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Instituto Politécnico de Portalegre

Escola Superior de Educação e Ciências Sociais


Roteiro

Pensadores da Educação Nova:


Um olhar reflexivo sobre Pestalozzi, Freinet e Montessori

Professora Doutora Amélia Marchão


Aluna Mafalda da Cruz Machado

Janeiro, 2024
“O amor é o eterno fundamento da educação.”

Pestalozzi

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................ 4

2. Roteiro ................................................................................................................. 4

2.1. Johann Heinrich Pestalozzi............................................................................... 4

2.1.1. Nota biográfica ........................................................................................... 4

2.1.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual ............................ 5

2.1.3. Principais obras publicadas........................................................................ 7

2.2. Celéstin Freinet................................................................................................. 8

2.2.1. Nota biográfica ........................................................................................... 8

2.2.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual ............................ 9

2.2.3. Principais obras publicadas...................................................................... 12

2.3. Maria Montessori ............................................................................................ 13

2.3.1. Nota biográfica ......................................................................................... 13

2.3.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual .......................... 14

2.3.3. Principais obras publicadas...................................................................... 17

3. Reflexão Final .................................................................................................... 17

4. Bibliografia ......................................................................................................... 18

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1. Introdução

O presente Roteiro, elaborado no âmbito da unidade curricular de Educação


Pedagogia e Currículo lecionada pela Professora Doutora Amélia Marchão, tem
como objetivo dar a conhecer três pensadores da Educação Nova e elencar os
principais aspetos das suas pedagogias e como estas se refletem no panorama
atual da educação.

Em contexto de sala de aula, a turma visualizou oito pequenos documentários


que deram a conhecer vários teóricos da educação e, neste trabalho final, teríamos
de selecionar apenas três escrevendo pequenas notas biográficas, principais
ideias e como estas influenciam a pedagogia atual e destacar as principais obras
publicadas.

A minha escolha recaiu sobre Johann Pestalozzi, Célestin Freinet e Maria


Montessori pela forma humanista como olharam para a educação e pela
importância no seu legado – mantendo-se atual e extremamente necessário.

2. Roteiro

2.1. Johann Heinrich Pestalozzi


2.1.1. Nota biográfica1

Johann Heinrich Pestalozzi nasceu a 12 de janeiro de 1746, em Zurique, na Suíça.


Pertencia a uma família de classe média e enfrentou desafios financeiros ao longo de
toda a sua vida, tendo ficado órfão aos 6 anos. Este acontecimento marcante na sua
vida contribuiu para moldar a sua visão acerca do mundo que o rodeava, influenciando
as suas experiências e perspetivas. Apesar das dificuldades financeiras, Pestalozzi
estudou Direito na Universidade de Zurique em 1769. Nunca tendo exercido na área,
dedicou a sua vida às questões sociais e educacionais.

Em 1771, em Neuhof, fundou uma escola para 80 crianças pobres, órfãs e oriundas
de países em guerra, tendo implementado métodos educacionais inovadores,

1 In As Ideias Pedagógicas de Pestalozzi (1746-1827) da Revista da Faculdade de Letras – Filosofia.

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focando-se na aprendizagem prática e no seu desenvolvimento integral. Apesar do
projeto não ter sido financeiramente sustentável, acreditava que a educação deveria
ser centrada na criança, adaptada às necessidades individuais e enfatizar a conexão
entre a teoria e a prática.

Pestalozzi continuou a promover as suas ideias através de várias iniciativas


educacionais, incluindo a Escola de Yverdon, fundada em 1805. Esta escola tornou-
se um centro de disseminação das ideias de Pestalozzi e educadores de todo o mundo
visitaram-na para estudar os seus métodos e conseguir implementá-los na sua
realidade.

Pestalozzi viria a falecer a 17 de fevereiro de 1827, em Brugg, na Suíça. Foi um


dos principais pensadores da Educação Nova e influenciou significativamente o
desenvolvimento da pedagogia moderna.

2.1.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual

De acordo com (Adorno & Miguel, 2020), Pestalozzi foi influenciado quer pelo
Romantismo quer pelo Iluminismo, tendo fundamentado os seus estudos pedagógicos
nessa vertente. A exemplo disso, o autor suíço valorizou a intuição, exemplificada por
meio da criação e aplicação do método intuitivo. Sob influência do Romantismo,
também vieram à luz a importância da afetividade e das relações de afeto.

As ideias de Johann Pestalozzi exerceram uma notável influência na pedagogia


contemporânea, contribuindo para moldar abordagens pedagógicas que persistem até
aos dias de hoje. Uma das premissas fundamentais do pensamento de Pestalozzi
reside na conceção do desenvolvimento integral da criança, incorporando aspetos
físicos, emocionais, intelectuais e sociais (Claro, 2019). Tal perspetiva holística,
enraizada na compreensão da complexidade do crescimento infantil, continua a
nortear a pedagogia moderna, que procura fomentar a evolução global das crianças.

A afetividade, constituindo um papel importante no modelo de pensamento do


autor, defende que sem vínculo afetivo não existe aprendizagem. Este modo de
pensar tornou-se um modelo a seguir e constitui, até hoje, uma teoria no campo da

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educação. Neste sentido, o amor é encarado como um “amor vidente” (Claro, 2019) –
sendo um amor lúcido que ajuda o outro a crescer e a saber ser.

O conceito de aprendizagem baseada na experiência destaca-se como outra


contribuição relevante. A ênfase na aplicação prática do conhecimento e na
participação ativa do aluno ecoa na contemporaneidade, refletindo-se em
metodologias pedagógicas como a aprendizagem ativa e a pedagogia baseada em
projetos. Ademais, a proposta pestalozziana de individualização do ensino,
adaptando-o às necessidades específicas de cada aluno, alinha-se com abordagens
pedagógicas atuais que visam personalizar a educação, levando em consideração o
ritmo e estilo de aprendizagem distintos.

Embora Pestalozzi seja considerado


seguidor de Rousseau, parece importante
atentar para uma diferença fundamental
entre suas propostas de ensino. Rousseau
valorizou os interesses imediatos do aluno
em relação ao mundo que o cerca. Para
ele o verdadeiro ensino deveria proceder
diretamente da vida, da experiência, do
sentimento. Já Pestalozzi atribuiu
importância ao ensino como condição para
a ativação das capacidades humanas.
(Zanatta, 2005, p. 171).

De acordo com Cambi (2019), no centro do pensamento pedagógico de Pestalozzi


colocam-se três teorias:

1. A educação como processo que deve seguir a natureza, retomada de


Rousseau, segundo a qual o homem é bom e deve ser apenas assistido no seu
desenvolvimento, de modo a libertar todas as suas capacidades morais e
intelectuais;
2. A formação espiritual do homem como unidade de “coração”, “mente” e “mão”;
3. Da instrução, à qual Pestalozzi dedicou mais ampla atenção.

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Segundo estes autores, é possível afirmar que Pestalozzi foi um pensador que
valorizou sobretudo a essência humana. Estando na base da educação, mais do que
um teórico, colocou em prática a sua ideologia ao longo da sua vida. Criou uma escola
e durante 20 anos de exercício tornou-se um centro de referência de educação na
Europa. Esta instituição funcionava de maneira vanguardista, funcionando como
escola experimental com a particularidade da ausência de aulas e focando-se no
estabelecimento de uma relação afetiva com as crianças, potencializando a sua
aprendizagem. Eram realizadas atividades na natureza, teatro, música – em que o
objetivo era o de estimular a aprendizagem.

Na pedagogia atual, o recurso a materiais concretos e manipulativos,


preconizado por Pestalozzi, perdura através da incorporação de jogos educativos e
recursos tangíveis nas práticas de ensino. A integração entre o ensino e a vida
quotidiana, ressoa na procura constante por tornar a educação relevante para a
realidade dos estudantes, estabelecendo ligações significativas entre conceitos
académicos e experiências vivenciadas.

A visão de Pestalozzi acerca da colaboração entre escola e família,


reconhecendo a importância do envolvimento parental na educação, persiste como
uma diretriz relevante na pedagogia contemporânea. Por fim, o respeito pela
individualidade dos alunos, aliado à promoção da autonomia e do pensamento crítico,
constitui um legado pedagógico que continua a informar práticas educativas
modernas.

2.1.3. Principais obras publicadas

As obras de Pestalozzi refletem o caráter inovador e evolucionista para a sua


época. Entre todas elas, destacam-se “Leonardo e Gertrudes” entre os anos 1781 –
1787; “Horas Noturnas de um Eremita” de 1780 ou “Investigações sobre o Curso da
Natureza no Desenvolvimento da Raça Humana” de 1797. Nestas obras estão
presentes os princípios norteadores da sua teoria e o autor procura sobretudo discutir
questões sociais e educacionais, expondo o seu ponto de vista.

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No entanto, a obra que mais se destaca intitula-se “Como Gertrudes ensina os
seus Filhos” de 1801. Neste livro, destaca as suas teorias educacionais e fala da
importância da intuição, da observação e da experiência prática no processo de
aprendizagem. Em 1826, faz uma revisão e ampliação da obra – “Como Gertrudes
ensina os seus Filhos” – um registo de experiência”, apresentando casos práticos de
aplicação dos seus métodos educacionais.

2.2. Celéstin Freinet


2.2.1. Nota biográfica2

Nasceu em França, na região de Provence, num pequeno lugar chamado Gars, no


dia 15 de outubro de 1896. Passou a sua infância e juventude no meio rural o que de
certo modo influenciou a sua visão sobre o mundo. Trabalhou na lavoura e pastorícia
ajudando os seus pais desde muito cedo. Este facto contribuiu para que Freinet se
sentisse socialmente útil e encarasse o trabalho como uma forma lúdica.

Depois de terminar a Primeira Guerra Mundil, onde foi militar, ficou gravemente
ferido em sequência de um ataque. Em 1920, sem experiência docente e escasso
conhecimento teórico, foi nomeado professor adjunto numa escola rural. Durante este
período participou em estudos, debates e pesquisas, viajou, escreveu artigos e livros
sempre na procura de práticas pedagógicas alternativas.

Ainda durante década de 1920, Freinet fundou a "Escola Moderna" em Bar-sur-


Loup, onde implementou as suas teorias. Desenvolveu métodos práticos, como a
"Imprensa Escolar," na qual os alunos eram encorajados a produzir jornais e revistas,
promovendo a expressão própria e a comunicação entre os estudantes.

Célestin Freinet faleceu em Vence, França, a 8 de outubro de 1966. O seu legado


persiste através das práticas pedagógicas que influenciaram gerações de educadores
em todo o mundo.

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In Educação: Pensadores ao longo da história – Célestin Freinet, Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico de Bragança.

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2.2.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual

A “Pedagogia Freinet”, mundialmente difundida, enfatiza a importância do trabalho


manual, da observação direta e da aprendizagem baseada na experiência. A
introdução de técnicas como correspondência interescolar e aulas ao ar livre para
promover a interação social e a aprendizagem colaborativa, são algumas das
propostas desta pedagogia.

A influência de Freinet foi para além das fronteiras francesas, ganhando


reconhecimento internacional, tendo participado ativamente em movimentos
educacionais e cooperativas, promovendo a democratização da educação e o respeito
pelos direitos das crianças.

Segundo Claro (2019), devido à sua incapacidade de falar por muito tempo, Freinet
desenvolveu um método prático em que não precisava de se expressar
constantemente. Neste sentido, saía com as crianças da sala de aula para que
pudessem conhecer a vida lá fora e aprender. Esta forma de ensino foi bastante
criticada e não foi aceite na sociedade da época.

Inspirado em Vygotsky, desenvolveu uma ideia de cooperação com destaque para


a criança e a sua autonomia. Juntamente com a sua esposa, em 1925, deram início
ao Movimento da Escola Moderna que só se consolidou 40 anos mais tarde. Este
projeto teve grande adesão por parte de famílias, crianças e até de outros professores
que se interessaram pelas suas ideias e princípios pedagógicos.

No Prólogo do seu livro “Pedagogia do Bom Senso” (edição de 20024), traduzido


por J. Batista, refere o seguinte acerca da implementação do seu método educativo:

“Ao fazê-lo, e sem menosprezar a


contribuição possível e desejável de uma
verdadeira ciência da educação, procurei
menos explicar do que orientar e me
orientar. Coloquei, tateando, os meus
sinais vermelhos e verdes. Experimentei-
os para ter a certeza de que funcionavam

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bem. Verifiquei-lhes as virtudes
enveredando prudente e
experimentalmente pelas pistas recém-
sinalizadas” (Freinet, 2004, p. 9).

A par com a sua experiência, percebeu que a escola baseada num currículo de
extrema racionalidade, acaba por fazer o contrário de educar. Na atualidade,
assistimos a uma rigidez curricular que vai ao encontro da ideia defendida por Freinet.
Existem metas definidas e objetivos a cumprir que não dão espaço às crianças para
poderem expressar os seus próprios interesses e motivações. Neste sentido, o legado
deste pensador mantém-se atual e embora tenha desenvolvido a sua teoria há cem
anos, verifica-se uma estagnação a nível curricular que é importante reformar,
atualizar e adaptar aos tempos modernos.

De acordo com a sua perspetiva, Freinet (1974) refere que “em educação, a
revolução é ainda mais lenta e laboriosa do que nas outras técnicas de trabalho; as
pessoas têm tendência em impor às gerações que se lhes seguem os mesmos
métodos que as formaram, ou deformaram. A cultura tradicional continua
obstinadamente baseada num passado caduco e trava as forças inovadoras que
dinamizam o avanço” (p. 6 e 7).

Freinet organizou a sua pedagogia em quatro pilares: livre expressão, autonomia,


cooperação e trabalho. Defendia que a natureza da criança era a mesma do homem
– a procura pelo sucesso. Neste sentido, a escola desenhava o fracasso com notas
quantitativas, vagas, prémios de incentivo – tornando tudo numa disputa.

No sentido de fazer frente à rigidez escolar, criou um método em que os alunos


aprendiam pelo seu próprio desejo de aprender e não pela imposição de ideias. O que
caracteriza este método é a própria ausência de método – Freinet nunca se preocupou
em sistematizar nem criar regras de conduta a seguir (Claro, 2019). Desta forma,
segundo Sampaio (1989), Freinet dizia que todo o ser humano tem necessidade de
exprimir os seus sentimentos e ideias, comunicar-se, criar, agir e conhecer. Por isso,
valorizava o conhecimento experimental dos seus estudantes, assim como dos seus
modos de organização e de avaliação face às tarefas assumidas no contexto escolar.

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Materializando as suas ideologias, criou as Bandeiras de Luto – no sentido de
levantar uma crítica à escola tradicional, rejeitando o seu método de funcionamento.
Abaixo a aula; abaixo os manuais escolares e 25 alunos por sala – estes três princípios
fundamentais pretendiam romper com o ensino da época. Atualmente, a questão do
número de alunos por turma tem sido um assunto recorrente dado o elevado número
de alunos atribuídos a um só professor. Para este pensador, quanto mais alunos numa
turma houvesse, pior seria para o professor entender a subjetividade de cada um. A
questão dos manuais ainda hoje se coloca com a limitação que coloca à aprendizagem
dos alunos fora da sala de aula. Para Freinet, seria importante ir para além dos livros
e do espaço físico da sala, no sentido de potenciar a aprendizagem dos alunos da
melhor forma possível.

Outro marco no seu legado foi a criação das Invariantes Pedagógicas – trinta
frases curtas, divididas em três eixos – a natureza da criança; as reações da criança
e técnicas educativas. O seu objetivo foi o de facilitar o papel orientador do/a
educador/a no processo de aprendizagem dos alunos. Segundo (Villela, 2021), “tendo
em mente as invariantes, o professor deve fazer sempre indagações a partir delas
quando achar que não corresponde às expetativas dos seus alunos e das suas
próprias quanto ao seu ofício para usá-las como um termômetro” (p. 18).

“Freinet percebeu que somente a


transmissão de conselhos técnicos corria o
risco de ser insuficiente, se estes não
fossem acompanhados de instruções mais
exatas. Por isso ele organizou uma série
de princípios que chamou de Invariantes
Pedagógicas. Ele queria, assim,
estabelecer uma nova gama de valores
escolares, numa busca da verdade, que
deveria ser feita à luz da experiência e do
bom-senso.” (Sampaio, 1989).

Com as Invariantes, o/a educador/a podia avaliar as suas práticas pedagógicas


em testes a serem respondidos marcando as cores verde, amarelo ou vermelho, o
que sinalizaria o grau de envolvimento do/a educador/a com cada invariante.

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Na pedagogia atual, o legado de Freinet é extenso e conta, essencialmente, com
a criação de ateliers de artesanato, serralheria, desenvolvimento de técnicas de
construção e, mais recentemente, com a criação de ateliers de DIY – “Do It Yourself”
– em que milhões de pessoas em todo o mundo, através de pequenos vídeos
explicativos, podem aprender a fazer de tudo um pouco desde atividades simples do
quotidiano a atividades mais complexas, permitindo desenvolver as suas
capacidades. A imprensa escolar é também um dos legados de Freinet com o
desenvolvimento da escrita. Através dela, Freinet acreditava que seria possível
transformar e criar ideais. Ao contarem o que escreviam, as crianças comunicavam
entre si e corrigiam-se de forma coletiva, permitindo desenvolverem-se
intelectualmente. Atualmente, muitas escolas criam jornais com esse intuito – partilhar
ideias e fomentar conhecimento.

2.2.3. Principais obras publicadas

As principais obras de Freinet refletem parte do seu legado literário e contribuem


para a disseminação das suas ideias pedagógicas. De destacar “A Educação pelo
Trabalho”, de 1920, sendo um dos primeiros trabalhos de Freinet, onde começou a
desenvolver as suas ideias sobre a importância do trabalho prático na educação. “Os
Ditos de Mathieu”, de 1928, destaca-se pela partilha de experiências educacionais
práticas, abordando questões relacionadas à pedagogia. Em 1934, publica “A
Imprensa na Escola” e em 1946 “O Método Natural de Leitura”, defendendo a
importância da existência de uma imprensa escolar como ferramenta pedagógica e a
leitura como contributo para a participação ativa dos alunos no próprio processo de
aprendizagem.

Por fim, destacar a obra “Pela Escola do Povo”, de 1964, refletindo sobre a
educação centrada no aluno, participativa e adaptada à vida quotidiana, defendendo
uma democratização da educação.

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2.3. Maria Montessori
2.3.1. Nota biográfica3

Maria Tecla Artemisia Montessori nasceu em Chiaravalle, no norte da Itália, no dia


31 de agosto de 1870. Era filha de Alessandro Montessori, oficial do Ministério das
Finanças, e de Renilde Stoppani.

Desde a sua adolescência, Maria mostrou interesse por biologia e decidiu estudar
medicina na Universidade de Roma, mesmo enfrentando a resistência do pai, que
desejava que ela seguisse a carreira de professora. Formada em 10 de julho de 1896,
Maria Montessori tornou-se uma das primeiras mulheres italianas a concluir medicina.
Fugindo do preconceito da sociedade da época, de uma mulher exercer a profissão
de médica, ingressou como assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de
Roma.

Dedicou-se ao estudo e à realização de experiências com crianças portadoras de


distúrbios de comportamento e de aprendizagem e acolheu também aquelas que
tinham sido negadas pela escola pública italiana. Estas crianças, desacreditadas pela
sociedade e pelo sistema político em geral, foram recebidas por Montessori e
conseguiram obter melhores resultados através do seu método de ensino.

A partir do estudo da obra de Édouard Séguin, médico e educador francês, passou


a criar materiais que mais tarde fariam parte do seu método. Aos 28 anos, defendeu
no Congresso Médico Nacional, em Turim, a tese de que a principal causa do atraso
na aprendizagem de crianças especiais era a ausência de materiais de estímulo para
o desenvolvimento adequado. Procurando especializar-se na área da educação,
formou-se em Pedagogia e envolveu-se com a Liga para a Educação de Crianças com
Deficiência, sendo nomeada codiretora de uma escola especializada.

Maria Montessori dedicou-se integralmente à educação e em 1904, passou a


lecionar da Escola de Pedagogia da Universidade de Roma, onde permaneceu até
1908. Viria a falecer a 6 de maio de 1952 na cidade de Noordwijk, na Holanda.

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In Lar Montessori: A Educação como uma ajuda à vida, Maria Montessori – Biografia

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2.3.2. Principais ideias e como influenciam a pedagogia atual

A vida e obra de Maria Montessori é a mais reconhecida e aplicada em todo o


mundo no que concerne às pedagogias atuais. O seu legado é de tal forma importante
que há cada vez mais escolas a adotar o Método Montessoriano na aprendizagem e
desenvolvimento das crianças. A sua história e percurso de vida influenciaram a forma
como Maria encarava a infância – começou por trabalhar com crianças que eram
rejeitadas e que não seguiam a mesma linha de conduta das restantes e isso fez com
que através de materiais adequados e adaptados às suas necessidades e interesses,
conseguisse encontrar um caminho pedagógico que as fizesse aprender e
desenvolverem-se tão bem ou melhor que as outras crianças.

A importância da sua obra é reiterada no documentário do Instituto Claro (2018),


em que a psicóloga e professora Mitsuko Antunes refere que Maria Montessori rompeu
com a ideia de que a criança era um adulto em miniatura – entendia a criança como
um sujeito que deveria ser olhado na sua própria perspetiva. Por si só, esta conceção
do que era ser criança, já rompia com o que era institucionalmente aceite e fez com
que o seu trabalho ao longo dos anos fosse considerado “fora da caixa”. De acordo
com a sua pedagogia, não é possível pensar uma educação sem pensar no seu
desenvolvimento como um todo (Claro, 2018).

Ao olhar para a criança acabava por desenvolver uma teoria do desenvolvimento


psicológico da criança – dividindo a criança em várias fases de desenvolvimento –
através da observação direta, valorizando a forma como agiam e como se sentiam.

Relativamente ao espaço físico de aprendizagem, Montessori adotou uma


pedagogia distinta da sala de aula tradicional – as crianças trabalhavam em tapetes
no chão com um conjunto de materiais práticos (da vida quotidiana), sensoriais e
escolares à sua disposição. O foco estaria em colocar materiais que chamassem a
atenção das crianças e que fossem preparados com o objetivo de educar. Neste
sentido, o material em si, mostrava à criança o “certo” e o “errado”, encaminhando-a
no seu próprio caminho, não sendo o/a professor/a incumbido/a de fazer esse papel.
No caso da preparação do espaço, Lamoréa (1996) defendia que,

“(…) deve ser um local espaçoso,


silencioso e em contacto com a natureza.

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Os móveis devem ser acessíveis ao
tamanho da criança: pequenas cadeiras,
mesas, armários e utensílios de cozinha,
ferramentas diversas etc, e leves para
serem mudadas de local pela criança com
facilidade. A sala de aula não é aquela
tradicional: carteiras enfileiradas, crianças
quietas, sentadas imóveis, professora em
posição de destaque na frente da classe,
vigiando os alunos. Ao contrário, as
crianças têm liberdade para se
comunicarem e se movimentarem na sala,
geralmente sentam-se em tapetes no local
que acharem mais adequado” (p. 99).

O/A professor/a deveria observar a criança e auxiliar quando a esta pedia ajuda.
Criava oportunidades para que a criança pudesse fazer as suas escolhas, sendo um
orientador no seu processo de aprendizagem. Esta conceção do papel do/a
educador/a, remete para as Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar no
Sistema de Ensino Português e na forma como este encara o seu papel numa das
suas valências “Criar oportunidades de aprendizagem progressivamente mais
complexas, tendo em conta a observação e avaliação do desenvolvimento e
aprendizagem de cada criança e do grupo no seu todo” (Silva, Marques, Mata, & Rosa,
2016, p. 22).

Desenvolveu o conceito de Interacionismo em que defendia que a criança trazia


consigo aspetos que lhe eram inatos e que dependia do seu próprio ambiente para se
desenvolver. Não era a somatória dos ambientes e fatores hereditários que
determinavam o seu desenvolvimento, mas sim a interação que se estabelecia entre
estes fatores. A Autonomia também esteve no centro da sua pedagogia ao afirmar que
a criança vivia desde cedo num ambiente que lhe exigia tomada de decisões e a cada
decisão que tomasse, seria acompanhada de consequências e era a própria criança

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que analisava e dirigia o seu próprio caminho, estando no centro do processo de
aprendizagem.

Para desenvolver o Método Montessoriano, Maria Montessori inspirou-se e


dialogou com Rousseau e Pestalozzi, dando-lhe uma conceção da Educação
Humanista Moderna. Este método consiste na adoção de um processo de ensino
individualizado e preparado especificamente para cada criança. A criança escolhe a
atividade que quer realizar, percebendo o que consegue fazer. Segundo (Bonnefont,
et al., 2017), Montessori estava convencida da habilidade inata de cada criança em
aprender pela absorção inconsciente (e, posteriormente, consciente) da realidade. A
partir de diversos estudos de observação que realizou, definiu o período da infância
como uma entidade em si mesma e não como uma mera preparação para a idade
adulta (Bonnefont, et al., 2017). Neste sentido, desenvolveu alguns conceitos que
ainda hoje são aplicados em todo o mundo nas mais diversas áreas da educação – a
liberdade e autodisciplina – que são favorecidos pelo ambiente em que a criança se
desenvolve. Através dos materiais disponibilizados no ambiente educativo, as
crianças aprendem e desenvolvem-se por si mesmas.

Para Footlick (1968), “O ambiente planificado é constituído por três aspetos


importantes: o ambiente de atmosfera agradável, com as ferramentas e mobiliários
adequados em tamanho e espaço, materiais especiais e, em terceiro lugar, o professor
que não dá ordens, nem se intromete, mas serve de auxiliar e guia” (p. 34).

Maria Montessori mantém-se intemporal no panorama da pedagogia atual,


estando o seu método sempre em crescimento por todo o mundo com a criação de
Escolas Montessori e produção de materiais adequados para crianças que podem ser
comprados e adquiridos em toda a parte. Desde jogos interativos a mobílias para
quartos infantis, Maria Montessori está cada vez mais presente no mundo atual,
perpetuando o seu legado e inspirando futuras gerações de educadores/as e
professores/as.

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2.3.3. Principais obras publicadas

O legado literário de Maria Montessori continua a permitir a aplicação e


desenvolvimento do seu método a nível mundial. Neste sentido, estas obras são
fundamentais para compreender a sua filosofia e os seus princípios práticos.

“O Método da Pedagogia Científica aplicado à educação de crianças na primeira


infância”, de 1909, apresenta as bases do seu método educacional, descrevendo os
princípios da sua pedagogia, destacando a importância da observação, liberdade
guiada e ambiente preparado na educação da criança. “A Descoberta da Criança”, de
1948, detalha as suas observações e descobertas ao longo dos seus anos de trabalho
prático com crianças e “A Mente Absorvente da Criança”, de 1949, explora o conceito
de “mente absorvente” na infância, destacando como é que as crianças absorvem
conhecimento sobre o seu próprio ambiente de forma inata.

Uma das suas principais obras intitulada “Educação para um Mundo Novo”, de
1946, (no pós-guerra) é enaltecido o papel da educação na construção de um mundo
pacífico e sustentável. Por fim, lançada postumamente, “A Formação do Homem”, de
1956, explora a educação para adolescentes e adultos, fornecendo as bases para que
o seu método seja aplicado não só durante a infância, mas ao longo da vida.

3. Reflexão Final

Este roteiro permitiu enaltecer os princípios base das pedagogias de Pestalozzi,


Freinet e Montessori. A escolha sobre estes três pensadores não foi feita de forma
aleatória – foi minuciosamente escolhida pelo caráter identificativo dos três – estando
o amor na sua génese. Enquanto futura docente do 1º e 2º ciclos do Ensino Básico,
tenciono inspirar-me todos os dias nestes, e noutros pensadores, que tanto lutaram e
afirmaram que a educação sem amor não é educação.

Embora com algumas divergências entre si, Freinet e Montessori inspiraram-se


em Pestalozzi pela sua forma de encarar a pedagogia infantil e no panorama atual
são perpetuados e estudados em todo o mundo (em especial Maria Montessori) pelo
olhar humano com que desenvolveram o seu trabalho ao longo da vida.

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Defendo que sem relação não há aprendizagem, o meu papel enquanto futura
docente é o de poder proporcionar o melhor ambiente e criar oportunidades para que
os meus alunos aprendam e se desenvolvam enquanto cidadãos e indivíduos –
respeitando as características e personalidades de cada um. O meu principal objetivo
é que um dia se recordem de mim, acima de tudo, pela pessoa que fui e por tudo o
que lhes proporcionei na transmissão de conhecimentos de e para a vida.

4. Bibliografia

Adorno, T. L., & Miguel, M. E. (2020). A Metodologia de Pestalozzi e o ideário da Escola


Nova. Acta Scientarum: História e Filosofia da Educação, 42, pp. 1-11.
Bonnefont, J., Falcone, C., Giagrandi, B., Mingo, G., Naretto, D., & Souper, C. (2017).
El Método Montessori. Santiago, Chile: Universidad Gabriela Mistral.
Cambi, F. (1999). História da Pedagogia. São Paulo: SP: Editora UNESP.
Claro, I. (Realizador). (2018). Pensadores na Educação: Montessori e a criança no
centro [Filme]. Obtido de
https://www.youtube.com/watch?v=LnLt24ypGDc&t=46s
Claro, I. (Realizador). (2019). Pensadores na Educação: Freinet e o ensino com base
nos interesses dos alunos [Filme]. Obtido de
https://www.youtube.com/watch?v=CbX8XX6tbmg&t=35s
Claro, I. (Realizador). (2019). Pensadores na Educação: Pestalozzi e a aprendizagem
pela afetividade [Filme]. Obtido de
https://www.youtube.com/watch?v=bYrgfYe8AJE&t=26s
Costa, M. S. (jul./dez. de 2001). Maria Montessori e seu método. Linhas Críticas, 7(13),
pp. 305-320.
Footlick, J. (1968). Uma nova era para a Educação. São Paulo: Bloch.
Freinet, C. (1974). O Jornal Escolar. (F. Q. Branco, Trad.) Editora Estampa.
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