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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - UFJF

Faculdade de Engenharia – Departamento de Transportes e Geotecnia

MECÂNICA DOS SOLOS

Márcio Marangon
Professor Titular - UFJF
Versão: Dez/2018
Apresentação

Os conteúdos de Mecânica dos Solos ministrados nos cursos de graduação em


Engenharia Civil são amplos e estão publicados em uma vasta literatura nacional e
internacional.

Como Professor de parte do assunto, por mais de 25 anos, sempre tive interesse de
organizar e disponibilizar para meus alunos e demais interessados, em meio digital, uma
publicação das minhas notas de aulas de forma a facilitar a consulta e estudo por parte destes.
Tradicionalmente a parte que ministro do assunto, a disciplina Mecânica dos Solos II transmite
uma carga de conhecimentos muito grande aos alunos, o que lhe exige um grande acúmulo de
material bibliográfico.

No sentido de contribuir para uma simplificação desta tarefa, e de melhor organizar os


conteúdos abordados neste curso que ministro, o “Solos II”, é que se reúnem aqui os diversos
assuntos, em uma linguagem de “notas de aula”. Não se espera com isto, que o aluno ou
interessado deixe de consultar as publicações editadas em formato de livros, como os listados
nas referências utilizadas na edição deste material, que se considera ser uma prática importante
para a formação profissional do acadêmico.

Conteúdos básicos sobre solos como: Origem e Formação dos Solos, Exploração do
Subsolo, Composição Química e Mineralógica, Propriedades das Partículas Sólidas, Índices
Físicos, Estrutura dos Solos, Plasticidade e Consistência dos Solos, Granulometria dos Solos,
Classificação dos Solos, Compactação dos Solos, entre outros conteúdos correlacionados não
são aqui abordados, mas considerados pré-requisitos para a compreensão dos pontos tratados
nesta publicação.

Esta publicação teve sua 1a Versão em 1996, e contou com a contribuição do Prof.
Avelino Gonçalves Koch Torres. Na presente versão ressalta-se a colaboração dos
Engenheirandos Matheus Lara El-Corab e Marcio Broillo Gomes Alvarenga, a quem gostaria
de agradecer.

O curso está estruturado em capítulos, a seguir apresentados:


Capítulo 01 - Hidráulica dos Solos
Capítulo 02 - Tensões nos Solos
Capítulo 03 - Compressibilidade e Adensamento dos Solos
Capítulo 04 - Estado de Tensões e de Equilíbrio dos Solos
Capítulo 05 - Resistência ao Cisalhamento dos Solos
Capítulo 06 - Empuxo de Terra
Capítulo 07 - Capacidade de Carga dos Solos

Prof. M. Marangon
Engenheiro Civil e Geotécnico
Mestre (PUC-Rio) - Doutor (COPPE/UFRJ)

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Índice

Capítulo 01
Hidráulica dos Solos ........................................................................................................ 01
1.1 Ocorrência de Água Subterrânea ............................................................................ 01
1.2 Fenômenos Capilares .............................................................................................. 03
1.3 Fluxo de Água nos Solos ........................................................................................ 04
1.4 Coeficiente de Permeabilidade ............................................................................... 08
1.5 Fatores que Influem na Permeabilidade ................................................................. 09
1.6 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade ................................................... 12
1. 6. 1 Permeâmetro de Nível Constante .............................................................. 12
1. 6. 2 Permeâmetro de Nível Variável ................................................................. 13
1.7 Força de Percolação ................................................................................................ 16
1.8 Lei de Fluxo Generalizada ...................................................................................... 17
1.9 Rede de Fluxo Bidimensional ................................................................................. 19
1.10 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 25

Capítulo 02
Tensões nos Solos ............................................................................................................. 30
2.1 Conceito de Tensão em um Meio Particulado ........................................................ 30
2.2 Tensões Verticais Devidas ao Peso Próprio do Solo .............................................. 31
2.3 Principio das Tensões Efetivas ............................................................................... 37
2. 3. 1 Tensão Vertical Total ................................................................................ 38
2. 3. 2 Pressão Neutra ou Poropressão (u) ............................................................. 38
2. 3. 2. 1 A Ação Capilar da Água – Pressão Negativa (“Sucção”) ................... 40
2. 3. 3 Tensão Efetiva (σ') .................................................................................... 41
2. 3. 3. 1 Tensão Efetiva sob Efeito de Água Capilar ...................................... 43
2. 3. 3. 2 Tensão Efetiva sob Efeito de Percolação .......................................... 44
2.4 Variações do Nível d’Água .................................................................................... 46
2.5 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 48
2.6 Tensões Devidas a Cargas Aplicadas ..................................................................... 54
2.7 Solos Não Saturados ............................................................................................... 60

Capítulo 03
Compressibilidade e Adensamento dos Solos ............................................................... 61
3.1 Introdução ............................................................................................................... 61
3.2 Compressibilidade dos Solos .................................................................................. 63
3.3 Ensaio de Compressão Confinada (Edométrico) .................................................... 64
3.4 Interpretação dos Resultados de um Ensaio de Compressão Confinada ................ 65
3.5 Tensão de Pré-Adensamento .................................................................................. 69
3.6 Determinação da Condição de Adensamento ......................................................... 71
3.7 Parâmetros de Compressibilidade por Compressão Primária ................................. 73
3.8 Recalque Total por Compressão Primária .............................................................. 74
3.9 Adensamento dos Solos .......................................................................................... 78
3. 9. 1 Analogia Mecânica do Processo de Adensamento de Terzaghi ................ 78
3. 9. 2 Teoria do Adensamento 1-D de Terzaghi .................................................. 80
3. 9. 3 Grau ou Porcentagem de Adensamento ..................................................... 85
3. 9. 4 Grau de Adensamento Médio .................................................................... 87
3. 9. 5 Calculo de Recalque por Adensamento ..................................................... 88
3.10 Compressão Secundária .......................................................................................... 89
3.11 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 89

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Capítulo 04
Estado de Tensões e de Equilíbrio dos Solos ................................................................ 94
4.1 Introdução .............................................................................................................. 94
4.2 Tensões em um Ponto ............................................................................................ 95
4.3 Análise Gráfica de Estado de Tensões ................................................................... 100
4.4 Exemplos de Análise do Estado de Tensões .......................................................... 101
4.5 Critério de Rutura de Mohr .................................................................................... 105
4.6 Teoria de Coulomb ................................................................................................ 108
4.7 Critério de Ruptura Mohr-Coulomb ....................................................................... 113
4.8 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 117

Capítulo 05
Resistência ao Cisalhamento dos Solos ......................................................................... 121
5.1 Considerações Preliminares sobre Resistência ao Cisalhamento .......................... 122
5.2 Ensaios de Resistência ao Cisalhamento ............................................................... 123
5. 2. 1 Ensaios de Campo ..................................................................................... 123
5. 2. 2 Ensaios de Laboratório ............................................................................. 126
5.3 Ensaios de Compressão Simples - Uniaxial ........................................................... 126
5.4 Ensaio de Cisalhamento Direto .............................................................................. 128
5.5 Ensaio de Compressão Triaxial ............................................................................. 134
5. 5. 1 Ensaios Triaxiais Convencionais .............................................................. 138
5. 5. 2 Resistência das Areias ............................................................................... 141
5. 5. 3 Resistência das Argilas ............................................................................. 142
5. 5. 3. 1 Resistência das Argilas em CD ......................................................... 143
5. 5. 3. 2 Resistência em Ensaio CU ................................................................ 145
5. 5. 3. 3 Resistência em Ensaio UU ................................................................. 147
5. 5. 4 Trajetória de Tensões ................................................................................ 149
5.6 Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento e Correlações com SPT ................... 152
5.7 Aplicação dos Ensaios em Análise e Projetos ....................................................... 155
5.8 Considerações sobre Liquefação das “areias” ....................................................... 156
5.9 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 157

Capítulo 06
Empuxos de Terra .......................................................................................................... 161
6.1 Considerações Iniciais sobre Empuxo ................................................................... 162
6.2 Empuxo no Repouso .............................................................................................. 164
6.3 Condições em que o Plano de Contenção se Movimenta ...................................... 167
6.4 Teoria de Rankine (1875) ........................................................................................ 172
6. 4. 1 No Caso de haver Sobrecarga no Terrapleno .......................................... 174
6. 4. 2 No Caso de Considerar o Solo também Coesivo ..................................... 175
6. 4. 3 No Caso de haver mais de uma Camada .................................................. 177
6. 4. 4 No Caso de Ocorrer NA na Camada ........................................................ 178
6. 4. 5 No Caso de Considerar a Inclinação do Terrapleno ................................ 178
6. 4. 6 No Caso de Considerar Atrito entre o Parâmetro Vertical e o Solo ........ 179
6.5 Teoria de Coulomb (1776)........................................................................................ 180
6. 5. 1 Solos não coesivos ................................................................................... 180
6. 5. 2 Solos coesivos .......................................................................................... 182
6.6 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 183

iii
Capítulo 07
Capacidade de Carga dos Solos ..................................................................................... 186
7.1 Introdução e Definições ......................................................................................... 186
7.2 Tensão de Ruptura x Tensão Admissível ............................................................... 188
7.3 Fórmula de Rankine .............................................................................................. 190
7.4 Fórmula de Terzaghi .............................................................................................. 192
7. 4. 1 Fundações Corridas .................................................................................. 193
7. 4. 2 Fundações de Outras Geometrias ............................................................. 197
7.5 Fórmula Generalizada ............................................................................................ 197
7.6 Relação entre Tensão Admissível e N (SPT) ......................................................... 198
7.7 Exercícios de Aplicação ......................................................................................... 199

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Faculdade de Engenharia – NuGeo/Núcleo de Geotecnia Prof. M. Marangon
Mecânica dos Solos II – Edição Dez/2018

HIDRÁULICA DOS SOLOS

Capítulo 1 - HIDRÁULICA DOS SOLOS

Em muitos casos o engenheiro se defronta com situações em que é necessário


controlar o movimento de água através do solo e, evidentemente, proporcionar uma
proteção contra os efeitos nocivos deste movimento.
Do ponto de vista prático, a água pode ser considerada incompressível e sem
nenhuma resistência ao cisalhamento, o que lhe permite, sob a ação de altas pressões,
penetrar em microfissuras e poros, e exercer pressões elevadas que podem levar enormes
maciços ao colapso.
Um aspecto importante em qualquer projeto em que se tenha a presença de água é a
necessidade do reconhecimento do papel que os pequenos detalhes da natureza
desempenham. Assim, não basta apenas realizar verificações matemáticas, mas também
recorrer a julgamentos criteriosos dessas particularidades, pois elas nem sempre podem ser
suficientemente quantificadas.
O objetivo básico deste capítulo é fornecer as informações necessárias para o
entendimento físico da presença da água nos solos e para a resolução de problemas
que envolvem percolação de água nos solos.

1.1 – Ocorrência de água subterrânea

Segundo Chiossi (1989), o interior da Terra que é composto de diferentes rochas,


funciona como um vasto reservatório subterrâneo para a acumulação e circulação das
águas que nele se infiltram. As rochas que formam o subsolo da terra, raras vezes, são
totalmente sólidas e maciças. Elas contêm numerosos vazios (poros e fraturas)
denominados também de interstícios, que variam dentro de uma larga faixa de dimensões e
formas, dando origem aos aquíferos (região de acúmulo de água entre rochas profundas).
Apesar desses interstícios poderem atingir dimensões de uma caverna em algumas rochas,
deve-se notar que a maioria tem dimensões muito pequenas. São geralmente, interligados,
permitindo o deslocamento das águas infiltradas. Assim como em rochas, em maiores
profundidades, a água também pode se acumular nos horizontes mais superficiais do
subsolo, ou seja, nas formações dos solos, principalmente quando estes se formam em
terrenos mais baixos (terrenos sedimentares de “baixada”) do que aqueles do seu entorno.
Neste caso, dando origem ao que se denomina-se frequentemente de “lençol freático”.

A água subterrânea é originada predominantemente da infiltração das águas


das chuvas, sendo este processo de infiltração de grande importância na recarga da água
no subsolo. A recarga depende do tipo de rocha, tipos de solos, cobertura vegetal,
topografia, precipitação e da ocupação do solo. A utilização desta água pode ser feita
através de poços caseiros e profundos, conforme a profundidade alcançada. O processo de
formação do lençol freático (em solo) é mostrado na Figura 1.1, e está relacionada ao
conhecido “ciclo da água ou hidrológico”.

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Mecânica dos Solos II – Edição Dez/2018

HIDRÁULICA DOS SOLOS

Assim, pode-se definir lençol freático como sendo reservatório subterrâneo de água
doce, onde a chuva que se infiltra no solo fica armazenada a uma profundidade
relativamente pequena, até se deparar com um maciço rochoso ou com um solo
praticamente impermeável. Dependendo da forma e a proximidade com a superfície, o
lençol freático pode chegar a formar uma nascente.

Figura 1.1 – Ciclo Hidrológico: Infiltração e formação de lençol freático

Problemas relativos às águas subterrâneas são encontrados em um grande


número de obras de Engenharia. A ação e a influência dessas águas têm causado
numerosos imprevistos e acidentes, sendo os casos mais comuns verificados em cortes de
estradas, escavações de valas e canais, fundações para barragens, pontes, edifícios, etc.
Para as obras que necessitam de escavações abaixo do lençol freático, como por exemplo, a
construção de edifícios, barragens, túneis, etc; pode ser executado um tipo de drenagem ou
rebaixamento do lençol freático. Nestes casos, a água existente no subsolo pode ser
eliminada por vários métodos, como por exemplo, o uso de bombas.

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Mecânica dos Solos II – Edição Dez/2018

HIDRÁULICA DOS SOLOS

Quanto aos tipos de “Ocorrências de Água Subterrâneas ou Profundas” tem-se,


como ilustrado na Figura 1.2:

“Livre” ou “Freática”: Ocorrem sob a ação da gravidade (geram pressão devida à carga
hidráulica – estudada neste capítulo 01) – Ocorrem em profundidades menores, de
interesse direto da Engenharia Civil, no que se referem às execuções de obras
(Poço n0 1).
“Artesiana”: Ocorrem sob a ação de pressão associada à condição geológica do local –
Ocorrem em profundidades maiores, geralmente em rochas, sendo obtida através
de perfuração mecânica de poços ditos “profundos” (Poço n0 2).

Figura 1.2 – Aspectos da água no subsolo, em forma “livre” – “freática” ou “artesiana”

A ocorrência de leitos impermeáveis (argila, por exemplo) pode ocasionar


aprisionamento localizado de certas porções de água livre, formando um lençol freático ou
nível d’água “suspenso”, que não corresponde ao nível d’água principal, caracterizado para
a “região” como um todo, conforme ilustrado na Figura 1.3.

Figura 1.3 – Aspectos da água “livre” ou “freática” que predomina no local (NA2) e
ocorrência de acúmulo de forma suspensa – localizada (NA1).

1.2 – Fenômenos capilares

O lençol freático ou subterrâneo tende a acompanhar o modelado topográfico do


terreno. A posição do lençol freático no subsolo não é, entretanto, estável, mas bastante
variável. Isso representa dizer que, em determinada região, a profundidade do lençol
freático varia segundo as estações do ano. Essa variação depende do clima da região, e
dessa maneira, nos períodos de estiagem, a posição do lençol freático sofre normalmente
um abaixamento, ao contrário do período das cheias, quando essa posição se eleva.
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HIDRÁULICA DOS SOLOS

Em conseqüência da infiltração, a água precipitada sobre a superfície da terra


penetra no subsolo e através da ação da gravidade sofre um movimento descendente até
atingir uma zona onde os vazios, poros e fraturas se encontram totalmente preenchidos
d’água. Esta zona saturada é separada pela linha conhecida como nível freático ou lençol
freático, como visto, abaixo da qual estará o solo na condição de submersão (se em
condição de água livre), e acima estará o solo saturado até uma determinada altura.
Nos solos, por capilaridade, a água se eleva por entre os interstícios de pequenas
dimensões deixados pelas partículas sólidas, além do nível do lençol freático. A altura
alcançada depende da natureza do solo.
O corte, na Figura 1.4, mostra os diferentes níveis e condições da água subterrânea
em uma massa de solo, e a sua correspondente condição de saturação. Verifica-se que o
solo não se apresenta saturado ao longo de toda a altura de ascensão capilar. Observa-se
que o fenômeno de capilaridade ocorre em maiores proporções em solos argilosos. A altura
capilar é calculada pela teoria do tubo capilar, que considera o solo um conjunto de tubos
capilares.

Figura 1.4 – Condições de saturação no solo, em região de lençol freático

1.3 – Fluxo de água nos solos

A fundamentação teórica para resolução dos problemas de fluxo de água em solos


foi desenvolvida por Forchheimer e difundida por Casagrande (1937).

O estudo de fluxo de água nos solos é de vital importância para o engenheiro, pois a
água ao se mover no interior de um maciço de solo exerce em suas partículas sólidas forças
que influenciam o estado de tensão do maciço. Os valores de pressão neutra (da água) e
com isso os valores de tensão efetiva (na estrutura granular) em cada ponto do maciço
são alterados em decorrência de alterações de regime de fluxo. De uma forma geral, os
conceitos de fluxo de água nos solos são aplicados nos seguintes problemas:

• Estimativa da vazão de água (perda de água do reservatório da barragem), através


da zona de fluxo;
• Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol freático;
• Problemas de colapso e expansão em solos não saturados;
• Dimensionamento de sistemas de drenagem;
• Dimensionamento de “liners” (camada de determinado material que serve como
barreira horizontal impermeável) em sistemas de contenção de rejeitos;
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HIDRÁULICA DOS SOLOS

• Previsão de recalques no tempo (adensamento de solos moles – baixa


permeabilidade);
• Análise da influência do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo
(estabilidade de taludes);
• Análise da possibilidade da água de infiltração produzir erosão, arraste de
material sólido no interior do maciço, conhecido como “piping”, etc.

O estudo dos fenômenos de fluxo de água em solos se apóia em três pilares:


i - conservação da energia (Bernoulli),
ii - permeabilidade dos solos (Lei de Darcy) e
iii - conservação da massa.

Alguns conceitos sobre os dois principais fundamentos são aqui abordados:

i – Conservação da energia

A água ocupa a maior parte ou a totalidade dos vazios do solo e quando


submetidas a diferenças de potenciais, ela se desloca no seu interior. A água pode atuar
sobre elementos de contenção, obras de terra, estruturas hidráulicas e pavimentos, gerando
condições desfavoráveis à segurança e à performance destes elementos.

O conceito de energia total de um fluido, formulado por Bernoulli, é apresentado


nas disciplinas de Fenômenos dos Transportes e Mecânica dos Fluidos. A equação abaixo
apresenta a proposta de Bernoulli para representar a energia total ou carga total em um
ponto do fluido, expressa em termos de energia/peso.

u v2
htotal = z + +  carga total = carga altimétrica + carga piezométrica +
a 2g
carga cinética

Onde: htotal – energia (carga) total do fluido


z – carga altimétrica: diferença entre ponto considerado (cota) e nível de
referência (a ser adotado como padrão para o problema a ser analisado)
u – pressão neutra (da água)*
v – velocidade de fluxo da partícula de água
g – aceleração da gravidade
 a – peso específico da água

* OBS.: Em uma condição de água estática, sem movimento, uma coluna de água de altura
(carga) “h” faz em uma área unitária 11 uma pressão “u”:
Força (peso)
u (pressão) = peso = vol.  a = 1 .1. h .  a = h . a
área
 .h u
então: u = a =  a .h logo, a carga piezométrica será: h=
1.1 a
Observa-se que a pressão da água em um ponto do solo se calcula multiplicando
simplesmente a carga hidráulica piezométrica (h) pelo peso específico da água.

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HIDRÁULICA DOS SOLOS

Para a maioria dos problemas envolvendo fluxo de água nos solos, a parcela
referente à energia cinética pode ser desprezada. Logo, considera-se a equação de carga
total igual a:
u
htotal = z +
a

A carga hidráulica total em um ponto corresponde à soma da carga


piezométrica, expressa em altura de coluna d’água, e da carga altimétrica, diferença de
cotas obtida em relação a um plano de referência único, considerado para todo o problema,
adotado abaixo deste de preferência (para não haver cotas negativas).

Uma observação importante em relação ao movimento da água nos solos: Para que
haja fluxo de água entre dois pontos é necessário que a energia (carga) total em cada
ponto seja diferente. A água fluirá sempre de um ponto de maior energia (carga) total
para o ponto de menor energia (carga) total.

ii – Lei de Darcy

Permeabilidade: é a propriedade que o solo apresenta de permitir o escoamento da


água através dele, sendo o grau de permeabilidade expresso numericamente pelo
“coeficiente de permeabilidade”, designado pelo símbolo “k”.
Importância: O estudo da percolação de água no solo, ou seja, a permeabilidade, é
importante porque intervêm num grande número de problemas práticos, tais como
drenagem, rebaixamento do nível d’água, cálculo de vazões, análise de recalques, estudo
de estabilidade, etc.
Grau com que ocorre o fluxo  Expresso pelo coeficiente “k”, maior ou menor.

A determinação do coeficiente de permeabilidade é feita tendo em vista a lei


experimental de Darcy (proposta em 1856 por esse engenheiro francês). Darcy realizou
um experimento com um arranjo similar ao mostrado na Figura 1.5 para estudar as
propriedades do fluxo de água através de uma camada de filtro de areia:

Figura 1.5 – Esquema do experimento realizado por Darcy

Este experimento deu origem a uma lei que correlaciona a taxa de perda de
energia da água (gradiente hidráulico – “i”) no solo com a sua velocidade de
escoamento “v” (Lei de Darcy).

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HIDRÁULICA DOS SOLOS

Os níveis de água relativos à entrada e a saída no solo (de comprimento L, de área


constante) são mantidos constantes e o fluxo de água ocorre através do solo. Medindo o
valor da taxa de fluxo que passa através da amostra (vazão de água) “q”, para o
comprimento de amostra (L) e de diferença de potencial (h), Darcy descobriu que a vazão
“q” era proporcional à razão h (gradiente hidráulico da água, “i”). Observa-se que a
L
existência do gradiente hidráulico fará com que haja percolação.

 Δh 
q = k. .A = k.i.A
 L 

A vazão (q) dividida pela área transversal do solo (A) indica a velocidade com
que a água “percola” o mesmo. O valor da velocidade de fluxo da água no solo (v) é dado
por:
q  Δh 
.  = v v = k.  = k.i
A  L 

Na experiência da Figura 1.6 há fluxo de água no solo, entre os seus pontos


extremos “A” e “B”, devida a diferença de carga total entre estes dois pontos, motivada
pelo nível da água que entra (alimenta) o sistema, em “1” e pelo nível da água que sai do
sistema, em “2”.

A carga total h1 (na tubulação) corresponde à soma da carga altimétrica (hai) e


piezométrica (hpi) em qualquer ponto do fluido, tendo um valor constante (h1) desde a
entrada no sistema até a chegada na porção de solo (quando começa a haver um
decréscimo até a saída desta porção), adotado um plano de referência no nível inferior do
desenho. Observe que à medida que o valor da carga piezométrica vai aumentando
(referida à cota de entrada – alimentação) no percurso da tubulação até o solo, o valor da
carga altimétrica vai diminuindo (complementar).
Da mesma forma, a carga total h2 (na tubulação) corresponde à soma da carga
altimétrica (hai) e piezométrica (hpi) em qualquer ponto do fluido, tendo um valor constante
(h2) desde a saída da porção de solo até a saída final do sistema.

Figura 1.6 – Exemplo de sistema com fluxo com a identificação de suas cargas hidráulicas
Para o ponto “A” tem-se como carga total os valores cotados na figura: htA = ha1 + hp1
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HIDRÁULICA DOS SOLOS

Para o ponto “B” tem-se como carga total os valores cotados na figura: htB = ha2 + hp2

No percurso (percolação) da água no solo (entre pontos “A” e “B”) observe


que há uma diminuição da carga total (perda de carga) – O movimento da água se deu
de uma condição de carga maior para carga menor, sendo o gradiente hidráulico do solo
constante (devido a área ser constante) igual a h ou genericamente dh .
L dz
Observa-se que se o tubo 2 (saída) estivesse em uma posição mais alta que a
posição 1 (entrada) não haveria fluxo neste sentido (assinalado com setas)

Então, considerado os conceitos de que a Carga Altimétrica é simplesmente a


diferença de cota entre o ponto considerado e qualquer cota definida como referência e que
a Carga Piezométrica é a altura da coluna de água que corresponde a pressão da água
(pressão “neutra”) no ponto, tem-se para a pressão da água dos pontos “A” e “B”:
Para o ponto “A” tem-se como pressão neutra: uA = hp1 .  a
Para o ponto “B” tem-se como pressão neutra: uB = hp2 .  a

A velocidade da água nos solos é conhecida como velocidade de descarga (v) –


usual na prática da Engenharia, sendo, portanto, diferente da velocidade real da água nos
vazios do solo. Aplicando-se as noções desenvolvidas em índices físicos pode-se admitir
que a relação entre a área transversal de vazios e a área transversal total seja dada pela
porosidade (n). Desse modo, a velocidade de percolação real da água no solo é:
v
v real =
n

Esta velocidade, contudo, não é muito utilizada na prática devido à dificuldade de


sua determinação.

– Validade da Lei de Darcy

A lei de Darcy é válida para um escoamento do tipo “laminar”, tal como é possível,
sendo considerado tal escoamento na maioria dos solos naturais. Um escoamento se define
como laminar quando as trajetórias das partículas d’água não se cortam; em caso contrário,
denomina-se o escoamento do tipo “turbulento”.

1.4 – Coeficiente de permeabilidade

O valor de k é comumente expresso como um produto de um número por uma


potência negativa de 10. Exemplo: k = 1,3 x 10-8 cm/seg, valor este, aliás, característico de
solos considerados como impermeáveis para diversos problemas práticos de Engenharia.
Na Figura 1.7 apresentamos, segundo A. Casagrande e R. E. Fadum, os intervalos
de variação de k para os diferentes tipos de solos e na Tabela 1.1, segundo Casagrande,
outros valores típicos de solos. Estes valores podem servir de referência para coeficientes a
serem obtidos em laboratório ou em campo.

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Figura 1.7 – Intervalos de variação de K para diversos solos

Tabela 1.1 – Coeficientes de permeabilidade de solos típicos (Baseado em Casagrande)


k Características
Material
cm/seg m/dia do escoamento
10+2 1 a 100 864 a 86400 Pedregulho limpo
Areia limpas, misturas de areia Bom
0,001 a 1 0,86 a 864
10-3 limpas e pedregulho
Areias muito finas; siltes;
8,64 x 10-5 a
10-7 a 10-3 misturas de areia, silte e argila; Pobre
0,86
10-7 argilas estratificadas
8,64 x 10-7 a
10-9 a 10-7 Argilas não alteradas Impermeável
10-9 8,64 x 10-5

É interessante notar que os solos finos, embora possuam índices de vazios “in situ”
geralmente superiores aos dos solos grossos, apresentam valores de coeficientes de
permeabilidade bastante inferiores a estes, por não haver interligação dos seus vazios.

1.5 - Fatores que influem na permeabilidade

A permeabilidade é uma das propriedades do solo com maior faixa de variação de


valores e é função de diversos fatores, dentre os quais podemos citar o índice de vazios,
temperatura, estrutura do solo, grau de saturação e estratificação (horizontes) do terreno.

A) Índice de vazios:
Quanto maior índice de vazios (e) → Maior coeficiente de permeabilidade (k) de
um solo.
A equação de Taylor correlaciona o coeficiente de permeabilidade com o índice de
vazios do solo. Quanto mais fofo o solo, mais permeável ele é. Conhecido o k para um
certo tipo de solo, pode-se calcular o k para outro solo pela proporcionalidade da equação
apresentada (mais utilizada para areias).
e13
k 1 1 + e1
=
k2 e 32
1 + e2

A influência do índice de vazios sobre a permeabilidade, em se tratando de areias


puras e graduadas, pode também ser expressa pela equação de A. Casagrande:

k = 1,4.k 0,85 .e 2 , sendo k0.85 → Coeficiente de permeabilidade quando e = 0,85.

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B) Temperatura:
Quanto maior for a temperatura, menor a viscosidade da água e, portanto, mais
facilmente ela escoa pelos vazios do solo com correspondente aumento do coeficiente de
permeabilidade. Logo, k é inversamente proporcional à viscosidade da água.
Por isso, os valores de k são convencionalmente referidos à temperatura de 200C, o
que se faz pela seguinte relação:

k 20 = k T . T = k T .C V
 20
Onde:
kT – valor de k para a temperatura do ensaio;
20 – viscosidade da água na temperatura de 200C;
T – viscosidade na temperatura do ensaio;
CV – relação entre as viscosidades, nas diferentes temperaturas.

Segundo Helmholtz, a viscosidade da água em função da temperatura é dada pela


fórmula empírica:
0,0178
= , sendo T a temperatura do ensaio em ºC.
1 + 0,033T + 0,0002T 2

A figura 1.8 mostra uma planilha de ensaio, executado em um solo coletado à


1,50m de profundidade em uma região de Igrejinha – Juiz de Fora, em área estudada para
possível utilização como aterro sanitário do município, em que se observa a correção em k
feita para a temperatura.

Figura 1.8 – Exemplo de resultado de ensaios de permeabilidade corrigido para 200C

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Observe os resultados de k obtidos em 4 amostras diferentes a 25,4 o de temperatura


e o valor médio (dos 4 ensaios) corrigido para 20o (k20º) igual a 1,24 x 10-3 cm/seg.

C) Estrutura do solo:
A combinação de forças de atração e repulsão entre as partículas resulta em
diferentes estruturas de solos, dependentes da disposição das partículas na massa de solo e
das forças entre elas. Estrutura dispersa terá uma permeabilidade menor que a floculada.

D) Grau de saturação:
O coeficiente de permeabilidade de um solo não saturado é menor do que o que ele
apresentaria se estivesse totalmente saturado. Essa diferença não pode, entretanto ser
atribuída exclusivamente ao menor índice de vazios disponível, pois as bolhas de ar
existentes, contidas pela tensão superficial da água, são um obstáculo para o fluxo.
Entretanto, essa diferença não é muito grande.

E) Estratificação do terreno (Meio Heterogêneo):


Em virtude da estratificação (horizontes) do solo, os valores de k são diferentes nas
direções horizontal e vertical, como mostra a Figura 1.9. Chamando-se de k1, k2, k3, ... os
coeficientes de permeabilidade das diferentes camadas e de h1, h2, h3, ..., respectivamente,
as suas espessuras, deduzamos as fórmulas dos valores médios de k nas direções paralela e
perpendicular aos planos de estratificação. A permeabilidade média do maciço heterogêneo
depende da direção do fluxo em relação à orientação das camadas.

Figura 1.9 – Direção do fluxo nos terrenos estratificados

E.1) Permeabilidade paralela à estratificação: na direção horizontal, todos os


estratos têm o mesmo gradiente hidráulico i. Portanto demonstra-se que:
n

 k .h i i
kh = i =1
n

 .h
i =1
i

E.2) Permeabilidade perpendicular à estratificação: na direção vertical, sendo


contínuo o escoamento, a velocidade “v” é constante. Portanto demonstra-se que:
n

h i
kV = i =1
n
 hi 
  k
i =1  i 


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Para camadas de mesma permeabilidade, k1 = k2 = ...= kn, obtém-se pela aplicação


dessas fórmulas: kh = kv.
Demonstra-se, ainda, que em todo depósito estratificado, teoricamente: kh > kv.

1.6 – Determinação do coeficiente de permeabilidade

A determinação de k pode ser feita: por meio de fórmulas que o relacionam com a
granulometria (por exemplo, a fórmula de Hazen), no laboratório utilizando-se os
“permeâmetros” (de nível constante ou de nível variável) e in loco pelo chamado “ensaio
de bombeamento” ou pelo ensaio de “tubo aberto”. Para as argilas, a permeabilidade pode
se determinar ainda a partir do “ensaio de adensamento”.

A Figura 1.10 apresenta as imagens de blocos de amostra indeformada de solos. À


esquerda registo tomado da superfície para dentro de um poço com 4,00 m de
profundidade, em que se vê um laboratorista ao lado da amostra, em bloco parafinado a ser
encaminhado para um laboratório. À direita, outra amostra coleta em menor profundidade.
Amostras deformadas compactadas também são ensaiadas para a obtenção do seu “k”.

Figura 1.10 – Amostras indeformadas de solos retiradas de um poço e próxima da superfície

1.6.1 – Permeâmetro de nível constante

É utilizado para medir a permeabilidade dos solos granulares (solos com razoável
quantidade de areia e/ou pedregulho), os quais apresentam valores de permeabilidade
elevados.
Este ensaio consta de dois reservatórios onde os níveis de água são mantidos
constantes, como mostra a Figura 1.11. Mantida a carga h, durante certo tempo, a água
percolada é colhida e o seu volume é medido. Conhecidas a vazão (Q) e as dimensões do
corpo de prova (comprimento L e a área da seção transversal A), calcula-se o valor da
permeabilidade, k, através da equação:

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h Q.L
Q = v.A.t = k.i.A.t = k .A.t  k =
L A.h.t

Figura 1.11 – Esquema de montagem do permeâmetro de carga constante

Onde:
Q – é a quantidade de água medida que percola a amostra (cm3);
L – é o comprimento da amostra medido no sentido do fluxo (cm);
A – área da seção transversal da amostra (cm2);
h – diferença do nível entre o reservatório superior e o inferior (cm);
t – é o tempo medido entre o inicio e o fim do ensaio (s)

Procedimento: Mede-se o volume d'água que percola a amostra (Q) em


determinado intervalo de tempo (t).

1.6.2 – Permeâmetro de nível variável

O permeâmetro de nível variável (Figura 1.12) é utilizado para medir a


permeabilidade preferencialmente para solos finos, nos quais o volume d’água que
percola através da amostra é pequeno. Quando o coeficiente de permeabilidade é muito
baixo, a determinação pelo permeâmetro de carga constante é difícil e pouco precisa.

Figura 1.12 – Esquema de montagem do permeâmetro de carga variável

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Onde:
a – área interna do tubo de carga - bureta (cm2)
A – seção transversal da amostra (cm2)
L – altura do corpo de prova (cm)
h1 – distância inicial do nível d`água para o reservatório inferior (cm)
h2 – distância para o tempo t, do nível d`água para o reservatório inferior (cm)
t – intervalo de tempo para o nível d’água passar de h1 para h2 (cm)

Neste ensaio medem-se os valores h obtidos para diversos valores de tempo


decorrido desde o início do ensaio, como mostra a Figura 1.12. São anotados os valores da
temperatura quando da efetuação de cada medida. O coeficiente de permeabilidade dos
solos é então calculado fazendo-se uso da lei de Darcy:
h
q=v.A=k.i.A q = k. .A
L

E levando-se em conta que a vazão de água passando pelo solo é igual à vazão da
água que passa pela bureta, que pode ser expressa como:

dh
q=a.v q = a. (conservação da energia)
dt

Igualando-se as duas expressões de vazão tem-se:

dh h
a. = k. .A
dt L

Que integrada da condição inicial (h = hi, t = 0) à condição final (h = hf, t = tf):

h1
dh k . A t1
a.  = .  dt
h0 h L t0
Conduz a:
h 0 k.A
a. ln = .t
h1 L

Explicitando-se o valor de k:

a.L h  a.L h 
k= . ln  0  ou k = 2,3. . log  0 
A.t  h 1  A.t  h1 

Procedimento: Faz-se as leituras das alturas inicial e final da bureta e o intervalo de


tempo correspondente para haver esta variação de altura (cargas).

O novo laboratório de “Ensaios Especiais em Mecânica dos Solos” da Faculdade de


Engenharia da UFJF, dispõe de um permeâmetro combinado para solos (carga constante e
carga variável), fornecido pela Wille Geotechnik (alemã).

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Consta basicamente de um painel (Figuras 1.13 e 1.14), com recipiente para água e
buretas graduadas para leituras de níveis de carga hidráulica e de um recipiente – câmara
(Figura 1.15) para amostra de solo. O sistema é alimentado por água conduzido por
mangueira, de um tanque próximo.

Figura 1.13 – Vista geral do Permeâmetro Combinado de Solos da UFJF, que pode ser montado
para ser utilizado com carga constante ou variável

Figura 1.14 – Painel em fórmica do Figura 1.15 – Aspecto do cilindro (câmara)


permeâmetro, onde consta: Recipiente de água recipiente da amostra de solo a ser ensaiada.
com regulagem de altura e possibilidade de Neste caso, para materiais granulares, como se
manter o nível da água constante, conjunto de 4 vê, encontra-se preenchido com areia. Observe
“buretas” com diâmetros diferentes, fixadas a entrada de água pela mangueira conectada na
junto a régua graduada. base, e a saída pelo topo. Vê se também dois
pontos internos no cilindro ligados por
mangueira, para medição das cargas
hidráulicas e o comprimento “L” percolado.

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O fluxo para o caso estudado com o uso do permeâmetro, assim como em vários
outros problemas em Engenharia, ocorre de forma unidimensional, em que a vazão passa
por uma área constante o que implica em ocorrer um gradiente hidráulico constante e
consequentemente velocidade também constante.

No caso do fluxo bidimensional ou tridimensional a área em que a água passa é


variável, de forma que o gradiente hidráulico e sua velocidade são variáveis, conforme
estudo apresentado nos itens 1,8 e 1.9.

1.7 – Força de percolação

Em uma situação em que há fluxo, motivado pela diferença entre cargas totais entre
dois pontos (face de entrada e de saída), como ilustrado na Figura 1.16 (carga h), a
dissipação desta carga (cuja pressão correspondente é “h.  a ”) ocorre por atrito viscoso na
percolação através do solo.

Como é uma energia que se dissipa por atrito, ela provoca um esforço ou
arrastre na direção do movimento. Esta força atua nas partículas tendendo a carrega-las.
Só não o faz porque o peso das partículas a ela se contrapõe, ou porque a areia é contida
por outras forças externas (PINTO, 2000).

A força (pressão x área do corpo de prova)


dissipada corresponde a:
F = h .  w .A

Em um fluxo uniforme, esta força se dissipa


uniformemente em todo o volume de solo,
A.L, de forma que a força de percolação por
unidade de volume é:

Então, a força de percolação é igual ao


produto do gradiente hidráulico pelo peso
específico da água.
Figura 1. 16 – Água em fluxo
em um permeâmetro

A força de percolação é uma grandeza semelhante ao peso especifico. De fato, a


força de percolação atua da mesma forma que a força gravitacional. As duas se somam
quando atuam no mesmo sentido (fluxo d’água de cima para baixo) e se subtraem quando
atuam sentido contrário (fluxo d’água de baixo para cima). Este aspecto fica mais claro
quando se analisam as tensões no solo submetido à percolação, como será visto no capítulo
sobre “Tensões nos Solos” e no curso de “Barragens”.

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1.8 – Lei de fluxo generalizada

A equação diferencial de fluxo é a base para o estudo de percolação bi ou


tridimensional. Tomando um ponto definido por suas coordenadas cartesianas (x,y,z),
considerando o fluxo através de um elemento infinitesimal em torno deste ponto, e
assumindo a validade da lei de Darcy, solo homogêneo, solo e água incompressíveis, é
possível deduzir a equação tridimensional do fluxo em meios não-saturados:

2h 2h 2h 1  S e 


kx. + k . + k . = . e. + S . 
x y z e + 1  t t 
2 y 2 z 2

Onde: kj – permeabilidade na direção j


h – carga hidráulica total
S – grau de saturação
e – índice de vazios
t – tempo

Em muitas aplicações em geotecnia, a equação pode ser simplificada para a


situação bidimensional, em meio saturado e com fluxo permanente ou estacionário,
obtendo-se:
 2h 2h 1  S e 
kx. 2 + k y . 2 = . e. + S . 
x y e + 1  t t 

Observando-se os termos e (índice de vazios) e S (grau de saturação), verifica-se


que podem ocorrer quatro tipos de fenômenos:

a) e e S são constantes  Fluxo permanente ou estacionário (não varia com o


tempo), s = 100%. (estudado nesta Unidade 01)
 2h  2h
kx. 2 + ky. 2 = 0
x y
Se nessa equação for considerada isotropia na permeabilidade, isto é, kx = ky,
pode-se simplificar ainda mais:
 2h  2h
+ =0
x 2 y 2

b) e é variável e S é constante: (estudado no Capítulo 03)


i. e decrescente – adensamento
ii. e crescente – expansão

c) e é constante e S é variável: (estudado em outra disciplina)


i. S decrescente – drenagem
ii. S crescente – embebimento

d) e e S são variáveis  problemas de compressão e expansão, além de drenagem e


embebimento.

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Obs: Os casos (b), (c) e (d) são denominados fluxo transiente (quantidade de água
que percola varia com o tempo).

Normalmente o problema de fluxo é tratado no plano, considerando-se uma


seção típica do maciço situada entre dois planos verticais e paralelos, de espessura unitária.
Tal procedimento é justificado devido ao fato de que a dimensão longitudinal é bastante
maior que as dimensões de seção transversal. Portanto, considerando:
• Fluxo é permanente ou estacionário;
• Solo saturado;
e
• Não ocorre nem compressão, nem expansão durante o fluxo: =0
t
• Solo homogêneo;
• Solo isotrópico - k igual nas duas direções kx = ky;
• Validade da Lei de Darcy.

 2h  2h
Temos: + = 0  Equação de Laplace
x 2 y 2

A solução geral que satisfizer a condição de contorno de um problema particular de


fluxo constituirá a solução da equação para este problema específico. É importante
observar que a permeabilidade do solo não interfere na equação de Laplace.
A solução geral da equação de Laplace é constituída por dois grupos de funções as
quais são representadas por duas famílias de curvas ortogonais entre si. Uma corresponde
à trajetória que descreve o escoamento da água e a outra se relaciona a carga hidráulica
total do líquido, como será visto.

Um experimento para a comprovação da trajetória da água que percola um solo


isotrópico pode ser feito em laboratório a partir de uma caixa de vidro ou acrílico, em
forma de um paralelepípedo como de um “aquário” (Figura 1.17).
Ao preencher a caixa com areia, simulando uma situação de Engenharia como a de
uma barragem, por exemplo, e provocar um fluxo permanente através da areia, ao se
introduzir com uma agulha tinta colorida na “entrada” do solo que está sendo percolado, a
mesma irá se deslocar segundo a sua trajetória definida pela equação de Laplace.

Figura 1.17 – Experimento em laboratório para demonstração das trajetórias de percolação


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1.9 – Rede de fluxo bidimensional

A equação de Laplace tem como solução duas famílias de curvas que se


interceptam normalmente. A representação gráfica destas famílias constitui a chamada
rede de escoamento ou rede de fluxo (“flow net”).
A rede de fluxo é um procedimento gráfico que consiste, basicamente, em traçar na
região em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de curvas conhecidas com linhas de fluxo ou
escoamento, que são as trajetórias das partículas do líquido e por linhas equipotenciais
ou linhas de igual carga total.
O trecho compreendido entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer é
denominado canal de fluxo e corresponde a uma acerta porção Q da quantidade total Q de
água que se infiltra. Portanto, a vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos
os canais. A perda de carga h entre as linhas equipotenciais adjacentes denomina-se
queda de potencial.

No caso de solos isotrópicos (propriedades iguais em todas as direções) e


homogêneos (mesmo material), as linhas de fluxo e equipotenciais formam figuras que são
basicamente “quadrados”, em destaque na Figura 1.18. Para o caso, tem-se como
propriedades da rede de fluxo que a mesma vazão Q percola entre duas linhas de fluxo
adjacentes e que a perda de carga entre linhas equipotenciais sucessivas é a mesma.
Para a resolução da maioria dos problemas de fluxo bidimensional há a necessidade
de construção da “Rede de Fluxo”, que é a representação gráfica da solução da equação
diferencial de fluxo.

Figura 1.18 – Destaque do traçado de uma rede de fluxo

– Métodos de traçado de rede de fluxo

Os métodos para a determinação das redes de fluxos são:


• Soluções analíticas, resultantes da integração da equação diferencial do fluxo.
Somente aplicável em alguns casos simples, dada a complexidade do tratamento
matemático quando se compara com outros métodos.
• Solução gráfica é o mais rápido e prático de todos os métodos, como veremos
adiante.
• Soluções numéricas, resultantes da utilização de recursos computacionais, através
de métodos números como os de “diferenças finitas”, “métodos dos elementos
finitos”, entre outros (Figura 1.25).

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– Determinação gráfica da rede de fluxo

Este método foi proposto pelo físico alemão Forchheimer. Consiste no traçado, a
mão livre, de diversas linhas de escoamento e equipotenciais, respeitando-se as condições
de que elas se interceptem ortogonalmente e que formem figuras “quadradas”. Há que se
atender também às “condições limites”, isto é, às condições de carga e de fluxo que, em
cada caso, limitam a rede de percolação.
As redes montadas por figuras com a/L constante e, em particular, “quadradas”
(a/L=1), implicam no atendimento às condições que lhes são impostas, isto é, por cada
canal de fluxo passa a mesma quantidade (Q) de água entre duas equipotenciais
consecutivas a mesma queda de potencial (h).
O método exige, naturalmente, experiência e prática de quem o utiliza. Geralmente,
o traçado baseia-se em outras redes semelhantes obtidas por outros métodos.

Tomemos, para exemplificar, o aspecto das linhas equipotenciais e de fluxo, o caso


simples de uma cortina de estacas-prancha cravadas num terreno arenoso, onde se
indicam as condições limites, constituídas por duas linhas de fluxo e duas linhas
equipotenciais, como são mostradas na Figura 1.19 (caso de fluxo confinado).

Figura 1.19 – Representação das condições limites

Para este caso, a rede de fluxo tem a configuração mostrada na Figura 1.20.
Numerosas linhas de fluxo e linhas equipotenciais podem ser traçadas, como as do
exemplo; em que se obtém Nd = 12 quedas de potencial e Nf = 5 canais de fluxo.

Figura 1.20 – Configuração da rede de fluxo em uma cortina de estacas-prancha

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Obs: Ao nível da superfície superior do solo, sob a coluna de água de altura h,


temos a equipotencial de carga h (carga de entrada), e no trecho sem água a equipotencial
de carga zero (carga de saída). No exemplo a carga que se dissipa é “h”.

Neste caso, observa-se que a água percola da esquerda para a direita em função da
diferença de carga total existente. Observa-se que as 13 linhas equipotenciais são
perpendiculares às 6 linhas de fluxo, formando elementos aproximadamente quadrados. A
rede é formada por 5 canais de fluxo (nf = 5) e por 12 quedas equipotenciais (nd = 12).
Nota-se que os canais de fluxo possuem espessuras variáveis, pois a seção
disponível para passagem de água por baixo da estaca prancha é menor do que a seção pela
qual a água penetra no terreno. Logo, a velocidade e o gradiente serão variável ao longo
do canal de fluxo. Quando o canal se estreita, sendo constante a vazão, a velocidade será
maior, gerando um gradiente hidráulico maior (Lei de Darcy). Conseqüentemente, sendo
constante a perda de potencial de uma linha equipotencial para outra, o espaçamento entre
as equipotenciais deve diminuir. Sendo assim, a relação entre as linhas de fluxo e
equipotenciais se mantém constante.

Piezômetro:
Na figura 1.20 observe que temos dois piezômetros “instalados” em uma mesma
linha equipotencial. Este dispositivo (piezômetro), mostrado na Figura 1.21, nada mais é
do que um tudo de PVC com a extremidade perfurada que permite a entrada da água, que
devido a um fechamento (selo, geralmente feito de bentonita) próximo a esta extremidade
permitirá o estabelecimento da coluna de água a ser medida (consequentemente a
determinação da pressão neutra no ponto).
A figura 1.21 (a) ilustra o esquema de montagem de um piezômetro, (b) a
instalação no campo e (c) o detalhe da extremidade do tubo perfurado, protegido por uma
tela ou tecido para não haver obstruções dos seus furos.

Figura 1.21 – Detalhes de um piezômetro


(a) Esquema de montagem de um tubo para funcionar como um
piezômetro
(b) Instalação de um piezômetro no campo
(c) Detalhe da extremidade do piezômetro (h = 60cm)

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A Figura 1.22 apresenta a solução gráfica para um outro exemplo semelhante ao


mostrado anteriormente, em que o nível da água é diferente junto a linha equipotencial de
entrada e de saída.

Figura 1.22 – Rede de fluxo de uma fundação permeável de uma cortina de estacas-prancha

A Figura 1.23 ilustra um traçado de rede de fluxo feito à mão livre, sob um
vertedouro de concreto, tendo na fundação (extremidades) duas cortinas (paredes) verticais
até uma determinada profundidade.

Figura 1.23 – Traçado a mão livre de uma rede de fluxo de uma fundação de vertedouro

No exemplo da Figura 1.24, publicado por Massad (2003), de uma escavação em


solo homogêneo, apresenta-se a rede de fluxo para a metade à direita da seção (a ser
duplicada para a esquerda, por haver simetria no exemplo) em que há uma perda de carga
de 6,0m em 12 quedas de potencial (nq = nd =12) – adotado 6 canais de fluxo (nc = nf = 6)
ao se traçar a rede de fluxo.

Figura 1.24 – Desenho da rede de fluxo para uma escavação (MASSAD, 2003)

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Interessante observar que na área mais estreita do fluxo, abaixo da escavação, as


linhas de fluxo estão mais próximas e na área externa mais distante, mantida a mesma
quantidade de linhas de fluxo.

A Figura 1.25 ilustra um traçado de rede de fluxo gerado por um programa


computacional (software “SEEP/W”, da GeoStudio), que utiliza métodos numéricos (p. ex.
o MEF) na resolução do problema de fluxo sob uma barragem de concreto, tendo na sua
fundação uma cortina central (parede vertical), conhecida como trincheira de vedação
(“cut-off”); tem como finalidade reduzir a subpressão na base da barragem. É aplicável
para a impermeabilização da camada de fundação, ajudando também a controlar a direção
e a quantidade de fluxo sob a barragem.

Figura 1.25 – Rede de fluxo em fundação de uma barragem de concreto, obtida por software

As Figuras 1.26 e 1.27 apresentam dois casos em que se apresenta o traçado das
linhas de fluxo e a utilização de filtros de proteção para o controle de fluxo de água que
ocorre. Na Figura 1.26 temos uma barragem de terra através da qual há um fluxo de água,
graças às diferenças de carga entre montante e jusante. Com intuito de proteger a barragem
do fenômeno de erosão interna (“piping”) e para permitir uma rápida drenagem da água
que percola através da barragem, usa-se construir filtros, como, por exemplo, o filtro
horizontal esquematizado no desenho.

Figura 1.26 – Rede de fluxo em uma barragem de terra com filtro na extremidade de jusante

Na Figura 1.27, a água percola através do solo arenoso da fundação do reservatório.


Pelo desenho, pode-se notar que próxima à face jusante das estacas-prancha, o fluxo é
vertical e ascendente, o que pode originar o fenômeno de areia movediça. Para combater
este problema, faz-se um filtro de material granular, permitindo assim a livre drenagem das
águas.

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Figura 1.27 – Rede de fluxo em uma cortina de estacas-prancha

Cálculo de vazão em função do traçado da rede de fluxo

A partir do traçado da rede de fluxo pode-se calcular a vazão percolada. Assim:

Isolando um elemento da rede de fluxo, como mostrado na Figura 1.28, o qual é


formado por linhas de fluxo distanciadas entre si de “b” no plano do desenho e de uma
unidade de comprimento no sentido normal do papel.

Figura 1.28 – Elemento individual da rede de fluxo, referente a um canal de fluxo

Segundo a Lei de Darcy, a vazão (q) no canal de fluxo será: q = k.i.A , sendo o
gradiente hidráulico (i) dado por:
∆htrecho
i=
Ltrecho

Sendo a área no elemento é igual a “b.l”, portanto:


∆h
q= k. . (b. 1)
L
No traçado da rede de fluxo, como o elemento é um quadrado, tem-se: b=L, logo,
b/L = l, sendo assim a vazão para um canal de fluxo é dada por: q = k.h .

Ressalta-se que a perda de carga entre duas equipotenciais consecutivas é constante,


requisito para que a vazão num determinado canal de fluxo também seja constante.

A carga total disponível (h) é dissipada através das linhas equipotenciais (nd), de
forma que entre duas equipotenciais consecutivas temos:

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h
h =
nd
Realizando a devida substituição, rescreve-se a vazão em cada canal de fluxo:
h
q = k.
nd

A vazão total do sistema de percolação (Q), por unidade de comprimento, é dada


pela vazão de um canal (q) vezes o número de canais de fluxo (nf). Portanto:
n
Q = q.n f  Q = k .h. f
nd
Onde:
h – perda de carga total
nf/nd – fator de forma, que depende da rede traçada

Propriedades básicas de uma rede de fluxo


• As linhas de fluxo e as linhas equipotenciais são perpendiculares entre si, isto é, sua
interseção ocorre a 90º;
• A vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os canais;
• As linhas de fluxo não se interceptam, pois não é possível ocorrerem duas
velocidades diferentes para a mesma partícula de água em escoamento;
• As linhas equipotenciais não se interceptam, pois não é possível se ter duas cargas
totais para um mesmo ponto;
A perda de carga entre duas equipotenciais consecutivas quaisquer é constante.

1.10 – Exercícios de Aplicação

1 – Dado o problema de percolação da Figura 1.29, em que se apresenta a sua rede de fluxo
já traçada, determine a altura (carga piezométrica) em que a água se eleva no piezômetro
instalado em “P” (profundidade Zp, da referência) e a pressão neutra neste ponto “P”.

Figura 1.29 – Problema de percolação de água, com o traçado de sua rede de fluxo (GRAIG, 2012)

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Resolução:
Carga hidráulica do sistema de fluxo: Diferença de NA (entrada/saída) = h=4,5–0,5 = 4,0m
Perda de carga entre duas equipotenciais traçadas =∆h = 4,0/12 = 0,33m

Até o ponto “P” 2 quedas: ∆h= 0,66m (valor de perda de carga na percolação até o
ponto). Corresponde a altura que o NA de carga h=4,0m se abaixa.

Então, calculando a altura do nível da água dentro do piezômetro (tubo):


Hpiezométrica = 4,00-0,66+Zp = (3,33+Zp)m
Pressão neutra no ponto “P”: u= hpiez .  a = (3,33+Zp)m .10kN/m3 = (33,3+10 Zp)kN/m2

2 – Para a cortina, com 100 m de comprimento, representada na Figura 1.30, calcular:


a) A quantidade de água que percola, por mês, através do maciço permeável
b) A pressão neutra ou poropressão no ponto A, em que está instalado um piezômetro.

Figura 1.30 – Problema de percolação de água.

Resolução:
Por se tratar de fluxo bidimensional, em que a área atravessada pela água não é constante,
faz-se necessário traçar previamente a rede de fluxo do problema ...
Optando por traçar 2 linhas de fluxo, obtém-se a mão livre o traçado abaixo:

a) Cálculo de vazão, obtida em função da rede de fluxo:


(por unidade de comprimento)
q = k.h.(Nf /Nd)
q = 1,4x10-5 . 15 x 102 . 1 . (3/6) = 10,5x10-3cm3/seg (considerada a faixa unitária - 1cm)
qtotal = 10,5x10-3 cm3/seg . 104cm = 105 cm3/seg (considerado os 100m de cortina)

Em um mês tem-se: t = 30 x 24 x 60 x 60 = 2592x103seg


Q = 105 . 2592 x 103 = 272,16x106cm3/mês = 272m3/mês

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b) Cálculo da pressão neutra ou poropressão no ponto:


h = (h/Nd) = (15/6) = 2,5m (perda de carga entre duas equipotenciais)

O número de quedas h até ao ponto A é de aproximadamente 3,5h, logo a perda até este
ponto é de 3,5 x (15/6) = 8,75m (perda de carga)
Então, o nível de água no tubo piezométrico instalado em A situa-se à 8,75m abaixo do
nível de água à montante, ou seja à 6,25m acima do nível do terreno em que está instalado.

Como visto a pressão no ponto é a carga, expressa em altura de coluna d’água,


multiplicada pelo seu peso específico:
uA= hpiez .  a = (6,25+25) .  a uA = 31,2 t/m2 = 312kPa

3 – Para o vertedouro de concreto da Figura 1.31, já desenhada uma rede de fluxo, calcule
a “subpressão” (pressão da água junto à sua fundação), em função do peso específico da
água considerado “  w ”. Apresente o cálculo para os 6 pontos destacados (a, b, c, d, e, f),
em kN/m2 (kPa). Apresente também um gráfico esquemático com os valores obtidos.

Figura 1.31 – Percolação de água em fundação de um vertedouro de concreto (DAS, 2011)

Resolução:
Carga hidráulica do sistema de fluxo: Diferença de NA (entrada/saída) = h=7,0m
Perda de carga entre duas equipotenciais traçadas =∆h = 7,0/7 = 1,00m

Observe que até o ponto “a” 1 queda: ∆h= 1,00 (valor de perda de carga na percolação
até o ponto). Então, calculando a altura do nível da água dentro do piezômetro (tubo):

Hpiezométrica = 6,00+2,00 = 8,0m (como pode-se observar diretamente nas cotas do desenho)
Logo, ua= hpiez .  w = 8,0.  w kN/m2

Para os outros pontos, há perda de carga de 1,00m a cada ponto, logo, tem-se:
ub= hpiez .  w = 7,0.  w kN/m2
uc= hpiez .  w = 6,0.  w kN/m2
ud= hpiez .  w = 5,0.  w kN/m2
ue= hpiez .  w = 4,0.  w kN/m2
uf= hpiez .  w = 3,0.  w kN/m2
Gráfico esquemático com os valores obtidos para a subpressão na base da fundação:
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A Figura 1.32 ilustra diferentes exemplos de traçados de rede de fluxo (4 para fluxo
confinado e 2 para fluxo não confinado*), em solos isotrópicos e homogêneos.
Observe como os elementos impermeáveis (cortinas - paredes ou tapetes) ou
permeáveis (filtros - material drenante) influenciam a trajetória das linhas de fluxo.

a - Barragens Vertedouro

b - Barragem de Gravidade c - Barragem com Tapete Impermeabilizante

d - Barragem de Terra e - Barragem de Terra sob Chuvas

Figura 1.32 – Diferentes exemplos de traçados de rede de fluxo.

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* O traçado de redes de fluxo para problemas de fluxo não confinado, como é o caso dos exemplos
ilustrados na Figura 1.32 (“d” e “e”) serão abordados no curso de “Barragens de Terra e
Enrocamento”, visto na UFJF na disciplina “Geotecnia de Fundações e Obras de Terra”.

Os exemplos estudados neste capítulo abordaram fundamentalmente os casos de


percolação em solos homogêneos, em relação à permeabilidade. Os problemas abordados abaixo
também serão tratados no curso referido acima.

Solos Anisotrópicos
No que diz respeito ao fluxo de água, um solo é dito anisotrópico quando apresenta
diferenças no coeficiente de permeabilidade nas duas direções. Neste caso, as linhas de fluxo não
são mais perpendiculares às equipotenciais.
Para o traçado de redes nesta situação, como pode ser visto em Pinto (2006), recorre-se a
uma transformação do problema (Figura 1.33), em que se efetua uma alteração na escala na direção
x, de forma que se tenha:

Seção verdadeira Seção transformada


Figura 1.33 – Rede de fluxo com condição de anisotropia (PINTO, 2006)

Solos Heterogêneos - Estratificados


No que diz respeito ao fluxo bidimensional de água em um meio estratificado, como em
seções de barragens de terra zonadas, isto é, com a presença de diferentes materiais, o fluxo de
água através de interfaces entre materiais ocorre segundo a uma proporcionalidade entre seus
coeficientes de permeabilidade.
O assunto é abordado, entre outros, por Massad (2003). A Figura 1.34 ilustra o desenho da
rede de fluxo para uma barragem com seção construída com dois diferentes materiais.

Figura 1.34 – Rede de fluxo bidimensional em meio heterogêneo (MASSAD, 2003)

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TENSÕES NOS SOLOS

Capítulo 2 - TENSÕES NOS SOLOS

O conhecimento das tensões atuantes em um maciço de terra sejam elas advindas


do peso próprio ou em decorrência de carregamentos em superfície, ou ainda pelo alívio de
cargas provocado por escavações (Figura 2.1), é de vital importância no entendimento do
comportamento de praticamente todas as obras de engenharia geotécnica. Há uma
necessidade de se conhecer a distribuição de tensões (pressões) nas várias profundidades
abaixo do terreno para a solução dos mais diversos problemas de solos, como de recalques,
empuxo de terra, capacidade de carga no solo, etc.

σ0 = Tensão devida ao peso próprio


∆σ1 = Alívio de tensão devido à escavação
∆σ2 = Tensão induzida pelo carregamento

Figura 2.1 – Tensões atuantes em um maciço de solo

2.1 – Conceito de tensão em um meio particulado

Para o estudo das tensões no solo aplicam-se os conceitos da Mecânica dos Sólidos
Deformáveis aos solos, para tal deve-se partir do conceito de tensões.

O solo é um sistema trifásico constituído por sólidos, água e ar. Parte dos esforços é
transmitida pelos grãos e, dependendo das condições de saturação, parte é transmitida pela
água. No caso de solos secos, todos os esforços são transmitidos pelo arcabouço sólido.
Entretanto, a definição do estado de tensões requer não só a definição dos esforços, mas
também da área. Neste caso, a área considerada deveria passar pelos pontos de contato
(Ac), conforme mostra a Figura 2.2. Este tipo de abordagem torna-se inviável face à
variabilidade de tamanhos de grãos e arranjos estruturais. Em contrapartida, a adoção de
um plano horizontal (A) acarreta na existência de regiões sólidas e regiões que passam
pelos vazios. Em qualquer caso, entretanto, a transmissão se faz nos contatos e,
portanto, em áreas muito reduzidas em relação à área total envolvida.

O somatório da área de contato (Ac) é da ordem de 0,03% da área total (A), o que
faz com que o valor da tensão, considerando-se exclusivamente a transmissão dos esforços
pelos contatos, ser significativamente mais alta do que aquela considerada em termos
médios (Gerscovich, 2008).

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TENSÕES NOS SOLOS

Figura 2.2 – Transmissão de esforços em solos

Apesar do conceito de transmissão através dos contatos entre grãos ser fisicamente
mais correto, não seria possível desenvolver modelos matemáticos que representassem
isoladamente as forças transmitidas. Assim sendo, as tensões normal e cisalhante são
tratadas do ponto de vista macroscópico, considerando a área total (A), definindo-se como:

TENSÃO NORMAL é a somatória das forças normais ao plano, dividida pela área
total que abrange as partículas em que estes contatos ocorrem.
σ=ΣN
A
TENSÃO CISALHANTE é a somatória das forças tangenciais, dividida pela área.
(componente melhor estudada no Capítulo 04)
τ=ΣT
A

O conceito de tensão definido conduz ao conceito de tensão num meio contínuo. Ao


se fazer assim, não se está cogitando se esse ponto, no sistema particulado, está
materialmente ocupado por um grão ou um vazio (PINTO, 2006).

Na Mecânica dos Solos trata-se eventualmente a tensão atuante no solo como


“pressão”. Entenda-se que, sempre que referir para solo a palavra “pressão”, esta-se
expressando tensão, sem prejuízo da conceituação clássica aqui abordada.

2.2 – Tensões verticais devidas ao peso próprio dos solos

Na análise do comportamento dos solos, as tensões devidas ao peso próprio têm


valores consideráveis, e não podem ser desconsideradas. Neste item, serão estudadas as
tensões atuantes na massa de solo, nas diversas profundidades de um maciço, quando
consideramos somente o peso próprio, isto é, apenas sujeito à ação da gravidade, sem
cargas exteriores atuantes.
De acordo com a mecânica do contínuo “O estado de tensão em qualquer plano
passando por um ponto em um meio contínuo é totalmente definido pelas tensões atuantes
em três planos mutuamente ortogonais, passando no ponto”. A Figura 2.3 ilustra o estado
de tensões (componentes) geral em um ponto no interior de uma massa de solo qualquer.
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TENSÕES NOS SOLOS

Estado de tensão em qualquer Representação matricial das


plano passando por um ponto componentes de tensão
(definidas por 09 parcelas)

Figura 2.3 – Estado de tensões em um ponto no interior de uma massa de solo qualquer

Tensão Vertical
- No caso de terrapleno com superfície inclinada, teremos para σv:

Seja a superfície superior com uma inclinação i (em relação horizontal), de uma
massa de solo cujo interior se situa o ponto A cotado no plano A (base do prisma) a uma
profundidade Z, como mostra na Figura 2.4 (a), o prisma corresponde à coluna de solo de
comprimento unitário, largura b (na horizontal) e profundidade Z.

Considerando a massa de solo homogêneo no espaço semi-infinito, o terreno está


solicitado só pela ação da gravidade não ocorrendo lençol freático nessa espessura Z. Todo
o prisma de solo a ser considerado terá o material com peso específico p (valor acima do
ponto A).

(a) (b)
Figura 2.4 – (a) Representação do prisma de solo e (b) Representação de uma seção transversal,
para o cálculo das tensões

Admitindo-se que a massa de solo está em repouso absoluto, como ilustrado para
uma seção, Figura 2.4 (b), o solo não se desloca pela ocorrência dos esforços nas faces
laterais do prisma de solo (E1=E’1) e esforços nas faces frontais do prisma
(E2=E’2) considerado, sendo Pv o peso do prisma de solo e PA reação do solo pela
continuidade abaixo do plano A.
Estando o prisma em equilíbrio, pode-se calcular a tensão “σv” (“σz”) no ponto A:

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TENSÕES NOS SOLOS

PV
 VA =
áreabase

Para o valor do peso Pv, pode-se utilizar a sua relação com o valor de peso
específico do solo, sendo Pv = volume do prisma de solo x peso específico aparente natural
devido ao peso próprio de todos os materiais existentes acima do ponto, então:

Pv = VP . P sendo VP = comprimento . largura . altura = 1.b.Z = b.Z


PV P PV b.Z . P
 VA = = V = =
áreabase S A b b
.1 .1
cos i cos i

 VA = Z . cos i. P

Observe que o valor de tensão independe da seção do prisma (“coluna” de solo),


pois, quanto maior (menor) sua seção, maior (menor) será a área da base. Logo, o
resultado da divisão será sempre constante.

Caputo (2017) ilustra na Figura 2.5 o problema considerando a inclinação do


terreno como () e destaca que a resultante de tensão atuante em um plano pode ser
substituida pelas correspondentes componentes de tensão normal e cisalhante a este plano.

Figura 2.5 - Componentes de tensão em superfície inclinada (CAPUTO, 2017)

Tensão Vertical
- No caso de terrapleno com superfície coincidente com a horizontal, teremos para σv:

Quando a superfície do terreno é horizontal se aceita intuitivamente que a tensão


atuante em num plano horizontal a certa profundidade seja normal a este plano. De fato, as
componentes das forças tangenciais ocorrentes em cada contato tendem a se contrapor,
anulando a resultante. Estas tensões são denominadas tensões virgens ou geostáticas.

De particular interesse, são as tensões nos planos verticais (tensões horizontais).


Nestes planos também não ocorrem tensões de cisalhamento, devido à simetria (Figura
2.6). A tensão normal no plano vertical depende da constituição do solo e do histórico de
tensões a que esteve submetido anteriormente. Normalmente ela é referida à tensão
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vertical, sendo a relação entre tensão horizontal e tensão vertical denominada “coeficiente
de empuxo em repouso”, indicada pelo símbolo “k0”. Este assunto melhor será abordado
neste curso no Capítulo 06 – Empuxos de Terra.
Então, tem-se: Tensão Vertical  V = Z . P (nesse caso, i = 0)
Tensão Horizontal  h = K 0 . V

Estado de tensão em qualquer Consideração da superfície do Consideração das propriedades


plano passando por um ponto solo horizontal: i=0 do solo não variando na
(τ = 0) horizontal (σx = σy)

Figura 2.6 – Estado de tensões em um ponto em massa de solo com superfície horizontal

Gerscovich (2008) resalta que a condição geostática horizontal se caracteriza por:


- superfície do terreno ser horizontal
- camadas estarem alinhadas na horizontal (espessura constante)
- não existirem tensões cisalhantes atuando nos planos vertical e horizontal

Colocando-se em um sistema cartesiano, teremos o diagrama representativo de


todos os valores de tensão vertical (ou horizontal), ao longo da espessura Z, como mostra a
Figura 2.7. Nota-se tratar de uma “função” linear, dependente apenas de Z, já que é
constante para cada solo homogêneo – tipo y = a.x

Figura 2.7 – Diagrama representativo da distribuição de tensões vertical na espessura Z

No caso de uma seqüência de camadas aproximadamente horizontais, de solos


homogêneos diferentes, considerado o terrapleno horizontal, a tensão vertical resulta do
somatório do efeito das diversas camadas (Figura 2.8).
Isto é, a pressão vertical total da camada 1 se transmite integralmente sobre a
camada 2 e na espessura dessa segunda camada haverá o acréscimo de diagrama devido a
pressão gerada nessa espessura.
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TENSÕES NOS SOLOS

No caso de n camadas de peso específico pi e espessuras Zi, teremos a expressão:

n
 =   Pi .Z i
1

Figura 2.8 – Exemplo de distribuição de tensões para uma seqüência de camadas de solos

Análise sobre os materiais ocorrentes nas camadas

Para cada camada homogênea, de espessura Z (h) pode-se considerar que ocorrem
partículas sólidas e água, em diversas situações de peso específico, a saber:

1. Só água = lâmina d’água = P = a (w) - adotado usualmente igual a 10kN/m3;


2. Só partículas = solo seco = p = s - não ocorre na prática, pode ser utilizado
para correlacinar parâmetros;
3. Partículas com todos os vazios cheios de água, S=100%:
3.a. Solo saturado = quando a água dos vazios não está sujeita a ação da
gravidade (partículas envolvidas pela água);
3.b. Solo submerso = quando a água dos vazios está sujeita à ação da gravidade,
assim, as partículas sólidas estão imersas na água, portanto, as partículas estão
sujeitas ao empuxo que atua sobre as mesmas (Figura 2.9).

Figura 2.9 – Esquemas para exemplificação de solo submerso e saturado


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TENSÕES NOS SOLOS

4 - Partículas com água ocupando parcialmente os vazios - Solo pacialmente


saturado.
O cálculo do peso específico para qualquer uma das situações poderá ser obtido
a partir da relação de outros índices físicos, obtendo-se o peso específico
aparente natural do solo, pela expressão geral deduzida como segue, função do
peso específico do solo seco e da água (γs, γa) da porosidade (n) e do seu grau de
saturação (S).
P
 = t = peso específico aparente natural do solo.
Vt
P P + Pa Ps P P
= t = s = + a = s + a
Vt Vt Vt V t Vt
P
 = a  Pa = a x Va
Va
 V
Substituindo temos:  = s + a a
Vt
Dividindo por Vv, numerador e denominador, não altera a fração:
Va
V S
 = s + a v = s + a = s + Sn  a
Vt 1
Vv n
Logo, pode-se escrever:  P =  S + S .n   a

A Figura 2.10 apresenta um perfil de solo onde se analisam as faixas de ocorrências


de camadas de espessuras homogêneas, e os seus respectivos valores de peso específicos.

Camada 1

Acima da franja capilar até o NT:


PA = S1 + S1.n1.a

Franja capilar: faixa de saturação onde


ocorre a umidade capilar:
PB = S1 + n1.a = sat1

Faixa de submersão (1) onde ocorre o


lençol freático formado com água livre:
PC = S1 + n1.a = sat1 = sub1 + a

Camada 2

Faixa de submersão (2) onde ocorre o


lençol freático formado com água livre:
PD = S2 + n2.a = sat2 = sub2 + a
Figura 2.10 – Perfil com dois horizontes de solo e diferentes pesos específicos

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2.3 – Princípio das tensões efetivas

A importância das forças transmitidas através do esqueleto do solo de uma partícula


para outra foi descoberta em 1923 quando Terzaghi apresentou o principio da tensão
efetiva, uma relação intuitiva baseada em dados experimentais. O princípio se aplica
apenas a solos completamente saturados e relaciona as três tensões a seguir:

1. a tensão normal total (σ) em um plano dentro da massa de solo, que é a força por
unidade de área transmitida na direção normal através do plano, imaginando que o solo
seja um material sólido (fase única);
2. a pressão da água nos poros (u), também chamada de poropressão ou pressão neutra,
que é a pressão da água que preenche os espaços vazios entre as partículas sólidas;
3. a tensão normal efetiva (σ’ ou σ) no plano, representando a tensão transmitida apenas
através do esqueleto do solo.

A relação é: σ = σ’ + u

Segundo Craig (2012), o princípio pode ser representado pelo seguinte modelo
físico. Considere um ‘plano’ XX em um solo completamente saturado que passa apenas
por pontos de contato entre partículas, conforme mostra a Figura 2.11. Na realidade, o
plano ondulado XX não pode ser distinguido de um plano verdadeiro em termos da massa
de solo devido ao tamanho relativamente pequeno das partículas de solo em si. Uma força
normal P aplicada em uma área A pode ser suportada parcialmente pelas forças entre as
partículas e parcialmente pela pressão da água nos poros. As forças entre as partículas são
muito aleatórias, tanto em magnitude como em direção, ao longo de toda a massa de solo,
mas em todo ponto de contato do plano ondulado elas podem ser decompostas em uma
componente normal e uma componente tangencial à direção do plano verdadeiro ao qual
XX se assemelha; as componentes normal e tangencial são N’ e T’, respectivamente.

Figura 2.11 - Interpretação da tensão efetiva (CRAIG, 2012)

Então, a tensão efetiva é interpretada como a soma de todas as componentes N’


dentro da área A, dividida pela área A, obtendo-se:

A tensão total é dada por:

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TENSÕES NOS SOLOS

Se for admitido que o contato entre as partículas ocorre em pontos, a pressão da


água nos poros agirá no plano que engloba toda a área A. Então, para o equilíbrio na
direção normal a XX, tem-se:

Ou

Isto é:

A pressão de água nos poros que age igualmente em todas as direções agirá em toda
a superfície de qualquer partícula, mas admite-se que o volume da partícula não se
modifica; além disso, a pressão da água nos poros não faz com que as partículas sejam
pressionadas umas contra as outras. O erro inserido ao admitir que o contato entre as
partículas ocorre pontualmente é insignificante em solos, uma vez que a área de contato
normalmente significa algo entre 1 e 3% da área da seção transversal A. Deve-se entender
que σ’ não representa a tensão verdadeira de contato entre duas partículas, que seria uma
tensão aleatória, porém muito mais alta N’/a, onde a é a área total de contato entre as
partículas (CRAIG, 2012).

2.3.1 – Tensão vertical total

Sendo a estrutura formada de um esqueleto de grãos sólidos (estrutural) e vazios


deixados entre as partículas, podemos dizer de forma genérica para a expressão da tensão
vertical total:
 = ’ + u

 = pressão vertical total devido ao peso próprio dos solos


’ = parcela da pressão total que se desenvolve no esqueleto granular →
pressão efetiva ou pressão grão a grão
u = parcela da pressão total que se desenvolve na água ocorrente nos
vazios → pressão neutra ou poropressão.
Ocorre quando a água que enche todos os vazios está sob a ação da
gravidade (ocorrência de água livre - solos submersos) ou está sob pressão
externa que pode ser pressão de percolação ou de adensamento.

Considerando-se agora, a situação de todos os vazios estarem cheios de água, mas a


água não está sujeita a ação da gravidade (e nem está submetida às cargas exteriores), a
pressão vertical total devida ao peso próprio dos solos será:
 = ’ nesse caso, u = 0

2.3.2 – Pressão neutra ou poropressão (u)

Como referido, a ocorrência de pressão neutra ocorre basicamente em três situações


distintas, a saber: a) na condição de submersão dos solos, em que a água preenche todos os
vazios do solo e está sob ação da gravidade, b) a água está em movimento, em regime de
percolação ou c) a água está sob ação de pressões exteriores de adensamento.
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Observe que neste curso, as três situações para a ocorrência de pressão neutra ou
porropressão estão sendo estudadas, como segue:
* na condição de fluxo ou percolação dos solos, no Capítulo 01
* na condição de submersão dos solos (peso próprio), no Capítulo 02
* na condição de pressões exteriores de adensamento dos solos, no Capítulo 03
(assunto a ser abordado)

a) Condição de Submersão (devida ao peso próprio)

Considerando o maciço submerso, a água que se encontra nos vazios está sujeita a
ação da gravidade e por consequência irá desenvolver pressão.

Experiência
O conceito de pressão neutra ou poropressão pode ser compreendido a partir da
verificação do comportamento dessa pressão, realizada em laboratório com o seguinte
ensaio, como ilustrado na Figura 2.12.

Tomemos um recipiente cuja base é ligada a um piezômetro que nos indicará, no


tubo graduado, as alturas piezométricas ou alturas hidrostáticas (cotas dos NAs)
ocorrentes na estrutura durante a experiência de laboratório.
O recipiente tem a parede graduada com condição de medição precisa de H
(espessura da camada de solo permeável) representada por areia pura colocada no fundo
do recipiente e acomodada para medição inicial após se situar o primeiro nível d'água
NA1. Nessa altura H o solo se encontra com o índice de vazios “e”.

NA2 = Segundo nível de água, controlada pelo ladrão


do recipiente, tendo como decorrência uma
nova leitura piezométrica h2.

NA1 = Nível inicial da água. Corresponde à leitura


piezométrica h1, lida no piezômetro.

H = Altura inicial da camada de areia, indicando


uma arrumação inicial das partículas quando o
nível d’água é NA1.

Figura 2.12 – Ensaio para verificação do comportamento do solo sob “∆u”

A pressão neutra no ponto A (fundo do recipiente) correspondente à situação


inicial de NA1, será: u1 = a x h1
Levantado o nível d'água para cota NA2 com a colocação cuidadosa de água no
recipiente de maneira que não haja a mínima condição de turbulência no fluido, capaz, de
perturbar a arrumação estrutural da areia, a pressão neutra no ponto A correspondente a
essa segunda situação de NA2, será: u2 = a x h2

Houve um aumento da altura da coluna d'água, logo houve um acréscimo no valor


da pressão neutra, a saber: u2 – u1 = u = a . (h2 – h1) u = a . h
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Constata-se que após esse acréscimo de pressão neutra, H permaneceu constante,


isto é, não há qualquer variação na arrumação estrutural da areia. O índice de vazios
permaneceu o mesmo o que indica que a estrutura não sofreu nenhuma ação mecânica.

A água, sendo um fluido, transmite aos grãos do esqueleto estrutural, pressões em


todas as direções, dando sobre cada partícula uma resultante nula. Daí chamar-se pressão
neutra, ou seja, aquela que não ocasiona deslocamento de grãos.
Essa resultante nula atuando em cada grão considerado separadamente, não terá
como decorrência possível mudança de posição dos grãos, que poderia afetar sua
arrumação, isto é, alterar o seu índice de vazios.

2.3.2.1 – A ação capilar da água – pressão negativa (“sucção”)

Uma das características da água é o fato dela apresentar um comportamento


diferenciado na superfície em contato com o ar, em virtude da orientação das moléculas
que nela se posicionam, ao contrário do que ocorre no interior da massa, onde as moléculas
estão envoltas por outras moléculas de água em todas as direções. Em consequência, a água
apresenta uma tensão superficial, que é associada, por analogia, a uma tensão de
membrana, pois os seus efeitos são semelhantes (PINTO, 2006).
Um bom exemplo deste efeito abordado é o comportamento da água em tubos
capilares. Quando um tubo é colocado em contato com a superfície livre da água, esta sobe
pelo tubo até atingir uma posição de equilíbrio. A subida da água é resultante do contato
vidro-água-ar e da tensão superficial da água (Figura 2.13).

Figura 2.13 – Altura de ascensão e pressão da água em um tubo capilar


(CAPUTO, 2016 e PINTO, 2006)

Para a altura de ascensão da água (hc) em um tubo capilar tem-se:

A altura de ascensão capilar é, portanto, inversamente proporcional ao raio do tubo


(r). A tensão superficial da água, a 20°C, é de 0,073 N/m². Pela equação acima, conclui-se
que, em tubos com 1 mm de diâmetro, a altura de ascensão é de 3 cm. Para 0,1 mm, 30 cm;
para 0,01 mm, 3 metros, etc.
Da mesma forma que nos tubos capilares, a água nos vazios do solo, na faixa acima
do lençol freático, mas com ele comunicada, está sob uma pressão abaixo da pressão
atmosférica. A pressão neutra é negativa, referida como efeito ou pressão de “sucção”.
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b) Condição de Percolação de Água

Como visto no Capítulo 01, para o caso de haver fluxo permanente ou transiente da
água em solos, há desenvolvimento de pressão neutra, no interior da massa de solo em
função da diferença de carga total entre dois pontos, o que implica em concluir que há
nesta situação gradiente hidráulico (i) diferente de zero, que motiva o fluxo.
Para o cálculo final da pressão neutra (u) torna-se extremamente conveniente o
traçado da rede de fluxo (linhas de fluxo e linhas equipotenciais), com o maior número de
pontos possíveis (cruzamento das linhas), para facilidade de identificação e cálculo dos
valores nos mais diversos pontos de interesse, como ilustrado na Figura 2.14.

Figura 2.14 – Exemplo de rede de fluxo que permite o cálculo da pressão “u”
nos cruzamentos de linhas

c) Condição de Adensamento de Camadas Argilosas

O fluxo transiente da água nos solos, induzido a partir do acréscimo de pressão


neutra (u) no maciço (caso de solos argilosos), proveniente de um carregamento prévio
aplicado sobre esta camada, implicará também na variação de seu índice de vazios –
decréscimo de volume (“recalque”). Neste caso, ocorre o fenômeno do adensamento, que
será estudado no Capítulo 03, deste curso.

2.3.3 – Tensão efetiva (’)

A pressão efetiva ou pressão intergranular corresponde à pressão que se desenvolve


no esqueleto estrutural dos solos pelo “contato grão a grão”.

Experiência
O conceito de tensão efetiva pode ser compreendido a partir da verificação do
comportamento dessa pressão, realizada em laboratório com o seguinte ensaio, como
ilustrado na Figura 2.15.

Da mesma maneira que para a pressão neutra, podemos, com o mesmo ensaio,
comprovar o comportamento e efeitos decorrentes de acréscimo de carga sobre a estrutura
de areia.
Tomemos o mesmo recipiente com a camada de areia anterior (H = altura inicial),
mantendo-se “u” constante (portanto NA=constante) com entrada de água
continuadamente, mas sem ocasionar turbulência. Com o sistema garantido, introduzimos
um tubo cheio de esferas de chumbo (chumbo de caça) de maneira que se possa,
acionando um fio de nylon, por um gatilho, fazer depositar na superfície da areia as
esferas que serão sobrecargas diretamente sobre os grãos de areia.
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NA = Nível de água controlada pelo ladrão


do recipiente, e mantido constante,
tendo como decorrência uma leitura
piezométrica h.

H= Altura inicial da camada de areia,


indicando uma arrumação inicial das
partículas.

H1 = Altura final da camada de areia,


indicando uma modificação da
arrumação inicial das partículas,
mantido constante o nível do NA.

Figura 2.15 – Ensaio para verificação do comportamento do solo sob ∆σ’

Em síntese fizemos um acréscimo de tensão (proveniente do peso das esferas) - ’


sobre a areia, mantendo u=cte, acréscimo esse sem queda, mas, depositando as esferinhas
de chumbo sobre os grãos de areia.
Após esse acréscimo verificamos que a altura da areia original H cai para H1, o
que comprova a alteração das características mecânicas da camada ou a acomodação dos
grãos de areia – redução do índice de vazios sem a influência da pressão na água.

Sua variação acarreta alterações nas características mecânicas dos solos (Figura
2.16), portanto é a parcela da tensão vertical total que nos interessa para análise do
comportamento dos maciços granulares porosos, estudado na Mecânica dos Solos.

∆H

Figura 2.16 – Deformação no solo como consequência de deslocamento de partículas


(Adaptado de PINTO, 2006)

Determinação da tensão efetiva

Sendo essa uma tensão de “contato grão a grão”, seu cálculo seria efetivado através
do somatório dos pesos de todos os grãos da estrutura dividido pelo somatório de todas as
áreas de contato entre os grãos. Esse cálculo se torna difícil, mesmo por estimativa, já que
o contato intergranular é de difícil avaliação uma vez que depende de vários fatores.
Para resolver o problema, objetivamente, e sob o ponto de vista prático prático da
Engenharia de Solos, baseia-se no cálculo da tensão total e no cálculo da pressão neutra,
facilmente calculáveis, assim, tem-se para a tensão efetiva:

’ =  - u
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Assim, para sistematização de seu cálculo sugere-se:


• Calculam-se os valores das tensões verticais totais em cada plano (horizonte)
considerado o p, na condição de ocorrência do material “in situ”;
• Verifica-se a ocorrência de pressão neutra no enquadramento em um dos três casos
possíveis, ou seja, submersão, percolação e adensamento e de acordo com o caso
calcula-se seu valor;
• Calculam-se os valores das da tensão efetiva aplicando-se o conceito: ’ =  - u
(princípio das tensões efetivas de Terzaghi);
• Traçam-se, sucessivamente, em cada plano, os diagramas correspondentes (total,
efetiva e neutra) a essas cotas.

Observe-se que, para a condição de solo submerso (e consequentemente saturado),


a tensão vertical total a uma profundidade z é igual ao peso de todo material (sólidos +
água) por unidade de área acima daquela profundidade, isto é, a tensão será, como visto:
σv = γsat z
A pressão da água nos poros a qualquer profundidade será hidrostática:
u = γw z
Assim sendo, a tensão efetiva vertical na profundidade z será:
σv’ = σv – u = (γsat – γw) z = γ’ z

Sendo γ’ é o peso específico submerso do solo.

2.3.3.1 – Tensão efetiva sob efeito de água capilar

Para a condição de capilaridade, em que a água ocupa os vazios do solo na faixa


acima do lençol freático, e com ela está comunicada, tem-se uma pressão abaixo da
pressão atmosférica. A pressão neutra é negativa, referida como efeito de “sucção”.

Recordando-se o conceito de tensão efetiva, nota-se que sendo u negativo, a tensão


efetiva é maior do que a tensão total (Figura 2.17). O fenômeno é associado à tensão
superficial, adsorção de água pelas partículas do solo e capilaridade. Enquanto no solo
saturado a tensão superficial provoca pressão positiva (Figura 2.18,a), na região não
saturada a ação da água adsorvida age como uma "cola”, o que resulta em pressão negativa
(Figura 2.18,b) causando o que se denomina de coesão aparente. A pressão neutra negativa
provoca uma maior força nos contatos dos grãos, aumentando a tensão efetiva que reflete
estas forças (PINTO, 2006).

Figura 2.17 – Tensões no subsolo, considerando as tensões capilares (PINTO, 2006)


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Figura 2.18 – Distribuição da poropressão e tensão efetiva no solo, em função da profundidade


adaptado de Lambe & Withman (1979) e Gerscovich (2008)

2.3.3.2 – Tensão efetiva sob efeito de percolação

Adicionalmente ao que foi visto no estudo de pressões neutras para a condição de


fluxo, analisam-se as tensões efetivas desenvolvidas em problemas em que há fluxo
ascendente ou descendente em solos, de especial interesse para a área de barragens, como
melhor será abordado na disciplina de “Obras de Terra”.
Para a ação do fluxo ascendente, como ilustrado na Figura 2.19 (a), ou fluxo
descendente, na Figura 2.19 (b), obtem-se os valores para as tensões totais e neutras ao
longo da profundidade, como ilustradas.

(a) (b)
Figura 2.19 – Tensões total e neutra em um solo num permeâmetro com fluxo
(a) ascendente e (b) descendente (PINTO, 2006)

A tensão efetiva varia linearmente com a profundidade e pode escrita como segue:

Fluxo Ascendente
Na face inferior (posição de uma “peneira”) ela vale:

𝜎′ = (𝑧 . 𝛾w + 𝐿 . 𝛾sat) - (𝑧 . 𝛾w + L . 𝛾w + h . 𝛾w)
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾sat – 𝛾w) - h . 𝛾w
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾sat – 𝛾w) - L . h . 𝛾w
L
𝜎′ = 𝐿 . 𝛾’ - L . i . 𝛾w
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾’ - j)

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Sendo: 𝛾’ Peso específico submerso


𝛾w Peso específico da água
i Gradiente hidráulico
j Força de percolação

Fluxo Descendente
Na face inferior (posição de uma “peneira”) ela vale:

𝜎′ = (𝑧 . 𝛾w + 𝐿 . 𝛾sat) - (𝑧 . 𝛾w + L . 𝛾w - h . 𝛾w)
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾sat – 𝛾w) + h . 𝛾w
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾sat – 𝛾w) + L . h . 𝛾w
L
𝜎′ = 𝐿 . 𝛾’ + L . i . 𝛾w
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾’ + j)

Como sabido, a tensão efetiva pode ser calculada pelo produto da altura (L) pelo peso
específico submerso (𝛾’), como se observa nas expressões obtidas, exceto pelo fato de que:
* deve-se descontar a força de percolação no caso de haver fluxo ascendente - 𝜎′ =
𝐿 . (𝛾’ - j), tensão efetiva é aliviada da força de percolação, que tende a arrastar as
partículas do solo para cima, ou,
* deve-se somar a força de percolação no caso de haver fluxo descendente - 𝜎′ = 𝐿
. (𝛾’ + j), tensão efetiva aumenta com a percolação.

Gradiente Hidráulico Crítico


Deste estudo, possibilita-se definir o que se entende como “Gradiente Hidráulico Crítico”.
Considere para o caso de fluxo ascendente (Figura 2.19, a) que a carga total agora
aumente progressivamente ...
A tensão efetiva ao longo de toda a espessura irá diminuindo até o momento em
que se torne nula. Nesta situação as forças transmitidas de grão para grão são nulas. Os
grãos permanecem na mesma posição, mas não transmitem forças através dos pontos de
contato.
A ação do peso dos grãos se contrapõe à ação de arrastre por atrito da água que
percola para cima (força de percolação). Como a resistência das areias é proporcional à
tensão efetiva, quando esta se anula, a areia perde completamente sua resistência. A areia
fica em um estado como areia movediça – valor da ordem de “1” (PINTO, 2006).
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾′ - 𝑗)
𝜎′ = 𝐿 . (𝛾′ - 𝑖 . 𝛾w) = 0
𝛾′ - 𝑖 . 𝛾w = 0, então: 𝑖crit = 𝛾′
𝛾w

Conclusão a cerca de tensão efetiva ...


“A tensão efetiva é responsável pelo comportamento mecânico do solo, e só
mediante uma análise através de tensões efetivas se consegue estudar cientificamente os
fenômenos de resistência e deformação dos solos”.
O princípio da tensão efetiva é provavelmente o mais importante na Engenharia
Geotécnica. Para fins práticos, solos granulares, siltes e argilas de baixa plasticidade se
aplicam satisfatoriamente. Em geral, é uma ótima aproximação para o problema.
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2.4 – Variações do nível d'água

Nesse item verificaremos as variações dos valores das pressões verticais devidas ao
peso próprio dos solos quando, por necessidade de construção ou decorrência dos mesmos,
temos que rebaixar ou elevar o nível estático do lençol freático. Por necessidades
construtivas, às vezes, rebaixamos o lençol freático trazendo o NA a uma cota h abaixo
do normal ou, como no caso de reservatórios de água em hidroelétricas, teremos a elevação
da água numa cota muito acima dos níveis normais dos cursos d’água.
Essas oscilações do NA trarão reflexos acentuados na estrutura, pois, a faixa de
submersão vai variar e, nessa faixa as partículas sólidas têm seus pesos aliviados pelo
empuxo ocorrente em suas condições de imersão. Logo, se seus pesos vão oscilar para
mais ou para menos, sua contribuição para a tensão efetiva também irá variar. Portanto,
comportamento da estrutura como um todo sofrerá transformações.

i - Rebaixamento do lençol freático

A ocorrência de oscilação mais comum é o rebaixamento do NA que poderá se dar


por drenagens (sistema de drenagem por gravidade) como obras definitivas ou por
bombeamento do lençol para casos provisórios no período de construção.

Para melhor ilustração considere um rebaixamento num terreno permeável para


permitir uma escavação de construção de uma galeria de águas pluviais, ou de esgoto ou de
metrô. Como consequência, faz-se necessário saber os reflexos futuros nas fundações dos
prédios já existentes.

Seja o perfil da Figura 2.20 de uma camada permeável, com o NA1 em


determinada cota “ha” em relação ao NT (nível do terreno), sobrejacente ao plano A, que
pode estar sujeito a variações de tensões por conta desta variação de nível da água, a ser
aqui investigada.

Considere que por questão construtiva tem-


se necessidade, em um determinado período
de obra, de rebaixar NA1 para a cota NA2.

Pergunta-se: Quais serão as variações das


pressões verticais devidas ao peso próprio
dos solos no plano A, quando o
rebaixamento ocorrer ?

Plano A

Figura 2.20 – Perfil de solo para rebaixamento do nível d’água

Para melhor facilidade de cálculo indica-se os valores diretamente no plano A,


sem considerar planos intermediários e sem traçar os diagramas uma vez que o perfil é
muito simples e as fórmulas são autoexplicativas.
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Para simplificar ainda mais, considera-se que, ao se efetuar o rebaixamento, na


espessura h a estrutura ficará nas mesmas condições originárias e em nenhuma das
situações haverá formação de franja capilar.

Tensão vertical total


– Para o nível NA1: 1A = P1 . ha + P2 . h
1A = (S + S.n.a) . ha + (S + n.a) . h
1A = S.ha + S.n.a. ha + S.h + n.a.h
– Para o nível NA2: 2A = P1 . (ha + h) + P2 . (h – h)
2A = (S + S.n.a) . (ha + h) + (S + n.a) . (h – h)
2A = S.ha + S.n.a. ha + S.h + S.n.a.h + S.h + n.a.h –
n.a.h – s.h
– Variação da tensão: A = 2A – 1A
A = + S.n.a.h – n.a.h
A = (S – 1).n.a.h  mas, S – 1 = – A (aeração)

A = - A .n .a. h

Pela expressão, tem-se que a tensão vertical total diminui de um valor igual à
contribuição da pressão devido a água que enchia os vazios na espessura h (e saiu devido
a ocorrência do rebaixamento). Nota-se que restou alguma água nos vazios, como é natural
de ocorrer, correspondente à aeração A (Grau de Aeração) que limita a condição de não ter
escoado toda a água.

Pressão neutra
– Para o nível NA1: u1A = a . h
– Para o nível NA2: u2A = a . (h – h)
u2A = a.h – a.h
– Variação da pressão: uA = u2A – u1A
uA = a.h – a.h – a.h

uA = – a . h

A pressão neutra diminui de um valor correspondente a eliminação da condição de


submersão na faixa h (deixou de ocorrer).

Tensão efetiva
Como temos as variações ocorrentes nas duas parcelas de cálculo dessa tensão,
efetuaremos seu cálculo a partir desses valores, a saber:
’A = A – uA
’A = – A.n.A.h + A.h
’A = (1 – A.n) .a . h

A pressão efetiva aumentou de um valor correspondente ao empuxo que deixou de


agir sobre as partículas (aliviando seus pesos na faixa h), transformando-se em sobrecarga
pelo maior peso desses grãos.
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ii - Levantamento do lençol freático

No caso do NA oscilar em sentido inverso, isto é, de NA2 para NA1, logicamente as


variações terão seus sinais trocados, isto é:

• Aumentará a pressão total A = + A.n.a.h


• Aumentará a pressão neutra uA = + a.h
• Diminuirá a pressão efetiva ’A = – (1 – A.n).a.h

Isso pode ocorrer com a subida do NA na “época das águas” (período de chuvas)
em relação ao seu nível mais baixo no período de seca. Normalmente essa variação, na
natureza, por conta de chuvas, não é expressiva para causar reflexos no seu comportamento
mecânico. Já quando ocorre forçado pela execução de algum tipo de empreendimento ou
obra é expressiva, podendo causar consequências em seu comportamento.

Análise das variações do NA

Nos casos de rebaixamento do lençol freático são esperadas deformações na massa


de solo (“recalques”), para a região de acréscimo de tensão efetiva e para o caso de
levantamento do lençol freático são esperadas rupturas na massa de solo, para a região de
decréscimo de tensão efetiva.

2.5 – Exercícios de Aplicação

1 – Para o perfil de subsolo apresentado na Figura 2.21 (a), pede-se calcular as tensões
totais, pressões neutras ou poropressões e as tensões efetivas, ao longo do perfil. Trace os
diagramas das tensões calculadas.

(a) (b)
Figura 2.21 – Perfil geotécnico de subsolo e diagrama de tensões
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Resolução:
Cálculo das tensões:
Por se tratar de cálculo de tensões em subsolo, recomenda-se determinar os valores para
todo o perfil, particularmente os seus valores na base de cada horizonte ou camada.

As tensões totais são:


σ1,50 = 17 x 1,50 = 25,5 kN/m²
σ4,50 = 58,5 + 30,0 = 88,5 kN/m²
σ8,10 = 94,5 + 66,0 = 160,5 kN/m²

As pressões neutras são:


u4,50 = 10 x 3,00 = 30,00 kN/m²
u8,10 = 10 x 6,60 = 66,00 kN/m²

As tensões efetivas são (calculadas aqui diretamente, pelo γ’):


σ’1,50 = 17 x 1,50 = 25,5 kN/m²
σ’4,50 = 25,5 + 11 x 3,00 = 58,5 kN/m²
σ’8,10 = 58,5 + 10 x 3,60 = 94,5 kN/m²

Diagramas de tensões:
O diagrama de tensões totais, pressões neutras ou poropressões e as tensões efetivas estão
apresentadas na Figura 2.21 (b).

2 – Calcular as pressões verticais devidas ao peso próprio dos solos (horizontes I, II e III)
para o perfil da Figura 2.22 (as cotas do perfil são referenciadas a um RN).
a) Nas condições atuais;
b) Após uma drenagem permanente que rebaixará a cota do NA até – 4 m e escavação da
argila orgânica e lançamento de um aterro de extensão infinita até a cota + 3 m com
um material de peso específico aparente natural de 1,8 t/m3 (no aterro).

Horizonte I
I = 1,3 g/cm3

Horizonte II
eII = 0,75
hII = 28 %
II = 2,67

Horizonte III
SIII = 1,1 g/cm3
hIII = 45%

Figura 2.22 – Perfil de solo


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Um trabalho inicial diz respeito ao cálculo dos pesos específicos dos solos, nos três
horizontes, uma vez que os seus valores não foram fornecidos diretamente e sim, foram
fornecidos alguns índices físicos (relações entre índices vistos com ênfase em “Solos I”).

Cálculo prévio dos valores de 


1) Argila orgânica: I = sat I = 1,3 g/cm3 = 1,3 t/m3
2) Areia fina:
h . 0,28.2,67
S II = II II = = 0,996 = 99,6% (podemos considerar 100%)
e II 0,75
II = SII + SII.nII.a, sendo:
e 0,75
n II = II = = 0,43
1 + e II 1,75
 . 2,67.1
 SII = II a = = 1,53
1 + eII 1,75
Substituindo os valores chega-se que: II = 1,53+1.0,43.1 = 1,96 t/m3
3) Argila siltosa:
 III
 SIII =   III =  SIII .(1 + h III ) = 1,1.(1 + 0,45)  C = 1,59 t/m3
1 + h III

Cálculo das pressões:


a) Nas condições atuais:
– No plano A: A = IA . HI = 1,3 . 4,0 = 5,2 t/m2
uA = a . HI = 4,0 t/m2
’A = A – uA = 1,2 t/m2
– No plano B: B = A + IIB . HII = 5,2 + 1,96 . 4,0 = 13,04 t/m2
uB = uA + a . HII = 4,0 + 4,0 = 8,0 t/m2
’B = B – uB = 13,04 – 8,0 = 5,04 t/m2
– No plano C: C = B + IIIC . HIII = 13,04 + 1,59 . 6,0 = 22,58 t/m2
uC = uB + a . HIII = 8,0 + 6,0 = 14,0 t/m2
’C = C – uC = 22,58 – 14,0 = 8,58 t/m2

Diagramas (t/m2)

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b) Após a drenagem (rebaixamento do NA até a cota – 4m), remoção da argila e


lançamento do aterro (Figura 2.23):

Admitindo-se a areia fina acima do NA


com S = 80% (consideração pela falta de
informação)

Na faixa de 1,0 m teremos:

S II .eÍI 0,8.0,75
hII = = = 0,225 =22,5%
 II 2,67
g e
 II = + S. . a
1+ e 1+ e

II = 1,53 + 0,8.0,43.1

II = 1,87 t/m3

Figura 2.23 – Perfil de solo com rebaixamento do nível d’água

– No plano A: A = 6,0 . 1,8 = 10,8 t/m2


uA = 0
’A = A – uA = 10,8 t/m2
– No plano B: B = 10,8 + 1,87 . 1,0 = 12,67 t/m2
uB = 0
’B = 12,67 t/m2
– No plano C: C = B + 1,96 . 3,0 = 18,55 t/m2
uC = 1,0 . 3,0 = 3,0 t/m2
’C = 15,55 t/m2
– No plano D: D = C + 1,59 . 6,0 = 28,09 t/m2
uD = uC + 1,0 . 6,0 = 9,0 t/m2
’C = 19,09 t/m2

Avaliação de Rebaixamento do Lençol Freático

Calcula-se, a partir do perfil inicial, qual a variação da pressão vertical quando


efetuar o rebaixamento inicialmente até a cota – 3m, que possibilite a escavação da argila
orgânica para fazer o aterro. Inicialmente faz-se necessário determinar o γ para a camada de
argila orgânica na condição rebaixada o NA.
Como o problema não dá maiores detalhes, admite-se, para o plano A uma
porosidade de 45% e um grau de saturação após o rebaixamento de 80%.
I = 1,3 g/cm3 I = SI + SI.nI.a na condição inicial
nI = 0,45 1,3 = SI + 1.0,45.1  SI = 0,85 g/cm3

Para a faixa que houve rebaixamento do NA temos:


II = SI + SII.nI.a = 0,85 + 0,8.0,45.1  II = 1,21 t/m3 = 1,21 g/cm3

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– Cálculo das pressões para NA1: AI = I . hI = 1,3 . 4,0 = 5,2 t/m2
(já calculadas anteriormente) uAI = a . hI = 1,0 . 4,0 = 4,0
’AI = 1,2 t/m2
– Cálculo das pressões para NA2: AII = II . hI = 1,21 . 4,0 = 4,84 t/m2
uAII = 0
’AII = 4,84 t/m2
– Variação da pressão: ’ = ’AII – ’AI
’ = 4,84 – 1,2
’ = 3,64 t/m2

Checando as fórmulas anteriormente deduzidas, e aplicando-às diretamente no


cálculo das variações de pressões ocorridas com o rebaixamento do lençol tem-se:

’A = (1 – A.n).a.h
A = aeração = 1 – S = 1 – 0,8 = 0,2
’A = (1 – 0,2.0,45).(1,0).(4,0)  ’A = 3,64 t/m2

3 – O Terminal Portuário de Sergipe (1992) apresenta um cais de atracação conectado ao


litoral por uma ponte de 2,4 km. O cais é abrigado da ação das ondas por um quebra-mar
de enrocamento (pedras de grande dimensão), com 800 m de comprimento (Figura 2.24) e
15,3 m de altura, em que este autor participou de sua obra, com a realização de leituras de
piezômetros da sua instrumentação.

Considerando o perfil geotécnico sob o quebra-mar, apresentado na Figura 2.24, pede-se:

a) Determinar as tensões verticais efetivas geostáticas (análise antes da construção do


quebra-mar) ao longo do perfil e traçar o seu respectivo diagrama.
b) Com base na observação da instalação de um piezômetro no topo da camada de areia,
logo abaixo da base da camada de argila, determinar a pressão para esta situação medida
em campo e explicar o que pode justificar este nível de água não coincidir com o do
local (mar).

Figura 2.24 – Imagem de quebra-mar em Porto de Sergipe e perfil geotécnico do local

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TENSÕES NOS SOLOS

Resolução:
a) Cálculo das tensões σ’:
Por se tratar de cálculo de tensões em subsolo, recomenda-se determinar os valores para
todo o perfil, particularmente os seus valores na base de cada horizonte ou camada.
Optando por calcular σ’ por subtração das tensões “σ” e “u”, tem-se:

Tensões totais
σA = γ1 . h1 = 10 . 10 = 100 kN/m²
σB = σA + (γ2 . h2) = 100 + (19 . 4) = 176 kN/m²
σC = σB + (γ3 . h3) = 176 + (16,5 . 8) = 308 kN/m²
Pressões neutras
uA = (γa . h1) = 10 . 10 = 100 kN/m²
uB = uA + (γa . h2) = 100 + (10 . 4) = 140 kN/m²
uC = uB + (γa . h3) = 140 + (10 . 8) = 220 kN/m²
Tensões efetivas
σA’ = σA – uA = 100 – 100 = 0
σB’ = σB – uB = 176 - 140 = 36 kN/m²
σC’ = σC – uC = 308 – 220 = 88 kN/m²

Traçado do diagrama de σ’ ao longo do perfil geotécnico do subsolo

b) Calculo da pressão “u” no topo da camada de areia:


A pressão neutra em ponto de instalação do piezômetro se obtem, a partir da carga
piezométrica estabelecida no piezômetro:
upiez = (γa . hpiez) = 10 . 24,40 = 224 kN/m²

Explicação sobre o nível de água não coincidir com o do local (mar):

Por se tratar de pressão neutra, ocorre por efeito de submersão (coincidência de níveis do
interior e exterior do piezômetro), percolação (fluxo) ou adensamento (gerada por
acréscimo de sobre carga). Neste caso como não há coincidência de níveis e também não
há acréscimo de carga sobre o perfil, o que justifica esta carga hidráulica diz respeito a uma
movimentação de água nesta camada inferior de areia (fluxo de água no solo).
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2.6 - Tensões devidas a cargas aplicadas

As cargas aplicadas na superfície de um terreno induzem tensões, com


conseqüentes deformações, no interior de uma massa de solo. Embora as relações entre
tensões induzidas e as deformações resultantes sejam essencialmente não lineares, soluções
baseadas na teoria da elasticidade são comumente adotadas em aplicações práticas,
respeitando-se as equações de equilíbrio e compatibilidade.
As tensões produzidas por cargas aplicadas na superfície de um maciço terroso são
calculadas, ou melhor, avaliadas, na hipótese de um “maciço semi-infinito, elástico,
isótropo e homogêneo”; conceitos que, a rigor, podem não ser verificados.
As cargas transmitidas pelas estruturas se propagam para o interior dos maciços e se
distribuem nas diferentes profundidades, como ilustrado na Figura 2.25, podendo se
verificar experimentalmente.

Figura 2.25 – Distribuição de “tensões” de acordo com a profundidade

Denomina-se isóbaras as curvas ou superfícies obtidas ligando os pontos de mesma


tensão vertical (Figura 2.26). Este conjunto de superfícies isóbaras forma o que se chama
bulbo de “tensões”, como indicado nas figuras abaixo para uma carga concentrada.

Figura 2.26 – Bulbo de tensões (linhas de igual valor de “tensão”)

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Aplicação da Teoria da Elasticidade:

Segundo descreve o Prof. Carlos de Souza Pinto (PINTO, 2000), a teoria da


elasticidade tem sido empregada para a estimativa das tensões atuantes no interior da massa
de solo em virtude de carregamentos na superfície, e mesmo no interior do terreno.
“O emprego de Teoria da elasticidade aos solos é questionável, pois o
comportamento dos solos não satisfaz aos requisitos de material elástico, principalmente
no que se refere a reversibilidade das deformações quando as tensões mudam de sentido.
Entretanto, quando ocorrem somente acréscimos de tensão, justifica-se a aplicação da
teoria. Por outro lado, até determinado nível de tensões, existe uma certa proporcionalidade
entre as tensões e as deformações, de forma que se considera um Módulo de Elasticidade
constante como representativo do material. Mas a maior justificativa para a aplicação da
Teoria de Elasticidade é o fato de não de dispor ainda de melhor alternativa e, também,
porque ela tem apresentado uma avaliação satisfatória das tensões atuantes no solo, pelo
que se depreende da análise de comportamento de obras.

São apresentados os valores de acréscimo de carga no subsolo para os principais


tipos de carregamento (carga), segundo diferentes componentes de tensões.

A) Carga concentrada:

Boussinesq (1885) desenvolveu as equações para cálculo dos acréscimos de tensões


efetivas vertical (z), radial (r), tangencial (t) e de cisalhamento (rz) (outras
componentes de tensões ainda não estudadas), causadas pela aplicação de uma carga
concentrada pontual agindo perpendicularmente na superfície de um terreno (Figura 2.27),
admitindo constante o módulo de elasticidade do maciço. Por isso, as fórmulas não contêm
o valor deste módulo.

p 3z 3 3p
z =  2 = cos5  ,
2 (r + z )2 52
2z 2

p  (1 − 2 ) cos 2  
r = 3 sen  cos  −
2 3
,
2z 2  1 + cos 
p  3 cos 2  
t = − (1 − 2  )  cos  − ,
2z 2  1 + cos 

 rz =
p
2z 2
( )
3 sen  cos 4  ,

Figura 2.27 – Carga concentrada aplicada na superfície do terreno: Solução de Boussinesq

3p
Pela fórmula: z = 2
cos5 , verifica-se que em cada plano horizontal (Figura
2z
2.28) há uma distribuição simétrica em forma de sino, com a pressão máxima sob a carga, a
qual decresce com o quadrado da distância do plano considerado à superficie de aplicação
da carga.
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TENSÕES NOS SOLOS

Figura 2.28 – Distribuição simétrica em forma de sino devido à carga concentrada

B) Carga distribuída ao longo de uma linha:

A tensão vertical induzida z no ponto (A), por uma carga uniformemente


distribuída p ao longo de uma linha na superfície de um semi-espaço foram obtidas por
Melan (Figura 2.29), adotado uma referência, e é dada pela fórmula:

2p
Z = . cos 4 
.z

Figura 2.29 – Carga distribuída ao longo de uma linha: Solução de Melan

C) Carga uniformemente distribuída numa faixa:

Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões é muito maior
que a outra, como por exemplo, no caso de sapatas corridas, os esforços introduzidos na
massa de solo podem ser calculados por meio da formula desenvolvida por Terzaghi e
Carothers. A Figura 2.30 apresenta o esquema de carregamento e o ponto onde se está
calculando o acréscimo de tensão. As tensões num ponto (M) situado a uma profudidade
(Z), com o ângulo  em radianos, são dadas pelas fórmulas abaixo.

z =
p
(2 + sen2 cos 2 )

x =
p
(2 − sen2 cos 2 )

p
 xz = ( sen 2 sen 2  )

Figura 2.30 – Placa retangular de comprimento infinito: solução de Terzaghi e Carothers


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TENSÕES NOS SOLOS

Como observado foram informadas outras componentes de tensões (ainda não


estudadas). As tensões principais e a máxima de cisalhamento (a serem estudadas no
Capítulo 04) são dadas por:

.(2 + sen 2 ) , .(2 − sen 2 ) e


p p p
1 = 3 =  máx = .sen 2
  

A Figura 2.31 apresenta no mesmo gráfico as curvas de igual tensão normal


(tensões verticais) e tangencial (particularmente a cisalhante máxima) segundo Jürgenson,
abaixo de um carregamento retangular.

Figura 2.31 – Curvas de igual tensão normal e tangencial: solução de Jürgenson

D) Carga distribuída sobre uma placa circular:

Para uma superfície flexível e circular de raio R, carregada uniformemente com


tensão p, o valor da tensão vertical z, abaixo do centro (Figura 2.32) é dado pela fórmula
de Love.

 
 
 
 1 
 Z = p.1 − 3 
   r 2  2 
 1 +    
   z   

Figura 2.32 – Carregamento circular: solução de Love


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TENSÕES NOS SOLOS

Para o cálculo do acréscimo de carga no subsolo, para qualquer posição que se


queira, podemos obter para a área carregada uniformemente com tensão p, o valor da
tensão vertical z fornecida pelo gráfico da figura 2.33.

Figura 2.33 – Bulbo de tensões para o carregamento circular

A figura 2. 34 ilustra, como exemplo, o aspecto da distribuição da intensidade das


tensões verticais que ocorrem no subsolo de um terreno (mostrada a meia seção),
considerando a aplicação na superfície de um carregamento externo de 100kPa.
Neste exemplo ilustrativo foi usado um software de análise de tensões, a partir da
teoria da elasticidade, desenvolvido aplicando a técnica numérica do “Método dos
Elementos Finitos” (M. E. F.). Na análise foram considerados a profundidade de 20,0m e o
afastamento do eixo central da carga circular (com 6,0m de diâmetro) em 12,0m.
Observa-se que os maiores valores ocorrem nas proximidades do carregamento,
região com maiores deformações. Nesta região, devido o nível elevado de tensões, poderá
desenvolver tensões cisalhantes elevadas, podendo levar à ruptura do solo, dependendo da
resistência ao cisalhamento do solo, como será visto nos Capítulos 04 e 05 deste curso.
3m Footing
100 kPa

20

18

16 35
42
28
14
Elevation (metres)

14 21

12

10
7

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
Figura 2. 34 - Aspecto da distribuição das tensões verticais, sob carregamento circular
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TENSÕES NOS SOLOS

A Figura 2.35 ilustra, em perspectiva, um bulbo de tensões para o carregamento


quadrado, que se aproxima da solução apresentada para o circular. Na figura está destacado
em inglês, “Stress bulb” – bulbo de tensões e “Influence depth (ID)=2B” – profundidade de
influência (ID)=2B, que corresponde aproximadamente a profundidade em que o
acréscimo de tensões corresponde a 10% da tensão na superfice de aplicação.

Figura 2.35 - Bulbo de tensões para o carregamento quadrado (RODRIGUES, 2018)

E) Carga triangular:

Para o caso de um carregamento triangular sobre uma faixa alongada, o bulbo de


tensões, segundo Jürgenson, é o indicado na Figura 2.36, o qual é de grande utilidade na
avaliação dos recalques de um aterro.

Figura 2.36 – Bulbo de tensões para o carregamento triangular: solução de Jürgenson

Sobreposição de Efeitos (peso próprio e cargas aplicadas):

Em termos de diagrama final de tensões verticais totais, tem-se a sobreposição dos


efeitos (soma) das tensões (c), devidas ao peso próprio dos solos (a) e devidas ao
carregamento aplicado (b), como pode ser visto o seu aspecto na figura 2.37 (considerado
o carregamento da figura anterior, ao londo do eixo z, em uma única camada).
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TENSÕES NOS SOLOS

Figura 2.37 - Sobreposição dos efeitos (c) das tensões de peso própio (a) e
carregamento externo (b)

Como leitura complementar, apresentam-se algumas considerações a respeito de


tensão efetiva de solos não saturados, assunto de maior complexidade, não comumente
estudado em cursos de graduação.

2.7 – Solos não saturados

No estudo dos solos saturados apenas uma variável, denominada por tensão normal
efetiva (σ’) (Terzaghi, 1936), é suficiente para definir o estado de tensão e descrever o
comportamento mecânico dos mesmos. O princípio das tensões efetivas para solos na
condição saturada foi discutido e confirmado por diversos autores. Sua equação (σ = σ' +
uw) mostra a relação entre as tensões atuantes no solo e a variável do estado de tensão para
solos saturados.
Porém, quando se analisa o solo em seu estado não saturado, tal princípio torna-se
inválido, principalmente pelo aparecimento de uma pressão negativa nos poros do solo,
denominada sucção. A não saturação faz com que o estado de tensões seja diferente,
devendo, então, ser considerada a influência de outras variáveis no comportamento dos
solos não saturados (Fredlund e Morgenstern, 1977).
A fim de ampliar o uso do conceito de tensão efetiva para a condição não saturada
dos solos, diversos pesquisadores apresentaram diferentes expressões na busca de uma
solução única. Uma das equações propostas, para exemplificar, é a de Bishop (1959):

Onde:
ua = pressão de ar
uw = pressão da água
χ = parâmetro relacionado com o grau de saturação
(Para solos saturados χ = 1 e, para solos secos, χ = 0)

Observa-se que as parcelas bem conhecidas de σ (tensão total) e uw (poropressão)


“recebem” a influência da pressão do ar. Este estudo, contudo, não será detalhado aqui,
sendo melhor desenvolvido em cursos de pós-graduação.

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COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

Capítulo 3 - COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

3.1 - Introdução

Compressibilidade é uma característica de todos os materiais de quando submetidos


a forças externas (carregamentos) se deformarem. O que difere o solo dos outros materiais
é que ele é um material natural, com uma estrutura interna a qual pode ser alterada, pelo
carregamento, com deslocamento e/ou ruptura de partículas. Portanto, devido a estrutura
própria do solo (multifásica), possuindo uma fase sólida (grãos), uma fase fluída (água) e
uma fase gasosa (ar) confere-lhe um comportamento próprio, tensão-deformação, o qual
pode depender do tempo.
Define-se compressibilidade dos solos como sendo a diminuição do seu volume sob
a ação de cargas aplicadas.

Considere os exemplos de obras da Figura 3.1, que se referem à construção de


aterros de grande extensão (carga distribuída com extensão muito maior que a
profundidade de subsolo). Ao executar os aterros há o lançamento de sobrecarga por sobre
o subsolo de cada um dos perfis de solo. A questão que se apresenta é: Como se
comportará estes solos quanto a deformação esperada?
A Figura 3.2 ilustra a intensidade de carregamento para cada um dos casos.

Exemplos de Obras

Construção de aterro para extensão de pista Construção de aterro para implantação de via
de aeroporto. H = 60m de acesso. H = 4m
Imagens das obras

Formação geológico-geotécnico dos subsolos

Solo residual (perfil de intemperismo) Solo sedimentar (aluvião argiloso)

Figura 3.1 – Exemplos de obras de aterros em Juiz de Fora-MG

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COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

Seções transversais típicas

Sobrecargas aplicadas

σ = γ . Z = 18 . 60 = 1080 kN/m2 σ = γ . Z = 18 . 4 = 72 kN/m2


Figura 3.2 – Intensidade de carregamento para exemplos da figura anterior

Sendo os solos compressíveis, característica de todos os materiais quando


submetidos a carregamentos externos se deformarem, pergunta-se:
Qual das situações apresentará maior RECALQUE (deformação)?
Qual o condicionante que contribui significativamente para a ocorrência de
recalque, como no caso dos exemplos?

Os carregamentos externos, como por exemplo, da construção de um aterro, são


transmitidos ao solo gerando uma redistribuição dos estados de tensão em cada ponto do
maciço (acréscimos de tensão), o qual irá provocar deformações em maior ou menor
intensidade.
A compressibilidade depende do tipo de solo, por exemplo: a compressibilidade
em areias (solos não-coesivos) devido a sua alta permeabilidade ocorrerá rapidamente,
pois a água poderá drenar facilmente. Em contrapartida, nas argilas (solos coesivos) a
saída de água é lenta devido à baixa permeabilidade, portanto, as variações volumétricas
(deformações/recalques) dependem do tempo, até que se conduza o solo a um novo estado
de equilíbrio, sob as cargas aplicadas. Essas variações volumétricas que ocorrem em solos
finos saturados, ao longo do tempo, constituem o processo de adensamento (GURGEL,
2018).

Definem-se então alguns conceitos importantes:

Compressão (ou expansão): É o processo pelo qual uma massa de solo, sob a ação
de cargas, varia de volume (“deforma”) mantendo sua forma.
Os processos de compressão podem ocorrer por compactação (redução de volume
devido ao ar contido nos vazios do solo) e pelo adensamento (redução do volume de água
contido nos vazios do solo).

Compressibilidade: Relação independente do tempo entre variação de volume


(deformação) e tensão efetiva. É a propriedade que os
solos têm de serem suscetíveis à compressão
Adensamento: Processo dependente do tempo de variação de volume
(deformação) do solo devido à drenagem da água dos
poros

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COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

Para os exemplos das Figuras 3.1 e 3.2, apesar do “aterro de extensão de pista”
gerar um carregamento externo de 1080 kN/m2, muito maior que o da “via de acesso”,
com 72 kN/m2, este segundo caso apresentará um recalque muito maior que o primeiro.
Trata-se de solo de “fundação” sedimentar argiloso, saturado, cuja compressibilidade é
muito maior. Neste caso, o “fechamento” dos vazios ocorrerá por fluxo de água que
ocorrerá ao longo do tempo, fenômeno típico de recalque por “adensamento”, a ser visto
neste capítulo. No primeiro caso é esperada deformação principalmente por saída de ar dos
poros, considerado como recalque “inicial ou imediato”.

3.2 – Compressibilidade dos solos

O solo é um sistema particulado composto de partículas sólidas e espaços vazios, os


quais podem estar parcialmente ou totalmente preenchidos com água. Os decréscimos de
volume (as deformações) dos solos podem ser atribuídos, de maneira genérica, a três
causas principais:
• Compressão das partículas sólidas;
• Compressão dos espaços vazios do solo, com a conseqüente expulsão da água (no
caso de solo saturado);
• Compressão da água (ou do fluido) existente nos vazios do solo.

Para os níveis de tensões usuais aplicados na engenharia de solos, as deformações


que ocorrem na água e grãos sólidos são desprezadas (pois, são incompressíveis).
Calculam-se, portanto, as deformações volumétricas do solo a partir da variação do
índice de vazios (função da variação das tensões efetivas).

Em solos saturados (finos – elevado índice de vazios), a variação de volume é


devida à drenagem da água. Esta situação é verificada para o caso de ocorrência de argilas
sedimentares em que se tem S  100%. Estes solos se formam pelo transporte da água –
típicos de regiões “baixas” – topografia “plana”, em que o NA é elevado.
No caso de solos de formação não sedimentar, (formados no mesmo local da
rocha de origem) correspondente a situações de cotas mais “elevadas”, não se tem o NA
elevado, frequentemente se encontram não saturados. Desta forma não se esperam
adensamento destes solos, assim como em solos granulares que apresentam permeabilidade
elevada, não sendo submetidos ao processo de drenagem lenta como no caso dos solos
argilosos – “sujeitos ao efeito do adensamento”.

O fluxo (drenagem) da água no solo é governado pela lei de Darcy → v = k.i  a


variação de volume não é imediata, sendo função da velocidade com que ocorre o fluxo.
A compressibilidade de um solo irá depender do arranjo estrutural das partículas
que o compõe e do grau em que estas são mantidas uma em contato com a outra.

Variação de volume → devido à variação das tensões efetivas


No caso do carregamento confinado a deformação volumétrica corresponde à
deformação específica vertical  V = h 
 h0 

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COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

3.3 – Ensaio de adensamento ou de compressão confinada (edométrico)

Dentre os parâmetros de compressibilidade que o engenheiro geotécnico necessita


para a execução de projetos e o estudo do comportamento dos solos, destacam-se a pressão
de pré-adensamento ’vm, o índice de compressão Cc, e o coeficiente de adensamento Cv.
A obtenção desses parâmetros se dá a partir da realização de ensaios de compressibilidade
do solo.
O estudo de compressibilidade dos solos é normalmente efetuado utilizando-se o
edômetro, que foi desenvolvido por Terzaghi para o estudo das características de
compressibilidade e da taxa de compressão do solo com o tempo. A Figura 3.3 apresenta o
aspecto do recipiente do aparelho em que é colocada a amostra, utilizado nos ensaios de
compressão confinada.
A Figura 3.4 mostra a imagem de tubos “shelby” em câmara úmida (com amostra
interna de argila mole) e do equipamento de adensamento.

Figura 3.3 – Edômetro utilizado nos ensaios de compressão confinada (de adensamento)

Figura 3.4 – Imagens de tubos “shelby” em câmara úmida e do equipamento de adensamento

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O ensaio de compressão edométrica (também referido como ensaio de compressão


confinada ou ensaio de adensamento) é o mais antigo e mais conhecido para a
determinação de parâmetros de compressibilidade do solo. O ensaio consiste na
compressão de uma amostra de solo, compactada ou indeformada, pela aplicação de
valores crescentes de tensão vertical, sob a condição de deformação radial nula. As
condições de contorno estão apresentadas na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Condições de contorno do ensaio de compressão confinada

O ensaio é realizado mantendo a amostra saturada (se for o caso) e utilizando duas
pedras porosas (uma no topo e uma na base) de modo a acelerar a velocidade dos recalques
na amostra e, conseqüentemente, diminuir o tempo de ensaio. Durante cada carregamento,
são efetuadas leituras dos deslocamentos verticais do topo da amostra e do tempo.
• Procedimento do ensaio (resumido)
NBR 12007 MB 3336 (ABNT) – Solo – Determinação de Adensamento Unidirecional
− Saturação da amostra (se for o caso)
− Aplicação do carregamento
− Leituras, geralmente efetuadas em uma progressão geométrica do tempo
(15s, 30s, 1min, 2min, 4min, 8min, ... 24hs), dos deslocamentos verticais do
topo da amostra através de um extensômetro
− Plotar gráficos com as leituras efetuadas da variação da altura ou recalque
versus tensões aplicadas
− A partir da interpretação dos gráficos, decidir se um novo carregamento
deve ser aplicado. Repetem-se os processos anteriores.
− Última fase: descarregamento da amostra.
• Seqüências usuais de cargas
(em kPa) : 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640, etc
 em geral são aplicados de 5 a 8 carregamentos → podendo chegar a quase 2
semanas de ensaio

3.4 – Interpretação dos resultados de um ensaio de compressão confinada

Existem diversos modos de se representar os resultados do ensaio de adensamento.


A taxa de deformação do solo no início do ensaio é bem veloz, mas com o decorrer do
ensaio ela decresce. Depois de transcorrido o tempo necessário para que as leituras se
tornem constantes, os resultados de cada estágio são colocados em um gráfico, em função
do logaritmo do tempo. A curva de compressão do solo é normalmente representada em
função do índice de vazios versus o logaritmo da tensão vertical.
A deformação final (recalque) pode ser calculada em termos de índice de vazios, a
partir do ilustrado na Figura 3.6, como:

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O recalque é, portanto, o resultado do produto da variação do índice de vazios e da


altura de sólidos (Hs). Como Hs é constante, este valor pode se estabelecido em função
das condições iniciais da camada, conforme demonstrado na Figura 3.6.

mas

então

Figura 3.6 – Subdivisão de fases de um solo e cálculo do recalque (GERSCOVICH, 2008)

h − e
Sendo  V = então  V =
h0 1+ e

O valor do índice de vazios ao final de cada estágio de carregamento pode ser


obtido considerando-se a hipótese de carregamento confinado, a partir da relação da
deformação volumétrica com o índice de vazios:

h
Logo: e f = e0 − .(1 + e0 )
h0
Onde:
ef é o índice de vazios ao final do estágio de carregamento atual
h é a variação da altura do corpo de prova (acumulada) ao final do estágio
h0 é a altura inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)
e0 é o índice de vazios inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)

O índice de vazios inicial do corpo de prova (“e0”) pode ser obtido a partir da
relação:
e0 =  - 1  = peso específico das partículas sólidas
s o s o = peso específico seco na condição inicial

Para a condição inicial da amostra, pode-se calcular o grau de saturação (“So”) a


partir da relação:
S0 =  hi hi = teor de umidade na condição inicial
e0 e0 = índice de vazios inicial da argila

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Resultados do Ensaio
Os gráficos da Figura 3.7 mostram a representação dos resultados do ensaio de
compressão confinada.

Figura 3.7 – Representação dos resultados em termos de índice de vazios x tensão vertical

O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e compressão virgem


do solo na curva de compressão do solo é normalmente denominado de tensão de pré-
adensamento, e representa, conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo
em campo (no resultado mostrado na curva acima, se aproxima de 100 kPa). Corresponde
ao início do trecho virgem de compressão (em que se tem o comportamento linear do
índice de vazios com o log da tensão vertical aplicada).

Interpretação dos Resultados

Para o melhor entendimento de alguns conceitos do ensaio de compressão


confinada, analisaremos o exemplo dos gráficos da Figura 3.8 (resultados de ensaio
oedométrico realizado em uma argila normalmente adensada, com um descarregamento
no meio do ensaio e com tensão de carregamento inicial - 175 kPa - acima dos valores
correspondentes ao trecho não virgem), plotados no gráfico em escala semi-log (nota-se
que os resultados podem ser aproximados por dois trechos lineares) e no gráfico das
tensões em escala não logarítmica.

Figura 3.8 – Resultado do ensaio de adensamento de uma argila normalmente adensada

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Nota-se que a amostra foi comprimida, em primeiro carregamento, do ponto A até o


ponto B. Em seguida, sofreu um processo de descarregamento até o ponto D, para
finalmente ser recarregada até aproximadamente o ponto B, e novamente aplicado o
carregamento levou a amostra a atingir o ponto C.
A expressão primeiro carregamento significa que os carregamentos que ora se
impõem ao solo superam o maior valor por ele já sofrido em sua história de carregamento
prévia. É um conceito de grande importância, pois o solo (e todo material de
comportamento elastoplástico) guarda em sua estrutura indícios de carregamentos
anteriores. Assim, da curva apresentada na Figura 3.8, temos:
• Trecho A-B: trecho de carregamento virgem, no sentido que a amostra ensaiada
nunca experimentara valores de tensão vertical daquela magnitude. Quando isto
ocorre, diz-se que a amostra está em níveis de tensões correspondente à condição de
“normalmente adensada (NA)”.
• Trecho B-D-B (descarga/recarregamento): não é normalmente adensada, pois a
tensão a qual lhe é imposta é inferior à tensão máxima por ela experimentada
(ponto B), sendo classificado como solo “pré-adensado (PA)”.
• Trecho B-C: apresenta um estado de tensão superior ao maior estado de tensão já
experimentado, sendo classificado como normalmente adensado.
A Tabela 3.1 apresenta um resumo do exposto anteriormente.

Tabela 3.1 – Comparação entre pressões atual ’v e máxima passada ’vm
PRESSÃO COMPORTAMENTO DA ARGILA
’v < ’vm Solo pré adensado (PA)
Deformações pequenas e reversíveis
Comportamento elástico
’v  ’vm Solo normalmente adensado (NA)
Deformações grandes e irreversíveis
Comportamento plástico

Um outro exemplo que pode ser analisado refere-se a uma argila hipotética, cuja
relação índice de vazios em função da pressão de adensamento é indicada na Figura 3.9.
Esta argila foi adensada, no passado, segundo a curva tracejada na figura, até uma
tensão efetiva igual a aproximadamente o valor “3” – entre 2 e 4 (as tensões estão
indicadas por valores absolutos, independentes do sistema de unidades; 3 poderia ser 300
kPa, por exemplo). Veja que esta argila apresenta, atualmente (executado o ensaio de
laboratório), a curva de índice de vazios em função da tensão confinante indicada pela
linha contínua.

Considerando o nível de tensões de 4 a 8, estas tensões correspondem a valores


atuantes no solo argiloso na condição de argila normalmente adensada (ou seja, esta argila
ainda não tinha experimentado este nível de tensão, portanto não se pode atribuir à
condição de pré-adensada).
Considerando o nível de tensões de 0,5 a 2, estas tensões correspondem a valores
menores que a máxima tensão experimentada pelo solo (em sua história de vida –
geralmente atribuída a uma condição geológica do passado). Assim, estes valores se
referem a uma condição de argila pré-adensada (ou seja, esta argila já foi submetida a valor
de tensão superior a estes valores).

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Figura 3.9 – Relação índice de vazios em função da pressão de adensamento

3.5 – Tensão de pré-adensamento

O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e compressão virgem


do solo na curva de compressão do solo é normalmente denominado de tensão de pré-
adensamento, e representa, conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo
em campo.
A determinação da tensão de pré-adensamento é feita por processos gráficos,
dentre os quais podemos citar o método de Casagrande e o método de Pacheco e Silva.

A) Método de Casagrande

Para a determinação de ’vm , segue-se os seguintes passos (Figura 3.10):


a) Obter na curva índice de vazios x logaritmo da tensão efetiva o ponto de maior
curvatura ou menor raio (R);
b) Traçar uma tangente (t) e uma horizontal (h) por R;
c) Determine e trace a bissetriz do ângulo formado entre (h) e (t);
d) A abscissa do ponto de intersecção, da bissetriz com o prolongamento da reta virgem
corresponde à pressão de pré-adensamento.

Figura 3.10 – Determinação da tensão de pré-adensamento por Casagrande

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B) Método de Pacheco e Silva

Para a determinação de ’vm , segue-se os seguintes passos (Figura 3.11):


a) Traçar uma horizontal passando pela ordenada correspondente ao índice de vazios
inicial;
b) Prolongar a reta virgem e determinar seu ponto de intersecção (p) com a reta definida
no item anterior;
c) Traçar uma reta vertical por (P) até interceptar a curva índice de vazios x logaritmo da
tensão efetiva (ponto Q);
d) Traçar uma horizontal por (Q) até interceptar o prolongamento da reta virgem (R). A
abscissa correspondente ao ponto (R) define a pressão de pré-adensamento.

Figura 3.11– Determinação da tensão de pré-adensamento por Pacheco e Silva

A Figura 3.12 ilustra a obtenção da tensão de pré-adensamento, para a mesma curva


obtida no ensaio de adensamento, pelos dois métodos apresentados.

Figura 3.12 - Tensão de pré-adensamento obtida por Casagrande e Pacheco e Silva

Efeito de amolgamento da amostra

A qualidade da amostra (Figura 3.13) a ser submetida ao ensaio de adensamento, no


que se refere ao seu possível amolgamento (perturbação) durante a sua coleta, transporte ao
laboratório ou ainda na sua preparação antes de ser submetida à prensa do edômetro
(adensamento), influencia diretamente na qualidade dos resultados a serem obtidos.

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Moldagem de amostra indeformada para Curva típica “e” x log tensão efetiva
ensaio de adensamento (observe o efeito curvo na compressão)
Figura 3.13 – Moldagem de amostra e resultados típicos esperados (“e” x “log ’”)

A Figura 3.14 mostra resultados de ensaios para um mesmo material com diferentes
condições de amolgamento do corpo de prova. Observa-se o traçado diferenciado para a
mesma amostra, apresentando “com curva” a amostra indeformada de boa qualidade.

Figura 3.14 – Efeito do amolgamento de amostra, observado na curva “e” x “log ’”

3.6 – Determinação da condição de adensamento

história de tensões que “viveu” o solo

Em algumas situações de análise do comportamento dos solos em Engenharia


Geotécnica faz-se necessário determinar as condições de adensamento em que o solo se
encontra, ou seja, determinar a história de tensões que o solo já foi submetido.
A razão de pré-adensamento (OCR) de um solo é a relação entre a máxima tensão
efetiva vertical já experimentada pelo solo e a tensão efetiva vertical atual de campo, ou
seja, é a razão entre a tensão de pré-adensamento do solo (obtida em laboratório) e a sua
tensão efetiva vertical que atua hoje no solo, conforme ilustrado na Figura 3.15. O OCR é
dado por:
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 V max  ' vm
O.C.R. = = , onde ’vm representa a tensão de pré-adensamento do solo
 Vcampo  Vcampo
 'vm
Ou ainda: OCR =  razão de pré-adensamento (“overconsolidation ratio”)
 'v 0

Se OCR > 1 → solo pré-adensado (ou sobre adensado)


Se OCR = 1 → solo normalmente adensado
Se OCR < 1 → solo sub-adensado (solo em processo de adensamento).

Figura 3.15 – Valor da tensão efetiva vertical in situ, que atua hoje no solo

As argilas sedimentares se formam sempre com elevados índices de vazios (são


solos muito compressíveis). Quando elas se apresentam com índices de vazios baixos,
estes são consequentes de um pré-adensamento. Em virtude disso, uma argila, com
diferentes índices de vazios iniciais apresentarão curvas tensão-deformação, após atingirem
a pressão de pré-adensamento correspondente, “fundidas” em uma única reta virgem.

Consequentemente a isto, tem-se que o comportamento de uma argila é


altamente dependente do índice de vazios em que ela se encontra, que é fruto das
tensões atuais e passadas, e da estrutura da argila. Assim o comportamento destes solos
é determinado pelas tensões efetivas que estiveram submetidos em relação ao nível de
tensão que se apresenta hoje, no material.
O valor da razão de pré-adensamento pode influenciar na determinação dos
diversos parâmetros que expressam o comportamento dos solos, como, por exemplo no
cálculo do coeficiente de empuxo no repouso K0 (relação entre as tensões efetivas
horizontal e vertical, a ser estudada no Capítulo 06 neste curso), representado pela
equação:
 'h
K0 = '
v
• Para argila normalmente adensada (OCR = 1)
K 0  0,95 − sen  '  equação empírica
• Para argila pré-adensada (OCR > 1)
K 0 = (0,95 − sen  ') . OCR sen '  equação empírica

A expressão é função do parâmetro ’ - ângulo de atrito do solo, parâmetro


relacionado à resistência ao cisalhamento do solo, conforme será também estudado
posteriormente neste curso (Capítulos 04 e 05).
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3.7 – Parâmetros de compressibilidade por compressão primária

Realizado o ensaio de adensamento tem-se, a partir das curvas obtidas em função


da tensão efetiva vertical (’v) (plotado com log ou não) os coeficientes
(compressibilidade - Figura 3.16 e compressibilidade volumétrica - Figura 3.17), o módulo
de elasticidade edométrico (Figura 3.17) e os índices (compressão, expansão e
recompressão) - Figura 3.18:

- Coeficiente de Compressibilidade av

Figura 3.16 – Obtenção do coeficiente av, na curva ’v x e

- Coeficiente de Compressibilidade Volumétrica mv e Módulo Edométrico E oed

Figura 3.17 – Obtenção do coeficiente mv e do módulo Eoed, na curva ’v x εv

- Índices de compressão (Cc), expansão (Cs) e recompressão (Cr)

Figura 3.18 – Obtenção dos índices Cc, Cs e Cr, na curva log ’v x e

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Podem-se se distinguir nesse gráfico, três partes distintas:


O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico
da tensão de pré-adensamento (’vm). Tal reta apresenta um coeficiente angular
denominado índice de recompressão (Cr).
Ultrapassando o valor de ’vm o corpo de prova comprime-se, sob tensões
superiores a esta, corresponde ao trecho reto do gráfico - reta virgem de adensamento. Tal
reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de compressão (Cc).
O terceiro trecho corresponde à parte do ensaio, quando o corpo de prova é
descarregado gradativamente, e pode experimentar ligeiras expansões, denominado índice
de expansão (Cs).

São determinados pelas expressões a seguir apresentadas:

- Índice de Compressão, expansão ou recompressão: Cc = Cs = Cr = e


log ’v
e f − ei
Observa-se poder escrever: CC = C S = C r =
 
log  vf 
  vi 
 
E ainda: e = Ci . log ’v = Ci . log  vf 
  vi 

Esta última expressão, que corresponde à variação do índice de vazios (e) é


extremamente útil para o cálculo de “recalques” como será visto.

3.8 – Recalque Total por Compressão Primária

O recalque primário ocorre durante o processo de adensamento e equivale à


variação de altura da camada de solo, a qual pode ser representada pela variação da altura
de vazios, como visto no item 3.4:

Sendo:
 (∆H) é o valor do recalque do solo, em relação à superfície (referência)
e é a variação do índice de vazios correspondente à nova tensão aplicada
e0 é o índice de vazios inicial do solo
H0 é a altura inicial da camada de solo compressível (ou da camada de solo para a
qual se quer calcular o recalque)

O recalque  (∆H) pode ser expresso em função do índice de compressão “Cc” e/ou
do índice de recompressão “Cr” e da diferença dos logs das tensões efetivas consideradas
(igual “log” da divisão de tensões), bastando substituir o valor da diferença dos índices
de vazios (e), como se vê nas expressões apresentadas, dependendo de cada caso.

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Então, em função dos níveis de tensões aplicados (inicial σ’vo - e final σ’vf) temos
para o recalque, conforme apresentado na Figura 3.19, as expressões abaixo, referido à
tensão de pré-adensamento aplicada (’vm):

Figura 3.19 - Diferentes níveis de tensões aplicadas em função da tensão de pré-adensamento

Solo Normalmente Adensado (NA)


A variação de tensões verticais aplicadas se dá na zona de compressão virgem.
Por exemplo, inicial σ’vo = ’vm = P e final σ’vf = C (entre P e C)
Recalque para solos NA (função do CC, apenas)

Solo Pré-Adensado (PA)


A variação de tensões verticais aplicadas se dá na zona de recompressão ou em
parte na zona de recompressão e em parte na compressão virgem.
Por exemplo, inicial σ’vo = A e final σ’vf = B (entre A e B) ou inicial σ’vo = A e final
σ’vf = C (entre A e C)
Recalque para solos PA (função do Cr, apenas ou do Cr e CC)

Considerando a variação linear do acréscimo de tensões ao longo da camada


compressível, costuma-se calcular o acréscimo na cota média e admiti-lo como
representativo de toda a camada. Conhecido o acréscimo Δσ′ (final σ’vf - inicial σ’vo), pode-se
calcular o recalque total da camada, como visto.

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Para o caso da compressibilidade ser definida apenas em termos do coeficiente de


compressibilidade volumétrica (mV), sem levar em consideração a variação de tensões
aplicadas, como apresentado anteriormente, pode-se definir o recalque (∆HV) como sendo:

Em termos do módulo edométrico (Eoed), parâmetro inverso do mV define-se o


recalque (∆HV):

No caso de se definir compressibilidade em termos do coeficiente de


compressibilidade (av), define-se o recalque (ρ = ∆HV) como:

Observa-se que de maneira geral os recalques podem ser divididos em três


categorias como mostra a Figura 3.20. Além do recalque primário ou de adensamento,
estudado neste capítulo, tem-se o recalque inicial e o recalque secundário. O Recalque
total (∆HT) é, então, determinado somando-se todas as parcelas.

Figura 3.20 - Evolução dos recalques com o tempo

Recalque Inicial: O recalque inicial ocorre em solos não saturados e, no caso de


solos saturados, quando as condições possibilitam a existência de deformações verticais e
horizontais. Nesses casos parte das tensões, geradas pelo carregamento são transmitidas
imediatamente ao arcabouço sólido e são calculados pela Teoria da Elasticidade.
Recalque primário ou de adensamento: O recalque primário, estudado aqui, ocorre
durante o processo de transferência de esforços entre a água e o arcabouço sólido,
associado à expulsão da água dos vazios (a ser melhor detalhado no item seguinte, 3.9).
Recalque secundário: Também chamado de fluência (“creep”) está associado a
deformações observadas após o final do processo de adensamento primário, quando as
tensões efetivas já se estabilizaram. Ocorre para tensões efetivas constantes.

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No estudo da compressibilidade dos solos, o comportamento de alguns solos


típicos deve ser ressaltado, como destaca Pinto (2006):

Solos Colapsíveis
Solos colapsíveis são solos não saturados que apresentam uma considerável e
rápida compressão quando submetidos a um aumento de umidade sem que varie a tensão
normal a que estejam submetidos.
O fenômeno de colapsividade é geralmente estudado por meio de ensaios de
compressão edométrica. A Figura 3.21 apresenta, esquematicamente, resultados de ensaios
feitos com um solo colapsível. A curva A indica o resultado de um ensaio em que o corpo
de prova permanece com seu teor de umidade inicial; a curva B representa o resultado de
um ensaio em que o corpo de prova foi previamente saturado; a curva C o de um corpo de
prova, inicialmente com sua umidade natural e que, quando na tensão de 150 kPa, foi
inundado, apresentando uma brusca redução do índice de vazios.

Figura 3.21 – Ensaio de compressão edométrica de um solo colapsível


O valor de recalque resultante do umedecimento depende do estado de saturação
em que o solo se encontra e do estado de tensões a que está submetido, como se depreende
da análise da Figura 3.21.
O colapso é devido à destruição dos meniscos capilares, responsáveis pela tensão
de sucção, ou a um amolecimento do cimento natural que mantinha as partículas e as
agregações de partículas unidas. Fisicamente, o fenômeno do colapso está intimamente
associado ao da perda de resistência dos solos não saturados, conforme visto no item
anterior.

Solos Expansivos
Ao contrário dos solos colapsíveis, certos solos não saturados, quando submetidos à
saturação, apresentam expansão. Esta expansão é devida à entrada de água nas interfaces
das estruturas mineralógicas das partículas argilosas, ou à liberação de pressões de
sucção a que o solo estava submetido, seja por efeito de ressecamento, seja pela ação de
compactação a que foi submetido. A expansibilidade é muito ligada ao tipo de mineral
argila presente no solo, sendo uma das características mais marcantes das argilas do tipo
esmectita. Mas solos essencialmente siltosos e micáceos, geralmente decorrentes de
desagregação de gnaisse, apresentam-se expansivos quando compactados com umidade
abaixo da umidade ótima.
A exemplo dos solos colapsíveis, o estudo da expansividade dos solos é geralmente
feito por meio de ensaios de compressão edométrica. Inunda-se o corpo de prova quando
as deformações decorrentes de certa pressão já se estabilizam e mede-se a expansão
ocorrida.
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3.9 – Adensamento dos solos

Adensamento: processo gradual dependente do tempo, da variação de volume do


solo devido à drenagem da água dos poros, compressão com diminuição de pressão neutra
e consequente aumento de tensões efetivas.

Quando: u = 0 → o adensamento primário cessa e toda a tensão é suportada


pelo esqueleto sólido;
(u → excesso de pressão neutra)

3.9.1 – Analogia mecânica do processo de adensamento de Terzaghi

Conforme já descrito anteriormente, sendo o solo saturado e as partículas de água e


sólidos incompressíveis, toda variação de volume deverá ocorrer em função da variação do
índice de vazios. Esta variação somente ocorrerá por expulsão de água dos vazios
(processo de compressão) ou absorção de água para dentro dos vazios (processo de
expansão). Logo, para que o solo se deforme é necessário que haja um processo de fluxo
de água em seu interior.

Processo de Adensamento e Teoria de Terzaghi:


hipótese simplificadora → relação entre “e” e ’v é assumida como linear.

Terzaghi apresenta a seguinte analogia, para explicar o processo do adensamento:


Uma mola de altura inicial H é imersa em água em um cilindro de pistão de área
transversal A, através do qual uma carga axial pode ser transmitida ao sistema, que
representa o solo saturado, como apresentado na Figura 3.22 A mola tem função análoga à
estrutura de solo e a água do cilindro, à pressão neutra. O pistão possui uma válvula que
controla a facilidade com que a água sai do sistema cuja função é a representação do
coeficiente de permeabilidade do solo. Aplica-se uma carga P ao pistão.

Considerações da analogia apresentada por Terzaghi:


Válvula: Permeabilidade do solo
Mola: Rigidez do esqueleto sólido

u0 u
h0 = e h =
a a
 = deslocamento do pistão devido à aplicação da carga
Pressões:  = ’ + u, mas u= uo + u
uo = pressão hidrostática (inicial)
u = excesso de poro pressão (carregamento)

Figura 3.22 – Analogia de Terzaghi

Têm-se as seguintes situações:


1. Válvula fechada: a pressão (σ = P/A) decorrente da aplicação da carga P será
suportada pela água, sendo a força suportada pela mola ainda nula.

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2. Válvula aberta: expulsão da água a uma velocidade que é função da diferença entre
a pressão da água e a pressão atmosférica. Com isso, o pistão se movimenta e a
mola passa a ser solicitada em função do deslocamento. À medida que a água é
expulsa, a poropressão diminui e aumenta a tensão na mola. Em qualquer instante,
as forças exercidas pela mola e pela água no pistão devem ser iguais a P. O
processo continua até P ser suportado pela mola, sendo a pressão da água devida
somente ao peso próprio. Neste ponto não há mais fluxo para fora. O aumento da
pressão sobre o esqueleto sólido corresponde ao aumento de pressão efetiva.

A Figura 3.23 ilustra o Modelo Hidromecânico de Terzaghi.

Figura 3.23– Modelo Hidromecânico de Terzaghi para explicar o processo de adensamento

Cada fase do processo descrito anteriormente pode também ser observada nos
gráficos apresentados na Figura 3.24.

Após constatar que uma amostra de argila saturada sujeita a um aumento de


carga P apresentava deformações “retardadas” devido à sua baixa permeabilidade,
Terzaghi (1925) desenvolveu uma formulação matemática para esse fenômeno. No
desenvolvimento dessa formulação, foi necessário que Terzaghi elaborasse uma série de
hipóteses simplificadoras, dentre as quais, algumas são de conseqüências muito
importantes sobre a possibilidade de se aplicar esta teoria ao estudo de um caso real.
A seguir, o princípio básico do fenômeno de adensamento é apresentado e então, as
diferentes hipóteses de Terzaghi serão examinadas e suas consequências estabelecidas.

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Figura 3.24 – Fases de carregamento e variações nas tensões no processo de adensamento

3.9.2 – Teoria do adensamento 1-D de Terzaghi

O desenvolvimento da Teoria do Adensamento de baseia nas seguintes hipóteses:

1. O solo é totalmente saturado (Sr = 100%);


2. A compressão é unidimensional;
3. O fluxo de água é unidimensional e governado pela Lei de Darcy;
4. O solo é homogêneo;
5. As partículas sólidas e a água são praticamente incompressíveis perante a
incompressibilidade do solo;
6. O solo pode ser estudado como elementos infinitesimais;
7. As propriedades do solo não variam no processo de adensamento e não há
diferença de comportamento entre massas de solos de pequenas e grandes
dimensões;
8. O índice de vazios varia linearmente com o aumento da tensão efetiva durante o
processo de adensamento.

Dedução da teoria:
Objetivo: Determinar para qualquer instante (tempo – “t”) e em qualquer posição
(profundidade - “z”) o grau de adensamento de uma camada, ou seja, as deformações, os
índices de vazios, as tensões efetivas e as pressões neutras correspondentes.
Considere um elemento de solo submetido ao processo de adensamento conforme a
Figura 3.25.
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Figura 3.25 – Elemento de solo submetido ao processo de adensamento

Sendo a equação de fluxo permanente (não há variação de volume) num solo


saturado, a variação de volume pelo tempo se escreve:
V  2 h 2 h 2 h 
= k x . + k y . 2 + k z . 2 .dx.dy.dz = 0 Equação de Laplace para fluxo
t  x 2 y z  tridimensional.

No estudo do adensamento, o fluxo ocorre somente na direção vertical e a


variação de volume não é nula. A quantidade de água que sai do elemento é menor do
que a que entra. A equação de fluxo, neste caso, se reduz a:
V 2 h
= k. 2 .dx.dy.dz → Equação 1
t z

Mas a variação de volume do solo é a variação do volume de vazios, já que


consideramos a água e os grãos sólidos praticamente incompressíveis em relação à
estrutura sólida do solo. Logo, a variação de volume com o tempo é dada pela expressão:
V   e  V e dx.dy.dz
= .dx .dy.dz = . →
t t 1 + e  ou Equação 2
t t 1 + e

dx.dy.dz
Uma vez que é o volume dos sólidos, e, portanto, invariável com o tempo,
1+ e
temos igualando as equações 1 e 2, que:
2 h e dx.dy.dz  2 h e 1
k. 2 .dx.dy.dz = .  k. 2 = . → Equação 3
z t 1 + e z t 1 + e

Só a carga que excede a hidrostática provoca fluxo. Portanto, a carga h pode ser
substituída pela pressão na água, ou seja, u/a. Mas, sabemos que, de = a V .du .
Substituindo estes valores na equação 3, obtemos:

k.(1 + e )  2 u u
. = → Equação de adensamento 1-D
a v . a z 2 t

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Esta equação expressa a variação da pressão neutra em relação ao tempo, função da


variação de u com a profundidade, multiplicada por conjunto de parâmetros. Na equação:
k é o coeficiente de permeabilidade
e é o índice de vazios
av é o coeficiente de compressibilidade
a é o peso específico da água
u é o excesso de pressão neutra (u)
z é a variável espacial (profundidade)
t é o tempo

Para a solução da equação acima, foram consideradas as condições de contorno


desta equação, conforme apresentadas na Tabela 3.2, e interpretadas na Figura 3.26.

Tabela 3.2 - Condições de contorno consideradas na solução da equação


Tempo Profundidade Pressão (excesso)
para e
t=0 0zH u (z,0) = u0
para e
0t z=0 u (0,t) = 0
e u
para 0t z=H =0
z

Figura 3.26 – Exemplo de adensamento com a interpretação das condições de contorno

O coeficiente do primeiro membro da equação de adensamento reflete as


características do solo (permeabilidade, porosidade e compressibilidade) e é denominado
coeficiente de adensamento – cv. Seu valor é admitido como constante para cada acréscimo
de tensões. Tem-se, portanto:

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k.(1 + e )
cv =
a v . a
 2 u u
Logo, a equação diferencial do adensamento assume a expressão: c v . 2 = .
z t

av
O coeficiente de compressibilidade volumétrica, dado por m v = , é obtido
1+ e
pela inclinação da curva de compressão do diagrama ’v x v. Logo, podemos escrever o
coeficiente de adensamento como:
k.(1 + e) k
cv = = , então o coeficiente de permeabilidade é obtido: k = cv . mv . γa
a v . a m v . a

Na integração da equação de adensamento, a variável fator tempo T (adimensional)


aparece sempre associada ao coeficiente de adensamento e a maior distância de percolação,
dada pela expressão:
c v .t
T=
H d2

O fator tempo T correlaciona os tempos de recalque às características do solo,


através do cv, e às condições de drenagem do solo, através do Hd.
O termo Hd refere-se, portanto, à distância de drenagem da camada de solo (Figura
3.27) e é igual a maior distância que a água tem que percorrer para alcançar uma camada
drenante. O seu valor dependerá das condições de drenagem, como se vê.

Figura 3.27 - Condições de drenagem: Duas diferentes formas de ilustrar

O coeficiente de adensamento (cv) pode ser obtido a partir da realização de ensaio


de adensamento, em laboratório, aplicando-se os métodos usuais de Taylor ou Casagrande.
Consiste em aplicar a expressão para a variável tempo T, associada a uma determinada
percentagem de adensamento decorrida. O método de Taylor relaciona o tempo (“t”)
necessário para completar 90% do adensamento primário e o método de Casagrande
relaciona o tempo (“t”) necessário para completar 50% do adensamento primário.
Observa-se ser um cálculo simples, com a maior dificuldade recaindo sobre a
determinação destes tempos “t”. Para tanto são utilizados métodos próprios (segundo
seus autores), que consistem basicamente em traçar gráficos com resultados de ensaio e
assim obter o valor de “t” pretendido. As Figuras 3.28 e 3.29 ilustram os métodos, que
serão melhores apresentados na parte prática deste curso.
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Método de Taylor
(raiz de t)

cv = 0,848 . H2
t90

Figura 3.28 - Método de Taylor para obtenção do coeficiente de adensamento

Método de Casagrande
(log de t)

cv = 0,197 . H2
t50

Figura 3.29 -
Método de Casagrande para obtenção do coeficiente de adensamento

A equação de adensamento 1–D, consideradas as suas condições de contorno


fornece a seguinte solução para o excesso de pressão neutra u, à uma profundidade z
decorrido o tempo t:

 (2m + 1). z  − (2 m +14) .


2 2
m = .T
u (z, t ) = .u 0 . 
4 1
.sen  . .e → Equação 1
 m =0 2 m + 1  2 H d 

onde: “u0” é o excesso de pressão neutra inicial (após o carregamento)


“e” é a base do logaritmo natural
“T” é o fator adimensional de tempo
“Hd” é a distância de drenagem da camada de solo

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3.9.3 – Grau ou porcentagem de adensamento

Define-se como grau ou porcentagem de adensamento a relação entre a


deformação () ocorrida num elemento numa certa posição, caracterizada pela sua
profundidade “z”, num determinado tempo “t” e a deformação total (f) deste elemento
no final de todo o processo de adensamento:

Uz =
f

Podemos expressar o grau ou porcentagem de adensamento em função dos índices


de vazios, ou em termos de tensão efetiva, como ilustrado na Figura 3.30.

e − e1  '− 1 '
Uz = =
e2 − e1  2 '− 1 '

Figura 3.30 - Variação linear do índice de vazios com a pressão efetiva

A porcentagem de adensamento pode ser expressa por relação direta (relação entre
“pressão dissipada” e “total de pressão a dissipar”) ou expressa pelo seu complemento: 1 –
relação entre o “excesso de pressão a dissipar” e “total de pressão a dissipar”, vejamos:
uw u( z ,t )
Uz = 1− = 1−
uwi u0

Onde: u(z,t) é o excesso de pressão neutra u, à uma profundidade z, decorrido o


tempo t - excesso de pressão que falta dissipar
u0 é o excesso de pressão neutra inicial (após o carregamento) - excesso
total gerado pelo carregamento

Em termos de porcentagem de adensamento na profundidade z, o valor de Uz


pode ser expresso a partir da relação de u(z, t) (equação 1) e u0 , então, obtém-se:

 (2m + 1). z  − (2 m +14) .


2 2
4 m = 1
.T
Uz = 1 − . .sen  . .e → Equação 2
 m = 0 2m + 1  2 H d 

Ou, de forma simplificada, sendo o valor de M =


(2m + 1). :
2
m =
2  z  −M 2 .T
UZ = 1−  M . senM. H .e → Equação 3
m =0  d 

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Os valores da porcentagem de adensamento (de pressão neutra dissipada) Uz


podem ser obtidos atribuindo-se valores a z/Hd e T, com os quais se constroem as curvas
da Figura 3.31.

Para um determinado solo (cv e Hd) e para um tempo “t”, tem-se um fator “T”.
Então, a uma profundidade z, observadas as curvas de “T”, obtém-se a percentagem de
dissipação da pressão neutra “Uz” e consequentemente obtém-se o valor de “ganho” de
tensão efetiva no solo (no gráfico, da esquerda para a direita, de “0” a “1.0”- 100%,
indicado como ∆σ’(t)/∆u0). Observe que o complemento corresponde a porcentagem do
excesso de pressão ainda a dissipar - ∆u(t)/∆u0.

Figura 3.31 – Grau de adensamento Uz em função da profundidade z e do fator tempo T

Nota-se que, para z=Hd=1:


t = 0+ → Uz = 0 %
O adensamento ocorre mais rapidamente nas
t =  → Uz = 100 % proximidades das faces drenantes (Uz maior) e mais
lentamente (Uz menor) no centro da camada ou na
Nota-se que, para z=0: extremidade não drenante.
t = 0+ → Uz = 100 %
t =  → Uz = 100 %

Observa-se ainda que as curvas indicam, para a profundidade de menor condição


de drenagem (maior distância à face drenante), uma maior percentagem de adensamento
Uz. Na profundidade zero (superfície da camada drenante) ou próxima a ela, Uz é próximo
de zero, ou seja, a pressão neutra já dissipou totalmente, sendo transferida para a parcela
de tensão efetiva.

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3.9.4 – Grau de adensamento médio

Observa-se que o adensamento ocorre mais rapidamente nas proximidades das


faces drenantes (Uz maior) e mais lentamente (Uz menor) no centro da camada ou na
extremidade não drenante, para um tempo t. Logo, a porcentagem média U (sem índice) de
adensamento ao longo de toda a camada de espessura “z” será a média dos valores de
Uz, obtidos para as várias profundidades “z”, considerada a espessura total da camada
“H”, podendo ser expresso de diferentes formas, como abaixo:

U 1
H
e − e0
 U= e
z
U dz
H H e
O f− 0

u( z ,t ) 1
H
u( z ,t )
ou, de acordo com a equação U z = 1 − U=  (1 − )dz
u0 HO u0

Então se obtém para a porcentagem média de adensamento a expressão abaixo


(Equação 4), que pode ser representada como na Figura 3.32, plotada em escala
logarítmica.

→ Equação 4

Figura 3.32 – Valores de grau de adensamento médio U em função do fator tempo T, em log

A equação teórica U = f(T) – equação 4 pode ser expressa pelas seguintes relações
empíricas, para fins práticos, para facilidade de cálculo:

 U 
2

T = .  → para U < 60%


4  100 

T = 1,781 − 0,933. log(100 − U) → para U > 60%


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Na prática, há interesse na determinação da porcentagem média de recalque (ou de


adensamento), que se refere a toda a camada compressível. Logo, a partir deste conceito, o
valor de U pode ser calculado ainda da seguinte forma:
h(t )
U=
hp
Sendo:
∆h(t) = recalque parcial, depois de ocorrido um tempo t
hp = recalque total final da camada, por adensamento ou compressão primária,
considerado decorrido um tempo “infinito”

O recalque que se observa na superfície do terreno é resultante da somatória das


deformações dos diversos elementos ao longo da profundidade. A média dos graus de
adensamento, ao longo da profundidade, dá origem ao grau de adensamento médio,
também denominado porcentagem de recalque, pois indica a relação entre o recalque
sofrido até o instante considerado e o recalque total correspondente ao carregamento.

A porcentagem de recalque (ou de adensamento) pode ser também representada


graficamente de acordo com a Figura 3.33, sendo que o fator T não está expresso em log, e
sim, em escala aritmética.

Figura 3.33 – Valores de porcentagem de recalque U em função do fator tempo T

3.9.5 – Cálculo de recalque por adensamento

O recalque em qualquer ponto “t” poderá ser calculado multiplicando o grau de


adensamento médio (o quanto já adensou toda a camada) pelo recalque total previsto.
Assim, pode-se escrever para o recalque parcial:

h(t ) = U . h p

Uma sequência prática para o cálculo do recalque parcial assim se descreve, o que
permite conhecer a evolução desta deformação ao longo do tempo (obtenção da curva
recalque x tempo):
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• Calcular hp
c V .t
• Com o tempo “t”, calcular o fator tempo pela equação T =
H d2
• Com o valor de “T”, calcula-se U
• Calcular h(t ) = U .hp
• Repetir para vários tempos “t” e
traçar a curva recalque versus
tempo.

3.10 – Compressão secundária

Depois de cessado o processo de adensamento (compressão primária), o solo


continua a se deformar com o tempo, de modo que a curva recalque da amostra versus log
(t) passa a representar um trecho aproximadamente constante. Este trecho é denominado
compressão secundária do solo ou recalque de fluência, como mostra a Figura 3.34, sendo
que no processo de compressão secundária o solo apresenta um comportamento mais
viscoso.
Em resumo: compressão secundária é o decréscimo de volume do solo
(deformação) sob ’v = constante, como abordado e ilustrado também na Figura 3.20. Em
aplicações práticas admite-se que a compressão secundária manifesta-se apenas após a
dissipação total de poropressões (t100).
Este tipo de compressão não será detalhado neste curso de graduação.

Figura 3.34 – Deformação (recalque) por compressão secundária, com o tempo “t”

3.11 – Exercícios de Aplicação

1 – Sobre um perfil de 7,0m de argila mole saturada, de índice de vazios inicial igual a 0,9,
serão lançados 2 aterros de grandes dimensões em um intervalo de 6 meses. O primeiro
aterro terá 1m de altura e o segundo 2m de altura. Ambos serão construídos com solo local
e atingirão um peso específico após a compactação de 18,7 KN/m3.

Estime o recalque de adensamento primário final considerando o coeficiente de


compressibilidade médio na camada de argila de av = 1x10-4 m2/KN.

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Solução:
i) cálculo do acréscimo de tensão vertical, considerado aterro infinito
Aterro 1 = ΔσV = 18,7 X 1 = 18,7 kN/m²
Aterro 2 = ΔσV = 18,7 X 2 = 37,4 kN/m²

ii) A expressão para cálculo do recalque em função do coeficiente de compressibilidade é:

Nesta expressão, o termo H0/(1+e0) representa a altura de sólidos (item 3.4), sendo portanto
constante para ambos os carregamentos. Assim sendo, refere-se ao aterro final:

2 – As sondagens procedidas num certo local indicaram o perfil de subsolo mostrado na


Figura 3.35. Duas torres, iguais e distantes 80 metros, foram construídas com grande área
de aplicação de carga. Os recalques de cada torre foram registrados na tabela 3.3, em cm.

Figura 3.35 – Esquema do perfil de subsolo

Tabela 3.3 – Valores dos recalques das torres A e B


Tempo Torre A Torre B
0 0 0
3 meses 6,02 0,93
6 meses 10,12 1,54
1 ano 14,50 2,20
2 anos 20,60 3,15
3 anos 25,40 7,65
5 anos 32,00 9,35

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A diferença dos recalques observados levou os engenheiros a uma análise mais detalhada
das condições do subsolo nas regiões das torres A e B. Constatou-se que:
1. A camada de argila nas duas regiões é da mesma formação e tem os mesmos índices de
compressão e coeficiente de adensamento;
2. Foram encontrados na região da torre B antigos blocos de pedra que teriam sido as
fundações de um antigo monumento indígena.

Pergunta-se:
a) Explicar as diferenças dos recalques entre A e B;
b) Calcular o recalque total provável da torre A;
c) Calcular o tempo para recalque final da torre A;
(considere finalizado o recalque com 93% de adensamento)
d) Caso o terreno tivesse dupla drenagem qual seria o recalque da torre A em 3 anos ?

Resolução:

a) A diferença dos recalques entre as torres A e B deve-se provavelmente ao fato da


camada de argila da região da torre B ser pré-adensada, isto é, um antigo monumento
indígena provocou um recalque da argila na região de B (houve remoção de sobrecarga
em época anterior, de construção antiga, ...).

b) Cálculo do recalque total da torre A.

O recalque da torre A pode ser calculado a partir de qualquer data indicadas na Tabela 3.3.
c v .t
Sabe-se que: T =
H d2
4,5x1
• Para t = 1 ano, temos: T = = 0,045
10 2
A porcentagem média de adensamento para t = 1 ano é: ... U = f(T)
 U 
2

T = .  supondo U < 60%


4  100 
4x10000xT 4x10000x0,045
U= =  U = 24% → A hipótese está correta!
 

h(t )
Sabe-se também que: h(t ) = U .hp . Logo, hp =
U
Como hp para t = 1 ano é de 14,50 cm, temos:

14,5
h p =  hp = 60,4 cm
0,24

É interessante verificar se esta solução é acertada, ou seja, se a argila segue a teoria


unidimensional do adensamento. Para tanto, calcularemos o recalque total a partir da
leitura dos 3 anos.

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4,5x3
• Para t = 3 anos, temos: T = = 0,135
10 2
A porcentagem média de adensamento para t = 3 anos é: ... U = f(T)
 U 
2

T= .  supondo U < 60%


4  100 
4x10000xT 4x10000x0,135
U= =  U = 42% → A hipótese está correta!
 

h(t )
Sabe-se também que: h(t ) = U .hp . Logo, hp =
U
Como hp para t = 3 anos é de 25,40 cm, temos:

25,4
h p =  hp = 60,5 cm
0,42
Concluímos, portanto, que o resultado está correto.

c) Cálculo do tempo para recalque final da torre A (com 93% de adensamento)

O tempo decorrido “t” relaciona-se com o fator de tempo “T”


• Para U = 93%, no gráfico U=f(T) tem-se T=1
(obtido diferentemente do calculado no item anterior, que se utilizou das
equações empíricas que relacionam U e T)

4,5 . t
Então, temos: 1 = t = 22,2 anos
10 2

d) Caso o terreno tivesse dupla drenagem qual seria o recalque da torre A em 3 anos.
4,5 x3
• Para t = 3 anos, temos: T = = 0,54
52
A porcentagem média de adensamento para t = 3 anos é: ... U = f(T)
No gráfico U x T ... U = 77%

Sabe-se que: h(t ) = U .hp .


Como hp = 60,5 cm, para t = 3 anos temos:
h(t ) = 0,77 . 60,5 = 46,6 cm
(diferente dos 25,4 cm medidos, por ser simples drenagem)

3 – Uma camada de argila de 1,5m de espessura está localizada entre duas camadas de
areia. No centro da camada de argila, a tensão total vertical é de 200kPa e a poropressão é
100kPa. O aumento de tensão vertical causado pela construção de uma estrutura de aterro,
no centro da camada de argila será de 100kPa. Assumindo o solo saturado, com Cr = 0,05,
Cc = 0,3 e e0 = 0,9, pede-se:

Estimar o recalque primário da argila, considerando as situações:

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COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS

a) solo normalmente adensado,


b) solo pré-adensado (OCR = 2),
c) solo pré-adensado (OCR = 1,5).

Resolução:
Condições iniciais (condição “atual” do solo, antes da obra – condição histórica):
σv0 = 200 kPa
u0 = 100 kPa
então, σ’v0 = 100 kPa
Condições finais (após obra de aterro):
σvf = σv0 + Δσv = 200 + 100 = 300 kPa
uf = 100 kPa
então, σ'vf = 200 kPa

a) se solo considerado normalmente adensado (NA)


Então OCR = 1 e a tensão de pré-adensamento é igual ao valor atual (σ’vm = 100 kPa)
Fazendo o cálculo considerando as expressões em função da variação dos índices de
vazios ... (recalque para solos NA – Pto C>P, Figura 3.19)

b) se solo considerado pré-adensado (PA) – com OCR = 2


Sendo OCR = 2, a tensão de pré-adensamento é igual ao dobro da atual (σ’vm = 200 kPa)
Fazendo o cálculo considerando as expressões em função da variação dos índices de
vazios ... (recalque para solos PA – Pto A e B<P, Figura 3.19)

c) se solo considerado pré-adensado (PA) – com OCR = 1,5


Sendo OCR = 1,5, a tensão de pré-adensamento é igual a 1,5 da atual (σ’vm = 150 kPa)
Fazendo o cálculo considerando as expressões em função da variação dos índices de
vazios ... (recalque para solos PA – Pto A<P e C>P, Figura 3.19)

Observe que o recalque calculado nas letras “a” e “b” referem-se à alteração de tensão
inicial de 100kPa para 200kPa, igualmente, mas por apresentarem OCRs diferentes o
recalque do solo na condição pré-adensado foi muito menor que na condição normalmente
adensado.

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ESTADO DE TENSÕES E DE EQUILÍBRIO DOS SOLOS

Capítulo 4 – ESTADO DE TENSÕES E DE EQUILÍBRIO DOS SOLOS

4.1 – Introdução

Neste curso, foram abordados os conceitos de tensões no solo e o cálculo das


tensões verticais num plano horizontal, em uma posição qualquer no interior de um
subsolo, com superfície horizontal, principalmente. Estas tensões são verticais e, portanto,
normais ao plano, pois não há qualquer razão para que elas tenham uma inclinação.
Assim como se definiram as tensões num plano horizontal, elas poderiam ser
consideradas em qualquer outro plano no interior do solo. De particular interesse, são as
tensões nos planos verticais. Nestes também não ocorrem tensões de cisalhamento, devido
à simetria. Estas tensões acima referidas são as indicadas na Figura 4.1. A tensão normal
no plano vertical depende da constituição do solo e do histórico de tensões a que ele esteve
submetido anteriormente. Normalmente ele é referido à tensão vertical, sendo a relação
entre tensão horizontal efetiva e a tensão vertical efetiva denominada coeficiente de
empuxo em repouso e indicada pelo símbolo K0.

Figura 4.1 - Tensões verticais e horizontais num elemento do solo, com superfície horizontal

Tensões num plano genérico (Pinto, 2006)


Em um plano genérico no interior do subsolo, a tensão atuante não é
necessariamente normal ao plano. Para efeito de análises, ela pode ser decomposta num
componente normal e em outra paralela ao plano, como se mostra na Figura 4.2. A
componente normal é chamada tensão normal, σ, e a componente tangencial, tensão
cisalhante, τ, embora elas não sejam tensões que possam existir individualmente.
Em qualquer ponto do solo, a tensão atuante e a sua inclinação em relação à normal
ao plano variam conforme o plano considerado. Demonstra-se que sempre existem três
planos em que a tensão atuante é normal ao próprio plano, não existindo a componente de
cisalhamento.

Figura 4.2 - Decomposição da tensão num plano genérico


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O conhecimento das componentes de cisalhamento é extremamente importante


para o entendimento sobre a condição de equilíbrio dos solos.
Como será visto, a “resistência ao cisalhamento” ( - tensão cisalhante máxima)
desenvolvida pelos solos é a responsável pela capacidade dos solos tem de suportar as
tensões desenvolvidas pelas solicitações internas (desenvolvidas pelo seu peso próprio) e
solicitações externas (cargas aplicadas), conservando sua estabilidade. Caso contrário as
tensões desenvolvidas nas massas de solo podem levar a uma condição de desequilíbrio e
consequentemente à sua ruptura. Neste caso o nível de tensões supera o regime de
deformação elástica passando para o regime plástico de deformação.

Então, a análise desse equilíbrio consiste em identificar o valor da componente


cisalhante no possível plano de rutura. Tensão atuante e de resistência interna ao
cisalhamento. O conhecimento previo da resistência interna ao cisalhamento permite a
realização de dimensionamentos de estruturas de terra e verificações das condições de
estabilidade destas massas de solos.

Na Figura 4.3 vê-se como exemplo um terreno em plano inclinado (talude). Esta
massa de solo está dividida em várias fatias (porções), em que se tem uma cunha possível
de movimentação (escorregamento), em que são calculadas as tensões nos “planos das suas
bases”, para posterior comparação com os valores de tensão de resistência do solo.
Permite-se assim determinar a condição de estabilidade do conjunto.

Figura 4.3 - Terreno em plano inclinado, com tensões de cisalhamento e normal


aos “planos das bases” das fatias

4.2 – Tensões em um ponto

Um ponto, considerado no interior de uma massa de solo, está sujeito a esforços em


todas as direções (equilibradas por reações ocorrentes pela própria continuidade da massa).
Para o estudo das forças atuantes em um ponto “O”, por exemplo, como mostra a
Figura 4.4 (terreno horizontal), considerando apenas as forças devidas ao peso próprio dos
solos, desprezando àquelas devido aos carregamentos externos, devemos analisá-las
segundo direções específicas, isto é, devemos considerá-las como tensões agentes no
ponto “O” traduzidas por esforços por unidade de área em direções definidas e
determináveis (no caso, a resultante agirá segundo a direção da gravidade).
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Figura 4.4 – Tensões de um ponto “O” no interior de uma massa de solo,


definido como a interseção de três planos ortogonais

Para o caso da Figura 4.4 em que o plano do terreno é horizontal não haverá
componente tangencial e o esforço resultante age normal ao plano paralelo ao da superfície.

Podemos definir o ponto “O” como a intersecção de três planos ortogonais entre si.
Se considerarmos esta definição gráfica, podem-se agrupar os esforços que agem em torno
do ponto, segundo essas três direções consideradas. Assim, suas ações limitadas às
resultantes com direções definidas seriam tensões ortogonais entre si, que agem, cada uma
delas, normal a cada um dos planos sucessivamente.

Sistema Triaxial de Tensões


As solicitações no ponto serão definidas por um sistema tri-dimensional de
tensões, representadas, por 1, 2 e 3 (e suas respectivas reações pela continuidade da
massa), contidas respectivamente no encontro de dois planos (traço desse encontro) e
normal ao terceiro onde age integralmente.

Nessa situação, as tensões serão denominadas tensões principais e os planos serão


os principais de tensões (Figura 4.5 a). As tensões agentes, seguindo a nomenclatura, serão:

1 = tensão principal maior, agindo em valor absoluto sobre o plano principal maior,
no caso o horizontal;
2 = tensão principal intermediária agindo normal ao plano principal intermediário;
3 = tensão principal menor, agindo sobre o plano principal menor.

No caso dos solos, iremos considerar, dentro de um espaço semi-infinito (cada um


dos horizontes) o solo como homogêneo e contínuo em todas as direções. Nessas
características a elasticidade (reação da massa) será a mesma em todas as direções,
caracterizando a condição particular de 2 = 3 (o que é muito comum na prática).

Com essa consideração reduzimos o sistema a uma condição bi-dimensional de


tensões onde teremos:

1 = tensão principal maior agindo normal ao plano principal maior;


3 = tensão principal menor agindo normal ao plano principal menor.

Representando o ponto “O” como um cilindro infinitesimal (Figura 4.5 b), teremos
o problema de análise das tensões a ser resolvido num sistema plano de tensões.
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(a) (b)
Figura 4.5 – Sistema tri-dimensional de tensões e condição bi-dimensional de tensões

Pinto (2006) ressalta que “nos problemas de Engenharia de Solos, envolvendo a


resistência do solo, interessam σ1 e σ3 pois a resistência depende das tensões de
cisalhamento e estas, como se verá, são fruto das diferenças entre as tensões principais e a
maior diferença ocorre quando estas são σ1 e σ3. De maneira geral, portanto, estuda-se o
estado de tensões no plano principal intermediário (em que ocorrem σ1 e σ3), que é o caso
da seção transversal de uma fundação corrida, de uma vala escavada, de um aterro
rodoviário ou da seção transversal de uma barragem de terra. As tensões principais
intermediárias só são consideradas em problemas especiais”.

Direção das tensões principais

É interessante observar que sendo a superfície do terreno horizontal, em qualquer


profundidade z, a tensão principal maior 1 terá como direção a vertical e a tensão principal
menor 3 à sua perpendicular, ou seja, a direção horizontal.
No caso da superfície ser diferente da situação anterior, ou tiver carga aplicada na
superfície em cada profundidade z, terá sua tensão principal maior e menor
(perpendiculares entre si) inclinada segundo uma direção diferente a cada posição, como
ilustrada na Figura 4.6. Isto ocorre devido a influência direta da condição do carregamento
resultante.

Figura 4.6 - Direção das tensões principais para alguns pontos no interior da massa de solo,
para uma condição de carga aplicada na superfície

No estado plano de deformações, conhecendo-se os planos e as tensões principais


num ponto, pode-se determinar as tensões em qualquer plano passando por esse ponto. Este
cálculo pode ser feito pelas equações de equilíbrio dos esforços aplicadas a um prisma
triangular definido pelos dois planos principais e o plano considerado, como visto a seguir.
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Cálculo das tensões normal ( ) e tangencial ( ) em um plano genérico 


(a partir das tensões principais)

Pelo ponto O podemos, além dos dois planos principais considerados, passar outro
plano qualquer (por um ponto podemos passar uma infinidade de planos). Mas, nesse
terceiro plano, daremos uma orientação de posição, isto é, ele fará um ângulo  com o
plano principal maior (terá uma inclinação em relação ao plano horizontal).
Nesse caso, o plano estará inclinado em relação as duas tensões principais, que,
com suas ações, darão, como decorrência, duas componentes agindo nesse plano, uma
normal  e uma tangencial .
O problema consistirá, então, em se calcular as duas tensões  e  em função das
tensões agentes 1 e 3 representados pelos esforços por unidade de área.

Representando o ponto O pela interseção desses três planos, temos seus traços na
Figura 4.7.a (triângulo infinitesimal) e as correspondentes áreas, onde atuam as tensões,
representadas na Figura 4.7.b, considerada a profundidade unitária, normal ao papel.

(a) (b)
Figura 4.7 – Traços OA, OB e AB dos planos e áreas em que agem as tensões 1, 3 e  /

Sobre essas áreas agem as forças aplicadas, mostradas na Figura 4.8, nas direções
definidas em relação as suas ações sobre os planos considerados e de forma decompostas
segundo as direções de 1 e 3 (ação nos planos principais)

Figura 4.8 – Forças aplicadas, nas direções dos planos considerados e nas direções de 1 e 3

Estando o sistema em equilíbrio serão satisfeitas as equações fundamentais da


estática, donde teremos:

H = 0  3ds sen  −   ds sen  +   ds cos  = 0


V = 0 1ds cos  −   ds cos  −   ds sen  = 0

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Ou (cancelando-se o ds):
 3 sen  −   sen  +   cos  = 0 (1)
1 cos  −   cos  −   sen  = 0 (2)

Multiplicando-se 1 por cos  e 2 por sen , teremos:


 3 sen  cos  −   sen  cos  +   cos2  = 0 (I)
1 sen  cos  −   sen  cos  −   sen 2  = 0 (II)

Subtraindo-se II de I, temos:
(1 −  3 ) sen  cos  −   (sen 2  + cos2 ) = 0 (III)

Sabemos que: sen(a  b) = sen a cos b  sen b cos a


sen 2a = 2 sen a cos a
sen 2a
= sen a cos a
2
sen 2
Ou, = sen  cos 
2
Substituindo em III, temos:
1 −  3
 = sen2 (IV) tensão tangencial (cisalhamento) no plano 
2

Somando-se I e II ,temos:

( 1 +  3 )sen cos  − 2  sen cos  +   (cos 2  − sen 2 ) = 0


1 −  3
2
( )
sen 2 −   sen 2 +   cos 2  − sen 2 = 0 (V)

Sabemos que:
cos(a  b) = cos a cos b  sen a sen b
cos 2a = cos2 a − sen 2 a
cos 2 = cos2  − sen 2 

Substituindo em V:
1 −  3
sen 2 −   sen 2 +   cos2  = 0 (V)
2

Substituindo  por seu valor expresso em IV:


1 +  3  − 3
sen 2 −   sen 2 + 1 sen 2 cos 2 = 0 ou
2 2
1 +  3 1 −  3
+ cos 2 =   (VI) tensão normal no plano 
2 2
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Nesse estudo, estabeleceu-se o desenvolvimento analítico para o cálculo das tensões


definidoras do estado de solicitações no ponto O (interior da massa de solo) onde ocorrem
1 e 3.

4.3 – Análise gráfica do estado de tensões

Para a análise gráfica do estado de tensões em um ponto, pode-se representá-la pelo


círculo de Mohr que é o “lugar geométrico dos pontos de coordenadas  e  definidores
do estado de tensões no ponto O, quando agem no mesmo, as tensões principais 1 e 3”,
como ilustrado na Figura 4.9.
Esse lugar geométrico (círculo de Mohr) traduz todos os valores de coordenadas
correspondentes a todos os possíveis planos inclinados, em relação aos planos principais,
que se pode passar no ponto O e que fazem um ângulo  qualquer, com o plano principal
maior.

Figura 4.9 – Representação gráfica dos estados de tensões no ponto O

Em outras palavras, o estado de tensões no ponto O, qualquer, no interior de uma


massa de solo, pode ser graficamente representado num sistema cartesiano de
coordenadas  e , coordenadas no plano qualquer, quando o mesmo, está sujeito as
tensões 1 e 3.

Para se traçar o lugar geométrico representativo das tensões nos planos :


a) Marca-se no eixo das abscissas as tensões 1 e 3;
b) No intervalo entre 1 e 3 traça-se o círculo de tensões, cujo diâmetro é 1 - 3,
portanto o raio é igual a:
 − 3
r= 1
2
c) Toma-se o ponto M, sobre o círculo, definido a partir do ângulo , obtendo-se os
coordenadas  e ;

* Pela propriedade do círculo de Mohr, temos:


. “Todo raio que forma com o eixo das abscissas um ângulo 2, corta o círculo num
ponto M cujas coordenadas são  e , definidoras do estado de tensões no ponto O,
submetido ao par de tensões principais 1 e 3. Esse ângulo  é o ângulo que o plano
qualquer faz com o plano principal maior”.
. Ligando-se o ponto M ao início do círculo, a corda define o ângulo . O início do
círculo é o pólo.
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* O centro do círculo terá as coordenadas:


 ,o = 0
 −  3 1 +  3
 ,o =  3 + r =  3 + 1 =
2 2

* Coordenadas do ponto M em função das tensões 1 e 3:


 − 3
Raio do círculo: r = 1
2
 + 3
Coordenadas de o , : o , = 0 e  ,o = 1
2
Então, temos:
 +  3 1 − 3
  =  o, + o , o ,, =  'o + r cos 2 = 1 + cos 2
2 2
 +  3 1 −  3
 = 1 + cos 2
2 2

 − 3
 − 3  = 1 sen 2
  = r sen 2 = 1 sen 2  2
2

Observe que essas expressões obtidas do sistema gráfico de representação são as


mesmas deduzidas analiticamente o que permite trabalhar com o gráfico, num sistema
muito mais simples de visualização.

4.4 – Exemplos de análise do estado de tensões

Neste item serão analisados alguns exemplos de estado de tensões, em uma massa
de solo, a fim de bem ilustrar como atuam os esforços e a características de suas possíveis
componentes, em relação ao espaço.
Considere o caso de um tereno horizontal, submetido a um carregamento circular
na sua superfície ...

Como visto, um carregamento externo aplicado na superfície (ou por conta da


própria geometria da superfície da massa de solo, quando inclinada) contribui para o
desenvolvimento de tensões normais e tangenciais (ou de cisalhamento). Em se tratando da
componente de cisalhamento, observa-se ser interessante calcular, em diversos problemas,
os valores de máxima tensão cisalhante atuantes no solo.
Assim, a Figura 4.10 ilustra, como exemplo, o aspecto da distribuição de tensões e
a intensidade destas tensões, seja a componente de tensão vertical (Capítulo 02), seja a
cisalhante máxima que ocorrem no subsolo de um terreno (mostrada a meia seção), que
tem aplicado na superfície um carregamento externo de 100kPa.
Observa-se que os maiores valores destas tensões ocorrem nas proximidades do
carregamento, região em que se têm as maiores deformações e que há a possibilidade de
haver ruptura, dependendo da resistência ao cisalhamento do solo.

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3m Footing 3m Footing
100 kPa 100 kPa

20 20
30 32
18 18 32

24
16 35
16
42

14
28

Elevation (metres)
14
Elevation (metres)

14 21 14
10

12 12
6

10 10
7

4
8 8

2
6 6

4 4

2 2

0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
0 20
2 22
4 24
6 26
8 28
10 30
12 14 16 18 20 2
Distribuição de tensões verticais devidas ao peso Distribuição das máximas tensões cisalhantes
próprio e ao carregamento externo
E = 5000 kPa  = 0,334
Figura 4.10 - Aspecto das tensões que ocorrem no subsolo de um terreno carregado

Para ilustrar, é mostrada na Figura 4.11 uma ampliação dos pontos de cálculo
próximos da carga e na Figura 4.12 o estado de tensões atuantes em um ponto no interior
da massa de solo, com destaque para os valores e a direção em que atuam as tensões
principais maior e menor, como estudado. Neste exemplo ilustrativo foi usado um software
de análise de tensões, desenvolvido aplicando a técnica numérica do “Método dos
Elementos Finitos” (M. E. F.). O ponto destacado (do nó 760) situa-se à 2,0m de
profundidade (cota 18) e à 1,5m de distância do eixo da carga aplicada de 6,0m de
diâmetro, ou seja, na metade dos 3,0m apresentado.
Como pode ser observado no traçado do círculo de Mohr (Figura 4.12), assim como
se verifica na Figura 4.10, a máxima tensão de cisalhamento atuante no ponto é da ordem
de 32 kPa, correspondente a um σ1 de 76,76 kPa e σ3 de 10,81 kPa.

3m Footing
100 kPa
841842 843844845 846847848 849850851 852853854 855856857 858859860
20 830 831 832 833 834 835 836 837 838 839
799800 801802803 804805806 807808809 810811812 813814815 816817818
788 789 790 791 792 793 794 795 796 797
757758 759760761 762763764 765766767 768769770 771772773 774775776
18 746 747 748 749 750 751 752 753 754 755
715716 717718719 720721722 723724725 726727728 729730731 732733734
704 705 706 707 708 709 710 711 712 713
673674 675676677 678679680 681682683 684685686 687688689 690691692
16 662 663 664 665 666 667 668 669 670 671
631632 633634635 636637638 639640641 642643644 645646647 648649650
620 621 622 623 624 625 626 627 628 629
589590 591592593 594595596 597598599 600601602 603604605 606607608
14 578 579 580 581 582 583 584 585 586 587
547548 549550551 552553554 555556557 558559560 561562563 564565566

Figura 4.11 – Pontos de cálculo das tensões, próximos da carga, com destaque para o nó 760
536 537 538 539 540 541 542 543 544
505506 507508509 510511512 513514515 516517518 519520521 522523524
545

12
102

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Effective Stress at Node 760 73.242


40

30 -14.811

14.318
20

sx
10

Shear
0
76.756
-10
sy

-20 10.805

-30

-40
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Normal

Figura 4.12 – Estado de tensões atuantes em um ponto e direção das tensões principais

Na análise de outro exemplo semelhante (Figura 4.13) são destacados dezesseis


(16) pontos no interior da massa de solo (Tabela 4.1). Os respectivos valores das tensões
atuantes e as direções das tensões principais são apresentados na Figura 4.14, para efeito de
comparação de comportamento.

Figura 4.13 – Exemplo em que são destacados dezesseis (16) pontos para análise

Tabela 4.1 – Pontos destacados em que foram calculadas as componentes de tensões


Distância da extrema esquerda (m)
(do eixo de simetria)
0 2,5 5,0 7,5
Cota 18 (Profundidade 2,00m) 685 690 695 700
Cota 16 (Profundidade 4,00m) 609 614 619 624
Cota 12 (Profundidade 8,00m) 457 462 467 472
Cota 04 (Profundidade 16,00m) 153 158 163 168
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685 690 695 700

609 614 619 624

457 462 467 472

153 158 163 168

Figura 4.14 – Valores das componentes de tensões atuantes nos 16 pontos analisados
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Observe principalmente como variam as tensões normais para o exemplo analisado.


. Componentes vertical e horizontal, σv e σh:
O efeito da tensão vertical diminue com a profundidade e quando se afasta da carga;
O efeito da tensão horizontal é bastante variável com a posição, podendo ser
negativa (de tração) em alguns pontos.
. Componentes das tensões principais σ1 e σ3:
O efeito da tensão σ1 tende a diminuir com a profundidade e quando se afasta da
carga;
O efeito da tensão σ3 é bastante variável com a posição, podendo ser negativa em
alguns pontos.
. Direções das tensões principais σ1 e σ3:
Não é inclinada as tensões principais para a linha vertical, sob o eixo da carga (e
coincide com os valores de σv e σh) e é inclinada para todos os outros pontos,
havendo uma diminuição deste efeito quanto mais se afasta do carregamento, ao
longo da profundidade.

4.5 – Critério de ruptura de Mohr

Critério de ruptura são formulações que procuram refletir as condições em que


ocorre a ruptura dos materiais. Dentre os vários critérios de ruptura considerados em
Resistência dos Materiais, para os diversos materiais diferentes, um se caracteriza por sua
condição essencialmente empírica, o critério de ruptura de Mohr. Sendo o solo um material
heterogêneo por excelência, um critério como o de Mohr traduz muito bem as
características diferenciadas dos solos. O critério de Mohr se obtém com traçados gráficos
de círculos de Mohr em condições experimentais práticas, a partir de informações
obtidas diretamente em corpos de prova ensaiados.

Como o estado de tensões ocorrentes em um ponto, no interior do maciço de solo se


traduz, perfeitamente pelo círculo de Mohr, vamos levar as solicitações de 1 e 3 ao
estado de ruptura e procurar identificar, nos inúmeros planos , aquele que
corresponde ao de ruptura do material. Esse plano será, portanto, o plano de ruptura e o
ângulo  correspondente, aquele que define o limite da cunha instável para o estado de
tensões de rutura considerado nos ensaios.

O critério de Mohr consiste em se ensaiar uma infinidade de corpos de prova


indeformados (obtidas a partir de amostragem “shelby”, quando amostra de argilas) ou
“blocos” para outros materiais, ou ainda deformadas (solo compactado ou areias para
diferentes graus de compacidade) do mesmo horizonte de solo a ser analisado. Essa
abordagem inicial é teórica, pois, esse esquema de coletas de amostras, nessa quantidade, é
de difícil viabilidade prática; mas, a partir da teoria, vamos conferir algumas considerações,
em paralelo, que poderão contribuir para simplificação do processo e sua conseqüente
esquematização prática.

A partir da moldagem de um corpo de prova cilíndrico ...

O ensaio consistirá, em princípio, nas fases destacadas na Figura 4.15.


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. Proteger o corpo de prova com membrana elástica para


impermeabilização da amostra e submetê-lo, lateralmente, a uma
pressão 3, mantida constante (de “confinamento”);

. Submetê-lo, axialmente, a uma pressão 1, crescente, até


romper a sua estrutura (quando se mede a máxima 1
correspondente a 3 aplicada, que foi previamente adotada);

. No caso haverá um cisalhamento do corpo de prova segundo


um ângulo , (plano de rutura) e a parte de cima se desloca em
relação à debaixo caracterizando bem o fenômeno (podem ocorrer
rupturas com outras características dependendo do tipo de solo).

Figura 4.15 – Critério de ruptura de Mohr: Fases de um ensaio de ruptura

No final desse ensaio, nesse primeiro corpo de prova obtém-se um par de tensões
de solicitações 1 e 3, correspondentes ao estado de rutura do solo ensaiado, portanto,
tensões de rutura. Com esses valores, traça-se o círculo de tensões correspondentes, que
terá embutido nele aquelas correspondentes ao plano de rutura, que faz um determinado
ângulo com o plano de tensão maior e sobre o qual agirão as tensões  e  definidoras do
estado de rutura.
Repetido esse ensaio para um segundo corpo de prova, agora tomando 3’ > 3
tem-se, para romper o corpo-de-prova, 1’ > 1. Portanto, identifica-se um novo par de
tensões de rutura que permite traçar um novo círculo de Mohr onde se pode identificar o
mesmo plano de rutura para o mesmo material, nas mesmas condições de utilização. Deve-
se repetir o ensaio, sucessivamente, para uma infinidade de corpos de prova, e plotar essa
infinidade de círculos, a fim de obter algo bem próximo do representado na Figura 4.16.

Figura 4.16 – Círculos de Mohr para várias amostras: envoltória de resistência do solo

Nota-se, que a linha curva que tangencia essa infinidade de círculos correspondente
à ruptura do solo. Essa linha que dá o contorno do lugar geométrico desses círculos (Mohr
chamou de curva intrínseca ou curva de envoltória dos círculos) correspondente à condição
de tensão na ruptura.

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Da figura, podem ter outros traçados que levarão as seguintes análises, quanto aos
valores das tensões aplicadas e sua condição de estabilidade à ruptura.
− 3 de um dos círculos formando par com 1’ menor que 1 correspondente à
ruptura. Círculo ficará aquém da envoltória de Mohr correspondente à ruptura;
− 3 de um dos círculos formando par com 1’ maior que 1 correspondente à
ruptura. Círculo extrapolará o limite da envoltória, isto é, teríamos tensões maiores
que a tensão máxima de ruptura (inviável de ocorrer).

Conclusão: A envoltória dos círculos de Mohr correspondentes à ruptura limita um


espaço onde se podem representar, graficamente, estados de tensões ocorrentes até o
estado de ruptura. Ou seja, essa linha é o lugar geométrico dos pontos correspondentes ao
plano de rutura definido em função do material em análise.

Destacam-se da figura 4.17 três círculos (de igual valor de σ3) que identificam, de
maneira genérica, a situação de solicitação de tensões no material (par de tensões σ1, σ3),
em relação ao critério de ruptura de Mohr – equação  r = f () = f () :
− 1º caso: Círculo correspondente à solicitação de equilíbrio estável.
Se o círculo traçado se situar no interior da curva intrínseca de ruptura, conclui-se
que o equilíbrio é estável, isto é, a máxima tensão  é menor do que a
correspondente a envoltória limite;
− 2º caso: Círculo correspondente à solicitação de equilíbrio incipiente (limite da
instabilidade/estabilidade).
Nesse caso, o círculo corresponde à solicitação tangente à envoltória:   =  r .
Haverá possibilidade de ruptura do material, por cisalhamento, ao longo do plano
de rutura, caso haja qualquer infinitésimo de aumento de qualquer uma das duas
tensões de solicitação ou pequena queda do valor de r;
− 3º caso: Círculo correspondente à solicitação de equilíbrio instável.
Nesse caso, plotado o círculo correspondente às tensões de solicitação, esse
ultrapassa a área limitada pela envoltória, isto é, ocorrerá tensão que ultrapassará a
resistência interna ao cisalhamento, do material r. Ocorrerá a rutura do material.

Figura 4.17 – Pontos de tangência para os círculos de Mohr: condição de σα e  na ruptura

Na Figura 4.17, “T” são pontos de tangência dos círculos que definem o lugar
geométrico da curva intrínseca de Mohr ou da envoltória de Mohr, correspondentes aos
pares de tensões de rutura, que ocorrem nos planos α (variável, de acordo com o nível de
tensão σ). Nesses pontos a coordenada se iguala a r = tensão de resistência interna do
material ou resistência ao cisalhamento do material.
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Envoltória de Mohr:
“Curva geométrica definidora da resistência de um solo, considerando as várias
particularidades do solo ensaiado”.

Dentro desse enfoque a envoltória de Mohr varia de material para material,


possuindo ela as seguintes propriedades:
− É simétrica em relação ao eixo–;
− É aberta para o lado dos  positivos (tensões de compressão) e fechadas do lado
dos  negativos (tensão de tração);
− Sua inclinação sobre o eixo– diminui à medida que  cresce, tendendo a tornar-se
paralela tanto mais elástico e flexível for o material.

A teoria do critério de rutura de Mohr, sendo baseada, quase inteiramente na


experimentação é a mais satisfatória, como teoria básica, para aplicações em solos,
cujo caráter, heterogêneo de ocorrência é profundamente aleatório, requer, obrigatória
ligação com a experiência prática.

4.6 – Teoria de Coulomb

Esta teoria se desenvolveu para análise das forças internas de resistência nos
maciços pulverulentos (granulares).

Partindo-se da teoria do plano inclinado, da física, observa-se:

“Na superfície de contato entre o plano inclinado e o corpo de peso P temos o


desenvolvimento da força de atrito de contato Fa de mesma direção e sentido contrário a
T”, como mostra a Figura 4.18. O plano pode se movimentar fazendo-se variar o ângulo.

Figura 4.18 – Forças geradas em um plano inclinado, sob um corpo de peso P

No momento em que o ângulo deixa de ser zero o peso do corpo P deixa de agir
integralmente sobre o plano horizontal, passando a agir duas componentes:

N = tensão normal principal maior, agindo em valor absoluto sobre o plano principal
maior, no caso o horizontal;
T = componente tangencial no plano, que tende a fazer o corpo deslizar, sobre o plano,
por anteposição a força Fa;
Fa = Força de atrito. Quanto mais ásperas forem a superfícies de contato, maior será
(Fa) e quando mais lisa e/ou lubrificada menor será.
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Condições resultantes da inclinação do plano:

 = 0  P é normal ao plano, N = P e T = 0. Nesse caso, o equilíbrio é estável sem


possibilidade de ocorrência da componente tangencial no plano;
  0  P se decompõe em N e T, mas, devido T < Fa, o corpo permanece estável ( <
), sem possibilidade de deslocamento;
Sendo  = ângulo de atrito de contato entre as superfícies
  0  Continuando a aumentar , chega-se a um ponto em que  =  e T se iguala a
Fa. Nesse caso, T = Fa e o ângulo  é denominado ângulo de atrito entre as
duas superfícies. O equilíbrio é incipiente, isto é, qualquer infinitésimo de
variação de  o equilíbrio variará para instável ou estável. Como se igualou
ao ângulo de atrito entre as superfícies em contato e passa a ser denominado
ângulo de atrito interno do material.
  0  Quando ultrapassa o valor de  ( >  no plano), a componente tangencial T
ultrapassará o valor de Fa, T > Fa no plano, e o corpo escorrega sobre o plano.

Para o cálculo do valor da componente tangencial no plano, pode-se correlacionar


com a componente normal (T/N), obtendo:
T = P.sen  T sen
 = = tg  T = N.tg
N = P.cos  N cos 
Equação do atrito

Isto é, a componente tangencial é o resultado do produto da componente normal N


pela tangente do ângulo  (coeficiente angular).
Quando  = , temos tg  igual ao coeficiente de atrito entre as duas superfícies,
então tg  = f(ângulo de atrito interno entre essas duas superfícies), podendo ser escrito:
T1 = N1.tg 

T1, no caso, corresponde à resistência de atrito entre as duas superfícies e será


sempre calculada em função da componente normal (neste caso N1) ao plano de
escorregamento. T1 corresponderá ao valor da resistência limite ao escorregamento.

Análise do Fenômeno nos Solos

* No caso de maciços pulverulentos, em que se considera uma quantidade granular


(agregado, como exemplo, areia seca), a única força de resistência interna será o atrito
de contato grão a grão. Portanto, só haverá força interna de atrito. Logo, o fenômeno será
idêntico à análise da física feita no plano inclinado.
Assim, suponha que se tenha sobre uma mesa um monte de areia seca (Figura
4.19). Essa areia estará em repouso (equilíbrio-estável) quando limitada por um ângulo de
inclinação  =  = ângulo de atrito interno do material granular – mesa I. A mesma massa
de areia é representada na mesa II, agora contida por anteparos que retém a massa instável
que, anteriormente caiu por não ter o que a contivesse. Pode-se afirmar que a cunha
instável é limitada em relação à massa estável por um plano, acima do qual as forças
internas de resistência estão suplantadas pelas componentes tangenciais geradas. Nesse
caso, chama-se esse plano de plano de escorregamento (limite que perde o equilíbrio).

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Caixa móvel que serve de


anteparo à massa de areia
seca.

Figura 4.19 – Experiência de areia sobre mesa, para avaliação de sua estabilidade

Observa-se que o anteparo deverá ser dimensionado para resistir ao movimento da


cunha instável, pressão (E=empuxo) que o solo faz sobre o paramento vertical de
contenção, como será visto no Capítulo 06.
Por analogia da Física podemos escrever:

 =  tg  = R (no plano de rutura)


Sendo:
 = componente tangencial no plano;
 = componente normal ao plano;
tg = coeficiente de atrito interno do material (coeficiente angular da reta);
R = tensão interna de resistência ao cisalhamento do material. Tem mesma direção e
sentido contrário à , agindo, ambos no plano de rutura.
(desenvolvida nos agregados secos que ocorrem na massa)

O atrito desenvolvido em agregados secos é aquele que ocorre pelo contato grão a
grão. Graficamente, temos para a envoltoria de equilíbrio limite, corresponde à resistência
ao cisalhamento do solo, o mostrado na Figura 4.20.

Figura 4.20 – Envoltória de resistência para solo granular

* No caso de maciços de solos que possuam também ligantes (fração fina, como
por exemplo, argila) com desenvolvimento de coesão (ligação dos grãos por atração físico-
química, contribuindo na de resistência ao cisalhamento) haverá um aumento de R devido
a esse acréscimo de resistência interna, tensão de tração, que será representada por “c”,
assim a nova equação ficará:

 = c +  tg 

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Essa é a equação de Coulomb que traduz a resistência interna dos solos: dado pelo
somatório da resistência por atrito de contato grão a grão, devida aos agregados e a
resistência por ligação (atração físico-química por carga elétrica) devida aos “ligantes”
(coesão).
A coesão é um fenômeno físico diferente do atrito de contato grão a grão, mas de
comportamento idêntico ao atrito interno, pois impede o cisalhamento das partículas por
ligação que lhe dão resistência a tração (partícula a partícula). Graficamente, temos a
envoltória de equilíbrio limite como apresentada na Figura 4.21.

Figura 4.21 – Envoltória a de resistência para um solo com fração granular e com finos

i é a tensão inicial de tração que gera na equação o valor de c. Ambas as tensões


de compressão e de tração agem normais ao plano. Pelo próprio gráfico, temos:
c = i tg 
Logo, a equação de Coulomb ficará:
 = i tg  +  tg , então:  = f () ... resistência crescente com a tensão normal

Pinto (2006) destaca existir uma diferença entre as forças transmitidas nos contatos
entre os grãos de areias e os grãos de argila (Figura 4.22). Nos contatos entre grãos de
areia, geralmente as forças transmitidas são suficientemente grandes para expulsar a água
da superfície, de tal forma que os contatos ocorrem realmente entre os dois minerais. No
caso de argilas, o número de particulas é muitíssimo maior, sendo a força transmitida num
único contato, extremamente reduzida. De outra parte, as partículas de argila são
envolvidas por moléculas de água quimicamente adsorvidas a elas. As forças de contato
não são suficientes para remover estas moléculas de água, e são elas as responsáveis pela
transmissão das forças.

Figura 4.22 – Análise comparativa dos contatos entre os grãos de areia e os grãos de argila.
PINTO (2006)
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Para os possíveis tipos de ocorrências de solos temos as envoltórias apresentadas


na Figura 4.23.

Só Agregado Só “Ligante” Agregado e “Ligante”


(fração granular) (fração fina) areno-argiloso ou
“arenoso” “argiloso” argilo-arenoso

Figura 4.23 – Envoltórias de resistência para diferentes solos

Conclusão importante: a ocorrência da parcela interna de resistência à coesão


“c” dará como decorrência a possibilidade de se ter um ângulo  do plano de rutura
maior que  (atrito interno só dos agregados).

Assim, a massa estável representada na Figura 4.19 (“areia sobre mesa”) terá outra
conformação se o solo apresentar agora fração arenosa e argilosa (material granular e
finos), podendo ter até um ângulo de 90o sem necessidade de anteparo. No desenho
apresentado na Figura 4.24 tem-se representado esta nova situação.

Neste caso temos:


Figura 4.19 – Forças geradas em u  = ângulo do plano de
escorregamento;
 = ângulo de atrito interno (do
agregado componente do solo)

Figura 4.24 – Experiência de solo com areia e argila sobre mesa, para avaliação de sua estabilidade

Esta condição estará logicamente condicionada à capacidade da fração fina


(“ligante”) desenvolver força de coesão o que, condicionará o ganho de resistência do solo.

A proporção agregados/”finos” é um fator importante a ser considerado na


resistência de um solo. No caso de termos uma proporção grande de “finos” e pouco
agregados, e, por exemplo, os “finos” perderem eventualmente sua resistência (por entrada
de água na massa, por exemplo) o agregado passará a atuar de forma mais significativa.
Resistência de solos é dependente das parcelas de coesão e atrito, conjuntamente.
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4.7 - Critério de ruptura Mohr–Coulomb

Critérios de ruptura
O estudo da resistência ao cisalhamento dos solos consiste na análise do estado de
tensões que provoca a ruptura. Como visto, os critérios de ruptura que melhor representam
o comportamento do “material” solo são os critérios de Mohr e de Coulomb.

Em resumo, Pinto (2006) descreve:


O critério de Mohr pode ser expresso como: “não há ruptura enquanto o círculo
representativo do estado de tensões se encontrar no interior de uma curva, que é a
envoltória dos círculos relativos a estados de ruptura, observados experimentalmente para
o material”. A Figura 4.26 (b) representa a envoltória de Mohr, o círculo B representativo
de um estado de tensões em que não há ruptura, e o círculo A, tangente à envoltória,
indicativo de um estado de tensões de ruptura (iminência).
O critério de Coulomb pode ser expresso como: “não há ruptura se a tensão de
cisalhamento não ultrapassar um valor dado pela expressão c + f.σ, sendo c e f constantes
do material e σ a tensão normal existente no plano de cisalhamento”. Os parâmetros c e f
são denominados, respectivamente, coesão e coeficiente de atrito interno, podendo este ser
expresso como a tangente de um ângulo, denominado ângulo de atrito interno. A Figura
4.26 (a) representa a envoltória de Coulomb.

Figura 4.26 – Representação dos critérios de ruptura: (a) de Coulomb; e (b) de Mohr
(PINTO, 2006)

Critério de ruptura Mohr-Coulomb


Considerando-se o critério de ruptura de Mohr e de Coulomb, verifica-se que os
comportamentos físicos são semelhantes para as duas linhas de limitação de resistência e
sua equação. Isto é, no critério de ruptura de Mohr temos a envoltória, linha que define o
esforço limite de rutura, de equação τ = f(α) – curva e na teoria de Coulomb, temos a linha
que limita a resistência da estrutura dos solos, de equação, também, τ = f(α) – mas reta.
Ora, se ambas tem a mesma forma matemática, podemos assimilá-las, isto é,
particularizar, para o caso dos solos, a envoltória de Mohr como se fosse uma reta.

Fazendo-se uma reta como a envoltória de Mohr (Figura 4.27), seu critério de
resistência fica análogo ao de Coulomb, justificando a expressão critério de Mohr-
Coulomb, costumeiramente empregada em Mecânica dos Solos. Algum erro pode decorrer
dessa assimilação, mas, a prática tem demonstrado que os resultados são perfeitamente
compatíveis com os valores requeridos.
O critério de rutura Mohr-Coulomb tem como premissa básica a afirmativa de que
“nos solos, a envoltória dos círculos de Mohr, correspondentes a ruptura, é uma reta
de equação  r = c +  tg ”.
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Figura 4.27 – Representação do critério de ruptura Mohr-Coulomb (CHÁCARA, 2017)

Envoltórias curvas são de difícil aplicação. Por esta razão, as envoltórias de Mohr
são frequentemente substituídas por retas que melhor se ajustam à envoltória.
Naturalmente, várias opções de retas podem ser adotadas devendo a escolha levar em
consideração o nível de tensões do projeto em análise (como por exemplo, na Figura 4.28)
ou até mesmo adotar uma reta “média”, correspondente às tensões adotadas previamente
para os corpos de prova ensaiados.
Definida uma reta, naturalmente seu coeficiente linear, c, não tem mais o sentido de
coesão, que seria a parcela de resistência independente da existência de tensão normal. Ele
é tão somente um coeficiente da equação que expressa à resistência em função da tensão
normal, razão pela qual é referido como intercepto de coesão.

Figura 4.28 – Representação da envoltória de Mohr-Coulomb para determinado nível de tensão

Observa-se que com essa assimilação de “reta”, tem-se condição de traçar a


envoltória, correspondente a determinado solo, com o traçado de dois círculos, mas, pela
própria teoria dos erros adotam-se no mínimo três círculos, interpolando-se, graficamente
a envoltória tangente aos mesmos, como ressaltado.

Condição Analítica da Rutura


De acordo com o critério de Mohr-Coulomb, quando a tensão de cisalhamento,
expressa pela reta de Coulomb  = c + tg , se iguala a resistência ao cisalhamento  r ,
em determinado ponto ao longo da superfície de ruptura, o maciço se romperá. O círculo
correspondente ao estado de tensões do ponto será tangente à reta de Coulomb e o solo
estará no estado incipiente de equilíbrio, isto é, no estado plástico em que, qualquer
deformação, uma vez cessado o esforço, permanece, sem retorno a posição original.
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Se a condição de equilíbrio incipiente ocorre, ela existe em todos os pontos ao


longo do plano de rutura e diz-se que a massa de solo está no Estado de Equilíbrio
Plástico.
Os critérios de ruptura demonstram ser a tensão normal no plano da ruptura
(cisalhamento) muito importante. Observa-se neste problema de cisalhamento que o círculo
de Mohr não tangencia a envoltória no ponto de máxima cisalhante (α=450).
A pergunta então que se coloca é: em que plano “α” se dá a ruptura ?

Baseado no critério de rutura Mohr-Coulomb é apresentado nas Figuras 4.29 e 4.30


a análise do estado de tensões no plano de ruptura, respectivamente para um solo sem coesão e
com coesão. No traçado das figuras tem-se um círculo tangente a linha de ruptura e todos
os elementos indicados métricos e trigonométricos para demonstração nas análises a serem
realizadas.

Figura 4.29 – Análise do estado de tensões no plano de ruptura: solo sem coesão

Figura 4.30 – Análise do estado de tensões no plano de ruptura: solo com coesão

Componentes principais da Figura:


 i = tensão inicial de tração normal ao plano de escorregamento;
  = tensão de compressão normal ao plano de escorregamento;
  = tensão tangencial (de rutura) ao plano de escorregamento;
 = ângulo do plano de ruptura com plano principal maior;
r= raio do círculo;
 = ângulo de atrito interno do solo;
tg = coeficiente de atrito interno do solo;
1 e  3 = tensões principais de ruptura, atuantes no ponto considerado;
c =  i tg = coesão do solo (devido ao “ligante” - presença da fração argila);
  tg = atrito interno do solo (devido ao agregado - presença da fração areia);
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Expressão de Cálculo do Ângulo :


Pela propriedade do círculo de Mohr o ângulo interno feito como o raio de T é 2
conforme pode-se ver nas Figuras 4.29 e 4.30, portanto:
2 = 90+

 = 45+
2

Dedução da Equação Analítica da Ruptura:


Pela figura: ND = NC + CD
NB = NC − CB mas, CD = CB = CT = r

Dividindo-se membro a membro, temos:


ND NC + CD ND NC + CT
= ou =
NB NC − CB NB NC − CT

Dividindo-se numerador e denominador por NC , temos:


NC CT
+
ND NC NC 1 + sen  sen 90+ sen 
= = =
NB NC CT 1 − sen  sen 90− sen 

NC NC

Da figura tiramos: ND =  i + 1 e NB =  i +  3
 +  1 sen 90+ sen 
Substituindo: i =
 i +  3 sen 90− sen 
a+b
tg
sen a + sen b 2
Pela trigonometria: =
sen a − sen b a−b
tg
2
90+
tg
 i + 1 2 = tg 2 90+ = tg 2  45+   = N
ou podemos escrever: =   
i + 3 90− 2  2
tg
2
N  = Chamado por Terzaghi de número de fluência

 i + 1
A equação ficará: = N ou  i + 1 = N  ( i +  3 )
i + 3
1 = N   i + N   3 −  i
c
1 = N   3 + ( N − 1) i mas,  i =
tg
N − 1
 1 =  3 N + c
tg

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N − 1
Demonstra-se que = 2 N
tg

Finalmente, temos 1 =  3N  + 2c N  EQUAÇÃO ANALÍTICA


DA RUPTURA

A equação analítica de rutura relaciona as tensões principais com os parâmetros


de resistência. A partir desta equação pode-se calcular uma das tensões principais (σ1 ou
σ3) quando se tem a outra, conhecidos os parâmetros de resistência (c e ), e vice-versa.

4.8 – Exercícios de Aplicação

1 – Considere um ponto em uma massa de solo na condição horizontal, a uma


profundidade de 3,0m, sendo este solo com peso específico de 18 kN/m2 e relação entre
tensões horizontal e vertical (K) igual a 0,5.
Calcule analiticamente as componentes de tensões em um plano inclinado de: 300, 450 e
600.

Resolução:
Sendo o solo na condição horizontal: σv = σ1 e σh = σ3
σv = γ . h = 18 . 3 = 54 kPa
σh = K . σv = 0,5 . 54 = 27 kPa

Obtêm-se as tensões em um plano α a partir das equações abaixo:


 +  3 1 −  3  − 3
 = 1 + cos 2 e   = 1 sen 2
2 2 2
Para 300 temos:
54 + 27 54 − 27
 = + cos 2 . 30 = 47,25 kPa
2 2
54 − 27
 = sen 2 . 30 = 11,69 kPa
2
Para 450 temos:
54 + 27 54 − 27
 = + cos 2 . 45 = 40,50 kPa
2 2
54 − 27
 = sen 2 . 45 = 13,50 kPa
2
Para 600 temos:
54 + 27 54 − 27
 = + cos 2 . 60 = 33,75 kPa
2 2
54 − 27
 = sen 2 . 60 = 11,69 kPa
2
Observe que as tensões normais estão no intervalo da maior (54) e a menor (27), como
não poderia deixar de ser. Quanto às tensões cisalhantes, houve um aumento com o
ângulo α até certo valor de máximo.
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2 – Considere que a parede da Figura 4.31 (notícia de site) sofreu uma alteração no seu
estado de tensões, devido a um recalque diferencial entre dois pilares de sua sustentação, e
que esta está submetida a um estado plano de deformações, sob tensões atuantes apenas
neste plano (estado bidimensional de tensões).
Mostre qual o ângulo esperado para a ruptura da mesma. E no caso dos solos, quando
submetido a tensões que levam sua ruptura, o ângulo esperado será o mesmo ? Demostre
sua resposta.

Figura 4.31 – Aspecto de trincas em parede após ruptura por alteração no seu estado de tensões
(UOL, 18/06/2015)

Resolução:
Para a parede
Havendo ruptura no plano, o mesmo está submetido a tensões principais na ruptura.
Este cálculo pode ser feito a partir das equações de  e  definidores do estado de tensões
em um ponto, quando agem no mesmo, as tensões principais 1 e 3.
No caso, o problema consistirá, então, em se calcular a tensão tangencial ou cisalhante 
máxima, em função das tensões agentes 1 e 3.
 − 3
Sendo   = 1 sen 2 , o valor máximo da expressão ocorrerá em 2α = 900.
2
Então α = 450 (como sugere a foto da figura)

Para o solo
Havendo ruptura no solo, e considerando que o mesmo se encontra em um estado triaxial
de tensões (sistema tri-dimensional de tensões, representado por 1, 2 e 3), o círculo de
Mohr tangencia a envoltória de resistência (obtido em ensaios com tensões nos 3 eixos).
Observe que mesmo sendo σ2 = σ3, esta componente não deixa de existir no caso de solos.
Então, pode-se concluir pelo desenho genérico de um círculo de Mohr e pela envoltória de
Mohr-Coulomb abaixo, que:

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ESTADO DE TENSÕES E DE EQUILÍBRIO DOS SOLOS


2 = 90 +  e  = 45 +
2
Então, na ruptura, α > 450 e pode ser calculado a partir do ângulo de atrito do solo.

3 – Considere a realização de três ensaios de ruptura com tensões de confinamento


“arbitradas” (no nível de tensão do problema - obra) iguais a 100, 200 e 600 kPa, cujas
tensões medidas na ruptura para os corpos de prova são apresentadas na Tabela 4.2.
Pede-se traçar a envoltória de resistência de Mohr-Coulomb em termos de tensões
efetivas e obter os parâmetros de resistência do solo.

Tabela 4.2: Informações dos corpos de prova ensaiados, na condição da ruptura

Resolução:
Como foi solicitada a envoltória em termos de tensões efetivas, calcula-se inicialmente
estes valores subtraindo das tensões totais os valores de pressão neutra geradas no
momento da ruptura e traça-se os respectivos círculos de Mohr, fazendo a melhor
aproximação da envoltória aos círculos:

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ESTADO DE TENSÕES E DE EQUILÍBRIO DOS SOLOS

4 – Para a envoltória obtida no exercício anterior, obter:


a) O ângulo aproximado para o plano de ruptura dos corpos de prova (CPs)
b) A relação matemática entre as tensões principais maiores

Resolução:

a) O ângulo α na ruptura pode ser calculado em função do ângulo de atrito. Então:


Se  = 23
º

 23
 = 45 + = 45 +
2 2
α = 56,50

b) A equação analítica de rutura relaciona as tensões principais com os parâmetros de


resistência. Então:
1 =  3N  + 2c N 
 
N = tg 2  45 + 
 2
N = tg ( )
2

N = tg 2 (56,5)
N = 2,3

Logo,  1 = 2,3  3 + 2 . 28 . 2,3 = σ1 = 2,3 σ3 + 84,9 (kPa)

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Capítulo 5 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Como visto neste curso, carregamentos externos aplicados na superfície, ou mesmo


a própria geometria da superfície da massa de solo, contribui para o desenvolvimento de
tensões tangenciais ou de cisalhamento, que podem chegar a valores próximos da máxima
tensão cisalhante que o solo suporte, podendo ocasionar a ruptura do material.
O problema da determinação da resistência aos esforços cisalhantes nos solos
constitui um dos pontos fundamentais de toda a Mecânica dos Solos. Uma avaliação
correta deste conceito é um passo indispensável para qualquer análise da estabilidade das
obras civis.

Define-se como resistência ao cisalhamento do solo a tensão cisalhante que ocorre


no plano de ruptura no instante da ruptura. A Figura 5.1 mostra um exemplo de ruptura de
uma massa de solo de uma encosta.

Figura 5.1 – Ruptura de massa de solo e sua movimentação sobre uma estrada

Gerscovich (2010) ressalta que “a ruptura em si é caracterizada pela formação de


uma superfície de cisalhamento contínua na massa de solo. Existe, portanto, uma camada
de solo em torno da superfície de cisalhamento que perde suas características durante o
processo de ruptura, formando assim a zona cisalhada, conforme mostrado na Figura 5.2.
Inicialmente há a formação da zona cisalhada e, em seguida, desenvolve-se a superfície de
cisalhamento”.

Figura 5.2 – Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento (LEROUEIL, 2001)
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

5.1 – Considerações preliminares sobre resistência ao cisalhamento

A capacidade dos solos em suportar cargas, depende de sua resistência ao


cisalhamento, isto é, da tensão  r que é a máxima tensão que pode atuar no solo sem que
haja ruptura. Terzaghi (conhecido como o “pai” da Mecânica dos Solos) conseguiu
conceituar essa resistência como conseqüência imediata da pressão normal ao plano de
ruptura correspondente a pressão grão a grão ou pressão efetiva. Isto é, anteriormente
considerava-se a pressão total o que não correspondia ao real fenômeno de
desenvolvimento de resistência interna, mas, na nova conceituação, amplamente
constatada, conclui-se que somente as pressões efetivas mobilizam resistência ao
cisalhamento, (por atrito de contato grão a grão) donde se escreve:

 'r = c +  ,tg = c + ( − u ) tg

Hvorslev, ao analisar argilas saturadas, concluiu que nessa situação a coesão é


função essencial do seu teor de umidade, donde se escreve:

c = f ( h)

Logo tem-se para a máxima tensão de cisalhamento (poderá ser representado


simplesmente por r, sem o “apóstrofo”, por força de hábito, mas se tratando sempre tensão
efetiva):
 'r = f (h) + ( − u ) tg

Em outras palavras, a expressão acima traduz a situação já afirmada de que os


parâmetros c e  não são características simples dos materiais, mas, dependem,
essencialmente, das condições de ocorrência/utilização dos materiais. Como as condições
de utilização são variáveis, partiu-se para sofisticar os ensaios de laboratório na tentativa
de criar as situações de ocorrência/utilização, procurando considerar o fato de a amostra ter
sido retirada do todo e, logicamente perdendo algumas características originais de
comportamento ao natural.

Da expressão matemática temos:


c = f ( h) =  i tg tensão interna de resistência por atrito fictício ou proveniente do
entrosamento de suas partículas traduzida pela força de coesão (que
pode ser verdadeira ou aparente - em areias). Depende da ocorrência
de água nos vazios e suas condições de arrumação estrutural. Em
engenharia, só consideramos válida a coesão verdadeira.
( − u) tg tensão interna de resistência por atrito de contato grão a grão.
Dependente da arrumação estrutural (maior ou menor contato grão a
grão) e da ocorrência da pressão neutra que refletirá diretamente no
valor de σ’.

Os parâmetros c e , definidores da resistência interna ao cisalhamento dos solos


terão que ser determinados, na maioria dos casos, em laboratório nas condições mais
desfavoráveis previstas para o período de utilização de cada projeto específico.
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

5.2 - Ensaios de resistência ao cisalhamento

5.2.1 - Ensaios de Campo

Como a retirada de amostras indeformadas implica, apesar de todos os cuidados e


expedientes sofisticados, numa possível deformação da amostra, procura-se, mais
modernamente executar ensaios “in situ” capazes de traduzir as reais características de
resistências das camadas de solos. Dentre os ensaios “in situ” mais empregados no Brasil
para determinação de parâmetros de resistência ao cisalhamento e de deformabilidade no
campo destacam-se o:

• Ensaio de palheta ou "Vane Shear Test";


• Ensaio de penetração estática do cone (CPT) ou "Deep sounding";
• Ensaio pressiométrico (câmara de pressão no furo de sondagem).

Os ensaios de CPT e “Vane Test” têm por objetivo a determinação da resistência ao


cisalhamento do solo, enquanto o ensaio “Pressiométrico” visa obter uma espécie de curva
de tensão-deformação para o solo investigado, conforme pode ser resumido na Tabela 5.1.

Neste contexto de estudo da resistência dos solos, ressalta-se que o ensaio de campo
“SPT – Standard Penetration Test”, muito difundido e utilizado no país, não determina
diretamente os parâmetros de resistência de um solo (obtém o número de golpes para
perfurar determinado comprimento no furo – “30 cm” finais a cada metro...).

Tabela 5.1 – Principais ensaios de campo disponíveis e suas características


Tipo de Ensaio Tipo de Solo Principais características
que podem ser determinadas
Melhor Não
aplicável aplicável
Avaliação qualitativa do estado de
1 - Ensaio Padronizado compacidade ou consistência.
de Penetração (SPT)* Granulares Comparação qualitativa da
estratigrafia do subsolo.
2 - Ensaio de Avaliação contínua da compacidade e
Penetração Estática do resistência de solos granulares.
Cone (CPT) Granulares Avaliação contínua de resistência não
drenada de solos argilosos.
3 - Ensaio de Palheta Coesivos Granulares Resistência não drenada de solos
argilosos.
4 - Ensaio Coeficiente de empuxo no repouso,
Pressiométrico Granulares compressibilidade e resistência ao
cisalhamento.
* Ensaio não determina “c” e/ou “φ”

Os ensaios de resistência ao cisalhamento executados no campo (“in situ”) são


estudados na parte prática do curso, sendo, contudo, apresentados aqui de forma
extremamente resumida.

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Ensaio de penetração estática do cone – CPT.


O ensaio de penetração estática do cone, também conhecido como Deep Sounding,
foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de estacas e está
normalizado pela ABNT através da norma NBR 3406.
O ensaio de CPT permite medidas quase contínuas da resistência de ponta e lateral
devido à cravação de um cone no solo, as quais, por relações permite identificar o tipo de
solo, destacando a uniformidade e continuidade das camadas. Permite, também, determinar
os parâmetros de resistência ao cisalhamento e a capacidade de carga dos materiais
investigados. Apresenta como desvantagens a não obtenção de amostras para inspeção
visual, a não penetração em camadas muito densas e com a presença de pedregulhos e
matacões, as quais podem tornar os resultados extremamente variáveis e causar problemas
operacionais como deflexão das hastes e deterioração na ponteira.
O equipamento para execução do ensaio CPT consta de um cone de aço, móvel,
com um ângulo no vértice de 600 e área transversal de 10 cm2.
O ensaio consiste em cravar o cone solidário a uma haste e medir o esforço
necessário à penetração. São feitas medidas de resistência de ponta e total (Figura 5.3).
Os dados permitem obter, ainda, boas indicações das propriedades do solo, ângulo
de atrito interno de areias, e coesão e consistência das argilas.

Figura 5.3 – Resultado de um ensaio de penetração do cone – CPT

Ensaio de palheta – “Vane test”.


O “Vane test” foi desenvolvido na Suécia, com o objetivo de medir a resistência ao
cisalhamento não drenada de solos coesivos moles saturados. Hoje o ensaio é normalizado
no Brasil pela ABNT através da norma NBR 10905.
O equipamento para realização do ensaio é constituído de uma palheta de aço,
formada por quatro aletas finas retangulares, hastes, tubos de revestimentos, mesa,
dispositivo de aplicação de um momento torçor e acessórios para medida do momento e
das deformações. O equipamento está apresentado na figura 5.4. O diâmetro e a altura da
palheta devem manter uma relação constante 1:2 e, sendo os diâmetros mais usuais de 55,

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

65, e 88mm. A medida do momento é feito através de anéis dinamométricos e vários tipos
de instrumentos com molas, capazes de registrar o momento máximo aplicado.
O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar
o solo, segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da
palheta, quando se aplica ao aparelho um movimento de rotação. A instalação da palheta
na cota de ensaio pode ser feita ou por cravação estática ou utilizando furos abertos a trado
e/ou por circulação de água. No caso de cravação estática, é necessário que não haja
camadas resistentes sobrejacentes à argila a ser ensaiada. Com a palheta na posição
desejada, deve-se girar a manivela a uma velocidade constante de 6º/min, fazendo-se as
leituras da deformação no anel dinamométrico de meio em meio minuto, até rapidamente,
com um mínimo de 10 rotações a fim de amolgar a argila e com isto, determinar a
sensibilidade da argila (resistência da argila indeformada/ resistência da argila amolgada).

Figura 5.4 – Equipamento para ensaio de palheta no campo e em tamanho reduzido para
laboratório, do Laboratório de Ensaios Especiais em Mecânica dos Solos da UFJF

No instante da ruptura o torque máximo (T) aplicado se iguala à resistência ao


cisalhamento da argila, representadas pelos momentos resistentes do topo e da base do
cilindro de ruptura e pelo momento resistente desenvolvido, ao longo de sua superfície
lateral, dado pela expressão:
T = ML + 2MB
Onde: T = torque máximo aplicado à palheta; ML=momento resistente
desenvolvido ao longo da superfície lateral de ruptura; MB=momento resistente
desenvolvido no topo e na base do cilindro de ruptura, dados por:
1
M L =  . D 2 . H . cu
2
 3
MB = D cu
12
Onde: D = diâmetro do cilindro de ruptura; H = altura do cilindro de ruptura; Su =
resistência não drenada da argila. Substituindo as duas últimas equações na anterior e
fazendo-se H = 2D, tem-se o valor da coesão não drenada da argila, expresso pela fórmula:

6 T
Su = .
7  D3

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Ensaio pressiométrico
Este ensaio é usado para determinação “in situ” principalmente do módulo de
elasticidade (e da resistência ao cisalhamento de solos e rochas), sendo desenvolvido na
França por Menard.
O ensaio pressiométrico consiste em efetuar uma prova de carga horizontal no
terreno, graças a uma sonda que se introduz por um furo de sondagem de mesmo diâmetro,
realizado previamente com grande cuidado para não modificar as características do solo.
O equipamento do ensaio, chamado pressiômetro, é constituído por três partes:
sonda, unidade de controle de medida pressão-volume e tubulações de conexão. A sonda
pressiométrica é constituída por uma célula central ou de medida e duas células extremas,
chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer um campo de tensões radiais em
torno da célula de medida.
Após a instalação da sonda na posição de ensaio, as células guardas são infladas
com gás carbônico, a uma pressão igual a da célula central. Na célula central é injetada
água sob pressão, com o objetivo de produzir uma pressão radial nas paredes do furo. Em
seguida, são feitas medidas de variação de volume em tempos padronizados (15, 30 e 60
segundos após a aplicação da pressão do estágio). O ensaio é finalizado quando o volume
de água injetada atingir 700 a 750 cm³.
Com a interpretação dos resultados de pares de valores (pressão x volume) obtidos
no ensaio, se determina o módulo pressiométrico, entre outros valores de pressão.

5.2.2 - Ensaios de laboratório

São diversos os tipos de ensaios de laboratório que buscam, com maior grau de
sofisticação, representar com fidelidade e exatidão as condições possíveis de ocorrências.
Dentre os principais ensaios de laboratório temos:
• Ensaio de Compressão Simples;
• Ensaio de Cisalhamento Direto;
• Ensaio de Compressão Triaxial;

Dependendo da importância da obra a realizar, das características dos solos e das


condições de ocorrência justifica-se a realização dos ensaios com a finalidade específica
de obter os parâmetros de resistência ao cisalhamento (“c” e “φ”).
Nos itens seguintes será apresentada uma descrição genérica-conceitual dos
ensaios, e uma análise sucinta referente à determinação de c e , deixando o detalhamento
da execução das operações dos ensaios para as aulas práticas, específicas do curso.

5.3 – Ensaio de compressão simples - uniaxial

Consiste em ensaiar corpos de provas em uma prensa aberta em que só se tem


condição de aplicar a pressão axial  1 , uma vez que, sendo a prensa aberta, não há
condição de aplicar pressões laterais, isto é,  3 = 0. Tem-se assim um só círculo de Mohr e
 =0. Logo sua aplicação em solos se limita a solos puramente coesivos.
Os resultados desses ensaios são extremamente limitados na sua interpretação e
utilização prática em geotecnia. Podem ser utilizados para identificar a consistência das
argilas e, quando ensaiadas em amostras naturais e amolgadas, permite determinar a
sensibilidade das argilas (relação natural/amolgado).
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A Figura 5.5 ilustra a realização do ensaio de compressão simples - aplicação de


carga em apenas um eixo – uniaxial, logo após o termino do rompimento do corpo de
prova (“CP”), onde se vê o mesmo já rompido – “cisalhado” (quando resultou em tensão
cisalhante máxima). O CP foi deixado na prensa até a ocorrência de uma deformação
excessiva (plano de ruptura ficou visível).

Figura 5.5 – Ensaio de compressão simples: amostra após ruptura

A velocidade de aplicação da carga na prensa é controlada e padronizada.


Como no ensaio não se tem condição de aplicar 3, mesmo realizando no mínimo
três ensaios para definir sua resistência, esperam-se valores aproximados para o mesmo
material, ensaiados nas mesmas condições.
Isto resulta no traçado de um só círculo (Figura 5.6), e a direção do traçado da linha
de envoltória de resistência será a horizontal (linha que tangencia “todos os círculos”).

P = Carga na ruptura medida na prensa


A = Área do corpo de prova (conhecida)

Figura 5.6 – Envoltória de resistência de ensaio de compressão simples

Os parâmetros de resistência obtidos no ensaio são:


P 
1 = Sendo  = 0, temos para a “coesão”: 1 = 2c  c = 1 = r
A 2

Os dados da interpretação do ensaio podem ser vistos na Figura 5.7. Então conclui-
se que o ensaio só é aplicável em solos puramente coesivos, onde  = 0 .
Em função de seus resultados pode-se obter a sua classificação (Tabela 5.2) quanto
a sua consistência, em se tratando de ocorrência de solo argiloso (predominância de
“finos”), onde o valor “Rc” é dado como “resistência à compressão simples” do solo.
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Figura 5.7 – Interpretação do ensaio de compressão simples

Tabela 5.2 – Faixa de resistência à compressão simples, função da consistência das argilas
Argilas Faixa valor Rc Obs:
Muito mole Rc < 2,5 t/m2 (25 kPa) 1 kPa = 1 kN/m2
Mole 2,5 < Rc < 5,0 t/m2 1 t/m2 = 10 kPa
Média 5,0 < Rc < 10,0 t/m2 1 kg/cm2 = 10 t/m2
Rija 10,0 < Rc < 20,0 t/m2 1 kg/cm2 = 100 kPa
Muito rija 20,0 < Rc < 40,0 t/m2 1 t/m2 = 0,1 kg/cm2
Dura Rc > 40,0 t/m2 (400 kPa)

Em face da limitação deste ensaio tem-se dois outros tipos de ensaios


costumeiramente empregados para a determinação da resistência ao cisalhamento dos
solos: o ensaio de cisalhamento direto e o ensaio de compressão triaxial.

5.4 – Ensaio de cisalhamento direto

O ensaio de cisalhamento direto é o mais antigo procedimento para a determinação


da resistência ao cisalhamento e se baseia diretamente no critério de Mohr-Coulomb.
No ensaio, a amostra (corpo de prova) de solo a ser ensaiada é colocada em uma
caixa bipartida – metade de sua altura fica na parte inferior da caixa e a outra metade fica
na parte superior. Esta caixa bipartida será a responsável por permitir o deslocamento da
sua parte superior em relação a inferior, levando o solo à ruptura, que ocorrerá diretamente
no plano que ocorre entre as partes da caixa, ou seja, na sua “meia altura”.
O ensaio é realizado aplicando-se previamente uma tensão normal (s)
perpendicular ao plano principal da amostra (onde haverá a ruptura) e uma força T no
sentido paralelo ao plano de cisalhamento da amostra, o que implicará na atuação de uma
tensão cisalhante (t), que será responsável pela ruptura, como mostra a Figura 5.8.

Figura 5.8 – Ensaio de cisalhamento direto: tensões atuantes e amostra após ruptura
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

A força vertical N, aplicada inicialmente na amostra é definida a partir do nível de


tensões esperado para o solo em serviço, nível de tensão que vai atuar no campo ou em
caso de uma obra. Portanto, este valor é adotado. Já a força tangencial T é aplicada ao anel
que contém a parte superior do corpo de prova, provocando seu deslocamento, por ação do
equipamento que uma vez ligado irá movimentar-se segundo uma velocidade constante
(valores baixos), fazendo aumentar a força T atuante no plano do solo. Faz-se necessário
então, medir a evolução da força suportada pelo solo, ao longo do ensaio.

As imagens apresentadas na Figura 5.9 mostram: (a) a moldagem de um CP (corpo


de prova - seção quadrada) para ser ensaiado, (b) o equipamento de cisalhamento direto do
Laboratório de Ensaios Especiais em Mecânica dos Solos (LaEsp) da UFJF e (c) a caixa de
cisalhamento da amostra, em detalhe.

(a)

(b) (c)
Figura 5.9 – (a) Detalhe de um CP sendo talhado em um bloco de amostra indeformado,
(b) Aspecto do equipamento durante a realização de um ensaio, (c) Detalhe da caixa de
cisalhamento com o extensômetro para medição da deformação vertical do CP.

As forças T e N, divididas pela área da seção transversal do corpo de prova,


indicam as tensões  e  que nele estão ocorrendo. A tensão  pode ser representada em
função do deslocamento no sentido do cisalhamento, como se mostra na Figura 5.10, onde
se identificam a tensão de ruptura, max, de pico, e a tensão residual, que o corpo de prova
ainda sustenta, após ultrapassada a situação de ruptura, res.
O deslocamento vertical durante o ensaio também é registrado, indicando se houve
diminuição ou aumento de volume durante o cisalhamento.
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Figura 5.10 – Comportamento tensão x deslocamento (horizontal) e de deslocamento vertical

Ao aplicar a tensão normal sobre o corpo de prova espera-se uma deformação


vertical no sentido de haver uma diminuição da sua altura. Como pode ser observado,
contudo, durante o cisalhamento o sentido do deslocamento vertical do corpo de prova
pode se inverter até que a tensão cisalhante se estabilize num valor aproximadamente
constante (residual). Observa-se também que neste ensaio é possível provocar um
deslocamento relativo (horizontal) de uma parte do solo sobre a outra muito maior do que
se pode atingir em ensaios de compressão triaxial.

Realizando ensaios com diversas tensões normais, em no mínimo três corpos de


prova, pode-se obter a envoltória de resistência ao cisalhamento do solo plotando
diretamente em um gráfico cartesiano “ x ” os pontos referentes às respectivas tensões 
(adotadas) e  (medidas), que serão posteriormente interpolados graficamente por uma
reta, a fim de definir a envoltória de Morh-Coulomb pretendida. (Figura 5.11).

Figura 5.11 – Interpolação dos pontos de ruptura para obtenção da envoltória de Mohr-Coulomb

Cisalhamento direto: ensaio x controle da drenagem

Este ensaio é muito prático, porém, não permite a determinação de parâmetros de


deformabilidade do solo e a obtenção dos valores da pressão neutra durante a realização
do ensaio. O controle das condições de drenagem é difícil no ensaio, pois não há como
impedi-la.
Na Figura 5.12 observa-se o esquema do equipamento com a amostra em condição
de ensaio. Nota-se que ele pode ser executado com drenagem, pela presença de pedras
porosas (parte superior e inferior), ou sem drenagem, com a ressalva de que é impossível
impermeabilizar totalmente o sistema. As saídas de drenagens são para melhorar o
processo da garantia desse expediente e não para medir a pressão neutra, pois, isso não será
possível no ensaio de cisalhamento direto.
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Figura 5.12 – Esquema do ensaio de cisalhamento direto: drenagem da amostra

Ensaios em areias são feitos sempre de forma a que as pressões neutras se


dissipem, e os resultados são considerados em termos de tensões efetivas. No caso de
argilas, pode-se realizar ensaios drenados, que são lentos, ou não drenados. Neste caso, os
carregamentos devem ser muito rápidos, para impossibilitar a saída de água.

Pelas suas restrições, o ensaio de cisalhamento direto é considerado menos


interessante que o ensaio de compressão triaxial. Entretanto, pela sua simplicidade, ele é
muito útil quando se deseja medir simplesmente a resistência, e, principalmente, quando se
deseja conhecer a resistência residual.
Durante muitos anos o ensaio de cisalhamento direto foi praticamente o único para
determinação da resistência dos solos devido a sua simplicidade. A necessidade de
maiores sofisticações para representar as ocorrências de campo, tem sido em muitos
casos, substituída pelos ensaios de compressão triaxial.

Comportamento Tensão x Deformação dos Solos

As curvas de ruptura (tensão x deformação) típicas obtidas nos ensaios de resistência


têm uma das formas mostradas na Figura 5.13.
Na ruptura frágil depois de atingir a R, a resistência cai acentuadamente ao se
aumentar a deformação. Obtem-se para o valor máximo o que se denomina de resistência
de “pico”. Na ruptura plástica o esforço máximo é mantido com a continuidade da
deformação. Pode-se obter assim a chamada resistência “residual”.
A ruptura “Frágil” é típica de ocorrência em argilas rijas e duras ou areias
compactas enquanto que a ruptura “Plástica” é típica de ocorrência em argilas moles ou
médias ou areias fofas ou pouco compactas.

Figura 5.13 – Aspecto das curvas tensão x deformação dos solos


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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

A Figura 5.14 apresenta, como 100


v (kPa)
exemplo, as curvas de quatro ensaios de 90
cisalhamento direto, para um mesmo 114

material, sob diferentes valores de 


80

70
(parte da planilha de ensaio do CP01, está

Tensão cisalhante -  (kPa)


apresentada na Tabela 5.3). Observa-se 60

que em se tratando de uma amostra de 50

argila, esta tem “baixa” consistência 40 42

(mole ou média), tendo em vista o 30


aspecto das curvas apresentadas. Nota-se 27

20
que o valor da resistência, valor de 17

máximo, não é “pronunciado” (não há 10

“pico”). 0
0 5 10 15
Os dados obtidos a partir dos

Deslocamento vertical (mm)


v (kPa)
quatro gráficos da Figura 5.14, 0,8
27
correspondentes às tensões no plano de 0,6
114
0,4
ruptura, permite determinar os pares de 42
0,2
tensão que, possibilitam o traçado da 17
0,0
envoltória de resistência do solo e a 0 5 10 15

obtenção dos parâmetros c e  (Figura Deslocamento horizontal (mm)

5.11). Figura 5.14 – Curvas tensão x deformação

A Tabela 5.3, em arquivo Excel, apresenta um resumo dos dados de um dos ensaios
de cisalhamento direto, com tensão normal  = 17,2 kPa (como se vê na 10a coluna),
sinalizado no gráfico como v =17) e de valores calculados ao longo da execução do
ensaio, para o posterior traçado da sua envoltória de resistência.

Tabela 5.3 – Trecho de planilha com dados e valores calculados de um ensaio de cisalhamento.
Planilha de Resultados Folha: 01 de 03
Leitura Leitura Anel de Desloc. Desloc. Área Força Tensão Tensão Índice
Extens. Extens. Carga Horiz. Vert. Corrig. Cisalh. Fcis/Fn Cisalh. Vert. de
Horiz. Vert. (mm) (mm) (cm²) (N) (kPa) (kPa) Vazios
0 1208,0 100,0 0,000 0,000 103,23 31,01 0,000 0,0 17,2 1,463
8 1207,8 114,0 0,175 0,000 103,05 66,83 0,376 6,5 17,2 1,463
10 1207,5 115,0 0,224 0,001 103,00 69,38 0,391 6,7 17,2 1,463
20 1204,2 118,0 0,472 0,008 102,75 77,06 0,434 7,5 17,3 1,463

Observa-se que nesse ensaio a área da seção crítica varia durante a aplicação do
esforço tangencial. Portanto, para sua real determinação deve-se ter um processo
continuado de sua correção.
Esse ensaio caracteriza claramente que a resistência ao cisalhamento dos solos é a
propriedade que os solos possuem de resistirem ao deslizamento de uma seção em relação
à outra contígua.

A Figura 5.15 ilustra resultados de ensaio de outro material, também como exemplo
para ilustração. Neste, são submetidos os corpos de prova a sete diferentes tensões
normais. Observam-se valores de resistência de “pico”, principalmente para os níveis
maiores de tensão.
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Figura 5.15 – Exemplo de curvas tensão x deformação de um solo submetido ao cisalhamento

O ensaio de cisalhamento direto só dá valores confiáveis para o caso de ruptura


plástica. Nesse caso, os esforços são iguais em toda seção de rompimento, enquanto na
ruptura frágil há diferenciação entre a periferia e o centro da amostra.

Fatores que influenciam os resultados dos ensaios

- Areias: compacidade, forma das partículas e distribuição granulométrica.


- Argilas: estado de adensamento do solo, sensibilidade de sua estrutura, condições
de drenagem e velocidade de aplicação das cargas e a ocorrência de pressão neutra.

Observações sobre pré-adensamento

Como visto, adensamento é a diminuição de volume do solo sob ação de uma


tensão. Sua ocorrência é maior nos solos argilosos, pois são compressíveis, e em menor
escala nos solos arenosos. A condição de pré-adensamento é a situação em que a camada
compressível tenha, em épocas geológicas anteriores, sofrido pressões muito maiores do
que as que suportam atualmente, isto é, a natureza adensou a camada.

- Uma estrutura de solo pré-adensado, implica em problemas na determinação de sua


resistência, pois, quando em processo de cisalhamento, o solo tende a se expandir
e, assim, estará sujeito a absorção de água que poderá gerar pressão neutra (u), e
logicamente, diminuir a pressão efetiva (’) e o valor de r. Se, por acaso não
houver possibilidade de absorção de água, sua tendência de expandir acarretará
aumento da resistência do solo. Assim, nas argilas pré-adensadas, havendo
possibilidade de drenagem, sua resistência será maior do que na situação em que
não seja possível esse expediente.
- Nas argilas normalmente adensadas, passa-se exatamente o contrário, ou seja:
Diminuem o volume quando solicitadas ao cisalhamento;
Apresentam pressão neutra positiva.
Tem-se, como decorrência, um aumento de σ’ (pressão efetiva) quando drenada,
uma vez que ocorrerá a dissipação da pressão neutra u .

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Tensões principais
A análise do estado de tensões durante o carregamento é bastante complexa no
ensaio de cisalhamento direto. O plano horizontal, antes da aplicação das tensões
cisalhantes, é o plano principal maior. Com a aplicação das forças cisalhantes, ocorre
rotação dos planos principais.
Uma das desvantagens deste ensaio é a impossibilidade de se conhecer os esforços
que atuam em planos diferentes daquele de ruptura, com um único ensaio. Somente depois
de traçada a envoltória será possível determinar o círculo de Mohr referente à condição
de equilíbrio incipiente e determinar as tensões principais associada, uma vez que o
círculo tangencia a linha de ruptura nesse ponto determinado (de tensão cisalhante), cujos
valores das tensões principais obtêm-se pelo traçado posterior, do correspondente círculo.

5.5 – Ensaio de compressão triaxial

Esses ensaios são os mais utilizados na atualidade, por sua condição de


aparelhagem. São mais refinadas, capazes de garantir uma impermeabilização total da
amostra, o controle absoluto da drenagem e a medição do valor da pressão neutra.

O Professor Carlos de Souza Pinto (PINTO, 2006) descreve muito bem o


procedimento básico do ensaio triaxial, a saber:
O ensaio de compressão triaxial convencional consiste na aplicação de um estado
hidrostático de tensões e de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico do
solo. Para isto, o corpo de prova é colocado dentro de uma câmara de ensaio, cujo esquema
é mostrado na Figura 5.16, e é envolto por uma membrana de borracha. A câmara é cheia
de água, à qual se aplica uma pressão, que é chamada pressão confinante ou pressão de
confinamento do ensaio.
A pressão confinante atua em todas as direções, inclusive na direção vertical. O
corpo de prova fica sob um estado hidrostático de tensões.

O carregamento axial é feito por


meio da aplicação de uma força
crescente no pistão que penetra na
câmara, caso em que o ensaio é
chamado de ensaio de deformação
controlada (sob velocidade de
deslocamento constante da
prensa).
A carga é medida por meio de um
anel dinamométrico externo, ou
por uma célula de carga
intercalada no pistão. Este
procedimento tem a vantagem de
medir a carga efetivamente
aplicada no corpo de prova,
eliminando o efeito do atrito do
pistão na passagem para a câmara.
Figura 5.16 - Corpo de prova dentro da câmara de ensaio
134
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Como não existem tensões de cisalhamento nas bases e nas geratrizes do corpo de
prova, os planos horizontais e verticais são os planos principais. Se o ensaio é de
carregamento, o plano horizontal é o plano principal maior e o plano vertical, o plano
principal menor, onde atua a pressão confinante. A tensão devida ao carregamento axial é
denominada acréscimo de tensão axial ou tensão desviadora σd, sendo σd = (1 - 3).

Durante o carregamento mede-se, a diversos intervalos de tempo, o acréscimo de


tensão axial que está atuando e o deslocamento vertical do corpo de prova (∆v). A
correspondente deformação específica vertical é obtida dividindo o deslocamento pela
altura inicial do corpo de prova, a medida em que evolui as tensões desviadoras, o que
permite traçar a curva tensão x deformação para o ensaio (Figura 5.17), bem como podem
ser plotadas ouros gráficos, como o de variações de volume ou de pressão neutra.

Amostra de argila (identificada no campo


como CU6), coletada em poço à 4,00 m de
profundidade, em Igrejinha, Juiz de
Fora/MG.

Para os três corpos de prova ensaiados


foram utilizadas (adotadas) as tensões de
confinamento de 100, 200 e 600 kPa.

Figura 5.17 - Exemplo de curvas “tensão desviadora x deformação axial”

As tensões desviadoras representadas em gráfico, em função da deformação


específica, evidencia o valor máximo que corresponde à ruptura, a partir do qual fica
definido o círculo de Mohr correspondente a esta situação de ruptura. Círculos de Mohr de
ensaios feitos em outros corpos de prova permitem a determinação da envoltória de
resistência conforme o critério de Mohr, como na Figura 5.18, ou ainda pode-se obter a
envoltória de Mohr-Coulomb. Observa-se que, para o traçado da envoltória de resistência
faz-se necessário determinar o correspondente valor de σ1, sendo: 1 = σd + 3. A Figura
5.18 ilustra em destaque o crescimento de σ1 durante o ensaio (“círculos traçejados”), para
o corpo de prova com nível intermediário de tensão entre os três ensaios realizados.

Figura 5. 18 - Traçado dos círculos de Mohr correspondentes a realização de três ensaios triaxiais
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Os ensaios triaxiais apresentam condições de reproduzir em laboratório, com


relativa precisão, as condições que os solos estarão sujeitos no projeto e serão solicitados
nas obras. A Figura 5.19 apresenta o equipamento triaxial do LaEsp – Laboratório de
Ensaios Especiais em Mecânica dos Solos, da UFJF.

Consta basicamente de:

. Prensa de compressão;
. Unidade de controle de pressões;
. Compressor;
. Reservatório de água desgazificada;
. Microcomputador (monitoramento e
aquisição de dados automática)

Figura 5.19 – Conjunto de equipamentos para ensaio de compressão triaxial, da UFJF

Considerações sobre o ensaio


Neste capítulo são abordados em linhas gerais os conceitos fundamentais
relacionados à realização do ensaio triaxial (Figura 5.20), sendo, contudo, visto no curso de
prática o detalhamento e os aspectos operacionais da realização do mesmo.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 5.20 – (a) Moldagem de um CP de areia sobre a própria base interna da câmara;
(b) Montagem na câmara triaxial, ainda fora da prensa de compressão, após montagem do CP na
base; (c) Aspecto da câmara montada na prensa, preenchida com água e sob pressão, durante a
realização do ensaio; (d) Registro de um corpo de prova rompido, em que se observa o plano de
cisalhamento do material ensaiado, no caso um solo argiloso compactado
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Como pode ser visto na Figura 5.21 (esquema do ensaio), na base do corpo de
prova e na sua parte superior são colocadas pedras porosas, permitindo-se a drenagem
através destas peças, que são permeáveis. A drenagem pode ser impedida por meio de
registros apropriados (“torneiras”), como se vê na foto da referida Figura 5.21, sendo
controladas as suas posições (aberto/fechado) pelo operador do ensaio.

* Se a drenagem for permitida e o corpo de prova estiver saturado ou com elevado


grau de saturação, a variação de volume da amostra corresponde ao volume da água que sai
ou entra no corpo de prova. Para isto, as saídas de água são acopladas a buretas graduadas.
No caso de solos secos, a medida de variação de volume só é possível com a colocação de
sensores no corpo de prova, internamente à câmara. Sensores internos, em qualquer caso,
são mais precisos, mas não são empregados em ensaios de rotina.
* Se a drenagem não for permitida, em qualquer fase do ensaio, a água ficará sob
pressão. As pressões neutras induzidas pelo carregamento podem ser medidas por meio de
transdutores conectados aos tubos de drenagem.

Figura 5.21 – Esquema do ensaio de compressão triaxial, com destaque para o sistema de
drenagem da amostra. Na foto ao lado vê-se o operador controlando as posições
(aberto/fechado) das “torneiras” e conseqüentemente da drenagem do CP

Estado de tensões efetivas


Em função da possibilidade de se controlar a drenagem dos corpos de prova, o
estado de tensões que atua no solo pode ser determinado tanto em termos de tensões totais
(TT) como em tensões efetivas (TE).
Da mesma forma, pode-se obter as envoltórias de resistência considerando as
tensões totais 1 e 3 e a pressão neutra, u, num solo, sendo plotados dois círculos
indicados na Figura 5.22. Dois pontos fundamentais, ilustrados por esta figura são:

1) O círculo de tensões efetivas se situa deslocado para a esquerda, em relação ao círculo


de tensões totais, de um valor igual à pressão neutra.
2) As tensões de cisalhamento em qualquer plano são independentes da pressão neutra,
pois a água não transmite esforços de cisalhamento. As tensões de cisalhamento são
devidas somente à diferença entre as tensões principais e esta diferença é a mesma,
tanto em tensões totais, como em tensões efetivas.

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Figura 5.22 – Efeito da pressão neutra no estado de tensões em um elemento de solo

5.5.1 – Ensaios Triaxiais Convencionais

No que se refere às condições de drenagem, tem-se três tipos básicos de ensaio:

a) Ensaio lento (com consolidação e com drenagem)


A característica fundamental desse ensaio, que também é conhecido como ensaio
tipo CD – consolidad drained ou tipo S – slow (lento), é que as tensões aplicadas na
amostra são efetivas (tensões atuam no arcabouço estrutural dos solos). São ensaios em
que há permanente drenagem do corpo de prova. Aplica-se a pressão confinante e espera-
se que o corpo de prova adense, ou seja, que a pressão neutra se dissipe. A seguir, a tensão
axial é aumentada lentamente, para que a água sob pressão possa sair. Desta forma, a
pressão neutra durante todo o carregamento é praticamente nula, e as tensões totais
aplicadas indicam as tensões efetivas que estavam ocorrendo, sendo portanto os parâmetros
determinados em termos de tensões efetivas (TE).
A designação “lento” não se refere à velocidade de carregamento, mas sim à
condição de ser tão lento quanto necessário para a dissipação das pressões neutras; se o
solo for muito permeável, o ensaio pode ser realizado em poucos minutos, mas, para
argilas, o carregamento axial requer 20 dias ou mais.

b) Ensaio adensado rápido (com consolidaçào e sem drenagem)


Nesse tipo de ensaio, também conhecido como ensaio tipo CU – consolidad
undrained ou tipo R – rapid (rápido) ou ainda rápido pré-adensado, a amostra se
consolida primeiramente sob a pressão hidrostática 3, como no ensaio lento. Em seguida,
após aplicação lenta de 3, a amostra é levada a ruptura por uma rápida aplicação da
carga axial 1 de maneira que não se permita a variação de volume, na fase de aplicação
de 1, sem a saída de água (ensaio lento para 3 e ensaio rápido para 1).
A condição essencial desse ensaio é não permitir nenhum adensamento adicional na
amostra durante a fase de aplicação da carga axial até a ruptura (1). Logo, após aplicar
3, fecha-se as válvulas de saída de água pelas pedras porosas dando garantia da
condição pré-estabelecida, independente da velocidade em que essa carga axial seja
aplicada.
Na segunda etapa do ensaio, aplicação de 1, pode-se pensar que a água dos vazios
é que irá receber toda a carga de pressão em forma de pressão neutra, mas, no real isso não
se dá, pois, parte dessa tensão axial é recebida pela fase sólida do solo, pois a amostra não
está totalmente confinada lateralmente (como no caso do ensaio de adensamento). Como
no triaxial a amostra só está envolvida por uma delgada membrana de latex, há, portanto,
condição da estrutura granular absorver esforços cortantes desde o início do ensaio. No
ensaio a pressão neutra ocorre em seu valor absoluto, podendo ser medida.
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Este ensaio indica a resistência não drenada em função da tensão de adensamento.


Se as pressões neutras forem medidas, a resistência em termos de tensões efetivas também
é determinada, razão pela qual ele é muito empregado, pois permite determinar a
envoltória de resistência em termos de tensão efetiva (TE) num prazo muito menor do que
o ensaio CD ou ainda em termos de tensões totais (TT).

c) Ensaio rápido (sem consolidação e sem drenagem)


Neste ensaio, também denominado ensaio tipo UU – unconsolid undrained ou
tipo Q – quick (imediato), não se permite em nenhuma etapa adensamento (consolidação)
da amostra. As válvulas de comunicação entre as pedras porosas e as buretas de medição
serão fechadas impedindo a drenagem durante as aplicações das tensões.
No ensaio, aplica-se a pressão hidrostática 3 e, de imediato, se rompe o corpo de
prova com a aplicação da tensão axial 1, em velocidades padronizadas.
Não se conhecem as tensões efetivas em nenhuma das fases de execução do ensaio,
nem tão pouco sua distribuição. O ensaio é interpretado em termos de tensões totais (TT).

Fases do Ensaio
Em resumo, têm-se duas fases distintas no ensaio triaxial:

1a FASE: Saturação do CP e Adensamento (consolidação)

Saturação
Em muitos casos o ensaio é iniciado com a saturação do CP. Para isto, faz-se
geralmente o uso do próprio sistema de pressão do equipamento para aplicar uma pressão
interna no CP (contra-pressão), aumentando o valor na câmara, de forma a se obter a
pressão 3 (por subtração). A obtenção da condição de saturação é verificada calculando-se
o coeficiente B de Skempton, também conhecido como coeficiente de pressão neutra.

Por exemplo, quando se aplica uma contra-pressão de 300kPa e na câmara do


triaxial uma pressão de 400 kPa corresponde em solicitar a amostra com uma tensão 3
de confinamento de 100 kPa.

“Coeficientes A e B” da pressão neutra


A teoria dos “coeficientes A e B” da pressão neutra (pore pressure coefficients),
apresentada por Skempton, em 1954, propõe determinar a variação da pressão neutra em
uma amostra de argila, quando variam as tensões principais 1 e 3.
A fórmula proposta por Skempton é a seguinte:

u = B[3 + A (1 - 3)]

onde A e B são coeficientes determinados experimentalmente.

O coeficiente A depende principalmente do tipo de solo e do estado de solicitação a


que já esteve submetido; o coeficiente B, é predominantemente influenciado pelo grau de
saturação. Para solos saturados B = 1 e para solos parcialmente saturados B < 1.
Valores de A, medidos no instante de ruptura da amostra, situam-se
aproximadamente entre –0,5 para argilas pré-adensadas e +1,5 para argilas de alta
sensibilidade. A Figura 5.23 esclarece os significados de “B” e “A”:
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Figura 5.23 – Significado dos coeficientes “A” e “B” da pressão neutra

Adensamento
Obtida a saturação do CP (se for o caso) aplica-se uma tensão de confinamento na
câmara do equipamento triaxial no sentido de levar o material ao adensamento. As
deformações são então lidas até a constância de valor, quando se considera o fim desta
fase.

2a FASE: Ruptura ou cisalhamento do CP

Esta fase corresponde ao cisalhamento da amostra propriamente dita e também


deverá ser executada de acordo com as condições de drenagem anteriormente escolhida, ou
seja, se será permitida a geração de pressão neutra “u” durante o ensaio ou não.
No caso de ser executada sem drenagem o valor de u deve ser medido durante o
ensaio para possibilitar a determinação do estado de tensões efetivas do CP durante o
ensaio, por exemplo.
A Tabela 5.4 apresenta um exemplo de parte de uma planilha de ensaio triaxial do
tipo CU ou R (fase de cisalhamento). Observa-se que o valor do excesso da pressão neutra
durante a execução do ensaio está sendo anotado na 6a coluna (u). Tem-se p =(1 + 3)/2,
q =(1 - 3)/2 e p` = (`1 + `3)/2, como será visto adiante.

Tabela 5.4 – Parte de planilha excel de resultados de ensaio triaxial do tipo CU (R)

Planilha de Resultados Folha: 01 de 06


h a Ac Faxial d u p q p' A
(mm) (%) (cm²) (kgf) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa)
0,000 0,00 11,210 0,0 0,0 0,0 300,0 0,0 100,0 -
0,056 0,08 11,219 2,2 18,9 1,8 309,5 9,5 107,6 0,10
0,094 0,13 11,225 3,9 33,8 3,0 316,9 16,9 113,9 0,09
0,129 0,18 11,231 5,4 47,4 4,2 323,7 23,7 119,5 0,09
0,166 0,24 11,237 6,7 58,6 5,2 329,3 29,3 124,1 0,09

Resistência de areias e argilas


São transcritos nos dois subitens seguintes alguns dos principais pontos de
entendimento do comportamento de solos – quanto à resistência ao cisalhamento (de
predominância granular – areias e predominância de finos – argilas).
É utilizada a publicação de PINTO (2006), do eminente Professor de Mecânica dos
Solos da USP, Carlos de Souza Pinto, que recomenda-se aos interessados pelo assunto
adquirem para uma melhor consulta e aproveitamento do curso, sendo hoje uma das
melhores referências do tema, no nível de graduação, publicada no Brasil.
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5.5.2 – Resistência das areias (Pinto, 2006)

Areias fofas:
Analise-se inicialmente, o comportamento das areias fofas. Ao ser feito o
carregamento axial, o corpo de prova apresenta uma tensão desviadora que cresce
lentamente com a deformação, atingindo um valor máximo só para deformações
relativamente altas, da ordem de 6 a 8%, chamada de resistência residual. Aspectos
típicos de curvas tensão-deformação estão apresentados na Figura 5.24(a) que mostra
também que ensaios realizados com tensões confinantes diferentes apresentam curvas com
aproximadamente o mesmo aspecto, podendo-se admitir, numa primeira aproximação, que
as tensões sejam proporcionais a tensão confinante do ensaio.
Ao traçar os círculos de Mohr, correspondentes às máximas tensões desviadora
(que correspondem à ruptura) obtém-se círculos cuja envoltória é uma reta passando pela
origem (sem coesão), pois as tensões de ruptura foram admitidas proporcionais às tensões
confinantes. A resistência da areia fica definida pelo angulo de atrito interno efetivo,
como se mostra na Figura 5.24(c). A areia é então definida como um material não coesivo.

As medidas de variação de volume durante o carregamento axial indicam uma


redução de volume, como apresenta a Figura 5.24(b), sendo que, para pressões confinantes
maiores, as diminuições de volume são um pouco maiores.

Figura 5.24 - Aspectos típicos de curvas tensão-deformação, deformações verticais e traçado das
envoltórias de resistência (máximas tensões desviadora - ruptura) para areias fofas - f (“a”, “b” e
“c”) e areias compactas - c (“d”, “e” e “f”), além de relação residual com a fofa (r = f)
(PINTO, 2006)
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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Areias compactas:
Resultados típicos de ensaios drenados de compressão triaxial de areias compactas
estão apresentados na Figura 5.24 (d), (e), (f).
A tensão desviadora cresce muito mais rapidamente com as deformações até atingir
um valor máximo, sendo este valor considerado como a resistência máxima ou resistência
de pico. Nota-se por outro lado, que atingida esta resistência máxima, ao continuar a
deformação do corpo de prova, a tensão desviadora decresce lentamente até se estabilizar
em torno de um valor, definido como a resistência residual.
Os círculos representativos do estado de tensões máximas definem a envoltória de
resistência. Como, em primeira aproximação, as resistências de pico são proporcionais às
tensões de confinamento dos ensaios, a envoltória a estes círculos é uma reta que passa
pela origem, e a resistência de pico das areias compactas se expressa pelo ângulo de atrito
interno correspondente.
Por outro lado, pode-se representar também, os círculos correspondentes ao estado
de tensões na condição residual. Estes círculos, novamente, definem uma envoltória
retilínea passando pela origem. O ângulo de atrito correspondente, chamado ângulo de
atrito residual, é muito semelhante ao ângulo de atrito desta mesma areia no estado fofo,
pois as resistências residuais são da ordem de grandeza das resistências máximas da
mesma areia no estado fofo.

Com relação à variação de volume, observa-se que os corpos de prova apresentam,


inicialmente, uma redução de volume, mas, ainda antes de ser atingida a resistência
máxima, o volume do corpo de prova começa a crescer, sendo que, na ruptura, o corpo de
prova apresenta maior volume do que no início do carregamento.
Os fatores de maior influência na resistência ao cisalhamento das areias são a
distribuição granulométrica, o formato dos grãos e a compacidade. A Tabela 5.5 apresenta
valores típicos de ângulos de atrito para tensões de 100kPa a 200 kPa, que é a ordem de
grandeza das tensões que ocorrem em obras comuns de engenharia civil.

Tabela 5.5 - Valores típicos de ângulos de atrito interno de areias.


Compacidade
Areias bem graduadas fofo a compacto
• De grãos angulares 37º a 47º
• De grãos arredondados 30º a 40º
Areias mal graduadas
• De grãos angulares 35º a 43º
• De grãos arredondados 28º a 35º

5.5.3 – Resistência das argilas (Pinto, 2006)

Introdução:
As argilas se diferenciam das areias, por um lado, pela sua baixa permeabilidade,
razão pela qual adquire importância o conhecimento de sua resistência tanto em termos de
carregamento drenado como de carregamento não drenado. Por outro lado, o
comportamento de tensão-deformação das argilas quando submetidas a um carregamento
hidrostático ou a um carregamento típico de adensamento edométrico, é bem distinto do
comportamento das areias. Estas apresentam curvas tensão-deformação independentes

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

para cada índice de vazios em que estejam originalmente. O índice de vazios de uma
areia é conseqüente das condições de sua deposição na natureza. Carregamentos
posteriores, que não criem tensões desviadoras elevadas, não produzem grandes reduções
de índices de vazios. Uma areia fofa permanece fofa ainda que submetida à elevada carga.
Para que esteja compacta, ela deve se formar compacta, ou ser levada a esta situação pelo
efeito de vibrações que provocam escorregamento das partículas.
As argilas sedimentares, ao contrário, se formam sempre com elevados índices de
vazios. Quando elas se apresentam com índices de vazios baixos, estes são conseqüentes de
um pré-adensamento. Em virtude disso, diversos corpos de prova de uma argila,
representativos de diferentes índices de vazios iniciais apresentarão curvas tensão-
deformação que apos atingir a pressão de pré-adensamento correspondente, fundem-se
numa única reta virgem (Figura 5.25).

A resistência de uma argila


depende do índice de vazios em
que ela se encontra,
que é fruto das tensões atuais e
passadas, e da estrutura
da argila

Figura 5.25 – Variação do índice de vazios em carregamento isotrópico de argila

5.5.3.1 Resistência de argilas em ensaio CD:

Considerando que o estudo da resistência deve se iniciar pela análise de seu


comportamento em ensaios drenados, são apresentados resultados típicos de argilas quando
submetidas a ensaios triaxiais drenados, do tipo CD.

a – Resistência acima das tensões de pré-adensamento (normalmente adensada - NA).


Considere uma argila hipotética, cuja relação índice de vazios em função da pressão
hidrostática de adensamento seja indicada na Figura 5.26(a). Esta argila terá sido adensada,
no passado, segundo a curva tracejada na figura, até uma tensão efetiva igual a 3 – entre 2
e 4 (as tensões estão indicadas por valores absolutos, independentes do sistema de
unidades; 3 poderia ser 300 kPa, por exemplo). Esta argila apresenta, atualmente, a curva
de índice de vazios em função da tensão confinante indicada pela linha contínua.
Considere a realização de dois ensaios, com tensões confinantes de 4 a 8. Quando
aplicadas estas tensões, os corpos de prova adensam sob os seus efeitos, e estarão
normalmente adensados em relação ao valor 3. Ao se fazer o carregamento axial, nestes
ensaios, com estes valores, serão obtidas curvas com aspecto indicado na parte (b) da
Figura 5.26. As tensões desviadoras, a que os corpos de prova são submetidos, crescem
lentamente com as deformações verticais, sendo que a máxima tensão desviadora ocorre
para deformações específicas da ordem de 15 a 20 %. Como conseqüência da
proporcionalidade das tensões desviadoras máximas com a tensão confinante, os círculos
de Mohr representativos do estado de tensões na ruptura são círculos que definem uma
envoltória reta, cujo prolongamento passa pela origem como indicado na Figura 5.26 (h).

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Figura 5.26 - Aspectos típicos de curvas tensão-deformação, deformações verticais


(“b” e “c” – NA e “d” e “e” – PA) e traçado das envoltórias de resistência a partir do ensaio
do tipo CD em argila saturada sem estrutura (PINTO, 2006)

Por outro lado, observa-se que durante o carregamento axial, o corpo de prova
apresenta redução de volume, da mesma ordem de grandeza, sendo só ligeiramente maior
para confinantes maiores. Este resultado está indicado na Figura 5.26(c).

b – Resistência abaixo das tensões de pré-adensamento (pré-adensada - PA).


Considere-se agora, que da amostra referida como exemplo no item anterior, (e que
tem uma tensão de pré-adensamento igual a 3), moldem-se dois corpos de prova para o
ensaio triaxial drenado, com tensões confinantes iguais a 0,5 e a 2; portanto, abaixo da
tensão de pré-adensamento.
Considere-se inicialmente, que se este solo não tivesse sido pré-adensado sob a
tensão de 3, mas sim sob uma tensão menor que 0,5 e ao se fazerem os ensaios citados, os
corpos de prova estariam, após adensamento sob a tensão confinante, nas posições
indicadas pelos símbolos 0,5’ e 2’ na Figura 5.26(a). Neste caso, estes corpos de prova
estariam normalmente adensados e os seus resultados seriam semelhantes aos dos corpos
de prova ensaiados nas condições indicadas pelas tensões confinantes 4 e 8, já estudados.
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Entretanto, o pré-adensamento sob pressão 3 fez com que estes corpos de prova
ficassem nas condições de 0,5 e 2 na parte (a) da Figura 5.26, ou seja, com índice de vazios
menores do que os correspondentes aos corpos de prova nas condições de 0,5’ e 2’.
Menor índice de vazios significa maior proximidade entre as partículas, donde um
comportamento diferente que se manifesta pelos resultados indicados na Figura 5.26 (d) e
(e). A envoltória de resistência é uma curva até a tensão de pré-adensamento.

c – Envoltória de resistência das argilas.


Como conclusão tem-se que uma argila, no estado natural, sempre apresenta uma
tensão de pré-adensamento. Portanto ao ser submetida a ensaios de compressão triaxial,
alguns ensaios poderão ser feitos com tensões confinantes abaixo e outros com tensões
confinantes acima da tensão de pré-adensamento. O resultado final é aquele indicado
na Figura 5.26(h). A envoltória de resistência é uma curva até a tensão de pré-
adensamento, e uma reta, cujo prolongamento passa pela origem, acima desta tensão.
Não sendo prático se trabalhar com envoltórias curvas, costuma-se substituir o
trecho curvo da envoltória por uma reta que melhor a represente. Há, naturalmente, várias
retas possíveis, devendo-se procurar a reta que melhor se ajuste à envoltória, no nível das
tensões do problema prático que se estiver estudando. Pinto (2006) apresenta valores
típicos de resistência de argilas, a saber:
* Condição acima da pressão de pré-adensamento

Tabela 5.6 – Valores de ângulo de atrito interno efetivo


Índice de Plasticidade Ângulo de atrito interno efetivo (0)
Geral São Paulo
10 30 a 38 30 a 35
20 26 a 34 27 a 32
40 20 a 29 20 a 25
60 18 a 25 15 a 17

* Condição abaixo da pressão de pré-adensamento


Depende da tensão de pré-adensamento e do nível de tensões de interesse
Valores usuais de “c”: 5 < c < 50 kPa

5.5.3.2 Resistência em ensaio CU:

No ensaio adensado rápido, representado pelos símbolos CU ou R, o corpo de


prova é inicialmente submetido à pressão confinante e sob ela adensado. Isto pode requerer
um, dois ou mais dias, dependendo da permeabilidade da argila. Ao final deste
procedimento a tensão efetiva de confinamento é igual à pressão confinante aplicada; a
pressão neutra é nula. A seguir, o sistema de drenagem é fechado e o carregamento axial
aplicado. Em argilas saturadas, este ensaio pode ser considerado como ensaio sem
variação de volume ou ensaio a volume constante.
Considere, como foi feito para o estudo da resistência das argilas em ensaio
drenado, uma argila saturada cuja relação do índice de vazios em função da pressão
hidrostática de adensamento seja a indicada na Figura 5.26(a).

Os resultados do estudo do comportamento em ensaios CU pode ser representado


de uma forma simplificada como na Figura 5.27.

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(a) e (b) (c) e (d)

(e)
Figura 5.27 - Aspectos típicos de curvas tensão-deformação, pressão neutra (“a” e “b” – NA e
“c” e “d” – PA) e traçado das envoltórias de resistência a partir do ensaio do tipo CU,
em TE e em TT, em argila saturada sem estrutura (PINTO, 2006)

A interpretação correta deste ensaio é a caracterização da resistência não drenada


em função da tensão de adensamento, que é a pressão confinante do ensaio. Neste caso,
pode-se dizer que, acima da tensão de pré-adensamento, a resistência não drenada é
proporcional à tensão de adensamento. Entretanto, tem sido comum interpretar os
resultados dos ensaios CU em termos de círculos de Mohr, representativos do estado das
tensões totais. A envoltória de resistência destes ensaios não tem muita aplicação prática,
mas serve para o desenvolvimento de estudos de comportamento dos solos.

Quando o ensaio é feito com medida das pressões neutras, ficam conhecidas as
tensões efetivas na ruptura. Representando-se os círculos de Mohr em termos das tensões
efetivas (que são círculos de diâmetro igual aos das tensões totais deslocados para a
esquerda do valor da tensão neutra), pode-se determinar a envoltória de resistência em
termos de tensões efetivas, como se mostra na Figura 5.27(e). Esta envoltória de resistência
é, aproximadamente, igual à envoltória obtida nos ensaios CD.

Uma avaliação comparativa do comportamento obtido nos ensaios CU e CD é


apresentada na Figura 5.28 para corpos de prova sob a mesma tensão confinante, (a)
estando o solo normalmente adensado e (b) estando o solo pré-adensado.

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(a) (b)
Figura 5.28 - Avaliação comparativa do comportamento obtido nos ensaios CU e CD é
apresentada para corpos de prova de solo normalmente adensado (a) e pré-adensado (b)

5.5.3.3 Resistência em ensaio UU:

Os ensaios de compressão triaxial do tipo CD e CU mostram como varia a


resistência dos solos argilosos, em função da tensão efetiva. Eles fornecem as chamadas
envoltórias de resistência, que na realidade, são equações que indicam como a tensão
cisalhante de ruptura (ou a resistência) varia com a tensão efetiva (ensaio CD) ou como a
resistência não drenada varia com a tensão efetiva de adensamento (ensaio CU). Estas
equações de resistência são empregadas nas análises de estabilidade por equilíbrio limite,
em projetos de engenharia, onde a tensão efetiva no solo varia de ponto para ponto.

Amostra saturadas
Existem situações, entretanto, em que se deseja conhecer a resistência do solo (a
tensão cisalhante de ruptura) no estado em que o solo se encontra.
É o caso, por exemplo, da análise da estabilidade de um aterro construído sobre
uma argila mole. Como na Figura 5.29, o problema é verificar se a resistência do solo ao
longo da superfície hipotética de ruptura é suficiente para resistir à tendência de
escorregamento provocada pelo peso do aterro. Uma eventual ruptura ocorreria antes
de ocorrer qualquer drenagem. Portanto, a resistência que interessa é aquela que existe
em cada ponto do terreno, da maneira como ele se encontra. É a resistência não drenada
do solo. A argila no estado natural se encontra sob uma tensão vertical efetiva que depende
de sua profundidade, da posição do nível d’água e do peso específico dos materiais que
estão acima dela. Seu índice de vazios depende da tensão vertical efetiva e das tensões
efetivas que já atuaram sobre ela.
Para conhecer a resistência não drenada do solo (“Su”), pode-se empregar três
procedimentos: (a) por meio de ensaios de laboratório; (b) por meio de ensaio de campo
(ensaio “Vane Shear Test” ou de palheta); e (c) por meio de correlações.

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Figura 5.29 - Análise da estabilidade de um aterro construído sobre argila mole

Em Laboratório:
Quando uma amostra é retirada do terreno, as tensões totais caem à zero.
Convém lembrar que, quando se aplicam acréscimos de tensão isotrópicos (de igual
valor nas três direções principais) num corpo de prova de solo saturado, sendo impedida a
drenagem, surge uma pressão neutra de igual valor, em virtude da baixa compressibilidade
da água perante a compressibilidade do solo, sendo este um dos pontos básicos do estudo
do adensamento. Da mesma forma, quando se reduzem tensões externas, ocorre uma
redução de pressão neutra de igual valor.

Por ocasião da amostragem, a pressão externa deixa de atuar, e não há


possibilidade de drenagem. Logo, na amostra ocorre uma redução da pressão neutra, que
passa a ser negativa. Num terreno genérico, as três tensões principais não são iguais.
Admite-se que o efeito da amostragem seja igual ao da redução de uma tensão isotrópica
igual à média das três tensões principais, que é a tensão octaédrica, ’oct, o que é bastante
aceitável, considerando-se que, nesta situação, o comportamento é próximo do
comportamento elástico.

Considere o exemplo da Figura


5.30, ilustrado por PINTO (2006),
sendo conceitualmente,
’oct = v + h(x) + h(y) / 3.

Por exemplo,
sendo v= 80, h= 62 e u= 30,
temos: ’v= 50, ’h= 32
 a média das 3 tensões = 38
(admite-se que 38kPa corresponde ao
valor reduzido na tensão isotrópica
quando extraída a amostra) Figura 5.30 – Exemplo de tensões atuantes
no terreno e na amostra

Na amostra coletada u= -38, logo atua nos eixos esta magnitude de tensão:
’v= 38, ’h= 38

Isto implica no fato de que qualquer que seja a pressão confinante de ensaio, o corpo de
prova ficará com a mesma tensão confinante efetiva, veja:

3= 100 u= -38 +100 = 62 ’3= 100 –62 = 38 kPa


3= 150 u= -38 +150 = 112 ’3= 150 –112 = 38 kPa
... .... ...
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Conclui-se, portanto, que em ensaios de compressão triaxial do tipo UU, com


amostras saturadas, a tensão confinante efetiva após a aplicação da pressão confinante
será sempre a mesma e igual à pressão confinante efetiva que existia na amostra, que é
igual, em valor absoluto, à pressão neutra negativa da amostra, que é igual, ainda, à
média das tensões principais efetivas que existia no terreno na posição que a amostra foi
retirada.
Após o confinamento, os corpos de prova são submetidos a carregamento axial,
sem drenagem. Ora, independentemente das pressões confinantes de ensaio, todos os
corpos de prova estão sob a mesma tensão confinante efetiva, todos apresentarão o mesmo
desempenho, e, conseqüentemente, a mesma resistência. Os círculos de Mohr em tensões
totais (TT) terão os mesmos diâmetros, e a envoltória será uma reta horizontal, como se
mostra na Figura 5.31. A ordenada desta reta é a resistência não drenada da argila, Que é
constante, também chamada de coesão da argila, usualmente referida como Su (do inglês
“undrained strength”).
O comportamento das argilas em ensaios não drenados justifica a denominação de
solos coesivos, tradicionalmente empregado para designar as argilas em contraposição às
areias, chamadas de solos não coesivos. Como visto, a resistência das argilas, no íntimo, é
resultante de um fenômeno de atrito entre as partículas. A resistência que elas apresentam
quando não confinadas é fruto da tensão confinante efetiva que existe. A impressão que se
tem, entretanto, é a de um material que apresenta resistência mesmo que não submetido a
qualquer confinamento, e, portanto, de um material coesivo, ao contrário das areias. A
denominação de solos coesivos é anterior ao conceito de pressões efetivas formulado por
Terzaghi.

Figura 5.31 – Envoltória de resistência de argilas saturadas em ensaio UU

Observa-se que para uma amostra de solo em condições de tensões diferentes da


situação descrita (reprodução das condições de saturação em campo), como, por exemplo
uma amostra de solo compactada em que o grau de saturação naturalmente não é 100%,
a obtenção da sua envoltória de resistência leva ao traçado “clássico”, em que se determina
a sua coesão e ângulo de atrito para o material. Um exemplo de ensaio UU em amostra
compactada é apresentado no item de “Exercícios de Aplicação”, deste Capítulo.

5. 5. 4 - Trajetória de tensões

Quando se pretende representar o estado de tensões de um solo em diversas


fases de carregamento, em um ensaio ou em um problema prático, os diversos círculos de
Morh podem ser desenhados, como se observa na Figura 5.32. Num caso simples como o
desta figura, em que a tensão confinante se mantém constante enquanto a tensão axial
aumenta, os círculos representam bem a evolução das tensões.
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(a) círculos de Mohr (b) pela trajetória das tensões


Figura 5.32 – Representação da evolução do estado de tensões

Quando as duas tensões principais variam simultaneamente, entretanto, esta


representação gráfica pode se tornar confusa.

Diante disto, criou-se a sistemática de representar as diversas fases de carregamento


pela representação exclusiva dos pontos de maior ordenada de cada círculo, como os
pontos 1,2 e 3 na Figura 5.32, ligando-os por uma curva que recebe o nome de trajetória
de tensões.
Sendo p e q as coordenadas dos pontos da trajetória, pela sua definição, tem-se:
p= (1 + 3) e q= (1 - 3)
2 2

Nota-se que p é a média das tensões principais e q é a semi diferença das tensões
principais, ou ainda, p e q são, respectivamente, a tensão normal e tensão cisalhante no
plano de máxima tensão cisalhante.
Na Figura 5.33 estão representadas as trajetórias de tensões em termos de tensões
totais (TTT), para os diversos carregamentos.

Curva I: Confinante constante e axial crescente


Curva II: Confinante decrescente e axial
constante
Curva III: Confinante decrescente e axial
crescente com iguais valores absolutos
Curva IV: Confinante e axial crescentes numa
razão constante
Curva V: Confinante e axial variáveis em
razões diversas

Figura 5.33 - Trajetórias de tensões totais para os diversos carregamentos

Traçadas as trajetórias de tensões de uma série de ensaios, é possível determinar a


envoltória a estas trajetórias. No caso da Figura 5.34, esta trajetória é a reta EDI, que
pode ser expressa pela equação:
q = d + p . tg

** Os coeficientes desta reta, d e , podem ser correlacionados com os


coeficientes da envoltória de resistência, c e , como se demonstra geometricamente
através da Figura 5.34.
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Figura 5.34 – Correlação entre a envoltória dos círculos de Mohr


e a envoltória às trajetórias de tensão

As retas FDI e GCH se encontram no ponto A, sobre o eixo das abcissas. Então do
triângulo ABD tem-se BD=AB.tg. Do triângulo ABC tem-se BC=AB.sen. Sendo
BC=BD, resulta: sen  = tan 

Por outro lado, o intercepto c=EG=AE.tg e o intercepto d=EF=AE.tg.


Dividindo estas duas expressões, tem-se:
c/d = tg/tg

Lembrando que tg=sen, resulta: c = d/cos

Estas expressões são muito úteis, por exemplo, para se determinar à envoltória de
resistência mais provável de um número muito grande de resultados. A representação de
todos os círculos de Mohr faria o gráfico ficar muito confuso. A representação só dos
pontos finais das trajetórias de tensões permite a determinação da envoltória média mais
provável, e, dela, a envoltória de resistência.

Trajetória de tensões efetivas


As trajetórias de tensões têm seu maior campo de aplicação nas solicitações não
drenadas de laboratório ou de campo. Nestes casos, as tensões efetivas é que são
geralmente representadas e permitem representar claramente o desenvolvimento das
pressões neutras em função do carregamento, pois, na representação tradicional dos
resultados dos ensaios, as pressões neutras são indicadas em função da deformação.
Consideremos um ensaio com manutenção da tensão confinante e acréscimo de
tensão axial, representado na Figura 5.35. A trajetória de tensões totais é uma linha reta,
formando 45 graus com a horizontal. Consideremos que com o acréscimo de tensão axial
representado na figura tenha ocorrido uma pressão neutra igual a u. O círculo de tensões
efetivas se apresenta deslocado para a esquerda deste valor, assim como o ponto
representativo do estado de tensões efetivas na respectiva trajetória.
Portanto, a diferença de abscissa de um ponto da trajetória de tensões efetivas
(TTE) ao correspondente ponto da trajetória de tensões totais (TTT) indica a tensão neutra
existente. Se a trajetória de tensões efetivas estiver para a esquerda, tensão neutra é
positiva; se para a direita, a tensão neutra é negativa. A trajetória de tensões totais
geralmente não é representada, para maior clareza do gráfico. Sua direção é conhecida
pelas condições do carregamento.
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Figura 5.35 – Trajetória de tensões efetivas obtidas a partir da trajetória


de tensões totais e pressão neutra

Observe que a trajetória de tensões efetivas corresponde à linha tracejada, indicada


na Figura 5.35 pela letra “p”, e não por p’ (sem ’ que é mais usual para a representação de
tensões efetivas). Esta notação se equivale.

5.6 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento e correlações com SPT

Neste item são apresentados diversos valores para os parâmetros de resistência ao


cisalhamento, resultados da execução de ensaios em laboratório.
São apresentados na Tabela 5.7 valores de parâmetros de resistência ao
cisalhamento para alguns solos compactados.

Tabela 5.7 - Parâmetros de resistência para alguns solos compactados


c 
Ref. Data Material
(Kgf/cm2) (º)
Svenson 1980 Argila amarela/RJ 4,0 22
Argila vermelha/RJ 1,8 23
Argila vermelha/MG 1,7 27
Argila vermelha/PR 1,2 33
Cruz 1985 - solo laterítico de basalto não 0,40 a 0,70 24 a 33
saturado
- solo laterítico de arenito não 0,10 a 0,50 26 a 31
saturado
- solo laterítico de gnaisse não 0,20 a 0,50 26 a 29
saturado
-solo laterítico quatzo-xisto não 0,15 33
saturado
- colúvio arenito basalto não 0,30 a 0,60 27 a 31
saturado
Marangon 2004 - solo argiloso de comportamento 0,5 44
laterítico (latossolo)
- solo argiloso de comportamento
não laterítico (podzólico) 1,5 34
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Trata-se de solos residuais maduros (não jovens – “saprolíticos”) com


características semelhantes, de utilização típica na construção de aterros em geral. Os
valores mostram serem elevadas as resistências dos solos compactados, como estes
materiais mostrados, assim como são elevados para os solos brasileiros compactados em
geral, quando esta compactação é bem feita e o material é laterizado, o que lhe confere
uma boa qualidade para uso na engenharia.

Outros Resultados de Ensaios Triaxial


São apresentados alguns resultados de ensaios triaxiais (do tipo S - CD, R - CU e Q
- UU) executados em uma série de solos de obras de barragens construídas no Brasil,
conforme apresentado por CRUZ (1996), que podem servir como ordem de grandeza na
escolha de parâmetros de cálculo para as fases preliminares de projeto. As Tabelas 5.8 e
5.9 referem-se a ensaios realizados em amostra natural – talhado em blocos de amostras
indeformadas. A Tabela 5.8 para Solo Residual Maduro e a Tabela 5.9 para Residual Jovem.

Tabela 5.8 - Solo Residual Maduro – Solo Laterítico (CRUZ, 1996)

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Tabela 5.9 - Solo Residual Jovem – Solo Saprolítico (CRUZ, 1996)

Observe que foram listados na Tabela 5.8 parâmetros de ensaios realizados em


solos residuais maduros (ou seja, horizonte B, abaixo de eventual horizonte orgânico),
que corresponde a solos argilosos lateríticos - solos típicos utilizados como material de
construção para aterros, subleitos, e camadas nobres de obras de terra em geral.
Na Tabela 5.9 foram apresentados resultados de ensaios em solos residuais jovem
ou saprolíticos (horizonte C, corresponde a solos menos argilosos ou até mesmo silto-
arenosos), inconvenientes para uso como material de construção em geral.

Correlação entre os parâmetros de resistência com os valores de SPT obtidos em


sondagem à percussão
Nas Tabelas 5.10 e 5.11 apresentam-se valores estimados de c e  (natureza
empírica), correlacionando esses valores com o SPT. Esses valores devem ser utilizados
com muita reserva uma vez que os parâmetros dependem da condição de utilização,
portanto, as tabelas implicam em sugerir uma faixa de valores.
Para o caso de obras de baixo custo esses valores podem ser orientadores quando o
problema não comporta a execução de ensaios especiais e, nesse caso, pode-se adotar o
parâmetro de resistência de acordo com a predominância granulométrica do solo. Adota-se
para predominância arenosa “φ” ou argilosa “c”, considerando o outro parâmetro nulo,
procurando assim enquadrar o valor a ser adotado na condição mais desfavorável possível
(a favor da segurança).

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Tabela 5.10 – Exemplo de correlação entre SPT e ângulo de atrito para solos arenosos
SPT  Compacidade (sondagem)
<4 < 25º Muito fofo
4 a 10 25º a 30º Fofo ou pouco compacto
10 a 30 30º a 36º Medianamente compacto
30 a 50 36º a 40º Compacto
> 50 > 40º Muito compacto

Tabela 5.11 – Exemplo de correlação entre SPT e coesão para solos argilosos
SPT C (t/m2) Consistência (sondagem)
<2 < 1,2 Muito mole
2a4 1,2 a 2,5 Mole
4a8 2,5 a 5,0 Média
8 a 15 5,0 a 10,0 Rija
15 a 30 10,0 a 20,0 Muito rija
> 30 > 20 Dura

5.7 – Aplicações dos ensaios em análise e projetos

A partir dos três ensaios triaxiais básicos (CD, CU e UU) pode-se associar, de
acordo com as condições previstas de ocorrência na obra, as condições de ensaio em
relação à compressão, condição de drenagem, condição de deformação, entre outras.

De acordo com a importância da obra e/ou com as características do solo e dos


esforços solicitantes previstos, pode-se criar, em laboratório, condições que sejam
condizentes com cada problema de projeto em questão.

Como citações simples, para ilustração, tem-se alguns exemplos de aplicações dos
ensaios padronizados, em situações práticas de projetos e obras de Engenharia:

• No caso de estabilidade de estruturas de solos argilosos a longo tempo com relação


a taludes e empuxos, ou de estruturas de solos arenosa recomenda-se o ensaio lento,
tipo CD (S);
• Solos argilosos abaixo de fundações de edifícios, estruturas de terra em cortes
provisórios, fundações de aterros em solos moles recomenda-se o ensaio rápido,
tipo UU (Q);
• No caso de barragens de terra quando há possibilidade de rápido esvaziamento
recomenda-se o ensaio adensado rápido, tipo CU (R).

Observa-se que para a obtenção dos parâmetros de resistência em termos de tensões


totais (TT), é importante considerar a obra a que serão aplicados, dentro do ponto de vista
acima apresentado. Um problema de escavação, por exemplo, em que haverá redução das
tensões, não pode ser tratado da mesma maneira que um problema de fundações, onde
haverá um carregamento. O desenvolvimento das tensões neutras em cada caso será
diferente. O ensaio, em termos das tensões totais, deve procurar representar o problema
específico.

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5.8 – Considerações sobre liquefação das “areias”

Importante tratar neste capítulo do curso, sobre resistência ao cisalhamento, o caso


de ruptura de solos por liquefação, em conjunto ao que foi abordado até então. Trata-se de
assunto relevante que vez ou outra chama a atenção do meio técnico por conta de desastres
que veem a mídia, devido a sua grande repercussão como pode ter sido o caso da ruptura
da barragem do fundão, da Samarco, em Mariana-MG ocorrido recentemente.

A história registra ao longo dos séculos inúmeros casos de ruptura catastrófica de


maciços de solos arenosos, com consideráveis prejuízos econômicos, perdas de vidas
humanas e danos ao meio ambiente, causados pela liquefação de areias saturadas. Uma
característica comum nestes casos é que as areias responsáveis pelos desastres poderiam
ser consideradas fofas por qualquer sistema de classificação baseado em número de golpes
do ensaio SPT, penetração no ensaio de cone ou densidade relativa Dr (PUC, 2018).

Algumas das rupturas foram desencadeadas por carregamentos sísmicos (caso


recente ilustrado na Figura 5.36) e outras por um aumento monotônico das tensões de
cisalhamento na massa de solo (liquefação estática ou monotônica), resultando em ambos
os casos no fluxo da areia como um líquido denso. O fato deste tipo de ruptura se
assemelhar ao comportamento de um líquido é devido à substancial perda de resistência
em regiões da massa de solo e não apenas ao longo de determinada superfície de ruptura.
Como resultado, taludes são achatados para inclinações de baixos ângulos, edificações
sofrem severos recalques e estruturas leves parecem flutuar na massa de solo.

Figura 5.36 – Terremoto na Indonésia causou liquefação do solo (Folha de São Paulo, 03/10/2018)

De modo geral:
Liquefação (ou mais estritamente fluxo por liquefação): designa o grupo de
fenômenos que apresentam em comum o surgimento de altas poropressões em areias
saturadas, devidas a carregamentos estáticos ou cíclicos, sob volume constante,
Mobilidade cíclica: designa a progressiva deformação de areias saturadas quando
sujeitas a carregamentos cíclicos sob teor de umidade constante.

O fenômeno de “liquefação do solo” corresponde ao comportamento do material


que repentinamente sofre uma transição de um estado sólido para um estado líquido, ou
ficam com a consistência de um líquido grosso. A liquefação é mais ocorrente nos solos
granulados saturados com drenagem pobre, como em areias finas ou areia e cascalho.

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

5.9 – Exercícios de Aplicação

1 – A resistência ao cisalhamento de um solo foi investigada através do ensaio de


Cisalhamento Direto, sem o desenvolvimento de poropressão no solo, cujas curvas “tensão
x deslocamento horizontal” são apresentadas na Figura 5.37 (σv de ensaio indicada nas
curvas).
a) Qual a equação que representa a sua envoltória de resistência, na unidade kPa ?
b) Quais os valores numéricos para as tensões principais, maior e menor, associadas a este
ensaio, para a condição de tensão de cisalhamento igual a 30kPa ?
c) Se executado um ensaio triaxial neste mesmo solo, sob as mesmas condições de
drenagem, qual o ângulo de ruptura esperado para o corpo de prova ?

Figura 5.37 – Resultados de ensaios de cisalhamento direto

Resolução:
a) Para obtenção da equação da envoltória de resistência ( = c +  tg ), faz-se
necessário obter o ser traçado (desenho) para identificar os parâmetros “c” e “”.
. Por se tratar de Cisalhamento direto lê-se as tensões  e  “diretamente” no gráfico
(condição de ruptura plástica ...) – pts (,) = (17,19), (27,25), (42,35) e (114, 90)
. Obtém-se o traçado como na figura abaixo (em papel milimetrado)

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

c = 6 kPa (intercepto de coesão obtido no gráfico ...)


 = arc tg (73-49/90-60) = arc tg (0,8) = 38,60 (ou medido com transferidor)
Então, a envoltória de resistência se escreve:  = 6 +  tg 38,60 (kPa)

b) Os valores numéricos para as tensões principais, maior (σ1) e menor (σ3), associadas ao
ensaio, podem ser determinados desenhando o correspondente círculo de Mohr para
esta tensão de ruptura ( = 30 kPa) – círculo é tangente ...
(determinação de forma indireta, já que o ensaio não utiliza os círculos para a
obtenção da envoltória)
Deve-se seguir a seguinte seqüência:
• Ressalta-se o ponto T (τ = 30) na envoltória, referente à tensão de cisalhamento do
corpo de prova que se quer determinar as tensões principais;
• Tira-se uma perpendicular a envoltória de ruptura, passando por este ponto T.
Determina-se assim o raio e o centro do círculo (no eixo das abscissas);
• Traça-se o círculo (pelo ponto O’ - centro);

Tendo-se o círculo traçado podemos obter os valores de 3 e 1, sendo para o caso,
respectivamente, 18 kPa e 91 kPa.

τ = 30kPa

c) Considerando que a envoltória para o solo será a mesma, se obtida a partir de ensaios
de cisalhamento direto ou ensaios triaxial, nas mesmas condições de drenagem, o
ângulo de ruptura (α) esperado para os corpos de prova será:


 = 45 + , como ilustrado pela tangência de
2
qualquer círculo de Mohr na sua envoltória,
então:
Sendo φ = 38,60, α = 450 + 19,3 = 64,30

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

2 – A resistência ao cisalhamento de um solo foi investigada através do ensaio Triaxial,


sendo obtida a sua trajetória de tensões em termos de tensões totais (TTT), visando o
estudo deste solo argiloso compactado como suporte em projetos de pavimentos, conforme
abordado por Marangon (2004).

Dados dos ensaios


Amostras de solo: Denominada “ZM10” – bairro Retiro, em Juiz de Fora-MG
Corpos de prova: Solo compactado, moldados nas dimensões 5x10 cm, na
densidade máxima, homogeneizados no teor de umidade ótima, correspondente a energia
aproximada do PN, permanecendo 24 horas em câmara úmida.
Ensaio: Tipo UU prevendo uma situação mais desfavorável de solicitação do
subleito por uma roda de veículo parado sobre o pavimento, imediatamente após a
liberação ao tráfego. Foram moldados 4 CPs, adotadas as seguintes tensões de
confinamento: 20kPa, 50kPa, 70kPa e 150kPa, correspondendo ao intervalo dos níveis de
tensões usualmente utilizadas na análise visando o projeto de um pavimento.

Os dados correspondentes à moldagem e ruptura dos corpos de prova estão


apresentados na Tabela 5.11. O traçado da envoltória de resistência Mohr-Coulomb levou a
obtenção da seguinte equação para a sua resistência, em kPa:  = 45 +  tg 44,30 (kPa)

Tabela 5.11 - Dados de moldagem e ruptura dos corpos de prova submetidos ao ensaio triaxial
W (%) Massa Específica Aparente Seca (kN/m3)
Ótima Moldagem Máxima Moldagem Moldagem Moldagem Moldagem
Amostra (máx) (CP1) (CP2) (CP3) (CP4)
ZM10 26,5 26,48 14,83 14,89 14,90 14,86 14,91
Tensões de Confinamento (kPa)
Ensaios UU
20 50 70 150
Tensão Desvio Máxima – Ruptura (kPa) 237,3 512,4 797,4 879,0

Pede-se determinar:
a) Os pares de tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura;
b) Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, para o solo ensaiado, determinado a
partir da trajetória de tensões fornecida na Figura 5.38.

Ensaio Triaxial - UU
Amostra ZM10
. 500

450

400

350

300
q ( kPa )

250

200

150 0,0
32,0
100

50

0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650
p' ( kPa )

Figura 5.38 - Envoltória de resistência ao cisalhamento em termos do diagrama p` x q

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RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Resolução:
a) As tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura, correspondem aos
valores de 3 (confinamento) e 1 (axial).
. Então, os valores de 3 são: 20kPa, 50kPa, 70kPa e 150kPa
. Os valores de 1 obtém-se a partir das tensões desvio, 1 = σd + 3, então:

Tensões de Confinamento - 3 (kPa)


Ensaios UU
20 50 70 150
Tensão Desvio na Ruptura - d (kPa) 237,3 512,4 797,4 879,0
Tensão Axial - 1 (kPa) 257,3 562,4 867,4 1029,0

b) Para a obtenção dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, a partir da trajetória


de tensões fornecida, temos que usar as equações de relação entre parâmetros ...
sen  = tan 
c = d/cos

Considerando a “leitura” no gráfico do intercepto d=30 e calculando o valor do


ângulo de inclinação da trajetoria , obtido a partir de um triângulo imaginário no
gráfico (catetos de intervalos no eixo das abscissas entre 250-450 e no eixo das
ordenadas entre 200-340)
 = arc tg (∆y/∆x)
 = arc tg (340-200/450-250) = arc tg (0,7) = 35,00

Então  = arc sen (tan ) = arc sen (0,7) = 44,40


Logo c = 30/cos(44,4) = 42 kPa

Obs. Os parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos nas envoltórias de resistência,


traçada a partir dos círculos de Mohr e das trajetórias de tensões estão apresentados em
resumo na tabela abaixo. Pode-se observar que os valores obtidos próximos.

Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento


c (kPa) e  (graus)
Amostra Círculos de Mohr Trajetória de tensões
(não demonstrado aqui)
ZM10 c = 45,0 c = 42,0
 = 44,3  = 44,4

Um bom exercício para a compreensão da obtenção dos parâmetros c e  consiste em


traçar a envoltória dos círculos de Mohr e a envoltória das trajetórias de tensão, para os
dados do exemplo acima, e verificar os parâmetros obtidos.

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EMPUXOS DE TERRA

Capítulo 6 - EMPUXOS DE TERRA

Empuxo de terra, deve ser entendido como a ação produzida pelo maciço terroso
sobre as obras com ele em contato. A determinação da magnitude que ocorre é
fundamental na análise e projeto de obras como muros de arrimo, obras de contenções,
cortinas em estacas pranchas, cortinas atirantadas, escoramentos de escavações em geral,
construções em subsolos, encontros de pontes, entre outras situações semelhantes.

A Figura 6.1 ilustra alguns exemplos de obras de arrimo em que são utilizadas
diferentes soluções na estrutura de contenção, a saber: (a) muro em solo-cimento ensacado
e compactado - bairro de N. S. de Lurdes (J. Fora), (b) muro em concreto ciclópico - bairro
Aeroporto (J. Fora), (c) muro em pedras arrumadas manualmente em gaiolas metálicas –
gabiões e (d) muro em concreto armado.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 6.1 – Muros de contenção ou arrimo: a) solo-cimento, b) concreto ciclópico,
c) gabião e d) concrerto armado

O cálculo dos empuxos constitui uma das maiores e mais antigas preocupações da
engenharia civil; data de 1776 a primeira contribuição efetiva ao tema, em muito anterior
ao nascimento da Mecânica dos Solos como ciência autônoma. Trata-se de um problema
de grande interesse prático, de ocorrência freqüente e de determinação complexa.

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EMPUXOS DE TERRA

No estudo deste assunto, como na maioria dos problemas sob domínio da Mecânica
dos Solos, raras são as situações em que é possível determinar forças e, por conseguinte,
tensões com base apenas nas condições de equilíbrio; os problemas são, em geral,
estaticamente indeterminados. Para vencer esta dificuldade é imperioso considerar as
condições de compatibilidade entre os deslocamentos, o que implica a necessidade de
conhecer também a variação das tensões com as deformações, ou seja, a curva σ x ε (Vilar
e Bueno, 1979).

6.1 – Considerações iniciais sobre empuxo

Vilar e Bueno (1979) ressalta que há, em síntese, duas linhas de conduta no estudo
dos empuxos de terra. A primeira, de cunho teórico, apóia-se em tratamentos matemáticos
elaborados a partir de modelos reológicos (estudo de deformações) que tentam traduzir,
tanto quanto possível, o comportamento preciso da relação tensão x deformação dos solos.
A segunda forma de abordagem é de caráter empírico-experimental; são
recomendações colhidas de observações em modelos de laboratório e em obras
instrumentadas.
A automatização dos métodos numéricos (diferenças finitas, método dos elementos
finitos) através de computadores e a evolução das técnicas de amostragem e ensaios têm
propiciado, nos últimos anos, um desenvolvimento significativo dos processos de cunho
teórico.
Neste capítulo serão tratados apenas os processos clássicos de determinação de
empuxos, baseados nas teorias da Elasticidade, de Rankine e de Coulomb.

Teoria da Elasticidade - Relação entre Tensão x Deformação


Para a determinação das pressões de empuxo de terra utilizaremos inicialmente os
conceitos da teoria de elasticidade no que se refere ao comportamento dos solos e suas
características de deformabilidade quando submetidos a uma pressão de compressão.
Pode-se a partir do gráfico “tensão x deformação” (Figura 6.2), obtido em um
ensaio de compressão, determinar o módulo de elasticidade (E) em um segmento reto
(AB - módulo inicial - Lei de Hooke = proporcionalidade tensão-deformação, AC - módulo
secante ou CD – módulo tangente).

Figura 6.2 – Deformação de um corpo submetido a um carregamento

Considerando que o corpo de prova de solo sofre uma tensão de compressão, no


sentido da altura, este sofre uma deformação neste sentido e conseqüentemente no sentido
de seu raio (diâmetro) R, teremos então:

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EMPUXOS DE TERRA

L v H
= σ=E.ε E= ou E =
L h dR
h R

A partir das deformações nos sentidos horizontal e vertical pode-se determinar o


Coeficiente de Poisson (). O Coeficiente de Poisson é o parâmetro que reflete o quanto o
solo deforma no sentido horizontal em relação à deformação no sentido do carregamento.

def .horizontal  h v
= = Logo, εh = μ . εv = μ .
def .vertical v E

** Valores típicos para Módulo de Elasticidade (E) de solos


Como ordem de grandeza, podem-se indicar os valores apresentados na Tabela 6.1
como módulos de elasticidade para argilas sedimentares saturadas, em solicitações
rápidas, que não dão margem à drenagem.
Para as areias, os módulos são os correspondentes à situação drenada, Tabela 6.2,
pois a permeabilidade é alta, em relação ao tempo de aplicação das cargas.

Tabela 6.1 – Módulos de elasticidade típicos de argilas saturadas não drenada


Módulo de elasticidade
Consistência
MPa kN/m²(kPa)
Muito mole < 2,5 < 2500
Mole 2,5 a 5 2500 a 5000
Consistência média 5 a 10 5000 a 10000
Rija 10 a 20 10000 a 20000
Muito rija 20 a 40 20000 a 40000
Dura > 40 > 40000

Tabela 6.2 – Módulos de elasticidade típicos de areias em solicitação drenada


(para tensão confinante de 100 kPa)
Módulo de elasticidade
Compacidade Fofa Compacta
MPa kN/m² (kPa) MPa KN/m² (kPa)
Areias de grãos frágeis, angulares 15 15000 35 35000
Areias de grãos duros, arredondados 55 55000 100 100000
Areia (SP), bem graduada, pouco argilosa 10 10000 27 27000

** Valores típicos para coeficiente de Poisson () de solos


Para solos, tem-se a seguinte variação: 0,25 <  < 0,5

Relação entre as tensões vertical ( ) e horizontal ( )


Segundo o princípio da superposição dos efeitos: “A superposição dos estados
elásticos diferentes ocasiona a superposição das deformações correlatas”.
Em função da elasticidade do material (E e ), verifica-se existir, uma
proporcionalidade entre a tensão vertical e a correspondente tensão horizontal. O
material recebe o esforço, absorve-o e se deforma segundo seus parâmetros de elasticidade.

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EMPUXOS DE TERRA

Dentro deste princípio, qualquer valor de tensão horizontal será sempre


calculado em função da tensão vertical que, considera apenas a ação do peso próprio do
solo, corresponde a ( correlação necessariamente em tensões efetivas):

’H = K. ’V sendo K o chamado coeficiente de empuxo de terra.

Diagrama de tensões horizontais


Caso se desloque um volume de massa de solo homogêneo, com uma única
camada, sem NA, com o terrapleno horizontal (i = 0), pode-se substituí-lo por um plano
cujo traço é OO'. Conforme mostra a Figura 6.3, teremos um diagrama de tensões linear,
função do coeficiente de empuxo K (neste caso específico K0 – condição de repouso. Têm-
se outras duas situações de empuxo, totalizando três tipos distintos, como serão vistos).

Figura 6.3 – Diagrama genérico de tensões horizontais, com indicação da resultante E de empuxo

Traçando-se o diagrama de pressões horizontais ou pressões laterais que agem


sobre o plano, tem-se condição de calcular a resultante deste esforço horizontal que é
chamado simplesmente de empuxo, correspondente a área do diagrama de pressões
horizontais e agindo no centro de gravidade do mesmo (isto é, no terço inferior da sua
altura).
h h h h
Empuxo =   H .dh =  K. v .dh =  K..h.dh = K.. h.dh
0 0 0 0
1 1
Empuxo = K.. .h 2  E = .K..h 2
2 2

6.2 – Empuxo no repouso

Condição em que o plano de contenção não se movimenta

Tem-se neste tipo de empuxo, um equilíbrio perfeito em que a massa de solo se


mantem absolutamente estável, sem nenhuma deformação na estrutura do solo, isto é,
está em equilíbrio elástico.
Considerando a massa semi-infinita de solo homogêneo, em uma só camada
permeável, sem ocorrência de NA e com o terrapleno horizontal, e estando o solo em
equilíbrio elástico, os esforços na direção horizontal podem ser calculados, teoricamente,
baseados nas constantes elásticas do material, isto é, dos parâmetros E e .

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EMPUXOS DE TERRA

Considere uma massa de solo onde, na profundidade h destaca-se um determinado


elemento que pode, verticalmente, se deformar pelo efeito do peso do material ocorrente
acima; mas, essa deformação é equilibrada lateralmente devido à continuidade da massa
em todas as direções. Esta situação, do elemento destacado, pode ser representada por uma
situação equivalente onde o solo tenha sido deslocado, e um plano considerado imóvel
(contenção), indeformável e sem atrito de contato substitui essa ausência, conforme
representado na Figura 6.4 pelo plano de traço OO'.

Situação inicial Situação após retirar a massa de solo


Figura 6.4 – Representação dos esforços atuantes em um ponto no interior da massa de solo

A pressão lateral que o solo exerce na profundidade h será dada pela expressão
abaixo, sendo as tensões vertical v e horizontal h efetivas, e não tensões totais:

Como visto no Capítulo 4 deste curso, “A tensão normal no plano vertical depende
da constituição do solo e do histórico de tensões a que ele esteve submetido anteriormente.
Normalmente é referido à tensão vertical, sendo a relação entre tensão horizontal efetiva
e a tensão vertical efetiva denominada coeficiente de empuxo em repouso e indicada
pelo símbolo K0”.
Em situações de solos abaixo do NA, isto é, havendo ocorrência de pressão neutra,
o diagrama de pressões horizontais ficará acrescido dessa parcela da pressão neutra. A
Figura 6.5 ilustra o diagrama de pressões horizontais em função da tensão efetiva, cujas
áreas implicam nas resultantes dos esforços para as duas hipóteses consideradas (sem e
com pressão neutra).

Figura 6.5 – Diagrama de pressões horizontais em repouso: função da tensão efetiva

As estruturas cujos paramentos são travados (engastados) e não tem possibilidade


de sofrerem grandes variações de temperatura (no caso de obras enterradas), podem ser
consideradas indeformados e dimensionados para absorverem estes esforços no
repouso. As pressões no repouso não dependem da resistência ao cisalhamento do solo,
mas, de suas constantes elásticas, conforme ressaltado.

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EMPUXOS DE TERRA

Determinação do Coeficiente de Empuxo – K0


A determinação do coeficiente de empuxo no repouso pode ser feita a partir da
teoria da elasticidade, por correlações empíricas, ensaios de laboratório e ensaios de
campo. No entanto, a sua determinação exata torna-se difícil principalmente por dois
fatores: alteração do estado inicial de tensões e amolgamento, provocados pela introdução
do sistema de medidas. Estes dois fatores também influenciam o comportamento de
amostras utilizadas em ensaios de laboratório.

Valor teórico – Teoria da Elasticidade


As equações da teoria da elasticidade, sob a condição de deformações horizontais
nulas ( = = 0), estimam o valor de K0, função apenas do coeficiente de Poisson (µ):

mas
, então:

Para solos, o coeficiente de Poisson é variável em função do material e situação de


estar drenado ou não. Sorvers (sd) sugere os valores de K0 calculados e apresentados na
Tabela 6.3, considerando o coeficiente de Poisson, para solos: 0,25 <  < 0,5.

Tabela 6.3 – Valores de K0 para situações drenadas e não-drenadas, obtido a partir de µ


Solo K0 efetivo drenado K0 total sem drenagem
Argila média (mole) 0,6 1,0
Argila dura 0,5 0,8
Areia solta 0,6 –
Areia compacta 0,4 –

Gerscovich (2008) ressalta que esta expressão, entretanto, representa uma condição
pouco realista, uma vez que os solos são normalmente anisotrópicos, não homogêneos e de
comportamento não-elástico.
A Figura 6.6 mostra a trajetória de tensão efetiva de um elemento de solo em
processos de carregamento e descarregamento infinitos. A inclinação da trajetória muda
significativamente durante o descarregamento, indicando que para um determinado valor
de ’v, a tensão horizontal no descarregamento é superior a do carregamento; em outras
palavras, K0 (PA – Pré Adens.) > K0 (NA – Norm. Adens.). O atrito entre as partículas
impede o alívio de tensão horizontal, quando as tensões verticais são reduzidas.

Correlações Empíricas (Ensaios)


Diversas expressões foram propostas na literatura para estimativa de K0, conforme
mostra a Tabela 6.4. Estas proposições valem para solos sedimentares. Solos residuais e
solos que sofreram transformações pedológicas posteriores, apresentam tensões horizontais
que dependem das tensões internas da rocha ou do processo de evolução sofrido. Nestes
solos o valor de K0 é muito difícil de ser obtido.

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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.6 – Trajetória de tensões em processo de sedimentação (Gerscovich, 2008)

Tabela 6.4 – Correlações empíricas para estimativa de K0


Equação Utilização Autor
Areias Jaky (1944) Expressão simplificada
Argilas normalmente
Jaky (1944) Expressão original
adensadas
(Bishop, 1958)
Extensão da fórmula de Jaki (1944)
Argilas pré-adensadas Extensão da fórmula de Jaki (1944)
Expressão simplificada (φ = 300)
Argilas normalmente Brooker Ireland (1965)
adensadas
Argilas normalmente Alpan (1967)
adensadas
Sendo: φ’ = ângulo de atrito efetivo, OCR = razão de pré-adensamento, IP = índice de plasticidade (em %)

Caputo e Caputo (2017) sugerem, de uma forma genérica, os valores para K0


apresentados na Tabela 6.5. A Tabela 6.6 sugere outros valores de K0 para diversos solos.

Tabela 6.5 – Valores genéricos para o coeficiente de empuxo em repouso - K0


Solo K0
argila 0,70 a 0,75
Areia solta 0,45 a 0,50
Areia compacta 0,40 a 0,45

6.3 – Condições em que o plano de contenção se movimenta

Nas estruturas, fora das condições iniciais ilustradas anteriormente, pode-se ter
deslocamentos do plano de contenção em valores capazes de ativar a resistência interna
ao cisalhamento do solo, pois, nem sempre, a estrutura é travada e apresenta as condições
de repouso absoluto. Ao se movimentarem, acionam resistências internas ao
cisalhamento do solo, sendo desenvolvidas tensões horizontais diferentes das
consideradas até então.
São dois os estados de tensões desenvolvidos quando há o deslocamento da parede
de contenção, conforme ilustrado na Figura 6.7. O cálculo dos empuxos para as condições
ativa e passiva é feito de maneira análoga ao do repouso, sendo que os coeficientes de
empuxo são substituídos por Ka (coeficiente de empuxo ativo) ou Kp (coeficiente de
empuxo no passivo).

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EMPUXOS DE TERRA

Tabela 6.6 - Valores de K0 (composta a partir de Bernatzik, 1947; Bishop, 1957,1958;


Simons, 1958; Terzaghi e Peck,1967, apud UFPR, 2018)

Figura 6.7 – Variações no tipo de empuxo com o deslocamento da parede

Desenvolvimento do empuxo
A Tabela 6.7 indica deslocamentos típicos (função da altura da estrutura H), mínimos,
de afastamento do paramento vertical para acionar a resistência ao cisalhamento no plano
de ruptura e produzir os estados ativo e passivo de empuxo (segundo Sowers e Sowers, sd).

Tabela 6.7 – Valores de deslocamentos típicos, mínimos, para o desenvolvimento de empuxo


Solo Estado ativo Estado passivo
Não coesivo composto 0,0005 H 0,005 H
Não coesivo solto 0,002 H 0,01 H
Coesivo duro 0,01 H 0,02 H
Coesivo médio/mole 0,02 H 0,04 H

A variação do estado de tensões nos estados ativo e passivo, assim como em


repouso, pode ser interpretada com o auxílio do traçado dos círculos de Mohr em relação à
envoltória de resistência do material, como mostrado na Figura 6.8 (no ex., sem coesão).

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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.8 – Estado de tensões nos estados ativo, passivo e repouso (Caputo e Caputo, 2017)

Partindo da tensão vertical v = z observa-se que o maciço expandindo-se, a


tensão horizontal h decresce até que o círculo torna-se tangente à reta de Coulomb; neste
ponto, ocorre a ruptura e o valor de h é dado por Kaz. Assim, os pontos de tangência
representam estados de tensão sobre planos de ruptura.
Observa-se, assim, que no estado ativo a plastificação do maciço dá-se ao longo de
planos definidos por um ângulo de 45 + φ/2 com a horizontal e um ângulo de 45 - φ/2 no
estado passivo.
Ressalta-se que no caso do estado passivo, o maciço contraindo-se, a tensão
horizontal h cresce até que o círculo torna-se tangente, ocorrendo à ruptura. No caso do
estado em repouso a tensão horizontal h é menor que a tensão vertical v, mas não chega
a haver ruptura (equilibrio elástico e não plástico como os dois anteriores).

Tipos de empuxo
EMPUXO ATIVO - A Estrutura se desloca para fora do terrapleno
O solo sofre uma distensão ao reagir contra esta ação de afastamento do plano
interno da estrutura de contenção, provocando na massa uma resistência ao longo do
possível plano de escorregamento. O desenvolvimento de resistência ao cisalhamento
alivia, até certo ponto, a ação do solo sobre o paramento interno da estrutura.
Este plano de ruptura faz um ângulo  com o traço do plano principal maior,
caracterizando um estado de tensões, como mostra a Figura 6.8 limitando-se com a
superfície do terrapleno e com o paramento interno da estrutura, formando assim uma
região que é denominada cunha instável. Esta cunha está passível de movimento, portanto,
nessa região o equilíbrio é plástico (Figura 6.9).
Neste caso o solo foi ativado em sua resistência interna, sendo chamado de Estado
Ativo de Equilíbrio. O esforço do solo desenvolvido sobre a estrutura de contenção é
chamado de Empuxo Ativo.

EMPUXO PASSIVO - A Estrutura se desloca contra o terrapleno


O solo é comprimido pela estrutura, sofre uma compressão na cunha instável,
gerando, ao longo do plano de rutura, uma reação ao “arrastamento”, ou seja, de resistência
ao cisalhamento. O movimento do parâmetro interno contra a massa de solo, tentando
deslocá-la, provoca o surgimento de uma movimentação, que menor seja, terá que vencer
essa resistência deslocando o peso da massa na região abrangida pela cunha.

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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.9 – Estado de empuxo ativo: distenção do solo

De maneira similar, a cunha instável é limitada pelo plano de ruptura que faz um
ângulo  com o traço do plano principal maior (Figura 6.8), pela superfície do terrapleno e
pelo paramento interno da estrutura de contenção, que limita a massa de solo responsável
por uma compressão no sentido horizontal gerando essa situação particular de equilíbrio,
como mostra a Figura 6.10.
A ação do solo será passiva ao movimento sendo a situação de equilíbrio chamado
de Estado Passivo de Equilíbrio, solicitação em que a estrutura recebe todo esforço
decorrente da ação passiva do solo em relação ao movimento. Esse esforço desenvolvido
pelo solo sobre o parâmetro interno da estrutura é chamado de Empuxo Passivo.

Figura 6.10 – Estado de empuxo passivo: compressão do solo

A mobilização da resistência do solo ao longo da superfície de ruptura é que reduz


a ação do solo atrás da contençao no estado ativo e aumenta esta ação no caso do estado
passivo. Pode-se observar na Figura 6.7 que, depois de determinada mobilização o empuxo
não cresce nem decresce, pois a resistência ao cisalhamento já atingiu o valor máximo.
Observa-se também que o estado ativo de tensões corresponde exatamente o que ocorre em
um ensaio triaxial de tensões (tensão maior na vertical).

Em relação às estruturas de contenção ou arrimo, resalta-se que quando há


restrição ao deslocamento, como é o caso das estruturas “engastadas”, o empuxo mais
adequado de ser considerado é o “repouso”, como é o caso da contenção da Figura 6.11
(a), na Av. Brasil (J. Fora-MG). Trata-se de muro de flexão executado sobre fundações
profundas (estacas), executada e concretada juntas, configurando uma estrutura toda
“travada”, indeslocável. No caso de estruturas em que se permite o deslocamento temos os
empuxos ativo e passivo, como os casos de obras ilustradas na Figura 6.11 (b) e (c).

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EMPUXOS DE TERRA

A contenção da Figura 6.11 (b) corresponde a um muro de pedras argamassadas,


sendo a estrutura totalmente “solta” o que implicará no desenvolvimento de empuxo ativo.
Na contenção da Figura 6.11 (c) a parede de arrimo foi executada com tirantes, o que
implica na aplicação de uma carga significativa (maior) na horizontal, que leva o
desenvolvimento de empuxo passivo.

(a)

(b) (c)
Figura 6.11 – Estruturas de contenção - arrimo sob empuxo em repouso (a), ativo (b) e passivo (c)

Para o cálculo da resultante de empuxo que atuam nestes casos, o procedimento


será análogo ao demonstrado, variando, apenas o coeficiente de empuxo, ativo ou passivo,
como expresso:
1
Para empuxo ativo: E a = .K a . .h 2
2
1
Para empuxo passivo: E p = .K p . .h 2
2

Drenagem – Desenvolvimento de pressão neutra


Ressalta-se que em termos de avaliação (cálculo) do empuxo, é válida a
consideração de acréscimo da pressão neutra no diagrama de pressões, quando há
condição do desenvolvimento desta pressão. Isto é, a pressão horizontal é calculada em
função da ocorrência das pressões verticais efetivas, variando, somente o coeficiente de
empuxo para cada caso específico a considerar, somada a pressão neutra, se ocorrer.

De forma que, na prática, equivale dizer que ocorrendo pressão neutra não prevista
anteriormente no cálculo, pode-se se ter um acréscimo de empuxo significativo – o que
tem sido responsável por diversos insucessos em obras de arrimo. A fim de evitar o
desenvolvimento de pressões de água junto ao muro recomenda-se executar um sistema de
drenagem capaz de eliminar águas que por ventura venham a se acumular por trás destas
paredes. A Figura 6.12 ilustra alguns exemplos de sistemas de drenagem junto a muros.
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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.12 – Sistemas de drenagem junto a muros e ilustração de rede de fluxo gerada

6.4 – Teoria de Rankine (1857)

Segundo Wikipédia (2018), William John Macquorn Rankine (1820-1872) foi um


polímata escocês, tendo concluido o curso de Engenharia Civil em 1838. Na Engenharia
Civil desenvolveu técnicas na área da mecânica dos sólidos como a teoria dos empuxos de
solos, apresentada em 1857, com algumas observações diferentes da teoria de Coulomb
(1776), a ser visto adiante neste curso.

Os processos clássicos utilizados para a determinação dos empuxos de terra


utilizam-se dos métodos de equilíbrio limite. Nestes métodos admite-se que a cunha de
solo situada em contato com a estrutura de suporte esteja num dos possíveis estados de
plastificação, ativo ou passivo - ele considera a totalidade da massa de solo em estado de
equilíbrio plástico. Esta cunha tenta deslocar-se da parte fixa do maciço e sobre ela são
aplicadas as análises de equilíbrio dos corpos rígidos (indeformável). A análise de Rankine
se apoia nas equações de equilíbrio interno do maciço. Estas equações são definidas para
um elemento infinitesimal do meio e estendida a toda a massa plastificada através de
integração ao “longo de sua altura”.

Sendo a parede vertical considerada perfeitamente lisa (sem atrito, inicialmente) a


distribuição de pressão junto ao muro cresce linearmente com a profundidade e no caso de
solos não coesivos o ponto de aplicação se situa a uma distância vertical de 1/3 da altura do
muro e sua resultante é determinada pela área do diagrama.

Rankine, no desenvolvimento de sua teoria impõe algumas condições iniciais


pressupostas como fundamentais para os primeiros passos da análise da resistência ao
cisalhamento das massas de solos. São elas:

a) O solo do terrapleno considerado é areia pura seca (sem coesão) homogênea em


todo o espaço semi-infinito considerado;
b) O terrapleno é constituído de uma camada única e contínua de mesmo solo e sua
superfície superior é horizontal (solo homogêneo);
c) O atrito entre o terrapleno e o paramento vertical do plano de contenção é
considerado nulo;
d) O terrapleno não tem nenhuma sobrecarga (concentrada, linear ou distribuída).

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EMPUXOS DE TERRA

Condição do empuxo ativo (Figura 6.13)

. Cunha acompanha o movimento do


deslocamento do muro, afastando-a no sentido
horizontal, devido σv (maior) = σ1

. Resistência ao cisalhamento desenvolvida ao


longo do plano de ruptura reduz a ação de
movimento, diminuindo o esforço sobre o
parâmetro vertical ao valor mínimo.
σh (menor) = σ3

Figura 6.13 – Empuxo ativo: Estado de tensões e plano de ruptura

A condição inicial de Rankine impõe a condição de c = 0 (coesão nula). Tomando-


se a equação analítica da ruptura, temos:
1 = 3 . N  + 2C N  , para c = 0, temos: 1 = 3 . N equação a ser analisada
Para condição ativa, temos: σh = σ3 e σv = σ1
Substitiuindo na equação acima, tem-se:  v =  h  N 
1
Excluindo a pressão horizontal:  h =   v ou  h = K a   v
N

Portanto, 1 1 
Ka = = = tg 2 (45o − )
N  2
tg 2 (45o + )
2

Condição do empuxo passivo (Figura 6.14)

. Cunha acompanha o movimento do muro,


vencendo o seu peso e a resistência interna ao
cisalhamento, afastando-a no sentido vertical
para cima, devido σv (menor) = σ3

. Resistência ao cisalhamento desenvolvida ao


longo do plano de ruptura soma-se ao peso da
cunha agindo sobre o parâmetro vertical, a
maior possível. σh (maior) = σ1

Figura 6.14 – Empuxo passivo: Estado de tensões e plano de ruptura

Para condição passiva, temos: σh = σ1 e σv = σ3


Substitiuindo na equação acima, tem-se: h = N . v

Portanto, 
K p = N  = tg  = tg (45o + )
2 2
2

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EMPUXOS DE TERRA

Em função das expressões obtidas, temos:


1 1
Ka = ou Kp = , sendo Ka < 1,0 e Kp > 1,0 e Ka < K0 < Kp
Kp Ka

Para os diversos valores de , apresenta-se na Tabela 6.7 os coeficientes de


empuxo ativo e passivo, segundo a teoria de Rankine.

Tabela 6.7 – Coeficientes de empuxo ativo e passivo de Rankine, em função de 


 Ka Kp
0º 1,00 1,00
10º 0,70 1,42
20º 0,49 2,04
25º 0,41 2,47
30º 0,33 3,00
35º 0,27 3,69
40º 0,22 4,40
45º 0,17 5,83
50º 0,13 7,55
60º 0,07 13,90

Outras considerações (diferentes das condições iniciais impostas pela teoria)

Mantendo-se a mesma conceituação de Rankine quanto aos coeficientes de


empuxo, sairemos agora das condições iniciais (ideais). As considerações serão
abordadas para a condição ativa mas, por similaridade, podem ser consideradas para
condição passiva.

6.4.1 – No caso de haver sobrecarga no terrapleno

No caso de se considerar a ocorrência de uma sobrecarga uniformemente


distribuída no terrapleno, com intensidade “ q ” (Figura 6.15), pode-se transformar esta
sobrecarga em uma altura equivalente de solo da camada (h0).

Figura 6.15 – Diagrama de tensões considerando uma sobrecarga no terrapleno


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EMPUXOS DE TERRA

Sendo q = .h0
q sobrec arg a vertical
Altura equivalente de solo = h0 = =
 peso específico do solo

O diagrama de tensões verticais terá uma pressão inicial hi devido à altura
equivalente de terra (h0), para a condição ativa, a saber:
q
 hi = K a . .h0 = K a . . = Ka.q

Isto é, hi corresponde ao produto do coeficiente de empuxo ativo pela tensão
vertical atuante daquela “cota” (tensão horizontal função da tensão vertical).

6.4.2 – No caso de considerar o solo também coesivo

No caso de se considerar a ocorrência de fração fina (argilosa) no solo, o que


implica em também considerar a coesão “C” no cálculo, a equação analítica da rutura
permanece completa. Ou seja: 1 = 3 . N  + 2C. N 

No caso ativo:  V =  h . N  + 2. C. N 
O valor de h será:
1 N
h = . V − 2.C.   h = K a . V − 2.C. K a
N N

O diagrama de tensões corresponde ao ilustrado na Figura 6.16. Pela equação


anterior vê-se que haverá um ponto em que h = 0. Esse ponto corresponde a:
Ka . v = 2. C. Ka

Considerando essa profundidade hI, escrevemos:


2C Ka 2C
Ka .  . hI = 2. C. Ka  hI = . , ou: hI =
 Ka  . Ka

Figura 6.16 – Diagrama de tensões (ativo) considerando o solo coesivo e


aspecto de fendas de tração que tendem a ocorrer nos solos

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EMPUXOS DE TERRA

Tem-se uma região de tensões de tração, inicial, de altura hI, devido a ocorrência
de “C”, portanto, como os solos não resistem à tração, ocorrerão aberturas de “fendas” ou
“trincas” de tração na sua superfície, como ilustrado na Figura 6.17 (a).

Continuando a análise, agora, na consideração de resultante de empuxo, temos:


h
E a =  ( K a . V − 2.C. K a ) d h = 1 . K a . . h2 − 2.C.h. K a
0 2

Haverá, portanto, da mesma forma que no caso da tensão horizontal, uma


profundidade onde o empuxo ativo se anula. Nesse caso, a condição para que se anule é:
1
. Ka .  . h2 = 2. C. h. Ka .
2
A profundidade em que o empuxo se anula é denominada “altura crítica” (hcrit).
1
Substituindo temos: . Ka .  . h2criti = 2. C. hcrit . Ka
2
Tirando-se o valor de hcrit:
2. C. Ka 4. C
hcrit = 1 = = 2. hI
. Ka .   . K a
2

Como se pode ver no diagrama da Figura 6.16, a área de tração será compensada
por igual área de compressão, correspondente a mesma profundidade hI, equivalendo à
profundidade da altura crítica. Teoricamente, na profundidade da altura crítica não há
desenvolvimento de empuxo. Logo, essa é a altura em que se pode fazer um corte sem
necessidade de estrutura de contenção ou escoramento, como ilustrado na Figura 6.17 (b).

(a) (b)
Figura 6.17 – (a) Aspecto de fendas de tração que evoluiram para escorregamento de terra –
instabilização do talude; (b) Altura de escavação de vala sem necessidade de escoramento

Tratando-se de solos argilosos, com possíveis variações de “C” no período de


utilização, o IPT/SP recomenda que se adote um coeficiente de segurança, adotando-se hcrit
= hI, em função de constatações práticas ou seja, a altura correspondente a fenda de tração.
Assim, deve-se considerar a resultante de empuxo (Ea) como a tensão
correspondente a representada pela área do triângulo hachurado da Figura 6.18, ilustrado
por Caputo e Caputo (2017), que considera hI como z0 (sentido inverso da figura 6.16).

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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.18 – Resultante de empuxo ativo considerando o solo coesivo (Caputo e Caputo, 2017)

Para o caso passivo, não implica apenas em substituir o coeficiente, como se vê:
No caso passivo:  h =  v . N  + 2.C. N 
O valor de h será: 
 h = K p . V + 2.C. K p

O diagrama de tensões corresponde ao ilustrado na Figura 6.19, em que se pode


observar que a parcela da coesão E”p é somada, e não subtraida à primeira parcela E’p.

Figura 6.19 – Resultante de empuxo passivo considerando o solo coesivo

6.4.3 – No caso de haver mais de uma camada

Calculam-se a as tensões desenvolvidas em cada camada individualmente. O que


ocorre é que no cálculo das tensões na camada 2, que se considera a camada 1 como uma
sobrecarga sobre a camada 2, como no cálculo de tensões verticais, agora será multiplicado
pelo K da camada em questão (2), uma vez que o comportamento na camada 2 vai ser
diferente que na camada superior (1). Haverá então uma descontinuidade no gráfico, por
haver alteração do coeficiente K (Figura 6.20). Se 2>1, K2<K1 e se 2<1, K2>K1.

Figura 6.20 – Diagrama de tensões considerando ocorrência de várias camadas (Ex. 2 >1)
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EMPUXOS DE TERRA

Assim, a camada 1 atuará como sobrecarga: q1 =  1.h1


Em relação ao solo da camada 2 atuará como sobrecarga: q1 =  2 .h0
q 1  1 .h 1  1 .h1
h'0 = =  h 2 = h'0 .K a 2 . 2 + K a 2 . 2 .h2 = .K a 2 . 2 + K a 2 . 2 .h2
2 2 2
 h 2 = K a 2 . 1 .h 1 + K a 2 . 2 .h 2

6.4.4 – No caso de ocorrer NA na camada

Ressalta-se que o conceito do coeficiente K é uma relação de tensões efetivas como


já destacado, inclusive na Figura 6.7.

Essa consideração já foi feita anteriormente quando se abordou a ocorrência de


pressão neutra. No caso de ocorrência de pressão neutra “u”, deve-se calcular as duas
parcelas de empuxo, conforme Figura 6.21, sendo que para a camada sob NA está
especificada as duas parcelas de contribuição (solo - efetiva + água), destacada a da água.
Costuma-se, na grande maioria dos casos, fazer um sistema de drenagem no
terrapleno, de maneira que a água não desenvolva pressão neutra sobre o parâmetro
vertical da estrutura de contenção, mas, supondo-se que por qualquer problema não se
possa fazer a drenagem deve-se considerar o acréscimo desta pressão, como ilustrado.

Figura 6.21 – Diagrama de tensões considerando NA na camada (2<1 - K2>K1)

Observe que na faixa do NA tem-se a pressão neutra agindo em valor integral


considerando-se assim o coeficiente de empuxo da mesma igual a 1,0, por se tratar de um
fluido (transmite a mesma pressão em todas as direções). Em relação à parcela do solo, γ2 é
o peso específico submerso por se referir a tensão efetiva do solo.

6.4.5 – No caso de considerar a inclinação do terrapleno

Se a superfície livre do terrapleno tem uma inclinação β (Figura 6.22), os valores


dos coeficientes de empuxos serão, segundo dedução analítica de Rankine,
respectivamente: (com os seus pontos de aplicação ainda no terço inferior da altura h)

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Figura 6.22 – Diagrama de tensões considerando o terrapleno inclinado

6.4.6 – No caso de considerar atrito entre parameto vertical e solo

Considerando a ocorrência de atrito entre o contato dos materiais da superfície do


paramento vertical do muro e o solo que se encontra atrás deste, parte do empuxo que atua
no paramento vertical será “usado” para vencer esse esforço de atrito. Para se considerar
esse valor do empuxo despendido na parede, adota-se inclinar a resultante de empuxo
de um ângulo , em relação a horizontal (Figura 6.23), decompondo esse resultante em
duas componentes normais entre si, ficando a horizontal menor que seu valor absoluto.
O professor Pimenta Velloso em seu livro “Muros de Arrimo” adota os valores da
Tabela 6.8.

EaH  Ea

E aH = E a . cos()
E aV = E a .sen()

(a) (b)
Figura 6.23 – Resultante de empuxo ativo (a) e passivo (b), considerando atrito solo/estrutura

Tabela 6.8 - Valores de ângulo de atrito solo-muro recomendados por Pimenta Velloso
1
Para muros de paredes lisas = 
3
2
Para muros de paredes normais = 
3
3
Para muros de paredes rugosas = 
4

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6.5 – Teória de Coulomb (1776)

Outra solução analítica consagrada para a determinação do empuxo de terra deve-se


a Coulomb, datada de 1776, anterior a de Rankine (1857). Segundo Wikipédia (2018),
Charles Augustin de Coulomb (1736-1806) foi um notável físico francês. Engenheiro de
formação, Coulomb foi principalmente físico.

A Teoria de Coulomb (1776) de empuxo de terra baseia-se na teoria de equilíbrio


limite, isto é, na existência de uma superfície de ruptura, e, ao contrário da teoria de
Rankine, admite originalmente a existência de atrito solo-muro. A Teoria de Coulomb
baseia-se na hipótese de que o esforço exercido no/pelo paramento é proveniente da
pressão do peso parcial de uma cunha de terra (corpo rígido - indeformável), mas que se
rompe segundo superfícies curvas, espiral logarítmica. Nos casos práticos, é válido
substituir esta curvatura por uma superfície plana, que chamamos de plano de ruptura ou
plano de deslizamento. A vantagem deste método reside no fato de que se pode considerar
a ocorrência de atrito solo-muro, além de possibilitar a análise de estruturas com o
paramento não vertical. Em resumo são consideradas as seguintes hipóteses:

a) Solo homogêneo e isotrópico;


b) A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação, ou seja, a ruptura é tratada
como um problema bidimensional;
c) Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de
equilíbrio limite (critério de Mohr-Coulomb), ou seja, o estado de equilíbrio
plástico é proveniente do peso de uma cunha de terra;
d) Forças de atrito são uniformemente distribuídas ao longo da superfície de ruptura
junto ao paramento do muro (atrito solo-muro).

Esta última hipótese permite conhecer a direção do empuxo. Nenhuma referência é


feita, entretanto, ao seu ponto de aplicação ou à forma da distribuição das tensões
horizontais sobre o muro. O cálculo do empuxo é efetuado estabelecendo-se as equações
de equilíbrio das forças atuantes sobre uma cunha de deslizamento hipotética. Uma das
forças atuantes é o empuxo que no estado ativo será o máximo valor dos empuxos
determinados sobre as cunhas analisadas; o passivo, o mínimo.

6.5.1 - Solos não coesivos

Na teoria apresentada por este notável físico - Coulomb, o terrapleno é considerado


como um maciço indeformável, mas que se rompe segundo superfícies curvas, as quais se
admitem planas por conveniência, conforme mostrado na Figura 6.24, para o caso de
empuxo ativo e na Figura 6.25, para o caso de empuxo passivo.
Considera-se uma possível cunha de ruptura ABC, em equilíbrio sob a ação das
seguintes forças:
P – peso da cunha, conhecido em grandeza e direção;
R – reação do terreno (resistência do solo) – parcela de atrito da equação de
Mohr-Coulomb, formando um ângulo  com a normal à linha de ruptura BC;
Ea – empuxo resistido pela parede, força cuja direção é determinada pelo ângulo 
de atrito entre a superfície rugosa AB - muro e o solo (força incógnita).

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EMPUXOS DE TERRA

Figura 6.24 – Cunha e correspondente polígono de forças para empuxo ativo

Figura 6.25 – Cunha e correspondente polígono de forças para empuxo passivo

Obtem-se assim a determinação de Ea (resultante de empuxo ativo) ou Ep


(resultante de empuxo passivo) traçando-se o polígono de forças, tal como desenhado nas
Figuras 6.23 ou 6.24.
Admitindo-se, então, vários possíveis planos de escorregamentos, BCi, será
considerada como superfície de ruptura aquela que corresponder ao maior valor de E a
ou ao menor valor de Ep, que é o valor procurado.

Divergem as opiniões quanto ao valor a ser atribuido a ; podendo também admitir,


3  2
segundo Müller Breslau, no máximo  =  e de acordo com Terzaghi,     .
4 2 3
A curvatura da superfície de ruptura para o caso de passivo tem maior importância
que no caso ativo e é tanto mais acentuada quanto maior for  em relação à , o que torna
admissível a aplicação da teoria de Coulomb para o cálculo do empuxo passivo, somente
aos solos não coesivos quando   /3.

Solução analítica
Partindo das condições de equilíbrio das três forças P, R, Ea, deduzem-se
analiticamente as equações gerais, para os empuxos ativo (Ea) e passivo (Ep).
Os valores para as resultantes de empuxo e os coeficientes de empuxo segundo a
teoria de Coulomb para solos não coesivos são:
1 sen 2 ( +  )
Ea =  .h 2 .K a Ka = 2
2  sen( +  ) sen( −  ) 
sen  sen( −  ) 1 +
2

 sen( −  ) sen( +  ) 
1 sen 2 ( +  )
E p =  .h 2 .K p Kp = 2
2  sen( +  ) sen( −  ) 
sen  sen( −  ) 1 −
2

 sen( −  ) sen( +  ) 

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EMPUXOS DE TERRA

Antigamente, eram utilizadas tabelas, como as de Krey, que facilitam muito a


determinação dos valores do empuxo, como apresentado na Tabela 6.9, para o caso ativo
de um muro com paramento vertical (=00) e terrapleno com horizontal (=00).

Tabela 6.9 - Coeficientes de empuxo ativo para muro com =00 e =00
 15º 20º 25º 27.5º 30º 32.5º 35º
=0 0
0.590 0491 0.406 0.369 0.334 0.301 0.272
 = 50 0.557 0.466 0.386 0.351 0.318 0.288 0.261
 = 100 0.534 0.448 0.372 0.340 0.309 0.281 0.253
 = 150 0.517 0.435 0.364 0.332 0.302 0.274 0.248
 = 200 - 0.428 0.358 0.328 0.300 0.271 0.246
 = 250 - - 0.357 0.327 0.298 0.271 0.246
 = 300 - - - - 0.297 0.273 0.248

A teoria de Coulomb para o caso de solos não coesivos, leva em conta, ao contrário
de Rankine, o atrito entre o terrapleno e a superfície sobre a qual se apóia. Essas equações,
para  = 90º e  =  = 0º, transformam-se nas conhecidas expressões de Rankine:
1  1 
E a =  .h 2 .tg 2 (45 − ) E p =  .h 2 .tg 2 (45 + )
2 2 2 2

Soluções gráficas
Diversas soluções gráficas (Poncelet, Culmann...) foram posteriormente
apresentadas na literatura procurando resolver o problema. O método de Culmann procura
determinar a resultante de empuxo para terrapleno com geometria irregular ou com
carregamento externo. Este método, na sua versão original, se aplica a solos não coesivos e
leva em consideração o ângulo de atrito entre solo e muro. O valor do empuxo é
determinado fazendo-se variar o ângulo de inclinação da superfície de ruptura, admitida
plana. Entre os valores obtidos, o maior deles é tomado como sendo a resultante de
empuxo ativo procurada ou o menor como sendo a resultante de empuxo passivo.

6.5.2 - Solos coesivos

Na aplicação da teoria de Coulomb aos solos coesivos, além das forças P (peso da
cunha) e R (reação de resistência do solo – parcela de atrito) deve-se considerar ainda as
forças de coesão, S, parcela ao longo da superfície de ruptura e de adesão, T, entre o
terrapleno e a parede. O problema consiste, pois, em procurar o máximo valor da força
Ea (neste caso) que, com as demais, feche o polígono das forças (Figura 6.26), as quais são
conhecidas em grandeza e direção: P, S e T, e apenas em direção: R e Ea.

Figura 6.26 – Cunha e polígono de forças para empuxo ativo considerado o solo coesivo

182
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EMPUXOS DE TERRA

Neste caso faz-se necessário o cálculo da resultante diretamente pelo desenho do


polígono de forças. Não há um coeficiente de empuxo K que corresponda à situação em
análise, simplicando a sua determinação, como pode haver nos casos anteriores. Para a
situação de empuxo passivo o procedimento deve ser o mesmo, considerando a posição da
resultante Ep como já ilustrado.

As soluções de Coulomb e Rankine são analíticas, embora sob conceituações


distintas, são simples e de fácil utilização e vem sendo largamente empregadas até o
presente, apesar de algumas limitações de aplicabilidade em situações práticas. Ambas não
levam em conta, por exemplo, a condição de terrapleno ser irregular ou apresentar
sobrecarga.

6.6 – Exercícios de Aplicação

1 – Considere um muro de concreto ciclópico (peso) com 3,0m de altura, para contenção
de uma areia, cujos parâmetros são apresentados na figura abaixo.
Considere uma carga de “multidão” distribuída sobre o terrapleno, majorada em 50%, por
motivo de segurança.
Pede-se determinar, utilizando-se da teoria de Rankine:
a) O diagrama de tensões de empuxo;
b) A resultante de empuxo (E);
c) O ponto de aplicação da resultante de empuxo (d) e
d) Considerando o conceito de “momento de
tombamento” Mtom = E.d, sendo d o “braço de
alavanca” – distância na vertical do ponto de
aplicação da resultante em relação ao ponto “A” de
“rotação” do muro, calcule-o.

A
Solução:
a) Diagrama de tensão horizontal (caso é de empuxo ativo)

Sobrecarga de multidão. Considerado 4 pessoas/m2.1,5, temos:

Obs.
Com majoração de 50% equivale a
6 pessoas de 80 kgf/m2

Tensões no topo e na base do muro:

183
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EMPUXOS DE TERRA

Diagrama de tensões de empuxo (a) e “croqui” das resultantes de empuxo (b):

(a) (b)

b) Resultante de empuxo corresponde à soma de duas partes

(obs. Resultante corresponde a uma força, calculada para 1 metro linear de muro)
c) Ponto de aplicação da resultante de empuxo
d = ? Aplicando a igualdade de momento total igual a soma dos parciais ...

d) Momento de tombamento da terra em relação ao muro – Mtom = E.d


Mtom = E.d Mtom = 30,3.1,08 = 32,72 kN.m

2 – Para o terreno indicado na figura abaixo, trace o diagrama das tensões ativas sobre o
painel vertical AB e indique a direção das linhas de ruptura.

Camada de areia

Camada de argila

184
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EMPUXOS DE TERRA

Solução:
Diagrama das tensões
As tensões ativas no solo (1) são calculadas usando:
e γ = 18 kN/m³.
As tensões ativas no solo (2) são calculadas usando
e γ = 16 kN/m³ e C = 1 kN/m².

As tensões ao longo do painel vertical AB estão calculadas na tabela abaixo.


Observe que:
- o solo (1) é considerado como uma sobrecarga de (18 X 3,0) kN/m² sobre o solo (2),
adicionando-se a sobrecarga de 60 kN/m²;
- o solo (2) sendo uma argila, há uma parcela a subtrair:  ' h = K . 'V − 2.C. K a

SOLO PROFUNDIDADE (m) TENSÕES ATIVAS - ’h = K. ’v (kN/m²)


1 0 = 20,00
1 3-δ = 38,00
2 3+δ = 65,72
2 8 = 112,92

Direção das linhas de ruptura


Os ângulos das linhas de ruptura são, para o solo (1), e, para o solo (2),
.

O diagrama das tensões e a direção das linhas de ruptura estão representados na figura:

185
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Capítulo 7 – CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

7.1 – Introdução e definições

O problema da determinação da capacidade de carga dos solos é dos mais


importantes para o engenheiro, que atua na área de construção civil, particularmente
para o desenvolvimento de projeto de fundações.
As fundações superficiais são aquelas em que a profundidade de assentamento da
fundação no solo é menor que duas vezes à sua largura. Outro tipo de fundação, chamada
de profunda, possui o comprimento muito maior que sua largura (Figura 7.1).

Fundações Superficiais ou Diretas Fundações Profundas


Figura 7.1 - Principais tipos de fundações. Superficiais: bloco, sapata, viga e radier,
Profundas: estacas metálicas, pré-moldadas, moldadas “in situ”, escavadas - tubulões

A norma NBR 6122 (ABNT): Projeto e Execução de Fundações define uma


“Fundação Superficial (Rasa ou Direta)” como sendo o “Elemento de fundação em que a
carga é transmitida ao terreno pelas tensões distribuídas sob a base da fundação, e a
profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente à fundação é inferior a
duas vezes a menor dimensão da fundação”. Quanto ao conceito de “Fundações
Profundas”, este será estudado nas disciplinas específicas de fundações.

A Figura 7.2 ilustra o aspecto de uma fundação superficial em forma de sapata, em


que se observa a força de “ação” Q, que gera uma tensão (pressão) p no solo, enquanto
que o solo pode responde com uma “reação limite” pr (tensão de ruptura), que conceitua-
se genericamente de capacidade de carga do solo, a ser estudado neste capítulo.
186
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

pr
Figura 7.2 - Imagem esquemática de uma sapata e esforços atuantes na estrutura e no solo

Então, pode-se definir “Capacidade de Carga dos Solos” como “a tensão que
provoca a ruptura do maciço de solo em que a fundação está assente, apoiada, embutida”.
As Figura 7.3 ilustra imagens de fundações superficiais ou diretas, do tipo sapata,
sendo construídas para receber pilares de alguma edificação, a fim de transmitir ao solo,
através da área da sua base, uma tensão que deve ser menor que a máxima possível que
suporta o solo, no caso, aquela que corresponde à sua capacidade de carga (pr). Ressalta-
se que na determinação da capacidade de carga devem-se considerar duas condições
fundamentais de comportamento (ou restrições): ruptura e deformação.

Figura 7.3 – Aspecto da parte superior de sapatas em construção. A foto da direita refere-se
a obra em frente do galpão de laboratório da Civil (UFJF), após reaterro de parte da cava

Observa-se que o comportamento “pressão x recalque” dos solos abaixo das


fundações corresponde ao já estudado no capítulo sobre Resistência ao Cisalhamento.
Contudo, os dois critérios de ruptura – frágil e plástica, podem aqui ser referidos com outra
nomenclatura, a saber: ruptura frágil - “generalizada” (curva C1) e ruptura plástica
“localizada” (curva C2), conforme ilustrado na Figura 7.4.

Figura 7.4 – Critérios de ruptura: comportamentos frágil (generalizado) e plástico (localizado)


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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

7.2 – Tensão de ruptura x tensão admissível

No caso de fundações diretas tanto se pode trabalhar com carga Q como tensões
(pressões) médias p, sendo a tensão média que atua no solo (base de contato) igual a:
Q Q
p 
área base BxL

Independente de se considerar carga (Q) ou tensões-pressões (p) os conceitos de


esforço de ruptura ou de segurança (admissível) são os mesmos (Figura 7.5), a saber:

* Capacidade de carga de ruptura (ou limite) – Qr: é a carga limite (ou máxima) a
partir da qual a fundação provoca a ruptura do terreno e se desloca sensivelmente (ruptura
“generalizada”), ou se desloca excessivamente (ruptura “localizada”), o que pode provocar
a ruína da superestrutura.

* Capacidade de carga de segurança à ruptura – Qseg: é a maior carga transmitida


pela fundação, a que o terreno resiste com segurança à ruptura, independentemente das
deformações que possam ocorrer.
Q
Q seg  r , sendo FS o fator de segurança à ruptura.
FS

* Capacidade de carga admissível – Qadm: é a maior carga transmitida pela


fundação que o terreno admite, em qualquer caso, com adequada segurança à ruptura e
deformações excessivas, devendo ser compatíveis com a sensibilidade da estrutura e aos
deslocamentos previstos para a fundação.
Deve-se ter, portanto: Qadm  Qseg

Figura 7.5 – Curva carga-recalque de uma fundação (solo com ruptura do tipo generalizada)

Tensão admissível – “taxa” do terreno


Sendo a capacidade de carga de um solo, a pressão pr, que aplicada ao solo causa
a sua ruptura, adotando-se um adequado coeficiente ou fator de segurança, obtém-se a
pressão admissível (referida popularmente como “taxa” do terreno), a qual deverá ser
“admissível” não só à ruptura como também às deformações excessivas do solo.
O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes métodos e
processos, embora nenhum deles seja matematicamente exato.
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Coeficiente de segurança
Não é simples a escolha do adequado coeficiente de segurança nos cálculos de
Mecânica dos Solos. Na literatura técnica encontram-se numerosas regras particulares à
natureza de cada obra. Para um estudo moderno do assunto vejam-se os “critérios” de
Brinch Hansen, como mencionado pelo Professor Dirceu de Alencar Velloso em uma
conferência. Um estudo abrangente do assunto é apresentado pelo Prof. A. J. da Costa
Nunes em Acidente de Fundações e Obras de Terra (Conferência na Sociedade Mineira de
Engenheiros – 1979).
Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução de uma
fundação provêm de fontes as mais diversas, a escolha do coeficiente de segurança é de
grande responsabilidade. A Tabela 7.1 resume os principais fatores que influenciam na
escolha, e a Tabela 7.2 apresenta valores sugeridos de fatores de segurança a considerar.

Tabela 7.1 – Fatores que influenciam na escolha do coeficiente de segurança


Fatores que influenciam a COEFICIENTE DE SEGURANÇA
escolha do coeficiente de
segurança PEQUENO GRANDE
Propriedades dos materiais Solo homogêneo Solo não-homogêneo
Investigações geotécnicas amplas Investigações geotécnicas escassas
Influências exteriores tais Grande número de informações, Poucas informações disponíveis
como: água, tremores de terra, medidas e observações disponíveis
etc.
Precisão do modelo de cálculo Modelo bem representativo das Modelo grosseiramente
condições reais representativo das condições reais
Conseqüências em caso de Conseqüências Conseqüências Conseqüências
acidente financeiras limitadas e financeiras financeiras desastrosas e
sem perda de vidas consideráveis e risco elevadas perdas de vidas
humanas de perda de vidas humanas
humanas

Tabela 7.2 – Valores recomendados de fatores de segurança a considerar


Categoria Estruturas Características Prospecção
Típicas de Categoria Completa Limitada
Pontes Ferroviárias 3,0 4,0
Alto-Fornos Provável ocorrer as máximas cargas
A Armazéns de projeto; conseqüência de ruptura
Estruturas Hidráulicas são desastrosas
Muros de Arrimo
Silos
Pontes Rodoviárias As máximas cargas de projeto apenas 2,5 3,5
B Edifícios Públicos eventualmente podem ocorrer;
Indústrias Leves conseqüências de ruptura são sérias
C Prédios de Escritórios Dificilmente ocorrem as máximas 2,0 3,0
e/ou de Apartamentos cargas de projeto.

Não são muito comuns os acidentes de fundação devidos à ruptura do terreno.


Mais comuns são os causados por recalques excessivos. Um exemplo clássico da literatura
técnica, relatado por Caputo e Caputo (2017), é o caso indicado esquematicamente na
Figura 7.6 (a). Trata-se de um conjunto de silos construído sobre um radier geral, com
dimensão de 23x57m.
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Figura 7.6 – Acidentes de fundação: (a) ruptura do terreno (Caputo e Caputo, 2017);
(b) recalques excessivos em condomínio residencial (s/ref.)

Em conseqüência de uma dissimetria de carregamento, houve a ruptura do solo e o


colapso da obra, que em 24 horas tombou para a posição mostrada. Provavelmente a
elevação lateral do nível do solo ajudou a mantê-lo, impedindo que tombasse
completamente. Caputo e Caputo (2017) relata também um exemplo de acidente devido à
ruptura de fundação, no caso, o Edifício São Luiz Rei, no Rio de Janeiro, ocorrido em
30/01/58. O controle de recalques, iniciado no dia 27 do mesmo mês, registrou uma
velocidade de recalques de 2 mm/h, atingindo no dia do acidente a 4 mm/h.

Cálculo da capacidade de carga


A determinação da capacidade de carga pode ser feita tanto teoricamente,
empregando fórmulas teóricas ou semi-empíricas existentes ou experimentalmente, através
da execução de provas de carga. São apresentadas a teoria de Rankine e a teoria de
Terzaghi para o cálculo da capacidade de carga dos solos.

7.3 - Fórmula de Rankine

Para deduzi-la, considera-se inicialmente um solo não coesivo sob uma “fundação
corrida”, ou seja, uma fundação com forma retangular alongada - de dimensão transversal
muito menor que sua dimensão longitudinal, considerada infinita para efeito de cálculo,
conforme ilustrado na Figura 7.7 (como será inicialmente também considerado por Terzaghi
na sua teoria).

Figura 7.7 – Aspecto de uma fundação corrida, considerado na fórmula de Rankine

Rankine considera a semi-largura da fundação (devido à simetria da mesma), e a


partir do vértice A, três zonas de solo (“quadrados”), conforme mostra a Figura 7.8.
Escrevem-se então as expressões para as tensões atuantes no contato entre os “quadrados”.
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

' p r .K a (tensão horizontal devido Pr ...)


 
'  p r .tg 2 . 45º  
 2

   
 ' '   '.tg 2 . 45º    tg 4 . 45º  
 2  2
(estabelecidos os “estados de Rankine”)
Figura 7.8 – Dedução da fórmula de Rankine: tensões atuantes no sistema

Segundo Rankine, quando uma massa de solo se expande (tensões ativas) ou se


contrai (tensões passivas), formam-se planos de ruptura definidos por um ângulo de
450+φ/2 ou 450–φ/2 com a horizontal, de acordo com a Figura 7.9.

Ativo Passivo
Figura 7.9 – Inclinação dos planos de ruptura para estados de tensões ativo e passivo

Escrevendo a condição de equilíbrio entre a tensão da zona 1 que suporta a


fundação e a tensão da zona 2 contida pela altura h de terra, expressões da Figura 7.8,
deve-se ter, para que não ocorra ruptura do terreno:
 
' '  .h ou p r .tg 4 . 45º    .h
 2

 
Daí: p r   .h.tg 4 . 45º     .h.K p2 tensão limite de ruptura de Rankine
 2

Solos coesivos
Pela aplicação do teorema dos estados correspondentes de Caquot, pode-se
generalizar esta fórmula aos solos coesivos. Com efeito, substituindo Pr por:

c c
pr  e .h por .h  ter-se-á:
tg  tg 
c  c  2
pr    .h  .K p , ou
tg  tg 

p r  .h.K 2p 
c
tg

. K 2p  1 

191
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

7.4 - Fórmula de Terzaghi

Segundo Wikipédia (2018), Karl von Terzaghi (1883-1963) foi um engenheiro


austríaco reconhecido como o pai da mecânica dos solos e da engenharia geotécnica. É
considerado um dos mais destacados engenheiros civis do século XX.
A teoria de Terzaghi (1943), desenvolvida baseada nos estudos de Prandtl (1920)
para metais, é a mais difundida para o caso de fundações diretas ou rasas.
Terzaghi estudou a capacidade de carga de ruptura para este tipo de fundações em
solos de diversas categorias, ou seja, solos com atrito e coesão (c, ), solos não-coesivos
ou granulares (c = 0) e solos puramente coesivos (= 0).

O que se observa é que ao apoiar uma placa rígida sobre um solo e sobre ela aplicar
uma carga (Q, por exemplo), o solo de apoio, de base, irá sofrer deformações até o
momento em que irá entrar em colapso, por cisalhamento. Isto ocorre quando as tensões
cisalhantes atuantes no solo superam os valores máximos de tensão que o solo suporta.
Caso em que o nível de tensões ultrapassa a condição de sua envoltória de resistência. A
Figura 7.10 mostra uma experiência realizada em laboratório, em modelo reduzido, em que
o “solo” aqui representado por “canudos” de plástico se movimentam uns sobre os outros
na medida em que há um aumento da carga sobre a placa que representa uma sapata.

Figura 7.10 – Exemplo de experiência para visualização das zonas de cisalhamento

Quando a ruptura é atingida, o terreno desloca-se, arrastando consigo a fundação,


como mostrado na Figura 7.11. O solo passa, então, do estado “elástico” ao estado
“plástico”. O deslizamento ao longo da superfície ABC é devido à ocorrência de tensões de
cisalhamento () maiores que a resistência ao cisalhamento do solo (r), como já
conceituado anteriormente.

Figura 7.11 – Aspecto do movimento do solo e fundação após ruptura

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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

7.4.1 – Fundações Corridas

Além dos dois critérios de ruptura – frágil e plástica, referidos também como
“generalizada” (curva C1) e “localizada” (curva C2), respectivamente, conforme ilustrado
na Figura 7.4, tem-se mencionado outro tipo de ruptura, que ocorre por puncionamento. A
teoria de Terzaghi parte de considerações semelhantes às de Prandtl, relativas à ruptura
plástica dos metais por puncionamento. Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de
carga de um solo homogêneo que suporta uma fundação corrida e superficial.

Segundo esta teoria, o solo imediatamente abaixo da fundação forma uma


“cunha”, que em decorrência do atrito com a base da fundação se desloca verticalmente,
em conjunto com a fundação. O movimento dessa “cunha” força o solo adjacente e produz
então duas zonas de cisalhamento: uma de cisalhamento radial e outra de cisalhamento
linear (Figura 7.12).

Figura 7.12 – Zonas de cisalhamento de Terzaghi: radial e linear

Assim, após a ruptura, desenvolvem-se no terreno de fundação três zonas: I, II e III,


sendo que a zona II admite-se ser limitada inferiormente por um arco de espiral logarítmica,
como mostra a Figura 7.13.

Figura 7.13 – Zonas de ruptura segundo a teoria de Terzaghi

A capacidade de suporte da fundação, ou seja, a capacidade de carga Pr, é igual à


resistência oferecida ao deslocamento pelas zonas de cisalhamento radial e linear.

Da Figura 7.13, parte-se da consideração do equilíbrio das forças na direção


vertical, podendo escrever:
b
AB  , onde  é o ângulo de atrito interno do solo.
cos 
Sobre AB , além do empuxo passivo Ep, atua a força de coesão:
b. c
C  c . AB 
cos  
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Para equilíbrio da cunha (I), de peso P0, tem-se:


P  P0  2.C.sen   2.E p  0 ou P  2.C.sen   2.E p  P0
 b .c 
.sen   2.E p  .2.b.b.tg  . ou
1
Ou ainda: P  2.
 cos   2
P  2.b.c.tg   2.E p  .b 2 .tg  , sendo  o peso específico.
P Ep 1
Daí: Pr   c.tg    ..b.tg 
2.b b 2

Entrando com a expressão do valor de Ep, na equação acima, chega-se na


expressão final para a capacidade de carga de Terzaghi. A dedução final não foi
apresentada para não exceder com esta formulação na obtenção da expressão final, que se
pode escrever:
p r  c.N c  .b.N   .h.N q

A fórmula obtida refere-se a fundações corridas, onde Nc, Nq e N são fatores de


capacidade de carga, função apenas do seu ângulo de atrito () do solo, que podem ser
definidos por (conforme adotado por Vésic, 1975):
 
N q  e .tg   .tg 2 . 45º   Segundo Reisnner (1924),
 2
apud Terzaghi e Peck (1967)
N c  N q  1. cot g

N   2.N q  1.tg Segundo Caquot-Kérisel (1953)

Considerações sobre ruptura


Terzaghi em sua teoria faz distinção entre os dois tipos de ruptura que estão sujeitos
os solos, conforme ilustrado na Figura 7.4.
Como já visto no Capítulo 05, nos solos de ruptura tipo C1, à medida que a carga
(ou pressão) aumenta, o material resiste, deformando-se relativamente pouco, vindo a
ruptura acontecer quase que bruscamente. É como se toda a massa rompesse a um só
tempo, generalizadamente. A pressão de ruptura é, nesse caso, bem definida, dado pelo
valor pr do gráfico. Quando atingida, os recalques tornam-se incessantes e é denominada
por ruptura generalizada, sendo típica de solos pouco compressíveis (compactos ou rijos).
Nos solos de ruptura tipo C2, as deformações são sempre elevadas e aceleradamente
crescentes. Não há uma ruptura final definida. É como se o processo de ruptura fosse
constante, desde o início do carregamento, em regiões localizadas e dispersas na massa do
solo. A pressão de ruptura no caso é dada por p’r que, segundo Terzaghi, corresponde ao
ponto “a”, em que há uma mudança no gráfico, com passagem (ou não) da curva inicial
para um trecho aproximadamente retilíneo final. Este tipo de ruptura é denominado por
ruptura localizada, sendo típica de solos muito compressíveis (fofos ou moles).

As equações apresentadas para o cálculo dos fatores de capacidade de carga, Nc, Nq


e N referem-se ao caso de “ruptura generalizada”.

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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Para os dois tipos de ruptura pode-se obter na Figura 7.14, em função de , os


valores de Nc, Nq conforme Reisnner (1924) e N conforme Meyerhof (1955), apresentada
por Terzaghi e Peck (1967), assim como na Tabela 7.3. Ressalta-se que o valor para Nγ,
tanto na referida figura, quanto na tabela, difere do adotado analiticamente por Vésic
(1975). Na Figura a linha “contínua” refere-se à ruptura do tipo “generalizada” e a linha
tracejada do tipo “localizada”.

Figura 7.14 – Valores dos fatores de capacidade de carga - Nc, Nq e N (Terzaghi e Peck, 1967)

Tabela 7.3 – Valores dos fatores de capacidade de carga - Nc, Nq e N (Terzaghi e Peck, 1967)
 0º 5º 10º 15º 20º 22,5º 25º 27,5º 30º 32,5º 35º 37,5º 40º 42,5º
Nc 5,1 6,5 8,3 11,0 14,8 17,5 20,7 24,9 30,1 37,0 46,1 58,4 75,3 99,2
Nq 1,0 1,6 2,5 3,9 6,4 8,2 10,7 13,9 18,4 24,6 33,3 45,8 64,2 91,9
N 0,0 0,3 0,7 1,6 3,5 5,0 7,2 10,4 15,2 22,5 33,9 54,5 81,8 131,7

Em se tratando de “ruptura localizada”, os fatores a serem usados serão Nc’, N’e


Nq’ (como ressaltado na Figura 7.14), cujo  corresponde a ’, a saber:
2
tg '  .tg 
3

Conclui-se então que os valores N’ podem também ser obtidos entrando-se com ’
nas linhas cheias ou diretamente com  nas linhas tracejadas. Recomenda-se a segunda
opção por não haver necessidade do cálculo prévio de ’.
Ainda se tratando de “ruptura localizada”, deve-se adotar o valor de c’ para a
coesão, como abaixo:
2
c'  .c
3
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Análise da equação de Terzaghi


Observe o significado dos termos da fórmula de Terzaghi, de acordo com a Figura
7.15. Pode-se escrever a expressão de cálculo da capacidade de carga do solo como a
soma de três parcelas, sendo elas referentes à contribuição da: coesão do solo de contato
da fundação, atrito do solo de contato da fundação e sobrecarga do solo acima da cota de
assentamento da fundação. Consequentemente, cada parâmetro envolvido na expressão
refere-se a um solo específico, que pode ser diferente (solo na base 1 ≠ 2 solo de
sobrecarga) ou eventualmente igual.
Pela expressão, conclui-se que o valor da capacidade de carga de um solo é função
de sua dimensão (“b” – semi-largura da fundação), assim como da geometria, como será
visto. Desta forma, a dimensão de uma fundação deverá ser previamente “arbitrada” em
alguns casos de seu dimensionamento.

sobrec arg a

coesão atrito
   
p r  c.N c   1 .b.N    2 .h.N q

Figura 7.15 – Parâmetros a serem considerados na formulação de Terzaghi

- Casos particulares de solos


Para os solos puramente coesivos, tem-se  = 0º
Logo, Nq = 1,0; N = 0 e Nc = 5,7, a parcela do atrito é nula, obtendo-se:
p r  5,7.c  .h
Se h = 0: p r  5,7.c

Para os solos granulares - areias tem-se c = 0


Logo, tem-se: p r  1 .b.N    2 .h.N q (a parcela de coesão é nula)
. Capacidade de carga das areias é proporcional à dimensão da fundação.

- Influência de  na extensão e profundidade da superfície de deslizamento


De especial interesse é observar a influência da variação do ângulo de atrito interno
 na extensão e profundidade da superfície de deslizamento, como indicado na Figura 7.16
(Caputo e Caputo, 2017).

Figura 7.16 – Influência do ângulo de atrito na cunha de ruptura


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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Ocorrência do N.A.
No caso de ocorrer nível d’água abaixo, e coincidente com a cota de assentamento
de uma fundação superficial, considerando que o cálculo da capacidade de carga do solo
considera o estado de tensões efetivas, deve-se usar o peso específico de solo submerso na
parcela referente ao atrito na base, o que implicará na redução do valor da capacidade de
carga do solo, como esperado.

7.4.2 – Fundações de Outras Geometrias

No caso de fundações superficiais ou diretas com outras geometrias para a sua base
(Figura 7.17), diferentes daquela que serviu para a dedução da expressão final para a
capacidade de carga de Terzaghi, é introduzido um fator multiplicador em cada uma das
três parcelas da equação.

Figura 7.17 – Geometrias de base das fundações superficiais ou diretas

As principais geometrias para fundações em blocos ou sapatas isoladas são a seção


quadrada e a seção circular, esta inclusive é a geometria comumente adotada para a
execução de fundações profundas do tipo tubulões.

Para fundações de base quadrada de lado 2b tem-se:


p rb  1,3.c.N c  0,8..b.N   .h.N q

E para fundações com base circular de raio r:


p rb  1,3.c.N c  0,6..r.N   .h.N q

7.5 - Fórmula generalizada

Pela fórmula de Terzaghi tem-se, para carga vertical centrada e fundação corrida, a
capacidade de carga dos solos dada pela expressão:
p r  c.N c  .b.N   .h.N q

Generalizando-a para as fundações de diferentes formas, que tem a sua origem


principalmente nos estudos de Meyerhof, ela pode ser escrita:
1
p r  s c .c.N c  . .s .B.N   s q . .h.N q
2
197
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

B é a largura total da fundação, ou seja, b = ½ B, sendo “b” a semi-largura.


Assim como Nc, Nq e N são os fatores de capacidade de carga, Sc, Sq e Sγ são os
chamados fatores de forma, que podem ser adotados conforme a Tabela 7.4.

Tabela 7.4 – Valores dos coeficientes de forma


Forma da Coeficiente de forma
fundação sc sq s
Corrida 1,0 1,0 1,0
b b
Retangular (b < a) 1  0,3. 1  0,4.
a a
Quadrada (b = a) 1,3 1,0 0,8
Circular (D = b) 1,3 1,0 0,6

A expressão generalizada para o cálculo da capacidade de carga dos solos pode


ainda ser escrita como abaixo:
1
pr  c N c S c d c ic   B N  S  d  i   h.N q S q d q iq
2

Onde: Nc, Nγ, Nq: fatores de capacidade de carga;


Sc, Sγ, Sq: fatores de forma;
dc, dγ, dq: fatores de profundidade;
ic, iγ, iq: fatores de inclinação da carga em relação à base da fundação

Os fatores de profundidade (d) e os fatores de inclinação de carga não são estudados


neste curso, podendo ser obtidos em Bowles (1988) ou Velloso e Lopes (1996).

7.6 – Relação entre tensão admissível e N (SPT)

Entre os projetistas brasileiros de fundações, tem sido empregado com frequência o


índice de “resistência” (na verdade não é valor de resistência e sim um índice, apenas) à
penetração do amostrador padrão utilizado nas sondagens à percussão (valor do NSPT).
As Tabelas 7.5 e 7.6, publicadas pela Enga. Maria José Porto, em Prospecção
Geotécnica do Subsolo (1979), apresentam relações entre o índice NSPT com taxas
admissíveis para solos argilosos e arenosos. Estas relações podem servir como uma
referência para uso em anteprojeto os estudos preliminares de fundações.

Tabela 7.5 - Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos argilosos (Porto, 1979)
Argila NO de Golpes Tensões Admissíveis( Kg /cm2 )
SPT Sapata Quadrada Sapata Contínua
Muito Mole 2 < 0,30 < 0,20
Mole 3-4 0,33 - 0,60 0,22 - 0,45
Média 5 -8 0,60 - 1,20 0,45 - 0,90
Rija 9 - 15 1,20 - 2,40 0,90 - 1,80
Muito Rija 16 - 10 2,40 - 4,80 1,60 - 3,60
Dura > 30 > 4,80 > 3,60

198
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Tabela 7.6 - Relações entre SPT com as taxas admissíveis para solos arenosos (Porto, 1979)
Areia No de golpes SPT Tesão Admissível
(Kg/cm2)
Fofa 4 < 1,0
Pouco Compacta 5 - 10 1,0 - 2,0
Medianamente Compacta 11 - 30 2,0 - 4,0
Compacta 31 - 50 4,0 - 6,0
Muito Compacta > 50 > 6,0

7.7 – Exercícios de aplicação

Considere os resultados de SPT para os primeiros metros de prospecção, realizado


em um terreno praticamente plano.

Camada de argila

Camada de areia

Considere as tabelas fornecidas, que permitem fazer correlações entre resultados


de sondagens à percussão, com obtenção do SPT, e parâmetros de resistência e
compressibilidade dos solos.

TABELA – Avaliação dos parâmetros de resistência e de deformabilidade em função do SPT


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Areias e Solos Arenosos

Compacidade (SPT)  ( tf/m³) C ( tf/m²) φ ° E ( t/m²) μ

Fofa 1,6 0 25 - 30 100 - 500


Pouco Compacta 1,8 0 30 - 35 500 - 1400
0,3 a 0,4
Medianamente Compacta 1,9 0 35 - 40 1400 - 4000
Compacta 2,0 0 40 - 45 4000 - 7000
Muito Compacta > 2,0 0 > 45 > 7000
Argilas e Solos Argilosos
Consistência (SPT)  ( tf/m³) C ( tf/m²) φ ° E ( t/m²) μ

Muito Mole 1,3 0 - 1,2 0 30 - 120


Mole 1,5 1,2 - 2,5 0 120 - 280
0,4 a 0,5
Média 1,7 2,5 - 5,0 0 280 - 500
Rija 1,9 5,0 - 15,0 0 500 - 1500
Dura > 2,0 > 15,0 0 > 1500
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

TABELA – Classificação dos solos (Norma ABNT-NBR 6484: 2001)


Solo Índice de resistência à penetração Designação
4 fofa (o)
5a8 pouco fofa (o)
Areia e Silte arenoso 9 a 18 medianamente compacta (o)
19 a 40 compacta (o)
> 40 muito compacta (o)
2 muito mole
3a5 mole
Argila e Silte argiloso 6 a 10 média (o)
11 a 19 rija (o)
> 19 dura (o)

São propostos alguns exercícios práticos que permitirá o estudante observar os


fatores que influem no dimensionamento geotécnico de uma fundação direta. As análises
tem finalidade didática, contribuindo assim na fixação dos conceitos, além de serem feitas
várias hipóteses com finalidade de comparações de resultados, para a teoria de Terzaghi.

1º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga para uma sapata corrida, assente no horizonte de areia
(para a mínima escavação), com 2,0 m de largura (em seguida será feito o cálculo
considerando a hipótese dos materiais de subsolo ocorressem em posição inversa).

Avaliação dos parâmetros (valores obtidos por correlação empírica - tabela):


a) Argila N = 6 => “média”
 = 1,7 t/m³
c = 2,5 t/m³ (limite inferior da média)
φ=0
b) Areia N = 9 => “med. compacta”
 = 1,9 t/m³
c=0
φ = 35º (limite inferior da med. comp.)

Capacidade de carga ? Fatores de forma e carga (figura 7.14)


qr = c . Nc + a . ha . Nq + b . b . N Sc = 1 Nc = 45
qr = 0 +1,7 x 1,5 x 33 + 1,9 x 1,0 x 40 S = 1 N = 40
qr = 0 + 84,2 + 76,0 = 160,2 t/m² Sq = 1 Nq = 33
ruptura generalizada
“areia medianamente compacta”

qr = 84,2 t/m² + 76,0 t/m² devido ao atrito (largura da base)


devido à sobrecarga (profundidade de assentamento)

qr = 160,2 t/m² = 16,02 kgf/cm²


q 16,02
 adm  r para FS = 3,0   kgf / cm 2 = 5,3 kgf/cm2 = 530 kPa
FS 3

(FS: Prédio de Apartamentos – Prospecção limitada - Parâmetros estimados por tabelas)


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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

2º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga para o exemplo anterior considerando um NA na base
da camada de areia (na cota de assentamento).

Camada b = areia sub = ? sub = sat - a


sat > nat
Adotando sat = 2,0 t/m³ sub = 2,0 – 1,0 sub = 1,0 t/m²
refazendo o cálculo anterior ...

qr = 0 + 84,2 + b b N = 84,2 + 1,0 x 1,0 x 40 = 124,2 = 12,4 kgf/cm²


12,4
 kgf / cm2 = 4,13 kgf/cm² = 413 kPa
3
Observe o valor obtido para  sob NA – menor que na condição anterior

3º EXERCÍCIO
Dimensione esta sapata corrida para o valor da capacidade de carga (taxa admissível  )
calculado no exemplo anterior, para suportar 30tf (por metro linear).

F F
  Anec  F – Força - carregamento na fundação (fornecido = 30 t/m)
A 
 - tensão admissível (cálculo anterior = 4,13 kgf/cm²)
pr
Só que   e pr  f (b) (pela teoria de Terzaghi)
FS

dimensão da Fundação

- Desta forma, arbitra-se um valor esperado para “b” para calcular o valor de 
F
- A partir de  , calcula-se a área necessária Anec  e b

- Obtido o valor de “b”, se diferente do “b” anteriormente arbitrado no cálculo da taxa  ,
F
recalcular o valor de pr e  com este novo “b” e depois a nova área A  e b até

convergir o valor.

** Considere agora a hipótese dos dois materiais ocorrem em posição inversa

b) areia
a) argila

“coeficientes de forma” diferentes – “argila” Nc’ = 5,14


Ruptura N’ = 0
Localizada Nq’ = 1
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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

camadas de solos invertidas, fundação agora assente em argila

4º EXERCÍCIO
Determine a capacidade de carga do solo com os dados apresentados no 1º exercício

qr  ca .Nc   b .hb .Nq   a .b.N 0 (fazer distinção dos parâmetros da camada “a” e “b”)
qr = 2,5 x 5,14 + 1,9 x 1,5 x 1,0
1,57
qr = 12,85 + 2,85 = 15,7 tf/cm2 = 1,57 kgf/cm²  kgf / cm2 = 0,52 kgf/cm2
3
52 kPa
parcela parcela da
da coesão sobrecarga

Outro exemplo: se coesão maior p. ex. c = 3,5 t/m²


qr  2,08 kgf / cm2 e   0,70 kgf / cm2 = 70 kPa

5º EXERCÍCIO
Refaça o exercício anterior (40) para argila com N-SPT = 12, no nível da sapata

N = 12 consistência “rija”
Parâmetros  adotado 1,9 tf/m³
c adotado 0,5 kgf/cm2 = 5,0 tf/m²

então: qr = 5,14 x 5,0 + 1,9 x 1,5 x 1,0 + 0


qr = 25,7 + 2,85 = 28,55 = 2,86 kgf/cm² (parcela da coesão muito maior)
2,86
  0,95 kgf / cm2
3
obs.:
O cálculo da capacidade de carga (e consequente dimensionamento de uma
fundação) pode ser feito para um solo predominantemente argiloso desconsiderando o
valor ângulo de atrito (φ=0), o que implica em não depender da dimensão prévia da
fundação para o seu cálculo (Nγ “zera” a parcela).
Para um solo predominantemente arenoso, desconsiderado o valor da coesão
(c=0), o cálculo da capacidade de carga e o dimensionamento da fundação é dependente
da sua dimensão, havendo a necessidade de fazer um cálculo iterativo até haver
convergência de valor.
Conclusões:
A capacidade de carga de uma “argila” não é proporcional à dimensão da
fundação (e sim da parcela da “coesão” e da pressão de “sobrecarga”)
A capacidade de carga de uma “areia” é proporcional à dimensão da fundação (e
da pressão de “sobrecarga”).

6º EXERCÍCIO
Qual a dimensão que deve ter uma sapata quadrada para suportar uma carga centrada de
10,5 t, a uma profundidade de 1,5 m, em uma argila que se pode adotar coesão de 50 kPa.

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CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS

Argila
Parâmetros φ = 0 (desprezado)
 = 1,8 t/m³ (Valor adotado)
c = 50 kPa = 5,0 t/m²
0
qr = 1,3 . c . Nc +  . h . Nq + 0,8 .  . b . N
qr = 1,3 x 5 x 5,14 + 1,8 x 1,5 x 1 + 0 Sc = 1,3
qr = 33,41 + 2,7 = 36,11 t/m² Sq = 1,0
= 3,61 kgf/cm² S = 0,8
pr 3,61
   1,20 kgf / cm2 (valores “empíricos” para argilas: 1,0 a 1,5 Kgf/cm²)
FS 3
Cálculo da área necessária e de “L”
F F 10500 kg
   A  A  8750 cm2
A  1,20 kgf / cm2
L  A  L  93,5 cm (arredondar em fração de 5 cm)

* Se a profundidade de assentamento fosse de 2,0m ?


qr = 33,41 + 1,8 x 2,0 x 1 = 37,01 = 3,70 kgf/cm²
  1,23 kgf / cm2 pouca diferença de acréscimo (apenas 50cm de terra a mais)

Realizado o dimensionamento geotécnico, faz-se necessário dimensionar a


fundação enquanto elemento estrutural. Assim uma série de conhecimentos relacionados a
aspectos estruturais, associados às diversas soluções a serem adotadas em um projeto de
fundação devem ser estudados.
Na UFJF, a disciplina oferecida em sequência é a “Geotecnia de Fundações e
Obras de Terra”, que são estudados os vários aspectos geotécnicos que estão envolvidos
na discussão de projetos desta natureza. Em relação à parte estrutural, este assunto é
abordado, na disciplina de “Fundações”, oferecida pelo Departamento de Estruturas.

Fim
M. Marangon, 26/11/2018
203
Referências

• Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações.


Rio de Janeiro/RJ, 2010.
• Bowles, J. E. (1988) Foundation Analysis e Design, Singapure, McGraw-Hill Ed, 1988.
• Caputo, Homero Pinto - Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A. 2006.
• Chiossi, Nivaldo José - Geologia Aplicada à Engenharia. Ed. Grêmio Politécnico da USP.
1979.
• Craig, R.F. Mecânica dos Solos. LTC. São Paulo/SP 2012.
• Das. Braja M. Fundamentos da Engenharia Geotécnica. São Paulo: Cengage
Learning. 2011.
• Gerscovich, Denise M. S. Tensões em Solos. Faculdade de Engenharia. Programa de
Pós-graduação em Engenharia Civil. Rio de Janeiro. 2008.
• Gerscovich, Denise M. S. Resistência ao Cisalhamento. Faculdade de Engenharia.
Departamento de Estruturas e Fundações. PGECIV. Rio de Janeiro. 2010.
• Leroueil, S. Géotechnique. 2001.
• Pinto, Carlos de Souza. Curso Básico de Mecânica dos Solos. Oficina do Texto. Rio de
Janeiro/RJ. 2006.
• Velloso, D.A. e Lopes, F.R. Fundações Teoria e Prática. Pini. São Paulo/SP, 1996.

Outras Referências

• Almeida, Márcio de Souza S. de. Aterros sobre Solos Moles. Ed. UFRJ. Rio de
Janeiro. 2014.
• Barata, F. E. Propriedades Mecânicas dos Solos: uma introdução ao projeto de
fundações. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. Rio de Janeiro. 1983.
• Bodó B. e Jones C. Introdução à Mecânica dos Solos. LTC. São Paulo. 2017.
• Bueno, Benedito de Souza e Vilar, Orêncio Monje - Mecânica dos Solos. Pub. 69 - Imprensa
Universitária da UFV. 1985.
• Fernandes, M. M. Mecânica dos solos: introdução à Engenharia Geotécnica. Oficina
de Textos. São Paulo. 2014.
• Fiori, P. A. e Carmignani L. Fundamentos de mecânica dos solos e das rochas:
aplicações na estabilidade de taludes. Editora UFPR. Curitiba. 2001.
• Lambe, T. W. e Whitman, R. V. Soil Mechanics. John Wiley & Sons. 1969.
• Lima, M. J. P. Investigação e Prospecção do Subsolo. Livros Técnicos e Científicos
Editora S.A. Rio de Janeiro. 1981.
• Massad, Faiçal. Obras de Terra: Curso Básico de Geotecnia. Oficina de textos. 2003.
• Ortigão, J.A.R. - Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. Livros Técnicos e
Científicos Editora. 2007.
• Schnaid, F. Ensaios de Campo e suas Aplicações à Engenharia de Fundações. São
Paulo: Oficina de Textos, 2000.
• Simons, Noel E. e Menzies, B. K. - Introdução à Engenharia de Fundações. Editora
Interciência. 1981.
• Vargas, Milton. Introdução à Mecânica dos Solos. Ed. MacGraw-Hill do Brasil Ltda.
1978.

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