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A PAIXÃO DE CONHECER O MUNDO

Madalena Freire

A Paixão de Conhecer o Mundo

1. Introdução

Em seu livro A Paixão de Conhecer o Mundo (1991), Madalena Freire, filha do


renomado Paulo Freire detalha em cada relatório, simplesmente a base no exercício de
sua profissão: criatividade e construção. Criatividade, pois, todo desenvolvimento de
suas aulas, tinha como objetivo, o bom aproveitamento e crescimento intelectual
daquelas crianças.
E com isso ela adota uma forma diferente de trabalhar produção de texto,
linguagem oral, escrita e desenhos de forma investigativa e interpretativa. Estimula seus
alunos a pensar e ter uma visão de mundo amplo daquilo que estão acostumados a ver.
E seu objetivo mor é desenvolver nas crianças habilidades que possam construir seus
textos de acordo com sua realidade.
Em seu livro não há informações sobre a reação do corpo docente, ou seja, se
eles aplicavam, compreendiam ou apoiavam suas práticas, mas ao contar com a
interação entre os pais, alunos e professor, todo o resultado alcançado, foi gratificante,
fazendo valer qualquer esforço, trabalho e dedicação.

2. Relatórios

Madalena trabalha com um grupo de crianças com idade de 4 anos, ela afirma
que as crianças nesta faixa etária estão na fase do pensamento pré-operacional o que
significa ser egocêntricas onde tudo gira ao seu redor de forma que não consegue se por
no lugar do outro.
A autora segue a linha de pensamento de Piaget, pois segundo ele “ é por meio
de relações interpessoais repetidas, principalmente aquelas que incluem discussões
e discordâncias, que a criança é levada a tomar conhecimento do outro”. (pg. 20)1
Para Madalena, o professor tem que ter o compromisso de coordenar a conversa,
de problematizar as questões que surgem e desafiar o grupo a crescer e a ter
compreensão dos seus próprios conflitos. Partindo deste pressuposto o professor deverá
propor uma ação ao grupo exigindo o esforço individual de cada um e assim valorizar a
participação de todos.

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O interessante que ela relata vários acontecimentos em seu relatório, na primeira
instância fala da importância da rotina de trabalhos com o objetivo de situar as crianças
num espaço e num tempo definido além de concreto. A roda para ela é o momento em
que a criança dá sua opinião, discorda ou concorda sobre diversos assuntos. Portanto, é
uma forma de trazer a criança para conhecimentos entre si e professor, uma troca de
valores, pois cada criança tem suas estórias para contar.
Na hora do lanche como no parque, tem um ponto significativo, o objetivo é
explorar cada momento da criança, como, por exemplo, nesta hora a criança conversa,
ri, é o momento de descontração, de prazer, assim como no parque também trabalha
uma dinâmica a socialização com crianças de várias idades. A intenção é explorar as
riquezas de variedades e é nesse momento que o professor desenvolve atividades com as
crianças buscando o máximo de entendimento seja nas brincadeiras ou atividades
direcionadas.

(1)-FREIRE, Madalena. – A paixão de conhecer o mundo.– 8º ed. Rio de Janeiro - Ed. Paz e Terra, 1991
– Livro, página 20.

Madalena baseia-se nos conceitos de Piaget, no qual por meio do jogo


simbólico, do brincar a criança desenvolver a capacidade de representar como também
simbolizar onde apropria da realidade. E uma breve referência da autora Edda
Bomtempo (2009) a luz de Vygotsky diz que a “Linguagem e jogo simbólico são
expressões de um sistema mediado, no qual eventos internos, imagens ou palavras,
servem para orientar e dirigir o comportamento.” (64)2
. E a criança assimila a realidade
externa internalizando a sua realidade interna.
O pensamento da criança nesta idade (4 anos) está atrelado ao concreto, abstrai
suas ações sobre a realidade, e a partir dos 7 anos passa esta fase do concreto para o
abstrato, sendo capaz de operar a realidade mentalmente.
Ao longo das atividades, Madalena propicia as crianças meios que possam
conquistar a responsabilidade e suas dependências em relação a ela.
Destaca também a organização em geral, das atividades, da fila para lavar as
mãos antes de lanchar, do horário de trabalho, o objetivo desta organização é trabalhar a

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sequencia espaço-temporal por parte do grupo, pois a criança de 4 anos não entende o
tempo como uma linearidade de acontecimentos.
Outro fator importante na visão da autora é que as crianças têm potencialidades
de construírem seus próprios materiais didáticos, como brinquedos e com isso vão
desenvolvendo a organização do espaço escolar, quando a criança não localiza
determinado material ela cria e desenvolver suas atividades de acordo com o que tem.
Muitas estórias foram surgindo, tocadas, e produzidas desde Genoveva
(galinha), Naja, Tubarão Anequim, etc., foram ideias que apareceram a partir deste
contexto do toque, do sentir, foi assim que surgiu o “Nosso Livro de Estórias do Pré”.
Que por meio deste processo a criança saiba que o professor também precisa
estudar e entender o que pretende ensinar, como ela diz “professor não é dono da
verdade”. (pg. 45)3

2-KISHIMOTO, Tizuko M. – Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação (Org.), 12. ed. São Paulo:
Cortez, 2009 – Livro, página 64.
(3)-FREIRE, Madalena. – A paixão de conhecer o mundo. – 8º ed. Rio de Janeiro - Ed. Paz e Terra, 1991
– Livro, página 20.

Ao observar seus alunos, Madalena percebeu que eles não podiam se tocar, logo
no início das aulas. Depois, um aluno apareceu com uma revista de mulheres nuas na
sala de aula. A professora aproveitou este momento, para mostrar a eles, as diferenças
entre o menino e a menina, e logo mais, como os bebês nascem.
Os alunos foram instruídos a conviver em grupo, identificando a diferença de
cada um, sabendo que todos devem ser respeitados. Sua visão apurada permitia entender
que o conhecimento de mundo pressupõe a escrita, logo, mesmo que as crianças não
tivessem naquela fase, o domínio da escrita, ela alimentou toda sua curiosidade de
conhecer o mundo.
Ao contar uma estória sobre um grande tubarão, que mede aproximadamente 12
metros, chamado Anequim, elas ficaram tão admirados que tiveram vontade de
desenhá-lo, porém, como não cabia na sala, desenharam no muro do parque e mediram
os 12 metros, favorecendo assim a noção de medida e espaço.
Logo mais, mesmo que as crianças não soubessem ler, elas queriam saber qual o
dia da semana, para programar suas atividades, então, a professora se utilizou de

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símbolos para mostrar cada dia da semana. De segunda à sexta – feira, utilizam uma
bolinha para representar, e o final de semana, triângulos – sem que se dessem conta, já
estavam utilizando as formas geométricas.
Havia na sala, o cantinho das descobertas, a cada momento que um aluno
conseguia juntar as sílabas e descobrir uma nova palavra, ela deixava a palavra exposta
para todos contemplarem.
Madalena, também se utilizou do concreto para falar sobre as diferentes espécies
de animais, ao levar à sala de aula, uma galinha, onde todos a tocaram e estudaram os
aspectos do animal.
Depois, cada um trouxe o seu bichinho de estimação: gato, passarinho, e até
outros que encontraram pelo caminho ou no quintal de casa: borboleta, cobra, aranha.
A professora aproveitou mais uma vez destes momentos, para desde cedo,
trabalhar com a questão da pesquisa e autonomia em sala de aula.
Os alunos descobriram como funciona a metamorfose das borboletas, a diferença entre
uma cobra ou aranha venenosa.
Assim como, ela dá importância aos pais na escola, que haja esta cumplicidade,
para a criança é muito importante saber que seu pai está envolvido nos projetos da
unidade escolar, que o pai pode desenvolver qualquer atividade e que também tem
conhecimento, ou seja, uma troca de informação e esta ideia foi introduzida no ano de
1981 – Escola da Vila. Reportando para os dias de hoje as escolas trabalham em
parceria com os pais, claro que não é a mesma dimensão daquela época em que
Madalena relata.
Esta questão da criança pesquisar, levantar hipóteses e investigar faz com que
ocorra diálogo entre o grupo e o professor no decorrer dos trabalhos, essas buscas
manifesta o processo educativo como um ato de conhecimento.
Dentro de sua busca pelo conhecimento a autora trabalho muitos temas como
também descobertas como FIGURA-FUNDO atividades com técnicas de impressão. E
Gestalt em sua teoria fala sobre este assunto, e Madalena desenvolve textos a partir
dessa fundamentação, onde o fundo serve de apoio, isto é, uma moldura que enquadra e
determina a figura onde a criança descobre muitas coisas e descobre que pode
apresentar a ilusão de ótica de que o “céu vem até a terra”.
Dentre os processos avaliativos da Madalena ela chega a uma compreensão que
professor não alfabetiza sozinho. Na verdade o educador deve trabalhar a alfabetização
de modo que a criança faça suas próprias descobertas, atuando, pensando, pois para a

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autora a criança organiza dados sendo assim ela se alfabetiza. O diário a lição para as
crianças é um registro significativo, é um instrumento de extrema importância, portanto,
é por meio dele que ocorre o planejamento e avaliação das práticas dentro da sala de
aula.
Os pais se mostraram bastante satisfeitos e cooperaram muito, para este
momento tão importante na vida daquelas crianças e ao final, se maravilharam com o
orgulho que cada filho tinha em dividir tudo o que aprenderam.
Surpreenderam a muitos, que julgavam as crianças como se fossem tabulas
rasas, que de nada sabem ou são incapazes de entender os movimentos que ocorrem ao
seu redor. Tudo o que Madalena explorou em sala de aula e até mesmo em outros
espaços, fortificou mais uma vez, o entendimento de que o biológico tem que ser
respeitado. Mas o conhecimento não é restrito, a criança é suficientemente observadora
e por isso indaga sobre tantos assuntos, o segredo está na forma de conduzir o interesse
que elas trazem e a maneira de abordar.
Todo o processo de aprendizagem desperta uma busca pela curiosidade, intensa
e viva de entender e assimilar o mundo através do jogo dramático, cuja importância é
relevante para expressar-se cognitivamente e afetivamente e trabalhar as dificuldades,
como também favorece a compreensão dos códigos sociais. Para educação da pré-escola
o jogo é um eixo importante, como ferramenta de análise, ação e avaliação.
Na concepção de Madalena jogo é um dado avaliativo importante, porque
desenvolve a cooperação e conclui em bons resultados. Para alguns estudiosos como
Morchida, o jogo s possibilita regras e limites, além de desenvolver a criatividade da
criança quanto a resolver seus problemas.
A forma como Madalena conduziu o processo de aprendizagem, de produção de
textos, a preocupação em passar para as crianças que ela também precisava estudar,
tudo isso despertou na criança uma busca constante em querer descobrir novos
caminhos, e que esse mundo era muito pequeno e que poderiam conquistar o universo.
Para Madalena esse método de trabalhar só enriqueceu os valores das crianças,
pois elas com certeza aprendem e descobrem que podem ir além do que é trabalhado em
sala de aula.
Quando necessário, Madalena, não advertia as crianças de maneira direta, se
utilizavam de medidas simbólicas, para repreendê-las, fazendo-os internalizarem a
importância de um determinado conceito, e desta forma, todos eles foram conduzidos na
fase da pré-escola, favorecendo, todo um preparo para os desafios dos anos vindouros.

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Através de todo preparo nas propostas pedagógicas de Madalena, estas crianças tiveram
os seus “sapatinhos de algodão”, visto que no momento em que tivessem de fazer algum
cálculo, buscar informações sobre um determinado assunto, interpretar, e até o convívio
em sociedade, tudo isso ficou mais fácil.

3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky – Aprendizado e desenvolvimento. Um processo


sócio-histórico, 4ª ed. São Paulo: Editora Scipione. 2005.

KISHIMOTO, Tizuko M. – Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação (Org.), 12. ed.


São Paulo: Cortez, 2009

Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do


Desporto, Secretaria da Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, - Volume I e II,
1998.

FREIRE, Madalena. – A paixão de conhecer o mundo – 8º ed. Rio de Janeiro - Ed. Paz
e Terra, 1991 – Livro, página 20.

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