Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
menos favorecidas. Propôs o trabalho/jogo como atividade fundamental,
com técnicas construídas com base na experimentação e documentação,
que dão à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e
desenvolver sua ação.
Freinet elaborou toda uma pedagogia com técnicas construídas com
base na experimentação e documentação, estas dão à criança instrumentos
para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. "O desejo de
conhecer mais e melhor nasceria de uma situação de trabalho concreta
e problematizadora. O trabalho de que trata aí não se limita ao manual,
pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora
adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não
um trabalho para brincar, assim como a organização escolar não deve
ser uma caricatura da sociedade"
Deu grande importância à participação e integração entre
famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de vista de que "se se
respeita a palavra da criança, necessariamente há mudanças".
Algumas técnicas da pedagogia de Freinet: o desenho livre, o texto
livre, as aulas-passeio, a correspondência interescolar, o jornal, o livro da
vida (diário e coletivo), o dicionário dos pequenos, o caderno circular para
os professores, etc. Essas técnicas têm como objetivo favorecer o
desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem (desenho, escrita,
gramática), da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais.
Porém, essas técnicas não são um fim em si mesmas, e sim, momentos de
um processo de aprendizagem, que ao partir dos interesses mais profundos
da criança, propicia as condições para o estabelecimento da apropriação do
conhecimento.
Freinet considerou a aquisição do conhecimento como
fundamental, mas essa aquisição deve ser garantida de forma
significativa.
Sua proposta pedagógica sempre aliou teoria e prática e é advinda
dos resultados obtidos das observações das aplicações de suas técnicas, das
reflexões teóricas elaboradas, tendo como ponto de partida essa prática que
foi constantemente recolocada em ação em diversas situações escolares.
Em sua proposta os instrumentos e os meios são importantes para
propiciar participação e interesse, são mediadores para liberar e despertar
o interesse para o trabalho. A experiência é a possibilidade para que a
criança chegue ao conhecimento. Assim, criação, trabalho e experiência, por
sua ação conjunta resultam em aprendizagem.
Freinet concebeu a educação como um processo dinâmico que se
modifica com o tempo e que está determinada pelas condições sociais.
Desta maneira, é preciso transformar a escola para adaptá-la à vida e
readaptá-la ao meio. Esta tarefa estaria nas mãos do professor, que obtém
sucesso quando toma consciência de que a educação é uma necessidade,
uma realidade.
Ele acreditou no poder transformador da educação, por isso propôs
uma pedagogia de busca e de experiências que eduquem profundamente.
Uma pedagogia que proporcione à criança o papel ativo de acordo com
seus interesses. O trabalho é algo que deve ser valorizado e praticado
cotidianamente. Sendo assim, a educação é uma preparação para a vida
2
social e aí está uma das razões de advogar o trabalho cooperativo como via
para transformar a sociedade e a natureza.
Podemos afirmar que Freinet foi um dos pedagogos
contemporâneos que mais contribuições ofereceu àqueles que atualmente
estão preocupados com a construção de uma escola ativa, dinâmica,
historicamente inserida em um contexto social e cultural.
Logicamente, nos termos da nossa realidade atual, podemos
levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais como:
uma visão otimista demais do poder de transformação exercida pela escola,
a identificação da dimensão social aos fatores de classe, deixando de fora
os aspectos discriminativos relativos a questões de cor e sexo, da proposta
do professor ser o "escriba" dos alunos, quando as investigações mais atuais
da psicolinguística nos levam para outra direção.
Sua proposta é centralizada na criança e baseada sobre alguns
princípios:
Técnicas Freinet
Aula passeio
Texto livre
Imprensa escolar
Correção
Livro da vida
Fichário de consulta
Plano de Trabalho
Correspondência interescolar
Autoavaliação
Aula Passeio
Por acreditar que o interesse da criança não estava na escola e sim
fora dela, Freinet idealizou esta atividade com o objetivo de trazer
motivação, ação e vida para a escola.
Texto Livre
É a base da livre expressão; pode ser um desenho, um poema ou
pintura. A criança determina a forma, o tema e o tempo para sua realização.
3
Porém, se a criança desejar que seu texto seja divulgado deverá passar pela
correção coletiva.
Imprensa Escolar
Seu ponto de partida são as entrevistas, pesquisas, vivências e aulas-
passeio. Freinet usava o limógrafo. Todo processo de construção e
impressão é coletivo.
Correção
Para o texto ser divulgado é necessário que esteja perfeito e a
correção é fundamental. Ela pode ser feita coletivamente, ou em
autocorreção. Freinet acredita que o "erro" deva ser trabalhado com a
criança para que ela perceba e faça o acerto.
Livro da Vida
Funciona como um diário da classe, registrando a livre expressão
(texto, desenho e pintura). Esta atividade permite que as crianças exponham
seus diferentes modos de ver a aula e a vida.
Fichário de Consulta
Põe à disposição da criança exercícios destinados à aquisição dos
mecanismos do cálculo, ortografia, gramática, história, ciências e etc. São
construídos em sala de aula pelos professores na interação com a turma.
Freinet criticava duramente os livros didáticos muitos fora da realidade da
criança.
Plano de Trabalho
Tendo o currículo escolar como ponto de partida, os grupos de
alunos se organizam para escolher as estratégias de desenvolvimento das
atividades que podiam ser realizadas em grupos, duplas ou individualmente.
Para registro do plano são elaboradas fichas nas quais são anotadas as
realizações da semana.
Correspondência Interescolar
É uma atividade em que a criança faz a aprendizagem da vida
cooperativa, uma classe se corresponde com a outra depois dos professores
terem se comunicado e organizado a forma. Podem enviar: cartas, textos,
fitas, desenhos, e é claro e-mails.
Autoavaliação
A criança registra o resultado do seu trabalho em fichas de
autoavaliação que permitem constantes comparações entre os trabalhos
realizados. Segundo Freinet o aluno e o professor devem se avaliar
regularmente.
4
Vygotsky
5
cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao
processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de
conhecimento que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida
cotidiana. Propôs uma visão de formação das funções psíquicas superiores
como internalização mediada pela cultura.
Suas concepções sobre o funcionamento do cérebro humano
colocam que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem
limites e possibilidades para o desenvolvimento do homem. Essas
concepções fundamentam sua ideia de que as funções psicológicas
superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da
história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as
funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações
conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de
aprendizagem.
Mediação - uma ideia central para a compreensão de suas
concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-
histórico é a ideia de mediação enquanto sujeito do conhecimento o
homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de
recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe.
Portanto, enfatiza a construção do conhecimento como uma interação
mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto
como uma ação do sujeito sobre a realidade, como no construtivismo, e sim,
pela mediação feita por outros sujeitos. O “outro social” pode apresentar-
se por meio de objetos, da organização do ambiente ou do mundo cultural
que rodeia o indivíduo.
Linguagem - sistema simbólico dos grupos humanos, representa
um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos,
as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são
socialmente formadas e culturalmente transmitidas. Portanto, sociedades e
culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.
Cultura - fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de
representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite
construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no
qual seus membros estão em constante processo de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significações.
Processo de internalização - fundamental para o desenvolvimento
do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma
atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade
interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.
Usou o termo função mental para referir-se aos processos de
pensamento, memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem
origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.
A interação social e o instrumento linguístico são decisivos para
o desenvolvimento.
Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados
por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a
criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a
capacidade de aprender com outra pessoa.
6
A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo
abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo
que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de
um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as
pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o
potencial) nas quais as interações sociais são centrais, estando então,
ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, interrelacionados;
assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em
matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.
O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de
internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura,
sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a
atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de
mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental.
Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma
conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais.
É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se internaliza
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de
conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que
caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano
individual interno - relações intra-pessoais.
Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional
desencadeia o processo ensino-aprendizagem.
O professor tem o papel explícito de interferir no processo,
diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por
imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar
avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona
proximal.
Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente
das interpretações das teorias de Vygotsky, a importância da atuação dos
outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo,
pois uma intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa
perspectiva, é essencial no processo de desenvolvimento. Isso nos mostra
os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o
objeto dessa intervenção: a construção de conceitos.
O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas aquele
que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como
valores, linguagem e o próprio conhecimento.
A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos
desenvolvidos no decorrer das interações sociais, diferenciam-se dos
conceitos científicos adquiridos pelo ensino, parte de um sistema
organizado de conhecimentos.
A aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos
internos na interação com outras pessoas.
Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o
aprendizado no sentido de adiantar o desenvolvimento potencial de uma
criança, tornando-o real. Nesse ínterim, o ensino deve passar do grupo para
o indivíduo. Em outras palavras, o ambiente influenciaria a internalização
das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que, o aprendizado gere o
7
desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se
por intermédio do aprendizado.
Vygotsky teve contato com a obra de Piaget e, embora teceu
elogios à ela em muitos aspectos também a criticou por considerar que
Piaget não deu a devida importância à situação social e ao meio. Ambos
atribuíram grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destacou
o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento
e aprendizagem, sendo chamado de sociointeracionista, e não apenas de
interacionista como Piaget.
Piaget colocou ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter
universal (de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky
destacou as contribuições da cultura, da interação social e a dimensão
histórica do desenvolvimento mental.
Mas ambos defenderam o construtivismo nas concepções do
desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentaram que a inteligência é
construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio.
Izabel Galvão
Biografia
9
produção com todos os livros voltados para a psicologia da criança. O
último livro “Origens do pensamento na criança’, em 1945.
Em 1931 viajou para Moscou e foi convidado para integrar o Círculo
da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o
objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as
possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência.
Neste grupo o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas
a corrente filosófica.
Em 1942 filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante.
Manteve ligação com o partido até o final da vida.
Em 1948 criou a revista ‘Enfance”. Neste periódico, que ainda hoje
tenta seguir a linha editorial inicial, as publicações servem como
instrumento de pesquisa para os pesquisadores em psicologia e fonte de
informação para os educadores.
Faleceu em 1962.
11
necessários e importantes para o desenvolvimento completo da
pessoa.
Psicologia Genética
Piaget
17
sua vez, se sustenta no respeito a si próprio e reconhecimento do outro
como ele mesmo.
A falta de consciência do eu e a consciência centrada na autoridade
do outro impossibilitam a cooperação, em relação ao comum, pois este não
existe. A consciência centrada no outro anula a ação do indivíduo como
sujeito. O indivíduo submete-se às regras, e pratica-as em função do outro.
Segundo Piaget este estágio pode representar a passagem para o nível da
cooperação, quando, na relação, o indivíduo se depara com condições de
possibilidades de identificar o outro como ele mesmo e não como si próprio.
(PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento. Porto: Rés Editora, 1978).
"Na medida em que os indivíduos decidem com igualdade -
objetivamente ou subjetivamente, pouco importa, - as pressões que
exercem uns sobre os outros se tornam colaterais e as intervenções da
razão, que Bovet tão justamente observou, para explicar a autonomia
adquirida pela moral, dependem, precisamente, dessa cooperação
progressiva.
De fato, nossos estudos têm mostrado que as normas racionais e,
em particular, essa norma tão importante que é a reciprocidade, não podem
se desenvolver senão na e pela cooperação. A razão tem necessidade da
cooperação na medida em que ser racional consiste em 'se' situar para
submeter o individual ao universal. O respeito mútuo aparece, portanto,
como condição necessária da autonomia, sobre o seu duplo aspecto
intelectual e moral. Do ponto de vista intelectual, liberta a criança das
opiniões impostas, em proveito da coerência interna e do controle
recíproco. Do ponto de vista moral, substitui as normas da autoridade pela
norma imanente à própria ação e à própria consciência, que é a
reciprocidade na simpatia." (Piaget, 1977:94). (PIAGET, Jean. O julgamento
moral na criança. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1977).
Como afirma Kamii, seguidora de Piaget, "A essência da autonomia
é que as crianças se tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas.
Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia
significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve
ser o melhor caminho da ação. Não pode haver quando alguém considera
somente o seu ponto de vista. Se também consideramos o ponto de vista
das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir, quebrar
promessas ou agir irrefletidamente"(Kamii C. A criança e o número.
Campinas: Papirus).
Kamii também colocou a autonomia em uma perspectiva de vida
em grupo. Para ela, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si
próprio. É o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos
outros. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes
para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade
quando se considera apenas o próprio ponto de vista.
Bibliografia
para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991).
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. São Paulo: Cortez,
2000.
OLIVEIRA, M. K. O problema a afetividade em Vigotsky. In: Dela la Taille, Piaget, Vigotsky e
Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro, Olympio – Unesco, 1973.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Vera Lúcia Camara Zacharias é mestre em Educação, Pedagoga, consultora educacional,
19