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ANÁLISES DE FUNDAÇÕES
PROFUNDAS
Bianca Lopes de Oliveira

Análises de fundações profundas

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Editorial
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Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Oliveira, Bianca Lopes de


O48a Análises de fundações profundas/ Bianca Lopes de
Oliveira, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019.
126 p.

ISBN 978-85-522-1634-6

1. Estruturas. 2. Associações de estacas. I. Oliveira,


Bianca Lopes de. Título.
CDD 620

Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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ANÁLISES DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Tipos de fundações profundas 6

Tubulões 21

Estaca broca e hélice contínua 41

Estacas Strauss 61

Estaca tipo Franki 78

Estaca raiz 96

Estacas Mega e técnicas de recuperação de fundações 111

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Apresentação da disciplina

Caro aluno,

Na construção civil, é comum a execução de obras sem a elaboração do


projeto na fase de planejamento da estrutura, inclusive sem qualquer
análise do solo sobre o qual esta será apoiada. A falta de informações
sobre o solo e o desprezo pelo projeto de fundações têm levado muitas
estruturas a apresentar manifestações patológicas como desaprumos,
fissuras e trincas, gerando custos não previstos elevados para o
reforço da fundação existente. Esta situação demonstra a fundamental
importância da elaboração de projetos para se obter produtos de maior
qualidade a custos e prazos menores, principalmente nas fundações.

Diante deste cenário, é necessária a ampliação do conhecimento


dos cálculos de capacidade de carga das fundações e de seu
dimensionamento, além da análise de seu comportamento no solo.

Neste sentido, a disciplina de Análise de fundações profundas tem como


objetivo apresentar os tipos de fundações profundas utilizadas no
Brasil, apresentando seus métodos construtivos e suas possibilidades
de uso diante de informações referentes ao solo, vizinhança e tipo de
construção. São abordados conceitos básicos sobre os parâmetros
geotécnicos que devem ser considerados em um projeto de fundações,
ensaios a serem realizados para a investigação do subsolo, além da
apresentação de diversos métodos para obtenção das capacidades de
carga de ruptura de uma fundação. Nesta disciplina serão apresentadas
as fundações profundas: tubulões, estaca broca, estaca hélice-contínua,
estaca Strauss, estaca tipo Franki e estaca raiz. Além disso, são
apresentadas técnicas de recuperação e reforço de fundações, como
pelo uso de estaca Mega.

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Tipos de fundações profundas
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Conceituar os parâmetros geotécnicos do solo


necessários para o projeto de fundações.

• Definir o que são fundações profundas e seus tipos.

• Apresentar as características principais dos tipos de


fundações profundas utilizadas e as normas técnicas
utilizadas para seu dimensionamento.

• Estabelecer parâmetros para a escolha da fundação


com base no tipo de estrutura utilizada e no
tipo de solo.

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1. Parâmetros para o projeto de fundações

A concepção do projeto de fundação e seu dimensionamento


adequado serão desenvolvidos a partir da obtenção dos elementos
(HACHICH et al., 1996):

• Topografia da área (levantamento planialtimétrico).

• Informações da estrutura a ser construída (tipo de obra, sistema


estrutural e cargas a serem transmitidas para a fundação).

• Dados das construções vizinhas (estudo das fundações


da vizinhança, como tipo e estado das mesmas, além da
possibilidade de consequências de escavações e vibrações
provocadas pela nova obra).

• Parâmetros geológicos-geotécnicos (investigação do subsolo,


levantamentos aerofotogramétricos, entre outros).

Os parâmetros geológicos-geotécnicos do solo são obtidos por meio


da identificação e da classificação das diversas camadas componentes
do substrato analisado e pelo uso de ensaios de campo e laboratoriais.
De maneira geral, no Brasil há predominância do uso de ensaios de
campo ou ‘in situ’ na investigação do subsolo.

HACHICH et al. (1996) citam os ensaios de campo mais utilizados


no mundo:

• Ensaio SPT (Standard Penetration Test): ensaio realizado de acordo


com a norma NBR 6484 (ABNT, 2001). Seu objetivo é conhecer o
tipo de solo atravessado por meio da retirada de uma amostra a
cada metro perfurado, conhecer a resistência (N) oferecida pelo
solo à cravação do amostrador padrão a cada metro perfurado
e a posição do nível ou dos níveis d’água, quando encontrados
durante a perfuração (figura 1).

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• Ensaio SPT-T: é o ensaio SPT complementado com medições de
torque ao término de cada ensaio de penetração.

• Ensaio CPT (Cone Penetration Test): é um ensaio de penetração


estática (ou quase-estática) com cone mecânico ou elétrico que
fornece a resistência de ponta, a resistência de atrito lateral e a
correlação entre os dois, permitindo a identificação do solo.

• Ensaio CPT-U (Piezocone Penetration Test): é realizado com a


penetração de um piezocone, em que é obtido os dados de
resistência de ponta, resistência lateral e também medidas de
poropressão do solo.

• Ensaio de palheta (Vane test): é utilizado para a determinação


da resistência ao cisalhamento não drenada. Consiste em se
determinar a resistência ao cisalhamento do solo por meio da
rotação, a uma velocidade de rotação constante padrão, de uma
palheta cruciforme, a partir da medida do torque versus.

• Ensaios geofísicos.

Figura 1 – Tripé e martelo do ensaio SPT

Fonte: Mai_Sukhothai/iStock.com.

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As fundações são divididas em fundações rasas ou diretas e em
fundações profundas ou também denominadas indiretas. Neste texto,
são analisados os tipos de fundações profundas.

2. Fundações profundas

Segundo NBR 6122 (ABNT, 2019), as fundações profundas são elementos


de fundação que transmitem a carga ao terreno pela base e/ou pela sua
superfície lateral. A ponta ou base da fundação profunda é assentada
em profundidade superior a oito vezes a sua menor dimensão em planta
ou, no mínimo, 3,0 m. São tipos de fundações profundas

• Estacas: são elementos de fundação profunda que, com


o auxílio de equipamentos e ferramentas, são cravados
ou perfurados no solo, sem que haja trabalho manual em
profundidade. Podem ser de vários materiais como madeira,
aço, concreto, argamassa entre outros.

• Tubulões: são elementos de fundação profunda, escavado, de


formato cilíndrico em que pelo menos em uma etapa há trabalho
manual em profundidade para alargamento da base e/ou limpeza
do fundo da escavação para a concretagem.

O dimensionamento de uma fundação profunda deve ser feito pelo


cálculo da capacidade de carga de ruptura da fundação. A carga de
ruptura de uma fundação, de acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2019),
é definida como a carga que provoca perda de equilíbrio estático ou
deslocamentos a ponto de comprometer seu desempenho ou sua
segurança. A capacidade de carga de ruptura de fundação (P) será o
menor valor entre a resistência estrutural da fundação e a resistência
do solo. A resistência do solo será composta da parcela de resistência
de atrito lateral (PL) e da parcela de resistência de ponta (PP),
conforme figura 2. No dimensionamento de tubulões, a resistência
lateral é desprezada.

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Figura 2 – Capacidade de carga de ruptura da fundação

Fonte: elaborada pela autora.

A capacidade de carga de uma estaca pode ser estimada por diversos


métodos (GUIMARÃES; PETER, 2018):

• Métodos estáticos: utilização de fórmulas estáticas, como os


métodos de Aoki e Velloso (1975) e de Decourt e Quaresma
(1978), com base em dados obtidos dos ensaios in loco, como o
ensaio SPT.

• Métodos dinâmicos: utilizam-se dados obtidos durante a


cravação em fórmulas dinâmicas que partem da medida da nega
(nega é a penetração que a estaca sofre ao receber um golpe no
final da cravação) e do princípio que o trabalho motor é igual ao
trabalho resistente.

• Provas de carga: são realizadas provas de carga estáticas e os


resultados (curvas carga-recalque) obtidos são utilizados para se
estimar a capacidade de carga da estaca.

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2.1 Tubulão

Os tubulões se diferem das estacas devido ao processo executivo,


que exige a descida de um operário para alargamento da base e/ou
limpeza do fundo da escavação para posterior concretagem, o que
exige que tenham diâmetro mínimo de 80 cm (Figura 3) de acordo
a NR 18 (MTE, 2018). São indicados para obras que apresentam
cargas elevadas. As cargas são transmitidas ao solo essencialmente
pela base. Podem ser a céu aberto (Figura 4) e a ar comprimido
(ABNT, 2019).

Figura 3 – Exemplo de corte de um tubulão

Fonte: elaborada pela autora.

Conforme Guimarães e Peter (2018), os tubulões a céu aberto,


conforme ilustração na figura 4, são estruturas usadas em solos com
elevada rigidez (para não ocorrer desmoronamento) e não é indicado
para uso em locais com níveis de água próximos. Em caso de uso
abaixo do lençol freático, pode ser utilizado desde que o solo se
mantenha estável e seja possível o controle da água do seu interior.

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Figura 4 – Concretagem de tubulão a céu aberto

Fonte: BanksPhotos/iStock.com.

Os tubulões a ar comprimido são utilizados em obras em quem que há


necessidade de proteção para que não ocorra a entrada de ar no local da
escavação, por exemplo, na fundação de pontes e viadutos. A escavação
do fuste é sempre realizada com auxílio de revestimento que poder ser de
camisas de concreto ou de aço (ABNT, 2019). É instalado uma campânula
para promover pressão maior que atmosférica, opondo-se à pressão da
água e mantendo o interior do tubulão sem água durante os trabalhos de
alargamento da base ou limpeza do fundo.

PARA SABER MAIS


Os tubulões a ar comprimido têm a profundidade
limitada em 30 m abaixo do nível da água. Isso se deve
ao fato de que nenhuma pessoa deve ser exposta à
pressão superior a 3,4 atm para minimizar riscos à saúde.
Toda execução de tubulão a ar comprimido, por se tratar
de atividade insalubre, deve cumprir a NR 15 para a
segurança dos operários (MTE, 2018).

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2.2 Estacas

As estacas podem ser de madeira, aço (metálicas) e de concreto.


Também podem ser classificadas de acordo com seu processo executivo
como estacas de deslocamento, cuja introdução no terreno não
promove a retirada de solo (Figura 5) e estacas escavadas (Figura 6).

Figura 5 – Equipamento utilizado na cravação de uma estaca

Fonte: User2547783c_812/iStock.com.

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Figura 6 – Hélice para escavação de estaca

Fonte: flik47/iStock.com.

ASSIMILE
A fundação mais adequada será a que cumpre os
requisitos técnicos e econômicos, suportando as cargas
da estrutura com segurança e não afeta a integridade
das construções vizinhas.

As estacas de madeira são utilizadas, geralmente, na fundação de


obras provisórias ou para obras de fundação submersa (sem variação
de nível de água para evitar ação de fungos). São estacas cravadas por
prensagem ou vibração. A madeira mais empregada é o eucalipto, mas
para obras definitivas podem ser utilizadas madeiras como peroba,
aroeira, entre outras (GUIMARÃES; PETER, 2018). Seu dimensionamento
é estabelecido pela NBR 7190 (ABNT, 1997).

As estacas metálicas ou de aço também são estacas de deslocamento,


produzidas com perfis laminados ou soldados, tubos de chapas

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dobradas e trilhos. Apresentam como vantagens baixa vibração para
sua colocação e resistência a flexão, no entanto, têm custo elevado e
necessitam de cuidados para se evitar a corrosão (GUIMARÃES; PETER,
2018). Seu dimensionamento se baseia na NBR 8800 (ABNT, 2008).

As estacas de concreto podem ser pré-moldadas e estacas moldadas


in loco. As estacas pré-moldadas (figura 6) apresentam controle de
qualidade tanto na produção quanto na cravação da mesma. Apresentam
diversas geometrias, podendo ser maciças ou vazadas. As estacas
moldadas in loco podem ser de vários tipos como broca, hélice contínua,
Strauss, Franki, estaca raiz, entre outras (GUIMARÃES; PETER, 2018).

Figura 7 – Estacas pré-moldadas de concreto

Fonte: Kwangmoozaa/iStock.com.

3. Escolha do tipo de fundação

De acordo com Alonso (2019), a escolha da fundação depende de se


satisfazer as condições técnicas e econômicas da obra em questão.
Para a escolha, devem ser levados em consideração:

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• Proximidade dos edifícios limítrofes, seu tipo de fundação e
estado da mesma: isso deve ser levado em consideração pois
dependendo do processo executivo da fundação, pode-se gerar
vibrações no solo, gerando trincas e/ou movimentações nas
fundações vizinhas. Outra questão é o espaço no canteiro de
obras para a entrada de equipamentos. Áreas pequenas não
permitem a entrada, por exemplo, de um bate-estaca.
• Características do subsolo no local da obra: dependendo do tipo
de solo e da existência de nível de água, alguns tipos de fundação
são descartados.
• Cargas provenientes da estrutura que serão transmitidas
à fundação.
• Os tipos de fundações existentes no mercado e disponíveis na
região da obra: custos podem ser aumentados devido ao frete
de regiões distantes, além de dificuldades de movimentação da
fundações pré-moldadas, por exemplo, devido à escala física dos
elementos.

A Norma NBR 6122 (ABNT, 2019) sugere elementos que devem ser
analisados cuidadosamente durante a execução, conforme cada tipo
de fundação, para garantir que as fundações atinjam os valores de
capacidade de carga de seu dimensionamento e promovam a segurança
e funcionalidade da edificação.

Com base nestes parâmetros, o tipo de fundação mais adequado à


obra será aquele que resolver tecnicamente as questões relacionadas
há pouco e apresentar um custo mais econômico e menor prazo
de execução.

TEORIA EM PRÁTICA
Reflita sobre a seguinte situação: suponha que você
tenha sido contratado para fazer um projeto de
fundações de um edifício de 12 andares, com 2 subsolos,

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vizinho a uma residência construída na década de 1960,
um outro edifício de 4 andares e um hospital.
O cliente deseja fazer a fundação em estaca de concreto
pré-moldada. De acordo com o cálculo da capacidade
de carga da estaca de concreto, esse tipo de fundação
pode ser utilizado para as cargas de projeto. Além do
cálculo estrutural, que outras considerações devem
ser feitas? A escolha da estaca cravada de concreto é a
mais adequada para essa situação? Se não, quais seriam
outras opções?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. O ensaio de campo que consiste na rotação, a uma


velocidade de rotação constante padrão, de uma
palheta cruciforme, em que a medida do torque versus
rotação permite a determinação da resistência ao
cisalhamento do solo é:

a. SPT.

b. CPT-U.

c. Vane test.

d. CPT.

e. Ensaio geofísico.

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2. Os tubulões em seu processo executivo exigem a
descida de um operário para alargamento da base e/
ou limpeza do fundo da escavação para posterior
concretagem. Devido a isso, a NR 18 (MTE, 2018) que
estabelece as condições e meio ambiente de trabalho
na indústria da construção civil exige que o diâmetro do
fuste tenha a dimensão mínima de:

a. 50 cm.

b. 60 cm.

c. 65 cm.

d. 70 cm.

e. 80 cm.

3. As estacas são elementos de fundação que são


cravados ou escavados no solo, sem necessidade da
descida de pessoas em qualquer fase da execução.
Dependendo de seu processo executivo podem ser
estacas de deslocamento ou moldadas in loco. Um
exemplo de uma estaca de deslocamento é:

a. Estaca broca.

b. Estaca raiz.

c. Tubulão a céu aberto.

d. Estaca pré-moldada de concreto.

e. Estaca hélice-contínua.

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Referências bibliográficas
ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2019
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484: Solo – Sondagens
de simples reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Rio de Janeiro:
ABNT, 2001.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7190: Projeto de estruturas
de madeira. Rio de Janeiro: ABNT, 1997.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800: Projeto de estruturas
de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro:
ABNT, 2008.
GUIMARÃES, D; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre, RS: SAGAH, 2018.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996. 750p.
MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n° 15:
Atividades e operações insalubres. Brasília, 2018. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15.pdf. Acesso em: 15
jul. 2019.
MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n° 18:
Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. Brasília,
2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_
NR/NR-18.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: O ensaio descrito no enunciado é o ensaio Vane test ou
ensaio de palheta, que permite a determinação de resistência ao
cisalhamento do solo.
Feedback de reforço: Vários ensaios de campo são utilizados na
obtenção da resistência do subsolo para o projeto de fundações.
Este ensaio é complementar para se conhecer especificamente a
resistência ao cisalhamento, ou seja, resistência ao “corte” do solo.

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Questão 2 – Resposta: E
Resolução: A dimensão mínima do fuste de um tubulão é de 80 cm
de acordo com o item 18.6.21, letra g da NR 18 (MTE, 2018).
Feedback de reforço: A norma regulamentadora do mistério do
trabalho NR 18 estabelece critérios para se garantir a segurança
e a segurança do funcionário. Na construção de um tubulão, no
qual o funcionário fica sujeito ao confinamento, é importante uma
dimensão adequada do fuste para sua movimentação interna
durante o trabalho manual em profundidade.
Questão 3 – Resposta: D
Resolução: A estaca pré-moldada de concreto é uma estaca de
deslocamento.
Feedback de reforço: Uma estaca de deslocamento é aquela
em que em sua execução não é feita retirada do solo, mas há o
deslocamento do solo durante sua cravação ou prensagem.

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Tubulões
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Definir tubulões em céu aberto e ar comprimido.

• Apresentar as características construtivas deste


tipo de fundação profunda.

• Demonstrar o dimensionamento utilizado para o


cálculo de um tubulão e a capacidade de carga do
solo para este tipo de fundação.

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1. Tubulões

Segundo NBR 6122 (ABNT, 2019), tubulões são elementos de fundação


profunda, escavados, em que pelo menos em uma etapa construtiva
(etapa final) há necessidade de trabalho manual para alargamento da
base e/ou limpeza do fundo da escavação para a concretagem.
É formado pelo fuste e base, alargada ou não, conforme figura 1.

Figura 1 – Exemplo de corte de um tubulão

Fonte: elaborada pela autora.

Os tubulões podem ser agrupados em dois tipos: os tubulões a céu


aberto e os que empregam ar comprimido.

1.1 Tubulões a céu aberto

Conforme Guimarães e Peter (2018), tubulões a céu aberto são


estruturas indicadas para obras com cargas elevadas para serem
transmitidas ao solo e não são indicados para uso em locais com níveis
de água próximos. O tubulão a céu aberto pode ser executado, em casos

22
22
especiais, em terrenos saturados onde seja possível bombear a água
sem risco de desmoronamento. Seu fuste pode ser escavado mecânica
ou manualmente, sendo que sua base, de forma geral, é escavada
manualmente. O fuste normalmente é de seção circular, porém, a
projeção da base pode ser circular ou em forma de falsa elipse.

Os tubulões a céu aberto podem ter o uso de contenção lateral ou não,


dependendo da coesão do solo local. Estes revestimentos, conforme
ilustrado na figura 2, podem ser de concreto e metálicos, recuperados
ou não. Os tubulões sem contenção lateral a céu aberto também são
chamados de pocinhos (HACHICH et al., 1996).

Figura 2 – Revestimentos metálicos para encamisamento de tubulão

Fonte: Hailshadow/iStock.com.

Guimarães e Peter (2018) descrevem o processo executivo de um


tubulão a céu aberto de acordo com as etapas:

• Marcação do fuste com diâmetro mínimo de 70 cm para


passagem do operário.

• Escavação manual ou mecânica do poço até a profundidade


especificada pelo projeto.

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• Alargamento da base, geralmente de forma manual, conforme
dimensões do projeto.

• Verificação das dimensões do poço e limpeza do mesmo,


por meio da descida de pessoal.

• Colocação da armadura de forma a permitir a concretagem


adequada da base, devendo existir aberturas na armadura de
pelo menos 30 cm x 30 cm.

• Concretagem: deve ser feita imediatamente após a conclusão de


sua escavação. O concreto deve ter plasticidade suficiente para
assegurar a ocupação de todo o volume da base.

De acordo com a NR 18 (MTE, 2018) que estabelece as condições do


meio ambiente de trabalho na indústria da construção, o diâmetro
do fuste deve ter dimensão mínima de 80 cm. O diâmetro de 0,70 m
somente poderá ser utilizado com justificativa técnica do engenheiro
responsável pela fundação.

As vantagens do uso de tubulões, em comparação a outros tipos de


fundações, são, de acordo com Hachich et al. (1996):

• O processo construtivo não apresenta vibrações e ruídos


consideráveis.

• Durante o processo de execução é possível se retirar amostras


do solo, classificá-las e compará-las às condições previstas pelo
projeto. Se houver diferenças das informações levantadas pelo
projeto, é possível modificar o diâmetro e o comprimento do
tubulão durante a escavação.

• As escavações dos tubulões podem atravessar solos com pedras


e matacões.

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24
• Os tubulões podem suportar a carga de um pilar, eliminando a
necessidade de bloco de coroamento.

• Os custos de mobilização e desmobilização, quando comparados


à utilização de bate-estacas e outros equipamentos utilizados na
execução de outros tipos de fundações, são menores.

Reese, em 1978, citado por Soares (2003), apresenta como desvantagens


ao uso de tubulões a dependência da qualidade do tubulão da técnica
construtiva utilizada, como da forma da escavação utilizada, e a
necessidade de conhecimentos e experiencias consideráveis para as
inspeções da execução.

1.2 Tubulões a ar comprimido

Os tubulões a ar comprimido são utilizados quando é necessária a


escavação abaixo do lençol freático. Este tipo de tubulão é indicado
para obras com cargas elevadas como pontes e viadutos, e podem
ser revestidos com camisas de concreto ou de aço. Seu uso é pouco
empregado devido aos custos e riscos envolvidos (HACHICH, 1996).

Alonso (2019) explica que se a camisa usada for de aço, a cravação da


mesma é feita de maneira mecanizada e, portanto, a céu aberto, sendo
apenas a abertura e concretagem da base sob ar comprimido. No caso
de camisa de concreto, todo o processo, desde a cravação da camisa,
abertura e concretagem da base, é feito sob ar comprimido. As camisas,
em geral, não são retiradas. A figura 3 ilustra a instalação da campânula
de ar comprimido na execução de um tubulão a ar comprimido.

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Figura 3 – Tubulão a ar comprido

Fonte: Alonso (2019, p. 46).

Os tubulões a ar comprimido têm a profundidade limitada em 30m


abaixo do nível da água. Isso se deve ao fato de que nenhuma pessoa
deve ser exposta à pressão superior a 3,4 atm para evitar riscos à

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saúde. Toda a execução do tubulão a ar comprimido, por se tratar de
atividade insalubre, deve atender a NR 15 e NR 18 para a segurança
dos operários (MTE, 2018).

2. Capacidade de carga de um tubulão

Carneiro (1999), citado por Soares (2003), afirmou que a parcela de atrito
no comportamento de um tubulão é significativa, principalmente quando
se trata de solo colapsível. Entretanto, de acordo com a NBR 6122 (2019),
adota-se que os tubulões transferem a carga recebida pelo pilar pela sua
base, sendo considerada nula a tensão lateral ao longo do fuste.

Os métodos mais utilizados para a estimativa da capacidade de carga de


um tubulão são:

• Fórmulas teóricas: utilização de fórmulas como de Skempton ou


de Terzaghi, que será apresentada a seguir.

• Métodos semiempíricos: métodos que relacionam resultados de


ensaios como SPT, CPT, etc. com tensões admissíveis de projeto
que serão apresentados na sequência.

• Prova de carga: ensaio que procura reproduzir o comportamento


da solicitação de uma fundação no solo. Para tubulões, é pouco
utilizada devido ao custo envolvido por, geralmente, envolver
grandes cargas.

PARA SABER MAIS


Os problemas mais comuns observados em tubulões
estão relacionados ao processo executivo como a
ocorrência de desbarrancamento do fuste ou base,
presença de gases, presença de água e a má qualidade
do concreto de preenchimento (JOPPERT JR., 2007).

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Alonso (2019) cita as metodologias para a estimativa de carga de
um tubulão:

a. Fórmula de Terzaghi: deve-se utilizar as seguintes fórmulas:

• Para solos argilosos rijos e arenosos compactos a muito compactos,


com ruptura geral, a tensão de ruptura do solo será:
1
 r  c.N c .Sc  . .B.N .S  q.N q .Sq
2
Onde: c é a coesão do solo; γ é o peso específico do solo onde se apoia
a fundação; B, a menor dimensão da base; q, a pressão efetiva do
solo na cota de apoio da fundação; Nc, Nγ, Nq são os fatores de carga
obtidos na figura 4 em função do ângulo de atrito do solo φ; e Sc, Sγ e
Sq, fatores de forma obtidos no quadro 1.

• Para solos argilosos moles e arenosos fofos, ou seja, solos com ruptura
local, a tensão de ruptura do solo será:
2 1
 r  c.N c '.Sc  . .B.N '.S  q.N q '.Sq
3 2

Figura 4 – Fatores de carga – Terzaghi

Fonte: Alonso (2019, p. 100).

28
28
Quadro 1 – Fatores de forma por Terzaghi

Fatores de Forma Tubulão Circular Tubulão Falsa Elipse

Sc 1,30 1,10

Sγ 0,60 0,90

Sq 1,00 1,00

Fonte: adaptada de Joppert Jr. (2007, p.114).

A tensão admissível (σs) será calculada, considerando-se um fator de


segurança 3:
r
s 
3

b. Correlação entre SPT e tensão admissível do solo (σs):

Utilizando-se o valor médio do SPT na profundidade da ordem de


grandeza igual a duas vezes o diâmetro da base, a partir da cota de
apoio da mesma, tem-se:

SPT (medio)
s  MN/m²
30
Esta fórmula se aplica para SPT inferiores a 20 e devem ser acertados os
valores fora da média.

ASSIMILE
Lembre-se: o cálculo da capacidade de carga do tubulão
será necessário para o dimensionamento do mesmo.
Esta capacidade de carga pode ser calculada pela
fórmula de Terzaghi e por correlação com o SPT e a
tensão admissível do solo, sendo que é considerada
apenas a base para sua determinação.

 29
3. Dimensionamento de tubulões

Os tubulões possuem fuste circular e base de seção circular ou de


seção falsa elipse. A seção falsa elipse pode ser utilizada em pilares de
divisa e na sobreposição de bases de tubulões devido à proximidade
entre eles. O dimensionamento envolve o cálculo do diâmetro do fuste,
dimensões da base e altura da base. A metodologia de cálculo a seguir é
apresentada por Alonso (2019):

a. Dimensionamento da base do tubulão:

Se o tubulão possuir base de seção circular, a área da base é


calculada como:
P
Ab 
s
onde P é a carga do pilar e σs é a tensão admissível do solo.

O diâmetro da base (D) será calculado pela equação:

4.P
D
 . s
Se a base tiver seção falsa elipse (figura 5), deve-se calcular a área da
base pela fórmula:
 .b 2 P
 b.x 
4 s
Adota-se um valor para b (ou x), pode-se calcular x (ou b). Deve-se
utilizar uma relação a/b menor ou igual a 2,5.

30
30
Figura 5 – Seção falsa-elipse de um tubulão

Fonte: elaborada pela autora.

b. Dimensionamento do diâmetro do fuste (df):

De acordo com Alonso (2019, p. 45), o fuste de um tubulão a céu


aberto pode ser calculado analogamente a um pilar sem armadura,
utilizando-se os coeficientes de segurança conforme a NBR 6122
(ABNT, 2019, p. 33 a 35), sendo a área do fuste (Af):

P
Af 
c
em que

0, 85. f ck
c 
y f . yc
sendo, γf = 1,4 e γc com valor de 2,2 para concretos C25 ou 3,6 para
concretos C40, para tubulões não encamisados. Para tubulões
encamisados o valor de γc será 1,4. De acordo com a NBR 6122 (ABNT,
2019, p.46), o concreto deve ser, para classes de agressividade I e II, C25
com consumo mínimo de 280 kg/m³ e fator a/c inferior ou igual a 0,6 e,
para classes de agressividade III e IV, ser C40 com consumo mínimo de
360 kg/m³ e fator água/cimento inferior ou igual a 0,45.

 31
Em tubulões a ar comprimido com camisa de concreto, o cálculo será
análogo ao cálculo para um pilar, dispensando-se a verificação da
flambagem quando tubulão totalmente enterrado. O cálculo, conforme
Alonso (2019, p. 48), será:
f ck f ´ yk
1, 4.P  0, 85. Af .  As .
1, 5 1,15
Sendo P a carga do pilar, Af a área da seção do fuste, As a seção
necessária de armadura longitudinal, fck a resistência a compressão do
concreto e f’yk a resistência do aço.

O cálculo deve levar em conta, que sob ar comprimido, os estribos


estarão sofrendo pressão 1,5 vezes superior à pressão do trabalho,
admitindo-se que não exista pressão externa de água ou solo
(ALONSO, 2019).

Em tubulões a ar comprimido com camisa de aço, sendo totalmente


enterrado, pode-se considerar a seção transversal da camisa como
sendo a armadura longitudinal, descontando-se 1,5 mm de espessura
(devido a uma possível corrosão), segundo Alonso (2019, p. 48). A carga
utilizada será o menor valor entre (ALONSO, 2019):
Estado-limite último:
fck f ' yk
1, 4.P  0, 85. Af .  As .
1, 5 1,15
Estado-limite de utilização:
fck
P = 0, 85. Af .
1, 3
Deve-se mensurar a armadura de transição entre base e camisa
metálica, quando o cálculo for com base no estado-limite último.
Esta armadura é cravada na base logo após a concretagem da
mesma. Além disso, deve ser verificada a necessidade de ancoragem
da camisa metálica devido à força do empuxo, provocado pelo ar
comprimido (ALONSO, 2019).

32
32
c. Cálculo da altura da base:

Nos tubulões a céu aberto, havendo base alargada, esta deve ter a forma
de tronco cone (com base circular ou de falsa elipse) superposto a um
cilindro de no mínimo 20 cm de altura chamado rodapé (ALONSO, 2019,
p. 45). O ângulo do tronco cone será de 60º. Assim, o cálculo, segundo
Alonso (2019, p. 45), da altura da base para tubulão de base circular e
falsa elipse pode ser calculada como:

Base circular:

H = 0,87 . (D - df )

Base falsa-elipse:

H = 0,87 . (a - df )

Alonso (2019, p. 45) recomenda que os tubulões devem ser


dimensionados de maneira em que suas bases não tenham alturas
superiores a 1,8m, a menos que sejam tomados cuidados para que se
mantenha a estabilidade do solo.

4. Exemplo de cálculo

Considerando os pilares conforme figura 6, e considerando uma tensão


admissível do solo de 0,5 MPa, são dimensionados os tubulões dos
pilares 1 e 2.

 33
Figura 6 – Pilares de um projeto

Fonte: elaborada pela autora.

O pilar 1 é um pilar na divisa, sendo necessária a adoção de uma seção


falsa-elipse, além do uso de uma viga alavanca até o pilar 2 devido à
excentricidade entre o centro da carga do pilar 1 e o centro de carga
do tubulão 1, conforme figura 7. Isso gera um acréscimo de carga no
tubulão 1 e o procedimento de cálculo é exemplificado a seguir.

Figura 7 – Adoção de seção falsa-elipse

Fonte: elaborada pela autora.

34
34
Parte-se de uma relação conhecida na falsa elipse, por exemplo, b = x:

 .b 2 P
 b.x 
4 s
P 1500
b   1, 30m
   
 s   1 500   1
 4  4 

Cálculo da excentricidade da carga, considerando bo a dimensão do pilar


na direção de b:
b  bo 130  25
e  divisa   2, 5  50cm
2 2
Cálculo da distância entre o centro de carga do tubulão do pilar 1 e o
centro de carga do tubulão do pilar 2, considerando a alavancagem
entre eles:
130
d  2, 5  350   287, 5cm
2
O acréscimo de carga gerado pela excentricidade no pilar 1 será:
P1.e 1500.50
P    261kN
d 287, 5
O total da carga no pilar 1 será:

R  P1  P  1500  261  1761kN

Dimensionamento da seção falsa-elipse:

 .b 2 P  .1, 302 1761


 b.x    1, 30.x   x  1, 70m
4 s 4 500
Verificando a relação: a/b menor que 2,5:

a 1, 70  1, 30
  2, 0  2, 5  ok
b 1, 5

 35
Cálculo do diâmetro do fuste, considerando fck = 25MPa e γc com
valor de 2,2:

0, 85. fck 0, 85.25000 P 1761


c    6899 KPa  Af    0, 25m²
 f . c 1, 4.2, 2  c 6899
Diâmetro: df = 0,57 m  adotado mínimo de 80 cm

Altura da base:

H  0, 87.(a  d f )  0, 87.(3, 0  0, 80)  1, 90  1, 80 m  recomendavel

Adotando H = 1,8 m  df = 0,95 m

Dimensionamento do tubulão do pilar 02 – seção circular:

Carga utilizada (devido à viga alavanca):

P 261
P '2  P2   2000   1870 kN
2 2
Diâmetro da base:

4.P 4.1870
D   2, 20 m
 . s  .500
Diâmetro do fuste:
4.1870
df   0, 59 m  0, 80 m
 .6899
Altura da base:

H  0, 87.( D  d f )  0, 87.(2, 2  0, 80)  1, 25  1, 80 m  ok

Resumo:

Tubulão 1: x= 1,70 m; b=1,3 m; df= 80 cm; H = 1,80 m

Tubulão 2: D= 2,20 m; df =0,80 m; H = 1,25 m.

36
36
TEORIA EM PRÁTICA
Considere o seguinte problema: pretende-se construir
um tubulão de 8,0 m de profundidade de base circular
em um silte arenoso compacto de coesão 20 kPa, peso
específico de 18 kN/m3 e ângulo de atrito de 20º. Para um
pré-projeto, adotou-se um diâmetro de base do tubulão de
2,0 m. A sondagem obteve os valores SPT a cada metro até
a profundidade de 15 m, respectivamente: 3, 4, 8, 10, 12,
16, 14, 20, 18, 15, 14, 16, 15, 13, 14. Com base nestes dados,
qual o valor da tensão admissível deste solo, considerando
o método de Terzaghi e a correlação SPT?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Os tubulões a céu aberto são estruturas indicadas


para obras com cargas elevadas, transmitindo a carga
pela base e:

a. Nunca podem ser usados na presença de água.

b. Têm necessidade da instalação de campânula de ar


comprimido.

c. Não podem ter a descida do operário.

d. Podem ser executados em terrenos saturados


onde se pode bombear água.

e. Precisam obrigatoriamente do
encamisamento metálico.

 37
2. Os tubulões em seu processo executivo exigem a
descida de um operário para alargamento da base
e/ou limpeza do fundo da escavação para posterior
concretagem. Devido a isso, a NR 18 (MTE, 2018) que
estabelece as condições e meio ambiente de trabalho na
indústria da construção exige que o diâmetro do fuste
tenha a dimensão mínima de:

a. 50 cm.

b. 60 cm.

c. 65 cm.

d. 75 cm.

e. 80 cm.

3. Os tubulões, em geral, são executados com base e


fuste de seção circular. Mas em casos específicos,
como em pilares de divisa e na sobreposição
de bases de tubulões devido à proximidade dos
mesmos, pode-se adotar a seção:

a. Quadrada.

b. Hexagonal.

c. Elipse.

d. Retangular.

e. Falsa-elipse.

38
38
Referências bibliográficas
ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2019.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
______. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6489: PROVA DE CARGA
DIRETA SOBRE TERRENO DE FUNDAÇÃO. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
GUIMARÃES, D; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre, RS: SAGAH, 2018.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996. 750 p.
JOPPERT JR, I. Fundações e Contenções de Edifícios. São Paulo: Pini, 2007.
TEM. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n° 15:
Atividades e operações insalubres. Brasília, 2018. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15.pdf. Acesso em: 15
jul. 2019.
TEM. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n° 18:
Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. Brasília,
2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_
NR/NR-18.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.
SOARES, F. L. Análise de provas de carga dinâmica em tubulões a céu aberto,
no campo experimental de fundações da EESC. São Carlos, 2002. 158 p.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: O tubulão a céu aberto pode ser executado em
terrenos saturados, quando é possível bombear a água sem risco
de desmoronamento.
Feedback de reforço: O tubulão a céu aberto tem várias
vantagens e deve ser verificada a possibilidade de sua execução
dependendo das condições do subsolo, sem que haja riscos de
desmoronamento.

 39
Questão 2 – Resposta: E
Resolução: A dimensão mínima do fuste de um tubulão é de 80 cm
de acordo com o item 18.6.21, letra g da NR 18 (MTE, 2018).
Feedback de reforço: A dimensão mínima do fuste deve ser
determinada para que o operário possa descer para realizar a
escavação manual da base ou a limpeza da mesma, de forma que
tenha segurança e conforto mínimo na descida. A NR 18 apresenta
valores mínimos de dimensão do fuste.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Em pilares de divisa e em sobreposição de bases de
tubulões, pode ser adotada a seção de falsa-elipse.
Feedback de reforço: O uso da base circular nem sempre é
possível, pois pode ocorrer a sobreposição de tubulões ou o
avanço na divisa. Assim, existe um tipo de seção mais comum
utilizado no qual é possível que um dos lados fique rente à divisa
ou a outra fundação, mas mantendo-se a área necessária para a
transmissão da carga ao terreno.

40
40
Estaca broca e hélice contínua
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Apresentar as características construtivas de uma


estaca broca e hélice contínua.

• Demonstrar o cálculo de capacidade de carga


de estacas.

• Exemplificar o dimensionamento de estacas e o


posicionamento correto das mesmas.

 41
1. Estacas

Segundo NBR 6122 (ABNT, 2019), as estacas são elementos de fundação


profunda que, com o auxílio de equipamentos e ferramentas, são
cravados ou perfurados no solo em que não há descida de pessoas
em qualquer fase da execução. Podem ser de vários materiais como
madeira, aço, concreto, entre outros.

As estacas podem ser classificadas de acordo com os critérios


(GUIMARÃES; PETER, 2018):

• Processo executivo: estacas moldadas in loco e estacas


pré-moldada.

• Tipo de funcionamento: estacas de ponta, estacas de atrito e


estaca mista.

• Tipo de carregamento: estacas de compressão, tração e flexão.

• Efeito produzido no solo: sem deslocamento, pequeno


deslocamento e grande deslocamento.

Hachich et al. (1996) consideram os seguintes aspectos que devem ser


levados em consideração na escolha do melhor tipo de estaca para
cada obra:

• Níveis de cargas dos pilares a serem transmitidos e a ocorrência


de outros esforços, como tração e flexão.

• Características do subsolo, como existência de argilas muito moles


dificultando a execução de estacas de concreto moldadas in loco,
ou solos muito resistentes dificultando ou as vezes impedindo
a cravação de estacas de concreto pré-moldadas, ou ainda, a
existência de água dificultando a execução de estaca de concreto
moldadas in-loco com lama ou sem revestimento.

• Características do local da obra: por exemplo, terrenos


acidentados, dificultando o acesso de equipamentos pesados

42
42
(bate-estaca); locais com pé-direito baixo (telhados e lajes)
dificultando o acesso do equipamento; obras distantes,
encarecendo o transporte do equipamento.

• Características das construções vizinhas.

As estacas podem ser pré-moldadas, de concreto, aço e madeira, e


podem ser estacas moldadas in loco. As estacas moldadas in loco
podem ser estacas tipo Franki, estacas escavadas sem lama bentonítica
(estaca tipo Strauss, estacas de trado helicoidal e estaca broca), estaca
tipo hélice contínua e estacas escavadas com lama bentonítica, estacas
injetadas (HACHICH et al., 1996). A seguir, são abordadas as estacas
broca e hélice contínua.

1.1 Estaca broca


A estaca broca é caracterizada como uma estaca moldada no local
após escavação do solo utilizando, usualmente, trados manuais, como
trado concha (figura 1) e trado helicoidal. A escavação manual limita a
utilização dessas estacas a pequenas cargas pela pouca profundidade
que consegue atingir (da ordem de 6 a 8 m) e também pela não
garantia de verticalidade do furo (HACHICH et al., 1996). Seu uso está
limitado a terrenos de baixa a média consistência e compacidade e
acima do nível de água.
Figura 1 – Escavação manual

Fonte: GrashAlex/iStock.com.

 43
Basicamente, seu processo executivo envolve a escavação com o trado
até a profundidade desejada, apiloamento do fundo, concretagem
e colocação da armadura de espera. Os diâmetros da estaca broca
variam entre 0,20 a 0,50 m, determinados pelo trado utilizado na
escavação. A concretagem é realizada com concreto plástico (entre
valores de 80mm a 100mm de abatimento), confeccionado no próprio
local, ou concreto usinado, lançado a partir da superfície com auxílio
de funil. A NBR 6122 (ABNT, 2019) não estabelece o espaçamento entre
as estacas moldadas in loco, mas a prática indica que deve ser de, no
mínimo, três vezes o valor de seu diâmetro.

A estaca broca é o tipo de fundação mais comum para obras de


pequeno e médio porte devido à simplicidade de seu processo
construtivo, rapidez, ausência de vibração e baixo custo.
As desvantagens deste tipo de estaca são que não podem ser
executadas abaixo do nível de água e o concreto não pode ser
inspecionado após a concretagem. Além disso, durante sua execução
há um desconfinamento do solo junto às paredes do fuste e à
superfície da base. Este solo fofo que se desprende das paredes
do furo e se deposita no fundo proporciona uma diminuição da
resistência de ponta dessas estacas (SCALLET, 2011).

1.2 Estaca hélice contínua

A NBR 6122 (ABNT, 2019) descreve a estaca hélice contínua como uma
estaca de concreto moldada in loco, executada pelo uso de um trado
helicoidal, que é introduzido no terreno e, simultaneamente, é feita a
injeção de concreto pela própria haste central do trado, sob pressão
controlada, conforme ilustrado na figura 2.

44
44
Figura 2 – Execução de estaca hélice contínua

Fonte: Pawel_B/iStock.com.

O uso de estacas hélice contínua foi iniciado no Brasil na década


de 1990. Sua execução pode ser dividida em três etapas (ALMEIDA
NETO, 2002):

• Perfuração: é realizada pela cravação da hélice no terreno por


rotação continuamente, com torque adequado para vencer a
resistência do solo até a profundidade estabelecida por projeto.
O avanço da perfuração deve ser controlado para se evitar o
desconfinamento do solo na interface trado-solo.

• Concretagem: a concretagem se inicia por bombeamento do


concreto pelo interior da haste tubular, após a hélice atingir a

 45
profundidade desejada. Durante a concretagem, a hélice passa a
ser retirada, sem girar, ou, em terrenos arenosos, girando muito
lentamente no sentido da perfuração. A injeção do concreto é
feita sob pressão positiva para evitar que ocorra a interrupção do
fuste. O concreto utilizado pode ser C30 ou C40 com abatimento
entre 220mm e 260mm, com diâmetro de agregado de 4,75mm
a 12,5mm, dependendo da classe de agressividade do meio
conforme NBR 6122 (ABNT, 2019).

• Colocação da armadura: a armadura é colocada na estaca


logo após a concretagem. Podem ser instaladas por gravidade,
compressão de um pilão ou vibração. Quando só existem
forças de compressão, não é necessária armação, mas por
recomendação deve-se colocar uma armadura de no mínimo
4,0 m para promover uma ligação melhor entre o bloco de
coroamento à estaca.

A execução das estacas hélice contínua é monitorada por meio de


sistemas computadorizados específicos que fornecem dados como:
profundidade, tempo, inclinação da torre, velocidade de penetração
do trado, velocidade de rotação do trado, torque, velocidade de
retirada da hélice, volume de concreto lançado e a pressão do mesmo
(ALMEIDA NETO, 2002).

Hachich et al. (1996) citam como vantagens do uso da estaca


hélice contínua:

• Alta produtividade de execução, reduzindo o cronograma da obra.

• Ausência de distúrbios e vibrações típicas de equipamentos a


percussão.

• Possibilidade de seu uso na maioria dos tipos de terrenos,


exceto na presença de matacões e rochas, podendo ser
executadas acima ou abaixo do lençol freático.

• Ausência de detritos poluídos por lama bentonítica.

46
46
As desvantagens de seu uso são: a necessidade do terreno ser plano
e de fácil movimentação devido ao porte do equipamento utilizado
e com capacidade do solo para suportar o peso dos equipamentos;
necessidade de uma central de concreto próxima ao local da obra;
uso de um equipamento para a limpeza do material gerado durante
a escavação, a exemplo de uma retroescavadeira; e, limitação do
comprimento da estaca e armação (HACHICH et al., 1996).

2. Capacidade de carga de uma estaca

A capacidade de carga de uma estaca será o menor valor entre a


resistência estrutural da fundação e a resistência do solo. A capacidade
de carga de ruptura da estaca (P) será composta de resistência de
atrito lateral (PL) e resistência de ponta (PP), conforme figura 3. Para se
determinar essa capacidade de carga, existem vários métodos, como
o uso de fórmulas teóricas e métodos semi-empíricos (baseados em
parâmetros de resistência obtidos em ensaios in situ de penetração,
como CPT e SPT).

Figura 3 – Capacidade de carga de ruptura de uma estaca

Fonte: elaborada pela autora.

 47
Barros (2012) diz que a aplicação de fórmulas teóricas é pouco utilizada,
pois alguns parâmetros do solo para estes cálculos são difíceis de obter.
Assim, são comumente utilizados métodos que estimam a capacidade
de carga da estaca usando parâmetros obtidos empiricamente em
ensaios in situ, como os tradicionais métodos Aoki-Velloso (de 1975) e
de Décourt-Quaresma (de 1978) e, especificamente para estacas hélice
contínua, o Método de Antunes & Cabral (de 1996).

PARA SABER MAIS


A estaca hélice contínua tem conseguido espaço no
mercado devido a sua alta produtividade. Sua produtividade
pode variar de 150 m a 400 m por dia dependendo do tipo
de solo, profundidade da estaca, torque do equipamento
e diâmetro da hélice (HACHICH et al., 1996). O avanço
tecnológico dos equipamentos tem aumentando ainda mais
essa produtividade.

2.1 Método Aoki-Velloso (1975)

Este método foi desenvolvido a partir de correlações entre resultados de


prova de carga em estacas e resultados de ensaios in situ. Alonso (2019)
descreve este método de cálculo com os passos a seguir.

Capacidade de carga na ruptura (PR) será:

PR = PL + PP

Em que:

PL  U . L.rL e PP = A.rp

Onde U é o perímetro da seção transversal do fuste; A é a área da


projeção da ponta da estaca; rL a parcela de atrito lateral;

48
48
rP a parcela de resistência de ponta; em ΔL é o trecho para o qual rL foi
calculado (figura 4).

Figura 4 – Método Aoki-Velloso

Fonte: elaborada pela autora.

Os valores da parcela de atrito lateral e da parcela de resistência de


ponta são calculados pelas equações:
K .N P
rp 
F1
 .K .N
rL 
F2

 49
Sendo N o valor do SPT obtido no ensaio e os fatores α e K obtidos no
quadro 1 e F1 e F2 obtidos no quadro 2.

Quadro 1 – Valores dos coeficientes K e α por Aoki-Velloso

Tipo do Terreno K (MPa) α (%)

Areia 1,00 1,4

Areia siltosa 0,80 2,0

Areia silto-argilosa 0,7 2,4

Areia argilosa 0,60 3,0

Areia argilo-siltosa 0,50 2,8

Silte 0,40 3,0

Silte arenoso 0,55 2,2

Silte areno-argiloso 0,45 2,8

Silte argiloso 0,23 3,4

Silte argilo-arenoso 0,25 3,0

Argila 0,20 6,0

Argila Arenosa 0,35 2,4

Argila areno-siltosa 0,30 2,8

Argila siltosa 0,22 4,0

Argila silto-arenosa 0,33 3,0

Fonte: adaptada de Alonso (2019, p. 106).

Quadro 2 – Fatores F1 e F2 para Aoki-Velloso

Tipos de estacas F1 F2

Franki 2,5 5,0

Pré-moldadas 1,75 3,5

Escavadas 3,0 6,0

Fonte: adaptada de Alonso (2019, p. 106).

50
50
Assim, a capacidade de carga de ruptura da estaca pelo método de
Aoki-Velloso é:
U N . A.K
PR  . (L.N L .K . )  P
F2 F1
A carga admissível é calculada com um fator de segurança global
igual a 2:
PR
Padm =
2

2.2 Método Décourt-Quaresma (1978)

O método de Décourt-Quaresma também calcula a resistência total


como a somatória das resistências de ponta e lateral. Alonso (2019)
descreve este método de cálculo com os passos a seguir.

Capacidade de carga na ruptura (PR) será:

PR = PL + PP

Em que:

PL  U . L.rL e PP  A.rp

Onde U é o perímetro da seção transversal do fuste; A é a área da


projeção da ponta da estaca; rL a parcela de atrito lateral; rP a parcela
de resistência de ponta; em ΔL é o trecho para o qual rL foi calculado
(figura 4).

Os valores da parcela de atrito lateral e da parcela de resistência de


ponta são calculados pelas equações:
N 
rL  10.  L  1
 3 
rP  C.N ' P

 51
Sendo N’P o valor médio do SPT correspondente às camadas da ponta
e das imediatamente inferior e superior a mesma; o coeficiente C
característico do solo obtido no Quadro 3; e, NL o valor SPT obtido no
ensaio para cada camada, adotando-se limites para NL sendo 3 ≤ NL ≤15,
desconsiderando-se os valores utilizados no cálculo de resistência de
ponta. Este valor limite para NL se estende a 50 no caso de estacas de
deslocamento e escavados com lama bentonítica.

Quadro 3 – Coeficiente C para método Décourt-Quaresma


Tipo de solo C (kPa)
Argila 120
Silte argiloso 200
Silte Arenoso 250
Areia 400

Fonte: adaptada de Barros (2012, p. 45).

Os valores de C do quadro 3 são para estacas pré-moldadas de concreto.


Para sua utilização em outros tipos de estacas, utiliza-se fatores α e β
de acordo com o quadro 4 e 5 respectivamente. Assim, a capacidade
de carga de ruptura de uma estaca de acordo com o método Décourt-
Quaresma (BARROS, 2012) é:
N 
PR   .C.N ' P . A   .10.  L  1 .U .L
 3 
Quadro 4 – Valores de α em função do tipo de estaca – Décourt-Quaresma

Tipo de estaca
Tipo de solo Estaca escavada Escavada Hélice Injetada sob
Raiz
em geral (bentonita) contínua altas pressões
Argila 0,85 0,85 0,3* 0,85* 1,0*
Solos
0,6 0,6 0,3* 0,6* 1,0*
intermediários
Areias 0,5 0,5 0,3* 0,5* 1,0*
* valores apenas orientativos devido ao reduzido número de dados disponíveis

Fonte: adaptada de Barros (2012, p. 46).

52
52
Quadro 5 – Valores de β em função do tipo de
estaca – Décourt-Quaresma

Tipo de estaca
Tipo de solo Estaca escavada Escavada Hélice Injetada sob
Raiz
em geral (bentonita) contínua altas pressões
Argila 0,8* 0,9* 1,0* 15* 3,0*
Solos
0,65* 0,75* 1,0* 1,5* 3,0*
intermediários
Areias 0,5* 0,6* 1,0* 1,5* 3,0*
* valores apenas orientativos devido ao reduzido número de dados disponíveis

Fonte: adaptada de Barros (2012, p. 46).

A carga admissível é calculada com um fator de segurança global


igual a 2:
PR
Padm =
2

ASSIMILE
Lembre-se: a capacidade de carga de uma estaca será o
menor valor entre a resistência estrutural da fundação
e a resistência do solo. Para estacas escavadas, como a
estaca hélice continua, há métodos específicos de cálculo
de capacidade de carga do solo. Apesar disso, podem ser
utilizados os métodos tradicionais de Aoki-Velloso (1975) e
Décourt-Quaresma (1978).

2.3 Método Antunes & Cabral (1996)

Barros (2012) cita que o método de Antunes e Cabral (1996) pode ser
utilizado na previsão da capacidade de carga de estacas hélice contínua,
de maneira análoga ao método de Aoki-Velloso (1975).

 53
PR  U . 1 .N .L   2 .N P .A

Onde U é o perímetro da seção transversal do fuste; A é a área da


projeção da ponta da estaca; β1 e β2 são obtidos no quadro 6; N é o
número SPT; ΔL é o comprimento da estaca na camada; com β1.N e
β2.N em kg/cm² e β2.N ≤ 40 kg/cm².

Quadro 6 – Valores de β1 e β2 para o Método de Antunes e Cabral

Tipo de solo β1 (%) β2 (%)

Areia 4,0 a 5,0 2 a 2,5

Silte 2,5 a 3,5 1,0 a 2,0

Argila 2,0 a 3,5 1,0 a 1,5

Fonte: Barros (2012, p. 42).

3. Dimensionamento de estacas

A partir da escolha do tipo de fundação e do cálculo de sua capacidade


de carga, é calculado o número de estacas necessários por pilar:
Carga do pilar
Número de estacas =
Carga admissível da estaca
a

Este cálculo é válido se o centro de carga do pilar coincidir com o


centro de carga do estaqueamento e se no bloco de coroamento
forem utilizadas estacas de mesmo tipo e diâmetro (ALONSO, 2019).
A disposição das estacas dever ser feita de modo a terem blocos de
menor volume, obedecendo a distância mínima de 3 vezes o diâmetro
entre elas. Em caso de sobreposição de estacas de dois ou mais pilares,
pode-se ser feito um único bloco e em caso de pilares de divisa, deve-se
utilizar viga de equilíbrio.

54
54
4. Exemplo de cálculo
Calcular a carga admissível de uma estaca broca de 6 m, com 20 cm de
diâmetro, com um ensaio de sondagem SPT conforme a figura 5, pelos
métodos de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma.

Figura 5 – Dados de sondagem SPT

Fonte: acervo da autora.

 55
Método de Aoki-Velloso:

U = π.D = π.0,20 = 0,628 m e A = π.D2/4 = 0,0314 m²

Quadro 7 – Cálculo PL de acordo com Aoki-Velloso

ΔL (m) N (médio) K (kPa) α (%) ΔL.N. K.α


1,20 6 330 3,0 71,28

1,30 3 330 3,0 38,58

3,5 20 250 3,0 525

634,86

U N . A.K 0, 628 26.0, 0314.250


PR  . (L.N L .K . )  P  . (624, 86) 
F2 F1 6 3
PR  123, 40 kN

Logo, a capacidade de carga considerando Fator de Segurança global 2


será de 51,7 kN.

Método de Décourt-Quaresma:

U = π.D = π.0,20 = 0,628m e A = π.D2/4 = 0,0314m²


N 
PR   .C.N ' P . A   .10.  L  1 .U .L
 3 
 11 
PR  0, 6.200.25.0, 0314  0, 65..10.   1 .0, 628.6
3 
PR  208, 5 kN
Logo, a capacidade de carga considerando Fator de Segurança global 2
será de 104,25 kN.

Este cálculo foi um exemplo de como se calcular a capacidade de carga


de uma estaca broca. O método é similar para outros tipos de estacas,
alterando-se os dados conforme os quadros.

56
56
A partir do cálculo da capacidade de carga de uma estaca, e com o
projeto estrutural em mãos, com os valores das cargas dos pilares,
elabora-se o projeto executivo das estacas. Isso é feito pelo cálculo
do número de estacas por pilar e o dimensionamento dos blocos de
coroamento.

TEORIA EM PRÁTICA
Considere o seguinte problema: você recebeu o projeto com
as cargas dos pilares. Dois destes pilares (30 x 30 cm) estão
próximos entre si, paralelos, distantes 150 cm de centro
a centro. Pretende-se utilizar estacas hélice contínua de
0,30 m de diâmetro, com capacidade de carga admissível
calculada de 700 kN. Quantas estacas são necessárias
para cada pilar, sabendo que a carga deles é de 2500 kN
e 2200 kN, respectivamente? Haverá sobreposição entre
as estacas? Se sim, qual seria uma possível solução de
disposição das estacas?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. As estacas hélice contínuas possuem algumas
características que podem impedir sua escolha em um
projeto de fundação. Uma destas características é:

a. A possibilidade de uso em qualquer inclinação


de terreno.

b. Necessidade de uso de bate-estaca.

c. Necessidade de uma central de concreto próxima ao


local da obra.

 57
d. Poluição do terreno com lama bentonítica.

e. Só pode ser utilizada acima do lençol freático.

2. É caracterizada como uma estaca moldada no local


após escavação do solo utilizando, usualmente, trados
manuais. Esta é a estaca:

a. De deslocamento.

b. Broca.

c. Escavada com lama bentonítica.

d. Hélice contínua.

e. Strauss.

3. Um pilar com carga de 3000 kN será apoiado em estacas


hélice contínua com capacidade de carga de ruptura da
estaca de 1000 kN. Quantas estacas serão necessárias
para a fundação deste pilar, considerando o fator de
segurança global de 2?

a. 3.

b. 2.

c. 6.

d. 12.

e. 9.

58
58
Referências bibliográficas
ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2019.
ALMEIDA NETO, J. A. Análise de desempenho de estacas hélice contínua e
ômega – Aspectos Executivos. São Paulo, 2002. Dissertação (Mestrado) – Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo – Universidade de São Paulo.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
BARROS, N. B. F. Previsão de recalque e análise de confiabilidade de fundações
em estacas hélice contínua. São Carlos, 2012. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.
GUIMARÃES, D; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre, RS: SAGAH, 2018.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996. 750p.
SCALLET, M. M. Comportamento de estacas escavadas de pequeno diâmetro
em solo laterítico e colapsível da região de Campinas/SP. Campinas, 2011. 166p.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Uma desvantagem da estaca hélice contínua é a
necessidade de uma central de concreto próxima ao local de
execução. A necessidade de concreto próximo ao terreno se deve
ao fato que no processo executivo da estaca hélice continua, a
concretagem acontece logo após a hélice atingir a profundidade
de escavação, pelo interior do tubo central, enquanto a haste é
retirada. A falta de concreto acarreta em paralisação da atividade.
Feedback de reforço: A estaca hélice contínua possui um processo
construtivo que envolve escavar ao solo e simultaneamente fazer a
injeção do concreto no furo, pelo interior do tubo central, enquanto
a haste é retirada. É importante que não há paralisação durante a
execução da estaca.

 59
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: A estaca broca é caracterizada pela sua escavação com
trados manuais, de acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2019). A estaca
broca é uma estaca de execução simples, mas que tem limitações
como a limitação de comprimento devido a escavação manual.
Feedback de reforço: Esta estaca é uma estaca de execução simples,
sendo feita com escavação manual. É bastante comum em obras de
pequeno porte.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: Se a capacidade de carga de ruptura é 1000kN, com
FS de 2, a carga admissível desta estaca será de 500kN. Assim, o
número de estacas será: 3000/500 = 6  precisará de 6 estacas
para sua fundação.
Feedback de reforço: O número de estacas é calculado pela relação
entre a carga do pilar e a capacidade de carga admissível da estaca.

60
60
Estacas Strauss
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Apresentar as características construtivas de uma


estaca Strauss.

• Relacionar as vantagens e desvantagens do uso


desse tipo de estaca.

• Demonstrar o cálculo de capacidade de carga de


uma estaca Strauss.

 61
1. Estaca Strauss

De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2019), a estaca Strauss é uma


estaca de concreto moldada in loco, executada por meio da perfuração
do solo com uma sonda ou piteira, com a simultânea introdução
de revestimento em camisa metálica. Sua concretagem é realizada,
lançando-se o concreto enquanto é retirado gradativamente o
revestimento metálico com simultâneo apiloamento do concreto.

Hachich et al. (1996) citam que a estaca Strauss foi utilizada na Europa
e nos Estados Unidos desde o princípio do século XX, com aumento
de seu uso no Brasil durante e após a 2º Guerra Mundial. As estacas
Strauss podem ter diâmetros de 25 cm a 55 cm e podem ser utilizadas
em terrenos acidentados e em construções já existentes. São estacas
que não apresentam elevada capacidade de carga de ruptura
(GUIMARÃES; PETER, 2018).

1.1 Processo construtivo de uma estaca Strauss

O processo executivo de uma estaca Strauss envolve o processo de


perfuração e colocação total dos tubos no solo e o lançamento do
concreto no interior do tubo. Os equipamentos utilizados na execução
da estaca Strauss são (HACHICH, 1996):

• Camisa metálica: tubos de aço de 2,5m de comprimento com


roscas macho e fêmea para permitir a continuidade da coluna dos
tubos no terreno e não permitir a entrada de água no furo.

• Sonda mecânica ou piteira: tubo de 2,5m, com diâmetro menor


que dos tubos da camisa metálica, com lastro de chumbo na
extremidade superior para aumentar seu peso. Abaixo da sonda
há janelas para permitir a saída do material escavada, além
da válvula mecânica com a função de promover a abertura e
fechamento da extremidade inferior.

62
62
• Soquete: cilindro metálico maciço, com diâmetro menor do que a
camisa metálica e peso mínimo de 300 kg.

• Tripé, torre ou cavalete mecânico com carretilha de aço no topo.

• Guincho mecânico: com capacidade mínima de 1 tonelada, simples


ou duplo, com alavanca para acionamento, freio e cabo de aço.
É acoplado a um motor à explosão ou elétrico.

A perfuração se inicia com a instalação do tripé, torre ou cavalete


mecânico com carretilha de aço no topo presa ao guincho, conforme
ilustrada pela figura 1. É posicionada a sonda mecânica sobre o piquete
de marcação e solta-se a piteira para fazer um pré furo no terreno com
profundidade de 1,0 a 2,0 m (ABNT, 2019). Em seguida, posiciona-se o
primeiro tubo da camisa metálica com extremidade inferior dentada
(coroa), tendo já no seu interior a piteira (sonda mecânica).

Figura 1 – Execução de uma estaca Strauss

Fonte: Branco (2006, p. 47).

 63
O operador passa a manobrar a sonda para cima e para baixo
(figura 2), fazendo a perfuração do terreno com auxílio de água que é
lançada manualmente dentro e fora da tubulação. Assim que a sonda
é completada com terra, este material é descarregado pelas janelas
longitudinais e o processo continua, com a sonda avançando pelo
solo até aproximadamente o comprimento de um segmento de tubo
de 2,0 a 3,0 m.

Figura 2 – Operador sobre o guincho

Fonte: vbacarin/iStock.com.

Ao se atingir aproximadamente o comprimento do segmento do


tubo, posiciona-se uma haste de aço pela sonda prendendo o tubo na
sonda por meio de uma luva rosqueada no topo do tubo e inicia-se a
movimentação conjunta da sonda e do tubo até que este segmento de
tubo seja introduzido no solo. Com sua introdução, acopla-se o próximo
tubo, repetindo-se a operação até a profundidade de projeto.
É importante, durante esta operação de perfuração, o operador
observar a verticalidade do conjunto tubo e sonda, verificando o
posicionamento do tripé e o prumo do sistema, além de obter amostras
do solo escavado para comparar com a sondagem e fornecer dados para
a confirmação do comprimento final da estaca (HACHICH, 1996).

64
64
Após a perfuração, a camisa metálica tem seu interior limpo com água e
são retirados a água e lama resultante do contato água e solo da sonda.
O soquete também é lavado e posicionado acima do tubo. É iniciada a
concretagem, lançando-se o concreto por meio de um funil no interior
dos tubos até uma altura aproximada de um metro (ABNT, 2019).
Utilizando-se o soquete, apiloa-se o concreto, formando uma espécie de
bulbo pela expulsão do concreto, conforme ilustrado pela figura 3.

Figura 3 – Processo construtivo de uma estaca Strauss

Fonte: Guimarães e Peter (2018, p. 96).

Enquanto o concreto é lançado dentro do tubo, ele é apiloado e a


camisa metálica vai sendo retirada lentamente simultaneamente. Para
garantir a qualidade do fuste, durante o apiloamento deve ser mantida
uma coluna de concreto de 6m de altura dentro da tubulação para

 65
não permitir que o soquete entre em contato com o solo da parede
da perfuração e provoque solapamento e mistura de solo ao concreto
(HACHICH, 1996). A concretagem termina quando o concreto atinge um
diâmetro acima da cota de arrasamento da estaca (excesso que será
cortado para o preparo da cabeça da estaca).

A última etapa do processo executivo de uma estaca Strauss é a


colocação da armadura de espera para amarração do bloco de
coroamento ou baldrames. Essa armadura é simplesmente introduzida
no concreto fresco, deixando-a acima da cota de arrasamento indicada
pelo projeto. Em caso de estacas armadas, por serem submetidas
a esforços de tração ou não axiais, a armação será instalada após a
formação do bulbo e a concretagem prossegue como nos casos das
estacas não armadas, sendo que o soquete terá dimensão menor que
a armadura para conseguir realizar o apiloamento do concreto pelo
interior da mesma (HACHICH, 1996).

O concreto a ser utilizado nas estacas Strauss deve ter consumo mínimo
de 300 kg/m³, com consistência plástica (slump test entre 8 cm e 12 cm
para estacas não armadas e de 12 cm a 14 cm para estacas armadas), fck
superior a 20MPa aos 28 dias e agregados com diâmetros entre 12,5 a
25mm para que preencha de maneira uniforme, sem descontinuidades
o fuste da estaca (ABNT, 2019).

1.2 Vantagens e desvantagens da estaca Strauss

As estacas Strauss podem ser utilizadas em locais com terrenos


acidentados e em construções já existentes. Isso se deve porque sua
utilização tem as seguintes vantagens, sendo Hachich (1996):

• Não provocam vibrações em seu processo construtivo,


evitando danos em construções vizinhas.

• Sua locomoção dentro da obra é fácil.

66
66
• Possibilidade de se conhecer as camadas de solo pela retirada
de amostras, de maneira a comparar com o obtido na
sondagem à percussão.

• Possibilidade de execução em locais de pé-direito reduzido


ou em terrenos de pequena dimensão, devido à facilidade de
adaptação do equipamento.

• Apresenta custo relativamente baixo de execução.

Apesar dessas vantagens, a estaca Strauss não tem uso indicado


para solos com lençol freático alto, areia saturada e solos de elevada
resistência. Também apresenta pequena capacidade de carga, sendo
utilizada em estruturas de pequeno porte. Deve ser feito controle
rigoroso da concretagem para que não ocorram falhas de concretagem
durante a retirada dos tubos, ou seja, a retirada dos tubos deve ser
lenta suficiente para que a introdução do concreto e seu apiloamento
promovam a formação de um fuste íntegro.

2. Capacidade de carga de uma estaca

A capacidade de carga de uma estaca será o menor valor entre a


resistência estrutural da fundação e a resistência do solo. Alguns valores
orientativos de capacidade de carga estrutural de uma estaca Strauss é
mostrada no quadro 1.

Quadro 1 – Valores de capacidade de carga estrutural orientativos

Seção transversal (cm) Carga (kN) Comprimento normal (m)


Φ 25 200 3 a 12
ESTACA
Φ 32 300 3 a 15
STRAUSS
Φ 38 450 3 a 20
Φ 45 600 3 a 20
Φ 55 800 3 a 20
Fonte: adaptada de Alonso (2019, p. 76).

 67
A capacidade de carga de ruptura da estaca (P) será composta de
resistência de atrito lateral (PL) e resistência de ponta (PP). Para se
determinar essa capacidade de carga são comumente utilizadas
fórmulas teóricas e métodos semi-empíricos (baseados em parâmetros
de resistência obtidos em ensaios in situ de penetração como CPT e
SPT), como os tradicionais métodos Aoki-Velloso (1975) e de Décourt-
Quaresma (1978).

PARA SABER MAIS


A estaca Strauss foi desenvolvida, inicialmente, para ser
uma alternativa às estacas pré-moldadas cravadas por
percussão que causavam problemas pela vibração e ruído
gerados em sua cravação (HACHICH, 1996).

2.1 Método Aoki-Velloso

O método de Aoki-Veloso descrito por Alonso (2019) envolve os


cálculos:

Capacidade de carga na ruptura (PR):

PR = PL + PP

Em que:

PL  U . L.rL e PP  A.rp

Onde U é o perímetro da seção transversal do fuste; A é a área da


projeção da ponta da estaca; rL a parcela de atrito lateral; rP a parcela
de resistência de ponta; em ΔL é o trecho para o qual rL foi calculado
(figura 4).

68
68
Os valores da parcela de atrito lateral e da parcela de resistência de
ponta são calculados pelas equações:
K .N P
rp 
F1
 .K .N
rL 
F2
Sendo N o valor do SPT obtido no ensaio e os fatores α e K obtidos no
quadro 2 e F1 e F2 obtidos no quadro 3.

Quadro 2 – Valores dos coeficientes K e α por Aoki-Velloso

Tipo do Terreno K (MPa) α (%)


Areia 1,00 1,4

Areia siltosa 0,80 2,0

Areia silto-argilosa 0,7 2,4

Areia argilosa 0,60 3,0

Areia argilo-siltosa 0,50 2,8

Silte 0,40 3,0

Silte arenoso 0,55 2,2

Silte areno-argiloso 0,45 2,8

Silte argiloso 0,23 3,4

Silte argilo-arenoso 0,25 3,0

Argila 0,20 6,0

Argila Arenosa 0,35 2,4

Argila areno-siltosa 0,30 2,8

Argila siltosa 0,22 4,0

Argila silto-arenosa 0,33 3,0

Fonte: adaptada de Alonso (2019, p. 106).

 69
Quadro 3 – Fatores F1 e F2 para Aoki-Velloso

Tipos de estacas F1 F2

Franki 2,5 5,0

Pré-moldadas 1,75 3,5

Escavadas 3,0 6,0

Fonte: adaptada de Alonso (2019, p. 106).

Assim, a capacidade de carga de ruptura da estaca pelo método de


Aoki-Velloso é:
U N . A.K
PR  . (L.N L .K . )  P
F2 F1
A carga admissível é calculada com um fator de segurança global
igual a 2:
PR
Padm =
2

ASSIMILE
Lembre-se: a estaca Strauss é uma ótima solução
em terrenos acidentados, locais confinados ou para
ser executada no interior de construções existentes.
Sua simplicidade de construção e de adaptação dos
equipamentos a torna uma boa opção para construções
de pequeno porte.

2.2 Método Décourt-Quaresma

O método de Décourt-Quaresma é similar ao método de Aoki-Veloso,


mas as parcelas de atrito lateral e da resistência de ponta são calculadas
conforme apresentado a seguir:

70
70
N 
rL  10.  L  1
 3 
rP  C.N ' P

Sendo N’P o valor médio do SPT correspondente às camadas da ponta


e das imediatamente inferior e superior a mesma; o coeficiente C
característico do solo obtido no Quadro 4; e, NL o valor SPT obtido no
ensaio para cada camada, adotando-se limites para NL sendo 3 ≤ NL ≤15,
desconsiderando-se os valores utilizados no cálculo de resistência de
ponta. Este valor limite para NL se estende a 50 no caso de estacas de
deslocamento e escavados com lama bentonítica.

Quadro 4 – Coeficiente C para método Décourt-Quaresma

Tipo de solo C (kPa)

Argila 120

Silte argiloso 200

Silte Arenoso 250

Areia 400

Fonte: adaptada de Barros (2012, p. 45).

Os valores de C do quadro 4 são para estacas pré-moldadas de concreto.


Para estacas Strauss, o método de Décourt-Quaresma é corrigido por
fatores α e β iguais a 0,6 e 0,65 respectivamente (BARROS, 2012), sendo
a capacidade de carga de ruptura de uma estaca como:
N 
PR  0, 6.C.N ' P . A  0, 65.10.  L  1 .U .L
 3 
A carga admissível é calculada com um fator de segurança global
igual a 2:
PR
Padm =
2

 71
3. Exemplo de cálculo da capacidade de carga de
uma estaca Strauss

Calcular a carga admissível de uma estaca Strauss de 7 m, com 32 cm de


diâmetro, com um ensaio de sondagem SPT conforme a figura 5, pelos
métodos de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma.

Figura 5 – Dados de sondagem SPT

Fonte: acervo da autora.

Método de Aoki-Velloso:
U = π.D = π.0,32 = 1,0 m e A = π.D2/4 = 0,0804 m²

Dividindo em três camadas (argila siltosa pouco arenosa, silte arenoso


pouco argiloso e silte arenoso), calcula-se a resistência lateral:

72
72
Quadro 7 – Cálculo PL de acordo com Aoki-Velloso

ΔL (m) N (médio) K α ΔL.N. K.α


(kPa) (%)

1,74 5 330 3,0 86,13

2,56 12 (média entre 2, 15 e 21) 450 2,8 387,07

2,70 20 (média entre 20, 26 e 32) 550 2,2 653,4

1126,60

U N . A.K 1, 0 32.0, 0804.550


PR  . (L.N L .K . )  P  .(1126, 60) 
F2 F1 6 3
PR  659, 45 kN

Logo, a capacidade de carga considerando fator de segurança global 2


será de 329,7 kN.

Método de Décourt-Quaresma:
U = π.D = π.0,32 = 1,0 m e A = π.D2/4 = 0,0804 m²

Considerando estaca Strauss sendo estaca escavada, solo de silte


arenoso (solo intermediário) e Np sendo a média entre 26, 32 e 35:

N 
PR  0, 6.C.N ' P . A  0, 65.10.  L  1 .U .L
 3 
 14 
PR  0, 6.250.31.0, 0804  0, 65.10.   1 .1, 0.7
 3 
PR  631, 69 kN
Logo, a capacidade de carga considerando fator de segurança global 2
será de 315,85 kN.

Este cálculo foi um exemplo de como se calcular a capacidade de carga


de uma estaca Strauss. A partir do cálculo da capacidade de carga de
uma estaca e com o projeto estrutural em mãos, com os valores das

 73
cargas dos pilares, elabora-se o projeto executivo das estacas. Isso é
feito pelo cálculo do número de estacas por pilar e o dimensionamento
dos blocos de coroamento.

TEORIA EM PRÁTICA
Considere que você foi contratado para elaborar o projeto
de fundação de uma residência de dois pavimentos, em
que se prevê uma carga média por pilar de 250 kN. As casas
vizinhas são antigas, da década de 1960. Foi realizada a
sondagem e obteve-se os seguintes dados:

Espessura da Nspt Médio Nível Tipo


camada (m) da camada de água de solo
1 5 Argila
Não
3,0 13 Silte argiloso
encontrado
4,0 20 Silte argiloso

A estaca Strauss pode ser utilizada neste caso? Como


justificaria isso ao cliente? Qual a capacidade de carga de
ruptura desta estaca por Aoki-Velloso? Quantas estacas são
necessárias por pilar?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Entre vários tipos de estacas moldadas in loco, tem-se


a estaca Strauss, estaca broca, estaca hélice contínua
e estaca Franki. A estaca Strauss é definida, segundo a
NBR 6122 (ABNT, 2019), como:

74
74
a. Estaca de concreto moldada in loco, executada por
perfuração do solo mediante o emprego de uma
sonda, com a introdução de revestimento com
camisa metálica, realizando-se o lançamento do
concreto, com apiloamento, e simultânea retirada
lenta do revestimento.

b. Estaca executada por perfuração do solo através de


trado mecânico e etapas de apiloamento do concreto
ao ser lançado.

c. Estaca moldada in loco, armada, executada através de


perfuração rotativa ou roto-percussiva e injetada com
calda de cimento por meio de um tubo com válvulas.

d. Estaca moldada in loco, sendo a estabilidade da


parede da perfuração assegurada pelo uso de fluido
estabilizante.

e. Estaca moldada in loco executada pela cravação, por


meio de sucessivos golpes de um pilão.

2. O procedimento de execução de uma estaca Strauss


envolve as etapas de perfuração, concretagem e
apiloamento do concreto e colocação de armadura de
espera para amarração nos blocos de coroamento ou
baldrames. Neste caso, ela não é uma estaca armada.
Ela teria, por projeto, necessidade de ser armada se
estivesse sujeita:

a. Ao nível de água.

b. A esforços axiais.

 75
c. A esforços de compressão.

d. A esforços de tração.

e. Em nenhuma situação pode ser armada.

3. Pretende-se elaborar um projeto de fundação de


uma ampliação de um pequeno galpão industrial.
Ao analisar as características do local e do solo, qual
destas características faz com que a estaca Strauss
seja uma opção inviável?

a. Vizinhança antiga.

b. Ausência de lençol freático.

c. Existência de argila saturada.

d. Terreno pequeno e acidentado.

e. Alguns pontos de estaca estarão em local confinado.

Referências bibliográficas
ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2019.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
BARROS, N. B. F. Previsão de recalque e análise de confiabilidade de fundações
em estacas hélice contínua. São Carlos, 2012. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.
BRANCO, C. J. M. C. Provas de carga dinâmica em estacas escavadas de pequeno
diâmetro com ponta modificada. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São
Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.
GUIMARÃES, D; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre, RS: SAGAH, 2018.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996.

76
76
Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: A estaca Strauss é denominada pela NBR 6122 (ABNT,
2019) como sendo uma estaca de concreto moldada in loco,
executada por perfuração do solo mediante o emprego de uma
sonda, com a introdução de revestimento com camisa metálica,
realizando-se o lançamento do concreto, com apiloamento, e
simultânea retirada lenta do revestimento.
Feedback de reforço: A estaca Strauss é uma estaca muito utilizada
em obras que não podem, durante a execução da fundação,
apresentar vibrações. É uma estaca de simples execução e permite
seu uso em locais confinados, devido ao porte dos equipamentos
utilizados.
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: Quando uma estaca está sujeita a esforços de tração e
não axiais ele deve ser armada.
Feedback de reforço: O concreto é um material que possui alta
resistência à compressão. Quando existem outros tipos de esforços
solicitantes pode haver a necessidade de reforço estrutural.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: A existência de argila saturada é um empecilho ao uso
de uma estaca Strauss.
Feedback de reforço: É importante se analisar o tipo de solo, pois
para cada fundação há restrições de seu uso em determinadas
situações. A estaca Strauss é executada pela perfuração utilizando
uma piteira e revestimento metálico.

 77
Estaca tipo Franki
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Apresentar as características construtivas de uma


estaca tipo Franki.

• Relacionar as vantagens e desvantagens do uso


desse tipo de estaca.

• Demonstrar o cálculo de capacidade de carga de


uma estaca Franki.

78
78
1. Estaca tipo Franki

Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2010), a estaca tipo Franki, também


chamada de “pressure-injected footings”, é uma estaca de concreto
moldada in loco, executada por meio de cravação de um tubo de ponta
fechada por uma bucha seca de pedra e areia aderida por atrito na
extremidade inferior do tubo, por sucessivos golpes de pilão. Sua base é
alargada e ela é uma estaca armada integralmente.

A estaca tipo Franki foi desenvolvida e patenteada por Edgard


Frankignoul na Bélgica, no início do século XX. Seu primeiro emprego
no Brasil foi em 1935, sendo utilizada na Casa Publicadora Baptista, no
Rio de Janeiro, e, posteriormente, em São Paulo, nas estacas do portal
de entrada do Túnel Nove de Julho, em 1936. A partir de 1960, com a
expiração da licença da patente, o método de fundação Franki entrou
para domínio público (HACHICH et al., 1996).

A escolha do uso de uma estaca Franki baseia-se nos dados de projeto


sobre topografia do terreno, tipo e porte da construção e escavações.
Também depende das informações obtidas nas sondagens de
reconhecimento de solo e visita ao local para conhecimento das condições
de acesso ao terreno e do estado das construções da vizinhança.

1.1 Processo construtivo de uma estaca Franki

A qualidade de execução de uma estaca Franki depende da observância


ao método executivo, do uso de equipamentos adequados e de mão de
obra qualificada. Os equipamentos de execução de uma estaca Franki,
conforme Hachich et al. (1996) são:

• Bate-estaca: composto de torre, motor, guincho e mecanismo de


movimentação.

• Pilões: suas características são estabelecidas pela NBR 6122


(ABNT, 2019) conforme quadro 1.

 79
• Tubos cujas características (diâmetro e peso por metro linear) são
indicadas no quadro 2.

Quadro 1 – Peso e diâmetro dos pilões

Diâmetro da
Peso (kN) Diâmetro (m)
estaca (m)

0,30 10 0,18

0,35 15 0,18

0,40 20 0,25

0,45 25 0,28

0,52 28 0,31

0,60 30 0,38

0,70 34 0,43

Fonte: ABNT: NBR 6122 (2019, p. 66).

Quadro 2 – Peso e diâmetro dos tubos

Diâmetro do tubo (m) Peso (kN/m)

0,30 1,4

0,35 1,75

0,40 2,25

0,52 3,65

0,60 4,50

Fonte: Hachich et al. (1996, p. 331).

Conforme Hachich et al. (1996), a execução da estaca Franki se inicia


pelo posicionamento do tubo de revestimento e da formação da bucha.
A formação da bucha é executada por se apoiar o tubo de revestimento
sobre o terreno, lançando-se em seu interior uma quantidade de brita

80
80
e areia. Esta mistura é então compactada com golpes do pilão, de
forma a se expandir lateralmente e se aderir fortemente ao tubo. Com
a bucha formada, o tubo é cravado no terreno por meio do impacto
de golpes sucessivos do pilão na bucha. Ao fim da cravação (definida
pela verificação da nega do tubo nos últimos metros de cravação), o
tubo é preso à torre do bate-estaca por meio de cabos de aço e a bucha
é expulsa, conforme ilustrado na figura 1. A NBR 6122 (ABNT, 2019)
estabelece que as negas de cravação do tubo devem ser obtidas de
duas maneiras:

• Para dez golpes de 1,0 m de altura de queda do pilão.

• Para um golpe de 5,0 m de altura de queda do pilão.

Com a expulsão da bucha do tubo, é realizado o alargamento da base


pelo apiloamento em pequenas e sucessivas quantidades de concreto
quase seco (fator água/cimento igual a 0,18), conforme NBR 6122 (ABNT,
2019). Na execução da base alargada é necessário que os últimos
0,15 m³ de concreto sejam introduzidos com uma energia mínima de
2,5 MN x m para as estacas com diâmetro igual ou inferior a 450 mm
e de 5,0 MN x m para estacas com diâmetro de 450 mm até 600 mm.
No caso de estacas com diâmetro de 700 mm, a energia mínima dos
últimos 0,25 m³ deverá ser de 9,0 MN x m (ABNT, 2019). Essa energia é
determinada pelo produto do peso do pilão pela altura de queda e pelo
número de golpes.

 81
Figura 1 – Processo executivo de uma estaca Franki

Fonte: ABEF (1999) citado por Branco (2006, p. 50).

82
82
Com o término da execução do alargamento da base, é colocada a
armação, que deve ser ancorada na base. Esta ancoragem, segundo
Hachich et al. (1996), é feita pela compactação de um volume adicional
de concreto na armação recém colocada sobre a base alargada. Para
que não ocorra risco de rompimento de armadura na execução deste
concreto adicional, o pé da armação deve ser feito com aço CA-25, para
que o aço se adapte sem romper a compactação, conforme a NBR 6122
(ABNT, 2019). A armadura na estaca Franki é integral, pois faz parte do
processo executivo da estaca e também é fundamental para permitir o
controle executivo.

Para a formação do fuste é feita a concretagem, lançando-se sucessivas


camadas de pequena altura de concreto (fator água/cimento igual a
0,36), com a retirada concomitante do tubo de revestimento, com o
cuidado de sempre existir um mínimo de concreto na parte interna
do tubo. A concretagem é finalizada cerca de 30 cm acima da cota de
arrasamento (HACHICH et al., 1996).

Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2019), a estaca Franki pode apresentar


alternativas executivas em relação aos procedimentos padrões,
por exemplo: perfuração interna (denominado “cravação à tração”),
fuste pré-moldado, fuste encamisado com tubo metálico perdido,
fuste executado com concreto plástico vibrado ou sem execução de
base alargada.

Durante a execução de uma estaca tipo Franki, deve-se atentar para que
todas as demais estacas situadas em um círculo igual a cinco vezes o
diâmetro da estaca estejam cravadas e concretadas há pelo menos 12 h
(ABNT, 2019), pois há o risco de levantamento dessas estacas. Segundo
Hachich et al. (1996), o dano pode ser causado pelo empolamento
do solo circundante que se desloca durante a cravação do tubo,
promovendo tração e compressão nas estacas já concretadas. A estaca
danificada pode perder capacidade de carga e até sofrer a ruptura do
fuste ou a perda de contato da base com o solo de apoio.

 83
1.2 Vantagens e desvantagens da Estaca Franki

A estaca tipo Franki tem alta capacidade de carga, além de promover


um bom controle de qualidade do estaqueamento. Sua base alargada
promove maior resistência de ponta, comparada a outros tipos de
estacas. Também o processo de apiloamento do concreto contra o solo
para a formação do fuste da estaca aumenta o atrito lateral. Podem ser
executadas em grandes profundidades, não sendo limitadas pelo nível
do lençol freático.

Apesar disso, seu procedimento de execução é responsável por


vibrações excessivas, o que restringe seu uso em vizinhanças com
fundações antigas ou sujeitas a movimentação. Outro fator a ser levado
em consideração é que a estaca Franki possui produtividade baixa, da
ordem de 30 m por dia (BRANCO, 2006).

2. Capacidade de carga de uma estaca


A capacidade de carga de uma estaca será o menor valor entre a
resistência estrutural da fundação e a resistência do solo. O Quadro 3
apresenta as principais características de estacas tipo Franki utilizadas
no Brasil.
Quadro 3 – Características de estacas tipo Franki

Diâmetro (cm) 30 35 40 52 60

Espaçamento mínimo entre eixos de estacas d (cm) 100 120 130 150 170

Comprimento máximo recomendável L (m) 15 18 22 30 35

Armação de compressão, número e bitola de barras 4 12,5 4 16 4 16 4 20 4 22

Armação de tração, número e bitola de barras 4 16 4 16 4 20 4 25 4 25

Carga admissível de compressão (kN) 450 550 800 1300 1700

Carga admissível de tração (kN) 85 100 130 240 270

Fonte: Hachich et al. (1996, p. 335).

84
84
A capacidade de carga de ruptura da estaca (P) será composta de
resistência de atrito lateral (PL) e resistência de ponta (PP). Para se
determinar essa capacidade de carga existem vários métodos, como
o uso de fórmulas teóricas e métodos semi-empíricos (baseados em
parâmetros de resistência obtidos em ensaios in situ de penetração,
como CPT e SPT). Para o cálculo da capacidade de carga de estacas são
comumente utilizados métodos como os tradicionais Aoki-Velloso (1975)
e de Décourt-Quaresma (1978).

PARA SABER MAIS


A NBR 6122 (ABNT, 2010) estabelece como critérios mínimos
para o concreto utilizado na estaca Franki um consumo de
cimento acima de 350 kg/m³ e fck ≥ 20 MPa aos 28 dias.

2.1 Método Aoki-Velloso

Alonso (2019) descreve o método Aoki-Velloso com os passos a seguir.

Capacidade de carga na ruptura (PR) será:

PR = PL + PP

Em que:

Onde U é o perímetro da seção transversal do fuste; A é a área da


projeção da ponta da estaca; rL a parcela de atrito lateral; rP a parcela de
resistência de ponta; em ΔL é o trecho para o qual rL foi calculado.

Os valores da parcela de atrito lateral e da parcela de resistência de


ponta são calculados pelas equações:

 85
K .N P
rp 
F1
 .K .N
rL 
F2
Sendo N o valor do SPT obtido no ensaio e os fatores α e K obtidos
no quadro 2 e F1 e F2 para estaca Franki são iguais a 2,5 e 5,0
respectivamente.

Quadro 4 – Valores dos coeficientes K e α por Aoki-Velloso

Tipo do Terreno K (MPa) α (%)


Areia 1,00 1,4
Areia siltosa 0,80 2,0
Areia silto-argilosa 0,7 2,4
Areia argilosa 0,60 3,0
Areia argilo-siltosa 0,50 2,8
Silte 0,40 3,0
Silte arenoso 0,55 2,2
Silte areno-argiloso 0,45 2,8
Silte argiloso 0,23 3,4
Silte argilo-arenoso 0,25 3,0
Argila 0,20 6,0
Argila Arenosa 0,35 2,4
Argila areno-siltosa 0,30 2,8
Argila siltosa 0,22 4,0
Argila silto-arenosa 0,33 3,0

Fonte: Alonso (2019, p. 106).

Assim, a capacidade de carga de ruptura da estaca pelo método de


Aoki-Velloso é:
U N . A.K
PR  . (L.N L .K . )  P
F2 F1

86
86
A carga admissível é calculada com um fator de segurança global
igual a 2:
PR
Padm =
2

ASSIMILE
A estaca Franki alia vantagens das estacas pré-moldadas,
como a ausência de emendas ou cortes e capacidades de
carga altas devido à sua base alargada e apiloamento do
concreto. No entanto, seu uso é restrito a locais que não
tenham problemas devido ao excesso de vibrações geradas
em seus processos construtivo.

2.2 Método Décourt-Quaresma

Alonso (2019) descreve os passos do método Décourt-Quaresma. O


método segue os mesmos passos de Aoki-Velloso, alterando-se os
valores das parcelas de atrito lateral e resistência de ponta, que são
calculados pelas equações:

N 
rL  10.  L  1
 3 
rP  C.N ' P
Sendo N’P o valor médio do SPT correspondente as camadas da ponta
e das imediatamente inferior e superior a mesma; o coeficiente C
característico do solo obtido no Quadro 5; e, NL o valor SPT obtido no
ensaio para cada camada, adotando-se limites para NL sendo 3 ≤ NL ≤15,
desconsiderando-se os valores utilizados no cálculo de resistência de
ponta. Este valor limite para NL se estende a 50 no caso de estacas de
deslocamento e escavados com lama bentonítica.

 87
Quadro 5 – Coeficiente C para método Décourt-Quaresma

Tipo de solo C (kPa)

Argila 120

Silte argiloso 200

Silte Arenoso 250

Areia 400

Fonte: Barros (2012, p. 45).

Os valores de C do quadro 5 são para estacas pré-moldadas de concreto


e podem ser utilizados sem correção para as estacas Franki. Assim,
a capacidade de carga de ruptura de uma estaca, de acordo com o
método Décourt-Quaresma (BARROS, 2012) é:

N 
PR  C.N ' P . A  10.  L  1 .U .L
 3 
A carga admissível é calculada com um fator de segurança global
igual a 2:
PR
Padm =
2

3. Exemplo de cálculo da capacidade de carga de


uma estaca Franki

Neste exemplo, calcule a capacidade admissível de uma estaca tipo


Franki a ser utilizada em um terreno com o relatório de sondagem
abaixo, adotando como base de projeto um diâmetro de 40 cm, volume
da base de 250 litros e profundidade de 10m.

No cálculo da capacidade de carga de uma estaca tipo Franki,


deve-se ter o cuidado com relação ao cálculo da área da base.

88
88
Como a estaca tem base alargada, é considerado no cálculo da área
o valor do raio da esfera correspondente ao volume da base.

Cálculo do raio da esfera correspondente ao volume da base:

4. .R 3 3.Vb
Vb R 3
3 4.

Abase .R 2
Neste caso:

4. .R 3 3.0, 25
Vb R 3 0, 39m
3 4.

Abase .R 2 .0, 392 0, 478m²

U .d .0, 40 1, 26m

 89
Figura 2 – Dados de sondagem SPT

Fonte: Cintra e Aoki (2010, p. 37).

90
90
Método de Aoki-Velloso:

O solo dos 10 metros da estaca é areia argilosa, assim se pode calcular


diretamente o valor da resistência lateral como:

ΔL (m) N (médio) K (kPa) α (%) ΔL.N. K. α

10 5 600 3,0 900

Considerando F1 = 2,5 e F2 = 5,0:

U N P . A.K 1, 26 7.0, 478.600


PR . ( L.N L .K . ) .(900)
F2 F1 5 2, 5

PR 1030 kN
Logo, a capacidade de carga considerando fator de segurança global 2
será de 515 kN.

Método de Décourt-Quaresma:

A estaca Franki tem comportamento parecido com uma estaca metálica,


assim sendo Np a média entre 7, 7 e 9:

NL
PR C.N ' P . A 10. 1 .U .L
3

5
PR 400.7.0, 478 10. 1 .1, 26.10
3

PR 1674 kN
Logo, a capacidade de carga desta estaca Franki, pelo método de
Decourt-Quaresma considerando fator de segurança global 2 será
de 837 kN.

 91
TEORIA EM PRÁTICA
Você foi chamado para auxiliar em um projeto de fundações
de um edifício. O projetista lhe passou um relatório de
sondagem e deseja saber qual seriam as opções viáveis
para a fundação. O edifício é localizado em terreno
plano e em quadra com construções da década de 1970.
Inicialmente, o projetista intencionou o uso de estaca
Franki. Qual a sua opinião? A estaca Franki é uma boa opção
neste caso? Se sim, quais aspectos favorecem seu uso?
Se não, existe ainda a possibilidade do uso da estaca tipo
Franki para esta situação?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A estaca Franki tem alta capacidade de carga e, de


acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2019), é uma estaca
de concreto moldada in loco, executada por meio de
uma cravação de um tubo de ponta fechada por uma
bucha seca de pedra. A afirmativa que apresenta uma
característica da estaca Franki é:

a. A ausência de vibrações.

b. Possui base alargada.

c. Escavação por trado helicoidal.

d. A ausência de armação.

e. O uso de lama bentonítica.

92
92
2. Ao se calcular a capacidade de carga de uma estaca tipo
Franki, vários fatores devem ser considerados. Assinale a
alternativa de um fator importante que deve ser avaliado
no cálculo da capacidade de carga da estaca Franki.
a. A área da base deve considerar a espessura da
base alargada.

b. O atrito lateral deve ser desconsiderado em razão da


segurança.

c. A capacidade de carga deste tipo de fundação é baixa


e há necessidade de reforço.

d. Ela não pode ser executada abaixo do nível de água.

e. Em nenhuma situação a estaca Franki pode


ser armada.

3. Pretende-se elaborar um projeto de fundação de


uma ampliação de um edifício de 15 andares. O solo
apresenta nível de água e possui terreno amplo para a
entrada de equipamentos. Sugeriu-se o uso de estaca
Franki. Qual cuidado deve ser verificado por ser fator na
não indicação do uso da estaca Franki?
a. Vizinhança com construções com fundações antigas e
precárias.

b. Existência de lençol freático.

c. Baixa capacidade de carga.

d. Necessidade de uso de bate-estaca.

e. Necessidade de maiores comprimentos de estaca.

 93
Referências bibliográficas
ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2019.
AOKI, N.; CINTRA, J. C. A. Fundações por estacas: Projeto Geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2010. 96 p.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução
de fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
BRANCO, C. J. M. C. Provas de carga dinâmica em estacas escavadas de
pequeno diâmetro com ponta modificada. Tese (Doutorado). Escola de
Engenharia de São Carlos. USP, 2006.
BARROS, N. B. F. Previsão de recalque e análise de confiabilidade de fundações
em estacas hélice contínua. São Carlos, 2012. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: A estaca tipo Franki tem como característica o
alargamento da base.
Feedback de reforço: A estaca Franki possui um método
construtivo em que é utilizada a cravação de uma bucha de areia e
brita que fará parte do fuste da estaca e uma das vantagens de seu
uso é a alta capacidade de carga, proporcionada principalmente
pela resistência de ponta.
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Ao se calcular a capacidade de carga de uma estaca
tipo Franki, deve-se atentar que a área da base é relacionada à
base alargada.
Feedback de reforço: O processo de cálculo da capacidade de carga
da estaca Franki é baseado nos métodos de Aoki-Velloso e Décourt-

94
94
Quaresma. Estes métodos necessitam de dados do solo e dos
dados de profundidade e do diâmetro da base da estaca. A estaca
Franki possui perfil diferente de outras estacas, proporcionando
dimensões específicas.
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: A existência de vizinhança com fundações antigas e
precárias é um impecilho ao uso da estaca tipo Franki, pois, devido
à sua vibração causada pela cravação, pode prejudicar a fundação
de edificações vizinhas.
Feedback de reforço: É importante se analisar o processo
construtivo da estaca Franki para se verificar as vantagens
e desvantagens de seu uso. É uma estaca cravada, armada
integralmente e de alta capacidade de carga.

 95
Estaca raiz
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Apresentar as características construtivas de uma


estaca raiz.

• Relacionar as vantagens e desvantagens do uso


desse tipo de estaca.

• Demonstrar o efeito de grupo de estacas,


mostrando a interação entre elas ao transmitirem
ao solo as cargas que lhes são aplicadas.

96
96
1. Estaca raiz

A estaca raiz é uma estaca moldada in loco, armada e preenchida


com argamassa de cimento e areia, sendo executada por perfuração
rotativa ou rotopercussiva, revestida integralmente por tubos
metálicos recuperáveis no trecho em solo, conforme a NBR 6122
(ABNT, 2019).

Segundo Amann e Massad (2000), a estaca raiz foi desenvolvida pelo


engenheiro e professor italiano Fernando Lizzi, na década de 1950, que
a patenteou de Pali Radice. Tinha como objetivo ser utilizada para a
recuperação de monumentos históricos, melhorando a estabilidade do
solo. A ideia inicial era formar um reticulado de estacas, com estacas
inclinadas em várias direções de forma a transformar o solo em um
“solo armado”. Eram chamadas de estacas injetadas de pequeno
diâmetro. Com o uso de seções maiores, passaram a ser classificadas
como “estacas injetadas”, devido ao uso da injeção de ar-comprimido
durante sua execução. É necessário tomar cuidado para não se
confundir estaca raiz com estaca escavada de injeção ou microestaca,
que são executadas com tubos manchetes, ou seja, tubos de aço ou PVC,
dotados de válvulas expansíveis por meio das quais é injetada calda de
cimento sob elevada pressão. A injeção de argamassa nas microestacas
promove a formação de um fuste com sucessivos bulbos fortemente
comprimidos contra o solo, que melhora a capacidade de carga lateral
das estacas (NOGUEIRA, 2004).

Além do uso de estaca raiz para reforços de fundações, elas têm


sido utilizadas também em contenções de encostas, na execução de
fundações de obras com espaço ou pé direito reduzido, obras com
necessidade de ausência de ruídos ou vibrações, obras vizinhas a
estruturas em estado precário, execução de fundações de equipamentos
industriais (NOGUEIRA, 2004).

 97
1.1 Processo construtivo de uma estaca raiz

Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2019), o processo executivo de uma estaca


raiz envolve a perfuração da estaca auxiliada por circulação de água,
instalação da armadura, preenchimento do furo com argamassa e
remoção do revestimento e aplicação de golpes de ar comprimido.
A argamassa utilizada em seu processo executivo deve ter fck igual ou
superior a 20 MPa, com consumo de cimento igual ou maior que
600 kg/m³, relação água/cimento entre 0,5 e 0,6.

A perfuração do solo é executada com a utilização de perfuratriz


rotativa ou rotopercussiva dos mais diversos portes, conforme ilustrado
pela figura 1. O revestimento metálico, com a função de manter o
furo estável, é inserido por meio de rotação, e conforme a perfuração
prossegue, os segmentos de revestimentos vão sendo rosqueados, cujos
diâmetros variam de acordo com o quadro 1.

Figura 1 – Exemplo de perfuratriz rotativa

Fonte: Nadtochiv/iStock.com.

98
98
Quadro 1 – Diâmetros nominais e diâmetros dos revestimentos

Diâmetro nominal Diâmetro mínimo externo do


da estaca (mm) tudo de revestimento (mm)

150 127

160 141

200 168

250 220

310 273

400 355

450 406

Fonte: NBR 6122 (ABNT, 2019, anexo K, item K.3.1).

Há a utilização de circulação de água no interior da tubulação,


proporcionada por bombas de alta vazão e pressão. O fluxo de água
desce pelo interior da tubulação e ascende através do espaço anelar
entre a parede do solo e a face externa do revestimento, retirando o
solo na direção do fluxo. Esse processo limpa o furo e proporciona
aumento do diâmetro real da estaca, pois as zonas erodíveis são
removidas, abrindo-se um fuste de conformação irregular, o que
favorece a resistência por atrito lateral (NOGUEIRA, 2004).

Em solos muito duros ou muito compactos, a norma NBR 6122 (ABNT,


2019) cita que se pode utilizar uma pré-perfuração avançada por dentro
do revestimento. Também, na existência de matacões ou embutimento
na rocha, o processo segue normalmente até o encontro da rocha.
Em seguida, a perfuração é realizada por dentro do revestimento com
a utilização de equipamento adequado para a perfuração da rocha.
Nessa operação acontece, usualmente, uma diminuição do diâmetro
da estaca que deve ser levada em consideração no dimensionamento.

Atingida a profundidade de projeto, o processo de escavação é


encerrado e, em seguida, é inserida a armadura. A inserção da

 99
armadura é feita após a limpeza interna do furo por meio da utilização
da composição de lavagem (tubos de PVC ou galvanizados unidos por
conexões), introduzida até a cota inferior da estaca, sendo concluída
quando a água de retorno não tiver presença de material transportável.
É introduzida, então, a armadura que pode ser montada em feixe ou
gaiola, e é apoiada no fundo do furo, conforme a NBR 6122 (ABNT, 2019).

O processo de preenchimento da estaca raiz é feito pela injeção


de argamassa (cimento e areia) de baixo para cima, com pressão,
ocorrendo a expulsão da água ou do elemento estabilizante do interior
do revestimento. Segundo o Manual de Execução de Fundações e
Geotecnia – Práticas recomendadas (ABEF, 2012), deve-se:

• Lançar a argamassa de cimento e areia por meio de bomba


injetora, utilizando a composição de lavagem, posicionando o
tubo no fundo no furo.

• Promover a injeção da argamassa de baixo para cima até a


expulsão de toda a água ou elemento estabilizante contida no
interior do tubo de revestimento.

• Proceder a injeção até que a argamassa emergente saia sem


sinais de contaminação de lama ou detritos.

Após o preenchimento do furo pela argamassa, inicia-se a extração


do revestimento metálico. Nogueira (2004) explica que a extração
deste revestimento é feita pela própria perfuratriz ou por um conjunto
extrator com dois macacos hidráulicos verticais apoiados no terreno em
posição diametralmente oposta, reagindo a uma travessa metálica que é
solidarizada ao revestimento.

A NBR 6122 (ABNT, 2019) diz que, periodicamente, deve-se colocar a


cabeça de injeção no topo do revestimento, aplicando-se pressão de ar
comprimido ou por meio da bomba de injeção, na execução de estacas
de diâmetros menores ou iguais a 20 cm. Esses golpes de ar comprimido

100
100
são realizados por meio de um tampão apropriado rosqueado no topo
da composição de revestimentos e proporcionam a compressão da
argamassa durante a retirada dos tubos, garantindo que não ocorram
deficiências de argamassa em trechos da estaca. Após a aplicação da
pressão e retirada do revestimento, o nível de argamassa é completado.
Nogueira (2004) acrescenta que a argamassa penetra, ao se retirar o
revestimento, na zona do solo com superfície irregular, aumentando
a resistência por atrito pela solidarização solo-estaca. O processo
executivo de uma estaca raiz é ilustrado pela figura 2.

Figura 2 – Processo executivo de uma estaca raiz

Fonte: Silva (2011) apud por Silva (2018, p. 103).

Alguns cuidados que devem ser levados em consideração na execução


de uma estaca raiz é não executar estacas com espaçamento inferior a
cinco diâmetros em intervalo menor a 12h. Também, em caso de estacas
com argamassa inadequada abaixo da cota de arrasamento prevista,
deve-se fazer a demolição do comprimento e executá-lo novamente até
a cota prevista conforme a NBR 6122 (ABNT, 2019).

 101
1.2 Vantagens e desvantagens da estaca raiz

A estaca raiz apresenta grande vantagem devido à inexistência de


vibrações e ruídos e as reduzidas dimensões do equipamento utilizado
em sua execução. Devido a isso, é possível executar este tipo de
fundação em terrenos onde há pouco espaço disponível, espaços
confinados ou ao lado de edificações vizinhas sensíveis à vibração.
Também podem ser executadas em terrenos com presença de
matacões e rochas, além de poderem ser executadas com maiores
inclinações (0 a 90º) (HACHICH et al., 1996).

Silva (2018) acrescenta como vantagem o fato de a estaca raiz ter alta
capacidade de carga devido à injeção da argamassa. Ele cita vários
estudos que constataram que injeções de argamassa provocam
alterações das características físicas e mecânicas do solo, aumentando
sua resistência à deformação, coesão e resistência ao cisalhamento e
compressão axial.

Suas desvantagens estão no fato de terem custo elevado, alto consumo


de cimento e aço para a armação e ocasionarem bastante lama no
terreno, devido ao seu processo construtivo.

1.3 Usos da estaca raiz

Hachici et al. (1996) cita vários usos da estaca raiz, como:

• Estabilização de encostas com reticulado de estacas: as estacas


raiz são distribuídas no terreno, criando uma camada de
espessura considerável, formando uma espécie de muro de
gravidade apoiado sobre estratos subjacentes (figura 3).

102
102
Figura 3 – Esquema típico de reticulado
com estacas raiz

Fonte: Fundesp.

• Reforços de fundação: o reforço de uma estrutura pode ser


feito perfurando-se os blocos, sapatas ou pilares existentes
incorporando à estrutura uma nova fundação.

• Fundações em terrenos com blocos de rocha ou antigas


fundações: o processo de perfuração de uma estaca raiz permite
atravessar obstáculos, como rochas e blocos de concreto, quer
com o uso de martelo de fundo, quer pelo uso de sapata de
perfuração com pastilhas de diamantes.

 103
• Fundações de novas estruturas: seu emprego em fundações de
novas estruturas é interessante quando surgem dificuldades
como presença de obstruções naturais e artificiais, locais com pé-
direito restrito; proximidade de estruturas existentes que exijam
ausência de ruído e vibração e necessidade de resistência à tração
e compressão, devido a grandes esforços horizontais.

• Fundações em alto mar: as estacas raiz podem ser utilizadas


para fundações de estruturas como instalações de exploração de
petróleo, devido à possibilidade de sua penetração em camadas
rochosas e em horizontes resistentes.

PARA SABER MAIS


O conceito de se utilizar um reticulado tridimensional de
estacas raiz é baseado no princípio do concreto armado
em que as estacas irão suprir a deficiência do solo com
relação à resistência à tração. O terreno seria similar
ao concreto e as estacas fariam o papel da armadura
(HACHICH et al., 1996).

2. Capacidade de carga de uma estaca raiz

A capacidade de carga de uma estaca será o menor valor entre


a resistência estrutural da fundação e a resistência do solo.
A capacidade de carga estrutural de uma estaca raiz é exemplificada
pelo quadro 2.

104
104
Quadro 2 – Capacidade de carga da estaca raiz

Diâmetro Final da estaca (cm) Carga de Catálogo (kN)

10 100-150

12 100-250

15 100-350

16 100-450

20 100-600

25 250-800

31 300-1100

41 500-1500

Fonte: Alonso (1998) apud Aoki e Cintra (2010, p. 46).

A capacidade de carga de ruptura da estaca (P) será composta de


resistência de atrito lateral (PL) e resistência de ponta (PP). Para se
determinar essa capacidade de carga, existem vários métodos, como
o uso de fórmulas teóricas e métodos semiempíricos baseados em
parâmetros de resistência obtidos em ensaios in situ de penetração
como o ensaio de penetração do cone (CPT) e sondagem à percussão
(SPT). Para o cálculo da capacidade de carga de estacas são comumente
utilizados métodos como os tradicionais Aoki-Velloso (1975) e de
Décourt-Quaresma (1978).

ASSIMILE
A estaca raiz é uma estaca escavada injetada que
possui alta capacidade de carga lateral e pode ser
executada em terrenos com pouco espaço ou pé-direito
reduzido e em locais onde há necessidade de ausência
de ruído e vibrações.

 105
3. Efeito de estacas em grupo

As estacas, geralmente, são executadas em grupo. A maioria emprega


grupos de 2 a 9 estacas interligadas por um bloco de coroamento
de concreto. As estacas são localizadas em padrões geométricos
(quadrados, retângulos, etc.) em um espaçamento s (distância entre
centros) não inferior a três vezes o diâmetro ou largura da estaca.
Espaçamentos menores reduzem significativamente a capacidade de
carga da estaca (AOKI; CINTRA, 2010).

A capacidade de carga do grupo de estacas pode ser diferente da soma


dos valores de capacidade de carga das estacas isoladas. Pode haver o
chamado “efeito de grupo”, que pode ser quantificado pela eficiência do
grupo ( ):
Rg

 Ri
Em que:

Rg é a capacidade de carga do grupo de estacas e Ri é a capacidade


de carga do elemento isolado de fundação. Budhu (2013) cita que,
em solos de granulometria fina, as estacas mais externas do grupo
tendem a receber maior carga dos que as estacas localizadas no centro.
Em solos de granulometria grossa, as estacas do centro tendem a
receber mais carga do que as estacas de bordo. A eficiência do grupo
dependerá da forma e do tamanho do grupo, espaçamento entre
estacas e do tipo de solo e estaca.

Cintra e Aoki (2010) salientam que, antigamente, considerava-se que a


eficiência do grupo de estacas podia ser menor que a unidade.
No entanto, ensaios realizados nestes grupos de estacas constataram que
a eficiência geralmente é igual ou superior à unidade. Grupos de estacas
em estacas de qualquer tipo em solo de argila ou estacas escavadas
em qualquer tipo de solo possuem eficiência em torno da unidade.

106
106
Estacas cravadas em areias podem ter eficiência superior à unidade.
Os autores ainda citam que não há teoria ou fórmula apropriada para
a estimativa da capacidade de carga de um grupo ou de sua eficiência.
O que existe são resultados de ensaios que comprovam valores de
eficiência. Assim, na prática, calcula-se a capacidade de carga apenas do
elemento isolado de fundação com a hipótese de eficiência igual a 1.

TEORIA EM PRÁTICA
Suponha que você está analisando as vantagens e
desvantagens dos diversos tipos de estacas escavadas
moldadas in loco. Ao examinar o processo executivo de
uma estaca raiz, deparou-se com os vários usos que ela
possui. Um deles foi o uso na estabilização de encostas.
Como é feita a estabilização de encostas com a utilização
de estaca raiz? Qual é o funcionamento dela no solo e
quais as vantagens de seu uso para esta situação? Quais
seriam algumas razões de seu uso em vez, por exemplo, da
realização de muros de contenção de concreto?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A estaca raiz, de acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2019), é


uma estaca moldada in loco, armada, sendo executada
por perfuração rotativa ou rotopercussiva, revestida
integralmente por tubos metálicos recuperáveis no
trecho em solo. Ela tem como característica:

a. Existência de vibrações.

b. Possuir base alargada.

 107
c. Baixa capacidade de carga.

d. Injeção de argamassa.

e. Utilização de bate-estaca.

2. Após o preenchimento do furo da estaca raiz pela


argamassa, deve-se proceder com:
a. A retirada do revestimento metálico.

b. Apiloamento da argamassa para retirada de ar.

c. Inserção da gaiola de armação.

d. Alargamento da base da estaca.

e. Limpeza do terreno e da cabeça da estaca.

3. A estaca raiz apresenta várias vantagens como reduzidas


dimensões do equipamento utilizado em sua execução,
sendo possível executar este tipo de fundação em
terrenos onde há pouco espaço disponível, espaços
confinados ou ao lado de edificações vizinhas sensíveis
à vibração. No entanto, entre as desvantagens do uso da
estaca raiz, pode-se citar:
a. Execução em terrenos com presença de matacões.

b. Serem executadas inclinadas.

c. Baixa capacidade de carga.

d. Necessidade de uso de bate-estaca.

e. Alto consumo de cimento e aço.

108
108
Referências bibliográficas

ABEF. Associação Brasileira de Engenharia de Fundações e Geotecnia. Manual


de execução de fundações e geotecnia: práticas recomendadas. São Paulo,.
2012, p. 499
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
AMANN, K. A. P.; MASSAD, F. Estacas Raiz: Avaliação Crítica e Proposta de
Melhoria dos Métodos Semi-Empíricos de Estimativa da Carga de Ruptura. IV
Seminário de Engenharia de Fundações Especiais-SEFE IV, São Paulo, SP, 2000, v.1,
p. 279- 293.
AOKI, N.; CINTRA, J. C. A. Fundações por estacas: Projeto Geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2010. 96 p.
BUDHU, M. Fundações e estruturas de contenção. LTC: 2015.
FUNDESP. Estacas Raiz. Disponível em: http://www.fundesp.com.br/2009/
estacasraiz_metod.html. Acesso em: 12 nov. 2019.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996.
NOGUEIRA, R. C. R. Comportamento de estacas tipo raiz, instrumentadas,
submetidas à compressão axial, em solo de diabásio. Dissertação (Mestrado).
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, 2004.
SILVA, R. R. C. Previsão da capacidade de carga em estacas raiz através de métodos
semi-empíricos associados a análises estatísticas. Revista CIATEC – UPF, v. 10 (2), p.
102-114, 2018.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: A estaca raiz tem como característica ter em seu
processo construtivo a injeção de argamassa de areia e cimento.
Feedback de reforço: A estaca raiz é uma estaca escavada por meio
de uma perfuratriz e seu revestimento é retirado enquanto seu
fuste é feito. Assim, deve-se verificar os processos de execução para
se entender as características da estaca raiz.

 109
Questão 2 – Resposta: A
Resolução: Após o preenchimento com argamassa, deve-se
proceder a extração do revestimento metálico.
Feedback de reforço: A estaca raiz é caracterizada por alta
capacidade de carga devido à junção da argamassa e solo
sob pressão.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Uma das desvantagens da estaca raiz é o alto consumo
de cimento e aço.
Feedback de reforço: Lembre-se que a estaca raiz tem seu
fuste formado por argamassa sob pressão e que deve ser
integralmente armada.

110
110
Estacas Mega e técnicas de
recuperação de fundações
Autora: Bianca Lopes de Oliveira

Objetivos

• Apresentar as características e usos de


estacas Mega.

• Analisar as patologias de fundações e recalques.

• Relacionar as técnicas de recuperação de


fundações utilizadas.

 111
1. Estacas prensadas ou estacas Mega

Segundo Donadon (2009), em 1935 houve no Brasil o primeiro registro


da utilização de estacas prensadas pela empresa do engenheiro Edgard
Frankinoul. Esta empresa denominou estas estacas prensadas como
estacas Mega e utilizou-as como reforço de fundações no prédio da CIA
Antártica do Rio de Janeiro.

A NBR 6122 (ABNT, 2019) define estaca Mega ou prensada como uma
estaca introduzida no terreno por meio de macaco hidráulico reagindo
contra uma estrutura já existente ou criada especificamente para esta
finalidade. É constituída de elementos justapostos (de concreto armado,
protendido ou de aço), emendados e cravados sucessivamente por meio
de macacos hidráulicos.

Donadon (2009) cita que a estaca Mega pode ser utilizada como reforço
de fundações que apresentam comportamento inadequado que pode
ser constatado, por exemplo, pela existência de sinais de recalques
diferenciais como trincas, fissuras ou mesmo rachaduras. A estaca Mega
também pode ser utilizada como reforço para atender mudanças de
carregamento da estrutura.

1.1 Processo executivo de uma estaca Mega

Guimarães e Peter (2018) descrevem as estacas Mega como estacas


de reação. Sua execução inicia-se com uma escavação de solo a uma
profundidade de 1,5 m abaixo da fundação original, como mostra
a figura 1.

112
112
Figura 1 – Escavação e posicionamento
de macaco hidráulico

Fonte: Donadon (2009, p. 43).

Utilizando-se um macaco hidráulico, que reage contra a própria


estrutura da construção, é feita a cravação de pequenos elementos
superpostos, conforme ilustrado pela figura 2. Estes elementos podem
ser peças de concreto simples ou armado, de seção vazada ou maciça,
quadrada ou circular, com encaixe ou sem e, até mesmo, compostos por
perfis metálicos. A emenda dos elementos justapostos pode ser feita por
simples superposição ou por solidarização especificada em projeto, no
caso de peças de concreto, como pela utilização de argamassa armada
com fibras metálicas para o preenchimento dos vazios dos blocos, ou
por solda ou rosca para segmentos metálicos.

 113
Figura 2 – Reforço de baldrame com estaca mega

Fonte: Marcelli (2007).

A NBR 6122 (ABNT, 2019) especifica que a cravação das estacas mega
deve ser realizada por meio de macaco hidráulico equipado com
manômetro, acionado por bomba elétrica ou manual. A escolha do
macaco hidráulico dependerá do tipo e da dimensão da estaca, das
características do solo, dos dados de projeto e possível peculiaridades
do local. Em alguns tipos de solos, a norma sugere que sejam utilizados
jatos de água pelo interior do segmento para auxiliar na cravação.
A cravação prossegue até que a estaca ofereça resistência suficiente
para suportar o peso exercido pela construção (princípio da ação e
reação). De acordo com Marcelli (2007), quando o manômetro indicar o
valor da pressão estabelecida no projeto de fundação, estará finalizada a
estaca e deve-se proceder o cunhamento final. A NBR 6122 (ABNT, 2019)
estabelece que o encunhamento definitivo pode ser feito com o uso
de tijolinhos, cunhas e cabeçote de concreto armado, coerente com as
cargas impostas pela estrutura, garantindo a sua solidez estrutural.

114
114
Marcelli (2007) apresenta cuidados que devem ser levados em
consideração na execução de reforços de fundações em estaca Mega.
Por exemplo, no reforço de fundação em estaca, deve-se avaliar
as possíveis interferências na capacidade de carga das estacas já
cravadas, pois dependendo do espaçamento das estacas existentes,
não será possível uma cravação entre elas devido às distâncias
mínimas que devem ser respeitadas, a menos que seja ampliado o
bloco de estacas. No caso de reforço de sapatas rasas, dependendo
da carga e da estrutura, pode ser necessário criar escoramento
provisórios para evitar desequilíbrio na estrutura. Assim, cada situação
exigirá um projeto específico avaliando se a solução é a mais adequada
técnica e economicamente.

1.2 Vantagens e desvantagens de uma estaca Mega

O processo construtivo da estaca Mega não provoca vibrações,


reduzindo os riscos de instabilidade que possam existir devido
aos problemas nas fundações existentes. Além disso, não produz
ruído durante seu processo de execução. Esse tipo de estaca pode
ser utilizado em espaços pequenos e de difícil acesso, pois tanto o
equipamento utilizado na cravação quanto os segmentos de estacas
são de tamanhos reduzidos. A estaca Mega não tem limitações quanto
a profundidades específicas por questões executivas ou de transporte.
A profundidade alcançada dependerá da resistência do solo e da
estrutura na qual o equipamento vai reagir.

Marcelli (2007) cita uma outra vantagem interessante da execução da


estaca Mega, que é o fato de que ela pode ser considerada uma prova
de carga, pois, por meio das leituras do manômetro devidamente
aferido ou por células de carga, pode-se saber qual a carga real que está
sendo aplicada às fundações.

A desvantagem da estaca Mega é seu custo em relação às outras


estacas, mas são várias as vantagens.

 115
2. Patologia nas fundações

De acordo com Helene (1992), patologia das estruturas é a parte da


engenharia que estuda as formas de manifestação, as causas e as
origens dos defeitos das construções e seus mecanismos de ocorrência,
compondo o diagnóstico do problema. A ocorrência de manifestações
patológicas nas construções civis tem sido observada com frequência,
inclusive nas fundações.

Segundo Milititsky et al. (2015), a ocorrência de manifestações


patológicas e a necessidade de reforços de fundação promovem
custos que podem ser muito superiores ao custo inicial de
implantação da fundação, além de problemas como necessidade
de evacuação de prédios, interdição de estruturas, além de outras
complicações. Alguns casos clássicos de manifestações patológicas em
fundações muito estudados são as edificações na Cidade do México, a
Torre de Pisa (figura 3) e os edifícios desaprumados na orla de Santos,
no estado de São Paulo, Brasil.

Figura 3 – Torre de Pisa

Fonte: Phooey/iStock.com.

116
116
O estudo da patologia nas estruturas e suas fundações envolve não
apenas a abordagem da reabilitação e manutenção das estruturas
existentes, mas se amplia ao estudo da capacidade de desempenho
futuro das estruturas a serem concebidas. Milititsky (2015) cita a
necessidade de se caracterizar as origens e possíveis mecanismos
deflagladores de manifestações patológicas, como monitorar o
aparecimento e a evolução de fissuras, trincas, desaprumos e/ou
desalinhamentos.

Segundo Albiero apud Donadon (2009), pelo fato de as fundações serem


elementos que ficam enterrados e inacessíveis a revisões periódicas,
seus defeitos, geralmente, não são detectados de forma direta. Esses
defeitos repercutem na estrutura por meio de desaprumos e recalques
diferenciais que podem comprometer a estrutura. Os problemas na
fundação podem ocorrer pela falta de investigação de subsolo, erros de
projeto, falhas de execução e alterações pós-obra do uso da edificação
ou ampliações não previstas em projeto. A causa mais frequente de
problemas de fundações é a falta de investigação de subsolo. Esta
falta de informação sobre o solo que irá suportar as cargas pode gerar
problemas, como os citados no quadro 1.

Quadro 1 – Problemas típicos decorrentes de ausência de investigação


para os diferentes tipos de fundações
Tipo de Fundação Problemas típicos decorrentes
Tensões de contato excessivas, incompatíveis com as reais
características do solo, resultando em recalques inadmissíveis
ou ruptura.
Fundações em solos/aterros heterogêneos, provocando recalques
diferenciais.
Fundações sobre solos compressíveis sem estudos de recalques,
Fundações
resultando em grandes deformações.
diretas
Fundações apoiadas em materiais de comportamento muito
diferente, sem junta, ocasionando o aparecimento de recalques
diferenciais.
Fundações apoiadas em crosta dura sobre solos moles, sem análise
de recalques, ocasionando a ruptura ou grandes deslocamentos
da fundação.

 117
Estacas de tipo inadequado ao subsolo, resultando em mau
comportamento.
Geometria inadequada, comprimento ou diâmetro inferiores ao
Fundações necessário.
profundas Estacas apoiadas em camadas resistentes sobre solos moles, com
recalques incompatíveis com a obra.
Ocorrência de atrito negativo não previsto, reduzindo a carga
admissível nominal adotada para a estaca.

Fonte: Milititsky et al. (2015, p. 29).

Os erros de projeto podem acontecer por falhas na análise da


interação solo versus estrutura, cálculos, detalhamento e especificações
construtivas. Segundo Donadon (2009), na execução das fundações
rasas podem acontecer falhas como má compactação do solo de
apoio de sapatas; qualidade inadequada do concreto; ausência de
regularização do fundo da cava com concreto magro, podendo ocasionar
contaminação do concreto ou falta de cobrimento da armadura; e
presença de água na cava durante a concretagem, prejudicando a
qualidade e integridade da peça em execução.

Donadon (2009) também cita que na execução de fundações profundas,


os erros mais comuns são:

• Erros de locação.

• Erros ou desvios na execução.

• Erro no lado ou diâmetro do elemento, ou estacas com seção


inferior à determinada em projeto.

• Substituição no canteiro por elementos “equivalentes” (como


mudança no diâmetro para compensar o comprimento), sem
cálculo da nova situação.

• Falta de limpeza adequada da cabeça da estaca (dificultando sua


vinculação ao bloco).

118
118
• Posicionamento indevido da armadura (não transmitindo os
esforços à estaca) e características do concreto inadequadas.

• Cota de arrasamento diferente do especificado em projeto.

PARA SABER MAIS


Os reforços de fundação, geralmente, são mais onerosos
do ponto de vista financeiro e requerem estudos mais
complexos sobre a área afetada pela intervenção, bem
como do comportamento final da estrutura. Assim,
a escolha do tipo de reforço de fundação demanda
conhecimento sobre as possibilidades factíveis e a melhor
adequação possível às restrições do projeto (GUIMARÃES;
PETER, 2018).

3. Escolha das técnicas de recuperação e reforço


de fundações

Com o objetivo de se renovar ou aumentar a segurança de uma


fundação devido ao seu mau desempenho ou alteração das
características iniciais de projeto (ampliações ou mudanças de tipo de
uso das edificações), podem ser executados reforços das fundações.
De acordo com Hachich et al. (1996), os reforços de fundações
baseiam-se em uma intervenção no sistema solo-fundação-estrutura
para modificar seu desempenho devido à ocorrência de:

• Manifestações patológicas: aparecimento de problemas nos


elementos de fundação como deformações excessivas em peças
de concreto, perda de recobrimento de armadura, oxidação das
barras de aço ou das estacas metálicas e pelo aparecimento de
recalques e desaprumos.

 119
• Danos: que podem ser classificados em danos arquitetônicos
(fissuras, trincas, rompimentos de painéis de vidro ou mármore
etc.), danos funcionais (refluxo de esgotos e/ou águas pluviais,
mau funcionamento de portas etc.) e danos estruturais.

Figura 4 – Fissura devido recalque de fundação

Fonte: Francesco Scatena/iStock.com.

A partir da análise das ocorrências nas estruturas, deve-se inventariar


os danos ocorridos, como desaprumos, trincas a 45º nas alvenarias e
as fissuras na estrutura. Deve ser feito o mapeamento e medição de
todas as trincas na estrutura e alvenaria, além de medição de prumo,
verificação de deformações de piso e detecção de possíveis infiltrações
de águas pluviais ou vazamento de tubulações próximas às fundações
(MARCELLI, 2007). É necessário também executar novas sondagens
e/ou ensaios geotécnicos de campo ou laboratoriais e monitorar a
velocidade e magnitude das deformações. Com base nesses dados,
é possível definir o tipo, técnica e dimensionamento do reforço a ser
empregado. Hachich et al. (1996) definem que a escolha do tipo de
reforço dependerá de:
• Condicionantes técnicas: deve haver compatibilidade entre as
condições do solo, da estrutura e do reforço da fundação.

120
120
• Condicionantes econômicas: análise da relação custo/benefício
do reforço, verificando-se se os custos do reforço são compatíveis
com o valor da construção no mercado.

• Exequibilidade e segurança: devem ser verificadas a segurança do


pessoal envolvido nos serviços de execução dos reforços, pois há
casos em que a velocidade dos recalques pode tornar os trabalhos
perigosos. Também se deve analisar se a técnica escolhida é
exequível no local.

Os reforços das fundações, para terem um bom desempenho, devem


garantir a continuidade da ação estrutural da peça restaurada, garantir a
transferência das cargas entre as peças novas e as existentes e garantir
a boa conexão entre o concreto antigo e novo.

ASSIMILE
Os reforços de fundação representam uma intervenção
no sistema solo-fundação-estrutura para corrigir um
mau desempenho ou aumentar a capacidade de carga
da fundação existente, devido à ampliação de áreas ou
mudança do tipo de uso da edificação. Uma maneira
de reforçar a fundação é o uso da estaca prensada ou
estaca Mega.

4. Outros exemplos de técnicas de reforço de


fundações

As soluções utilizadas como reforços de fundações são muito variadas


e podem incluir, além da estaca Mega já mencionada, de acordo com
Hachich et al. (1996):

• Reparo ou reforço dos materiais existentes.

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• Enrijecimento das estruturas.

• Aumento da área de apoio.

• Uso de estacas raiz ou microestacas.

• Melhoria das condições do solo como, por exemplo, pelo uso de


injeção de nata de cimento sob altas pressões ou jet grouting.

• Uso de estacas convencionais.

O enrijecimento das estruturas pode ser feito por meio de implantação


de vigas de rigidez, interligando as fundações ou introduzindo peças
estruturais capazes de travar a estrutura. Esta solução é utilizada para a
minimização de recalques diferenciais da estrutura.

O aumento da área de apoio é utilizado para reforço de sapatas


e tubulões para aumento da capacidade de carga da fundação.
Geralmente é executado pelo chumbamento de ferragens nas peças,
bem como pelo uso de traços de concreto especiais para melhor
aderência na fundação antiga, conforme ilustrado pela figura 5.

Figura 5 – Aumento da área de apoio de um tubulão

Fonte: Hachich et al. (1996, p. 474).

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As estacas raiz e as microestacas também podem ser utilizadas como
reforço de fundações. A estaca raiz é uma estaca moldada in loco,
armada e preenchida com argamassa de cimento e areia, sendo
executada por perfuração rotativa ou rotopercussiva, revestida
integralmente por tubos metálicos recuperáveis no trecho em solo,
conforme a NBR 6122 (ABNT,2019).

As microestacas são executadas com tubos manchetes, ou seja, tubos


de aço ou PVC, dotados de válvulas expansíveis por meio das quais é
injetada calda de cimento sob elevada pressão. A injeção de argamassa
nas microestacas promove a formação de um fuste com sucessivos
bulbos fortemente comprimidos contra o solo.

As estacas convencionais pré-moldadas de concreto armado ou


protendido e estacas Strauss podem também reforçar as estruturas de
fundações. Outra possibilidade de reforço é a utilização de melhoria do
solo pela injeção de nata de cimento e Jet-grouting (HACHICH et al., 1996).

TEORIA EM PRÁTICA
A grande maioria dos monumentos históricos no Brasil
se caracteriza por terem sido construídos há décadas
e até séculos, utilizando-se técnicas rudimentares
e materiais naturais de solo e rocha. A preservação
destes monumentos é essencial, pois eles representam
a história do homem, de seus valores culturais,
criatividade e organização social (HACHICH, 1996).
Deve-se promover a conservação e garantir a
estabilidade e funcionalidade destas edificações.
Suponha que você foi contratado para promover a
restauração de um antigo palácio, hoje um museu,
construído no início do século XIX. Ele apresenta fissuras
e trincas que indicam que houve alterações no sistema

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solo-fundação-estrutura. Quais dados devem ser
levantados sobre essa edificação e qual o procedimento
para se escolher o tipo de reforço de fundação neste
caso? Seria possível o uso da estaca Mega? Quais
aspectos do uso da estaca Mega seriam vantajosos na
execução do reforço deste monumento histórico?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Muitas obras de pequeno porte são construídas sem
o conhecimento adequado do subsolo sobre o qual se
apoiará, transferindo as cargas. Essa falta de informação
gera manifestações patológicas nas estruturas, como
o mau funcionamento de portas e janelas. Este dano é
classificado como:

a. Dano arquitetônico.

b. Dano funcional.

c. Dano estrutural.

d. Dano estético.

e. Dano instável.

2. A escolha do tipo de reforço para a recuperação de


uma fundação depende de dados provenientes do
monitoramento da fundação existente, velocidade e
magnitude das deformações. Em estruturas que estão
sofrendo recalques, em locais onde não é possível a

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utilização de bate-estacas nem a melhoria do solo e
há instabilidade na execução, ou seja, não se pode
haver vibração, é uma alternativa como reforço de
fundação a alternativa:

a. Estacas cravadas por impacto.

b. Jet grouting.

c. Escoras de madeira.

d. Injeção de nata de cimento.

e. Estacas prensadas.

3. A estaca prensada ou estaca Mega apresenta várias


vantagens, como ausência de ruídos e vibrações.
Outra vantagem do uso desta estaca é:

a. Utilização de bate-estaca.

b. Serem executadas inclinadas.

c. Baixa capacidade de carga.

d. Utilização de concreto apiloado.

e. Uso em locais pequenos e restritos.

Referências bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
DONADON, E. F. Comportamento de estacas Mega de concreto, implantadas
em solo colapsível. Campinas: Faculdade de Engenharia Civil – UNICAMP, 2009.
147p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, UNICAMP, 2009.

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GUIMARÃES, D; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre, RS: SAGAH, 2018.
HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. O.; CARVALHO, C. S.; NIYAMA,
S. Fundações – teoria e prática. São Paulo: Editora PINI, 1996.
HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de
concreto. São Paulo, PINI: 1992.
MILITITSKY, J. et al. Patologia das Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de
textos, 2015.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: O mau funcionamento de portas e janelas decorrido de
recalques de fundações é um dano funcional.
Feedback de reforço: Os danos podem ser classificados de
acordo com o que geram na estrutura. Os danos podem atingir a
parte estrutural, alterar a funcionalidade da estrutura e de seus
componentes, ou ainda a aparência da estrutura.
Questão 2 – Resposta: E
Resolução: Em estruturas em que a fundação está precária não se
pode fazer reforços com a utilização de vibração, assim as estacas
prensadas são uma boa opção.
Feedback de reforço: Os reforços de fundações são variados, mas
é possível se avaliar o melhor para cada situação. Locais que não
têm a possibilidade de uso de bate-estacas, não permitem o uso de
estacas tradicionais para o reforço da fundação, por exemplo.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Uma vantagem do uso da estaca prensada é que ela
pode ser feita em locais pequenos e restritos.
Feedback de reforço: A estaca Mega não gera vibrações e é executada
utilizando-se um macaco hidráulico e segmentos de concreto.
Funciona como uma estaca de reação entre fundação e estrutura.

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