedimento é dividido em fatores de carga, responsáveis por ampliar as ações sob a estrutura, e fatores
redutores de resistência. Sua abordagem normatizada e rigorosa propiciam uso frequente na Engenharia
norte americana, em detrimento do método SLD.

A partir de tais considerações, apresenta-se a estimativa da carga axial admissível a ser aplicada em
microestaca, por meio da aplicação do parâmetro α, representativo da capacidade de carga mobilizada por
atrito entre grout e solo, de acordo com os enfoques propiciados pelos métodos SLD e LFD.

A Equação 1 exprime o cálculo da carga axial admissível, em tração e compressão, verificada por meio do
método SLD:
Padmissivel = (α/FS) x 3,14 x D x L
[1]

Em que:
 Padmissivel – carga axial de tensão/compressão geotécnica admissível a ser suportada pela microes-
taca;
 α – parâmetro representativo da capacidade de carga mobilizada por atrito entre grout e solo;
 FS – fator de segurança empregado. Valor usual, considerando-se comportamento não-sísmico em
solos e rochas é de 2,5;
 D – diâmetro da microestaca de projeto;
 L – comprimento da microestaca de projeto. Em alguns casos o comprimento da microestaca pode
não coincidir com a dimensão da superfície de calda de cimento em contato com o solo.

A Equação 2 exprime o cálculo da carga axial admissível, em tração e compressão, verificada por meio do
método LFD:

Padmissivel = ᶲG x α x 3,14 x D x L [2]

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Em que:

 ᶲG – fator redutor de resistência nominal; para carregamentos não-sísmicos utilizar ᶲG = 0,60; para
esforços de caráter dinâmico utilizar ᶲG = 1,00.

2.2.2 - Método de dimensionamento de Lizzi

Apresentado pelo italiano Dr. Lizzi, o método semiempírico de dimensionamento geotécnico pressupõe a
estimativa apresentada pela Equação 3 (Lizzi, 1985):

Pult = 3,14 x D x L x K x I [3]

Em que:
 Pult – carga máxima suportada pela microestaca em caso de compressão;
 D – diâmetro nominal de perfuração;
 L – comprimento da microestaca;
 K – coeficiente representativo do atrito lateral;
 I – coeficiente adimensional que depende do diâmetro da perfuração.

2.2.3 - Método de dimensionamento de Bustamante e Doix

Baseado em provas de carga e resultados de curvas de carga x recalque executadas em diferentes tipos
de solo, o método de projeto aqui proposto fornece satisfatórios resultados com relação ao comportamento
de microestacas. A Equação 4 apresenta o cálculo da carga limite atuante no topo da microestaca
(Bustamante e Doix, 1985):

Tl = Tp + Ts [4]
Em que:
 Tl – cálculo da carga limite atuante no topo da fundação;
 Tp - resistência de ponta;
 Ts – resistência lateral.

Desprezando-se a resistência de ponta e aplicando-se o fator de segurança à parcela de resistência


restante, conforme Equação 5:
Tld = Tl / FS [5]
Em que:
 Tld – carga de cálculo no topo da fundação.

Tratando-se, de forma particular, a parcela de resistência por conta de atrito lateral, de acordo com Equação
6, que sintetiza a somatória do atrito mobilizado em diferentes camadas da fundação profunda:

Tl = ∑ 3,14 x Dsi x Lsi x qs [6]


Em que:
 Lsi – comprimento do bolbo de selagem;
 Dsi = αi x Dd – diâmetro médio da microestaca na camada i;
 Dd – diâmetro de perfuração da microestaca;
 αi – coeficiente variável em função do tipo de solo e perfuração;
 qs – aderência solo-cimento.

2.2.4 - Método de dimensionamento Eurocódigo 7

o Eurocódigo 7 pondera que aspectos geotécnicos quando do cálculo de microestacas devem ser
contemplados por meio da Equação 7 (CEN, 2003):

Fc,d ≤ Rc,d [7]


Onde:
 Fc,d – Valor de cálculo de uma grandeza atuante;
 Rc,d - Valor de cálculo de uma grandeza resistente.

Em consonância com os métodos usuais para o cálculo de capacidade de carga geotécnica, a ação resistente
depende das parcelas relativas à resistência de ponta e atrito lateral, conforme explicita a Equação 8:

Rc,d = Rb,d + Rs,d [8]

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Em que:
 Rc,d – Valor dimensionado para a resistência total da fundação profunda;
 Rb,d -Valor dimensionado para a resistência de ponta da fundação profunda;
 Rs,d - Valor dimensionado para a resistência lateral da fundação profunda.

Ao se transformar os valores de cálculo acima assinalados em valores característicos, através da utilização


de fatores de segurança (que variam de acordo com tipo de obra e dados geotécnicos), é possível recorrer-
se à Equação 9, que exclui a parcela de resistência proveniente da ponta de microestacas, haja vista sua
reduzida área de interação entre solo-estrutura (CEN, 2003):

Rs,k = Σi As,iqs,i,k [9]


Onde:

 Rs,k – Valor dimensionado para resistência característica da fundação;

 As,i – Área em que a carga estrutural é dissipada;

 qs,i,k – Aderência característica solo-cimento;

Finalmente, os procedimentos normativos contemplados pela EN 14199:2005 e incluídos no Eurocódigo 7,


de caráter geotécnico, propõe uma estimativa semiempírica para a capacidade de carga de projeto de
microestacas, conforme Equação 10:

Rd / Ae = σv0 + k x p*le [10]


Em que:
 Rd – capacidade de carga de projeto de microestacas;
 Ae – área efetiva da fundação;
 k – fator de resistência de carga;
 σv0 – tensão efetiva vertical total na cota de estudo;
 p*le – pressão equivalente líquida limite de projeto.

É de fundamental importância assinalar que os dados fundamentais de entrada do modelo apresentado,


também denominados inputs, consistem em resultados obtidos por meio de pressiômetro, isto é, pela
pressão equivalente líquida limite de projeto. Originalmente, tal parâmetro é resultante da pressão limite
líquida (p*l), definida como a diferença entre as pressões pl e p0. O parâmetro p0, designado pressão de
terra horizontal em repouso, pode ser estimado a partir do coeficiente de empuxo em repouso (K 0), aliado
à Equação linear assinalada em 11:

p0 = K0 x q + u [11]
Em que:
 q – sobrecarga;
 u – pressão neutra.

2.2.5 - Método de Aoki-Velloso

Amplamente difundido nos meios técnicos e acadêmicos brasileiros, o Método de Aoki-Velloso propõe o
seguinte procedimento, previsto na Equação 12, para a estimativa da capacidade de carga de fundações
profundas, desprezando-se a resistência de ponta (Aoki e Cintra, 2010):

R = (U / F2) x Σ (α x K x Nl x L) [12]
Em que:
 R – capacidade de carga de projeto de microestacas;
 U – perímetro da fundação;
 F2 – fator de correção;
 K – coeficiente por camada de solo;
 α – razão de atrito por camada de solo;
 L –espessura da camada de solo considerada;
 Nl – índice de resistência à penetração médio na camada considerada.

2.2.6 - Método de Décourt-Quaresma

A proposta desenvolvida pelo método Décourt-Quaresma é sintetizada na Equação 13, desprezando-se a


resistência de (Aoki et al., 2010):

R = β x 10 x (Nl / 3 + 1) x U x L [13]

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Em que:
 R – capacidade de carga de projeto de microestacas;
 β – fator de capacidade de carga;
 Nl - índice de resistência à penetração médio ao longo do fuste;
 U - perímetro da fundação;
 L – comprimento da microestaca.

2.2.7 - Método de Cabral

Conforme apontado por Cabral (1986), é possível proceder-se com a estimativa da capacidade de cargas
de estacas tipo raiz, com reduzidos diâmetros e pressão injetada inferior a 4 kgf/cm2 a partir da Equação
14:
Qult = U x ∑ (β0 x β1 x N x L ) + β0 x β2 x Nb x Ab [14]
Em que:
 Qult – capacidade de carga de projeto;
 L – espessura de solo caracterizado por índice de resistência à penetração N;
 Nb - índice de resistência à penetração na ponta da fundação;
 β0 – fator que depende do diâmetro B da fundação (cm) e da pressão de injeção p (em kgf/cm2);
 β1, β2 – fatores que dependem do tipo de solo;
 Ab – Área em que se dissipa a carga.

Por outro lado, a estimativa do parâmetro β0 pode ser realizada de acordo com a Equação 15:

β0 = 1 + 0,11 x p – 0,01 x β [15]


Em que:
 p – pressão de injeção em kgf/cm2.

3 – EXECUÇÃO DE PROVA DE CARGA ESTÁTICA EM MICROESTACA

Executou-se prova de carga estática em microestaca do tipo 1 A, com diâmetro nominal 25 cm e


comprimento 12 m. Para efeitos de nomenclatura a microestaca ensaiada será denominada E1.

3.1 – Geologia local

Foram locados dois furos de sondagem nas proximidades do local de realização da prova de carga estática.
As sondagens (que somam 31,90 metros de prospecção) revelaram a presença de solo residual do tipo
silte arenoso pouco argiloso com mica ou micáceo ao longo de todas as profundidades dos furos. Pequenas
variações em termos de características secundárias das camadas são encontradas por meio de fragmentos
finos de rocha (de 5,75 m até 9,90 m no furo SP.01).

Com exceção de camadas mais profundas (observadas a partir de 14m) a consistência ou compacidade dos
solos é fofa ou de pouco a medianamente compacta, o que não revela elevados índices de resistência à
penetração. Esta informação, por sua vez, foi coletada de forma normatizada através do ensaio
penetrométrico e revelou valores crescentes de índice de resistência variando de 3 a 26 golpes no furo
SP.01 e de 4 a 19 no furo SP.02. A posição do nível de água esteve estável nas profundidades 9,12 m e
9,16 m nos furos 1 e 2, respectivamente.

3.2 – Mecanismos de reação

O aparato mobilizado exigiu a construção de quatro estacas de reação, escavadas a seco com trado
mecânico com 10m de comprimento e diâmetro 30cm. A Figura 3 ilustra o mecanismo de reação
empregado.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 – Prova de carga estática com estacas de reação (Geocimenta, 2014)

3.3 – Resultados da prova de carga estática em microestaca

A Figura 4 apresenta, juntamente ao ajuste preliminar por meio do Método das Duas Retas, os resultados
de prova de carga estática obtidos a partir do ensaio da microestaca E1.

Figura 4 – Curva carga x recalque para microestaca E1 e aplicação do Método das Duas Retas

Com o intuito de se prever a capacidade de carga do sistema solo-estrutura a partir da interpretação da


curva carga x recalque, aplica-se o método previsto pela NBR 6122 (ABNT, 2010), apontado por Cintra
(2010) como alternativa eficaz para a adequada interpretação de dados geotécnicos. Nesse sentido,
argumenta-se que o critério sugerido pela NBR-6122 postula que a carga de ruptura convencional
corresponde à interseção da curva carga x recalque com a reta que obedece à Equação 16:

r = (D / 30) + (P x L / A x E) [16]
Em que:
 r – recalque estimado;
 D – diâmetro da seção transversal;
 A – área da seção transversal;
 L – comprimento da fundação;
 P – carga que atua sobre a fundação;
 E – módulo de elasticidade do material da fundação.

A Figura 5, por sua vez, explicita o valor de 440 kN como estimativa da capacidade de carga da microestaca
E1, empregando a metodologia assinalada pela NBR 6122 (ABNT, 2010).

Figura 5 – Estimativa da capacidade de carga da microestaca E1 por meio da metodologia descrita pela NBR 6122
(ABNT, 2010)

4 – ANÁLISE DAS CURVAS CARGA X RECALQUE POR MEIO DE METODOLOGIA PROPOSTA POR
AMANN (2010)

A seguir, apresenta-se embasamento teórico responsável por embasar a metodologia matemática proposta
por Amann (2010) e aplicada à microestaca em estudo.

4.1 – Método das Duas Retas e Diagrama de Rigidez

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Com a finalidade de se analisar a influência do atrito lateral sobre fundações profundas avaliando o valor
do recalque elástico da fundação, Massad (2004 apud AMANN, 2010) propõe o Método das Duas Retas
como metodologia refinada para o estudo de curvas carga-recalque.

A Figura 6 sintetiza as expressões matemáticas relativas aos trechos explicitados de curva genérica carga-
recalque para obtenção de parcela de resistência resultante da mobilização de atrito lateral.

Figura 6 – Expressão gráfica do Método das Duas Retas (Massad, 2004)

Por outro lado, estudos realizados por Amann (2010) permitem traçar, no diagrama de rigidez, as equações
correspondentes aos trechos da curva carga x recalque, tendo por base a visão apresentada pelo Método
das Duas Retas e Leis de Cambefort Modificadas, conforme apresenta-se na Figura 7.

Figura 7 – Trechos da curva carga x recalque lançados no Diagrama de Rigidez (Amann, 2010)

4.2 – Aplicação da metodologia de Amann à microestaca E1

Amann (2010) propõe um método para ajuste matemático dos pontos de ensaio de prova de carga aos
trechos do modelo do Método das Duas Retas. Inicialmente, utiliza-se a Equação 17, por meio de
substituição da variável X = Po2 e da obtenção dos valores de c1 e c2 por regressão linear.

Y0 = c1 + c2 x Po2 [17]

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A Figura 8 apresenta o ajuste obtido no trecho 3–4 para a microestaca E1, com respectivo coeficiente de
correlação.

Figura 8 – Ajuste do trecho 3–4 para a microestaca E1

Os valores de c1 e c2 obtidos foram 0,183 mm e 2,17 x 10-5 mm/kN2, respectivamente.

O ajuste do trecho 4–5, de maior importância para análise geomecânica, pode ser observado na Figura 9.

Figura 9 – Ajuste do trecho 4–5 para a microestaca E1

Assinala-se também a obtenção dos coeficientes d1 e d2 nos valores de 412, 984 kN e 2,178 kN/mm, de
forma a compor a Equação 18. É fundamental afirmar que d1 representa o valor da resistência de atrito
lateral na ruptura, enquanto d2 define a rigidez relativa entre o solo e o material da ponta da fundação.

Po = d1 + d2 x yo [18]

A Figura 10 relaciona o comportamento inicial do ensaio de prova de carga, em que observa-se o ajuste
dos trechos 0–2 e 2–3, com seus respectivos coeficientes de correlação.

Figura 10 – Ajuste dos trechos 0-2 e 2-3 para a microestaca E1

Amann (2010) propõe ainda o ajuste dos resultados obtidos pelo diagrama de rigidez, que permite observar
a ampliação do comportamento de diferentes trechos da curva. A Figura 11 reúne as informações inferidas
nesta etapa de avaliação adicional.

687
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 11 – Ajuste dos trechos da curva carga x


recalque sobre o diagrama de rigidez

A Figura 11 permite também a simples observação dos ajustes matemáticos relativos a cada trecho da
curva carga x recalque sobre o Diagrama de Rigidez de Décourt. Nesse sentido, argumenta-se que a
sobreposição harmônica dos trechos 0-2, 2-3, 3-4 e 4-5 sobre o Diagrama de Rigidez conferem
confiabilidade às análises e ajustes efetuados.

5 – APLICAÇÃO DOS MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO GEOTÉCNICO À MICROESTACA E1

O Quadro 1 sintetiza os resultados obtidos por meio da aplicação dos métodos de dimensionamento
geotécnico explorados ao longo da seção 2 à microestaca E1. Vale destacar que os valores de diferença
expostos veiculam valor exato à capacidade de carga obtida por meio de realização de ensaio estático em
análise de curva recomendada pela NBR 6122. O valor aproximado refere-se às estimativas semiempíricas
obtidas por meio da aplicação dos diferentes métodos.

A Equação 19 demonstra fundamento de cálculo estatístico utilizado para apresentação final de resultados.

Diferença (%) = 100 % x (Valor aproximado – valor empírico) / valor empírico [19]

Quadro 1- Síntese dos resultados referentes à aplicação dos métodos de dimensionamento geotécnico à microestaca
E1
Método Atrito lateral (kN) Diferença (%) Capacidade de Diferença (%)
carga (kN)
FHWA - SLD 321,62 22,12 353,25 19,72
FHWA - LRFD 198,66 51,90 211,95 51,83
Lizzi 422,52 2,31 439,60 0,09
Bustam. e Doix 438,23 6,11 452,16 2,76
Eurocódigo 7 315,51 23,61 336,00 23,64
Aoki-Velloso 185,44 55,10 206,14 53,15
Décour-Quaresma 297,98 27,85 310,23 29,49
Cabral 288,64 30,11 327,06 25,67

Tomando-se por pressuposto de análise as diferenças percentuais acima assinaladas, pode-se argumentar
que dois dos mais célebres procedimentos utilizados em meios profissionais e acadêmicos brasileiros, isto
é, os métodos de Aoki-Velloso e de Décourt-Quaresma, apresentaram maior disparidade percentual.

Tal fato pode ser justificado, em primeiro exame, por conta da utilização de coeficientes não adequados
para as fundações ensaiadas: com a finalidade de melhor se simular o comportamento de microestacas,
foram utilizados parâmetros de estacas raízes em fundações escavadas. Apesar de convenientemente
espelharem a interação solo-estrutura nas fundações que constituem objeto deste estudo, o uso de
constantes atribuídas a estruturas injetadas não se aplica, de forma plena, a fundações escavadas.

Por outro lado, o método LRFD recomendado pela Federal Highway Administration exibiu diferenças
percentuais da ordem de 50%. Nesse sentido, é importante argumentar que a abordagem normatizada,
responsável por efetuar dimensionamentos ampliando as ações e reduzindo os valores de resistência
contribui em pouco para a discrepância de resultados. O mais coerente é afirmar que a obtenção de
parâmetros α, representativos do atrito mobilizado entre solo e estrutura, para solos norte-americanos,

688
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

não se aplica ao comportamento de microestacas assentes em solos tropicais. Raciocínio similar pode ser
aplicado ao método SLD da Federal Highway Administration.

O método de Cabral, com diferenças percentuais da ordem de 25%, proporcionou resultados coerentes
com seu enfoque. A despeito de ser originalmente concebido para fundações injetadas, tal procedimento
oferece possibilidade de análise em estacas construídas com pressão nula. Os coeficientes semiempíricos,
que refletem tipologia geológica, formato e dimensões da fundação atuam no sentido de diminuir a falta
de adequabilidade do procedimento a microestacas.

Os resultados obtidos quando da aplicação do Eurocódigo 7 revelaram relativa precisão, não obstante
variações geológicas não detectadas pelos procedimentos de investigações geotécnicas. Contribui para tal
aspecto o fato de que os procedimentos recomendados pelos códigos europeus, no que tange a Engenharia
de Fundações, são direcionados ao projeto, concepção e execução de microestacas, sem a necessidade de
adaptação de coeficientes e parâmetros estatísticos. Todavia, encontra-se um limitante na obrigação da
utilização de inputs provenientes de ensaio pressiômétrico, pouco difundido no meio profissional brasileiro,
haja vista amplo emprego de testes in situ do tipo SPT. Como agravante, cita-se a necessidade de uso de
modelos empíricos para conversão de resultados de índice de resistência à penetração para pressão líquida
equivalente de projeto, o que em si contribui para desenvolvimento de erro nos parâmetros de entrada.

As análises desenvolvidas a partir dos métodos previstos por Bustamante e Doix, bem como pelo
procedimento de Lizzi, revelaram menores diferenças percentuais quando comparados a outras
metodologias de projeto. Essencialmente, isso se deve à disponibilização de coeficientes adequados ao
comportamento de microestacas, haja vista prévio estudo estatístico de provas de carga estáticas e
dinâmicas, responsáveis por propiciarem surgimento dos métodos.

Desse modo, frisa-se que, além de modelos que levem em consideração o modo de execução e
características geométricas de fundações, é de fundamental importância que parâmetros estatísticos
resultantes de ensaios executados em microestacas sejam perseguidos através de extensa pesquisa
científica em diferentes tipos de solo. Nesse sentido, torna-se imperativo apreender que o adequado
funcionamento de modelos geotécnicos e estruturais é governado por leis que, em essência, devem refletir
o apropriado comportamento geomecânico da interface solo-estrutura.

Por outro lado, a aplicação das equações propostas por Amann (2010) revelaram que, quando comparada
ao resultado de capacidade de carga, a estimativa de atrito lateral sugere que uma considerável parcela
de resistência da microestaca é suportada por resistência ao atrito mobilizado ao longo do fuste. Infere-se
que, na microestaca E1, 94% do carregamento é resistido por atrito lateral. Tal resultado aponta para o
comportamento de fundações flutuantes, típicas em fundações profundas de pequeno diâmetro.

6 – RESULTADOS DE MODELAGEM GEOTÉCNICO-COMPUTACIONAL

A modelagem geotécnico-computacional da microestaca ensaiada, por meio do programa Rocscience,


revelou estimativa de capacidade de carga de 451,99 kN e resistência por atrito lateral de 422,97 kN. É
conveniente afirmar que tais valores corroboram os resultados de 440 kN e 413 kN, obtidos
experimentalmente pela execução de prova de carga estática, haja vista diferenças percentuais, para
capacidade de carga e atrito lateral, de 2,73% e 2,66%, respectivamente.

A Figura 12 sintetiza parte dos inputs introduzidos no modelo computacional.

Figura 12 – Parte dos inputs introduzidos no modelo computacional

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A Figura 13, por sua vez, exibe uma previsão dos desenvolvimentos de recalques na microestaca E1.

Figura 13 – Previsão do desenvolvimento de recalques a microestaca E1

7 - CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente projeto de pesquisa permitiu que se conclua que não existem, em meio
técnico ou profissional, métodos de dimensionamento geotécnico aplicáveis a microestacas assentes em
solos em tropicais que satisfaçam plenamente critérios econômicos e de segurança.

Nesse sentido, assinala-se que o uso dos resultados obtidos no presente relatório, provenientes da
aplicação de difeferentes métodos de projeto, juntamente ao emprego das Equações de Amann (2010), à
modelagem geotécnico-computacional e à Metodologia Semiempírica Unificada, atuam no sentido de
fomentar propostas de caráter geotécnico e estatístico que possibilitem desenvolvimento de novo
procedimento de projeto para concepção de microestacas assentes em solos tropicais.

Registra-se, todavia, que o objetivo final deste projeto de pesquisa é objeto de longo prazo e requer novos
trabalhos científicos atuando em linhas de pesquisa relacionadas à modelagem computacional, execução
de provas de carga e análise de métodos semiempíricos para ser plenamente atingido.

REFERÊNCIAS

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Amann, K. P. A. (2010) Metodologia semiempírica unificada para a estimativa da capacidade de carga de estacas. São
Paulo.

Aoki, N. e CINTRA, J. C. A. (2010). Fundações por estacas, projeto geotécnico. São Paulo: Editora Oficina de Textos.

Aoki, N. e CINTRA, J. C. A. (2010) - ALBIERO, J. Fundações diretas, projeto geotécnico. São Paulo: Editora Oficina de
Textos.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - Une méthode pour le calcul des tirants et des micropieux injectés - Bulletin de
Liaison des laboratoires des ponts et chaussées, Paris.

Cabral, D.A. (1986) - O uso da estaca raiz como fundação de obras normais. In: Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia de Fundações, 8, 1986, Porto Alegre. Anais, COBRAMSEF VIII. Porto Alegre: ABMS, v.6.

Cintra, J. C. A. (2010) - Ensaios estáticos e dinâmicos. São Paulo. Editora Oficina de Textos .

Comitê Europeu de Normatização (CEN), Execution of special geotechnical works – Micropiles (pr EN 14199:2001), Junho
de 2003, Milão.

De Lima, L.C. (2008) - Análise de Provas de Carga realizadas em microestacas utilizadas no reforço das fundações de
uma ponte histórica do Recife – PE. Tese de Mestrado da Universidade Federal de Pernambuco – Recife.

Federal Highway Administration, US Department of Transportation (2000) - Micropile Design and Construction Guidelines.
EUA

690
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Geocimenta (2017) - Provas de carga em fundações profundas, www.geocimenta.com, acesso em dezembro de 2017.

Lizzi, F. (1985) - The pali radice (root piles)- a state-oftheart report. In: Symposium on recent developments in ground
improvement techiniques, Bangkok. Rotterdam: A. A. Balkema, p.417- 450.

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de Maceió, Alagoas. Revista Solos e Rochas, São Paulo, v.27, n.3, p. 243 – 260.

Teixeira, A.C.C.L. (2014) - Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocódigos 3 e 7. Tese de Mestrado da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – Porto.

US DEPARTMENT OF TRANPORTATION – FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION (FHWA) (2000). Micropile Design and
Construction Guidelines – EUA.

691
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANTECIPAÇÃO DO RMR EM DOIS TIPOS DE MACIÇOS - METASSEDIMENTAR E


GRANÍTICO

ESTIMATION OF RMR VALUE IN TWO TYPES OF ROCK MASS -


METASSEDIMENTARY AND GRANITIC

Santos, Vítor; Geoárea, Alfragide, Portugal, silva.santos@gmail.com


Silva, Paula F. da; GeoBioTec & Departamento Ciências da Terra - Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade NOVA de Lisboa (FCT NOVA), Caparica, Portugal, apfs@fct.unl.pt
Brito, M. Graça; GeoBioTec & Departamento Ciências da Terra FCT NOVA, Caparica, Portugal,
mgb@fct.unl.pt

RESUMO

O conhecimento e antecipação da qualidade do maciço rochoso ao longo da escavação de um túnel é


relevante para o sucesso da escavação em condições de estabilidade e segurança, garantido o respeito
pelos prazos e custos financeiros previstos. A qualidade do maciço rochoso é frequentemente avaliada
pelo valor de RMR (Bieniawski, 1989) e a sua estimação em avanço permite antecipar cenários, analisar
os riscos geotécnicos envolvidos e adequar os procedimentos construtivos. Recorrendo a um estudo
geoestatístico deste índice, compara-se a qualidade de dois tipos de maciços rochosos, um granítico e
outro metassedimentar, durante a escavação de túneis, assim como a capacidade de modelar em
antecipação, por krigagem normal, essa mesma qualidade. Esta comparação permite tecer considerações
sobre a aplicabilidade dos métodos de estimação geoestatística para antecipar mudanças de qualidade do
terreno na construção de túneis e em que medida a litologia condiciona essa análise.

ABSTRACT

The knowledge and anticipation of the quality of the rock mass in tunneling is relevant for the success of
the construction work ensuring its stability and security as well as keeping the construction in time and in
budget. The quality of the rock mass is usually assessed by the RMR index (Bieniawski, 1989) and its
estimation in advance allows to analyze the inherent geotechnical risks, anticipating scenarios and
adjusting the construction methods. In the framework of drill and blasting tunneling for two hydropower
schemes, in granite and metasedimentary rock masses, the quality of those rock masses is evaluated
through forecasting their RMR value by using ordinary kriging and also comparing the error of modelling
it. This methodology allows to consider the applicability of geostatistical estimation methods to anticipate
changes in ground quality during tunneling and to what extent the lithology conditions this analysis.

1- INTRODUÇÃO

O conhecimento da qualidade do maciço rochoso presente ao longo da escavação de um túnel é relevante


para o sucesso da construção em condições de estabilidade e segurança, bem como para o cumprimento
dos prazos e custos financeiros previstos.

No projeto de empreendimentos, em particular no caso dos aproveitamentos hidroelétricos, a


componente geológica é um dos diversos fatores relevantes tidos em consideração nas análises de
soluções alternativas, definição de pressupostos e desenvolvimento do projeto.

Na construção destas estruturas, a presença de um maciço heterogéneo e consequentemente com


qualidade variável implica que, na fase de projeto, se considerem vários tipos de sustimento, e que
fiquem disponíveis os diferentes tipos de equipamento para a sua aplicação na fase construtiva. Às vezes,
a heterogeneidade e especificidade das situações encontradas durante a escavação implicam ainda a
necessidade de adequar os procedimentos construtivos.

As classificações geomecânicas permitem categorizar a qualidade de um maciço rochoso e acompanhar,


na fase construtiva, a sua variação ao longo do alinhamento do túnel. A antecipação dessa qualidade
durante uma escavação em subterrâneo, nomeadamente recorrendo a explosivos, permite determinar os
riscos potenciais envolvidos e adequar, atempadamente, os métodos construtivos, garantindo a
estabilidade, a segurança e a otimização de recursos.

Segundo Castro-Fresno et al. (2010), de entre as classificações geomecânicas mais utilizadas em todo o
mundo destaca-se a de Bieniawski (1989) e o sistema Q, verificando-se que ambas não consideram a
tipologia do maciço em que são aplicadas. A primeira classificação permite a determinação do valor de

692
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

RMR, o qual representa a qualidade do maciço rochoso numa escala de 0 a 100, tornando-a portanto
mais amigável de ser utilizada. Na sua aplicação a túneis, o valor de RMR tem sido alvo de estimação por
diversos autores, com base em resultados quer de sondagens, quer de estudos geofísicos e de
reconhecimentos de superfície (Barla et al., 1987; Ryu et al., 2003; Oh et al., 2004; You e Lee, 2006;
Stavropoulou et al., 2007; Choi et al., 2009; Yi et al., 2014; Pinheiro et al., 2016). Existem ainda outros
investigações (Exadaktylos e Stavropoulou, 2008; Santos et al., 2014) que visaram, com base no índice
RMR, antecipar a qualidade do maciço rochoso na frente de escavação.

A maioria destes estudos recorreu a métodos geoestatísticos para estimar os valores de RMR,
verificando-se que existem limitações à sua utilização em terrenos heterogéneos, uma vez que os
modelos não conseguem reproduzir, com rigor, variações bruscas na qualidade do maciço, como por
exemplo as decorrentes da presença de filões, de falhas ou de zonas tectonizadas (Kaewkongkaew et al.
2015).

Neste contexto e considerando a problemática do estudo do volume elementar representativo de um


dado maciço rochoso, isto é, do efeito de escala e da representatividade da amostragem, na escavação
em subterrâneo sob condições geológicas e geotécnicas variáveis, impõe-se a discussão da influência do
contexto geológico na qualidade do maciço rochoso e na capacidade dos modelos anteciparem a sua
variação ao longo do alinhamento do túnel. Ao analisarem um túnel com trechos em contextos geológicos
distintos, Olivença e Santos (2014) focam o aspeto da sua influência nos valores de RMR, realçando que
o peso de cada característica do maciço pode variar com a geologia.

O objetivo do presente artigo é recorrer a um estudo geoestatístico do RMR, por krigagem normal, e
comparar a qualidade de dois tipos de maciços rochosos, um granítico e outro metassedimentar, durante
a escavação de túneis, e avaliar a eficiência destes modelos em preverem essa mesma qualidade
conferindo os resultados dos valores de RMR reais versus estimados. Esta metodologia permite ainda
tecer considerações sobre a eventual influência da litologia nessa análise.

2- METODOLOGIA

A metodologia selecionada consiste na análise dos resultados da estimação dos valores de RMR para o
avanço seguinte de uma escavação subterrânea em dois maciços rochosos diferentes - um granítico e
outro metassedimentar; estes valores são depois comparados com os valores reais obtidos durante a
obra. Os dois túneis foram escavados com recurso a explosivos e foram realizados por avanços
sucessivos com comprimentos dependentes das respetivas características mecânicas.

Para o efeito é desenvolvido um novo modelo que, recorrendo a krigagem normal, inclui todos os valores
de RMR dos avanços anteriores e estima-se o valor deste índice para o avanço seguinte, conforme se
representa na Figura 1. Do exposto ressalta que esta metodologia não pode ser utilizada para a zona dos
emboquilhamentos, na medida em que têm de existir trechos previamente escavados para se poder
efetuar a estimação geoestatística para o avanço seguinte.

Figura 1 - Esquema de previsão da qualidade do terreno para o trecho a escavar (Santos et al., 2014)

Concretizando, recorreu-se a um programa da especialidade para aplicação da krigagem. Pela


metodologia de estimação descrita, todos os valores do índice RMR observados até à frente de escavação
n servem de base ao cálculo do semivariograma experimental, de forma a determinar o seu
desenvolvimento espacial. Por este método, o semivariograma de um determinado parâmetro - no caso o
valor de RMR, pode ser específico para cada direção do espaço no maciço rochoso; no entanto e num
túnel, este fenómeno assume contornos menores, uma vez que interessa estudar o comportamento da

693
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

variável ao longo do respetivo alinhamento. Como tal e para simplificação, admitiu-se que o túnel se
desenvolvia sempre com a mesma direção.

Do semivariograma experimental, resulta a equação da curva que melhor ajuste apresenta aos resultados
observados, tendo por base o modelo esférico. Com o modelo definido é possível estimar os valores de
RMR para além da frente n em observação, até onde se registaram as características do maciço que
definiram a sua qualidade; isto significa que não se efetua uma interpolação de valores, mas uma
extrapolação; contudo, ela é realizada ainda dentro da extensão máxima de correlação dos valores
definidos no semivariograma, obtendo-se deste modo o valor de RMR para o trecho seguinte, (n+1), a
escavar.

Com o avanço sucessivo da escavação é possível observar o maciço, classificá-lo e determinar o valor de
RMR real. Este valor é então comparado com o estimado, em antecipação, para o mesmo trecho pelo
modelo matemático e calcula-se o erro absoluto da estimação.

Os resultados obtidos, quer dos valores de RMR observados e estimados, quer do erro, são comparados
entre os dois casos de estudo, ainda que estejam inseridos em contextos geológicos diferentes.

3- CASOS DE ESTUDO: ENQUADRAMENTO

Os dois túneis selecionados correspondem a dois reforços de potência de aproveitamentos hidroelétricos


já em exploração há vários anos. Correspondem a locais onde já existiam outros circuitos hidráulicos e,
portanto, um conhecimento prévio das características dos correspondentes maciços que permitiu
selecionar adequadamente os novos alinhamentos para implementação das novas estruturas.

Os casos de estudo selecionados são:

 Aproveitamento Hidroelétrico de Alqueva (AHA) - localizado num maciço metassedimentar;

 Aproveitamento Hidroelétrico de Picote (AHP) - localizado num maciço granítico.

Estes dois casos de estudo inserem-se em contextos geológicos regionais distintos, com história
geológica diversa, nomeadamente foram afetados por diferentes fases orogénicas ou com diferentes
intensidades, situando-se um no Norte e outro no Sul de Portugal.

O Aproveitamento Hidroelétrico de Alqueva localiza-se no SE de Portugal Continental e enquadra-se na


região morfoestrutural da Zona de Ossa Morena. As litologias ocorrentes derivam de evolução
metamórfica complexa e forte deformação tangencial, inserida no setor Moura-Ficalho do domínio Évora-
Beja - Figura 2.

Figura 2 - Infografia do enquadramento geológico do Aproveitamento Hidroelétrico de Alqueva

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(adaptado de Oliveira et al., 1992)

A estrutura tectónica presente à escala regional resume-se a um antiforme resultante do empilhamento


de carreamentos sucessivos originados pela Orogenia Varisca.

O local conta com a presença de rochas verdes da Série Cristalofílica, azóica (Barros et al., 1970),
também conhecidos por Xistos de Moura e que, mais recentemente, foram designadas por Complexo
Vulcano Sedimentar de Moura-Santo Aleixo (Araújo et al., 2006). Nos estudos de projeto realizados pela
COBA (2007), a geologia interessada foi descrita como uma sucessão interestratificada de
metavulcanitos, onde predominam os tufos e as lavas de natureza bimodal, e os metassedimentos
constituídos por xistos, filitos e rochas carbonatadas marmorizadas. Estas litologias correspondem às
seguintes unidades do complexo vulcano-sedimentar:

 Unidade constituída por filádios, que não é intersectada pela obra, e correspondem a bancadas de
espessura variada, desde milimétrica a métrica, de granularidade igualmente variável, com
tonalidades cinzentas a acastanhadas e brilho acetinado.

 Unidade constituída por xistos verdes que se apresenta em bandas estratiformes, maciças ou
laminadas, intercalados por estreitas camadas lenticulares de mármore branco. Ocorrem ainda às
vezes bancadas pouco espessas de filádios, de composição siliciosa e sericítico-clorítica.

 Unidade constituída por xistos verdes geralmente bastante deformados, com espessura de alguns
decímetros, interdigitados de quartzo. Normalmente ocorrem no prolongamento de falhas, sem
que tenham sido considerados como material constituinte das respetivas caixas.

Nas imediações da obra foram ainda identificadas rochas filoneanas, com particular destaque para
quartzo que ocorre em filonetes de pequena expressão, em lentículas de geometria sigmóide e a
preencher as principais falhas. Foi ainda identificado um filão felsítico a preencher uma falha de atitude
WNW, 70ºNE, com comprimento de 1m e uma espessura de 0,2 m.

As descontinuidades presentes têm uma atitude e indícios de movimentação que levam a concluir ser
herdadas da Orogenia Varisca, mas reativadas pela Orogenia Alpina. As bancadas que constituem o
maciço (S0) encontram-se bem marcadas pelas intercalações das diferentes litologias e assumem uma
disposição de 315º, 5º-40ºN. A estratificação (S1) varia com o tipo litológico, apresentando nos estratos
mais finos um fabric planar, habitualmente designado como xistosidade e, nos mais grosseiros, é
materializado pela presença de descontinuidades penetrativas. Nas dobras, a xistosidade materializa o
respetivo plano axial com atitude média 295º, 18ºN.

O Aproveitamente Hidroelétrico de Picote localiza-se no NE de Portugal continental e em termos


geológicos insere-se no Maciço Hespérico e na Zona Centro-Ibérica (Ribeiro, 2006). Segundo Pereira et
al. (2000) e Gomes e Alencoão (2005), situa-se em terrenos formados durante a Orogenia Hercínica, no
final do Paleozóico, e que correspondem a diversas intrusões magmáticas de que resultaram vários
granitóides, como é testemunho o de Picote. Esta unidade é designada por “Granito de grão médio,
porfiróide, de duas micas (Picote, Bemposta)”.

Segundo o estudo geológico-geotécnico realizado para o projeto da obra (EDP, 2006), na região - Figura
3, encontram-se ainda presentes outras três grandes unidades litológicas:

 As formações do Câmbrico Inferior;

 As formações do Câmbrico Médio;

 As formações Magmáticas Intrusivas Ante-hercínicas.

695
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 - Infografia do enquadramento geológico do Aproveitamento Hidroelétrico de Picote (adaptado de Gomes e


Plaza, 2006)

4- RESULTADOS

No caso do AHA registaram-se 247 avanços de escavação, correspondendo a um comprimento acumulado


de 713 m, ao longo dos quais se realizou a caracterização geotécnica do maciço que permitiu determinar
os valores de RMR.

A Figura 4 resume a descrição estatística para os valores de RMR observados, verificando-se a presença
de um maciço com valor médio de RMR de 64, mas onde o intervalo mais representado corresponde a
índices de 70-75.

Figura 4 - AHA: estatística descritiva dos valores do índice RMR observados

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A estimação da qualidade do maciço para o avanço seguinte da escavação recorrendo a krigagem normal
revela valores próximos dos observados, com dispersão idêntica ao longo de toda a escala do índice de
RMR - Figura 5.

100

90

80

70

60
RMR estimado

50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
RMR observado

Figura 5 - AHA: RMR estimado e RMR observado

Na Figura 6 é possível observar o erro em função do RMR observado, constatando-se que a amplitude de
valores do erro é idêntica ao longo de toda a escala do RMR; no entanto, ele tende a ser negativo para a
metade inferior da escala do RMR, indicando que os valores são sobre-estimados, verificando-se uma
situação inversa na metade superior da escala de RMR.

25

20

15

10

5
Erro

-5

-10

-15

-20

-25
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
RMR observado

Figura 6 - AHA: Erro em função do RMR observado

No caso do AHP, a descrição estatística dos valores de RMR, obtidos nos 572 avanços de escavação e
registados ao longo de 1635 m de túneis e galerias, revelam um maciço de qualidade moderada a boa,
com um valor de RMR médio de 65 e com maior representação no intervalo entre 50 e 75 - Figura 7.

A estimação da qualidade do maciço para o avanço seguinte da escavação recorrendo a krigagem normal
revela uma dispersão de valores fraca, ou seja, o RMR estimado é semelhante ao RMR observado - Figura
8.

Na Figura 9 é possível observar a distribuição do erro em função do RMR observado, constatando-se


resultados idênticos aos verificados para o AHA. A amplitude de valores do erro é idêntica ao longo de
toda a escala do RMR; mais uma vez, o erro tende a ser negativo para a metade inferior da escala de

697
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

RMR, indicando que os valores são sobre-estimados, e situação inversa ocorre na metade superior dessa
escala.

Figura 7 - AHP: estatística descritiva dos valores do índice RMR observados

100

90

80

70

60
RMR estimado

50

40

30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
RMR observado

Figura 8 - AHP: RMR estimado e RMR observado

698
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

25

20

15

10

5
Erro

-5

-10

-15

-20

-25
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
RMR observado

Figura 9 - AHP: Erro absoluto em função do RMR observado

5- DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Tendo por base os resultados revelados anteriormente, assim como os sintetizados no Quadro I, verifica-
se que, apesar de pertencerem a diferentes contextos geológicos, a qualidade do maciço rochoso,
representado pelo índice RMR, é semelhante. Em ambos os casos, os valores de RMR registados seguem
uma distribuição centrada, com médias e medianas idênticas. Observa-se um valor de RMR médio
próximo de 65 e a amplitude de valores máximos, mínimos e desvios padrão, também são idênticos.

Quadro 1- Comparação dos resultados de AHA e AHP


RMR observado RMR estimado Erro absoluto
AHA AHP AHA AHP AHA AHP
Número de
247 572 247 572 247 572
avanços
Média 63 65 64 65 0 0
Máximo 91 91 91 88 21 20
Mínimo 28 33 31 34 -18 -24
Desvio
12 12 12 11 6 6
padrão

Em ambos os casos o erro na estimação dos valores de RMR para o avanço de escavação seguinte,
também é semelhante – em média, o valor não difere e, para a maioria das situações, as diferenças são
inferiores a 6 pontos da classificação, embora ocorram situações pontuais onde essa diferença vai além
de 20.

Verifica-se que o método sobre-estima a qualidade do maciço nas zonas de pior qualidade, pelo que deve
ser utilizado com cautela neste contexto.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado insere-se no âmbito de uma investigação mais alargada ligada à gestão do risco
geotécnico na construção de túneis por desmonte com explosivo em maciços rochosos (Santos, 2016) e
revela que, nos dois casos de estudo apresentados, a qualidade do maciço para a escavação de túneis
num contexto metassedimentar é em média idêntica à de um maciço granítico. Sublinha-se assim que
que nestes casos, a litologia é irrelevante na qualidade média do maciço rochoso, quando caracterizada
pelo índice RMR.

A metodologia utilizada para a estimação da qualidade do maciço, avaliada pelo RMR nas frentes de
avanço, apresentou valores muito próximos dos valores observados na frente, independentemente da
tipologia e contexto geológico do maciço. Pelo exposto propõe-se que ela seja utilizada para a estimação
da qualidade de maciço rochosos nas frentes de escavação de túneis, independentemente do contexto
geológico em que estas se insiram; contudo, esta aplicação deve ser cautelosa em zonas com qualidade
inferior à média/moda, na medida em que nestas situações a krigagem tende a sobre-estimar a
qualidade do maciço.

699
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à EDP Produção pela autorização concedida para utilizar os dados recolhidos no
âmbito do trabalho de execução das suas obras.

Um agradecimento de Vítor Santos à GEOÁREA por possibilitar a realização do presente artigo.

O trabalho desenvolvido no GeoBioTec teve o apoio do projeto UID/GEO/443 04035/2013.

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701
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ANTEVISÃO DA EN ISO 22477-5 ENSAIOS DE ANCORAGENS NO TERRENO

FORESIGHT OF EN ISO 22477-5 TESTING OF GROUTED ANCHORS

Carvalho, Mariana; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, marc@lnec.pt


Pina, João; Teixeira Duarte, Engenharia e Construções S.A, Oeiras, Portugal, jsp@teixeiraduarte.pt

RESUMO

Na EN 1537:2013, recentemente publicada em Portugal como NP EN 1537:2016, os ensaios de carga de


ancoragens no terreno, anteriormente integrados na EN 1537:1999, passam a ser remetidos para a EN
ISO 22477-5. Esta norma encontra-se em preparação e conta com os elementos do grupo de trabalho
WG3 da ISO/TC182, no qual os autores participam como membros especialistas. Neste contexto,
realiza-se uma abordagem sucinta dos conteúdos da norma de ensaios de carga de ancoragens no
terreno, bem como uma antevisão da sua aplicação em Portugal. Apresenta-se, igualmente, uma análise
dos procedimentos dos ensaios relativamente aos preconizados na EN 1537:1999, e uma análise crítica
aos diferentes métodos de ensaio propostos, bem como dos respetivos critérios de validação dos
resultados, confrontando-os com o disposto na EN 1997-1.

ABSTRACT

With the publication of EN 1537:2013, recently published in Portugal as NP EN 1537:2016, the code of
practice for load tests on ground anchors, which was previously subject to EN 1537:1999, will now be
replaced by EN ISO 22477-5. This standard is still under development by the workgroup WG3 from
ISO/TC182, in which the authors participate as experts. In this context, this paper outlines the contents
of the new standard regarding load tests on grouted anchors and its application in Portugal. It also
presents a comparison between the new test procedures and the previous recommendations on EN
1537:1999, as well as a critical analysis of the new proposed methods and their respective criteria for
validation, which will also be compared to EN 1997 1.

1- INTRODUÇÃO

Entre 1999 e 2013 a temática de ancoragens no terreno encontrava-se normalizada, a nível europeu, na
EN 1997-1:1999 “Projeto geotécnico - Parte 1: Regras gerais” (e sucessivas revisões, adendas e
emendas até 2009) e na EN 1537:1999 “Execução de obras geotécnicas especiais – Ancoragens no
terreno”. A EN 1997-1 estabelecia diretrizes gerais de dimensionamento e de ensaio de ancoragens no
terreno, sendo os requisitos particulares de execução, dimensionamento e ensaio definidos na EN
1537:1999. Em 2013, com a publicação da emenda EN 1997-1:2004/A1:2013, a normalização
respeitante a ancoragens no terreno foi globalmente revista, passando a integrar três normas: a EN
1997-1; a EN 1537:2013; e a EN ISO 22477-5 “Reconhecimento e ensaios geotécnicos – Ensaios de
Estruturas geotécnicas – Parte 5: Ensaio de ancoragens no terreno”. Assim, a: i) EN 1997-1 define os
requisitos de dimensionamento de ancoragens no terreno, incluindo os limites da carga de ensaio e os
critérios de aceitação dos resultados dos ensaios de carga (que passaram a poder ser especificados em
Anexo Nacional ou em documentos nacionais similares no caso de países ISO); ii) EN 1537:2013 (em
português, NP EN 1537:2016) integra a execução de ancoragens no terreno; e iii) EN ISO 22477-5,
quando publicada, estabelecerá as especificações para os ensaios de carga de ancoragens no terreno,
sobrepondo-se a qualquer referência aos ensaios apresentada na EN 1537.

A implementação das alterações referenciadas introduziu, na maioria dos países europeus, um vazio
normativo no referente aos ensaios de carga em ancoragens no terreno. Antevê-se solucionar esta
situação, a curto prazo, com a publicação da EN ISO 22477-5, que está prevista para 2018. Este
documento, em preparação, conta com a colaboração dos elementos do grupo de trabalho WG3 da
ISO/TC 182, no qual os autores participam como membros especialistas. Neste contexto, para a
divulgação da EN ISO 22477-5, respeitante aos ensaios de carga de ancoragens no terreno, apresenta-se
neste artigo uma abordagem sucinta dos seus conteúdos, bem como uma antevisão da sua aplicação em
Portugal. Efetua-se, igualmente, uma análise comparativa dos procedimentos de ensaio relativamente
aos preconizados na EN 1537:1999, e uma análise crítica dos métodos de ensaio propostos e dos
respetivos critérios de validação, confrontando-os com o disposto na EN 1997-1.

A estrutura deste artigo é, no geral, similar à da EN ISO 22477-5, sendo que no início se abordam os
principais requisitos de execução das ancoragens de ensaio e as especificações para os equipamentos de
ensaio e de medição. Descrevem-se os três tipos de ensaio (ensaio prévio, de adequabilidade e de
receção) e os três métodos de ensaios preconizados (Método 1, Método 2 e Método 3), em conformidade

702
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

com o disposto na EN 1997-1. Abordam-se, igualmente, os programas de ensaio, bem como a forma de
apresentar e interpretar os seus resultados, dando maior relevo à aplicação do Método 1, por ser o que
se prevê que virá a ser adotado em Portugal. Finalmente apresenta-se uma antevisão da aplicação da
norma EN ISO 22477-5, em Portugal.

2- EXECUÇÃO DE ANCORAGENS DE ENSAIO

Os requisitos de execução das ancoragens constam da EN 1537:2013. As ancoragens destinadas à


realização de ensaios prévios não devem, ao contrário das destinadas aos ensaios de adequabilidade e de
receção, fazer parte de obras definitivas, isto é, da estrutura, mas deve garantir-se que são executadas
com a mesma tecnologia que a das ancoragens de serviço e que o diâmetro do furo e a dimensão dos
outros componentes são os mesmos. Contudo, é admissível o aumento da capacidade da armadura. Nas
situações em que este aumento não seja possível, poderá recorrer-se ao ensaio de ancoragens com
comprimentos de selagem mais curtos, desde que não se compare diretamente o comportamento destas
ancoragens de ensaio com o das ancoragens de serviço.

Considera-se relevante referir que os procedimentos de execução das ancoragens condicionam o seu
comportamento. Como exemplo, a posição inadequada da armadura no furo e/ou na zona da cabeça
poderá resultar em problemas de atrito. Outra anomalia poderá estar associada com as injeções na
selagem, que poderão resultar numa capacidade de carga inferior à de projeto ou, ainda, em questões
associadas a problemas inadequados de proteção contra a corrosão. A supervisão e a avaliação dos
ensaios devem ser efetuadas por técnico competente e experiente na tecnologia de ancoragens.

3- EQUIPAMENTO E MONTAGEM

3.1 - Sistema de ensaio


O sistema de ensaio de carga (Figura 1) é constituído pelo sistema de reação, pelo sistema de aplicação
de carga e pelos dispositivos de medição e registo de cargas, pressões, deslocamentos, tempo e
temperatura. Todo o sistema deverá ser dimensionado em função dos objetivos pretendidos,
nomeadamente considerando o tipo e o método de ensaio, sempre de forma a operar em segurança
durante o ensaio.

Figura 1 – Componentes comuns num sistema de ensaio

A calibração do equipamento não deve exceder os 12 meses à data de utilização. Os respetivos


certificados de calibração devem estar sempre acessíveis em obra para consulta.

3.2 - Sistema de reação

O sistema de reação deverá ser dimensionado respeitando as normas europeias revelantes e por forma a
não induzir no terreno tensões excessivas que possam resultar em deformações ou deslocamentos
prejudiciais ao ensaio. O sistema de reação poderá ser instalado antes ou após a execução da
ancoragem. Em qualquer dos casos, a sua execução e montagem deverá garantir que o sistema de
reação não transfere carga entre a estrutura de reação e a ancoragem, isto é, são solicitados de forma
independente. Adicionalmente, o sistema deverá garantir a ortogonalidade entre o sistema de aplicação
de carga e a armadura.

3.3 - Sistema de aplicação de carga

O sistema de aplicação de carga é constituído por macaco hidráulico, bomba hidráulica e demais
acessórios necessários ao seu bom funcionamento. O sistema selecionado deverá ter capacidade e curso
do êmbolo que permitam atingir a carga máxima de ensaio em segurança e de modo contínuo, sem

703
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

recurso a manobras de recolha do êmbolo. A capacidade do sistema de aplicação de carga para tracionar
a armadura deverá ser pelo menos 10% superior ao valor da carga máxima de ensaio.

3.4 - Dispositivos de medição

3.4.1 - Dispositivos de medição de carga

Dependendo do tipo e do método de ensaio adotado, a medição da carga poderá ser: i) indireta, por
registo de pressão no sistema de aplicação de carga, com recurso a um manómetro instalado na bomba
ou no macaco hidráulico; ii) direta, através de célula de carga instalada na cabeça da ancoragem, entre o
macaco hidráulico e o sistema de reação; ou iii) indireta e direta.

O dispositivo de medição de carga deverá ter uma exatidão mínima de 1% do valor da carga de ensaio
ou de 10 kN, consoante o maior. No entanto, recomenda-se a utilização do menor valor.

Embora a norma não especifique claramente onde se deve efetuar a medição da carga, considera-se que,
particularmente nos Métodos 1 e 3, para os ensaios prévios e de adequabilidade, se proceda ao registo
da pressão no sistema de aplicação de carga preferencialmente no macaco hidráulico e ao registo da
carga através de célula instalada na cabeça da ancoragem. Para os ensaios de receção considera-se
admissível proceder apenas ao registo da pressão no sistema de aplicação de carga desde que tenha sido
possível documentar e correlacionar, a partir dos ensaios prévios ou de adequabilidade, os registos de
pressão do macaco hidráulico com os registos de carga da célula de carga.

3.4.2 - Dispositivos de medição de deslocamentos

Todos os dispositivos de medição dos deslocamentos devem ter uma precisão de pelo menos 0,50 mm,
para a medição dos deslocamentos entre patamares de carga, e de 0,01 mm para a medição dos
deslocamentos no patamar de carga, particularmente para a observação dos comportamentos de
fluência. Devem ser instalados dispositivos de medição que permitam o registo dos deslocamentos da
extremidade da armadura da ancoragem, do sistema de reação e do curso do êmbolo do macaco
hidráulico. Os dispositivos de medição dos deslocamentos, da armadura da ancoragem e do sistema de
reação, devem estar suficientemente afastados dos sistemas de aplicação de carga e de reação, de forma
a não serem influenciados por estes, e deverão ter capacidade de fornecer dados de forma contínua, sem
necessitar de serem zerados no decorrer do ensaio.

Para minimizar os erros decorrentes dos efeitos dos agentes externos, considera-se importante proteger
o local, durante os ensaios, da ação direta do sol, do vento, da chuva e da neve. É igualmente importante
que não circule equipamento pesado junto do local do ensaio, nem que decorram trabalhos que
introduzam vibrações.

3.4.3 - Dispositivos de medição de tempo e de temperatura

Os dispositivos de medição de tempo e de temperatura devem ter uma precisão de 1 segundo e de pelo
menos 1ºC, respetivamente. Os autores alertam para a importância do registo da temperatura ao longo
de todo o ensaio particularmente como forma de despiste de comportamentos anómalos induzidos pelas
variações térmicas nos dispositivos de medição de carga e de medição de deslocamentos.

4- TIPOS DE ENSAIO

4.1 - Generalidades

O tipo e o número de ensaios de carga a executar encontram-se definidos na EN 1997-1:2004/A1: 2013.


Esta norma impõe que apenas se podem usar ancoragens em que: i) o dimensionamento e construção
tenham sido verificados com ensaios prévios ou de adequabilidade, executados de acordo com a EN ISO
22477-5; ou ii) por experiência comparável. Impõem ainda que todas as ancoragens sejam submetidas a
ensaios de receção antes da blocagem e antes de entrarem em serviço. Os objetivos de cada tipo de
ensaio de carga encontram-se descritos na EN 1537:2013.

Os tipos de ensaio, quer o prévio, quer o de adequabilidade, quer o de receção, especificados na EN ISO
22477-5, aplicam-se a ancoragens provisórias e definitivas. Complementarmente, a EN ISO 22477-5
aborda a realização de ensaios cíclicos e de ensaios de grupo, que não se descrevem neste artigo por
serem de âmbito muito específico e de utilização menos frequente.

4.2 - Ensaios prévios (EP)

Os EP são ensaios de carga que devem ser realizados para determinar a carga correspondente à
resistência última de uma ancoragem na interface terreno/calda, as características da ancoragem na

704
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

gama das cargas de serviço e a carga de ensaio para os ensaios de adequabilidade e de receção. Estes
ensaios podem ser também exigidos para comprovar a competência do empreiteiro e/ou para verificar
uma nova tecnologia de ancoragem. Os EP são realizados em ancoragens construídas exclusivamente
para o efeito, antes da instalação das ancoragens de serviço e devem, assim, permitir obter: i) a
resistência da ancoragem na interface calda/terreno; ii) as características de fluência do sistema de
ancoragem para níveis de carga até à rotura; iii) as características da perda de carga do sistema de
ancoragem no estado limite de utilização; iv) o comprimento livre aparente da armadura; e v) para o
método 3, a carga crítica de fluência.

Os EP devem ser realizados sempre que as ancoragens sejam utilizadas em condições de terreno que não
tenham sido previamente sujeitos a EP anteriores, quando não exista experiência comparável ou quando
as cargas de serviço sejam superiores às já adotadas em condições de terreno semelhantes. Assim, e em
conformidade com a EN 1997-1:2004/A1: 2013, devem ser executados pelo menos três EP no caso de se
aplicar os Métodos 1 e 2 ou pelo menos dois EP no caso de se aplicar o Método 3.

4.3 - Ensaios de adequabilidade (EA)

Os EA são ensaios de carga que devem ser realizados para confirmar que o dimensionamento de
determinada ancoragem é adequado nas condições particulares do terreno.

Estes ensaios, realizados em ancoragens de serviço, devem permitir confirmar, para uma situação
particular de projeto: i) a capacidade da ancoragem para suportar a carga máxima de ensaio; ii) as
características de fluência ou de perda de carga do sistema de ancoragem até à carga máxima de ensaio;
e iii) o comprimento livre aparente da armadura.

De acordo com a EN 1997-1:2004/A1: 2013, no que se refere à exigência de execução, os EA e os EP são


tratados da mesma forma. Não obstante, a boa prática sugere que se realizem EA em pelo menos 10%
no caso das ancoragens definitivas e 5% no caso das ancoragens provisórias. É conveniente que estes
ensaios se realizem, previamente aos ensaios de receção, nas ancoragens a instrumentar com células de
carga. Nestas circunstâncias, deve procurar-se realizar o ensaio com a célula que ficará instalada para a
monitorização.

4.4 - Ensaios de receção (ER)

Os ER são ensaios de carga que devem ser realizados para confirmar que cada ancoragem respeita os
critérios de aceitação. Estes ensaios devem ser executados em todas as ancoragens de serviço por forma
a confirmar, para cada ancoragem: i) a sua capacidade para suportar a carga máxima de ensaio; ii) as
características de fluência ou de perda de carga no estado limite de utilização, quando necessário; iii) o
comprimento livre aparente; e iv) que a carga de blocagem respeita a carga de dimensionamento,
excluindo o atrito.

5- MÉTODOS DE ENSAIO

5.1 - Generalidades

A EN 1537:1999, para responder às diferentes metodologias de ensaio seguidas por diferentes países
europeus define três métodos de ensaio: os Métodos 1, 2 e 3. De um modo genérico, o Método 1 é
representativo da prática Alemã, o Método 2 de alguma da prática Britânica e o Método 3 da prática
Francesa. A divergência das práticas resultou nos três métodos distintos, com diferentes critérios de
aceitação. Assim, em situação limite, uma mesma ancoragem poderia ser considerada apta, ou não apta,
dependendo do método de ensaio implementado. Com as recentes revisões normativas houve esforços
no sentido de uniformizar um método único de ensaios, o que não foi possível dado a EN
1997-1:2004/A1: 2013, em vigor, já referenciar os três métodos. Este documento refere, no entanto, que
a seleção do método de ensaios a aplicar, bem como os respetivos critérios de aceitação podem ser
definidos em Anexo Nacional.

Em Portugal, tem-se observado maior tendência na aplicação do Método 1, proposto na EN 1537:1999.


Não obstante, há também relatos da aplicação do Método 3, o que pode advir de uma maior
permissividade deste método. Contudo, com a publicação da EN ISO 22477-5, poderá posteriormente ser
definida, em Anexo Nacional, a aplicação do Método 1 e os respetivos critérios de aceitação. Neste
contexto, após a descrição dos três métodos, este artigo centraliza-se essencialmente na aplicação do
Método 1.

5.2 - Método 1

No Método 1 (Figura 2), a carga é aplicada na ancoragem incrementalmente por ciclos, a partir da carga
de referência até à carga máxima de ensaio. O ensaio envolve a medição dos deslocamentos da

705
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

armadura, no ponto de fixação na ancoragem, com a evolução da carga aplicada. Na carga máxima de
cada ciclo, procede-se à medição dos deslocamentos do ponto de fixação na ancoragem no tempo.
Apresenta-se de seguida um esquema exemplificativo do diagrama de evolução da carga no tempo para
um EP, executado pelo Método 1.
%Pp
60 min.
100
30 min.
90
30 min.
80
30 min.
70
60 15 min.
50
15 min.
40
30
20
Pa

t (min)

Figura 2 – Exemplo de evolução da carga no tempo para um EP pelo Método 1, solos granulares e rocha

5.3 - Método 2

No Método 2 (Figura 3), a ancoragem é carregada incrementalmente, por ciclos, a partir da carga de
referência até à carga máxima de ensaio. Na carga máxima de cada ciclo, a perda de carga na cabeça de
ancoragem é medida durante um período de tempo. Apresenta-se de seguida um esquema do diagrama
de evolução da carga no tempo para um EP, executado pelo Método 2.
%Pp
15/50/150/1500 min.
100
15 min.
90
15 min.
80
15 min.
70
60 15 min.
50
15 min.
40
30
20
Pa

t (min)

Figura 3 - Exemplo de evolução da carga no tempo para um EP pelo Método 2

5.4 - Método 3

No Método 3 (Figura 4), a ancoragem é carregada incrementalmente por patamares, a partir da carga de
referência até à carga máxima de ensaio. O deslocamento do ponto de fixação na ancoragem é medido
sob carga constante em cada patamar de carga. Apresenta-se de seguida um esquema do diagrama de
evolução da carga no tempo para um EP, executado pelo Método 3.
%Pp
60 min.
100
60 min.
90
60 min.
80
60 min.
70
60 min.
60
60 min.
50
60 min.
40
30 60 min.
20
Pa

t (min)

Figura 4 - Exemplo de evolução da carga no tempo para um EP pelo Método 3

6- PROGRAMAS DE ENSAIO

6.1 - Generalidades

Em conformidade com o exposto na secção 5.1, deste documento, descreve-se apenas o programa de
ensaio do Método 1, excluindo os programas respeitantes aos Métodos 2 e 3.

706
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

6.2 - Carga de referência

A carga de referência tem como finalidade minimizar os movimentos do sistema da ancoragem de ensaio,
devendo o ensaio ser iniciado com a armadura sob tensão mínima. Com esse objetivo, deve adotar-se
uma carga de referência (Pa) de valor igual a 10% da carga máxima de ensaio.

6.3 - Carga de ensaio

A carga de ensaio (Pp) deverá ser definida antes do ensaio (Quadro 1), de acordo com o especificado na
EN 1997-1:2004/A1: 2013. Esta carga é função da carga de dimensionamento da ancoragem aos estados
limites últimos e pode ser calculada, em Portugal, de acordo com a metodologia apresentada no Quadro
1. Refere-se que, de acordo com as indicações expressas no Quadro A.20 da EN 1997-1:2004/A1: 2013,
a verificação aos estados limites de utilização não é aplicável no Método 1.

Quadro 1- Carga de ensaio (Pp) para o Método 1


Tipo de ensaio Expressão Coeficientes (*)

EP ou EA Pp ≥ξULS × γa;ULS × EULS;d ξULS =1,0


γa;ULS = 1,1 (STR/GEO)
γa;ULS = 1 ,4 (UPL)
ER Pp ≥γa;acc;ULS × EULS;d γa;acc;ULS = 1,1

EULS;d – valor de cálculo da força a ser suportada pela ancoragem no estado limite último; ULS – coeficiente de
correlação; .a;ULS, a;acc;ULS – coeficientes parciais. (*) Os valores podem ser definidos em Anexo Nacional.

Por sua vez, a EN ISO 22477-5 indica que a armadura da ancoragem deverá garantir que a carga de
ensaio é sempre menor ou igual a: i) 80% do valor característico da carga de rotura à tração da
armadura da ancoragem; ou ii) 95% do valor característico da carga de tração correspondente ao limite
convencional de proporcionalidade a 0,1 ou a 0,2% da armadura da ancoragem.

A análise do Quadro 1 permite verificar que, para os coeficientes parciais de segurança sugeridos pela EN
1997-1:2004/A1: 2013, a carga de ensaio para os EP e para os EA é a mesma. Verifica-se ainda que,
caso a ancoragem tenha sido dimensionada para verificar a rotura interna, ou a deformação excessiva da
estrutura ou de elementos estruturais (STR), ou a rotura ou deformação excessiva do terreno (GEO), a
carga é também a mesma para os ER. Com este tipo de abordagem constata-se que, para situações
correntes (STR/GEO), as cargas são as mesmas nos EP, nos EA e nos ER, o que poderá resultar, em
comparação com a prática corrente, em cargas de ensaio que podem revelar-se, na prática, elevadas no
caso dos EA e dos ER, nomeadamente porque Pp>EULS;d, e excessivamente reduzidas no caso dos EP.

No que se refere ao dimensionamento de ancoragens no terreno, a NP EN 1997-1:2010 indica que, em


Portugal, a verificação respeitante a estados limites últimos de rotura estrutural ou de rotura do terreno
(STR/GEO), em situações persistentes ou transitórias, deve ser efetuada utilizando a Abordagem de
Cálculo 1 (AC1). Desta forma, para estimar o valor equivalente do coeficiente de segurança pela
combinação dos coeficientes parciais propostos nos Eurocódigos EN1 990:2002, NP EN 1997-1:2010 e a
EN1997-1:2004/A1:2013, considera-se: i) a abordagem AC1; ii) que a carga P, instalada na ancoragem,
é uma ação permanente desfavorável e que os coeficientes parciais para a ação e para a resistência são,
respetivamente, Serv=1,35 e a;ULS=1,1 (STR ou GEO) ou a;ULS=1,4 (UPL, isto é, estado limite por
levantamento hidráulico); iii) no estado de limite último geotécnico de uma ancoragem deve verificar-se
que EULS;d<RULS;d, isto é, o valor de cálculo do efeito da ação é inferior ou igual ao valor de cálculo da
capacidade resistente em relação à ação. Assim, sendo os valores de cálculo: i) da ação:
EULS;d=max(FULS;d;FServ;d), em que FULS;d é a carga resultante do modelo para o estado limite último e
FServ;d é o valor de cálculo para a ancoragem obtido por F Serv;d=Serv.FServ;k, em que FServ;k é o valor
característico da ação; e ii) da capacidade resistente RULS;d=RULS;k/a;ULS, então FServ;k<RULS;k/(Serv.a;ULS)
=> RULS;k>(Serv.a;ULS)FServ;k; RULS;k>1,5.FServ;k (STR/GEO) ou RULS;k>1,9FServ;k(UPL). Para as condições
enumeradas, e sendo ULS=1,0, resulta para os ensaios: i) EP e EA: Pp>1,5.FServ;k, para STR ou GEO, e
Pp>1,9.FServ;k, para UPL; ii) ER: Pp>1,5.FServ;k, para as condições STR ou GEO ou UPL. Refere-se que esta
abordagem de dimensionamento não apresenta distinção entre ancoragens provisórias e definitivas.

6.4 - Procedimento de aplicação de carga

6.4.1 - Aplicação da carga

No Método 1 (secção 5.2) a carga axial de tração é aplicada, incrementalmente, por ciclos até à carga
máxima de ensaio. Na carga máxima de cada ciclo, esta deverá ser mantida constante durante um
período de tempo definido. O ensaio envolve a medição dos deslocamentos da armadura da ancoragem e
da carga aplicada e, na carga máxima de cada ciclo, a medição do deslocamento da armadura e do
tempo.

707
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Embora a EN ISO 22477-5 não especifique o registo da evolução da carga no patamar máximo de cada
ciclo de carga, considera-se recomendável que este seja efetuado de modo a permitir confirmar que a
carga se manteve efetivamente constante. Desta forma será possível fazer uma análise crítica e avalizada
dos resultados obtidos durante o patamar máximo de carga de cada ciclo caso ocorra uma redução de
carga associada ao comportamento do sistema de pré-esforço e/ou a outros fatores. Desta análise,
poderá ser conveniente registar as variações de carga no tempo e posteriormente convertê-las em
deslocamentos.

6.4.2 - Ensaio prévio (EP)

O EP deverá incluir pelo menos seis ciclos de carga. Apresenta-se, no Quadro 2, o programa de aplicação
de carga do EP pelo Método 1, para solos granulares, rocha ou solos finos.

Quadro 2- Programa de aplicação de carga do EP pelo Método 1


Carga Período mínimo de observação no patamar de cada ciclo
Ciclo máxima de carga (minutos)
(% Pp) Solos granulares e rochas Solos finos
0 10 1 1
1 40 15 15
2 55 15 15
3 70 30 60
4 80 30 60
5 90 30 60
6 100 60 180

As leituras deverão ser realizadas nos instantes 1, 2, 3, 4, 5, 7, 10 15, 20, 30, 45, 60, 90, 120, 150 e
180 minutos, dependendo da duração do patamar. Recomenda-se que se adotem períodos superiores aos
indicados no Quadro 2, sempre que a taxa de fluência não tenha estabilizado.

6.4.3 - Ensaio de adequabilidade (EA)

O EA deverá incluir pelo menos cinco ciclos de carga. Apresenta-se, no Quadro 3, o programa de
aplicação de carga do EA pelo Método 1, para solos granulares, rocha ou solos finos.

Quadro 3 - Programa de aplicação de carga do EA pelo Método 1


Período mínimo de observação no patamar de cada ciclo de carga
Carga (minutos)
Ciclo máxima Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
(% Pp) Solos granulares Solos granulares e
Solos finos Solos finos
e rochas rochas
0 10 1 1 1 1
1 40 1 1 15 15
2 55 1 1 15 15
3 70 5 10 30 60
4 85 5 10 30 60
5 100 30 60 60 180

As leituras deverão ser realizadas nos instantes 1, 2, 3, 4, 5, 7, 10 15, 20, 30, 45, 60, 90, 120, 150 e
180 minutos, dependendo da duração do patamar. Recomenda-se que se adotem períodos superiores aos
indicados no Quadro 3, sempre que a taxa de fluência não tenha estabilizado ou não tenham sido
realizados EP que permitam avaliar de forma rigorosa o comportamento de fluência das ancoragens.

6.4.4 - Ensaio de receção (ER)

O ER deverá incluir pelo menos um ciclo de carga, com cinco incrementos. Apresenta-se, no Quadro 4, o
programa de aplicação de carga do ER, pelo Método 1, para solos granulares, rocha ou solos finos.

Quadro 4- Programa de aplicação de carga do ER pelo Método 1


Incremento Carga máxima Período mínimo de observação (minutos)
de carga (% Pp) Solos granulares e rochas Solos finos
0 10 1 1
1 40 1 1
2 55 1 1
3 70 1 1
4 85 1 1
5 100 5 15

708
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

As leituras deverão ser realizadas nos instantes 1, 2, 3, 4, 5, 7, 10 e 15 minutos, dependendo da duração


do patamar. Recomenda-se que se adotem períodos superiores aos indicados no Quadro 4, sempre que a
taxa de fluência não tenha estabilizado.

6.5 - Resultados a apresentar

Os resultados do ensaio deverão ser apresentados sob a forma de relatório, que deverá incluir a
referência das normas relevantes e a descrição das especificações particulares da ancoragem e do ensaio,
que são: i) número e localização da ancoragem; ii) detalhes de entrega de todos os materiais cimentícios,
resinas e endurecedores; iii) condições do solo; iv) equipamento e técnica de furação; v) instalação e
geometria dos elementos da ancoragem; vi) data e hora de instalação de cada ancoragem; vii) condições
meteorológicas; viii) composição da calda, pressão, volume injetado, comprimento de injeção, tempo de
injeção; pré-injeção e pós-injeção com calda; ix) instalação da proteção contra a corrosão selecionada;
x) ensaio da ancoragem exigido, incluindo certificados de calibração; xi) tensionamento, incluindo carga
de blocagem final; xii) equipamento de monitorização; xiii) empresa de construção das ancoragens; e
xiv) nome dos operadores de furação e de tensionamento/encarregado/engenheiro. Deverá ser
igualmente adicionada a tabela com os valores registados durante o ensaio e os gráficos indicados no
Quadro 5.

Quadro 5- Gráficos a incluir no relatório de ensaio


Tipo de ensaio
Gráfico
EP EA ER
Evolução da carga no tempo x x x
Evolução do deslocamento total com a carga x x x
Evolução do deslocamento elástico com a carga x x
Evolução do deslocamento plástico com a carga x x
Evolução do deslocamento no log tempo (*) x x x
Evolução do coeficiente de fluência com a carga x x
Evolução do coeficiente de fluência no log tempo (*) x x x
(*) Para o patamar máximo de cada ciclo de carga
A evolução da carga no tempo, que corresponde ao procedimento de aplicação de carga do Método 1,
está representada na Figura 2. Exemplo das restantes curvas é apresentado nas figuras seguintes para
um EP realizado pelo Método 1, em solos granulares e rocha.
%Pp %Pp %Pp %Pp

100 100 100 100 r oicr o ico


rio órir ór
90 90 90 90 fe tfee te
in leo r
i n
lo r
80 80 80 80 ite vait va
Li
m
Li
m or or
70 70 70 70 eri eri
sup e sup
60 60 60 60 i te i t
Lim Lim
50 50 50 50
40 40 40 40
30 30 30 30
20 20 20 20
Pa Pa 10 10

Stot a)
Stot
Spl Spl Sel Sel b)
Figura 5 – Exemplo de evolução, com a carga, do deslocamento total, stot (a) e do deslocamento elástico, sel, e
plástico, spl (b)

O deslocamento elástico, representado na Figura 5b, permite obter o comprimento livre aparente a partir
do deslocamento elástico da ancoragem na fase de descarga (ver secção 7.1). Na Figura 6 apresenta-se
a evolução do deslocamento no tempo em escala logarítmica, para o patamar máximo de cada ciclo.
S
100%Pp

90% Pp

80% Pp

70% Pp
55% Pp
40% Pp
1 10 100 log t (min)

Figura 6 – Exemplo de evolução de deslocamento com o log tempo para o patamar máximo de cada ciclo de carga

709
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A EN1537:1999 preconiza o cálculo do coeficiente de fluência a partir dos dados representados na Figura
6, o que se prevê manter. Este coeficiente de fluência, , obtém-se através da correlação da variação do
deslocamento permanente com o tempo na escala logarítmica, através da equação:

𝛼= (𝑠𝑡𝑏 − 𝑠𝑡𝑎 )⁄log(𝑡𝑏 ⁄𝑡𝑎 ) [1]

em que sta e stb é o deslocamento da armadura da ancoragem no instante ta e tb, respetivamente.

O cálculo do coeficiente de fluência no patamar máximo de cada ciclo de carga permite obter a evolução
do coeficiente de fluência com a carga, que esquematicamente se representa na figura seguinte.

 (mm)

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

Pa 20 30 40 50 60 70 80 90 100 %Pp

Figura 7 – Exemplo de evolução do coeficiente de fluência com a carga

Embora a EN ISO 22477-5 não o exija, recomenda-se que, nos EP e nos EA, se proceda também à
representação gráfica da evolução do coeficiente de fluência no tempo, em escala logarítmica, para o
patamar máximo de cada ciclo de carga, pois, deste modo, torna-se viável a análise dos deslocamentos
de fluência e respetivos valores, para situações de carga e tempo de observação distintas. Como
exemplo, estas curvas encontram-se esquematicamente representadas na Figura 8.
 (mm)

3,0

2,5 100%Pp

2,0
90%Pp
1,5

80%Pp
1,0
70%Pp
55%Pp
0,5 40%Pp

1 10 100 log t (min)

Figura 8 – Exemplo de evolução do coeficiente de fluência no tempo em escala logarítmica para o patamar máximo de
cada ciclo de carga

7- INDICAÇÕES GERAIS SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

7.1 - Caracterização do comportamento mecânico

O comportamento mecânico é avaliado com recurso ao comprimento livre aparente, Lapp, obtido no
ensaio. Dever-se-á, assim, garantir com o ensaio que o Lapp [2], calculado na descarga do último patamar
de carga, entre Pp e Pa, e sem considerar a histerese, no caso do Método 1, designadamente devido a
perdas de carga por atrito, cumpre os limites indicados em [3] e [4].

𝐿𝑎𝑝𝑝 = (𝐴𝑡 𝐸𝑡 𝑠)⁄(𝑃𝑝 − 𝑃𝑎 ) [2]

𝐿𝑎𝑝𝑝 ≤ 𝐿𝑡𝑓 + 𝐿𝑒 + 0,5𝐿𝑡𝑏 [3]

𝐿𝑎𝑝𝑝 ≥ 0,80𝐿𝑡𝑓 + 𝐿𝑒 [4]

em que At é a secção transversal da armadura; Et é o módulo de elasticidade da armadura; Pp é a carga


máxima de ensaio; Pa é a carga de referência; s é o deslocamento elástico registado entre Pp e Pa; Ltf é
o comprimento livre da armadura; Le é o comprimento exterior da armadura, medido entre o ponto de

710
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

fixação na armadura na cabeça da ancoragem e o ponto de fixação do macaco de tensionamento; e Ltb é


o comprimento de selagem da armadura.

Complementarmente, recomenda-se que se dê atenção à evolução dos deslocamentos plásticos, não só


no que se refere à sua grandeza como também à sua tendência de evolução com a carga.
Nomeadamente, se o comportamento registado apresenta uma evolução linear ou não linear, pois a saída
do regime linear poderá ser um indicador complementar de fluência ou de rotura.

7.2 - Caracterização do comportamento de fluência

O comportamento de fluência da ancoragem, que é caracterizado pela evolução do valor do coeficiente de


fluência com o aumento da carga, é, na prática, a característica que mais condiciona a interpretação dos
resultados. Da aplicação do Método 1 pela EN 1537:1999, o critério de aceitação das ancoragens
preconizava coeficientes de fluência máximos de: i) 0,50 mm para a carga de blocagem; ii) 0,80 ou 1,00
mm para a carga de dimensionamento, dependendo se tinham, ou não, sido realizados EP ; e iii) de 2,00
mm para a carga de rotura.

Com a publicação da emenda EN 1997-1:2004/A1: 2013, houve uma revisão geral dos critérios de
dimensionamento e de aceitação das ancoragens, passando a definir-se como critério de aceitabilidade
para o Método 1 um valor limite de coeficiente de fluência (1) de 2,0 mm, para todos os tipos de ensaio.
Este critério, que é convergente no conceito expresso pela norma referida (em conformidade com o
exposto na secção 6.3 deste artigo), considera o mesmo coeficiente de fluência para condições similares
de carga nos três ensaios nas condições STR/GEO. No entanto, diverge em condições UPL, onde a carga
dos ER é significativamente inferior à dos EP e dos EA. No Quadro 6 e 7 apresentam-se os critérios
indicados na EN ISO 22477-5, respetivamente para os EA e os ER, para cada uma das situações previstas
e para os períodos de observação mínimo e estendido.

Quadro 6 - Critérios de aceitação dos EA


Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
Período de
Parâmetro Solos granulares Solos granulares e
observação Solos finos Solos finos
e rochas rochas
Mínimo ta (min.) 10 20 20 60
tb (min.) 30 60 60 180
s (mm) ≤ 0,50 ≤ 0,50 ≤ 0,50 ≤ 0,50
 (mm) ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0
Estendido ta (min.) (*) (*) (*) (*)
tb (min.) ≥ 60 ≥ 120 ≥ 120 ≥ 720
 (mm) ≤ 1 ≤ 1 ≤ 1 ≤ 1
(*) ta tempo obtido no início da zona linear da curva tempo deslocamento

Quadro 7 - Critérios de aceitação dos ER


Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
Período de
Parâmetro Solos granulares Solos granulares e
observação Solos finos Solos finos
e rochas rochas
Mínimo ta (min.) 2 5 2 5
tb (min.) 5 15 5 15
s (mm) ≤ 0,20 ≤ 0,25 ≤ 0,20 ≤ 0,25
 (mm) ≤ 0,5 ≤ 0,5 ≤ 0,5 ≤ 0,5
Estendido ta (min.) (*) (*) (*) (*)
tb (min.) ≥ 15 ≥ 30 ≥ 15 ≥ 30
 (mm) ≤ 1 ≤ 1 ≤ 1 ≤ 1
(*) ta tempo obtido no início da zona linear da curva tempo deslocamento.

Como se pode constatar, na EN ISO 22477-5 estão dispostas grandezas do coeficiente de fluência para
cada tipo de ensaio, de ancoragem (provisória e definitiva) e de terreno. Considera também diferentes
critérios de fluência em função dos períodos de observação adotados. Em suma, os valores indicados para
o período de observação mínima são mais exigentes e convergentes com os preconizados na EN
1537:1999, os que se reportam ao período estendido são os referidos na EN 1997-1:2004/A1: 2013, que
se consideram bastante mais permissivos. Neste contexto, e tendo em conta as cargas de ensaio
envolvidas (ver secção 6.3) poderá ser difícil respeitar as exigências para os períodos mínimos de
observação previstos nos EA e nos ER, particularmente por ainda não ter estabilizado o coeficiente de
fluência. No que se refere aos EP, considerando os seus objetivos (secção 4.2), os critérios de aceitação a
considerar estarão associados à situação de rotura por fluência, sendo <2.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

8- PROPOSTA DE APLICAÇÃO NACIONAL DA EN ISO 22477-5

No contexto do exposto na secção 6.3, e considerando os objetivos pretendidos para cada tipo de ensaio,
os autores propõem uma uniformização da prática nacional, no que se refere ao método de ensaio, às
cargas de ensaio e aos critérios de aceitação dos ensaios. Recomenda-se a aplicação do disposto nas
normas referenciadas neste artigo no que se refere à prática de execução e de ensaios de ancoragens no
terreno. Como método de ensaio, considerando a prática nacional, recomenda-se a aplicação do Método
1, por ser o mais usado no nosso país. Assim, seguidamente propõem-se premissas e definem-se
critérios que permitem integrar e desenvolver a análise dos diferentes tipos de ensaios.

Com a finalidade de agilizar a interpretação dos resultados dos ensaios, sugerem-se as seguintes
diretrizes: i) definição objetiva dos limites de coeficientes de fluência para as situações de serviço, de
dimensionamento e de rotura, tanto para ancoragens provisórias como definitivas (à imagem do que era
preconizado na EN 1537:1999); e ii) escalonamento do nível de carga dos ensaios, por forma a permitir
que nos ER seja efetuado um patamar de carga próximo da carga de blocagem, nos EA próximo da carga
de dimensionamento e nos EP próximo da carga de rotura da ancoragem. Para permitir uma análise
adequada dos dados dos ensaios referentes ao comportamento de fluência da ancoragem, considera-se
primordial representar graficamente a evolução da fluência com a carga (Figura 9).

 (mm)

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0
0,8

0,5

Carga
Ancoragens provisórias FServ;k ULSEULS;d ULSa;ULSEULS;d
Ancoragens definitivas FServ;k ULSEULS;d ULSa;ULSEULS;d
EULS;d=max(FULS;d;FSer;d) e FServ;d=ServFServ;k

Figura 9 – Proposta para os critérios de interpretação da curva de fluência obtida no ensaio

É igualmente importante a definição clara e objetiva dos critérios de interpretação que permitam avaliar
se a ancoragem está conforme. No Quadro 8 apresenta-se uma proposta destes critérios. Por forma a
compatibilizar com critérios que se apresentam, sugere-se que as cargas máximas de ensaio sejam as
que se apresentam no Quadro 9.

Quadro 8- Proposta para os critérios de interpretação do comportamento de fluência obtido no ensaio


Coeficiente de fluência admissível (mm)
Critério Carga
Ancoragens Provisorias Ancoragens definitivas
Rotura ξULS × γa;ULS × 𝐸𝑈𝐿𝑆;𝑑 2,00 2,00
Dimensionamento ξULS × 𝐸𝑈𝐿𝑆;𝑑 1,00 1,00
Serviço 𝐹𝑆𝑒𝑟𝑣;𝑘 0,80 0,50
Em que: EULS;d=max(FULS;d; FServ;d); FServ;d=γserv.FServ;k; γServ=1,20 em ancoragens provisórias e
γServ=1,35 em ancoragens definitivas e FServ;k é o valor característico da carga de serviço (P)
Quadro 9 – Proposta para a carga de ensaio (Pp)
Carga de ensaio
Tipo de ensaio
(Pp)
EP 𝑃𝑝 ≥ ξULS × γa;ULS × EULS;d
EA 𝑃𝑝 ≥ ξULS × EULS;d
Hipótese 1 𝑃𝑝 ≥ ξULS × EULS;d
ER
Hipótese 2 𝑃𝑝 ≥ 𝐹𝑆𝑒𝑟;𝑘

Considerando a prática nacional, sugere-se que, tanto no ensaio como no dimensionamento, se adotem
valores de γa;ULS = 1,4, em analogia à verificação UPL, e ξULS = 1,0. No que se refere aos ER, o projetista

712
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

definirá qual das hipóteses se deve adotar (Hipótese 1 ou Hipótese 2). Como critério de aceitação, para
os três tipos de ensaios, propõem-se o disposto do Quadros 10 ao Quadro 12.

Os limites propostos para os coeficientes de fluência, respeitantes aos EA e ER, poderão ser mais
permissivos desde que comprovados por meio de EP, isto é, se os respetivos resultados confirmarem que
o critério de rotura é respeitado, carecendo sempre de aprovação do projetista.

Quadro 10 – Proposta para os critérios de aceitação dos EP


Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
Período de
Parâmetro Solos granulares Solos granulares e
observação Solos finos Solos finos
e rochas rochas
ta (min.) 20 60 20 60
Mínimo
tb (min.) 60 180 60 180
 (mm) ≤ 2,0 ≤ 2,0 ≤ 2,0 ≤ 2,0
ta/tb ≤3 ≤3 ≤3 ≤3
Estendido
tb (min.) ≥ 90 ≥ 240 ≥ 120 ≥ 720
 (mm) ≤ 2,0 ≤ 2,0 ≤ 2,0 ≤ 2,0

Quadro 11 – Proposta para os critérios de aceitação dos EA


Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
Período de
Parâmetro Solos granulares Solos granulares e
observação Solos finos Solos finos
e rochas rochas
ta (min.) 10 20 20 60
Mínimo
tb (min.) 30 60 60 180
 (mm) ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0
ta/tb ≤3 ≤3 ≤3 ≤3
Estendido
tb (min.) ≥ 60 ≥ 120 ≥ 120 ≥ 720
 (mm) ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0

Quadro 12- Proposta para os critérios de aceitação dos ER


Ancoragens provisórias Ancoragens definitivas
Período de
Parâmetro Solos granulares e Solos granulares e
observação Solos finos Solos finos
rochas rochas
ta (min.) 2 5 2 5
Mínimo
tb (min.) 5 15 5 15
Hipótese 1:  (mm) ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0
Hipótese 2:  (mm) ≤ 0,8 ≤ 0,8 ≤ 0,5 ≤ 0,5
ta/tb ≤3 ≤3 ≤3 ≤3
Estendido
tb (min.) ≥ 15 ≥ 30 ≥ 15 ≥ 30
Hipótese 1:  (mm) ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0 ≤ 1,0
Hipótese 2:  (mm) ≤ 0,8 ≤ 0,8 ≤ 0,5 ≤ 0,5

9- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em Portugal, com a publicação da EN ISO 22477-5, o vazio normativo existente sobre ensaios de
ancoragens no terreno será finalmente preenchido. Dos três métodos propostos pela EN ISO 22477-5
será de prever que a prática nacional mantenha o Método 1, tal como sucedeu aquando da publicação da
EN 1537 (1999).

Com vista a agilizar a interpretação dos resultados dos ensaios, os autores propõe premissas e balizam
critérios, particularmente ao nível da interpretação da curva de fluência e dos critérios de aceitação dos
ensaios prévios, de adequabilidade e de receção, sendo a sua expectativa que, mesmo que não venham a
ser considerados como referência para a prática nacional, contribuam favoravelmente para a discussão de
um tema que é indiscutivelmente importante mas que tem sido, por vezes, relegado a um segundo
plano.

REFERÊNCIAS

Carvalho, M. (2009) - Ancoragens pré-esforçadas em obras geotécnicas: construção, ensaios e análise


comportamental. Tese de doutoramento. Engenharia Civil. FEUP, LNEC.

EN 1537 Execution of special geotechnical work – Ground Anchors. CEN, European Committee for Standardization.

EN 1990 Eurocode: Basis of structural design. CEN, European Committee for Standardization.

713
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

EN 1997-1 Eurocode 7: Geotechnical design – Part 1: general rules. CEN, European Committee for Standardization.

NP EN 1537:2016. Execução de obras geotécnicas especiais – Ancoragens no terreno. IPQ – Instituto Português da
Qualidade.

prEN ISO 22477-5. Geotechnical investigation and testing – Testing of geotechnical structures – Part 5: Testing of
Grouted anchors. ISO, International Organization for Standardization.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

APLICAÇÃO DA SIMULAÇÃO MONTE CARLO NA ANÁLISE DE PROBABILIDADE


DE RUÍNA E CONFIABILIDADE EM PROJETO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

APPLICATION OF MONTE CARLO SIMULATION IN THE ANALYSIS OF


PROBABILITY OF FAILURE AND RELIABILITY IN DEEP FOUNDATIONS
DESIGN

Silva Neto, Alfredo Nunes; Universidade Federal de Pernambuco – UFPE/, Ipojuca-PE, Brasil,
alfredonunes91@gmail.com
Oliveira, Joaquim Teodoro Romão de; Universidade Católica de Pernambuco-UNICAP/UFPE, Olinda-PE,
Brasil, jtrdo@uol.com.br

RESUMO

Os conceitos de confiabilidade já são largamente empregados em outras engenharias, e sua aplicação em


obras de engenharia civil tem colaborado para elaboração de projetos com nível de segurança adequado
e grau de risco conhecido. O Complexo Industrial de Suape, situado na costa Nordeste do Brasil, no
estado de Pernambuco, é considerado um dos principais polos de investimento do país, despertando o
interesse da comunidade geotécnica em relação ao subsolo da região. Os projetos de fundações no Brasil
exigem apenas a análise de cargas admissíveis e de fatores de segurança prescritos em norma, para
garantir a segurança das obras, entretanto, sabemos que estes são parâmetros determinísticos que
consideram apenas a resistência média e a solicitação média e desconsideram a variação em torno
desses valores. Para termos projetos com menor probabilidade de ruína, maior confiabilidade e maior
segurança é importante analisar a variabilidade a qual os projetos estão sujeitos. Na seguinte pesquisa é
estudada uma obra do Complexo Industrial de Suape, referente ao Dique seco do Estaleiro Atlântico Sul,
apresentando um perfil geotécnico típico da região e permitindo a análise de fundações profundas do tipo
hélice contínua. O objetivo da análise é estimar a probabilidade de ruína e o índice de confiabilidade,
através da metodologia sugerida por Cintra e Aoki (2010) e Aoki (2011), para os grupos de estacas da
obra, e comparar os resultados obtidos, com e sem a utilização da simulação Monte Carlo para
distribuição de probabilidade uniforme e triangular, com os dados recomendados na literatura e em
normas internacionais. Conclui-se no estudo que a metodologia utilizada para avaliar a confiabilidade de
um projeto de fundações, apresenta valores maiores de probabilidade de ruína e menores de
confiabilidade para amostras pequenas. Já para amostra gerada através da simulação Monte Carlo o
método apresentou menor probabilidade de ruína e maior confiabilidade.

ABSTRACT

The concepts of reliability are already widely used in other engineering, and its application in civil
engineering works has collaborated to elaborate design with adequate level of safety and known degree
of risk. The Suape Industrial Complex, located on the northeast coast of Brazil, in the state of
Pernambuco, is considered one of the main investment poles of the country, arousing the interest of the
geotechnical community in relation to the subsoil of the region. The foundations design in Brazil require
only the analysis of admissible loads and safety factors prescribed in standards, to guarantee the safety
of the construction, however, we know that these are deterministic parameters that consider only the
average resistance and the average request and disregard the variation around these values. In order to
have less probability of failure, greater reliability and greater security, it is important to analyze the
variability to which design is subject. In the following research a work of the Suape Industrial Complex is
studied, referring to the Dry Dock of the Atlântico Sul Shipyard, presenting a geotechnical profile typical
of the region and allowing the analysis of continuous helical displacement piles type. The objective of the
analysis is to estimate the probability of failure and the reliability index, through the methodology
suggested by Cintra and Aoki (2010) and Aoki (2011), for the groups of piles of the work, and to
compare the obtained results, with and without the use of the Monte Carlo simulation for uniform and
triangular probability distribution, with the data recommended in the literature and international
standards. It is concluded that the methodology used to evaluate the reliability of a foundations design
presents higher values of probability of failure and lower reliability for small samples. For the sample
generated through the Monte Carlo simulation, the method presented a lower probability of failure and
greater reliability.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

As obras de engenharia estão sujeitas à variabilidade das solicitações e das resistências em seu sistema.
No caso de obras de fundações, a situação é mais crítica, já que além da variabilidade dos materiais dos
elementos estruturais, também existe a grande variabilidade das características do maciço geotécnico da
fundação (Barros, 2012). Portanto é fundamental, para a eficaz elaboração de um projeto de fundação,
se conhecer qual parâmetro pode influenciar mais na variabilidade dos valores de capacidade de carga,
proporcionando assim uma probabilidade de ruína maior e uma confiabilidade menor, gerando mais risco
para o empreendimento.

O Dique Seco do Estaleiro Atlântico Sul possui 400 metros de extensão, 73 metros de largura e 12
metros de profundidade. No Dique Seco foram estudadas estacas do tipo hélices contínuas com a
finalidade de determinar a capacidade de carga, probabilidade de ruína e posteriormente a confiabilidade.
Segundo Silva (2011), as mesmas foram escolhidas devido as suas solicitações elevadas e a importância
do conhecimento de suas resistências para a integridade estrutural das obras.

A tradição brasileira de projeto geotécnico de fundação por estaca consiste na determinação da carga
admissível utilizando o fator de segurança global ou fatores de segurança parciais, segundo a NBR
6122/2010. Porém é um conceito ultrapassado considerar que os fatores de segurança prescritos em
norma garantam a ausência de risco de ruína. Por esse motivo é necessário verificar também a
probabilidade de ruína da fundação, por meio da chamada análise de confiabilidade (Cintra e Aoki, 2010).
Ainda segundo Cintra e Aoki (2010) o mito do risco zero de ruína de uma fundação faz o leigo supor que,
nas edificações sem erro de projeto ou de execução, haja 100% de segurança. É, portanto, tarefa dos
engenheiros civis esclarecerem esse ledo engano, mas, para isso, devem praticar a verificação da
probabilidade de ruína nos seus próprios cálculos.

Segundo Teixeira et al. (2012), em uma análise de confiabilidade, um sistema pode ser avaliado por
diferentes métodos, cada um com um determinado nível de rigor. Normalmente os níveis considerados
são cinco, conforme Quadro 1 e denominam-se como descritos a seguir:

 Nível zero: métodos determinísticos; refere-se à forma tradicional de dimensionamento, onde as


variáveis aleatórias (VA) são consideradas como determinísticas e as incertezas são tidas em con-
ta através de um coeficiente de segurança (CS);

 Nível I: métodos semiprobabilístico, onde as fórmulas aplicadas são determinísticas e os valores


representativos das variáveis aleatórias (estatisticamente determinadas) são multiplicados por
coeficientes de segurança parciais. Estes coeficientes de segurança são calibrados através da
análise de confiabilidade nível II ou nível III;

 Nível II: métodos probabilísticos aproximados; as variáveis aleatórias são caracterizadas pela sua
distribuição e parâmetros estatísticos (média e desvio padrão ou coeficiente de variação) e a ava-
liação probabilística de segurança é feita através de técnicas numéricas aproximadas;

 Nível III: análises probabilísticas puras, que tem em conta todas as características probabilísticas
das variáveis aleatórias (média, desvio padrão e função de distribuição de probabilidade). Quando
o problema é complexo, e a solução matemática é complicada de determinar, são utilizados mé-
todos de simulação;

 Nível IV: análises de risco, onde as consequências (custos materiais e não materiais) do fracasso
ou rotura são tidas em conta; aqui o risco é usado como medida de confiabilidade (consequências
multiplicadas pela probabilidade de ruína).

No desenvolvimento deste trabalho será avaliada a segurança das obras estudadas para os níveis de rigor
Zero, II e III, realizando a comparação dos resultados obtidos para cada nível e verificando se os
mesmos se encontram em conformidade com os valores recomendados pelas normas internacionais e
pela literatura.

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Quadro 1 - Níveis de confiabilidade. (Adaptado de Teixeira et al. (2012))


Informação Nível de confiabilidade
considerada na
Zero I II III IV
análise
Parâmetros
geotécnicos
Método de cálculo
(determinístico)

Parâmetros de
dimensionamento
(base estatística)

Variabilidade dos
parâmetros:
• Média e desvio
padrão
• Função de
distribuição de
probabilidade
Custo
Coeficiente de Metodologia de Metodologia com Risco
Coeficiente de
Tipos de análise: segurança Cintra e Aoki simulação Monte
segurança parcial (pf x custo)
global (2010) Carlo

No desenvolvimento deste trabalho será avaliada a segurança das obras estudadas para os níveis de rigor
Zero, II e III, realizando a comparação dos resultados obtidos para cada nível e verificando se os
mesmos se encontram em conformidade com os valores recomendados pelas normas internacionais e
pela literatura.

2- MATERIAL E MÉTODOS

2.1 - Caracterização geológica da região

Na formação geológica do município de Ipojuca, onde está localizado o complexo industrial de Suape são
encontrados seis tipos litológicos distintos de rochas: conglomerados, calcários, rochas vulcânicas,
arenitos, argilitos e sedimentos inconsolidados englobando: areias, argilas, siltes, cascalhos e turfas,
segundo Pfaltzgraff (1998). Os sedimentos inconsolidados, que formam as áreas planas do município,
mesclam-se de áreas com boa capacidade de suporte, caracterizadas pelos terraços litorâneos, planícies
aluviais, praias e planícies flúvio-lagunar, compostas por camadas de areias, cascalhos e algumas argilas,
com áreas de baixa capacidade de suporte (camadas de turfas, areias fofas e argilas orgânicas),
representadas pelas áreas de manguezais.

As sondagens estudadas no Dique Seco são as seguintes: SM06, BHM06, BHM08, BHM09, SMA14 e
SPT67, contendo a seguinte classificação do solo nas camadas: Solo 1 (Areia pouco compacta); Solo 2
(Areia média e fina, medianamente compacta); Solo 3 (Areia pouco compacta); Solo 4 (Areia fina e
média, muito compacta); Solo 5 (Areia média e grossa, compacta); Solo 6 (Areia fina à média, compacta
à muito compacta); Solo 7 (Areia siltosa, medianamente compacta); Solo 8 (Silte arenoso pouco argiloso,
medianamente compacto); Solo 9 (Argila siltosa dura), conforme Figura 1.

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Solo 1

Figura 1 - Perfil longitudinal do solo (Dique seco do Estaleiro Atlântico Sul). (Silva, 2011)

2.2 - Apresentação da obra

O Dique seco conta com 400 metros de extensão, 73 metros de largura e 12 metros de profundidade,
onde é servido por dois pórticos Goliaths de 1500 toneladas, dois guindastes de 50 toneladas e dois de
35 toneladas.

As estacas estudadas no Dique seco são do tipo hélice contínua com diâmetro de 0,60 metros, fabricadas
com Fck de 20 MPa, com profundidade de cravação variando entre 15 a 20 metros de profundidade e
foram fabricadas com as seguintes especificações do concreto: com cimento CPIII, com fck de 20 Mpa;
com consumo de cimento de 400 kg/m³; Fator água/cimento menor ou igual a 0,6 e slump (abatimento)
220 mais ou menos 30 mm. No Quadro 2 são apresentadas as características das cinco estacas
analisadas no Dique seco, as quais apresentam a maior solicitação da obra, com valor médio de
solicitação igual a 2.200 kN.

Quadro 2 - Característica das estacas do Dique seco


Carga de trabalho Comprimento (m)
Obra Estaca Tipo Diâmetro (mm)
(kN) Total Efetivo
E31 16,54 15,34
E32 15,83 14,63
Dique Hélice
E53 600 2.200 16,07 14,87
Seco contínua
E74 16,08 14,88
E75 15,82 14,62

2.3 - Metodologia utilizada na análise de confiabilidade das estacas

A metodologia adotada para análise de confiabilidade de nível II foi a sugerida por Cintra e Aoki (2010) e
Aoki (2011). Estes autores consideram que a população analisada é finita e que as curvas de densidade
de probabilidade de Resistência (R) e de Solicitação (S) seguem uma distribuição normal simétrica (ver
também Aoki, 2002). Os autores citados utilizam a seguinte notação que será adotada neste artigo:

vs – coeficiente de variação da solicitação


σs - desvio padrão da solicitação
Sméd – valor médio da solicitação
vr – coeficiente de variação da resistência
σr – desvio padrão da resistência
Rméd – valor médio da resistência
FS – fator de segurança global
β – índice de confiabilidade
pf – probabilidade de ruína
ϕ(β) – função de distribuição normal

Onde:

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s [1]
vs 
Sméd
r [2]
vr 
Rméd
Rméd [3]
FS 
Sméd
vs²  vr²  (  ².vs².vr²)
FS  1   . [4]
1  (  ².vr²)
1
1-
FS [5]
 
2
 1 
vr²    .vs²
 FS 
pf  1     [6]

A Equação (4) foi apresentada por Cintra e Aoki (2010), já a Equação (5) foi deduzida por Cardoso e
Fernandes (2001) e a Equação (6) foi demonstrada por Ang e Tang (1984), conforme citado por Cintra e
Aoki (2010). Para o cálculo da função de distribuição normal foi utilizada a planilha eletrônica Excel (ver
Cintra e Aoki, 2010).

O índice de confiabilidade representa um parâmetro que relaciona a margem de segurança, representada


pela diferença entre resistência média e solicitação média, e a variabilidade dos resultados. Quanto maior
a margem de segurança, menor é a variação e maior é o índice de confiabilidade, representando uma
segurança maior para a obra.

Neste trabalho a confiabilidade foi analisada utilizando metodologias para os níveis de rigor II e III. O
nível de confiabilidade II foi obtido com uso da metodologia sugerida por Cintra e Aoki (2010) e Aoki
(2011), para um número pequeno de amostras de variáveis aleatórias. Já o nível de confiabilidade III foi
obtido com o incremento na qualidade da amostra pela utilização da simulação de Monte Carlo, onde
foram gerados dados aleatórios para distribuição de probabilidade uniforme e triangular, com repetições
de 10 mil e 100 mil dados.

Os resultados obtidos de índice de confiabilidade e probabilidade de ruína para os níveis de confiabilidade


II e III foram comparados com os intervalos de segurança recomendados pela literatura especializada e
por normas internacionais, para o tipo de obra.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Determinação da capacidade de carga

3.1.1 - Amostra real

No Dique Seco a capacidade de carga das estacas foi estimada através dos métodos semiempíricos
sugeridos por Aoki e Velloso (1975), Décourt e Quaresma (1978) e Antunes e Cabral (1996) tendo como
referência seis sondagens a percussão. Todos os métodos semiempíricos utilizados na análise da obra,
apresentam como parâmetro de cálculo os resultados de sondagem SPT. Os resultados dos ensaios
podem variar de forma considerável numa mesma obra seguindo a variação do perfil geotécnico local.
Portanto, a variabilidade analisada é decorrente da variação dos resultados de capacidade de carga de
uma mesma estaca calculada para diferentes sondagens de referência, conforme Quadro 3. Para uma
melhor interpretação da análise estatística foi apresentado no Quadro 3 um exemplo de como se obtém a
variação dos resultados de capacidade de carga para os métodos semiempíricos.

No exemplo foram apresentados os valores estimados através do método sugerido por Aoki e Velloso
(1975) referente às estacas analisadas da obra. Para todos os outros métodos a análise foi a mesma,
tendo como referência de cálculo as sondagens SPT. O Quadro 3 apresenta os valores obtidos para a
resistência total (R), de ponta (RP) e por atrito lateral (RL) para as estacas B5E31, E32, E53, E74 e E75
com referência nas sondagens SM06, BHM08, BHM09, SMA14, SPT67 e BHM06.

Quadro 3 - Capacidade de carga das estacas em função das diferentes sondagens do Dique seco através do método
Aoki e Velloso (1975)
Sondagens Grupo de Estacas 1

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Cargas B5E31 E32 E53 E74 E75


RL (kN) 3916,2 3804,3 3842,1 3843,7 3802,7
SM06 RP (kN) 1306,3 1430,7 1430,7 1430,7 1430,7
R (kN) 5222,5 5235,0 5272,8 5274,4 5233,4
RL (kN) 3201,8 3089,9 3127,7 3129,3 3088,3
BHM08 RP (kN) 1150,8 902,0 1150,8 1150,8 902,0
R (kN) 4352,5 3991,8 4278,5 4280,0 3990,2
RL (kN) 2829,5 2807,5 2855,4 2857,4 2805,5
BHM09 RP (kN) 2799,2 2565,9 2799,2 2799,2 2565,9
R (kN) 5628,6 5373,4 5654,6 5656,6 5371,4
RL (kN) 4271,5 4122,2 4172,7 4174,8 4120,1
SMA14 RP (kN) 1337,4 1119,7 1181,9 1181,9 1119,7
R (kN) 5608,9 5241,9 5354,6 5356,7 5239,8
RL (kN) 1997,5 1933,8 1955,4 1956,3 1932,9
SPT67 RP (kN) 1922,7 2120,6 2120,6 2120,6 2120,6
R (kN) 3920,2 4054,4 4075,9 4076,8 4053,5
RL (kN) 3524,4 3463,5 3484,1 3484,9 3462,6
BHM06 RP (kN) 1696,5 1555,1 1555,1 1555,1 1555,1
R (kN) 5220,9 5018,6 5039,2 5040,0 5017,7

3.1.2 - Amostra da simulação Monte Carlo com 10 mil e 100 mil dados gerados

Segundo Silva Neto (2016) foi desenvolvida a simulação Monte Carlo para distribuição de probabilidade
uniforme, os quais os dados de resistência, foram obtidos para os três métodos semiempíricos de
estimativa de capacidade de carga, e solicitação, com 10 mil e 100 mil dados gerados. Também foram
gerados dados aleatórios, de resistência e solicitação, para distribuição de probabilidade triangular com
10 mil e 100 mil dados gerados.

3.2 - Variação dos resultados de resistência e solicitação

No Quadro 4 são apresentados os resultados estatísticos de resistência encontrados para os três métodos,
assim como os resultados estatísticos de solicitação, mostrando os valores de coeficiente de variação da
resistência, e coeficiente de variação da solicitação, dos estaqueamentos estudados no Dique seco. Como
neste caso não há variação da solicitação Cintra e Aoki (2010) recomendam que seja adotado um
coeficiente de variação mínimo de 10% devido ao arredondamento no cálculo do número de estacas do
grupo e a distribuição das cargas nas estacas não ser homogênea.

Quadro 4 - Análise estatística dos valores obtidos através da amostra real para o Dique Seco
Carga média Desvio
Coeficiente de
Amostra Referência (Rméd ou Sméd) Padrão
variação (%)
(kN) (σ) (kN)
Aoki e Velloso (1975) 4904,5 602,2 12,28
Décourt e Quaresma (1978) 3846,3 773,7 20,12
Real
Antunes e Cabral (1996) 4977,5 1083,6 21,77
Solicitação 2200,0 220,0 10

No Quadro 5 são apresentados os valores estatísticos de resistência e solicitação, para os dados gerados
através da simulação Monte Carlo, por distribuição de probabilidade uniforme e triangular, com 10 mil e
100 mil dados gerados.

Quadro 5 - Análise estatística dos valores obtidos através da simulação Monte Carlo para o Dique Seco

Carga média Desvio


Distribuição de Quantidade de Coeficiente de
Referência (Rméd ou Padrão
Probabilidade dados gerados variação (%)
Sméd) (kN) (σ) (kN)

Aoki e Velloso (1975) 4786,8 501,3 10%


Décourt e Quaresma (1978) 3743,1 755,1 20%
10.000
Antunes e Cabral (1996) 4912,7 977,4 20%
Solicitação 2201,6 126,5 6%
Uniforme
Aoki e Velloso (1975) 4788,3 501,5 10%
Décourt e Quaresma (1978) 3755,4 760,7 20%
100.000
Antunes e Cabral (1996) 4905 979,6 20%
Solicitação 2199,1 127,4 6%
Aoki e Velloso (1975) 4834,3 351,3 7%
Triangular 10.000
Décourt e Quaresma (1978) 3788,8 538,1 14%

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Antunes e Cabral (1996) 4934,8 694,7 14%


Solicitação 2199,7 89,6 4%
Aoki e Velloso (1975) 4827,6 354,7 7%
Décourt e Quaresma (1978) 3785,1 538,9 14%
100.000
Antunes e Cabral (1996) 4925,2 694,2 14%
Solicitação 2199,9 89,9 4%

Analisando os resultados de coeficiente de variação na obra do Dique Seco podemos perceber os


seguintes comportamentos:

 Para todos os dados de resistência, tanto os da amostra real como os gerados através da simula-
ção, houve variação decorrente do método semiempírico de estimativa de capacidade de carga,
uma vez que cada método apresentado assumiu um coeficiente de variação próprio para cada
amostra de dados. Para os dados obtidos através da simulação Monte Carlo, os coeficientes de
variação dos métodos Décourte e Quaresmas (1978) e Antunes e Cabral (1996) apresentou-se
igual, tanto para distribuição de probabilidade uniforme, como para triangular;

 Comparando os valores de coeficiente de variação de resistência e solicitação obtidas para a


amostra real e para as amostras geradas pela simulação, podemos perceber que para distribui-
ção de probabilidade uniforme, houve uma diminuição dos coeficientes de variação em relação
aos obtidos através da amostra real, exceto para os métodos propostos por Décourt e Quaresma
(1978) e Antunes e Cabral (1996), para os quais o coeficiente de variação permaneceu o mesmo
para as duas análises;

 Já comparando os valores de coeficiente de variação de resistência e solicitação obtidas para a


amostra real e para as amostras geradas pela simulação, através da distribuição de probabilida-
de triangular, houve uma diminuição dos coeficientes de variação em relação aos obtidos através
da amostra real;

 Os coeficientes de variação obtidos através das simulações com 10 mil e 100 mil dados gerados,
para a distribuição de probabilidade uniforme, são iguais para todas as referências de resistência
e solicitação. Para a distribuição de probabilidade triangular, a mesma condição é observada, on-
de os valores para 10 mil e 100 mil dados gerados não apresentam diferença significativa;

Nas análises probabilísticas da obra foi utilizado o valor médio de resistência e solicitação das estacas,
pois foram escolhidas para análise as estacas mais solicitadas e a elas foi atribuída a mesma importância
estrutural.

3.3 - Análise das curvas densidade de probabilidade

Dada à variabilidade existente tanto em R como em S, pode-se fazer uma análise estatística e construir
as curvas das funções de densidade de probabilidade de resistência e de solicitação, para o caso da
distribuição normal simétrica. Foi assumido que as curvas de resistência e solicitação das estacas
apresentam a distribuição normal sugerida por Gauss.

No estaqueamento da obra do Dique Seco, quando avaliados os dados da amostra real vistos na Figura 2,
a convolução das curvas se apresenta pequena, para os valores de capacidade de carga estimados pelo
método Aoki e Velloso (1975), o que indica que a obra deve ter uma probabilidade de ruína baixa, para
um fator de segurança igual a 2,23, que se apresenta em conformidade com a NBR 6122/2010. Já para
os valores de capacidade de carga estimados pelos métodos Décourt e Quaresma (1978) e Antunes e
Cabral (1996), a convolução das curvas se apresentou maior, o que indica uma maior probabilidade de
ruína para fatores de segurança iguais a 1,75 e 2,26, onde o valor de 1,75, obtido através do método
Décourt-Quaresma (1978), não se encontra em conformidade com a norma nacional de fundações.

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Curvas densidade de probabilidade


Dique Seco
(amostra real)

Densidade de probabilidade
0,0050
0,0045 Aoki e Velloso
(1975)
0,0040
Solicitação
0,0035
0,0030
Décourt e
0,0025 Quaresma (1978)
0,0020 Antunes e Cabral
0,0015 (1996)
0,0010
0,0005
0,0000

10000
0

1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
9000
9500
500

Resistência e Solicitações em kN

Figura 2 - Curvas densidade de probabilidade do Dique Seco amostra real

A Figura 3 apresenta as curvas de densidade de probabilidade dos dados da simulação Monte Carlo para
distribuição de probabilidade uniforme e geração de 10 mil e 100 mil dados aleatórios. Devido à
constatação observada no Quadro 5, na qual os valores estatísticos das simulações para 10 mil repetições
e para 100 mil repetições não apresentaram diferença significativa, utilizamos apenas a Figura 3 para
apresentar o comportamento das curvas densidade de probabilidade, uma vez que mantidas as
características estatísticas a forma que as curvas assumem são idênticas. A mesma condição foi
observada e considerada na Figura 4, que representa as curvas de densidade de probabilidade dos dados
da simulação Monte Carlo para distribuição de probabilidade triangular.

Nas curvas densidade de probabilidade apresentadas na Figura 3, quando avaliados os dados da amostra
obtida através da simulação Monte Carlo para distribuição de probabilidade uniforme, a convolução das
curvas apresenta-se pequena, para a curva de resistência referenciada no método sugerido por Aoki e
Velloso (1975). Já para os métodos sugeridos por Décourt e Quaresma (1978) e Antunes e Cabral (1996)
a convolução apresenta-se grande, sugerindo uma maior probabilidade de ruína.

Curvas Densidade de Probabilidade


Dique Seco
(Distribuição de probabilidade uniforme)
0,0050
0,0045 Aoki e Velloso
Densidade de Probabilidade

(1975)
0,0040
Décourt e
0,0035
Quaresma (1978)
0,0030
Antunes e Cabral
0,0025
(1996)
0,0020
Solicitação
0,0015
0,0010
0,0005
0,0000
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
9000
9500
10000
500

Resistência e Solicitação (kN)

Figura 3 - Curvas densidade de probabilidade do Dique Seco para simulação Monte Carlo com distribuição de
probabilidade uniforme

Nas curvas densidade de probabilidade apresentadas na Figura 4, a convolução das curvas apresenta-se
pequena, para os valores de resistência e solicitação obtidos pela simulação Monte Carlo com distribuição

722
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

de probabilidade triangular.

Curvas Densidade de Probabilidade


Dique Seco
0,0050 (Distribuição de probabilidade triangular)
Densidade de Probabilidade 0,0045
0,0040 Aoki e Velloso
0,0035 (1975)

0,0030 Décourt e
Quaresma (1978)
0,0025
Antunes e Cabral
0,0020 (1996)
0,0015 Solicitação
0,0010
0,0005
0,0000

10000
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
7500
8000
8500
9000
9500
500

Resistência e Solicitação (kN)


Figura 4 - Curvas densidade de probabilidade do Dique Seco para simulação Monte Carlo com distribuição de
probabilidade triangular

Analisando o comportamento das curvas nas Figuras 2, 3 e 4 podemos perceber o seguinte:

 A geração dos dados de solicitação por distribuição de probabilidade uniforme apresentou uma
variação maior que aqueles utilizando a distribuição de probabilidade triangular, onde na compa-
ração das curvas nas Figuras 3 e 4 podemos perceber que a de solicitação na Figura 4 apresenta-
se mais fina que a vista na Figura 3. A curva de solicitação da Figura 2 apresentou uma variação
maior que as curvas de solicitação das Figuras 3 e 4;

 As curvas de resistência das Figuras 3 e 4 se deslocaram para a esquerda do gráfico, ou seja, di-
minuíram suas resistências médias, aproximando-se da solicitação média, quando comparadas
com as apresentadas na Figura 2;

 A forma das curvas de resistência dos métodos semiempíricos Décourt e Quaresma (1978) e An-
tunes e Cabral (1996) nas Figuras 3 e 4 apresenta-se diferente para os coeficientes de variação
iguais, conforme pode ser observado no Quadro 5. Isso se dá devido a intensidade dos valores de
desvio padrão das curvas, onde mantidos os mesmos coeficientes de variação, mas com valores
médios e de desvio padrão distintos, os que apresentam um desvio padrão maior vão ter curvas
mais alongadas, representando uma maior dispersão dos valores em torno da média.

Comparando as Figuras 3 e 4, pode-se perceber que todas as curvas da Figura 4 são mais finas que as da
Figura 3, logo os dados estatísticos dessas curvas apresentam uma dispersão menor em torno do valor
médio, que os das curvas da Figura 3. O fato pode também ser constatado através da comparação dos
coeficientes de variação dos dados gerados pela simulação Monte Carlo com distribuição de probabilidade
uniforme e triangular, no Quadro 5.

3.4 - Resultados de probabilidade de ruína e confiabilidade

Os valores de probabilidade de ruína e confiabilidade apresentados no Quadro 6 foram calculados através


das equações (6) e (5), assim como os fatores de segurança apresentados foram estimados com o auxílio
da equação (4). O valor de “N” no Quadro 6 é igual ao inverso da probabilidade de ruína estimada
através da equação 6.

Quadro 6 - Valores da probabilidade de ruína e confiabilidade do projeto do Dique Seco


Nível de Análise
Método
de Amostra Repetições FS β pf=1/N
semiempírico
Confiabilidade
Aoki e Velloso
II Real - 2,23 4,22 1/83.000
(1975)

723
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Décourt e
1,75 2,05 1/49,0
Quaresma (1978)
Antunes e Cabral
2,26 2,51 1/166
(1996)
Aoki e Velloso
2,18 5 1/3.400.000
(1975)
Simulação
10.000 e Décourt e
III Monte Carlo 1,71 2,01 1/44,0
100.000 Quaresma (1978)
(uniforme)
Antunes e Cabral
2,23 2,74 1/320
(1996)
Aoki e Velloso
2,2 7,2 Tende a zero
(1975)
Simulação
10.000 e Décourt e
III Monte Carlo 1,72 2,92 1/578
100.000 Quaresma (1978)
(Triangular)
Antunes e Cabral
2,24 3,89 1/19.800
(1996)

As referências utilizadas para interpretação dos resultados de probabilidade de ruína e confiabilidade da


obra são as recomendações da escala subjetiva de risco e tempo de recorrência considerando a
recomendação da norma MIL – STD – 882, conforme Quadro 7.

Também as recomendações segundo Meyerhof (1995, apud Cardoso e Fernandes, 2001) considera que a
probabilidade de ruína ligada a projetos de fundações deve se situar entre 0,0004 (1/2.500) a 0,0001
(1/10.000). Comparando ainda a outro critério, Oliveira et. al. (2012) citado por Silva (2012) demonstra
os limites de probabilidade de ruína que o Código Europeu estabelece:

 Em obra de pequeno porte (RC1), a probabilidade limite é de 1/2.069;

 Em obras comerciais (RC2), o limite é de 1/13.822 e;

 Em grandes obras (RC3) a probabilidade deve ser 1/117.096.

Quadro 7 - Escala subjetiva de risco e tempo de recorrência considerando a recomendação da norma MIL – STD – 882
(Clemens, 1983) ampliada e citada por Aoki (2011)
Tempo Nível
β Ocorrência Nível
recorrência Frequência probabilidade pf
-7,94 Certeza 1dia todo dia 1 1,000000
0,00 50% probabilidade 2 dias a cada 2 dias 2x100 0,500000
0,52 Freqüente 1 semana toda semana A 3x10-1 0,300000
1,88 Provável 1 mês todo mês B 3x10-2 0,030000
2,75 Ocasional 1 ano todo ano C 3x10-3 0,003000
3,43 Remota 10 anos a cada década D 3x10-4 0,000300
Extremamente
4,01 E 3x10 -5
remota 100 anos a cada século 0,000030
Impossível na
4,53 3x10 -6
prática 1000 anos a cada milênio 0,000003
idade do 1,82648E-
7,27 Nunca
5,475E+12 universo 0 13

Como o caso avaliado no presente artigo se refere a uma obra industrial, a probabilidade de ruína deveria
atender a um valor intermediário entre RC2 e RC3 que consideramos ser de 1/70.000, para obras
classificadas como RC2. No Quadro 8 são apresentadas as avaliações dos valores de probabilidade de
ruína e confiabilidade do Dique Seco

No Quadro 8, apenas os valores de probabilidade de ruína e confiabilidade estimados com referência no


método semiempírico sugerido por Aoki e Velloso (1975) apresentam-se, para a amostra real, aceitáveis
para o intervalo recomendado por Meyerhof (1995) e pelo Eurocode EN (1990). Para a amostra obtida
com a simulação Monte Carlo para distribuição de probabilidade uniforme, os valores referentes aos
métodos sugeridos por Décourt e Quaresma (1978) e Antunes e Cabral (1996), para os intervalos
recomendados pelo código Europeu e por Meyerhof (1995) foram classificados como não aceitáveis. Para
a amostra obtida com a simulação Monte Carlo para distribuição de probabilidade triangular, os valores
referentes aos métodos sugeridos por Décourt e Quaresma (1978), para o intervalo recomendado pelo
código Europeu e segundo Meyerhof (1995), foram classificados como não aceitáveis.

724
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 8 - Classificação da obra do Dique Seco para as diferentes análises


Tempo de Eurocode
Escala de risco Segundo
Amostra Método semiempírico recorrência EN (1990)
de ruína Meyerhof
(anos) (RC2)
Extremamente
Aoki e Velloso (1975) 100 Aceitável Aceitável
remota
Décourt e Quaresma Não Não
Real Provável 1/12
(1978) aceitável aceitável
Não Não
Antunes e Cabral (1996) Ocasional 1
aceitável aceitável
Impossível na
Aoki e Velloso (1975) 1000 Aceitável Aceitável
prática
Simulação
Décourt e Quaresma Não Não
Monte Carlo Provável 1/12
(1978) aceitável aceitável
(uniforme)
Não Não
Antunes e Cabral (1996) Ocasional 1
aceitável aceitável
Aoki e Velloso (1975) Nunca 5,48x10¹² Aceitável Aceitável
Simulação Décourt e Quaresma Não Não
Ocasional 1
Monte Carlo (1978) aceitável aceitável
(Triangular) Extremamente
Antunes e Cabral (1996) 100 Aceitável Aceitável
remota

4- CONCLUSÕES

As principais conclusões da pesquisa são listadas abaixo:

 Para a o cálculo da capacidade de carga das estacas tipo hélice contínua o método sugerido por
Aoki e Velloso (1975) foi o que apresentou menor variação, maior confiabilidade e menor proba-
bilidade de ruína, para as três amostras analisadas.

 O método semiempírico proposto por Décourt e Quaresma (1978) apresenta a maior variação, de
capacidade de carga das estacas, para a obra, o menor índice de confiabilidade e a maior proba-
bilidade de ruína, para todas as amostras estudadas, tanto as reais como as obtidas através da
simulação Monte Carlo. Portanto, o método apresenta grande sensibilidade aos valores das son-
dagens, na estimativa de resistência das estacas tipo hélice contínua.

 O método proposto por Antunes e Cabral (1996) apresenta maior variação que o método sugeri-
do por Aoki e Velloso (1975) e menor variação que o método proposto por Décourt e Quaresma
(1978) para estimativa das estacas tipo hélice contínua, para todas as amostras estudadas, tanto
as reais como as obtidas através da simulação Monte Carlo. Entretanto, os resultados apresentam
uma probabilidade de ruína alta e uma confiabilidade baixa, em comparação aos valores reco-
mendados pelas referências, para a amostra real e a obtida através da simulação Monte Carlo
com distribuição de probabilidade uniforme.

 O valor da probabilidade de ruína estimado a priori depende do método semiempírico utilizado


para avaliação de resistência, ocasionando alta variabilidade nos resultados.

 Na obra podemos evidenciar uma grande variabilidade dos valores de probabilidade de ruína e
confiabilidade estimados pelos três métodos semiempíricos, para as três amostras analisadas, pa-
ra fatores de segurança com valores muito próximos, o que demonstra que mesmo utilizando fa-
tores de segurança recomendados pela NBR 6122/2010 as obras podem não apresentar a confia-
bilidade desejada.

 A metodologia sugerida por Cintra e Aoki (2010) e Aoki (2011) para avaliar a confiabilidade de
um projeto de fundações, apresenta valores maiores de probabilidade de ruína e menores de con-
fiabilidade para amostras pequenas. Já para amostra gerada através da simulação Monte Carlo o
método apresentou menor probabilidade de ruína e maior confiabilidade, quando comparado com
os valores da amostra real. O resultado demonstra que a metodologia aplicada a pequenas amos-
tras fica a favor da segurança, pois a confiabilidade para uma amostra que melhor se aproxima
da população tende a ser maior.

 A confiabilidade obtida através da amostra gerada pela simulação Monte Carlo, com distribuição
de probabilidade uniforme, gera valores maiores ou iguais que os obtidos através da análise da
amostra real.

725
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

 A confiabilidade obtida através da amostra gerada pela simulação Monte Carlo, com distribuição
de probabilidade triangular, gera valores maiores que aqueles obtidos através da análise da
amostra real. Considerando que as curvas densidade de probabilidade apresentam a forma de
curva normal, e que a distribuição de probabilidade triangular mais se aproxima da forma dessa
curva, os valores de confiabilidade dessa análise devem se aproximar mais da realidade da obra,
quando comparados com os valores obtidos através da simulação Monte Carlo para distribuição
de probabilidade uniforme.

 Os histogramas triangulares, gerados pela simulação Monte Carlo para as estacas tipo hélice con-
tínua, apresentam-se próximos de serem simétricos, ajustando-se bem a consideração de Cintra
e Aoki (2010) e Aoki (2011), e também a forma da curva normal.

 A análise de confiabilidade para o nível de rigor II, conforme metodologia sugerida por Cintra e
Aoki (2010) e Aoki (2011), mostra-se viável, uma vez que os resultados de probabilidade de ruí-
na e confiabilidade ficam a favor da segurança, em relação a análise de confiabilidade para o nível
de rigor III.

REFERÊNCIAS

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Janeiro: ABNT.

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Aoki, N. (2011) - A probabilidade de ruína e os fatores de segurança em fundações. 7ª. Palestra ABMS, CD-ROM,
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Tecnologia, V.XIX, pp. 48-64, Brasil.

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Barros, N. B. F. (2012) - Previsão de recalque e análise de confiabilidade de fundações em estaca hélice contínua.
Dissertação de mestrado – Escola de engenharia de São Carlos da universidade de São Paulo.

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desing according of Eurocode 7. Géotechnique 51, No. 6, pp. 519-531.

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Pfaltzgraff, P. A. S. (1998) - Carta geotécnica e de sustentabilidade a processos geológicos do Município de


Ipojuca/Pernambuco. Recife: CPRM/FINDEM.

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726
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

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carga vertical baseado em análises de fiabilidade. Revista Engenharia Civil – UM, Portugal.

727
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

APLICAÇÃO PRÁTICA DE METODOLOGIAS DE INTERPRETAÇÃO DE ENSAIOS


BIDIRECIONAIS EM ESTACAS ESCAVADAS NO BRASIL

PRACTICAL APPLICATION OF INTERPRETATION METHODOLOGIES OF BI-


DIRECTIONAL TESTS ON BORED PILES IN BRAZIL

Dada, Thaís L.; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, thaisldada@gmail.com
Massad, Faiçal; Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, faical.massad@usp.br

RESUMO

O ensaio bidirecional em estacas tem sido cada vez mais utilizado para a previsão de seu comportamento
carga-recalque. Após breve menção histórica, o artigo apresenta alguns detalhes técnicos de sua
execução e vários métodos para a obtenção das curvas carga-recalque equivalentes, simulando uma
prova de carga estática convencional (cargas de cima para baixo). Além do “método tradicional” (Silva,
1983; Osterberg, 1995), que admite a estaca como sendo infinitamente rígida, apresentam-se outros
três, que consideram a sua compressibilidade, envolvendo: a) as formulações do Modelo de Fleming
(1992), que serviram de base para o Método de England (2005; 2009); b) o uso do Modelo de Coyle-
Reese (1966), de uma forma inovadora; e c) o Método de Massad (2015). São apresentados estudos de
caso de estacas hélice contínua e ômega, executadas em Belo Horizonte e São Paulo, Brasil. Em um dos
casos, os resultados foram comparados com prova de carga estática convencional.

ABSTRACT

The bi-directional test in piles has been increasingly used for the prediction of its load-settlement
behavior. After a brief historical reference, the paper presents some technical details of its execution and
several methods for obtaining the equivalent top-down load-settlement curve, simulating a conventional
static load test. In addition to the "traditional method" (Silva, 1983; Osterberg, 1995), which considers
the pile as being infinitely rigid, three others are presented, taking into account its compressibility, as
follow: a) the formulations of Fleming's Model (1992), on which the Method of England (2005; 2009) is
based; b) the use of the Coyle-Reese Model (1966), which constitutes an innovation; and c) the Massad's
Method (2015). Case studies of continuous flight auger and omega piles, installed in Belo Horizonte and
São Paulo, Brazil, are presented. In one case, the results were compared with conventional static load
test.

1– INTRODUÇÃO

O ensaio bidirecional foi desenvolvido no Brasil por Elísio Silva (Silva, 1983), paralelamente a outros
pesquisadores, conforme cita Fellenius (2017), sendo amplamente divulgado por Osterberg (1989).

Para a execução do ensaio, uma ou mais células expansivas (expancells, ou O-cells) são instaladas, em
geral, junto à ponta da estaca, conforme ilustra a Figura 1. As células são expandidas hidraulicamente,
empurrando o trecho I (fuste) para cima e o trecho II (ponta) para baixo, sem haver a necessidade de
sistemas de reação para os carregamentos impostos, o que propicia maior rapidez e segurança na sua
execução. Os movimentos ascendentes e descendentes são medidos com um ou dois tell tales, instalados
no nível da expancell, e com defletômetros ou transdutores de deslocamentos, no topo da estaca.

No trecho I (fuste), a força solicitante corresponde à carga aplicada pela expancell, menos o peso
submerso do fuste da estaca, e é igual à resultante do atrito lateral. No trecho II (ponta), para a
obtenção da força solicitante, devem-se somar a força aplicada pela expancell e a pressão neutra no nível
da célula, sendo igual à resultante do atrito lateral ao longo do trecho II, mais a resistência de ponta real
(Fellenius, 2017). O trecho II como um todo pode ser tomado como uma "ponta fictícia", para fins
práticos.

São obtidas curvas carga-recalque para o trecho I (fuste) da estaca e para o trecho II (ponta real, ou
ponta fictícia), que permitem: a) separar as parcelas de atrito lateral e resistência de ponta real, quando
a expancell é instalada próxima à mesma; e b) estimar a curva carga-recalque equivalente para
carregamentos a partir do topo da estaca, simulando a prova de carga estática convencional.

728
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 1 - Esquema ilustrativo do funcionamento do ensaio bidirecional, com indicação dos trechos da estaca "I" e "II"
(fonte: adaptado de Fugro Loadtest, 2017)

Para a obtenção da curva carga-recalque equivalente, há diversas metodologias. O "método tradicional"


(Silva, 1983; 1986; Osterberg, 1995; 1998) admite que a estaca é infinitamente rígida. Outros métodos
foram desenvolvidos considerando a compressibilidade da estaca, destacando-se o Método de England
(2005; 2009), que utiliza as formulações de Fleming (1992), e o de Massad (2015), baseado no
coeficiente c’, correlato do coeficiente c de Leonards e Lovell (1979) para a estimativa dos
encurtamentos elásticos de estacas.

Este trabalho apresenta estudos de caso de três estacas escavadas, executadas em obras no Brasil, as
quais foram submetidas a ensaios bidirecionais. Apresentam-se as curvas carga-recalque equivalentes
obtidas pelos métodos citados no parágrafo anterior, com a ressalva de que, como o Método de England
(2005; 2009) é baseado no Modelo de Fleming (1992), preferiu-se utilizar este diretamente. Também é
apresentado um novo método, que corresponde à aplicação do Modelo de Coyle-Reese (1966). Em um
caso de obra, foi possível comparar os resultados obtidos com os dados de prova de carga estática
convencional.

2– ENCURTAMENTO ELÁSTICO DE ESTACAS

Durante o carregamento axial de uma estaca, feito a partir do topo com uma carga Po, ocorre seu
encurtamento elástico e, que pode ser calculado através do coeficiente c de Leonards e Lovell (1979),
conforme a eq. 1 (ver lista de símbolos em anexo):

Qp Al [1]
e  c
Kr Kr

Kr é a rigidez da estaca como peça estrutural, com comprimento L, área da seção transversal S e módulo
de elasticidade E, dada pela eq. 2:

ES [2]
Kr 
L
O coeficiente c é definido pela eq. 3:
Al  Al [3]
c
Al

729
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

isto é, pela relação entre o atrito lateral médio transferido pela estaca ao solo, Al  Al , e o atrito lateral
total, Al (ver a Figura 2-a).

Para casos simples de distribuição do atrito lateral unitário (f), Leonards e Lovell (1979) apresentaram
ábacos para a determinação de c. Assim é que, para distribuição uniforme de f, c = 0,5 e, para
distribuição linearmente crescente com a profundidade, c = 2/3. O coeficiente c também pode ser
aproximadamente determinado através de estimativas de atrito lateral feitas por métodos semi-empíricos
de cálculo de capacidade de carga, como o de Décourt-Quaresma (1978), atualizado por Décourt (2016),
que é utilizado no Brasil. Uma determinação mais rigorosa se consegue através de instrumentação de
estacas, com medidas dos encurtamentos ao longo do fuste.

Figura 2 - Transferência de carga: a) a partir do topo; e b) ensaio bidirecional (fonte: Massad, 2015)

Durante ensaios bidirecionais, o carregamento do trecho I (fuste) é feito de baixo para cima, conforme a
Figura 2-b. Neste caso, o encurtamento elástico é dado pela eq. 4:

Al [4]
e  c'
Kr

onde c' é definido pela eq. 3, porém, relacionada à Figura 2-b. O coeficiente c' é correlato ao coeficiente c
de Leonards e Lovell (1979) e, como se depreende da Figura 2, vale a seguinte relação:

c  c´ 1 [5]

proposta por Massad (2015), que, inclusive, preparou ábacos para a sua obtenção em casos simples de
distribuição do atrito lateral unitário, à semelhança do que fizeram Leonards e Lovell (1979) para
carregamentos a partir do topo da estaca (de cima para baixo).

3– MODELOS DE PREVISÃO DA CURVA CARGA-RECALQUE (CARREGAMENTO NO TOPO)

3.1 – Modelo de Fleming

Fleming (1992) elaborou um modelo de previsão da curva carga-recalque de uma estaca carregada no
topo, baseado em funções hiperbólicas de transferência de carga. O autor estabelece o fator de
flexibilidade adimensional Ms, que correlaciona o recalque do fuste ao atrito lateral mobilizado e último.
Para o recalque da ponta, é considerada a solução de Boussinesq, adotando-se um fator de correção do
efeito da profundidade igual a 0,85.

Inicialmente, o autor desenvolveu soluções para estacas infinitamente rígidas, em que o deslocamento no
topo da estaca (yo) é igual ao deslocamento de qualquer ponto do fuste e da ponta. A eq. 6 sintetiza a
relação entre carga (Po) e recalque (yo) do topo, obtida por esse autor, usando as notações e símbolos
adotados neste trabalho (ver lista de símbolos em anexo). No 2º membro da eq. 6, a primeira e a
segunda parcelas correspondem, respectivamente, às contribuições do atrito lateral e da resistência de
ponta da estaca.

Al ,ult Qp ,ult [6]


Po  
1  M s  D yo 1  0,58  Qp ,ult ( D  Eb  yo )

Para considerar a compressibilidade da estaca, o autor indicou que seja adicionado o encurtamento
elástico, que pode ser calculado através da eq. 1, para carregamentos a partir do topo (ensaio
convencional, de cima para baixo).

730
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

No caso de estacas escavadas, o formato da reação de ponta pode ser do tipo rígido-elástico de
Cambefort (1964), dada pela eq. 7. Neste caso, a eq. 6 deve ser substituída pela eq. 8.

Qp  A  S  R  S  yo [7]

Al ,ult [8]
Po   A  S  R  S  yo
1  M s  D yo

3.2 – Modelo de Coyle-Reese

Coyle e Reese (1966) desenvolveram um método para a obtenção da curva carga-recalque no topo de
uma estaca carregada axialmente, baseado em funções de transferência de carga para o fuste e para a
ponta, as quais são admitidas conhecidas. O procedimento consiste, inicialmente, na subdivisão da estaca
em n elementos. Em seguida, adota-se um pequeno deslocamento para a ponta da estaca, yp e, através
das funções de transferência de carga e do equilíbrio estático, computam-se as forças e os
deslocamentos de cada elemento, de modo iterativo, progredindo da base ao topo da estaca. Dessa
forma resultam diferentes valores de Po e yo para cada yp adotado e, portanto, a curva Po-yo do topo.

A compressibilidade da estaca é levada em conta através da eq. 1, admitindo distribuição uniforme do


atrito lateral unitário em cada um dos n elementos. A discretização da estaca deve ser feita com
elementos de tamanho reduzido, levando em conta as eventuais diferentes camadas do subsolo, de
forma a atingir a precisão adequada para a obtenção da curva carga-recalque do topo.

3.3 – Modelo de Massad

Recorrer-se-á também ao modelo matemático desenvolvido por Massad (1995), que adota como funções
de transferência de carga as Leis ou Relações de Cambefort (1964). O autor considera as estacas como
compressíveis e incorpora as cargas residuais na ponta, quando existentes. O coeficiente k, dado por:

Al ,ult [9]
k
K r  y1

mede a rigidez relativa do sistema estaca-solo do fuste, de tal forma que, se k<2, a estaca se comporta
como "curta" ou rígida e, se k>8, como "longa" ou compressível. O termo y1 é o deslocamento
correspondente ao esgotamento do atrito lateral ("quake").

4– MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIOS BIDIRECIONAIS

A seguir são descritos os quatro métodos utilizados nas análises dos estudos de caso para a obtenção da
curva carga-recalque equivalente para carregamentos a partir do topo da estaca.

4.1 – Método de Elísio-Osterberg

O método proposto por ambos os autores em seus trabalhos (Silva, 1983; 1986; Osterberg, 1995; 1998)
consiste em somar as cargas que geram a mesma magnitude de deslocamento para cima e para baixo,
correspondendo, respectivamente, aos trechos I e II da estaca. Esse procedimento pressupõe que a
estaca é infinitamente rígida (Osterberg, 1995). É considerado como sendo o "método tradicional", por
ser o inicialmente idealizado pelos precursores do ensaio bidirecional.

4.2 – Método de Massad

Massad (2015) apresenta três procedimentos para a obtenção da curva equivalente: o primeiro para
quando se têm leituras de deslocamentos no êmbolo superior da expancell (Figura 3); o segundo, quando
as leituras são feitas apenas no topo da estaca (Figura 4); e o terceiro, quando se têm ambas as leituras.

731
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 - Movimentos para cima medidos no topo da Figura 4 - Movimentos para cima medidos no topo da
célula (Massad, 2015) estaca (Massad, 2015)

O autor utiliza o conceito de ponta fictícia, como foi explicado acima. Ou seja, a curva carga-recalque do
trecho II da estaca é admitida como sendo da ponta fictícia, que inclui o atrito lateral do trecho II e a
resistência de ponta real. Resumidamente, o método consiste em somar as cargas Al e Q´p,
respectivamente dos trechos I (fuste) e II ("ponta fictícia") da estaca, para a mesma magnitude de
deslocamento y´p no topo e na ponta da estaca. Obtém-se assim a carga no topo da estaca (Po),
conforme a eq. 10a.

Po  Al  Q´ p [10a]

Para se obter o deslocamento do topo da estaca (yo), pode-se utilizar a eq. 10b:

c Q´ p [10b]
yo  y´ p  e  
c´ K r

onde o termo e é calculado pela eq. 4. Trata-se de um cálculo aproximado de yo, pois c e c' são
determinados supondo esgotamento do atrito lateral, hipótese essa validada para fins práticos por
Massad (2015) através de vários casos de obra, incluindo os do presente trabalho.

Quando se dispõe de leituras de deslocamentos tanto no topo da estaca, quanto no êmbolo superior da
expancell, o valor de e é obtido diretamente, por diferença entre os valores de deslocamentos medidos.

4.3 – Aplicação das Formulações de Fleming

Para a previsão da curva equivalente, tem sido utilizado o método de England (2005; 2009), que
incorpora as formulações de Fleming (1992). Neste trabalho preferiu-se fazer a sua aplicação direta,
procurando ajustar funções hiperbólicas às duas curvas do ensaio, relativas aos trechos I (fuste) e II
("ponta real ou fictícia") da estaca. Com a curva relativa ao fuste, determinam-se Al,ult e o fator Ms (1ª
parcela do 2º membro da eq. 6) e, com a curva da "ponta", Qp,ult e Eb (2ª parcela do 2º membro da eq.
6). Com esses parâmetros, pode-se estimar a curva equivalente carga-recalque do topo, através da
própria eq. 6, correspondente à condição estaca infinitamente rígida. Para a condição real, estaca
compressível, basta adicionar o encurtamento elástico, dado pela eq. 1. No caso da curva do trecho II se
aproximar mais da 2ª Lei de Cambefort, deve-se susbtituir a eq. 6 pela eq. 8.

4.4 – Aplicação do Modelo de Coyle-Reese

As mesmas funções hiperbólicas ou de Cambefort (1964), ajustadas ao trecho II (descendente) dos


ensaios bidirecionais, podem ser utilizadas como funções de transferência de carga da ponta real ou da
"ponta fictícia". Para o trecho I (ascendente), toma-se a hipérbole transladada para a meia altura do
fuste, levando em conta o encurtamento elástico correspondente através do coeficiente c' (eq. 4),
incorporando assim a heterogeneidade do subsolo nas análises. A aplicação do Método de Coyle e Reese
(1966) é feita supondo que o trecho I é constituído de uma camada equivalente de solo homogêneo.

5– ESTUDOS DE CASOS

São apresentadas aplicações práticas em estacas dos tipos hélice contínua e ômega, executadas em
obras de edificações no Brasil e que foram submetidas ou ao ensaio bidirecional, ou à prova de carga
estática (PCE) convencional. O Quadro 1 apresenta informações gerais sobre essas estacas, inclusive a
fonte bibliográfica dos dados. Esses dados foram mantidos tal como apresentados pelos seus autores.

732
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 1 - Estudos de caso - Informações gerais das estacas


Tipo de Ensaio D L LI LII
Estaca Local Fonte
(m) (m) (m) (m)
PCE Hélice Contínua (E-46) 0,60 16,0 - - Belo Horizonte,
Alonso e Silva (2000)
Bidirecional Hélice Contínua (E-46A) 0,60 15,5 14,0 1,5 Brasil
Bidirecional Ômega (PC-02) 0,70 11,5 8,5 3,0 São Paulo,
Fellenius (2014)
Bidirecional Ômega (PC-07) 0,70 11,5 7,2 4,3 Brasil

Quadro 2 - Estudos de caso - Parâmetros resultantes para o trecho I (fuste) das estacas
Tipo de Ensaio Estaca Kr (kN/mm) c c' k Comportamento
PCE Hélice Contínua (E-46) 442 0,59 0,41 >8 Longas ou
Bidirecional Hélice Contínua (E-46A) 505 0,57 0,43 ~8 Compressíveis
Bidirecional Ômega (PC-02) 906 0,56 0,44 ≤0,2 Curta ou Rígida
Bidirecional Ômega (PC-07) 1069 0,51 0,49 ≤0,2 Curta ou Rígida

Para cada estaca, foram calculados os seguintes parâmetros, relacionados ao trecho I (fuste): Kr, c, c' e
k, apresentados no Quadro 2. Os coeficientes c das estacas ômega foram revistos, sendo determinados
através da distribuição de atrito lateral último usando o método de Décourt-Quaresma (1978), com base
em dados de sondagens à percussão, executadas próximas à PC-02 e à PC-07.

Para cada um dos ensaios bidirecionais, apresentados neste trabalho, foram obtidas duas curvas carga-
recalque: uma para o trecho I (fuste), sendo a leitura de deslocamentos feita no topo da estaca, e outra
para o trecho II ("ponta fictícia"), com leituras de deslocamentos no êmbolo inferior da expancell.

5.1 – Estacas hélice contínua (Belo Horizonte)

Duas estacas hélice contínua E-46 e E-46A, de 0,60 m de diâmetro, foram instaladas em Belo Horizonte,
Brasil, a 2,5 metros de distância entre si. A primeira foi submetida a uma prova de carga convencional e
a outra, a um ensaio bidirecional, como mostrado no Quadro 1. O subsolo consistia de 1,8 m de aterro,
sobreposto a camadas de argila siltosa e silte argiloso, mole (SPT=3 a 5) até 10 m de profundidade e, na
sequência, um solo residual areno-siltoso (SPT=17 a 30). O lençol freático estava a 8 m de profundidade.

A Figura 5 apresenta os resultados do ensaio bidirecional na estaca E-46A, executado pela Arcos
Engenharia. A expancell foi colocada a 14,0 m de profundidade. Na Figura 5, também são indicadas as
curvas de aproximação hiperbólicas, adotadas para a obtenção da curva equivalente, como será descrito
adiante.

Figura 5 - Ensaio Bidirecional - Estaca Hélice Contínua E-46A

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 6 - Prova de Carga Estática Convencional Figura 7 - Curva equivalente x PCE

Para a prova de carga estática convencional (PCE) na estaca E-46, apresentada na Figura 6, o Método de
Duas Retas (Massad e Lazo, 1998; Fonseca et al., 2007) foi aplicado levando a um atrito lateral máximo
(Al,ult) de 1900 kN, y1 igual a 0,35 mm e uma rigidez da ponta de 300 kN/mm. Para cargas acima de
2400 kN, a ponta revelou um comportamento do tipo "strain hardening", sem atingir a ruptura,
provavelmente em decorrência do processo de instalação, com remoldamento do solo. Esses valores
foram confirmados pela aplicação do Modelo Matemático de Massad (1995; 2015) com base nas Relações
Cambefort: o ajuste entre as curvas medidas e calculadas é notável. A estaca comportou-se como uma
estaca longa, com k>8 (Quadro 2). Vale ressaltar que o Método Décourt-Quaresma (1978) levou a
Al,ult=1860kN.
No que diz respeito à estaca E-46A, submetida ao ensaio bidirecional, o atrito lateral máximo ( Al,ult) até
14 m de profundidade foi estimado em 1440 kN pelo Método Décourt-Quaresma (1978), portanto acima
da carga máxima ascendente de 1350 kN (veja a Figura 5-a). Um ajuste com função hiperbólica Al=f(yo)
foi feito na curva ascendente, conforme mostrado na Figura 5-a, eliminando o "salto" no início e
extrapolando no final, admitindo uma carga de ruptura de 1440 kN. A variável yo dessa função hiperbólica
tem, portanto, origem no ponto "O" da Figura 5-a.

O Quadro 3 foi preparado com base no Método de Massad (2015) para a obtenção da curva equivalente
para carregamentos de cima para baixo, usando as eq. 10a e 10b; o resultado está apresentado na
Figura 7. O segmento da estaca abaixo de 14m, com um comprimento de 1,5m, foi tomado como uma
"ponta fictícia", com uma função de transferência de carga dada pela Figura 5-b. Inclui a ponta real e o
atrito lateral do segmento de estaca de 1,5 m.

Quadro 3 - Aplicação do Método de Massad à Estaca E-46A


y´p (mm) Q´p (kN) Al (kN) Po (kN) yo (mm)
0,00 0 0 0 0,00
0,09 50 836 886 1,13
0,11 55 892 947 1,23
0,13 65 945 1010 1,33
0,15 70 995 1065 1,41
0,17 75 1042 1117 1,50
0,21 80 1128 1208 1,64
0,24 93 1185 1278 1,76
0,28 96 1255 1351 1,89
0,34 100 1345 1445 2,06
0,42 140 1442 1582 2,33
0,85 200 1442 1642 2,88
3,85 500 1442 1942 6,47

Em seguida, o já citado Modelo Matemático de Massad-Cambefort (Massad, 1995; 2015) foi aplicado ao
ensaio bidirecional na estaca E-46A, usando o atrito lateral máximo (Al,ult) de 1440 kN, y1 igual a 0,35
mm e rigidez da ponta de 150 kN/mm, este último valor obtido a partir da parte inicial da curva
descendente (Figura 5-b). O resultado também é mostrado na Figura 7, junto à curva medida da prova
de carga estática (PCE) convencional (estaca E-46). Mais uma vez, o ajuste é notável entre as três curvas

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

até a mobilização total da resistência lateral de 1440 kN na estaca E-46A. A Figura 7 mostra, além disso,
que a resistência da ponta fictícia da estaca E-46A, dada pela Figura 5-b, é muito menor do que a
resistência da ponta real da E-46, submetida à PCE, provavelmente face a um remoldamento mais
intenso do solo da ponta. Esse fato é suportado pelo próprio formato da curva descendente da Figura 5-b.

As Figuras 8-a e 8-b permitem comparar as curvas equivalentes, obtidas por outros métodos, com a
prova de carga estática (PCE) convencional na Estaca E-46. Em ambas as figuras, a curva equivalente do
Método de Massad aparece também como referência. As outras curvas equivalentes foram determinadas:

a) através das formulações de Fleming (Figura 8-a), para as hipóteses de estaca rígida e
compressível, com as curvas ascendente do topo da estaca, Al=f(yo), e descendente do ensaio
bidirecional, ajustadas a hipérboles, como mostrado na Figura 5-a e na 5-b; e
b) através do Modelo de Coyle-Reese (Figura 8-b), com a curva descendente do ensaio bidirecional
ajustada à hipérbole, como mostrado na Figura 5-b; a curva ascendente foi transladada à meia
altura da estaca, Al=f(yf), também indicada na Figura 5-a. Também aqui a variável yf dessa
função hiperbólica tem origem no ponto "O" dessa figura.

Vê-se que há uma concordância muito boa nos resultados, desde que se leve em conta a
compressibilidade da estaca. Finalmente, a aplicação do "método tradicional" (Elíseo-Osterberg) e das
formulações de Fleming, supondo estaca infinitamente rígida, conduziram a valores irrealistas de
recalques.

Figura 8 - Curvas equivalentes - Estacas Hélice Contínua - Belo Horizonte

5.2 – Estacas ômega (São Paulo)

Foram estudadas duas estacas ômega, executadas para obra de edificação na cidade de São Paulo em
2014. O subsolo consistia de 2,5 m de um aterro, sobrejacente a camadas de argila siltosa e silte
arenoso, com SPT variando erraticamente de 5 a 15, e de uma areia muito densa abaixo de 9 m de
profundidade. O lençol freático estava a 2 m abaixo da superfície do terreno. Os Quadros 1 e 2
apresentam informações gerais e alguns parâmetros de interesse.

As estacas ômega PC-02 e PC-07, ambas com 0,70 m de diâmetro, foram submetidas a ensaios
bidirecionais, executados também pela Arcos Engenharia. As expancells foram instaladas,
respectivamente, a 8,5 e 7,2 m de profundidade. Os resultados dos ensaios estão apresentados nas
Figuras 9 e 10, bem como as curvas de aproximação matemática, analogamente ao que foi feito para a
estaca hélice contínua. Como as estacas são rígidas (k≤0,2<2), as curvas hiperbólicas de ajuste para
Al=f(yo) e Al=f(yf) praticamente coincidem.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

25 20
Estaca PC-02 Estaca PC-07
15 a) Atrito
20
a) Atrito 10 𝐴𝑙 =
10000 ∙ 𝑦𝑓
7,2m
42,085 + 9,950 ∙ 𝑦𝑓
15
10000 ∙ 𝑦𝑓

Movimentos (mm)
Movimentos (mm)

𝐴𝑙 = 5 10000 ∙ 𝑦𝑜
20,558 + 9,940 ∙ 𝑦𝑓 𝐴𝑙 =
40,179 + 10,007 ∙ 𝑦𝑜
10 8,5m 0
10000 ∙ 𝑦𝑝
𝑄𝑝 = 4,3m
-5 38,337 + 11,678 ∙ 𝑦𝑝
5
10000 ∙ 𝑦𝑜
𝐴𝑙 = -10
0 18,813 + 9,998 ∙ 𝑦𝑜
b) Ponta fictícia
𝑄𝑝 = 300 + 61,82 ∙ 𝑦𝑝 3,0m -15
-5
b) Ponta fictícia
-20
-10 -25

-15 -30
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Cargas (kN) Cargas (kN)
Figura 9 - Ensaio Bidirecional - Estaca Ômega PC-02 Figura 10 - Ensaio Bidirecional - Estaca Ômega PC-07

Na Figura 9-b, estaca PC-02, nota-se que o formato da curva da reação de ponta foi aproximadamente do
tipo rígido-elástico de Cambefort (1964), eq. 7. Este comportamento é típico de estacas escavadas,
conforme comentado anteriormente. Entretanto, para a PC-07 (Figura 10-b), a reação de ponta
apresentou formato aproximadamente hiperbólico, provavelmente por se tratar de ponta fictícia, em que
o atrito lateral ao longo dos 4m deve ter contribuído consideravelmente.

Observa-se que as cargas máximas de atrito lateral atingidas no ensaio foram de 931 (ruptura) e 761 kN,
respectivamente para as estacas PC-02 e PC-07 (Figuras 9-a e 10-a). Para ambas as estacas, esses
valores foram superiores às cargas de atrito lateral último, estimadas por métodos semi-empíricos
através de dados do SPT até a profundidade da expancell, sendo os métodos, nesses casos,
conservadores. Pelo Método de Décourt-Quaresma (1978), obtiveram-se: Al,ult = 667 kN para a PC-02 e
Al,ult = 573 kN para a PC-07. Pelo Método de Bustamante-Gianeselli (1998), resultaram, respectivamente,
592 kN e 633 kN.

No Quadro 4, indicam-se os valores resultantes do Método de Massad (2015), para a obtenção das curvas
equivalentes para carregamentos de cima para baixo, para as estacas PC-02 e PC-07. Os resultados
encontram-se nas Figuras 11 e 12. Analogamente ao que foi feito para a estaca hélice contínua, foi
utilizado o conceito de "ponta fictícia". Para a extrapolação de valores de deslocamentos, foram adotadas
as funções hiperbólicas indicadas na Figura 9-b (PC-02) e na Figura 10-a (PC-07).

Quadro 4 - Aplicação do Método de Massad às Estacas PC-02 e PC-07


Estaca PC-02 Estaca PC-07
y´p (mm) Q´p (kN) Al (kN) Po (kN) yo (mm) y´p (mm) Q´p (kN) Al (kN) Po (kN) yo (mm)
0,00 0 0 0 0,00 0,00 0 0 0 0,00
0,20 127 169 296 0,44 0,02 85 85 169 0,14
0,44 228 338 567 0,90 0,06 169 169 338 0,30
0,80 321 423 744 1,42 0,11 217 254 471 0,43
2,00 423 508 931 2,78 0,30 254 338 592 0,70
4,20 550 635 1184 5,20 1,20 365 423 788 1,74
6,10 671 719 1390 7,29 3,40 475 508 983 4,08
9,50 904 804 1708 11,00 5,90 550 592 1142 6,69
11,25 996 846 1842 12,87 8,50 596 677 1273 9,38
13,80 1153 888 2041 15,62 12,50 658 761 1419 13,47
17,75 1397 931 2328 19,87 14,00 677 777 1453 15,00
20,70 1580 931 2510 23,02 21,70 719 843 1562 22,77
23,50 761 854 1615 24,62
25,20 761 862 1623 26,32

Nas Figuras 11 e 12, estão apresentadas as curvas equivalentes obtidas por outros métodos, sendo
possível compará-las. Em todas, as curvas equivalentes dos Métodos de Massad e de Fellenius aparecem
como referências, esta última sendo reproduzida de Fellenius (2014), que foi obtida pelo autor através do
software UniPile. As outras curvas equivalentes foram determinadas conforme segue:

736
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

a) Nas Figuras 11-a (estaca PC-02) e 12-a (estaca PC-07), apresentam-se as curvas equivalentes
obtidas através das formulações de Fleming, para as hipóteses de estaca rígida e compressível.
As curvas ascendentes dos ensaios bidirecionais, medidas no topo da estaca, Al=f(yo), foram
ajustadas a hipérboles e, as descendentes, ajustadas ou à função rígido-elástica de Cambefort
(PC-02), ou à hiperbólica (PC-07), utilizando-se as equações indicadas nas Figuras 9 e 10;
b) Nas Figuras 11-b (estaca PC-02) e 12-b (estaca PC-07), estão indicadas as curvas equivalentes
obtidas através do Modelo de Coyle-Reese. As curvas ascendentes dos ensaios bidirecionais foram
transladadas à meia altura da estaca, Al=f(yf), conforme indicado nas Figuras 9-a e 10-a, e as
curvas descendentes foram ajustadas da mesma maneira que no item (a).

Po - Carga no Topo (kN) Po - Carga no Topo (kN)


0 500 1000 1500 2000 2500 3000 0 500 1000 1500 2000 2500 3000
0 0
yo - Recalque do Topo (mm)

yo - Recalque do Topo (mm)


5 5

10 10

15 15
(a) (b)
20 20
PC-02 PC-02
25 25

30 30
Método de Fellenius - Estaca PC-02 (fonte: Fellenius, 2014) Método de Fellenius - Estaca PC-02 (fonte: Fellenius, 2014)
Método de Massad - Estaca PC-02 Método de Massad - Estaca PC-02
Método de Fleming (Compressível) - Estaca PC-02 Método de Coyle-Reese - Estaca PC-02
Método de Elísio-Osterberg - Estaca PC-02 Método de Elísio-Osterberg - Estaca PC-02
Método de Fleming (Rígida) - Estaca PC-02 Método de Fleming (Rígida) - Estaca PC-02

Figura 11 - Curvas equivalentes – Estaca Ômega PC-02 – São Paulo

Po - Carga no Topo (kN) Po - Carga no Topo (kN)


0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000
0 0
yo - Recalque do Topo (mm)

yo - Recalque do Topo (mm)

5 5

10 10

15 15
(a) (b)
20 20
PC-07 PC-07
25 25

30 30
Método de Fellenius - Estaca PC-07 (fonte: Fellenius, 2014) Método de Fellenius - Estaca PC-07 (fonte: Fellenius, 2014)
Método de Massad - Estaca PC-07 Método de Massad - Estaca PC-07
Método de Fleming (Compressível) - Estaca PC-07 Método de Coyle-Reese - Estaca PC-07
Método de Elísio-Osterberg - Estaca PC-07 Método de Elísio-Osterberg - Estaca PC-07
Método de Fleming (Rígida) - Estaca PC-07 Método de Fleming (Rígida) - Estaca PC-07

Figura 12 - Curvas equivalentes – Estaca Ômega PC-07 – São Paulo

Observa-se que, diferentemente do que ocorreu para a estaca hélice contínua, no caso das estacas
ômega, a consideração da compressibilidade não teve influência relevante nos resultados. Isto porque as
estacas são muito "curtas" ou muito rígidas, com k<0,2. Também se nota que há uma convergência
muito boa de resultados pelos diversos métodos adotados, em particular para a estaca PC-02.

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6– CONCLUSÕES

O trabalho mostrou as potencialidades do ensaio bidirecional e algumas de suas vantagens em relação a


provas de cargas estáticas convencionais, como maior rapidez e segurança durante sua execução, já que
não há a necessidade de prever sistemas de reação para os carregamentos impostos.

Foram apresentados diversos métodos para interpretar os seus resultados, principalmente no que se
refere à obtenção da curva carga-recalque equivalente, simulando carregamentos a partir do topo da
estaca. Em particular, e neste sentido, o uso do Modelo de Coyle-Reese constitui-se numa inovação dos
autores deste trabalho.

Foram feitas aplicações a três estacas de obras no Brasil, mostrando que os vários métodos analisados
conduzem praticamente às mesmas curvas equivalentes. No caso da estaca hélice contínua de Belo
Horizonte, foi possível fazer comparação com resultado de prova de carga estática convencional,
comprovando a validade dos métodos empregados.

Em todos os casos, como era esperado, ao se considerar a compressibilidade da estaca, os


deslocamentos resultaram maiores que os obtidos para a hipótese de estaca infinitamente rígida. As
diferenças entre os deslocamentos nessas duas condições foram máximas para a estaca hélice contínua,
que se comportou como "longa" (k≥8). Para as duas estacas ômega, as diferenças foram mínimas, pois
elas se comportaram como "estacas curtas" (k<2). Assim a consideração da compressibilidade das
estacas é um fator importante na obtenção das curvas equivalentes.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio dado à pesquisa pela EPUSP – Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo e à CAPES, em particular, pela concessão de bolsa de estudos para a autora principal deste
trabalho.

REFERÊNCIAS

Alonso, U. e Silva, P. E. C. A.F. (2000) - Curva de "recalque equivalente" do topo de uma estaca hélice continua
ensaiada com célula expansiva (EXPANCELL). 4º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia
– SEFE, São Paulo, Brasil (Anais), vol. 1, pp. 416-425.

Bustamante, M. e Gianeselli, L. (1998) - Installation parameters and capacity of screwed piles. 3rd International
Geotechnical Seminar on Deep Foundations on Bored and Auger Piles – BAPIII, Ghent, Belgium (Proceedings),
pp. 95-110.

Cambefort, M. (1964) - Essai sur le Comportement en terrain homogène des pieux isolés et des groupes des piex.
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LISTA DE SÍMBOLOS

A: Parâmetro da 2ª Lei de Cambefort (ver eq. 7)


Al: Atrito lateral total
Al – Āl: Atrito lateral médio transferido pela estaca ao solo
Al,ult: Atrito lateral total último
c: Coeficiente de Leonards e Lovell (ver eq. 3 )
c’: Correlato do c para ensaios bidirecionais
D: Diâmetro da estaca
E: Módulo de elasticidade da estaca
Eb: Módulo de Young do solo sob a ponta da estaca
f: Atrito lateral unitário
k: Rigidez relativa do sistema estaca-solo do fuste
Kr: Rigidez da estaca como peça estrutural
L: Comprimento da estaca
LI: Comprimento do trecho I da estaca (fuste)
LII: Comprimento do trecho II da estaca (ponta fictícia)
Ms: Fator de flexibilidade adimensional
n: Elementos de subdivisão da estaca para cálculo iterativo
Po: Carga axial atuante no topo da estaca
Qp: Carga de ponta total
Q’p: Carga de ponta total no ensaio bidirecional (ponta fictícia), associada a y’p
Qp,ult: Carga de ponta total última
R: Parâmetro da 2ª Lei de Cambefort (ver eq. 7)

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

S: Área da seção transversal da estaca


yo: Deslocamento do topo da estaca
y1: Deslocamento correspondente ao esgotamento do atrito lateral ("quake")
yf: Deslocamento de um ponto do fuste (à meia altura da estaca)
yf,cell: Deslocamento ascendente do topo da expancell
yp: Deslocamento da ponta da estaca
y’p: Deslocamento ascendente do topo da estaca (ensaio bidirecional).
e: Encurtamento elástico da estaca

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

APRESENTAÇÃO E COMPARAÇÃO DE RESULTADOS DE ENSAIO DE


CARREGAMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA

PRESENTATION AND COMPARISON OF RESULTS OF DINAMIC LOADING TEST


AND STATIC LOADING TEST IN CONTINUOUS FLIGHT AUGER PILE

Alencar Júnior, Júlio Augusto de; UFPA, Belém, Brasil, julioalencar.1957@gmail.com


Banha, Gabriel Luis Soto; Solos Consultoria, Belém, Brasil, solosconsultoria@gmail.com
Veloso, Luis Augusto Conte Mendes; UFPA, Belém,Brasil, lacmveloso@gmail.com
Rodrigues Junior, Sandoval Rodrigues; UFPA, Belém, Brasil, srodrigues.jr@gmail.com
Pinheiro, Fernando; Geonort Ltda, Belém, Brasil, fernandopinheiro.geofort@gmail.com

RESUMO

O trabalho apresenta a comparação entre um ensaio de carregamento estático e um ensaio de


carregamento dinâmico realizados em uma mesma estaca do tipo hélice contínua com 60cm de diâmetro
e 15m de comprimento, executada para fundação de um edifício residencial de 30 andares, na cidade de
Belém do Pará, na reigão Amazônia, Brasil. A estaca foi instrumentada com medidores elétricos de
deformação ("strain gages") em 8 níveis ao longo do seu comprimento, com objetivo de se medir a carga
atuante ao longo da mesma durante a execução dos ensaios. Inicialmente foi executada a prova de carga
estática que atingiu a carga de 224tf, com recalque de, aproximadamente, 42mm. A 200tf o recalque médio
medido foi de, aproximadmente, 35mm, já próximo à ruptura. Após 45 dias executou-se o ensaio de
integridade (PIT) e o ensaio de carregamento dinâmico. Esse ensaio mobilizou a carga resistente máxima
de 197tf, ou seja, muito próxima à carga de ruptura medida pelo ensaio estático.

ABSTRACT

The work presents the comparison of results between a static loading test and a dynamic loading test
performed in the same continuous flight auger pile, with 60cm in diameter and approximately 15m long,
executed for the foundation of a 30 story building in the city of Belém do Pará. The pile was monitored with
strain gages in 8 levels along its length with the purpose of measuring load distribution during the tests.
Initially it was performed the static load test, which reached 224tf with 42mm settlement, approximately.
The average measured settlement at 200tf was, approximately, 35mm, already very close to geotechnical
failure. After 45 days, an integrity test (PIT) was executed and the dynamic load test was performed. This
test mobilized the maximum resistance of 197tf, that is a value already close to the failure load measured
for the static load test.

1- INTRODUÇÃO

Entre as estacas mais utilizadas nas áreas urbanas da cidade de Belém, no estado do Pará, Brasil, estão as
estacas tipo hélice contínua monitoradas, entre outras razões pela velocidade de execução, pela
posssibilidade de absorver elevadas cargas do ponto de vista estrutural e geotécnico e devido ao baixíssimo
nível de vibrações e desconfinamento causados durante o processo executivo, o que minimiza o risco de
danos à vizinhança. Contudo, o conhecimento do comportamento desse tipo de estaca, ainda tem sido
muito pouco estudado de maneira conceitual, devido às complexidades envolvidas, principalmente, na
avaliação da distribuição de tensões ao longo de seu fuste e ponta. Assim, nota-se uma crescente
proliferação das estimativas de comportamento com base em relações empíricas. O que tem tornado
freqüente, ao se executar provas de carga, observar-se valores distantes das previsões.

Os ensaios de carregamento utilizados para avaliar a capacidade de carga das estacas são de dois tipos:
ensaios de carregamento dinâmicos e ensaios de carregamento estáticos. A opção de utilização dos ensaios
de carregamento dinâmicos tem crescido aceleradamente em relação ao uso dos ensaios estáticos em
razão de seu menor custo e menor tempo de execução. Contudo, a avaliação de seus resultados envolve
um nível de interpretação substancialmente mais elevado que os ensaios estáticos, cujos valores medidos
podem ser mais diretamente associados à resistência estática mobilizada. Os ensaios dinâmicos, por outro
lado, além do menor custo e menor tempo de execução já mencionado, fornecem estimativa da distribuição
de atrito lateral, que as provas de carga estáticas usualmente realizadas, sem monitoramento ao longo do
fuste, não fornecem. E para melhor estimativa do comportamento de estacas é fundamental o melhor
entendimento da distribuição de tensões ao longo de seu comprimento, podendo-se assim saber qual a
carga, de fato, aplicada ao terreno pela ponta da estaca, possibilitando maior confiabilidade nas previsões
de recalque, o que é determinante para maior economia e confiabilidade dos projetos.

741
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Há certa preocupação quanto à precisão do uso de ensaios dinâmicos na previsão de comportamento de


estacas tipo hélice contínua em razão de ser uma estaca moldada no local e sem revestimento, o que pode,
sem dúvida, gerar dúvidas sobre sua geometria, cujo conhecimento é fundamental para a interpretação do
significado das reflexões de onda captadas pelos acelerômetros (Rausche “et al”, 2017). Pois, se é
informado ao software que o fuste da estaca é uniforme, qualquer reflexão de onda nesse trecho será
considerado fruto da resistência por atrito lateral. Assim, se de fato, houver variação de impedância devido
a alteração da seção lateral, a reflexão de onda gerada por essa variação será, interpretada, erroneamente,
como exclusivamente devido a variação de mobilização de atrito lateral. Logo, é razoável concluir-se que o
ensaio é mais facilmente interpretado em caso de estacas executadas em perfis estratigráficos mais
uniformes, do ponto de vista de sua rigidez, e que não gerem grandes variações de seção no fuste da
estaca. Em outros casos, é fundamental que a interpretação do ensaio leve em consideração a possibilidade
de variações da seção transversal em trechos de solos mais deformáveis. No caso do presente artigo, as
sondagens indicam que não deve haver variações substanciais na seção transversal da estaca.

Os ensaios apresentados neste artigo foram executados em estaca hélice contínua, da fundação de
edifício residencial de 30 pavimentos, Torre Santoro, localizado na cidade de Belém, Pará – Brasil. Foram
executados na mesma estaca prova de carga estática monitorada, de carregamento lento, ensaio de
integridade (PIT) e ensaio dinâmico, para cuja interpretação foi usado o método CAPWAP®.

2- ESTRATIGRAFIA LOCAL

Foram executados 04 furos de sondagem com realização de ensaios tipo SPT na área de projeção da
construção. Os perfis de sondagem indicaram um terreno bastante homogêneo e típico daquela área da
cidade. Na figura 01 é apresentado o perfil relativo ao furo SP04, executado a cerca de 3 m da estaca
testada. Observa-se a existência de camada superficial de silte arenoso, com pedregulhos pouco compacto
a medianamente compacto, sobrejacente a uma sequência de camadas pouco espessas de silte argiloso
com pedregulhos, muito rijo e argila silto arenosa, muito rija. Sujacente à camada de argila, encontra-se
camada de areia siltosa, medianamente compacta a compacta, até o limite da sondagem. O nível de água
foi encontrado a 5,30m abaixo da cota de sondagem. Deve-se observar que a cota de sondagem está
posicionada em superfície já escavada até 3m abaixo do nível do terreno original.

Figura 1 – Furo de sondagem próximo à estaca testada

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3- EXECUÇÃO DOS ENSAIOS E RESULTADOS OBTIDOS

3.1- Instrumentação

A estaca foi instrumentada com extensômetros elétricos de resistência ("strain gages") em 8 níveis ao
longo do seu comprimento, com objetivo de se determinar os esforços atuantes ao longo do fuste durante
a execução dos ensaios. Os extensômetros foram colados em feixe formado de 3 barras de 20mm inserido
no eixo da estaca imediatamente após sua concretagem, e os cabos elétricos, devidamente protegidos e
aderidos ao feixe de barra por fita adesiva, sendo trazidos até a superfície.

Os extensômetros foram instalados em pares nos níveis -0.3m, -2.2m, -4.2m, -6.2m, -8.2m, -10.2m, -
12.2m, -14,2m abaixo da base do bloco de coroamento, figura 2-(a). O bloco de coroamento foi executado
com 2.5m e seu topo está a 2.2 m acima da cota de sondagem. A estaca foi arrasada em 30cm, para
execução do bloco, uma vez que acima do nível de arrasamento, o concreto se mostrava contaminado pelo
processo de execução da estaca, o que é muito comum nesse tipo de fundação. Assim, o último nível de
medidores S1 está a, aproximadamente, 0.5m acima da ponta da estaca. Observou-se que, infelizmente,
após o processo de instalação somente 03 níveis de instrumentação responderam aos testes, mantendo-
se operacionais, a saber: S3, S4 e S8. O nível S3 corresponde ao nínel -4.2m abaixo da base do bloco, o
S4 a -6.2m (praticamente ao meio do fuste) e o nível S8 correspondente ao nível -14,2m (localizado a 0.5
m da ponta da estaca). Nesses testes foram executados 01 ensaio de carregamento estático, com
carregamento lento e após 45 dias da finalização do referido teste, foi executado ensaio dinâmico.

Figura 2 – (a) Posicionamento dos extensômetros ao longo do comprimento da estaca. (b) Fotografia da colocação do
feixe de barras logo após a concretagem da estaca

3.2 - Ensaio de carregamento estático

O sistema de reação utilizado foi composto de quatro estacas tipo hélice contínua solicitadas à tração. Tais
estacas de reação eram ligadas por vigas de aço, as quais resistiam à ação do macaco hidráulico. O bloco
de coroamento, as vigas e as estacas de reação, bem como o macaco hidráulico, foram posicionados de
forma que a estaca ensaiada fosse solicitada verticalmente , conforme mostrado na figura 3. O bloco de
coroamento sobre a testaca foi executado de forma que pudesse ser utilizado para o ensaio dinâmico, como
apresentado na figura 4.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 – Projeto de reação prova de carga estática

Figura 4 – Detalhe da armação do bloco para execução dos esaios estatico e dinâmico

O valor da carga de trabalho das estacas é em torno de 125tf, considerando-se as cargas permanentes. A
prova de carga estática foi executada em intervalos de 28tf. Os valores de carga e recalque médio e máximo,
medidos nos deflectômetros são apresentados na tabela 01. A curva carga x recalque obtida é apresentada
na figura 5.

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Tabela 01 – Valores de carga e recalques medidos na prova de carga estática

Carga REC MEDIO REC MAX

(tf) (mm) (mm)

0 0.000 0.000

28 0.238 0.270

56 1.083 1.120

84 3.233 3.300

112 8.508 8.520

140 14.700 15.090

168 22.420 22.970

196 33.840 34.750

224 40.140 42.440

198 39.995 42.270

168 39.653 41.910

140 39.215 41.490

112 38.680 40.980

84 38.013 40.320

56 37.125 39.440

28 35.895 38.200

0 34.533 36.810

Figura 5 – Curva carga x recalque – prova de carga estática

745
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3.2.1- Valores medidos pela instrumentação

As extensões foram medidas pela taxa de um ponto por segundo durante os oito incrementos de carga
aplicados. Nas seções S3 e S4 haviam dois extensômetros ativos em funcionamento, enquanto que na
seção S8 apenas um. Os resultados das deformações medidas em microstrain estão apresentadas na figura
6.

S3-A

S3-B

S4-A

S4-B

S8

Figura 6 – Séries temporais de deformações medidas em microstrains (μm/m) em função do tempo

Os esforços normais no fuste da estaca foram calculados a partir das extensões medidas pelos
extensômetros, fazendo-se 𝑁 = ∫ 𝜎(𝜖)𝑑𝐴, onde ε são as deformações medidas em m/m e A é a área da
seção transversal do fuste da estaca. Para a determinação das tensões utilizou-se a equação constitutiva
recomendada pela NBR-6118, dada pela equação 1. Na tabela 2 e na figura 7 estão apreesentados os
esforços normais na estaca para os oito níveis de carga aplicados.

2
ȁ𝜖𝑐 ȁ
𝑓𝑐𝑘 . ൥1 − ቆ1 − ቇ ൩ 𝑖𝑓 0 ≤ ȁ𝜖𝑐 ȁ ≤ 0,002
𝜎⬚ 0,002
[𝑀𝑃𝑎]
𝑓𝑐𝑘 𝑠𝑒 0,002 < ȁ𝜖𝑐 ȁ ≤ 0,0035
0 𝑠𝑒 ȁ𝜖𝑐 ȁ > 0,0035

(1)

Onde o fck do concreto da estaca é de 20 MPa.

Tabela 02– Carga x Profundidade

Profundidade(m)
Carga no topo da estaca(tf)
-4,2 -6,2 -14,2
0 0 0 0
28 6,7 5,6 0,4
56 27,8 21,9 0,7
84 45,8 38,6 5,5
112 63,1 61,1 10,7
140 80,3 78,9 15,8
168 101,6 98,5 20,5
196 127 116,4 26,4
224 152,6 132,9 35,9

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28,0 56,0 168,0


0 84,0 140,0 224,0
112,0 196,0

-2

6,7 27,8 101,6


-4 45,8 80,3 152,6
28 tf
63,1 127,0
5,621,9 98,5 56 tf
-6
Profundidade (m)

38,6 78,9 132,9


84 tf
61,1 116,4
-8 112 tf
140 tf

-10 168 tf
196 tf
-12 224 tf

-14 35,9
0,4

-16
Esforço normal (tf)

Figura 7 – Carga x profundidade

3.3 - Ensaio dinâmico

O ensaio dinâmico foi executado 45 dias após a finalização do teste de carga estático de forma a permitir
o mais próximo possível o reestabelecimento das condições originais do contato estaca/solo. O programa
utlizado para a avaliação dinâmica foi o CAPWAP®, adquirido junto à empresa americana Pile Dynamics Inc.

O CAPWAP® é um método interativo, de amplo uso internacional, para cálculo da resistência mobilizada a
partir das reflexões de onda captadas pelos acelerômetros. O valor inicial utilizado para o método CAPWAP ®
é calculado a partir do método CASE, apresentado originalmente por Smith (1963), o qual deu início ao
uso da equação da onda para estimativa de resistência estática mobilizada em estacas.

O ensaio foi realizado com aplicação de carga de martelo de 4,0tf caindo a queda livre com altura de queda
crescente após cada golpe, que é o procedimento usualmente utilizado no Brasil. A tabela 03 apresenta os
valores de energia aplicados para cada altura de queda, bem como os valores de resistência mobilizados,
calculados pelo método CASE. O valor do coeficiente de amortecimento (Jc) utilizado para essas análises
foi o valor calculado pela análise CAPWAP®, realizada no golpe de maior energia, ou seja, o quarto golpe,
com altura de queda de 140cm.

Observa-se também na Tabela 3 que nos três primeiros golpes, registrou-se delocamento plástico nulo,
constatando-se apenas deformações elásticas na estaca, o que é confirmado devido os baixos valores
obtidos como delocamento máximo da estaca (elástico + plástico), registrados na tabela com a
nomenclatura “DMX”, desta forma, a partir do 4º golpe apenas teria-se aumento do deslocamento plástico
e não haveria aumento na carga mobilizada, devido o deslocamento do fuste da estaca.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Tabela 03 – Resultados obtidos pelo método CASE

Estaca:
Locação/Seção: SANTORO / HÉLICE 60cm Martelo (tf): 4 Queda livre
P30-EST 03

BN RMX DMX EMX CSX CSI TSX BTA LTD DESL Queda ETR

tf mm tf-m MPa MPa MPa (%) m mm (cm) (%)

1 79 2 0,26 5,3 6,4 1 22 14,6 0 20 6,6

2 126 5 1,08 10,2 12,3 1,2 53 15,3 0 60 27

3 163 6 2,02 14,4 17,5 2 65 15,8 0 100 50,4

4 197 8 3,24 19,3 19,5 2,3 79 15,4 3 140 81,1

*BN (Número do golpe); RMX (Resistência mobilizada através do Método CASE); DMX (Deslocamento máximo da seção
dos sensores – elástico + plástico); EMX (Energia máxima transferida pelo golpe na seção dos sensores; CSX (Tensão
máxima de compressão na região dos sensores – média da leitura de cada sensor); CSI (Tensão máxima de compressão
na região dos sensores – leitura máxima); TSX (Tensão máxima de tração ao longo do fuste da estaca); BTA (Fator de
integridade do elemento estrutural da estaca); LTD (Profundidade de ocorrência de variações de impedância); DESL (Des-
locamento plástico medido em campo); QUEDA (Altura de queda do martelo); MARTELO (Peso e tipo do martelo utilizado);
ETR (Eficiência calculada do golpe)

Os resultados obtidos pela avaliação do último golpe aplicado, pelo método CAPWAP estão apresentados
na tabela 04. O ensaio foi paralizado em razão das tensões de compressão (CSI – Tabela 03) e de tração
(TSX - Tabela 03) já terem atingidos valores muito elevados. Observa-se que no último golpe o
deslocamento permanente da estaca atingiu o valor de 3mm, e a resistência mobilizada foi de 197 tf.

Tabela 04– Resultados obtidos pelo método CASE

Resistências mobilizadas (Modelo CAPWAP®)

Energia Resistência (tf) Resistência (%) Jc Match Desl. Golpe


Estaca
(tf.m) Total Ponta Lateral Ponta Lateral (adm) (adm) (mm) núm.

PDA 3,24 196,89 92,71 104,18 47% 53% 0,54 3,26 3 4

As curvas de força e velocidade obtidas em campo são apresentadas na figura 8 e as curvas de força
medida e calculada pelo programa CAPWAP® são mostradas na figura 9.

Figura 8 – Curvas de força e velocidade medidas em campo

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Figura 9 – Curvas de força medida e calculada x tempo

As curvas energia x resistência mobilizada em cada golpe estão apresentadas na figura 10, abaixo.

Carga (tf)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
5
4,5
4 PDA
Energia (tf.m)

3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0

Figura 10 – Curva Energia x resistência mobilizada

4- ANÁLISE DOS RESULTADOS

A curva carga x recalque medida pela prova de carga estática não indica uma carga de rutura bem definida.
Porém, é razoável considerar-se, do ponto de vista prático, a carga limite para efeito de projeto, em torno
de 200tf, em razão do elevado nível de recalque necessário para mobilizar esse valor. É razoável também
interpretar-se que, além de 200 tf, a resistência de ponta passa a ter uma influência percentual maior na
resistência total.

A instrumentação indica que, a partir da aplicação do estágio de 196ton, a resistência de ponta passa a
ter uma participação percentualmente maior na resistência mobilizada pelo incremento de carregamento
aplicado, contudo, indica que, continua sendo uma fração pequena da resistência total (inferior a 16%).
Isso corrobora com o que se observa na prática em relação à mobiização da resistência de ponta das
estacas hélice contínua. Em razão da pouca garantia que se tem quanto à mobilização da resistência de
ponta, principalmente por questões operacionais, devido à dificuldade de eliminar a “bucha” de material
remoldado que tende a se acumular no nivel da ponta, vários projetistas limitam, e alguns nem consideram,
a resistência de ponta das estacas hélice contínua monitorada, conforme citado em Alledi (2014)

Quanto à mobilização do atrito lateral, observa-se que a maior parte do carregamento, é suportado, como
esperado, pela camada de areia que se estende de 6,90 até o limite da sondagem. Considerando-se que,
no estágio final de carregamento, entre 6,2 m e 14,2 m, as medições indicam que há uma transferência
de carga para o terreno de 97 tf (132,9tf medida a 6.2m e 35,9 tf medida a 14,2m), e sendo a área lateral
igual a, aproximadamente, 15.1m2, considerando-se o diâmetro de 60cm, o coeficiente de atrito médio é
de 6.4 tf/m2. Esse valor e está relativamente próximo ao valor calculado pelo método proposto por Velloso
“et al” (1978), para estacas escavadas, conforme observamos na formulação 2 proposta pelo mesmo:

𝛼.𝑘.𝑁𝑠𝑝𝑡 .𝐴𝑙 𝑘.𝑁𝑠𝑝𝑡 .𝐴𝑝


𝑄𝑢𝑙𝑡 = 𝐹2
+ 𝐹1
(2)

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Tabela 05 – Valores de k e α Velloso “et al” (1978)

Tipo de solo K(kgf/cm²) α (%)


Areia 10,0 1,4
Areia siltosa 8,0 2,0
Areia silto-argilosa 7,0 2,4
Areia argilo-siltosa 5,0 2,8
Areia argilosa 6,0 3,0
Silte arenoso 5,5 2,,2
Silte areno-argiloso 4,5 2,8
Silte 4,0 3,0
Silte argilo-arenoso 2,5 3,0
Silte argiloso 2,3 3,4
Argila arenosa 3,5 2,4
Argila areno-siltosa 3,0 2,8
Argila silto-arenosa 3,3 3,0
Argila siltosa 2,2 4,0
Argila 2,0 6,0

Tabela 06 – Valores de F1 e F2 Velloso “et al” (1978)

Tipo de Estaca F1 F2
Franki 2,5 5
Metálica 1,75 3,5
Prémoldada de concreto 1,75 3,5
Escavada 3 6

Por esse método, calculando-se com base nos dados da sondagem apresentada, entre as profundidades de
6,2m e 14,2m, para a mesma dimensão da estaca testada, deveria ser transferido para o terreno o valor
aproximado de 109tf, o que equivale a uma resistência média por atrito lateral de, aproximadamente, 7,2
tf/m2, portanto, próximo ao valor medido . Por outro lado, o valor médio de atrito medido está muito abaixo
do valor calculado considerando-se o método proposto especificamente para estacas hélice por Antunes e
Cabral (1996), que atinge 10,7tf/m2, mesmo utilizando-se os valores mínimos sugeridos para as constantes
do método, mostradas abaixo. Isso pode acontecer devido a excesso de rotação da hélice para aliviar a
pressão durante a inserção do trado, ou até devido à extração e reinserção do trado em casos onde a
dificuldade é extrema para o avanço do mesmo. Ambos os procedimentos geram alívio das tensões efetivas
laterais provocando redução de resistência.

𝜋.𝐷 2
𝑄𝑢𝑙𝑡 = 𝜋. 𝐷. ∑(𝑁𝛽1 ). ∆𝑙 + 𝛽2 . 𝑁𝑏 . ( ) (3)
4

Tabela 07 – Equação e constantes β₁ e β₂ - método Antunes e Cabral (1996)


Solo β₁ (%) β₂ (kgf/cm²)
Areia 4,0 - 5,0 2,0 - 2,5
Silte 2,5 - 3,5 1,0 - 2,0
Argila 2,0 - 3,5 1,0 - 1,5

Observa-se que a resistência máxima mobilizada pelo ensaio dinâmico atinge, aproximadamente, 197tf,
portanto, muito próxima à carga considerada limite, do ponto de vista de projeto, em razão dos elevados
deslocamentos medidos. Pode-se inferir pela curva energia x resistência mobilizada, mostrada na figura 11,
que, apesar desse valor estar próximo à carga de rutura, pois a curva já se torna mais íngreme, a resistência
última ainda não foi atingida, o que está de acordo com as conclusões extraídas da análise da curva carga
x recalque obtida pelo teste de carga estático. Contudo, a distribuição de carga entre os valores medidos
durante o teste de carregamento estático e o ensaio de carregamento dinâmico divergem quanto à

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mobilização da resistência de ponta. As medições durante o teste estático indicaram que o valor da
resistência de ponta deve ser inferior a 16% do total, porém, o ensaio dinâmico calcula o valor da
resistência de ponta em 47% do total. Tal diferença no valor da mobilização da resistência de ponta entre
os dois ensaios, pode ser devido ao nível de recalque permanente imposto durante o ensaio estático,
quando já se observa, nos últimos estágios de carregamento, um nível de mobilização de ponta mais
acentuado. Tal deslocamento, provavelmente, possibilitou a maior mobilização da resistência de ponta
quando o novo carregamento foi aplicado pelo ensaio dinâmico.

5- CONCLUSÕES

O valor de capacidade de carga medido pela prova de carga estática mostrou boa concordância com o
valor estimado pelo ensaio dinâmico.

O valor da resistência de ponta mobilizada, calculada a partir do monitoramento da distribuição de esforços


ao longo do fuste da estaca, durante a prova de carga estática, indica um percentual inferior a 16% da
carga total aplicada, que está em níveis muito proximos à rutura, o que reforça o argumento de diversos
profissionais sobre a dificuldade de se garantir a mobilização da ponta nesse tipo de estaca a níveis
aceitáveis de recalque. Contudo, neste aspecto, o ensaio dinâmico apresentou resultado substancialmente
diferente do ensaio estático. A resistência de ponta, calculada pela avaliação dinâmica corresponde a 47%
da resistência total mobilizada. Tal diferença no valor da mobilização da resistência de ponta entre os dois
ensaios, pode ser devido ao nível de recalque permanente imposto durante o ensaio estático, quando já
se observa, nos últimos estágios de carregamento, um nível de mobilização de ponta mais acentuado. Tal
deslocamento, provavelmente, possibilitou a maior mobilização da resistência de ponta quando o novo
carregamento foi aplicado pelo ensaio dinâmico.

A curva energia x resistência mobilizada produzida a partir do ensaio dinâmico pode ajudar a interpretar
a proximidade da resistência mobilizada em relação à ruptura. O que, em diversos casos, pode ser um
elemento importante na interpretação dos resultados obtidos.

O valor de resistência por atrito lateral medido entre os níveis de 6,2m a 14,2m encontra-se relativamente
próximo a valor calculado por método proposto para estacas escavadas, e substancialmente inferior a valor
calculado por método proposto para estacas hélice contínua, o que indica que o procedimento executivo
dessa estaca tem influência marcante em sua capacidade de carga.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal do Pará, à empresa Construtora Leal Moreira Ltda pelo apoio
e permissão de acesso aos dados de projeto e sondagens da obra e às empresas Geonort Ltda e Solos
Consultoria Ltda, pela viabilização das provas de carga dinâmica e estática.

REFERÊNCIAS

Alledi, C.T.D. B. (2013) - Transferência de Carga de Estacas Hélice Contínua Instrumentadas em Profundidade. Tese de
Doutoramento, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

Antunes, U.R. e Cabral, D.A. (1996) – Capacidade de carga de estacas hélice contínua. III SEFE – Simpósio de Fundações
Especiais, Sãpo Paulo, Brasil. Vol. 2, pp.105-109.

Rausche, F., Alvarez, C. e Likins, G.E. (2017) – Dynamic Loading Tests: A State of the Art of Prevention and Detection
of Deep Foundation Failures. 3er Congreso Internacional de Fundaciones Profundas de Bolivia, Santa Cruz de La
Sierra, vol.1, pp. 177-197.

Velloso, D.A., Aoki, N. e Salomoni,J.A. (1978) – Fundações para o silo vertical de 100.000 t no Porto de Paranaguá. 6°
CBMSEF – Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, vol.3, pp. 125-151.

Smith, E.A.L. (1960) – Pile driving analysis by wave equation. ASCE Journal of Soil Mechanics and Foundations Division,
vol. 86, No SM4, pp 35-61.

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AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA DAS


FUNDAÇÕES EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL
EM MACIÇO SEDIMENTAR.

EVALUATION OS INTERACTION PARAMETERS SOIL STRUCTURE OF


FOUNDATION IN PILE CONTINUOUS PROPELLER OF A RESIDENTIAL
BUILDING IN SEDIMENTARY MASSIVE

Prellwitz, M.F.; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
mfprellwitz@gmail.com
Maia, P.C.A.; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
paulomaiauenf@gmail.com
Zampirolli, N.; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
nathani_zampirolli@hotmail.com

RESUMO

A interação solo-estrutura (ISE) é definida como a capacidade de uma edificação em absorver e redistribuir
as tensões geradas por recalques diferenciais nas fundações, buscando o reequilíbrio estrutural.
Consequentemente, a ISE influencia na evolução dos recalques de uma fundação e é de grande importância
para a previsão de comportamento estrutural. Geralmente, nos projetos de fundação, não é levado em
consideração a influencia da ISE, assim como a redistribuição de tensões, desprezando a influência da
rigidez da estrutura e do maciço de fundação durante e após a construção. Isso ocorre principalmente
devido às dificuldades na determinação dos parâmetros necessários e característicos da ISE e que definem
o comportamento real das fundações. Dentre os procedimentos normalmente observados para definição
destes parâmetros, destaque especial merecem aqueles baseados em resultados de monitoramentos de
recalque. No entanto, em muitos casos, ainda existem poucos resultados de instrumentação ou observação
de edificações que permitam a definição dos parâmetros da ISE. Neste sentido esse trabalho tem como
principal objetivo apresentar um caso de estudo de monitoramento de recalque durante a construção de
um edifício localizado na Cidade de Campos – RJ, Brasil. Especificamente nesse trabalho pretende-se fazer
uma analise comparativa entre os parâmetros de ISE obtidos no caso de estudo e os apresentados na
bibliografia técnica. São apresentados as curvas recalque tempo obtidas através do monitoramento de
recalques e as isocurvas dos parâmetros de ISE são discutidas. Os valores do CV obtidos são comparados
com dados da bibliografia, permitindo uma análise crítica dos dados obtidos. Dos resultados obtidos
destaca-se que os valores de AR e DR alternam-se entre os pilares ao longo da construção, indicando que
o comportamento da estrutura é significativamente influenciado pela interação solo-estrutura. Neste caso
a alternância acontece devido ao processo de transferência de carga, de modo a uniformizar os recalques,
o que caracteriza a ISE.

ABSTRACT

Soil-structure interaction (ISE) is defined as a capacity for adaptation and redistribution as the techniques
generated by differential settling in the foundations, seeking structural rebalancing. Consequently, an ISE
influence on the creation of a database is important for structural forecasting. Generally, in the foundation
projects, an ISE influence is not taken into account, as is a redistribution of actions, neglecting the influence
of the rigidity of the structure and the foundation mass during and after construction. This is probably due
to the difficulties in determining the parameters and characteristics of the ISE and that define the actual
behavior of the foundations. Among the commonly observed procedures for the attribution of parameters,
the special emphasis deserves integration in the results of monitoring of repression. However, in many
cases, the results of an instruction or observation of edits that are a parameter definition of the ISE are
still present. Abstract: The study of work in the constraint of a building building in the City of Campos - RJ,
Brazil. Specifically in the work we intend to make a comparative analysis between the ISE parameters to
add a case study and the technical literature reports. Recurrent recurrent curves are analyzed through the
monitoring of recalculations and as isocurvas of the ISE parameters are discussed. The CV values are
compared with the data of the bibliography, using a critical analysis of the obtained data. The results
obtained show the values of AR and DR alternating between the pillars throughout the construction, and
the behavior of the structure is significantly influenced by the soil-structure interaction. In this case, an
alternative can be obtained along a load transfer, in order to standardize the returns, which characterizes
an ISE.

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1- INTRODUÇÃO

Junto aos avanços na execução de obras no Brasil e no Mundo, as normas que regem a segurança e a
qualidade dos projetos de engenharia também foram aperfeiçoadas, dando-se ênfase ao controle de
qualidade e verificação do desempenho da obra. Particularmente, para a engenharia de fundações, a norma
brasileira de projetos e execução de fundações NBR6122 (ABNT, 2010), trata não somente do controle da
obra em si, mas também enfatiza o progresso das técnicas construtivas e da melhoria dos conhecimentos
obtidos sob condições reais, a observação das obras mediante instrumentação adequada no que se refere
ao comportamento de suas fundações, bem como à interação estrutura-solo.

A verificação de desempenho das fundações em particular pode ser feita através da avaliação da interação
solo estrutura. Este efeito reflete a capacidade de redistribuição de tensões nos elementos estruturais
provocada pelas deformações diferenciais das fundações. Apesar da sua importância, é comumente
desprezada na maioria dos projetos. Os projetos acabam desprezando a influência da rigidez da estrutura,
além disso consideram que os carregamentos são aplicados quando a estrutura está concluída, embora não
aconteça exatamente assim na realidade, as cargas deveriam ser aplicadas gradativamente ao longo da
construção do edifício (Figura 1). A dificuldade encontrada pelos projetistas para a compreensão dos efeitos
da interação solo estrutura em projetos de engenharia está justamente na determinação dos parâmetros
necessários e característicos que definem esse comportamento. De fato, as diversidades estruturais e
geotécnicas envolvidas em um projeto dificultam consideravelmente a inclusão de parâmetros da interação
solo estrutura de forma confiável. Deste modo, é comum o uso de parâmetros simplificados, baseados
normalmente em apoios elásticos e caracterizados por parâmetros do tipo coeficientes de mola.

Figura 1 - Efeito da Interação solo-estrutura nos recalques de apoio de edificações (Gusmão, 1990)

A análise levando em consideração a interação solo-estrutura atualmente pode ser feita por dois princípios:
analítica ou numérica. A forma de análise utilizada para presente estudo refere-se ao analítico, o qual foi
bastante apresentada por Gusmão (1990). Os parâmetros consistem na determinação do Fator de Recalque
Absoluto (AR), Fator de Recalque Diferencial (DR) e Coeficiente de variação dos recalques (CV). São valores
que tem como finalidade analisar os efeitos da interação solo-estrutura, mais especificamente os efeitos
da redistribuição de cargas nos pilares e a tendência à uniformização dos recalques.

No contexto atual da engenharia de fundações, com destaque para a brasileira, infelizmente ainda existem
poucos resultados de instrumentação ou observação de edificações que permitam a definição desses
parâmetros de forma correta. Dentre os procedimentos normalmente observados para definição de
parâmetros característicos da interação solo estrutura está o monitoramento de recalques. O
acompanhamento dos recalques com o tempo é realizado na maioria das vezes apenas a partir do momento
onde são observadas patologias nas edificações. Convém destacar, apesar da pouca difusão do
monitoramento de recalques na engenharia nacional, que a prática além de permitir o acompanhamento
do desempenho da estrutura para avaliação da interação solo-estrutura, esclarece anormalidades
constatadas em obra. Portanto, para uma correta avaliação do desempenho estrutural de uma edificação é
necessário a consideração da interação solo estrutura nos projetos e, para obtenção dos parâmetros
necessários para este efeito atrelado às fundações, o monitoramento de recalques apresenta-se como uma
ferramenta importante, apesar dos preconceitos e pelos custos gerados pelo processo.

Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo apresentar um caso de estudo de monitoramento de
recalque durante a construção de um edifício residencial. O instrumento utilizado para o monitoramento de

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recalques durante o período de construção do edifício é baseado no princípio dos vasos comunicantes e
utiliza a fotogrametria para determinação do nível d’água, que possibilita a determinação dos
deslocamentos dos pilares e medidas sucessivas. O instrumento de monitoramento de recalque foi
desenvolvido no Laboratório de Engenharia Civil da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro. Busca-se ainda realizar uma análise comparativa entre os parâmetros da interação-solo estrutura
obtidos no caso de estudo e os apresentados na bibliografia técnica com a finalidade de avaliar o efeito da
rigidez da estrutura no comportamento de fundações do tipo Helice Contínua assim como contribuir para a
construção de banco de dados e ajuda a ampliar a experiência local quanto ao desempenho deste tipo de
fundações.

2- METODOLOGIA

2.1 - Caso de Estudo

Os dados utilizados no presente trabalho são provenientes do estudo de caso referente a uma edificação
residencial, em concreto armado convencional. Nos fechamentos e divisórias internas foram utilizados
alvenaria formada de tijolos cerâmicos e para o fechamento da escada e do poço de elevador foram
utilizados blocos de concreto. O edifício é composto por 15 pavimentos. No térreo encontra-se a entrada
social mais garagem, sendo esta estendida também aos dois pavimentos seguintes. Logo acima encontra-
se o pavimento de uso comum (PUC) e na sequência 11 pavimentos tipo. Na última laje encontra-se a
caixa d’água e a casa de máquina. A Figura 2 apresenta a vista externa da obra em processo de construção
adiantado. São apresentados os registros fotográficos do estágio da construção apenas para algumas datas
a fim de apresentar a evolução do carregamento.

a) 306º dia de construção – b) 339º dia de construção – c) 361º dia de construção – 7ª


1ª medição 3ª medição medição

d) 389º dia de construção – e) 411º dia de construção – f) 424º dia de construção –


9ª medição 11ª medição 12ª medição

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g) 445º dia de construção – h) 482º dia de construção – i) 529º dia de construção –


13ª medição 15ª medição 18ª medição

j) 545º dia de construção – k) 578º dia de construção – l) 633º dia de construção –


19ª medição 22ª medição 26ª medição
Figura 2 – Evolução da construção durante o monitoramento de recalque

O edifício possui 45 pilares partindo das fundações. As fundações são em estacas hélices continuas com
diâmetro igual a 400mm, comprimento igual a 30 metros e armada nos 4 primeiros metros.

O maciço de fundação do edifício foi caracterizado através de furos de sondagem à percussão (SPT) sendo
ilustrado pela Figura 3, onde podemos observar a cota de assentamento das fundações.

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Figura 3 – Perfil estratigráfico do maciço de fundação (Prellwitz, 2015)

Durante a construção deste edifício monitorou-se os recalques da edificação em leituras com frequências
semanais. É importante destacar que o sistema de monitoramento de recalque foi instalado neste edifício
pois ele está situado em uma região que possui um maciço complexo e, portanto, por recomendações da
norma decidiu-se realizar o monitoramento da estrutura como um critério de verificação geotécnico.

O princípio básico do sistema de monitoramento de recalques consiste na medição dos deslocamentos


verticais de pontos da estrutura, em relação a um nível de referência. O instrumento de monitoramento
implementado no edifício objeto de estudo de caso trata-se de um sistema econômico, de fácil manuseio,
mas ao mesmo tempo robusto para evitar danos durante o período de monitoramento na obra, ele foi
desenvolvido no laboratório da universidade (LECIV/UENF) durante a dissertação de mestrado de Prellwitz
(2015). Basicamente, mede-se os recalques através da observação da variação do nível d’água em um
sistema de dutos que interligam um marco de referência a outros pontos de medição, no caso os pilares
da obra. Prellwitz (2015) ainda relata a metodologia utilizada para monitoramento de recalques de edifícios,
esta metodologia é composta pela elaboração do projeto do instrumento de medição, processo de medição,
tratamento dos dados, entre outras etapas.

O caso de estudo deste presente trabalho se encontra detalhado no trabalho de Prellwitz (2015), inclusive
os projetos do mapa de instrumentação com a indicação dos pilares que foram monitorados, projeto do
marco de referencia que é utilizado para determinação dos recalques dos pilares e detalhes do instrumento
utilizado. A Figura 4 apresenta o mapa de instrumentação com os pilares que foram monitorados, os pilares
foram divididos em 5 linhas.

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Figura 4 – Mapa de instrumentação com pilares monitorados

2.2 - Parâmetros de Análise da Interação Solo Estrutura

2.2.1 - Fator de Recalque Absoluto (AR)

O fator de recalque absoluto é definido pela relação entre o recalque absoluto wi de um apoio i e o recalque
absoluto médio de todos os apoios wm. Definido pela Equação [1].
𝑤𝑖
𝐴𝑅 = [1]
𝑤𝑚
Quando essa relação apresenta valor maior do que 1 (AR>1) são observados alívios nos pilares que
possuem recalques medidos maiores que a média. No caso contrário, quando a relação apresenta valor
menor do que 1 (AR<1), verifica-se um acréscimo de carga nos pilares.

2.2.2 - Fator de Recalque Diferencial (DR)

O fator de recalque diferencial é definido pela relação entre a dispersão do recalque absoluto wi do apoio i
e o recalque absoluto médio de todos os pilares wm pelo recalque absoluto médio de todos os pilares wm.
Definido pela Equação [2].
𝑤𝑖 − 𝑤𝑚
𝐷𝑅 = [2]
𝑤𝑚
Vale ressaltar que o valor obtido pelo fator de recalque diferencial é apresentado em porcentagem. O fator
de recalque diferencial representa o desvio percentual do recalque do pilar i em relação a média dos
recalques de todos os pilares. Nos casos onde se obtêm essa relação maior do que 1, ou seja, DR>1,
constata-se um alivio de carga nos pilares, enquanto que se obtêm essa relação menor do que 1, DR<1,
gera-se uma sobrecarga nos pilares.

2.2.3 - Coeficiente de Variação (CV)

O coeficiente de variação dos recalques é definido pela relação entre o desvio padrão dos recalques σn e o
recalque médio absoluto wm. Definido pela Equação [3].
𝜎𝑚
𝐶𝑉 = [3]
𝑤𝑚

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3- RESULTADOS

São apresentados e analisados os resultados dos monitoramentos para o caso de estudo. São avaliados
valores absolutos e os parâmetros AR e DR do recalque total. Os resultados serão apresentados em forma
de isocurvas.

3.1 - Recalques totais

A variação dos recalques ao longo do tempo de cada pilar do edifício foi traçada a partir dos resultados
experimentais obtidos no campo e foi possível representar a evolução dos recalques totais médios ao longo
do tempo de monitoramento (Figura 5). Pode-se observar que há uma fase do gráfico referente ao ajuste
do instrumento, neste período a construção encontrava-se em estágio inicial com aproximadamente 19%
da carga estrutural, conforme citado na bibliografia a parcela de contribuição de estruturas de concreto
armado na carga total da edificação é de 40%, resultando, portanto, quase que 50% da contribuição da
carga estrutural.

Figura 5 – Variação do recalque médio com o tempo

A partir dos valores medidos de recalque foram geradas as curvas de iso-recalque para cada medição. Na
Figura 6a são apresentadas as curvas de iso-recalque correspondentes à execução da 9ª laje (8ª medição),
onde se observa a concentração das bacias de recalque, ou seja, onde há a concentração de recalques de
maior magnitude em lugares específicos da obra. Essas bacias ocorrem em pontos dispersos, que
correspondem às regiões onde está localizada a rampa do edifício (P23 a P25/P28 a P32), da escada (P17)
e na periferia direita do edifício.

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a) 8ª medição (valores em mm) b) 18ª medição (valores em mm)

Figura 6 – Curvas de isorecalque (valores em mm)

Através da Figura 6b, referente às isocurvas da 18ª medição, é possível observar a continuidade da
concentração dispersa das bacias de recalque para estágios mais avançados da construção. Esse
comportamento , de concentração dispersa da bacia de recalque, foi possivel de se observar até as últimas
medições de campo.

A partir da Figuras 6 pode-se observar a mudança de padrão de recalque do início, com recalques maiores
no centro (P25), para o avanço da obra, com recalques maiores na periferia, uma indicação de redistribuição
das cargas.

3.2 - AR e DR

Os fatores de recalque absoluto (AR) e recalque diferencial (DR) proposto por Gusmão (1990) são de
extrema importância para se avaliar os efeitos da interação solo-estrutura tais como a redistribuição de
cargas nos pilares e sua tendência a uniformização dos recalques. Sendo assim, buscou-se representar
graficamente o comportamento da estrutura, através das isocurvas de AR e DR, durante o monitoramento.

As Figuras 7a e 7b apresentam as isocurvas com a variação do AR e DR, respectivamente, para o 55º dia
de monitoramento de recalque (8ª medição). Pode-se observar valores de Ar> 1, alivio nos pilares, para
os pilares da divisa (P4 e P5) e nos pilares da rampa de acesso a garagem (P23 a P25 e P29 a P32). Pode-
se observar que o AR e o DR possuem o mesmo comportamento, apresentando valores de DR>1 (também
significado de alivio nos pilares) para os mesmos pilares.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

a) Valores de AR b) Valores de DR

Figura 7 – Isocurvas para a 8ª medição

Nas medições seguintes, como ilustrado nas Figuras 8a e 8b, os valore de AR e DR alternam-se entre os
pilares ao longo da construção, indicando que o comportamento da estrutura é significativamente
influenciado pela interação solo-estrutura. Neste caso a alternância acontece devido ao processo de
transferência de carga, gerando alivio em alguns pilares e sobrecarga em outros de modo a uniformizar os
recalques.

a) Valores de AR b) Valores de DR

Figura 8 – Isocurvas para a 18ª medição

Nos estágios finais de monitoramento, é possível observar que há uma tendência dos recalques máximos
se aproximarem da média, ocasionando um AR tendendo a unidade. Assim como também é possível
observar um DR tendendo a zero, já que os recalques de cada pilar se aproximam da média. Esse
comportamento está associado provavelmente ao ganho de rigidez da edificação que uniformiza os
recalques.

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3.3 - CV

A homogeneização dos recalques a medida que a obra evolui pode ser verificada através do coeficiente de
variação dos recalques total da obra (CV) definido pela Equação 3. A Figura 9 apresenta a evolução do CV
do recalque absoluto durante o monitoramento. A medida que a estrutura ganha rigidez, ocorre a redução
do desvio padrão dos recalques e o aumento do recalque médio, provocando valores de CV normalmente
abaixo da unidade. No caso em estudo nota-se que o valor de CV permanece abaixo da unidade durante
todo o monitoramento e com uma tendência linear, o que indica que ocorre uma tendência a
homogeneização dos recalques.

Figura 9 – Coeficiente de variação do recalque absoluto com o tempo

Importante destacar os valores de CV elevados nos estágios iniciais, estes valores evidenciam a flexibilidade
da estrutura no início da construção, onde ocorre deslocamentos localizados sem redistribuição para o
restante da estrutura.

3.4 - Comparação CV

Pouco estudo tem-se feito a respeito destes parâmetros de avaliação da interação solo-estrutura, portanto
pouco se conhece a respeito de limites aceitáveis de variação de recalques de edificações. Na Figura 10
apresenta-se o CV de alguns casos da bibliografia, Danziger et al (2000a), Gusmão (2003), Barros (2005),
Savaris (2008), Mota (2009) comparando com os casos de estudo apresentado neste presente trabalho e
mais um edifício monitorado no trabalho de Prellwitz (2015). Os dados de monitoramento de recalque deste
presente trabalho foram obtidos em uma fase de obra mais adiantada, por isso foi necessário fazer uma
extrapolação dos resultados encontrados na bibliografia. Pode-se observar os resultados se encontram
dentro da faixa de banco de dados extrapolada. O coeficiente de variação do recalque absoluto tende a
uma uniformização. E como foi visto anteriormente isto ocorre devido ao aumento da rigidez do edifício,
ocasionado pela continuação do processo executivo, agindo preponderantemente na minimização das
dispersões dos recalques.

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Figura 10 – Comparação do coeficiente de variação do recalque absoluto deste trabalho com alguns da bibliografia

4- CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos neste trabalho pode-se comprovar a importância de analisar o coeficiente
de variação de recalque como fonte de indicação do comportamento da estrutura.

Apesar de não ser considerada nos projetos convencionais, a interação solo-estrutura é quem comanda o
desempenho da fundação e da própria estrutura de uma edificação. O trabalho mostrou que a interação
entre o solo e as fundações promove uma tendência à uniformização dos recalques e uma redistribuição
de esforços nos elementos estruturais.

Além disto este trabalho contribui para a construção de banco de dados e ajuda a ampliar a experiência
local quanto ao desempenho das fundações tipo hélice contínua monitorada.

REFERÊNCIAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010). Projeto e Execução de Fundações. NBR 6122.

Barros, R. A. (2005) - Previsão e Controle de Recalques Durante a Construção de Edifícios. Dissertação de mestrado,
Laboratório de Engenharia Civil – UENF, 118 p., Campos dos Goytacazes, Brasil.

Danziger, F. A. B., Danziger B. R. e Crispel, F. A. (2000a) - A medida dos recalques desde o início da construção como
um controle de qualidade das fundações. Proc. SEFE IV, pp. 191-202, Curitiba, Brasil.

Danziger, B. R., Carvalho, E.M.L., Costa, R.V. e Danziger F. A. B. (2000b) - Análise da Interação Solo-Estrutura de uma
edificação com Fundações Diretas em Areia. Proc. XIII COBRAMSEG, pp. 943-948, São Paulo, Brasil.

Gusmão, A.D. e Lopes, F.R. (1990) - Um método simplificado para consideração da interação solo-estrutura em
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762
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

BANCO DE DADOS DE PROVAS DE CARGAS ESTÁTICAS EM ESTACAS HÉLICE


NA ZONA SUL DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

DATA BASE OF ESTATIC LOAD TESTS IN CONTINUOUS FLIGHT AUGER TYPE


PILE IN SOUTH ZONE OF RECIFE METROPOLITAN AREA

Oliveira, Pedro Eugenio Silva de; Unicap, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com


Almeida, Allan Kleber Leite de; Unicap, Recife, Brasil, allan92leite@gmail.com
Costa, Marcelo Sabino; Unicap, Recife, Brasil, marcelosabino96@gmail.com
Pereira, André Perez Guedes; Unicap, Recife, Brasil, andre_pgp@hotmail.com

RESUMO

A última década marcou a economia brasileira devido a um aquecimento econômico e grande incentivo à
construção civil. No mesmo período foi publicada uma revisão da norma de fundações passando a ser
obrigatória a realização de ensaios de prova de carga estática (PCEs) para confirmação de desempenho
das peças de fundação. Houve mudanças nas preferências do mercado em relação às estacas moldadas in
loco. O declínio do uso de estacas Franki e o crescimento da utilização de estacas Hélice Contínua também
marca o período. Foi montado um banco de dados de resultados de PCEs na Região Metropolitana do Recife
(RMR). O banco de dados completo contém 262 PCEs de vários tipos de estacas. O presente trabalho
analisa 99 PCEs em estacas Hélice Contínua na Zona Sul da cidade, área com alta demanda imobiliária e
elevado desenvolvimento humano. Foram cadastradas Provas de Carga de estacas Hélice Contínua com
diâmetros variando entre 400 mm a 700 mm. Foi possível avaliar o impacto da norma publicada em 2010
sobre o aumento das PCEs executadas. Os resultados foram interpretados utilizando o método de Van de
Veen (1953), segundo a explicação de Oliveira (2013). Foi possível observar que com o aumento do
diâmetro das estacas há um aumento da carga última média obtida e uma diminuição do valor do parâmetro
“a”. Isto indica que para o banco de dados estudado existe uma tendência das estacas de diâmetro maiores
de deformar mais para mobilizar resistência. Houve menos variação na estimativa das cargas últimas em
relação aos parâmetros “a” e “b”. Os menores coeficientes de variação foram encontrados para as cargas
últimas dos diâmetros de 500 e 700 mm. Foi constatada uma forte correlação entre os valores médios das
cargas últimas estimadas com os diâmetros. O coeficiente de correlação obtido foi de 0,9996.

ABSTRACT

The last decade marked the Brazilian economy due to an economic warming and great incentive to the civil
construction. In the same period, a review of the foundations standard was published what made
mandatory the static load test (PCEs) to confirm the performance of the foundations. There have been
changes in market preferences with regard to molded pile in loco. The decline in the use of Franki pile and
the growth in the use of continuous flight auger type pile also marked the period. A PCE results database
was set up in Recife metropolitan area. The complete database contains 262 PCEs of various type of piles.
The present work analyzes 99 PCEs in continuous flight auger type pile in the South Zone of the city, a high
real estate demand and high human development area. PCEs of Continuous flight auger type pile were
registered with diameters ranging from 400 mm to 700 mm. It was possible to evaluate the impact of the
standard published in 2010 on the increase of executed PCEs. The results were interpreted using the
method of Van de Veen (1953), according to the explanation of Oliveira (2013). It was possible to observe
that with the increase of the diameter of the piles there is an increase of the average last load obtained
and a decrease of the value of the parameter "a". This indicates that for the studied database, there is a
tendency of the larger diameter piles to deform more to mobilize resistance. There was less variation in
the estimation of the last loads in relation to the parameters "a" and "b". The lower coefficients of variation
were found for the last loads of the diameters of 500 and 700 mm. It was found a strong correlation
between the average values of the last estimated loads with the diameters. The correlation coefficient
obtained was 0,9996.

1- INTRODUÇÃO

Em 2013 o método de extrapolação da carga de ruptura de estacas de Van der Veen (1953) completava 60
anos de sua apresentação inicial, e foi revisado por Oliveira (2013). O método original tinha dupla finalidade,
estimar a máxima carga do sistema – estaca-solo, e ajustar a curva Carga x Recalque à uma equação
exponencial, muito semelhante a outra que já era bastante conhecida: a curva do crescimento humano.
No trabalho de Oliveira (2013), foi realizada uma extensa realivação do significado físico do método. Até
então, o corpo técnico-científico acreditava que a metodologia apresentada por Van der Veen carecia de
sentido físico e o uso da equação se justificava apenas pelo empirismo. Oliveira então fez um trabalho de

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observação analítica da equação proposta no método, avaliando a definição de ruptura presente na


literatura bem como nas normas vigentes e foi possível demonstrar analiticamente a origem da equação
proposta por Van der Veen. Foi possível também realizar ressignificação dos parametros envolvidos para
uso da equação. Oliveira (2013) ainda estudou uma obra com mais de 4.000 estacas do tipo hélice contínua
e 27 provas de carga estáticas, aplicando o novo paradigma para interpretação desses ensaios. Os
resultados foram satisfatórios, com correlação fortíssima (R2>0,9).

O presente artigo continua o trabalho realizado em 2013, desta vez utilizando um banco de dados com 99
ensaios de provas de carga estáticas (PCEs) realizadas em estacas hélice contínua, na zona sul da Região
Metropolitana do Recife (RMR), capital do Estado de Pernambuco, Brasil. Vale salientar que o presente
banco de dados apresentado se restringe ao universo das PCEs realizadas na Zona Sul do Recife, em estacas
tipo hélice Contínua e faz parte de um projeto maior que no momento consta de 262 PCEs na Região
Metropolitana do Recife e contempla vários tipos de estacas, como pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 – Descrição do universo de dados utilizado na pesquisa

2- LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO

2.1 - Localização

O universo de estudo se situa na Região Metropolitana de Recife, ver Figura 2, capital do estado de
Pernambuco. A região metropolitana conta com 15 municípios e todos os ensaios utilizados estão inseridos
na vizinhança da “zona sul”, região litorânea dos municípios de Recife e Jaboatão dos Guararapes.

Figura 2 – Localização do Estado de Pernambuco no Pais a esquerda; Região Metropolitana do Recife a direita

2.2 - Caracterização Social da Zona Sul

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2014), a região Metropolitana do Recife
apresenta Índice de Desenvolvimento Humano por Município (IDHM) de 0,734. Variando entre valores de
0,955 a 0,523. A zona Sul por sua vez, apresenta o 3º maior IDHM da região com valor de 0,951. O IDHM
normaliza o desenvolvimento humano em um intervalo de 0 a 1, e é formado por três dimensões:
Longevidade (IDHM-L), Educação (IDHM-E) e Renda (IDHM-R). A zona sul apresenta o maior valor de
IDHM-L e IDHM-R da região, ver Figura 3.

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Figura 3 – Distribuição do IDHM na Região Metropolitana do Recife em 2010, (IPEA, 2014)

2.3 - Perfis Geotécnicos Típicos

A paisagem do Recife foi modelada em meio a processos geodinâmicos, e a coluna estratigráfica da região
é composta pelo embasamento cristalino, pacotes de deposição sedimentar e os sedimentos recentes
(Gusmão Filho 1998). Devido à falha geológica existente na direção NNE do embasamento cristalino e
afundamento do mesmo na direção da costa, originou-se uma bacia propicia à deposição dos pacotes
sedimentares. Completam a lista da coluna estratigráfica os sedimentos recentes conhecidos como Terraços
Marinhos, Terraços Fluviais, Mangues dentre outros. Pode-se dividir o relevo do Recife em duas paisagens:
os morros e a planície.

Os morros circundam a cidade e apresentam solos de boa resistência, geralmente pertencentes à Formação
Barreiras. Já a planície ocupa o espaço entre o colar dos morros e a orla marítima. E é nela que se
concentram as obras de grande porte urbano. Existe grande variabilidade quanto às tentativas de se
esboçar perfil típico para o subsolo da capital. Segundo Oliveira (2015) mais de 50% da área da planície
está sobre argilas moles ou médias. Segundo Gusmão Filho (1998) e Oliveira (2008) os perfis de Boa
Viagem (bairro costeiro ao sul de Recife) tendem a apresentar uma camada de solo mole entre as
profundidades de 7,00 e 30,00 m (Figuras 4a e 4 b), geralmente caracterizados como argilas siltosas, ou
siltes argilosos, moles a muito moles. Ainda segundo Olvieira (2008) na orla do municipio de Jaboatão dos
Guararapes, bairro de Candeias não se verificam mais as camadas de solos moles e podem ser encontradas
camadas de fragmentos de coral, como pode ser verificado na Figura 4c.

(a) Gusmão Filho (1998) (b) Oliveira (2008) (c) Oliveira (2008)

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Figura 4 – Perfis de solo (a) Bairro de Boa viagem - Recife, Gusmão Filho 1998 adaptado, (b) Boa viagem - Recife,
Oliveira, 2008 e (c) Bairro de Candeias – Jaboatão dos Guararapes, Oliveira (2008).

2.4 - As fundações no Recife

Santos (2011) desenvolveu pesquisa junto as principais empresas de fundações no Recife, para catalogar
os tipos de fundações usadas em Recife no período de 2000 a 2010, segundo o autor, 25% das 805
fundações catalogadas no período foram na zona sul da cidade.

Em seu trabalho foi possível observar que devido o subsolo ser extremamente heterogêneo e com camadas
profundas de solos moles, existe uma predisposição para soluções de fundações profundas. Fato que ficou
evidenciado pela relação de 60% das obras executadas com fundações profundas e 40% executadas em
fundações diretas, ver Tabela 1.

Também é possível observar que a solução de fundação profunda mais utilizada em todos os anos foi a
fundação em estacas premoldadas de concreto, com exceção do ano de 2005 que alternou a “liderança”
com a estaca metálica. É importante observar a mudança de cenário para as estacas moldadas in loco,
inicialmente (anos de 2000-2001) o mercado era dominado pela estaca Franki que aos poucos foi
substituída pela estaca Hélice Contínua, que é de fato largamente usada na Região, ver Figura 5.

Tabela 1 – Porcentagem de uso das soluções de fundações em Recife, (adaptado de Santos, 2011)
PORCENTAGEM DE OBRAS (%)
TIPO DE SOLUÇÃO
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 TOTAL

Hélice
--- 4 19 19 12 12 5 30 27 26 22 19
Contínua
PM*
Fundações 45 30 31 10 36 15 24 14 28 6 35 27
Concreto 60
Profundas
Franki 19 11 15 10 5 6 3 --- 3 3 2 5
Metálica 5 9 12 13 12 24 11 12 5 10 5 9
Raiz --- --- 8 --- --- --- --- --- --- --- 1 1

Sapatas
Terreno 10 2 --- --- 2 6 22 4 1 1 3 4
Natural

Sapatas +
Fundações Colunas de 12 28 12 23 26 18 22 26 13 18 7 16
Argamassa 40
diretas
Sapatas +
Colunas de 10 15 4 19 7 12 14 14 11 5 2 8
Areia+Brita

Radier --- --- --- 6 --- 9 --- --- 12 30 24 13


Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Figura 5 – Mudança de cenário para estacas moldadas in loco (Oliveira, 2013)

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3- APRESENTAÇÃO DO BANCO DE DADOS

Foram cadastradas Provas de Cargas de estacas hélice contínua de 400 mm, 500 mm, 600 mm e 700 mm
de diâmetro. Para obtenção desses resultados de ensaios foram realizadas visitas aos escritorios que
projetam fundações em Recife e foram obtidos os ensaios dos bancos de dados das empresas projetistas.

Foram obtidas um total de 262 PCEs, espalhadas pelos 15 municípios da Região Metropolitana do Recife
(RMR). Porém este artigo se resumiu a avaliar as 99 PCEs em estacas tipo hélice contínua que estão
localizadas na Zona Sul da Região. As provas de carga presentes nesse banco de dados foram executadas
entre o período de 2007 a 2016.

A Tabela 2 resume as caracteristicas dos ensaios obtidos. O resultado dos ensaios é apresentado na Figura
6 e nas Figura 7a, b, c, d.

Tabela 2 –Resumo das estacas ensaiadas por diâmetro


Diâmetro (mm) Quantidade (unid.) Carga Estrutural (kN) Comprimento (m)
400 10 800 15.00 a 26.00
500 59 1300 15.00 a 30.00
600 25 1800 16.00 a 27.00
700 5 2400 19.00 a 27.00

Figura 6 – Resultado das provas de carga, todos os diâmetros

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(a) 400 mm (b) 500 mm

(c) 600 mm (d) 700 mm


Figura 7 – Resultado das PCEs, separados por diâmetro, (a) 400 mm, (b) 500 mm, (c) 600 mm e (d) 700 mm

4- NBR 6122:2010 E O AUMENTO DE ENSAIOS REALIZADOS

Em Recife existe uma cultura de controle e verificação de desempenho de fundações consolidada no meio
técnico. Medições de recalques e ensaios de provas de cargas estáticas ou dinâmicas são comuns nos
variados projetos pesquisados. Porém em 2010 foi publicada uma revisão da NBR 6122 (Projeto e Execução
de fundações, ABNT 2010) na qual, por meio do item 9.2.2.1, foi definido que obras com mais de 100
estacas são obrigadas a ensaiar pelo menos 1% das suas estacas. O fato da revisão da norma e a prescrição
de um número mínimo de PCEs, fez com que a partir de 2010 fosse verificado um aumento expressivo,
quase 25%, do número de PCEs realizadas, como pode ser verificado na Figura 8. É interessante observar
esse gráfico para entender o impacto que uma norma pode causar sobre a cultura de uma região. O pico
que acontece em 2010, discrepante dos demais valores, também se dá devido a uma obra comercial
realizada na região com mais de 4.000 estacas e objeto de estudo de Oliveira (2013). A partir de 2013 o
número de PCEs realizadas diminuiu consideravelmente muito provavelmente associada a recessão
enfrentada pelo país.

Figura 8 – Crescimento de quase 25% na demanda por PCEs em Recife devido obrigação normativa

5- INTERPRETAÇÃO DO BANCO DE DADOS UTILIZANDO VAN DEER VEEN (1953) EXPLICADO


POR OLIVEIRA (2013)

5.1 - Significado Físico do ajuste de Van der Veen (1953).

Segundo o Item 8.2.1.1, da Norma NBR 6122:2010, ruptura é caracterizada por “Deformações continuadas
sem novos acréscimos de carga”. Esta definição é bem característica de peças sujeitas a cargas que
plastifiquem a microestrutura do material. Tendo em vista que deformações continuadas para o mesmo
nível de carga normalmente caracterizam-se como a zona de escoamento plástico, estudado na Ciência dos
Materiais. Décourt (1996) cita vários pesquisadores e seus critérios de ruptura. Segundo De Beer (1988),
citado por Décourt (1996), a ruptura física caracteriza-se pelo limite da relação do acréscimo de recalque
da ponta da estaca (Δs) pelo acréscimo de carga (ΔQ), tendendo ao infinito Δs/ΔQ = ∞, Figura 9. Para
Vésic (1975), também citado por Décourt (1996), a ruptura seria caracterizada pelo “ponto onde a

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inclinação da curva carga-recalque atinge valor nulo pela primeira vez ou então um valor constante” (Vesic
1975, apud Décourt 1996), Figura 9.

As definições da NBR 6122:2010, de Vésic (1975) e de De Beer (1988), são intrinsicamente iguais.
Deslocamentos continuados sem acréscimo de carga indicam inclinação da curva carga-recalque nula. A
inclinação desta curva é dada pela relação Δs/ΔQ, ou analogamente por ΔQ/Δs. Para o caso da ruptura de
De Beer (1988) Δs/ΔQ = ∞, também pode-se escrever como ΔQ/Δs = 0 (definição de Vésic e da Norma
NBR 6122:2010). Logo, desta forma, analisando a Figura 9, para o trecho entre os pontos circulares, a
inclinação da curva Carga x Recalque se aproxima de zero. Isto quer dizer que para estágios de carga
próximos a ruptura, a razão dQ/ds tende para 0. Oliveira (2013) definiu que relação dQ/dS como Rigidez
Variacional, e denotada como kv. A Rigidez Variacional é expressa em mesmas unidades da rigidez de
Hooke usada por Décourt [F.L-1].

Para se determinar a Rigidez Variacional, será necessário que a curva Q(S) seja contínua no intervalo de
zero ao maior estágio de carga (Qn), [0, Qn]. Como a carga é uma variável contínua, porém os dados são
apresentados de forma discreta, é necessário se utilizar de alguns artifícios matemáticos. Um deles consiste
em derivadas numéricas, através do método das diferenças finitas, que é baseado na série de Taylor, apenas
com seus dois primeiros termos.
(tf)

(mm)
Figura 9 – Deformações continuadas sem novos acréscimos de carga

A série de Taylor é muito utilizada para se aproximar funções em torno da vizinhança de um dado ponto.
Aplicando-a para aproximar uma função f(x+Δx), em torno de x, e desprezando-se o erro cometido a partir
do segundo termo, Equação 1, 2 e 3:

𝑓(𝑥 + ∆𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑓 ′ (𝑥)(𝑥 + ∆𝑥 − 𝑥) + ⋯ [1]


𝑓(𝑥+∆𝑥)−𝑓(𝑥)
𝑓 ′ (𝑥) ≈ [2]
∆𝑥
𝑑𝑓 ∆𝑓
≈ ∆𝑥 [3]
𝑑𝑥

Assim, a Rigidez Variacional pode ser aproximada pela relação ΔQ/ΔS, conforme Equação 4. Se a variação
for tomada em relação ao estágio anterior de carga é chamada de Diferença Finita a Montante, Anterior ou
Implícita. Se for tomada em relação ao estágio de carga seguinte, é chamada de Diferença Finita a Jusante,
Posterior ou Explícita. Ainda existe um terceiro caso chamado de Diferença Finita Centrada, que consiste
em se utilizar o estágio a frente em relação ao estágio anterior ao ponto que se está trabalhando.

𝑑𝑄 ∆𝑄
𝑘𝑉 = ≈ [4]
𝑑𝑆 ∆𝑆

A Rigidez Variacional é da mesma natureza da rigidez presente no método de Décourt (1996), e expressa
em mesmas unidades [F.L-1], apesar de apresentar valores diferentes. Assim desta forma, também pode
ser apresentada na forma de diagrama Rigidez x Carga, aqui chamado diagrama de Rigidez, proposto por
Décourt (1996), Figura 10. É importante notar que a rigidez decresce com o passar dos estágios, e aumento
das cargas, convergindo para rigidez nula, fato que de mesma forma foi observado por Décourt. Nota-se
também que as três curvas se comportam como que convergissem para uma reta g(Q), Figura 10.

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Figura 10 – Representação da Rigidez Variacional no diagrama de Rigidez, e reta de Regressão para Rigidez
Variacional. Exemplo de uma PCE estudada por Oliveira, 2013

O valor de Q para o qual a rigidez variacional é nula é dado pelo intercepto da reta de regressão (aqui
chamada de “g”) com o eixo das cargas. Então Q assume o valor de Qu, quando g(Qu)=0.
Consequentemente o intercepto da reta ”g”, no eixo da Rigidez é dado por g(0)=a.Qu, onde “a” representa
a tangente do ângulo formado entre a reta g(Q) e o eixo dos recalques, no sentido anti-horário, conforme
Figura 02.

Assim, a reta de regressão g(Q), assume a forma da Equação 5, g(Q) = a.Qu-a.Q = a.(Qu-Q). Como g(Q)
é a reta de regressão para ΔQ/ΔS, pode-se escrever g(q) = ΔQ/ΔS ≈ dQ/dS, ou ainda a Equação 6 (Burin,
(1989) citado por Amann (2010), obtém mesma equação para o método de Marzurkiewicz que Massad
(1986) demonstra ser um método igual ao de Van der Veen).

𝑔(𝑄) = 𝑎. 𝑄𝑢 − 𝑎. 𝑄 = 𝑎. (𝑄𝑢 − 𝑄) [5]

𝑑𝑄
= 𝑎. (𝑄𝑢 − 𝑄) [6]
𝑑𝑆

Resolvendo a equação diferencial de primeira ordem (Equação 5), vem as equações 7, 8, 9, 10, 11 e 12:

𝑑𝑄
= 𝑎. 𝑑𝑆 [7]
(𝑄𝑢−𝑄)
𝑑𝑄
∫ (𝑄𝑢−𝑄) = ∫ 𝑎. 𝑑𝑆 [8]
− ln [𝑄𝑢 − 𝑄] = 𝑎. 𝑆 + 𝜆 [9]
𝑄
− ln [𝑄𝑢 (1 − )] = 𝑎. 𝑆 + 𝜆 [10]
𝑄𝑢
𝑄
− ln (𝑄𝑢 ) − ln(1 − ) = 𝑎. 𝑆 + 𝜆 [11]
𝑄𝑢
𝑄
− ln(1 − ) = 𝑎. 𝑆 + 𝜆 + ln (𝑄𝑢 ) [12]
𝑄𝑢

Os termos λ + ln(Qu) são termos que não variam e são considerados constantes e podem ser representados
por um único parâmetro, aqui chamado de “b”, Equação 13. Substituindo-se na Equação 12 e reorganizando
(equação 14), se obtém a Equação 15, idêntica à equação de Van der Veen modificada por Aoki.

𝜆 + ln (𝑄𝑢 ) = 𝑏 [13]
𝑄
− ln(1 − ) = 𝑎. 𝑆 + 𝑏 [14]
𝑄𝑢
𝑄 = 𝑄𝑢. (1 − 𝑒 −(𝑎.𝑆+𝑏) ) [15]

Ou seja, ao se considerar ajuste linear da Rigidez Variacional, e integrar a equação diferencial resultante,
obtém-se curva de mesma equação da expressão proposta por Van der Veen (1953). Alguns autores ao
longo do tempo afirmavam que o método de Van der Veen não possuía demonstração ou sentido físico.
Porém foi possível observar que a Equação do método de Van der Veen pode ser obtida a partir da rigidez
variacional ou taxa de deformação, ou primeira derivada das cargas e recalques, ao se considerar que
existe um ajuste linear dessa rigidez com o aumento das cargas aplicadas ao sistema.

5.2 - Significado do parâmetro “b”

Como já foi citado anteriormente o parâmetro “a” da curva de Van der Veen corresponde a tangente do
ângulo formado entre a reta de regressão da rigidez variacional e o eixo das cargas. Porém ainda não se
conhece o significado do parâmetro “b”, nem da constante de integração λ.

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Para s = 0, Q assume um valor de Q(0) = Qu.(1-e-b), equação 15. Logo b pode ser escrito pela Equação
16.
𝑄(0) 𝑄𝑢−𝑄(0)
𝑏 = − ln (1 − ) = − ln ( ) = − ln(𝑄𝑢 − 𝑄(0)) + ln(𝑄𝑢) [16]
𝑄𝑢 𝑄𝑢

Fazendo Qu-Q(0)=Q0, vem a Equação 17:


𝑄𝑢
𝑏 = − ln(𝑄0 ) + ln(𝑄𝑢) = ln ( ) [17]
𝑄0

Se b = 0, o gráfico carga recalque passa pela origem, e Q0 converge para Qu. Comparando-se as equações
12 e 16, é possível obter o valor da constante de integração “λ”, Equação 18:
𝜆 = − ln(𝑄0 ) [18]

5.3 - Resultados obtidos

Então, a partir do banco de dados gerado e se utilizando da metodologia de Van der Veen (1953) para
interpretrar as curvas Carga x Recalque foram obtidos os intervalos dos resultados apresentados na Tabela
3. Já na Tabela 4 são apresentados os valores médios obtidos.

Ao analisar os resultados apresentados na Tabela 4, é possível observar que, com o aumento do diâmetro
das estacas há um aumento da carga última média obtida e uma diminuição do valor do parâmetro “a”,
essa verificação também pode ser realizada por meio do gráfico apresentado na Figura 11. À medida que
o valor de “a” diminue as curvas Carga x Recalque diminuem sua inclinação. Isto indica que para o banco
de dados estudado existe uma tendência de que as estacas de diâmetro maiores precisem deformar mais
para mobilizar resistência. Vale salientar que esses resultados foram obtidos considerando os valores
médios, para o presente Universo estudado e não deve ser interpretado como uma regra para todos os
casos.

A partir da observação dos resultados apresentados na Tabela 3, nota-se que existe uma dispersão em
torno dos valores médios apresentados na Tabela 4. Dessa forma foi possível montar a Tabela 5 com os
coeficientes de variação de cada distribuição e pode-se observar que houve menos variação na estimativa
das cargas últimas em relação aos parâmetros “a” e “b”.

Os menores coeficientes de variação foram encontrados para as cargas últimas dos diâmetros de 500 e
700 mm, que são respectivamente o maior e o menor subconjunto do banco de dados. Provavelmente os
altos valores dos coeficientes de variação estão relacionados com a grande área estudada que como visto
no item 2.3 contempla diversas formações geológicas e diferentes regiões representativas.

Tabela 3 – Intervalo de Variação dos resultados obtidos, interpretados pelo Método de Van der Veen (1953)
Diâmetro (mm) Carga Última (kN) a (mm-1) b (-)
400 1187 a 3632 0.084 a 0.306 -0.227 a 0.168
500 1509 a 5727 0.046 a 0.702 -0.096 a 0.2872
600 1717 a 9007 0.025 a 0.627 -0.024 a 0.214
700 4851 a 8308 0.058 a 0.227 0.02 a 0.132

Tabela 4 – Resultados médios, interpretados pelo Método de Van der Veen (1953)
Diâmetro (mm) Carga Última (kN) a (mm-1) b (-)
400 2100 0.1817 0.038
500 2940 0.1706 0.070
600 4270 0.1437 0.082
700 6100 0.1124 0.075

Tabela 5 – Coeficiente de variação dos resultados, interpretados pelo Método de Van der Veen (1953)
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (%)
Diâmetro (mm)
Carga Última (kN) a (mm-1) b (-)
400 35.6 38.73 307.94
500 26.4 63.44 98.71
600 37.9 88.70 72.54
700 21.4 58.90 55.20

771
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A partir dos resultados obtidos foi possível traçar um gráfico que correlacionasse a carga última com os
diâmetros das estacas. Foi constatada uma forte correlação entre os valores médios das cargas últimas
estimadas com os diâmetros, quando considerada uma regressão do tipo exponencial. O coeficiente de
correlação obtido foi de 0,9996, ver Figura 11.

Figura 11 – Aumento das cargas últimas estimadas com o aumento do diâmetro das estacas

6- CONCLUSÕES

A partir da metodologia proposta foi possível concluir que:


 Foi possível avaliar o impacto da norma publicada em 2010 sobre o aumento das PCEs executadas;
 Foi possível observar que com o aumento do diâmetro das estacas há um aumento da carga última
média obtida e uma diminuição do valor do parâmetro “a”, isto indica que para o banco de dados
estudado existe uma tendência das estacas de diâmetro maiores deformar mais para mobilizar
resistência;
 Houve menos variação na estimativa das cargas últimas em relação aos parâmetros “a” e “b”;
 Os menores coeficientes de variação foram encontrados para as cargas últimas dos diâmetros de
500 e 700 mm;
 Foi constatada uma forte correlação entre os valores médios das cargas últimas estimadas com os
diâmetros. O coeficiente de correlação obtido foi de 0,9996.

REFERÊNCIAS

ABNT (2010) - Projeto e execução de fundações. Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6122, Rio de Janeiro,
91p.

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Paulo, 2010. Tese (Doutorado) – USP.

Décourt, L. (1996) - A ruptura de fundações avaliada com base no conceito de rigidez. In: Seminário de Engenharia de
Fundações Especiais e Geotecnia, III SEFE, São Paulo-SP. Anais. ABEF e ABMS, 1: 215-224.

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Santos, R. A. M. (2011) - Análise dos tipos de Fundações na Região Metropolitana do Recife de 2000 a 2010. Recife
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IPEA (2014) - Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras. Ipea, Fundação João Pinheiro
(FJP) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=24037, último acesso em 08.01.2018.
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Massad, F. (1986) - Notes on the Interpretation of Failure Load from Routine Pile Load Tests. Solos e Rochas, São Paulo,
v. 9, n. 1, p. 33-38, 1986.

Oliveira, J. T. R. (2008) - Perfis típicos do subsolo na planície do Recife – Brasil: estudo de casos. IV Congresso Luso-
Brasileiro de Geotecnia, Coimbra. SPG/ABMS, 2008.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Oliveira, P. E. S. (2013) - Análise de provas de carga e confiabilidade para edifício comercial na região metropolitana do
Recife. Recife, 2013. Dissertação (Mestrado) – UFPE.

Oliveira, M. S. (2015) - Solos da planície do Recife – uma visão panorâmica. Recife, 2015. Trabalho de Conclusão de
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Van Der Veen, C. (1953) - The Bearing Capacity of a Pile. 3rd International Conference on Soil Mechanics and Foundation
Engineering, Zurich, 2: 84-90.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ANÁLISE DE RADIER


ESTAQUEADO EM CASOS HISTÓRICOS

COMPARISON OF NUMERICAL METHODS FOR PILED RAFT ANALYSIS IN


HISTORICAL CASES

Bittencourt, Eduardo de Castro; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil,
eng.castrobittencourt@gmail.com
Freitas Neto, Osvaldo de, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil,
osvaldoecivil@gmail.com
De Freitas, Ana Paula; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil,
apfreitas75@yahoo.com.br
Cunha, Renato Pinto da; Universidade de Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br
Monteiro, Fernando Feitosa, Universidade de Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

RESUMO

Nas últimas décadas iniciou-se uma tendência entre os engenheiros geotécnicos em considerar no
dimensionamento de fundações profundas, a contribuição do elemento superficial radier para o aumento
da capacidade de carga e redução de recalques. Como neste tipo de fundação existe a interação entre os
elementos radier, estacas e solo, a análise dos elementos estruturais precisa ser realizada de forma
conjunta, apresentando assim grande complexidade na previsão do seu comportamento. A fim de prever
o comportamento desta interação, ferramentas numéricas vêm sendo desenvolvidas. A grande vantagem
destes programas está na possibilidade de análise do comportamento da fundação de forma tridimensional.
Contudo, mesmo que possuam capacidade de prever o desempenho de fundações mais complexas, é
importante que seja realizada uma verificação se o programa a ser utilizado é manuseado de forma eficaz.
Esta verificação pode ser realizada através de comparações de simulações numéricas com provas de carga
efetuadas em campo ou por meio de comparação com resultados das análises realizadas por pesquisadores
de casos constantes na literatura. Diante deste contexto, neste artigo foi realizada uma comparação dos
resultados de algumas análises numéricas de casos constantes na literatura, realizadas por diversos
pesquisadores, com os resultados previstos pelo programa PLAXIS 3D Foundation, versão 2.1, baseado no
método dos elementos finitos (MEF). Alguns parâmetros foram analisados nestas pesquisas, tais como o
estudo do efeito da rigidez relativa da fundação (Kps), espaçamento relativo (S/D), comprimento relativo
(L/D) e recalques no radier e estacas. Após análise dos problemas estudados e comparação das simulações
numéricas obtidas pelo PLAXIS com outros pesquisadores, observou-se que o programa respondeu de
forma satisfatória na previsão do comportamento das fundações estudadas, levando a conclusão que o
software PLAXIS foi utilizado de forma correta na análise de fundações estruturadas a luz da técnica radier
estaqueado.

ABSTRACT

In the last decades, a tendency among geotechnical engineers to consider the contribution of the surface
element raft in the design of deep foundations for the increase of the load capacity and the reduction of
settlements. As in this type of foundation there is interaction between piles, raft and soil elements, the
analysis of the structural elements needs to be performed together, thus presenting great complexity in
the prediction of their behavior. In order to predict the behavior of this interaction, numerical tools have
been developed. The great advantage of these programs is the possibility of analyzing the behavior of the
foundation in a three-dimensional way. However, even if they have the ability to predict the performance
of more complex foundations, it is important that a check is performed if the program to be used is handled
effectively. This verification can be performed through comparisons of numerical simulations with load tests
performed in the field or by means of comparison with results of the analyzes performed by cases
researchers in the literature. In this context, a comparison of the results of some numerical analyzes of
cases in the literature carried out by several researchers with the results of the PLAXIS 3D Foundation,
version 2.1, based on the finite element method (MEF) was carried out. Some parameters were analyzed
in these studies, such as the study of the effect of relative foundation stiffness (Kps), relative spacing
(S/D), relative length (L/D) and settlements in piles and raft. After analyzing the studied problems and
comparing the numerical simulations obtained by PLAXIS with other researchers, it was observed that the
program responded satisfactorily in predicting the behavior of the studied foundations, leading to the
conclusion that PLAXIS software was used correctly in the analysis of foundations structured in the light of
the piled raft technique.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

A acelerada expansão que vem ocorrendo nos grandes centros urbanos nos últimos anos levou a um cenário
em que as fundações das edificações necessitam ter uma elevada capacidade de suporte em um pequeno
espaço construtivo, sem deixar de atender aos critérios de recalques admissíveis. Esta conjuntura leva a
necessidade de instalação de um grande número de estacas para se adequar à carga admissível prevista
em projeto. Contudo, esta opção pode implicar na elevação dos custos do empreendimento, resultando na
inviabilidade de execução da obra.

Este cenário levou aos engenheiros geotécnicos buscarem novas técnicas construtivas as quais consigam
se adequar tanto aos critérios de capacidade de carga quanto aos recalques admissíveis, sem deixar de
lado o ganho econômico. Em vista disso, nas últimas décadas iniciou-se uma tendência em considerar o
possível benefício que o contato do bloco de fundação oferece ao sistema de fundação no que tange
incremento de rigidez.

Na metodologia tradicional de fundação profunda (grupo de estacas), apenas as estacas são responsáveis
por receber os esforços transmitidos pela estrutura e transferir para o solo, com o bloco de fundação tendo
apenas a função de associar as estacas. Já o método de dimensionamento em que considera o efeito do
contato do bloco de coroamento, tanto as estacas quanto o elemento superficial trabalham de forma
conjunta para fornecer capacidade de suporte e rigidez para o sistema de fundação.

Pelo fato da estruturação da fundação em radier estaqueado ser a união do elemento de fundação estaca
e superficial bloco/radier, a previsão do seu comportamento se constitui como um desafio no contexto de
interação solo-estrutura, sendo necessário, desta forma, o uso de ferramentas computacionais para obter
maior acurácia na estimativa da capacidade de carga e recalques da fundação.

Alshenawy, Alrefeai e Alsanabani (2016) citam esta complexidade presente na análise de radier estaqueado,
tendo em vista que a avaliação do comportamento dos elementos estruturais radier e estaca precisa ser
realizada de forma conjunta. Assim, a utilização de programas numéricos auxiliaria nessa problemática.

A fundação estruturada em radier estaqueado parte do princípio de que o elemento superficial contribui
para o aumento de desempenho estrutural do sistema de fundação. Entre as vantagens desta metodologia
construtiva, as principais são aumento de capacidade de suporte e redução de recalques da fundação.

Poulos (1991) relata os tipos de solos em que o dimensionamento da fundação em radier estaqueado é
positiva e negativa. Os positivos são aqueles que possuem na sua superfície camadas de argila média ou
rija ou solos arenosos que possuem compacidade densa. Já os solos que não são favoráveis para este
método construtivo são aqueles que apresentem argila mole ou areia fofa nas camadas superficiais. Massas
de solo que possuem esta estratificação resultariam numa participação pouco relevante do bloco ou radier
no aumento do desempenho estrutural da fundação.

De acordo com Kuwabara (1989), mesmo que o elemento horizontal apresente pequena parcela no
combate a recalques, o mesmo pode chegar a transmitir de 20 a 40% dos esforços transmitidos pela
estrutura, a depender do tipo de solo, condições de saturação, e fatores geométricos das estacas.

Katzenbach, Arslan e Moormann (2000) citam que inúmeras são as vantagens de concepção da fundação
em radier estaqueado: redução de recalques totais e diferenciais, aumento da capacidade de suporte do
sistema, redução dos momentos gerados no radier e maior economia na fundação em comparação com a
metodologia tradicional de grupo de estacas.

Soares, Coutinho e Cunha (2014) realizaram um estudo experimental na cidade de João Pessoa, estado da
Paraíba, Brasil, a fim de verificar o possível benefício que o contato do bloco de fundação ofereceria para o
sistema. Na pesquisa foram analisados os comportamentos estruturais dos sistemas em grupo de estaca e
radier estaqueado, ambos possuindo 1 e 2 estacas, todos com o bloco de fundação possuindo mesma
dimensão.

Na análise comparativa dos sistemas, foi observado que a interação do radier com a massa de solo resultou
em um melhor desempenho do sistema de fundação, ocasionando aumento na capacidade de carga e
redução de recalques. As Figuras 1 e 2 ilustram os resultados de provas de carga para os dois sistemas
com 1 e 2 estacas, respectivamente.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Carga (kN) Carga (kN)


0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 500 1000 1500 2000 2500
0 0

10
10
20

30 20

Reclauqe (mm)
Recalque (mm)

40
30
50

60 40

70
50
80

90 60
Estaca isolada Radier estaqueado Grupo de estacas Radier estaqueado
Figura 1 - Curvas carga recalque para estaca isolada e Figura 2 - Curvas carga recalque para grupo de 2
radier estaqueado. Soares, Coutinho e Cunha (2014) estacas e radier estaqueado. Soares, Coutinho e Cunha
(2014)

Por meio da análise comparativa das curvas carga recalque das metodologias grupo de estacas e radier
estaqueado, para todos os sistemas (radier sobre 1 e 2 estacas), a configuração em radier estaqueado
apresentou maior rigidez que a metodologia tradicional, resultando desta forma em maior capacidade de
suporte.

A partir das provas de carga executadas nas fundações em radier estaqueado, observou-se que que no
sistema contendo 1 estaca o radier recebeu cerca de 80% dos esforços aplicados nos últimos estágios de
carregamento, enquanto que no sistema com 2 estacas essa parcela foi de 70% ao final do ensaio.

Esta performance do radier em receber menos esforços conforme aumenta o número de estacas para um
radier com mesmas dimensões pode ser justificada pela redução da área de contato do elemento superficial
com a massa de solo, diminuindo assim sua contribuição no recebimento e transferência dos esforços para
o solo, o que corrobora com estudos realizados por Mandolini (2013).

Garcia (2015) realizou um estudo experimental e numérico em radiers estaqueados na cidade de Campinas,
estado de São Paulo, Brasil, a fim de verificar a influência do contato do radier com a massa de solo na
rigidez do sistema de fundação. O solo local, caracterizado por ensaio de cone (CPT), possuía argila muito
mole até a profundidade de 2 metros, seguido por uma camada de 6 metros de areia siltosa e, em
sequência, 4 metros de profundidade constituído por silte-areno-argiloso, onde alcança o impenetrável.

Quatro diferentes sistemas foram analisados: radier sobre 1, 2, 3 e 4 estacas, todas com 5 metros de
comprimento e 25 cm de diâmetro, espaçadas em 5D. A partir dos resultados experimentais foi observado
que de maneira geral o radier contribuiu com cerca de 21% no recebimento dos esforços aplicados na
fundação, sendo esta solução em radier estaqueado vantajosa, mesmo apresentando um solo superficial
não favorável para este método de fundação, conforme Poulos (1991).

Quanto às análises numéricas, os resultados demonstraram uma participação de 36% do radier na


capacidade de carga da fundação, o que representa razoável acurácia do programa numérico utilizado na
previsão do comportamento da fundação em radier estaqueado.

Em relação a análise do desempenho estrutural de fundação em radier estaqueado, grande parte dos
estudos utilizam o Método dos Elementos Finitos (MEF), por ser uma ferramenta em plataforma 3D que
realiza a previsão do comportamento solo-estrutura com boa acurácia, avaliando assim, as interações entre
solo, radier e estaca(s) de forma simultânea.

Pioneiro neste tipo de análise, Ottaviani (1975) verificou o comportamento de grupos de 9 e 15 estacas,
com o bloco em contato com a massa de solo (radier estaqueado) e sem contato (grupo de estacas), para
avaliar o desempenho do sistema de fundação a luz de uma dessas duas abordagens de projeto. Na
pesquisa foi concluído que na estruturação da fundação em radier estaqueado, o elemento superficial
contribuiu de forma significativa no recebimento dos esforços emitidos pela estrutura.

Contudo, mesmo que as ferramentas computacionais auxiliem na previsão do comportamento da fundação


em radier estaqueado, é necessário que seja feita uma verificação do software se o programa utilizado está
sendo utilizado de maneira correta para a análise deste tipo de sistema de fundação.

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Para tanto, duas formas de verificação podem ser realizadas, uma delas a partir da comparação de
simulações numéricas com resultados de provas de cara executadas em campo. Outra maneira seria a
partir de análises comparativas de simulações numéricas realizadas no software com casos constantes na
literatura.

Diante do supracitado, o presente artigo tem como objetivo verificar a eficiência no manuseio do programa
PLAXIS 3D em analisar o desempenho de fundação em radier estaqueado, por meio de simulações
numéricas comparativas com resultados obtidos por outros pesquisadores em quatro casos estudados na
literatura.

2- METODOLOGIA

Tendo em vista a necessidade de garantir se um programa numérico para previsão do real comportamento
em campo de fundações estruturadas em radier estaqueado é utilizado corretamente, a presente pesquisa
realizou a verificação do programa numérico PLAXIS 3D Foundation, versão 2.1, baseado no método dos
elementos finitos (MEF), desenvolvido pela Universidade de Delft (Delft University of Technology). Para
tanto, diversos casos constantes na literatura foram utilizados para verificar a concordância entre as
previsões obtidas pelo PLAXIS com aquelas alcançadas por outros pesquisadores.

Foram analisados desde os casos mais simples, como estaca isolada instalada em solo homogêneo, até os
mais complexos, considerando o solo heterogêneo com a inserção de um número maior de estacas no
sistema de fundação, avaliando os seguintes parâmetros: rigidez relativa da fundação (Kps), espaçamento
relativo (S/D), comprimento relativo (L/D) e recalques no radier e estacas. Todos os casos estudados são
apresentados nos itens a seguir.

2.1 - Estaca isolada (Ottavianni, 1975)

Neste primeiro caso, analisado por Ottaviani (1975) e posteriormente por outros pesquisadores, diversas
simplificações foram aplicadas. A massa de solo foi considerada homogênea com comportamento elástico
linear, com a seção transversal da estaca quadrada.

Neste caso, 3 situações foram analisadas. A primeira possuía estaca de 20m de comprimento e domínio
vertical do problema de 80m (H/L:4). Na segunda, foi mantido o comprimento da estaca em 20m,
alterando-se o domínio vertical para 30m (H/L:1,5). Por fim, na terceira o comprimento da estaca foi
alterado para 40m, com domínio vertical igual a 60m (H/L:1,5). O Quadro 1 apresenta os parâmetros
utilizados na análise.

Quadro 1 – Parâmetros utilizados para os casos de estaca isolada (Ottaviani, 1975)

D(m) Ap (m²) B(m) L(m)


1 1 3L 20 e 40
H/L Ep (GPa) Es (MPa) σ (kPa)
1,5 e 4 20 10 a 80 250 a 2000
νs νc γs (kN/m³) γe (kN/m³)
0,45 0,25 21 24
D – Lado da seção da estaca; Ap – Área da seção transversal da estaca; B – Domínio horizontal; L – Comprimento da estaca; H/L –
Domínio Vertical; Ep – Módulo de elasticidade do concreto; Es – Módulo de elasticidade do solo; σ – Tensão Aplicada no topo da estaca;
νs – Coeficiente de Poisson do solo; νc – Coeficiente de Poisson do concreto; γs – peso específico do solo; γe – peso específico da estaca.

2.2 - Radier sobre 9 e 15 stacas (Poulos et al., 1997)

Este caso apresenta duas análises de radier estaqueado, ambos carregados por 9 pilares, 6 deles aplicando
uma carga P1 e os três restantes aplicando P2, correspondendo ao dobro de P1. Três diferentes casos foram
verificados, variando a carga aplicada pelos pilares e o número de estacas inseridas sob o radier. A Figura
5 apresenta o caso proposto por Poulos et al. (1997), demonstrando fatores geométricos e parâmetros
elásticos, enquanto que os Quadros 2 e 3 ilustram os parâmetros utilizados nas análises.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 – Caso proposto por Poulos et al. (1997)

Quadro 2 – Cargas, fatores de segurança e número de estacas nos três casos analisados

CASOS No de FS Carga nos Carga nos Carga total


estacas Pilares P1 (kN) Pilares P2 (kN) aplicada (kN)
A 15 2,6 1000 2000 12000
B 15 2,07 1250 2500 15000
C 9* 2,15 1000 2000 12000
*As estacas destacadas com “A”, na Figura 6, são retiradas da fundação.

Quadro 3 – Parâmetros utilizados para os casos de radier sobre 9 estacas (Poulos et al., 1997)

D(m) Ap (m²) B(m) L(m)


0,5 0,196 3L 10
H/L Ep (GPa) Es (MPa) Carga (kN)
2 30 20 1000 a 2500
νs νc γs (kN/m³) γc (kN/m³)
0,3 0,2 18 25
D – Lado da seção da estaca; Ap – Área da seção transversal da estaca; B – Domínio horizontal; L – Comprimento da estaca; H/L –
Domínio Vertical; Ep – Módulo de elasticidade do concreto; Es – Módulo de elasticidade do solo; νs – Coeficiente de Poisson do solo; νc
– Coeficiente de Poisson do concreto; γs – peso específico do solo; γc – peso específico do concreto.

2.3 - Radier sobre 9 estacas (Kuwabara, 1989)

Este caso, apresentado inicialmente por Kuwabara (1989), estuda uma fundação de radier sobre 9 estacas
inseridas em solo homogêneo com comportamento elástico e carga aplicada de forma uniforme sobre a
superfície do radier.

A distância do eixo central das estacas periféricas com a borda do bloco corresponde ao diâmetro da estaca,
a carga e o diâmetro por sua vez foram mantidos constantes, variando as relações L/D e S/D entre 25 a
200 e 3 a 10, respectivamente. O Quadro 4 apresenta os parâmetros utilizados no programa PLAXIS para
este caso proposto.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 4 – Parâmetros utilizados para o caso de radier sobre 9 estacas (Kuwabara, 1989)

D(m) Ap (m²) L(m) S/D


1 0,785 25 / 50 / 100 / 150 / 200 3 / 5 / 10
H/L t (m) Ep (GPa) Es (MPa) Kps
2 2 20 20 1000
Carga (kN) νs νc γs (kN/m³) γc (kN/m³)
1000 0.49 0.2 18 25
D – Lado da seção da estaca; Ap – Área da seção transversal da estaca; L – Comprimento da estaca; S/D – Espaçamento relativo entre
as estacas; H/L – Domínio Vertical; t – espessura do radier; Ep – Módulo de elasticidade da estaca Concreto; Es – Módulo de elasticidade
do solo; Kps – coeficiente de rigidez entre estaca e solo ; νs – Coeficiente de Poisson do solo; νc – Coeficiente de Poisson do concreto;
γs – peso específico do solo; γc – peso específico do concreto.

2.4 - Radier sobre 16 estacas (proposto pelo Comitê TC-18)

Este caso, proposto na ISSMGE (Internacional Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering), é
considerado o mais complexo, visto que o módulo de elasticidade do solo e resistência não drenada
aumentam linearmente com a profundidade, obedecendo as Equações 1 e 2 respectivamente:

𝐸𝑆 = 2,45𝑧 + 7,0 (𝑀𝑃𝑎) [1]

𝑐𝑢 = 3,93𝑧 + 110 (𝑘𝑃𝑎) [2]

Neste problema o solo foi constituído de uma única camada, posto que o programa PLAXIS possui uma
ferramenta que possibilita a inserção de equações para o módulo de elasticidade e coesão não drenada as
quais satisfazem as Equações 1 e 2. A Figura 6 apresenta o caso estudado em termos geométricos e
elásticos enquanto o Quadro 5 ilustra os parâmetros de entrada utilizados no PLAXIS.

Figura 4 – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC – 18

Quadro 5 – Parâmetros utilizados no PLAXIS para os casos de radier sobre 16 estacas. (TC – 18)

D(m) Ap (m²) B(m) L(m)


1 0.785 3L 30
t (m) H/L S/D Ec (GPa)
2 2 3 35
Es (MPa) Cu (kPa) Φ° Carga (MN)
2,45z + 7,0 3,93z + 110 30 80
νs νc γs (kN/m³) γc (kN/m³)
0,1 0,16 18 25
D – Lado da seção da estaca; Ap – Área da seção transversal da estaca; B – Domínio horizontal; L – Comprimento da estaca; t – Espessura
do radier; H/L – Domínio Vertical; S/D – Espaçamento relativo entre estacas; Ec – Módulo de Elasticidade do concreto; Es – Módulo de
Elasticidade do solo; Cu – Resistência não drenada; φ – ângulo de atrito do solo; νs – Coeficiente de Poisson do solo; νc – Coeficiente de
Poisson do concreto; γs – peso específico do solo; γc – peso específico do concreto.

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir serão apresentados os resultados das simulações numéricas obtidos através do PLAXIS 3D
Foundation para todos os casos abordados no item anterior, comparando com aqueles obtidos por outros
pesquisadores a fim de verificar a concordância entre as análises.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.1 - Estaca isolada (Ottaviani, 1975)

Neste caso, os resultados são apresentados em termos de rigidez relativa da fundação 𝐾 (𝐸𝑝 /𝐸𝑠 ) versus
recalque adimensional (𝐸𝑝 . 𝐷. 𝑊./𝑃), com W dado pelo recalque na cabeça da estaca e P a carga aplicada na
fundação. Esta metodologia de análise foi proposta por Ottaviani (1975). As Figuras 7, 8 e 9 apresentam
as análises realizadas pelos PLAXIS e aquelas obtidas por outros pesquisadores com a utilização de outros
programas numéricos.

200
LCPC CESAR (FREITOS NETO, 2013)
180
PLAXIS
Consttante de recalque

160 FLEXPDE (BITTENCOURT E LIMA, 2009)


140 DIANA (SOUZA, 2010)
(Ep.W.D/P)

120 ALLFINE (SALES, 2000)


100 OTTAVIANI (1975)
80
60
40
20
0
0 500 1000 1500 2000
Rigidez relativa K (Ep/Es)
Figura 5 - Constante de recalque versus rigidez relativa obtidos com PLAXIS para estaca isolada com 20 metros de
comprimento e H/L igual a 4,0

200
180 LCPC CESAR (FREITAS NETO, 2013)
Constante de recalque

160 PLAXIS
140 FLEXPDE (BITTENCOURT E LIMA, 2009(
(Ep.W.D/P)

DIANA (SOUZA, 2010)


120
ALLFINE (SALES, 2000)
100
OTTAVIANI (1975)
80
60
40
20
0
0 500 1000 1500 2000
Rigidez relativa K (Ep/Es)
Figura 6 – Constante de recalque versus rigidez relativa obtidos com PLAXIS para estaca isolada com 20 metros de
comprimento e H/L igual a 1,5

140
LCPC CESAR (FREITAS NETO, 2013)
120 PLAXIS
FLEXPDE (BITTENCOURT E LIMA, 2009)
Constante de recalque

100 DIANA (SOUZA, 2010)


ALLFINE (SALES, 2000)
(Ep.W.D/P)

80 OTTAVIANI (1975)
60

40

20

0
0 500 1000 1500 2000
Rigidez relativa K (Ep.Es)
Figura 7 – Constante de recalque versus rigidez relativa obtidos com PLAXIS para estaca isolada com 40 metros de
comprimento e H/L igual a 1,5

As variações dos resultados apresentados acima entre aqueles obtidos pelo PLAXIS e por outros
pesquisadores podem ser atribuídas pela densidade da malha e o peso específico adotado para o solo e o
concreto nas análises numéricas, parâmetros estes não fixados no caso proposto.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Não obstante, mesmo que a trajetória da reta apresentada pelo PLAXIS tenha mostrado certa discrepância
com o restante dos resultados, considerou-se que o software respondeu de forma eficaz este problema,
visto que a constante de recalque tem elevada sensibilidade diante de pequenas variações de recalque;
sensibilidade esta destacada por Freitas Neto (2013). A maior diferença em valor de recalque absoluto em
comparação com os outros resultados foi de apenas 4mm.

Assim, pelos resultados obtidos através do PLAXIS para este caso, pode-se concluir que o programa
correspondeu de forma satisfatória na previsão do comportamento da fundação perante a comparação com
os resultados obtidos por outros pesquisadores.

3.2 - Radier sobre 9 e 15 estacas (Poulos et al., 1997)

Neste problema, o caso A, que contem radier sobre 15 estacas com pilares aplicando esforços de 1MPa e
2 MPa, o recalque médio apresentado na simulação com o PLAXIS foi de 25mm, o que representa uma
diferença de apenas 0,5% menor que a média dos resultados alcançados por outros pesquisadores.

Para o caso B, com radier sobre 15 estacas e pilares com cargas de 1,25MPa e 2,5MPa, o recalque médio
obtido pelo PLAXIS foi de 31mm, apresentando deslocamento 6mm superior ao caso A e apenas 5,7%
inferior à média dos recalques apresentados pelos outros pesquisadores.

Por fim, o caso C, com radier sobre 9 estacas e carga de pilares iguais a 1MPa e 2 MPa, o recalque médio
apresentado pelo PLAXIS foi de 27mm, representando valor de deslocamento 8,7% inferior àqueles obtidos
por outros pesquisadores. Os resultados obtidos em tais problema são apresentados nas Figuras 10, 11, e
12 a seguir.

50
RECALQUE MÉDIO (mm)

40
30
20
10
0
PLAXIS LCPC Poulos e Randolph GASP - GARP6 - GARP 8 - Ta & Sinha
CESAR - Davis (1983) Poulos Poulos Souza Small (1997)
Freitas (1980) (1991) (1994) (2010) (1996)
Neto
(2013)

MÉTODO

Figura 8 – Recalque médio ocorrido no radier com 15 estacas no caso A

50
RECALQUE MÉDIO (mm)

40
30
20
10
0
PLAXIS LCPC Poulos e Randolph GASP - GARP6 - GARP 8 - Ta & Sinha
CESAR - Davis (1983) Poulos Poulos Souza Small (1997)
Freitas (1980) (1991) (1994) (2010) (1996)
Neto
(2013)
MÉTODO

Figura 9 – Recalque médio ocorrido no radier com 15 estacas no caso B

781
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

RECALQUE MÉDIO (mm)


50
40
30
20
10
0
PLAXIS LCPC Poulos e Randolph GASP - GARP6 - GARP 8 - Ta & Sinha
CESAR - Davis (1983) Poulos Poulos Souza Small (1997)
Freitas (1980) (1991) (1994) (2010) (1996)
Neto
(2013)
MÉTODO

Figura 10 – Recalque médio ocorrido no radier com 9 estacas no caso C

As variações entre os resultados dos recalques médio podem ser atribuídas pela densidade das malhas
utilizadas pelos pesquisadores em suas respectivas análises. Os resultados de Sinha (1997) por sua vez,
apresentam maiores diferenças com os restantes dos resultados, visto que como o próprio autor cita, foram
realizadas considerações sobre a heterogeneidade em suas análises. Tais considerações divergem do caso
proposto, justificando desta forma, o distanciamento com os recalques médios obtidos por outros
pesquisadores

Adicionalmente, cita-se o efeito dos valores adotados para os parâmetros peso específico do solo e do
concreto nos resultados de recalques médios apresentados pelos pesquisadores. Estes parâmetros não são
fixados no caso proposto, assim, as diferenças dos resultados também podem ser atribuídas por estes
pares de parâmetros adotados nas simulações numéricas.

Conforme o supracitado, pela comparação dos recalques médios no radier para os casos A, B e C obtidos
pelo PLAXIS com aqueles apresentados na literatura para o problema proposto por Poulos et al. (1997),
pode-se concluir que o software respondeu de forma positiva na análise do comportamento da fundação
em radier sobre 9 e 15 estacas, visto que apresentou boa concordância com os resultados de outros
pesquisadores.

3.3 - Radier sobre 9 estacas (Kuwabara, 1989)

Neste caso, os resultados são apresentados em forma de constante de recalque (P/Es.w.D) versus L/D nas
Figuras 13, 14 e 15, em comparação aos outros constantes na literatura.

80
Relação S/D = 3

60
P/Es.w.D

40

20

0
0 50 100 150 200 250
L/D
PLAXIS LCPC CESAR - FREITAS NETO (2013)
ALLFINE - SALES (2000) GARP 7 - SALES (2000)
APRAF - SMALL & ZHANG (1999) KUWABARA (1989)
Figura 11 – Resultados para radier sobre 9 estacas com S/D = 3

782
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

80
Relação S/D = 5

60
P/Es.w.D
40

20

0
0 50 100 150 200 250
L/D
PLAXIS LCPS CESAR - FREITAS NETO (2013)
ALLFINE - SALES (2010) GARP 7 - SALES (2000)
APRAF - SMALL & ZHANG (1999) KUWABARA (1989)

Figura 12 – Resultados para radier sobre 9 estacas com S/D = 5

Relação S/D = 10
100

75
P/Es.w.D

50

25

0
0 50 100 150 200 250
L/D
PLAXIS LCPC CESAR - FREITAS NETO (2013)
ALLFINE - SALES (2000) GARP 7 - SALES (2000)
SMALL & ZHANG (1999) KUWABARA (1989)

Figura 13 – Resultados para radier sobre 9 estacas com S/D = 10

Observa-se que, com exceção do resultado para radier sobre 9 estacas com espaçamento relativo S/D =
10, os resultados do PLAXIS apresentaram boa convergência com aqueles obtidos por simulações de Sales
(2000) e Freitas Neto (2013), ambas realizadas pelo MEF, mesmo método utilizado pelo PLAXIS. Kuwabara
(1989) por sua vez, realizou análises baseadas pelo Método dos Elementos de Contorno (MEC), enquanto
que Small e Zhang (1999) utilizaram o método das camadas finitas para representar o comportamento da
massa de solo. Assim, as diferenças entre os resultados apresentados podem ser justificadas pelos métodos
utilizados nas análises.

Além disso, cita-se novamente a densidade da malha utilizada pelos pesquisadores que pode justificar as
variações nos resultados e a elevada sensibilidade da constante de recalque, que perante a pequenas
variações de recalque absoluto, em que 1mm resulta em grandes alterações nos resultados. Assim, a partir
dessas considerações, concluiu-se que o PLAXIS apresentou boa eficácia na análise deste caso proposto
por Kuwabara (1989).

3.4 - Radier sobre 16 estacas (proposto pelo Comitê TC-18)

Para o caso mais complexo na presente pesquisa, mesmo que a configuração da fundação seja radier
estaqueado (radier em contato com o solo), o pequeno espaçamento relativo entre as estacas (S/D:3) e a
alta resistência da massa de solo, resulta numa rigidez elevada pelo estaqueamento. Isto implica numa
participação pouco relevante do elemento horizontal radier no recebimento dos esforços aplicados na
fundação.

O resultado obtido no PLAXIS e aqueles constantes na literatura por meio do Método dos Elementos Finitos
são apresentados no Quadro 6. Já o Quadro 7 apresenta todos os resultados constantes na literatura para
o problema de estudo.

783
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 6 – Resultados para programas baseado no MEF


AUTOR / PROGRAMA / MÉTODO RECALQUE (mm)
Yamashita (1998) / MEF 29
Sales (2000) / ALLFINE / MEF 27
Souza (2010) / DIANA / MEF 31
Freitas Neto (2013) / LCPC - CESAR / MEF 28,8
PLAXIS 30

Quadro 7 – Todos os resultados constantes na literatura


AUTOR / PROGRAMA / MÉTODO RECALQUE (mm) Carga nas Estacas
(%)
Yamashita (1998) / MEF 29 98
Horikoshi e Randolph (1998) / Tubulão Equivalente 31 x
Horikoshi e Randolph (1998) / HyPR 41/43 100
Matsumoto (1998) / KURP 42 96
GARP / Método Aproximado 42 98
Sales (2000) / ALLFINE / MEF 27 95
Souza (2010) / DIANA / MEF 31 X
Freitas Neto (2013) / LCPC - CESAR / MEF 28,8 94
PLAXIS 30 92

Ao comparar os resultados de recalques constantes na literatura com o PLAXIS, observa-se boa


concordância para carga emitida nas estacas e recalques, em especial na comparação com aqueles obtidos
por meio do Método dos Elementos Finitos.

4- CONCLUSÃO

A fundação estruturada em radier estaqueado vem apresentando boa solução geoténica, como observado
na literatura, mas a previsão do seu comportamento se torna complexo visto que a análise da interação
solo-estrutura entre os elementos estruturais radier/estaca(s) e o solo, precisa ser realizada de forma
conjunta. Para tanto, o desenvolvimento de programas numéricos de análises de fundações vem para
auxiliar nesse contexto.

Mas, para garantir que o programa numérico utilizado para este fim preveja de forma eficaz o real
comportamento da fundação, sua verificação se faz necessário. Assim, nesta pesquisa foi verificado se o
programa PLAXIS 3D Foundation, versão 2.1, tem acurácia em prever e analisar o comportamento da
fundação em radier estaqueado de alguns casos apresentados na literatura.

Quatro casos foram analisados: Estaca isolada (Ottaviani, 1975); Radier sobre 9 e 15 stacas (Poulos et al.,
1997); Radier sobre 9 estacas (Kuwabara, 1989) e Radier sobre 16 estacas (proposto pelo Comitê TC-18).
Os casos se enquadram em desde um problema mais simples, com estaca isolada inserida em solo
homogêneo com comportamento elástico, até um mais complexo, com radier sobre 16 estacas instaladas
em solo heterogêneo.

Diante dos resultados apresentados nas simulações realizadas pelo PLAXIS e comparados com aqueles
obtidos por outros pesquisadores, conclui-se que o software estudado nesta pesquisa foi utilizado
corretamente para a análise do comportamento de fundação em radier estaqueado, podendo ser utilizado
para previsões da resposta deste sistema de fundação em campo, auxiliando assim no seu
dimensionamento.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

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Campinas/SP. Tese de doutorado – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade
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Geomechanics, v. 20, p. 57-72.

785
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

COMPARAÇÃO ENTRE PREVISÃO E DESEMPENHO DE ESTACAS METÁLICAS


HELICOIDAIS SUJEITAS A TRAÇÃO

COMPARISON BETWEEN PREDICTION AND PERFORMANCE OF HELICAL PILES


SUBJECTED TO TENSILE LOADS

Gomes, Roney de Moura; Groundtech Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, roney@groundtech.com.br


Juvêncio, Erisvaldo de Lima; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, erisvaldo.lima@gmail.com
Vargas, José Wellington Santos; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, jwsvargas@gmail.com
Pinheiro, Arthur Veiga Silverio; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, arthur_veiga@poli.ufrj.br
Júnior, José Alves da Silva; Getec Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, jose.alves@geteceng.com.br
Silva, Alex de Lima; Getec Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, engenharia@geteceng.com.br

RESUMO

O trabalho apresenta uma avaliação da capacidade de carga de duas estacas metálicas helicoidais,
instaladas em solo predominantemente residual, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil. Utilizaram-se
como parâmetros as características geotécnicas e o arranjo das hélices, distribuídas ao longo do fuste
metálico. Foram executadas sondagens a percussão nas proximidades das estacas. Durante a instalação
houve registro contínuo de torque. A capacidade de carga geotécnica foi prevista por meio de métodos
empírico e semiempíricos e comparada com resultados de provas de carga à tração. O estudo permitiu
avaliar o efeito do torque de instalação no desempenho da estaca. Para uma estaca instalada com torque
compatível com sua resistência, os métodos de previsão de capacidade de carga foram satisfatórios.

ABSTRACT

This work presents an evaluation of the bearing capacity of two steel helical piles driven into predominantly
residual soil in Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brazil. Geotechnical characteristics and helices arrangement
along the pile shaft were used as parameters. SPT tests were performed close to the pile positions, and
continuous torque measurements were taken during pile driving. The geotechnical bearing capacity was
predicted by empirical and semi-empirical methods, and compared to pull out test results. The study
allowed to evaluate the effect of the installation torque on the performance of the pile. For a pile installed
with torque compatible with its resistance, the methods of predicting bearing capacity were satisfactory.

1- INTRODUÇÃO

As estacas metálicas helicoidais têm uso crescente no Brasil, principalmente em fundações de torres de
linhas de transmissão de energia, sobretudo por conta de sua versatilidade. Este trabalho consiste em
avaliar a capacidade de carga à tração de duas estacas instaladas em solo predominantemente residual,
em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Para tal análise foram utilizados resultados de sondagens a percussão,
medidas de torque de instalação e provas de carga.

2- ESTACAS HELICOIDAIS

2.1 A estaca helicoidal

A estaca metálica helicoidal é um elemento fabricado em aço de alta resistência (galvanizado ou do tipo
patinável, sendo, portanto, mais resistente à corrosão), e composto por um conjunto de hélices fixadas ao
tubo central, estrategicamente distribuídas, visando otimizar o seu desempenho em termos de capacidade
de carga geotécnica.

Os componentes básicos da estaca metálica helicoidal são: (i) seção principal, que consiste numa haste
com, tipicamente, 3 a 6 placas helicoidais soldadas de diâmetros entre 10” a 14”, e (ii) prolongadores ou
extensões, cuja função é permitir que a seção principal atinja profundidades elevadas.

As principais vantagens das estacas metálicas helicoidais são: facilidade de instalação, simplicidade dos
equipamentos utilizados na instalação, possibilidade de carregamento logo após instalação, adequação a
áreas com acesso limitado, possibilidade de remoção e reutilização, minimização de ruídos e vibrações

786
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

durante a instalação, e baixo custo (Zhang et al., 1998; Schmidt e Nasr, 2004; Livneh e Naggar, 2008;
Sakr, 2009, 2011).

Uma desvantagem apresentada pelo sistema é a dificuldade de execução em solos de elevada rigidez, com
presença de pedregulhos ou em rocha. Uma alternativa para avançar nesses tipos de material seria a
utilização de uma ponta mais afiada (Arup Geotechnics, 2005). Outra desvantagem é a suscetibilidade à
corrosão, que limita a vida útil do elemento.

2.2 Características das estacas utilizadas

A estaca helicoidal utilizada no presente estudo é formada por seção principal com 4 hélices presas ao seu
eixo, e hastes para extensão, de acordo com a Figura 1.

Figura 1 - Detalhe da estaca helicoidal - Seção principal e haste de extensão

O aço utilizado nas hastes da estaca possui limite de escoamento f y = 290 MPa e tensão de ruptura
fu = 400 MPa. A ligação entre elementos é feita por três (3) parafusos de 7/8” x 6 ½” em aço ASTM A325.

As hélices são confeccionadas em chapas de aço ASTM A36 ou SAC 41 fornecidas pela USIMINAS, com
espessura de 12,5 mm, diâmetros de 28,5 cm, 33,5 cm e 39 cm, passo de 95 mm e furo central de
114,3 mm de diâmetro.

Juvêncio et al. (2017) realizaram uma verificação estrutural para esta estaca, obtendo torção resistente de
cálculo (TRd) igual a 18,4 kN.m (ou 13571,1 lbs.ft) e força axial de tração resistente de cálculo (Nt,Rd) igual
a 541,3 kN.

3- DADOS DE EXECUÇÃO

Foram executadas 3 estacas helicoidais com registro contínuo de torque. Junto às estacas foram realizadas
sondagens a percussão. Os trabalhos experimentais foram executados na cidade de Nova Iguaçu, RJ.

3.1 Aspectos gerais

O campo de estudo se situa à margem da Rodovia Presidente Dutra, nº 24.000, em Nova Iguaçu, RJ.

Foram executadas 3 sondagens a percussão. Estas sondagens atingiram cerca de 10 m de profundidade.


Uma locação das sondagens é indicada na Fig. 2. Os boletins destes ensaios constam das Figuras 3 a 5.

O subsolo local é constituído tipicamente por camada de aterro argilo-arenoso de consistência variável e
espessura entre 2 e 4 m. Na sequência há solo sedimentar argiloso com espessura entre 2,5 e 4,0 m,
apresentando-se rijo a duro nas sondagens SP-02 e SP-03, e mole na SP-01. Subjacente a esta camada
há ocorrência de solo residual silto-argiloso com NSPT crescente linearmente com a profundidade.

Da sondagem SP-03, pode-se observar um pico no valor de NSPT à profundidade de 3 m (NSPT=25), que
pode ser devido a uma passagem por pedregulhos. Isto deve ser tratado com cautela na previsão de
capacidade de carga.

787
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.2 Dados de instalação

Para a instalação foi utilizada uma retroescavadeira associada a um sistema hidráulico. Durante a instalação
o torque foi registrado por meio de um torquímetro acoplado à composição. O torque de instalação foi
registrado ao longo da profundidade. A capacidade de torque do equipamento era de 27,5 kN.m
(20.000 lbs.ft). O processo de instalação pode ser observado na Figura 6.

Figura 2 - Planta de locação das sondagens e estacas

788
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 3 - Boletim da sondagem SP-01

Figura 4 - Boletim da sondagem SP-02

789
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 5 - Boletim da sondagem SP-03

Inicialmente se procedeu à instalação da estaca designada EE-01, próxima à sondagem SP-02. Entretanto,
o torque se mostrou muito elevado a pequenas profundidades, aproximando-se do torque resistente
calculado para a estaca (18,4 kN.m ou 13571,1 lbs.ft). Assim, optou-se por remover o elemento para
reutilização.

A estaca EE-02 foi instalada nas proximidades da sondagem SP-01. Foram medidos pequenos valores de
torque ao longo da instalação da seção guia e da primeira extensão. Assim, optou-se por adicionar uma
terceira haste. A instalação da estaca avançou até cerca de 9,5 m de profundidade, com elevados valores
de torque medidos, o que culminou na paralisação da instalação.

Figura 6 - Instalação das estacas helicoidais

Na sequência, iniciou-se a instalação da estaca EE-03, a cerca de 30 m de onde se tentou executar a EE-
01. Novamente não se obteve um embutimento satisfatório, e optou-se pela remoção da estaca. Estas
ocorrências confirmam uma limitação deste tipo de estaca, que é a dificuldade de instalação em solos de
rigidez elevada, conforme mencionado no Item 2.1.

790
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Por fim, executou-se a estaca EE-04, junto à sondagem SP-03. A instalação da seção principal ocorreu com
medida de valores moderados de torque aplicado, o mesmo aconteceu ao final da instalação da primeira
haste de extensão. Como não se dispunha de nova extensão, finalizou-se a inserção com cerca de 6,6 m
de embutimento em solo.

No presente trabalho são avaliadas as capacidades de carga das estacas EE-02 e EE-04. O gráfico de torque
ao longo da profundidade é apresentado na Fig. 7. Um resumo das estacas executadas consta da Tab. 1,
e uma representação das estacas consta da Fig. 8.

Torque (kN.m) Torque (kN.m)


0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
0 0

1 1

EE-02 EE-04
2 2

3 3
Profundidade (m)

Profundidade (m)
4 4

5 5

6 6

7 7

8 8

9 9

10 10

Figura 7 - Torque vs Profundidade – EE-02 e EE-04, respectivamente

Tabela 1 - Resumo das estacas helicoidais executadas

L Torque máximo
Estaca
(m) (kN.m) (lbs.ft)
EE-02 9,7 18,4 13537,8
EE-04 6,9 7,1 5251,4

Figura 8 - Esquema indicando as estacas EE-02 e EE-04 instaladas

791
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

4- PREVISÃO DA CAPACIDADE DE CARGA À TRAÇÃO

Foi realizada a previsão da capacidade de carga geotécnica à tração para as estacas EE-02 e EE-04, a partir
das sondagens a percussão adjacentes.

Os métodos de previsão utilizados foram derivados de Perko (2009) e são descritos a seguir.

4.1 Metodologia

A capacidade de carga da estaca helicoidal depende de vários fatores, como parâmetros geotécnicos,
características geométricas da estaca, torque de instalação e tipo de carregamento (tração ou compressão).

Os métodos utilizados neste trabalho para a previsão da capacidade de carga de estacas helicoidais são:

(i) Método da capacidade de carga individual

Indicado quando o espaçamento entre as hélices é relativamente grande. A capacidade de carga à


compressão é determinada pela soma das capacidades individuais em cada hélice com a soma do atrito
lateral pelo fuste.

Qu = ∑ qult,n .A’n +α.H.π.d [1]

onde:
Qu = capacidade de carga geotécnica;

qult,n = tensão de ruptura na hélice;

An’ = área efetiva da hélice;

 = adesão estaca-solo;

H = comprimento da haste acima da hélice superior;

d = diâmetro da haste.

Para a capacidade de carga à tração, Perko (2009) recomenda multiplicar o valor calculado para
compressão por um fator de minoração (t) que leva em conta a perturbação do solo. O valor sugerido
para este coeficiente é 0,87. Assim, a relação entra as capacidades de carga à tração e à compressão é:

Qu,t = λt .Qu [2]

A tensão de ruptura para fundações rasas pode ser obtida pela expressão de Meyerhof (1951). Para estacas
helicoidais, após algumas simplificações, a expressão pode ser escrita:

qult = c.N’c +2.DAVG .γ.(N q -1) [3]

sendo:
c = coesão do solo;

𝛾 = peso específico natural do solo;

DAVG = diâmetro médio das hélices;

Nc, Nq, N’c, N’q = fatores de capacidade de carga.

Alternativamente, Perko (2009) recomenda as seguintes expressões para o cálculo da tensão de ruptura:

- Para solos finos: qult =11 . λSPT . N70 [4]

- Para solos granulares qult =12 . λSPT . N70 [5]

onde:

SPT = constante igual a 6,2 kPa / golpe / 30 cm;

792
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

N70 = valor de NSPT referente a uma eficiência de 70%.

(ii) Método do cilindro de cisalhamento

Recomendável quando o espaçamento entre as hélices é relativamente pequeno. A carga é transferida por
atrito lateral no cilindro de solo (ou tronco de cone) existente entre as hélices e por contato na base da
hélice inferior (no caso de carregamento axial à compressão).

A capacidade de carga à compressão é determinada pela expressão a seguir.

Qu = qult,1 .A1 + ∑ Ts,i .si .π.DAVG,i +α.H.π.d [6]

onde:
A1 = área da hélice inferior;

qult,1 = tensão de ruptura para a hélice inferior;

Ts,i = resistência ao cisalhamento no centro do i-ésimo cilindro de solo;

si = espaçamento entre hélices do i-ésimo cilindro de solo;

DAVG,i = média dos diâmetros das hélices envolventes do i-ésimo cilindro de solo.

Para a capacidade de carga à tração aplica-se o fator de minoração (t) apenas à primeira parcela da
Eq. [6], segundo critério adotado pelos autores. Além disso, deve-se considerar para esta parcela os valores
referentes à hélice superior.

𝑄u,t = λt .qult,n .An + ∑ Ts,i .si .π.DAVG,i +α.H.π.d [7]

A avaliação do espaçamento das hélices é relativa, dependendo da geometria da estaca e de condições do


solo. Deve-se avaliar os dois métodos e utilizar o menor valor de capacidade de carga. O espaçamento
ideal deve levar a valores próximos pelos dois métodos.

(iii) Método do Torque

A capacidade de carga axial de estacas helicoidais pelo método do torque é obtida por:

Qu = Kt .T [8]

onde:
Kt = fator que relaciona capacidade de carga e torque [m-1];

T = torque medido ao final da execução da estaca.

Com base na avaliação de cerca de 300 provas de carga, Perko (2009) recomenda a correlação de K t com
o diâmetro efetivo do fuste da estaca (deff) a partir da seguinte expressão.

λk
Kt = 0,92 [9]
deff

onde:
k = parâmetro de ajuste igual a 1433 mm0,92/m.

Ressalta-se que este método, embora considerado acurado, deve ser aplicado com cautela. Recomenda-
se a calibração do parâmetro Kt com provas de carga, e uma série de precauções nas medidas do torque.

Formulações

Na falta de outros ensaios, o ângulo de atrito será estimado pela correlação sugerida por Parry (1977):

N60
 = 25+28√ [10]
λσ'v

onde:

793
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

N60 = valor de NSPT para uma eficiência de 60 %;

 = fator de correção igual a 1 golpe / 30 cm / kPa;

’v = tensão vertical efetiva.

No presente estudo não houve medida de energia no SPT. Os valores de NSPT das sondagens foram
considerados iguais a N70, ou seja, correspondentes a uma eficiência de 70%. Para a obtenção dos valores
de NSPT referentes ao segmento de interesse foi realizada interpolação.

A resistência ao cisalhamento (Ts) será calculada pela expressão a seguir.


'
Ts = c + σ'n . tan  = c + Kh . σv . tan  [11]

onde:
’h = tensão horizontal efetiva.

Mitsch e Clemence (1985) recomendam o seguinte valor para o coeficiente de empuxo horizontal:

Kh = 0,09 . exp0,08 .  [12]

4.2 Cálculos para a estaca EE-02

São apresentados a seguir os cálculos da capacidade de carga geotécnica à tração para a estaca EE-02
utilizando os três métodos descritos. A geometria da estaca consta da Fig. 8. Esta estaca foi instalada até
a profundidade de 9,7 m, o torque ao final da execução foi de 18,4 kN.m. Foi utilizada a sondagem SP-01.
A coesão e adesão solo-estaca foram consideradas nulas.

(i) Método da capacidade de carga individual

Calculou-se a tensão de ruptura pelas Eq. [3] a [5], resultando em 3 valores de capacidade de carga à
tração (Eq. [2]): 323, 238 e 260 kN, respectivamente. O valor médio é 274 kN.

(ii) Método do cilindro de cisalhamento

A parcela da ponta foi calculada utilizando resultados das Eq. [3] a [5], resultando nos valores de
capacidade de carga à tração (Eq. [7]): 438, 404 e 408 kN, respectivamente. O valor médio é 417 kN.

(iii) Método do Torque

A previsão da capacidade de carga à tração pelo Método do Torque resultou no valor de 336 kN.

794
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

4.3 Cálculos para a estaca EE-04

São apresentados a seguir os cálculos da capacidade de carga geotécnica à tração para a estaca EE-04
utilizando os três métodos descritos. A geometria da estaca consta da Fig. 8. Esta estaca foi instalada até
a profundidade de 6,9 m, o torque ao final da execução foi de 7,1 kN.m. Foi utilizada a sondagem SP-03.
A coesão e adesão solo-estaca foram consideradas nulas.

(i) Método da capacidade de carga individual

Calculou-se a tensão de ruptura pelas Eq. [3] a [5], resultando em 3 valores de capacidade de carga à
tração (Eq. [2]): 688, 294 e 321 kN, respectivamente. O valor médio é 434 kN.

(ii) Método do cilindro de cisalhamento

A parcela da ponta foi calculada utilizando resultados das Eq. [3] a [5], resultando nos valores de
capacidade de carga à tração (Eq. [7]): 748, 488 e 501 kN, respectivamente. O valor médio é 579 kN.

(iii) Método do Torque

A previsão da capacidade de carga à tração pelo Método do Torque resultou no valor de 132 kN.

O valor baixo era esperado, pois a instalação da estaca foi interrompida de maneira precoce por conta da
indisponibilidade de uma nova haste de extensão.

Observa-se que os valores calculados pelos Métodos (i) e (ii) foram elevados por conta da proximidade da
placa helicoidal superior - que também é a hélice de maior diâmetro - do valor de NSPT=25 (sondagem SP-
03). Conforme comentado no Item 3.1, este pico pode ser devido a uma passagem por material com
pedregulhos, não sendo representativo do trecho de 1,0 m de solo. Assim, procedeu-se a uma nova
previsão de capacidade de carga minimizando este fator.

4.4 Cálculos para a estaca EE-04 desconsiderando possível camada de pedregulhos

Foi realizada uma nova previsão de capacidade de carga para a estaca EE-04 buscando desconsiderar o
valor de NSPT elevado a pequenas profundidades. Neste estudo, o valor do NSPT a 3 m de profundidade foi
adotado igual a 11, obtido por interpolação.

(i) Método da capacidade de carga individual

Calculou-se a tensão de ruptura pelas Eq. [3] a [5], resultando em 3 valores de capacidade de carga à
tração (Eq. [2]): 473, 234 e 255 kN, respectivamente. O valor médio é 321 kN.

(ii) Método do cilindro de cisalhamento

A parcela da ponta foi calculada utilizando resultados das Eq. [3] a [5], resultando em 3 valores de
capacidade de carga à tração (Eq. [7]): 487, 383 e 390 kN, respectivamente. O valor médio é 420 kN.

Nota-se, portanto, que a avaliação da capacidade de carga desconsiderando o pico de NSPT forneceu valores
de capacidade de carga reduzidos, e - possivelmente - mais realistas. Deve-se atentar para a importância
da experiência do engenheiro de fundações. A ocorrência de descontinuidades na resistência à penetração
pode ser causada por um estrato, ou por incorreta execução ou apresentação do ensaio. O pico em questão
pode ser observado no perfil de torque de instalação, que evidencia que se trata de algo pontual, ou seja,
não representa toda a camada de 1 m.

5- PROVAS DE CARGA À TRAÇÃO

Foram realizadas provas de carga à tração nas estacas EE-02 e EE-04. Nesta sessão são apresentados os
procedimentos dos ensaios, bem como seus resultados e interpretação.

5.1 Descrição

O dispositivo de aplicação de cargas para a prova de carga à tração foi constituído por um macaco hidráulico
acoplado a uma bomba manual, que reage contra um conjunto de duas vigas metálicas bi-apoiadas de
resistência e rigidez compatíveis com as cargas previstas para o ensaio. O macaco hidráulico utilizado
possui capacidade de 2000 kN e êmbolo com curso de 150 mm.

10

795
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Os valores das cargas aplicadas nas fundações foram controlados através de conjunto célula de
carga/indicador. O sistema de aplicação de cargas foi montado de modo que as mesmas fossem aplicadas
axialmente à estaca, evitando esforços de flexão. Para medição dos deslocamentos axiais no topo da estaca
foram utilizados dois defletômetros mecânicos e dois digitais com sensibilidade de 0,01 mm, instalados em
eixos ortogonais. A Fig. 9 mostra a montagem do ensaio.

O carregamento foi feito em estágios com incrementos de carga iguais e sucessivos de 50 kN cada. Em
cada estágio os deslocamentos foram lidos no início e no final do carregamento. Ao final do carregamento
procedeu-se o descarregamento em dois estágios.

Figura 9 - Montagem das provas de carga à tração

5.2 Resultados

Os resultados das provas de carga são apresentados na Figura 10.

65 50
60 61,1
45 43,8 44,5
55
40
50 51,6
Deslocamento (mm)

48,3
Deslocamento (mm)

45 35
33,7
43,3
40 30
37,1
35
25 25,0
30 29,0
25 20
18,3
20 20,3 15
15 11,1
13,0 10
10
8,3 6,6
5
5 5,3 5,6
2,3 3,4
0 0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 0 50 100 150 200 250
Carga (kN) Carga (kN)

Figura 10 - Resultado da prova de carga à tração nas Estacas (i) EE-02 e (ii) EE-04

5.3 Interpretação

A ruptura pode ser definida por um dos seguintes critérios, adotando-se o que resultar em menor valor de
carga de ruptura (AB CHANCE, 2008):

(i) quando o deslocamento da ponta da estaca helicoidal exceder a compressão/tração elástica do fuste da
estaca em 0,08 B (onde B é o diâmetro da maior hélice) ou,

11

796
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

(ii) quando a inclinação da curva carga versus deslocamento (no final do incremento) exceder 0,05
polegadas / kip (0,28 mm / kN).

A aplicação destes critérios às curvas carga deslocamento referentes às estacas EE-02 e EE-04 consta da
Fig. 11. Como é possível observar, para a estaca EE-02, não houve indicação de ruptura pelo Critério (ii),
entretanto, o Critério (i) levou a uma carga de ruptura de aproximadamente 405 kN. Para a estaca EE-04,
o Critério (ii) foi determinante, indicando uma carga de ruptura de aproximadamente 210 kN.

65 50
60
45
55 CRITÉRIO (ii)
40
50
Deslocamento (mm)

Deslocamento (mm)
45 35

40 30
CRITÉRIO (i) CRITÉRIO (i)
35
25
30
25 20

20 15
15
10
10
5
5
0 0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 0 50 100 150 200 250
Carga (kN) Carga (kN)

Figura 11 - Interpretação dos resultados das provas de carga nas Estacas (i) EE-02 e (ii) EE-04

5.4 Comparação entre previsão e desempenho

Comparando-se as previsões de capacidade de carga com os resultados das provas de carga, é possível
observar que as previsões foram satisfatórias apenas para a estaca EE-02, que foi instalada sob aplicação
de valores de torque compatíveis com sua resistência. Para a estaca EE-04, a capacidade de carga do
ensaio foi inferior à prevista. Isto evidencia o efeito do torque de instalação na capacidade de carga.

Para a estaca EE-02, o Método do cilindro de cisalhamento foi o mais eficiente (razão entre capacidade de
carga prevista e medida igual a 1,03), seguido do Método do Torque (razão entre capacidade de carga
prevista e medida igual a 0,83). O Método das capacidades de carga individuais apresentou desempenho
inferior (razão entre capacidade de carga prevista e medida igual a 0,68), mas com previsão a favor da
segurança.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi avaliada a capacidade de carga geotécnica de estacas metálicas helicoidais submetidas a provas de
carga à tração. A execução teve registro contínuo de torque aplicado. Os parâmetros geotécnicos foram
obtidos a partir de sondagens a percussão executadas próximas às estacas. Sobre os trabalhos
experimentais, pode-se destacar os seguintes aspectos:

- A estaca EE-02 foi executada sob aplicação de torque próximo à Torção resistente de cálculo (T Rd), que é
de 18,4 kN.m. O comprimento total foi de cerca de 9,5 m.

- A instalação da estaca EE-04 foi paralisada por indisponibilidade de hastes de extensão, quando o torque
máximo aplicado era de 7,2 kN.m. O comprimento total foi de cerca de 6,6 m.

- Nas estacas EE-01 e EE-03 o torque de instalação se mostrou muito elevado a pequenas profundidades,
o que não permitiu a obtenção de um embutimento satisfatório. Assim, a capacidade de carga destas
estacas não foi avaliada e se optou por removê-las para reutilização. Estas ocorrências confirmam uma
limitação deste tipo de estaca, que é a dificuldade de instalação em solos de rigidez elevada.

- Foram realizadas previsões de capacidade de carga geotécnica à tração pelos métodos (i) da capacidade
de carga individual, (ii) do cilindro de cisalhamento e (iii) do torque.

- O cálculo da tensão de ruptura pela expressão de Meyerhof (1951) simplificada levou a valores elevados,
e deve ser utilizado com cautela.

12

797
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

- A interpretação das provas de carga levou a cargas de ruptura à tração de 405 kN para a EE-02, e 210 KN
para a EE-04.

- As previsões de capacidade de carga foram satisfatórias apenas para a estaca EE-02, que foi instalada
sob aplicação de valores de torque compatíveis com sua resistência. Para a estaca EE-04, a capacidade de
carga do ensaio foi inferior à prevista, indicando que o torque de instalação tem papel importante na
capacidade de carga.

- Dentre os métodos de previsão de capacidade de carga para a estaca EE-02, o Método do cilindro de
cisalhamento foi o mais eficiente (razão entre capacidade de carga prevista e medida igual a 1,03), seguido
do Método do Torque (razão entre capacidade de carga prevista e medida igual a 0,83). O Método das
capacidades de carga individuais foi o de pior desempenho (razão entre capacidade de carga prevista e
medida igual a 0,68), mas com previsão a favor da segurança.

- Ressalta-se que o Método do Torque utiliza valores do parâmetro Kt presentes na literatura para diferentes
tipos de solos e estacas, o que leva a uma grande dispersão.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SUPPORT. Copyright 2008 Hubbell, 210 North Allen St., Centralia, MO 65240.

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ASTM A36 / A36M-14. Standard Specification for Carbon Structural Steel, ASTM International, West Conshohocken, PA,
2014.

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13

798
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

COMPARACIÓN DE LOS MÉTODOS NUMERICOS Y ANALITICOS EN EL


ANÁLISIS DE LA CARGA DE HUNDIMIENTO DE CIMENTACIONES
SUPERFICIALES

COMPARISON OF NUMERICAL AND ANALYTICAL METHODS FOR THE BEARING


CAPACITY ANALYSIS OF SHALLOW FOUNDATIONS

Alencar, Ana; ETSI Caminos Canales y Puertos, Universidad Politécnica de Madrid, Madrid, España,
at.santos@alumnos.upm.es
Galindo, Rubén; ETSI Caminos Canales y Puertos, Universidad Politécnica de Madrid, Madrid, España,
rubenangel.galindo@upm.es
Melentijevic, Svetlana; Facultad de Ciencias Geológicas, Universidad Complutense de Madrid, Madrid,
España, svmelent@ucm.es

RESUMEN

Debido a la complejidad de desarrollar analíticamente factores correctores para distintas hipótesis de


cálculo de capacidad portante de las cimentaciones directas, cada vez más se utilizan los programas de
aplicación numérica, que permiten calcular diversas hipótesis de manera aparentemente sencilla. Sin
embargo, es importante que el usuario sepa utilizar correctamente el programa de cálculo numérico
elegido, que conozca los parámetros que influyen en la capacidad portante y desarrolle un modelo
suficientemente realista. Con lo cual, el cálculo analítico sigue siendo extraordinariamente útil, pues
conseguida la formulación exacta permite estudiar la desviación de las soluciones numéricas. El presente
estudio se ha enfocado en comparar los resultados obtenidos analítica y numéricamente, de manera que,
si se elige utilizar el programa numérico, se puede saber fácilmente la precisión respecto a la solución
analítica. El modelo numérico utilizado para este estudio se ha realizado mediante el programa FLAC
(Itasca), basado en el método de diferencias finitas permitiendo utilizar, entre otros, el criterio de rotura
de Hoek & Brown con una ley de flujo que admite adoptar diferentes valores de dilatancia. El cálculo
analítico utilizado en el presente estudio es el propuesto por Serrano et al. (1994, 2000).

ABSTRACT

Due to the complexity of analytical development of corrective factors for the estimation of the bearing
capacity of shallow foundations under different hypotheses, the use of numerical methods is increasing,
which allows to perform the analysis under most diverse hypotheses in an apparently simple way.
However, it is important that the user knows how to use correctly the numerical program, to know the
parameters that have an influence on bearing capacity and to develop a realistic model. For that reason,
the analytical method is still quite useful, because once the exact solution has been obtained, it is
possible to study the deviation of the numerical results. The current study focuses on the comparison of
the results obtained analytically and numerically, so the difference between these solutions can be
evaluated. The applied numerical model in this study is the commercial program FLAC (Itasca), based on
the finite difference method that allows the implementation of the Hoek and Brown failure criterion, with
plasticity flow rule that considers dilatancy as a function of the confining stress level. The analytical
method used in this study is the one proposed by Serrano et al. (1994, 2000).

1- INTRODUCCIÓN

El cálculo de la carga de hundimiento de macizos rocosos gradualmente gana más importancia en el área
de mecánica de rocas, estando sobre todo enfocado a proyectos relacionados a presas y obras civiles.

El método analítico para el cálculo de la carga de hundimiento de macizos rocosos propuesto por Serrano
et al. (1994, 2000), se basa en el método de las líneas características propuesto por Sokolovskii (1965) y
en el criterio de rotura de Hoek et al. (2002).

De acuerdo con Bower (2009), el método de las líneas características permite calcular la solución exacta
para solidos rígidos plásticos en tensión plana. Esta teoría simplifica las ecuaciones de los sólidos
plásticos al adoptar las siguientes restricciones:

1. Tensión-deformación plana
2. Carga casi-estática
3. Sin cambio de temperatura
4. Sin peso propio del material
5. El sólido es idealizado como sólido de Von Mises plástico perfectamente rígido.

799
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Consecuentemente el método propuesto por Serrano et al. (1994, 2000), al aplicar la teoría de las líneas
características, adopta las hipótesis de deformación plana, ley de flujo asociada y no considera el
incremento de la carga de hundimiento debido al peso propio del material.

Como es sabido la dilatancia no es una propiedad intrínseca al criterio de rotura de Hoek & Brown, sino
se implementa en el cálculo numérico mediante leyes de flujo. En FLAC se pueden implementar dos
modelos constitutivos distintos, el de Hoek & Brown y el de Hoek & Brown modificado, que difieren en
leyes de flujo aplicadas. La determinación del valor de la dilatancia es distinta en estos dos modelos
constitutivos. En el modelo de Hoek & Brown si σ3cv (tensión de confinamiento con constante volumen) es
igual a 0, la dilatancia es nula; mientras que si σ3cv es muy elevado se activa la ley de flujo y la dilatancia
corresponde a la asociada.

El modelo constitutivo de Hoek & Brown modificado permite definir si se quiere usar la dilatancia asociada
o la no asociada, en la cual se especifica un valor, que puede ser igual o distinto de cero.

Los resultados obtenidos con los dos modelos constitutivos disponibles en FLAC para el criterio de rotura
de Hoek & Brown modificado son muy similares.

2- LA CARGA DE HUNDIMIENTO

2.1. El criterio de rotura de Hoek-Brown. (2002)

El criterio de rotura utilizado es el no-lineal de Hoek et al. (2002), aplicable en los casos donde el macizo
rocoso presenta un comportamiento isótropo, es decir, que por inexistencia o por abundancia de
discontinuidades tiene las mismas propiedades físicas en todas las direcciones.

2.2. El método de Serrano et al. (2000)

De acuerdo con la formulación analítica de Serrano & Olalla la superficie del terreno donde se apoya una
cimentación está compuesta por dos sectores (Figura 1), el contorno 1 que es el lateral de la zapata,
donde se conocen las cargas que estarán actuando; y el contorno 2, la superficie donde se desea realizar
la cimentación y conocer la carga de hundimiento.

Figura 1 - Dibujo esquemático de los contornos 1 y 2. (Serrano & Olalla, 1994)

El procedimiento de cálculo empieza por analizar la estabilidad del contorno 1, ya que son conocidas las
cargas
 que actúan en este sector
 (por ejemplo, cargas debidas al peso propio del terreno sobre la cota
de cimentación o de anclajes instalados). Una vez conocido el ángulo de fricción instantáneo que estará
actuando en esta área, se pasa al estudio del contorno 2. Aplicando los procedimientos de cálculo se llega
a conocer el ángulo de fricción instantáneo que actuará en la segunda zona y por medio de ese se
determina analíticamente la carga de hundimiento.

Pasando ahora a las ecuaciones utilizadas, el método de cálculo empieza caracterizando el material con
los parámetros de Hoek et al. (2002), para eso es necesario conocer mo (tipo de roca), GSI (estado y
calidad del macizo), RCS (resistencia a compresión simple) y D (la alteración del macizo rocoso debida a
las acciones humanas, que, por regla general, en cimentaciones es igual a cero).
GSI − 100
m = mo ∙ exp ( ) [1]
28 − 14 ∙ D

800
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

GSI − 100
s = exp ( ) [2]
9−3∙D
1 1 −GSI⁄ −20⁄
a= + ∙ (e 15 − e 3) [3]
2 6

Por medio de las ecuaciones [1], [2] y [3] se calcula m, s y a, con ello ya se puede calcular βa y ζa
(Serrano et al., 2000), que son dos parámetros resistentes que permiten adimensionalizar el cálculo del
criterio de rotura de Hoek & Brown. βa representa la “resistencia característica”, y se utiliza para
adimensionalizar presiones, mientras que ζa llamado “coeficiente de tenacidad” corresponde a un
desplazamiento en el eje de ordenadas adoptado para simplificar el cálculo.
(1 − a)
k= [4]
a
1⁄
m ∙ (1 − a) k
Aa = ( 1 ) [5]
2 ⁄a

βa = Aa ∙ RCS [6]

s
ζa = [7]
(m ∙ Aa )

K y Aa son constantes adimensionales que dependen del tipo de roca. βa de acuerdo con la ecuación [6]
tiene las mismas unidades que la resistencia a compresión simple, ya que A a es adimensional. ζa
(ecuación [7]) es un coeficiente adimensional. Los dos parámetros resistentes sirven para
adimensionalizar y normalizar el cálculo, lo que simplifica significativamente el procedimiento que se
emplea para calcular la carga de hundimiento.

Conociendo la carga aplicada en el contorno 1 (σ1), pudiendo ser la carga del peso propio de las tierras a
cota de cimentación o también la fuerza ejercida por anclajes, se transforma ese valor en adimensional
utilizando βa, aplicando la siguiente ecuación:
σ1
σ1∗ = [8]
βa

σ∗01 = σ1∗ + ζa [9]

Entonces, se puede por iteración conocer el ángulo de fricción interna (ρ1) en el contorno 1:
1⁄ 2
1 − sen(ρ1 ) k a ⋅ (1 + k ⋅ sen(ρ1 )) a ∙ (1 + k ⋅ sen(ρ1 ))
σ∗01 = cos(i1 ) ⋅ ( ) ⋅( ⋅ cos(i1 ) − √1 − [ ∙ sen(i1 )] ) [10]
k ⋅ sen(ρ1 ) sen(ρ1 ) sen(ρ1 )

Teniendo el valor de ρ1 y utilizando nuevamente el recurso de la iteración, se puede calcular el valor del
ángulo de fricción interna en el contorno 2 (ρ2), utilizando la invariante de Riemann (I(ρ)) y la dirección
de la tensión principal mayor (ψ):

𝐼𝑎 (𝜌1 ) + 𝜓1 = 𝐼𝑎 (𝜌𝐴 ) + 𝜓𝐴 [11]

Donde:
1 ρ
Ia (ρ) = ∙ [cot(ρ) + ln (cot ( ))] [12]
2∙k 2
2
π 1 a ⋅ (1 + k ⋅ sen(ρ1 )) a ∙ (1 + k ⋅ sen(ρ1 ))
ψ1 = − α − ⋅ asen [( ⋅ cos(i1 ) − √1 − [ ∙ sen(i1 )] ) ∙ sen(i1 )] [13]
2 2 sen(ρ1 ) sen(ρ1 )
2
1 a ⋅ (1 + k ⋅ sen(ρ2 )) a ∙ (1 + k ⋅ sen(ρ2 ))
ψ2 = ⋅ asen [( ⋅ cos(i2 ) − √1 − [ ∙ sen(i2 )] ) ∙ sen(i2 )] [14]
2 sen(ρ2 ) sen(ρ2 )

Finalmente, conociendo ρ2, se puede calcular Nβ y utilizando otra vez βa y ζa, se estima la carga de
hundimiento Ph:
1⁄ 2
1 − sen(ρ2 ) k a ⋅ (1 + sen(ρ2 )) a ∙ (1 + k ⋅ sen(ρ2 ))
Nβ = cos(i2 ) ⋅ ( ) ∙( ⋅ cos(i2 ) + √1 − [ ∙ sen(i2 )] ) [15]
k ∙ sen(ρ2 ) sen(ρ2 ) sen(ρ2 )

Ph = βa ∙ (Nβ − ζa ) [16]

801
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

3- EL ANÁLISIS NUMÉRICO

Se han modelizado un total de 192 casos básicos, resultantes de la combinación de cuatro parámetros
influyentes en la carga de hundimiento (Tabla 1):

 El tipo de roca (mo)


 El ancho de la zapata (B)
 La resistencia a compresión simple de la roca sana (RCS)
 El estado del macizo (GSI).

Tabla 1 - Resumen de los parámetros adoptados


mo B (m) RCS (MPa) GSI
5 (yesos) 4,5 5 10
12 (esquistos) 11 10 50
20 (riolitas) 16,5 50 85
32 (granito) 22 100

Además, para que fuera adecuada la comparación con los resultados obtenidos por el método de Serrano
& Olalla, se ha empleado la hipótesis de deformación plana, sin considerar el peso propio del material y
con la ley de flujo asociada.

Numéricamente, se asume que se alcanza la carga de hundimiento cuando el nodo central de la zapata
plastifica, es decir, alcanza un nivel de deformación sin admitir más incremento de carga. En FLAC la
carga se aplica a través de incrementos de velocidad, conociendo la carga de hundimiento a partir de la
gráfica tensión vs desplazamiento de ese nodo.

3.1. Resultados y comentários

La comparación de los resultados numéricos y analíticos se ha estudiado mediante un análisis de


sensibilidad, donde se ha observado la influencia de los 4 parámetros variables (m o, B, RCS y GSI). En la
Figura 2 se puede observar la correlación entre el resultado numérico (PhFLAC) y analítico (PhS&O),
concluyendo que el valor de la carga de hundimiento obtenida como el resultado numérico, es superior al
valor obtenido mediante la solución analítica.

Figura 2 - Correlación de carga de hundimiento (valor numérico y analítico) en función de los 4 parámetros (mo, B,
RCS y GSI)

En los siguientes apartados, se analiza de forma individualizada la influencia de cada uno de estos 4
parámetros. Sin embargo, de la Figura 2 ya se puede destacar que los dos parámetros que influencian
más en la dispersión de los resultados son: el tipo de roca (mo) y el estado del macizo (GSI). Los
resultados de los casos con m o bajos son muy similares a los analíticos (presentan una variación inferior
a 15%), mientras que para mo igual a 32, los resultados numéricos pueden superar en un 50% la carga
de hundimiento calculada analíticamente. Al contrario ocurre con el GSI, para valores elevados de GSI la
correlación entre los resultados es considerablemente mejor.

Por otro lado, en la Figura 3 se representa la relación entre el resultado numérico y el analítico en función
de los valores absolutos de la carga de hundimiento obtenida mediante la formulación analítica.

802
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Figura 3 - Relación entre el resultado numérico y el analítico de carga de hundimiento en función del resultado
analítico

En base a la Figura 3, se concluye que los mayores valores de dispersión se concentran en las cargas de
hundimiento más bajas. Para cargas de hundimiento superiores a 30 MPa la variación entre los resultados
es del orden del 20%. Lo representado en la Figura 3 está de acuerdo con lo esperado según lo visto en
la Figura 2, una vez que, el valor del GSI define aproximadamente en qué rango de valores absolutos de
carga de hundimiento se está trabajando (Figura 4).

Figura 4 - Relación entre el resultado numérico y el analítico de carga de hundimiento en función del resultado
analítico de acuerdo con el GSI

Los demás parámetros estudiados, también influyen en el valor de la carga de hundimiento, pero no
llegan a definir rangos tan claros como el GSI (Figura 4).

En los próximos cuatro apartados se analiza de forma particular la influencia de cada uno de los
parámetros variables.

3.1.1. La influencia del tipo de roca (mo)

En la Figura 2 se demuestra de manera clara la influencia del tipo de roca (m o) en la correlación entre los
resultados numéricos y analíticos, siendo peor el ajuste de los resultados cuanto mayor es el mo. En otras
palabras, cuanto mayor es el valor de mo mayor variación existe entre el resultado obtenido
analíticamente por el método analítico propuesto por Serrano & Olalla y el calculado numéricamente por
medio del programa FLAC.

En las Figura 5, Figura 6 y Figura 7 se representan los mismos resultados de la Figura 2, pero
subdivididos por el tipo de roca, con lo cual se puede analizar la influencia conjunta del tipo de roca con
los demás parámetros.

Con relación a la Figura 5, se puede observar un ligero incremento de dispersión de los valores de la
carga de hundimiento obtenidos con el aumento del ancho de la zapata. Eso ocurre porque en la
formulación analítica (ver ecuación (16)), no se considera la influencia del ancho de la zapata. Además, al

803
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

ser muy pequeña la dispersión en los valores de la carga de hundimiento concuerda con el hecho de no
estar considerando la contribución del peso propio del material en la formulación analítica.

Se destaca que, por problemas de inestabilidad numérica del modelo, no ha sido posible obtener un
resultado numérico para una combinación de mo = 32 y GSI = 10 con diferentes valores de RCS y anchos
de zapata, por ese motivo en la Figura 6 para GSI = 10 solo se presentan 3 valores de mo.

Figura 5 - Relación entre el resultado numérico y el analítico en función del mo y B

Figura 6 - Relación entre el resultado numérico y el analítico en función del mo y GSI

Figura 7 - Relación entre el resultado numérico y el analítico en función del mo y RCS

De la Figura 7 se puede concluir que la RCS influye poco en la dispersión de los resultados, pues
independiente del valor de la RCS, la dispersión de los resultados para el mismo tipo de roca (m o) es muy
semejante.

Por otro lado, en la Figura 6 se observa que la dispersión depende de la combinación del GSI con el tipo
de roca. Cuando el GSI es alto y el mo bajo, los resultados analíticos y numéricos son muy parecidos.
Mientras que con GSI bajos y mo elevados se llega al punto de no conseguir obtener un resultado
numérico valido.

3.1.2. La influencia del ancho de la zapata

En la Figura 2 no se puede observar una influencia clara del ancho de la zapata en la correlación de los
resultados numéricos y analíticos. En la Figura 5 se puede ver una ligera influencia en la dispersión de los

804
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

resultados. Para los mismos valores de mo, cuanto mayor es el ancho de la zapata, mayor es la dispersión
de la carga de hundimiento obtenida. Sin embargo, se percibe esa sensible influencia de manera más
clara en la gráfica de la correlación de los resultados por el valor absoluto obtenido con el método
analítico (Figura 8). En la Figura 8 se observa que para el símbolo amarillo (que representa la zapata de
22 m de ancho) los valores de carga de hundimiento obtenida por el método analítico normalmente se
encuentran un poco por encima de los demás símbolos que representan los anchos de la zapata más
bajos.

Figura 8 - Relación entre el resultado numérico y el analítico en función del resultado analítico para diferentes anchos
de la zapata

La poca influencia del ancho de la zapata en el resultado numérico era esperada, al no estar siendo
considerando el incremento de la carga de hundimiento debido al peso propio del material. Esta pequeña
variación de la carga de hundimiento en función del ancho de la zapata indica una buena respuesta del
cálculo numérico, ya que en realidad el peso propio tiene que ser considerado en los cálculos.

3.1.3. La influencia de la RCS

Con relación al parámetro RCS, se observa en las distintas gráficas (Figura 2 y Figura 7) que no tiene
influencia en la correlación del resultado numérico y analítico. Esto se debe al hecho de que los
resultados numéricos presentan la misma variación de acuerdo con la RCS que los resultados analíticos.

En la Tabla 2 se presentan dos ejemplos de cómo la correlación con la variación de la RCS es la misma
presentada por la carga de hundimiento en los resultados numéricos y analíticos.

En el primer grupo de los casos estudiados (589, 592, 595, 598) correspondientes al tipo de roca
denominada yesos (mo=5) se observa la semejanza en los resultados obtenidos de carga de hundimiento
mediante el programa numérico y el método analítico. En el segundo grupo de casos (685, 688, 691,
694) correspondiente al tipo de roca denominada riolitas (m o=20), los resultados numéricos y analíticos
presenten una dispersión del orden del 25%.

En el caso 589 la RCS es la mitad que en el caso 592, así mismo se observa equivalente relación de los
resultados de la carga de hundimiento obtenidos tanto mediante el procedimiento numérico como
analítico. De la misma manera el caso 598 corresponde a una RCS 10 veces mayor que en el caso 592,
consecuentemente su capacidad portante es también 10 veces mayor. Del mismo modo se observa
dentro del segundo grupo de los casos que la correlación entre valores de la carga de hundimiento es
reciproca a la relación entre la RCS de diferentes casos.

805
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Tabla 2 - Correlación entre la RCS y los resultados numéricos y analíticos


CASO RCS (MPa) Resultado Numérico Resultado Analítico
(PhFLAC)(MPa) (PhS&O) (MPa)
589 mo = 5 5 0,22 0,22
592 10 0,44 0,46
B = 11 m
595 50 2,22 2,22
598 GSI = 10 100 4,44 4,47
685 mo = 20 5 0,82 1,05
688 10 1,65 2,1
B = 11 m
691 50 8,18 10,5
694 GSI = 10 100 16,52 20,8

La correlación analítica se observa mediante las ecuaciones [6] y [16], dado que βa es directamente
proporcional a la RCS, y que Ph, por su vez, es directamente proporcional a βa , con lo cual Ph es
directamente proporcional a la RCS.

De este modo, se entiende que la RCS no influencia en la correlación de la carga de hundimiento


numérica y analítica, pues los resultados numéricos presentan una correlación directa con la RCS, de la
misma manera que en el método analítico.

3.1.4. La influencia del GSI

Por último, la fuerte influencia del GSI en la correlación de los resultados numéricos y analíticos ya se ha
comentado en los apartados anteriores.

En la Figura 9 se representa la dispersión de los resultados en función del GSI y del tipo de roca,
indicados ya previamente como dos parámetros que más influencia tienen en la correlación entre los
resultados numéricos y analíticos.

Figura 9 - Relación entre el resultado numérico y el analítico en función del GSI y mo

3.2. La correlación entre los resultados numéricos (PhFLAC) y analíticos (PhS&O)

Una vez conocidos los parámetros más determinantes en la correlación objeto de estudio, se ha podido
desarrollar un coeficiente que permite estimar el porcentaje de variación que hay entre la carga de
hundimiento calculada por el método analítico de Serrano & Olalla (PhS&O) y la obtenida por el cálculo
numérico realizado en FLAC (PhFLAC).

Como es sabido, se ha observado que los resultados numéricos son mayores que los analíticos, de
manera que se puede expresar mediante la siguiente ecuación [17].

PhFLAC = PhS&𝑂 + ∆Ph [17]

Para que la ecuación [17] fuera adimensional, se ha dividido todo por el menor valor de la carga de
hundimiento obtenido (valor analítico) (ecuación [18]).
PhFLAC ∆Ph
=1+ [18]
PhS&𝑂 PhS&𝑂

Se ha propuesto la ecuación [19] para conocer el porcentaje de diferencia entre la carga de hundimiento
calculada numérica y analíticamente.
∆Ph 100 − GSI
= ∙ mo [19]
PhS&𝑂 50

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Gráficamente, en la Figura 10 y Figura 11, se puede observar que la variación porcentual calculada por la
ecuación [19] es la realmente observada en los 192 casos estudiados es bastante satisfactoria.

Figura 10 - Correlación obtenida mediante ecuación [19]

Figura 11 - Correlación obtenida mediante ecuación [19] en 4 intervalos de carga de hundimiento

4- CONCLUSIONES

Con lo visto en los aparatados anteriores, de la comparación entre los resultados numéricos obtenidos
mediante el programa FLAC bajo la hipótesis de deformación plana, con la ley de flujo asociada y sin
tener en cuenta el peso propio del material, con los resultados obtenidos analíticamente por el método de
Serrano & Olalla, se puede concluir que:

 Los resultados de carga de hundimiento obtenidos numéricamente mediante el programa FLAC son
superiores a los calculados analíticamente por el método de Serrano & Olalla.
 Los resultados obtenidos mediante el programa FLAC son más semejantes a los analíticos para
valores de GSI elevados y mo bajos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

 Si al menos una de las condiciones se cumple, GSI elevado o mo bajo, los resultados obtenidos
numéricamente se ajustan bien a los calculados analíticamente.
 Para valores de carga de hundimiento superiores a 30 MPa, el ajuste entre los valores obtenidos
mediante calculo numérico y analítico es bastante satisfactorio, debido a la condición de tratarse
necesariamente de GSI medios a altos. Por otro lado, mayor dispersión de los resultados se observa
en las cargas de hundimiento más bajas correspondientes a los GSI bajos.
 Los resultados numéricos presentan la misma correlación de la carga de hundimiento con la RCS que
los resultados analíticos en todos los casos estudiados. La influencia de la RCS en el valor de la carga
de hundimiento es directa. Por ejemplo, si la RCS aumenta 5 veces, la carga de hundimiento también
se incrementa 5 veces. Esto se ha observado tanto en los resultados numéricos (FLAC), como en los
analíticos.
 El ancho de la zapata influye sensiblemente en la capacidad portante en los cálculos numéricos, lo
que está de acuerdo con lo esperado, pues al no estar considerando el peso propio del material la
influencia de ese parámetro debería ser muy reducida.
 La correlación con el resultado analítico también se observa sensiblemente más dispersa cuanto
mayor es la dimensión de la zapata, lo cual también es de esperar considerando que el ancho de la
zapata no es considerado en el cálculo analítico.

REFERENCIAS

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– 10 July 2002, pp. 267–73.

Itasca Consulting Group Inc..FLAC users manual version 7.0. Minneapolis: Itasca Consulting Group Inc..


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Sokolovskii, V.V. (1965) - Statics of Granular Media. Pergamon Press Limited, London.

808
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

CONCEÇÃO E DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO SUPERIOR DO CIRCUITO


HIDRÁULICO DO REFORÇO DE POTÊNCIA DE VENDA NOVA III

GEOTECHNICAL DESIGN OF VENDA NOVA III HEADRACE ACESS PLUG

Esteves, Carlos; EDP - Gestão da Produção de Energia, SA, Porto, Portugal, carlos.esteves@edp.pt
Plasencia, Nadir; EDP - Gestão da Produção de Energia, SA, Porto, Portugal, nadir.plasencia@edp.pt
Lima, Celso; EDP - Gestão da Produção de Energia, SA, Porto, Portugal, celso.lima@edp.pt

RESUMO

Para a construção de uma central hidroelétrica subterrânea são normalmente escavados diversos túneis de
acesso a pontos estratégicos do circuito hidráulico. No final da construção, estes túneis são obturados
através de estruturas de betão, designadas de rolhões, as quais são concebidas por forma a suportar a
pressão da água no interior do circuito hidráulico. No caso do reforço de potência de Venda Nova III,
assume particular preponderância o rolhão localizado no túnel de acesso ao circuito de alta pressão, não
só pela sua secção transversal (8,2 m de diâmetro equivalente), mas também por ficar inserido numa zona
em que o maciço rochoso é atravessado por duas estruturas geológicas associadas a zonas conturbadas e
por ficar submetido a uma pressão hidrostática de 4,2 MPa. Neste artigo faz-se um enquadramento do
tema comparando o caso de Venda Nova III com outros projetos similares; referem-se as condicionantes
geológico-geotécnicas que estiveram na base da definição da solução implementada; apresentam-se
análises numéricas realizadas na fase de projeto e referem-se resultados de ensaios laboratoriais de
caraterização da interface betão/rocha; descreve-se a instrumentação instalada para aferição do
comportamento do rolhão e apresentam-se os resultados colhidos pela referida instrumentação durante a
fase inicial de exploração do circuito hidráulico.

ABSTRACT

For the construction of an underground hydropower plant, several tunnels are usually excavated to allow
access to strategic points of the water tunnels. At the end of the construction, the access tunnels are
generally sealed with concrete plugs, which are designed to withstand the water pressure inside the
waterway. In the case of the Venda Nova III power plant, the plug that seals the access tunnel to the
headrace tunnel is particularly important due to its large cross section (8.2 m of equivalent diameter), it’s
location in a geologically tectonized zone and because it withstands a static water head of 430 m. This
paper focuses on the design of this plug, including a comparison with several other similar structures, a
description of the geologic-geotechnical conditions at the plug location and the results from laboratory tests
made to characterize the concrete/rock interface and the numerical simulations performed to support the
design of the plug. Finally, the instrumentation installed in the plug for monitoring the behavior during its
life cycle is depicted and some monitoring results obtained during the initial phase of exploration of the
waterway are discussed.

1- INTRODUÇÃO

Na construção de aproveitamentos hidroelétricos em que o respetivo circuito hidráulico seja em túnel é


normalmente necessário abrir diversos túneis de acesso ou de ataque a pontos estratégicos de modo a
otimizar-se o cronograma de construção do aproveitamento. Na quase generalidade dos casos os túneis
que dão acesso ao circuito hidráulico têm de ser obturados previamente ao enchimento deste.

A solução habitualmente utilizada para materializar esta obturação compreende o preenchimento com
betão de um trecho do túnel a obturar, o qual, em certos casos, inclui um troço blindado que tem acoplada
uma porta estanque que permite aceder ao circuito hidráulico aquando do seu esvaziamento. Este elemento
obturador, usualmente designado de rolhão, deve ser concebido em função de diversos fatores, dos quais
se salientam a pressão da água no interior do circuito hidráulico, a geometria da secção do túnel a obturar
e as condições geológicas do maciço rochoso no local do rolhão.

O presente artigo aborda a conceção e dimensionamento do rolhão que materializa a obturação do Túnel
de Acesso ao Túnel em Carga (TATC) do reforço de potência de Venda Nova III, aqui designado por rolhão
superior, o qual se localiza próximo da confluência deste túnel com o desarenador superior conforme se
pode observar na perspetiva esquemática ilustrada na Figura 1. O eixo do rolhão situa-se à cota (262,00)
estando, portanto, sujeito a uma pressão da água de 4211 kPa (429,3 mca) quando o nível de retenção da
albufeira de Venda Nova coincide com o Nível de Máxima Cheia, NMC (691,30). Em regime transitório o
rolhão pode ficar sujeito a uma pressão máxima de cerca de 4610 kPa (470 mca). O TATC tem uma extensão
de 300 m, uma cobertura que varia, aproximadamente, entre 340 m e 430 m e a respetiva inclinação é de

809
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

12% na quase generalidade da sua extensão, excetuando o troço de 40 m adjacente à confluência com
circuito hidráulico (desarenador superior), onde é horizontal. A secção teórica de escavação tem forma de
ferradura com 60,8 m2 de área e 29,3 m de perímetro (EDP 2011).

Numa primeira fase da conceção realizou-se um pré-dimensionamento tendo por base informação obtida
da experiência em obras análogas bem como em bibliografia da especialidade e, posteriormente, construiu-
se um modelo numérico tridimensional para analisar a estabilidade global ao deslizamento do rolhão.

Legenda: ① Central ⑥ Chaminé de equi. superior ⑪ Túnel de restituição


② Câmara dos Transformadores ⑦ Venda Nova II ⑫ Poço de esv. do circuito hidráulico
③ Câmara das Comportas ⑧ Chaminé de equi. inferior ⑬ Rolhão superior
④ Desarenador superior ⑨ Túnel de saída de energia ⑭ Galeria de drenagem de montante
⑤ Túnel em carga ⑩ Túnel de acesso

Figura 1 – Complexo subterrâneo da central de Venda Nova III

2- CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO LOCAL DE IMPLANTAÇÃO DO ROLHÃO

Do ponto de vista litológico, o TATC intersectou granitos de grão médio, pontualmente fino, com passagens
porfiroides e com estruturas filoneanas de natureza pegmatítica. De acordo com a informação compilada
durante a execução da obra (Venda Nova III ACE 2012), em grande parte da escavação do túnel o maciço
apresentou-se pouco alterado a são com fraturas muito afastadas a moderadamente afastadas. Por vezes,
junto a zonas tectonizadas associadas a falhas, cartografaram-se granitos conturbados com feldspato róseo.
A alteração e fraturação tornavam-se mais intensas nessas zonas conturbadas.

No troço do rolhão, o TATC atravessou duas zonas conturbadas por falhas já intersectadas noutros locais
da obra. Assim, entre os pk’s 0+250 e 0+268 intersetou a zona conturbada originada pela falha F3 e entre
os pk’s 0+265 e 0+281 intersetou a zona conturbada pela falha F4. No âmbito da cartografia geológico-
geotécnica das escavações estas duas zonas podem ser descritas conforme indicado no Quadro 1.

Quadro 1 – Características das zonas das falhas na interseção com o TATC, na zona do rolhão superior
Falha Características
F3 - Decamétrica, contínua; paredes ligeiramente rugosas a lisas geralmente cloritizadas; preenchimento
N36°W; 80°SW de argila e fragmentos rochosos numa espessura de 5 e 10 cm; zona de conturbação entre 1 e 4 m;
- Sem exsurgências de água, apresentando ligeira humidade.
F4 - Decamétrica, contínua; Paredes ligeiramente rugosas a lisas; preenchimento argiloso mais rocha
N30° a 40°W; 70°SW fragmentada numa espessura de 10 cm; zona de conturbação entre 2 e 8 m;
- Sem exsurgências de água, apresentando ligeira humidade.

Do ponto de vista da classificação geomecânica de Bieniawski, o maciço rochoso intersectado pelo TATC
insere-se maioritariamente num maciço de razoável a boa qualidade. Os troços onde se registaram valores
de RMR<50 correspondem a zonas de falha com preenchimento argiloso. A evolução dos valores do
parâmetro RMR ao longo da extensão do TATC está representada na Figura 2. A análise desta figura permite
constatar que o maciço rochoso foi classificado com secção de contenção tipo A (RMR>70) sensivelmente
entre os pk’s 0+220 e 0+250 e com secção de contenção tipo C (20<RMR≤50) na zona conturbada pelas
duas falhas anteriormente referidas e espaço entre estas (ou seja, entre os pk’s 0+250 e 0+275).
100
90
80
70
60
RMR

50
40
30
20
10
0
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300
Pk do TSEC

Figura 2 – Valores de RMR ao longo da extensão do TATC (Venda Nova III ACE 2012)

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3- PRÉ-DIMENSIONAMENTO DO ROLHÃO

Tendo presente o valor da pressão da água no interior do circuito hidráulico, o elevado valor da área da
secção transversal a obturar (60,8 m2) e as condições geológicas no local de inserção do rolhão, entendeu-
se de interesse iniciar o estudo procedendo a uma análise comparativa com casos com alguma similitude.
Para o efeito, identificaram-se vinte aproveitamentos hidroelétricos noruegueses construídos nas décadas
de 70 e 80 (NFF, Norwegian Tunneling Society, 2013), cujas caraterísticas se indicam no Quadro 2. Nesta
comparação incluem-se cinco exemplos de envolvimentos de condutas forçadas (“penstock’s”) por terem
funcionamento concetualmente análogo ao dos rolhões.

Quadro 2 – Comparação do rolhão superior de Venda Nova III com outros rolhões de projetos noruegueses similares
Carga Rolhão
estática, Fest r
Projeto Ano H L  A1 P A2 Lblind L/H
[m] [m] [m] [m2] [m] [m2] [m] [MN] [kPa]
67,5 1977,8 16% 129
Venda Nova III 2016 430 8,80 60,8 29,3 12,3 256
37,5 1098,8 9% 233
Ⓐ Nyset-Steggje 1987 964 55 5,64 25 17,72 974,8 “Penstock” 6% 236 243
Ⓑ Tjodan 1984 880 45 4,65 17 14,62 657,7 “Penstock” 5% 145 223
Ⓒ Tafjord K5 1982 790 88 4,79 18 15,04 1323,5 “Penstock” 11% 139 105
Ⓓ Skarje 1986 765 20 5,64 25 17,72 354,5 5,5 3% 188 529
Ⓔ Mel 1989 740 27 5,29 22 16,63 448,9 27 4% 160 356
Ⓕ Sildvik 1981 640 35 5,75 26 18,08 632,6 12 5% 163 258
Ⓖ Jostedalen 1989 622 20 6,68 35 20,97 419,4 5 3% 214 509
Ⓗ Lomi 1978 565 15 5,05 20 15,85 237,8 9,5 3% 111 466
Ⓘ Lang-Sima 1980 520 50 6,18 30 19,42 970,8 “Penstock” 10% 153 158
Ⓙ Sorfjord 1983 505 20 5,05 20 15,85 317,1 12 4% 99 312
Ⓚ Kvilldal 1982 465 30 6,28 31 19,74 592,1 4 6% 141 239
Ⓛ Torpa 1989 455 20 6,38 32 20,05 401,1 6 4% 143 356
Ⓜ Eikelandsosen 1986 455 20 5,05 20 15,85 317,1 5 4% 89 282
Ⓝ Steinsland 1980 454 20 5,05 20 15,85 317,1 10,2 4% 89 281
Ⓞ Kolsvik 1979 449 20 5,41 23 17,00 340,0 10 4% 101 298
Ⓟ Skibotn 1979 445 12 4,79 18 15,04 180,5 7,6 3% 79 435
Ⓠ Leirdola 1978 441 30 5,75 26 18,08 542,3 “Penstock” 7% 112 207
Ⓡ Saurdal 1985 410 40 7,90 49 24,81 992,6 1,5 10% 197 199
Ⓢ Ormsetfoss 1988 373 22 5,29 22 16,63 365,8 7 6% 81 220
Ⓣ Dividalen 1972 295 13 3,57 10 11,21 145,7 4,5 4% 29 199
Legenda: L – extensão do rolhão; A1 - secção de escavação do túnel onde se insere o rolhão/”penstock”;  - diâmetro equivalente
da secção de escavação do rolhão/”penstock”; P – perímetro da secção de escavação do túnel onde se insere o
rolhão/”penstock”; A2 – área da interface rolhão/rocha (A2=L·P); Lblind – extensão blindada; Fest – força estática que
solicita o rolhão/”penstock”; r – tensão de corte média na interface rolhão/rocha decorrente da carga estática (H)

A primeira linha do quadro precedente refere-se ao rolhão superior de Venda Nova III indicando-se dois
valores para a extensão do mesmo (L=67,5 m e L=37,5 m), que resultaram de duas abordagens distintas
de pré-dimensionamento que se expõem adiante. Com base na informação constante deste quadro
construíram-se os dois gráficos representados na Figura 3, relativamente aos quais se refere:

- na relação do diâmetro equivalente de cada rolhão/“penstock” com a respetiva carga estática (Figura
3-a) constata-se que o rolhão superior de Venda Nova III se destaca relativamente aos restantes por
ter uma secção de escavação A1 (secção a obturar), significativamente superior aos restantes casos;

- quanto à relação entre a tensão de corte média na interface rolhão/rocha, r, com a carga estática (H)
(Figura 3-b) verifica-se que no caso do rolhão superior de Venda Nova III é mobilizada uma tensão de
corte de 129 kPa ou 233 kPa (consoante se assuma que toda a extensão do rolhão é mobilizada para o
efeito ou apenas a extensão a jusante das falhas), que o coloca próximo de outros casos com carga
estática semelhante. Pode também verificar-se que em mais de metade dos exemplos usados na
comparação o valor daquela tensão de corte fica abaixo dos 300 kPa.

811
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

1000 1000
Ⓑ Ⓐ VN III Ⓐ
(L=37,5m) Ⓑ Ⓔ

Carga estática, H [m]



Carga estática, H [m]

800 Ⓒ 800 Ⓒ Ⓓ
Ⓔ Ⓕ
Ⓖ VN III
Ⓗ Ⓕ 600 Ⓘ Ⓝ Ⓖ
600 VN III
Ⓜ Ⓙ Ⓘ (L=67,5m) Ⓙ

400
Ⓟ Ⓛ 400
Ⓝ Ⓚ Ⓡ Ⓠ Ⓞ Ⓛ Ⓟ
Ⓠ Ⓜ
200 Ⓣ Ⓢ Ⓞ 200 Ⓡ
Ⓣ Ⓢ Ⓚ
0 0
3 4 5 6 7 8 9 0 100 200 300 400 500 600
Diâmetro equivalente da secção [m] T. corte média na interface rolhão/rocha, r [kPa]
a) b)
Figura 3 – Comparação do rolhão superior de Venda Nova III com estruturas similares inseridas em projetos
noruegueses: a) relação entre  e H; b) relação entre r e H (significado das variáveis na legenda do Quadro 2)

Tendo em vista minimizar a ocorrência de repasses de água através do corpo do rolhão foi estabelecido à
partida que a materialização do mesmo deveria realizar-se sem recurso a juntas de betonagem horizontais,
mas sim, e apenas, a juntas verticais. Por outro lado, de modo a acautelar temperaturas de cura do betão
excessivas, preconizou-se que estas juntas verticais deveriam distar entre si, no máximo, 7,5 m. Estes
requisitos conduziram a uma configuração preliminar do rolhão constituída por 9 blocos de 7,5 m de
extensão cada um (blocos 2 a 10), perfazendo uma extensão total betonada de 67,5 m na qual, conforme
se observa na Figura 4, a falha F4 interseta a zona dos blocos 3 e 4 enquanto a falha F3 intersecta os
blocos 5 e 6.

Figura 4 – Perfil longitudinal do rolhão na sua configuração preliminar

A montante do rolhão previu-se uma junta vertical (designada Junta de Construção 1) que materializa a
separação entre o rolhão e o revestimento do circuito hidráulico (ou seja, entre os blocos 1 e 2), tendo, no
entanto, sido prevista continuidade de armaduras na referida junta. O interior do rolhão previu-se vazado
de modo a permitir aceder ao circuito hidráulico, tendo esta zona de passagem 3 m de diâmetro. A zona
montante do rolhão preconizou-se dotada de uma blindagem com 12,3 m de extensão, sendo a obturação
propriamente dita feita à custa de uma porta estanque fixa ao referido trecho blindado. Conforme se pode
observar na Figura 4, quatro dos blocos do rolhão (blocos 2 a 5) situam-se no troço horizontal do TATC,
enquanto os restantes (blocos 6 a 10) situam-se no troço inclinado. Na Figura 5 representa-se a secção
transversal corrente do rolhão e a secção transversal na Junta de Construção 1.

a) b)
Figura 5 – Secções transversais do rolhão: a) secção corrente a jusante da porta estanque; b) secção na Junta de
Construção 1

812
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Esta configuração preliminar do rolhão foi estabelecida através da abordagem tradicionalmente empregue
na conceção deste tipo de estruturas, que consiste em dotar o rolhão de uma extensão tal que permita que
a tensão de corte (r) mobilizada ao longo da interface rolhão/rocha esteja dentro de limites considerados
adequados. Para a carga máxima expectável e para a extensão prevista nesta configuração obtém-se um
rácio L/H de 14,4% e um valor de r de 142 kPa, determinada através da expressão seguinte (o significado
das variáveis indica-se na legenda do Quadro 2):

𝐴1 ∙ 𝐻𝑚𝑎𝑥 ∙ 𝛾𝑤 60,8 𝑚2 ∙ 470 𝑚 ∙ 9,81 kN/𝑚3


𝜏𝑟 = = = 142 𝑘𝑃𝑎
𝐴2 67,5 𝑚 ∙ 29,3 𝑚

Note-se, no entanto, que este valor da tensão de corte resulta de se considerar que toda a área de contacto
rolhão/rocha é igualmente mobilizada ao longo da totalidade da extensão do rolhão, o que se considera ser
excessivamente otimista atendendo às condições geológicas presentes no local do rolhão. Uma forma
expedita de atender a estas condições poderia passar por desprezar o contributo propiciado pelo contato
rolhão/rocha na zona das falhas e a montante das mesmas, ou seja, toda a pressão da água teria de ser
suportada pela resistência ao corte mobilizada no contato rolhão/rocha situado a jusante das falhas F3.
Neste pressuposto, o valor de L passaria a ser de 37,5 m, pelo que o rácio L/H desceria para 8,0% e r
subiria para 255 kPa (A2 diminui de 1977,8 m2 para 1098,8 m2). Assumindo que este é um valor
caraterístico, obter-se-ia um valor de cálculo de r de 306 kPa, considerando um coeficiente de majoração
de 1,2.

Embora os valores obtidos anteriormente para o rácio L/H e para a tensão de corte (r) possam considerar-
se conservativos quando comparados com os que se obtêm para rolhões inseridos em projetos noruegueses
análogos a Venda Nova III, onde foram adotados valores de L/H entre 3 e 11% e de r até 500 kPa (NFF,
2013), é frequente, tanto no âmbito de projetos desenvolvidos pela EDP como em bibliografia da
especialidade, a adoção de valores de r da ordem de 100 a 200 kPa.

Por outro lado, conforme se pode constatar da observação do Quadro 2, a secção transversal do rolhão em
análise é consideravelmente superior às dos restantes rolhões utilizados naquela análise, pelo que a
comparação direta de valores deve ser feita com cautela.

Face à importância deste elemento de obra e à particularidade de este se localizar numa zona geológica
particular cujo comportamento é condicionado pela presença das falhas e zonas conturbadas associadas,
considerou-se importante proceder a uma análise tridimensional do comportamento do rolhão,
devidamente fundamentada, alicerçada em resultados de ensaios de caraterização do comportamento da
interface rolhão/rocha.

Neste sentido, e conforme exposto adiante, na sequência dos resultados obtidos nas primeiras análises
numéricas realizadas para estudo da estabilidade global ao deslizamento do rolhão, foi decidido solicitar ao
LNEC a realização de um conjunto de ensaios laboratoriais que permitiram a obtenção de valores de
parâmetros caracterizadores do comportamento da interface rolhão/rocha necessários para as simulações
numéricas, nomeadamente, a rigidez da interface (normal e tangencial) e os parâmetros de resistência de
Mohr-Coulomb (coesão e ângulo de atrito).

4- Ensaios laboratoriais para caraterização da interface rolhão/rocha

As amostras utilizadas nestes ensaios foram colhidas em vários locais do complexo subterrâneo da central
de Venda Nova III, tendo-se adotado como critério de seleção zonas com elementos betonados diretamente
contra a superfície de escavação, pois pretendeu-se ensaiar puramente o contacto betão/rocha (ou seja,
sem betão projetado), condições similares às da betonagem do rolhão. Realizaram-se dois tipos de ensaios
laboratoriais: ensaios de carga normal seguidos de ensaios de deslizamento.

Para a realização dos ensaios de deslizamento a EDP disponibilizou ao LNEC um total de 27 amostras
(tarolos de sondagem) que, depois de selecionadas, cortadas com serra de disco e encabeçadas com
argamassa, deram origem a 14 provetes de ensaio (Figura 6). Sobre cada um destes 14 provetes foi
adotada a seguinte sequência:
a) Ensaios de carga normal - aplicação de uma tensão normal da ordem de 0,8 MPa e leitura dos
respetivos deslocamentos normais. Estes ensaios permitiram obter a rigidez normal na origem, a
rigidez normal e o deslocamento normal de fecho.
b) Ensaios de deslizamento – realizados para quatro valores distintos da tensão normal (0,1 MPa, 0,2
MPa, 0,4 MPa e 0,8 MPa), permitiram obter os parâmetros resistentes de Mohr-Coulomb e a dilatância.

813
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a) b) c)
Figura 6 – Amostras de rocha para ensaios laboratoriais: a) recolha; b) pormenor da zona de contacto betão/rocha; c)
provete depois de ensaiado

Os resultados obtidos nestes ensaios (LNEC 2015) permitiram traçar quatro tipos de gráficos: i)
deslocamento normal vs tensão normal; ii) deslocamento tangencial vs tensão tangencial; iii) tensão
normal vs tensão tangencial e iv) deslocamento tangencial vs deslocamento normal. Na Figura 7
apresentam-se os gráficos correspondentes a um dos provetes ensaiados, os quais se podem tomar como
representativos da generalidade dos resultados obtidos.

a) b)

c) d)
Figura 7 – Resultados ensaios laboratoriais: a) deslocamento normal vs tensão normal; b) deslocamento tangencial vs
tensão tangencial; c) tensão normal vs tensão tangencial; d) deslocamento tangencial vs deslocamento normal

De um modo geral constatou-se que a resistência de pico tem valor próximo da resistência residual,
comportamento típico de uma descontinuidade plana e lisa. Este aspeto poderá ser explicado pelo facto de,
num número significativo de amostras, se ter constatado a existência de fraturas abertas, na parte rochosa
relativamente próxima do contacto betão/rocha (ver Figura 6-b), que se admite terem tido origem no
processo de escavação do túnel (realizada com recurso a explosivos) e em fenómenos de descompressão
do maciço. Nos ensaios de deslizamento constatou-se que o escorregamento ocorreu ao longo destas
fraturas e não através do contato betão/rocha propriamente dito, o que deverá justificar os baixos valores
obtidos para a coesão (Quadro 3).

Quadro 3 – Síntese dos resultados dos ensaios de deslizamento


Média Máximo Mínimo Desvio padrão Valor caraterístico
Coesão aparente residual (MPa) 0,047 0,070 0,007 0,020 0,014
Ângulo de atrito residual (°) 44,7 47,4 38,4 2,2 41,2
Rigidez normal (MPa/mm) 31,98 44,3 21,5 7,7 19,4
Rigidez tangencial (MPa/mm) 1,19 2,0 0,7 0,4 0,6
Dilatância (°) 12,9 18,2 8,4 2,7 8,5

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5- Análises numéricas

5.1 - Abordagem adotada

As simulações numéricas para analisar a estabilidade global ao escorregamento do rolhão superior foram
efetuadas com recurso ao programa de diferenças finitas Flac3D (Itasca 2012), tendo-se construído um
modelo tridimensional em que se simulou o comportamento da interface rolhão/rocha e das juntas de
contato entre os blocos do rolhão recorrendo aos “elementos de contacto” disponibilizados no referido
programa, que permitem simular cenários de escorregamento que obedeçam ao critério de rotura de Mohr-
Coulomb. A simulação das juntas de contato entre os blocos do rolhão visou, fundamentalmente, calcular
as tensões normais nestas superfícies para melhor aferição do processo de degradação de carga ao longo
da extensão do rolhão e dispor de uma base de comparação com os valores lidos nos dispositivos de
monitorização instalados nestas juntas. Em termos gerais existiram três cenários distintos na condução das
análises numéricas:
- Cenário 1 - Inicialmente o rolhão foi simulado com a configuração geométrica que resultou do pré-
dimensionamento (ver ponto 3) e o comportamento da interface rolhão/rocha foi simulado através de
parâmetros estimados com base na experiência obtida em obras análogas e em referências bibliográficas;
- Cenário 2 - Num segundo estágio, os parâmetros caracterizadores da interface rolhão/rocha foram
atualizados com base nos resultados dos ensaios laboratoriais para caraterização do comportamento da
interface rolhão/rocha, tendo-se mantido a configuração geométrica tal como adotada no Cenário 1;

- Cenário 3 - Finalmente, em face dos resultados obtidos no Cenário 2, considerou-se necessário


incrementar o nível de segurança ao escorregamento, o que motivou a revisão da configuração
geométrica do rolhão.

5.2 - Geometria e condições fronteira

A malha utilizada na modelação representa um paralelepípedo com dimensões de 400 m x 217,5 m x 400
m (cxlxh), tendo sido discretizada de modo a que dimensão máxima dos elementos na zona do rolhão não
excedesse 0,5 m, o que conduziu a 479520 elementos e 501212 pontos nodais (ver Figura 8-a)). Nas
quatro fronteiras laterais da malha e na fronteira inferior restringiram-se os deslocamentos normais. Na
fronteira superior do modelo aplicou-se uma sobrecarga de valor 4,05 MPa correspondente ao peso do
terreno sobrejacente, cuja altura média ronda 150 m. As falhas F3 e F4 foram simuladas com configuração
planar e espessura constante de, respetivamente, 1,5 m e 1,0 m (ver Figura 8-b)).

a) b) c)
Figura 8 – Malha de diferenças finitas: a) perspetiva global; b) coloração da malha em função do módulo de
deformabilidade (N/m2) dos materiais; c) solução de rolhão com recrava no bloco 7 (Cenário 3)

5.3 - Propriedades mecânicas dos materiais e interfaces

Tanto o maciço rochoso como o rolhão foram simulados com comportamento linear elástico. Na envolvente
da secção de escavação simulou-se uma auréola de 2,0 m de espessura em todo o contorno da secção com
características de deformabilidade inferiores às do restante maciço rochoso, com o intuito de simular uma
banda perturbada pelo processo de escavação. O Quadro 4 sintetiza as propriedades elásticas dos
diferentes materiais que foram adotadas nas simulações numéricas.

Quadro 4 – Propriedades elásticas dos materiais


Módulo de Coeficiente de
Material
elasticidade, E (GPa) Poisson, 
Betão (blocos do rolhão) 30,5 0,20
Maciço rochoso 20,0 0,20
Maciço rochoso nas zonas de falha 1,0 0,35
Auréola perturbada pela escavação 10,0 0,20
Auréola perturbada pela escavação nas zonas de falha 0,5 0,35

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Os elementos de interface rolhão/rocha seguem o modelo constitutivo de Mohr-Coulomb. Neste modelo, a


deformabilidade é caracterizada pela rigidez normal (kn) e pela rigidez tangencial (ks), que relacionam as
tensões normais e de corte com os deslocamentos relativos entre os bordos da interface. No Quadro 5
indicam-se os valores assumidos para os diferentes parâmetros elásticos e de resistência que caracterizam
as interfaces simuladas. As rigidezes normal e tangencial foram, conservativamente, considerados com o
respetivo valor característico inferior (Quadro 3) e o valor do ângulo de dilatância foi tomado como nulo.

Quadro 5 – Propriedades mecânicas admitidas na simulação da interface betão/rocha


Rigidez Rigidez Resistência
Ângulo de Coesão
Interface normal, Kn tangencial, à tração
atrito,  (kPa)
(GPa/m) Ks (GPa/m) (kPa)
Contacto rolhão/rocha (exceto zonas de falha) 20,0 1,0 0 45 Var.1)
Contacto rolhão/rocha (zonas de falha) 2,0 0,1 0 0 0
Juntas verticais entre os blocos do rolhão 20,0 1,0 0 0 0
1)
- O valor admitido para a coesão varia em função do cenário de análise. Assim, no Cenário 1 avaliou-se a influência deste
parâmetro para dois valores, c=100 kPa e c=350 kPa, e nos Cenários 2 e 3 adotou-se o valor c=10 kPa, na sequência dos
resultados dos ensaios laboratoriais.

5.4 - Ações

As ações consideradas nas simulações numéricas foram:


- Peso próprio dos materiais;
- Pressão máxima da água no interior do circuito hidráulico na zona do rolhão. Esta pressão foi
considerada com o valor de cálculo, pd=5532,8 kPa;
- Subpressão instalada na interface rolhão/rocha (diagrama “triangular” entre a junta de construção e o
final da blindagem);
- Pressão residual de confinamento decorrente da injeção do maciço rochoso na auréola de rocha com
5 m de espessura que envolve o túnel.

5.5 - Procedimento de cálculo

O procedimento de cálculo numérico implementado em cada um dos três cenários anteriormente descritos
foi subdividido de acordo com o seguinte faseamento:
- Fase 0 – Estabelecimento do estado de tensão inicial no maciço rochoso;
- Fase 1 – Escavação do túnel;
- Fase 2 – Materialização do rolhão e do revestimento do túnel a montante do rolhão, com as respetivas
juntas de contato, e aplicação da pressão de injeção (0,5 MPa);
- Fase 3 – Aplicação da pressão da água (Fase 3a) e da subpressão na interface rolhão/rocha (Fase 3b);
- Fase 4 – Minoração da resistência ao corte da interface rolhão/rocha, através da redução progressiva
do ângulo de atrito, até se atingir situação de perda de equilíbrio, ou até se atingir um fator parcial de
segurança relativamente ao ângulo de atrito de 2,0. Esta análise foi realizada para diferentes cenários
da extensão do rolhão, tendo-se iniciado com a extensão prevista inicialmente (67,5 m, materializada
por 9 blocos de 7,5 m cada um), a qual foi sendo progressivamente reduzida através da supressão
sequencial de blocos. Nesta análise foram mantidos os valores dos restantes parâmetros.

A análise efetuada no âmbito da Fase 4 conduziu à realização de várias dezenas de cenários de cálculo.
Esta tarefa foi automatizada através de rotina escrita na linguagem interna de programação (designada
FISH) do programa de cálculo utilizado. A estabilidade do rolhão foi aferida através da monitorização do
deslocamento na direção YY (direção do eixo do rolhão) do nó situado na face de montante da parede
espessa que representa a porta estanque, conforme ilustrado na Figura 9.

Figura 9 – Nó de controlo considerado para monitorização dos deslocamentos na Fase 4

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5.6 - Resultados das simulações numéricas

5.6.1 - Cenário 1

O Quadro 6 sintetiza os resultados das simulações numéricas para o valor mais baixo admitido para a
coesão da interface rolhão/rocha (100 kPa), apresentando-se os resultados em termos de deslocamentos
na direção do eixo do rolhão (deslocamento YY) no nó de controlo. Pode verificar-se, por exemplo, que a
configuração do rolhão com 10 blocos (L=67,5 m) propicia um fator de segurança de apenas 1,75
relativamente ao ângulo de atrito. Por outro lado, para c=350 kPa, esta mesma configuração propiciaria
um fator de segurança superior a 2,0.

Na Figura 10 e na Figura 11 apresentam-se os mapas de deslocamentos e as tensões de corte mobilizadas


na interface rolhão/rocha (para c=100 kPa), respetivamente para as fases de cálculo que antecedem e que
sucedem a aplicação da subpressão nesta interface. Estes resultados permitem verificar que antes da
aplicação daquela subpressão (Fase 3a) o deslocamento máximo do rolhão é cerca de 3 mm e a tensão de
corte na interface é mobilizada até ao bloco 5; após aplicação da subpressão (Fase 3b), o deslocamento
máximo sobe para cerca de 9 mm e a tensão de corte mobilizada na interface se estende até ao bloco 8.

Quadro 6 – Deslocamento YY do nó de controlo admitindo que a coesão da interface rolhão/rocha vale, c=100 kPa
Coeficiente de redução do ângulo de atrito
Extensão do rolhão
1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Blocos L (m) =45°) =38,7°) =33,7°) =29,7°) =26,6°)
2+3+4+5+6+7+8+9+10 67,5 7,6 mm 8,3 mm 9,0 mm 9,7 mm Instável
2+3+4+5+6+7+8+9 60,0 7,6 mm 8,3 mm Instável Instável Instável
2+3+4+5+6+7+8 52,5 7,7 mm Instável Instável Instável Instável
2+3+4+5+6+7 45,0 Instável Instável Instável Instável Instável

a) b)
Figura 10 – Mapas de deslocamentos (m) para c=100 kPa (Cenário 1): a) após aplicação da pressão interna da água
(Fase 3a); b) após aplicação da subpressão na interface (Fase 3b)

a) b)
Figura 11 – Tensões de corte (N/m2) na interface rolhão/rocha para c=100 kPa (Cenário 1): a) após aplicação da
pressão interna da água (Fase 3a); b) após aplicação da subpressão na interface (Fase 3b)

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5.6.2 - Cenário 2

No Quadro 7 apresentam-se os resultados obtidos nas simulações numéricas nas quais o comportamento
da referida interface foi parametrizado tendo presente os resultados dos ensaios laboratoriais realizados
no LNEC (=45° e c=10 kPa). A análise destes resultados permite constatar que, tendo por base os
pressupostos assumidos nas simulações, a configuração preliminar do rolhão (10 blocos, perfazendo uma
extensão total L=67,5 m) é insuficiente para assegurar um coeficiente parcial de segurança relativamente
ao ângulo de atrito que se considere aceitável. Na sequência da análise a estes resultados foi decidido rever
a configuração prevista em projeto de modo a incrementar a segurança ao escorregamento.

Quadro 7 – Deslocamentos YY no eixo da porta estanque admitindo o comportamento da interface rolhão/rocha


caraterizado em face dos resultados dos ensaios laboratoriais realizados pelo LNEC

Coeficiente de redução do ângulo de atrito


Extensão do rolhão
1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Blocos L (m) =45°) =38,7°) =33,7°) =29,7°) =26,6°)
2+3+4+5+6+7+8+9+10 67,5 8,6 mm Instável Instável Instável Instável
2+3+4+5+6+7+8+9 60,0 8,7 mm Instável Instável Instável Instável
2+3+4+5+6+7+8 52,5 Instável Instável Instável Instável Instável

5.6.3 - Cenário 3

De entre as alternativas analisadas, optou-se por materializar uma recrava na escavação, por se considerar
ser a solução mais fiável a longo prazo.

Neste tipo de estruturas, é habitual posicionar a(s) recrava(s) na parte montante do rolhão, próximo da
zona onde está aplicada a pressão interna da água. Neste caso, devido às condições geológicas na zona
montante do rolhão, optou-se por materializar a recrava no bloco 7, de modo a assegurar que a carga é
transmitida para uma zona em que o maciço apresenta condições geológicas mais favoráveis.

A Figura 12 ilustra, a geometria revista do rolhão que consistiu em inserir uma recrava no bloco 7 (a Figura
8-c ilustra a malha de diferenças finitas utilizada).

Figura 12 – Configuração revista do rolhão - Perfil longitudinal do rolhão com recrava no bloco 7

No Quadro 8 resumem-se os resultados obtidos para este cenário de análise. Pode constatar-se que,
contrariamente ao registado nos dois cenários anteriores, em nenhuma das análises paramétricas
realizadas se registou instabilidade. Verifica-se também que os valores dos deslocamentos sofrem
incremento reduzido tanto quando se reduz a extensão do rolhão como quando se incrementa o coeficiente
parcial de segurança relativamente ao ângulo de atrito. Em resumo, os resultados das simulações
numéricas realizadas permitem referir que qualquer dos quatro valores da extensão do rolhão analisados
(67,5 m, 60,0 m, 52,5 m e 45,0 m) propiciam um fator de segurança relativamente ao ângulo de atrito
superior a 2,0.

Quadro 8 – Deslocamentos YY no eixo da porta estanque considerando recrava no bloco 7


Coeficiente de redução do ângulo de atrito
Extensão do rolhão
1,00 1,25 1,50 1,75 2,00
Blocos L (m) =45°) =38,7°) =33,7°) =29,7°) =26,6°)
2+3+4+5+6+7+8+9+10 67,5 8,1 mm 8,5 mm 9,0 mm 9,4 mm 9,8 mm
2+3+4+5+6+7+8+9 60,0 8,1 mm 8,5 mm 9,0 mm 9,5 mm 10,0 mm
2+3+4+5+6+7+8 52,5 8,1 mm 8,6 mm 9,2 mm 9,7 mm 10,1 mm
2+3+4+5+6+7 45,0 8,1 mm 8,6 mm 9,2 mm 9,7 mm 10,1 mm

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Apesar de os valores dos deslocamentos constantes do Quadro 8 terem pouca variação, foi entendido
conveniente, na configuração final revista do rolhão (que viria a ser construída), não suprimir o bloco
situado imediatamente a jusante da recrava (bloco 8), uma vez que se considerou importante o contributo
proporcionado por este bloco no confinamento do túnel na zona maciço rochoso que recebe a solicitação
proveniente da recrava.

Na Figura 13 apresentam-se alguns resultados extraídos do modelo numérico correspondentes à simulação


em que se considerou o rolhão com a respetiva configuração final (isto é, com uma extensão L=52,5 m) e
um coeficiente parcial de segurança relativamente ao ângulo de atrito de 2,0. Pode constatar-se que grande
parte da resistência ao corte é mobilizada na zona da recrava, onde a tensão de corte atinge 1,0 MPa numa
área apreciável da mesma (Figura 13-a)). No que refere às tensões normais instaladas nas juntas verticais
entre os blocos do rolhão (Figura 13-b)), e como seria expetável, os maiores valores registam-se nas juntas
mais próximas da zona de aplicação da solicitação correspondente à pressão da água, diminuindo à medida
que aumenta a distância da junta relativamente àquela zona. Deste modo, e a título de exemplo, na junta
entre os blocos 2 e 3 as tensões normais ascendem a 8 MPa enquanto na junta entre os blocos 6 e 7 ronda
4 MPa. Na última junta, entre os blocos 7 e 8, a tensão normal é significativamente inferior a 0,5 MPa, o
que corrobora o importante contributo da recrava na estabilidade global ao deslizamento.

a) b)
Figura 13 – Tensões (N/m2) mobilizadas na interface rolhão/rocha no final da Fase 4, admitindo um coeficiente parcial
de segurança relativamente ao ângulo de atrito de 2,0: a) tensões de corte; b) tensões normais

6- SISTEMA DE OBSERVAÇÃO E COMPORTAMENTO OBSERVADO DURANTE O PRIMEIRO


ENCHIMENTO DO CIRCUITO HIDRÁULICO

Para controlo do comportamento do rolhão superior foi previsto um conjunto de observações específicas
que foram iniciadas antecedendo o enchimento do circuito hidráulico e que se prolongarão durante a fase
de exploração da central. Neste período, e mediante frequência criteriosamente estabelecida, está previsto
que os resultados sejam analisados e comparados com resultados obtidos por simulações numéricas
similares às apresentadas no presente documento. Este exercício considera-se fundamental para a
avaliação das condições de segurança do rolhão.

O sistema de observação preconizado integra drenos e piezómetros distribuídos ao longo da extensão do


rolhão, que permitem controlar eventuais subpressões na interface rolhão/rocha; alvos topográficos
criteriosamente posicionados e bases tridimensionais entre as juntas do rolhão, que permitem controlar as
deformações ao longo do rolhão; e células de pressão nas juntas verticais entre os blocos do rolhão, que
permitem aferir a evolução da degradação de carga ao longo da extensão do rolhão.

O modelo numérico foi também utilizado para aferir o comportamento do rolhão ao longo do primeiro
enchimento do circuito hidráulico (Esteves et al., 2017). Neste âmbito, e a título de exemplo, apresenta-se
na Figura 14 gráfico contendo uma análise comparativa entre a evolução do deslocamento observado
topograficamente num alvo posicionado na porta estanque do rolhão (sensivelmente ao nível do eixo) ao
longo do primeiro enchimento do circuito hidráulico e a previsão do deslocamento no nó de controlo
utilizando o modelo numérico para simular o referido processo de enchimento. Pode constatar-se que a
previsão numérica exibe uma aproximação bastante satisfatória dos valores observados.

819
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Observado Previsão numérica


5

Deslocamento (mm)
3

0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Carga estática, H (m)

Figura 14 – Evolução do deslocamento na porta estanque do rolhão ao longo do 1º enchimento do circuito hidráulico

7- CONCLUSÕES

Neste artigo apresentam-se resultados de simulações numéricas tridimensionais realizadas com o intuito
de aferir a margem de segurança propiciada pela solução preconizada em projeto de execução, do rolhão
superior do Aproveitamento Hidroelétrico de Venda Nova III. As simulações numéricas foram feitas em
meio contínuo, através do programa de diferenças finitas FLAC3D, tendo o comportamento da interface
rolhão/rocha sido analisado por elementos de contato seguindo o modelo constitutivo de Mohr-Coulomb.

Inicialmente apresenta-se uma análise comparativa deste rolhão com estruturas similares inseridas em
projetos noruegueses, seguindo-se um pré-dimensionamento da extensão do rolhão utilizando a
abordagem empírica tradicionalmente utilizada para o efeito, a qual conduziu a uma configuração preliminar
consistindo numa extensão, L=67,5 m, materializada através de 9 blocos de betão. Face à importância
deste elemento de obra, à particularidade de se localizar numa zona geológica particular e à significativa
dimensão da sua secção transversal, considerou-se de interesse proceder a uma análise numérica
tridimensional para estudar o seu comportamento.

Em face dos resultados obtidos nas primeiras análises numéricas, verificou-se ser necessário dispor de
parâmetros caraterizadores da interface rolhão/rocha convenientemente fundamentados, o que conduziu
à realização de diversos ensaios laboratoriais no LNEC. Estes ensaios permitiram obter um conjunto de
parâmetros que serviram de base a novas simulações numéricas cujos resultados revelaram ser necessário
incrementar a margem de segurança ao deslizamento do rolhão, uma vez que a configuração inicialmente
prevista tinha associado um fator parcial de segurança relativamente ao ângulo de atrito inferior a 1,25.

Realizou-se, então, um novo conjunto de simulações numéricas em que o rolhão foi simulado com uma
recrava. Os resultados obtidos revelaram um incremento significativo da margem de segurança ao
deslizamento do rolhão, mesmo para uma extensão total inferior à preconizada na configuração preliminar.

No final é feita uma referência ao sistema de observação implementado e apresenta-se uma análise
comparativa entre os deslocamentos observados no rolhão durante o primeiro enchimento do circuito
hidráulico e a previsão desses deslocamentos utilizando o modelo numérico, tendo-se verificado que a
previsão numérica se aproxima satisfatoriamente do comportamento observado.

REFERÊNCIAS

EDP (2011) – Reforço de Potência do Aproveitamento de Venda Nova. Projecto de Execução. Julho de 2011, Porto.

Esteves, C., Plasencia, N., Pinto, P., Marques, T. (2017) – First filling of hydraulic tunnels of Venda Nova III hydropower
scheme. Proceedings of the WTC 2017, Bergen, pp. 1027-1036.

NFF, Norwegian Tunneling Society (2013) – Norwegian Hydropower Tunneling II – Publ. n.º 22. Oslo, April 2013.

Itasca Consulting Group, Inc. 2012. FLAC3D – Fast Lagrangian Analysis of Continua in 3 Dimensions, Ver. 5.0 User’s
Manual. Minneapolis: Itasca.

LNEC (2015) – Boletins de Ensaios de Deslizamento realizados sobre amostras de tarolos de sondagem com contactos
de betão com rocha, recolhidos na obra de Venda Nova III. Agosto de 2015, Lisboa.

Venda Nova III ACE (2012) – Venda Nova III – Túnel de Acesso ao Túnel em Carga – Relatório de caracterização
geológico geotécnica. Fevereiro de 2012.

820
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

DETERMINAÇÃO DO CAMPO DE TENSÕES IN SITU PARA O PROJETO DAS


OBRAS SUBTERRÂNEAS DE GOUVÃES

ASSESSMENT OF THE IN SITU STRESS FIELD FOR THE DESIGN OF GOUVÃES


UNDERGROUND POWERHOUSE COMPLEX

Lamas, Luís; LNEC, Lisboa, Portugal, llamas@lnec.pt


Espada, Margarida; LNEC, Lisboa, Portugal, mespada@lnec.pt
Muralha, José; LNEC, Lisboa, Portugal, jmuralha@lnec.pt
Lemos, José Vieira; LNEC, Lisboa, Portugal, vlemos@lnec.pt

RESUMO

Para apoio ao projeto das escavações do complexo da central do aproveitamento hidroelétrico de


Gouvães, o LNEC realizou para a Iberdrola uma campanha de ensaios de medição de tensões in situ,
utilizando os métodos das almofadas planas de pequena área (SFJ) e do defórmetro tridimensional (STT),
assim que as galerias de acesso atingiram a proximidade da caverna da central. Uma vez que foram
realizados dois tipos de ensaios, em diferentes locais, num maciço com duas formações litológicas
distintas, foi efetuada uma análise global dos resultados dos ensaios utilizando uma metodologia
adequada que incluiu um modelo numérico tridimensional do maciço rochoso. Este artigo apresenta uma
breve descrição do aproveitamento hidroelétrico, o programa de ensaios in situ, os resultados dos ensaios,
a metodologia utilizada para sua interpretação e os resultados finais do estudo, que consistem numa
estimativa do campo de tensões inicial ocorrente no maciço rochoso em torno das estruturas
subterrâneas do complexo da central de Gouvães.

ABSTRACT

For the design of the Gouvães underground powerhouse complex, LNEC carried out for Iberdrola a set of
in situ stress measurements using the small flat jack method (SFJ) and the overcoring method with the
stress tensor tube (STT), as soon as the access adits reached the vicinity of the powerhouse cavern.
Since two types of tests in different locations were carried out in a rock mass with two different rock
formations, a global analysis of the test results was performed using an adequate methodology that
included a large three-dimensional numerical model of the rock mass. This paper presents a brief
description of the power scheme, the in situ stress measurements programme, the test results, the
methodology used for their interpretation and the concluding results of the study, which consist in an
estimate of the initial stress field in the rock mass around the underground structures of the Gouvães
powerhouse cavern.

1- INTRODUÇÃO

Os complexos de cavernas subterrâneas para aproveitamentos hidroelétricos são geralmente escavados a


grandes profundidades e exibem grandes dimensões. A libertação do estado de tensão in situ instalado
no maciço rochoso circundante é geralmente a ação mais relevante durante a fase construtiva desse tipo
de estruturas, determinando que o projeto dos sustimentos necessite de uma estimativa do campo de
tensões. A caracterização do estado de tensão in situ envolve a realização de ensaios em diferentes locais
do maciço rochoso, que permitem a medição pontual do estado de tensão completo ou de apenas
algumas componentes. Para além dos fatores que influenciam o campo de tensões (topografia do terreno,
existência de escavações nas proximidades, heterogeneidades do maciço, etc.), há ainda que ter em
conta que os ensaios são normalmente executados em número reduzido, devido a restrições de tempo e
de custos. Deste modo, o desenvolvimento de modelos numéricos que incluam uma zona extensa do
maciço rochoso, com a geometria das escavações e a topografia do terreno, e que considerem a
influência destes fatores, é fundamental para integrar todos os resultados dos ensaios realizados e
estimar o estado de tensão inicial no maciço. O estado de tensão assim obtido poderá ser utilizado para
dimensionar os sistemas de suporte e definir os faseamentos construtivos, assim como para avaliar o
comportamento do maciço em termos de deformações e de roturas durante as escavações e garantir
condições de segurança das obras nessa fase.

No âmbito dos estudos para apoio ao projeto das obras do complexo de cavernas da central do
empreendimento hidroelétrico de Gouvães, a Iberdrola solicitou ao LNEC a realização de um estudo para
a avaliação do estado de tensão no maciço rochoso com base em resultados de ensaios de medição de
tensões in situ (LNEC, 2016). Para tal foi programada uma campanha de ensaios, que veio a decorrer em
junho e julho de 2016, nas obras subterrâneas que se encontravam já escavadas na proximidade da

821
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

futura caverna da central, que consistiam em túneis e galerias de acesso e de reconhecimento. Foi feita
uma análise global dos resultados dos ensaios utilizando uma metodologia adequada que incluiu um
modelo numérico tridimensional do maciço rochoso.

Neste trabalho apresentam-se, de forma sumária, os ensaios realizados, o modelo numérico


tridimensional desenvolvido e a metodologia de interpretação global utilizada e, por fim, é efetuada a
análise e discussão dos resultados obtidos.

2- DESCRIÇÃO DA OBRA E ENQUADRAMENTO GEOTÉCNICO

O aproveitamento hidroelétrico de Gouvães, em conjunto com os aproveitamentos do Alto Tâmega e de


Daivões, faz parte do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, que está a ser construído no norte de Portugal
(distrito de Vila Real) pela Iberdrola.

O aproveitamento hidroelétrico de Gouvães localiza-se no rio Torno, um dos afluentes da margem


esquerda do rio Tâmega, e inclui a construção de uma barragem em betão de tipo gravidade com 30 m
de altura e 223 m de comprimento no coroamento, e de um circuito hidráulico maioritariamente
subterrâneo. A albufeira possui uma superfície total de 175 ha e uma capacidade útil de 12,68 hm3.

O circuito hidráulico, com origem na albufeira da barragem, é constituído por uma tomada de água, um
túnel de adução com cerca de 4600 m, no final do qual se localiza a chaminé de equilíbrio superior,
seguida de uma conduta forçada com cerca de 1710 m, parcialmente em túnel e parcialmente à
superfície, que na sua zona final bifurca em duas condutas. Seguem-se dois poços verticais com altura de
cerca de 290 m, seguidos de troços horizontais, com cerca de 65 m, que antes da central bifurcam
novamente, dando lugar a quatro condutas, uma para cada um dos grupos eletromecânicos. A jusante da
central, as quatro galerias de aspiração convergem num túnel único com cerca de 800 m de comprimento,
que termina num bocal de restituição para o rio Tâmega. Na Figura 1 apresenta-se uma planta e um
corte longitudinal pela conduta forçada e pela zona do complexo de cavernas da central.

Este complexo de cavernas inclui a central, com dimensões aproximadas de 20 m de largura, 48 m de


altura e 121 m de comprimento, onde se localizarão os quatro grupos reversíveis, com uma potência
instalada total de 880 MW, resultantes de uma altura nominal de 645 m. A caverna da central foi
implantada a cerca de 320 m de profundidade com uma orientação aproximada de N35ºE. A caverna dos
transformadores é paralela à da central, a jusante dela, e tem dimensões aproximadas de 18 m de
largura, 18 m de altura e 81 m de comprimento. A distância, na horizontal, entre estas duas cavernas é
de cerca de 29 m. A ligar as duas cavernas existem quatro galerias de barramentos, com cerca de 8 m de
largura e de 8 m de altura. As quatro galerias de aspiração têm um diâmetro de cerca de 4,5 m e uma
pendente de 15%, e terminam no túnel de aspiração. Na Figura 2 apresenta-se uma perspetiva da zona
do complexo de cavernas da central, que inclui também os túneis e galerias de acesso.

O maciço rochoso interessado pelas obras subterrâneas é constituído essencialmente por duas litologias
distintas, com um contacto subhorizontal na zona do complexo de cavernas da central (Iberdrola, 2011).
A litologia sobrejacente é constituída por micaxistos com intercalações de quartzo de exsudação, muito
fraturado em alguns troços, mas de um modo geral compactos. Sob os micaxistos ocorrem granitos de
duas micas, de grão médio a grosso, com intercalações de aplitos e pegmatitos nas zonas próximas do
contacto. Por simplicidade, estas duas litologias serão doravante designadas apenas por micaxistos e
granitos. Na Figura 2 ilustra-se a superfície do contacto entre os micaxistos e os granitos, obtida por
interpolação a partir do mapeamento dos contactos identificados nos túneis e galerias de acesso e
reconhecimento.

Tendo em conta a existência de duas formações litológicas distintas e que, de acordo com os resultados
dos ensaios de caracterização geotécnica, os micaxistos apresentavam uma deformabilidade
sensivelmente dupla da dos granitos, o programa da campanha de ensaios para a determinação do
campo de tensões no maciço foi definido admitindo que esta heterogeneidade na deformabilidade poderia
introduzir diferenças relevantes no estado de tensão inicial instalado em cada uma das formações. Foi
então decidido realizar ensaios de medição de tensões em ambas as litologias, utilizando os dois métodos
disponíveis no LNEC: ensaios com almofadas planas de pequena área SFJ (small flat jack) e ensaios de
sobrecarotagem utilizando o defórmetro tridimensional STT (stress tensor tube). A utilização conjunta
destes dois métodos de ensaio é vantajosa, pois permite uma análise integrada de medições diretas nos
hasteais das escavações, obtidas nos ensaios SFJ, com medições indiretas em furos de sondagem
realizados a partir das escavações, obtidas nos ensaios STT.

822
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Figura 1 – Planta e corte longitudinal pela conduta forçada e pela zona do complexo de cavernas da central (adaptado
de desenho fornecido pela Iberdrola)

Figura 2 – Perspetiva da zona do complexo de cavernas da central com a superfície de contacto entre os micaxistos e
os granitos (adaptado do modelo tridimensional fornecido pela Iberdrola)

3- RESULTADOS DOS ENSAIOS DE MEDIÇÃO DE TENSÕES

A campanha de ensaios SFJ e STT foi realizada numa altura em que apenas se encontravam escavados o
túnel de acesso à central (TAC) e alguns troços de galerias de exploração e acesso às escavações das
estruturas do complexo da caverna da central. Nas Figuras 3 e 4 apresentam-se duas perspetivas dessas
obras subterrâneas, bem como a localização dos ensaios executados.

Relativamente aos ensaios com almofadas planas de pequena área SFJ, foram definidos dois conjuntos de
quatro ensaios, em cada litologia, em hasteais sensivelmente perpendiculares entre si. Os locais de
ensaio selecionados em micaxisto, identificados nas Figuras 3 e 4, foram: um no hasteal esquerdo do
túnel de acesso à central (TAC) e outro no hasteal direito da galeria de acesso ao túnel de aspiração
(GATA). Durante os ensaios realizados na GATA obtiveram-se valores muito baixos das tensões em todos
os rasgos, incompatíveis com os valores expectáveis. Por essa razão, foi decidido realizar ensaios
adicionais num hasteal com aproximadamente a mesma orientação e a mesma litologia. O único local que

823
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

reunia estas condições situava-se na galeria de acesso à calota da central (GACC), mas o espaço
disponível para os ensaios era muito limitado e só foi possível materializar três rasgos.

Em relação aos ensaios SFJ nos granitos foram escolhidos os seguintes locais (Figuras 3 e 4): um no
hasteal direito da galeria de ensaios da central (GEC) e outro no hasteal esquerdo do túnel de acesso à
conduta forçada (TACF). Neste local, por limitações do espaço disponível, só foi possível materializar três
rasgos.

GACC
GEC

12,24 m
13,10 m
SFJ GEC

STT GACC
4 rasgos 30,59 m
SFJ GATA 31,55 m
4 rasgos
12,09 m 46,25 m
TAC GATA
28,38 m
STT TAC

30,35 m
31,31 m

61,48 m
63,93 m

Figura 3 – Perspetiva, a partir de Oeste, das escavações à data dos ensaios, com a localização dos ensaios SFJ e STT

GACC
SFJ GACC
3 rasgos
STT GACC

GEC

STT TAC
SFJ TAC TAC
4 rasgos
SFJ TACF
3 rasgos TACF

Figura 4 – Perspetiva, a partir de Este, das escavações à data dos ensaios, com a localização dos ensaios SFJ e STT

Face às tensões expectáveis em função da profundidade a que os ensaios foram executados, observou-se
que os resultados obtidos para as tensões de cancelamento eram muito reduzidos nos quatro rasgos
executados na GATA, como se referiu anteriormente, assim como em alguns ensaios na GACC e no TACF.
Assim, para a análise global do estado de tensão no maciço estes valores foram desprezados.

Relativamente aos valores dos módulos de deformabilidade, obtiveram-se médias harmónicas de


18,2 GPa para os micaxistos e de 17,2 GPa para os granitos, desprezando os valores inferiores a 10 GPa.
Atendendo ao conhecimento das características mecânicas das duas formações, obtido dos ensaios de
laboratório efetuados durante o programa de caracterização geológico-geotécnica, seria expectável obter
valores de módulos de deformabilidade bastante mais elevados nos ensaios em granitos do que nos
ensaios em micaxistos, mas tal não se verificou. Para tal contribuiu, certamente, a grande diferença
existente entre o comportamento in situ do maciço rochoso anisotrópico composto por micaxistos, sob
um confinamento elevado, e o comportamento obtido em ensaios laboratoriais de amostras
descomprimidas retiradas de furos de sondagem.

A experiência tem mostrado que valores reduzidos das tensões e dos módulos de deformabilidade no
mesmo rasgo estão frequentemente associados a variações locais da qualidade do maciço, devidas à
ocorrência de zonas mais fraturadas ou de zonas com diferentes graus de alteração. No caso presente, a
existência de zonas descomprimidas, associadas ao efeito da escavação e a maior fraturação, tiveram
uma influência importante nos resultados. Acresce ainda o facto de os locais de ensaio se situarem
relativamente próximos da zona de contacto das duas formações, o que pode condicionar o estado de
tensão na zona envolvente.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

No que se refere aos ensaios com defórmetro tridimensional STT, foram selecionados dois locais para a
realização de furos de sondagem verticais e descendentes, de tal forma que um interessasse apenas
micaxistos e o outro apenas granitos. Assim, realizou-se um furo no TAC, para a realização de ensaios em
micaxistos, e outro na GACC, para a realização de ensaios em granitos (Figuras 3 e 4). Em cada furo
estava prevista a realização de seis ensaios, entre 10 m e 65 m de profundidade. No furo do TAC foi
intersetado o contacto entre os micaxistos e os granitos, o que não estava previsto, pelo que foram
realizados apenas quatro ensaios em micaxistos e dois em granitos. No furo da GACC foram realizados
apenas cinco ensaios, todos em granitos, não tendo sido possível executar o sexto por problemas
surgidos com o equipamento de furação.

Para a determinação das constantes elásticas (E e ν) foram realizados ensaios biaxiais nos próprios
tarolos contendo os aparelhos STT. Os valores do módulo de deformabilidade e do coeficiente de Poisson
foram calculados a partir das relações entre as pressões aplicadas e as deformações nos extensómetros
do STT, medidas durante a primeira descarga e a segunda carga.

Da análise das tensões calculadas com estas constantes elásticas verifica-se que alguns valores não se
enquadram na gama expectável para as tensões, tendo em conta as profundidades a que foram
realizados os ensaios, pelo que não foram considerados na análise global do estado de tensão. Tal poderá
dever-se à proximidade entre os locais de ensaio e a zona de contacto entre os micaxistos e os granitos,
ou mesmo a anomalias do ensaio.

4- METODOLOGIA DE ANÁLISE GLOBAL DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS

Com o objetivo de estimar o estado de tensão inicial no maciço rochoso na zona da caverna da central a
partir dos resultados dos ensaios SFJ e STT, foi implementada uma metodologia que permite integrar os
resultados de todos os ensaios realizados nos diferentes locais, com recurso a um modelo numérico
tridimensional desenvolvido para o efeito, que inclui a geometria das escavações subterrâneas existentes,
a topografia do terreno e as duas litologias identificadas.

Esta metodologia tem vindo a ser aplicada pelo LNEC em trabalhos recentes (Lamas et al., 2017; Espada
e Lamas, 2014), nomeadamente para as obras dos reforços de potência de Bemposta, Picote e
Salamonde, e adota a hipótese de meio contínuo equivalente, ou seja, admite que as falhas existentes à
escala das escavações não condicionam de forma significativa o campo de tensões. Em face dos
elementos disponíveis nos estudos geológicos e geotécnicos (Iberdrola, 2011), esta hipótese foi
considerada válida no caso presente. É de referir que a mesma hipótese foi também adotada pelo
projetista nos cálculos preliminares das estruturas subterrâneas (Itasca, 2013a).

A metodologia adotada implica ainda o estabelecimento de algumas hipóteses relativamente às direções


principais das tensões e à variação dos valores das tensões. É comum considerar que as tensões verticais
e horizontais aumentam linearmente com a profundidade, pois estas tensões são, em larga medida,
devidas ao peso dos terrenos sobrejacentes.

No caso presente, atendendo à natureza tridimensional da análise e à influência da topografia,


considerou-se que o estado de tensão no maciço rochoso, antes das escavações, é dado por uma
combinação linear dos estados de tensão resultantes dos seguintes quatro carregamentos:

 imposição de uma tensão normal inicial no volume, vertical (segundo o eixo Z), de valor
proporcional ao peso dos terrenos sobrejacentes (σ0zz =kzz γ h);

 imposição de tensões normais iniciais no volume, no plano horizontal (segundo os eixos X e Y),
de valor proporcional ao peso dos terrenos sobrejacentes (σ0xx =kxx γ h) e (σ0yy =kyy γ h).

 imposição de uma tensão tangencial inicial, no plano horizontal, no volume, de valor proporcional
ao peso dos terrenos sobrejacentes (σ0xy =kxy γ h).

Cada carregamento é aplicado separadamente no modelo numérico, sendo necessário considerar


diferentes condições de fronteira para as tensões normais e para a tensão tangencial no plano horizontal.
Em seguida, para cada carregamento, é efetuada a simulação da escavação das obras subterrâneas
concluídas até à data da realização dos ensaios SFJ e STT, por forma a obter as componentes do tensor
das tensões em cada um dos locais de ensaio.

Com base nos valores assim calculados e nos valores das tensões obtidos nos ensaios SFJ e STT, é
possível construir um sistema de equações muito redundante e, utilizando o método dos mínimos
quadrados, obter os valores dos quatro parâmetros kxx, kyy, kzz e kxy.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

5- MODELO NUMÉRICO TRIDIMENSIONAL

Foi então desenvolvido um modelo numérico tridimensional, utilizando o programa de diferenças finitas
FLAC3D (Itasca, 2013b), para aplicação da metodologia descrita anteriormente. No modelo foram
representadas as obras subterrâneas executadas até à data da realização dos ensaios SFJ e STT na
proximidade da futura caverna da central, que se apresentam nas Figuras 3 e 4. Estas obras
subterrâneas situam-se a profundidades entre 200 m e 350 m. Relativamente ao TAC, foi apenas
representada parte deste túnel, tendo em conta a localização dos ensaios efetuados. Foi também
considerada a topografia do terreno, que apresenta declives consideráveis. Na Figura 5 apresentam-se
duas perspetivas do modelo numérico, que apresenta 117.425 nós e 722.542 elementos tetraédricos. Na
figura da direita pode observar-se as obras subterrâneas inseridas no modelo.

Cota 532,0 m Cota


532,0 m

Cota
415,2 m Cota
350,9 m Cota
Cota 415,2 m
330,1 m
Cota
330,1 m

Cota Cota da
350,9 m base -20 m

700 m
570 m

Figura 5 – Perspetivas do modelo numérico tridimensional do FLAC3D

A definição da superfície de contacto entre os micaxistos e os granitos foi feita com base na análise
conjunta da informação proveniente dos furos de sondagem e do mapeamento que foi sendo realizado
nos túneis e galerias de acesso e reconhecimento, que se apresenta na Figura 6 a). Nesta figura está
representado o sistema de eixos coordenados 0XY do modelo, sendo que o eixo Z é vertical e positivo no
sentido ascendente.

O modelo tridimensional interpretativo desta superfície, obtido por interpolação a partir dos
mapeamentos dos contactos nos túneis e galerias de acesso e exploração, foi já apresentado na Figura 2.
Para simular a superfície de contacto no modelo numérico, necessariamente de uma forma simplificada,
foram definidos quatro planos que se ajustam razoavelmente às zonas cartografadas. Na definição destes
planos teve-se em especial atenção que a localização da superfície de contacto na vizinhança das zonas
de ensaio fosse a mais aproximada possível (Figura 6 b)). Estes planos foram introduzidos no modelo
numérico e foram prolongados até aos limites do modelo. A zona acima da superfície de contacto assim
definida é constituída por micaxistos e a zona abaixo dela por granitos.

Micaxistos Micaxistos
Granitos Granitos

Y
GATA

X
GEC

b)

GACC TACF
a)

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Figura 6 – a) Levantamento das zonas de contacto entre os micaxistos e os granitos (fornecido pela Iberdrola); b)
zonas do modelo constituídas por micaxistos e por granitos

6- ESTADO DE TENSÃO NO MACIÇO ROCHOSO

6.1 - Constantes elásticas do maciço

Uma vez que o maciço rochoso em análise é heterogéneo, com duas formações litológicas diferenciadas,
são importantes para os resultados a obter os valores relativos das suas constantes elásticas. No Quadro
3 apresentam-se, para as duas formações, os valores dos módulos de deformabilidade e dos coeficientes
de Poisson obtidos por diversas vias: ensaios de compressão triaxial realizados em provetes de rocha
intacta (Ei e ), bem como os valores estimados para o maciço rochoso (E m) utilizando o critério de
Hoek-Brown e a classificação GSI (Itasca, 2013a); ensaios SFJ (ESFJ); e ensaios biaxiais realizados nos
tarolos de rocha contendo os STT (ESTT e STT).
Quadro 3 – Constantes elásticas medidas e estimadas do maciço rochoso

Cálculos preliminares Hoek-Brown Ensaios SFJ Ensaios STT


Litologia
Ei (GPa)  Em (GPa) ESFJ (GPa) ESTT (GPa) STT
Micaxisto 29,0 0,25 11,8 18,2 16,9 0,25
Granito 40,4 0,24 25,5 17,2 55,1 0,23

Os valores obtidos para a rocha intacta em laboratório e em ensaios STT evidenciam a diferente
deformabilidade das amostras de micaxisto e de granito. A diferença em termos do valor do módulo de
deformabilidade foi ainda maior nos ensaios STT do que nos ensaios laboratoriais.

Os valores de Em estimados para o maciço correspondem a uma relação superior a dois entre os valores
obtidos para os granitos e para os micaxistos. No entanto, os valores de E SFJ medidos na obra não
evidenciam esse elevado contraste de deformabilidade entre as duas formações. De facto, os micaxistos
apresentam-se muito mais competentes in situ do que os valores dos ensaios laboratoriais fariam prever.
Isto deve-se à natureza anisotrópica da rocha, com planos de fraqueza segundo a xistosidade, que fazem
com que os tarolos, uma vez descomprimidos depois de retirados do maciço rochoso, exibam um
comportamento muito diferenciado do que exibem in situ, onde o maciço rochoso se encontra confinado,
com um estado de tensão elevado.

Por outro lado, o maciço granítico, na zona onde se realizaram os ensaios SFJ, muito perto do contacto,
apresentava muitas intercalações de pegmatitos e de aplitos, que poderão justificar os valores
relativamente baixos obtidos para os seus módulos de deformabilidade. Tendo em conta estes resultados,
decidiu-se então considerar duas situações, designadas por homogénea e heterogénea.

Na situação designada por homogénea, adotou-se um módulo de deformabilidade de 25 GPa tanto para
os micaxistos como para os granitos, o que de certa forma traduz o que se verificou nos ensaios SFJ. Na
situação designada por heterogénea, foi adotado o mesmo módulo de deformabilidade para os granitos,
mas considerou-se metade deste valor para os micaxistos, ou seja 12,5 GPa. Relativamente ao
coeficiente de Poisson adotou-se, em ambas as situações, o valor de 0,24.

6.2 - Cálculos efetuados

Tendo em conta as duas situações a analisar, homogénea e heterogénea, decidiu-se realizar os quatro
cálculos seguintes:

A. situação homogénea, considerando os resultados de todos os ensaios;

B. situação heterogénea, considerando os resultados de todos os ensaios;

C. situação heterogénea, considerando apenas os resultados dos ensaios realizados nos micaxistos;

D. situação heterogénea, considerando apenas os resultados dos ensaios realizados nos granitos.

O cálculo A foi executado com o objetivo de constituir uma situação de referência, que não considera a
existência de um contraste de deformabilidade entre as duas litologias. O cálculo B foi executado com o
objetivo de verificar até que ponto a proximidade dos locais de ensaio da superfície de contacto, e
portanto de uma zona com uma variação brusca da deformabilidade do maciço, poderia influenciar os
valores obtidos para o campo de tensões. Os cálculos C e D foram executados com o objetivo de verificar
se as tensões obtidas nos micaxistos e nos granitos apresentam diferenças significativas. O cálculo C
considerou apenas os resultados dos ensaios realizados nos micaxistos, pelo que os seus resultados
representam aproximadamente o estado de tensão nos micaxistos. O cálculo D é análogo ao C, mas para
os granitos, pelo que os seus resultados representam aproximadamente o estado de tensão nos granitos.

827
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Estes cálculos foram efetuados assumindo que a tensão vertical inicial é uma tensão principal e tem o
valor correspondente ao peso dos terrenos sobrejacentes, ou seja o parâmetro kzz assume um valor
unitário. Esta hipótese é habitualmente adotada em modelos para estimação do estado de tensão inicial.

6.3 - Resultados obtidos e sua análise

Os valores dos parâmetros k obtidos nos quatro cálculos efetuados, admitindo k zz = 1, são apresentados
no Quadro 4. Estes parâmetros são representativos do estado de tensão no maciço rochoso, com exceção
da zona superficial, onde o efeito da topografia é muito relevante. Em profundidade, são
aproximadamente iguais às tensões correspondentes, adimensionalizadas pela tensão vertical. Podem,
por isso, ser usados para analisar o estado de tensão inicial, previamente às escavações, na zona do
complexo de cavernas da central.
Quadro 4 – Resultados obtidos para as situações homogénea e heterogénea, admitindo k zz = 1

Situação homogénea Situação heterogénea


k A - Micaxisto B – Micaxisto
C – Micaxisto D - Granito
+ Granito + Granito
kxx 0,68 0,70 0,58 0,77
kyy 1,21 1,20 1,22 1,18
kxy 0,10 0,10 0,16 0,05

Constata-se que os valores obtidos nos cálculos A e B são muito semelhantes, o que confirma a justeza
da opção tomada aquando da escolha dos locais de ensaio, que consistiu em evitar que se localizassem
na vizinhança imediata da superfície de contacto, para que a diferente deformabilidade das duas litologias
não afetasse os resultados individuais de cada ensaio. As tensões horizontais iniciais σ xx calculadas são
cerca de 30% inferiores às tensões verticais iniciais σzz, enquanto as tensões horizontais iniciais σyy
calculadas são cerca de 20% superiores a σzz. As tensões tangenciais horizontais iniciais σxy são cerca de
10% de σzz.

Comparando os resultados obtidos no cálculo C, que considera apenas os ensaios realizados nos
micaxistos, com os obtidos nos cálculos A e B, obtiveram-se menores valores de σxx, de 58% de σzz;
valores semelhantes de σyy, cerca de 22% superiores a σzz, e valores de σxy de 16% de σzz. Finalmente,
comparando os resultados do cálculo D, que considera apenas os ensaios realizados nos granitos, com os
dos cálculos A e B, obtiveram-se maiores valores de σxx, de 77% de σzz, valores semelhantes de σyy,
cerca de 18% superiores a σzz, e valores de σxy de 5% de σzz. Por forma a avaliar os valores, máximo e
mínimo, das tensões horizontais iniciais, calcularam-se os parâmetros k correspondentes às tensões e
direções principais. Estes valores, bem como as suas orientações (azimute e pendor), são apresentados
no Quadro 5, para os mesmos cálculos.

Obtiveram-se, para os cálculos A e B, que consideram os resultados de todos os ensaios, valores


máximos e mínimos das tensões normais horizontais iniciais de cerca de 123% e 67% das tensões
verticais iniciais. No cálculo C, apenas com os ensaios nos micaxistos, regista-se o maior contraste entre
as tensões principais horizontais iniciais, máxima e mínima, de 126% e 54% das tensões verticais iniciais,
respetivamente. No cálculo D, apenas com os ensaios nos granitos, esse contraste é menor, sendo as
tensões principais horizontais iniciais, máxima e mínima, de 119% e 77% das tensões verticais iniciais,
respetivamente. Constata-se que não há uma variação significativa nas direções das tensões principais
obtidas nos diferentes cálculos. As tensões principais horizontais iniciais, máxima e mínima, têm
azimutes entre 45º e 49º e entre 135º e 139º, respetivamente.

Quadro 5 – Resultados obtidos correspondentes às tensões e direções principais para as situações homogénea e
heterogénea, admitindo kzz = 1

Situação homogénea Situação heterogénea


Tensão A - Micaxisto B - Micaxisto
C - Micaxisto D - Granito
principal + Granito + Granito
k Orientação k Orientação k Orientação k Orientação
V 1,00 vertical 1,00 vertical 1,00 vertical 1,00 vertical
Hmax 1,23 45º/0º 1,22 46º/0º 1,26 49º/0º 1,19 42º/0º
Hmin 0,66 135º/0º 0,68 136º/0º 0,54 139º/0º 0,77 132º/0º

Foram realizados cálculos adicionais, idênticos aos anteriores, mas não assumindo a hipótese de k zz = 1.
Verificou-se que há uma pequena diminuição dos valores calculados para a tensão vertical, entre 10% e
15%, mas que as tensões horizontais são muito semelhantes, quer em valor, quer em orientação das
tensões principais. Estes cálculos adicionais permitiram concluir que, no caso presente, a hipótese
assumida de kzz = 1 não afeta significativamente os resultados obtidos e, consequentemente, não é

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

condicionante das conclusões apresentadas. Permitiram ainda concluir que, com base nos valores
medidos e na análise efetuada, se chegou a um valor da tensão vertical inicial próximo do peso dos
terrenos sobrejacentes, o que é uma confirmação da representatividade dos resultados obtidos.

O campo de tensões iniciais no maciço rochoso, previamente a qualquer escavação, foi então obtido por
aplicação da metodologia descrita, utilizando os respetivos parâmetros k apresentados no Quadro 4. Na
Figura 7 apresentam-se, para o cálculo B (situação heterogénea, considerando os resultados de todos os
ensaios), as tensões principais iniciais, antes das escavações, na zona do complexo de cavernas da
central, segundo um plano horizontal e outro vertical. As estruturas subterrâneas estão representadas
nesta figura apenas como referência geométrica. Representam-se, em cada ponto, as três tensões
principais em perspetiva. Nesta figura é adotada a convenção de tensões de compressão negativas do
programa FLAC3D, pelo que as tensões indicadas como mínimas correspondem às máximas compressões,
e vice-versa.

Figuera 7 – Tensões principais iniciais considerando todos os ensaios (cálculo B): a) corte horizontal a meia altura da
caverna da central; b) corte vertical normal ao eixo longitudinal da central

Na Figura 8 apresenta-se uma projeção estereográfica, no hemisfério inferior, das direções principais das
tensões, com os valores das respetivas tensões principais iniciais, em dois pontos situados próximos da
superfície de contacto, um em micaxisto (cota 233,0 m) e outro em granito (cota 170,6 m), para o
cálculo B (com todos os ensaios), cálculo C (ensaios em micaxisto) e para o cálculo D (ensaios em
granito).

829
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

N
Cota (m ) Calc. B Calc. C Calc. D
10 Eixo longitudinal
Powerhouse
da caverna da
233,0 longitudinal
central axis
- - -
(m icaxisto)
-9.16
170,6 -9.42
- - -
(granito)
-7.92 -8.18
5 σI

-7.37
0 W σII -8.62 E
-7.36
-8.62

-5 σIII
-5.54
-4.23
-4.94
-3.38
Elevation 233.0 m (mica schist)

Elevation 170.6 m (granite)


-10
Rio Tâm ega
Tâmega river S
Figura 8 – -15
Projeção estereográfica
-10 do hemisfério
-5 inferior 0com as tensões5 principais (em
10 MPa) nos cálculos
15 B, C e D

Constata-se que não há variação significativa das direções principais obtidas para os cálculos que
consideram todos os ensaios e para os cálculos que consideram separadamente os ensaios nos micaxistos
e nos granitos. As tensões principais máxima e mínima são subhorizontais e aproximadamente paralela e
normal ao rio Tâmega, respetivamente. A tensão principal intermédia é subvertical. Na Figura 9
representam-se, para diversas cotas ao longo de um eixo vertical na zona média da central, as relações
entre as tensões principais iniciais e a tensão vertical inicial para os cálculos B, C e D. Neste gráfico está
representada a superfície de contacto entre os micaxistos e os granitos assim como a zona da caverna da
central. A superfície do terreno encontra-se aproximadamente à cota 500 m.

Verifica-se que as tensões (normalizadas pela tensão vertical) variam com a cota, mas mais
pronunciadamente nas zonas superficiais. É interessante visualizar a diferença entre os perfis obtidos nos
cálculos B, C e D. Verifica-se um aumento significativo das tensões principais mínimas dos micaxistos
para os granitos, e um efeito oposto, mas não tão pronunciado, nas tensões principais máximas.
500
σIII/σzz σII/σzz σI/σzz
450
C
400
C B
350
B B C
300
Cota (m)
Elevation (m)

250

200

150

100
Sup. desurface
contact contacto D D D
50

-50
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25
σI /σzz , σII /σzz e σIII /σzz

Figura 9 – Relação entre as tensões principais com a tensão vertical ao longo do eixo vertical da caverna da central
para os cálculos B, C e D (os marcadores representam os pontos na Figura 8)

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo de estimar o campo de tensões inicial na zona de interesse para as obras subterrâneas do
complexo de cavernas da central, foi realizada uma campanha de ensaios, que recorreu a ensaios SFJ e
STT, e aplicada uma metodologia de integração de todas as medições de tensão efetuadas, mediante a
utilização de um modelo numérico que considera a topografia do terreno e a litologia do maciço rochoso.
Estes resultados foram posteriormente utilizados no projeto, para o dimensionamento dos suportes e
para o acompanhamento das escavações das obras subterrâneas.

Dos resultados obtidos foi possível concluir que não existe uma variação significativa nas direções das
tensões principais nos diferentes cálculos. As tensões principais máxima e mínima são aproximadamente
subhorizontais, respetivamente paralela e normal ao eixo longitudinal da central e ao rio Tâmega. A
tensão principal intermédia é subvertical e corresponde ao peso dos terrenos sobrejacentes.

Na análise efetuada considerando os resultados de todos os ensaios realizados nas duas litologias,
obtiveram-se valores máximos e mínimos das tensões normais iniciais subhorizontais de cerca de 123% e
67% das tensões iniciais subverticais. Nos cálculos efetuados apenas com os resultados dos ensaios nos
granitos, estes valores foram de 119% e 77%, respetivamente, e nos cálculos apenas com os resultados
dos ensaios nos micaxistos, foram de 126% e 54%, respetivamente. Neste último caso obteve-se o maior
contraste entre as tensões principais subhorizontais.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à Iberdrola a permissão para publicar a informação relativa ao aproveitamento hidroelétrico


de Gouvães.

REFERÊNCIAS

Espada, M, Lamas, L. (2014) - Modelo tridimensional do estado de tensão in situ num maciço rochoso. 14o Congresso
Nacional de Geotecnia, Covilhã. Sociedade Portuguesa de Geotecnia.

Iberdrola (2011) - Aproveitamento hidroelectrico de Gouvães, Projecto, Memória Geral, Anexo 2 – Estudo Geológico e
Geotécnico, Tomo 1 – Memória. Iberdrola.

Itasca (2013a) - Modelización numérica del proceso constructivo de la caverna del A.H. de Gouvaes para los nuevos
condicionantes de cálculo. Itasca Consultores S.L., Astúrias, Espanha.

Itasca (2013b) - FLAC3D - Fast Lagrangian Analysis of Continua in 3 Dimensions. Version 5.01, User's Manual, Itasca
Consulting Group, Minneapolis, USA.

Lamas, L., Espada, M., Figueiredo, B. e Muralha, J. (2017) - Stress measurements for underground powerhouses –
three recent cases. Keynote lecture, proceedings of the ISRM International Symposium AfriRock 2017 “Rock
Mechanics for Africa”, Joughin, W. (ed.), Cape Town. SAIMM, Symposium Series S93, pp. 403-425.

LNEC (2016) - Obras subterrâneas da central de Gouvães. Determinação do estado de tensão inicial. Relatório
277/2016 - DBB/NMMR, LNEC.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ENSAIO DE CARGA ESTÁTICO À COMPRESSÃO EM ESTACA PRELIMINAR NA


CUF TEJO, EM LISBOA

PRELIMINARY COMPRESSION STATIC PILE LOAD TEST AT CUF TEJO, IN


LISBOA

Pina, João; Teixeira Duarte, Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, jsp@teixeiraduarte.pt
Reis, Sandra; Teixeira Duarte, Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, smr@teixeiraduarte.pt
Gonçalves, Nuno; Teixeira Duarte, Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, ncg@teixeiraduarte.pt
Xavier, Baldomiro; Teixeira Duarte, Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, bx@teixeiraduarte.pt

RESUMO

No âmbito da empreitada de fundações do Hospital da CUF Tejo, com vista a validar os pressupostos de
cálculo, confirmar os parâmetros do projeto e aferir a adequabilidade dos processos construtivos
implementados, foi realizado um ensaio de carga estático à compressão numa estaca preliminar. O ensaio
foi executado numa estaca com 600 mm de diâmetro e 24 m de comprimento, 1,5 m dos quais de selagem
na formação do Complexo Vulcânico de Lisboa, que foi moldada no terreno e submetida a injeção de calda
de cimento na ponta. A carga de ensaio, no valor de 2500 kN foi atingida com macaco hidráulico a reagir
contra uma estrutura de reação formada por uma estrutura metálica suportada por quatro ancoragens
seladas no terreno. O comportamento da estaca durante o ensaio foi aferido por intermédio do registo da
carga e do deslocamento do maciço de encabeçamento da estaca e por registo da variação da extensão ao
longo do fuste da estaca. Pretende-se assim com este artigo apresentar os resultados obtidos no ensaio
bem como descrever algumas particularidades relativas ao uso de extensómetros posicionados nas
armaduras ao longo do fuste das estacas, tanto no que se refere às dificuldades de instalação e montagem
como também de calibração, leitura e interpretação.

ABSTRACT

In the context of the construction of the foundations of CUF Tejo Hospital, in order to validate the calculation
assumptions, to confirm the project parameters and to verify the adequacy of the implemented construction
methodologies, a compression static load test was carried out on an investigation pile. The test was fulfilled
in a bored pile with 600 mm diameter and 24 m length, 1,5 m of them in the formation of the Complexo
Vulcânico de Lisboa, and subjected to the injection of cement grout at the toe. The load test of 2500 kN
was achieved with an hydraulic jack reacting against a reaction structure formed by a metal structure
supported by four grouted anchors. The behaviour of the pile during the test was assessed by recording
the load and displacement of the pile cap and by recording the variation of the extension along the pile
shaft. The aim of this paper is to present the results obtained in the test as well as to describe some
singularities relating to the use of extensometers positioned in the reinforcements along the pile shaft,
namely the difficulties of installation and assembly as well as of calibration, reading and interpretation.

1- INTRODUÇÃO

O novo hospital CUF Tejo, com uma área de implantação de aproximadamente um hectare e com um piso
térreo, cinco pisos elevados e quatro caves, localiza-se em Alcântara, no quarteirão limitado a Sul pela
Avenida da Índia, a Norte pela Avenida 24 de Julho e a Oeste pela Rua de Cascais (Figura 1).

No final de 2016, após consulta por convite, a IMO HEALTH - Investimentos Imobiliários, Lda adjudicou à
Teixeira Duarte, Engenharia e Construções, SA a empreitada de construção das suas caves e fundações.
No âmbito desta empreitada, particularmente com vista a validar os pressupostos de cálculo, confirmar os
parâmetros do projeto e aferir a adequabilidade dos processos construtivos implementados, a A2P Consult,
Estudos e Projectos Lda especificou, na qualidade de projetista das fundações, a realização de um ensaio
de carga estático à compressão numa estaca preliminar. É sobre esse ensaio que incidirá o presente artigo.

2- GENERALIDADES

O ensaio decorreu entre as 05:30 do dia 28 de Janeiro de 2017 e as 01:00 do dia 29 de Janeiro de 2017 e
seguiu o definido no procedimento de ensaio que foi elaborado por forma a responder às cláusulas
apresentadas no caderno de encargos fornecido pelo Cliente e que, onde e quando aplicável, foi
complementado com o apresentado em normas internacionais, nomeadamente a prEN ISO 22477-1:2014.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Estaca de ensaio

Sondagem

Figura 1 – Planta de localização do novo hospital CUF Tejo com indicação do local da estaca de ensaio e da sondagem
mais próxima

3- CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

A caracterização das formações geológicas foi realizada tendo como base o relatório geotécnico do
programa de concurso, composto por 9 sondagens, que foi posteriormente complementado com uma
campanha de reconhecimento geotécnico realizada pela Teixeira Duarte, Engenharia e Construções, SA e
composta por 10 furos de sondagens adicionais à rotação com execução de ensaios de penetração dinâmica
com uma sonda normalizada (SPT), com intervalos de cerca de 1,50 m. Destas campanhas destacou-se a
presença de duas formações, uma Atual a Recente do Quaternário, subjacente à qual ocorrem as formações
do “Complexo Vulcânico de Lisboa” (CVL) do Neocretácico (Quadro 1).

Na sondagem mais próxima do local de ensaio as formações atuais a recentes apresentam-se com uma
possança de cerca 22.5 m, conforme representado no perfil de sondagem apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Perfil da sondagem realizada na proximidade do local de ensaio (terreno à cota 3.59)

No local foi ainda identificada a presença de nível freático permanente, condicionado pelo nível das marés.

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Quadro 1- Complexos Lito-geotécnicos


Complexo Descrição
Atual a C1 Aterros heterogéneos sob pavimentos variados, com pedras, fragmentos de cerâmica e de argamassa.
Recente C2A Aluvião constituída por siltes e lodos siltosos e areias siltosas e lodosas, cinzento-escuros, por vezes
com areão, seixos rolados e fragmentos de conchas, que se apresentam muito soltos a soltos (SPT ~
0 a 9).
C2B Aluvião constituída essencialmente por areias finas a médias, acastanhadas e acinzentadas claras,
com areão, seixos e fragmentos de conchas, com passagens, na base, de areão argiloso, seixos e
fragmentos de conchas acinzentado e acastanhado escuro, que se apresentam regra geral
medianamente compactos (em regra SPT ~ 11 a 30, com um valor inferior e alguns valores
superiores).
Complexo C3A Tufos vulcânicos compactos e tufos vulcânicos brechoides, avermelhados e castanho-avermelhados,
Vulcânico por vezes muito friáveis no topo, com fraturas muito próximas (F5) a medianamente afastadas (F3)
de Lisboa com algumas passagens afastadas (F2), com fraturas por vezes com vestígios de oxidação e
preenchimento de calcite e paligorsquite.
C3B Basaltos e basaltos vacuolares cinzentos-escuros a anegrados e acastanhados, regra geral
decompostos (W5) a muito alterados (W4), com fraturas próximas (F4-5), com vestígios de oxidação
e fraturas predominantemente preenchidas por calcite e paligorsquite.
C3C Basaltos e basaltos vacuolares cinzentos-escuros a anegrados e acastanhados, em regra
medianamente alterados (W3) por vezes pouco alterados (W2), com fraturas regra geral próximas
(F4-5) com passagens medianamente afastadas (F3), com vestígios de oxidação e fraturas por vezes
preenchidas por calcite e paligorsquite.

4- ESTACA DE ENSAIO

O ensaio foi realizado em estaca de preliminar de 600 mm de diâmetro com 23,50 m de comprimento,
executada propositadamente para o efeito mas com a mesma tecnologia de execução das estacas de
serviço. Trata-se de uma estaca de betão armado da classe C40/50 com armadura longitudinal 820 e uma
cinta helicoidal 1015 da Classe A500NR que foi moldada no terreno com recurso trado simples e balde,
com a aplicação de bentonite como fluido estabilizador e em que se procedeu, também à imagem do
previsto para as restantes estacas da estrutura, à injeção do pé da estaca com calda de cimento, por
intermédio de três tubos metálicos 88,9x3 mm St37 instalados em simultâneo com a armadura. No topo
da estaca, após saneamento, foi executado um maciço de encabeçamento em betão armado com 1,0 m de
altura, 1,2 m de largura e 1,0 m de profundidade, em betão da classe C30/37 e aço da classe A500 NR.
Apresentam-se na Figura 2 um pormenor da estaca de ensaio e do respetivo maciço de encabeçamento.

Figura 2 – Pormenor da estaca de ensaio e respetivo maciço de encabeçamento

834
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5- CARGA DE ENSAIO

O ensaio foi realizado a uma carga máxima de 2500 kN, ou seja cerca 8.85 MPa, correspondente a duas
vezes a carga de serviço.

6- SISTEMA DE ENSAIO

6.1 - Generalidades

Para a realização do ensaio foi instalado um sistema formado por uma estrutura de reação, um sistema de
aplicação de carga, uma estrutura de referência e por dispositivos de medição (Figura 3). Segue-se a breve
descrição de cada um dos elementos.

Figura 3 – Sistema de ensaio com representação da estrutura de ensaio, sistema de aplicação de carga e estrutura de
referência

6.2 - Estrutura de reação

A estrutura de reação foi dimensionada por forma a cumprir os seguintes requisitos: i) resistir a pelo menos
120% da carga máxima de ensaio; ii) apresentar deslocamentos compatíveis com o sistema de aplicação
de carga; iii) não induzir deformações no solo que pudessem modificar o comportamento da estaca de
ensaio; e iv) permitir o acesso à estaca de forma a possibilitar a colocação e leitura dos dispositivos de
medição. Com esse objetivo foi utilizada uma estrutura metálica circular com 1,5 m de diâmetro e cerca
de 0,4 m de altura, que foi suportada por quatro ancoragens de 5 cordões de 0,62’’ cada, com cerca de
36,5 m de comprimento total (3,5 m livres exteriores, 24,0 m livres interiores e 9,0 m de selagem),
instaladas em furos de 152 mm de diâmetro, com injeção do tipo seletivo repetitivo (IRS) no Complexo
Vulcânico de Lisboa.

Para apoiar a montagem da estrutura de reação foi instalada uma estrutura de suporte com 750 mm de
altura, 950 mm de largura e 950 mm de profundidade, formada por montantes e travamentos em perfil
metálico HEB180 da classe S275 que foram posicionados sobre uma chapa de distribuição de 1000 por
1200 mm de lado com 25 mm de espessura.

835
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

6.3 - Sistema de aplicação de carga

O sistema de aplicação de carga foi selecionado por forma a permitir: i) a aplicação de um esforço axial
pelo menos igual à carga máxima de ensaio, com um curso suficiente para absorver as deformações da
estaca e do sistema de reação; ii) manter um esforço axial constante ao longo da duração de cada patamar
de carga com erro inferior a ±2% do valor lido; iii) atingir o valor de carga de cada patamar em menos de
1 minuto; iv) ter precisão para medir múltiplos de 2% da carga máxima de ensaio; e v) realizar leituras
até pelo menos 120% da carga máxima de ensaio. Com esse objetivo foi utilizado como sistema de
aplicação de carga um macaco hidráulico do tipo ENERPAC CLL-60010 e respetiva central hidráulica, com
uma capacidade de 600 toneladas e com um curso máximo de 250 mm.

6.4 - Estrutura de referência

A estrutura de referência foi selecionada por forma a permitir: i) ter fundação independente e localizada
fora da zona de influência de ensaio; ii) apresentar uma distância livre entre a sua fundação e a estaca de
ensaio de 3 vezes o diâmetro da estaca de ensaio, com um mínimo de 2,5 m; iii) ser pouco sensível a
eventuais deformações parasitas, nomeadamente por variações térmicas; iv) estar protegida da ação direta
do sol. Como estrutura de referência foram instaladas duas vigas metálicas HEB180 com cerca de 6,5 m
de comprimento. Cada uma destas vigas foi apoiada, nas extremidades, num pórtico metálico igualmente
formado por perfis HEB180. A ligação da viga aos pórticos foi soldada numa extremidade e apoiada na
outra. A fundação dos pórticos foi realizada através de maciços em betão simples com 0,80 m de altura e
dimensão em planta 0,50 m por 0,50 m.

6.5 - Dispositivos de medição

6.5.1 - Dispositivos de medição dos deslocamentos da cabeça da estaca (defletómetros)

Os dispositivos de medição dos deslocamentos da cabeça da estaca foram selecionados por forma a: i)
permitir medir pelo menos 120% do deslocamento máximo previsto; ii) medir o deslocamento axial da
cabeça da estaca em pelo menos três pontos de forma que o ponto médio coincida aproximadamente com
o eixo da estaca; iii) terem um erro na medição do deslocamento inferior ao maior dos dois valores: 0,1
mm ou 2/1000 do valor lido; e iv) estarem calibrados. Nesse sentido, para a medição do deslocamento da
cabeça da estaca foram utilizados quatro defletómetros de haste telescópica, posicionados a cerca de 90º
entre si. Três dos defletómetros utilizados foram do tipo digital ABS Digimatic Indicator ID-C 543-390 com
um curso de 12,7 mm e o quarto é do tipo analógico Mitutoyo 3058 com um curso de 50 mm e uma
resolução de 0,01 mm.

6.5.2 - Dispositivos de medição da carga na cabeça da estaca (célula de carga)

Os dispositivos de medição de carga na cabeça da estaca foram selecionados por forma a: i) medir pelo
menos 120% da carga máxima de ensaio; ii) terem uma precisão de pelo menos 1% da carga máxima de
ensaio; iii) estarem centrados com o eixo da estaca; e iv) estarem calibrados. Assim, a medição da carga
na cabeça da estaca foi realizada por intermédio de uma célula de carga hidráulica do tipo SYSGEO
OL2CE030000 com uma capacidade de 3000 kN. A leitura da célula de carga foi por sua vez realizada
através de um transdutor ligado a um dispositivo de aquisição de dados do tipo SISGEO CRD 400.

6.5.3 - Dispositivos de medição da extensão da seção da estaca (extensómetros)

Os dispositivos de medição da extensão da seção da estaca foram selecionados por forma a: i) poderem
de medir pelo menos 120% da extensão máxima prevista; ii) terem uma precisão de pelo menos 1% da
extensão máxima prevista; e iii) estarem calibrados. Foram assim instalados um total de 16 extensómetros
distribuídos aos pares, em oito seções ao longo do fuste, do tipo Strain Gauges 1-XV91-3/350 (4-wire
circuit) da HBM, tendo a sua leitura sido realizada através de um leitor do tipo Portable Strain Indicator P-
3500. A distribuição dos extensómetros pode ser consultada mais à frente, na Figura 12.

6.5.4 - Dispositivos de medição de temperatura (termómetro)

O aparelho de medição da temperatura do ar foi selecionado por forma a: i) permitir registar a variação da
temperatura do ar durante todo o ensaio; ii) ter uma precisão de pelo menos 1º; e iv) estar calibrado. Foi
assim utilizado um termómetro digital.

6.5.5 - Dispositivos complementares de medição de deslocamentos (estação total)

Com vista a criar redundância aos dispositivos de medição instalados, particularmente face ao risco de
poderem ocorrer deslocamentos parasitas no sistema de referência ou anomalias nos sistemas de medição,
foi implementado um sistema complementar de medição de deslocamentos com recurso a uma estação
total localizada fora da zona de influência do ensaio, devidamente calibrada e com uma precisão nas leituras
de pelo menos 2 mm. Procedeu-se assim ao controlo topográfico dos deslocamentos: i) do maciço de

836
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

encabeçamento da estaca, em dois pontos; ii) da estrutura de reação, num ponto; e iii) das vigas de
referência, em três pontos por viga, um no vão e dois nos apoios.

7- PROGRAMA DE ENSAIO

O ensaio consistiu na realização de dois ciclos de carga, o primeiro, com cinco patamares de carga até à
carga de serviço, e o segundo, com dez patamares de carga, até à carga máxima de ensaio, conforme se
ilustra na figura seguinte.

60 min
Qser (%)

60 min
200

10 min
60 min
180

10 min
60 min
160

10 min
60 min
140

10 min
60 min

30 min
120

10 min
60 min

30 min
100
10 min

10 min
60 min

30 min
80
10 min

10 min
60 min

60 30 min
10 min

10 min
60 min

30 min

40
10 min

10 min
60 min

60 min
20
10 min

1º CICLO 2º CICLO
t (min)

Figura 4 – Programa de ensaio

Nos patamares foram realizadas leituras aos instantes 1, 5, 10, 15, 30, 45, e 60 minutos.

8- PREPARAÇÃO E MONTAGEM DO ENSAIO

8.1 - Ensaio e montagem dos extensómetros

Por forma a avaliar a integridade dos extensómetros (Figura 5a), definir a melhor forma de montagem e
de ligação ao equipamento de aquisição de dados e com vista a selecionar as características de condução
dos cabos a instalar, foram realizados, previamente à execução da estaca de ensaio, ensaios de carga e
resistividade, em laboratório.

Para a realização dos ensaios de carga aos extensómetros foi utilizada uma barra de aço de secção
quadrangular com 20 mm de largura e 1000 m de comprimento, com as extremidades roscadas. A meia
distância da barra foram colados dois extensómetros, em faces opostas, com recurso a uma cola à base de
cianoacrilato e protegidos com manga termoretráctil. A barra de ensaio foi posicionada no interior de um
tubo circular de maior diâmetro, tendo uma das suas extremidades sido roscada de encontro a esta e a
outra extremidade roscada de encontro ao macaco hidráulico (Figura 5b), a fim de ser por este tracionada.
Por sua vez, ligaram-se os cabos fornecidos com os extensómetros diretamente ao equipamento de
aquisição de dados (Figura 5c) para cada uma das seguintes situações: i) ponte completa, com quatro
medições, duas longitudinais e duas transversais; ii) meia ponte, com duas medições, uma longitudinal e
outra transversal; e iii) quarto de ponte, com apenas uma medição na direção longitudinal. Foram ainda
simulados dois cabos de prolonga, um cabo plano com quatro condutores de 1,27 mm revestidos a PVC
com 7 fios de 0,127 mm por condutor e com resistência de cerca de 9 Ohm para 30 m de comprimento e
um cabo circular com dois condutores de 1,5 mm2 de secção revestidos a borracha com 30 fios de 0,25
mm por condutor com resistência de cerca 0,4 Ohm para 21 m de comprimento. Os ensaios foram
realizados com um ciclo de carga formado por 10 patamares na carga e 10 na descarga até uma carga de
50 kN, que corresponde a tensões na ordem dos 125 MPa.

837
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

a) b) c)

Figura 5 – Ensaio aos extensómetros: a) extensómetro; b) sistema de ensaio; e c) equipamento de registo de dados

Dos ensaios de carga e de resistividade que foram realizados constatou-se que, para os cabos de prolonga,
era apenas possível manter estável o sinal com o cabo de dois condutores e de menor resistência.
Confirmou-se ainda que era viável realizar a leitura dos extensómetros em apenas um quarto de ponte, o
que tinha como benefício direto a redução do número de cabos a instalar no interior da seção de betão.

Concluídos os ensaios, deu-se início à montagem dos extensómetros. Foi inicialmente avaliada a forma e o
local de fixação dos extensómetros, particularmente se seriam colocados diretamente na armadura
longitudinal da estaca ou se seriam colocados em barras independentes que seriam adicionadas à armadura
na montagem. Por questões meramente construtivas, particularmente pela facilidade de montagem, optou-
se por colocar os extensómetros em barras independes, totalmente montados em laboratório. Deste modo,
cada extensómetro foi instalado a meia distância de uma barra de aço de secção quadrangular com 20 mm
de lado e 1000 mm de comprimento, devidamente calibrada, na extremidade da qual foram soldados varões
6 mm para aumentar a aderência ao betão e assim garantir a sua selagem (Figura 6a).

b) c)

a) d) e)

Figura 6 – Montagem dos extensómetros: a) desenho da barra de suporte do extensómetro; b) e c) barra de suporte
dos extensómetros; d) e e) conjunto após montagem do cabo de prolonga

Por sua vez procedeu-se à limpeza das superfícies, à colagem dos extensómetros às barras, ao
revestimento do extensómetro com manga termo retrátil e à fixação do troço de cabo fornecido com o

838
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

extensómetro (Figuras 6b e 6c). Por fim procedeu-se à união do cabo do extensómetro, de quatro
condutores, ao cabo de prolonga, com dois condutores, através de soldura que foi posteriormente protegida
com manga termoretrátil com resina para evitar a curtocircuitagem da instalação (Figuras 6d e 6e).

8.2 - Execução da estaca de ensaio

A fixação das barras dos extensómetros à armadura foi realizada já em estaleiro de obra, após montagem
de toda a armadura (Figura 7a). A estaca foi executada (Figura 7b) a partir de plataforma de trabalho à
cota (-0,70); furada até à cota (-25,20); betonada até à boca; saneada até à cota (-1,70); e injetada entre
a cota (-25,20) e a cota (-27,20).

Quadro 2- Perfil litológico ao longo da estaca de ensaio


Profundidade Descrição Complexo
0,00 – 4,00 Aterro Atual a Recente
4,00 – 15,00 Aluvião arenosa Atual a Recente
15,00 – 21,00 Aluvião lodosa a siltosa e argilosa Atual a Recente
Tufos vulcânicos avermelhados e Complexo Vulcânico de
21,00 – 24,50
basaltos decompostos a muito alterados Lisboa

Na furação, realizada no dia 19 de dezembro de 2016, foi identificado o perfil litológico que se apresenta
no Quadro 2. Na betonagem (Figura 7c), realizada no dia 20 de dezembro de 2016, foram registados
sobreconsumos entre 20 a 30% do volume teórico. As injeções foram realizadas no dia 16 de janeiro de
2017, tendo sido atingido, após limpeza do fundo, uma pressão de 20 bar e um volume injetado superior
a 100 kg de cimento.

a) b) c)

Figura 7 – Execução da estaca de ensaio: a) Preparação da armadura; b) Furação da estaca; e c) Betonagem

Foram ainda extraídos provetes de betão durante a betonagem, que foram ensaiados no dia anterior ao do
ensaio, tendo resultado um módulo de elasticidade de 44,2 GPa e uma resistência à compressão em cubos
de 75 MPa.

8.3 - Montagem do sistema ensaio

O ensaio foi programado de modo a garantir que seria iniciado na data e hora previstas. Nesse sentido, a
montagem do sistema de referência, do sistema de aplicação de carga e do sistema de reação foi concluída
no dia anterior ao ensaio. Visto que a montagem do sistema de reação implicava a cravação das cunhas
das ancoragens e, como tal, a transferência, mesmo que residual, de carga de compressão à estaca, foi
tomada a decisão de realizar, antes da cravação das cunhas, a leitura de referência (“zeragem”) dos alvos
topográfico e dos extensómetros.

Nesta leitura de referência verificou-se que, dos dezasseis extensómetros instalados, apenas foi possível
registar sinal nos seguintes cinco extensómetros: Ext 2A; Ext 5A; Ext 6B; Ext 7B e Ext 8B. Constatou-se
ainda que, embora fosse possível registar sinal, os extensómetros Ext 2A, Ext 5A e Ext 8B apresentavam
oscilações significativas do valor de extensão. Não obstante, foi efetuada leitura de referência nestes cinco
extensómetros e de seguida cravadas as cunhas nas ancoragens de reação. A localização dos
extensómetros poderá ser consultada mais à frente, na Figura 12.

Na Figura 8 é apresentada uma fotografia tirada ao sistema de ensaio no dia de ensaio, já com a estaca
parcialmente em carga.

839
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 8 – Sistema de ensaio com representação da estrutura de ensaio, do sistema de aplicação de carga e da
estrutura de referência

9- DESCRIÇÃO DO ENSAIO

9.1 - Particularidades do ensaio

O ensaio teve início no dia previsto, imediatamente após concluir a montagem dos defletómetros. Com a
aplicação de carga para o primeiro patamar verificou-se que a estrutura de reação descolava da estrutura
de apoio aproximadamente aos 150 kN, valor próximo do que tinha sido aplicado na véspera aquando da
cravação das cunhas das ancoragens.

No decurso do primeiro ciclo de carga, constatou-se que a leitura de referência realizada na véspera aos
extensómetros não era consistente e que os resultados obtidos eram muitos erráticos, não tendo sido
possível correlacioná-los de forma rigorosa com o nível de carga efetivamente transmitido à estaca. A causa
destes resultados foi posteriormente relacionada com vibrações induzidas pelas atividades que estavam a
decorrer em simultâneo na obra mas que não eram identificadas pelos defletómetros, que se mostravam
estáveis. Verificou-se também no primeiro ciclo de carga que durante a aplicação da carga, a chapa metálica
de distribuição fletiu e empolou ligeiramente nos cantos, o que resultou na compressão de dois dos quatro
defletómetros. No final do primeiro ciclo de carga foi tomada a decisão de fazer nova leitura de referência.

O segundo ciclo de carga foi realizado, na sua maioria, com a restante obra parada. Este ciclo decorreu
normalmente. Dada a dificuldade em fazer pequenos acertos de carga, foi tomada a decisão de não realizar
acertos de carga nos patamares de carga e apenas registar a variação dos deslocamentos nos defletómetros
e a variação da carga na célula de carga e posteriormente converter a variação de carga em variação de
deslocamento.

9.2 - Resultados do ensaio

9.2.1 - Generalidades

Para o traçado das curvas: i) carga versus deslocamento da cabeça da estaca; ii) instante de leitura em
escala logarítmica versus deslocamento da cabeça da estaca; e iii) carga versus coeficiente de fluência;
procedeu-se à interpolação ou extrapolação, consoante os casos, dos valores registados na célula de carga,
convertendo variações de carga em variação de deslocamento, tendo como base a rigidez registada no
carregamento precedente. Estes deslocamentos foram, por sua vez, adicionados ou subtraídos, consoante
os casos, aos deslocamentos registados nos extensómetros. No primeiro ciclo de carga o deslocamento da
cabeça da estaca foi aferido desprezando os resultados obtidos nos dois defletómetros comprimidos por
flexão da chapa.

9.2.2 - Curva carga versus deslocamento da cabeça da estaca

Apresentam-se na Figura 9 dois gráficos representativos da evolução do deslocamento da cabeça da estaca


com a carga. Na Figura 9a está representada, a traço interrompido, a curva carga versus deslocamento

840
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

total obtida diretamente dos defletómetros e, a traço contínuo, a obtida considerando também a
extrapolação da perda de carga em acréscimo de deslocamento. Na Figura 9b, para além do deslocamento
total obtido nos defletómetros, a traço contínuo, estão também representadas as curvas correspondentes
à parcela transmitida pelo fuste, a traço pontilhado, e pela ponta, a traço interrompido, ambas traçadas
considerando também os registos dos extensómetros.

a) b)

Figura 9 – Curva carga versus deslocamento da cabeça da estaca: a) deslocamento total registado e corrigido; e b)
deslocamento total registado e parcela transmitida pelo fuste e pela ponta

9.2.3 - Curva instante de leitura versus deslocamento da cabeça da estaca para cada patamar de carga

A curva instante de leitura versus deslocamento da cabeça da estaca para cada patamar de carga foi
traçada tendo como base os valores obtidos nos defletómetros mas considerando também a conversão de
perda de carga em deslocamento plástico. Estas curvas são apresentadas na figura seguinte, com o tempo
representado em escala logarítmica.

Figura 10 – Curva instante de leitura versus deslocamento da cabeça da estaca para cada patamar de carga

9.2.4 - Curva carga versus coeficiente de fluência

A evolução dos assentamentos registados em cada um dos patamares de carga permite determinar a curva
carga versus coeficiente de fluência através do cálculo, para cada patamar de carga, da razão entre a
variação de deslocamento e a variação do tempo em escala logarítmica. Na Figura 11 é apresentada a
curva carga versus coeficiente de fluência considerando os instantes inicial e final iguais a 5 e 60 minutos,
respetivamente.

841
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 11 – Curva carga versus coeficiente de fluência

9.2.5 - Curva carga versus profundidade para cada patamar de carga

Para o traçado da curva carga versus profundidade, a carga instalada em cada seção foi obtida a partir do
valor da extensão registada nos extensómetros, considerando a secção teórica da estaca e o módulo de
elasticidade equivalente, de valor igual a 44,5 GPa, calculado considerando os módulos de elasticidade de
cada um dos materiais da estaca de ensaio. A localização dos extensómetros e a evolução da carga com a
profundidade encontram-se representados na Figura 12.

842
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 12 – Curva carga versus profundidade para cada patamar de carga

9.2.6 - Curva deslocamento versus resistência por atrito lateral para diferentes profundidades

Para o traçado da curva deslocamento versus resistência por atrito lateral, o cálculo do deslocamento ao
nível de cada extensómetro foi determinado subtraindo, ao assentamento registado na cabeça da estaca,
o encurtamento ocorrido entre a cabeça da estaca e a seção do extensómetro. Estas curvas são
apresentadas na Figura 13.

Figura 13 – Curva deslocamento versus resistência por atrito lateral para diferentes profundidades

843
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

9.3 - Interpretação dos resultados

Da análise dos resultados registados nos defletómetros e nas células de carga verifica-se que foram
atingidos, no primeiro e no segundo ciclo de carga, deslocamentos no patamar máximo de carga, após
correção, de 0,55 e 2,10 mm e deslocamentos plásticos, após correção, de 0,01 e 0,20 mm,
respetivamente. No final dos dois ciclos, verificou-se a recuperação de uma parte significativa dos
deslocamentos registados, tendo resultado um deslocamento plástico acumulado, após correção, de 0,21
mm, valor cuja ordem de grandeza foi confirmada pelos registos topográficos. Salienta-se que o
deslocamento total registado é da ordem de grandeza do encurtamento teórico da estaca, que toma o valor
2,13 mm considerando: uma compressão média de 1425 kN; um comprimento de 23,5 m; um módulo de
elasticidade de 44,5 GPa; e uma secção de 0,3534 m2 para um sobreconsumo de betão de 25%. No que
se refere ao coeficiente de fluência, foi identificado um valor máximo após correção igual a 0,06 mm/log t.
Estes resultados, particularmente os reduzidos valores de assentamento e de coeficiente de fluência
registados, evidenciam que no ensaio não foi atingida a carga de cedência nem a carga de rotura da estaca.

No que se refere ao processo de transferência de carga da estaca para o solo verifica-se que, para a carga
máxima de ensaio, 85% da carga foi transferida por atrito lateral e 15% por ponta, tendo neste processo
sido mobilizadas as seguintes resistências: i) resistência por atrito lateral nos aterros na ordem dos 60 kPa;
ii) resistência por atrito lateral nas aluviões entre 30 a 50 kPa; iii) resistência por atrito lateral no CVL
superior a 120 kPa; e iv) resistência por ponta no CVL superior a 1250 kPa, valor obtido dividindo a carga
axial máxima registada na base da estaca pela seção da estaca.

Salienta-se, contudo, que, no que se refere à resistência por atrito lateral, embora algumas das curvas
registadas apresentem indícios de se ter atingido o valor limite da resistência por atrito lateral, os reduzidos
valores de assentamento que foram registados, na ordem dos 2 mm, poderão ser entendidos como um
indício do contrário. Quanto à resistência por ponta, a ordem de grandeza dos assentamentos registados
pode ser encarado como um indicador de que a tensão transmitida por ponta está ainda muito aquém da
sua resistência limite.

Os reduzidos assentamentos que foram registados acabaram por fazer deste ensaio um ensaio pouco típico,
que evidenciou algumas oscilações nos registos que em condições normais tenderiam a passar
despercebidas. Foi contudo possível, com a instalação dos extensómetros, avaliar com rigor a distribuição
de carga em profundidade e a parcela transmitida à ponta. Caso não se pretendesse avaliar a resistência
do fuste, poder-se-ia, em alterativa ao uso de extensómetros, ter encamisado a estaca nas formações
Atuais a Recentes com um tubo PVC e assim reduzir o atrito ao longo do fuste. Neste caso a parcela da
carga de ensaio transmitida à ponta da estaca teria sido superior.

10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora se tratasse de um ensaio prévio, o facto de não se ter atingido nem a cedência nem a rotura tira
espetacularidade e reduz o interesse académico deste Caso de Estudo, particularmente no que se refere
ao comportamento das formações atravessadas, cujos parâmetros geotécnicos já se encontram
amplamente documentados. Contudo, os reduzidos assentamentos que foram registados expuseram uma
série de particularidades ao nível da preparação e montagem que frequentemente são negligenciados e
que poderão nomeadamente condicionar a interpretação dos ensaios de estacas, particularmente ao nível
evolução da carga ao longo do fuste.

Interessa assim reter que, quando utilizados extensómetros em ensaios de estaca deve-se procurar: i) que
estes sejam colocados com redundância suficiente por forma a garantir que o ensaio não seja inviabilizado
por danos causados durante a montagem e a execução da estaca; ii) que estes sejam previamente
ensaiados por forma a garantir que os cabos de prolonga utilizados permitem transmitir o sinal de forma
fiável; e iii) garantir que a sua leitura é realizada minimizando o risco que estarem a ser induzidas vibrações
que possam influenciar o comportamento dos extensómetros. Alerta-se também para a importância que o
acompanhamento topográfico tem para a confirmação dos resultados, identificação de comportamentos
anómalos ou validação de comportamentos atípicos.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à IMO HEALTH – Investimentos Imobiliários, Lda ter permitido a divulgação das soluções
implementadas e dos dados recolhidos no ensaio de carga.

844
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REFERÊNCIAS

prEN ISO 22477-1:2014. Geotechnical investigation and testing – Testing of geotechnical structures – Part 5: Pile load
test by static axially loaded compression. ISO, International Organization for Standardization.

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ENSAIOS EM PLACAS DE DIFERENTES DIÂMETROS NA PRAIA DE


COPACABANA, RIO DE JANEIRO

LOAD TESTS ON PLATES OF DIFFERENT DIAMETERS AT COPACABANA BEACH,


RIO DE JANEIRO

Gomes, Roney de Moura; Groundtech Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, roney@groundtech.com.br


Danziger, Fernando Artur Brasil; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, danziger@coc.ufrj.br
Guimarães, Gustavo Vaz de Mello; UFRJ, Macaé, Brasil, guimaraes@macae.ufrj.br
Lopes, Francisco de Rezende; COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, flopes@coc.ufrj.br

RESUMO

Nos projetos de fundações diretas, de maneira geral, os deslocamentos verticais (recalques) se configuram
o fator preponderante no dimensionamento. Assim, a determinação das propriedades de deformação dos
solos assume grande importância. Os ensaios de placa permitem a estimativa destas propriedades e, em
alguns casos, a extrapolação dos resultados para fundações em escala real. Neste trabalho são
apresentados aspectos relativos a ensaios de placa incluindo: projeto, montagem, execução e resultados.
Foram executados ensaios em placas de três diferentes diâmetros: 30 cm; 60 cm e 80 cm, na Praia de
Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil. O solo no local consiste tipicamente de areia média, com compacidade
crescente com a profundidade. O sistema de reação foi composto por duas vigas metálicas tipo I
(W 360 mm x 64 kg) interligadas, com 6,0 m de comprimento cada, ancoradas por estacas metálicas
helicoidais nas extremidades. A aplicação cargas se deu por um macaco hidráulico, e a medida dos
deslocamentos por quatro extensômetros fixados a vigas de referência de madeira. Os resultados do ensaio
na placa de 30 cm indicaram uma condição próxima à ruptura geotécnica. O ensaio na placa de 60 cm foi
interrompido precocemente por ruptura das ancoragens; entretanto, foi possível realizar uma extrapolação
da curva carga x recalque.

ABSTRACT

In shallow foundations design, in general, the vertical displacements (settlements) are the predominant
factor. Thus, the determination of soil deformation properties is of great importance. Plate tests allow the
estimation of these properties and, in some cases, the extrapolation of the results to foundations in real
scale. In this paper, some aspects related to plate tests are presented, including: design, assembly,
execution and results. Load tests were performed on plates of three different diameters: 30 cm; 60 cm and
80 cm, at Copacabana Beach, Rio de Janeiro, Brazil. The soil consists, typically, of medium sand, with
stiffness increasing with depth. The reaction system had a steel beam, six meters long composed by two
connected I-beans (W 360 mm x 64 kg), anchored by steel helical piles at the ends. A hydraulic jack was
used to apply the load while four displacements transducers, on each plate, were responsible for the
measurement of settlements. An independent wood bean system was used as reference for the plate’s
displacement. The test results on the 30 cm plate indicated a condition close to geotechnical failure. The
test on the 60 cm plate was interrupted early by geotechnical failure of the anchors; however, an
extrapolation of the load x settlement curve was possible.

1- INTRODUÇÃO

O projeto geotécnico de fundações rasas é concebido de maneira a atender aos critérios de (i) segurança
ao colapso do solo e (ii) compatibilidade de deslocamentos da estrutura sob condições de serviço. Na
maioria dos casos, os deslocamentos se mostram o fator preponderante no dimensionamento.

A verificação da segurança ao colapso do solo de fundação, também chamada de verificação do estado-


limite último (ELU), pode ser feita por diversas abordagens. A mais tradicional é a adoção de um Fator de
Segurança global (FS), configurando o chamado Método de Tensões Admissíveis. De acordo com Meyerhof
(1995), os valores de FS típicos para fundações em solo estão entre 2,0 e 3,0. No Brasil, a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por intermédio da NBR 6122:2010 recomenda, para fundações
diretas, Fatores de Segurança mínimos de 2,0, para casos em que se disponha de ao menos duas provas
de carga, e de 3,0 quando se utilizam métodos analíticos e/ou semi-empíricos.

O carregamento da fundação pode causar deslocamentos verticais, horizontais e rotacionais. A boa prática
do projeto de fundações leva em conta a compatibilidade de recalques absolutos e diferenciais entre a
fundação e a estrutura. Este critério é também chamado de verificação do estado-limite de serviço (ELS).

846
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Provas de carga em placa, sondagens a percussão (SPT) e ensaios de cone (CPT) são bastante difundidos
na previsão de recalques em fundações rasas, mas possuem algumas limitações. Os ensaios SPT, por
questões econômicas e culturais, são os mais difundidos no Brasil, mas possuem limitações no que tange
à estimativa de parâmetros de deformabilidade do solo, além das questões da dispersão, da energia
aplicada, e da influência do operador na execução do ensaio. Os ensaios CPT fornecem resultados de maior
qualidade que o SPT. Entretanto, ambos são pouco sensíveis às tensões horizontais, à estrutura e ao
envelhecimento (“aging”) em solos arenosos, e, por isso, devem ser utilizados com cautela, sobretudo em
areias sobreadensadas.

Os resultados dos ensaios em placa são realizados (i) para se obter parâmetros de deformação e/ou (ii)
para serem extrapolados para fundações de maiores dimensões. Entretanto, para fundações em areia, a
variação dos parâmetros de deformabilidade do solo com a profundidade pode levar a previsões
inadequadas. Além disso, a norma brasileira NBR 6489:1984 recomenda que a prova de carga seja
executada em placa de área igual ou superior a 0,5 m², o que corresponde a uma placa circular de 80 cm
de diâmetro. Sabe-se que esta recomendação torna o ensaio oneroso, sendo necessária a execução de um
sistema de reação que suporte cargas relativamente elevadas.

Foram realizadas provas de carga em três placas circulares de diâmetros 30 cm, 60 cm e 80 cm, na areia
da Praia de Copacabana, e os resultados são apresentados a seguir.

2- DESCRIÇÃO DO LOCAL

O local de execução dos ensaios foi a Praia de Copacabana, na altura do Leme, no Rio de Janeiro, conforme
indicado na Figura 1.

Figura 1 - Local dos ensaios na Praia de Copacabana – Imagem de satélite (adaptado de Gomes, 2016)

A areia da praia é média, uniforme (Figura 2) e de compacidade crescente com a profundidade. O nível
d´água está a cerca de 2,0 m de profundidade.

Os trabalhos experimentais realizados foram ensaios geotécnicos (campo e laboratório) e provas de carga
em placas. Todos os trabalhos experimentais foram executados com o apoio do Laboratório de Ensaios de
Campo e Instrumentação Prof. Márcio Miranda Soares, parte do Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ.
Alguns equipamentos e acessórios foram disponibilizados por colaboradores.

Os ensaios geotécnicos foram executados com a finalidade de obtenção de parâmetros para previsões de
recalques das placas. Foram realizados: ensaios de dilatômetro sísmico (SDMT), ensaio de piezocone
(CPTU), sondagens a trado e ensaios de caracterização em laboratório (granulometria por peneiramento).
Os resultados do ensaio de piezocone constam da Figura 3. Os resultados dos ensaios e as previsões de
recalques são apresentados e detalhados em Gomes (2016).

847
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Curva Granulométrica

AREIA
ABNT ARGILA
SILTE FINA MÉDIA GROSSA
PEDREGULHO

PENEIRAS 200 100 60 40 30 20 10 8 4 3/8 3/4 1 1 1/2


100 0

90 10

80 20
Porcentagem que Passa

Porcentagem Retida
70 30

60 40

50 50

40 60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 2 - Curvas granulométricas (adaptado de Gomes, 2016)

Atrito lateral fs (kPa) Poro-pressões (kPa)


Resistência de ponta qc (kPa)
0 100 200 300 400 -15 0 15 30 45 60
0 20.000 40.000 60.000
0 0
0
u0
u1

1 1 u2
1

2 2 2
Profundidade (m)

Profundidade (m)
Profundidade (m)

3 3 3

4 4 4

5 5 5

6 6 6

Figura 3 - Resultados de ensaio de piezocone na Praia de Copacabana (adaptado de Gomes, 2016)

3- DESCRIÇÃO DOS ENSAIOS DE PLACA

3.1 Equipamento e arranjo dos ensaios

A reação foi definida em estacas helicoidais nas extremidades das vigas de reação. Estas estacas foram
executadas pelo equipamento de cravação Pagani TG 63-150, o mesmo utilizado nos ensaios SDMT e CPTU.

Os aspectos positivos desta solução são a produtividade, o baixo custo e a facilidade de remoção. Cabe
ressaltar, que por questões ambientais, a remoção completa do sistema era obrigatória. O principal aspecto
negativo é a limitação de carga - por conta da baixa capacidade de torque do equipamento.

848
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

As ancoragens foram ligadas a um sistema de vigas de reação, que consiste em duas vigas metálicas do
tipo W 360 x 64 (aço A572 Gr.50), com 6,0 m de comprimento cada, solidarizadas por chapas.

A ligação das estacas de ancoragem com as vigas de reação foi realizada por um sistema composto por
(i) parafusos para travamento, (ii) calços metálicos para combater eventuais folgas, e (iii) e chapas
metálicas apoiadas sobre as extremidades das vigas. A Figura 4 apresenta em detalhe as ligações entre
hastes das estacas e o sistema de vigas metálicas.

Figura 4 - Exemplos de ligação de ancoragem no sistema de vigas de reação (Gomes, 2016)

O sistema de aplicação de carga consistiu em macaco hidráulico, bomba manual e manômetro. Para a
medida de deslocamentos das placas foram utilizados 4 extensômetros mecânicos dispostos nas
extremidades das placas em forma de cruz. O sistema de vigas de referência utilizado foi de madeira,
visando minimizar os efeitos de variação térmica nas medidas dos deslocamentos.

O projeto (Figura 5) foi concebido de modo a realizar as 3 provas de carga utilizando o mesmo arranjo,
sem que houvesse interferência entre ensaios. Esta premissa permitiu que as ancoragens de reação fossem
executadas apenas uma vez, evitando a necessidade de remanejamento do sistema de vigas. As placas
metálicas foram assentadas em profundidades que variaram entre 20 e 25 cm. Uma avaliação da distância
dos bulbos de pressões (região abaixo da placa com acréscimos de tensão importantes) indicou que não
haveria interferência entre os três ensaios (Figura 5).

3.2 Detalhes da sequência executiva

(i) Locação com piquetes e execução das estacas periféricas;

(ii) Ligação das estacas periféricas por um fio de nylon, locação com piquetes das estacas internas utilizando
esquadro e chapas de ligação como gabarito;

(iii) Execução das estacas internas, posicionamento e nivelamento das madeiras de apoio das vigas;

(iv) Execução de cavas, regularização e nivelamento do fundo com rodo e régua de nível. Posicionamento
das placas metálicas;

(v) Descarregamento e nivelamento do sistema de vigas de reação;

(vi) Montagem da cobertura e fixação das ancoragens nas vigas;

(vii) Montagem de vigas de referência para os deslocamentos (em madeira), posicionamento dos
extensômetros e posicionamento do sistema de aplicação de carga (Figura 6);

(viii) Execução da prova de carga.

Os procedimentos (vii) e (viii) foram repetidos para cada prova de carga. Entre cada ensaio foram
observadas folgas por conta do deslocamento das ancoragens, o que fez necessários novos calçamentos.

849
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 5 - Arranjo das provas de carga – Planta e cortes – Cotas em metros (Gomes, 2016)

850
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 6 - Instrumentação e sistema de aplicação de cargas para a placa de 80 cm (Gomes, 2016)

3.3 Critérios adotados e aspectos executivos

A definição dos estágios de carregamento seguiu as orientações da norma brasileira NBR 6489:1984.

A norma preconiza que se devem aplicar estágios de carga sucessivos de no máximo 20% da tensão
admissível provável do solo. Adotou-se de maneira conservadora esta tensão igual a 500 kPa - referente a
uma areia muito compacta - o que levaria a incrementos de carga máximos de 7 kN, 28 kN e 50 kN para
as placas de 30 cm, 60 cm e 80 cm, respectivamente.

A leitura dos deslocamentos foi realizada imediatamente após a aplicação do carregamento e após
intervalos de tempo pré-determinados (1, 2, 4, 8 e 15 minutos). Em face do comportamento drenado da
areia, observou-se uma estabilização rápida dos deslocamentos.

A norma brasileira NBR 6489:1984 recomenda como critério de parada que a placa seja levada a (i) um
recalque de 25 mm ou (ii) a um carregamento equivalente ao dobro da tensão admissível provável para o
solo. No caso da placa de 30 cm, a prova de carga foi executada até uma condição próxima à ruptura
geotécnica do solo sob a placa. Já no caso das placas de 60 cm e 80 cm, a paralização se deu pela ruptura
geotécnica das ancoragens do sistema de reação.

Sobre o descarregamento, a norma brasileira NBR 6489:1984 recomenda que o mesmo deva ocorrer em
estágios sucessivos de no máximo 25% da carga total do ensaio.

4- RESULTADOS DOS ENSAIOS DE PLACA

A primeira prova de carga executada foi na placa de 30 cm. Esta prova de carga foi levada à tensão de
975 kPa, atingindo uma condição próxima à de ruptura do solo sob a placa.

Nas outras provas de carga, as placas de 60 cm e 80 cm foram levadas às tensões de 441 kPa e 273 kPa,
respectivamente. Estes ensaios não puderam avançar por conta da limitação nas reações. Os níveis de
carregamento atingidos levaram as ancoragens à ruptura geotécnica (Figura 7), não sendo possível a
sustentação de novos incrementos pelo sistema de aplicação de carga.

A Figura 8 apresenta as curvas tensão versus recalque (média entre os quatro extensômetros) das três
provas de carga. Já a Figura 9 indica em detalhe as curvas tensão versus recalque com uma escala
aproximada para melhor visualização, principalmente do comportamento das placas de 60 cm e 80 cm.

Os resultados dos ensaios de placas em termos de recalques normalizados (divididos pelo diâmetro) são
apresentados nas Figuras 10 e 11.

851
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

VIGAS DE REAÇÃO

PROVA DE CARGA
NA PLACA DE 80 cm
RUPTURA GEOTÉCNICA
DAS ANCORAGENS
Figura 7 - Sistema de reação ao final das provas de carga

852
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Tensão (kPa)
0 200 400 600 800 1000 1200
0
Placa 30 cm
Placa 60 cm
Deslocamento (mm)
5
Placa 80 cm

10

15

20

25

Figura 8 - Curvas tensão versus recalque médio para todas as provas de carga (Gomes, 2016)

Tensão (kPa)
0 100 200 300 400 500
0
Placa 30 cm
Placa 60 cm
Deslocamento (mm)

1
Placa 80 cm

Figura 9 - Curvas tensão versus recalque médio para todas as provas de carga (escala com maior aproximação)
(Gomes, 2016)

Tensão (kPa)
0 200 400 600 800 1000 1200
0,E+0
Placa 30 cm
Deslocamento/diâmetro

1,E-2 Placa 60 cm

2,E-2 Placa 80 cm

3,E-2

4,E-2

5,E-2

6,E-2

7,E-2

853
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 10 - Curvas tensão versus recalque médio normalizado para todas as provas de carga (Gomes, 2016)

Tensão (kPa)
0 100 200 300 400 500
0,E+0
Placa 30 cm
Deslocamento/diâmetro

1,E-3 Placa 60 cm
Placa 80 cm
2,E-3

3,E-3

4,E-3

5,E-3

6,E-3

Figura 11 - Curvas tensão versus recalque médio normalizado para todas as provas de carga (escala com maior
aproximação) (Gomes, 2016)

Como é possível observar nos resultados dos ensaios nas placas de 60 cm e 80 cm, o formato da curva
indica que o solo não se aproximou da ruptura. Além disso, para a placa de 80 cm, o deslocamento referente
ao primeiro incremento de carga se mostrou elevado, o que, provavelmente, indica uma acomodação da
placa. O fato da dificuldade em se regularizar o fundo da cava aumentar proporcionalmente com diâmetro
da mesma pode explicar este comportamento. Outra possível explicação é que no processo de
descarregamento da placa com caminhão munck pode ter ocorrido perturbação do solo.

5- INTERPRETAÇÃO DOS ENSAIOS DE PLACA

Como no ensaio na placa de 80 cm, houve um pequeno abatimento no primeiro estágio de carregamento,
apenas os resultados das placas de 30 cm e 60 cm serão analisados. Uma tentativa de ajuste na curva do
ensaio na placa de 80 cm pode ser vista em Gomes (2016).

Uma previsão da capacidade de carga geotécnica das placas foi realizada pela metodologia de Vesic (1975),
obtendo-se 1082 kPa para a placa de 30 cm e 1297 kPa para a placa de 60 cm. Detalhes dessas previsões
podem ser vistos em Gomes (2016).

Foi realizada a extrapolação dos resultados da prova de carga de 60 cm pelos Métodos de Van Der Veen
(1953) e Chin-Kondner (Kondner, 1963; Chin, 1970, 1971). Ambos os métodos são usualmente aplicados
a provas de carga em estacas, mas podem ser aplicados também a ensaios de placas. Outras interpretações
podem ser vistas em Gomes (2016).

5.1 Método de Van Der Veen

Inicialmente, aplicou-se o Método de Van Der Veen (1953) aos resultados da placa de 30 cm. Plotou-se
ln(1-q/qult) versus recalque médio (Figura 12), obtendo-se melhor ajuste para qult = 977 kPa, valor
próximo da maior tensão aplicada na prova de carga.

A partir da razão entre os valores de capacidade de carga dado por Van Der Veen (977 kPa) e previsto por
Vesic (1082 kPa), ambos para a placa de 30 cm, reduziu-se a capacidade de carga da placa de 60 cm para
1172 kPa.

Plotou-se o gráfico –ln(1-q/qult) versus recalque para a placa de 60 cm. A plotagem e a equação da reta
constam da Figura 13. O coeficiente  obtido foi igual a 1/7,7049 = 0,12987.

854
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

-ln(1-q/qult)

0 1 2 3 4 5 6
0
qult = 950 (kPa)
qult = 975 (kPa)
Deslocamento (mm)

qult = 977,5 (kPa)


5
qult = 980 (kPa)
qult = 990 (kPa)
qult = 1000 (kPa)
10

15

20

Figura 12 - Gráficos ln(1-q/qult) versus w para diferentes valores de qult – Placa de 30 cm (Gomes, 2016)

-ln(1-q/qult)

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5


0,0

0,5
Deslocamento (mm)

1,0
y = 7,7049x
R² = 0,9868
1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Figura 13 - Gráfico ln(1-q/qult) versus recalque para qult = 1172 kPa – Placa de 60 cm (Gomes, 2016)

5.2 Método de Chin-Kondner

O Método de Chin-Kondner (Kondner, 1963; Chin, 1970, 1971) é uma extensão da proposta de Kondner
para a curva tensão-deformação de ensaios triaxiais seguindo uma hipérbole. Para a extrapolação dos
resultados da prova de carga na placa de 60 cm por esse método, inicialmente plotou-se a razão recalque
(médio) sobre carga versus recalque (médio), conforme Figura 14.

Por regressão linear se obteve o parâmetro C1 igual a 0,0025, correspondente a uma carga de ruptura
Qult = 400 kN (qult = 1415 kPa). O parâmetro C2 obtido foi igual a 0,0202.

855
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

4,E-02

3,E-02

Deslocamento / Carga
3,E-02

2,E-02

2,E-02
y = 0,0025x + 0,0202
R² = 0,9804
1,E-02

5,E-03

0,E+00
5,E-01 1,E+00 2,E+00 2,E+00 3,E+00 3,E+00 4,E+00
Deslocamento (mm)
Figura 14 - Gráfico recalque/carga versus recalque – Placa de 60 cm

5.3 Resultados da extrapolação

As funções dos métodos de extrapolação dos itens anteriores preveem uma assíntota vertical, ou seja, uma
carga de ruptura nítida. Por outro lado, provas de carga em placa dificilmente indicam uma ruptura nítida,
sendo mais comum uma assíntota inclinada.

Apesar de o ensaio ter se limitado a recalques relativamente pequenos, cerca de 0,6% do diâmetro, foi
possível extrapolar a curva tensão-deslocamento até a ruptura (Figura 15). As curvas extrapoladas
acompanharam o ensaio, muito de perto, até a tensão máxima aplicada, e depois caminharam para
assíntotas de 1.172 kPa (Van der Veen) e 1.415 kPa (Chin-Kondner). Uma tensão de ruptura média seria
1.300 kPa. Essa tensão, comparada à tensão de ruptura da placa de 30cm, é cerca de 35% superior. As
teorias de capacidade de carga indicam que a tensão de ruptura aumenta com a dimensão da sapata, mas
também com o embutimento, que seria, relativamente ao diâmetro, menor na placa de 60cm.

Tensão (kPa)
0 200 400 600 800 1000 1200
0
Deslocamento (mm)

10

15

20
Resultado da prova de carga
Extrapolação por Van der Veen
25
Extrapolação por Chin-Kondner
30

Figura 15 - Comparação entre extrapolação e resultado da prova de carga na placa de 60 cm

856
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

6- CONCLUSÕES

Foram executadas na areia da Praia de Copacabana provas de carga em placas circulares metálicas de 3
diâmetros: 30 cm, 60 cm e 80 cm. Por conta da limitação na capacidade de carga das ancoragens, apenas
no ensaio da placa de 30 cm o solo foi levado à condição de ruptura.

O ensaio na placa de 80 cm apresentou um recalque anômalo no início do carregamento. Tal


comportamento pode ser explicado por:

(i) dificuldade na regularização do fundo da cava é proporcional ao diâmetro da placa;

(ii) perturbação do solo de fundação durante o processo de descarregamento da placa (com


caminhão munck).

Foi possível observar a ruptura geotécnica da placa de 30 cm de diâmetro. Já para a placa de 60 cm de


diâmetro, interrompida com recalques relativamente pequenos, foi preciso extrapolar a curva tensão-
recalque para se ter uma indicação da tensão de ruptura.

Os valores de capacidade de carga das placas calculados pelo Método de Vesic (1975) concordaram
razoavelmente com os resultados experimentais e com as extrapolações.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 6489:1984 - Prova de carga direta sobre terreno de fundação, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio
de Janeiro.

ABNT NBR 6122:2010 - Projeto e execução de fundações. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.

Chin, F.K. (1970) - Estimation of the ultimate load of piles not carried to failure. In: Proceedings II Southeast Asian
Conference on Soil Engineering, Singapore, p. 81-90.

Chin, F.K. (1971) - Discussion on pile test. Arkansas River project. ASCE Journal for Soil Mechanics and Foundation
Engineering, Vol. 97 (SM6), p. 930-932.

Gomes, R.M. (2016) - Aplicação do Ensaio de Dilatômetro Sísmico à previsão de recalques de fundações rasas em areias,
Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 227 p.

Kondner, R.L. (1963) - Hyperbolic stress-strain response. Cohesive soils. ASCE Journal for Soil Mechanics and Foundation
Engineering, Vol. 89 (SM1), p. 115-143.

Meyerhof, G.G. (1995). Development of geotechnical limit state design. Canadian Geotechnical Journal, Vol. 32, n. 1, p.
128-136.

Van Der Veen, C. (1953) - The Bearing Capacity of a pile, In: Proceedings III International Conference on Soil Mechanics
and Foundation Engineering, Zurich, Switzerland, p. 84-90.

Vesic, A.S. (1975) - Bearing Capacity of Shallow Foundations, In: Winterkorn & Fang (editors), Foundation Engineering
Book, 1st ed., chapter 3, New York, USA.

857
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO EDIFÍCIO HIGH TECH TOWER,


LUANDA, ANGOLA

EXCAVATION, RETAINING WALL STRUCTURE OF THE HIGH TECH TOWER, IN


LUANDA, ANGOLA

Reis, Sandra; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, smr@teixeiraduarte.pt
Xavier, Baldomiro; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, bx@teixeiraduarte.pt
Pina, João; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, jsp@teixeiraduarte.pt
Esteves, Laura; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, lpe@teixeiraduarte.pt

RESUMO

Pretende-se com a presente comunicação descrever a solução de escavação e contenção periférica para
execução das caves do Edifício High Tech Tower em Luanda, assim como a solução de suspensão de um
edifício existente a manter durante os trabalhos de escavação.

O solo ocorrente no local pertence às “Formações de Luanda”, de constituição areno-argilosa. A escavação


constitui um desafio não apenas em termos de tecnologia de contenção em solos arenosos, particularmente
sensíveis à descompressão causada pela supressão da tensão vertical, mas também pela exigência de
manter em funcionamento, durante os trabalhos de escavação e execução dos pisos enterrados, o Edifício
do Banco Kwanza de Investimentos. Este edifício, com dois pisos e localizado no interior do lote, será
suspenso através da instalação de uma sofisticada estrutura, que alia a complexidade de execução sob as
fundações do edifício existente com as exigências de rigidez necessárias à minimização de assentamentos
durante a fase de escavação, combinadas com a variabilidade geométrica resultante da arquitetura e a
obrigatoriedade de garantir a segurança e estabilidade apesar da circulação de equipamento pesado e
remoção de grandes volumes de terras durante a escavação.

ABSTRACT

The purpose of this paper is to describe the design of the retaining structure of the excavation for the
basements of the High Tech Tower Building in Luanda, as well as the underpinning solution for an existing
building which was decided to maintain in full activity throughout excavation work.

The soil occurring at the site belongs to the silty-clayey sand Miocene complex known as "Formação de
Luanda". The planned excavation posed a challenge, first of all to the fact that the excavation is carried out
in these special sandy soils, which are particularly vulnerable to decompression caused by the release of
overburden pressure; second because of the owner’s requirement that a two-stories building, Bank Kwanza
de Investimentos, existing at the site, must remain fully operational during the excavation works. This
building, located inside the lot, will be suspended by installing a sophisticated structure, necessary stiffening
requirements to minimize settlements during the excavation; the complexity of the suspension system is
also stressed by the irregular architecture/structure and demanding safety requirements, essential to
guarantee the stability throughout excavation, despite the circulation of heavy equipment and removal of
large volumes of land.

1- INTRODUÇÃO

O futuro edifício High Tech Tower localiza-se na Avenida Comandante Gika, em Luanda (ver Figura 1).

858
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 1 – Implantação do Edifício High Tech Tower

Promovido pelo Grupo Africa Imo Corporation, o High Tech Tower é composto por duas torres apoiadas num
embasamento comum (ver Figura 2), que inclui os pisos de estacionamentos subterrâneos e as salas de
conferência, restaurantes e zona comercial nos primeiros oito pisos elevados. A Torre Norte é constituída
por 30 pisos destinados a hotelaria e a Torre Sul está reservada a apartamentos de habitação e escritórios.
Os projetos de arquitetura e estrutura foram desenvolvidos pelo gabinete americano Lera. O Projeto de
Escavação e Contenção Periférica foi adjudicado à Teixeira Duarte, SA.

Figura 2 – Fotomontagens do Edifício High Tech Tower

2- ESTRUTURAS E INFRAESTRUTURAS CONDICIONANTES À ESCAVAÇÃO

As confrontações consideradas são, para além do arruamento referido, o Edifício da Maternidade, o Hospital
Militar e o Banco de Investimentos Kwanza, implantado no interior do lote a construir (ver Figuras 3 e 4).

Figura 3 – Confrontações do Edifício High Tech Tower

859
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 4 – Levantamento fotográfico aéreo da envolvente da escavação

Durante a escavação, conclusão da estrutura e sua integração final no edifício High Tech Tower, está previsto
que parte do Edifício do Banco Kwanza Investimentos, permaneça em funcionamento.

A Figura 5 apresenta a demolição parcial prevista para o Edifício do Banco Kwanza Investimentos,
evidenciando-se a estrutura do edifício que vai permanecer em funcionamento durante a escavação.

Figura 5 – Fotografias da demolição parcial do Edifício do Banco kwanza Investimentos

3- CONDIÇÕES GEOLÓGICAS E GEOTÉCNICAS

As formações geológicas ocorrentes foram caracterizadas a partir de uma campanha de sondagens


realizada pelas empresas Bauer e China Road and Bridge Corporation no local de implantação do Edifício
High Tech Tower.

As sondagens executadas em abril de 2008 pela China Road and Bridge Corporation detetam nos primeiros
22 m de profundidade terrenos classificados como areias siltosas, com um valor de SPT médio de 32
pancadas, enquanto a campanha de prospeção conduzida pela Bauer em maio 2015 assinala a presença
de areias argilosas com um valor de SPT de 60 pancadas na mesma altura de escavação.

Considerando a disparidade entre os resultados obtidos nessas duas campanhas de sondagens, procedeu-
se a um levantamento das informações disponíveis no arquivo da Teixeira Duarte Engenharia e Construções
S.A. para essa zona, e tendo-se obtido consenso com as sondagens da Bauer, optou-se por considerar
aqueles resultados no dimensionamento da contenção periférica.

A prospeção inclui 2 furos de sondagem à rotação com execução de ensaios de penetração dinâmica com
uma sonda normalizada (SPT), com intervalos de cerca de 1,50 m e que atingiram os 100 m de
profundidade. A partir destes ensaios obteve-se a caracterização lito-estratigráfica e hidrogeológica que se
descreve seguidamente:

 Camada 1 (dos 0,0 m a 12,5 m de profundidade) - Solo de natureza arenosa, de granulometria fina a
média:

860
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5 <NSPT <20 = 18 kN/m3 ’= 30º c’= 0 kN/m2 k= 15 000 a 25 000 kN/m2/m

 Camada 2 (dos 12,5 m aos 22,50 m de profundidade) - Areia fina a média compacta por vezes siltosa:

30 <NSPT < 60 = 19 kN/m3 ’= 35º c’= 5 kN/m2 k= 60 000 kN/m2/m

 Camada 3 (a partir dos 22,50 m de profundidade) – Silte/Argila com intercalações de areia com
elevada compacidade:

NSPT >60 = 20 kN/m3 ’= 25º c’= 40 kN/m2 k= 120 000 kN/m2/m

De acordo com a informação disponível no relatório da Bauer, durante a campanha de escavações não foi
identificado o nível freático, tendo-se, contudo, revelado alguma humidade num dos furos a partir de
profundidades de 50,0 m.

Já em obra, a Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A. realizou uma sondagem complementar, onde
se identificou a partir dos 8,5 m de profundidade um terreno com 60 pancadas, caracterizado por areias
finas compactas a muito compactas, características estas superiores às constantes no relatório geotécnico
da Bauer.

4- DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO

Face à profundidade de escavação, com aproximadamente 22,0 m de altura, caraterísticas dos arruamentos
e edifícios vizinhos, e no sentido de garantir a segurança de toda a envolvente no decorrer da obra, adotou-
se uma solução de contenção periférica constituída por uma cortina em betão armado com espessura de
0,60 m, a executar pela tecnologia das paredes moldadas.

Esta parede de contenção assumirá duas funções em simultâneo:


 Estrutura de contenção periférica, permitindo a realização da escavação enquanto preserva a estabili-
dade das estruturas e infraestruturas localizadas no perímetro da escavação;
 Elemento de limitação da descompressão do solo, que frequentemente ocorre nestas areias de Luanda
devido ao alívio de tensões durante a escavação, com consequências bastante gravosas para as futuras
estruturas (Xavier e Reis, 2008).

A estabilidade da cortina de contenção face aos impulsos de terras durante as operações de escavação é
assegurada pela execução de seis níveis de travamento provisórios, constituídos por ancoragens pré-
esforçadas a 600 kN e escoras de canto (ver Figura 6), espaçadas em planta em média de 3.0 m. A
capacidade de suporte das ancoragens foi avaliada com base na geologia local da obra, pelo método de
Michel Bustamante e Bernard Doix, com o qual, através de ábacos, é possível determinar a resistência
lateral das ancoragens com base no atrito lateral máximo das ancoragens (Bustamante e Doix, 1985).

Figura 6 – Perfil de cálculo da cortina de contenção periférica com seis níveis de ancoragens

861
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A parede de contenção estará sujeita aos impulsos de terras resultantes da escavação e estimados de
acordo com os parâmetros geomecânicos anteriormente referidos.

A sobrecarga mínima considerada para efeitos de cálculo é uniformemente distribuída ao longo do contorno
da escavação e tem o valor de 10 kN/m2, pretendendo estimar os efeitos de eventuais acumulações de
equipamento ou materiais durante a execução da obra. Nas zonas correspondentes aos edifícios confinantes,
foi considerada uma sobrecarga de 10 kN/m2/piso.

A estabilidade da cortina de contenção face aos impulsos de terras durante as operações de escavação é
assegurada pela execução de seis níveis de travamento provisórios, constituídos por ancoragens pré-
esforçadas e escoras de canto.

Em fase definitiva, o travamento das paredes será garantido pelas próprias lajes do edifício e nas zonas de
pés direitos duplos (na ausência de lajes) por uma estrutura de grelha constituída por uma malha de
vigas/pilares solidarizada à parede de contenção.

Com o objetivo de avaliar as condições de segurança existentes durante a execução da obra, validar as
hipóteses de cálculo consideradas no projeto e, no caso de comportamentos estruturais anómalos ao
previsto, permitir intervir atempadamente na reformulação das soluções construtivas adotadas, foi definido
um Plano de Observação e Instrumentação exigente.

5- DIMENSIONAMENTO DA PAREDE MOLDADA

Para o dimensionamento da contenção em fase provisória, adotou-se um modelo elasto-plástico de viga


apoiada em molas a simular o terreno, tendo o cálculo sido realizado com base no método dos
deslocamentos. A definição das solicitações foi efetuada por uma trajetória de carga, que teve em conta o
processo construtivo adotado, a fim de se contabilizar os deslocamentos instalados na estrutura durante o
processo de construção. As fases de escavação foram simuladas por incrementos sucessivos de carga de
acordo com o faseamento estabelecido para a execução da contenção (ver Figura 7).

Figura 7 – Diagramas de deslocamento, momentos fletores, esforços transversos e tensões no solo para as diferentes
fases de escavação

Os elementos de travamento foram simulados por intermédio de molas de rigidez axial igual a EA/L, sendo
“E” o módulo de elasticidade, “A” a área da secção e “L” o comprimento livre equivalente do elemento.

Resumidamente, as fases da escavação referidas na Figura 7 são:

- Fase 1, fase inicial, que corresponde à execução da parede moldada e aplicação das ações atuantes
na periferia (sobrecarga);

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

- Fase 2, escavação até à cota prevista para colocação do primeiro nível de travamento (ancoragens
ou escoras). Admitiu-se que a escavação dever-se-á realizar no máximo até 0,5 m abaixo do
travamento;
- Fase 3, execução do primeiro nível de ancoragens pré-esforçadas ou escoras metálicas;
- As fases seguintes, até à fase 13 correspondem à repetição das fases 2 e 3 alternadamente para
os restantes níveis de travamento a executar;
- Fase 14, escavação geral até à cota da base de escavação.

A capacidade de suporte a ações verticais da parede de contenção foi realizada com base no método
penetrométrico (Bustamante e Gianeselli, 1981).

6- SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO E OBSERVAÇÃO

O sistema de monitorização foi implementado com o objetivo de avaliar as condições de segurança no


decurso dos trabalhos de escavação e, consequentemente permitir a validação indireta das hipóteses de
cálculo consideradas no dimensionamento da estrutura de contenção periférica.

A observação sistemática da obra e sua envolvente permitirá a reformulação das soluções construtivas
adotadas, na eventualidade de comportamentos estruturais anómalos, e o consequente dimensionamento
de reforços, possibilitando assim uma intervenção preventiva.

A solução de escavação e contenção periférica proposta deverá ser entendida como suscetível de
adaptações, de modo a poder responder de forma adequada às situações particulares que venham a surgir
durante a obra.

Além da inspeção visual e considerando os parâmetros a controlar, os dispositivos de observação a adotar


para a obra serão de três tipos: células dinamométricas para observação da carga nas ancoragens,
inclinómetros para controlo dos deslocamentos horizontais da contenção e leituras topográficas para
identificação de possíveis deslocamentos horizontais e verticais ocorridos no tardoz da contenção e/ou das
construções vizinhas.

A instalação das células dinamométricas tem como objetivo controlar a variação de carga ao longo do
faseamento da obra numa amostra representativa de ancoragens, permitindo atempadamente intervir com
um possível reforço de ancoragens adicionais, sem que desta forma se registe um aumento de deformações
da parede moldada, ao qual estão associados um conjunto de problemas identificados nos pontos anteriores.

O objetivo da utilização dos tubos inclinómetros prende-se com a deteção atempada de deformações
excessivas na parede de contenção, que possam induzir nas secções mais solicitadas um acréscimo de
esforços não expectáveis em fase de cálculo. Tal situação poderá obrigar à adoção de medidas adicionais
de forma a atingir-se os objetivos previstos.

Por forma a identificar possíveis assentamentos do tardoz da escavação, possíveis


deformações/deslocamentos nas construções vizinhas, ou uma possível translação de toda a contenção,
recorrer-se-á à topografia para que, através de alvos colocados em pontos suscetíveis de se movimentarem,
se possam detetar possíveis deslocamentos relativos ou absolutos.

A análise do comportamento global da cortina da contenção deve ser concluída através do cruzamento das
várias leituras dos diferentes instrumentos de observação, e não apenas com os resultados de uma leitura
isolada.

Refere-se que o plano proposto corresponde a uma primeira abordagem do sistema a implementar, que
poderá ser complementado e adaptado em obra às condições locais, de modo a fazer face a situações não
previstas em obra, ou ainda para ajustar os parâmetros monitorizados à resposta do maciço envolvente e
estruturas.

6.1 - Frequência das Leituras

Durante o normal decurso da obra, as leituras nos inclinómetros e dos alvos topográficos deverão ser
realizadas após conclusão de cada nível de escavação (com aplicação de pé-esforço, execução das lajes de
travamento ou colocação de escoras), não devendo o intervalo entre leituras ser superior a uma semana.
No caso de se identificar alguma anomalia durante o decurso dos trabalhos de escavação, a periodicidade
das leituras deverá ser adaptada, de forma, mais ou menos temporária, tendo em conta a situação detetada.

A leitura inicial (“leitura zero”) será tomada como a leitura de referência para avaliar a evolução das

863
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

grandezas medidas durante a execução da obra.

6.2 - Critérios de Alerta e Alarme

No presente caso, destinados a estabelecer níveis de alerta e alarme que possam, de forma expedita,
avaliar o comportamento da obra, foram definidos limites de deformação da contenção, quantificados com
base em leituras efetuadas em obras de iguais características. Os níveis de alerta e alarme definidos foram:

Quadro 1- Definição dos níveis de alerta e alarme dos dispositivos de observação

Dispositivo de Observação Nível de Alerta Nível de Alarme


Células de carga em
superior: Pcélula> 750 kN superior: Pcélula> 850 kN
ancoragens

Tubos Inclinométricos 1,20 cálculo 1,50 cálculo

Alvos Topográficos > Mín{40 mm;0,2% H} >Mín{60 mm;0,3% H}


Em que: cálculo corresponde à deformação obtida no modelo de cálculo adotado para a fase provisória e
H corresponde à altura de escavação

Caso uma destas situações se verifique, dever-se-á proceder a uma análise preliminar de forma a identificar
a anomalia detetada e previsível origem.

Na hipótese de uma destas situações ocorrer em mais do que um dispositivo de observação dever-se-á em
tempo útil e de acordo com o nível de alarme identificado proceder à implementação das seguintes medidas:

- A periodicidade das leituras deverá ser adaptada, de forma mais ou menos temporária, tendo em
conta a situação detetada;
- Remoção de todos os materiais e equipamentos que possam gerar sobrecargas sobre o muro;
- Implementação de uma solução de reforço de forma a repor os fatores de segurança de projeto,
que poderá passar por um aumento do número de ancoragens por nível ou intercalar um novo nível
de ancoragens;

7- DESCRIÇÃO DA OBRA DE ESCAVAÇÃO

A obra iniciou-se em Setembro de 2017, com a preparação de plataformas e execução dos painéis de
parede moldada em toda a periferia. Está previsto que os trabalhos de escavação se iniciem ainda no
primeiro trimestre de 2018, não estando por isso disponíveis à data de elaboração deste artigo quaisquer
resultados relativos ao comportamento da parede de contenção.

Na Figura 8 são visíveis os trabalhos de execução das caixas dos painéis de armadura da parede moldada.

Figura 8 – Execução das caixas de armaduras dos painéis da parede moldada

A Figura 9 evidencia a execução dos muretes guia, ao longo do perímetro da obra de escavação, assim
como a escavação de um painel da parede moldada. Na Figura 10 é visível a execução da viga de
coroamento no alinhamento adjacente ao hospital militar.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 9 – Execução dos muretes guia e escavação dos painéis de parede moldada

Figura 10 – Execução da viga de coroamento

8- SUSPENSÃO DO BANCO KWANZA

Antes de se iniciarem aos trabalhos de escavação, e uma vez que se pretende manter o Edifício do Banco
Kwanza em funcionamento, dever-se-á proceder à execução e instalação de uma estrutura com o objetivo
de garantir a sua suspensão.

A definição da estrutura de suspensão iniciou-se com o levantamento e a inspeção da construção existente,


nomeadamente a sua implantação e geometria. Sempre que possível, no caso das estruturas de betão
armado fez-se a identificação das armaduras.

Verificou-se que se trata de uma estrutura mista, com pilares metálicos e pavimentos em betão armado;
a laje térrea apresenta 10 cm de espessura, dos quais 5,0 cm correspondem a betonilha e os restantes
5,0 cm a betão armado com uma armadura em malha eletrossoldada. Na zona dos cofres esta laje
apresenta uma espessura de 15,0 cm. Os pilares metálicos, constituídos por perfis em aço laminado IPE160,
estão fundados em sapatas quadradas de betão armado, com dimensões 2.0x2.0 m, executadas a
diferentes cotas. Foram também reconhecidas vigas de fundação metálicas, construídas entre as sapatas
de fundação, algumas das quais sem continuidade.

No que se refere às fundações a definição da estrutura existente foi impossível visto estar enterrada.

Por imposição do Banco, os trabalhos de suspensão do edifício não podem ser realizados pelo interior do
edifício, pelo que todas as operações serão conduzidas pelo exterior, recorrendo a tecnologias mineiras,
difíceis de implementar em areias e sobretudo muito morosas.

8.1 - Descrição da solução de suspensão do banco kwanza

A solução de suspensão proposta consiste na execução de vigas de betão armado pré fabricadas, de secção

865
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

vazada (ver Figura 11), que serão colocadas debaixo da laje térrea do edifício do Banco, segundo a menor
dimensão em planta. A colocação dessas vigas é realizada por avanço hidráulico incremental (ver Figura
11). A extração do terreno escavado é feita pelo interior das vigas vazadas.

Figura 11 – Estrutura de avanço hidráulico da viga longitudinal

Para além de dimensionadas aos estados limites últimos, pretende-se que as vigas longitudinais confiram
rigidez à solução de suspensão, conduzindo a deformações muito reduzidas, compatíveis com a natureza
e utilização do edifício do banco. Desta forma, apresentam uma altura total de 2,30m. As vigas serão
executadas sobre uma plataforma onde estão montadas a estrutura de guiamento e de reação para suporte
dos macacos hidráulicos.

Seguidamente, procede-se à execução das vigas transversais, apoiadas nos pilares metálicos integrantes
do edifício existente e nas vigas longitudinais vazadas (ver Figura 12).

Figura 12 – Malha de vigas longitudinais e transversais previstas para suspender o Banco Kwanza

A malha de vigas longitudinais proposta apoia, numa das extremidades, na parede moldada anteriormente
executada e, no lado oposto, numa viga de betão armado, que por sua vez está apoiada em estacas de
betão armado com 1,2 m de diâmetro (ver Figura 13). O diâmetro das estacas está condicionado pelo facto
destas estacas funcionarem em fase provisória como pilares de grande altura.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 13 – Ligação das vigas longitudinais à parede moldada e à cortina de estacas

A solução de suspensão projetada, para além de permitir a suspensão do edifício do Banco Kwanza, tem
como objetivos permitir o trabalho em segurança, funcionando automaticamente como estrutura de
contenção do terreno lateral e assegurando o acesso e atuação dos trabalhadores em condições totalmente
protegidas até conclusão da estrutura (ver Figura 14).

Figura14 – Pormenor da viga longitudinal vazada

8.2 - Faseamento de execução da estrutura de suspensão do banco kwanza

Antes da execução da solução de suspensão do banco Kwanza, deverão ser verificadas as dimensões e
características das peças existentes. Interessará cruzar os seguintes elementos: topografia do local, cota
prevista para plataforma de trabalho e cota da laje do piso térreo.

A sucessão de operações que a seguir se indica serve apenas como elemento orientador, devendo ser
adaptada de acordo com as condições realmente encontradas no decorrer da obra. A incerteza da existência
das vigas e das sapatas de fundação, assim como a sua dimensão, pode obrigar a adaptações da estrutura
de suspensão no decurso da obra.

1. Execução das estacas de betão armado com 1,2 m de diâmetro;


2. Preparação de plataformas de trabalho. No tardoz do Edifício do Banco kwanza dever-se-á proceder
a uma pré- escavação até atingir a cota de trabalho necessária. Uma vez atingida a plataforma de
trabalho, iniciar-se-á a execução de uma laje de betão armado (e=0,20 m de espessura) para
permitir a realização dos trabalhos sequentes;
3. Execução de estruturas metálicas de apoio ao empuxe, por meio de macacos hidráulicos, das vigas
longitudinais;
4. Execução das vigas de betão armado longitudinais;
5. Empuxe das vigas longitudinais, acompanhado de uma escavação por avanços. Prevê-se que esses
avanços não ultrapassem 1,0 m de extensão em plena secção. Os materiais resultantes da
escavação serão extraídos pelo interior vazado das vigas longitudinais. Esta operação deve ser

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

levada a cabo até a viga atingir a cota final definida no lado oposto, e repetida para todas as vigas
longitudinais previstas em projeto;
6. Escavação a partir das janelas laterais das vigas longitudinais até atingir os pilares da estrutura.
Esta escavação deve ser executada sempre que possível acima da cota das sapatas dos pilares
existentes;
7. Soldadura de conetores metálicos aos pilares metálicos, com o objetivo de aumentar a aderência
aço/betão;
8. Colocação da armadura e betonagem das vigas de betão armado transversais;
9. Execução da viga de betão armado de ligação entre as estacas de betão armado no alinhamento
exterior ao Edifício do Banco;
10. Betonagem dos troços de ligação das vigas longitudinais em cada uma das extremidades. Num dos
extremos, a ligação será feita à viga de coroamento da parede moldada, e no lado oposto à viga
de coroamento das estacas.

A malha de vigas longitudinais e transversais fica sensivelmente 10 cm abaixo do massame do piso térreo.
Para garantir que as vigas fiquem em contacto direto com a laje térrea e lhe proporcionem apoio, serão
colocados uns dispositivos insufláveis no topo das vigas longitudinais que servem para reter a calda de
cimento que vai preencher esse espaço antes de se iniciarem os trabalhos de escavação.

À medida que se processem os primeiros trabalhos de escavação geral abaixo do Banco Kwanza, serão
colocados e apoiados entre a malha de vigas de betão armado, barrotes de madeira para suporte do
massame térreo.

Uma vez garantida a solidarização da malha de vigas ao massame do piso térreo, iniciam-se os trabalhos
de escavação até à cota prevista.

9- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência da empresa Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A. em escavações realizadas na


Formação de Luanda, localizadas na proximidade da atual obra e com características idênticas no que se
refere à envolvente e profundidade, permite antecipar e prevenir, ou limitar, a ocorrência de fenómenos
muito característicos nesta região, nomeadamente a descompressão dos solos por alívio das tensões
verticais durante a escavação. Estes fenómenos podem contribuir, com alguma preponderância, para a
ocorrência de comportamentos inesperados das estruturas de contenção e fundação, e afetar gravemente
o comportamento dos edifícios. Deste modo, as características geotécnicas dos terrenos devem ser aferidas
“in situ” à medida que os trabalhos de escavação prosseguem, no sentido de calibrar os modelos de cálculo
e definir, se necessário, medidas de reforço que permitam corrigir possíveis comportamentos pouco
satisfatórios da estrutura.

O facto de se pretender manter em funcionamento o Edifício do Banco Kwanza Investimento durante os


trabalhos de escavação, constitui um desafio acrescido a este tipo de obras geotécnicas, obrigando à
conceção de uma estrutura com características de execução e funcionamento muito exigentes.

O sistema de monitorização proposto tem como objetivo avaliar o comportamento da estrutura assim como
avaliar as condições de segurança no decurso dos trabalhos de escavação, constituindo um importante
instrumento de apoio à tomada de decisões.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - “Une méthode pour le calcul des tirants et des micropieux injectés”, Bulletin de
liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº 140, nov.-déc., pp.75-92.

Bustamante, M. e Gianeselli, L. (1981) - “Prévision de la capacité portante des pieux isolés sous charge verticale. Règles
pressiométriques et penetrométriques”, Bulletin de liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº 113, mai.-
juin., pp.83-108.

Xavier, B. e Reis, S. (2008) - “Projeto de Escavação e Contenção Periférica do Edifício Maravilha, do Consórcio PWC,
OPCA e Carlos Madaleno, em Luanda, Angola ”, Teixeira Duarte, Engenharia e Construções S.A.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DO NOVO HOSPITAL CUF TEJO,


LISBOA

EXCAVATION, RETAINING EARTH WALL OF THE NEW HOSPITAL CUF TEJO,


LISBON

Reis, Sandra; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, smr@teixeiraduarte.pt
Xavier, Baldomiro; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, bx@teixeiraduarte.pt
Pina, João; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, jsp@teixeiraduarte.pt
Esteves, Laura; Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, Oeiras, Portugal, lpe@teixeiraduarte.pt

RESUMO

Pretende-se nesta comunicação descrever as diferentes soluções de contenção periférica adotadas para a
escavação das quatro caves do edifício do novo hospital da Cuf Tejo, em Lisboa. A escavação, já concluída,
constituiu um desafio não só pela grande dimensão da área de intervenção, como também pelas
características hidrogeotécnicas bastante heterogéneas do terreno, que obrigou à definição de soluções de
escavação e contenção periférica distintas. Foram executadas, em toda a periferia, paredes moldadas com
0,8 m ou 0,6 m de espessura. O recurso à tecnologia top-down na zona próxima da Av. de Ceuta deveu-
se à existência de formações recentes (aterros), de grande espessura. Na restante extensão da obra, o
sistema de travamento provisório incluiu ancoragens pré-esforçadas e escoramentos metálicos de canto.
Nas zonas onde as formações rochosas pouco alteradas ocorreram antes de atingido o fundo de escavação
procedeu-se ao recalce da parede moldada com uma parede de betão armado, executada de forma faseada
à semelhança da tecnologia tipo “Berlim”, com 0,4 m de espessura. Durante a escavação o sistema de
instrumentação e observação implementado registou deformações próximas dos níveis de alerta e alarme
definidos, em fase de projeto, nalgumas frentes da obra, o que justificou o emprego de medidas adicionais.

ABSTRACT

The purpose of this communication is to describe the different solutions of excavation and retaining wall
adopted for the excavation of the four basements of the new hospital building Cuf Tejo. The excavation,
already completed, was a challenge not only for the large area of intervention, but also for the different
hydrogeotechnical characteristics of the excavation site, a situation that led to the definition of different
solutions adopted. A diaphragm wall with 0,8 m or 0,6 m of thickness, was adopted alongside the perimeter
of the excavation. The use of top-down technology in the area near Av. de Ceuta was due to the existence
of great thickness of recent formations (landfills). For the remainder of the work the bracing solution
included anchors and corner shoring. In the areas where there was hard rock occurred before reaching the
maximum excavation depth level, the diaphragm wall was underpinned with a reinforced concrete wall with
0,4 m of thickness, executed as a "Berlin” type wall. During the excavation, deformations close to the alert
level were registered locally, with the monitoring system that was placed along the diaphragm wall; this
event triggered the use of additional measures.

1- INTRODUÇÃO

Promovido pelo Grupo IMO HEALTH – Investimentos Imobiliários, o novo hospital da Cuf Tejo está
implantado num terreno retangular com dimensões aproximadas de 202 m por 58 m, que confronta a norte
com a Avenida 24 de Julho, a sul com a Avenida da Índia e a oeste com a Rua de Cascais; esta área
encontrava-se anteriormente ocupada por diversas construções de um e dois pisos, entretanto demolidas.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 1 – Implantação do lote do Novo Hospital CUF Tejo – Adaptado de Google Maps

O edifício que a José de Mello Saúde pretende edificar possuirá 4 pisos enterrados, 1 piso térreo e 5 pisos
elevados. A área de implantação dos pisos subterrâneos é de 10 200 m2, reduzindo-se para 6 850 m2 no
piso 1 e para 6 060 m2 no piso 3; acima deste piso, a área a construir mantém-se constante até à cobertura
(ver Figura 2).

A área de escavação a realizar para execução dos pisos enterrados está confinada ao interior do lote, e a
profundidade máxima é da ordem de 17,5 m.

Em virtude do programa de concurso na primeira fase incluir a execução da estrutura enterrada, e no


sentido de cumprir os prazos de execução exigidos, houve necessidade de adaptar o faseamento de
execução do projeto base definido pelo gabinete de projetos A2P. Contudo, mantiveram-se os critérios base
e tecnologias definidos no projeto base, assim como os requisitos de segurança próprios de uma obra desta
natureza e dimensão.

Figura 2 – Fotomontagens do Novo Hospital CUF Tejo

2- ESTRUTURAS E INFRAESTRUTURAS CONDICIONANTES DA ESCAVAÇÃO

São diversas as infraestruturas adjacentes à escavação a executar, destacam-se, entre elas:

 A norte, no eixo da Avenida 24 de Julho - existência de um coletor de esgoto enterrado com

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

1200 mm de diâmetro, aproximadamente a 1,0 m de profundidade;


 A sul, no eixo da Avenida da Índia - existência de coletor de esgoto com 1200 mm de diâmetro, a
uma profundidade aproximada de 0,8 m;
 A sul, próximo do passeio norte - existência de conduta de água da EPAL com 630 mm de diâmetro,
a 2,5 m de profundidade;
 A oeste - caneiro de Alcântara;
 A oeste, adjacente ao lote - estação elevatória de águas residuais;
 Existência de diversas infraestruturas de telecomunicações, distribuição da rede elétrica e gás em
todas as frentes.

Os edifícios mais próximos encontram-se a norte, distando aproximadamente mais de 20 m do limite da


escavação.

A oeste, adjacente ao lote, verifica-se a existência de construções de pequeno porte, de caráter industrial,
onde estão instalados os órgãos de operação da estação elevatória.

Pela clara identificação em mapas antigos daquela zona da cidade, previa-se que os trabalhos de escavação
viessem a expor os vestígios de um antigo cais. De facto, durante as escavações foi descoberto uma doca
antiga e outras estruturas portuárias integrantes do Baluarte do Sacramento, estrutura militar construída
em 1652, constituída por um sistema de cofragem de madeira e uma compacta estrutura pétrea anexa
pelo seu lado exterior (ver Figura 3). Perpendicularmente à doca foi ainda descoberta uma estrutura
portuária com a função de quebra-mar (ver Figura 3), composta por uma maciça estrutura de pedra calcária.

Figura 3 – Visualização da estrutura parcial da Doca do Baluarte identificada no interior da escavação

A existência destes importantes vestígios arqueológicos veio inevitavelmente condicionar o ritmo da obra,
de modo a permitir a sua cuidadosa avaliação, levantamento e catalogação, bem como a implementação
dos necessários procedimentos de preservação, que ficaram a cargo de uma equipa de arqueólogos.

3- CONDIÇÕES GEOLÓGICAS

A área em estudo encontra-se caracterizada geologicamente, à escala 1:50 000, na folha 34-D LISBOA da
Carta Geológica de Portugal, editada pelo Departamento de Geologia do Instituto Nacional de Engenharia,
tecnologia e Inovação, I.P. (Figura 4).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 4 – Extrato da folha 34-D (LISBOA) à escala 1:50 000 da Carta Geológica de Portugal

De acordo com este documento, o local insere-se numa zona de formações sedimentares datadas do
Quaternário, constituídas essencialmente por aterros (At) e/ou aluviões (a). Sob as formações quaternárias
ocorrem as formações neocretácicas do “Complexo Vulcânico de Lisboa” (), subjacentes às quais ocorrem
por vezes formações de “Calcários” (C3c e C2c).

A caracterização das formações geológicas foi realizada a partir de duas campanhas de sondagens
executadas no local pela Mota Engil, Engenharia e Construções S.A. e pela Teixeira Duarte Engenharia e
Construções S.A.

No conjunto dessas campanhas foram realizados 19 furos de sondagem à rotação, com execução de ensaios
de penetração dinâmica com sonda normalizada (SPT), em intervalos de cerca de 1.50 m; procedeu-se
também à recolha de amostras para caraterização dos solos e obteve-se a caracterização lito-estratigráfica
e hidrogeológica que se descreve seguidamente:

 Depósitos de aterro (complexo C1); de natureza predominantemente arenosa, caracterizada por


valores de NSPT inferiores a 5 pancadas, com cerca de 2,5 m a 7,0 m de espessura;

 Formações aluvionares, ocorrendo de forma descontínua sob o Complexo C1; constituídas


essencialmente por siltes e areias lodosas que se apresentam muito soltas a soltas (Complexo C2A),
com espessura variável entre 1,50m e 6,00m, encontrando-se por vezes intercalada com formações
do Complexo C2B. As formações aluvionares do complexo C2B estendem-se desde a base do
Complexo C2A e por vezes diretamente sob o Complexo C1 até às formações vulcânicas do
Complexo Vulcânico de Lisboa (CVL), com uma espessura muito variável, que vai desde 1,50 m na
zona nascente do lote até cerca de 29,0 m na zona poente;

 Subjacente às formações aluvionares encontram-se as formações do CVL “Complexo Vulcânico de


Lisboa”, onde é possível diferenciar 3 unidades distintas quanto à sua génese e estado de alteração.
Foram identificados o Complexo C3A constituído por tufos vulcânicos e tufos vulcânicos brechóides;
o Complexo C3B constituído predominantemente por basaltos e basaltos alveolares decompostos
a muito alterados; e, finalmente, o complexo C3C constituído por basaltos e basaltos alveolares,
regra geral medianamente alterados. Estes complexos apresentam-se em estratos sucessivos,
evidenciando episódios eruptivos alternantes entre explosivos - com decomposição de cinzas
vulcânicas que originam os tufos - e escoadas lávicas - que originam os basaltos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 5 – Localização em planta do perfil geotécnico

Figura 6 – Perfil geotécnico longitudinal

A área em estudo localiza-se na margem direita do rio Tejo, e está incluída no “Vale de Alcântara”; tornou-
se, assim, indispensável proceder a uma extensa gama de ensaios para caraterizar o regime hidrogeológico
ocorrente no âmbito dos trabalhos de prospeção geotécnica.

A posição do nível freático foi reconhecida, tendo-se concluído que este se encontra em média entre os
2,5 m a 3,0 m de profundidade sofre influência do regime de marés. Realizaram-se também ensaios
laboratoriais para caracterização da água, tendo-se concluído que é ligeiramente agressiva do ponto de
vista químico (XA1).

Realizaram-se ainda ensaios de permeabilidade que conduziram a valores de coeficientes de permeabilidade,


k, dentro do intervalo de 10-9 a 10-6 m/s, o que confere um grau de permeabilidade preferencialmente
baixo.

O LNEC realizou um “Estudo Hidrogeológico para a Unidade de Execução em Alcântara: Hospital Cuf” com
o objetivo de determinar a influência da parte enterrada do edifício no regime de escoamento subterrâneo;
tendo estimado que poderá existir um pequeno impacto, recomendou a construção de um canal de
equilíbrio sob o edifício que a título definitivo permitisse o equilíbrio hidrostático, minimizando, desta forma,
os efeitos da construção enterrada no escoamento subterrâneo.

4- DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO

A escavação necessária para construção dos quatro pisos enterrados foi realizada ao abrigo da execução
de uma parede de betão armado, a executar pela tecnologia das paredes moldadas, com 0,8 e 0,6 m de
espessura. Nas zonas onde as formações rochosas pouco alteradas (basaltos) ocorrem acima da cota de
fundo de escavação houve que implementar o recalce da parede moldada, através da execução faseada -
à semelhança da metodologia tipo “Berlim” - de uma parede de betão armado com 0.4 m de espessura.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Na zona poente do Edifício onde a espessura de aluviões era muito


elevada, tornava-se impraticável o recurso a ancoragens pré-esforçadas
para travamento da contenção devido ao grande comprimento necessário
para atingir estratos geológicos compatíveis com a capacidade de suporte
necessária.

Por outro lado, a proximidade do caneiro de Alcântara, da estação


elevatória de águas residuais subterrânea e suas fundações por estacas
(que se prolongavam até aproximadamente aos 17,0 m de profundidade)
na Av. de Ceuta inviabilizavam a execução de ancoragens nos níveis
superiores.

Deste modo, para garantir a estabilidade da cortina de contenção, face aos


elevados impulsos horizontais durante os trabalhos de escavação recorreu-
se ao emprego de uma estrutura de maior rigidez, constituída por paredes
moldadas de 0,8 m de espessura, apoiadas em troços da laje dos pisos
enterrados, construídos dos andares superiores para os inferiores à
medida que prosseguia a escavação, segundo a metodologia “top-down”
(ver Figura 7).

De modo a suportar os troços de laje durante a escavação e até à


conclusão dos pilares, foram criados apoios verticais provisórios,
constituídos por tubos metálicos inseridos nas estacas integrantes do
projeto de fundações antes do início dos trabalhos de escavação.
Figura 7 – Parede moldada com
A geometria das lajes de “top-down” teve em consideração a arquitetura 0,8 m de espessura na zona do
dos pisos enterrados, definindo-se negativos nas zonas dos núcleos de “top-down”
escadas e elevadores, assim como da rampa de acesso aos pisos
enterrados, para permitir a sua execução tradicional de baixo para cima.

Os pilares metálicos de apoio dos troços de laje foram envolvidos em betão não estrutural entre o furo de
escavação e a plataforma de trabalhos para mitigar os efeitos de encurvadura, tendo sido demolido à
medida que a escavação prosseguia para os níveis inferiores. A maior parte destes elementos foi
incorporada nos pilares definitivos da estrutura, contribuindo para a sua capacidade resistente; em todos
os casos em que a sua integração na estrutura definitiva não estava prevista procedeu-se à demolição após
conclusão dos pilares.

A estrutura de contenção foi executada na


restante periferia da obra com uma espessura
de 0,6 m. O travamento às ações horizontais foi
garantido através da execução de ancoragens
provisórias com pré-esforço de 600 kN e
900 kN, bem como escoras de canto, quando
aplicável (ver Figura 8).

Figura 8 – Parede moldada com 0,6 m de espessura


com cinco níveis de ancoragens

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Nas zonas onde as formações rochosas afloravam


acima do nível final da escavação, procedeu-se ao
recalce da parede moldada através da execução de
uma parede em betão armado, executada de forma
faseada e alternada de painéis segundo a tecnologia
tipo “Berlim”, mantendo banquetas estabilizadoras
entre eles. Esta parede, de 0,40m de espessura,
possui fundação direta através de sapatas periféricas.

A estabilidade da contenção tipo “Berlim” face aos


impulsos horizontais foi assegurada recorrendo a
ancoragens pré-esforçadas de 600kN e, quando
aplicável, a escoras de canto (ver Figura 9).

Nos troços onde não foi executada imediatamente a


sapata da parede tipo “Berlim” a estabilidade vertical
da cortina foi garantida pela execução de pregagens
metálicas de grande resistência trabalhando ao corte, Figura 9 – Parede moldada com 0,6 m de espessura e
beneficiando da rigidez dos terrenos de rocha com recalce
medianamente alterada (W3).

Com as várias soluções propostas e implementadas, procurou-se realizar os trabalhos de escavação e


execução da estrutura enterrada nos prazos pretendidos, assegurando sempre a manutenção dos
obrigatórios critérios de segurança. No acompanhamento de uma obra com as características variáveis da
presente, destaca-se o papel que o Plano de Instrumentação e Observação assume, como ferramenta pro
ativa de prevenção e gestão do risco, permitindo a implementação atempada das medidas necessárias para
assegurar a execução da obra em condições de segurança e economia. É também de salientar a utilidade
da definição prévia de estratégias de intervenção suplementares, que permitam a reposição rápida da
segurança da obra na eventualidade de comportamentos inesperados e inadequados da estrutura de
contenção

5- SUSPENSÃO DA COFRAGEM DAS LAJES DO “TOP-DOWN”

Considerando os reduzidos prazos de execução, concebeu-se um sistema de cofragem tradicional para as


lajes do top-down, de modo a reduzir as imperfeições características de uma betonagem contra o solo e as
consequentes intervenções de reparação, dispendiosas e demoradas. Este sistema foi suspenso numa
estrutura metálica constituída por asnas, o que permitiu aumentar os vãos e utilizar como apoios
intermédios os tubos metálicos dos alinhamentos 4 e 7 (ver Figura 10), constituídos por perfis CHS com
323,9 de diâmetro e 10 mm de espessura, dimensionados para apoio provisório das lajes de top-down.
Nas extremidades, a estrutura de asnas descarregava por intermédio de colunas BB65 nas vigas de
coroamento dos alinhamentos 2 e 9.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 10 – Vista da estrutura de suspensão da cofragem das lajes do “top-down”

Os tubos que serviram de apoio ao sistema de cofragem foram reforçados pela inclusão no seu interior de
um perfil metálico HEB180 e uma armadura longitudinal 825; foram também preenchidos com uma calda
de cimento de classe de resistência igual à do C40/50 (ver Figura 11).

Uma vez que a estrutura de suspensão se encontrava aproximadamente 2,3m acima da superfície, houve
necessidade de prolongar os tubos existentes do “top-down” nos alinhamentos 4 e 7, o que foi conseguido
através da utilização de tubos 323,9x14, igualmente preenchidos com calda de cimento no seu interior.

A verificação da segurança dos tubos de apoio das asnas foi feita para a situação mais condicionante,
correspondente à carga de suspensão da laje a betonar complementada com o peso próprio de três lajes,
já concluídas, que descarregavam igualmente nestes apoios.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 11 – Pormenor do tubo de apoio da estrutura de cofragem das lajes do “top-down”

6- SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO E OBSERVAÇÃO

O Plano de Instrumentação e Observação apresentado teve como objetivo garantir a segurança da obra e
estruturas envolventes na fase de construção, tendo sido para tal instrumentado o terreno envolvente à
escavação, a estrutura de contenção periférica e algumas estruturas próximas à obra. Este plano foi
definido a partir da análise dos principais condicionalismos que se identificaram na análise do projeto de
execução e que, com maior probabilidade poderiam vir a afetar a obra, permitindo a quantificação dos
principais riscos associados à execução dos trabalhos. Foi igualmente uma ferramenta de apoio ao
desenvolvimento dos trabalhos. Permitindo adequar ou otimizar processos construtivos e fornecer
elementos de verificação dos pressupostos de projeto.

O Plano de Instrumentação e Observação proposto permitiu durante a fase de escavação e até ao fecho da
estrutura do piso 0, a medição das seguintes grandezas:

a) Movimentos horizontais da estrutura de contenção;

b) Movimentos horizontais do terreno a tardoz da contenção;

c) Nível freático local;

d) Movimentos verticais internos;

e) Tração instalada em ancoragens;

f) Deslocamentos rotacionais e verticais da contenção e estruturas;

g) Deslocamentos verticais na envolvente da obra ao nível do solo;

h) Deslocamentos verticais de estruturas à superfície.

877
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Para as deformações e variações a medir anteriormente descritas, foram implementados instrumentos de


natureza geotécnica e topográfica, como os que a seguir se indicam:

1. Calhas inclinométricas para medição das deformações referidas nas alíneas a) e b);

2. Piezómetros para medição das grandezas referidas em c);

3. Extensómetros de varas para medição das grandezas referidas em d);

4. Células de medição de tração em ancoragens para medição da força de tração referida em f);

5. Strain gauges para medição dos deslocamentos referidos em g);

6. Tiltmeters de corda vibrante ou bases para a observação com tiltmeter portátil, para medição das
deformações referidas na línea g)

7. Alvos topográficos para a medição das grandezas referidas na alínea g);

8. Marcas de nivelamento superficial para medição dos deslocamentos referidos em h);

9. Réguas de nivelamento para medição dos deslocamentos referidos em h)

6.1 - Frequência das Leituras

Atendendo às características da obra os instrumentos preconizados deveriam ser lidos com uma frequência
mínima semanal, sendo que, todos os equipamentos teriam de possuir pelo menos uma leitura mensal.
Face aos critérios de alerta definidos, as frequências de observação foram ajustadas em função dos
resultados das leituras obtidos.

6.2 - Critérios de Alerta e Alarme

A interpretação dos valores obtidos em cada campanha de observação foi realizada de forma comparativa
com a dos valores obtidos na leitura anterior, pois, além da informação dada pelos valores absolutos, é
sempre importante a análise das tendências da respetiva evolução. Os níveis de alerta e de alarme
propostos estão definidos no Quadro 1.

Quadro 1- Definição dos níveis de alerta e alarme dos dispositivos de observação

Zona do top-down Restante Zona

Alerta Alarme Alerta Alarme


Movimentos horizontais da estrutura de
30 50 20 40
contenção (mm)
Movimentos horizontais a tardoz (mm) 10 20 10 20
Movimentos verticais internos (mm) 10 20 10 20
Tração instalada nas ancoragens (% T
10% 20% 10% 20%
aplicada)
Tração em escoramentos metálicos (%) 10% 20% 10% 20%
Deslocamentos rotacionais da
3.75 6.25 2.5 5.0
contenção (10-3)
Deslocamentos verticais da envolvente
ao nível do solo e da estrutura à 10 20 10 20
superfície (mm)
Deslocamentos verticais no tardoz do
alinhamento paralelo à Avenida da Índia 20 30 20 30
(mm)

7- SITUAÇÕES DE INTERVENÇÃO DURANTE A OBRA

No decorrer dos trabalhos de escavação registaram-se em alguns aparelhos de observação e


instrumentação valores ligeiramente acima dos valores de alerta e alarme definidos em projeto. Situação
que obrigou a serem definidas a adotadas medidas suplementares de intervenção no sentido de repor os

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

níveis de segurança da obra e sua envolvente.

7.1 - 1ª Intervenção

Os valores registados foram sempre dentro dos valores previstos. Contudo à medida que a escavação
avançava e se instalavam os esforços máximos na cortina, registaram-se junto à Avenida da Índia (ver
Figuras 12 e 13) nos primeiros instrumentos de leitura valores iguais ou ligeiramente superiores aos valores
de alerta, nomeadamente nas marcas de superfície e numa célula dinamométrica. Nessa fase e em
particular nesse alinhamento a escavação aproximava-se da cota final prevista, faltando em alguns painéis
o último painel de recalce e respetiva sapata e ainda a execução do pré-esforço em algumas ancoragens
já furadas.

Figura 12 – Alinhamento da obra que indiciou em meados de julho em alguns instrumentos de leitura valores acima
dos valores de alerta

Figura 13 – Escavação em meados de Julho no alinhamento da Avenida da Índia que registou em alguns aparelhos de
leitura valores acima dos níveis de alerta definidos

Nesta fase, os deslocamentos horizontais medidos nesta frente pelos diversos dispositivos aí existentes
foram, em geral inferiores a 1,5 cm, representando apenas 1/1000 da altura de escavação o que era

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

francamente bom, dentro dos valores espectáveis.

Tratando-se de escavações em solos rochosos, os limites de alerta e alarme fixados eram muito otimistas.

Devido à rigidez do terreno a desmontar foram mobilizados meios pesados que produziram vibrações
induzindo ajustes nos terrenos superficiais mais soltos, traduzindo-se em pequenos assentamentos, assim
como perdas de carga em algumas ancoragens.

Os movimentos relativos registados acima dos níveis de alerta não deviam ter sido interpretados de forma
isolada dos restantes instrumentos do sistema de observação, os quais ainda estavam abaixo dos níveis de
alerta definidos. No entanto, foram propostas nesta frente de escavação algumas medidas no sentido de
controlar a evolução dos deslocamentos registados até à data:

 Aumento do número de alvos topográficos ao nível da viga de coroamento;

 Dar prioridade à execução da sapata dos painéis de recalce adjacentes que se encontravam próximos
da cota de fundo;

 Realização o mais breve possível do pré-esforço das ancoragens já furadas.

Após a aplicação das medidas referidas verificou-se que a evolução dos valores de deslocamentos
registados nessa frente estabilizou, verificando-se em alguns casos uma redução dos valores registados
nesses instrumentos de leitura.

7.2 - 2ª Intervenção

Durante a escavação do último troço correspondente à rampa de acesso das máquinas localizada no alçado
sul verificou-se um agravamento dos assentamentos registados nas marcas de superfície localizadas no
perímetro exterior da parede de contenção, em alguns casos excederam em 1,0 mm o valor especificado
para nível de alarme, não interferindo diretamente no comportamento da parede de contenção, situação
comprovada pelos valores dos deslocamentos verticais registados nos alvos topográficos localizados nesse
troço da parede de contenção.

A razão do incremento dos assentamentos registados nas marcas de superfície deveu-se ao facto de nesse
período e em particular nessa zona da obra, se verificar a circulação intensa de viaturas e equipamentos
pesados (ver Figura 14).

Figura 14 – Visualização da rampa e circulação de equipamento pesado refletindo-se no comportamento a tardoz da


parede de contenção

7.3 - 3ª Intervenção

No alçado poente onde a espessura de aterro era maior e os piezómetros exteriores registavam variações
de 1.0 m devido às marés, em particular junto à zona vazada da rampa da garagem, verificou-se antes de
atingido o fundo de escavação que os inclinómetros localizados dentro e fora da parede nesse alinhamento
vinham a registar incrementos sucessivos de deslocamentos horizontais.

Nessa frente, uma vez atingida a cota de escavação para se proceder à betonagem da laje do piso -3 (ver
Figura 15) verificou-se uma estabilização nas leituras dos inclinómetros referidos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 15 – Escavação no alinhamento poente para execução da laje do piso -3

No alçado poente, quando já se tinha atingido praticamente o fundo de escavação, existindo apenas uma
pequena banqueta junto à parede de contenção (ver Figura 16) os valores registados nos inclinómetros já
estavam próximos dos valores de alerta definidos em projeto.

Figura 16 – Visualização da cota final de escavação no alçado poente existindo apenas uma pequena banqueta

Deste modo, foi estudada e pormenorizada uma solução preventiva que passou pela execução de um
escoramento metálico adicional da parede moldada no troço poente junto à laje vazada do “Top-down”.
Foram disponibilizadas em obra colunas BB50 para poderem ser de imediato mobilizadas como escoras de
travamento. Estas escoras com recurso a um fuso extensível tinham a vantagem de poderem ser
imediatamente colocadas em carga após a sua instalação. No início do mês de novembro, antes mesmo de
atingido o valor de alerta no inclinómetro desse alinhamento, foram colocadas as escoras BB50.

A solução de reforço proposta, no sentido de impedir a evolução dos deslocamentos da parede moldada
nesse troço, consistiu em, após atingida a cota de fundo da escavação, colocar um nível de escoras
metálicas adicional a sensivelmente 1,8 m do fundo da escavação, inclinadas e apoiadas na laje do piso -
3. A Figura 17, representa o perfil tipo adotado no troço em estudo.

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Figura 17 – Visualização das escoras inclinadas no alçado poente da parede moldada

Nesse alinhamento, após a colocação das escoras BB50 procedeu-se à execução das vigas de fundação
perpendiculares à parede de contenção (ver Figura 18).

Figura 18 – Visualização das escoras inclinadas e vigas de fundação perpendiculares ao alçado poente da parede
moldada

Após a execução das medidas anteriormente referidas, conseguiu-se a estabilização dos deslocamentos
registados no inclinómetro, o que permitiu a execução da estrutura enterrada em condições de segurança.

Figura 19 – Perspetiva geral da escavação, com alguns troços da estrutura enterrada já executada

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

8- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escavação realizada foi executada ao abrigo de uma contenção periférica composta por soluções
adaptadas às condições geológicas existentes, baseadas na tecnologia das paredes moldadas. Nas zonas
mais rochosas, adotou-se uma solução mista: parede moldada, que se aplicou nas formações recentes
mais descomprimidas, e contenção Berlim, desenvolvida no atravessamento do complexo basáltico.

A monitorização do comportamento da estrutura ao longo da execução permitiu aferir os critérios de


dimensionamento, avaliar as condições de segurança no decurso dos trabalhos e despistar precocemente
eventuais anomalias (ou desvios ao comportamento previsto), constituindo assim um instrumento
importante de apoio à tomada de decisões.

A adoção de soluções complementares de travamento da parede moldada motivada pelo do aumento da


deformação da parede moldada na zona do “top-down”, constituídas por escoras metálicas muito versáteis
e de rápida colocação, revelou-se uma solução simples e eficaz que permitiu a estabilização das
deformações.

A presente obra constituiu um desafio, não só pela diversidade de soluções de escavação e contenção
periférica adotadas, como também pelos reduzidos prazos de execução, que obrigaram à implementação
de soluções invulgares de forma a manter as condições de segurança e qualidade pretendidas. Tendo a
escavação e construção dos pisos subterrâneos sido concluída com todas as condições de segurança,
qualidade e integridade estrutural, revelou-se um caso de sucesso face a situações imprevistas.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS EM BETÃO ARMADO E RESPECTIVA


APLICAÇÃO EM DIVERSOS CASOS DE ESTUDO

Rodrigues, Ana; RODIO, Sintra, Portugal, ana.rodrigues@rodio.pt;


Anjos, Bruno; RODIO, Sintra, Portugal, bruno.anjos@rodio.pt;
Costa, Carlos; RODIO, Sintra, Portugal, carlos.costa@rodio.pt;
Santos, Paulo; RODIO, Sintra, Portugal, paulo.santos@rodio.pt.

RESUMO

As estacas pré-fabricadas cravadas são uma das possíveis soluções construtivas para a execução de
fundações especiais, com vasto campo de aplicação, desde edifícios industriais, residenciais e
infraestruturas. Trata-se de um material produzido em ambiente fabril com exaustivos controlos de
qualidade que daí possam advir e que, uma vez colocados em obra, permitem a sua imediata e rápida
aplicação. Estes elementos de fundação produzidos no seio do grupo RODIO são constituídos por troços
em betão armado de secção quadrada, unidos com recurso a juntas metálicas especialmente desenhadas
para esse efeito. No âmbito da aplicação desta técnica construtiva apresentam-se vários casos de estudo,
bem como uma abordagem a alguns ensaios de carga executados.

ABSTRACT

Precast driven reinforced concrete piles are one of the available constructive solutions that are used to
execute deep foundations, with a wide range of application, from industrial and residential buildings to
infrastructures. It is a material which is produced in a factory environment, which is submitted to a
battery of quality control tests to allow a quick application on site. These foundation elements, which are
produced within the RODIO group, are composed by reinforced concrete segments with a square section,
connected by steel couplings which are specially designed for that purpose. Concerning the application of
this constructive technique, several case studies are presented, as well as an approach of their load tests.

1- INTRODUÇÃO

No vasto currículo de soluções geotécnicas que o grupo RODIO apresenta, no âmbito da Engenharia
Geotécnica e Fundações Especiais, encontra-se a técnica de Estacas Cravadas Pré-Fabricadas em Betão
Armado.

As características estruturais, bem como o comportamento das estacas cravadas como elemento de
fundação, assemelham-se aos da tipologia de estacas moldadas no terreno; contudo, do ponto de vista
económico e construtivo, a solução de estacas pré-fabricadas pode apresentar diversas vantagens em
vários cenários geotécnicos e em certas infraestruturas. Ainda assim, a aplicação desta técnica continua a
ser pouco expressiva no mercado da Geotecnia em Portugal, ao contrário do que acontece, por exemplo,
na Holanda, Reino Unido, Países Nórdicos e, até na vizinha Espanha, onde a utilização deste tipo de
elementos de fundação é bastante corrente, sendo por isso este o tema do presente artigo.

As estacas cravadas executadas pela RODIO são elementos pré-fabricados de betão armado, cravados no
terreno com o auxílio de um equipamento de percussão. Os elementos estruturais são concebidos no seio
do grupo RODIO, onde o seu processo de fabrico e os respectivos materiais constituintes são alvo de um
exigente controlo de qualidade.

2- DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CONSTRUTIVA

2.1 - Fabrico

As estacas pré-fabricadas, apresentadas neste artigo, são concebidas no seio do grupo RODIO em
ambiente fabril, onde são armadas, cofradas e betonadas, numa plataforma de produção em série, como
se pode observar na Figura 1 e Figura 2.

As estacas estão disponíveis por 5 secções quadradas normalizadas, de denominação CK, sendo
caracterizadas pela dimensão do lado de cada secção: 235 mm (CK235), 270 mm (CK270), 300 mm
(CK300), 350 mm (CK350) ou 400 mm (CK400). São produzidas em moldes com comprimentos

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

variáveis, permitindo a execução de troços de 5 a 12 metros (14 com transporte especial). O empalme
dos troços de betão armado é realizado por meio de uma peça metálica instalada na ponta de cada troço
(semi-junta), dimensionada para garantir a ligação perfeita entre troços e assegurar que a energia de
golpe de cravação se disperse regularmente por toda a secção transversal da estaca.

Os troços das estacas podem ser fabricados conforme três tipologias, no que respeita à aplicação de
juntas: troços sem semi-juntas nas extremidades; com uma semi-junta numa só extremidade; com duas
semi-juntas em ambas as extremidades. A primeira é utilizada para estacas de comprimentos inferiores a
12 ou 14 metros, onde não se preveja à partida a necessidade de empalme, a segunda para estacas que
apenas necessitem de um empalme entre 2 troços e a última para segmentos intermédios, caso a estaca
apresente a necessidade de incorporar 3 ou mais troços.

Figura 1 - Plataforma de Fabrico das estacas cravadas CK Figura 2 - Estacas Pré-fabricadas em Fabrica

Cada tipologia de estaca dispõe de uma armadura padronizada, contudo variável de secção para secção.
As armaduras das estacas são constituídas por aço de classe A500NR através da utilização de varões
longitudinais e estribos contínuos electrossoldados ao longo de todo o comprimento da estaca (Figura 3).

O betão constituinte corresponde a uma classe de alta resistência, C50/60, pela necessidade de
resistência dos elementos de cravação aos sucessivos esforços de compressão durante o processo de
cravação da estaca, como também pela facilidade da sua aplicação em diferentes obras com diferentes
graus de exposição ambiental.

Tanto os materiais acima descritos, como o próprio processo de fabrico das estacas são certificados. Este
último é submetido a auditorias externas periódicas, sob cumprimento da norma vigente (UNE-EN
12794), bem como pela avaliação interna da própria empresa. Os materiais de fabrico, representados na
Figura 4 e Figura 5, são também submetidos a permanentes controlos de qualidade externos e internos,
através de ensaios em laboratório, como ensaios a cubos de betão e ensaios das juntas metálicas CK.

Figura 3 - Armadura pré-fabricada Figura 4 – Semi-junta Metálica CK Figura 5 - Estacas pré-fabricadas CK

2.2 - Aplicação em obra

2.2.1 - Modo de Execução

Esta técnica construtiva é executada por meio de equipamentos de cravação, conforme Figura 6,
constituídos por uma torre deslizante assente num sistema transporte de lagartas. Pela torre desliza uma
massa responsável pela energia de cravação (Figura 7), cujo accionamento é feito por um sistema
hidráulico e automático.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

As estacas são cravadas através de vários golpes, para facilitar o controlo da energia prevista de
cravação, bem como da verticalidade da estaca. Os golpes são produzidos pela queda livre de uma
massa, de peso útil variável entre 5 a 9 toneladas, a partir de alturas reguláveis.

Figura 6 – Equipamento de cravação Figura 7 - Martelo de cravação

Em obra, os comprimentos de projecto devem ser confirmados através da cravação de um número


exemplar de estacas (“estacas-teste”). A sua localização deve ser definida mediante o zoneamento
geológico conhecido, procurando uma distribuição representativa.

Como é habitual, é necessário executar-se o saneamento do topo da estaca para incorporação do maciço
de encabeçamento. Esta tarefa é, por vezes, árdua e morosa, dada a necessidade de desintegração do
betão com recurso a martelos pneumáticos.

No caso das estacas cravadas, esta tarefa torna-se mais simples, uma vez que, o saneamento pode ser
executado com recurso a um descabeçador de acção hidráulica, adaptado para este tipo de estacas de
secção quadrada. Através da compressão pontual do betão, nas quatro superfícies do topo da estaca
(Figura 8 e Figura 9), dá-se a sua fracturação e desintegração, destacando-o facilmente das armaduras,
conforme Figura 10. Esta técnica permite um maior rendimento neste tipo de trabalhos.

Figura 8 - Descabeçador Hidráulico Figura 9 - Descabeçador com ponteiras Figura 10 - Saneamento de estaca
de compressão accionadas

2.2.2 - Vantagens da sua Aplicação

Como já referido, as estacas cravadas apresentam um conjunto de vantagens quando comparadas com
as estacas moldadas no terreno, sendo elas:
- Execução de estacas de grandes profundidades e possibilidade de estas serem armadas ao longo de
todo o seu fuste;
- Facilidade de execução em obras marítimas;
- Eficiência e rapidez de execução de estacas em terrenos granulares;
- Controlo de qualidade no encastramento de cada estaca, garantido a partir do ensaio de carga
dinâmico intrínseco do próprio processo construtivo que permite a verificação do critério de “nega”;
- Facilidade de execução de estacas inclinadas, adequadas essencialmente para resistir a esforços
horizontais;

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

- Dispensa de trabalhos de movimentações de terras no decurso da actividade de estacas;


- Durante a cravação permite a compactação e melhoria do terreno, nomeadamente, em solos
granulares. Este efeito é especialmente vantajoso para grupos de estacas, onde a descompressão do
terreno é minimizada, podendo atingir-se até um grau de compacidade consideravelmente superior ao
inicial;
- No caso de terrenos que conduzam a atrito negativo nas estacas, é possível recorrer-se a tintas
betuminosas para preencher a superfície lateral do elemento, minimizando este efeito na capacidade
portante da estaca.

3- CONCEPÇÃO ESTRUTURAL

Não sendo uma técnica largamente utilizada em Portugal, verifica-se uma escassez de documentos
normativos que regulamentem o dimensionamento deste tipo de fundações. Contudo, a RODIO recorre
aos critérios de dimensionamento estruturais internacionais como algumas normas espanholas (UNE
1997-1 – Anejo Nacional, EHE e CTE-2006), francesas (NF P 94 262) e americanas (ACI 543R-00), para
aferir a resistência destes elementos de fundação, quando sujeitos a esforços verticais de compressão.
Com base nestes códigos estabeleceu-se um critério de dimensionamento de resistência máxima axial à
compressão, definido pela minoração da tensão de resistência do betão em 30%, isto é, 0,3fck. Desta
forma a resistência máxima, neste tipo de estacas, cuja classe de resistência de betão é de C50/60,
deverá ser calculada para uma tensão máxima de dimensionamento de 15 MPa, aplicada a uma dada
secção normalizada.

No que respeita aos esforços transversos, de flexão e tracção, o dimensionamento das armaduras das
estacas deve ser realizado segundo o procedimento convencional de cálculo de elementos de betão
armado, contudo, adaptado à limitação da armadura normalizada de cada secção pré-fabricada.

Caso as estacas disponham de empalmes e os esforços de tracção sejam elevados, a resistência à tracção
poderá estar limitada pela incorporação das juntas metálicas nas estacas. Contudo o limite máximo de
tracção destes elementos é conhecido, pois, como já referido, são sujeitos a ensaios em laboratório,
previstos no processo de controlo de qualidade dos materiais de fabrico.

4- CAPACIDADE PORTANTE

A capacidade portante das estacas pré-fabricadas é resultado da resistência de ponta da estaca e da


contribuição da resistência ao longo do seu fuste. Isto é, quando uma estaca é solicitada com uma carga
vertical de compressão, esta é transferida ao terreno, em geral, por atrito lateral, através dos terrenos
confinantes e por resistência de ponta, a partir do seu encastramento.

Uma das maiores vantagens das estacas pré-fabricadas, face a outras técnicas de fundação, é o controlo
de cravação realizado em todas as estacas da obra, no momento da sua execução. Este tipo de fundações
permite portanto tirar partido do seu próprio método construtivo para confirmação da resistência do
terreno e, consequente, capacidade portante da estaca (Rodio Kronsa, 2017).

Neste tipo de fundações, o critério de “nega” representa o parâmetro mais importante na determinação
da capacidade portante de uma estaca cravada, pois permite aferir a sua resistência perante uma
determinada solicitação. O critério de “nega”, neste tipo de técnica, consiste na verificação do
comprimento cravado após terem sido aplicados 10 golpes na estaca (Rodio Kronsa, 2017).

A interpretação dos valores de “nega” pode ser realizada a partir de várias fórmulas dinâmicas teóricas,
que permitem avaliar a capacidade resistente da estaca através da equação de igualdade entre a energia
potencial do martelo e o trabalho despendido para a cravação da estaca. A fórmula dinâmica de cravação
adoptada pela RODIO é a Fórmula Holandesa (Rodio Kronsa, 2017):

Onde:
𝑅𝑑 – Resistência dinâmica; 𝑒 – Nega, por golpe;
𝑀2 ×𝐻
𝑅𝑑 = 𝑒×𝐴×(𝑃+𝑀) (1) 𝐻 – Altura de queda da massa; 𝐴 – Área da secção da estaca;
𝑀 – Peso da massa; 𝑃 – Peso da estaca.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

No caso das estacas cravadas, a massa varia entre 5 a 9 toneladas e a altura de queda entre 40 e 80cm.
A partir da imposição da capacidade portante requerida para a estaca, é possível determinar a “nega”
necessária para essa resistência seja garantida. A “nega” resultante poderá ser afectada de um
coeficiente de minoração variável entre 6 e 10 (Rodio Kronsa, 2017).

Durante a execução, é assim verificado o encastramento quando, após 10 golpes consecutivos a uma
altura de queda definida, o comprimento cravado nesse intervalo é inferior àquele pré-determinado para
uma dada capacidade portante e comprimento de estaca.

5- CONTROLO DE QUALIDADE EM OBRA

Neste tipo de obras, para além do controlo de qualidade executado aos materiais dos elementos pré-
fabricados, são também realizados ensaios de carga dinâmicos em obra, aplicados às estacas cravadas,
para o qual é adoptado um procedimento ajustado ao da norma ASTM-D-4945-89: “Standard Test
Method for High-Strain Dynamic Testing of Piles”.

O ensaio de carga dinâmico consiste, resumidamente, na aplicação de um impacto dinâmico no topo da


estaca induzindo uma onda que pode ser detectada em qualquer ponto da estaca e permite avaliar as
resistências de ponta e, até, lateral do elemento de fundação, através da medição da sua força e
velocidade total. Por exemplo, se a energia transferida à estaca, através do impacto dinâmico, for
suficientemente grande, a força induzida pelo impacto alcançará o valor da capacidade portante total,
sendo possível registá-lo.

A realização deste ensaio requer, para isso, a instalação de 2 extensómetros e 2 acelerómetros eléctricos
no topo da estaca em duas faces opostas da sua secção (Figura 11). São os extensómetros que permitem
a determinação da força, através da medição da extensão obtida, ao passo que a velocidade é alcançada
a partir da integração no tempo do sinal alcançado nos acelerómetros (Santos, 2008). Após o impacto,
estes sinais eléctricos são automaticamente armazenados num sistema de registo, calibração e
tratamento de dados, um deles, vulgarmente conhecido por P.D.A., “Pile Driving Analyzer”, presente na
Figura 12.

O analisador P.D.A. permite obter, durante o processo de cravação, para cada golpe, a informação
necessária para conhecer a resistência dinâmica da penetração da estaca. Para a interpretação dos
resultados obtidos e respectivo cálculo da resistência estática da estaca podem ser utilizados dois
métodos: CASE (Figura 13) e CAPWAP (Figura 14). O primeiro é um modelo simplificado de análise, que
permite a determinação global da capacidade portante, em obra, durante a execução do ensaio, ao passo
que o método de CAPWAP consiste num modelo mais elaborado, que proporciona a obtenção da
capacidade portante da estaca em profundidade, permitindo quantificar, em separado, a sua resistência
de ponta e de fuste. No entanto, este método está condicionado à aplicação em gabinete, uma vez que a
solução obtida resulta de um método iterativo de concordância entre as velocidades e força medidas com
as respectivas curvas calculadas (Santos, 2008). Um dos programas comerciais mais utilizados no estudo
e interpretação destes dados é o CAPWAP, também utilizado pela RODIO.

A execução destes ensaios de carga, com recurso ao analisador electrónico têm como objectivo, não só,
comprovar a capacidade portante das estacas pré-fabricadas, como também, validar o critério de
cravação estabelecido para a execução das estacas (Fórmula Holandesa) e aferir acerca da integridade
física das mesmas. Além disso, funcionam como estudo alternativo ou complementar na análise do
comportamento estrutural da estaca, podendo possibilitar a optimização económica dos comprimentos
das estacas, em fase de obra.

Figura 11 - Sensores instalados numa


Figura 12 - Equipamento de ensaio P.D.A.
face da estaca

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Figura 13 – Exemplo de análise CASE Figura 14 – Exemplo de análise CAPWAP

A grande vantagem deste tipo de ensaios dinâmicos, face aos ensaios de carga estáticos é o preço.
Sendo este muito inferior ao dos ensaios de carga estáticos, permite a sua execução em maior escala,
aumentando assim a amostra de estacas ensaiadas e melhorando o conhecimento das condições do
terreno e do comportamento das próprias estacas.

6- OBRAS EXECUTADAS

Como exemplo, apresentam-se duas obras de fundações, executadas com recurso a esta técnica
construtiva, realizadas em Portugal, no ano de 2017.

6.1 - Obra da Fábrica de Papel Fortissue

6.1.1 - Descrição da Obra

Em Janeiro de 2017 foi terminada a obra de fundações da fábrica de papel Fortissue, localizada na Zona
Industrial II de Neiva em Viana do Castelo. A empreitada geral dos trabalhos de construção da nave
industrial foi atribuída à empresa Casais, ficando a cargo da RODIO PORTUGAL a subempreitada de
geotecnia e fundações. Esta obra consistiu na execução de estacas de fundação do tipo cravadas e pré-
fabricadas, previstas num projecto de execução desenvolvido pelo departamento técnico do empreiteiro
geral.

A construção da infraestrutura fabril contava com uma larga intervenção, ao nível das fundações, numa
área de aproximadamente 19 280 m2, onde estava previsto a execução de estacas com secções
quadradas, segundo a tipologia CK300, CK350 e CK400. A área de construção abrangia 3 complexos
industriais contíguos, compostos por uma nave com 9700 m 2 e duas com metade desta área. Na primeira
estava previsto uma fundação composta por maciços de estacas duplos, unidos, perifericamente, por
uma viga contínua de fundação, ao passo que nas duas naves adjacentes, a estrutura de fundação
apresentava uma malha de estacas, distribuídas ortogonalmente, unidas e encabeçadas por vigas de
fundação orientadas numa só direcção, conforme Figura 15.

Figura 15 - Planta de Fundações da Fábrica de Papel Fortissue

A solução de estacas foi definida após a prospecção geotécnica realizada no local, pela empresa Geo-
Rumo, que executou 17 sondagens e a respectiva análise geológica e geotécnica dos terrenos
encontrados. Segundo Geo-Rumo (2011), os terrenos atravessados correspondem aos horizontes
geológicos do Quadro 1.

Os resultados do estudo geológico e geotécnico apresentam uma forte heterogeneidade das


características geomecânicas, quer em extensão, quer em profundidade.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

É na fronteira ZG1, com profundidades variáveis entre 12,5 e 28,5 metros, onde se verifica o critério de
nega do ensaio SPT, revelando, à priori, uma grande variabilidade de comprimentos das estacas de
fundação. A definição do comprimento das estacas é determinante na optimização económica da obra
tendo sido, por isso, executadas 4 “estacas-teste” no início da obra, com uma localização representativa
das condições físicas e geológicas, nas quais foram também realizados ensaios P.D.A. para verificar a sua
resistência de fuste e de ponta e assim definir os comprimentos de estacas necessários a adoptar.

No final da obra, foram executados 7925 metros de estacas cravadas com comprimentos variáveis entre
10 e 36 metros. Esta gama de comprimentos obrigou à utilização de dois ou mais segmentos, sendo o
empalme garantido por juntas metálicas, nas estacas com comprimentos superiores a 12 metros.

Quadro 1 - Estratificação do Terreno da obra da Fortissue


Zona Geotécnica Descrição NSPT

ZG9 Aterro não controlado da contaminação orgânica -

ZG8 Argilas, por vezes arenosas 2-4

Areias finas a grosseiras argilosas, por vezes com


ZG7 4 - 30
cascalho

ZG6 Argilas por vezes arenosas 8 - 30

ZG5 Argilas por vezes arenosas > 30

Areias finas a grosseiras argilosas, por vezes com


ZG4 30 - 60
cascalho

Areias finas a grosseiras argilosas, por vezes com


ZG3 60
cascalho

ZG2 Granito decomposto (W5) a muito alterado (W4) 20 - 60

ZG1 Granito decomposto (W5) a muito alterado (W4) 60

6.1.2 - Resultados da Obra

Nos Quadro 2 e Quadro 3 são apresentadas as características principais das estacas e dos equipamentos
utilizados, bem como o resumo dos resultados dos trabalhos executados ao longo da obra.

Quadro 2 - Características e quantidades executadas por tipo de secção normalizada da obra da Fortissue
Características CK300 CK350 CK400

Comprimentos médios (m) 19,20 21,50 19,75

Juntas Sim Sim Sim

Comprimentos de Troços (m) 5 a 12 5 a 12 5 a 12

Quantidades (m) 3476 4291 158

Quadro 3 – Resumo de características e resultados da obra da Fortissue


Características Cravação de Estacas

Equipamento Junttam PM20 (martelo 7 ton)

Nº de Equipamentos 2

Rendimento Médio (m/dia/equipamento) 145

Rendimento Máximo (m/dia/equipamento) 310

Duração da Obra 8 Semanas

890
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Na Figura 16, está representado um esquema tridimensional relativo aos comprimentos de estacas
executados de uma parte da obra, mais concretamente, a relação entre os comprimentos aplicados e os
efectivamente cravados. Após esta análise, realizou-se um estudo para aferir índices de desperdício de
material utilizado, ou seja, os comprimentos de estacas aplicados, não cravados, que ficaram à superfície
do terreno, alcançando-se um índice inferior a 10%. Este pode ser considerado pouco significativo, face à
elevada amplitude de comprimentos verificados em obra. A variabilidade de comprimentos, verificados
em extensão e em profundidade, levou à utilização, de estacas compostas por troços com duas semi-
juntas nas extremidades, a fim de evitar mais desperdício.

Figura 16 – Representação 3D dos comprimentos de estacas cravados


e não cravados das fundações entre o alinhamento 1 e 12.

Nesta obra foram também executados ensaios P.D.A., sendo apresentado no Quadro 4 uma amostra de 5
estacas ensaiadas.

Quadro 4 - Resultados dos Ensaios Dinâmicos executados nas estacas da obra Fortissue

Nº de Estaca 222 38 34 67 99*

Secção CK350 CK350 CK350 CK300 CK300

Comprimentos de
11,1 17,5 14,8 16,5 23,8
Cravação (m)

Resistência mobilizada
187 260 189 184 -
por fuste (t)

Resistência mobilizada
205 185 194 126 -
por ponta (t)

Resistência mobilizada
392 445 383 310 490
total (t)
*Esta estaca apresenta um grande comprimento externo, não sendo possível realizar a análise CAPWAP, pela vulnerabilidade de
encurvadura da zona superior. Desta forma, é apenas apresentada a análise segundo CASE.

A partir dos dados do Quadro 4, é possível verificar a elevada capacidade portante que as estacas
apresentam, permitindo afirmar que o critério estabelecido para a sua cravação, critério holandês, foi
adequado. Verificou-se, também, a integridade e continuidade das estacas ensaiadas, pois não foram
detectadas variações significativas de impedância ao longo dos seus comprimentos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Figura 17 - Plataforma de trabalho Figura 18 - Trabalhos de cravação Figura 19 – Trabalhos de cravação

6.2 - Obra da Indústria APD Química

6.2.1 - Descrição da Obra

Em Outubro de 2017 foi terminada a obra de fundação da infraestrutura de suporte de um tanque com
23 metros de diâmetro e 16 metros de altura, destinado ao armazenamento de Soda Cáustica para a
empresa APD Química, localizada no Porto de Aveiro. A empresa espanhola Contrucciones Porlan, S.L., à
qual pertence a respectiva empreitada geral, atribuiu a empreitada de fundações especiais à RODIO
PORTUGAL, que se propôs a executar o projecto de execução concebido pela empresa Capitel. A fundação
abrange uma área total de 2213m2 onde se situa o referido tanque de armazenamento e a respectiva
bacia de retenção.

O projecto de fundações consiste numa malha de estacas cravadas pré-fabricadas, de uma só secção,
CK300, solidarizada e encabeçada por uma única laje que cobre a área afecta ao tanque e à bacia de
retenção, de acordo com a Figura 20. A malha de estacas apresenta-se mais apertada na zona sobre o
tanque, onde também se verifica um espessamento da laje, como é possível observar-se na Figura 21.

Figura 20 - Solução de Fundação Figura 21 - Corte transversal da estrutura

A solução de estacas foi definida após a prospecção geotécnica realizada no local, pela empresa
espanhola Enmacosa, que executou 8 sondagens, 2 ensaios SPT e 6 ensaios DPSH. Segundo Enmacosa
(2016), os terrenos atravessados correspondem a areias litorais mal graduadas com compacidade solta,
aumentando, em profundidade, para moderadamente densa a densa. Superficialmente, o terreno
apresenta uma fina camada de aterro, com 1 metro de espessura, no máximo.

Através das sondagens e ensaios realizados, foi possível perceber a semelhança existente entre os
terrenos atravessados, em profundidade e em extensão. Verifica-se a existência de terrenos compostos
por areias litorais mal graduadas, até 20 metros de profundidade, apresentando compacidade muito solta
a solta até profundidades superiores a 10 metros. O critério de nega foi verificado entre os 15 e 20
metros de profundidade, gama a partir da qual foram definidos os comprimentos das estacas a cravar,
mediante a execução de 4 estacas iniciais, as já referidas “estacas teste”, em quatro zonas distintas da
obra.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

A obra apresentou uma metragem total de 5780 metros e comprimentos variáveis entre 11 e 17 metros.
Quando os comprimentos das estacas superiores a 12 metros, foi necessária a utilização de 2 segmentos,
com empalmes executados com recurso a juntas metálicas CK.

6.2.2 - Resultados da Obra

No Quadro 5 e Quadro 6 são descritas as características principais das estacas e dos equipamentos
utilizados, bem como o resumo dos resultados dos trabalhos executados ao longo da obra.

Quadro 5 - Características e quantidades executadas por tipo de secção normalizada da obra da APD Química
Características CK300

Comprimentos médios (m) 15,70

Juntas Sim

Comprimentos de Troços (m) 5 a 12

Quantidades (m) 5780

Quadro 6 - Resumo de características e resultados da obra APD Química


Características Cravação de Estacas

Equipamento MAIT THH8 (martelo 9 ton)

Nº de Equipamentos 1

Rendimento Médio (m/dia/equipamento) 141 (1 turno de 8h); 230 (2 turnos de 8h)

Rendimento Máximo (m/dia/equipamento) 426 (2 turnos de 8h)

Duração da Obra 5 Semanas

Nesta obra, a adopção de dois turnos diários, permitiu, numa determinada fase, o encurtamento do prazo
da subempreitada de 8 para 5 semanas.

A Figura 22 apresenta a implantação final das estacas, em função dos comprimentos cravados na obra.
Esta representação permite aferir quanto aos estratos atravessados pelas estacas e à sua distribuição em
profundidade. É possível verificar que a camada de terreno mais resistente e de maior capacidade
portante apresenta uma tendência de sentido ascendente de Noroeste para Sudeste, com uma diferença
de cotas de, aproximadamente 7 metros. Contudo, pode afirmar-se que as profundidades de cravação
das estacas apresentam uma gama consideravelmente baixa para este tipo de obras, permitindo concluir
que o estrato mais resistente encontra-se, de forma abrangente, em profundidades pouco díspares, em
toda a extensão da obra. Este facto, em complemento com uma gestão diária do stock dos troços pré-
fabricados existentes na obra, conduziu ao alcance de uma percentagem de desperdício de apenas 2%.

Figura 22 - Implantação das estacas cravadas em obra, em função dos seus comprimentos

893
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

A Figura 22 comprova um acontecimento vantajoso que pode ser verificado neste tipo de soluções
(referido em 2.2.2), pois na zona de fundação do tanque, a malha de estacas, por se encontrar mais
apertada promoveu, durante o processo de cravação, a compactação e melhoria do terreno através do
efeito de grupo nas estacas. O facto de se tratar de um terreno arenoso verifica-se, em especial, a
diminuição da descompressão dos solos e o aumento do grau de compacidade dos terrenos,
testemunhado pela redução de comprimentos das estacas do tanque relativamente aos da restante obra.
Nesta obra, foram executados os já referidos ensaios P.D.A., numa amostra de 10 estacas, para verificar
a capacidade portante dos terrenos. No Quadro 7 estão representados os respectivos resultados.

Quadro 7 - Resultados dos Ensaios Dinâmicos executados nas estacas da obra da APD Química
Nº de Estaca PA-10 PA-3 PB-81 PA-166 PA-168 PA-104 PA-160 PC-31 PB-83 PA-90

Secção CK300 CK300 CK300 CK300 CK300 CK300 CK300 CK300 CK300 CK300

Comprimentos de 14,9 16,3 15,8 15,2 16,0 15,2 16,5 16,0 12,5 15,6
Cravação (m)

Resistência mobilizada 90 181 141 139 150 144 152 176 159 208
por fuste (t)

Resistência mobilizada 189 116 163 145 159 174 167 166 166 90
por ponta (t)

Resistência mobilizada 278 297 304 284 310 319 319 320 325 298
total (t)

A análise CAPWAP, realizada em gabinete, permitiu determinar a resistência de ponta e por fuste das
estacas, em função da sua profundidade, tendo-se observado um contribuição nula da resistência
mobilizada por fuste, das areias presentes nos primeiros 4 metros de profundidade. Ainda assim, a
resistência mobilizada no restante comprimento, bem como a resistência de ponta da estaca,
asseguraram o alcance da capacidade portante do terreno em todos os elementos de fundação ensaiados.
Segundo os registos obtidos foi também verificada a integridade e continuidade das estacas, dado não
terem sido detectadas variações significativas de impedância ao longo dos seus comprimentos.

Figura 23 - Cravação Figura 24 – Trabalhos na plataforma de Figura 25 – Estacas saneadas e preparação


de estacas cravação de estacas para betonagem da laje

7- CONCLUSÕES

A técnica de estacas cravadas pré-fabricada consiste numa solução de fundações executadas com recurso
a equipamentos de cravação que induzem impactos de energia controlada na estaca. Este tipo de estacas
aproveita a compressão da cravação para potenciar a aderência do seu fuste e melhorar a resistência de
ponta, apresentando a vantagem de não existir limitação de comprimentos de estacas, graças à
possibilidade de empalme, mediante a utilização de juntas.

Outra vantagem da aplicação destas estacas é a sua abrangência de aplicação em vários locais com
diferentes graus de exposição aos agentes erosivos presentes nos terrenos, pois a elevada classe de
resistência do betão constituinte assegura a sua máxima eficácia quando exposto aos diversos factores
de agressividade dos solos.

Apesar de ser uma técnica pouco utilizada em Portugal, o comportamento das estacas cravadas pré-
fabricadas, bem como o seu dimensionamento e aplicação, em vários tipos de solos, está, hoje em dia,

894
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

largamente fundamentada por documentos normativos, nacionais e internacionais e igualmente


suportado pela extensa literatura da especialidade baseada em décadas de experiência de concepção e
implantação.

O próprio processo de fabrico exige o cumprimento de procedimentos normativos que garantem a


eficiência deste tipo de soluções. Sendo as estacas cravadas uma das especialidades do grupo RODIO, os
procedimentos de fabrico e controlo de qualidade dos materiais são também certificados e aprovados
pelas normas vigentes, permitindo oferecer ao mercado uma solução competente.

Reconhece-se uma limitação relativa à exequibilidade desta solução em terrenos de natureza rochosa,
onde só os terrenos rochosos decompostos ou colapsáveis poderão adequar-se aos trabalhos de
cravação. Contudo, esta técnica, quando comparada com soluções de estacas executadas com recurso a
trado, poderá apresentar vantagens face à facilidade e rapidez de execução, como é o caso das obras
expostas no capítulo 6.

A adopção das estacas cravadas nos dois casos de obras apresentados confirmam a facilidade de
execução e alcance de elevados rendimentos de cravação que permitiram o cumprimento dos respectivos
prazos. Ambos os casos reflectiram a vantagem da verificação da capacidade portante de cada estaca,
durante a sua execução, para além dos possíveis ensaios dinâmicos que podem ser realizados com
facilidade, pela utilização do mesmo equipamento de cravação, e com economia, quando comparados
com ensaios de carga estáticos.

Dado o facto de este tipo de obras ser “limpa”, isto é, sem resíduos sobrantes, não necessita do
acompanhamento de trabalhos de movimentação de terras. Garante uma plataforma livre, o que permite
a utilização de vários equipamentos em obra e/ou o avanço dos trabalhos de outra natureza, acelerando
tempo de obra. A desocupação do recinto da obra promove também o aumento da sua segurança, pois
possibilita uma visão ampla da plataforma de trabalhos, dos equipamentos, dos materiais e de outros
possíveis obstáculos, assim como permite a implantação de caminhos de circulação e uma maior
facilidade na detecção de situações de riscos.

Em suma, apesar desta não ser, hoje em dia, uma técnica corrente de recurso de fundações indirectas
em Portugal, as estacas cravadas de betão armado constituem uma importante alternativa na referida
especialidade, apresentando competência técnica e vantagens construtivas que permite estabelecer-se no
mercado português.

AGRADECIMENTOS

Neste espaço, os autores pretendem expressar os seus agradecimentos à empresa irmã RODIO KRONSA,
a partir da qual é recebido todo o apoio técnico referente à técnica exposta, suporte nos controlos de
qualidade do processo de fabrico, dos materiais e das estacas em obra, através dos ensaios P.D.A., bem
como do fornecimento da documentação técnica e informativa e do próprio fornecimento das estacas pré-
fabricadas.

Os agradecimentos estendem-se às empresas intervenientes nas obras apresentadas, desde Donos de


obra, Fortissue e APD Química, empresas e/ou equipas de Projecto, Capitel, Departamento Técnico da
Casais, e, em especial, aos Empreiteiros Gerais, Casais e Porlan.

8- REFERÊNCIAS

Rodio Kronsa (2017) – Pilotes Prefabricados CK – Nota Técnica General, Rodio Kronsa, Madrid

Geo-Rumo (2011) – Relatório Geológico-Geotécnico realizado para Fortissue – Produção de Papel S.A. a 04/05/2011,
Braga

Enmacosa (2016) – Estudo Geotécnico realizado para A.P.D Química a 10/03/2016

Santos, J. A. (2008) – Fundações Verticais por Estacas – Acções Verticais, IST, Lisboa, pp. 17-23

Norma Europeia UNE-EN 12794: “Produtos Prefabricados de Hórmigon – Pilotes de Cimentación”

Norma Europeia UNE-EN 12699: “Realización de Trabajos Geotécnicos Especiales. Pilotes de Desplazamiento”

CTE-2006 – “Código Técnico de la Edificación”

Eurocódigo 7: UNE 1997-1 – Anejo Nacional Español

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ESTUDOS DE EXECUÇÃO DE TÚNEIS FERROVIÁRIOS NA LINHA BOUGHZOUL-


DJELFA, ARGÉLIA

FINAL DESIGN STUDIES FOR THE EXECUTION OF RAILWAY TUNNELS IN THE


BOUGHZOUL-DJELFA LINE, ALGERIA

Bento, Jorge; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, j.bento@cobagroup.com


Pistone, Raúl; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, r.pistone@cobagroup.com
Ferreira, Sandra; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente,Lisboa, Portugal,s.ferreira@cobagroup.com
Ribeiro, Joana; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, j.ribeiro@cobagroup.com
Cacilhas, Filipa; COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, Lisboa, Portugal, f.cacilhas@cobagroup.com

RESUMO

A expansão da rede ferroviária na Argélia, com a nova linha Boughzoul-Djelfa, na zona de transição dos
Altos Planaltos para o Atlas Saariano inclui, perto da cidade de Djelfa, um conjunto de túneis ferroviários,
dos quais, a COBA elaborou os Projectos de Execução dos designados túneis T1 e T2, com galerias únicas
bidirecionais, albergando a plataforma ferroviária, com secção até 122 m² e 13,1 m de vão. O túnel T1,
com 600 m de comprimento desenvolve-se no atravessamento de uma crista calco-arenítica cretácica,
ligeiramente carsificada, no anticlinal de Djelfa, evitando a afectação, pelo traçado, de núcleo habitacional
à superfície. O Túnel T2, com 800 m de desenvolvimento, em zona sem ocupação de superfície, atravessa
séries sedimentares cretácicas silto-argilosas e calco-areníticas, interessando ainda uma unidade gipso-
margosa triássica, associada a uma falha regional. São descritas as soluções de projecto adoptadas e as
adaptações realizadas, resultantes da colaboração com o construtor durante a fase de desenvolvimento
dos estudos.

ABSTRACT

The expansion of the rail network in Algeria, with the new line Boughzoul-Djelfa, in the transition zone from
the High Plateaus to the Saarian Atlas includes, near the city of Djelfa, several railway tunnels. COBA
elaborated the Projects of Execution of the designated T1 and T2 tunnels, with single bidirectional galleries,
housing the railway platform with section up to 122 m² and 13,1 m of span. The 600 m long T1 tunnel
develops at the crossing of a Cretaceous crest, slightly karsified, on the Djelfa anticlinal, avoiding a
residential area in the surface. The T2 tunnel, 800 m long, in an area with no surface occupation, crosses
sedimentary Cretaceous silt-clayey and lime-arenitic sedimentary series, and a Triassic gypsum-marl unit,
associated to a regional fault. The project solutions adopted and the adaptations carried out, resulting from
the cooperation with the constructor during the development phase of the studies, are described.

1- INTRODUÇÃO

Os estudos de execução das obras subterrâneas elaborados para a COSIDER Travaux Publics, (túneis T1 e
T2) estiveram a cargo da COBA, Consultores de Engenharia e Ambiente, tendo sido desenvolvidos entre
Julho de 2013 e Junho de 2015. O dono da infraestrutura é a ANESRIF – Autoridade Ferroviária Argelina.
As principais características dos túneis resumem-se no quadro 1.

Quadro 1 - Características principais dos túneis


Comprimento Recobrimento Secção
Túnel Pk inicial Pk final Geologia
(m) máximo (m) (m²)
T1 227+185 227+785 600 77 122 Cn – Cretácico médio – Calcários e margas
Tk – Triássico superior -Facies Keuper
Ci – Cretácico inferior – Grés e argilas com
T2 232+592 233+385 793 42 122 passagens carbonatadas
Cn – Cretácico médio – Calcários e margas
Ct – Cretácico médio - Grés

O desenvolvimento dos estudos implicou uma adaptação do projecto às práticas e possibilidades locais,
nomeadamente no que respeita ao suporte primário e metodologia de escavação, (por exemplo a não
utilização de fibras metálicas no reforço do betão projectado, entre outras).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2- GEOLOGIA E GEOTECNIA DOS ATRAVESSAMENTOS

2.1 - Enquadramento geral

O troço onde se incluem os túneis, ver figura 1, interessa sobretudo unidades sedimentares cretácicas,
ocorrentes no anticlinal de Djelfa, estando o túnel 1 localizado no seu flanco Norte e o túnel 2 no flanco
Sul.

Túnel T1

Figura 1 – Traçado da via férrea e geologia na envolvente dos túneis Túnel T1 do pk 227+200 ao pk227+800 e túnel
T2 do pk 232+600 ao pk 233+400, adaptado de APS-Avant Projet Sommaire, Systra, Getinsa, Setirail (2011)

No túnel T1 que atravessa uma crista saliente, ocorre exclusivamente a unidade Cretácico Médio (Cn) -
Margas e calcários. Esta unidade consiste numa alternância irregular de margas dolomíticas, um pouco
arenosas e argilas com cimento carbonatado, castanho claro e às vezes esbranquiçado. As rochas calcárias
são pouco dolomíticas, microcristalinas e meso-cristalinas.

A sua estrutura estratificada, visível na figura 2, caracteriza-se por camadas de espessuras centimétricas
a decimétricas. A unidade encontra-se dobrada e deformada pela orogenia alpina que afecta o Atlas
Sahariano. Essa estrutura apresenta uma inclinação para a estratificação S0 de 85º para Sudeste, no topo
da crista que atravessa.

Figura 2 – Aspectos gerais da estratificação de intercalações margo-calcárias da unidade Cn-Cretácico médio no


túnel T1. Na entrada (em vista para Nascente) e na crista (em vista para Poente)

Os relevos apresentados são caracterizados por grandes declives e áreas irregulares devido à erodibilidade
dos materiais desta unidade. Devido ao sistema de fracturação particular desta formação, podem ocorrer
quedas e deslizamentos de blocos.

897
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Dada a identificação de fenómenos de carsificação na envolvente, no âmbito da campanha de prospecção


implementada foram realizados ensaios de permeabilidade do tipo Lugeon e do tipo Lefranc, tendo sido
obtidos resultados elevados, 4 a 19 U.L. em regime de dilatação para os ensaios tipo Lugeon e 5,82x10 -4
m/s no ensaio Lefranc realizado, confirmando a elevada permeabilidade secundária do maciço.

No túnel T2, além da unidade (Cn) -Cretácico médio descrita para o túnel T1, ocorrem as unidades (Ct) -
Cretácico médio (arenito e argilas com episódios carbonatados) e (Ci) -Cretácico inferior (grés argiloso,
margas e calcários). Em profundidade, ocorrem ainda materiais do Triássico (Tk) com forte componente
gipsífera. A distribuição destas unidades apresenta-se no modelo geológico da figura 3.

Figura 3 – Extrato do desenho planta-perfil geológico-geotécnico do projecto, com o modelo geológico do túnel T2.
Sobrelevação: 5x

A unidade do Cretácico Médio (Ct) - Arenito e argilas com episódios carbonatados é formada por uma série
mais ou menos rítmica, em fácies flysch, com arenito e argila. Os arenitos são ocres, castanhos, rosados e
esbranquiçados, podendo parecer friáveis ou cimentados pelo carbonato, como visível na figura 4.

Esta unidade é caracterizada pela presença de falhas e deformações frequentes dos materiais, sendo
afectada pela orogenia alpina.

Figura 4 - Aspectos da unidade gresosa Ct – Cretácico médio. Em poço aberto sobre a zona central do túnel e à direita
aspecto microbandado de arenito de grão fino em amostra de mão

A unidade do Cretácico inferior (Ci) - Grés e argilas com episódios carbonatados, que consiste numa
alternância irregular de grés carbonatados e calcários arenosos, de espessura centimétrica a decimétrica,
areias arcósicas, conglomerados quartzíticos com matriz arcósica, silto-argilosa ou argilitos com areia
dispersa e tons acastanhados e avermelhados. Na base da série, podem aparecer níveis de granulometria
grosseira (conglomerados). As areias apresentam granulometria média a grosseira a muito grosseira, com
elementos angulosos e com uma matriz silto-argilosa, parcialmente carbonatada.

898
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

O Triássico Superior - Facies Keuper (Tk) é caracterizado por argilas, margas gipsíferas, gesso com algumas
intercalações de arenito e dolomito. Consiste assim num conjunto de argilas e margas variegados. Na parte
mais baixa da série, aparecem cores acinzentadas, enquanto nas partes mais altas existem tons purpúricos
característicos, com listras brancas e avermelhadas. As intercalações de gesso, branco e preto, de argilitos
vermelhos e cristais gipsíferos são abundantes. Esta formação constitui relevos isolados entre materiais de
diferentes idades. As inclinações são variáveis e a presença de barrancos e superfícies irregulares devido à
erodibilidade e solubilidade dos materiais é visível na figura 5.

c
)

b
)
a
)
Figura 5 - Aspectos da unidade triássica Tk, em ocorrência associada a falha à superfície (imagens a e b), lateralmente
à zona central do túnel T2 e em profundidade (imagem c) na sondagem S206 (margas com intrusões gipsíferas)

As unidades cretácicas identificadas possuem relevos com inclinação média a alta. A formação de cumes,
destacados da envolvente geral de materiais modernos, dependerá do grau de cimentação. Devido ao
diferente grau de cimentação e/ou meteorização, podem ocorrer quedas de blocos e/ou deslizamentos.
Apresentam uma estrutura estratificada em camadas, com espessuras em geral entre centímetros e
decímetros. Encontram-se dobradas e deformadas devido ao episódio orogénico mencionado.

Relativamente ao modelo geológico do túnel T2, interpretou-se com base nos levantamentos de campo e
imagens de satélite que o contacto entre os arenitos da unidade Ct e a unidade Cn margo-calcária se faria
por intermédio de falha, sendo que os materiais triássicos, de maior plasticidade e identificados na
sondagem S206, teriam ascendido através desta.

Sempre que os níveis de água registados se apresentam elevados, a medição foi realizada imediatamente
após a furação. Nos restantes casos, os furos de sondagem apresentam-se secos ou com níveis de água
baixos.

2.2 - Trabalhos de prospecção e ensaios realizados

No conjunto dos dois túneis foram realizadas, na fase de projecto de execução, dezassete sondagens com
um total de 607 m de perfuração. Das sondagens realizadas três delas foram executadas inclinadas com
um ângulo de 60º com a horizontal. Esta abordagem veio a revelar-se adequada, pelo facto de terem sido
intersectados materiais em falha que, por sua vez, veio a ser atravessada no contacto das unidades Ct e
Cn.

Relativamente aos ensaios in-situ, foram realizados ensaios de permeabilidade (tipo Lugeon e tipo Lefranc)
que em geral revelaram valores de permeabilidade muito elevados, variando de 7 a 35 U.L. no túnel T2 e
entre 4 e 9 U.L. no túnel T1. Embora previstos nos emboquilhamentos, praticamente não se realizaram
ensaios SPT, devido à natureza dos materiais interessados.

Em laboratório foram realizados ensaios conducentes à caracterização dos materiais reconhecidos, tendo
sido levados a cabo ensaios de identificação. Foram ainda realizadas caracterizações do ponto de vista
químico à presença de carbonatos, sulfatos, cloretos e medição de ph em amostras argilosas

899
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

No que respeita à caracterização da resistência foram realizados trinta e três ensaios de compressão
simples, com medição de módulo de deformabilidade em alguns dos provetes ensaiados. Os máximos
valores de rotura observados foram de 52,2 MPa em calcário da unidade Cn no túnel T1 e de 101,0 MPa
em grés da unidade Ct, no túnel T2. Na unidade Tk obtiveram-se resistências à compressão de 0,9 e
2,0 MPa com módulos de deformabilidade de 65 e 217 MPa respectivamente. Foram também realizados
ensaios brasileiros de compressão diametral.

2.3 - Zonamento e parâmetros adoptados

Com base na informação geológico geotécnica recolhida foi efectuado o zonamento dos maciços
atravessados e realizada a classificação geomecânica das zonas geotécnicas atravessadas pelos túneis,
(quadro 2).

Quadro 2 - Zonamento geotécnico de projecto estimado para o maciço de escavação dos túneis
RQD – “Rock
Resistência à
Zona Fracturação REC- Percentagem Quality RMR – “Rock
Formação compressão uniaxial
geotécnica (SIMR) de recuperação (%) Designation” Mass Rating”
(MPa)
(%)
ZG1 Ci, Cn, Ct F3 à F4-5 100 > 30* > 25 > 45
ZG2 Ci, Cn, Ct F4-5 100 > 10 >2 35 - 45
ZG3 Tk, Ci, Cn, Ct F4-5 80-100 0 - 50 <3 < 35
*Excepcionalmente >30
Com base neste zonamento foram estimadas, no túnel T1, extensões de ocorrência de 30, 45 e 25% de
ZG1, ZG2 e ZG3, respectivamente e no túnel T2 de 28, 35 e 37% de ZG1, ZG2 e ZG3.

Tendo por base os resultados obtidos, devidamente enquadrados por obras já executadas em maciços
similares, foram estimados os parâmetros adoptados na modelação das obras a construir, que por sua vez
se apresentam no quadro 3.

Quadro 3 – Parâmetros geomecânicos adoptados no projecto dos túneis


Zona Mohr Coulomb  E

geotécnica c (kPa)  (°) (kN/m³) (GPa)
ZG1 450 45 23 10 0,22
ZG2 150 40 22 1 0,24
ZG3 (geral) 100 30 21 0,15-0,50
0,28
ZG3 (Tk) 40 - 60 25 19 0,15
Para os emboquilhamentos, considerando as condições particulares de cada um dos locais foram
adoptados os parâmetros, constantes do quadro 4.

Quadro 4 - Parâmetros adoptados nos emboquilhamentos do túnel T2


Mohr Coulomb
Localização Litologia (kN/m³)
c (kPa)  (°)
Conglomerados poligénicos e grés 90 35 23
Entrada Conglomerados poligénicos
40 35 22
alterados e areias grésificadas
Grés fracturados 200 45 23
Saída
Grés alterados e fracturados 120 40 22

3- SOLUÇÕES ADOPTADAS

3.1 - Emboquilhamentos

Os prolongamentos a céu aberto da estrutura definitiva dos túneis, permitiram encarar a parte inferior do
tratamento dos taludes dos emboquilhamentos frontais, como taludes provisórios a aterrar posteriormente.
Nesse sentido, por se tratarem de soluções provisórias, foi possível aligeirar as soluções de suporte da
escavação, por sua vez realizadas à custa de betão projectado e pregagens.

A solução geral, como se mostra na figura 6 para a saída do túnel 1, consistiu na execução de betão
projectado numa espessura de 0,10 m, reforçado com malha electro-soldada AQ50 e pregagens de varão
de aço 25 mm, seladas com calda de cimento, com comprimentos variáveis de 4,0 a 8,0 m. A geometria
da escavação adoptada foi em geral de 1v:1h, sendo que nos taludes frontais foi adoptada uma inclinação
de 2v:1h no pano inferior e de 1v:1,5h no pano superior devido à presença de materiais de natureza
terrosa. No emboquilhamento de saída do túnel T2, foram consideradas inclinações de 3v:1h no pano

900
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

inferior e de 1v:1h nos panos superiores. A altura máxima de escavação foi de 36 m na saída do túnel T2,
visível na fotografia apresentada na figura 10.

Figura 6 – Corte transversal do emboquilhamento de saída do túnel T1, ao pk 227+775. Em baixo, aspectos da
execução do mesmo

A verificação de segurança dos suportes foi efectuada, função do tipo de maciço, recorrendo a cálculos de
estabilidade global e ainda a verificações de segurança com elementos discretos, no caso de deslizamento
de possíveis cunhas.

3.2 - Obras subterrâneas

3.2.1 - Secção transversal

A secção de escavação foi definida tendo em conta as necessidades do gabarit ferroviário, em especial os
aspectos aerodinâmicos, necessários à segurança e conforto dos utentes, para uma velocidade do comboio
de 160 km/h. A definição teve também em conta as espessuras necessárias à colocação dos suportes
primários e do revestimento definitivo. Resultou assim necessário considerar uma secção de raio único
interior, r = 5,88 m, que se prolonga interiormente em 25° abaixo da calote superior, enquanto que no seu
lado exterior, a parte terminal dos hasteais apresenta desenvolvimento recto.

Procurou-se ainda garantir a modularidade da geometria, ao nível dos suportes primários e do revestimento
definitivo na interface entre diferentes zonas geotécnicas, mantendo-se pontos em comum, por exemplo,
ao nível das uniões das cambotas, ao nível do suporte primário, ou na base dos hasteais, nas transições
entre trechos com soleira-curva e sapata, com vantagem para a execução do revestimento definitivo e
ainda na instalação dos sistemas de impermeabilização e drenagem.

901
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 7 - Secção tipo com inserção do gabarit ferroviário e elementos de segurança ferroviária

3.2.2 - Escavação e suporte primário

Numa primeira aproximação aos suportes primários a considerar, foram inicialmente utilizados métodos
empíricos como as classificações e/ou recomendações de suporte propostas por Bieniawski, (1989),
Grimstad e Barton, (1993) e Romana, (2000). Posteriormente, na verificação da segurança recorreu-se a
métodos numéricos de tensão-deformação, utilizando o programa de cálculo Phases2 V8.0 da Rocsience.
Os resultados foram também enquadrados por experiências recolhidas em obras já executadas, em maciços
similares.

Os cálculos realizados em 2D permitiram estimar valores, em regime de deformação plana, cuja ordem de
grandeza ronda os 3 cm, em média (figura 8). A fim de reproduzir do modo o mais realista possível o
faseamento construtivo associado a cada zona geotécnica, foi considerado o faseamento da escavação bem
como a aplicação de suporte correspondente a cada fase.

Figura 8 – Análise tensão-deformação (Phases2 V8.0), no túnel 2. À esquerda Strength Factor na zona geotécnica ZG1
(Strength Factor de 1,0 representado a laranja, sendo, quando da ordem de 2,0 a 3,5, representado a verde). À
direita, deslocamentos totais na secção em ZG3 (a amarelo deslocamentos totais da ordem dos 35 mm e a verde da
ordem dos 25 mm). Ambos os casos utilizando um coeficiente k=1 (h/v)

Foi ainda analisada a possibilidade de formação e queda de cunhas no interior da secção no atravessamento
dos trechos rochosos, com recurso ao programa Unwedge 3.0 da Rocsience.

Após a verificação da segurança, especificaram-se os suportes primários que constam do quadro 5, sendo
a metodologia de escavação e suporte indicada na figura 9, para as zonas ZG1, ZG2 e ZG3.

Com base nas deformações estimadas, cujo valor máximo vertical foi de 33 mm, no eixo da abóbada em
ZG3, foi definida a tolerância construtiva de 3 cm a introduzir no raio de escavação. Foram ainda definidos
valores ao nível dos critérios de alerta e de alarme, que serviram como referência durante a escavação das
deformações registadas pelo sistema de auscultação previsto, constituído por convergências, marcas de
nivelação precisa e extensómetros. A título de exemplo, refira-se que o limite de alerta para fase de
escavação da calote superior variou entre 0,6 e 25 mm, respectivamente em ZG1 e em ZG3, sendo os
correspondentes valores de deslocamento para o limite de alarme de 0,8 e 30 mm.

902
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 5 - Suportes primários adoptados no túnel T2


Avanço Soleira Enfilagens
Zona Betão projectado Pregagens Cambotas
calote curva L (m) Af.(m) Sobreposição
geotécnica esp. (m) L (m) Ainf(m²) Af.(m)
(m) (m)
Sim 25 mm L = 4 HEB140 Af=0,75 a Duplo chapéu 32 mm
Entrada 1,00 0,25
Ainf.=1,50 (hasteais) 1,00 L=12 Af.=0,5 S=3
0,75 a Sim 32 mm L = 6 HEB140 Af=0,75 a
ZG3 0,25 32 mm L=12 Af.=0,3 S=3
1,00 Ainf.=1,50 (hasteais) 1,00
- 25 mm L = 4 Forepoling a45°.25 mm
ZG2 1,50 0,20 HEB140 Af=1,50
Ainf.=1,50 (hasteais) L=8 Af.=1,5
- Tipo swellex (100 kN)
ZG1 3,00 0,10 a 0,15 - -
L = 4 Ainf.=2,25
Saída 1,00 0,20 -  HEB140 Af= 1,00 32 mm L=12 Af.=0,4 S=3

Além do indicado no quadro 5, na frente da escavação foram ainda consideradas pregagens de fibra de
vidro, do tipo Y35, nos emboquilhamentos de entrada e também em ambos os túneis na presença da zona
geotécnica ZG3.

3.2.3 - Revestimento definitivo

Para o revestimento definitivo foram definidas quatro secções tipo principais, tendo sido para cada uma,
caracterizados os diferentes tipos de armaduras, consoante a zona geotécnica atravessada (quadro 3). Para
as seções sem soleira curva, considerou-se fundação directa através de sapatas e estrutura do revestimento
com espessura de 0,30 m em ZG1, e 0,40 m para ZG2 e nos emboquilhamentos. A partir desta última foi
desenhada a secção do falso túnel (prolongamento da estrutura interior) na qual se considerou um hasteal
recto vertical abaixo do eixo horizontal. Por último, foi considerada uma secção com 0,40 m de espessura
e soleira curva com espessura de 0,50 m em ZG3 (figura 7).

O cálculo dos esforços a considerar na verificação da segurança do revestimento definitivo foi realizado
com recurso a métodos de elementos finitos, também utilizados para verificar os suportes primários,
considerando assim a interacção solo-estrutura com interfaces adequadas (num cenário de longo prazo,
conservador, onde o reequilíbrio das tensões já ocorreu na íntegra). Foram feitas análises de sensibilidade
para as diversas zonas geotécnicas, tendo sido retida e considerada como representativa deste caso o
modelo desenvolvido considerando um coeficiente k = 1 (h/v).

Em paralelo, para as zonas de maciço rochoso (em ZG1 e em ZG2 e no emboquilhamento de saída do túnel
T2), foram verificadas recorrendo a modelos de elementos lineares elasticamente apoiados, duas situações
de carga correspondentes uma ao destacamento de um bloco em posição excêntrica (também utilizado no
dimensionamento do suporte primário) e uma segunda considerando o volume de maciço destacável
resultante da metodologia empírica de Rocha, (1976). O estudo das diferentes secções seguiu o método
das reacções hiperestáticas, recorrendo ao programa de cálculo automático SAP 2000.

Na verificação da segurança os esforços adoptados foram os mais condicionantes dos vários cenários
analisados.

3.2.4 - Drenagem e impermeabilização

A estrutura do túnel foi considerada drenada, tendo para tal sido previsto um sistema de impermeabilização
e drenagem. O sistema de drenagem é constituído por um conjunto de drenos colectores DN 150 mm em
PVC na base dos hasteais, com ligações transversais ao colector central em betão DN 500 mm, a cada
20 m, criando assim uma segurança adicional do sistema, uma vez que os drenos longitudinais não seriam
visitáveis. Onde necessário, a definir durante a fase de obra, previu-se o reforço da drenagem do contorno
de escavação com recurso a drenos planos.

O sistema de impermeabilização previsto é constituído por uma tela em PVC de 2 mm, protegida por um
geotêxtil de características adequadas, com 500 g/m² de gramagem, colocado no intradorso do suporte
primário. Nas juntas de betonagem foram considerados elementos hidro-expansivos.

903
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.2.5 - Aspectos construtivos

A zona central do túnel T2, onde foi prevista a presença de materiais triássicos (margas com gesso) que à
partida se afigurava como o trecho de maior dificuldade, ao apresentar-se totalmente seca e sem
fenómenos evolutivos significativos a registar após contacto com o ar e principalmente com a água utilizada
nas furações, acabou por ser atravessada com o suporte correspondente a ZG3 (Quadro 5), sem qualquer
tipo de dificuldade a assinalar. Pelo motivo anterior, o faseamento da escavação acabou por ser simplificado
(figura 9), tendo-se recorrido a apenas duas fases horizontais, ao contrário das três inicialmente previstas
na versão inicial dos estudos de projecto.

Figura 9 - Metodologia de escavação e suporte primário previstas para as zonas geotécnicas ZG1, ZG2 e ZG3 dos
túneis, em Études d’exécution, COBA (2015)

Em termos executivos importa referir que, ao contrário do que é habitual neste tipo de obras, o reforço do
betão projectado aplicado no revestimento primário, foi conseguido à custa da incorporação de malha
electro-soldada #150 x 150 x 6mm, com toda a problemática associada ao tempo de aplicação e
possibilidade de criação de zonas de sombra com menor contacto maciço-suporte (não foi possível utilizar
fibras metálicas). Note-se que tecnologias consideradas ao dia de hoje como correntes são ainda de difícil
aplicação noutras geografias, em particular quando afastadas dos grandes centros urbanos como é o
presente caso, obrigando a adaptar as soluções aos materiais disponíveis na zona. Ainda no que respeita
a este tipo de vicissitudes executivas, refira-se também, por exemplo, a impossibilidade de incorporação
em obra dos extensómetros previstos em projecto.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 10 - Aspectos diversos da fase construtiva. Em cima à esquerda, escavação em ZG3 em areias da unidade Cn-
Cretácico médio no túnel T2, com faseamento simplificado em duas fases horizontais. À direita furação para avanço da
frente na unidade Ct- Cretácico superior no túnel T2. Em baixo posicionamento da cofragem junto à saída do túnel T2
e aspecto do túnel T2, com a contrabóbada e armaduras da base dos passeios/caleira de equipamentos e de arranque
da abóbada instaladas. Imagens cedidas pela COSIDER-TP

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos os que tornaram possível a concretização desta obra, em particular ao
pessoal presente no estaleiro M-26 da COSIDER-TP.

REFERÊNCIAS

Bieniawski, Z.T. (1989) – Engineering Rock Mass Classification. John Wiley & Sons, New York.

COBA (2015) - Réalisation des Tunnels de la nouvelle Ligne Electrifie Khemis-Djelfa. Tronçon 2 Boughezoul – Djelfa.
Études d’exécution : Série 200 – Hypothèses géotechniques ; Série 300 – Tunnel en mine et Portails ; Série 400
- Faux Tunnel et Tranchée, Tunnel 1 et Tunnel 2. (não publicado).

Grimstad, E. e Barton, N. (1993) - in Practical Rock Engineering de Evert Hoek, disponível em


https://www.rocscience.com/documents/hoek/corner/Practical-Rock-Engineering-Full-Text.pdf, acedido em 01
de Março 2018.

Rocha, M. (1976) – Estruturas Subterrâneas. Reedição LNEC de 2013, Lisboa.

Romana, M. (2003) - Nuevas Recomendaciones de Excavación y Sostenimiento para Túneles y Boquillas. Jornadas
Hispano-Lusas sobre Obras Subterráneas. Madrid, 15-16 septiembre 2003, disponível em
http://www.stmr.es/recursos/articulos/?1, acedido em 01 de Março 2018.

SYSTRA, GETINSA, SETIRAIL (2011) - Étude APD et DCE de la ligne nouvelle électrifie Boumedfaa – Djelfa (266 km).
(não publicado).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

IMPACTO DA REVISÃO DO CCP NA EXECUÇÃO DE TÚNEIS E OBRAS


GEOTECNICAS COMPLEXAS

IMPACT OF CCP’S REVIEW ON THE CONSTRUCTION OF TUNNELS AND


COMPLEX GEOTECHNICAL WORKS

Diniz Vieira, Gonçalo; CML/PGDL, Lisboa, Portugal, goncalodv@gmail.com

RESUMO

Em meados do ano passado, no dia 31 de agosto de 2017, foi publicado o Decreto-Lei n.º 111-B/2017, que
procedeu à nona alteração do Código dos Contratos Públicos (CCP) e que transpôs as diretivas europeias
2014/23/UE, 2014/24/UE, 2014/25/UE e 2014/55/UE. Este decreto-lei entrou em vigor no dia 1 de janeiro
de 2018. As alterações introduzidas são significativas e extensas, no entanto neste artigo apenas nos
iremos centrar nas mudanças mais relevantes relacionadas com as Obras (neste caso públicas)
Geotecnicamente Complexas (OGC), em especial os túneis. Cientes da importância desta revisão legislativa
e do impacto que terá para as obras públicas subterrâneas com grande complexidade geotécnica, fazemos
um resumo das alterações do CCP que são directamente impactantes na preparação, contratação, execução
e gestão do risco destas obras específicas, em especial os túneis. Pretende-se também divulgar as melhores
práticas contratuais internacionais já reconhecidas pela International Tunnelling Association (ITA), através
das suas recomendações, e também reconhecidas pela FIDIC – International Federation of Consulting
Engineers – que se encontra a elaborar um novo livro “Emerald Book” de práticas contratuais específicas
para Obras Subterrâneas. Em resumo, pretende-se contribuir para um melhor conhecimento das recentes
alterações legislativas em matéria de contratação pública que têm influência na execução das OGC, e
também para o (re)conhecimento das melhores práticas internacionais neste tipo de obras, principalmente
em matéria de gestão e partilha do risco e de resolução (alternativa) de conflitos.

ABSTRACT

Last year the Portuguese Public Procurement Code was reviewed and republished by Decreto-Lei n.º 111-
B/2017, that transposed to the Portuguese legislation the European directives 2014/23/EU, 2014/24/EU,
2014/25/EU and 2014/55/EU. This law came into force on January 1st, 2018. The changes to the law are
significant and extensive, however in this article we will only focus on the most relevant changes related
to Complex Geotechnical Works, in particular the tunnels. Taking into account the importance of this
revision and the impact on underground public works with strong geotechnical complexity, we have
summarized the changes that impacts directly the design, tender, execution and risk management of
underground works, especially the tunnels, that are usually carried out in a scenario of uncertainty in what
respects underground conditions. It is also intended to publicize the best international contractual practices
recommended by the International Tunnelling and Underground Space Association (ITA) that are also
recognized by FIDIC (International Federation of Consulting Engineers), which is preparing a new Emerald
Book with specific contractual practices that should be applied to Tunnels and Underground Works. Finally,
we would like to contribute to achieve a better understanding of the recent legislative changes in Portuguese
public procurement that have great influence on the execution of complex geotechnical works, as well as
to spread the best international practices in this type of works, mainly in terms of management and risk
sharing and alternative conflict resolution procedures.

1- INTRODUÇÃO

Quando nos propusemos escrever sobre este tema da revisão de 2017 do Código dos Contratos Públicos
(CCP) este ainda não tinha entrado em vigor. Agora que estamos a finalizar o artigo o “novo” código já está
a ser utilizado (ainda que muito a medo) e, entretanto, já se realizou no LNEC um importante encontro
entre engenheiros e juristas para debater esta revisão do CCP e o seu impacto nas obras geotécnicas
complexas, em particular os túneis. Estamos a falar da Jornada de Estudos CPT 2018, que decorreu no
passado dia 2 de fevereiro sob o tema” Execução de Túneis e Obras Geotécnicas Complexas. O que muda
com o CCP Revisto? Boas Práticas Internacionais”. O nosso trabalho ficou, assim, facilitado (ou não…).

Vimos chamar a atenção para as oportunidades que esta revisão traz na procura de soluções mais justas
em termos de partilha de risco, que envolvem todas as fases de conceção destas Obras Geotecnicamente
Complexas (OGC), desde a preparação, projeto, até à sua construção e manutenção. Isso passa,
necessariamente, pela adoção de regras contratuais mais flexíveis e adaptáveis na altura de tomada de
decisões na frente de obra, quando confrontados com a realidade geotécnica, mas passa também por uma
preparação mais exigente e diligente na fase de projeto e de elaboração das peças concursais. Os estudos

906
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

de projeto patenteado a concurso deverão ser abrangentes e prever as soluções construtivas não só para
os cenários mais prováveis (de referência) que possam ocorrer durante a escavação e execução dos
trabalhos subterrâneos, mas também para outros cenários menos prováveis mas ainda assim possíveis
(para as denominadas situações previsivelmente incertas).

Vimos também destacar a importância dos princípios recomendados pela International Tunnelling
Association (ITA) que norteiam a contratação destas obras subterrâneas (em particular os túneis) e que
estiveram na base da elaboração do novo livro FIDIC “Emerald Book” que está prestes a ser lançado, com
o objetivo de regrar os contratos internacionais destas obras subterrâneas geotecnicamente complexas.
Por fim queremos destacar a importância da mediação na resolução expedita de conflitos, procurando a
sua rápida resolução antes que o litígio tome maiores proporções e se transforme numa crescente “bola de
neve”.

2- O “NOVO” CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS

Em agosto do ano passado foi publicado o Decreto-Lei n.º 111-B/2017, que procedeu à nona alteração do
CCP e que transpôs para legislação nacional as diretivas europeias n.os 2014/23/UE, 2014/24/EU,
2014/25/EU e 2014/55/UE. Este decreto-lei entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2018.

As alterações introduzidas são muito significativas, e extensivas aos diversos ramos da contratação pública,
no entanto neste artigo apenas nos iremos centrar nas mudanças mais relevantes relacionadas com os
contratos de obras públicas geotecnicamente complexas, de que os túneis são um exemplo paradigmático
(mas não o único exemplo, pois as alterações também têm impacto noutras obras subterrâneas
complexas). Aliás, as soluções aqui avançadas poderão ser perfeitamente aplicadas a outro tipo de obras
que também são executadas em situações previsivelmente incertas, como por exemplo certas obras de
reabilitação de edifícios e obras com forte componente arqueológica.

Destacamos em seguida as alterações mais relevantes (não exaustivas nem por ordem sequencial de
artigos, mas tendo em conta as oportunidades criadas e o seu impacto na preparação, contratação e
execução destas obras geotecnicamente complexas):

1) Modificação objetiva dos contratos (MOC), que agora pode ser realizada “com fundamento nas
condições nele previstas…” desde que sejam “… claras, precisas e inequívocas [artigos 96.º
alínea 1.j) e 312.º a 315.º];

2) Resolução alternativa de litígios através da promoção do recurso à arbitragem ou a outros


meios de resolução expedita de conflitos [artigo 476.º];

3) Novo regime dos “trabalhos complementares” (TC), que vem substituir os “trabalhos a mais” e
os “trabalhos de suprimento de erros e omissões” (EO) na fase de execução do contrato, e vem
esclarecer uma importante definição de “circunstâncias imprevisíveis ou que uma entidade
adjudicante diligente não pudesse ter previsto” [artigos 61.º e 370.º a 378.º];

E ainda as seguintes, por alterarem a forma de preparação dos concursos públicos por parte das entidades
adjudicantes e, consequentemente, por alterarem também a resposta dos concorrentes na elaboração das
suas propostas na fase procedimental e durante a execução do contrato:

4) Nova organização das fases de apresentação das propostas [artigo 50.º];

5) Reclamações por EO do caderno de encargos nos 60 dias subsequentes à consignação da obra


[artigo 378.º, n.º 3];

6) Supressão de formalidades não essenciais [artigo 72.º, n.º 3];

7) Fixação do preço (ou custo) anormalmente baixo (PAB) [artigo 71.º];

8) Critérios de adjudicação e avaliação de propostas [artigos 74.º, 75.º e 139.º];

9) Novos impedimentos [artigos 55.º, alínea 1.l) e 464.º-A].

3- PARTICULARIDADES DAS OBRAS SUBTERRÂNEAS GEOTECNICAMENTE COMPLEXAS (OGC)

A construção de OGC, em especial a construção de túneis, é muito diferente de qualquer outro tipo de
construção “à vista”, pois as propriedades do material de construção – o terreno –podem não ser conhecidas
com precisão a priori, nas fases de projeto e de preparação do contrato de empreitada. As condições
previsivelmente incertas, a dependência relativamente aos meios e aos métodos construtivos, o

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

acompanhamento e a análise dos resultados da monitorização e os inevitáveis riscos de construção são


fatores indissociáveis da construção subterrânea em geral, e que ganham particular relevo na construção
de túneis (adaptado de ITA-AITES, 2013).

As particularidades da construção subterrânea, que


em muitos casos lida com situações previsivelmente
incertas, exige do engenheiro e do legislador uma
capacidade extraordinária para criar as melhores
condições contratuais, técnicas e legais, por forma a
poder capacitar o projetista e o construtor a adaptar
em tempo útil os métodos construtivos à realidade
geológica-geotécnica e comportamental observada
em obra. Na Figura 1 ilustra-se um exemplo desta
variabilidade geológica observada numa frente de
escavação do túnel da linha vermelha no troço
Alameda-S. Sebastião. Figura 1 – Frente de escavação no
Complexo Vulcânico de Lisboa
O projeto de um túnel não acaba com a entrega de
um conjunto de desenhos e peças escritas
elaboradas para o procedimento de formação do
contrato de empreitada de obras públicas. O projeto
deste tipo de obras geotécnicas complexas
distingue-se de um projeto tradicional de engenharia
corrente pois, na maioria das vezes, mesmo com a
realização de uma extensa e cuidada campanha de
prospeção, a incerteza permanece significativa,
tanto ao nível das características dos terrenos
interessados pela escavação, por vezes
heterogéneos, como ao nível dos mecanismos de
interação entre o terreno e a estrutura (Figura 2).
Figura 2 – Cálculos de interação solo-estrutura

Com efeito, as melhores práticas de construção de túneis promovem a adequação dos métodos construtivos
inicialmente previstos às condições reais encontradas em obra (através da utilização do método
observacional), mediante a resposta rápida às mudanças nas condições dos terrenos e a aplicação de um
conjunto de soluções construtivas auxiliares, previamente definidas.

Mas a nossa legislação nacional não tem respondido eficazmente aos requisitos de adaptabilidade tantas
vezes necessária nas obras geotecnicamente complexas, realizadas em condições de elevada incerteza
geotécnica (ou de outros tipos de incerteza mas que não serão exploradas neste artigo).

Somos assim confrontados com a seguinte questão: Perante situações previsivelmente incertas (mesmo
atuando de forma diligente), o que é certo fazer?

Em seguida as alterações ao “novo” código já acima destacadas serão analisadas com maior detalhe, à luz
desta necessária adaptabilidade contratual.

4- IMPACTO DAS ALTERAÇÕES AO CCP NA EXECUÇÃO DE OGC

A revisão do código é muito extensa, mas decidimos chamar a atenção para os seguintes aspetos mais
relevantes para as obras geotécnicas complexas, em especial os túneis, sabendo no entanto que outras
alterações também poderão ter impacto na contratação pública destas obras especiais.

4.1 - Modificação objetiva dos contratos (MOC) [artigos 96.º alínea 1.j) e 312.º a 315.º]

A novidade na nova redação do artigo 312.º aparece logo no início do artigo: “O contrato pode ser
modificado com fundamento nas condições nele previstas…”

Esta novidade deve ser analisada em conjunto com a nova alínea 1.j) do artigo 96.º que define como
conteúdo do contrato “as eventuais condições de modificação do contrato expressamente previstas no
caderno de encargos, incluindo cláusulas de revisão ou opção, claras, precisas e inequívocas”.

Esta nova justificação para a existência de modificação objetiva do contrato durante o seu período de
vigência vem transpor para a legislação nacional os pressupostos referidos no artigo 72.º , n.º 1 alínea a)
da diretiva 2014/24/UE, que reconhece a importância da flexibilidade contratual para se conseguir atingir

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

os objetivos que presidem à celebração de um contrato público ao admitir a hipótese de existirem opções
de modificação do contrato desde que tenham sido devidamente indicadas nas peças do procedimento.

Esta pequena alteração pode ter criado o enquadramento legal necessário para darmos um grande passo
na procura de soluções mais justas em termos de partilha de risco destas OGC, pois vem abrir a
possibilidade de se adoptar uma metodologia de projeto com base na previsão de cenários de referência
(mais prováveis) e outros alternativos (menos prováveis) para a construção da obra, capazes de dar uma
resposta mais abrangente e adaptável às situações reais encontradas em obra, seguindo as regras da boa
arte técnica e económica, e maximizando a segurança através de uma adequada gestão do risco.

Esta foi uma das medidas concretas que o Grupo de Trabalho N.º 2 da Comissão Portuguesa de Túneis
propôs ao governo, no âmbito da reflexão que realizou entre 2015 e 2016 sobre a legislação portuguesa
de contratação pública à luz das novas diretivas europeias e das melhores práticas de construção
subterrânea (com destaque para os túneis), por forma a dar resposta às situações previsivelmente incertas
que ocorrem neste tipo de OGC e que exigem uma adaptação justificada do método construtivo quando
ocorrem condições geotécnicas substancialmente diferentes das previstas no cenário base de referência (o
mais provável) do projeto lançado a concurso.

Valerá com certeza a pena explorar esta nova redação do artigo 312.º, conjugando com os restantes artigos
que dizem respeito aos limites de aplicação (art. 313.º) e à consequente reposição do equilíbrio financeiro
do contrato (art. 314.º) e tendo presente a necessidade de prever os tais cenários alternativos logo na fase
de projeto, por forma a incluir no caderno de encargos de forma clara, precisa e inequívoca (art. 96.º 1.j).

Um aspeto também muito relevante neste tipo de obras que tem de ser ponderado diz respeito à repartição
do risco entre as partes (referido no n.º 3 do artigo 314.º), que deve ser bem definido nas peças concursais.
Por exemplo, outra das propostas avançadas pelo GT2 da CPT prende-se com a alocação do risco
hidrogeológico e geotécnico que deve ser atribuído ao dono de obra, enquanto que a componente do risco
de desempenho para as condições geotécnicas expectáveis (o risco associado à geologia conhecida nas
prospeções efetuadas) deve ser atribuído ao construtor.

Consideramos que uma utilização adequada e previdente deste artigo 312.º poderá trazer aspetos muito
positivos para a construção e para a gestão deste tipo de OGC, desde que seja devidamente previsto nas
peças concursais.

4.2 - Resolução alternativa de litígios [artigo 476.º]

O novo artigo 476.º do CCP (e último) vem permitir o recurso à arbitragem ou a outros meios de resolução
alternativa de litígios emergentes de procedimentos ou contratos aos quais se aplique o código.

No entanto ainda falta bastante caminho a percorrer nesta área, e certamente ajustes a realizar ao código,
na medida em que se prevê que caso a entidade adjudicante opte pelo recurso à arbitragem poderá escolher
e impôr a jurisdição de um qualquer centro de arbitragem institucionalizado (quando existirem), que os
concorrentes terão de aceitar. Ora isto não parece aceitável, pois este centro irá decidir sobre litígios
contratuais e deverá ser escolhido por ambas as partes ou, caso não seja possível, por uma entidade
independente de qualquer um dos interessados (tanto o dono de obra como o cocontratante).

Parece-nos que esta decisão de escolha do centro de arbitragem poderia passar pela entidade reguladora,
atualmente o IMPIC – Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção - mas sobre esta
matéria certamente correrá ainda muita tinta.

O que realmente interessa reter, no que às OGC diz respeito, é que uma resposta deste tipo talvez não seja
a mais adequada para resolução expedita de conflitos durante a fase de execução da obra.

Como proposta, julgamos que nas OGC que têm um potencial de incerteza elevado quanto à realidade que
poderá ser encontrada durante a escavação e execução dos trabalhos (incerteza muitas vezes associada à
qualidade do maciço e ao zonamento geotécnico encontrado na frente de obra) e comportam grandes
riscos, deverá ser criada uma Comissão de Resolução de Conflitos com três membros (um nomeado pelo
Dono de Obra, o outro pelo Construtor e um terceiro nomeado por esses dois membros) que devem estar
ao corrente e receber periodicamente os relatórios de progresso dos trabalhos. Este grupo de profissionais
reconhecidos, neutros e conscientes deverá ser capaz de analisar tecnicamente as situações, para atuar
rapidamente como decisor nas situações de modificações objetivas ao contrato por alteração relevante das
condições geotécnicas inicialmente previstas, respeitando sempre o regime legal aplicável.

Este modelo de mediação de conflitos é muito utilizado na Suiça (VSS 641510, 1998) e noutros países com
grande tradição na construção de túneis, principalmente por serem trabalhos de longa duração que
comportam grandes riscos, evitando-se assim uma deterioração do clima de trabalho, perdas de tempo e

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

de dinheiro e uma escalada dos litígios, procurando a resolução atempada e próxima da origem dos
conflitos: a obra.

Fica a sugestão, que poderá ser enquadrada como “… outros meios de resolução alternativa de litígios…”.

4.3 - Novo regime dos “trabalhos complementares” (TC) [artigos 61.º e 370.º a 378.º]

Com a revogação do artigo 61.º e a introdução no artigo 370.º de um novo tipo de trabalho, denominado
“trabalho complementar”, o legislador deixa cair o conceito de “trabalhos a mais” e de “trabalhos de
suprimento de erros e omissões do caderno de encargos” na fase de execução do contrato (estes últimos
tipicamente associados a trabalhos resultantes de situações desconformes com a realidade mas que
poderiam e deveriam ter sido previstas, ou resultantes de situações associadas a condicionalismos naturais
com especiais caraterísticas de imprevisibilidade como é o caso dos túneis) e alarga o espectro de
circunstâncias associadas a estes novos TC:

i) “… quando resultem de circunstâncias não previstas…”, e o seu valor acumulado não exceda
10% do preço contratual;

ii) “… quando… resultem de circunstâncias imprevisíveis ou que uma entidade adjudicante


diligente não pudesse ter previsto…”, e o seu valor acumulado não exceda 40% do preço
contratual.

Deixa de existir, deste modo, qualquer referência excecional para os casos de obras cuja execução seja
afetada por condicionalismos naturais com especiais características de imprevisibilidade, nomeadamente
as obras marítimo-portuárias e as obras complexas do ponto de vista geotécnico, em especial a construção
de túneis, bem como as obras de reabilitação ou restauro de bens imóveis (conforme o antigo artigo 376.º
n.º 4, que foi revogado).

Estas alterações não vêm dar resposta às circunstâncias que muitas vezes ocorrem não obras OGC de
situações previsivelmente incertas, i.e., quando a entidade adjudicante (ou a sua equipa projetista) não
consegue prever com precisão as características geotécnicas do maciço e os comportamentos solo-
estrutura que irão ocorrer em obra (apesar de ter atuado de forma diligente na preparação do concurso),
mas consegue prever que poderão existir situações diferentes do que as de referência indicadas no projeto
(que correspondem às mais prováveis de ocorrer).

Também não vêm responder às circunstâncias de situações com uma probabilidade de ocorrência tão
reduzida (muito pouco prováveis) que, eventualmente, uma entidade adjudicante diligente poderia ter
previsto, mas que ainda assim essa mesma entidade adjudicante responsável não deveria ter em conta
como hipótese no dimensionamento da obra, por não ter uma relação custo-benefício proporcional e
adequada aos interesses da entidade adjudicante (damos como exemplo do que não se deve fazer, o
dimensionamento de estruturas provisórias para um sismo com um período de retorno de 50 anos, ou o
dimensionamento de um túnel para um cenário geológico-geotécnico ultra-conservador em toda a sua
extensão).

Enquanto que a circunstância que acima identificamos como de situação previsivelmente incerta, poderá
ter uma solução contratual no âmbito das modificações objetivas ao contrato (conforme explicado no
capítulo 4.1), já a circunstância resultante de uma probabilidade de ocorrência muito reduzida deveria ser
enquadrada na redação existente (através de interpretação extensiva): …” quando… resultem de
circunstâncias imprevisíveis ou que uma entidade adjudicante diligente e responsável não pudesse ou não
devesse ter previsto…”.

Fica desde já a proposta de extensão de interpretação deste artigo 370.º.

4.4 - Nova organização das fases de apresentação das propostas [artigo 50.º] conjugada
com a possibilidade do empreiteiro reclamar dos EO do caderno de encargos nos 60 dias
subsequentes à consignação da obra [artigo 378.º, n.º 3]

O artigo 50.º foi profundamente revisto, juntando agora no primeiro terço do prazo fixado para a
apresentação das propostas a i) solicitação de esclarecimentos necessários à boa compreensão e
interpretação das peças do procedimento e, no mesmo prazo, a ii) apresentação de uma lista na qual
identifiquem, expressa e inequivocamente, os erros e as omissões das peças do procedimento por si
detetados.

Consideramos que esta revisão não foi muito feliz pois, por um lado:

 “…A lista a apresentar ao órgão competente para a decisão de contratar deve identificar, expressa
e inequivocamente, os erros ou omissões do caderno de encargos detetados, com exceção dos
referidos na alínea d) do número anterior e daqueles que por eles apenas pudessem ser detetados

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

na fase de execução do contrato, atuando com a diligência objetivamente exigível em face das
circunstâncias concretas.” (conforme o n.º 3 do art. 50.º),

mas por outro lado, o incumprimento do dever acima referido não tem consequências, pois:

 “O empreiteiro deve, no prazo de 60 dias contados da data da consignação total ou da primeira


consignação parcial, reclamar sobre a existência de erros ou omissões do caderno de encargos,
salvo dos que só sejam detetáveis durante a execução da obra, sob pena de ser responsável por
suportar metade do valor dos trabalhos complementares de suprimento desses erros e omissões.”
(conforme o n.º 3 do art. 378.º).

Da conjugação destas duas alterações resulta, na prática, que os concorrentes deixarão de ter incentivo
para apresentar a lista de erros e omissões passíveis de serem detetados na fase de concurso, pois podem-
no fazer apenas após a consignação, tendo 60 dias para apresentar os EO sem qualquer penalidade.

Uma outra consequência evidente que resulta destas duas alterações será o aumento relativo dos potenciais
trabalhos complementares resultantes de circuntâncias não previstas (que têm um limite de 10% do preço
contratual), quando comparados com a situação anterior que incentivava os concorrentes a apresentarem
a lista de erros e omissões cuja deteção era exigível na fase de formação do contrato (até ao 5/6 do prazo
de apresentação das propostas) sob pena de serem responsáveis por suportar metade do valor desses
trabalhos.

Deixamos a nota de que a versão final publicada em agosto de 2017 do n.º 3 do artigo 378.º foi modificada
após a consulta pública de agosto de 2016, pois a versão da consulta pública estava em linha com a versão
do código não revisto ao prever que “… O empreiteiro suporta metade do valor dos trabalhos de suprimento
de erros ou omissões cuja deteção era exigível na fase de formação do contrato, no prazo referido no artigo
50.º, exceto pelos que hajam sido identificados pelos interessados na fase de formação do contrato mas
que não tenham sido expressamente aceites pelo dono da obra.”

Consideramos que estas alterações não são benéficas pois retiram algum rigor às propostas efetuadas na
fase pré-contratual, deixando para o início da obra a discussão sobre os eventuais EO do projeto e do
caderno de encargos, o que poderá dificultar o início dos trabalhos. Para mais, se os EO detetados após a
consignação forem superiores a 10% do preço contratual, isso poderá deitar o procedimento abaixo e
obrigar ao lançamento de um novo concurso.

4.5 - Supressão de formalidades não essenciais [artigo 72.º, n.º 3]

A possibilidade do concorrente corrigir a sua proposta através da supressão de formalidades não essenciais
é uma alteração ao artigo 72.º que consideramos claramente positiva, na medida em que sem se abdicar
da transparência se está a aumentar a concorrência, dando a possibilidade aos concorrentes de corrigir a
sua proposta e suprir o seu erro formal quando, por lapso, tenham por exemplo colocado uma assinatura
não reconhecida ou efetuado alguma troca num documento não essencial.

Esta medida vem diminuir a burocracia e melhorar o serviço prestado, sendo de louvar.

4.6 - Fixação do preço (ou custo) anormalmente baixo (PAB) [artigo 71.º]

Com a nova redação do artigo 71.º a fixação do preço (ou custo) anormalmente baixo deixa de estar
referenciada a um preço base, admitindo-se agora a possibilidade de se comparar o preço de um
concorrente com a média dos preços das outras propostas a admitir. Volta assim a poder ser utilizada como
referência para preço ou custo anormalmente baixo a média dos preços das restantes propostas, uma
situação que não é admitida atualmente.

Entendemos que a definição do preço anormalmente baixo é sempre uma tarefa difícil e, muito
provavelmente, sem uma única solução correta. O artigo 71.º não elimina a possibilidade de indexação do
preço anormalmente baixo a uma percentagem do preço base fixado no caderno de encargos (na medida
em que aceita a hipótese de outros critérios considerados adequados) mas abre a possibilidade de se
utilizarem os preços das outras propostas, ou o preço médio obtido da consulta preliminar ao mercado,
caso tenha existido. Esta é uma porta aberta ao conluio, que se julgava fechada de vez, e por isso não
concordamos com esta alteração.

4.7 - Critérios de adjudicação e avaliação de propostas [artigos 74.º, 75.º e 139.º]

O critério regra para adjudicação passa a ser o da proposta economicamente mais vantajosa, que tem por
base o preço ou custo (incluindo os custos do ciclo de vida) e a melhor relação qualidade-preço.

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As mudanças efetuadas aos artigos 74.º e 75.º, apesar de parecerem de monta, não vieram alterar
radicalmente a forma de adjudicar atualmente pois o recurso à avaliação apenas do preço enquanto único
aspeto da execução do contrato continua a ser possível.

As alterações vieram, isso sim, e bem em nosso entender, chamar a atenção para a importância do ciclo
de vida (incluindo-se o custo da manutenção e do funcionamento) da obra que deve ser tido em
consideração logo desde a fase inicial de construção.

No entanto, interessa salientar a nova redação do n.º 2 do artigo 75.º, que na sua alínea b) torna explícita
a possibilidade de se utilizarem de fatores e subfatores de avaliação das propostas com base na
“…Organização, qualificações e experiência do pessoal encarregado da execução do contrato em questão,
caso a qualidade do pessoal empregue tenha um impacto significativo no nível de execução do contrato,
designadamente, em contratos de serviços de natureza intelectual, tais como a consultoria ou os serviços
de projeto de obras”, e também “…Serviço e assistência técnica pós -venda e condições de entrega,
designadamente a data de entrega, o processo de entrega, o prazo de entrega ou de execução e o tempo
de prestação de assistência…”.

I.e., confirmou-se a possibilidade de avaliação da proposta com base no curriculo da pessoa ou equipa que
irá executar o contrato, no caso deste ser um fator relevante para o nível de execução exigido. No entanto,
depois na fase posterior será necessário confirmar e assegurar que essa pessoa (ou uma outra pessoa com
curriculo semelhante ou melhor) irá realmente executar o contrato, caso contrário a entidade adjudicante
estaria a incorrer numa alteração que poderia afetar a decisão de avaliação das propostas, nomeadamente
a sua ordenação e adjudicação.

Esta explicitação é relevante em especial no caso de túneis que possam exigir que a execução do projeto
de execução seja realizada pelo adjudicatário, como por exemplo acontece nos concursos de empreitada
de conceção/construção, lançados ao abrigo do n.º 3 do artigo 43.º.

4.8 - Novos impedimentos [artigos 55.º, alínea 1.l) e 464.º-A]

Existem agora novos impedimentos à participação dos concorrentes nos concursos públicos que, se forem
mal utilizados, poderão desequilibrar as relações entre as partes (dono de obra e empreiteiro).

Segundo a nova alínea 1.l) do artigo 55.º, os concorrentes que “tenham acusado deficiências significativas
ou persistentes na execução de, pelo menos, um contrato público anterior nos últimos três anos, tendo tal
facto conduzido à resolução desse contrato por incumprimento, ao pagamento de indeminização resultante
de incumprimento, à aplicação de sanções…” não podem concorrer a nenhum concurso público.

Esta medida parece-nos ser desproporcionada (na medida em que apenas um acontecimento infeliz poderá
impossibilitar uma empresa de concorrer a concursos públicos e levar, muito provavelmente, à sua falência)
e ainda por cima não obriga à existência de uma sentença transitada em julgado, podendo a entidade
adjudicante decidir unilateralmente resolver o contrato por incumprimento sem que o empreiteiro tenha
direito a fazer valer os seus argumentos num julgamento imparcial. A simples resolução do contrato (sem
antes ter de passar por um julgamente) inibe o empreiteiro de participar nos concursos subsequentes,
mesmo que, eventualmente, posteriormente se venha a provar que a resolução foi injustificada…

No entanto, a proibição de participação em procedimentos de contratos públicos prevista no novo artigo


464.º-A já nos parece mais equilibrada, na medida em que a aplicação da sanção cabe ao IMPIC, que terá
de avaliar a bondade das decisões tomadas pelos contraentes públicos e a proporcionalidade da sanção a
aplicar.

Este assunto terá de ser esclarecido num futuro próximo, mas ainda assim concordamos com o princípio
genérico que lhe está subjacente de que os construtores reiteradamente prevaricadores (que não cumprem
os contratos) não devem continuar a concorrer aos concursos públicos, a menos que a origem do problema
tenha sido resolvida ou reabilitada.

De qualquer forma, a lista negra de empresas ainda vai fazer correr muita tinta…

5- EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Neste capítulo fazemos referência às melhores práticas contratuais internacionais utilizadas em países com
grande tradição neste tipo de obras geotécnicas complexas, que promovem a adequação dos métodos
construtivos inicialmente previstos às condições reais encontradas em obra (através da utilização do
método observacional, conforme estabelecido no capítulo 2.7 da Norma Europeia de Projeto Geotécnico –
EC7: Parte 1 Regras Gerais), promovendo desta forma a redução do risco geotécnico (e do seu custo).
Fazem-no através de mecanismos contratuais simultaneamente flexíveis e rigorosos, adaptando os

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métodos construtivos por aplicação de regras sobre modificação dos contratos para os cenários de projeto
admissíveis, previamente estudados e previstos no concurso.

Aliás, deixa-se a nota de que estes princípios já estão salvaguardados na Portaria n.º 701-H/2008 quando
no artigo 132.º se faz referência aos serviços de Assistência Técnica Especial (ATE) do seguinte modo: “No
projecto de túneis, em especial nos de grandes secções transversais, a fase de construção deve implicar
uma assistência técnica especial… que compreende:

a) A apreciação das condições geológicas do maciço realmente existentes, nomeadamente através da


análise do mapeamento das superfícies de escavação, sempre que o método construtivo o permitir.

b) Análise dos resultados dos ensaios de caracterização geotécnica e de caracterização de outros


materiais empregues na obra, eventualmente realizados durante a fase de construção.

c) Apreciação dos resultados fornecidos pela instrumentação da obra.

d) Adaptação do projecto às reais condições do terreno encontradas.”

Ao elaborar este artigo, o legislador teve consciência da existência de situações reais que não podem, nem
devem, ser totalmente previstas na fase de projeto, pelo que construiu uma ferramenta excecional para
responder às eventuais, mas de probabilidade não desprezável, necessidades de adaptação do projeto à
realidade encontrada in situ.

A grande dificuldade reside em aplicar estes princípios sem colidir com as regras legais do CCP…

Em seguida apresentam-se algumas recomendações da ITA (International Tunnelling Association) que, em


conjunto com a FIDIC (International Federation of Consulting Engineers) está presentemente a elaborar
um novo livro “Emerald Book” de práticas contratuais específicas para Túneis e outras Obras Subterrâneas,
com cláusulas especiais que visam atender aos aspetos contratuais específicos da construção de túneis e
de outras obras subterrâneas complexas.

5.1 - Recomendações da ITA: Framework Checklist for subsurface construction contracts

A Checklist da ITA para contratos de obras subterâneas foi


divulgada em 2011 (Figura 3) e está presentemente em
atualização. Esta lista resume as principais áreas da
prática contratual que a ITA considera serem fundamentais
para garantir o sucesso dos projetos de construção
subterrânea, em especial os túneis:

(1) Atender à Especificidade das Obras


Subterrâneas  Este tópico já foi abordado no
capítulo 3.

(2) Divisão Clara e Equilibrada de Responsabilidades


 Através da definição clara dos responsáveis por
diversas atividades interdependentes, desde a
prospeção geológica, interpretação geológica, a
segurança, as questões ambientais, seguros, sistema
de integração, testes de validação de funcionamento
dos equipamentos e outros assuntos diretamente
relacionados com a entrega da obra, para evitar Figura 3 – Checklist da ITA para contratos de
atrasos, aumento de custos e disputas. obras subterrâneas (abril 2011)

(3) Processo Especializado de Resolução de Conflitos  Recomenda-se como um meio de gestão de


conflitos o recurso a processos especializados de resolução de litígios, incluindo o recurso a peritos
com experiência e conhecedores dos assuntos específicos da construção subterrânea. Esta
recomendação vai ao encontro da nossa sugestão apresentada no capítulo 4.2, da introdução da
mediação de conflitos antes do recurso aos tribunais arbitrais ou mesmo aos tribunais comuns.

(4) Definição e Consequências da Falta de Desempenho  Os projetos de obras subterrâneas não


devem definir apenas os trabalhos que são necessários executar, os pagamentos e a forma de resolução
de conflitos, mas também definir detalhadamente as penalidades e/ou recompensas, proporcionando
os mecanismos para a resolução dos conflitos de forma oportuna.

(5) Procedimentos Formais de Gestão do Risco  A implementação de um procedimento formal de


gestão de risco em projetos subterrâneos é altamente incentivada. Todas as partes envolvidas no

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projeto devem participar neste processo para gerir e mitigar os riscos identificados. Para tal existe já
uma norma de gestão de riscos ISO 31000 que deverá ser seguida, bem como outras boas práticas
nesta matéria, muitas delas oriundas de outras áreas bem diferentes da geotecnia.

(6) Planeamento e Calendarização  Os projetos de construção subterrânea, para além de exigirem


um rigoroso escrutínio da programação, devem ainda ser capazes de acomodar imprevistos. Os
contratos de obras subterrâneas devem saber lidar com variações na geologia e noutras condições
anteriormente presumidas; isto deve ser considerado como uma mais-valia nestes contratos.

(7) Termos e Condições de Pagamento Claramente Definidos  Os projetos de obras subterrâneas


exigem mecanismos flexíveis de remuneração para se adaptarem a eventuais novas condições
geológicas mais exigentes. Os contratos que incluam um mecanismo de adaptação das remunerações
de acordo com as condições encontradas só vão pagar pelos riscos que realmente ocorram. No entanto,
esses contratos exigem vigilância contínua e especializada para o exercício efetivo do mecanismo de
remuneração.

(8) Alocação equilibrada do Risco  O risco deve ser partilhado e assumido pela parte que melhor o
gere: o dono de obra deve assumir o risco relacionado com o terreno (variações significativas),
enquanto que o empreiteiro deve assumir o risco relacionado com o desempenho construtivo para as
condições geotécnicas de referência.

Apesar de ser a última das recomendações aqui referidas, a partilha do risco é um dos aspetos centrais
da ITA (e mais difícil de gerir). Os princípios de partilha de risco eliminam a maioria das discussões
acerca das diferenças entre as condições geológicas previstas (as de referência do projeto) e as
encontradas em obra. Na Figura 4 ilustra-se como exemplo a prática seguida na Noruega, onde se
pode observar como alocação adequada do risco pode dar origem ao menor custo possível, seguindo
os princípios do Norwegian Method of Tunneling.

Figura 4 – Princípios de alocação do risco (NFF, 2012)

Os limites contratuais do risco que é passado para o construtor são baseados num Relatório Geotécnico
de Referência (RGR), que resume as condições geotécnicas previstas (as mais prováveis) que poderão
ser encontradas durante a construção.

Para as situações (previsíveis) em que as condições reais do terreno possam ser diferentes das
previstas no projeto, deve ser incorporada uma cláusula contratual de “condições físicas diferentes”
(Differing Site Conditions - DSC) que permita uma flexibilização contratual por forma a ajustar o
processo construtivo à realidade encontrada em obra, permitindo assim compensar o construtor por
eventuais sobrecustos (nos casos em que as condições são mais gravosas que as inicialmente
estimadas) ou permitindo compensar o dono de obra com eventuais benefícios (nos casos em que as
condições são mais benéficas do que as de referência).

A utilização de cláusulas de “Differing Site Conditions”, combinadas com Relatórios Geotécnicos de


Referência, devem ser incentivada para promover a repartição equitativa dos riscos e facilitar a
resolução de conflitos.

Uma coisa é certa: “O risco geotécnico poder ser gerido, minimizado, partilhado, transferido ou aceite.
Contudo, não pode ser ignorado.” (Caldeira, 2015).

5.2 - Contratos FIDIC: novo “Emerald Book” para contratos de túneis e obras subterrâneas

A FIDIC (Fédération Internationale des Ingénieurs Conseils / Federação Internacional de Engenheiros


Consultores) sentiu a necessidade de adaptar as suas minutas contratuais (FIDIC, 2011), reconhecidas
internacionalmente como equilibradas do ponto de vista da gestão do risco contratual, para acrescentar

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algumas cláusulas contratuais específicas para túneis e outras obras subterrâneas. O trabalho está a ser
desenvolvido há algum tempo em parceria com a ITA e os princípios que justificaram a elaboração destas
condições contratuais específicas para obras subterrâneas são muito semelhantes aos já apresentados.

Este trabalho conjunto ainda não está terminado, mas já se sabe que o que inicialmente se previa como
necessário (a introdução de umas novas cláusulas específicas para túneis nos três tipos de contratos
existentes: red book, yellow book e silver book) veio a revelar-se insuficiente e desadequado face à
especificidade destas obras geotécnicas complexas. Assim, está em curso a elaboração de um novo tipo de
contrato mais adequado para túneis e obras subterrâneas, que já tem até uma nova cor: Emerald Book.
Em breve daremos mais novidades sobre esta importante minuta contratual para a comunidade geotécnica.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo surge num período de transição e de (re)início de ciclo legislativo, com a necessária análise
ponderada e estudo da “nova” legislação nacional de contratação pública para posterior adaptação das
práticas concursais deste tipo de obras geotécnicas complexas, em especial os túneis.

A comunidade geotécnica, e muito em particular a Comissão Portuguesa de Túneis, tem estado ativa e
atenta tendo contribuído para que o legislador se inteirasse destes importantes princípios que norteiam os
contratos de obras subterrâneas na revisão do código. Agora que o código foi revisto, temos de aproveitar
as novas oportunidades que este contém (ver capítulos 4.1 a 4.3) para introduzir as melhores práticas
contratuais neste tipo de obras geotecnicamente complexas. Ainda há muito caminho a percorrer.

O “novo” código abre a possibilidade de criação de mecanismos contratuais mais flexíveis durante a
execução do contrato, nomeadamente por aplicação das regras sobre modificação objetiva dos contratos
(MOC) durante o seu período de vigência, mais abertos à adaptação às reais condições encontradas durante
a escavação nos casos de obras complexas do ponto de vista geotécnico, eventualmente com base em
cenários de projeto claros, precisos e inequívocos previstos no caderno de encargos.

Fundamentados nos argumentos acima expostos, surge


evidente que a incorporação dos Trabalhos resultantes de
Modificações Objetivas do Contrato (MOC) nesta revisão
do CCP é muito importante para aproximar a nossa
legislação às melhores práticas contratuais de construção
destas obras subterrâneas complexas realizadas em
circunstâncias previsivelmente incertas, em particular os
túneis. A Figura 5 resume graficamente os argumentos
acima expostos.

Mas maior flexibilidade exige também maior rigor!

Para dar maior coerência a esta nova solução legislativa,


deve tornar-se obrigatório (através de, por exemplo, uma
recomendação do IMPIC) que:

 Seja realizada uma campanha de prospeção adequada


à obra a realizar;
Figura 5 – Impacto da revisão do CCP na aplicação
 O projeto contemple diferentes cenários de cálculo das melhores práticas contratuais nas OGC
alternativos;

 As peças processuais (em especial o programa de concurso e o caderno de encargos) devem refletir
essa opção de cenários alternativos na adoção de técnicas de gestão de risco;

 O projeto deve ser objeto de revisão desde a fase inicial de conceção por entidade devidamente
qualificada para a sua elaboração, distinta do autor do projeto;

 O caderno de encargos deve conter toda a informação geológica e geotécnica disponível, bem como o
Relatório Geotécnico de Referência e cláusulas de “Differing Site Conditions” para situações que saiam
de forma evidente fora do quadro de referência;

 A execução da obra deve ser monitorizada e acompanhada de perto em sede de ATE –Assistência
Técnica Especial à Obra (Dono de obra não se pode demitir deste processo);

 Devem ser previsto o recurso a processos de resolução alternativa e expedita de litígios, através da
mediação de conflitos em obra, antes de se recorrer aos tribunais arbitrais ou tribunais comuns;

915
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

 os trabalhos que resultem da execução ao abrigo de cenários alternativos devem ser enquadrados, na
sua globalidade, no âmbito da MOC, podendo existir a compensação de trabalhos e quantidades aferidas
em obra.

Tudo isto pode ser resumido na Figura 6 que se apresenta em baixo:

Figura 6 – Princípios e procedimentos a desenvolver na preparação e construção de túneis e outras OGC

A existência de contratos colaborativos e equilibrados, rigorosos nos seus pressupostos e ao mesmo tempo
flexíveis na possibilidade de adaptação à realidade encontrada em obra, permite uma melhor repartição do
risco geotécnico e, consequentemente, o ressarcimento justo ao Construtor e menores encargos para o
Dono da Obra pela quantificação do que realmente se executou na obra, de acordo com as reais condições
encontradas e respeitando, quer as orientações estabelecidas no projeto, quer as adaptações introduzidas
pelo Projetista no decurso da assistência técnica prestada à obra.

Após esta leitura esperamos que o leitor identifique rapidamente os aspetos mais relevantes que foram
revistos no código de forma a poder utilizar toda a abertura que a “nova” legislação permite para preparar,
contratar e executar este tipo de OGC de forma adequada: preparando com rigor e otimizando a construção
em função da realidade geotécnica encontrada, por forma a aumentar a segurança e reduzir o custo do
risco geotécnico sempre presente neste tipo de obras especiais, em particular no caso dos túneis.

As melhores práticas internacionais aqui identificadas poderão servir de mote para algumas sugestões de
boas práticas a implementar na gestão destas obras públicas, por forma a permitir uma utilização mais
eficiente (best value for money) do dinheiro público.

É que, no fundo, para um engenheiro, projetar e construir um túnel - ou uma obra geotécnica complexa -
é, em todas as situações e por força das especiais condições que envolvem a construção subterrânea, um
trabalho envolto numa dose elevada de incerteza que, na maior parte das situações, não é tecnicamente
ultrapassável – ainda que a lei possa dizer o contrário (Diniz Vieira, G e Diniz Vieira, J., 2014).

AGRADECIMENTOS

O autor deseja agradecer a todos os colegas com quem trabalhou nos últimos anos na análise e no debate
desta revisão do CCP, com especial relevância nos túneis, em particular aos membros do Grupo de Trabalho
N.º2 da Comissão Portuguesa de Túneis e Obras Subterrâneas.

A meu Pai.

REFERÊNCIAS

Caldeira, L. (2015) - Incerteza geotécnica e risco contractual. Proceedings do Seminário sobre Obras Subterrâneas
Complexas, Riscos Contratuais e CCP: Como Conviver?, realizado na Ordem dos Engenheiros, Lisboa, dezembro.

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Cândido, M. A. F. (2010) - Contributo para a gestão do risco geotécnico na construção de túneis. Tese de mestrado
apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
run.unl.pt/bitstream/10362/5132/1/Candido_2010.pdf , acedido em 28/01/2018.

CPT (2015) - Contributos Iniciais para a Revisão do Código dos Contratos Públicos à luz das novas Diretivas Europeias
de Contratação Pública. Grupo de Trabalho n.º2 da Comissão Portuguesa de Túneis,
https://geogdv.files.wordpress.com/2015/10/cpt_gt2_englaw_doc_rev_ccp_20150530.pdf.

CPT (2016) - Contributo para a Revisão do Código dos Contratos Públicos no âmbito da Consulta Pública ao Anteprojeto
de Revisão do CCP. Grupo de Trabalho n.º2 da Comissão Portuguesa de Túneis,
https://geogdv.files.wordpress.com/2016/09/contributos-da-cpt_consulta-publica-revisao-do-ccp_set2016.pdf

Diniz Vieira, G. e Diniz Vieira, J. (2014) - Trabalhos adicionais ao contrato no caso de obras complexas do ponto de vista
geotécnico, em especial os túneis. 14º Congresso Nacional de Geotecnia, Covilhã (CD_ROM).

Diniz Vieira, G. (2015) - Caracterização do problema: especificidade das obras subterrâneas complexas e falta de
flexibilidade legislativa. Proceedings do Seminário sobre Obras Subterrâneas Complexas, Riscos Contratuais e
CCP: Como Conviver?, realizado na Ordem dos Engenheiros, Lisboa, dezembro.

Diniz Vieira, G., et al (2016) - Aspetos Contratuais Específicos da Construção Subterrânea, em especial os Túneis. 15º
Congresso Nacional de Geotecnia, Porto (CD_ROM), https://geogdv.files.wordpress.com/2016/06/15cng_art-
abs-1334_gdv_f2.pdf

Diniz Vieira, G. (2017) - Execução de túneis e obras geotécnicas complexas – O que muda com o CCP revisto?. Revista
Construção Magazine n.º 81, setembro/outubro 2017; https://geogdv.files.wordpress.com/2017/
11/goncalo_dv.pdf .

FIDIC (2011) - “New Red Book” Condições Contratuais para Trabalhos de Construção; “New Yellow Book”, Condições
Contratuais para Instalações e Concepção-Construção. Versão Portuguesa.

Grasso, P., Mahtab, M. A., Kalamaras, G. e Einstein, H. H. (2002) - On the development of a risk management plan for
tunneling. Proceedings of world tunnel congress, Sydney.

ITA-AITES (2011) - Contractual Framework Checklist for Subsurface Construction Contracts. Report Nº06 of ITA WG
Nº3, april. www.ita-aites.org, acedido em 28/01/2018.

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TC (2016) - Relatório n.º 1/2016 – AUDIT.1.ª S., Processo n.º 2/2012 “Evolução global dos trabalhos adicionais no
âmbito dos contratos de empreitada”. www.tcontas.pt, acedido a 28/01/2018.

VSS (1998) – VSS 641510: Règlement de litiges. Norme enregistree de l’Association Suisse de Normalisation.

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IMPULSOS ACTIVOS DEVIDOS A SOBRECARGAS SOBRE MUROS DE SUPORTE


EM CONSOLA
ACTIVE EARTH PRESSURES DUE TO SURCHARGES ON CANTILEVER RETAINING
WALLS

Guerra, Nuno M. da Costa; UNIC/FCT/UNL, Lisboa, Portugal, nguerra@fct.unl.pt


Andrade Viana, Laís; FCT/UNL, Lisboa, Portugal, l.viana@campus.fct.unl.pt

RESUMO

O cálculo de impulsos devidos ao peso do terreno em muros de suporte em consola é assunto bastante
estudado, sendo possível para a sua determinação recorrer a uma abordagem simples e teoricamente con-
sistente. Recorda-se brevemente essa abordagem e as razões que permitem a sua adopção e apresentam-
se as dificuldades de a aplicar a casos em que se pretenda considerar uma sobrecarga variável sobre a
superfície do terreno suportado. Mostram-se as diferentes possibilidades para a sua consideração usando
metodologias de equilíbrio limite e validam-se os resultados obtidos através de análises numéricas por
elementos finitos. Com base nos resultados obtidos apresenta-se uma proposta de metodologia para a
consideração de sobrecargas variáveis neste tipo de estrutura de suporte.

ABSTRACT

The calculation of earth pressures due to soil weight acting on cantilever retaining walls is well documen-
ted and can be performed using a simple and consistent approach. Said approach and its justification are
briefly outlined. The difficulties of applying this approach to cases in which there is a variable surcharge
applied to the surface of the supported soil are shown. The different possibilities when taking the surcharge
into consideration, using the limit equilibrium method, are described and have been applied. Results have
been validated through numerical analysis by using the finite element method. Based on the findings of the
study, a proposal for a method for considering variable surcharges in this type of retaining wall is presented.

1 – INTRODUÇÃO

Os muros de suporte em consola, também por vezes designados como “muros em L” ou “m uros em T
invertido” são estruturas de suporte bastante comuns. Têm a especificidade de o peso de parte do solo
actuar sobre a sapata do muro, resultando que um pequeno movimento horizontal desta arrasta consigo
essa parte do solo, que contribui para a estabilidade do muro e dá origem à formação de um paramento
virtual.

O cálculo dos impulsos sobre estas estruturas de suporte tem sido alvo de vários estudos, destacando-se os
de Barghouthi (1990), Greco (1992, 1999, 2001), Matos Fernandes et al. (1997), Matos Fernandes (2011),
Loureiro (2011) e Loureiro et al. (2014). De forma sucinta, pode afirmar-se que, no caso de a sapata do muro
de suporte ter largura suficientemente elevada (Figura 1(a)), o paramento virtual PQ intersecta a superfície do
terreno suportado e faz um ângulo βQ (menor do que β∗, portanto) igual a βt dado por (Greco 1992):
. Σ
ϕ′ 1 sen
o
β = 135 − − rcsen − [1]
t
2 2 sen ϕ′
em que ϕ′ é o ângulo de resistência ao corte do solo suportado e é a inclinação da superfície do solo
suportado.

O impulso activo aplicado no paramento PQ, C, pode ser calculado pela teoria de Coulomb e resulta da
consideração da cunha de solo PQR, sendo que o ângulo ξ é dado por:
.
ϕ′ 1 sen
o
ξ = 45 + − rcsen − [2]
2 2 sen ϕ′

O impulso C é, assim:
1
C
= K C γh ′2 [3]
2918
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

em que KC é o coeficiente de impulso activo, que pode ser determinado pela expressão analítica de Müller -
Breslau:
. Σ
KC = cosecβ t sen β t − ϕ 2 [4]

sen(ϕ′ +δ) sen(ϕ′ − )

e h′ é a altura indicada na Figura 1(a). Este procedimento


t constitui o que se designa no âmbito do presente
trabalho como o “Método C”, por utilizar directamente a teoria de Coulomb para o cálculo dos impulsos.

R
R S
S
Q
Q C Wc1
1
WRs
δ
C R R
C ′′
2 h
Q

ϕ′
h′ ϕ
h WCs WC β∗
s2 ϕ′
βQ
β∗ α C

βQ P
α P P
ξ B B
P
B
(a) (b) (c) (d)
Figura 1 - Impulsos sobre estruturas de suporte em consola: a) Método C: caso em que a superfície PQ intersecta a
superfície do terreno; b) Método C: caso em que a superfície PQ intersecta o paramento do muro; c) cunha activa de
Coulomb (PQR) com indicação das forças aplicadas sobre a parte esquerda da cunha (PQS); d) Método R.

No caso de a sapata do muro não ser suficientemente larga para que o paramento virtual intersecte a
superfície do terreno, tem-se a situação representada na Figura 1(b). Para esta situação, o ângulo que PQ
faz com a horizontal é βQ, maior do que β∗ e sem equação analítica conhecida. O ângulo βQ é, neste caso,
também dependente do ângulo de atrito solo-estrutura, δ. Os impulsos sobre a estrutura são C e cujo 1 2
cálculo pode igualmente recorrer à teoria de Coulomb. No âmbito do presente trabalho, o método de cálculo
dos impulsos para esta situação continua a designar-se de “Método C”, por recorrer também à teoria de
Coulomb.

Volte-se, no entanto, ao caso representado na Figura 1(a). O Impulso C, determinado pela teoria de Cou-
lomb, equilibra a cunha PQR, com o peso desta e a força de reacção ao longo de PR. Dividindo-se esta cunha
PQR em duas através da vertical PS (Figura 1(c)), a cunha da esquerda, PQS, estará também em equilíbrio,
sendo as forças que sobre ela actuam o impulso C , o seu peso W c1 e a força ao longo de PS. Pode mostrar-se
(Barghouthi 1990; Matos Fernandes 2011) que esta força corresponde ao impulso de Rankine na superfície
PS, formando portanto um ângulo com a horizontal:
1
R
= K R γh ′′2 [5]
2

sendo KR dado pela teoria de Rankine extendida a solos com superfície inclinada:

,
K R = cos − cos2 − cos2 ϕ ′
cos [6]
, ′
cos + cos2 − cos2 ϕ

Conclui-se, portanto, que o impulso C,


tal como representado na Figura 1(a), é igual à soma vectorial de
W c1 com R,
ou seja, que o primeiro pode ser substituído, no cálculo da estrutura, pelos dois últimos. Tal
significa, portanto, que a estrutura de suporte pode ser analisada na forma representada na Figura 1(d),
sendo nesta figura a força W R igual a W C + W c1. Trata-se do “Método R”, pelo facto de os impulsos serem
s s
determinados pela Teoria de Rankine. O Método R é equivalente ao Método C no caso indicado na Figura
1(a) e pode ser usado como aproximação para o caso da Figura 1(b). Em tudo o que se referiu desprezou-se
a altura da sapata do muro.

O que se apresentou foi já estudado e é razoavelmente conhecido. A questão que é introduzida no presente
trabalho é o papel de sobrecargas uniformes aplicadas na superfície do terreno suportado, conforme se
indica nos esquemas da Figura 2. Como considerar esta sobrecarga, à luz do que se referiu?

919
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Caso Método C Método R

q
q

S
T T
C
1
δ C
Q 2 WR
s R
ϕ′

βQ
P
P

q q

R
Q S

T T
C WR
s
R
ϕ′
WC
s

α βQ
ξ
P
P

q q
q q

R
Q Q S

C WR
2 s
R
ϕ′
WC
s

α βQ
ξ
P
P

q q
q q

U R U
Q Q S

WR
s
3 C R

WC ϕ′
s

βU
α βQ
ξ
P
P

q q
q q

S
Q Q S

WR
s
4 R

WC
s

α βQ
ξ
P
P

Figura 2 - Impulsos devidos a sobrecargas sobre estruturas de suporte em consola: casos analisados.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

2 – CONSIDERAÇÃO DA SOBRECARGA

Se se pretender considerar a sobrecarga uniformemente distribuída ao longo de toda a superfície do terreno


suportado (“Caso 1” da Figura 2, com q = 0) a resposta à questão colocada passa por, no Método C,
procurar o ângulo β Q que conduz à situação mais condicionante para a estrutura. Nesta situação, se a
sapata for suficientemente longa, o paramento PQ intersecta a superfície do terreno suportado e é de
esperar que o Método C seja, tal como no caso sem sobrecarga, coincidente com o Método R. Tal significa,
portanto, que β Q deverá ser igual a β t .

No entanto, do ponto de vista da verificação da segurança de uma estrutura de engenharia civil, não faz
sentido considerar a sobrecarga na zona em que ela é favorável à segurança. A identificação da zona em que
a sobrecarga é favorável à segurança depende da metodologia da qual se parta, na análise do problema. Se
se estiver a colocar o cenário de resolução do problema através do Método R, a metodologia que parecerá,
à partida, mais adequada é a que se representa na Figura 2 como “Caso 4”, isto é, considerar a sobrecarga
apenas à direita de S (com q = B) e, sobre a linha PS, determinar os impulsos activos de Rankine, R ,
incluindo nestes, naturalmente, o efeito da sobrecarga. Nesta perspectiva, a consideração da sobrecarga
apenas à direita do ponto S parece ser a opção mais razoável, dado que a sua consideração à esquerda do
mesmo ponto implicaria um aumento da carga vertical sobre a sapata e, portanto, uma maior estabilidade
da estrutura (Caso 1). Note-se, no entanto, conforme se assinala na Figura, que o procedimento do Caso 4
não tem um correspondente simples no caso da aplicação do Método C, uma vez que a simples aplicação
do método de Coulomb não permite a consideração dos efeitos da sobrecarga considerada apenas à direita
de S.

Se o cenário colocado for o do Método C, a metodologia mais adequada, no caso em que o paramento virtual
PQ intersecta a superfície do terreno, é a que se indica na Figura 2 como o “Caso 2”, isto é, considerar a
sobrecarga apenas à direita do ponto Q. Com efeito, a consideração de sobrecarga também à esquerda
deste ponto (o Caso 1 já referido) não parece ser adequado por, como se viu, aumentar a carga vertical
sobre a base do muro. O caso em que o paramento virtual intersecta a parede do muro parece ter, na
perspectiva do Método C, solução adequada no “Caso 1”, dado que toda a sobrecarga afecta os impulsos e
constitui, em princípio, uma acção prejudicial à estabilidade da estrutura.

Pelo que se viu, há, assim, duas abordagens que parecem ser, à partida, possíveis: na perspectiva d o
Método R, o Caso 4 (que não tem aplicação simples no Método C); na perspectiva do Método C, o Caso 2,
para sapata longa, e o Caso 1, para sapata curta (ambos os Casos – 1 e 2 – são aplicáveis ao Método R).
Estas duas abordagens diferem, portanto, em considerar ou não a sobrecarga entre Q e S (ou entre T e S,
no caso da sapata curta). Que resultados são obtidos através destes procedimentos? E qual deles é mais
correcto?

Aos Casos 1, 2 e 4 acrescenta-se ainda o Caso 3, também indicado na Figura 2 e baseado no Método C:
admitindo-se a hipótese de a sobrecarga ter início no ponto Q ou num outro ponto da superfície do terreno
(designe-se esse ponto genérico como U), o caso mais condicionante para a estrutura pode não ser aquele
em que U coincide com Q, mas sim um outro, correspondente a um paramento virtual com inclinação βU ,
diferente de β Q . Este caso é, naturalmente, também possível de analisar à luz do Método R.

Na secção seguinte, resolve-se um exemplo de aplicação usando os quatro casos de localização da sobre-
carga esquematizados na Figura 2: o Caso 1, admitindo a sobrecarga a iniciar-se no ponto T e procurando,
para o método C, o ângulo β Q que conduz à situação mais gravosa; o Caso 2, admitindo a sobrecarga a
partir do ponto Q; o Caso 3, que procurará a localização do ponto U que conduz às acções mais gravosas
sobre a estrutura; e o Caso 4, que considera a sobrecarga a partir do ponto S. Os Casos 1 a 3 são inspirados
no Método C mas são aplicáveis também ao Método R, dado a resultante da sobrecarga entre T e S (ou
entre Q e S; ou entre U e S) contribuir para a força vertical sobre a base do muro. O Caso 4 é inspirado no
Método R e não será analisado pelo Método C, pela dificuldade anteriormente referida.

3 – EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Conforme se refere em Loureiro et al. (2014), os Métodos C e R não podem ser comparados directamente
através dos valores dos impulsos, mas sim através da acção global que aplicam à base da estrutura de
suporte. Conforme referido por Greco (2001) e confirmado por Loureiro et al. (2014), é particularmente re-
levante o valor da relação H/ V entre a força total horizontal aplicada, H, e a força total vertical, V. Deste
modo, considerar-se-á que a acção é tanto mais gravosa quanto maior a relação H/ V. Nesta análise, a
estrutura é considerada com espessura nula e sem peso (ou com peso incluído no peso de solo). As expres-
sões dos impulsos e dos pesos foram deduzidas de forma adimensional, tal como em Loureiro et al. (2014),
e nessas forças foram incluídas as devidas às sobrecargas. Tal significa que H/ (0,5γh 2 ) e V/ (0,5γh 2 ) (e,
portanto, também H/ V) dependem de ϕ′ , δ, , B/ H e q/ (γh).
921
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Admita-se, assim, o exemplo caracterizado por ϕ′ = 30 o , δ = 2ϕ′/ 3, = 0 e q/ (γh) = 0,5 (a relação q/ (γh)
corresponde, propositadamente, a um caso com sobrecarga muito significativa, para melhor estudar os seus
efeitos) e determine-se a relação H/ V em função da relação B/ h. Considere-se ainda um caso idêntico mas
com q/ (γh) = 0, para comparação.

Os resultados de H/ V obtidos para q/ (γh) = 0 para os Métodos R e C são apresentados na Figura 3(a). A
Figura inclui ainda um resultado numérico que será posteriormente comentado. Os resultados são análogos
aos obtidos por Loureiro et al. (2014): até B/ h igual a cerca de 0,58, o que corresponde ao caso em que
a sapata é curta, isto é, em que a superfície PQ intersecta a parede do muro, os Métodos R e C fornecem
resultados diferentes, sendo o Método R conservativo; para B/ h superior ao referido valor, tratando-se da
situação em que a sapata é larga, isto é, em que a superfície PQ intersecta a superfície do terreno suportado,
os Métodos R e C fornecem os mesmos resultados.

1 130
R
C 125
0,8 Numérico
120

0,6 115

 (o)
H/V

110
0,4 105

100
0,2 Q (Mét. C)
95 t
*
0 90
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
B/h B/h

(a) Relação H/ V (b) Valores de β

Figura 3 - Resultados dos Métodos C e R obtidos para o exemplo de aplicação, para q/ (γh) = 0: valores da relação H/ V e
de β em função de B/ h. Comparação com resultado obtido numericamente (secção 4).

A Figura 3(b) mostra os valores de β Q obtidos do Método C, os resultados de β t , dado pela equação (1), e os
valores de β∗. Desta figura conclui-se, assim, que a partir da mesma relação de cerca de 0,58 os resultados
de β Q coincidem com o de β t , sendo o seu valor constante e independente da largura da sapata. É também
para aquele valor de B/ h que β ∗ toma o valor de β Q e de β t . Aliás, dado que para o exemplo em análise o
ângulo β t é igual a 120 o , a relação B/ h para a qual β passa a coincidir com β t é dada por:
B/ h = 1/ tg (180 − β t ) = 1/ tg 60 o = 0,577 [7]

que corresponde, portanto, ao valor de 0,58 anteriormente referido.

Nas Figuras 4(a) a (e) apresentam-se os resultados da relação H/ V obtidos dos Métodos C e R para os Casos
1 a 4 indicados na Figura 2, em função da relação B/ h, para q/ (γh) = 0,5. Apresentam-se igualmente os
valores de β obtidos do Método C (Figura 4(f)). Nesta figura são igualmente incluídos resultados obtidos
numericamente que serão posteriormente comentados.

As Figuras 4(a) a (c) mostram os resultados obtidos dos Métodos C e R para os casos em que ambos podem
ser aplicados (Casos 1 a 3). Na Figura 4(a) comparam-se, assim, os Métodos C e R para a situação do Caso
1. Os resultados de H/ V têm andamento semelhante aos obtidos para q/ (γh) = 0; os seus valores são, no
entanto, superiores, dado o efeito da sobrecarga. A partir da mesma relação de B/ h de 0,577 os Métodos C e
R são equivalentes. Para valores desta relação inferiores a 0,577, o Método R é conservativo. É interessante
notar que os valores de β obtidos para B/ h < 0,577 (Figura 4(f)) apresentam evolução diferente da obtida
para q/ (γh) = 0 (Figura 3(b)). Com efeito, apesar de em ambos os casos a partir de B/ h igual a 0,577 o
valor de β Q obtido coincidir com β t , conforme se esperava, os resultados de β Q para valores inferiores dessa
relação são inferiores no caso q/ (γh) = 0,5 e são, a partir de B/ h da ordem de 0,42, coincidentes com β ∗ .

Na Figura 4(b) apresentam-se os resultados de H/ V obtidos dos Métodos C e R para o Caso 2. Para este caso,
os Métodos C e R fornecem resultados idênticos para B/ h superior a 0,577, sendo, como seria de esperar,
superiores aos do Caso 1, dada a inexistência de sobrecarga entre T e Q. Para B/ h inferior ao referido valor,
os resultados do Caso 2 são os do Caso 1.

A Figura 4(c) mostra os resultados obtidos para o Caso 3. Estes resultados são ligeiramente superiores aos
do Caso 2, a partir de B/ h da ordem de 0,33, o que demonstra que a situação do Caso 3 é condicionante,
ou seja, que os ângulos β U obtidos do Caso 3 (Figura 4(f)) correspondem a soluções mais gravosas para a
estrutura. Para valores de B/ h menores do que o referido valor de 0,33, a superfície PU intersecta a parede
do muro e o Caso 3 equivale ao Caso 1; é portanto para este valor de B/ h que ocorre a descontinuidade
nos resultados do método R. É igualmente interessante constatar, ainda na Figura 4(c), que a solução de
Rankine (Método R) não é análoga à do Método C (é-o922
nos Casos 1 e 2) e fornece resultados conservativos. A
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1 1 1
R R R
C C C
Numérico Numérico Numérico
0,8 0,8 0,8

0,6 0,6 0,6


H/V

H/V

H/V
0,4 0,4 0,4

0,2 0,2 0,2

0 0 0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
B/h B/h B/h

(a) Relação H/ V - Caso 1 (b) Relação H/ V - Caso 2 (c) Relação H/ V - Caso 3

1 1 130
C R
Num.; Caso 1 Num.; Caso 1 125
Num.; Caso 2 Num.; Caso 2
0,8 Num.; Caso 3 0,8 Num.; Caso 3
Num.; Caso 4 120

0,6 0,6 115


111,4

 (o)
H/V

H/V

110
0,4 0,4 105
Caso
Caso
3
4 100 Q; Caso 1
0,2 0,2 3
2 2 t; Q; Caso 2
1 1 95 U; Caso 3
*
0 0 90
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
B/h B/h B/h

(d) Relação H/ V - Método C (e) Relação H/ V - Método R (f) Valores de β (Mét. C) - Casos 1 a 3

Figura 4 - Resultados dos Métodos C e R obtidos para o exemplo de aplicação, para q/ (γh) = 0,5: valores da relação H/ V
e de β em função de B/ h. Comparação com resultados obtidos numericamente (secção 4).

razão para isto é o facto de o equilíbrio de Rankine ser assegurado apenas quando a superfície é PQ, fazendo
um ângulo β Q = β t ; para outros valores do ângulo β, não existe equilíbrio de Rankine, o que significa que
o impulso em PS não é o impulso de Rankine. Este impulso deixa, assim, de ser a solução equivalente ao
Método C, passando a ser uma aproximação conservativa que é tanto mais próxima da do Método C quando
mais próximo o ângulo β U for de β t .

A Figura 4(d) mostra os resultados do Método C obtidos para os Casos 1, 2 e 3, permitindo mais facilmente
a comparação dos resultados. A Figura 4(e) mostra os resultados do Método R para estes três casos e
igualmente para o Caso 4. Pode observar-se que a solução do método de Rankine está, para o Caso 4, cla-
ramente acima das restantes e, em particular, da solução correspondente ao Caso 3. Com efeito, o Método
C parece ser um método adequado para resolver o problema, dado que o é quando não é considerada a
sobrecarga e esta pode ser adequadamente tida em consideração pelo método, como se viu. Sendo o Mé-
todo C adequado, o que se constatou foi que é para o Caso 3 que os resultados sobre o muro são os mais
gravosos, tendo-se procurado o ângulo β U que conduza a essa situação crítica. Não é portanto razoável
admitir que, iniciando-se a sobrecarga no ponto S, os resultados possam ser mais desfavoráveis, conforme
se conclui da aplicação do Método R. Trata-se, portanto, de um caso em que o equilíbrio de Rankine já não
é, de todo, válido, pelo que a solução, apesar de conservativa, não traduz o resultado do Método C nem é
suficientemente próxima desta.

Deste exemplo pode, portanto, concluir-se que:

1. Quando a sapata do muro é larga, a aplicação do Método C ao Caso 1 conduz a β Q = β t e os Métodos


C e R conduzem aos mesmos resultados. Esta situação tem, no entanto, pouco interesse do ponto de
vista prático, dado que parte da sobrecarga, na zona mais próxima da parede do muro, terá um efeito
favorável e, logo, não deve ser considerada.

2. Ainda para a situação de sapata larga, a situação mais gravosa aplicando o Método C resulta da
adopção de um paramento virtual PU fazendo um ângulo β U com a horizontal, determinado pelos
princípios do método de equilíbrio limite. Tal situação corresponde ao Caso 3 e o valor de β U obtido é
diferente de β t . Tal significa, portanto, que o Caso 2 não é a situação mais gravosa. Para o Caso 3 a
solução do Método R é, para o exemplo analisado, ligeiramente conservativa.
3. Quando a sapata do muro é curta, o Caso 1 é válido e o problema pode ser resolvido usando o Método
C ou o Método R. Este último é conservativo para o exemplo aplicado (e, aliás, é-o sempre que o
ângulo de atrito solo-estrutura seja superior à inclinação do terreno suportado (Loureiro et al. 2014)).
923
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4. O Caso 4, que só pode ser resolvido pelo Método R, é, para o exemplo analisado, bastante conserva-
tivo.

4 – EXEMPLO DE APLICAÇÃO: SOLUÇÃO NUMÉRICA

Os resultados obtidos utilizando os Métodos C e R são em seguida, para o exemplo estudado de ϕ′ = 30o e
para alguns valores da relação B/ h, comparados com os obtidos por via numérica e o método dos elementos
finitos.

O programa utilizado foi o programa Plaxis, com o qual se procedeu à modelação da estrutura de suporte
em L e do terreno suportado, em estado plano de deformação, usando a malha de elementos finitos que
se mostra na Figura 5. No cálculo inicial não foi considerada qualquer sobrecarga. O muro de suporte foi
modelado sem espessura, recorrendo a elementos viga (placa) e admitindo comportamento elástico linear.
A base do muro foi considerada assente sobre apoios móveis e a parede do muro foi, na fase inicial de
geração de tensões iniciais, impedida de se deslocar na horizontal. O terreno foi modelado através do
modelo de comportamento Mohr-Coulomb, admitindo uma relação elástica-perfeitamente plástica e lei de
fluxo associada. O contacto entre o muro e o terreno foi modelado através de elementos de junta com
comportamento elástico-perfeitamente plástico.

Figura 5 - Malha de elementos finitos usada para o caso B/ h = 1.

Ao solo foram atribuídas as seguintes propriedades: peso volúmico γ = 20 kN/ m3, módulo de deformabili-
dade E′ = 50000 kP , coeficiente de Poisson ν = 0,3. O muro de suporte foi modelado com as seguintes
propriedades: altura de 10 m, largura da sapata de 10 m (B/ h = 1), rigidezes da parede do muro EA =
12 × 106 kN/ m e E = 160000 kNm2/ m e rigidezes da sapata EA = 30 × 106 kN/ m e EI = 250000 kNm2/ m. A
junta foi considerada com R nter = 0,6304, igual à relação tg δ/ tg ϕ′ ; este valor corresponde à relação δ/ ϕ′
igual a 2/ 3, para o caso de ϕ′ = 30o . A malha de elementos finitos tem largura igual a 5 vezes a altura do
muro mais a largura da sapata.

Após a fase inicial de atribuição das tensões iniciais (foi admitido um coeficiente de impulso em repouso
igual a 1 − sen ϕ′ = 0,5), ao muro foram aplicados sucessivos incrementos de deslocamento horizontal, para
a esquerda, por forma a mobilizar as condições de impulso activo no tardoz da parede. As cargas vertical
e horizontal sobre a estrutura de suporte foram, em cada fase, determinadas por integração das tensões
normais e tangenciais nas juntas solo-muro. Considerou-se que estava atingido o estado activo quando a
relação entre a força horizontal correspondente ao incremento de deslocamento horizontal da fase e a da
fase − 1 era superior a 0,995.

Os valores das forças obtidas nas diversas fases estão indicados na Figura 6, que inclui igualmente os pontos
plásticos associados a cada fase. Conforme se pode ver, o impulso activo aproxima-se sucessivamente do
valor mínimo, estabilizando para cerca de 327 kN/ m, suficientemente próximo do impulso activo teórico de
Rankine, igual, neste caso, a R = 0,5K R γh 2 = 333,3 kN/ m. Os pontos plásticos evoluem para a formação
de duas superfícies que definem a cunha de Coulomb PQR.

d = 0; H = 500 kN/ m d = 0,003 m; H = 393,9 kN/ m d = 0,006 m; H = 333,2 kN/ m

d = 0,001 m; H = 459,9 kN/ m d = 0,004 m; H = 369,3 kN/ m d = 0,007 m; H = 328,4 kN/ m

60 60

d = 0,002 m; H = 424,7 kN/ m d = 0,005 m; H = 348,8 kN/ m d = 0,008 m; H = 327,5 kN/ m

Figura 6 - Resultados numéricos do exemplo de aplicação sem sobrecarga e B/ h = 1: evolução dos pontos plásticos para
diferentes deslocamentos horizontais aplicados ao muro de suporte.

O resultado da relação H/ V assim obtido para a fase final está igualmente representado na Figura 3(a),
podendo constatar-se a quase perfeita sobreposição com os resultados obtidos por equilíbrio limite. Este
resultado está em linha com o estudo realizado por924
Loureiro (2011).
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Considere-se agora a aplicação de uma sobrecarga uniforme q = 0,5γh, vertical, aplicada à superfície do
terreno suportado a partir da distância q contada a partir da parede do muro que será feita variar entre 0 e
B. Para cada valor de q , utilizou-se o procedimento anteriormente descrito, de aplicação de deslocamento
e determinação, para o estado activo, das forças H e V e, portanto, da relação H/ V. A Figura 7 mostra os
pontos plásticos obtidos na última fase, correspondente ao estado activo, para os diferentes valores de q .
A figura mostra igualmente os resultados obtidos para a relação H/ V.

68.6o

60o 59.4o
60o

q = 0; Caso 1; H/ V = 0,220 q = 6,08m; Caso 3; H/ V = 0,270 q = 8,23m; H/ V = 0,256

60o 60o

q = 4,23m; Caso 2; H/ V = 0,251 q = 6,23m; H/ V = 0,266 q = 9,23m; H/ V = 0,244

q = 5,23m; H/ V = 0,263 q = 7,23m; H/ V = 0,255 q = B = 10m; Caso 4; H/ V = 0,232

Figura 7 - Resultados numéricos do exemplo de aplicação com sobrecarga q = 0,5γh e B/ h = 1: pontos plásticos na última
fase (fase correspondente ao estado activo) para diferentes valores de q .

A análise da Figura 7 permite constatar que o mecanismo associado às situações dos Casos 1 (já incluído na
Figura 6) e 2 é igual e coincidente com o esperado, em particular no que respeita à formação da superfície
do paramento virtual, com inclinação igual a α = 180o − βt = 60o . Pode igualmente ver-se que, à medida
que q aumenta, o paramento virtual vai-se tornando mais próximo da vertical e com maior curvatura,
o que no caso q = 9,23 m é particularmente evidente. No Caso 4 o mecanismo volta a alterar-se e o
paramento a aproximar-se da linha recta. No cálculo que utilizou o valor de q correspondente ao Caso 3,
verificou-se que o ângulo com a horizontal formado pelo alinhamento de pontos plásticos que corresponde
ao paramento virtual coincide razoavelmente com o retirado da Figura 4(f) para igual relação B/ h, isto é,
que α é 180 o − 111,4 o = 68,6 o . Verifica-se também que é para o Caso 3 que se obtém a maior relação H/ V,
ou seja, a situação condicionante, confirmando os resultados obtidos por equilíbrio limite.

Estas constatações podem igualmente ser feitas para outros valores da relação B/ h. A Figura 8 mostra os
pontos plásticos na última fase, correspondente ao estado activo, para quatro valores de B/ h (as figuras
para B/ h = 1 são repetidas, retiradas da Figura 7) e para os Casos 1, 3 e 4. Para B/ h = 0,35 não existe
Caso 3, dado que o paramento virtual correspondente à fase crítica intersecta a parede do muro. É interes-
sante constatar-se, destas figuras, que os ângulos do paramento virtual obtidos por aplicação do Método C
(equilíbrio limite), indicados na figura, são globalmente confirmados pelo alinhamento de pontos plásticos
que resultam dos cálculos numéricos. Os valores obtidos de cada cálculo para a relação H/ V na última fase
estão representados na Figura 4. Nesta figura pode constatar-se uma razoável correspondência entre os
valores da referida relação obtidos pelas metodologias numérica e de equilíbrio limite nos resultados dos
Casos 1 e 3. Os resultados do Caso 4 estão bastante afastados dos do Método R, o que permite confirmar o
que anteriormente se tinha referido sobre a aplicação do Método R na situação do Caso 4.

5 – METODOLOGIA PROPOSTA

O que se apresentou permite tirar as seguintes conclusões:

1. A consideração da sobrecarga na situação correspondente ao Caso 4, recorrendo ao Método R, fornece


resultados que podem ser bastante conservativos, afastando-se portanto da realidade.
2. A consideração da sobrecarga na situação correspondente ao Caso 2 teria a vantagem de ser bem
conhecida (é conhecida a expressão de β t), mas não corresponde à situação mais gravosa para a
estrutura de suporte, que deve ser a considerada.
3. Tal situação mais gravosa pode ser adequadamente tida em consideração através da metodologia
correspondente ao Caso 3, usando o Método C, para o caso de sapata larga, ou ao Caso 1, para o caso
de sapata curta. Em ambos os casos o Método R pode ser usado e é conservativo (se o ângulo de
atrito solo-muro for superior à inclinação do terreno suportado).
925
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Caso B/ h = 0,35 B/ h = 0,45 B/ h = 0,6 B/ h = 1

66.8o 65.3o 60o 60o

72.9o 71.3o 68.6o

Figura 8 - Resultados numéricos do exemplo de aplicação com sobrecarga q = 0,5γh e diferentes valores da relação B/ h:
pontos plásticos na última fase (fase correspondente ao estado activo) para os Casos 1, 3 e 4.

A aplicação da metodologia deste último ponto implica, assim, o conhecimento do ângulo β U para, por um
lado, se averiguar se há ou não intersecção com o paramento (isto é, se a sapata é curta ou larga) e, por
outro, não havendo, a partir de que localização (ponto U) é que a sobrecarga deve ser considerada, para
resolução do problema da forma mais adequada. Este ângulo deverá depender de ϕ′ , de δ, de , de q/ (γh) e
de B/ h. Não existe, no entanto, uma equação conhecida para este ângulo, o que certamente complica a sua
determinação, dado que tal implicaria a utilização do procedimento usado na secção 3, isto é, a aplicação
repetida ou iterativa do Método C, procurando a inclinação β U que conduz ao maior valor de H/ V.

Deste modo, tendo-se constatado em cálculos adicionais que não se apresentam no presente trabalho, que
a influência de δ/ ϕ′ não é muito significativa, procedeu-se à realização de uma série de cálculos com δ/ ϕ′ = 2/
3, usando o Método C e considerando o Caso 3, em que se fez variar ϕ′ , / ϕ′ e q/ (γh), determinando-se o
valor de β U para diferentes relações B/ h. Tais resultados são apresentados no Quadro 1.

Pode constatar-se que os valores de β U indicados no Quadro 1 para q/ (γh) = 0 são, para B/ h elevado (sapata
larga), iguais aos valores de βt (equação 1). Pode igualmente verificar-se que para cada par de valores de
/ ϕ′ e q/ (γh), os resultados de β U são globalmente crescentes, variando menos com B/ h à medida que esta
grandeza aumenta. Trata-se do comportamento também observado na Figura 4(f), e que se explica pelo
facto de β U estar a tender para β t quando B/ h tende para infinito. A excepção àquela variação crescente de
β U é a que também é visível na Figura 4(f), evidenciando a passagem do caso em que a sapata é curta para
o caso da sapata longa, que se traduz numa redução brusca de β U , tanto maior quando maior q/ (γh). Os
segmentos de recta horizontais representadas no Quadro 1 indicam o intervalo em que se dá essa redução.
Os valores acima dessas linhas correspondem aos casos de sapata curta e os valores abaixo aos de sapata
larga. Os resultados do Quadro 1 não permitem, no entanto, conhecer o valor exacto de B/ h para o qual
ocorre essa variação brusca. Esse valor está indicado no Quadro 2, que também inclui os valores de β U
à esquerda (βe , correspondente ainda ao caso da sapata curta) e à direita (β d , correspondente ao caso
U U
de sapata larga). Os valores que constam do Quadro 2 podem, assim, ser usados em conjunto com os do
Quadro 1.

A metodologia proposta consiste, assim, em determinar o valor de q com base nos resultados de βU lidos
do Quadro 1 (e, caso seja necessário, também do Quadro 2), em função do conjunto de valores ϕ′ , / ϕ′ ,
q/ (γh) e B/ h do caso em estudo. A partir de β U , q pode ser determinado através da expressão:
. h + B tg β Σ
=m x ; 0 [8]
q
tg β − tg
Nesta expressão, valores nulos de q significam que o paramento virtual intersecta a parede (considerada
vertical), pelo que o caso adequado é o Caso 1.

A partir do valor de q assim determinado pode usar-se o Método C, com, portanto, o paramento virtual
inclinado de β U ou, simplificada e conservativamente, usar o Método R.

6 – CONCLUSÕES

O estudo realizado permitiu concluir que sobrecargas variáveis actuantes na superfície do terreno supor -
tado por muros de suporte em consola devem ser consideradas aplicadas a partir de uma distância q da
926
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Quadro 1 - Valores do ângulo βU que resultam da aplicação do Método C ao Caso 3 para δ/ ϕ′ = 2/ 3; os segmentos de
recta horizontais traduzem a passagem de sapata curta a sapata larga.
/ ϕ′ = 0 / ϕ′ = 1/ 3 / ϕ′ = 2/ 3
B/ h q/ (γh) q/ (γh) q/ (γh)
0 0,05 0,1 0,25 0,5 0 0,05 0,1 0,25 0,5 0 0,05 0,1 0,25 0,5
ϕ′ = 20o
0,1 112,1 112,0 111,9 111,6 111,3 111,5 111,5 111,4 111,3 111,1 110,5 110,5 110,5 110,5 110,5
0,2 114,6 114,3 114,1 113,6 112,9 113,1 112,9 112,8 112,4 112,0 110,5 110,5 110,5 110,5 86,9
0,3 117,0 116,6 116,3 115,6 114,6 114,6 114,4 114,2 113,7 95,9 110,5 110,5 110,5 97,1 88,3
0,4 119,2 118,8 118,4 117,4 103,1 116,2 115,9 115,6 105,8 97,5 110,5 107,5 104,8 98,0 89,6
0,5 121,3 120,8 120,4 112,7 104,8 117,8 117,4 113,1 106,8 98,9 110,5 107,7 105,2 98,8 90,7
0,6 123,2 122,7 122,2 113,8 106,2 118,4 115,9 113,5 107,6 100,1 110,5 107,9 105,6 99,5 91,7
0,7 125,0 122,5 120,3 114,6 107,4 118,4 116,1 113,9 108,4 101,2 110,5 108,1 105,9 100,1 92,6
0,8 125,0 122,7 120,7 115,3 108,5 118,4 116,2 114,2 109,0 102,1 110,5 108,2 106,1 100,7 93,4
0,9 125,0 122,9 121,0 116,0 109,4 118,4 116,3 114,5 109,5 103,0 110,5 108,3 106,4 101,1 94,2
1,0 125,0 123,0 121,2 116,5 110,3 118,4 116,5 114,7 110,0 103,7 110,5 108,5 106,6 101,6 94,8
1,1 125,0 123,2 121,5 117,0 111,1 118,4 116,6 114,9 110,5 104,4 110,5 108,6 106,8 102,0 95,4
1,2 125,0 123,4 121,7 117,5 111,7 118,4 116,7 115,1 110,8 105,0 110,5 108,6 106,9 102,3 96,0
ϕ′ = 25o
0,1 111,1 111,0 110,9 110,7 110,4 110,6 110,5 110,4 110,3 110,1 109,5 109,5 109,5 109,5 109,5
0,2 113,5 113,3 113,1 112,6 112,0 112,0 111,9 111,7 111,4 111,0 109,5 109,5 109,5 109,5 90,7
0,3 115,9 115,5 115,3 114,5 113,6 113,6 113,3 113,1 112,6 99,0 109,5 109,5 109,5 99,0 92,0
0,4 118,0 117,6 117,3 116,3 105,5 115,1 114,8 114,5 107,0 100,4 109,5 107,2 105,1 99,8 93,1
0,5 120,0 119,6 119,1 113,2 106,9 116,6 114,5 112,6 107,8 101,5 109,5 107,4 105,5 100,5 94,1
0,6 121,9 121,3 118,6 114,0 108,0 116,6 114,7 113,0 108,5 102,6 109,5 107,5 105,7 101,1 94,9
0,7 122,5 120,7 119,0 114,7 109,1 116,6 114,9 113,3 109,0 103,4 109,5 107,7 106,0 101,6 95,7
0,8 122,5 120,8 119,3 115,3 110,0 116,6 115,0 113,5 109,5 104,2 109,5 107,8 106,2 102,0 96,4
0,9 122,5 121,0 119,5 115,8 110,7 116,6 115,1 113,7 110,0 104,9 109,5 107,9 106,4 102,4 97,0
1,0 122,5 121,1 119,7 116,2 111,4 116,6 115,2 113,9 110,3 105,5 109,5 108,0 106,5 102,7 97,5
1,1 122,5 121,2 119,9 116,6 112,0 116,6 115,3 114,1 110,7 106,0 109,5 108,0 106,7 103,0 98,0
1,2 122,5 121,2 120,1 116,9 112,6 116,6 115,4 114,2 111,0 106,5 109,5 108,1 106,8 103,3 98,4
ϕ′ = 30o
0,1 110,1 110,0 109,9 109,7 109,4 109,5 109,4 109,4 109,2 109,1 108,4 108,4 108,4 108,4 108,4
0,2 112,4 112,2 112,0 111,5 110,9 110,9 110,8 110,7 110,3 110,0 108,4 108,4 108,4 108,4 93,0
0,3 114,7 114,3 114,1 113,3 112,5 112,4 112,2 112,0 111,5 100,6 108,4 108,4 104,6 100,0 94,2
0,4 116,7 116,3 116,0 115,1 106,5 113,9 113,6 113,4 107,2 101,9 108,4 106,6 105,0 100,7 95,3
0,5 118,6 118,2 117,8 112,7 107,7 114,8 113,2 111,7 107,9 102,9 108,4 106,8 105,3 101,3 96,1
0,6 120,0 118,5 117,1 113,4 108,7 114,8 113,4 112,0 108,5 103,7 108,4 106,9 105,5 101,8 96,8
0,7 120,0 118,6 117,3 114,0 109,5 114,8 113,5 112,2 108,9 104,5 108,4 107,0 105,7 102,2 97,5
0,8 120,0 118,7 117,6 114,5 110,3 114,8 113,6 112,4 109,3 105,1 108,4 107,1 105,9 102,6 98,1
0,9 120,0 118,8 117,8 114,9 110,9 114,8 113,7 112,6 109,7 105,7 108,4 107,2 106,0 102,9 98,5
1,0 120,0 118,9 117,9 115,2 111,4 114,8 113,8 112,7 110,0 106,2 108,4 107,2 106,1 103,2 99,0
1,1 120,0 119,0 118,0 115,5 111,9 114,8 113,8 112,9 110,3 106,6 108,4 107,3 106,3 103,4 99,4
1,2 120,0 119,1 118,2 115,8 112,4 114,8 113,9 113,0 110,5 107,0 108,4 107,4 106,4 103,6 99,8
ϕ′ = 35o
0,1 109,0 108,9 108,8 108,6 108,3 108,4 108,3 108,3 108,1 108,0 107,3 107,3 107,3 107,3 107,3
0,2 111,2 111,0 110,8 110,4 109,8 109,8 109,6 109,5 109,2 108,8 107,3 107,3 107,3 107,3 107,3
0,3 113,4 113,1 112,8 112,1 111,2 111,2 111,0 110,8 110,3 101,5 107,3 105,7 104,2 100,5 95,7
0,4 115,3 115,0 114,6 113,8 106,7 112,7 112,4 110,3 106,9 102,5 107,3 105,9 104,5 101,1 96,5
0,5 117,1 116,2 114,9 111,8 107,7 113,0 111,7 110,6 107,5 103,4 107,3 106,0 104,8 101,6 97,3
0,6 117,5 116,3 115,2 112,3 108,5 113,0 111,9 110,8 108,0 104,2 107,3 106,1 105,0 102,0 98,0
0,7 117,5 116,4 115,4 112,8 109,2 113,0 112,0 111,0 108,4 104,8 107,3 106,2 105,2 102,3 98,5
0,8 117,5 116,5 115,6 113,2 109,9 113,0 112,0 111,1 108,7 105,3 107,3 106,3 105,3 102,6 99,0
0,9 117,5 116,6 115,8 113,5 110,4 113,0 112,1 111,3 109,0 105,8 107,3 106,3 105,4 102,9 99,4
1,0 117,5 116,7 115,9 113,8 110,8 113,0 112,2 111,4 109,2 106,2 107,3 106,4 105,5 103,1 99,8
1,1 117,5 116,7 116,0 114,0 111,2 113,0 112,2 111,5 109,4 106,5 107,3 106,5 105,6 103,3 100,1
1,2 117,5 116,8 116,1 114,2 111,6 113,0 112,3 111,6 109,6 106,8 107,3 106,5 105,7 103,5 100,4
ϕ = 40o

0,1 107,9 107,7 107,7 107,4 107,2 107,2 107,2 107,1 107,0 106,8 106,2 106,2 106,2 106,2 106,2
0,2 110,0 109,8 109,6 109,1 108,6 108,5 108,4 108,3 108,0 107,6 106,2 106,2 106,2 106,2 95,5
0,3 112,0 111,7 111,4 110,8 110,0 109,9 109,7 109,6 109,1 101,7 106,2 104,9 103,6 100,5 96,5
0,4 113,8 113,5 113,2 109,9 106,3 111,2 110,0 109,0 106,2 102,7 106,2 105,0 103,9 101,0 97,3
0,5 115,0 114,0 113,0 110,5 107,2 111,2 110,1 109,2 106,7 103,4 106,2 105,1 104,1 101,5 98,0
0,6 115,0 114,1 113,2 111,0 107,9 111,2 110,2 109,4 107,1 104,1 106,2 105,2 104,3 101,8 98,5
0,7 115,0 114,2 113,4 111,3 108,5 111,2 110,3 109,6 107,5 104,6 106,2 105,3 104,4 102,2 99,0
0,8 115,0 114,3 113,5 111,6 109,0 111,2 110,4 109,7 107,7 105,0 106,2 105,3 104,6 102,4 99,4
0,9 115,0 114,3 113,7 111,9 109,4 111,2 110,5 109,8 108,0 105,4 106,2 105,4 104,7 102,6 99,8
1,0 115,0 114,4 113,8 112,1 109,8 111,2 110,5 109,9 108,2 105,7 106,2 105,5 104,7 102,8 100,1
1,1 115,0 114,4 113,9 112,3 110,1 111,2 110,5 110,0 108,3 106,0 106,2 105,5 104,8 103,0 100,4
1,2 115,0 114,5 113,9 112,5 110,4 111,2 110,6 110,0 108,5 106,3 106,2 105,5 104,9 103,2 100,7
ϕ = 45o

0,1 106,6 106,5 106,4 106,2 105,9 106,0 105,9 105,9 105,8 105,6 105,0 105,0 105,0 105,0 105,0
0,2 108,6 108,4 108,2 107,8 107,3 107,3 107,1 107,0 106,7 106,4 105,0 105,0 105,0 105,0 96,0
0,3 110,5 110,2 110,0 109,4 108,6 108,6 108,4 108,2 104,8 101,6 105,0 103,9 102,9 100,3 96,9
0,4 112,3 111,6 110,7 108,5 105,6 109,3 108,4 107,5 105,3 102,4 105,0 104,0 103,1 100,8 97,7
0,5 112,5 111,7 110,9 109,0 106,3 109,3 108,5 107,7 105,7 103,1 105,0 104,1 103,3 101,2 98,2
0,6 112,5 111,8 111,1 109,3 106,9 109,3 108,6 107,9 106,1 103,6 105,0 104,2 103,5 101,5 98,7
0,7 112,5 111,9 111,3 109,7 107,4 109,3 108,6 108,0 106,3 104,0 105,0 104,3 103,6 101,7 99,2
0,8 112,5 111,9 111,4 109,9 107,8 109,3 108,7 108,1 106,6 104,4 105,0 104,3 103,7 101,9 99,5
0,9 112,5 112,0 111,5 110,1 108,2 109,3 108,7 108,2 106,8 104,7 105,0 104,4 103,8 102,1 99,8
1,0 112,5 112,0 111,6 110,3 108,5 109,3 108,8 108,3 106,9 105,0 105,0 104,4 103,8 102,3 100,1
1,1 112,5 112,0 111,6 110,4 108,7 109,3 108,8 108,3 107,1 105,2 105,0 104,4 103,9 102,4 100,3
1,2 112,5 112,1 111,7 110,6 108,9 109,3 108,8 108,4 107,2 105,4 105,0 104,5 104,0 102,6 100,5

927
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS | 16 CNG

Quadro 2 - Valores de B/ h para os quais o ângulo β U sofre descontinuidade; valores de β e (à esquerda) e β d (à direita).
U U
/ ϕ′ = 0 / ϕ′ = 1/ 3 / ϕ′ = 2/ 3
ϕ′ q/ (γh) q/ (γh) q/ (γh)
(o ) 0,05 0,1 0,25 0,5 0,05 0,1 0,25 0,5 0,05 0,1 0,25 0,5
B/ h 0,652 0,607 0,492 0,350 0,502 0,465 0,371 0,256 0,343 0,315 0,244 0,155
20 βUe (o ) 123,6 122,3 119,1 115,4 117,4 116,6 114,6 112,6 110,5 110,5 110,5 110,5
βUd (o ) 122,4 119,9 112,7 102,2 115,6 112,9 105,5 95,1 107,3 104,4 96,5 86,2
B/ h 0,601 0,566 0,478 0,367 0,472 0,444 0,371 0,281 0,330 0,309 0,254 0,185
25 βUe (o ) 121,3 120,3 117,7 114,6 115,8 115,1 113,5 111,8 109,5 109,5 109,5 109,5
βUd (o ) 120,5 118,5 113,0 105,0 114,5 112,4 106,7 98,7 107,0 104,7 98,6 90,4
B/ h 0,549 0,522 0,453 0,364 0,439 0,417 0,359 0,287 0,315 0,298 0,254 0,198
30 βUe (o ) 119,0 118,2 116,0 113,4 114,2 113,6 112,2 110,8 108,4 108,4 108,4 108,4
βUd (o ) 118,4 116,8 112,4 106,0 113,1 111,5 106,9 100,5 106,5 104,6 99,7 93,0
B/ h 0,498 0,477 0,421 0,349 0,406 0,388 0,341 0,281 0,297 0,283 0,247 0,201
35 βUe (o ) 116,7 115,9 114,1 112,0 112,5 112,0 110,8 109,6 107,3 107,3 107,3 107,3
βUd (o ) 116,2 114,9 111,2 106,0 111,6 110,2 106,5 101,2 105,7 104,2 100,1 94,6
B/ h 0,448 0,431 0,386 0,328 0,371 0,357 0,318 0,269 0,278 0,266 0,236 0,198
40 βUe (o ) 114,3 113,7 112,1 110,3 110,7 110,3 109,3 108,2 106,2 106,2 106,2 106,2
βUd (o ) 113,9 112,8 109,8 105,5 110,0 108,8 105,7 101,4 104,8 103,5 100,1 95,5
B/ h 0,400 0,386 0,349 0,301 0,337 0,325 0,293 0,253 0,258 0,248 0,222 0,191
45 βUe (o ) 111,9 111,4 110,1 108,6 108,9 108,5 107,7 106,8 105,0 105,0 105,0 105,0
βUd (o ) 111,6 110,7 108,2 104,6 108,3 107,3 104,7 101,1 103,8 102,7 99,8 95,9

parede vertical do muro, correspondente à situação mais gravosa para a estrutura. Este procedimento cor-
responde ao Caso 3 do presente trabalho, que recorre a um paramento virtual, fazendo um ângulo βU com
a horizontal, que une a extremidade da sapata ao ponto definido pela distância Q , através do Método C
descrito. Este método pode ser aproximado de forma conservativa, na maior parte dos casos, pelo Método
R, que considera os impulsos (incluindo os da sobrecarga) calculados através da teoria de Rankine numa
superfície vertical passando na extremidade da sapata do muro e considerando a sobrecarga entre a dis-
tância Q e esta vertical contribuindo para a força vertical. Resultados numéricos conduziram a resultados
semelhantes.

O conhecimento do ângulo β U permite o cálculo de q através da equação (8), mas β U depende de ϕ′ , δ/ ϕ′ ,


/ ϕ′ , q/ (γh) e B/ h. Adoptando δ/ ϕ′ = 2/ 3, o ângulo β U foi aplicado a uma gama de valores dos restantes
parâmetros, tendo os resultados obtidos sido apresentados na forma de Quadro, para facilidade de consulta.

REFERÊNCIAS

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Engineering, 112(7):727–745.

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ASCE Journal of Geotechnical Engineering, 118(5):825–827.
Greco, V. R. (1999). Active thrust on cantilever walls in general conditions. Soils and Foundations, 39(6):65–
78.

Greco, V. R. (2001). Active thrust on cantilever walls with short heel. Canadian Geotechnical Journal, 38(2):401–
409.

Loureiro, G. (2011). Impulsos activos sobre estruturas de suporte em consola. Dissertação de Mestrado,
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa.
Loureiro, G., Guerra, N. M. C., e Almeida e Sousa, J. (2014). Acções sobre muros de suporte em consola.
Geotecnia, 132:69–92.

Matos Fernandes, M. (2011). Mecânica dos Solos. Introdução à Engenharia Geotécnica, volume 2. FEUP
Edições.

Matos Fernandes, M. A., Mateus de Brito, J., Cardoso, A. S., e Vieira, C. F. S. (1997). 25 Anos da Sociedade
Portuguesa de Geotecnia – Eurocódigo 7: Projecto Geotécnico, capítulo Estruturas de suporte, pp.
IV–1–53. LNEC.

928
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS FÍSICOS NA INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS


DE PROVAS DE CARGA INSTRUMENTADAS EM ESTACAS ESCAVADAS DE
GRANDE DIÂMETRO EM AREIAS

INFLUENCE OF PHYSICAL PARAMETERS IN INSTRUMENTED LOAD TEST


INTERPRETATION RESULTS IN LARGE DIAMETER PILES IN SANDS

Silveira, José Eduardo Paludo; UDESC, Joinville/ SC, Brasil, paludo.je@gmail.com


Odebrecht, Edgar; UDESC, Joinville/ SC, Brasil, edgar@geoforma.com.br
Schnaid, Fernando; UFRGS, Porto Alegre/ RS, Brasil, fschnaid@gmail.com

RESUMO

As estacas escavadas de grande diâmetro vêm ganhando destaque no cenário mundial devido ao aumento
dos carregamentos provenientes da superestrutura, assim a identificação do seu real comportamento é de
extrema importância para a engenharia. A interpretação de resultados de provas de carga instrumentadas
deve ser feita com cautela já que alguns fatores podem influenciar neste processo, como é o caso do
diâmetro e o módulo de elasticidade utilizados. O processo executivo destas estacas possibilita o
surgimento de estrangulamentos ou afrouxamentos ao longo do fuste da mesma, variando seu diâmetro.
Os inúmeros métodos de quantificação do módulo de elasticidade da estaca também contribuem para
divergências de resultados. Desta forma, este trabalho visa demonstrar como pequenas variações no
diâmetro e no módulo de elasticidade adotados podem influenciar a interpretação dos resultados finais de
uma prova de carga, em estaca escavada de grande diâmetro submetida a carregamentos verticais, em
solo predominatemente arenoso.

ABSTRACT

Large diameter bored piles have been gaining prominence in the world scenario due to the increase of the
loads coming from the superstructure, so the identification of their real behavior is of extreme importance
for the engineering. The results interpretation of instrumented load tests should be done with caution since
some factors may influence in this process, as is the case of the diameter and modulus of elasticity used.
The executive process of these piles allows the appearance of bottlenecks or loosening along the shaft of
the same, varying its diameter. The numerous methods of quantification of the modulus of elasticity of the
pile also contribute to divergences of results. In this way, this work aims to demonstrate how small
variations in the diameter and modulus of elasticity adopted can influence the interpretation of the results
of a load test in large diameter bored pile subjected to vertical loads, with predominantly sandy soil.

1- INTRODUÇÃO

Fundações por estacas são extensivamente utilizadas para transferir os carregamentos de uma obra de
engenharia para o solo. A estimativa adequada da capacidade de carga é primordial para a engenharia
geotécnica, entretanto a interpretação do comportamento ou suporte da estaca é complexa, devido a
diversos fatores.

As estacas escavadas de grande diâmetro vêm sendo largamente utilizadas na construção civil devido ao
aumento das cargas transmitidas ao solo, a qual tem se mostrado muito eficaz, no entanto a quantidade
de estudos direcionados a estas estacas em solos arenosos ainda é escasso.

As estacas submetidas a provas de carga podem ser instrumentadas ou não, todavia a instrumentação
permite avaliar parâmetros importantes como as parcelas de atrito lateral e de ponta, ampliando o
conhecimento sobre o mecanismo de transferência de carga entre a estrutura e o solo. A interpretação
destes resultados é dependente de dois parâmetros físicos, o módulo de elasticidade e diâmetro da estaca,
entretanto para as estacas escavadas seus reais valores são muitas vezes atribuídos de forma equivocada.

As estacas de grande diâmetro normalmente são utilizadas para suportar carregamentos amplos e a
utilização indevida de alguns parâmetros, como citado anteriormente, podem levar a erros significativos.
Desta maneira, este trabalho visa, através de uma prova de carga real, demonstrar como a utilização
destes parâmetros neste tipo de fundação, podem influir na interpretação de resultados, principalmente na
distribuição de carga ao longo do fuste.

929
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O módulo de elasticidade é fundamental para interpretação dos resultados de provas de carga


instrumentadas, pois os dados de tensão medidos são transformados em carga através da área da seção
transversal da estaca e do modulo de Young, como também é chamado (Fellenius, 2012). Para estacas de
aço sua determinação não é um problema já que seu valor é conhecido e constante (205 GPa), entretanto
em estacas de concreto armado o módulo é uma combinação dos materiais aço e concreto.

Amir et al. (2014) ainda complementam dizendo que normalmente o módulo é assumido como constante
ao longo do comprimento das estacas, o que é verdade apenas para estacas pré-fabricadas em que sua
montagem é feita na horizontal. Em estacas escavadas o lançamento do concreto e seu peso próprio fazem
com que as partes inferiores sejam melhores adensadas, ou seja, reduzem o volume de vazios na região,
aumentando consequentemente sua rigidez. Os autores ainda relatam que diferenças pequenas de
adensamento podem ter um efeito positivo significativo na rigidez.

A diversidade de métodos existentes para avaliação do módulo de elasticidade mostra a variedade de


interpretações a respeito do assunto, o que leva consequentemente a um grande número de resultados
possíveis. A seguir é feita uma breve apresentação dos principais métodos de obtenção do módulo de
elasticidade, que podem ser adquiridos por ensaios de laboratório ou instrumentação em estacas. Enfoque
maior é dado ao módulo tangente, método utilizado neste trabalho.

2.1 - Testes em laboratório

2.1.1 - Método da área transformada “Transformed area method” (O’Neil e Reese, 1999; Lam e Jefferis
2011; Pine, 2016)

Este método é simples, entretanto os módulos e áreas do aço e concreto devem ser conhecidos previamente
e seguem a Equação 1. Os erros envolvidos no uso de valores do módulo do concreto (Ec ) são considerados
grandes para fins de interpretação do teste de carga, assim, Ec é comumente determinado em amostras
de laboratório que são preparadas durante a concretagem ou obtidas pelo corte das estacas já prontas.
Es .As +Ec .Ac
Ecomb = (1)
As +Ac
Ecomb – Módulo combinado;
Es – Módulo do aço;
As – Área de aço;
Ec – Módulo do concreto;
Ac – Área de concreto.

No Brasil o módulo do concreto também pode ser obtido através das NBR 6118 (ABNT, 2003) ou NBR 8522
(ABNT, 2008), utilizadas de acordo com as informações disponíveis do concreto.

2.1.2 - Método da área não corrigida “Uncorrected area method” (Ooi e Hamada, 2010; Lam e Jefferis,
2011; Pine, 2016)

Este método é uma versão simplificada da Área Transformada, em que é desconsiderada a parcela do aço
devido a sua pequena área em relação ao concreto, sendo, portanto, considerado Ecomb = Ec . Deve-se tomar
cuidado semelhante ao método anterior.

2.1.3 - Método da estaca falsa “Dummy pile method” (Lam e Jefferis, 2011; Pine, 2016)

Este método foi criado para estacas isoladas sob carga mantida, com base no uso de funções hiperbólicas
para descrever o comportamento do eixo e da base. O modelo é obtido pela combinação das funções
adicionado ao encurtamento elástico da estaca. É criado inicialmente um modelo para a estaca e então
testado em laboratório.

2.2 - Estacas instrumentadas

2.2.1 - Método implícito “Implicit method” (Lam e Jefferis, 2011; Pine, 2016)

O método assume que a carga em determinado ponto é proporcional à deformação medida na


instrumentação mais próxima à cabeça da estaca. Propõe então, que a carga em qualquer nível (Pi) é
obtida reduzindo a carga aplicada P1 pela proporção de deformação naquela profundidade para a tensão
verificada na instrumentação mais próxima a aplicação da carga. Este método deve ser utilizado com
cautela, pois ao considerar que a rigidez na parte superior é similar para toda a estaca está se
desconsiderando a ação do atrito lateral.

930
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2.2.2 - Método linear elástico “Linearly elastic method” (Lam e Jefferis, 2011; Pine, 2016)

Este método considera uma relação linear (tensão-deformação) para que o módulo seja determinado pela
inclinação da curva ΔP/AΔε.

2.2.3 - Método do módulo secante “Secant modulus method” (Fleming, 1992; Lam e Jefferis, 2011; Pine,
2016)

O método, diferente dos anteriores leva em consideração a dependência de tensão no módulo e assim
identifica maiores valores de rigidez nas regiões inferiores devido à redução dos valores de tensão.
Inicialmente calcula-se uma curva de módulo para valores de tensão e deformação medidos no teste,
conforme registrado pelo maior nível de calibração. O valor do módulo assim determinado é comumente
referido como o módulo secante. Os valores do módulo resultante são então plotados contra deformação e
sua relação modelada com uma melhor curva ou linha. O ajuste estabelece uma equação para o módulo
seqüencial em função da tensão medida, que é ajustada aos outros níveis de calibração na pilha para
converter as tensões medidas em cargas.

2.2.4 - Método do módulo tangente “Tangent modulus method” (Fellenius, 1989 e 2001; Lam e Jefferis,
2011; Pine, 2016)

Fellenius (1989) propôs este método considerando que após mobilização total da resistência lateral a
relação tensão-deformação é a mesma de uma coluna livre (sem resistência lateral), o módulo tangente
do material composto é uma linha inclinada de um módulo tangente maior para um menor. Cada valor de
deformação medido pode então ser convertido em tensão através do respectivo módulo dependente da
tensão.

O método é aconselhado para estacas com pequeno diâmetro e/ ou carga aplicada grande. Em 2009 o
autor complementou dizendo ainda que as deformações medidas devem exceder o valor de 500 με e a
prova de carga deve mobilizar pelo menos metade da força do material da estaca. Assim, o módulo tangente
segue o raciocínio mostrado abaixo:

Et = ( ) =aε+b (2)

Que pode ser integrado:

a
σ= ( ) ε2 +bε (3)
2

Ou: σ=Es .ε (4)

a
σ=Es .ε= ( ) ε2 +bε (5)
2

Es =0,5.a.ε+b (6)

Onde:
Et – Módulo tangente;
Es – Módulo secante;
σ – Tensão (carga dividida pela área da seção transversal);
dσ – (𝜎𝑛+1 − 𝜎1 ) variação de tensão de um carregamento para o próximo;
a – Inclinação da reta do módulo tangente;
ε – Deformação medida;
dε – (εn+1 -ε1 ) variação de deformação de um carregamento para o próximo;
b – Módulo tangente inicial.

O método segundo o próprio autor possui algumas limitações, a primeira é dependência dos valores iniciais
de tensão, pois um erro inicial pode comprometer todos os valores seguintes. A segunda é que o método
só é valido para dados obtidos pelos strain gages mais próximos da cabeça da estaca devido a influência
da tensão de atrito com solo.

Lam e Jefferis (2011) fizeram um comparativo dos métodos apresentados anteriormente para se verificar
aqueles que obtinham resultados mais satisfatórios, conforme Figura 1. Os métodos que apresentaram
melhores valores foram o módulo secante e tangente. Pode-se notar que os métodos exibem grande
divergência chegando a variar cerca de 60% entre si.

931
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 1 - Resumo de módulos de elasticidade obtidos (Lam e Jefferis, 2011)

Nienov (2016) e Pereira (2016) utilizaram dados semelhantes de uma prova de carga executada sobre
estaca escavada, entretanto foram atribuídos módulos e diâmetros com algumas diferenças em cada uma
das pesquisas o que fez com que a interpretação dos valores de atrito lateral diversificassem entre si. A
Figura 2 mostra como diferentes interpretações podem levar a resultados desiguais e consequentemente
interferindo na avaliação da prova de carga.

200
Atrito lateral (KPa)

150

100

50

0
N1-N2 N2-N3 N3-N4 N4-N5 N5-N6 N6-N7 N7-N8

Nienov (2016) Pereira (2016)

Figura 2 - Comparativo atrito lateral (Adaptado de Nienov, 2016; Pereira, 2016)

932
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3- METODOLOGIA

A prova de carga foi realizada no campo experimental situado no município de Araquari (Santa Catarina -
Brasil) (Figura 3). Localiza-se na margem direita da rodovia BR 101, km 66 (sentido Norte). Está instalado
em uma área destinada a extração industrial de areia que pertence à maior mineradora da região Sul, a
Mineração Veiga Ltda.

Figura 3 - Campo Experimental de Araquari

Desde dezembro de 2014 o Campo Experimental possui estrutura para a realização de diferentes pesquisas
destinadas à área de fundações profundas. Ao todo foram instaladas seis estacas testes (Tabela 1) além
de quatorze estacas de reação (hélice contínua) posicionadas ao redor das anteriores. A primeira etapa
consistiu na realização de investigações geotécnicas para identificar as propriedades do solo, os resultados
dos ensaios SPT e CPTU obtidos pela empresa Fugro In Situ Geotecnia são apresentados na Figura 4.

Tabela 1 – Estacas Campo Experimental

Detalhe Estaca D. (m) Comprimento (m) Tipo de Carregamento

Hélice contínua ET1 0,7 15,0 Estático/ Dinâmico

Escavada ET2 0,7 15,0 Estático/Dinâmico

Hélice contínua ET3 1,0 24,0 Estático

Escavada - polímero ET4 1,0 24,0 Estático

Escavada - bentonita ET5 1,0 24,0 Estático

Escavada - polímero ET6 1,0 24,0 O-Cell/Estático

933
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

(Nspt) (Mpa) (Kpa) (Kpa)


0 25 50 0 10 20 30 0 150 300 0 750 1500
0 0 0 0

5 5 5 5

10 10 10 10

Profundidade (m)
Profundidade (m)

15 15 15 15

20 20 20 20

25 25 25 25

30 30 30 30

Nspt qc fs u2

Figura 4 – Resultados SPT e CPTU (Fugro In Situ Geotecnia, 2015)

Através das amostras coletadas no ensaio SPT constatou-se uma camada de areia fofa a pouco compacta
nos 4m iniciais. A camada seguinte é constituída por uma areia compacta até cerca de 10m, em seguida
encontra-se areia fofa até os 17m. Posteriormente é observada uma camada de argila mole até os 23m.
Por fim tem-se novamente uma camada de areia média a grossa até cerca de 30m.

3.1 - Objeto de Estudo

Para a realização desta pesquisa optou-se pela estaca de número 5 (ET5, Tabela 1), a qual foi escavada
utilizando lama bentonitica para estabilização das paredes. A estaca possui 1m de diâmetro e foi instalada
com uma profundidade média de 24m. Sua estrutura é composta por dez barras de Ø 32mm Dywidag até
cerca de 24m como armadura longitudinal e barras de Ø 8mm à cada 20cm como armadura transversal,
além de possuir quatro tubos para a realização do ensaio Cross Hole.

A estaca possui diversos sensores de deformação e temperatura ao longo de seu comprimento. Os


instrumentos consistem em strain gages do tipo corda vibrante, modelo 4911 da empresa Geokon. Os
strain gages foram instalados pela empresa Fugro In Situ Geotecnia em oito níveis de instrumentação ao
longo do fuste. Como pode ser visto na Figura 5, foram instalados no mínimo dois conjuntos de sensores
por nível, diametralmente opostos, junto da armadura longitudinal das estacas.

Figura 5 - Detalhes "sister bar": a) detalhes do sensor; b) detalhe da fixação; c) detalhe da disposição.
(Adaptado de Geokon, 2013)

934
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3.2 - Prova de Carga

O ensaio consistiu em carregamentos verticais em que o sistema de aplicação de carga fora composto por
dois macacos hidráulicos (Figura 6a) de grande capacidade (6.000kN) apoiados sobre o bloco de concreto,
em que as pressões eram controladas por um sistema mecanizado. A fim de se medir a carga aplicada por
estes instrumentos foram instaladas células de carga individuais entre os macacos e a viga de reação.

Os deslocamentos na superfície foram medidos através de extensômetros com faixa de medição 100mm e
precisão de 0,01mm sobre a estrutura, em que: quatro foram colocados sobre o bloco da estaca principal
e mais um sobre cada uma das estacas de reação para medição de deslocamentos verticais (Figura 6b), já
para medição de deslocamentos horizontais foram instalados extensômetros ao redor do bloco de concreto
(Figura 6c).

Figura 6 - a) sistema de aplicação de carga e extensômetros sobre bloco; b) extensômetros sobre estaca de reação; c)
extensômetro de leitura horizontal

Para leitura dos dados produzidos pela instrumentação em profundidade utilizou-se um datalogger, o qual
foi programado para fazer leituras automáticas a cada um minuto durante a realização da prova de carga
para posterior envio dos dados à uma planilha eletrônica, para o acompanhamento do ensaio. Não foram
realizadas leituras contínuas de variação de temperatura e deformações durante o período de cura do
concreto, sendo realizadas apenas leituras esporádicas para a verificação da integridade dos sensores.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A prova de carga realizada sobre a estaca consistiu em uma etapa inicial de carregamento lento para
posterior ciclos de carga e descarga (visando identificar possíveis cargas resíduais para outros estudos), o
resultado obtido pela instrumentação superficial é mostrado na Figura 7. O que se verifica é que durante o
carregamento lento a carga máxima alcançada foi cerca de 4200KN, enquanto que em um dos
carregamentos cíclicos obteve-se um carregamento de 4700KN e um deslocamento correspondente de
81,09mm ou um deslocamento de 7,8% do diâmetro da estaca.

A distribuição de carga ao longo da profundidade utiliza o módulo de elasticidade para a obtenção dos
resultados, entretanto, conforme Fellenius (2017) a estimativa correta do módulo é de extrema importância
e imprecisa, pois este é função da tensão aplicada sobre a estrutura e, durante uma prova de carga a
tensão atuante na estaca não é constante ao longo do seu comprimento. Assim, Fellenius (2012)
recomenda a utilização do módulo tangente, pois segundo o autor os resultados alcançados possuem
grande confiabilidade (Figura 8).

935
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Carga Aplicada (KN)


0 1000 2000 3000 4000 5000
0

20
Deslocamento (mm)

40

60

80

100

Figura 7 - Carga - Deslocamento ET5

1000
N1

800 N2

N3
Et (GPa)

600 N4

N5
400
N6

200 N7

N8
0
-20 -70 -120
Deformação (µε)

80
N1
70

60 N2

50 N3
Et (GPa)

40 y = 0,0789x + 53,67 N4
30
N5
20
N6
10
Linear (N2)
0
-20 -70 -120
Deformação (µε)

Figura 8 – a) Relação deformação - módulo tangente ET5; b) Detalhes das curvas deformação - módulo tangente ET5

Nos gráficos observa-se que as curvas dos primeiros níveis seguem uma tendência comum o que segundo
Lam e Jefferis (2011) indica pouca influência da resistência lateral, diferente dos níveis abaixo que sofrem
grande influência. Fellenius (2017) aconselha que o módulo atribuído à estaca deve ser vinculado à um
nível com pouca interferência do solo, ou seja, níveis mais próximos da superfície, desta forma para este
trabalho optou-se por escolher o módulo obtido pela curva N2.

936
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A obtenção do Módulo de Elasticidade das estacas possibilita verificar a distribuição de cada um dos
carregamentos ao longo do comprimento das mesmas, na Figura 9 é apresentada esta distribuição em que
foram utilizados o módulo estimado anteriormente e valores de diâmetro especificados em projeto.

Carga (KN)
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0 311KN

Areia fofa 657KN


5 1312KN
Areia 2013KN
Profundidade (m)

10
compacta
2697KN
3134KN
Areia siltosa fofa
15 3514KN
Areia argilosa fofa
3889KN

20 Argila arenosa mole 4258KN


Areia siltosa compacta
25
Areia compacta

Figura 9 - Distribuição de carga ao longo da profundidade ET5

A NBR 6122 (ABNT, 2010) relata que durante uma prova de carga deve-se sempre observar que o atrito
lateral seja positivo, ainda que durante a vida útil da estaca este venha a ser negativo. Assim, observa-se
que de modo geral a carga que chega em cada nível diminui ao longo da profundidade, o que é esperado
devido a atuação do atrito lateral, entretanto observa-se uma região com comportamento anormal
(retangulo tracejado), indicando um atrito lateral negativo ou nulo. Haja visto que a execução de estacas
escavadas não garante com precisão o diâmetro previsto em projeto optou-se por variar em poucos
centímetros o diâmetro do nível em questão, mostrado na Tabela 2, a fim de se obter valores coerentes. O
resultado obtido é mostrado na Figura 10.

Tabela 2 – Diâmetros considerados

N1 (m) N2 (m) N3 (m) N4 (m) N5 (m) N6 (m) N7 (m) N8 (m)

ET5 1,2 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0

ET5 C.¹ 1,2 1,04* 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0

¹ C – diâmetro modificado

A fim de se verificar o impacto que pequenas alterações no diâmetro podem causar na distribuição de carga
traçou-se o gráfico mostrado na Figura 11 em que os diâmetros de todos os níveis foram alterados em 5%
para mais e para menos. Esta simples variação, neste caso de 1,0m para 0,95 e 1,05m, levou a erros na
faixa de 10% em relação as cargas obtidas. Por exemplo, para a carga de 4200KN estimou-se a resistência
lateral em aproximadamente 2900KN, entretanto poder-se-ia estima-la de forma equivocada se, ao longo
do comprimento da estaca houvessem trechos com pequenas alterações no diâmetro.

O módulo de elasticidade, por sua vez, pode variar significativamente em função do método escolhido
induzindo o engenheiro a diferentes resultados. Por exemplo, se estimado o módulo descrito pela NBR 6118
(ABNT, 2003), para a estaca aqui apresentada, obtém-se um valor de 30 GPa, o que difere quase 40% do
valor obtido através do módulo tangente. A Figura 12 mostra como seria a interpretação de alguns
carregamentos utilizando o módulo tangente e o módulo obtido pela NBR 6118 (ABNT, 2003).

Nota-se, então, que a variação na distribuição de carga é diretamente proporcional ao módulo, como neste
caso, uma variação de 40% no seu valor induz em diferenças de carga na mesma proporção.

937
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Carga (KN)
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0 311KN

Areia fofa 657KN


5 1312KN
Areia 2013KN
Profundidade (m)

10 compacta
2697KN
3134KN
Areia siltosa fofa
15 3514KN
Areia argilosa fofa
3889KN

20 Argila arenosa mole 4258KN


Areia siltosa compacta
Areia compacta
25

Figura 10 - Nova distribuição de carga ET5

Carga (KN)
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0

5
Profundidade (m)

10

15

20

25

Normal 1312 1312 +5%D 1312 -5%D


Normal 3514 3514 +5%D 3514 -5%D
Nomal 4258 4258 +5%D 4258 -5%D

Figura 11 - Distribuição de carga com variação do diâmetro em 5% ET5

Carga (KN)
0 1000 2000 3000 4000 5000
0

5
Profundidade (m)

10

15

20

25

1312 Et 3514 Et 4258 Et


1312 NBR 3514 NBR 4258 NBR

Figura 12 - Distribuição de carga com variação do módulo ET5

938
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Em alguns casos estes parâmetros podem ser utilizados de maneira equivocada, assim na Figura 13 traçou-
se a distribuição de carga para três carregamentos em que se considerou variações de 5% para o diâmetro
e 10% para o módulo de elasticidade. O que se nota é que com estes fatores acumulados, as diferenças
nas cargas podem chegar em cerca de 20%. Por exemplo, o carregamento de 4200 KN aplicado na ET5
teve a carga no nível N4 estimada em 3136 KN, entretanto este valor poderia variar em cerca de 650 KN
em função da interpretação utilizada.

Carga (KN)
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
0

5
Profundidade (m)

10

15

20

25
Normal 1312 1312 + 10%E 5%D 1312 - 10%E 5%D
Normal 3514 3514 + 10%E 5%D 3514 - 10%E 5%D
Normal 4258 4258 + 10%E 5%D 4258 - 10%E 5%D

Figura 13 - Distribuição de carga com variação do diâmetro e módulo ET5

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

As provas de carga se mostram de fundamental importância na análise do comportamento de estacas. A


instrumentação profunda, que pode ser instalada, permite complementar o ensaio, podendo-se avaliar o
mecanismo de transferência de carga entre a estrutura e solo e ainda, estimar as parcelas de resistência
lateral e de ponta. A determinação da capacidade de carga de uma estaca é complexa e imprecisa devido
aos inúmeros fatores que influenciam no processo, desta maneira a ampliação do conhecimento nesta área
traz inúmeros benefícios principalmente econômicos.

O módulo de elasticidade e diâmetro das estacas estão diretamente relacionados com a interpretação dos
resultados de provas de carga em estacas escavadas, sendo fatores importantes a serem considerados. Os
diversos modelos de determinação do módulo e as pequenas variações no diâmetro que são normais neste
tipo de fundação, fazem com que os resultados finais obtidos possam variar consideravelmente. Juntos,
estes fatores podem ser um obstáculo na avaliação do real comportamento deste tipo de fundação.

O Campo Experimental de Araquari foi criado com intuito de contribuir para uma defasagem de estudos na
engenharia de fundações, que é o comportamento de fundações profundas em solos arenosos. O campo
possui estrutura de ponta para a realização de diversos estudos relacionados ao tema. Alguns ensaios já
foram realizados nas estacas instaladas, entretanto outros podem ser executados, como por exemplo a
exumação de uma estaca a fim de se verificar a variação real do diâmetro e verificar novamente sua
influência na interpretação dos resultados.

REFERÊNCIAS

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ON PILING AND DEEP FOUNDATIONS, Stockholm, Suécia. Anais. Hawthorne, New Jersey, Eua: Deep Foundations
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estático de elasticidade à compressão. 2. ed. Rio de Janeiro. 20 p.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2010) - NBR 6122: Projeto e execução de fundações. 2. ed.
Rio de Janeiro. 91 p.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

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Fellenius, B. H. (2009) - Views on accuracy of tests and analyses. Apresentação em “Piling and Deep Foundations Asia
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Lam, C. e Jefferis, S. A. (2011) - Critical assessment of pile modulus determination methods. Canadian Geotechnical
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O’Neill, M. W. e Reese, L. C. (1999) - Drilled shafts: construction procedures and design methods. FHWA Publication.
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Pereira, D. A. (2016) - Análise de provas de carga estática instrumentadas em estacas escavadas em areia. 2016. 205
f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Programa de Pós-Graduação em engenharia de construção civil,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

Pine, T. L. (2016) - Measurement and prediction of the load distribution and performance of continuos flight auger
piles. 2016. 130 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Civil Engineering, School Of Civil, Mining And Environmental
Engineering, University Of Western Australia, Western, Australia.

940
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE


MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS DE CÁLCULO DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA DE
ESTACAS

Amann, Kurt A. P.; Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu.br
Kuboyama, Carolina T.; Centro Universitário FEI, São B. do Campo, Brasil, carolinakuboyama@hotmail.com
Silva, Caio de O.; Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, caio_oliveira1996@hotmail.com

RESUMO

A presente comunicação propõe uma metodologia estatística para definir a assim chamada “aplicabilidade”
de métodos semi-empíricos de capacidade resistente de fundações por estacas, à luz do Eurocódigo 7 e da
norma brasileira NBR6122. Discute-se os conceitos apresentados em diversas subseções destas normas e
os conceitos estatísticos envolvidos para definição da metodologia proposta. Faz-se a aplicação a um banco
de dados de estacas do tipo Raiz, buscando classificar os métodos Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma quanto
à sua acurácia e segurança dentro do conceito de aplicabilidade. Os resultados demonstram a possibilidade
de aplicação a outros tipos de fundações.

ABSTRACT

This paper proposes a statistical methodology to define the "applicability" of semi-empirical methods of
ultimate capacity of pile foundations, under the Eurocode 7 and the Brazilian standard NBR6122 definitions.
It discusses the concepts presented in several subsections of these standards and the statistical concepts
to define the proposed methodology. It is applied on a database of Root piles, aims to classify the Aoki-
Velloso’s and Décourt-Quaresma’s methods accuracy and safety level within the concept of applicability.
The results demonstrate the possibility of application to other types of foundations.

1- APRESENTAÇÃO

A norma portuguesa NP EN 1997-1:2010 (Eurocódigo 7, parte 1) preconiza em sua subsecção 2.4.1, Regra
de Aplicação (5), que o dimensionamento geotécnico pode ser feito por modelos de cálculo analíticos, semi-
empíricos ou numéricos, sendo objeto da presente comunicação especificamente os modelos semi-
empíricos. Tais modelos, ou métodos, empregam geralmente tabelas de fatores empíricos para os
diferentes tipos de solos e resultados de ensaios de campo como o CPT (ensaio com penetrómetro de cone,
subsecção 3.3.10.1), ou o SPT (ensaio de penetração normalizado e de penetração dinâmica, subsecção
3.3.10.2, o qual é intensivamente empregado no Brasil), conjugados às equações de equilíbrio estático da
estaca (daí serem algumas vezes denominados como métodos estáticos). Como exemplos citam-se os
métodos brasileiros de Aoki-Velloso e de Décourt-Quaresma, entre outros.

Na sua subsecção 7.6.2.3 (que trata especificamente de fundações por estacas, as quais se enquadram na
categoria geotécnica 2, conforme a subsecção 2.1), em seu Princípio (1)P, indica-se que a “determinação
da capacidade resistente à compressão de estacas com base em ensaios do terreno” devem utilizar
“métodos que tenham sido estabelecidos a partir de resultados de ensaios [ou provas] de carga e de
experiência comparável”. Em complemento a esta indicação, na subsecção 7.1, Princípio (1)P, preconiza-
se que o método de dimensionamento deve utilizar “métodos de cálculo empíricos ou analíticos cuja
validade haja sido demonstrada através de ensaios de carga estática [subsecção 7.5.2] em situações
comparáveis”. Neste mesmo sentido, cita-se também a subsecção 2.4.1, princípio (10)P, na qual indica-se
que na análise por relação empírica “deve ficar claramente estabelecido que essa relação é aplicável nas
condições do terreno existentes no local da obra”. Verifica-se, portanto, que para se aplicarem tais métodos
semi-empíricos há a necessidade de se atestar a “validade”, ou ainda, a “aplicabilidade” dos mesmos às
condições do terreno da obra, utilizando-se para isso resultados de ensaios de carga.

Tornando à subsecção 2.4.1, Princípio (6)P, preconiza-se ali que estes métodos devem ser “rigorosos ou
dar resultados do lado da segurança”. Assim, interpreta-se aqui que esta classificação denominada “do lado
da segurança”, também chamada de “a favor da segurança” (ou ainda de “método conservador”, como
preferido por alguns autores), é geralmente atribuída de forma determinística a um dado método de cálculo
quando a capacidade resistente por ele calculada resulta valor menor do que aquele alcançado num ensaio
de carga (ou prova de carga), podendo-se assumir daí a sua “validade” ou “aplicabilidade”. Caso contrário,
atribui-se em geral ao método a denominação de “contra a segurança”, resultando desta feita como “não
válido” ou “não aplicável”. Resta, contudo, discutir-se o significado do termo “rigorosos” da subsecção
2.1.4(6)P, o que se fará mais adiante. Convém antes citar as subsecções 7.6.2.3(2) e 2.4.1(9), onde indica-
se que, para garantir que a capacidade resistente calculada seja suficientemente segura, pode ser aplicado

941
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

um coeficiente de modelo para a modificação dos resultados, desde que tenha em conta “a margem de
incerteza dos resultados do método de análise” e “erros sistemáticos que se saiba estarem associados com
o mesmo”. Isto coloca a necessidade de se avaliar estatisticamente tal incerteza em busca de erros
sistemáticos do método.

Também a norma brasileira NBR6122:2010 (correlata do Eurocódigo 7-1), entre outras, exige a verificação
desta “aplicabilidade”. Comparável à norma portuguesa, nas subsecções 7.3.3 e 8.2.2.2 (esta última
especificamente para estacas) da norma brasileira consta que para os métodos semi-empíricos “devem ser
observados os domínios de validade de suas aplicações, bem como as dispersões dos dados e as limitações
regionais associadas a cada uma das formulações”. A consideração das “dispersões dos dados” colocam
também a avaliação estatística como exigível para a análise proposta. Entende-se aqui como “domínio de
validade” as mesmas condições que garantem as “situações comparáveis”, bem como o princípio 2.4.1(6)P
do Eurocódigo 7-1, em que esses modelos de cálculo semi-empíricos sejam “rigorosos” ou resultem do lado
da segurança.

Tendo isto posto, a presente comunicação objetiva propor uma metodologia estatística para definir a assim
chamada “aplicabilidade” de métodos semi-empíricos de capacidade resistente última de fundações por
estacas, à luz do Eurocódigo 7 parte 1 e da norma brasileira NBR6122. A verificação desta aplicabilidade
deve ser feita por comparação com resultados de ensaios de prova de carga em estacas de teste na obra,
como se exemplificará oportunamente com resultados de um banco de dados de ensaios.

2- AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DA APLICABILIDADE DE MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS

2.1 - Definição de “Aplicabilidade”

Em síntese e conforme apresentada na subsecção anterior, a partir da subsecção 2.4.1 do Eurocódigo 7-1
e da subsecção 7.3.3 da NBR 6122:2010, define-se na presente comunicação a “aplicabilidade de um
método semi-empírico” como sendo a constatação de que a relação ou a formulação empírica nele
empregada é aplicável às condições do terreno no local da obra, observando-se os domínios de validade, a
dispersão dos dados e as limitações regionais da aplicação dessas formulações.

Entende-se como “ser aplicável”, conforme o princípio 2.4.1(6)P, a verificação de que os resultados do
método avaliado estão do lado da segurança em relação aos ensaios de carga, ou seja, que resultam
capacidades resistentes menores do que as verificadas nos ensaios de carga.

Acrescenta-se a essa definição que a verificação da dispersão dos dados, das incertezas e dos erros
sistemáticos devem ser tratados com base estatística.

2.2 - Definição de Método “Rigoroso” ou Acurado

Em busca de melhor interpretar o que se pode entender como um método “rigoroso” no contexto do
princípio 2.4.1(6)P e à luz de uma avaliação estatística, percorreu-se um itinerário passando pela versão
inglesa do Eurocódigo 7-1, identificando-se assim que o adjetivo “accurate” ou “acurado” foi interpretado
na versão portuguesa como “rigoroso”. Na mesma versão inglesa, na subsecção 6.6.1(6), encontra-se o
termo “accurate” desta vez traduzido para o português como “exacto”.

Este termo remeteu à literatura técnica de Metrologia, da qual tratam-se os conceitos estatísticos de
“acurácia”, “precisão” e “exatidão”. Disto decorre o conceito de que um método pode ter acurácia elevada
por apresentar a média de seus resultados bem distribuídos em torno do valor médio considerado real,
mesmo que apresente baixa precisão (ou seja, uma alta dispersão de resultados) ou um elevado desvio-
padrão. Já um método será considerado “exacto” quando tiver ambas, acurácia e precisão, elevadas, ou
seja, uma pequena dispersão de resultados e todos distribuídos em torno do valor real esperado.

Enfim, considera-se aqui, para efeito do disposto na subsecção 2.4.1(6)P, que o que se pode chamar de
“método rigoroso” fica melhor interpretado ao ser denominado como “método acurado”, que, para fins de
interpretação estatística, o mesmo se dá quando a média de seus resultados estiver muito próxima à média
do valor obtido nos ensaios de carga, ou, ainda, dentro do intervalo de confiança da média.

2.3 - Proposta de Avaliação Estatística da Aplicabilidade de Métodos Semi-Empíricos

Considerando-se que avaliação a ser aqui proposta deve então verificar a proximidade (ou a diferença)
entre a média dos resultados do método analisado em relação à média dos respetivos ensaios de carga,
propõe-se aplicar o “Teste de Hipótese ‘t’ de Student para diferença de duas médias com dados pareados”
a um banco de dados de ensaios em estacas nas quais se tenha interesse de pesquisar a sua aplicabilidade.

942
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2.3.1 - Fundamentos da estatística ‘t’ para diferença entre médias de amostras pareadas

A distribuição estatística ‘t’ é definida (Morettin, 2010) como uma curva matemática em formato de sino
que permite a correção do valor de probabilidade de amostras pequenas (tamanho 𝑛 < 30 pontos
amostrais), correção esta feita em função dos graus de liberdade ν = 𝑛 − 𝑘 , onde 𝑘 é o número de
parâmetros a se estimar além da média 𝜇. No caso, considerando-se a variância 𝜎 2 da população como
desconhecida, tem-se 𝑘 = 1 e seu estimador é a variância amostral 𝑠𝑥2 . Assim, tem-se:
𝑋̅ −𝜇 𝑋̅ −𝜇
𝑡𝜈 = =𝑠 [1]
𝑠𝑥 ⁄
√𝑛
No caso de se aplicar o teste para a diferença 𝑑 entre duas variáveis aleatórias pareadas (quando cada um
dos pontos amostrais 𝑖 de uma delas tem seu valor correspondente na outra), a média amostral 𝑋̅ passa a
ser a média das diferenças 𝑑̅ e o desvio-padrão amostral 𝑠 passa a ser 𝑠𝑑 :
1 (∑ 𝑑𝑖 )2
𝑠𝑑 =√ ∙ [∑(𝑑𝑖2 ) − ] [2]
𝑛−1 𝑛

É sempre importante verificar se o histograma dos dados segue aproximadamente uma curva de
distribuição estatística normal, ou ao menos uma curva aproximadamente simétrica e com formato de sino,
para que estes métodos sejam aplicáveis de forma confiável. Isso pode ser feito com a aplicação de
métodos estatísticos como o Teste Kolmogorov-Smirnov.

2.3.2 - Aplicação do Teste ‘t’ entre métodos semi-empíricos e ensaios de carga

Como o interesse da análise da aplicabilidade é que o método semi-empírico esteja a favor da segurança,
pode-se adotar a premissa de que a média dos resultados do método semi-empírico (𝜇𝑀𝑆𝐸 ) seja menor do
que a média dos resultados de ensaios de carga (𝜇𝐸𝐶 ). Traduzida como diferença essa premissa fica: 𝜇𝑑 =
𝜇𝑀𝑆𝐸 − 𝜇𝐸𝐶 , sendo então a favor da segurança quando 𝜇𝑑 < 0. O teste de hipótese para este caso fica então:
𝐻 :𝜇 ≥ 0
{ 0 𝑑 [3]
𝐻1 : 𝜇𝑑 < 0
O sinal de menor na hipótese alternativa 𝐻1 indica a aplicação de um teste unilateral à esquerda. Assim,
se for aceita a hipótese 𝐻0 , significa que o método pode ser “acurado” ou “contra a segurança”, porém sem
distinção entre um ou outro. Para aplicar o teste de hipótese assim definido, deve-se obter em tabelas e
calculadoras estatísticas, ou em programas computacionais de planilhas eletrónicas, o valor crítico de
𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 = 𝑡(𝛼;𝜈) , para o nível de significância 𝛼 = 0,05 e ν = n − 1 graus de liberdade. A fórmula de planilha
eletrónica para isso em geral se apresenta como:

𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 = 𝑡(𝛼;𝜈) = − 𝐼𝑁𝑉. 𝑇(1 − 𝛼; 𝜈) [4]

O sinal negativo da função de planilha eletrónica 𝐼𝑁𝑉. 𝑇 na equação [4] decorre do teste unilateral à
esquerda. Se o teste fosse unilateral à direita (o que ocorre quando se constrói o teste de hipótese como
𝐻1 : 𝜇𝑑 > 0) o mesmo seria positivo.

A rejeição de 𝐻0 ocorre quando 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 < 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 , sendo 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 o valor da estatística 𝑡 calculada conforme as
equações [1] e [2], com 𝜇 = 0. Assim se definiria que o método está a favor da segurança.

Contudo, sendo que o teste conduzido como mostrado em [3] não permite a distinção entre as situações
nas quais o método possa ser considerado “acurado” ou “contra a segurança”, sugere-se como uma forma
melhor de se analisar a aplicabilidade do mesmo a proposta de um Teste de Hipótese bilateral, ou seja:
𝐻 :𝜇 = 0
{ 0 𝑑 [5]
𝐻1 : 𝜇𝑑 ≠ 0
Neste caso o valor crítico é dado por 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 = |𝑡(𝛼/2;𝜈) | , de modo que a área que representa a probabilidade do
nível de significância 𝛼 fica divido em duas partes: uma à esquerda e outra á direita da curva da função
densidade de probabilidade da distribuição t, como se pode ver na Figura 1:

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Distribuição t de Student para a diferença m d=m MSE-m EC


0,45

0,40
n

f(t;n): densidade de probabilidade [FDP]


0,35

0,30 Região de Região de Região de


Rejeição de H0 Aceitação de H0 Rejeição de H0
0,25 (a favor da segurança) (Método Acurado) (contra a segurança)
0,20

0,15

0,10
a/2 a/2
0,05

0,00
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
-tcrit td tcrit

Figura 1 – Exemplo de Teste de Hipótese bilateral com regiões de aceitação e rejeição de H0.

Na Figura 1 a equação eletrónica 𝑓(𝑡, 𝜈) = 𝐷𝐼𝑆𝑇. 𝑇(𝑡, 𝜈, 0) indica a fórmula de planilha eletrônica, com
respetivos parâmetros, a ser usada para gerar a curva da distribuição ‘t’ de Student. Percebe-se
rapidamente (Fig.1) que o método continua “a favor da segurança” quando 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 < −𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 , porém agora
distinguem-se mais duas regiões, a saber a “contra a segurança” se 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 > 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 , e, quando se tem
−𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 ≤ 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 ≤ 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 , a região em que se pode definir o método como “acurado”. Embora se pudesse
considerar simplesmente que o método seja a favor da segurança desde que 𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 < 0, perder-se-ia assim o
conceito de acurácia, além do quê se deve ter em mente que a região entre os valores críticos de t
correspondem ao intervalo de confiança a 95% dos resultados, de modo que aleatoriamente os valores
podem cair neste intervalo ainda que o método semi-empírico seja muito bem ajustado aos valores de
ensaios de carga. É de absoluta importância colocar sempre o método semi-empírico menos o critério de
rotura, para manter a interpretação aqui demonstrada.

É digno de nota que os suplementos estatísticos de programas computacionais de planilhas eletrônicas


tragam tanto os valores de 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 calculados com 𝛼 (unilateral) quanto com 𝛼/2 (bilateral) quando efetuado o
teste t para amostras pareadas, deixando a decisão de qual valor usar para o analista. Assim, verifica-se
que esta proposta de teste bilateral para a condição “a favor da segurança” resulta semelhante a se utilizar
um teste unilateral à esquerda com nível de significância 𝛼 = 0,025, o que garante de forma ainda mais
rigorosa que o método está do lado da segurança do que no teste unilateral com 𝛼 = 0,05. Deste modo,
nada se perde ao se adotar o teste bilateral para a análise da aplicabilidade do método semi-empírico.

3- METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DA ANÁLISE PROPOSTA

Como já apresentado, nesta comunicação objetiva-se avaliar a aplicabilidade a partir da classificação de


métodos semi-empíricos de cálculo de capacidade resistente de estacas como sendo ou a favor da
segurança (situação pretendida), ou acurados (situação aceitável), ou contra a segurança (situação
inaceitável). A metodologia empregada para isso envolve inicialmente o levantamento de um banco de
dados com resultados de ensaios de carga de um determinado tipo de estaca, a ser comparado com os
valores de cálculo obtido pelos métodos semi-empíricos para cada estaca ensaiada. Destaca-se que essa
classificação dos métodos semi-empíricos é feita para apenas um tipo de estaca específico, e será aplicado
de forma generalizada a diferentes estratigrafias de subsolos, de modo a se classificar a aplicabilidade geral
do método semi-empírico para este tipo de estaca. Pode-se generalizar ainda mais a forma de análise se o
banco de dados incluir uma gama ampla de tipos de estacas para os quais se aplicou o método semiempírico
em estudo. Por outro lado, de forma mais específica, a aplicação da mesma proposta a tipos de solo ou
terrenos específicos de uma dada obra (conforme a subsecção 2.4.1(10)P) pode também ser feita, como
se verá mais adiante.

Assim, para a aplicação da metodologia proposta os autores recorreram ao trabalho de Amann (2000), no
qual apresenta-se um banco de dados de ensaios de prova de carga de estacas injetadas do tipo Raiz (pali-
radice), cujas curvas carga-assentamentos destes ensaios de carga foram analisadas por diversos critérios
de rotura (como por exemplo o de Van der Veen, 1953) e para as quais se aplicaram ainda métodos semi-
empíricos como os de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma, muito utilizados no Brasil. Este banco de dados
especifica ainda estacas instaladas numa mesma obra, o que permite exemplificar a aplicação da proposta
a estes casos particulares.

Convém comentar que a estaca Raiz é considerada um tipo de estaca injetada de pequeno diâmetro, cujo
processo executivo inclui o adensamento da argamassa de preenchimento do fuste por aplicação de golpes

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de ar-comprimido, que facilita ainda a retirada do tubo de revestimento e reduz a possibilidade de


estrangulamento (redução do diâmetro) do fuste durante o processo.

A seguir apresentam-se as linhas gerais de aplicação dos dois métodos semi-empíricos acima assinalados
e de alguns critérios de rotura aplicados às curvas carga-assentamentos dos ensaios de carga coletados
pelo trabalho de Amann (2000).

3.1 - Métodos Semi-empíricos

Como já dito, os métodos semi-empíricos empregam resultados de ensaios de campo como o CPT (caso do
método Aoki-Velloso) e o SPT (método Décourt-Quaresma) para calcularem a capacidade resistente de
estacas. Os dois métodos aqui aplicados não consideraram originalmente o tipo de estaca Raiz (objeto do
exemplo de aplicação), porém estes foram modificados e ampliados ao longo do tempo de modo que
atualmente pode-se encontrar na bibliografia técnica valores de fatores empíricos para este tipo de estaca.

Buscou-se aqui trabalhar com os fatores indicados por seus próprios autores (mesmo em versões
atualizadas), deixando de se discutir fatores propostos por outros pesquisadores, por escapar ao escopo
da comunicação. Deixa-se também de apresentar aqui outros métodos semi-empíricos especificamente
desenvolvidos para estacas Raiz por não serem de uso tão corrente e também porque a título de exemplo
os dois métodos escolhidos aplicam-se muito bem.

De forma geral, o equilíbrio estático de uma estaca sob carga axial de compressão, usada na dedução dos
diversos métodos semi-empíricos é dada pela equação [6]:

𝑅𝑐 = 𝑅𝑠;𝑐𝑎𝑙 +𝑅𝑏;𝑐𝑎𝑙 = ∑ (𝑞𝑠;𝑖;𝑐𝑎𝑙 ∙ 𝐴𝑠;𝑖 ) + 𝑞𝑏;𝑐𝑎𝑙 ∙ 𝐴𝑏 [6]

Os símbolos utilizados em [6] seguem o especificado na subsecção 1.6 do Eurocódigo 7, com pequenas
adaptações, a saber:
 𝑅𝑐 capacidade resistente do terreno no contato com uma estaca à compressão, no estado
limite último;
 𝑅𝑠;𝑐𝑎𝑙 capacidade resistente lateral última, calculada utilizando parâmetros do terreno obtidos de
resultados de ensaios;
 𝑅𝑏;𝑐𝑎𝑙 capacidade resistente na ponta de uma estaca no estado limite último, calculada por meio
de resultados de ensaios do terreno;
 𝑞𝑠;𝑖;𝑐𝑎𝑙 valor calculado da capacidade resistente lateral, por unidade de área, no estrato i;
 𝑞𝑏;𝑐𝑎𝑙 valor calculado da capacidade resistente na ponta, por unidade de área;
 𝐴𝑠;𝑖 área da superfície lateral de uma estaca no estrato i;
 𝐴𝑏 área da base de uma estaca.

Cada um dos diferentes métodos semi-empíricos estabelece formas próprias para calcular os valores da
capacidade resistente por unidade de área 𝑞𝑠;𝑖;𝑐𝑎𝑙 e 𝑞𝑏;𝑐𝑎𝑙 , como segue.

3.1.1 - Método Aoki-Velloso

O método Aoki-Velloso (Cintra e Aoki, 2010) foi originalmente concebido a partir da correlação empírica
entre a resistência de estacas e os resultados de ensaios de campo tipo CPT (penetrómetro de cone):
𝑞𝑐 𝑓𝑠
𝑞𝑏;𝑐𝑎𝑙 = ; 𝑞𝑠;𝑖;𝑐𝑎𝑙 = [7]
𝐹1 𝐹2

 𝑞𝑐 resistência à penetração da ponta do cone, no solo;


 𝑓𝑠 resistência por atrito lateral na luva de atrito do cone;
 𝐹1 fator de correção do efeito de escala entre a estaca e o cone, para a ponta;
 𝐹2 fator de correção do efeito de escala entre a estaca e a luva de atrito;

Os autores do método indicam que para o uso do cone mecânico tem-se 𝐹2 = 2 ∙ 𝐹1 , e para equipamentos
de cone elétrico ou piezocone 𝐹2 = 𝐹1 . Os valores destes fatores são tabelados para diferentes tipos de
estacas, sendo indicados para estacas tipo raiz os valores 𝐹1 = 2,0 e 𝐹2 = 4,0.

Os autores também correlacionaram o ensaio CPT com o ensaio de penetração normalizado SPT, de modo
a permitir o uso deste conforme o padrão brasileiro de energia transferida no ensaio (𝑁72 ):

𝑞𝑐 = 𝐾 ∙ 𝑁𝑏72 ; 𝑓𝑠 = 𝛼 ∙ 𝐾 ∙ ̅̅̅̅̅
𝑁72 [8]

 ̅̅̅̅̅
𝑁72 número de pancadas médio do estrato i, medido no ensaio SPT padrão brasileiro;
 𝑁𝑏72 número de pancadas no ensaio SPT brasileiro na profundidade da base da estaca;
 𝐾 correlação entre 𝑞𝑐 e 𝑁72 ;
 𝛼 correlação entre 𝑓𝑠 e o produto 𝐾 ∙ 𝑁72;

945
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Os valores de 𝐾 e 𝛼 são tabelados para os diferentes tipos de solos. Note-se que para sua aplicação na
europa devem ser convertidos os valores de SPT padrão europeu (𝑁60 ) para o brasileiro (𝑁72 ). Convém
observar também que os autores deste método o correlacionaram com os ensaios de carga analisados pelo
critério de Van der Veen (1953), discutido mais adiante, para aferirem suas tabelas de fatores empíricos.

3.1.2 - Método Décourt-Quaresma

O método Décourt-Quaresma (Cintra e Aoki, 2010) foi originalmente concebido a partir da correlação
empírica entre a resistência de estacas pré-moldadas de concreto cravadas e os resultados de ensaios de
campo tipo SPT (ensaio de penetração normalizado). Posteriormente o método foi modificado com a
introdução de fatores para considerar o método executivo e o comportamento de outros tipos de estacas:
̅̅̅̅̅̅
𝑁72
𝑞𝑏;𝑐𝑎𝑙 = 𝐶 ∙ 𝛼𝐷𝑄 ∙ ̅̅̅̅̅̅
𝑁𝑏72 ; 𝑞𝑠;𝑖;𝑐𝑎𝑙 = ( + 1) ∙ 10 ∙ 𝛽𝐷𝑄 [8]
3

 ̅̅̅̅̅̅
𝑁𝑏72 número de pancadas médio no ensaio SPT brasileiro medido no entorno da base da estaca,
correspondente ao nível da base, a 1,0m acima e 1,0m mais abaixo;
 ̅̅̅̅̅
𝑁72 número de pancadas médio do estrato i, medido no ensaio SPT brasileiro, tendo limites de
aplicabilidade entre 3 e 50 pancadas;
 𝐶 fator empírico de tipo de solo no entorno da ponta;
 𝛼𝐷𝑄 fator empírico de comportamento do tipo de estaca e tipo de solo da ponta;
 𝛽𝐷𝑄 fator empírico de comportamento do tipo de estaca e tipo de solo do fuste;

Os valores de 𝐶, 𝛼𝐷𝑄 e 𝛽𝐷𝑄 são tabelados em função do tipo de solo e tipo de estaca. Para estacas Raiz o
valor de 𝛼𝐷𝑄 é 1,5, de 𝛽𝐷𝑄 varia entre 0,5, 0,6 e 0,85, respetivamente para areias, siltes e argilas. Para
estes mesmos solos 𝐶 varia respetivamente entre 120, 200 e 400 kPa.

O critério de rotura convencional utilizado pelos autores deste método na análise da curva carga-
assentamentos foi o da carga correspondente ao assentamento equivalente a 10% do diâmetro da estaca,
o qual é o mesmo critério indicado no Eurocódigo 7, subseção 7.6.1.1(3).

3.2 - Critérios de Rotura aplicados ao diagrama carga-assentamentos

As capacidades resistentes calculadas pelos métodos semi-empíricos devem ser comparadas com os
resultados de ensaios de carga, os quais podem ser considerados os valores esperados para os métodos.
Contudo, de forma geral, a rotura nestes ensaios não ocorre de forma nítida e para isso é necessário o
emprego de critérios de rotura aplicados à curva matemática do diagrama carga-assentamentos, conforme
indica Fellenius (1980, 2016).

Em seu trabalho, Fellenius (1980) demonstra que a aplicação de diferentes critérios a um mesmo diagrama
carga-assentamentos resulta em diferentes valores de rotura, os quais podem influenciar a pretendida
classificação dos métodos semi-empíricos, conforme já ressaltado por Amann (2015). Amann (2010)
sugere que sejam mantidos, por coerência, os critérios de rotura originais dos métodos semi-empíricos
para este tipo de classificação, ou, na ausência de indicação do critério originalmente utilizado, que seja
adotado um único critério para comparar a aplicabilidade dos métodos semi-empíricos.

A seguir indicam-se como se aplicam os critérios de rotura ao banco de dados de exemplo.

3.2.1 - Critério de Rotura de Van der Veen (1953)

Este critério associa a carga de rotura à assíntota de uma equação exponencial obtida por ajuste
matemático ou regressão linear aplicado ao diagrama carga-assentamentos (𝑄; 𝑠), conforme a equação:
𝑄
𝑄 = 𝑅𝑐;𝑚 ∙ (1 − 𝑒 −(𝑎∙𝑠+𝑏) ) ⇒ 𝑎 ∙ 𝑠 + 𝑏 = − ln (1 − ) [9]
𝑅𝑐;𝑚

 𝑄 cargas aplicadas durante o ensaio de carga de estaca;


 𝑅𝑐;𝑚 valor medido da capacidade resistente à compressão num ensaio de estaca;
 𝑠 assentamentos medidos no topo da estaca durante o ensaio de carga;
 𝑎 coeficiente angular da reta de regressão original de Van der Veen;
 𝑏 intercepto da reta de regressão no eixo das abscissas, proposto por Aoki (1976);

O valor de 𝑅𝑐;𝑚 deve ser obtido por tentativas até que se tenha um bom ajuste linear, ou por meio de
maximização do coeficiente de determinação 𝑟 2 (ou do quadrado do coeficiente de correlação linear 𝑟 da
regressão), o que pode ser feito por meio do recurso “solver” de planilhas eletrónicas.

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Segundo Amann (2014), quando este critério resulta valores próximos à carga máxima aplicada no ensaio,
seu ajuste pode ser considerado confiável; caso contrário ter-se-ia a indicação de que teria sido necessário
avançar o ensaio para cargas mais elevadas. Se esta situação não foi percebida durante a execução do
mesmo, perdeu-se a oportunidade de obter um melhor ajuste da curva e uma carga de ensaio mais
confiável.

3.2.2 - Critérios de Rotura da norma brasileira NBR6122 e de Davisson (1972)

O critério da norma brasileira NBR6122 é uma adaptação do critério de Davisson (1972), o qual foi
declarado por Fellenius (1980, 2016) como o seu tipo de critério preferido. Basicamente estes critérios
consideram o encurtamento elástico (∆𝑒 = 𝑠 − 𝑠𝑏 ) do material da estaca e adotam um assentamento da base
𝑠𝑏 que indica convencionalmente a rotura no ensaio. A capacidade resistente convencional se dá na
interseção entre a curva do diagrama carga-assentamentos (𝑄; 𝑠) e a reta de equação:
𝑄 𝐿
𝑠= + 𝑠𝑏 = ∙ 𝑄 + 𝑠𝑏 [10]
𝐾𝑟 𝐸∙𝐴

 𝑠𝑏 assentamento na rotura, considerado para base;


 𝐾𝑟 rigidez estrutural da estaca;
 𝐿 comprimento da estaca;
 𝐸 módulo de elasticidade ou deformabilidade do material da estaca;
 𝐴 área da secção transversal da estaca;

O assentamento convencional de rotura da base é dado por uma relação com o diâmetro 𝐷 da estaca,
sendo diferentes valores para a NBR6122 e para Davisson, a saber, respetivamente:
𝐷 𝐷
𝑠𝑏𝑁𝐵𝑅 = ; 𝑠𝑏𝐷𝑎𝑣 = + 4,0𝑚𝑚 [11]
30 120

Amann (2010) demonstra que o recalque da base é em geral mais exigente para a NBR6122 do que para
Davisson. Na prática isso resulta que os valores de carga resistente obtidos pela NBR6122 são em geral
um pouco maiores do que os obtidos pelo critério de Davisson. Ao se considerar que os ensaios devem
superar essa carga para que se possa estabelecer a posição da interseção que define a rotura convencional,
a NBR6122 exige também maiores cargas de ensaio. Desta forma, pode-se considerar que a NBR6122 deve
ser o valor mais afastado do método semi-empírico, sendo o escolhido para ser analisado.

A norma brasileira NBR6122, subseção 8.2.1.1, admite que nos casos em que os ensaios de carga não
alcancem o ponto de interseção se possa ajustar a curva matematicamente, por exemplo com o critério de
Van der Veen e adotar a interseção da reta [10] com a curva teórica assim extrapolada pela regressão
linear. Este procedimento pode ser criticável, considerando-se que já se tenha aplicado um critério como o
de Van der Veen, capaz de indicar objetivamente uma capacidade resistente a partir dos pontos de ensaio,
e pelo resultado dado pela interseção ser apenas um pouco inferior ao obtido com o critério de ajuste por
regressão linear, contudo admite-se este procedimento como necessário, visto que a maior parte dos
ensaios de carga não atingiram o assentamento necessário para se obter essa interseção.

Este tipo de critério é semelhante à especificação de assentamento limite de 0,1 ∙ 𝐷, aplicado originalmente
no método Aoki-Velloso e constante da subseção 7.6.1.1(3) do Eurocódigo 7, embora não considere a
deformabilidade da estaca. A título de comparação, o assentamento no topo da estaca correspondente a
0,1 ∙ 𝐷 resulta numa carga dada por:
𝐷
𝑄= ∙ 𝐾𝑟 [12]
15

A capacidade resistente pode ser maior ou menor do que este valor, a depender da curvatura do diagrama
carga-assentamentos.

4- BANCO DE DADOS DE ESTACAS RAIZ (AMANN, 2000)

Apresentam-se aqui os valores e as características das estacas constantes do banco de dados de estacas
Raiz. Dele constam 28 estacas raiz de diâmetros e comprimentos variados, instaladas em solos de diversos
locais do território brasileiro. A análise preliminar destas estacas como um todo permitem atribuir aos
métodos uma classificação em âmbito geral quanto à sua aplicabilidade. A análise sobre estacas instaladas
numa mesma obra permite avaliar a aplicabilidade conforme especificado na subseção 2.4.1(10)P. Já a
análise de estacas em diferentes obras, porém em solos da mesma região geotécnica, permite identificar
a aplicabilidade do método em um nível intermediário.

Para simplificar a referência às variáveis atribui-se daqui em diante o símbolo 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝐷𝑄 serão usados
para representar os valores calculados pelos respetivos métodos semi-empíricos de Aoki-Velloso e de

947
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Décourt-Quaresma, enquanto 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑁𝐵𝑅 representam respetivamente os valores medidos nos ensaios
de carga pelos critérios de Van der Veen e da NBR6122.

O Quadro 1 apresenta as 28 estacas Raiz originalmente coletadas por Amann (2000), sendo que a estaca
G705 foi suprimida das análises originais por trazer incoerência em seus dados.

Quadro 1- Características, local e capacidades resistentes obtidas por métodos semi-empíricos e ensaios de carga das
estacas Raiz (Amann, 2000).
Estaca Local D L Qmax Rc;AV Rc;DQ Rc;mVdV Rc;mNBR6122
(Brasil) (mm) (m) (kN) (kN) (kN) (kN) (kN)
G101 São Paulo 200 21,0 600 281 671 810 807
G102 São Paulo 200 20,0 800 314 663 987 972
G201 Guarujá -SP 250 32,0 900 1115 1570 985 643*
G202 Guarujá -SP 250 20,9 900 513 830 945 741*
G203 Guarujá -SP 250 18,0 810 956 1151 842 519*
G204 Guarujá -SP 250 26,0 1100 640 1209 1507 1472
G301 Bauru-SP 250 21,0 1200 795 1090 1522 1398
G302 Bauru-SP 250 23,0 1200 1235 1540 1888 1831
G401 - 250 34,0 1125 1342 2056 1316 1315
G402 - 310 23,2 1500 1370 1781 1844 1844
G403 - 310 34,0 1520 1898 2752 1782 1446*
G404 - 310 34,0 1520 2202 3106 1775 1775
G501 São Paulo 200 23,0 830 707 1531 1011 1008
G502 São Paulo 200 23,0 900 707 1531 1166 1165
G503 São Paulo 250 23,0 1050 910 1939 1686 1686
G504 São Paulo 250 23,0 1050 910 1939 1504 1501
G601 São Carlos-SP 250 16,0 1050 638 807 1000 892*
G602 São Paulo 170 20,0 850 1613 2068 878 794
G603 São Paulo 250 20,2 1200 1233 1453 1350 1406*
G701 São Paulo 250 15,0 1200 585 1345 1419 1387
G702 São Paulo 250 14,0 785 1757 1810 1266 1247
G703 São Paulo 250 20,5 900 1606 1037 603 603
G704 São Paulo 250 27,5 1050 1172 1539 1412 1412
G705 Recife-PE 250 26,6 600 - - - -
G706 São Paulo 400 21,0 1875 2068 4003 2810 2789
G707 Camaçari-SC 250 20,1 975 4456 3480 1682 1681
G708 Sto. André-SP 250 27,4 900 1304 2239 1210 1209
G709 Jacareí-SP 250 24,4 1200 932 1678 717 717

Os asteriscos na coluna 𝑅𝑐;𝑚𝑁𝐵𝑅6122 indicam os valores obtidos pela interseção da curva do diagrama de
ensaio com a reta da norma brasileira. Todos os demais tiveram de ser obtidos pela interseção com a curva
extrapolada pela regressão linear de Van der Veen. Apenas as estacas G202 e G203 tiveram os valores de
rotura pela interseção semelhantes ao critério de 10% do diâmetro.

É interessante notar que as estacas estão agrupadas por características comuns. Os Grupos 1 e 3 possuem
apenas duas estacas ensaiadas na mesma obra, o que é uma quantidade pequena para uma análise
estatística. Já no grupo 2, por exemplo, a estaca G201 é instalada na mesma região (Guarujá, no litoral do
estado brasileiro de São Paulo) que as outras 3 do grupo, G202, G203 e G204, as quais pertencem à mesma
obra. Nos grupos 4 e 5 tem-se estacas instaladas na mesma obra, o que permite a avaliação da
aplicabilidade dos métodos semi-empíricos para esses casos particulares.

Contudo, antes da análise de cada obra em particular, propõe-se primeiramente a análise geral com todas
as estacas para se identificar o comportamento geral do mesmo.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5- RESULTADOS OBTIDOS COMO EXEMPLO

A aplicação da proposta para todas as estacas segue procedimento semelhante para o caso de análise de
uma única obra. Primeiramente deve-se avaliar se as variáveis comparadas apresentam aproximadamente
distribuição normal.

5.1 - Passo 1: Teste Kolmogorov-Smirnov de Normalidade

O uso de histogramas das variáveis com seu ajuste a curvas de distribuição estatísticas como a curva
Normal é comum e dá uma ideia da possibilidade de aplicação do teste t de Student. A Figura 2 mostra,
como exemplo, a sobreposição dos histogramas das variáveis 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 , de modo que se pode verificar
sua proximidade.

Histogramas
Distribuição Normal

35
Variáve l
30 R c;AV
R c;m VDV
Porcentagem (%)

25 Mé dia De svio N
1108 521,5 26
1317 476,0 26
20

15

10

0
0 400 800 1200 1600 2000 2400 2800
Rc;AV , Rc;mVdV

Figura 2 – Histogramas de 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 , com ajuste da curva Normal.

Verifica-se que 𝑅𝑐;𝐴𝑉 está mais próxima de um histograma normal, embora a curva ajustada esteja
deslocada para a direita em relação ao histograma, devido à posição da média. No caso de 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 , o
histograma não parece tão ajustado à curva normal e ainda apresenta um ponto deslocado para a direita,
da ordem de 2800 kN. Vale ainda notar que o número de estacas usadas no histograma foi de 26 e não o
total de 27, o que será explicado a seguir.

Este tipo de visualização é apenas qualitativa, contudo indica-se uma análise mais específica para se avaliar
a Normalidade das variáveis, por meio do teste Kolmogorov-Smirnov (K-S). Ele toma apenas a maior
diferença entre a curva normal ajustada e o histograma e aplica um teste estatístico para avaliar a
probabilidade de o histograma corresponder ao de uma distribuição normal. A visualização pode ser feita
no chamado diagrama de probabilidade (Fig.3).

Na Figura 3(a), no pequeno detalhe, identificou-se um ponto “fora da curva” correspondente à estaca G707
ao se considerar todas as 27 estacas (com a G705 já retirada) para 𝑅𝑐;𝐴𝑉 . O P-Valor do teste Kolmogorov-
Smirnov (K-S) resultou 0,04, muito baixo para se considerar o conjunto como tendo uma distribuição de
probabilidade Normal. Ao se retirar esta estaca (G707) da análise, o P-Valor subiu para mais do que 0,15,
sendo que acima de 0,10 já se assume como válida a aproximação à curva Normal, portanto, deve-se
retirá-la do conjunto de dados. É interessante notar que na Figura 3(b), aparece também um outro ponto
“fora da curva” apenas para a variável 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 , correspondente à estaca G706, porém isso não afeta o P-
Valor, que está acima de 0,15. Dessa forma, não é necessário retirar este ponto (G706).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Teste Kolmogorov-Smirnov Teste Kolmogorov-Smirnov


Distribuição Normal *excluída a G707 Distribuição Normal *excluída a G707
Probability Plot of Pr AV
Normal
99 99
99
95

90

95 80 95
70
Percent

60
90 50 90
40

Porcentagem (%)
Porcentagem(%)

30

80 80
20

10

70 5
70
60 1
-1000 0 1000 2000 3000 4000 5000 60
Pr AV
50 50
40 40
30 30
20 Média 1108 20 Mé dia 1317
Desvio 521,5 De svio 476,0
10 10
N 26 N 26
5 KS 0,115 5 KS 0,124
P-Valor >0,150 P-Valor >0,150

1 1
0 500 1000 1500 2000 2500 0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Rc;AV (kN) Rc;mVDV (kN)

(a) (b)
Figura 3 – Teste de Normalidade para 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉

De fato, o teste K-S aplicado a todas as 27 estacas para a variável 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 ainda garante um P-Valor acima
de 0,15, mas se a outra variável a ser comparada, no caso 𝑅𝑐;𝐴𝑉 , apresenta problemas com relação à
normalidade, deve-se então retirar das duas variáveis o ponto que está fora do intervalo de confiança da
média, para garantir a aplicação adequada do teste t de Student. Embora a simples análise pelo histograma
possa indicar os pontos que podem ser retirados da análise, correr-se-ia o risco de retirar, por exemplo, a
estaca G706 sendo que a mesma não interfere na normalidade de nenhuma das duas variáveis. Preservar
na análise a quantidade de informação que este ponto amostral G706 representa justifica a análise pelo
teste K-S. Desta forma, é suficiente retirar apenas a estaca G707 das análises, sendo que a G705 já havia
sido desconsiderada inicialmente por seus dados incoerentes, mantendo assim a G706.

Outra questão interessante é que se pode tentar identificar a classificação do método apenas com a
interpretação da figura 2, podendo-se arriscar considerar o método Aoki-Velloso como “acurado”, dada a
proximidade das duas médias e a semelhança de seus desvios-padrão. Mas a análise pelo teste t de
Student, como demonstrado a seguir, é mais confiável.

5.2 - Passo 2: Teste t de Student aplicado ao exemplo.

A aplicação do teste t de Student entre 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 o resulta em média das diferenças de -209 kN, com
intervalo de confiança entre -415 e -3 kN. Estes intervalos correspondem aos valores críticos de 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 =
±2,059 sendo que a média resultou na estatística 𝑡𝜈 = −2,091. A interpretação dos resultados pode ser feita
da seguinte forma: estando os valores do intervalo de confiança (IC[95%]) ambos negativos (-415 e -3
kN) o intervalo não contém o zero, portanto não pode ser considerado acurado e fica a favor da segurança.
Outra forma de interpretar é verificar que o valor de 𝑡𝜈 = −2,091 é menor do que 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 = −2,059 da esquerda,
estando na região esquerda de rejeição de 𝐻0 e, portanto, pela Figura 1 o método é a favor da segurança.
Há ainda a interpretação do P-Valor, que neste caso resultou 0,047/2=0,023, menor do que o 𝛼⁄2=0,025,
portanto resultando na região esquerda de rejeição de 𝐻0 , tendo a mesma classificação a favor da
segurança. É importante lembrar que essa interpretação só é válida para a forma aqui proposta de se ter
no teste t sempre o métodos semi-empírico menos o critério de rotura, e não o inverso.

Assim, embora pela Figura 2 se possa intuir que o método fosse acurado, percebe-se que pelo teste t ele
está praticamente no limiar entre acurado e a favor da segurança, sendo este último o que definiu a sua
classificação. A Figura 4 apresenta graficamente a análise aqui descrita.

950
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 4 – Teste de t de Student para 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 .

5.3 - Resultados Gerais

Essa mesma análise pode ser aplicada a outros métodos e critérios, como mostra o Quadro 2.

Quadro 2- Resumo dos resultados gerais para os métodos de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma em relação aos
critérios de Van der Veen e da NBR6122
md sd sx IC [95%]
Diferença d t tcrit P-Valor/2 Classificação
(kN) (kN) (kN) (kN)
𝑅𝑐;𝐴𝑉 − 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 -209 510 100 -2,091 2,059 0,023 -415 -3 A favor da segurança
𝑅𝑐;𝐴𝑉 − 𝑅𝑐;𝑚𝑁𝐵𝑅 -145 537 105 -1,379 2,059 0,090 -362 72 Acurado
𝑅𝑐;𝐷𝑄 − 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 373 581 114 3,274 2,059 0,002 138 608 Contra a segurança
𝑅𝑐;𝐷𝑄 − 𝑅𝑐;𝑚𝑁𝐵𝑅 394 523 103 3,818 2,059 0,0003 181 606 Contra a segurança

Note-se que no Quadro 2 o valor de 𝑡𝑐𝑟𝑖𝑡 só deve se alterar quando o número de graus de liberdade (26
pois se desconsiderou a G707, além da G705 que foi desde o início desconsiderada) for alterado.

É interessante notar que a depender do critério de rotura usado na análise o método Aoki-Velloso recebe
as classificações de “a favor da segurança” e “acurado”, porém pode-se atestar sua aplicabilidade de forma
geral, dado que não se portou contra a segurança. Já o método Décourt-Quaresma apresentou-se contra
a segurança quando comparado com os critérios de rotura de Van der Veen e da NBR6122, devendo ser
aplicado com cautela para este tipo de estaca, ou ter seus fatores empíricos reavaliados para este tipo de
estaca.

5.4 - Avaliação das obras dos Grupos G2, G4 e G5

O mesmo tipo de análise pode ser aplicado para os grupos de estacas identificados com suas respetivas
obras, a saber os grupos G2, G4 e G5. Os demais grupos não foram avaliados por esta proposta devido
possuírem apenas duas estacas ensaiadas, ou por não corresponderem à mesma obra. Os resultados
podem ser vistos nos Quadros 3 e 4, que contemplam apenas a relação entre 𝑅𝑐;𝐴𝑉 e 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 , a título de
exemplo. A análise de normalidade resultou o seguinte para as variáveis (Quadro 3):

Quadro 3- Verificação da normalidade pelo Teste K-S individualmente para as obras dos grupos G2, G4 e G5 para o
método Aoki-Velloso em relação ao critério de Van der Veen
Obra
Método P-Valor Critério P-Valor
(grupo)
G2 𝑅𝑐;𝐴𝑉𝐺2 >0,15 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉𝐺2 0,063
G4 𝑅𝑐;𝐴𝑉𝐺4 >0,15 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉𝐺4 0,031
G5 𝑅𝑐;𝐴𝑉𝐺5 >0,15 𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉𝐺5 >0,15

Embora para o critério de Van der Veen os grupos G2 e G4 não tenham resultado numa boa normalidade
(P-Valor menor do que 0,10), não se extraiu estaca alguma dos mesmos, para evitar perda de informação.
Essa decisão é função da quantidade de dados disponível. É melhor uma análise com 4 pontos do que com
apenas 3 pontos, auxiliada pela análise geral do banco de dados de 26 estacas feita anteriormente.

Quadro 4- Resumo dos resultados das obras G2, G4 e G5 para o método Aoki-Velloso em relação ao critério de Van der
Veen
Obra md sd sx IC [95%]
t tcrit P-Valor/2 Classificação
(grupo) (kN) (kN) (kN) (kN)
G2 -264 480 240 -1,099 3,182 0,176 -1027 500 Acurado
G4 23 373 187 0,126 3,182 0,454 -571 618 Acurado
G5 -533 200 100 -5,327 3,182 0,006 -852 -215 A favor da segurança

É interessante verificar que alguns dos ensaios de carga em cada obra resultaram valores calculados pelo
método Aoki-Velloso maiores do que os do critério de Van der Veen, contudo, pela análise estatística
proposta, estes valores estão dentro do intervalo de confiança ao nível de 95% (IC[95%]), portanto,
correspondem à variabilidade do método, não havendo evidências estatísticas para se considerar o método
contra a segurança. É por conta disto que não se retirou nenhum ponto dos 4 ensaiados em cada obra,
pois a quantidade de informação perdida poderia levar a uma análise equivocada. É digno de nota que
quanto maior a quantidade de estacas ensaiadas em cada obra mais confiável pode ser considerada a
classificação proposta. Também por isso se propôs primeiramente aplicar a proposta às 26 estacas do banco
de dados (retirada a G707, além da G705), pois assim se pôde identificar a tendência geral de o método
ser a favor da segurança quando contraposto aos diferentes critérios de rotura, e isso permitiu assumir

951
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

alguma confiança adicional nos resultados obtidos para as obras individualmente, ainda que a normalidade
dos dados não pudesse ser garantida para os valores medidos nos ensaios de carga.

Este mesmo procedimento pode ser empregado para outros critérios de rotura como o da NBR6122, porém
este deixa de ser aqui apresentado. Também pode ser aplicado a bancos de dados de outros tipos de
estacas.

5.5 - Aplicação da proposta a outros tipos de estacas

Apenas a título de exemplo de aplicação a outros tipos de estacas, o quadro 5 apresenta os resultados da
análise proposta a um banco de dados de 48 estacas do tipo Hélice-Contínua Monitorada, extraído de
Falconi e Marzionna (1999), no qual se aplicou o método semi-empírico Antunes Cabral (𝑅𝑐;𝐴𝐶 ).

Quadro 5- Resumo dos resultados para o método Antunes-Cabral em relação ao critério de Van der Veen para o banco
de dados de estacas Hélice-Contínua
sd sx IC [95%]
Distribuição md t tcrit P-Valor/2 Classificação
(kN) (kN) (kN)
Normal -1170 kN 1219 176 -6,653 2,012 1,38E-8 -1525 -817 A favor da segurança
Lognormal -0,501 0,295 0,043 -11,75 2,012 6,82E-16 -0,586 -0,415 A favor da segurança

Após a análise de normalidade, identificou-se que uma das estacas poderiam ser retiradas com melhora do
ajuste à Normal, porém sem garantir um P-Valor do teste K-S maior do que 0,10 para as duas variáveis.
Uma nova tentativa com a distribuição Lognormal resultou em bom ajuste, contudo para este caso o teste
t de Student não é diretamente aplicável. Assim, uma adaptação foi feita resultando no (Quadro 5).

É importante destacar no Quadro 5 que os valores da aplicação da distribuição Lognormal não


correspondem à unidade kN, pois referem-se ao logaritmo da razão 𝑅𝑐;𝐴𝐶 /𝑅𝑐;𝑚𝑉𝑑𝑉 . Esse tipo de análise será
melhor descrita em trabalho futuro a ser publicado no Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica, contudo é aqui apresentada como uma amostra da aplicação da proposta a outras
distribuições de probabilidade.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente comunicação discutiu o conceito de aplicabilidade de métodos semi-empíricos à luz da norma


europeia Eucódigo 7 e da norma brasileira NBR6122. Propôs-se uma metodologia com base estatística para
se classificar um dado método semi-empírico como “a favor da segurança”, “acurado”, ou “contra a
segurança”, comparando-se os mesmos com diferentes critérios de rotura. Aplicou-se a análise proposta a
um banco de dados de estacas tipo Raiz e verificou-se que para estes dados o método Aoki-Velloso pode
ser considerado a favor da segurança, enquanto o método Décourt-Quaresma resultou contra a segurança,
devendo ser corrigido para garantir sua aplicabilidade. Aplicou-se também a proposta para 3 obras cada
uma com 4 estacas Raiz, destacando-se a forma de análise da normalidade dos dados. Por fim,
apresentaram-se resultados para um banco de dados de estacas tipo Hélice-Contínua, para demonstrar
que a proposta é aplicável a diferentes tipos de estacas e obras.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Centro Universitário FEI e à FAPESP o apoio e o auxílio à publicação desta
comunicação.

REFERÊNCIAS

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Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 233p.

Amann, K.A.P. (2010). Metodologia semi-empírica unificada para a estimativa da capacidade de carga de estacas. Tese
(Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 430p.

Amann, K. A. P. (2014). Critérios de Rotura: Análise Crítica e Estatística a partir da releitura de Fellenius (1980, 2012)
para finalização de ensaios de Prova de Carga. 17° Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Goiânia, GO.

Amann, K. A. P. (2015). Proposta de definição da finalização de ensaios de prova de carga de estacas com aplicação de
intervalos de confiança estatísticos à carga de rotura. 15° Congresso Nacional de Geotecnia. Porto. Pen-drive.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010). Projeto e execução de fundações. NBR-6122. Rio de Janeiro-RJ.

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Cintra, J.C.A., Aoki, N. (2010). Fundações por estacas: projeto geotécnico. Ed. Oficina de Textos. 96p.

Davisson, M. T. (1972). High capacity piles. Proceedings, Lecture Series Innovations in Foundations Construction, ASCE,
Illinois Section, 52pp.

Instituto Português da Qualidade (2010). Eurocódigo 7: Projecto geotécnico - Parte 1: Regras Gerais, NP EN 1997-1:
2010.

Falconi, F.F., Marzionna, J.D. (1999). Estaca Hélice-Contínua: a experiência atual. ABMS/ABEF. São Paulo, 162p.

Fellenius, B.H. (1980). The analysis of results from routine pile load tests. Ground Engineering. September, pp. 19-31.

Fellenius, B.H. (2016). Basics of foundation design – a textbook. Electronic Edition. 451p. http://www.fellenius.net,
acedido em 12/2016.

Morettin, L.G. (2013). Estatística básica: probabilidade e inferência. Pearson Prentice-Hall, pp. 266-278.

Veen, C.V. der (1953). The Bearing Capacity of Piles. III International Conference on Soil Mechanics and Foundation
Engineering - ICSMFE. Amsterdam -Holland, Session 5/17. pp. 84-90.

953
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

MODELAÇÃO E ANÁLISE NUMÉRICA DE UM POÇO E TRINCHEIRA


ASSIMÉTRICOS PARA DESCARGA DE MINÉRIOS

NUMERICAL ANALYSIS OF AN UNSYMMETRICAL RAILCAR UNLOADING PIT


AND CONNECTION TRENCH

Pisco, Guilherme; JETsj, Lisboa, Portugal, gpisco@jetsj.com


Fartaria, Catarina; JETsj, Lisboa, Portugal, cfartaria@jetsj.com
Tomásio, Rui; JETsj, Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.com
Azevedo, José Pedro; Tecnasol, Lisboa, Portugal, jose.azevedo@tecnasol.com
Costa, Joel; Tecnasol, Lisboa, Portugal, joel.costa@tecnasol.com

RESUMO

No presente artigo será descrita toda a modelação e análise numérica desenvolvida para a simulação da
escavação e efeito da mesma nas variações e controlo do nível freático. A estrutura simulada consiste num
poço circular para descarga de minérios com 22 metros de profundidade e diâmetro interno de 44,5 m, o
qual está ligado a uma trincheira inclinada com, aproximadamente, 120 m de comprimento. A trincheira
não se encontra centrada com o poço principal, fator que introduz um caracter assimétrico à estrutura
modelada. As paredes de contenção serão executadas com recurso à tecnologia de “paredes moldadas”
travada através de escoras, bandas de laje e anéis, na zona do poço. Através do programa de elementos
finitos PLAXIS, foi desenvolvido um modelo 3D, no qual se simularam todos os aspetos relacionados com
as diferentes soluções a implementar. Procurou-se captar todas as singularidades existentes na presente
estrutura, com especial atenção para o efeito que a orientação da trincheira em relação ao poço introduz
no mesmo, a zona de ligação entre as duas estruturas (com foco nos painéis em T da parede moldada e
abertura nos painéis comuns às duas estruturas), a ligação entre painéis de parede moldada e as bandas
de laje, e ainda as soluções de bombagem/rebaixamento de água no interior da escavação. No modelo
desenvolvido foram consideradas todas as características geológicas/geotécnicas e hidrológicas de forma a
proceder a uma cuidada análise de percolação em paralelo com o estabelecimento do faseamento
construtivo mais eficaz.

ABSTRACT

A numerical analysis was performed simulating the deep excavation and dewatering effects on retaining
walls of an unsymmetrical railcar unloading pit and trench. With a depth of 22 meters and an internal
diameter of 45 meters the circular pit has a 12 meters width connecting with the trench, which is non-
collinear with the pit centre. A 3D Finite Element Model using PLAXIS software was conducted to access
both general and local effects in the design of the pit structural elements, due to singularities introduced
by the trench opening on the west side of the pit wall and the trench excavation. Both geotechnical and
hydrogeological characteristics of site were considered as well as the main construction stages covering the
excavation sequence and the groundwater flow analysis.

1- INTRODUÇÃO

As escavações de grande profundidade envolvem, muitas vezes, uma complexa interação solo-estrutura.
Para alcançar um dimensionamento adequado, é necessário ter em conta uma diversidade de aspetos tais
como a geometria, os faseamentos construtivos, o fluxo de água e os estados de tensão/deformação. Na
prática corrente, os modelos de elementos finitos 2D, do tipo estado plano de deformação ou abordagens
axissimétricas, são amplamente utilizados para analise de estruturas geotécnicas.

No entanto, e geralmente devido a particularidades geométricas, algumas estruturas requerem uma análise
tridimensional para obter uma interação solo estrutura mais precisa e global (Hou et al., 2009). Neste
artigo é apresentada e discutida a análise numérica de uma escavação profunda de um poço circular ligado
a uma trincheira não colinear, através da utilização de modelos de elementos finitos 2D e 3D.

2- CONDIÇÕES LOCAIS E DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA

2.1 - Condições geológicas e hidrogeológicas

Foi realizada uma extensa campanha de prospeção para determinar ao perfil estratigráfico do terreno e
avaliar as propriedades geomecânicas e hidrogeológicas mais relevantes. Os resultados mostraram a
existência de uma camada silto-argilosa sob uma camada aluvionar composta por siltes argilosos / argila

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

siltosa, na zona superior, e por argila orgânica, na zona inferior. A espessura desta formação é de
aproximadamente 10 m de espessura. Sob as formações superficiais observou-se uma sequência de
materiais argilosos com rigidez crescente em profundidade e espessuras até 40 m, onde foi encontrado
uma camada ordovícica, composta principalmente por argila muito rígida a dura, de tom cinza escuro a
preto, interpretado como o bedrock.

Na base dos materiais de aluvião, observou-se a presença de uma camada arenosa, composta
maioritariamente por materiais de grão fino. Com uma espessura variável entre os 4 a 8 m, a interpretação
do comportamento desta camada foi fundamental para o dimensionamento da estrutura devido à sua alta
permeabilidade quando comparada com as demais formações. A aluvião superior foi caracterizada com
permeabilidades na ordem 10-5 m/s e as camadas de argila inferiores por baixas permeabilidades, variando
entre 10-8 a 10-10 m/s, enquanto a permeabilidade da camada arenosa foi avaliada como 10-5 m/s. Estando
a camada arenosa confinada entre camadas de solo pouco permeáveis, a água é submetida a pressões
positivas que pode comprometer a estabilidade da base da escavação por efeito de levantamento hidráulico
(Ou, 2006).

As medições do nível freático foram registadas continuamente, indicando um nível de água que varia entre
1 a 6 m de profundidade, estando relacionado com as marés.

2.2 - Descrição da estrutura de contenção

A estrutura faz parte de um complexo para extração e distribuição de minério para produção de alumínio,
que compreende um poço de descarga de vagões e a trincheira do sistema de transporte. O poço tem uma
forma circular com um diâmetro de 44,5 m e uma profundidade aproximada de 22 m. A trincheira tem 12
m de largura e liga a parte inferior do poço até ao à superfície, ao longo de um comprimento de 122 m.
Devido às condições geológicas, geotécnicas e hidrogeológicas do local, em particular a posição do nível
freático, foi projetada uma parede moldada com 1 m de espessura, permitindo a escavação do poço e da
trincheira. Na Figura 1 é possível observar uma vista isométrica da estrutura assim como uma fotografia
aérea da mesma.

Escoras

Vigas
Circunferenciais
circunfere

Trincheira

Parede
Moldada
circun
Figura 1 – Vista isométrica do poço e da trincheira (esquerda) e vista aérea da estrutura (direita)

A forma circular do poço foi obtida através da execução de painéis consecutivos retangulares de parede
moldada. Para garantir que os painéis de parede moldada se comportam como uma estrutura contínua e
também por forma a aumentar a rigidez radial da estrutura de contenção, foram projetados cinco níveis de
vigas circulares de betão armado. A quinta viga, colocada abaixo do nível final de escavação, fornece
suporte aos painéis de parede moldada e suporta a compressão circunferencial induzida pela abertura da
ligação entre o poço e a trincheira. Como medida de segurança adicional, para evitar o eventual fluxo de
água através da estrutura de contenção, foram executadas colunas de jet-grouting com 800 mm de
diâmetro, na parte traseira de cada junta de painel.

Com o objetivo de evitar a instabilidade lateral dos painéis de parede moldada no lado da trincheira, ao
longo da escavação da mesma, foram criadas quatro lajes de travamento para garantir a transferência dos
impulsos horizontais para os painéis de parede moldada da trincheira.

Na Figura 2 encontram-se representadas duas secções tipo da estrutura de contenção periférica, uma da
zona do poço e outra da zona da trincheira.

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GZ5

GZ4
Jet-Grouting

GZ3
Escoras

Lajes de
travamento
GZ2
Paredes
Moldadas
GZ1
Vigas circunferenciais

Figura 2 – Secção transversal do poço (esquerda) e secção transversal da trincheira (direita)

O equilíbrio horizontal da estrutura de contenção da trincheira foi assegurado por uma série de escoras em
betão armado

Para evitar a rotura hidráulica das camadas de argila siltosa de baixa permeabilidade, durante a escavação,
executaram-se sete perfurações verticais de alívio de pressão dentro do poço e da trincheira. Estes furos
devem atravessar as camadas arenosas localizadas abaixo das argilas siltosas, aliviando a pressão
hidrostática do aquífero confinado.

Com o objetivo de controlar o fluxo de água para o interior da escavação, os painéis de parede moldada
foram projetados com uma profundidade média de 45 m, assegurando um encastramento de 3 m na
formação Ordovícica de baixa permeabilidade.

Para garantir a fundação adequada das futuras estruturas e para evitar a entrada de água, foi concebido
um ensoleiramento que compreende o poço e a trincheira. Assim, garante-se o equilíbrio vertical da pressão
de água a longo prazo, que se instalará na parte inferior da laje, através um conjunto de microestacas
autoperfurantes, seladas no substrato competente.

3- MODELOS NUMÉRICOS

3.1 - Generalidades

Realizou-se um conjunto de análises em 2D e 3D, com recurso ao programa de elementos finitos PLAXIS.
Como primeira abordagem, foram desenvolvidos os modelos 2D e posteriormente utilizados para validar
os resultados do modelo global 3D, bem como para dimensionar as secções que não se encontravam sob
influência da ligação poço/trincheira.

O comportamento do solo foi simulado com o modelo Hardening-Soil (Brinkgreve et al., 2017), um modelo
elástico-plástico com um critério de cedência com vários patamares, que simula o aumento da rigidez do
solo com a deformação. No Quadro 1 resumem-se os principais parâmetros que regularam o
comportamento das formações. Devido ao tipo de estrutura e à tecnologia de execução, foi considerado
um parâmetro Rint de 0,67 para todas as camadas do solo.

Quadro 1 – Parâmetros geomecânicos adotados


𝑟𝑒𝑓 𝑟𝑒𝑓 𝑟𝑒𝑓
Prof. k K0 ϒsat c’ ϕ' 𝐸50 𝐸𝑜𝑒𝑑 𝐸𝑢𝑟 m
Zonas Geotécnicas
m ms -1
- kN/m 3
kPa ° MPa MPa MPa -
GZ5 -Aluvião 0-7,5 10-6 0,6416 17 3 21 6 6 18 0,8
GZ4 – Argila Siltosa 1 7,5-15,5 10-10 0,4408 22 8 34 30 30 90 0,8
GZ3 – Argila Siltosa 2 15,5-29,0 10-10 0,5774 20 35 25 20 20 60 0,8
GZ2 – Areia 29,0 – 41,0 10-5 0,3843 21 0 38 100 100 300 0,5
GZ1 - Argilito >41.0 10-7 0,3843 22 40 38 150 150 450 1,0

Em cada modelo, foi realizada uma análise hidrostática considerando o nível da água um metro abaixo da
superfície do terreno. A variação do nível da água e as pressões hidrostáticas foram estudadas de acordo

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com a sequência de construção e a execução dos furos verticais de alívio. Adicionalmente, as análises de
percolação foram realizadas em modelos 2D para aceder ao fluxo de água no final da escavação e estimar
os assentamentos registados na vizinhança da estrutura.

3.2 - Modelo 2D axissimétrico do poço

Como primeira abordagem, realizou-se uma análise axissimétrica 2D das paredes de contenção do poço,
utilizando elementos “plate”, com rigidez de flexão equivalente às paredes moldadas, e elementos do tipo
“fixed-end-anchors”, com rigidez de flexão equivalente às vigas circunferenciais. A malha de elementos
finitos do modelo axissimétrico 2D está ilustrada na Figura 3.

Uma vez que com o presente modelo apenas é possível simular uma parede circular perfeita, o efeito da
abertura e da trincheira não foram incluídos nesta análise.

Mesmo com as limitações mencionadas, este modelo representou uma ferramenta importante na validação
e calibração do modelo 3D global. Os resultados do modelo 2D foram comparados com os do modelo global
3D, longe da abertura, onde se esperava um comportamento idêntico.

3.3 - Modelo 2D da trincheira

Tendo em conta a geometria da trincheira, foram utilizados um conjunto de modelos de elementos finitos
2D em estado plano de deformação, usando elementos “plate” com rigidez de flexão equivalente às paredes
moldadas e elementos do tipo “fixed-end-anchors” com rigidez axial equivalente às escoras de betão
armado. A ligação entre as escoras e as paredes não foi projetada para forças de tração, mas apenas para
forças de corte, de modo que a rigidez axial de tração foi considerada nula.

Uma vez que a trincheira tem alturas de escavação variáveis, foram analisados cinco modelos distintos
para simular o ponto de escavação mais alto para cada cenário de travamento horizontal, desde zero a
quatro escoras. Na Figura 3 encontra-se representado o modelo de estado plano de deformação 2D, que
representa uma secção da trincheira com 3 níveis de escoras.

Figura 3 – Modelos de elementos finitos 2D – Modelo axissimétrico do poço (esquerda) e modelo em estado plano de
deformação da trincheira (direita)

Devido à dimensão longitudinal da estrutura, os resultados do modelo 2D foram usados no


dimensionamento da maioria dos painéis de parede moldada, enquanto que o modelo global 3D foi usada
para definir em que painéis os resultados 2D não seriam válidos. Tal como no modelo axissimétrico, os
modelos 2D foram usados para a validação do modelo global 3D.

3.4 - Modelo global 3D

3.4.1 - Definição do Modelo

Com o objectivo de obter os efeitos globais e locais na estrutura do poço e da trincheira foi desenvolvido
um modelo global 3D de elementos finitos, uma vez que não foi possível simular alguns aspetos relevantes
com os modelos 2D já descritos. Na Figura 4 encontra-se representado o modelo global 3D assim como a
malha de elementos finitos utilizada.

Com uma geometria de 200 m x 150 m e 66,5 m de profundidade, a malha de elementos finitos do modelo
3D tem 137692 elementos e 204068 nós. A densidade da malha foi otimizada com a utilização de

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características de refinamento local. Foram assumidas algumas simplificações para reduzir o tamanho do
modelo e evitar erros numéricos, tais como assumir a base da trincheira a uma profundidade constante,
igual ao seu valor máximo, e a redução comprimento total da mesma.

Os painéis de parede moldada, do poço e da trincheira, assim como as lajes de travamento, foram

Figura 4 – Vista isométrica do modelo 3D – representação da malha de elementos finitos

modelados através de elementos do tipo “plate” com rigidezes à flexão equivalentes aos respetivos
elementos. Tendo em conta que a tecnologia construtiva das paredes moldadas impõe uma conexão não
monolítica entre os sucessivos painéis, a mesma foi modelada como rotulada entre os elementos do tipo
“plate” (Figura 5). As vigas de coroamento, escoras da trincheira e as vigas circunferenciais do poço foram
modeladas com elementos do tipo “beam” com rigidez equivalente. Nos Quadro 2 e Quadro 3, encontram-
se resumidas as características dos elementos “plate” e “beam” do modelo.

Quadro 2 – Propriedades dos elementos do tipo “Plate”

Elemento d ϒ E 𝜈12 𝐺12


Estrutural m kN/m3 MPa - MPa
Parede moldada 1,0 25 34 0,2 14,17
Lajes de travamento 0,85 25 34 0,2 14,17

Quadro 3 – Propriedades dos elementos do tipo “Beam”

Elemento A ϒ E I3 I2
Estrutural m2 kN/m3 MPa m4 m4
Escoras
1,7 25 34 0,102 0,567
(200x85mm)
Viga 4
0,8 25 34 0,043 0,067
(100x80mm)
Vigas 1, 2, 3 e 5
0,6 25 34 0,072 0,013
(50x120mm)
Viga de coroamento
1,0 25 34 0,083 0,083
(1000x1000mm)

3.4.2 - Faseamento construtivo do modelo

O faseamento construtivo do modelo foi definido considerando a sequência de escavação prevista, com as
seguintes fases: 1) estabelecimento do campo inicial de tensões; 2) ativação dos elementos da parede
moldada e das suas ligações rotuladas; 3) ativação dos elementos de viga de coroamento; 4) primeira fase
de escavação incluindo a simulação dos efeitos dos furos de alívio e bombagem da água; 5) ativação dos
elementos “plate” das lajes de travamento, dos elementos “beam” da viga circunferencial do primeiro nível
e das escoras; 6) replicação das duas fases anteriores por cada nível de escavação até ao quinto nível; 7)
desativação dos elementos “plate” para simular a abertura trincheira/poço.

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3.4.3 - Singularidades do modelo

Os principais aspetos captados com o modelo 3D foram os efeitos locais e globais introduzidos pela
escavação da trincheira no lado oeste do poço bem como, numa fase mais avançada, a abertura
trincheira/poço. O desequilíbrio resultante na parte de trás das paredes de contenção do poço foi equilibrado
com as lajes de travamento. A orientação relativa da trincheira face ao poço foi outra questão relevante,
uma vez que os dois não eram concêntricos. No modelo 3D, os painéis de parede moldada foram definidos
por elementos “plate” com larguras iguais às executadas e foram consecutivamente dispostos para simular
as condições geométricas reais da parede de contenção do poço.

O modelo global 3D permitiu a modelação dos painéis em T, que ligam a trincheira e a parede do poço. Por
razões construtivas, as armaduras do banzo e da alma foram colocadas separadamente, aspeto este
simulado através da libertação dos graus de liberdade de translação e de rotação nessa ligação. Na Figura
5 é possível observar uma vista do modelo na zona de interceção do poço/trincheira. Na mesma figura é
possível observar a abertura, as ligações entre os painéis e as lajes de travamento.

Ligação dos
painéis em T

Laje de
Travamento

Ligações
Rotulada
Abertura
s

Figura 5 – Visão isométrica do modelo 3D – Elementos plate e ligações rotuladas (esquerda) e vista do modelo na
zona da abertura (direita)

4- RESULTADOS DO MODELO NUMÉRICO

4.1 - Comparação dos resultados do modelo 2D axissimétrico do poço e do modelo 3D

Os esforço e deformação das paredes de contenção do poço nos modelos axissimétrico 2D e global 3D
foram comparados, particularmente no lado oposto à trincheira onde a sua influência se esperava menor.
Os principais resultados dos dois modelos, para essa seção e referente à fase final de escavação, estão
ilustrados nas Figura 6, Figura 7 e Figura 8.

Em relação aos momentos fletores da parede de contenção, os resultados obtidos em ambos os modelos
(Figura 7) mostram uma aproximação razoável, quer em termos de andamento quer em termos de valores
máximos. Os diagramas são muito semelhantes, os picos positivos e negativos estão bem definidos e
localizados aproximadamente às mesmas profundidades em ambos os modelos, registando-se uma
diferença de valor de cerca de 20%.

O diagrama de deslocamentos horizontal mostra a boa correspondência entre os dois modelos, verificando-
se um andamento bastante aproximado e valores máximos praticamente iguais (Figura 6).

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Figura 7 - Diagrama de momentos fletores verticais das paredes do poço: Modelo axissimétrico 2D
[Mmax=272 kNm/m] (esquerda) e Modelo global 3D [Mmax=345 kNm/m] (direita)

Figura 6 - Diagrama de deslocamentos horizontais das paredes do poço: Modelo axissimétrico 2D [dmax=5 mm]
(esquerda) e Modelo global 3D [dmax=6 mm] (direita)

Com o objetivo de definir uma ordem de grandeza para as tensões circunferenciais esperadas para os
modelos 2D e 3D, foi realizado um cálculo simplificado. Quando um elemento circular é carregado
radialmente, as tensões de compressão radiais são iguais ao produto entre o seu raio e a carga distribuída
(Figura 8).

Figura 8 – Diagrama de forças de compressão radiais: Modelo Simplificado (esquerda), Modelo 2D axissimétrico
[Nmax=7864 kN/m] (centro) e Modelo Global 3D [Nmax=6270 kN/m] (direita)

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Para o cálculo da carga p foi considerado o efeito dos impulsos de terras, impulso da água e sobrecargas.
Como simplificação, o cálculo das tensões foi realizado para a profundidade a que se esperava maiores
compressões radiais e para uma camada de solo equivalente com parâmetros calculados a partir da
ponderação dos valores das diferentes camadas. Com um raio de 22,25 m e uma carga estimada de 365 kPa,
foi previsto um valor máximo de tensão radial de 8121 kN/m.

No que diz respeito aos valores das compressões radiais obtidos pelos modelos de elementos finitos, apesar
dos valores obtidos pelo modelo 2D serem mais elevados que os do modelo 3D, a sua magnitude é
semelhante e encontram-se dentro da ordem de grandeza prevista pelos cálculos simplificados (Figura 8).

Os diagramas dos dois modelos têm andamentos semelhantes e, como esperado, as forças radiais
aumentam em profundidade.

4.2 - Comparação dos resultados dos modelos 2D e 3D da trincheira

As tensões e deformações da parede de contenção da trincheira do modelo 2D, em estado plano de


deformação, e os resultados do modelo global 3D foram comparadas, em particular na secção perto da
ligação trincheira/poço, onde se prevê uma maior diferença devido à singularidade introduzida pela
abertura. Os principais resultados dos dois modelos, para essa secção no que diz respeito à fase final de
escavação, encontram-se ilustrados nas Figura 9 e Figura 10.

Relativamente aos resultados do modelo 2D, foi observado o comportamento típico de uma parede de
contenção com vários níveis de travamentos horizontais (Figura 9).

[mm]

Figura 9 – Resultados do modelo 2D da trincheira - Deslocamentos horizontais da parede de contenção


[dmax=41 mm] (esquerda) e Diagrama de momentos flectores da parede de contenção [2381 kN/m] (direita)

Os resultados obtidos no modelo 3D, para uma secção com o mesmo número de travamentos e
profundidade de escavação, são semelhantes aos obtidos para o modelo 2D, quer em termos de
deformações quer em termos de momentos (Figura 10), apesar das diferenças esperadas.

[mm]

Figura 10 – Resultados do modelo global 3D nos painéis da trincheira junto à abertura: Deslocamentos horizontais
[dmax=35 mm] (esquerda) e momentos fletores verticais [Mmax=2552 kNm/m] (direita)

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Tendo em conta as ideias expostas é possível concluir que as vigas circulares do poço e as lajes de
travamento conferem um comportamento adequado e estável às paredes do poço assim como às da
trincheira, revelando o baixo impacto que as singularidades daquela zona têm nas mesmas.

4.3 - Resultados do modelo 3D global

Ainda que o modelo global 3D tenha sido desenvolvido com o objetivo principal de validar modelos
anteriores e cálculos simplificados, bem como determinar o comportamento global da estrutura de
contenção, foi também fundamental para o dimensionamento de zonas particulares.

A abertura da ligação trincheira/poço foi modelada numa fase final e o seu efeito foi observado nos
elementos estruturais mais próximos (Figura 11).

[mm] [mm]

Figura 11 – Modelo Global 3D – Deslocamentos horizontais das paredes de contenção antes da abertura (esquerda) e
depois da abertura (direita) [dmax = 4 mm (em ambos os modelos)]

O dimensionamento dos elementos estruturais afetados pela abertura foi validado com cálculos
simplificados, especialmente para o caso das vigas circunferenciais mais próximas, onde era esperado um
aumento nas forças axiais que seria fundamental perceber (Figura 12).

O modelo 3D foi também essencial para a obtenção das forças nas lajes de travamento, já que estas
transferem o impulso horizontal para as paredes de contenção da trincheira, equilibrando o desequilíbrio
causado pela escavação da trincheira. A avaliação dos resultados do modelo permite também confirmar o
papel fundamental destes elementos para a estabilidade global das paredes de contenção periférica.

Devido às importantes cargas axiais em ambas as direções, o dimensionamento das paredes moldadas foi
feito para a situação de flexão composta.

Figura 12 – Representação do modelo simplificado utilizado para o cálculo do incremento das compressões axiais
(esquerda) e distribuição de tensões expectável devido à abertura (direita)

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Adicionalmente, o valor absoluto do momento torsor foi totalmente adicionado aos momentos fletores em
ambas as direções. Os valores absolutos do corte vertical e horizontal foram combinados para a obtenção
de um esforço transverso resultante, enquanto a ligação das lajes de travamento/parede moldada foi
dimensionada com base nos resultados do modelo.

O efeito causado pela abertura foi observado nos diferentes elementos estruturais, confirmando a
importância do modelo global 3D. A título de exemplo, junto à abertura, as compressões radiais na parede
sofreram um acréscimo de cerca de 40%, em relação às zonas que não são influenciadas por esta
singularidade, e de 30% nas lajes de travamento (Figura 13).

Figura 13 – Distribuição de esforços axiais nas lajes de travamento antes [Nmax=3665 kN/m] (esquerda) e depois da
abertura [Nmax=5232 kN/m] (direita)

4.4 - Pressões hidrostáticas

Uma vez que a magnitude do caudal de água que entra na escavação não é substancial devido à
profundidade da parede de contenção, os impulsos da água, em ambos os lados da parede, estão
desequilibrados. Para ter em conta as pressões horizontais da água na parede, foi considerada uma análise
hidrostática.

Contudo, a camada permeável de solo abaixo da escavação está sob pressão hidrostática positiva
aumentando a possibilidade de uma rotura hidráulica por levantamento do fundo de escavação. Deste modo,
com a diminuição da altura do solo acima da camada arenosa devido à escavação, foram prescritos furos
de alívio de pressão para reduzir a pressão vertical hidrostática sob a camada menos permeável.

As fases construtivas das análises numéricas foram definidas tendo em conta este procedimento e
confirmando a sua eficácia na prevenção do fenómeno de rotura por levantamento hidráulico. A execução
dos furos de alívio de pressão foi estabelecida a partir da 2ª fase de escavação até ao final da mesma. Até
à 2ª fase de escavação, a pressão da água dentro da camada permeável manteve-se constante. Do lado
da escavação, o nível freático foi colocado à cota de base da escavação, usando uma interpolação linear de
pressões na camada abaixo do fundo da escavação variando entre pressão nula (parte superior da camada)
e o valor da pressão hidrostática (base da camada).

A partir da 2ª fase de escavação até ao final, o nível freático no interior da escavação foi posicionado a
meio da camada permeável, simulando o efeito da bombagem da água através dos furos de alívio.
Adicionalmente, utilizando a metodologia descrita acima, considerou-se a interpolação das pressões na
camada abaixo da referida camada (Figura 14).

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Figura 14 – Representação das pressões hidrostáticas na última fase de escavação derivadas do efeito da bombagem

4.5 - Análise de percolação

Apesar da maioria das formações terem permeabilidades baixas, derivado da dimensão da escavação e da
presença de uma camada bastante permeável, que podia resultar em caudais de percolação, foram
realizadas diversas análises de percolação com os modelos 2D.

Como primeira medida de controlo da entrada de água, a base da ficha dos painéis de parede moldada
ficou posicionada numa camada de solo de muito baixa permeabilidade, abaixo da camada permeável
arenosa. No entanto, o desequilíbrio da pressão hidrostática resultará num fluxo de água para a base de
escavação. A análise de percolação realizada através do modelo axissimétrico 2D do poço, comprovou um
fluxo de água através da camada de solo permeável, como esperado, que passa por baixo da parede
moldada até à base da escavação (Figura 15). Para a fase final de escavação, foi obtido um caudal de
aproximadamente 95 L/dia, um valor aceitável tendo em conta os sistemas bombagem e as condições
existentes.

Para avaliar o fluxo de água na base da escavação ao longo da trincheira, realizaram-se também diversas
análises de percolação semelhantes às descritas para o poço, compreendendo as secções da trincheira com
diferentes alturas de escavação.

O comportamento observado nas camadas permeáveis foi idêntico, quando comparado com o modelo
anterior. No entanto, uma vez que o modelo da trincheira tinha uma menor área para a entrada de água,
as análises demonstram uma maior concentração de água junto à parede de contenção (Figura 15).
Considerando os resultados das análises de todos os modelos 2D da trincheira e feita a devida ponderação
por áreas de influência, foi estimado um caudal de 45 L/dia.

Figura 15 – Exemplos de análises de percolação para o modelo 2D do poço(esquerda) e modelo 2D da trincheira


(direita)

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As estimativas de caudal afluente à escavação obtidas comprovam a eficiência da posição da ficha no


controlo da entrada de água para o recinto da escavação.

As análises de percolação desenvolvidas foram limitadas aos modelos 2D já que não era expectável obter
resultados mais precisos com os modelos 3D, tendo em conta que as profundidades e áreas de entrada de
água seriam semelhantes.

5- CONCLUSÕES

Diversos modelos de elementos finitos 2D e 3D foram desenvolvidos com o objetivo de simular o efeito de
uma escavação profunda, em termos de tensões e deformações, e da bombagem de água necessários para
a execução de um poço e trincheira assimétricos para descarga de minérios. Numa primeira abordagem,
as análises das estruturas de contenção foram realizadas com base em modelos de elementos finitos 2D.
Nestas, o poço e a trincheira foram analisados separadamente. Explorando a geometria cilíndrica do poço,
o mesmo foi analisado com um modelo axissimétrico. No caso da trincheira, derivado do seu comprimento,
utilizou-se um conjunto de modelos 2D em estado plano de deformação.

Devido à não colinearidade entre o alinhamento da trincheira e o centro do poço, foi necessário estudar a
estabilidade global e o comportamento da estrutura como um todo. Também foi necessário dimensionar a
ligação entre as duas estruturas, o que não seria possível com modelos 2D. Com este objetivo em vista foi
desenvolvido um modelo global 3D, validado e calibrado com resultados das análises numéricas 2D.

A comparação dos resultados dos modelos numéricas 2D e 3D mostraram uma boa concordância e
permitiram retirar conclusões sobre a validade dos modelos 2D no dimensionamento de diferentes zonas
da estrutura. O modelo 3D foi particularmente útil na análise de alguns elementos estruturais particulares,
permitindo um melhor entendimento do comportamento global da estrutura. No que diz respeito à analise
de percolação, os modelos 2D mostraram-se adequados.
Uma vez que os cálculos 3D podem ser um processo moroso, mesmo quando a sua análise é fundamental,
a realização de modelos 2D é muito importante pois permite o dimensionamento de diversas zonas e per-
mite um maior entendimento do comportamento global da estrutura para uma mais fácil implementação e
interpretação dos modelos 3D. Assim, os modelos 2D e 3D revelaram ferramentas complementares e muito
uteis no projeto de estruturas geotécnicas tridimensionais de elevada complexidade, ressalvando-se que na
região da ligação entre a trincheira e o poço, uma análise de comportamento realista somente poderia ser
obtida pela simulação 3D.
Os resultados da instrumentação validam os resultados do modelo, verificando-se uma boa concordância
entre os valores medidos e os valores simulados, tanto em termos de deslocamentos como de caudal de
água afluente à escavação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à entidade promotora do projeto, “Compagnie des Bauxites de Guinee” pela
autorização para a redação e publicação do presente artigo. Igualmente de enaltecer o estreito trabalho de
cooperação entre a JETsj, entidade que desenvolveu o modelo 3D de elementos finitos do poço, e o
Departamento de Projeto da Tecnasol, responsável pela gestão e execução do projeto, incluindo a conceção,
análise e tratamento de resultados dos modelos numéricos, dimensionamento estrutural e pormenorização
de todos os elementos constituintes do poço e trincheira. O intensivo trabalho de coordenação em fase de
projeto entre estas duas entidades, contribuiu decisivamente para a conclusão, com sucesso e dentro dos
prazos estabelecidos pelo Cliente, dos trabalhos de construção realizados pela Tecnasol.

REFERÊNCIAS

Brinkgreve, R.B.J., Kumarswamy, S. e Swolfs, W.M. (2017) - Plaxis – Material Models Manual 2017, Plaxis bv, Delft, The
Netherlands.

Hou, Y.M., Wang, J.H. e Zhang, L.L. (2009) - Finite-element modeling of a complex deep excavation in Shanghai. Acta
Geotechnica, vol. 4, pp. 7-16.

Ou, C.Y. (2006) - Deep Excavation – Theory and Practice, Taylor & Francis Group, London, England.

965
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

LATTICE-SHAPED JET GROUTING CONFIGURATION TO PREVENT SOIL


INDUCED LIQUEFACTION AT CHRISTCHURCH TOWN HALL – NEW ZEALAND

PREVENÇÃO DA LIQUEFACÇÃO ATRAVÉS DE COLUNAS DE JET GROUTING


DISPOSTAS EM CELULAS - CHRISTCHURCH TOWN HALL – NOVA ZELÂNDIA

Cristóvão, António; JETsj Geotecnia Lda, Lisboa, Portugal, acristovao@jetsj.com


Brito, David; JETsj Geotecnia Lda, Lisboa, Portugal, dbrito@jetsj.com
Nogueira, Abílio; KGA- Geotechnical Group Ltd, Christchurch, New Zealand, abilio@kga.co.nz

ABSTRACT

Soil improvement techniques are commonly used to mitigate one of the major and most complex problems
that can occur during and after a seismic event – liquefaction triggering of soil deposits. Following several
research programs and efforts of the scientific community to find methods to mitigate the liquefaction
hazard, stone columns and jet grout columns were found to be the most common solutions used to decrease
the likelihood and severity of foundation movements caused by earthquake-induced soil liquefaction and
lateral spreading. The stone column method relies on additional drainage and the densification of the soil
around the column, resulting in the reduction of pore water pressures and shear stress levels during seismic
excitation. The jet grout columns, when forming cells (lattice structure), contain the soil during the seismic
demand; this greatly reduces the shear stresses in the soil, with the consequent reduction on the
liquefaction potential of the treated soil block. This paper outlines the philosophy adopted for the ground
stabilization study preliminary design as part of the Christchurch Town Hall Conservation Project. The
proposed ground improvement method comprises the formation of lattice-shaped jet grout columns to
mitigate the soil liquefaction, lateral spreading and associated surface subsidence on existing buildings and
infrastructures.

RESUMO

As técnicas de melhoramento de solos têm sido amplamente utilizadas para mitigar um dos mais relevantes
e complexos problemas que podem ocorrer durante e após a ocorrência de um evento sísmico – a
liquefacção dos solos. Na sequência de diversos estudos de investigação por parte da comunidade científica
para se identificarem métodos que potenciam a redução do risco de liquefacção, soluções de tratamento
de solos recorrendo a colunas de brita e jet grouting têm sido amplamente utilizados para reduzir a
probabilidade e severidade dos movimentos de fundação e de descompressão horizontal dos terrenos,
atribuídos a fenómenos de liquefacção induzidos por actividade sísmica. A metodologia associada à
utilização de colunas de brita baseia-se no efeito complementar da drenagem e de densificação do solo em
torno da coluna, contribuindo para uma redução do incremento das tensões neutras e da magnitude das
tensões de corte cíclicas durante uma excitação sísmica. As colunas de jet grouting, quando dispostas
segundo uma configuração celular, restringem o solo durante a ocorrência de um sismo, reduzindo,
consequentemente, a ocorrência de liquefacção no bloco de solo tratado. O presente artigo trata do
procedimento adoptado no desenvolvimento do estudo prévio para conservação do edifício da Câmara
Municipal de Christchurch, Nova Zelândia. A solução de melhoramento de solos preconizada consiste na
execução de colunas de jet grouting, dispostas segundo uma configuração celular, permitindo a mitigação
do potencial de liquefacção dos terrenos, prevenindo, assim, a ocorrência de movimentos de
descompressão lateral dos terrenos e consequentemente o assentamento de edificações e infraestruturas
existentes.

1- INTRODUCTION

The Christchurch Town Hall has been significantly damaged by the earthquake sequence that occurred
between 2010 and 2011, particularly liquefaction related damage and lateral spreading. As part of the
building remediation works, it is intended to create a stabilized soil block to decrease the likelihood and
severity of foundation movements caused by future earthquake-induced soil liquefaction and lateral
spreading.

The design concept is based on the construction of overlapping jet grout columns to form a cellular structure,
reducing the overall deformability of the ground and limiting the development of major shear strains.

Several authors have published technical papers offering guidance and field data related to seismic
improvement techniques, including:

 “Seismic response evaluation of sites improved by deep mixing” (Siddhartan and Porbaha, 2008):

966
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Results from centrifuge tests that measured pore water pressure responses of many deep mixing
treatment configurations and a field case have been used to verify the applicability of the proposed
simplified approach using deep-mixing technique;
 “Design and Installation of Soil Improvement against Liquefaction in Reclaimed Ground with Coal
Ash” (Ogura et al., 2012): the reduced displacement type of the cement deep mixing (CDM) method
was selected, to avoid the lateral deformation of surrounding structures. The validity of the
numerical analysis was firstly checked based on previous conducted laboratory tests results,
followed by a proper calibration of the analytical model with parameters.

Liquefaction behaviour of the ground beneath the Town Hall building was simulated using a combination of
soil parameters and jet-grouting columns subjected to the seismic motion registered during the 4th of
September 2010 at Christchurch Resthaven Station (REHS). For this purpose, the soil response was
investigated through a parametric analysis using an effective stress-based model UBC-SAND (PLAXIS2D).
To assess the effectiveness of jet-grout columns as a soil stabilization technique to increase liquefaction
resistance, several cellular arrangements of jet grouting columns were modelled, and pore water pressures
were measured in the model.

2- SITE LOCATION

The Christchurch Town Hall for Performing Arts complex is located at 86-95 Kilmore Street, Christchurch –
New Zealand (Figure 1). It is located in central Christchurch, enclosed by Colombo Street to the east,
Kilmore Street to the north, the Avon River and Victoria Square to the south and the Crowne Plaza Hotel
to the west.

The complex consists of a 2500 seat Auditorium, 1000 seats in James Hay Theatre, a lobby area, a
restaurant and function rooms.

Figure 1 – Town Hall Location Plan

After the 22th February Canterbury Earthquake, the building and surrounding area showed evidence of
widespread liquefaction, and lateral spreading cracks were noted on the north bank of the Avon River.

Liquefaction and lateral spreading of the underlying soils have caused differential settlements and distortion
of the building and foundation elements, compromising the serviceability of the structure. Post-earthquake
survey data indicated building foundation settlements of 240mm to 630mm, and typically between 300mm
to 500mm (Tonkin and Taylor Ldt, 2013).

According to the published geological map (“Geology of the Christchurch Urban Area”), the Town Hall site
is underlain by alluvial sand and silt overbank deposits of the Springston Formation. This formation is
characterized by post-glacial fluvial channel and overbank sediments containing gravel, sand and silt.

967
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3- MODELLING PROCEDURES

3.1 - In situ data

The ground investigation available for this site was part of an extensive research project with a broader
scope for the affect seismic areas in Christchurch. Geotechnical field investigations included standard
penetration test (SPT) and cone penetration test (CPT) data around the perimeter of the building,
complemented by the installation of several piezometers, providing enough data for a better understanding
of the site geology and lithology. For one of the several campaigns, the CPTs reached depths ranging from
approximately 5.2m to 8.0m below the existing ground surface. At these depths, a dense gravelly sandy
layer was encountered causing probe refusal. The results from CPTs indicated that the subsoil conditions
comprised mainly silty sand and sandy silt layers overlying loose to dense sand and gravel materials.
Groundwater was recorded between 1.5m and 2.5m below ground level (Tonkin and Taylor Ldt, 2012). The
ground investigation campaign occurred after the seismic events of 2010 and 2011 Canterbury earthquakes.

The generalized geotechnical model proposed for the site, based on the interpretation of the collected in
situ data obtained during the field investigations, is presented in Table 1:

Table 1 – Generalised subsurface profile (Tonkin and Taylor, 2014a) [4]


Depth below Layer Material Description Typical Typical CPT qc
Level of top of
ID Kilmore St thickness SPT N (MPa)
layer (m, CDD)
level (m) (m)
1 14.7 to 13.4 0.0 to 1.1 0.4 – 1.9 Fill N/A N/A

Silt with minor sand and 4-7 1-7


2 13.0 to 12.8 1.5 to 1.7 2.8 – 5.5
sandy silt

Interbedded gravel, sandy 15 - 50 5 - 30


3 10.3 to 7.3 4.2 to 7.2 2.0 – 10.0
gravel and sand

Interbedded organic silt 1–5 1-5


4 5.5 to -0.5 9.0 to 15.0 0.5 – 2.0
and peat

5 4.5 to -1.1 10.0 to 15.6 3.8 – 11.1 Silty sand and sand 20 - 40 5 - 30

6 -4.8 to -1.1 19.3 to 21.5 0.5 – 1.5 Silt (aquaclude) 1–5 1-5

Interbedded gravel, sandy 30 - 50 N/A


7 -5.7 to -8.1 20.2 to 22.6 7.0 – 9.0
gravel and sand

8 -13.9 to -15.9 28.4 to 30.4 Unproven Interbedded silt and peat 10 - 30 N/A

Following the February 22nd Christchurch earthquake (2011), evidence of liquefaction in the form of sand
boils was observed on the ground surface around the Town Hall complex as well as on the roads and
properties in the immediate surroundings. The same hazards were reported after the 13th June 2011
earthquake (Tonkin and Taylor, 2014b).

In order to model the effects of earthquake propagation waves on soils, a real accelerogram was used for
the numerical analysis. The seismic motion registered during the 4th September 2010 earthquake at the
REHS Station was obtained from “GeoNet” database. Ground motions recorded show that soil type and
stratigraphic characteristics modify appreciably the rock motion characteristics. Soil thickness variations,
for similar geotechnical conditions can lead to different outcomes. The recorded station was close enough
to the Town Hall and the ground conditions were very similar between the station and the site; however
the study of soil behaviour for three or four additional signals would have been beneficial to provide
robustness to the model. This would have been done if we were given the opportunity to proceed for the
detailed design.

A magnitude (MW) of 7.1 and peak ground acceleration (PGA) of 0.25g were recorded during the 2010
earthquake. The performance of the soil stabilisation modelling was analysed for a scaled design earthquake
event with a PGA of 0.44g and a magnitude of 7.5, using the methods outlined by Boulanger and Idriss
(2014). The signal was scaled only to PGA values. This is shown in Fig. 2.

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Figure 2 – Scaled seismic input signal: Acceleration time history

3.2 - 2D finite element modelling

The seismic response of the jet-grout columns cellular arrangement was investigated by means of an
undrained and drained effective stress analysis and considering that pore water pressures build-up due to
cyclic loading. The pore water pressure response (for liquefaction) is a widely used engineering response
indicator (Siddhartan and Porbaha, 2008).

The analysis was undertaken using finite element software PLAXIS2D. Soil behaviour was modelled
according to the Hardening Soil constitutive model and the UBC3D-PLM constitutive soil model (Galvi et al.,
2013), which is a 3D reformulation of that originally proposed by Puebla et al. (1997), designated as
UBCSAND (Gerolymos et al., 2015).

All the non-liquefiable layers were defined as per the Hardening Soil (HS) model. The HS is an advanced
model allowing the simulation of different soil types behaviour for both soft and stiff soils (Shanz, 1999).
In contrast to an elastic perfectly-plastic model, the yield surface of a hardening plasticity model is not
fixed in a principal stress space, but can expand due to plastic straining. Within this model, damping can
be modelled by means of Rayleigh damping. Rayliegh damping intends to model viscous damping, since it
contributes to the velocity term in the dynamic equation by considering a percentage of the mass (α[M])
and a percentage of the stiffness (β[K]), where [M] is the mass matrix, [K] the stiffness matrix and α/ β
the Rayleigh coefficients. To calibrate these coefficients, it is necessary to define the target damping ratios
and the related frequencies.

Hardening Soil small Strain (HSsmallStrain) should also be suitable to model the non-liqueafiable layers. It
handles with strong stiffness variation (increasing shear strain amplitudes in the domain of small strains)
and hysteric behaviour, through a non linear elastic stress-strain relationship. These features allow the
HSsmallStrain to produce accurate and reliable approximation of displacements for dynamic applications.
Nevertheless, the additional parameters associated with this model couldn’t be calibrated with the available
ground investigation data.

Soil parameters were based on the results obtained from CPTs performed at the site. The confining stress
dependent stifness modulus for primary loading (E50) was assessed by correlation with the CPT data using
the proposal after Robertson (1983). It was later correlated to the secant stiffness modulus (E50ref),
corresponding to the reference confining pressure (pref=100 kPa), using the expression established by
Brinkgreve (2014):
m
 c'  cot g'  3'  [1]
E50 
ref
E50  
 c'  cot g'  p
ref

where (c’) is the efective cohesion; (’) is the soil internal friction angle; (σ3’) is the minor principal stress
(confining stress in a triaxial test); (m) is the stress dependent stiffness parameter; and (pref) is the
reference confining pressure correspondent to 100 kPa.

The amount of stress dependency corresponding to the power (m) was considered to be 0.7 for the silts
and 0.6 for the silty sand layer. In the absence of oedometer test results and considering the frictional
nature of the materials, the oedometer modulus (Eoedref) was assumed to be equal to E50ref. To allow for the
loading and unloading stress paths, the unload-reload modulus was set to 1.

The liquefiable layers were modelled using the cyclic soil behavior of the constitutive model UBC3D-PLM.
This involves two yield surfaces of the Mohr-Coulomb type. The primary surface evolves according to an
isotropic hardening law, while a simplified kinematic hardening rule is used for the second yield surface.
The plastic flow rule is non-associated and is based on the Drucker-Prager´s law and Rowe´s stress
dilatancy hypothesis. Two of the model parameters are of special interest for this study: fachard - that
controls the evolution (hardening) law of the secondary yield surface to cyclic loading (K0 effect); and facpost

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- that governs the soil stiffness after onset of cyclic mobility when the mobilized friction angle reaches the
peak friction angle. In other words, facpost counterbalances the underestimation of resistance for “very
dense” sands by increasing the stiffness of soil after cyclic loading and fachard is affected by levels of initial
vertical stress as function of N1,60 as well as the predicted / empirically proposed Kσ. The smaller the value
of fachard, the greater the excess of pore water pressure and the lesser the liquefaction resistance. The
smaller the facpost, the less stiff the post-failure response will be (Gerolymos et al., 2015).

3.3 - Calibration

Beaty and Byrne (2011) proposed a set of equations to calibrate the UBCSand model parameters, based
on only the corrected SPT value (N1)60.

The aforementioned calibration suggested default values of 1.0 for both the hardening and post-liquefaction
factors (fachard and facpost, respectively). However, different investigators such as Makra (2013), after
calibrations with laboratory tests and field observations of the performance of the San Fernando Dam after
1971 San Fernando earthquake, have suggested that those factors are 0.45 and 0.02 respectively. Without
additional seismic results from in situ tests, those values were considered appropriate for the project. Due
to dependency of the models to different stress paths, it is recommended that the calibration of elasto-
plastic models used for dynamic analysis should be done using cyclic loading tests such as triaxial torsional
shear or simple shear tests (unavailable for the time being). The laboratory tests can properly simulate the
loading conditions present in the field. The calibration can be obtained when then the cyclic stress ratio is
compared with the number of loading cycles required to cause liquefaction. The values for the Hardening
Soil and UBCS and materials are listed below in Table 2.

Table 2 – Relevant geotechnical soil model parameters

Layer 1 2 3A 4 5A 5B 6 7
Plaxis model HS UBCSM UBCSM HS UBCSM UBCSM HS HS
Drainage type U U U U U U U D
Unsaturated unit weight
unsat 18.00 17.00 18.00 14.00 17.00 17.00 14.00 18.00
(kN/m3)
Saturated unit weight (kN/m3) sat 20.00 18.00 19.00 18.00 18.00 18.00 18.00 21.00
Constant volume friction angle
Ø’cv 30 27 40 26 30 40 26 38
(degrees)
Peak friction angle (degrees) Øp - 28 48 - 31 48 - -

Cohesion (kN/m2) c' - 0.01 0.01 - 0.01 0.01 - -

Triaxial stiffness (kN/m ) 2


E50 12000 - - 2000 - - 12000 40000
Oedometer loading stiffness
Eoed 12000 - - 2000 - - 12000 40000
(kN/m2)
Triaxial unloading stiffness
Eur 36000 - - 6000 - - 36000 120000
(kN/m2)
Elastic shear modulus number KGe - 867 1,431 - 993 1,418 - -

Plastic shear modulus number KGp - 267 5,665 - 529 5,311 - -

Elastic bulk modulus number KBe - 607 1,002 - 695 993 - -

Power for stress dependent me 0.50 0.50 0.50 1.00 0.50 0.50 0.70 0.50
Power for stress dependent ne - 0.50 0.50 - 0.50 0.50 - -
Power for stress dependent np - 0.40 0.40 - 0.40 0.40 - -
Failure ratio Rf 0.90 0.81 0.64 0.90 0.62 0.62 0.90 0.90
Reference stress Pa 100 100 100 100 100 100 100 100

Densification factor fachard - 1.00 1.00 - 0.45 0.45 - -

Corrected SPT blowcount (N1)60 - 8 36 - 35 35 - -

Post liquefaction factor facpost - 1.00 1.00 - 0.02 0.02 - -


Lateral earth pressure
Ko 0.5 0.5 1 0.56 1 1 0.56 0.38
coefficient
Permeability (m/s) Kx, Ky 10 10-4 10-3 10-3 10-4 10-4 10-4 100

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

To perform a dynamic analysis in PLAXIS 2D, special boundary conditions were applied to simulate a semi-
infinite medium. The purpose of these boundaries is to impede wave reflection at the model boundaries,
avoiding model perturbations. For that purpose, lateral boundaries were placed at a considerable distance
from the building area in order to minimize possible interferences. These were also defined as “free-field”
boundaries and a compliant base was used for the input of the earthquake motion.

The selected time history was applied at the elevation of the assumed firm strata, coincident with the top
of the very dense gravelly soils. It is the same location where the seismic motion of the outcropping rock
was recorded, scaled to achieve the required seismic design accelerogram. For the Hardening Soil layers,
the Rayleigh damping coefficients associated with small damping ratios were selected. In this formulation,
the damping matrix is a function of the mass and the stiffness matrices which are modified by the Rayleigh
coefficients  and . The two coefficients are calibrated based on damping ratios and two sets of natural
frequencies of the free field soil.

Calibration of numerical models is essential to check the reliability of the adopted analysis approach. In
order to achieve this, a comparison between the numerical model, without ground improvement, and CPT
based simplified methods, enabled the identification of the presence of liquefiable layers. This procedure
has demonstrated an agreeable matching for both methodologies used. In this case, the FEM analysis
produced pore water pressures ratios near one (ru=1) for the same liquefiable layers as with the CPT data
when analysed with the CLiq program using the Boulanger and Idriss (2014) method. This method is well
calibrated with abundant data collected after the recent Canterbury Earthquake Sequence in 2011. However,
it is not necessary to reach pore pressure ratios of 1.0 to demonstrate that liquefaction occurs. Beaty and
Perlea (2012) suggested that liquefaction is triggered for pore pressure ratios above 0.85. The technical
specification for this project required an excess of pore water pressure ratio on the improved soil block up
to 0.5.

4- RESULTS

4.1 - Design Rationale for Ground Improvement Intervention

The ground improvement created by the lattice shaped jet grout columns will form a stiff block that will
reduce the overall deformability and potential liquefaction susceptibility of the soil. This was proposed by
the Council Geotechnical Consultant based on research and evidence from the Christchurch earthquakes
showing that when a thick non liquefiable crust is present below the building foundations the observed
damage after a major seismic event is limited. While global settlements are still expected to occur under
such destructive circumstances, the effects on surface structures should be relatively non-damaging.

Professor Ishihara (1985) has collected data from numerous case studies and has proved that there is an
inverse relation between the thickness of a mantle of non-liquefiable soils and the liquefaction damage
observed at the surface. If the non-liquefiable crust is sufficiently thick, the uplift force due to the excess
water pressure will not be strong enough to cause a breach in this layer. Hence there will be no surface
manifestation of liquefaction even it occurs deep in the sub-soil.

4.2 - Liquefaction Mitigation

To demonstrate the effectiveness of the lattice structured jet grout columns in the reduction of liquefaction
potential, the FEM numerical analysis was carried out for different cellular arrangements. The modelled
configurations were:

i. Wall clear spacing: A=8.0m; B=8.0m (Fig.3);


ii. Wall clear spacing: A=6.0m; B=6.0m (Fig.3);
iii. Wall clear spacing: A=4.0m; B=4.0m (Fig.3);
iv. Wall clear spacing: A=7.0m; B=7.0m with a 2.5m diameter central column (Fig.4).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figure 3 – 3D perspective of lattice cellular structure with spacing A x B

Figure 4 – 3D perspective lattice cellular structure with spacing A x B and additional central column

The UBCSAND model allows the software to compute the generation of excess pore water pressures
throughout the soil deposit, including the treated soil block, taking into account the different effective stress
levels experienced by the soil during a seismic event. The development of excess pore water pressure is
expressed in terms of the excess pore water pressure ratio (ru). The jet grout columns reduce the ratio ru,
by reducing the shear strains in the soil, inside the treated block. This ratio at a given depth in the soil
profile typically represents the development of excess pore water pressure in relation to the initial vertical
effective stress. The ratio ru is given as follows:

𝑟𝑢 = 1 − 𝜎𝑣′ ⁄𝜎𝑣0 [2]

The undertaken analysis has demonstrated that the lattice cellular structure with 8m x 8m and 6m x 6m
configurations (clear space between jet grout walls) is not effective at mitigating liquefaction in Layer 2, as
pore pressure ratios between 0.85 and 1 were obtained. This means that full liquefaction triggering can be
expected.

However, the remaining two arrangements, characterized by a lattice cellular structure with 4m x 4m (Fig.
5) and 7m x 7m configurations plus a 2.5m diameter central column (Fig.6), demonstrated that these
solutions could be effective in terms of liquefaction mitigation. The results show that most of Layer 2 will
experience pore pressures ratios ranging between 0.5 and 0.7. This means that, whilst liquefaction is
unlikely to occur, some settlement is expected during and after the seismic excitation based on the
development of the pore water pressure profiles. The next two figures show the pore pressure ratio results
obtained for both efficient solutions.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figure 5 – Maximum Excess Pore Pressure Ratio (4m x Figure 6 – Maximum Excess Pore Pressure Ratio (7m x
4m configuration) 7m configuration + Central Column)

Detailed pore water pressure ratio results for all the analysed jet grout columns cellular configurations
(including free field, 8m x 8m and 6m x 6m arrangements) are summarized in Fig.7. Pore water pressure
results (PWPR) are given for the following sections within the treated soil block:

I. Centre of the treated soil block (section A in Fig.5 and Fig.6).


II. Edge of the treated soil block (section B in Fig.5 and Fig.6).

I. Centre of the treated soil block II. Edge of the treated soil block
Figure 7 – Pore Pressure Ratios Results for Section A and B

A complementary analysis was conducted in order to check if the efficiency of the solution improves if the
jet grout walls are supported by a non-liquefiable layer and especially if this layer is of low permeability. In
such scenario, it was found that the lattice shaped jet grouting walls will not only reduce the overall ground
deformations, they will also contribute to control the potential for the excess pore pressure to migrate
upwards into the treated block area. In order to simulate this effect, an additional model was developed to
include a low permeability soil layer (Layer 4), with a permeability of k=10-7 m/s, extending up to the base
of the treated soil block. In this case, the results showed that the effects inside the treated soil block are
more homogeneous and that the obtained pore pressure ratio is consistently around 0.5 or less, meaning

973
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

that no liquefaction is expected to occur.

Figure 8 compares the maximum pore pressure ratio results for the most effective solutions with this last
additional scenario. The results show the effectiveness of the ground improvement solutions, highlighting
the importance of the soil permeability in the global soil behaviour.

I. Centre of the treated soil block (section A in Figure 5 and Figure 6).
II. Edge of the treated soil block (section B in Figure 5 and Figure 6).

I. At centre of the treated soil block II. At the edge of the treated soil block

Figure 8 – Pore Pressure Ration Results for jet grout walls founded on a low permeability layer - sections A and B

4.3 - Lateral Spreading Resistance

The soil stabilization works were restricted to the Town Hall building footprint and would not restrain the
riverbank between the foundations and the river, thereby allowing for lateral spreading. The lateral
spreading mechanism will develop within and above Layer 2 due to the high susceptibility of this layer to
liquefaction and loss of lateral confinement. Despite that, no damage is expected to occur to the stabilized
block as a result of the horizontal soil movement. The stabilized block was considered to be “anchored” in
Layer 3, once a few discrete lenses of soil were expected to liquefy.

The jet grout columns allow for the vertical load imposed by the building as well as for the lateral shear
stress imposed by the seismic motion. The external jet grout columns wall, adjacent to the river, is expected
to suffer higher demand of shear forces in case the river bank moves away from the building, as the lateral
soil support becomes ineffective.

In the Design Features Report (Tonkin and Taylor, 2014a), the shear stress on the jet grout wall resulting
from the load imposed to the building is 123kPa for a 1m diameter column, considering a maximum vertical
line load of 244 kN/m. With the proposed configuration, with columns of 2.5m diameter, the shear stress
on the jet grout wall due to the vertical structural load shall reduce to 49 kPa.

The maximum shear stress in the peripheral wall, consequence of the seismic motion, was found to be
435kPa (Fig. 9).

Turan (2004) proposes the following equation to assess the shear strength of a composite soil-cement
column:

974
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

𝜏𝑟𝑑 = 0.3√𝑈𝐶𝑆 [3]

where rd is the compressive strength of the soilcrete material, determined by laboratory tests; and UCS is
the unconfined compression stress of the composite soil cement material.

According to unconfined compressive tests results, relying on several cylindrical core samples retrieved
from “in situ” jet grout columns, an average value of UCSAVE=9.5MPa has been set. As UCSdesign=UCSAVE/SF,
the ultimate limit state of the jet grout material against shear was verified, assuming a SF=2.0.

𝑈𝐶𝑆𝑑𝑒𝑠𝑖𝑔𝑛 = 4.75𝑀𝑃𝑎 [4]

𝜏𝑟𝑑 = 0.63 𝑀𝑃𝑎 = 630𝑘𝑃𝑎 [5]

𝜏𝑟𝑑 = 630 𝑘𝑃𝑎 > 𝜏𝑠𝑑 = 435 + 43 = 484𝑘𝑃𝑎 [6]

Figure 9 – Shear stress on the perimeter wall due to the design seismic motion

5- CONCLUSIONS

The determination of the liquefaction potential of soils is still a major technical challenge. Ground failures
associated with soil liquefaction often cause damages that can severely affect citizens and infrastructures.
It is important to understand the soil behaviour under extreme seismic demand in order to allow for
foundation and structural design to prevent the loss of building support and integrity.

The inherent complexity of a constitutive soil model, capable of accurately simulating the stress-strain
behaviour experienced during a seismic event, relies on the identification of several elements, such as: the
soil conditions; stress-strain history; anisotropy; stress level dependency of stiffness, amongst others. The
UBCSAND (PLAXIS) model provides satisfactory interpretation of soil behaviour when submitted to severe
seismic actions by analysing shear stresses, shear strains and excess pore water ratios.

In the present study, a series of numerical analysis were performed to investigate the effectiveness of
different jet grout columns lattice configurations and prevent liquefaction triggering.

The results of the numerical analysis were evaluated in terms of pore water pressure ratios depending on
the different cell configurations. It was demonstrated that, for the present case study, 8m x 8m and 6m x
6m spacing configurations are ineffective in terms of liquefaction mitigation. However, the cellular jet grout
arrangements with configurations of 4m x 4m and 7m x 7m with an interior isolated jet grout column
showed visible improvement in the soil response to seismic action and subsequent reduction of pore water
pressures values.

In addition to numerical analysis, it is important to monitor and observe the behaviour of constructions

975
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

when submitted to real seismic events. This will allow for a better understanding of such a complex
phenomenon and consequently improve the geotechnical designs and solutions to be implemented
according to different geological and seismic scenarios.

ACKNOWLEDGEMENTS

The authors acknowledge Mainmark for the collaboration and data made available for the present study
and Mr Nick Traylen of Geotechnical Consulting Ltd, as the design peer reviewer, for his input and assistance
during design process.

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976
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

PROBABILIDADE DE DANOS EM UM CONJUNTO HABITACIONAL CONSTRUÍDO


EM ALVENARIA RESISTENTE NA CIDADE DO RECIFE

PROBABILITY OF DAMAGE IN A HOUSEHOLD COMPOSITION BUILT IN RE-


SISTANT MASONRY IN THE CITY OF RECIFE

Nascimento, Nicole; Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife, Brasil,


nicolenascimentoeng@gmail.com
Oliveira, Joaquim; Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife, Brasil, jtrdo@uol.com.br

RESUMO

O estudo da probabilidade de danos para edifícios construídos em alvenaria resistente foi desenvolvido
em virtude desse tema ser um problema nacional. Há apenas na Região Metropolitana do Recife 6000
edifícios que apresentam danos estéticos, funcionais ou estruturais. São construções de até quatro
pavimentos, com paredes sendo os elementos resistentes e blocos destinados à vedação empregados
com finalidade estrutural. Nesse trabalho foi estimada a probabilidade de danos por meio de recalque
diferencial nos prédios caixão, com terreno submetido à onze situações: solo natural, solo inundado com
água, com água sanitária, com detergente, com óleo de soja, com sabão em pó, com água e água
sanitária, com água e detergente, com água e óleo de soja, com água e sabão em pó e solo de encosta
inundado por água. Posteriormente comparou-se essa metodologia com edificações que já tiveram seus
recalques monitorados. A partir dos recalques, foram calculadas distorções, índice de confiabilidade (β),
probabilidade de danos (pf) e tempo de recorrência. Os valores de pf das análises nas onze
contaminações no programa ELPLA (Elastic Plate) foram: 14,55%; 18,15%; 23,15%; 20,14%; 10,72%;
37,31%; 60,45%; 58,16%; 54,21%; 65,02%; 62,48%; para os cinco blocos (A, B, C, D e E) foram:
67,05%; 66,30%; 92,69%; 72,02% e 56,14%. Nos blocos encontraram-se baixos valores de β e alta
probabilidade de danos, o que foi constatado em campo. Os índices de confiabilidade negativos indicam
certeza da ocorrência de danos, com frequência de todo dia ocorrer danos nas edificações, cenário
considerado bastante crítico. Estimando os recalques ou monitorando-os, é possível alcançar aspectos
importantes da confiabilidade da edificação, através de parâmetros estatísticos. Essa metodologia de
segurança estrutural por meio da confiabilidade possui grande potencial para construções em geral,
podendo ser tomadas medidas preventivas e de reparação para que não ocorram danos nem se chegue
ao colapso da estrutura.

ABSTRACT

The study of probability of damages to buildings constructed in sturdy masonry was developed due to this
theme be a national problem. There are only 6000 buildings in the Metropolitan Region of Recife that
present aesthetic, functional or structural damages. They are constructions of up to four floors, with walls
being the resistant elements and blocks destined to the fence used for structural purpose. In this work, it
was estimated the probability of damages by means of differential settlement in the coffin buildings, with
terrain submitted to eleven situations: natural soil, soil flooded with water, with bleach, with detergent,
with soybean oil, with soap powder, with water and bleach, with water and detergent, with water and
soybean oil, with water and soap powder and slope soil flooded by water. Subsequently, this methodology
was compared with buildings that have already had their settlements monitored. From the settlements,
were calculated distortions, reliability index (β), probability of damages (pf) and time to recurrence. The
pf values of the analyzes in the eleven contaminations in the ELPLA program (Elastic Plate) were: 14,55%;
18,15%; 23,15%; 20,14%; 10,72%; 37,31%; 60,45%; 58,16%; 54,21%; 65,02%; 62,48%; for the five
blocks (A, B, C, D and E) were: 67,05%; 66,30%; 92,69%; 72,02% and 56,14%. In the blocks ware
found low values of β and high probability of damages, which was verified in the field. The negative
reliability indices indicate certainty of damage occurrence, with frequently of occur damages every day in
buildings, a scenario considered to be very critical. By estimating the settlements or monitoring them, it
is possible to achieve important aspects of the reliability of the building, through statistical parameters.
This methodology of structural security through reliability has great potential for constructions in general,
and preventive and repair measures can be taken so that there are no damage or collapse of the
structure.

1- INTRODUÇÃO

A alvenaria surgiu, como sistema construtivo empírico, há milhares de anos, e foi concebida de forma
primitiva através do empilhamento de fragmentos de rochas, evoluindo depois para elevações de pedra
cantaria, tijolos de argila prensados e blocos de concreto. À medida que a civilização evoluiu, elas
passaram de estruturas pesadas, rígidas e espessas para os atuais painéis esbeltos, com componentes

977
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

desenvolvidos tecnologicamente, de características leves, resistentes, duráveis e de baixo custo, através


dos blocos vazados e de materiais de menor peso, de acordo com Prata et al. (2012).

Há dois tipos de sistemas estruturais: alvenaria de vedação, desenvolvida para suportar apenas seu
próprio peso, e a alvenaria estrutural, um sistema construtivo usado com função estrutural, sendo
dimensionada por procedimentos racionais de cálculo para suportar cargas além de seu peso próprio.

O sistema construtivo conhecido regionalmente como “Edifícios Caixão” foi largamente utilizado a partir
da década de 70 na grande Recife para a construção de habitações populares, sendo fomentado por
políticas de aplicação de recursos oriundos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e das
cadernetas de poupanças (Oliveira et al., 2006). Oliveira et al. (2012) afirmam que nessa década
passaram a ser construídos edifícios sem fundamentação tecnológica e normas técnicas pertinentes, uma
vez que só a partir de 1989 as mesmas foram implantadas no Brasil (NBR 10837 / 89), substituída pela
NBR 15961 - 1, 2 (ABNT, 2011). Essas construções possuíam até quatro pavimentos, assemelhando-se a
uma grande caixa apoiada no terreno. Nelas, as paredes são os elementos resistentes e foram
empregados blocos destinados à vedação, utilizando-os, no entanto, com finalidade estrutural, porém
não apresentavam os requisitos de desempenho necessários para serem usados como tais, acarretando o
aparecimento de uma série de patologias e acidentes.

Oliveira (2012) destaca que um número expressivo desses imóveis está em pleno uso há várias décadas,
e em decorrência dessa técnica foram construídos aproximadamente seis mil edifícios apenas na Região
Metropolitana do Recife. No entanto, esta não é uma situação isolada da RMR, pois esse tipo de
edificação foi construído em diversas outras regiões do Brasil, configurando-se como um problema
nacional.

OliveirA et al. (2012) afirmam que a Planície do Recife foi formada por diversos eventos geodinâmicos,
sendo o mais importante as sucessivas transgressões e regressões do nível do mar, colaborando para a
criação de um ambiente agressivo e com uma diversidade de materiais geotécnicos no subsolo.

Apenas 40% dos esgotos urbanos são coletados, e só 15% tratados, gerando infiltração das águas
servidas diretamente no subsolo, contribuindo para a degradação dos embasamentos de fundação dos
“prédios-caixão” por agentes físico-químicos, ocasionando problemas construtivos nessas edificações
(Oliveira, 2012).

Alguns casos de edifícios construídos em alvenaria resistente que colapsaram deixaram marcas
significativas no meio técnico e na sociedade recifense com destaque maior para a perda de vidas
humanas. Embora o primeiro acidente tenha acontecido em 1990, os casos mais conhecidos são os dos
Edifícios Aquarela, Serrambi, Éricka e Ijuí, que desabaram entre 1997 e 2001. Até o momento foram
registrados 12 casos de desabamentos, ocasionando 11 vítimas fatais e muitos feridos, além de grande
número de edifícios se encontrarem interditados por não oferecerem condições de segurança a seus
usuários, conforme Oliveira et al. (2012). Os autores ainda ressaltam que existem na RMR cerca de
6.000 prédios tipo caixão, todos eles com faixas de risco variadas que irão requerer algum tipo de
intervenção. Tais construções abrigam cerca de 250.000 pessoas, ou seja, aproximadamente 10 % da
população.

As inspeções periciais realizadas após os colapsos nestes edifícios apontaram como causa das tragédias
as rupturas bruscas por esmagamento das alvenarias de embasamento (Oliveira, 2012). A Figura 1
mostra a fundação e o embasamento típicos dessas construções.

Figura 1 - Detalhamento da fundação e da alvenaria de embasamento (adaptado Oliveira et al., 2006)

978
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Foi criada uma Lei Municipal nº 17.184/2006, em vigor na cidade do Recife, que proíbe o uso desta
técnica construtiva, em virtude dos acidentes ocorridos e do grande número das manifestações
patológicas constatadas. As novas edificações desse porte passaram a ser construídas com a técnica de
alvenaria estrutural racionalizada, obedecendo às Normas em padrões internacionais, segundo Oliveira et
al. (2006).

A Lei determina que, se forem constatados problemas na edificação que comprometam suas condições de
estabilidade e segurança, a correção deverá ser feita imediatamente, sob responsabilidade do construtor,
seja ele o poder público ou empresas privadas, salienta Pires Sobrinho (2009).
Silva e Furtado (2012) descreveram as características dos levantamentos e estudos do ITEP e da CAIXA
nos edifícios que apresentaram riscos e insegurança estrutural. A metodologia empregada buscou avaliar
os fatores que contribuem mais fortemente para diminuir os níveis de segurança estrutural das
edificações e que pudessem ser investigados sem causar maiores danos aos edifícios e nem transtornos
aos seus habitantes.

Para Hachich et al. (2012) não há como evoluir no estabelecimento de critérios de projeto relacionados à
segurança - sejam ele em termos de coeficientes de segurança globais, parciais, coeficientes de
ponderação, índices de segurança ou probabilidade de ruína - senão através de modelos probabilísticos,
pois variabilidade e incerteza constituem a base da questão da segurança e, certamente, estão no futuro
da maioria das normas. Uma estrutura é considerada segura quando puder suportar as ações que vierem
a solicitá-la durante a sua vida útil sem ser impedida, quer permanente, quer temporariamente, de
desempenhar as funções para as quais foi concebida.

Conceitos de confiabilidade já são amplamente empregados em outras engenharias, e a sua aplicação em


engenharia civil tem colaborado para elaborar projetos com nível de segurança adequado e grau de risco
conhecido. No contexto atual da engenharia geotécnica brasileira o uso dessas ferramentas estatísticas
vem aumentando gradativamente, incentivado por renomados pesquisadores em cursos de pós-
graduação e por normas técnicas nacionais e estrangeiras.

Cintra e Aoki (2010) afirmam que atualmente é preferível o conceito mais abrangente de segurança, com
a inclusão da análise de confiabilidade. Na Engenharia de Fundações é exigida a verificação contra
deslocamentos excessivos, ou seja, a “segurança contra recalques”, afirmam Hachich et al. (2012).

De acordo com Burland e Wroth (1974), citado por Oliveira (2012), pode-se definir recalque absoluto
como sendo o deslocamento vertical descendente de um ponto discreto da fundação. E o recalque
diferencial como sendo a diferença entre os recalques absolutos de dois diferentes pontos. A distorção
angular se dá pela diferença entre recalques, dividida pelo tamanho do vão considerado.

Há na literatura vários critérios para avaliar a possibilidade do aparecimento de danos a partir da medição
de recalques e distorções angulares. Poulos (2009) cita e recomenda o critério proposto por Zhang e Ng
(2005), que faz distinção entre valores intolerável e tolerável limite, correspondendo respectivamente aos
Estados Limite Último (ELU) e de Serviço (ELS). Os autores trabalharam com um banco de dados de mais
de 500 obras de fundações de pontes e edifícios que apresentaram recalque e/ou distorção angular e
utilizaram conceitos de probabilidade e confiabilidade para formularem sua proposta, asseguram Oliveira
et al. (2012). A Tabela 1 apresenta um resumo desse critério, para o caso de fundação superficial de
edifícios.

Tabela 1 - Critérios para avaliação de recalque e distorção angular tolerável limite e intolerável.
Fonte: Zhang e Ng (2005)
Estatística Valores Médios Desvio-padrão Faixa
Recalque intolerável
399 323 76 a 722
observado (mm)
Recalque tolerável limite
129 72 57 a 201
(mm)
Distorção angular
0,0119 (1/84) 0,0138 (1/72) 0 a 0,0257 (1/39)
intolerável observada
Distorção angular 0,0015 a 0,0045
0,0030 (1/333) 0,0015 (1/667)
tolerável limite (1/667) a (1/222)

Danziger et al. (1995), citados por Alves (2006), comentaram que a prática brasileira do controle de
recalques em estruturas só é feita, geralmente, quando são constatados problemas na edificação ou
quando há a realização de escavações próximas. No entanto, a bibliografia atual mostra que o perfil da
engenharia brasileira começou a mudar e já existem várias pesquisas em que são feitos monitoramentos
de recalques. Vale destacar que, na cidade do Recife, tem sido prática comum o controle de recalques

979
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

nos edifícios. Esse tipo de monitoramento permite traçar perfis de parâmetros importantes, como as
distorções angulares, além de servir como banco de dados para outras obras, afirma Alves (2006).

No caso específico de edificações em alvenaria estrutural, é muito importante a influência da estrutura de


fundação sobre as quais essas edificações de apoiam, pois, sendo a alvenaria um processo construtivo
cujo princípio básico é o não aparecimento de tensões de tração, ou pelo menos a manutenção delas em
nível baixo, em seus componentes, o surgimento de recalques diferenciais produzirá essas tensões. Daí a
importância de se fazer um estudo da influência dos recalques, destaca Alves (2006).

Por definição, o índice de confiabilidade é inversamente proporcional ao coeficiente de variação da


margem de segurança. Assim, quanto menor a variabilidade da margem de segurança embutida nos
projetos de engenharia civil, maior é a confiabilidade desta obra, assegura Cintra e Aoki (2010).

A margem de segurança é uma função matemática definida como a diferença entre as curvas de
resistência e a de solicitação. Ao assumir valores negativos, ocorre a ruína da estrutura. A esse valor
negativo está associada uma probabilidade de ruína ou falha da estrutura, denominada de pf. Foi
considerado que o recalque admissível seja igual ao recalque tolerável limite indicado por Zhang e Ng
(2005) na Tabela 1, com seu valor médio de 129 mm e desvio-padrão igual a 72 mm. A função margem
de segurança foi definida como sendo a diferença entre o recalque admissível médio e o recalque
absoluto médio estimado nas análises numéricas com o programa ELPLA (Elastic Plate), que permite ser
usado para representar o efeito de cargas externas e fundações vizinhas, assim como analisar diferentes
tipos de modelos de subsolo. Oliveira (2012) adaptou essa metodologia para estimar a probabilidade de
ocorrência de danos causados por recalque diferencial.

Gontijo et al. (2005) afirmam que tempo ou período de recorrência refere-se ao espaço de tempo em
anos onde provavelmente ocorrerá um fenômeno de grande magnitude pelo menos uma vez.

Aoki (2011) ao mencionar a NBR 6122 (ABNT, 2010), reconhece que a engenharia de fundações não é
uma ciência exata e que riscos são inerentes a toda e qualquer atividade que envolva fenômenos ou
materiais da natureza, como também que serviços geotécnicos envolvem riscos. E que a sua avaliação
exige a determinação da probabilidade de ruína, aqui adaptada para a probabilidade de ocorrência de
danos.

A tabela da escala subjetiva de risco e tempo de recorrência criada por CLEMENS (1983) foi ampliada e
citada por Aoki (2011). Nela, estima-se a ocorrência dos danos nas edificações, e a frequência com que
eles ocorrem é contada na unidade de tempo de recorrência adotada. A Tabela 2 é o resultado dessa
ampliação.

Tabela 02 - Escala subjetiva de risco e tempo de recorrência considerando a recomendação da norma MIL – STD – 882
[CLEMENS, (1983), ampliada e citada por Aoki (2011)].
Tempo recorrên- Nível probabi-
 Ocorrência Frequência Nível pf
cia lidade

-7,94 Certeza 1dia todo dia 1 1,000000


0,00 50% probabilidade 2 dias a cada 2 dias 2x10 0
0,500000
0,52 Freqüente 1 semana toda semana A 3x10 -1
0,300000
1,88 Provável 1 mês todo mês B 3x10-2 0,030000
2,75 Ocasional 1 ano todo ano C 3x10 -3
0,003000
3,43 Remota 10 anos a cada década D 3x10-4 0,000300
4,01 Extremamente remota 100 anos a cada século E 3x10 -5
0,000030
4,53 Impossível na prática 1000 anos a cada milênio 3x10-6 0,000003
7,27 Nunca 5,48E+12 idade do universo 0 1,83E-13

2- MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo Velloso e Lopes (2004), citados por Oliveira (2012), para análise de radier, bem como de
sapatas corridas, são possíveis dois modelos aplicáveis ao método dos elementos finitos (MEF). Um
modelo considera o radier sendo representado por elementos de placa, e o solo por molas (Hipóteses de
Winkler). No outro modelo, o solo é retratado pela associação de vários elementos sólidos. Esse método é
normalmente utilizado através de programas comerciais. Com o Programa ELPLA (Elastic Plate),
desenvolvido na Alemanha pelo professor Manfred Kany e co-autores (www.elpla.com), foi possível
utilizar esse modelo. Esse software fornece pressões de contato sobre a placa ou sapata corrida, esforços
solicitantes e principalmente os valores de recalque.

980
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Para o estudo de caso, a priori, foi utilizado um conjunto habitacional construído em alvenaria resistente
na Cidade do Recife e interditado devido a problemas estruturais, sendo a fundação uma sapata corrida.

Oliveira (2012) realizou 8 diferentes tipos de análises para estimar os recalques a priori, havendo
subdivisão em diversos cenários, identificados por uma letra após o número da análise. As análises
numéricas com suas respectivas contaminações foram: 1) Solo natural; 2) Solo inundado com água; 3)
Solo inundado com água sanitária; 4) Solo inundado com detergente; 5) Solo inundado com óleo de soja;
6) Solo inundado com sabão em pó; 7a) Solo inundado com água e água sanitária; 7b) Solo inundado
com água e detergente; 7c) Solo inundado com água e óleo de soja; 7d) Solo inundado com água e
sabão em pó; 8) Solo encosta inundado com água.

A análise da fundação do tipo sapata corrida foi possível com o Programa ELPLA (Elastic Plate). Para cada
situação havia uma planilha originada pelo ELPLA no Excel, indicando os valores de recalque absoluto a
cada 0,50 m. O tamanho do vão considerado foi 50 cm por não haver pilares no edifício. Com os
recalques foram calculadas as distorções com a seguinte fórmula matemática: =(recalque diferencial
calculado)/50. E assim a média, desvio-padrão, coeficiente de variação, o valor máximo e mínimo delas,
para avaliar a variabilidade dos resultados e organizá-los em tabelas, destacando: as que ficaram
próximas ao valor tolerável limite e ao valor intolerável, e as que ultrapassaram ambos, conforme a
Tabela 1. A Figura 2 exemplifica a planilha da Análise 1 reproduzida pelo ELPLA, onde os valores de
recalque produzem a borda externa da fundação.

Figura 2 - Planilha gerada pelo ELPA no Excel da Análise 1 - Solo Natural

Para cada situação havia essa planilha originada pelo ELPLA no Excel que indicava os valores de recalque
absoluto a cada 0,50 m da sapata corrida e com a fórmula já citada foi possível o cálculo da distorção.

Figura 3 - Detalhamento da Planilha da Análise 1 com os valores de recalque e distorções

O tamanho do vão considerado foi 50 cm pelo fato de não haver pilares no edifício, resultando num valor
de distorção adimensional. A fórmula matemática utilizada no Excel foi: =(recalque diferencial
calculado)/50. Na Figura 3, apresenta-se o detalhamento dos resultados dos cálculos. Os recalques são
os números na cor preta. As distorções angulares na horizontal são em vermelho, indicadas por seta de
mesma cor. Já as distorções verticais, são na cor azul, com setas de mesma cor. As setas indicam a
direção adotada para determinar o recalque diferencial, ou seja, a distorção angular que se encontra na
célula C9 equivale a =(C11-C10)/50. Em alguns casos, a distorção encontrada deu negativa, invertendo

981
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

os valores das células a fim de que todas resultassem em valores positivos. Essa metodologia foi aplicada
para as oito análises.

Os recalques também foram analisados, com a finalidade de verificar se havia algum próximo ou igual ao
tolerável limite e ao intolerável. A metodologia adotada para análise de confiabilidade foi a sugerida por
Cintra e Aoki (2010). Eles consideram que a população analisada é finita e que as curvas de densidade de
probabilidade de Resistência (R) e de Solicitação (S) seguem uma distribuição normal simétrica. Os
autores utilizaram a seguinte notação, que também foi adotada nos cálculos da pesquisa:

 fR (R) – curva de resistência R


 Rméd – valor médio da resistência
 R – desvio-padrão da resistência
 VR – coeficiente de variação da resistência
 fS (S) – curva de solicitação S
 Sméd – valor médio da solicitação
 S – desvio-padrão da solicitação
 VS – coeficiente de variação da solicitação
 FS – fator de segurança global
 fZ (Z) – função margem de segurança
 Zméd – valor médio da margem de segurança
 VZ – desvio-padrão da margem de segurança
 VZ – coeficiente de variação da margem de segurança
  – índice de confiabilidade

Onde:
Vs = S / Sméd [1]
Vr = r / Rméd [2]
FS = Rméd / Sméd [3]
fZ (Z) = fR (R) - fS (S) ou Zméd = Rméd – Sméd [4]

[5]

[6]

Considerando as variáveis como sendo aleatórias e independentes, foram calculados o índice de


confiabilidade e a probabilidade de ocorrência de danos, adaptação da probabilidade de ruína, realizada
por Oliveira (2012). É importante ressaltar que apenas para um solo com características semelhantes aos
analisados haverá mesmos valores de distorção ou valores aproximados.

A ocorrência, o tempo de recorrência e a frequência dos danos nas edificações foram calculados através
da Tabela 2 publicada por Clemens (1983), conforme cita Aoki (2011), para assim avaliar se a
metodologia corresponde com os aspectos analisados em campo anteriormente pelos autores e se é
possível com ela estimar possíveis danos nas edificações.

As características da obra analisada a posteriori são as seguintes: é constituída de um grupo de cinco


edifícios residenciais situado na RMR. Cada bloco possui 16 apartamentos, sendo quatro por andar.

O solo de fundação da obra apresentada por Alves (2006) é uma camada de aterro/areia apoiada sobre
uma camada de argila compressível, de espessura significativa. Esse perfil de solo é propício a grandes
recalques. Nele houve adensamento natural, provocando assim recalques diferenciais significativos na
obra estudada, promovendo sérios danos, como desaprumos e fissuras. Nessa etapa, os parâmetros
estatísticos foram estimados através de medidas de recalques medidos por intermédio de monitoramento
realizado por Alves (2006) nesse conjunto habitacional de cinco blocos desabitados.

3- RESULTADOS

No método das análises numéricas foram destacadas em amarelo e vermelho os valores das distorções
angulares que ultrapassaram o valor tolerável limite e o intolerável, respectivamente. Na Figura 4 temos

982
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

um exemplo de valores acima do tolerável. Esses valores predominam nas quinas dos conjuntos
habitacionais ou no meio deles.
Ao examinar os recalques absolutos originados pelo Programa ELPLA nas planilhas do Excel, constatou-se
que apenas a Análise 6, cuja contaminação do solo é uma solução em sabão em pó, contém recalques
superiores ao valor tolerável limite, que é equivalente a 12,9 cm ou 129 mm, sendo o valor máximo igual
a 14,06 cm ou 140,60 mm. Esse resultado indica que o desempenho da edificação que possui sabão em
pó como contaminante do solo está comprometido, chegando ao estado-limite de serviço. A Figura 4
detalha os valores de “settlements” ou recalques da Análise 6. Em verde está o valor máximo de
recalque.

Figura 4 - Detalhes da Análise 6 indicando as distorções acima do tolerável limite e os valores de recalque

Através dos valores toleráveis limite da distorção e do desvio-padrão admitidos por Zhang e Ng (2005)
como 0,003 e 0,0015, respectivamente, juntamente com os valores da distorção angular estimada
média, assim como o desvio estimado, resultante das análises numéricas, obteve-se a Tabela 3. Nela
encontra-se o resumo de todas as variáveis para os recalques estimados em análises com o programa
ELPLA, assim como o número de prédios com danos, para uma população total de 6000 edifícios.

Tabela 3 - Índice de confiabilidade e probabilidade de danos de cada situação de contaminação


Nº de Prédios com
Situação de Contaminação σ μ V (%) pf (%) β danos
1 Solo natural 0,00083 0,00119 69,62 14,55 1,06 873
2 Solo Inund Água 0,00094 0,00139 67,56 18,15 0,91 1089
3 Solo Inund Água Sanitária 0,00111 0,00163 68,00 23,10 0,73 1389
4 Solo Inund Detergente 0,00102 0,00148 68,43 20,14 0,84 1208
5 Solo Inund Óleo de Soja 0,00067 0,00092 72,84 10,72 1,27 616
6 Solo Inund Sabão em Pó 0,00161 0,00229 70,56 37,31 0,32 2239
7a Solo Inund Água e Água Sanitária 0,00299 0,00389 76,94 60,45 -0,27 3627
7b Solo Inund Água e Detergente 0,00284 0,00366 77,54 58,16 -0,21 3489
7c Solo Inund Água e Óleo de Soja 0,00535 0,00359 149,01 54,21 -0,11 3253
7d Solo Inund Água e Sabão em Pó 0,00387 0,00460 84,06 65,02 -0,39 3901
8 Solo Encosta Inund Água 0,00335 0,00417 80,38 62,48 -0,32 3749

Por meio da metodologia de monitoramento de recalques chegou-se ao resumo dos dados contidos na
Tabela 4, onde se pode fazer um resumo das variáveis para os recalques medidos por monitoramento. Os
cálculos foram semelhantes às análises numéricas e tomaram-se como base os valores limites
considerados por Zhang e Ng (2005), para analisar os resultados.

Tabela 4 - Índice de confiabilidade e probabilidade de danos de cada bloco


BLOCO σ μ V (%) pf (%) β
A 0,0047 0,0052 90,29 67,05 -0,44
B 0,0033 0,0045 73,44 66,30 -0,42
C 0,0013 0,0059 22,57 92,69 -1,45
D 0,0061 0,0067 91,85 72,02 -0,58
E 0,0049 0,0038 128,46 56,14 -0,15

Nos cantos e no meio dos edifícios foram encontrados valores maiores de distorções angulares, (como
0,003827; 0,003449; 0,00568; 0,00772; 0,01016; 0,00899; 0,01069; entre outros). O autor
SAWATPARNICH (2003) considera que distorções angulares maiores que 1/300 = 0,003333 causam
danos muito graves em estruturas de alvenaria, ou seja, nas oito situações de contaminação, foi possível
constatar que os solos com a combinação de dois contaminantes e o de encosta inundado por água
apresentaram valores maiores que esse. Isso pode ser comprovado nos diversos danos analisados em
campo por ALVES (2006), como se pode ver na Figura 5.

983
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Os índices de confiabilidade obtidos nos permitiram encontrar, através de tabela de interpolação


fornecida por Aoki (2011), o grau de risco, a frequência e o tempo de recorrência de danos nas
edificações analisadas, e foi descrito nas Tabelas 5 e 6.

Figura 5 - Grandes rachaduras no bloco E e desaprumo do bloco D (inclinação à esquerda) (Alves, 2006)

Tabela 5 - Tempo de recorrência através da interpolação fornecida por Aoki (2011), para as 8 análises numéricas
Tempo de
Situação de Contaminação pf (%) β Ocorrência Frequência Nível
Recorrência
1 Solo natural 14,55 1,06 1 semana
2 Solo Inund Água 18,15 0,91 0,8 semanas
3 Solo Inund Água Sanitária 23,15 0,73 Frequente 0,6 semanas Toda semana A
4 Solo Inund Detergente 20,14 0,84 0,7 semanas
5 Solo Inund Óleo de Soja 10,72 1,27 1,4 semanas
6 Solo Inund Sabão em Pó 37,31 0,32 50% probabilidade 2,7 dias A cada 2 dias -
7a Solo Inund Água e Água Sanitária 60,45 -0,27 1,6 dias
7b Solo Inund Água e Detergente 58,16 -0,21 1,7 dias
7c Solo Inund Água e Óleo de Soja 54,21 -0,11 Certeza 1,8 dias Todo dia -
7d Solo Inund Água e Sabão em Pó 65,02 -0,39 1,5 dias
8 Solo Encosta Inund Água 62,48 -0,32 1,6 dias

Tabela 6 - Tempo de recorrência através da interpolação fornecida por Aoki (2011), para os 5 blocos com recalques
monitorados
BLOCO pf (%) β Ocorrência Tempo de Recorrência Frequência Nível
A 67,05 -0,44 1,5 dias
B 66,30 -0,42 1,5 dias
C 92,69 -1,45 Certeza 1,1 dias Todo dia _
D 72,02 -0,58 1,4 dias
E 56,14 -0,15 1,8 dias

O tempo de recorrência de haver danos encontrado é entre 1 dia e 1 semana e meia. A ocorrência obtida
é de 50% de probabilidade, frequente e certeza de que eles ocorrerão, numa frequência entre toda
semana a todo dia, o que é considerado como crítico.

Logo, havendo essas contaminações no solo, os conjuntos habitacionais podem apresentar danos muito
graves, sendo justificativa de grande número de “prédios-caixão” estarem interditados. Nos cinco blocos
estudados a posteriori, pode-se avaliar que isso ocorreu de maneira análoga. Na análise da confiabilidade
temos os blocos (C e E), que apresentaram β de (-1,45 e -0,15) e pf de (92,69% e 56,14%),
respectivamente.

4- CONCLUSÕES

Os recalques diferenciais e a contaminação do solo podem ter tido alguma influência nas ocorrências de
patologias e desabamentos, sendo fatores pouco estudados anteriormente como causas dos
desmoronamentos das edificações construídas em alvenaria resistente. Valores de distorções angulares
maiores foram encontrados nos cantos e no meio dos edifícios, o que explica algumas rupturas de prédios
que começaram pelo canto ou pelo meio do prédio, assim como algumas patologias como fissuras e
rachaduras.

Os valores maiores que 0,003333 encontrados nas distorções angulares, caracterizam assim danos muito
sérios nos conjuntos habitacionais estudados. Quanto menor o índice de confiabilidade, maior é a
probabilidade de danos na edificação, como nos blocos (C e E). Esses blocos apresentaram maiores danos
em campo, como parte do E que se encontra escorado para que permaneça em equilíbrio.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

As análises do programa ELPLA (7a, 7b, 7c, 7d e 8) e os blocos (A, B, C, D e E) que possuíram índices de
confiabilidade negativos possuem certeza da ocorrência de danos; Já a frequência é de todo dia haver
danos na edificação, o que é considerado bastante crítico.

Estimando os recalques ou monitorando-os após conclusão da obra, é possível o cálculo das distorções e,
a partir delas, uma análise mais aprofundada da confiabilidade da edificação, através de parâmetros
estatísticos. Essa metodologia de análise da segurança estrutural por meio da confiabilidade possui
grande potencial para construções em geral no que se refere à probabilidade de danos, podendo ser
tomadas medidas preventivas e de reparação para que não se chegue ao colapso da estrutura.

Para um posterior trabalho em continuidade desse, seria importante avaliar recalques monitorados em
edificações que não apresentaram danos, a fim de comprovar a realidade, encontrando percentagens
menores de probabilidade de danos e assim atestar essa metodologia.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Católica de Pernambuco, instituição que incentivou a pesquisa através da


iniciação científica, permitindo que seus alunos desenvolvam técnicas para contribuir com a sociedade em
que vivem. Ao órgão de fomento CNPq, que em parceria com a Universidade contribui para que a
pesquisa e inovação tecnológica continuem se propagando. E em especial ao Orientador Profº Dr.
Joaquim Teodoro Romão de Oliveira, pelo incentivo, paciência e confiança conferidos a mim.

REFERÊNCIAS

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

RAPID LOAD TESTING: UNA EFICIENTE TÉCNICA PARA PRUEBAS DE CARGA


EN PILOTES

RAPID LOAD TESTING METHOD: AN UPDATED TECHNIQUE TOWARDS PILE


TESTING EFFICIENCY

Moscoso del Prado Mazza, Nicolás; Allnamics, La Haya, Países Bajos, nicomoscosomazza@allnamics.eu
Bielefeld, Marcel; Allnamics, La Haya, Países Bajos, bielefeld@allnamics.eu
Fernández Tadeo, Carlos; CFT & Asoc., Barcelona, España, carlos@fernandeztadeo.com

RESUMEN

Actualmente, los tipos de prueba de carga de pilote más usuales en España son las pruebas estáticas y
dinámicas. Las pruebas estáticas son las más representativas del comportamiento de un pilote, ya que
reproducen las condiciones a las que será sometido a lo largo de su vida útil. El método estático requiere
tiempo y costes elevados, no solo para llevar a cabo el ensayo, un pilote por día, sino también para construir
y cargar la estructura de reacción auxiliar, incrementando la duración desde varios días hasta incluso
semanas para grandes cargas.

Las pruebas dinámicas, aplicando un impacto de corta duración, se desarrollaron para acelerar las pruebas
de carga, llegando a ensayar varios pilotes por día. Debido al peso reducido de la carga de impacto, o a la
utilización de un martillo de impacto, el tiempo y los costes se ven drásticamente reducidos. El incremento
de la productividad se compensa con una menor representatividad de los resultados, donde las resistencias
estáticas son difíciles de evaluar mediante equiparación de señales por análisis de ecuación de la onda.

Las pruebas de carga rápida, RLT, o cuasi-estática, se desarrollaron hace más de 30 años, combinando las
ventajas de las pruebas estáticas y dinámicas y casi ninguna de sus desventajas. Son capaces de obtener
resultados consistentes y precisos, independientes del usuario, con una productividad de dos o más pilotes
diarios. Este artículo presenta una revisión de las pruebas de carga rápida, proporcionando una perspectiva
histórica de su desarrollo hasta la actualidad, así como las bases teóricas en las que se fundamenta.
Investigaciones independientes, varios códigos nacionales e internacionales y una larga base de datos
respaldan este método de ensayo mundialmente aceptado. Finalmente, se presentan algunos estudios de
caso, poniendo en perspectiva el estado actual del método.

ABSTRACT

Pile testing in Spain is currently dominated by Static and Dynamic load tests. Static tests are well accepted
since they reproduce the static conditions that will occur during the designed life of the structure. The
testing method is however time-consuming and therefore also very expensive. Not only to perform the test,
a day per pile, but also to mobilize, build and load a reaction frame to apply the required load. The duration
of a complete test increases to several days per pile, even up to weeks when large loads have to be applied.

Dynamic Load Tests are much faster by applying a short duration impact load accelerating the tests up to
several piles per day. Due to the limited weight of the drop weight, or by using an impact driving hammer,
time and costs are strongly reduced. The increase of production rate is exchanged by a lower reliability of
the tests results, where static resistances are uncertain to assess from the measured signals (by stress
wave analyses and signal matching).

Rapid Load Testing, RLT, or quasi-static load testing, is a method developed 30 years ago that combines
the benefits of both static and dynamic tests by ensuring consistent, accurate and user-independent results
combined with a high-test production rate of up to a number of piles per day. This paper will present a
review of the Rapid Load Testing method, providing insight of its historical development and current
theoretical background. Independent researches, national codes and a large database will provide reliability
to this worldwide accepted method. Finally, some study cases will present an updated overview of the
status of this testing technique.

1- INTRODUCCIÓN

Las pruebas de carga estáticas consumen mucho tiempo y las dinámicas son dependientes del usuario, lo
que limita la aplicación de las pruebas de carga en la práctica diaria. La necesidad de una nueva prueba de
carga eficiente y fiable era una prioridad. STATic-dynNAMIC, un concepto aparecido en Hamilton, Ontario,

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

en 1985, pretendía desarrollar una nueva prueba de carga de alta capacidad y coste competitivo,
combinando las ventajas de las pruebas estáticas y dinámicas, sorteando la mayoría de sus limitaciones:
de ahí vienen las actuales pruebas de carga rápida (Rapid Load Testing, RLT). En 1989, el Instituto de
Investigación Holandés TNO se unió a la investigación, y junto con la Bermingham Hammer Corporation
crearon en 1989 el primer dispositivo Statnamic.

Tabla 1 - Proyectos notables con pruebas de carga rápida


Europa
Países Bajos, 2017 Estación Central de la Haya
España, 2017 UTE-Syncrolift
América
USA, Pensacola, 1998 Puente Bayou Chico
Argentina, Santa Fe, 2000 Puentes Saladillo & Amores
Asia
Japón, Kobe, 1995 Hanskin Expresseway (reconstrucción)
Taiwan, Taipei, 1999 Taipei 101
Oceanía
Australia, Sydney, 1998 Villa Olímpica
Australia, Melbourne, 2001 Eureka Tower
Oriente medio
Egipto, Alejandría, 1996 Librería de Alejandría
Emiratos Árabes Unidos, Dubai, 1997 Burj-Al-Arab

Figura 1 – Dispositivo Statnamic 30 MN, (Geonamics, 2018)

El dispositivo Statnamic, posicionado en la cabeza del pilote, consiste en una masa de reacción encima de
una cámara de combustión. El combustible sólido hace ignición confinado dentro de la cámara. Conforme
la presión generada aumenta gradualmente, la masa se eleva, creando una fuerza de reacción opuesta
equivalente que se aplica en cabeza del pilote. Una vez el combustible se agota, la masa elevada cae sobre
el contenedor donde una capa de gravas actúa como mecanismo de frenado. La aplicación de la carga en
cabeza del pilote se realiza durante un periodo de tiempo relativamente largo (100-200 ms) comparado
con el de las pruebas de carga dinámica (5-15 ms), permitiendo asumir un comportamiento cuasi-estático
del pilote y del suelo. Al incrementar la duración de la aplicación de la carga, los efectos dinámicos se
reducen, y se consigue una mejor concordancia con las condiciones estáticas.

Debido a las cada vez más estrictas regulaciones medioambientales y de seguridad, principalmente a causa
del transporte del combustible, las pruebas Statnamic se han convertido en una preocupación en varios
países. Los dispositivos para pruebas de carga rápida evolucionaron evitando el uso de un combustible,
como Hybridnamic de Jibanshikenjo, y Spring Hammer Test de Matsumoto, ambos en 2004, y, el más
reciente, StatRapid de Allnamics en 2012. Estos dispositivos avanzados generan una carga en el pilote
mediante el impacto de una maza en caída libre. La maza de estos dispositivos, a diferencia de en una
prueba dinámica, impacta sobre un sistema de muelles (relativamente flexibles) posicionados en la cabeza

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

del pilote que extienden la duración de la carga aplicada. Una vez la maza impacta, un mecanismo de freno
se activa previniendo rebotes no deseados en la cabeza del pilote.

Figura 2 – Características de las distintas pruebas de carga

Ambos Statnamic y StatRapid son pruebas equivalentes donde la carga aplicada se dilata en el tiempo
mediante un incremento gradual de la presión o mediante un sistema de muelles en los cuales el pilote y
el suelo se comportan de manera cuasi-estática. StatRapid cuenta con una serie de ventajas respecto
Statnamic, como evitar los complicados permisos y regulaciones, y con la posibilidad de regular la altura
del impacto, reajustándola para movilizar la capacidad deseada en el pilote.

2- MARCO TEÓRICO

La resistencia total del pilote puede separarse en una parte estática y otra dinámica. El comportamiento
estático del suelo se modeliza mediante un muelle elasto-plástico. El comportamiento dinámico del suelo
se compone de un amortiguador y una masa concentrada, representando respectivamente el
comportamiento dinámico e inercial del suelo. Como muestra la ecuación [1], la resistencia estática se
establece como 𝑘 ∙ 𝑢, donde 𝑘 representa la rigidez del suelo y 𝑢 el desplazamiento del pilote. La resistencia
dinámica se establece como 𝐶 ∙ 𝑣 , donde 𝐶 representa la constante de amortiguación del suelo y 𝑣 la
velocidad del pilote, y la resistencia inercial se establece como 𝑚 ∙ 𝑎, donde 𝑚 representa la masa del pilote
y 𝑎 la aceleración del pilote.

𝐹𝑠𝑜𝑖𝑙 = 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 + 𝐹𝑑𝑎𝑚𝑝𝑖𝑛𝑔 + 𝐹𝑖𝑛𝑒𝑟𝑡𝑖𝑎 = 𝑘 ∙ 𝑢 + 𝐶 ∙ 𝑣 + 𝑚 ∙ 𝑎 [1]

Las pruebas de carga dinámicas aplican una carga de impacto durante 5 a 15 ms, generando las conocidas
ondas de tensión que se propagan a través del pilote a una velocidad de onda constante definida por las
características del material, 𝑐 = √𝐸 ⁄𝜌, siendo 𝐸 el módulo de Young en Pa y 𝜌 la densidad en kg/m3. La
onda se propaga por el pilote desde la cabeza hasta la punta y después vuelve hacia arriba, con una
velocidad característica de 5270 m/s para pilotes metálicos y aproximadamente 4000 m/s para pilotes de
hormigón. La onda viaja desde la cabeza hasta la punta del pilote y vuelve arriba en un tiempo 𝑇 = 2𝐿⁄𝑐,
el periodo 𝑇. En general, la duración de la carga de una prueba dinámica es inferior a esta T, haciendo que
los efectos dinámicos y el análisis de la ecuación de la onda sean factores críticos para una correcta prueba
de carga. Debido a esta corta duración de la carga, se producen diferencias entre las velocidades de las
partículas en segmentos de pilotes a diferente altura. Como consecuencia, la modelización que utiliza la
ecuación de la onda es esencial para representar con precisión el comportamiento del pilote y del suelo. La
caracterización de la amortiguación del suelo continúa siendo una de las suposiciones más variables y

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

dependientes del usuario, siendo una de las principales causas de la variabilidad de los resultados de las
pruebas dinámicas.

2.1 - Método del punto de descarga, UPM

Las pruebas de carga rápida extienden la duración de la carga aplicada varias veces por encima de las
pruebas de carga dinámica, del orden de más de 5 veces el periodo T, mediante el uso de un combustible
o de un sistema de muelles, antes mencionados. El incremento de la duración de la carga elimina las
diferencias de velocidad entre segmentos del pilote, permitiendo modelizarlo como un cuerpo rígido. En
1992, Middendorp et al. (1992), desarrollaron el método del punto de descarga (Unloading Point Method,
UPM). Se trata del punto específico de la curva carga-asiento medida, en el cual el desplazamiento del
pilote es máximo 𝑢 = 𝑢𝑚𝑎𝑥 y la velocidad del pilote nula 𝑣 = 0, donde se asume que el pilote tiene un
comportamiento cuasi-estático, y las resistencias dinámicas son nulas. La ecuación [1] queda por lo tanto
de la siguiente manera:

𝐹𝑠𝑜𝑖𝑙 = 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 + 𝐹𝑖𝑛𝑒𝑟𝑡𝑖𝑎 = 𝑘 ∙ 𝑢 + 𝑚 ∙ 𝑎 [2]

El método asume que el pilote se comporta como un cuerpo rígido, donde todas las zonas del pilote se
mueven en el mismo rango de velocidad. Para ello la duración de la carga 𝑇𝑓 ha de cumplir el requisito para
las pruebas de carga rápida, especificado en EN-ISO 22477-10 (2016):
𝑇
10 < 𝑓⁄𝐿 ≤1000 [3]
⁄𝑐
Esta condición se demostró mediante una simulación por elementos finitos uni-dimensional basada en la
ecuación de la onda por Middendorp y Bielefeld (1995) y Nishimura et al. (1998). La duración de la carga
ampliada permite modelizar el pilote como una masa concentrada y un muelle, donde los efectos dinámicos
de onda de tensión pueden despreciarse. Con 𝐹𝑟𝑙𝑡 como la fuerza aplicada de la prueba de carga rápida,
medida en la cabeza del pilote, tenemos, por equilibrio de fuerzas:

𝐹𝑟𝑙𝑡 = 𝐹𝑠𝑜𝑖𝑙 = 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 + 𝐹𝑖𝑛𝑒𝑟𝑡𝑖𝑎 [4]

La ecuación puede reorganizarse de la siguiente manera:

𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 = 𝐹𝑟𝑙𝑡 − 𝐹𝑖𝑛𝑒𝑟𝑡𝑖𝑎 = 𝐹𝑟𝑙𝑡 − 𝑚 ∙ 𝑎 [5]

Midiendo 𝐹𝑟𝑙𝑡 con células de carga, y 𝑎 con acelerómetros, la capacidad estática 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 puede ser
determinada. La instrumentación se complementa con un sensor óptico que mide el desplazamiento de la
cabeza del pilote, pudiendo comprobarse a través de la doble integración del acelerómetro.

Nguyen (2008) validó el método del punto de descarga como una teoría valida basándose en resultados
experimentales, estableciendo, sin embargo, que la teoría solo es válida si las sobrepresiones intersticiales
se tienen en cuenta. Estos efectos de sobrepresiones intersticiales pueden sobreestimar la capacidad
movilizada del pilote. Actualmente se aplica una corrección en los análisis como se muestra en la ecuación
[6], donde 𝜂 representa el efecto de la velocidad de la carga (loading rate effects), dependiente del tipo de
suelo.

𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐,𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑐𝑡𝑒𝑑 = 𝜂 ∙ 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡𝑖𝑐 [6]

McVay et al. (2003) y Hölscher y Van Tol (2009) realizaron muchas de las pruebas comparativas entre RLT
(pruebas rápidas) y SLT (pruebas estáticas), combinando casos con y sin hundimiento del pilote. Sus
resultados fueron utilizados para estimar empíricamente el factor 𝜂, resumidos por Hölscher et al. (2011)
en la Tabla 2. Intuitivamente, la velocidad de carga tiene un mayor efecto en suelos finos mientras que en
arenas o rocas su efecto es bastante limitado.

Tabla 2- Factor de la velocidad de carga por tipo de suelo, (Hölscher et al., 2011)
Tipo de suelo 𝜂
Roca 1
Arena 0.94
Arcilla 0.66

Cuando el estrato de suelo tiene varias capas, el factor de velocidad de carga se puede adaptar para
representar de manera más precisa el comportamiento del suelo. Dependiendo de la resistencia del suelo
en cada capa, medida por ejemplo mediante un CPT, se puede calcular un factor equivalente por efecto de
la velocidad de carga como sigue:
𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑠𝑎𝑛𝑑 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑐𝑙𝑎𝑦
𝜂𝑒𝑞 = 𝜂𝑠𝑎𝑛𝑑 + 𝜂𝑐𝑙𝑎𝑦 [7]
𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑠𝑢𝑚 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑠𝑢𝑚

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Siendo:

𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑠𝑢𝑚 = 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑠𝑎𝑛𝑑 + 𝐹𝑠𝑡𝑎𝑡,𝑐𝑙𝑎𝑦 [8]

Las pruebas de carga rápida actuales solo instrumentan el pilote en la cabeza, permitiendo obtener
únicamente la capacidad total movilizada, sin más diferenciación. En 1997, Justason (1997) propuso
instrumentar la punta del pilote para definir su comportamiento mediante acelerómetros y extensómetros,
para poder estimar la capacidad movilizada en la punta del pilote mediante el método del punto de descarga
múltiple (MUP), diferenciando el pilote en dos segmentos. Mullins et al. (2002) extendieron el método a un
pilote instrumentado en varios niveles, denominado como el método del punto de descarga segmentado
(SUP).

Métodos tipo SUP y similares proporcionan una información más detallada sobre la capacidad del pilote,
permitiendo separar la resistencia por punta de la resistencia por fuste. Sin embargo, no mejoran la
precisión del resultado de la capacidad total. Generalmente, para la comprobación del diseño y de la
capacidad del pilote, el método estándar de las pruebas de carga rápida es suficiente.

2.2 - Realización del ensayo

Previamente al ensayo se realizan simulaciones para optimizar los dispositivos de carga rápida a utilizar,
incluyendo el cumplimiento del requisito de duración de la carga de la ecuación [3]. Como resultado, se
puede predecir el sistema de muelles requerido o la cantidad de combustible necesario. Se simula la
respuesta, basándose en los reconocimientos geotécnicos, en las dimensiones del pilote y en el dispositivo
de carga rápida. Bielefeld y Middendorp (1995) realizaron simulaciones Statnamic con TNOWAVE,
actualmente AllWave RLT, un programa basado en la ecuación de la onda que permite simular la respuesta
del pilote utilizando la solución del método de las características.

En obra, como se ve en la Figura 3, el dispositivo de prueba de carga rápida se monta encima del pilote
(1), (2), (3), las masas de impacto modulares se cargan en su contenedor (4) y la cabeza del pilote se
instrumenta (5) con células de carga (5.A), un sensor óptico de desplazamiento (5.B) y un acelerómetro
(5.C).

1 2 3

4 5

Figura 3 – Fases del montaje de una prueba de carga StatRapid

Las pruebas de carga rápida basadas en maza de impacto/sistema de muelles, como StatRapid, siguen un
protocolo de ensayo formado habitualmente por entre 3 y 5 ciclos de carga crecientes. El primer ciclo
empieza con una altura de impacto/carga de prueba, de 10 a 40% relativa a la supuesta capacidad de
carga del pilote, para verificar la rigidez inicial del suelo. Las siguientes alturas de caída se establecen en

991
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

base a la capacidad movilizada en el primer ciclo, con el objeto de alcanzar directa o gradualmente la
capacidad de carga requerida en la prueba.

Las pruebas Statnamic realizan habitualmente un único ciclo, diseñado para carga última de ensayo.
Después de cada ciclo de carga, elevar la carga de reacción, disponer el combustible sólido y después
rellenar el mecanismo de frenado a base de grava puede tardar un día entero, como puede verse en la
Figura 1. Los dispositivos Statnamic aplican habitualmente enormes cargas en pilotes, hasta 65-100 MN
por el momento. Actualmente existen dispositivos StatRapid de hasta 16 MN, y dispositivos mayores en
fase de diseño.

3- ÁMBITO DE LAS PRUEBAS DE CARGA RÁPIDA

3.1 - Códigos Nacionales e Internacionales

Una joint venture de Bermingham Hammer Corporation y TNO Building and Construction Research
desarrolló en 1989 el primer dispositivo Statnamic. Poco después, en 1991, el primer dispositivo Statnamic
fue probado en Japón. Intrigados por la fiabilidad de este nuevo método de ensayo, el Tokyo Institute of
Technology, liderado por Prof. Osamu Kusakabe, formó un equipo de investigación para realizar ensayos
comparativos entre pruebas estáticas y de carga rápida (Statnamic). Los resultados de esa investigación
se presentaron en el 1º y 2º Seminario Internacional Statnamic de 1995 y 1998, celebrados en Vancouver
y Tokio, y dieron lugar a la redacción de una norma japonesa para este nuevo método de ensayo en 2002
por la Japanese Geotechnical Society (2002), siendo el primer país en hacerlo.

Figura 4 – Adopción de las pruebas de carga rápida en el mundo

Estados Unidos se añadió en 2008, aprobando ASTM su norma para las pruebas de carga rápida como
D7383-08, actualizada en 2010 como D7383-10. Mientras tanto, en Europa, un equipo de investigación
multinacional compuesto por Hölscher, Brassinga, Brown, Middendorp, Profittlich y Van Tol reagruparon sus
investigaciones y experiencias independientes sobre Statnamic y StatRapid en la “CUR guideline of Rapid
Load testing on Piles” de Hölscher et al. (2011). De manera similar a lo sucedido en Japón, esta
investigación dio lugar a la implementación de este método de ensayo en el Eurocódigo en 2016, EN-ISO
22477-10 (2016).

3.2 - Comparación con otras pruebas de carga

Dependiendo del riesgo asumido y de la fiabilidad de los resultados requerida, siempre habrá una opinión
subjetiva sobre que método de ensayo encaja mejor en cada proyecto. Una comparación cualitativa se
puede encontrar en la Tabla 3, que debe usarse con precaución, debido a que cada proyecto puede tener
aspectos críticos diferentes, así como motivos diferentes para probar los pilotes.

Las pruebas rápidas (RLT) comparadas con las estáticas (SLT) intercambian un poco de fiabilidad (a través
de la corrección por velocidad de carga) por grandes mejoras en productividad y en reducción de costes.
Una de las principales razones de la reducción de costes es el tiempo empleado en movilizar, construir y
cargar la estructura de reacción. Especialmente en pilotes de gran capacidad, esta estructura de reacción
puede necesitar pilotes provisionales, incrementando considerablemente la duración de la campaña de
ensayos. Como aspectos negativos, las pruebas RLT no pueden ensayar la capacidad de un pilote a tracción,
mientras que las pruebas SLT sí.

Tabla 3 – Comparación cualitativa de pruebas de carga, efecto positivo (+), efecto negativo (-)
Aspectos SLT RLT DLT
Costes --- ++ +++
Fiabilidad +++ ++ -
Preparación del pilote --- ++ +
Daño en el pilote +++ +++ +-

992
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Resultados directos +++ ++ +-


Duración de la prueba --- ++ +++
Productividad de ensayos --- ++ +++

Las pruebas RLT proporcionan resultados más fiables e independientes del usuario, manteniendo una
razonable productividad, comparados con las pruebas dinámicas (DLT) para todo tipo de pilotes. Para pilotes
in-situ, los más críticos, se puede presentar sobre el terreno una alta variabilidad del módulo 𝐸 y de su
sección transversal. Estas variaciones desconocidas, que definen como las ondas de tensión se propagan e
interactúan a través del pilote, tienen una influencia mayor en los resultados de las pruebas DLT,
haciéndolas poco fiables para este tipo de pilotes. El comportamiento cuasi-estático de las pruebas RLT
(comportamiento como cuerpo rígido) no requiere estimar el módulo de Young ni las variaciones de sección,
posicionándose como el mejor método para ensayar ese tipo de pilotes. Incluyendo también la ausencia de
fuertes compresiones o de tracciones en las pruebas RLT, las cuales si pueden ocurrir durante pruebas DLT.
Como aspecto limitativo, las pruebas RLT solo proporcionan la capacidad total del pilote, mientras que las
DLT proporcionan una estimación de la resistencia por fuste y por punta, que puede ser crítica si hay que
probar pilotes sometidos a fuertes tensiones.

Las pruebas estáticas bidireccionales han de ser diseñadas con anticipación para que el cilindro de carga
se posicione a la profundidad en el pilote donde la resistencia hacia arriba de la zona superior se estime
igual a la resistencia hacia debajo de la zona inferior. Debido a que el nivel de equilibrio se predice basado
en la misma investigación geotécnica que preocupa al contratista, está también sujeto a imprecisiones. Los
resultados de las pruebas estáticas bidireccionales multiplican por dos la carga de rotura de la zona superior
o inferior, sin llegar a saber la resistencia que queda en la otra zona. Las pruebas RLT no tienen que afrontar
este problema ya que la carga se aplica sobre la cabeza del pilote, y la carga de hundimiento obtenida es
la capacidad total del pilote.

4- CASOS DE ESTUDIO: COMPARACIÓN CON PRUEBAS DE CARGA ESTÁTICAS

Varios estudios y comparaciones alrededor del mundo están disponibles y validan las pruebas de carga
rápida. Sin embargo, existe todavía una falta de confianza en la aplicación de esta técnica, que está
totalmente desarrollada. Esta sección agrupa algunos ensayos comparativos ya realizados, para
proporcionar al lector herramientas para evaluar esta tecnología. El método del punto de descarga se utiliza
en los siguientes ejemplos, siendo la teoría más aceptada.

de Gijt et al. (1995) realizaron un extenso programa de pruebas de carga en pilotes prefabricados de
hormigón en el puerto de Rotterdam, como se ve en la Figura 5. Su comparación mostró que la relación de
capacidad STN/SLT para el mismo asiento en el punto de descarga sobrestima la capacidad SLT en un 10%
de media, con una horquilla variando desde 98% hasta 124%, por lo cual se trata de resultados
perfectamente comparables teniendo en cuenta la habitual variabilidad propia de la geotecnia, incluso entre
pruebas estáticas.

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Measured load and displacements during RLT


Result of Static Load Test
Result of Rapid Load Test (UPM)

Figura 5 – Comparación curva de Carga-Asiento en ensayos SLT y STN en el puerto de Rotterdam Harbor, (de Gijt et
al., 1995)

Bamrungwong et al. (2012) realizaron una serie de comparaciones entre ensayos SLT, DLT y SH (dispositivo
RLT basado en maza de impacto/sistema de muelles) en diferentes lugares de Tailandia. Su análisis
demostró la validez de las pruebas de carga rápida, animando a su implementación. Como se muestra en
la Figura 6, existe una buena correlación entre SLT y RLT siendo superiores a la obtenida con DLT.

Figura 6 – Comparación curva de Carga-Asiento en ensayos SLT, DLT y SH (RLT) en la localización Pangnga, con h
como la altura de impacto de la maza RLT, (Bamrungwong et al., 2012)

Allnamics desarrollo a su vez en 2016 una comparación entre pruebas SLT y STR (RLT), como se muestra
en la Figura 7. En este artículo el número de comparaciones presentadas se limita a estos 3 casos. Existen
muchos otros ejemplos donde las pruebas de carga rápida como StatRapid han sido comparadas. Mas
correlaciones con más estudios y comparaciones pueden encontrarse en las referencias proporcionadas.

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Figura 7 – Comparación curva de Carga-Asiento en ensayos SLT, DLT y SH (RLT) en la localización Dawson, Singapur,
(Allnamics International, 2016)

CONCLUSIONES

Las pruebas de carga rápida se han desarrollado durante más de 30 años de conocimiento y experiencias.
Varios autores han comprobado las hipótesis en las cuales se basa la interpretación de los resultados (el
enfoque cuasi-estático con el método del punto de descarga) desde una perspectiva crítica, lo que ha
llevado a una aceptación mayoritaria del método en todo el mundo. En este artículo se han mostrado
algunos ensayos comparativos, ejemplos que pueden extenderse consultando las referencias. Los
resultados se han reproducido y validado en diferentes países y numerosos autores concluyen que las
pruebas de carga rápida RLT son un método consistente y fiable. Como resultado, este método se ha
incorporado en normativas como ASTM y el Eurocódigo.

Comparado con otros métodos, las pruebas de carga rápida presentan varias ventajas. Respecto a las
pruebas estáticas, RLT es un método eficiente donde no hay que construir una estructura de reacción y
donde los tiempos de ensayo y los costes son drásticamente reducidos. Respecto a las pruebas dinámicas
DLT, no hay que asumir parámetros dinámicos los cuales llevan a resultados dependientes del usuario.
También puede superar ciertas limitaciones de las pruebas DLT en pilotes hormigonados in situ, en los que
la sección real del pilote es desconocida. Como desventaja, los costes de RLT se incrementan en
comparación con DLT pero proporcionan una mayor fiabilidad.

El uso de las pruebas de carga rápida continúa expandiéndose, tras más de 30 años de desarrollo. Normas
y códigos de todo el mundo proporcionan una red de seguridad a las empresas constructoras y a los
ingenieros consultores en la aplicación de este comprobado método. En 2017, StatRapid se estrenó por
primera vez en la península ibérica, en el puerto de Barcelona, movilizando cargas de hasta 10 MN en 25
pilotes, con una duración total de 8 días.

Las pruebas de carga rápida son perfectamente adecuadas para control de diseño y control de calidad,
pruebas de pilotes preliminares, asegurar suficiente capacidad, permitir la optimización de las dimensiones
de los siguientes pilotes, etc. Y en el caso de un proyecto parado en fase crítica debido a capacidades de
pilotes inciertas, este método rápido y fiable puede desbloquear o incluso salvar un proyecto.

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997
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SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE PROVAS DE CARGA EM PLACA COM DIFERENTES


DIÂMETROS EM AREIA

NUMERICAL SIMULATION OF PLATE LOAD TESTS WITH DIFFERENTS


DIAMETERS IN SAND

Silva, Pedro; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, eng.phsilva@outlook.com
Costa, Carina; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, carina@ct.ufrn.br
Costa, Yuri; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil, ydjcosta@ct.ufrn.br
Araújo, Duílio; Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró/RN, Brasil, duiliomarcal@gmail.com

RESUMO

Este trabalho analisou o comportamento da capacidade de carga de fundações diretas através de


simulações numéricas de provas de carga em placa com diferentes diâmetros (0,50 m a 3,20 m) em areia
compacta (Dr = 70%). A validação do modelo numérico baseou-se na comparação de resultados de provas
de carga em placa realizadas em campo com os resultados das simulações numéricas. As simulações
numéricas foram executadas através da ferramenta computacional Plaxis 2D, baseada no método dos
elementos finitos, utilizando o modelo constitutivo hiperbólico Hardening Soil para representar o
comportamento do solo. O critério de B/30, sendo B o diâmetro da placa, foi utilizado na determinação da
capacidade de carga, haja vista que nenhuma curva apresentou ruptura nítida ou física. Por fim, a
capacidade de carga das simulações numéricas foi comparada com a capacidade de carga estimada pela
equação do Architectural Institute of Japan (AIJ) que leva em consideração o efeito da dimensão.

ABSTRACT

This work analyzed the behavior of the bearing capacity of shallow foundation through numerical
simulations of plate load tests with different diameters (0.50 m to 3.20 m) in compact sand (Dr = 70%).
The validation of the numerical model was based on comparisons of results of plate load tests performed
in the field with the results of the numerical simulations. The numerical simulations were performed using
the software Plaxis 2D and the behavior of the soil was represented by the hyperbolic constitutive model
Hardening Soil. The criterion of B/30, where B is the diameter of the plate, was used to find the
corresponding bearing capacity, since a clear failure pattern was not possible to be identified in the curves.
Finally, the bearing capacity of the numerical simulations was compared to the bearing capacity estimated
by the Architectural Insitute of Japan (AIJ) equation, which considers the dimension effect.

1- INTRODUÇÃO

A elaboração de um projeto de fundações exige a determinação da resistência máxima capaz de ser


mobilizada pelo sistema, ao ser submetido a uma solicitação, a fim de garantir a segurança contra a ruptura.
No caso das fundações diretas, a estimativa dessa resistência, denominada de capacidade de carga, pode
ser feita por meio de formulações teóricas e de prova de carga em placa, que permite a reprodução do
comportamento do sistema in situ.

O método teórico mais conhecido para a estimativa da capacidade de carga de fundações diretas foi
proposto por Terzaghi (1943) após estudos sobre o comportamento do sistema solo-sapata. Nessa
metodologia, a capacidade de carga está associada às contribuições da coesão, da sobrecarga, do peso
específico do solo, da largura da sapata e dos fatores de capacidade de carga adimensionais, dependentes,
apenas, do ângulo de atrito do solo. A Equação 1, proposta por Terzaghi, permite a estimativa da capacidade
de carga de fundações superficiais infinitas, em condições drenadas, para carregamentos puramente
vertical e drenado, onde σr é a capacidade de carga, c é a coesão do solo, q é a tensão vertical efetiva ao
nível da base da fundação, γ é o peso específico do solo, B é a largura da sapata e Nc , Nq e Nγ são os
fatores de capacidade de carga adimensionais.

σr =cNc +qNq +0,5γBNγ [1]

A dimensão interfere diretamente nos valores de capacidade de carga. A análise da Equação 1 permite
observar que apenas a terceira parcela apresenta uma proporcionalidade com relação à largura da sapata.
Dessa forma, é possível concluir que, teoricamente, a capacidade de carga apresenta um aumento linear
com a dimensão, desde que a primeira e a segunda parcela da equação sejam constantes, ou seja, a
fundação esteja assente no mesmo solo e na mesma profundidade. No entanto, resultados de diversas
pesquisas relacionadas com provas de carga em placa permitiram identificar um comportamento não linear
da capacidade de carga em função da variação da dimensão (Cudmani, 1994).

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Costa e Cintra (1999) observaram uma diminuição não linear da capacidade de carga com o aumento do
diâmetro ao realizar simulações numéricas de provas de carga em placa com diâmetros variados,
modelando o solo como um material linear, elástico e homogêneo. Já Du et al. (2016) obtiveram, através
do método dos elementos finitos, um crescimento não linear da capacidade de carga com a variação de 1
m para 100 m na dimensão de sapatas em areias.

A divergência existente entre o comportamento teórico e o experimental pode estar relacionado ao fato do
fator de capacidade de carga Nγ decrescer, segundo um modelo logarítmico, com o aumento da dimensão
(Cerato e Lutenegger, 2007). Segundo Kumar e Khatri (2008), como Nγ depende do ângulo de atrito
interno, o aumento da dimensão resulta em um aumento da tensão efetiva no solo e, por consequência,
uma redução no ângulo de atrito efetivo em virtude da quebra dos grãos de areia. Dessa forma, a dimensão
e o fator Nγ atuam de forma antagônica nos valores de capacidade de carga de fundações diretas, sendo
possível presumir a existência de uma dimensão na qual ocorre a inversão da prevalência de um efeito
sobre o outro.

Para analisar o comportamento do efeito da dimensão na capacidade de carga alguns autores promoveram
a normalização de curvas tensão x recalque e avaliaram a convergência de curvas tensão x recalque
normalizado. Briaud e Jeanjean (1994), utilizando uma analogia entre provas de carga e ensaios triaxiais,
observaram que as diferentes curvas geradas no gráfico tensão x recalque quando transformadas em curvas
tensão x deformação apresentam uma convergência de resultados. Já Consoli et al. (2009), através de
resultados de prova de carga realizada em solos cimentados artificialmente sobre solos residuais
compressíveis, observaram que a normalização das curvas tensão x recalque não convergiram para uma
única curva.

A diferença entre os resultados encontrados pelos autores está associada ao comportamento do efeito da
dimensão em relação à capacidade de carga. A convergência observada, na realidade, está relacionada ao
comportamento linear do efeito da dimensão presente em solos homogêneos e isotrópicos. Já a divergência
observada está relacionada ao comportamento não linear do efeito da dimensão presente em solos
granulares, associado, não somente à variação do módulo de deformabilidade com a profundidade, como
também à curvatura da superfície de ruptura e à estratificação do terreno de fundação.

Diante do exposto, percebe-se a importância em empreender um estudo da influência da dimensão na


capacidade de carga do sistema de fundação a fim de possibilitar um melhor conhecimento do
comportamento da fundação e permitir a elaboração de projetos mais adequados. Dessa forma, o objetivo
deste artigo consiste em analisar o comportamento da capacidade de carga de fundações diretas por meio
de simulações numéricas de provas de carga em placa com diferentes diâmetros em areia.

2- METODOLOGIA

As simulações numéricas de prova de carga em placa foram realizadas através da ferramenta


computacional Plaxis 2D. Para isso, foram utilizadas a análise axissimétrica, com a finalidade de reduzir o
tempo de processamento de dados, e o modelo constitutivo hiperbólico Hardening Soil, que se baseia na
teoria da plasticidade e foi criado para simular solos arenosos (Khanal, 2013). Os parâmetros de resistência
necessário para a utilização do modelo constitutivo hiperbólico Hardening Soil são a coesão efetiva (c'ref ),
o ângulo de atrito efetivo (Φ') e o ângulo de dilatância (Ψ'). Já os parâmetros de rigidez para o referido
ref
modelo constitutivo são o módulo de deformabilidade secante (E50 ) obtido para 50% da tensão desviadora
máxima em ensaios triaxiais drenados, o módulo de deformabilidade secante no adensamento primário
ref ref
(Eoed ) e o módulo de deformabilidade no descarregamento e recarregamento (Eur ).

A determinação e o ajuste do modelo numérico foram baseados em resultados de duas provas de carga
em placa realizados em um aterro de areia mal graduada e uniforme com densidade relativa de 70%, cuja
caracterização está detalhada em Araújo (2013). As provas de carga foram executadas utilizando uma
placa de aço circular com diâmetros de 50 cm e 80 cm, seguindo as recomendações da NBR 6489 (ABNT,
1984). Os ensaios foram realizados a uma profundidade de 50 cm em relação à superfície do terreno,
utilizando a modalidade da carga mantida rápida, cuja descrição está no trabalho de Fellenius (1975). A
Figura 1 apresenta os resultados das provas de carga em placa.

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σ (kPa)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0

10

20
ρ (mm)

30

40

50

60
D = 0,50 m D = 0,80 m
Figura 1 – Curvas tensão x recalque obtida das provas de carga

Inicialmente, determinou-se a geometria e a malha que melhor ajustou as curvas tensão x recalque das
simulações numéricas aos resultados das provas de carga em placa. Para isso, foram utilizados os
parâmetros de resistência encontrados nos ensaios triaxiais realizados por Araújo (2013) e foi considerado
o comportamento elástico-linear para o material da placa. Os parâmetros de rigidez foram adotados com
base na compacidade do solo através de proposições da literatura (Niyama et al., 1996).

É importante destacar que os demais parâmetros possíveis de alteração foram mantidos conforme as
configurações padrão do programa para o modelo constitutivo utilizado, sendo adotado uma coesão de 1
kPa, conforme recomendações do Plaxis 2D (Cicek et al., 2014), e que as condições de contorno foram
geradas, automaticamente, pelo programa, ou seja, os nós referentes ao limite inferior possuem restrição
aos deslocamentos vertical e horizontal e os nós referentes aos limites laterais possuem restrição, apenas,
ao deslocamento horizontal, deixando os demais nós com total liberdade de deslocamento em ambas as
direções. Além disso, foi aplicada, nas simulações, a tensão máxima atingida, aproximadamente, em cada
prova de carga. Os parâmetros necessários para a realização das simulações numéricas estão apresentados
nos Quadros 1 e 2, onde EI é a rigidez à flexão da placa, EA é a rigidez axial da placa e σ é a tensão máxima
aplicada para as simulações de validação do modelo numérico.

Quadro 1 - Parâmetros do solo para simulações numéricas no Plaxis 2D


γunsat γsat Eref
50 Eref
oed Eref
ur c'ref Φ' Ψ'
(kN/m³) (kN/m³) (kN/m²) (kN/m²) (kN/m²) (kPa) (°) (°)
18 21 55.000 55.000 165.000 1 35 5

Quadro 2 – Parâmetros de modelagem da placa para simulações numéricas no Plaxis 2D


D EI EA σ
(cm) (kNm²/m) (kN/m) (kPa)
50 136,71 2.620.000 700
80 218,40 4.200.000 900

Por fim, o modelo numérico que resultou no melhor ajuste apresentou uma geometria de 16 m de base por
16 m de altura com o máximo refinamento da malha permitido pelo programa, obtido através de diversas
simulações numéricas variando as dimensões das fronteiras e o refinamento da malha formada por
elementos triangulares compostos por 15 nós cada. As Figuras 2 e 3 apresentam, respectivamente, a
geometria e a malha do modelo e o detalhe da malha abaixo da placa.

1000
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 2 – Geometria e malha do modelo

Figura 3 – Detalhe da malha abaixo da placa

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 4 apresenta a comparação entre os resultados obtidos pelas simulações numéricas e os resultados
das provas de carga em placa (PCP).

1001
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

σ (kPa)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
0

10

20
ρ (mm)

30

40

50
PCP D = 0,50 m PLAXIS D = 0,50 m
PCP D = 0,80 m PLAXIS D = 0,80 m
Figura 4 – Curvas tensão x recalque da PCP e do Plaxis

Observa-se uma boa concordância das curvas das simulações numéricas com as curvas das provas de carga
em placa, o que permite considerar válido o modelo numérico adotado. Além disso, a curva da simulação
numérica para a placa com diâmetro de 0,80 m mostrou um aumento da rigidez no último escalão de
carregamento, em relação ao anterior, estando esse comportamento anômalo possivelmente relacionado à
limitações numéricas do programa. Mesmo assim, foi possível considerar o modelo válido e proceder com
a realização das simulações numéricas de provas de carga em placa circular com diâmetros de 0,50 m,
0,80 m, 1,10 m, 1,40 m, 1,70 m, 2,00 m, 2,30 m, 2,60 m, 2,90 m e 3,20 m, aplicando uma tensão máxima
de 1000 kPa para todos os diâmetros analisados, a fim de submeter as placas ao mesmo nível de tensão
máxima, uma vez que o nível de tensão máxima aplicada não afeta o comportamento das curvas.

A Figura 5 apresenta os resultados das simulações numéricas realizadas para os diâmetros objeto de
análise.

σ (kPa)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0
10
20
30
40
ρ (mm)

50
60
70
80
90
100
110
D = 0,50 m D = 0,80 m D = 1,10 m D = 1,40 m D = 1,70 m
D = 2,00 m D = 2,30 m D = 2,60 m D = 2,90 m D = 3,20 m
Figura 5 – Curvas tensão x recalque das simulações numéricas

Durante a análise dos resultados das simulações numéricas, observou-se que nenhuma das curvas tensão
x recalque apresentou ruptura nítida ou física, sendo necessário, portanto, adotar algum critério para
determinar a capacidade de carga do sistema. Dessa forma, foi utilizado o critério de B/30, cuja capacidade

1002
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

de carga consiste na tensão para um recalque de B/30, sendo B o diâmetro da placa (Russi, 2007). Além
disso, comparou-se a capacidade de carga obtida pelo critério de B/30 com a capacidade de carga estimada
pela equação semi-empirica do Architectural Institute of Japan (AIJ). A equação do AIJ tem sido
amplamente utilizada no Japão, uma vez que considera o efeito da dimensão em sua formulação através
do fator de efeito da dimensão η (Du et al., 2013). A Equação 2, proposta pelo AIJ, é semelhante a Equação
1, proposta por Terzaghi, sendo B o diâmetro da placa e ic , iq e iγ os fatores de carga inclinada. O fator η
pode ser calculado através da Equação 3, em que B0 é o valor da placa de referência, igual a 1 m, e m = -
1/3, segundo Du et al. (2013).

σr =ic cNc +iq qNq +0,5iγ γηBNγ [2]


m
η=(B/B0 ) [3]

A Figura 6 apresenta as curvas diâmetro x tensão para o critério de B/30 e para a equação do AIJ, na qual
procedeu-se com a extrapolação das cruvas tensão x recalque para os casos em que as curvas não
atingiram os parâmetros de análise.

1200
1000
800
σ (kPa)

600
400
200
0
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50
D (m)

B/30 AIJ
Figura 6 – Curvas diâmetro x tensão

Observa-se que a capacidade de carga possui um comportamento não linear com a variação da dimensão,
aumentando para a equação do AIJ e decrescendo com posterior crescimento para o critério de B/30,
assemelhando-se aos comportamentos observados por Costa e Cintra (1999) e Du et al. (2016). Além
disso, percebe-se que a equação do AIJ apresenta valores de capacidade de carga superior ao critério
adotado a partir da placa de 0,80 m, com tendência de crescimento semelhante a partir da placa de 1,70
m.

O comportamento apresentado pela equação do AIJ possivelmente está associado à consideração do


mesmo fator Nγ para todos os diâmetros e ao comportamento não linear do fator η com a variação da
dimensão (Du et al., 2013). Já o comportamento apresentado pelo critério de B/30 deve-se, possivelmente,
ao fato da capacidade de carga estar associada ao recalque. Nesse caso, o aumento da dimensão promove
um bulbo de tensão cada vez maior para o mesmo nível de tensão aplicada, permitindo o alcance de
maiores profundidades do solo. Isso resulta em um aumento no módulo de deformabilidade do solo, haja
vista que a tensão confinante cresce com a profundidade, tornando o solo mais rígido e tendendo a diminuir
os recalques. Todavia, um maior bulbo de tensões permite a consideração de que uma maior massa de solo
irá sofrer deformação com a tensão aplicada, contribuindo para o aumento dos recalques. Assim, o bulbo
de tensões e o confinamento do solo produzirão efeitos antagônicos em relação ao comportamento dos
recalques com a variação da dimensão, o que ocasionaria a não linearidade, sendo possível presumir a
existência de uma dimensão, que nesse caso é o diâmetro de 1,40 m, na qual ocorre a inversão da
prevalência de um efeito sobre o outro.

Dessa forma, o decréscimo de tensão indicado na Figura 6 para o critério de B/30 seria justificado pela
prevalência do efeito do bulbo de tensões sobre o efeito do confinamento, o que acarretaria em um maior
aumento na variação dos valores de recalques com o aumento do diâmetro da placa. Isso resultaria em
menores níveis de tensão à medida que o critério adotado considera maiores valores de recalque com o
aumento do diâmetro da placa. Já o crescimento de tensão indicado na Figura 6 para o critério de B/30, a
partir de B = 1,40 m, estaria associado a prevalência do efeito do confinamento sobre o efeito do bulbo de
tensões, ocasionando uma redução na variação dos valores de recalques e permitindo encontrar maiores

1003
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

níveis de tensão à medida que o critério adotado considera maiores valores de recalque com o aumento do
diâmetro da placa.

Por fim, uma das maneiras de avaliar a linearidade do efeito da dimensão na capacidade de carga consiste
na verificação da convergência das curvas tensão x recalque normalizado (ρ/D), apresentado na Figura 7,
as quais foram elaboradas dividindo-se o recalque pelo diâmetro da placa.

σ (kPa)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
0,00
0,01
0,02
0,03
ρ/D

0,04
0,05
0,06
0,07
D = 0,50 m D = 0,80 m D = 1,10 m D = 1,40 m D = 1,70 m
D = 2,00 m D = 2,30 m D = 2,60 m D = 2,90 m D = 3,20 m
Figura 7 – Curvas tensão x recalque normalizado

Identifica-se uma divergência entre as curvas, observado também por Consoli et al. (2009), possibilitando
perceber a não linearidade do efeito da dimensão na capacidade de carga, conforme esperado para areias,
haja vista que o módulo de deformabilidade varia com a profundidade.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo analisou o comportamento da capacidade de carga de fundações diretas através de


simulações numéricas de prova de carga em placa com diferentes diâmetros em areia. Foi adotado o critério
de B/30 para a determinação da capacidade de carga, uma vez que as curvas tensão x recalque das
simulações numéricas não apresentaram ruptura nítida ou física.

A capacidade de carga para o critério de B/30 apresentou um comportamento não linear, decrescendo com
posterior crescimento, com o aumento do diâmetro da placa. Esse comportamento pode estar relacionado
com o fato da capacidade de carga estar associada ao recalque. Já a capacidade de carga estimada pela
equação do AIJ apresentou um comportamento não linear e crescente com o aumento do diâmetro da
placa. Os valores de capacidade de carga obtidos pela equação do AIJ superaram os valores do critério de
B/30 a partir da placa de diâmetro igual a 0,80 m, com crescimento semelhante ao critério de B/30 a partir
da placa de diâmetro igual a 1,70 m. Nesse caso, o comportamento observado pela equação do AIJ pode
estar relacionado ao uso do mesmo fator Nγ para todos os diâmetros e ao comportamento não linear do
fator η com a variação da dimensão.

Por fim, a normalização das curvas tensão x recalque resultou em uma divergência das curvas tensão x
recalque normalizadas, o que reflete um comportamento não linear do efeito da dimensão na capacidade
de carga obtida através dos resultados das simulações numéricas.

REFERÊNCIAS

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cravadas metálicas em areia. Dissertação de mestrado, UFRN, Natal, RN, Brasil.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984) – NBR 6489: prova de carga direta sobre terreno de fundação. Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.

1004
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

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Consoli, N. C., Rosa, F. D. e Fonini, A. (2009) – Plate load tests on cemented soil layers overlaying weaker soil. Journal
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1005
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO E RECALÇAMENTO DE FACHADA, ESCAVAÇÃO E


CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÕES DE UM EDIFÍCIO CENTENÁRIO EM
MEIO URBANO

RETAINING AND UNDERPINING OF THE FAÇADE, EXCAVATION, EARTH


RETAINING AND FOUNDATION SOLUTIONS OF A CENTENARY BUILDING IN
URBAN AREA

Pisco, Guilherme; JETsj Geotecnia, Lisboa, Portugal, gpisco@gmail.com


Tomásio, Rui; JETsj Geotecnia, Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.pt
Lourenço, João Pedro; Rockbuilding, Lisboa, Portugal, jpsrlourenco@gmail.com

RESUMO

No presente artigo são descritos os principais critérios de conceção das soluções de contenção e
recalçamento de fachada, escavação e contenção periférica e fundações necessários para a reabilitação de
um edifício centenário em meio urbano. Serão abordados os principais condicionamentos existentes,
geológico/geotécnicos e arquitetónicos, destacando-se a necessidade de preservação das fachadas e
maioria das paredes interiores dos edifícios, em simultâneo com a escavação de um piso abaixo da estrutura
existente. Será descrito o impacto que este aspeto teve nas soluções estruturais e processos executivos
adotados. Abordar-se-ão os princípios e modelos utilizados no dimensionamento de todas as soluções, com
especial foco na contenção periférica com tecnologia do tipo “Berlim Definitivo”. Por último, será descrito o
plano de instrumentação e observação implementado em todas as fases da obra e analisados os principais
resultados extraídos do mesmo.

ABSTRACT

The aim of this paper is to present the design criteria and solutions adopted for the retaining and
underpining of the façades, excavation, earth retaining and foundations of a centenary building in a urban
area. The main constrains, geological and arquitechtural, are presented, in particular the demand to
maintain the main façades and the majority of the interior walls of the building simultaneously with the
excavation of an underground floor, below the existing structure. The impact of this situation in all adopted
solutions and main constructive procedures are described. The principals and models used for the design
are presented, with focus on the earth retaining structure, executed with the Berlin definitive wall solution.
The implemented monitoring plan is presented.

1- INTRODUÇÃO

Atualmente a reabilitação urbana constitui um dos maiores desafios colocados à engenharia. A necessidade
de conjugação da preservação do património histórico e da criação de condições condizentes com as
modernas exigências de utilização dos edifícios, cria um conjunto de novos desafios que promove a
aplicação e integração de diferentes metodologias inovadoras.

No caso do Solar Santana, localizado no Campo Santana, no centro de Lisboa (Figura 1), os aspetos
referidos foram o principal condicionamento. O edifício em questão construído no século XVII, foi
classificado como edifício de elevado valor histórico e patrimonial. Aliado a este aspeto, verificou-se a
necessidade de demolir o interior, preservar as fachadas e de criar um piso enterrado, para estacionamento
automóvel, abaixo da cota das fundações originais

No presente artigo serão apresentadas as soluções preconizadas e executadas referentes aos trabalhos de
contenção e recalçamento das paredes a preservar e de escavação e contenção periférica dos terrenos.

A nova construção foi concebida com o objetivo de incorporar a edificação existente e respetivos elementos
estruturais na nova arquitetura.

O edifício existente foi construído em diferentes épocas, sendo facilmente identificável as diferentes
soluções estruturais/construtivas em cada zona. Tendo em conta o valor patrimonial e arquitetónico do
edifício, as fachadas e uma percentagem importante das paredes, em alvenaria de pedra, foram
preservadas e reforçadas estruturalmente. Os restantes elementos, nomeadamente os pisos em madeira,
foram demolidos. A manutenção de um número elevado de elementos estruturais constituiu um importante
condicionamento quer em fase de projeto quer em fase de obra, obrigando à adaptação e compatibilização
das várias especialidades e das soluções utilizadas para responder às várias solicitações.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

A estabilidade das fachadas e paredes interiores a manter foi assegurada, durante os trabalhos de
demolição e escavação, através de uma estrutura metálica, dimensionada para ações horizontais do sismo
e do vento. O recalçamento das fachadas foi garantido com recurso uma malha de vigas de recalçamento
que assegurarão a transmissão das cargas verticais para as microestacas de apoio. Em consequência da
necessidade de utilização destes últimos elementos para diferentes fases e estruturas, a posição dos
mesmos foi compatibilizada com as soluções de contenção periférica e das fundações finais do edifício a
construir. A contenção periférica dos terrenos para realização da escavação foi realizada com recurso a
parede de betão armado do tipo “Berlim Definitivo” e através de um muro tradicional em betão armado
num dos alçados, no qual foi possível a realização de escavação em talude. Em diversos alçados as paredes
de contenção periférica estão localizadas abaixo das fachadas a preservar tendo sido necessário adotar
soluções de microestacas de apoio exteriores à parede. Para garantir o equilíbrio horizontal da contenção
periférica em relação aos impulsos do terreno e sobrecargas, considerou-se a realização de ancoragens e
escoramentos metálicos provisórios.

O recinto da obra tem uma área aproximada de 1350 m2, dos quais 830 m2 serão escavados para execução
do piso enterrado. Destaca-se que da área a escavar, cerca de 530 m2 serão condicionados de forma
importante pela presença de elementos estruturais a recalçar e respetivas microestacas. Na Figura 1 é
possível observar a localização da obra.

Marquês de
Pombal Localização do Localização do
edifício Campo edifício Campo
Santana Santana
N

Campo
Mártires da
Pátria

Figura 1 - Vistas áreas do local antes do início da intervenção

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

2.1 - Condicionamentos geológico-geotécnicos e hidrológicos

Para garantir um conhecimento adequado das formações geológicas existentes e para confirmação dos
pressupostos de dimensionamento, antes do início dos trabalhos, foi realizada uma campanha de prospeção
que englobou a realização de cinco sondagens à rotação, com realização de ensaios SPT a cada 1,5 m de
profundidade, e a realização de 13 poços de prospeção para determinação da profundidade das fundações
das fachadas existentes. Como critério de paragem das sondagens considerou-se uma profundidade
mínima de 5 m abaixo da cota geral de escavação e a obtenção de três negas consecutivas.

De acordo com a informação resultante da campanha de prospeção realizada e segundo o respetivo


relatório, o dispositivo geológico estabelecido na zona de intervenção assinala a ocorrência de um substrato
de génese sedimentar atribuído ao Miocénico(MES), representado pela formação das Areolas da Estefânia.
À superfície estabelecem-se depósitos de aterro (At), de génese contemporânea, com geometrias
irregulares.

Esta primeira camada tem a sua génese em trabalhos de modelação e nivelamento topográfico,
possivelmente decorrentes da construção do edifício existente, verificando-se espessuras variáveis entre
os 1,20 m e 3,60 m e matriz granular (areno-siltoso), algo pedregoso, tonalidade castanha acinzentada.
Em termos de resistência, os materiais podem ser inseridos no âmbito dos solos muito soltos a compactos.

Subjacente aos aterros estabelece-se substrato sedimentar atribuído ao Miocénico, representado pela
unidade de Areolas da Estefânia (MES), sendo localmente representados por siltes arenosos, finos, com
abundantes níveis de cascão, muito resistentes. Verifica-se a ocorrência de finos horizontes silto-argilosos.
Enquadra-se globalmente no âmbito dos solos rijos, tendo o dispositivo miocénico ocorrido pontualmente
descomprimido no topo.

1007
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Com base nos resultados dos trabalhos de prospeção, ensaios in-situ realizados e bibliografia existente,
realizou-se o seguinte zonamento geotécnico:

 Zona Geotécnica 1 – Materiais superficiais correspondentes à camada de aterro. Espessura variável


entre os 1,20 m e os 3,60 m e caracterizada por valores de NSPT variáveis entre os 8 e as 34
pancadas. Os valores mais elevados, considerados anómalos para este horizonte, poderão ser
explicados pelo carácter pedregoso que os aterros exibem, pese embora o facto estes valores serem
pontuais;

 Zona Geotécnica 2 – Zona superior do maciço Miocénico algo descomprimida, caracterizada por
valores de NSPT variáveis entre 30 e 46 pancadas

 Zona Geotécnica 3 – Zona do maciço Miocénico caracterizado por valores de NSPT superiores a 60
pancadas. Verifica-se a partir das profundidades de 3 a 6 m e até ao fim das sondagens.

Tendo por base todas as considerações anteriores, considerou-se ajustado estabelecer para as zonas
geotécnicas, os parâmetros cujos valores estimados se apresentam no Quadro 1.
Quadro 1 – Parâmetros geotécnicos adotados
Zona  ’ c' E’
Geotécnica [kN/m3] [°] [kPa] [MPa]
ZG1 18 25 0 5
ZG2 19 28-30 5-8 30-45
ZG3 21 34 10 60

Através dos resultados das sondagens realizadas verificou-se que o nível freático se encontra a
profundidades variáveis entre os 7,50 m e 11,0 m, não sendo previsível que tenha impacto significativo
nos trabalhos a executar.

2.2 - Condicionamentos arquitetónicos e de vizinhança

Os primeiros registos da edificação, anteriormente conhecida por Palácio Vaz de Carvalho ou Casa das
Torrinhas, datam do ano 1661. Embora se verificasse um estado de degradação bastante avançado, quer
dos elementos não estruturais quer dos estruturais, a existência de diversos elementos artísticos de relevo,
a destacar a calçada centenária e os azulejos do séc. XVII e séc. XVIII, e ter sido um dos edifícios que
resistiu ao sismo de 1755 levou a que, não só as fachadas, mas também a maioria paredes estruturais do
edifício fossem mantidas e reforçadas, com o objetivo de se garantir a máxima preservação possível dos
elementos originais.

Do ponto de vista arquitetónico e estrutural, o edifício está dividido em três blocos distintos, que obrigaram
a diferentes abordagens e condicionaram as soluções de reforço e de escavação. O Bloco 1 foi a primeira
zona a ser construída, tendo sido posteriormente realizada uma cave. O Bloco 2 foi construído como
extensão do primeiro bloco, apresentando sensivelmente a mesma idade e métodos construtivos. O terceiro
bloco é o mais recente embora se encontrasse num estado de degradação mais avançado. Devido a este
aspeto e ao menor valor histórico, foi decidida, para este bloco, a demolição da maioria das paredes
interiores existentes.

A manutenção da maioria das paredes resistentes dos edifícios constitui o principal condicionamento da
presente intervenção. Com o recalçamento das mesmas, o processo de escavação tornou-se bastante mais
complexo uma vez que o mesmo será executado por baixo dos elementos a preservar, existindo um número
considerável de microestacas de recalçamento que dificultaram o processo.

Outro condicionamento relevante foram as condições da vizinhança do edifício. O edifício encontra-se


circundado por edifícios em três confrontações. A proximidade das edificações das duas travessas teve
implicações importantes nas soluções de travamento das paredes de contenção, assim como na definição
das zonas a escavar.

As soluções adotadas foram concebidas de forma a minimizar o impacto no normal funcionamento das
referidas estruturas e de todas as infraestruturas vizinhas durante e após a conclusão dos trabalhos de
demolição e de escavação. Antes do início dos trabalhos foram realizadas vistorias aos edifícios vizinhos,
assim como poços de reconhecimento com vista à determinação da geometria e cota de fundação das
fachadas a recalçar e das fundações dos edifícios adjacentes. Foi, ainda, efetuado o levantamento de todas
as infraestruturas enterradas existentes nas Travessas das Recolhidas e Vaz de Carvalho.

Na Figura 2 é possível observar as principais confrontações existentes, as paredes a manter bem como a
definição dos blocos do edifício existente.

1008
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

3- SOLUÇÕES PROPOSTAS E EXECUTADAS

3.1 - Contenção de fachadas

Para a contenção das fachadas às ações horizontais, em particular à ação do sismo e, sobretudo do vento,
foram desenvolvidas soluções de travamento com recurso a estruturas metálicas devidamente
compatibilizadas com as soluções de recalçamento e contenção periférica, assim como com o projeto da
nova estrutura do edifício.

Derivado das particularidades dos diferentes blocos descritos e das paredes a manter, foram concebidas
duas soluções distintas de contenção das fachadas.

No bloco 1 e na zona sul do bloco 2, uma vez que as paredes a manter têm um grande desenvolvimento
longitudinal e que a maioria das paredes transversais foram demolidas, foi necessário prever uma estrutura
que resistisse às solicitações horizontais e que substituísse as paredes transversais diminuindo os vãos dos
elementos a manter. Assim, dimensionou-se uma estrutura treliçada constituída por escoramentos,
diagonais e montantes. Estes elementos, que serão ligados às vigas de distribuição nas paredes, terão a
função de transmitir as cargas por efeito de treliça desde os pisos elevados até as fundações das paredes
a conter, no caso do bloco 1, e às microestacas de recalçamento no bloco 2. Na Figura 3 encontram-se
delimitada a zona de implementação da solução assim como um corte representativo da mesma.

Ed. 8 pisos 3 caves B1 – 3 Pisos elevados, 1 cave

B2 – 3 Pisos
elevados,
s/ cave

Ed. 2 pisos
Travessa José Vaz de Carvalho s/ caves
B3 – 2 Pisos elevados,
Ed. 3 pisos s/ Ed. 3 pisos 3 s/ cave
caves caves

Figura 2 - Principais confrontações e paredes a manter (a verde) (à direita) e definição dos blocos de edifícios (à
esquerda)

Solução de Elementos diagonais Travamentos horizontais


Solução de da treliça
contenção em “pata de galinha”
contenção com
treliçada
diafragma
Vigas de
Distribuição

Microestacas de Campo
recalçamento Mártires
da Pátria

Figura 3 - Soluções de contenção de fachada

Nas restantes zonas do edifício, tendo em conta o elevado número de paredes resistentes que foram
mantidas, foi proposto o aproveitamento das mesmas por forma a garantir a resistência necessária às
forças horizontais bem como a transmissão destas ao sistema de recalçamento projetado. Assim, a solução
proposta deverá ter em consideração estes elementos e o reforço dos mesmos através da inclusão de vigas

1009
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

e escoramentos metálicos que garantirão o efeito de diafragma, e assim reproduzirão o efeito dos pisos
demolidos. Deste modo, as cargas horizontais sobre a parede serão resistidas através de um sistema
conjunto entre as paredes transversais, as vigas e escoras que funcionarão como travamento dos elementos
resistentes. A área onde esta solução foi implementada encontra-se identificada na Figura 3 a sombreado.

As diferentes metodologias de contenção de fachada utilizadas na presente obra encontram-se


representadas na Figura 4.

Tendo em conta a necessidade de reforço estrutural das paredes a manter, este aspeto foi incorporado logo
na fase de demolições e contenções de fachadas. Em todas as paredes foi executada uma lâmina de betão
armado, nas duas faces, de forma a confinar as alvenarias e a aumentar a capacidade resistente dos
elementos estruturais. A preparação das paredes, devidamente compatibilizada com as estruturas de
contenção de fachada, assim como a projeção de betão encontram-se representadas na Figura 5.

Figura 4 - Soluções de contenção de fachada – Solução treliçada (esquerda), solução em diafragma (centro), solução
mista (direita)

Figura 5 - Preparação das paredes a reforçar e projeção de betão

3.2 - Recalçamento das fachadas


Atendendo aos condicionamentos existentes, o recalçamento das fachadas e das paredes interiores a pre-
servar (previamente reforçadas através da aplicação de lâminas de betão projetado armado) foi realizado
através de duas fiadas de microestacas, uma em cada lado das paredes. Ambas as fiadas de microestacas
foram devidamente solidarizadas às paredes através de vigas de recalçamento, betonadas após a prepa-
ração das superfícies existentes através de picagem e escarificação e ligadas à referida parede através de
mecanismos de costura, constituídos por barras pré-esforçadas do tipo GEWI.
As vigas de betão armado e as microestacas de recalçamento partilham as funções de recalçamento da
parede e, no caso das microestacas interiores às fachadas, de apoio dos painéis, em betão armado, da
contenção periférica.

1010
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Face aos constrangimentos ditados pela preservação de grande parte das paredes, foi necessária a utiliza-
ção de equipamentos de furação de pequenas dimensões e, pontualmente, a adaptação da localização das
microestacas às reais condições da obra.
Para executar as microestacas de recalçamento foram utilizados perfis metálicos tubulares em aço de alta
resistência (fsyd>560 MPa), devidamente solidarizadas com uniões exteriores. O comprimento de selagem
foi executado abaixo da cota final de escavação em terrenos com NSPT superior a 60 pancadas. Estes
elementos foram colocados no interior de furos com diâmetro de 8" (200 mm) e 10’’ (250 mm) e subme-
tidos a injeção de preenchimento e de selagem, esta última realizada através de sistema IRS, no compri-
mento correspondente ao bolbo de selagem (Bustamante e Doix, 1985).
Para além dos normais constrangimentos de uma obra com um elevado número de paredes a recalçar, na
presente obra verificaram-se duas situações especialmente sensíveis no que à solução de recalçamento diz
respeito. No primeiro caso, uma das paredes da fachada, ao nível do piso térreo, descarrega em arcos
concentrando todo o peso da parede nos pilares dos mesmos, resultando em cargas elevadas num único
ponto. A segunda situação esteve relacionada com dificuldades executivas das microestacas. Duas das
paredes a recalçar estão separadas por apenas 1 m, situação que impossibilitou a realização das microes-
tacas nesse espaço, não se assegurando a distribuição de cargas pelo método usual. Para resolver esta
questão foi criada uma malha de vigas de recalçamento. As vigas secundárias recebem as cargas das
paredes e descarregam nas vigas principais que por sua vez se encontram apoiadas nas microestacas das
faces exteriores das paredes a recalçar.
Na Figura 6 encontram-se representada a planta com todas as vigas de recalçamento e o mecanismo de
transmissão de cargas envolvido.

Peso próprio da
fachada

Vigas de Barras de
Recalçamento
Recalçamento aço de alta
da zona dos
resistência
arcos

Microestacas

Recalçamento
com malha
de vigas

Figura 6 - Planta de vigas de recalçamento e representação do mecanismo de recalçamento

Na Figura 7 encontram-se representado o mecanismo de transmissão de cargas na zona da malha de vigas


assim como algumas imagens referentes à execução das vigas principais e secundárias desta zona.
Na Figura 8 encontram-se representado os elementos de recalçamento dos pilares dos arcos nas diferentes
fases da obra. Da esquerda para a direita é possível observar a fase inicial de execução das vigas de
recalçamento, ao centro uma fase intermédia, em que o terreno de fundação dos pilares ainda não tinha
sido removido, e à esquerda a fase final de escavação com os arcos apoiados nas vigas de recalçamento e
microestacas de fundação.
Na Figura 9 é possível observar diferentes exemplos de zonas de recalçamento de paredes interiores.

1011
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Peso próprio da
fachada Viga de Recalçamento
Secundária

Viga de
Recalçamento
Principal
Microestacas

Figura 7 – Mecanismo de recalçamento da estrutura de malhas de viga e representações da execução vigas de


recalçamento principal e secundárias

Figura 8 – Recalçamento da zona dos arcos

Figura 9 – Recalçamento das zonas correntes

3.3 - Contenção Periférica

Atendendo aos condicionamentos referidos, em especial à necessidade de escavar um piso enterrado abaixo
da estrutura recalcada, a escavação foi executada ao abrigo de uma parede de contenção periférica, de
acordo com a tecnologia do tipo “Berlim Definitivo”.

1012
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Num dos alçados, uma vez que existia espaço disponível, a escavação foi realizada em talude sendo
posteriormente construído um muro tradicional para contenção definitiva do terreno.

Na solução do tipo “Berlim Definitivo”, a parede de contenção foi realizada por painéis de betão armado e
por níveis, de cima para baixo, sendo os referidos painéis apoiados em perfis metálicos verticais,
executados antes do início dos trabalhos de escavação, e cuja função é suportar as cargas verticais a que
a contenção está sujeita. A parede de betão armado foi executada com uma espessura de 0,30 m.

Os painéis da contenção foram betonados diretamente contra o paramento vertical escavado no terreno,
de forma alternada entre painéis primários e secundários. O equilíbrio dos impulsos horizontais do terreno
foi garantido através de ancoragens pré-esforçadas provisórias ou escoramentos metálicos de canto. A
selagem das ancoragens foi executada através do sistema de injeção IRS, com recurso a válvulas anti-
retorno e obturador duplo, em terrenos com NSPT iguais a 60 pancadas.

Na Figura 10 encontram-se representada uma planta e corte do local da intervenção. Nesta é possível
observar a definição das estruturas de contenção, nomeadamente a posição das paredes de contenção
(Tipo “Berlim a laranja e tipo tradicional ao abrigo de talude de escavação, a verde), os diferentes
patamares de escavação e a posição dos principais travamentos da parede. Na mesma imagem encontram-
se ainda representados alguns dos elementos de recalçamento sendo percetíveis os constrangimentos
resultantes na escavação dos pisos enterrados.

Cota de Ancoragens Provisórias


escavação
+62.74

Cota de
escavação Microestacas de
+65.51 recalçamento

Figura 10 – Planta e corte da solução de escavação, contenção periférica e recalçamento

O equilíbrio vertical da contenção foi assegurado pelas microestacas de apoio. Estes elementos têm como
função transmitir os esforços verticais da contenção em todas as fases de escavação, nomeadamente o
peso próprio da parede e a componente vertical da carga das ancoragens. Tal como as ancoragens, a
selagem dos perfis tubulares foi realizada com recurso ao sistema IRS e calculada através da metodologia
de Bustamante e Doix (1985). Nas situações em que a parede de contenção se encontrava no alinhamento
de paredes a recalçar, os perfis verticais foram colocados exteriormente às paredes, apoiados na mesma e
na viga de coroamento através de cachorros metálicos. Nas restantes situações as microestacas foram
colocadas no alinhamento da parede, interiormente à mesma.

Figura 11 – Estado atual dos trabalhos de escavação


1013
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Na Figura 12 encontram-se representadas as duas soluções de contenção dos terrenos periféricos para
execução da escavação. Na figura da direita é possível observação a contenção do tipo “Berlim Definitivo”,
apoiada nas microestacas, que também têm função de recalçamento, e ligadas por cachorros metálicos
assim como uma ancoragem provisória com célula de carga instalada. Na figura da esquerda encontra-se
representado um muro tradicional em betão armado com escavação executada ao abrigo de talude
provisório.

Figura 12 – Paredes de contenção periférica dos terrenos. Contenção tipo “Berlim Definitivo” (à esquerda) e muro de
betão tradicional (à direita)

3.4 - Fundações definitivas

Tendo por base os condicionamentos geológico-geotécnicos, nomeadamente a presença de aterros à cota


de fundação da estrutura, recorreu-se, mais uma vez, a microestacas para encaminhamento das cargas
verticais a terrenos competentes e com capacidade para fundar a estrutura definitiva do edifício.

De maneira a garantir máxima otimização de recursos possível, procurou-se compatibilizar as soluções de


recalçamento e fundações com o objetivo de executar o menor número de elementos, utilizando as
microestacas de recalçamento também como elemento de fundação definitiva.

No dimensionamento das microestacas com múltiplas funções ao longo dos trabalhos, o dimensionamento
foi realizado para a combinação mais gravosa de ações. Considerou-se assim a pior das combinações de
ações entre a fase provisória, recalçamento das fachadas e apoio das paredes de contenção (peso próprio
e as componentes verticais das ancoragens e impulsos), e a fase definitiva, fundação do edifício a construir.

4- DIMENSIONAMENTO

O comportamento de todas as estruturas, com especial enfoque na parede de contenção periférica, foi
analisado para as diferentes fases construtivas através do software de elementos finitos Plaxis 2D.

No dimensionamento da referida estrutura foi realizado um conjunto de análises de tensão deformação das
secções tipo mais relevantes e representativas. Nos cálculos realizados considerou-se a utilização do
modelo Hardening-Soil, modelo este que descreve o comportamento do terreno como elasto-plástico com
diferentes patamares de rigidez de acordo com o estado de deformação do mesmo.

A parede de contenção foi simulada através de elementos do tipo “Plate” com comportamento
perfeitamente elástico, enquanto no caso das ancoragens foram utilizados elementos do tipo “anchor”, para
o comprimento livre, e elementos do tipo “embedded pile row” para os bolbos de selagem. Com este
software procurou-se estudar o impacto do faseamento construtivo da solução, tendo sido analisados, para
a todas as fases, diversos aspetos como os esforços na parede de contenção, a variação de carga nas
ancoragens, as deformações horizontais e verticais da parede, o estado de tensão e de deformação do
terreno a conter, assim como os movimentos produzidos no tardoz da contenção. Considerou-se também
uma sobrecarga no tardoz da estrutura de contenção com o objetivo de simular o tráfego na via pública
assim como o de equipamentos a utilizar durante os trabalhos.

Na Figura 13 encontram-se representada uma das secções estudadas, a respetiva malha de elementos
finitos e os resultados da deformação horizontal na fase final de escavação.

1014
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

ZG1

ZG2

ZG3

Deformação horizontal
máxima: 4mm

Figura 13 – Modelo de elementos finitos – deformações horizontais

Adicionalmente, para o dimensionamento da escavação em talude foi utilizado o programa de análise de


equilíbrio limite “Slide”, no qual foram estudadas diversas configurações para o talude em causa
determinando-se através das mesmas a inclinação a adotar e o respetivo valor do fator de segurança global
da escavação. Para a análise de equilíbrio limite considerou-se a utilização do método de Bishop simplificado.
O fator de segurança obtido para o talude de escavação provisório foi de 1,393, para uma inclinação de
3(H):2(V). O referido cálculo encontra-se representado na Figura 14.

Tv. José Vaz


de Carvalho

Zona em ta-
lude e parede
tradicional

Figura 14 – Modelo de análise de equilíbrio limite do talude de escavação e definição da zona em corte

5- INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Tendo por base o enquadramento e a complexidade das soluções adotadas, foi implementado um Plano de
Instrumentação e Observação (PIO), com o objetivo de assegurar a realização dos trabalhos em condições
de segurança para a obra e para as estruturas e infraestruturas vizinhas, bem como para validar
atempadamente os pressupostos de dimensionamento considerados na fase de projeto. No enquadramento
descrito, foram instalados os seguintes dispositivos de observação:

 41 alvos topográficos para controlo dos movimentos verticais e horizontais das fachadas e paredes
a conter/recalçar;

 14 alvos topográficos para controlo dos movimentos verticais e horizontais da parede de contenção
periférica;

 14 réguas topográficas para controlo dos movimentos verticais das fachadas e paredes recalçadas;

 3 células de carga para controlo da variação de carga nas ancoragens;

 3 inclinómetros para controlo dos movimentos horizontais das paredes de contenção periférica.

1015
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Os aparelhos foram organizados em perfis de observação tendo sido distribuídos de forma uniforme na
obra com o objetivo de controlar o comportamento geral da estrutura. Nas zonas que se preveem mais
sensíveis a presença destes aparelhos foi reforçada. As leituras dos dispositivos foram realizadas com uma
periocidade semanal.

Com base nos resultados obtidos durante o dimensionamento e pela experiência no tipo de estruturas e
geologia envolvidas, foram definidos os seguintes critérios de alerta e alarme para os deslocamentos da
estrutura de contenção, quer de fachada quer periférica:

1) Critério de alerta: deslocamentos máximos da ordem de 15 mm no sentido horizontal, e de cerca


de 10 mm no sentido vertical;

2) Critério de alarme: deslocamentos máximos da ordem de 30 mm no sentido horizontal, e de cerca


de 20 mm no sentido vertical. Na Figura 15 é possível observar alguns dos resultados obtidos, à
data, referentes aos movimentos das fachadas a conter. No geral todas as fachadas têm mantido
o comportamento esperado com deslocamentos reduzidos. Refira-se que dois alvos apresentam
assentamentos superiores ao esperado. Este aspeto ficou a dever-se à execução de microestacas
de recalçamento e a uma escavação em simultâneo na zona da fachada em questão, tendo os
deslocamentos estabilizado após a conclusão dos trabalhos.

Na Figura 15 é possível observar alguns dos resultados obtidos à data referentes aos movimentos das
fachadas a conter. No geral todas as fachadas têm mantido o comportamento esperado com deslocamentos
reduzidos. Refira-se que dois alvos apresentam assentamentos superiores ao esperado. Este aspecto ficou
a dever-se à execução de microestacas de recalçamento e a uma escavação em simultâneo na zona da
fachada em questão, tendo os deslocamentos estabilizado após a conclusão dos trabalhos.

10
Deslocamentos horizontais
5 da fachada da Travessa José
Vaz de Carvalho
0

-5
20/11
28/08

18/12
31/07

25/09

23/10
03/07

-10

-5
Deslocamentos verticais da
-10 fachada da Travessa José Vaz
de Carvalho
-15

Figura 15 – Resultados da instrumentação dos alvos instalados na fachada da Travessa José Vaz de Carvalho

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente necessidade de reabilitação e reconversão de edifícios com elevado valor histórico e


arquitetónico, aliado à necessidade de dotar as novas edificações com todas as infraestruturas necessárias
para a utilização que se exige nos dias de hoje, torna a reabilitação urbana num dos mais importantes
desafios atuais para a engenharia.

A manutenção de elementos estruturais em simultâneo com a necessidade de execução de pisos enterrados


provoca constrangimentos importantes à execução dos trabalhos de escavação, sendo importante que, em
fase de projeto, estes sejam previstos e minimizados através da compatibilização das diferentes soluções
estruturais. (Pinto et. al., 2016, 2014 e 2010).

O presente artigo é demonstrativo da importância deste aspeto, tendo sido implementado um conjunto de
soluções que facilitaram a execução e ao mesmo tempo conduziram a uma minimização de recursos
utilizados. Sempre que possível os elementos de recalçamento foram também usados para suporte das
cargas verticais da contenção periférica e como elementos de fundação definitiva.

A complexidade da malha de elementos a manter associada à escavação bastante condicionada, devido à


presença das microestacas de recalçamento, constituíram as maiores dificuldades na empreitada, criando
fortes condicionamentos em todos os trabalhos a executar.

1016
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Destaque-se também a importância dos resultados do plano de instrumentação e observação na validação


continua dos princípios de dimensionamento adotados. Até à data os resultados têm sido satisfatórios,
verificando-se o comportamento esperado de toda a estrutura.

Na Figura 16 é possível observar na imagem à esquerda um exemplo de todas as especialidades tratadas


ao longo do presente artigo. Nas duas imagens à esquerda é possível observar o estado atual dos trabalhos
nas zonas já escavadas e nas quais se começam a executar os elementos de encabeçamento das fundações
e a execução das lajes da estrutura definitiva do edifício.

Figura 16 – Visão geral da obra (à esquerda), maciços de encabeçamento e vigas de fundação (ao centro) e trabalhos
de execução da estrutura definitiva (à direita)

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à entidade promotora do projeto, “Solar Santana, Sociedade Unipessoal, Lda” pela
autorização para a redação e publicação do presente artigo. É também feito um especial agradecimento às
empresas responsáveis pelo projeto de estruturas, “JSJ”, pela fiscalização e coordenação de projeto,
“Rockbuilding”, e à empresa executante, “Ecociaf”, pelo continuo trabalho de cooperação ao longo do
projeto e fase de obra.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - Une méthode pour le calcul de tirants et des micropieux injectés. Bulletin de Liaison
des Laboratoires des Ponts et Chaussées, Ministère de L’Équipement, du Logement, des Transports et de la Mer,
Paris. vol. 140, pp.75-92.

Pinto, A., Pereira, A., Rendo, M., Valadas, J. e Portela, R. (2016) - Soluções de Contenção Periférica e de Recalçamento
de Fachadas do Edifício Liberdade 203, Na Rua Roja Araújo, Lisboa. 15º Congresso Nacional de Geotecnia, Porto.

Pinto, A., Pereira, A., Sepúlveda, J., Gonçalves, R. e Jesus, M. (2014) - Soluções de Contenção Periférica e de
Recalçamento de Fachadas do Edifício do Hotel Porto Bay Liberdade, na Rua Rosa Araújo, em Lisboa. 14º
Congresso Nacional de Geotecnia, Covilhã (CD).

Pinto, A., Pita, X. e Coutinho, J. (2010) - Soluções de Contenção Periférica e de Recalçamento de Fachadas do Edifício
na Av. Da República nº25 -Lisboa. 12º Congresso Nacional de Geotecnia, Guimarães (CD).

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

SOLUÇÕES DE CONTENÇÂO PERIFÉRICA PARA AMPLIAÇÃO SUBTERRÂNEA DO


HOSPITAL DA LUZ EM LISBOA

RETAINING WALL SOLUTIONS FOR UNDERGROUND EXTENSION OF HOSPITAL


DA LUZ IN LISBON

Tomásio, Rui; JetSJ Geotecnia, Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.com


Pinto, Alexandre; JetSJ Geotecnia, Lisboa, Portugal, apinto@jetsj.com

RESUMO

No presente artigo apresentam-se as principais soluções propostas para os trabalhos de escavação e


contenção periférica, necessários para a execução dos quatro pisos enterrados da ampliação do Hospital
da Luz, em Lisboa. Ao longo do mesmo, são ainda descritos os principais condicionamentos existentes,
nomeadamente: geológicos e geotécnicos e de vizinhança, destacando-se a presença de três galerias do
Metropolitano de Lisboa (ML) muito próximo do alçado Poente da obra. O recinto de escavação, ladeado
pelo edifício do atual hospital, pela Av. Condes de Carnide, pela Rua Aurélio Quintanilha e pela Av. Lusíada,
compreende uma área aproximada de 9.800m2, tendo sido necessário realizar uma escavação com uma
profundidade máxima de 16m. De forma a maximizar o binómio economia-segurança, sem nunca esquecer
os aspetos de funcionalidade e de simplicidade construtiva, mostrou-se necessário o desenvolvimento de
soluções distintas, nomeadamente cortinas de estacas ancoradas, cortinas de estacas travadas com bandas
de laje (no alçado Sul, adjacente às galerias do ML) e a contenções provisórias, do tipo “Berlim Provisório”.
Além de serem abordados critérios de conceção e dimensionamento das soluções implementadas, são
apresentados e analisados os principais resultados da instrumentação e observação da obra, fazendo a
análise e comparação dos mesmos com os valores estimados em fase de projeto.

ABSTRACT

This paper presents the solutions proposed for the excavation and retaining walls of the four basements,
included on the enlargement of Hospital da Luz, in Lisbon. The main existing conditions are presented,
namely the geological-geotechnical, the urban envelope and special the presence of the Lisbon Metro
tunnels, very close to the south area of the excavation works. The excavation site, located between the
existent hospital, Av. Condes de Carnide, Rua Aurélio Quintanilha and Av. Lusíada, comprises an area of
approximately 9,800m2 and a maximum excavation depth of 16m. In order to maximize the economy-
safety binomial, without forgetting the issues of functionality and simplicity of construction, it was necessary
to develop different solutions, namely anchored bored pile walls, bored pile walls supported with reinforced
concrete slab strips (area adjacent to the Metro tunnel) and temporary retaining walls "Berlin king post
wall". The main criteria for the design of the implemented solutions, as well as the main results of the
monitoring system are presented and compared with the project predictions.

1- INTRODUÇÃO

A intervenção de ampliação do Hospital da Luz de Lisboa, que será descrita ao longo do presente artigo,
no que se refere à escavação e contenção periférica dos pisos enterrados, localiza-se num lote de terreno,
delimitado pelo edifício do atual hospital e por diversas ruas e avenidas, onde se encontrava edificado o
Edifício do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa, conforme ilustrado na Figura 1.

De forma a garantir a coerência das informações, análises e considerações apresentados ao longo do


presente artigo, reconhecendo que existem soluções significativamente distintas, correspondentes a
diferentes zonas da obra, determinadas por condicionamentos também eles distintos, optou-se por repartir
o presente artigo em três capítulos principais, correspondentes a três zonas distintas da obra que,
necessariamente, correspondem a três soluções de contenção significativamente diferentes. Previamente
à descrição da conceção e da execução das soluções, passando pelo dimensionamento e pela análise da
instrumentação, são descritos os condicionamentos que se apresentaram transversais a toda a intervenção,
como é o caso dos aspetos geológico-geotécnicos e hidrogeológicos, as necessidades arquitetónicas e
funcionais do edifício, a existência de importantes estruturas e infraestruturas localizadas nas proximidades
ou no local da intervenção e ainda os prazos de execução dos trabalhos.

Para a materialização da escavação dos quatro pisos enterrados, em condições de segurança, em particular
para as estruturas e infraestruturas adjacentes, foram, como já referido, executadas três soluções de
contenção periférica distintas, que se podem resumir do seguinte modo: cortina de estacas moldadas,
ancorada provisoriamente, ao longo do alçado adjacente à Av. Condes de Carnide; cortina de estacas

1018
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

moldadas, travada com bandas de laje realizadas segundo a metodologia top-down (Pinto et al., 2017 e
2015), ao longo do alçado adjacente à Av. Lusíada; contenção tipo Berlim provisório, ancorada
provisoriamente, ao longo do alçado adjacente à Rua Aurélio Quintanilha (Figura 1).

Figura 1 - Localização da obra e vista do edifício pré existente e demolido

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

2.1 - Condicionamentos geológico-geotécnicos e hidrogeológicos

A caraterização geológico-geotécnica e hidrogeológica das formações interessadas pela obra descrita foi
realizada através da execução de um conjunto de ensaio de campo (Figura 2) e de laboratório,
nomeadamente: onze sondagens com recolha de amostras e realização de ensaio SPT, instalação de três
piezómetros, análises granulométricas, determinação do teor em água, determinação dos limites de
consistência, determinação da agressividade química e determinação de parâmetros resistentes através da
realização de ensaios de corte direto.

Com base na informação recolhida com os ensaios acima descritos, foram identificadas as seguintes
formações (Figura 2), concordantes com a informação disponibilizada na carta geológica de Lisboa (folha
34D):

 Aterros – solos de natureza diversa, mas com as seguintes predominâncias:

o Solos silto-argilosos, que se enquadram maioritariamente nas classes CH e CL (Argilas de


alta compressibilidade e argilas magras) da Classificação ASTM e nas classes A-7-6 (19) e
A-6 (5) da Classificação AASHTO;

o Solos areno-siltosos que se enquadram maioritariamente nas classes SC e SM (Areias


Argilosas mal graduadas e Areias Siltosas mal graduadas) da Classificação ASTM e nas
classes A-6(4) e A-2-4(0) da Classificação AASHTO.

 Argilas e calcários dos Prazeres – solos datados do Miocénico, constituídos pela alternância
monótona de leitos sedimentares de granulometria fundamentalmente fina, constituída por argilas
mais ou menos siltosas, com carácter margoso distinto, com passagens lenticulares ricas em fósseis
margo gresosas, geralmente designadas como cascões conquíferos. Estes materiais enquadram-se
maioritariamente nas classes CH, CL, MH e SM (Argilas de alta compressibilidade, argilas magras,
siltes e areias siltosas mal graduadas) da Classificação ASTM e nas classes A-7-6, A-7-5, A-6 e A-
4 da Classificação AASHTO;

 Formação de Benfica – solos datados do Oligocénico e de natureza silto arenosa, caracterizados


por sedimentos de cor castanho arroxeada, constituídos por areias de granulometria extensa, com
seixo fino ocasional (ocorrem a cerca de 30m de profundidade, ou seja, não intersetados pela
presente escavação). Estes materiais enquadram-se maioritariamente na classe ML (Silte de baixa
plasticidade) da Classificação ASTM e na classe A-4(7) da Classificação AASHTO.

No que se refere ao nível freático, verificou-se a sua ocorrência a profundidades variáveis entre 3m e 13m
de profundidade, aparentando acompanhar a antiga topografia do local, com escoamento de NE para SW.

1019
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Na perspetiva geotécnica, as formações geológicas descritas acima, foram agrupadas em quatro zonas
geotécnicas, de acordo com as suas caraterísticas geomecânicas evidenciadas, por exemplo, por valor
crescente dos resultados dos ensaios SPT (Figura 2).

Figura 2 - Coluna estratigráfica e parâmetros geomecânicos adotados

2.2 - Condicionamentos relativos a condições de vizinhança

Conforme referido anteriormente, a área de intervenção encontra-se inserida uma zona densamente
urbanizada, circundada por importantes vias de comunicação da cidade de Lisboa (Figura 1) incluindo, além
dos arruamentos, as galerias da linha azul do ML. Na Figura 3 apresentam-se, de forma detalhada, as
diferentes confrontações do recinto de escavação, onde se evidencia a Norte, a Av. Condes de Carnide, a
Nascente, a Rua Aurélio Quintanilha, a Sul, a Av. Lusíada e as galerias do ML e a Poente, a estrutura do
atual edifício do Hospital da Luz.

Figura 3 - Identificação das principais confrontações da área de intervenção e corte tipo com zonamento geotécnico no
alçado Sul

2.3 - Condicionamentos relativos às estruturas pré existentes

Conforme referido anteriormente, no local da presente intervenção existia um edifício, com estrutura em
betão armado, que foi demolido previamente à realização dos trabalhos de escavação (Figura 1). Contudo,
o referido edifício dispunha de uma a duas caves, pelo que as soluções de contenção periférica
implementadas foram devidamente compatibilizadas com este constrangimento, nomeadamente a escolha
de uma contenção provisória, tipo Berlim provisório, ao longo da Rua Aurélio Quintanilha, que foi executada
especialmente para permitir a demolição dos pisos enterrados do edifício adjacente e que, de outro modo,
implicaria o corte integral deste arruamento (Figura 4).

2.4 - Condicionamentos relativos ao prazo de execução

As soluções estudadas e implementadas para os trabalhos de escavação e contenção periférica, foram


concebidas com o objetivo de minimizar o respetivo prazo de execução, sem, naturalmente, colocar em

1020
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

causa as indispensáveis condições de segurança e de boa funcionalidade para o edifício e para as estruturas
e infraestruturas vizinhas ao mesmo.

Figura 4 - Corte transversal Poente / Nascente com a identificação do edifício pré-existente no local (Sapadores de
Bombeiros)

3- PRINCIPAIS SOLUÇÕES ADOTADAS

3.1 - Alçado Norte – Adjacente à Av. Condes de Carnide

Tendo por base os condicionamentos existentes, em particular topográficos, geológico-geotécnicos e de


ocupação da vizinhança, foi executada, no alçado Norte, uma cortina de estacas moldadas, em betão
armado, 600mm afastadas de 1,20m, com comprimento total máximo de cerca de 22m, por forma a
assegurar um encastramento, abaixo da cota final de escavação, de 5m. Atendendo às condições geológicas
do local e ao comprimento das estacas, as mesmas foram realizadas com recurso a vara telescópica Kelly
e apenas com entubamento provisório na parte superior da furação, ao nível dos materiais de aterro.

Figura 5 - Corte tipo e vista da solução de contenção do alçado Norte

O terreno exposto entre estacas durante a fase de escavação foi protegido com um revestimento de betão
projetado com 10cm de espessura mínima, aplicado em duas camadas, reforçado com fibras metálicas e
devidamente drenado através de geodrenos sub-horizontais, com 3m de comprimento e 50mm de
diâmetro, em PVC rígido, canelado e crepinado, revestidos com geotêxtil com gramagem de 150g/m2. Para
assegurar o funcionamento na fase definitiva, sempre que as lajes dos pisos enterrados não apoiavam na
cortina de estacas, foi executada uma parede resistente de revestimento, em betão armado.

A solução implementada permitiu uma escavação de cerca de 15m de altura máxima, necessária para a
execução dos 4 pisos enterrados. Ao longo do presente alçado, uma vez que não existiam condicionamentos
relevantes e de forma a garantir um elevado ritmo escavação desta frente de trabalho, a cortina de estacas
foi travada por meio de vários níveis de ancoragens provisórias, que tiveram como principal função a
garantia do equilíbrio horizontal da contenção na fase de escavação, face aos impulsos determinados pelo
terreno e pelas sobrecargas instaladas à superfície do mesmo. Por forma a garantir uma melhor distribuição

1021
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

dos esforços na cortina e a fim de evitar fenómenos de concentração excessiva de cargas, o travamento
conferido pelas ancoragens foi transmitido às estacas através das vigas de distribuição e da viga de
coroamento.

As ancoragens dispunham de 5 cordões de 0,6”, de modo a acomodarem uma carga de pré-esforço útil
máximo de 600kN, e dispunham de um afastamento médio em planta de 3,6m. Com o objetivo de evitar
a possibilidade de intersecções destes elementos com instalações e estruturas existentes, assim como de
permitir a realização do bolbo de selagem em terrenos competentes e geologicamente estáveis em relação
à geometria da escavação, as ancoragens foram realizadas com inclinações e comprimentos variáveis,
sendo o comprimento de selagem, mínimo, de 7m.

3.2 - Alçado Nascente – Adjacente à Rua Aurélio Quintanilha

Atendendo aos condicionamentos existentes e anteriormente descritos, foi executada, ao longo do alçado
adjacente à Rua Aurélio Quintanilha, uma contenção tipo Berlim provisório com altura variável entre 5m e
10m, provisoriamente ancorada em 2, 3 ou 4 níveis, em função da respetiva altura (Figura 6), a qual
permitiu a demolição integral do edifício existente e a manutenção do tráfego na Rua Aurélio Quintanilha.

A tecnologia denominada “Berlim provisório” consiste na instalação prévia de perfis metálicos verticais,
selados no terreno, seguida da colocação de pranchas de madeira e vigas metálicas de distribuição
horizontais, onde apoiam as ancoragens pré-esforçadas.

Face às caraterísticas geotécnicas dos terrenos interessados, nomeadamente a sua natureza coesiva, os
perfis verticais HEB 160, que atingiram comprimentos máximos de 22m e que estavam previstos instalar
com recurso a furação de pequeno diâmetro (250mm), foram instalados com recurso a furação com
equipamento de furação de estacas por trado contínuo, o que permitiu maiores rendimentos e a redução
dos comprimentos de selagem.

No presente caso, os perfis HEB foram instalados com afastamentos de 1,2m e 1,5m, sendo que as
pranchas de madeira colocadas entre os mesmos dispunham de uma espessura de 10cm. As ancoragens
provisórias, com afastamentos variáveis entre 2,4m e 3,6m, foram dispostas sobre vigas de distribuição
constituídas por perfis laminados metálicos, materializadas por 2 perfis UPN 300, de forma a permitirem
acomodar os impulsos determinados pelo terreno e pelas sobrecargas localizadas a tardoz.

Figura 6- Corte tipo e vista da solução de contenção do alçado Nascente

Após a execução da contenção e a demolição do edifício existente, foi realizada uma escavação suplementar
de 12m de profundidade, ao abrigo de 2 panos de talude com inclinação 2:3 (h:v), que permitiu atingir a
base da escavação para a implantação das fundações do novo edifício (Figura 6).

3.3 - Alçado Sul – Adjacente à Av. Lusíada e às Galerias do Metropolitano de Lisboa

No alçado Sul, foi implementada uma solução de contenção de terras semelhante à descrita para o alçado
Norte, contudo, atendendo aos condicionamentos de vizinhança presentes neste alçado, paralelo com as
galerias do ML, procurou-se evitar o recurso a ancoragens para o travamento da cortina de estacas face
aos impulsos do terreno e das sobrecargas. Desse modo, neste alçado, optou-se por um sistema de
travamento constituído por bandas de laje, o qual consiste num conjunto de vigas horizontais (troços de
laje dos futuros pisos enterrados) que resistem aos impulsos do terreno e os encaminham para contrafortes,
realizados com recurso a estacas moldadas. À exceção dos dois contrafortes centrais e dos perfis de apoio
provisório das bandas de laje, todos os restantes elementos estruturais foram integrados na estrutura final

1022
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

dos pisos enterrados. Esta solução foi inspirada em obras anteriores, onde se revelou como muito
apropriada (Pinto et al., 2017 e 2015).

Atendendo aos condicionamentos existentes, nomeadamente o túnel do metro, foram realizados


travamentos ao nível dos pisos 0, -1 e -2, sendo que a escavação entre o piso -3 e a cota de implantação
das fundações, foi realizada apenas após a construção completa dos restantes pisos enterrados, de forma
a melhor controlar os deslocamentos máximos das galerias do ML (Figura 7).

Figura 7- Corte tipo e vista da solução de contenção do alçado Sul

As bandas de laje dispunham de uma largura variável entre 6,0m e 9,0m e uma espessura corrente de
30cm, de forma a permitirem vencer 2 vãos laterais de 15,0m e um vão central de 25,0m. As bandas de
laje apoiaram-se, durante a fase de escavação, na cortina de estacas e em perfis HEB240, afastados entre
si cerca de 7,50m, inseridos junto aos capitéis dos futuros pilares definitivos. Estes perfis ficaram selados
num comprimento de 2,0m, no interior de estacas Ø600, com comprimento de 4m abaixo do fundo da
escavação.

4- MODELOS DE CÁLCULO E DIMENSIONAMENTO

4.1 - Alçado Norte – Adjacente à Av. Condes de Carnide

O dimensionamento da cortina de estacas do alçado adjacente à Av. Condes de Carnide foi realizado
recorrendo a um modelo de elementos finitos não lineares, em estado plano de deformação, recorrendo ao
software Plaxis 2D, em que os elementos estruturais foram modelados com elementos elásticos lineares
do tipo frame, as ancoragens e respetivas selagens com elementos tipo anchor e tipo geogrid,
respetivamente. As camadas de solo foram modeladas com elementos finitos não lineares de 15 nós,
recorrendo a uma lei constitutiva do tipo Hardening Soil e obedecendo ao critério de rotura de Mohr
Coulomb (Figura 8).

Figura 8 - Modelo de cálculo e vista da solução de contenção do alçado Norte

1023
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Além do modelo acima apresentado, que permitiu dimensionar diretamente as ancoragens e a cortina de
estacas, existiram outros importantes elementos estruturais, tais como as vigas de coroamento e de
distribuição, assim como as escoras de canto, que foram dimensionados com base em modelos
complementares simplificados.

4.2 - Alçado Nascente – Adjacente à Rua Aurélio Quintanilha

Para o dimensionamento da contenção tipo Berlim provisório executada junto a Rua Aurélio Quintanilha
recorreu-se ao mesmo software, utilizado nos restantes alçados e ao mesmo tipo de modelos simplificados
(Figura 9). Contudo, para esta solução foi necessário garantir adicionalmente a segurança á estabilidade
global dos taludes materializados entre a base da contenção provisória e o fundo da escavação.

Figura 9 - Modelo de cálculo e vista da solução de contenção do alçado Nascente

4.3 - Alçado Sul – Adjacente à Av. Lusíada e às Galerias do Metropolitano de Lisboa

Face à complexidade da solução do presente alçado, nomeadamente a interferência com as galerias do ML


e à dificuldade de modelar bi dimensionalmente um funcionamento predominantemente tridimensional,
além da utilização de modelos semelhantes aos descritos nos capítulos anteriores, recorreu-se a modelos
tridimensionais de interação solo-estrutura, nomeadamente através do Plaxis 3D (Figura 10). Estes últimos,
apesar de não permitirem obter resultados adequados para o dimensionamento de todos os elementos
estruturais modelados, devido a elevadas exigências computacionais (difíceis de compatibilizar com o prazo
de desenvolvimento do projeto), permitiram obter informações importantes para a calibração dos modelos
2D e, deste modo, garantir estimativas de esforços e, principalmente, de deformações, mais realistas, as
quais foram verificadas através de um adequado sistema de instrumentação e de monitorização.

Figura 10 - Modelo de cálculo e vista da solução de contenção do alçado Sul

5- INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Face à dimensão e a complexidade da obra descrita, foi necessário implementar um exigente sistema de
instrumentação e monitorização das estruturas de contenção e das galerias do ML, que incluiu a instalação

1024
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

de alvos topográficos, inclinómetros, piezómetros, células de carga e marcas de nivelamento (Figura 11).
Com base nas leituras semanais de todos os dispositivos listados acima, incluindo os alvos e as marcas
instaladas nos carris e nas estruturas do ML (Figura 12), foi possível comprovar os pressupostos de projeto
e, sempre que necessário, adaptar atempadamente o faseamento construtivo de forma a corrigir eventuais
deformações excessivas.

Figura 11 - Dispositivos e resultados do sistema de instrumentação das contenções

Face ao significativo aumento de carga registado nas células de cargas ancoragens, importa referir que o
mesmo já se encontrava previsto em fase de projeto e provem do aumento de cota do terreno localizado
a tardoz da cortina de estacas, contido através da execução de uma parede de betão armado sobre a viga
de coroamento.

Figura 12 - Dispositivos e resultados da instrumentação nas galerias do ML

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do presente artigo pretendeu-se demonstrar a importância de adotar soluções distintas e


ajustadas aos condicionamentos de cada zona de uma obra de dimensão e complexidade significativa, de
forma a ir ao encontro das expetativas do cliente, tando a nível de funcionalidade, como de prazo e de
economia. Foram assim apresentadas as diversas soluções de escavação e contenção periférica executadas
no âmbito da construção dos quatro pisos enterrados da ampliação do Hospital da Luz de Lisboa. A escolha
das soluções propostas teve como base os principais condicionamentos existentes na obra descrita, em
particular as condições geológicas e geotécnicas, bem como as condições de vizinhança. As principais
soluções geotécnicas adotadas consistiram em contenções em cortina de estacas moldadas, ancoradas ou
travadas com bandas de laje e contenções tipo Berlim provisório, de forma a maximizar a adequabilidade
das soluções aos referidos condicionamentos.

Salienta-se que, até à data da redação do presente artigo, toda a escavação já foi realizada e todos os
pisos enterrados já foram executados, tendo, em geral, as deformações medidas em obra sido inferiores
às estimadas em fase de projeto. A exceção a esta situação ocorreu em apenas quatro seções de

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

instrumentação de uma das três galerias do ML, em que foram ligeiramente ultrapassados os critérios de
alerta e, em consequência, ajustados pontualmente alguns procedimentos e faseamentos construtivos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Dono da Obra apresentada, a autorização para a redação e apresentação do


presente artigo, assim como salientam a excelente colaboração com todos os intervenientes da obra,
fiscalização, restantes projetistas e empreiteiros.

REFERÊNCIAS

Pinto, A., Fartaria, C., Pita, X. e Tomásio, R. (2017) - FPM41 high rise building in central Lisbon: innovative
solutions for a deep and complex excavation. 19th International Conference on Soil Mechanics and
Geotechnical Engineering, Seoul, Korea, pp. 2029 – 2032, TC 207 (Soil Structure). ISBN 978-89-952197-
5-1.

Pinto, A., Tomásio, R., Coelho, R. e Nicolas R. (2015) - Retaining Structures and Special Foundations at the
Platinum Tower, in Maputo. 18th African Regional Conference on Soil Mechanics and Geotechnical
Engineering, Tunisia, pp. 323 – 329, Session 3 (Deep and Shallow Foundations). ISBN 978-9938-12-936-
6.

Pita, X., Pinto, A. e Vaz, J. (2014) - Soluções de Contenção Periférica do Estacionamento Complementar do
Hospital da Luz em Lisboa. 14º Congresso Nacional de Geotécnica, Covilhã, Portugal.

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - Une méthode pour le calcul de tirants et des micropieux injectés.
Bulletin de Liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, Ministère de L’Équipement, du Logement, des
Transports et de la Mer, Paris. nº140, pp.75-92.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA DE EDIFÍCIO NO


LARGO DO INTENDENTE, EM LISBOA

EXCAVATION AND PERIPHERICAL EARTH RETAINING SOLUTIONS FOR A


BUILDING AT THE INTENDENTE SQUARE, LISBON

Aleixo, Vanessa; JetSJ-Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, valeixo@jetsj.com


Tomásio, Rui; JetSJ-Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, rtomasio@jetsj.com
Pinto, Francisco; Rockbuilding Soluções Imobiliárias S.A., fpinto@rockbuilding.com
Cabral, Alberto; Invescon - Consultoria e Gestão de Empreendimentos, Lda., alberto.cabral@invescon.pt

RESUMO

No presente artigo apresentam-se os principais critérios de conceção e de dimensionamento das soluções


de escavação e contenção periférica desenvolvidas para a construção de pisos enterrados de um edifício
de habitação localizado na Rua do Benformoso, junto ao Largo do Intendente, em Lisboa.

Face aos condicionamentos locais, em particular, as características geológicas, aliadas à envolvente


urbana, bem como à arquitetura do edifício, implementou-se uma solução de contenção periférica do tipo
“Berlim Definitivo”, recorrendo a ancoragens provisórias. Tendo em consideração a existência de uma
zona de logradouro, associada à impossibilidade de recurso a ancoragens definitivas, definiu-se para esta
zona uma solução de contenção com recurso a muros de betão armado com contrafortes.

Por último, são apresentados e analisados alguns resultados da instrumentação e observação da obra,
obtidos até à data da elaboração do presente artigo.

ABSTRACT

In this paper are presented the main criteria for the design and implementation of the excavation and
peripherical solutions developed for the construction of the underground levels of a building located in
Rua do Benformoso, near to Largo do Intendente, Lisbon.

Due to the local constraints, in particular, geological features, allied to the urban envelope, and also the
own building arquithecture, it was developed a multi-anchored retaining solution. Considering the
existence of a patio area and the impossibility of using definitive anchors, it was defined a classical
peripherical retaining solution with concrete buttresses.

The main results of the monitoring plan are drawn and presented.

1- ÁREA DE INTERVENÇÃO

A presente intervenção localiza-se no Largo do Intendente, em Lisboa, e corresponde a uma área de


implantação de aproximadamente 1795m2, confrontando a Poente com a Rua do Benformoso, a Norte e
Nascente com edificações vizinhas e a Sul com as Escadinhas das Olarias (Figura 1).

O lote em análise foi outrora ocupado por um conjunto de edifícios de habitação, encontrando-se
devoluto à data do início dos trabalhos, restando apenas as respetivas fachadas e alguns alinhamentos de
muros de alvenaria com função de contenção de terras, permitindo vencer interiormente o desnível entre
os limites nascente e poente do lote (Figura 2).

A fachada principal, a poente, e as empenas laterais (tanto a norte como a sul) encontravam-se
suportadas por uma estrutura metálica, interior ao lote, posicionada regularmente ao longo do seu
desenvolvimento, apoiada em maciços de encabeçamento de microestacas.

1027
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Av. Almirante Reis Edifícios vizinhos - Nascente

Rua do Benformoso

Fachada Principal
Empena Sul

Escadinhas
das Olarias
Área de
intervenção

Figura 1 – Localização da área de intervenção e principais confrontações

Muros de Alvenaria
existentes Empena Sul
Muros de Alvenaria
existentes

Figura 2 – Contenção de fachada existente (esquerda) e Muros de alvenaria existentes, a demolir (direita)

O edifício a construir, para fins de habitação, apresenta a cota de soleira ao nível da Rua do Benformoso,
sem caves abaixo desse nível e com seis pisos e cobertura acima dele. A sua geometria desenvolve-se
em planta segundo a forma de “U” e, transversalmente, os pisos enterrados encontram-se distribuídos
em patamares, situados a cotas distintas, como é possível observar nos cortes longitudinal e transversal,
apresentados na Figura 3.

Corte Longitudinal Corte Transversal

Figura 3 – Corte longitudinal e transversal - arquitetura

1028
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

No que se refere aos condicionamentos associados à execução das soluções de contenção estudadas des-
tacam-se, o meio urbano em que o lote se insere, a localização das torres de contenção das fachadas do
edifício existente, em particular as torres localizadas a norte e sul, que confrontam com alguns alinha-
mentos dos muros de contenção, assim como as condições geológicas e geotécnicas.
A análise do dispositivo geológico-geotécnico resultante da campanha de prospeção realizada permitiu
individualizar 5 horizontes geotécnicos, descritos seguidamente, da camada mais superficial para a mais
profunda:
- Aterro arenoso, com fragmentos de materiais de construção, caracterizados globalmente por va-
lores de NSPT inferiores a 5 pancadas (G1);
- Solo siltoso e/ou argilo-arenoso, que corresponde ao maciço sedimentar de areolas do miocénico
muito descomprimido, com valores de NSPT entre 30 a 60 pancadas (G2);
- Maciço sedimentar areolas do miocénico, com valores de NSPT superiores a 60 pancadas (G3) *;
- Maciço sedimentar areolas do miocénico, com valores de NSPT superiores a 60 pancadas (G4) **;
- Maciço sedimentar carbonatado do miocénico, composto por calcários gresosos e calcários fossilí-
feros, com valores de NSPT superiores a 60 pancadas (G5).
(*) Penetração superior a 15cm
(**) Penetração inferior a 15cm
No Quadro 1 são apresentados os valores dos parâmetros geomecânicos considerados para cada horizon-
te geotécnico, tendo por base o Estudo Geológico-Geotécnico desenvolvido.
No que se refere ao nível freático, através da campanha de prospeção realizada, verificou-se que este se
localiza abaixo da cota de fundo da escavação, aproximadamente a cerca de 10m de profundidade.

Quadro 1 - Parâmetros geomecânicos considerados para cada horizonte geotécnico


Horizonte ϒ Ø’ c’ E
Geotécnico [kN/m3] [°] [kPa] [MPa]
G1 16-17 28-30 - < 40
G2 19-20 25-30 5-10 80-200
G3 20-21 25-30 10-20 200-300
G4 21-22 25-30 20-40 300-400
G5 22-23 42-45 30-50 400-500

Sendo:
ϒ – Peso volúmico total;
Ø’ – Ângulo de resistência ao corte;
c’ – Resistência ao corte em tensões efetivas;
E – Módulo de deformabilidade.

3- DEFINIÇÃO DAS SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA

3.1 Contenção para execução de pisos enterrados

De acordo com a prática corrente neste tipo de intervenções e tendo por base a avaliação dos principais
condicionamentos existentes, definiu-se uma solução de contenção periférica executada através da tec-
nologia de “Berlim Definitivo”.
A tecnologia de construção da parede de contenção tipo “Berlim Definitivo” desenvolvida consistiu na
execução faseada, de cima para baixo, de painéis de betão armado, com 0,30m de espessura teórica,
apoiados em microestacas verticais com secção tubular, em aço de alta resistência (tensão de cedência
superior a 560MPa). Os painéis foram betonados diretamente contra o paramento vertical aberto no ter-
reno, de forma a garantir a estabilidade dos muros de contenção, face aos impulsos do terreno durante
as operações de escavação, pela execução de ancoragens pré-esforçadas ou pela colocação de escoras
metálicas provisórias.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Em fase definitiva, a própria estrutura das lajes das caves será responsável pela estabilidade da parede
de contenção, sendo as ancoragens, ou escoras provisórias desativadas logo após conclusão da referida
estrutura.
As ancoragens, constituídas por 5 cordões de 0,60” foram seladas em furos de diâmetro 200mm (8”) nas
formações competentes (G2 a G5), através do sistema de injeção IR, recorrendo a obturador duplo e
válvulas anti-retorno (Ministerio de Formento, 2005).
As microestacas, materializadas por tubos em aço N80 (API 5A) 127,0x9,0mm (com uniões exteriores)
e 139,7x9,0mm (com uniões exteriores), foram implantadas ao eixo da parede de contenção em betão
armado e, quando junto a edifícios, exteriormente à parede, mas solidarizados à mesma através de ca-
chorros metálicos de adequada rigidez. Estes elementos foram colocados no interior de furos de 250mm
(10") de diâmetro e selados através do sistema injeção IRS, no comprimento correspondente ao bolbo de
selagem, localizado abaixo da cota final de escavação e no substrato competente (G3 a G5) (Bustamante
e Doix, 1985).
A execução de um painel primário correspondente ao alinhamento do Muro MS3 é ilustrada na Figura 4,
sendo igualmente visível as ligações dos tubos de microestaca à parede, materializada por cachorros
metálicos de elevada rigidez, assim como as armaduras de espera para execução dos painéis secundários
adjacentes. Ainda na Figura 4 apresenta-se a planta de implantação das soluções de contenção é apre-
sentado na imagem da direita o equipamento utilizado na furação para execução das microestacas e an-
coragens.

M3A3 M3A4
M3A3 M3A4
M3A2
M3A2
A Viga de recalçamento
A
M3A1
M3A1
A

MS3

MS2

MS1’
MS1

Negativo para
colocação de
ancoragem

Figura 4 – Planta de implantação da solução de contenção (esquerda) e execução de um painel primário no


alinhamento do muro MS3 (direita)

3.2 Contenção para execução de zona de logradouro

Atendendo à impossibilidade de se executarem ancoragens definitivas, preconizou-se para a zona de lo-


gradouro a execução de muros de betão armado com contrafortes, fundados através de microestacas
materializadas por tubos em aço N80 (API 5A) 127,0x9,0mm (com uniões exteriores) e 139,7x9,0mm
(com uniões exteriores). Os contrafortes apresentam 0,30m de espessura, 7,80m de altura e espaçamen-
to médio em planta de 3,0m.
Atendendo à geometria irregular do lote, definiu-se uma largura variável para os contrafortes e, em al-
guns casos, preconizou-se uma viga no seu topo, de ligação ao muro de “Berlim Definitivo”, de forma a
melhorar o seu travamento horizontal.
Para execução dos muros de betão armado preconizou-se o método tradicional, de baixo para cima e
após a prévia escavação até à cota de base da sapata.
Por questões relacionadas com a arquitetura do projeto, preconizou-se o enchimento do espaço existente
entre contrafortes com aterro, compatibilizado com a impermeabilização e drenagem do paramento de
tardoz dos mesmos, constituída por tela drenante e caixa drenante, localizada na sua base e ligada ao
sistema de drenagem.
Na Figura 5, assim como uma vista do muro localizado a Nascente, muro MS3, que se encontra integral-
mente concluído, assim como os trabalhos de execução do muro MS2, incluindo a betonagem da sapata e
a preparação das armaduras dos contrafortes e do paramento do muro.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 5 – Execução dos muros de “Berlim Definitivo” MS3 e MS2

Para contenção das terras ao nível do piso 0, junto dos espaços abertos, não sendo possível o travamento
do muro em fase definitiva pelas lajes do edifício, preconizou-se igualmente uma solução de muros de
betão armado com contrafortes (MS1 e MS1’). Neste alinhamento os muros apresentam altura de 5,10m,
vencendo um desnível de terras de apenas 3,60m, razão pela qual se preconizaram contrafortes com
menor altura (3,10m). À semelhança do alinhamento anterior (MS3), os contrafortes apresentam 0,30m
de espessura e espaçamento em planta de 3,0m, sendo o seu tardoz preenchido igualmente com aterro
selecionado.
Na Figura 6 (imagem da esquerda) é apresentado um corte transversal representativo das várias solu-
ções de contenção desenvolvidas para cada desnível de terras, assim como os trabalhos associados à
execução dos contrafortes em betão armado para travamento do muro MS3 na fase definitiva (imagem
da direita).

Figura 6 – Corte transversal esquemático das soluções de contenção

A execução dos muros de contenção MS1 e MS1’ pode ser observada na Figura 7, a qual apresenta uma
vista superior e frontal dos vários alinhamentos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

MS3

MS3
MS1 MS1

MS1’
1’
MS1’ MS2
1’

Figura 7 – Vista superior (esquerda) e frontal (direita) dos muros de contenção MS1 e MS1’

4- MODELAÇÃO

De forma a analisar o comportamento das estruturas de contenção, no que se refere a esforços e defor-
mações, utilizou-se o programa de elementos finitos PLAXIS AE 2D, que permite a simulação de todas as
fases construtivas.
A análise desenvolvida consistiu no estudo de uma seção, considerada como representativa e mais condi-
cionante, com o objetivo de avaliar as deformações, estados de tensão e a estabilidade do maciço a con-
ter. Através desta análise foram determinados os esforços nas paredes de contenção e avaliadas as car-
gas a que os travamentos da mesma estarão sujeitos, nomeadamente as ancoragens e escoras provisó-
rias, assim como as microestacas de fundação.
Não obstante, elementos como vigas de coroamento e sapatas, foram analisados com base em modelos
simplificados, recorrendo, para tal, aos conceitos associados à teoria das peças lineares, bem como a
modelos de escoras e tirantes.
Na modelação desenvolvida, simulou-se o comportamento do solo através do modelo constitutivo Harde-
ning Soil. As paredes de contenção e as microestacas foram modeladas através de elementos do tipo viga
“plate”, com comportamento elástico, as ancoragens foram modeladas através de elementos tipo mola
“node-to-node anchor”, enquanto as selagens com elementos do tipo “geogrid”.
Através da modelação desenvolvida, a qual considerou uma seção considerada como condicionante e
representativa da escavação, foi possível estimar as deformações obtidas em casa fase dos trabalhos. Na
figura seguinte (Figura 8) são apresentados os deslocamentos horizontais na última fase de escavação
(esquerda), assim como a envolvente dos momentos fletores obtida para os muros de “Berlim Definitivo”
(direita).

δH,máx = 3 mm

MS3
MS3
MS2
MS2

MS1
MS1

Mmáx = 78,18kN/m
Mmin = -73,18 kN/m

Figura 8 – Deslocamentos horizontais para a última fase de escavação (esquerda) e diagramas da envolvente dos
Momentos fletores para os muros de “Berlim Definitivo”

1032
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

De forma a avaliar a segurança em termos de estabilidade global da estrutura de contenção, foram efe-
tuadas as verificações ao estado limite por perda de estabilidade global. Neste seguimento, através de
um cálculo do tipo “Safety Reduction”, foi possível estimar as superfícies críticas e os correspondentes
coeficientes de segurança, correspondentes à relação entre as forças resistentes e as forças instabilizado-
ras. Conforme apresentado na Figura 9 (direita), foi obtido um coeficiente de segurança de 1,45 para as
ações estáticas. Na mesma figura é igualmente apresentada a deformada (escala aumentada) para a
última fase de escavação).

Muro existente

MS3
MS3

MS2
MS2
MS1
MS1

Figura 9 – Deformada estimada para a última fase de escavação (esquerda) e Deformações deviatóricas incrementais
para ações estáticas - Safety Factor Reduction – FS=1,449 (direita)

No que se refere aos muros de betão armado com geometria em “L”, com e sem contrafortes (MS2, MS1
e MS1’) foi igualmente analisada a sua estabilidade externa, efetuando-se as verificações de segurança
usuais para este tipo de estrutura, em particular, o derrubamento, deslizamento e capacidade de carga
vertical, à luz da metodologia indicada no Eurocódigo 7 (NP EN 1997-1 (2010)).

5- ENSAIO PRÉVIO DE UMA ANCORAGEM

Em fase de projeto preconizou-se o sistema de injeção IRS - Injeção Repetitiva e Seletiva para as anco-
ragens associadas à contenção do tipo “Berlim Definitivo”. Porém, aquando do início dos trabalhos verifi-
cou-se a impossibilidade de realização do mesmo, tendo sido proposto pela entidade executante o siste-
ma IR - Injeção Repetitiva (Ministerio de Formento, 2005).
Contrariamente ao sistema de injeção IR, no sistema IRS a injeção é efetuada através de um obturador
duplo expansível, colocado ao longo do corpo, a partir do furo, em cada “manchete”. Através deste ele-
mento é possível injetar cada válvula isoladamente, tendo-se a garantia de abertura de todas as válvulas.
De forma a validar previamente este sistema, assim como a antecipar o desempenho das ancoragens,
tendo em conta a dimensão das cargas envolvidas, definiu-se a realização de um ensaio prévio (Figura
10). Atendendo aos condicionamentos existentes na obra, optou-se por executar o ensaio utilizando co-
mo reação um dos muros de contenção de terras previamente existente no local.
No ensaio prévio executado obteve-se uma carga de rotura, com fluência, de 1250kN e uma força máxi-
ma admissível na ancoragem de 760kN, confirmando a viabilidade do sistema de injeção IR (Ministerio de
Formento, 2005). Conforme disposto na EN1537 (2013), as características definidas para as ancoragens,
como o sistema de injeção, foram reavalidados com base nos ensaios de receção (simples e detalhados),
executados em todas as ancoragens.

1033
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 10 – Diagrama de comportamento de fluência (esquerda) e Macaco hidráulico e sistema de leituras utilizado
no ensaio prévio (direita)

6- INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Tendo por base a complexidade da obra, assim como a sensibilidade das estruturas e infraestruturas vizi-
nhas, de forma a garantir a realização, em condições de segurança e de economia, dos trabalhos relati-
vos à escavação e à construção das estruturas de contenção, definiu-se um Plano de Instrumentação e
Observação que permitiu aferir a seguinte informação:
a) Deslocamentos horizontais e verticais das estruturas de contenção;
b) Deslocamentos horizontais e verticais das construções vizinhas;
c) Cota do nível freático;
d) Medição da carga instalada nas ancoragens;
e) Medição das vibrações nos edifícios vizinhos, durante os trabalhos de escavação em materiais
com comportamento rochoso.
Para a medição das grandezas indicadas, foram instalados em obra, respetivamente, dezassete alvos
topográficos, um piezómetro, seis células de carga e dois sismógrafos.

Foram definidos os seguintes critérios de alerta e de alarme para os deslocamentos das estruturas de
contenção e edifícios vizinhos e para a variação de carga nas ancoragens, tendo como base os resultados
dos cálculos efetuados.

 Critério de alerta: deslocamentos máximos da ordem de 25mm/10m de desnível de terras, no


sentido horizontal, e de cerca de 15mm/10m de desnível de terras, no sentido vertical; Variação
de carga nas ancoragens até 10%;

 Critério de alarme: deslocamentos máximos da ordem de 40mm/10m de desnível de terras, no


sentido horizontal, e de cerca de 30mm/10m de desnível de terras, no sentido vertical; Variação
de carga nas ancoragens até 20%.

Na Figura 11 são apresentados alguns resultados de leituras realizadas nos alvos topográficos instalados
nos muros dos edifícios vizinhos, localizados a nascente. O deslocamento indicado refere-se à direção
perpendicular ao paramento em que o alvo se encontra instalado, com sentido positivo para o interior da
escavação. Apesar da muito ligeira tendência de aumento dos deslocamentos registada aquando o início
dos trabalhos de escavação em cada nível, verifica-se que os deslocamentos observados se encontram
abaixo do critério de alarme definidos e dentro da gama de valores expectável.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Critério de Alarme

Critério de Alarme

Critério de Alarme

Critério de Alarme

Figura 11 – Leituras realizadas nos alvos topográficos instalados nos muros vizinhos localizados - Alçado Nascente

No que se refere aos sismógrafos, estes foram programados com um valor de pico de 0,5mm/s e, portan-
to, se ocorrerem vibrações que induzam a propagação de ondas com velocidades superiores a este valor,
são produzidos registos contínuos enquanto os valores se mantiverem acima do valor referência.
Neste caso, os aparelhos fornecem gráficos com o registo da velocidade de propagação das ondas longi-
tudinais, verticais e transversais. A Figura 12 apresenta os registos obtidos por um dos sismógrafos nos
dias 20 de Setembro (esquerda) e 28 de Outubro de 2017 (direita).

Figura 12 – Sismogramas tipo

7- PRINCIPAIS QUANTIDADES

Para a execução das soluções de contenção apresentadas no presente documento, registaram-se as


quantidades apresentadas no Quadro 2, referentes aos trabalhos que constituem maior relevância na
obra, em particular, microestacas, ancoragens e escavação e aterro.

Quadro 2 – Principais quantidades registadas


Trabalho Quantidades
Microestacas Ø139,7x9,0mm 414 m
Microestacas Ø127,0x9,0mm 499 m
Ancoragens 635 m
Escavação 8225 m3
Aterro 1045 m3

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

8- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obra de escavação apresentada no presente artigo comprova, para os complexos condicionamentos


existentes, incluindo o cenário geotécnico existente no local, a eficácia do recurso à tecnologia de “Berlim
Definitivo”.
A adoção desta solução apresenta várias vantagens, destacando-se o facto de permitir o recurso a equi-
pamentos de reduzida dimensão e de elevada versatilidade, possibilitando a execução da parede definiti-
va em simultâneo com a escavação, assim como o ajuste da própria solução de contenção periférica no
decorrer dos trabalhos de escavação.
Como aspetos particularmente importantes neste tipo de trabalhos destacam-se: cumprimento do fasea-
mento construtivo, assim como a gestão do comportamento da obra e das estruturas e infraestruturas
vizinhas através de um adequado Plano de Instrumentação e Observação.
Na Figura 13 é possível observar o aspeto dos muros de contenção na fase final dos trabalhos. Na ima-
gem da esquerda é apresentada uma vista superior dos contrafortes do Muro MS3, sendo possível obser-
var o aterro colocado no preenchimento do espaço entre contrafortes. Na imagem da direita observa-se
uma vista geral dos vários muros de contenção na fase final dos trabalhos.

Figura 13 – Vista superior dos contrafortes do muro MS3 (esquerda) e vista geral dos muros de contenção em fase
final dos trabalhos

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao dono de obra, Invescon - Consultoria e Gestão de Empreendimentos, Lda., a


permissão para a redação do artigo. Destaca-se ainda que os trabalhos e escavação e contenção periféri-
ca foram realizados pela empresa TECNASOL.
Sublinha-se igualmente que a conceção das soluções de escavação e contenção periférica resultou de um
trabalho de compatibilização com as soluções de estruturas, desenvolvidas pela empresa BETAR – Estu-
dos e Projetos.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M. e Doix, B. (1985) - Une méthode pour le calcul de tirants et des micropieux injectés. Bulletin de
Liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, Ministère de L’Équipement, du Logement, des Transports et de
la Mer, Paris. nº140, pp.75-92.

EN1537 (2013) - Execution of special geotechnical work – Ground anchors. European Standard, European committee
for Standardization.

Ministerio de Formento (2005) - Guía para el Proyeto y la Ejecución de Micropilotes en Obras de Carretera.

NP EN 1997-1 (2010) - Eurocódigo 7, Projeto Geotécnico, Parte 1: Regras gerais, Instituto Português da Qualidade.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

SOLUÇÕES DE ESCAVAÇÃO E CONTENÇÃO PERIFÉRICA EM MEIO URBANO


EDIFÍCIO FPM41

SOLUTIONS FOR A DEEP EXCAVATION IN URBAN ENVIRONMENT


FPM41 BUILDING

Pinto, Alexandre; JETsj Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, apinto@jetsj.com


Fartaria, Catarina; JETsj Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, cfartaria@jetsj.com
Pita, Xavier; JETsj Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, xpita@jetsj.com
Veloso, Filipe; Rockbuilding-Soluções Imobiliárias S.A., Lisboa, Portugal, fveloso@rockbuilding.com

RESUMO

No presente artigo são apresentadas as soluções implementadas para os trabalhos de escavação e


contenção periférica, necessários à execução dos 6 pisos enterrados do empreendimento FPM41 em
construção na Avenida Fontes Pereira de Melo, nº 39 a 43, Lisboa. A construção do edifício, composto por
17 pisos elevados e 6 pisos no subsolo, requereu a execução de uma escavação, de aproximadamente
20m de profundidade, intersectando, essencialmente, formações do Miocénico. Adjacentes ao local da
obra, no centro de Lisboa, encontram-se edifícios centenários, um parque de estacionamento subterrâneo
e uma galeria do Metropolitano de Lisboa. Por forma a possibilitar a escavação, assegurando uma
reduzida perturbação do solo e das infraestruturas envolventes, prescreveu-se a execução de uma cortina
de estacas moldadas, no geral, travada por ancoragens de carácter provisório. Dada a proximidade à
galeria do Metropolitano de Lisboa, a solução de travamento da cortina de contenção, no alçado que
confronta para a referida galeria e para a Avenida Fontes Pereira de Melo, compreendeu a execução,
conforme metodologia em ‘Top Down’ parcial, de bandas de laje inclinados vencendo um vão de cerca de
60m, integrados na estrutura definitiva. São igualmente apresentados os principais resultados relativos à
monitorização da estrutura de contenção e da galeria do Metropolitano de Lisboa durante os trabalhos de
escavação.

ABSTRACT

This paper presents the solutions implemented for the excavation and retaining works required to
execute underground levels of FPM41 building under construction at Avenida Fontes Pereira de Melo, nº39
a 43, Lisboa. The building construction, with 17 upper stories and 6 basement floors, comprises an
approximately 20m depth excavation intersecting mainly the Lisbon Miocene soils. The site is surrounded
by centenary buildings, one underground park and vital infrastructures, such as the Lisbon Metro with a
50-year-old line, above which is located the Fontes Pereira de Melo Avenue.To reach the foundation level
safely, minimizing the surrounding soil disturbance, a retaining wall solution of reinforced concrete bored
piles was designed using mainly temporary ground anchors as support. However, due to the close
presence of the Lisbon Metro tunnel at the Fontes Pereira de Melo Avenue side, a different support
solution was designed at this side, named partial top down. The basement inclined slabs were used as
strips, cast against the ground during the excavation works, and bridging a span of about 60m. This
paper describes the main design and construction topics of this project, as well as the monitoring and
survey results measured during the excavation works, including inside the Lisbon Metro tunnel.

1- INTRODUÇÃO

No presente artigo descrevem-se as soluções de escavação e de contenção periférica, desenvolvidas para


a execução dos 6 pisos enterrados do empreendimento FPM 41, em execução na Avenida Fontes Pereira
de Melo, nº 39 a 43, Lisboa, cujo Promotor é a empresa “Edifício 41 - Promoção Imobiliária e Hotelaria
SA.”. A conceção arquitetónica do edifício, em fase final de construção, cujo projeto é da autoria de
Barbas Lopes Arquitetos, Lda., previu a demolição de vários edifícios pré-existentes no local, de modo a
permitir a construção de um novo edifício com uma forma em planta irregular, criada pela justaposição de
dois retângulos com uma área total de cerca de 1400m2, por piso. O edifício apresenta 17 pisos elevados,
destinados essencialmente a comércio e escritórios, e 6 pisos enterrados, para estacionamento
automóvel. Na vista aérea da área da Figura 1 é possível identificar a implantação da obra, bem como
algumas das mais relevantes confrontações e condicionamentos.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Vista virtual
no edifício

Vista virtual
no edifício

Figura 1 – Vista virtual do edifício FPM41, incluindo inserção na malha urbana

2- PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

2.1 - Condicionamentos de natureza geológica e geotécnica

O Relatório Geológico-Geotécnico da prospeção realizada revelou um ambiente geológico caracterizado


pela ocorrência de um substrato de fácies sedimentar, datado do Miocénico, representando por Argilas
dos Prazeres (MPr), recoberto dos materiais modernos, de origem antrópica e muito heterogéneos,
Depósito de Aterros (At).

Com base nos resultados dos ensaios realizados, confirmou-se que o cenário geológico-geotécnico é
caracterizado, superficialmente, por depósitos de aterro (At), com espessura variável entre 2m e 5m,
certamente relacionados com a ocupação urbana. Estes materiais de aterro apresentam características
heterogéneas, de natureza essencialmente argilo - arenosa a argilo-siltosa, englobando numerosos
fragmentos líticos de calibre variável. Os ensaios SPT realizados nestes materiais apresentaram,
maioritariamente, valores de NSPT compreendidos entre 4 e 19 pancadas, correspondendo,
naturalmente, os valores mais elevados aos da fração pedregosa presente.

O substrato local pertence a uma sequência sedimentar típica do «Miocénico da Região de Lisboa»,
representada por uma alternância de leitos de composição diversa, com os estratos inclinando
suavemente para SE. A formação designada por Argilas dos Prazeres (MPr), que materializa a base do
Miocénico, encontra-se localmente representada por uma sucessão de horizontes coesivos, silto-argilosos
e margosos, intercalados com leitos de argilas carbonosas e lentículas margo-gresosas (cascões) muito
resistentes. Os níveis menos profundos do Miocénico são compostos por argilas sedosas, cinzento
esverdeadas, até próximo de 6m e 9m de profundidade. Estes materiais proporcionaram valores de NSPT
situados entre 13 e 45 pancadas, traduzindo a presença de materiais com comportamento geotécnico de
solos coesivos duros a rijos. Inferiormente, foram interessadas argilas siltosas e margosas muito duras e
rijas (NSPT entre 26 e 60 pancadas), com frequentes intercalações de laminações argilo-carbonosas
cinzentas a cinzentas escuras e de lentículas calco-margosas fossilíferas, constituindo bancadas de
cascões conquíferos que não atingem mais de 1,5m de possança. Estes materiais demonstram
comportamento geotécnico genericamente favorável (rijo), indicado por registos de NSPT compreendidos
entre 35 e 60 pancadas.

O mesmo Relatório Geológico-Geotécnico referia ainda que o dispositivo geológico prospetado mostrou-se
pouco produtivo, tendo sido detetada água apenas numa sondagem, aos 22,3m de profundidade,
associada à ocorrência de nível de cascão calcário, constituindo um nível de águas com carácter
suspenso, embora perene, e cuja produtividade seria dependente do regime pluviométrico.

Durante a execução da obra, as informações indicadas no Relatório Geológico-Geotécnico foram, no


geral, confirmadas.

2.2 - Principais condicionamentos relativos às condições de vizinhança

O recinto da escavação insere-se numa zona urbanizada, encontrando-se na sua vizinhança imediata
diversas edificações, arruamentos e infraestruturas. Assim sendo e como já referido, foi necessário
desenvolver soluções compatíveis com a preservação da integridade destas, assegurando ainda todas as
condições de boa funcionalidade das mesmas.

1038
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Em particular, o recinto intervencionado confronta com as seguintes vias públicas e edifícios:

 Av. Fontes Pereira de Melo, a Nascente;

 Av. 5 de Outubro e Jardim Augusto Monjardino, com Parque de Estacionamento com três pisos
enterrados sob o mesmo, a Poente;

 Edifícios com 7 ou 2 pisos elevados, incluindo uma semi-cave, a Norte;

 Rua Latino Coelho e Hotel Sheraton, a Sul.

Atendendo à localização no centro da cidade de Lisboa, o perímetro da área de intervenção confrontava


ainda com várias construções, nomeadamente a Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, pequeno museu de
Arte, mandado construir em 1904 pelo pintor José Malhoa para sua casa e atelier de trabalho, tendo sido,
no ano seguinte, distinguido com o Prémio Valmor, a Norte, e com um parque de estacionamento
subterrâneo (com 3 pisos enterrados), a Poente (ver Figura 2). Do conjunto de infraestruturas localizadas
na proximidade da escavação, destaca-se, sobretudo, o túnel do Metropolitano de Lisboa, sob a Av.
Fontes Pereira de Melo (Linha Amarela), dispondo de cerca de 50 anos de idade e galeria em betão
simples, localizado a Nascente do recinto de escavação, que pela sua proximidade e estado de
integridade precário, constitui uma importante condicionante do projeto.

Edifício
Edifício
adjacente
adjacente

Figura 2 – Vista de algumas das principais confrontações: norte/poente (à esquerda) e norte/nascente (à direita)

3- SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA CONCEBIDAS E EXECUTADAS

Na conceção das soluções de contenção periférica procurou-se, para além de assegurar a contenção dos
terrenos a escavar, respeitar os seguintes pressupostos de base:

 Controlar as deformações nos terrenos, construções e infraestruturas envolventes à escavação,


permitindo ainda a fácil adaptação da solução a eventuais singularidades de natureza geológica e
geotécnica;

 Garantir a menor interferência possível com todas as estruturas e infraestruturas adjacentes,


nomeadamente o túnel da Linha Amarela do Metropolitano de Lisboa e o parque de
estacionamento subterrâneo, vizinho da escavação, assim como das demais construções e
infraestruturas;

 Definir soluções com o menor custo associado possível, integrando, para tal e sempre que viável,
os elementos necessários para a fase provisória na solução da fase definitiva.

Atendendo aos principais condicionamentos existentes, optou-se por conceber e executar uma solução de
contenção periférica com recurso à tecnologia do tipo cortina de estacas moldadas em betão armado e,
pontualmente, à tecnologia ‘Berlim definitivo’. Ambas foram travadas através de ancoragens provisórias,
escoramentos provisórios e bandas de laje, em função dos diversos condicionamentos identificados
(Figura 3 e Figura 4).

1039
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

G
F

C
D

B A

Figura 3 – Planta da contenção e zonamento das soluções, incluindo pormenor da solução de drenagem da cortina

No enquadramento descrito, as soluções desenvolvidas foram categorizadas nas seguintes soluções tipo:

 Solução 1:

o Solução 1A: Cortina de estacas travada com recurso a ancoragens e escoramentos


provisórios;

o Solução 1B: Cortina de estacas travada com recurso a bandas de laje.

 Solução 2: Parede de contenção tipo “Berlim definitivo”, travada com recurso a ancoragens e
escoramentos provisórios.

Tendo por base os condicionamentos existentes, em particular geológico-geotécnicos e de ocupação da


vizinhança foi adotada uma solução de contenção periférica em cortina de estacas moldadas, em betão
armado, 600mm afastadas entre eixos de 1,20m em todos os alçados, exceto no alçado AB
(confrontante com a Av. Fontes Pereira de Melo), no qual as estacas foram executadas com um
afastamento de apenas 0,80mm, entre eixos.

As estacas foram definidas com comprimentos variáveis entre 25 e 28m, por forma a assegurar um
encastramento de pelo menos 7m (em geral) ou 10m (alçado AB), abaixo da cota final de escavação.
Neste último caso, a profundidade da ficha foi determinada pelas cargas verticais que a cortina de
estacas recebe da estrutura do edifício, em fase de serviço. Atendendo às condições geológicas do local e
ao comprimento das estacas, as mesmas foram realizadas ao abrigo da tecnologia de vara telescópica
“Kelly”, com recurso a entubamento provisório apenas na parte superior, correspondente aos aterros
descomprimidos. Com esta solução pretendeu-se possibilitar a escavação, com cerca de 18m a 21m de
altura máxima, necessária para a execução dos 6 pisos enterrados, em condições de segurança.

Como já referido, a cortina foi travada provisoriamente por meio de vários níveis de ancoragens ou de
escoras, que têm como principal função a garantia do equilíbrio horizontal da contenção na fase
provisória da escavação. Por forma a garantir uma melhor distribuição dos esforços na cortina e a evitar
fenómenos de concentração excessiva de cargas, as ancoragens e os escoramentos foram apoiados nas
vigas de distribuição e nas vigas de coroamento. Atendendo aos condicionamentos de vizinhança

1040
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

presentes no alçado AB (Nascente), confrontante com a Av. Fontes Pereira de Melo e com o túnel do
Metropolitano de Lisboa, localizado sob a mesma, procurou-se evitar o recurso a ancoragens para o
travamento da contenção, de modo a minimizar as interferências com esta importante infraestrutura,
cuja integridade e funcionalidade deveria ser garantida durante e após os trabalhos de escavação e de
construção dos pisos enterrados. Neste alçado optou-se assim por um sistema de travamento constituído
por bandas de laje a integrar na estrutura definitiva. Este travamento consiste num conjunto de vigas
horizontais que resistem aos impulsos atuantes na contenção. Os elementos estruturais fazem parte, na
fase definitiva, da estrutura dos pisos enterrados. Neste caso particular, face à arquitetura definida para
os pisos enterrados, recorreu-se a bandas das lajes que materializam as rampas de acesso aos pisos
enterrados na fase de serviço da obra. Assim sendo, as lajes de travamento acompanham a inclinação
pré-definida para as rampas (Figura 4). Nos alçados perpendiculares, GA e BC, a cortina de estacas foi
revestida por uma parede em betão armado de modo a melhor acomodar as reações das referidas
bandas de laje.

Av. Fontes Pereira de Melo Av. Fontes Pereira de Melo

4m Bandas
de laje

20m
9m 9m

Microestacas
Galeria do ML de apoio 10m Galeria do ML
provisório

10m
10m

Cortina de estacas
Cortina de estacas Ø600mm//0.8mm
Ø600mm//0.8mm

Figura 4 – Secção tipo da Solução 1B na Avenida Fontes Pereira de Melo: aquando da interrupção da obra (à esquerda)
e lado direito no final da escavação (à direita)

Foi assim definida inicialmente a materialização de travamentos apenas ao nível do piso -1 (com ligação
ao piso-2) e do piso -3 (com ligação ao piso -4). Para o dimensionamento destes elementos, foi tido em
conta, não só a resistência e a rigidez necessárias para garantir as condições de segurança, como
também o processo construtivo, associado aos trabalhos de escavação e à execução da estrutura dos
pisos enterrados. Neste sentido, a geometria das bandas de laje foi definida tendo em conta a menor
interferência possível com a execução dos pilares e outros elementos da estrutura dos pisos enterrados.
Em concreto, os travamentos da contenção, no alçado AB, foram definidos por bandas de laje com 9,5m
de largura, com uma espessura geral mínima de 30cm, vencendo um vão de cerca de 62m. Os bandas de
laje foram apoiados, durante a fase de escavação, na parede de contenção e em perfis HEB260, que
funcionaram como pilares provisórios.

Considera-se importante referir que, para assegurar as indispensáveis condições de drenagem da cortina,
foram executados drenos sub-horizontais entre as estacas da cortina, com 4m de comprimento e 50mm
de diâmetro, em PVC rígido, canelado e crepinado, revestidos com geotêxtil de 200g/m 2. Estes drenos
asseguram a drenagem interna do maciço, prevenindo a eventual geração de impulsos hidrostáticos
provocados pela infiltração de águas pluviais.

4- DIMENSIONAMENTO

O comportamento das estruturas de contenção periférica, em termos de esforços e de deformações, foi


analisado, para todas as fases construtivas, através do programa de elementos finitos PLAXIS 2D (Figura
5), vocacionado para o efeito. Para a concretização desta análise foi realizada uma parametrização dos
materiais ocorrentes no local, a qual foi baseada nas informações recolhidas na campanha de prospeção
geológico-geotécnica, previamente executada, bem como no comportamento de obras de escavação
executadas anteriormente, nos mesmos materiais. Para efeitos da modelação do maciço, foram assim
utilizados os parâmetros que se apresentam no Quadro 1.

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Quadro 1 - Parâmetros geomecânicos das diferentes zonas geotécnicas consideradas


 ’ c’ E
Zona geotécnica Formação
(kN/m3) (º) (kPa) [MPa]

ZG3 Aterros e solos argilosos amarelados 17 28 5 10

“Argilas e Calcários dos Prazeres”


ZG2 19 30 40 15
(NSPT inferior a 60 pancadas)
“Argilas e Calcários dos Prazeres”
ZG1 20 35 75 60
(NSPT superior a 60 pancadas)
 -Peso específico; E - Módulo de deformabilidade; c’ - Coesão em tensões efetivas; ' - Ângulo de resistência ao corte.

A análise realizada consistiu no estudo do comportamento da contenção periférica, com base na


modelação de seções tipo, representativas das condições de geometria e geológico-geotécnicas da
contenção e escavação. Foram adotados como referência os modelos de comportamento ‘Hardening Soil’
e ‘Mohr–Coulomb’, tendo as análises sido realizadas em condições drenadas. Com base nesta análise, foi
possível avaliar os principais parâmetros de dimensionamento, nomeadamente os esforços nas estruturas
de contenção, deformações, estados de tensão e a estabilidade do maciço a conter, bem como estimar os
incrementos de deformação em estruturas e infraestruturas vizinhas ao recinto de escavação,
nomeadamente o túnel do Metropolitano de Lisboa, localizado sob a Av. Fontes Pereira de Melo
(Figura 4).

No que se refere às secções da contenção travadas com recurso a bandas de laje (alçado confrontante
com a Av. Fontes Pereira de Melo), houve necessidade de, no âmbito do seu dimensionamento, ter em
conta, não só a resistência e a rigidez necessárias para garantir as condições de segurança, mas também
o processo construtivo associado, quer à fase de escavação, mas também à fase de execução da
estrutura dos pisos enterrados. Neste sentido, a geometria das bandas de laje foi definida com o objetivo
de assegurar a menor interferência possível com a execução dos pilares e de outros elementos da
estrutura dos pisos enterrados. O estudo destas secções foi efetuado tendo em conta a interação entre a
cortina de estacas e as bandas de laje que constituem o travamento. De modo a concretizar este
objetivo, foram introduzidos apoios elásticos no modelo de análise da contenção periférica, cuja rigidez
pretendeu simular a rigidez das vigas horizontais, constituídas pelas bandas de laje de travamento. A
rigidez introduzida no modelo de elementos finitos da contenção periférica foi determinada por via da
análise do modelo das bandas de laje. Na Figura 5 ilustra-se a metodologia utilizada.

Figura 5 – Análise iterativa efetuada para a Solução 1B: deslocamentos horizontais através do modelo de elementos
finitos da secção da contenção e análise do comportamento das bandas de laje (à esquerda) e vista superior das
bandas de laje (à direita)

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FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5- EXECUÇÃO DA OBRA

No que se refere à execução da obra, regista-se o facto dos trabalhos terem sido interrompidos no alçado
que confronta para a Av. Fontes Pereira de Melo, AB, no inverno de 2015/2016, por motivos extra
técnicos, quando a cota da escavação se localizava próximo da do piso -1, sem que a primeira banda de
laje de travamento tivesse sido executada (Figura 6). Esta situação determinou o funcionamento da
cortina de estacas num vão vertical de escavação de cerca de 4m, sem qualquer travamento na respetiva
base, o que conduziu a um agravamento, não previsto em fase de projeto, das deformações horizontais
na cortina e na galeria do Metropolitano de Lisboa, a tardoz da mesma.

Figura 6 – Vista da escavação em janeiro de 2016, com os trabalhos interrompidos no alçado AB, que confronta para
Av. Fontes Pereira de Melo

Para que os trabalhos fossem retomados em condições de segurança, sem agravamento excessivo das
deformações da cortina com o decorrer da evolução da escavação em profundidade, foi necessário
executar uma banda de laje suplementar no referido alçado AB, horizontal e à cota da laje do piso -1,
assim como realizar uma parede de revestimento da cortina de estacas, em betão armado, para
incremento da respetiva rigidez. No troço central, esta banda de laje teria que vir a ser demolida em 2ª
fase, pois não era compatível com a solução rampeada prevista no projeto de arquitetura (Figura 7).

Figura 7 – Vista dos trabalhos de reforço no alçado AB em junho de 2016: banda de laje horizontal (à esquerda) e
parede de revestimento da cortina de estacas (à direita)

A solução no alçado AB foi novamente reforçada, de forma a incrementar a respetiva rigidez, com a
execução de uma segunda banda de laje suplementar entre os pisos -2 e -3, bem como de um nível de
ancoragens provisórias junto ao piso -5, a uma cota que já não conflituava com a galeria do
Metropolitano de Lisboa. Estas última medida, foi tomada com carácter essencialmente preventivo, com o
objetivo de antecipar o controlo das deformações quando a escavação se encontrava já muito próximo da
sua cota final (Figura 8 e Figura 9).

1043
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Figura 8 – Vista da totalidade das bandas de laje em dezembro de 2016

Troço da laje do
piso -1 a demolir
em 2ª fase

Reações das
bandas de laje

Figura 9 – Vista dos trabalhos junto ao alçado GA (à esquerda) e alçado AB (à direita) em fevereiro de 2017

6- PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Tendo por base o enquadramento da obra, e conforme prática corrente neste tipo de intervenções, foi
definido, no âmbito do Projeto de Escavação e Contenção Periférica, um Plano de Instrumentação e
Observação (PIO), com o objetivo de assegurar a realização dos trabalhos em condições de segurança
para a obra e para as estruturas e infraestruturas vizinhas. No enquadramento descrito, foram instalados
os seguintes aparelhos:

 25 alvos topográficos, distribuídos pelos vários alçados da contenção periférica e nas fachadas
dos edifícios vizinhos;

 6 células de carga, para aferição da carga instalada nas ancoragens;

 6 inclinómetros, a tardoz da estrutura de contenção periférica.

Adicionalmente, e tendo em conta a importância de acompanhar o comportamento da galeria do


Metropolitano de Lisboa, foram instalados 27 alvos e 18 marcas topográficas, perfazendo 9 perfis de
instrumentação no interior da referida galeria, compreendendo cada um deles duas marcas topográficas e
três alvos topográficos (ver Figura 11).

Relativamente à estrutura de contenção periférica, estabeleceram-se como critérios de alerta e de alarme


deslocamentos horizontais de 20mm por cada 10m de desnível de terras e de 30mm por cada 10m de
desnível de terras, respetivamente. No que respeita à instrumentação no interior da galeria foram
considerados os critérios estabelecidos pelo Metropolitano de Lisboa.

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Figura 10 – Deslocamentos horizontais nos inclinómetros instalados no alçado AB (à esquerda) e leitura de


inclinómetro (à direita)

Como se pode constatar pela análise dos resultados dos inclinómetros I4 e I5, instalados no alçado AB, o
comportamento da cortina de estacas foi muito condicionado pelo período de interrupção da obra, quando
a escavação se encontrava próximo da cota da 1ª cave (C-1), sem qualquer travamento e durante cerca
de 4 meses, coincidentes com o período de inverno (ver Figura 10). Com o retomar dos trabalhos de
escavação, a solução de travamentos foi reforçada e, em consequência, existiu uma evolução dos
deslocamentos, mas sem ultrapassar o critério de alerta, com exceção do coroamento da cortina, no caso
do inclinómetro I4. Destaca-se, igualmente, que a uma distribuição em altura mais equilibrada das
bandas de laje na seção do inclinómetro I5, mais próxima do canto B, terem correspondido menores
deslocamentos.

No que se refere à galeria do Metropolitano de Lisboa, apesar do seu estado precário de integridade, os
valores obtidos de movimentos relativos verticais e horizontais nos carris apenas, pontualmente, se
aproximaram dos critérios de alerta estabelecidos pelo Metropolitano de Lisboa (ver Figura 11).

Critério Alarme
M1 - ΔZ [mm] Critério Alerta Av. Fontes
Pereira de Melo

S9
Critério Alarme
M2 - ΔZ [mm] Critério Alerta

Critério Alarme Y
M1 - ΔY [mm] Critério Alerta
Z

Critério Alarme
M2 - ΔY [mm] Critério Alerta

A – Alvos Topográficos S1
M – Marcas Topográficas

Figura 11 – Deslocamentos verticais e horizontais em marcas instaladas nos carris do Metropolitano de Lisboa (à
esquerda) e localização das marcas e secções de instrumentação (à direita)

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na sequência de trabalhos semelhantes (Pinto et al., 2007 e 2011), a dimensão da obra executada
determinou a necessidade de desenvolver soluções económicas e de elevados rendimentos, definidas e
compatibilizadas tendo por base os vários condicionamentos existentes, sem comprometer a segurança e
de boa funcionalidade da obra e das construções e infraestruturas vizinhas.

A solução de travamento com recurso a bandas de laje foi concebida com o objetivo de ultrapassar a
limitação encontrada no alçado confrontante com o túnel do Metropolitano de Lisboa, alçado AB, sob a
Avenida Fontes Pereira de Melo. A viabilidade da implementação deste tipo de solução requer a
coordenação e compatibilização com as diversas especialidades, em particular com a Arquitetura e com a

1045
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

Estabilidade, aspeto esse que, no presente caso, se considera ter sido muito bem conseguido. Destaca-se
ainda que os trabalhos foram interrompidos por razões de natureza não técnica no alçado AB, quando a
escavação se encontrava próxima da cota do piso -1 e sem qualquer travamento. De forma a repor as
condições de segurança da obra e das estruturas e infraestruturas vizinhas, os trabalhos foram
retomados com a execução de uma banda de laje ao nível do piso -1. Neste contexto, destaca-se a
importância do Plano de Instrumentação e Observação, que continuou a ser implementado apesar do
interregno dos trabalhos, como ferramenta da gestão das condições de segurança da obra e das
estruturas e infraestruturas vizinhas e que, no caso presente, permitiu justificar tecnicamente a
necessidade de reinício dos trabalhos. Apesar da imprevisibilidade da situação descrita, a solução de
bandas de laje, após o necessário reforço do número total de bandas de laje, revelou um excelente
desempenho.

No início de 2018 a superestrutura do edifício encontra-se praticamente concluída e as soluções de


contenção, com dupla função de fundação, tem vido a revelar um comportamento adequado (Figura 12).

Figura 12 – Vistas da obra no início de 2018

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à “Edifício 41 - Promoção Imobiliária e Hotelaria SA.”, Dono de Obra, a autorização
para a redação e publicação do presente artigo. Consideram ainda importante sublinhar que as soluções
implementadas resultaram de um trabalho de equipa, no âmbito do qual deve ser destacado o papel
importante da empresa Rockbuilding, responsável pela gestão e fiscalização do projeto, da empresa JSJ
Estruturas, autora do Projeto de Estabilidade, e das empresas Casais e Mota-Engil, consórcio construtor
da obra de escavação e de contenção periférica.

REFERÊNCIAS

Pinto, A., Pereira, A. e Villar, M. (2007) - Deep Excavation for the new Central Library of Lisbon, Proceedings of the
14th European Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Madrid, Spain, pp. 623 – 628.

Pinto, A., Pita, X. (2011) - Deep Excavations in Luanda City Centre, Proceedings of the 15th African Regional
Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Maputo, Mozambique, pp. 269 – 274.

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A NEW APPROACH ON THE EXECUTIVE CONTROL OF ROOT PILES

UMA NOVA ABORDAGEM NO CONTROLE EXECUTIVO DE ESTACAS RAIZ

Monteiro, Fernando Feitosa; Universidade de Brasília, Brasíla, Brasil, engffmonteiro@gmail.com


Moura, Alfran Sampaio; Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, alfransampaio@gmail.com

ABSTRACT

The aim of this paper is to propose a new technique to evaluate root piles performance during field
execution, which is an injected type of pile (cast-in-place with pressure, locally known as “root” pile, with
very distinct construction aspects from the known “micropile” type). Those piles are performed by using
distinct injection pressures up to 500 kPa during the formation of the mortar shaft. The executive control
of root piles is usually carried out using static load tests, requiring a costly and time-consuming verification
method. To study the root piles performance, static load tests were performed on 8 monitored piles with
diameters of 350 and 410 mm. The technique to evaluate root piles performance is based on the use of a
digital speedometer, therefrom, a preliminary empirical formulation for root piles load capacity estimation
is developed, based on the proposals initiated by Lima (2014), Moura et al. (2015) and Monteiro (2016).
Which uses a digital speedometer to monitor variables related to root piles load capacity during execution.
Afterwards, an equation is used to estimate the load capacity of the tested piles, as a function of the
monitored variables, using the limit load value obtained from Van der Veen`s method (1953) and using
multiple linear regression. The results obtained by the proposed expression were in agreement with the
reference values (values obtained from the static load tests) for the tested piles. The monitored variables
and the load capacity presented a satisfactory correlation, stating that the proposed methodology presents
itself as a viable alternative for the executive control of root piles.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é propor uma nova técnica para avaliar o desempenho das estacas raiz durante
a execução em campo, sendo esta uma estaca injetada (moldada in loco com pressão, conhecida localmente
como estaca "raiz", com aspectos de construção muito distintos do tipo conhecido como "microestaca").
Essas estacas são execuatdas aplicando pressões de injeção distintas até 500 kPa durante a formação do
fuste de argamassa. O controle executivo das estacas raiz geralmente é realizado a partir de ensaios de
prova de carga estática, exigindo um método de verificação caro e demorado. Para estudar o desempenho
das estacas raiz, os ensaios de prova de carga estática foram realizados em 8 estacas monitoradas com
diâmetros de 350 e 410 mm. A técnica para avaliar o desempenho das estacas raiz baseia-se no uso de
um velocímetro digital, a partir daí, uma formulação empírica preliminar para a estimativa da capacidade
de carga de estacas raiz foi desenvolvida com base nas propostas iniciadas por Lima (2014), Moura et al.
(2015) e Monteiro (2016). Um velocímetro digital é utilizado para monitorar variáveis relacionadas à
capacidade de carga das estacas raiz durante a execução. Posteriormente, uma equação é utilizada para
estimar a capacidade de carga das estacas testadas, em função das variáveis monitoradas, usando o valor
de carga limite obtido a partir do método de Van der Veen (1953) e usando regressão linear múltipla. Os
resultados obtidos pela expressão proposta apresentam concordância com os valores de referência (valores
obtidos dos testes de carga estática) para as estacas testadas. As variáveis monitoradas e a capacidade de
carga apresentaram correlação satisfatória, mostrando que a metodologia proposta se apresenta como
uma alternativa viável para o controle executivo de estacas raiz.

1- INTRODUCTION

The comprehension of foundations behavior is one of the great challenges in foundation engineering,
particularly with regard to pile load capacity and load transfer. The technical community uses analytical
methods as common practice to determine the forces that act on deep foundations. Among the many
processes in foundation engineering, executive control of piles is one of the subjects that demands a special
concern, since foundations are the structural elements responsible for transferring loads to the soil,
generating a soil-structure interaction. During design phase, pile load capacity is predicted using empirical,
semi-empirical and theoretical methods. On the executive phase, load capacity of root piles are verified by
static load tests. In deep foundations studies, there are several methods regarding the performance
evaluation; from traditional to modern methods, as the method described by Silva e Camapum (2010), for
continuous flight auger piles. In case of bored piles, variables measured on field, such as torque and energy
during pile execution, can become an effective implement in the process. The aim of this paper is to propose
a new technique to evaluate root piles performance during field execution.

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2- ROOT PILES EXECUTIVE CONTROL

The root pile is an injected type of pile (cast-in-place with pressure, locally known as “root” pile, with very
distinct construction aspects from the known “micropile” type); being able to be performed at various
angles from zero to 90 degrees. The executive process of root piles is composed of the following phases:
pile pointing, drilling, reinforcement bar placement, mortar filling, drill pipe removal and application of
compressed air (Figure 1). This type of pile has a differentiated execution process, thereat; it has some
advantages over other executive processes, depending on local conditions and on soils properties that the
pile will be performed. The root pile has the following advantages and disadvantages over more
conventional techniques: Absence of vibration and decompression of the soil; execution in areas of limited
space, due to the small and medium size equipment; Execution within higher slopes (0 to 90º); High cost;
High cement consumption; Site waterlogging due to high water consumption.

Figure 1 – Root pile execution stages

The executive control is a necessary procedure for piles performance verification, such procedure depends
on the type of pile. In the design phase, the executive control occurs by means of semi-empirical
formulations used in the prediction of pile load capacity. Those formulations use values of static penetration
resistance or dynamic penetration resistance obtained in cone penetration tests (CPT) and standard
penetration tests (SPT) respectively, where the SPT is the most used in Brazil. The coefficients determined
in the model are affected by factors such as tests procedures, type of load test, failure load estimation,
executive procedures and its effects on soils properties. Among the semi-empirical methods for pile load
capacity evaluation, traditional methods are used for driven and bored piles, and specific methods are used
for root piles. In Brazil, those are the most used methods: Aoki e Velloso (1975), Lizzi (1982) and Cabral
(1986). Table 1 presents an overview of those semi-empirical methods.

Table 1 - Semi-empirical methods for root pile load capacity estimation

Coefficie Dimensionles
Methods Tests Resistance Parameters Observations Applications
nts s Factors
K , α : Type
of soil func-
Aoki and
SPT and Tip Resistance and tion Driven and
Velloso Ap , U and DL K,α F1 e F2
CPT Shaft Resistance F1 and F2: Bored Piles
(1975)
Type of pile
function
K : soil-pile
adherence or
Lizzi cohesion
- Shaft Resistance D K and I - Root Piles
(1982) I : Nominal
Diaemeter
Function

βo : Pressure
and diameter
Cabral Tip Resistance and βo, β1, function
SPT N , U , DL, Ap - Root Piles
(1986) Shaft Resistance β2 β1, β2 : Type
of soil func-
tion

Currently the executive control of root piles during its executive process is carried out using the following
variables: cement bags consumption, number of compressed air blows, comparison of the excavated soil

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with the soil obtained from SPT through tactile-visual analysis, excavation duration, injection time and liner
installation duration. After pile execution, the executive control is done by field tests, in order to check
performance and integrity of the structural element. For performance verification, the field tests that stands
out are the dynamic loading tests and the static tests or static load test. For integrity verification, it is used
the sonic integrity test, the Cross-Hole and Cross Hole Sonic Logging– CSL, whose purpose is to check the
quality of the mortar shaft, through the emission and reception of ultrasound pulses. To determine the
variation of mortar characteristics along the pile shaft, it is performed the integrity test itself, which
constitutes of an attachment of a high-sensitivity accelerometer at the top of the pile by means of viscous
material, such as petroleum wax , and application of successive blows with a hand hammer. The signal
obtained through accelerometer is scanned by a microcomputer and then integrated to obtain the velocity.
It is assumed that the feasibility of monitoring some parameters related to the soil resistance during the
excavation could indeed be a tool of control or even be used in load capacity estimation. This monitoring
constitutes a challenge due to their complexity and the external factors involved, such as perception and
action of the operator; the lack of monitoring devices for the equipment used in the pile execution; and
even the mud produced in the excavation phase. In Brazil, researches were carried out evaluating the
performance of root piles, which were developed at UnB, UNICAMP, USP, EESC / USP and UFC, where the
following stand out: Nogueira (2004), Garcia (2006), Venâncio (2008), Albuquerque et al. (2009), Cunha
(2011), Lima (2014), Moura et al. (2015) and Monteiro (2016). Moura et al. (2015) proposed the
monitoration of some parameters related to the soil resistance during pile execution could indeed be a tool
for root pile executive control.

3- CASE STUDY

The proposed methodology for the development of this research was based on the execution of the following
steps: literature review; research site selection; data collection; load capacity of installed piles review; pile
implementation monitoring; static load test execution; results analysis and conclusions. In Figure 2, the
location of the selected sites for the development of the research is presented. Five sites were selected for
the study. In all areas of study, civil works were built with root piles foundations. The sites are located in
the city of Fortaleza, in Brazil. Table 2 presents geometric and executive data of the performed piles in the
research sites. The piles studied on the research presented length varying from 7,7 to 26 m and diameters
of 0,350 and 0,410 m. Injection pressures of 300 and 400 kPa were observed during pile execution. Piles
1 and 2 were executed in Site 1, piles 3 and 4 were performed in Site 2, pile 5 was executed in Site 3 and
pile 6 performed in Site 4; Piles 7 and 8 were executed in Site 5. All the analyzed piles in this paper were
executed by the same company, same machine type and operator, aiming to minimize the errors of the
proposed methodology. The constructive methodology of all the piles followed the execution stages
described in Figure 1, where the machine advances with the rotation of the drill bit using water as a drilling
fluid.

Figure 2 - Site Locations

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Table 2 – Geometric and executive data of studied piles


Sites
Data
1 2 3 4 5
Pile 1 2 3 4 5 6 7 8
L (m) 7,7 7,7 15 15 26 12 16 12
D (m) 0,410 0,410 0,410 0,410 0,410 0,350 0,410 0,410
Injection Pressure (kPa) 400 400 300 300 300 300 300 300
Work Load (kN) 1000 1000 1200 1200 1400 800 1200 1200

3.1 - Field Tests Results

The data collection of geological and geotechnical information of the research sites (Sites 1 to 5) was based
on data collected through standard penetration tests reports, whose procedures followed ABNT (2001). In
total, 30 standard penetration tests were performed; 5 SPT tests were performed on Site 1 and 2, on Sites
3 and 5, 8 SPT tests were executed, and o Site 4 a total of 4 SPT tests were performed. Figure 3 presents
the average SPT results for each site.

Figure 3 – Average SPT results for each site – (a) Site 1; (b) Site 2; (c) Site 3; (d) Site 4; (e) Site 5

Site 1 has a clayey silt soil layer with 5m thick, followed by siltstone and sandstone layers, the water table
was observed at 3 m depth. Site 2 presents a 12 m thick clayey sand layer, followed by a silty clay layer
with thickness varying from 3 m to 5 m, the water table is located at 1 m depth. Site 3 presents a silty
sand layer with extension of 2 m, followed by a silt clay layer with 9 m thickness, on the profile base, a
magmatic gneiss rock is identified. The water table is verified at 2 m depth. Site 4 features a layered subsoil
with silty sand and clayey sands along the entire depth, the water table is observed at 7 m depth. Site 5
presents a silty sand layer with 2 m thick, followed by a clayey silt layer with 9 m thickness and a 12 m of
sandy clay, the water table is located at 4 m depth. Site 1, 2 and 3 presented soils with high NSPT values,
on ther hand, sites 4 and 5 presented variable NSPT values. In all sites, monitored piles were submitted to
slow static loading tests, according to ABNT (2006). Pile load tests were carried out in 10 load stages, in
which each stage correspond to 20% of the pile work load. A total of 8 static load tests were carried out in
those sites during the research. Static load test results are presented in Figure 4.

During the static load test, pile 1 was subjected to a maximum load of 2000 kN, reaching a maximum
settlement of 2.24 mm. After unloading, a residual settlement of 1.22 mm is observed. Pile 2 was subjected
to a 2000 kN load, presenting maximum settlement of 4.32 mm. After unloading, a residual settlement of
0.22 mm is observed. The soil-pile system behavior presented in the load-test test, corroborates with the
results of standard penetration tests, where high resistance of the soil-pile assembly and low
displacements are verified. It is also noted that, the load-settlement curve does not present indicative of
physical rupture, nor of conventional rupture for piles 1 and 2. On the load test, pile 3 was subjected to
a load of 2400 kN, reaching a maximum settlement of 11.24 mm. After unloading, a residual settlement of
3.05 mm is verified. Pile 4 was subjected to a maximum load of 2400 kN. The obseverd maximum
settlement is 10.38 mm and the residual settlement measured after unloading is 2.86 mm. It can be noticed
that both the pile-soil system of piles 3 and 4 present similar mechanical behavior, where the piles
presented displacements of 2.74% and 2.53% of the shaft diameter, respectively, for an axial loading of
same value. Again the agreement between the behaviors is attributed to the similarity of the subsoil. It is
also verified that the load-settlement curve does not indicate rupture and its remarkable linearity indicates
a predominantly elastic behavior. During the static load test, pile 5 was subjected to a 2240 kN load,
reaching a maximum settlement of 8.04 mm. After unloading, a residual settlement of 2.20 mm is obtained.

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The soil-pile system behavior in the load test, corroborates with the results of the standard penetration
tests, where a high resistance of the pile-soil system is verified. From the load-settlement curve, a clear
failure load can not be obseverd. Pile 6 was subjected to maximum 1620 kN load, reaching a maximum
settlement of 15.61 mm. After unloading, a residual settlement of 10.10 mm was obtained. In this case,

the tenth stage of programmed load test was not applied, because the pile evidenced failure eminence.

Figure 4 - Load Tests Results – (a) Pile 1; (b) Pile 2; (c) Pile 3; (d); Pile 4; (e) Pile 5; (f) Pile 6; (g) Pile 7; (h) Pile 8

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Pile 7 was submitted to a maximum 2400 kN load, causing a maximum settlement of 13.85 mm. After
unloading, a residual settlement of 3.54 mm is obtained. Pile 8 was subjected to a maximum load of 2400
kN, observing a maximum settlement of 25.04 mm. The residual settlement obtained after unloading is
18.28 mm. It is observed that physical rupture occurred in pile 8, where lateral and tip resistance were
both mobilized. It is worth mentioning that in static load tests that did not present physical failure, the
established Van der Veen method (1953) was used for failure load extrapolation, which is the case of piles
1, 2, 3, 4 and 5. For piles 6, 7 and 8, in which it was possible to visualize the failure load value, when large
displacements were observed for small load increments, no extrapolation methods were required. Thus,
the adopted failure load values of the studied piles are described in Table 3. The determination of failure
load without the soil-pile system physical failure is a controversial issue in foundation engineering, although
Van der Veen's (1953) methodology has great national acceptance (FOÁ, 2001).

Table 3 - Test piles failure load


Site Pile Failure Load (kN)
1 3000
1
2 3200
3 3100
2
4 2900
3 5 2800
4 6 1550
7 2450
5
8 2150

3.2 - Monitoring

The root piles monitoring was carried out in two stages, the first stage consisted in the control of pile
execution equipment and execution procedures. In this way, initially the following variables were verified:
initial time of pile execution (moment in which the operator initiates the excavation process), diameter of
the drill rotator, drill bit diameter, pile length and air injection pressure. In the second stage, variables are
measured during the pile execution process (excavation), such as: final time of pile execution (thus
obtaining the pile execution time), number of air blows, cement consumption, average angular velocity and
maximum angular velocity of the drill rotator, time elapsed at the penetration of the drill bit into pre-set
excavation lengths, and the equivalent linear distance traveled by the drill rotator, in the measured time
interval. The monitoring consisted of variables measurement during the pile execution. Initially, the
monitoring equipment is positioned at the top of the machine drilling head that performs the pile, as seen
in Figure 5.

Figure 5 - Monitoring equipment (1) Magnet; (2) Sensor; (3) Speedometer

The digital speedometer, used in the research, provides measurement of the linear speed of the drill rotator,
linear distance traveled by the drill rotator, and the stopwatch function. At each lap of the rotator, the
magnet attached to the drill rotator approached the sensor, installed at a maximum distance of 4 cm from
the magnet. In each lap, the data is sent to the speedometer, and the information processed by it is
presented on the display (Figure 5). It is recommended to use a neodymium magnet, which causes the
sensor to pick up waves more accurately. It is also worth noting the need to use a digital speedometer with
a precision of at least two decimal places. Initially, the speedometer was programmed according to the drill
rotator diameter, so that the linear distance traveled by the drill rotator was measured. For each passage
of the magnet by the sensor, the total distance traveled by the rotator in a determined time interval during
the excavation performed by the drill bit is recorded. Considering the recommendations made by Lima
(2014), sections of 10 cm, 20 cm and 20 cm were marked on the excavation rod used in the execution of
the pile last meter, where the monitoring was performed. During the excavation of each section in the

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execution of the pile last meter, the excavation time between 2 consecutive sections is measured, in this
way, the variable denominated drill bit advance velocity (Va) is obtained.

The other measured variable is the linear speed of the drill rotator during the excavation of the same
section. The linear distance traveled by the drill rotator in a section is divided by the drill rotator
circumference length, thus obtaining the number of laps performed by the drill rotator during the excavation
of a section. From the elapsed time during the excavation of this section and the number of laps performed,
it is possible to determine the number of laps per minute, that is, the frequency (f) of the drill rotator. The
drill rotator angular velocity (r) is obtained from the following relation:

𝜔𝑟 =2𝜋𝑓 [1]

Since the drill rotator is connected to the drill bit at the bottom of the excavation by simultaneously rotating
excavation rods, it can be assumed that the drill bit angular velocity (b) is equal to the drill rotator angular
velocity (r).

𝜔𝑟 =𝜔𝑏 [2]

From the relationship mentioned above, the linear velocity of the drill bit is then determined from the
following equation:

𝑉𝑏 =𝜔𝑏 𝑅𝑏 [3]

Where: vb is the drill bit linear velocity; b is the drill bit angular velocity and Rb is the drill bit radius. Then,
the drill bit linear velocity and the drill bit advance velocity are associated with the pile load capacity,
according to the association previously made by Lima (2014). The formulation of equations for executive
control of monitored piles was initiated by choosing variables that would compose the equation and
considering that the formulation intends to contribute to the development of an empirical formulation with
simple and applicable use, that can be used in the executive control of root piles. Based on the suggestions
of Lima (2014), two variables obtained during monitoring were selected to correlate to pile load capacity:
drill bit linear velocity and drill bit advance velocity, the first one being associated to the skin friction
resistance and the second to the tip resistance. In addition to the drill bit linear velocity and drill bit advance
velocity variables, the following variables were considered: tip resistance index (N SPT, tip), average lateral
resistance index (𝑁̅SPT, 𝑙𝑎𝑡), pile diameter (D) and pile length (L). The average lateral resistance index (𝑁̅SPT,
𝑙𝑎𝑡) is determined from the average NSPT values along the shaft indicated in the standard penetration tests
results used for each pile. The tip resistance index (NSPT, tip) is determined by the average of the NSPT values
at the tip depth of the probes used for each pile.

Lima (2014) proposed several mathematical models to relate the monitored variables and determined load
capacity using load tests. Thus, it can be concluded from the carried out analyzes that the portion related
to the tip resistance (Qp) should be composed of the tip area (Ap), drill bit advance velocity (va) and tip
resistance index (NSPT, tip); while the lateral friction resistance (Ql) should be composed of the following
variables: linear drill bit velocity (vb), pile perimeter (U = ϖ D), pile length (L) and average lateral resistance
index (𝑁̅SPT, 𝑙𝑎𝑡). In order to correlate the monitored variables with the piles load capacity, obtained from
load tests, it is necessary to estimate the ultimate load capacity (Qult) components, skin friction resistance
and tip resistance. ABNT (2010) indicates that for bored piles, lateral resistance accounts for at least 80%
of the total resistance and pile tip resistance responsible for 20% of the total resistance. For the
development of the proposed expression in this research, a multiple linear regression analysis method was
used, considering a dependent variable and several independent variables. It is worth mentioning that the
use of electric strain gauges to evaluate the load transfer mechanism in deep foundations is a consolidated
methodology and that has presented satisfactory results in experiments conducted in Brazil.

4- RESULTS AND DISCUSSIONS

Measurements of some relevant variables during pile execution, which would later be submitted to static
load test were recorded. In Table 4, data records obtained during monitoring related to geometry and
technological control of the piles are presented. From the monitoring recorded data, it is observed that the
piles of Site 1 (Sites 1 and 2, of the same length and diameter) presented execution times in the same
order of magnitude. For those piles, the air injection pressure and the cement consumption were constant.

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In Site 2, where piles 3 and 4 were executed, an execution time difference of 68 min is obseverd. For these
same piles, the cement consumption number of air blows and air injection pressure are similar. Pile 5 (Site
3) was the pile that presented the biggest length, as well as the highest cement consumption. It is worth
mentioning that in Sites 4 and 5, where piles 6, 7 and 8 were executed, there were stoppages during pile
execution, due to maintenance necessity, causing a significant increase in execution time. It is worth
mentioning that pile 6 presented a lower cement consumption and execution time when compared to pile
8, which also has a 12 m length. This is due to the fact that the mentioned pile presents a smaller shaft
with 0,35 m diameter.

Table 4 - Technological control stage results


Cement
Diameter Air Injection Pressure
Pile Length (m) Execution Time (min) Air Blows Comsumption
(m) (kPa)
(kg/m)
1 0,41 7,7 196 400 2 91
2 0,41 7,7 183 400 1 91
3 0,41 15 185 300 3 47
4 0,41 15 117 300 3 47
5 0,41 26 279 300 3 27
6 0,35 12 155 300 4 58
7 0,41 16 320 300 7 44
8 0,41 12 280 300 6 58

After monitoring the variables related to technological control, the variables that were related to pile
performance were monitored. The results of this monitoring phase are featured in Table 5, where the
evaluated variables are : excavation length and excavation time, from which the advance velocity (v a) was
obtained; drill rotator frequency , which is determined from the number of rotations performed by the
rotator during the excavation time; drill bit angular velocity (ω b), which is determined from the drill rotator
frequency; drill bit linear velocity (vb), which is associated with the drill rotator frequency; (Nspt, tip) and
the average penetration resistance index along the pile (𝑁̅𝑠𝑝𝑡, 𝑙𝑎𝑡).

Table 5 – Monitoring stage results


Advance Angular Linear
Excavation Frequency
Pile Time (s) Velocity Velocity Velocity NSPT, tip NSPT, lat
length (m) (Hz)
(m/s) (rad/s) (m/s)
0,10 38,00 2,63E-03 2,01 12,60 1,95
0,20 51,00 3,92E-03 2,50 15,72 2,44
1 60 50
0,20 78,00 2,56E-03 2,15 13,50 2,09
0,20 72,00 2,78E-03 2,25 14,13 2,19
0,10 27,00 3,70E-03 1,76 11,08 1,72
0,20 50,00 4,00E-03 2,67 16,76 2,60
2 60 52
0,20 56,00 3,57E-03 1,36 8,55 1,33
0,20 54,00 3,70E-03 2,65 16,62 2,58
0,10 11,22 8,91E-03 2,55 16,00 2,48
3 0,10 8,27 1,21E-02 1,15 7,24 1,12 60 33
0,20 19,28 1,04E-02 0,99 6,21 0,96
0,10 4,76 2,10E-02 2,00 12,57 1,95
4 0,20 9,78 2,04E-02 1,95 12,24 1,90 60 32
0,20 15,84 1,26E-02 1,20 7,56 1,17
0,10 18,59 5,38E-03 1,54 9,66 1,50
5 0,20 34,30 5,83E-03 1,94 12,21 1,89 60 52
0,20 43,19 4,63E-03 1,76 11,08 1,72
0,15 29,00 5,20E-03 3,99 25,1 3,89
6 10 6
0,20 43,00 4,70E-03 4,06 25,48 3,95
0,30 30,00 1,00E-02 2,05 12,86 1,99
7 39 22
0,20 27,00 7,40E-03 2,44 15,32 2,37
8 0,30 38,00 7,90E-03 1,61 10,14 1,57 22 22

1054
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

0,20 44,00 4,50E-03 4,38 27,52 4,27

From Table 5, it can be observed that during the execution of the pile last meter, the measured excavation
length during monitoring varied between 0,35 and 0,7 , those sections were segmented for a better
understanding of the monitored variables behavior. At first, it was sought to carry out the monitoring in
sections of: 10 cm, 20 cm and 20 cm. However, due to unforeseen events that occurred in the field, it was
necessary to make changes in the length of the monitored sections. The penetration resistance index value
(NSPT) is limited to 60, in depths that present high NSPT values, where the pile execution continued without
additional difficulties. For piles 1 and 2 executed in similar stratigraphic profiles (Site 1), higher excavation
times are observed when compared to the other piles, whose motive is attributed to the pile tip seated on
rock profile. Thus, for these piles, lower advance velocities are verified. However, the drill rotator frequency,
which is directly associated with the drill bit linear velocity, presents similar values (which decrease 23.0%)
when compared with values for piles 4 and 5.

Pile 5 (Site 3), which has the tip supported in magmatic gneiss, and which has an average penetration
resistance index along the shaft similar to piles 1 and 2, which also have the tip supported on rocks. In Site
4, where pile 6 was performed, a reasonable compliance with pile 8 is verified when advance velocity is
evaluated. Piles 6 and 8 are embedded in soils stratigraphy that alternate between silty sandy, sand, clay
and sandy clay. These piles present a 7.4% variation when compared to the respective advance velocities,
which is smaller for pile 8. This is due to the fact that the penetration resistance index at the tip of the pile
8 is higher than pile 6. Thus, it is observed a correlation between these two variables, as proposed by Lima
(2014), in such a way that, the higher the penetration resistance index, the lower the advance velocity,
presenting an inversely proportional ratio.

Piles 7 and 8 were executed in Site 5, whose soil profiles are similar. However, it is worth mentioning that
the tip of pile 7 is supported on a silty clay soil and the tip of the pile 8 is seated in a clayey sand soil. In
these cases, the tendency indicated by Lima (2014) regarding the advance velocity and the tip penetration
index of the pile is not observed, because the soil where pile 7 is supported presents a tip penetration index
higher than the soil below pile 8, as well as the advance velocity. By comparing piles 6, 7 and 8, high
frequency values were observed, which were already expected due to the direct frequency relationship with
the drill bit linear velocity (vb). Thus, it is possible to observe, that the higher the frequency, the greater
the drill bit linear velocity and the smaller the soil N SPT. Based on the above, it is possible to notice noticed
that pile load capacity is inversely proportional to the drill bit linear velocity (vb) and the frequency.

Using the recommendations of Lima (2014), two variables obtained during monitoring were related to the
pile load capacity, namely: linear drill bit velocity and drill advance velocity. The first is associated with skin
friction and the second with the tip resistance. During the execution of the monitored piles, the values of
these variables were recorded in the final 50 cm of excavation, which allowed to verify the existence of a
relationship between them and the pile load capacity, as observed in Table 6. In addition to the
aforementioned variables, the following variables were also associated with the load capacity of the studied
piles: tip resistance index (NSPT, tip), average lateral resistance index (𝑁̅SPT, 𝑙𝑎𝑡), pile diameter (D), perimeter
pile perimeter (U) and pile length (L). Table 6 presents the average values of the monitored variables.

Table 6 - Average values of the monitored variables


Pile Excavation length (m) Time (s) va (m/s) Frequency (Hz)  (rad/s) Vb (m/s) NSPT,tip NSPT lat Qult (kN)
1 0,175 59,75 2,97E-03 2,23 13,99 2,17 60 50 3000
2 0,175 46,75 3,74E-03 2,11 13,25 2,05 60 52 3200
3 0,133 12,92 1,05E-02 1,56 9,81 1,52 60 33 3100
4 0,167 10,13 1,80E-02 1,72 10,79 1,67 60 32 2900
5 0,167 32,03 5,28E-03 1,75 10,98 1,70 60 52 2800
6 0,175 36,00 4,95E-03 4,03 25,29 3,92 10 7 1550
7 0,250 28,50 8,70E-03 2,24 14,09 2,18 39 22 2450
8 0,250 41,00 6,20E-03 3,00 18,83 2,92 22 22 2150

For the development of the proposed expression, a multiple linear regression analysis method was used,
considering a dependent variable (Ql and Qp) and several independent variables. It is worth noting that
since monitoring data was divided into calibration and validation data. Thus, piles 3, 4, 6, 7 and 8 were
randomly chosen for the development of the expression (calibration) and piles 1, 2 and 5 for validation.
The choice of piles for the calibration of the model was performed in a random manner, in order to provide
an equally likely chance of occurrence of all samples of the population of piles. A sample should be randomly
collected to represent the population from which it is accurately drawn. Samples must be random to

1055
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

eliminate the selection vitiation. If the sample is vitiated, it is only possible to make inferences about the
piles of the sample, and not about the entire pile population. In order to develop the equation, the pile load
capacity was divided as recommended by ABNT (2010) for bored piles , 80% of the total pile load capacity
is supported by skin friction resistance and the tip resistance is responsible for 20% of the total load
capacity. Tables 7 and 8 show the relation of variables with respective lateral and tip load capacities.

Table 7 - Relationship between shaft resistance and monitored variables (Ql = 80%)

Pile Ql (kN) vb (m/s) NSPT,lat U.L (m2)

3 2480 1,521 33 19,321


4 2320 1,672 32 19,321
7 1960 2,184 22 20,609
6 1240 3,92 7 13,195
8 1720 2,919 22 15,457

Table 8 - Relationship between tip resistance and monitored variables (Qp = 20%)

Pile Qp (kN) Ap (m2) va (m/s) NSPT,tip

3 620 0,13203 0,010459 60


4 580 0,13203 0,018028 60
7 490 0,13203 0,0087 39
6 310 0,09621 0,00495 10

8 430 0,13203 0,0062 22

Since Ql and Qp are the dependent variables and the other independent variables, the multiple linear
regression analysis method is applied, obtaining the following equation:

81,61 𝐴𝑝 0,015 𝑁𝑆𝑃𝑇,𝑡𝑖𝑝0,404 ̅𝑆𝑃𝑇,𝑙𝑎𝑡 0,168


1615,33 (UL)0,0058 𝑁
𝑄𝑢𝑙𝑡 = + [4]
𝑉𝑎 0,08 𝑉𝑏 0,44

Knowing that the first part of equation refers to pile tip resistance and the second portion corresponds to
pile shaft resistance. Where: Ap is the tip area (m²); (va) drill bit advance velocity (m/s); NSPT, tip is the tip
resistance index; vb is the drill bit linear velocity (m/s); (U x L) is the shaft projection area (m2) and 𝑁̅𝑠𝑝𝑡,
𝑙𝑎𝑡 is the average lateral resistance index. The proposal validation consists on the application of the
developed formulation using recorded data of the piles that were not used for calibration. Thus, with the
static load tests performed in these same piles, it is possible to evaluate the proposed expression
performance. Piles 1, 2 and 5 were randomly selected for the methodology validation. Table 9 presents the
load capacity prediction from the proposed expression, as well as those obtained from the static load test
results.

Table 9 – Load capacity prediction using the proposed expression and load tests
Pile 1 Pile 2 Pile 5
Method
Ql (kN) Qp (kN) Qt (kN) Ql (kN) Qp (kN) Qt (kN) Ql (kN) Qp (kN) Qt (kN)
Proposed Expression 2244,7 671,0 2915,6 2314,5 658,2 2972,7 2533,7 639,8 3173,5
Load Test 3000 3200 2800

It is observed that the percentage error between the estimated values and the reference values are at most
13.3%. When comparing the estimated load capacity value and the reference value for pile 1, absolute
percentage error of 2,8% is verified. It is worth mentioning that load capacity value estimated for pile 1
presented a slightly lower value than the reference value (load capacity obtained from the load test). For
pile 2, an absolute percentage error of 7,1% is observed when comparing the estimated load capacity value
with reference value. As with pile 1, it is found that the load capacity value for pile 2 are lower than the
reference value. Pile 5 presented a distinct tendency when compared to the other validation piles,
presenting the greater absolute percentage error (13,2%). The predicted load capacity value for pile 5 were
higher than the reference value.

1056
FUNDAÇÕES, ESCAVAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS| 16 CNG

5- CONCLUSIONS

In this research, a simplified methodology for the executive control of root piles was proposed, providing a
useful tool to assist in the decision making of pile lenght during the pile execution, being able to assess pile
load capacity in this phase. The methodology is based on the monitoring of pile variables (drill bit advance
velocity and drill bit linear velocity), determined from correlations of classical physics fundamentals with
measurements made in the field. Based on these equations, it became possible to establish a monitoring
methodology for root piles. The execution variables measured in the monitoring are correlated with load
capacity values obtained from load test tests through the use of multiple linear regression. Through
validation, it is verified that a correlation between the load capacity and the suggested variables exists.

It was possible to evaluate that the higher the penetration resistance index, the lower the advance velocity
(va), thus, it is observed that the relation between these variables is inversely proportional. A direct
relationship between the frequency and the drill bit linear velocity (v b) is observed. It was also possible to
evaluate that pile load capacity is inversely proportional to the linear velocity of the drill (v b) and the
frequency.

The proposed expressions for the executive control of root piles present physical sense regarding pile load
capacity. The method assumes reliable standard penetration tests that must be performed at the time of
pile execution. It is observed that the proposed methodology presents itself as a viable alternative for the
executive control of root piles.

ACKNOWLEDGMENTS

The authors would like to thank CNPq for the financial support.

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1058
1059
GEOTECNIA AMBIENTAL,

PLANEAMENTO E

SUSTENTABILIDADE
1060
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A UTILIZAÇÃO DOS SIG NO DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA


GEOTÉCNICA EM ÁREAS URBANAS

GIS AND THE GEOTECHNICAL CARTOGRAPHY DEVELOPMENT IN URBAN


AREAS

Monteiro, António; Technical Scientific Unit of Engineering and Technology, Research Unit for Inland
Development, Polytechnic Institute of Guarda, Guarda, Portugal, amonteiro@ipg.pt
Andrade Pais, Luís José; Department of Civil Engineering and Architecture, Beira Interior University,
Geobiotec, Covilhã, Portugal, ljap@ubi.pt
Rodrigues, Carlos Manuel; Technical Scientific Unit of Engineering and Technology, Polytechnic Institute of
Guarda, Guarda Portugal, crod@ipg.pt
Cavaleiro, Victor; Department of Civil Engineering and Architecture, Beira Interior University, Geobiotec,
Covilhã, Portugal, cavaleiro@ubi.pt

RESUMO

A execução de cartografia em áreas urbanas confronta-se com a permanente reorganização deste meio,
quer pelo aparecimento de novas construções quer pela reorganização do espaço existente, nomeadamente
em zonas de reabilitação de edifícios. Na cartografia geotécnica em particular, a reorganização urbana
permite a observação e realização de escavações, de fundação, abertura de valas, poços e furos de
sondagem, que constituem um grande acervo de dados para a cartografia geotécnica, sendo que a principal
dificuldade está na exposição mínima, temporal e espacial, do terreno natural. A utilização dos Sistemas
de Informação Geográfica (SIG), no desenvolvimento da cartografia geotécnica veio dar um passo
significativo, pelo recurso à utilização de bases de dados geográficas, novas ferramentas de análise e mais
recentemente a utilização de softwares e plataformas livres. Pretende-se demonstrar com este trabalho,
que utilizando dados de uma base de informação geográfica vinda de plataformas abertas (Google maps,
Bing maps e OpenStreetMap), devidamente tratada em software livre de código aberto (QGIS), se poderá
elaborar cartografia de índole geotécnica, que contenha a delimitação de áreas identificadoras do grau de
alteração do granito, através de módulos com ligação à plataforma “streetview”. A utilização destas
plataformas permite colmatar o limite temporal referido acima, pois permite em alguns casos, ter acesso
a imagens recolhidas durante a execução de trabalhos de escavação, contendo dados importantes para a
caracterização geológica e geotécnica da área em estudo.

ABSTRACT

In urban areas the cartographic execution is confronted with their permanent reorganization, either by the
appearance of new constructions or by the reorganization of existing area, namely in rehabilitation
buildings ’areas. Particularly in geotechnical cartography, the urban reorganization allows the observation
and realization of excavations, foundations, trenches, drilling sampling wells and holes, which constitute a
great data collection for geotechnical cartography, being the main difficulty the minimum temporal and
spatial exhibition of the natural land. The use of Geographic Information Systems (GIS) in the geotechnical
cartographys’ development has taken a significant step by using geographic databases, new analysis tools
and, more recently, the use of free software and platforms. The aim of this work is to show that by using
data of a geographic information base from open platforms (Google maps, Bing maps and OpenStreetMap),
properly treated in free open source software (QGIS), we will be able to create a geotechnical map, which
contains the delimitation of identifying areas of granites’ alteration degree, through modules connected to
the streetview platform. The use of these platforms makes it possible to close the temporal limit that has
been referred to as it allows, in some cases, to have access to images collected during the execution of
excavation works, containing important data for the geological and geotechnical characterization of the
study area.

1- INTRODUÇÃO

A cartografia geotécnica em áreas urbanas tem sofrido avanços notáveis. A difusão dos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG), intensificada nas últimas décadas, veio proporcionar um passo significativo
no desenvolvimento da cartografia geotécnica por recurso à utilização de bases de dados geográficas e
novas ferramentas de análise (Rodrigues Carvalho et al., 2010). A crescente necessidade de uma
informação mais completa e diversa parecem favorecer os softwares de código aberto, por outro lado a
necessidade de se tornarem competitivos perante softwares comerciais levou ao aparecimento de
conteúdos livres, “Free Open Source software” (Cosme, 2012). Refira-se também o surgimento de
plataformas web, que de algum modo disponibilizam informação cartográfica, destacam-se a Google nas

1061
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

suas diversas plataformas, a Bing Maps, o igeo (espaço web da Direção Geral do Território (DGT)) e o
OpenStreetMap.

Pretende-se demonstrar com este trabalho, que utilizando informação geográfica vinda de plataformas
abertas e software livre de código aberto (QGIS), se poderá elaborar cartografia de índole geotécnica, em
áreas urbanas, que contenha a delimitação de áreas identificadoras do grau de alteração do granito, através
de módulos com ligação à plataforma “streetview”.

2- APLICÇÕES INFORMÁTICAS

Nos últimos tempos, têm surgido um conjunto de aplicações informáticas na área de cartografia geotécnica
(Costa Pereira, 2011), em especial:
 No tratamento automático dos dados;
 Na elaboração de mapas de elementos ou fatores individuais ou combinados entre si;
 Na preparação de bases de dados;
 Na atualização contínua dos mapas com dados e informação;
 Na preparação de modelos 3D e simulação de ações sobre o terreno.

A cartografia geotécnica tem múltiplas aplicações, tanto na área de engenharia como ao nível do
planeamento regional e territorial (Vallejo et al., 2004). No âmbito do planeamento local e urbano estas
aplicações traduzem-se na elaboração de mapas integrados, com diversos aspetos geológico-geotécnicos,
a pequena e média escala. Em engenharia elaboram-se mapas de estudos prévios ou de viabilidade para
seleção de localização de obras ou de traçados, existindo ainda mapas com a inclusão de cortes ou perfis
geotécnicos elaborados a grandes escalas.

3- SOFTWARE “FREE OPEN SOURCE”

Surgiram nas últimas décadas softwares livres de código aberto, conhecidos por “Free Open Source
Software”. O “Open Source Software”, ou código aberto pretende estimular a deteção de erros, criação,
modificação e investigação de novos recursos, com o objetivo de desenvolver e melhorar o programa. Os
projetos de código aberto, envolvem pessoas com diferentes capacidades de programação e necessidades,
por forma a criar um produto completo. Esta metodologia de desenvolvimento permite o acesso á fonte de
um produto, ou seja, aos bens e conhecimento.

Na vertente Free Software a questão é ética e social, sendo importante o carácter gratuito dos programas.
Existem aplicações gratuitas, mas cujo código não é aberto, como é o caso de Spatial Commander (GDV
GeoSoftware-Alemanha), Forestry Gis (Winsconsin department of natural resources-EUA), Google Earth
(Google-EUA), ArcExplorer (ESRI-EUA), TNTlite (microimages, inc-EUA) e TatukGIS Viewer (TatukGIS-
Polónia) (Cosme, 2012).

Os Desktop GIS Open Source mais conhecidos são: GRASS GIS, Quantum GIS (QGIS), uDig, OpenJump e
gvSIG. Alguns dos quais direcionados para campos específicos de aplicação, como são os desenvolvimentos
em C++ e Java que apresentam elevado grau de flexibilidade, consequência das interfaces uniformizadas
e da capacidade de poderem ser lançadas no interior de arquiteturas orientadas por serviço.

A crescente necessidade de uma informação mais completa e diversa parecem favorecer positivamente os
softwares de código aberto, por outro lado a necessidade de se tornarem competitivos perante softwares
comerciais, levou ao aparecimento de Softwares livres, Free Open Source Software.

Quadro 1- Vantagens e desvantagens dos Softwares Livres/Open Source SIG (Cosme, 2012)
Softwares Livres/Open Source SIG
VANTAGENS DESVANTAGENS
Software livre
Componente gráfica
Código Aberto
Instalação e configuração
Fácil Aquisição
Operacionalidade
Sem obrigatoriedade de atualizações
Suporte técnico
Uso não restrito
Suporte de apoio à aprendizagem
Contributos da comunidade académica e
Formação
empresarial

4- UTILIZAÇÃO DE IDENTIFICADORES EPSG

A indicação dos sistemas de referência em Sistemas de Informação Geográfica, nomeadamente no QGIS,


pode ser efetuada através da utilização dos identificadores EPSG, definidos pelo “European Petroleum

1062
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Search Group” (EPSG) e pelo Instituto Geográfico Nacional de França (IGNF), em grande parte
referenciados pelos utilizados na Geospatial Data Abstration Library (GDAL). Os identificadores ou códigos
EPSG estão presentes na base de dados do QGis podendo ser usados para especificar o sistema de
referência.

No portal do DGT (http://www.dgterritorio.pt/dados_abertos/codigos_epsg/), encontra-se uma lista de


códigos EPSG utilizados em Portugal e a sua correspondência com os sistemas nacionais, apresentam-se
aqui os códigos nacionais associados a Portugal Continental e Arquipélagos dos Açores e da Madeira:

Quadro 2- Códigos EPSG de Portugal


PORTUGAL CONTINENTAL ARQUIPÉLAGOS DOS AÇORES E DA MADEIRA
EPSG: 2188 (Datum Observatório - Flores (Grupo
Ocidental do Arquipélago dos Açores)/UTM
EPSG: 4274 (Datum 73/ Coordenadas Geográficas zona 25N)
2D) EPSG: 2189 (Datum Base SW - Graciosa (Grupo
EPSG: 27493 (Datum 73/ Hayford-Gauss)
Central do Arquipélago dos Açores) / UTM
SISTEMAS EPSG: 4207 (Datum Lisboa/ Coordenadas Geográfi-
cas 2D) zona 26N
LOCAIS
EPSG: 5018 (Datum Lisboa/ Hayford-Gauss) EPSG: 2190 (Datum S. Braz - S. Miguel (Grupo
EPSG: 20790 (Datum Lisboa/ Hayford-Gauss com Oriental do Arquipélago dos Açores) / UTM
falsa origem - Coordenadas Militares zona 26N)
EPSG: 2942 (Datum Base SE - Porto Santo
(Madeira) / UTM zona 28N)
EPSG: 5011 (ITRF93/ Coordenadas Geocêntricas)
EPSG: 5012 (ITRF93/ Coordenadas Geográficas
3D)
EPSG: 4936 (ETRS89/ Coordenadas Geocêntricas) EPSG: 5013 (ITRF93/ Coordenadas Geográficas
EPSG: 4937 (ETRS89/ Coordenadas Geográficas 2D)
SISTEMAS 3D) EPSG: 5014 (ITRF93/ PTRA08 - UTM zona 25N) -
GLOBAIS EPSG: 4258 (ETRS89/ Coordenadas Geográficas Grupo Ocidental do Arquipélago dos Açores
2D) EPSG: 5015 (ITRF93/ PTRA08 - UTM zona 26N) -
EPSG: 3763 (ETRS89/ PT-TM06) Grupo Central e Oriental do Arquipélago dos
Açores
EPSG: 5016 (ITRF93/ PTRA08 - UTM zona 28N) –
Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens

Em relação aos sistemas Globais utilizados pela Google, Bing, OpenStreetMap e outras plataformas deste
tipo, os mais utilizados são os seguintes:
 EPSG: 4326 (Datum WGS84/ Coordenadas Geográficas)
 EPSG: 3857 (Datum WGS84/ Pseudo-Mercator)

5- Sistema de Informação Geográfica - QGIS

O QGIS é um Sistema de Informação Geográfica livre de código aberto (Free Open Source). A primeira
versão surgiu em 2002, com o objetivo inicial de fornecer um modelo SIG para visualizar dados de natureza
diversa, mas com carácter espacial, segundo o seu criador Gary Sherman. Atualmente ainda é usado
apenas para visualizar dados raster e vetoriais em vários formatos. Têm vindo a ser adicionadas novas
funcionalidades através de complementos, atualmente o QGis oferece várias funcionalidades comuns aos
restantes programas de SIG.

É um projeto oficial da Open Source Geospatial Foundation (OSGeo), licenciado segundo a Licença Pública
Geral GNU (GPL). Atualmente corre em vários sistemas operativos, Linux, Unix, Windows, Mac OSX e
Android. É desenvolvido utilizando o QT toolkit (http://qt.nokia.com) e C++, o que permite que este tenha
uma interface gráfica amigável de fácil utilização.

É constituído por uma parte nuclear, que contem um conjunto de módulos internos pré-instalados, e por
uma segunda parte constituída por módulos externos. Os módulos externos, estão presentes no repositório
oficial PyQGIS e podem ser facilmente instalados usando o Instalador de plugin Python (QGIS User Guide,
2016).

6- RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 - Base Geográfica

A base geográfica é constituída pela carta geológica produzida pelo Laboratório Nacional de Energia e
Geologia (LNEG), e por fontes cartográficas não tradicionais.

1063
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A carta geológica utilizada é a folha 203-Guarda, à escala 1:25 000 que deriva da carta 1:50 000 de 1963.
A carta está referenciada ao datum Lisboa do IGeoE, projecção Hayford-Gauss, em formato ShapeFile. Este
formato tem como vantagem o facto de ser interpretado pela maioria dos Sistemas de Informação
Geográfica, contendo duas grandes componentes. A componente gráfica, que contem a definição
geométrica do lugar, e a componente descritiva, que caracteriza através de vários atributos a componente
gráfica.

No caso de estudo, a componente gráfica é constituída por polígonos em que cada polígono é caracterizado
por um código (UC_cod), e os respetivos atributos inerentes a este código. A tabela é editável podendo ser
complementada com observações de campo, que levam ao refinamento das respetivas formas geométricas.

Relativamente à Base Geográfica não tradicional, foi dada preferência a plataformas abertas, utilizando-se
o Google maps, Bing maps e o OpenStreetMap. Como software, foi utilizado o QGIS, pelos motivos
indicados no ponto anterior.

Foram utilizados dados gráficos/cartográficos nos modelos raster e vetor. Os dados vetoriais tiveram origem
na plataforma OpenStreetMap e na carta geológica. Os dados raster tiveram origem na plataforma Bing
Maps.

6.2 - Procedimentos

Para os dados raster, através do módulo OpenLayers plugin, selecionou-se a imagem aérea do Bing Maps,
pois mostrou, no momento, ser a imagem de melhor qualidade.

Para os dados vetoriais, importou-se a informação disponibilizada pela plataforma OpenStreetMap da região
urbana em estudo, cidade da Guarda. O ficheiro obtido vem em formato “osm” (Floss Manuals, 2017), este
ficheiro contem vários temas ou camadas (figura 1), que se podem filtrar obtendo-se assim os temas
pretendidos.

Figura 1 – Camadas vetoriais do ficheiro osm

Os temas estão divididos geometricamente em Pontos, Linhas e Polígonos. Cada tema tem uma tabela de
atributos, a partir da qual se poderá refinar os resultados. Do tema linhas obtém-se os arruamentos e vias
de comunicação em geral. Do tema polígono obtém-se áreas administrativas, uso do solo, etc…

Deste modo, do tema polígono foi extraído o limite da área residencial da Guarda dando origem ao tema –
GuardaAreaResidencial, mantendo-se o tema linhas inalterado. Os temas selecionados devem ser
guardados em formato shape file para melhor manipulação e coerência.

Na figura 2 este tema está sobreposto a uma imagem aérea, obtida da plataforma Bing.

1064
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 2 – QGIS, Sobreposição do tema GuardaAreaResidencial com a imagem aérea

Já na figura 3 a Área Residencial, obtida a partir da plataforma OpenStreetMap, foi sobreposta à carta
geológica em formato shapeFile e ao Bing Roads, tirando assim partido dos vários layouts que as diversas
plataformas disponibilizam.

Figura 3 - QGIS, Sobreposição OpenStreetMap- GuardaAreaResidencial, Bing Roads e carta geológica

Pode-se desenvolver assim, com esta informação geográfica, um mapa temático, como por exemplo, um
mapa que identifique o grau de alteração do granito. Para este caso, podemos usar a plataforma
"StreetView", de dois modos: diretamente da plataforma google (figura 4), ou integrada no QGIS (figura
5).

1065
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figure 4 – Google Street View, granito (grau de alteração do maciço rochoso, w1 e w2)

Para a integração no QGIS, é necessário instalar um dos plugins disponíveis para aceder os dados da
plataforma "Google Street View".

Figure 5 – QGIS com plugin “go2streetview”

Como se pode verificar, através das figuras 4 e 5, a plataforma "Street View" permite aceder a imagens
com grande proximidade e resolução em áreas urbanas, podendo-se identificar, na maioria dos casos, o
grau de alteração do maciço rochoso.

A figura 5 mostra uma peculiaridade, o fato de que a captura das imagens, pela Google, ocorreu no
momento da escavação, permitindo a visualização do tipo de rocha no subsolo, o estado atual é refletido
nas figuras 6 e 7 através do campo Foto Atual.

O QGIS permite a criação e otimização de formulários, a figura 6 mostra o formulário que foi criado para
facilitar o preenchimento de dados nos respetivos campos da tabela de atributos, permitindo que quando
se cria um elemento gráfico sejam inseridos em simultâneo os dados que caracterizam esse elemento.

Assim, em relação ao tema que vai caracterizar o grau de alteração do granito (GrauAlteraGranito), os
campos criados (figura 7), foram: ID (identifica o elemento gráfico através de um numero); Grau de
Alteração do Granito (caixa de combinação com a listagem dos possíveis graus de alteração), Data de
Entrada (indicação da data referente à criação do elemento, ou outra) e Foto Atual (foto atual da área em
estudo).

1066
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figure 6 – QGIS criação de elemento gráfico e respetivo formulário

Figure 7 – QGIS, formulário, caixa de combinação

A utilização de formulários facilita a inserção dos dados que caraterizam o elemento a representar e em
simultâneo diminui o erro no ato da escrita dos dados nos respetivos campos.

7- CONCLUSÕES

Pretendeu-se destacar com este trabalho que é possível criar uma base de informação geográfica viável
para a elaboração de cartografia geotécnica, utilizando fontes cartográficas de plataformas abertas,
juntamente com software livre.

O uso deste tipo de plataformas diminui o tempo de recolha de dados e, por vezes, uma observação
cuidadosa das imagens, obtidas aquando das escavações, pode revelar detalhes importantes para a
cartografia geológica na área de estudo.

O modelo criado teve como input a carta geológica da área de estudo e cartografia livre existente em
plataformas da web (Google, Bing, Igeo, OpenStreetMap, ...). Como output, obtiveram-se algumas saídas
gráficas, demonstrando a possibilidade de sobreposição de vários temas, filtrados a partir de arquivos Web.

A partir deste modelo são criados novos temas, como a identificação e delimitação de áreas referentes ao
grau de alteração do granito. Para este caso, os dados podem ser recolhidos primeiramente com a
plataforma "Street View" e em seguida, a confirmação em campo dos resultados obtidos. Esta metodologia
permitirá a atualização de dados gráficos existentes e também da base de dados alfanumérica
correspondente. Desta forma, podemos obter um modelo com informação útil e atual para a tomada de
decisões no trabalho de engenharia.

1067
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Unidade de Investigação para o Desenvolvimento do Interior (UDI) e à Unidade


de Investigação GeoBioTec (Aveiro University) o apoio concedido. Este trabalho é financiado pelo fundo
“FEDER Operational Programme Competitiveness Factors - COMPETE and National Funds by FCT -
Foundation for Science and Technology under the project UID / GEO / 04035/2013”.

REFERÊNCIAS

Cosme, A. (2012) - Projeto em sistemas de informação geográfica, FCA – Editora de Informática.

Costa Pereira, M. F. (2011) - Introdução à CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA. Seminários em Ciências da Engenharia da Terra,
Instituto Superior técnico.

Floss Manuals (2017) - OpenStreetMap. https://booki.flossmanuals.net/_booki/openstreetmap/openstreetmap.pdf.


acedido em 15/03/2017.

Oliveira, R., Gomes, C. E Guimarães, S. (2006) - Engineering geological map of Oporto: A municipal tool for planning
and awareness of urban geoscience. The Geological Society of London 2006. IAEG2006 Paper number 615.

QGIS (2016) - User Guide, Training Manual. Realease 2.8. July 30, 2016. http://www.qgis.org/en/docs/index.html#20.
acedido em 15/03/2017

Rodrigues Carvalho, J. A. e and Silva, A. P. (2010) - Cinquenta anos de Geologia de Engenharia e a evolução da
cartografia geotécnica em Portugal. In J. M. Neiva, A. Ribeiro, L. M. Victor, F. Noronha, & M. M. Ramalho (Edits.),
Ciências Geológicas: Ensino, Investigação e sua História (Vols. II, Geologia Aplicada, pp. 367-375). Associação
Portuguesa de Geólogos.

Vallejo, L., Ferre, M., Ortuno, L., e Oteo, C. (2004) - Ingeniería Geológica. Madrid: Pearson Educación. ISBN: 84-205-
3104-9.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ANÁLISE ESTATÍSTICA PROPORCIONAL DOS CONSTITUINTES DE UM


LIGANTE ALTERNATIVO UTILIZADO EM REFORÇO DE SOLOS
PROPORTIONAL ESTATISTICS ANALYSIS OF THE CONSTITUENTS OF AN
ALTERNATIVE BINDER USED IN SOIL REINFORCEMENT
Pinheiro, Claver; CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal; clavergiovanni@gmail.com
Molina-Gómez, Fausto; CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, fausto@fe.up.pt
Rios, Sara; CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, sara.rios@fe.up.pt
Sousa, Fernanda; CITTA, Universidade do Porto, Portugal, fcsousa@fe.up.pt
Viana Da Fonseca, António; CONSTRUCT-GEO, Universidade do Porto, Portugal, viana@fe.up.pt

RESUMO

As zonas costeiras são geralmente caracterizadas por solos com fracas características geomecânicas como
as areias soltas, siltes ou argilas moles. Esses solos não garantem o suporte necessário às obras que neles
se pretendem implantar e é necessária a utilização de técnicas de reforço. Normalmente, essas técnicas
utilizam grandes quantidades de cimento Portland, cuja produção causa vários problemas ambientais. O
objetivo deste trabalho é apresentar uma análise estatística utilizando de dados gerados em um trabalho
experimental sobre um cimento alternativo produzidos pela ativação alcalina de resíduos industriais como
as cinzas volantes e as escórias. A metodologia de trabalho incluiu a preparação de vinte e seis provetes,
constituídos por cinzas volantes, escórias, silicato de sódio e hidróxido de sódio em diferentes proporções.
Os provetes foram ensaiados para determinação da resistência à compressão e à flexão sendo ainda medida
a rigidez elástica, pelo que estas são as variáveis de resposta analisadas. Análises feitas nos programas
Microsoft Excel e IBM SPSS Statistics foram utilizadas, numa previsão mais simplificada dos constituintes
do novo gel cimentício, para que esse possa ser aplicado onde tradicionalmente se usa cimento Portland
convencional. A análise estatística mostrou grande influência dos constituintes líquidos, nos resultados dos
ensaios realizados, em detrimento aos constituintes sólidos, que mostram forte correlação apenas entre si.

ABSTRACT

Coastal areas are generally comprised by soils with poor geomechanical characteristics. They do not assure
the necessary support for the constructions that are intended to be built and so the use of soil reinforcement
techniques is necessary. Normally, these techniques use a large quantities of Portland cement, whose
production causes several environmental problems. The objective of this work is to present a statistical
analysis using dates generated in an experimental work on an alternative cement generated by the alkaline
activation of industrial residues like fly ash and slag. The work methodology included the preparation of
twenty-six specimens, consisting of fly ash, slag, sodium silicate and sodium hydroxide in different
proportions. The specimens were tested for compressive strength, flexural strength and stiffness
measurements, so these are the response variables analyzed. Analyzes made on Microsoft Excel and IBM
SPSS Statistics programs will be used in a more simplified prediction of the constituents of the new
cementitious gel so that it can be applied where conventional Portland cement is traditionally used. The
statistical analysis shows a great influence of the liquid constituents in the response variables in detriment
to the solid constituents that show strong correlation only among themselves.

1- INTRODUÇÃO

O aumento das atividades turísticas ao longo das margens dos rios e das áreas costeiras atrai mais
investimentos e a necessidade de áreas de lazer. No entanto, essas áreas são geralmente caracterizadas
por solos com características geomecânicas ruins, como areias finas, sedimentos e lamas de baixa
compacidade e alto teor de água, que não garantem as condições de suporte necessárias para as obras
que se destinam a ser instaladas nelas. As técnicas atualmente utilizadas consistem em escavar e instalar
as fundações num estrato competente, ou tratamento de solos, usando grandes quantidades de cimento
Portland que requerem matérias-primas de boa qualidade, libertando cerca de 1 tonelada de dióxido de
carbono no solo por 1 tonelada em sua produção.

As alterações climáticas registadas nas últimas décadas têm vindo a ser justificadas por vários especialistas,
como resultado da emissão excessiva de gases causadores do efeito estufa e poluentes tóxicos. Os
resultados dessas mudanças climáticas refletiram-se na população mundial, a intensificação das catástrofes
naturais resultou na perda de milhares de vidas, bem como em grandes perdas económicas. A necessidade
de reduzir as emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa é um princípio cada vez mais

1069
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

enraizado na sociedade. O incentivo para produzir e usar novos materiais é uma medida que pode reduzir
os efeitos da produção de cimento Portland.

Estudos recentes dos potenciais da técnica de ativação alcalina (AA) no melhoramento de solos mostram
resultados promissores (Cristelo et al., 2012, 2013). Dependendo da aplicação as quantidades de água,
cinzas volantes, escórias e as soluções alcalinas podem ser adaptadas, tendo em conta vários parâmetros
como a proporção sólidos / líquidos, razão Na2O / cinza, relação sílica / alumina, dentre outros. É assim
essencial avaliar a melhor gama de valores desses parâmetros para a aplicação no reforço do solo.

Um novo material cimentício pode ser produzido a partir de resíduos calcinados que contenham
aluminosilicato. Os resíduos industriais não sendo utilizados como subprodutos, necessitam de tratamento
especial para serem depositados em aterros. Alguns resíduos exibem na sua estrutura materiais pesados
que não sendo devidamente acondicionados poderão causar danos nocivos aos seres vivos. Com esse
material os elementos perigosos presentes nos resíduos são bloqueados no quadro tridimensional da matriz
geopolimérica. Deste modo os resíduos que podem contaminar o solo com os seus compostos orgânicos e
inorgânicos, podem ser imobilizados “in situ” com rapidez e baixo custo. Nos últimos anos estes resíduos
têm sido depositados em aterros especiais com camadas de duplo revestimento, exigindo um
acompanhamento a longo prazo, são dispendiosos e de difícil instalação (Davidovits, 2002).

O principal objetivo deste trabalho é descrever e explorar este conjunto, recorrendo a técnicas estatísticas
univariada e bivariada, de forma a identificar as diferenças que melhor discriminam os vários grupos de
provete, de forma a identificar parâmetros que possam ser utilizados para a definição de cada constituinte
da calda previamente de acordo com a utilização característica desejada. Essa calda terá futuras utilizações
em locais que possuem um solo com fraca capacidade de suporte, servindo como reforço.

2- PROCEDIMENTOS DE ENSAIO

2.1 - Plano Experimental

A definição do plano experimental para a otimização da mistura foi realizada por meio de um método
estatístico de planeamento, considerando uma gama para valores de cada parâmetro-chave. Os parâmetros
selecionados como os mais relevantes no comportamento das misturas são: a proporção de sólidos (S) /
líquidos (L), concentração de hidróxido de sódio (conc HS), relação de silicato de sódio (SS) / hidróxido de
sódio (HS), relação cinza (C)/escória (E). A combinação dos três primeiros parâmetros levará a diferentes
razões molares para os quatro elementos principais responsáveis pelo processo de reação química: sílica,
alumina, sódio e água. O método definiu a composição das misturas a testar alterando os 4 parâmetros
indicados acima, numa gama de valores como se expressa na Tabela 1.

Tabela 1 - Variáveis e gama de valores introduzidos para cada traço


Variáveis Gama de Variação
SS/SS+HS [0,0-1,0]
S/L [1,5-2,5]
E/E+C [0,1-1,0]
conc HS [5,0-12]

A primeira variável (SS / (SS + HS)) foi definida entre 0 e 1, onde 0 corresponde a um ativador composto
apenas por hidróxido de sódio e 1 a um ativador composto apenas por silicato de sódio. A segunda variável
(E / (E + C)) foi definida entre 0,1 e 1, onde 1 corresponde a uma mistura sem cinzas volantes. O intervalo
da terceira variável (S / L) ficou entre 1,5 e 2,5 com base em ensaios preliminares. Finalmente, a
concentração de hidróxido de sódio variou entre 5 e 12 molal como atualmente encontrado na literatura
(Xu e van Deventer, 2003; Cristelo et al., 2013; Phummiphan et al., 2016).

A solução de ativador alcalino foi preparada por hidróxido de sódio e silicato de sódio. Hidróxido de sódio
em forma de flocos com uma densidade específica de 2,13 a 20ºC e a pureza de 95-99% foi dissolvida em
água até a concentração desejada. O silicato de sódio já estava em forma de solução com uma densidade
específica de 1,5 e relação SiO2 / Na2O de 2 em massa (Rios et al., 2018).

Neste caso, uma escória branca que não possui no momento qualquer aplicação para sua reutilização foi
utilizada. Uma vez que este material residuário é rico em cálcio (Tabela 2) e com uma estrutura amorfa,
considerou-se adequado para a produção do cimento alcalino (Rios et al., 2018).

1070
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Tabela 2 - Composição da escória (% em peso) (Rios et al., 2018)


Elementos SiO2 Al2O3 CaO MgO MnO Fe Total Cr2O3 Outros
Escória 23.5 6.6 54.9 8.5 0.4 1.1 0 5

A cinza volante é classificada como tipo F de acordo com a norma ASTM (2005) devido ao seu baixo teor
de cálcio como pode ser observado na composição química apresentada na Tabela 3. A perda ao fogo não
foi especificamente determinada para essas cinzas, mas deve ser em torno de 2,59% do peso, de acordo
com Cristelo et al., (2012) que trabalhou com uma cinza volante da mesma usina termelétrica.

Tabela 3 - Composição da cinza volante (% em peso) (Rios et al., 2018)


Elementos SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO K2O TiO2 MgO Na2O SO3 Outros
Cinza
54.84 19.46 10.73 4.68 4.26 1.40 1.79 1.65 0.7 0.5
Volantes

As composições das 26 misturas geradas estão expressas na Tabela 4.

Tabela 4 - Traços em massa da calda para posteriores ensaios de flexão, compressão e rigidez

Hidróxido de Sódio em
Traços Escória (g) Cinza (g) Silicato de Sódio (g) Água (g)
Flocos (g)

Traço 1 30,00 270,00 0,00 33,33 166,67


Traço 2 30,00 270,00 0,00 64,86 135,14
Traço 3 300,00 0,00 0,00 33,33 166,67
Traço 4 300,00 0,00 0,00 64,86 135,14
Traço 5 183,33 150,00 0,00 42,29 124,38
Traço 6 35,71 321,43 0,00 23,81 119,05
Traço 7 35,71 321,43 0,00 46,33 96,53
Traço 8 357,14 0,00 0,00 23,81 119,05
Traço 9 357,14 0,00 0,00 46,33 96,53
Traço 10 165,00 135,00 100,00 25,37 74,63
Traço 11 33,33 300,00 83,33 21,14 62,19
Traço 12 183,33 150,00 83,33 13,89 69,44
Traço 13 183,33 150,00 83,33 21,14 62,19
Traço 14 183,33 150,00 83,33 21,14 62,19
Traço 15 183,33 150,00 83,33 27,03 56,31
Traço 16 333,33 0,00 83,33 21,14 62,19
Traço 17 196,43 160,71 71,43 18,12 53,30
Traço 18 30,00 270,00 200,00 0,00 0,00
Traço 19 30,00 270,00 200,00 0,00 0,00
Traço 20 300,00 0,00 200,00 0,00 0,00
Traço 21 300,00 0,00 200,00 0,00 0,00
Traço 22 183,33 150,00 166,67 0,00 0,00
Traço 23 35,71 321,43 142,86 0,00 0,00
Traço 24 35,71 321,43 142,86 0,00 0,00
Traço 25 357,14 0,00 142,86 0,00 0,00
Traço 26 357,14 0,00 142,86 0,00 0,00

Rios et al. (2018) explica que esses métodos são válidos para misturas com vários ingredientes, como é o
caso dos cimentos ativados alcalinamente (AAC), onde a mistura com melhor desempenho é o alvo. Isso é

1071
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

geralmente conseguido alterando a quantidade dos ingredientes, um de cada vez, seguindo o método
tradicional de um fator-tempo. No entanto, esta metodologia não explica as interações entre variáveis que
podem ser resolvidas usando desenhos fatoriais completos simbolizados matematicamente como N K, onde
N é o nível de projeto fatorial e K é o número de variáveis. Considerando um projeto fatorial de três níveis,
que fornece uma boa previsão, à medida que K aumenta, o número de interações torna-se excessivo (com
5 fatores, são necessárias 243 interações). Por essa razão, optou-se por usar um projeto fatorial de dois
níveis e tentar melhorá-lo. De facto, quando se aproxima o nível ótimo de resposta, um projeto fatorial de
dois níveis já não fornece informações suficientes para modelar adequadamente a superfície de resposta
verdadeira. No entanto, se os pontos centrais e axiais forem adicionados ao desenho fatorial de dois níveis,
é obtido um design composto adequado aos métodos de superfície de resposta (Whitcomb e Anderson,
2004). Neste trabalho utilizou-se um projeto composto centrado na face, o que significa que os pontos
axiais estão na face do cubo.

Assim, provetes prismáticos de 160 mm de comprimento e 40 mm de lado foram preparados num molde
metálico (Figura 1) considerando um período de cura de14 dias. Realizaram-se ensaios simples de
compressão, flexão e medidição de ondas, aos 7 e 14 dias, para avaliar a evolução da rigidez.

Figura 1 - Provetes preparados em moldes metálicos antes de desmoldar

2.2 - Avaliação da Rigidez por Medições da Velocidade de Propagação de Ondas Sísmicas

As velocidades de propagação das ondas sísmicas de compressão (P) e de corte (S) foram medidas por
transdutores ultrassônicos não-destrutivos em provetes nos períodos de cura de 7 e 14 dias. Para aquisição
das ondas emitidas e recebidas, utilizou-se um equipamento comercialmente disponível no mercado (Figura
2) composto por um par de transdutores ultrassónicos de compressão, para medir velocidades de onda P,
com uma frequência nominal de 82 kHz e 30 mm de diâmetro; um par de transdutores ultrassónicos de
corte, para medir velocidades de onda S, com uma frequência nominal de 100 kHz e 35 mm de diâmetro;
e um gerador de onda de impulsos e unidade de aquisição de dados, amplificador, conectado diretamente
a um computador, usando software específico para operar como um osciloscópio.

Figura 2 - Aparelho de aquisição de ondas P e S (Rios et al., 2015)

Segundo processo descrito em Rios et al. (2015) o sinal de entrada foi configurado para uma tensão de
excitação de 500 V e uma frequência de sinal de impulso de 82kHz, tanto para onda P como onda S.
Utilizou-se a mesma frequência para ambos os transdutores porque esta é a frequência mais próxima

1072
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

disponível no gerador de função. A calibração de cada par de transdutores foi conseguida medindo a
velocidade da onda através de um cilindro de calibração, com densidade e velocidade de onda conhecidas.
As medições foram feitas ao longo do eixo longitudinal dos provetes, verticalmente alinhados, e com os
transdutores instalados em faces opostas. Portanto, o comprimento do percurso correspondia ao próprio
comprimento dos provetes, i.e., de 160 mm. O comprimento exato da viagem e o peso de cada amostra
foram medidos antes de cada leitura, com precisão de ±1%. Em termos de propagação de ondas, o
transmissor foi localizado na parte inferior do provete, enquanto o receptor estava na extremidade superior.
O acoplamento acústico entre os transdutores durante a medição foi assegurado por uma camada de gel
condutor de ultrassom. Além disso, os transdutores estavam pressionados uniformemente contra a
superfície superior da amostra. As leituras foram realizadas em períodos de cura de 7 e 14 dias. Cada
resultado apresentado corresponde a uma média de 10 leituras consecutivas do tempo de propagação medido.

Pesquisas anteriores por Prassianakis e Prassianakis (2004), sobre a avaliação da capacidade de ensaios
não destrutivos (END) para avaliar a integridade do betão, concluíram que os ensaios com ultrassom são
viáveis para avaliar materiais cimentícios.

A Lei de Hooke fornece a relação tensão-deformação dos materiais elásticos por meio da matriz dos
componentes elásticos dos materiais (matriz de rigidez) (Bodig e Jayne, 1993).

A partir da teoria da elasticidade, é sabido que as velocidades de onda de compressão e de corte estão
relacionadas com os módulos confinados (M0) e de distorção (G0), respectivamente, de acordo com as
equações 1 e 2:

𝑀0 = 𝜌𝑉𝑃2 [1]

𝐺0 = 𝜌𝑉𝑆2 [2]

onde:

𝜌 é a densidade aparente do material;

Vp é a velocidade de ondas P;

Vs é a velocidade de ondas S.

2.3 - Ensaios de Flexão e Compressão

Para a determinação da resistência à flexão, foi utilizado o método de carga concentrada a meio vão.
Colocou-se o prisma numa máquina de flexão com uma face lateral de moldagem sobre os cilindros de
apoio e o seu eixo longitudinal perpendicular aos apoios. Em seguida, aplicou-se a carga verticalmente por
meio do cilindro de carga, sobre a face lateral oposta do prisma, e aumentando-a uniformemente a
velocidade de 50 ± 10 N/s, até à rotura.

Os semi-prismas foram conservados até ao momento do ensaio à compressão e foi calculada a resistência
à flexão Rf, pela fórmula

𝑅𝑓 = 1,5𝑥𝐹𝑓 𝑥𝑙 ⁄𝑏 3 [3]

onde:

Rf é a Resistencia a flexão, in mega Pascal;

b é o lado da secção quadrada do prisma, em milímetro;

Ff é a carga aplicada ao centro do prisma na rotura, em Newton;

l é a distância entre os apoios, em milímetro.

O ensaio de compressão foi feito sobre as duas metades do prisma rompido, por meios adequados que não
submetam os semi-prismas a tensões prejudiciais (Figura 3). Centrou-se lateralmente cada semi-prisma
em relação aos pratos da máquina a ± 0,5 mm e longitudinalmente de modo que a base do prisma fique
saliente em relação aos pratos ou às placas auxiliares cerca de 10 mm. A resistência à compressão Rc foi
calculada da seguinte forma:

𝑅𝑐 = 𝐹𝑐 ⁄1600 [4]

1073
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

onde:

Rc é a resistência à compressão, em mega Pascal;

Fc é a carga máxima na rotura, em Newton;

1600 é a área dos pratos ou das placas auxiliares (40 mm × 40 mm), em milímetro quadrado.

O resultado do ensaio de resistência à flexão deve ser calculado como sendo a média aritmética de três
resultados individuais, cada um arredondado a 0,1 MPa, obtidos a partir de um ensaio efetuado sobre um
conjunto de três prismas e apresentar a média aritmética arredondada a 0,1 MPa (NP EN 196-1, 2006).

O resultado da resistência à compressão deve ser calculado conforme a NP EN 196-1 (2006), sendo a média
aritmética de seis resultados individuais arredondados a 0,1 MPa, obtidos a partir de seis determinações,
efetuadas numa série de três prismas. Se um resultado entre estas seis determinações variar mais do que
± 10 % da média, elimina-se este resultado e calcula-se a média dos cinco valores restantes. Se um novo
resultado entre estas cinco determinações variar mais do que ± 10 % da média, elimina-se toda a série de
resultados e apresentar a média aritmética arredondada a 0,1 MPa.

Figura 3 - Provete desenformado (A) e logo após ensaiado a flexão (B) e compressão (C)

3- RESULTADOS DOS ENSAIOS

3.1 - Resultados dos Ensaios à Flexão e Compressão

Como foi já descrito anteriormente, os provetes foram ensaiados à flexão e à compressão com as metades
resultantes do ensaio a flexão. Os resultados obtidos foram organizados na tabela 5 para a resistência à
flexão e na tabela 6 para a resistência à compressão.

Tabela 5 - Resultados dos Ensaios a Flexão

Provete Força (N) Resistência (MPa) Provete Força (N) Resistência (MPa)
Traço 1 177,16 0,42 Traço 14 740,12 1,73
Traço 2 181,32 0,42 Traço 15 1201,94 2,82
Traço 3 36,79 0,09 Traço 16 668,75 1,57
Traço 4 11,04 0,03 Traço 17 1291,53 3,03
Traço 5 212,11 0,50 Traço 18 1322,63 3,10
Traço 6 429,38 1,01 Traço 19 1322,63 3,10
Traço 7 518,66 1,22 Traço 20 1177,03 2,76
Traço 8 152,67 0,36 Traço 21 1177,03 2,76
Traço 9 6,00 0,01 Traço 22 2126,44 4,98
Traço 10 677,66 1,59 Traço 23 1372,42 3,22
Traço 11 934,65 2,19 Traço 24 1372,42 3,22
Traço 12 1010,43 2,37 Traço 25 2081,96 4,88
Traço 13 498,32 1,17 Traço 26 2081,96 4,88

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Tabela 6 - Resultados dos Ensaios a Compressão

Provete Força (N) Resistência (MPa) Provete Força (N) Resistência (MPa)
Traço 1 3367,32 0,66 Traço 14 13962,80 3,07
Traço 2 4215,35 0,81 Traço 15 35048,71 6,89
Traço 3 276,01 0,06 Traço 16 26903,37 5,70
Traço 4 226,34 0,04 Traço 17 19887,80 5,00
Traço 5 3948,49 0,77 Traço 18 38813,49 7,26
Traço 6 4801,49 1,26 Traço 19 38813,49 7,26
Traço 7 10888,98 2,03 Traço 20 56602,60 9,52
Traço 8 2240,52 0,46 Traço 21 56602,60 9,52
Traço 9 981,88 0,25 Traço 22 95073,93 19,55
Traço 10 15719,21 2,80 Traço 23 72834,48 12,02
Traço 11 27281,63 5,59 Traço 24 72834,48 12,02
Traço 12 25969,11 4,78 Traço 25 137261,64 22,79
Traço 13 21062,16 5,10 Traço 26 137261,64 22,79

3.2 - Resultado da Rigidez por Medições da Velocidade de Propagação das Ondas Sísmicas

As velocidades das ondas de compressão e corte (ondas P e S, respectivamente) foram utilizadas para
avaliar o desenvolvimento e evolução da rigidez elástica dos provetes cimentados que foram testados em
flexão e compressão, ao longo do tempo de cura. Isto foi possível pela natureza não destrutiva destas
medições de ondas. A determinação do tempo de propagação da onda P é direta e corresponde à primeira
quebra do sinal de onda recebido. Em contraste, a seleção da chegada da onda de corte é ligeiramente
mais complexa, devido à interferência das ondas de compressão no sinal recebido.

A seguir, Tabelas 7 e 8, são apresentados, os valores obtidos das velocidades de propagação das ondas S
e P, e os respectivos módulos de distorção calculados a partir das equações 1 e 2 Os ensaios foram feitos
aos 7 e aos 14 dias de cura de cada provete:

Tabela 7 - Resultados de testes de ondas dos provetes aos 7 dias


Estágio do
Estágio do Teste VS VP G0 VS VP G0
Teste
7 Dias m/s m/s MPa 7 Dias m/s m/s MPa
Provete 01 296,30 550,51 139,58 Provete 14 739,03 1923,54 1218,85
Provete 02 432,43 741,43 298,22 Provete 15 828,59 2597,82 1530,03
Provete 03 652,70 1262,78 895,45 Provete 16 666,94 2668,00 989,73
Provete 04 0,00 0,00 0,00 Provete 17 688,76 1482,03 1091,72
Provete 05 585,01 928,07 746,88 Provete 18 579,71 1693,12 677,52
Provete 06 680,85 1048,49 949,24 Provete 19 579,71 1693,12 677,52
Provete 07 874,32 1482,30 1767,80 Provete 20 1081,81 2198,41 2493,00
Provete 08 592,59 1032,26 761,59 Provete 21 1081,81 2198,41 2493,00
Provete 09 0,00 0,00 0,00 Provete 22 957,51 2503,91 2102,58
Provete 10 978,71 2437,91 2056,42 Provete 23 906,00 2514,93 1882,45
Provete 11 744,19 2450,98 1121,08 Provete 24 1063,22 2087,30 2209,84
Provete 12 905,49 1941,04 1676,79 Provete 25 1390,10 3042,98 4438,75
Provete 13 597,68 1482,03 764,60 Provete 26 1390,10 3042,98 4438,75

1075
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Tabela 8 - Resultados de testes de ondas dos provetes aos 14 dias


Estágio do
Estágio do Teste VS VP G0 VS VP G0
Teste
14 Dias m/s m/s MPa 14 Dias m/s m/s MPa
Provete 01 505,21 858,37 405,81 Provete 14 790,51 2022,24 1394,59
Provete 02 495,05 921,87 390,84 Provete 15 1388,89 2756,72 4298,93
Provete 03 366,97 805,15 283,06 Provete 16 990,10 2786,49 2181,19
Provete 04 0,00 0,00 0,00 Provete 17 1101,93 2573,17 2794,32
Provete 05 647,77 1227,56 915,74 Provete 18 898,88 2177,46 1628,92
Provete 06 919,01 1629,33 1729,48 Provete 19 898,88 2177,46 1628,92
Provete 07 952,38 1739,13 2097,57 Provete 20 1266,83 2503,13 3418,63
Provete 08 851,06 1472,48 1570,84 Provete 21 1266,83 2503,13 3418,63
Provete 09 0,00 0,00 0,00 Provete 22 1338,91 16913,32 4111,21
Provete 10 913,24 2512,56 1790,50 Provete 23 1122,02 2525,25 2887,13
Provete 11 858,83 2548,58 1493,10 Provete 24 1196,71 1817,06 2799,59
Provete 12 1154,40 2149,67 2725,37 Provete 25 1612,90 21276,60 5975,69
Provete 13 1015,23 2289,64 2206,07 Provete 26 1612,90 21276,60 5975,69

3.3 - Análise Estatística dos Resultados Experimentais

A exploração inicial dos dados indicou que o módulo de distorção dos traços 25 e 26, aos 7 e 14 dias,
possuem valores atípicos.

Todos os grupos de dados analisados (variáveis de entrada e de resposta) possuem valor positivo de
assimetria, isto é, as distribuições são estendidas à direita da média. Sendo que as variáveis Escória e
Cinza apresentam valores positivos próximos de zero (distribuições quase simétricas), já as variáveis
Resistência à Compressão e G0 (7 Dias), apresentam valores positivos elevados de coeficiente de
assimetria.

A interpretação descritiva é complementada pelos valores da curtose, onde Escoria, Cinza, Silicato de Sódio,
Hidróxido de Sódio, Água e Resistencia a Flexão, apresentam valores negativos de coeficiente de curtose
(g2<0), isto é, as distribuições destas variáveis são platicúrticas (curvas mais achatadas que a curva normal
reduzida). Já a Resistência à Compressão, e os módulos de distorção aos 7 e 14 dias, apresentam
distribuições leptocúrticas (curvas mais esguias que a normal reduzida), com coeficientes de curtose
positivos (g2>0). A interpretação pode ser confirmada pelos dados da Tabela 9 e a Figura 4.

Tabela 9 - Estatística descritiva


Coeficiente de
Mínimo Máximo Média Desvio -Padrão Assimetria Curtose
Variação (%)
Escória 30 357,14 181,52 126,79 69,8 0,05 -1,52
Cinza 0 321,43 148,52 126,56 85,2 0,04 -1,54

Silicato de Sódio 0 200 84,98 74,41 87,6 0,2 -1,31


Hidróxido de Sódio 0 64,86 21,08 19,99 94,8 0,7 -0,15
Água 0 166,67 63,91 56,64 88,6 0,28 -1,13
Resistência Flexão 0,01 4,98 2,05 1,52 74,1 0,41 -0,67
Resistência Comp. 0,04 22,79 6,46 6,7 103,7 1,37 1,27
G0 (7 Dias) 0 4438,75 1439,28 1143,59 79,5 1,32 1,95
G0 (14 Dias) 0 5975,69 2235,45 1613,21 72,2 0,8 0,49

1076
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1077
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Figura 4 - Distribuição de frequência para os parâmetros estudados

Na análise bivariada observou-se, a partir do coeficiente de correlação (R), que os componentes sólidos
constituintes do traço, têm pouca influência nas variáveis de resposta. No entanto, os componentes em
solução afetam de forma mais significativa os resultados laboratoriais.

Na Tabela 10, foram destacados os valores de coeficientes de correlação linear que possuem valores
relevantes de correlação, R2 superior a 0,50 e é bem nítido que esses estão mais relacionados com os
componentes líquidos.

Tabela 10 - Matriz dos quadrados (R2), entre componentes dos traços e respostas dos ensaios laboratoriais
Sil.
Hid. De Res. Res. G0 G0
Escória Cinza De Água
sódio Flexão Comp. (7 dias) (14 dias)
sódio
Escória 1,00
Cinza 0,96 1,00
Silicato de sódio 0,00 0,00 1,00
Hidróxido de sódio 0,00 0,00 0,75 1,00
Água 0,00 0,00 0,88 0,73 1,00
Resistência flexão 0,00 0,00 0,67* 0,67* 0,78* 1,00
Resistência
0,04 0,02 0,51* 0,54* 0,64* 0,87 1,00
compressão
G0 (7 dias) 0,09 0,06 0,31 0,39 0,41 0,61 0,73 1,00
G0 (14 dias) 0,07 0,04 0,38 0,48 0,54 0,77 0,79 0,82 1,00
*, Relações mais relevantes entre variáveis de entrada e de resposta

4- CONCLUSÃO

Através dos resultados obtidos podemos observar em relação a solução que, quanto maior a quantidade
de silicato utilizado na mistura, melhor serão os resultados para os ensaios como os propostos nesse
trabalho. Sanz (2007) salienta que misturas a base de cinzas volantes só atingem boas resistências quando
adicionado o fator temperatura, visto que esse material possui uma quantidade baixa de cal, este parâmetro
afeta de forma muito significativa a transição estrutural do polímero amorfo ao cristalino dos polímeros
minerais sintetizados. O estudo os provetes tiveram cura a temperatura ambiente, assim, os que possuíam
uma maior quantidade de cinzas em comparação as escórias, foram os que tiveram pior desempenho.

A análise estatística univariada e bivariada da calda cimentícia é concordante sobre a importância dos
constituintes em solução, onde esses, são aqueles que tem maior correlação com as variáveis respostas do
modelo, corroborando com uma resposta semelhante ao comportamento de materiais que tem como base
o cimento Portland convencional. Percebeu-se, assim, a necessidade de um estudo mais completo. Dessa
maneira a inclusão de uma análise multivariada deve ser avaliada, com o propósito de melhor explorar, os
componentes dos traços que tem maior efeito nos parâmetros da resistência e rigidez dos provetes
ensaiados, assim como o desenvolvimento de um modelo estatístico que permita definir as proporções de
cada constituinte da calda consoante com a utilização da mesma.

Os resultados obtidos nas análises estatísticas são semelhantes ao modelo publicado em Rios et al. (2018),
que se utilizou da mesma base de dados e onde as análises foram feitas pelo uso de um método de
superfície de resposta. No referido trabalho a definição do plano experimental e também a análise dos
resultados se mostrou com boa exatidão e concluiu-se que a melhor composição da mistura é obtida
aumentando as variáveis mais importantes que se constituiu como a relação entre as duas soluções do
ativador, ou seja, a parte que possuía líquidos envolvidos.

REFERÊNCIAS

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concrete. ASTM International, West Conshohocken, Pennsylvania.

Bodig, J. e Jayne, B. A. (1993) - Mechanics of wood and wood composities. Krieger Pub.

1078
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

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1079
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DE RODOVIA EM ÁREA DE


INFLUÊNCIA DE PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO

ENVIRONMENTAL EVALUATION FOR IMPLANTATION OF HIGHWAY IN


INFLUENCE AREA OF ESPELEOLOGICAL HERITAGE

Nascimento Neto, Durval; Universidade Federal do Paraná, Brasil, dnnambiental@gmail.com


Cavali da Luz, Cristhyano; Universidade Federal do Paraná, Brasil, crisccluz@hotmail.com
Ratton, Eduardo; Universidade Federal do Paraná, Brasil, ratton.eduardo@gmail.com

RESUMO

No Brasil, o conceito de área de influência sobre o patrimônio espeleológico e a obrigatoriedade de estudos


para sua delimitação no rito do licenciamento ambiental foram introduzidos na legislação através da
Resolução CONAMA nº 347/2004. Desde então, não há entre os órgãos responsáveis pelo licenciamento
ambiental de empreendimentos lineares o entendimento técnico necessário para subsidiar os termos de
referência dos estudos que devem ser solicitados aos empreendedores para definição e delimitação dessas
áreas. Em seu artigo 4º, § 2º, a Resolução dispõe que: “A área de influência sobre o patrimônio
espeleológico será definida pelo órgão ambiental competente que poderá, para tanto, exigir estudos
específicos, a expensas do empreendedor”. No § 3º, cita que: “Até que se efetive o previsto no parágrafo
anterior, a área de influência das cavidades naturais subterrâneas será a projeção horizontal da caverna
acrescida de um entorno de 250 metros, em forma de poligonal convexa”. Este estudo relata as atividades
desenvolvidas no Programa de Proteção ao Patrimônio Espeleológico, na área cárstica no município de
Cocos, no estado da Bahia, na região centro-oeste do Brasil, onde várias cavidades subterrâneas naturais
impediam o avanço das obras no traçado proposto pelo governo federal na rodovia BR-135 BA/MG. Os
estudos realizados permitiram identificar as áreas de influência das cavidades que seriam afetadas pela
construção da estrada, determinando os limites de segurança estrutural de cada uma delas, culminando
na apresentação de nova proposta de traçado da rodovia, que foi aprovada pelo órgão ambiental federal,
IBAMA, responsável pelo licenciamento, permitindo e a realização das obras de implantação sem atrasos
no cronograma estabelecido.

ABSTRACT

In Brazil, the concept of an area of influence on the speleological patrimony and the obligatoriness of studies
for its delimitation in the rite of the environmental licensing were introduced in the legislation through the
CONAMA Resolution nº 347/2004. Since then, there is no agreement among the bodies responsible for the
environmental licensing of linear enterprises with the technical understanding necessary to subsidize the
terms of reference of the studies that must be requested from the entrepreneurs to define and delimit
these areas. In its article 4, paragraph 2, the Resolution states that: "The area of influence on the
speleological heritage will be defined by the competent environmental agency that may, for that, require
specific studies, at the expense of the entrepreneur." In paragraph 3, it states that: "Until the provisions of
the previous paragraph have been fulfilled, the area of influence of the natural underground cavities will be
the horizontal projection of the cave, plus an environment of 250 meters in the form of a convex traverse."
This study reports on the activities developed in the Program for the Protection of Speleological Heritage in
the karst area in the municipality of Cocos, in the state of Bahia, in the central-western region of Brazil,
where several natural subterranean cavities prevented the advance of the works proposed by the
government federal highway on highway BR-135 BA / MG. The studies made it possible to identify the areas
of influence of the cavities that would be affected by the construction of the road, determining the limits of
structural safety of each of them, culminating in the presentation of a new road layout proposal, which was
approved by the federal environmental agency, IBAMA , responsible for the licensing, allowing and carrying
out the implementation works without delays in the established schedule.

1- INTRODUÇÃO

Quando há a necessidade de implantação de empreendimentos em áreas com potencial espeleológico, a


legislação brasileira remete à necessidade de levar em consideração a sua interferência sobre a área de
influência das cavidades naturais subterrâneas, determinando a realização de uma série de estudos de
elementos bióticos e abióticos para classificação do grau de relevância das cavidades. O sistema cárstico e
as cavernas têm peculiaridades que os colocam mais vulneráveis às interferências humanas mal planejadas,
as quais podem gerar impactos adversos e degradação do patrimônio espeleológico.

1080
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura - ITTI da Universidade Federal do Paraná – UFPR,


através de um Termo de Cooperação com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes do
governo brasileiro, com objetivo de elaboração de anteprojeto e realização de estudos ambientais para a
regularização ambiental da rodovia federal BR-135/BA/MG, realizou uma série de estudos na área cárstica
no município de Cocos, no estado da Bahia, região oeste do Brasil, onde diversas cavidades subterrâneas
naturais impediam o avanço das obras no traçado proposto para implantação da rodovia.

Este trabalho descreve o conjunto de medidas tomadas para o controle e mitigação de impactos negativos
garantindo que os procedimentos construtivos durante obras de instalação da rodovia federal BR-135/BA,
fossem compatíveis com a preservação do patrimônio espeleológico, visando o correto andamento das
obras atendendo à legislação que dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes
na sua área de influência.

2- OBJETIVOS

Os estudos geológicos previstos no Programa de Proteção ao Patrimônio Espeleológico foi orientado para a
detecção de estruturas geológicas associadas aos relevos cársticos (muito suscetíveis ao desenvolvimento
de cavidades e dolinas) e as suas implicações em termos de estabilidade do terreno para suportar a
implantação e operação do empreendimento rodoviário. Buscou-se também, minimizar os conflitos entre o
desenvolvimento x proteção do patrimônio espeleológico, atender a legislação sobre a questão de proteção
do patrimônio espeleológico, aceler o prazo para início das obras e reduzir os custos relacionados a
realização de estudos de grau de relevância espeleológica, exigidos quando constatada a presença de
cavidades em distância inferior a 250 metros do empreendimento.

3- METODOLOGIA

Os estudos foram realizados no município de Cocos, no oeste do estado da Bahia, Brasil (conforme
demostrado na Figura 01), onde o governo federal realiza obras de instalação de 22,9 km da rodovia federal
BR-135/BA.

Figura 1 - Localização do empreendimento e da área de estudos

Os trabalhos foram realizados em etapas de escritório e de campo. As etapas de escritório constaram da


realização de estudos dos dados disponíveis na literatura, a comparação de mapas geológicos e a
fotointerpretação do imageamento em uma faixa de 400 metros de largura, a partir do eixo da estrada,

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

realizado por um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), conforme pode ser observado nas Figuras 02 e 03.
O uso das imagens permitiram que as equipes focassem os esforços prospectivos nas áreas de maior
potencial espeleológico, diminuindo tempo em campo e custos para execução.

Figura 2 - Imagem de área cárstica, com baixo potencial de presença de cavidades subterrâneas naturais

Figura 3 – Imagem de área cárstica, com alto potencial de presença de cavidades subterrâneas naturais

As etapas de campo corresponderam ao levantamento através de caminhamento prospectivo para


reconhecimento detalhado das feições cársticas e das estruturas geológicas mapeadas na etapa anterior,
associadas ao desenvolvimento de anomalias no subleito do corpo estradal ou dentro da área de proteção
espeleológica, determinada pela legislação brasileira em 250 metros de distância de qualquer cavidade. As
imagens de caminhamento prospectivo e das cavidades encontradas podem ser observados entre as Figura
04 a 06.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 4 - Caminhamento prospectivo em busca de feições cársticas no traçado proposto da BR-135/BA

Figura 5 - Feição cárstica encontrada próximo ao traçado proposto da BR-135/BA

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 6 - Cavidade subterrânea encontrada próxima ao traçado proposto da BR-135/BA

Durante a verificação de campo foi possível confirmar a presença de cavidades e outras estruturas cársticas
e identificar os locais onde deveriam ser aplicadas as medidas de proteção do patrimônio espeleológico.

4- RESULTADOS

De acordo com a geologia local, o traçado projetado da rodovia BR-135/BA no município de Cocos,
compreende as áreas mais dissecadas expostas por erosão da cobertura sedimentar preexistente e que
configuram a unidade geomorfológica caracterizada pelas frentes de recuo erosivo de relevo movimentado,
encaixadas entre a chapada ou escarpas e bases das vertentes, com processos erosivos ativos. Na área do
Município de Cocos, essa unidade representa 67,9%, portanto a maior unidade entre as encontradas (IBGE,
2009).

Afirma-se que o traçado escolhido ocorre sobre dois grupos geológicos distintos: o Grupo Urucuia
(cretáceo), composto de arenitos, siltitos e arenitos conglomeráticos e o Grupo Bambuí (neoproterozóico),
formado por calcários bem estratificados que apresentam um conjunto de formas cársticas típicas, tais
como: cavernas, dolinas, vales cegos, paredões, abrigos rochosos, lapiás e sumidouros.

O levantamento geológico foi realizado em áreas nas quais houve a incidência de feições cársticas,
identificadas nas etapas anteriores, no eixo de implantação da rodovia. Os principais resultados obtidos
indicaram a presença de zonas frágeis, com presença de rochas fragmentadas, características de vazios
preenchidos por sedimentos e água em regime de fluxo variável. Constatou-se que o terreno ao longo da
rodovia é relativamente plano, corroborando os levantamentos que apontaram para a improbabilidade da
ocorrência de cavidades de grande porte (sem entrada conhecida, ou seja, cavernas oclusas) sob o eixo da
estrada proposta, o que poderia provocar abatimentos superficiais. A ausência de feições de abatimento ao
longo da estrada evidencia o pequeno potencial em relação a este tipo de processo.

Foi detectado um morro testemunho de rochas calcárias, em distância aproximada de 150 metros, entre
as estacas 604 e 700, da rodovia projetada. Nele foram identificadas feições de relevo ruiniformes como
feições de lapiás e cavidades que caracterizam e evidenciam um potencial espeleológico desconhecido. Por
este segmento rodoviário estar dentro da área de influência de 250 metros de distância das cavidades, há
a obrigatoriedade de realização de estudos espeleológicos, conforme determina o Decreto 99.556/1990,
alterado pelo Decreto 6.640/2008 e a instrução Normativa MMA nº 002/2017, que dispõem sobre a
proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional, contemplando a
caracterização e a determinação do grau de relevância de cada uma destas cavidades encontradas.
Somente após a conclusão destes estudos é que o órgão ambiental responsável pelo processo concede o
licenciamento ambiental e a obra de implantação pode ser iniciada.

Considerando que o órgão licenciador somente autorizaria as obras de implantação da rodovia após a
determinação e classificação das cavidades de acordo com seu grau de relevância (baixa, média, alta ou

1084
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

máxima) sob uma análise dos atributos e variáveis no enfoque local e regional. Considerando que entre os
atributos que obrigatoriamente devem ser levantados estão: a determinação da gênese; da morfologia;
das dimensões em extensão, da área ou volume; da presença de espeleotemas; do isolamento geográfico;
do uso como abrigo essencial para a preservação de populações geneticamente viáveis de espécies animais
em risco de extinção, e/ou constantes de listas oficiais de espécies protegidas, ou habitat essencial para
preservação de populações geneticamente viáveis de espécies de troglóbios endêmicos ou relictos; do
habitat de troglóbio raro; das interações ecológicas únicas; se é cavidade testemunho ou se possui
destacada relevância histórico-cultural ou religiosa.

Ao envolver pesquisas relacionadas a fauna cavernícola, é necessário atender a inúmeras exigências e


condicionantes ambientais impostas pelos órgãos ambientais, tais como: a presença obrigatória de
profissionais especializados e não tão disponíveis no mercado de trabalho que pesquisem invertebrados e
vertebrados (ictiofauna, anfíbios, répteis, aves, mamíferos terrestres e voadores), geólogos, antropólogos,
geógrafos e etc. Além da necessidade de autorizações ambientais para coleta, captura e transporte de
material biológico e respeitar a sazonalidade, obrigando a realização dos estudos em diferentes épocas do
ano (determinadas pela presença, escassez ou ausência de água). Este prazo legal exigido, pode levar mais
de um ano para sua completa execução, além do prazo indeterminado para que o órgão ambiental realize
a análise dos estudos e emita a autorização para o início das obras.

Então, ponderando-se a urgência do governo federal em realizar a obra, o clamor da sociedade local para
que o trecho rodoviário fosse implantado aumentando assim a segurança rodoviária do transporte de
passageiros e de cargas, além da redução dos gastos do dinheiro público, utilizou-se das descobertas
obtidas nos estudos geológicos e geofísicos para propor a implantação de uma variante ao traçado original
(observada na Figura 07) obedecendo aos critérios de engenharia e afastando o eixo da rodovia em relação
à área de existência de cavidades em pelo menos 250 metros, atendendo assim a delimitação da área de
proteção preconizada na legislação ambiental.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 7 – Variante proposta para o novo traçado da rodovia BR-135/BA

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

5- CONCLUSÕES

Antes da construção de estradas em áreas onde se detectaram a presença de cavidades subterrâneas,


devem ser avaliados riscos de impactos sobre este patrimônio espeleológico. A Resolução CONAMA nº
347/2004, determina que “a área de influência sobre o patrimônio espeleológico será definida pelo órgão
ambiental competente que poderá, para tanto, exigir estudos específicos”, até que se efetive o previsto no
parágrafo, “a área de influência das cavidades naturais subterrâneas será a projeção horizontal da caverna
acrescida de um entorno de 250 metros, em forma de poligonal convexa”. Atualmente não há consenso
entre órgãos ambientais licenciadores quanto ao método específico para determinar o limite de segurança
estrutural das cavidades impactadas pela construção e operação de rodovias. Mantem-se então esta
distância arbitrária, não sendo possível assegurar se é adequada, insuficiente ou superestimada para
proteção.

O estudo de caracterização espeleológica pretérita as obras identificou e caracterizou ocorrências de


cavidades subterrâneas naturais na área de influência direta do projeto do traçado proposto para a BR-
135/BA no município de Cocos/BA. A presença de estruturas geológicas associadas ao relevo cárstico
regional, caracterizou-se por dolinamentos e cavidades subterrâneas naturais.

O levantamento geológico previsto no Programa de Proteção ao Patrimônio Espeleológico, foi executado


com as técnicas e níveis de precisão que garantiram a qualidade dos resultados obtidos e a interpretação
destes resultados viabilizou a execução do empreendimento rodoviário.

Foi possível propor a execução de uma variante com mais de 250 metros de afastamento das feições
cársticas, corroborando a proposição de nova diretriz da variante rodoviária, orientando o desenvolvimento
ocupacional do solo e mantendo a integridade do patrimônio espeleológico, atendendo desta forma a
legislação ambiental, promovendo a redução de custos à obra e diminuindo o prazo para autorização
ambiental de implantação da rodovia.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE ZEÓLITAS CLINOPTILOLITA EM


BARREIRAS REATIVAS PERMEÁVEIS

ASSESSMENT OF THE APPLICABILITY OF CLINOPTILOLITE ZEOLITES IN


PERMEABLE REACTIVE BARRIERS

Rocha, Liana Carolina Carvalho; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, lianaccr@usp.br
Zuquette, Lazaro Valentin; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, lazarus1@sc.usp.br

RESUMO

O uso de Barreira Reativa Permeável (BRP) frequentemente ocorre em áreas de pequenas extensões para
a remoção de contaminantes de plumas situadas em profundidades menores que 20 m, devido à
simplicidade de execução, desde que atendidas as condições de naturezas geológicas e geotécnicas, tipos
de contaminantes e do material reativo que será utilizado na barreira. A escolha do material reativo é
decisiva para a correta aplicação, dimensionamento e resultados positivos. Neste texto apresenta-se um
conjunto de dados decorrentes de um estudo destinado a caracterizar as propriedades físicas, químicas e
mineralógicas de uma Zeólita natural, oriunda da região de Tasajeras, em Cuba, assim como resultados
de condutividade hidráulica de diferentes arranjos volumétricos utilizando diferentes faixas
granulométricas. Foram utilizadas amostras de Zeólita em 3 faixas granulométricas (4,0x10-4 a 1,0x10-3,
1,0x10-3 a 2,0x10-3 e 1,0x10-3 a 3,0x10-3 m), com massa específica dos sólidos da ordem de 22,87
kN/m3. Os resultados dos estudos mineralógicos e químicos indicam que a Zeólita em estudo faz parte da
espécie Clinoptilolita, com grande quantidade de sílica e alumínio em sua estrutura, resultando em uma
relação Si/Al de 7,8, compatível com os valores referentes a essa espécie. A capacidade de troca
catiônica externa foi analisada para diferentes faixas granulométricas, resultando em valores entre 20 e
180 mmolc/kg. Colunas com diferentes faixas granulométricas geraram valores de massa específica
aparente seca média de 10,01 a 11,00kN/m3 e valores de condutividade hidráulica entre 1,17.10-5 e
1,57.10-4 m.s-1. Apesar dos valores resultantes da caracterização física, química e mineralógica indicarem
que este é um material reativo adequado, os valores da condutividade hidráulica trazem preocupações
quanto aos tempos de contato entre o contaminante e a superfície sólida para que as reações ocorram
em magnitude adequada. Assim, em sequência, estudos estão em andamento no sentido de avaliar o
tempo de contato, re-utilização e eficiência.

ABSTRACT

Permeable Reactive Barrier (BRP) can be applied in small extension areas (plumes) for the removal of
contaminants from groundwater due to the simplicity of execution, since are provided some conditions
such as geological and geotechnical characteristics, types of contaminants and reactive material used as
barrier. The choice of the reactive material is decisive for the correct application, design and to obtain
positive results. This paper presents a data set obtained in a study developed to characterize the physical,
chemical and mineralogical properties of a natural zeolite from Tasajeras region, Cuba, as well as
hydraulic conductivity results of different volumetric arrangements of different grain size ranges. Three
particle sizes of zeolite samples were studied (4.0x10-4 to 1.0x10-3, 1.0x10-3 to 2.0x10-3 and 1.0x10-3 to
3.0x10-3 m), with a specific gravity of 22.87kN/m3. The results of the mineralogical and chemical studies
indicate that the Zeolite in study is part of the Clinoptilolite specie, with a large amount of silica and
aluminum in structure, resulting in a Si/Al ratio of 7.8 compatible with the values for Clinoptilolite specie.
The external cation exchange capacity was analyzed for different grain size ranges resulting in values
between 20 and 180 mmolc/kg. The columns of different grain sizes generated apparent dry mass values
of 10.01 to 11.00 kN/m3 and hydraulic conductivity between 1.17x10-5 and 1.57x10-4m.s-1. Although the
values, resulting from the physical, chemical and mineralogical characterization indicate the zeolite is a
suitable reactive material, the hydraulic conductivity values raise concerns about the contact time
necessary between the contaminant and the solid surface so that the reactions occur in an adequate
magnitude. Thus, in sequence, studies are under way to evaluate contact time, re-use and efficiency.

1- INTRODUÇÃO

O crescente índice de industrialização e ocupação populacional em áreas urbanizadas tem gerado


resíduos e rejeitos de diferentes naturezas e tipos, os quais têm sido dispostos com diferentes graus de
recursos tecnológicos e técnicas de disposição. Contudo, em todos eles, existe a migração de quantidades
diferentes para os materiais geológicos que atingem as águas subterrâneas, as quais, em regiões com
períodos bem definidos de chuvas e secas, como o Brasil, são responsáveis pela manutenção dos canais
de drenagem permanentes. Quando ocorre a contaminação das águas subterrâneas surge, então, uma

1088
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

cadeia de interações que podem atingir os seres vivos por diferentes trajetórias, desde o uso direto até à
ingestão de produtos preparados com as águas contaminadas.

A remoção destes contaminantes tem sido intensamente estudada, principalmente, em condições ex-situ,
após o bombeamento a partir de poços profundos ou dos canais de drenagem, mas o problema que mais
preocupa é o espalhamento dos contaminantes nos reservatórios de águas subterrâneas e que atingem
extensões consideráveis, afetando um grande número de canais de drenagem, o uso de poços profundos
e, assim, inviabilizando o uso das mesmas. Dessa forma, existe um grupo de técnicas propostas para a
remediação destas águas contaminadas in situ para as diferentes profundidades, tais como: poços de
bombeamento e tratamento ex-situ, extração de vapor do solo (SVE), dessorção térmica, air sparging,
entre outras.

Dentre todas as possibilidades de remediação, tem-se a técnica de Barreira Reativa Permeável (BRP) que
vem sendo desenvolvida e aplicada em diversos países, como Canadá e Estados Unidos, e que, em
princípio, pode fazer uso de diferentes materiais naturais ou industrializados, através da sua capacidade
reativa. Dentre os materiais comumente utilizados estão as Zeólitas, o Carvão, os Calcários e o Feo.
Sendo considerada uma técnica promissora na remediação de contaminantes presentes nas águas
subterrâneas, essas barreiras devem ser construídas perpendicularmente as plumas de contaminação, de
maneira que a água contaminada possa fluir pela barreira e os contaminantes interagirem com as
partículas em tempo suficiente para que haja reações líquido-sólido.

A tecnologia de BRP foi iniciada nos anos 1990 na Universidade de Waterloo, no Canadá, com um
primeiro projeto piloto em 1991, instalada em uma pluma de solventes clorados em Borden, Ontário. E
em 1994, instalou-se a primeira BRP em escala comercial em Sunnyvale, Califórnia, também para o
tratamento de clorados.

Os projetos de BRP, assim como na maioria das técnicas de remediação, são constituídos por várias
etapas. A primeira delas consiste na adequação da técnica as condições geológicas e geotécnicas da área
contaminada e à extensão que necessita de remediação. Na segunda parte, deve-se analisar as condições
operacionais para instalação. A terceira etapa compreende a seleção do material reativo a ser utilizado na
célula principal. É necessário que este seja reativo o suficiente para que ocorram as reações físico-
químicas entre líquido e sólido, tenha elevada capacidade de armazenamento em sua estrutura, seja de
fácil manuseio, tenha potencialidade para reaproveitamento, que seja possível de obter em diferentes
faixas granulométricas, e apresente estabilidade física e química. A quarta e última etapa, consiste na
instalação propriamente dita da BRP.

Neste tipo de barreira, é fundamental que o arranjo espacial das partículas permita atingir valores de
condutividade hidráulica que possibilitem um fluxo semelhante ao do meio geológico e tempo de contato
suficiente para que ocorra o contato mínimo necessário para que as reações de trocas químicas
indispensáveis ocorram, envolvendo a superfície externa e as condições internas (poros de pequena
dimensão). Outros pontos fundamentais são a compatibilidade ambiental, a viabilidade dos aspectos
construtivos (dimensão e espessura necessária da barreira devem condizer com a situação encontrada
em campo e serem viáveis quanto aos aspectos técnicos de construção) e o baixo custo.

Dentre os materiais reativos apresentados anteriormente, um dos mais citados na literatura são as
Zeólitas, devido as suas características mineralógicas (estrutura, estabilidade e composição química),
fácil manuseio e custo não excessivo. As Zeólitas são um grupo de minerais que vem sendo alvo de
pesquisas, principalmente as da espécie Clinoptilolita, que é uma Zeólita natural pertencente ao grupo da
heulandita (Woinarski et al., 2003), e a mais abundante dentre aproximadamente 40 espécies naturais de
Zeólitas (Breck, 1974). Esses minerais são aluminossilicatos de estrutura porosa, que, em geral,
apresentam uma área de superfície interna muito maior do que a externa, conferindo-lhes assim elevada
capacidade de troca catiônica total, que considera tanto a área externa quanto interna. A sua elevada
capacidade de troca catiônica e o alto poder de adsorção habilitam as Zeólitas para uso como barreiras na
remediação de águas subterrâneas contaminadas por metais pesados, principalmente em profundidades
inferiores a 20 metros (Vidic, 2001).

As propriedades de adsorção das Zeólitas são resultado de sua capacidade de troca iônica (Bailey et al.,
1999), que ocorre pela presença de cátions compensadores de carga, localizados nos canais e cavidades
da estrutura, constituindo a rígida estrutura aniônica. Os cátions estão conectados na estrutura e nas
moléculas de água, as quais geralmente ocupam os microporos das zeólitas. No contato entre o material
e a solução eletrolítica, o cátion pode ser removido dos sítios e trocado por outros cátions da solução
(Dyer e Zubair, 1998), tais como chumbo, cádmio, cobre, zinco e manganês (Bailey et al., 1999). Os
cátions trocáveis das Zeólitas são contaminantes com menor nível de perigosidade quando comparados
aos metais e orgânicos, o que torna um material reativo adequado para uso in situ (Curkovic et al.,1997).

Porém, apesar de inúmeros textos referentes à capacidade de adsorção de contaminantes pelas Zeólitas,
alguns pontos merecem ainda investigação, principalmente, em termos do seu uso como BRP em

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

medidas de remedição de corpos de águas subterrâneos contaminados. Neste sentido, a primeira etapa
deste estudo visa à obtenção das propriedades físicas, mineralógicas e químicas e, seguidamente, as
propriedades hidráulicas e de sorção de contaminante de uma Zeólita natural.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

As análises para caracterização da Zeólita, seja em termos físicos, mineralógicos e químicos, dependem
de amostras com tamanhos de partículas e preparações diferentes, e de um conjunto de equipamentos
laboratoriais, conforme descritos em seguida.

2.1 - Materiais

No presente estudo foram utilizadas amostras de um tipo de Zeólita natural proveniente do depósito
sedimentar da região de Tasajeras, Cuba. As amostras em estudo estavam divididas em três faixas
granulométricas distintas. Estas foram adquiridas em sua forma comercial, após coleta e fragmentação,
nas faixas granulométricas de 4,0x10-4 a 1,0x10-3 m e 1,0x10-3 a 3,0x10-3 m. A terceira faixa
granulométrica, entre 1,0x10-3 e 2,0x10-3 m, foi obtida por peneiramento a partir da faixa entre 1,0x10-3
e 3,0x10-3 m.

2.2 - Métodos

As amostras de Zeólita passaram por processos de homogeneização e quarteamento, com o objetivo de


se obter pequenas porções representativas do material inicial. Em seguida, foi realizada a análise
granulométrica das amostras. Por fim, estas foram secas em estufa a 1000 ºC e encaminhadas para
análises laboratoriais. Foram realizados ensaios de caracterização das propriedades físicas, químicas,
mineralógicas e hidráulicas, de acordo com as metodologias descritas a seguir.

2.3 - Caracterização física

2.3.1 - Análise granulométrica

No sentido de confirmar a granulometria dos três conjuntos de amostras foram executados ensaios de
granulometria com base na norma NBR 7181/1984 (ABNT, 1984a). Amostras maiores foram quarteadas
para a realização desse ensaio de maneira a obter uma boa representatividade de cada conjunto.

2.3.2 - Massa específica dos sólidos (ρs)

A determinação da massa específica das partículas foi realizada de acordo com a norma NBR 6508/1984
(ABNT, 1984b), utilizando amostras retiradas dos três conjuntos de tamanhos de partículas, após o
devido quarteamento.

2.3.3 - Massa específica aparente seca (ρd)

A massa específica aparente seca das amostras foi obtida através dos ensaios de índice de vazios máximo
e mínimo, realizados de acordo com as normas NBR 12004/1990 (ABNT, 1990a) e NBR 12051/1990
(ABNT, 1990b), respectivamente. O objetivo deste ensaio é obter valores que permitam avaliar qual o
melhor empacotamento das partículas para cada conjunto, no sentido de orientar a preparação das
colunas para os ensaios de permeabilidade e posteriormente para os ensaios de transporte de poluentes.

2.4 - Caracterização química

2.4.1 - Capacidade de troca catiônica (CTC) externa

As zeólitas apresentam duas possibilidades de obtenção de Capacidade de Troca Catiônica (CTC). A Total,
que envolve tantos os aspectos internos quanto externos, e que está relacionada à superfície específica
das partículas, e a CTC externa, que está ligada somente à superfície externa das partículas. Para este
trabalho, determinou-se apenas a CTC externa das amostras estudadas.

A fim de avaliar a influencia do tamanho da partícula nos valores de CTC externa, foram realizados
ensaios com as diferentes faixas granulométricas estudadas. Previamente à realização deste ensaio,
algumas amostras de Zeólita foram moídas em almofariz até que se obtivessem material passante na
peneira Nº 200 (partículas <7,4x10-5 m). Assim, foram ensaidas partículas nas seguintes faixas: 1,0x10-
3-3,0x10-3 m; 1,0x103-2,0x10-3 m; 0,4x10-4-1,0x10-3 m; e <7,4x10-5 m. A determinação da CTC foi

realizada baseada no método de adsorção de azul de metileno utilizando a metodologia descrita por Pejon
e Zuquette (1992).

Através das informações obtidas nesse ensaio, calcula-se a CTC externa para as diferentes amostras,
representando várias faixas granulométricas, utilizando-se a Equação 1.

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𝑉×𝐶×100
𝐶𝑇𝐶 = [1]
𝑀

Onde:

V = volume da solução de azul de metileno utilizada (m3);

C = concentração da solução (N),

M = massa de solo seco (kg).

2.4.2 - Capacidade de adsorção

A estimativa da capacidade de adsorção de quaisquer materiais utilizados como barreira reativa é um dos
pontos fundamentais. Neste sentido, foi desenvolvido um ensaio, conforme descrito a seguir, com o
objetivo de avaliar a capacidade de adsorção da zeólita com íons de potássio (K+).

Para isso, 2,0x10-2 kg de zeólitas, de faixa granulométrica de 1,0x10-3 a 3,0x10-3 m, foram dispostas
dentro de um béquer de 2,5x10-4 m3, no qual adicionou-se 1,0x10-4 m3 de solução de íons K+ com
concentração de 1000ppm. O ensaio foi realizado com monitoramento constante da temperatura, que se
manteve em torno de 25 ºC até o final do experimento. No decorrer do ensaio, foram retiradas pequenas
alíquotas (2,0x10-6 m3) de solução em diferentes intervalos de tempo, a fim de quantificar a
concentração de K+. Nas primeiras 12 horas foram retiradas alíquotas a cada hora, depois disso, foram
retiradas com 24 e 48 horas, quando se finalizou o ensaio. A determinação da concentração de íons K+
nas amostras foi realizada em fotômetro de chama MICRONAL modelo B26.

2.4.3 - Composição química

Como as jazidas de Zeólitas são muito heterogêneas, a avaliação da composição química elementar é um
ponto importante na caracterização, principalmente para verificar a presença de elementos que podem
afetar as análises quanto às condições de adsorção. Neste aspecto, a técnica da fluorescência de raios X
foi utilizada para a determinação da composição química elementar das amostras de Zeólita, visto a
possibilidade de utilizar amostras sem a necessidade de solubilizá-las para obter uma solução aquosa.
Três amostras foram submetidas à análise. Inicialmente foram moídas até que as partículas atingissem
tamanho menor que a peneira Nº 200 (partículas <7,4x10-5 m), e, em seguida, o procedimento de
preparo das amostras foi por meio de pastilhas prensadas. O equipamento utilizado foi um Espectômetro
de Fluorescência de Raios X, da marca Rigaku, modelo RIX 3100, com tubo de Ródio (4kw). Os
resultados permitem obter informações qualitativas (identificação elementar) e quantitativas
(quantificação elementar).

2.5 - Caracterização mineralógica

Conforme citado anteriormente, as Zeólitas são bastante heterogêneas, portanto, podem conter
diferentes minerais do grupo das Zeólitas, assim como outros Silicatos como o Quartzo, dependendo do
seu lugar de origem. Neste sentido, amostras deste material foram submetidas a dois tipos de ensaios,
conforme descritos em seguida.

2.5.1 - Análise térmica diferencial (ATD) e análise térmica gravimétrica (ATG)

Os ensaios de análise térmica diferencial (ATD) e de análise térmica gravimétrica (ATG) são baseados na
avaliação da variação da massa da amostra em função da temperatura e na avaliação da variação de
energia em função da temperatura, respectivamente. Os resultados revelam comportamentos em termos
de propriedades físicas ou de uma reação química em função da temperatura, os quais permitem
identificar os minerais presentes na amostra (Ribeiro et al., 2006).

Na ATD, a amostra é submetida a aquecimento uniforme e com velocidade constante. A temperatura da


amostra é registrada e comparada com a de um material inerte. Na ATG, a amostra também é submetida
a um aquecimento com velocidade constante, porém, para essa análise, a amostra tem a mudança de
massa medida em função da temperatura.

Para a realização desses ensaios, foram utilizadas aproximadamente 1,0x10-3 kg, para o ensaio de ATD, e
5,0x10-3 kg, para a análise de ATG de amostra seca a 60ºC.

Com as amostras posicionadas corretamente, utilizou-se o programa da BP Engenharia para dar


prosseguimento aos ensaios e as análises sequenciais (primeiramente o ensaio de ATD e, em seguida, de
ATG). Para estas duas análises utilizou-se a mesma programação: velocidade de aquecimento de
12,5º/min até atingir a temperatura de 1000ºC, quando se deu por finalizado o ensaio.

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2.5.2 - Ensaio de difração de raios X

As amostras foram preparadas para os ensaios de difração de raios X a partir do quarteamento de


amostras maiores e submetidas a moagem, até que atingissem dimensões menores que 7,4x10-5 m.

Os difratogramas foram obtidos a partir de três lâminas orientadas, diferenciadas pelo tipo de tratamento
que receberam, a saber: uma lâmina foi seca ao ar em temperatura ambiente, uma recebeu tratamento
térmico de 550 ºC por uma hora e a outra foi tratada com etilenoglicol. Para a execução das varreduras
foi utilizado um equipamento do tipo Rigaku Rotaflex, modelo RU200B, com varredura normal de 5º a
80º, com passo de 0,02/segundo, velocidade de 2º/minuto e tensão de 40 kv e 60 mA, em ânodo de Cu.

2.6 - Caracterização hidráulica

A partir dos ensaios de análise granulométrica, massa específica das partículas e massa específica
aparente seca, foram montadas colunas com diferentes dimensões, conforme mostrado na Fig. 1, tendo
como princípio, atingir, no mínimo, em cada coluna, os valores de massa específica aparente seca obtidos
nos ensaios específicos para as diferentes granulometrias. Os ensaios de permeabilidade à carga
constante foram desenvolvidos de acordo com a NBR 13292/1995 (ABNT, 1995).

As colunas foram preenchidas com as partículas de Zeólita, nas diferentes faixas granulométricas, logo
após processou-se a saturação das colunas, que ocorreu em fluxo ascendente para a liberação do ar de
todo o corpo de prova. Em seguida, iniciou-se o ensaio de permeabilidade, com fluxo descendente e
carga hidráulica constante de 1,7. Este ensaio teve duração de 10 dias, quando os valores de
condutividade hidráulica encontraram-se estabilizados, ou seja, com variação inferior a 2x10 -6 m3 entre
os valores lidos.

Figura 1 - Colunas utilizadas no ensaio de permeabilidade

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Caracterização física

3.1.1 - Análise granulométrica

As curvas de distribuição das partículas obtidas para as três amostras encontram-se representadas na Fig.
2. Pelo comportamento das curvas apresentadas, para as diferentes faixas granulométricas, considera-se
este material como um material bem graduado. Observa-se ainda uma semelhança entre as curvas das
faixas de 1,0x10-3 - 2,0 x10-3 m e de 1,0 x10-3 – 3,0 x10-3 m, o que já era esperado, devido terem sidos
obtidos do mesmo volume inicial.

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Figura 2 – Curvas granulométricas obtidas para as amostras da faixa de 4,0x10-4 – 1,0x10-3 m (azul), da faixa de
1,0x10-3 - 2,0x10-3m (vermelho) e da faixa de 1,0x10-3 – 3,0x10-3m (preto)

3.1.2 - Massa específica dos sólidos (partículas)

Os valores de massa específica das partículas (ρs) obtidos através do ensaio apresentaram uma média de
22,9 kN/m3, com desvio padrão de 0,1 kN/m3. Este valor é coerente com a faixa de valores indicada por
Ming e Mumpton (1989), que afirmam que o grupo das Zeólitas possui valores de massa específica dos
sólidos de 22,0 a 24,0 kN/m3.

3.1.3 - Massa específica aparente seca

A massa específica aparente seca (ρd) obtida no ensaio apresentou valores entre 10,01 a 11,0 kN/m3. Os
menores valores de ρd foram obtidos para as partículas da faixa granulométrica de 1,0x10-3-3,0x10-3 m,
valores intermediários foram estimados para os sólidos entre 1,0x10-3-2,0x10-3 m e os maiores valores
encontrados, de massa específica aparente seca, foram para a menor faixa granulométrica (4,0x10-4 a
1,0x10-3 m) estudada. Isto se deve ao fato de que partículas menores tendem a um arranjo mais
compacto.

3.2 - Caracterização química

3.2.1 - Capacidade de troca catiônica (CTC) externa

O ensaio de adsorção de azul de metileno forneceu valores de CTC externa para as amostras de
diferentes granulometrias diretamente relacionados aos tamanhos das partículas conforme consta no
Quadro 1.

Quadro1- Valores de CTC externa para as diferentes faixas granulométricas


Valores de CTC externa
Faixa granulométrica (m) CTC exterma (mmolc/kg)
1,0x10-3 – 3,0x10-3 20
1,0 x10-3 – 2,0x10-3 20
0,4x10-4 – 1,0x10-3 90
< 7,4x10-5 180

Os resultados obtidos indicam que quanto menor o tamanho da partícula, maior é a CTC externa do
material. Tal fato é comprovado pelas menores partículas ensaiadas (<7,4x10 -5 m) apresentarem o maior
valor de CTC externa. Essa ocorrência é resultado de que uma mesma massa de material apresenta
maior quantidade de partículas quando em tamanhos menores, resultando assim, em maior área externa
disponível para que ocorram as reações de troca catiônica. Porém, vale ressaltar, que o mesmo não é
válido quando se trata de reações que ocorrem tanto nas superfícies internas quanto externas das
zeólitas, nesses casos, mesmo zeólitas com diferentes tamanhos de partículas não apresentam grande
variação na capacidade de adsorção, como será visto mais adiante. Além disso, o uso de partículas na
faixa de <7,4x10-5 m não é viável em sistemas de BRP, principalmente frente às necessidades de
transformação industrial resultando em custos elevados.

3.2.2 – Resultados da capacidade de adsorção dos íons de K+

Os resultados obtidos no ensaio de adsorção dos íons K+ com amostras de Zeólita foram traçados na
forma de curvas de breakthrough, como podem ser visualizadas na Fig. 3. Além de serem utilizadas para

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análise direta de concentração relativa, os dados obtidos através dessas curvas, também tornam possível
a determinação de parâmetros de transporte de contaminantes em meios porosos.

Ao observar o gráfico que reflete o comportamento do processo de adsorção para o material estudado,
em geral, este pode ser dividido em duas partes bem distintas, sendo a primeira referente às primeiras
duas horas de ensaio onde a adsorção ocorreu consideravelmente de forma rápida. E uma segunda parte,
onde a adsorção continuou ocorrendo, porém com menor razão. Os resultados de concentração final dos
íons K+ obtidos para as diferentes faixas granulométricas não apresentaram siginificativa diferença entre
si. Ao fim de 48 horas de ensaio, as concentrações de K + na solução final foram de aproximadamente 12
ppm para as partículas de tamanho entre 1,0x10-3 – 3,0x10-3 m e 1,0x10-3 – 2,0 x10-3 m, e de 8 ppm
para as de tamanho 4,0x10-4 – 1,0x10-3 m, indicando que grande parte dos íons de K+ foi adsorvida pelas
partículas de Zeólita em estudo.

Figura 3- Gráfico resultante da adsorção dos íons de potássio (K+) pelas amostras de granulometria de 4,0x10-4 –
1,0x10-3 m (verde), 1,0x10-3 - 2,0x10-3 m (vermelho) e da faixa de 1,0x10-3 – 3,0x10-3 m (preto)

3.2.2 - Composição química

As amostras estudadas neste trabalho foram coletadas do mesmo lugar de origem, diferenciando-se
entre si apenas pela faixa granulométrica. Entretanto, para atestar a composição química de cada uma
delas, foram realizados ensaios de análise química em todas as amostras. Porém, os resultados obtidos
foram praticamente iguais entre si, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos. Dessa forma, no
Quadro 2, são apresentadas as médias e os desvios padrão obtidos para cada elemento presente nas
amostras determinados por meio da Fluorescência de Raios X.

Os valores obtidos são compatíveis aos encontrados para amostras de Zeólita com o predomínio da
espécie Clinoptilolita, com composição fundamental de Silício, Alumínio e Oxigênio, e em menor
quantidade, íons de Potássio e Cálcio, como parte da estrutura química.

Quadro 2- Valores médios e desvio padrão da composição química das amostras de Zeólita avaliada pela técnica de
Fluorescência de Raios X
Óxidos %massa/massa Desvio Padrão (%)
MgO 0,715 0,081
Al2O3 10,107 0,025
SiO2 79,280 0,185
K2O 2,083 0,014
CaO 4,564 0,052
TiO2 0,418 0,008
Fe2O3 2,676 0,052
ZnO 0,010 0,001
BaO 0,147 0,002
Si/Al 7,8 0,126

Com base nos dados apresentados pode observar-se que o valor obtido para a relação Si/Al desse
material foi de aproximadamente 7,8. Este valor encontra-se em conformidade com os valores divulgados
no relatório do Subcomitê da Associação Mineralógica sobre Zeólitas, no qual a Clinoptilolita apresenta
uma relação Si/Al ≥ 4,0 (Coombs et al., 1997).

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Em geral, a relação Si/Al é uma importante propriedade das Zeólitas, pois está teoricamente relacionada
com a sua CTC e seletividade. Ainda segundo Szostak (1989), uma elevada CTC é observada para
Zeólitas com baixa relação Si/Al, da mesma forma que, Zeólitas com elevada concentração de alumínio
em sua estrutura tem preferência por cátions pequenos ou altamente carregados, como, por exemplo, o
cádmio e o chumbo (Rupp, 1996; Colella, 1996).

Embora a Fluorescência de Raios X seja usualmente empregada na avaliação da composição química de


materiais, é válido ressaltar que, esta técnica detecta os íons presentes na amostra, estando ou não na
estrutura cristalina, ou ainda associado a impurezas. Além disso, este procedimento analítico possui uma
limitação na leitura de elementos com menor número atômico que o sódio (número atômico 11), dessa
forma, elementos com número atômico menor que 11, não são detectados por esta técnica.

3.3 - Caracterização mineralógica

Da mesma forma que o ensaio de composição química, a caracterização mineralógica foi realizada para
as três amostras estudadas, todavia, quando os resultados obtidos eram semelhantes entre si, aqui foi
apresentada a média destes.

3.3.1 - Análise térmica diferencial (ATD) e análise térmica gravimétrica (ATG)

Na Fig. 4 têm-se os resultados obtidos para as amostras de Zeólita no ensaio de análise térmica
diferencial (ATD). Ao analisar o gráfico, observam-se dois picos endotérmicos, um a 54 ºC e outro a 144
ºC. Nota-se também, que estes picos são bem amplos, em especial o segundo, e que a partir dos 400 ºC,
não há mais nenhuma variação na amostra. Este comportamento condiz com as características descritas
por Alberti (1975) e Mumpton (1977) para a Zeólita da espécie Clinoptilolita.

Figura 4 – Resultado obtido com a análise térmica diferencial (ATD)

Zeólitas são aluminossilicatos hidratados de estrutura porosa, portanto, possuem diferentes formas de
água em sua estrutura cristalina. Alberti (1975) investigou o comportamento térmico da Clinoptilolita
quando submetida a ensaios de ATD e ATG. Este autor reportou que esta espécie de Zeólita exibe forte
desidratação térmica centrada em aproximadamente 130 ºC, e baixos efeitos de desidratação a cerca de
400 ºC.

Mumpton (1977), em seu estudo sobre a desidratação da Clinoptilolita através do ensaio de ATD, afirmou
que além do amplo pico endotérmico entre 0 e 400 ºC, essa espécie de Zeólita não apresenta mais
nenhuma reação endotérmica quando submetida até 1000 ºC.

O gráfico obtido para o ensaio de ATG está representado na Fig. 5. Da mesma forma que o ensaio de ATD,
a análise ATG representa a perda de água das amostras, em suas diferentes formas. Ou seja, esta perda
gradativa de massa até os 550 ºC, observada no gráfico, representa a perda de toda a água que estava
presente nas amostras. Esta é uma característica comumente observada em Clinoptilolita. Este fato é
compatível com os estudos de Mumpton (1977), que afirma não ter observado nenhuma quebra
significativa na curva de perda de massa.

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Figura 5 - Resultado obtido com o ensaio de análise térmica gravimétrica (ATG)

3.3.2 - Ensaio de difração de raios X

Os difratogramas obtidos para as amostras de Zeólita encontram-se nas Figs. 6, 7 e 8. Na Fig. 6 é


apresentado o difratograma obtido da lâmina sem tratamento. Os picos destacados neste difratograma
em 2θ=9,90º e 22,42º são característicos da Clinoptilolita. Este fato foi confirmado, quando, utilizando a
Lei de Bragg, estimou-se o valor da distância basal (d), e comparando-os com os dados de interpretação
de difratogramas de Zeólitas divulgados por Moore e Reynolds (1997), apresentados no Quadro 3,
verificou-se que esses dados são relativos a espécie da Clinoptilolita.

O difratograma obtido através do tratamento térmico está apresentado na Fig. 7. Pode-se observar que
quando submetida a temperatura de 550 ºC, a amostra não apresentou nenhuma alteração significativa
na sua estrutura, e manteve os picos principais, apenas com uma intensidade menor. Enquanto que no
difratograma obtido com tratamento de etilenoglicol, ilustrado na Fig. 8, os picos mais representativos da
amostra sofreram deslocamento. Os picos que antes se encontravam em 2θ=9,90º e 22,42º, na lâmina
sem tratamento, foram levemente deslocados para a esquerda (2θ=9,05º e 21,00º), indicando que
ocorreu uma expansão dos minerais.

Dessa forma, conclui-se que não houve deslocamento significativo dos picos, mesmo variando-se o
procedimento de obtenção das lâminas (procedimento geral, tratamento térmico e com etilenoglicol).
Este comportamento é característico da espécie Clinoptilolita, de acordo com os trabalhos de Vucelic et al.
(1973 e 1974), Papadopoulou et al. (2006) e Fernandéz (2004). Dessa maneira, os resultados obtidos
indicam que o material em estudo tem composição mineralógica predominante de minerais da espécie
Clinoptilolita.

Figura 6 – Difratograma de raios X obtido para a lâmina sem tratamento

Figura 7 – Difratograma obtido para a lâmina com tratamento térmico


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Figura 8 – Difratograma obtido da lâmina que recebeu tratamento com etilenoglicol

Quadro3- Parâmetros para interpretação dos difratogramas de raios Xpara zeólitas (adaptado de Moore e Reynolds,
1997)
Heulandita Clinoptilolita
d I 2θ d I 2θ
8,96 100 9,9 8,95 13 9,9
7,94 12 11,1 4,65 19 19,1
5,26 10 16,8 3,98 61 22,3
5,10 70 16,8 3,91 63 22,7

Legenda: d – distância basal (Ångström), I – intensidade, 2θ - posição (graus)

3.4 - Caracterização hidráulica

No Quadro 4 encontram-se as características físicas obtidas para um grupo de 9 colunas e os respectivos


valores de massa específica das partículas sólidas (ρs), massa específica aparente seca (ρd), porosidade
(n), índice de vazios (e) e condutividade hidráulica (K).

Quadro4 - Características das colunas e valores médios de condutividade hidráulica

K
Faixa granulométrica Diâmetro Volume ρd
Coluna Altura (m) ρs (kN/m3) n e
(m) (m) (m3) (kN/m3)
(m.s-1)

1 1,0x10-3 – 3,0x10-3 15,06 x10-3 9,75x10-3 1,12x10-3 22,87 10,01 0,56 1,28 3,83x10-5

2 1,0x10-3 – 2,0x10-3 15,09x10-3 9,65x10-3 1,10x10-3 22,87 10,05 0,56 1,28 9,13x10-5

3 4,0x10-4 – 1,0x10-3 15,12x10-3 9,79x10-3 1,14x10-3 22,87 11,0 0,52 1,08 1,04x10-4

4 1,0x10-3 – 3,0x10-3 15,16x10-3 9,80x10-3 1,14x10-3 22,87 10,74 0,53 1,13 1,57x10-5

5 1,0x10-3 – 2,0x10-3 15,14x10-3 9,75x10-3 1,13x10-3 22,87 10,03 0,56 1,28 1,79x10-4

6 4,0x10-4 – 1,0x10-3 15,13x10-3 10,21x10-3 1,24x10-3 22,87 10,76 0,53 1,13 1,52x10-5

7 1,0x10-3 – 3,0x10-3 15,14x10-3 9,71x10-3 1,12x10-3 22,87 10,46 0,54 1,19 1,17x10-5

8 1,0x10-3 – 2,0x10-3 15,02x10-3 9,75x10-3 1,12x10-3 22,87 10,03 0,56 1,28 1,86x10-5

9 4,0x10-4 – 1,0x10-3 15,17x10-3 9,73x10-3 1,13x10-3 22,87 10,89 0,52 1,10 4,61x10-5

Os valores de condutividade hidráulica obtidos para os arranjos volumétricos representados pelas colunas
no ensaio de permeabilidade à carga constante variam da ordem de 10 -4 a 10-5 m.s-1. Tais valores são
compatíveis com os valores de K de grande parte dos materiais arenosos comuns nas diferentes regiões
do Brasil.

Os valores de condutividade hidráulica (K) controlam o tempo de contato entre a superfície sólida das
partículas e a solução contaminante. Quando K é muito elevado o tempo de contato pode não ser
suficiente para que ocorram todas as reações químicas necessárias, e consequentemente, pode resultar
em uma baixa eficiência da barreira. Por outro lado, valores de K muito baixos, levam a longos tempos de

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

contato, resultando em uma baixa performance da barreira reativa pois funcionaria como uma barreira
física.

4- CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste estudo indicam que a Zeólita estudada é predominantemente da espécie
Clinoptilolita, constituída fundamentalmente por íons de Sílica, Alumínio e Oxigênio. A razão Si/Al revela
importantes informações sobre as Zeólitas, relacionadas tanto a sua CTC como a sua seletividade,
ressaltando que quanto menor for a razão Si/Al maior será a CTC da Zeólita. Em geral, os resultados das
análises das amostras mostraram-se bastante similares nos diferentes resultados obtidos com a
Fluorescência e a Difração de Raios-X.

Os valores de CTC externa obtidos pelo método de adsorção de azul de metileno, variando de 20 a 180
mmolc/kg para partículas de 1,0x10-3 a 3,0x10-3 m e 4,0x10-4a 1,0x10-3 m, respectivamente, indicam que
mesmo quando se tratando apenas da área de superfície externa, a Clinoptilolita apresenta potencial para
uso como material reativo em Barreiras Reativas Permeáveis.

O arranjo espacial das partículas permitiu obter valores de condutividade hidráulica semelhantes a
materiais arenosos de muitas regiões do Brasil, propiciando assim, o fluxo ao longo da barreira formada
por esse material, e atendendo a condição básica de sistemas de BRP, em que a barreira deve ser tão
permeável quanto o meio geológico, facilitando assim o fluxo de água através deste. Entretanto, vale
ressaltar, que deve-se atentar ao tempo de contato necessário entre o contaminante e as partículas
sólidas para que ocorram as reações necessárias.

Associado as características já apresentadas neste estudo, que revelam a Clinoptilolita como um material
potencialmente adequado para uso em sistemas de BRP, esta apresenta ainda como vantagens ser
facilmente encontrada, fácil manuseio, apresenta baixo custo, ser passível de reaproveitamento e possuir
boa estabilidade química e física em sua estrutura.

O estudo encontra-se em andamento, no sentido de obter dados referentes ao tempo de contato,


adsorção de outros cátions e uso de outras faixas granulométricas, para o dimensionamento de barreiras
reativas permeáveis para atenuação de contaminantes orgânicos e metais pesados presentes em águas
subterrâneas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo auxílio financeiro
por meio do Projeto de Pesquisa No2014/02162-8 e ao CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico)pelo Projeto Nº453861/2014-8.

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1099
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO EM SEDIMENTOS ARENO-


ARGILOSOS COM COBERTURA DE PASTAGEM

ASSESSMENT OF INFILTRATION CAPACITY IN SAND-CLAY SEDIMENTS WITH


PASTURE AS LAND USE

Failache, Moisés; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, mffailache@usp.br


Zuquette, Lázaro; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, lazarus1@sc.usp.br

RESUMO

A determinação e avaliação da infiltração é essencial para o planejamento territorial, o gerenciamento dos


recursos hídricos e o entendimento do processo de dinâmica da água no solo de uma região. Todavia, por
conta da variabilidade das propriedades físicas e hidráulicas do solo, a infiltração pode apresentar
comportamentos distintos mesmo considerando um único tipo de material inconsolidado e uso do solo.
Desse modo, o objetivo deste estudo é apresentar e avaliar os resultados da variabilidade da capacidade
de infiltração em sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem, localizadas em São Carlos, São
Paulo, Brasil. A capacidade de infiltração foi obtida in situ com o infiltrômetro tipo duplo anel. No total,
foram executados cinco ensaios distribuídos em uma área com dimensões de 30m x 30m. A avaliação dos
resultados foi realizada correlacionando os dados de infiltração com os de caracterização geológico e
geotécnica obtida em laboratório, sendo que a amostragem ocorreu a até a profundidade de 1 metro.
Associou-se ainda com dados de resistência à penetração que foi determinada in situ utilizando o método
de penetrômetro dinâmico de impacto. Os resultados apontaram que os valores máximos, mínimos e de
desvio padrão da capacidade de infiltração foram respectivamente 0,23 cm/min, 0.03 cm/min e 0.09
mm/min. A caracterização geológica e geotécnica e de resistência à penetração mostrou que a compactação
não ocorreu de forma uniforme ao longo do terreno, assim como em profundidade. Além disso, verificou-
se que a variabilidade da capacidade de infiltração está diretamente relacionada aos distintos graus de
compactação do solo. Conclui-se que a capacidade de infiltração apresentou uma variabilidade significativa
mesmo se tratando de um único material inconsolidado e uso solo, indicando que o processo de infiltração
não ocorre de forme uniforme ao longo das pastagens da região estudada, devido a heterogeneidade das
propriedades físicas e hidráulicas do solo.

ABSTRACT

Determination and evaluation of infiltration are essential for territorial planning, water resource
management and understanding of soil water dynamics of a region. However, because of the variability of
physical and hydraulic soil properties, infiltration can show different behaviours even considering a single
unconsolidated material and land use. Thus, the objective of this study is to present and evaluate the
results of infiltration capacity variability in sand clayey sediments with pastures as land use, located in São
Carlos, São Paulo, Brazil. The infiltration capacity was obtained in situ from the double-ring infiltrometer
test. Five tests were executed in a plot with dimensions of 30m x 30m. The evaluation of the results was
performed by correlating the infiltration data with geological and geotechnical characterization carried out
in the laboratory, with sampling occurring up to 1 meter depth. The infiltration capacity was also associated
with the penetration resistance that was determined in situ using the dynamic impact penetrometer
method. The results showed that maximum, minimum and standard deviation infiltration capacity values
were 0,23 cm/min, 0,03 cm/min and 0,09 cm/min respectively. Geological and geotechnical
characterization and penetration resistance showed that compaction did not occur uniformly along the
terrain, as well as in depth. In addition, it was verified that the infiltration capacity variability is directly
related to the different degrees of soil compaction. It is concluded that the infiltration capacity showed a
significant variability even considering a single unconsolidated material and land use, indicating that the
infiltration process does not occur uniformly along the pastures of the studied region, because of soil
physical and hydraulic properties heterogeneity.

1- INTRODUÇÃO

A avaliação da infiltração é essencial para o planejamento territorial, o gerenciamento dos recursos hídricos,
conservação do solo e o entendimento do processo de dinâmica da água no solo de uma região. Uma
avaliação adequada desse processo permite prever a ocorrência de outros processos subsequente tais como
a recarga das águas subterrâneas, os processos erosivos e o transporte de sedimentos e poluentes.

A sua determinação pode ser complexa em virtude da variabilidade temporal e espacial (profundidade e
em plano) dos fatores que a controlam. Os principais são referentes as taxas e a capacidade de infiltração

1100
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as quais são influenciados pelas propriedades geológico, geotécnica e hidráulicas do solo tais como a
compactação, a textura, o grau de agregação das partículas, a porosidade e a umidade inicial (Libardi,
2005, Li e Sivapalan, 2014). É importante ressaltar que interferência antrópica representada na forma dos
tipos de uso altera as propriedades geológico, geotécnicas, consequentemente as taxas e a capacidade de
infiltração (Ding e Li, 2016). Todavia, estudos como o de Marques et al. (2009) e Lima et al. (2015),
mostram que mesmo considerando um único tipo de material inconsolidado e tipo de solo existe uma
variabilidade espacial significativa da capacidade de infiltração por conta do manejo.

Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar de maneira sistemática os resultados da variabilidade
da capacidade de infiltração e das propriedades que a controlam de sedimentos areno-argilosos com
cobertura de pastagem, localizados na região de São Carlos, São Paulo, Brasil. Estes sedimentos bem como
as pastagens são importantes pois recobrem uma extensão de mais de 200 km² litologias armazenadoras
de água subterrânea, as quais são importantes fontes de água.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Caracterização da área de estudo

Para avaliar a capacidade de infiltração dos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem foi
selecionada uma área experimental com dimensões de 30m x 30m localizada no município de São Carlos,
São Paulo, Brasil tendo como coordenada central 47°56’44”W e 22°04’44”S.

Os sedimentos areno-argilosos recobrem principalmente os arenitos friáveis e porosos da Formação


Botucatu e em menor extensão os diabásios da Formação Serra Geral. Os sedimentos apresentam coloração
amarelo avermelhada e espessura que pode atingir até os 10 metros. Este material inconsolidado é
originado da mistura dos materiais residuais argilosos da Formação Serra Geral e dos materiais arenosos
da Formação Botucatu. Os minerais presentes neste material são o quartzo, a caulinita, a gibsita, a ilmenita
e magnetita.

A pastagem em questão é composta por gramíneas forrageiras do gênero brachiaria, sendo utilizada para
criação extensiva de gado, salientando que quando foram realizados os ensaios se encontrava durante o
período de pousio. A área experimental está localizada em uma região de topo de morro, apresentando
declividade inferior a 4%. O clima segundo a classificação de Köppen é do tipo Cwa, caracterizando-se por
ser um clima tropical de altitude com chuvas no verão e seca no inverno. O valor médio de precipitação é
de 1410,8 mm

2.2 - Métodos

Os procedimentos metodológicos utilizados para avaliar a capacidade de infiltração dos sedimentos areno-
argilosos com cobertura de pastagem compreenderam a correlação e associação dos dados obtidos de
ensaios in situ, amostragem e ensaios laboratoriais.

Os ensaios in situ tiveram como objetivo determinar a resistência a penetração e as taxas e a capacidade
de infiltração. A resistência a penetração serviu para avaliar o grau de compactação do solo em
profundidade e foi determinada utilizando a Equação 1 que foi proposta por Vanags et al. (2004). Para
obter os parâmetros da Equação 1 foi utilizado o penetrômetro dinâmico de impacto. Este ensaio é
fundamentado na resistência do solo à penetração de uma haste após o recebimento de um impacto na
sua parte superior por um peso (neste caso um bloco de ferro). Este peso é içado a uma altura conhecida
sendo solto posteriormente em queda livre. Após o impacto a ponteira que está localizada na porção inferior
do equipamento penetra até uma determinada profundidade. Esse deslocamento é medido com uso de
uma régua, a qual o zero está rente a base do equipamento. A leitura é feita através de marcações feitas
na haste. É importante ressaltar dois aspectos, o primeiro é referente a preparação do terreno, onde em
cada ponto ensaiado a área foi limpa e nivelada. O segundo está relacionado ao equipamento o qual além
das hastes, do martelo e da ponteira apresenta um base que permite fixar as hastes na vertical com a
finalidade que a mesma penetre totalmente na vertical ao solo. Na Figura 1 é mostrado o esquema de
funcionamento do ensaio.

1101
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

H
m

∆z

∆z
Posição inicial
Ac

Posição final

Figura 1 - Esquema geral de funcionamento do penetrômetro dinâmico de impacto.

𝑚𝑔𝐻 𝑚
𝑅= 𝐴𝑐 ∆𝑧 𝑚+𝑀

[1]
Onde:
R é a resistência penetração (Pa),
Ac é a área da basal do cone (m²),
g é a aceleração gravidade (9,81 m/s²),
m é a massa do conjunto de hastes mais a ponteira (kg),
M é a massa do martelo (kg)
∆z é quanto penetrou após o impacto (m).

O ensaio de infiltração adotado foi o infiltrômetro de duplo anel o qual é regido pela norma ASTM (1994).
Este ensaio consiste em dois cilindros de metal, os quais são cravados na superfície do solo a uma
profundidade de 0,05m, em seguida são preenchidos com água, atingindo uma carga hidráulica entre 0,06
a 0,15 m. A determinação da taxa de infiltração é feita a partir da variação da altura de água do cilindro
interno (diâmetro de 0,30 m) por unidade de tempo (s), salientando que o cilindro externo (diâmetro de
0,60 m) serve para eliminar o efeito da infiltração horizontal. Ressalta-se que foram retiradas amostras
deformadas com um trado até 1 metro de profundidade antes e depois da realização do ensaio afim de
determinar a frente de molhamento e a umidade inicial. Na Figura 2 é apresentado o esquema geral do
equipamento utilizado neste ensaio.

1102
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A=Área do anel interno


h=Carga hidráulica
Zw=Profundidade da

Régua de medição
frente de molhamento

A Nível
da água
Nível
do terreno
h0

Zw
Linhas
de Fluxo

Figura 2 - Esquema geral de funcionamento do ensaio de duplo anel.

A etapa de amostragem compreendeu a extração de amostras para posterior análise em laboratório. Nesta
etapa foi aberta uma trincheira com 1,00 metro de largura, de comprimento e de profundidade. Foram
retiradas 9 amostras indeformadas e 3 deformadas em 3 profundidades (0,20m, 0,60m a 1,00m). Para
retirar as amostras indeformadas foram utilizados anéis feitos de tubos de PVC, com bordas biseladas,
apresentando dimensões de 0,075 m de diâmetro e 0,05 m de altura. As amostras indeformadas foram
usadas para obter informações sobre o peso específico natural, peso específico seco de campo, índice de
vazios, porosidade, teor de umidade e grau de saturação. Enquanto que as amostras deformadas serviram
para os ensaios de granulometria conjunta e peso específico dos sólidos.

Os ensaios laboratoriais tiveram como finalidade determinar as características geológico-geotécnicas


básicas. A determinação destas seguiu a norma da NBR 7181 (ABNT, 1984) para a análise granulométrica
conjunta, NBR 6508 (ABNT, 1984) para a peso específico dos sólidos, gravimetria para o teor de umidade,
método do anel proposto por Zuquette (1987) para o peso específico natural e o seco de campo, e relações
dos índices físicos para a porosidade, o índice de vazios e o grau de saturação. É importante salientar que
no ensaio de granulometria foi considerado o uso ou não do defloculante com objetivo averiguar o grau de
agregação das partículas, o qual pode interferir na porosidade, no índice de vazios e nas propriedades
hidráulicas do solo, consequentemente alterando a capacidade de infiltração.

A obtenção das amostras e a execução dos ensaios de in situ foram feitas na área experimental descrita
na etapa 2.1. Nesta área foi delimitada uma parcela de 30 metros de comprimento por 30 metros de
largura. No total foram realizados 5 ensaios de infiltração e resistência a penetração e abriu-se 1 trincheira
para a obtenção de amostras deformadas e indeformadas. É importante ressaltar que este número de
ensaios baseou-se em uma análise dos resultados de resistência a penetração, em vista que estes são
rápidos de serem realizados, fornecendo informações preliminares das condições da compactação do solo.
Na Figura 3 é apresentado um croqui com a disposição dos pontos ensaiados na parcela delimitada, bem
como a localização da trincheira aberta. É importante notar que a parcela foi delimitada 5 metros distante
da estrada para evitar o efeito de borda. Na Figura 4 é mostrado uma fotografia da área experimental, dos
ensaios realizados e da trincheira aberta.

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São
Carlos

Estrada de terra

5m

P4 P2

Pastagem
Trincheira
P1 30 m

P5 P3

30 m

Figura 3 - Croqui da localização dos pontos ensaiados e da trincheira aberta ao longo da parcela delimitada

a)

b) c) d)

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Figura 4 – a) Área experimental onde foram ensaiados e amostrados os sedimentos areno-argilosos com cobertura de
pastagem, b) ensaio de duplo anel executado, c) ensaio de penetrômetro dinâmico de impacto executado, d) trincheira
aberta para obtenção de amostras deformadas e indeformadas

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos e a discussão da caracterização geológico-geotécnica básica e dos ensaios in situ


necessários para avaliar a capacidade de infiltração dos sedimentos areno-argilosos com cobertura de
pastagem encontram-se a seguir.

3.1 - Características geológicas e geotécnicas básicas

As características geológicas e geotécnicas básicas compreenderam as curvas granulométricas (Fig. 5) e


os índices físicos (Tabela 1).

Figura 5 - Curvas granulométrica dos sedimentos areno-argilosos estudados, onde foi levado em conta o uso ou não
do defloculante

Tabela 1 - Propriedades geológico e geotécnicas básicas dos sedimentos areno-argilosos


Profundidade γs γ γd w Sr
(m) (kN/m3) (kN/m3) (kN/m3) (%) θ (%) N e

17,38 15,67 10,903 0,17 41,00 0,42 0,73


0,20 27,09
±0,035 ±0,100 ±0,787 ±0,011 ±2,30 ±0,004 ±0,011

15,29 13,52 13,032 0,18 35,00 0,50 1,02


0,60 27,30
±0,775 ±0,699 ±0,129 ±0,008 ±3,30 ±0,026 ±0,103

16,02 14,02 14,27 0,20 41,00 0,48 0,94


1,00 27,20
±0,744 ±0,557 ±1,421 ±0,025 ±6,40 ±0,020 ±0,079
Legenda
γs=Peso específico dos sólidos θ=Umidade volumétrica
γ=Peso específico natural Sr=Grau de Saturação
γd=Peso específico seco de campo n=Porosidade
w=Umidade gravimétrica e=Índice de Vazios

Os resultados das curvas granulométricas mostram que o material analisado apresenta os seguintes valores
máximos e mínimos das frações granulométrica quando considerado o uso do defloculante: argila 28,9% e
21,2%; silte 8,9 e 3,9%; areia fina 30,6% e 29,4%; areia média 35,8% e 33,6%; areia grossa 4,0% e
2,8%; pedregulho fino 0,7% e 0,0%. Em termos de variação em profundidade, a quantidade de argila

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

apresenta um aumento de 8% considerando a profundidade de 0,20 m e a de 1,00 cm, entretanto não há


diferença expressiva em relação a areia. Ao analisar as curvas obtidas sem o uso do defloculante, observou-
se que o material inconsolidado avaliado apresentou uma pequena diminuição, em média de 4% na
porcentagem de argila, em contrapartida a fração silte houve um acréscimo de valor aproximado ao da
argila. Esta variação identificada é um indicativo que ocorra a formação de peds, os quais podem interferir
na porosidade e alterar a capacidade de infiltração.

Os índices físicos apresentaram variações interessantes em termos de compactação, onde a camada mais
superficial (0,20 m) se encontra mais compactada por conta do pisoteio do gado. Ao comparar o peso
específico seco de campo e a porosidade entre a camada de 0,20 m e a de 1,00 m de profundidade, verifica-
se uma diferença expressiva, onde os valores obtidos são 15,67 kN/m3 e 0,42 para a mais superficial e
14,02 kN/m3 e 0,48 para a mais profunda. Esse resultado indica que as taxas de infiltração possam ser
maiores em profundidade devido à maior porosidade.

3.2 - Resistência a penetração

Os resultados obtidos do penetrômetro dinâmico de impacto estão agrupados na Figura 6, a qual mostra
gráficos da resistência a penetração em profundidade tomando em conta duas condições uma com o solo
mais seco e outra após o ensaio de infiltração. Ao considerar ambas as condições, possibilitou-se observar
a frente de molhamento em função da perda de coesão devido água infiltrada.

Observa-se que nos pontos ensaiados houve uma variação na resistência a penetração até
aproximadamente 0,40 m de profundidade, indicando haver um grau de compactação, assim como
identificado nos valores de peso específico seco de campo. Por outro lado, identificou-se uma redução do
seu grau abaixo dessa profundidade, onde os valores encontrados eram muito similares entre todos os
pontos e geralmente estava em torno de 0,5 a 1,5 MPa.

O ponto 5 foi o que apresentou a camada superficial mais compactada, tendo como valores médios de
resistência a penetração de 10 MPa até 15 cm aproximadamente de profundidade. Os pontos 2, 3 e 4
apresentaram os menos valores de resistência, indicando um menor grau de compactação, quando
comparado ao ponto 5. Em média esses três pontos apresentaram valores médios de resistência até 20 cm
de 3 MPa. O ponto 1 por sua vez, encontrava-se um pouco mais compactado na camada superficial que os
pontos 2, 3 e 4 apresentando valores ao redor de 4 MPa. Por conta dessa variabilidade na compactação da
pastagem analisada, foi possível separar em dois grupos. O primeiro referente aos pontos com a camada
superficial apresentando resistência média superior 5 MPa e um segundo com resistência média inferior a
4 MPa. Esse resultado indica que o pisoteio do gado não ocorre de forma uniforme, portanto sugerindo que
a capacidade de infiltração também apresente essa variabilidade.

Ao analisar os resultados da resistência a penetração após o ensaio de infiltração verificou-se que esta
reduziu consideravelmente quando comparado ao solo mais seco. Essa redução de resistência está
associada em média a valores de até 1 MPa, geralmente ocorrendo até aproximadamente 0,60 a 0,70 m.
Indicando portando que a água infiltrada durante o ensaio de duplo anel tenha alcançado essa
profundidade.

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Ponto1 Resistência a penetração Ponto 2 Resistência a penetração


(MPa) (MPa)
0 5 10 15 0 5 10 15
0 0

20 20

40 40
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
60 60

80 80

100 100

120 120

140 140

160 160

180 180

ÚMIDO SECO ÚMIDO SECO

Resistência a penetração
Ponto 3 Ponto 4
Resistência (MPa) (MPa)
0 5 10 15 0 5 10 15
0 0

20 20

40 40
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)

60 60

80 80

100 100

120 120

140 140

160 160

180 180
ÚMIDO SECO ÚMIDO SECO

Ponto 5 Resistência a penetração


(MPa)
0 5 10 15 20 25 30 35
0

20

40
Profundidade (cm)

60

80

100

120

140

160

180

ÚMIDO SECO

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 6 - Resistência a penetração dos pontos ensaiados nos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem

3.3 - Curvas de infiltração

No total foram obtidas 5 curvas de infiltração determinadas a partir dos ensaios de infiltrômetro tipo duplo
anel realizados nos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem. A partir dessas curvas foi
possível avaliar o comportamento da infiltração ao longo do tempo e determinar a capacidade de infiltração,
a qual representa, a taxa de infiltração mínima que um solo pode absorve água após um a aporte de água,
seja de chuva ou de irrigação. Na Figura 7 e 8 são apresentadas respectivamente as curvas de infiltração
obtidas e o perfil de distribuição de água do solo considerando o solo seco e úmido por conta da água
infiltrada no ensaio de duplo anel.

Figura 7- Curvas de infiltração dos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem

A partir das curvas de infiltração, verificou-se que as taxas de infiltração variaram ao longo do tempo, onde
no início do ensaio foram identificados os maiores valores por conta que o solo estava mais seco, ou seja,
apresentando uma maior sucção matricial. Todavia a medida que o solo ia saturando as taxas diminuíam
de forma expressiva até atingirem a inflexão da curva. A inflexão ou transição da curva para todos os
ensaios ocorreu por volta de 10 minutos.

Em termos de capacidade de infiltração, observou-se dois grupos, um com valores acima de 0,15 cm/min
e outro abaixo de 0,05 cm/min. Os pontos que apresentaram os menores valores de capacidade de
infiltração foram os 1 (0,04 cm/min) e 5 (0,03 cm/min), enquanto que os maiores foram o 2 (0,23 cm/min)
e o 3 (0,15 cm/min). Essa variabilidade está em função de dois fatores, um relacionado a presença de
macroporos que aumenta a capacidade de infiltração. E o segundo associado aos distintos graus de
compactação da camada superficial identificados nos resultados de resistência a penetração, que ocorreram
por conta do pisoteio não uniforme do gado.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 8 - Perfil de distribuição de água dos pontos ensaiados, considerando o solo seco e úmido por conta do ensaio
de infiltração executado

É importante ressaltar que ao considerar que a camada superficial do solo (5cm) tenha saturado após o
final do ensaio de infiltração (ramo úmido), o conteúdo volumétrico de água obtido desta camada pode ser
considerado como a porosidade do local ensaiado. Desse modo, observou-se na Figura 8 que os distintos
valores de porosidade encontrados foram refletidos na resistência a penetração até 10 cm de profundidade
nos 5 pontos. Verificou-se ainda, que os menores valores de porosidade corresponderam o ponto 5 (0,35)
e o ponto 1 (0,39), os quais estão associados as menores capacidades de infiltração, por outro lado os
maiores valores estavam associados a maior capacidade de infiltração

Ao analisar a distribuição de água no solo no ramo seco (antes do ensaio de infiltração), verificou-se que o
conteúdo volumétrico de água apresentou relativa homogeneidade em profundidade (média de 0,20) dos
5 pontos, ou seja, as condições de umidade inicial similar entre eles. Para o ramo úmido (depois do ensaio
de infiltração), constatou-se que a frente de saturação ocorreu até aproximadamente 20 cm de
profundidade para todos os pontos ensaiados. Por outro lado, a frente de molhamento para os pontos 1, 2
e 5 está localizada a aproximadamente 100 cm. Enquanto que para os pontos 3 e 4 a frente está abaixo
de 1 metro, todavia não foi possível determina-la por conta da profundidade amostrada. O resultado das
frentes de molhamento mais profunda identificadas justifica os maiores valores de capacidade de
infiltração, por outro lado as das frentes mais rasas explica os dos menores.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A resistência a penetração variou tanto em profundidade como em área, indicando graus maiores e menores
de compactação entre os pontos ensaiados.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A caracterização geológica-geotécnica dos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem


ensaiados mostrou variabilidade em profundidade tanto da porosidade como do peso específico seco de
campo. Entretanto, as frações granulométricas não mostraram diferenças expressivas. A partir do uso do
defloculante, verificou-se que este material geológico não apresenta influência evidente do grau de
agregação das partículas na distribuição granulométrica.

A capacidade de infiltração apresentou uma alta variabilidade mesmo se tratando de uma pequena área
com um único material inconsolidado e uso solo. A variação encontrada foi mais de 7 vezes entre o maior
e o menor valor, indicando que o processo de infiltração não ocorre de forme uniforme ao longo das
pastagens da região estudada, devido a heterogeneidade das propriedades físicas e hidráulicas do solo.

Estudos dessa natureza, considerando áreas experimentais, são fundamentais para a caracterização e
avaliação da infiltração dos sedimentos areno-argilosos com cobertura de pastagem da região, pois
permitiram identificar e quantificar a variabilidade das propriedades geológico-geotécnicas e da infiltração.
Os dados obtidos compreenderam condições mais e menos compactadas, entretanto não foram
caracterizadas condições com Yd >1,6 kN/m³, os quais podem ocorrer em alguns casos na região devido o
tráfego intenso de maquinário. Desse modo, os dados obtidos são válidos para uma grande parcela da área
destes sedimentos areno-argilosos com pastagens, exceto para solos muito compactados. Recomenda-se
que para o uso sensato dos dados deve ser executado pelo menos um ensaio de penetrômetro dinâmico
de impacto e retirada uma amostra indeformada para a confirmação do peso específico seco de campo. Por
meio desta análise, é possível verificar a semelhança entre as características da área experimental e a área
a ser estudada.

A respeito da sistemática adotada, a utilização do penetrômetro dinâmico de impacto foi essencial na


determinação no número de ensaios de infiltração, pois de maneira rápida (1 dia de campo) permitiu
identificar a compactação e o comportamento preliminar prévio da infiltração dos sedimentos areno-
argilosos com cobertura de pastagem. Todavia, métodos como o duplo anel são demorados e necessitam
de um grande volume de água, sendo necessário selecionar ou desenvolver outros métodos mais rápidos
e com menor consumo de água.

AGRADECIMENTOS

A FAPESP [Projeto 2014-02162-0] por auxílio financeiro e a CAPES pela bolsa de doutorado.

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1110
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA EM ÁREAS SUSCEPTÍVEIS A


DESLIZAMENTOS RASOS PRESENTES NO CONDOMÍNIO SOL NASCENTE,
DISTRITO FEDERAL, BRASIL

EVALUATION OF URBAN EXPANSION IN AREAS SUSCEPTIBLE TO SHALLOW


LANDSLIDES PRESENT IN THE SOL NASCENTE CONDOMINIUM, FEDERAL
DISTRICT, BRAZIL

Luisa Amaral, Bruna; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, brunaamaralluisa@gmail.com


Fernandes Azevedo, George; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, george_engenheiro@hotmail.com
Porfírio Cordão Neto, Manoel; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, porfirio@unb.br

RESUMO

Movimentos de massa constituem eventos desastrosos, especialmente em áreas tropicais e montanhosas,


onde estes processos são intensificados pelas atividades antrópicas. A ocupação urbana crescente e
indiscriminada em áreas desfavoráveis, sem o planejamento adequado do uso do solo e incorporação
adequada de técnicas de estabilização, têm resultado em acidentes relacionados a processos dessa
natureza que, muitas vezes, levam proporções de desastres. O presente trabalho tem como objetivo
avaliar a rápida expansão urbana que ocorre nos últimos anos no condomínio Sol Nascente, localizado na
cidade satélite de Ceilândia, Distrito Federal, situando este crescimento em relação às áreas com
tendência a desenvolvimento de eventos de movimentos de massa. Para tanto, foram utilizadas imagens
de satélite da série Landsat para os anos de 2011 e 2017, as quais foram classificadas quanto ao uso e
ocupação do solo a partir da avaliação do seu comportamento espectral. De forma paralela, um mapa de
ameaça a ocorrência de deslizamentos rasos dado em termos probabilísticos é utilizado e confrontado
com a malha urbana estabelecida. O resultado da pesquisa permitiu verificar a tendência de ampliação da
malha urbana e observar se o adensamento se direciona no sentido de áreas que apresentam
susceptibilidade a ocorrência de movimentos de massa. Como conclusão, pode-se afirmar que a
abordagem metodológica baseada em uma ferramenta de detecção remota, combinada com modelos de
estabilidade de encostas, estabelecida em sistemas de informação geográfica, se mostra eficiente para
estudos de uso e ocupação do solo, assim como para fins de planejamento urbano.

ABSTRACT

Landslides are disastrous events, especially in tropical and mountainous areas, where these processes
are intensified by anthropic activities. Increasing and indiscriminate urban occupation in unfavorable
areas, without adequate land use planning and adequate incorporation of stabilization techniques, have
resulted in accidents related to processes of this nature that often lead to disaster proportions. The
present work aims to evaluate the rapid urban expansion that occurs in recent years in the Sol Nascente
condominium, located in the satellite city of Ceilândia, Federal District, Brazil, where this growth is
located in areas with a tendency to develop landslides events. For this purpose, satellite images of the
Landsat series were used for the years 2011 and 2017, which were classified as to the land use based on
the evaluation of its spectral behavior. In parallel, a probability map of susceptibility to the occurrence of
landslides is constructed and confronted with the established urban network. The result of the research
allowed to verify the tendency of urban mesh expansion and to observe if the density is directed towards
areas that are susceptible to the occurrence of landslides. As a conclusion, it is stated that the
methodological approach based on a remote sensing tool, combined with slope stability models,
established in geographic information systems, is efficient for studies of land use, as well as for urban
planning.

1- INTRODUÇÃO

A ocupação urbana de forma irregular é geradora dos principais problemas enfrentados nas cidades.
Dentre os problemas gerados por essa situação encontram-se a ocupação de áreas com risco geotécnico
ou alagamento. Os casos de deslizamentos apresentam-se como grandes problemas para as atividades
humanas, causando perdas econômicas, altos custos de manutenção e lesões ou morte (Das et al., 2010).

A urbanização crescente e indiscriminada em áreas desfavoráveis, sem planejamento adequado do uso


do solo e incorporação adequada de técnicas de estabilização, tem resultado em acidentes relacionados a
processos dessa natureza que, muitas vezes, levam proporções desastrosas (Tominaga, 2007). Isso
justifica a necessidade em criar metodologias novas e mais eficientes para melhorar a compreensão do

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

risco de deslizamentos de terras, visando um melhor processo de decisão em relação à alocação de


recursos para gerenciamento de risco (Guzzetti, 2000).

O principal objetivo do trabalho consistiu na aplicação de uma metodologia capaz de averiguar o rápido
crescimento na área do condomínio Sol Nascente, situado na cidade satélite de Ceilândia, visando uma
melhor compreensão do fenômeno da expansão urbana na região. De forma adicional, na tentativa de
fornecer uma abordagem focada em intervenções voltadas para o planejamento urbano, este trabalho
também procura realizar uma comparação entre a área urbana do condomínio em dois momentos
distintos e uma carta de ameaça a eventos de movimento de massa, observando se há uma tendência de
direcionamento da ocupação para pontos considerados críticos em termos de estabilidade.

2- METODOLOGIA

No sentido de se obter a tendência de crescimento das áreas urbanas, a metodologia empregada no


presente trabalho contemplou a execução do processamento digital de duas imagens advindas de
satélites, referentes às datas de 8 de julho de 2011 e 12 de outubro de 2017. A primeira foi captada
pelos sensores presentes no satélite Landsat-5, enquanto a segunda refere-se ao Landsat-8. A seguir,
encontram-se as etapas desenvolvidas na pesquisa.

2.1 - Processamento Digital de Imagens

A adquisição das imagens de satélite foram realizadas através da plataforma Earth Explorer, responsável
por armazenar um banco de dados relativo a imagens satelitais, fotografias aéreas e outras informações
de sensoriamento remoto, operado pelo United States Geological Survey (USGS), inclusive aquelas da
série Landsat.

A plataforma Landsat-8 opera com dois instrumentos imageadores, sendo que Operational Land Imager
(OLI) apresenta nove bandas espectrais, incluindo a banda pancromática, a qual apresenta resolução
espacial de 15 m. As demais possuem resolução de 30 m. Já o sensor TIRS (Thermal Infrared Sensor)
possui 2 bandas espectrais no infravermelho termal, bandas 10 (10.6 - 11.19 µm) e 11(11.5 - 12.51 µm),
com resolução espacial de 100m, processadas e disponibilizadas em 30 metros. A imagem Landsat 5
conta com sete bandas captadas pelo sensor TM (Thematic Mapper), sendo que as bandas de 1 a 5 (azul,
verde, vermelho, infravermelho próximo e médio) e a banda 7 apresentam resolução de 30 m, enquanto
a banda 6 (infravermelho termal) possui resolução espacial de 120 m.

As cenas fornecidas pelos satélites abrangem toda a área do Distrito Federal, no entanto o projeto aqui
descrito foca em uma região específica chamada Sol Nascente. Para isso fez-se uma delimitação dessa
área no Spring com as seguintes coordenadas planas:

As cenas fornecidas pelos satélites abrangem toda a área do Distrito Federal, de forma que fez-se
necessária a delimitação da área de interesse no ambiente de sistema de informação geográfica (SIG).
Desta forma, foram criados, inicialmente, um banco de dados e um projeto no software SPRING 5.5
(Câmara et al., 1996) específicos para esta pesquisa e voltados para a estruturação das informações
espaciais essenciais para a elaboração das análises. O projeto aqui mencionado foca a região específica
de trabalho. Destacam-se as seguintes informações referentes às principais características deste projeto:

 Projeção e datum utilizados: UTM/ SIRGAS2000, zona 23;

 Retângulo envolvente estabelecido em coordenadas planas:

X1 = 159.200 m; Y1 = 8.244.401 m;

X2 = 172.812m; Y2 = 8.252.045 m;

Em um procedimento inicial, essas imagens foram melhoradas através de um processo empregado nas
suas bandas, conhecido como realce linear de contraste. Essas operações pretendem melhorar a
qualidade visual da imagem, modificando os seus níveis de cinza. Para isso, manipula-se o histograma
(distribuição estatística dos níveis de cinza) original, distribuindo melhor os valores digitais da imagem.
Percebe-se que com a distribuição do histograma, a imagem se torna mais nítida. Amplia-se assim, a
obtenção e a interpretação das informações contidas nas imagens, conforme mostrado na Figura 1.

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Figura 1 – Landsat 8 :(a) Banda 8 sem realce; (b) Banda 8 com realce linear de contraste

Além disso, para melhor aproveitamento das informações produzidas pelos diferentes sensores, outros
métodos de processamento de imagens foram aplicados, como por exemplo, a transformação RGB 
IHS. A cor de um objeto em uma imagem pode ser representada pelas intensidades das componentes
vermelho (R), verde (G) e azul (B), no sistema de cores RGB, ou pela intensidade (I), pela cor ou matiz
(H) e pela saturação (S) no espaço IHS. A transformação RGB em IHS permite descrever a amplitude de
possíveis variações na tonalidade das cores. Além disso, intensidade, matiz e saturação são parâmetros
independentes, ou seja, podem ser analisados separadamente, permitindo um melhor ajuste das cores às
características do sistema visual. Como resultado, a transformação de volta de IHS para RGB produz uma
imagem com maior resolução espacial em relação a uma composição colorida entre as bandas originais.
Isso pode ser observado na comparação entre as Figura 2.

Figura 2 – Landsat 8: (a) Composição colorida RGB; (b) Composição colorida RGB com Transformação

Existem, ainda, dois importantes componentes que fazem uma grande diferença no processamento de
imagens: vegetação e água. Para que pudesse ser feita uma melhor análise destes elementos, foram
efetuados os cálculos do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) e do Índice de Diferença
Normalizada da Água (NDWI). O primeiro é um índice que analisa a condição da vegetação no campo
através de sensoriamento remoto, tendo como objetivo o realce da vegetação em detrimento dos outros
atributos de imagem. É obtido por operações matemáticas dos valores de refletância nas bandas do
espectro eletromagnético correspondentes ao vermelho (R) e ao infravermelho (IR). Já o segundo mede
o teor de umidade da vegetação. Ele é calculado através da refletância do infravermelho próximo e
médio, correspondente às bandas 5 e 6, respectivamente, do Landsat 8. Ambos são apresentados na
Figura 3.

Figura 3 – (a) NDVI; (b) NDWI obtidos com dados das bandas da imagem Landsat 8

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Na Figura 3 (a), os lugares mais claros representam áreas com menor quantidade de vegetação,
enquanto as áreas mais escuras representam áreas com uma vegetação mais abundante. Na Figura 3 (b)
os lugares mais escuros representam áreas com menor quantidade de umidade, enquanto as áreas mais
claras representam áreas mais úmidas. Nota-se que os lugares mais úmidos correspondem a regiões em
que se encontra a vegetação.

Também foram geradas as componentes principais. Esse processo tem o intento de remover as
redundâncias espectrais que possam existir nas imagens utilizadas. Isso significa que as componentes
principais produzidas são novas imagens cujos resultados apresentam informações não disponíveis em
outras bandas. Com as bandas de número 2 a 7 do Landsat 8 e os índices NDVI e NDWI, todos
realçados, foram compostas as componentes principais da área de estudo. Dois deles estão
representados na Figura 4.

Figura 4 – Landsat 8: (a) PC1 (Banda de 30 metros); (b) PC2 (Banda de 30 metros)

Nota-se que o PC1 tem uma melhor qualidade no que diz respeito a visão humana e o PC2 tem a pior
qualidade, no entanto para o Spring, ambas fornecem características importantes.

Depois de todo o trabalho para melhorar a qualidade das imagens e das informações contidas nelas,
foram feitas segmentações por crescimento de regiões de um grupo de imagens pré-selecionadas. Esse
procedimento rotula cada pixel como uma região distinta, agrupando os territórios adjacentes com
características similares. Quanto maior o número de similaridades, mais dividida ficará a imagem.

Primeiramente a tentativa de segmentação foi com todas as bandas de 30 metros, incluindo PC1, PC2,
PC3, NDVI e NDWI citados anteriormente, com grau de similaridade 30 e tamanho do pixel 200. Um
segundo teste foi com as bandas de 15 metros incluindo a transformação RGB, com grau de similaridade
30 e tamanho do pixel 300, dentre diversas outras experiências. No entanto, a segunda opção foi a que
melhor se encaixou ao projeto, como pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Segmentação utilizada no projeto

Logo em seguida, iniciou-se o processo de classificação. Segundo o manual do Spring, o método de


classificação de imagens é um processo de extração de informações de imagens para reconhecer padrões
e objetos homogêneos e utilizá-los em sensoriamento remoto para o mapeamento de superfícies. Pode
ser realizada de quatro maneiras: pixel a pixel, por regiões, supervisionada e não supervisionada. Cada
uma delas é baseada em diferente conceito de classificação.

a) Pixel a pixel: informação espectral de cada pixel individualmente;

b) Por regiões: informação do pixel e também da vizinhança;

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c) Supervisionada: realização de treinamento prévio para atribuição de classes;

d) Não supervisionada: classificação eletrônica que necessita de posterior atribuição de classes.

Nesse projeto, a classificação que apresentou um melhor resultado foi a supervisionada por regiões, ou
seja, as regiões foram previamente classificadas e o algoritmo do software Spring as agrupou por
similaridade. O tipo de classificador utilizado foi o Bhattacharya, com limiar de aceitação de 99%.

No que se refere ao processamento digital das imagens dos satélites Landsat 5 e Landsat 8, os procedi-
mentos foram os mesmos, chegando às duas classificações.

2.2 - Avaliação de ameaça em termos de probabilidade de ruptura

Uma vez estabelecidas as classificações para as duas datas escolhidas, fez-se necessário observar se a
expansão urbana se processou em direção a áreas com potencial de ameaça de ocorrência de
deslizamentos. Para tanto, utilizou-se os resultados obtidos no trabalho de Azevedo et al. (2013), onde
foram geradas cartas de ameaça para a região em estudo em termos de probabilidade de rupturas das
vertentes.

A metodologia aplicada por Azevedo et al. (2013) consistiu na conjugação do modelo SLIDE, proposto por
Liao et al. (2010), e o método probabilístico FOSM (First Order Second Moment). O modelo SLIDE, o qual
se baseia nos trabalhos de Fredlund et al. (1996) e Montrasio e Valentino (2008), corresponde a
aplicação de um modelo de estabilidade de talude infinito capaz de incorporar a ação da precipitação na
resistência ao cisalhamento dos solos e fornecendo o fator de segurança (FS) da encosta pela seguinte
expressão:
𝑐𝑜𝑡𝛽.𝑡𝑎𝑛𝜙′ .[Γ+𝑚.(𝑛𝑤 −1]+𝐶 ′ .Ω
𝐹𝑆 = [1]
Γ+𝑚.𝑛𝑤

onde β é o ângulo de inclinação do talude e ϕ’ refere-se ao ângulo de atrito efetivo do solo, ambos
expressos em graus. Destacam-se, ainda, as funções integrantes deste fator nas equações seguintes:

𝛤 = 𝐺𝑠 . (1 − 𝑛) + 𝑛. 𝑆𝑟 [2]

𝑛𝑤 = 𝑛(1 − 𝑆𝑟 ) [3]

2
Ω = 𝑠𝑒𝑛(2𝛽).𝐻.𝛾 [4]
𝑤

Nestas fórmulas, Gs é o peso específico relativo dos sólidos do solo (adimensional), n relaciona-se à
porosidade (em porcentagem), Sr é o grau de saturação (em porcentagem), H é a espessura do solo
considerada como instável (em metros), uma vez que o modelo não considera, necessariamente, a
superfície de ruptura coincidente com o contato entre solo e rocha. Já γ w corresponde ao peso específico
da água, igual a 9800 N/m³. Na expressão para o fator de segurança, C’ representa a coesão total, que
inclui a presença da coesão efetiva e da coesão aparente, esta última ligada à matriz de sucção indicada
por Fredlund et al. (1996). A coesão total é dada pela equação abaixo:

𝐶′ = [𝑐′ + 𝑐𝜑 ]. 𝛥𝑠 = [𝑐 ′ + 𝐴. (1 − 𝜆. 𝑚𝛼 )]. Δ𝑠 [5]

onde c’ corresponde à coesão efetiva (em Pa) e Δs é tomado como comprimento unitário do talude. A
representa um parâmetro dependente do tipo de solo e do pico da tensão cisalhante na ruptura (Pa), λ é
um coeficiente de intensidade relacionado ao tipo de solo e 𝛼 mostra-se como um parâmetro que retrata
a tendência não linear da curva de coesão, sendo as duas últimas variáveis adimensionais. Conforme
Montrasio e Valentino (2008), o parâmetro m está ligado à espessura adimensional da parte saturada
pertencente à camada, variando entre 0 e 1. A espessura da camada saturada (mH) está diretamente
ligada à intensidade da precipitação. Liao et al. (2010) define a grade composta pelo talude infinito como
um tanque de equilíbrio hídrico que leva em consideração, de maneira simultânea, tanto o ganho de água
pela infiltração das chuvas, quanto a sua perda em virtude do escoamento e da evapotranspiração
através do elemento do talude. Segundo ainda Liao et al. (2010), testes de determinação do nível do
lençol freático para o estabelecimento do valor inicial de m podem ser utilizados. As equações seguintes
são, então, aplicadas para o cálculo do balanço hídrico em cada passo de tempo requerido pelas análises:

m1 = 0 [6]

𝑂𝑡 = 𝐾𝑡 . sin(𝛽) . 𝑚𝑡 . 𝐻. cos(𝛽) . Δ𝑡 [7]

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𝑡(𝐼 −𝑂 )
𝑡
Δ𝑚𝑡 = 𝑛.𝐻.(1−𝑆 [8]
𝑟)

m𝑡+1 = m𝑡 + Δm𝑡 [9]

Nestas equações, o índice t refere-se ao passo de tempo, Δt é o intervalo de tempo, em segundos, m 1


corresponde ao valor inicial de m e mt relaciona-se ao valor calculado em cada iteração de tempo. Ot
representa a saída de água de uma porção finita para um talude de comprimento finito L. A intensidade
da chuva por unidade de tempo é dada por It, em mm, sendo posteriormente transformada para metros,
enquanto que capacidade global de drenagem, decorrente da permeabilidade intrínseca do solo e da
existência de numerosos caminhos preferenciais de fluxo, corresponde ao termo K t, dado em 1/s. O
modelo proposto fornece originalmente ao final da sua execução, o valor do fator de segurança para os
taludes analisados, criando o mapeamento deste indicativo de estabilidade.

A aplicação do método FOSM ao modelo de estabilidade de taludes permite que seja criada a distribuição
de probabilidade do fator de segurança a partir das distribuições estatísticas das variáveis independentes
que compõem o FS. Azevedo et al. (2013) utilizaram como variáveis independentes para a avaliação a
coesão e o ângulo de atrito do solo. A probabilidade de ruptura é definida, a partir da curva de
probabilidade de fator de segurança, como a área dessa função que se encontra a esquerda do fator de
segurança igual a 1. Mais detalhes da aplicação do método FOSM em análises de estabilidade de taludes
utilizando SIG podem ser encontrados em Azevedo et al. (2017).

Os dados de chuva simulados por Azevedo et al. (2013) consistiram nos quatro meses iniciais da estação
chuvosa no Distrito Federal, de setembro a dezembro, com base em dados históricos da Agência Nacional
de Água, correspondendo a um período inicial de 1971 a 2007 e um segundo, a partir de junho de 2009
até julho de 2011. O procedimento foi realizado para todas as células componentes da área de estudo,
resultando no cálculo da probabilidade de ruptura para cada porção do terreno. Para fins de comparação
com a classificação das áreas urbanas, foi utilizada a configuração de probabilidade de ruptura mais
desfavorável, relativa ao mês de dezembro. Na Figura 6 encontram-se as configurações de ameaça
geradas por Azevedo et al. (2013).

Tratando-se da distribuição pedológica usada para o cálculo do fator de segurança para a área de estudo,
observa-se a presença de quatro tipos de solo distintos conforme a classificação fornecida por Reatto et
al. (2004). O mapa em questão serviu de base para a espacialização dos dados empregados na análise
de estabilidade. As propriedades destes solos foram, então, determinadas a partir de trabalhos
pertinentes na literatura técnica. Definiram-se os valores de c’ e ϕ’ por meio da pesquisa de Roque e
Souza (2008), enquanto que se obtiveram as características Sr, n, Gs e Kt por intermédio de Castro
(2011). Já os parâmetros A, λ e α foram retirados do trabalho de Montrasio e Valentino (2008).

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Figura 6 - Cartas de probabilidade de ruptura para a área analisada (Azevedo et al., 2013)

3- RESULTADOS

Como resultados iniciais obtiveram-se as classificações das imagens de 08 de julho de 2011 e 10 de


outubro de 2017 em áreas urbanas e não urbanas, mostradas nas Figuras 7 e 8.

Figura 7 – Classificação com base na imagem de 2011

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Figura 8 - Classificação com base na imagem de 2017

Nas figuras, a área em vermelho representa a região urbana e em verde, não urbana. Nota-se um
aumento significativo da área urbana entre as duas datas, fato constatado pelos dados explicitados no
quadro abaixo, oriundos da medida de classe presente efetuada nos respectivos planos de informação.

Quadro 1 – Classificação da área de estudo nas datas analisadas


Ano Área Urbana (Km2) Área Não Urbana (Km2)
2011 56,06 55,12
2017 59,37 51,81

Pelos dados apresentados, houve um crescimento de aproximadamente 3,3 km2 em 6 anos. Nota-se,
pelas figuras anteriores, que regiões que se encontram construídas em 2011 foram categorizadas em não
urbana em 2017. Por se tratar de um assentamento constituído essencialmente por construções
irregulares, muitas vezes tais moradias estão sujeitas a demolições executadas pelo poder público, sob
ações de desocupação promovidas da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (AGEFIS). Esses
espaços podem ter sido deste tipo de procedimento, seja por estar invadindo territórios de preservação
ou de riscos naturais, dentre diversas outras explicações. Há possibilidade de casos em que o algoritmo
de classificação possa ter considerado algumas áreas de solo exposto como regiões com edificação, fato
constatado a partir de uma averiguação com base em imagens de satélite disponíveis no Google Earth
com resolução espacial maior em alguns pontos onde essa tendência foi observada.

No entanto, o panorama geral prevalece o aumento da urbanização de forma significativa e desordenada.


Fez-se, então, necessário avaliar se essa expansão começou a atingir locais que apresentam ameaça de
ocorrência de eventos relacionados a deslizamentos. Para isso, foi utilizado a ferramenta de tabulação
cruzada entre o plano de informação de probabilidade de ruptura e aqueles relacionados a cada uma das
classificações. Os resultados encontram-se nos Quadros 2 e 3.

Quadro 2 – Áreas urbanas e não urbanas para 2011 distribuídas pelas classes de probabilidade de ruptura

0% a 10% 10% a 20% 20% a 30% 30% a 40% 40% a 50% Maior que 50%
Urbana (km²) 56,0510 0,0036 0,0009 0,0036 0 0,0009
Não urbana (km²) 52,12 1,69 0,72 0,35 0,18 0,06

Quadro 3 – Áreas urbanas e não urbanas para 2017 distribuídas pelas classes de probabilidade de ruptura

0% a 10% 10% a 20% 20% a 30% 30% a 40% 40% a 50% Maior que 50%
Urbana (km²) 59,35 0,012 0,002 0 0,0009 0,0009
Não urbana (km²) 48,81 1,69 0,72 0,35 0,18 0,06

Verifica-se que a maior parte das construções estão localizadas em áreas que possuem uma
probabilidade de ruptura entre 0% e 10% (classe de menor ameaça registrada) para ambas as datas.
Quando se passa do ano de 2011 para 2017, a área associada a região urbana encontra-se distribuída
por porcentagens maiores de probabilidade de ruptura, ratificando a tendência de expansão para locais
com maior potencial de ocorrência de movimentos de massa. O crescimento mais expressivo se deu na

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faixa de menor ameaça. A área não urbana, exceto para a classe de 0% a 10% de probabilidade de
ruptura, apresentou uma constância na distribuição das áreas.

Visualmente, é possível averiguar que, mesmo que o aumento da ocupação ocorra predominantemente
em áreas com baixa ameaça (0% a 10%), esse crescimento está direcionado e aproxima-se dos pontos
mais críticos segundo o modelo de estabilidade de taludes, conforme exposto nas Figuras 8 e 9.

Figura 8 – Configuração da probabilidade de ruptura frente a ocupação urbana em 2011

Figura 9 - Configuração da probabilidade de ruptura frente a ocupação urbana em 2017

O que acontece é que, diante da falta de espaços mais aptos para a execução de construções, com um
relevo menos movimentado, a população tende a executar suas moradias nos locais ainda disponíveis,
exatamente aqueles próximos de vertentes e córregos, sujeitos a um maior grau de ameaça e tornando-
se vulneráveis.

4- CONCLUSÕES

Pode-se estabelecer algumas conclusões sobre os resultados alcançados no trabalho. A comparação entre
os resultados da classificação para as imagens dos anos de 2011 e 2017 permitiu averiguar claramente o
crescimento indiscriminado no setor habitacional Sol Nascente nesse período. Isso permite relacionar
essa condição com os problemas de falta de infraestrutura básica e baixos indicadores sociais na área. A
expansão urbana sofrida pela área do Sol Nascente deve-se em parte pela ação de grileiros que ocupam
irregularmente áreas para vendê-las posteriormente. Associado a isso, há a falta de saneamento básico,
ausência de coleta de lixo e os altos índices de criminalidade.

Apesar dos resultados da tabulação cruzada entre os planos de informação da probabilidade de ruptura e
da classificação das áreas urbanas das datas avaliadas não mostrarem um crescimento nítido de regiões

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ocupadas em valores elevados de ameaça de ocorrência de deslizamento, a tendência observada quando


se analisa o aumento urbano de 2011 para 2017 é que este se deu exatamente na direção dos pontos
com maiores níveis de ameaça. Esta conclusão torna-se de extrema importância para os órgãos
competentes que monitoram as áreas de risco do Distrito Federal. É de se esperar que, caso esta
tendência não seja interrompida pelo poder público, no sentido de coibir novas ocupações, surjam mais
pontos categorizados com risco no condomínio Sol Nascente.

Finalmente, enfatiza-se que avaliações dessa natureza, principalmente em regiões que correspondem a
ocupações irregulares, tal como o condomínio Sol Nascente, fornecem um melhor nível de compreensão
do fenômeno da dinâmica associada ao crescimento urbano. Isso contribui para a tomada de decisão
tanto do ponto de vista do planejamento territorial, como na implementação de um sistema de
ordenamento urbano para essa localidade ou para futuras cidades. A comparação de um cenário de
probabilidade de ruptura com a situação da malha urbana mostra-se como mais um elemento para
análise dos possíveis impactos nos elementos em risco de uma determinada região, contribuindo para a
avaliação da vulnerabilidade da população envolvida.

Por fim, ressalta-se que esse estudo apresenta uma metodologia clara, rápida e de baixo custo que pode
ser facilmente replicada em outras localidades, podendo servir como base para posteriores pesquisas em
termos de planejamento urbano e análises ambientais para regiões com ocupação urbana sujeitas a
eventos de movimentos de massa.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao apoio financeiro concedido pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do


Nível Superior (CAPES), pela Fundação Universidade de Brasília (FUB) e pela Fundação de Apoio a
Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) para realização deste trabalho.

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1120
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA ESTABILIZAÇÃO DE


SOLOS LATERÍTICOS COM ADIÇÃO DE CAL E CIMENTO

EVALUATION OF THE INFLUENCE OF CURE TIME ON THE STABILIZATION OF


LATERITIC SOILS WITH LIME AND CEMENT ADDITION

Thomas, Maurício; Universidade Federal do Pampa, Brasil, mauriciothomas170890@gmail.com


Budny, Jaelson; Universidade Federal do Pampa, Brasil, jaelsonbudny@gmail.com
Bica, Bruno Oliveira; Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, brunobica01@gmail.com
Leon, Helena Batista; Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, helenableon@gmail.com

RESUMO

Com o intuito de buscar soluções alternativas no sistema rodoviário brasileiro, o presente estudo visa
conhecer melhor os solos tropicais/lateríticos para serem utilizados em bases e sub-bases de pavimentos,
melhorando suas propriedades com adições de cal e cimento. Dos materiais utilizados na pesquisa, o solo
provém do município de Cândido Godói, estado do Rio Grande do Sul, a cal é do tipo hidratada de classe
CH-II Dolomítica e o cimento é do tipo Portland de classe CP-IV. Inicialmente, caracterizou-se o solo
baseado na metodologia MCT. A quantidade de cal e cimento utilizada nas misturas foi norteada pelo ensaio
físico-químico e pela ASTM D 3282, respectivamente. Para a determinação da massa específica das
misturas, juntamente com a umidade ótima das mesmas, foram realizados ensaios de compactação Mini-
Proctor. As moldagens dos corpos de prova foram executadas utilizando-se misturas de solo-cal e solo-
cimento, além de corpos de prova de solo natural. Foram moldados 28 corpos de prova cilíndricos de
dimensões 5x10 cm de cada composição e deixados em cura em temperatura controlada durante 7, 28,
56, 90, 120, 180 e 270 dias. Após cada idade de cura, os corpos de prova de cada mistura foram submetidos
ao ensaio de compressão simples não confinado. Ao final dos rompimentos, percebeu-se que a adição de
solo-cal não apresentou um ganho substancial na resistência, diferente da mistura de solo-cimento, que
atingiu valores de resistência à compressão simples maiores que 2,1 MPa. Outro dado relevante, é que em
todas as misturas houve um aumento na rigidez das amostras, diminuindo desta forma as deformações
encontradas na camada final do revestimento. Conclui-se assim, que houve uma melhora nas propriedades
do solo com as adições de cal e cimento, havendo um aumento tanto na resistência, quanto na rigidez do
solo estudado, sendo o cimento o aditivo químico indicado para este solo argiloso laterítico.

ABSTRACT

With the intention of seek alternative solutions in the brazilian highway system, this study aims to better
understand the tropical/lateritic soils for use in bases and sub-bases pavements, improving its properties
with the additions of lime and cement. For the materials used in this research, the soil comes from the
town of Cândido Godói, state of Rio Grande do Sul, the lime is hydrated of the class CH-II Dolomite and
the cement is of the Portland type and the class is CP-IV. Initially, the soil was characterized based on the
MCT methodology. An amount of lime and cement used in the blends was guided by the physical-chemical
test and by ASTM D 3282, respectively. To determine the density, and the optimum moisture of the mixture,
Mini Proctor compression tests were performed. The molding of the samples was performed using a
mixtures of soil-lime and soil-cement as well as natural soil samples. Twenty eight cylindrical samples were
molded with the dimensions of 5x10 cm and each composition was allowed to cure at controlled
temperature for 7, 28, 56, 90, 120, 180 and 270 days. After each cure age, the samples of each mixture
were subjected to unconfined simple compression test. At the end of the compression test, it was noted
that the addition of soil-lime did not showed a substantial gain in strength, unlike the mixture of soil-
cement, which achieved simple compressive strength values biggest than 2,1 MPa. Another important fact
is that in all mixtures there was an increase in the stiffness of the samples, thus reducing the deformations
found in the final coating layer. Therefore it is concluded that there was an improvement in soil properties
with lime and cement additions, with an increase of both the resistance and stiffness in all the studied soils,
being the cement the chemical additive indicated for this lateritic clayey soil.

1- INTRODUÇÃO

Um dos principais problemas enfrentados quando falamos da infraestrutura logística brasileira é a falta de
pavimentação que abrange as estradas de todo o território brasileiro. Benevides (2014) mostra que quase
1,7 milhão de quilômetros de estradas do Brasil, 80,3 %, ou seja, mais de 1,3 milhão de quilômetros, não
são pavimentadas. O país conta também com 12,1 % de rodovias pavimentadas e 7,6 % de vias planejadas,
isto é, que ainda não saíram do papel.

1121
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Considerando o contexto preocupante a qual está inserido o Brasil, buscam-se soluções e novas técnicas
com materiais alternativos que possam ser utilizadas no sistema rodoviário, para que sirvam de solução,
tanto para o ponto de vista técnico, quanto econômico.

Uma das alternativas encontradas para suprir as necessidades que a construção rodoviária nos impõe, é a
estabilização química dos solos com uso de cimento e cal. Segundo Azevêdo (2010), essa opção possibilita
a utilização dos solos que são encontrados na própria obra, acarretando dessa maneira, em uma redução
no custo e principalmente no tempo de execução da obra, já que não há a necessidade de se realizar o
transporte de solos de outras jazidas para a utilização na camada estabilizada.

Se tratando de pavimentos que possuem um baixo volume de tráfego, Behak (2007) relata que a
estabilização do solo se torna uma grande alternativa, pois dela resulta um melhor desempenho e uma
maior durabilidade do pavimento. Atualmente, os agentes estabilizadores mais empregados são a cal e o
cimento Portland.

Guimarães (2002) também explica que a adição de determinadas porcentagens de cal e cimento em solos
tem como principal objetivo alterar a rigidez, a resistência e o seu comportamento, de acordo com ensaios
realizados em campo e em laboratório.

Dessa maneira, cientes de que o Brasil está inserido em um local onde predomina a ocorrência de clima
tropical úmido, possuindo um vasto território composto de solos lateríticos, propõe-se um estudo sobre a
estabilização de solo-cimento e solo-cal para este tipo de solo, variando a umidade e porcentagem de
adições dos agentes estabilizadores, buscando uma análise desses materiais a longo prazo (270 dias),
quando submetidos a ensaios de compressão. Para a pesquisa, o solo utilizado foi do tipo argiloso de
características lateríticas oriundo do município de Cândido Godói, pertencente à região noroeste do estado
do Rio Grande do Sul. Este tipo de solo ocupa cerca de 20.000 km² no estado do Rio Grande do Sul, e
carece de estudos sobre o seu comportamento frente a adição de materiais cimentantes, mesmo os mais
tradicionais como cal e cimento, justificando neste contexto, o presente estudo.

1.1 - Objetivos da pesquisa

Os principais objetivos analisados na pesquisa foram os seguintes:

 Realizar a caracterização e avaliar as propriedades mecânicas de um solo laterítico, analisando seu


comportamento a longo prazo, quando acrescidas porcentagens de cal e cimento.

 Verificar se há ganho de resistência à compressão simples a longo prazo (270 dias) em amostras
moldadas de solo-cal e solo-cimento quando comparadas ao solo natural.

2- METODOLOGIA

2.1 - Preparação e caracterização das amostras

Para a realização dos ensaios de caracterização e compactação do solo, é necessário que seja realizada
uma devida preparação das amostras, de acordo com a ABNT NBR 6457 (1986).

Para os ensaios de caracterização e compactação as amostras precisam ser secas ao ar até próximo da
umidade higroscópica, ter seus torrões desmanchados com auxílio de um almofariz e uma mão de gral, e
o solo homogeneizado. Após, faz-se o quarteamento da amostra, a fim de se reduzir a quantidade de
material até se obter uma quantidade suficiente para a realização do ensaio. Também é necessário verificar
se a amostra ensaiada passa em sua totalidade na peneira nº 4 (4,8 mm de abertura).

Para a determinação da granulometria dos grãos, são utilizados dois ensaios: o primeiro diz respeito ao
peneiramento, que é utilizado para partículas que possuem um diâmetro maior que 0,075 mm de diâmetro,
e o segundo à sedimentação, para partículas de diâmetro menor que 0,075 mm.

O peneiramento e a sedimentação foram realizadas, baseando-se no que prescreve à estes ensaios, a ABNT
NBR 7181 (1984) – Solo: Análise Granulométrica.

A determinação dos limites de liquidez respeitou a ABNT NBR 6459 (1984) - Solo – Determinação do Limite
de Liquidez. Prepara-se uma amostra de solo que é colocada em uma cápsula de porcelana, adicionando-
se água destilada, até ser alcançado uma pasta homogênea, proveniente de movimentos de amassamento.
A massa é transferida para o aparelho de Casagrande onde é feita uma ranhura no centro da concha, com
ajuda de um cinzel. Gira-se, então, a manivela do aparelho, fazendo a concha bater contra a base.

Feito isso, anota-se o número de golpes necessários para que as bordas da ranhura se unam. Repete-se o
procedimento no mínimo três vezes, com um intervalo de 15 a 35 golpes. Retira-se também uma amostra

1122
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de material para verificar a umidade. Com os resultados, constrói-se um gráfico utilizando o número de
golpes e os teores de umidade. O Limite de Liquidez será dado pela umidade correspondente a 25 golpes.

Norteado pela ABNT NBR 7180 (1984), o Limite de Plasticidade pode ser obtido tomando-se uma amostra
de 10 g de uma pasta homogênea de solo e a transformando em uma bolinha. Rola-se, então, essa bolinha
sobre uma placa de vidro com a palma da mão até dar forma a um cilindro de mais ou menos 3 mm de
diâmetro. Realizar pelo menos três ensaios e levar o material para a estufa para a obtenção da umidade.
O resultado se dará pela média das três umidades expresso em porcentagem.

Para a determinação da massa específica do solo fez-se uso da ABNT NBR 6508 (1984) – Determinação da
massa específica. O ensaio consiste em preparar cerca de 250 g do solo seguindo as recomendações da
ABNT NBR 6457 (1986). Adota-se então, cerca de 50 g de solo, pois o ensaio é realizado em um picnômetro
de 500 cm³, e realiza-se a imersão do solo totalmente em água destilada durante 12 horas. Com o restante
do material determina-se a umidade higroscópica do solo.

2.2 - Classificação rodoviária dos solos

Tem como principal finalidade estimar o comportamento do solo através de um criterioso e adequado
programa de investigação.

O solo em questão foi classificado em 3 grandes sistemas de classificação rodoviário: Sistema Unificado
(SUCS), Transportation Research Board (TRB) e Miniatura Compactado Tropical (MCT). Para chegar aos
resultados da classificação do solo, fez-se uso de tabelas e ábacos correspondentes a cada sistema.

2.3 - Dosagem solo-cal e ensaio físico-químico

Segundo Guimarães (2002), a cal que é utilizada na estabilização de solo provém da calcinação de rochas
carbonatadas cálcicas ou dolomíticas, que possuem uma temperatura próxima a 1000°C. O resultado dessa
calcinação é o óxido de cálcio (CaO) e o cálcio-magnésio (CaO-MgO). Little (1999) relata que o aumento
de resistência do solo é garantido por reações pozolânicas que costumam iniciar algumas semanas após a
adição de cal junto ao solo, podendo se estender por períodos prolongados de tempo. Essas reações
pozolânicas acabam formando produtos cimentícios (formados por silicatos e aluminatos de cálcio) que
proporcionam um aumento de resistência e durabilidade da mistura solo-cal.

Para estimar a quantidade necessária de cal para estabilizar o solo, utiliza-se o ensaio Físico-Químico,
proposto por Casanova et. al. (1992). O ensaio mostra a variação volumétrica que ocorre nas misturas
ensaiadas. O mínimo teor de cal considerado para ser usado na estabilização é aquele que produziu uma
maior variação volumétrica nas provetas utilizadas no ensaio.

2.4 - Dosagem solo-cimento

Para a dosagem de solo-cimento, a ABNT NBR 12253 (1992) determina que após a caracterização das
amostras, os solos poderão ser classificados de acordo com a ASTM D 3282 (1998).

2.5 - Ensaio de compactação mini-proctor

Tendo como principal objetivo melhorar a identificação e a caracterização dos solos tropicais, Nogami e
Villibor (2009) propuseram, no início da década de 80, uma nova sistemática de classificação que foi
denominada de MCT (Miniatura, Compactada, Tropical). Nogami e Villibor (2009), também afirmam que “o
desenvolvimento dessa nova sistemática MCT proporcionou um amplo estudo geotécnico dos solos finos
(100% passantes na peneira 2,00 mm), que são de interesse para diversas aplicações rodoviárias”.

Essa nova metodologia, permite avaliar várias propriedades importantes dos solos como contração,
permeabilidade, expansão, coeficiente de penetração d’água, coesão, capacidade de suporte e famílias de
curvas de compactação utilizando corpos de prova compactados que possuem dimensões reduzidas de 5
cm de diâmetro e de 5 cm de altura, por isso designados “Miniatura” (M), obtidos em laboratório por
“Compactação” (C) e desenvolvida para solos “Tropicais” (T), justificando desta maneira o uso da
abreviatura MCT (Nogami e Villibor, 2009).

A preparação das amostras deve ser efetuada ao menos 24 horas antes da realização do ensaio. Na
execução, inicia-se a preparação do solo com um teor de umidade baixo, pesando-se 190 g de material e
despejando o mesmo em um molde com o auxílio de um funil. Sobre o topo da amostra de solo será
inserido um disco de polietileno juntamente com um anel de vedação para se evitar a perda de material
durante a compactação. O soquete utilizado para a realização do ensaio é do tipo leve. A Figura 1 apresenta
a aparelhagem do compactador miniatura.

1123
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Figura 1 - Aparelhagem do compactador miniatura (Nogami e Villibor, 2009)

Para a compactação com energia normal, o soquete é inserido no topo da amostra e efetuam-se 5 golpes
em cada lado da amostra. Assim que a altura do corpo de prova atingir a dimensão de 50 ± 1 mm, o ensaio
para aquela amostra se dará por concluído. Para cada teor de umidade ensaiado, deverá ser retirada uma
porção de solo para a determinação da umidade higroscópica.

A obtenção dos resultados se dará pela curva de compactação, onde as ordenadas representarão as massas
específicas aparentes secas do solo (MEAS) e as abscissas os teores de umidade (h) correspondente de
cada amostra.

2.6 - Moldagem e cura das amostras

Os corpos-de-prova moldados tiveram suas dimensões fixadas em 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura.


Vale ressaltar que a compactação das amostras ocorrreu em um período de 10 a 15 minutos após a mistura
dos materiais. Após a moldagem, realizada de maneira estática, com umidade ótima e peso específico
retirados do ensaio proctor, as amostras foram embaladas em plástico filme e parafina, evitando dessa
maneira a perda de umidade para o ambiente. Ficaram em cura com temperatura controlada de
aproximadamente 21°C durante 7, 28, 56, 90, 120, 180 e 270 dias.

Foram moldados, para cada dosagem, 4 corpos de prova para cada tempo de cura, de acordo com a Figura
2.

Figura 2 - Corpos de prova moldados

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2.7 - Ensaio de compressão simples

Após a cura dos corpos de prova, foi realizada a compressão simples dos mesmos, norteada pela ABNT
NBR 12025 (2012), conforme a Figura 3. O carregamento foi aplicado com uma velocidade de deformação
de 1mm/min.

No ensaio, obteve-se a tensão de ruptura do material, calculado a partir da divisão da carga de ruptura
pela área da seção transversal.

Figura 3 - Máquina Utilizada no Ensaio de Compressão Simples dos CP’s

3- ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste tópico serão apresentados os resultados obtidos durante o desenvolvimento das atividades da
pesquisa, bem como uma discussão acerca das amostras ensaiadas.

3.1 - Análise granulométrica

Tendo por característica uma grande quantidade de finos em sua composição (98% dos grãos passante na
peneira n° 200), a Figura 4 apresenta a curva granulométrica encontrada para o solo estudado. Nele, a
porcentagem de argila que contém o solo ficou em 83%, com 10% de silte, 6% de areia fina e 1% de areia
média.

areia areia areia


argila silte pedregulho
fina média grossa
100,00
Percentagem Passante (%)

90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)
Figura 4 - Curva Granulométrica do Solo

1125
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3.2 - Limites de Atterberg

O resultado do ensaio proporcionou um limite de liquidez (LL) de 61%, correspondente a 25 golpes.

O solo também apresentou um limite de plasticidade (LP) no valor de 42%. Sendo assim, pode-se calcular
o índice de plasticidade (IP), subtraindo-se o limite de liquidez pelo limite de plasticidade. Dessa maneira,
encontrou-se um índice de plasticidade no valor de 19%.

3.3 - Massa específica do solo

O cálculo da massa específica foi realizado com um solo que teve uma umidade natural de 5,52 %. Dentre
as amostras ensaiadas, obteve-se uma média e a massa específica do solo foi de 2,70 g/cm³.

3.4 - Classificação do solo

Através do Sistema Unificado (SUCS), o solo em questão foi classificado como uma argila orgânica de alta
plasticidade. O solo apresenta elevados valores de LL e IP. Sendo assim, na classificação TRB o solo foi
considerado silto-argiloso pertencente ao grupo A-7. Já na classificação utilizando a metodologia MCT, o
solo foi classificado como argiloso de comportamento laterítico (LG’).

3.5 - Definição do teor de cal

Para estimar a quantidade de cal necessária para se utilizar nas misturas com solo, seguiu-se os passos
descritos no ensaio físico-químico. A Figura 5 apresenta a expansão volumétrica de várias misturas e traz
a porcentagem ideal para ser utilizada nas misturas.

60%
Expansão Volumétrica (%)

50% 5%

40% 6%
7%
30%
8%
20% 9%

10% 10%
11%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 12%
Tempo de realização do ensaio (dias)

Figura 5 - Expansão Volumétrica das Misturas no Ensaio Físico-Químico

Observando a Figura 5, percebe-se que a mistura que continha 6% de cal foi a que apresentou a maior
variação volumétrica. Desta maneira, utilizou-se 6% de cal nas misturas de solo-cal.

3.6 - Definição do teor de cimento

A ABNT NBR 12253 (1992) determina que somente após a caracterização das amostras e o atendimento
às suas exigências, os solos poderão ser classificados conforme as recomendações da ASTM D 3282. A
classificação do solo pelo Sistema ASTM é realizada com base na análise granulométrica, limite de liquidez
e índice de liquidez. Assim, estabeleceu-se um valor de 10% de cimento em relação a quantia de solo
utilizada nas moldagens. Como houve uma alta porcentagem de cimento inserida no solo, deve-se ficar
atento ao surgimento de fissuras causadas pelo fenômeno de retração. É comum essa porcentagem ser
utilizada para estabilizar solos finos tropicais brasileiros em obras correntes de engenharia, sendo que na
prática, em campo, algumas vezes observa-se a aparição de fissuras de retração, porém, nas amostras de
laboratório, por serem relativamente pequenas, não houve surgimento de fissuras. Pitta (1985) afirma que
a retração dos solos argilosos costuma ser mais lenta do que nos solos granulares, atingindo os solos
granulares a estabilidade volumétrica logo nas primeiras idades, enquanto os solos argilosos seguem
retraindo-se por mais tempo.

3.7 - Definição da massa específica e umidade ótima das misturas

Para se obter os valores máximos de massa específica e das porcentagens ótimas das umidades de solo,
solo-cimento e solo-cal, faz-se a observância da Figura 6, o qual apresenta as curvas de Compactação Mini-

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Proctor de cada mistura.

2,05
2,00

Massa Específica (g/cm³)


1,95
1,90
1,85
1,80
1,75
1,70
1,65
1,60
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36
Umidade (%)

Solo + Cimento Solo Solo + Cal

Figura 6 - Ensaio de Compactação Mini-Proctor das Misturas

Analisando a Figura 6, obtemos para o solo uma massa específica de 1,98 g/cm³ com uma umidade ótima
de 28%. Pode-se verificar que o solo possui uma elevada massa específica se comparado com outros tipos
de solos argilosos, mas de acordo com Pinto (2006), solos com características laleríticas podem apresentar
uma massa específica em torno de 2 g/cm³.

Para a mistura de solo-cimento a massa específica foi de 1,99 g/cm³ e a umidade ótima ficou em torno de
24%. Já para a mistura de solo-cal a massa específica foi de 1,94 g/cm³ e a umidade ótima girou em torno
de 29%.

3.8 - Ensaio de resistência à compressão simples

O Ensaio de Resistência à Compressão Simples foi executado nos CP’s aos 7, 28, 56, 90, 120, 180 e 270
dias. A Figura 7 apresenta as tensões encontradas em todas as idades de rompimento.

3,50

3,00

2,50
Tensão (MPa)

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270
Idade (dias)

Solo Solo + Cal Solo + Cimento

Figura 7 - Variação da Tensão Média durante as Idades de Rompimento

Analisando as amostras de solo, percebe-se uma evolução da resistência até os 56 dias. Aos 90 dias, têm-
se uma pequena queda na tensão. Aos 120 dias houve um acréscimo muito grande na resistência, não
havendo especificamente um motivo para tal situação ter ocorrido. Durante as demais idades de cura (180
e 270 dias), houve um pequeno acréscimo da resistência, já esperado, com relação às primeiras idades.

Nas misturas de solo-cal, observamos um pequeno decréscimo na idade de 28 dias com relação aos 7 dias.
Essa pequena variação pode ter relação ao exposto por Portelinha (2008), quando o autor diz que,
dependendo com qual solo se está trabalhando, pode haver algum tipo de reação pozolânica nas primeiras
idades, havendo a possibilidade de aumento da resistência e da estabilidade do solo a médio e longo prazo,
o que se observa nas idades seguintes, ocorrendo um pequeno aumento na resistência da mistura até a
sua última idade de cura.

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Outro motivo plausível para essa redução nas primeiras idades da resistência das misturas com cal pode
ser o tipo de cal utilizada. A Cal Dolomítica, empregada na pesquisa, é a variedade mais comum e a que
mais se encontra no estado do Rio Grande do Sul. Pelo tipo de rochas calcárias disponíveis, não é possível
a obtenção de cales do tipo calcítica, que seriam as mais indicadas para estabilização de solos. Isso ocorre
devido ao fato de cales calcíticas apenas serem encontradas a cerca de 3.000 km distantes deste solo de
estudo, inviabilizando, desta maneira, a realização de testes com este tipo de cal.

Já para as misturas de solo-cimento, a pequena queda de tensão nos primeiros dias de cura pode ter
relação à alguma reação química entre os materiais, pois as amostras foram moldadas praticamente no
mesmo horário, com igual tratamento das etapas e com temperatura de 21°C rigorosamente controlada
no interior de uma sala climatizada. Já para idades seguintes à de 28 dias, houve um considerável aumento
de tensão, havendo uma leve tendência de estabilização da resistência nas idades finais.

Buscando uma melhor compreensão dos resultados, a Figura 8 apresenta a dispersão dos valores
encontrados no ensaio de resistência à compressão simples para os diferentes tipos de dosagens e tempos
de cura apresentando os valores de máximas e mínimas resistências encontradas para cada conjunto de
amostras rompidas.

3,30
3,00
2,70
2,40
Tensão (MPa)

2,10
1,80
1,50
1,20
0,90
0,60
0,30
0,00
Solo Solo + Cal Solo + Cimento
7 dias 0,95 0,93 2,22
28 dias 0,94 0,80 1,90
56 dias 1,16 1,10 2,48
90 dias 0,89 1,20 2,74
120 dias 2,32 1,12 2,72
180 dias 1,13 1,23 2,81
270 dias 1,27 1,44 2,91

Figura 8 - Influência do Tempo de Cura na resistência à compressão simples das Dosagens

Analisando a Figura 8, percebe-se que até a idade de 56 dias a resistência de solo apresenta um valor
maior do que a resistência das misturas de solo-cal. Porém, nota-se que essas mesmas amostras de solo-
cal estão na mesma faixa de resistência do solo. A partir dos 56 dias, percebe-se que há uma tendência
das resistências de solo-cal serem superiores às resistências das amostras de solo.

Já as amostras de solo-cimento apresentaram, desde as primeiras idades, uma resistência muito superior
às resistências de solo. A ABNT NBR 12253 (1992) sugere que para a dosagem de solo-cimento, após 7
dias de cura, a mistura atinja uma resistência à compressão simples de valor igual ou superior a 2,1 Mpa.
Nota-se que em todas as idades, exceto aos 28 dias, essa resistência foi alcançada, havendo também um
aumento da resistência ao longo do tempo.

3.9 - Módulo de elasticidade das misturas

Um dos fatores preponderantes para diminuir as deformações da camada final de revestimento das
rodovias, o Módulo de Elasticidade pode ser calculado para cada corpo de prova, a partir da inclinação da
reta de cada gráfico de tensão x deformação. A relação utilizada foi de (70%-20%), ou seja, a tangente
formada a partir dos 20% de tensão-deformação até os 70% de tensão-deformação.

Analisando a Figura 9, demonstrada logo abaixo, que apresenta os Módulos de Elasticidade das misturas
ao longo do tempo de cura, percebe-se que em ambas as misturas, tanto de solo-cal quanto as de solo-
cimento, as adições fizeram com que o módulo de elasticidade do solo aumentasse consideravelmente,

1128
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

principalmente nas idades finais. Nota-se um ganho na elasticidade muito expressivo principalmente nas
misturas de solo-cimento.

600,00
Módulo de elasticidade (MPa)

500,00

400,00

300,00

200,00

100,00

0,00
Solo Solo + Cal Solo + Cimento
7 dias 30,71 94,36 48,93
28 dias 31,02 70,34 59,67
56 dias 37,29 100,31 89,28
90 dias 39,53 122,19 378,33
120 dias 92,24 134,11 397,80
180 dias 42,45 191,00 484,33
270 dias 68,75 242,20 507,47

Figura 9 - Módulo de Elasticidade das Misturas ao Longo do Tempo de Cura

Lovato (2004), realizou um importante estudo referente à fissuração em camadas de base de pavimentos
tratadas com solo + cimento. O autor concluiu que, dentre vários fatores, o Módulo de Elasticidade é um
importante parâmetro para o controle de fissuras do pavimento. Dessa maneira, observa-se que as
misturas de solo + cimento apresentaram um aumento de rigidez satisfatórios.

4- CONCLUSÕES

Na presente pesquisa, que teve como objetivo avaliar o desempenho das misturas estabilizadas com cal e
cimento frente ao solo natural perante ensaios de compactação e ensaios mecânicos de resistência à
compressão simples, tem se que:

As misturas com cimento apresentaram teor de umidade ótima inferior às misturas com solo natural,
mantendo praticamente inalterado o valor de massa especifica máxima, comportamento diferente das
misturas com solo-cal, que elevaram a umidade ótima e reduziram o peso especifico máximo.

Na Resistência à Compressão Simples, exceto aos 28 dias, as misturas de solo-cal e solo-cimento


apresentaram um ganho de resistência, mesmo que não significativo, ao longo do tempo de cura analisado.
Com relação às amostras que continham apenas solo, houve um acréscimo de resistência com o passar do
tempo. A idade de 120 dias da moldagem de solo pode ser considerada como um ponto fora da curva, pois
apresentou um valor de resistência fora da realidade.

O valor de 2,1 MPa, sugerido pela ABNT NBR 12253 (1992), foi alcançado apenas nas misturas de solo-
cimento, exceto aos 28 dias. Porém, todas as moldagens de todas as misturas apresentaram um
significativo crescimento no módulo de elasticidade do solo com o passar do tempo, tendendo dessa
maneira, a diminuir as deformações e fissuras causadas na última camada do pavimento. Para o caso da
mistura de solo-cal, recomendaria-se aumentar as porcentagens de cal, ou ainda utilizar outro tipo de cal,
no caso a calcítica, a fim de verificar se seria possível atingir o valor de 2,1 MPa.

Apesar do DNIT (2006) impor restrições ao uso do solo para a base de pavimentos devido ao seu alto índice
de Plasticidade, acredita-se que seja viável a utilização de adições de cal e cimento em camadas de
pavimentação, principalmente devido ao aumento da resistência e também pela elevação da rigidez das
misturas ao longo do tempo, ratificada pelo aumento do módulo de elasticidade. Sugere-se que sejam
realizados ensaios adicionais de módulo de resiliência a fim de obter resultados que possam ser utilizados
em modelos mecanísticos empíricos de dimensionamento de estruturas de pavimentos e avaliar a
durabiliade destas misturas ao longo do tempo.

1129
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

REFERÊNCIAS

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Benevides, C. (2014) - No Brasil, 80 % das estradas não contam com pavimentação. Disponível em:
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1130
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

EVALUATION OF COMPRESSIVE STRENGTH AND WATER ABSORPTION OF


SOIL-CEMENT BRICKS MANUFACTURED WITH ADDITION OF PET
(POLYETHYLENE TEREPHTHALATE) WASTES

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE


TIJOLOS DE SOLO CIMENTO MANUFATURADOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS
DE PET (POLITEREFTALATO DE ETILENO)

Paschoalin Filho, João Alexandre; Universidade Nove de Julho, São Paulo, Brasil,
paschoalinfilho@yahoo.com
Storopoli, João Henrique; Universidade Nove de Julho, São Paulo, Brasil, joaostoropoli@gmail.com
Dias, Antonio José Guerner, Universidade do Porto, Porto, Portugal, agdias@fc.up.pt

ABSTRACT

This paper presents the evaluation of compressive strength of soil-cement bricks obtained by the inclusion
in their mixture of PET flakes through mineral water bottles grinding. The Polyethylene Terephthalate (PET)
may be characterized by its great difficulty of desegregation in nature, remaining a long period for it. On
the other hand, with the increase in civil construction activities the demand for raw material also increases,
causing considerable environmental impacts. In this context, the bricks which this report refers aim to
propose a simple alternative for PET recycling, preventing its dumping and accumulation in irregular areas,
and reducing the demand of raw materials by the civil construction industry. The results showed that
compressive strengths obtained for studied bricks were lower than recommended by ABNT NBR 8491.
However, they may be used as an alternative solution in masonry works in order to not submit themselves
to great loads or structural functions. The studied bricks also presented water absorption near to
recommended values by ABNT NBR 8491. Each brick withdrew from circulation approximately 300 g of PET
waste. Thus, for an area of 1 m2 the studied bricks can promote the withdrawal of approximately 180
beverage bottles of 2 liters capacity.

RESUMO

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de tijolos de solo-cimento manufaturados por meio da inclusão
em sua dosagem de flocos de PET obtidos por meio da moagem de garrafas de água mineral. O
Politereftalato de Etileno pode ser caracterizado pela sua grande dificuldade de desagregação na natureza,
demorando longos períodos de tempo. Por outro lado, com o crescimento das atividades da construção civil
a demanda por matérias primas naturais também cresce, causando impactos ambientais significativos.
Dentro deste contexto, os tijolos que são estudados nesta pesquisa têm por objetivo propor uma alternativa
simples para o reuso do PET, prevenindo sua deposição e acúmulo em áreas irregulares, além de
proporcionar a redução da necessidade de matérias primas naturais por parte da construção civil. Os
resultados de resistência a compressão dos tijolos estudados indicaram valores inferiores ao recomendado
pela ABNT NBR 8491. Contudo estes tijolos podem ser considerados como uma solução alternativa em
obras de alvenaria que não estejam submetidas a grandes carregamentos ou funções estruturais. Os tijolos
ensaiados também apresentaram valores de absorção de água bem próximos ao recomendado pela
ABNT:NBR 8491. Cada tijolo manufaturado retirou de circulação aproximadamente 300 g de resíduos de
PET. Dessa forma, para uma área de 1 m2, os tijolos estudados promovem a remoção de aproximadamente
180 garrafas PET de 2 litros de capacidade.

1- INTRODUCTION

1.1- The civil construction activities and sustainability

Modern life depends on a great quantity of goods: roads, hospitals, houses, cars, electronic products, etc.
The production of these goods is based on a constant flux of raw materials: natural resources are extracted,
transported, processed and posteriorly consumed and discarded. Each stage of the cycle causes
environmental impacts, by means of pollutants and wastes (John, 2010).
The civil construction industry has significant importance to Brazil’s development. It is estimated that this
sector is responsible for generating investments exceeding US$ 90 billion per year. This economic activity
is also responsible for creating 62 indirect jobs in every 100 direct jobs. Brazilian civil construction plays
an important social role as it contributes directly to reduce the housing infrastructure deficits, essential to
the progress of the country.

1131
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

However, the construction industry is also responsible for a considerable consumption of natural resources,
since many of the materials that are used as construction materials are obtained by extraction in natural
deposits. According to Dias (2004) it is estimated that 50% of material resources extracted from nature
are related to construction activities.

In addition to the impacts caused by extraction, civil construction may also impose on environment other
forms of aggression such as: air and noise pollution, soil contamination, waste generation etc. Due to this
situation, the increasing concern related to environmental issues and the trend of natural resources
shortage make construction industry starts to adopt new concepts and technical solutions aiming
sustainability. According to Moreira et al. (2012) in recent years civil construction industry has been taking
an environmental responsibility in its activities due to the important role that this economic sector plays in
Brazil´s development.

According to John (2010) the sustainable development of this economic sector demands the following
attitudes: a) optimization of the construction techniques – construct more using less quantity of materials
and b) substitution of natural raw materials by recycled wastes, reducing the environmental impact and
the volume of materials dumped on landfills. However, according to the author, these actions only shall
become effective if they are implemented without increasing other environmental impacts, which does not
always happen.

The recycling and reusing of solid wastes produced by construction works are interesting management tools
aligned to sustainability idea. These actions also add economic value on wastes and reduce the
transportation costs of these to landfills for disposal. The civil construction industry is capable to reuse and
recycle wastes disposed by other industrial sectors. According to Moreira et al. (2012) it happens due the
fact that many wastes discarded by other industrial sector may be used in construction materials
manufacturing, replacing natural raw materials, totally or partially.

Soil-cement bricks consist on an interesting alternative for construction works. They may be used for
brickworks such as walls, pavements, etc. This kind of brick is manufactured by compaction, using hand or
hydraulic presses and represents an alternative aligned to the rules of sustainable development. This brick
manufacturing does not demand high energy consumption for raw material extraction, dispenses brick
firing and reduces the need of transport, once the bricks can be produced with soil of the building site itself.
Another aspect to be highlighted is the possibility of streamlining the construction process, as they allow
the use of techniques used in structural masonry, providing waste reduction and decrease in the amount
of debris generated. Thus, for these and other reasons, the soil-cement brick is often termed as “eco” or
“green” brick.

1.2- PET (Polyethylene Terephthalate) waste generation in Brazil

Brazilian consumption increases due to the current favorable economic situation, and it is causing
environmental impacts. According to a report published by ABRELPE (Brazilian Association of Public
Cleaning Companies), the volume of solid urban waste (SUW) generated in 2010 was approximately 7%
superior to the measured volume in 2009, in other words, over 61 million of tons. This value is equivalent
to 380kg of waste per inhabitant (ABRELPE, 2011). Table 1 presents the gravimetric composition of SUW
amount in different cities in Brazil.

Table 1 - Gravimetric composition of SUW amount in different brazilian cities


Pinheiro
Melo et al. Lino & Ismail Loureiro et al. Agostinho et
Author and & Girard
(2009) (2011) (2013) al. (2013)
cities / kind of (2009)
wastes Rio de Janeiro / São Paulo
Curitiba/ PR Belém / PA Campinas / SP
RJ /SP
Metals 2.0% 2.64% 4.0% 24.0% 2.2%
Plastics 17.8% 14.9% 15.0% 15.9%
Cardboard 16.0% 17.0% 20.0% 17.0% 11.1%
Glass 4.7% 1.5% 2.0% 1.8%
Organic 47.9% 45.9% 46.0% 54.0% 57.5%
Others 11.6% 17.9% 13.0% 5.0% 11.5%
Source: Adapted from: Melo et al. (2009), Pinheiro & Girard (2009), Lino & Ismail (2011), Loureiro et al. (2013) e
Agostinho et al. (2013)

Among the great mass of solid urban waste generated every day in brazilian municipalities, packaging
manufactured with PET can be highlighted. This polymer can be used as raw material for different kind of
products due to its low costs of production and great versatility. However, PET decomposition in natural
environment is very slow, causing considerable environmental impacts.

1132
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

PET was introduced in Brazil in 1988, bringing many benefits to consumers, but it also brought some
environmental problems. According to a Brazilian Association of PET Industry, in the year of 2007, only
53.5% of this polymer was properly recycled, in other words, approximately 175,000 tons did not receive
any kind of recycling treatment. Realizing all this PET mass as like beverage bottles of 2 liters capacity
(with 50g of mass each), can be estimated almost 3.5 millions of bottles that were destined (in a
considerable portion) to irregular disposal areas (Dyer & Mancini, 2009).

2- RESEARCH AIMS

Due to this situation, this paper proposes the manufacturing of non structural bricks made with Soil+
Portland Cement and PET wastes (obtained by means of mineral water bottles grinding) as a simple way
to PET waste reuse. At the same time the utilization of PET waste incorporated in soil-cement bricks consists
in an interesting alternative for civil construction, because it enables the reducing the necessity of natural
raw materials, once a significant portion of soil is substituted by PET wastes.

Also can be highlighted that the use of compacted bricks (by means of hydraulic or hand press) consists
an interesting sustainable alternative for brick works once this kind of brick does not use firing in
manufacturing, reducing carbon emissions. This paper also presents the following specific goals: a) to
produce a compacted and non structural brick composed by Soil + Portland Cement + PET wastes; b) to
evaluate the brick´s compressive strength and water absorption; c) to provide opportunity for reflection
about environmental issues and about the importance of the performance of the construction d) to provide
a simple alternative to PET waste recycling.

3- MATERIALS AND METHODS

The following activities and methodologies were carried out to develop this research:

1- Soil Sample collection: Disturbed soil samples were collected aiming to carry out laboratory tests. The
samples were collected at depths ranging 0.5 to 1.5m at an Experimental Area for Soil Mechanics Studies
localized at State University of Campinas (UNICAMP), at the city of Campinas/SP. After collecting, soil
samples were dried, homogenized and packaged in plastic bags of 50kg capacity. The soil samples were
prepared according to the recommendations from Brazilian Association of Technical Standards ABNT:NBR
6457 –“Soil samples-Preparation for compaction tests and characterization tests”.

2- Elemental geotechnical characterization tests: For geotechnical characterization of collected soil


samples, the following laboratory tests were carried out, complying with Brazilian Technical Standards:
Grain size distribution (ABNT: NBR 7181), Liquid Limit (ABNT:NBR 6459), Plasticity Limit (ABNT: NBR 7180)
and Compaction Tests using Proctor Normal Energy (ABNT: NBR 7182). After characterization, the soil
samples were compared to the criteria established by ABNT: NBR 10833 aiming to verify if collected soil
samples were appropriate to soil-cement manufacturing.

3- PET waste and Cement samples obtainment: The PET waste samples were obtained by means of grinding
from mineral water bottles. The bottles were preliminarily washed, their labels were taken out and grinded.
The cement used was Portland type made with blast furnace slag (compressive strength >32MPa for 28
days). This cement was used in this research because it is very used in small construction works in Brazil.
The PET samples were characterized complying with recommendations from ABNT:NBR 7181.

4- Dosage determination: After characterization tests, different dosages were studied for brick
manufacturing. The following dosages were tested mixing Soil + PET + Portland cement in different
percentages in mass: a) Soil +15%Portland cement+20% PET; b) Soil +20% Portland cement+15% PET
and Soil + 25% Portland cement + 10% PET. The chosen dosage was the mixture that better allowed
homogeneity and consistency, through visual and tactile examination.

5- Bricks manufacturing: For bricks manufacturing, the chosen mixture was compacted using Proctor
Normal Energy by a hand press. The bricks compaction was carried out complying with ABNT: NBR 10833.

6- Specimens manufacturing and curing: Specimens were molded using the compacted bricks as NBR 8492
recommendation. Then they were immersed in water for curing (at temperature of 20 oC) at 7, 14 and 28
days. The following picture presents a specimen immersed in water for curing.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figure 1 - Specimen immersed in water for curing

7- Compressive strength and water absorption obtention: To obtain the specimens´ compressive strength
and water absorption, laboratory tests were carried out according the recommendations of the Brazilian
Association of Technical Standards ABNT: NBR 8492. The specimens were taken to failure at 7, 14 and 28
days of curing time. Then, the obtained values were compared to the minimum acceptable values presented
in ABNT: NBR 8491. The following picture presents compression strength test carried out for this research.

Figure 2 - Compressive strength test carried out

4- RESULTS AND DISCUSSIONS

Table 2 presents the geotechnical parameters obtained by elemental characterization tests carried out. The
grain size distribution of the studied soil is presented in Table 3. Figure 3 shows PET waste grains size
distribution.

Table 2 - Geotechnical parameters obtained for soil samples

γ (kN/m3) γsat(kN/m3) γs (kN/m3) W (%) LL (%) LP (%)


13.0 17.3 28.0 27.4 45.1 18.0
Where: γ=natural unit weight; γsat=satured unit weight; γs=specific gravity of solids; W=natural moisture content;
LL=Liquid Limit, LP=Limit of Plasticity

Table 3 - Grain size distribution of soil

Clay Silt Medim sand Fine sand Coarse sand


51.0% 18.2% 7.8% 17.5% 2.5%

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Figure 3 - PET waste grain size distribution curve

Table 4 presents the criteria used for soil selection necessary for soil-cement manufacturing according to
recommendations of ABNT: NBR 10833. Table 5 presents the compaction parameters obtained for each
studied dosage.

Table 4 - Soil selection criteria according to recommendations of ABNT: NBR 10833

Characteristics Requirements
% of particle passing though sieve ABNT 4.8mm (#4) 100%
% of particle passing though sieve ABNT 0.074mm (#200) 10 – 50%
Liquid Limit (%) <45%
Plasticity Limit (%) <18%

Comparing Tables 2 and 3 with Table 4 can be highlighted that the obtained parameters for soil samples
are very close to criterias recommended by ABNT: NBR 10833.

Table 5 - Compaction parameters for each dosage

Dosage Wopt (%) γdmáx (kN/m3)


Natural soil 25.0 14.0
Soil+15%PC+20%PET 25.5 15.0
Soil+20%PC+15%PET 26.0 15.0
Soil+25%PC+10%PET 27.0 16.0

As presented in Table 5 the average values of optimum moisture content and specific dry weight obtained
for natural soil samples were 25% and 14kN/m3 respectively. These values were within in a range of typical
average values for clay soils. According Sousa Pinto (2000) and Paschoalin Filho (2002) it is common to
obtain parameters of optimum moisture content and specific dry weight within a range of 25 and 30% and
14 and 15kN/m3 for soil samples collected at experimental area where the samples were collected.

Comparing the studied dosages, the mixture of Soil + 25% Portland cement +10% PET presented higher
specific dry weight and optimum moisture content values than other mixtures. According to Souza et al.
(2007) Portland cement, when mixed with soil, trends to cause an increase of optimum moisture content
and unit mass weight values, as observed in Table 5. Table 6 presents the dimensions of compacted soil-
cement bricks using dosage of Soil+10%PET+25% Portland cement. Table 7 presents the physical
parameters obtained for the studied specimens.

1135
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Table 6 - Dimensions and physical parameters of studied compacted bricks

Specimen Heigh (cm) Length (cm) Width (cm) Cross section Brick volume
area (cm2) (cm3)
T1 5.6 22.9 10.9 61.0 1397.8
T2 5.8 22.4 11.3 65.5 1468.1
T3 6.0 23.1 11.5 69.0 1595.3
T4 5.5 22.5 10.8 59.4 1336.5
T5 6.2 22.3 10.7 66.3 1479.4
T6 6.3 22.9 11.0 69.3 1590.4
T7 5.3 22.6 10.9 57.8 1308.6
T8 5.5 23.2 10.8 59.4 1378.1
T9 5.2 23.1 11.1 57.7 1333.3
Average value 5.7 22.8 11.0 62.8 1431.9
Standard
0.4 0.3 0.3 4.7 108.1
deviation
Coefficient of
6.8 1.5 2.4 7.5 7.5
variation (%)

Table 7 - Physical parameters obtained for compacted bricks

Specimen Dry Mass (g) Satured Mass (g) γ (kN/m3) γsat (kN/m3)
T1 2287.0 2837.2 16.4 20.3
T2 2255.7 2750.5 15.4 18.7
T3 2315.3 2950.0 14.5 18.5
T4 2295.7 2862.0 17.2 21.4
T5 2245.0 2769.3 15.2 18.7
T6 2159.0 2715.0 13.6 17.1
T7 2345.8 2865.0 17.9 21.9
T8 2355.6 2878.2 17.1 20.9
T9 2320.7 2890.5 17.4 21.7
Average value 2320.0 2835.0 16.1 20.0
Standard deviation 117.0 75.5 1.5 1.7
Coefficient of
5.0 2.7 9.2 8.6
variation (%)

As shown in Table 7 the average values of mass unit weight (γ) and satured mass unit weight (γsat) were
16.1kN/m3 (sd=1.5kN/m3; cv=9.2%) and 20kN/m3 (sd=1.7kN/m3; cv=8.6%) respectively.

Compression tests using studied bricks were carried out at three different curing times (7, 14 and 28 days).
The Shapiro-Wilk test was carried out in order to verify if obtained strength parameters were from a
normally distributed population. The test presented a “p” value greater than α=5%, then the hypothesis
that the compression strengths data are from a normally distributed population was accepted. Then,
compression strength average data, standard deviations and variances were calculated. The obtained
compressive strengths for different curing times are presented in Table 8.

Table 8 - Correlation between compressive strengths obtained for different curing times

Curing time RC maximum RC Average sd var


(MPa) minimum (MPa) (MPa) (MPa)

7 days 0.9 0.7 0.8 0.1 0.01


14 days 1.0 0.8 0.9 0.07 0.004
28 days 1.2 1.0 1.1 0.1 0.01
Where: RC=compressive strength

As shown in Table 8, the average compressive strengths at 7, 14 and 28 days of curing time were
respectively 0.8MPa (sd=0.1MPa; var=0.01), 0.9MPa (sd=0.07MPa; var=0.004) and 1.1MPa (sd=0.1MPa;
var=0.01). The low amount observed of sd indicate the mixture´s good homogeneity. However the
maximum compressive strengths obtained were lower than recommended by ABNT NBR 8491 (RC average
value at 7 days of curing time >2.0MPa). According to Valle (2001) soil-cement bricks manufactured with
clayey soils trend to present lower compressive strengths than bricks compacted with sand soils. Katale et
al. (2014) recommend stabilize clayey soils with lime in order to obtain better values of compressive
strength. The authors explain that Portland cement is better for sand soils stabilizing. According to Lara et
al. (2014) better values of compressive strength could be reached using higher compaction energies for
brick manufacturing. The authors presented compressive strengths obtained for bricks compacted using
Proctor Normal Energy. The bricks were taken to failure at curing times at 7, 14, 30 and 60 days. They
obtained values in a range of 0.78MPa (7 days) to 1.40MPa (60 days).

1136
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

The low values of compressive strength may also occurred because PET flakes do not reacted chemically
with Portland cement. Del-Angel & Vazquez-Ruiz (2013) studding concretes made with PET fibers addition,
noticed no reaction between Portland cement, water, sand and PET, but only a certain amount of adherence.
According the authors, PET only reacts when subjected to high temperatures. Silva et al. (2005) also did
not find any significant influence of PET fibers on mortar compressive strengths.

The amount of PET in dosage and its particle size also may have an influence on obtained compressive
strengths. According to Córdoba et al. (2013) higher concentrations and diameters of PET particles can
cause an increase of voids in specimens and compressive strength reduction.

Analysis of variance (ANOVA) was conducted in order to analyze the differences between obtained means.
The test presented a p=0.031, lower than α=5%, demonstrating a statistically significant difference
between them. Tukey´s range test was carried out to find means that were significantly different from each
other. The test pointed that the means obtained for specimens taken to rupture at periods of 7 - 14 days
and 14 – 28 days of curing time did not present statistically significant difference between them. These
analyses show that the compressive strength increase between 7-14 and 14-28 days of curing time is lower
than the statistical uncertainty. However, Tukey's test indicated that the means obtained at 7 and 28 days
of curing time presented statistically significant difference. Figure 4 presents the average values of
compressive strength and standard deviations.

Figure 4 - Average values and standard deviations for each studied curing time

Table 9 presents the compressive strength increasing within the range of 7 and 28 days of curing time.

Table 9 - Correlation between compressive strengths obtained for different curing times
Correlation Maximum Minimum value Average value sd var
value
RC28/RC7 1.4 1.3 1.3 0.05 0.003
Where: RC=compressive strength

As shown in Table 9, considering a range of time between 7 and 28 days of curing time the compressive
strength had an average increase of 34%. A linear regression was determined and shown in Figure 5.

1137
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figure 5 - Linear regression curing time versus compressive strength

As shown in Figure 5 a relationship between curing time and compressive strength can be observed.
However, a coefficient of determination R2=0.69 was caused by data dispersion. Absorption tests were also
carried out as recommended by ABNT:NBR 8492 using specimens with 7 days of curing time. These values
are shown in Table 10.

Table 10 - Water absorption values obtained (curing time 7 days)


Specimen Water Absorption (%)
T1 20.3
T2 20.4
T3 19.2
T4 21.3
T5 20.4
T6 20.2
T7 20.1
T8 21.4
T9 20.6

The Shapiro-Wilk test was carried out in order to confirm if obtained water absorption values were from a
normally distributed population. Table 11 presents the average value.

Table 11 - Water absorption values obtained for studied compacted bricks


Curing time Maximum Minimum Average value sd var
7 days 21.4% 19.2% 20.4% 0.65% 0.42

As presented in Table 11 the average value for water absorption was 20.4% (sd=0.65%, var=0.42), near
to recommended value presented in ABNT: NBR 8491 (Average value of water absorption < 20% and
neither individual value >22%). The analysis shows, for a confidence interval of 95% (2σ), that the water
absorption will vary in a range of 20.9 to 19.9%.

5- CONCLUSIONS

According to obtained results by this research, the following conclusions can be drawn:

 The dosage and the homogenization procedures used for bricks manufacturing were satisfactory.
This fact may be based on the low standard deviations (sd) and coefficients of variation (cv)
obtained within the same group of samples (samples molded with the same dosages and tested in
the same curing time).

 The tested bricks showed a trend of compressive strength increasing at studied curing times,
reaching an amount superior than 34% of the initial compressive strength.

1138
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

 According to ABNT NBR 8491 recommendations, soil-cement bricks must present average water
absorption < 20%, and individual values not higher than 22%. In this research, the average value
obtained for water absorption was 0.4% higher than 20%. However no brick presented water
absorption higher than 22% individually.

 The compressive strength values were lower than recommended by ABNT: NBR 8491. However,
the studied bricks may be used as an alternative solution for brickworks in order to not submit
themselves to great loads or structural functions.

 Considering the studied dosage that presented the better values of compressive strength, for each
manufactured brick was used approximately 300g of PET waste in its composition. This waste of
mass is equivalent to 6 beverage bottles of PET with 2 liters capacity. Thus, a square meter (m 2)
of a wall constructed using this brick can withdraw nearly 180 beverage bottles from the
environment. The bricks which this reasearch refers aim to propose a simple alternative for PET
recycling, preventing its dumping and accumulation in irregular areas, and reducing the demand of
raw materials by the civil construction industry.

ACKNOWLEDGMENTS

The authors wish to thank Professor MSc Alexandre Rigotti da Silva, University Nine of July/Brazil and
University of Porto for the given support provided to this research.

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1140
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLADOS DE


RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) PRODUZIDOS EM
INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES

Freire, Ana Cristina, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, acfreire@lnec.pt
Neves, José, CERIS, Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos, Instituto Superior
Técnico, Universidade de Lisboa, Portugal, jose.manuel.neves@tecnico.ulisboa.pt
Martins, Isabel M., Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, imartins@lnec.pt
Roque, António José, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, aroque@lnec.pt
Correia, Eugénia, Infraestruturas de Portugal, Almada, Setúbal, Portugal,
eugenia.correia@infraestruturasdeportugal.pt
Ferreira, Cláudia, Ouzo Engenharia, Porto, Portugal, claudia.ferreira@ouzo.pt
Vieira, Castorina Silva, CONSTRUCT-Geo, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal,
cvieira@fe.up.pt
Gonçalves, Jorge, LYNX, Engineering and Consulting, PORTUGAL, jorgegoncalves@lynxengineers.com
Pinto, Isabel, CEMMPRE, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Coimbra, Portugal,
isabelmp@dec.uc.pt

RESUMO

A reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) é reconhecida como uma solução que
contribui para uma gestão eficiente destes materiais em obras de engenharia civil e para a redução da
extração de recursos naturais. As camadas ligadas e não ligadas de infraestruturas de transporte são um
exemplo de aplicação dos materiais provenientes de RCD, ao permitirem a sua incorporação em grandes
quantidades e práticas construtivas e de reabilitação mais sustentáveis. A recuperação da totalidade dos
resíduos gerados durante a vida útil das infraestruturas é de grande interesse tendo em consideração a
atual procura de recursos minerais e a previsível escassez destes no futuro, a crescente necessidade de
cuidar e preservar o ambiente e a meta final de "zero-deposição em aterro". Considerando esse objetivo,
é necessário quantificar e caracterizar adequadamente os materiais que constituem os pavimentos
rodoviários, na ótica de reservas de matéria-prima para futuras operações de conservação e reabilitação.
Tendo por base o estudo de uma estrada nacional, este trabalho quantifica os RCD produzidos nas
operações previsíveis de conservação e reabilitação e avalia o seu potencial de reciclagem, como
materiais secundários, em infraestruturas de transporte. Além disso, tendo presente os objetivos de uma
economia circular, é, ainda, apresentado o impacte ambiental das intervenções realizadas durante o ciclo
de vida do pavimento, quantificando a energia consumida e o seu equivalente em pegada de carbono.

ABSTRACT

The recycling of Construction and Demolition Waste (CDW) has been recognised as a solution that makes
for an efficient management of these materials in civil engineering works and to reduction of natural
resources extraction. Bound and unbound layers of transport infrastructures are an example of
application of materials obtained from CDW, allowing the incorporation of large amounts of these
materials, thus contributing to more sustainable construction practices and rehabilitation processes. The
recovery of all waste generated during the infrastructures life cycle is of great interest given the current
demand and future foreseeable shortage of resources, the growing need to care for and preserve the
environment and bearing in mind the ultimate goal of “zero landfill”,. To that end, it is therefore
necessary to quantify and adequately characterize the materials that constitute the road pavement from
the viewpoint of suppliers of raw materials to be used in future maintenance, conservation and
rehabilitation operations. Based on the main results obtained in a study carried out on a national road,
this paper quantifies CDW produced during the expected pavement maintenance, conservation and
rehabilitation and evaluate its recycling potential as secondary materials for transportation infrastructures.
Besides, taking into account the objectives of a circular economy, it is presented the environmental
impact of the various interventions carried out through the whole life cycle, by quantifying of the
consumed energy and its equivalent as carbon footprint.

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1- INTRODUÇÃO

Os pavimentos constituídos por camadas betuminosas são, em geral, o tipo de pavimento mais
representativo da rede rodoviária da grande maioria dos países desenvolvidos, nos quais se inclui
Portugal. Embora os custos de construção com estes materiais estejam entre os mais baixos, os impactes
ambientais ao longo do ciclo de vida das infraestruturas de transporte são elevados, devido, em grande
parte, às atividades associadas ao fabrico e à aplicação das misturas betuminosas. Esses impactes
ambientais traduzem-se, principalmente, no consumo de energia e na emissão de gases com efeito de
estufa (GEE), quer na fase inicial de produção quer durante o transporte (Butt et al., 2014), ambas sendo
responsáveis por uma importante e, não desejável, pegada de carbono. Mazumder et al. (2016)
demonstraram que as misturas betuminosas fabricadas a quente podem contribuir, em termos da
toxicidade humana (impacto nocivo na saúde humana), com 97% na água e 72% no ar e, relativamente
à toxicidade ecológica (impacto nocivo no ambiente), em mais de 60% no ar.

A inovação em materiais e de processos construtivos, promovendo essencialmente a poupança de


recursos naturais e a redução na produção de resíduos, tem dado um contributo importante para a
diminuição dos impactes ambientais na pavimentação e, consequentemente, no desenvolvimento de um
modelo mais sustentável da economia. Contrapondo-se ao tradicional modelo linear, o modelo de
economia circular visa a promoção do fluxo circular (fechado) dos materiais, através de múltiplas fases,
minimizando a entrada de recursos e a produção de resíduos (Geissdoerfer et al., 2017; Korhonen et al.,
2018). A transformação dos resíduos em novos recursos contribui para o aumento da eficiência dos
processos e do fecho do ciclo na economia circular. Mais recentemente, a Comissão Europeia (CE)
procedeu à revisão da legislação sobre a gestão dos resíduos na União Europeia (UE), de forma a
estimular ainda mais a economia circular no ciclo de vida dos produtos, através da reciclagem e
reutilização dos materiais, com benefícios mais claros para o ambiente (CE, 2018a).

Recentemente, em dezembro de 2017, foi publicado em Portugal o Plano de Ação para a Economia
Circular, estratégia “que assenta na prevenção, redução, reutilização, recuperação e reciclagem de
materiais e energia. Substituindo o conceito de ”fim-de-vida” da economia linear por novos fluxos
circulares de reutilização, restauração e renovação. Num processo integrado, a economia circular é vista
como um elemento-chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no
consumo de recursos; relação tradicionalmente vista como inexorável” (PAEC, 2017).

Em 2013, a produção total de resíduos na UE ascendeu a cerca de 2,5 biliões de toneladas, mas 1,6
biliões não foram reutilizados ou reciclados (64%). A este défice de reutilização e reciclagem está
associada, consequentemente, uma perda para a economia que seria desejável evitar (CE, 2018a).

Os RCD são resultantes das múltiplas e complexas atividades de construção, conservação e reabilitação
das obras de engenharia civil, incluindo as infraestruturas de transporte. Estes resíduos, das mais
diversas origens, são constituídos por diferentes tipos de materiais, como por exemplo betão, agregados
e pedra natural, elementos de alvenaria e materiais betuminosos. Os RCD constituem um dos maiores
fluxos de resíduos da UE são, quer em volume quer em massa, representando cerca de 25% a 30% de
todos os resíduos gerados (CE, 2018b). Embora nos anos mais recentes se tenha assistido de forma
positiva ao encaminhamento de RCD não perigosos para reutilização, reciclagem ou outras formas de
valorização, muito pela necessidade de aplicação de legislação, como é o caso da Diretiva-Quadro
2008/98/CE (CE, 2008), considera-se que o potencial de reciclagem e reutilização de RCD não está ainda
totalmente explorado. O aumento de confiança na qualidade e vantagens de RCD é essencial para
incentivar ainda mais a sua aplicação no setor de construção, incluindo nas infraestruturas de transporte.

As infraestruturas de transportes assumem grande relevância no âmbito da valorização dos RCD, não só
porque são uma importante fonte geradora dos mesmos, mas também pelas muitas oportunidades que
criam para a sua aplicação através da reciclagem. Um exemplo é o caso das misturas betuminosas
recuperadas (RAP – “Reclaimed asphalt pavement”), que são produzidas em obras de conservação e
reabilitação de pavimentos betuminosos. Atualmente, a aplicação destes resíduos é feita principalmente
em camadas não ligadas de misturas de agregados (camadas de base e sub-base) (Freire et al., 2011,
2012 e 2013; Hoppe et al., 2015) ou em camadas ligadas de novas misturas betuminosas, em taxas de
incorporação que, desejavelmente, devem ser as maiores possíveis (FHWA, 2011).

A análise do ciclo de vida (LCA – “Life cycle assessment”) é uma metodologia normalizada, estabelecida
internacionalmente, e destinada à avaliação dos aspetos ambientais relacionados com produtos, serviços,
processos ou atividades, através da identificação e quantificação dos fluxos de entrada e saída utilizados
pelo sistema e seus destinatários numa perspetiva global de ciclo de vida, que no caso dos materiais
usados na construção, inclui desde a extração de matérias-primas, passando por todas as etapas
intermédias, até ao destino final (Baumann e Tillman, 2003). No final da década de 1990 e no início dos
anos 2000, a Organização Internacional de Normalização (ISO) publicou a série ISO 14040 sobre LCA,
que inclui atualmente a ISO 14040, relativa aos princípios e estrutura (ISO, 2006a) e a ISO 14044 sobre

1142
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

os requisitos e diretrizes (ISO, 2006b). Este normativo tem um vasto campo de aplicação em diferentes
áreas, como é o caso dos resíduos e, em particular, dos RCD (JRC-IES, 2011).

A pegada de carbono (CF – “Carbon Footprint”) é um método utilizado para medir a quantidade de
emissões de GEE associada a uma empresa ou ao ciclo de vida de uma atividade ou um produto/serviço,
com vista a avaliar a sua contribuição para as alterações climáticas (Fullana et al., 2008; PB-WSP, 2009;
Balaguera et al., 2018). A CF não inclui apenas as emissões de CO2, mas também outros GEE que
contribuem para o aquecimento global, convertendo os resultados individuais de cada GEE para unidades
equivalentes de CO2. Pode considerar-se que a metodologia CF é uma versão particular do LCA, em que
apenas se considera o impacto relativo ao aquecimento global (Bala et al., 2010; Baitz et al., 2013). Da
mesma forma que o LCA, a ISO estabeleceu uma série de normas internacionais destinada à
quantificação de emissões de GEE, como por exemplo a ISO 14064-1 (ISO, 2006) e a ISO/TR 14069 (ISO,
2013). Se, por um lado, o tráfego é o principal responsável pelas emissões de GEE, por outro, é
reconhecido também que outras emissões com significado são geradas durante as várias etapas do ciclo
de vida dos pavimentos: extração e transporte de matérias-primas, produção e transporte de misturas
betuminosas e outros materiais para o local da obra, processos de construção, conservação e reabilitação
do pavimento, demolição e transporte de resíduos, reciclagem e deposição de resíduos. Assim, é também
importante a quantificação das emissões de GEE para as várias fases do ciclo de vida da estrada, pois tal
permitirá fundamentar as melhores estratégias de atuação, não só em prol do ambiente, mas também
com vantagens económicas (Sreedhar et al., 2014; Vorobjovas et al., 2017).

O ciclo de vida de uma estrada pode assim ser dividido em várias etapas: extração das matérias-primas,
processamento das matérias-primas, construção, operação, conservação, demolição, reciclagem e
tratamento de resíduos. Em relação aos pavimentos, muitos têm sido os autores que têm recorrido à
metodologia do LCA para estudar medidas com vista à redução do consumo de recursos naturais e do
impacte ambiental ao longo do ciclo de vida, como por exemplo a mudança nos métodos construtivos,
com a adoção de novas tecnologias, ou a seleção de outros materiais (Stripple, 2001; Birgisdóttir, 2005;
Zhang et al., 2008; Huang et al., 2009; Santero et al., 2010a, 2010b, 2011a e 2011b; Butt et al., 2014,
AzariJafar et al., 2016; Inyim et al., 2016; Batouli et al., 2017; Santos et al., 2017; Umer et al., 2017).

A bibliografia é ainda escassa sobre a utilização do LCA no âmbito da utilização de RAP em misturas
betuminosas. Alguns autores mostraram que há, em geral, uma redução do consumo de energia e das
emissões de GEE com o aumento da taxa de incorporação de RAP (Jullien et al., 2006; Ventura et al.,
2008; Aurangzeb et al., 2014). Vidal et al. (2013) mostraram que em misturas betuminosas temperadas
com incorporação de 15% de RAP foi possível ter uma diminuição de 13% a 14% nos impactes
ambientais. Outra das possíveis aplicações do RAP é nas camadas granulares não ligadas de base e sub-
base. Neves et al. (2013) estabeleceram um catálogo de pavimentos que contempla a aplicação de RAP
em camadas granulares não ligadas de pavimentos de estradas e arruamentos de baixo tráfego. Neste
âmbito, também a metodologia LCA pode dar um contributo à avaliação das vantagens ambientais da
utilização de RAP, bem como de outros RCD, como é o caso do betão britado, em camadas não ligadas e
em comparação com a utilização de agregados naturais (Donalson et al., 2011).

O artigo tem como objetivo a avaliação do potencial de reciclagem de RCD produzidos em obras de
reabilitação de infraestruturas rodoviárias como materiais secundários para a sua incorporação nas
mesmas obras, que demonstre as vantagens de implementação de um modelo de economia circular ao
longo do ciclo de vida da obra. Essa avaliação é suportada na estimativa das emissões de CO2 associadas,
por um lado, às operações de reabilitação do pavimento (atividades geradoras e consumidoras de RCD) e,
por outro lado, à deposição em aterro desses mesmos resíduos por oposição à sua reciclagem. O artigo é
baseado numa abordagem a uma obra real (caso da estrada nacional EN4) onde se procedeu a um
estudo da estimativa da pegada de carbono associada às várias atividades de construção e reabilitação,
bem como às diferentes abordagens de gestão da produção e aplicação dos RCD.

2- ESPECIFICAÇÕES PORTUGUESAS

À semelhança da utilização de recursos naturais na construção e conservação de infraestruturas


rodoviárias, também o uso de materiais provenientes de RCD exige a especificação das propriedades e
dos requisitos mínimos para essas aplicações, garantindo assim o desempenho e a durabilidade
adequados ao longo do seu ciclo de vida.

Com a publicação do Decreto-Lei n.o 46/2008, relativo ao regime de gestão de RCD, foi estabelecido que
a utilização em obra dos materiais provenientes de RCD é feita em observância de normas nacionais ou
europeias ou, na sua ausência, de especificações técnicas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC). A publicação do primeiro conjunto de Especificações LNEC abrangia as principais aplicações dos
materiais processados a partir de RCD, das quais se destacam, no âmbito das infraestruturas rodoviárias,
a Especificação LNEC E 473 – Guia para a aplicação de agregados reciclados em camadas não ligadas de
pavimentos (LNEC, 2009a) e a Especificação LNEC E 474 – Guia para a utilização de materiais reciclados

1143
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provenientes de resíduos de construção e demolição em aterro e camada de leito de infraestruturas de


transporte (LNEC, 2009b). A experiência e a investigação desenvolvida nos anos seguintes permitiram a
elaboração de um segundo conjunto de especificações, no qual se incluí a Especificação LNEC E 485 -
Guia para a utilização de agregados reciclados provenientes de misturas betuminosas recuperadas para
camadas não ligadas de pavimentos rodoviários (LNEC, 2016).

Com o objetivo de aumentar a confiança nos materiais obtidos a partir de RCD, as Especificações LNEC
apresentam um conjunto comum de recomendações relativas às boas práticas de processamento e
armazenamento dos RCD, visando assegurar maior homogeneidade dos materiais, e à proteção do
ambiente, analisando a presença de resíduos perigosos e a libertação de substâncias perigosas em
ensaios de lixiviação. Nestas especificações, são estabelecidas classes (Quadro 1), com base nas
proporções relativas dos constituintes presentes nos materiais processados a partir de RCD, em relação
às quais são apresentados os requisitos de conformidade (Quadro 2), as condições de aplicação e a
frequência de ensaios para controlar a qualidade desses materiais. De salientar que as Especificações
LNEC E 473 e E 483 dizem respeito a materiais abrangidos por normas harmonizadas pelo que têm
obrigatoriamente de ter aposta a marcação CE conforme disposto nas referidas normas.

Em 2016, foi elaborado, na UE, o Protocolo de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição da UE (CE,
2016), que visa melhorar a identificação, a triagem, a logística e o processamento e a gestão da
qualidade destes resíduos, bem como minimizar as barreiras à reutilização e reciclagem dos RCD. Este
protocolo pretende contribuir para o aumento da valorização dos RCD e alcançar a meta de 70% de
reciclagem estabelecida, para este fluxo, na Diretiva-Quadro 2008/98/CE (CE, 2008), ao mesmo tempo
que tem em consideração as oportunidades no uso de recursos no setor da construção (CE, 2014a) e a
implementação do plano da economia circular na UE (CE, 2014b). Contudo, este guia não identifica as
características nem os requisitos exigidos para os materiais valorizados para as diferentes aplicações,
continuando assim a ser relevante o recurso às Especificações LNEC.

Quadro 1 – Classificação dos materiais reciclados

Especificação E 473 E 474 E 483

Classes B C B MB C RAP

Rc+Ru+Rg 90 50 90 70 sem limite 40

Rg  5  5 10  25 25 5


Constituintes

Ra   30 5 30 30  30 e  100

Rb  10 0   – –

Rb+Rs   10 70 sem limite –

FL  5  5  5  5  5  5

X 1 1 1 1 1 1


Rc – betão, produtos de betão e argamassa; Ru – agregados não ligados, pedra natural, agregados tratados
com ligantes hidráulicos; Rg – vidro; Ra – materiais betuminosos; Rb – elementos de alvenaria; Rs – solos;
FL material flutuante em volume; X – outros.

Quadro 2 - Requisitos de conformidade


Especificação LNEC
Parâmetros Propriedade
E 473 E 474 E 483
Dimensão   
Sobretamanhos  

Classe de granulometria  
Geométricos 
Teor de finos   
Qualidade dos finos   
Partículas esmagadas e partidas e roladas  

Resistência à fragmentação   
Mecânicos
Resistência ao desgaste  

Teor em betume 
 
Químicos Teor de sulfatos solúveis em água   
Libertação de substâncias perigosas   

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3- CASO DE ESTUDO

3.1 - Características do troço a beneficiar

O projeto de execução em análise compreende a beneficiação de um troço da EN4, definido entre a


rotunda da EN4 com a E118, ao km 18+750 (de acordo com a quilometragem do eixo de referência) e a
rotunda com a EN10 em Pegões, ao km 44+257, apresentando cerca de 25 500 m de extensão. Segundo
o Plano Rodoviário Nacional 2000 (PRN2000), o troço em apreço integra a concessão da Infraestruturas
de Portugal, S.A. (IP) e faz parte de Rede Complementar da Rede Rodoviária Nacional (CENOR, 2016a).

O lanço em análise apresenta um perfil de 1 x 2 vias, com uma faixa de rodagem comportando uma
largura de 7,0 m na sua generalidade e bermas com larguras variáveis, algumas vezes não pavimentadas.
Nos trechos em escavação, existem valetas com grande frequência revestidas em betão. Em alguns casos,
após a berma pavimentada existe um desnível para o terreno / plataforma contígua. Noutros casos, a
berma é praticamente inexistente (para além de não existência de berma pavimentada o espaço
disponível, a seguir à faixa de rodagem, nem sequer se pode considerar berma não pavimentada).Ao
longo de toda a extensão do trecho verifica-se a existência de 8 obras de arte (1 em viaduto e 7 em
pontões).

Da análise dos elementos disponibilizados, pode concluir-se que a estrutura do pavimento é do tipo
flexível e de acordo com a informação obtida a partir de sondagens à rotação efetuadas no pavimento,
verifica-se que o trecho em pavimento flexível foi já sujeito a muitas ações de beneficiação ao longo da
sua vida útil, não tendo sido possível, a partir das sondagens à rotação e poços realizados, definir uma
estrutura contínua para o pavimento, nem uma correlação com os mapas do sistema de gestão de
pavimentos disponibilizados.

Da inspeção visual efetuada na fase de caracterização da situação existente, observou-se que, na


generalidade, o pavimento apresentava degradações devido ao elevado nível de fadiga. As degradações
observadas foram, entre outras, fendilhamento tipo pele de crocodilo, fendas transversais e longitudinais,
e deformações devido a raízes de árvores. O pavimento apresentava também cavado de rodeiras.

No Quadro 3 apresentam-se as espessuras das camadas constituintes do troço do pavimento e fundação


em estudo, obtidas a partir das sondagens à rotação e poços realizadas no pavimento.

Quadro 3 - Espessuras (m) das camadas constituintes do pavimento (CENOR, 2016a)

Localização
P3 P8 P2 P7 P4 P6 P5 P1 P11 P13 P12

Camadas
22+ 400

23+900

27+500

28+800

31+100

31+800

32+900

33+950

40+750

42+300

43+550
Misturas Betuminosas (MB) 0,10 0,12 0,08 0,12 0,12 0,12 0,12 0,14 0,16 0,19 0,12

Base (ABGE) 0,26 0,16 0,46 0,20 0,28 0,20 0,18 0,22 0,16 0,23 0,16

SB (solos areno-siltosos) --- --- --- 0,12 --- --- --- 0,14 --- --- ---

Solo de fundação 0,28 0,16 0,16 0,24 0,16 0,20 0,18 0,16 0,18 0,22 0,18
Legenda: MB – misturas betuminosas; ABGE – agregados britados de granulometria extensa; SB – sub-base.

3.2 - Avaliação do potencial de reciclagem

Da análise da estrutura inicial do pavimento a reabilitar pretendeu-se avaliar o potencial de reciclagem,


através da avaliação da quantidade de material que esta infraestrutura poderá fornecer quando
intervencionada, considerando todo o pavimento como uma “pedreira linear”, ou seja, com capacidade
para fornecer material, com diversas características e com origens nas várias camadas, para a própria
reabilitação.

No Quadro 4 apresentam-se assim, função das várias camadas que constituem o pavimento, as
quantidades parciais estimadas passíveis de disponibilização futura, bem como os valores totais obtidos a
partir dos valores médios das espessuras das camadas, que totalizam cerca de 120 000 toneladas de
RCD, com potencial de reciclagem e aplicação como agregados reciclados para aplicação em camadas
ligadas ou não ligadas. Foi considerado neste valor o somatório das misturas betuminosas e dos
agregados britados de granulometria extensa que constituem as camadas não ligadas.

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Quadro 4- Espessuras das camadas constituintes do pavimento e quantidades estimadas de RCD

Material disponível
Espessuras médias das camadas (m)
Volume (m3) Massa (t)
0,13 de MB 22 556 53 006
0,23 de ABGE 40 730 89 607
0,13 de SB Solos 23 205 41 769
0,19 de Solos fundação 34 402 ---
Misturas betuminosas 22 556 53 006
Total
Agregado britado de granulometria extensa 30 345 66 759
Legenda: MB – misturas betuminosas; ABGE – agregados britados de granulometria extensa; SB – sub-base.

O Quadro 5 apresenta as várias estruturas de pavimento adotadas nas intervenções previstas no projeto
de execução para a reabilitação do pavimento da EN4, nomeadamente a fresagem das misturas
betuminosas existentes, sendo também indicados os vários tipos de misturas betuminosas ou de
agregados ligados ou não ligados a aplicar (CENOR, 2016a). São indicadas as espessuras das
intervenções, bem como as respetivas quantidades de materiais envolvidos, apresentados em termos de
áreas.

Os valores totais, por tipo de material a aplicar, são apresentados no Quadro 6, permitindo estimar uma
taxa de reciclagem possível na obra em apreço de 81%, considerando o material disponível na
infraestrutura e o material efetivamente reciclado na reabilitação, envolvendo a camada de mistura
reciclada com cimento.

Tendo em conta o Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição (PPGRCD) da


obra de reabilitação da EN 4, foi prevista a incorporação de materiais reciclados, tendo-se optado pela
utilização de materiais provenientes da fresagem (agregados reciclados e misturas betuminosas) na
camada de base, com a aplicação de uma mistura reciclada in situ tratada com cimento. A quantidade
prevista em projeto de execução, e integrada na obra, foi de 21 849 m3, o que corresponde a uma
quantidade reutilizada, relativamente ao total de materiais usados, de 74% (CENOR, 2016b).

A diferença na taxa de reutilização, entre o previsto no PPGRCD e o calculado a partir dos dados do
Quadro 6, reside no facto deste considerar os materiais disponíveis ao nível do pavimento, sendo que o
PPGRCD considera o total de RCD gerados na empreitada.

Quadro 5 - Estruturas adotadas para o pavimento a reabilitar

Estruturas tipo

Constituição dos
Camada TIPO I TIPO II TIPO III TIPO IV TIPO V
pavimentos

e (m) área (m2) e (m) área (m2) e (m) área (m2) e (m) área (m2) e (m) área (m2)

AC14 SURF PMB


1A Desgaste 0,04 82 712,1 0,04 44 593,5 - - 0,04 7125,5 - -
45/80-65 (BBr)
SMA11 SURF PMB
1 Desgaste - - - 0,04 96 367,2 - - 0,04 3904,1
45/80-65
AC14 SURF 35/50
2 Desgaste - - - - - - - - -
(BB)
AC20 BIN 35/50
3 Ligação 0,05 82 713,0 - - - - - - -
(MBD)

4 Base AC20 BASE 35/50 - - - - - - - - -

5 Ligação MBR-BBA - - 0,04 44 593,5 0,04 96 367,2 - - - -

AC20 BASE 10/20


6 Base - - - 0,07 7126,0 0,09 3905,0
(MBAM)
MISTURA RECI-
7 Base CLADA IN SITU - - 0,30 44 593,5 0,30 96 367,2 - - - -
COM CIMENTO

8 Base ABGE - - - - - - - - -

9 Sub-base ABGE - - - - - - - - -

10 Betuminosas FRESAGEM 0,07 82 712,1 - - - 0,08 7125,5 0,09 3904,1

Legenda:
e – espessura; Tipo I – km 18+750 ao km 27+800
Tipo II – km 27+800 ao 29+500, 32+000 ao 33+000, 38+000 ao 39+000, 41+000 ao 41+925 e 42+500 ao 43+000
Tipo III – km 29+500 ao 32+000, 33+000 ao 38+000, 39+000 ao 41+000 e 43+000 ao 43+775
Tipo IV – km 41+925 ao km 42+500; Tipo V – km 43+775 ao km 44+233.

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Quadro 6 - Estimativa de quantidades de materiais aplicados na reabilitação do troço da EN4

Total por material/atividade


Camada Constituição dos pavimentos
Área (m2) Massa (t)

1A Desgaste AC14 SURF PMB 45/80 - 65 (BBr) 134 431 12 690,0

1 Desgaste SMA11 SURF PMB 45/80 - 65 100 271 9 465,6

2 Desgaste AC14 SURF 35/50 (BB) --- ---

3 Ligação AC20 BIN 35/50 (MBD) 82 713 9677,4

4 Base AC20 BASE 35/50 --- ---

5 Ligação MBR-BBA 140 961 12 968,4

6 Base AC20 BASE 10/20 (MBAM) 11 031 2 040,6


MISTURA RECICLADA IN SITU COM
7 Base 140 961 97 262,8
CIMENTO
8 Base ABGE --- ---

9 Sub-base ABGE --- ---

10 Betuminosas FRESAGEM 93 742 10 066,9

Considerando-se agora uma otimização da utilização dos RCD passíveis de obtenção do pavimento e que
poderia ser efetuada no âmbito do desenvolvimento do projeto de execução, tendo em vista a
reabilitação do pavimento da EN4, foi contabilizada a introdução de misturas betuminosas a recuperar
disponíveis nos trabalhos de desconstrução da empreitada, com diferentes taxas de incorporação,
visando um estudo do ponto de vista económico.

Assim, atendendo a uma incorporação nas percentagens apresentadas no Quadro 7, estimadas para a
constituição de três tipos de misturas betuminosas a aplicar, resulta num incremento da taxa de
reciclagem em 4%, a que corresponde um decréscimo de 5% no custo associado à produção das
misturas betuminosas.

Quadro 7 - Estimativa de custos com diferentes taxas de reciclagem

Taxa de reciclagem de 81% Taxa de reciclagem de 85%

Constituição dos pavimentos


Toneladas Custo Valor Incorporação de Custo Valor
aplicadas /t MB a recuperar /t

AC14 SURF PMB 45/80 - 65 (BBr) 12 690 55 € 697 950,00 € 15% 50 € 634 500.00 €

SMA11 SURF PMB 45/80 - 65 9466 80 € 757 280,00 € - 80 € 757 280.00 €

AC20 BIN 35/50 (MBD) 9677 40 € 387 080,00 € 20% 35 € 338 695.00 €

MBR-BBA 12 968 50 € 648 400,00 € - 50 € 648 400.00 €

AC20 BASE 10/20 (MBAM) 2041 45 € 91 845,00 € 20% 40 € 81 640.00 €


MISTURA RECICLADA IN SITU
97 263 -
COM CIMENTO
Total 2 582 555,00 € 2 460 515.00 €

3.3 - Estimativa da pegada de carbono

Com o objetivo de analisar comparativamente o valor de CF associado ao processo de reabilitação


previsto em projeto de execução para o pavimento da EN4 e, tendo em consideração as quantidades de
materiais “disponíveis” e os aplicados nas várias camadas, foram estimadas as emissões de CO2.

No Quadro 8 apresentam-se os fatores de conversão para cálculo das emissões, para os vários tipos de
materiais usados na reabilitação, e ainda tendo em consideração as diferentes origens e destinos finais
(UK, 2017).

Para os materiais obtidos a partir de materiais virgens, os fatores de conversão cobrem os materiais de
extração, processamento primário, fabricação e transporte, até à sua disponibilização para aplicação.
Para os materiais secundários, os fatores de conversão abrangem a triagem, o processamento/fabrico e o
transporte até à sua disponibilização para aplicação.

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Quadro 8 - Fatores de conversão para cálculo das emissões de CO2 (UK, 2017)
Produção a Produção a partir da
Deposição em
partir de mate- reciclagem de materiais
aterro
Atividade Materiais Unidade riais virgens com a mesma origem
kg CO2e kg CO2e kg CO2e

Agregados Tonelada 7,9 3,3 1,4


Misturas
Construção Tonelada 39,2 28,8 1,4
betuminosas
Betão Tonelada 131,9 3,3 1,4

No Quadro 9 apresentam-se os valores de emissão de CO2 calculados tendo em consideração que as


misturas betuminosas foram fabricadas a partir de materiais virgens e que a camada de base reciclada in
situ com cimento resultou da reciclagem do material fresado do pavimento, obtendo-se um valor total de
2,45E+06 kgCO2.

Quadro 9 - Emissões de CO2 na obra de reabilitação da EN4

Camada Constituição dos pavimentos kgCO2

1A Desgaste AC14 SURF PMB 45/80 - 65 (BBr) 4,97E+05


1 Desgaste SMA11 SURF PMB 45/80 - 65 3,71E+05
2 Desgaste AC14 SURF 35/50 (BB)

3 Ligação AC20 BIN 35/50 (MBD) 3,79E+05


4 Base AC20 BASE 35/50

5 Ligação MBR-BBA 5,08E+05


6 Base AC20 BASE 10/20 (MBAM) 8,00E+04
7 Base MISTURA RECICLADA IN SITU COM CIMENTO 3,21E+05
8 Base ABGE ---
9 Sub-base ABGE ---

10 Betuminosas FRESAGEM 2,90E+05

TOTAL 2,45E+06

Por oposição à reciclagem dos materiais existentes no pavimento, e considerando a estimativa para o
material disponível na EN4, de cerca de 1,20E+05 toneladas, e ainda o material efetivamente utilizado na
reabilitação proposta no projeto de execução, de cerca de 9,73E+04 toneladas, caso estes materiais
fossem totalmente depositados em aterro verificar-se-iam emissões de CO2 de 1,68E0+05 e de 1,36E+05,
respetivamente.

Da análise comparativa dos valores obtidos, em termos de emissões de CO2, com os resultantes da
reciclagem do material durante as operações de reabilitação do pavimento, poderá considerar-se, numa
análise mais superficial e inconsequente, que a deposição em aterro teria vantagens.

Contudo, com a deposição em aterro, complementarmente à redução das às emissões quantificadas, não
haveria a possibilidade de construir uma camada de base reciclada in situ, nem fabricar misturas
betuminosas com incorporação de RCD, estando em causa os princípios de uma economia circular. Sendo
que, de qualquer forma, os valores de emissões de CO2 associado ao fabrico e aplicação de novas
camadas de misturas betuminosas, a partir de materiais virgens, se manteriam.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a apresentação desta comunicação pretendeu-se descrever uma abordagem à avaliação de


materiais reciclados de RCD produzidos e a aplicar em infraestruturas de transporte, tema da maior
importância e atualidade em que a economia circular assume um papel preponderante. Trata-se de uma
abordagem inicial aplicada ao caso real da beneficiação de um troço de estrada nacional.

Foram apresentados os principais resultados de um estudo realizado sobre os dados constantes do


projeto de execução da estrada nacional EN4, considerando as atividades de conservação e reabilitação
do pavimento, durante o seu ciclo de vida, com a avaliação das quantidades de RCD disponibilizadas
durante as operações realizadas, tendo como objetivo avaliar o seu potencial de reciclagem, como

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materiais secundários para infraestruturas de transporte. Complementarmente, estimou-se o valor das


emissões de CO2 associadas às operações de reabilitação do pavimento, nomeadamente com a produção
de novas misturas betuminosas e a reciclagem in situ com cimento. Foi também avaliado o impacto em
termos de emissões de CO2 associadas à deposição em aterro do material disponível no pavimento da
EN4, por oposição à sua reciclagem.

Como primeira conclusão alcançada confirmou-se o potencial existente numa infraestrutura de


transportes com desenvolvimento linear, em termos de poder ser considerada como uma “pedreira linear”
que poderá disponibilizar, ao longo da vida útil, material para a sua própria reabilitação.

Observou-se ainda o impacto que o incremento da taxa de reciclagem com a incorporação de misturas
betuminosas fresadas poderá ter no orçamento de reabilitação de um pavimento bem como nas emissões
de CO2.

Como desenvolvimentos futuros destaca-se a aplicação do estudo apresentado a diferentes tipos e


estruturas de pavimentos, constituídos por diferentes materiais, permitindo uma análise comparativa do
potencial de reciclagem e de emissões de CO 2 associadas às operações de reabilitação do pavimento. A
considerar ainda no futuro estará também a análise das emissões de CO2 de forma mais detalhada, por
operação de desconstrução e também de construção, de modo a permitir identificar quais a ações que
mais constituem para as emissões de CO2 e sobre as quais podermos atuar de modo a minimizar os
valores obtidos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da Infraestruturas de Portugal, S.A. pela disponibilização dos dados
referentes à EN4.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE AREIA RECICLADA PRODUZIDA A


PARTIR DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DO MUNICÍPIO DE
NATAL/RN PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA

GEOTECHNICAL CHARACTERIZATION OF RECYCLED SAND PRODUCED FROM


CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE OF THE MUNICIPALITY OF
NATAL/RN TO ROAD PAVING

Couto, Leonardo; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil,


leonardoaurelio8@hotmail.com
Câmara, Railton; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, railtoncamara@hotmail.com
Medeiros, Glênio; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, gleniomedeiros@gmail.com
Brazão, Abraão; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, abraaojhonny@hotmail.com
Santos, Ewerton; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, weynemi@hotmail.com
França, Fagner; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, fagnerfranca@gmail.com

RESUMO

A crescente geração dos resíduos de construções, demolições e reformas na construção civil vem
exigindo soluções alternativas para uma destinação mais sustentável. O objetivo dessa pesquisa é a
caracterização das propriedades geotécnicas de uma areia proveniente de resíduos de construção e
demolição (RCD), de forma a analisar a sua viabilidade técnica e verificar seu potencial como matéria-
prima secundária para pavimentação. Os ensaios de caracterização permitiram classificar o material
estudado como uma areia bem graduada (SW) segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos.
Para o sistema de classificação Rodoviário, as amostras se enquadraram no grupo A-3 (areia fina), sendo
considerado pelo método como um material de comportamento de excelente a bom para camadas de
subleito. Os resultados dos ensaios de Índice Suporte Califórnia (ISC) mostraram que o material
apresenta boa resistência e expansão nula, atendendo aos requisitos do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2006) para uso como material de revestimento primário e sub-base
na pavimentação rodoviária.

ABSTRACT

The growing generation of construction, demolition and construction waste has been demanding alternative
solutions for a more sustainable destination. The objective of this research is to characterize the geotechnical
properties of sand from construction and demolition waste (RCD), in order to analyze its technical viability
and verify its potential as a secondary raw material for paving. The characterization tests allowed to classify
the studied material as a well graded sand (SW) according to the Unified Soil Classification System. For the
Road classification system, the samples were classified in group A-3 (fine sand), being considered by the
method as an excellent to good behavior material for subgrade layers. The results of the California Support
Index (ISC) tests showed that the material exhibits good strength and zero expansion, meeting the
requirements of the National Department of Transportation Infrastructure (DNIT) for use as primary coating
material and sub-base under to road paving.

1- INTRODUÇÃO

A indústria da Construção Civil é uma das maiores responsáveis pela geração de emprego e renda e é um
dos grandes instrumentos no desenvolvimento da economia. Todavia, na medida em que o setor cresce,
aumenta a produção de resíduos provenientes de suas atividades. No Brasil 50 a 70% da massa de
resíduos sólidos gerados no meio urbano é de Resíduos da Construção e Resíduos da Construção e
Demolição (RCD) são aqueles gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de
construção civil, incluindo os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis. De
acordo com a Resolução n°307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), estes resíduos são
comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (CONAMA, 2002). Quando dispostos de
maneira inadequada, tais resíduos podem causam sérios problemas ambientais como: enchentes,
proliferação de vetores nocivos à saúde, interdição parcial de vias e degradação do ambiente urbano
(John e Agopyan, 2000).

O setor da construção civil, por ser um grande gerador de resíduos, deve ser o responsável pela sua
destinação adequada. Tecnologias adequadas para reciclagem destes produtos têm sido desenvolvidas e
o reuso dos RCD pelo próprio setor que os gerou tem demostrado ser uma prática viável.

1153
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O desenvolvimento desse trabalho é justificável devido a crescente geração dos resíduos sólidos
resultantes de construções, demolições e reformas na construção civil, sendo a reciclagem desse material
uma possibilidade alternativa para os municípios desafogarem seus aterros sanitários. Assim o presente
estudo almeja a caracterização das propriedades geotécnicas de uma areia reciclada produzida a partir do
RCD. Através de ensaios e da análise de seus resultados, possibilitar a fundamentação técnica do uso
deste material em aterros para pavimentação.

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 - Geração de RCD

A quantidade de RCD coletada no Brasil foi 99.354 t/dia no ano de 2010, segundo estimativas da
Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil (ABRELPE, 2010). Para as
diferentes regiões do país, a quantidade coletada em cada região está apresentada no Quadro 1.

Quadro 1 - Quantidade de RCD coletada em cada região do Brasil no ano de 2010 (ABRELPE, 2010)
Região RCD coletado (t/dia)
Norte 3.514
Nordeste 17.995
Centro-oeste 11.525
Sudeste 51.582
Sul 14.738
Brasil 99.354

Segundo dados do Plano Municipal de Saneamento Básico da cidade de natal elaborado no ano de 2016,
foram recolhidas em vias e logradouros públicos a quantidade de 103.084 toneladas de RCD no ano de
2013 (Natal, 2016).

2.2 - Classificação do RCD

A Resolução nº 307 do CONAMA (2002), que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a
gestão dos resíduos da construção civil, define que tais Resíduos devem ser classificados da seguinte
forma:

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura,


inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos,


telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio-
fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão,
metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;

IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes,
óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e
materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

2.3 - Destinação do RCD

Segundo John e Agopyan (2000) o problema principal com os RCD, do ponto de vista ambiental, está
relacionado com a sua deposição irregular e aos grandes volumes produzidos.

Corrêa et al. (2009) afirmam que a deposição irregular ainda é uma prática frequente nos países em
desenvolvimento, e que esta é feita em: vales, margens de rios, a céu aberto, em terrenos baldios, em
vias públicas ou em aterros sem qualquer tratamento específico.

1154
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A Resolução nº 307 do CONAMA (2002) esclarece que os resíduos da construção civil, após triagem,
deverão ser destinados das seguintes formas:

I - Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados ou encaminhados a aterro de


resíduos classe A de reservação de material para usos futuros;

II - Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento


temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;

III - Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas
técnicas específicas.

IV - Classe D: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas


técnicas específicas.

2.4 - Reutilização do RCD

De acordo com a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição
(ABRECON, 2017), os resíduos de argamassas, dos blocos de cimento para alvenaria e dos concretos
podem ser transformados em outros materiais de grande serventia na pavimentação rodoviária e em
outros segmentos da engenharia. Os produtos que podem ser obtidos desses resíduos, com suas
características e recomendações de uso estão apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 - Tipos de produtos que podem ser obtidos a partir da transformação dos resíduos de construção e
demolição – Características e aplicações (ABRECON, 2017)

Produto Características Uso Recomendado

Material com dimensão máxima


Areia Argamassas de assentamento de alvenaria de
característica inferior a 4,8 mm, isento de
reciclada vedação, contrapisos, solo-cimento, blocos e
impurezas, proveniente da reciclagem de
tijolos de vedação.
concreto e blocos de concreto.

Pedrisco Material com dimensão máxima característica de Fabricação de artefatos de concreto, como blocos
reciclado 6,3 mm, isento de impurezas, proveniente da de vedação, pisos intertravados, manilhas de
reciclagem de concreto e blocos de concreto. esgoto, entre outros.

Material com dimensão máxima


Brita
característica inferior a 39 mm, isento de Fabricação de concretos não estruturais e obras
reciclada
impurezas, proveniente da reciclagem de de drenagens.
concreto e blocos de concreto.

Material proveniente da reciclagem de resíduos Obras de base e sub-base de pavimentos, reforço


Bica
da construção civil, livre de impurezas, com e subleito de pavimentos, além de regularização
corrida
dimensão máxima característica de 63 mm (ou a de vias não pavimentadas, aterros e acerto
critério do cliente). topográfico de terrenos.

Material com dimensão máxima característica


Obras de pavimentação, drenagens e
inferior a 150 mm, isento de impurezas,
Rachão terraplenagem.
proveniente da reciclagem de concreto e blocos
de concreto.

2.5 - Reutilização em pavimentação rodoviária

Nos serviços de pavimentação rodoviária, o RCD é um material que pode ser utilizado como componente
da estrutura do pavimento e possui algumas normalizações que regulamentam sua utilização. Dentre as
principais tem-se a NBR 15115:2004 que estabelece os critérios para a execução das camadas de reforço
do subleito, sub-base e base de pavimentos rodoviários, bem como os requisitos para construção da
camada de revestimento primário com agregado reciclado do resíduo sólido da construção civil,
denominado “agregado reciclado”, em obras de pavimentação e a NBR 15116:2004 que estabelece os
requisitos necessários para que o agregado de RCD possa ser destinado às camadas de pavimentação. Os
Quadros 3 e 4 apresentam tais requisitos.

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Quadro 3 - Requisitos gerais para agregado reciclado destinado à pavimentação, de acordo com a NBR 15116:2004

Agregado reciclado classe A Normas de Ensaio


Propriedades
Agregado Agregado
Graúdo Miúdo
graúdo miúdo
Não uniforme e bem graduado com
Composição granulométrica ABNT NBR 7181:2016
coeficiente de uniformidade Cu>10
Dimensão máxima
≤ 63 mm ABNT NBR NM 248:2003
característica
Teor de material passante na
Entre 10% e 40% ABNT NBR 7181:2016
peneira de 0,42 mm

Quadro 4 - Requisitos específicos para agregado reciclado destinado à pavimentação, de acordo com a NBR
15116:2004

Aplicação ISC (CBR) % Expansibilidade % Energia de compactação

Material para execução de


≥ 12 ≤ 1,0 Normal
reforço de subleito
Material para execução de
revestimento primário e ≥ 20 ≤ 1,0 Intermediária
sub-base
Material para execução de
≥ 60 ≤ 0,5 Intermediária ou modificada
base de pavimento1

1
Permitido o uso como material de base somente para vias de tráfego com N ≤ 106 repetições do eixo padrão de
8,2 tf (80 kN) no período de projeto.

3- MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 - Origem do RCD estudado

O resíduo de construção e demolição utilizado para a realização dos ensaios é uma areia reciclada
proveniente de uma usina de reciclagem, localizada no município de São José do Mipibu, situada na
região metropolitana da cidade do Natal/RN. Todos os ensaios foram realizados no Laboratório de
Mecânica dos Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e seguiram as recomendações das
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

3.2 - Ensaios de caracterização

A caracterização da areia reciclada foi realizada por meio dos ensaios de massa específica dos sólidos,
massa específica aparente in situ, determinação de índices de vazios limites, análise granulométrica e
através da determinação dos limites de consistência de Atterberg.

No tocante aos ensaios de massa específica dos sólidos, seguiram-se as recomendações de aparelhagem
e execução do ensaio conforme a ABNT NBR 6458:2016 e foram utilizadas duas amostras de material.
Cinco medidas de temperatura foram realizadas e as amostras de cada conjunto (picnômetro + sólidos +
água) foram pesadas para obtenção do resultado final.

A determinação da massa específica aparente do solo, in situ, foi realizada com emprego de frasco de
areia, conforme a ABNT NBR 7185:2016 e também foram utilizadas duas amostras de solo.

Quanto aos procedimentos para a determinação dos índices de vazios limites, buscaram-se orientações
nas normas da ABNT correspondentes a cada ensaio. No tocante a determinação do índice de máximo
fez-se uso da NBR MB 3324:1990 pelo método B. Já para a determinação do índice de vazios mínimo do
solo fez-se o uso da NBR MB 3388:1991.

Os procedimentos realizados para a análise granulométrica do material foram o peneiramento grosso,


peneiramento fino e a sedimentação, orientados pela NBR 7181:2016.

Na determinação dos limites de consistência do solo utilizou-se como parâmetro para orientações, as
recomendações das normas ABNT NBR 6459:2016 e ABNT NBR 7180:2016.

1156
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3.3 - Ensaio de compactação

Para o ensaio de compactação, a norma NBR 7182:2016 que preconiza sobre essa temática foi adotada
como referência. O ensaio foi realizado em sete etapas, com energia modificada e com o reuso do
material. As umidades inicial e final das amostras foram de 5% e de aproximadamente 17%,
respectivamente.

3.4 - Ensaio de Índice de Suporte Califórnia

Na determinação do Índice de Suporte Califórnia (ISC), adotado para avaliação da resistência dos solos,
foi utilizada como referência a norma ABNT NBR 9895:2016. Foram realizados três ensaios. Os corpos de
prova foram moldados e testados na energia modificada de compactação. A umidade ótima foi obtida
através da curva de compactação de cada amostra de solo. O ensaio foi realizado com prensa hidráulica
manual com velocidade de carregamento de 1,27mm/min.

A determinação da expansão do solo foi verificada após um período de 96 horas de imersão dos corpos
de prova em água.

3.5 - Avaliação de quebra dos grãos

O fenômeno de quebra de grãos é importante para determinar o comportamento de areias. Para a maior
parte dos solos arenosos, a tensão para quebra de grãos é superior às tensões usualmente ocorrentes em
obras de engenharia. No caso particular de areia reciclada, esse fenômeno adquire especial importância
por poder modificar consideravelmente as características do solo, principalmente a resistência ao
cisalhamento e a compressibilidade. Portanto, para que fosse possível a obtenção de um parâmetro de
comportamento dos grãos após o reuso de material, a quebra dos grãos foi avaliada através da realização
de um ensaio de granulometria conjunta com análise textural logo após a realização de cada um dos
ensaios de compactação.

4- RESULTADOS

4.1 - Massa específica dos sólidos

Para a realização dos ensaios de massa específica dos sólidos, foram utilizadas duas amostras do
material, seguindo a norma da ABNT NBR 6458:2016, com a qual, através dos procedimentos e
formulações fornecidos, foi possível a obtenção dos seguintes resultados expostos no Quadro 5.

Quadro 5 - Massa específica dos sólidos (ρg)


Massa específica dos sólidos
Amostra
(g/cm³)
Amostra 1 2,65
Amostra 2 2,67
Média 2,66

Como exposto na norma, os resultados dos ensaios são satisfatórios por não haver divergência em mais
de 0,02 g/cm³. Logo, o resultado final é a média obtida entre os resultados, ou seja, 2,66 g/cm³.

4.2 - Massa específica aparente e índice de vazios no estado natural

Por meio das recomendações preconizadas na ABNT NBR 7185:2016, que trata da determinação da
massa específica aparente, in situ, com emprego de frasco de areia, foi utilizado duas amostras de areia
reciclada de locais diferentes e os resultados obtidos estão sintetizados no Quadro 6.

A obtenção do índice de vazios do solo no estado natural foi obtida por meio de relação matemática entre
a massa específica dos sólidos (ρg) e a massa específica aparente seca obtida no estado natural ( ρdnat),
conforme verificado na Equação 1.
𝜌𝑔
𝑒𝑛𝑎𝑡 = −1 [1]
𝜌𝑛𝑎𝑡

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Quadro 6 - Resultados obtidos nos ensaios de frasco de areia para a massa específica aparente (ρdnat) e índice de
vazios da areia reciclada em seu estado natural (enat)
Massa específica aparente Índice de vazios
Amostra
seca (ρdnat) (enat)
Amostra 1 1,72 g/cm³ 0,55
Amostra 2 1,73 g/cm³ 0,54
Média ρdnat =1,73 g/cm³ enat =0,55

Conforme especificado na referida norma, os resultados não chegaram a diferir da média obtida em mais
de 2,5% da média. Logo, os resultados obtidos são satisfatórios.

4.3 - Massa específica aparente e índices de vazios limites

Seguindo os procedimentos do método B prescrito na norma NBR MB 3324:1990, foram realizados cinco
ensaios para a determinação do índice de vazios máximo, e a partir das recomendações do método B.1
da NBR MB 3388:1991 foram realizados três ensaios para a determinação do índice de vazios mínimo do
material. Conforme especificado na norma, os resultados não chegaram a diferir da média obtida, logo
estão dentro do limite de 2,5% da norma. Assim, os resultados obtidos estão expostos no Quadro 7 e no
Quadro 8.

Quadro 7 - Resultados obtidos nos ensaios de frasco de areia para a massa específica aparente mínima (ρdmín) e
índice de vazios máximos da areia reciclada (emáx)
Massa específica aparente Índice de vazios
Índices
seca mínima (ρdmín) máximo (emáx)
Amostra 1 1,40 g/cm³ 0,89
Amostra 2 1,41 g/cm³ 0,88
Amostra 3 1,41 g/cm³ 0,88
Amostra 4 1,41 g/cm³ 0,88
Amostra 5 1,41 g/cm³ 0,88
Média ρdmín =1,41 g/cm³ emáx = 0,88

Quadro 8 - Resultados obtidos nos ensaios de frasco de areia para a massa específica aparente máxima (ρdmáx) e
índice de vazios mínimo da areia reciclada (emín)
Massa específica aparente Índice de vazios
Índices
seca máxima (ρdmáx) mínimo (emín)
Amostra 1 1,75 g/cm³ 0,51
Amostra 2 1,75 g/cm³ 0,51
Amostra 3 1,74 g/cm³ 0,52
Média ρdmáx =1,75 g/cm³ emín = 0,51

Foi observado que mesmo sendo classificada como uma areia bem graduada, a amostra ensaiada
apresentou valores de emáx e emín superiores aos valores típicos de índices de vazios de areias (Pinto,
2006). Isso pode ser explicado devido à variabilidade de materiais com diferentes composições
mineralógicas, e consequente variabilidade na forma dos grãos.

O estado de uma areia, ou sua compacidade, pode ser expresso pelo índice de vazios em que ela se
encontra, em relação a esses valores extremos, pelo índice de compacidade relativa. Este pode ser obtido
por meio da Equação 2.
𝑒𝑚á𝑥 −𝑒𝑛𝑎𝑡
𝐶𝑅= [2]
𝑒𝑚á𝑥 −𝑒𝑚í𝑛

Dessa maneira, verifica-se que a classificação da areia reciclada segundo a sua compacidade é areia
compacta, já que o índice CR de 0,89 está acima de 0,66.

4.4 - Limites de consistência de Atterberg

As determinações dos limites de consistência das amostras de solo ensaiadas foram realizadas por meio
das recomendações preconizadas pelas NBR 6459:2016 e NBR 7180:2016. Conforme esta norma, no
item 5.2.3, “Quando não for possível determinar o limite de liquidez ou o limite de plasticidade, anotar o
índice de plasticidade como NP (não plástico)”. Assim, as amostras de solos analisadas foram
consideradas como não plásticas (NP).

1158
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4.5 - Granulometria da amostra inicial

Para a análise granulométrica inicial foram utilizados 5 kg de material na sua condição inicial para o
procedimento de peneiramento grosso e 120,26 g para peneiramento fino e sedimentação. A curva
granulométrica obtida é exposta na Figura 1.

Figura 1 - Curva granulométrica

Como os ensaios dos limites de consistência revelaram um solo não plástico (NP), o solo é enquadrado
pelo Sistema Unificado de Classificação dos Solos como uma areia bem graduada (SW).

Para a classificação HRB, a amostra se enquadra na categoria A, ou seja, materiais granulares com 35%
ou menos passando na peneira nº200, e mais precisamente no grupo A-3, passando no mínimo 51% na
peneira de nº40 (52,8%) e no máximo 10% na peneira nº200 (6,3%), sendo considerado pelo método
HRB como um material com comportamento geral como subleito de excelente a bom.

4.6 - Ensaios de compactação

O ensaio de compactação foi realizado em sete etapas, com o reuso do material e com energia
modificada. O resultado do ensaio está exposto na Figura 2.

Figura 2 – Ensaio de compactação

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Após a realização dos ensaios, implantação dos dados obtidos no gráfico e análise de resultados, pôde-se
constatar que a umidade ótima da amostra é aproximadamente 12,5% e sua massa específica máxima
seca é 1,88 g/cm³.

4.7 - Ensaio de Índice de Suporte Califórnia e Expansão (ISC)

Na determinação do Índice de Suporte Califórnia, foi necessário traçar a tangente a curva até sua
intersecção com o eixo das abcissas, para corrigir o resultado encontrado. A Figura 3 representa a curva
pressão aplicada pelo pistão x penetração e os resultados de ISC e da expansão são mostrados no
Quadro 9.

Figura 3 – Índice de Suporte Califórnia

Quadro 9 - Resultados dos ensaios ISC para as amostras

Corpo de prova ISC (%) Expansão (%)


1 22 0
2 21 0
3 22 0

De acordo com a ABNT NBR 15116:2004, todas as três amostras poderiam ser usadas como material
para execução de revestimento primário e sub-base, pois apresentaram um ISC superior a 20% e uma
expansibilidade inferior a 1%.

4.8 - Avaliação de quebra dos grãos

Como citado anteriormente, nos ensaios de compactação o material foi reutilizado e submetido a novos
ensaios de granulometria conjunta com análise textural, para que assim, fosse possível obter um
parâmetro de comportamento dos grãos após o reuso do material. Foram verificadas significativas
variações após os processos de compactação, como a queda de 61% da composição de pedregulho e o
grande aumento em 455% da composição de argila. Isso pode ser devido a grande variabilidade de
materiais que compõem a areia reciclada de RCD.

o Quadro 10 demonstra os resultados encontrados de acordo com a classificação do solo e, em seguida, a


Figura 4 apresenta as curvas granulométricas encontradas após os processos de compactação

Quadro 10 - Composição do material após processos de compactação


Após 1ª Após 3ª Após 5ª Após 7ª
Classificação Amostra inicial
compactação compactação compactação compactação
Pedregulho 13,6 9,4 7,9 7,4 5,3
Areia grossa 22,0 23,9 25,3 27,3 26,1
Areia média 41,4 43,7 44,0 42,6 39,6
Areia fina 17,0 14,4 12,6 12,6 16,8
Silte 5,1 4,8 6,2 6,1 8,1

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Argila 0,9 3,8 4,0 4,0 4,1

Figura 4 – Análise granulométrica após compactações

5- CONCLUSÕES

Este artigo apresentou um estudo sobre a caracterização das propriedades geotécnicas de um resíduo de
construção e demolição, almejando uma possibilidade de destinação mais sustentável para o mesmo.
Através dos diversos ensaios realizados é possível concluir que:

1. Com o resultado da análise granulométrica do material virgem, e de acordo com o Sistema


Unificado de Classificação dos Solos, pode-se classificar o material como uma SW (areia bem
graduada). Pela classificação rodoviária HRB o material se enquadra na categoria do grupo A-3,
sendo considerado pelo próprio método como um material de excelente a bom comportamento
geral para camadas de subleito.

2. Com base nos resultados obtidos através dos ensaios de Índice de Suporte Califórnia e expansão,
e ainda de acordo com as recomendações da ABNT NBR 15116:2004, é possível afirmar que o
material estudado atende aos requisitos específicos para agregado reciclado destinado à
pavimentação, tendo potencial para a sua aplicação como material para execução de
revestimento primário e sub-base.

De maneira geral, após a análise de resultados, é possível afirmar que a areia reciclada tem grande
potencial de utilização em obras de pavimentação, devendo ser reutilizado como material de
revestimento primário, sub-base ou camadas de subleito. Porém com a ressalva de que, devido à vasta
gama de materiais utilizados na engenharia civil, cada RCD possui características próprias, sendo
recomendado realizar uma análise de suas propriedades, incluindo uma avaliação de quebra de grãos,
antes da sua aplicação, pois como apresentado nesse trabalho, houve variações significativas da
composição do material após os processos de compactação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à empresa Usina de Reciclagem Duarte pelo material fornecido para os ensaios e à
Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelo apoio técnico.

REFERÊNCIAS

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1161
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

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Brasil. www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2010.pdf, acesso em 01/04/2017.

Brasil, Governo Federal (2006) - Área de manejo de resíduos da construção e resíduos volumosos: orientação
para o seu licenciamento e aplicação da Resolução Conama 307/2002, Ministério das Cidades. Ministério
do Meio Ambiente, Resultado do seminário Licenciamento Ambiental de Destinação Final de Resíduos
Sólidos realizado em 2006, página 13.

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publicada no DOU número 136, Seção 1, páginas 95-96.

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Tecnologia da Construção. São Paulo, 2009. http://techne.pini.com.br/engenharia- civil/152/artigo286651-
1.aspx, acesso em 22/02/2017.

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Rio de Janeiro: DNIT, 2006.

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https://natal.rn.gov.br/segap/paginas/File/concidade/novo/Processos_analisados/PMSBNATAL/1.RELATORI
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NBR MB 3324:1990, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1990) – Solo – Determinação do
índice de vazios máximo de solos não coesivos.

NBR MB 3388:1991, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1991) – Solo – Determinação do
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NBR NM 248:2003, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2003) - Agregados - Determinação da
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NBR 6458:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) - Grãos de pedregulho retidos na
peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica, da massa específica aparente e da absorção
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NBR 6459:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) - Solo - Determinação do Limite de
Liquidez.

NBR 7180:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) – Solo - Determinação do limite de
plasticidade.

NBR 7181:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) – Solo - Análise granulométrica.

NBR 7182:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) - Solo – Ensaio de compactação.

NBR 7185:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) - Solo - Determinação da massa
específica aparente, in situ, com emprego do frasco de areia.

NBR 9895:2016, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2016) - Solo - Índice de suporte Califórnia
(ISC) - Método de ensaio.

NBR 15115:2004, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2004) - Agregados reciclados de
resíduos sólidos da construção civil - Execução de camadas de pavimentação - Procedimentos.

NBR 15116:2004, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (2004) - Agregados reciclados de
resíduos sólidos da construção civil - Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural -
Requisitos.

Pinto, C.S. (2006) – Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas, 3ª Edição, Oficina de Textos, São Paulo, Brasil.

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CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E GEOTÉCNICA DOS SOLOS PARA A


CONSTRUÇÃO EM TERRA CRUA NO SUDOESTE DE ANGOLA

MINERALOGICAL AND GEOTECHNICAL CHARACTERIZATION OF SOILS FOR


RAW EARTHEN BUILDING IN SOUTHWEST OF ANGOLA

Wachilala, Piedade; Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla, Departamento de Ciências da


Natureza, Huíla, Angola, piedadewachilala@gmail.com
Duarte, Isabel; Universidade de Évora, Escola de Ciências e Tecnologia, Departamento de Geociências,
Centro de Investigação GeoBioTec - Évora, Portugal, iduarte@uevora.pt
Pinho, António; Universidade de Évora, Escola de Ciências e Tecnologia, Departamento de Geociências,
Centro de Investigação GeoBioTec - Évora, Portugal, apinho@uevora.pt
Mirão, José; Universidade de Évora, Escola de Ciências e Tecnologia, Departamento de Geociências,
Laboratório HÉRCULES, Portugal, jmirao@uevora.pt

RESUMO

A construção feita em terra crua é um património cultural em Angola amplamente utilizado por famílias de
baixa renda. No sudoeste de Angola existem inúmeras habitações de terra crua construídas com métodos
e técnicas ancestrais que respeitam o meio ambiente. Entre as técnicas de construção em terra, destacam-
se: o adobe, o pau-a-pique e mais recentemente em BTC (Bloco de Terra Comprimida). A sustentabilidade
deste tipo de construção é um dos fatores que impulsionou o seu recente desenvolvimento em todo o
mundo. É caracterizada por baixo consumo de energia e baixas emissões de carbono porque está associada
a níveis de poluição perto de zero, por possuir níveis benéficos de humidade interna em termos de saúde
humana, bom isolamento térmico e baixos custos económicos. Este trabalho faz parte de um projeto que
visa melhorar e otimizar essas soluções construtivas, respondendo às demandas atuais de sustentabilidade
social, económica e ambiental. Neste trabalho foram caracterizadas as propriedades mineralógicas de oito
amostras de solos utilizados na construção em terra crua na região do sudoeste de Angola (província da
Huíla), mediante a aplicação da técnica de análise mineralógica por Difração de raios-X (DRX) e as
características geotécnicas (dimensões das partículas do solo, consistência, expansibilidade, densidade,
compactação). Além disso, para avaliar a durabilidade dos adobes foram realizados os testes Geelong. Os
resultados obtidos põem em evidência que as propriedades mineralógicas controlam as propriedades
geotécnicas dos solos e o comportamento dos mesmos quando utilizados na construção em terra.

ABSTRACT

The construction made off raw earth is a cultural heritage in Angola widely used by low income households.
In Southwest of Angola there are numerous dwellings of raw earth built with methods and ancestral
techniques that respect the environment. Among the construction techniques in earth, stand out: the adobe,
wattle-and-daub and more recently on CEB (Compressed Earth Block). The sustainability of this type of
construction is one of the factors that has driven its recent development around the world. It is
characterized by low energy consumption and low carbon emissions because it is associated with levels of
pollution near zero, it provides beneficial indoor humidity levels in terms of human health, good thermal
insulation and low economic costs. This work is part of a project, which aims to improve and optimize these
constructive solutions, responding to the current demands of social, economic and environmental
sustainability. In this work the mineralogical and mechanical properties of the soils used in the construction
on raw earth in this region were characterized, in order to identify its potentialities and limitations as
geomaterial in this type of eco-construction. In this work, the mineralogical properties of eight soil samples
used in the construction in the ground in the southwestern region of Angola (Huíla province) were
characterized by the application of mineralogical analysis by X-ray diffraction technique and the
geotechnical characteristics (particle size, consistency, expansibility, density, Proctor compaction). In
addition, the Geelong tests were performed to prove the durability of the adobes. The results show that
the mineralogical properties control the geotechnical properties of the soils and their behavior for the
construction on raw earth.

1- INTRODUÇÃO

A construção em terra crua tem sido objeto de estudo de modo a desenvolverem-se técnicas e tecnologia
inovadoras com vista a melhorar as suas potencialidades e otimização. Para além da sua importância
histórica e cultural, a sustentabilidade deste tipo de construção é um dos fatores que tem impulsionado o
seu recente desenvolvimento por todo o mundo. Caracteriza-se por baixos consumos de energia e de

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emissões de carbono, por estar associada a níveis de poluição quase nulos, por possuir níveis de humidade
interior benéficos em termos de saúde humana, bom isolante térmico e encargos económicos reduzidos
(Duarte et al., 2014). A construção em terra crua no sudoeste de Angola é uma herança cultural que tem
sido desenvolvida durante séculos e continua a ser muito utilizada pelas famílias de baixo rendimento
(Pedro et al., 2014; Wachilala et al., 2016).

Como se ilustra na Figura 1, os solos utilizados na construção em terra crua na região do sudoeste de
Angola, em particular na província da Huíla, são essencialmente obtidos junto aos locais de edificação da
própria obra. No âmbito das técnicas construtivas, destaca-se o adobe e o pau-a-pique e mais recentemente
o BTC - Bloco de Terra Comprimida (Guedes, 2009; Duarte et al., 2017). Entretanto, o adobe constitui-se
como a técnica de construção em terra crua mais utilizada no sudoeste de Angola (Wachilala et al., 2017).
O adobe é uma técnica de construção de paredes com blocos de terra crua, preparados em moldes de
madeira e secos ao sol (Fig. 2). O clima é favorável à utilização deste material e a matéria-prima é
abundante. Entretanto, apesar de amplamente praticada, a construção em terra crua está atualmente
sujeita a graves problemas associados a um deficiente processo construtivo. O “saber fazer” constituía a
fonte do conhecimento, que era transmitido de geração em geração. Porém, esta continuidade tem vindo
a perder-se e a técnica da construção em terra degrada-se ao longo do tempo. Atualmente o recurso a este
geomaterial permite resolver o problema associado a falta de residência, constituindo assim, a forma mais
fácil de se adquirir uma casa com baixo custo e em pouco tempo.

A) B) C)
Figura 1 – Solos utilizados na construção em terra crua: Região do sudoeste de Angola, província da Huíla: A) Chibia;
B) Kaluquembe; C) Lubango

A) B)

C)
Figura 2 - Construção em terra crua no sudoeste de Angola, província da Huíla: A) Secagem ao ar livre dos blocos de
adobes; B) Edificação de uma habitação de adobe; C) Casa de adobe, Kaluquembe

Existem ainda poucos trabalhos científicos no domínio da caraterização textural, mineralógica e geotécnica
de solos utilizados na construção em terra crua nesta região (Duarte et al., 2014). A caracterização
mineralógica física e geotécnica dos solos utilizados nos adobes fabricados na Província de Huíla, é o objeto

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

de estudo deste trabalho, surgindo no desenvolvimento de trabalhos anteriores realizados recentemente,


sobre esta região, (Wachilala et al.,2017; 2018). De acordo com Pacheco-Torgal et al. (2009) o
comportamento de um determinado solo é função da quantidade de argilas, siltes e areias, existentes nesse
solo e também da quantidade de água presente nesse solo. Duarte (2002) refere que os solos apresentam
exigências específicas na sua identificação e caracterização. Para além das classificações clássicas da
Mecânica dos Solos, deverão incluir-se a descrição do perfil de alteração e aspetos químicos, mineralógicos
e físicos dos materiais presentes. De acordo com Duarte et al. (2017), a composição mineralógica pode
afetar o comportamento físico e mecânico dos materiais geológicos utilizados na construção. Sendo assim,
não é possível fazer-se uma avaliação geotécnica completa e fiável dos solos utilizados na construção em
terra crua, sem o contributo fundamental da análise dos dados texturais em correspondência com a análise
dos dados mineralógicos.

O principal objetivo deste estudo é identificar e relacionar a composição mineralógica dos solos com as
respetivas características físicas e geotécnicas, de forma a identificar as suas potencialidades e limitações
como material de construção em terra crua na região do sudoeste de Angola. Os resultados deste estudo
também contribuirão para o desenvolvimento de soluções construtivas sustentáveis e com características
melhoradas, de conforto, segurança e durabilidade.

1.1 - Enquadramento geográfico, geomorfológico e geológico

A província da Huíla localiza-se no sudoeste de Angola (Fig. 3) e ocupa uma área total de 79.022km2 e uma
população de aproximadamente 2.354.398 de habitantes (censo 2014). O clima da região é tropical húmido
e seco, modificado pela altitude, com uma temperatura média anual de 21ºC. As precipitações são
abundantes ultrapassando os 1000mm/ano, com maior incidência entre Outubro e Abril (Wachilala et al.,
2016).

A região faz parte do Planalto Angolano, situada a uma altitude média de 1500 metros, com cotas máximas
entre 2200-2300 metros no Planalto da Humpata-Bimbe. Do ponto de vista geológico, as principais
formações que afloram, são as mais antigas e correspondem, maioritariamente, a granitos orogénicos. As
restantes formações são mais recentes e com boa expressão cartográfica, correspondendo ao Neogénico e
Quaternário.

Figura 3 – A Província da Huíla, no Sudoeste de Angola, com a localização geográfica das povoações onde se
recolheram as amostras de solos: Lubango, Humpata, Chibia, Quipungo, Matala e Kaluquembe

2- METODOLOGIA

Os trabalhos de campo foram desenvolvidos em seis localidades da vasta região do Sudoeste de Angola,
previamente selecionados, distando entre si cerca de 30 a 190 km, nomeadamente: Lubango, Humpata,
Chibia, Quipungo, Matala e Kaluquembe. Recolheram-se oito amostras de solos que correspondem a solos
residuais de granitos orogénicos, utilizados na construção em terra crua, no próprio local onde se efetua a

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

obra. A seleção destes locais, para recolha de amostras de solos justifica-se, pelo facto de nestes locais
existirem inúmeras habitações de terra crua, que utilizam como técnica construtiva de base, o adobe. Os
respetivos solos foram submetidos a ensaios de laboratório, de modo a caracterizar as propriedades
geotécnicas e mineralógicas destes geomateriais, bem como os respetivos adobes foram ensaiados pelo
método de Geelong, de acordo com a norma Neozelandesa (NZS 4298, 1998), para avaliar a sua
durabilidade e erodibilidade.

A composição mineralógica das amostras dos solos previamente preparadas foi obtida por difração de raios-
X (DRX), a qual permitiu determinar a natureza mineralógica dos constituintes dos solos, assim como a
sua percentagem relativa. Para tal, procedeu-se à moagem da fração total de solo, que se fez passar por
um peneiro manual, de malha 65 μm. Os difratogramas foram realizados num difratómetro de raios-X,
Bruker AXS-D8 Advance (Bruker AXS Inc, Madison, USA), equipado com um detetor linear Lynxeye e
sistema da Vinci, utilizando radiação Cu Kα (λ= 0,1540598 nm), nas seguintes condições de ensaio:
varrimento entre 3 a 75º 2θ; velocidade de varrimento de 0,05º 2θ/s; tensão de aceleração de 40 kV e
corrente de filamento de 40 mA. A aquisição do difratograma e a identificação das fases cristalinas foram
feitas usando o software DIFFRAC (Bruker Company) e a base de dados PDF-2 (Powder Diffraction Files)
do Centro Internacional de Dados de Difração (Internacional Center for Diffraction Data - ICDD).

A avaliação da durabilidade dos adobes utilizados nas construções em terra crua, foi efetuada através do
“Geelong Test”, igualmente designado por teste de erosão e durabilidade pelo método de Geelong e que de
acordo com Walker (2000) foi especificamente concebido para testar provetes de adobe. O ensaio consiste
em fazer cair sobre um provete inclinado a 30º, uma determinada quantidade de água, gota a gota, de
uma altura de 400 mm com recurso a um feltro embebido num recipiente de água. O ensaio termina
quando o volume de água pingada for de 100 ml, o que deve acontecer ao fim de 30 minutos (NZS 4297
e NZS 4298, 1998) ou num intervalo entre 20 a 60 minutos. O grau de erosão é dado pela profundidade
do desgaste provocado pela queda da água no bloco de terra, sendo que para profundidades superiores a
15 mm se considera que os provetes devem ser rejeitados (Pacheco-Torgal e Jalali, 2012).

No ensaio de compactação tipo Proctor realizado neste trabalho, o método adotado foi o da compactação
leve em molde pequeno. O ensaio é utilizado para determinar o teor de água ótimo, o qual corresponde à
máxima compacidade do solo. Este ensaio utiliza uma fração de solo com dimensões inferiores a 4,75 mm
(peneiro nº 4 da ASTM), que é compactado em 3 camadas, com 25 pancadas por camada, com um pilão
manual (2,49 kg e altura de queda de 30,5 cm) ou aparelho mecânico, ilustrado na Figura 4. Regista-se a
massa e o volume do provete e num gráfico marca-se em ordenadas, os valores da massa volúmica seca,
e em abcissas o teor de água; a curva de compactação obtida permite-nos determinar o teor de água ótimo
que corresponde ao peso volúmico máximo seco.

A)

B)
C)

Figura 4 - Ensaio de compactação Proctor leve: A) Molde pequeno com o solo compactado; B) Pesagem dos provetes
de solos; C) Equipamento de compactação mecânica

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Caracterização mineralógica


Nas Figuras 5 e 6, apresentam-se dois exemplos dos difratogramas correspondentes aos solos do Lubango
e Kaluquembe (Lh e Kc). Os resultados da análise semi-quantitativa da composição mineralógica estão

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

resumidos no Quadro 1, e revelam a presença predominante de quartzo em todas as amostras,


corroborando a sua baixa a média plasticidade e expansibilidade moderada. Também é notória a presença
do mineral argiloso caulinite em todas as amostras, sobretudo nas amostras de Kaluquembe e de Lubango
(Lh), correspondendo aos maiores valores para o índice de plasticidade e de expansibilidade (Quadro 2).

Relativamente à presença dos silicatos (quartzo) em todas as amostras e dos feldspatos potássicos nas
amostras Lh, Lt, Mk e Cc (Quadro 1), importa referir que estes minerais primários são herdados do material
originário, a rocha-mãe, mantendo-se praticamente inalterados na composição dos solos, pois são os mais
resistentes. Este facto vem confirmar que os solos estudados são classificados como sendo solos residuais.
Por outro lado, a presença dos filossilicatos (como a caulinite) em todas as amostras, indica um estado
mais evoluído destes solos, em termos de perfil de alteração. A caulinite, Al2(SiO5)(OH)4- é um mineral
argiloso cuja existência poderá decorrer a partir das reações de hidrólise dos silicatos, nomeadamente dos
feldspatos potássicos, cuja presença se deteta nas amostras já referidas.

Figura 5 – Diagramas de difracção de raios-X correspondentes ao solo Lh. Os picos dos minerais identificados: M –
Moscovite; K – Caulinite; Qz – Quartzo; F_K – Feldspato potássico

Figura 6 - Diagramas de difracção de raios-X correspondentes ao solo Kc. Os picos dos minerais identificados: K –
Caulinite; e – Interestratificados clorite-esmectite; Qz – Quartzo; H – Hematite

As amostras Lt, Lh e Hh foram classificadas como areia argilosa (Quadro 2), compatível com os resultados
da DRX, devido à presença de caulinite e moscovite (micas), enquanto as amostras Mk e Cc, foram

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

classificadas como areia siltosa, em conformidade com os minerais presentes nestas amostras (Quadro 1).
As amostras Kc e Ks, classificadas como “argila magra arenosa” no Quadro 2, possuem uma composição
mineralógica da fração argilosa marcada pela presença de minerais argilosos, óxidos e hidróxidos tais como,
a caulinite, interestratificados clorite-esmectite, hematite e gibbsite. Isto demonstra já a ocorrência de um
processo intenso e/ou longo de meteorização, típico das bauxites e laterites. Esta conclusão baseia-se não
só na representatividade de óxido de alumínio - gibsite (Al(OH)3), na amostra Ks, um dos principais
constituintes das rochas bauxíticas, como na presença de óxidos de ferro como a hematite (Fe2O3), na
amostra Kc, característicos das laterites. Este tipo de solos tem origem normalmente em zonas de clima
tropical e subtropical como o que existe na região em estudo e desenvolvem-se sob condições de intensas
e prolongadas meteorizações provocadas pela água pluvial, geralmente abundante, acompanhadas da
lixiviação da sílica entre outros componentes mais leves. Quanto à caulinite, a sua origem é dada pela
alteração de uma variedade de minerais primários como os feldspatos e micas em diferentes condições
ambientais, sobretudo, em ambientes de clima quente e húmido (como é o caso do Sudoeste de Angola)
com boa drenagem, mas não com excessiva lixiviação de sílica.

Existe alguma similitude nos difratogramas de raios-X dos solos de Kaluquembe e os resultados obtidos por
Pedro et al. (2016) no seu estudo realizado na região do Planalto Central de Angola (Huambo), em função
dos minerais identificados nestas amostras: minerais argilosos, tais como a caulinite, os óxidos e os
hidróxidos (hematite e gibbsite). Nesta similitude, há que considerar o clima característico, a geologia e o
relevo da região envolvente dos locais onde foram extraídas as amostras de solo, que são também
semelhantes.
Quadro 1 - Composição mineralógica semi-quantitativa (%) dos solos utilizados na construção em terra crua na
província da Huíla, sudoeste de Angola

Amostras Compostos cristalinos identificados (%)


Quartzo Feldspato Caulinite Mosco- Interestra- Gibbsite

Local Ref potássico vite tificados Hematite


clorite
esmectite
Lubango Lh 44,49 13,46 37,23 4,82
Lubango Lt 96,94 2,19 0,73 0,14
Matala Mk 71,96 16,86 11,18
Chibia Cc 69,01 26,89 4,1
Kaluquembe Ks 59,59 27,29 13,12
Kaluquembe Kc 41,38 22,22 34,63 1,78
Quipungo Qq 78,06 21,94
Humpata Hh 80,25 4,21 3,88 2,45 9,21

3.2 - Caracterização geotécnica


No Quadro 2 apresentam-se as características físicas dos solos utilizados na construção em terra crua no
Sudoeste de Angola, determinados por Wachilala, et al. (2017). Os resultados demonstram, com base no
Sistema Unificado de Classificação dos Solos (USCS), que os solos ensaiados são essencialmente
constituídos por areias silto-argilosas. Os solos analisados contêm uma percentagem significativa de finos
(11% - 60%) e uma percentagem de areia que varia entre (40% - 71%). Os solos da Matala, Chibia e
Quipungo são os mais arenosos. As amostras de Kaluquembe têm a maior percentagem de finos, (58% -
60%). A percentagem de cascalho é incipiente (geralmente < 5 %; exceto Quipungo).

Pelos valores obtidos para o índice de plasticidade (IP), um dos parâmetros recomendados por Pacheco-
Torgal et al. (2009) para considerar o solo como matéria-prima para a construção em terra, verifica-se que
os solos ensaiados têm uma plasticidade baixa a média (0 < IP < 15). As amostras Kc e Ks (Kaluquembe,
a NW da Província da Huíla) possuem os valores mais elevados de IP (12 e 15); maior % de finos (> 50%);
maior % de argila, maior expansibilidade (5% - 9%), ficando provado que estes solos argilosos tendem a
apresentar maior plasticidade e maior expansibilidade e retração. Neste sentido, a consistência dos solos,
é essencialmente dependente da quantidade e da qualidade dos minerais argilosos. Entretanto, os solos do
Lubango, Kaluquembe e Humpata (CL; SC) apresentam valores de plasticidade próximos dos valores

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médios, recomendado por Pacheco-Torgal et al. (2009) para construção em terra, também são solos
razoavelmente expansivos (função da quantidade e da qualidade da argila).

Quadro 2 - Características físicas e Classificação geotécnica dos solos utilizados na construção em terra crua,
determinados por Wachilala et al. (2017)

Província da Ensaios
Huíla

Granulometria Consistência Expansibili Densidade Classificação


dade das dos solos
Município Ref. (%) mm (%)
partículas (USCS)
𝝎𝒍 𝝎𝒑
<2,00 <0,425 <0,075 IP (%)

Lh 94,58 72,88 43,93 30 21 9 9,25 2,58 SC (areia


argilosa)
Lubango
SC (areia
Lt 97,22 78,36 49,18 27 19 8 8,8 2,53
argilosa)
SM (areia
Matala Mk 96,62 58,49 25,59 17 17 0 0,6 2,57 siltosa)
SM (areia
Chibia Cc 96,53 75,85 30,58 16 15 1 4,53 2,57 siltosa)
CL (argila
Ks 99,30 95,43 59,90 34 19 15 5,19 2,60 magra
Kaluquembe arenosa)
CL (argila
Kc 99,82 90,02 58,39 38 26 12 8,93 2,59 magra
arenosa)
SP-SM (areia
Quipungo Qq mal
77,09 59,87 11,34 17 14 3 1,53 2,65 graduada
com silte e
cascalho)
SC (areia
Humpata Hh 97,55 93,76 48,88 22 14 8 4,73 2,61 argilosa)

A densidade das partículas é uma característica que varia com a composição textural e mineralógica das
partículas. Os valores da densidade das partículas dos solos estudados variam entre 2,53 a 2,65 (Quadro
2). Isto explica-se pelas características litológicas da área de estudo (maioritariamente granitos), cujos
produtos de alteração resultaram em solos residuais graníticos. Porém, nenhuma amostra de solo
apresenta valores de densidade superiores a 2,65, o que pressupõe que estes solos são constituídos
essencialmente por minerais mais leves, situando-se no grupo dos feldspatos (2,50 a 2,60), do quartzo
(2,65) e dos minerais argilosos (2,20 – 2,60). Pela análise dos resultados, a amostra Qq (Quipungo),
amostra com partículas de solo mais grosseiras (Quadro 2), apresenta o valor para a densidade de
partículas mais alto, comparativamente aos valores dos restantes solos, o que se justifica pela presença
de mais minerais primários. Por seu turno, os solos com fração argilosa mais significativa (típicos de regiões
tropicais húmidas), tendem a apresentar menor densidade do solo do que os solos arenosos (granulares).
Quanto maior é o teor em matéria orgânica no solo menor será a densidade das partículas. A matéria
orgânica existente nos solos estudados exerce grande influência na densidade das partículas, dotando estes
solos superficiais de densidades mais baixas do que os solos dos horizontes subjacentes.

3.3 - Durabilidade e erodibilidade dos adobes


Dos resultados obtidos nos ensaios pelo método Geelong, efetuados sobre os adobes moldados com os
solos estudados, verificou-se que a profundidade do sulco foi sempre inferior ou igual a 10 mm (Quadro
3). Portanto, pode-se concluir, de acordo com as indicações da NZS 4298 (1998), Walter (2000) e Pacheco-
Torgal et al. (2009), que os adobes ensaiados possuem características aceitáveis (isto é, profundidade
inferior a 15 mm) para a construção em terra. Comparando com os resultados obtidos por Pedro et al.
(2016), na Província do Huambo (profundidade do sulco inferior ou igual a 9 mm), mostram que os adobes

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ensaiados no presente estudo possuem durabilidade ligeiramente inferior, pelo que se torna fundamental
proceder à sua melhoria, o que segundo Varum et al. (2007), deverá ter-se cuidado na produção dos
adobes para se limitar a retração, devendo proteger devidamente as paredes das construções para evitar
a sua degradação.

Quadro 3 - Resultados do ensaio de erosão e durabilidade pelo método de Geelong nos adobes
Adobe Profundidade do Penetração da
Amostra Local Ref. sulco água
(mm) (cm)
1 Hoque Lh 6 1
2 Toco Lt 7,5 6,5
3 Kamúkua Mk 7 2,5
4 Chibia Cc 10 6,5
5 Sandula Ks 6 1,8
6 Cacomba Kc 3 5,5
7 Quipungo Qq 5 1,5
8 Humpata Hh 5 1,3
Média 6,188 3,325

No Quadro 4 são sintetizados os resultados obtidos por Wachilala et al. (2016), para a retração dos solos
utilizados na construção em terra crua, que estão em congruência com as normas Neozelandesas, NZS
4298 (1998) e 4297 (1998) que recomendam para a construção em terra, valores não superiores a 3%
para os solos não estabilizados. Os solos analisados possuem valores de retração inferiores a 3%, no
entanto, as amostras Lh, Ks e Kc apresentam valores próximos a 3%, indicando que a retração aumenta
com a natureza argilosa destes solos, ao contrário dos solos granulares que tendem a ser pouco retráteis
(Mk, Qq, Cc, Hh e Lt, abaixo dos 2,5%).

Quadro 4 - Valores do teste de retração dos solos utilizados na produção de adobes


Solo Retração Retração
Local Ref. (mm) (%)
Lubango Lh 1,4 2,8
Lt 0,6 1,2
Kamúkua Mk 0,6 1,2
Chibia Cc 0,9 1,8
Kaluquembe Ks 1,4 2,8
Kc 1,3 2,6
Quipungo Qq 0,7 1,4
Humpata Hh 1,2 2,4
Média 1,0 2,0

3.4 - Ensaio de compactação

O ensaio de compactação tipo Proctor permite, para uma dada energia de compactação, determinar o teor
em água ótimo para o qual se obtém um peso volúmico seco máximo (Fig. 7).

Dos resultados obtidos constantes no Quadro 5, verifica-se que o valor médio para o teor em água ótimo
é de 11,54%, valor que permite obter a compactação máxima do solo, para aquelas condições de energia
de compactação. Pacheco-Torgal et al. (2009) referem que segundo as diretivas da CRAterre (1979), os
solos com teores de água ótimos entre 9 – 17% são os mais fáceis de estabilizar. Outros autores, como
Bahar et al. (2004) recomendam um intervalo mais restrito para o teor de água ótimo entre 9,5 – 11%,
pelo que, à exceção dos solos Mk, Cc e Qq (classificados como areia siltosa e areia mal graduada com silte
e cascalho), todos os outros solos se inserem nos referidos intervalos. Isto pressupõe que, quanto mais
argiloso for o solo (o caso dos solos de Kaluquembe e Lubango - Lh), maior é a necessidade de água e
menor é o peso volúmico seco máximo (17,95 – 18,44 KN/m3), ou baridade seca máxima, ao contrário dos
solos arenosos.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Nas amostras de Kaluquembe e de Lubango (Lh), é notória a presença do mineral caulinite (Quadro 1), a
que correspondem os maiores valores para o índice de plasticidade e de expansibilidade (Quadro 2), bem
como maiores índices de retração (Quadro 3) e os maiores valores para o teor em água ótimo (13,40% -
16,0%) obtidos no ensaio de compactação tipo Proctor (Quadro 5), o que pressupõe que os solos mais
argilosos (Kc, Ks e Lh), necessitam de maior quantidade de água para atingir esse parâmetro, ao contrário
dos solos arenosos, como seria espectável. Fica assim demonstrado que as propriedades mineralógicas
controlam as propriedades geotécnicas dos solos, de acordo com Anon (1990), Duarte et al. (2000) e
Duarte et al. (2004), e o comportamento dos mesmos para a construção em terra.

Quadro 5 - Resultados do ensaio de compactação leve em molde pequeno (tipo Proctor)


Amostras Teor água Peso volúmico seco
Local Ref. ótimo (%) (KN/m3)
Lubango Lh 15,50 17,95
Lubango Lt 12,3 18,44
Matala Mk 7,20 20,69
Chibia Cc 7,80 20,59
Kaluquembe Ks 13,40 18,44
Kaluquembe Kc 16,0 18,04
Quipungo Qq 8,8 20,30
Humpata Hh 11,30 19,22
Média 11,54 19,12

Figura 7 - Apresentação gráfica dos resultados obtidos através do ensaio de compactação tipo Proctor

4- CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que as propriedades mineralógicas controlam efetivamente
as propriedades geotécnicas dos solos e o comportamento dos mesmos para a construção em terra crua.
Os resultados da DRX revelam a presença predominante de quartzo em todas as amostras ensaiadas, bem
como a presença de mineral argiloso caulinite. No entanto, a caulinite ocorre em maior quantidade, nos
solos do Lubango (Lh) e Kaluquembe, para além de outros minerais: esmectite, hematite e gibbsite. Estas
características estão em consonância com as propriedades geotécnicas, porque os solos ensaiados são
essencialmente constituídos por areias silto-argilosas, com plasticidade baixa a média e expansibilidade
moderada, e podem ser classificados em três grupos (USCS): (I) areias siltosas (SM); (II) argilas (CL) e
(III) areias argilosas (SC).

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Vale a pena referir, que a atividade das formigas (salalé) tem um efeito considerável sobre a aplicabilidade
dos solos estudados, porque altera a plasticidade do solo, como é o caso do solo Mk que foi classificado
como não plástico (IP = 0), visto que na região da Matala - Kamúkua (Mk), os solos trabalhados pelas
formigas são frequentemente utilizados na construção em terra crua, aproveitando-se os morros de salalé
(formigueiros com alturas que geralmente ultrapassam 1,5 m) como matéria-prima.

A densidade dos solos depende da composição granulométrica e mineralógica das partículas sólidas do solo
e do teor de matéria orgânica. Quanto maior é o teor em matéria orgânica no solo, menor é a densidade
das partículas. Os valores da densidade das partículas dos solos estudados variam entre 2,53 a 2,65, o que
está em consonância com características litológicas da área de estudo, maioritariamente granitos, cujos
produtos de alteração resultaram em solos residuais graníticos.

Os resultados obtidos no ensaio Geelong indicam que os adobes ensaiados possuem características
aceitáveis para a construção em terra crua, sendo a profundidade do sulco inferior sempre a 10 mm, o que
está de acordo com as indicações da NZS 4298 (1998). Esse comportamento bem-sucedido dos adobes
em relação à sua durabilidade e erodibilidade é devido, principalmente, à presença de quantidades
significativas de quartzo nos solos amostrados.

O ensaio de compactação permitiu determinar o teor em água ótimo dos solos utilizados na construção em
terra crua, onde foi possível concluir que os solos mais argilosos de Kaluquembe (Kc, Ks) e os intermédios
(areias argilosas: Hh, Lh e Lt) absorvem mais água para atingir a compacidade máxima. De acordo com as
diretivas da CRAterre (1979), por possuírem valores entre 9% – 17% para aquele parâmetro, serão mais
fáceis de estabilizar que os solos mais arenosos (Mk, Cc e Qq), por estes apresentarem valores inferiores
a 9% para o mesmo parâmetro. Do mesmo modo, a expansibilidade e a retração tendem a aumentar com
o carácter argiloso destes solos (quadros 2 e 4).

No sentido de melhorar o comportamento geotécnico dos solos ensaiados, bem como o seu desempenho
em obra, sugere-se a adição, em proporções adequadas, de areia aos solos mais argilosos e de material
fino aos solos mais arenosos, parecendo ser a solução mais viável, numa primeira abordagem, uma vez
que solos granulares tendem a ser pouco retrácteis e, além disso, estes aditivos são de fácil aquisição na
região, possuindo ainda a vantagem de serem materiais harmonizáveis com a tipologia construtiva utilizada
(Wachilala et al., 2018). A estabilização destes solos pode incluir também, as fibras vegetais naturais ou a
utilização de solos trabalhados pela formiga salalé (formigueiros), ajustando-se às tradições locais. Por
outro lado, os adobes deverão ser melhor compactados, permitindo reduzir ainda mais o índice de vazios
e, desta forma, maximizar a resistência mecânica e a durabilidade destes materiais, o que está de acordo
com Pacheco-Torgal et al. (2009), Varum et al. (2007) e Wachilala et al. (2018).

Esta investigação visa contribuir para a caracterização dos geomateriais utilizados na construção em terra
crua no sudoeste de Angola e para o desenvolvimento de soluções sustentáveis e construtivas com
características melhoradas de conforto, segurança e durabilidade. Daí a importância do conhecimento da
composição mineralógica, como sendo um parâmetro a considerar na caraterização geotécnica e no
melhoramento dos solos para a construção em terra.

REFERÊNCIAS

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Moçambicano de Engenharia / 4º Congresso de Engenharia de Moçambique, Maputo, Moçambique.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

COMPARAÇÃO DA LIXIVIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE RCD ENSAIADOS


EM LABORATÓRIO E NO CAMPO

COMPARISON OF THE LEACHING OF DIFFERENT TYPES OF CDW TESTED IN


LABORATORY AND IN THE FIELD

Roque, António José; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, aroque@lnec.pt
Martins, Isabel; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, Imartins@lnec.pt
Freire, Ana Cristina; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, acfreire@lnec.pt
Neves, José; CERIS, IST, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, jose.manuel.neves@tecnico.ulisboa.pt
Antunes, Maria de Lurdes; Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, mlantunes@lnec.pt

RESUMO

Nesta comunicação é avaliada, em termos ambientais, a aplicabilidade de quatro materiais reciclados


provenientes de resíduos de construção e demolição (RCD) em camadas granulares não ligadas de
pavimentos rodoviários e em camadas de aterros, em acordo com o previsto nas especificações LNEC E 473
e LNEC E 474. A avaliação da libertação de substâncias perigosas nestes materiais foi efetuada com base
em ensaio de lixiviação realizado em laboratório segundo a norma EN 12457-4, e tendo por referência os
valores limite de lixiviação previstos na legislação em vigor para a deposição de resíduos em aterros de
resíduos inertes. Considerando que as condições de realização destes ensaios, classificados na categoria
dos ensaios de conformidade, não são representativas das que existem nos pavimentos rodoviários e nos
aterros, procedeu-se à realização de ensaios de lixiviação no campo, em lisímetros, onde as condições se
aproximam das existentes nestas obras. O trabalho apresenta os resultados obtidos com os dois métodos
de ensaio nos quatro materiais reciclados de RCD e num agregado natural de origem calcária (material de
referência). Conclui-se, tendo também em consideração os resultados obtidos por outros autores, sobre a
adequabilidade de se utilizar o ensaio de lixiviação laboratorial previsto nas especificações LNEC na
avaliação da perigosidade dos materiais reciclados estudados, em particular, e dos materiais reciclados, em
geral.

ABSTRACT

In this paper, it is evaluated, in environmental terms, the applicability of four recycled materials coming
from construction and demolition wastes (CDW) in unbound granular layers of road pavements and in
embankment layers, taking into account the specifications of LNEC E 473 and LNEC E 474. The assessment
of the release of dangerous substances from these materials was performed based on leaching tests carried
out in laboratory according to EN 12457-4 and having as reference the leaching limit values foreseen under
the legislation in force for the disposal of waste in landfills for inert waste. Considering that the conditions
for carrying out these compliance tests are not representative of those found on road pavements and
embankments, leaching tests have been carried out in the field in lysimeters, where the conditions
approximate those existing in these civil engineering works. The paper presents the results obtained with
the two test methods in the four recycled materials coming from CDW and in a natural aggregate of
limestone (reference material). It is concluded, based on the achieved results and taking also into account
the results from other authors, that the use of the laboratory leaching test provided in LNEC specifications
is suitable for the evaluation of the hazardousness of the recycled materials studied, in particular, and for
the recycled materials in general.

1- INTRODUÇÃO

A pressão atual sobre os recursos do nosso planeta não é sustentável, situação que tenderá a agravar-se
ainda mais no futuro com o aumento da população mundial e do acesso aos bens de consumo. Torna-se,
por isso, necessário corrigir o modelo económico atual, baseado numa economia linear, que gasta e degrada
os recursos sem os repor nem recuperar, para uma economia circular, onde não existem resíduos, mas
apenas materiais.

A utilização de materiais reciclados (matéria-prima secundária) processados a partir de resíduos (por


exemplo, resíduos de construção e demolição - RCD) ou de subprodutos (por exemplo, escórias da
incineração dos resíduos sólidos urbanos) depende, à semelhança dos materiais naturais (matéria-prima
primária), das suas características geométricas, físicas, químicas e mecânicas satisfazerem as exigências
técnicas para as aplicações previstas. Para além da avaliação destas características, há a necessidade de
avaliar a presença de substâncias perigosas (por exemplo, metais pesados, hidrocarbonetos, compostos

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orgânicos voláteis) nos resíduos e nos subprodutos e, tendo por base os seus teores, se apresentam
características de perigosidade para a saúde pública e para o ambiente.

Está em curso o estabelecimento de metodologias específicas para a avaliação das características de


perigosidade dos produtos de construção. Por este motivo ainda não existe regulamentação específica que
estabeleça os métodos de avaliação das características de perigosidade dos materiais reciclados e que
defina os requisitos mínimos a satisfazer para viabilizar a sua aplicação em obra, veem sendo considerados,
por um lado, os requisitos previstos no Decreto-Lei n.º 183/2009, de 10 de agosto (DL, 2009) para avaliar
a libertação de substâncias perigosas, e, por outro, os valores limite de lixiviação previstos para a admissão
de resíduos em aterro para resíduos inertes. Importa salientar que os materiais reciclados que satisfaçam
estes requisitos terão que pertencer à categoria de resíduo não perigoso, cuja classificação é realizada de
acordo com a Lista Europeia de Resíduos (LER), nos termos do definido na Decisão n.º 2014/955/UE, da
Comissão, de 18 de dezembro (JOUE, 2014).

A avaliação da libertação de substâncias perigosas disposta na legislação em vigor (DL, 2009) baseia-se
na realização de ensaios de lixiviação em laboratório de acordo com a norma EN 12457-4 (2002), razão
pela qual pertencem à categoria dos ensaios de conformidade, e na comparação dos teores das espécies
químicas presentes nos lixiviados com os valores limite de lixiviação para os resíduos admissíveis em
aterros de resíduos inertes (DL, 2009). Considerando que este ensaio de lixiviação não foi desenvolvido
visando a reciclagem de resíduos em engenharia civil, mas sim a classificação de resíduos para deposição
em aterros de resíduos, é questionado se as condições de realização do ensaio são adequadas para se
avaliar a libertação de substâncias perigosas de materiais reciclados a utilizar em pavimentos rodoviários
ou em aterros. Estudos realizados por vários autores (Odie e Auriol, 2009, Izquierdo et al., 2008,
Mahmoudkhani et al., 2008, Meza et al., 2008, Delay et al., 2007 e ALT-MAT, 2001) compararam a libertação
de substâncias perigosas em diferentes resíduos inorgânicos (cinzas volantes da queima de biocombustíveis
e da combustão do carvão, escórias de aciaria, escórias e cinzas de incineração de resíduos sólidos urbanos,
RCD, entre outros) em vários ensaios de lixiviação. Estes autores verificaram que os ensaios de lixiviação
realizados de acordo com a EN 12457-4 (2002) proporcionam resultados fiáveis, ainda que eventualmente
conservativos, quando comparados com ensaios de lixiviação realizados em coluna (ensaio laboratorial) e
em lisímetro (ensaio de campo), na avaliação da libertação das substâncias perigosas presentes nos
materiais reciclados.

Considerando que as principais limitações à aplicação dos materiais reciclados em infraestruturas de


transporte e em geotecnia se devem a dúvidas sobre o seu desempenho mecânico e a sua perigosidade
para a saúde pública e o ambiente, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em cooperação com
o Instituto Superior Técnico (IST), desenvolveram um projeto de investigação com quatro RCD,
provenientes de diferentes origens, e um material natural de origem calcária (material de referência), com
o objetivo de melhorar o conhecimento sobre o comportamento e o desempenho mecânico e ambiental
destes materiais, quando colocados em camadas não ligadas (base, sub-base e leito de pavimento) de
pavimentos rodoviários e em aterros. O projeto, com a designação SUPREMA – Aplicação Sustentável de
Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Infraestruturas Rodoviárias, foi financiado pela Fundação
para a Ciência e a Tecnologia e teve a duração de três anos.

O objetivo desta comunicação é apresentarem-se e analisarem-se os resultados obtidos nos ensaios de


lixiviação realizados em laboratório de acordo a norma EN 12457-4 (2002) e no campo com os lisímetros.
Salienta-se, que o tempo de realização dos ensaios nos lisímetros foi de cerca de 4 anos e 8 meses, portanto,
muito superior à duração do projeto, mas justificada pelo facto das recolhas dos lixiviados estarem
dependentes da precipitação atmosférica.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Materiais

Os materiais reciclados provenientes de RCD ensaiados foram os seguintes: betão britado (B), betão britado
misto (BM), misturas betuminosas britadas (BET-B) e misturas betuminosas fresadas (BET-F). Um agregado
britado de granulometria extensa (ABGE) de natureza calcária foi igualmente ensaiado para ser utilizado
como material de referência. Os cinco materiais selecionados para o estudo são apresentados na Figura 1.

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a) b) c) d) e)
Figura 1 - Materiais reciclados: a) betão britado (B), b) betão britado misto (BM), c) misturas betuminosas britadas
(BET-B) e d) misturas betuminosas fresadas (BET-F); material natural: e) calcário britado de granulometria extensa
(ABGE)

2.2 - Métodos

Os métodos utilizados na caracterização laboratorial dos materiais foram os previstos nas especificações
LNEC E 473 (2009) e LNEC E 474 (2009), as quais são utilizadas em Portugal como guias para a reciclagem
de materiais provenientes de RCD em camadas de base e sub-base de pavimentos rodoviários, e em
camadas de leito de vias rodoviárias e de aterros, respetivamente.

Um vasto programa de caracterização em laboratório e no campo foi realizado para determinação das
características geométricas, físicas, químicas e mecânicas dos materiais (Freire et al., 2012 e 2013).
Atendendo, porém, ao objetivo desta comunicação, privilegia-se a apresentação dos métodos utilizados na
avaliação da libertação das substâncias perigosas. O ensaio de laboratório foi realizado de acordo com a
norma EN 12457-4 (2002) que, pelo facto de estar previsto na legislação em vigor, pertence à categoria
dos ensaios de conformidade. Os ensaios de campo, realizados em lisímetro, seguiram um procedimento
interno do LNEC. Em relação a este último, descrevem-se os elementos essenciais do procedimento do
ensaio. Considerando a importância de serem conhecidas algumas características dos materiais estudados,
também se referem os métodos utilizados na determinação dos constituintes e da composição
granulométrica dos RCD, respetivamente, pelas normas NP EN 933-11 (2011) e NP EN 933-1 (2014).

Os ensaios de campo, para a avaliação da libertação de substâncias perigosas nos quatro materiais
reciclados e no ABGE, foram efetuados em lisímetros construídos no campus do LNEC em junho de 2012,
sendo as primeiras recolhas de lixiviado efetuadas em setembro desse ano. As últimas recolhas de lixiviado
foram efetuadas em fevereiro de 2017, ou seja, cerca de quatro anos e oito meses após o início dos ensaios.

Os materiais reciclados e o material natural foram compactados numa bacia plástica de polietileno de alta
densidade (PEAD) com área de 1x1 m2. Na compactação foi utilizado o teor em água ótimo e a baridade
seca máxima obtidos em ensaio Proctor modificado (EN 13286-2, 2010), considerados na construção dos
trechos experimentais realizados no âmbito do projeto SURPEMA. A água adicionada ao material para
alcançar o teor em água ótimo era água ultrapura, de forma a não haver adição de substâncias químicas
aos materiais. O controlo de qualidade da compactação da camada em cada lisímetro foi efetuado com
recurso ao método da garrafa de areia (LNEC E 204, 1967) e do ensaio do teor em água (NP EN 1097-5,
2011).

Para recolher o lixiviado produzido pela passagem das águas pluviais através dos materiais compactados,
foram utilizados recipientes em polietileno (PE), com capacidade de 65 l. A ligação entre as bacias em PEAD
e o recipiente em PE foi estabelecida com tubagem em policloreto de vinilo (PVC).

Todos os materiais em plástico foram cuidadosamente lavados antes de serem utilizados, com o objetivo
de eliminar qualquer fonte de contaminação aos materiais em ensaio. A sequência das lavagens foi a
seguinte: jatos de água da rede de abastecimento público, solução de ácido nítrico a 10 %, água destilada
e água ultrapura.

Para facilitar a percolação do lixiviado das bacias em PEAD para o recipiente em PE, foi construída na base
de cada camada compactada uma camada de drenagem composta por uma camada em cascalho grosso e
uma camada sobrejacente em cascalho fino. O cascalho grosso e o fino foram previamente lavados nesta
sequência: jatos de água da rede de abastecimento público, água destilada e água ultrapura.

Com o objetivo de proteger a superfície do material compactado e minimizar a entrada de substâncias


indesejáveis, foi colocada uma rede em plástico a cobrir o topo das bacias. Por outro lado, para impedir a
entrada das águas de escorrência superficial para o interior da bacia em PEAD, a bacia ficou cerca de
0,15 m acima da cota do terreno natural envolvente, e no perímetro do mesmo foi colocado cascalho grosso
rolado.

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A Fig. 2a mostra o aspeto final de uma bacia com o material compactado a ensaiar e a Figura 2b ilustra a
ligação destas bacias, que rececionam as águas pluviais, aos recipientes que recolhem os lixiviados.

Em cada lisímetro recolheram-se sete amostras de lixiviado, correspondentes às seguintes relações


líquido/sólido (L/S): 0,1, 0,2, 0,5, 1,0, 2,0, 5,0 e 10,0 l/kg de matéria seca (l/kg ms), seguindo o definido
na norma EN 14405 (2017). O tempo necessário para recolher a quantidade de lixiviado necessária a cada
fração L/S variou em função da mesma e da precipitação atmosférica. Considerando, no entanto, que entre
frações a relação L/S aumenta a partir da segunda fração, o tempo necessário para a sua recolha aumenta
com o decorrer do ensaio. A relação cumulativa L/S de 10,0 l/kg nos lisímetros é equivalente à existente
nos ensaios de lixiviação realizados pela EN 12457-4 (2002). A Figura 3 mostra a recolha do lixiviado num
dos lisímetros ensaiados.

Os componentes químicos analisados nos lixiviados dos ensaios efetuados foram os preconizados no
Decreto Lei n. 183/2009, de 10 de agosto (DL, 2009), mas nesta comunicação apresentam-se apenas os
teores obtidos para seis metais pesados (cádmio, Cd, chumbo, Pb, cobre, Cu, cromo total, Cr-total, níquel,
Ni e zinco, Zn), cloretos (Cl-), sulfatos (SO42-) e carbono orgânico dissolvido (COD). As amostras de lixiviado
utilizadas para determinar os teores dos metais pesados foram preservadas com ácido nítrico a pH < 2.
Todas as amostras foram armazenadas a temperatura inferior ou igual a 4ºC, até à realização das análises
químicas.

As recomendações para a preservação das amostras estabelecem prazos para a sua análise, os quais variam
em função do parâmetro a analisar. Considerando que o tempo necessário para recolher as amostras dos
lixiviados nos lisímetros ultrapassou os prazos recomendados, em particular nas frações com maior relação
L/S, é expectável que os teores obtidos para os parâmetros analisados tenham sido influenciados por
diversos fatores. Cite-se, como exemplo, a ação da atividade biológica sobre parâmetros como o teor de
dióxido de carbono, que afeta o pH e a condutividade elétrica. Não sendo possível estimar
quantitativamente a influência do tempo nos resultados obtidos, esta foi, no entanto, tida em consideração
na análise dos resultados obtidos, designadamente na comparação entre os teores obtidos nos ensaios
realizados no campo e em laboratório.

A concentração dos metais pesados foi determinada por espectrometria de emissão atómica de indução
por plasma com acoplamento a espetrometria de massa, o Cl- e o SO42- por cromatografia iónica e o COD
por deteção com infravermelhos. A Figura 3b mostra a recolha de uma amostra de lixiviado utilizada na
análise química.

a) b)
Figura 2 – Lisímetro: a) bacia com o material compactado a ensaiar, b) recipientes de recolha dos lixiviados ligados às
bacias de receção das águas pluviais

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a) b)
Figura 3 – a) Recolha de lixiviado num dos lisímetros ensaiados, b) recolha de uma amostra para análise química do
lixiviado

As medições do pH e da condutividade elétrica (CE) do lixiviado foram efetuadas seguindo os procedimentos


previstos na norma EN 16192 (2011).

No final do ensaio de lixiviação, em cada camada ensaiada, foram efetuados ensaios pelo método da garrafa
de areia e a recolha de amostra para determinação do teor em água em laboratório.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 - Constituintes dos RCD

Os constituintes dos RCD estudados e respetivas proporções são mostrados no Quadro 1. Pela especificação
LNEC E 473 (2009), o material reciclado B (betão britado) pertence à Classe B, o material reciclado BM
(betão britado misto) à classe C, e os materiais BET-B (mistura betuminosa britada) e BET-F (mistura
betuminosa fresada) não pertencem a nenhuma das classes existentes na especificação devido à proporção
de materiais betuminosos, 64 e 99%, respetivamente, ser muito superior ao valor máximo permitido pela
especificação (30%). Pela especificação LNEC E 474 (2009), conclui-se que o material reciclado B pertence
à classe B, o material reciclado BM à classe C, e os materiais reciclados BET-B e BET-F à classe MB.

Quadro 1 - Proporção dos constituintes nos materiais reciclados provenientes dos RCD
Constituintes B BM BET-B BET-F
Rc (%) 84 60 6,1 0,0
Ru (%) 9,4 24 29 0,0
Ra (%) 0,7 12 64 99
Rb (%) 5,3 3,9 0,9 0,0
Rg (%) 0,0 0,0 0,0 0,0
X (%) 0,6 0,1 0,0 1,0
FL (cm3/g) 0,0 0,0 0,0 0,0
Rc - Betão, produtos de betão e argamassas.
Ru - Agregados não ligados, pedra natural, agregados tratados com ligantes hidráulicos.
Ra - Materiais betuminosos.
Rb - Elementos de alvenaria de materiais argilosos (tijolos, ladrilhos e telhas), elementos de alvenria de silicatos
de cálcio e betão celular não flutuante.
Rg - Vidro.
X - Outros: materiais coesivos (p. ex. solos argilosos), plásticos, borracha, metais (ferrosos e não ferrosos),
madeira não flutuante e estuque.
FL - Material flutuante em volume.

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3.2 - Composição granulométrica dos RCD

A partir da composição granulométrica dos materiais reciclados foram traçadas as curvas apresentadas na
Figura 4. A mesma ilustração permite relacionar as curvas granulométricas obtidas com o fuso
granulométrico do Caderno de Encargos (CE) da Infraestruturas de Portugal (anteriormente Estradas de
Portugal, S.A.) (IP, 2009).

As composições granulométricas dos materiais reciclados BM e BET-B são semelhantes e pertencem em


grande parte ao interior do fuso granulométrico do CE da IP. Por outro lado, os materiais reciclados B e
BET-F apresentam composições granulométricas que não verificam, claramente, o fuso granulométrico do
Caderno de Encargos. No caso do material reciclado BET-F decidiu-se corrigir a falta de fração fina com a
incorporação de 70% do ABGE calcário, resultando numa mistura com a composição 30BET F+70ABGE,
que, por um lado, já cumpre o fuso granulométrico da IP e, por outro, reduzindo a percentagem de material
betuminoso, permite a sua classificação na classe C da especificação LNEC E 473.

100 0

90 B 10
BM
80 BET-B 20
BET-F
Material passado (%)

70 30
30BET-F+70ABGE

60 Fuso granulométrico (IP, 2009) 40

50 50

40 60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000

Diâmetro das partículas (mm)

Figura 4 – Curvas granulométricas dos materiais reciclados provenientes dos RCD e do fuso granulométrico da IP

3.3 - Lixiviabilidade dos materiais em laboratório

As substâncias perigosas libertadas a partir dos materiais reciclados e do ABGE calcário foram doseadas
nos eluatos obtidos nos ensaios de laboratório realizados de acordo com a EN 12457-4 (2002), sendo os
resultados apresentados no Quadro 2. Os valores obtidos para os materiais reciclados dos RCD
encontram-se todos abaixo dos valores limite de lixiviação estabelecidos no Decreto-Lei n.º 183/2009, de
10 de agosto (DL, 2009) para os resíduos admissíveis em aterros de resíduos inertes, designadamente os
obtidos para os parâmetros que não se apresentam nesta comunicação (antimónio, Sb, arsénio, As, bário,
Ba, mercúrio, Hg, molibdénio, Mo, selénio, Se, índice de fenol e sólidos dissolvidos totais, SDT). Apenas os
teores de Cr-total e de SO42- no eluato do material reciclado B se aproximaram dos valores limite da
legislação, mas mesmo nestes casos são cerca de duas vezes inferiores aos valores limite correspondentes.
Os resultados obtidos no ABGE calcário mostram que algumas espécies químicas são lixiviadas em teores
mais elevados do que nalguns materiais reciclados, designadamente os teores de Cl- e SO42- nos casos de
BET-B e BET-F e o teor de COD nos casos de B e BM. O pH dos eluatos dos materiais reciclados é mais
elevado do que no eluato do ABGE, sendo a diferença mais acentuada nos materiais reciclados B e BM,
devido à presença do ligante cimentício.

Atendendo a que os teores das substâncias doseadas nos eluatos satisfazem, em termos ambientais, os
requisitos previstos nas especificações LNEC E 473 (2009) e LNEC E 474 (2009), os materiais reciclados
de RCD ensaiados apresentam propriedades que viabilizam a sua utilização na construção das camadas
granulares não ligadas dos pavimentos rodoviários e em aterros.

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Quadro 2 – Libertação de substâncias perigosas nos materiais ensaiados pela EN 12457-4 (2002) (L/S = 10,0 l/kg)
Parâmetro B BM BET-B BET-F 30BET-F ABGE Valores limite
(mg/kg ms) +70ABGE para aterro de
resíduos inertes(*)
Cádmio, Cd <0,005 <0,005 <0,005 <0,005 <0,005 <0,005 0,04
Cromo total, Cr 0,239 0,126 0,046 <0,01 <0,01 <0,01 0,5
Chumbo, Pb <0,024 <0,024 <0,024 <0,024 <0,024 <0,024 0,5
Zinco, Zn 0,031 0,01 0,006 <0,006 0,039 0,035 4
Cobre, Cu 0,047 0,045 0,03 <0,014 <0,014 <0,014 2
Níquel, Ni <0,026 <0,026 <0,026 <0,026 <0,026 <0,026 0,4
Cloretos, Cl- 149 44 35 35 26 44 800
Sulfatos, SO42- 551 267 124 13 50 145 1000
Carbono Orgânico 60 46 71 94 33 71 500
Dissolvido, COD
pH (-) 11,99 11,29 10,95 9,67 8,96 7,90 ─
(*) – Decreto-Lei 183/2009, de 10 de agosto; L/S – Relação líquido/sólido.

3.4 - Lixiviabilidade dos materiais no campo

3.4.1 - Características das camadas ensaiadas

As características das camadas ensaiadas nos lisímetros e construídas com os quatro materiais reciclados
e com o ABGE calcário são apresentadas no Quadro 3.

A espessura das camadas varia entre 11,0 e 14,5 cm e o grau de compactação inicial entre cerca de 87 %
e 100 %. No material reciclado B não se apresenta o grau de compactação pela significativa diferença entre
os teores em água obtidos em laboratório e no campo.

Terminada a fase de lixiviação dos materiais pelas águas pluviais, procedeu-se ao controlo da baridade
seca e do teor em água das camadas. Os resultados obtidos (Quadro 3) mostram que as alterações à
baridade seca inicial foram pouco significativas, sendo as reduções inferiores a 10 %, exceto na mistura
30BET-F+70ABGE, em que a diminuição foi de cerca de 20 %. No teor em água as alterações foram mais
significativas, com o teor em água final a ser cerca de 16 a 55 % inferior ao teor em água inicial. A Figura 5
mostra o perfil transversal das camadas no final dos ensaios. Observou-se uma distribuição homogénea do
material em cada camada, sem segregação dos grossos e sem contaminação entre os materiais da camada
ensaiada e da camada de drenagem subjacente. A vegetação existente na superfície de todas as camadas
ensaiadas não existe em profundidade.

Quadro 3 – Resumo das características das camadas dos materiais compactados nos lisímetros

Ensaio Proctor
Espessura Método da garrafa de areia
Massa modificado GC
Material da camada
(kg) d (inicial-final) w (inicial-final) dmax wOM (%)
(cm)
(g/cm3) (%) (g/cm3) (%)
B 217,75 14,5 1,802 – 1,714 7,4 – 6,2 1,816(*) 16,4(*) ---

BM 195,61 11,0 1,945 – 1,740 9,7 – 7,4 2,054 (*)


8,7 (*)
95,3
BET-B 196,97 12,5 2,057 – 1,866 6,1 – 3,7 2,060 (*)
5,8 (*)
99,7
30BET-
194,51 11,0 2,222 – 1,749 3,6 – 1,6 2,085 4,0 100,0
F+70ABGE
ABGE 223,76 14,0 1,988 – 1,846 4,1 – 2,7 2,277 5,8 87,3
(*) – Valores corrigidos conforme Anexo C da norma EN 13286-2 (2010) para contabilização do material retido
no peneiro com 31,5 mm). d – baridade seca, dmax - baridade seca máxima, w – teor em água, wOM – teor em
água ótimo Proctor modificado, GC – Grau de compactação.

a) b) c) d) e)
Figura 5 – Perfil transversal das camadas ensaiadas no final dos ensaios de lixiviação realizados nos lisímetros:
a) betão britado (B), b) betão britado misto (BM), c) misturas betuminosas britadas (BET-B), d) misturas betuminosas

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fresadas e ABGE calcário (30BET-F+70ABGE) e) calcário britado de granulometria extensa (ABGE)

3.4.2 - Lixiviabilidade dos materiais

Os teores acumulados dos analitos doseados nos lixiviados produzidos nos lisímetros após recolha das sete
frações, que correspondem a uma relação L/S igual a 10,0 l/kg de matéria seca, são apresentados no
Quadro 4.

Os teores dos metais pesados apresentaram valores muito baixos, algumas vezes inferiores ao limite de
quantificação do método utilizado, à semelhança do observado no ensaio de lixiviação realizado em
laboratório pela norma EN 12457-4 (2002). Observa-se, também, que os teores acumulados para as
espécies analisadas não atingiram os valores limite de lixiviação previstos no Decreto-Lei n.º 183/2009, de
10 de agosto (DL, 2009) para a deposição de resíduos em aterros de resíduos inertes para uma razão
L/S=10 l/kg.

O pH medido nas sete frações dos lixiviados recolhidos nos cinco lisímetros foi ligeiramente alcalino, com
os valores mínimo e máximo, respetivamente, de 7,2 e 8,13. Comparando com os valores do pH dos eluatos
recolhidos nos ensaios de lixiviação e realizados em laboratório pela EN 12457-4 (2002), verifica-se que é
muito inferior nos materiais reciclados e da mesma ordem de grandeza no ABGE calcário. A condutividade
elétrica (CE) medida nas mesmas sete frações diminuiu gradualmente, em todos os materiais, entre a
primeira e a sexta fração, e subiu ligeiramente da sexta fração para a sétima fração. O aumento da CE da
sexta para a sétima fração pode dever-se a um aumento da influência das condições externas face à fraca
quantidade de espécies químicas ainda lixiviáveis nos materiais ensaiados.

Quadro 4 – Resultados dos ensaios de lixiviação nos lisímetros (L/S = 10,0 l/kg)
Parâmetro B BM BET-B 30BET-F ABGE Valores limite
(mg/kg ms) +70ABGE para aterro de
resíduos inertes(*)
Cd <0,0005 <0,0005 <0,0005 <0,0005 <0,0005 0,04
Cr-total 0,14 0,108 <0,005 <0,005 <0,005 0,5
Pb 0,011 0,01 <0,001 <0,001 <0,001 0,5
Zn 0,022 0,02 <0,002 0,026 0,028 4
Cu 0,021 0,019 0,028 0,018 0,011 2
Ni <0,003 <0,003 <0,003 <0,003 <0,003 0,4
Cl- 103,47 100,09 88,16 69,31 72,22 800
SO42- 782,81 819,46 352,33 82,27 415,78 1000
COD 32,40 42,81 77,39 27,98 18,79 500
pH (-) 7,23-7,36 7,25-7,53 7,48-7,99 7,74-7,50 7,46-7,49 ─
(valores inicial e final)
CE (S/cm) 1540-280 1374-313 858-281 247-161 721-241 ─
(valores inicial e final)
(*) – Decreto-Lei 183/2009, de 10 de agosto; L/S – Relação líquido/sólido; CE – Condutividade elétrica.

3.5 - Comparação da lixiviabilidade dos materiais em laboratório e no campo

O Quadro 5 compara os teores dos componentes doseados nos lixiviados recolhidos nos lisímetros e nos
eluatos produzidos nos ensaios de laboratório segundo a norma EN 12457-4 (2002).

Os teores dos metais pesados são muito baixos e, com frequência, são mesmo inferiores ao limite de
quantificação dos procedimentos de ensaio utilizados, pelo que, em relação a estes componentes, é mais
difícil retirar conclusões. Os dados que permitem a análise comparativa, indicam que os teores obtidos no
campo e em laboratório são similares.

Nos cloretos, os teores foram mais elevados nos ensaios de laboratório realizados com os materiais
reciclados B e 30BET-F+70ABGE, e mais baixos nos restantes três materiais. Tendo por referência o ensaio
de conformidade, os teores dos cloretos nos ensaios de campo foram 31 e 45% inferiores nos materiais
reciclados B e 30BET-F+70ABGEB e 64 a 151% superiores nos restantes (B, BET-B e ABGE).

Os teores de sulfatos foram mais elevados nos ensaios de campo do que nos ensaios de laboratório, em
todos os materiais. Tomando de novo por referência o ensaio de conformidade, os teores dos sulfatos nos
ensaios de campo foram 42 a 207% superiores.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 5 – Comparação da libertação de substâncias perigosas no campo (lisímetro) e em laboratório (EN 12457-4),
com L/S = 10 l/kg
Componente B BM BET-B Valores limite para aterro
(mg/kg de ms) Campo - Lab Campo - Lab Campo - Lab de resíduos inertes(*)
Cd <0,0005 - <0,005 <0,0005 - <0,005 <0,0005 - <0,005 0,04
Cr-total 0,140 - 0,239 0,108 - 0,126 <0,005 - 0,046 0,5
Pb 0,011 - <0,024 0,010 - <0,024 <0,001 - <0,024 0,5
Zn 0,022 - 0,031 0,020 - 0,010 <0,002 - 0,006 4
Cu 0,021 - 0,047 0,019 - 0,045 0,028 - 0,030 2
Ni <0,003 - <0,026 <0,003 - <0,026 <0,003 - <0,026 0,4
Cl- 103 - 149 100 - 44 88 - 35 800
SO42- 783 - 551 819 - 267 352 - 124 1000
COD 32 - 60 43- 46 77 - 71 500
Componente 30BET-F+70ABGE ABGE Valores limite para aterro
(mg/kg de ms) Campo - Lab Campo - Lab de resíduos inertes(*)
Cd <0,0005 - <0,005 <0,0005 - <0,005 0,04
Cr-total <0,005 - <0,010 <0,005 - <0,010 0,5
Pb <0,001 - <0,024 <0,001 - <0,024 0,5
Zn 0,026 - 0,039 0,028 - 0,035 4
Cu 0,018 - <0,014 0,011 - <0,014 2
Ni <0,003 - <0,026 <0,003 - <0,026 0,4
Cl- 69 - 126 72 - 44 800
SO42- 82 - 50 416 - 145 1000
COD 28 - 33 19 - 71 500
(*) – Decreto-Lei 183/2009, de 10 de agosto; L/S – Relação líquido/sólido; COD - Carbono Orgânico Dissolvido.

Relativamente ao COD, as diferenças entre os teores obtidos em laboratório e no campo são inferiores às
registadas com os cloretos e os sulfatos, situando-se entre 6,5 e 73%. Em quatro materiais (B, BM, 30BET-
F+70ABGEB e ABGE), os teores de COD foram maiores nos ensaios laboratoriais do que nos ensaios de
campo. Apenas no material reciclado BET-B, o teor de COD foi maior em 8,5 % no ensaio de campo que
no ensaio laboratorial.

A Figura 6 mostra a disposição relativa dos teores obtidos para o Cr-total e o Cl- nos ensaios realizados em
laboratório e no campo, mostrando a Figura 7 os parâmetros SO42- e COD.

0,30 160
ABGE ABGE ABGE
140 BET-B
0,25 BET-B
30BET-F+70ABGE B 30BET-F+70ABGE BM
120
Cromo total (mg/kg ms)

BM
Cloretos (mg/kg ms)

BM
0,20
B 100 B

0,15 80
BM
60
0,10
B BET-B
40
0,05 30BET-F+70ABGE
BET-B 20
ABGE 30BET-F+70ABGE
0,00 0
0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12
L/S (l/kg) L/S (l/kg)
Figura 6 – Comparação dos resultados obtidos para o cromo total e os cloretos nos ensaios realizados no campo com o
lisímetro e em laboratório pela norma EN 12457-4 (2002)

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900 90
ABGE
ABGE
800 BET-B 80
BET-B
30BET-F+70ABGE ABGE
700 70 30BET-F+70ABGE BET-B
BM
Sulfatos (mg/kg ms)

BM
600 B 60 B

COD (mg/kg ms)


B B
500 50
BM
400 40
30BET-F+70ABGE
300 30
BM
200 20
ABGE
BET-B 10
100
30BET-F+70ABGE 0
000
0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12
L/S (l/kg) L/S (l/kg)
Figura 7 – Comparação dos resultados obtidos para os sulfatos e o carbono orgânico dissolvido (COD) nos ensaios
realizados no campo com o lisímetro e em laboratório pela norma EN 12457-4 (2002)

O conjunto de resultados obtidos neste estudo não permite afirmar, como noutros estudos oportunamente
mencionados, que o ensaio laboratorial seja conservativo relativamente ao ensaio de campo. Esta conclusão
fica, no entanto, prejudicada pela existência de um grande número de teores, em particular nos metais
pesados, que se situaram abaixo do limite de quantificação do método utilizado nas suas dosagens.
Atendendo às diferenças observadas nos resultados obtidos e às incertezas associadas aos métodos de
análise química utilizados na sua obtenção, retira-se, antes, que os ensaios realizados em laboratório e no
campo permitiram chegar a conclusões semelhantes.

4- CONCLUSÕES

O perigo da libertação de substâncias poluentes dos RCD e o risco que representam para a saúde pública
e o ambiente justificam a avaliação da libertação de substâncias perigosas a partir dos materiais reciclados
provenientes daqueles resíduos.

Os resultados dos ensaios de lixiviação realizados em laboratório pela norma EN 12457-4, e pertencentes
à categoria dos ensaios de conformidade, mostraram que os teores das substâncias perigosas libertadas
se situavam abaixo dos valores limites de lixiviação previstos na legislação em vigor para a admissão dos
resíduos em aterros de resíduos inertes. Nestas condições, as especificações LNEC E 473 e LNEC E 474
viabilizam, do ponto de vista ambiental, a utilização dos quatro materiais reciclados de RCD ensaiados na
construção, respetivamente, das camadas granulares não ligadas da base e da sub-base dos pavimentos
rodoviários e nas camadas de leito e de aterro.

O conjunto de resultados obtidos neste estudo não permite afirmar, como noutros estudos oportunamente
mencionados, que o ensaio laboratorial seja conservativo relativamente ao ensaio de campo. Esta conclusão
fica, no entanto, prejudicada pela existência de um grande número de teores nos metais pesados que se
situaram abaixo do limite de quantificação do método utilizado nas suas dosagens. Atendendo às diferenças
observadas nos resultados obtidos e às incertezas associadas aos métodos de análise química utilizados na
sua obtenção, retira-se, antes, que os ensaios realizados em laboratório e no campo permitiram chegar a
conclusões semelhantes.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro do projeto "PTDC/ECM/100931/2008 - SUPREMA - Aplicação


Sustentável de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Infraestruturas Rodoviárias" financiado pela
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), do Ministério Português da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior. Também se apresentam agradecimentos às empresas Ambigroup, SGPS, S.A. e Teodoro Gomes
Alho, S.A., pelo fornecimento dos materiais.

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REFERÊNCIAS

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COMPORTAMENTO TENSÃO CISALHANTE-DEFORMAÇÃO DE UM REJEITO DE


MINÉRIO DE FERRO REFORÇADO COM FIBRAS DE POLIPROPILENO
DISTRIBUÍDAS ALEATORIAMENTE

STRAIN-SHEAR BEHAVIOR OF IRON TAILINGS REINFORCED WITH


RANDOMLY DISTRIBUTED POLYPROPYLENE FIBERS

G. Sotomayor, Juan Manuel; Pontifícia Universidade Católica, RJ, Brasil, girao.sotomayor@gmail.com


D.T. Casagrande, Michéle; Universidade de Brasília, RJ, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO

O presente trabalho analisa o comportamento mecânico e volumétrico de um rejeito de minério de ferro


não reforçado e reforçado com fibras de polipropileno aleatoriamente distribuídas. O material foi coletado
de uma barragem para deposição de rejeitos de ferro. Uma boa homogeneização fibra-rejeito foi obtida
com um teor de fibras de 0,5% em peso seco da matriz, valor utilizado em pesquisas anteriores. Ensaios
de cisalhamento direto convencional e de plano cisalhado com superfície polida foram feitos para gerar as
envoltórias de resistência de pico e residual. Os ensaios foram feitos sob a condição submersa para manter
drenagem livre entre o exterior e interior da caixa de ensaios durante as etapas de adensamento e
cisalhamento e obter parâmetros efetivos. Tensões normais verticais de 25, 50, 100, 200 e 400 kPa foram
utilizadas. Os resultados mostram que a adição da fibra incrementa os parâmetros de resistência de pico e
residual de 32,8º a 36,7º e de 28,1 a 34,9º respectivamente. O reforço também muda a tendência
volumétrica contrativa para dilatante e melhora a resposta na ruptura com um comportamento mais dúctil.
Este tipo de reforço pode ser aplicado na manutenção de taludes de barragens de rejeito que tenham
rompido em zonas onde exista a dificuldade de colocar um reforço geosintético planar. O uso do rejeito de
minério de ferro reforçado aprovisionará melhores caraterísticas de resistência à zona afetada visando ser
uma resposta eficaz para um problema que requer uma rápida ação.

ABSTRACT

The present work analyzes the mechanical and volumetric behavior of an unreinforced and reinforced iron
mine tailings with randomly distributed polypropylene fibers. The material was collected from a dam for
the deposition of iron tailings. A good fiber-tailing homogenization was obtained with a fiber content of
0,5% by dry weight of the matrix, value used in previous research. Conventional direct shear and shear
plane tests with a polished surface were made to generate the peak and residual strengths envelopes. The
tests were done under the submerged condition to maintain free drainage between the exterior and interior
of the test box during the steps of consolidation and shear to obtain effective parameters. Normal vertical
stresses of 25, 50, 100, 200 and 400 kPa were used. The results show that the fiber addition increases the
peak and residual strengths parameters from 32.8 ° to 36.7 ° and from 28.1 to 34.9 ° respectively. The
reinforcement also changes the contractive volumetric tendency to dilatant and improves the rupture
response with a more ductile behavior. This type of reinforcement can be applied in the maintenance of
slopes of tailings dams that have ruptured in areas where it is difficult to place a planar geosynthetic
reinforcement. The use of reinforced iron mine tailings will provide better resistance characteristics to the
affected zone in order to have an effective response to a problem requiring rapid action.

1- INTRODUÇÃO

O Ferro é um material amplamente utilizado na indústria principalmente como matéria prima em atividades
como a produção de aço, a indústria da construção ou na fabricação de carros e produtos eletrodomésticos,
entre outros. O material é retirado por médio de diferentes processos mecânicos e químicos nas plantas
concentradoras para sua posterior venda às empresas siderúrgicas. A grande produção gera grandes
quantidades de rejeitos, materiais que não são produtos de interesse comercial.

Diretrizes e documentos mencionam considerações para garantir a segurança das barragens a longo prazo
(ICOLD, 2013; ANCOLD, 2011). A forma de armazenamento dos rejeitos é determinada pelo tipo de
material, a topografia do local e as condições ambientais existentes. As metodologias empregadas para
seu armazenamento são diversas, mas os critérios tecnológicos e econômicos adotados não devem
comprometer o meio ambiente nem afetar a velocidade de produção do minério. O método
economicamente mais atrativo para as empresas mineradoras é o alteamento pelo método de montante
que normalmente utiliza o próprio rejeito de minério como material de construção para os diques de
alteamento, suprimindo os custos derivados de utilizar materiais de empréstimo.

1185
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Os diferentes processos fazem que os rejeitos de minério de ferro apresentem diferentes propriedades
índice, não se recomendando trabalhar com valores médios obtidos na literatura, portanto a caraterização
físico química é de caráter primordial. Em tal sentido, como para o caso dos solos naturais, realizou-se um
programa de caraterização física e química mediante ensaios de granulometria, limites de Attemberg,
densidade relativa dos grãos, grau de acidez e compactação com proctor normal. Os rejeitos procedem de
processos de desgaste mecânico e químico, portanto, se realizaram analises mineralógicos para descobrir
se existe alguma restrição na escolha da fibra de reforço dependente dos constituintes químicos
encontrados no rejeito.

O presente trabalho procura analisar a resposta do rejeito de minério de ferro utilizando o ensaio de
cisalhamento direto convencional para determinar as mudanças no comportamento tensão cisalhante-
deslocamento não reforçado e reforçado com fibras de polipropileno, e ensaios de plano cisalhado com
superfície polida para tentar obter uma resposta do comportamento residual do material.

2- ORIGEM E CARATERISTICAS FISICO-QUIMICAS DO REJEITO DE MINERIO DE FERRO

Os rejeitos pertencem a uma empresa privada dedicada à extração e processamento de ferro, que se
encontra no Peru. O processo de geração dos rejeitos é como brevemente se descreve a seguir: os minérios
são transportados por correias até o prédio de peneirado e britagem, conseguindo fragmentos menores
que tem uma cominuição inicial até um máximo de 12 mm, esse material passa à etapa de concentrado
onde o minério passa por mais duas fases de cominuição na moagem pré-primária e uma fase na moagem
secundaria passando à flotação em coluna. Dos espessados o concentrado passa para os tanques de
estocagem sendo transportados por minero dutos, os rejeitos em polpa são transportados por tubos até as
barragens de mineração.

Resultados de analises mineralógicas por fluorescência de raios X, efetuadas em amostras secas na estufa
e destorroadas indicaram a presença de SiO2 (84,04%), Fe2O3 (13,10%), Al2O3 (1,81%), SO3 (1,04%) e
outros (0.01%), próprios de este tipo de material e do processo. Estas porcentagens foram verificadas
pelos analises de microscopia de varredura eletrônica.

Realizaram-se ensaios de granulometria mediante peneiramento e sedimentação utilizando amostras com


secagem prévia segundo norma ABNT NBR-7181 (1984a), as porcentagens e caraterísticas da curva
granulométrica são apresentadas nos quadros 1 e 2 respectivamente.

Quadro 1 - Analise granulométrico do rejeito de minério de ferro


Areia (%)
Argila (%) Silte (%)
Fina (%) Media (%) Grossa (%)
0,90 21,58 54,70 21,06 1,76

Quadro 2 - Caraterísticas da curva granulométrica


Diâmetro efetivo D10 0,0322
Diâmetro médio D50 0,1137
Coeficiente de uniformidade (Cu) 4,1
Coeficiente de curvatura (Cc) 1,3
Índice de vazios máximo (e max) 0,84
Índice de vazios mínimo (e min) 0,55

Utilizando o Sistema Único de Classificação de Solos (SUCS) o rejeito de minério de ferro classifica como
uma areia siltosa (SM). Para verificar as porcentagens da fração menor a 0.0075 mm se utilizou um
granulómetro laser avaliando o material com e sem defloculante de hexametafosfato de sódio, não se
encontrando variações com respeito às percentagens dadas pela sedimentação confirmando o baixo teor
de argila.

As caraterísticas de compactação do rejeito foram obtidas utilizando ensaios dinâmicos de tipo Proctor
normal utilizando a norma ABNT NBR-7182 (1986). O material foi inicialmente seco na estufa de 50º C e
compactado após a adição da água destilada. O material foi reutilizado e neste trabalho não se realizou um
estudo para determinar a influência na curva de compactação pela reutilização do material. A massa
específica aparente seca máxima é 1,746 g/cm3 para um teor de umidade ótimo de 12,3%. Com o valor
do Gs e a densidade máxima seca aparente se pode calcular o índice de vazios teórico à umidade ótima,
portanto para um Gs=2,892 e d=1,746 g/cm3 corresponde um e=0,656. Com os valores de e max=0,84,
e min=0,55 se calcula que o material possui uma densidade relativa (Dr) de 65%, portanto tem uma
compacidade média.

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3- CARATERISTICAS FISICO-MECÂNICAS DA FIBRA DE POLIPROPILENO

Os monofilamentos de polipropileno apresentam-se em forma de pequenos pacotes de fibras que são


desfiadas para serem misturadas com a matriz de rejeito. No processo de mistura é importante uniformizar
as camadas de rejeito-fibra, para garantir uma boa distribuição que consiga um material homogêneo, para
tal fim se deve evitar que as fibras entrem em contato e formem pelotas. As caraterísticas das fibras obtidas
pelos dados do fabricante se mostram no quadro 3. O teor de fibra utilizado é de 0,5% em peso seco do
rejeito, esse valor foi utilizado em outras pesquisas que utilizaram fibras de polipropileno (Consoli et al.,
2007; Consoli et al., 2009) devido que é o limite superior para garantir a homogeneização com a matriz.

Quadro 3 - Caraterísticas da fibra de reforço


Tipo Polipropileno
Cor Transparente
Diâmetro (mm) 0,03
Comprimento (mm) 24
Modulo de elasticidade (GPa) 5
Densidade Relativa 0,92

4- ESTUDO EXPERIMENTAL

4.1 - Moldagem dos corpos de prova

Os corpos de prova foram talhados num molde de aço de 100 mm x 100 mm de lado e 20 mm de altura
que foi subdividida para colocar 5 camadas e garantir melhor a uniformidade das fibras e a densidade
relativa do material (Dr=65%). O processo de moldagem foi igual para o rejeito com e sem fibra. Para a
pesagem das fibras e do rejeito de ferro se utilizaram balanças de precisão de 0,001 g. e 0,01 g.
respectivamente. O processo de mistura consistiu em colocar primeiro uma camada fina de rejeito e acima
as fibras desfiadas manualmente para finalizar com outra camada de rejeito, finalmente se espalhava o
teor de agua correspondente à umidade ótima e mediante uma colher se procedia a misturar o conjunto.
Visualmente se conseguiu uma distribuição uniforme das fibras.

4.2 - Equipamento

O equipamento de cisalhamento direto utiliza um motor elétrico que impulsa as engrenagens responsáveis
da taxa de deslocamento. Seguindo as recomendações de Head (1994) utilizando os dados do adensamento
a taxa de deslocamento calculada foi de 0.06 mm/min. Para a aplicação da carga vertical se utilizou um
sistema de tipo pendural com o qual se conseguiu aplicar a carga com braço de alavanca. Durante o ensaio
a força horizontal foi medida mediante um anel de carga instrumentado de 500 kg de capacidade,
desenvolvido na PUC-Rio, enquanto que, os deslocamentos verticais e horizontais foram medidos por
transdutores de deslocamento tipo LSCDT de 20 mm de comprimento (Fig.1).

4.3 - Ensaio de cisalhamento direto convencional e de plano cisalhado com superfície polida

Os ensaios foram feitos para tensões normais verticais (n) de 25, 50, 100, 200 e 400 kPa para definir
completamente o comportamento tensão deslocamento e o consequente ângulo de atrito () e intercepto
coesivo (c) não reforçado e reforçado. Se fizeram ensaios convencionais para determinar a resistência de
pico e ensaios de plano cisalhado com superfície polida para determinar o comportamento residual. As
etapas de adensamento e cisalhamento se realizaram sob condição submersa com o intuito de manter a
drenagem da amostra e obter parâmetros efetivos.

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Figura 1 – Equipamento de cisalhamento direto

A respeito da resistência de pico é bem sabido que o ensaio de cisalhamento direto possui limitações para
reproduzir parâmetros de resistência que sejam fieis à realidade devido que se submete à amostra a um
plano de ruptura estabelecido gerando um estado de tensões que é impreciso para sua determinação
confiável. Este ensaio é utilizado nesta pesquisa devido a sua grande utilidade em trabalhos com diferentes
tipos de solo devido que quando os deslocamentos laterais ocorrem em um terreno ligeiramente inclinado,
o solo é submetido a uma trajetória de tensões semelhante ao cisalhamento direto simples (Olson e
Mattson, 2008). Os ensaios de cisalhamento direto de plano cisalhado com superfície polida se realizam
após o ensaio convencional (Fig. 2), no qual, se retira a caixa de cisalhamento do equipamento, e realiza-
se o corte do corpo de prova passando um fio fino de aço ao longo da interfase das caixas superior e
inferior, as quais são separadas para polir as respectivas superfícies que depois se colocam novamente em
contato gerando a superfície de ruptura residual, finalmente a caixa é colocada no equipamento e o ensaio
realiza-se na mesma velocidade de cisalhamento do ensaio convencional. O quadro 4 apresenta o programa
dos ensaios realizados.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 2 – Preparação do ensaio de cisalhamento direto de plano cisalhado com superfície polida
(a) amostra após o ensaio de cisalhamento convencional (b) corte do plano cisalhado com fio de aço
(c) polido da superfície cisalhada inferior e superior (d) colocação das caixas superior e inferior para ensaio

Quadro 4 - Programa de ensaios de cisalhamento direto


Tipo de Ensaio Sem Reforço (SR) Reforçado (R)
25kPa - SR 25kPa - R
50kPa - SR 50kPa - R
Convencional 100kPa - SR 100kPa - R
200kPa - SR 200kPa - R
400kPa - SR 400kPa - R
SP-25kPa - SR SP-25kPa - R
Plano cisalhado SP-50kPa - SR SP-50kPa - R
com SP-100kPa - SR SP-100kPa - R
Superfície Polida SP-200kPa - SR SP-200kPa - R
SP-400kPa - SR SP-400kPa - R

5- RESULTADOS E ANALISES

5.1 - Ensaio de cisalhamento direto convencional e de plano cisalhado com superfície polida

As curvas tensão cisalhante – deslocamento horizontal, dos ensaios convencional e de superfície polida não
reforçado e reforçado, são apresentadas na Figura 3. Note-se que a rigidez inicial (pendente inicial das
curvas tensão cisalhante-deslocamento) é similar no rejeito não reforçado e reforçado, mas com o
deslocamento existe uma marcada diferença entre curvas sob a mesma tensão normal vertical. Também é
visível que a tensão cisalhante de pico e o deslocamento horizontal são afetados pela presença da fibra,
assim como o comportamento de pós pico.

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(a) (b)

Figura 3 - Curvas Tensão cisalhante – deslocamento horizontal


(a) convencional (b) plano cisalhado com superfície polida

No ensaio convencional, o rejeito sem reforço apresenta uma tensão de pico seguida de uma queda e um
pequeno aumento de tensão produto do rearranjo dos grãos dado pela deformação da matriz oferecendo
certa resistência ao deslocamento. O rejeito submetido a uma maior tensão normal alcança a tensão
cisalhante de pico com um menor deslocamento horizontal porque o material fica mais rígido. No caso
reforçado, a fibra começa agir na primeira fissura trabalhando como ponte para a transferência de tensões
entre os segmentos separados de rejeito. O aparecimento da primeira fissura depende do nível de tensão
normal.

O ensaio de plano cisalhado e superfície polida foi realizado como alternativa para medir a resistência
residual. Neste caso a superfície de ruptura está bem definida portanto a resistência está dada pelo atrito
de contato, isto se verifica pela inexistência do intercepto coesivo (Fig. 5b) em ambos os casos não
reforçado e reforçado. Neste ensaio a fibra não atua mais como ponte de transferência entre os segmentos
separados de rejeito portanto o acréscimo no ângulo de atrito que aparece no rejeito reforçado se deve à
resistência ao arrancamento das fibras ancoradas em cada segmento, o atrito entre as superfícies
cisalhadas em movimento, gera uma força no plano de contato que tenta tirar as fibras que encontram-se
ancoradas se resistindo ao deslocamento.

5.2 - Perda da Rigidez Inicial

A perda total da rigidez inicial é um indicador da alteração produzida na estrutura do rejeito devido ao
continuo deslocamento. A evolução desta perda mostra como o rejeito atua quando reforçado. Para
entender quando a fibra começa agir na matriz de rejeito utiliza-se a rigidez inicial como referência. A
Figura 4 mostra a evolução da perda de rigidez inicial em porcentagem segundo o aumento do
deslocamento horizontal para todos os ensaios não reforçados e reforçados.

No quadro 5 se mostram os deslocamentos mínimos com que se geram perdas de 25, 50, 75 e 100% do
valor da rigidez inicial. Pode-se notar que tanto para o rejeito não reforçado como reforçado para todas as
tensões perde-se o 50% da rigidez inicial com 1,0 mm de deslocamento, mas quando a rigidez inicial é
afetada em um 75% a mais, existe uma variação visível indicando que o reforço começa agir na matriz de
rejeito evidenciando um comportamento mais dúctil que adianta a perda total de rigidez inicial em
deslocamentos maiores comparados com o rejeito não reforçado.

Quadro 5 - Perda da Rigidez inicial


Perda da Rigidez Sem Reforço Reforçado
Inicial (%) (mm) (mm)

25 1,0 1,0
50 1,0 1,0
75 1,5 2,5
100 4,5 7,5

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Figura 4 - Evolução da perda de Rigidez Inicial em tensões normais


(i) baixas (25, 50kPa) e (ii) altas (200, 400 kPa)

A perda de rigidez nos indica que para qualquer valor de tensão normal a resistência da matriz se reduz a
partir de um deslocamento de 4,5 mm, enquanto que na matriz reforçada a partir de 7,5 mm, portanto se
pode deduzir conservadoramente que a fibra começa atuar a partir dos 4,5 mm de deslocamento, além de
que as curvas tensão cisalhante versus deformação mostrem que o instante em que a fibra começa atuar
é dependente da tensão normal aplicada.

5.3 - Parâmetros de Resistência

Os parâmetros de resistência do rejeito não reforçado e reforçado são obtidos por regressão linear da
envoltória de resistência com um coeficiente de correlação de 0,99. As envoltórias de resistência dos
ensaios convencional e de plano cisalhado com superfície polida se apresentam na Figura 5. Os valores da
tensão normal, tensão cisalhante e deslocamento horizontal à ruptura do rejeito não reforçado e reforçado
são apresentados no quadro 6.

Quadro 6 - Resultados do programa experimental


Tensão Tensão Coeficiente
Teor de Deslocamento
Vertical à cisalhante Ângulo de Coesão de
Ensaio Fibra Horizontal à
ruptura à ruptura atrito (º) (kPa) Correlação
(%) ruptura (mm)
(kPa) (kPa) (R2)
26,6 16,4 7,5
51,7 25,2 7,0
Convencional 0,00 105,5 71,6 7,0 32,8 0,0 0,99
207,5 127,5 4,5
407,7 266,2 4,5
28,9 6,1 15,0
Plano
56,3 29,9 15,0
Cisalhado com
0,00 115,2 61,2 15,0 28,1 0,0 0,99
Superfície
234,8 133,8 15,0
Polida
460,2 238,5 15,0
26,9 23,6 5,5
58,8 44,8 6,5
Convencional 0,50 110,1 93,8 11,0 36,7 2,2 0,99
232,8 153,6 12,5
449,3 345,5 12,5
29,5 18,5 15,0
Plano
58,8 43,1 15,0
Cisalhado com
0,50 115,2 78,8 15,0 34,9 0,0 0,99
Superfície
234,3 149,2 15,0
Polida
449,2 315,7 15,0

Como as curvas tensão-deformação do rejeito reforçado não apresentam uma tensão cisalhante de pico
adotou-se o critério proposto por De Campos e Carrillo (1995) onde se assume que a matriz rompe quando
a curva tensão-deslocamento atinge uma inclinação constante ou nula.

1190
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

(a) (b)
Figura 5 - Envoltórias de resistência
(a) convencional (b) plano cisalhado com superfície polida

Note-se que a adição da fibra incrementa os parâmetros de resistência tanto nos ensaios convencionais
como de plano cisalhado com superfície polida. Sob baixas tensões normais a adição de fibra atua em
detrimento da resistência devido que uma tensão normal baixa não permite que a fibra preencha os vazios
na matriz e ao contrario sua adição gera mais vazios, altas tensões normais seguram a matriz com a fibra
reduzindo os vazios e melhorando a interação matriz-fibra. O intercepto coesivo de valor nulo (Fig. 5b)
verifica que a condição residual foi plenamente atingida no ensaio de plano cisalhado com superfície polida.

5.4 - Mobilização do ângulo de atrito e do intercepto coesivo

A mobilização dos parâmetros de resistência, é obtida mediante os valores de tensão cisalhante e tensão
normal obtida cada 0,5 mm de deslocamento. Em cada ponto realizou-se a envoltória de resistência para
obter a gráfica da mobilização dos parâmetros durante todo o ensaio.

Os resultados apresentados na Figura 6(a) correspondem ao ensaio convencional. Note-se que o rejeito
não reforçado apresenta um ângulo de atrito de pico enquanto que o rejeito reforçado aumenta com o
deslocamento. O intercepto coesivo apresentado corresponde ao rejeito reforçado devido que o rejeito não
reforçado apresentou uma coesão zero.

(a) (b)

Figura 6 - Mobilização do ângulo de atrito e do intercepto coesivo


(a) convencional (b) de plano cisalhado com superfície polida

Observa-se no deslocamento de 4,5 mm, descrito anteriormente como o deslocamento onde se alcança a
perda total da rigidez da matriz não reforçada, que o ângulo de atrito continua incrementando até o final
do ensaio enquanto que no material não reforçado sofre uma queda após o valor de pico. O intercepto

1191
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

coesivo mobilizado da amostra reforçada, atinge um valor de 4 kPa em 4,5 mm de deslocamento,


mostrando o início da interação fibra-matriz que depois chega a um valor máximo de 4,5 kPa. Este valor
de intercepto coesivo de pico coincide com a queda do ângulo de atrito não reforçado, portanto na amostra
reforçada, uma vez que a estrutura dos grãos de rejeito falha, a fibra desempenha sua função de segurar
os segmentos separados de rejeito gerando um intercepto coesivo temporal. Como o deslocamento avança,
a resistência ao arrancamento da fibra é superada e consequentemente o intercepto coesivo é reduzido até
zero.

Na Figura 6(b), apresenta-se a gráfica da mobilização do ângulo de atrito no ensaio de plano cisalhado com
superfície polida mostrando que as amostras não reforçadas e reforçadas conseguem permanecer estáveis
depois de atingir um valor de pico. Note-se que além de ter rompido o rejeito, a adição de fibra fornece
um acréscimo ao atrito residual entre os segmentos separados de rejeito, fato explicado em parágrafos
anteriores.

5.5 - Variação Volumétrica

As curvas de deslocamento horizontal e vertical mostram que quando o rejeito não possui reforço seu
comportamento é contrativo mas quando tem inseridas as fibras inicialmente se apresenta como contrativo
e depois muda para um comportamento dilatante. Note-se na Figura 7, que a mudança nos gráficos começa
aproximadamente a partir de 4,5 mm de deslocamento. Portanto se pode afirmar que a presença da fibra
muda o comportamento de contrativo a dilatante.

Figura 7 - Variação volumétrica do rejeito não reforçado e reforçado

Nos gráficos dos ensaios de plano cisalhado com superfície polida, se observa que os deslocamentos no
rejeito não reforçado permanecem constantes mostrando que a fase residual foi totalmente atingida.
Enquanto que, no rejeito com reforço existe uma pequena compressão que pode ser porque as fibras geram
vazios na superfície que é preenchida pelo arranjo dos grãos durante o cisalhamento até ficar estável.

6- CONCLUSÕES

O presente trabalho visou avaliar o comportamento de um rejeito de minério de ferro não reforçado e
reforçado com fibras de polipropileno distribuídas aleatoriamente, para tal finalidade, utilizou-se o ensaio
de cisalhamento na condição submersa do tipo convencional e de plano cisalhado com superfície polida. A
seguir se apresentam as conclusões baseadas nas informações obtidas no trabalho.

1192
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O reforço de fibras de polipropileno inseridas aleatoriamente na matriz de rejeito de minério de ferro


melhora significativamente o valor do ângulo de atrito de 32,8º a 36,7º, enquanto que, o incremento
favorável no intercepto coesivo é desprezível. Ensaios de plano cisalhado com superfície polida se
realizaram visando obter uma resposta residual das amostras não reforçadas e reforçadas. Comprovou-se
que após a ruptura, a adição de fibras conseguiu elevar o ângulo de atrito de 28,1º a 34,9º mantendo uma
coesão zero própria de um material cisalhado;

Realizou-se uma avaliação da perda da rigidez inicial se comprovando que o reforço aumenta a resposta
dúctil do material, fato demostrado, devido que a perda total da rigidez inicial do rejeito não reforçado se
alcançou em um deslocamento de 4,5 mm enquanto que o rejeito reforçado em 7,5 mm;

Envoltórias de resistência com os valores de tensão cisalhante e tensão normal a cada 0,5 mm
determinaram a mobilização dos parâmetros de resistência. O rejeito não reforçado alcançou um ângulo
de atrito pico de 32,8º em 4,0 mm de deslocamento, enquanto que a amostra reforçada, não apresentou
pico, mostrando um incremento constante do ângulo de atrito até um valor de 36,7º em 15 mm;

O valor da coesão no material não reforçado foi zero. No caso reforçado, nota-se que a mobilização do
intercepto coesivo passa por uma etapa de expansão, pico e queda cuja interpretação física corresponde à
resistência ao cisalhamento da estrutura do rejeito, a interação da fibra-rejeito e o arrancamento das fibras
que se encontram no plano de cisalhamento, respectivamente. O ensaio de plano cisalhado e superfície
polida mostrou que o ângulo de atrito do material reforçado também aumenta na condição residual. Quando
a condição residual é alcançada, as fibras fornecem um acréscimo no atrito de contato oferecendo uma
resistência adicional ao deslocamento. As gráficas de deslocamento horizontal e vertical comprovaram que
a adição de fibra muda o comportamento volumétrico do rejeito de uma resposta contrativa para dilatante.

Em resumo, uma adição de 0,5% de fibra de polipropileno à matriz de rejeito de minério de ferro melhora
as caraterísticas de resistência e de deformação tanto nas fases de ruptura como residual, recomendando-
se seu uso na manutenção de taludes de rejeito colocando o mesmo material com fibra, melhorando as
caraterísticas de resistência na zona afetada.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam seu agradecimento para as instituições que deram suporte técnico e econômico:
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pelos auxílios dados para esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT (1984a) - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Análise granulométrica. NBR-7181.

ABNT (1986) - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Ensaio de Compactação. NBR-7182.

ABNT (1984b) - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Grãos de solos que passam na peneira de 4,8 mm -
Determinação da massa específica - NBR-6508.

Australian Committee on Large Dams, ANCOLD (2011) - Guidelines on tailings dams – planning, design, construction,
operation and closure. Austrália. 60 p.

Consoli, N. C., Casagrande, M. D. T. e Coop, M. R. (2007) - Performance of a fiber-reinforced sand at large shear
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Consoli N. C., Vendruscolo M. A. e Foninia A. (2009) - Fiber reinforcement effects on sand considering a wide
cementation range. Geotextils and Geomembranes, vol. 27, pp. 196–203.

De Campos, T.M.P e Carrillo, C.W. (1995) - Direct Shear Testing on an Unsaturated Soil from Rio de Janeiro.
Unsaturated Soils, Alonso & Delage (eds.), pp. 31-38.

Head K. H. (1994) - Manual of Soil Laboratory Testing. 2nd Edition. Vol. 2. Permeability, Shear Strength and
Compressibility Test. pp. 189-240.

International Commission on Large Dams, ICOLD (2013) - Bulletin 153 - Sustainable Design and Post-closure
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Olson S. M. e Mattson B. M. (2008) - Mode of share effects on yield and liquefied strength ratios. Canadian
Geotechnical Journal. Vol. 45, pp. 574-587.

1193
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA SUPERFICIAL


COMO GEOINDICADORES DE ANTROPIZAÇÃO: TESTE DE APLICAÇÃO EM
BACIA HIDROGRÁFICA NO ESTADO DE SÃO PAULO - BRASIL

DEFINITION OF PHYSICAL-CHEMICAL PARAMETERS OF SURFACE WATER AS


GEOINDICATORS OF ANTHROPIZATION: APPLICATION TEST IN HYDRO-
GRAPHIC BASIN OF THE STATE OF SÃO PAULO - BRAZIL

Menezes, Denise B.; Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP, Brasil, denisebm@ufscar.br
Lorandi, Reinaldo; Universidade Federal de São Carlos, São Carlos - SP, Brasil, lorandir@gmail.com
Lollo, José Augusto; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ilha Solteia - SP, Brasil,
lolloja@dec.feis.unesp.br

RESUMO

O presente artigo é parte de projeto que visa definir, levantar e representar cartograficamente (escala
1:50.000), geoindicadores do estado de degradação dos solos e da água em bacias hidrográficas, tendo
como área de aplicação a bacia hidrográfica do Rio Claro, na região sudeste do Brasil. Foi selecionada por
estar em região pouco urbanizada e degradada e também por já haver conhecimento básico do meio
físico produzido pelo grupo de pesquisa. O objetivo é apresentar o resultado preliminar das análises de
geoindicadores da correlação dos usos do solo potencialmente contaminantes, especialmente obras
geológico-geotécnicas, com a qualidade da água na bacia hidrográfica. Realizou-se coletas de água em
um ano hidrológico, nos pontos amostrais definidos, de modo a estarem a jusante de ocupações
potencialmente contaminantes. Observou-se variações nos parâmetros indicadores, alguns com valores
acima dos padrões de potabilidade da água no Brasil. Há indícios da influência dos resíduos urbanos
(esgoto doméstico e aterro de resíduos sólidos) nas características da água. Os parâmetros escolhidos
são potencialmente bons geoindicadores.

ABSTRACT

The present article is part of a project that aims to define, raise and graphically represent (scale 1:50.000)
geoindicators that indicate the state of soil and water degradation in watersheds, having as its application
area the Rio Claro river basin, in the southeastern region of Brazil; was defined as being in region of low
urbanization and degradation and also because there is already a basic knowledge of the physical
environment produced by the research group.
The objective is to present preliminary results of analyzes of geoindicatos of the correlation between land
uses potentially contaminant, specially geologic-geotechnical facilitations, and the water quality in the
hydrographic basin. Water was collected in a hydrological year, at the sampling points defined in order to
be downstream of potentially contaminating occupations. It was observed changes in the parameters,
some above the water potability standards in Brazil; there are indications of the influence of urban waste
(domestic sewage and landfill) on water characteristics. Parameters chosen are potentially good
geoindicators.

1- INTRODUÇÃO

Os registros que vêm sendo deixados pela ocupação antrópica no ambiente são tanto maiores quanto
maior é o grau de processamento industrial envolvido. Quando se deseja trabalhar os efeitos nas águas
superficiais, é necessária a observação do uso do solo e das atividades potencialmente contaminantes.

Visando avaliar indícios, ainda traço, de alterações ambientais passíveis de reversão ou restauração, vêm
sendo utilizados geoindicadores: “medidas de processos e fenômenos geológicos que ocorrem na, ou
próximo da, superfície da Terra e sujeitos a mudanças que são significativas no entendimento da
alteração ambiental durante períodos de 100 anos ou menos.” (Berger, 1996). Estes indicadores podem
estar relacionados a diferentes componentes do meio físico, como solos, rochas, águas superficiais e
subterrâneas.

Os principais geoindicadores nas águas são os metais comuns e traço (Al, Sb, As, Cd, Cr, Cu, Fe, Pb, Hg,
Se, Ag, Zn), nutrientes, constituintes principais dissolvidos (Ca, Mg, Na, K, Cl, SO4, HCO3) e sólidos totais
dissolvidos (STD) associados a rochas e solos regionais, parâmetros físico-químicos e componentes
orgânicos com significado ambiental. (IUGS, 2004)

1194
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O objetivo específico deste trabalho é apresentar resultados iniciais de análises de indicadores de


qualidade da água na Bacia Hidrográfica do Rio Claro – BHRC e a correlação dos resultados obtidos aos
usos do solo, visando a definição de geoindicadores de antropização da área, em especial vinculados às
atividades sanitárias (obras geotécnicas) e geológicas.

A BHRC (Fig. 1) e seus afluentes, abrangem uma área de 251,91 km2 do município de Santa Rita do
Passa Quatro, de pequeno porte, situado no interior do estado de São Paulo, Brasil. O exutório da bacia
está na sua confluência com o Rio Mogi Guaçu, de abrangência interestadual. O clima da região é, pela
classificação de Köppen (Köppen e Geiger, 1928, apud CEPAGRI, 2017), Cwa - mesotérmico úmido
subtropical, de inverno seco, com temperatura média do mês mais frio em torno de 15 oC, com a
temperatura do mês mais quente (no verão) ultrapassando 27 oC. A precipitação média anual é de 1.500
mm, sendo que na estação seca (abril a setembro) as mínimas são de 24,6 mm/mês, e na chuvosa
(outubro a março) a máxima é de 278,4 mm/mês. (CEPAGRI, 2017).

Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Claro, com os nove pontos de coleta (Organizador: Vinícius G.
Oliveira, 2018)

O uso do solo na área drenada pela bacia é predominantemente agrícola, tendo a cana de açúcar como

1195
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

principal cultura. Também ocorrem os cultivos de laranja, eucalipto, café e pequenas áreas de pastagens.
Associadas às drenagens, as matas ciliares estão presentes e também há algumas áreas de mata nativa
preservadas. As áreas de solo exposto em geral são associadas a áreas de plantio de cana de açúcar pós-
colheita. As áreas urbanas, correspondentes à metade da sede de Santa Rita do Passa Quatro e ao
distrito de Santa Cruz da Estrela, representam, juntas, menos de 2% da área estudada (Fig. 2).

Figura 2 - Uso do solo na Bacia Hidrográfica do Rio Claro em 2016 (Modificado de Lorandi e Lollo, 2016; Organizador:
Vinícius G. Oliveira, 2018)

Há poucas e pequenas indústrias no município, de potencial poluidor restrito (fabricação de tubos de


cimento, embalagens plásticas, calhas, alimentícias). Os serviços potencialmente contaminantes são
postos de combustível e oficinas mecânicas. Não há registros de áreas contaminadas no município.

O esgotamento sanitário da sede do município é tratado em duas estações de tratamento de esgoto


(ETE), sendo uma delas, com lagoas de estabilização, localizada na parte central da bacia estudada, a
jusante da área urbana, entre os pontos de coleta 2 e 3. Por outro lado, no distrito de Santa Cruz da

1196
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Estrela não há tratamento de esgoto, que é coletado e lançado em afluente do Rio Claro.

Os resíduos sólidos urbanos são destinados a área que se localiza nas cabeceiras da BHRC. Até a poucos
anos tratava-se de aterro controlado (apenas com cobertura de solo), tendo sido readequado para aterro
sanitário, licenciado em 2014; a área não conta com barreiras de fundo ou laterais para contenção.

Há algumas áreas de mineração ativas, licenciadas, de minerais não metálicos, dispersas pela bacia:
basalto, areia, argila, saibro e argilito.

Esta região situa-se em terrenos da Bacia Sedimentar do Paraná, mais especificamente, drenando as
formações geológicas sedimentares Corumbataí (silto-argilosa), Piramboia e Botucatu (arenosas e
permeáveis), recobertas pelas rochas dos derrames, diques e soleiras de rochas intrusivas básicas. Todas
são discordantemente recobertas pela Formação Santa Rita do Passa Quatro (sedimentos arenosos muito
finos com cascalheira basal) e Formação Piraçununga, segundo Massoli (1981). Nas calhas dos principais
rios há a formação de expressivos aluviões, predominantemente arenosos e argilosos (Fig. 3).

1197
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 3 - Mapa de formações geológicas de superfície (Modificado de São Paulo, 1981 a, b; São Paulo, 1984;
Organizador: Vinícius G. Oliveira, 2018)

Os materiais inconsolidados resultantes da alteração destas rochas possuem características bastante


diversas, destacando-se a alta permeabilidade dos residuais da Formação Santa Rita do Passa Quatro e
dos residuais das Formações Pirambóia e Botucatu, em contraste com os residuais dos Magmatitos
Básicos. (Quadro1).

Quadro 1 - Caracterização geotécnica dos materiais inconsolidados (valores médios) da bacia hidrográfica do Rio Claro.
(Lorandi e Lollo, 2016)

Área Espessura Granulometria k


Materiais Inconsolidados (%)*
(km²) (m) Ag S Ar (cm/s)+
Quaternário 15,87 <2, 2-5 5 4 91 6,1 x 10-3
Res. Santa Rita do P. Quatro 45,72 >5 14 8 78 3,7 x 10-2
Res. Piraçununga 11,38 >5 28 7 65 4,2 x 10-3
Res. Botucatu 17,65 <2, >5 20 5 75 3,8 x 10-3
Res. Pirambóia 11,38 <2, >5 24 6 70 7,1 x 10-3
Res. Magmatitos Básicos 26,48 <2, 2-5, >5 47 17 36 4,9 x 10-4
Res. Corumbataí 19,65 <2 77 9 14 4,1 x 10-4
*Ag = Argila, S = Silte, Ar = Areia; +k = Coeficiente de permeabilidade

Nas regiões das cabeceiras de drenagem, em especial onde ocorre a Formação Santa Rita do Passa
Quatro, é comum a ocorrência de voçorocas de grandes proporções, devido às características destes
materiais. Os sedimentos são carreados pelas drenagens, depositando-se nos aluviões (Massoli, 1981).

2- METODOLOGIA

A partir do conhecimento do meio físico da área advindo de trabalhos realizados pelo grupo de pesquisa e
do levantamento em bases de dados públicas de licenciamento ambiental e mineral, e de atividades
potencialmente contaminantes existentes na área da Bacia, definiu-se a malha amostral.

A partir dos dados climáticos definiu-se a realização das coletas de água, visando cobrir um período
hidrológico completo, sendo uma no período chuvoso (novembro/2016), uma no período seco
(julho/2017) e novamente no período chuvoso (dezembro/2017).

Para a malha amostral foram definidos inicialmente oito pontos de coleta, distribuídos em rios e córregos,
de modo a estarem a jusante de ocupações potencialmente contaminantes, como aterro sanitário, áreas
de mineração (não metálicos), núcleos urbanos, estação de tratamento de esgoto, proximidade a rodovia
estadual com grande fluxo de veículos e cargas. Diante dos primeiros resultados (Menezes et al., 2017)
observou-se a necessidade de, a partir da segunda coleta inserir um nono ponto, buscando amostrar
diferentes sub bacias.

Os parâmetros definidos para análise são os físico-químicos básicos, metais e elementos maiores
comumente encontrados em rochas e sedimentos, para o conhecimento das características básicas da
água na área e também elementos traço que pudessem indicar uma alteração advinda dos usos
potencialmente contaminantes, e servir como geoindicadores.

No momento das coletas os pontos de amostragem foram georeferenciados com uso de GPS. As
amostras foram coletadas em frascos específicos para cada tipo de parâmetro e foram encaminhadas a
laboratório creditado, sendo analisadas seguindo os procedimentos do Standard Methods for the
Examination of Water and Wasterwater (Rice et al., 2012) e normas complementares.

Os parâmetros analisados e valores máximos, quando existentes, foram os apresentados no Quadro 2.

Os resultados das análises foram tabulados e comparados com os parâmetros de potabilidade da água
(Brasil, 2011), e com os valores máximos permitidos segundo o enquadramento dos corpos d’água da
Classe 2 (águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento convencional, à irrigação de
hortaliças ou plantas frutíferas e à recreação de contato primário - natação, esqui-aquático e mergulho)
da resolução CONAMA 357 (Brasil, 2005).

Para possibilitar as avaliações dos resultados foram feitas sobreposições da rede hidrográfica e dos
pontos de coleta nos mapas geológico e de materiais inconsolidados e na carta de uso do solo, acrescida

1198
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

de levantamento de usos potencialmente contaminantes existentes na área.

As características geológico-geotécnicas do subsolo podem indicar pontos de descarga de contaminantes


ou mesmo substratos permeáveis e suscetíveis à infiltração de contaminantes passíveis de atingir os
aquíferos.

Quadro 2 - Parâmetros analisados e valores máximos permitidos


Parâmetros Unidade VMP - potabilidade VMP - Padrão enquadramento
Portaria MS 2914/2011 Classe 2 - Resolução CONAMA 357
(Brasil, 2011) (Brasil, 2005)
pH - 6 a 9,5
Condutividade µS/cm (sem valores máximos)
Sólidos Totais Dissolvidos ppm (sem valores máximos)
Cádmio solúvel mg L-1 0,005 0,001
Cálcio solúvel mg L-1 --
Chumbo solúvel mg L-1 0,01 0,01
Cobre solúvel mg L-1 2 0,009
Coliformes solúvel UFC 100mL-1 ausentes 1000
Cromo solúvel mg L-1 0,05 0,05
DBO mg L-1 -- 5
DQO mg L-1 -- --
Coliformes fecais (E-coli) UFC 100mL-1 ausentes --
Fenóis mg L-1 -- --
Ferro solúvel mg L-1 0,3 0,3
Fósforo solúvel mg L-1 -- 0,02
Magnésio solúvel mg L-1 -- --
Mercúrio solúvel mg L-1 0,001 0,0002
Níquel solúvel mg L-1 0,07 0,025
Nitrato (como N) mg L-1 10 10
Nitrito (como N) mg L-1 1 1
Nitrogênio amoniacal mg L-1 -- 3,7mg/L N, para pH ≤ 7,5
solúvel 2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0
Nitrogênio solúvel mg L-1 -- --
Oxigênio Dissolvido (OD) mg L-1 -- >5
Potássio solúvel mg L-1 -- --
Sódio solúvel mg L-1 200 --
Sólidos em suspensão mg L-1 -- --
Sólidos solúvel mg L-1 1000 500
Surfactantes mg L-1 0,5 0,5
Turbidez NTU 5 100
Zinco total mg L-1 5 0,18
Sulfato * mg L-1 250 250
Manganês* mg L-1 0,1 0,1
Alumínio* mg L-1 0,2 0,1
VMP – valor máximo permitido; DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio; DQO – Demanda Química de Oxigênio.
*Parâmetros acrescidos a partir da segunda coleta

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram observadas variações nos valores dos parâmetros analisados, sendo alguns acima dos padrões de
potabilidade da água (Brasil, 2011), como coliformes solúveis, coliformes fecais, fósforo, ferro, nitrito e
turbidez, e outros (coliformes solúveis, DBO, ferro, fósforo, mercúrio, nitrito, nitrogênio amoniacal, OD,
alumínio) acima dos padrões de enquadramento dos cursos d’água (Brasil, 2005).

Mas foram também observados, na comparação entre pontos de coleta, valores elevados não
extrapolando os limites de outros parâmetros (Fig. 4), em pontos a jusante da área urbana (sede e
distrito de Santa Cruz da Estrela), da estação de tratamento de esgoto, do aterro sanitário e da
mineração de basalto.

Nos resultados das análises observou-se que o pH da água da bacia está entre 6 e 7,6, considerado
normal para a região. Os valores foram ligeiramente maiores no período seco. Os valores de
condutividade estão entre 47 µS/cm (ponto 7, período chuvoso) e 768 µS/cm (ponto 3, período seco). Os
valores de sólidos totais dissolvidos acompanham a condutividade, sendo o mínimo de 30 ppm (ponto 7,
período chuvoso) e o máximo de 455 ppm (ponto 3 período seco). Para todos os pontos medidos, os
valores foram maiores no período seco em comparação com o chuvoso, excetuando-se o ponto 8 que se
manteve estável. Estes dados indicam que na saída das áreas urbanas, no ponto a jusante do aterro
sanitário e, em especial, após a ETE, há fluxo de elementos dissolvidos na água.

1199
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A turbidez é elevada para os padrões de potabilidade, indicando carga suspensa na água, mas dentro dos
padrões da Classe 2. Considerando-se os sedimentos arenosos e erodíveis da região, esta turbidez é
esperada para uma área com uso agrícola e solos expostos.
P9/julho
P8/julho Parâmetros Fisicoquímicos
P8/nov
P7/julho
P7/nov
P6/julho
P6/nov
P5/julho
P 5/nov
P4/julho
P 4/nov
P3/julho
P 3/nov
P2/julho
P 2/nov
P1/julho
P1/nov

0 100 200 300 400 500 600 700 800


DQO mg L-1 DBO mg L-1 STD ppm condutividade µS

P9/julho
P8/julho
P8/nov
P7/julho
P7/nov
P6/julho
P6/nov
P5/julho
P 5/nov
P4/julho
P 4/nov
P3/julho
P 3/nov
P2/julho
P 2/nov
P1/julho
P1/nov

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
sulfato mg L-1 Sódio solúvel mg L-1
Nitrogênio amoniacal solúvel mg L-1 Nitrito (como N) mg L-1
Nitrato (como N) mg L-1 Magnésio solúvel mg L-1
Fósforo solúvel mg L-1 Cálcio solúvel mg L-1

1200
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P9/julho
P8/julho
P8/nov valor máximo para classe 2
P7/julho
P7/nov
P6/julho
P6/nov
P5/julho
P 5/nov
P4/julho
P 4/nov
P3/julho
P 3/nov
P2/julho
P 2/nov
P1/julho
P1/nov

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000


Coliformes fecais (E-coli) UFC 100mL-1 Coliformes solúveis UFC 100mL-1

Figura 4 – Gráficos de parâmetros analisados indicativos de influência antrópica na água entre pontos de coleta

Fonseca e Salvador (2005), trabalhando com monitoramento de água superficial em município contíguo
com características geológicas e de uso do solo semelhantes (Descalvado), observaram padrões de
turbidez e sólidos suspensos semelhantes e creditando também aos solos erodíveis que ficam expostos
em períodos de colheita.

Os coliformes totais foram observados em alguns pontos em valores muito elevados, notadamente na
drenagem após a cidade, após a ETE e a jusante do aterro sanitário, mas estes valores não apresentaram
um padrão e em vários dos pontos foram elevados no período chuvoso e normais no período seco e em
outros ocorreu o inverso. Os coliformes fecais não apresentam limite para a Classe 2, mas devem ser
ausentes pelos padrões de potabilidade; foram encontrados em valores significativos em especial a
jusante das áreas urbanas (pontos 2 e 6), a jusante da ETE e no ponto 9, variando nos períodos, assim
como os coliformes totais.

O oxigênio dissolvido (OD) esteve baixo apenas a jusante da ETE, correspondendo, neste caso, a valores
elevados de DBO e maiores de DQO. DBO alta e OD baixo indicam despejos orgânicos, ao passo que a
DQO elevada indica despejos industriais ou presença de amoniacais, ácidos húmicos e lignina. A DQO
esteve relativamente elevada em todos os pontos, não havendo um padrão de maior concentração nos
períodos seco e úmido.

A série do Nitrogênio foi observada em diversos pontos da malha amostral. O nitrogênio solúvel, orgânico,
foi observado tanto a jusante da cidade de Santa Rita do Passa Quatro, como a jusante da ETE. Nos
demais pontos apenas se registraram valores baixos e no período chuvoso. O nitrogênio amoniacal
apenas esteve acima dos padrões a jusante da ETE. As formas oxidadas também foram observadas nos
mesmos pontos 2 e 3, sendo que apenas o nitrito esteve acima dos valores permitidos a jusante da área
urbana, indicando haver despejos ainda não coletados para tratamento na ETE e que o tratamento não
está sendo totalmente eficiente. Observou-se um aumento no período seco em todos os pontos da
concentração, tanto de nitrato como de nitrogênio amoniacal.

Já o fósforo, também importante indicador de eutrofização da água juntamente com o nitrogênio,


apresentou valores acima dos permitidos para a Classe 2, exceto a jusante da área urbana. Este
elemento pode ser advindo de diferentes origens, tanto de efluentes orgânicos como industriais, além de
dejetos de fertilizantes agrícolas, sendo esta uma fonte possível para a área já que é ocupada em grande
parte por plantio de cana de açúcar e outras atividades agropecuárias. Notar que a jusante da ETE foram
observados os maiores valores.

Os elementos potássio, sódio, cálcio, assim como sulfeto, foram encontrados em pequenas quantidades,
exceto a jusante da área urbana e da ETE (maiores valores), sendo mais alguns indicativos de despejos
de esgotamento da área urbana ainda não eficientemente tratados.

Fonseca e Salvador (2005) observaram valores alterados destes parâmetros em seu trabalho, embora
alguns em níveis mais elevados, posto que no caso que estudaram o município não possuía tratamento
de esgoto.

O parâmetro mercúrio, embora tenha sido observado dentro dos limites permitidos para água potável ou
pouco acima dos limites (ponto 4 - 0,000794 mg/l e ponto 8 - 0,000285 mg/l), ao menos em uma das
coletas foi observado nos pontos analisados. Demais metais não foram observados (cádmio, chumbo,
cobre, cromo, níquel, zinco) ou observados em pequenas quantidades em pontos específicos (ferro,

1201
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

manganês e alumínio).

Quanto a estes últimos metais presentes, que em geral associados às rochas e sua decomposição
(notadamente ferro associado às rochas básicas abundantes na região), suas concentrações são
condizentes com a mobilidade para a faixa de pH encontrada (em torno de 7), conforme o gráfico da
Fig. 5. Exceto o mercúrio, que geoquimicamente se associa ao enxofre em sulfetos, podendo ser um
indicador destas mineralizações; quanto a estas não há registros na região. Este elemento pode ser
moderadamente móvel na faixa de pH 5 a 8 (Rose et al., 1979, in Licht, 1998).

Considerando-se as formações geológicas drenadas por esta bacia, que são sedimentares, com exceção
das rochas intrusivas básicas (Fig. 3), os valores elevados de alguns parâmetros não encontram seu
significado a elas diretamente vinculado, em especial os sólidos solúveis e os sólidos em suspensão,
assim como o próprio ferro.

Mas suas características de permeabilidade elevada (formações arenosas) sobre rochas básicas de
permeabilidade apenas fissural, associada a relevo íngreme, pode estar servindo de superfície de difração
hídrica, pela qual os poluentes associados ao aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos podem estar
fluindo e sendo descarregados na rede de drenagem a montante do ponto 4 de coleta (Fig. 1). Não pode
ser esquecido que este local era um aterro controlado até recentemente, tendo recebido resíduos sem
cuidados de impermeabilização de base por muito tempo e consequentemente pode haver fluxo de
contaminantes presentes no subsolo local. O mesmo pode ocorrer com um possível vazamento na lagoa
de estabilização da ETE (ponto 3) construída nesta transição de formações geológicas.

Figura 5 - Variação da concentração de íons metálicos em função da variação do pH da solução (Barres, 1985, apud
Menezes, 1995)

4- CONCLUSÕES

Os resultados observados são salientadores de bons parâmetros geoindicadores que apresentam uma
significativa correlação com atividades potencialmente contaminantes instaladas em distintos pontos da
BHRC.

Notadamente há ainda uma ineficiência da coleta e tratamento de esgoto, evidenciada pela presença de
maiores concentrações de elementos, maiores, menores, alteração de parâmetros físico-químicos em
especial a jusante da área urbana de Santa Rita do Passa Quatro, mais especificamente a jusante da ETE.

O ponto a jusante do aterro sanitário e os valores elevados aí encontrados, especialmente de coliformes


totais e fecais, ferro e mercúrio são indícios de estar havendo um fluxo de água subterrânea e
contaminantes que, ao encontrar as rochas básicas, descarregam em superfície. Esta origem da
contaminação carece ainda de melhor investigação.

1202
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A presença de mercúrio em pequenas concentrações em diferentes pontos da BHRC pode ser indicativa
de um background regional, que precisa ser mais bem analisado, considerando-se ser um elemento
calcófilo e a baixa concentração de enxofre e outros elementos aos quais poderia estar associado.

Os resultados encontrados até o presente momento são ainda preliminares, mas já significantes para a
indicação ao poder público de alguns controles. Devem ser observadas tanto a coleta de esgoto sanitário
e/ou industrial que vem da área urbana, buscando fontes clandestinas, como do processo de tratamento
deste esgoto na ETE para evitar despejos acima dos permitidos; também é interessante que seja
verificada a possível contaminação dos aquíferos e córregos pelo aterro sanitário.

Na análise da terceira campanha de amostragem se confirmaram algumas das tendências de


concentrações maiores ou diluições destes parâmetros em períodos secos e últimos. Os elementos
observados, já se excluindo aqueles que não apresentaram nenhum traço ou estavam abaixo dos valores
máximos permitidos durante todo o período, são bons geoindicadores de antropização e devem ser
considerados para estudos detalhados onde extrapolaram os valores permitidos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - Processo
2013/03699-5), e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq - Processo 443802/2014-9)
pelos recursos financeiros que tornaram viável o desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

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1204
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

EFEITO DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE MISTURAS SOLO-


RCD

EFFECT OF CURE TIME ON MECHANICAL STRENGTH OF SOLO-CDW BLENDS

Batista Moreira, Eclesielter; Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Mestrando,
eclesielter_ebm@hotmail.com
Arrieta Baldovino, Jair de Jesús; Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Mestrando,
yaderbal@hotmail.com
Dos Santos Izzo, Ronaldo Luis; Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Professor,
izzo@utfpr.edu.br
Lundgren Rose, Juliana; Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, pesquisadora,
julrose@gmail.com
Rissardi, João Luiz; Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Estudante,
rissardi@alunos.utfpr.edu.br

RESUMO

A geração de resíduo de construção e demolicação (RCD) tem sido reconhecida como um problema nos grandes
centros urbanos suscitando problemas de preservação do meio ambiente e de aumento de custos financeiros.
Estes resíduos são oriundos de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e
resultantes da preparação e da escavação de terrenos. Este artigo investiga a aplicação da técnica de
estabilização granulométrica de solos com duas diferentes frações granulométricas de RCD, em três tempo de
cura (30, 60 e 90 dias). Os principais parâmetros de controle da resistência das amostras de solo (controle) e
das misturas solo-RCD foram: peso específico seco máximo (γd), umidade ótima (ω), CBR, compressão simples
(qu) e tração por compressão diametral (qt) para diferentes tempos de cura. Os resultados indicam que, quanto
maior a adição de RCD ao solo e maior o tempo de cura, maiores serão os incrementos de resistência. Os
valores de resistência apresentados nesta pesquisa são aceitáveis para obras de pavimentação.

ABSTRACT

The generation of construction and demolition waste (CDW) has been recognized as a problem in large urban
centers, causing problems of preservation of the environment and increase of financial costs. This waste comes
from constructions, renovations, repairs and demolitions of civil construction works, resulting from the
preparation and excavation of land. This paper investigates the application of soil stabilization technique with
two different CDW granulometric fractions in three different porosities and three cure times (30, 60 and 90
days). The main parameters of resistance control of soil samples (control) and soil-CDW mixtures were: dry
maximum specific gravity (γd), optimum moisture (ω), CBR, unconfined compression strength (qu) and split
compression tensile (qt) for different curing times and porosity. The results indicate that the higher the CDW
addition to the soil and the longer the curing time, the greater the resistance increments. The resistance values
presented in this research are acceptable for paving works.

1- INTRODUÇÃO

O uso de materiais reutilizados como o Resíduos de Construção e Demolição (RCD), cinza de casca de arroz,
cinza pesada, entre outros (Moreira et al., 2017; Jiménez, 2013; 2016; Leandro, 2005; Prabakar et al., 2004)
vem sendo empregados com sucesso na engenharia geotécnica para a estabilização e melhoramento mecânico
em solos, principalmente em argilas e siltes. Em período recente, com o salto econômico vivenciado pelo Brasil,
nota-se a necessidade de infraestruturas e têm-se por exigência construções que sejam técnica e
economicamente viáveis, com o menor impacto ambiental possível. Frente a isso, verifica-se a necessidade de
estudos em materiais e técnicas pouco utilizadas regionalmente, como é o caso da estabilização dos solos com
RCD. A utilização de RCD se apresenta como uma alternativa interessante aos materiais convencionalmente
utilizados, para promover um aumento na oferta de vias pavimentadas caracterizadas principalmente pelo
baixo volume de tráfego (Moreira et al., 2017). Os atrativos principais dos agregados reciclados são os aspectos
econômicos e ambientais, pois estes materiais normalmente têm seu valor de mercado inferior aos materiais
naturais, além de ser um destino útil para resíduos que são normalmente depositados em aterros sanitários,

1205
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

logo há a diminuição do impacto ambiental. Pesquisas sobre reciclagem de RCD são realizadas em outros
países há tempos. A mistura desses materiais recicláveis ambientalmente ajuda a resolver o problema da
escassez de material natural, e resolve e/ou minimiza o problema da disposição irregular de RCD.

O agregado de RCD é uma alternativa atrativa para materiais de base e sub-base de pavimentos devido à alta
resistência mecânica e comportamento não expansivo (Leite et al., 2011).

Os solos da Formação Geológica de Guabirotuba, localizados na cidade de Curitiba-PR, Brasil, e região


metropolitana, têm por sua granulometria a maioria de finos. Em grande parte, os solos da Formação
Guabirotuba não podem ser empregados nas camadas de sub-base e base de pavimentação, para o suporte
de fundações superficiais como as sapatas e para proteção de encostas. A técnica de melhoramento desse solo
também pode ser utilizada nas fundações de edificações de pequeno porte, em solos com baixa capacidade de
suporte ou que apresentam baixa estabilidade volumétrica (Baldovino et al., 2017).

Em qualquer técnica de aproveitamento de materiais oriundos de reciclagem é fundamental a realização de


estudos preliminares, contemplando principalmente aspectos da geometria do pavimento, à natureza e modos
em que se realizará a manutenção necessária durante o período de vida útil do pavimento, a caracterização
dos materiais reciclados, a espessura de intervenção utilizada como base e a delimitação de teores da mistura
final dos materiais a aplicar para o tipo de pavimento (Moreira, 2005). Dentro dessa perspectiva, esta pesquisa
foi desenvolvida abordando a utilização dos RCD misturados à um solo da Formação Geológica Guabirotuba
como material para camadas de pavimentação, tendo como parâmetros de controle o peso específico seco
máximo (γd), a umidade ótima (ω), porcentagem de RCD e solo (misturas), a energia de compactação Proctor
Normal (EN), e parâmetros de resposta CBR (na condição imersa), compressão simples (qu) e tração por
compressão diametral (qt) para diferentes tempos de cura (30, 60 e 90 dias).

2- MATERIAIS

2.1 - Solo

O solo utilizado para o estudo foi coletado em uma obra próximo à cidade de Curitiba, no município de Fazenda
Rio Grande (PR), Brasil, em um local de construção de casas populares com localização geográfica
25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. Foi escolhido a terceira camada da Formação Guabirotuba, o qual é composto
por 35,5% de argila (diâmetro< 0,002 mm), 39,5% de silte (0,002 a 0,075 mm) e 25% de areia (diâmetro >
0,075). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo.
passante

Figura 1 - Curva Granulométrica do Solo

Mostra-se no Quadro 1 as propriedades físicas do solo. Foram realizados ensaios para determinar os limites de
liquidez e plasticidade; o solo apresenta um limite de liquidez alto (53,1%), tal qual o índice de plasticidade
indica que a argila é altamente plástica com 21,3% (IP>15), impossibilitando o seu uso em camadas de base
e sub-base de pavimento rodoviário segundo o Manual de Pavimentação (DNIT, 2006), conforme demonstrado
no Quadro 1. A partir da granulometria e do resultado dos índices físicos, foi realizado a classificação do solo,
segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solo – SUCS – sendo classificado como uma silte elástico com
areia (MH) e, segundo o Sistema de Classificação HRB, o solo é A-7-6 (solo argiloso). O ensaio de classificação
do solo foi realizado de acordo à ASTM D2487 (ASTM 2000), os limites de Atterberg dos solos de acordo à
ASTM 4318 (ASTM 2010) e a massa especifica real dos grãos dos solos de acordo à ASTM D854 (ASTM 2014).

1206
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Quadro 1 - Propriedades físicas dos solos

Propriedades Físicas Valores Médios

Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³

Areia (0,075 mm < ϕ < 4,8 mm) 25%

Silte (0,002 mm < ϕ < 0,075 mm) 39,5%

Argila (ϕ < 0,002 mm) 35,5%

Limite de liquidez, LL 53,1%

Limite de plasticidade, LP 31,8%

Índice de plasticidade, IP 21,3%

2.2 - RCD

O resíduo de construção e demolição utilizado foi coletado na usina de reciclagem da cidade de Almirante
Tamandaré, Região metropolitana de Curitiba. O tipo de resíduo escolhido é misto, ou seja, composto por
resíduos cinzas (concreto, argamassas, etc.), vermelhos (cerâmicos) e brancos (cal, gesso, etc.). Foram
escolhidas duas granulometrias de RCD: areia (material ≤ 4,8mm) e pedrisco (material ≤ 19,1mm); sendo
realizada a granulometria do RCD, representada na Figura 2.
100
Solo
90
Areia (RCD)
80
Pedrisco (RCD)
70
Passante (%)

60
50
40
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Figura 2 - Curva Granulométrica do RCD

O RCD coletado tem menos de 1% de sulfatos, mais de 90% de teor de fragmentos à base de cimento e rocha,
menos de 2% de materiais não minerais, absorção do pedrisco menor que 8% e da areia menor que 13% e
peso específico de 13,84 kN/m³ para o pedrisco e 13,23 kN/m³ para a areia (USIPAR, 2018).

2.3 - Água

A água empregada tanto para os ensaios de caracterização do solo, compactação, CBR, foi destilada, conforme
as especificações das normas, estando livre de impurezas, evitando reações indesejadas.

3- METODOLOGIA

3.1 - Dosagem das misturas

Foi realizado uma estabilização granulométrica para determinar o teor ótimo da mistura do solo com RCD,
tendo em consideração diferentes pesquisas sobre reforço de solos com RCD, definiu-se para o presente estudo
4 teores de misturas solo-RCD. Para facilitar o estudo adotou-se as nomenclaturas: M0, M1, M2, M3 e M4; de
acordo com o Quadro 2:

1207
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 2 - Dosagem dos Insumos


Porcentagem de cada Insumo
Mistura
Solo Areia Pedrisco
M0 100% 0% 0%
M1 60% 30% 10%
M2 60% 20% 20%
M3 50% 30% 20%
M4 40% 30% 30%

3.2 - Ensaios de Compactação

Foram feitos ensaios de compactação do solo na energia Proctor Normal, conforme a norma segundo a norma
NBR 7182/16.

3.3 - Ensaios de Califórnia Bearing Ratio – CBR

Para os ensaios de CBR foram moldados corpos de prova conforme a norma DNIT – 172/2016 - ME. Foram
moldados três corpos de prova por CBR a fim de ter um resultado estatístico. O ensaio foi realizado com a
moldagem do corpo de prova na umidade ótima (ωot) e peso especifico seco máximo (γd) encontrada no ensaio
de compactação (Proctor Normal), apenas com a energia de compactação normal, usando 12 golpes do soquete
padrão para o solo e para as misturas solo-RCD. O resultado final do CBR é o maior valor entre as duas
penetrações no corpo de prova (0,1’ e 0,2’).

3.4 - Ensaios de Expansão

O ensaio de expansão obedeceu a norma DNIT – 172/2016 – ME e DNIT – 160/2012 – ME. Este ensaio foi
realizado enquanto os corpos de prova do CBR estavam submersos, durante 4 dias, nos quais foram realizadas
leituras para ver a expansão diária.

3.5 - Ensaios de resistência à compressão simples e à tração por compressão diametral

Para os ensaios de compressão simples e tração por compressão diametral foram moldados corpos de prova
de 100mm de altura e 50mm de diâmetro. O solo foi secado totalmente em estufa a 100±5°C e logo colocando
em porções uniformemente distribuídas para serem misturadas com os diferentes teores de RCD. Colocou-se
a quantidade de RCD seco com referência ao peso seco da amostra do solo. Por seguinte, realizou-se a mistura
de maneira que a mistura final se tornasse a mais homogênea possível. Uma porcentagem de peso de água
foi adicionada na amostra de solo com RCD e misturada novamente para atingir a umidade ótima.

As amostras para a moldagem dos corpos de prova eram compactadas estaticamente em duas camadas em
um molde de aço inox com diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e espessura de 5mm, para atingir
o peso específico máximo aparente. Depois de ser compactada a amostra foi retirada do molde com a ajuda
de um extrator hidráulico, pesando-a em sequência em uma balança de precisão de 0,01g; tomando-se suas
dimensões com o uso de um paquímetro. Logo após, eram envolvidas com plástico transparente para assegurar
a conservação da umidade. Por último, levou-se os corpos de prova até a câmara úmida para processo de cura
durante 30 dias, com temperatura média de 25°C.

Os procedimentos dos ensaios de compressão simples seguiram a norma americana ASTM D 5102/96 e os de
tração a norma ASTM C 496/C 496M – 04.

4- RESULTADOS

4.1 - Ensaios de Compactação, CBR e Expansão

A Figura 3 mostra as curvas de compactação do solo e das misturas solo-RCD estudadas.

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16,5
Ajuste Solo

Peso Específico Seco (kN/m3)


Ajuste Mistura 1
16,0
Ajuste Mistura 2
Ajuste Mistura 3
15,5
Ajuste Mistura 4
Saturação 100%
15,0
Saturação 80%

14,5

14,0

13,5

13,0

12,5

12,0
10 15 20 25 30 35 40
Teor de Umidade (%)
Figura 3 - Curvas de compactação da argila

Assim, também foram realizados ensaios de compactação com cada mistura usado na energia normal. O
Quadro 3 apresenta-se a variação do peso específico seco máximo e a umidade ótima para diferentes misturas
de RCD:

Quadro 3- Propriedades de compactação do solo e das misturas solo-RCD


Mistura Peso especifico seco máximo, γdmax(kN/m3) Umidade ótima, ωot (%)
M0 13,58 32,5
M1 15,21 25,2
M2 15,12 24,0
M3 15,81 21,3
M4 16,13 20,2

Percebe-se que com a adição de RCD nas misturas o peso específico seco máximo também aumenta, isso
acontece m função dos agregados recicladas formarem uma matriz com o solo.

4.2 - Ensaios de CBR

Mostra-se na Figura 4 mostra os resultados de CBR do solo e das misturas solo-RCD estudadas.

Foi observado que à medida que se aumenta o teor de RCD o CBR aumenta, com exceção de um ponto, como
mostra a Figura 5. Entre a mistura M0 e M1, observa-se um patamar, demonstrando que não houve mudanças.
No ensaio de CBR não houve mudanças significativas entre o Solo (M0) e a mistura M1, havendo acréscimo de
valor no peso específico seco máximo. Observa-se um acréscimo de CBR conforme se aumenta a granulometria
do RCD na mistura. Entre M3 e M1, houve um acréscimo de 147,85%, e de 298,34% entre M4 e M3. O aumento
de M4 em relação à mistura M0 foi de 743,79%. O valor de CBR acima de 4%, podem ser usadas para reforço
de subleito, e a mistura M4, com CBR maior que 20% e expansão de 1% para sub-base.

1209
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25,00

20,00

15,00

CBR (%)
10,00

5,00

-
M0 M1 M2 M3 M4

Figura 4 - Influencia do RCD nos resultados de CBR

4.3 - Ensaios de Expansão

No Quadro 4, são mostrados os resultados da expansão.

Quadro 4 - Resultados da Expansão


Mistura Expansão
M0 5,61
M1 3,27
M2 2,60
M3 1,18
M4 1,00

Com base nos dados apresentados no Quadro 4, foi elaborado a Figura 5 para analisar o comportamento da
expansão com a adição do RCD nas misturas.

6,00

5,00
Expansão (%)

4,00

3,00

2,00

1,00

-
M0 M1 M2 M3 M4

Figura 5 - Influencia do RCD nos resultados de Expansão

Observa-se um decréscimo na expansão à medida que se acrescenta o RCD, tornando a mistura mais estável
na presença de água, obtendo decréscimo de até 82,17% da expansão inicial do solo. Tendo como base as
normas brasileiras para camadas de pavimentos, observa-se que a partir da mistura M1, torna-se viável a
utilização da mistura para pavimentos, pois com a diminuição da expansão para 3,27% e o CBR maior que
2%, a mistura M1 pode ser utilizada como subleito.

1210
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

4.4 - Ensaio de Compressão Simples (qu)

Os resultados de qu e qt estão ilustrados na Figura 6 (a) e (b) mostra os resultados de qu e qt, respectivamente,
das amostras de solo e das misturas solo-RCD com a variação dos teores de RCD. Observa-se que com o
aumento do peso especifico seco das amostras aumenta sua resistência à compressão simples à tração.

800 120
110
700
100
600 90
80
500
qu (kPa)

70

qt (kPa)
400 60
50
300
40
200 30
20
100
10
0 0
30 60 90 30 60 90
Tempo de cura (dias) Tempo de cura (dias)

Solo M1 M2 M3 M4 Solo M1 M2 M3 M4

a) Compressão simples b) Tração indireta

Figura 6 - Influência do RCD nas resistências qu e qt

A resistência à compressão simples qu de um solo de grão fino compactado em um teor de umidade ótima
pode variar de 170 kPa a 2100 kPa, dependendo da natureza do solo.

Observa-se que há incremento de resistência das misturas M1, M2, M3 e M4 com o tempo, logo conclui-se que
o RCD reage com o solo ao longo do tempo, isso se dá em função de reações de materiais não inertizados do
RCD, tais como cimento e cal presentes em resíduos de obras com o solo, ou seja, o tempo cura tem influência
na resistência à compressão simples. O incremento de resistência à compressão simples médio para as
misturas M1, M2, M3 e M4 ao longo do tempo foi de 26%. Nota-se que houve incremento de resistência com
o acréscimo de RCD no solo para o tempo de cura de 30 dias. Esse acréscimo de resistência se dá em função
da matriz de resistência criada entre o solo e o RCD através de uma estabilização granulométrica.

Para os resultados de qt observa-se que o maior incremento de resistência média ao longo do tempo foi de
67%, e o incremento de resistência com 30 dias de cura foi de 43%, bem próximo dos resultados de resistência
à compressão simples.

5- CONCLUSÕES

O uso de RCD em solos finos melhoram a capacidade de suporte, haja vista que a matriz do RCD com o solo
forma um novo material alterando as características originais do solo. Dessa forma, a utilização de RCD ao
solo diminui a expansão do mesmo em função da redução de finos na mistura e da reação entre os
componentes constituintes no resíduo, tais como cimento e cal não inertizados.

Também, conclui-se que quanto maior a incorporação de RCD ao solo, maior será o peso específico da mistura
final, portanto maior será o CBR e menor será a sua expansão. Conclui-se que o acréscimo de RCD no solo
aumenta a resistência a compressão simples (qu) e à tração (qt) em aproximadamente 50% e o tempo de cura
também influencia na resistência final das misturas solo-RCD, aumentando aproximadamente 26% de
resistência à compressão simples e de 67% de incremento de resistência à tração. Dentro dessas constatações,
permite-se a sua utilização em camada de reforço de subleito e sub-base de pavimento. Cabe ressaltar que é

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

fundamental a realização de estudos preliminares, tanto no tipo de solo quanto na qualidade e composição do
RCD, haja vista a heterogeneidade do RCD.

AGRADECIMENTOS

Os autores demostram agradecimento ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da Universidade


Tecnológica Federal do Paraná (PPGEC/UTFPR), ao suporte financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação Araucária do Paraná e ao CNPq.

REFERÊNCIAS

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04/01/2018.

1212
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS EM ALÉM


PARAÍBA (MG), BRASIL

ELABORATION OF THE MUNICIPAL PLAN OF RISK REDUCTION IN ALÉM


PARAÍBA (MG), BRAZIL

Assis, Laís Emily de; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, laismily9@gmail.com
Souza, Leonardo Andrade de; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG, Brasil,
leonardo@zemlya.com.br
Mendonça, Marcos Barreto de; Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, Brasil,
mbm@poli.ufrj.br
Silva, Uiara Maria da; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa -MG, Brasil, uiarams@gmail.com
Roque, Leandro Antônio; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, leandroroque1@hotmail.com
Barbosa, Cassiano Vieira; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Viçosa, cassiano.vieirab@gmail.com
Venturin, Amadeu Magnoni; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Viçosa,
amadeu.venturin@gmail.com
Marques, Eduardo Antonio Gomes; Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil,
eagmarques1965@gmail.com

RESUMO

O propósito do artigo é apresentar a proposta de elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos


(PMRR) a movimentos de massa e inundações no município de Além Paraíba – MG, Brasil. Este instrumento
está enquadrado tecnicamente nas Políticas Públicas de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres do
Governo Federal brasileiro, principalmente no que refere aos programas e ações de prevenção e
mapeamento do Ministério das Cidades. A concepção do PMRR contempla a realização do mapeamento das
áreas de risco da área urbana do município, em escala de detalhe; a proposição de intervenções estruturais
para os setores de risco alto e muito alto, com a estimativa do custo financeiro; a proposição de ações não
estruturais subsidiando a implantação de um sistema municipal de gerenciamento de risco; bem como
ações visando a mobilização social, por meio de um diagnóstico sobre a percepção de risco, de forma a
permitir uma discussão sobre as vulnerabilidades da população e a proposição de ações para o
enfrentamento dos desastres associados a movimentos de massa e inundações, sendo que esta última
etapa foi objeto de uma nova proposição metodológica no presente trabalho. Soma-se às ações propostas
para a elaboração do PMRR, a realização de capacitação técnica e audiências públicas municipais, investindo
no conhecimento do problema do risco geológico e hidrológico, para que técnicos e gestores assumam uma
postura mais proativa que lhes permita, juntamente com a participação ativa das comunidades envolvidas,
a construção de um programa efetivo de gestão de risco em nível municipal.

ABSTRACT

The purpose of this manuscript is to present the proposal for the Municipal Risk Reduction Plan (MRPP) for
mass movements and floods in Além Paraíba urban area (Minas Gerais state, Brazil). This instrument is
technically framed in the Public Policies of Risk Management and Disaster Response of the Brazilian Federal
Government, mainly in what is related to the programs and actions for risk prevention and mapping defined
by the Brazilian Ministry of Cities. The design of the MRRP contemplates mapping of the risk areas of the
urban area of the municipality, in detail scale; of structural interventions for the sectors of high and very
high risk, with the estimate of the financial cost; of non-structural actions subsidizing a municipal risk
management system; as well as actions aimed at social mobilization, through a diagnosis about the risk
perception, in order to allow a discussion about the vulnerabilities of the population and the of actions to
face the disasters associated with mass movements and floods. For this last action, a new methodology
was proposed on the present study. In addition to these proposed actions, the technical training and
municipal public hearings, by investing in the improvement of the knowledge related to geological and
hydrological risk problems, so that municipal technicians and managers can take a more proactive attitude
that allows them, together with the active participation of the communities involved, to complete setting
up a municipal risk management system.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

A expansão urbana nas cidades brasileiras continua sendo marcada nas últimas décadas pela não adoção,
na prática, dos instrumentos voltados ao planejamento urbano e territorial das cidades. O que se percebe,
ainda, é o crescimento do número de construções irregulares, mas também regulares, em áreas
inapropriadas à ocupação. Desta forma, a interação homem e natureza tem contribuído efetivamente para
ampliação de desastres associados à movimentos gravitacionais de massa e processos de inundação.
O Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) é um instrumento enquadrado tecnicamente nas Políticas
Públicas de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres do Governo Federal do Brasil, principalmente no que
indica os programas e ações de prevenção e mapeamento do Ministério das Cidades. Atende à Política
Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei 12.608, de 10 de abril de 2012), contemplando:
a) realização do mapeamento das áreas de risco geohidrológicos;
b) concepção de intervenções estruturais para os setores de risco e estimativa de recursos financeiros para
execução das intervenções;
c) proposta de ações e medidas não estruturais para a gestão do risco; e,
d) realização de cursos de capacitação envolvendo os técnicos municipais e a sociedade de maneira geral,
além da realização de audiências públicas para apresentação dos resultados.
Entre os objetivos do trabalho destaca-se, também, a necessidade de se assegurar que as atividades sejam
executadas conforme as orientações e normas do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC 2, para a
Ação de Apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos em Assentamentos Precários, bem como que as
atividades atendam às demandas da Prefeitura do Município de Além Paraíba. Com este propósito,
complementam o PMRR:
a) Definição das medidas de segurança, dos recursos financeiros, das prioridades e dos prazos neces-
sários para erradicação das situações de alto risco relacionadas a deslizamentos de encostas, solapamento
de margens de cursos d’água e processos de inundação que atingem setores críticos do município (na sede
e nos distritos);
b) Compatibilização das medidas propostas com os programas em andamento no município de Além
Paraíba (MG);
c) Articulação das ações de redução de risco a cargo dos três níveis de governo, constituindo-se na
base para o estabelecimento de compromissos, visando a implementação conjunta e articulada das ações
prioritárias, envolvendo a definição de prazos de implementação, fontes de recursos e instituições respon-
sáveis.
Neste artigo serão apresentados parte dos resultados do mapeamento das áreas de riscos geológicos do
município de Além Paraíba, Minas Gerais, que é objeto do Termo de Execução Descentralizada – TED,
firmado entre o Ministério das Cidades e a Universidade Federal de Viçosa. Os resultados aqui apresentados
contemplam o diagnóstico e a cartografia dos seguintes processos geohidrológicos: deslizamento de solo,
deslizamento de solo e rocha, queda e rolamento de blocos rochosos, processos erosivos lineares, rastejos,
solapamentos de margens de córregos e processos de alagamento e inundação.
O PMRR de Além Paraíba também prevê, em sua elaboração, ações para que o plano se torne público e
apropriado pela população, desenvolvendo um trabalho educativo, informativo e de mobilização junto à
população moradora de áreas de risco, através das lideranças comunitárias e de entidades da sociedade
civil. Entretanto, estas ações nem sempre foram ou têm sido desenvolvidas nos Planos Municipais de Risco
já concluídos ou em elaboração no Brasil, pois não há uma sistematização e/ou proposição de atividades
mínimas necessárias a serem executadas na metodologia de referência do Ministério das Cidades. Quando
executadas, muitas das atividades sociais têm se mostrado desconexas às realidades locais, com pouco ou
nenhum alcance público efetivo.
Assim, com o objetivo de se avançar nesta questão, bem como contribuir com futuras atualizações da
metodologia do PMRR que vem sendo aplicada desde o ano de 2003 no Brasil, também fará parte deste
plano a proposição de metodologias e técnicas buscando, na mobilização e consulta à população das áreas
de risco, conhecer sua percepção sobre o risco existente nas áreas por elas habitadas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os processos metodológicos utilizados para a realização deste trabalho foram divididos em quatro metas,
de acordo com o escopo de serviço que consta no Termo de Descentralização – TED firmado entre o
Ministério das Cidades do Brasil e a Universidade Federal de Viçosa: Meta 1: Elaboração da Metodologia e
Planejamento da Execução do PMRR de Além Paraíba (MG). Meta 2: Trabalhos de campo para o
mapeamento dos setores de risco. Meta 3: Elaboração do Plano Municipal de Redução de Risco para o

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município de Além Paraíba (MG). Meta 4: Realização da Audiência Pública e Elaboração de Relatório Síntese
Final. Sendo as metas 1 e 2 objetos deste artigo.

2.1 Critérios para a Elaboração do Mapeamento de Riscos


De acordo com a agência das Nações Unidas voltada para a redução de desastres (UNITED NATIONS
DISASTERS RELIEF OFFICE – UNDRO, 1991), o gerenciamento de riscos ambientais deve sempre estar
apoiado em quatro estratégias de ação:
 Identificação e análise dos riscos.
 Planejamento e implementação de intervenções para a minimização dos riscos.
 Monitoramento permanente das áreas de risco e implantação de planos preventivos de defesa civil.
 Informação pública e capacitação para ações preventivas e de autodefesa.
A execução do mapeamento para o município de Além Paraíba (MG) está fundamentada nos conceitos
discutidos neste item, resultando em um plano estratégico que contempla as quatro linhas de ação
propostas pela UNDRO.
Neste município, a tipologia de risco geohidrológico encontrada tem relação, principalmente, com processos
relacionados a movimentos gravitacionais de massa que podem mobilizar, além de solo, blocos rochosos,
cobertura vegetal, depósitos artificiais (lixo, aterros e entulhos), caracterizando os processos não só como
geológicos, mas também geotécnicos ou tecnogênicos; e alagamentos e inundações relacionados ao
processo de ocupação desordenado. O tipo de mapeamento utilizado para a avaliação das áreas de risco
foi o heurístico, baseado em levantamentos de campo e mapas em escalas de detalhe 1:3.000.
Em relação ao escopo do trabalho as seguintes atividades foram desenvolvidas:

- Atividades de Levantamento de dados

As atividades de levantamentos de dados do Município de Além Paraíba contemplaram a fase preliminar


dos trabalhos de preparação do PMRR, em que foi realizado o levantamento de informações e materiais
necessários à execução do plano e o direcionamento para um melhor planejamento das demais etapas. Os
seguintes objetivos fizeram parte deste trabalho inicial, através de visita ao município e à prefeitura
municipal, anteriormente à elaboração da metodologia do trabalho:
1) Identificação dos atores de referência do plano;
2) Apresentação do coordenador e equipe do projeto aos técnicos locais;
3) Entrega de um formulário de informações necessárias e importantes à elaboração do plano;
4) Apresentação do instrumento PMRR e das estratégias a serem perseguidas;
5) Visitas de campo nas áreas de estudo para reconhecimento preliminar do meio físico, o qual teve
o acompanhamento da Defesa Civil Municipal e permitiu verificar as principais tipologias de
processos geodinâmicos presentes na área de estudo e a descrição preliminar de alguns pontos em
uma malha regular para que fosse compatível com a escala do trabalho;
6) Levantamentos de dados da Defesa Civil: histórico de ocorrências; estudos anteriormente
realizados no município; trabalhos publicados, Plano Diretor, entre outros.
7) Reuniões com as secretarias municipais (Obras, Assistência Social, Saúde e Educação) visando
demonstrar a importância do acompanhamento de cada uma para a elaboração das estratégias a
serem executadas junto à mobilização e participação da população.
O conjunto de reuniões realizadas, somado à busca de dados no ambiente Web subsidiou o levantamento
das bases cartográficas e demais informações existentes sobre o município (imagens de satélite, plantas
topográficas e cadastrais em escalas compatíveis, dados do meio físico, Legislação municipal, relatórios de
mapeamentos anteriores, ocorrência atendidas pela Defesa Civil, plano de contingência, projetos etc.).

- Definição das Áreas de Mapeamento

Os limites cartográficos do mapeamento foram definidos junto às equipes técnicas municipais, após a
análise dos dados históricos de ocorrências de movimentos de massa, processos de inundação e enxurrada,
adotando como referência os limites da área urbana consolidada.
A delimitação cartográfica e os dados gerados dos setores de risco geohidrológico foram representados em
base cartográfica fornecida pela Prefeitura de Além Paraíba. Os mapas que foram empregados para o
mapeamento da área urbana, foram confeccionados na escala 1:3.000 (Planta de Setores de Risco – cartas
01 a 44) conforme articulação envolvendo a sede municipal e os distritos exemplificados na Figura 1. A

1215
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

delimitação dos setores de risco geológico ocorreu, também, com o auxílio de fotos oblíquas obtidas durante
as atividades de campo.

Figura 1 - Articulação da sede no município de Além Paraíba, das folhas que foram
utilizadas para o mapeamento e representação dos setores de risco

- Identificação e Mapeamentos de Risco

Na etapa de identificação e mapeamento de risco foram realizadas as atividades apresentadas na Figura 2.

•Identificação de evidências;
1

•Análise dos condicionantes geológicos-geotécnicos e ocupacionais que as determinam;


2
•Avaliação da probabilidade de ocorrência de processos associados a deslizamentos em encostas e demais
3 processos geodinâmicos, que possam afetar a segurança de moradias
•Delimitação os Setores da encosta que possam ser afetados por cada um dos processo destrutirvos potenciais
4 idenficados, em base cartográfica definida anteriormente; e

•Estimação do número de moradas de cada setor de risco


5

Figura 2 - Etapas de Identificação e Mapeamentos de Risco

Definida as áreas, deu-se início aos trabalhos de campo, que foram constituídos, basicamente por
levantamentos geológico-geotécnicos de superfície, nos quais se buscou identificar condicionantes dos
processos de instabilização, existência de agentes potencializadores e evidências de instabilidade ou
indícios de desenvolvimento de processos destrutivos (Quadro 1). Os resultados dos levantamentos
geológico-geotécnicos, de suas interpretações e das proposições realizadas foram registrados em fichas de
campo, embasando o mapeamento final.

1216
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 1 - Fatores condicionantes, agentes deflagradores e indícios de movimentação que serão observados durante a
atividade de campo / mapeamento (Brasil, 2006)
Fatores condicionantes do risco geológico

Geologia Declividade;
Litotipo presente; Altura do corte / encosta;
Perfil de alteração; Distâncias da base e da crista da encosta;
Presença de formações superficiais;
Relação altura x afastamento.
Presença de estruturas planares / Vegetação
descontinuidades;
Presença de vegetação;
Permeabilidade dos materiais.
Porte (árvores ou vegetação rasteira, por
Relevo exemplo);
Forma e extensão da encosta; Extensão da cobertura vegetal.
Perfil transversal do talvegue;
“Formações antrópicas”
Posição da área no perfil da vertente;
Presença e espessura de aterros / bota-fora;
Posição da moradia em relação ao curso d’água
Presença e espessura de lixo;
(distância e forma dos meandros);

Extensão das camadas.


Regime do escoamento do curso d’água e posição
na bacia hidrográfica;
Agentes Potencializadores

Lançamento de água servida / esgoto; Bananeiras;


Fossas; Inexistência ou insuficiência de infraestrutura
urbana (esgoto, drenagem, pavimentação);
Tubulações rompidas;
Lançamento inadequado de redes de drenagem
Infiltrações; (concentração de água).
Cortes;
Aterros (bota-fora);
Lixo / entulhos;

Indícios de Movimentação

Trincas no terreno; Estruturas deformadas (muros embarrigados,


tombados);
Trincas na moradia;
Elevação do nível da água e turbidez, no caso de
Degraus de abatimento; inundação.
Cicatriz de deslizamento;
Dolinas;
Portes, árvores, cercas inclinadas;

Além da observação e identificação dos aspectos descritos no Quadro 1, foram coletados pontos de
referência e localização das áreas de risco, por meio da utilização de GPS (Global Position System), estas
informações foram georreferenciadas utilizando-se o sistema de coordenadas UTM, Datum Horizontal –
SIRGAS 2000, 23 S e Datum Vertical – Imbituba- SC. Posteriormente todas as informações obtidas nos
levantamentos de campo foram transpostas para uma base dados em ArcGis, e assim foi possível realizar
a delimitação dos setores de risco com a atribuição do grau de probabilidade de ocorrência de processo de
instabilização, com base nos critérios de hierarquização proposto pelo Ministério das Cidades (Brasil, 2006)
sendo R1: (R1) Baixo risco, (R2) Médio Risco, (R3) Alto Risco e (R4) Muito Alto Risco.

- Critérios para a Concepção de Intervenções que deverão contemplar os setores de alto e muito
alto risco – Proposição de Intervenções estruturais para a redução de riscos

Os critérios para a concepção de intervenções serão utilizados apenas para indicar as soluções mais
adequadas para redução do risco geológico nos setores classificados como alto (R3) e muito alto (R4).
Assim sendo, não é objeto deste trabalho a elaboração de projetos básicos e/ou executivos de obras. As
etapas desta atividade seguem o fluxograma mostrado na Figura 3.

1217
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

•A concepção das intervenções estruturais necessárias para cada setor de risco;


1

•A estimativa de custos;
2

•A definição de critérios para priorização das intervenções propostas.


3

Figura 3 - Critérios para a concepção de intervenções em setores de alto e muito alto risco.

Durante as atividades de campo para o mapeamento do risco, foram indicadas alternativas de intervenções
estruturais e não estruturais adequadas para cada setor de risco geológico.
As proposições de intervenção visam a melhor relação custo x benefício, a menor complexidade técnica
(tendo em vista a possibilidade de execução com a mão-de-obra do morador) e a possibilidade de adoção
de projetos-padrão. Além disso, será adotada, sempre que possível, uma padronização de diferentes tipos
de intervenção e serviços, conforme apresentado no Quadro 2, adaptado do proposto na apostila para
treinamento, disponível no site do Ministério das Cidades (Brasil, 2006), possibilitando o emprego de uma
terminologia uniforme e a facilidade de dimensionamento e quantificação de custos.
Quadro 2 - Tipologia de intervenções voltadas à redução de riscos associados a deslizamentos em encostas ocupadas e
a solapamentos de margens de córregos. (Brasil, 2006)
TIPO DE INTERVENÇÃO DESCRIÇÃO
Serviços de limpeza de entulho, lixo etc. Recuperação e/ou limpeza de sistemas
SERVIÇOS DE LIMPEZA E de drenagem, esgotos e acessos. Também incluem obras de limpeza de canais de
RECUPERAÇÃO drenagem. Correspondem a serviços manuais e/ou utilizando maquinário de
pequeno porte.
Implantação de sistema de drenagem superficial (canaletas, rápidos, caixas de
OBRAS DE DRENAGEM transição, escadas d´água etc.). Implantação de proteção superficial vegetal
SUPERFICIAL, PROTEÇÃO (gramíneas) em taludes com solo exposto. Eventual execução de acessos para
VEGETAL (GRAMÍNEAS) E pedestres (calçadas, escadarias etc.) integrados ao sistema de drenagem.
DESMONTE DE BLOCOS E Proteção vegetal de margens de canais de drenagem. Desmonte de blocos
MATACÕES rochosos e matacões. Predomínio de serviços manuais e/ou com maquinário de
pequeno porte.
Pequenas obras de urbanização tais como urbanização de becos, abertura de
OBRAS DE URBANIZAÇÃO acessos, execução de passarelas, urbanização de áreas visando implantação
AGREGADAS A DRENAGEM E adequada de redes de drenagem e esgotamento sanitário, estabelecimento de
ESGOTAMENTO SANITÁRIO “rotas de fuga” e destinação de uso a áreas de risco desocupadas ou
remanescentes de remoção de famílias.
Implantação de estruturas de contenção de pequeno porte (hmax = 3,5 m e lmax
ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO
= 10 m). Obras de contenção e proteção de margens de canais (gabiões, muros
DE PEQUENO PORTE
de concreto, etc.). Correspondem a serviços parcial ou totalmente mecanizados.
Execução de serviços de terraplenagem. Execução combinada de obras de
OBRAS DE TERRAPLENAGEM DE drenagem superficial e proteção vegetal (obras complementares aos serviços de
MÉDIO A GRANDE PORTES terraplenagem). Obras de desvio e canalização de córregos. Predomínio de
serviços mecanizados.
Implantação de estruturas de contenção de médio a grande porte (h > 3,5 m e
ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO l > 10 m), envolvendo obras de contenção passivas e ativas (muros de gravidade,
DE MÉDIO A GRANDE PORTES cortinas atirantadas etc.). Poderão envolver serviços complementares de
terraplenagem. Predomínio de serviços mecanizados.
As remoções poderão ser definitivas ou não (para implantação de uma obra, por
REMOÇÃO DE MORADIAS exemplo). Priorizar eventuais relocações dentro da própria área ocupada, em local
seguro.

A atividade de elaboração do plano de intervenções estruturais para redução de risco, ainda em fase de
elaboração, apresentará como produto, além das descrições mencionadas nas fichas de campo, a
compilação de custos e priorização das obras formatadas por bairro, além da síntese dos resultados para
o município. Estes critérios, entretanto, poderão ser adaptados e/ou detalhados, ao longo do trabalho, para
refletir melhor a realidade do município de Além Paraíba – MG (Quadro 3).

1218
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 3 - Critérios para a priorização das intervenções (Carvalho, 2000)

1. Nível de probabilidade de risco

1ª prioridade: probabilidade muito alta

2ª prioridade: probabilidade alta

3ª prioridade: probabilidade média

2. Porte do setor

1ª prioridade: setor de grande porte (≥ 21 domicílios)

2ª prioridade: setor de médio porte (entre 6 e 20 domicílios)

3.ª prioridade: setor de pequeno porte (até 5 domicílios)

3. Relação custo / moradia

1ª prioridade: custo baixo (> R$ 20.000,00)

2ª prioridade: custo médio (entre R$ 20.000,00 e R$ 50.000,00)

3ª prioridade: custo alto (acima de R$ 50.000,00)

Com base nestes critérios, será elaborada uma matriz com 27 ordens de prioridades, para posterior
aplicação a cada um dos setores de risco geológico do Plano Municipal de Risco de Além Paraíba, com as
classes de prioridades para os setores de riscos (R3 e R4) mapeados.

- Ações Não-Estruturais - Atividades Sociais

O PMRR tem como uma de suas premissas instrumentalizar as populações das áreas de risco, no município
de Além Paraíba, através de várias metodologias e técnicas buscando, na mobilização e consulta à
população das áreas de risco, conhecer sua percepção sobre o risco existente nas áreas por elas habitadas.
Essa instrumentalização é parte do processo de mobilização social e será objeto, a partir de métodos
qualitativos e semiquantitavos, de uma ação que deverá permitir a realização de um diagnóstico sobre a
percepção de risco da população, visando embasar uma discussão sobre o tema e a proposição de ações
de rotina para o enfrentamento dos desastres naturais que ocorrem no município em estudo. Este trabalho
é voltado para a construção da percepção de riscos junto às populações, nas áreas de risco identificadas
pelos estudos e deverá considerar as características de cada comunidade: sociais, culturais, econômicas
entre outras; e as dificuldades geradas pela urbanização presente nestes locais. As etapas das atividades
sociais realizadas neste PMRR serão realizadas conforme apresentado na Figura 4.

1219
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

•Capacitação e Sensibilização dos Envolvidos com o Processo (Treinamento com equipe técnica para aplicação
de entrevistas semiestruturadas; Reuniões com lideraças dos setores apoiadores, entre eles as Secretarias
1 Municipais, Igrejas e Movimentos Populares);

•Mobilização Comunitária (Definição das comunidades que serão trabalhadas na elaboração do diagnóstico
participativo; Formação de grupos de apoio; Reuniões para a preparações das ações com as equipes
2 municipais e sociedade civil);
•Realização das entrevistas semiestruturadas para a percepção de risco (Elaboração de questionário de apoio;
definição dos setores de risco a serem trabalhadas; Análise dos dados para o diagnóstico qualiquantitativo da
3 percepção de risco);

•Realização de reuniões para levantamento dos dados qualitativos - Diagnóstico Participativo (Capacitação dos
4 participantes envolvidos; Mobilização da população nas comunidades selecionadas);

•Elaboração do planejamento participativo do Município de Além Paraíba (Elaboração do documento final do


5 Diagnóstico Participativo);

•Documento final da percepção de riscos a partir da metodologia qualitativa;


6

•Elaboração de um documento final de percepção de risco para a definição das ações de redução de riscos;
7

•Apoio as atividades de redução de riscos nas escolas (Grade curricular defesa civil nas escolas);
8

•Apoio à formação do Conselho Municipal da Defesa Civil.


9

Figura 4 - Atividades Sociais do PMRR

- Planejamento de Capacitação de Técnicos Locais

Os temas que serão abordados no curso de treinamento para os técnicos municipais serão pactuados
durante a elaboração do PMRR, a partir do reconhecimento do meio físico municipal e da estrutura
organizacional da Prefeitura de Além Paraíba - MG, mas em sintonia com o curso de gerenciamento de
áreas de risco relativo aos processos de deslizamento e inundação do Ministério das Cidades.

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

O município de Além Paraíba está localizado no Brasil, na região Sudeste do Estado de Minas Gerais, entre
os meridianos 21º 51’ 49’’ e 42º 40’ 8’’. A sede do município dista, por rodovia, 380 km da capital Belo
Horizonte, estando próxima de centros importantes como Juiz de Fora (120 km), Muriaé (120 km), Três
Rios (70 km), Nova Friburgo (90 km), Teresópolis (90 km), Petrópolis (100 km) e Rio de Janeiro (170 km).
O município situa-se a 140 m de altitude, às margens do Rio Paraíba do Sul, o qual o separa dos municípios
de Carmo e Sapucaia, no Estado do Rio de Janeiro.
As principais rodovias de acesso são a BR 116 (Rio de Janeiro - Além Paraíba) e BR 393 (São Paulo –
Vitória). Na Figura 5 apresenta-se a localização do município de Além Paraíba (MG).

1220
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 5 - Mapa de localização e delimitação da área de estudo (Além Paraíba -MG)

3.1 Aspectos Geológicos e Geomorfológicos da área

A área de estudo está inserida na Zona da Mata Mineira, microrregião de Cataguases, correspondendo a
um segmento inserido em maior proporção sobre um complexo Cristalino, composto por gnaisses e
migmatitos, com variado grau de metamorfismo. Os metassedimentos (quartzitos, e mica xistos)
apresentam-se em menor abrangência; as formações sedimentares recentes são datadas do Terciário e
Quaternário, e ocorrem ao longo dos vales e vias fluviais e leitos maiores, constituídos por cascalho, areias,
siltes e argilas (BRASIL, 1970; BARUQUI, 1982; BRASIL, 1983).

De acordo com estudos realizados pelo Serviço Geológico do Brasil - CPRM (2014), o substrato geológico
de Além Paraíba pode ser subdividido em quatro unidades, conforme descrito no Quadro 4 (Folha SF. 23 –
Rio de Janeiro, escala 1: 1.000.000).
Quadro 4 - Aspectos geológicos do Município de Além Paraíba (MG) adaptado de CPRM (2014)

Unidades Litoestatigráficas Hierarquia Sistema GE Litotipo Classe

Estratigráfico/
Suíte Muriaé Suíte intrusiva Granitóide Ígnea
estrutural
Xisto, Charnockito,
Estratigráfico/ Metacalcário dolomítico, Ígnea e
Paraíba do Sul Complexo
estrutural Metacalcário calcítico, metamórfica
Metacalcário, Gnaisse
Suíte Charnockítica Estratigráfico/ Charnockito, para- Ígnea e
Suíte Intrusiva
Leopoldina estrutural Granulito, Metanorito metamórfica

Isotópico Granito, Quartzo diorito,


Quirino Complexo Ígnea
Radiogênico Granodiorito

A topografia da região é acidentada, com predominância de relevo forte ondulado a montanhoso, sendo
que as superfícies de morros mamelonares possuem trechos de planícies aluvionares, destacando-se como
mais relevantes as planícies associadas ao rio Paraíba do Sul e ao córrego Limoeiro.

Os morros apresentam alinhamento de cristas relacionadas a um trecho do vale do Rio Paraíba do Sul,
apresentando um feixe de falhas geológicas com orientação aproximada NE-SW. Segundo NETO et al.,
(2013) nesta paisagem há predomínio de solos jovens (cambissolos háplicos). As cotas altimétricas variam

1221
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

entre 100 e 1019 metros. Segundo Moreira e Camelier (1977) a unidade geomorfológica predominante da
região Zona da Mata insere-se no domínio morfoestrutural dos Planaltos Cristalinos Rebaixados.

O Município de Além Paraíba possui histórico de recorrência de movimentos de massa e inundação,


principalmente entre os meses de novembro e março, período com elevados índices pluviométricos. Entre
os registros de ocorrências destaca-se o mês de janeiro do ano de 2012, quando inúmeros problemas
atingiram praticamente todo o município, deixando a cidade paralisada por aproximadamente quatro meses.

A cheia do Ribeirão Limoeiros, afluente do Rio Paraíba do Sul, provocou enchentes, enxurradas e inundações
em pelo menos 15 áreas da cidade (Figura 6). Vários bairros da cidade foram atingidos, destacando-se
entre os mais afetados Vila Caxias e Jardim Paraíso, onde o nível da água subiu em até 10 metros em
alguns trechos. Foram registrados mais de 2 mil desabrigados e três vítimas fatais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO DO MAPEAMENTO DO RISCO GEOHIDROLÓGICO DO


MUNICÍPIO DE ALÉM PARAÍBA

No mapeamento geológico-geotécnico do Município de Além Paraíba foram identificados e delimitados 106


setores de risco, sendo 104 relacionados a movimentos de massa, 1 setor relacionado ao processo de
inundação do Rio Paraíba do Sul e 1 setor de enxurrada associado ao Córrego Limoeiro. Dos 104 setores
de risco de movimentos de massa identificados (Figura 6), 7 foram classificados como de probabilidade
muito alta de deflagração de processos geodinâmicos (R4); 61 como probabilidade alta (R3); e 36 com
media probabilidade (R2). Os riscos identificados nos setores de alto e muito alto risco, apresentaram em
sua maioria características semelhantes, referentes a áreas ocupadas sem planejamento urbano adequado
e com baixa aptidão à urbanização. Além da predisposição natural dos terrenos à deflagração de
movimentos gravitacionais de massa e inundações destaca-se a ocorrência de contatos bruscos de solo e
rocha e, consequentemente, suas respectivas diferenças de permeabilidade, trechos de encostas com
concentração de fluxos das água superficiais, processos erosivos lineares, cicatrizes de deslizamentos e
superfícies de rupturas de processos pretéritos e ainda ativos e em progressão com altos volumes de massa
a serem mobilizados, além do histórico de movimentos de massa. Os domicílios possuem via de regra baixo
e médio padrão construtivos, foram construídos em encostas declivosas próximos à base e/ou crista de
taludes de cortes e aterro e/ou em áreas de planícies aluvionares.

Figura 6 - Representação dos Setores de Risco de Movimentos de Massa do Município de Além Paraíba (MG)

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Os setores de inundação e enxurrada foram identificados com base nos registros históricos dos eventos
que atingiram o município, com identificação em campo, neste trabalho, da área de atingimento e alturas
da lâmina d’água (Figura 7). O Município de Além Paraíba possui, a jusante e a montante do Rio Paraíba
do Sul, duas usinas Hidroelétricas, ANTA e SIMPLÍCIO, que controlam a vazão do rio. De acordo com
informações repassadas pela Defesa Civil do Município e registros de ocorrências, para que as casas que
estão inseridas na mancha de inundação sejam atingidas, a vazão do rio tem de ultrapassar 1.900 m 3. As
ações de prevenção alerta são iniciadas pela Defesa Civil quando a vazão ultrapassa 1.300 m3. O setor
caracterizado como de enxurrada, engloba o córrego Limoeiro e sua extensa bacia de contribuição,
merecendo destaque o potencial de dano que pode ser gerado quando da deflagração desse processo
geodinâmico.

Figura 7 - Setores de Risco de Inundação e Enxurrada do Município de Além Paraíba (MG)

Cabe ressaltar que as situações mais críticas identificadas em campo pela equipe técnica responsável pelo
mapeamento receberam atenção imediata, durante o trabalho, com orientação aos moradores e repasse
das informações a Defesa Civil para que ações imediatas fossem iniciadas.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Secretaria Nacional de Desenvolvimento Urbano do Ministério das Cidades, pelo apoio
financeiro ao estudo; à FACEV, pelo gerenciamento dos recursos; e à Prefeitura Municipal de Além Paraíba,
pelo apoio no desenvolvimento dos trabalhos.

6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento Exploratório dos Solos da região sob influência da CIA. Vale do Rio
Doce. Boletim Técnico n 13. Rio de Janeiro, 1970. 154p.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretária-Geral. Projeto RADAMBRASIL: levantamento de recursos naturais.
Folhas SF. 23/24. Rio de Janeiro/Vitória. Geologia. Rio de Janeiro, v. 32. 1983. 775p.

1223
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

BRASIL. Ministério das Cidades/Cities Alliance Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração
de Políticas Municipais / Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades;
Cities Alliance, 2006.

Carvalho, C.S. Análise Quantitativa de Riscos e Seleção de Alternativas de Intervenção - Exemplo de um Programa
Municipal de Controle de Riscos Geotécnicos em Favelas. In: Workshop Seguros na Engenharia, 1, 2.000, São
Paulo. Anais...São Paulo: ABGE, 2.000. p 49-73.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS - CPRM. Setorização de Riscos Geológicos - Além Paraíba – Minas
Gerais. Além Paraíba, Brasil, 2014. Disponível em: <http://cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Geologia-de-
Engenharia-e-Riscos-Geologicos/Setorizacao-de-Riscos-Geologicos-4138.html> Acesso: em maio de 2017.

Moreira, A.A.N. e Camelier, C. (1977) - Relevo. In: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro.
Vol. 3, pp. 1-150.

Neto, F. V. C., Leles. P. S. S., Pereira. M. G. P., Bellumath. V. G. H. e ALONSO. J. M. (2013) - Acúmulo e decomposição
da serapilheira em quatro formações florestais. Revista Ciência Florestal, Santa Maria, v. 23, n.3, p. 379-387.

UNDRO – UNITED NATIONS DISASTER RELIEF OFFICE (1991) - UNDRO’s approach to disaster mitigation. UNDRO News,
jan.-febr.1991. Geneva: Office of the United Nations Disasters Relief Co-coordinator. 20p.

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ESCOAMENTO SUPERFICIAL E EROSÃO ACELERADA POR AÇÕES ANTROPOGÊNICAS


EM ÁREA DE MANANCIAL, SUDESTE DO BRASIL

SURFACE RUNOFF AND ACCELERATED EROSION DUE TO ANTRHOPOGENIC


ACTIVITIES IN HEADWATERS OF A CATCHMENT IN SOUTHEASTERN BRAZIL

Lorandi, Reinaldo; Universidade Federal de São Carlos, São Carlos (SP), Brasil, lorandir@gmail.com
Faleiros, Cássia A.R.J.; Felco Faleiros Ltda, São Carlos (SP), Brasil, carjunqueira@yahoo.com.br
Neves, Monique P.; Universidade Federal de São Carlos, São Carlos (SP), Brasil,
moniqueneves.ambiental@gmail.com
Lollo, José A. de; Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira (SP), Brasil, jose.lollo@unesp.br

RESUMO

Alterações nas condições hidrológicas naturais podem desencadear diversos problemas ambientais em
bacias hidrográficas. Estudos tratando do escoamento superficial e de erosão acelerada são fundamentais
para diagnosticar as degradações potenciais e subsidiar possíveis intervenções. Nesta investigação
científica são apresentados, em escala 1:50.000, os potenciais de escoamento superficial e de erosão
acelerada numa bacia de 227.00km², que é manancial para os municípios de São José do Rio Pardo-SP,
São Sebastião da Grama-SP, Vargem Grande do Sul-SP e Águas da Prata-SP, no Estado de São Paulo,
Brasil. Atributos geoambientais como rochas, clima, relevo, solos, e uso e cobertura do solo, foram
avaliados de maneira integrada. Apesar das condições naturais da bacia do rio Fartura não implicarem
altos potenciais para desenvolvimento de processos erosivos acelerados, mesmo com a bacia
apresentando índices de precipitação médios mais altos que outras bacias da região, quando são
considerados eventos extremos de precipitação, com tempo de retorno de cinco e vinte anos os
potenciais para ocorrência de erosão acelerada crescem significativamente. Em função disso, e
considerando as classes de uso e cobertura da terra nas porções noroeste e sudeste da bacia, as quais
apresentam maiores potenciais para desenvolvimento de processos erosivos quando simulados eventos
de precipitação dispares, os resultados indicam a necessidade de adoção de medidas normativas de
planejamento territorial com relação aos usos nessas áreas, e adoção de soluções técnicas adequadas
para que os processos erosivos não sejam desencadeados.

ABSTRACT

Changes in natural hydrological conditions can trigger diverse environmental problems in river basins.
Studies considering surface runoff and accelerated erosion are essential for diagnosing potential
degradations and subsidizing interventions. This scientific research, developed in a scale of 1: 50,000,
produced the surface runoff and accelerated erosion potentials charts in a hydrographic basin of 227.00
km², which is source of water resources for the municipalities of São José do Rio Pardo-SP, São Sebastião
da Grama-SP, Vargem Grande do Sul-SP and Águas da Prata-SP, in the State of São Paulo, Brazil.
Geoenvironmental attributes such as rocks, climate, relief, soils, and land use / land cover were used with
this objective. Although natural conditions in Fartura river watershed do not necessarily imply high
potentials for accelerated erosive processes development, even with higher mean precipitation in Fartura
watershed compared with other watersheds in the region, when we considered extreme precipitation
events the potential for accelerated erosion increases significantly. Considering this, and the classes of
land use / land cover in the northwestern and southeastern portions of the watershed, which present
greater erosive processes potential when anormal precipitation events were simulated, the results
indicate the need to adopt normative measures of territorial planning for uses in these areas, and proper
technical solutions in order to do not triggered accelerated erosion processes.

1- INTRODUÇÃO

As atividades humanas têm sido cada vez mais a causa das transformações na natureza. Em diferentes
sociedades, a produção de bens e serviços tem sido centrada no uso dos recursos naturais. Atividades
antropogênicas como a agropecuária, urbanização e a industrialização, se desenvolvidas sem os devidos
planejamento e critérios técnicos, são as que mais comprometem os serviços ecossistêmicos (Millennium
Ecosystem Assessment, 2005; Eigenbrod et al., 2009), sobretudo a produção água (Schewe et al., 2014)
em áreas de mananciais (Costa et al., 2015a; Dorici et al., 2016; Torres et al., 2016).

Os processos de escoamento superficial e de erosão acelerada são, provavelmente, os principais agentes


de degradação, resultando, nos maiores prejuízos econômicos, sociais e ambientais (Pimentel et al.,
1995; Uri and Lewis 1998; Wilkinson, 2005; Vente et al., 2008; FAO, 2011; Bayon et al., 2012;

1225
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Vrieling et al., 2014; Reusser et al., 2015). Globalmente, estima-se que 70% dos solos estão degradados
dos pontos de vista físico, químico e biológico (FAO, 2011), sendo o solo um dos recursos naturais não
renováveis, cuja recuperação exige tempo e recursos (Lal, 1990).

Segundo Uri e Lewis (1998), nos Estados Unidos, a erosão do solo custa anualmente entre US$ 30
bilhões e US$ 44 bilhões. No Reino Unido, este custo é estimado em £ 90 milhões (Environment Agency,
2002). Ainda que a erosão hídrica comprometa os solos em escala global, os processos mais intensos
ocorrem nas regiões tropicais (El-Swaify, 1982; Morgan, 2005), onde a intensidade dos processos
naturais resulta em processos erosivos mais significativos (Florenzano, 2008).

No Brasil, país marcado pelo uso intensivo do solo destinado às atividades agrícolas e à pecuária, estima-
se que anualmente sejam perdidos cerca de 500 milhões de toneladas de solos (Bertoni and Lombardi
Neto, 2012). No Estado de São Paulo, a Companhia de Desenvolvimento Agrícola afirma que cerca de
80% da área cultivada sofre com processos erosivos, causando uma perda de mais de 200 milhões de
toneladas de solo por ano. Dos sedimentos produzidos, 70% chegam aos corpos hídricos, causando
assoreamento e poluição (Zoccal, 2007).

Como agravante, grande parte da região sudeste do Brasil (que concentra 55,4% da atividade econômica
e 42,6% da população brasileira - IBGE, 2010) é recoberta com solos residuais de rochas sedimentares
da Bacia do Paraná, em condições locais de relevo e de uso e cobertura da terra que contribuem
significativamente para a deflagração dos processos erosivos (Dorici et al., 2016).

Segundo Bertoni and Lombardi Neto (2012), o escoamento superficial é o principal deflagrador dos
processos erosivos acelerados. Para Ellison (1947) a água decorrente do escoamento superficial é o mais
importante agente de transportador quando a erosão é causada pela chuva.

Os mecanismos de ativação dos processos erosivos são específicos para cada local, variando com as
condições predisponentes subordinadas a um conjunto de fatores naturais (Lollo and Sena, 2013), como
a precipitação, a estrutura geológica e litologia, as propriedades químicas e físicas e a morfologia das
partículas dos solos, a densidade de drenagem e as feições favoráveis ao armazenamento artificial, o
relevo e a cobertura e o uso do solo (Lal, 1990, Pejon, 1992, Valentin, 2005; Florenzano, 2008; Guerra et
al., 2014; Dorici et al., 2016; Zhou et al., 2016).

Em áreas de mananciais, a erosão causa o carreamento de nutrientes, agroquímicos e dejetos de animais


e aceleram os processos de eutrofização nos corpos hídricos (Tundisi and Matsumura-Tundisi, 2010;
Minoti et al., 2011, Galharte et al., 2014). Neste caso, as partículas do solo em suspensão aumentam a
turbidez e, consequentemente, os custos de tratamento da água, pois as instalações devem filtrar as
partículas, que, inclusive, podem danificar as bombas e turbinas. Na forma de sedimento, causam o
assoreamento, reduzindo a capacidade de vazão do canal e a vida útil dos reservatórios (Uri and Lewis,
1998).

Internacionalmente, os modelos numéricos de erosão do solo são utilizados como ferramenta de


diagnóstico do meio natural, sendo balizadores nas tomadas de decisões direcionadas à gestão territorial.

Entretanto, existem limitações importantes entre os modelos disponíveis para a avaliação das
consequências da erosão (Kinnell, 2000; Morgan, 2005; Vente and Poesen, 2005; Boardman, 2006;
Coulthard et al.,2012; e Vente et al.,2013). A maior parte dos modelos é limitada à previsão da erosão
laminar, sem representar de maneira eficiente as áreas com maiores riscos potenciais de desenvolver
processos erosivos acelerados, como ravinamentos e voçorocas. Outro fato negativo, é que a maioria dos
modelos não considera a morfologia das encostas, adotando perfis planares como condição de análise.
Merece ainda destaque o fato que tais modelos não estão calibrados para ambientes tropicais.

As áreas de mananciais periurbanos são extremamente importantes, pois a proximidade das cidades
confere uma vantagem quanto ao seu uso como reservas hídricas, demandando a realização de estudos e
propostas de manejos adequados, visando à conservação de suas funções ecossistêmicas. Como ressalta
Costa et al., (2015a), é possível observar a carência de trabalhos especificamente em bacias que atuam
como produtoras de água destinada ao abastecimento urbano, no sentido de fornecer uma previsão das
áreas com maiores potenciais de ocorrência dos processos de escoamento superficial e de erosão
acelerada.

Na região sudeste do Brasil, a que mais demanda água para consumo humano, industrial e agrícola,
Sperandelli et al. (2013), Costa et al. (2015ab) e Torres (2016) verificaram que alguns mananciais
periurbanos estão sendo ocupados por atividades antrópicas de maneira caótica, sem nenhum
planejamento.

Diante desse cenário, o presente trabalho avaliou o processo de escoamento superficial e de erosão
acelerada, na bacia do rio Fartura, que é a principal fonte de água superficial para as cidades de São José

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, Vargem Grande do Sul, e Águas da Prata, no Estado de São
Paulo, Brasil.

Além de propor avanços metodológicos na proposta de Pejon (1992), como a incorporação do uso e
cobertura da terra na análise, o estudo avaliou o impacto decorrente de eventos concentrados de
precipitação, com base em análise dos registros de recentes mudanças climáticas na área. Faz-se
necessário destacar que os resultados e análise que decorrem deste estudo são passíveis de aplicação em
outras áreas de mananciais periurbanos em situações ambientais análogas.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Área de estudo

A Área de Estudo da presente pesquisa (Figura 1), correspondente à bacia hidrográfica do rio Fartura
(BHRF), afluente da margem esquerda do rio Pardo, integrante da UGRHI-4 (Unidade de Gerenciamento
de Recursos Hídricos) gerenciada pelo CBH-PARDO - Comitê da Bacia Hidrográfica do Pardo.

Figura 1 – Localização e altimetria da bacia do rio Fartura

A bacia estende-se numa área de 227.00km² e engloba parte dos principais municípios da região (São
José do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, Vargem Grande do Sul e Águas da Prata), com a nascente
do rio Fartura nas coordenadas UTM (323583,615 e 7583162,243) e sua foz, na confluência com o rio
Pardo, nas coordenadas UTM (302911,727 e 7610322,115).

A BHRF está inserida no Planalto Atlântico, tendo como Unidade Morfoestrutural o Cinturão Orogênico do
Atlântico, Unidade Morfoescultural o Planalto Atlântico e com o Nível Morfológico Planalto do Alto Rio
Grande. A drenagem manifesta, em seu traçado, as características fundamentais comuns a toda a
morfoescultura do Planalto Atlântico, tendo um padrão dendrítico com adaptações às direções estruturais.
Por ser uma unidade de formas muito dissecadas, com vales entalhados e alta densidade de drenagem,
esta área apresenta um nível de fragilidade potencial alto, estando, portanto, sujeita aos processos
erosivos com possibilidade de ocorrência de movimentos de massas nos setores de vertentes mais
inclinadas (Ross e Moroz 1997).

As variações altimétricas da região são intensas chegando a um desnível de 820 m, pois em sua foz na
confluência com o rio Pardo possui uma altitude da ordem de 700 m, mas em suas nascentes a altitude
chega a 1520 m e a densidade de drenagem é alta, além do farto volume das águas.

O clima na região da BHRF predominante é o Cwa, havendo também o Aw, segundo a classificação
KOEPPEN, sendo que, o município de São José do Rio Pardo pertence ao tipo Aw, tropical chuvoso com
inverno seco e mês mais frio com temperatura média superior a 18ºC. O mês mais seco tem precipitação

1227
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inferior a 60mm e com período chuvoso que se atrasa para o outono. Já nos demais municípios da região
o clima é do tipo Cwa, isto é, clima de inverno seco e verão chuvoso, com a temperatura média do mês
mais frio inferior a 18°C e a do mês mais quente superior a 22°C.

Segundo Ladeira e Marques (2001) as rochas na região sofreram processos metamórficos formando uma
grande variedade de tipos litológicos (gnaisses diversos, migmatitos, charnoquitos, kinzigitos, e
subordinadamente quartzitos, cálcio-silicáticas e mármores), predominando rochas do complexo Pinhal e
do Complexo Varginha.

Os ARGISSOLOS VERMELHOS predominam na região e são caracterizados pelo grande aumento de argila
em profundidade. A velocidade de infiltração da água é muito rápida na superfície e lenta em
subsuperfície, ocasionando erosão severa. Conforme Oliveira et al. (1999), são solos eutróficos, com
horizonte A moderado e textura média/argilosa e argilosa, situando-se em relevo montanhoso e
fortemente ondulado. Localizam-se principalmente nos municípios de José do Rio Pardo, São Sebastião da
Gama e São Roque da Fartura. Em Vargem Grande do Sul, há predomínio de TERRAS BRUNAS
ESTRUTURADAS, com solos distróficos, horizonte A proeminente, textura argilosa e relevo montanhoso.

Para a caracterização da área foram utilizados dados do SEADE, Plano da bacia hidrográfica do Pardo de
2008 a 2011 (CBHPARDO, 2008) e o relatório de Águas do Interior (CETESB, 2008). Apesar da bacia não
ocupar os municípios inteiramente, os dados a seguir caracterizam a região de estudo como um todo. Os
atributos naturais utilizados na presente análise são apresentados na Figura 2.

2.2 - Levantamento e tratamento de dados

2.2.1 - Atributos do meio físico

O conjunto de dados e informações do meio físico, tratado para a obtenção do escoamento superficial
potencial e do potencial para desenvolvimento de processos erosivos acelerados na bacia do rio Fartura, é
apresentado na Figura 2.

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Figura 2 – Atributos naturais na bacia do rio Fartura

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2.2.2 - Classificação de uso e cobertura da terra

Para elaboração da carta de uso e cobertura do solo foram utilizadas imagens Landsat 8, com a
composição falsa cor R3G4B5 e classificação supervisionada, utilizando-se o algoritmo de máxima
verosimihança do ArcGis. As classes de uso consideradas foram: estradas, ocupação urbana, agricultura,
solo exposto para plantio, floresta, campo sujo, campo limpo, e água.

2.2.3 - Obtenção do escoamento superficial potencial

A metodologia adotada para determinação do escoamento superficial potencial fundamentou-se em Pejon


(1992). A escolha deveu-se ao fato de tal metodologia compreender um número grande de componentes
do geossistema e ter sido proposta com a finalidade de atender às condições naturais do sudeste
brasileiro, visando refletir a dinâmica dos processos físicos regionais.

Com o objetivo de incorporar atributos que refletissem as ações humanas na área, foram incorporadas
informações relativas a uso e cobertura da terra e variações climáticas recentes. Assim, foram usados os
dados de precipitação média, gerados a partir dos postos pluviométricos localizados na bacia, e foram
também considerados dados de precipitação com tempos de recorrência de cinco e de vinte anos obtidos
do registro de precipitações intensas para a mesma área (DAEE, 2015) de forma a simular as condições
de eventos climáticos dispares ocorrentes na região nas últimas décadas.

Contribuindo para o aprimoramento da metodologia específica, oportunamente citada, foram incluídos na


análise alguns atributos geoambientais (a precipitação, a forma de terreno e a cobertura e uso do solo),
por serem decisivos na análise e compreensão dos processos de escoamento superficial e de erosão
acelerada.

Cada atributo geoambiental foi representado num plano de informação em formato matricial do banco de
dados, e cada uma de suas classes, recebeu a ponderação segundo o Quadro 1.

Uma vez atribuídos os valores para todas as classes dos planos de informação, foi efetivada a integração
dos mapas temáticos por meio da soma ponderada em SIG. Dessa forma, chegou-se a uma classificação
do potencial de ocorrência dos processos de escoamento superficial e de erosão acelerada, envolvendo
dez possíveis classes de escoamento.

2.2.4 - Obtenção do potencial para desenvolvimento de processos erosivos acelerados

A partir da combinação dos dados de escoamento superficial potencial e dos atributos do solo, o potencial
para desenvolvimento de processos erosivos acelerados foi obtido a partir da ponderação apresentada no
Quadro 2.

1230
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 1 - Atribuição de valores para os atributos considerados na produção da Carta de Escoamento Superficial Potencial
ESCOAMENTO SUPERFICIAL POTENCIAL

Classes de Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto


escoamento
superficial 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
<2% 2 a 5% 5 a 10% 10 a 20% 20 a 30% 30 a 45% >45%
Declividades
(15) (24) (36) (60) (66) (75) (90)

Complexo Pinhal: suíte Complexo Pinhal: migmatitos; Enclaves Complexo Varginha; Maciço
Aluviões Arenito do Mirante
Litologia granito-charnoquítica aluminosos Alcalino de Poços de Caldas
(10) (16)
(20) (30) (40)

Retrabalhado Residual Retrabalhado Residual Residual Residual


Gênese
e
Textura Arenosa Arenosa Areno-argilosa; areno-siltosa Areno-argilosa; areno-siltosa Argilo-arenosa Argilosa
Solos

(5) (10) (15) (20) (30) (40)


Espessura >5 3a5 1a3 <1
(metros) (10) (16) (20) (30)
Permeabili > 10⁻3 cm/s 10⁻3 a 10-4 cm/s < 10-4 cm/s
dade (5) (6) (10)
Pluviosidade 1.481 – 1.557 mm 1.557 – 1.633 mm 1.633 – 1.709 mm
(média) (10) (20) (30)
Canais de
<2 2a5 >5
drenagem
(10) (20) (30)
(canais/km)
Feições
favoráveis ao Em grande quantidade Em pequena quantidade Não Apresenta
armazenament (10) (20) (30)
o superficial
Uso e Solo exposto,
Água Floresta Campo limpo Campo Sujo Agricultura
cobertura da Área urbana, Estradas
(1) (2) (10) (13) (15)
Terra (30)

1231
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 2 - Atribuição de pesos para Carta de Potencial para Erosão Acelerada

POTENCIAL PARA DESENVOLVIMENTO DE EROSÃO AUMENTA

Classes de isco Muito Baixo Médio Alto Muito alto


potencial à baixo
erosão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Potencial de
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
escoamento
(5) (8) (10) (13) (15) (20) (25) (30) (35) (40)
superficial
Não erodível Erodível
Erodibilidade
(5) (20)
Areno-argilosa;
Solos

Arenosa Argilo-arenosa Argilosa


Textura areno-siltosa
(40) (10) (5)
(20)
Espessura <1 1a3 3a5 >5
(metros) (5) (10) (20) (30)

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 - Carta de uso e cobertura da terra

As diferentes formas de uso e cobertura do solo, identificadas na bacia e representadas na Figura 3, são:
agricultura (58,01km2; 25,50%), campo limpo (86,39km2; 37,97%), campo sujo (32,95km2; 14,48%),
estradas (0,49km2; 0,22%), floresta (21,53km2; 9,46%), ocupação urbana (5,67km2; 2,49%), solo
exposto (22,22km2; 9,77%) e água (0,24km2; 0,11%).

300000 310000 320000


7600000

7600000

Classes
Agricultura
Campo Limpo
Campo Sujo
7588000

7588000

Estradas
Floresta
Ocupação Urbana
Solo Exposto
Água

0 1,75 3,5 7 10,5 14


Kilometers

300000 310000 320000

Figura 3 – Carta de uso e cobertura da terra para a bacia do rio Fartura

3.2 - Carta de escoamento superficial potencial

Foram geradas três versões da carta de escoamento superficial, sendo: uma considerando dados de
precipitações médias na região, uma com dados de precipitação com tempo de retorno de cinco anos, e
outra com tempo de retorno de vinte anos. Enquanto que para os dados médios a precipitação variava na
bacia entre 1481 e 1709 mm/ano, com tempo de retorno de cinco anos esses valores se situaram entre
1851 e 2136 mm/ano, sendo que, por outro lado, com tempo de retorno de vinte anos, os valores variam
entre 2739 e 3162 mm/ano.

1232
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Com tais variações nos valores de pluviosidade, as classes de escoamento superficial, que com valores
médios de precipitação, resultaram classes de escoamento de 1 a 8 (numa escala de 1 a 10) segundo a
metodologia adota, passaram a apresentar valores relativos às classes 3 a 9 com precipitações e tempo
de retorno de cinco anos, e classes entre 4 e 10 de escoamento potencial para precipitações com tempo
de retorno de vinte anos. A Figura 4 ilustra tal realidade.

Figura 4 – Cartas de escoamento superficial potencial para a bacia do rio Fartura

3.3 - Atributos dos solos na área

Para a produção da carta de potencial para desenvolvimento de erosão acelerada, foram gerados mapas
de atributos dos solos (textura, espessura, e erodibilidade). Tais mapas podem ser observados na Figura
5. As condições dos solos na área indicam predominância de perfis de solos pouco espessos, de solos
caracterizados como não erodíveis (com base na metodologia de Pejon, 1992) e de variadas classes
texturais, predominando as classes areno-argilosa e arenosa.

Figura 5 – Atributos dos solos usados na geração da carta de potencial para desenvolvimento de processos erosivos

1233
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

3.4 - Carta de potencial para desenvolvimento de erosão acelerada

Produto das variações nas precipitações consideradas ao se incluir chuvas com tempos de retorno de
cinco e vinte anos, com as consequentes mudanças nos valores obtidos para escoamento superficial
potencial, as cartas de potencial para desenvolvimento de processos erosivos acelerados também
apresentam resultados distintos para cada condição (Figura 6).

Figura 6 – Cartas de potencial para desenvolvimento de processos erosivos acelerados na bacia do rio Fartura

Quando as precipitações médias são consideradas se tem a predominância das classes de potencial muito
baixo a médio (muito baixo - 37,97%, baixo - 37,71%, e médio - 22,72%) totalizando 98,4% da área, e
apenas 1,6% da área é classificada como alto potencial para erosão acelerada. Obviamente, tais
resultados refletem especialmente as caracterisiticas dos solos na área, mesmo que os valores das
precipitações médias sejam mais elevados que os usuais para essa região do território brasileiro.

Quando são considerados os dados de precipitação de eventos dispares com tempo de retorno de cinco
anos, se observa redução significativa no percentual de áreas classificadas como potencial muito baixo,
que passam a 6,73% da bacia, sendo substituído por potencial baixo (61,93%) na maioria dos locais.

Também se observa significativo aumento nos percentuais de áreas classificadas como potencial alto
(19,04%), em substituição a áreas antes classificadas como médio potencial (que agora representam
11,98% da bacia). Tais mudanças são mais marcantes nas porções sudeste e noroeste da bacia, onde as
classes de escoamento superficial potencial são mais influenciadas pelos maiores índices de precipitação.

Na carta de potencial para erosão acelerada que considera dados de precipitação de eventos dispares
com tempo de retorno de vinte anos, se observa percentuais importantes das classes de potencial médio
e alto (somando 28,36% da bacia) nas porções sudeste e noroeste da bacia. A ocorrência dessas classes
nessas porções da bacia é influenciada também pela presença de solos de textura arenosa, classificados
como erodíveis.

Assim, para a abordagem metodológica aqui tratada, se verifica que a consideração de eventos climáticos
mais intensos (com precipitações fora dos valores médios), a avaliação do potencial para
desenvolvimento de processos erosivos acelerados mostra realidades bastante distintas das condições
médias usualmente consideradas, podendo assim explicar, como locais caracterizados como baixo
potencial pelas abordagens habituais apresentam inhabituais processos erosivos de grande intensidade.

No caso da bacia do rio Fartura, tal avaliação permite concluir que as porções sudeste e noroeste da bacia
merecem maior atenção no planejamento territorial da bacia, especialmente em relação aos usos
recomendados.

Na atualidade, se observa que os usos mais comuns na porção noroeste da bacia são urbano, agrícola, e
solo exposto. Com relação aos usos urbano e agrícola, o gerenciamento adequado pode evitar que

1234
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

processos erosivos sejam potencializados na eventualidade de precipitações extremas, já as áreas de solo


exposto necessitam grande atenção.

Na porção sudeste, os conflitos relativos aos usos podem ser menos graves, caso os usos atuais
persistam, especialmente se forem adotadas medidas apropriadas nas áreas com solo exposto.

4- CONCLUSÕES

Apesar das condições naturais da bacia do rio Fartura não implicarem altos potenciais para
desenvolvimento de processos erosivos acelerados, mesmo com a bacia apresentando índices de
precipitação médios mais altos que outras bacias da região, quando são considerados eventos extremos
de precipitação, com tempo de retorno de cinco e vinte anos, os potenciais para ocorrência de erosão
acelerada crescem significativamente.

Em função disso, e considerando as classes de uso e cobertura da terra nas porções noroeste e sudeste
da bacia, as quais apresentam maiores potenciais para desenvolvimento de processos erosivos quando
simulados eventos de precipitação extremos, os resultados indicam a necessidade de adoção de medidas
normativas de planejamento territorial com relação aos usos nessas áreas, e adoção de soluções técnicas
adequadas para que os processos erosivos não sejam desencadeados.

Vale destacar ainda que não foram considerados eventos climáticos extremos com tempos de retorno
maiores (trinta ou cinquenta anos), condição mais crítica para o desenvolmento de processos erosivos
acelerados na bacia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao programa Demanda Social da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior (CAPES, Brasil), pela concessão da bolsa de estudos ao 2º. Autor e a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, Brasil), pela concessão de recursos financeiros, aportados ao
Processo no. 2013/03699-5, os quais possibilitaram a geração de resultados laboratoriais essenciais na
elaboração deste trabalho.

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1237
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ESTABILIZAÇÃO “FÍSICO-QUÍMICA” DE RESÍDUO SULFETADO/SULFATADO


COM INCORPORAÇÃO DE ESCÓRIA DE DESSULFURAÇÃO

"PHYSICAL-CHEMICAL" STABILIZATION OF SULFETATED/SULFATED


RESIDUE WITH INCORPORATION OF DESSULFURATION SLAG

Meneguete, Dayanne Severiano; Ufes, Vitória, Brasil, daysmeneguete@gmail.com


Salgado, Naycou Giovani de Paula; Ufes, Vitória, Brasil, naycou@gmail.com
Pires, Patrício José Moreira; Ufes, Vitória, Brasil, patricio.pires@gmail.com
Izoton, Sidineidy; Ufes, Vitória, Brasil, sidineidy.izoton@hotmail.com

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é avaliar o comportamento físico-químico do resíduo produzido no processo de


extração de ouro da mineradora Kinross, localizada na cidade de Paracatu-MG, Brasil. Este resíduo foi
associado à escória de dessulfuração, um resíduo produzido no processo siderúrgico. Além de melhorar as
características mecânicas da mistura, como a resistência à compressão axial e a capacidade de suporte, a
pesquisa visa verificar se as concentrações de sulfeto/sulfato finais estão dentro dos limites propostos pela
ABNT (2004), Resíduos Sólidos – Classificação. No processo de preparação das amostras foi utilizada a
escória de dessulfuração em concentrações: 20%, 30% e 40% em relação ao resíduo de mineração. Os
melhores resultados foram para as amostras com 40% de concentração de escória de dessulfuração que
permitiram um ganho de 1450%, na capacidade de suporte, visto que o ISC (Índice de Suporte Califórnia)
do resíduo de mineração foi de 1,68%, após 96 horas de ensaio. A amostra com 40% de escória de
dessulfuração proporcionou um ISC de 24,37%, após 96 horas e um ISC de 63,93% ao final de 28 dias.
Além disso, ao se analisar as concentrações de sulfeto/sulfato das soluções coletadas através do ensaio de
Coluna, pode-se verificar que as amostras apresentam em sua solução solubilizada concentrações maiores
que 250 mg/L de Sulfato, o que permite classificar o resíduo segundo a ABNT (2004), como um resíduo
Não Perigoso e Não Inerte - Classe II A. Sendo assim, esse material apresenta propriedades tais como: a
biodegradabilidade, a combustibilidade ou a solubilidade em água. Logo, após as análises do
comportamento físico-químico, constata-se a viabilização sustentável entre à incorporação dos dois
resíduos na aplicação em estradas vicinais. Isto porque o composto final apresentou um bom
comportamento mecânico e não nocivo a saúde humana, destacando-se ainda mais pela reutilização de
resíduos que antes eram apenas descartados no meio ambiente.

ABSTRACT

The purpose of this research is to assess the physical-chemical behavior of the residue produced in the
gold extraction process of the mining company Kinross, localized in the city of Paracatu-MG, Brazil. This
residue was combined with dessulfuration slag, a residue produced in the steelwork process. Besisdes
improving the mechanic characteristics of the mixture, as the resistance to axial compression and capacity
of support, the research aims to verify if the final concentrations of sulfeto/sulfate are within the limits
proposed by ABNT (2004), Solid Residues - Classification. In the preparation process of the samples were
used dessulfuration slag in concentrations of: 20%, 30% and 40% regarding the mining residue. The best
results were attained with 40% of concentration of desulphurisation dreg that allowed 1450% gain in the
capacity of support, since the ISC (Índice Suporte Califórnia) of the mining residue was 1,68% after 96
hours of trial and the sample with 40% of dessulfuration slag provided a ISC of 24,37% after 96 hours and
a ISC of 63,93% after 28 days. Besides that, when analyzing the sulfeto/sulfate concentrations of the
samples collected by the Coluna trial, was verified that the samples show concentrations above 250mg/L
of Sulfate in their solubilized solution, what allows to classify it as a Not Hazardous and Not Inert Residue
- Class II A, by the ABNT (2004). Therefore, this material exhibits properties as biodegradability, as
combustibility or as solubility in water. Therefore, after the reviews of the physical-chemical behavior, the
tenable viability of the incoporation of the two residues in application in back roads is verified. This is
because the final compound showed a good mechanical behavior and was not harmful to human health,
standing out further for the reuse of residues that before were just discarded in the environment.

1- INTRODUÇÃO

Empresas como indústrias de mineração e siderurgias são as responsáveis pela movimentação de milhões
de dólares na economia do país. Por exemplo, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM, (2016),
devido à grande variedade e quantidade de jazidas em sua extensão territorial, a indústria de mineração
brasileira atingiu os US$ 40 bilhões em produção, o que representou 5% do PIB industrial do país.

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Em contrapartida a toda essa produção e crescimento econômico, estes setores são responsáveis pela
produção de um grande volume de resíduos sólidos, por exemplo, a indústria siderúrgica gera por tonelada
de aço produzido 700 kg de resíduos sólidos, estimativa essa feita pela Associação Brasileira de Metalurgia
e Materiais – ABM em 2008.

No caso da mineração, se tem um processo altamente impactante para as condições naturais no planeta,
por esse procedimento envolver a extração de recursos naturais não renováveis, mas necessários para a
manufaturação de vários produtos. Logo, associado à exploração mineral tem-se a produção dos resíduos
sólidos, que aumentam na mesma escala que o processo de extração.

Isto posto, fica evidente de que além de uma destinação ideal, esses resíduos necessariamente precisam
ser reaproveitados de alguma forma. Nesse aspecto, surgem vários estudos voltados para a aplicação dos
resíduos siderúrgicos, por exemplo, na construção civil. Um exemplo, é a aplicação desse material como
agregado para o melhoramento e estabilização do solo, na aplicação em base e sub-base na pavimentação.
Esse processo de reutização de resíduos siderúrgicos na pavimentação é vantajoso, pois quando bem
sucedido evita a utilização de materiais nobres, como, os elencados por Azêvedo (2010), para estabilização
de solos, sendo estes: o solo-cimento, o solo-cal e o solo-betume.

Assim, surge a temática desta pesquisa. Verificar o comportamento físico-químico do resíduo proveniente
da extração do ouro incorporado à escória de dessulfuração (resíduo suderúrgico), afim de reaproveitá-lo
no processo de pavimentação para áreas dentro da própria mineradora em estradas vincinais.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Resíduo de mineração de ouro

O resíduo é oriundo da Mineradora Kinross, localizada, nas coordenadas latitude 17°11’9” S e longitude
46°52’41” W, próxima à nascente do Rio Córrego Rico. A mina está na sub bacia do Rio Paracatu, que
pertence à bacia do Rio São Francisco em Paracatu, Minas Gerais (CETEM, 2012). A mineradora se encontra
a 10,3 km da cidade, pela Rodovia Juscelino Kubitschek.

Henderson (2006) apresenta um perfil (Figura 1) de uma seção de sondagem longitudinal da região da
mineradora, onde é possível observar o teor do aurífero e a presença de sulfetos metálicos.

Figura 1 – Seção de Sondagem 07N – Vista para o Norte

Segundo Henderson (2006), um dos grandes problemas da extração do ouro é a produção dos sulfetos. Na
Mineradora Kinross, os sulfetos predominantes são a arsenopirita (arsênio), a pirita (ferro), a pirrotita
(pirita magnética) e, em quantidades menores, podem ser encontradas, a calcopirita (cobre), a esfalerita
(zinco) e a galena (chumbo).

Esses materiais podem atingir os mananciais da região ou as águas subterrâneas, se lixiviados para o
subsolo. A ocorrência desse processo poderia gerar a contaminação das águas e, assim, prejudicar todos
os seres vivos. Dessa forma, é evidente que tratar o rejeito produzido pela mineradora é uma necessidade
que vai muito além de estocar esse material, mas sim dar uma destinação mais proveitosa para o rejeito.

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2.2 - Aditivo – escória de dessulfuração

A escória de dessulfuração utilizada foi escolhida principalmente devido estudos anteriores, realizados na
Universidade Federal do Espírito Santo – Brasil, que mostraram um desempenho relevante desse composto
quando adicionado ao solo. Por exemplo, no trabalho apresentado por Gonçalves (2016), a capacidade de
suporte de uma das amostras apresentou um ganho de, quase, 3 vezes o valor inicial do Índice suporte
califórnia (ISC) do material puro.

A escória utilizada já possui uma caracterização química prévia, fornecida pela empresa ArcelorMittal e
publicada no trabalho de Gonçalves (2016), no qual é possível identificar que este resíduo é classificado
pela ABNT (2004), como material da Classe II A – Resíduo Não Inerte. Outro fator relevante é a
concentração dos óxidos de enxofre presentes na caracterização química da escória fornecidos também
pela ArcelorMittal, Quadro 1.

Quadro 1 – Elementos Químicos do Coproduto


Elemento Químico Quantidade (%)
Al2O3 5,19
C 2,42
CaO 54,6
FeM 5,25
FeO 10,5
FeT 15,5
MgO 3,2
MnO 0,77
S 1,41
SiO2 9,92
ZnO 0,0001

No Quadro 1 é possível observar concentração baixa de Enxofre (S) na amostra da escória. Mas, mesmo,
em baixas concentrações esse enxofre deve ser considerado visto que a escória será incorporada a um
resíduo que por ser proveniente de uma mineradora de ouro espera-se que este também apresente certa
concentração de Enxofre. Logo, a união destes dois materiais deve favorecer a formação de elementos
sulfetados/sulfatados.

2.3 - Amostras

O levantamento dos dados se iniciou pela coleta das amostras de resíduo da região estudada pela própria
mineradora. O material coletado na mineradora foi enviado para o laboratório de Mecânica dos Solos da
Universidade Federal do Espírito Santo. De posse deste resíduo foram determinadas as misturas que seriam
adotadas para a execução dos ensaios, entre o resíduo de mineração e a escória de dessulfuração, sendo
os percentuais adotados de 20%, 30% e 40% de escória de dessulfuração em função do resíduo de
mineração. Essas amostras/ensaios foram ensaiadas em quantidades distintas para cada material conforme
Quadro 2.

Quadro 2 – Análise Química Básica do Resíduo de Mineração


Ensaios Amostras Nº de Amostras Ensaiadas
Granulometria Amostras 1 a 5 5
ISC Amostras 1 a 5 40
Compressão Axial Amostras 1 a 5 40
Análise Química Amostras 1 e 2 2
Coluna Amostras 1 a 5 10
Solubilização Amostras 1 a 5 5

2.4 - Programa experimental

A partir da coleta das amostras do resíduo, este foi ensaiado em laboratório. A primeira etapa realizada foi
a preparação das amostras, feita conforme ABNT (2016) - Amostras de Solo - Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Dentro desse processo laboratorial, o solo foi caracterizado
quando as suas características geotécnicas e químicas.

Em linhas gerais, foi feita a caracterização geotécnica do resíduo de mineração para classificá-lo segundo
o sistema HRB e o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS), a análise do comportamento
mecânico deste material de forma isolada e com a adição da escória de dessulfuração, a
caracterização/análise química para se verificar propriedades como: a Capacidade de Troca de Cátions, o
pH e a concentrações de sulfeto/sulfato.

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3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando geotecnicamente o resíduo da mineração de ouro constatou que o material era heterogêneo
granulometricamente, apresentando cerca de 33,84% de pedregulho, 23,64% de areia, 33,37% de silte e
9,15% de argila, (Figura 2), e um índice de plasticidade de 11,90%. Sendo assim, classificado pelo Sistema
Unificado de Classificação de Solos como uma areia argilosa com pedregulho e pelo sistema HRB como um
solo A-6 (2).

Figura 2 – Caracterização Granulométrica do Resíduo de Mineração de Ouro

3.1 - Índice suporte califórnia – ISC

Foram determinados os Índice de Suporte Califórnia (ISC) para as amostras, segundo a norma proposta
pelo DNIT (2014): o Índice Suporte Califórnia, variando o período de imersão do material, que foi de 96
horas e de 28 dias conforme a Figura 3.

Figura 3 – Amostras - Ensaio de Índice Suporte Califórnia

Essa variação no tempo de ensaio para 28 dias, foi feita com o intuito de se verificar o ganho de resistência
em função do tempo para as amostras com a adição de escória de dessulfuração, visto que esse material
possui características cimentícias.

As amostras em imersão durante 96 horas, geraram um ganho considerável sobre a amostra com apenas
o resíduo de mineração. Esse ganho é de 14 vezes o valor do ISC, para o material puro, o que pode ser
identificado na Figura 4.

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63,93%
70,00%

60,00%

50,00%

33,25%
31,30%
ISC (%)

40,00%

24,61%

24,37%
20,86%
30,00%

20,00%

3,56%
1,68%

10,00%

0,00%
96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS
AMOSTRA 1 AMOSTRA 3 AMOSTRA 4 AMOSTRA 5
Tempo
Amostra

Figura 4 – Resultados - Ensaio de Índice Suporte Califórnia

Em equivalência, os resultados obtidos após 28 dias de imersão do material apresentaram ainda maior
ganho para as amostras com 40% de escória de dessulfuração. O ISC, que inicialmente era de 1,68%
passou para 63,93%. O que se aproxima das especificações propostas pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Sobre a expansão através do Ensaio ISC, onde foram feitas as leituras e verificadas as expansões sofridas
pelas amostras com 96 horas de submersão e com 28 dias de submersão, a Figura 5 mostra os resultados.
4,98%

6,00%

5,00%
3,27%

4,00%
Expansão (%)

2,77%
2,76%

2,24%
2,08%

3,00%
1,23%

1,12%

2,00%

1,00%

0,00%
96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS 96 HORAS 28 DIAS
AMOSTRA 1 AMOSTRA 3 AMOSTRA 4 AMOSTRA 5
Tempo
Amostra

Figura 5 – Resultados Expansão - Ensaio de Índice Suporte Califórnia

Um dos fatores que mais se destaca nos resultados é a ótima interação entre os dois resíduos. No caso das
amostras com o percentual de 40% de escória de dessulfuração em sua composição, além do ganho de
capacidade de carga já mencionado, a expansão para o ensaio padrão de 96 horas obteve uma redução de
quase 3 vezes em relação à condição inicial onde o resíduo da mineradora de ouro estava sem presença de
escória de dessulfuração.

3.2 - Compressão Axial

Os ensaios para verificar a resistência a compressão axial do material estudado, foram feitos seguindo as
diretrizes determinadas nas normas ABNT (2012a) e ABNT (2012b).

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Os corpos de prova preparados também foram analisados em duas etapas. Na primeira etapa foi feita a
compressão dos corpos de prova com 7 dias de cura, e a segunda bateria de ensaios foi realizada após 28
dias, conforme Figura 6.

0,862
0,853
1,000
0,900
0,800
Tensão Máxima (MPa)

0,700

0,528

0,491
0,600

0,436
0,410
0,500
0,400 0,231
0,205

0,300
0,200
0,100
0,000
7 DIAS 28 DIAS 7 DIAS 28 DIAS 7 DIAS 28 DIAS 7 DIAS 28 DIAS
AMOSTRA 1 AMOSTRA 3 AMOSTRA 4 AMOSTRA 5
Tempo de Cura
Amostra

Figura 6 – Resultados – Resistência à Compressão Axial

É possível verificar que as adições de escória ao resíduo proporcionaram um ganho de resistência à


compressão axial relativamente efetivo, em todas as misturas, no qual nota-se um ganho mínimo de 100%.
Mas as amostras com 30% e 40% de escória de dessulfuração, que ficaram em cura por 28 dias,
apresentaram trincas, que podem estar associadas à expansão do material conforme Figura 7.

1243
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Figura 7 – Amostras do Ensaio de Compressão Axial aos 28 dias – (1) Antes do Ensaio, (2) Depois do Ensaio

As amostras com índice 1 representam as amostras antes do ensaio, recém retiradas da câmara úmida
após os 28 dias, e as amostras com índice 2 representam as amostras após o ensaio de compressão axial.

É possível verificar que principalmente as amostras c.1 e d.1, que representam os corpos de prova com
30% e 40% de escória adicionada ao resíduo sofreram o que pode ser entendido como uma dilatação, e
isso gerou as trincas horizontais nas amostras. Este ensaio foi refeito para verificar se tal aspecto se repetia,
e as novas amostras mantiveram o mesmo comportamento. Mesmo com esse fator, as amostras
apresentam um ganho expressivo de resistência ao final dos 28 dias. Em média a resistência aumentou
pelo menos 4 vezes.

3.3 - Análise Química

Os ensaios para determinar a composição química da amostra 1 (resíduo) e da amostra 2 (escória KR),
tiveram por objetivo principal verificar a presença de elementos sulfetados ou sulfatados, principalmente
na amostra 1 (resíduo), devido a sua origem.

Os resultados obtidos em Laboratório apresentam, para as duas amostras, capacidades de trocas de cátions
relativamente expressivas em relação aos cátions de Cálcio e Magnésio (Quadro 3). Além disso, é possível
verificar que o resíduo apresenta um pH mais neutro, equivalente à 7,19. Em contrapartida a escória possui
um pH extremamente básico, equivalente à 11,94. O valor elevado de pH da escória se justifica pela grande
concentração de óxido de cálcio presente no material.

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Quadro 3 – Análise Química Básica do Resíduo de Mineração


Determinações Metodologia Resíduo Escória
P Resina mg/dm³ IAC 53 14
M.O. Oxidação g/dm³ IAC 13 33
COT Cálculo g/dm³ IAC 8 19
pH CaCl2 - IAC 5,4 12
pH SMP - IAC 7,19 11,94
C.T.C Cálculo mmolc/dm³ IAC 233,6 57,9
K na C.T.C Cálculo % IAC 0,7 3,3
Ca na C.T.C Cálculo & IAC 44,5 91,5
Mg na C.T.C Cálculo % IAC 49,7 5,2
Al na C.T.C Cálculo % IAC 0 0
H na C.T.C Cálculo % IAC 5,1 0

Outro fator é que estes valores se comprovaram ao analisar as amostras com o método comparativo, onde
foi utilizado papel indicador universal de pH. Esse pH básico influenciará diretamente a produção dos sais
de sulfato (SO42-), visto que tendem a diminuição de sua solubilidade.

3.4 - Ensaio de coluna

O ensaio de coluna foi executado utilizando um permeâmetro de parede flexível, Figura 8, seguindo a
norma D5084-10 – Standard Test Methods for Measurement of Hydraulic Conductivity of Saturated Porous
Materials Using a Flexible Wall Permeameter. Toda à água foi coletada para análise dos percentuais de
concentração de sulfeto e sulfato das amostras.

Figura 8 – Ensaio de Coluna

A concentração de sulfato (SO4-2) foi determinada pelo método gravimétrico com cloreto de bário, e a
concentração de sulfeto (S2-) foi determinada pelo Método padrão para o exame de água e águas residuais.
As concentrações das amostras foram definidas em mg/L (Quadro 4).

Quadro 4 – Concentrações de Sulfeto/Sulfato – Material do Ensaio de Coluna


Amostra Material S2- (mg/L) SO42- (mg/L)
Amostra 1 Resíduo 12,32 9180
Amostra 2 Escória de Dessulfuração 68,84 28
Amostra 3 Resíduo + 20% Escória de Dessulfuração 129,64 1918
Amostra 4 Resíduo + 30% Escória de Dessulfuração 159,82 2560
Amostra 5 Resíduo + 40% Escória de Dessulfuração 159,82 3143

Estes resultados mostram que as amostras que contêm a mistura o resíduo/escória apresentaram um
aumento na concentração de S2- e uma redução na concentração de SO42-. Segundo Kotz et al. (2015),
uma forma simples de representar a equação química geral de transformação constante de equilíbrio destes
compostos na relação da seguinte reação (Equação 1) é:

S2- +Agitar O02 ↔ SO32- + O2 ↔ SO42- [1]

Sendo que a reação que ocorre da esquerda para a direita, ou seja, para a formação de sulfato é dada pela
reação de oxidação, e a reação que ocorre da direita para a esquerda, é uma reação de redução e confere
a formação final de sulfeto.

Nota-se que para as amostras com pH elevado é possível identificar maior concentração dos íons de S 2-.
Isso se justifica pois, para sais de SO42- essa verificação é mais difícil de acontecer, já que em pH elevado
esses sais são menos solúveis. A amostra pura de escória apresenta um pH alto, o que dificulta a
precipitação dos sais de sulfato, e dessa forma tem-se uma concentração maior de sulfeto. Na amostra do
resíduo, o efeito é o contrário, o que se justifica pelo seu pH mais neutro.

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Verificando o pH das amostras, com auxílio de um papel indicador universal de pH, foi possível verificar
que as três misturas com a escória de dessulfuração tiveram seu pH próximo a 12. Isso justifica o fato das
concentrações de sulfeto aumentarem e as de sulfato diminuírem.

Em paralelo ao ensaio de coluna foram preparadas as soluções do ensaio de Solubilização, conforme ABNT
(2004b). O intuito da preparação das amostras era verificar o comportamento do resíduo e da escória com
relação as concentrações de sulfeto e sulfato, para classificar o material conforme ABNT (2004a), diante
de tais concentrações. Com base nos procedimentos propostos na norma, foram encontrados os seguintes
percentuais de concentração dos compostos, Quadro 5.

Quadro 5 - Solubilizado - Concentração de Sulfeto e Sulfato


Amostra Material S-2 (mg/L) SO42- (mg/L)
Solubilizado I Resíduo 0,00 3023,62
Solubilizado II Escória de Dessulfuração 47,86 25,78

É possível notar uma concentração elevada nos percentuais de sulfeto na amostra de escória de
dessulfuração e percentuais mais consideráveis de sulfato na amostra do resíduo. Esses valores
confrontados com os percentuais encontrados no fluído proveniente do Ensaio de Coluna mostram uma
redução nas concentrações de sulfeto e de sulfato, para as amostras puras de resíduo e da escória, o que
provavelmente proporcionará uma redução nas concentrações das misturas.

É importante ressaltar que tanto as amostras coletadas durante o ensaio de coluna, como as amostras
preparadas para análise do solubilizado, foram identificadas apenas as concentrações de sulfato dissolvido.
O fato das amostras terem sido filtradas previamente faz com que possíveis elementos precipitados tenham
ficado retidos e consequentemente não foram identificados.

A ABNT (2004a), classifica os resíduos em duas classes, a Classe I – Resíduos Perigosos e a Classe II –
Resíduos Não perigosos, sendo que está se subdivide em Resíduos Classe II A – Não inertes e em Resíduos
Classe II B – Inertes. Para classificar o resíduo estudado nesta pesquisa, foram seguidas as etapas
propostas pela ABNT (2004a). Dessa forma, tem-se que o resíduo de mineração apresenta em sua amostra
solubilizada concentrações maiores que 250 mg/L Sulfato (expresso em SO 4), o que permite classificá-lo
como um Resíduo Não Perigoso e Não Inerte Classe II A, para esse elemento.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise dos resultados entre a incorporação físico-químico do Rejeito de mineração com a escória de
dessulfuração foi possível concluir que o coproduto siderúrgico proporcionou excelente melhoria das
características mecânicas do resíduo de mineração. De forma que, para chegar a tais conclusões, a pesquisa
caracterizou e analisou as propriedades físico-químico do resíduo puro e posteriormente, sua incorporação
com a escória de dessulfuração, a fim de se obter um produto final viável tecnicamente e ambientalmente
para aplicação em estradas vicinais.

Analisando geotecnicamente o resíduo da mineração de ouro constatou que o material era heterogêneo
granulometricamente, sendo classificado pelo SUCS como uma areia argilosa com pedregulho e pelo
sistema HRB como um solo A-6 (2). O material apresentou um ISC de 1,68%, com expansão de 3,27% e
uma resistência à compressão axial equivalente a 0,205 MPa, ou seja, um material com péssimas
propriedades mecânicas para a pavimentação.

Quimicamente as concentrações sulfeto/sulfato do solubilizado e ensaio de coluna do resíduo estavam


dentro dos limites estipulados pela ABNT (2004a), caracterizando o material, assim, como não perigoso, o
que viabiliza seu reaproveitamento.

As propriedades mecânicas da mistura entre os resíduos (resíduo da mineração de Ouro e a escória de


dessulfuração), apresentaram excelentes resultados para como componentes de pavimentação para
aplicação em uma estrada vicinal, principalmente para as amostras com incorporação de 40% de escória,
a qual apresentou o Índice Suporte Califórnia médio da amostra com 40% de escória apresentou um ganho
inicial com 96 horas de 14,50 vezes o valor do ISC do resíduo puro. E devido as propriedades cimentícias
da escória essa capacidade de suporte aumentou expressivamente ao final de 28 dias, proporcionando um
ISC de 63,93%.

A expansão do material incorporado a escória também apresentou expressiva redução. O resíduo de


mineração ao final de 28 dias, apresentou uma expansão equivalente à 4,98%. Ao ser incorporado à escória
passou a apresentar uma expansão de apenas 2,24%.

A resistência à compressão axial também apresentou ganhos com a mistura dos materiais. Os corpos de
prova com 30% e 40% de escória adicionada, que mesmo apresentando uma dilatação durante o processo

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de cura, tiveram um ganho expressivo de resistência ao final dos 28 dias, onde, em média, a resistência
aumentou pelo menos 4 vezes.

Com base em todos esses resultados, pode-se concluir que a incorporação físico-químico do resíduo
proveniente da mineração de ouro com a escória de dessulfuração foi satisfatória, tanto no aspecto
mecânico, como no químico. De forma a proporcionar um produto viável para aplicação em obras de
engenharia, como estradas de pequeno porte e a estradas vicinais. Proporcionando um reaproveitamento
de resíduos, que antes eram apenas descartados no ambiente.

REFERÊNCIAS

ABM, (2008) – Gestão de Coprodutos: Estudo Prospectivo do Setor Siderúrgico, (Nota Técnica). Associação Brasileira de
Metalurgia e Materiais. Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Brasília.

ABNT, (2004a) – NBR 10004 – Resíduos sólidos – Classificação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro.

ABNT, (2004b) – NBR 10006 – Procedimento para Obtenção de Extrato Solubilizado de Resíduos Sólidos. Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro.

ABNT, (2012a) – NBR 12023 – Solo-cimento – Ensaio de Compactação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio
de Janeiro.

ABNT, (2012b) – NBR 12025: Solo-Cimento, Ensaio de Compressão Simples de Corpos de Prova Cilíndricos – Método de
Ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro.

ABNT, (2016) – NBR 6457: Amostras de Solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro.

ASTM, (2010) – Standard Test Methods for Measurement of Hydraulic Conductivity of Saturated Porous Materials Using
a Flexible Wall Permeameter. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – D5084.

Azêvedo, A. L. C. (2010) – Estabilização de Solos com Adição de Cal. Um Estudo a Respeito da Reversibilidade das
Reações que Acontecem no Solo Após a Adição de Cal, Mestrado Profissional em Engenharia Geotécnica da
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais.
http://www.nugeo.ufop.br/uploads/nugeo_2014/teses/arquivos/andre-cairo.pdf, acedido em 12/10/2015.

CETEM, (2012) – Mina de ouro em Paracatu (MG) gera controvérsia por fazer mineração de ouro associada ao arsênio,
Revista Brasil Mineral, 10ª Edição. http://www.cetem.gov.br/rio20/galerias/2010/Paracatu.pdf, acedido em
13/01/2016.

DNIT, (2014) – 049: – ME: Solos – Determinação do índice de Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas –
Método de ensaio, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Rio de Janeiro.
http://www.dnit.gov.br/download/convenios-chamamento-publico/revisao-norma-dnit-049-2014-me-
v.31out.pdf, acedido em 10/12/2015.

Gonçalves, R. M. (2016) – INCORPORAÇÃO de Coproduto de Aciaria Kr e Polímero PDC em Solos para Base de Pavimentos,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. Pen drive.

Henderson, R. D. (2006) – Paracatu Mine Technical Report, Kinross, Paracatu, Minas Gerais, Brasil.
http://fb.kinross.com/pdf/operations/Technical-Report-Paracatu.pdf, acedido em 10/07/2017.

IBRAM, Instituto Brasileiro de Mineração. (2016) – Gestão e Manejo de Rejeitos da Mineração/Instituto Brasileiro de
Mineração, Instituto Brasileiro de Mineração. 1.ed. – Brasília.
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006222.pdf, acedido em 10/07/2017.

Kotz, J.C., Treichel, P. M., Townsend, J. R. e Treichel, D. A. (2015) – Química Geral e Reações Químicas, Volume 1,
Tradução Noveritis do Brasil. Tradução da 9ª edição norte-americana, revisores técnicos Eduardo Codaro e Heloisa
Acciari. São Paulo: Cengage Learning.

1247
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO POTENCIALMENTE EXPANSIVO, DE


AGRESTINA – PE, COM A UTILIZAÇÃO DA CINZA DA CASCA DE ARROZ

STABILIZATION OF A POTENCIALLY EXPANDABLE SOIL, OF AGRESTINA-PE,


BY THE USING RICE HUSK ASH

Silva, Jayne; Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru - PE, Brasil, jayne.a.silva@hotmail.com


Bello, Isabela; Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru - PE, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com
Júnior, Rômulo; Sócio da empresa ESTRUTURAR – Engenharia de Projetos e cargo comissionado no
Tribunal de Justiça de Pernambuco – Diretoria de Engenharia e Arquitetura, Recife – PE, Brasil,
romulofjr@hotmail.com
Ferreira, Silvio; Universidade Federal de Pernambuco, Recife - PE, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO

Os solos expansivos, caracterizados como um dos solos não saturados, são bastante estudados devido
aos danos causados nas estruturas. Esses solos contêm argilominerais que no período chuvoso
aumentam de volume e no período seco contraem. Esse tipo de solo é presente em diversos países do
mundo. O efeito do tratamento da Cinza da Casca de Arroz – CCA nas propriedades do solo expansivo de
Agrestina – PE, Brasil aqui investigado. Compara-se o comportamento do solo natural e de sua mistura
com a CCA nas proporções, em peso, de 2%, 4%, 6%, 8%, 10%, 12% e 14%. São realizados ensaios de
caracterização física, química, expansão livre e tensão de expansão. O solo natural de Agrestina tem alta
expansibilidade e, como conclusão, verifica que a adição de CCA ao solo eleva a percentagem de argila e
a umidade ótima e reduz o índice de plasticidade e o peso específico seco máximo. A adição de 14% de
CCA ao solo reduz a expansão livre a valores próximos a 2%.

ABSTRACT

Expansive soils, characterized as some unsaturated soils, are largely studied due to the damage they
may cause to structures. These soils contain clay minerals that, in rainy seasons, have their volume
increased, and during dry seasons, have their surface contracted. This sort of soil is present in diverse
countries. The effect of the treatment of the CCA on the expansive soil properties of Agrestina - PE, Brazil
is here investigated. The behavior of the natural soil and its mixture with the CCA in the proportions by
weight of 2%, 4%, 6%, 8%, 10%, 12% and 14% is compared. Physical, chemical, free expansion and
expansion stress tests are performed. The natural soil of Agrestina has high expansivity and, in
conclusion, it was verified that the addition of CCA to the soil raises the percentage of clay and the
optimal humidity and reduces the plasticity index and the maximum dry specific weight. The addition of
14% of CCA to the soil reduces free expansion to values close to 2%

1- INTRODUÇÃO

Sabe-se que os custos associados aos problemas de expansão de solos são elevados. As estruturas de
pequeno porte são as que mais sofrem com o fenômeno de expansão, já que por serem leves,
apresentam fissuras mais acentuadas e a depender do grau de expansão do solo, podendo levar ao
colapso da própria estrutura. Diante desta problemática, é necessário utilizar alguma técnica de
melhoramento de solo para evitar ou diminuir a expansão do solo. Umas das inovações que vem sendo
estudada é a estabilização química com o uso de cinza de casca de arroz, pois esta apresenta um bom
potencial pozolânico e há uma boa eficácia no comportamento expansivo das misturas. Tashima et al.,
(2011) relata que para haver a reação pozolânica é necessário que o material utilizado para a adição
tenha elevada finura, grandes quantidades de SiO2 + Al2O3 em sua composição e uma estrutura
mineralógica amorfa.

Os solos expansíveis são solos não saturados que, quando são submetidos à variação de umidade,
sofrem variações em seu volume. Essa instabilidade volumétrica se dá por influência de alguns fatores
citados por Ferreira (1995) como tipo de solo, climatologia, estado de tensões e variação da umidade,
assim como a estrutura laminar dos argilominerais do tipo 2:1, que envolvem as montmorilonitas ou
vermiculitas. O comportamento deste tipo de solo varia conforme o período do ano. Em períodos de
estiagem, este solo confere altas resistências, sendo de difícil remoção. Já nos períodos chuvosos ou em
ocasiões que leve a um aumento de sua umidade, esse solo alcança valores de expansão bastante
elevados (Cavalcante et al., 2006).

1248
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Schreiner (1987 apud Ferreira, 1995) relatam a diferença entre a expansibilidade intrínseca, expansão e
inchamento. Pode-se entender por expansibilidade intrínseca a capacidade que o argilo-mineral tem em
absorver água, que é uma característica própria e não varia ao longo do tempo, já que provém da sua
constituição mineralógica e da sua superfície específica. Já a expansão, é subentendida como a variação
de volume pela mudança do estado de tensões em que o solo se encontra. O inchamento é obtido como
um resultado proveniente da expansão, onde há deslocamentos verticais no terreno.

A ocorrência de solos expansivos no mundo é bastante diversificada, sendo encontrados em países como
Cuba, Estados Unidos, Argentina, entre outros. No Brasil, esses solos podem ser encontrados em
praticamente todas as regiões (Barbosa, 2013).

No estado de Pernambuco, diversas localidades apresentam solos expansivos. Por ser uma região onde a
precipitação é menor que a evaporação e ter uma formação pedológica com os minerais favoráveis à
expansão, acaba por reunir os condicionantes necessários para a presença deste tipo de solo em várias
localidades. Baseado nos condicionantes à expansão, temperatura, pluviometria e pedologia, há cartas
geotécnicas do estado para nortear o comportamento de cada solo em cada região do estado.

O presente trabalho tem por objetivo avaliar a influência da cinza de casca de arroz (CCA) nas
propriedades de um solo expansivo do agreste pernambucano, trazendo dados e resultados que fazem
parta da pesquisa de mestrado da primeira autora que está sendo desenvolvida, buscando acrescentar
com este estudo, o campo da utilização de CCA na estabilização de solos expansivos.

2- ÁREA DE ESTUDO

A região de estudo se encontra no Agreste de Pernambuco, situada, mais especificamente, na cidade de


Agrestina (Figura 1), onde o solo apresenta nas cartas geotécnicas do estado, características de
expansibilidade.

Figura 1 - Identificação da área de estudo na cidade de Agrestina ao lado do mapa do Brasil indicando o estado de
Pernambuco (Fontes: www.brasil-turismo.com e Site Wikipédia, 2017)

O Mapa Exploratório-Reconhecimento de Solos do Município de Agrestina – PE, disponibilizado pela


Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA), mostra as classes de solos que estão
presentes no território do município, representando a pedologia local. Pode-se observar a predominância
dos Planossolos e Solonetz Solodizados (PL/SS). Há também a presença de Regossolos (RE), Podzólicos
Vermelho-Amarelos (PV) e Podzólicos Amarelos (PA).

O clima do município de Agrestina é tropical. A pluviometria durante os meses do ano varia


consideravelmente. Nos meses de Julho e Novembro, respectivamente, encontra-se as maiores e
menores precipitações do ano, de acordo com séries históricas, sendo a maior precipitação média
registrada de aproximadamente 130 mm e a menor precipitação média registrada de aproximadamente
13 mm. O gradiente térmico durante o ano é de aproximadamente 4ºC, sendo a maior temperatura
média registrada de 24ºC e a menor temperatura média registrada de 20ºC (Climate-data, 2017).

A Figura 2 mostra o comportamento pluviométrico e da temperatura ao longo dos 12 meses, dados


estes, baseados em séries históricas.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Meses do ano
Figura 2 - Dados pluviométricos e de temperatura do município de Agrestina representados nos eixos verticais, à
direita e à esquerda, respectivamente, e meses referentes ao ano, no eixo horizontal . (Fonte: Site Climate-data.org,
2017)

3- MATERIAIS E MÉTODOS

A investigação geotécnica para analisar o comportamento do solo de Agrestina - PE contou com a coleta
de amostra deformada e indeformada (tipo bloco), coleta da CCA e a realização de ensaios no solo
natural, na CCA e nas misturas em estudo, em proporções de 2%, 4%, 6%, 8%, 10%, 12% e 14%.

A coleta da cinza de casca de arroz ocorreu na cidade de Cabrobó – PE e é proveniente da empresa Arroz
do Campo Indústria e Comércio – Beneficiamento e Distribuição de arroz, considerada a maior indústria
do ramo no Norte e Nordeste brasileiro. A CCA apresentava coloração cinza escuro a preto, com
granulometria fina e presença de casca de arroz (Figura 3a), o que gerou a necessidade da separação da
CCA das cascas através de peneiração manual, utilizando a peneira #16 da série normal de peneiras.

Foram coletadas amostras deformadas e indeformadas na área de estudo, seguindo as recomendações


da ABNT NBR 9604: 2016, no período de verão. A coleta indeformada do tipo bloco (Figura 3b) foi
coletada a uma profundidade de aproximadamente 20 cm, onde moldou-se o bloco com o auxílio de uma
espátula nas dimensões de 0,30 m x 0,30 m x 0,30 m. Após a moldagem, o bloco foi envolto em filme
plástico, seguido de papel alumínio, tecido de algodão e parafinado, para preservar suas características
de campo.

Figura 3 – (a) Cinza de casca de arroz coletada na distribuidora e (b) Solo da área de estudo.

Na preparação das misturas solo-CCA, definiu-se as porcentagens de aplicação 2%, 4%, 6%, 8%, 10%,
12% e 14%, buscando o menor teor de CCA que levaria a uma estabilização do solo. As misturas
passaram pela realização de ensaios de caracterização física, expansão livre e tensão de expansão.
Tomou-se o peso seco das amostras e adicionou-se as porcentagens de CCA, usando a substituição do
solo pela CCA. Os mesmos métodos aplicados ao solo foram aplicados às misturas.

1250
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A preparação das amostras do solo seguiu as recomendações da ABNT NBR 6457:1986 e ABNT NBR
7182:2016 para os ensaios de compactação, e os ensaios de caracterização física foram realizados a
partir de: determinação do Limite de Liquidez ABNT NBR 6459:2016, determinação do Limite de
Plasticidade ABNT NBR 7180:2016, determinação da Massa Específica ABNT NBR 6508:2016 e análise
Granulométrica ABNT NBR 7181:2016.

A tensão de expansão foi determinada pelo método Volume Constante, Ferreira (1995). Ao longo do
ensaio, foi colocado uma sobrecarga para evitar combater a expansão ocorrida até a sua estabilização,
onde a soma destas sobrecargas resulta na Tensão de Expansão da amostra.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Figura 4 é possível observar as curvas granulométricas do solo e das misturas com cinza de casca de
arroz e no Quadro 1, toda a caracterização física do solo e das misturas em análise.

O ensaio de granulometria realizado no solo natural, mostrou, através da curva, conforme a Figura 4, que
o solo é bem graduado, com 1% de pedregulho, 47% de areia, 11% de silte e 41% de argila. A fração
mais fina, que totaliza 52% do solo (silte e argila) é a de maior interesse, pois é esta fração do solo onde
há uma maior absorção de água e, a depender do tipo de argilomineral constituinte, gera o efeito de
expansão no solo em diferentes graus.

O solo também apresentou valores para o Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade de 50% e 20%,
respectivamente, resultando, portanto, em um Índice de Plasticidade de 30%. Estes valores são
coerentes com a granulometria do solo, pois solos com um elevado teor de finos também resultam em
valores de Limites de Atteberg altos. O peso específico real dos grãos para o solo apresentou um valor de
26,8 kN/m³.

Na compactação, a umidade ótima foi atingida com o valor de 16% e tendo uma respectiva densidade
real seca máxima de 17,9 kN/m³, gerando uma curva com comportamento típico de solos argilosos.

No estudo de Adhikary e Jana (2016), que investigaram um solo expansivo da Universidade de Jadavpur
(Campus Jadavpur) com a adição de CCA nos teores de 5, 10, 15 e 20%, também é possível observar um
alto teor de finos, com um valor igual a 91% na soma do percentual de silte e argila deste solo. Os
Limites de Liquidez e Limites de Plasticidades e, portanto, o Índice de Plasticidade, do estudo destes
autores mostraram valores de 48%, 26% e 22%, respectivamente. Já na compactação, a densidade seca
máxima foi de 16,1 kN/m³ e a umidade ótima da mistura 20%, mostrando, em todas as análises, valores
muito similares aos do solo em estudo.

Já no estudo de Patel e Mahiyar (2014), que analisaram um solo expansivo com adição de CCA nos teo-
res de 5, 10, 15 e 20%, os Limites de Liquidez e Limites de Plasticidades e, portanto, o Índice de
Plasticidade, do estudo destes autores mostraram valores de 55%, 32% e 23%, respectivamente. Já na
compactação, a densidade seca máxima foi de 17,1 kN/m³ e a umidade ótima da mistura 18%,
mostrando, também, em todas as análises, valores muito similares aos do solo em estudo.

100
90 Solo Natural
Porcentagem que passa (%)

80 Solo + 2% CCA
70
Solo + 4% CCA
60
50 Solo + 6% CCA
40 Solo + 8% CCA
30
Solo + 10%
20 CCA
Solo + 12%
10
CCA
0
0,000001 0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1
Diâmetro (m)

Figura 4 – Caracterização granulométrica do solo e das misturas com CCA

1251
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 1- Caracterização física para o solo e misturas de CCA

Solo e Misturas com CCA


Solo + Solo +
Solo + 4% Solo + 8% Solo + 10% Solo + 12% Solo + 14%
Caracterização Solo 2% de 6% de
de CCA de CCA de CCA de CCA de CCA
Física (%) CCA CCA

Pedregulho 1 0,94 0,34 0,5 0,4 0,3 0,24 0,22

Areia 47 41 36,46 39 41 36,9 35,92 35,53

Silte 11 6,43 10,5 9,7 6,1 14,16 12,44 12,53

Argila 41 51,63 52,7 50,81 52,45 48,65 51,4 51,72

Relação
26,83 12,45 19,92 19 11,63 29,1 24,2 24,22
Silte/Argila
Peso específico
real dos grãos 26,8 24,20 23,80 23,77 23,41 22,93 22,21 22,06
(kN/m³)
Limite de
50 44,42 40,69 44,64 41,96 44,63 44,73 53,12
Liquidez (%)
Limite de
Plasticidade 20 22,56 21,42 31,16 31,13 41,65 43,13 52,23
(%)
Índice de
Plasticidade 30 21,86 19,27 13,48 10,83 2,98 1,6 0,89
(%)
Densidade
Seca Máxima 17,9 17,15 16,85 16,58 16,2 15,8 15,25 14,1
(kN/m³)
Umidade
16 18,3 18,9 19,3 20 21,5 24 28
Ótima (%)

As partículas da cinza se mostraram bastante uniformes, ficando retidas, durante o processo de


peneiração, na peneira nº 30 (0,60 mm). Neste estudo, não se realizou a caracterização prévia da cinza
para conhecer suas propriedades físicas, porém, espera-se que sua densidade, peso específico real dos
grãos e densidade seca máxima sejam baixos e umidade ótima seja bastante elevado em relação ao solo,
já que é um material que absorve pouca umidade do ambiente e, por ser fino, adere bastante umidade
em sua superfície quando umedecido.

Através da Espectrometria de Fluorescência de Raio X, pode-se detectar os constituintes químicos da CCA


no seu estado puro. Os dados estão no Quadro 3. Os teores de SiO2 e Al2O3 são os de maior interesse,
pois são os constituintes primordiais para a realização da reação pozolânica. Quanto maior o teor de sílica
na CCA, melhor a sua aplicação quanto ao seu potencial pozolânico.

Quadro 3- Constituintes químicos da CCA

Constituinte Teor (%) Constituinte Teor (%)

Na2O 0,08 CaO 0,75


MgO 0,37 TiO2 0,04
Al2O3 0,80 Cr2O3 0,01
SiO2 95,37 MnO 0,09
P2O5 0,48 Fe2O3 0,36
SO3 0,23 ZnO 0,01
K2O 1,39 SrO 0,01

Os dados de Adhikary e Jana (2016) para as propriedades da CCA utilizada no solo expansivo que
investigaram, quanto à densidade específica, à densidade seca máxima e à umidade ótima, tem valores
de 19,5 kN/m³, 8,5 kN/m³ e 31,8%, respectivamente.

Na composição química da CCA usada na pesquisa de Patel e Mahiyar (2014) também pode-se observar
um elevado teor de sílica, de 90,23%, valor muito próximo ao usado na CCA em análise neste estudo.

1252
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Observando o Quadro 1 e a Figura 4, vê-se que em algumas misturas, a relação silte/argila diferiu do
solo sem adição. Esta variação é influenciada pela homogeneidade do material, que pode conter mais
fração fina em uma determinada amostra em relação a outra, mesmo sendo o mesmo solo. Buscou-se
diminuir esta variação, homogeneizando-o, porém, ainda houve esta variação, como observado. A cinza
de casca de arroz, por ser mais grossa, fica retida na peneiração fina, não constituindo a fração de silte e
argila. O comportamento apresentando pelas curvas das misturas são similares entre si e muito próximas
a do solo natural, pois a cinza de casca de arroz, por ser leve, resulta em uma pequena variação de peso
nos valores referentes à peneiração fina (entre peneira nº 10 e nº200), tendendo a valores muito
similares nos ensaios de sedimentação (solo que passa na peneira nº 200) e peneiração grossa (maior
que a peneira nº 10).

As misturas em estudo apresentaram valores para o Limite de Liquidez, Limite de Plasticidade e Índice de
Plasticidade encontrados no Quadro 1. Para o maior teor de CCA, 14%, obteve-se os respectivos valores
para estes limites: 53,12%, 52,23% e 0,89%. Com o aumento do teor de CCA nas misturas, há uma
substituição de uma porcentagem do solo pela cinza, que apresenta uma menor superfície específica em
relação ao solo substituído. Como efeito da reação pozolânica, há uma cimentação entre os grãos do solo
e a CCA, como afirma Adhikary e Jana (2016), o que gerou uma constância nos valores de Limite de
Liquidez mas alterou crescentemente os Limites de Plasticidade, fazendo decair os índices de
plasticidade. O peso específico real dos grãos para a mistura de 14% de CCA apresentou um valor de
22,06 kN/m³, diminuindo o valor em relação ao solo natural devido ao aumento de volume gerado pela
mistura em uma determinada massa.

Na compactação da mistura de 14% de CCA, a umidade ótima foi atingida com o valor de 28% e tendo
uma respectiva densidade real seca máxima de 14,1 kN/m³. Como pode ser avaliado no Quadro 1, houve
uma diminuição da densidade seca máxima e aumento da umidade ótima com o aumento do teor de CCA
nas misturas, devido estas terem densidades menores e a CCA ter a característica de apresentar uma
elevada umidade, gerando assim resultados crescentes de umidade nas misturas.

No estudo de Adhikary e Jana (2016) houve o aumento de ambos os Limites, Liquidez e Plasticidade, e o
decaimento dos Índices de Plasticidade com o aumento das porcentagens de CCA, o que também se
justifica na reação química entre o solo e a CCA. O mesmo comportamento durante a compactação foi
observado no estudo dos respectivos autores, elevando-se a umidade e diminuindo-se a densidade seca
máxima ao longo do aumento dos teores das misturas.

Já no estudo de Patel e Mahiyar (2014) houve um aumento do Limite de Liquidez com o aumento do teor
de CCA e os Limites de Plasticidade mantiveram-se quase que constantes. O comportamento na
compactação foi similar ao apresentado por este estudo, ocorrendo um aumento da umidade ótima e um
decréscimo da densidade seca máxima.
.
4.1 - Análise do comportamento expansivo

As misturas foram analisadas em três idades diferentes, 7, 14 e 21 dias, para avaliar o comportamento
expansivo ao longo do tempo, aplicando-se o método de Expansão Livre. Foi fixada em 48 horas a análise
da expansão nos corpos de prova.

No Quadro 4 estão as percentagens constituintes de solo, CCA, água e ar das misturas analisadas em
suas umidades ótimas, constituindo assim, as fases das misturas. A percentagem de solo foi diminuindo
gradativamente para dar substituição ao aumento da CCA e da água. Como a densidade seca máxima na
umidade ótima era decrescente, as percentagens representam de forma coerente o comportamento das
misturas ao longo do aumento dos teores de CCA.

Quadro 4- Percentagens constituintes nas misturas de CCA


Percentagem nas misturas (%)
Misturas
Solo CCA Água Ar
Solo (Compactação Ótima) 86,21 0,00 2,21 11,59
Solo + 2% de CCA 82,84 1,69 2,83 12,64
Solo + 4% de CCA 80,74 3,36 3,00 12,89
Solo + 6% de CCA 78,79 5,03 3,12 13,06
Solo + 8% de CCA 76,67 6,67 3,33 13,33
Solo + 10% de CCA 74,07 8,23 3,80 13,89
Solo + 12% de CCA 70,97 9,68 4,65 14,71
Solo + 14% de CCA 67,19 10,94 6,13 15,75

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Nas condições de campo, com umidade de 14%, peso específico natural de 19,66 kN/m³, a expansão
com o método de Expansão Livre foi de 6,58%. Nessas condições, o solo apresentava um índice de vazios
(e) com um valor 0,588, ou seja, aproximadamente 60% do volume do corpo de prova era constituído de
ar e/ou água.

Após realizada a compactação na umidade ótima em laboratório, o valor de expansão aumentou mais de
3 vezes em relação ao valor de campo, chegando a uma expansão de 20%, como pode ser observada na
Figura 5. Isso ocorreu devido ao aumento da massa no corpo de prova, o que propicia uma maior
absorção de água e, consequentemente, maior expansão do solo.

Com a aplicação dos teores de cinza de casca de arroz ao solo, em todas as idades, foi possível observar
a diminuição dos valores de expansão livre com a elevação destes teores. Na maior percentagem, 14%, a
expansão ficou próxima a 1,5% nas três idades.

Um outro fator a ser observado é a variação das expansões de uma mesma percentagem dentro das
diferentes idades as quais foram submetidas ao ensaio de expansão. Os dados mostraram que as reações
químicas não são alteradas significativamente ao longo do tempo. Para as amostras com os teores de 4%
e 8% de CCA aos 21 dias, foi observado uma expansão maior que a esperada, estando estas com o valor
de umidade ótima das misturas. Como foram fatos pontuais, sendo uma das explicações viáveis, uma
maior fração de finos neste corpo de prova, entende-se que o estudo tem uma forte tendência a
diminuição da expansão ao longo do tempo, pois dentre os 21 corpos de prova das misturas, apenas dois
apresentaram-se com comportamentos distinto do demais. Como as expansões não divergem seus dados
de forma elevada, tornando o fator tempo com uma relevância menor quanto à expansão em relação ao
aumento do teor de CCA, este último o fator mais relevante.

A variação entre os dados das idades em estudo mostra que mesmo entre as maiores variações, como no
caso da mistura de 4% de CCA, a expansão do solo é pequena em relação à diminuição da expansão
efetiva entre o aumento dos teores de CCA. Os dados de potencial de expansão em diferentes idades
estão dispostos na Figura 5 e apresentados no Quadro 5.

20
Expansão aos 7 dias
18
Expansão aos 14 dias
16
Expansão aos 21 dias
14
12
Expansão (%)

10
8
6
4
2
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Teor de cinza de casca de arroz (%)

Figura 5 – Expansão das misturas com CCA nas idades de cura

Como é possível observar no Quadro 5, a expansão com a percentagem de 14% de CCA alcançou valores
próximos a 1,5%. Esta percentagem não anulou a expansão, porém, pode-se utilizar de algum
complemento nas estruturas que possam vir a ser executadas sobre esta mistura, permitindo-a que a
mistura exerça sua expansão residual sem afetá-las.

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Quadro 5 - Expansão das misturas de CCA


Expansão (%) Redução da
Misturas
7 dias 14 dias 21 dias Expansão (%)
Solo (Campo) 6,58 6,58 6,58 -
Solo (Compactação Ótima) 20 20 20 0
Solo + 2% de CCA 14,35 12,23 13,5 28,25
Solo + 4% de CCA 10,4 9,23 13,65 48,00
Solo + 6% de CCA 12,15 11,5 9,07 39,25
Solo + 8% de CCA 9,7 7,18 8,35 51,50
Solo + 10% de CCA 6,87 4,5 2,65 65,65
Solo + 12% de CCA 5,77 3,65 3,5 71,15
Solo + 14% de CCA 1,27 1,6 1,55 93,65

Segundo o critério de Seed et al. (1962) e Vijayvergiya e Ghazzaly (1973), que classificam o potencial de
expansão segundo faixas de expansão livre aplicadas sob Tensão de 7 kPa e 10 kPa, respectivamente,
tem-se os resultados desses respectivos critérios no Quadro 6.

Quadro 6 – Classificação da expansão do solo e mistura solo+14% de CCA


Critérios de Grau de Expansividade
Classificação Solo (campo) Solo+14% de CCA
Seed et al. (1962) Alta Média
Vijayvergiya e
Alta Média
Ghazzaly (1973)

Já no Quadro 7 estão os valores de Tensão de Expansão do solo e das misturas. O solo, nas condições de
campo, apresentou uma Tensão de Expansão de 160 kPa. O solo natural com sua densidade seca máxima
e umidade ótima apresentou uma elevada tensão de expansão, 215 kPa. Com o teor de 14% CCA na
mistura, a Tensão de Expansão diminuiu cerca de 96,12% do valor obtido com o solo compactado em
laboratório.

Quadro 7 – Tensão de Expansão das misturas de CCA


Tensão de Expansão (kPa)
Misturas
7 dias 14 dias 21 dias
Solo (Campo) 160 160 160
Solo (Umidade Ótima) 215 215 215
Solo + 2% de CCA 54,17 63,50 26,66
Solo + 4% de CCA 28,33 59,17 43,33
Solo + 6% de CCA 45,83 27,50 38,33
Solo + 8% de CCA 22 44,17 30,83
Solo + 10% de CCA 31,67 20,00 15,00
Solo + 12% de CCA 20,83 20 20,05
Solo + 14% de CCA 11,67 10,83 8,33

5- CONCLUSÃO

O uso da cinza de casca de arroz (CCA), como forma de conter uma possível expansão do solo, mostrou-
se bastante influente na estabilização de solos expansivos, reduzindo para quase 1,5% desta expansão,
quando se utilizou o percentual de 14% de CCA.

Percebe-se que este percentual de CCA (14%), aplicados nas diferentes idades, manteve praticamente
constante o índice de redução da expansão, indicando que, este efeito perdura ao longo do tempo e a
área onde foi aplicada fica liberada para utilização em poucos dias.

O LL da mistura com 14% de CCA não mostrou uma grande variação em relação ao do solo natural,
mostrando uma melhoria no LP da mistura em relação ao solo.

A reação química entre o solo e a CCA mostrou variação significativa apenas nos valores de LP.

Segundo os critérios analisados, a mistura com 14% CCA foi classificada como de média expansibilidade.

A Tensão de Expansão para a mistura com 14% de CCA apresentou valor próximo a 10 kPa, sendo uma
baixa tensão.

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Pode-se observar que a CCA em estudo tem elevado potencial pozolânico, por obter mais de 90% de
sílica em sua composição.

REFERÊNCIAS

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de Janeiro, 9 p.

ABNT NBR 6459 (2016) - Solo – determinação do limite de liquidez, Rio de Janeiro, 9 p.

ABNT NBR 6508 (2016) - Grãos de solos que passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica. Rio
de Janeiro.

ABNT NBR 7180 (2016) - Solo - determinação do limite de plasticidade, Rio de Janeiro, 3 p.

ABNT NBR 7181 (2016) - Solo – análise granulométrica, Rio de Janeiro, 16 p.

ABNT NBR 7182 (2016) - Ensaio de compactação, Rio de Janeiro, 13 p.

ABNT NBR 9604 (2016) - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostra deformada e
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Expansivo, Estabilizado com Cal. Dissertação de Mestrado. Recife, UFPE, 131p.

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https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/IIgeojovem2006/2006-cavalcante-junior.pdf, acessado em
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Climate-data (2017) - Clima Agrestina. https://pt.climate-data.org/location/43100/, acessado em 09/08/2017.

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Doutorado. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 381p.

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ESTUDO DA ELECTROCINESE COMO TÉCNICA DE DESCONTAMINAÇÃO DE


SOLOS CONTAMINADOS COM LIXIVIADOS

STUDY OF ELECTROKINETIC TREATMENT AS DECONTAMINATION TECHNIQUE


OF SOILS CONTAMINATED WITH LEACHATE

Borges, Inês; Instituto Superior Técnico, Univ. Lisboa, Lisboa, Portugal, inescfborges@gmail.com
Gingine, Vikas; KLS Gogte Institute of Technology, Belagavi, Índia, ginginevikas@gmail.com
Cardoso, Rafaela; CERIS, Instituto Superior Técnico, Univ. Lisboa, Lisboa, Portugal, rafaela@civil.ist.utl.pt

RESUMO

As preocupações com a contaminação de solos têm vindo a aumentar e existe já enquadramento legal
para promover a sua descontaminação. O tratamento através de electrocinese, ou de fenómenos
electrocinéticos (traduzido do termo em inglês Electrokinetic Treatment, EKT) é uma alternativa viável em
caso de solos contaminados com lixiviados devido à presença de matéria orgânica e de diversos iões
metálicos. O tratamento através de electrocinese consiste na aplicação de corrente eléctrica ao terreno,
com extracção da água. Ocorrem (i) electrólise da água, (ii) electroosmose, (iii) electroforese e (iv)
electromigração. Basicamente, o tratamento promove o movimento de iões e de moléculas de água
devido ao gradiente de potencial eléctrico aplicado, permitindo a recolha do fluido percolado e seu
reencaminhamento para central própria de tratamento. Há já bastantes casos de sucesso deste
tratamento em solos argilosos, onde é bastante eficiente. Neste artigo apresenta-se um breve resumo
sobre as vantagens e campo de aplicação desta técnica, considerando que as propriedades químicas,
eléctricas e hidráulicas dos solos arenosos e argiloso são distintas. São também apresentados alguns
resultados de um trabalho experimental realizado num equipamento à escala de laboratório (caixa em
acrílico adaptada com dois eléctrodos e respectivos reservatórios). Realizaram-se ensaios numa amostra
de argila compactada e numa amostra de areia, usando como contaminante um lixiviado recolhido num
aterro de resíduos sólidos da Região Sul de Lisboa. A eficiência do tratamento foi avaliada através da
monitorização, em tempo real, da resistividade eléctrica do solo e do pH do fluido intersticial. Esta análise
permitiu quantificar indirectmente o efeito do tratamento na redução da contaminação. Conseguiu-se um
bom grau de descontaminação para os dois tipos de solo estudados. No caso da areia, a descontaminação
foi facilitada pela percolação da água.

ABSTRACT

The concern about soil contamination is increasing and legal tools are being created to promote
decontamination. Soil treatment through electrokinetics, known as Electrokinetic Treatment, EKT, is a
viable alternative for soils contaminated with leachate, due to the presence of organic matter and several
metallic ions. The treatment through EKT consists in applying electrical current in the field, extracting
water. There are (i) water electrolisis, (ii) electroosmosis, (iii) electrophoresis and (iv) electromigration.
Basically, this treatment consists in promoting ion and water molecules movement due to gradients of
electrical potential, collecting the percolated fluid and sending it to a central treatment. This kind of
treatment is been studied for clayey soils, where it is quite efficient due to the characteristics of the clay
minerals. In this paper a short summary of the advantages and application field of this technique,
considering that clayey and sandy soils have distinct chemical, electrical and hydraulic properties. Some
experimental results obtained in laboratory tests performed in an equipment (acrylic box adapted with
two electrodes and their reservoirs) are also presented. The test was performed on samples of compacted
clay and of sand, using leachate colected from a landfill embankment in South Lisbon region. The
efficiency of the treatment was evaluated by real time monitoring of the electrical resistivity of the spil
and pH of the interetitial fluid. This analysis allowed to quantify, indirectly, the treatment effect on
decontamination. A good decontamination degree was achieved for both soils. In case of the sand,
decontamination was made easier due to water percolation.

1- INTRODUÇÃO

As preocupações com a contaminação de solos de zonas industriais, ou de fundação de aterros de


resíduos sólidos urbanos ou de resíduos mineiros, têm vindo a aumentar por motivos de saúde pública,
ambientais e legais. Existe já enquadramento legal para promover a sua descontaminação, por exemplo o
Decreto-Lei nº 178/2006, de 5 de Setembro, e o Despacho n.º 28176/2007, de 14 de Dezembro, e seu
aditamento (2011) para recuperação de passivos ambientais. Este assunto tem particular actualidade no
contexto actual, em que se procura a requalificação de zonas industriais com conversão para zona urbana.

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Existem várias técnicas que podem ser usadas para descontaminar os solos in situ, nomeadamente: (i)
lavagem com um fluido (geralmente água com ácidos, bases ou detergentes), que dissolve e arrasta os
poluentes solúveis para tratamento posterior numa instalação adequada; (ii) arraste com ar ou vapor de
contaminantes voláteis e (iii) técnicas físico-químicas, que permitem a eliminação ou fixação total ou
parcial dos poluentes presentes, mediante aplicação de agentes químicos, tais como extração,
solidificação, vitrificação e electromigração, ou electrocinese (Reddy, 2010). Todas estas técnicas
baseiam-se na eliminação dos contaminantes através de reacções químicas ou físicas, ou sua remoção
através de transporte e extracção, transporte esse que também poderá ser facilitado por reacções
químicas. Em alternativa, o solo pode ser escavado e tratado ex situ, com outro tipo de técnicas e com
outros custos.

O tratamento através de electrocinese, ou de fenómenos electrocinéticos (traduzido do termo em inglês


Electrokinetic Treatment, EKT) é uma alternativa viável em caso de solos contaminados com lixiviados
devido à presença de matéria orgânica e de diversos iões metálicos. A eficiência desta técnica para
descontaminação é estudada neste trabalho, através da sua aplicação a um solo arenoso e a um solo
argiloso compactado. O tratamento foi efectuado em ensaios realizados num equipamento desenvolvido à
escala de laboratório especialmente para este efeito (Gingine, 2017). Neste equipamento montaram-se
provetes de cada um dos materiais, procedendo-se à sua saturação com um fluido lixiviante recolhido
num aterro de resíduos sólidos urbanos da Região Sul de Lisboa, gerido pela AMARSUL.

A eficiência do tratamento foi avaliada através da monitorização, em tempo real, da resistividade eléctrica
do solo e do pH do fluido intersticial. Uma forma usual de verificar a contaminação de solos é através da
medição da sua resistividade eléctrica recorrendo a ensaios de prospecção geofísica (Mota, 2004), uma
vez que esta propriedade é muito afectada pela composição química do fluido intersticial. Quanto mais
contaminado estiver o solo, maior será a concentração de iões no fluido intersticial e, portanto, maior
será a sua condutividade e menor será a resistividade do solo. Assim, foi determinada a resistividade
eléctrica dos solos ensaiados com os parâmetros recolhidos na monitorização dos ensaios, para
quantificar de forma indirecta a evolução da descontaminação com o tratamento. Para efeito foram
determinadas as curvas de calibração para os dois solos, que traduzem a relação entre a concentração de
lixiviado e a resistividade eléctrica desse solo.

Após uma breve descrição da técnica de tratamento através de electrocinese, descreve-se o equipamento
usado e os ensaios realizados, assim como a síntese dos resultados das medições da evolução da
resistividade eléctrica do solo durante o tratamento para os dois tipos de solos. O artigo termina com
breves comentários sobre a eficiência da EKT na descontaminação dos dois tipos de solos estudados.

2- TRATAMENTO POR ELECTROCINESE

Os primeiros estudos do tratamento através de electrocinese tiveram início nos anos 40 com argilas
saturadas e foram realizados por Casagrande. O tratamento através de electrocinese consiste na
aplicação de corrente eléctrica ao terreno, com extracção da água. Tal como ilustrado na Figura 1,
ocorrem (i) electrólise da água, (ii) electroosmose, (iii) electroforese e (iv) electromigração. Basicamente,
o tratamento promove o movimento de iões e de moléculas de água devido ao gradiente de potencial
eléctrico aplicado, permitindo a recolha do fluido percolado e seu reencaminhamento para central própria
de tratamento.
FONTE DE TENSÃO (DC)

ÂNODO (+) CÁTODO (-)

BOMBA BOMBA

ELÉCTRODO (+) ELÉCTRODO (-)


DRENO (+) SOLO CONTAMINADO
DRENO (-)

ELECTROOSMOSE PARTÍCULA SÓLIDA DE SOLO


ELECTROFORESE (MOV. ÁGUA)
(MOV. PARTÍCULAS CARREG. ELECTROFORESE
NEGATIVAMENTE) (MOV. PARTÍCULAS CARREG.
POSITIVAMENTE)
PARA O ÂNODO (+) PARA O CÁTODO (-)
ELECTROMIGRAÇÃO (MOV. ANIÕES) ELECTROMIGRAÇÃO (MOV. CATIÕES)
SUPERFÍCIE DE UMA PARTÍCULA
DE ARGILA CARREGADA
ELECTRICAMENTE

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Figura 1 - Esquema de um tratemento EKT e dos fenómenos que ocorrem (adaptado de Reddy, 2010)

A electrocinese estabelece a relação entre o potencial eléctrico e o movimento da água e iões. Quando é
aplicado um potencial eléctrico a uma massa de solo saturada, a água move-se do ânodo (+) para o
cátodo (-). A eficiência da electroosmose é definida pela quantidade de água transportada por unidade de
corrente eléctrica.

Segundo a teoria da consolidação electroosmótica, a solução analítica unidimensional para o cálculo do


caudal transportado por corrente eléctrica em solos foi apresentada pela primeira vez por Esrig (1968).
No caso de o escoamento ser unidirecional (ao longo da direcção x), o caudal electroosmótico pode ser
descrito pela Equação 1, onde Qe é o caudal transportado por corrente eléctrica (m3/s), ke é o coeficiente
de permeabilidade electroosmótica do solo (m2/V/s), A é a área total da secção transversal perpendicular
à direcção do escoamento (m2) e ∂V/ ∂x é o gradiente eléctrico, que se aplica de modo a ser constante
para medição de ke.
∂V
Qe = k e A [1]
∂x

A Equação 1 é análoga à lei de Darcy (Equação 2), que define o caudal percolado, Qh (m3/s), devido a um
gradiente hidráulico i, considerando o coeficiente de permeabilidade hidráulica kh (m/s) do solo e o
gradiente hidráulico é definido como usualmente pela razão entre a perda de carga hidráulica, ∂H, ao
longo da direcção do escoamento, ∂x.
∂H
Qh = k h iA = k h A [2]
∂x

Comparando as Equações 1 e 2 compreende-se que os caudais de cada caso dependem essencialmente


dos coeficientes de permeabilidade ke e kh. Estes dois coeficientes têm ordem de grandeza semelhantes
em solos argilosos, enquanto que em solos arenosos, com elevada permeabilidade, a permeabilidade
saturada kh é muito maior que a permeabilidade electroosmótica ke (alguns exemplos no Quadro 1). Por
este motivo é que o tratamento EKT é mais indicado para solos argilosos do que para solos arenosos.

Quadro 1- Comparação dos valores de kh e ke para vários tipos de solos

Material Teor de água (%) ke x 10-9 (m²/V/s) kh x 10-9 (m/s) kh/ ke (V/m)

Argila London Clay 52,3 5,8 0,1 0,02

Argila Siltosa 32,0 3,0 - 6,0 0,12 - 0,65 0,02 - 0,22

Caulinite 67,7 5,7 1,0 0,18

Silte Argiloso 31,7 5,0 10,0 2,00

Areia Fina 26,0 4,1 1000,0 244

As Equações 1 e 2 não consideram nenhum acoplamento entre as características eléctricas e hidráulicas.


No entanto, ao aplicar um gradiente eléctrico há transporte de água por electromigração, com
consequente geração de pressão intersticial (∂u/ ∂x). Assim, a corrente eléctrica induz um escoamento
hidráulico no sentido contrário ao sentido do escoamento electroosmótico, que se traduz pela Equação 3,
onde Q é o caudal total originado pela sobreposição destes dois efeitos.
∂H ∂V
Q = Qh − Qe = A [(k h ) − (k e )] [3]
∂x ∂x

Este escoamento devido ao gradiente hidráulico induzido reduz a eficiência do tratamento por
electrocinese e pode ser evitado com a introdução de um sistema colector de água junto do cátodo e sua
extracção por bombagem. A Figura 1 apresenta também um esquema da aplicação deste processo in situ,
onde é visível a instalação de drenos juntamente com os eléctrodos, e de sistemas de bombagem.

Este tratamento é particularmente adequado para argilas de baixa permeabilidade e depósitos de solo
heterogêneos, onde os métodos convencionais provaram ser ineficazes ou caros. As vantagens do uso da
técnica EKT in situ em relação aos métodos convencionais de descontaminação são os seguintes: (i)
simplicidade nos equipamentos necessários; (ii) segurança, já que os trabalhadores e a população não
são expostos aos contaminantes; (iii) versatilidade, porque pode ser usada em vários meios (lamas,
sedimentos e águas subterrâneas), e para uma larga variedade de contaminantes (metais, compostos
orgânicos, poluição radioactiva ou combinações destes contaminantes); e (iv) flexibilidade, pois pode ser
usada como um tratamento de descontaminação in situ ou ex situ. O elevado consumo de energia devido

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

à alta condutividade eléctrica dos fluídos contaminantes, para além de custo elevado, são as principais
desvantagens quando se usa esta técnica para descontaminação de solos (Reddy, 2010).

3- EQUIPAMENTO

A caixa de EKT é constituída por três compartimentos em acrílico transparente: uma célula central, para
o solo, e duas câmaras laterais, para os eléctrodos e fluidos. Na Figura 2 apresentam-se fotografias onde
é possível observar-se os compartimentos da caixa e como se ligam entre si. A célula de solo tem 350
mm de comprimento, 100 mm de profundidade e 150 mm de altura. Tem 12 furos em cada um dos lados,
em 3 níveis horizontais, formando uma grelha espaçada de 100 mm ao longo do comprimento, e de 40
mm ao longo da altura. Os eléctrodos de monitorização do solo são colocados em válvulas de conexão
rápida instaladas nesses furos, que permitem também a recolha de fluido intersticial. Com esta
disposição é possível identificar quatro zonas, identificadas de A a D tal como ilustrado na Figura 2a).

a)

b)
Figura 2 - Equipamento usado nos ensaios EKT: a) zonas estudadas; b) esquema do ensaio

As câmaras para os eléctrodos têm capacidade para cerca de 6 litros, e contêm uma pequena estrutura
para manter os eléctrodos estáveis, tampa que pode ser fechada e duas válvulas, uma na base e outra
no topo. As câmaras estão separadas da célula de solo através de uma placa de acrílico, com furos e
geotêxtil. Os eléctrodos usados são placas de grafite e de aço inoxidável.

A diferença de potencial eléctrico (ΔV) é aplicada aos eléctrodos através da fonte de alimentação de
voltagem ou corrente contínua. Nos ensaios foram aplicadas diferenças de potencial eléctrico de 35 e
70 V, de modo a aplicar 1 e 2 V/cm respectivamente, valores usuais em campo. O esquema completo do
ensaio apresenta-se na Figura 2b).

Neste equipamento foram realizados 2 ensaios, um com cada um dos materias estudados: argila
compactada e areia. Cada um dos ensaios foi efectuado em 3 etapas (I, II e III). Foi necessário ter estas
etapas para poder testar o aumento do gradiente de potencial eléctrico e a influência do uso de técnicas
diferentes na descontaminação. No Quadro 2 estão identificados todos os ensaios realizados, assim como
as técnicas usadas em cada etapa, nomeadamente a técnica da corrente intermitente (CI), e a técnica de
tratamento melhorado (TM). A eficiência de cada uma das técnicas não será discutida neste trabalho.

1260
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A técnica de corrente intermitente (CI) foi utilizada com o objectivo de reduzir o consumo de energia e a
corrosão de eléctrodos. Esta técnica consiste na aplicação de tensão em intervalos previamente definidos,
onde a fonte de alimentação eléctrica se liga e desliga regularmente, em vez de estar sempre ligada. A
técnica foi aplicada com intervalos de 60 minutos com a fonte ligada, alternados com 30 minutos com a
fonte desligada. Neste trabalho foi adoptada uma tensão de 35 V. A experiência mostra que a técnica CI
dá melhores resultados do que a fonte de energia constante convencional (Fourie et al., 2007;
Glendinning et al., 2007; Micic et al., 2003). Mesmo depois de desligar o fornecimento de energia por um
tempo definido, as cargas no solo ainda prevalecem e a difusão iónica pós-tratamento continua (Micic et
al., 2003).

Em relação à técnica de tratamento melhorado (TM), pretende-se controlar o pH nas câmaras dos
eléctrodos, que se altera devido à oxidação-redução da água (Acar e Alshawabkeh, 1993), e que afecta,
por sua vez, os processos de electroosmose. Para esta técnica substituiu-se o fluido nas câmaras por
água de torneira, em intervalos regulares, com o objetivo de manter o pH 7 nos reservatórios dos
eléctrodos. A água da torneira foi usada para simular tratamentos à escala de campo, onde usar água
destilada não é economicamente viável. Este tipo de condicionamento também pode ser feito pela adição
de soluções tampão ácido e base, ou pelo uso de membranas de permuta iónica (Saichek e Reddy, 2003).
Em geral, pequenas concentrações de ácidos e de bases são adicionadas, na prática, ao cátodo e ao
ânodo, respectivamente, para fornecer iões OH- e H+ e neutralizar o pH. Quando estes iões são esgotados,
o pH no ânodo volta a ácido e o pH perto do cátodo volta a básico. Portanto, o pH deve ser monitorado
regularmente durante a aplicação de EKT.

Nos testes, a substituição da água na câmara foi feita adicionando lentamente água pela abertura
superior, mantendo a válvula inferior aberta. Este procedimento permitiu evitar aplicar gradientes
hidráulicos importantes, que surgiriam se houvesse esvaziamento total da câmara e posterior enchimento.
Para a amostra de areia tal afectaria irreversivelmente o ensaio, dada a elevada permeabilidade deste
material, com consequente lavagem.

Quadro 2- Ensaios realizados na caixa de EKT


Voltagem
Ensaio Etapas Tempo (horas) Fluído nas câmaras dos eléctrodos
(V/cm)
Argila - I 72 (CI) 1 Água da Torneira (TM)
Argila Argila - II 72 (CI) 2 Água da Torneira (TM)
compactada
Argila - III 72 (CI) 2 Água da Torneira

Areia - I 72 (CI) 1 Água da Torneira (TM)

Areia Areia - II 72 (CI) 2 Água da Torneira (TM)


Areia - III 72 (CI) 2 Água da Torneira

4- MATERIAIS

Os ensaios foram realizados em amostras preparadas com areia APAS 20 e argila branca caulinite
ATM 2000, ambas comercialmente disponíveis em Portugal. O Quadro 3 sintetiza os minerais presentes
em cada material.

Quadro 3 - Minerais presentes

Material Minerais presentes (obtidos por difracção de Raios X)


Areia APAS 20 Quartzo, zircão e turmalina
Caulinite Branca ATM 2000 Caulinite, muscovite e quartzo

A areia APAS 20 classifica-se como SP - areia mal graduada, segundo a classificação unificada dos solos.
Este material tem coeficiente de curvatura Cc = 1,3 e coeficiente de uniformidade Cu = 3,0 (curva
granulométrica na Fig. 3). A densidade das partículas sólidas é Gs = 2,68 (Borges, 2017).

A caulinite ATM 2000 classifica-se como MH - silte elástico, pois tem limite de liquidez wL = 52%, e índice
de plasticidade IP = 22%. De acordo com a curva granulométrica (Fig. 3) obtida por sedimentação, possui
55% de partículas com tamanho silte e 45% com tamanho argila. A densidade das partículas sólidas é
Gs = 2,61 (Gingine, 2017).

A permeabilidade hidráulica saturada kh foi medida com um permeâmetro de carga constante para a
areia, e numa câmara de ensaio triaxial para a argila (Fig. 4a). Diferentes métodos foram necessários
para se ter sensibilidade para os valores de permeabilidades esperados para cada material. A
permeabilidade electroosmótica ke foi medida utilizando um edómetro adaptado por Santos (2012) para

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

incluir eléctrodos de prata nas pedras porosas do topo e da base (Fig. 4b), com válvulas para entrada e
saída da água e passagens para fios eléctricos.

A amostra de areia foi preparada por chuveiro a seco, com índice de vazios de 0,723. Para este índice de
vazios, a permeabilidade hidráulica e electroosmótica são k h = 2,15 × 10−3 m/s e k e = 8,04 × 10−8 m2 /V/s ,
respectivamente (Borges, 2017). A amostra de argila foi compactada directamente na célula, em três
camadas e controlando o peso de material a colocar em cada uma. O teor de água de compactação foi 25%
e índice de vazios de 0,9 (Gingine, 2017). Para este índice de vazios, as permeabilidades hidráulica e
electroosmótica, medidas com água destilada, são k h = 1,3 × 10−8 m/s e k e = 9,3 × 10−10 m2 /V/s ,
respectivamente.
100
90
80
Material passado (%)

70
60
50
40
Areia
30
Caulinite
20
10
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Figura 3 - Curvas granulométricas dos dois materiais

Câmara triaxial
(argila)
Eléctrodos
de prata

Piezómetros

Permeâmetro
(areia)
a) b)

Figura 4 - Medição de: a) coeficiente de permeabilidade (Borges, 2017); b) edómetro adaptado para medição do
coeficiente de permeabilidade electroosmótico (Santos, 2012)

A composição química do lixiviado recolhido no aterro e usado como contaminante apresenta-se no


Quadro 4 considerando dois instantes de recolha. A composição química do lixiviado usado nos ensaios é
semelhante à da segunda medição apresentada neste quadro. A saturação das amostras foi efectuada
com este fluido, sob pressão: os dois reservatórios foram cheios com lixiviante e fechados, tendo-se
injectado o fluido em ambos com cerca de 50 kPa (pressão máxima suportada pelo equipamento). O
processo demorou cerca de dois meses para o solo argiloso, e uma semana para o solo arenoso. Foi
efectuada purga abrindo as válvulas do centro da célula para permitir a expulsão de bolhas de ar e
acelerar a saturação. Através do acrílico, no final da fase de saturação foi possível ver que os vazios
(poros) dos dois solos apresentavam uma cor castanha esverdeada, que é a cor do lixiviante, distribuída
de forma homogénea pelas faces laterais.

Quadro 4 - Alguns dos parâmetros do lixiviado recolhido no aterro (Gingine, 2017)


Parâmetro Maio 2015 Novembro 2015

Cálcio (mg Ca/l) 74 152

Sódio (mg/l) 3382 2432

Magnésio (mg Mg/l) 90 92

Potássio (mg K/l) 3183 2420

Bicarbonato (mg HCO3/l) 22,418 880

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Cloretos (mg Cl/l) 2,82 1,21

Sulfatos (mg SO4/l) 4400 4100

Fluoretos (mg F/l) 0,77 0,44

Nitratos (mg NO3/l) 48 38

5- GRANDEZAS MEDIDAS DURANTE O TRATAMENTO

A monitorização do tratamento foi efectuada através da medição do pH e da corrente eléctrica nas várias
zonas da caixa. Ambos os parâmetros são indicadores de actividade química. No caso do pH do fluido
intersticial, este altera-se devido à electrólise da água, que se descreve pelas conhecidas reacções
químicas seguintes

2𝐻2 𝑂 → 𝑂2 (𝑔) + 4𝐻 + + 4𝑒 − (Â𝑛𝑜𝑑𝑜) [4]


2𝐻2 𝑂 + 4𝑒 − → 𝐻2 (𝑔) + 2𝑂𝐻 − (𝐶á𝑡𝑜𝑑𝑜) [5]

A concentração de iões H+ junto ao ânodo e OH- junto ao cátodo provoca, respectivamente, a diminuição
e o aumento do pH. O pH foi medido com papel indicador de pH, utilizando duas gotas de fluido
intersticial recolhida através dos furos das faces laterais da caixa.

Em relação à corrente elétrica, esta varia em função da resistência eléctrica do solo (ou resistividade) se
o potencial aplicado se mantiver constante. Tal como referido antes e analisado detalhadamente
posteriormente, a resistividade eléctrica  pode ser usada como um indicador da presença do
contaminante, logo as suas alterações ao longo do tratamento podem ser usadas para avaliar, de forma
indirecta, se está a haver descontaminação. A resistividade foi quantificada com base nas medições da
diferença de potencial V e da corrente I em cada zona da caixa, e em cada nível de furos, com base no
cálculo da resistência R do solo através da Lei de Ohm e conhecendo a distância L entre eléctrodos:

∆V
ρ = RL = L [6]
I

A diferença de potencial eléctrico foi medida na caixa de EKT com um voltímetro, entre o eléctrodo do
ânodo e as zonas A, B, C, D e o eléctrodo do cátodo. Tal ilustra-se na Figura 5. As medidas foram
efectuadas em cada nível horizontal de furos e nas duas faces da célula, tendo-se considerado os valores
médios em cada zona. A intensidade da corrente eléctrica (I) foi medida com um amperímetro no ensaio
da argila compactada, e com a fonte de alimentação de energia no ensaio da areia, porque o valor da
corrente eléctrica que passa em todo o sistema da caixa de EKT é muito diferente para cada material
porque depende da sua resistência eléctrica (explicado posteriormente). Teria sido vantajoso confirmar
este valor com um amperímetro, mas o aparelho não tinha precisão suficiente porque os valores da
intensidade de corrente em solos arenosos são muito baixos para as voltagens utlizadas.

Figura 5 - Esquema de medição da voltagem para monitorização da contaminação

A Equação 6 foi posteriormente corrigida seguindo o procedimento descrito por Gingine (2017), pois é
necessário considerar a configuração (geometria e profundidade) dos eléctrodos no solo. Basicamente,

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para calibração do equipamento encheu-se a caixa com três fluidos diferentes, cada um com resistividade
eléctrica conhecida e mediu-se essa resistividade. Determinou-se a constante necessária para que o valor
medido fosse semelhante ao valor esperado para cada fluido. Posteriormente, Borges (2017) analisou
também o efeito do pH dos fluidos nesta calibração, pois o pH também afecta a resistividade eléctrica. A
interpretação dos resultados teve estes trabalhos em consideração.

Através do cálculo da resistividade eléctrica do solo e da medição do pH é possível estimar a evolução da


concentração do lixiviado no solo, desde que existam funções que relacionem a resistividade eléctrica do
solo com a concentração deste lixiviado. Estas expressões denominam-se por curvas de calibração e
apresentam-se em seguida.

6- MEDIÇÃO DA DESCONTAMINAÇÃO ATRAVÉS DA RESISTIVIDADE ELÉCTRICA DO SOLO

A passagem da corrente eléctrica nos solos é feita através das fases sólida, líquida e gasosa. Assim, a
resistividade eléctrica, ρ, é um parâmetro que depende da mineralogia, do índice de vazios, do grau de
saturação e da composição química (condutividade eléctrica) do líquido intersticial. Considerando apenas
solos saturados, a condutividade da fase solida é muito elevada no caso de minerais argilosos porque a
passagem de corrente dá-se através da água adsorvida na superfície das partículas carregadas
negativamente. Esta condutvidade é muito baixa no caso das areias (Santamarina et al., 2001). A
condutividade da fase líquida é a condutividade do fluido intersticial, que depende dos iões aí presentes e
do pH. Para ilustrar o que foi dito, no Quadro 5 apresentam-se alguns valores da resistividade eléctrica
para a água do mar, água da torneira e água destilada, e para solos saturados com várias percentagens
de argila, e para o mesmo solo argiloso seco ou saturado.

Quadro 5 - Valores de resistividade eléctrica para alguns materiais (adptado de Mota, 2004)
Material Resistividade (Ω∙m) a 20ºC

Água do mar 0,2

Água da torneira 20 - 2000

Água destilada 1,8 x 105

Solo saturado (aluvião e areia) 10 - 800

Solo saturado (20% argila) 33

Solo saturado (40% argila) 8

Solo 100% argila (saturado) 1 - 100

Solo 100% argila (seco) 50 - 150

Foi necessário caracterizar os dois solos estudados considerando o lixiviante recolhido no aterro de
resíduos como fluido intersticial. Para tal determinou-se a relação entre a resistividade eléctrica e a
concentração de lixiviante. Variou-se a concentração do lixiviante através da sua diluição em água
(diluição em volume). Esta relação deu origem a curvas de calibração que foram usadas para estimar a
concentração de lixiviante com base nas medidas de resistividade eléctrica obtidas durante a realização
dos ensaios EKT.

Para tal prepararam-se provetes de solo com as mesmas características que os solos colocados no
equipamento. Estes provetes foram montados em tubos cilíndricos de PVC com 2,5 cm de diâmetro e
6 cm de altura (Fig. 6a), onde se inseriram eléctrodos de aço inoxidável para medição da resistividade
eléctrica através do método de Wenner com 4 pinos (norma inglesa BS 1377-3, 1990). Para tal mediu-se
a diferença de potencial V quando se aplicava uma dada corrente eléctrica I. Nos eléctrodos exteriores foi
aplicada a corrente contínua de 10 mA e a voltagem foi medida entre os dois eléctrodos interiores. Este
processo foi repetido no sentido inverso, considerando-se o valor médio das duas medições.

eléctrodo

molde
solo

a) b)

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Figura 6 - Amostras preparadas para a curva de calibração (Borges, 2017): a) esquema dos provetes;
b) soluções com diferentes pH e concentrações de lixiviado

Os vários provetes foram saturados com diferentes concentrações de solução aquosa preparada com
lixiviado recolhido no aterro (100% e diluições para 50%, 10%, 5%, 1% e 0%), por imersão (Fig. 6b).
Cada uma destas soluções foi preparada para três intervalos diferentes de pH (1 a 3, 7 a 8 e 10 a 13). Os
provetes foram deixados submersos mais de um mês, tempo ao fim do qual se admitiu que estavam
saturados. Os valores obtidos apresentam-se na Figura 7 para diferentes pH na argila compactada
(Gingine, 2017) e na areia (Borges, 2017). Com estes dados foi possível ajustar funções (denominadas
L%(ρ)) de modo a minimizar o erro, que também se apresentam na Figura 7.

ARGILA AREIA

Figura 7 - Curvas de calibração para a argila compactada (Gingine, 2017) e para a areia (Borges, 2017)

A resistividade eléctrica (ρ) na caixa de EKT foi calculada para cada zona da célula de solo da caixa (Eq. 6
apresentada antes). Obteve-se a concentração de lixiviado (L%) em cada zona da caixa de EKT através

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das funções L%(ρ) utilizando os valores de pH, também medidos na zona respectiva. Os resultados
obtidos apresentam-se na Figura 8 para cada etapa de ensaio (I, II e III, ver Quadro 2). Nesta figura,
a %L significa que é a percentagem de lixiviado obtida considerando as curvas de calibração. É possível
constatar que as concentrações diminuíram bastante para cada solo, o que mostra que o equipamento foi
eficiente em ambos. Neste artigo não se fará a análise da evolução da descontaminação no tempo.

Ao longo do ensaio na argila compactada, a diminuição da concentração aconteceu de forma heterogénea


nas várias zonas da caixa de EKT. No fim do ensaio a percentagem de lixiviado calculada foi inferior a 11%
em todas as zonas da caixa de EKT (Fig. 8a). Ao longo do ensaio na areia, a diminuição da concentração
aconteceu de forma bastante rápida. No final da etapa Areia- I a percentagem de lixiviado calculada em
todas as zonas da célula de solo apresentou valores inferiores a 15%. Como se pode verificar no gráfico
da Figura 8a, a partir desta etapa as percentagens desceram até valores à volta dos 0% (Fig. 8b).

a) b)
Figura 8 - Evolução da concentração de lixiviante considerando as curvas de calibração para a argila compactada
(Gingine, 2017) e para a areia (Borges, 2017)

Comparando os dois gráficos da Figura 8 compreende-se que a diminuição da concentração de lixiviado


aconteceu mais rapidamente no ensaio da areia do que no ensaio da argila compactada. Tudo indica que
este fenómeno possa ter sido causado por efeito hidráulico, porque a areia é muito mais permeável que a
argila e, apesar de se ter tido muito cuidado na troca de água dos reservatórios, pode ter havido a
introdução de gradiente hidráulico. Para os materiais estudados, a comparação entre os efeitos
hidráulicos e eletroosmóticos, que ocorrem nos dois ensaios, pode ser feita através do quociente k h/ke,
que é muito maior para a areia APAS 20 (26500 V/m), do que para a argila Caulinite (14 V/m).

Por observação visual (Fig. 9) é possível verificar-se que ao longo do ensaio com argila (Fig. 9a) houve
avanço progressivo da frente, de cor escura, do ânodo para o cátodo. Esta alteração de cor é característi-
ca de uma descontaminação provocada pela movimentação do fluido no sentido eletroosmótico, do ânodo
para o cátodo. Também se explica pela oxidação de matéria orgânica (principal responsável pela cor do
fluido), que ocorre devido à presença de oxigénio no ânodo, resultante da electrólise da água (Gingine,
2017).

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a) b)
Figura 9 - Evolução do tratamento no ensaio: a) com argila compactada (Gingine, 2017); b) com areia (Borges, 2017)

Em relação à areia, pode ver-se na Figura 9b) que, na zona superior da célula de solo, a
descontaminação aconteceu mais cedo do que na zona inferior, pois a zona superior apresenta uma cor
mais clara que a inferior. A explicação mais provável é ter havido lavagem, tal como referido antes, que
não foi homogénea possivelmente porque o solo pode ter tido alguma heterogeneidade na montagem.
Apesar de se ter tentado garantir o valor do índice de vazios constante em toda a areia da caixa de EKT, é
muito provável que o adensamento da areia aumente com a profundidade, uma vez que o peso de solo
das camadas superiores contribui para este facto. Os coeficientes de permeabilidade hidráulica e
eletroosmótica são sensíveis ao índice de vazios, a diminuição do índice de vazios com a profundidade,
devido ao adensamento, pode justificar a falta de homogeneidade ao logo da altura da célula de solo na
progressão da descontaminação. Foi possível observar a descontaminação do solo devido a EKT, apesar
de haver sobreposição entre um processo hidráulico e eletroquímico devido à elevada permeabilidade da
areia.

7- CONCLUSÕES

Os resultados apresentados para os dois solos estudados mostraram ser bastante coerentes entre si, e
em todos se conseguiu concluir que o tratamento electrocinético foi eficaz.

A evolução da resistividade eléctrica e a observação visual foram os métodos utilizados para a obtenção
de resultados neste trabalho. Ambos são métodos de observação indirecta da descontaminação. Através
da evolução da resistividade eléctrica e do pH, e conhecendo as curvas de calibração dos dois solos, foi
possível estimar a evolução da concentração de lixiviado. Este método pode ser usado in situ, requerendo
a calibração prévia das funções que relacionam a concentração de solução aquosa do lixiviado e o valor
de resistividade elétrica do solo. A calibração das funções deve ser feita em laboratório, e para maior
rigor considerando vários valores de pH. Para a utilização in situ, deve ser medida a resistividade, por
exemplo através de prospecção geofísica, e o pH do fluido extraído do solo.

Através de observação visual, tal só foi possível porque o equipamento era de acrílico transparente e
porque o lixiviado recolhido no aterro e utilizado nos ensaios tinha uma cor muito característica e de fácil
identificação. In situ, este método só é viável se houver recolha de amostras. Eventualmente poderá
analisar-se a cor do fluido extraído, apesar de ser mais preciso medir a sua condutividade eléctrica. Tal
medição requer também calibração prévia em ensaios de laboratório.

Ao nível de estudos futuros, deve fazer-se uma análise aos custos envolvidos no processo de
descontaminação por eletroosmose, para avaliar se a sua implementação na prática é viável. É
importante também comparar esta técnica com outras alternativas que possam ser usadas para a mesma
finalidade. Para tal, também é importante o estudo de técnicas de descontaminação alternativas, por
exemplo com recurso a bactérias.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agredecem à AMARSUL pela cedência do fluido lixiviado do aterro, e ao INESC-MN, à Prof.
Susana Freitas, pela cedência do equipamento para medir a resistividade eléctrica dos solos para a
determinação das curvas de calibração.

REFERÊNCIAS

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Mestrado, Instituto Superior Técnico, University of Lisbon.

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Mestrado, Instituto Superior Técnico, University of Lisbon.

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ESTUDO DA ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO ARENO-SILTOSO COM ADIÇÃO DE


CAL E CINZA VOLANTE

STUDY OF THE STABILIZATION OF A SAND-SILT SOIL WITH ADDING OF LIME


AND FLY ASH

Thomas, Maurício; Universidade Federal do Pampa, Brasil, mauriciothomas170890@gmail.com


Budny, Jaelson; Universidade Federal do Pampa, Brasil, jaelsonbudny@gmail.com
Junior, Lauderi Maronezi; Universidade Federal do Pampa, Brasil, lauderimaronezi@gmail.com

RESUMO

Visando um melhor conhecimento e utilização dos solos predominantes no Brasil, esta pesquisa tem como
objetivo avaliar, por meio de ensaios laboratoriais, a estabilização de um solo de formação areno-siltosa
com a utilização de cal (CH-II Dolomítica) e cinza volante (CV) proveniente da Usina Termelétrica Presidente
Médici, localizada na cidade de Candiota–RS. O solo residual tem como origem uma jazida localizada no
município de Alegrete–RS. Inicialmente, foram realizados ensaios de caracterização do solo; segundo a
classificação unificada o solo pertence ao grupo ML, de acordo com a classificação rodoviária se enquadrou
como A–4, já no experimento MCT classificou-se no grupo NA’. Norteado pelo ensaio físico-químico,
determinou-se o teor de cada componente utilizado nas misturas, que foi de 92% de solo e 8% de cal ou
cinza volante, ou 92% de solo e 4% de cal + 4% de cinza volante. Em seguida, realizou-se os ensaios de
mini-proctor a fim de encontrar a umidade ótima e a massa específica de cada mistura. Para o ensaio de
compressão simples foram moldados corpos-de-prova cilíndricos de 5 x 10 cm (diâmetro x altura) e
deixados em cura por 28 dias. Também foram realizados ensaios de tração por compressão diametral, com
corpos de prova moldados pelo compactador marshall de 10 cm de diâmetro e 5,6 cm (±0,2cm) de altura.
Analisando o comportamente das misturas em um ambiente de total saturação, as misturas que continham
cal foram as únicas que apresentaram um grau de resistência elevado. As misturas não alcançaram o valor
de 2,1 MPa, sugerido pela ABNT NBR 12253 (2012) de solo-cimento, porém é possível que as mesmas
sejam utilizadas pois houve um considerável ganho nas propriedades estudadas.

ABSTRACT

Aiming to better knowledge and use of the predominant soils in Brazil, the objective of this research was
to evaluate the stabilization of a sand-silt soil with the use of lime (CH-II Dolomite) and fly ash from the
Plant Thermoelectric Presidente Médici, located in the city of Candiota-RS. The residual soil originates from
a deposit located in the city of Alegrete-RS. Initially, soil characterization tests were carried out; according
to the unified classification the soil belongs to the ML group, according to the road classification it was
classified as A-4, already in the MCT experiment it was classified in the NA' group. The content of each
component used in the mixtures, which was 92% of soil and 8% of lime or fly ash, or 92% of soil and 4%
of lime + 4% of ash was determined by the physical-chemical test. Thereafter, the mini-proctor assays
were performed to find the optimum moisture and the specific mass of each blend. For the simple
compression test, cylindrical specimens of 5 x 10 cm (diameter x height) were molded and left to cure for
28 days. Diametral compression tensile tests were also carried out with specimens molded by the marshall
compactor, 10 cm in diameter and 5,6 cm (± 0,2 cm) high. By analyzing the behavior of the mixtures in a
total saturation environment, the mixtures containing lime were the only ones that presented a high degree
of resistance. The mixtures did not reach the value of 2,1 MPa, suggested by ABNT NBR 12253 (2012) of
soil-cement, however it is possible that they are used because there was a considerable gain in the
properties studied.

1- INTRODUÇÃO

Quando falamos de obras de engenharia, empregamos ao solo um papel fundamental, sendo o mesmo
utilizado como material de construção. Desse modo, nota-se a importância das considerações de seu
comportamento e do estudo da sua reação perante as tensões e deformações sofridas nas obras em que
são utilizados, tais como fundações, escavações, estruturas de pavimento, entre outros. Todo esse ramo
de análises da mecânica dos solos compõe-se numa ciência de engenharia, no qual o engenheiro civil faz
a interação para a elaboração de seus projetos.

Quando os solos naturais não possuem as características necessárias para efetivar adequadamente as
funções que lhes são destinadas, existe como possível solução a modificação de suas propriedades. Dessa
forma buscamos melhorar o seu comportamento, modificação essa que denominamos de estabilização dos
solos (Cruz e Jalali, 2010).

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A estabilização mecânica tem como objetivo melhorar as propriedades do solo, tais como a resistência,
rigidez e impermeabilidade por meio da organização das partículas sólidas e de sua correção
granulométrica. Por sua vez, a estabilização física é o método utilizado para a alteração de suas
propriedades com uso do calor ou da aplicação de um potencial elétrico. De outro lado, a estabilização
química faz uso da adição de cal ou cimento para melhorar as propriedades do solo, sendo essa uma técnica
muito prática pela sua facilidade de aplicação, versatilidade e resultados apresentados.

Gutierrez et al. (1998) e Cristelo (2001) explicam que a adição de cal é recomendada para a estabilização
de solos coesivos. A cal interage com as partículas de solo e promove uma série de modificações físico-
químicas, o que aumenta sua estabilidade frente à ação da água. Ela promove uma melhoria significativa
na textura e na estrutura do solo, diminuindo a plasticidade e ocasionando ganho na resistência mecânica.
Além disso, se verifica um aumento considerável da resistência a longo prazo. Por outro lado, os autores
também comentam que o aumento de resistência na mistura solo-cal resulta na redução substancial do
seu potencial de deformação.

Outra possível alternativa que pode ser utilizada de forma eficiente na estabilização de solos é o
aproveitamento das cinzas provenientes da queima de carvão em termoelétricas, mais conhecido como
cinza volante. O emprego da cinza volante também estaria atrelado à redução de custos nas obras e à
preservação ambiental. Tal resíduo substitui uma parcela da cal utilizada na estabilização do solo, reduzindo
ainda mais o custo final da obra.

Segundo Dalla Rosa (2009), solos arenosos com escassez de argila coloidal não apresentam uma reação
satisfatória com a presença da cal. Para que ocorra a estabilização desse solo, quando se torna
economicamente inviável fazer a correção com cimento ou quando a correção da granulometria não é
possível, a adição de cinza volante pode torná-lo reativo à cal. Logo, a cinza volante tem a função de
substituir a fração fina (argila) do solo, podendo reagir com a cal, embora a dimensão da cinza seja
diferente da argila.

Neste contexto, a pesquisa propõe um estudo sobre o desempenho mecânico de um solo natural do
município de Alegrete-RS, verificando seu comportamento quando introduzido cinza volante e cal,
abordando o seu uso para estabilização do solo.

1.1 - Objetivos da pesquisa

Os principais objetivos abordados na pesquisa são os seguintes:

 Verificar o melhor traço de cinza volante e de cal a fim de tornar viável a sua utilização, priorizando
os requisitos básicos para o tipo de obra em que for solicitado;

 verificar as resistências à compressão, tração e módulo de elasticidade para cada mistura, além de
realizar um estudo sobre a influência das resistências de todas as misturas submetidas à
submersão;

2- METODOLOGIA

2.1 - Classificação granulométrica

O método utilizado para a verificação da granulometria foi norteado pela ABNT NBR 6457 (2016), que
especifica a quantidade de no mínimo de 1 kg de solo para a realização do ensaio, com umidade próxima
à higroscópica, destorroada e quarteada. A classificação do solo seguiu a ABNT NBR 7181 (2016).

2.2 - Massa específica dos materiais utilizados

O ensaio para a massa específica do solo foi realizado conforme a ABNT NBR 6508 (2016) que propõem a
determinação da massa especifica dos grãos passantes na peneira n° 4 (4,8 mm de abertura). As amostras
ensaiadas foram preparadas conforme as especificações da ABNT NBR 6457 (2016).

Já na determinação das massas específicas das amostras de cal e cinza volante foi seguido as especificações
da NBR NM 23 (2001)- Cimento portland e outros materiais em pó – Determinação da massa especifica.

2.3 - Limites de Atterberg

A determinação do limite de liquidez foi realizado segundo a ABNT NBR 6459 (2016) – Solo – Determinação
do limite de liquidez. A amostra a ser utilizada no ensaio correspondeu à metade da amostra especificada
pela ABNT NBR 6457 (2016). O experimento foi realizado até se encontrar 3 pontos no intervalo de 15 a
35 golpes. Com os resultados obtidos, foi construído um gráfico no qual o ‘eixo y’ em escala logarítmica

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corresponde ao número de golpes e o ‘eixo x’ ao teor de umidade correspondente. A partir deste gráfico,
foi obtido o teor de umidade correspondente a 25 golpes, denominado de limite de liquidez do solo.

O ensaio para a determinação do limite de plasticidade e para o cálculo do índice de plasticidade dos solos
são descritos na ABNT NBR 7180 (2016) – Solo – Determinação do limite de plasticidade. A amostra
utilizada no ensaio correspondeu à metade da amostra especificada pela ABNT NBR 6457 (2016).

2.4 - Classificação do solo

O solo utilizado na pesquisa foi classificado em 3 grandes sistemas de classificação rodoviário: Sistema
Unificado (SUCS), Transportation Research Board (TRB) e Miniatura Compactado Tropical (MCT). Para
chegar aos resultados da classificação do solo em questão, fez-se uso de tabelas e ábacos correspondesntes
a cada sistema analisado.

2.5 - Ensaio físico-químico

O ensaio físico-químico foi proposto por Casanova et. al. (1992) e é um método que estipula a quantidade
ideal de cal para fazer a cinza volante reagir quimicamente e a quantidade de teor de cal necessária para
estabilizar o solo. O ensaio mostra a variação volumétrica que ocorre nas misturas ensaiadas. O mínimo
teor de cal e de cinza volante considerado para ser usado na estabilização é aquele que produzir uma maior
variação volumétrica nas provetas utilizadas no ensaio.

2.6 - Ensaio de compactação mini-proctor

O método de ensaio seguiu a DNER ME 228 (1994) que abrange o procedimento de compactação dinâmica
de solos passantes na peneira de 2,00 mm de abertura, com corpos de prova miniatura e cilíndricos com
50 mm de diâmetro e de altura, conforme a Figura 1. O ensaio correlaciona o teor de umidade do solo e
sua massa específica aparente seca máxima, sendo assim possível a construção do gráfico da curva de
compactação.

Figura 1 - Execução do ensaio mini-proctor

Para a compactação com energia normal, o soquete é inserido no topo da amostra e efetuam-se os golpes,
com 4 batidas em cada lado da amostra. Assim que a altura do corpo de prova atingir a dimensão de 50 ±
1 mm, o ensaio para aquela amostra se dará por concluído. Para cada teor de umidade ensaiado, deverá
ser retirada uma porção de solo para a determinação da umidade higroscópica.

2.7 - Dosagem e moldagem dos corpos de prova

Com os resultados encontrados nos ensaios físico-químico foi possível determinar as porções de cal e cinza
volante a serem utilizadas para moldagem dos corpos de prova. Foram moldadas também as misturas de
referência, uma contendo apenas cinza volante e outra contendo apenas cal.

As misturas realizadas foram as seguintes: solo, solo-cal, solo-CV e Solo-Cal-CV. Para a moldagem dos
corpos de prova, foi utilizada a umidade ótima encontrada para cada mistura obtida através do ensaio de

1271
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compactação mini-proctor.

Para a realização dos ensaios foram moldados dois tipos diferentes de corpos de prova: um para ser
submetido ao ensaio de compressão simples e outro para ser submetido ao ensaio de tração por
compressão diametral.

2.7.1 - Corpos de prova para o ensaio de compressão simples

Os corpos de prova para serem submetidos à ruptura por compressão simples tiveram suas dimensões de
5 x 10 cm (diâmetro x altura), moldados no teor de umidade ótima e peso específico máximo encontrados
nos ensaios físico-químico e mini-proctor, respectivamente. O tipo de compactação realizado foi a do tipo
estática de duplo êmbolo.

Foram moldados 6 corpos de prova para cada mistura, nos quais 3 foram submetidos à submersão durante
24 horas antes da realização de sua ruptura.

Após a moldagem, os corpos de prova foram preparados para a cura de 28 dias. O preparo consistiu em
embalá-los em plástico filme e a aplicá-los uma camada de parafina. Após, foram transferidos para um
ambiente com temperatura controlada até o dia de sua ruptura.

A Figura 2 apresenta a imagem da compactação da mistura, posterior desmoldagem do corpo de prova e


os mesmos já preparados para a cura.

Figura 2 - Moldagem dos corpos de prova para o ensaio de compressão simples

2.7.2 - Corpos de prova para o ensaio de tração por compressão diametral

Os corpos de prova para serem submetidos à ruptura por compressão diametral tiveram 10 cm de diâmetro
e a altura variando de 5,4 à 5,8 cm. Assim como no caso dos corpos de prova moldados para o ensaio de
compressão simples, eles também foram preparados no teor de umidade ótima e peso específico máximo
encontrados através do ensaio físico-químico e mini-proctor.

As moldagens dos corpos de prova foram feitas com o auxílio do compactador marshall. Na utilizaqção
desse método de compactação foi realizado um reajuste no número de golpes efetuados pelo aparelho para
coincidir com a energia gerada pelo compactador do mini-proctor.

Adaptando o método para utilizar o compactador marshall com a energia igual à intermediária do ensaio
mini-proctor, foi necessário efetuar 18 golpes por camada.

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Como no caso da moldagem dos corpos de prova para compressão simples, efetuou-se a moldagem de 6
corpos de prova para cada mistura, nos quais 3 foram submersos durante 24 horas antes de se realizar
sua ruptura. A preparação para a cura dos corpos de prova foi a mesma utilizada no ensaio de compressão
simples.

A Figura 3 apresenta os processos de moldagem para o ensaio em questão.

Figura 3 - Moldagem dos corpos de prova para o ensaio de tração por compressão diametral

2.8 - Imersão das amostras

Com o intuito de se obter valores de resistência onde o solo se encontra em total submersão, os corpos de
prova foram imersos em água 24 horas antes de sua ruptura. A Figura 4 mostra essa etapa do experimento.
Imediatamente antes do ensaio, os corpos de prova foram retirados da água, superficialmente secos com
auxílio de um tecido absorvente e levados para o ensaio de compressão.

Figura 4 - Imersão dos corpos de prova

2.9 - Ensaio de compressão simples

A norma que estabelece o método de ensaio de resistência à compressão simples de corpos de prova
cilíndricos de solo-cimento é a ABNT NBR 12025 (2012). O carregamento de compressão foi aplicado a
uma taxa de aproximadamente 1 mm/min, empregue até a sua ruptura. Para encontrar a tensão de ruptura
à compressão simples foi realizada a divisão da carga de ruptura pela área de seção transversal do corpo
de prova.

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Com os dados obtidos da ruptura dos corpos de prova foi possível realizar a construção do gráfico tensão
x deformação, bem como a determinação do módulo da elasticidade de cada dosagem.

A Figura 5 apresenta a realização do ensaio bem como a ruptura dos corpos de prova por compressão
simples.

Figura 5 - Ensaio de compressão simples

2.10 - Ensaio de tração por compressão diametral

O ensaio seguiu as especificações da norma do DNIT 136-ME (2010). Tal norma estabelece os
procedimentos para a determinação da resistência à tração de corpos-de-prova cilíndricos de misturas
asfálticas, através do ensaio de tração por compressão diametral.

As amostras ensaiadas foram do tipo cilíndricas, com altura de 5,8 cm (± 0,2 cm) e diâmetro de 10 cm.
Na ruptura, os corpos de provas foram colocados com a superfície cilíndrica entre dois frisos metálicos,
curvos em uma das faces, com comprimento igual ao do corpo de prova. Em seguida, aplicou-se uma carga
progressiva, com uma velocidade de deformação de 0,8 ± 0,1 mm/s, até o corpo de prova se romper em
duas partes, segundo o plano diametral vertical, de acordo com a Figura 6.

Figura 6 - Ensaio de tração por compressão diametral

1274
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3- ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste tópico serão apresentados os resultados obtidos durante o desenvolvimento das atividades da
pesquisa, bem como uma discussão acerca das amostras ensaiadas.

3.1 - Análise granulométrica

O solo ensaiado apresentou 8% de areia grossa, 31% de areia fina, 9% de silte e 52% de argila em sua
composição granulométrica. Na análise granulométrica, de acordo com a Figura 7, cerca de 61% do solo
passou na peneira nº 200 (0,075 mm de abertura). Sendo assim, podemos considerar que o solo utilizado
na pesquisa é do tipo fino.

100,00
90,00
Porcentagem Passante (%)

80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000
Diâmetro dos Grãos (mm)
Figura 7 - Curva granulométrica do solo

3.2 - Massa específica dos materiais utilizados

Os valores das massas específicas dos grãos para o solo, cal e cinza volante estão apresentados no Quadro
1. Os ensaios foram realizados conforme os procedimentos prescritos no item 2.2.

Quadro 1 - Massa específica dos materiais utilizados


Solo 2,47 g/cm³
Cal 2,30 g/cm³
Cinza Volante 1,98 g/cm³

3.3 - Limites de Atterberg

O resultado do ensaio proporcionou um limite de liquidez (LL) de 31%, correspondente a 25 golpes.

O solo também apresentou um limite de plasticidade (LP) no valor de 26%. Sendo assim, pode-se calcular
o índice de plasticidade (IP), subtraindo-se o limite de liquidez pelo limite de plasticidade. Dessa maneira,
encontrou-se um índice de plasticidade no valor de 5%.

Os valores encontrados para os Limites de Consistência estão de acordo com as especificações do DNIT
058-ES (2004) e DNIT 143-ES (2010). Estes órgãos preconizam a utilização de valores máximos para o
limite de liquidez de 40% e índice de plasticidade máximo de 18%.

3.4 - Classificação do solo

O Quadro 2 apresenta as três metodologias de classificação do solo propostas, possibilitando dessa maneira
a comparação entre si.

1275
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Quadro 2 - Classificação do solo

Sistema de Classificação Rodoviária A-4

Sistema Unificado de Classificação de Solos ML

Sistema de Classificação MCT NA’

De acordo com o Sistema de Classificação Unificado o solo foi classificado como sendo do tipo areia fina
siltosa e argilosa.

No Sistema de Classificação Rodoviária o solo apresentou baixos valores de LL e IP, sendo assim classificado
no grupo A–4.

Para o sistema de classificação MCT o solo foi classificado como NA’ (não-laterítico arenoso).

3.5 - Definição dos teores de cal e cinza volante

Para estimar a quantidade de cal e cinza volante necessária para ser utilizado nas misturas com solo,
seguiu-se os passos descritos no ensaio físico-químico. As Figuras 8 e 9 apresentam a expansão volumétrica
de várias misturas e trazem a porcentagem ideal para serem utilizada nas mesmas.

40 %
Expansão Volumétrica (%)

35 % 5%
30 % 6%
25 % 7%
20 % 8%
15 % 9%
10 % 10%
5% 11%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo de realização do ensaio (dias)
Figura 8 - Expansão Volumétrica da Cal nas Misturas do Ensaio Físico-Químico

140%
Expansão Volumétrica (%)

120%
20%
100% 30%
80% 40%
50%
60% 60%
40% 70%
80%
20%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo de realização do ensaio (dias)
Figura 9 - Expansão Volumétrica da Cal e da Cinza Volante nas Misturas do Ensaio Físico-Químico

A Figura 8 apresenta a variação volumétrica da cal inserida no solo. Percebe-se que a mistura que teve a
maior variação de volume foi a que apresentava 8% de cal, e pelo princípio do método de dosagem físico-
químico de considerar o teor mínimo aquele que leva a máxima expansão, estabeleceu-se que a porcetagem
de adição de cal ao solo seria de 8%. Já na Figura 9 tem-se que o teor mínimo de cal para que ocorram as

1276
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

reações pozolânicas com a cinza volante é de 50%, desta maneira para manter fixo o mesmo teor de
adições (8%), foi estabelecido utilizar 4% de cal e 4% de cinza volante nas misturas de solo-cal-CV.

Com os resultados obtidos no ensaio físico-químico, o Quadro 3 apresenta as porcentagens utilizadas em


cada mistura.
Quadro 3 - Porcentagens das misturas

Solo Solo-CV Solo-Cal Solo-cal-CV

Solo 100% 92% 92% 92%

Cal - - 8% 4%
CV - 8% - 4%

3.6 - Definição da massa específica e umidade ótima

Os resultados obtidos nos ensaios mini-proctor para determinação da umidade ótima e massa específica
podem ser verificados na Figura 10, que apresenta a curva de compactação para as misturas de solo, solo-
cal, solo-CV e solo-sal-CV.

2,05
Massa Específica (g/cm³)

1,95 Solo + CV
Solo
1,85
Solo + Cal
1,75 Solo + Cal + CV

1,65

1,55

1,45
9% 14 % 19 % 24 % 29 %
Teor de Umidade

Figura 10 - Curva de compactação mini-proctor

O Quadro 4 apresenta a massa específica aparente seca máxima e umidade ótima obtida do ensaio proctor
para cada mistura.
Quadro 4 - Massa específica aparente seca máxima e umidade ótima dos materiais utilizados

Solo Solo + CV Solo + Cal Solo + CV +Cal


Massa Específica 1,98 g/cm³ 1,98 g/cm³ 1,83 g/cm³ 1,84 g/cm³
Umidade Ótima 14,03% 11,90% 14,74% 14,15%

3.7 - Submersão dos corpos de prova

Com o intuito de se verificar a resistência das misturas quando encontradas em um ambiente de total
saturação, foi proposto a submersão total dos corpos de prova num período de 24 horas antes de serem
efetuados os ensaios de compressão simples e o ensaio de tração por compressão diametral. As amostras
moldadas de solo-CV não apresentaram características para serem utilizadas submersas, pois houve um
total desmanchamento das mesmas durante o processo de submersão, como mostra a Figura 11.

1277
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Figura 11 - Submersão das Amostras de Solo e Solo-CV

Vale lembrar que as amostras preparadas com solo-cal-CV e solo-cal apresentaram características que
resistem à submersão, sendo possível realizar os ensaio de compressão simples e compressão diametral
para ambas as misturas.

3.8 - Ensaio de resistência à compressão simples

As tensões de ruptura à compressão simples dos corpos de prova não submersos podem ser verificados na
Figura 12, que apresentam os valores de resistência para as misturas de solo, solo-CV, solo-cal e solo-cal-
CV.

1,6
Resistência à Compressão (MPa)

Solo + Cal + CV
1,4
Solo + Cal
1,2
Solo+CV
1
Solo
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
Deformação (mm)

Figura 12 - Ensaio de compressão simples

As tensões de ruptura à compressão simples dos corpos de prova que foram submetidos à submersão 24
horas antes dos ensaios podem ser verificados na Figura 13. Ela apresenta os valores para as misturas de
solo-cal e solo-cal-CV.

0,25
Solo + Cal + CV
Resistência à Compressão (MPa)

0,2
Solo + Cal

0,15

0,1

0,05

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Deformação (mm)
Figura 13 - Ensaio de compressão simples nos CP’s submersos

1278
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Com relação à compressão simples dos CP’s secos, a mistura que apresentou maior ganho na resistência
foi a de solo-CV, representando um aumento de 226,89% quando comparado com a mistura solo natural.
Já a mistura de solo-cal teve um ganho de resistência de 28,36% quando também comparado ao solo
natural.

Analisando as misturas que foram submersas antes da ruptura, verificou-se uma considerável queda na
resistência à compressão simples quando comparados com os CP’s secos. No caso da mistura utilizando
4% de cinza volante e 4% de cal a perda significou 73,72%. Já na mistura com 8% de cal, a queda chegou
a 68,01%.

3.9 - Ensaio à tração por compressão diametral

As tensões de ruptura à tração por compressão diametral das misturas podem ser verificadas na Figura 14.
Ela apresenta os resultados das misturas de solo, solo-cal, solo-CV e solo-Cal-CV.

0,1
Resistência à Tração (MPa)

Solo + Cal + CV
Solo + Cal
0,08 Solo+CV
Solo
0,06

0,04

0,02

0
0 0,5 1
Deformação (mm)
Figura 14 - Ensaio de tração por compressão diametral

O mesmo ensaio foi verificado para as amostras submetidas à submersão antes da ruptura. A Figura 15
apresenta os resultados da resistência à tração calculado pela deformação sofrida pelos corpos de prova.
Resistência à Tração (MPa)

Solo + Cal + CV
0,04
Solo + Cal
0,03

0,02

0,01

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
Deformação (mm)
Figura 15 - Ensaio de tração por compressão diametral nos CP’s submersos

Quando comparados com o solo natural, todas as misturas apresentaram ganho na resistência à tração por
compressão diametral, sendo a mistura com 4% de cal e 4% de cinza volante a de maior ganho.

Os corpos de prova que foram submetidos à submersão tiveram uma perda considerável na resistência á
tração por compressão diametral. No caso da mistura solo-cal-CV essa perda chegou a 60,71%, enquanto
que na mistura de solo-cal a diferença foi de 53,75%.

4- CONCLUSÕES

Concluindo a presente pesquisa, podemos retirar da mesma algumas considerações:

A imersão reduz significativamente as resistências das misturas, resultando, em algumas situações, em

1279
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misturas totalmente sem resistência.

Para a situação das amostras secas, no ensaio de resistência à compressão simples, a mistura que
apresentou maior ganho de resistência foi a mistura de solo com adição de cinza volante, tendo um
aumento de 226,89% quando comparado com o solo natual. Já as misturas de solo-cal não apresentaram
um aumento tão expressivo na resistência à compressão.

Quando comparados com o solo natural, todas as misturas apresentaram um aumento da resistência à
tração por compressão diametral, sendo a mistura de solo-cal-CV a que apresentou um maior ganho.

Das amostras preparadas com a prévia imersão em água por 24 horas apenas as misturas de solo-cal e
solo-cal-CV apresentaram características para resistir à saturação.

Também foi possível, com o presente estudo, avaliar que a cinza volante pode ser utilizada para a melhoria
da capacidade de solos para fins rodoviários, sendo ensaios adicionais de módulo de resiliência necessários
para mensurar com mais representatibilidade os carregamentos rodoviários e desta maneira observar os
reais ganhos deste passivo ambiental nos solos com baixa capacidade de suporte.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 6457 (2016) - Amostras de Solo – Preparação para Ensaios de Compactação e Caracterização. Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.

ABNT NBR 6459 (2016) - Solo – Determinação do Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, RJ.

ABNT NBR 6508 (1984) - Massa Específica dos Sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.

ABNT NBR 7180 (2016) - Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio
de Janeiro, RJ.

ABNT NBR 7181 (2016) - Solo – Análise Granulométrica. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.

ABNT NBR 7181 (2016) - Solo – Análise Granulométrica. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.

ABNT NBR 12025 (2012) - Ensaio de Compressão Simples de Corpos de Prova Cilíndricos. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.

Casanova, F. J., Ceratti, J. A. e Rodrigues, M. G. M. (1992) - Procedimento para dosagem físico-química do solo-cimento.
In: Reunião Annual de Pavimentação, Aracajú.

Cristelo, N. M. C. (2001) - Estabilização de solos residuais graníticos através de adição de cal. Dissertação de Mestrado,
Escola de Engenharia, Universidade do Minho, Portugal.

Cruz, M. e Jalali, S. (2010) - Melhoramento do desempenho de misturas de solo-cimento. In: 12º Congresso Nacional
de Geotecnia. Universidade do Minho.

Dalla Rosa, A. (2009) – Estudo dos parâmetros-chave no controle da resistência de misturas solo-cinza-cal. Dissertação
(Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre.

DNER ME 228 (1994) - Método de ensaio–solos-Compactação em equipamento miniatura. Rio de Janeiro.

DNIT ME 136 (2010) - Pavimentação asfáltica - Misturas asfálticas – Determinação da resistência à tração por
compressão diametral – Método de ensaio. Rio de Janeiro.

DNIT 058 – ES (2004) – Execução de Sub Base de Solo-Cimento – Especificações de Serviço. Rio de Janeiro.

DNIT 143 – ES (2010) - Pavimentação. Base de Solo-Cimento – Especificações de Serviço. Rio de Janeiro.

Gutierrez, N. H. M., Krüger, C. A. e Nóbrega, M. T. (1998) - Efeitos da adição de cal e cimento nas propriedades físicas
e mecânicas de um solo argiloso laterítico. In: XI Congresso Brasileiro de Mecânica de Solos e Engenharia
Geotécnica.

NBR NM 23 (2001) - Cimento Portland e outros materiais em pó – Determinação da massa específica. São Paulo.

1280
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ESTUDO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE UM SOLO LATERÍTICO


BRASILEIRO ESTABILIZADO COM RESÍDUO DA ROCHA CALCÁRIA PARA
CAMADAS DE PAVIMENTOS

STUDY OF MECHANICAL BEHAVIOR OF A BRAZILIAN LATERITIC SOIL


STABILIZED WITH RESIDUE FROM THE CALCARY ROCK FOR PAVEMENT
LAYERS

Ramos, Mariana; Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil, marianamorena.ramos@gmail.com


Dantas, André; Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil, eng.andreaugusto@yahoo.com.br
Camozzi, Alexandre; Instituto Federal de Goiás, Goiás, Brasil, alexandre.camozzi@gmail.com
Filho, Milton; Instituto Federal de Goiás, Goiás, Brasil, miltonengtec@gmail.com
Mendes, Thiago; Instituto Federal de Goiás, Goiás, Brasil, engenhoaugusto@gmail.com

RESUMO

O crescimento populacional, associado a uma exploração e utilização irracional dos recursos naturais, tem
prejudicado as boas condições de vida do planeta, levando a refletir sobre o modo de consumo praticado
pela sociedade. Como uma possível solução para conciliar o aumento da produção de bens que utilizam
matéria-prima mineral com as questões de preservação ambiental, busca-se melhorias como a
substituição total ou parcial de matéria-prima natural por materiais reciclados, ou ainda, por materiais
classificados como resíduos. O Estado brasileiro de Goiás é um dos maiores produtores minerais do país
gerando, como consequência da produção, uma grande quantidade de resíduos que são, muitas vezes,
armazenados de forma inadequada, causando impactos ambientais como a emissão de partículas no ar.
Tendo em vista que as vias urbanas devem ser dimensionadas levando-se em consideração o peso e a
quantidade dos veículos que ali trafegam, é importante fazer também um estudo dos materiais que
compõem a camada estrutural do pavimento daquela região. O estudo avalia o uso do solo com adição de
resíduo de calcário, obtido em jazida do estado brasileiro de Goiás, em camadas de pavimento, de modo
a proporcionar uma alternativa ao uso dos agregados convencionais dando uma destinação adequada ao
resíduo. A análise é feita partindo-se da caracterização física, dos ensaios de CBR e de compactação do
resíduo de calcário, do solo puro, além da mistura com substituição de 20% da massa de solo pelo
resíduo. A mistura foi classificada, segundo a SUCS, como pedregulhosa bem graduada e, segundo a HRB,
como pertencente ao grupo A-2-6, que contempla materiais cujo comportamento varia de excelente a
bom quando aplicados em camada de pavimento, atendendo aos critérios definidos pelo departamento
brasileiro de infraestrutura rodoviária, mostrando que o uso em camadas de pavimento é uma alternativa
viável para destinação do resíduo.

ABSTRACT

Population growth, coupled with the exploitation and irrational use of natural resources, has been detri-
mental to the good living conditions of the planet, leading to a reflection on the mode of consumption
practiced by society. As a possible solution to reconcile the increase of the production of goods that use
mineral feedstock with the questions of environmental preservation, it is looked for improvements as the
total or partial substitution of natural raw material by recycled materials, or by classified material as
waste. The Brazilian state of Goiás is one of the largest mineral producers in the country, generating, as
a consequence of production, a large quantity of waste that are often stored inadequately, causing envi-
ronmental impacts such as the emission of particles in the year. Taking into account that urban roads
should be dimensioned taking into account the weight and quantity of the vehicles that travel there, it is
important to also make a study of the materials that make up the structural layer of the pavement of that
region. The study evaluates the use of the soil with the addition of waste from the limestone processing,
obtained in the Brazilian state of Goiás, in layers of pavement, in order to provide an alternative to the
use of conventional aggregates giving a suitable destination to the waste. The analysis is based on the
physical characterization, the CBR and compaction tests of the limestone waste, of the pure soil, in addi-
tion to the 20% substitution of the soil mass by the waste. The mixture was classified according to the
SUCS as a well-graduated and, according to HRB, as belonging to the group A-2-6, which contemplates
materials whose behavior varies from excellent to good when applied in layer of pavement, meeting the
defined criteria by the Brazilian Department of Road Infrastructure, showing that the use in pavement
layers is a viable alternative for waste disposal.

1- INTROCUÇÃO

Com o crescente estudo sobre sustentabilidade na construção civil, em razão do elevado uso de recursos
naturais nesta área, tornam-se necessárias as pesquisas sobre a utilização dos resíduos gerados tanto

1281
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

dentro da construção civil quanto oriundos de matéria prima mineral. Assim sendo, a recuperação de
resíduos pela indústria da construção está se firmando como uma prática importante para a
sustentabilidade, seja atenuando o impacto ambiental gerado pelo setor, ou seja, reduzindo os seus
custos (Ângulo et al., 2010).

Em vista disso, o estudo sobre o uso destes recursos em pavimentação rodoviária não é diferente. É
grande o número de estudos sobre a utilização de resíduos de mineração em obras de pavimentação. Tais
estudos mostram que é possível construir estradas com durabilidade significativa, além de oferecer
conforto, segurança e economia.

O pavimento rodoviário é uma estrutura formada por várias camadas cuja função é a de suportar
esforços aplicados pelo tráfego e variações climáticas, garantindo, ainda, conforto e segurança aos
usuários da via (Bernucci et al., 2010).

Para Bernucci et al. (2010), os agregados empregados nos pavimentos devem conter propriedades que
suportem as tensões provenientes do tráfego. Os autores ainda citam que o desempenho deste agregado
é diretamente ligado ao modo como estes estão unidos. Logo, as camadas do pavimento devem
apresentar esta característica de resistir às tensões que nele chegam.

Na parte que se refere à problemática causada pelo acúmulo de resíduos, surge a pavimentação como
uma potencial destinadora da absorção desses resíduos gerados pelo beneficiamento de minérios, já que
a reutilização de diferentes resíduos em bases e sub-bases de pavimento podem auxiliar no que diz
respeito aos impactos gerados pelo meio.

O trabalho em questão estuda a viabilidade técnica do uso do resíduo oriundo da rocha calcária misturado
a um solo laterítico brasileiro para a composição de camadas de pavimentos rodoviários. O resíduo é
proveniente de uma mineradora localizada no município de Formosa, no estado brasileiro de Goiás, assim
como o solo laterítico estudado.

A proposta foi estudar a mistura entre o resíduo mineral calcário com o solo laterítico em uma proporção
de 20% e 80% em massa. O material analisado será classificado segundo a classificação SUCS e a
classificação HRB e terá seus parâmetros comparados aos estabelecidos pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes do Brasil.

1.1 – Justificativa

Como justificativa para a realização deste trabalho, infere-se a importância de uma destinação adequada
para o resíduo da rocha calcária no município de Formosa, estado de Goiás, na região centro-oeste
brasileira. O resíduo é armazenado ao ar livre em forma de montes, o qual proporciona um grande
impacto visual negativo, além da dispersão do pó causada pelo vento que prejudiva a saúde dos
trabalhadores envolvidos na mineração. Nos períodos mais chuvosos o resíduo é levado pela força da
água atingindo os rios e córregos da região, além de prejudicar o desenvolvimento da fauna e da flora
local.

A utilização do resíduo da rocha calcária em substituição ao solo laterítico da região usado em aterros
rodoviários, contribue diretamente na diminuição da exploração das jazidas do município. A pesquisa em
questão, encontra uma forma alternativa de preservar o meio ambiente através da coservação das
jazidas aonde eram retirados os solos lateríticos para a construção de aterros rodoviários. Além disso,
encontra uma destinação viável para o resíduo da rocha calcária.

2- REVISÃO DA LITERATURA

O solo laterítico é um material formado a partir do processo de intemperização de solos resíduos


constantes em zonas tropicais, em que as elevadas temperaturas associadas às precipitações causam
infiltração da água no solo provocando lixiviação das partículas finas. Estas partículas formam vínculos
entre as partículas do solo, dando origem às partículas de maiores dimensões, conhecidas como lateritas
(Santos, 2006).

O processo de laterização faz com que a fração argilosa dos solos lateríticos seja construída em sua
essência de argilo-minerais. A estabilidade em presença de água das agregações dá-se pela combinação
desses componentes, isso porque o recobrimento desses materiais argilo-minerais por óxidos hidratados
reduz a capacidade de absorção de água pelos argilo-minerais e ainda atuam como agentes cimentantes
naturais entre as partículas (Santos, 2006).

Os solos lateríticos encontram-se na natureza, geralmente não saturados, com índice de vazios elevado e,
consequentemente pequena capacidade de suporte. Todavia, a partir do processo de compactação o solo

1282
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

pode apresentar propriedade satisfatória para emprego em diversas obras na engenharia, inclusive para
pavimentação (Freire, 1999).

Além do solo laterítico, o trabalho também teve como material de estudo o resíduo sólido do minério de
calcário, que se constitui como um problema ambiental devido à quantidade que é gerada. Em muitas
das situações, esses resíduos estão abandonados no meio ambiente sem que haja a preocupação com a
contaminação da fauna, da flora, dos corpos d’água e ainda com a disseminação de possíveis doenças.
Como consequência disto, o acúmulo de resíduos gerados em qualquer atividade que busque atingir a
qualidade de vida dos habitantes locais, tem se tornado um problema constante, já que a maioria das
tecnologias disponíveis ainda não são suficientes para tratar ou dispor adequadamente esses resíduos. O
aproveitamento dos resíduos gerados de rochas minerais está diretamente ligado à redução de impactos
ambientais ocasionados pelo descarte inadequado e também à minimização do consumo das matérias-
primas de origem natural. Como exemplo de aproveitamento desses resíduos, tem-se a utilização dos
mesmos em camadas de pavimento.

Segundo Andrade (2012), o pavimento é uma estrutura de múltiplas camadas construída sobre a
terraplenagem e destinada, técnica e economicamente, a resistir aos esforços oriundos do tráfego e a
melhorar as condições de rolamento. Esse conceito justifica a avaliação das características estruturais do
resíduo de calcário para que se possa incluir, em proporção viável, o resíduo ao solo utilizado nas
camadas de base e de sub-base de vias urbanas.

Levando-se em consideração que tais vias urbanas devem ser dimensionadas de acordo com o peso e a
quantidade de veículos que ali trafegam, além do relevo e do clima da região, é importante fazer-se um
estudo dos materiais que compõem a camada estrutural do pavimento daquela região. Isso porque para
a construção de um pavimento, é importante analisar-se um conjunto de fatores para que esse tenha um
bom desempenho e, dentre esses fatores estão a resistência aos esforços verticais e horizontais que são
produzidos pelo próprio tráfego, a oferta de comodidade e segurança ao usuário, além de apresentar alta
durabilidade visando a redução de custos com reconstrução de camadas em curtos intervalos.

Para fins de entendimento, segundo o DNIT (2006), as camadas componentes de um pavimento são as
seguintes:

a) Regularização: Camada posta sobre o leito, destinada a conformá-lo transversal e


longitudinalmente de acordo com as especificações. A regularização não constitui, propriamente
uma camada de pavimento, sendo, a rigor, uma operação que pode ser reduzida em corte do leito
implantado ou em sobreposição a ele. Possui camada com espessura variável.

b) Reforço do Subleito: Camada de espessura constante, acima da camada de regularização. Possui


características geotécnicas inferiores ao material usado na camada que lhe for superior, porém
com características melhores do que as do material do subleito.

c) Sub-base: Camada complementar à base, quando, por algum motivo, não for aconselhável
construir a base diretamente sobre a regularização.

d) Base: Camada destinada a resistir e distribuir os esforços oriundos do tráfego. É sobre a camada
de base que se constrói o revestimento.

Sabendo das diferenças entre cada camada de um pavimento, percebe-se a necessidade de se classificar
os materiais que as compõem afim de garantir a eficiência no cumprimento da função de cada uma delas.

Dentre os diversos sistemas de classificação de solo, temos como exemplos e como objetivo de
classificação dos materiais estudados, o Sistema Unificado de Classificação de Solos – SUCS, e a
classificação HRB, mais utilizada, segundo o DNIT na classificação de solos para fins de pavimentação.

O SUCS baseia-se na identificação dos solos de acordo com as suas qualidades de textura e de
plasticidade (DNIT, 2006). Nesse sistema, consideram-se as seguintes características dos solos:

a) Percentagens de pedregulhos, areias e finos (fração que passa na peneira nº200: silte e argila);

b) Forma da Curva Granulométrica;

c) Plasticidade e Compressibilidade.

Já de acordo com o DNIT (2006), um sistema de classificação de solos bastante utilizado em


pavimentação é o Highway Research Board – HRB. Essa classificação considera o Limite de Liquidez, o
Limite de Plasticidade, a granulometria do solo e o índice de grupo.

1283
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O estudo de resíduos aplicados em camadas de pavimento vem se intensificando. Como exemplo,


Machado (2015) estudou o aproveitamento de resíduo de caieiras, materiais constituídos de cal e
pedregulho não calcinado, advindo da atividade de produção de cal, na melhoria da resistência dos
índices de pavimentação de estradas e mitigação de dano ambiental. O resíduo foi misturado a um solo
arenoso nas proporções de 80, 70, 60, 50, 40, 30, 20 e 0%. As amostras preparadas foram submetidas a
ensaios geotécnicos de caracterização e de pavimentação. Em termos de consistência, o autor constatou
que os valores de CBR das misturas foram crescentes à medida que se foi aumentando o percentual de
resíduo. A amostra constituída somente por solo apresentou CBR de 5%, enquanto a amostra formada
pela mistura de solo com 20% de resíduo o CBR foi de 19%. As demais amostras apresentaram CBR
superiores a 52%. Diante dos resultados dos ensaios apresentados pelas amostras estudadas, o autor
concluiu que, ao se incorporar os resíduos de caieira ao solo, este adquire significativas melhorias nas
suas propriedades físicas.

Lima (2015) estudou o uso de agregados de rochas calcárias para camadas de pavimentos estabilizados
granulometricamente. Sua pesquisa teve por objetivo estudar a estabilização granulométrica de um solo
arenoso local, do município brasileiro de João Pessoa, Paraíba, a partir da adição de agregados calcários
para uso em camadas granulares de pavimentos. O autor estudou teores de mistura iguais a 25%, 50% e
75% de material adicionado ao solo e a redução da plasticidade, à medida que o teor do agregado na
mistura aumentou. Com relação às características mecânicas, determinadas pelo CBR, módulo de
resiliência e resistência à compressão simples, as misturas apresentaram resultados melhores que o solo
e agregado calcário. Em todos os ensaios de caracterização mecânica, os melhores resultados foram
observados para as misturas compostas por 50% de solo e 50% de agregado, pela maior estabilidade em
função do rearranjo das partículas. Assim, o autor concluiu que o agregado calcário pode ser empregado
em mistura com solo arenoso, com uso restrito para camadas de sub-base de pavimentos.

2.1 – Especificações dos materiais utilizados nas camadas de pavimentos segundo o


Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – Brasil (DNIT)

Para que um determinado material possa ser utilizado nas camadas do pavimento é necessário atender
os critérios de aceitabilidade que são apresentados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 - Requisitos das camadas do pavimento

Camada Expansão (%) C.B.R ( %)

Subleito ≤2 C.B.R ≥2%

Reforço de subleito ≤2 (com sobrecarga de 10lb) C.B.R ≥2%

Maior ou igual a do Subleito

Sub-base ≤1 (com sobrecarga de 10lb) C.B.R ≥20%

Base ≤0,5 (com sobrecarga de 10lb) C.B.R ≥ 60% Tráfego leve

C.B.R ≥ 80% Tráfego pesado

Fonte: DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES (2006)

3- METODOLOGIA

3.1 - Coleta de Amostras

O desenvolvimento do trabalho teve início com a coleta dos materiais a serem estudados. O solo, do tipo
laterítico, foi fornecido pela secretaria municipal de infraestrutura, do município de Formosa, dentro do
estado brasileiro de Goiás. A jazida de onde foi retirada a amostra de solo é mostrada na Figura 1.

O material estudado é o mesmo solo utilizado nos serviços de obras rodoviárias e correção de
manifestações patológicas asfálticas dentro do município. A secretaria de infraestrutura do município de
Formosa, Goiás, forneceu cerca de 300kg de material, o mesmo foi devidamente armazenado no
laboratório de mecânica dos solos do IFG/Formosa.

1284
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 1 - Jazida de coleta do solo laterítico estudado. (Fonte: Cascalheira 4 irmãos, 2017)

O resíduo da rocha calcária foi fornecido pela empresa Engebrita Mineração, também localizada dentro do
município de Formosa, no Estado de Goiás.

A coleta do resíduo da mineração deu-se a céu aberto. Foram coletados cerca de 150kg de resíduo que
foi levado e devidamente armazenado no Laboratório de Mecânica dos Solos do Instituto Federal de Goiás,
Câmpus Formosa (IFG/Formosa). A jazida de onde foi retirada a amostra do resíduo da rocha calcário é
mostrada na Figura 2.

Figura 2 - Jazida da Empresa Engebrita Mineração. (Fonte: Engebrita Mineração, 2017)

3.2 - Caracterização física

Após coleta e armazenamento dos materiais a serem estudados, deu-se início aos ensaios laboratoriais
de caracterização física. Dos ensaios realizados nesta etapa, constam os ensaios de massa específica dos
sólidos, seguindo a ABNT NBR 6508/1984, dos limites de consistência (Liquidez e Plasticidade), regidos
pela ABNT NBR 6459/2016 e pela ABNT NBR 7190/2016 respectivamente, e de granulometria pela ABNT
NBR 7181/2016. Os ensaios foram realizados tanto para a amostra do resíduo de calcário quanto para a
amostra de solo, além de ter sido analisada, também, uma mistura entre o resíduo e o solo, a uma
proporção de 20% de resíduo e 80% de solo em massa. Os ensaios foram realizados no Laboratório de
Mecânica dos Solos do IFG/Formosa, com uma repetição de 3 vezes para cada um dos ensaios.

3.3 - Ensaios de Pavimentação

Em um terceiro momento, foram realizados ensaios de pavimentação. Nessa etapa, executaram-se os


ensaios de compactação em energia normal, em energia intermediária e em energia modificada, regidos
pela ABNT NBR 7182/2016, tanto para a amostra de resíduo quanto para a amostra de solo, além de ser
analisada também a mistura entre o resíduo de calcário e o solo laterítico. Após os ensaios de
compactação, foram realizados ensaios CBR, seguindo a ABNT NBR 9895/2016 também nas três energias
e com repetição de três vezes para cada material.

1285
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para os ensaios de massa específica realizados, o solo puro apresentou como resultado o valor de
2,60g/cm³, o resíduo do minério de calcário 2,59g/cm³ e a mistura um valor de 2,60g/cm³. O solo e o
resíduo apresentaram valores muito próximos de massa específica, o que justifica o valor encontrado
para a massa específica da mistura entre os dois materiais.

Com relação aos ensaios granulométricos, os resultados são mostrados nas figuras de 3 a 5.

Curva Granulométrica
100,00

80,00
Percentual que Passa

60,00

40,00

20,00

0,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro das Partículas (mm)

Figura 3 - Curva Granulométrica para o resíduo de calcário puro

Curva Granulométrica
100,00
Percentual que Passa

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro da Partícula (mm)

Figura 4 - Curva granulométrica para o solo laterítico puro

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Curva Granulométrica
100,00

80,00

Percentual que Passa 60,00

40,00

20,00

0,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro da Partícula (mm)

Figura 5 - Curva granulométrica para a mistura com substituição em massa de 20% do solo laterítico por resíduo de
calcário

Os resultados obtidos nos ensaios de granulometria mostram que os materiais utilizados, sendo eles o
resíduo de calcário puro, o solo laterítico puro e a mistura entre os dois materiais, são compostos
essencialmente pelas frações granulométricas areia e silte. Essas frações granulométricas são
caracterizadas pela presença considerável de finos, que influencia diretamente no comportamento da
amostra.

Para os ensaios dos Limites de Liquidez e de Plasticidade, foram realizados os procedimentos para o
resíduo de calcário puro, para o solo laterítico e para a mistura entre os dois materiais. Os resultados
obtidos são mostrados na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultados obtidos nos Ensaios para obtenção dos Limites de consistência
Resíduo de Solo Mistura em massa de 20%
Calcário Laterítico de Resíduo e 80% de Solo

Limite de Liquidez (%) 18 37 24

Limite de Plasticidade (%) 14 26 18

Índice de Plasticidade (%) 4 11 6

Segundo os resultados obtidos, o resíduo de calcário foi classificado conforme o Sistema Unificado de
Classificação dos Solos (SUCS), como um Silte Inorgânico (ML) e, de acordo com o Sistema de
Classificação Rodoviário (HRB), o material foi classificado, como pertencente ao grupo A-4 (material silto-
argiloso), que apresenta, quando aplicado em subleitos, um comportamento classificado como variando
de sofrível a mau.

A partir dos ensaios realizados foi possível caracterizar e classificar o solo da jazida na cidade de Formosa,
Goiás, segundo o SUCS como sendo um solo granular pedregulhoso (G) bem graduado (W). Já segundo o
HRB, o solo analisado apresenta classificação A-2 que contempla solos pedregulhosos ou areias siltosas
ou solos argilosos. Esse grupo, segundo o sistema de classificação, apresenta um comportamento que
varia de excelente a bom quando aplicado como camadas de pavimento.

Para a mistura em massa de 20% de resíduo de calcário e 80% de solo, partindo-se dos resultados
obtidos, classifica-se, de acordo com o SUCS, a mistura como pedregulhosa bem graduada e, segundo a
HRB, como pertencente ao grupo A-2-6, que contempla materiais cujo comportamento varia de excelente
a bom quando aplicados em camadas de pavimento.

1287
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Dentro da etapa dos ensaios de pavimentação, compactação proctor e CBR, os resultados obtidos são
apresentados nas figuras de 6 a 8. Os ensaios foram realizados nas três energias: normal, intermediária
e modificada.

Figura 6 - Compactação nas três energias para o resíduo de calcário puro

De acordo com a Figura 6, para o resíduo do minério de calcário, foram obtidos como resultados para a
umidade ótima os valores de 11,87%, 11,36% e 10,20% nas energias normal, intermediária e
modificada, respectivamente. Tendo como valores de massa específica aparente seca máxima os valores
de 1,873g/cm³, 1,893g/cm³ e 1,919g/cm³ para as energias normal, intermediária e modificada,
respectivamente.

Curva de Compactação
Massa Específica Aparente Seca

1,95

1,90
(g/cm³)

1,85 Energia Normal


Energia Intermediária
1,80 Energia Modificada

1,75
6 8 10 12 14 16 18 20
Teor de Umidade (%)

Figura 7 - Compactação nas três energias para o solo puro

De acordo com a Figura 7, para o solo puro, foram obtidos como resultados para a umidade ótima os
valores de 11,80%, 11,07% e 9,80% nas energias normal, intermediária e modificada, respectivamente.
Tendo como valores de massa específica aparente seca máxima os valores de 1,891g/cm³, 1,899g/cm³ e
1,921g/cm³ para as energias normal, intermediária e modificada, respectivamente.

1288
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Curva de Compactação

Massa Específica Aparente Seca


1,85

1,80

1,75
(g/cm³)

1,70 Energia Normal


Energia Intermediária
1,65
Energia Modificada

1,60

1,55
13 14 14 15 15 16 16
Teor de Umidade (%)

Figura 8 - Compactação nas três energias para a mistura em massa de 20% de resíduo de calcário e 80% de solo

De acordo com a Figura 8, para a mistura entre os dois materiais, foram obtidos como resultados para a
umidade ótima os valores de 14,51%, 14,39% e 14,09% nas energias normal, intermediária e
modificada, respectivamente. Tendo como valores de massa específica aparente seca máxima os valores
de 1,691g/cm³, 1,729g/cm³ e 1,805g/cm³ para as energias normal, intermediária e modificada,
respectivamente.

A partir dos resultados obtidos, percebe-se que as curvas de compactação se deslocam para cima e para
a esquerda à medida que se aumenta a energia. Com isso, é possível concluir que, nos materiais
analisados, o aumento da energia de compactação provoca o aumento da massa específica aparente seca,
além da redução do teor de umidade.

As tabelas de 3 a 5 mostram os resultados obtidos no ensaio de CBR, nas três energias para o resíduo de
calcário puro, para o solo laterítico puro e para a mistura em massa de 20% de resíduo de calcário e 80%
de solo.
Tabela 3 - Valor de CBR médio para o resíduo de calcário puro
Energia Energia Energia
Normal Intermediária Modificada
Umidade Ótima (%) 11,87 11,36 10,2
Massa Específica Seca
1,873 1,892 1,919
(g/cm³)
CBR (%) 23,47 28,92 39,15

Expansão do Material (%) 0,08 0,074 0,062

A amostra de resíduo de calcário, compactada na energia normal, apresentou CBR na ordem de 23% e
expansão de 0,08%, sendo adequada, conforme o DNIT (2006), para uso como material de subleito,
reforço de subleito e sub-base de pavimentos. Enquanto compactada em energia intermediária, a
amostra de resíduo apresentou CBR na ordem de 28% e expansão de 0,074% sendo adequada, conforme
o DNIT (2006), para uso como material de subleito, reforço de subleito e sub-base de pavimento. Já a
amostra compactada em energia modificada, apresentou um CBR na ordem de 39% e uma expansão de
0,062%, sendo adequada, conforme o DNIT (2006), para uso como material de subleito, reforço de
subleito e sub-base de pavimento, os valores estão apresentados na Tabela 3 acima.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Tabela 4 - Valor de CBR médio para o solo puro


Energia Energia Energia
Normal Intermediária Modificada
Umidade Ótima (%) 11,8 11,07 9,8
Massa Específica Seca
1,891 1,899 1,921
(g/cm³)
CBR (%) 42,89 58,74 65,32

Expansão do Material (%) 0,093 0,098 0,098

A amostra de solo, compactada em energia normal, apresentou CBR na ordem de 42% e expansão de
0,093%. Enquanto compactada em energia intermediária, a amostra apresentou CBR na ordem de 58% e
expansão de 0,098%. Já a amostra compactada em energia modificada apresentou CBR na ordem de 65%
e uma expansão de 0,098%. Com os resultados obtidos, segundo o DNIT (2006), a amostra de solo, nas
três energias, é adequada para uso como subleito, reforço de subleito e sub-base de pavimentos, os
valores estão apresentados na Tabela 4 acima.

Tabela 5 - Valor de CBR médio para mistura em massa de 20% de resíduo de calcário e 80% de solo laterítico
Energia Energia Energia
Normal Intermediária Modificada
Umidade Ótima (%) 14,51 14,39 14,09
Massa Específica Seca
1,691 1,729 1,805
(g/cm³)
CBR (%) 60,2 73,06 82,34

Expansão do Material (%) 0,114 0,102 0,097

A amostra da mistura apresentou, quando compactada em energia normal, CBR na ordem de 60% e uma
expansão de 0,114%. Enquanto compactada em energia intermediária, a amostra da mistura apresentou
CBR na ordem de 73% e expansão de 0,102%. Nas duas energias, normal e intermediária, a mistura
entre o resíduo e o solo é adequada, segundo o DNIT (2006), para uso como material de reforço de
subleito, subleito e sub-base de pavimentos. Por fim, a amostra da mistura, quando compactada em
energia modificada, apresentou CBR na ordem de 82% e expansão de 0,097%, sendo adequada,
segundo o DNIT (2006), para uso como material de reforço de subleito, subleito, sub-base, além de,
diferente das demais energias, poder ser aplicada também como base de pavimentos, os valores estão
apresentados na Tabela 5 acima.

5- CONCLUSÕES

Com os ensaios realizados, concluiu-se que:

- O resíduo do minério de calcário puro apresentou massa específica igual a 2,567g/cm³, valor
semelhante ao encontrado por Mendes (2016) para a areia artificial calcária oriunda da mesma mina;

- O solo laterítico estudado apresentou massa específica igual a 2,580g/cm³, valor este semelhante aos
solos lateríticos encontrados na região Centro-Oeste do Brasil;

- A mistura em volume de 20% de resíduo do minério de calcário e 80% de solo laterítico apresentou
massa específica igual a 2,610g/cm³, a pequena variação justifica-se pela proximidade entre as massas
específicas do resíduo e do solo puro;

- Conforme o SUCS, o resíduo do minério de calcário pode ser classificado como um silte inorgânico (ML);
o solo laterítico como sendo granular pedregulhoso bem graduado (GW); enquanto a mistura em volume
de 20% de resíduo e 80% de solo pode ser classificada também como pedregulhosa e bem graduada. O
resíduo foi caracterizado segundo normas específicas para solos, sendo assim, a classificação feita com os
resultados obtidos é uma classificação aparente;

- Segundo o sistema de classificação HRB, o resíduo de calcário é classificado como pertencente ao grupo
A-4, que abrange materiais silto-argilosos. A classificação apresentada é uma classificação aparente

1290
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

devido ao fato de que o resíduo foi caracterizado seguindo normas específicas para solo. O solo laterítico
estudado, dentro do sistema HRB, é classificado como pertencente ao grupo A-2, que contempla solos
pedregulhosos ou areias siltosa, cujo material apresenta um comportamento que varia de excelente a
bom quando aplicado em camadas de pavimento; já a mistura estudada, segundo o mesmo sistema de
classificação, é pertencente ao grupo A-2-6, que contempla materiais cujo comportamento varia de
excelente a bom quando aplicados em camadas de pavimento;

- Segundo os ensaios de compactação na energia normal para os três tipos de amostras, houve variação
na umidade ótima de 11,80% a 14,51% e da massa específica aparente seca máxima de 1,691g/cm³ a
1,891g/cm³;

- Segundo os ensaios de compactação na energia intermediária para os três tipos de amostras, houve
variação na umidade ótima de 11,07% a 14,39% e da massa específica aparente seca máxima de
1,729g/cm³ a 1,899g/cm³;

- Segundo os ensaios de compactação na energia modificada para os três tipos de amostras, houve
variação na umidade ótima de 9,80% a 14,09% e da massa específica aparente seca máxima de
1,805g/cm³ a 1,921gcm³;

- Os ensaios de compactação mostraram a diminuição da umidade ótima e o aumento da massa


específica aparente seca máxima, à medida que se aumenta a energia de compactação;

- O resíduo de calcário, segundo o ensaio de índice de suporte Califórnia, apresentou, quando feito em
energia normal, intermediária e modificada, valores de 23,47%; 28,92% e 39,15%; respectivamente.
Enquanto os valores de expansão do material foram de 0,08; 0,074 e 0,062;

- O solo laterítico puro, segundo o ensaio de índice de suporte Califórnia, apresentou, quando feito em
energia normal, intermediária e modificada, valores de 42,89%; 58,74% e 65,32%; respectivamente.
Enquanto os valores de expansão do material foram de 0,093; 0,098 e 0,098;

- A mistura em volume de 20% de resíduo de calcário e 80% de solo, segundo o ensaio de índice de
suporte Califórnia, apresentou, quando feito em energia normal, intermediária e modificada, valores de
60,2%; 73,06% e 82,34%; respectivamente. Enquanto os valores de expansão do material foram de
0,114; 0,102 e 0,097;

- Com os valores obtidos nos ensaios de índice de suporte Califórnia, concluiu-se que o resíduo da rocha
calcário pode ser utilizado, enquanto compactado em qualquer das três energias, como matéria de
subleito, reforço de subleito e sub-base de pavimentos conforme o DNIT (2006);

- Os resultados obtidos nos ensaios de índice de suporte Califórnia permitiram concluir que o solo
laterítico, enquanto compactado em qualquer das três energias, pode ser usado como material de
subleito, de reforço de subleito e de sub-base de pavimentos conforme o DNIT (2006);

- Com os resultados obtidos no ensaio de índice de suporte Califórnia, foi possível concluir que os valores
encontrados para a mistura, em volume, de 20% de resíduo de calcário e 80% de solo laterítico,
permitem seu uso como material de subleito, reforço de subleito e sub-base, quando compactada nas
energias normal e intermediária e, quando compactada na energia modificada, pode ser usada, também,
como material de base de pavimentos conforme o DNIT (2006).

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 6459/2016: Solo – Determinação do limite de Liquidez, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 7180/2016: Solo – Determinação do Limite de Plasticidade,
2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 7181/2016: Solo – Análise Granulométrica, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 7182/2016: Solo - Ensaio de Compactação, 2016.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 9896/2016: Solo – Índice de Suporte Califórnia (Método de
Ensaio), 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 6508/1984: Solo – Grãos de solo que passam na peneira de
4,8mm – Determinação da Massa Específica, 1984.

Andrade, M. H. F. (2012) - Introdução à pavimentação: Anotações de Aula. Universidade Federal do Paraná (UFPR).
http://www.dtt.ufpr.br/Pavimentacao/Notas/MOdulo%201%20-%20Introducao.pdf, acedido em 03/01/2018.

Ângulo, S. C., Zordan, S. E. e John, V. M. (2010) – Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem de Resíduos na


Construção Civil. PCC – Departamento de Engenharia e Construção Civil da Escola Politécnica. EPUSP.

Bernucci, L. B., Motta L. M. G., Ceratti, J. A. P. e Soares, J. B. (2010) - Pavimentação Asfáltica: Formação básica para
engenheiros. 4. Ed. Rio de Janeiro: ABEDA.

DNIT (2006) - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes: Manual de Pavimentação. 3. Ed. Rio de
Janeiro

Freire, E. P. (1999) - Colapsividade da Argila Laterítica de Alfenas. Revista Universidade Alfenas, Alfenas, 5:81-92.

Lima, F. C. (2015) – Uso de Agregados de Rochas calcárias para camadas de pavimentos estabilizadas
granulometricamente. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. João Pessoa. UFPB. 96p.

Machado, F. P. (2015) – Aproveitamento de Resíduos de Caieiras na Melhora Significativa da Resistência dos índices de
Pavimentação de Estradas e Mitigação de Dano Ambiental. UFC, Revista de Geologia, Vol. 28, nº1, p. 53-70.

Mendes, M. V. A. S. (2016) – Estudo dos parâmetros de autoadensabilidade e de reologia de argamassas e de


concretos autoadensáveis. Tese de Doutorado em Estruturas e Construção Civil, Publicação E.TD – 9A/16,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 232 p.

Santos, E. F. (2006) – Estudo comparativo de Diferentes Sistemas de Classificações Geotécnicas Aplicadas aos Solos
Tropicais. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.

1292
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ESTUDO DOS EFEITOS PROVOCADOS POR RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO (RCD) NUMA GEOGRELHA DE POLIÉSTER

STUDY OF THE EFFECTS OF CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE (CDW)


ON A POLYESTER GEOGRID

Vieira, Castorina Silva; CONSTRUCT-Geo, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto,


Portugal, cvieira@fe.up.pt
Pereira, Paulo M.; CONSTRUCT-Geo, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal,
pmpp@fe.up.pt
Lopes, Maria de Lurdes; CONSTRUCT-Geo, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto,
Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO

Ao longo dos últimos anos, a redução da exploração de recursos naturais não renováveis tem sido uma das
constantes preocupações associadas à preservação do ambiente. É por isso fundamental que se promovam
estudos e aplicações envolvendo materiais alternativos. A utilização de Resíduos de Construção e Demolição
(RCD) em aterros reforçados com geossintéticos apresenta-se como uma alternativa interessante do ponto
de vista económico e ambiental. O uso de RCD reciclados em obras geotécnicas, por um lado, reduz o
consumo de recursos naturais não renováveis, e por outro, evita a deposição em aterro de materiais inertes.
Neste trabalho, caracteriza-se fisica e ambientalmente um RCD reciclado e avaliam-se os efeitos
provocados por esse material numa geogrelha uniaxial extrudida em poliéster (PET). O comportamento à
tração de amostras da geogrelha exumadas de um aterro experimental, ao fim de 12 meses de exposição,
é comparado com o comportamento de amostras intactas do mesmo material. Os resultados apresentados
neste trabalho evidenciam que os danos provocados pelos RCD na geogrelha são muito pouco significativos
e semelhantes aos provocados pelo solo neste tipo de materiais. O estudo apresentado é parte integrante
de um estudo mais amplo visando a avaliação da viabilidade de utilização de RCD como material de aterro
em estruturas reforçadas com geossintéticos, estudo esse que demonstrou que os RCD convenientemente
selecionados e compactados podem ser uma alternativa viável aos solos naturais utilizados habitualmente
na construção deste tipo de estruturas.

ABSTRACT

Over the last years, reducing the exploitation of non-renewable natural resources has been a constant
concern associated with the environmental preservation. It is therefore essential to promote research and
applications involving alternative materials. The use of Construction and Demolition Wastes (C&DW) in
geosynthetic reinforced structures represents an interesting alternative from an economic and
environmental point of view. The use of recycled C&DW in geotechnical works, on the one hand, reduces
the use of non-renewable natural resources, and on the other, avoids landfilling of inert materials. In this
work, a recycled C&DW is physically and environmentally characterized and the effects of this material on
a polyester (PET) extruded uniaxial geogrid are evaluated. The short-term tensile behaviour of geogrid
samples exhumed from an experimental trial embankment after 12 months of exposure is compared to the
behaviour of intact samples. The results presented in this work show that the damage caused by the C&DW
on the geogrid is insignificant and similar to that caused by natural soils. The study herein presented is
part of a broader research aiming to assess the feasibility of using recycled C&DW as filling material of
geosynthetic reinforced structures, which has shown that if properly selected and compacted, recycled
C&DW can be a feasible alternative to the natural soils used traditionally in the construction of these
structures.

1- INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas décadas a sustentabilidade ambiental tem vindo a exigir uma redução de resíduos
enviados para aterro e o aumento da valorização de resíduos na construção. Entre os diversos tipos de
resíduos passíveis de serem utilizados na indústria da construção, encontram-se os próprios resíduos
provenientes desta atividade – os Resíduos de Construção e Demolição (RCD). Atualmente, quer a nível
nacional, quer internacional, a utilização de materiais provenientes de RCD em obras geotécnicas resume-
se, quase exclusivamente, à substituição dos materiais granulares em bases e sub-bases de infraestruturas
rodoviárias (Freire et al., 2011; Jiménez et al., 2012). A valorização dos RCD em aterros reforçados com
geossintéticos é uma área que nos últimos anos começou a merecer algum interesse (Santos et al., 2013;
Vieira et al., 2014), particularmente na comunidade científica, pelo facto deste tipo de utilização representar
um duplo contributo para a sustentabilidade ambiental. Por um lado, promove a valorização dos RCD,
evitando a sua deposição em aterro, e por outro, minimiza o impacte ambiental criado pelas grandes

1293
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

manchas de empréstimo que por vezes são criadas aquando da construção de aterros de grandes
dimensões.

No âmbito da importância crescente que a Economia Circular na construção tem vindo a exercer nas
comunidades técnico-científicas, surgiu o projeto de I&D “Aplicação sustentável de Resíduos de Construção
e Demolição em estruturas reforçadas com geossintéticos (RCD-VALOR)”, financiado pela Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (FCT) e desenvolvido na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O
principal objetivo deste projeto foi avaliar a potencialidade de utilização da fração mais fina dos RCD,
normalmente constituída por uma mistura de materiais diversos, tais como, betão, argamassas, alvenarias,
solos, rochas, em substituição dos materiais naturais (solos) tradicionalmente utilizados na construção de
aterros (muros e taludes) reforçados com geossintéticos.

Entre as várias etapas deste projeto, destaca-se o seguinte conjunto de tarefas que foi levado a cabo:

- caracterização física, mecânica e ambiental de RCD reciclados, com diferentes granulometrias e


proveniências, seguindo normas nacionais ou europeias;

- caracterização do comportamento de interfaces RCD/geossintético em movimento de corte directo,


analisando a influência do tipo de reforço, do grau de compactação, da tensão de confinamento e do teor
em água do RCD;

- caracterização do comportamento ao arranque de interfaces RCD/geossintético, analisando a influência


do tipo de reforço, do grau de compactação, da tensão de confinamento, do teor em água do RCD, bem
como, o efeito de solicitações cíclicas;

- caracterização do possível efeito de degradação, causada pelo RCD, sobre o comportamento mecânico
dos geossintéticos a curto e a médio prazo;

- modelação numérica do comportamento de estruturas reforçadas com geossintéticos, sob condições de


carregamento estático e dinâmico, quando construídos com RCD como material de aterro.

Neste trabalho, apresentam-se resultados parcelares referentes ao possível efeito de degradação que os
RCD em contacto com os geossintéticos podem causar no comportamento mecânico destes últimos. São
avaliados os efeitos (essencialmente a degradação química e ambiental) provocados por um RCD fino numa
geogrelha uniaxial extrudida em poliéster (PET), comparando o comportamento à tração de amostras
exumadas de um aterro experimental ao fim de 12 meses de exposição, com o comportamento de amostras
intactas.

2- ESTUDO EXPERIMENTAL

2.1 - Materiais

No estudo que se apresenta foi utilizado um material reciclado de granulometria fina proveniente de RCD,
simplificadamente designado como RCD reciclado (Fig. 1). Os RCD que deram origem ao material reciclado
resultaram, essencialmente, de obras de manutenção e demolições de pequenas habitações e da limpeza
de terrenos com deposições ilegais de resíduos. O material é proveniente de um operador de gestão de
RCD localizado na zona Centro do País.

A curva granulométrica do material, determinada de acordo com a norma NP EN 933-1 (2009), encontra-
se ilustrada na Figura 2.

Os constituintes do RCD reciclado foram determinados de acordo com a norma EN 933-11 (2009) e
encontram-se no Quadro 1. Tal como se pode constatar pela análise do Quadro 1, o RCD reciclado é
constituído maioritariamente por partículas de betão, de agregados não ligados, de alvenarias e de solos.
Refira-se o volume significativo de material flutuante (madeira, esferovite, …) registado na amostra, o que
revela que na fração fina destes resíduos uma triagem adequada destes materiais pode não ter sido
conseguida.

Para avaliar o potencial de contaminação deste material foram realizados ensaios de lixiviação em
laboratório. Estes ensaios foram conduzidos de acordo com a norma EN 12457-4 (2002), apresentando-se
no Quadro 2 os respetivos resultados. No Quadro 2 incluíram-se os valores limite para os resíduos serem
admissíveis em aterros de resíduos inertes, definidos no Decreto-Lei 183/2009.

Analisando os resultados apresentados no Quadro 2 constata-se que apenas o valor do sulfato ultrapassa
o limite estabelecido para deposição em aterro de inertes. Note-se, porém, que em relação ao limite do
sulfato, o mesmo decreto-lei refere que “se o resíduo não satisfizer este valor, poderá continuar a ser
considerado conforme aos critérios de admissão desde que a lixiviação não exceda o valor de 6000 mg/kg

1294
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

de matéria seca a L/S = 10 l/kg de Sólidos Dissolvidos Totais (SDT), determinado por um ensaio de
lixiviação num lote ou por um ensaio de percolação em condições próximas do equilíbrio local”, o que
permite classificar este material como inerte.

Figura 1 – Aspeto visual do RCD reciclado (régua em centímetros)

100

90

80

70
% Material passado

60

50

40

30

20

10

0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Diâmetro das partículas (mm)

Figura 2 – Curva granulométrica do material determinada de acordo com a EN 933-1 (2009)

Quadro 1 - Classificação dos constituintes do RCD (NP EN 933-11, 2009)


Constituinte Valor
Betão; Argamassas, Rc (%) 36,8
Agregados não ligados; Pedra natural; Agregados tratados com ligantes
33,7
hidráulicos, Ru (%)
Elementos de alvenaria de materiais argilosos (tijolos, ladrilhos, telhas),
10,8
Rb (%)
Materiais betuminosos, Ra (%) 0,5

Vidro, Rg (%) 1,0

Solos, Rs (%) 17,1

Outros materiais, X (%) 0,1

1295
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Volume de material flutuante, FL (cm3/kg) 7,80

Quadro 2 - Resultados do ensaio de lixiviação realizado de acordo com norma EN 12457-4 (2002)
Valor limite para aterro
Parâmetro analítico (mg/kg matéria seca) Valor obtido de resíduos inertes
(Decreto-Lei 183/2009)
Arsénio, As 0,020 0,5
Chumbo, Pb <0,01 0,5
Cádmio, Cd <0,003 0,04
Cromo total, Cr 0,015 0,5
Cobre, Cu 0,12 2
Níquel, Ni <0,01 0,4
Mercúrio, Hg <0,002 0,01
Zinco, Zn <0,1 4
Bário, Ba 0,12 20
Molibdénio, Mo 0,027 0,5
Antimónio, Sb <0,01 0,06
Selénio, Se <0,02 0,1
Cloreto, Cl 130 800
Fluoreto, F 2,7 10
Sulfato, SO4 1900 1000
Índice de fenol <0,05 1
Carbono Orgânico Dissolvido, COD 47 500
Sólidos Dissolvidos Totais, SDT 2630 4000

pH 7,8 -

Na Figura 3 apresenta-se uma fotografia da geogrelha utilizada no estudo que se apresenta. Trata-se de
uma geogrelha uniaxial extrudida em poliéster (PET) com resistência nominal de 80 kN/m e 20 kN/m nas
direções longitudinal e transversal, respetivamente.

Figura 3 – Geogrelha intacta usada no estudo experimental (régua em centímetros)

2.2 - Construção dos aterros experimentais

Para avaliar o potencial de degradação dos RCD reciclados sobre os geossintéticos foram construídos
pequenos aterros experimentais (Fig. 4). Note-se que estes aterros se destinam, exclusivamente, a manter
os geossintéticos em contacto com o RCD durante um determinado período de tempo, sem que os
geossintéticos estejam a exercer qualquer função de reforço, isto é, sem que os geossintéticos se
encontrem tracionados.

1296
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Estes aterros experimentais, construídos com os materiais descritos na secção anterior, apresentam
dimensões em planta da ordem dos 2 m  3 m e uma altura da ordem dos 0,45 m. No interior dos aterros
foram colocadas diversas amostras da geogrelha (Fig. 4a), dispostas em 2 níveis verticais com
espaçamento vertical de cerca de 0,20 m.

Na compactação das camadas de RCD reciclado foram utilizados meios de compactação leves (Fig. 4b) para
evitar os danos mecânicos induzidos pela compactação. Detalhes adicionais sobre a construção do aterro
podem encontrar-se em Vieira e Pereira (2015).

(a) (b)

Figura 4 – Construção dos aterros experimentais: a) colocação manual do aterro sobre os geossintéticos;
b) compactação leve das camadas

2.3 - Exumação das amostras

Após períodos de exposição previamente estabelecidos (6, 12 e 24 meses), as amostras da geogrelha


foram cuidadosamente exumadas do aterro (Fig. 5a), tentando evitar que lhe fossem provocados danos
adicionais com os equipamentos manuais utilizados.

Tal como esperado, após exumação não foram visíveis, a olho nu, danos significativos na geogrelha
(Fig. 5b). As amostras foram devidamente acondicionadas e transportadas para o Laboratório de
Geossintéticos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) para serem posteriormente
ensaiadas.

(a) (b)

Figura 5 – Exumação das amostras: a) remoção manual cuidadosa; b) aspeto da geogrelha imediatamente após
exumação

2.4 - Resultados da microscopia eletrónica de varrimento

No sendo visíveis danos significativos nas geogrelhas após exumação, foram realizadas análises de
microscopia eletrónica de varrimento (MEV), no sentido de avaliar eventuais danos à escala microscópica.
Na Fig. 6 comparam-se imagens obtidas por MEV, com ampliação de 100 vezes, de amostras intactas, isto
é, tal como fornecidas pelo fabricante (Fig. 6a) e de amostras exumadas do aterro experimental após 12
meses de exposição (Fig. 6b).

Da análise da Figura 6 constata-se que não há danos relevantes na geogrelha exumada, sendo visível que
pequenas partículas do material de aterro ficaram coladas à geogrelha.

1297
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(a) (b)

Figura 6 – Imagens MEV (ampliação 100x) das barras longitudinais da geogrelha: a) amostra intacta; b) amostra
exumada do aterro após 12 meses de exposição

2.5 - Comportamento tração-deformação

Para avaliar o efeito da exposição da geogrelha ao RCD reciclado sobre o comportamento


tração-deformação da geogrelha foram realizados ensaios de tração. Os ensaios de tração foram efetuados
seguindo o disposto na norma NP EN 10319 (2005), tendo sido realizados sobre 5 provetes com 0,20 m de
largura e para uma velocidade de deformação de 20 %/min.

A Figura 7 apresenta as curvas tensão-extensão obtidas nos 5 provetes de amostras exumadas, bem como
a respetiva curva média.

120
Provete 1
Força por unidade de largura, T (kN/m)

100 Provete 2
Provete 3
Provete 4
80
Provete 5
Média
60

40

20

0
0 2 4 6 8
Extensão (%)

Figura 7 – Curvas tensão-deformação obtidas em amostras exumadas

Nos Quadros 3 e 4 resumem-se os resultados dos ensaios de tração realizados sobre as amostras intactas
e exumadas, respetivamente. Nestes quadros apresentam-se os valores da força máxima de tração, Tmax,
a extensão para a qual essa força foi atingida, Tmax, o módulo de rigidez para 2% de deformação, J2%, e o
módulo de rigidez na rotura, JTmax. Os valores médios desses parâmetros e os intervalos de confiança de
95%, assumindo uma distribuição t-Student, também foram incluídos nesses quadros.

1298
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 3 – Resumo dos resultados dos ensaios de tração realizados sobre amostras intactas (adaptado de Vieira e
Pereira, 2018)
Tmax (kN/m) Tmax (%) J2% (kN/m) JTmax (kN/m)
Provete 1 89,9 5,4 2059 1665
Provete 2 100,7 6,0 1756 1678
Provete 3 81,7 5,2 1889 1571
Provete 4 91,0 5,5 1930 1641
Provete 5 97,9 6,0 1971 1631
Valor médio 92,2 5,6 1921 1638
Intervalo de confiança 95% 92,2 ± 9,3 5,6 ± 0,4 1921 ± 98 1638 ± 36

Quadro 4 – Resumo dos resultados dos ensaios de tração realizados sobre amostras exumadas do aterro
Tmax (kN/m) Tmax (%) J2% (kN/m) JTmax (kN/m)
Provete 1 97,5 6,3 1885 1548
Provete 2 87,8 5,7 1777 1552
Provete 3 84,9 5,7 1909 1498
Provete 4 79,3 5,3 1915 1487
Amostra 5 86,5 5,3 1875 1634
Valor médio 87,2 5,6 1872 1544
Intervalo de confiança 95% 87,2 ± 5,6 5,6 ± 0,5 1872 ± 49 1544 ± 51

Analisando os Quadros 3 e 4, pode concluir-se que a perda de resistência à tração da geogrelha é pouco
significativa. Em termos médios, ocorreu uma perda de resistência de cerca de 5,4%, verificando-se, no
entanto, sobreposição dos intervalos de confiança. A deformação para a qual a força máxima é atingida é
praticamente coincidente.

Em relação à rigidez da geogrelha, verifica-se que o módulo de rigidez para 2% de deformação é muito
próximo, ocorrendo de igual forma sobreposição dos intervalos de confiança. A rigidez para a força máxima
sofreu um ligeiro decréscimo (5,7%).

As conclusões apresentadas nos parágrafos anteriores estão, também, evidenciadas na comparação das
curvas médias apresentada na Figura 8.

120
Força por unidade de largura, T (kN/m)

Exumada_12meses
100
Intacta
80

60

40

20

0
0 2 4 6 8
Extensão (%)

Figura 8 – Comparação entre as curvas médias das amostras intactas e das amostras exumadas

3- CONCLUSÕES

Os resultados de investigação que se têm vindo a desenvolver mostram que os RCD reciclados podem ser
encarados como uma alternativa amiga do ambiente aos materiais de aterro tradicionalmente utilizados na
construção de aterros reforçados com geossintéticos. Com base nos resultados de ensaios de lixiviação,
pode concluir-se que estes materiais não apresentam risco de contaminação das águas subterrâneas.
Ensaios de caracterização mecânica evidenciam, também, uma resistência ao corte adequada.

1299
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Os resultados apresentados neste trabalho mostram que os danos provocados pelos RCD na geogrelha são
praticamente desprezáveis. As variações registadas nos ensaios de tração prender-se-ão mais com o efeito
do manuseamento e das partículas que ficam presas às geogrelhas exumadas, do que com a degradação
induzida pelos RCD. Estudos complementares revelaram que os danos provocados pelo RCD na geogrelha
são semelhantes aos induzidos por um material natural (saibro).

Pese embora o facto do período de exposição das geogrelhas aos RCD reciclados ser francamente reduzido
face ao período de vida útil das estruturas, este estudo permite concluir que não é expectável que a
utilização de RCD reciclados induza a degradação das geogrelhas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) pelo financiamento associado ao
Projeto de Investigação RCD-VALOR (PTDC/ECM-GEO/0622/2012), Ref.ª COMPETE: FCOMP-01-0124-
FEDER-028842; à empresa RCD, SA pela cedência dos agregados reciclados e do espaço para realização
dos aterros experimentais; e à BBF Tecnologias do Ambiente, pelo fornecimento das geogrelhas utilizados
neste estudo experimental.

REFERÊNCIAS

EN 12457-4 (2002) - Characterization of waste. Leaching. Compliance test for leaching of granular waste materials and
sludges – Part 4: One stage batch test at a liquid to solid ratio of 10l/kg for materials with particle sizes below 10
mm (without or with size reduction).

Freire, A.C., Neves, J.M., Roque, A.J., Martins, I.M., Antunes, M.L. e Faria, G. (2011) - Sustainable application of
construction and demolition recycled materials (C&DRM) in road infrastructures. Proc. 1st International
Conference on Wastes: solutions, treatments, opportunities, Guimarães, Portugal, 7p. (CD-ROM).

Jiménez, J.R., Ayuso, J., Galvín, A.P., López, M. e Agrela, F. (2012) - Use of mixed recycled aggregates with a low
embodied energy from non-selected CDW in unpaved rural roads. Construction and Building Materials 34, pp.
34-43.

NP EN 10319 (2005) - Geotêxteis - Ensaios de tracção em tiras largas, IPQ

NP EN 933-1 (2009) - Ensaios das propriedades geométricas dos agregados. Parte 1: Análise granulométrica. Método
de peneiração, IPQ.

NP EN 933-11 (2009) - Ensaios das propriedades geométricas dos agregados. Parte 11: Ensaio para classificação dos
constituintes de agregados grossos reciclados, IPQ.

Santos, E. C. G., Palmeira, E.M. e Bathurst, R.J. (2013) - Behaviour of a geogrid reinforced wall built with recycled
construction and demolition waste backfill on a collapsible foundation. Geotextiles and Geomembranes 39, pp. 9-
19.

Vieira C.S. e Pereira P.M. (2015) - Damage induced by recycled Construction and Demolition Wastes on the short-term
tensile behaviour of two geosynthetics. Transportation Geotechnics 4, pp. 64–75.

Vieira, C.S. e Pereira, P.M. (2018) - Short-term tensile behaviour of three geosynthetics after exposure to Construction
and Demolition (C&D) recycled materials, submetido à revista Geotextile and Geomembranes.

Vieira, C.S., Pereira, P.M. e Lopes, M.L. (2014) - Estudo sobre a aplicação de Resíduos de Construção e Demolição (RCD)
em estruturas reforçadas com geossintéticos. 14º Congresso Nacional de Geotecnia, Covilhã, 6 a 9 de Abril de
2014, 14p. (CD-ROM).

1300
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

FATORES QUE INFLUENCIAM NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E À


TRAÇÃO INDIRETA DE UM SOLO SILTOSO CIMENTADO ARTIFICIALMENTE
COM CAL HIDRATADA

FACTORS THAT INFLUENCE ON UNCONFINED COMPRESSIVE AND SPLIT


TENSILE STRENGTH OF A SILTY SOIL CEMENT ARTIFICIALLY WITH
HYDRATED LIME

Arrieta Baldovino, Jair de Jesús; Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Estudante,
yaderbal@hotmail.com
Batista Moreira, Eclesielter; Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Estudante,
eclesielter_ebm@hotmail.com
Dos Santos Izzo, Ronaldo Luis; Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Professor,
izzo@utfpr.edu.br
Vieira de Goes Rocha, Eduardo, Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Estudante,
rochae@alunos.utfpr.edu.br
Chun Yan Pan, Roberto; Universidade Tecnoógica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Estudante,
vcrp7@yahoo.com.br

RESUMO

O presente estudo avalia os fatores que influenciam a resistência à compressão simples e à tração indireta
de um solo siltoso da Formação geológica Guabirotuba de Curitiba/Brasil cimentado artificialmente com cal
hidratada. O estudo apresenta a relação do crescimento da resistência da compressão não confinada (q u)
e tração por compressão diametral (qt) de um solo siltoso curado em 30 dias com a influência de fatores
como a relação água/cal (a/L), porosidade (η) e a relação porosidade/teor volumétrico de cal (η/L v). Os
parâmetros de controle avaliados foram: o teor de cal (L), a umidade de moldagem (ω), o peso especifico
seco aparente de moldagem (d) e a porosidade. Os resultados mostram um crescimento de q u e qt com o
aumento de teor de cal e com a diminuição da porosidade dos corpos de prova. Também foi calculada uma
relação geral entre a resistência à compressão e à tração qt/qu com o uso da relação η/Lv.

ABSTRACT

The present study evaluates the factors that influence the unconfined compressive strength and the split
tensile strength of a silty soil of the Guabirotuba geological Formation of Curitiba/Brazil artificially cemented
with hydrated lime. The study shows the relationship between the increase of the unconfined compression
strength (qu) and the split tensile strength (qt) of a silty soil cured in 30 days with the influence of factors
such as water/lime ratio (a/L), porosity (η) and the porosity/volumetric content of lime ratio (η/Lv). The
control parameters evaluated were: lime content (L), molding moisture content (ω), dry unit weight of
molding (d) and porosity. The results show an increase of qu and qt with the increase in lime content and
the reduction of the porosity of the samples. A general relationship between the compressive strength and
the split tensile qt/qu was also calculated using the η/Lv ratio.

1- INTRODUÇÃO

O uso de materiais cimentantes como a cal vem sendo empregados com sucesso na engenharia geotécnica
para a estabilização e melhoramento mecânico em solos, principalmente de tipo argilosos e siltosos. Em
período recente, com o salto econômico vivenciado pelo país há alguns anos atrás, nota-se a necessidade
de infraestruturas e têm-se por exigência construções que sejam técnica e economicamente viáveis, com
o menor impacto ambiental possível. Frente a isso, verifica-se a necessidade de estudos em materiais e
técnicas pouco utilizadas regionalmente, como é o caso da estabilização dos solos com cal. A estabilização
permite o uso de solos locais, melhorando as propriedades geotécnicas, de modo a enquadrá-los dentro
das especificações construtivas vigentes; o uso é antigo e está sempre em processo de atualização,
principalmente a partir de 1945 (Guimarães, 2002; Lima et al., 1993). Esta pesquisa visou quantificar os
benefícios alcançados com a estabilização de solos com cal. As pesquisas atuais têm encontrado a influência
das quantidades de materiais cimentantes no comportamento mecânico desses tipos de solo, como as
realizadas por Consoli et al. (2001, 2012, 2014) onde aplicam-se teores de 3%, 5%, 7% e 9% de cal para
estabilização. Os tipos de cal comumente usados para estabilizar solos finos são a cal hidratada com
conteúdo alto de cálcio, cal calcítica, cal dolomítica monohidratada e cal viva dolomítica. O teor de cal para
usar na estabilização na maioria dos solos varia entre o intervalo de 5 até 10%.

1301
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quando se coloca cal nos solos argilosos, acontecem duas reações químicas pozolânicas: a troca de cátions
e floculação-aglomeração das partículas (Das, 2000). Os solos da Formação geológica de Guabirotuba,
localizados na cidade de Curitiba-PR e região metropolitana, têm por sua granulometria a maioria de finos.
Os solos de Guabirotuba não podem em grande parte serem empregados para camadas de sub-base e
base de pavimentação, para o suporte de fundações superficiais como as sapatas e para proteção de
encostas. A técnica de melhoramento desse solo também pode ser utilizada nas fundações de edificações
de pequeno porte, em solos com baixa capacidade de suporte ou que apresentam baixa estabilidade
volumétrica. Tais condições são problemáticas na medida em que podem causar severas patologias na
edificação (Inglês e Metcalf, 1972). A resistência à compressão simples qu de um solo de grão fino
compactado em um teor de umidade ótima pode variar de 170 kPa a 2100 kPa, dependendo da natureza
do solo. Com uma adição de entre 3 a 5% de cal e um período de cura de 28 dias, a resistência à
compressão simples pode aumentar em 700 kPa ou mais (Das, 2000).

É de interesse fundamental o estudo do melhoramento de solos locais de Curitiba em quanto se podem


aproveitar solos que não estão sendo empregados por más propriedades físico-mecânicas. Além disso,
fazer uma pesquisa para a construção de um banco de dados de locais de tais solos é essencial, para
encontrar soluções técnicas que sejam de fácil execução e economicamente viáveis. Assim, esta pesquisa
busca determinar a influência de diferentes teores de cal na resistência à compressão não confinada q u e
na resistência à tração por compressão diametral qt de um solo da Formação geológica de Guabirotuba.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Materiais

2.1.1 - Solo

O solo usado para o presente estudo foi coletado na terceira camada da Formação Guabirotuba no município
de Fazenda Rio Grande (PR)-Brazil, em um local de construção de habitações populares, com localização
geográfica 25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. O solo é composto por 9 % de argila (< 0,002 mm), 57,6 % de
silte (0,002 a 0,075 mm), 25,9 % de areia fina (0,075 a 0,42 mm) e 7,5 % de areia média (0,42 a 2,0
mm). A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo. A umidade natural encontrada do solo in-situ é
próxima a 40%.

100
90
80
Portentagem passante (%)

70
60
50
40
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 1- Curva granulométrica do solo

Quadro 1- Propriedades físicas do solo


Propriedades Físicas Valores Médios

Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³


Areia média 7,5 %
Areia fina 25,9%
Silte 57,6%
Argila 9%
Limite de liquidez, LL 53,1%
Índice de plasticidade, IP 21,3%

1302
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Mostra-se também no Quadro 1 as propriedades físicas do solo; segundo o Sistema Unificado de


Classificação de Solos – SUCS – o solo é classificado como um silte elástico arenoso. A partir da curva
granulométrica e da composição presente no Quadro 1, nota-se que o solo apresenta um limite de liquidez
alto (53,1%) e o índice de plasticidade indica que a argila é altamente plástica com 21,3% (IP>15).

2.1.2 - Cal

A cal usada para o estudo foi uma cal hidratada dolomítica CH-III composta principalmente por hidróxidos
de cálcio -Ca(OH)2- e magnésio-Mg(OH)2-, produzida no município de Almirante Tamandaré, região
metropolitana de Curitiba. O percentual retido acumulado no diâmetro 0,075 mm foi de 9% [≤15%, como
especifica a norma brasileira NBR 7175 (ABNT, 2003)]. A massa específica da cal é igual a 2,39 g/cm3.

2.1.3 - Água

A água empregada tanto para a moldagem de corpos de prova como para os ensaios de caracterização do
solo foi destilada conforme as especificações das normas, enquanto está livre de impurezas e evita as
reações não desejadas.

2.2 - Métodos

2.2.1 - Ensaios de pH

Para a realização das misturas de solo com a cal, definiu-se qual é o menor teor que se pode utilizar para
a mistura. Portanto, empregou-se a metodologia proposta por Rogers et al. (1997), também chamada de
método do ICL (Initial Comsumption of Lime), se refere a uma variação do pH onde o teor mínimo de cal
a usar é aquele onde o pH atinge um valor constante máximo. A Figura 2 mostra a variação do pH das
misturas com o teor de cal usado. Nota-se que alcança um valor máximo constante de 12,5 depois de
chegar ao 3% de cal (teor mínimo a usar nas misturas).

14
12,2
12
12,4 12,5 12,5 12,51 12,51
10
11
Standard solution
Valor de pH

4 3,8

2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de cal (%)

Figura 2 - Variação do pH com o teor de cal

2.2.2 - Dosagem das misturas

De acordo com os ensaios de pH das misturas solo-cal e tendo em consideração diferentes pesquisas sobre
o tema, definiu-se para o presente estudo 5 teores de cal a usar (0%,3%, 5%, 7% e 9%); incluindo o teor
de 0% para verificar a variação da resistência em suas propriedades físicas. O teor mínimo de cal usado
foi definido em função da porcentagem de cal que atingiu o máximo valor constante do pH, que de acordo
à Figura 2 é de 3%. O ensaio de resistência não confinada e de tração das misturas constituiu como as
principais variáveis de estudo e de avaliação. Dessa forma, são definidas as propriedades dos corpos de
prova a partir dos ensaios de compactação.

2.2.3 - Ensaios de compactação e pontos de moldagem

Foram realizados ensaios de compactação do solo nas três energias (normal, intermediaria e modificada)
de compactação segundo a norma NBR 7182 (ABNT, 2016). A Figura 3 mostra as curvas de compactação
do solo estudado. Além disso, ensaios de compactação com a cal foram realizados na energia normal para
ver a variação do peso especifico seco máximo e a umidade ótima. Assim, o Quadro 2 apresenta a variação
do peso específico seco máximo e a umidade ótima para os teores 3%, 5%, 7% e 9% de cal. Nota-se que
a variação é bem pequena devido aos baixos teores utilizados. As pesquisas apresentadas por Consoli et
al. (2007), onde trata o solo com cimento, e Consoli et al. (2001) que usa a cal de carbureto como material
cimentante para o solo, pode-se notar que os pontos de moldagem nestas pesquisas são estratégicos.

1303
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

De acordo aos resultados dos ensaios de compactação se tomaram como pontos de moldagem os pontos
ótimos das curvas de compactação nas três energias do solo: (Energia Normal: EN, Energia Intermediária:
EI e Energia Modificada: EM). Também denomina-se os pontos de moldagem como A1 (EN), A2 (EI) e A3
(EM). Onde A1 é d=13,80 kN/m3 e =28.5 %, A2 é d=15,10 kN/m3 e =22.8 % e finalmente A3 é d=16,15
kN/m3 e =20 %. Assim, com estes pontos de moldagem, variam-se a porosidade, o peso específico
aparente seco e a umidade dos corpos de prova.

Energia
16,5
A3 Normal
16 Energia
Intermediaria
15,5 Energia
A2
15 Modificada
Sr=100%
γd (kN/m3)

14,5
14 A1

13,5
13
12,5 Pontos de
moldagem
12
11,5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

ω (%)

Figura 3- Curvas de compactação do solo e pontos de moldagem

Quadro 2 - Propriedades de compactação (energia normal) do solo com diferentes teores de cal
Peso específico Umidade
Teor de cal
seco máximo, ótima,
(%)
γdmax (kN/m3) ω (%)
3 13,58 32,5
5 13,50 32,0
7 13,50 31,5
9 13,50 30,0

2.2.4 - Ensaios de resistência à compressão simples e à tração por compressão diametral

Para os ensaios de compressão simples e tração por compressão diametral foram moldados corpos de prova
de 100 mm de altura e 50 mm de diâmetro. O silte foi secado totalmente em estufa a 100±5°C e logo
colocado em porções uniformemente distribuídas para serem misturadas com os diferentes teores de cal.
Coloca-se a quantidade de cal seca com referência ao peso seco da amostra do solo. Por seguinte, realiza-
se a mistura de maneira que a mescla final se torna a mais homogênea possível. Uma porcentagem de
peso de água foi adicionada na amostra de solo com cal e misturada novamente para atingir a umidade
ótima. Durante a moldagem dos corpos de prova, eram compactadas estaticamente duas camadas em um
molde de aço inox com diâmetro interno de 50 mm e altura de 100 mm, para atingir o peso específico seco
aparente de moldagem. Depois de ser compactado o corpo de prova é retirada do molde com a ajuda de
um extrator hidráulico, pesando-a em sequência em uma balança de precisão de 0,01 g; tomando-se suas
dimensões com o uso de um paquímetro. Logo após, eram envoltas com plástico transparente para
assegurar a conservação da umidade. Por último, levam-se os corpos de prova até a câmara úmida para
processo de cura durante 30 dias, com temperatura média de 25°C. Além disso, os corpos de prova tinham
que respeitar as seguintes condições para serem consideradas no ensaio de compressão simples e tração:

- Dimensões dos corpos de prova: variações de diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1 mm;

- Massa específica aparente seca (γd ): dentro de ±1% do valor alvo;

1304
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

- Teor de umidade (w): dentro de ±0,5% do valor alvo.

Os procedimentos dos ensaios de compressão simples seguiram a norma americana ASTM D 5102 (ASTM,
1996) e os de tração a norma ASTM C 496/C 496M (ASTM, 2004). Adota-se a resistência à compressão
não confinada ou simples (qu) como o quociente entre a carga de ruptura (PR) e a área transversal (AT) do
corpo de prova (qu= PR/AT) e adota-se a resistência à tração por compressão diametral (q t) como o
quociente entre a duas vezes carga de ruptura (PR) e o produto entre PI (π), o diâmetro (D) e a altura do
corpo de prova (L): (qt= 2PR/ πDL).

2.2.5 - Ensaios de sucção matricial

A sucção é um dos parâmetros que interferem na resistência do solo, já que é definida como a capacidade
do solo para reter a água. Assim, no presente trabalho se estudou a influência da sucção matricial na
resistência das misturas solo-cal com o uso da técnica do papel filtro usada por Marinho (1995). Foram
usadas os corpos de prova de solo-ca (de 50 mm de diâmetro e 25 mm de espessura) que foram submetidas
a compressão e tração.

3- RESULTADOS EXPERIMENTAIS

3.1 - Influência do teor de cal na resistência à compressão simples e à tração indireta

A Figura 4 (a) mostra os resultados de qu das amostras depois de 30 dias de cura com a variação dos teores
de cal de 0 até 9%. Observa-se que com o aumento do peso especifico seco das amostras aumenta sua
resistência à compressão simples, e, em seguida o aumento do teor de cal usado também proporciona um
aumento nos resultados de qu.

Comparando as resistências qu dos pontos A3 e A1 (menor e maior peso especifico seco de moldagem,
respectivamente) para 30 dias de cura, pode-se mencionar que houve um acréscimo em porcentagem de
115, 185, 243, 297 e 234% na resistência qu com a utilização de 0, 3, 5, 7 e 9% de cal. A melhor forma
de representar o acrescimo de qu com o aumento do teor de cal foi com uma tendência linear com a forma:
qu= a1*L + K1, onde L é o teor de cal, a1 e K1 são coeficientes obtidos por regressão de mínimos quadrados.

A Figura 4 (b) mostra os resultados de qt das amostras depois de 30 dias de cura com a variação dos teores
de cal de 0 até 9%. Observa-se que com o aumento do peso especifico seco das amostras aumenta sua
resistência à tração, e, em seguida o aumento do teor de cal usado também proporciona um aumento nos
resultados de qt. Fazendo uma comparação das resistências qt dos pontos A3 e A1 (menor e maior peso
especifico seco de moldagem, respectivamente) para 30 dias de cura pode-se mencionar que houve um
acréscimo em porcentagem de 88, 90, 250, 239 e 165% na resistência qt com o emprego de 0, 3, 5, 7 e
9% de cal.

De igual maneira que para os resultados de compressão simples, os resultados de q t seguem um


comportamento linear com o aumento do tempo de cura da forma qt= a2*L + K2. O comportamento linear
é proporcional também ao peso específico seco aparente de moldagem dos corpos de prova devido a que
os valores das constantes a e k crescem com o aumento de d tanto para qu como para qt. A través da
regressão linear se obtiveram os maiores valores de coeficiente de determinação (desde 0,90 até 0,98).

4000 700
A1 :qu= 58,71 L+272,77 (R2=0,95) A1 :qt= 112,71 L+33,01 (R2=0,90)
3500 600
A2 :qu= 175,82 L+426,6 (R2=0,95) A2 :qt= 28,75 L+30,33 (R2=0,94)
3000 2
A3 :qu= 256 L+666,99 (R2=0,98) 500 A3 :qt= 45,63 L+50,93 (R =0,94)
2500
qu (kPa)

qt (kPa)

400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de cal, L (%) Teor de cal, L (%)

a) Compressão simples b) Tração indireta


Figura 4 - Influência do teor de cal na resistência qu e qt

1305
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

3.2 - Influência da relação água/cal na resistência à compressão simples e à tração indireta

A influência do parâmetro água/material cimentante em relação peso/peso se considera um fator


importante para estabelecer equações de dosagem para obter resistências desejadas à compressão simples
ou compressão uniaxial, como exemplo no concreto armado a relação água/cimento (A/C) é muito
empregada para a estimativa da resistência axial fc´. No caso de solos melhorados com cal hidratada,
pode-se estudar a influência da relação água/cal (A/L) na resistência final das misturas.

Segundo as Figuras 5 (a) e 5 (b), a relação A/L varia de 2,4 a 6,8 para a energia modificada, de 2,7-7,8
na energia intermediária e de 3,4-9,8 na energia normal, isto acontece devido a que o teor de umidade
diminui ao aumentar a energia o grau de compactação com que foram moldadas as misturas solo-cal. Tanto
qu como qt aumentam com a diminuição de A/L e também com o aumento da energia de compactação.

4000 700
EN :qu=12,61(A/L)2-228,8(A/L)+1453,1 (R2=0,93) EN :qt=4,65(A/L)2-75,94(A/L)+364,9 (R2=0,93)
3500 EI :qt=7,36(A/L)2-119,9(A/L)+566,51 (R2=0,97)
EI :qu=-1,71(A/L)2-191,9(A/L)+2425 (R2=0,99) 600
2 2 EM :qt=7,68(A/L)2-148,1(A/L)+775,3 (R2=0,97)
EM :qu=42,61(A/L) -769,9(A/L)+4513,9 (R =0,99)
3000
500
2500
qu (kPa)

qt (kPa)
400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Relação Água/Cal (A/L) Relação Água/Cal (A/L)

a) Compressão simples b) Tração indireta


Figura 5 - Influência da relação água/cal na resistência qu e qt

3.3 - Influência da porosidade na resistência à compressão simples e à tração indireta

Para Consoli et al. (2012) a porosidade tem uma influência na resistência dos solos estabilizados com cal,
haja vista que quando se reduz os vazios do solo, a mistura se torna mais rígida. A variação da tração e
compressão com a diminuição da porosidade foi avaliada na presente pesquisa. A porosidade de um corpo
de prova solo-cal pode ser calculada como:

d Vs  Vs L
( ) ( d )( )
L L 100
1+ 1+ [1]
100 + 100
ss sL
η=100-100
Vs

Onde VS é o volume total do corpo de prova em cm3, d é o peso específico seco aparente de moldagem
em g/cm3, L é teor de cal em porcentagem, e sS e sL são o peso unitário dos grãos do solo e da cal,
respectivamente dados em g/cm3. Assim, as Figuras 6 (a) e 6 (b) mostram a influência da porosidade na
resistência à compressão simples e à tração indireta das misturas solo-cal para 30 dias de cura,
respectivamente. Observa-se a variação da porosidade de 39% a 49% para 3%, 5%, 7% e 9% de cal. Se
apresenta, também uma relação inversamente proporcional da porosidade com qu e qt, pois a medida que
a porosidade diminui o qu e qt aumentam, essa relação aplica para os teores de cal dentro da faixa estudada.
De acordo à Figura 6 (a) e 6 (b) e aplicando a Equação 1, são encontrados 3 valores médios de porosidade
de 39,5, 43,5 e 48,5 correspondentes ao ponto de moldagem da energia modificada (A3), intermediário
(A2) e normal (A1), respectivamente. A melhor maneira de caracterizar a variação da porosidade (na faixa
estudada) e os resultados da resistência à compressão simples e tração foi através de uma curva linear já
que através dela se obtiveram os maiores valores de coeficiente de determinação (desde 0,88 até 0,99).

1306
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

4000 700
L=3% :qu=-85,41η+4583,7 (R2=0,98)
3500 L=3% :qt=-6,8η+30,9 (R2=0,88)
L=5% :qu=-158,33η+8332 (R2=0,99) 600
L=5% :qt=-23,03η+1195,3 (R2=0,94)
3000 L=7% :qu=-218,21η+11200 (R2=0,98)
L=9% :qu=-223,02η+11639 (R2=0,99) 500 L=7% :qt=-29,41η+1521,9 (R2=0,97)
2500 L=9% :qt=-33,30η+1769,2 (R2=0,93)
qu (kPa)

qt (kPa)
400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
Porosidade (η) Porosidade (η)

a) Compressão simples b) Tração indireta

Figura 6 - Influência da porosidade na resistência qu e qt

3.4 - Influência da relação porosidade/teor volumétrico de cal (η/Lv)na resistência à


compressão simples e à tração indireta

As Figuras 7 (a) e 7 (b) mostram a influência da relação porosidade/teor volumétrico de cal na resistência
à compressão simples e à tração indireta para 30 dias de cura, respectivamente. O teor volumétrico de cal
(Lv) é definido como a razão entre volume cal pelo volume de um corpo de prova (Equação 2). O teor
volumétrico aumenta com o aumento do teor de cal enquanto a relação porosidade/teor volumétrico diminui.

Vs γd L
(( ( )) /sL )
1+L/100 100 [2]
Lv =
Vs

Para qt e qu η/Lv varia de 20 a 29,2 para L=3%, de 12 a 17,7 para L=5%, de 9 a 13 para L=7% e finalmente
de 6,9 a 10 para L=9%, os resultados de qu vs η/Lv e qt vs η/Lv mostram que com o aumento do teor de
cal a variação de η/Lv vai diminuindo, isto ocorre porque os menores teores de cal nos pontos de moldagem
representam maior dispersão de η/Lv e poucos ganhos de resistência à compressão simples e à tração
como é possível observar nas Figuras 7 (a) e 7 (b). A variação de η/Lv se manteve constante para qu e qt,
assim qu e qt vai aumentando proporcionalmente ao teor de cal dos corpos de prova. Embora exista uma
tendência linear dos pontos para cada teor de cal, os pontos experimentais de todos os teores apresentam
uma leve tendência potencial não bem definida.

4000 700
L=3% :qu=-86,17(η/Lv)+2906,5 (R2=0,97) L=3% :qt=-6,85(η/Lv)+256,7 (R2=0,86)z
3500 2
L=5% :qu=-259,83(η/Lv)+5212,1 (R =0,99) 600 L=5% :qt=-37,75(η/Lv)+740,2 (R2=0,92)
2
L=7% :qu=-504,91(η/Lv)+7041,9 (R =0,99)
3000 L=7% :qt=-66,72(η/Lv)+947,6 (R2=0,96)
L=9% :qu=-648,36(η/Lv)+7385,9 (R2=0,99) 500 2
L=9% :qt=-95,52(η/Lv)+1122,7 (R =0,92)
2500
qu (kPa)

qt (kPa)

400
2000
300
1500
200
1000

500 100

0 0
6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
η/Lv η/Lv

a) Compressão simples b) Tração indireta

1307
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 7 - Influência da relação porosidade/teor volumétrico de cal na resistência qu e qt

3.5 - Relação entre a resistência à tração indireta e a resistência à compressão simples

A relação entre a resistência à tração por compressão diametral e a compressão simples é uma variável
muito importante na mecânica de solos cimentados artificialmente, já que com a obtenção de uma das
duas resistências se pode fazer uma estimativa da outra. Segundo Consoli et al. (2014) é possível encontrar
uma tendência única dos pontos da resistência à compressão e à tração se o teor volumétrico de cal (L v) é
ajustado a um exponente. No caso da presente pesquisa o exponente com o qual os pontos se organizam
e se obtém os melhores coeficientes de determinação é de 0,20.

Na Figura 8 (a) se pode perceber um aumento potencial da resistência à tração e à compressão das misturas
de solo com cal. Assim, é possível estabelecer uma relação entre q t e qu tendo em consideração a relação
η/Lv0,20. O valor de qt/qu encontrado foi de 0,16, ou seja, o valor da tração é 16% do valor da compressão.

Outra forma para o encontrar a relação entre a tração indireta e a compressão simples de maneira direta
é colocar em um mesmo plano cartesiano os valores correspondentes de q t e qu das amostras, ou seja,
para um teor de cal usado nos ensaios de resistência eram moldados 6 corpos de prova para uma energia
de compactação, assim 3 delas eram tomadas para realizar ensaios de compressão e 3 para ensaio de
tração. Assim, a Figura 8 (b) mostra uma relação global entre a tração e a compressão para todos os teores
de cal e todas as energias de compactação. Observa-se que a relação global de qt e qu sem depender da
relação porosidade/teor volumétrico de cal ajustado η/Lv0,20 é de 0,16 com coeficiente de determinação de
0,94. A relação constante de 0,16 também foi encontrada por Consoli et al. (2012).

700

600 qt= 0,16 qu (R2=0,94)


500
qt (kPa)

400

300

200

100

0
0 1000 2000 3000 4000
qu (kPa)

b) Relação qt/qu sem o uso da relação η/Lv


a) Relação qt/qu com o uso da relação η/Lv
Figura 8 - Relação entre a tração e a compressão simples

3.6 - Influência da sucção matricial na resistência mecânica das amostras

Depois de realizados os ensaios de compressão simples e tração por compressão diametral, foi medida a
sucção matricial mediante a técnica do papel filtro. Os corpos de prova apresentaram uma variação de
±0,5% do teor de umidade inicial, estando a saturação compreendida entre 80% e 82,5%. A sucção
calculada com o papel filtro apresentou resultados de 1% até 5,5% dos valores da resistência à compressão
e tração. Pode-se concluir que para estes valores a sucção não se torna em uma variável relevante para as
análises do presente estudo.

4- CONCLUSÕES

Observa-se que a mistura solo-cal é uma solução bastante eficaz para estabilizar solos, principalmente
quando o solo encontrado nos locais de obra não atende aos requisitos exigidos para realização de obras
de barragens e pavimentação. O uso de cal em solos com baixas capacidades mecânicas é de importância
significativa, pois a adição de cal ao solo acrescentou em mais de 4 vezes a resistência à compressão
simples e de 6 vezes a resistência à tração do solo usado para a pesquisa.

Existe uma relação direta e proporcional entre o teor de cal usado, o tempo de cura empregado e a
resistência à compressão simples e à tração indireta, elevando a resistência gradualmente em curto período

1308
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

de análise; com resultados satisfatórios à compressão simples e à tração. Assim, a resistência à compressão
simples qu e tração qt teve um aumento linear com o aumento do teor da cal e com o aumento do tempo
de cura.

Existe uma relação constante entre tração e compressão simples para o solo estudado com cal em 30 dias
de cura igual a 0,16. Em contrapartida, o teor de cal mínimo a ser usado está limitado pelas reações
imediatas da cal com o solo e pelo pH.

AGRADECIMENTOS

Os autores querem agradecer o apoio do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da


Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Curitiba, Brazil). Também querem agradecer às instituições
de fomento de pesquisa brasileiras CNPq, CAPES e Fundação Araucária do Paraná pelo apoio financiero.

REFERÊNCIAS

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Strength of Compacted Soil-Lime Mixtures.

American Society For Testing Materials. C. 496/C 496M–04. (2004) - Splitting Tensile Strength of Cylindrical Concrete
Specimens. American Society for Testing and Materials (ASTM) Committee C, v. 9.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7175. (2003) - Cal hidratada para argamassas.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182. (2016) - Ensaio de compactação.

Consoli, N. C., Prietto, P. D. M., Carraro, J. A. H. e Heineck, K. S. (2001) - Behavior of compacted soil-fly ash-carbide
lime mixtures. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v. 127, n. 9, 774-782.

Consoli, N. C., Foppa, D., Festugato, L., e Heineck, K. S. (2007) - Key parameters for strength control of artificially
cemented soils. Journal of geotechnical and geoenvironmental engineering. v. 133, n. 2, 197-205.

Consoli, N. C., Dalla Rosa Johann, A., Gauer, E. A., Dos Santos, V. R., Moretto, R. L., e Corte, M. B. (2012) - Key
parameters for tensile and compressive strength of silt–lime mixtures. Géotechnique Letters, 2(3), 81-85.

Consoli, N. C., Prietto, P. D. M., da Silva Lopes, L., e Winter, D. (2014) - Control factors for the long term compressive
strength of lime treated sandy clay soil. Transportation Geotechnics, 1(3), 129-136.

Das, B.M. (2000) - Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole, Pacific.

Guimarães, J. E. P. (2002) - A cal – Fundamentos e aplicações na engenharia civil. 2. ed., São Paulo: Pini. 341p.

Ingles, O. G. e Metcalf, J. B. (1972) - Soil Stabilization. In: Principles and Practice. Sidney: Butterworths. 374p.

Lima, D. C., Röhm, S. A. e Barbosa, P. S. A. (1993) - Estabilização dos solos III – mistura solo-cal para fins rodoviários.
1. ed., Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 46p.

Marinho, F. A. M. (1995) - Suction measurement through filter paper technique. Proc., Unsaturated Soils Seminar. Porto
Alegre, Brazil: UFRGS.
Rogers, C. D. F., Glendinning, S., e Roff, T. E. J. (1997) - Lime modification of clay soils for construction expediency. In
Proceedings of the Institution of Civil Engineers: Geotechnical Engineering (Vol. 125, No. 4).

1309
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE BENTONITA TIPO “BOFE” NA CONDUTIVIDADE


HIDRÁULICA DE UM SOLO COMPACTADO

Bitencourt, Bárbara Maria Oliveira; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
barbarabmob@gmail.com
Freitas Neto, Osvaldo de; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
osvaldocivil@ct.ufrn.br
Santos Júnior, Olavo Francisco dos; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
olavo@ct.ufrn.br
França, Fagner Alexandre Nunes de; Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal - RN, Brasil,
fagnerafranca@gmail.com

RESUMO

Conhecida pelo seu elevado poder expansivo, a bentonita (pura ou misturada ao solo natural) é um tipo
de argila amplamente utilizado na engenharia para os mais diversos fins, dentre eles como barreira
impermeabilizante. Apesar disso, é necessário considerar que este material pode apresentar-se com
características e propriedades diferenciadas. Neste sentido, o presente trabalho visa estudar o
comportamento da bentonita denominada comercialmente como “bofe” em relação à redução na
condutividade hidráulica de um solo compactado. A bentonita “bofe” é encontrada em maior abundância
e não apresenta grande capacidade expansiva, sendo assim considerada um rejeito para uso na
engenharia. Utilizaram-se misturas nos teores de 5% e 10% de substituição de bentonita a um solo de
uma jazida empregada para compactação de fundo de aterros sanitários. Além da caracterização do solo,
da bentonita e das misturas, foram realizados ensaios de compactação e de permeabilidade com corpos
de prova compactados em três valores de teor de umidade (ótimo, ramo seco e ramo úmido). Os
resultados mostraram que, apesar da bentonita na forma “bofe” não apresentar coeficientes de
permeabilidade tão baixos quanto as bentonitas nas formas mais expansivas, ainda promove redução da
permeabilidade do solo da jazida. A mistura solo-bentonita com teor de 10% de bentonita apresentou
valores aceitáveis para emprego em barreiras impermeabilizantes. Portanto, a mistura solo-bentonita
com teor de 10% pode ser utilizada em barreiras impermeabilizantes se associadas aos solos da jazida
estudada, assim como elemento para melhoramento da trabalhabilidade do solo.

ABSTRACT

Bentonite is a mineral clay widely used in engineering works in many diverse purposes and it is well-
known by its high expansive properties. Either pure or mixed with compacted soil, bentonite can be used
as a waterproofing barrier. Furthermore, it is necessary to consider that this material can occur with
different characteristics and properties. Therefore, the aim of this paper is to study the behaviour of the
“bofe” bentonite, which is found in great abundance and presents low expansive capacity, when added to
a soil before compaction. Due to the lack of expansive properties, “bofe” bentonite is usually considering
as a mining waste. Mixtures of soil and bentonite (5% and 10%) were evaluated. Besides of soil,
bentonite and mixtures characterization, compaction and permeability tests were performed. Permeability
tests were conducted with compacted soil samples in three different water contents (optimum, dry and
wet). Although “bofe” bentonite does not present coefficient of permeability as low as the most expansive
bentonites, it also promotes the reduction of soil permeability. Indeed, the soil-bentonite mixture of 10%
can be used as waterproofing barrier and in other areas of civil engineering, since it decreases the
permeability when mixed to the soil and also improves its workability. Therefore, the soil-bentonite
mixture with a 10% content can be used as waterproofing barriers associated to the soils of this deposit,
as well as element to improve soil workability.

1- INTRODUÇÃO

Segundo Spence (1924), o termo bentonita foi usado pela primeira vez em 1898 no estado de Wyoming
(Estados Unidos - EUA), onde foi encontrado um tipo de argila que apresentava a propriedade coloidal de
inchar na presença de água, formando géis trixotrópicos. Neste sentido, Ross et al. (1926) definiu que a
bentonita é composta basicamente por argilominerais do tipo esmectítico devido a desvitrificação e
alteração química de um material de origem ígnea. Como pode observar-se, a definição de Ross et al.
(1926) está ligada a formação geológica dessa bentonita, fato este que não tem relação direta com suas
propriedades fisico-químicas.

Para analisar este fato, Santos et al. (1992) utilizaram como exemplo duas bentonitas: a primeira é a
bentonita encontrada em Wyoming, que é formada pela deposição de cinzas ácidas em um ambiente
úmido, rico em cloreto de sódio, dando origem a bentonitas sódicas, e a segunda, uma bentonita

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encontrada no Mississipi (também dos EUA), apresentando cálcio como cátion predominante, formando
as bentonitas sódicas.

Neste sentido, existe a definição de Grim e Güven (1978), na qual as bentonitas são argilominerais do
grupo das esmectitas, constituídas basicamente por folhas contínuas, sendo duas de tetraedros e uma
folha central octaédrica. As folhas tetraédricas são compostas por silício no centro e oxigênio nos vértices;
e a folha octaédrica é composta por alumínio no centro e oxigênio nos vértices.

Em síntese, as principais propriedades coloidais das bentonitas são: elevada superfície específica, elevada
capacidade de troca catiônica, elevada tixotropia e elevado poder de expansão (superando seu tamanho
inicial em até 20 vezes). Esta última propriedade, é o principal atributo para o uso em algumas aplicações
geotécnicas, visto que confere uma diminuição acentuada na permeabilidade, tanto no estado puro,
quanto em misturas com outros solos (Cutrim et al., 2015).

Ademais, no Brasil, o estado da Paraíba é o que detém mais de 80% de toda a bentonita produzida no
país, onde são encontradas pelo menos cinco formas desse tipo de argila (comercialmente denominadas
de “chocolate”, “chocobofe”, “sortida”, “bofe” e “verde-lodo”), variando, ou até inexistindo, algumas de
suas propriedades coloidais para cada forma. Neste sentindo, é de extrema importância conhecer a forma
de bentonita que está sendo empregada, uma vez que as suas propriedades são variáveis em função do
tipo de bentonita. Chama-se a atenção para o fato de que o uso de uma forma inadequada,
simplesmente pela escolha errada do tipo de bentonita, pode gerar prejuízos financeiros e na qualidade
do serviço em execução.

Assim, o presente trabalho busca avaliar o comportamento hidráulico de um solo compactado, com a
incorporação de bentonitas do tipo “bofe” e do tipo “sortida”. A bentonita na forma “sortida” tem a
capacidade expansiva, e é mais comummente utilizada para uso geotécnico, enquanto que a bentonita
“bofe”, menos expansiva, é tratada como rejeito. Como consequência, a bentonita “bofe” tem um valor
de mercado muito inferior quando comparada com outras formas, fato este que motivou o
desenvolvimento dessa pesquisa. Foram testadas misturas com substituição de 5% e 10% de bentonita
ao solo, e nessas condições foram realizados ensaios de caracterização do solo e das misturas, seguidos
de ensaios de permeabilidade. Os experimentos foram realizados em corpos de prova moldados no teor
de umidade ótimo, abaixo e acima deste. Os resultados obtidos com a bentonita “bofe” foram
comparados com os da bentonita “sortida”, com o intuito de analisar a possibilidade de emprego da
bentonita na forma “bofe” para fins de engenharia.

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para Cutrim et al. (2015), as bentonitas, de uma forma geral, classificam-se como as que incham em
água, conhecidas como sódicas (presença de Na+), e as que não incham, chamadas de cálcicas (presença
de Ca+2), ainda que ambas apresentem aumento de volume quando em contato com a água. Dentro do
grupo das argilas que incham pouco em água, existem as bentonitas policatiônicas (presença de cátions
de cálcio, sódio e magnésio). Elas, porém, não são encontradas no Brasil e são bentonitas características
do estado de Wyoming (Estados Unidos – EUA).

Para Santos et al. (1992), as bentonitas que incham são caracterizadas pela sua capacidade de formar
géis tixotrópicos. São montmorilonitas ou montmorilonitas-beidelita, cujo cátion adsorvido é o sódio (ou
lítio) e, enquanto houver água disponível, esse tipo de argila adsorve moléculas de água continuamente
aumentando o volume. Caso essa adsorção continue, ou seja, haja quantidade de água superior ao
necessário para o grau de inchamento máximo, haverá um desfolhamento individualizado das partículas
até a completa dispersão em água.

No caso das bentonitas que incham pouco, Santos et al. (1992) explica tratar-se de bentonitas
constituídas por montmorilonita ou um subgrupo esmectítico, onde o cátion adsorvido é o cálcio. Na
presença de água, essa bentonita, diferentemente da sódica, apresenta pequeno inchamento, e as
partículas precipitam ou floculam rapidamente quando estão em dispersão aquosa. A representação
esquemática desses conceitos de inchamento está mostrada na Figura 1.

De modo geral, Cutrim et al. (2015) explicam que a diferença entre inchar ou não na presença de água
se dá porque o cátion Na+ permite que várias moléculas de água sejam adsorvidas, aumentando a
distância entre as camadas e, consequentemente, separando as partículas de argila umas das outras. No
caso das argilas cálcicas ou policatiônicas, a quantidade de água adsorvida é limitada e as partículas
continuam unidas umas às outras por interações elétricas e de massa.

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Figura 1 - Representação da hidratação de bentonitas sódicas e cálcicas (Lummus e Azar, 1986)

Esses argilominerais também podem ser classificados de acordo com sua coloração. Somente no estado
da Paraíba, maior produtor de bentonita do Brasil, nas cidades de Cubati, Pedra Lavrada e Boa Vista são
encontradas em cinco formas de bentonita, conhecidas comercialmente como “chocolate”, “chocobofe”,
“sortida”, “bofe” e “verde-lodo”.

A bentonita na forma “chocolate” é composta basicamente por montmorilonita (grupo das esmectitas) e
quartzo. Possui uma coloração uniforme marrom escuro, e é considerada a forma mais nobre, pois,
apresenta elevada capacidade de troca de cátions (CTC), e, consequentemente, é a que possui maior
poder de inchamento in natura. Em sua forma natural é coberta por calcedônia. O uso mais comum é no
segmento de petróleo.

A bentonita na forma “bofe” também é composta basicamente por montmorilonita e quartzo, possuindo
uma coloração que vai de bege claro a branco. Apresenta baixa CTC e baixo inchamento. Quimicamente,
difere da tipo “chocolate” pela ausência de calcedônia. O seu uso mais comum é na indústria de sabão.

A bentonita na forma “chocobofe” é composta por montmorilonita, quartzo e tridimita. Possui coloração
marrom claro, sem muita uniformidade. É uma mistura da bentonita do tipo chocolate e bofe. Apresenta
pouca calcedônia, com uso mais comum no segmento de fundição.

A bentonita na forma “sortida” é composta por montmorilonita, quartzo e cristobalita. Possui coloração
marrom clara, com pouca uniformidade. Apresenta baixa CTC e baixo inchamento em água. Existe pre-
sença considerável de calcedônia, com seu uso mais comum na construção civil.

Por último, a bentonita “verde-lodo” é composta por montmorilonita, quartzo e caulinita. Possui coloração
verde-escuro muito uniforme. Apresenta baixa CTC e baixo inchamento em água. O seu uso mais comum
é nos segmentos de cosméticos e de fármacos. O Quadro 1 mostra as composições químicas típicas das
diferentes formas de bentonita.

Apesar de existir uma variedade de formas de bentonita, é importante salientar que em um mesmo perfil,
podem-se encontrar diversas formas de bentonita, como mostrado na Figura 2. A calcedônia, que é
produto da decomposição do quartzo, também é considerada um contaminante, visto que pode interferir
nas propriedades do tipo de argila quando beneficiado. A mesma possui coloração branca amarelada,
podendo ser confundida com a bentonita na forma “bofe”, todavia, a calcedônia apresenta dureza elevada.

Segundo a Companhia de Tecnologia e de Saneamento de São Paulo (CETESB, 1993), os solos


potencialmente usados como camada impermeabilizadora de fundos de aterro sanitário devem
apresentar coeficiente de permeabilidade abaixo de 10 -7 cm/s. Assim, a adição de bentonita pode
apresentar-se como uma solução técnica viável para adequar o solo local a esse critério.

Quadro 1 - Análises químicas típicas das bentonitas da Paraíba – PB (Cutrim et al., 2015)

Componente “Chocolate” “Bofe” “Chocobofe” “Sortida” “Verde-lodo”

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SiO2 (%) 61,08 71,05 62,34 59,72 50,48

Al2O3 (%) 15,28 11,82 14,39 17,98 20,70

Fe2O3 (%) 10,19 6,27 11,18 8,78 12,46

MgO (%) 1,75 1,22 1,80 1,72 1,94

Na2O (%) - 0,65 - - -

Cao (%) 1,58 0,70 1,50 1,25 1,07

K2O (%) 0,38 0,27 0,46 0,75 2,57

SO3 (%) 0,12 - 0,17 0,12 0,07

P2O5 (%) - - - - 0,07

MnO (%) - - - - 0,07

TiO2 (%) 0,92 0,70 0,95 1,25 1,47

ZrO2 (%) 0,01 0,01 0,02 0,03 0,03

Sc2O3 (%) - - 0,07 - -

V2O5 (%) 0,06 - 0,60 - 0,21

CuO (%) 0,03 0,03 - 0,04 0,05

NiO (%) - - - - 0,02

ZnO (%) 0,02 0,01 - 0,02 0,03

SrO (%) 0,02 - 0,02 0,02 0,01

Y2O3 (%) - - - - 0,02

Cr2O3 (%) 0,05 - - - 0,06


Perda ao fogo
6,58 7,08 7,05 8,33 8,66
(%)

Figura 2 - Vista da lavra de bentonita em Boa Vista – PB (Santos et al., 2002)

3- MATERIAIS E MÉTODOS

O solo utilizado no presente estudo é proveniente da jazida usada na execução do aterro sanitário da
cidade de Ceará-Mirim/RN, que atende à região metropolitana de Natal, Capital do Estado do Rio Grande
do Norte. Este solo foi empregado como barreira impermeabilizante de fundo do referido aterro sanitário.
A Figura 3 mostra a localização do aterro.

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Figura 3 – Localização do município que abriga a jazida de solo utilizado neste estudo (adaptado de IBGE, 2018)

A bentonita usada no estudo é do tipo “bofe”, proveniente da cidade de Cubati, na Paraíba, cedida pela
empresa ARMIL MINERAÇÃO DO NORDESTE LTDA, com sede na cidade de Parelhas-RN. É importante
reforçar que embora seja esperado baixo poder expansivo desta bentonita, a mesma é tida como uma
bentonita com baixo valor para engenharia, como uma espécie de rejeito das bentonitas. O Quadro 2
mostra a composição química fornecida pela empresa, obtida por meio de espectrofotometria de absorção
atômica.

Quadro 2 – Composição química da bentonita na forma “bofe” (de acordo com ARMIL Mineração do Nordeste LTDA)
SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO3 CaO MgO K 2O Na2O Perda ao fogo (%)
Componentes
(%) 57,10 21,67 2,62 0,69 2,95 1,01 0,19 0,24 12,50

Foram estudados dois teores de substituição de solo por bentonite (5% e 10%). A mistura foi feita
conforme orientações de Lukiantchuki (2007), da seguinte forma: as quantidades necessárias de solo e
bentonita são unidas (em relação as suas massas secas) e misturadas manualmente com o auxílio de
uma espátula. A água requerida é adicionada, seguida da completa homogeneização. Logo após, o
material é acondicionado em sacos plásticos devidamente protegidos, por um período de 2 a 3 dias, para
obter completa homogeneização do teor de umidade do material.

Foi feita a caracterização do solo, das misturas e da bentonita. Para todos os ensaios, as quantidades
iniciais de material foram determinadas através da NBR 6457:2016 “Amostra de solo – Preparação para
ensaio de compactação e caracterização” (ABNT, 2016). A massa específica das partículas do solo, s, foi
feita conforme orientação da NBR 6508:1984 “Grãos de solos que passam na peneira de 4,8 mm –
Determinação da massa específica” (ABTN, 1984). Para a bentonita, seguiu-se a orientação de
Lukiantchuki (2007), utilizando a massa m1=10 g ao invés de 50 g, e deixou o material imerso em água
destilada por cinco dias, ao invés de um dia. Para a mistura, utilizou-se 30 g, ao invés de 50 g e foi
deixado material imerso por três dias, ao invés de um dia. O resto do procedimento foi exatamente o
mesmo que foi feito para o solo.

Os ensaios de limite de plasticidade (WL) e limite de liquidez (WP) foram feitos como recomendado pela
NBR 6459:1984 “Solo – Determinação do limite de liquidez” (ABTN, 1984a) e pela NBR 7180:1980 “Solo
– Determinação do limite de plasticidade” (ABTN, 1980), respectivamente. O ensaio de granulometria foi
realizado segundo a NBR 7181:1984 “Solo – Análise granulométrica” (ABNT, 1984b). Assim como os
ensaios para determinação dos limites de Atterberg, o presente ensaio seguiu exatamente as
recomendações normativas. Entretanto, pelo fato da bentonita não apresentar fácil saturação, foram
seguidas as ressalvas apresentadas por Lukiantchuki (2007)

Cutrim et al. (2015) menciona a importância da realização do ensaio de inchamento Foster, pois indica o
caráter sódico ou não das bentonitas. A metodologia para esse ensaio é a seguinte: pesa-se 1 g de argila
e coloca-se em uma proveta de 100 ml, preenchida com água (ou qualquer solvente orgânico). Adiciona-
se lentamente a argila na proveta, de modo que decante por gravidade e não encoste material na parede
da proveta. Ao terminar, realizam-se leituras nos períodos de 1 hora e 24 horas, sendo o resultado
indicado em ml/g.

O ensaio de compactação foi realizado de acordo com a NBR 7182:1986 (ABNT, 1986). Os ensaios foram
feitos com reuso do material. A quantidade de amostra e o tamanho do molde usado foram estabelecidos
conforme NBR 6457:2016 “Amostra de solo – Preparação para ensaio de compactação e caracterização”
(ABNT, 2016), e, como o material passa integralmente pela peneira de 4,8mm, optou-se por utilizar o
molde pequeno.

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Os ensaios de permeabilidade foram realizados em amostras moldadas com umidade ótima e em torno
de 2% abaixo e acima desse valor. Os ensaios foram realizados com o solo sem bentonita, e com 5% e
10% de substituição de bentonita. Os ensaios foram baseados nas seguintes normas: NBR 13292:1995 –
“Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos granulares a carga constante” e da NBR
14545:2000 – “Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a carga variável”. É
importante observar que a NBR 13292:1995 é restritiva para solos que passam no máximo 10% (em
massa) na peneira 0,075 mm (peneira #200), o que não ocorre com nenhuma das amostras. Todavia,
observou-se que poderia haver erros na leitura da bureta para o caso do ensaio com carga variável,
optando assim por fazer o ensaio das duas formas, a fim de ter o resultado mais fidedigno possível.

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 4 mostra as curvas granulométricas obtidas do solo sem bentonita, da bentonita do tipo “bofe” e
das misturas solo-bentonita nos teores de 5% e 10%. O Quadro 3 mostra o resumo dos resultados
obtidos na caracterização, bem como os resultados obtidos por outros autores, com solos da mesma
classificação unificada que o do presente estudo e com bentonita do tipo sortida, para posterior análise.
(%)

Figura 4 - Curvas granulométricas do solo sem bentonita, da bentonita na forma “bofe”, e das misturas solo-bentonita
com 5% e 10%

Observa-se que, em todos os casos, a bentonita tem uma massa específica maior que o solo. Sendo
assim, o peso específico das misturas apresenta valores crescentes, sendo o esperado. Os resultados
mostram que para os resultados de Camargo (2012) e Lukiantchuki (2007), a bentonita sortida
apresenta uma massa especifica maior que a bentonita na forma “bofe”, resultando em massas
especificas da mistura solo-bentonita maiores. Apesar disso, o presente estudo segue a mesma tendência
de aumento da massa específica em relação aos outros dois estudos, visto que, percentualmente, todos
aumentaram a massa especifica na mistura solo-bentonita com 5% de bentonita, em relação ao solo sem
bentonita em torno de 1% a 2%.

Para Daniel e Koerner (1995), o limite de liquidez de uma bentonita cálcica varia entre 100% e 150%,
enquanto o de uma bentonita sódica varia entre 300% e 500%. Sendo assim, a bentonita do presente
estudo tende a não ser uma bentonita tão ativa, no sentido expansivo, quanto a de Camargo (2012) e
Lukiantchuki (2007), onde apresentaram valores de WL de 455% e 403%, respectivamente. Todavia, é
importante destacar que a CETESB (1993) recomenda os valores de WL > 30% e IP > 30% para o uso de
solos em barreiras impermeabilizantes. Neste sentido, as misturas solo-bentonita do presente trabalho se
enquadram perfeitamente nessas recomendações.

Os valores WL, WP e IP do solo, proveniente da mesma jazida desse estudo, encontrados em Freitas Neto
et al. (2004), são de 17,5%, 14,4% e 3,1%. Dado o tempo de extração da amostra e o local, são dados
muito próximos, sendo assim, valores aceitáveis para um mesmo solo. A comparação das análises
granulométricas mostra diferenças razoáveis nas quantidades de silte e areia média, porém, os dois solos
são basicamente arenosos. Os resultados mostraram que a bentonita do tipo “bofe” apresenta
praticamente a mesma granulometria que as bentonitas do tipo “sortida”. Além disso, observa-se que em
todos os casos não há alteração significativa nas frações granulométricas quando foi adicionada bentonita

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ao solo. Segundo Morandini (2009), quando a bentonita é adicionada às misturas, a mesma flocula e/ou
agrega aos grãos de silte. No presente trabalho observa-se um certo aumento nas frações de silte, sendo
esta explicação aceitável.

Quadro 3 – Resumo dos ensaios de caracterização realizados e ensaios existentes na literatura

A B C D
Propriedades
S00 S05 S10 B.B. S00 S00 S05 B.S. S00 S06 B.S.
ρs (g/cm³) 2,60 2,61 2,64 2,66 2,66 2,61 2,67 2,83 2,63 2,67 2,83
Limites de WL 22,0 22,5 30,2 216,0 17,5 26,0 39,0 455,0 32,0 48,0 458,0
Atterberg (%)
WP 15,0 17,0 20,0 46,3 14,4 17,0 17,0 54,0 16,0 17,0 55,0
(%)
IP 7,1 5,5 10,2 169,7 3,1 9,0 22,0 401,0 16,0 31,0 403,0
(%)
Análise P 3,0 1,3 1,3 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Granulométrica (%)
A.G. 17,1 19,7 15,9 0,0 15,8 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0
(%)
A.M. 29,5 29,8 26,9 0,0 43,6 24,0 25,0 1,0 27,0 25,0 0,5
(%)
A.F. 28,2 22,3 25,7 37,0 25,0 39,0 35,0 1,0 45,0 44,0 0,5
(%)
S 11,4 16,6 20,2 20,8 1,9 14,0 15,0 24,0 4,0 6,0 24,0
(%)
Ar 11,0 10,3 10,5 78,8 12,4 22,0 24,0 74,0 24,0 25,0 75,0
(%)
Classificação Unificada SC SC SC - SC SC SC - SC SC -
Nota¹: A é referente a presente pesquisa, B a Freitas Neto et al. (2004), C a Lukiantchuki (2007) e D a Camargo
(2012)
Nota²: S00 refere-se ao solo sem bentonita, S05 refere-se a mistura solo-bentonita com 5% de bentonita, S06 a
mistura solo-bentonita com 6% de bentonita e S10 a mistura solo-bentonita com 10% de bentonita.
Nota3: B.B corresponde a bentonita na forma “bofe”, B.S. a bentonita na forma “sortida”, P: pedregulho, A.G.: areia
grossa, A.M.: areia média, A.F.: areia fina, S: silte e Ar: argila.
Nota4: os resultados obtidos no presente trabalho são apresentados em “A”.

O resultado para o inchamento da bentonita do tipo “bofe” foi de 1 ml/g, o que segundo Cutrim et al.
(2015), caracteriza-se como um não inchamento. Para finalidade de comparação, utilizou-se uma
bentonita na forma sortida da marca NERCOGEL e encontrou-se o valor de inchamento de 3 ml/g, o que
é caracterizado como inchamento baixo. Para Cutrim et al. (2015), esses valores são esperados para
estas formas de bentonita. A Figura 5 mostra o resultado do ensaio após 24 horas.

As curvas de compactação estão mostradas na Figura 6. O Quadro 4 apresenta os valores do teor de


umidade ótima, wot, e massa específica aparente seca máxima, dmáx, representados na Figura 6,
juntamente com os resultados de Freitas Neto et al. (2004), que usaram o solo da mesma jazida, com os
mesmos teores de mistura, sendo que, com bentonita “sortida”. Comparando-se os resultados obtidos
com os de Freitas Neto et al. (2004), observa-se uma diferença no teor de umidade ótimo e na massa
específica aparente seca máxima, muito menores neste trabalho quando comparados aos resultados de
Freitas Neto et al. (2004). Observando a variação do teor de umidade ótimo e massa específica seca
máxima de cada mistura referente ao solo sem bentonita, observa-se que, para o presente trabalho, a
massa específica praticamente não variou com a bentonita, além disso, o teor de umidade ótima variou
menos que a metade para os dois teores quando comparado com as variações de umidades apresentadas
nos resultados de Freitas Neto et al. (2004). O Quadro 5 mostra a diferença de variação em relação ao
solo sem bentonita que ocorreu devido a bentonita na forma “bofe” do presente trabalho e a bentonita na
forma “sortida” de Freitas Neto et al. (2004). Apesar da curva do solo com o teor de 5% de bentonita ter
um pico maior do que a sem bentonita, essa diferença é de apenas 2%, além disso, as varriações da
bentonita tipo “bofe” são consideravelmente inferiores em relação a bentonita na forma “sortida”.

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A B

Figura 5 – Ensaio de inchamento Foster, sendo a proveta A com bentonita “bofe” e a proveta B com bentonita “sortida”

Figura 6 - Curvas de compactação do solo sem bentonita e das misturas solo-bentonita, nos teores de 5% e 10%

Quadro 4 – Valores de dmáx e wot obtidos a partir das curvas de compactação


A Freitas Neto et al. (2004)

S00 S05 S10 S00 S05 S10


wot (%) 9,20 10,20 11,80 8,40 12,50 14,00

ρdmáx (g/cm³) 1,98 2,02 1,96 2,07 1,92 1,89

Nota¹: A refere-se a presente pesquisa.


Nota²: S00 refere-se ao solo sem bentonita, S05 refere-se a mistura solo-bentonita com 5% de
bentonita e S10 a mistura solo-bentonita com 10% de bentonita.

Quadro 5 - Variações de wot e ρdmáx que ocorreram presente trabalho e no de Freitas Neto et al. (2004) quando foi
adicionada bentonita nos teores de 5% e 10%

5% BENTONITA 10% BENTONITA


Freitas Neto Freitas Neto et al.
A A
et al. (2004) (2004)
Variação de wot (%) 11% 23% 28% 67%
Variação de ρdmáx
2% -7% -1% -9%
(g/cm³)

Nota¹: A é referente a presente pesquisa.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Infere-se que este fato se dá justamente pela bentonita presente em Freitas Neto et al. (2004) ser mais
expansiva que a do presente estudo. Neste sentido, quando há expansão da bentonita, formam-se vazios
no solo, e, como segundo Pinto (2006), a compactação é a diminuição do índice de vazios por processos
mecânicos, existe uma maior dificuldade de acontecer essa diminuição quando a bentonita é mais
expansiva. Em relação ao fato da curva com o teor solo-bentonita de 5% ultrapassar o valor da curva
com o solo sem bentonita para o presente estudo, é atípico.

Os valores do coeficiente de permeabilidade foram obtidos no teor de umidade ótima, aproximadamente


2% abaixo da wot (wot(-)) e aproximadamente 2% acima do wot (wot(+)). Todos foram feitos com o solo
sem bentonita e com mistura solo-bentonita nos teores de 5% e 10%. Os dados de moldagem estão
mostrados no Quadro 6. Os resultados dos ensaios a carga constante estão representados no Quadro 7 e
os resultados com carga variável no Quadro 8.

Quadro 6 – Características de moldagem dos corpos de prova para os ensaios de permeabilidade

S00 S00 S00 S05 S05 S05 S10 S10 S10


Wot(-) Wot Wot(+) Wot(-) Wot Wot(+) Wot(-) Wot Wot(+)

D (cm) 9,71 9,69 9,85 9,74 9,68 9,75 9,73 9,69 9,68
h (cm) 12,70 12,85 12,84 12,69 12,74 12,72 12,87 12,75 12,75
mcp (g) 1733,87 2250,30 2174,86 1866,23 2123,53 1940,91 1839,81 2096,02 1972,75
w (%) 7,01 9,32 11,57 8,07 10,05 12,46 9,53 11,96 13,47
ρd
1,72 2,17 1,99 1,84 2,06 1,84 1,92 1,99 1,85
(g/cm³)
e0 0,51 0,20 0,30 0,42 0,27 0,42 0,49 0,31 0,42
Nota¹: S00 refere-se ao solo sem bentonita, S05 refere-se a mistura solo-bentonita com 5% de bentonita e S10 a
mistura solo-bentonita com 10% de bentonita.
Nota²: wot(-) refere-se abaixo da umidade ótima, wot representa a umidade ótima e wot(+) acima da umidade ótima.
Nota ³: D é referente ao diâmetro médio do corpo de prova, h a altura média do corpo de prova e m cp a massa do
corpo de prova.

Quadro 7 – Valores de coeficientes de permeabilidades do solo sem bentonita e com misturas sol- bentonita nos teores
de 5% e 10%, para ensaio de permeabilidade a carga constante

S00 S05 S10


Umidade Umidade Umidade
k (cm/s) k20 (cm/s) k (cm/s) k20 (cm/s) k (cm/s) k20 (cm/s)
(%) (%) (%)
7,17 wot(-) 1,21.10-2 1,02.10-2 7,98 wot(-) 3,42.10-5 2,90.10-5 9,39 wot(-) 2,52.10-6 1,97.10-6

9,23 wot 1,31.10-3 1,05.10-3 10,12 wot 1,20.10-6 1,02.10-6 11,86 wot 1,02.10-7 9,87.10-8
11,25 11,51 14,03
8,13.10-3 6,59.10-3 7,94.10-6 6,30.10-6 8,71.10-7 6,32.10-7
wot(+) wot(+) wot(+)
Nota¹: S00 refere-se ao solo sem bentonita, S05 refere-se a mistura solo-bentonita com 5% de bentonita e S10 a
mistura solo-bentonita com 10% de bentonita.
Nota²: wot(-) refere-se abaixo da umidade ótima, wot representa a umidade ótima e wot(+) acima da umidade ótima.

Quadro 8 – Valores de coeficientes de permeabilidades do solo sem bentonita e com misturas solo-bentonita nos
teores de 5% e 10%, para ensaio de permeabilidade a carga variável
S00 S05 S010
Umidade k20 Umidade k20 Umidade k20
k (cm/s) k (cm/s) k (cm/s)
(%) (cm/s) (%) (cm/s) (%) (cm/s)
7,05 wot(-) 1,15.10-4 9,70.10-3 8,20 wot(-) 3,09.10-5 2,62.10-7 9,80 wot(-) 7,28.10-6 6,78.10-6
9,13 wot 1,24.10 -3
1,00.10 -3
10,20 wot 1,08.10 -6
9,20.10 -7
11,80 wot 9,20.10 -8
8,93.10-8
11,52 11,20 13,80
7,72.10-3 6,26.10-3 7,17.10-6 5,69.10-6 7,88.10-7 5,72.10-7
wot(+) wot(+) wot(+)
Nota¹: S00 refere-se ao solo sem bentonita, S05 refere-se a mistura solo-bentonita com 5% de bentonita e S10 a
mistura solo-bentonita com 10% de bentonita.
Nota²: wot(-) refere-se abaixo da umidade ótima, wot representa a umidade ótima e wot(+) acima da umidade ótima.

Fazendo uma média dos valores obtidos do k20 no ensaio com carga constante e no ensaio com carga

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variável, foram traçado pontos correlacionando esses valores para todas as umidades, como mostrado na
Figura 7. O gráfico mostra que apesar da bentonita na forma “bofe” praticamente não ser expansiva, a
mesma influencia razoavelmente na permeabilidade, visto que, para teores de umidade ótima, os valores
variaram da ordem de 10-3 cm/s para o solo sem bentonita a 10-7 cm/s para mistura solo-bentonita no
teor de 10%, sendo este último valor inclusive, aceitável para impermeabilização de barreiras segundo a
CETESB (1993).

Figura 7 - Variação dos coeficientes de permeabilidades versus os teores de bentonita

O gráfico da Figura 7 também mostra menores valores no coeficiente de permeabilidade para umidade
ótima, e na umidade acima da ótima (ramo úmido), ou seja, quando a estrutura do solo é dispersa,
valores do coeficiente de permeabilidade menores comparado a estruturas floculadas (ramo seco). Sendo
assim, os ensaios coerentes e de acordo com (Lambe e Whitman, 1969).

Ensaios de permeabilidade realizados por Freitas Neto et al. (2004) com bentonita “sortida”, como
mostrado na Quadro 9, mostram que o solo na umidade ótima tinha um k20 de 3,7.10-4 cm/s e na mistura
solo-bentonita de 5% apresentou um k20 de 3,01.10-9 cm/s, valor este muito superior ao apresentado
neste estudo, pois a bentonita na forma “bofe” apresentou um valor próximo a isso só com teores de 10%
(e mesmo assim foram menores, na ordem de 10-7 cm/s). Este fato é coerente devido ao pouco
inchamento da bentonita na forma “bofe”, como explicado na fundamentação teórica. Porém, visto que a
bentonita na forma “bofe” é tratada como um rejeito para engenharia, a mesma apresenta custos
competitivos para impermeabilização de barreiras quando misturada a teores mais elevados.

Quadro 9 - Ensaios de permeabilidade realizados por Freitas Neto et al. (2004)

S00 S05

k20 (cm/s) 3,7.10-4 3,01.10-11

Nota¹: S00 refere-se ao solo sem bentonita e S05 refere-se à mistura solo-bentonita com 5% de bentonita.

5- CONCLUSÕES

A pesquisa investigou que há viabilidade em usar misturas de bentonitas na forma “bofe”, que até então
era caracterizada como bentonita de baixa qualidade e sem uso para a engenharia civil.

Inicialmente, foi feita a caracterização e investigado o nível de inchamento da bentonita selecionada. Fez-
se a mistura do solo-bentonita nos teores de 5% e 10%, e a partir destes valores, obtiveram-se as
respectivas curvas de compactação, observando assim, que não houve variações significativas na massa
específico seco e variações singelas nas umidades ótimas quando comparadas com a bentonita na forma
“sortida”.

A partir disso, foram feitos ensaios de permeabilidade variando as umidades em: ótima, 2% abaixo da
ótima, e 2% acima da ótima. Neste contexto, encontraram-se valores de permeabilidade variando na
ordem de 10-2 cm/s a 10-8 cm/s, sendo este último no teor de 10% e aceito para utilização em barreiras
impermeabilizantes. Mostrando assim, competitividade com a bentonita na forma “bofe” para uso em
barreiras impermeabilizantes, pois, mesmo o teor sendo relativamente maior (geralmente teor de 5% de
bentonita na forma “sortida” já seria o suficiente para esta ordem de permeabilidade em solos arenosos),
essa bentonita não altera significativamente as propriedades do solo, alterando menos, inclusive, que
teores de 5% com bentonita na forma “sortida”.

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Portanto, dadas as diversas diferenças de características citadas no presente trabalho das misturas solo-
bentonita com bentonita nas formas “bofe” e “sortida”, torna-se imprescindível saber qual forma está
usando e suas respectivas propriedades, a fim de evitar prejuízos financeiros e baixa qualidade do fim
desejado.

REFERÊNCIAS

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Rio de Janeiro.

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permeabilidade de solos granulares à carga constante. Rio de Janeiro.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016) - NBR 6457 - Amostras de solo - Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984) - NBR 6508 - Grãos de solo que passam na peneira de
4,8mm - Determinação da massa específica. Rio de Janeiro.

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de solos argilosos a carga variável. Rio de Janeiro.

Camargo, K.R. (2012) - Avaliação da condutividade hidráulica e da resistência ao cisalhamento de misturas solo-
bentonita: estudo de caso de um aterro sanitário localizado em Rio Grande (RS). São Carlos (SP).

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quallity control of liner and cover syster. ASCE, New York, NY, USA.

Freitas Neto, O., França, F.A.N., Santos Júnior, O.F., Ribeiro, P.C.P. e Duarte, J.B. (2004) - Análise da Influência da
Energia de Compactação e do Teor de Argila na Permeabilidade do Solo. 1º Simpósio Brasileiro de Jovens
Geotécnicos, São Carlos.

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cisalhamento de um solo arenoso usado como barreira impermeabilizante, Universidade de São Paulo, São
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1320
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ EM SOLOS


EXPANSIVOS NOS MUNICÍPIOS DE PAULISTA, CABROBÓ E BREJO DA MADRE
DE DEUS NO ESTADO DE PERNAMBUCO/BRASIL

INFLUENCE OF THE ADDITION OF RICE HUSK ASH IN EXPANSIVE SOILS IN


THE CITIES OF PAULISTA, CABROBÓ AND BREJO DA MADRE DE DEUS IN THE
STATE OF PERNAMBUCO/BRAZIL

Lacerda, Luiz Santiago S. do N. de; IF Sertão-PE, Ouricuri-PE, Brasil, luiz.santiago@ifsertao-pe.edu.br


Constantino, Camila de S.; UFPE, Recife-PE, Brasil, camilaconstantino66@gmail.com
Bezerra, André Luis; UFPE, Recife-PE, Brasil, andreluisbezerra@gmail.com
Ferreira, Silvio Romero de M.; UFPE, Recife-PE, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO

Solos expansivos apresentam variação de volume quando há mudança de umidade devido à presença de
argilominerais que facilitam a absorção da água. A engenharia geotécnica estuda o comportamento desses
solos e possíveis medidas de mitigação de problemas por eles causados, como o uso de aditivos. A cinza
de casca de arroz é um resíduo que pode auxiliar na redução da expansibilidade. Neste trabalho são
analisadas as propriedades físicas de três solos expansivos de Pernambuco, Brasil com o uso da cinza de
casca de arroz nas proporções, em massa, de 2%, 4%, 6%, 8% e 10%. Dentre os ensaios realizados estão:
expansão livre, compactação, granulometria, densidade, limites de liquidez e plasticidade. Os solos de
Paulista, Cabrobó e Brejo da Madre de Deus apresentaram expansão livre de 15,7%, 0,91% e 24,1%,
índice de plasticidade (IP) de 33%, 4,74% e 28,24%, umidade ótima de 20,7%, 11,0% e 20,0% e peso
específico aparente seco máximo de 16,06, 19,58 e 17,30 kN/m³, respectivamente. Com a adição da cinza
de casca de arroz no solo de Paulista houve pouca variação na curva granulométrica; decréscimo do IP,
peso específico aparente seco máximo e peso específico dos grãos; mas houve um aumento na umidade
ótima. Nas misturas do solo de Brejo da Madre de Deus ocorreu pouca variação na granulometria;
considerável diminuição no IP, peso específico dos grãos e no peso específico aparente seco máximo;
entretanto houve aumento na umidade ótima. No solo de Cabrobó, verificou-se uma variação de 10% na
fração argílica entre as misturas e o solo natural; o IP teve um leve acréscimo, os pesos específicos dos
grãos não apresentaram variação linear, enquanto o peso específico aparente seco máximo teve um
considerável decréscimo e a umidade ótima com variação mais de 10%.

ABSTRACT

Expansive soils present volume variation when there is moisture change due to the presence of clay
minerals that facilitate water's absorption. Geotechnical engineering studies the behavior of soils and
possible measures to mitigate problems caused by them, such as the use of additives. Rice husk ash is a
residue that can assist in expansion reduction. In this paper, the physical properties of three expansive
soils of Pernambuco, Brazil are analyzed with the use of rice husk ash in proportions, of mass, of 2%, 4%,
6%, 8% and 10%. Among the tests performed are: free swell, compaction, particle-size distribution, density,
Liquid and plastic limits. The soils of Paulista, Cabrobó and Brejo of the Madre de Deus presented free
swelling of 15.7%, 0.91% and 24.1%, plasticity index (PI) of 33%, 4.74% and 28.24%, optimum moisture
content of 20.7%, 11.0% and 20.0% and apparent dry maximum weight of 16.06, 19.58 and 17.30 kN/m³,
respectively. With an addition of rice husk ash in Paulista's soil the particle-size distribution happened a
small variation; the IP, apparent dry maximum weight and specific grain weight decreased; but the optimum
moisture content increased. In the soil mixtures of Brejo of the Madre de Deus the particle-size distribution
didn't change significantly; it occurs a considerable decrease in IP, specific grain weight and apparent dry
maximum weight; however the optimum moisture content increased. In Cabrobó soil, there was a variation
of 10% in the clay fraction between mixtures and natural soil; the IP had a slight increase, the specific
grains weights did not present linear variation, while the apparent dry maximum weight had considerable
decrease and the optimum moisture content varied more than 10%.

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1- INTRODUÇÃO

O solo é a base para a maior parte das obras na construção civil e solos que apresentam instabilidade
volumétrica podendo comprometer as construções causando danos ou levando-as à ruina. Os solos
expansivos aumentam de volume quando a umidade cresce e diminui quando há a perda de umidade,
devido a presença de argilominerais expansivos como a montmorilonita e a vermiculita, pois facilitam a
adsorção de moléculas de água entre as cadeias tetraédricas e octaédricas (Frascá e Sartori, 1998).

Segundo Nelson e Miller (1992) a Sociedade Americana de Engenheiros Civil estima que uma em cada
quatro casas tem alguns danos causados por solos expansivos. Em um ano típico, solos expansivos podem
causar maior perda financeira para os proprietários do que danos causados por tremores de terra,
inundações, tornados e furações combinados. Na Inglaterra, a Associação de Seguradoras Britânicas
estimou que o custo médio com solo expansivo para a indústria de seguros está em mais de 400 milhões
de libras por ano (Driscoll e Crilly, 2000). No Brasil não se têm dados específicos dos custos com danos
causados por esses solos, quando inundados. Variadas alternativas são utilizadas para evitar os problemas
gerados por este tipo de solo. Por exemplo, a remoção do solo expansivo e substituição por outro sem essa
característica, adições de cal, cinza volante, cinza de casca de arroz (CCA), cinza de resíduos sólidos, pó
de brita, resíduo cerâmico, materiais fibrosos, cloretos (cálcio, potássio, ferro e sódio), entre outros.

A CCA é um resíduo agrícola com característica pozolânica, pois contém sílica e possui grande superfície
específica (Adhikary e Jana, 2016). Representa aproximadamente, 20% da produção de arroz (Habeeb e
Mahmud, 2010), como o Brasil é responsável por produzir 10,6 milhões de toneladas de arroz anualmente,
segundo FAO, 2016 a produção desse resíduo torna-se significativa e um problema ambiental a ser
resolvido.

A atividade da CCA é a principal responsável pela estabilização do solo expansivo, pois está relacionada ao
quanto a sílica constituinte reage com hidróxido de cálcio (CaOH) e, segundo Vinh (2012), quanto menor
a partícula de CCA, maior será a superfície específica e, consequentemente, maior o índice de atividade
pozolânica. Por usa vez, a pozolana auxilia na formação de compostos cimentícios no solo ao reagir com o
hidróxido de cálcio (CaOH) (Alhassan, 2008).

O presente artigo tem por objetivo analisar o efeito da adição de cinza de casca de arroz nas propriedades
físicas dos solos expansivos de três cidades (Paulista, Cabrobó e Brejo da Madre de Deus) do estado de
Pernambuco, Brasil, utilizando mistura de solo, em massa, com 2%, 4%, 6%, 8% e 10% de CCA. A variação
de volume devido à mudança de umidade desses solos já foram estudadas por Bezerra (2018), Constantino
(2018), Lacerda (2018), Paiva (2016) e Paiva et al. (2016), aqui será analisado o efeito da adição da CCA
na caracterização física das misturas solo-CCA.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras dos solos expansivos foram coletadas das cidades de Paulista (na Zona da Mata), Brejo da
Madre de Deus (no Agreste) e Cabrobó (no Sertão), todas no estado de Pernambuco. A CCA utilizada foi
coletada na cidade de Cabrobó, Pernambuco, em uma fábrica de arroz que utiliza a casca como combustível
para realizar o processo de parboilização do arroz. A queima da casca nos fornos dessa fábrica não ocorre
de forma controlada e a cinza desse processo é molhada para ganhar peso para ser disposta em uma vala.
As proporções das misturas de solo e CCA utilizadas foram escolhidas tomando como base trabalhos
desenvolvidos em outros países (Alhassan, 2008; Akinyele et al., 2015) e com misturas de solo e cal. As
proporções utilizadas foram de 2%, 4%, 6%, 8% e 10% de CCA, em massa.

A CCA, as amostras de solo e misturas foram preparadas para os ensaios de peneiração, sedimentação,
peso específico dos grãos, compactação, limite de liquidez e limite de plasticidade de acordo com a ABNT
(2016a). Os ensaios de limites de liquidez e plasticidade foram realizados de acordo com ABNT (2016b) e
ABNT (2016c), respectivamente. Os ensaios de peneiração e sedimentação para determinar a composição
granulométrica dos solos e das misturas foram efetuados seguindo as orientações da ABNT (2016d). A
determinação do peso específico dos grãos dos solos e das misturas foi realizada segundo o procedimento
descrito na ABNT (1984). O ensaio de compactação dinâmica foi executado com corpos de prova moldados
no cilindro pequeno e com energia normal de compactação, segundo procedimentos descritos na ABNT
(2016e).

Para os ensaios de expansão livre foram moldados corpos de prova compactados no cilindro pequeno com
energia normal e na umidade ótima, para os solos naturais e misturas pré-estabelecida. Desses corpos de
prova foram talhadas amostras em anéis de aço inoxidável com, aproximadamente, 60,0 cm² de área e
2,0 cm de altura, submetidas a pequenas tensões de 1,0 ou 10,0 kPa, de acordo com a ASTM, 1995 para
ensaios com 0, 7 e 28 dias de cura.

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3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

São apresentadas as caracterizações da CCA e dos solos e das minturas solo-CCA.

3.1 - Caracterização da CCA

A Figura 1 apresenta a distribuição granulométrica da CCA, onde o tamanho das partículas de CCA variam
de 0,03 e 5,00 mm. A Figura 2 mostra a curva de compactação da CCA com peso específico aparente seco
máximo de 5,15 kN/m³ e umidade ótima de 109%. O peso específico dos grãos é de 19,10 kN/m³ e nos
ensaios de limites de liquidez e plasticidade, a CCA apresentou comportamento não plástico, que pode ser
justificado pela ausência de pelo menos 5% da fração de finos observada na distribuição granulométrica
do material.
100 5,6

Peso específico aparente seco (kN/m³)


90
5,4
80
5,2
Material passante (%)

70

60 5,0

50 4,8

40
4,6
30
4,4
20
4,2
10

0 4,0
0,01 0,10 1,00 10,00 80,0 90,0 100,0 110,0 120,0 130,0
Diâmetro dos grãos (mm) Umidade (%)
Figura 1 – Curva granulométrica da CCA Figura 2 – Curva de compactação da CCA

3.2 - Caracterização física e expansibilidade dos solos e das misturas de solo e CCA

As distribuições granulométricas, de acordo com ABNT (1995), o peso específico aparente seco máximo, a
umidade ótima, o peso específico dos grãos, o limite de liquidez e os índices de plasticidade e atividade dos
solos de Paulista, Brejo da Madre de Deus e Cabrobó estão apresentados no Quadro 1.

Quadro 1- Caracterização física completa dos solos de Paulista, Brejo da Madre de Deus e Cabrobó
Solo
Caracterização física
Paulista Brejo da Madre de Deus Cabrobó
Pedregulho 0,28 1,73 5,82
Areia 28,57 45,56 57,08
Granulometria (%)
Silte 17,75 6,86 13,03
Argila 53,40 45,85 23,13
Relação silte/argila 0,33 0,15 0,56
Peso específico aparente seco máximo (kN/m³) 16,66 17,30 19,23
Umidade ótima (%) 20,70 20,00 11,30
Peso específico dos grãos (kN/m³) 26,60 27,54 25,92
Limite de liquidez (%) 57,53 50,61 26,10
Índice de plasticidade (%) 32,72 28,24 4,74
Índice de atividade 0,61 0,62 0,20
Expansão livre (%) 15,73 24,15 1,67

Os solos de Paulista e Brejo da Madre de Deus apresentaram alta plasticidade (IP>15%) e alta
compressibilidade (CH), enquanto o solo de Cabrobó apresentou baixa plasticidade (1%<IP<7%) e baixa
compressibilidade (CL).

Em relação à atividade da argila e determinação da expansibilidade do solo de forma indireta (Figura 3),
pelo critério de Daksanamurthy e Raman (1973), os solos de Paulista e Brejo da Madre de Deus apresentam
um alto potencial de expansibilidade, entretanto o de Cabrobó apresenta baixo potencial. Segundo o critério
de Skempton (1953), a fração argílica dos três solos é inativa (Ia<0,75). Pelo critério de Williams (1957),
os solos de Paulista e Brejo da Madre de Deus tem alto potencial expansivo, já o de Cabrobó possui baixo
potencial.

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Figura 3 – Cartas de atividade e plasticidade

A influência da substituição proporcional de solo por CCA, em massa, não é tão significativa na
granulometria do solo de Paulista, como visto na Figura 4, entretanto nos solos de Brejo da Madre de Deus
e Cabrobó, respectivamente (Figuras 5 e 6), nota-se uma redução em torno, aproximadamente, 10% na
fração argílica, isso se deve ao fato de que a CCA tem menor peso específico real dos grãos do que os
grãos do solo.

100% 100%

90% 90%

80% 80%
Material passante (%)
Material passante (%)

70% 70%
Brejo da Madre
60% Paulista 60%
de Deus
50% Solo natural 50% Solo natural
40% Solo + 2% CCA 40% Solo + 2% CCA
Solo + 4% CCA 30% Solo + 4% CCA
30%
Solo + 6% CCA Solo + 6% CCA
20% 20%
Solo + 8% CCA Solo + 8% CCA
10% 10%
Solo + 10% CCA Solo + 10% CCA
0% 0%
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro dos grãos (mm) Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 4 – Curva granulométrica do solo de Paulista e Figura 5 – Curva granulométrica do solo de Brejo da
suas misturas com CCA Madre de Deus e suas misturas com CCA

100%

90%

80%
Material passante (%)

70%

60% Cabrobó
50%
Solo natural
40% Solo + 2% CCA
30% Solo + 4% CCA
Solo + 6% CCA
20%
Solo + 8% CCA
10%
Solo + 10% CCA
0%
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 6 – Curva granulométrica do solo de Cabrobó e suas misturas com CCA

O acréscimo do teor de CCA aos solos causa um aumento na umidade ótima e uma diminuição do peso
específico seco máximo das misturas, respectivamente (Figuras 7 e 8). A relação da umidade ótima
observada nos solos de Cabrobó, Brejo da Madre de Deus são similares à constatada na literatura, onde se
encontra o crescimento da umidade ótima com o incremento no quantitativo de CCA ao solo. Apenas no
solo de Paulista ocorreu uma leve redução na umidade ótima quando se adiciona a proporção, em massa,

1324
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

de 2% de CCA ao solo, porém o crescimento se manteve com os demais acréscimos. No que se refere aos
resultados de peso específico aparente seco máximo, verifica-se uma redução significativa ao aumentar o
teor de CCA nos solos de Paulista e Brejo da Madre de Deus, que atestam a observação da literatura. A
CCA tem capacidade de absorver mais água do que o solo elevando a umidade ótima da mistura e redução
no peso específico aparente seco máximo para a mesma energia de compactação aplicada. Além do mais
o acréscimo do teor de CCA reduz a quantidade de partículas sólidas (de maior peso específico) para um
mesmo volume e energia aplicada (Figura 9).

30,0 20,0

19,0

Peso específico aparente seco máximo (kN/m³)


25,0
18,0

17,0
20,0
Umidade ótima (%)

16,0

15,0 15,0

14,0

10,0 Cabrobó Cabrobó


13,0
Paulista Paulista
Brejo da Madre de Deus 12,0 Brejo da Madre de Deus
5,0 Maikunkele (Alhassan, 2008)
Maikunkele (Alhassan, 2008)
Baladroz (Fattah, Rahil& Al-Soudany, 2013) 11,0 Baladroz (Fattah, Rahil& Al-Soudany, 2013)
Halaquept (Qu et al, 2014) Halaquept (Qu et al, 2014)
0,0 10,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 2% 4% 6% 8% 10%
Proporção de CCA, em massa (%) Proporção de CCA, em massa (%)

Figura 7 – Comportamento da umidade ótima com a Figura 8 – Comportamento do peso específico aparente
variação do teor de CCA no solo seco máximo com a variação do teor de CCA no solo

A Figura 9 representa o percentual em volume de solo, CCA, água e ar para um mesmo volume de solos e
suas respectivas misturas, onde se pode observar a redução da fase sólida ao incorporar 2% de CCA na
massa de solo ocasionado pelo aumento de ar. Nas misturas de solo com CCA evidencia-se o acréscimo do
volume de vazios, com aumento da umidade, observado na Figura 7.

100%

80%
Volume (%)

60%

40%

20%

0%

Paulista Brejo da Madre de Deus Cabrobó

Ar Água CCA Grãos de solo

Figura 9 – Percentual de grãos de solo, CCA, água e ar para um mesmo volume de solos e misturas

1325
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

O limite de liquidez (Figura 10), apresentou comportamento diversificado nos três solos ensaiados, não
apresentando um padrão bem definido de acréscimo ou decréscimo. Assim como nos solos encontrados na
literatura, onde o incremento de CCA ao solo aumentou o limite de liquidez em Qu et al. (2014) e Akinyele
et al. (2015), enquanto reduziu em Fattah et al. (2013). O índice de plasticidade (Figura 11), apresentou
diminuição entre 0% e 6% crescimento entre 6% e 10% de teor de CCA no solo de Paulista, redução com
o aumento do teor de CCA no solo de Brejo da Madre de Deus e no solo de Cabrobó é notado um aumento
pouco significativo. Na literatura, o aumento na proporção de CCA no solo incrementou o índice de
plasticidade em Qu et al. (2014) e diminuiu em Akinyele et al. (2015) e Fattah et al. (2013). A redução no
índice de plasticidade acontece devido ao aumento do limite de plasticidade por causa das reações
pozolânicas que ocorrem entre solo e CCA devido à presença de CaOH.

80,0 50,0
Cabrobó Cabrobó
Paulista Paulista
45,0
Brejo da Madre de Deus Brejo da Madre de Deus
70,0 Buruku (Akinyele et al, 2015) Buruku (Akinyele et al, 2015)
40,0
Baladroz (Fattah, Rahil & Al-Soudany, 2013) Baladroz (Fattah, Rahil & Al-Soudany, 2013)
Halaquept (Qu et al, 2014)
Halaquept (Qu et al, 2014)
35,0
60,0

Índice de plasticidade (%)


Limite de liquidez (%)

30,0

50,0 25,0

20,0

40,0
15,0

10,0
30,0

5,0

20,0 0,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 2% 4% 6% 8% 10%
Teor de CCA (%) Teor de CCA (%)

Figura 10 – Comportamento do limite de liquidez com a Figura 11 – Comportamento do índie de plasticidade com
variação do teor de CCA no solo a variação do teor de CCA no solo

O peso específico real dos grãos tende a decrescer com a adição do teor de CCA nas misturas (Figura 12).
Entretanto na mistura do solo do Paulista quando o teor de CCA aumentou de 8% para 10% houve um
pequeno acréscimo e nas misturas do solo de Cabrobó, quando o teor de CCA aumentou para 2% e de 8%
para 10% também houve um acréscimo. Isto é devido a substituição da CCA com peso específico real dos
grãos menor que o solo natural.

Os solos de Paulista e Brejo da Madre de Deus apresentaram mais de 80% de redução da expansão livre
com o aumento do teor de CCA sem considerar o tempo de cura, respectivamente (Figuras 13 e 14). Já o
solo de Cabrobó não teve expansão livre significativa (Figura 15), para classificá-lo como solo expansivo,
no entanto nota-se que esse solo com teor de 2% de CCA apresentou um aumento de 30% de expansão
livre em relação ao solo natural compactado na umidade ótima. Nos três solos, o tempo de cura reduz a
expansão livre.

1326
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

28,0 35,0
Cabrobó Solo natural
Paulista
Solo + 2% CCA
Paulista 30,0
27,5 Solo + 4% CCA
Peso específico dos grãos (kN/m³)

Brejo da Madre de Deus


Solo + 6% CCA
25,0 Solo + 8% CCA
27,0

Expansão livre (%)


Solo + 10% CCA

20,0
26,5
15,0

26,0
10,0

25,5
5,0

25,0 0,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0 7 14 21 28
Teor de CCA (%) Tempo de cura (dias)
Figura 12 – Comportamento do peso específico dos grãos Figura 13 – Comportamento do solo de Paulista com a
com a variação do teor de CCA no solo variação do teor de CCA no solo em função do tempo de
cura

35,0 3,5
Solo natural Solo natural
Brejo da Madre Cabrobó
Solo + 2% CCA Solo + 2% CCA
30,0 de Deus Solo + 4% CCA 3,0
Solo + 4% CCA
Solo + 6% CCA
Solo + 6% CCA
25,0 Solo + 8% CCA 2,5 Solo + 8% CCA
Expansão livre (%)

Solo + 10% CCA


Expansão livre (%)

Solo + 10% CCA


20,0 2,0

15,0 1,5

10,0 1,0

5,0 0,5

0,0 0,0
0 7 14 21 28 0 7 14 21 28
Tempo de cura (dias) Tempo de cura (dias)
Figura 14 – Comportamento do solo do Brejo da Madre Figura 15 – Comportamento do solo de Cabrobó com a
de Deus com a variação do teor de CCA no solo em variação do teor de CCA no solo em função do tempo de
função do tempo de cura cura

4- CONCLUSÕES

A CCA é um resíduo com propriedades de amplo interesse para a engenharia geotécnica, pois reduz a
variação volumétrica dos solos expansivos e, consequentemente, os danos causados às obras de
infraestrutura.

As alterações das propriedades físicas das misturas de solo com CCA foram significativas a partir do
momento em que estas apresentaram uma gradual redução da expansão livre com o acréscimo gradativo
do teor de CCA e tempo de cura, além da redução do peso específico aparente seco máximo e o aumento
da umidade ótima.

AGRADECIMENTOS

Às equipes do Laboratório de Solos e Instrumentação da UFPE e do Laboratório de Geotecnia da UNIVASF,


pelo apoio nas atividades desenvolvidas para a elaboração desse artigo.

Ao IF Sertão-PE pelo incentivo à pesquisa e capacitação de seus servidores.

1327
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

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1329
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE CINZA DE CASCA DE ARROZ, AREIA E CAL EM


SOLO EXPANSIVO NO MUNICÍPIO DE PAULISTA NO ESTADO DE
PERNAMBUCO/BRASIL

INFLUENCE OF THE ADDITION OF RICE HUSK ASH, LIME AND SAND IN


EXPANSIVE SOIL IN THE CITY OF PAULISTA IN THE STATE OF
PERNAMBUCO/BRAZIL

Constantino, Camila de S.; UFPE, Recife-PE, Brasil, camilaconstantino66@gmail.com


Santos, Bruna Naiane A.; UFPE, Recife-PE, Brasil, bruna.naiane@outlook.com
Paiva, Sérgio C.; UNICAP, Recife-PE, Brasil, spaiva@unicap.br
Cavalcanti, Luíza C.; UNICAP, Recife-PE, Brasil, luizac.cavalcanti@gmail.com
Ferreira, Silvio Romero de M.; UFPE, Recife-PE, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO

Solos expansivos apresentam comportamento de variação de volume quando submetidos a mudança de


umidade e ocorrem em várias partes do mundo. O comportamento dos solos expansivos é objeto de
estudo na engenharia geotécnica devido aos danos que podem ocasionar às construções. É prática
comum fazer uso de aditivos para minimizar a expansão desses solos e assim diminuir os custos das
construções com substituição do solo e bota-fora. As propriedades físicas de um solo expansivo localizado
no município de Paulista-PE, Brasil com uso de três aditivos: cinza da casca de arroz, CCA (2%, 4% 6% 8%
e 10%), cal hidratada (3%, 5% e 7%) e areia (10% 20%, 30% 40% e 50%) são analizadas. Os ensaios
de expansão livre foram de acordo com a norma ASTM D4829/95 e a ABNT, NBR 12007/90; ensaios de
compactação, granulometria e limites de Atterberg utilizaram as normas da ABNT. O solo natural
apresenta expansão livre de 15,7%, índice de plasticidade de 33%, umidade ótima de 20,7% e peso
específico aparente seco máximo de 16,06 KN/m³. A adição de CCA causa pouca variação na curva
granulométrica, decréscimo no IP, no peso específico aparente seco máximo e aumento na umidade
ótima. A adição de cal ao solo diminue a fração argila, aumenta fração silte, diminue o IP, causa um
pequeno acréscimo no peso específico aparente seco máximo e pequena variação na umidade ótima. A
adição da areia ao solo eleva a proporção da fração areia, reduz a fração argila, diminue o IP, altera a
curva de compactação passando de pico duplo para pico único, aumenta o peso especifico aparente seco
máximo e reduz a umidade ótima. A adição 10% de CCA ao solo e de 3% de cal anula a expansão livre e
a adição de 50% de areia reduz a expansão livre do solo em apenas 25%.

ABSTRACT

Expansive soils vary in volume behavior when subjected to changes in humidity and occur in several
parts of the world. The behavior of the expansive soils is studied in geotechnical engineering due to the
damages that can affect to the constructions. A common practice is to use of additives to minimize the
expansion of these soils and thus reduce the costs of building with soil replacement. The physical
properties of an expansive soil located in the municipality of Paulista-Brazil with the addition of three
additives: rice husk ash (2%, 4% 6% 8% and 10%), hydrated lime (3%, 5% and 7%) and sand (10%
20%, 30% 40% and 50%) are analyzed. Free expansion tests were in agreement with the ASTM
D4829/95 and ABNT, NBR 12007/90 technical Standards; compaction tests, granulometry, Atterberg
limits, using ABNT standards. The natural soil presents free expansion of 15.7%, a plasticity index of
33%, optimum humidity of 20.7% and dry apparent specific maximum weight of 16.06 KN / m³. The
addition of rice husk ash causes small variation in the grain size curve, a decrease in plasticity index and
apparent specific dry weight maximum and increase in optimum moisture. The addition of lime to the soil
reduces the fraction clay, increases silt fraction, decreases the plasticity index, causes a slight increase in
the apparent specific maximum dry weight and small variation in the optimal moisture. The addition of
sand to the soil raises the proportion of the sand fraction, reduces the clay fraction, decreases the
plasticity index; changes the compaction curve from double peak to single peak, there is an increase in
apparent specific maximum dry weight and reduces the optimal moisture. Addition of 10% of rice husk
ash to the soil and 3% lime cancels free expansion and the addition of 50% sand reduces free soil
expansion by around 25%.

1330
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1- INTRODUÇÃO

Os solos expansivos são solos não saturados, que experimentam variação volumétrica, isto é, quando
inundados aumentam de volume e quando ressecos contraem. São encontrados em todos os cinco
continentes e são particularmente difundidos em regiões áridas e semiáridas (Silva Junior, 2006). Solos
que apresentam esta característica causam diversos problemas nas obras de construção civil, tanto em
relação a segurança do projeto quanto ao seu custo. Quando não identificados durante o
desenvolvimento do projeto e, consequentemente, durante a execução eles podem provocar fissuras,
recalques e ate mesmo a ruina do empreendimento. Pode-se estabilizar os solos expansivos utilizando
várias técnicas; um dos tratamentos indicados é o melhoramento desses solos com o uso de aditivos.

A cinza da casca do arroz é um resíduo vegetal oriunda da queima da casca de arroz. A casca de arroz é
uma capa lenhosa do grão, dura, com alto teor de silícia, composta aproximadamente 50% celulose, 30%
de lignina e 20% de silícia de base anidra (Mehta, 1992). Por possuir características pozolânicas, a
utilização da cinza da casca do arroz (CCA) como aditivo vem sendo intensamente estudada,
principalmente em países como a Índia e EUA. A atividade da CCA é a principal característica desse
material na estabilização dos solos expansivos enquanto que, segundo Alhassan (2008), a pozolana
auxilia na formação de compostos cimentícios no solo ao reagir com o hidróxido de cálcio (CaOH).

A cal hidratada, aglomerante aéreo resultante da calcinação dos calcários ou dolomitos através de
decomposição térmica e posteriormente hidratação formando o hidróxido de cálcio - Ca(OH)2, é outro
aditivo utilizado para estabilização de solos expansivos. Quando aplicada ao solo, altera de imediato o pH,
fazendo com que o cálcio evite a penetração da água entre as placas dos argilominerais, preenchendo os
vazios e neutralizando as cargas negativas. Aumentando a troca catiônica e formando flóculos, aumenta
o tamanho dos grânulos, concluindo com as reações de cimentações com a adição do dióxido de carbono
(CO2) no solo, formando os aluminatos, os silicatos e os aluminosilicatos de cálcio hidratado que
estabilizam o solo com as propriedades cimentantes, dando maior resistência mecânica e menos
deformação e permeabilidade (Paiva, 2016).

A substituição parcial por solos arenosos é outra forma bastante utilizada na estabilização de solos
expansivos, onde o mesmo atua modificando a granulometria da mistura, reduzindo a fração argilosa. A
estabilização granulométrica é largamente utilizada hoje em dia em pavimentos, fundações, contenção de
taludes e barragens (Ferreira e Thomé, 2011). Na prática, é comum misturar dois tipos de solos, um com
características granulares e outro com características coesivas com o objetivo de se ter uma mistura com
propriedades adequadas de resistência e trabalhabilidade, visto que os solos arenosos quando analisados
separadamente, são geralmente destruídos por ações abrasivas, devido a falta do “ligante”. Já os solos
argilosos, também analisados separadamente, são muito deformáveis, apresentam baixa resistência ao
cisalhamento quando umedecidos (Cavalcanti, 2017).

Assim, o presente trabalho visa analisar as propriedades físicas de um solo expansivo situado no
município de Paulista em Pernambuco - Brasil ao se adicionar cinza de casca de arroz, cal hidratada e
areia com o objetivo de estabilizar e reduzir a expansão do solo. Foram utilizadas misturas de solo-CCA
com 2%, 4%, 6%, 8% e 10%; misturas solo-cal com 3%, 5% e 7% e misturas solo-areia com 10%, 20%,
30%, 40% e 50%. As misturas de solo-CCA foram estudadas por Constantino (2018), solo-cal por Paiva
(2016) e solo-areia por Cavalcanti (2017).

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Materiais

Para a análise do comportamento do solo expansivo de Paulista-PE, foram coletadas amostras


deformadas e realizados ensaios de caracterização física em laboratório no solo natural e nas misturas de
solo e cinza de casca de arroz, solo e cal e solo e areia. O solo em estudo localiza-se no município de
Paulista-PE a 17 Km do Recife, capital do Estado, onde o clima pode ser classificado como tropical a
úmido, Paiva, 2016 e encontra-se numa área de média suscetibilidade à expansão, Amorim, 2004. A
cinza de casca de arroz utilizada foi coletada em uma fábrica de arroz na cidade de Cabrobó-PE, onde a
queima da casca do arroz é utilizada como combustível no processo de parboilização do arroz. Essa
queima é realizada de forma não controlada e a cinza molhada e descartada em vala. O solo arenoso foi
coletado no município de Bezzeros, em Pernambuco - Brasil. As proporções em peso seco utilizadas nas
misturas de solo e CCA foram de 2%, 4%, 6%, 8% e 10%; nas misturas de solo e cal foram de 3%, 5%
e 7% e nas misturas de solo e areia foram de 10%, 20%, 30%, 40% e 50%.

2.2 - Métodos

O solo natural, as misturas, a CCA, a cal e a areia foram preparadas seguindo as recomendações da
ABNT NBR 6457/2016, e realizados ensaios de caracterização física. Os ensaios de granulometria para

1331
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

determinação da composição da granulométrica do solo e das misturas foram efetuados de forma


conjunta – peneiramento associado à sedimentação – de acordo com o procedimento definido pela ABNT,
NBR 7181/2016. A determinação dos limites de liquidez e plasticidade foram realizados de acordo com as
normas da ABNT: NBR 6459/2016 e NBR 7180/2016. Para determinação da densidade real dos grãos,
fez-se uso do método descrito na NBR 6508/1984. O ensaio de compactação do solo natural e misturas
para determinar a umidade ótima e peso específico aparente seco máximo foi executado de acordo com a
NBR 7182/2016.

Os ensaios de expansão livre foram realizados em células edométricas convencionais seguindo os


procedimentos indicados na norma ASTM D4829/1995. Os corpos de prova do solo natural e misturas
foram moldados na sua umidade ótima e compactados com energia normal. Dos corpos de prova, são
moldadas amostras em anéis de aço inoxidável de, aproximadamente, 2,0 cm de altura e área de 60,0
cm².

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Abaixo serão apresentados a caracterização física da CCA, Cal, Areia, Solo natural e Misturas.

3.1 - Caracterização da CCA, Cal e Areia

O Quadro 1 apresenta a caracterização física da cinza da casca de arroz e da areia. Foram realizados os
mesmos ensaios de caracterização dos solos para a CCA. A areia apresentou um peso específico aparente
seco máximo de 19,68 KN/m³ e umidade ótima de 7,44%, e observamos que a CCA apresentou um peso
específio aparente seco máximo de 5,15 KN/m³, cerca de 73,83% a menos que o solo arenoso, enquanto
sua umidade ótima foi de 109%. O peso específico dos grãos da CCA foi de 19,1 KN/m³ e na areia 27,2
KN/m³. Os ensaios de limite de liquidez e plasticidade realizados indicam um comportamento não plástico
da CCA.

Quadro 1- Caracterização física da CCA, Cal e Areia


Caracterização física CCA Cal Areia
Peso específico aparente seco máximo (kN/m³) 5,15 - 19,68
Umidade ótima (%) 109 1,31 7,44
Peso específico dos grãos (kN/m³) 19,1 - 27,2
Limite de liquidez (%) - - NL
Índice de plasticidade (%) NP - NP

Na Figura 1 apresenta-se a curva granulométrica da CCA, cujo o tamanho dos grãos varia entre 0,03 e
5,00 mm e a Figura 2 expressa a curva de compactação da CCA. Na Figura 3 observamos a curva
granulométrica da areia, onde a mesma apresentou uma textura grossa, com menos de 50% passando
na peneira nº 200 (#0,075 mm), sendo classifcado como uma areia fina (A3) e uniforme (SP).

100 5,6
Peso específico aparente seco (kN/m³)

90
5,4
80
5,2
Material passante (%)

70
5,0
60

50 4,8

40 4,6
30
4,4
20
4,2
10

0 4,0
0,01 0,10 1,00 10,00 80,0 90,0 100,0 110,0 120,0 130,0
Diâmetro dos grãos (mm) Umidade (%)

Figura 1 – Curva granulométrica da CCA Figura 2 – Curva de compactação da CCA

1332
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 3 – Curva granulométrica da Areia de Bezerros

3.2 - Caracterização física e expansividade do solo e das misturas de solo

Os resultados da caracterização física do solo de Paulista, ensaios de peneiramento, sedimentação,


densidade dos grãos, compactação, limites de Atterberg e expansão livre são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2- Caracterização física completa do solo de Paulista


Solo
Caracterização física
Paulista
Pedregulho 0,28
Areia 28,57
Granulometria (%)
Silte 17,75
Argila 53,40
Relação silte/argila 0,33
Peso específico aparente seco máximo (kN/m³) 16,66
Umidade ótima (%) 20,70
Peso específico dos grãos (kN/m³) 26,60
Limite de liquidez (%) 57,53
Índice de plasticidade (%) 32,72
Índice de atividade 0,61
Expansão livre (%) 15,73

O solo de Paulista é um solo de textura fina, com mais de 50% passante na peneira nº 200, onde o
percentual de argila é de 53,40% e o de silte 17,75%, apresentando, assim, uma relação silte/argila de
0,33. Pela classificação USCS considerado uma argila muito plástica e altamente compressível (CH) e pela
classificação AASHTO um solo argiloso fraco (A-7-6). Através do ensaio de compactação, foi possível
determinar sua umidade ótima, 20,70% e seu peso específico aparente seco máximo, 16,66 kN/m³. O
peso específico dos grãos é de 26,60 kN/m³.

Na Figura 4, apresentamos as cartas de plasticidade e atividade do solo de Paulista. O índice de


plasticidade de 32,72%, o que indica uma alta plasticidade do solo (IP>15%) e índice de atividade de
0,61, o que indica que a fração de argila do solo de Paulista é considerada inativa (Ia<0,75), segundo o
critério de Skempton (1953). Apresenta potencial de expansão alto, segundo Daksanamurty e Ramam
(1973). Com relação a expansividade do solo, pelo critério de Cuellar (1978) o solo de Paulista é
classificado como um solo de muito alta expansão (> 10%), pelo critério de Seed et al. (1962) alto grau
de expansão (5% - 25%) e pelo critério de Williams (1957) alto potencial expansivo.

1333
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 4 – Cartas de atividade e plasticidade do solo de Paulista

Nas Figuras 5, 6 e 7 são apresentadas as curvas granulométricas do Solo de Paulista com as misturas de
CCA, Cal e Areia, respectivamente. Na mistura solo-CCA, a classificação USCS se manteve a mesma,
argila muito plástica (CH), porém na classificação AASHTO houve a variação entre solo argiloso com
moderado IP (A-7-5) e com alto IP (A-7-6). A adição de cal ao solo modificou a classificação unificada de
uma argila de baixa compressibilidade (CH) para um silte de alta compressibilidade (MH). Com o
incremento de areia ao solo de Paulista houve a variação da classificação unificada de argila muito
plástica (CH) para uma argila de baixa compressibilidade (CL).

100%

90%

80%
Material passante (%)

70%

60% Solo + CCA


Solo + Cal
50% Solo natural

40% Solo + 2% CCA


Solo + 4% CCA
30%
Solo + 6% CCA
20%
Solo + 8% CCA
10%
Solo + 10% CCA
0%
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 5 – Curva granulométrica do solo de Paulista e suas Figura 6 – Curva granulométrica do solo de Paulista e
misturas com CCA suas misturas com Cal

Solo + Areia

Solo natural

Figura 7 – Curva granulométrica do solo de Paulista e suas misturas com Areia

1334
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Em relação a umidade ótima, nas Figuras 8 e 9 nota-se que o incremento proporcional de CCA ao solo de
Paulista apresenta um aumento contínuo, apenas com uma leve redução no percentual de 2% e voltando
a crescer nos demais percentuais enquanto que a adição da cal tem uma tendência ao crescimento,
apresentando uma baixa no percentual de 5% e voltando a aumentar posteriormente. Resultados
semelhantes foram encontrados por Osinubi (1998) e Alhassan (2008). Já a substituição pela areia
acarreta o oposto, diminuindo, assim, a umidade ótima do solo. Esse comportamento pode ser atribuído
ao fato da CCA e da cal absorverem água e no caso da areia, por termos uma redução no percentual
argiloso do solo, o mesmo passa a ter um comportamento mais próximo de solos arenosos.

28,0 28,0

26,0 26,0
Solo + Areia
24,0 24,0

Umidade Ótima (%)


22,0 22,0
Umidade Ótima (%)

20,0 20,0

18,0 18,0

16,0 16,0

14,0
14,0 Solo + CCA
Solo + Cal
12,0
12,0
0% 10% 20% 30% 40% 50%
0% 2% 4% 6% 8% 10%
Teor de CCA / Cal (%) Teor de Areia (%)

Figura 8 – Comportamento da umidade ótima com a Figura 9 – Comportamento da umidade ótima com a
variação do teor de CCA e Cal no solo variação do teor de Areia no solo

Nas Figuras 10 e 11 são apresentados a variação do peso específico aparente seco máximo das misturas
analisadas. Apenas a mistura solo-CCA apresenta diminuição no seu peso específico aparente seco
máximo, enquanto nas misturas com cal e areia identifica-se a tendência de crescimento. Resultados
semelhantes para a mistura solo-CCA foram encontrados no estudo de Fattah et al. (2013). Vale destacar
que nos casos com mistura solo-cal e solo-areia o aumento foi pouco significativo, variando entre 15,0 e
15,65 kN/m³ e 15,08 e 15,56 kN/m³ respectivamente, enquanto na mistura solo-CCA a redução no peso
específico aparente seco máximo foi cerca de 13,08%.

18,0
18,0
17,5 Solo + Areia
Solo + CCA
Peso espec. aparente seco máximo (kN/m³)

17,5
Peso espec. aparente seco máximo (kN/m³)

Solo + Cal
17,0
17,0
16,5
16,5

16,0
16,0

15,5
15,5

15,0
15,0

14,5 14,5

14,0 14,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de Areia (%)
Teor de CCA / Cal (%)

Figura 10 Comportamento do peso específico aparente Figura 11 – Comportamento do peso específico aparente
seco máximo com a variação do teor de CCA e Cal no seco máximo com a variação do teor de Areia no solo
solo

1335
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A variação do limite de liquidez com a adição de CCA e Cal ao solo é semelhante. Há uma leve tendência
de diminuição até os percetuais de 6% para a CCA e 5% de cal e posteriormente aumentando para os
demais percentuais em análise, enquanto a areia ocasionou o decréscimo do limite de liquidez solo com
leve variação entre os percentuais, Figuras 12 e 13. O índice de plasticidade se comportou da mesma
forma que o limite de liquidez para as três misturas, tendência de diminuição e depois aumento para a
CCA e cal e decréscimo para a mistura solo-areia, apresentando, assim, comportamento muito plástico
(IP>15%) para as três misturas, Figuras 14 e 15. Observamos na literatura que o incremento na
proporção de CCA no solo aumentou o índice de plasticidade em Qu et al. (2014) e diminuiu em Akinyele
et al. (2015) e Fattah et al. (2013). Na mistura solo-areia a redução no índice de plasticidade também foi
observado em Thomé (1994).

70 70

65 65

60 60
Limite de liquidez (%)

Limite de liquidez (%)


55 55

50 50

45 45

40 40

Solo + CCA
35 35
Solo + Cal Solo + Areia
30 30
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de CCA / Cal (%) Teor de Areia (%)

Figura 12 – Comportamento do limite de liquidez com a Figura 13 – Comportamento do limite de liquidez com a
variação do teor de CCA e Cal no solo variação do teor de Areia no solo

40 40

35 35

30 30
Índice de Plasticidade (%)

Índice de Plasticidade (%)

25 25

20 20

15 15

10 10
Solo + CCA
Solo + Areia
5 5
Solo + Cal

0 0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de CCA / Cal (%) Teor de Areia (%)

Figura 14 – Comportamento do índice de plasticidade Figura 15 – Comportamento do índice de plasticidade com a


com a variação do teor de CCA e Cal no solo variação do teor de Areia no solo

Nas Figuras 16 e 17 são apresentados os resultados do peso específico dos grãos das misturas com CCA,
cal e areia. Observa-se um comportamento diferente nas três misturas, com uma tendência de
diminuição do peso específico nas misturas solo-CCA e solo-areia, enquanto na mistura solo-cal há a
tendência ao aumento do peso específico. Os três materiais apresentaram picos de variação da tendência
ao longo do incremento da substituição. A maior variação na mistura com CCA foi no percentual de 8%,
onde houve redução do peso específico, com a cal o percentual que fugiu da tendência foi o de 7%,
apresentando redução e com a areia houve uma redução à medida que se adicionou 10%, 20% e 50% de
areia, entretanto quando se adicionou 30% e 40% de areia a este solo o peso específico aumentou.

1336
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

27,0 27,0

26,8 26,8

Peso específico real (kN/m³)


Peso específico real (kN/m³)

26,6 26,6

26,4 26,4

26,2 26,2

26,0 26,0

25,8 25,8

25,6 25,6

25,4 25,4
Solo + CCA
25,2 Solo + Cal 25,2 Solo + Areia

25,0 25,0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
Teor de CCA / Cal (%) Teor de Areia (%)

Figura 16 – Comportamento do peso específico real dos Figura 17 – Comportamento do peso específico real dos
grãos com a variação do teor de CCA e Cal no solo grãos com a variação do teor de Areia no solo

Em relação à expansão livre, o solo de Paulista apresenta uma redução de mais de 80% da expansão
livre com o aumento da CCA. Esta redução de expansibilidade é devida disponibilidade de cátions livres
trocáveis. Esses cátions são facilmente trocáveis por percolação de soluções químicas, segundo Leiras et
al. (2005) apud Ribeiro Junior (2014). Com a cal, a expansão do solo foi zerada utilizando o percentual
de 7%. O mesmo ocorreu no estudo realizado por Barbosa (2013), onde houve uma acentuada redução
na expansão do solo com o percentual de 3% e a redução total da expansão com o percentual de 7%. O
incremento da areia apresentou resultados muito dispersos. O comportamento da mistura solo-areia
quanto à expansão livre apresentou tendência a redução, em cerca de 10%, Figuras 18 e 19. Segundo
Ataide (2017) a areia ao ser adicionada ao solo expansivo reduz a “Expansão Livre” e passa a ocupar
fisicamente o lugar onde antes possuía fração de finos, ocorrendo redução da quantidade de argila e
nenhuma transformação mineralógica. Observa-se que o valor da expansão livre do solo natural variou
quando analisado por Constantino (2018), Paiva (2016) e Cavalcanti (2017), o que evidencia a
heterogeneidade do solo em sua formação.

45 45
Solo + CCA
40 40
Solo + Cal
Expasnão "Livre" (%)

Expasnão "Livre" (%)

35 35

30 30

25 25

20 20

15 15

10 10

5 5 Solo + Areia

0 0
0 2 4 6 8 10 0 10 20 30 40 50
Teor de CCA / Cal (%) Teor de Areia (%)

Figura 18 – Comportamento da expansão do solo de Figura 19 – Comportamento da expansão do solo de


Paulista com a variação do teor de CCA e Cal no solo Paulista com a variação do teor de Areia no solo

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

4- OCONCLUSÕES

O uso de aditivos é de grande interesse da engenharia geotécnica, pois a redução da expansão livre
garante a estabilização dos solos expansivos o que, consequentemente, reduz os danos nas construções
e reduz os gastos com a substituição total dos solos ou medidas mais onerosas.

A adição da CCA ao solo apresentou redução da expansão do solo, do peso específico aparente seco
máximo enquanto havia o aumento da umidade ótima. Não houve alteração significativa na
granulometria das misturas.

O incremento da areia ao solo elevou a proporção da fração de areia e reduziu a fração de argila, com
redução da expansão e do peso específico aparente seco máximo à medida que a umidade ótima reduzia.

A mistura da cal ao solo de Paulista foi o único aditivo que reduziu a expansão do solo em 100%,
juntamente com a redução do peso específico aparente seco máximo e da umidade ótima.

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Ataide, S. O. F. (2017) - Análise do comportamento de variação de volume devido à inundação de um solo expansivo
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Cuellar, V. (1978) - Análisis Crítica de los Métodos Existentes para el Empleo de Arcillas Expansivas em obras de
Carreteras y Recomendaciones Sobre lãs Técnicas Más Idóneas Para se Uso habitual en España. Laboratório del
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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

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1339
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

MAPEAMENTO GEOAMBIENTAL BASEADO NA ANÁLISE DE AGRUPAMENTOS DE


PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS - O CASO DO MUNICÍPIO DE DELFINÓPOLIS
(MG) - BRASIL

GEOENVIRONMENTAL MAPPING BASED ON CLUSTER ANALYSIS OF


MORPHOMETRIC PARAMETERS - THE CASE OF THE MUNICIPALITY OF
DELFINÓPOLIS (MG) - BRAZIL

Carvalho, Ana Paula Pereira; Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil,
appc.engambiental@gmail.com
Pejon, Osni José; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, pejon@sc.usp.br
Collares, Eduardo Goulart; Universidade do Estado de Minas Gerais, Passos, Brasil,
eduardo.collares@uemg.br

RESUMO

O mapeamento geoambiental tem a finalidade de identificar e delimitar as regiões que apresentam


características semelhantes, auxiliando os órgãos gestores de forma rápida e eficaz na solução das
demandas de cada área. Neste contexto, o planejamento do espaço físico territorial de um município é de
extrema importância, principalmente quando se encontra em sua área uma unidade de conservação,
como é o caso do município de Delfinópolis, situado no sudoeste do estado de Minas Gerais,
apresentando 40,35% da sua área ocupada pelo Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC). Dessa
forma, foi realizado o mapeamento geoambiental na escala de 1:50.000, tendo como base a utilização da
análise de agrupamentos para delimitar as áreas com alto nível de similaridade referente às
características do meio físico. O mapeamento teve por base a caracterização física das bacias
hidrográficas de até 4ª ordem de ramificação que se encontram totalmente inseridas no município. A
análise de agrupamentos das bacias de 1ª ordem foi realizada considerando o percentual de área de três
atributos fundamentais do meio físico (materiais inconsolidados, substrato rochoso e declividade). Já as
demais ordens de bacias hidrográficas foram inicialmente agrupadas com base em nove índices
morfométricos e posteriormente analisadas frente aos mesmos atributos fundamentais do meio físico. Em
todas as análises de agrupamentos foi utilizado o método pareado igualmente ponderado, e na análise
dos dendrogramas foi estabelecida uma linha de fusão de 20%, para identificação das unidades
homogêneas, e de 80% para os grupos de unidades que apresentam alto nível de dissimilaridade. A
integração da análise morfométrica com as informações do meio físico permitiu a delimitação de nove
unidades geoambientais com nível de homogeneidade compatível com a escala de mapeamento.

ABSTRACT

The geoenvironmental mapping has the purpose of identifying and delimiting the regions that present
similar characteristics, directing public management quickly and efficiently in the solution of the demands
of each area. In this context, the planning of the territorial physical space of a municipality is of extreme
importance, especially when a conservation unit is found in its area, as is the case of the municipality of
Delfinópolis, located in the southwest of the state of Minas Gerais, with 40,35% of its area occupied by
the National Park Serra da Canastra (PNSC). Thus, geoenvironmental mapping was performed in the
scale of 1: 50.000, based on the use of cluster analysis to delimit areas with high level of similarity
referent to the characteristics of the physical environment. The mapping was based on the physical
characteristics of the watersheds up to the 4 th order of ramification that are totally inserted in the
municipality. The cluster analysis for the 1st order watersheds was performed considering the percentage
of area related to each of three fundamental attributes of the physical environment (unconsolidated
materials, geology, and slope). The watersheds of the other orders were initially grouped based on nine
morphometric indices and later analyzed against the same fundamental attributes of the physical
environment. In all cluster analysis, was used the unweighted pair-group method and in the analysis of
dendrograms a 20% fusion level was established to identify the homogeneous units and 80% to the
groups of units with a high level of dissimilarity. The integrated cluster analysis of the morphometric
indices with the attributes of the physical environment allowed the delimitation of nine geoenvironmental
units with good level of homogeneity compatible with the scale of mapping.

1340
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

O planejamento municipal adequado depende de um estudo do espaço físico territorial, principalmente


quando se situa no seu limite administrativo uma área protegida. No Brasil, o planejamento de muitos
municípios não é considerado uma das etapas iniciais para as futuras tomadas de decisão, ou, quando
considerado, não é realizado de maneira eficiente, provocando diversos problemas que afetam de forma
direta ou indireta o equilíbrio dinâmico da área, em curto, médio ou longo espaço de tempo.

Neste contexto, o mapeamento geoambiental é considerado de extrema importância para o


planejamento, por se tratar de uma ferramenta que identifica e delimita regiões que apresentam
características semelhantes, direcionando de forma rápida e eficiente os gestores públicos na solução das
demandas de uma determinada área.

Sccoti (2015) destaca que o mapeamento geoambiental consiste em um método que divide de forma
hierárquica uma área em várias classes de terreno, tomando como base as características gerais
geológico-geomorfológicas e também o uso do solo. Assim, a junção dessas informações proporciona a
setorização da área em porções mais homogêneas, nas quais é possível identificar as potencialidades e
limitações de cada setor (Schirmer, 2012).

Segundo Silva e Dantas (2010), através da integração de dados do relevo, substrato rochoso, recursos
hídricos, solos e uso e ocupação, o estudo geoambiental oferece informações sobre os ambientes
geológicos em que se originaram os terrenos.

O mapeamento geoambiental realizado neste artigo apresenta uma sistemática de análise diferenciada
que emprega o método de Análise de Agrupamentos (AA), para a junção de áreas que apresentam
mínima heterogeneidade quanto aos aspectos do meio físico. De acordo com Landim (2011), a AA,
também conhecida como Cluster Analysis, é utilizada para descrever inúmeras técnicas numéricas, com a
finalidade de classificar os valores de uma matriz de dados em grupos discretos. A técnica de
classificação multivariada é comumente empregada quando se deseja explorar o nível de similaridade
entre indivíduos (modo Q) ou entre variáveis (modo R).

Dentre as técnicas de agrupamento existentes, a pareada igualmente ponderada, é a técnica mais


utilizada quando se analisa dados geológicos multivariados. Esta técnica baseia-se em localizar os pares
de objetos com menor coeficiente de distância ou com maior coeficiente de correlação. Ambos são
critérios de similaridade utilizados para agrupar os dados (Landim, 2011).

A análise multivariada realizada neste artigo teve como base nove índices morfométricos e o percentual
de área de três atributos (aspecto textural dos solos; substrato rochoso; e declividade). Esta análise
conduziu a identificação de bacias que, por apresentarem aspectos morfométricos semelhantes, podem
servir de base para o estabelecimento de unidades geoambientais (UG).

Os resultados obtidos poderão auxiliar no ordenamento territorial da área de estudo, além de contribuir
na elaboração dos planos de ações dos órgãos gestores, para que o desenvolvimento do município
aconteça de forma satisfatória e sustentável.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 - Localização da área de estudo

A área de estudo está situada na Bacia Hidrográfica dos Afluentes Mineiros do Médio Rio Grande (CBH-
GD7), compreendendo uma das oito unidades de gerenciamento dos recursos hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Grande situada no sudoeste do estado de Minas Gerais (MG). A CBH-GD7 apresenta
uma área de 9.794,12 km² e engloba 22 municípios, sendo um deles, o município de Delfinópolis, situado
no Chapadão da Canastra, com uma área de abrangência de 1.378,51 km².

O município de Delfinópolis limita-se com os municípios de Cássia, Ibiraci, Passos, Sacramento, São João
Batista do Glória e São Roque de Minas, sendo que sua porção sul é totalmente margeada pela Represa
de Peixoto (Fig.1). Em Delfinópolis está localizado parte do Parque Nacional da Serra da Canastra
(PNSC), que apresenta uma área total de 200.000 ha, sendo que somente 71.525 ha da área estão
regularizados (IBAMA, 2005).

A geologia do município está representada principalmente por rochas do Grupo Canastra (gnaisse, xisto e
milonito) e Grupo Araxá (gnaisse, xisto e quartzito) (Collares e Gomes, 2013). Na região, em que o
relevo é composto por serras, o material inconsolidado predominante apresenta textura arenosa. Nas
regiões em que o relevo é colinoso, a fração areia também é dominante. Com base no mapa de solos

1341
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

elaborado pela CETEC (1981), na escala de 1:1.000.000, o município apresenta na região norte os solos

Área de Estudo | Município de Delfinópolis (MG)

CBH-GD7

Projeção Cartográfica: Universal Transversa de Mercartor


Datum: SIRGAS 2000
Fuso: 23 S

litólicos e na região sul os latossolos vermelho amarelo.


Figura 1 - Localização da área de estudo

O clima no município, de acordo com a classificação de Köppen, é Cwa (Kottek et al., 2006), sendo
caracterizado por verão chuvoso e inverno seco, com temperatura média anual na faixa de 22 a 23ºC. A
precipitação média anual apresenta valores entre 1.200 e 1.800 mm, concentrados principalmente na
estação da primavera e do verão, ou seja, nos meses de outubro a março (IBAMA, 2005).

Segundo o IBGE (2016), o bioma predominante no município é o cerrado, que corresponde a 93% da
área. Na região do Parque Nacional da Serra da Canastra as principais fitofisionomias encontradas são:
as florestas mesófilas de encosta, capões, cerradão, cerrado, campo cerrado, campo limpo e campo
rupestre (IBAMA, 2005).

O município de Delfinópolis apresenta uma população de 6.830 habitantes, sendo que 71% dos
habitantes residem na área urbana (IBGE, 2010). A economia do município está embasada no setor da
agricultura, com o cultivo de cana-de-açúcar, soja e banana. Destaca-se como o quarto, dentre os outros
municípios da CBH-GD7, na produção de cana-de-açúcar e é o terceiro no cultivo de soja,
correspondendo respectivamente a 3.000 ha e 6.800 ha (IBGE, 2014).

A mineração também é um setor bastante expressivo na região, devido às extrações de quartzito e ao


número de minerações a céu aberto, como também pelos impactos negativos perceptíveis ao meio físico,
sendo que quase todas as minerações da área apresentam impedimentos pelos órgãos ambientais
responsáveis (Almeida, 2014).

Além da agricultura e das atividades minerárias, outro setor que contribui com a economia é o turismo,
pois a região apresenta grandes belezas cênicas. Segundo Sousa (2001), nas serras encontram-se as
principais atrações turísticas do município, que são cachoeiras e trilhas, sendo também o local de práticas
esportivas como: ciclismo, rallys, motociclismo, trekking, rappel, cnayoning e outros.

2.2 - Metodologia

A Fig.2 apresenta as etapas realizadas para o mapeamento das unidades geoambientais do município de
Delfinópolis. Para estabelecer as unidades foi proposta uma metodologia baseada em padrões
morfométricos das bacias hidrográficas (BH) da área em estudo. Para o estabelecimento das unidades foi
empregada à técnica estatística denominada Análise de Agrupamentos (AA), com a finalidade de agrupar
as bacias hidrográficas que apresentam características semelhantes.

1342
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Na área de estudo foram delimitadas um total de 248 bacias hidrográficas, sendo 85 bacias de 1ª ordem,
100 bacias de 2ª ordem, 37 bacias de 3ª ordem e 26 bacias de 4ª ordem. Todas as bacias foram
mapeadas por Collares et al. (2013), na escala de 1:50.000, seguindo o conceito de Strahler (1957).

1 Obtenção de dados 2 3
Delimitação das unidades
numéricos das bacias Análise estatística
geoambientais
hidrográficas

BH 2ª, 3ª e 4ª BH 2ª, 3ª e 4ª
BH 1ª Ordem de BH 1ª Ordem de
Ordem de Ordem de Cálculo do % de área
Ramificação Ramificação
Ramificação Ramificação das unidades de relevo
(landforms)

1ª Análise de 1ª Análise de
Cálculo do % de Agrupamentos Agrupamentos
Cálculo dos
área das classes
índices 4ª Análise de
dos atributos do
morfométricos Agrupamentos
meio físico
Elaboração dos Elaboração dos
Dendrogramas Dendrogramas
- Substrato Rochoso - Índice de Forma (K)
- Materiais - Índice de Circularidade (Ic) Elaboração dos
Dendrogramas
Inconsolidados - Densidade Hidrográfica (Dh) Definição da linha de Linha de fusão
fusão de 20%
(aspecto textural) - Densidade de Drenagem (Dd);
- Declividade - Relação de Relevo (Rr); Etapa de
- Coeficiente de Manutenção (Cm); 1ª Ordem 2ª Ordem verificação
Cálculo do % de UG Finais
- Extensão do Percurso Superficial (Eps); área das classes
- Índice de Rugosidade (Ir); dos atributos do
3ª Ordem
meio físico
- Textura Topográfica (Tt)
2ª Análise de
4ª Ordem Agrupamentos

Junção de todas as bacias após


as análises de agrupamentos

3ª Análise de
Agrupamentos

Elaboração dos Linha de fusão


Dendrogramas de 80%

Unidades
Geoambientais (UGs)

Figura 2 - Etapas metodológicas para a delimitação das unidades geoambientais

As bacias de 2ª, 3ª e 4ª ordem foram analisadas inicialmente através de seus padrões de morfometria.
Nesta etapa foi utilizado o software Arc GIS 10.0® para obter o comprimento total dos canais de
drenagem, o comprimento do canal principal, a amplitude máxima e mínima, bem como a área e o
perímetro das bacias. Logo, foram calculados nove índices morfométricos para estas bacias e os dados
numéricos foram tabulados individualmente em planilha do software Excel em formato .xls, considerando
as ordens de ramificação. No caso das bacias de 1ª ordem, devido ao tamanho reduzido, não foi feita
análise morfométrica, sendo a análise de agrupamento realizada diretamente com os atributos do meio
físico (Fig.2).

As planilhas de dados das bacias de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem foram então inseridas separadamente no
software Statistica 13® para o início da análise dos agrupamentos. O método utilizado foi o hierárquico
pareado igualmente ponderado. Quanto ao critério de similaridade optou-se pelo coeficiente de distância
que, de acordo com Landim (2011), apresenta um melhor resultado de agrupamento. Com relação à
medida de distância, a adotada foi à euclidiana. Vale ressaltar, que a técnica de agrupamento e a medida
de distância utilizada foram às mesmas para a análise de todas as bacias.

A primeira AA foi realizada para as bacias hidrográficas de 1ª ordem, como para as demais ordens de
bacias, com a finalidade de identificar similaridades e agrupá-las o máximo possível. A segunda AA
consistiu na análise dos atributos do meio físico das bacias hidrográficas de 2ª, 3ª e 4ª ordem, com o
objetivo de verificar se o agrupamento realizado com base nos índices morfométricos conduziu a maior
homogeneidade das unidades delimitadas com relação a esses atributos. A terceira AA envolveu todas as
ordens de bacias, sendo consideradas as bacias após as duas AA citadas anteriormente. Esta fase
envolveu a análise apenas do percentual de área dos atributos do meio físico, desse modo, a partir desta

1343
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

penúltima AA foram estabelecidas as delimitações de onze unidades geoambientais. A quarta AA consistiu


na análise das onze unidades geoambientais quanto ao percentual de área das classes do mapa de
landforms (elaborado por Magri, 2013), com o objetivo de verificar a relação destas unidades com as
formas de relevo presentes na área de estudo.

No final de cada AA, foram elaborados os dendrogramas para cada uma das ordens das bacias, com o
intuito de identificar os grupos de bacias que apresentaram um alto nível de similaridade. Após a
elaboração dos dendrogramas, os grupos formados foram analisados para o estabelecimento da linha de
fusão, também conhecida como linha de corte, a qual foi definida considerando a finalidade de estudo e o
conhecimento dos dados analisados.

Na primeira, segunda e quarta AA, a linha de fusão foi definida em um nível de homogeneidade de 20%,
com o objetivo de agrupar o maior número de bacias, na terceira AA o nível de homogeneidade da linha
foi de 80%, para identificar, dentre as unidades, aquelas que apresentam maior grau de
heterogeneidade. Vale lembrar, que quanto mais próximo de 100% a linha for definida, maior será o
nível de dissimilaridade.

3- RESULTADOS

A Fig. 3 apresenta os três planos de informação que foram utilizados para a análise das bacias de 1ª
ordem. Conforme o mapa de materiais inconsolidados elaborado por Magri (2013), a fração
granulométrica de maior ocorrência no município é a areia, presente em 481,13 km², principalmente
situado na porção norte.

Na porção sul do município, a classe textural do material inconsolidado predominante é a distribuída de


areia, pois nesta região encontram-se rochas de xistos com intercalações de quartzito que podem ter
dado origem a este tipo de solo, ou também, pode ser um solo retrabalhado, sendo que o solo presente
na região norte, onde as altitudes são mais elevadas, pode ter sido transportado pela ação da gravidade.

De acordo com o mapa de substrato rochoso adaptado de Collares e Gomes (2013), o município é
composto na sua maior parte por rochas metamórficas do Grupo Araxá e Canastra, sendo o quartzito o
substrato rochoso predominante, correspondendo a 433,87 km² (34,82% da área total). Este substrato
se encontra distribuído na região norte da área de estudo, intercalado com xisto e milonito, estes dois
últimos substratos constituem uma área de 238,19 km² (19,11% da área total). A porção sul do
município é composta por duas litologias dominantes, sendo a primeira os xistos com intercalações de
quartzito e a segunda os gnaisses, compreendendo respectivamente uma área de 310,56 km² (24, 92%)
e 247,63 km² (19,87%).

O município apresenta 48,85% de suas áreas situadas em regiões de declividades inferiores a 10%, que
se encontram principalmente às margens do Rio Grande (Reservatório de Peixoto). As declividades
superiores a 30% ocorrem na extremidade norte do município, interpostas em regiões de relevo mais
planos. As áreas que apresentam inclinação mais íngreme correspondem a 18,26% do território
estudado. Nestas localidades incluem-se o Chapadão da Babilônia, a Serra do Cemitério e a Serra da
Guarita.

A união das bacias hidrográficas de 1ª ordem foi baseada na linha de fusão de 20%, desse modo, 85
bacias hidrográficas existentes antes da análise estatística foram agrupadas, resultando em 63, ou seja,
25,88% das bacias foram unidas em grupos que apresentaram similaridade entre si.

As demais ordens de bacias foram analisadas inicialmente por meio de valores morfométricos. Dessa
forma, as 100 bacias hidrográficas de 2ª ordem resultaram em apenas 34 bacias, ou seja, 66% das
bacias foram agrupadas. Após a segunda AA, que considerou os atributos do meio físico, pode observar-
se que ocorreu ainda uma junção no número de bacias de 2ª ordem, resultando em 30. Diante disso,
considera-se que, por não ter ocorrido alteração significativa no número de agrupamentos, o uso dos
índices morfométricos permitiu o agrupamento de bacias com características semelhantes com relação
aos atributos do meio físico considerados.

Antes da primeira AA, as bacias hidrográficas de 3ª ordem totalizavam em 37. Logo após a análise,
houve uma junção de 54,1% das bacias, resultando em 17. Depois da segunda AA realizada com base
nos atributos do meio físico, o número de bacias permaneceu constante. Dessa forma, novamente
demonstrou a validade do uso dos índices morfométricos no agrupamento para geração de unidades
homogêneas. Com relação às 26 bacias hidrográficas de 4ª ordem, depois da primeira AA com base na
morfometria, 57,7% das bacias foram unidas.

1344
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

* “Distribuída” significa que estas classes caracterizam áreas que apresentam maior percentual de uma ou duas
partículas e/ou as três frações granulométricas (argila, silte e areia) encontram-se dispostas em porcentagem muito
parecida.
Figura 3 - Atributos do meio físico analisados para o agrupamento das bacias hidrográficas de 1ª ordem

A Fig.4 apresenta o mapa das bacias hidrográficas antes dos agrupamentos. O Quadro 1 apresenta a
quantidade de bacias hidrográficas de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª ordem, antes e depois da primeira e segunda AA.

De 248 bacias que se encontram no município de Delfinópolis, após as duas primeiras AA, resultaram em
125 bacias, o que significa que ocorreu uma união de 49,6% no número de bacias.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 4 - Bacias hidrográficas da área de estudo antes das análises de agrupamentos. Fonte: Adaptado de Collares et
al. (2013)

Quadro 1 - Número de bacias antes e depois da primeira e segunda AA


1ª Análise de 2ª Análise de
Total de bacias
Bacias agrupamentos agrupamentos
antes das análises Total*
Hidrográficas (Índices (Parâmetros do
de agrupamentos
Morfométricos) Meio Físico)
1ª Ordem 85 - 63 63
2ª Ordem 100 34 30 34
3ª Ordem 37 17 17 17
4ª Ordem 26 11 10 11
248 125
* Total de unidades consideradas para a realização da terceira AA, para o estabelecimento das unidades
geoambientais.

Após a primeira e a segunda AA, as 125 bacias hidrográficas foram unidas, resultando em 11 unidades
geoambientais, considerando a linha de fusão do dendrograma no nível de homogeneidade de 80%. Em
seguida foi realizada uma nova AA, considerando as onze unidades geoambientais e o percentual de área
das classes do mapa de landforms elaborado por Magri (2013) (Fig.5). Esta análise foi realizada com a
finalidade de verificar a relação das unidades geoambientais com as formas de relevo da área de estudo,
de modo a permitir a união das unidades que apresentam características semelhantes quanto a este
atributo.

A Fig. 6 apresenta o dendrograma da AA realizada com as onze unidades levando em consideração o


percentual de área das classes do mapa de landforms e a Fig. 7 mostra o mapa das nove unidades
geoambientais definidas após as análises estatísticas. No dendrograma da quarta AA, foi considerada a
linha de fusão de 20%. Pode observar-se que os seguintes pares de unidades (UG 3 e UG 4) e (UG 5 e
UG 10) apresentam grande similaridade quanto aos landforms, com isso as unidades foram agrupadas.
Estes pares receberam uma nova nomenclatura, sendo respectivamente, UG 9 e UG 4, desse modo
resultando em nove unidades geoambientais.

Comparando os limites das unidades geoambientais com as unidades de relevo (mapa de landforms)
constata-se que a área de estudo apresenta formas de relevo bem características, com a presença de
colinas na região sul e serras na região norte do município.

1346
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 5 - Mapa de landforms. Fonte: Adaptado de Magri (2013)

Técnica de Agrupamento: Pareado Igualmente Ponderado


Medida de Distância: Euclidiana

UG 1

UG 2

UG 3

UG 4

UG 5

UG 6

UG 7

UG 8

UG 9

Distância Euclidiana

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 6 - Dendrograma das onze unidades geoambientais com relação às classes de landforms

Figura 7 - Unidades geoambientais da área de estudo

Vale ressaltar que a espacialização das unidades geoambientais apresenta coerência com as unidades de
relevo definidas por Magri (2013). Os limites são semelhantes, mas não idênticos, sendo que os
procedimentos metodológicos adotados para a compartimentação do município consistiu em técnicas
diferentes com relação aos executados para a elaboração do mapa de landforms.

O Quadro 2 apresenta a área (km² e %) das nove unidades geoambientais presentes no município de
Delfinópolis. Dentre as unidades, a que apresenta maior extensão territorial é a unidade UG 8,
compreendendo 45% da área do município, na qual se encontra a maior parte da área do Parque
Nacional da Serra da Canastra. A menor unidade em área é a UG 7 (0,04%). Esta unidade se diferenciou
das demais, devido o solo ter maior predominância de silte (93,69% da área total da unidade) e também
por apresentar maior ocorrência de xisto com intercalações de quartzito (92,78% da área total da
unidade) na composição do seu substrato rochoso.

Quadro 2 - Área das unidades geoambientais do município de Delfinópolis

Unidades Área
Geoambientais
(UG) (km²) (%)

UG1 4,34 0,35


UG2 3,00 0,24
UG3 4,31 0,35
UG4 349,08 28,00
UG5 90,64 7,27
UG6 14,40 1,15
UG7 0,44 0,04
UG8 560,93 45,00
UG9 219,40 17,60

4- CONCLUSÕES

A identificação e delimitação das unidades geoambientais do município de Delfinópolis, utilizando o


método de AA, mostrou-se eficiente. A integração da análise morfométrica com informações do meio

1348
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

físico permitiu a delimitação das nove unidades geoambientais com nível de homogeneidade compatível
com a escala de mapeamento. Além disso, estas unidades mostraram boa correspondência com o mapa
de landforms.

A análise das bacias hidrográficas de 1ª ordem foi diferente das demais ordens de bacias, pelo motivo
destas primeiras apresentarem áreas muito pequenas e valores baixos de densidade de drenagem. Dessa
forma, optou-se por utilizar o percentual de área das classes do aspecto textural do solo, substrato
rochoso e declividade, visto que estes atributos exprimem uma relação com as formas de relevo de uma
determinada área. A quantidade de atributos do meio físico foi adequada, com isso, conclui-se, que a
adoção deste critério para a união destas bacias não interferiu na análise estatística.

Com relação ao agrupamento das bacias hidrográficas de 2ª, 3ª e 4ª ordem por meio da caracterização
morfométrica, também foi satisfatória, pois os nove índices morfométricos utilizados foram suficientes
para estabelecer unidades fisiográficas mais homogêneas, que mostraram relação direta com atributos
fundamentais do meio físico, como o substrato rochoso, os materiais inconsolidados e a declividade.

Nos dendrogramas, a linha de fusão de 20% se mostrou apropriada para a união das bacias
hidrográficas, da mesma forma que o nível de dissimilaridade de 80% se mostrou adequado a identificar
unidades geoambientais distintas umas das outras.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro e a equipe do Projeto Grande Minas, que disponibilizou os
planos de informação para a realização dos resultados deste artigo.

REFERÊNCIAS

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Restrições ao Uso Turístico. 283 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geotecnia, Universidade de São Paulo,
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G. Zoneamento Ambiental das Sub-Bacias Hidrográficas dos Afluentes Mineiros do Médio Rio Grande. Passos:
Edifesp, cap. 6, vol.3, pp. 154-164.

Collares, E. G., Gomes, D. M. e Santos, B. M. dos. (2013). Aspectos Metodológicos: Compartimentação em


macrounidades e unidades ambientais. In: COLLARES, E. G. Zoneamento Ambiental das Sub-Bacias
Hidrográficas dos Afluentes Mineiros do Médio Rio Grande. Passos: Edifesp, cap. 4, vol.1, pp. 49-62.

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Nacional da Serra da Canastra. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 828 p.

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http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=31&search=minas-gerais, acedido em 08/03/2016.

IBGE cidades (2010) - Informações estatísticas.


http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=31&search=minas-gerais, acedido em 23/05/2016.

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Potencialidades e Suscetibilidade. 151 f. Tese (Doutorado) - Curso de Geografia, Universidade Federal de Santa
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(Mestrado) - Curso de Geociências, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista,
Rio Claro.

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Geophysical Union, vol. 38, pp. 913-920.

1350
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS POTENCIALMENTE


CONTAMINADAS APLICADAS EM UM MUNICÍPIO BRASILEIRO DE MÉDIO
PORTE

METHODOLOGY OF IDENTIFICATION OF POTENTIALLY CONTAMINATED


AREAS APPLIED IN A BRAZILIAN MUNICIPAL MUNICIPALITY

Balestrin, Deisi B.; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, deisibalestrin@hotmail.com
Rampanelli, Greice B.; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, greice.barufaldi@gmail.com
Braun, Adeli B.; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adelibeatrizbraun@hotmail.com
Trentin, Adan W. da Silva; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adan_trentin@hotmail.com
Visentin, Caroline; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, caroline.visentin.rs@gmail.com
Thomé, Antonio; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

RESUMO

O Brasil tem investido em pesquisas que abordam o gerenciamento de áreas contaminadas. Porém, estas
ações dependem da identificação dessas áreas que apresentam potencial de contaminação. O objetivo
deste estudo foi levantar os métodos de identificação e quantificação de áreas potencialmente
contaminadas e definir um destes para aplicação em um município brasileiro. A pesquisa fundamentou-se
na busca de métodos de identificação através de revisão bibliográfica sistemática, por meio de trabalhos
nacionais e internacionais. As fontes internacionais e nacionais consultadas foram: Agência Norte
Americana de Proteção Ambiental (USEPA), governo Canadense, Agência Ambiental Europeia (EEA),
Agência Alemã de Cooperação Técnica Técnica, Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); Ministério
do Meio Ambiente, Ministério da Saúde, Companhia Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de
São Paulo (CETESB), Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), Fundação Estadual do Meio Ambiente
de Minas Gerais (FEAM) e Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM).
Através da compilação dos dados encontrados, o método que obteve destaque pelo número de etapas que
o constituem foi o da CETESB. O método foi aplicado no município de Erechim – RS, o qual foi selecionado
por apresentar a atividade industrial como o setor de maior desenvolvimento. As etapas principais desse
método envolvem: levantamento de informações históricas sobre o uso e ocupação das áreas; visitas in
loco; análise de fotografias; associação das atividades potencialmente poluidoras com códigos de atividades
econômicas. Foi possível identificar aproximadamente 1.307 Licenças Ambientais de Operação (LAO) num
período de análise de dez anos no município estudado. Essas Licenças estão sendo analisadas e serão
vinculadas com as atividades industriais e comerciais potencialmente contaminadoras através de códigos
de atividades do IBGE, que refinarão os resultados. Concomitantemente, verificou-se a necessidade de
atenção, por parte do poder público, sobre o controle dessas áreas, pois ainda não existe uma estrutura
consolidada responsável pelo tema.

ABSTRACT

Brazil has invested in research that addresses the management of contaminated areas. However, these
actions depend on the identification of those areas that present potential to be contaminated. The objective
of this study was to survey the methods of identification and quantification of potentially contaminated
areas and define one of them for application in a Brazilian municipality. The research was based on the
search for identification methods through a systematic bibliographic review, through national and
international works. International and national sources consulted were: US Environmental Protection
Agency (USEPA), Canadian Government, European Environmental Agency (EEA), German Agency for
Technical Technical Cooperation, National Environment Council (CONAMA); Ministry of Environment,
Ministry of Health, Companhia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB), Brazilian Soil Science
Society (SBCS), State Environmental Foundation of Minas Gerais (FEAM) and State Foundation for
Environmental Protection Henrique Luiz Roessler (FEPAM). Through the compilation of the data found, the
method that was highlighted by the number of stages that constitute it, was CETESB. The method was
applied in the municipality of Erechim - RS, which was selected for presenting the industrial activity as the
sector of greatest development. The main steps of this method involve: gathering historical information
about the use and occupation of the areas; on-site visits; photographic analysis; association of potentially
polluting activities with codes of economic activities. It was possible to identify approximately 1,307
Environmental Operating Permits during a ten year analysis period in the studied municipality. These
Licenses are being analyzed and will be linked to potentially contaminating industrial and commercial
activities through IBGE activity codes, which will refine the results. Concomitantly, it was verified the need
of attention on the part of the public administration on the control of these areas, because a consolidated
structure does not yet exist responsible for the subject.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

O Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas da Companhia de Tecnologia de Saneamento


Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB (2001), entende como área degradada aquela onde ocorrem
processos de alteração das propriedades físicas e/ou químicas de um ou mais compartimentos do ambiente.
Portanto, uma área contaminada pode ser considerada um caso particular de uma área degradada, onde
ocorrem alterações principalmente das propriedades químicas do solo, ou seja, contaminação.

No Brasil, o cuidado com a qualidade do solo surgiu muito recentemente, e se expressou de forma
consistente através de Brasil (2009), pois até então, os esforços estavam direcionados exclusivamente à
qualidade das águas subterrâneas. O documento dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade
do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental
de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas (BRASIL, 2009).

A identificação das áreas contaminadas deve passar a ser tema essencial dentro do planejamento urbano,
pois saber a quantidade dessas áreas, sua localização e seu grau de contaminação permite que o poder
público possa organizar os espaços urbanos, destinando a estes o uso adequado ou, quando necessário,
impedindo sua ocupação, preservando a saúde da população.

No ano de 2002, a CETESB divulgou pela primeira vez uma lista que indicou 255 áreas contaminadas no
Estado de São Paulo. A lista é frequentemente atualizada, onde em 2015 foram totalizados 5.376 registros
no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas no Estado de São Paulo. (CETESB, 2015). Em 2013, o
Instituto Nacional do Ambiente (INEA) lançou a 1ª Edição do Cadastro de Áreas Contaminadas no Estado
do Rio de Janeiro, que contava com 160 Áreas Contaminadas e Reabilitadas. Em 2014 e 2015 foi realizada
uma revisão do mesmo, totalizando 270 e 328 áreas, respectivamente (INEA, 2016).

Os órgãos ambientais que possuem atribuições para administrar os problemas ambientais devem
encaminhar soluções que possibilitem o gerenciamento das áreas potencialmente contaminadas no País,
Estados e Municípios. Sendo assim, é necessário que haja a elaboração de um conjunto de medidas que
assegure tanto o conhecimento de suas características e dos impactos por elas causados quanto da criação
e aplicação de instrumentos necessários à tomada de decisão e às formas e níveis de intervenção mais
adequados, com o objetivo de minimizar os riscos à população e ao ambiente, decorrentes da existência
das mesmas.

O cadastramento de áreas suspeitas de contaminação ou contaminadas permite elaborar documentos,


como o Inventário de Áreas Contaminadas e a definição de ações para gerenciamento para cada área
identificada, visando à proteção da saúde humana e do meio ambiente (FEAM, 2017).

No Brasil, as ações relacionadas à aplicabilidade de uma metodologia de identificação e quantificação de


áreas potencialmente contaminadas, bem como de criação de um cadastro de informações dessas áreas
são pontuais, ou seja, não há um gerenciamento de âmbito nacional, o que permite subentender que no
Município de Erechim também não há, mesmo sendo considerado um dos municípios que apresentou maior
desenvolvimento industrial entre os demais Municípios de sua região.

Diante disto, este estudo apresenta três objetivos: o primeiro foi levantar os métodos internacionais e
nacionais de identificação e quantificação de áreas potencialmente contaminadas. O segundo foi definir um
desses para sua aplicação no município de Erechim. O terceiro foi verificar se a metodologia definida é
eficiente para o caso de Erechim.

2- METODOLOGIA

Nesta seção serão descritas as quatro etapas para o alcance dos objetivos propostos para este estudo.

2.1 - Identificação e descrição dos métodos nacionais e internacionais de identificação e


quantificação de áreas potencialmente contaminadas

A identificação destes métodos foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, com buscas
nas páginas da rede mundial de computadores e em bases de dados de periódicos científicos.

Tendo em vista que uma revisão bibliográfica sistemática exige que o problema da pesquisa esteja bem
entendido pelo pesquisador (Pereira e Bachion, 2006) e que por ser um trabalho que apresenta resumos
de outros documentos, exige que a descrição do método da pesquisa seja detalhada, permitindo que outros
pesquisadores possam reproduzir o estudo e adquirir os mesmos resultados (Akobeng, 2004).

Além disso, o método pré-estabelecido deve trazer os critérios de inclusão e exclusão dos materiais
levantados, que devem derivar de fontes de informação diversas. Sendo assim, a Figura 1 apresenta as
fontes de informações internacionais e nacionais pesquisadas, bem como os critérios de seleção dos
materiais, além da justificativa de escolha das fontes utilizadas no desenvolvimento desta pesquisa.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 1 – Critérios de seleção para revisão bibliográfica sistemática

Inicialmente, a escolha das fontes internacionais baseou-se na experiência de alguns países no tratamento
de áreas contaminadas, o que direcionou a atenção para USEPA, para o trabalho desenvolvido no Canadá,
para a AAE e para a Agência Alemã de Cooperação Técnica Técnica (Deutsche Gesellschaft für Technische
Zusammenarbeit), por ter firmado uma parceria de cooperação técnica com o Brasil, que resultou na
elaboração do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas da CETESB. As fontes nacionais foram
selecionadas pelo conhecimento prévio dos trabalhos voltados às áreas contaminadas de órgãos ambientais,
de saúde e também das ações do governo federal: Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA);
Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde, Companhia Tecnologia de Saneamento Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB); Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS); Fundação Estadual do
Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM); Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler
(FEPAM). A FEPAM é consultada por ser a agência ambiental estadual do Rio Grande do Sul, onde ocorre a
pesquisa.

Ainda conforme a Figura 1, os critérios para a seleção dos materiais foram: considerar qualquer tipo de
documento que tivesse informações sobre o método de identificação e quantificação de áreas
potencialmente contaminadas, variando entre guias, manuais, relatórios, leis, normas, relatórios que
apresentem casos concretos.

Documentos que tivessem abrangência nacional ou trabalhos que tomaram como base documentos de
abrangência nacional.

Não foi considerada o tipo de substância poluidora, ou seja, independentemente dela, todo o material que
apresentou algum método de identificação de áreas potencialmente contaminadas foi selecionado.

A data das publicações também não foi fator limitante para a pesquisa.

Os materiais que apresentaram casos reais de aplicação de métodos de identificação de áreas


potencialmente contaminadas foram selecionados, independentemente do seu grau de detalhamento.

Foram selecionados os materiais que trouxeram o processo de trabalho para a identificação de áreas
potencialmente contaminadas, correspondendo ao primeiro objetivo específico.

A língua na qual as informações foram publicadas não foi fator limitante para a pesquisa, contudo, deveriam
permitir sua tradução.

Além das bases de dados específicas das fontes internacionais e nacionais, também foi utilizado o portal
de periódicos da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES). Quando os materiais
adquiridos nas fontes internacionais e nacionais apresentavam alguma bibliografia de interesse, esta era

1353
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

pesquisada no Portal da CAPES e no Portal de Pesquisas Internacional Science Direct. Quando essa base
de dados não trazia resultado, a busca acontecia por uma página de pesquisa da rede mundial de
computadores, sendo que em todas elas foram utilizadas como palavras chave: identification, potencial,
potentially, contaminated, land, sites, methodology, inventory, brownfields. Ressalta-se que as mesmas
palavras chave foram pesquisadas também na língua portuguesa.

2.2 - Compilação das informações e extração do método

Esta fase acontece com a compilação das metodologias internacionais e nacionais identificadas para que,
a partir disso, possa ser apontado um método de identificação de áreas potencialmente contaminadas.

Para a compilação dos resultados obtidos foi elaborada uma planilha que relaciona a bibliografia pesquisada
e os métodos utilizados por cada uma delas, permitindo uma percepção mais abrangente das possibilidades
de identificação. As linhas da planilha trazem a bibliografia consultada, enquanto as colunas trazem os
métodos apresentados por cada uma.

O método escolhido foi aquele que apresentou o maior número de etapas para a identificação de áreas
potencialmente contaminadas, uma vez que, de forma geral, os coordenadores de inventários utilizam mais
de um método para a obtenção dos dados que permitirão entender a área como potencialmente
contaminada (USEPA, 2009).

2.3 - Caracterização da evolução histórica, industrial e espacial do Município de Erechim-RS


De acordo com o que foi proposto neste estudo, a aplicação do método CETESB dar-se-á no Município de
Erechim – RS. Consequentemente, a metodologia indica em um primeiro momento a definição da região
de interesse a ser estudada. Dessa forma, a opção da proposta de trabalho foi delineada e a escolha do
Município justificou-se pelo fato de que Erechim apresentou, nos últimos anos, um salto no
desenvolvimento econômico e industrial.

O levantamento das informações dessa etapa foi baseado em pesquisa bibliográfica sistemática e
documental, através da revisão da literatura em livros, artigos e periódicos. A busca de informações do
conteúdo apresentado, quanto aos documentos referentes a elas, foram extraídos dos websites e registros
consultados no Arquivo Histórico Municipal, no documento público 1ª edição do Plano Ambiental Municipal
de Erechim e no documento interno - 2ª edição do Relatório - Estudo das áreas viáveis à ocupação urbana
do novo perímetro urbano da cidade de Erechim e áreas limítrofes (Processo nº 10424/2015).

2.4 - Identificação de empreendimentos e atividades potencialmente poluidores na área de


estudo

O levantamento dos empreendimentos e atividades potencialmente poluidores aconteceu através de


consulta às informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM), Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico (SMDE) da Prefeitura Municipal de Erechim-RS; e da Fundação Estadual de
Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM). Nesses órgãos municipais e estaduais serão buscadas
informações relacionadas às áreas potencialmente contaminadas localizadas na zona urbana do Município
em estudo.

Como os municípios do Estado do Rio Grande do Sul ainda não possuem um cadastro e mapeamento de
áreas contaminadas, os dados serão obtidos através de um levantamento da documentação referente a
Processos de Licenciamento Ambiental, além de relatórios de monitoramento de contaminação e
remediação do local (relatório de investigação ambiental, geoambientais, de remediação, de
monitoramento e laudos técnicos).

As informações buscadas nessa documentação deverão apresentar dados de cada área levantada na
pesquisa, tais como: número do processo licenciado, identificação do empreendedor e seu respectivo
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), tipo da Licença Ambiental, atividade requerida, situação da
atividade, datas de emissão e vencimento do processo licenciado, número de protocolo das licenças,
endereço da atividade executada (identificação de ruas e bairros), coordenadas geográficas (latitude e
longitude), classificação do potencial poluidor de cada atividade e seu respectivo Código de Ramo de
Atividade (CODRAM) e área total de cada empreendimento.

As informações das LAOs e das atividades potencialmente poluidoras levantadas, até ao momento,
compreendem um período de dez anos (2006 a 2016). A determinação do tempo analisado para esse
estudo, justifica-se pelo fato de que a municipalização das Licenças Ambientais teve seu início no ano de
2016 e anterior a essa fase os processos de licenciamento eram realizados pela FEPAM.

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3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 - Métodos nacionais e internacionais de identificação e quantificação de áreas


potencialmente contaminadas

Todas as fontes de dados pesquisadas resultaram em uma planilha de 26 colunas e 20 linhas. Das 26
colunas, 12 correspondem às etapas de identificação, sendo que dentro de uma dessas etapas estão
inseridas outras 15. As 26 colunas são resultado da contagem das 15 colunas pertencentes à revisão
histórica, que já é uma etapa de identificação, mais as outras 11. Importante citar que para este trabalho
não foram ponderadas as 12 etapas tampouco as subdivisões, tendo todas elas o mesmo peso.

A Figura 2 ilustra a organização da planilha final através de cores. Citando primeiramente as colunas, em
azul claro está a numeração das etapas de identificação. Em laranja estão as denominação das etapas. Em
roxo tem-se a numeração das subdivisões da etapa de revisão histórica, denominados de elementos. Em
amarelo tem-se as fontes de informações pertencentes à revisão histórica. Em verde estão os documentos
também pertencentes à revisão histórica. O cinza claro indica a frequência parcial com que foram indicadas
as subdivisões da etapa de revisão histórica. O cinza escuro apresenta a frequência parcial das etapas de
identificação e o azul escuro o número de etapas indicadas por cada bibliografia.

Quanto às linhas, o corpo da planilha, em branco, apresenta as marcações correspondentes a cada


bibliografia consultada e as etapas de identificação indicadas por cada uma. Nas linhas marcadas em rosa
estão as bibliografias internacionais e em vermelho as nacionais. Em marrom está a frequência total com
que as etapas de identificação aparecem.

Figura 2 – Planilha de compilação das informações adquiridas

Através da análise da planilha, o método indicado pela CESTESB foi o selecionado, pois apresentou o
maior número de etapas para o processo de identificação de áreas potencialmente contaminadas.

A Figura 3 ilustra as etapas de identificação do método escolhido, que constiui-se por: revisão histórica;
recebimneto de denúncias; determinação das atividades potencialmente contaminantes e vinculação das
atividades potencialmente contaminantes com os códigos de atividades econômicas. A etapa de revisão
histórica, por sua vez, apresenta as seguintes subdivisões: consulta à prefeituras; associações e
sindicatos; agências ambientais e de saúde; arquivos públicos e privados, empresas de abastecimento
de água e energia; visita in loco; análise fotográfica e histórico de ocorrência de contaminação.

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Figura 3 – Esquema gráfico das etapas de identificação de áreas potencialmente contaminadas indicadas pela CETESB

3.2 - Caracterização da evolução histórica, industrial e espacial do Município de Erechim-RS


Inserida fisiograficamente numa parcela do Planalto Meridional do Brasil, no Centro-Norte do Estado do Rio
Grande do Sul, na região do Alto Uruguai (Figura 4), Erechim é uma cidade, hoje, referência por ocupar a
segunda posição de município mais desenvolvido do estado entre as cidades com mais de 100 mil
habitantes (Prefeitura de Erechim, 2017). Também é considerado o principal pólo industrial do norte do
estado (Delazeri, 1999). Localizado ao redor das coordenadas 27º37’54” Sul e 52º16’52” Oeste, o
município de Erechim (RS) integra a Microrregião Geográfica de Erechim – Código 4307203 (IBGE, 2018).

Conforme dados extraídos do website da Prefeitura Municipal de Erechim (2017), Erechim foi emancipado
na data de 30 de abril de 1918, possui uma área territorial de 409,06 Km², PIB R$ 1.147.542.885,00,
Renda Per Capta R$ 14.134,00 e densidade demográfica de 218,6 hab/Km² e está assentada na zona do
Capeamento Basalto-Arenítico do Paraná (Cassol e Piran, 1975).

Figura 4 - Localização geográfica do município e da área urbana de Erechim – RS

Considerada um centro sub-regional no país, é a segunda cidade mais populosa do norte do estado
(segundo o último censo de 2010), superada apenas pelo município de Passo Fundo. O município estava,

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

em 2007 (censo IBGE), na 17ª posição do PIB no estado do Rio Grande do Sul (Prefeitura de Erechim,
2017).

O Plano Urbano proposto pelo Engenheiro Carlos Torres Gonçalves, precisou se adequar na época, em 1914,
à legislação que regulamentava a organização das colônias do Estado. O Plano previa uma ocupação para
cerca de 15.000 habitantes, dispostos em uma área de 589 hectares. O engenheiro prevendo que nos anos
futuros o município se desenvolveria tão rapidamente, planejou os espaços para uma possível expansão
(Fünfgelt, 2004).

Decorridos 99 anos, rumo ao centenário, Erechim integra-se em município Pólo da Associação dos
Municípios do Alto Uruguai (AMAU), composta por mais 32 outros municípios: Aratiba, Áurea, Barão de
Cotegipe, Barra do Rio Azul, Benjamin Constant do Sul, Campinas do Sul, Carlos Gomes, Centenário,
Charrua, Cruzaltense, Entre Rios do Sul, Erebango, Erechim, Erval Grande, Estação, Faxinalzinho, Floriano
Peixoto, Gaurama, Getúlio Vargas, Ipiranga do Sul, Itatiba do Sul, Jacutinga, Marcelino Ramos, Mariano
Moro, Paulo Bento, Ponte Preta, Quatro Irmãos, São Valentim, Sertão, Severiano de Almeida, Três Arroios
e Viadutos (Amau, 2017); constituem o Conselho Regional de Desenvolvimento do Norte do Estado
(Credenor, 1998).

O município apresenta 58 bairros, de acordo com o seu zoneamento, assim definidos: Esperança, Morro da
Cegonha, São Caetano, Ipiranga, Dal Molin, José Bonifácio, Florestinha, Centro, Triângulo, Santa Catarina,
Paiol Grande, Espírito Santo, Parque Lívia, Linho, Atlântico, Três Vendas, Koller, Bela Vista, Industrial,
Presidente Vargas, São Cristóvão, Cerâmica, Fátima, Agrícola, Boa Vista, Aeroporto, Progresso, Presidente
Castelo Branco, Frinape, Cristo Rei, Copas Verdes, Industrial Norte, Demoliner, Novo Atlântico, Maria Clara,
Parque Redenção, Cristal, Morada do Sol, Ernesto Zimmer, Vale Dourado, Jabuticabal, União, São Vicente
de Paulo, Vale dos Parreirais, Cotrel, Bandeirantes, Parque dos Imigrantes, Liberdade, Estevão Carraro,
Rio Tigre, Hipica, Pettit Village, São José, Victória I, Victória II, Aldo Arioli, Verdureiros, Consoladora e
Santo Antônio (Prefeitura de Erechim, 2017).

Por volta dos anos de 1908, o desenvolvimento da policultura favorecia a colonização e o comércio, dando
início ao progresso da, então, pequena cidade. Anos depois, a atividade industrial da erva-mate ganhou
destaque, sendo que os colonizadores da época utilizavam o manjolo movido a água e o socador para moer
a erva-mate (Bergamo, 2010).

Logo, em 1911, surgiu a primeira serraria. Nessa época os movimentos serralheiros eram decorrentes das
extensas matas de pinhais existentes na região. O destino da madeira serrada seria a exportação através
da ferrovia (Bergamo, 2010). Em 1919, os registros históricos relatam a existência de uma grande
madeireira pertencente à família Reichmann, localizada próxima aos trilhos da viação férrea, local hoje
conhecido por Bairro Triângulo, na entrada das Três Vendas.

Além disso, em 1927, deu-se início à industrialização do trigo, despertando grande interesse econômico de
Cooperativas que estavam sendo instaladas na época. A indústria de bebidas também ganhou espaço na
região, com o processo de industrialização. Destaque para a Indústria de Bebidas Bortolo Balvedi que
produzia refrigerantes (Bergamo, 2010).

Bergamo (2010), relatou que nos anos anteriores a 1950, as indústrias instaladas no município
representavam as atividades destinadas ao processamento de produtos primários, de indústrias de
subsistência, abastecimento da região, além da exportação de uma parcela do que era produzido. Os
trabalhadores da época desenvolviam as atividades industriais juntamente com as atividades comerciais.

Da mesma forma, a população urbana apresentou um crescimento significativo na década de 40. Os dados,
extraídos na época, relatam que o número de habitantes dobrou, no período de 1940 à 1950, passando de
7.511 habitantes para 14.418 habitantes. De acordo com esse levantamento, realizado no ano de 1940, a
população cresceu um estimado de 4,5% ao ano. A Figura 5 retrata o crescimento expansivo da população,
evidenciando a ocupação em praticamente toda a área urbana delimitada no ano de 1919.

O Moinho pertencente à família Reichmann, na década de 30, foi muito importante para a economia da
cidade na época. Houve o Moinho Riograndense e o Moinho São Carlos, que fabricavam farinha. Sua
localização ficava onde hoje é a Cotrel, no Bairro Três Vendas.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 5 - Vista aérea da cidade, sentido Sul-Norte na década de 40. Fonte: Arquivo Histórico Municipal

Em 1957, com a implantação da COTREL – Cooperativa Tritícola Erechim, os produtores regionais ganharam
força. Logo em 1970, com o início do ciclo da soja, houve mudança na tecnologia de produção do grão, em
virtude de que parte da produção seria destinada à exportação (Bergamo, 2010).

Aquele autor relata ainda que, entre os anos de 1950 e 1960, grande parte das indústrias estavam
instaladas às margens da Viação Férrea, especialmente localizadas no Bairro Industrial das Três Vendas.
Exemplo disso, é a sede da Cooperativa Vitivinícola Boavistense, fundada em 1933, por 150 produtores de
uvas e vinhos, localizava-se às margens da ferrovia, a 120 metros da Cotrel e a quatro quadras do centro
da cidade (Ministério Público, 2009). Outra indústria localizada na área central, às margens da linha
ferroviária, foi a antiga empresa de móveis Madalozzo, em 1941 (Ministério Público, 2009). Logo, em
meados da década de 70 com o aumento na produção da cultura da soja, o processo de industrialização se
intensificou, abrindo as portas para a indústria metalmecânica e elétrica.

Com o momento de intenso desenvolvimento industrial, por volta do ano 1980, surgiu a necessidade da
criação de uma área especifica para ser destinada à implantação de indústrias e também daquelas que
estavam instaladas em locais impróprios. Além disso, a ideia partiu da necessidade de se desenvolver uma
estratégia industrial dirigida, buscando diluir ao máximo os efeitos da poluição urbana (Bergamo, 2010).

Em virtude disso, em 30 de dezembro de 1978, a Lei nº 1659 (Erechim, 1978) criava o Distrito Industrial
de Erechim. O governo municipal da época empreendeu os investimentos e garantiu uma completa
infraestrutura, com abastecimento de água, luz, telefonia, internet, rede de esgoto e sistema viário definido.
Localizado na parte sudeste do município, o Distrito Industrial Irani Jaime Farina, assim denominado,
permitiu a instalação de empreendimentos dos mais diversos ramos. O interesse em destinar uma área
específica para o desenvolvimento industrial, foi uma iniciativa do poder público municipal em conjunto
com os empreendedores da região, os quais viabilizaram este projeto importante para o desenvolvimento
do setor industrial.

Segundo Bergamo (2010), eram permitidas as instalações de indústrias que não fossem consideradas
nocivas, incômodas ou perigosas e que, por alguma situação, pudessem prejudicar a qualidade de vida,
segurança, sossego e saúde dos colaboradores da Área Industrial, ou, até mesmo, a população dos
arredores.

Com a implantação do Distrito Industrial foi necessário realizar a relocação das indústrias que estavam
instaladas na área urbana da cidade. Por essa condição, algumas mudanças surgiram, o que pode ser
notado principalmente na paisagem urbanística da cidade. Localizado a, aproximadamente, 400 metros da
BR 153 e a 3.000 m do centro urbano da cidade, o distrito recebeu sua primeira indústria a Intecnial, em
1981 (Bergamo, 2010). Numa área privilegiada, o Distrito Industrial teve numa primeira etapa a conclusão
de 367,246 m² de infraestrutura. Na segunda, mais uma área similar foi atendida, totalizando 678,813 m².

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Hoje, com a conclusão da terceira etapa de ampliação, o pólo industrial compreende uma área bem
representativa, chegando a 1.000.000 m².

De acordo com dados da Prefeitura de Erechim (2017), as indústrias ali instaladas geram emprego e renda
para mais de 3.000 colaboradores. Espaço esse, destinado ao funcionamento das mais importantes
empresas de Erechim. A área possui 34 empresas instaladas, contribuindo com parcela significativa do
Produto Interno Bruto (PIB).

3.3 - Identificação de empreendimentos e atividades potencialmente poluidores na área de


estudo

A proposta do método CETESB evidencia alguns critérios a serem considerados para que se torne possível
identificar uma área com potencial contaminação. Para uma melhor organização do propósito deste trabalho,
esses critérios serão abordados individualmente a fim de esclarecer cada etapa sugerida pelo método.

Dessa forma, a divisão das etapas apresentadas compreende dois grupos: as etapas que pertencem à
metodologia baseada na revisão histórica e as etapas que pertencem aos métodos aplicados
independentemente. Prefeituras; Associações e Sindicatos; Arquivos públicos e privados, empresas de
abastecimento de água e energia; Agências ambientais e de saúde; Visita in loco; Análise fotográfica e
Ocorrência de contaminação pertencem a revisão histórica; Histórico de ocorrências de contaminação;
Determinação das atividades potencialmente contaminantes; Denúncias e Vincular as atividades
potencialmente poluidoras com códigos de atividades econômicas, referem-se aos métodos aplicados
independentemente.

Consequentemente, com o município de interesse definido para aplicação do método e com o levantamento
das atividades potencialmente poluidoras, as etapas subsequentes consistem na busca de informações e
de dados pertinentes à área proposta pelo estudo.

As consultas foram realizadas na SMAM e na FEPAM, sendo que apenas a primeira trouxe dados para
contribuir com a pesquisa. As informações solicitadas à SMAM referem-se à relação de LAOs de todos os
empreendimentos existentes na área urbana do município. Dessa forma, foi possível obter dados
significativos para este trabalho o que gerou os resultados discutidos nesta etapa da pesquisa.

As Licenças Ambientais adquiridas trouxeram informações e características de cada atividade


individualmente. Sendo assim, foram analisados e compilados os dados quantitativos de cada processo
licenciado, de identificação do empreendedor e seu respectivo CNPJ, do tipo da Licença Ambiental, da
atividade requerida, da situação da atividade, das datas de emissão e do vencimento do processo licenciado,
dos número de protocolo das licenças, de endereço da atividade executada (identificação de ruas e bairros),
das coordenadas geográficas (latitude e longitude), da classificação do potencial poluidor de cada atividade
e do seu respectivo CODRAM; bem como a área total de cada empreendimento. Sobre a busca realizada
com a FEPAM, até a finalização desta pesquisa, não houve retorno da Fundação, portanto, nenhuma
informação foi fornecida.

Dessa forma, foi possível pontuar algumas informações disponibilizadas pela SMAM. Assim, os resultados
obtidos até aqui trouxeram dados quantitativos referentes a análise dos empreendimentos licenciados no
município entre os anos de 2006 a 2016, o que possibilitará na identificação das atividades potencialmente
poluidoras e suas respectivas localizações dentro da área urbana de Erechim.

As LAOs emitidas, no período em estudo, quantificaram um número expressivo. Foram totalizados 1.307
processos licenciados, sendo que o número de empreendimentos existentes no município não deve ser
levado em consideração com a quantidade de licenças expedidas, visto que elas se repetem a cada 4 anos,
em função do seu prazo de validade.

A partir dessa análise foi possível estabelecer uma relação com os bairros aonde estão localizados esses
empreendimentos. Pode-se concluir que os empreendimentos com potencial contaminação não se localizam
apenas no Pólo Industrial do município, mas sim em outros bairros comerciais e residenciais.

Concomitantemente, fez-se um levantamento dos empreendimentos de acordo com seu respectivo


potencial poluidor, de acordo com a Figura 6. Por essa razão, conclui-se que a maior parte das atividades
existentes no município são classificadas com potencial poluidor médio. Do contrário, aquelas que são
caracterizadas com potencial alto apresentaram um número expressivamente baixo e estável durante os
anos estudados, exceto para o ano de 2016 que apresentou um crescimento maior, triplicando a quantidade
de atividades. Ainda, foi possível constatar que a atividade oficina mecânica apresentou maior evidência
de ocorrência em Erechim, seguido de Serviços de montagem e Fabricação de estruturas metálicas.

1359
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250
Quantidade de empreendiemntos
200

150

100

50

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano

Alto Potencial Médio potencial Baixo potencial

Figura 6 - Empreendimentos do município e seu respectivo potencial poluidor

4- CONCLUSÕES

O objetivo inicial de encontrar métodos internacionais e nacionais foi atingido. Por meio deles foi possivel
verificar que os documentos nacionais recebem influência direta das ações internacionais, mas apresentam
adequações à realidade brasileira, o que inclui o método selecionado, indicado pela CETESB.

Sendo assim, mesmo recentes, os trabalhos de gerenciamento de áreas potencialmente contaminadas e


contaminadas no Brasil estão em um importante processo de evolução, já apresentando documentos legais
consolidados. A não ponderação dos elementos e dos critérios de identificação apresentados na planilha
trouxe questionamentos quanto à influência de cada um deles no processo de identificação, aspecto que
pode ser discutido em trabalhos futuros.

Em virtude dos fatos mencionados, entende-se que os dados disponibilizados pela SMAM, até o momento,
trouxeram resultados que contribuíram positivamente para que se obtivesse uma identificação inicial dos
empreendimentos localizados dentro do perímetro urbano de Erechim - RS.

Também, a partir da coleta dos dados ofertados, percebe-se que a etapa fundamental para se identificar
uma área potencialmente contaminada (AP), é a etapa de análise histórica do local. Além disso, percebe-
se que as atividades potencialmente poluidoras não se concentram apenas na área industrial da cidade,
sendo localizadas também em bairros comerciais e residenciais. Conclui-se, ainda, que o potencial poluidor
de maior representação das atividades licenciadas é médio e a atividade potencial de maior ocorrência é a
atividade comercial de oficia mecânica.

Em virtude de que a coleta de informações ainda não foi finalizada, as conclusões não são definitivas,
porém já existem resultados parciais sobre as áreas potencialmente contaminadas na área urbana do
município. Dessa forma, a proposta de elaboração de um mapeamento, após a realização do levantamento
dessas áreas potenciais, contribuirá significativamente para a gestão do zoneamento, bem como no
diagnóstico de uso e ocupação do solo de Erechim.

Em suma, o método de identificação de áreas potencialmente contaminadas do CETESB pode sim ser
aplicado nos municípios brasileiros, porém, para um melhor desempenho dos resultados obtidos, se faz
necessária uma maior organização das várias fontes de informações no sentido de manter uma base de
dados confiável e de fácil acesso.

AGRADECIMENTOS

Ao Grupo de Pesquisa em Geotecnia Ambiental da Universidade de Passo Fundo, o que permitiu a realização
deste estudo.

REFERÊNCIAS

AMAU (2017) - Disponível em: < http://amau.com.br/site/>. Acesso em: 10 jan. 2018.

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MÉTODOS APLICADOS À REMEDIAÇÃO SUSTENTÁVEL

METHODS APPLIED TO SUSTAINABLE REMEDIATION

Braun, Adeli Beatriz; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, adelibeatrizbraun@hotmail.com
Trentin, Adan William da Silva; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil,
adan_trentin@hotmail.com
Balestrin, Deisi; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, deisibalestrin@hotmail.com
Rampanelli, Greici Barufaldi; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, greici.barufaldi@gmail.com
Visentin, Caroline; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, caroline.visentin.rs@gmail.com
Thomé, Antônio; Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

RESUMO

A remediação sustentável surge com uma abordagem ampla, a qual integra as dimensões ambiental,
econômica e social da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas. Contudo, ainda são grandes
os desafios em relação à propagação dos seus conceitos, além de não existir um método universalmente
normatizado para avaliar o grau de sustentabilidade no que diz respeito à remediação. Desta forma, este
estudo teve como objetivo definir uma metodologia aplicada à remediação de áreas contaminadas que
melhor representa a sustentabilidade. Para tanto, a pesquisa foi realizada em duas etapas principais: (1)
identificação e descrição dos métodos que foram desenvolvidos e aplicados no cenário mundial, por meio
de uma revisão bibliográfica sistemática; (2) análise e seleção dos métodos quanto à satisfação de nove
critérios previamente estabelecidos pelos autores, sendo estes: Avaliação dos elementos centrais da
remediação verde e sustentável; Garantia de equidade intergeracional; Avaliação das opções de
remediação; Abordagem de ciclo de vida; Preocupação com o uso futuro da área; Consideração e
Integração do tripé da sustentabilidade; Proteção da saúde humana e do ambiente em geral; Participação
das partes interessadas; Registro e documentação do processo de tomada de decisão. Foram identificados
oito métodos de avaliação da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas: USEPA; ASTM; ITRC;
NICOLE; SuRF-USA; SuRF-UK; SuRF-ANZ; e SuRF-Taiwan. Quanto às estruturas dos métodos identificados,
observou-se uma tendência na representação gráfica para a tomada de decisão. Em relação aos critérios,
a participação das diferentes partes interessadas no projeto de remediação obteve o melhor desempenho,
sendo abordado em todos os métodos analisados. Neste contexto, o método ITRC obteve o melhor
desempenho entre os métodos analisados. Conclui-se, portanto, que esse tipo de análise, por meio da
satisfação de critérios na abordagem dos métodos, fornece uma compreensão mais detalhada das
contribuições dos diferentes métodos para resultados sustentáveis.

ABSTRACT

Sustainable remediation comes with a broad approach, integrating the environmental, economic and social
dimensions of sustainability in the remediation of contaminated areas. However, the challenges regarding
the spread of its concepts are still large. This study aimed to define a methodology applied to the
remediation of contaminated areas that best represents sustainability. For this, the research was carried
out in two main stages: (1) identification and description of the methods that have been developed and
applied in the world scenario through a systematic bibliographic review; (2) analysis and selection of the
methods regarding the satisfaction of nine criteria previously established by the authors, these being:
Assessment of the central elements of green and sustainable remediation; Guarantee of intergenerational
equity; Evaluation of remediation options; Life cycle approach; Concern about the future use of the area;
Consideration and Integration of the sustainability tripod; Protection of human health and the environment
in general; Stakeholder participation; Registration and documentation of the decision-making process.
Eight methods of evaluating sustainability in the remediation of contaminated areas were identified: USEPA;
ASTM; ITRC; NICOLE; SuRF-USA; SuRF-UK; SuRF-ANZ; and SuRF-Taiwan. According to the structures of
the identified methods, a tendency was observed in the graphical representation for the decision making.
In relation the criteria, the participation of the different stakeholders in the remediation project obtained
the best performance, being addressed in all the analyzed methods. In this context, the ITRC method
obtained the best performance among the analyzed methods. It is possible to conclude that this type of
analysis, through the satisfaction of criteria in approaching the methods, provides a more detailed
understanding of the contributions of different methods to sustainable results.

1- INTRODUÇÃO

A importância da remediação de áreas contaminadas sustenta-se, principalmente, na influência de


substâncias perigosas presentes em concentrações que colocam em risco a saúde pública e o meio
ambiente. Da mesma forma, é de grande relevância que as técnicas de remediação, sejam selecionadas e

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implementadas com uma concisa fundamentação técnica e científica preliminar, uma vez que, caso a técnica
não for aplicada de forma adequada, os impactos negativos podem superar os aspectos positivos da sua
aplicação (Moraes et al., 2014). Portanto, a remediação não é automaticamente sustentável. Neste sentido,
a remediação sustentável surge como uma nova mudança de paradigma. Traz em sua essência o objetivo
de não transferir simplesmente o problema para outro meio, localização geográfica ou geração, ou enfocar
somente nos resultados de remoção (Pollard et al., 2004).

A remediação sustentável possui definições variáveis, porém, há um consenso comum sobre o seu amplo
propósito de reduzir os impactos ambientais, econômicos e sociais, por meio do controle dos riscos
associados e dos benefícios a longo prazo dos projetos de remediação (Holland et al., 2011; Cundy et al.,
2013). Portanto, a remediação sustentável, tal como definida nas diretrizes atuais, implica na coordenação
entre o consumo de recursos necessários para a remediação e os benefícios alcançados em termos de
viabilidade econômica, conservação de recursos naturais e biodiversidade, e o aprimoramento da qualidade
de vida nas comunidades vizinhas da área (Forum, 2009; Slenders et al., 2017).

Contudo, a remediação sustentável ainda consiste em um tema que está em fase de adequação quanto ao
seu efetivo uso e incorporação no contexto do gerenciamento de áreas contaminadas, sendo que, a
discussão de sua abordagem vem evoluindo de forma gradual ao longo dos anos (Pollard et al., 2004;
Bardos et al., 2011; Reddy e Adams, 2015; Hou et al., 2016). Enquanto países como os Estados Unidos e
o Reino Unido, por exemplo, já apresentam altas taxas de conscientização e adoção da remediação
sustentável, países em desenvolvimento, além de apresentarem menor sensibilização, também possuem
baixas taxas de adoção da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas (Hou et al., 2016).

Ainda são muitos os obstáculos a serem superados no contexto prático da remediação sustentável, sendo
que, ainda não existe um método universalmente normatizado e aceito para avaliar a sustentabilidade no
que diz respeito aos processos de remediação de áreas contaminadas (Reddy e Adams, 2015). Isto sugere
que há espaço para melhorias e estudos mais aprofundados, com vista para uma compreensão mais
detalhada das efetivas contribuições da temática na obtenção de resultados sustentáveis (Ridsdale e Noble,
2016).

Diante disto, este estudo objetivou definir uma metodologia aplicada à remediação de áreas contaminadas
que melhor representa a sustentabilidade, com base em dois objetivos específicos: primeiro, identificar e
descrever os métodos de análise da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas, que vem
sendo desenvolvidos e aplicados no cenário mundial; e em segundo lugar, caracterizar e analisar os
métodos identificados.

2- METODOLOGIA

Nesta seção serão descritas as duas etapas base para o alcance dos objetivos propostos para este estudo.

2.1 - Identificação e descrição dos métodos voltados para a aplicação da remediação


sustentável

A identificação destes métodos no cenário mundial foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica
sistemática, com buscas nas páginas da rede mundial de computadores e em bases de dados de periódicos
científicos, tais como Web Of Sciense, Scopus, Sciense Direct e Google Scholar.

A revisão bibliográfica sistemática é o processo de mapear, coletar, conhecer, compreender, analisar e


sintetizar um conjunto de trabalhos científicos publicados com o propósito de criar um embasamento
teórico-científico sobre um determinado tópico ou assunto pesquisado (Levy e Ellis, 2006). Portanto, uma
revisão sistemática permite ao pesquisador uma avaliação rigorosa e confiável das pesquisas realizadas
dentro de um tema específico.

Para uma investigação mais pontual e precisa, esta busca foi realizada com palavras chave direcionadas às
formas de avaliação da remediação sustentável, sendo a pesquisa efetuada tanto em português como na
língua inglesa, abordando assuntos tais como: quadros/estruturas de remediação sustentável (frameworks
of Sustainable remediation); métodos/metodologias de avaliação da sustentabilidade na remediação de
áreas contaminadas (methods/methodologies for assessing sustainability in the remediation of
contaminated areas); ferramentas de avaliação da remediação sustentável (tools for sustainable
remediation assessment), entre outros, pertinentes ao alcance do objetivo desta etapa.

Os métodos pesquisados foram listados e descritos detalhadamente quanto ao seu desenvolvimento,


origem e estrutura utilizada na análise da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas.

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2.2 - Análise e seleção dos métodos

Nesta etapa foi analisada a maneira como a sustentabilidade é representada e abordada nos métodos
descritos na etapa anterior, a fim de verificar o quanto cada um se aproxima da sustentabilidade. A base
para tal análise foram os princípios identificados na literatura, sendo que, para orientar a análise do
conteúdo dos métodos elencados, todos os princípios foram operacionalizados como critérios de decisão
(Quadro 1). A ordem apresentada no Quadro 1 não levou em consideração a importância dos critérios
quanto a sustentabilidade, além disso, todos os critérios foram considerados com igual importância.

Quadro 1 - Princípios e critérios de decisão para a análise e seleção dos métodos


Princípios Critérios de decisão Fonte
C1: O método aborda e avalia os elementos
Avaliação dos elementos centrais
como energia, ar, recursos hídricos, materiais
da remediação verde e USEPA (2012)
e resíduos, e, terra e ecossistema durante o
sustentável
processo de remediação.
C2: O método aborda a adoção de medidas que
minimizem o consumo de energia e o uso de
Garantia de equidade
recursos naturais, e que maximizam a Gibson et al (2005)
intergeracional
reutilização de materiais, garantindo as
necessidades das futuras gerações.
Avaliação das opções de C3: O método é apoiado pela comparação de
Rizzo et al. (2016)
remediação diferentes opções corretivas disponíveis.
C4: O método remete ao pensamento de ciclo
Abordagem de ciclo de vida de vida, o qual deve ser aplicado à remediação Rizzo et al. (2016)
sustentável.
C5: O método considera o uso futuro da área,
Preocupação com o uso futuro da no início do projeto, na avaliação das
Ridsdale e Noble (2016)
área alternativas de correção, e em todo o processo
de remediação.
C6: O método facilita a inclusão e a análise dos
Consideração e Integração do aspectos sociais, econômicos e ambientais da
Ridsdale e Noble (2016)
tripé da sustentabilidade sustentabilidade em todo o processo de
remediação.
C7: O método leva em consideração os riscos
associados às pessoas diretamente envolvidas
Proteção da saúde humana e do no processo de remediação, e a integridade,
DoD (2010)
ambiente em geral em longo prazo, dos sistemas sócio-ecológicos
de proteção à vida, e uso eficiente dos recursos
naturais e energéticos.
C8: O método aborda a participação ou
Participação das partes envolvimento das comunidades afetadas, Gibson et al (2005);
interessadas usuários da área ou interessados na solução, Ridsdale e Noble (2016)
integrados em todo o processo de reparação.
C9: O método fornece os pressupostos e dados
Registro e documentação do utilizados para alcançar a estratégia final de
DoD (2010)
processo de tomada de decisão remediação com uma abordagem clara e de
fácil compreensão e reprodução.

A análise de conteúdo documental e a análise temática foram utilizadas como mecanismos para a avaliação
dos métodos quanto à satisfação dos critérios, conforme apresentado por Bowen (2009). Esta estratégia
de pesquisa envolve fundamentalmente um exame superficial, seguido de uma leitura completa, e
finalizando com a interpretação do conteúdo, em vista ao objetivo proposto. A estratégia está vinculada a
esta etapa da pesquisa, uma vez que, propõe-se uma avaliação do conteúdo dos métodos elencados no
que tange a sua relação com os critérios de decisão, para posterior seleção.

Os resultados foram apresentados qualitativamente e quantitativamente. A análise qualitativa deu-se com


base em cada critério de decisão estar totalmente satisfeito (TS), parcialmente satisfeito (PS), ou não
satisfeito (NS) em relação a cada método analisado, segundo a abordagem utilizada por Ridsdale e Noble
(2016). Para um critério estar plenamente satisfeito, considerou-se que o método abordou explicitamente
o critério, e forneceu a direção ou orientação sobre a questão. Para o critério estar parcialmente satisfeito,
considerou-se que a questão foi abordada de forma complementar ao método. Já para o critério não estar
satisfeito, não houve abordagem à questão no contexto geral do método.

A análise quantitativa deu-se por meio da atribuição de uma escala numérica de 2, 1 e 0 aos níveis de
satisfação dos critérios TS, PS e NS, respectivamente. Essa atribuição de valores foi ponderada até que a
análise fosse representativa dos resultados, portanto, considerou-se que o valor do nível de satisfação TS
é o dobro do PS e o NS é nulo, ou seja, o nível TS prevalece na análise, mas a importância do nível PS
também é considerada. Esta valoração resultou na pontuação que descreve o nível de satisfação dos
critérios por cada método analisado.

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As informações foram organizadas em uma planilha para classificação, agrupamento e realização de uma
análise comparativa entre métodos e critérios. Os critérios e os métodos com maior pontuação foram
analisados e discutidos. Para fins de classificação, considerou-se primeiramente a pontuação obtida. No
caso de empate de pontuações considerou-se o maior número de critério TS, seguido de PS, e por último,
o NS, e, no caso de um novo empate, considerou-se a posição do critério ou do método na planilha de
análise, não levando em consideração quais critérios são favoráveis ou preferidos quanto a sustentabilidade.

Abordagem semelhante a esta foi utilizada por Ridsdale e Noble (2016), os quais destacam que embora
esta abordagem se apresenta simples na sua concepção, ela fornece uma rápida avaliação dos pontos
fortes, e prevê as principais fraquezas das estruturas analisadas, e as áreas onde melhorias ainda são
necessárias quanto à percepção dos princípios, em direção à sustentabilidade.

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Métodos de avaliação da sustentabilidade são formas sistemáticas que auxiliam na tomada de decisão
quanto aos aspectos ambientais, sociais e econômicos. Além disto, contribuem na avaliação das métricas
e ferramentas pelas quais a sustentabilidade de um projeto de remediação é analisada (Reddy e Adams,
2015). No cenário mundial, várias agências e organizações trabalham no desenvolvimento de métodos para
a análise da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas.

3.1 - Identificação e descrição dos métodos voltados para a aplicação da remediação


sustentável

No total foram identificados no cenário mundial oito métodos de avaliação da sustentabilidade na


remediação de áreas contaminadas. Os documentos analisados ofereceram métodos estruturados por meio
de diagramas, fluxogramas ou esquemas com formas, setas e símbolos. Quanto as estruturas dos métodos
identificados, observa-se uma tendência entre os métodos de fornecer uma representação gráfica para a
tomada de decisão, e sendo esta normalmente apresentada em etapas, as quais variam para cada método.

O método desenvolvido pela Environmental Protection Agency dos Estados Unidos da América (USEPA)
descreve um processo de sete passos, iniciando com a definição das metas e o escopo da análise; coleta e
organização das informações; quantificação dos materiais no local e as métricas de resíduos; quantificação
das métricas de água no local; quantificação das métricas de energia e ar; descrição quantitativa dos
serviços do ecossistema afetado; e finalizando com a apresentação dos resultados (USEPA, 2012).

O método desenvolvido pela American Society for Testing and Materials (ASTM) fornece um fluxograma
que relaciona os três pilares da sustentabilidade através de diversas considerações específicas e propostas
de Best Management Practices (BMPs), sendo que, para a seleção e execução destas BMPs é descrita uma
estrutura de seis passos para incentivar os usuários a incorporar elementos sustentáveis em projetos de
remediação (ASTM, 2013).

O método desenvolvido pelo Interstate Technology and Regulatory Council (ITRC) sugere um processo
composto de cinco estágios para o planejamento da remediação verde e sustentável, e um fluxograma
complementar que inclui as fases de implementação desta (ITRC, 2011).

Já o método desenvolvido pela Network for Industrially Contaminated Land in Europe (NICOLE) identifica
dois roteiros para o alcance da remediação sustentável, um com vista para a gestão e o outro para a
avaliação da sustentabilidade. O primeiro roteiro descreve quatro estágios principais para a tomada de
decisão: regional; local ou projeto; seleção da remediação; e o processo de remediação propriamente dito.
Já o segundo roteiro retrata um fluxograma de revisão, concordância e definição de objetivos, escopo e
análise da sustentabilidade aplicada à remediação (NICOLE, 2010).

Em relação aos Fóruns de Remediação Sustentável (Sustainable Remediation Forums – SuRFs), dos vários
grupos associados ao SuRF (Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Holanda, Nova Zelândia e Austrália,
Canadá, Itália, Taiwan, Japão e Colômbia), somente alguns trouxeram resultados quanto ao
desenvolvimento de métodos de remediação sustentável, tais como SuRF-US (Estados Unidos), SuRF-UK
(Reino Unido), SuRF-ANZ (Austrália e Nova Zelândia) e SuRF-Taiwan.

O método desenvolvido pelo SuRF-US descreve o processo de tomada de decisão com vista para a
remediação sustentável tanto como um processo linear quanto iterativo. Desta forma, apresenta uma
estrutura em forma de espiral, para representar melhor a inclusão da sustentabilidade ao longo de todo o
ciclo de vida do projeto de remediação, e a necessidade de uma avaliação e otimização contínua,
objetivando os benefícios de todas as partes interessadas (Holland et al., 2011).

O método desenvolvido pelo SuRF-UK apresenta uma estrutura com foco em duas fases principais, a Fase
A de planejamento e projeto, e a Fase B da implementação da remediação, sendo que, cada uma destas é
composta por tarefas e marcos de tomadas de decisão (SuRF-UK, 2010).

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No mesmo sentido que o SuRF-UK, o método SuRF-ANZ também fornece um fluxograma onde o processo
de tomada de decisão é dividido em duas etapas principais, ou seja, planejamento e projeto, e
implementação do processo de remediação, porém, com a inclusão das considerações de risco a nível
regional e local para diferentes cenários de remediação (Smith e Nadebaum, 2016).

O método proposto pelo SuRF-Taiwan traz um fluxograma de tomada de decisão com vista à avaliação da
remediação verde e sustentável, a qual se divide em duas etapas principais, a avaliação do local, que ocorre
antes da remediação, e a verificação do local, que ocorre durante e após a remediação (Huang et al., 2016).

Levando em consideração os aspectos descritivos dos métodos, percebe-se que existe um amplo consenso
sobre a importância da definição de objetivos eficazes, definição clara das fronteiras e limites, e a utilidade
de uma abordagem em camadas/níveis para a avaliação da sustentabilidade. Os métodos ITRC, SuRF-US,
SuRF-UK, SuRF-ANZ, SuRF-Taiwan e NICOLE fornecem às partes interessadas, indicações explícitas sobre
quando e como aplicar a sustentabilidade em diferentes fases do projeto de remediação, desde o
planejamento até a implementação.

Além disto, os métodos da NICOLE e do SuRF-UK sugerem que a abordagem quanto à remediação
sustentável deve ser considerada o mais cedo possível no planejamento do projeto para maximizar os
ganhos em termos de sustentabilidade. Os métodos ITRC, SuRF-US e SuRF-UK também discutem a
importância de definir a extensão espacial e temporal do escopo da avaliação da sustentabilidade, a
consideração dos impactos do “berço ao túmulo” do processo de remediação, e a necessidade de
contabilizar os impactos além do limite físico da área.

Um maior número de métodos foi desenvolvido nos Estados Unidos (USEPA, ASTM, ITRC e SURF-US), em
grande parte devido às origens das discussões, iniciativas e esforços acerca da remediação sustentável.
Observa-se que a estruturação e o desenvolvimento destes métodos deram-se por organizações
profissionais internacionais (ASTM e ITRC), e principalmente por iniciativas voluntárias que emergiram de
colaborações entre profissionais, acadêmicos e órgãos reguladores (SuRF-US, SuRF-UK, SuRF-ANZ, SuRF-
Taiwan e NICOLE). Já a organização do método da USEPA está vinculada ao Governo Federal. Além disto,
dos métodos identificados, um enfatiza somente a remediação verde (USEPA), três abordam a remediação
verde juntamente com a remediação sustentável (ASTM, ITRC e SuRF-Taiwan), e quatro enfocam
especificamente na remediação sustentável (SuRF-US, SuRF-UK, SuRF-ANZ e NICOLE).

3.2 - Análise e seleção dos métodos

Para cada critério selecionado foi realizada uma análise detalhada quanto a sua satisfação e abordagem
nos oito métodos identificados e descritos.

3.2.1- Avaliação dos elementos centrais da remediação verde (C1)

Nos Estados Unidos, por meio da USEPA, a remediação verde ainda desempenha um papel importante no
gerenciamento de áreas contaminadas, o que torna evidente na abordagem a ênfase dada as questões e
ações ambientais, em oposição aos elementos sociais e econômicos da remediação sustentável, além da
tendência de incorporar na prática opções de remediação para minimizar os efeitos ambientais destas ações.

O método da USEPA inclui explicitamente os cinco elementos centrais em sua abordagem, os quais são
utilizados como BMPs e integrados ao longo do projeto de remediação para reduzir o impacto ambiental de
uma ação corretiva e maximizar o benefício ambiental líquido.

No caso do método da ASTM, este já apresenta uma abordagem mais ampla, voltada para a integração da
remediação verde e sustentável, porém, as BMPs, essenciais na análise do método, ainda são definidas
para cada um dos cinco elementos principais da remediação verde.

Desta forma, os dois métodos (USEPA e ASTM) satisfazem totalmente o critério.

3.2.2- Garantia de equidade intergeracional (C2)

O critério é satisfeito plenamente em quatro métodos (USEPA, ASTM, ITRC e SuRF-UK) e três (SuRF-ANZ,
SuRF-Taiwan e NICOLE) o atendem parcialmente.

A USEPA enfoca uma atenção especial nas considerações intergeracionais em relação à eficiência no uso
de recursos naturais, energia, e conservação e redução de resíduos, além de uma abordagem de longo
prazo, incentivando opções alternativas de energia e longevidade da comunidade através da criação de
novas oportunidades sociais e econômicas.

Nos métodos da ASTM e do SuRF-UK é refletida explicitamente a redução dos impactos negativos gerais e
a maximização dos benefícios a longo prazo para as comunidades, pensando para além da geração atual.
Ainda, o método SuRF-UK se estende em considerações mais amplas do desenvolvimento sustentável

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

aplicada à remediação, como por exemplo, processos de construção e remediação com minimização de
resíduos e integração de um sistema de remediação com energia renovável.

O método ITRC elenca como objetivos da Green and Sustainable Remediation (GSR) a serem considerados
no planejamento do processo de remediação, a projeção de uma remediação de baixa energia, com redução
dos resíduos derivados, e do consumo de energia em 20% durante a otimização da remediação.

O SuRF-ANZ trata de maneira bem sucinta a minimização do consumo de recursos, assim como o SuRF-
Taiwan que destaca que para uma melhor avaliação do local deve considerar-se a eliminação de resíduos
junto com a energia necessária para o processo. A NICOLE também destaca sucintamente a importância
das contribuições para o desenvolvimento sustentável, como por exemplo, através de um uso mais
sustentável e eficiente dos recursos naturais.

3.2.3- Avaliação das opções de remediação (C3)

Neste contexto, o critério é satisfeito plenamente por cinco métodos (USEPA, ITRC, SuRF-US, SuRF-UK,
SuRF-ANZ e NICOLE) e parcialmente satisfeito pelo método da ASTM.

O método da USEPA objetiva avaliar e selecionar opções de remediação que maximizam a pegada ambiental
de um projeto, sendo que, cada um dos cinco elementos centrais da remediação verde é definido e
direcionado para a avaliação das alternativas de remediação.

No método ITRC, a implementação da GSR deve ocorrer em todas as fases da remediação, desde a
investigação até o fechamento do local, inclusive na avaliação e seleção de opções de remediação.

O SuRF-US objetiva em seu método a integração da sustentabilidade em todas as fases do processo de


remediação, inclusive na seleção das alternativas. Portanto, a avaliação e seleção das opções de remediação
é uma etapa fundamental, uma vez que, o método está centrado em uma abordagem faseada, ou seja,
determinada fase do projeto precisa ser concluída para que a próxima fase possa ser realizada. Por exemplo,
a seleção das alternativas de remediação só pode ser iniciada após a conclusão da fase de investigação.

O SuRF-UK trabalhou no sentido de desenvolver um método para integrar uma tomada de decisão
equilibrada na seleção das estratégias de remediação. A avaliação das opções consiste em um dos pontos
chaves da avaliação da gestão de áreas contaminadas realizada no método, sendo que, a única tarefa
relevante na fase de implementação da remediação é a seleção da opção de remediação mais sustentável,
a qual pode ser implementada e posteriormente verificada.

Indo ao encontro à abordagem trazida pelo SuRF-UK, no método SuRF-ANZ a sustentabilidade é


considerada em várias etapas de um projeto de remediação, inclusive no desenvolvimento, seleção e
avaliação de alternativas corretivas com vista para a remediação sustentável, ou seja, a opção escolhida
deverá representar um equilíbrio entre os fatores econômicos, ambientais e sociais.

A NICOLE também enfoca em um processo de tomada de decisão na gestão para a sustentabilidade,


dividido em quatro fases, sendo uma destas a avaliação e seleção da estratégia de remediação.

Já a ASTM traz um método que conecta, de forma implícita, as opções de remediação considerada, uma
vez que, as BMPs aplicáveis a um projeto específico devem ser organizadas e priorizadas para otimizar a
seleção e implementação de tecnologias de remediação apropriadas, com a devida consideração dos custos
e benefícios associados.

3.2.4- Abordagem de ciclo de vida (C4)

Os métodos aqui elencados (USEPA, ASTM, ITRC, SuRF-US e SuRF-UK) satisfazem totalmente o critério,
uma vez que, remetem de alguma forma ao pensamento de ciclo de vida e abordam alguns aspectos da
avaliação de ciclo de vida (ACV), trazendo-a como uma ferramenta aplicada ou como um conceito amplo
na prática de remediação.

A USEPA e o SuRF-US promovem a ACV como uma ferramenta para testar as opções de remediação. O
método da USEPA considera menos os processos de ACV, mas encoraja o uso de perspectivas do ciclo de
vida para avaliar todas as interações que podem ocorrer em uma área contaminada. Já o método do SuRF-
US encoraja a avaliação e a integração dos parâmetros de sustentabilidade ao longo do ciclo de vida de um
projeto de remediação, incluindo metodologias de ACV para análise específica do local e das opções
corretivas.

O método SuRF-UK discute a abordagem do ciclo de vida como um conceito e como uma ferramenta. No
entanto, de forma geral, o SuRF-UK e a ASTM abordam a ACV como um processo conceitual que inclui a
análise dos impactos durante o processo, e assim auxiliam os usuários a pensarem o projeto em uma escala
temporal completa. O método SuRF-UK pode ser aplicado a vários cenários de tomada de decisão e de

1367
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

remediação, dentro do ciclo de vida de um projeto. O método ASTM destaca que a ACV facilita a redução
global do impacto ambiental associada aos projetos de remediação, e, portanto, sugere que a avaliação
das BMPs seja implementada ao longo de todo o ciclo de vida do projeto.

O método ITRC traz a abordagem do ciclo de vida como uma ferramenta de avaliação quantitativa para a
combinação, seleção e aplicação de BMPs nos projetos de remediação.

3.2.5- Preocupação com o uso futuro da área (C5)

Três métodos (SuRF-US, SuRF-ANZ e SuRF-Taiwan) satisfazem plenamente o critério, trazendo o uso futuro
da área desde o projeto até a seleção das opções de remediação, e três (USEPA, ASTM e ITRC) o satisfazem
apenas parcialmente.

O método SuRF-US elenca o planejamento do uso final ou futuro da área no ciclo de vida do projeto de
remediação em seu método, como uma das principais abordagens para a integração da sustentabilidade
no processo de remediação e o insere em seu método.

No método SuRF-ANZ a sustentabilidade é considerada em várias etapas de um projeto de remediação,


inclusive no planejamento do uso proposto do local. Já no método do SuRF-Taiwan, mais especificamente
na etapa de avaliação do local, deve ser levado em consideração quaisquer restrições legais à remediação
e ao uso futuro da área, sendo que caso a área seja utilizada para fins de cultivo, o plano de remediação
não deve incluir atividades que impactam negativamente a fertilidade do solo, por exemplo.

Já a USEPA e a ASTM incentivam o planejamento para o uso futuro da área, mas sem abordagem explícita
do processo como um todo, com foco principal em agregar valor às iniciativas básicas de remediação, com
retornos para a comunidade local, em termos culturais, de desenvolvimento e infraestrutura.

O método ITRC objetiva maximizar a integração dos parâmetros de sustentabilidade em todas as fases do
processo de remediação, desde o início do projeto até o fechamento da área. Mas, não define a incorporação
do uso futuro da área nestas fases do processo de remediação.

3.2.6- Consideração e integração dos elementos do tripé da sustentabilidade (C6)

Todos os métodos abordam de alguma forma os três elementos da sustentabilidade, sendo que, cinco
métodos (ASTM, ITRC, SuRF-US, SuRF-UK e NICOLE) incluem explicitamente os fatores sociais, econômicos
e ambientais como elementos essenciais durante o projeto de remediação, satisfazendo plenamente o
critério em questão, e os outros três (USEPA, SuRF-ANZ e SuRF-Taiwan) o satisfazem parcialmente, com
uma abordagem menos evidentes do tripé.

O método da ASTM aborda explicitamente as interligações entre os componentes sociais, econômicos e


ambientais, por meio de um conjunto de critérios de desempenho sustentável, os quais estão integrados
em toda a estrutura para a seleção da BMP. Portanto, conforme a ASTM, as BMPs devem ser selecionadas
nas dimensões ambiental, social e econômica para proporcionar o maior benefício líquido sustentável
associado ao projeto de remediação proposto.

O método ITRC, embora apresente uma abordagem focada na GSR, objetiva maximizar a incorporação
além das considerações ambientais, e os aspectos sociais e econômicas no processo de remediação, a fim
de mover o projeto de uma remediação meramente verde para uma remediação sustentável.

O método SuRF-US apresenta a sustentabilidade como um tema abrangente para ser integrado em cada
fase do projeto, destinando-se a contribuir para que os fatores ambientais, sociais e econômicos sejam
equilibrados e otimizadas durante todo o projeto de remediação.

Neste mesmo sentido, o método SuRF-UK também incentiva a consideração de interconexões entre os três
elementos da sustentabilidade e apresenta uma série de princípios orientadores para facilitar a
compreensão destas interrelações.

Na NICOLE, a avaliação da sustentabilidade tem como objetivo a integração dos três elementos base da
sustentabilidade de uma forma equilibrada e levando em consideração os contextos legal e político
específicos, a fim de maximizar os benefícios globais das estratégias de remediação.

Já a USEPA inclui em sua abordagem apenas aspectos ambientais, sem consideração explícita de aspectos
sociais e econômicos, em função de sua abordagem focada na remediação verde.

Em relação à abordagem trazida pelo método SuRF-ANZ, é observado que apenas o método nacional de
remediação da Austrália, vinculado ao SuRF-ANZ, alude à integração de considerações tanto econômicas,
ambientais, sociais, de longo e curto prazo, durante o projeto de remediação. E por último, o SuRF-Taiwan,
também sem consideração explícita no método, destaca a necessidade de ferramentas que avaliem e

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

comparem os efeitos ambientais, sociais e econômicos de diferentes opções de remediação para selecionar
a que mais se ajusta aos requisitos sustentáveis.

3.2.7- Proteção da saúde humana e do ambiente em geral (C7)

Os métodos ITRC, SuRF-UK e SuRF-ANZ estão baseados em alguns princípios chave considerados
fundamentais em suas abordagens, sendo um destes a proteção da saúde pública e do ambiente. No caso
do SuRF-UK, junto com a proteção da saúde pública e do ambiente, inclui práticas de trabalho seguras,
tanto para trabalhadores quanto para as comunidades locais.

No método do SuRF-US é enfatizado que as metas de remediação e de sustentabilidade devem ser


simultaneamente asseguradas e alcançadas, não comprometendo a proteção da saúde pública e do
ambiente a longo prazo. A NICOLE também compreende que a remediação sustentável envolve a avaliação
e gestão de riscos significativos para a saúde pública e para o ambiente.

Já a ASTM e o SuRF-Taiwan, com uma abordagem não tão explícita para o critério, enfatizam que a criação
do método se baseia nas premissas da redução dos riscos e dos impactos sobre o ambiente, e a saúde dos
trabalhadores e das pessoas da comunidade local.

Desta forma, cinco métodos (ITRC, SuRF-UK, SuRF-ANZ, SuRF-US e NICOLE) satisfazem totalmente este
critério e dois método (ASTM e SuRF-Taiwan) o atendem parcialmente.

3.2.8- Participação das partes interessadas (C8)

Todos os métodos discorrem sobre a participação das partes interessadas em suas abordagens. Destes,
seis métodos (ASTM, ITRC, SuRF-US, SuRF-UK, SuRF-Taiwan e NICOLE) o fazem explicitamente,
satisfazendo plenamente o critério em análise, e dois (USEPA e SuRF-ANZ) satisfaem parcialmente.

A USEPA sugere o envolvimento e a voz ativa da comunidade local nas tomadas de decisão ao longo de
todo o projeto de remediação, com vista para aumentar a aceitação e a conscientização pública, porém,
fornece orientações limitadas sobre como incorporar esse engajamento, desta forma, não pode-se
considerar-se uma plena abordagem da participação das partes interessadas. Nesta mesma linha, o método
do SURF-ANZ, embora reconheça que as perspectivas das partes interessadas devem ser levadas a sério
durante todo o processo de remediação, as orientações sobre esta participação ainda não estão bem
desenvolvidas, com uma discussão muito voltada à gestão e percepção de riscos por parte dos interessados.

Já a ATSM enfatiza em seu método o engajamento precoce de uma grande gama de partes interessadas
nas discussões e nos processos de tomada de decisão do projeto de remediação, sendo que, este
envolvimento deve objetivar principalmente a busca das metas comuns entre os proponentes do projeto e
as partes interessadas, e direcioná-las para resultados que reflitam os interesses de cada grupo constituinte
e da comunidade como um todo.

O método do ITRC também aborda explicitamente este critério, sendo que, o terceiro passo da fase de
planejamento do método consiste na participação das partes interessadas, a qual se inicia com a
identificação de todas as partes interessadas, sejam estes reguladores federais e estaduais, governo local,
proprietário do local, moradores locais afetados, comunidade em geral e responsáveis pela remediação do
local. O ITRC ainda destaca que depois que todas as partes interessadas foram identificadas, é preciso
verificar o papel de cada grupo participante no projeto de remediação, o impacto sobre as tomadas de
decisão, o momento do envolvimento das partes, como serão contratadas e como as informações sobre a
implementação da GSR, por exemplo, serão divulgadas.

No método do SURF-US a consulta e a colaboração da comunidade são fundamentais para a remediação


sustentável, além de recomendar que a comunidade seja consultada com antecedência, ao longo de todo
o ciclo de vida do projeto e sobre os desejáveis usos futuros da área. O método foi concebido para ser
acessível e útil para todas as partes interessadas que podem ser afetadas pelo projeto de remediação,
sendo o grande destaque o reconhecimento da opinião e participação das partes interessadas nas tomadas
de decisão.

O método do SuRF-UK, além de abordar o envolvimento das partes interessadas em seus princípios
orientadores, também se apresenta como um processo consultivo que busca consenso entre as diferentes
partes interessadas no projeto, apoiando o engajamento desde o início, quando os objetivos são acordados.
Este envolvimento conforme o SuRF-UK fornece algumas vantagens, tais como: as partes interessadas
podem fornecer informações cruciais sobre aspectos específicos da sustentabilidade; os processos
consultivos melhoram a transparência e a robustez das decisões; e envolver as partes interessadas faz
parte da boa governança.

O SuRF-Taiwan traz a identificação, comunicação e discussão das partes interessadas inserida em seu
método. Além disto, em se tratando de um método regido por uma sequência de tomadas de decisão, a

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

sua execução depende diretamente do aceite das diferentes partes interessadas, incluindo os organismos
administrativos, instituições acadêmicas, profissionais de remediação, cidadãos e proprietários locais, bem
como indústrias relacionadas e organizações não-governamentais.

O método apresentado pela NICOLE baseia-se fundamentalmente na consulta e participação das partes
interessadas na tomada de decisão em todas as fases do projeto, sendo que, destaca a importância da
comunicação, compartilhamento de experiências, e da necessidade de construir a confiança e o consenso
entre as partes interessadas. Além disto, o método permite que os interesses das partes sejam
considerados no processo de tomada de decisão, e que as partes interessadas forneçam suas perspectivas
sobre o equilíbrio de potenciais impactos e benefícios. Desta forma, NICOLE recomenda um processo
simples que facilite a concordância e o estabelecimento de um ponto de vista acordado entre as diferentes
partes interessadas

3.2.9- Registro e documentação do processo de tomada de decisão (C9)

Observou-se que a documentação e a manutenção de registros são questões bastante subjetivas aos
métodos. Desta forma, dois métodos (SuRF-UK e SuRF-ANZ) demonstram apenas a importância da
abordagem, satisfazendo parcialmente o critério. Já outros três métodos (ASTM, ITRC e NICOLE) além
desta consideração, fornecem os pressupostos para tal processo, atingindo totalmente o critério.

O SuRF-UK considera que a manutenção de registros é de grande importância e isso é demonstrado pelo
fato de que esta questão é abordada em um dos princípios adotados. O SuRF-ANZ refere-se diretamente
às recomendações do SuRF-UK, destacando que a documentação atualizada garante transparência e deixa
claro como o método é aplicado.

Já a ASTM, além de declarar a importância de se documentar as atividades e avaliações realizadas ao


implementar o método, para demonstrar os benefícios sustentáveis através da comunicação aberta e
transparente, possui uma abordagem bastante sólida sobre esta questão. No método da ASTM existem
dois passos envolvendo os processos de documentação e relatórios, o primeiro consiste em documentar o
processo para cada fase da remediação, e o segundo em relatar a documentação ao público juntamente
com um resumo técnico e uma declaração afirmando que o usuário seguiu o processo descrito.

O ITRC enfatiza o valor da documentação e da manutenção de registros ao longo do projeto de remediação,


com vista a fornecer as informações e as orientações sobre os resultados da avaliação da GSR, os
progressos dos trabalhos e o alcance dos objetivos propostos. Portanto, recomenda que todas as
informações sejam relatadas e que o nível de comunicação seja adaptado de acordo com as partes
interessadas à qual a documentação é apresentada, para que haja o entendimento da abordagem e os
resultados possam ser verificados.

A NICOLE declara que a manutenção de registros deve abranger todas as etapas do roteiro do método
desenvolvido, desde a definição dos objetivos iniciais, para que todas as partes interessadas, especialmente
os participantes não especialistas, possam acompanhar o processo de tomada de decisão.

Diante destas explanações, o Quadro 2 traz o enquadramento dos métodos com o resumo das informações
obtidas quanto a satisfação dos critérios e a respectiva pontuação correspondente. Para a satisfação dos
critérios foi definido uma escala de cores, as cores verde escuro, verde claro e vermelho para os critérios
TS, PS e NS, respectivamente.

Os resultados indicam uma grande variabilidade entre os critérios, o que é percebido em função de que
nenhum princípio ou critério de decisão foi satisfeito plenamente por todos os métodos, além de que
nenhum método satisfez por completo todos os critérios. As classificações em relação aos critérios e o
cumprimento destes pelos métodos estão elencadas na Fig. 1 e no Quadro 3, respectivamente.

O critério “C8”, o qual envolve a participação das partes interessadas no projeto de remediação, obteve o
melhor desempenho entre os métodos, uma vez que, foi abordado em todos os métodos analisados. Os
métodos de uma forma geral descreveram a importância da colaboração e envolvimento de uma grande
gama de interessados no projeto de remediação, sejam os diretamente envolvidos no processo ou a
comunidade local afetada pela ação. Além disto, destacaram de uma forma bastante expressiva que os
processos consultivos, colaborativos e de diálogo promovidos entre as partes interessadas e a incorporação
de preocupações locais nas tomadas de decisão, auxiliam na gestão das incertezas, geram legitimidade e
confiança pública e melhoram os resultados.

O envolvimento das partes interessadas durante todo o processo de remediação já é um conceito muito
promovido e identificado na literatura como um aspecto crítico e de grande relevância no processo de
gestão e seleção da tecnologia de remediação que será aplicada (Bonano et al., 2000; Hou et al., 2014).

Já na última posição se encontra o critério de avaliação dos elementos centrais da remediação verde e
sustentável (C1), o qual obteve menos abordagem nos métodos, isso em função de que, mesmo que alguns

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

métodos incorporam a remediação verde, a grande maioria são rotulados pela sustentabilidade com a
integração de elementos tanto ambientais, quanto sociais e econômicos no processo.

Quadro 2 - Desempenho dos métodos com base na satisfação dos critérios de decisão

Métodos

Surf-Taiwan
SuRF-ANZ
SuRF-US

SuRF-UK
Critérios de

NICOLE
USEPA

ASTM

ITRC
decisão Resumo dos
Pontuação
critérios

2 TS
C1 TS TS NS NS NS NS NS NS 0 PS 4
6 NS
4 TS
C2 TS TS TS NS TS PS PS PS 3 PS 11
1 NS
6 TS
C3 TS PS TS TS TS TS NS TS 1 PS 13
1 NS
5 TS
C4 TS TS TS TS TS NS NS NS 0 PS 10
3 NS
3 TS
C5 PS PS PS TS NS TS TS NS 3 PS 9
2 NS
5 TS
C6 PS TS TS TS TS PS PS TS 3 PS 13
0 NS
5 TS
C7 NS PS TS TS TS TS PS TS 2 PS 12
1 NS
6 TS
C8 PS TS TS TS TS PS TS TS 2 PS 14
0 NS
3 TS
C9 NS TS TS NS PS PS NS TS 2 PS 8
3 NS
4 TS 6 TS 7 TS 6 TS 6 TS 3 TS 2 TS 5 TS
Resumo dos
3 PS 3 PS 1 PS 0 PS 1 PS 4 PS 3 PS 1 PS
métodos
2 NS 0 NS 1 NS 3 NS 2 NS 2 NS 4 NS 3 NS
Pontuação 11 15 15 12 13 10 7 11

Fig. 1 - Classificação dos critérios em relação a pontuação e aos níveis de satisfação pelos métodos

1371
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Neste contexto de análise dos critérios, considerando os níveis de satisfação dos critérios, o método que
se destaca, conforme Quadro 3, é o ITRC, com 15 pontos e sete critérios totalmente satisfeitos. Na
sequência, aparece o método ASTM, também com 15 pontos, mas satisfazendo totalmente seis critérios de
decisão, e parcialmente três critérios, abordando de alguma forma todos os critérios. O melhor desempenho
dos métodos ITRC e ASTM, se deve muito aos esforços dedicados em desenvolver um método que integre
as abordagens da sustentabilidade durante e em todo o processo de remediação.

Na terceira e quarta colocação estão os métodos do SuRF-UK e SuRF-US, também com seis critérios
totalmente satisfeitos cada um. Os SuRFs têm grande importância no cenário da remediação sustentável,
correspondendo, conforme Ridsdale e Noble (2016), à primeira coalizão dedicada especificamente à esta
abordagem, e o seu destaque no contexto da elaboração de métodos voltados a aplicação da
sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas.

Diante das condições consideradas, o método ITRC, apresentando 15 pontos e satisfazendo sete dos nove
critérios analisados, corresponde ao método selecionado, e consequentemente, que melhor representa as
premissas e o discurso da sustentabilidade.

Quadro 3 - Classificação dos métodos quanto a pontuação e o nível de satisfação dos critérios
Classificação Métodos Pontuação TS PS NS
1º ITRC 15 7 1 1
2º ASTM 15 6 3 0
3º SuRF-UK 13 6 1 2
4º SuRF-US 12 6 0 3
5º NICOLE 11 5 1 3
6º USEPA 11 4 3 2
7º SuRF-ANZ 10 3 4 2
8º SuRF-Taiwan 7 2 3 4

4- CONCLUSÕES

Embora seja possível ainda destacar diferentes desafios relacionados à adoção dos conceitos da remediação
sustentável, conclui-se que está emergindo no cenário mundial, um consenso sobre a incorporação, cada
vez mais sólida, da abordagem sustentável nos projetos de remediação, com vista para a redução dos
impactos do processo e a maximização dos benefícios a longo prazo da área contaminada.

Diante disto, a identificação, a descrição e a análise dos métodos aplicados à remediação sustentável
mostraram-se essenciais para uma melhor compreensão do que pode constituir um processo de remediação
sustentável, e assim indicar as informações necessárias para avaliar os atributos da sustentabilidade neste
contexto.

Os métodos compartilham de muitas definições e princípios comuns, indicando uma ampla compreensão
sobre a remediação sustentável entre países e organizações. De forma ampla, a remediação sustentável é
abordada como o processo que procura avaliar e englobar de forma equilibrada os elementos ambientais,
sociais e econômicos no projeto de remediação com vista a encontrar a opção de remediação ideal.

Contudo, ainda é grande a variabilidade na forma como a sustentabilidade é representada nos métodos de
remediação, uma vez que além de nenhum critério ter sido plenamente atendido, também nenhum método
satisfez totalmente todos os critérios, o que indica espaço para novos estudos e melhorias.

AGRADECIMENTOS

Ao Grupo de Pesquisa em Geotecnia Ambiental da Universidade de Passo Fundo e à Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fornecimento da bolsa de estudos, o que
permitiu a realização deste estudo aprofundado, além da continuidade das pesquisas nesta temática.

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1374
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

OTIMIZAÇÃO DE INTERVENÇÕES EM TALUDES NA MODERNIZAÇÃO DA LINHA


FERROVIÁRIA DA BEIRA BAIXA, CONDICIONALISMOS AMBIENTAIS QUE
PROMOVERAM A REDUÇÃO DE IMPACTE NO TERRENO E DE ÁREA DE
INTERVENÇÃO

OPTIMIZATION OF INTERVENTIONS IN SLOPES IN THE MODERNIZATION OF


THE BEIRA BAIXA RAILWAY LINE, ENVIRONMENTAL CONDITIONALITIES
THAT PROMOTED THE IMPACT REDUCTION ON THE LAND AND AFFECTED
AREA

Borges, Alexandra; IP, Almada, Portugal, alexandra.borges@infraestruturasdeportugal.pt


Castro, Cândida; IP, Almada, Portugal, candida.castro@infraestruturasdeportugal.pt
Grade, Sara; IP, Almada, Portugal, sara.grade@infraestruturasdeportugal.pt
Peixoto, Marie; IP, Almada, Portugal, marie.peixoto@infraestruturasdeportugal.pt
Rodrigues, Filipe; IP, Almada, Portugal, filipe.rodrigues@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

A modernização da Linha da Beira Baixa faz parte integrante do Corredor Internacional Norte, sendo um
dos Projetos Prioritários definidos no Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas (PETI3+)
horizonte 2014-2020. A Linha da Beira Baixa desenvolve-se entre o Entroncamento e a Guarda, com cerca
de 240 km de extensão, já se encontrando eletrificada e dotada de sistema de sinalização eletrónica até à
Covilhã. O presente artigo refere-se ao troço entre Covilhã (km 165+600) e Guarda (km 211+330), numa
extensão aproximada de 35,7 km, incluindo os apeadeiros de Maçainhas, Benespera e Sabugal, a estação
de Belmonte e a estação da Guarda. Consultada a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em fase de
Projeto de Execução, foi aconselhada a realização de procedimento de AIA atendendo às intervenções
preconizadas e ao facto de estas extravasarem o Domínio Público Ferroviário (DPF) preexistente numa
extensão considerada impactante pela APA. Tendo por base os princípios de prevenção e
precaucionariedade da Infraestruturas de Portugal, S.A.(IP) nas questões ambientais, subjacentes à
atuação da empresa, foram propostas alterações às intervenções previstas nos taludes de escavação em
maciço granítico de boa qualidade, procurando minimizar significativamente não só os potenciais impactes
identificados como também a área de extravase do DPF. Foi efetuado um reconhecimento geológico de
superfície em toda a extensão do traçado a intervencionar e considerou-se ser possível alterar as
intervenções que mais extravasavam o DPF. Neste âmbito, identificaram-se no projeto 40 taludes de
escavação onde seria possível adotar parâmetros geométricos menos conservativos continuando a manter
os níveis de segurança necessários à exploração da linha, ponderou-se igualmente a introdução de medidas
de estabilização complementares. Em consequência do aumento da inclinação dos taludes resultou que a
intervenção nos caminhos paralelos existentes, inicialmente afetados, também se reduziu substancialmente
tendo havido alguns restabelecimentos que deixaram de ser necessários.

ABSTRACT

The modernization of the Beira Baixa Line is part of the North International Corridor, being one of the
Priority Projects defined in the Transport and Infrastructures Strategic Plan (PETI3+) for 2014-2020 period.
The Beira Baixa Line develops between Entroncamento and Guarda, with about 240 km long, already being
electrified and equipped with electronic signaling system as far as Covilhã. This paper refers to the section
Covilhã (km 165+600) - Guarda (km 211+330), with approximately 35,7 km long, including the Maçainhas,
Benespera and Sabugal stops, Belmonte station and Guarda station. According to Portuguese Environment
Agency (APA), in Detailed Design phase, the project was proposed to be subjected to Environmental Impact
Assessment procedure, by means of the interventions that went beyond the preexisting Public Railway
Domain (DPF) thus being considered by APA as relevant in their impacts. Based on the principles of
prevention and precaution of Infraestruturas de Portugal, SA (IP)related to environment, underlying the
company's performance, changes were proposed to the design on cuttings in good quality granite, trying
to minimize significantly the potential impacts identified and the affected area beyond the DPF. Surface
geological fieldwork was carried out and it was considered possible to change the interventions that most
affect the area beyond the DPF. Thus, 40 cuttings were identified where it would be possible to adopt less
conservative geometric parameters while continuing to maintain the safety levels on the line circulation,
also considering the introduction of complementary stabilization measures. As consequence of the
increased inclination of slopes, the existing paths and roads parallel to the rail line, initially affected, also
reduced substantially and others were no longer necessary.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

1- INTRODUÇÃO

A modernização da Linha da Beira Baixa entre Covilhã e Guarda faz parte integrante do Corredor
Internacional Norte e é um dos Projetos Prioritários definidos no Plano Estratégico dos Transportes e
Infraestruturas (PETI3+) para o horizonte 2014-2020 (Ministério da Economia - abril de 2014) que foi
aprovado, conjuntamente com a Avaliação Ambiental Estratégica, em Conselho de Ministros e publicado
em Diário da República ao abrigo da RCM nº 61-A/2015 de 20 de agosto.

Em fevereiro 2016 o governo apresentou o Ferrovia2020 com a programação dos investimentos do PETI3+
que pretende privilegiar e contribuir para o aumento da competitividade da economia, designadamente,
reduzindo custos de contexto das exportações nacionais e, consequentemente, fomentando o crescimento
da atividade económica, a empregabilidade e o desenvolvimento do tecido empresarial português.

A linha da Beira Baixa desenvolve-se entre o Entroncamento e a Guarda, numa extensão de


aproximadamente 240 km, já se encontrando eletrificada e dotada de sistema de sinalização eletrónica até
à Covilhã.

A linha em apreço faz parte do Corredor Atlântico que liga Portugal, Espanha, França e Alemanha e integra
o projeto prioritário n.º 8 da Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T), que tem como objetivo contribuir
para o reforço da coesão económica e social da Europa e para o desenvolvimento do respetivo mercado
interno, nomeadamente através da ligação das regiões periféricas às regiões centrais da União Europeia.

O projeto de modernização do troço Covilhã Guarda possibilitará a conclusão da modernização da Linha da


Beira Baixa, permitindo o fecho de malha e a redundância de rede na zona centro do país, o que contribuirá
não só para descongestionar a Linha do Norte e a Linha da Beira Alta, como permitirá canais alternativos
e mais curtos ao tráfego internacional de mercadorias, aumentando significativamente a capacidade do
eixo Lisboa/Aveiro/Porto-Vilar Formoso.

No global, pretende-se com esta intervenção colocar este troço de linha em serviço, melhorar as condições
de segurança e operação da linha, com redução dos tempos de percurso e redução dos custos operacionais,
assegurando simultaneamente, a melhoria da qualidade do serviço, traduzida em pontualidade e fiabilidade
do horário e redução da sinistralidade nos atravessamentos de nível.

2- DESCRIÇÃO GERAL DO TROÇO

O Troço Covilhã - Guarda atravessa os concelhos da Covilhã, Belmonte e Guarda, entre a Estação da Covilhã
(exclusive) e a Estação da Guarda, com uma extensão de cerca de 46 km incluindo 2 estações: Guarda e
Belmonte e 4 apeadeiros: Caria, Maçainhas, Benespera e Sabugal.

O Projeto de Execução da Modernização do Troço Covilhã-Guarda compreende aproximadamente o


km 165+600 e o km 211+330 da Linha da Beira Baixa (LBB), excluindo-se do âmbito do projeto o troço
entre o km 178+477 e o km 188+500 que foi já objeto de intervenção em 2009. Este troço será, apenas,
eletrificado e sinalizado eletronicamente no âmbito da empreitada de modernização do troço Covilhã-
Guarda da LBB (Fig. 1).

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Figura 1 - Localização da intervenção no troço Covilhã – Guarda na Linha da Beira Baixa

De acordo com a nomenclatura do projeto e face ao troço já parcialmente intervencionado em 2009 (troço
em que só falta a eletrificação e a implementação de sinalização eletrónica) o empreendimento foi dividido
em dois subtroços.

O subtroço 1 objeto de intervenção inicia-se ao km 165,600, desenvolvendo-se quase integralmente no


concelho da Covilhã, abrangendo apenas uma pequena parte do concelho de Belmonte, na zona final, entre
o km 177+968 e o 178+477 (cerca de 500m).

O subtroço 2 inicia-se ainda em Belmonte, ao km 188,500, mas a partir do km 194,000, aproximadamente,


passa a desenvolver-se no concelho da Guarda, terminando na estação da Guarda, ao km 211+330.

As intervenções a realizar devem permitir a reabertura da linha à exploração ferroviária e potenciar o


melhoramento das anteriores condições de circulação (velocidade, capacidade de carga da plataforma de
via e permitir circulação de composições elétricas), aumentar as condições de segurança e reduzir os custos
de manutenção, privilegiando o uso da plataforma existente e da área já afeta ao Domínio Público
Ferroviário (DPF).

3- BREVE ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

O troço ferroviário em apreciação enquadra-se do ponto de vista morfo-estrutural na denominada «Zona


Centro-Ibérica» do Soco Hercínico da Península Ibérica, que constitui uma das unidades estruturais
fundamentais da Península Ibérica e um segmento da Cordilheira Varisca da Europa. Entre a Covilhã e a
Guarda, a ferrovia interfere com materiais magmáticos intrusivos de natureza exclusivamente granítica,
interrompidos apenas localmente por estruturas filonianas de composição quartzosa e aplito-pegmatítica.

No que se refere à litoestratigrafia, apresentam-se no Quadro 1 as formações interferidas no corredor do


troço em análise (a informação seguinte foi extraída da Memória Descritiva e Justificativa do Volume 2 -
Estudo Geológico e Geotécnico do projeto de execução).

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Quadro 1 – Enquadramento litoestratigráfico

ESTRATIGRAFIA SÍMBOLO LITOLOGIA

Deposições fundamentalmente
Contemporâneo At Aterro
areno-siltosos (saibros graníticos)

Areias siltosas com matéria


So Solo orgânico
orgânica

Quaternário

Holocénico
Co Coluvião Areias +/- silto-argilosas com seixo

Areias +/- silto-argilosas, com


a Aluvião passagens argilo-siltosas, lodosas
e de cascalheira

Granitos intensamente degradados


(W 4-5), globalmente transformados
em solos residuais areno-siltosos
(saibros graníticos)
Rochas Eruptivas Granitos porfiróides de
Ƴπ
Hercínicas grão grosseiro a médio

Granitos com tendência porfiróide,


muito resistentes, fraturados

q Quartzo
Filões e massas
Ƴap Aplito-pegmatito

Nos parágrafos seguintes apresenta-se uma breve descrição litológica das formações anteriormente
apresentadas.

 Aterros (At) - Os materiais de origem antropomórfica assinalados no corredor do traçado representam


essencialmente as estruturas em aterro de suporte da plataforma ferroviária, de nivelamento das zonas
deprimidas; localmente são ainda interferidos os aterros da rede viária que cruza o caminho-de-ferro e
deposições heterogéneas de entulhos urbanos rejeitados, sem expressão assinalável.

 Solo orgânico (So) - Recobrindo de forma irregular os terrenos envolventes ao caminho-de-ferro,


incluindo os paramentos dos aterros da ferrovia, está presente um horizonte superficial de solos
orgânicos, ou aráveis, resultante dos processos de alteração pedogénica; são solos de coloração
escurecida distinta e constituição pouco uniforme, areno-silto-argilosa, incorporando ocasionalmente
tímida fração seixo; nas zonas baixas mais irrigadas e agricultadas é patente um maior desenvolvimento
das componentes argilosa e orgânica.

 Coluvião (Co) - Esta designação genérica engloba as acumulações de materiais em cuja génese concorre
a ação da gravidade conjugada com um curto transporte efetuado pela água. Tratam-se de
manifestações de coloração escura, às quais estão tradicionalmente associadas prestações
geomecânicas medíocres, sendo a severidade dos condicionalismos que acarretam para a fundação dos
aterros e das plataformas ferroviárias ditadas sobretudo pela representatividade da fração «fina» na
respetiva composição, possuindo ainda especial propensão para a saturação; as manifestações
coluvionares assumem uma representatividade relativa em termos de expressão ao longo do traçado,
ocorrendo associadas a linhas de água de nível hierárquico superior, nomeadamente na dependência de
linhas tributárias da Ribeira da Serra da Esperança, aproximadamente entre os km 175,000 e 176,450.

 Aluvião (a) - Manifestações deste tipo, de génese recente, têm alguma expressão no início e no final do
troço, preenchendo os leitos de cheia dos principais elementos hídricos intersectados pelo caminho-de-
ferro. Trata-se de deposições de geometria transversal característica em forma de lente, adelgaçando
gradualmente com a aproximação aos relevos envolventes, admitindo-se espessuras máximas da ordem
da meia dezena de metros; envolvem composição pouco homogénea, areno-silto-argilosa, associando
ainda com frequência níveis de cascalheira (seixo e calhau silicioso rolado).

 Granitos porfiroides de grão grosseiro a médio (γπ)- Trata-se de granitos alcalinos de textura porfiróide
e grão médio a grosseiro, raramente fino não porfiroide; os maciços eruptivos assumem ao longo do
troço em análise os mais diversos estádios de alteração, desde os relevos em rocha sã a pouco alterada
(W1-2) a capas espessas de granitos profundamente alterados (W4-5), globalmente transformados em
solos residuais; esta situação encontra-se bem representada nos troços em estudo: no 1º subtroço
(entre o km 165,600 e o km 178,447) os granitos encontram-se muito alterados a decompostos (W4-
5) apresentando uma orografia mais suave e; por sua vez no 2º subtroço (entre o km 188,500 e o km
209,000) o maciço granítico encontra-se pouco alterado a medianamente alterado (W2 a W3) com uma
orografia mais acidentada e com a constante presença de afloramentos graníticos nas encostas
existentes; a zona final, entre os km 209,000 e 211,330, volta-se a deparar um maciço granítico muito
alterado a decomposto (W4-5).

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4- DESCRIÇÃO DAS PRINCIPAIS INTERVENÇÕES

As principais intervenções previstas no âmbito da modernização do troço Covilhã-Guarda da Linha da Beira


Baixa são as seguintes:

 Manutenção do atual canal ferroviário em via única, prevendo-se apenas pequenas correções de
traçado de modo a garantir velocidades de circulação entre os 80 km/h (composições
convencionais) e os 90 km/h (composições pendulares) e o alargamento de algumas escavações e
aterros de modo a permitir a instalação do perfil transversal de via eletrificada (recebendo postes
de catenária e corrigindo/adotando drenagens longitudinais e transversais);

 Renovação integral de via com travessas de betão monobloco polivalente e carril 60 E1, assente
sobre balastro granítico;

 Eletrificação de todo o traçado (1x25kV-50 Hz), incluindo o troço já modernizado em 2009 (entre
o km 178+477 e o km 188+500;

 Tratamento da plataforma da via nos trechos identificados com deficiente capacidade de carga e
reforço/renovação de zonas instáveis;

 Melhoria das condições de drenagem longitudinal da plataforma e da drenagem transversal da via;

 Estabilização de taludes de aterro e escavação;

 Nos Apeadeiros de Maçainhas, Benespera e Sabugal, proceder-se-á ao alteamento e prolongamento


das plataformas de passageiros e à reabilitação do edificado;

 Vedação da via nos locais de maior probabilidade de intrusão;

 Adaptação do layout da estação da Guarda de modo a permitir a ligação direta entre a Linha da
Beira Baixa e a Linha da Beira Alta, deixando de ser necessário recorrer a manobras de inversão
do material de tração dos comboios nesta estação;

 Limpeza de passagens hidráulicas e desenvolvimento de soluções novas, de prolongamento,


reabilitação, reforço e/ou substituição das estruturas sempre que necessário;

 Identificação e reposição dos serviços afetados;

 Supressão de passagem de nível, através da construção de passagem desnivelada;

 Criação de caminhos paralelos (pontuais) e reposição de serventias existentes;

 Instalação de Sinalização eletrónica.

Nos troços a intervencionar a geometria de via foi essencialmente ajustada ao traçado atual, recorrendo-
se a ripagens pontuais e no máximo corresponde a 6 m de afastamento ao eixo da via atual.

A rasante projetada é semelhante à atual, tendo como princípio uma subida média de 20 cm, salvo
retificações pontuais, nomeadamente as que decorrem de rebaixamento para obtenção de gabarit de
eletrificação. As inclinações e extensões dos trainéis mantêm-se semelhantes aos atuais.

O perfil transversal tipo a implantar aponta para uma largura máxima de 8,3 m em escavação e 6,8 m em
aterro, conduzindo à necessidade, nalguns trechos, de alargar a plataforma existente para ambos os lados
e, consequentemente, o reperfilamento de taludes, principalmente quando a via se desenvolve em
escavação, aspeto critico e analisado no presente artigo.

Nas Fig. 2 e Fig. 3 apresentam-se os perfis transversais tipo para as situações de via em perfil de escavação
e em perfil de aterro, respetivamente.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 2 – Perfil transversal tipo em perfil de escavação

Figura 3 – Perfil transversal tipo em perfil de aterro

As intervenções previstas nas zonas de escavação correspondem essencialmente ao reperfilamento dos


taludes, com o objetivo de promover a materialização do perfil transversal tipo. Nos taludes de escavação
foi preconizado em projeto uma banqueta (estabilizadora), aos 8 ou aos 10 metros de desnível vertical,
genericamente com 4,0 metros de largura e com inclinação transversal para o interior, provida de caleira
de banqueta.

Tendo em consideração a informação disponível (proveniente das sondagens mecânicas, sísmica de


refração, entre outros), o projeto (COBA S.A., 2017) considerou a adoção das seguintes geometrias de
talude de escavação:

 1/1,5 (V/H) em relação com os materiais terrosos mais descomprimidos e materiais rochosos mais
alterados e fraturados;

 1/1 (V/H) para os materiais rochosos de qualidade intermédia;

 1,5/1, 2/1 e 3/1 (V/H) para os materiais rochosos de melhor qualidade.

Os pressupostos definidos na análise das zonas em perfil de aterro tiveram como objetivo principal garantir
o gabarit horizontal para a implantação dos postes de eletrificação no lado direito da via. Por outro lado, a
intervenção no lado esquerdo restringiu-se a aterros de pequena altura (inferior a 5 m) e a situações em
que existe falta de espaço no passeio de via, percetível pelo escorregamento do balastro ao longo do talude.
Neste contexto, os aterros a construir correspondem essencialmente a alargamentos de aterros existentes.
A geometria praticada nos taludes de aterro foi de 1/2 (V/H).

Com o objetivo de se obter uma plataforma da via de boa qualidade, está previsto em projeto o tratamento
da mesma através da construção de uma camada de sub-balastro em agregado britado com uma espessura
de 0,25 m. Nas zonas onde os solos apresentam pior comportamento a construção de uma camada de
coroamento com 0,35 m de espessura e, pontualmente, em zonas identificadas como instáveis está prevista
a construção de uma camada de reforço da fundação com substituição de solos por enrocamento com
geotêxtil com uma espessura de 0,50 m.

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Relativamente à drenagem transversal, uma vez que se trata de uma intervenção numa via-férrea
existente, foi avaliada a capacidade de vazão das estruturas atualmente existentes. A adoção dos critérios
de dimensionamento conduziu a situações de manutenção, substituição, prolongamento e desativação de
passagens hidráulicas existentes que restabelecem linhas de água.

Identificam-se também estruturas existentes que não restabelecem linhas de água do domínio hídrico,
servindo apenas para a drenagem de águas pluviais, e para as quais se prevê igualmente situações de
manutenção, substituição, prolongamento ou desativação.

A rede de drenagem longitudinal prevista contemplará, como elementos de drenagem principal, valetas de
plataforma triangulares em betão; valetas de crista e de pé de talude semicirculares em betão; drenos sob
a plataforma; valetas de descidas de talude e caixas de ligação.

Foi restabelecida a rede de caminhos existentes, potencialmente afetada pela modernização da via-férrea,
que se insere numa vasta área de ocupação predominantemente florestal e agrícola. A definição da
intervenção nos restabelecimentos teve em linha de conta não só a reposição dos atravessamentos à linha
férrea como o acesso a todas as parcelas. No que se refere às passagens de nível o projeto da modernização
prevê a manutenção das passagens existentes devidamente adaptadas ao traçado modernizado e a
supressão de uma passagem de nível.

5- ENQUADRAMENTO AMBIENTAL

A modernização do troço Covilhã – Guarda da Linha da Beira Baixa (LBB), entre os km 165,600 e 178,447
e os km 188,500 e 211,330, foi objeto de um Estudo Prévio (EP) concluído em 2011. Na altura foi elaborado
um Sumário Técnico Ambiental (STA), que serviu de base a um pedido de ratificação do enquadramento
do projeto no regime jurídico de Avaliação de Impacte Ambiental (RJAIA) à Agência Portuguesa do Ambiente
(APA), dado que a IP é uma entidade licenciadora nesta matéria.

Esta avaliação foi realizada com base na legislação em vigor à data, nomeadamente, Decreto-Lei nº
69/2000, de 3 de maio, alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº197/2005, de 8 de novembro.

Após o pedido de esclarecimento da APA sobre as intervenções previstas para as pontes e para o túnel do
Sabugal, a ex-REFER (atual Infraestruturas de Portugal S.A., IP) informou que essas intervenções
configuravam ações de gestão corrente e que visavam essencialmente o seu reforço.

A análise complementar realizada, levou a concluir, uma vez mais, que a natureza manifestamente simples
da proposta de intervenção, confinada a uma renovação da via (em tudo semelhante às ações de
manutenção que são realizadas rotineiramente), sempre dentro do canal atual, complementada com a sua
eletrificação, não induziria impactes importantes, pelo que o projeto não se enquadrava no âmbito do
Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de Maio.

De acordo com a avaliação realizada, a APA, em dezembro de 2011, deliberou o seguinte:

“Face ao exposto, considera-se que o projeto de intervenção na LBB, nos termos e condições apresentados
a esta Agência, não é suscetível de causar impactes negativos importantes no ambiente, pelo que não se
enquadra no ponto 13 do anexo II do Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de Maio, na sua atual redação, não
estando assim sujeito ao regime jurídico de Avaliação de Impacte Ambiental, ao abrigo do disposto no
ponto 3 do artigo 1.°do mesmo diploma.

Não obstante, deverão ser adotadas as medidas de minimização propostas no STA, assim como as
constantes do documento "Medidas de Minimização Gerais da Fase de Construção" disponível no sítio da
internet da Agência Portuguesa do Ambiente.”

Em 2016 foi dado início ao projeto de execução tendo por base o Estudo Prévio analisado em 2011. Pelo
facto da legislação de regime jurídico de Avaliação de Impacte Ambiental (RJAIA) ter sido alterada em
2013, a IP considerou ser necessário entregar novo documento de suporte à apreciação prévia sobre o
enquadramento do projeto de Modernização do troço Covilhã Guarda da Linha da Beira Baixa em RJAIA.

Da nova avaliação que foi feita com base no Decreto-Lei nº 151-B/2013 de 31 de outubro, a APA concluiu
o seguinte:

“…Analisada a documentação remetida, em particular a cartografia remetida a 16 de dezembro último,


verifica-se que as intervenções a efetuar extravasam o Domínio Público Ferroviário (DPF) numa extensão
de cerca de 35 km, representando em alguns casos um aumento significativo do DPF.

(…)

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Face ao exposto, considera-se que o projeto de Modernização do Troço Covilhã - Guarda, da Linha da Beira
Baixa está abrangido pela alínea c), do n.º 10, do anexo 11, do Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de
outubro, na sua atual redação- Modernização de vias, quando a via extravasa o domínio ferroviário
preexistente, devendo assim ser sujeito a procedimento de AIA”.

6- PROPOSTA DE ATUAÇÃO NA PREVENÇÃO/MITIGAÇÃO DE IMPACTES

No projeto de Modernização da Linha da Beira Baixa, a IP pretende aproveitar o canal da via existente,
com as necessárias adaptações, para dar cumprimento aos objetivos propostos para a infraestrutura. A
necessidade de implementar um perfil transversal da via mais largo relativamente ao canal existente,
conjugado com uma geomorfologia de relevo acentuado em certas zonas do traçado resultou numa
intervenção profunda em termos das escavações, com alturas máximas da ordem dos 20 metros.

No entanto, estando os princípios da prevenção e da precaucionariedade em matéria de ambiente


subjacente à atuação da IP, e tendo por base as referências contidas no parecer da APA entendeu-se ser
possível proceder à reformulação das intervenções previstas na perspetiva de minimizar significativamente
os potenciais impactes identificados e também a área ocupada fora do Domínio Público Ferroviário (DPF).

Tendo por objetivo promover a reformulação do projeto de execução para nova submissão à apreciação por
parte da APA, foi definida a seguinte metodologia:

 Identificar áreas críticas de extravase do DPF do projeto de janeiro de 2017, focada exclusivamente
nas escavações dos taludes existentes para encaixe do novo perfil transversal da via-férrea;

 Fazer o reconhecimento geológico de superfície, com particular atenção para as áreas críticas
identificadas;

 Propor nova abordagem ao projetista, fornecendo uma base de trabalho para a conceção e
dimensionamento de novas soluções de projeto ajustadas aos novos pressupostos definidos pela
IP, abdicando quando não fosse necessário de algumas das soluções e/ou substituindo-as por
reforços que permitissem maior inclinação nos taludes e com isso reduzindo o extravaso do DPF
existente.

No total, foram identificadas 56 áreas críticas de extravase do DPF, as quais foram objeto de um cuidado
reconhecimento geológico de superfície do troço (Fig. 4). No reconhecimento de campo teve-se em
particular atenção o grau de alteração e fracturação do maciço granítico aflorante e as evidências de
instabilidade dos taludes, nomeadamente, a presença de blocos no passeio de via e de antigos
escorregamentos. Importante, também, foram as evidências de intervenções anteriores da manutenção
ferroviária na remediação das situações de instabilidade.

Figura 4 – Taludes de escavação na Linha da Beira Baixa, troço Covilhã - Guarda

O reconhecimento geológico de superfície permitiu concluir que haveria genericamente duas abordagens
metodológicas distintas para as áreas críticas identificadas, nomeadamente, manter a solução do projeto

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de execução de janeiro 2017 ou propor uma otimização para a solução de reperfilamento dos taludes (Fig.
5).

Total de
áreas críticas - 56 7%

93%

Manter solução de projeto Otimizar solução de reperfilamento

Figura 5 – Abordagem metodológica para as áreas críticas identificadas

Foi mantida a solução do projeto de execução em cerca de 7% dos casos analisados, em face do elevado
grau de alteração do maciço e das evidências de instabilidade encontradas. Neste caso, o projeto
preconizava genericamente recorrer a soluções de estabilização como paredes pregadas e muros de suporte
em betão armado.

As restantes situações foram analisadas caso a caso recorrendo às observações de campo, aos resultados
dos trabalhos de prospeção geológico-geotécnica e peças do projeto de terraplenagem e drenagem (em
particular, as plantas e os perfis transversais) para melhor definir uma proposta de otimização da solução
de reperfilamento dos taludes.

As opções para o reperfilamento dos taludes obedeceram a duas premissas principais: manter a inclinação
preconizada no projeto de execução ou adotar a geometria de equilíbrio do talude existente, privilegiando
em ambos os casos a reformulação ao nível das banquetas (Fig. 6), principalmente quando estas não
aparentavam necessárias em termos de solução de estabilização dos taludes.

Otimizar solução de
reperfilamento - 52 áreas

23%

77%

Manter inclinação de projeto e intervir nas banquetas


Adotar a geometria de equilíbrio do talude existente

Figura 6 – Opções para proposta de reperfilamento dos taludes

A opção de manter a inclinação preconizada no projeto de execução (cerca de 23% dos casos analisados)
foi fundamentada no elevado estado de alteração (por vezes, muito alterado a decomposto) e fracturação
do maciço e às evidências de escorregamentos significativos e queda de blocos no passeio de via. Nestes
casos, a decisão de reduzir a área de afetação do projeto incidiu essencialmente sobre analisar a
necessidade de manter as banquetas previstas no projeto, tendo-se estimado que em cerca de 42% poderia
haver uma redução na largura das banquetas (de 4,0 m para 2,5 m de largura, Fig. 7), em 50 % poderia
haver a remoção de banquetas e que em 8 % dos casos se poderia reduzir o número e largura de banquetas.

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Figura 7 – Exemplo de otimização da solução de reperfilamento do talude, mantendo essencialmente a inclinação de


projeto, com redução da largura da banqueta (solução de projeto – a vermelho; proposta de reformulação – a azul).
Na crista do talude encontra-se indicada a delimitação do DPF

Em zonas de maciço granítico pouco alterado e fraturado, foi analisada a opção de adotar geometrias
próximas da geometria de equilíbrio do talude existente, tendo em consideração que os taludes se
encontram estáveis desde as escavações no maciço para a abertura do canal ferroviário (finais do sec. XIX).
Admitiu-se também que as escavações para o encaixe do novo perfil transversal promoveriam o
saneamento de eventuais blocos instáveis que possam ocorrer mais superficialmente. Deste modo, foi
estimado que em cerca de 77% dos casos a inclinação prevista no projeto poderia ser aproximada da
geometria de equilíbrio do talude existente. Nestes casos, propôs-se que a intervenção fosse revista
considerando a aproximação à geometria do talude existente e reformulação das banquetas (48%), apenas
ao nível da inclinação do talude (43%) e apenas por remoção de banqueta (10%).

Na Fig. 8 apresenta-se um exemplo da reformulação proposta.

Figura 8 – Exemplo de otimização da solução de reperfilamento do talude, para uma inclinação próxima da geometria
de equilíbrio do talude existente (solução de projeto – a vermelho; proposta de reformulação – a azul). Na crista do
talude encontra-se indicada a delimitação do DPF

A redefinição do limite de ocupação da intervenção por aplicação da metodologia proposta para as principais
escavações foi precedida de uma análise relativa à delimitação do Domínio Público Ferroviário (DPF) sobre
a cartografia produzido na elaboração do projeto de execução de 2017.

Sendo a Linha da Beira Baixa uma via-férrea centenária, admitiu-se que a inserção no território está
consolidada. No âmbito da reformulação do projeto verificou-se que a delimitação do DPF não coincidia
frequentemente com o limite dos taludes de escavação e de aterro existentes e que fazem parte integrante
da obra ferroviária. Procedeu-se, então, ao ajustamento da linha do DPF para o designado DPF “natural”,
já abrangendo a totalidade dos taludes existente, e que será naturalmente regularizado em fase da
implantação da nova linha de expropriação. Com este primeiro passo verificou-se que o DPF “natural”
apresenta mais 4 ha do que o DPF original (Fig. 9).

O trabalho desenvolvido permitiu concluir que não seria possível concretizar a obra de modernização do
troço Covilhã – Guarda da Linha da Beira Baixa sem exceder, nalguns pontos, o limite do DPF. No entanto,
a reformulação do projeto permitiu reduzir a área de extravaso do DPF em cerca de 70% (Fig. 9).

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Figura 9 – Área do DPF e DPF natural

Na Fig. 10 apresenta-se um exemplo em planta do novo limite de ocupação definido na reformulação do


projeto.

Figura 10 - Exemplo do novo limite de ocupação definido com base na proposta de otimização da solução de
reperfilamento do talude, adotando a geometria de equilíbrio do talude existente

A análise incidiu também sobre a extensão da intervenção quer no lado esquerdo, quer no lado direito da
via-férrea, tendo-se constatado que a reformulação de projeto permitiu reduzir a extensão de extravaso
do DPF em cerca de 30% (Fig. 11).

Figura 11 – Extensão de extravaso do DPF

Os principais benefícios obtidos com a abordagem metodológica implementada foram:

 Redução da área e extensão de afetação fora do Domínio Público Ferroviários no que respeita às
principais zonas de escavação;

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

 Redução substancial da intervenção nos caminhos paralelos ou confinantes existentes, em que


cerca de metade dos casos analisados os restabelecimentos provocados pela intervenção deixaram
de ser necessários;

 Redução significativa (cerca de 30%) do volume de escavação, com particular incidência para o
volume excedente de materiais provenientes da escavação e com transporte a depósito final
licenciado, aspeto critico para a celeridade da obra e para a redução significativa do custo da
mesma.

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Infraestruturas de Portugal (IP, S.A.) pretende beneficiar o troço ferroviário compreendido entre a Covilhã
e a Guarda da Linha da Beira Baixa, entre aproximadamente, os km 165,600 e 211,330, incluindo os
apeadeiros de Maçainhas, Benespera e Sabugal, a estação de Belmonte e a estação da Guarda. Encontra-
se fora do âmbito desta intervenção o trecho de via localizado entre os km 178,477 e 188,500, uma vez
que esta zona que já foi objeto de intervenção por parte da IP (ex REFER).

A circulação ferroviária no troço Covilhã - Guarda encontra-se suspensa desde 2009 o que permite, nesta
fase, empreender todas as intervenções necessárias à garantia da segurança e fiabilidade das condições
de exploração pretendidas, nomeadamente, modernização da via para os dois subtroços identificadas,
eletrificação da totalidade do troço e intervenção em 6 pontes.

O regime jurídico vigente consubstanciado no Decreto-Lei nº 151-B/2013, de 31 de outubro, alterado pelo


Decreto-Lei nº 47/2014, de 24 de março e pelo Decreto-Lei nº 179/2015, de 27 de agosto, previa a
possibilidade de a entidade licenciadora ou competente para autorização do projeto (no caso, a
Infraestruturas de Portugal, S.A.), solicitar parecer à autoridade de AIA, a Agência Portuguesa do Ambiente
(APA), sobre o enquadramento do projeto em Regime Jurídico de Avaliação de Impacte Ambiental (RJAIA).

Após o parecer emitido pela APA em janeiro de 2017, a IP procedeu à reformulação do projeto, apresentado
anteriormente, com o objetivo de reduzir o extravaso do DPF. Para tal, definiu-se a abordagem apresentada
no presente artigo tendo sido definidos novos limites de intervenção que balizaram a reformulação do
projeto em termos de ocupação de área afetada fora do DPF.

O projeto de execução reformulado (COBA S.A., 2017) foi novamente submetido à APA tendo havido a
seguinte pronúncia em junho de 2017:

“Neste sentido, atendendo a que as intervenções em causa não induzem, de uma forma geral, impactes
negativos significativos no ambiente, estando definidas para cada um das fases um conjunto de medidas
de minimização que se julgam adequadas e suficientes para a salvaguarda dos valores em causa,
considera-se que o projeto não se enquadra no âmbito da subalínea iii), da alínea b), no n.º 4, do artigo
1.º do Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, não estando, consequentemente, sujeito a
procedimento de AIA.”

Deste modo, foram salvaguardados os interesses do ambiente na prevenção/mitigação de impactes e os


objetivos na concretização do investimento.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Infraestruturas de Portugal a oportunidade de participar no 16º Congresso


Nacional de Geotecnia.

REFERÊNCIAS

COBA, S.A. (2017) – Projeto de execução da Modernização do troço Covilhã – Guarda da Linha da Beira Baixa do Corredor
Internacional Norte.

IP – Infraestruturas de Portugal, S.A. (2017) – Relatório de Apreciação Prévia para Decisão de Sujeição a AIA. Corredor
Internacional Norte. Linha da Beira Baixa, Modernização do troço Covilhã – Guarda.

Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas PETI 3+– Horizonte 2014 – 2020 (www.portugal.gov.pt), acedido
em 30/01/2018.

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OTIMIZAÇÃO DO TRAÇADO DE VIA E DO PERFIL TRANSVERSAL TIPO, NO


PONTO DE VISTA DA GEOTECNIA, EM LINHAS FERROVIÁRIAS A MODERNIZAR

OPTIMIZATION OF TRACK LAYOUT AND TRANSVERSE PROFILE TYPE, FROM


THE GEOTECHNICAL POINT OF VIEW, ON RAILWAY LINES TO MODERNIZE

Lima, Pedro Miguel; IP Engenharia, Lisboa, Portugal, pedro.lima@infraestruturasdeportugal.pt


Rosa, Ana Isabel; IP Engenharia, Lisboa, Portugal, ana.rosa@infraestruturasdeportugal.pt

RESUMO

Para a otimização do traçado de via de uma Linha Ferroviária existente a Modernizar, para além do objetivo
da melhoria das características geométricas do traçado de via tendo em conta as velocidades de circulação
previstas para os comboios, será fundamental estudar a eventual otimização do traçado do ponto de vista
geotécnico, nomeadamente no que se refere a uma redução de custos para os trabalhos de terraplenagem.
Deste modo, e sempre que é possível, para que haja uma otimização dos tratamentos de plataforma será
necessário prever a subida da rasante para o aproveitamento da camada designada por “calo de via”
existente. Para evitar a necessidade de intervenção nos taludes de escavação e aterro existentes que se
encontram estabilizados, será necessário implementar Perfis Transversais Tipo Reduzidos (PTTR) ao longo
do traçado. Este artigo aborda a importância da redução de custos nos trabalhos de terraplenagem e
estabilização de taludes, tendo em conta a possibilidade da aplicação dos PTTR e da subida da rasante,
bem como as condicionantes existentes para esta materialização.

ABSTRACT

To optimize the track layout improvement of an existing Railway Line, it is necessary to take into account
the expected train circulation speeds and analyze its geometric features progress. Beyond that, it will be
primordial to study the track possible optimization, from the geotechnical point of view, mainly regarding
earthwork cost-cutting. Therefore, to have a platform treatment optimization, it will be necessary to have
a flush rise and therefore take advantage of the existing "track callus" layer. To prevent interventions on
the digging stabilized slopes/ embankment, it will be necessary to build up Reduced Type Cross-Sectional
Profiles (RTCP) along the track. This article points out the importance of earthworks and embankment
/slope stabilization cost-cutting, taking into account the possibility of the RTCP application and the flush
rise, as well as the existing constraints for this materialization.

1 – ENQUADRAMENTO

Em Linhas Ferroviárias existentes que se pretendem Modernizar, do ponto de vista geotécnico será essencial
dispor-se de uma adequada prospeção geotécnica, que caracterize os materiais que constituem a
infraestrutura da plataforma de via, formada pelos solos de fundação e a recorrente camada do “calo de
via”. Esta última camada, vulgarmente existente no topo da plataforma de via, é constituída pela
penetração do balastro nos solos de fundação ao longo dos inúmeros anos da conservação da via feita
através das recargas de balastro e ataques de via, de modo a repor as características mínimas geométricas
do traçado de via (nivelamento da via).

Esta camada poderá ter diversas espessuras, variando entre poucos centímetros até cerca de 1metro,
dependendo da natureza do solo de fundação, do seu estado de humidade natural e do número de recargas
de balastro / ataques de via que foram realizados ao longo dos anos. A natureza do balastro penetrado,
em Portugal poderá ser de origem calcária (balastro mais antigo penetrado) ou balastro mais recente, de
origem grano-diorítica.

Geotecnicamente, esta camada oferece uma maior capacidade de carga relativamente aos solos de
fundação que as constituem, que se traduz num melhor módulo de deformabilidade vertical da plataforma
(EV2), podendo-se minorar os tratamentos da plataforma a efetuar na Modernização da Linha. A
consideração em fase de Projeto de Execução do aproveitamento desta camada de “calo de via” leva a uma
redução significativa dos custos das intervenções de terraplenagem.

A Figura 1 ilustra a existência desta camada do “calo de via” na abertura de um poço da plataforma, comum
na infraestrutura da plataforma de via.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Camada do
“calo de via”

Solo de
fundação
Balastro
existente

Figura 1 – Camada do “calo de via”

Para que haja um aproveitamento total ou parcial da camada do “calo de via”, deverá existir
obrigatoriamente uma subida da rasante de via, o que nem sempre é possível de implementar em toda a
zona do traçado, devido à existência de eventuais condicionalismos de que se falará mais adiante.

Quanto à materialização dos Perfis Transversal Tipo (PTT) a desenvolver na Linha a Modernizar,
habitualmente não se consegue implementar de forma contínua os PTT ideais referidos na Instrução Técnica
da REFER (IT.GER.04.01 para Via Larga (2004)), igualmente por existirem diversos condicionalismos que
mais à frente se abordarão. Deste modo, será essencial elaborar Perfis Transversais Tipo Reduzido (PTTR),
geralmente na fase de Estudo Prévio, que deverão ser “corridos” ao longo do traçado e serão consolidados
na fase do Projeto de Execução, com o zonamento dos troços para os diferentes PTTR desenvolvidos.

Quando existe espaço disponível no “canal ferroviário existente” para a aplicação dos PTT para Via Larga,
ou em zonas de variante ao traçado existente ou zonas de “francas” ripagens de curvas existentes (onde
geralmente não existem condicionamentos associados à via existente), dever-se-ão implementar estes PTT.

A aplicação dos PTTR nos Projetos de Modernização de Linhas existentes tem igualmente impactos
económicos consideráveis de redução de custos das empreitadas que não poderão ser ignoradas, sobretudo
em traçados com a existência de grandes taludes (quer de escavação ou de aterro) ou a existência de
condicionalismos relevantes.

2 – ANÁLISE DA SUBIDA DA RASANTE DE VIA

A análise da otimização dos tratamentos da plataforma de via com o aproveitamento da camada existente
do “calo de via”, só poderá ser possível se existir uma subida da rasante de via. Esta situação acontece
essencialmente devido ao aumento das espessuras associadas à substituição do armamento de via
(mudança da superestrutura de via existente pela nova superestrutura de Projeto).

A Figura 2 ilustra a superestrutura de via para uma via única, num troço em reta, constituída pela camada
de balastro, a travessa, as fixações e os carris.

Carril Travessa
Fixação
Topo da
plataforma de via
Superestrutura
da via
≥25 cm

Figura 2 – Superestrutura de via para via única em reta

Supondo, por exemplo, que a rasante de via se mantinha, a mudança da superestrutura de via provoca,
de uma forma geral, um acréscimo na altura de cerca de 10 a 15 cm, devido aos seguintes fatores:
 A substituição das travessas, das fixações e do carril provoca um alteamento em cerca de 2 a 3 cm
(por exemplo, a substituição de travessas bi-bloco por travessas monobloco, a substituição de carril
UIC54 por carril UIC60, entre outros);
 A reposição de 25 cm de balastro por debaixo da travessa na zona do carril da fila baixa,
normalmente provoca um acréscimo de cerca de 10 a 15 cm, devido à usual falta de espessura de
balastro nas vias existentes (balastro não penetrado).

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Salienta-se que, num troço de via em reta, a espessura de balastro da fila baixa é igual para os dois carris
existentes (do lado esquerdo e do lado direito).

Deste modo, se a rasante de via não se alterar no Projeto, de uma maneira geral, a nova superestrutura
de via irá rebaixar a cota da plataforma da via existente, ou seja, irá obrigar a escavar no “calo de via”
existente, cerca de 10 a 15 cm.

Para a execução do tratamento da plataforma de via, com a colocação das camadas de sub-balastro e de
coroamento, o rebaixamento do “fundo de caixa” irá intersetar claramente o solo de fundação.

A Figura 3 ilustra de forma esquemática o atrás referido.

Espessura da nova superestrutura


de via (e = ± 67cm)

Espessura da camada de sub-


balastro (e = ± 15 a 20cm)

Espessura usual da camada de


coroamento em ABGE (e = 20 a
35cm)

Figura 3 – Cotas estimadas da fundação da nova superestrutura e infraestrutura de via, quando não se prevê a subida
da rasante de Projeto

Nos tratamentos de plataforma, para se obter uma plataforma do tipo P3 (segundo a ficha 719R da UIC
(1994)), de uma forma geral, obriga à colocação de uma camada de sub-balastro devidamente compactada
com cerca de 20 cm de espessura. Assim, para que haja um aproveitamento total da camada do “calo de
via” existente, a rasante de via deveria subir cerca de 30 a 35 cm, o que nem sempre é possível.

2.1 – Condicionalismos existentes para a subida da rasante de via:

A Figura 4 ilustra várias imagens dos condicionalismos existentes para a subida da rasante de via.

Plataforma de passageiros num Túnel ferroviário Ponte metálica ferroviária


apeadeiro

Passagem de nível (PN) rodoviária Passagem superior rodoviária (PSR) Plataforma de via em perfil de aterro com
com limitações para o gabarit da via balastro a escorregar (falta de espaço no passeio
de via)

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 4 – Imagens com condicionalismos na via para a subida da rasante

Os condicionalismos mais frequentes que inibem a possibilidade da subida da rasante de via são:
 Existência de estações e apeadeiros com as cotas definidas das plataformas dos cais de
passageiros, entre outros;
 Existência de pontes e de túneis ferroviários;
 Existência de passagens de nível (PN) rodoviárias e pedonais;
 Existência de passagens superiores rodoviárias ou pedonais (PSR ou PSP) com limitações no gabarit
da via, para que possa comportar a subida da rasante de via;
 Quando a Linha é eletrificada, podem existir condicionantes para a catenária existente, tais como:
o Troço em Reta: altura do fio de contacto da catenária (se existe liberdade para acomodar
a subida da rasante de via);
o Troço em Curva: para além da altura do fio de contacto da catenária, se existe a capacidade
de regulação da catenária para o fio de contacto se manter na posição correta.
 Zonas do traçado em perfil de aterro, com falta de espaço no passeio de via, onde o balastro não
se consegue estabilizar, Nestas zonas, a subida da rasante de via ainda irá agravar fenómenos de
instabilização do balastro, que tende a escorregar pelo talude de aterro.

Associado a estes condicionalismos existentes, refere-se que o traçado de via é muito mais exigente em
termos do Perfil Longitudinal do que na rodovia. Para a ferrovia, o valor das rampas e declives depende da
capacidade aderente da roda ao carril. Deste modo, existe uma limitação de inclinação de 60%0. No
entanto, há outras considerações a ter em conta de caracter económico, a saber:
 Velocidade comercial;
 A potência a instalar nos meios de tração.

Em Portugal, essa limitação é de 20%0, raramente ultrapassando os 15%0, sendo que no caso de Linhas
para comboios de mercadorias, a limitação é de 12,5%0.

Figura 5 – Exemplo de um Perfil Longitudinal da Via (extrato parcial)

Na Figura 5 encontra-se representado a linha tracejada, a rasante de via existente e a linha azulada, a
rasante de via do Projeto. As limitações do traçado de via, tendo em conta os declives permitidos,
conjugados com as condicionantes atrás descritas, em muitos troços ferroviários não permitem a liberdade
da subida da rasante no Projeto. As condicionantes referidas na Figura 4, à exceção da plataforma de via
em perfil de aterro com balastro a escorregar, são designadas por “Pontos Fixos” da rasante.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Por vezes, a condicionante da subida da rasante de via em zonas de perfil de aterro com falta de espaço
no passeio de via, poderá ser resolvida através de uma solução de estabilização do talude, por exemplo,
com recurso a Perfis HEB 180 + placas pré-fabricadas, conforme se visualiza na Figura 6.

Figura 6 - Estabilização do talude de aterro do lado direito ao km 27+650, na Linha da Beira Baixa (REFER (2007))

3 – MATERIALIZAÇÃO DOS PERFIS TRANSVERSAIS TIPO (PTT) / PERFIS TRANSVERSAIS TIPO


REDUZIDO (PTTR)

Na construção de uma Linha nova ou de uma variante a uma Linha existente, os Perfis Transversais Tipo
(PTT) que são implementados e “corridos” ao longo do traçado nas fases de Projeto correspondem aos que
se encontram descritos no normativo da REFER, designadamente a IT.GER.04.01 para Via Larga (2004).
Estes PTT existem para os diversos tipos de Linhas a eletrificar e a Modernizar (para via única com uma
pendente ou dupla pendente, para via dupla, para via quadrupla; quer para troços em reta, como para
troços em curva), com os PTT a representarem a tipologia para a plataforma em perfil de escavação e em
perfil de aterro.

A grande vantagem da aplicação destes PTT traduz-se na implementação de espaço adequado nos passeios
de via para a instalação de todas as infraestruturas superficiais e enterradas previstas, nomeadamente
órgãos de drenagem longitudinal, maciços / postes de catenária e infraestruturas de sinalização /
telecomunicações.

A Figura 7 ilustra um dos exemplos de um destes PTT.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Caminho Postes de Entre Eixo


de cabos sinalização da Via
Drenagem
longitudinal
Postes de catenária
Caminho
de cabos
Maciços de catenária
Drenagem
longitudinal

Figura 7 – PTT da IT.GER.004.01 para Via Larga (Via única em Reta) (2004) com inclinação única da plataforma de via
(REFER (2004))

Em termos de ocupação de espaço com a implantação do PTT, as principais distâncias a ter em conta são:
 Distância entre o Entre Eixo da Via e o paramento interior da drenagem longitudinal: d ≥ 4,61m;
 Largura do órgão de drenagem longitudinal: variável;
 Distância do paramento exterior da drenagem longitudinal ao limite da plataforma de via
(“banqueta de espera”): d = 0,50m;
 Distância entre o Carril mais próximo e o Poste de Catenária: d = 2,25m.

Igualmente, nas Linhas existentes a Modernizar, sempre que haja espaço disponível para a materialização
destes PTT, ela deverá ser considerada em Projeto, assim como em zonas com intervenção “franca” em
taludes instabilizados.

A Figura 8 ilustra a materialização destes tipos de PTT em fase de obra.

Figura 8 – Imagens de construção de plataformas de via segundo os PTT da IT.GER.004.01 para Via Larga

No entanto, nas Linhas ferroviárias existentes a Modernizar existem muitos troços do traçado de via onde
não existe espaço para a implementação dos PTT da IT.GER.004.01 para Via Larga (2004), devido a diversos
condicionalismos, sendo os mais usuais os seguintes:
 Existência de muros / estruturas de contenção nos taludes de aterro e de escavação;
 Edificações ou estradas a passar nas cristas ou no pé dos taludes;
 Grandes taludes de escavação ou de aterro que se encontrem estabilizados, onde a sua intervenção
/ reperfilamento obrigaria a enormes estabilizações, ficando os trabalhos demasiado onerosos;
 Impossibilidade de expropriações dos terrenos adjacentes ao “corredor” ferroviário.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

A Figura 9 apresenta algumas destas condicionantes numa Linha existente.

Figura 9 – Alguns exemplos de condicionalismos para o reperfilamento dos taludes na atual Linha da Beira Baixa
(Ferbritas (2007))

Deste modo, em fase de Projeto estuda-se a implementação de Perfis Transversais Tipo Reduzido (PTTR),
onde as larguras dos Perfis são mais reduzidas do que os PTT, de modo a não extravasar o atual “corredor”
ferroviário.

A Figura 10 ilustra um exemplo de um PTTR.

Figura 10 – PTTR (Via única em Reta) com inclinação única da plataforma de via IP (Engenharia (2017))

Neste caso, existe uma redução significativa da largura da plataforma de via, onde as principais distâncias
passam a ter os seguintes valores:
 Distância entre o Entre Eixo da Via e o paramento interior da drenagem longitudinal: d = 3,50m;
 Largura do órgão de drenagem longitudinal: variável;
 Distância do paramento exterior da drenagem longitudinal ao limite da plataforma de via
(“banqueta de espera”): d = 0,50m;
 Distância entre o Carril mais próximo e o Poste de Catenária: dmin = 1,80m.

Estes PTTR deverão ser tipificados e desenvolvidos em fase de Estudo Prévio, com a sua consolidação /
implementação, bem como o zonamento dos subtroços a intervencionar, na fase de Projeto de Execução.

Naturalmente, com a redução da largura da plataforma de via, as infraestruturas superficiais e enterradas


a executar, nomeadamente nos passeios de via, terão que se acondicionar numa largura menor.

Em algumas situações, a implementação dos PTTR leva à redução das velocidades de circulação das
composições, nomeadamente devido à redução da distância entre o Poste de Catenária e o Carril mais
próximo.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Caixa de sinalização
/ telecomunicação

Figura 11 - Imagens de construção de plataformas de via segundo os PTTR

Na Figura 11 observa-se a materialização destes tipos de PTTR em fase de obra.

Salienta-se que as caixas de sinalização / telecomunicações enterradas, devido à sua grande volumetria
ocupam praticamente todo o espaço disponível nos passeios de via, quando se implementam os PTTR.
Deste modo, nestas zonas pontuais, ter-se-á de analisar a melhor forma de coexistência destes
equipamentos com o sistema de drenagem longitudinal a executar.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a subida da rasante de via de uma Linha ferroviária existente a Modernizar, e com o aproveitamento
do “calo de via” usualmente existente nas plataformas, poder-se-ão minorar consideravelmente os
tratamentos a executar na infraestrutura da via.

Como exemplo, refere-se a capacidade de carga (EV2) que foi ensaiada sobre a camada do “calo de via”
num troço ferroviário da Linha do Oeste (Figura 12).

EV2 no "calo de via"

18 ensaios
29% 26 ensaios 20 - 59 MPa
43%
60 - 79 MPa
17 ensaios
28% > 80 MPa

Figura 12 – Resultados dos ensaios de carga em placa ø 600 mm (NF P94-117-1) na Linha do Oeste, no troço Meleças
– Caldas da Rainha (Consórcio Gibb et al. (2017))

Neste caso, se fosse possível subir a rasante de via de forma genérica entre 30 a 35cm, com a substituição
da superestrutura da via e com a colocação de uma camada de sub-balastro em ABGE (normativo REFER-
IT.GEO.006 – Características Técnicas do Sub-balastro (2007)) devidamente compactado, com o
aproveitamento do “calo de via”, poder-se-ia otimizar os tratamentos da plataforma de via, das seguintes
formas:
 Se o Projeto pretender a obtenção de uma plataforma de via de Boa Qualidade (tipo P3 segundo a
ficha 719R da UIC), então para se atingir um EV2 ≥ 120 MPa no topo da camada de sub-balastro,
genericamente bastaria apenas colocar uma camada de sub-balastro com cerca de 20cm de
espessura em cerca de um 1/3 do traçado, eliminando a execução da camada de coroamento. No
restante traçado, igualmente poder-se-ia reduzir a execução da espessura da camada de
coroamento no tratamento da plataforma;

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

 Se o Projeto pretender a obtenção de uma plataforma de via de Média Qualidade (tipo P2 segundo
a ficha 719R da UIC), então para se atingir um EV2 ≥ 80 MPa no topo da camada de sub-balastro,
genericamente bastaria apenas colocar uma camada de sub-balastro com cerca de 20cm de
espessura em cerca de um 2/3 do traçado, eliminando a execução da camada de coroamento. No
restante traçado, igualmente poder-se-ia reduzir a execução da espessura da camada de
coroamento no tratamento da plataforma.

Este exemplo elucida a importância da subida de rasante, quando possível, para uma significativa redução
de custos nos tratamentos da plataforma de via a executar numa Linha a Modernizar.

Para além do atrás referido, com a subida da rasante iria igualmente provocar uma execução mais rápida
e mais fácil da obra, o que implicaria uma redução de custos para a exploração ferroviária.

Com o aproveitamento da camada do “calo de via” nos tratamentos de plataforma, iria-se também ter uma
significativa redução da “pegada ecológica”.

Relacionado com a largura do “canal” ferroviário existente, nas zonas sem os condicionalismos
anteriormente mencionados, deverão materializar-se os Perfis Transversais Tipo (PTT) da REFER,
designadamente da IT.GER.04.01 para Via Larga (2004).

Caso contrário, ter-se-ão que desenvolver os Perfis Transversais Tipo Reduzido (PTTR) na fase de Estudo
Prévio, com o zonamento dos subtroços e a consolidação dos PTTR na fase de Projeto de Execução, para
que a sua materialização seja exequível e com investimento mais racional.

A implantação dos PTTR obriga à redução das seguintes dimensões das distâncias relativamente aos PTT:
 Distância entre o Entre Eixo da Via e o paramento interior da drenagem longitudinal: reduz de d ≥
4,61m para d = 3,50m;
 Distância do paramento exterior da drenagem longitudinal ao limite da plataforma de via
(“banqueta de espera”): d = 0,50m quer nos PTT como nos PTTR, mas podendo ser reduzido nos
PTTR para d = 0,20m.

Deste modo, a título de exemplo, com a implementação dos PTTR numa zona em perfil de escavação, a
largura da plataforma poderá reduzir em (2 x 1,11 + 2 x 0,30) 2,82m.

A grande maioria dos troços ferroviários existentes a Modernizar já comportam estas dimensões mais
reduzidas dos PTTR, não sendo necessário intervencionar-se nos taludes existentes estabilizados.

A Figura 13 ilustra mais condicionalismos existentes em troços de Linhas ferroviárias a Modernizar,


conforme referido no ponto 3, que obrigam ao desenvolvimento dos PTTR em Projeto.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 13 – Diversos condicionalismos existentes que obrigam a materialização dos PTTR em Linhas existentes a
Modernizar

REFERÊNCIAS

REFER (2004) - IT.GER:04.01 para Via Larga.

REFER (2007) - Projeto de Estabilização do talude de aterro do lado direito ao km 27+650, na Linha da Beira Baixa.

Ferbritas (2007) - Linha da Beira Baixa; troço Castelo Branco – Covilhã. Estudo Prévio.

IP Engenharia (2017) - Linha do Leste; troço Elvas – Fronteira. Projeto de Execução.

Consórcio Gibb, Quadrante, Prospectiva (2017) - Linha do Oeste; troço Meleças – Caldas da Rainha. Estudo Prévio.

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DE SOLOS COM O USO DE VEGETAÇÃO

SHEAR STRENGTH OF SOILS CONTAINING VEGETATION

Soares, Ecidinéia Pinto; Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
esoares@etg.ufmg.br
Guabiroba, João Victor de Oliveira Coelho; Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
Brasil,jvguabiroba@gmail.com
Mendonça, Antônio Ananias; Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
aanias@ufmg.br
Dutra, Matheus Rezende; Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
Brasil,matheusrdutra_28@hotmail.com

RESUMO

A busca por soluções de engenharia que sejam ao mesmo tempo seguras, eficientes e com um viés de
atenção para soluções que aproveite mecanismos ou materiais da própria natureza para distanciar dos
impactos ou degradações é cada dia maior. Com base nisso a bioengenharia de solos, que utiliza
vegetação como parte estrutural do sistema, se apresenta como potencial solução de problemas
relacionados ao controle e proteção contra erosão em margens de curso d’água e taludes. Assim, este
trabalho apresenta um estudo no qual são verificados os ganhos de resistência em amostras ensaiadas
com e sem brachiaria brizantha, a partir de ensaios de cisalhamento direto. Os resultados comprovam
ganho significativo na parcela de coesão nas amostras ensaiadas, ressaltando o efeito radicular, as
vantagens da bioengenharia de solo na proteção contra erosão e na preservação do meio ambiente.

ABSTRACT

The pursuit of engineering solutions that are, at the same time, safe, efficient and eco-friendly are
becoming ever more important. Based on this, soil bioengineering, which uses vegetation as a structural
part of the system, presents itself as an alternative solution to problems related to erosion control and
protection at watercourse banks and slopes. Thus, this paper presents a study in which shear strength of
a soil is analyzed with and without brachiaria brizantha, from direct shear tests. The results showed a
significant gain in cohesion in the tested samples with vegetation, highlighting the root effect and
consequently, the advantages of soil bioengineering in protection against erosion and preservation of the
environment.

1- INTRODUÇÃO

Os processos erosivos em margens de curso d’agua e reservatórios no Brasil são responsáveis por
diversos impactos ambientais e econômicos como: carreamento de finos e turbidez, perda de áreas
agricultáveis e diminuição da vida útil dos reservatórios pelo assoreamento. Com base nestes problemas
este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de contribuir e aumentar os estudos sobre bioengenharia
de solos, destacando os efeitos estruturais da vegetação no solo por meio da análise da sua resistência
ao cisalhamento com e sem a vegetação.

O embate de ondas e o fluxo d’água geram esforços solicitantes nas margens de rios e reservatórios e,
dessa forma, ocorre o carreamento de solo e vegetação que é responsável por mudanças em
características da água como, por exemplo, turbidez, além de perda de áreas agricultáveis e
assoreamento.

Nos taludes e encostas, a erosão apresenta como fatores principais de sua ocorrência os efeitos da chuva
e do vento, sendo que o tipo de solo, a geometria do talude, os carregamentos existentes e a forma de
escoamento de água também interferem de maneira significativa. O carreamento de solo em taludes
impossibilita a inserção natural de espécies de vegetação, que contribui para aumentar a probabilidade
de ocorrer ruptura global, e impede o uso da área para atividades agropecuárias.

A bioengenharia de solos consiste no uso de vegetação, associada ou não a estruturas rígidas, com o
intuito de evitar erosão e aumentar a resistência ao cisalhamento do solo. As técnicas de bioengenharia
podem ser utilizadas tanto em margens de curso d’agua, como em taludes naturais e construídos, sendo
que a vegetação é assumida como parte estrutural, ou seja, ajuda a resistir aos esforços solicitantes.
Além do quesito estrutural, a vegetação atua, ainda, como redutor de problemas ambientais já que
possibilita o crescimento de novas espécies e serve de habitat para animais.

1397
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Este trabalho avalia a importância da vegetação na melhoria dos parâmetros de resistência do solo para
que esta possa ser incluída nos cálculos de estabilidade nos problemas citados referentes a erosões
superficiais.

2- CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.1 - Bioengenharia de solos para controle de erosão e proteção

A bioengenharia de solos envolve conjunta ou isoladamente uma série de técnicas em que materiais
inertes (blocos de rocha, paliçadas etc.) ou vivos (diversas espécies de plantas) podem ser consorciados
para melhorar as condições geotécnicas de projeto.

No âmbito do emprego de apenas espécies vegetais, foco deste trabalho, sabe-se que o uso da vegetação
como forma de proteção de taludes e margens de curso d’água é conhecida desde o Século I A.C. na
Europa (Evette et al., 2009). No Brasil, o uso de técnicas de bioengenharia é relativamente recente se
comparado com os avanços alcançados por meio de estudos e aplicações nos Estados Unidos e Europa.

O sucesso da aplicação das técnicas de bioengenharia está diretamente relacionado à verificação de


requisitos de projeto em engenharia como, por exemplo, os parâmetros de resistência, granulometria e
grau de compactação do solo. Além destes fatores, requisitos biológicos e climáticos devem ser
analisados (Sortir e Gray, 1992). As técnicas de bioengenharia de solos englobam o uso de vegetação
herbácea e arbórea para controle de erosão e estabilização de taludes e margens de curso d’agua. A
respeito da vegetação herbácea, tem-se que o controle da erosão se dá por retardamento da velocidade
de escoamento da chuva, manutenção da capacidade de infiltração do solo, redução do transporte de
sedimentos e interceptação das gotas de chuva que restringe a ação mecênica desta.

A vegetação arbórea, segundo Gray e Sotir (1992), apresenta maiores raízes e, assim como na vegetação
herbácea, ajuda a aglutinar as partículas e ou grãos de solo e mantê-los estruturados. A proteção contra
erosão da vegetação arbórea também se dá por conta da retirada de água pelas raízes através da
transpiração e absorção.

A bioengenharia de solos se apresenta como uma potencial solução para locais de difícil acesso e taludes
íngremes tendo em vista que não há necessidade do uso de equipamentos como caminhões e
escavadeiras ou técncias especiais, por exemplo, já que a maior parte da instalação e operação das
técnicas é feita de forma manual, Coelho (2007).

Considerando essa vertente da bioengenharia, especificamente relacionada com técnicas de plantio,


durante o período de projeto, é necessário verificar a disponibilidade de cultivo ou colheita das plantas
especificadas assim como a disponibilidade da aquisição de sementes. O crescimento uniforme e
homogêneo das plantas deve ser verificado e medidas corretivas tomadas, tendo em vista que o não
crescimento das plantas acarretará em perda estrutural.

Segundo Coelho (2007), a vegetação aplicada às técnicas de bioengenharia por meio de plantio fornece
habitat para a fauna e flora da região, sendo que a inserção de espécies vegetais será responsável pelo
futuro crescimento e estabilização de espécies nativas. Desta forma, a bioengenharia de solos pode ser
considerada uma solução que promove recuperação e melhoria ambiental utilizando os conceitos da
engenharia tradicional.

2.2 - Papel da vegetação na estabilização de taludes e margens de curso d’agua

Segundo Coelho e Pereira (2006), a vegetação apresenta alguns aspectos positivos e negativos a respeito
da estabilização de taludes. Dentre os aspectos positivos pode-se citar os efeitos das raízes, caules e
folhas.

Raízes:

 agregam partículas/grãos de solo aumentando a coesão efetiva do solo;


 melhoram a taxa de infiltração no solo;
 aumentam a resistência do solo; e
 aumentam a porosidade no solo.

Caule/folhas:

 reduzem erosão pela queda das gotas d’agua (efeito splash);


 reduzem erosão laminar;
 aumentam a rugosidade; e
 plantas rasteiras recobrem eficientemente o solo.

1398
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Dentre os aspectos negativos tem-se também os efeitos das raízes, caules e folhas.

Raízes:

 podem danificar estruturas cimentadas;


 raízes finas e superficiais impedem a infiltração e podem desagregar partículas; e
 raízes secas podem concentrar o fluxo de agua pluvial.

Caule/folha:

 peso próprio de árvores podem aumentar os esforços solicitantes e ocasionar deslizamentos;


 vento sobre árvores aumenta os esforços solicitantes no solo; e
 plantas altas com folhas largas podem aumentar o efeito splash.

O sistema radicular das plantas, ainda segundo Coelho e Pereira (2006), aumenta a resistência ao
cisalhamento do solo pela transferência de tensão de cisalhamento do solo para as raízes. Este efeito é
conhecido como efeito radicular e pode depender de fatores como resistência ao cisalhamento da raiz,
concentração de fibras, interface entre solo e raiz, parâmetros geotécnicos e massa de solo explorada
pelas raízes.

Estudos realizados por Barbosa e Lima (2013) constataram aumento significativo na resistência ao
cisalhamento do solo com a presença do Capim Vetiver, por meio de ensaios de cisalhamento direto, em
que foram constatados que os parâmetros de resistência aumentaram. O ângulo de atrito aumentou em
cerca de 5º e a coesão aumentou cerca de 300% após a realização dos ensaios com o capim estabilizado
e desenvolvido.

3- METODOLOGIA

Este trabalho consistiu na coleta, caracterização e realização de ensaios de cisalhamento direto de


amostras de solos com e sem vegetação para verificação dos ganhos de resistência ao cisalhamento
provenientes da vegetação. A amostra de solo foi retirada no Município de Moeda, localizado no Estado de
Minas Gerais, Brasil.

3.1 - Coleta de amostras

Retirou-se amostra indeformada de modo a conseguir que o solo, juntamente com a vegetação, fosse
representativo do estudo desejado. Parte do procedimento de retirada pode ser visto nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 - Retirada de amostra indeformada de solo

Utilizando-se a técnica de exsicata em que uma amostra de vegetação é coletada, prensada e dessecada
para futuramente ser identificada, chegou-se à conclusão de que a vegetação utilizada para o estudo foi a
brachiaria brizantha, nativa do continente africano, mas de uso muito comum no Brasil. Exemplo da
vegetação e de seu armazenamento, para futura identificação, é mostrado na Figura 3.

1399
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 2 - Colocação da amostra indeformada em recipiente apropriado

Figura 3 - Coleta da vegetação para identificação e confirmação da espécie utilizada

3.2 - Caracterização da amostra

Parte da amostra de solo foi retirada, destorroada e realizados ensaios de caracterização, conforme
descrito a seguir.

3.2.1 - Teor de umidade

Retirou-se uma amostra do solo de massa conhecida e esta foi levada à estufa e a massa seca foi
determinada. Com os valores da massa de solo com e sem umidade foi possível determinar o teor de
umidade.

3.2.2 - Análise granulométrica

O ensaio de análise granulométrica foi realizado segundo a norma ABNT NBR 7181:1984.

3.2.3 - Massa específica dos grãos

O ensaio de massa específica dos grãos foi realizado segundo a norma ABNT NBR 6508:1984.

3.2.4 - Limites de Atterberg

Foram realizados os Limites de Atterberg para verificação do índice de plasticidade do solo. Para isso
realizou-se o ensaio de Limite de Liquidez, segundo a norma ABNT NBR 6459:1984, e o ensaio de Limite
de Plasticidade, segundo a norma ABNT NBR 7180:1984.

1400
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

3.3 - Confecção dos corpos de prova

Para a realização dos ensaios de cisalhamento direto, foram preparados corpos de prova da amostra
indeformada com vegetação cujas dimensões são 10x10x2 cm3. A retirada do corpo de prova foi feita de
modo a se preservar ao máximo possível as características iniciais do solo com a raiz conforme
demonstrado na Figura 4.

Figura 4 - Confecção de corpo de prova indeformado para realização do ensaio de cisalhamento direto

Para se obter padronização do ensaio e do real ganho de resistência proveniente da vegetação, todos os
corpos de prova foram retirados a uma profundidade de aproximadamente 30 cm da superfície do bloco.

A realização do ensaio sem a vegetação foi feita com amostra deformada, sendo que a densidade e o teor
de umidade do corpo de prova foram mantidos os mesmos da amostra indeformada com vegetação, de
modo a se obter resultados mais próximo possíveis de uma situação indeformada, tendo em vista que o
solo utilizado é arenoso.

3.4 - Realização dos ensaios de cisalhamento direto

O ensaio de cisalhamento direto foi realizado com a velocidade de cisalhamento de 0,2 mm/min e com a
amostra de solo na umidade natural.

Foram realizados ensaios com os carregamentos de 25 kPa, 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa de modo que a
situação de campo pudesse ser representada da melhor maneira e que houvesse melhor distribuição dos
pontos geradores da envoltória de resistência.

4- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos após a realização dos ensaios laboratoriais estão apresentados a seguir.

4.1 - Resultado da caracterização do solo

4.1.1 - Teor de umidade

O teor de umidade da amostra de solo no momento em que esta foi armazenada na câmera úmida foi de
4,2%.

4.1.2 - Massa específica dos grãos

Após a realização do ensaio de massa específica dos grãos segundo a norma ABNT NBR 6508, o valor
encontrado foi de 26,3 kN/m3 conforme representado no Quadro 1.

1401
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Quadro 1 - Resultado do ensaio de massa específica dos grãos

MASSA ESPECÍFICA DOS GRÃOS


Determinação n° 1 2 4
Picnômetro n° 20 17 33
Mpic+s+w = M2 (g) 719,54 726,85 734,74
Temperatura - T (°C) 28 27 27,5
Mpic+w = M1 (g) 683,42 690,73 698,63
w (g/cm3) 0,9963 0,9965 0,9964
Ms (g) 57,50 57,58 57,48
s (g/cm3) 2,68 2,67 2,68
s MÈDIO (g/cm3) 2,68

4.1.3 - Análise granulométrica

Após a realização do ensaio de análise granulométrica segundo a norma ABNT NBR 7181:1984 pode-se
constatar que o solo do presente estudo é uma areia argilosa, conforme curva granulométrica
apresentada na Figura 5.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS


ESCOLA DE ENGENHARIA
D E P A R T A M E N T O D E E N G E N H A R IA D E T R A N S P O R T E S E G E O T E C N IA

50,0 100,00% 100,00% 50 1


38 1
0,075

0,150

0,300

0,420

0,600

1,200

2,000

4,800

9,500
38,0 100,00% 100,00%

50,0
19,0

25,0

38,0
25,0 100,00% 100,00% 25 1
100%
50,0 19,0 100,00% 100,00% 19 1
38,0 9,5 Granulométrica
Curva 100,00% 100,00% 9,5 1
90% Peneiramen to Fino
25,0 4,8 99,32% 99,32%
Sedimentação 4,8 1
Peneiramen to grosso
19,0 2,0 97,43% 97,43% 2 1
% que passa da amostra total

Peneiras
80% peneiras2
9,5 1,200 95,34% 95,34% 1,2 1
4,8
70% 0,600 88,92% 88,92% 0,6 1
2,0 0,420 82,65% 82,65% 0,42 1
60%1,200 0,250 64,19% 64,19% 0,3 1
0,600 0,150 49,42% 49,42% 0,15 1
50%0,420 0,075 34,69% 34,69% 0,075 1
N 0,250 0,0718 0,073 29,09% 29,09%

40%0,150 0,0514 0,0514 26,40% 26,40%

0,075 0,0366 0,0366 25,05% 25,05%


30% 0,0260 0,0260 23,70% 23,70%

0,0184 0,0184 23,70% 23,70%


20% 0,0135 0,0135 22,36% 22,36%

0,0095 0,0095 22,36% 22,36%


10%
0,0068 0,0068 21,01% 21,01%

0,0048 0,0048 19,66% 19,66%


0%
0,0034 0,0034 18,32% 18,32%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
0,0024 0,0024 17,24% 17,24%
Diâmetro dos grãos (mm)
0,0014 0,0014 14,14% 14,14%

ABNT ABNT ASTM ASTM Diametros Equivalentes (mm)


Pedregulho (d > 2,0 mm): 2,5% Argi la 25,0% Pedregulho (d > 4,8 mm): Argi la 0,0%
D10 = D50 =
Areia (0,06 < d < 2,0 mm): 70,0% Areia (0,075 < d < 4,8 mm):
2,5% Sil te 0,0%
Sil te
Silte (0,002< d < 0,06 mm): 2,5% Silte (0,002 < d <0,075 mm):
D15 = D60 =
Argila (d < 0,002 mm): 25,0% Arei a 70,0%
Argila (d < 0,002 mm): Arei a 0,0%

Ped . 2,5% Ped . 0,0%


Classificação : areia argilosa Classificação : D30 = D85 =

Figura 5 – Resultado da análise granulométrica do material

4.1.4 - Limites de Atterberg

O Limite de Liquidez encontrado para o material amostrado foi de 26% e não apresentou limite de
plasticidade, sendo, portanto, não plástico.

4.2 - Resultado dos ensaios de cisalhamento direto

O ensaio de cisalhamento direto é essencialmente baseado no critério de ruptura Mohr-Coulomb (Pinto,


2006) sendo que o ponto correspondente à tensão de ruptura é plotado para cada corpo de prova. A reta

1402
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

encontrada pela interpolação dos pontos é a envoltória de resistência. Com ela é possível determinar os
parâmetros de resistência do solo (ângulo de atrito e coesão).

4.2.1 - Resultado da amostra indeformada sem vegetação

As curvas tensão x deformação são apresentadas na Figura 6 e a partir delas pode-se perceber que para
uma maior tensão confinante o esforço cisalhante foi maior, o que era de se esperar tendo em vista que a
tensão cisalhante resultante é proporcional à tensão confinante. O comportamento geral apresentado
pela curva é típico de areia fofa, sem a presença marcante de pico na tensão e com a mesma tendendo a
se estabilizar em um valor limite.

Apesar do Corpo de Prova CP1 (tensão confinante de 25 kPa) ter apresentado comportamento divergente
do restante, o resultado (da tensão residual) não foi desprezado, por se acreditar que a anomalia inicial
não tenha persistido quando as deformações utrapassaram o Estado Crítico.

Figura 6 – Curvas tensão x deformação da amostra indeformada com vegetação

A Figura 7 representa a variação de volume dos corpos de prova ao longo da fase de ruptura. Nela é
possível perceber que houve tendência de aumento de volume dos corpos de prova na a faixa de tensões
considerada para a realização dos ensaios, apesar de algum desvio anômalo do CP3, que foi submetido à
tensão confinante de 100 kPa.

1,0
Deformação Vertical (mm)

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0
0 2 4 6 8 10 12
-0,2

-0,4
Deformação Horizontal (mm)
CP1 CP2 CP3 CP4

Figura 7 – Variação de volume para a amostra indeformada com vegetação

Para o solo em estudo com a vegetação, a envoltória de resistência é mostrada na Figura 8. Os valores
do ângulo de atrito e da coesão são respectivamente 38,5º e 55,2 kPa.

1403
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 8 – Envoltória de resistência da amostra de solo com vegetação

No ensaio de cisalhamento direto, as tensões são conhecidas em apenas um plano, no caso o plano
horizontal. No entanto, ainda que o ensaio imponha a que o cisalhamento ocorra no plano horizontal, é
possível que haja rupturas internas em outras direções (Pinto, 2006). No caso da amostra indeformada
com vegetação isso pode ser observado, conforme mostra a Figura 9.

Figura 9 – Corpo de prova com a vegetação após a ruptura

Este comportamento de ruptura fora do plano horizontal pode ser explicado pela restrição das raízes em
romper por cisalhamento, provavelmente em razão de propagação de tensões espacial diferenciada,
comunicadas pelas raízes aleatoriamente dispersas na matriz do solo. Assim, rompeu em um plano com
menor concentração de raízes, o que reitera sua importância no aumento da resistência ao cisalhamento
de solos.

4.2.2 - Resultado da amostra deformada sem vegetação

Assim como observado na amostra indeformada com vegetação, as curvas tensão x deformação para as
amostras deformadas de solo sem vegetação também apresentaram aumento da tensão cisalhante como
respectivo acréscimo da tensão confinante, com a tensão máxima tendendo a se estabilizar em um valor
limite, como mostra a Figura 10.

Com relação à variação de volume, apresentada na Figura 11, pode-se perceber o mesmo
comportamento do solo com vegetação, o que era de se esperar tendo em vista que se trata do mesmo
material.

A envoltória de resistência encontrada para o solo sem a vegetação, mostrada na Figura 12, apresenta
como resultado os seguintes parâmetros de resistência: ângulo de atrito 37,9º e coesão de 17,1 kPa.

1404
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 10 – Curvas tensão x deformação da amostra indeformada sem vegetação

Figura 11 – Variação de volume para a amostra indeformada sem vegetação

Figura 12 – Envoltória de resistência da amostra de solo sem vegetação

1405
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

5- CONCLUSÃO

A bioengenharia de solos, no âmbito da interação dos solos com espécies vegetais, é composta por
técnicas que utilizam a vegetação como parte estrutural do sistema e por isso é necessário que haja
verificação do real ganho de resistência que a vegetação pode fornecer.

No controle e proteção contra erosão em margens de curso d’água e taludes a verificação das causas da
erosão e a escolha e emprego das técnicas de bioengenharia devem levar em conta tanto a resistência
das estruturas rígidas quanto da vegetação a ser escolhida. Com base nisso, a elevação da resistência ao
cisalhamento que a vegetação fornece pode entrar como parâmetro de projeto.

A escolha da brachiaria brizantha para a realização deste trabalho se deu por conta do seu uso comum no
Brasil bem como sua facilidade de inserção e disseminação nos solos tropicais.

As coletas dos corpos de prova foram realizadas a uma profundidade de cerca de 30 cm o que demonstra
que este estudo visa obter as melhorias da resistência superficial do solo (erosão) com o uso da
vegetação.

Com relação aos parâmetros de resistência, a realização dos ensaios de cisalhamento direto com e sem a
vegetação apresentaram praticamente o mesmo ângulo de atrito, de 37,9º para 38,5º. Entretanto, a
coesão obtida para o solo sem a vegetação foi de 17,1 kPa e para o solo com a vegetação foi de 55,2 kPa.
Dessa forma, pode-se perceber com clareza que o efeito radicular aumenta significativamente os
parâmetros de resistência do solo, conforme envoltórias apresentadas na Figura 13.

Figura 13 – Envoltória de resistência da amostra de solo considerando as situações estudadas

O efeito radicular, responsável pelo aumento da coesão, elucida as vantagens da bioengenharia de solo
na proteção contra erosão e valida ainda mais essas técnicas, que além de se mostrarem eficientes para
situações particulares, simples e geralmente menos onerosas são, quase sempre, preciosas para
crediblidade de ações que valorizam o aspecto da ecoeficiência de processos tecnológicos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal de Minas Gerais, em especial ao Departamento de


Engenharia de Transportes e Geotecnia - DETG, em função da utilização do laboratório de Geotecnia –
LabGEO, para a realização dos ensaios apresentados.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez. Rio de
Janeiro, RJ, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solo que passam na peneira de 4,8mm –
Determinação da massa específica. Rio de Janeiro, RJ, 1984.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de plasticidade. Rio de
Janeiro, RJ, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro, RJ, 1984.

Barbosa, M. C. e Lima A, H. M. (2013) - Resistência ao cisalhamento de solos e taludes vegetados com capim vetiver.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 37, n. 1, p. 113-120.

Coelho, A.T. (2007) - Efeitos da vegetação herbácea associada a técnicas de bioengenharia de solos no controle de
erosão em margens de áreas de reservatório da UHE Volta Grande, nos municípios de água Comprida/MG e
Miguelópolis/SP. Tese (Doutorado) - Programa de pós-graduação em saneamento, meio ambiente e recursos
hídricos, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 184p.

Coelho, A. T. e Pereira, A. R. (2006) - Efeitos da vegetação na estabilidade de taludes e encostas. Deflor bioengenharia.
v. 1, n. 2, 19p.

Evette, A. Labonne, S., Rey, F., Liebault, F. e Girel, J. (2009) - History of bioengineering Techniques for Erosion Control
in Rivers in Western Europe. Environmental Management, v.43, n. 6, pp. 972-984.

Pinto, C.S. (2006) - Curso básico de mecânica dos solos. 3a. ed. São Paulo: Oficina de Textos.

Sotir, R. B. e Gray D. H. (1992) - Soil Bioengineering for Upland Slope Protection and Erosion Reduction. USDA Natural
Resource Soil Conservation Service. Chapter 18.

1407
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

UTILIZAÇÃO DA RUGOSIDADE RANDÔMICA PARA A AVALIAÇÃO DAS


CONDIÇÕES DE INFILTRAÇÃO, ARMAZENAMENTO SUPERFICIAL E
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
THE RANDOM ROUGHNESS USE IN THE ASSESSMENT OF INFILTRATION,
SURFACE WATER STORAGE AND RUNOFF CONDITIONS.

Rotta, Cláudia Marisse dos Santos Rotta; Universidade Federal de São Carlos, Buri-SP, Brasil,
claudiarotta@ufscar.br
Zuquette, Lázaro Valentin; Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, lazarus1@sc.usp.br

RESUMO

A crescente interferência antropogênica no meio ambiente, em função dos diferentes usos, resulta em
alterações dos componentes ambientais, em diferentes níveis. Dentre as alterações possíveis, citam-se
aquelas relacionadas às condições superficiais dos materiais geológicos, que influenciam a dinâmica entre
os processos de infiltração, armazenamento superficial e escoamento superficial. Uma vez alteradas as
condições naturais de ocorrência desses processos, diferentes funções ambientais podem ser
comprometidas, levando ao prejuízo da recarga da água subterrânea, aceleração dos processos erosivos
superficiais, entre outros. Nesse contexto, tem-se a importância de se estabelecer adequadamente as
condições do microrelevo, também denominada rugosidade. Tal característica é avaliada em função da
rugosidade randômica, que pode ser determinada a partir de diferentes metodologias, tais como as
propostas por Kuipers (1957), Allmaras et al. (1966), e Currence e Lovely (1970); em função de
resultados obtidos em campo, através de métodos simples e de baixo custo, como o rugosímetro de
pinos. Em função dos aspectos apresentados, este trabalho tem como objetivo avaliar diferentes
condições de rugosidade superficial inseridas na bacia hidrográfica do Ribeirão do Varjão, localizado no
município de Brotas, estado de São Paulo, Brasil. Esta área, de uso predominante agrícola, associa-se à
diferentes condições de microrelevo, e aos materiais inconsolidados residuais das Formações Itaqueri,
Serra Geral, Botucatu e Pirambóia. Além disto, apresenta indícios de alterações ambientais associadas
aos processos de infiltração, armazenamento superficial e escoamento superficial, em função dos
diferentes usos. Por meio dos resultados de rugosidade randômica obtidos a partir dos trabalhos de
campo, e da determinação dos demais parâmetros associados, foram avaliadas as condições superficiais
da área estudada, assim como a possibilidade de utilização desse aspecto ambiental como geoindicador
da alteração dos componentes ambientais.

ABSTRACT

The increasing anthropogenic interference in the environment, due to the different uses, results in
changes in the environmental elements at different levels. Among the possible changes, those related to
the superficial conditions of geologic materials influence the natural dynamic of infiltration, surface water
storage and surface runoff. Once the natural conditions of such process have been modified, different
environmental functions can be compromised, affecting groundwater recharge and accelerating the
surface erosion, among other issues. In this context, it is important to properly establish the conditions of
the micro relief, also called roughness. This characteristic is evaluated as a function of the random
roughness, determined by different methodologies, such as those proposed by Kuipers (1957), Allmaras
et al. (1966), and Currence and Lovely (1970), as function of field work results, obtained through simple
and low cost methods such as the pin-profiler. Therefore, the goal of this work is to assess different
roughness conditions in Ribeirão do Varjão watershed, located in the municipality of Brotas, São Paulo
State, Brazil. The predominant use of the field under investigation is the agriculture. It is associated to
different microrelief and to the residual unconsolidated materials of Itaqueri, Serra Geral, Botucatu e
Pirambóia Formations. Besides that, the field shows evidences of environmental changes associated with
the infiltration, surface water storage and surface runoff process, as result of different land uses. Through
the results of random roughness measured on the field works, the other parameters have been
determined, allowing the assessment of the superficial conditions of the area. Also, the use of random
roughness as a geo-indicator of environmental changes has been verified.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

1. INTRODUÇÃO

As atividades Humanas tem exigido cada vez mais dos componentes ambientais, sobretudo em função da
configuração atual da sociedade, que associa-se à demandas crescentes de recursos naturais. Tal
cenário, que ocorre tanto em países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos, implica em alterações cada
vez mais intensas à esses componentes, e às dinâmicas a estes associados, podendo, em muitos casos,
resultar em diferentes níveis de degradação ambiental.

Dentre os diversos problemas ambientais relacionados à alteração dos componentes do meio ambiente,
citam-se: a diminuição da produção de alimentos; a geração crescente de sedimentos que aceleram o
fenômeno de assoreamento; o aumento da ocorrência de eventos perigosos; a alteração da
disponibilidade hídrica, entre outros.

Em relação a alteração da disponibilidade hídrica, associam-se modificações nas taxas naturais


infiltração, escoamento superficial e armazenamento superficial da água da chuva. A alteração das taxas
naturais desses processos, por sua vez, relaciona-se à problemas como o rebaixamento dos níveis da
zona saturada, aumento das vazões e inundações de canais superficiais, e intensificação dos processos
erosivos. Em resposta, cresce o uso de práticas de manejo e controle associadas ao escoamento
superficial, que por sua vez implicam em modificações nas condições superficiais naturais, ou seja, nas
feições de meso e microrelevos.

O microrelevo, especificamente, refere-se à rugosidade superficial do terreno, ou seja, ao seu formato


irregular que é função de variações na topografia. Para Allmaras et al. (1966), a ocorrência natural de
evelações e depressões na superfície dos terrenos compreende a rugosidade randômica, relacionada aos
fenômenos de armazenamento de água nas depressões superficiais, geração de escoamento superficial e
infiltração de água. Dada a relação entre a rugosidade e a disponibilidade hídrica, compreende-se a
importância na determinação dessa propriedade, assim como a análise integrada da mesma e de
propriedades geológico-geotécnicas, associadas aos fenômenos de interesse.

Em termos de mensuração, a rugosidade pode ser determinada por diferentes métodos de campo, tais
como pela utilização de rugosímetros de pinos e escâneres a laser. Os índices de rugosidade randômica,
por sua vez, que caracterizam quantitativamente o microrelevo, podem ser calculados por diferentes
relações apresentadas por diferentes autores, tais como Kuipers (1957), Allmaras et al. (1966) e
Currence e Lovely (1970).

Nesse contexto, escolheu-se como área de estudo a bacia hidrográfica do Ribeirão do Varjão, localizada
no município de Brotas, estado de São Paulo, Brasil. Nesta bacia hidrográfica, o uso predominante é o
agrícola, especialmente para o cultivo de cana-de-açúcar e reflorestamento de eucalipto, de finalizada
comercial. Além disso, a área apresenta indícios de degradação ambiental relacionados à diminuição da
disponibilidade hídrica, tais como o desaparecimento de canais de drenagem de primeira ordem e o
aumento da profundidade da zona saturada.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do Ribeirão do Varjão, objeto de estudo, apresenta de 32km2, e localiza-se no


município de Brotas, estado de São Paulo, Brasil (Figura 1).

Figura 1 - Localização da área de estudo

De acordo com a classificação de Koppen (1948), o clima da região é do tipo Cwa, caracterizado como
subtropical, de inverno seco e verão quente. As temperaturas médias anuais variam entre 21,8 e 23ºC, e
a precipitação média anual varia entre 1100 a 1750mm, sendo dezembro o mês mais chuvoso e julho o
menos chuvoso.

Geologicamente, conforme apresenta a Figura 1, a área é constituída por litologias relacionadas à quatro
formações geológicas: (1) Formação Itaqueri, que compreende arenitos variados com diferentes graus de
cimentação; (2) Formação Serra Geral, que compreende os basaltos; (3A) Formação Botucatu superior,
que abrange os arenitos de cimentação forte, de maior resistência à compressão simples, e com

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

porosidade fissural; (3B) Formação Botucatu inferior, com os arenitos de cimentação fraca, com menor
resistência à compressão simples e porosidade granular; e (4) Formação Pirambóia, composta por
arenitos de cimentação de média a forte.

A vegetação natural da região varia entre Cerrados, Cerradões e Matas de Galeria, acompanhando
poucas extensões junto aos cursos d’água. Contudo, destaca-se o amplo uso do solo para agropecuária,
com maior parte da bacia sendo ocupada pelo cultivo de cana-de-açúcar, seguida pelo reflorestamento
com eucaliptos, com finalidade comercial, e por pastagens. Tais usos caracterizam-se por alterar de
forma intensa as condições superficiais dos terrenos, variando em função dos estágios de
desenvolvimento vegetal, das práticas agrícolas empregadas e da periodicidade da manutenção.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

As diferentes etapas de desenvolvimento do estudo estão esquematizadas no fluxograma da Figura 2.


Para o desenvolvimento do mesmo, foi utilizado mapa topográfico de escala 1:50.000; tal como imagens
de satélite e fotografias aéreas de diferentes períodos, em diferentes escalas.

Figura 2 - Fluxograma das principais etapas de desenvolvimento deste trabalho

A primeira etapa compreendeu a identificação da área a ser estudada, com delimitação da bacia
hidrográfica, tendo como base o mapa topográfico. Identificados os limites da área de estudo, deu-se
início à avaliação espacial e temporal dos diferentes tipos de usos e ocupação ali presentes, com o auxílio
das imagens de satélite e fotografias aéreas. Nessa etapa, foi possível ainda identificar indícios de
alteração das condições ambientais naturais, sobretudo relacionados aos recursos hídricos superficiais e à
presença de processos erosivos. A esta etapa soma-se também a identificação e caracterização
geológico-geotécnica dos materiais geológicos, sobretudo quanto à distribuição espacial, tipos e textura.

Em sequência, foram realizados os trabalhos de campo, sendo um de seus objetivos a comprovação e


complementação das informações obtidas na etapa anterior, e a identificação de características
geológico-geotécnicas específicas. Além disso, foram realizados os ensaios de rugosidade randômica com
a utilização de um rugosímetro de pinos (Figura 3), tal qual o desenvolvido por Kuipers (1957) e
consolidado por Allmaras et al. (1966). Os locais em que foram realizados os ensaios de rugosidade
foram escolhidos de modo a avaliar diferentes condições de uso e ocupação, normalmente associados à
diferentes tipos de alterações ambientais.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Figura 3 - Rugosímetro de pinos utilizado para medir a rugosidade superficial

O cálculo do índice de rugosidade randômica, a partir dos resultados levantados em campo, se deu
através de diferentes metodologias, sendo estas adequadas ao tipo de equipamento utilizado e aos dados
obtidos. A descrição das mesmas encontra-se no Quadro 1.

Quadro 1 - Metodologias utilizadas para cálculo do índice de rugosidade randômica a partir dos dados obtidos em
campo através do rugosímetro de pinos
Metodologia Descrição da Metodologia
𝑅𝑅1 = 100 × log 10 𝐷 [1]
Kuipers
(1957)

Onde:
RR1 = rugosidade randômica [admensional];
D = desvio padrão das alturas medidas em campo [cm].
Por essa metodologia, as leituras obtidas com o rugosímetro de pinos devem ser corrigidas a
partir da equação:
𝑒′𝑖𝑗 = ln ℎ𝑖𝑗 − (ln ℎ.𝑗 − ln ℎ.. ) − (ln ℎ𝑖. − ln ℎ.. ) [2]

Onde:
e'ij = Altura da linha ith e da coluna jth corrigida;
ln hij = Altura da linha ith e da coluna jth transformada;
Allmaras et al. (1966)

ln ℎ.𝑗 = média das alturas da coluna jth transformadas;


ln ℎ𝑖. = média das alturas da linha ith transformadas;
ln ℎ.. = média de todas as leituras transformadas.

Depois de corrigidas as leituras, 10% dos maiores e dos menores valores devem ser
eliminados, e deve-se calcular o erro padrão dos valores restantes. A rugosidade randômica
(RR2) compreenderá:
𝑅𝑅2 = 𝐸𝑃 × ℎ̅ [3]

Onde:
RR2 = rugosidade randômica de acordo com Almarras et al. (1996) [cm];
EP = Erro padrão das alturas corrigidas, descontados os 10% dos maiores e dos menores
valores [admensional];
h̅ = média das alturas [cm].
Currence e

(1970) I
Lovely

Por esse método, a rugosidade randômica (RR3), expressa em centímetros, compreende o


desvio padrão das leituras do rugosímetro, sem correção desses valores.

Esses autores também sugerem a correção das leituras de campo através da equação:
Currence e Lovely (1970) II

ℎ′𝑖𝑗 = ℎ𝑖𝑗 − (ℎ.𝑗 − ℎ.. ) − (ℎ𝑖. − ℎ.. ) − (ℎ.. ) [4]

Onde:
h'ij = leitura da altura corrigida na linha ith e na coluna jth;
hij = leitura da altura original na linha ith e na coluna jth;
ℎ.𝑗 = média das leituras da coluna jth;
ℎ𝑖. = média das leituras da linha ith;
ℎ.. = média de todas as leituras.

A rugosidade randômica (RR4) seria então o desvio padrão dos valores corrigidos (h'ij),
expressa em centímetros.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Currence e Lovely (1970) afirmam que a transformação das leituras de altura em logaritmo

Modificado
Allmaras
não é necessária, pois os valores diretos apresentam maior sensibilidade às alterações da

(1966)
et al.
rugosidade.
Sendo assim, RR5 será considerada como a rugosidade obtida pela Metodologia de Allmaras
et al. (1996) sem a transformação logarítmica,

Os resultados obtidos pelas diferentes metodologias foram analisados, tanto entre si, quanto em função
das características de uso e ocupação e dos materiais geológicos, previamente identificados. A partir
desses resultados, pode-se ainda verificar a adequabilidade da utilização da rugosidade randômica como
um geoindicador de alterações ambientais.

4. APRESENTAÇÃO RESULTADOS

Os ensaios de rugosidade foram desenvolvidos em 5 áreas, cuja localização pode ser visualizada na
Figura 1. Tais pontos ocorrem associados ao material inconsolidado residual da Formação Itaqueri, cuja
espessura pode variar de menores que 5 até 10 metros; apresentando fração predominante arenosa (em
torno de 50 a 84% de areia). Esse material, apesar de ser predominante na área de estudo, ocorre
associado aos materiais inconsolidados residuais das formações Serra Geral, Pirambóia e Botucatu.
Entretanto, foram escolhidos pontos para serem ensaiados apenas no material residual da Formação
Itaqueri, uma vez que nestes concentram-se as alterações ambientais mais significativas.

As principais alterações ambientais verificadas na área de estudo associam-se à alteração da dinâmica


natural entre os processos de infiltração da água no solo, armazenamento superficial da água da chuva, e
geração e manutenção do escoamento superficial. As diferentes atividades agropecuárias presentes na
região tem aumentado a compactação do solo, aumentado os períodos de presença de solo exposto,
alterado o tipo de cobertura vegetal, criando caminhos preferenciais, e intensificado a utilização de
técnicas agrícolas que alteram o micro e mesorelevo original. Como consequência, verifica-se indícios de
diminuição das taxas de infiltração, com aumento do escoamento superficial, mesmo a presença de
elementos antropogênicos para favorecimento da infiltração, tais como cordões em nível, terraços,
barragens, entre outros. Tais indícios correspondem, sobretudo, à presença de processos erosivos
lineares de diferentes dimensões e ao desaparecimento parcial ou total de canais de drenagem de
primeira ordem.

No que diz respeito às cinco áreas em que foram realizados os ensaios de rugosidade, estas situam-se
próximos às cabeceiras de canais de primeira ordem, onde foram observados os problemas ambientais.
Em termos de uso, o Quadro 2 sumariza aqueles específicos de cada área, na época em que foram
realizados os ensaios de rugosidade.

Quadro 2 - Descrição dos tipos e condições de uso e ocupação observados nos locais de realização do ensaio de
rugosidade randômica
Áreas Descrição do uso e ocupação

Carreador associado ao cultivo de cana-de-açúcar,


1 bastante compactado, e com a presença de feições
erosivas lineares de pequenas dimensões (sulcos).

Figura 4 - Área 1

Área de cultivo de cana-de-açúcar, porém recém


2
cortada, com crescimento espontâneo de gramíneas.

Figura 5 - Área 2

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Área de pastagem, com espécie de gramínea de


pequeno porte. Encontra-se entre dois cordões de nível,
em uma encosta côncava, onde anteriormente ocorria
3
um canal de primeira ordem. Atualmente houve
rebaixamento do nível d'água, e a nascente posiciona-
se a jusante do ponto de ensaio.

Figura 6 - Área 3

Área de cultivo de cana-de-açúcar com a vegetação em


4
estágio avançado de desenvolvimento.

Figura 7 - Área 4

Corresponde a um trecho anteriormente ocupado por


um canal de drenagem de primeira ordem cujo nível
d'água foi reduzido. Atualmente, neste ponto, observa-
se a presença de capim bastante seco. O uso da área
5
de entorno corresponde ao cultivo de cana-de-açúcar,
que eventualmente ocupará a antiga extensão do canal
de drenagem em questão, prática bastante comum na
área de estudo.

Figura 8- Área 5

A partir das leituras de altura relativas, obtidas em campo com o auxílio do rugosímetro de pinos, foram
geradas superfícies representativas das 5 áreas avaliadas, com o auxílio do software Surfer 8. Tais
superfícies estão apresentadas em sequência.

Figura 9 - Superfície gerada a partir das alturas relativas obtida pelo rugosímetro para a Área 1,
com exagero vertical

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Figura 10 - Superfície gerada a partir das alturas relativas obtida pelo rugosímetro para a Área 2,
com exagero vertical

Figura 11- Superfície gerada a partir das alturas relativas obtida pelo rugosímetro para a Área 3,
com exagero vertical

Figura 12 - Superfície gerada a partir das alturas relativas obtida pelo rugosímetro para a Área 4,
com exagero vertical

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Figura 13 - Superfície gerada a partir das alturas relativas obtida pelo rugosímetro para a Área 5,
com exagero vertical

Os dados obtidos em campo, para as diferentes áreas ensaiadas, foram convertidos em resultados de
rugosidade randômica, por meio de diferentes métodos apresentados pelo Quadro 1. Tais resultados
estão apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 - Valores de rugosidade randômica obtidos para os cinco pontos ensaiados, em função das diferentes
metodologias utilizadas
Ponto Metodologia Resultado de Rugosidade Randômica
RR1 (Kuipers, 1957) 81,7572 [adimensional]
RR2 (Allmaras et al., 1966) 0,1349 cm
1 RR3 (Currence e Lovely, 1970 - I) 6,5701 cm
RR4 (Currence e Lovely, 1970 - II) 2,4015 cm
RR5 (Allmaras et al., 1966 Modificado) 1,3362 cm
RR1 (Kuipers, 1957) 67,9761 [adimensional]
RR2 (Allmaras et al., 1966) 0,0799 cm
2 RR3 (Currence e Lovely, 1970 - I) 4,7837 cm
RR4 (Currence e Lovely, 1970 - II) 2,0299 cm
RR5 (Allmaras et al., 1966 Modificado) 1,2842 cm
RR1 (Kuipers, 1957) 73,9800 [adimensional]
RR2 (Allmaras et al., 1966) 0,0894 cm
3 RR3 (Currence e Lovely, 1970 - I) 5,4929 cm
RR4 (Currence e Lovely, 1970 - II) 1,4418 cm
RR5 (Allmaras et al., 1966 Modificado) 0,5057 cm
RR1 (Kuipers, 1957) 72,5809 [adimensional]
RR2 (Allmaras et al., 1966) 0,1202 m
4 RR3 (Currence e Lovely, 1970 - I) 5,3187 cm
RR4 (Currence e Lovely, 1970 - II) 1,8034 cm
RR5 (Allmaras et al., 1966 Modificado) 0,7436 cm
RR1 (Kuipers, 1957) 68,1969 [adimensional]
RR2 (Allmaras et al., 1966) 0,0803 cm
5 RR3 (Currence e Lovely, 1970 - I) 4,8081 cm
RR4 (Currence e Lovely, 1970 - II) 1,9881 cm
RR5 (Allmaras et al., 1966 Modificado) 0,6832 cm

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1. Quanto aos resultados de rugosidade randômica

Avaliando de forma geral os resultados, em um primeiro momento, podemos verificar que existem pontos
cujos resultados de rugosidade randômica, independente da metodologia utilizada, são superiores aos

1416
GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

demais. Nesse caso, destaca-se a Ponto 1, que compreende o carreador associado ao cultivo de cana-de-
açúcar. Esse resultado mostra-se coerente à realidade, sobretudo em função da presença de processos
erosivos, que contribuem no sentido de aumentar a amplitude das leituras de altura relativa, em campo.

Em sequência ao Ponto 1, os que apresentam maiores valores de rugosidade randômica, bastante


próximos entre si, compreendem os Pontos 3 e 4. Estes tratam de uma área de pastagem de pequeno
porte, e com cultivo de cana-de-açúcar em estágio avançado de desenvolvimento, respectivamente.
Avaliando esses dois pontos, verifica-se que usos muitos distintos podem apresentar resultados bastante
próximos.

No caso dos Pontos 2 e 5, que apresentam os valores mais baixos de rugosidade randômica, há a
ocorrência do mesmo tipo de vegetação, que compreende gramíneas nascidas de forma espontânea.
Entretanto, o primeiro local corresponde a uma área de cultivo de cana-de-açúcar recém colhida, e o
outro um trecho antes ocupado por um canal de drenagem de primeira ordem. Verifica-se assim que os
valores de rugosidade randômica encontrados não dependem unicamente do tipo de uso, mas também
de outras características, tais como a utilização de diferentes técnicas de manejo, o estágio de evolução
das espécies vegetais, e também características geomorfológicas do terreno, tal como a declividade.

Em função das metodologias utilizadas, verifica-se que aquela proposta por Kuipers (1957) resultou em
valores muito altos de rugosidade randômica, sendo estes, adimensionais. Apesar da coerência entre os
valores obtidos para as diferentes áreas a partir desse método, ele dificulta a interpretação do resultados,
uma vez que estes são índices, e sem valores de referência não é possível afirmar se são altos ou não.

O método de Allmaras et al. (1966), por sua vez, apresentou resultados baixos, com números
significativos apenas a partir da primeira casa decimal, o que dificulta a interpretação e análise dos
resultados, e também não corresponde à realidade. Pelas Figuras de 9 a 13, verifica-se diferenças entre
as feições de microrelevo das cinco áreas analisadas, porém, em termos numéricos, a maior diferença
entre os resultados de RR2 corresponde a 0,055 centímetros. Desta forma, a metodologia proposta por
Allmarras et al. (1966) apresenta baixa sensibilidade às diferentes superfícies.

No caso do método de Allmaras et al. (1966) modificado (RR 5), os resultados obtidos foram maiores,
facilitando a comparação e interpretação dos mesmos. Este método é melhor que o original uma vez que
não tenta eliminar a influência de técnicas agrícolas através da correção individual das leituras de campo.
Entretanto, ainda apresenta baixa variabilidade entre os resultados, o que pode dificultar a utilização do
mesmo como um geoindicador.

A primeira metodologia de Currence e Lovely (1970), por sua vez, apresentou os maiores resultados com
unidade de medida, sendo o maior 6,6 e o menor 4,8 centímetros. Ao observamos as Figuras 9 a 13,
observamos, todavia, que a variação da rugosidade superficial entre as cinco áreas não é tão intensa, o
que nos leva a questionar a adequabilidade dessa metodologia. A segunda proposta desses mesmos
autores, por sua vez, apresentou valores um pouco mais baixos, mas ainda foi capaz de representar a
variação entre os diferentes cenários avaliados. A diferença entre esses métodos compreende que o
primeiro (RR3) compreende apenas o desvio padrão das leituras de altura relativa, enquanto o segundo
(RR4) envolve a correção individual dessas medidas, com o objetivo de eliminar a influência de técnicas
agrícolas e da declividade.

Avaliando ainda as duas metodologias propostas por Currence e Lovely (1970), tomando-se as áreas 2 e
3, por exemplo, verifica-se que o primeiro apresenta RR3 mais baixo e RR4 mais alto comparado a
segunda. Em termos de vegetação as duas são parecidas, embora técnicas de manejo agrícola sejam
mais presentes na primeira. Entende-se assim que a maior adequabilidade de um método sobre o outro
relaciona-se à intenção, ou não, de minimizar a influência de técnicas agrícolas.

Em termos de comparação com a bibliografia, diferentes autores, considerando de diferentes métodos,


obtiveram resultados de rugosidade randômica. Currence e Lovely (1970), por exemplo, com métodos
distintos, obtiveram resultados variando entre 0,3 e 3,4 centímetros. Mais recentemente, Rolim et al.
(2013) avaliou solos brasileiros e obteve valores entre 1,62 e 3,16 centímetros. Sendo assim, dentre as
metodologias avaliadas neste trabalho, verifica-se que as duas propostas por Currence e Lovely (1970)
apresentaram os melhores resultados, sobretudo a segunda (RR4).

Avaliando assim apenas os resultados de RR4 em função das diferentes condições de uso e cobertura
vegetal, observa-se que o maior valor de rugosidade randômica (Área 1) está relacionado à uma área
compactada e com presença de processos erosivos; enquanto o de menor valor (Área 3) associa-se à
uma área de cobertura de gramíneas. No primeiro caso a rugosidade é alta em função da presença de
sulcos, enquanto que na Área 3 este índice é baixo em função de uma maior homogeneidade da
superfície.

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GEOTECNIA AMBIENTAL, PLANEAMENTO E SUSTENTABILIDADE | 16 CNG

Por outro lado, em função da alteração das condições ambientais naturais, a Área 3 também está
associado à modificações intensas, uma vez que nesta área, anteriormente, havia presença de um canal
de drenagem, cuja nascente, atualmente, localiza-se a jusante. Sendo assim, seria necessário avaliar as
condições de rugosidade randômica de uma área livre de influência antropogênica, antes de associar
esses resultados diretamente à presença ou ausência de alterações ambientais.

Por outro lado, maiores valores de rugosidade, dependendo das condições do mesmo, podem estar
associados à uma maior capacidade de armazenamento superficial da água da chuva, o que favorece os
processos de infiltração, em detrimento da geração do escoamento superficial. Sendo assim, confirmados
aspectos como a direção das depressões do microrelevo em função da direção do fluxo superficial, pode-
se associar os valores mais altos de rugosidade randômica ao favorecimento do processo de infiltração e
retardamento do início do escoamento superficial, o que implica em maior manutenção da recarga e
disponibilidade hídrica de uma região.

5.2. Quanto ao uso da rugosidade randômica como geoindicador

O conceito de geoindicador, tratado inicialmente pela União Internacional de Ciências Geológicas - IUGS,
em 1992, determina que estes são medidas de processos geológicos superficiais ou próximos à
superfície, e de outros fenômenos, que variam significativamente num período de 100 anos, de modo a
fornecer informações úteis para a gestão do meio ambiente (BERGER, 1996). Em termos práticos,
espera-se que indicadores ambientais, de qualquer tipo, permitam a identificação de alterações no meio
ambiente e suas consequências, de forma simples, com confiabilidade científica, e, sobretudo, que sejam
de fácil compreensão para os diferentes usuários (NEIMANIS E KERR, 1996).

A partir desse pressuposto, verifica-se que os resultados de rugosidade randômica obtidos a partir da
segunda metodologia de Currence e Lovely (1970) apresentaram bons resultados. Apesar da amplitude
dos resultados não ser grande, variando apenas entre 1,8034 e 2,4015 centímetros, estes apresentam
sensibilidade suficiente para indicar quais áreas possuem maior ou menor rugosidade, o que não ocorreu
com o método de Allmaras et al. (1966), por exemplo. Além disso, a execução do ensaio, utilizando-se o
rugosímetro de pinos, é bastante simples e barata, permitindo assim o levantamento de muitos dados em
pouco tempo, e ainda a repetição do mesmo ao longo de diferentes períodos.

Apesar da rugosidade randômica não corresponder a um processo geológico propriamente dito, conforme
apresentado anteriormente, este parâmetro encontra-se intimamente associado à aqueles relacionados
aos fenômenos de escoamento superficial, infiltração e armazenamento superficial da água da chuva.
Sendo assim, frente aos problemas ambientais identificados na área de estudo, sobretudo aqueles
associados à diminuição da disponibilidade hídrica, a rugosidade randômica apresenta grande potencial
como geoindicador.

6. CONCLUSÃO

A partir desse estudo, foi possível verificar que a utilização do rugosímetro de pinos, apesar da
simplicidade do método, foi bastante eficiente em levantar dados de qualidade, sobretudo quando
associados à metodologia para o cálculo do índice de rugosidade randômica adequada. Nesse sentido,
dentre aquelas avaliadas, verificou-se que o segundo metodologia de Currence e Lovely (1970) gerou os
melhores resultados.

Em função das características ambientais da área de estudo, associadas aos diferentes tipos de uso e às
técnicas de manejo empregadas, verificou-se alterações significativas dos componentes e funções
ambientais, sobretudo em relação à diminuição da disponibilidade hídrica.

Uma vez estabelecida a relação entre a rugosidade randômica e a disponibilidade hídrica, justifica-se a
adoção desse parâmetro como um geoindicador de alterações nos processos de manutenção da recarga
das águas sub e superficial. Por outro lado, os resultados de rugosidade randômica, obtidos por todos os
métodos analisados, não apresentaram grande variação entre seus valores; o que pode comprometer sua
eficiência como geoindicador, uma vez que seria difícil para o usuário leigo avaliar as diferenças
ambientais representadas.

Entre prós e contras, a utilização da rugosidade randômica como geoindicador pode ser considerada
adequada. De modo a compensar suas deficiências, podem ser adotados valores de referência, que
facilitem a interpretação dos resultados. Ou ainda, pode-se adotar a orientação de que a comparação dos
resultados deva ser realizada sempre para uma mesma área, variando-se apenas os períodos de tempo
das análises.

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Sobre o processo de escolha de geoindicadores, este trabalho permitiu verificar que, antes de decidir qual
parâmetro deverá ser avaliado, deve-se determinar qual tipo de alteração ambiental se deseja avaliar.
Dessa forma, pode-se escolher parâmetros bastante específicos que serão mais eficientes para avaliar o
grau de degradação dos componentes ou de uma função ambiental específica. A adoção de
geoindicadores que reflitam diferentes tipos de alterações ambientais, a princípio, pode parecer mais
interessante, pois o monitoramento de apenas um aspecto fornecerá diferentes informações. Porém, se
esse geoindicador não for específico o suficiente para identificar de forma pontual qual o principal fator
ambiental alterado, a decisão sobre medidas de recuperação pode ser dificultada.

REFERÊNCIAS

Allmaras, R. R., Burwell, R. E., Larson, W. E. e Holt, R. F. (1966) - Total porosity and randon roughness of the interrrow
zone as influenced by tillage. USDA Conserv. Res. Rep. 7: 1-22.

Berger, A. R. (1996) - The geoindicator concept and its application: An introduction, In: Berger, A. R., Iams, W. J. (eds)
Geoindicators: Assessing rapid environmental changes in Earth systems. Balkemia, Rotterdam, pp 1-14.

Currence, H. D. e Lovely, W. G. (1970) - The analysis of soil surface roughness. Transactions of the ASAE. 13: 710-
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Köpen, W. (1948). Climatologia, com um Estudio de los Climas de la Tierra. Mexico: Fondo de Cultura Economica,
478p.

Kuipers, H. (1957) - A relief meter for soil cultivation studies. Neth. J. Agric. Sci. 5:255-262.

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Paulo.

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ANÁLISE DA INSTRUMENTAÇÃO DA INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA DE


NEVES-CORVO

ANALYSIS OF THE INSTRUMENTATION OF NEVES-CORVO MINE WASTE


INSTALLATION

Cruz, Beatriz; Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, cruzbcunha@gmail.com


Quinta-Ferreira, Mário; Centro de Geociências, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, mqf@dct.uc.pt
Oliveira, Mafalda; Somincor, Neves-Corvo, mafalda.oliveira@lundinmining.com

RESUMO

O presente artigo aborda a análise da instrumentação do Corpo Principal da Instalação de Resíduos de


Cerro do Lobo da Somincor (Sociedade Mineira Neves-Corvo, SA). Esta instalação é uma barragem de
enrocamento que acomoda os resíduos mineiros provenientes da produção de concentrados de cobre, zinco
e chumbo da Mina de Neves-Corvo, sendo essencial para o funcionamento da mina. Estes resíduos são
prejudiciais para o ambiente, o que a torna uma instalação de alto risco, pelo que é fundamental o controlo
e manutenção do seu bom funcionamento. A análise e interpretação dos dados provenientes da medição
dos instrumentos geotécnicos (marcas superficiais, inclinómetros, piezómetros e medição de caudais)
considerou as fases de construção, os trabalhos feitos no último alteamento e as características dos
materiais de aterro. Muitos dos instrumentos compreendem dados entre 1992 e finais de 2016. A
interpretação dos dados contribuiu para avaliar a estabilidade e segurança do Corpo Principal da Instalação
de Resíduos de Cerro do Lobo, confirmando a importância da contínua monitorização e controlo.

ABSTRACT

This paper deals with the stability of the main embankment of the dam of the Cerro do Lobo Tailings
Storage Facility of Somincor (Sociedade Mineira Neves-Corvo, SA). This facility is a rockfill dam that
accommodates the tailings from copper, zinc and lead concentration process at Neves-Corvo mine. Since
the tailings are dangerous to the environment, the facility is a high-risk installation, therefore its control
and maintenance is critical. The analysis and comparison of the data set obtained by the geotechnical
instrumentation (topography, inclinometers, piezometers and flow measurement) took into account the
construction phases, the last rising and the characteristics of the embankment materials. The majority of
the instruments have data since 1992 until the end of 2016. The interpretation of the results allowed to
validate the stability of the Cerro do Lobo Tailings Facility, confirming the importance of continuous
monitoring and control.

1- INTRODUÇÃO

No presente trabalho procura-se analisar os dados da instrumentação da Instalação de Resíduos do Cerro


do Lobo (IRCL), que está integrada no complexo mineiro de Neves-Corvo, sendo gerida pela empresa
Somincor, subsidiária da Lundin Mining, recorrendo ao histórico de registos efetuados desde o início de
atividade da IRCL. Para atingir este objetivo foi necessário juntar informação diversa, que se encontrava
dispersa e guardada em vários meios de suporte, e construir bases de dados ao longo do tempo, recorrendo
a folhas de cálculo. Esta base de dados permitiu analisar e interpretar os dados existentes numa perspetiva
temporal, procurando, sempre que possível a sua representação gráfica na posição real em relação à
estrutura do aterro, de modo a facilitar a análise e interpretação da informação. Selecionou-se o perfil mais
representativo da IRCL de modo a ilustrar e a entender os aspetos relevantes do comportamento da
estrutura.

A instalação de armazenamento de resíduos mineiros, existente na Somincor, classifica-se como Instalação


da Classe A, a classe mais exigente do ponto de vista de projeto, construção, gestão, monitorização,
manutenção e encerramento, de acordo com a legislação em vigor. A gestão destes resíduos, não sendo o
“core business” da empresa, representa um encargo financeiro muito elevado que em muitos casos poderá
decidir a sustentabilidade da operação (Oliveira, 2017). A avaliação do comportamento e estabilidade dos
aterros da IRCL é, pois, crítica para a atividade mineira na Somincor.

Os principais objetivos do trabalho foram: descrever a estrutura da IRCL, os seus constituintes e as fases
de construção; compreender o propósito da instrumentação utilizada na IRCL; interpretar os resultados da
instrumentação previamente selecionada; e avaliar as interpretações obtidas para apreciação da
estabilidade da estrutura.

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2- A INSTALAÇÃO DE RESÍDUOS DA MINA NEVES-CORVO

A IRCL está situada no concelho de Almodôvar, distrito de Beja, tendo sido construída recorrendo a uma
barragem de enrocamento. Tem como finalidade acomodar os resíduos mineiros, nomeadamente o
escombro e os rejeitados resultantes das operações de extração de minério e da produção de concentrados
de cobre, zinco e chumbo. Inicialmente foi construída para a deposição subaquática de rejeitados, com
descarga nula para o meio ambiente, minimizando os impactes ambientais. Atualmente é efetuada a
deposição subaérea de rejeitados espessados. A IRCL é constituída pela Barragem Principal, dividida em
corpo principal e portela, e por 3 portelas, 1 na margem direita (MD) e duas na margem esquerda (ME1 e
ME2) (Figura 1). As características de cada portela apresentam-se no Quadro 1.

Figura 1 – Planta da Instalação de Resíduos do Cerro do Lobo (IRCL)

Quadro 1 - Características das portelas da IRCL (adaptada da Cenorgeo, 2005a)


Corpo de aterro Símbolo Ponto quilométrico (PK) Extensão Altura máxima
no eixo da barragem (m) (m)
Portela da Margem Direita MD 0+020 0+412 432 11
Barragem Corpo Principal CP 0+412 1+062 650 42
Principal Portela PCP 1+729 2+030 590 13
Portela da Margem Esquerda 1 ME1 1+729 2+030 301 17
Portela da Margem Esquerda 2A ME2A 2+150 2+650 500 12
Portela da Margem Esquerda 2B ME2B 2+650 2+980 330 6
Portela da Margem Esquerda 2C ME2C 2+980 3+270 290 5
Barragem Monte Branco BMB 3+270 3+504 234 7

3- FASES DE CONSTRUÇÃO

A Somincor estipulou como limite prático para a construção da IRCL a cota final do coroamento de 255 m,
tendo sido realizados três alteamentos como se ilustra no Quadro 2, de modo a albergar o volume de
rejeitado face às exigências de produção da Mina. Pela dificuldade associada a um 4º alteamento, a
Somincor teve que alterar o modo de deposição dos rejeitados, tendo-se desenvolvido o Projeto da Pasta
que consiste no espessamento dos rejeitados, possibilitando o aumento da capacidade de armazenamento
da albufeira. No final de 2010 a deposição de rejeitados passou de subaquática para subaérea. Para além
disso o uso de camadas de escombro para cobertura de áreas de deposição esgotadas permite o
encerramento progressivo da instalação durante a fase operacional da Mina (Oliveira, 2015).

Na 4ª fase de construção, a IRCL manteve o carácter zonado das fases antecedentes, ou seja, um aterro
de enrocamento zonado e impermeabilizado (Figura 2). A geomembrana de impermeabilização é de alta
densidade (PEAD) de textura rugosa com 2 mm de espessura, soldada à geomembrana da fase anterior,

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assente sobre o filtro de areia e ligada ao maciço rochoso por um plinto em betão armado, nas zonas de
extensão lateral dos aterros (Hidroprojeto, 2002).

As águas de percolação do corpo dos aterros e da fundação são recolhidas através de um filtro subvertical
a jusante do núcleo, e da geomembrana que se estende por tapetes drenantes. Estes foram associados a
uma trincheira drenante no corpo principal, realizada ao longo do pé da instalação, a jusante, que permitia
a concentração das águas de infiltração que são bombeadas de volta para a albufeira. A recirculação da
água foi um método adotado desde a 2ª fase, com a finalidade de proporcionar a coerência ativa entre as
afluências e a evaporação com o aumento expectável do nível do sobrenadante devido a caudais crescentes
(Hidroprojeto, 2002).

Quadro 2 - Características específicas das fases de construção da IRCL (Hidroprojeto, 2002)


Fases de construção Cota do Volume de Nível de Armazenamento Ano de
coroamento armazenamento NPA conclusão
(m) (m3) (m)
1ª Fase 244 6x106 1988
2ª Fase - 1º alteamento 248 11x106 246,75 1990
3ª Fase - 2º alteamento 252 15x106 250,50 1993
4ª Fase - 3º alteamento 255 20,4x106 253,50 2005

O descarregador de cheias situa-se no encontro esquerdo da barragem de Monte Branco e possui uma
soleira reta com 25 m de largura cuja crista está à cota de 253,50 m. Inicialmente a descarga de fundo
tinha como finalidade a difusão das águas armazenadas na albufeira para a ribeira, contudo a natureza da
água não preenchia os requisitos de qualidade pré-estabelecidos para a sua receção para o meio ambiente.
Como a captura de água teria que ser sub-superficial, uma vez que a deposição de rejeitados era
subaquática, a descarga de fundo foi selada em 1993 (Hidroprojeto, 2002), tendo sido substituída por uma
descarga auxiliar em sifão.

4- MATERIAIS DOS ATERROS

Os materiais de aterro utilizados na construção do Corpo Principal da Instalação de Resíduos de Cerro do


Lobo estão sintetizados no Quadro 3, cujos números correspondem aos materiais na Figura 2 onde se
esquematiza a constituição do Corpo Principal.

Quadro 3 – Características dos materiais dos aterros (Cenorgeo, 2005b)


Enrocamento de granulometria extensa como aterro principal, designado por
material Pj (3 e 4)
Enrocamentos de grauvaques Enrocamento grosseiro (rip-rap) do revestimento do paramento de jusante e
britados das pedreiras dos da esteira para tubagens ao longo do coroamento, designado por material Pj’
Porteirinhos e dos Gorazes e que foi obtido por seleção do material Pj. (6 e 7)
Enrocamento de proteção para o paramento de montante, designado por
material R
Gravilha 2A para o dreno do pé da barragem adquirida no areeiro da
Burgausado em Santa Margarida do Sado (5)
Areia grossa para a camada de assentamento da geomembrana, designada
Filtros e drenos granulares obtidos por material F, adquirida também no areeiro da Burgausado (8 e 10)
em areeiros Areia fina para a camada de proteção e de ancoragem da geomembrana,
designada por material F’, proveniente do areeiro da Somincor em Vale do
Guizo (8 e 10)
Solo-enrocamento Escombro de granulometria extensa utilizado em aterro a montante da
em material de escombreiras geomembrana, designado por material E, proveniente das escombreiras
existentes junto às instalações da mina.
Mistura entre areia-bentonite Areia fina do Vale do Guizo misturada com bentonite na proporção igual ou
superior a 8% do peso da areia designada por mistura F’+B
Material de pedreira para Base de granulometria extensa 0/40 mm obtido por britagem dos grauvaques
pavimentação do coroamento da IRCL da pedreira, designado por “tout-venant de pedreira”

O controlo de qualidade e de aplicação destes materiais foram efetuados através de ensaios


granulométricos, de ensaios de garrafas de areia, de ensaios macros e de ensaios Proctor. Previamente,
foi feito um aterro experimental para verificação do comportamento dos materiais (Hidroprojeto, 2002).

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5- INSTRUMENTOS GEOTÉCNICOS

Os instrumentos geotécnicos fazem parte do plano de monitorização da IRCL. Este plano de monitorização
fundamenta-se na legislação nacional: Regulamento de Segurança de Barragens RSB (Decreto-Lei nº
344/2007); Normas para Observação e Inspeção de Barragens NOIB (Portaria nº 847/93); Gestão de
resíduos das explorações de depósitos minerais e massas minerais (Decreto – Lei nº 10/2010, alterado
pelo Decreto – Lei nº 31/2013). O plano de monitorização está direcionado para a aquisição de dados sobre
os deslocamentos e as pressões neutras no corpo do aterro e na sua fundação (Cenorgeo, 2005a).

Figura 2 - Perfil transversal do Corpo Principal da IRCL (Hidroprojeto, 2002)

Os instrumentos geotécnicos empregues na monitorização incluem marcas superficiais (MS), inclinómetros


(I), piezómetros pneumáticos (Pp), piezómetros hidráulicos (Ph), piezómetros hidráulicos do tipo
Casagrande (PCL) e medidores de caudais de infiltração (IBR). O tipo de inclinómetro utilizado é uma sonda
biaxial. Os piezómetros de tubo aberto monitorizam o nível freático a jusante da IRCL. Os caudais de
infiltração são controlados em poços (IBR) equipados com uma bomba regulada para arranque e paragem
por meio de um sistema de boias. As águas recolhidas em cada poço são bombeadas para a albufeira. A
medição dos caudais bombeados é feita por caudalímetros.

6- RESULTADOS

Devido à enorme quantidade de dados de instrumentação existente para o IRCL e à impossibilidade de os


apresentar integralmente neste trabalho, optou-se por apresentar apenas elementos do corpo principal,
pois esta é a zona mais crítica para o comportamento da IRCL. Dos 5 perfis de observação existentes no
corpo principal (PO2, PO3, PO4, PO5 e PO6) escolheu-se para apresentação em pormenor o perfil PO5
(Figura 1) que é simultaneamente o que tem maior altura e o que possui mais instrumentação: 6 Pp na
fundação e 7 no aterro, 3 Ph na fundação e 2 no aterro, 12 PCL, 8 IBR e 2 inclinómetros. Utilizaram-se
também as 18 MS implantadas ao longo do corpo principal. Sempre que possível procura-se apresentar os
dados ao longo do tempo e na posição real em relação à estrutura do aterro, de modo a facilitar a
interpretação gráfica da informação.

6.1 - Marcas superficiais

A monitorização dos deslocamentos superficiais da IRCL é feita com 41 marcas superficiais, separados em
média 50 m (Cenorgeo, 2005b). As marcas superficiais presentes no coroamento do Corpo Principal são
18, apresentando-se na Figura 3 os assentamentos do aterro. Observam-se maiores deslocamentos na
MS7, MS10, MS13, MS16 e MS19, pelo que se pode considerar que os assentamentos são dependentes da
altura de aterro. Os maiores assentamentos chegam aos 75 mm, correspondendo a menos de 0,2% de
deformação vertical. As deformações máximas mostram ainda não estar estabilizadas, com valores
rondando os 5 mm/ano.

6.2 - Inclinómetros

O perfil de observação PO5 possui dois inclinómetros (Figura 4): o inclinómetro I2 e o inclinómetro I3.
Ambos se situam no PK0+850, contudo o I2 situa-se no coroamento do Corpo Principal com a cota da boca

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aos 255,62 m e a base aos 210,10 m; o I3 se situa na 1ª banqueta com a cota da boca aos 245,51 m e a
base aos 211,00 m. No Quadro 4 sintetizam-se os terrenos atravessados pelos inclinómetros.

Os resultados do inclinómetro I2 (Figura 5) mostram um movimento negativo à superfície de -10 mm, que
vai diminuindo até 4 m de profundidade. A partir dos 4 m, o deslocamento é positivo aumentando
gradualmente até um máximo de 30 mm, aos 21 m de profundidade. Para maiores profundidades os valores
tendem a diminuir progressivamente até aos 39 m de profundidade, ou seja dois metros acima do tapete
drenante. Dos 30 aos 33 m de profundidade, observa-se um ressalto ligeiro para o exterior do aterro, de
10 a 15 mm. Dos 39 aos 42 m de profundidade, o deslocamento torna-se ligeiramente negativo e a partir
do contacto aterro/fundação, o deslocamento é nulo.

Figura 3 - Deslocamentos verticais acumulados do Corpo Principal e localização das marcas superficiais (adaptado
Somincor, 2016)

Figura 4 - Localização dos inclinómetros I2 e I3 do Corpo Principal (Cenorgeo, 2005b)

Para o inclinómetro I3 (Figuras 4 e 5), mais curto que o I2, e até aos 21 m, o deslocamento é praticamente
inexistente nas primeiras 3 medições de 2006. Nas medições mais recentes o deslocamento na boca do
inclinómetro ronda os 20 mm, aumentando até os 30 mm aos 12 m de profundidade. Depois possui ligeira
curvatura, diminuindo a deformação para 15 – 20 mm até aos 21 m. Aos 22 m de profundidade, apresenta
um pico acentuado de 30 - 35 mm. Para maiores profundidades diminui acentuadamente até os 15 mm,

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aos 23 m, diminuindo gradualmente a deformação até próximo dos 30 m onde passa a apresentar
deslocamentos nulos. O eixo B apresenta maiores deslocamentos à superfície com cerca de -5 mm,
tendendo a diminuir progressivamente com a profundidade até valores nulos.

Pode inferir-se que o deslocamento negativo entre o zero e os 4 m de profundidade no I2 se deverá ao


movimento global do aterro que, ao deformar-se para jusante a alturas intermédias (entre os 6 e os 39 m,
mas mais pronunciado entre os 17 e os 22 m), tende a deslocar para montante o material superficial Pj,
devido à carga exercida na barragem pelos materiais descarregados na albufeira do IRCL. O eixo B não
possui variações significativas. Pelas observações dos inclinómetros I2 e I3 pode-se considerar que o corpo
principal apresenta pequenas deformações que se encontram perfeitamente controladas e que os máximos
deslocamentos horizontais rondam, em média, os 3mm/ano.

Figura 5 - Deslocamento cumulativo nos eixos A e B dos inclinómetros I2 e I3

Quadro 4 - Terrenos intersectados pelos inclinómetros I2 e I3 (adaptado de Cenorgeo, 2005b)


Inclinómetro I2 Inclinómetro I3
Troço perfurado (m) Descrição dos terrenos Troço perfurado (m) Descrição dos terrenos
0,00 – 6,00 Aterro de enrocamento, 0,00 – 6, 00 Aterro de enrocamento,
material Pj material Pj
6,00 – 41,00 Aterro de escombro, material E 6,00 – 31,50 Aterro de escombro, material E
41,00 – 41,50 Areia do tapete drenante 31,50 – 32,00 Fundação, xisto alterado,
existente brando
41,50 – 42,00 Fundação, xisto alterado, 32,00 – 34,00 Fundação, xisto são ou pouco
brando alterado
42,00 – 44,50 Fundação, xisto são ou pouco
alterado

6.3 - Piezómetros no Corpo Principal e na fundação

O perfil de observação PO5 do Corpo Principal possui instalados numerosos piezómetros de modo a
abrangerem as várias zonas do corpo da barragem incluindo o núcleo, o maciço estabilizador de jusante e
a fundação. Selecionaram-se alguns piezómetros considerados mais ilustrativos, apresentando-se os

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resultados por grupos de piezómetros no aterro (Figura 6), na fundação (Figura 7) e no terreno natural
imediatamente a jusante (Figuras 8 e 9). Para além da variação piezométrica entre 1992 e 2016, apresenta-
se também o nível de água na IRCL.

Na Figura 6-a apresenta-se a variação ao longo do tempo dos piezómetros pneumáticos Pp14, Pp15, Pp16
e Pp17 situados no núcleo argiloso. Os Pp14 e Pp15 situam-se do lado de montante, enquanto os Pp15 e
Pp16 se situam do lado de jusante do núcleo. Nota-se para os 4 piezómetros que o aumento da cota
piezométrica tem relação positiva com a subida do nível de água no IRCL, associado às várias fases de
alteamento. Observa-se ainda que as cotas dos piezómetros de montante (Pp14 e Pp15) exibem
genericamente valores cerca de 12 m acima dos valores medidos nos piezómetros Pp16 e Pp17, mais a
jusante, demonstrando que o núcleo está a cumprir as suas funções ao criar perda de carga. O aumento
anormal da cota piezométrica no Pp17 em 2011 não parece ter uma causa relacionada com a subida de
água no IRCL nem com a precipitação. O Pp15, em 1993, apresenta uma diminuição de valores,
provavelmente pela finalização do 2º alteamento, aumentando depois para cotas genericamente abaixo de
240 m até 2008. A partir desta data o nível piezométrico ultrapassa a cota 240 m mostrando que a cota
piezométrica a montante tem relação com a carga hidráulica.

a)

b)

c)

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Figura 6 – Variação no tempo dos piezómetros pneumáticos no Corpo Principal do IRCL, de montante para jusante. a)
Pp14, Pp15, Pp16 e Pp17; b) Pp20 e Pp23; c) Ph29

Os Pp23 e Pp20 situam-se no aterro de jusante, imediatamente acima do tapete drenante (Figura 6-b),
apresentando genericamente valores semelhantes. Inicialmente o nível piezométrico intersecta a cota da
ponteira, tendendo a subir com o aumento da altura da água no IRCL. No Pp20 o comportamento oscila
entre a cota da ponteira e a cota 220 m. O pico mais acentuado atinge a cota de 225,66 m, em junho de
1998. Depois mantém-se entre a cota 220 m e a cota da ponteira até dezembro de 2006 e ultrapassa a
cota 220 m com oscilações ligeiras, que não excede a cota 221 m. O Pp23 apresenta um pico assinalável
em 2001, mantendo-se no restante muito próximo da evolução do Pp20. O alteamento do IRCL e a subida
do nível de água no IRCL fez subir a cota piezométrica dos Pp20 e Pp23. A diferença entre o nível
piezométrico nos Pp 20 e Pp23 e a cota das ponteiras é inferior a 2 m, e a diferença entre o nível
piezométrico e o nível de água da IRCL é da ordem dos 31 m.

O Pp29 está localizado no maciço estabilizador de jusante, na zona correspondente ao segundo alteamento,
à cota 23,85 (Figura 6-c). A cota piezométrica é muito constante entre 2005 e 2016, correspondendo
genericamente à cota da ponteira.

Apresenta-se na figura 7-a a variação no tempo dos piezómetros Pp18 e Pp19 situados na fundação abaixo
do núcleo impermeável do Corpo Principal. Salvo algumas exceções pontuais, os dois piezómetros
apresentam valores muito próximos, com o piezómetro mais profundo (Pp19) a apresentar valores
ligeiramente mais elevados, mas ambos refletindo o aumento do nível de água no IRCL, o que é claramente
visível em 1996 e em 2006. A diferença de cota entre o nível de água no IRCL e nos piezómetros Pp18 e
Pp19 ronda os 20 m. A cota piezométrica atual está ligeiramente acima da cota 230 m.

Os piezómetros Pp21 e Pp22 situados na fundação imediatamente a jusante do núcleo (Figura 7-b), exibem
menor carga hidráulica que os piezómetros por baixo do núcleo. Esta redução está dependente da distância
ao tapete drenante, pois o piezómetro mais profundo (Pp22) apresenta maior carga hidráulica, rondando
a cota 225 m, enquanto no piezómetro Pp21 ronda os 220 m, o que é ligeiramente acima da cota do tapete
drenante. A variação entre a cota da ponteira do Pp21 e o nível piezométrico é de 8,77 m e entre o nível
piezométrico e o nível de água da IRCL é de 32,15 m. A redução inicial de cota no Pp21 deverá estar
associada à melhoria das medidas de drenagem efetuadas no início da utilização do IRCL. O Pp 22 situa-
se na fundação a 9,37 m de profundidade abaixo do Pp21, e a variação entre a cota da ponteira e o nível
piezométrico é de 24,39 m e entre o nível piezométrico e o nível de água da IRCL é de 26,17 m. Na Figura
7-b apresenta-se o Pp20 para termo de comparação pois este piezómetro encontra-se no maciço
estabilizador de jusante, acima do tapete drenante. A comparação do Pp21 com o Pp22 mostra que há um
fluxo ascendente em direção ao tapete drenante na fundação do Corpo Principal. Mostra ainda que o tapete
drenante está a cumprir a sua função ao reduzir a pressão neutra para cotas próximas da do próprio tapete
drenante, pois tem ainda que haver gradiente hidráulico capaz de promover o fluxo para o exterior da
estrutura do IRCL, a jusante. O Pp22, a jusante do núcleo, poderia exibir uma menor pressão, mas a
ausência de cortina de impermeabilização e de drenagem na fundação não favorece a redução das pressões
neutras.

Os Pp24 e Pp25, situados por baixo do maciço estabilizador de jusante construído no segundo alteamento,
já apresentam cotas piezométricas muito reduzidas e próximas da cota do tapete drenante. Mais uma vez
o piezómetro mais profundo (Pp25) apresenta cotas mais elevadas evidenciando o fluxo ascendente na
fundação, em direção ao tapete drenante.

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6.4 - Piezómetros a jusante do Corpo Principal

No terreno natural a jusante do Corpo Principal da barragem foram instalados 12 PCL ao longo do tempo
de vida do IRCL, em que por razões diversas, alguns apresentaram interrupções de funcionamento (Figura
8), dificultando uma análise contínua. Como exemplo ilustrativo das condições piezométricas existentes a
jusante do Corpo Principal apresentamos na Figura 9 e Quadro 5 as medições efetuadas nos PCL1, PCL2,
PCL3 e PCL11. Os 3 primeiros PCL têm registos entre 1991 e 2016, enquanto o PCL11 com registo entre
08/2003 a 12/2010, apresentando uma interrupção das leituras, que reiniciam a 01/2013, estendendo-se
os dados analisados até 11/2016 (Figura 8). A partir de 09/2014 considera-se que algumas leituras do
PCL11 são inválidas devido a uma acentuada diminuição da pressão que é provocada por problemas no
piezómetro, pelos que esses valores não foram considerados.

Os registos mostram que os PCL1, PCL2 e PCL3, com cotas das bocas rondando os 224 m, tendem a
apresentar grande regularidade nos valores piezométricos, excetuando-se algumas variações pontuais de
poucos metros, e a ocorrência em 1998, para o PCL3, de um incremente de cota piezométrica de 8 m, com
um comportamento artesiano em cerca de 1 m acima da boca do PCL3. Já para o PCL11, com a cota da
boca aos 214,94 m, as pressões medidas são sempre artesianas. O terreno natural a jusante do Corpo
Principal, onde se situam os PCL1 a PCL12 possui uma piezometria elevada, mesmo artesiana, mas como
se localiza a jusante do aterro e a base deste se encontra drenada não tem constituído problema para a
estabilidade do aterro.
a)

b)

c)

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Figura 7 – Variação no tempo dos piezómetros na fundação do Corpo Principal do IRCL, de montante para jusante. a)
Pp18 e Pp19; b) Pp20, Pp21 e Pp22; c) Pp24 e Pp25

Quadro 5 - Cotas e dados de pressão de alguns PCL


Cotas (m) PCL1 PCL2 PCL3 PCL6 PCL11
Terreno (z) 224,54 224,20 223,96 214,82 214,94
Ponteira 204,54 214,20 203,96 204,82 194,94
Nível piezométrico (m)
Média 219,15 220,38 216,51 221,18 217,76
Máximo 224,54 224,54 224,54 222,82 219,74
Mínimo 214,67 218,84 215,39 220,02 214,94

Figura 9 – Evolução piezométrica de alguns PCL situados a jusante do Corpo Principal

Os PCLs com artesianismo repuxante indicam a possível presença de um aquífero confinado. O PCL com
pressão artesiana mais elevada é o PCL6 a jusante do Corpo Principal, com 0,8 bar, correspondendo à cota
222,82 m. Ao relacionar esta cota com a cota do coroamento, há uma diferença de 32,18 m.

6.5 - Caudais de infiltração

Neste tópico apresentam-se apenas dois exemplos caudais de infiltração referentes ao IBR5 e ao IBR5A,
localizados próximo um do outro (Figura 10).

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O IBR5 é um dos mais antigos da IRCL, localizado no leito da ribeira, à saída do tapete drenante do Corpo
Principal da IRCL. Capta águas de percolação e de infiltração coletadas por tapete drenante e por dreno de
pé. A relação entre a precipitação e o caudal do IBR5 nem sempre é claramente visível, aparentando maior
dependência com o nível de água na albufeira. Apesar disso os picos de precipitação são geralmente
acompanhados de picos nos caudais do IBR5. A redução do caudal verificada em 1993 e em 2005, seguida
de um considerável aumento do caudal esteve relacionada com as obras do 2º alteamento, em 1993 e do
3º alteamento em 2005. O aumento registado em janeiro de 1996 foi devido à precipitação atmosférica
(Cenorgeo, 2005a).

O IBR5A capta as águas de percolação e de infiltração recolhidas pelo dreno de pé do Corpo Principal, entre
o PK 0+587 e o PK 0+885, dos piezómetros PCL5 e PCL6 e de um dreno instalado sob o aqueduto AQ2
(Cenorgeo, 2005a). Tal como o IBR5, este IBR localiza-se na zona de acumulação de água e serve como
poço drenante para o rebaixamento do aquífero, possuindo também diques em material impermeável para
impedir a passagem da água para jusante (CENORGEO, 2005a). O IBR5A teve como finalidade medir e
captar as águas contaminadas e as águas do tapete drenante do lado direito da antiga descarga de fundo.
Os picos dos gráficos da figura 10 estão intimamente relacionados com a precipitação e com as estações
do ano, em que nos meses de outubro a abril, há elevada precipitação e reduzida evaporação, sendo o
caudal do IBR5A máximo nos picos de 12/2009 com caudal de 3,40 m3/h e em 12/2010 com caudal de
2,89 m3/h.

Figura 10 – Relação entre os caudais do IBR5 e do IBR5A com a precipitação mensal

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aborda a análise de diversos dispositivos de instrumentação existentes no Corpo Principal da


Instalação de Resíduos de Cerro do Lobo (IRCL) da SOMINCOR. Esta instalação é uma barragem de resíduos
mineiros provenientes da produção de concentrados de cobre, zinco e chumbo da Mina de Neves-Corvo.
Trata-se de uma instalação de alto risco, sendo fundamental a sua monitorização e o controlo. A
instrumentação geotécnica analisada inclui marcas topográficas, inclinómetros, piezómetros e caudais de
infiltração. A análise e a comparação dos dados selecionados abrangeram desde as fases de construção até
ao último alteamento, as características dos materiais de aterro e os dados meteorológicos. Muitos dos
instrumentos compreendem dados entre 1992 a finais de 2016. A deposição dos rejeitados espessados
teve início em 2010, mas como a IRCL recebe resíduos desde 1988, os parâmetros que possam ter sido
alterados devido ao novo método de deposição ainda não são muito percetíveis.

Em relação às marcas superficiais pode considerar que os assentamentos são proporcionais à altura do
aterro do corpo principal e que os máximos assentamentos rondam 75 mm, correspondendo a menos de
0,2% de deformação vertical. As deformações atuais apresentam valores rondando os 5 mm/ano.

Em relação aos inclinómetros observam-se deslocamentos máximos para jusante de 35 mm, sensivelmente
a meio do Corpo Principal, mas ao relacionar este deslocamento com a altura do aterro não é considerado
um fator de instabilidade. O valor máximo de deslocamento horizontal para jusante ronda os 3 mm/ano.

Para os quatro piezómetros do perfil PO5 colocados no núcleo, o aumento da cota piezométrica tem relação
positiva com a subida do nível de água na IRCL, associado às várias fases de alteamento. As cotas dos
piezómetros de montante exibem genericamente valores cerca de 12 m acima dos valores medidos nos
piezómetros de jusante, demonstrando que o núcleo está a cumprir as suas funções ao provocar perda de
carga. O aumento anormal da cota piezométrica no Pp17 em 2011 não parece ter relação com a subida de
água no IRCL nem com a precipitação. O Pp15, em 1993, apresenta uma diminuição de valores,
provavelmente pela finalização do 2º alteamento, aumentando depois para cotas genericamente abaixo de
240 m. A partir de 2006, o nível piezométrico ultrapassa a cota de 240 m e no início de 2008 interseta os

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valores de Pp14 mostrando que a cota piezométrica a montante tem relação com a carga hidráulica na
IRCL. Os piezómetros no maciço estabilizador de jusante apresentam valores com pequenas variações.

Os piezómetros que se situam na fundação alcançam cotas piezométricas relativamente elevadas, o que
pode justificar-se pela permeabilidade da fundação e pela inexistência da cortina de impermeabilização e
de drenagem. Na fundação do Corpo Principal, os piezómetros pneumáticos apontam para a existência de
um fluxo ascendente em direção ao tapete drenante na fundação da IRCL. Mostra ainda que o tapete
drenante está a cumprir a sua função ao reduzir a pressão hidráulica para cotas próximas da do próprio
tapete drenante. O facto de os piezómetros mais profundos na fundação terem níveis piezométricos mais
elevados provém da fundação ter menor permeabilidade que o tapete drenante na base do aterro,
rebaixando as pressões de água. Os valores medidos mostram que a drenagem da fundação cumpre a sua
função.

Os piezómetros hidráulicos de tubo aberto (PCL) existentes a jusante do Corpo Principal indicam que existe
uma recarga aquífera, causada pela pluviosidade e pelas águas de infiltração. Os PCLs com artesianismo
repuxante indicam a possível presença de um aquífero confinado. O PCL com pressão mais elevada é o
PCL6 (Figura 9) a jusante do Corpo Principal, com 0,8 bar, correspondendo a 222,82 m. Ao relacionar esta
cota com a cota do coroamento, há uma diferença de 32,18 m, não sendo prejudicial à estabilidade da
IRCL.

Os poços de infiltração (IBRs) recebem as águas captadas no sistema drenante interno do aterro, sendo
bombeadas para a albufeira. Os caudais afluentes aos IBRs são sensíveis à precipitação.

Concluiu-se que o corpo principal da IRCL se encontra estável, porém é imprescindível continuar a
monitorização e a interpretação da instrumentação de modo a assegurar a continuidade do bom
funcionamento e segurança da IRCL.

REFERÊNCIAS

Cenorgeo (2005a) - Relatório Final de Construção, Barragem de rejeitados do Cerro do Lobo – 4ª Fase de Construção,
Alteamento para a cota 255, Volume 1 – Memória descritiva da execução de trabalhos, Outubro 2005, CENORGEO.

Cenorgeo (2005b) - Relatório Final de Construção, Barragem de rejeitados do Cerro do Lobo – 4ª Fase de Construção,
Alteamento para a cota 255, Volume 6 – Observação da barragem, Controlo da instalação do sistema de
instrumentação da barragem, Outubro 2005, CENORGEO.

Decreto-Lei nº 344/2007 - Regulamento de Segurança de Barragens.

Decreto–Lei nº 10/2010 - Gestão de resíduos das explorações de depósitos minerais e massas minerais.

Decreto–Lei nº 31/2013 - Alteração ao Decreto-Lei n.º 10/2010.

Hidroprojeto (2002) - Relatório Barragem de Cerro do Lobo, 4ª fase de construção – Remodelação do projeto de
alteamento da barragem da cota 252 para a cota 255 – Projeto de Execução, Volume 1 – Memória descritiva e
justificativa, Dezembro 2002, Hidroprojeto.

Oliveira, M. (2015) - Seminário “Gestão, projeto, construção e encerramento de instalações de resíduos mineiros – A
problemática da gestão dos resíduos mineiros (SOMINCOR Mina Neves- Corvo)”, Auditório da Sede Nacional da
Ordem dos Engenheiros, Lisboa. 25 de Setembro de 2016
<http://www.ordemengenheiros.pt/fotos/dossier_artigo/20170127_moliveira_58580693354d3502c68934.pdf>

Oliveira, M. (2017) - O contributo da Somincor para a Economia Circular. Workshop Economia Circular em Geotecnia
Ambiental. 22 novembro. DEC-UC, Coimbra.

Portaria nº 847/93 - Normas para Observação e Inspeção de Barragens.

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ANÁLISE DA SEGURANÇA DE UM TALUDE DE MINERAÇÃO

SAFETY ANALYSIS OF A MINE SLOPE

Vecci, Andrea N.; PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, vecci@aluno.puc-rio.br


Sayão, Alberto S. F. J.; PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, sayao@puc-rio.br

RESUMO

Na prática geotécnica atual, a estabilidade de taludes é avaliada apenas com análises determinísticas,
para obter o valor do Fator de Segurança (FS). Esta análise é simplificada, pois fornece o valor de FS sem
considerar a variabilidade natural das características dos solos. Desprezar as incertezas relacionadas aos
parâmetros geotécnicos pode levar a resultados não confiáveis sobre a segurança do talude. Análises
probabilísticas, baseadas em conceitos de estatística, passam a ter uso mais frequente, pois permitem
incorporar a variabilidade do material. Sandroni e Sayão (1992) recomendam utilizar o método FOSM,
com base no método de Bishop, para obter o valor da probabilidade de ruptura (Pr) mantendo fixa, nas
análises probabilísticas, a superfície crítica de ruptura indicada na análise determinística inicial. Este
trabalho apresenta análises determinísticas e probabilísticas de um talude de 200m de altura da Mina do
Cauê, em Itabira, Minas Gerais, Brasil. Os resultados permitiram investigar a influência da variação da
superfície crítica determinística nos resultados probabilísticos. Considerando os métodos determinístico e
probabilístico usuais (Bishop Simplificado e FOSM, respectivamente propostos por Bishop (1955) e
Christian et al. (1992), observa-se que a fixação da superfície fornece valores de índice de confiabilidade
(β) e Pr análogos aos obtidos quando a superfície varia livremente. É também possível concluir que, ao
fixar a superfície crítica do talude, os resultados de β e Pr variam com o método de equilíbrio limite
adotado. Nas análises do talude da Mina do Cauê, reportadas no presente trabalho, foram testados os
métodos de Fellenius, Bishop, Janbu, Spencer e Morgenstern-Price.

ABSTRACT

In geotechnical practice, only deterministic analyses are performed in slope stability studies in order to
compute the Safety Factor (FS). This is a simplified procedure, as it provides FS values without
considering the natural variability of soil characteristics. Disregarding uncertainties related to
geotechnical variability may result in unreliable slope safety results. Probabilistic analyses based on
statistics and probability concepts are becoming increasingly popular, since they allow for a rational
evaluation of different sources of uncertainty. Sandroni and Sayão (1992) recommend using the FOSM
technique with the Simplified Bishop method for estimating the probability of failure (Pr), by keeping
fixed in the probabilistic analyses the critical failure surface indicated by the initial deterministic analysis.
This work presents deterministic and probabilistic studies of a 200m high slope of from the Cauê Mine, in
Itabira, Minas Gerais (Brazil). The results allowed for studying the influence of fixing the critical
deterministic surface in the probabilistic studies. Considering the usual procedures of Simplified Bishop
(Bishop, 1995) and FOSM (Christian et al., 1992), it is concluded that by fixing the failure surface the
results of reliability index (𝛃) and Pr are similar to those obtained in the analyses with the critical surface
was free to vary. It is also possible to conclude that, when the critical surface is fixed, the choice of limit
equilibrium method greatly influences the results of 𝛃 and Pr. In the safety assessment of Cauê Mine
slope, as reported in this paper, current limit equilibrium methods of Fellenius, Bishop, Janbu, Spencer
and Morgenstern-Price have been considered.

1- INTRODUÇÃO

Devido à heterogeneidade intrínseca dos materiais geotécnicos, não existem análises que reproduzam o
comportamento real do solo no campo. Na prática atual, são em geral realizadas apenas análises
determinísticas, que ignoram a heterogeneidade natural dos solos. Fatores de Segurança críticos (FS) são
os resultados típicos de análises determinísticas. Estes procedimentos consideram apenas os valores
médios dos parâmetros geotécnicos, obtidos de ensaios pontuais, desconsiderando a variabilidade natural
das camadas de solo. Por possuir esta característica, os parâmetros geotécnicos devem ser tratados
como variáveis aleatórias.

Com o objetivo de suprir esta deficiência das análises determinísticas, estudos probabilísticos têm
aceitação crescente (ex: Sandroni e Sayao, 1992; Dell’Avanzi e Sayão, 1998; Guedes, 1997). A inserção
de parâmetros estatísticos nas análises permite avaliações mais confiáveis sobre a segurança do talude.
A depender do método probabilístico empregado, é possível obter a probabilidade de ruptura (Pr) de um
talude e avaliar a influência relativa de cada parâmetro na estabilidade. Aliada às análises determinísticas,

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a prática de estudos probabilísticos na geotecnia tem sido recomendada, pois permite resultados
confiáveis, de forma simples.

Sandroni e Sayão (1992) recomendam o uso do método FOSM (First Order Second Moment), detalhado
por Christian et al. (1992), com base no método de Bishop (1955), para estimar a probabilidade de
ruptura (Pr) de um talude. Sayão e outros (2012) também reportam o uso do método FOSM em taludes
de mineração e recomendam manter fixa, nas análises probabilísticas, a superfície crítica de ruptura
obtida na análise determinística inicial.

Há outros métodos de análise probabilística, resumidos por Ribeiro (2008), disponíveis na prática
geotécnica. Entretanto, este trabalho reporta apenas as análises realizadas com o método FOSM, que é
exposto adiante. É também necessário definir o método determinístico de estabilidade a ser empregado
nas análises probabilísticas.

De forma a contribuir para o crescente emprego de métodos probabilísticos na geotecnia, este trabalho
teve o objetivo de investigar a influência da superfície crítica determinística em análises FOSM pelos
métodos clássicos de equilíbrio limite: Fellenius, Bishop, Janbu, Spencer e Morgenstern-Price.

1.1 - Índice de confiabilidade (𝛃)

O objetivo principal de uma análise probabilística na geotecnia é a obtenção da probabilidade de ruptura


da estrutura investigada. Os métodos probabilísticos fornecem, como resultado direto, o valor do índice
de confiabilidade β, definido na equação [1]:
𝐸[𝐹𝑆]−1
β= [1]
𝜎[𝐹𝑆]

sendo FS = valor de FS obtido em método determinístico, e σ[FS] = desvio padrão de FS.

Uma vez obtido β, é possível relacioná-lo a um valor de Pr, desde que seja conhecida a distribuição de
probabilidade da função FS[X]. Para cada tipo de distribuição, existe uma correlação com o índice β. Para
distribuição normal, por exemplo, conhecendo-se β pode-se determinar Pr a partir do ábaco apresentado

por Christian et al. (1992) e reproduzido na figura 1.


Figura 1 - Índice de confiabilidade versus probabilidade de ruptura (adaptado de Christian et al., 1992)

A equação [1] explicita que para calcular β é necessário obter o fator determinístico FS e o desvio padrão
σ[FS]. O método probabilístico empregado neste trabalho para obtenção de σ[FS] foi o método FOSM.

1.2 - Método FOSM (First Order Second Moment)

Método indireto de análise probabilística, pois não requer o conhecimento prévio das funções de
distribuição de probabilidade dos parâmetros considerados variáveis aleatórias [X], para se calcular a
variância da função dependente FS[X]. Aproximações da média e variância (V) de FS podem ser obtidas

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com o uso de uma série de Taylor em torno dos valores médios das variáveis independentes (Christian et
al., 1992). Quando truncada e simplificada para variáveis aleatórias independentes entre si, a série de
Taylor fornece a equação [2] para o cálculo de V[FS], conforme sugerido por Harr (1977):

δFS 2
V[FS] = ∑ni=1 ( δx ) . V[xi ] [2]
i

onde V[FS] = variância de FS; xi = variável aleatória independente; V[xi ] = variância da variável aleatória
independente.

Para solução das derivadas parciais da equação [2] sem o conhecimento das funções de xi , a opção é
fazer uma aproximação das derivadas parciais pela metodologia das diferenças divididas (Christian et al.,
1992):

δFS FS(xi +δxi )−FS(x̅i )


δxi
= δxi
[3]

onde x̅1 = valor médio da variável x1 ; δx1 = incremento ou variação percentual de x1 ; FS(x1 + δx1 ) = Fator
de Segurança quando x1 é incrementado; FS(x̅1 ) = Fator de Segurança determinístico.

Dell’avanzi (1995) estudou o efeito da magnitude da variação percentual de xi , e concluiu que uma
variação de 10% para cada parâmetro considerado variável é satisfatória, independente dos incrementos
ou variações serem positivos ou negativos.

2- ESTUDO DE CASO

Um talude de mineração previamente estudado (Sandroni e Sayão,1992) foi utilizado na pesquisa sobre o
efeito da fixação da superfície crítica nas análises probabilísticas pelo método FOSM. O talude, situado na
Mina do Cauê (figura 2), explorada pela VALE nos anos 1980, é composto de solo saprolítico de quartzito
ferrífero, tem 200m de altura, 34° de inclinação e lençol freático marcado por um trecho inclinado que se
extende do pé do talude até o ponto a 80m abaixo da sua crista, como indicado na figura 3. A mina está
localizada no município de Itabira, Minas Gerais, a 100 km a leste de Belo Horizonte, Brasil.

Figura 2 - Vista panoramica do talude estudado na Mina do Cauê

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Figura 3 - Seção típica do talude da Mina do Cauê

Parâmetros geotécnicos do talude foram obtidos de 50 ensaios de cisalhamento direto de amostras não
perturbadas (Sayão et al., 2012). Este número de ensaios viabilizou a obtenção dos dados estatísticos
utilizados como dados de entrada nas análises probabilísticas. Os resultados obtidos são apresentados no
quadro 1.

Quadro 1- Parâmetros geotécnicos e estatísticos do talude da Mina do Cauê


Variância Desvio Padrão
Parâmetro (variável) Média (𝑥̅𝑖 )
𝑉([𝐹𝑆]) (𝜎[𝐹𝑆])
Peso específico acima do NA ɣ𝑛𝑎𝑡 (kN/𝑚3 ) 28,3 1,96 1,4
Peso específico abaixo do NA ɣ𝑠𝑎𝑡 (kN/𝑚3 ) 29 1,96 1,4
Coesão c’ (kPa) 25 590,0 24

Tangente do ângulo de atrito (tan Φ’) 0,781 0,0072 0,09

Nível d’água u (kPa) 120 400 20

3- ANÁLISES REALIZADAS E RESULTADOS

As análises FOSM aqui apresentadas foram feitas com variações de ±10% para cada parâmetro médio,
conforme a sugestão de Dell’Avanzi (1995). Cinco parâmetros foram tratados como variáveis aleatórias:
c’, tan Φ’, ɣnat, ɣsat , e u. Para investigar a influência de fixar a superfície crítica determinística nas análises
probabilísticas, foram realizadas 2 análises FOSM por método de equilíbrio limite: uma mantendo-se fixa
a superfície crítica, e a outra deixando-a variar livremente. Para verificação da influência do método de
equilíbrio limite no valor de Pr, cinco métodos clássicos foram considerados: Fellenius, Bishop, Janbu,
Spencer e Morgenstern-Price. Assim, foram realizadas 10 análises FOSM apresentadas no quadro 2.
Neste trabalho, as variáveis foram consideradas com distribuição normal e independentes entre si, o que
permitiu os cálculos do índice β pela equação [1], e dos valores de Pr pela relação βxPr, apresentada na
figura 1.

Quadro 2- Análises probabilísticas pelo método FOSM


Método Probabilístico: FOSM
Método de
FS β β Pr Pr
Equilíbrio
Determinístico (sup livre) (sup fixa) (sup livre) (sup fixa)
Limite
Fellenius 1,17 1,07 1,07 1:7 1:7

Janbu 1,18 1,18 1,17 1:8 1:8

Bishop 1,26 1,62 1,62 1:20 1:20

Spencer 1,26 1,61 1,59 1:20 1:17

Morg-Price 1,26 1,56 1,54 1:17 1:16

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4- COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES

Não existe ainda uma relação de valores admissíveis do índice β recomendados para análises
probabilísticas de estabilidade geotécnica. Portanto, os índices máximos e mínimos a serem considerados
são definidos com base nas eventuais consequências de uma ruptura (perdas de vidas e prejuizos
financeiros). É, portanto, necessário o acúmulo de experiências com avaliações probabilísticas da
estabilidade, para permitir uma decisão racional do engenheiro geotécnico sobre os valores adequados a
cada caso. A proposta inicial de Baecher (1982b), para diferentes tipos de projetos, deve ser reavaliada à
medida que a experiência acumulada vai se tornando disponível.

Mantendo-se os métodos usuais de análise determinística - equilíbrio limite (Bishop, 1955) e


probabilística, FOSM (Christian et al., 1992) - as análises probabilísticas com superfície de ruptura crítica
fixa e livre forneceram resultados similares (índices β e Pr). O mesmo ocorreu para os outros 4 métodos
de equilíbrio limite investigados (quadro 2).

Mantendo fixa a superfície crítica, observa-se que a escolha do método de equilíbrio limite tem influência
marcante no índice β e no valor de Pr do talude. Neste tabalho, foram usados os métodos clássicos
(Fellenius, Bishop, Janbu, Spencer e Morgenstern-Price). Com base nos resultados do quadro 2, pode-se
recomendar, portanto, nas análises FOSM, manter fixa a superfície crítica encontrada na análise
determinística inicial, definida com os valores médios dos parâmetros considerados variáveis.

Observa-se, no quadro 2, que os resultados das análises FOSM são muito dependentes do método de
equilíbrio limite adotado. Os métodos simplificados (Fellenius e Janbu) fornecem valores de Pr superiores
aos obtidos com os métodos rigorosos (Spencer e Morgenstern-Price) e com o método Bishop. Com base
nestes resultados, o método Morgenstern-Price pode ser recomendado para as análises probabilísticas,
por ser o mais conservador (fornece menores valores de β) dentre os métodos rigorosos. Não descarta-se
a utilização do método de Spencer pois, além de ser o mais usual em análises de estabilidade atuais, não
apresentou resultados de Pr tão destoantes dos encontrados por Morg-Price nas análises FOSM.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à PUC-Rio, pelo apoio técnico, e à CAPES e FAPERJ, pelo apoio financeiro que
permitiu a realização das pesquisas.

REFERÊNCIAS

Baecher G. B. (1982b) - Statistical Methods in Site Characterization. Updating Subsurface Samplings of Soils and
Rocks and their In-situ Testing, Santa Barbara, Engineering Foundation, pp. 463-492.

Bishop, A. W. (1995) - The use of slip circle in the stability analysis of earth slopes. Geotechnique, Inglaterra, v. 5, n. 1,
p.p. 7-17.

Christian, J. T., Ladd, C. C. e Baecher, G. B. (1992) - Reliability Applied to Slope Stability Analisys. Journal of
Geotechnical Engineering, ASCE, vol. 120 (12), pp. 2180-2207.

Dell’Avanzi, E. (1995) - Confiabilidade e Probabilidade em Análises de Estabilidade de Taludes. Dissertação de Mestrado,


Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Dell’Avanzi, E. e Sayão, A. S. F. J. (1998) – Avaliação da Probabilidade de Ruptura de Taludes. XI COBRAMSEG,


Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Brasília, vol. 2, pp. 1289-1295.

Guedes, M. C. S. (1997) – Considerações Sobre Análises Probabilísticas de Estabilidade de Taludes. Dissertação de


Mestrado, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Ribeiro, R. C. (2008) – Aplicações de Probabilidade e Estaística em Análises Geotécnicas. Tese de Doutorado,


Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Sandroni, S. S. e Sayão, A. S. F. J. (1992) - Avaliação Estatística do Coeficiente de Segurança de Taludes. 1ª COBRAE,


Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Taludes, Rio de Janeiro, ABMS, vol.2, pp. 523-535.

Sayão, A. S.F.J., Sandroni, S. S., Fontoura, S.A.B. e Ribeiro, R.C.H. (2012) – Considerations on the Probability of
Failure of Mine Slopes. Soils and Rocks, vol. 35(1), ABMS, pp. 31-37.

Vecci, A. N. (2018) - Métodos de Análise da Segurança de um Talude de Mineração. Dissertação de Mestrado em


conclusão, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

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APLICAÇÃO DE PILARES ARTIFICIAIS COMO SUBSTITUIÇÃO DE PILARES


NATURAIS EM ÁREAS DE LAVRA

APPLICATION OF ARTIFICIAL PILLARS AS A REPLACEMENT OF NATURAL


PILLARS IN STOPE AREAS

Barbosa Pereira, Luisa; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, luisabarbosapereira@gmail.com


Fochi Ramires, João Eduardo; Orinoco Gold, Faina, Brasil, joao.fochi@gmail.com
Pacheco de Assis, André; Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

RESUMO

Na mineração subterrânea de ouro, muitas vezes a natureza fraca do corpo de minério e o alto teor se
combinam para eliminar o método clássico de lavra de câmaras e pilares, uma vez que muito ouro pode
ser deixado dentro dos pilares. Nesta situação, o método de lavra “drive and slash” pode ser aplicado,
especificamente em minas de veio fino, uma vez que reduz o nível de diluição e permite a lavra de pilares
com teor de minério, substituindo-os por pilares artificiais. Os pilares artificiais são um tipo de suporte
permanente, composto por várias camadas de “bags”, um sobreposto ao outro, onde cada camada possui
um reforço interno que, quando preenchido com uma mistura composta por 20% cimento e 80% areia,
reforça a mistura, de modo que ela cede de maneira controlada a deformação. O presente trabalho tem
como objetivo determinar a resistência desta mistura, assim como o comportamento do conjunto de
“bags” que formam o pilar artificial. O produto testado é o CemRite da empresa sul africana TimRite.

ABSTRACT

In underground gold mining, several times the weak nature of an ore body associated with a high grade
combine to eliminate the classic mining method of room and pillar, since a lot of gold can be left inside
pillars. In this case, the “drive and slash” method can be applied, specifically in narrow vein mines, since
it reduces the dilution levels and allows the stoping of pillars with gold grades, replacing the natural
pillars by artificial ones. The artificial pillars are a permanent support type, composed by several “bags”
layers, one above the other, where each layer has an internal reinforcement that once filled with a
mixture of 20% cement and 80% sand, gets harder, in a way that it can control deformation. This article
has the aim to determinate the mixture resistance, as well as the behaving of the “bags” set that forms
the artificial pillar. The tested product is CemRite from the south African company TimRite.

1- INTRODUÇÃO

A escolha do método de lavra é uma das decisões mais importantes que são tomadas durante o estudo
da viabilidade econômica de uma mina, devendo considerar os aspectos relativos à estabilidade da mina,
à recuperação do minério e à produtividade máxima. Entre

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