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APRENDIZAGEM – TEORIAS E
PROCESSOS
DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES
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TUTORIA ONLINE
Segunda a Sexta de 09:30 às 17:30
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4
2 CÉLESTIN FREINET ...................................................................................... 5
2.1 A vida e obra de célestin freinet ............................................................... 5
2.2 O método natural ou pedagogia do bom-senso ...................................... 7
2.2.1 O trabalho na escola-aula-passeio ...................................................... 10
2.2.2 Imprensa escolar ................................................................................... 10
2.2.3 Texto livre .............................................................................................. 11
2.2.4 Livro da vida .......................................................................................... 11
2.2.5 Intercâmbio escolar............................................................................... 11
3 MARIA MONTESSORI – A METODOLOGIA MONTESSORIANA .............. 13
3.1 Maria Montessori ...................................................................................... 13
3.1 Sistema Montessori ................................................................................. 14
3.1.1 Primeiro período: do nascimento aos seis anos de idade ................ 16
3.1.2 Segundo período: dos seis aos doze anos de idade ......................... 16
3.1.3 Terceiro período: dos doze aos dezoito anos de idade ..................... 16
3.2 A Metodologia Montessoriana ................................................................ 17
3.2 A Filosofia Montessoriana ....................................................................... 19
4 JEAN PIAGET E A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA ..................................... 21
4.1 Vida e Obra de Jean Piaget ..................................................................... 21
4.2 Epistemologia Genética ........................................................................... 23
4.3 Os estágios de desenvolvimento cognitivo da criança ........................ 26
4.3.1 A interação social na teoria de Piaget ................................................. 27
5 LEV VYGOTSKY – O INTERACIONISMO E O SOCIOCONSTRUTIVISMO 32
5.1 Vida e Obra de Lev Vygotsky .................................................................. 32
5.2 Cultura e Linguagem ................................................................................ 35
5.3 A Aprendizagem ....................................................................................... 36
5.4 Construtivismo e a construção do conhecimento ................................ 38
6 PAULO FREIRE- A PRÁTICA DE EDUCAÇÃO POPULAR ........................ 44
6.1 O Método de Paulo Freire ........................................................................ 46
6.2 Algumas fases do método de Paulo Freire ............................................ 48
6.3 A realidade em foco ................................................................................. 49
7 HENRI WALLON E A PSICOGÊNESE DA PESSOA COMPLETA ............. 51
7.1 Vida e Obra de Henri Wallon ................................................................... 51
7.2 Psicogênese a pessoa completa ............................................................ 52
7.3 O desenvolvimento do organismo .......................................................... 53
7.4 Teoria da emoção ..................................................................................... 56
7.5 Legados de Wallon à educação .............................................................. 56
8 A PERSPECTIVA DE MADALENA FREIRE ................................................ 59
9 EMÍLIA FERREIRO E A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA ............... 63
9.1 Evolução da escrita e da leitura .............................................................. 65
9.2 Consequências pedagógicas da teoria de Emília Ferreiro ................... 66
10 INTELIGÊNCIA NA PERSPECTIVA DE HOWARD GARDNER ................ 69
10.1 O desenvolvimento das inteligências................................................... 74
11 EDUCAÇÃO PARA AS COMPETÊNCIAS – PHILIPPE PERRENOUD ..... 77
12 ARTICULANDO AS TEORIAS – UMA QUESTÃO DE MÉTODO .............. 81
13 AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ............................................................. 82
13.1 As contribuições de Lev Vygotsky ....................................................... 82
13.2 As contribuições de Jean Piaget .......................................................... 84
13.3 As contribuições de Wallon .................................................................. 87
13.4 As contribuições de Perrenoud ............................................................ 89
13.5 As contribuições de Howard Gardner .................................................. 90
14 DIVERGÊNCIAS E APROXIMAÇÕES ENTRE OS TEÓRICOS ................ 93
14.1 Uma questão de método ........................................................................ 97
14.2 O professor e as teorias ........................................................................ 99
ENCERRAMENTO ......................................................................................... 102
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 103
1 INTRODUÇÃO
4
2 CÉLESTIN FREINET
5
Cèlestin Freinet mostrou, dia a dia, o mundo e a sociedade mais justa que
sonhou construir. Nascido em 15 de outubro de 1896, numa aldeia francesa de
Gars, nos Alpes Marítimos, onde o pastoreio predominava. Um homem de família
humilde e de pouca cultura, que revolucionou a educação na França. A primeira
atividade de Freinet foi o pastoreio; já na adolescência, mudou-se para a cidade
de Nice, onde iniciou o curso magistério na escola normal. A Primeira Guerra
eclodiu e a exigência de se alistar o impediu de continuar estudando. Da
Guerra, Freinet trouxe uma infecção pulmonar, causada por gases tóxicos, que
o acompanhou pelo resto da vida.
Em 1920, começa a lecionar em uma pobre escola de Bar-Sur-Loup,
mesmo sem diploma. Terminada a guerra, Freinet volta a estudar e, enquanto
tenta obter o diploma inicia suas experiências didáticas. Na observação direta de
seus alunos, começa a questionar as rígidas normas da escola, a forma de
ensinar, o ambiente da sala e a natureza lá fora, que encantava os alunos.
Dessas observações, surgem suas primeiras experiências: a aula-
passeio, a imprensa escolar e o livro da vida. Em 1927, edita o livro A imprensa
na Escola, cria a revista La Gerbe (O ramalhete) em que publica poemas infantis
e funda a Cooperativa de Ensino Leigo. Nos anos seguintes, Freinet muda-se
para a Vila Saint- Paul de Vence, onde cria as "Técnicas de Avaliação" e o "Plano
de Trabalho".
Por ser um grande crítico das cartilhas convencionais, Freinet propõe os
"Fichários de Consulta e de Autocorreção". As realizações feitas na escola, à
criação da cooperativa e o intenso movimento postal provocaram desconfianças
e hostilidades políticas, que culminaram na sua exoneração do cargo de
professor.
Mesmo tendo abandonado a escola de Saint-Paul, Freinet continua
administrando a cooperativa. Em 1935, consegue construir sua própria escola
na cidade de Vence. No mesmo ano, por ocasião do Congresso Internacional de
Ensino, iniciou um movimento em defesa da criança chamado "Frente da
Infância". Esse movimento foi aderido pela recém-formada "Liga da Educação
Francesa", inspirando a reforma do ensino francês. As perseguições políticas
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continuaram.
Em 1940, Freinet foi preso como perigoso editor clandestino. Ainda preso,
foi mandado para o campo de concentração alemão em Var. Um ano mais tarde,
foi libertado e passou a lutar na Resistência Francesa, até o fim da Guerra.
Terminada a segunda Guerra, Freinet volta à cidade de Vence, onde organiza a
"Cooperativa e o Manifesto pela Modernização da Escola".
Em 1956, inicia uma campanha intitulada "25 alunos por classe", a qual
foi aprovada pela opinião pública e aderida pela maioria das escolas francesas.
Neste mesmo período, escreveu “Conselho aos Pais, Ensaio de Psicologia
Sensível e Educação pelo Trabalho”. Em 1957, funda a "Federação Internacional
dos Movimentos da Escola Moderna" (FIMEM), que hoje é reconhecida pela
UNESCO como importante ONG do campo da educação.
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estabeleceu o trabalho como motor da ação educativa. Para ele, uma vez que a
ação é o prolongamento natural da vida e o meio pelo qual o homem transforma
o mundo, a aprendizagem deve ser uma construção ativa. O trabalho como
princípio educativo deve ser essencialmente cooperativo. Todas as atividades,
coletivas e/ou individuais, devem ser organizadas como plano de trabalho para
não perder o caráter de coisa comum. Na pedagogia freinetiana, o professor
deve ser gerenciador das atividades e o intermediário das relações, garantindo
as condições de trabalho, informando, sugerindo e estimulando o aprendizado
(WHITAKER, 1989).
A Pedagogia do Bom-senso baseia-se na necessidade natural do homem
de sobreviver e, consequentemente, de interagir por meio do trabalho para suprir
suas necessidades. Se for da natureza do homem a utilização de suas
habilidades intelectuais e manuais para, na interação com o outro, modificar o
meio suprindo suas necessidades e perpetuando sua espécie, é, também, da
natureza humana, o ato de aprender e de ensinar por meio do trabalho, que
garante a sobrevivência humana. (FREINET, 1985; WHITAKER, 1989).
Foi como autodidata na educação e na ciência que Freinet iniciou suas
observações da prática escolar, atentando especialmente para o
desenvolvimento intelectual das crianças. Com base nessas observações,
Freinet construiu, sem muito embasamento científico, uma prática peculiar de
ensino.
Os princípios que norteiam o processo educativo freinetiano são: a
confiança e o respeito mútuo entre os seres humanos; a necessidade de uma
escola aberta e flexível; a livre expressão; o cooperativismo; a coletividade; o
trabalho enquanto agente central do processo educativo e formador
(WHITAKER, 1989).
Para construir sua pedagogia, o autor baseou-se na cotidianidade e na
importância fenomenológica que as interações sociais têm para o processo de
aprendizagem do homem.
Para ele, ficou claro que o interesse das crianças estava lá fora, nos
bichinhos que subiam pelo muro, nas pedrinhas redondas do rio, pois percebia
que, nos momentos de leitura dos livros de classe, o desinteresse era total.
8
Nessas ocasiões, os olhares dos meninos atravessavam as janelas e
acompanhavam o voo dos pássaros ou das abelhas zumbindo e batendo nos
vidros das janelas empoeiradas (WHITAKER, 1989, p. 15).
Para o autor, a criança aprende pela experimentação concreta no mundo
real, na relação com o mundo, com as pessoas, enfim, com o meio social, pois
Freinet acreditava que um experimento, qualquer que seja, deixa uma marca
indelével e é com essas marcas que a criança constrói seu conhecimento
(FREINET, 1979).
A Pedagogia do Bom-senso deve se importar principalmente com a
observação da criança na construção de suas próprias opiniões. Nesse
processo, o erro deve ser considerado uma fase fundamental da produção do
conhecimento. O ato de errar é um elemento-chave na aprendizagem, já que é
um desafio, um estímulo para o conhecer e para o descobrir, que são, por sua
vez, impulsos inatos ao homem (FREINET, 1985; WHITAKER, 1989).
Freinet criticou a escola convencional e seus métodos por acreditar que
esta não respeitava a natureza do aprendizado, uma vez que se baseava na
repetição e na memorização. Para o autor, o aprendizado infantil deve partir de
ideias e coisas sensíveis que tenham significado real à criança. A partir do tripé
Pedagogia do Bom- senso, Trabalho e Êxito, Freinet defendeu uma educação
na qual: a criança fosse respeitada como sujeito construtor de conhecimento, a
livre expressão fosse valorizada, a satisfação das necessidades vitais fosse
motivada. Por meio de trabalhos úteis, criativos e organizados. Todo esse
processo educativo, para ser revolucionário, deve resultar na formação de
cidadãos autônomos e cooperativos.
Na pedagogia de Freinet, a livre expressão, em todas as manifestações
da criança e do professor, define uma postura pedagógica que torna a escola
um verdadeiro lugar da vida e da produção, onde se faz a aprendizagem da
democracia pela participação cooperativa. A livre expressão é acompanhada de
responsabilidade; a criança exerce a liberdade, mas arca com tudo o que ela
comporta: frustrações, limitações e necessidade de organização para o
desenvolvimento do trabalho (WHITAKER, 1989, p. 210).
9
2.2.1 O trabalho na escola-aula-passeio
10
2.2.3 Texto livre
11
particularidades (WHITAKER, 1989; FREINET, 1979).
Não há dúvida de que a Pedagogia do Bom-senso ou Método Natural,
como queiram, tem muito de revolucionário, principalmente em relação à escola
convencional. Freinet teve o mérito de estabelecer uma nova racionalidade na
educação francesa; racionalidade essa que se estende pelos quatro cantos do
mundo.
A título de análise, é importante destacar o fato de que os pressupostos
marxistas da relação homem-capital-trabalho que fundamentam a pedagogia
freinetiana são secundarizados, à medida que as atividades práticas são
efetivadas de forma descolada, alheia à realidade em que o processo educativo
é desenvolvido. Em muitos casos, a aplicação do método natural tem reforçado,
apenas, o teor técnico e psicológico da pedagogia de Freinet, sem a necessária
relação do processo educativo com as condições sociais, econômicas e políticas
da realidade dada.
Outra questão relevante, que precisa ser posta em discussão, é a relação
teoria versus prática na pedagogia de Freinet. Embora muitos o acusem de ter
priorizado as atividades práticas em detrimento dos pressupostos teóricos,
Freinet dá grande importância à sistematização do conhecimento, que vai sendo
forjado na ação. O movimento ação-reflexão-ação está presente em todas as
atividades propostas por Freinet, e, para que não haja uma relação dicotômica
e/ou excludente entre teoria e prática, o planejamento do processo educativo é
fundamental.
Por fim, é importante lembrar que nenhuma pedagogia e base
epistemológica podem ser tomadas como uma verdade cerrada, mas como uma
dentre tantas alternativas de construção de uma educação emancipadora. A
pedagogia de Freinet pode ser uma alternativa para o desenvolvimento de uma
educação emancipadora, desde que o ensino-aprendizagem seja compreendido
como processo histórico construído pelo homem por meio do trabalho, na relação
com os outros homens e dentro de um contexto determinado.
12
3 MARIA MONTESSORI – A METODOLOGIA MONTESSORIANA
13
Maria Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870, na pequena cidade
de Chiaravalle, no leste da Itália. Filha única de Alessandro Montessori e Renilde
Stoppani e neta de um famoso geólogo e naturalista, Antonio Stoppani. Aos 12
anos de idade, a modesta família de Montessori muda-se para Roma, a fim de
oferecer-lhe oportunidades de uma educação mais completa.
Montessori, a princípio, estudou em escola pública e, nesse período, não
teve destaque como aluna. Por meio das relações estabelecidas na capital
italiana, onde surgiam novas ideias fomentadas pelo movimento de Reunificacão
da Itália e pelo desenvolvimento de novas instituições democráticas nesse país,
Montessori foi dando mostras de sua personalidade revolucionária. Foi a primeira
mulher a cursar uma universidade na Itália; a primeira médica da Itália; teve filho
sem se casar.
Seu caráter forte, seu senso de dever, sua natureza assertiva, suas
convicções e sua forma vigorosa de defender suas ideias renderam-lhes muitos
seguidores e muitos opositores.
Maria Montessori construiu sua história pessoal, intelectual e científica
dedicando-se, por mais de meio século, ao estudo e à pesquisa do mais
fundamental e difícil problema do homem - a sua formação: Montessori acreditava
que somente por meio do entendimento da formação do homem seria possível
intervir em questões decisivas - sua conservação e seu desenvolvimento.
Montessori viveu de forma intensa a história de seu tempo, dedicou-se de
forma integral a novos experimentos, descobertas e alternativas. Contestou os
dogmas, as tradições e buscou responder às novas necessidades de uma
educação que pudesse formar homens mais humanos.
14
Na pedagogia montessoriana, a criança é vista como um ser biológico
que, na interação com o meio, torna-se social, e é exatamente por conta disso,
diz (Montessori, 1985, p. 51), "que qualquer pessoa que se ocupa de ajudar a
vida, na educação da criança, não pode prescindir de considerar a criança como
um ser vivo e qual é o seu lugar na biologia; isto é, no campo total da vida".
SISTEMA MONTESSORIANO
15
3.1.1 Primeiro período: do nascimento aos seis anos de idade
16
cada ser humano é que mantém a harmonia da vida e torna possível a evolução
do homem. Nesse sentido, a natureza, o ritmo da vida é que deve reger a prática
educativa.
Somente a natureza, que estabeleceu algumas leis e determinou algumas
necessidades no homem em via de desenvolvimento, pode ditar o método
educativo determinado pelo fim, que é o de satisfazer as necessidades e as leis
da vida. Tais leis e necessidades a criança mesma deve indicar, nas suas
manifestações espontâneas e no seu progresso: na manifestação da sua paz e
da sua felicidade; na intensidade dos seus esforços e na constância das suas
livres escolhas. (MONTESSORI, 1985, p. 67-68)
17
criança está dentro dela mesma e que, por isso mesmo, a escola somente
precisa estimular na criança a descoberta de suas potencialidades
(MONTESSORI, 1985).
Dessa forma, o papel do educador é de extrema importância, cabendo a
ele estimular na criança o desenvolvimento de seus sentidos, por meio do
contado direto com objetos materiais e com o próprio mundo. Como diz
Montessori (1985, p. 153), "os sentidos, sendo os exploradores do ambiente,
abrem caminhos a consciência. Os materiais para educação dos sentidos são
dados como uma espécie de chave para abrir uma porta à exploração das coisas
e pormenores que, na escuridão (no estado inculto), não se poderiam ver".
METODOLOGIA MONTESSORIANA
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do grupo. Assim, Montessori pretendia construir uma educação, capaz de formar
adultos responsáveis, solidários, generosos, competentes, críticos e
independentes.
19
mútua, em que cada criança pudesse se sentir peça fundamental no processo
de seu próprio desenvolvimento.
Na pedagogia montessoriana, a educação é uma extensão da natureza
humana. Portanto, nada mais natural que a educação aflore da criança, de suas
necessidades e de suas habilidades naturais. Nesse sentido, a escola deve
tomar a vida como o ponto de partida para a construção de seres humanos
capazes de reconstruir um mundo em que o homem, enquanto expressão viva
da natureza seja orientando no sentido de se construir como criatura autônoma,
solidária, criativa e verdadeiramente humana.
20
4 JEAN PIAGET E A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA
21
JEAN PIAGET
22
Conselho Executivo e assumindo, diversas vezes, a subdireção geral do
Departamento de Educação. Nos anos 50, publica a Epistemologia Genética,
sua primeira tese sobre teoria do conhecimento. Em 1955, assume o lugar do
filósofo Merleau-Ponty, lecionando na Universidade de Sorbonne Paris. No
mesmo ano, na cidade de Genebra, Piaget funda o Centro Internacional de
Epistemologia Genética, destinado a pesquisas interdisciplinares sobre a
formação da inteligência.
Em 1967, Piaget escreve Biologia e Conhecimento, considerada a
principal obra de sua maturidade. Em 16 de setembro de 1980, na cidade de
Genebra, morre Jean Piaget.
23
importante ao desenvolvimento cognitivo, ela não pode ser tomada como o único
mecanismo que viabiliza o processo de construção do saber. Opondo-se
também aos inatistas, Piaget afirma não ser possível que a estrutura cognitiva
esteja completamente formada desde o nascimento, visto que grande parte
dessa estrutura e construída e aprimorada a partir das experiências concretas.
Ainda que alguns aspectos da cognição existam desde o nascimento, eles
somente poderão se desenvolver no contato direto com o mundo.
Piaget tem mostrado que, desde o princípio, a própria criança exerce
controle sobre a obtenção e organização de sua experiência do mundo exterior.
Acompanha com os olhos os objetos, seu olhar explora em torno, volta a cabeça;
com as mãos, agarra, solta, joga, empurra; explora com os olhos e mãos
alternadamente, cheira, leva a boca, prova etc. (GOULART, 1995, p. 16).
Para Piaget, grande parte do conhecimento construído pelo homem é
resultado do seu esforço em compreender e dar significado ao mundo. Nessa
tentativa de interação e compreensão do meio, o homem desenvolve alguns
equipamentos neurológicos herdados que facilitam o funcionamento intelectual.
Para explicar a construção do conhecimento, Piaget criou um modelo
biológico de interação do homem com o ambiente, que parte da seguinte lógica:
o organismo do homem é essencialmente seletivo, por organizar os alimentos que
podem ser úteis; esses alimentos vão sendo adaptados de acordo com as
necessidades biológicas. Á medida que o homem seleciona os alimentos e inicia
a adaptação destes ao organismo, acontece à assimilação, ou seja, a estrutura
biológica acomoda os alimentos para a satisfação das necessidades do corpo.
O Construtivismo piagetiano é essencialmente biológico. A perspectiva
lógica de Piaget não é senão o correspondente de sua perspectiva biológica, isto
é, o desenvolvimento é visto como um processo de adaptação, que tem como
modelo a noção biológica do organismo em interação constante com o meio
(GOULART, 1995, p. 17).
Segundo Piaget, esse mesmo processo dá-se quando da organização,
assimilação e adaptação dos conhecimentos na estrutura cognitiva. A
organização seletiva que a cognição realiza dá-se em um processo permanente
de interação do homem com meio ambiente, por meio da apreensão do que e
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útil e necessário à adaptação do homem no mundo.
Na adaptação, a estrutura cognitiva altera-se para receber o novo
conhecimento. O ajuste feito pela cognição para receber novas informações é
denominado por Piaget de acomodação. O processo de organização, adaptação
e assimilação de um novo conhecimento depende de esquemas assimilativos,
como a repetição e a generalização (GOULART, 1995). As ações, as reflexões
e as representações, ao serem repetidas diversas vezes em situações,
diferentes, tornam- se novas estruturas, novos conhecimentos. Dito de outra
forma, ao se repetir uma mesma ação em diferentes situações a assimilação
dessa ação aumenta, aumentando também a compreensão de que esta mesma
ação pode ser generalizada a outros momentos, ficando cada vez mais clara a sua
identificação e reconhecimento, em qualquer situação.
Pode-se, então, dizer que a repetição reforça os conhecimentos
assimilados, ou preexistentes, reforçando-os e tornando-os mais consistentes, o
que facilita a aprendizagem e o desenvolvimento da inteligência. Em resumo,
para Piaget, a estrutura cognitiva vai construindo-se e aprimorando-se
paulatinamente e concomitante à construção de novos conhecimentos, por meio
da busca natural do homem por se adaptar ao meio ambiente.
As críticas feitas a Piaget vão ao sentido de uma omissão de sua parte, no
que diz respeito à condição histórica do homem e a biologização de sua teoria.
Não há dúvida de que suas obras sobre o desenvolvimento da aprendizagem
estão coladas aos seus estudos sobre a estrutura biológica do homem.
Entretanto, Piaget concebe o homem como sujeito ativo dentro do processo de
produção de conhecimento, fato que se evidencia na medida em que o autor
entende o conhecimento e a aprendizagem como o resultado da interação
homem-meio. Ora, ao se relacionar o homem não se despoja de sua condição
individual, de sua condição de sujeito ativo, "na verdade, o homem produz a si
próprio ao produzir a realidade na qual vive, ao se relacionar com o meio e com
os outros homens" (WACHOWICZ, citado por MATUI, 1995, p. 62).
A despeito da ausência de uma obra que trate especificamente da
condição histórica do homem para Piaget, alguns conceitos-chave desenvolvidos
por ele apontam para essa temática e enfatizam a condição ativa do homem no
25
processo de produção de conhecimento. Por outro lado, ainda que o enfoque da
obra de Piaget seja biológico, é necessário considerar que o homem é "sujeito
histórico na medida em que traduz sua organização biológica pelas ações
próprias da cultura na qual vive, a qual é, por sua vez, produto do homem
enquanto sujeito histórico" (MATUI, 1995, p. 62).
26
Estágio - Operações formais e Pensamento Hipotético-dedutivo:
Nesse estágio, predomina a lógica formal, a criança já pode realizar abstrações
sem necessitar de representações concretas e pode, também, imaginar
situações nunca vistas ou vivenciadas por ela.
As questões acima tratadas podem ser consideradas como a base
epistemológica, ou a lógica, a partir da qual Piaget construiu sua teoria de
desenvolvimento da cognição e da aprendizagem. Teoria essa que culminou em
práticas alternativas de educação em que o aluno é, antes, um sujeito produtor
de conhecimento, e o educador, um facilitador do processo ensino-
aprendizagem. Embora tenhamos tratado, nesse primeiro momento, da base
teórica que sustenta as práticas educativas construtivistas/piagetianas, não
podemos tomar a teoria dissociada de sua dimensão prática, mas, sim, articular
teoria e prática num processo contínuo.
Piaget não teorizou no vazio, ao contrário, buscou na vida cotidiana a
materialidade capaz de dar as suas obras um caráter de verdade histórico.
Nesse sentido, as implicações educativas da teoria piagetiana sobre o
desenvolvimento da criança serão discutidas no próximo texto. Serão
trabalhados também outros conceitos centrais da obra de Piaget, como, por
exemplo: linguagem, moral, autonomia, dentre outros.
27
adulto não pode se comportar como uma criança de cinco anos e isso ele
aprendeu ao longo de seu desenvolvimento na relação com os outros homens.
Piaget pensa o Ser Social como o indivíduo que se relaciona com os outros, seus
semelhantes, de forma equilibrada. Entretanto, Piaget faz uma ponderação muito
interessante sobre relação equilibrada, a qual, segundo ele, somente pode existir
entre pessoas que estejam no mesmo estágio de desenvolvimento (TAILLE,
1992).
Expliquemos melhor: lembrem-se dos estágios de desenvolvimento da
criança; o equilíbrio a que Piaget se refere somente pode existir entre pessoas
que estejam no mesmo nível de desenvolvimento, ou seja: A maneira de ser social
de um adolescente é uma, porque é capaz de participar de determinadas relações
(...) e a maneira de ser social de uma criança de cinco anos é outra, justamente
porque ainda não é capaz de participar de relações sociais que expressam e que
demandam um equilíbrio de trocas intelectuais (TAILLE, 1992, p. 14).
Portanto, dependendo do estágio em que a criança se encontre, podendo
falar de um grau maior ou menor de socialização. Nesse caso, a compreensão dos
estágios de desenvolvimento é fundamental para a compreensão da
socialização da pessoa.
Para Piaget, no estágio sensório-motor não é possível falar “em real
socialização da inteligência" (TAILLE, 1992, p. 15), pois nesse período, a criança
é essencialmente individual. No estágio pré-operatório, quando o processo de
aquisição da linguagem já está em franco desenvolvimento, já se pode falar de
uma inicial: Socialização afetiva da inteligência, embora a ausência de algumas
características, como, por exemplo, significados comuns em relação a conceitos
e ideias, ainda limitam a possibilidade de a criança estabelecer trocas
intelectuais equilibradas (TAILLE, 1992, p. 15).
Resumidamente, para Piaget, a socialização possui vários graus. Começa
no grau zero, quando a criança é recém-nascida, até o grau máximo,
representado pelo conceito de personalidade. A personalidade significa,
portanto, o momento de autonomia do indivíduo, quando ele já superou o
egocentrismo e consegue estabelecer uma relação - trocas intelectuais -
recíproca com os outros.
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Para Piaget, as relações interindividuais pressupõem dois tipos de
relações sociais: a coação e a cooperação.
A coação social é toda relação entre dois indivíduos em que estão
presentes os elementos da autoridade e do prestígio. Nesse tipo de relação, não
há diálogo. Segundo Taille (1992, p. 19) "uma vez que um fala e outro se limita
a ouvir e a memorizar". O indivíduo coagido é levado a acreditar no que diz a
outra pessoa, que, por ter mais poder, tem também, autoridade e prestígio, sem
que seja preciso verificar a veracidade ou procedência dos fatos.
As relações de cooperação, por sua vez, representam o mais alto nível de
socialização e desenvolvimento mental, visto que pressupõem reciprocidade e
diálogo entre indivíduos autônomos. Aqui, a relação não se baseia em uma
pessoa que fala e outra que acredita, cegamente, no que é dito; aqui, o ato de
acreditar não está submetido à autoridade e ao prestígio de outrem, mas na
capacidade de discernimento de cada pessoa ou, ainda, como diz Taille (1992,
p. 20), "agora não há mais assimetria, imposição, repetição, crença (...). Há
discussão, troca de pontos de vista, controle mútuo dos argumentos e das
provas".
Em sua obra “O julgamento moral da criança” (1930), Piaget estabelece
que a moral se desenvolve em um processo crescente que vai da dependência
moral a autonomia moral. O desenvolvimento da autonomia, por sua vez, é um
processo mediado pelos adultos, crianças e adolescentes, com os quais a
criança se relaciona cotidianamente. No desenvolvimento da autonomia, há dois
mecanismos fundamentais, a cooperação e a reciprocidade, que comportam dois
tipos de sanções: as sanções expiatórias, e as sanções de reciprocidade.
Sanções expiatórias: essas sanções caracterizam-se por não apresentar
qualquer relação entre a falta cometida e a punição recebida, porque estão
baseadas, apenas, na autoridade dos adultos.
Sanções de reciprocidade: nessas sanções, há relação estreita entre o
ato e a punição, por isso, apresenta "elo de reciprocidade", de coerência.
Em geral, as regras são praticadas e internalizadas pela criança em três
momentos subsequentes: anomia, heteronomia e autonomia.
Anomia: nesse momento, a criança não segue regras, mas busca
29
satisfazer seus interesses. Aqui, não importa para a criança participar de
atividades coletivas regidas por regras estabelecidas em comum acordo.
Heteronomia: nessa fase, já começa a ser desenvolvido certo interesse
por atividades coletivas, com regras estabelecidas mutuamente.
Autonomia: na autonomia, a criança já consegue jogar e se relacionar,
obedecendo a regras que são estabelecidas em comum acordo.
Está claro que, para Piaget, o conhecimento deve ser visto como uma
construção em constante processo. Isso pressupõe entender que a criança é
capaz de criar, recriar e experimentar de forma autônoma, impulsionando seu
próprio desenvolvimento. Nesse sentido, o ato de errar não pode ser visto como
falha e sim como um momento necessário da aprendizagem; a ausência do erro
denuncia a ausência da experimentação e, consequentemente, a ausência da
aprendizagem.
Visto que a socialização e a moral são consolidadas ao longo da infância, o
trabalho coletivo, em Piaget, tem o papel de mediador das relações e de
instigador da capacidade de participação, cooperação e respeito mútuo. O
trabalho coletivo socializa, estabelece laços de afetividade e permite à criança se
perceber como parte de uma coletividade, superando seu egocentrismo.
No Construtivismo piagetiano o educador não é o detentor do saber, mas
o facilitador do processo ensino-aprendizagem. O aluno não é mero receptor de
conhecimento, mas o agente ativo que constrói conhecimento. A relação
professor- aluno deve ser de respeito mútuo e cooperação.
É claro que não se pode tomar uma teoria como verdade absoluta. O
conhecimento é sempre relativo e uma teoria é sempre limitada. Por isso, uma
teoria deve servir como uma possibilidade, dentre tantas, de construção de
educação diferenciada.
A própria prática pedagógica, que se renova a cada dia, deve ser vista
como um palco onde se experimenta, se inventa e se recria o ato de ensinar:
nesse palco, podem surgir outras teorias.
Por fim, na aplicação de uma teoria, é preciso levar em conta a realidade
sociocultural dos alunos, para que não se caia no risco de reproduzir e de copiar
mecanicamente determinada concepção de educação: o que deu certo em
30
determinado lugar não, necessariamente, pode responder às necessidades de
outra e diversa realidade.
31
5 LEV VYGOTSKY – O INTERACIONISMO E O SOCIOCONSTRUTIVISMO
Lev Vygotsky foi cotidiano como todo homem, mas, como poucos,
suspendeu o cotidiano e colocou-se diante da vida questionando-a dia a dia.
Nascido em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, na Rússia, filho de
uma família culta, Vygotsky teve desde muito cedo uma riqueza intelectual que
o fazia se questionar sobre o homem e a criação de sua cultura. Passou a
adolescência na cidade de Gomel e mostrava-se, desde então, interessado por
literatura, poesia e filosofia. Estudou francês, hebraico, latim e grego. Foi
educado em casa até os 15 anos, quando ingressou no curso secundário.
32
FIGURA - LEV VYGOTSKY
33
linguagem e o pensamento da criança”, de Jean Piaget. Vygotsky morreu
precocemente, aos 37 anos de idade, em 11 de junho de 1934. Mas, em sua
curta vida, deixou uma grande herança teórica que foi silenciada por quase meio
século: em 1936, Josef Stalin acusa Vygotsky de idealismo e proíbe suas obras
por 20 anos.
As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da aprendizagem
e a construção do conhecimento perpassavam pela produção da cultura, como
resultado das relações humanas. Por conta disso, ele procurou entender o
desenvolvimento intelectual a partir das ralações histórico-sociais, ou seja,
buscou demonstrar que o conhecimento é socialmente construído pelas relações
humanas.
Para Vygotsky (1991), o homem possui natureza social visto que nasce
em um ambiente carregado de valores culturais: na ausência do outro, o homem
não se faz homem. Partindo desse pressuposto criou uma teoria de
desenvolvimento da inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre
intermediado.
Sendo a convivência social fundamental para transformar o homem de ser
biológico a ser humano social, e a aprendizagem que brota nas relações sociais
ajuda a construir os conhecimentos que darão suporte ao desenvolvimento
mental.
Segundo o autor, a criança nasce apenas com funções psicológicas
elementares e, a partir do aprendizado da cultura, essas funções transformam-
se em funções psicológicas superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de
forma imediata e direta; as informações recebidas do meio social são
intermediadas, de forma explícita ou não, pelas pessoas que interagem com as
crianças. É essa intermediação que dá às informações um caráter valorativo e
significados sociais e históricos.
As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano
fundamentam-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores são
construídas ao longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo,
mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser
humano cria as formas de ação que o distinguem de outros animais (OLIVEIRA,
34
1992).
Vale dizer que essas informações não são interiorizadas com o mesmo
teor com que são recebidas, ou seja, elas sofrem uma reelaboração interna, uma
linguagem específica em cada pessoa. Em outras palavras, cada processo de
construção de conhecimentos e desenvolvimento mental possui características
individuais e particulares. Dito de outra forma, os significados socioculturais
historicamente produzidos são internalizados pelo homem de forma individual e,
por isso, ganham um sentido pessoal; "a palavra, a língua, a cultura relaciona-
se com a realidade, com a própria vida e com os motivos de cada indivíduo"
(LANE, 1997, p. 34)
35
5.3 A Aprendizagem
36
não deve ser um indicador de incapacidades, mas um elemento fundamental
para se entender que conhecimentos precisam ser reforçados e estimulados, no
aluno.
Por outro lado, a importância da cultura, da linguagem e das relações
sociais na teoria de Vygotsky fornece a base para uma educação em que o
homem seja visto na sua totalidade: na multiplicidade de suas relações com
outros; na sua especificidade cultural; na sua dimensão histórica, ou seja, em
processo de construção e reconstrução permanente.
APRENDIZAGEM
37
anteriormente assimilado.
Já dissemos em outros momentos que todo conhecimento é limitado e
relativo, nenhuma teoria pode ser tomada como verdade única e absoluta. Toda
verdade é histórica, passageira, e como tal precisa ser utilizada: precisamos
procurar sempre o equilíbrio entre o ceticismo retrógrado e a fé cega, que fecha
qualquer possibilidade para o novo.
Não podemos duvidar do caráter revolucionário da teoria vygotskyana,
mas sempre como um dos instrumentos que pode auxiliar na busca incessante
por uma educação que recupera e reforça, no homem, o que ele tem de melhor:
sua criatividade, sua autonomia, sua condição histórica de sujeito e não de objeto
a ser modelado.
Há ainda que atentar para o fato de que toda educação é direcionada para
uma realidade específica, e é a partir das peculiaridades, culturais e sociais, de
cada realidade que as teorias do conhecimento e da aprendizagem devem ser
pensadas no âmbito da prática escolar. É um erro pensar a educação descolada
da vida cotidiana e imediata dos indivíduos, de seus limites e de suas
possibilidades.
Uma educação, de fato, transformadora caminha no sentido de promover
o respeito pela diferença, de estimular a riqueza da diversidade; o contrário disso
é homogeneizar, e não permitir que um rico mosaico cultural seja pincelado por
cada homem e por cada mulher: diferentes nas suas particularidades, mas únicos
enquanto humanidade.
38
Como dito, a semiótica utiliza-se de signos e imagens simbólicas; mas, o que é
signo e o que é símbolo?
Signo pode ser compreendido como alguma coisa que está no lugar de
outra, sob algum aspecto. E símbolo provém do grego symbolon, que significa
marca, sinal de reconhecimento, ou seja, qualquer representação de uma
realidade por outra. A linguagem humana, por exemplo, é simbólica enquanto
representa a realidade de forma analógica ou convencional (ARANHA, 1996, p.
240).
Podemos, então, dizer que, ao longo da vida, constantemente, utilizamo-
nos de signos e/ou símbolos para falar da realidade, e este hábito está presente,
por consequência, em nosso desenvolvimento cognitivo, mecânico, afetivo,
psicológico, entre outros aspectos. Dessa maneira, também podemos afirmar
que esta forma de linguagem estará presente nos processos de aprendizagem,
ou melhor, em todos os processos educativos.
Ao explicar as chamadas operações superiores, Vygotsky utiliza o
conceito de mediação segundo o qual a relação do homem com o mundo não é
direta, mas mediada pelos sistemas simbólicos. Essa mediação é levada a efeito
pelo uso de instrumentos e de signos.
Para Vygotsky, a invenção e o uso de signos como meios auxiliares para
solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar,
escolher, etc.) é análoga à invenção e uso de instrumentos, somente que, agora,
no campo psicológico (ARANHA, 1996, p. 205).
Em especial, é importante falarmos do sistema de notação, que é muito
utilizado na maior parte das áreas de conhecimento, das quais podemos
destacar a linguagem escrita, a matemática e as artes (por exemplo: a música).
39
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
40
As notações podem ser expressas por meio do desenho, da linguagem, dos
números, da música (ritmos, melodias e partituras), entre outras formas.
O desenho pode ser considerado uma dessas representações da
realidade, pois articula a cognição com o afeto, evoluindo junto com a construção
do real. Podemos identificar alguns níveis do desenho, dos quais destacamos
quatro: realismo fortuito, incapacidade sintética, realismo intelectual e realismo
visual.
Criar e perceber formas visuais implica trabalhar frequentemente com as
relações entre os elementos que as compõem, tais como ponto, linha, plano, cor,
luz, movimento e ritmo. As articulações desses elementos nas imagens dão
origem à configuração de códigos que se transformam ao longo dos tempos. Tais
normas de formação das imagens podem ser assimiladas pelos alunos como
conhecimento e aplicação prática recriadora e atualizada em seus trabalhos,
conforme seus projetos demandem e sua sensibilidade e condições de
concretizá-los permitam. O aluno também cria suas poéticas onde gera códigos
pessoais (BRASIL, PCN - Arte, 1997, p. 61-62).
A linguagem é outra forma de notação, de representação simbólica da
realidade. Segundo o PCN, referentemente à Língua Portuguesa no Ensino
Fundamental (BRASIL, 1997): A língua é um sistema de signos histórico e social
que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é
aprender não somente as palavras, mas também os seus significados culturais
e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e
interpretam a realidade e a si mesmas (BRASIL, 1997, p. 24).
A linguagem, contudo, pode ser expressa de diversas formas, mas a
escrita é a forma que mais nos interessa neste momento, pois é por meio da
grafia que as diversas culturas humanas desenvolveram os signos da linguagem.
A escrita traduz a notação de uma cultura, de um grupo social, de uma tradição
não somente histórica, mas, também, simbólica. E, da mesma forma que existe
uma evolução na forma de apreensão e expressão dos desenhos, a
representação da escrita também evolui. Podemos identificar os seguintes níveis
de evolução da escrita: pré-silábico, silábico, silábico alfabético e ortográfico.
Como a escrita, vamos perceber que os números traduzem um sistema
41
de notação bem complexo, o qual busca representar quantidades, basicamente.
A evolução da notação numérica vai desde a classificação/seriação, passa pela
percepção global (muito/pouco), desenvolve os sistemas de contagem,
avançando para as representações dos números cardinais, os grafismos
icônicos e abstratos, entre outras formas mais complexas.
É importante, entretanto, ressaltar as dificuldades no aprender a
matemática, assim como ensiná-la. Nesse sentido, Wood (1996) diz-nos que:
Bruner afirma que a instrução e um pré-requisito necessário para que as
atividades espontâneas da criança se transformem em pensamento simbólico,
racional. Ele partilha da opinião de Piaget, segundo a qual a ação é o ponto de
partida para a formação do pensamento abstrato e simbólico (como o que toma
parte na resolução de equações matemáticas, por exemplo), mas não concorda
com a noção de que a criança, antes de atingir um determinado nível, seja
incapaz de entender as relações conceituais entre a atividade prática e níveis
mais abstratos de pensamento (WOOD, 1996, p. 310-311)
E continua afirmando: À noção de que a evolução do pensamento
simbólico seja condicionada por estágios de desenvolvimento, Bruner fornece
uma perspectiva diferente, a respeito do processo de chegar a conhecer e da
natureza da aprendizagem. Ele distingue entre três "modos", pelos quais o
conhecimento é expresso ou "representado". A seus três modos de
representação dão os nomes de "atuante" [enactive] "icônico" e "simbólico". A
representação atuante assemelha-se à noção piagetiana de inteligência prática.
(...) A representação icônica: representação do conhecimento em que a
representação criada precisa guardar uma correspondência de elemento para
elemento, com o evento ou atividade que ela retrata. (...) A representação
simbólica: os próprios números, bem como os símbolos verbais e escritos não
guardam uma relação de elemento para elemento, com as entidades que
retratam. Do mesmo modo, símbolos como ‘+’, ‘=’ e ‘-’ não apresentam, em si
mesmos e do ponto de vista da percepção, uma semelhança com as operações
que designam. E, assim como as palavras funcionais na linguagem, eles possuem
diversos significados enquanto símbolos matemáticos, dependendo do tipo de
problema em questão (como por exemplo, dividir números inteiros ou dividir
42
frações). (WOOD, 1996, p. 310-311).
Por fim, encontramos na música, explícitos, vários instrumentos de
notação, os quais buscam representar os ritmos naturais, como os ritmos do
coração, do andar, da respiração, entre outros fenômenos. A música é expressão
da cultura, da linguagem do coração, da emoção, mas também de uma lógica
nem sempre matemática, mas, muitas vezes, expressa por ela. As melodias
estão presentes em todo tipo de cultura, talvez com tons, com harmonias, com
ritmos diferenciados, mas sempre existem.
As notas musicais, as partituras e seus diversos grafismos sempre
buscam traduzir uma situação real, que pode ser compreendida em um som, em
um ritmo, em um estilo, ou, até mesmo, na ausência do som (a pausa) - o silêncio é
expresso por uma notação, uma representação simbólica. Um pequeno ponto ao
lado ou acima de uma nota musical representa algo na linguagem musical - é
momento de acrescer ou diminuir o tempo de execução de um determinado som.
A notação musical, como observamos, é outra forma de representação
simbólica, que também guarda especificidades, mas traduz uma cultura,
relações sociais e, por sua vez, é pautável de aprender e ensinar, de sentir e
executar. A música, assim como o desenho, a escrita e a matemática, e todas as
outras maneiras de simbolizar o real, podem facilitar (ou não) os processos de
aprendizagem e construção do conhecimento. Como a música, a educação é
uma arte. “Arte é cognição”. (Ana Maria Barbosa)
43
6 PAULO FREIRE- A PRÁTICA DE EDUCAÇÃO POPULAR
44
estreita colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências
educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas Durante os 10 anos
seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho
Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria
educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África.
Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para "reaprender" seu
país. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, tornou-se
Secretário de Educação no Município de São Paulo, maior cidade do Brasil.
Durante seu mandato, fez um grande esforço na implementação de movimentos
de alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial
dos professores.
A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em
campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem
instituída, sendo preso, após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de
reclusão, foi convencido a deixar o país. Exilou-se primeiro no Chile, onde,
encontrando um clima social e político favorável ao desenvolvimento de suas
teses, desenvolveu, durante cinco anos, trabalhos em programas de educação
de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Foi aí que
escreveu a sua principal obra: Pedagogia do Oprimido.
Em Paulo Freire, conviveram sempre presentes senso de humor e a não
menos constante indignação, contra todo tipo de injustiça. Casou-se, em 1944,
com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos.
Após a morte de sua primeira esposa, casou-se com Ana Maria Araújo Freire,
uma ex-aluna.
Paulo Freire é autor de muitas obras, entre elas: Educação: prática da
liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975),
Pedagogia da esperança (1992), À sombra desta mangueira (1995).
Foi reconhecido mundialmente pela sua práxis educativa por meio de
numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições,
é cidadão honorário de várias cidades, no Brasil e no exterior.
A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Honoris Causa, por vinte e
45
sete universidades. Por seus trabalhos na área educacional, recebeu, entre
outros, os seguintes prêmios: "Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento"
(Bélgica, 1980); "Prêmio UNESCO da Educação para a Paz" (1986) e "Prêmio
Andres Bello" da Organização dos Estados Americanos, como Educador dos
Continentes (1992). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado
Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire
faleceu no dia 2 de maio de 1997, em São Paulo, vítima de um infarto agudo do
miocárdio.
Percebe-se, atualmente, o quanto Paulo Freire produziu, ao longo de sua
fértil vida, para a educação e para a vida dos outros seres humanos. Como ele
mesmo dizia: a educação não transformará a sociedade sozinha, contudo, sem
a educação a sociedade não será transformada. E, é justamente, aprendendo
com Freire, que devemos entender o quanto é importante conceber a educação
como um princípio transformador da realidade, dos seres humanos, das relações
sociais. Por sua vez, é interessante não somente vislumbrar os potenciais e
desafios de seu método, mas, também, os seus limites.
46
FIGURA - MÉTODO DE PAULO FREIRE
47
diversas dimensões do conhecimento. Desde a problematização da realidade
até sua compreensão sociocultural, as pessoas no processo de educação
reconhecem-se como cidadãos e, principalmente, como agentes
transformadores de seu cotidiano, de sua vida.
48
A proposta de utilização dessa metodologia na alfabetização de jovens e
adultos foi completamente inovadora e diferente das técnicas até então
utilizadas, que eram, na maioria das vezes, resultado de adaptações simplistas
das cartilhas, com forte tônica infantilizante. Foi diferente, por possibilitar uma
aprendizagem libertadora, não mecânica, uma aprendizagem que requer tomada
de posição frente aos problemas que vivemos. Uma aprendizagem integradora,
abrangente, não compartimentalizada, não fragmentada, com forte teor
ideológico. Foi diferente, pois promovia a horizontalidade na relação, educador -
educando, a valorização de sua cultura, de sua oralidade, enfim, foi diferente,
acima de tudo, pelo seu caráter humanístico.
Dessa forma, o método proposto por Freire rompeu com a concepção
utilitária do ato educativo, propondo outra forma de alfabetizar. Cabe aqui
também o registro de que Paulo Freire, ao trabalhar com slides, gravuras, enfim,
materiais audiovisuais foi um dos pioneiros na utilização da linguagem multimídia
na alfabetização de adultos. Isso prova o quanto Freire estava a frente de seu
tempo (FEITOSA, 1999, p. 78)
49
disciplinar, para aprisionar, para limitar.
50
7 HENRI WALLON E A PSICOGÊNESE DA PESSOA COMPLETA
Henri Wallon nasceu na França, em 1879. Viveu em Paris até sua morte,
em 1962. Aos 23 anos, formou-se em Filosofia e, aos 29 anos, em Medicina. Na
Primeira Guerra Mundial, atuou como médico do exército francês. Até então,
devido ao seu trabalho com crianças deficientes, havia desenvolvido posições
neurológicas que foram revistas, após o contato com ex-combatentes que
apresentavam lesões cerebrais. Até 1931, atuou como médico em instituições
psiquiátricas, onde se dedicou as crianças com deficiências neurológicas e
distúrbios de comportamento.
51
HENRI WALLON
Esse seu trabalho leva-o a um interesse cada vez maior pela psicologia
da criança, tendo sido o responsável, no período de 1920 a 1937, por
conferências sobre a psicologia da criança, em várias instituições de ensino
superior. Em 1925, fundou um laboratório para pesquisa e atendimento às
crianças deficientes. Ainda neste ano, publica sua tese de doutorado, intitulada
“A Criança Turbulenta”, o primeiro de inúmeros livros voltados à psicologia da
criança. Em 1931, em uma viagem para Moscou, passa a integrar o Círculo da
Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que tinha por objetivo estudar
profundamente o materialismo dialético e examinar as possibilidades oferecidas
por este referencial aos vários campos da ciência. Wallon manteve interlocução
com as teorias de Piaget e Freud. Em 1948, criou a revista “Enfance”, publicada
até hoje e que serve de instrumento de pesquisa para psicólogos e educadores.
52
componente orgânico e que o objeto de ação mental vem do ambiente em que
o sujeito está inserido. Dessa forma, o sujeito é determinado fisiológica e
socialmente, ou seja, é resultado tanto das disposições internas quanto das
situações exteriores.
Wallon, então, propunha a Psicogênese da Pessoa Completa, ou seja, o
estudo da pessoa completa integrada ao meio em que está imersa, com os seus
aspectos afetivos, cognitivos e motores, também integrados. Afirmava ainda que
o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como
"geneticamente social", e realizar os estudos da criança contextualizada, nas
relações com o meio.
53
passa a ser substituída por outros meios, decorrendo daí a disciplina mental, ou
seja, o controle do sujeito sobre suas próprias ações. Desenvolver-se é ser
capaz de responder com reações cada vez mais específicas a situações cada
vez mais variadas.
No seu desenvolvimento, o sujeito caminha do sincretismo (sentimentos
e ideias vividas de uma maneira global, confusa e sem clareza da situação) em
direção à diferenciação (aos poucos se tornam mais claros e adequados às
necessidades que a situação apresenta). A aquisição da linguagem muda
radicalmente à forma de relação da criança com o meio. A linguagem é
indispensável ao progresso do pensamento, sua relação é recíproca: a
linguagem exprime o pensamento ao mesmo tempo em que atua como
estruturadora do mesmo.
Para Wallon, o desenvolvimento não é linear e contínuo, mas, sim, a
integração de novas funções e aquisições às anteriores. Estabeleceu três leis
que regulam o processo de desenvolvimento:
Lei da alternância funcional: duas direções opostas alternam-se ao longo
do desenvolvimento: centrípeta (construção do eu) e centrífuga (elaboração da
realidade externa). Essas duas direções alternam-se constituindo o ciclo da
atividade funcional.
Lei da sucessão da preponderância funcional: as três dimensões
(afetiva, cognitiva e motora) preponderam alternadamente ao longo do
desenvolvimento do indivíduo. A dimensão motora predomina nos primeiros
meses de vida, e as dimensões, afetiva (na formação do eu) e cognitiva (no
conhecimento do mundo exterior) alternam-se ao longo de todo o
desenvolvimento.
Lei da diferenciação e integração funcional: as novas possibilidades
integram- se às conquistas dos estágios anteriores.
Wallon dá grande importância ao meio na constituição da pessoa. Assim,
a pessoa deve ser vista integrada ao meio do qual é parte constitutiva, e no qual,
ao mesmo tempo, constitui-se; como podemos observar em GALVÃO (2000),
mostrando que Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os
outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. Para ele, o meio
54
social e a cultura constituem as condições, as possibilidades e os limites do
desenvolvimento do organismo. Por isso, estuda a criança contextualizada, e
afirma que o ritmo das etapas do desenvolvimento é descontínuo, ou seja, o
desenvolvimento é dialético. Estabeleceu os seguintes estágios de
desenvolvimento do indivíduo:
Impulsivo-emocional (1° ano de vida): A afetividade orienta as primeiras
reações do bebê às pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo
físico. Os atos da criança têm o objetivo de chamar a atenção do adulto para que
ele satisfaça as suas necessidades e garanta a sua sobrevivência. Aos poucos,
passa a demonstrar, também, necessidade de manifestações afetivas.
Sensório-motor e projetivo (até os três anos): A aquisição dos
movimentos da marcha e da prensão dá autonomia na manipulação dos objetos
e na exploração dos espaços. Ocorre o desenvolvimento da função simbólica e
da linguagem. A criança aprende a conhecer os outros como pessoas em
oposição à sua própria existência.
Personalismo (dos três aos seis anos): Construção da consciência de si,
mediante as interações sociais. Percepção dos diferentes papéis e das relações
dentro do universo familiar e também dentro de um novo grupo (escola maternal).
Diferencia- se do outro e toma consciência de sua autonomia em relação aos
demais.
Categorial (dos sete aos doze anos): Progressos intelectuais dirigem o
interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo
exterior. Desenvolvimento cognitivo aguçado e sociabilidade ampliada.
Capacidade de participação em vários grupos com graus e classificações
diferentes, segundo as atividades de que participa.
Predominância funcional (adolescência): fase marcada pelas
transformações fisiológicas e psíquicas, com preponderância afetiva. Há nova
definição dos contornos da personalidade, que ficam desestruturados com as
transformações ocorridas. Wallon afirma que, neste período, torna-se bastante
visível o condicionamento da pessoa pelo meio social: enquanto os adolescentes
da classe média exteriorizam seus sentimentos e questionam valores epadrões
morais, os de classes operárias vivem essa fase de outra maneira, pois têm de
55
contribuir para a subsistência da família.
O processo de socialização dá-se pelo contato com o outro e, também,
pelo contato com a produção do outro (texto, pintura, música etc.). Por isso,
afirma, a cultura geral aproxima os homens, pois permite a identificação de uns
com os outros.
56
estudo numa perspectiva dialética, mas, também, por tratar de temas como
emoção, movimento, formação da personalidade, linguagem, pensamento, entre
outros. Além de sua teoria psicogenética, que traz inúmeras implicações
educacionais, Wallon desenvolveu ideias acerca da educação em artigos
especialmente destinados a temas pedagógicos, e na proposta de reforma do
sistema de ensino francês do pós-guerra, no projeto denominado Projeto
Langevin-Wallon, das quais podemos destacar:
57
apresenta a "ditadura postural", muitos conflitos podem ocorrer devido às
exigências da escola.
Para nós, como professores, a contribuição de Wallon é importante,
quando refletimos sobre suas afirmações, como somos pessoas completas, com
afeto, cognição e movimento. Relacionamo-nos com um aluno que é também
uma pessoa completa, integral, com afeto, cognição e movimento. Somos
componentes privilegiados do meio de nosso aluno.
58
8 A PERSPECTIVA DE MADALENA FREIRE
O querer bem, o amor, regia sua interação com o mundo. Muito pouco o
entenderam (ou, ainda não o entendem) sobre essa sua convicção é preciso
querer bem para educar, aprender e ensinar. Penso que era essa capacidade de
amar que lhe dava possibilidade intensa de educar sua paciência impaciente.
Sempre com aqueles olhos de menino curioso, incansável diante do novo, do
conflito, do que não conhecia. (FREIRE, Madalena, 1995, p.35)
MADALENA FREIRE
59
princípios freireanos. Para tal, concebe a educação como um espaço político-
pedagógico, do qual a paixão deve ser propulsora das leituras do mundo. A
educação é a possibilidade de humanização da sociedade, da construção da
consciência. Ser educador é ser artista, pois a educação é uma arte - arte de
educar.
Segundo Madalena Freire (1995): O educador lida com a arte de educar.
O instrumento de sua arte é a pedagogia. Ciência da educação, do ensinar. É no
seu ensinar que se dá seu aprendizado de artista. Toda pedagogia sedimenta-
se num método. Maneira de ordenar, organizar com disciplina, a ação
pedagógica, segundo certos pressupostos teóricos. Toda pedagogia está
sempre engajada a uma concepção de sociedade, política. É neste sentido que,
nesta concepção de educação, este educador faz arte, ciência e política. Faz
política, quando alicerça seu fazer pedagógico a favor ou contra uma classe
social determinada. Faz ciência, quando apoiado no método de investigação
científica, estrutura sua ação pedagógica. Faz arte, porque cotidianamente
enfrenta-se com o processo de criação na sua prática educativa, em que, no dia
a dia, lida com o imaginário e o inusitado. A ação criadora envolve o estruturar,
dá forma significativa ao conhecimento. Toda ação criadora consiste em transpor
certas possibilidades latentes para o campo do possível, do real (MADALENA
FREIRE, 1995, p. 36).
Dessa maneira, podemos observar uma preocupação muito grande em
destacar na educação suas características mais afetivas, mais humanas, ou
seja, a afetividade torna-se uma das principais referências no processo de
construção do saber. A aprendizagem passa necessariamente pelas
experiências possibilitadas pela paixão e, assim, é um desafio saber ensinar sem
inibir as emoções presentes na elaboração do conhecimento.
É importante destacar que, para Madalena Freire, a construção do
conhecimento, assim como os processos de aprendizagem, são inerentes as
emoções dos seres humanos e, portanto, estão abertas às experiências de
prazer, de sofrimento, de alegria, de medo, de coragem, entre outras sensações.
Assim, Freire (1995) ressalta que: No exercício disciplinado de sua arte (mediado
por seus instrumentos metodológicos) é que a paixão de educador é educada.
60
Educador ensina a pensar, e enquanto ensina, sistematiza e apropria-se
do seu pensar. Pensar é o eixo da aprendizagem. Para pensar e aprender tem-
se que perguntar. E para perguntar é necessário existir espaço de liberdade e
abertura para o prazer e o sofrimento, inerentes a todo processo de construção
do conhecimento. A pergunta é um dos sintomas do saber. Toda pergunta revela
o nível da hipótese em que se encontra o pensamento e a construção do
conhecimento. Revela também a intensidade da chama do desejo, da
curiosidade de vida. Ansiedades, confusões e inseguranças são constitutivas do
processo de pensar e aprender. Assim como também o imaginar, o fantasiar e o
sonhar. Não existe pensamento criador sem esses ingredientes. Educador
ensina a pensar. Mas somente pensar não basta. Educador ensina a pensar e a
agir, segundo o que se pensa quando se faz. Nessa concepção de educação, o
educador é um leitor, escritor, pesquisador, que faz ciência da educação
(FREIRE, 1995, p. 40).
Outro aspecto de grande importância na concepção de educação de
Madalena é o grupo. Os grupos são instrumentos pedagógicos fundamentais
para a melhor efetivação de uma educação para a cidadania. O grupo pode se
tornar um espaço em que as experiências de participação e a efetivação de uma
proposta democrática de sociedade sejam efetivadas.
Nessa perspectiva, Madalena elaborou as experiências do Centro de
Interesses, onde se busca atender as crianças de forma plena, levando em
consideração suas necessidades sociais, afetivas, cognitivas, entre outras.
Aguçar a curiosidade da criança, assim como pensar as ações pedagógicas,
justamente a partir destas curiosidades é o grande desafio do educador. Para tal,
o educador deve ser primeiro um bom observador, estimular o surgimento, na
criança e no grupo, das curiosidades, para, a partir delas, construir, em conjunto,
as relações com o mundo em que vivem. O Centro de Interesses é a
incorporação, na Educação Infantil, dos Temas Geradores propostos por Paulo
Freire - ensinar é um ato de leitura da realidade.
Quando falamos que o educador deve ser um bom observador, não nos
esquecemos de que esta qualidade deve ser desenvolvida no conjunto dos
educandos, no âmbito de todos os agentes envolvidos no processo pedagógico
61
de um grupo, pois, para Freire (1995):
62
9 EMÍLIA FERREIRO E A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA
63
vontades individuais. Afirma que a desigualdade social e econômica se
manifesta, também, na desigualdade de oportunidades educacionais. Classifica
a repetência como a repetição do fracasso e a evasão como expulsão encoberta.
Propõe, por meio de sua teoria, uma mudança de ponto de vista.
Até então, os métodos de alfabetização partiam de uma concepção
psicológica, em que a aprendizagem da leitura e da escrita é realizada de forma
mecânica: aquisição de técnica para decifrar o texto; resposta sonora a estímulos
gráficos. Com as pesquisas na área da psicolinguística, a partir de 1962, há uma
nova visão, de que a criança procura ativamente compreender a natureza da
língua falada à sua volta, formula hipóteses, busca regularidade, ou seja,
reconstrói a linguagem.
Há grande influência de Piaget em sua teoria. Ferreiro concebe a teoria
de Piaget como uma teoria geral dos processos de aquisição do conhecimento,
que é resultado da atividade do próprio sujeito e não de métodos ou pessoas, ou
seja, o sujeito é produtor do seu próprio conhecimento. No entender de Weisz,
em sua teoria, descobre a "história da aprendizagem", ao fazer perguntas
piagetianas sobre as aprendizagens que, acreditava-se, não eram construídas e
sim ensinadas, como a aprendizagem da leitura, da escrita, da soma.
Com isso, muda o enfoque da pergunta, como observamos na afirmação
de WEISZ: Em vez de indagar como se deve ensinar a escrever, ela perguntou
como alguém aprende a ler e escrever, independente do ensino. Ela considerou
uma coisa que todos sabiam: que muitas crianças chegam à escola, antes do
ensino oficial, já alfabetizadas. As crianças leem, mas não estão socialmente
autorizadas a fazer isso, antes do professor ensinar. Na verdade, os meninos
trabalham muito para construir esse conhecimento, que acaba não reconhecido
pela escola (WEISZ, 2000, Caderno de Educação do JORNAL DO BRASIL.).
Vamos ver quais os enfoques dados à escrita, segundo Ferreiro: A escrita
como transcrição gráfica: converte unidades sonoras em unidades gráficas, por
meio de um sistema de codificação. O que está em primeiro plano são as
discriminações perceptivas (visual e auditiva). Se não houver dificuldades nas
discriminações, não haverá dificuldade para aprender a ler e escrever. Aqui, a
linguagem é reduzida a uma série de sons.
64
A escrita como sistema de representação: Emília Ferreiro fala em
compreender o sistema de representação: elementos essenciais da língua oral,
como entonação; semelhanças no significado. A aprendizagem, neste enfoque,
é considerada como a apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou uma
aprendizagem conceitual.
65
Hipótese Alfabética: representa a grafia ao som correspondente, já se
apropriou desse conhecimento, por meio da reconstrução da leitura e da escrita.
Os caminhos dessa construção são os mesmos para todas as crianças, de
qualquer classe social.
A partir dessa nova visão, a questão dos diferentes níveis, nas salas de
aula, deixa de ser uma característica negativa para assumir papel de importância
no processo ensino-aprendizagem, em que a interação entre os alunos é fator
imprescindível. Na alfabetização, as diferenças individuais e o ritmo passam a
ser entendidos a partir dos níveis estruturais da aprendizagem da escrita.
Podemos dizer a partir da teoria de Ferreiro, que dois processos são
desencadeados na aquisição da língua escrita: o processo de ler e o processo
de escrever. Em uma concepção tradicional, a leitura pode significar decifrada,
e a escrita, cópia. Já numa visão contemporânea, na leitura, devemos considerar
dois tipos de informação: a visual e a não visual. A visual seria a organização das
letras e a não visual, o tema. Para compreender a mensagem não visual,
devemos desenvolver a competência linguística dos alunos, trabalhando com
diversos tipos de textos. E, na escrita, procurar incentivá-la à descoberta,
estimulando-a e não a impedindo de escrever. A diferença estará no resultado:
a criança não estará aprendendo uma técnica, e, sim, apropriando-se do
conhecimento.
66
posicionamento da escola é que deve mudar; ela já não pode se dirigir a quem já
sabe, e rotular os que não conseguem de fracassados.
Uma criança de seis anos, de qualquer classe social, já "sabe" muita coisa
sobre a escrita, já compreendeu algumas coisas das regras da representação
gráfica, portanto, não podemos partir do zero, mas da bagagem trazida para a
escola. Assim, as atividades devem ser organizadas de modo a desafiar o
pensamento da criança, gerando conflitos cognitivos que a façam repensar e
reorganizar as ideias para alcançar novas respostas. A relação professor/aluno
deve se basear no respeito mútuo, na cooperação, na troca de pontos de vista e
numa crescente autonomia do educando.
67
avaliação e de erro. Em um processo de construção do conhecimento, a criança
precisa superar etapas. Nesse sentido, não podemos dizer que a criança errou,
mas, sim, que não alcançou a etapa subsequente à que se encontra. Ou
podemos utilizar a expressão de Piaget: no caminho de uma etapa a outra, pode
acontecer à passagem por erros construtivos. Nesse sentido, a avaliação passa
ser vista sob outro enfoque: é um elemento auxiliar para o professor na sua tarefa,
e não um instrumento que serve para rotular os alunos.
68
10 INTELIGÊNCIA NA PERSPECTIVA DE HOWARD GARDNER
69
da habilidade para resolver problemas.
Por meio da avaliação das atuações de diferentes profissionais em
diversas culturas, e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca
de soluções, culturalmente apropriadas, para os seus problemas, Gardner
trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para,
eventualmente, chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Na
sua pesquisa, Gardner estudou também:
70
área de desempenho e capacidades ou estágios, em outras áreas ou domínios
(Malkus e col., 1988).
Num plano de análise psicológico, afirma Gardner (1982) que cada área
ou domínio tem seu sistema simbólico próprio; num plano sociológico de estudo,
cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências valorizadas
em culturas específicas. Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas
não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas
habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma
faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes
de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis
semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta.
(GAMA, 1999, p. 38).
As crianças têm mentes muito diferentes umas das outras, elas possuem
forças e fraquezas diferentes, e é um erro pensar que existe uma única
inteligência, em termos da qual todas as crianças podem ser comparadas. Foi
observando crianças que o psicólogo americano Howard Gardner percebeu o
que hoje parece óbvio: nossa inteligência é complexa demais para que os testes
comuns sejam capazes de medi-la.
A teoria do psicólogo americano, que propõe a existência de um espectro
de inteligências a comandar a mente humana, suscitou muitos comentários,
contrários e favoráveis. Em 1983, no livro Estruturas da mente, ele definiu sete
inteligências, que são apontadas por Gama:
Lógica-matemática: os componentes centrais desta inteligência são
descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e
sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, por
meio da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma
controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer
problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e
cientistas. Gardner, porém, explica que, embora o talento científico e o talento
matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que
movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos.
Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os
71
cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta
inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e
para criar notações práticas de seu raciocínio.
Linguística: os componentes centrais da inteligência linguística são uma
sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma
especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar
a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias. Gardner
indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em
crianças, esta habilidade manifesta-se por meio da capacidade para contar
histórias originais ou para relatar com precisão, experiências vividas. Habilidade
de aprender línguas e de usar a língua falada e escrita para atingir objetivos.
Advogados, escritores e locutores exploram-na bem.
Espacial: Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade
para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para
manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais,
criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É
a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em
crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido por meio
da habilidade para quebra- cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a
detalhes visuais. É importante tanto para navegadores como para cirurgiões, ou
escultores.
Físico-cinestésica: esta inteligência refere-se à habilidade para resolver
problemas ou criar produtos por meio do uso de parte ou de todo o corpo. É a
habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas
ou plásticas, no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos
com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica move-
se com graça e expressão; a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra
uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Dançarinos,
atletas, cirurgiões e mecânicos valem-se dela.
Interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade
para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos,
motivações e desejos de outras pessoas. Ela é mais bem apreciada na
72
observação de psicoterapeutas, líderes religiosos, professores, políticos e
vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência
interpessoal manifesta-se em crianças pequenas como a habilidade para
distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para
perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente,
a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito
cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente
sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da inteligência
interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos
sonhos e ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas
pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades desejos e
inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem, precisa de si
próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva.
Como essa inteligência é a mais pessoal de todas, ela somente é observável por
meio dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, por intermédio
de manifestações linguísticas, musicais ou cinestésicas.
Musical: esta inteligência manifesta-se por meio de uma habilidade para
apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons,
habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e
timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena
com habilidade musical especial percebe, desde cedo, diferentes sons no seu
ambiente e, frequentemente, canta para si mesma.
Atualmente, Gardner admite a existência de uma oitava inteligência, a
naturalista, que seria a capacidade humana de reconhecer objetos na natureza
e a sua relação com a vida humana, e a existencial, que está ligado ao
entendimento além do corpóreo, o transcendente, o entendimento sobre a vida,
a morte, o universo (inteligência dos místicos, dos religiosos etc.) que seria uma
nona inteligência.
O mais importante, porém, a ser ressaltado nessa teoria é a pluralidade
do intelecto. Os sujeitos podem diferir quanto aos perfis particulares de
inteligência, com os quais nascem e que desenvolvem ao longo da vida. Na
73
verdade, o fundamental não é quantas inteligências temos, mas o
desenvolvimento de todas elas, segundo nossas aptidões.
74
FIGURA 1 - DESENVOLVENDO A INTELIGÊNCIA
75
desenvolver-se (GAMA, 1999, p. 74).
76
11 EDUCAÇÃO PARA AS COMPETÊNCIAS – PHILIPPE PERRENOUD
77
complementares, entre os quais estão os conhecimentos”. Assim segundo
Ferreiro (2001): A construção de competências é inseparável da formação dos
esquemas mentais que mobilizam os conhecimentos adquiridos, num
determinado tempo ou circunstância. A mobilização dos diversos recursos
cognitivos, numa determinada situação, assegura-se pela experiência
vivenciada. O sujeito não consegue desenvolvê-la apenas com interiorização do
conhecimento. É preciso internalizá-la buscando uma postura reflexiva, capaz
de torná-la uma prática eficaz (FERREIRO, 2001, p. 48).
Contudo, é importante ressaltar que: O reconhecimento e aceitação de
que o conhecimento é uma construção coletiva e que a aprendizagem mobiliza
afetos, emoções e relações com seus pares, além das cognições e habilidades
intelectuais, permite-nos propormos o desafio de construir competências e
habilidades. Isso significa aprender a aprender a pensar, a relacionar o
conhecimento com dados da experiência cotidiana, a dar significado ao
aprendido e a captar o significado do mundo, a fazer a ponte entre teoria e
prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com o
sentimento que a aprendizagem desperta (FERREIRO, 2001, p. 52).
A discussão a respeito das competências tem um viés de grande
importância, que é justamente o currículo escolar. Em uma proposta político-
pedagógica, é necessário levantar este debate, pois nem sempre estamos
preocupados com as competências ensinadas e aprendidas na escola, falando,
neste aspecto, tanto dos alunos como dos professores. O trabalho com as
competências exige, de todos os agentes envolvidos no processo educativo,
uma mudança de postura e, por consequência, um permanente trabalho
pedagógico integrado, em que todas as práticas devem ser apreciadas em um
processo contínuo de avaliação.
O currículo é o campo mais interessante para transformar o processo
pedagógico não apenas em um rol de conteúdos, de disciplinas, mas em um
todo, preocupado para além destes saberes, muitas vezes, isolados do mundo em
que cada aluno e professor vivem. O currículo deve expressar e oportunizar a
relação entre a construção do conhecimento e sua reflexão com a realidade.
Para tanto, é fundamental perceber que a escola deve repensar suas
78
formas de processar a educação, buscando entender como trabalhar com as
competências, pois, segundo Perrenoud, ao falar para Gentile e Bencini (2000):
A abordagem por competências é uma maneira de levar a sério um
problema antigo, o de transferir conhecimentos. Em geral, a escola preocupa-se
mais com ingredientes de certas competências e menos em colocá-las em
sinergia nas situações complexas. Durante a escolaridade básica, aprende-se a
ler, escrever, contar, mas, também, a raciocinar, explicar, resumir, observar,
comparar, desenhar e dúzias de outras capacidades gerais. Assimilam-se
conhecimentos disciplinares, como Matemática, História, Ciências, Geografia
etc. (PERRENOUD, 1999, p. 18).
Contudo, alerta que: (...) a escola não tem a preocupação de ligar esses
recursos a situações da vida. Quando se pergunta por que se ensina isso ou
aquilo, a justificativa é geralmente baseada nas exigências da sequência do
curso: ensina-se a contar para resolver problemas; aprende-se gramática para
redigir um texto. Quando se faz referência à vida, apresenta-se um lado muito
global: aprende-se para se tornar um cidadão, para se virar na vida, ter um bom
trabalho, cuidar da saúde. A transferência e a mobilização das capacidades e
dos conhecimentos não caem do céu. É preciso trabalhá-las e treiná-las, e isso
exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas, que hoje não existem
(PERRENOUD, 1999, p. 20).
Não basta uma lista de competências, no lugar da lista de conteúdos ou
conhecimentos disciplinares; torna-se imprescindível uma real mudança/ruptura
com os pseudocurrículos, que muito mais ocultavam fins do que explicitavam as
formas. É um grande desafio para a educação e seus agentes estar repensando,
ressignificando sua prática pedagógica, assim como sua proposta político-
pedagógica.
Dessa forma, necessariamente, as competências dos professores
tornam-se ponto de debate e análise. A formação dos educadores, para melhor
desenvolver as competências no processo de ensino-aprendizagem, passa por
um momento importante, que é a potencializarão de suas competências. Rever
algumas práticas e ampliar as competências em diversas outras áreas do
processo educativo é fundamental para atingir-se uma ampla formação
79
educacional.
Nesta área da formação de educadores, fundamentado na análise das
Diretrizes Curriculares para a Formação do Professor da Educação Básica,
Virgínio (2001) afirma que: No campo da formação do profissional docente, o
profissional competente é aquele que sabe pôr em prática todo seu back-ground
de recursos mobilizáveis em determinadas situações, sabe refletir sobre a e na
ação, agindo com urgência e na incerteza. Para caracterizar-se com prático
reflexivo, contudo, suas competências de referências devem ser definidas pelo
coletivo ao qual pertence. Ou seja, as competências profissionais do professor
reflexivo envolvem saberes teóricos e saberes práticos (saberes da prática e
saberes sobre a prática) (VIRGÍNIO, 2001, p. 48).
Perrenoud, preocupado com este debate sobre as competências dos
educadores, desenvolveu alguns referenciais sobre o assunto. Ele propõe uma
série de competências específicas agrupadas em famílias de competências
fundamentais para os educadores no processo pedagógico, com o intuito de
melhor desempenhar e desenvolver suas ações no campo da educação.
Enfim, as competências são fundamentais na discussão sobre os
processos de ensino-aprendizagem, assim como para a relação entre educação
e realidade.
80
12 ARTICULANDO AS TEORIAS – UMA QUESTÃO DE MÉTODO
81
13 AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
82
a zona de desenvolvimento real, que é tudo que a criança já é capaz de realizar
sozinha; a zona de desenvolvimento proximal, que é tudo que a criança somente
realiza com o apoio de outras pessoas. É na zona de desenvolvimento proximal,
segundo Oliveira (1993, p. 61) que a "interferência de outros indivíduos é mais
transformadora. Isso porque os conhecimentos já consolidados não necessitam
de interferência externa".
Isso significa que o ensino-aprendizagem deve ter como ponto de partida
o desenvolvimento real da criança e, como ponto de chegada, os conhecimentos
que estão latentes, mas ainda não desabrocharam. "a escola tem o papel de
fazer a criança avançar em sua compreensão do mundo a partir de seu
desenvolvimento já consolidado e tendo como etapas posteriores, ainda não
alcançadas". (OLIVEIRA, 1993, p. 62)
Nesse processo, o professor deve ser o estimulador da zona de
desenvolvimento proximal, provocando avanços nos conhecimentos que ainda
não aconteceram. A interferência do professor não pressupõe, no entanto, uma
pedagogia diretiva, autoritária e, menos ainda, uma relação hierárquica entre
professores e alunos (OLIVEIRA, 1993; VYGOTSKY, 1991; GOULAR, 1995).
Para Vygotsky, o erro deve ser visto pelo professor como parte do
processo ensino-aprendizagem, mas jamais deve ser ignorado. A correção é
importante para que o aluno perceba a necessidade de melhorar e de dedicar-
se mais aos conhecimentos que ainda não domina.
Nesse sentido, o trabalho em grupo, além de estimular a interação social,
pode ser um bom momento para o amadurecimento de ideias e aprimoramento
dos conhecimentos. Entretanto, o contato individualizado entre professor e aluno
não pode ser dispensado, pois é o momento em que o professor pode detectar
o desenvolvimento real e proximal dos alunos (OLIVEIRA, 1993, 1992).
Outro aspecto fundamental para Vygotsky é o brinquedo. Para ele, as
brincadeiras de "faz de conta" criam zonas de desenvolvimento proximal, à
medida que colocam a criança em situações de repetição de valores e imitação
de papéis e regras sociais. A escola deve criar situações de brincadeira, a fim de
que a criança possa ter uma gama de possibilidades que estimulem seu
desenvolvimento e a própria interação social.
83
Para Vygotsky, a aprendizagem da escrita inicia antes do período escolar,
visto que seu desenvolvimento está intimamente ligado aos estímulos recebidos
pela criança desde cedo. Portanto, a criança precisa ser levada a compreender
que o signo da escrita não possui significado em si mesmo, é apenas uma
representação do mundo real (OLIVEIRA, 1993; VYGOTSKY, 1991; GOULAR,
1995). É função da escola fazer com que a criança compreenda o signo e o seu
significado, por meio de ações que relacionem o mundo concreto e as suas
representações.
A teoria de Vygotsky oferece uma nova racionalidade, a partir da qual é
possível entender-se o desenvolvimento interno da aprendizagem e do
conhecimento. A conclusão de que uma atividade que hoje a criança somente
consegue fazer com o auxílio de outra pessoa, mas que pode vir a fazer sozinha
amanhã recoloca a relação erro/acerto numa outra perspectiva: a de que o ato
de errar não deve ser encarado como incapacidade, mas como indicador de que
certos conhecimentos precisam ser estimulados. A importância da cultura, da
linguagem e das relações sociais na teoria de Vygotsky fornece a base para uma
educação na qual o homem seja visto na sua totalidade: na multiplicidade de
suas relações com outros, na sua especificidade cultural; na sua dimensão
histórica, ou seja, em processo de construção e reconstrução permanente
(OLIVEIRA, 1993, p.61).
84
1995).
Segundo Piaget, esse esquema de organização, assimilação e adaptação
feito pelo organismo pode ser aplicado ao processo de aprendizagem, que se dá
na estrutura cognitiva. A organização seletiva que a cognição realiza dá-se em
um processo permanente de interação do homem com o meio ambiente, por
meio da apreensão do que é útil e necessário à adaptação do homem no mundo.
O processo de organização, adaptação e assimilação de um novo
conhecimento depende de esquemas assimilativos como a repetição e a
generalização (GOULART, 1995). As ações, as reflexões e as representações,
ao serem repetidas em situações diferentes, tornam-se novas estruturas, novos
conhecimentos. Portanto, a repetição reforça os conhecimentos assimilados, ou
preexistentes, tornando-os mais consistentes, o que facilita a aprendizagem e o
desenvolvimento da inteligência. Para Piaget, a estrutura cognitiva vai
construindo-se concomitante à construção de novos conhecimentos, por meio
da busca natural do homem de adaptar-se ao meio ambiente.
Piaget concebe o homem como sujeito ativo dentro do processo de
aprendizagem, por entender o conhecimento como o resultado da interação
homem- meio. Ao relacionar-se, o homem não se despoja de sua condição de
sujeito ativo. Segundo (Wachowicz, citado por Matui, 1995, p. 62) "na verdade, o
homem se produz ao produzir a realidade na qual vive, ao se relacionar com o
meio e com os outros homens".
A interação social que se segue a cada momento de nossas vidas é um
elemento definidor de nossas ações e de nossos comportamentos sociais.
Piaget pensa o ser social como o indivíduo que se relaciona com os outros, seus
semelhantes, de forma equilibrada. Entretanto, Piaget faz uma ponderação muito
interessante sobre relação equilibrada, a qual, segundo ele, somente pode existir
entre pessoas que estejam no mesmo estágio de desenvolvimento (TAILLE,
1992). O equilíbrio a que Piaget se refere somente pode existir entre pessoas
que estejam no mesmo nível de desenvolvimento, ou seja: A maneira de ser
social de um adolescente é uma, porque é capaz de participar de determinadas
relações (...) e a maneira de ser social de uma criança de cinco anos é outra,
justamente porque ainda não é capaz de participar de relações sociais que
85
expressam e que demandam um equilíbrio de trocas intelectuais (TAILLE, 1992,
p.14).
Portanto, dependendo do estágio em que a criança esteja, poderá falar-
se de um grau maior ou menor de socialização. Resumidamente, para Piaget, a
socialização possui vários graus. Começa no grau zero, quando a criança é
recém-nascida, até o grau máximo, representado pelo conceito de personalidade.
A personalidade significa, portanto, o momento de autonomia do indivíduo,
quando ele já superou o egocentrismo e consegue estabelecer uma relação de
trocas intelectuais recíprocas com os outros.
Está claro que, para Piaget, o conhecimento deve ser visto como uma
construção em constante processo. Isso pressupõe entender que a criança é
capaz de criar, recriar e experimentar de forma autônoma, impulsionando seu
próprio desenvolvimento. Nesse sentido, o ato de errar não pode ser visto como
falha e, sim, como um momento necessário da aprendizagem; a ausência do
erro denuncia a ausência da experimentação e, consequentemente, a ausência
da aprendizagem.
Visto que a socialização e a moral são consolidadas ao longo da infância, o
trabalho coletivo em Piaget tem o papel de mediador das relações e de
instigador da capacidade de participação, cooperação e respeito mútuo. O
trabalho coletivo socializa, estabelece laços de afetividade e permite, à criança,
perceber-se como parte de uma coletividade, superando seu egocentrismo.
No Construtivismo piagetiano, o educador não é o detentor do saber, mas
o facilitador do processo ensino-aprendizagem. O aluno não é mero receptor de
conhecimento, mas o agente ativo que constrói conhecimento. A relação
professor- aluno deve ser de respeito mútuo e cooperação.
É claro que não se pode tomar uma teoria como verdade absoluta. O
conhecimento é sempre relativo e uma teoria é sempre limitada. Por isso, uma
teoria deve servir, dentre tantas, como uma possibilidade de construção de uma
educação diferenciada.
A própria prática pedagógica, que se renova a cada dia, deve ser vista
como um palco em que se experimenta se inventa e se recria o ato de ensinar:
nesse palco, podem surgir outras teorias.
86
Por fim, na aplicação de uma teoria, é preciso levar em conta a realidade
sociocultural dos alunos para que não se caia no risco de reproduzir e de copiar
mecanicamente determinada concepção de educação: o que deu certo em
determinado lugar não, necessariamente, pode responder as necessidades de
outra e diversa realidade.
87
próprias ações. No seu desenvolvimento, o sujeito vai superando os sentimentos
e ideias, vividos de forma genérica e confusa, para uma compreensão mais clara
do mundo e dos fatos que se apresentam. A linguagem é indispensável ao
progresso do pensamento: a linguagem exprime o pensamento e, ao mesmo
tempo, estrutura o pensamento. Para Wallon, o desenvolvimento humano não é
linear e contínuo, mas, sim, uma integração: as novas funções/aquisições
somam-se a outras, adquiridas anteriormente.
Para Wallon, a pessoa deve ser vista como parte integrante do meio em
que está inserida. O processo de socialização dá-se pelo contato com o outro e,
também, pelo contato com a produção do outro (texto, pintura, música etc.). Por
isso, afirma que a cultura geral aproxima os homens, pois permite a identificação
de uns com os outros. Para ele, o meio social e a cultura constituem as
condições, as possibilidades e os limites do desenvolvimento do organismo. Por
isso, a criança precisa ser entendida em seu contexto, e seu desenvolvimento
como resultado de sua interação com esse meio: o desenvolvimento é histórico,
dialético, portanto, é também descontínuo.
Em Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista
da construção da pessoa quanto do conhecimento. O autor afirma que a emoção
é a exteriorização da afetividade: é um fato fisiológico que se expressa no humor
e nos atos e, ao mesmo tempo, é um comportamento social na sua função de
adaptação do ser humano ao seu meio. A emoção, antes da linguagem, é o meio
utilizado pelo recém- nascido para estabelecer uma relação com o mundo
externo.
Os movimentos de expressão evoluem de fisiológicos a afetivos, em que
a emoção cede terreno aos sentimentos e, depois, às atividades intelectuais.
A emoção precede as condutas cognitivas; é um processo corporal que,
quando intenso, prejudica a percepção do exterior. Portanto, para que se possam
trabalhar as funções cognitivas, é necessário manter-se uma "baixa temperatura
emocional”. O desenvolvimento, então, deve conduzir à predominância da razão.
88
13.4 As contribuições de Perrenoud
89
currículo é que se pode conduzir o processo pedagógico para além dos
conteúdos, das disciplinas, transformando-o em uma totalidade que articula os
diversos saberes. O currículo deve permitir uma relação entre a construção de
novos conhecimentos e uma postura reflexiva diante da realidade. Para tanto, a
escola deve repensar suas formas de conduzir a educação, buscando formas
alternativas para trabalhar com as competências (PERRENOUD, 2000).
É um grande desafio para a educação e seus agentes repensar e
ressignificar suas práticas pedagógicas, assim como sua proposta político-
pedagógica. Para tanto, a formação dos educadores precisa ser potencializada
para fomentar o desenvolver das competências no processo de ensino-
aprendizagem; ou seja, para potencializar as competências dos alunos, o
professor precisa, antes, ter suas próprias competências potencializadas. Rever
algumas práticas e ampliar as competências em diversas outras áreas do
processo educativo é fundamental para atingir-se uma ampla formação
educacional.
90
levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas das habilidades
para resolver problemas. Observou atuações de diferentes profissionais em
diversas culturas e o repertório de habilidades dos seres humanos, culturalmente
empregado para resolver seus problemas.
Para Gardner (1982), o desenvolvimento cognitivo é uma capacidade cada
vez maior de entender e expressar o significado em vários sistemas simbólicos,
utilizados em um contexto cultural. Para esse autor, cada área do conhecimento
tem seu sistema simbólico próprio, sendo que cada sociedade desenvolve
competências, valorizadas culturalmente para sua realidade. Nesse sentido, as
habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal, mas sim,
verticalmente: por isso, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como à
memória, existem formas independentes de percepção, memória e aprendizado,
em cada área do conhecimento (GAMA, 1999).
Portanto, as crianças têm mentes muito diferentes umas das outras, elas
possuem forças e fraquezas diferentes, e é um erro pensar que existe uma única
inteligência em torno da qual todas as crianças podem ser comparadas. Para
Gardner, nossa inteligência é complexa demais para que os testes comuns
sejam capazes de medi-la. Essa concepção fica ainda mais clara, quando o autor
considera sete grandes eixos de inteligência (lógico-matemática, linguística,
espacial, físico-cinestésica, interpessoal, intrapessoal e musical) e pressupõe
que, dela, deriva várias manifestações de inteligências que são diferentes no
âmbito pessoal e cultural.
Gardner faz referência a outras duas inteligências, a saber, a naturalista
e a existencial: a primeira seria a capacidade humana de reconhecer objetos na
natureza e a sua relação com a vida humana; a segunda está ligada ao
entendimento para além do corpo, o transcendente, o entendimento sobre a vida,
a morte e o universo.
Para Gardner, todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de
questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os
indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades
básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada
inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e
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neurobiológicos quanto por condições ambientais. Cada uma destas
inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de processamento de
informações, além de seu sistema simbólico.
O conceito de cultura é central na Teoria das Inteligências Múltiplas. A
definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar
produtos, que são significativos em um ou mais ambientes culturais, sugere que
alguns talentos somente se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente.
Para Gardner, cada cultura valoriza certos talentos, que são passados para a
geração seguinte. O domínio, ou inteligência, são sequências de estágios:
enquanto todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em
todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior
trabalho ou aprendizado.
92
14 DIVERGÊNCIAS E APROXIMAÇÕES ENTRE OS TEÓRICOS
93
para Piaget, interessava entender o desenvolvimento do conhecimento e, para
chegar a isso, precisou compreender o desenvolvimento da criança; Wallon, por
sua vez, buscou entender desde o início o desenvolvimento psicológico da
criança e, em consequência disso, o desenvolvimento do conhecimento (MATUI,
1995). Aqui, como se pode ver, suas divergências ficam mais no âmbito do ponto
de partida e do ponto de chegada: de uma forma ou de outra, os resultados foram
grandes contribuições sobre o desenvolvimento do conhecimento e da
aprendizagem.
A teoria de Wallon apresenta outros subsídios à reflexão pedagógica, pelo
fato de buscar entender o desenvolvimento da pessoa completa, em suas
dimensões emotivas, motoras, biológicas e cognitivas.
Wallon e Vygotsky trazem uma contribuição não percebida de forma
declarada em Piaget, a saber, a dimensão cultural. Esses autores entendem a
produção do conhecimento como resultado das teias de relações sociais,
estabelecidas pelo homem em um tempo histórico; para eles, tudo quanto há no
mundo é cultura, é obra humana.
Na verdade, o valor desses teóricos construtivistas está exatamente no
fato de que suas ideias, por divergirem em alguns pontos, complementam-se na
totalidade: Piaget dá grandes contribuições sobre os aspectos cognitivos,
Vygotsky contribui com os aspectos sócio-históricos e Wallon, com os aspectos
afetivos da personalidade (MATUI, 1995). Os três autores são dialéticos, embora
isso seja mais intenso e declarado em Vygotsky e Wallon, e mais velado em
Piaget. Essa base comum entre eles é que nos permite dizer que o
construtivismo/interacionista é sócio-histórico, ou seja, essa linha pedagógica vê
a realidade como sendo produto de um processo histórico em que forças
contrárias movimentam-se no sentido da mudança e em que o homem é o sujeito
principal.
Esses autores contribuem de forma fundamental para uma educação na
qual a realidade seja tomada como histórica, portanto, mutável; na qual o homem
seja visto como sujeito histórico, portanto, construtor de sua própria história. Ora,
se o homem e a realidade são históricos, o construtivismo/interacionismo traz-
nos uma constatação de extrema importância: o mundo, o homem e o
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conhecimento são inacabados, estão em constante processo de construção.
Como diz Becker, citado por Matuí (1995):
O construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto,
acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma
instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com
o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações
sociais; e constitui-se por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia,
na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que, antes
da ação, não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento
(MATUÍ, 1995, p. 46).
Provavelmente, o grande mérito da teoria de Perrenoud é pôr em
discussão, por meio da problematização do termo competência, as questões
sobre profissionalização dos professores, avaliação dos alunos e currículo
escolar. Segundo ele, a escola precisaria desenvolver um modelo de avaliação
mais eficiente, realmente capaz de identificar as dificuldades do aprendizado;
uma avaliação na qual, alunos e professores pudesse ter mais tempo para agir
e corrigir. Para tanto, os professores precisariam possuir uma formação
permanente, sólida, capaz de compreender a aprendizagem como a soma de
vários saberes.
Por outro lado, esse autor traz a tona à necessidade de a escola
compreender a educação como um processo transdisciplinar, de forma que os
saberes se articulem, complementem-se e não se excluam. Nesse sentido, o
respeito às experiências dos alunos, enfatizado por Perrenoud, aproxima-se do
conceito de zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky, visto que, para os
dois autores, o ensino-aprendizagem deve partir dos conhecimentos
acumuladas pelos alunos, mesmo que tais conhecimentos não tenham sido
totalmente desenvolvidos. O conceito de competências, em Perrenoud, articula-
se à ideia de pessoa completa, em Wallon. Nesse caso, as competências podem
ser entendidas como as emoções e as capacidades motoras, cognitivas e
biológicas que o homem desenvolve nas relações que estabelece com os outros
e com o mundo concreto.
O mais importante a ser ressaltado na teoria de Gardner é a pluralidade
95
do intelecto. Os sujeitos podem diferir quanto aos perfis particulares de
inteligência, com os quais nascem e que desenvolvem ao longo da vida. Na
verdade, o fundamental não é quantas inteligências temos, mas o
desenvolvimento de todas elas, segundo nossas aptidões.
O conceito de cultura está presente de forma mais explícita em Gardner,
Wallon e Vygotsky. Todavia, ainda que Gardner dê grande importância às
diferentes culturas que brotam nas diversas realidades, não fica claro nesse
autor, como em Vygotsky, a ideia de cultura como legado histórico construído
pelo homem na interação com o outro. Ou seja, Gardner não deixa claro que,
para ele, a cultura é histórica, dialética e, portanto, provisória, o entendimento da
cultura como elemento histórico e dialético poderia flexibilizar e tornar ainda mais
relativo o conceito de inteligências, em Gardner.
Gardner distingue-se de Piaget, à medida que, para esse último, os
significados estruturam-se na mente humana em função do valor presente nos
objetos, enquanto para Gardner, os processos psicológicos são desenvolvidos
quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais ou
outros. Por outro lado, existem momentos de aproximação entre esses dois
teóricos: segundo Gardner, uma criança pode ter um desempenho precoce em
uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média, ou
mesmo abaixo da média, em outra (o equivalente ao estágio sensório-motor em
Piaget). Todavia, Gardner, diferentemente de Piaget, não acredita que haja uma
ligação necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento e
determinada área ou domínio (MALKUS, 1988).
As contribuições da teoria de Gardner para a educação residem na
importância dada às diversas formas de pensamento, aos estágios de
desenvolvimento das várias inteligências e à relação existente entre estes
estágios, aquisição de conhecimento e cultura. No âmbito escolar, as
contribuições de Gardner podem ir ao sentido de: avaliações que sejam
adequadas às diversas habilidades humanas; um processo educativo centrado
na criança; currículo específico para cada área do saber; ambiente educacional
mais amplo e variado para além da linguagem e da lógica.
Para esse autor, é importante, também, que se tire o maior proveito das
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habilidades individuais, auxiliando os estudantes a desenvolverem suas
capacidades intelectuais. Para tanto, a avaliação não deve ser utilizada como
mecanismo de aprovação ou reprovação, mas sim, como indicador das
capacidades dos alunos. Como diz Gardner (1982): A implicação educacional
mais importante das teorias das Inteligências Múltiplas é esta: todos nós temos
tipos diferentes de mente, e o bom professor tenta dirigir-se à mente de cada
criança, da forma mais direta e pessoal possível (GARDNER, 1982, p. 49).
97
Portanto, é fundamental entendermos qual é o método utilizado em
determinada concepção de educação, para compreendermos de que forma se
pretende construir os processos de educação. Contudo, antes de explicitarmos
alguns métodos vinculados a algumas tendências pedagógicas, vamos falar
sucintamente de dois tipos de métodos: o indutivo e o dedutivo.
O método indutivo é aquele que busca explicar a realidade a partir da
síntese, ou seja, pensar das partes (de fatos específicos) para o todo. Por outro
lado, o método dedutivo, por meio da análise, busca pensar do todo (a partir de
uma teoria geral) para a parte. Dessa forma, o raciocínio ligado à síntese chama-
se indutivo e o raciocínio ligado à análise é chamado dedutivo.
O método, como vemos, está vinculado muitas vezes a uma proposta
pedagógica, a qual constrói estratégias de ensino. Dessas estratégias, podemos
definir alguns métodos pedagógicos, entre os que destacamos três: verbais,
demonstrativos e ativos. Cada método deste é caracterizado por ações, práticas
pedagógicas, ou melhor, definindo, instrumentos metodológicos.
Ao desenvolver as práticas pedagógicas, os agentes envolvidos no
processo educativo podem utilizar-se de algumas estratégias de ensino. Para tal,
é fundamental adequar as formas aos princípios pedagógicos, ou seja, conhecer
bem os parâmetros educacionais em que estão inseridos para melhor
desenvolver uma ação pedagógica consciente e coerente. O uso dos
instrumentos metodológicos pode garantir os objetivos propostos em um projeto
determinado, de educação.
Podemos destacar algumas estratégias, como: formas tradicionais de
ensino, ensino individualizado e socioindividualizado, tele-ensino, radioaulas,
instruções programadas, escolas virtuais, entre outras formas. Essas estratégias
de ensino serão coerentes a partir do momento em que seus objetivos e
finalidades estejam de acordo com a proposta de educação construída e,
também, os métodos desenvolvidos estejam adequados aos mesmos princípios
político-pedagógicos.
O método, por fim, é uma das principais características da educação e de
suas práticas. Por meio do método de um professor, podemos identificar suas
intenções, suas finalidades, sua concepção de educação. Uma coisa é o que se
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diz, outra é o que se faz, portanto, é fundamental buscarmos a coerência em
nossas práticas pedagógicas. Dizer o que fazemos e mostrar como fazemos
deve seguir os mesmos princípios.
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lo na perspectiva de compreender para quem trabalhar e para que educar. Essa
preocupação formativa é necessária, principalmente, se compreendemos que a
educação tem um papel transformador da sociedade e, portanto, o educador é
um de seus instrumentos desta possível transformação.
A educação pensada a partir da pedagogia da práxis, não pode entender
que o educador é um transmissor de teorias, muito pelo contrário, no mesmo
momento em que está trabalhando com as teorias, está submetendo-as a um
processo analítico que, muitas vezes, identifica suas contradições. A prática
pedagógica processa as teorias, buscando compreendê-las e criticá-las, em um
sentido amplo destes procedimentos, com o intuito de não somente memorizar
estas teorias, mas, também, de entender sua importância na leitura do mundo.
O professor, assim, ao desenvolver suas ações pedagógicas, deve
aprender a aprender, pois, ao ensinar, também se aprende, coloca em debate seu
conhecimento. O professor não é onipresente, onisciente, muito menos,
onipotente e, sim, é mais um aprendiz no processo da educação. Não podemos,
contudo, pensar que não existem diferenças entre os diversos agentes
envolvidos no processo pedagógico, pois o professor tem suas funções e os
educandos as suas, mas ambos podem aprender ensinando e ensinar
aprendendo.
Dessa forma, é interessante percebermos que a educação não é algo
estático. A educação é dinâmica e, como a vida, é um permanente processo em
movimento, em transformação. Assim, a educação não pode ser vista como
espaço de sofrimento, de pura disciplina, de autoritarismo, pelo contrário, a
educação, na medida do possível, deve ser espaço de prazer, de
desenvolvimento, de alegria. A ação pedagógica deve expressar uma ação
amorosa. Segundo (Madalena Freire, 2002, p.32) “a educação é uma arte e,
desta maneira, é importante ser exercida com paixão, com amor”.
Enfim, é importante sempre manter uma relação dialética entre teoria e
prática, pela qual o educador, não isoladamente, analisa os diversos aspectos
que envolvem suas práticas educativas. Essa postura não deve ser somente do
educador, mas de todos os agentes envolvidos no processo, com o intuito de
desenvolver uma educação mais ampla e democrática, preocupada com a
100
formação de cidadãos.
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ENCERRAMENTO
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REFERÊNCIAS
103
CHARLOT, Bernard. A manifestação pedagógica: realidades sociais e
processos ideológicos na teoria da educação. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1983.
104
ensino. São Paulo: Moderna, 1995.
SOUZA, Ana Inês. Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular,
2001.
105
VALENTE, J. A. Aprendizagem continuada ao longo da vida. Revista Pátio,
nov. 2000/jan. 2001.
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