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FACULDADE MUNICIPAL DE PALHOÇA – FMP

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
Prática em Letramento
Mônica Teresinha Marçal

A PAIXÃO DE CONHECER O MUNDO

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

Jonathan Thiago Legovski

O livro “A paixão de conhecer o mundo”, de Madalena Freire – cuja obra pretendemos


sintetizar neste escrito – é certamente fascinante, ao passo que também se torna um convidativo
guia para análise, ou mesmo aplicação ressignificada.
A obra é composta pelos registros de Madalena Freire, feitos no início de sua atividade
docente, divididos em relatórios específicos e temporalmente situados, bem como pelos anexos
que mostram o desenvolvimento das atividades realizadas pelos grupos com os quais ela
trabalhou, considerando seu processo de alfabetização e construção de conhecimento. Tal
material aponta para o método aplicado em sua ação pedagógica, no qual ela busca
constantemente destacar as características próprias da faixa etária que está acompanhando.
Madalena assume, em sua prática docente, o papel de uma mediadora tomada pelo ardente
desejo de suprir tanto quanto possível, as necessidades daqueles que lhes foram confiados,
estimulando sua curiosidade e o convívio coletivo e fraterno.
Neste aspecto, a sala que acolhe o grupo de crianças é um espaço de partida para desenvolver
um estrito relacionamento entre professor e aluno, visando novos saberes, conforme sugerem
Jan W. Valle e David J. Conoor1 (2014, p. 102):
A construção do relacionamento com os alunos se desenrola ao longo do tempo.
Contudo, quando eles reconhecem que o professor prepara as aulas levando em
consideração, de modo respeitoso, os níveis individuais de conhecimento, os gostos,
os interesses, as capacidades e as carências, para proporcionar uma aula interessante,
envolvente e desafiadora, que ajude-os a progredir, então um senso de respeito mútuo
se desenvolve.

1
VALLE, Jan W.; CONOOR, David J. Ressignificando a deficiência: da abordagem social às práticas inclusivas
na escola. Porto Alegre: Penso, 2014. 240 p.
Dito isto, o leitor atento poderá perguntar-se: como é possível desenvolver tamanhas
qualidades com um determinado grupo de idade simular ou mesmo diferenciada?
Madalena Freire apresenta de modo concreto, a resposta para esta interrogação ao longo de
sua obra, elencando pontos chaves de seu método, que aliados com as intervenções
pedagógicas, formam um itinerário, desde a chegada/acolhida até a despedida de um dia em
sala, a saber:
• Momentos de conversas coletivas, onde cada um poderá expressar sua opinião sobre um
determinado tema, ou mesmo compartilhar alguma novidade. Este momento possibilita
conhecer os interesses das crianças para então organizar atividades que sejam
significativas e realizadas em grupo. Fora deste momento que se originou, exempli
gratia, o trabalho de pesquisa corporal com um pintinho que posteriormente culminou
na “visita” da galinha Genoveva.
• O momento do lanche é concebido como a atividade agradável e de partilha, onde é
possível se descontrair.
• O uso do parque não como um tempo ocioso, mas intencional, onde uma variedade de
interesses pode despertar graças ao auxílio do professor.
• Os espaços referenciais e organizacionais da sala, como o Atelier, espaço destinado para
a subjetividade, onde cada pode desenvolver suas atividades ou realizar pesquisas
segundo seus interesses; há ainda o espaço denominado Museu, onde se arquivam toda
sorte de material que pode ser empenhado nas atividades propostas. Fora nestes espaços
de referência que surgiram acaloradas conversas e aprendizagens sobre o
desenvolvimento de uma borboleta; sobre o funcionamento do sistema solar; sobre a
formação de um vulcão, bem como diálogos formativos sobre questões acerca da
sexualidade e reprodução humana.
A obra de Freire é ainda recheada de experiências práticas, como a visita ao Instituto
Butantã e posterior dissecação de uma cobra, bem como a visita na casa da Emili, onde
puderam construir uma cadeira de madeira. Outras ações ainda poderiam ser citadas, como
a abordagem enérgica, e ao mesmo educativa, mediante a ofensa que alguns alunos realizam
contra uma pessoa negra.
Por fim, consideramos que a obra aqui analisada, destaca-se no cenário acadêmico por
sua relevância teórica em comunhão com ações práticas concretas que servem de estímulo
e aprimoração para qualquer professor inquieto que frequentemente almeja repensar e
refletir sobre sua prática docente.

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