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EUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL,
CLÍNICA E HOSPITALAR
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APRENDIZAGEM - TEORIAS E
PROCESSOS
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
O MÉTODO NATURAL ............................................................................................... 6
O TRABALHO NA ESCOLA - AULA-PASSEIO .......................................................... 8
Texto livre .................................................................................................................... 9
Livro da vida .............................................................................................................. 10
MARIA MONTESSORI – A METODOLOGIA MONTESSORIANA............................ 11
JEAN PIAGET E A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA ................................................... 18
Epistemologia Genética............................................................................................. 20
A Interação Social na Teoria de Piaget ..................................................................... 24
LEV VYGOTSKY – O INTERACIONISMO E O SOCIOCONSTRUTIVISMO ............ 27
Vida e Obra de Lev Vygotsky .................................................................................... 27
PAULO FREIRE- A PRÁTICA DE EDUCAÇÃO POPULAR ...................................... 37
Psicogênese a Pessoa Completa .............................................................................. 44
O desenvolvimento do organismo ............................................................................. 45
Teoria da Emoção ..................................................................................................... 47
Legados de Wallon à Educação ................................................................................ 48
EMÍLIA FERREIRO E A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA ............................. 53
EVOLUÇÃO DA ESCRITA E DA LEITURA............................................................... 55
Consequências Pedagógicas da Teoria de Emília Ferreiro ....................................... 56
EDUCAÇÃO PARA AS COMPETÊNCIAS – PHILIPPE PERRENOUD .................... 64
ARTICULANDO AS TEORIAS – UMA QUESTÃO DE MÉTODO ............................. 67
AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS ........................................................................... 68
As contribuições de Lev Vygotsky ............................................................................. 68
As contribuições de Perrenoud ................................................................................. 74
As contribuições de Howard Gardner ........................................................................ 75
DIVERGÊNCIAS E APROXIMAÇÕES ENTRE OS TEÓRICOS ............................... 77
Uma Questão de Método .......................................................................................... 80
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85
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INTRODUÇÃO
CÉLESTIN FREINET
<http://pedagogia-freinet.blogspot.com.br/2011/04/celetin-freinet.html>.
Cèlestin Freinet mostrou, dia a dia, o mundo e a sociedade mais justa que
sonhou construir. Nascido em 15 de outubro de 1896, numa aldeia francesa de Gars,
nos Alpes Marítimos, onde o pastoreio predominava. Um homem de família humilde e
de pouca cultura, que revolucionou a educação na França. A primeira atividade de
Freinet foi o pastoreio; já na adolescência, mudou-se para a cidade de Nice, onde
iniciou o curso magistério na escola normal. A Primeira Guerra eclodiu e a exigência
de se alistar o impediu de continuar estudando. Da Guerra, Freinet trouxe uma
infecção pulmonar, causada por gases tóxicos, que o acompanhou pelo resto da vida.
Em 1920, começa a lecionar em uma pobre escola de Bar-Sur-Loup, mesmo
sem diploma. Terminada a guerra, Freinet volta a estudar e, enquanto tenta obter o
diploma inicia suas experiências didáticas. Na observação direta de seus alunos,
começa a questionar as rígidas normas da escola, a forma de ensinar, o ambiente da
sala e a natureza lá fora, que encantava os alunos.
Dessas observações, surgem suas primeiras experiências: a aula-passeio, a
imprensa escolar e o livro da vida. Em 1927, edita o livro A imprensa na Escola, cria
a revista La Gerbe (O ramalhete) em que publica poemas infantis e funda a
Cooperativa de Ensino Leigo. Nos anos seguintes, Freinet muda-se para a Vila Saint-
Paul de Vence, onde cria as "Técnicas de Avaliação" e o "Plano de Trabalho". Por ser
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O MÉTODO NATURAL
já essa profissão, para chegar aos gestos e aos atos que talvez nunca possam
converter-se em dinheiro, mas que, nem por isso, deixam de ser um aspecto exaltante
de uma exigência de cultura - cunho nobre da educação a serviço do "Homem"
(FREINET, 1985, p. 133).
Ao perceber o interesse das crianças por atividades práticas, Freinet
estabeleceu o trabalho como motor da ação educativa. Para ele, uma vez que a ação
é o prolongamento natural da vida e o meio pelo qual o homem transforma o mundo,
a aprendizagem deve ser uma construção ativa. O trabalho como princípio educativo
deve ser essencialmente cooperativo. Todas as atividades, coletivas e/ou individuais,
devem ser organizadas como plano de trabalho para não perder o caráter de coisa
comum. Na pedagogia freinetiana, o professor deve ser gerenciador das atividades e
o intermediário das relações, garantindo as condições de trabalho, informando,
sugerindo e estimulando o aprendizado (WHITAKER, 1989).
A Pedagogia do Bom-senso baseia-se na necessidade natural do homem de
sobreviver e, consequentemente, de interagir por meio do trabalho para suprir suas
necessidades. Se for da natureza do homem a utilização de suas habilidades
intelectuais e manuais para, na interação com o outro, modificar o meio suprindo suas
necessidades e perpetuando sua espécie, é, também, da natureza humana, o ato de
aprender e de ensinar por meio do trabalho, que garante a sobrevivência humana.
(FREINET, 1985; WHITAKER, 1989).
Foi como autodidata na educação e na ciência que Freinet iniciou suas
observações da prática escolar, atentando especialmente para o desenvolvimento
intelectual das crianças. Com base nessas observações, Freinet construiu, sem muito
embasamento científico, uma prática peculiar de ensino.
Os princípios que norteiam o processo educativo freinetiano são: a confiança e
o respeito mútuo entre os seres humanos; a necessidade de uma escola aberta e
flexível; a livre expressão; o cooperativismo; a coletividade; o trabalho enquanto
agente central do processo educativo e formador (WHITAKER, 1989).
Para construir sua pedagogia, o autor baseou-se na cotidianidade e na
importância fenomenológica que as interações sociais têm para o processo de
aprendizagem do homem.
Para ele, ficou claro que o interesse das crianças estava lá fora, nos bichinhos
que subiam pelo muro, nas pedrinhas redondas do rio, pois percebia que, nos
momentos de leitura dos livros de classe, o desinteresse era total. Nessas ocasiões,
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Imprensa escolar
Texto livre
Livro da vida
INTERCÂMBIO INTERESCOLAR
MARIA MONTESSORI
http://pedagogiasimples.blogspot.com.br/2011/03/maria-montessori.html>.
Sistema Montessori
SISTEMA MONTESSORIANO
Para a autora, a criança estabelece uma relação muito particular com o meio,
diferente da relação estabelecida pelo adulto: Segundo Montessori (1985):
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humana. Segundo a autora, a tarefa cósmica de cada ser humano é que mantém a
harmonia da vida e torna possível a evolução do homem. Nesse sentido, a natureza, o
ritmo da vida é que deve reger a prática educativa.
Somente a natureza, que estabeleceu algumas leis e determinou algumas
necessidades no homem em via de desenvolvimento, pode ditar o método educativo
determinado pelo fim, que é o de satisfazer as necessidades e as leis da vida. Tais
leis e necessidades a criança mesma deve indicar, nas suas manifestações
espontâneas e no seu progresso: na manifestação da sua paz e da sua felicidade; na
intensidade dos seus esforços e na constância das suas livres escolhas.
(MONTESSORI, 1985, p. 67-68)
A Metodologia Montessoriana
METODOLOGIA MONTESSORIANA
http://pedagogiasimples.blogspot.com.br/2011/03/maria-montessori.html>.
A Filosofia Montessoriana
JEAN PIAGENT
Epistemologia Genética
agarra, solta, joga, empurra; explora com os olhos e mãos alternadamente, cheira,
leva a boca, prova etc. (GOULART, 1995, p. 16).
Para Piaget, grande parte do conhecimento construído pelo homem é resultado
do seu esforço em compreender e dar significado ao mundo. Nessa tentativa de
interação e compreensão do meio, o homem desenvolve alguns equipamentos
neurológicos herdados que facilitam o funcionamento intelectual.
Para explicar a construção do conhecimento, Piaget criou um modelo biológico
de interação do homem com o ambiente, que parte da seguinte lógica: o organismo
do homem é essencialmente seletivo, por organizar os alimentos que podem ser úteis;
esses alimentos vão sendo adaptados de acordo com as necessidades biológicas. Á
medida que o homem seleciona os alimentos e inicia a adaptação destes ao
organismo, acontece à assimilação, ou seja, a estrutura biológica acomoda os
alimentos para a satisfação das necessidades do corpo.
O Construtivismo piagetiano é essencialmente biológico. A perspectiva lógica
de Piaget não é senão o correspondente de sua perspectiva biológica, isto é, o
desenvolvimento é visto como um processo de adaptação, que tem como modelo a
noção biológica do organismo em interação constante com o meio (GOULART, 1995,
p. 17).
Segundo Piaget, esse mesmo processo dá-se quando da organização,
assimilação e adaptação dos conhecimentos na estrutura cognitiva. A organização
seletiva que a cognição realiza dá-se em um processo permanente de interação do
homem com meio ambiente, por meio da apreensão do que e útil e necessário a
adaptação do homem no mundo.
Na adaptação, a estrutura cognitiva altera-se para receber o novo
conhecimento. O ajuste feito pela cognição para receber novas informações é
denominado por Piaget de acomodação. O processo de organização, adaptação e
assimilação de um novo conhecimento depende de esquemas assimilativos, como a
repetição e a generalização (GOULART, 1995). As ações, as reflexões e as
representações, ao serem repetidas diversas vezes em situações, diferentes, tornam-
se novas estruturas, novos conhecimentos. Dito de outra forma, ao se repetir uma
mesma ação em diferentes situações a assimilação dessa ação aumenta,
aumentando também a compreensão de que esta mesma ação pode ser generalizada
a outros momentos, ficando cada vez mais clara a sua identificação e reconhecimento,
em qualquer situação.
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Em uma de suas passagens, Piaget diz que o homem normal: Segundo (Piaget,
1973, p. 424) “não é social da mesma maneira aos seis meses, ou aos vinte anos de
idade, e, por conseguinte, sua individualidade pode não ser da mesma qualidade,
nesses dois diferentes níveis". Nessa afirmação de Piaget, está explícita a presença
inevitável das relações sociais interferindo no desenvolvimento humano; o termo
homem social expressa à condição humana de ser que vive em sociedade e que,
portanto, influencia e é influenciado pelas relações sociais.
A interação social que se segue a cada momento de nossas vidas é um
elemento definidor de nossas ações e de nossos comportamentos sociais: um adulto
não pode se comportar como uma criança de cinco anos e isso ele aprendeu ao longo
de seu desenvolvimento na relação com os outros homens. Piaget pensa o Ser Social
como o indivíduo que se relaciona com os outros, seus semelhantes, de forma
equilibrada. Entretanto, Piaget faz uma ponderação muito interessante sobre relação
equilibrada, a qual, segundo ele, somente pode existir entre pessoas que estejam no
mesmo estágio de desenvolvimento (TAILLE, 1992).
Expliquemos melhor: lembrem-se dos estágios de desenvolvimento da criança;
o equilíbrio a que Piaget se refere somente pode existir entre pessoas que estejam no
mesmo nível de desenvolvimento, ou seja: A maneira de ser social de um adolescente
e uma, porque é capaz de participar de determinadas relações (...) e a maneira de ser
social de uma criança de cinco anos é outra, justamente porque ainda não é capaz de
participar de relações sociais que expressam e que demandam um equilíbrio de trocas
intelectuais (TAILLE, 1992, p. 14).
Portanto, dependendo do estágio em que a criança se encontre, podendo falar
de um grau maior ou menor de socialização. Nesse caso, a compreensão dos estágios
de desenvolvimento é fundamental para a compreensão da socialização da pessoa.
Para Piaget, no estágio sensório-motor não é possível falar “em real
socialização da inteligência" (TAILLE, 1992, p. 15), pois nesse período, a criança é
essencialmente individual. No estágio pré-operatório, quando o processo de aquisição
da linguagem já está em franco desenvolvimento, já se pode falar de uma inicial:
Socialização afetiva da inteligência, embora a ausência de algumas características,
como, por exemplo, significados comuns em relação a conceitos e ideias, ainda
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Lev Vygotsky foi cotidiano como todo homem, mas, como poucos, suspendeu
o cotidiano e colocou-se diante da vida questionando-a dia a dia. Nascido em 17 de
novembro de 1896, na cidade de Orsha, na Rússia, filho de uma família culta,
Vygotsky teve desde muito cedo uma riqueza intelectual que o fazia se questionar
sobre o homem e a criação de sua cultura. Passou a adolescência na cidade de Gomel
e mostrava-se, desde então, interessado por literatura, poesia e filosofia. Estudou
francês, hebraico, latim e grego. Foi educado em casa até os 15 anos, quando
ingressou no curso secundário.
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http://www.psicosmica.com/2013/04/lev-vygotsky-vida-e- obra.html>.
foi silenciada por quase meio século: em 1936, Josef Stalin acusa Vygotsky de
idealismo e proíbe suas obras por 20 anos.
As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da aprendizagem e a
construção do conhecimento perpassavam pela produção da cultura, como resultado
das relações humanas. Por conta disso, ele procurou entender o desenvolvimento
intelectual a partir das ralações histórico-sociais, ou seja, buscou demonstrar que o
conhecimento é socialmente construído pelas relações humanas.
Para Vygotsky (1991), o homem possui natureza social visto que nasce em um
ambiente carregado de valores culturais: na ausência do outro, o homem não se faz
homem. Partindo desse pressuposto criou uma teoria de desenvolvimento da
inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre intermediado.
Sendo a convivência social fundamental para transformar o homem de ser
biológico a ser humano social, e a aprendizagem que brota nas relações sociais ajuda
a construir os conhecimentos que darão suporte ao desenvolvimento mental.
Segundo o autor, a criança nasce apenas com funções psicológicas
elementares e, a partir do aprendizado da cultura, essas funções transformam- se em
funções psicológicas superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de forma
imediata e direta; as informações recebidas do meio social são intermediadas, de
forma explícita ou não, pelas pessoas que interagem com as crianças. É essa
intermediação que dá às informações um caráter valorativo e significados sociais e
históricos.
As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano
fundamentam-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores são
construídas ao longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo,
mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser humano
cria as formas de ação que o distinguem de outros animais (OLIVEIRA, 1992).
Vale dizer que essas informações não são interiorizadas com o mesmo teor
com que são recebidas, ou seja, elas sofrem uma reelaboração interna, uma linguagem
específica em cada pessoa. Em outras palavras, cada processo de construção de
conhecimentos e desenvolvimento mental possui características individuais e
particulares. Dito de outra forma, os significados socioculturais historicamente
produzidos são internalizados pelo homem de forma individual e, por isso, ganham um
sentido pessoal; "a palavra, a língua, a cultura relaciona- se com a realidade, com a
própria vida e com os motivos de cada indivíduo" (LANE, 1997, p. 34)
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Cultura e Linguagem
A Aprendizagem
APRENDIZAGEM
criatividade, sua autonomia, sua condição histórica de sujeito e não de objeto a ser
modelado.
Há ainda que atentar para o fato de que toda educação é direcionada para uma
realidade específica, e é a partir das peculiaridades, culturais e sociais, de cada
realidade que as teorias do conhecimento e da aprendizagem devem ser pensadas
no âmbito da prática escolar. É um erro pensar a educação descolada da vida
cotidiana e imediata dos indivíduos, de seus limites e de suas possibilidades.
Uma educação, de fato, transformadora caminha no sentido de promover o
respeito pela diferença, de estimular a riqueza da diversidade; o contrário disso é
homogeneizar, e não permitir que um rico mosaico cultural seja pincelado por cada
homem e por cada mulher: diferentes nas suas particularidades, mas únicos enquanto
humanidade.
notação de uma cultura, de um grupo social, de uma tradição não somente histórica,
mas, também, simbólica. E, da mesma forma que existe uma evolução na forma de
apreensão e expressão dos desenhos, a representação da escrita também evolui.
Podemos identificar os seguintes níveis de evolução da escrita: pré-silábico, silábico,
silábico alfabético e ortográfico.
Como a escrita, vamos perceber que os números traduzem um sistema de
notação bem complexo, o qual busca representar quantidades, basicamente. A
evolução da notação numérica vai desde a classificação/seriação, passa pela
percepção global (muito/pouco), desenvolve os sistemas de contagem, avançando
para as representações dos números cardinais, os grafismos icônicos e abstratos,
entre outras formas mais complexas.
É importante, entretanto, ressaltar as dificuldades no aprender a matemática,
assim como ensiná-la. Nesse sentido, Wood (1996) diz-nos que: Bruner afirma que a
instrução e um pré-requisito necessário para que as atividades espontâneas da
criança se transformem em pensamento simbólico, racional. Ele partilha da opinião de
Piaget, segundo a qual a ação é o ponto de partida para a formação do pensamento
abstrato e simbólico (como o que toma parte na resolução de equações matemáticas,
por exemplo), mas não concorda com a noção de que a criança, antes de atingir um
determinado nível, seja incapaz de entender as relações conceituais entre a atividade
prática e níveis mais abstratos de pensamento (WOOD, 1996, p. 310-311)
E continua afirmando: À noção de que a evolução do pensamento simbólico
seja condicionada por estágios de desenvolvimento, Bruner fornece uma perspectiva
diferente, a respeito do processo de chegar a conhecer e da natureza da
aprendizagem. Ele distingue entre três "modos", pelos quais o conhecimento é
expresso ou "representado". A seus três modos de representação dá os nomes de
"atuante" [enactive] "icônico" e "simbólico". A representação atuante assemelha-se à
noção piagetiana de inteligência prática. (...) A representação icônica: representação
do conhecimento em que a representação criada precisa guardar uma
correspondência de elemento para elemento, com o evento ou atividade que ela
retrata. (...) A representação simbólica: os próprios números, bem como os símbolos
verbais e escritos não guardam uma relação de elemento para elemento, com as
entidades que retratam. Do mesmo modo, símbolos como "+", "=" e "- " não
apresentam, em si mesmos e do ponto de vista da percepção, uma semelhança com
as operações que designam. E, assim como as palavras funcionais na linguagem, eles
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A partir do princípio de que o ato de educar é um ato político, assim como o ato
de aprender, pode-se afirmar que a educação não é neutra. Nesse sentido, a educação
é um processo de construção e reconstrução dos processos sociais, proporcionando
uma consciência crítica dos diversos atores envolvidos neste universo educativo - a
sociedade.
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A realidade em foco
enfocada na realidade de cada aluno e de cada educador - e dos diversos atores nela
envolvidos – é essencial, assim como em um processo de educação de crianças é
imprescindível não descartar a possibilidade de educar para transformar, educar para
a cidadania e, não contraditoriamente, educar para disciplinar, para aprisionar, para
limitar.
Henri Wallon nasceu na França, em 1879. Viveu em Paris até sua morte, em
1962. Aos 23 anos, formou-se em Filosofia e, aos 29 anos, em Medicina. Na Primeira
Guerra Mundial, atuou como médico do exército francês. Até então, devido ao seu
trabalho com crianças deficientes, havia desenvolvido posições neurológicas que
foram revistas, após o contato com ex-combatentes que apresentavam lesões
cerebrais. Até 1931, atuou como médico em instituições psiquiátricas, onde se
dedicou as crianças com deficiências neurológicas e distúrbios de comportamento.
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HENRI WALLON
Esse seu trabalho leva-o a um interesse cada vez maior pela psicologia da
criança, tendo sido o responsável, no período de 1920 a 1937, por conferências sobre
a psicologia da criança, em várias instituições de ensino superior. Em 1925, fundou
um laboratório para pesquisa e atendimento às crianças deficientes. Ainda neste ano,
publica sua tese de doutorado, intitulada “A Criança Turbulenta”, o primeiro de
inúmeros livros voltados à psicologia da criança. Em 1931, em uma viagem para
Moscou, passa a integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais
que tinha por objetivo estudar profundamente o materialismo dialético e examinar as
possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência. Wallon
manteve interlocução com as teorias de Piaget e Freud. Em 1948, criou a revista
“Enfance”, publicada até hoje e que serve de instrumento de pesquisa para psicólogos
e educadores.
O desenvolvimento do organismo
Teoria da Emoção
O querer bem, o amor, regia sua interação com o mundo. Muito pouco o
entenderam (ou, ainda não o entendem) sobre essa sua convicção é preciso querer
bem para educar, aprender e ensinar. Penso que era essa capacidade de amar que
lhe dava possibilidade intensa de educar sua paciência impaciente. Sempre com
aqueles olhos de menino curioso, incansável diante do novo, do conflito, do que não
conhecia. (FREIRE, Madalena, 1995, p.35)
MADALENA FREIRE
http://fabiananazar.blogspot.com.br/2010/07/madalena- freire.html>.
50
elaboração do conhecimento.
É importante destacar que, para Madalena Freire, a construção do
conhecimento, assim como os processos de aprendizagem, são inerentes as
emoções dos seres humanos e, portanto, estão abertas às experiências de prazer, de
sofrimento, de alegria, de medo, de coragem, entre outras sensações. Assim, Freire
(1995) ressalta que: No exercício disciplinado de sua arte (mediado por seus
instrumentos metodológicos) é que a paixão de educador é educada. Educador ensina
a pensar, e enquanto ensina, sistematiza e apropria-se do seu pensar. Pensar é o eixo
da aprendizagem. Para pensar e aprender tem-se que perguntar. E para perguntar é
necessário existir espaço de liberdade e abertura para o prazer e o sofrimento,
inerentes a todo processo de construção do conhecimento. A pergunta é um dos
sintomas do saber. Toda pergunta revela o nível da hipótese em que se encontra o
pensamento e a construção do conhecimento. Revela também a intensidade da
chama do desejo, da curiosidade de vida. Ansiedades, confusões e inseguranças são
constitutivas do processo de pensar e aprender. Assim como também o imaginar, o
fantasiar e o sonhar. Não existe pensamento criador sem esses ingredientes.
Educador ensina a pensar. Mas somente pensar não basta. Educador ensina a pensar
e a agir, segundo o que se pensa quando se faz. Nessa concepção de educação, o
educador é um leitor, escritor, pesquisador, que faz ciência da educação (FREIRE,
1995, p. 40).
Outro aspecto de grande importância na concepção de educação de Madalena
é o grupo. Os grupos são instrumentos pedagógicos fundamentais para a melhor
efetivação de uma educação para a cidadania. O grupo pode se tornar um espaço em
que as experiências de participação e a efetivação de uma proposta democrática de
sociedade sejam efetivadas.
Nessa perspectiva, Madalena elaborou as experiências do Centro de
Interesses, onde se busca atender as crianças de forma plena, levando em
consideração suas necessidades sociais, afetivas, cognitivas, entre outras. Aguçar a
curiosidade da criança, assim como pensar as ações pedagógicas, justamente a partir
destas curiosidades é o grande desafio do educador. Para tal, o educador deve ser
primeiro um bom observador, estimular o surgimento, na criança e no grupo, das
curiosidades, para, a partir delas, construir, em conjunto, as relações com o mundo
em que vivem. O Centro de Interesses é a incorporação, na Educação Infantil, dos
Temas Geradores propostos por Paulo Freire - ensinar é um ato de leitura da
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realidade.
Quando falamos que o educador deve ser um bom observador, não nos
esquecemos de que esta qualidade deve ser desenvolvida no conjunto dos
educandos, no âmbito de todos os agentes envolvidos no processo pedagógico de um
grupo, pois, para Freire (1995):
O instrumento da observação apura o olhar (e todos os sentidos) tanto do
educador quanto do educando para a leitura diagnóstica de faltas e necessidades da
realidade pedagógica. Para objetivar esse aprendizado, o educador direciona o olhar
para três eixos que sedimentam a construção da aula: o foco da aprendizagem
individual e/ou coletiva; o foco da dinâmica na construção do encontro e o foco da
coordenação em relação ao seu desempenho na construção da aula (FREIRE, 1995,
p. 45).
Podemos, assim, afirmar que o registro é uma função imprescindível no
processo pedagógico. Este registro pode ser materializado a partir do uso de um Diário,
o qual conterá os conteúdos, procedimentos, avanços e limites, possibilidades e
dificuldades do grupo e de cada criança. "O registro é a forma de deixar nossa marca
no mundo", afirmou Madalena. Segundo a educadora, somente mediado pelos
registros o professor apropria-se de sua história individual e coletiva. Segundo Freire
(1996) "A escrita possibilita a materialização, dá concretude ao pensamento, dando
condições de voltar ao passado enquanto se está construindo o presente". Para
Madalena Freire (1996):
Muito temos aprendido e muito temos ainda a aprender, mas também já
construímos algumas certezas. Acreditamos que o registro da reflexão sobre a prática
pedagógica, juntamente com o estudo teórico e o aprender a observar, avaliar e
planejar, inseridos no aprendizado de viver em grupo construindo vínculo e
conhecimento, necessita ter um acompanhamento permanente, no núcleo da escola
(MADALENA FREIRE, 1996, p. 46).
Portanto, percebemos que o legado de Paulo Freire é amplamente defendido
e ressignificado a partir das práticas e teorias desenvolvidas por sua filha e educadora
Madalena Freire. O sonho de construir uma sociedade mais digna para todos é uma
das principais funções da educação.
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Ferreiro afirma que a criança começa, já a partir dos quatro anos, a perceber a
escrita como a
representação de algo externo, que não é somente um traço ou uma marca.
Compreende o que a escrita representa e qual é a sua estrutura. Tem consciência da
diferença entre desenho e escrita, entre imagem e texto, e compreende que, apesar
de estarem representando a mesma
situação e terem uma origem comum, a sua estrutura é diferente: a escrita
apresenta grande complexidade, e ela vai buscando soluções para entender esta
diferença.
Nessa tentativa de solução, a criança constrói algumas hipóteses,
apresentadas por Boneti:
Garatujas: fase dos rabiscos. A criança rabisca e lê o que representam os
rabiscos.
Hipótese Pré-Silábica: a criança já conhece letras e as representa
graficamente, mas ainda não tem a sonorização. Usa letras quaisquer. Ex: DCMLZ=
caneta.
Hipótese Silábica: a criança percebe o som e representa graficamente uma
letra para cada sílaba. Ex.: “CCNT” = caneta, "BCA" = caneta ou "AEA" = caneta. A
palavra caneta tem três sílabas, por isso, representa-a com três letras convencionais
(que existem na palavra) ou não convencionais (no exemplo "BCA"). Esta hipótese é
considerada "o salto de qualidade".
Hipótese Silábica Alfabética: nesta fase, há um grande conflito cognitivo, ela
representa o número de sílabas, mas percebe que para o som é necessário
acrescentar mais letras. Ex.: CANT = caneta ou CNET = caneta. É o avanço para a
Hipótese Alfabética. Antes desses estudos, o professor via como um distúrbio de
aprendizagem esta fase da criança.
Hipótese Alfabética: representa a grafia ao som correspondente, já se
apropriou desse conhecimento, por meio da reconstrução da leitura e da escrita. Os
caminhos dessa construção são os mesmos para todas as crianças, de qualquer
classe social.
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A partir dessa nova visão, a questão dos diferentes níveis, nas salas de aula,
deixa de ser uma característica negativa para assumir papel de importância no
processo ensino-aprendizagem, em que a interação entre os alunos é fator
imprescindível. Na alfabetização, as diferenças individuais e o ritmo passam a ser
entendidos a partir dos níveis estruturais da aprendizagem da escrita.
Podemos dizer a partir da teoria de Ferreiro, que dois processos são
desencadeados na aquisição da língua escrita: o processo de ler e o processo de
escrever. Em uma concepção tradicional, a leitura pode significar decifrada, e a
escrita, cópia. Já numa visão contemporânea, na leitura, devemos considerar dois tipos
de informação: a visual e a não visual. A visual seria a organização das letras e a não
visual, o tema. Para compreender a mensagem não visual, devemos desenvolver a
competência linguística dos alunos, trabalhando com diversos tipos de textos. E, na
escrita, procurar incentivá-la à descoberta, estimulando-a e não a impedindo de
escrever. A diferença estará no resultado: a criança não estará aprendendo uma
técnica, e, sim, apropriando-se do conhecimento.
também:
O desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças
superdotadas;
Adultos com lesões cerebrais e como esses não perdem a intensidade de sua
produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras
habilidades sejam sequer atingidas;
Populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os
primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas
demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas
suas habilidades intelectuais;
Como se deu o desenvolvimento cognitivo por meio dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distingue-se de
seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos
da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto que ele acredita
que processos psicológicos independentes são empregados, quando o indivíduo lida
com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais, ou outros. Segundo Gardner, uma
criança pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de
pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra (o
equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o
desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de entender e
expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto cultural,
e sugere que não há uma ligação necessária entre a capacidade ou estágio de
desenvolvimento em uma área de desempenho e capacidades ou estágios, em outras
áreas ou domínios (Malkus e col., 1988). Num plano de análise psicológico, afirma
Gardner (1982) que cada área ou domínio tem seu sistema simbólico próprio; num
plano sociológico de estudo, cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de
competências valorizadas em culturas específicas. Gardner sugere, ainda, que as
habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se
pense nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver
uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes
de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis
semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta. (GAMA,
1999, p. 38).
As crianças têm mentes muito diferentes umas das outras, elas possuem forças
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potencial especial nessa inteligência é percebido por meio da habilidade para quebra-
cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. É importante tanto
para navegadores como para cirurgiões, ou escultores.
Físico-cinestésica: esta inteligência refere-se à habilidade para resolver
problemas ou criar produtos por meio do uso de parte ou de todo o corpo. É a
habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou
plásticas, no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com
destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica move- se com
graça e expressão; a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande
habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Dançarinos, atletas, cirurgiões
e mecânicos valem-se dela.
Interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade para
entender e responder adequadamente a humores, temperamentos, motivações e
desejos de outras pessoas. Ela é mais bem apreciada na observação de
psicoterapeutas, líderes religiosos, professores, políticos e vendedores bem-
sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal manifesta-se em
crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais
avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e
para reagir apropriadamente, a partir dessa percepção. Crianças especialmente
dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez
que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da inteligência
interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos sonhos e
ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o
reconhecimento de habilidades, necessidades desejos e inteligências próprias, a
capacidade para formular uma imagem, precisa de si próprio e a habilidade para usar
essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como essa inteligência é a mais pessoal
de todas, ela somente é observável por meio dos sistemas simbólicos das outras
inteligências, ou seja, por intermédio de manifestações linguísticas, musicais ou
cinestésicas.
Musical: esta inteligência manifesta-se por meio de uma habilidade para
apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons,
habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre,
e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade
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habilidade verbal, mesmo na pré-escola, ao invés de ser medida por meio de testes
de vocabulário, definições ou semelhanças, deve ser avaliada em manifestações tais
como a habilidade para contar histórias ou relatar acontecimentos. Ao invés de tentar
avaliar a habilidade espacial isoladamente, devem-se observar as crianças durante
uma atividade de desenho, ou enquanto montam ou desmontam objetos. Finalmente,
ele propõe que a avaliação, ao invés de ser um produto do processo educativo, seja
parte do processo educativo, e do currículo, informando, a todo o momento, de que
maneira o currículo deve desenvolver-se (GAMA, 1999, p. 74).
E continua em sua análise da influência da teoria de Gardner na educação:
No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois pontos
importantes que sugerem a necessidade da individualização. O primeiro diz respeito
ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão diferentes uns dos outros, as
escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação padronizada, tentar garantir
que cada um recebesse a educação que favorecesse o seu potencial individual. O
segundo ponto levantado por Gardner é igualmente importante: enquanto na Idade
Média um indivíduo podia pretender tomar posse de todo o saber universal, hoje em
dia essa tarefa é totalmente impossível, sendo mesmo bastante difícil o domínio de
um só campo do saber (GAMA, 1999, p. 80).
Enfim, conhecer a teoria das Inteligências Múltiplas é fundamental na
discussão sobre os processos de ensino-aprendizagem, assim como para a relação
educação e realidade.
humano: não há sentido em educar, se não for para formar homens melhores, mais
humanos e solidários.
AS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
que uma atividade que hoje a criança somente consegue fazer com o auxílio de outra
pessoa, mas que pode vir a fazer sozinha amanhã recoloca a relação erro/acerto
numa outra perspectiva: a de que o ato de errar não deve ser encarado como
incapacidade, mas como indicador de que certos conhecimentos precisam ser
estimulados. A importância da cultura, da linguagem e das relações sociais na teoria
de Vygotsky fornece a base para uma educação na qual o homem seja visto na sua
totalidade: na multiplicidade de suas relações com outros, na sua especificidade
cultural; na sua dimensão histórica, ou seja, em processo de construção e
reconstrução permanente (OLIVEIRA, 1993, p.61).
As contribuições de Wallon
As contribuições de Perrenoud
valoriza certos talentos, que são passados para a geração seguinte. O domínio, ou
inteligência, são sequências de estágios: enquanto todos os indivíduos normais
possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais
sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado.
O construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado,
e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como
algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social,
com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e constitui-se por força
de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio,
de tal modo que podemos afirmar que, antes da ação, não há psiquismo nem
consciência e, muito menos, pensamento (MATUÍ, 1995, p. 46).
Provavelmente, o grande mérito da teoria de Perrenoud é pôr em discussão,
por meio da problematização do termo competência, as questões sobre
profissionalização dos professores, avaliação dos alunos e currículo escolar. Segundo
ele, a escola precisaria desenvolver um modelo de avaliação mais eficiente, realmente
capaz de identificar as dificuldades do aprendizado; uma avaliação na qual, alunos e
professores pudesse ter mais tempo para agir e corrigir. Para tanto, os professores
precisariam possuir uma formação permanente, sólida, capaz de compreender a
aprendizagem como a soma de vários saberes.
Por outro lado, esse autor traz a tona à necessidade de a escola compreender
a educação como um processo transdisciplinar, de forma que os saberes se articulem,
complementem-se e não se excluam. Nesse sentido, o respeito às experiências dos
alunos, enfatizado por Perrenoud, aproxima-se do conceito de zona de
desenvolvimento proximal de Vygotsky, visto que, para os dois autores, o ensino-
aprendizagem deve partir dos conhecimentos acumuladas pelos alunos, mesmo que
tais conhecimentos não tenham sido totalmente desenvolvidos. O conceito de
competências, em Perrenoud, articula- se à ideia de pessoa completa, em Wallon.
Nesse caso, as competências podem ser entendidas como as emoções e as
capacidades motoras, cognitivas e biológicas que o homem desenvolve nas relações
que estabelece com os outros e com o mundo concreto.
O mais importante a ser ressaltado na teoria de Gardner é a pluralidade do
intelecto. Os sujeitos podem diferir quanto aos perfis particulares de inteligência, com
os quais nascem e que desenvolvem ao longo da vida. Na verdade, o fundamental
não é quantas inteligências temos, mas o desenvolvimento de todas elas, segundo
nossas aptidões. O conceito de cultura está presente de forma mais explícita em
Gardner, Wallon e Vygotsky. Todavia, ainda que Gardner dê grande importância às
diferentes culturas que brotam nas diversas realidades, não fica claro nesse autor,
como em Vygotsky, a ideia de cultura como legado histórico construído pelo homem
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na interação com o outro. Ou seja, Gardner não deixa claro que, para ele, a cultura é
histórica, dialética e, portanto, provisória, o entendimento da cultura como elemento
histórico e dialético poderia flexibilizar e tornar ainda mais relativo o conceito de
inteligências, em Gardner.
Gardner distingue-se de Piaget, à medida que, para esse último, os significados
estruturam-se na mente humana em função do valor presente nos objetos, enquanto
para Gardner, os processos psicológicos são desenvolvidos quando o indivíduo lida
com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais ou outros. Por outro lado, existem
momentos de aproximação entre esses dois teóricos: segundo Gardner, uma criança
pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de
pensamento formal) e estar na média, ou mesmo abaixo da média, em outra (o
equivalente ao estágio sensório-motor em Piaget). Todavia, Gardner, diferentemente
de Piaget, não acredita que haja uma ligação necessária entre a capacidade ou
estágio de desenvolvimento e determinada área ou domínio (MALKUS, 1988).
As contribuições da teoria de Gardner para a educação residem na importância
dada às diversas formas de pensamento, aos estágios de desenvolvimento das várias
inteligências e à relação existente entre estes estágios, aquisição de conhecimento e
cultura. No âmbito escolar, as contribuições de Gardner podem ir ao sentido de:
avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades humanas; um processo
educativo centrado na criança; currículo específico para cada área do saber; ambiente
educacional mais amplo e variado para além da linguagem e da lógica. Para esse
autor, é importante, também, que se tire o maior proveito das habilidades individuais,
auxiliando os estudantes a desenvolverem suas capacidades intelectuais. Para tanto,
a avaliação não deve ser utilizada como mecanismo de aprovação ou reprovação,
mas sim, como indicador das capacidades dos alunos. Como diz Gardner (1982): A
implicação educacional mais importante das teorias das Inteligências Múltiplas é esta:
todos nós temos tipos diferentes de mente, e o bom professor tenta dirigir-se à mente
de cada criança, da forma mais direta e pessoal possível (GARDNER, 1982, p. 49).
educacionais em que estão inseridos para melhor desenvolver uma ação pedagógica
consciente e coerente. O uso dos instrumentos metodológicos pode garantir os
objetivos propostos em um projeto determinado, de educação.
Podemos destacar algumas estratégias, como: formas tradicionais de ensino,
ensino individualizado e socioindividualizado, tele-ensino, radioaulas, instruções
programadas, escolas virtuais, entre outras formas. Essas estratégias de ensino serão
coerentes a partir do momento em que seus objetivos e finalidades estejam de acordo
com a proposta de educação construída e, também, os métodos desenvolvidos
estejam adequados aos mesmos princípios político-pedagógicos.
O método, por fim, é uma das principais características da educação e de suas
práticas. Por meio do método de um professor, podemos identificar suas intenções,
suas finalidades, sua concepção de educação. Uma coisa é o que se diz, outra é o que
se faz, portanto, é fundamental buscarmos a coerência em nossas práticas
pedagógicas. Dizer o que fazemos e mostrar como fazemos deve seguir os mesmos
princípios.
O Professor e as Teorias
32) “a educação é uma arte e, desta maneira, é importante ser exercida com paixão,
com amor”.
Enfim, é importante sempre manter uma relação dialética entre teoria e prática,
pela qual o educador, não isoladamente, analisa os diversos aspectos que envolvem
suas práticas educativas. Essa postura não deve ser somente do educador, mas de
todos os agentes envolvidos no processo, com o intuito de desenvolver uma educação
mais ampla e democrática, preocupada com a formação de cidadãos.
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