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INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ

CAMPUS URUÇUÍ
LABORATÓRIO DE ENGENHARIA
AGRÍCOLA - LEA
CURSO DE ENGENHARIA AGRONOMICA

APOSTILA DE HIDRÁULICA BÁSICA

Prof. Dr. Wesley Martins


Acadêmica: Maria Beatriz Soares Ferreira
Acadêmico: Francisco Magalhães

Professores Colaboradores
IFMS – Campus Ponta Porã:
Prof. Dr. Sérgio André Tapparo
Prof. Dr. Everton dos Santos de Oliveira

URUÇUÍ – PI
2021
Apostila elaborada para o EDITAL Nº 7843 DE 28 DE SETEMBRO DE 2020 –
PIBIC - IFPI - CONCESSÃO DE BOLSAS DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE
BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PIAUÍ - IFPI. PIBIC – IFPI / PROJETOS REMOTOS
Sumário
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................7
1.1. CONCEITO DE HIDRÁULICA ..................................................................................................9
1.2. SISTEMA DE UNIDADES ...................................................................................................... 10
1.3. PRINCIPAIS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FLUIDOS ............................................................. 12
1.3.1. Massa específica (densidade absoluta)....................................................................... 12
1.3.2. Peso específico .......................................................................................................... 13
1.3.3. Densidade relativa ..................................................................................................... 14
1.3.4. Viscosidade (atrito interno) ........................................................................................ 15
2. HIDROSTÁTICA .......................................................................................................................... 20
2.3. PRESSÃO DOS FLUÍDOS ...................................................................................................... 20
2.4. LEI DE PASCAL.................................................................................................................... 23
2.5. LEI DE STEVIN .................................................................................................................... 23
2.6. MEDIDORES DE PRESSÃO (MANÔMETROS)........................................................................ 24
2.6.1. Manômetro de coluna líquida: ................................................................................... 25
2.6.2. Manômetro metálico tipo Bourdon ............................................................................ 28
2.6.3. Manômetro Digital..................................................................................................... 29
2.7. EMPUXO............................................................................................................................ 30
2.8. TUBULAÇÕES ..................................................................................................................... 31
2.8.1. Introdução ................................................................................................................. 31
2.8.2. Tubulações ................................................................................................................ 31
2.8.3. Especificações de tubos ............................................................................................. 33
2.8.4. Processo de fabricação .............................................................................................. 35
2.8.5. Classificação dos Tubos .............................................................................................. 38
2.8.6. Classificação das conexões de tubulações .................................................................. 41
2.9. Válvulas: tipos e características.......................................................................................... 42
2.9.1. Tipos de válvulas ........................................................................................................ 43
3. HIDRODINÂMICA....................................................................................................................... 47
3.1. VAZÃO ............................................................................................................................... 47
3.2. REGIME DE ESCOAMENTO ................................................................................................. 48
3.3. NÚMERO DE REYNOLDS (ADIMENSIONAL) ......................................................................... 50
3.4. EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE ........................................................................................... 51
3.5. TEOREMA DE BERNOULLI PARA UM FLUIDO PERFEITO ...................................................... 52
3.6. EQUAÇÃO DE BERNOULLI PARA FLUIDOS REAIS ................................................................. 55
4. CONDUTOS FORÇADOS ............................................................................................................. 57
4.1. PERDA DE CARGA .............................................................................................................. 57
4.2. PERDA DE CARGA CONTÍNUA............................................................................................. 58
4.2.1. Camada limite: ........................................................................................................... 60
4.2.2. Número de Reynolds (Osborne Reynolds - 1883): ...................................................... 61
4.2.3. Perda de carga no regime laminar:............................................................................. 63
4.2.4. Perda de carga no regime turbulento: ........................................................................ 64
4.2.5. Fórmulas práticas:...................................................................................................... 69
4.3. PERDA DE CARGA LOCALIZADA .......................................................................................... 72
4.3.1. Método dos coeficientes (Teorema de Borda) ............................................................ 72
4.3.2. Método de comprimento equivalente........................................................................ 73
4.4. TEOREMA DE BERNOULLI PARA FLUÍDOS REAIS E PERDA DE CARGA .................................. 77
5. BOMBAS HIDRÁULICAS.............................................................................................................. 78
5.1. BOMBAS DE DESLOCAMENTO POSITIVO OU VOLUMÉTRICAS ............................................ 78
5.1.1. Bombas alternativas: ................................................................................................. 79
5.1.2. Bombas rotativas: ...................................................................................................... 80
5.2. TURBOBOMBAS ................................................................................................................. 80
5.2.1. Classificação .............................................................................................................. 80
5.2.2. Partes componentes de uma turbobomba ................................................................. 82
5.2.3. Partes principais ........................................................................................................ 82
5.2.4. Partes complementares ............................................................................................. 86
5.2.5. Terminologia.............................................................................................................. 88
5.2.6. Energia cedida ao líquido ........................................................................................... 89
5.2.7. Sucção ....................................................................................................................... 90
5.2.8. Potência..................................................................................................................... 91
5.2.9. Curvas características................................................................................................. 92
5.2.10. Cavitação ................................................................................................................... 95
5.2.11. Associação de bombas ............................................................................................. 100
5.2.12. Exemplo de dimensionamento ................................................................................. 108
6. CONDUTOS LIVRES .................................................................................................................. 113
6.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 113
6.2. ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DE UM CANAL...................................................................... 114
6.2.1. Principais elementos geométricos são:..................................................................... 115
6.2.2. Formas geométricas dos canais ................................................................................ 117
6.3. DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO .................................................................................. 119
6.3.1. Escoamento Permanente Uniforme nos canais ........................................................ 119
6.3.2. Movimento Permanente Variado nos canais ............................................................ 121
6.3.3. Velocidade de escoamento em canais ...................................................................... 122
6.4. DECLIVIDADES RECOMENDADAS PARA CANAIS................................................................ 123
6.4.1. Inclinações Recomendadas para os taludes dos canais ............................................. 123
6.4.2. Borda livre para canais ............................................................................................. 123
7. HIDROMETRIA ......................................................................................................................... 125
7.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 125
7.1.1. Definição ................................................................................................................. 125
7.1.2. Importância ............................................................................................................. 125
7.2. Medição de vazão em canais ........................................................................................... 126
7.2.1. Método direto ......................................................................................................... 126
7.2.2. Método da velocidade ............................................................................................. 126
7.2.3. Vertedouros............................................................................................................. 130
7.3. Calha ............................................................................................................................... 139
7.4.1. Medidor Parshall ........................................................................................................... 139
7.4.2 Calhas WSC Flume .......................................................................................................... 141
7.4. Medidores de vazão em tubulações ................................................................................. 142
7.5.1. Hidrômetros .................................................................................................................. 142
7.4.3. Tubo de Venturi ....................................................................................................... 143
7.4.4. Diafragma (Orifício).................................................................................................. 143
8. BARRAGENS DE TERRA ............................................................................................................ 144
8.1. Introdução ........................................................................................................................... 144
8.2. Principais elementos de uma barragem de terra................................................................... 145
8.2. Tipos de barragens .......................................................................................................... 146
8.3.1. Barragens simples:......................................................................................................... 146
8.2.3. Barragem com núcleo .............................................................................................. 147
8.2.4. Barragens de aterro homogêneo.............................................................................. 148
8.2.5. Barragem zonada ..................................................................................................... 148
8.3. Trincheiras de vedação e núcleo ...................................................................................... 149
8.4. Características hidrológicas ............................................................................................. 151
8.5.1. Bacia de contribuição .................................................................................................... 151
8.4.3. Regime dos recursos d'água ..................................................................................... 151
8.4.4. Método para determinação da vazão máxima:......................................................... 152
8.4.5. Coeficiente de escoamento superficial: .................................................................... 152
8.4.6. Tempo de Concentração .......................................................................................... 153
8.4.7. Intensidade de precipitação: .................................................................................... 153
8.4.8. Tempo de retorno: ................................................................................................... 154
8.5. Projeto de uma pequena barragem: ................................................................................ 154
8.6.1. Bacia de contribuição: ................................................................................................... 155
8.5.3. Regime do rio ou riacho ........................................................................................... 155
8.5.4. Escolha do local: ...................................................................................................... 156
8.5.5. Levantamento plani-altimétrico ............................................................................... 156
8.5.6. Volume de água armazenada ................................................................................... 157
8.5.7. Altura da barragem .................................................................................................. 158
8.5.8. Largura da crista ...................................................................................................... 159
8.5.9. Comprimento da projeção de taludes ...................................................................... 159
8.5.10. Cálculo do volume de terra ...................................................................................... 159
8.6.10. Extravasor ................................................................................................................... 160
8.6.11. Esvaziamento da represa ......................................................................................... 161
8.6.12. Tomada d’água ........................................................................................................ 162
8.7. Exemplos de dimensionamento ....................................................................................... 162
8.7.1. Volume total acumulado ............................................................................................... 163
8.7.2. Altura da barragem........................................................................................................ 164
8.7.3. Largura da crista ............................................................................................................ 164
8.7.4. Canal extravasor ............................................................................................................ 165
8.7.5. Desarenador .................................................................................................................. 167
8.7.6. Tomada d’água .............................................................................................................. 167
8.7.7. Volume do aterro .......................................................................................................... 168
7

1. INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural importante para qualquer atividade agrícola. É importante


que o profissional da área de ciências agrárias saiba utilizar este recurso com eficiência.
Para tanto o mesmo deve saber planejar e projetar estruturas de captação, condução e
armazenamento de água.
A importância da água na história da humanidade é identificada quando se observa
que os povos e civilizações se desenvolveram às margens de corpos d’água, como rios e
lagos.

Percentual
Percentual água
água doce
do planeta (%)
(%)
Oceanos/água salgada 97
Gelo permanente 1,7 69
Água subterrânea 0,76 30
Lagos 0,007 0,26
Umidade do solo 0,001 0,05
Água atmosférica 0,001 0,04
Banhados 0,0008 0,03
Rios 0,0002 0,006
Biota 0,0001 0,003
Tabela 1 – A água na Terra. (Gleick, 2000)

Em escala global, estima-se que 1,386 bilhões de km3 de água estejam disponíveis,
porém, a parte de água doce econômica de fácil aproveitamento para satisfazer as
necessidades humanas, é de aproximadamente 14 mil km 3.ano-1 (0,001%).

Figura 1 - Distribuição da água no planeta.

O Brasil é o país mais rico em água doce, com 12% das reservas mundiais. Do
potencial de água de superfície do planeta, concentram-se 18%, escoando pelos rios
8

aproximadamente 257.790 m 3.s-1. Apesar de apresentar uma situação aparentemente


favorável, observa-se no Brasil uma enorme desigualdade regional na distribuição dos
recursos hídricos (Figura 2).

Figura 2 - Recursos hídricos no Brasil.


Segundo o estudo da ANA, a demanda por uso de água no Brasil é crescente, com
aumento estimado de aproximadamente 80% no total retirado de água nas últimas duas
décadas. Até 2030, a previsão é de que a retirada aumente em 30%. A publicação informa,
ainda, que o histórico da evolução dos usos da água está diretamente relacionado ao
desenvolvimento econômico e ao processo de urbanização do País (Figura 3). Também são
mostrados os volumes que retornam ao meio ambiente, que são as vazões retiradas e não
consumidas.

Fonte: Agência Nacional de Águas 2017.

Figura 3 – Total de água consumida no Brasil (Média Anual)


9

1.1. CONCEITO DE HIDRÁULICA

Hidráulica é a ciência que trata das leis do equilíbrio e movimento dos líquidos e da
aplicação dessas leis à solução de problemas práticos.
Conceito: é o estudo do comportamento da água em repouso ou em movimento.
Atualmente o emprego mais amplo = é o estudo do comportamento da água e de
outros líquidos, quer em repouso, quer em movimento.
É a arte de captar, conduzir, elevar e utilizar a água, aplicando-lhe as leis da mecânica
dos líquidos.
Parte da Mecânica aplicada que estuda o comportamento da água e dos demais
líquidos em repouso ou em movimento, tratando ainda de estabelecer as respectivas leis.

Hidro cinemática → Velocidade e trajetória das partículas.


Hidráulica
Hidrostática → Líquido em repouso.
Teórica
Hidrodinâmica → Líquidos em movimento e forças envolvidas

Abastecimento de água
Urbana → Sistemas Esgotamento sanitário
Drenagem urbana

Irrigação
Rural ou Agrícola
Drenagem agrícola

Hidráulica
Aplicada Fluvial → Rios e canais
Marítima → Portos e obras marítimas
Prediais, industrias e hidrelétricas

Preservação dos habitats aquáticos


Meio Ambiente Dispersão de poluentes
Erosão, entre outros

Figura 4 – Divisões da Hidráulica


10

1.2. SISTEMA DE UNIDADES


Um sistema de unidades é caracterizado por um conjunto de unidades e regras que
as definam. O sistema internacional de unidades (S.I) possui sete unidades de base e, todas
as outras unidades são derivadas destas. O Brasil adota o sistema Internacional desde 1862,
que na época era denominado Sistema métrico Francês. A partir de 1954 o país tem sido
membro da convenção do metro. Após a 11ª conferência Geral de Pesos e Medidas – 1962-
o Brasil adota, oficialmente, o Sistema Internacional.
O S.I é formado por um conjunto de unidades, que são chamadas de: Unidades de
Base, Unidades Derivadas, Unidades Suplementares e uma série de prefixos.
Tabela 2 – Unidades de base, bem como a grandeza associada e o respectivo símbolo.

Grandeza Unidade Símbolo


Comprimento Metro m
Massa Quilograma Kg
Tempo Segundos s
Corrente elétrica Ampère A
Temperatura
Kelvin K
Termodinâmica
Quantidade de
Mol mol
matéria
Intensidade
Candela cd
Luminosa

Na Hidráulica o profissional irá trabalhar com inúmeras grandezas, portanto o domínio


das unidades e dos fatores de conversão é requisito básico para a elaboração dos projetos.
As principais grandezas são:
Tabela 3 – Principais grandezas e unidades utilizadas na Hidráulica.
Sistema Sistema
Grandeza CGS
Internacional Técnico
Comprimento m m Cm
Massa Kg utm G
Tempo s s S
Força N Kgf dina
Energia J Kgm erg
Potência W Kgm/s Erg/s
Pressão Pa Kgf/m² bária
Área m² m² Cm²
Volume m³ m³ Cm³
Vazão m³/s m³/s cm³/s
CGS é, assim, um acrônimo maiúsculo para centímetro–grama–segundo
11

Dentre as grandezas citadas as mais utilizadas serão:


- Unidades de pressão:
1 atm = 101.396 Pa = 10.336 kgf/m2 = 1,034 kgf/cm2 = 760 mmHg = 10,33 mca
- Unidades de vazão:
1 m3/s = 3.600 m3/h = 1.000 L/s = 3.600.000 L/h
Observação: A passagem de um sistema ao outro é feita pela aplicação da segunda
lei de Newton (F = m x a), estabelecendo dessa maneira que:
1 N = 1 kg.m/s²
1 Kgf = 9,81 N
1 utm = 1 kgf.s²/m
1 utm = 9,81 kg

Exercício: Transformar 0,015 m3/s para m3/h, L/s e L/h.


Resposta: 54 m3/h, 15 L/s e 54.000 L/h
12

1.3. PRINCIPAIS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FLUIDOS


O fluido é uma substância que se deforma continuamente quando submetido a uma
tensão de cisalhamento. Modalidade da matéria que compreende líquidos e gases.
Líquido: fluido com volume definido, praticamente incompressível e forma
indefinida (tomam a forma do recipiente em que está)
Gás: fluido com volume e forma indefinidos. Variam o volume sob variações de
pressão (compressível).
Na maioria das aplicações dentro das ciências agrárias o fluído utilizado será a água.
Entretanto, o profissional pode vir a trabalhar com outros tipos de fluídos, como por exemplo:
óleos, mercúrio, glicerina, ou algum subproduto da agroindústria.

Observação: Hipótese do contínuo despreza-se o espaçamento e a atividade


intermoleculares. Considera-se “meio contínuo” não há vazios (suposições).

Os fluídos podem ser caracterizados pelas suas propriedades. As principais são:

1.3.1. Massa específica (densidade absoluta)


Quantidade de matéria contida na unidade de volume de uma substância qualquer.
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑚
𝜌= =
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑣
Sendo:
ρ= massa específica;
m = quantidade de fluido (matéria)
v = volume do fluído

SISTEMA UNIDADE
Sist. Internacional (SI) ρ = kg m-3
CGS ρ = g cm-3
ρ = UTM/m3 ou kgf
Sist. Técnico
s2/m4
13

Tabela 4 – Variação da massa específica (ρ) da água com a temperatura


Temp. Massa específica Temp. Massa específica
-
kgf.s².m
°C kg.m-3 4 °C kg.m-3 kgf.s².m-4
0 999,87 101,93 36 993,72 101,3
2 999,97 101,94 38 992,99 101,23
4 1.000,00 101,94 40 992,24 101,15
6 999,97 101,94 42 991,47 101,07
8 999,88 101,93 44 990,66 100,99
10 999,73 101,91 46 989,82 100,9
12 999,53 101,89 48 988,96 100,81
14 999,27 101,87 50 988,1 100,73
16 998,97 101,84 55 985,7 100,48
18 998,62 101,8 60 983,2 100,23
20 998,23 101,76 65 980,6 99,96
22 997,8 101,72 70 977,8 99,68
24 997,32 101,67 75 974,9 99,38
26 996,81 101,6 80 971,8 99,07
28 996,26 101,56 85 968,7 98,75
30 995,67 101,5 90 965,3 98,4
32 995,05 101,44 95 961,9 98,06
34 994,4 101,37 100 958,4 97,7
Fonte: BASTOS, F.A.

Exemplos:
a) massa específica da Água (4ºC)
ρ = 1 g/cm3 (Sistema C.G.S.)
ρ = 1000 kg/m3 (Sistema Internacional – S.I.)
ρ = 101,94 UTM/m3 ou kgf s2/m4 (Sistema Técnico)

b) massa específica do Mercúrio (Hg)


ρ = 13.595,1 kg/m3 ( Sistema Internacional – S.I.)
ρ = 1.385,84 UTM/m3 ou kgf s2/m4 (Sistema Técnico )

1.3.2. Peso específico


É o quociente entre o PESO de um dado fluido e o VOLUME que o contém.
É o peso da unidade de volume.
14

𝑊 𝑚 . 𝑔
Υ= ou Υ= → Υ = 𝜌. g
𝑉 𝑉

Sendo:
ϒ = peso específico
W = peso do fluido (W = m . g)
V = volume correspondente do fluido
g = aceleração da gravidade

SISTEMA UNIDADE
Sist. Internacional
γ = N m-3
(SI)
Sist. Técnico γ = kgf/m3

Exemplos:
a) Peso específico da Água (4ºC):
ϒ = 9.806,65 N/m3 (Sistema Internacional – S.I.)
ϒ = 1.000 kgf/m3 (Sistema Técnico)

b) Peso específico do Mercúrio (Hg):


ϒ = 133.368 N / m3 (Sistema Internacional – SI)
ϒ = 13.595,1 kgf / m3 (Sistema Técnico)

Observação: Variação das propriedades com a temperatura. Aumentando a


temperatura do fluído, aumenta o volume. Diminuindo a massa e aumentando
o volume, diminui ρ e ð.

1.3.3. Densidade relativa


É a relação entre a Massa específica (ρ) de uma substância e a Massa específica
(ρ1) de outra substância, tomada como referência:

𝜌 𝜌 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝜌 𝐺á𝑠
𝛿= = =
𝜌1 𝜌 𝑑𝑎 á𝑔𝑢𝑎 𝜌 𝑎𝑟
15

Onde:
δ = Densidade (adimensional).
ρ = Massa específica do fluido em estudo.
ρ1 = Massa específica do fluido tomado como referência. (No caso de líquidos,
utiliza-se a água a 4ºC (ρágua 1000 kg.m-3 no SI. = 102 kgf s2.m-4 no Sist. Técnico); no
caso de gases utiliza-se o ar a 0ºC como referência (ρar 1,29 kg.m-3 no SI. = 0,132 kgf
s2.m-4 no Sist. Técnico).

Observação: Adota-se a mesma unidade para ρ e ρ1

Tabela 5 – Densidade (δ) de alguns líquidos em relação a água a 4ºC


Líquido Densidade (ᵟ) Líquido Densidade (ᵟ)
Água a 4 °C 1 Melado 1,4 a 1,5
Acetona 0,79 Mercúrio 13,59 a 13,65
Álcool etílico 0,79 Óleo combustível 0,865 a 0,918
Azeite 0,92 Óleo de algodão 0,88 a 0,90
Benzina 0,68 a 0,70 Óleo de mamona 0,96
Cerveja 1,03 Óleo de soja 0,93 a 0,98
Gasolina 0,66 a 0,74 Óleo diesel 0,82 a 0,96
Glicerina 1,26 Óleo lubrificante 0,88 a 0,935
Glicose 1,35 a 1,44 Petróleo 0,88
Gordura de porco 0,96 Querosene 0,70 a 0,80
Leite 1,02 a 1,05

Tabela 6 – Densidade (δ) de alguns gases em relação ao ar atmosférico a 0ºC


Gás Densidade Gás Densidade
Acetileno 0,91 Metano 0,55
Amoníaco 0,6 Nitrogênio 0,97
Anidro carbônico 1,54 Oxigênio 1,11
Cloro 2,49 Vapor-d`água 0,62
Hélio 0,14 Vapor de álcool 1,59
Hidrogênio 0,07 Vapor de mercúrio 6,99

1.3.4. Viscosidade (atrito interno)


É a propriedade dos fluidos responsável pela resistência ao deslocamento
(deformação), ou seja, resistência ao deslocamento de camadas de moléculas líquidas,
umas sobre as outras.
16

Figura 5 – Representação da viscosidade.

Exemplo: O óleo lubrificante escoa mais lentamente que a água ou álcool.

➢ Implicação:
Em consequência da viscosidade, o escoamento de fluidos dentro das canalizações
somente se verifica com “PERDA “de energia, perda essa designada por “PERDA DE
CARGA”).
Exemplo: Considere duas placas (uma móvel e outra fixa) de áreas “A”, separadas
entre si de uma distância “Y”, imersas em um fluído. Aplicando-se uma força “F” à placa
móvel, esta irá se locomover com uma velocidade “v” (figura 6).

Perspectiva Vista lateral

Figura 6 – Representação esquemática da resistência oferecida pela viscosidade.

➢ Força de cisalhamento (F):


𝐴. 𝑣
𝐹 = µ.
𝑦
Sendo:
F = força de cisalhamento, (kgf)
17

μ - coeficiente de proporcionalidade (viscosidade), (kgf.s.m -2);


v = velocidade, (m.s-1);
A = área (m2);
Y = distância entre placas, (m).

➢ Viscosidade Dinâmica (μ)

✔ A viscosidade dinâmica representa a força por unidade de área necessária ao


arrastamento de uma camada de um fluído em relação à outra camada do
mesmo fluido;
✔ Água (20ºC): 1,01.10-3 N.s.m-2

Sistema: Unidade:
Sist. Internacional (S.I). N.s.m-2 ou kg.m-1.s-1
Sist. Técnico kgf.s.m-²

➢ Viscosidade Cinemática (ν)

✔ A viscosidade cinemática representa a razão entre a viscosidade dinâmica e a


massa específica do fluído;
µ
𝑣=
𝜌
✔ Água (20ºC): 1,01.10-6 m2.s-1.
Sistema: Unidade:
Sist. Internacional
m². s-1
(S.I.).
Sist. Técnico m². s-1

✔ A viscosidade é medida pelo equipamento denominado VISCOSÍMETRO.

➢ Coesão e Adesão
Coesão: é a força de atração entre as moléculas de um líquido e as paredes do sólido
em contato. Esforços de adesão verificam-se entre moléculas de duas substâncias
diferentes.
18

Adesão: Propriedade que as substâncias possuem de se unirem a outras de mesma


natureza.

Figura 7 – Representação da coesão e da adesão.

OBS: Quando a força de adesão for maior que a força de coesão, o líquido molha a
superfície sólida (Figura 7, b). Já no caso em que a força de coesão for maior que a força de
adesão, a tendência é de o fluído não molhar a superfície do sólido (Figura 7, a).

➢ Tensão Superficial
É o fenômeno que se verifica na superfície de separação de dois fluidos não miscíveis,
a qual se comporta como se estivesse num estado de tensão uniforme, dando a impressão
de haver uma película que pode suportar pequenas cargas.
A intensidade dessa tensão depende da natureza dos fluidos em contato e da
temperatura, sendo que a tensão superficial diminui à medida que a temperatura aumenta.
A tensão superficial é representada por uma força (σ) que atua por unidade de
comprimento da interface considerada.

Figura 8 – Representação da tensão superficial.

➢ Capilaridade
Consequência da tensão superficial, coesão e adesão.
Quando um líquido está dentro de um tubo de pequeno diâmetro, a tensão superficial
provoca uma curvatura na superfície do líquido devido a capilaridade.
19

Figura 9 – Representação da capilaridade.

Dois casos podem ocorrer:


1) Líquido molha a parede do conduto (adesão > coesão): Neste caso há elevação
da coluna líquida. O menisco formado é côncavo.

Figura 10 – Elevação de um fluído em um tubo capilar.

2) Líquido não molha a parede do conduto (adesão < coesão). Há uma depressão
da coluna líquida. O menisco é convexo.

Figura 11 – Descensão de um fluído em um tubo capilar


20

2. HIDROSTÁTICA
A Hidráulica teórica pode ser dividida em Hidrostática e Hidrodinâmica. Iremos
abordar aspectos importantes sobre a água em repouso (Hidrostática). O mesmo servirá de
base para o estudo da Hidráulica aplicada. Abordaremos pressão dos fluidos, Lei de Pascal,
Lei de Stevin, escalas de pressão, medidores de pressão e empuxo.

2.3. PRESSÃO DOS FLUÍDOS


Para expressar a pressão de um fluído podemos utilizar duas escalas:
✔ Pressão manométrica: pressão em relação à pressão atmosférica
✔ Pressão absoluta: pressão em relação ao vácuo absoluto.
Na hidráulica normalmente são utilizadas pressões manométricas, pois a Patm atua
em todos os pontos a ela expostos, de forma que as pressões acabam se anulando.

Figura 12 – Atuação da pressão atmosférica.

Todo e qualquer fluido exerce pressão sobre as superfícies. Pressão pode ser definida
como:
𝐹𝑜𝑟ç𝑎 𝐹
𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = → 𝑃=
Á𝑟𝑒𝑎 𝐴

Onde:
F = Peso específico da água; massa específica x g → γ = ρ.g (Unidade: N.m-3)
Unidades: Pa (N/m2); kgf.cm-2; m.c.a
Observação: F = m.a, P = m.g; γ = ρ.G
Água: γ = 9.810 N.m-3 = 1.000 kgf.m-3
21

Exemplo: Desprezando-se o peso da caixa, determinar a pressão exercida sobre o


apoio:

P = F/A
F = Peso da água
F = γ . volume = 9810 N.m-3 . (1,25 x 1,0 x 0,8) = 9810 N
Pressão = 9810 N / 1,25 m2 = 7848 Pa = 0,8 mca

O valor da pressão atmosférica normal (ao nível do mar) é:


10.328 kgf.m-2 = 1,033 kgf.cm-2 = 760 mm Hg = 1 atm

A atmosférica técnica (simplificação) vale:


10.000 kgf.m-2 = 1,0 kgf.cm-2 = 10 mca. = 760 mm Hg = 1 atm

Tabela 7 - Conversão de Unidades

A pressão atmosférica varia de local para local, isso depende da altitude do lugar. O
valor da pressão atmosférica diminui quando a altitude aumenta, 1 mm para cada 15m de
aumento de altitude.
22

Exemplo: Um local em que a altitude é de 900 m, a pressão atmosférica é de?


900/15 = 60 → a pressão deve diminuir 60 mm Hg
PA = 760 – 60 = 700 mm Hg
Ou (por regra de três)

760 mm Hg → 10.328 kgf.m-2 760 mm Hg → 1.033 kgf.cm-2


700 mm Hg → X 700 mm Hg → X
X= 9.513 kgf.m-2 X= 0,951 kgf.cm-2

Definições:
✔ Pressão absoluta PA (vácuo) é a medida da pressão tomando como referência o
vácuo absoluto.
✔ Pressão efetiva PE (pressão atmosférica) é a medida de pressão tomando como
referência a pressão atmosférica.
Observação: A pressão efetiva pode ser negativa, quando a pressão efetiva for
menor que a pressão atmosférica (PE < PA), nula quando a pressão efetiva for igual a pressão
atmosférica (PE = PA) e positiva quando a pressão efetiva for maior que a pressão
atmosférica (PE > PA).
Pressão Absoluta = Pressão Efetiva + Pressão Atmosférica

Figura 13 – Escalas de pressão.


Ponto 1: Pressão manométrica positiva
Ponto 2: Pressão manométrica nula
Ponto 3: Pressão manométrica negativa
23

2.4. LEI DE PASCAL

Segundo Pascal, "em qualquer ponto no interior de um líquido em repouso, a pressão


é a mesma em todas as direções”.
Para a dedução da expressão desta lei seguimos os seguintes passos:
✔ Considerando um corpo em repouso com formato de cunha e largura unitária:

Px = Py = Pz

Figura 14 – Representação da lei de


Pascal

2.5. LEI DE STEVIN

Segundo Stevin “a diferença de pressão entre dois pontos de uma mesma massa
líquida é igual à diferença de profundidade entre eles multiplicada pelo peso específico da
fluído”.
Para a dedução da expressão desta lei seguimos os seguintes passos:

Figura 15 – Representação da lei de Stevin.

P2 – P1 = γ . (Z2 - Z1)
P2 – P1 = ρ . g . (Z2 - Z1)

Ou seja
A pressão exercida em P2 > P1.
24

Quando Z1 = 0:

P2 = γ . Z2 – Z1
P2 = ρ . g . Z2 – Z1
Ou seja:
P2 = γ . Z2
P2 = ρ . g . Z2

Exemplo: Determine a pressão sobre um ponto situado a uma profundidade de 30 m.


(ρ = 1.000
Kg.m-3; g = 9,81 m.s-2)

P=ρ.g.h
P = 1000 . 9,81 . 30
P = 294.300 Pa
P = 30 mca
Exercício: Um manômetro situado no fundo de um reservatório de água registra uma
pressão de 196.200 kPa. Determine a altura da coluna de água no reservatório. (ρ = 1.000
kg.m-3; g = 9,81 m.s-2). Resposta: 20 m

2.6. MEDIDORES DE PRESSÃO (MANÔMETROS)

Existem diversos equipamentos que podem ser utilizados para medir pressão.
✔ Manômetro: instrumento usado para medir a “pressão efetiva”.
✔ Vacuômetro: instrumento que indica as “pressões negativas”, bem como as
positivas e nulas.
✔ Piezômetro (manômetro): tubo aberto em uma das extremidades em contato com
a atmosfera (manômetro de coluna líquida e o fluido manométrico é o próprio
fluido em estudo).
25

Classificação dos manômetros:


✔ Manômetro de coluna líquida;
✔ Manômetro metálico.

2.6.1. Manômetro de coluna líquida:

São tubos transparentes, em forma de “U”, com líquidos manométricos. Para grandes
pressões utilizam-se o mercúrio (Hg), para pequenas pressões utiliza-se líquidos de
pequenas densidades.

✔ Manômetro Simples (mesmo líquido)

Figura 16 – Manômetro Simples

Onde:
PC = σ . h PC = pressão em C.
σ = densidade do fluído
h = altura do fluído

✔ Manômetro com mercúrio

Figura 17 – Manômetro de coluna de mercúrio


26

Sendo:
PC = pressão em C.
PC + h2.σc = h1.σHg σHg = densidade do mercúrio
PC = h1.σHg - h2.σc σc = densidade do fluído
h = altura do fluído

✔ Manômetro Diferencial:
Utilizado para medir a diferença de pressão entre dois pontos.

Figura 18 – Manômetro diferencial.

Sendo:
PB + h1.σB - h2.σHg - h3.σc = PC PB = pressão em B.
PB - PC = (h2.σHg + h3.σc) - h1.σB PC = pressão em C.
σHg = densidade do mercúrio
σB = densidade do fluído
σc = densidade do fluído
h = altura do fluído
27

✔ Manômetro de mercúrio ligado a um reservatório

Figura 19 – Manômetro de coluna ligado a um reservatório.

PB = PC + h1.σ Sendo:
PB = pressão em B.
PB’ = hHg.σHg PC = pressão em C.
σHg = densidade do mercúrio
PB = PB’ σB = densidade do fluído
hHg.σHg = PC + h1.σ σc = densidade do fluído
h = altura do fluído
PC = hHg.σHg - h1.σ

✔ Manômetro de mercúrio ligado a uma bomba

Figura 20 – Manômetro de coluna ligado à tubulação de sucção.

PB = PB’ Sendo:
PC = pressão em C.
PC = - (hm.σm + hC.σC) σm = densidade do mercúrio
σc = densidade do fluído
h = altura do fluído
Observação: o sinal negativo, indica a existência de pressão inferior à pressão
atmosférica em C.
28

✔ Micrômetro
Utilizado para medida de pressões pequenas, inclina-se o tubo manométrico, de
modo a fazer um ângulo “α” com a horizontal, aumentando, assim, a precisão na leitura da
altura manométrica.

Figura 21 – Manômetro inclinado.

h = L. sem α
P = σ.L. sem α

2.6.2. Manômetro metálico tipo Bourdon

São mais utilizados, principalmente, para pressões elevadas. O manômetro analógico


tipo Bourdon é o mais utilizado na agricultura.
Serve para medir pressões manométricas positivas e negativas, quando são
denominados vacuômetros.
Os manômetros normalmente são instalados diretamente no ponto onde se quer
medir a pressão.
Ocasionalmente, para facilitar as leituras, o manômetro pode ser instalado a alguma
distância, acima ou abaixo, do ponto cuja pressão se quer conhecer. Se o manômetro for
instalado abaixo do ponto, ele medirá uma pressão maior do que aquela ali vigente; se for
instalado acima ele medirá uma pressão menor.
29

Figura 22 – Manômetro metálico.

2.6.3. Manômetro Digital


O manômetro digital possibilita uma leitura precisa, porém de custo elevado.
As mesmas considerações sobre o manômetro metálico, com relação ao ponto de
medição, servem para os digitais.

Figura 23 – Manômetro digital.


30

2.7. EMPUXO
Um corpo total ou parcialmente imerso em um fluido, recebe dele um empuxo igual e
de sentido contrário ao peso do fluído deslocado pelo corpo e que se aplica no seu centro
de gravidade.
A pressão exercida pelo fluido em sua base inferior é maior do que a pressão que o
fluido exerce no topo do corpo, portanto existe uma resultante das forças verticais, dirigida
de baixo para cima, denominada empuxo (E).

Figura 24 – Representação do Empuxo.

E = P2.A – P1.A
Pela Lei de Stevin:
P2 – P1 = m . g . h
Logo:
E = A (P2 – P1)
E=A.m.g.h
Como V = A . h
E=m.g.V
Onde:
m – massa do fluido
g – gravidade
V – volume do objeto

Onde, m.g.V representa o peso do fluído deslocado pelo corpo submerso.


31

2.8. TUBULAÇÕES

2.8.1. Introdução

A escolha correta do material da tubulação a ser utilizado em cada parte ou unidade


do sistema de irrigação deve ter como objetivo reduzir o custo total do sistema, seja pela
diminuição dos custos de investimento, seja pelo aumento da vida útil, pela economia do
custo operacional (energia), para permitir o máximo rendimento do sistema de
bombeamento.
Com tudo, para um bom dimensionamento hidráulico de sistemas de recalque e
condução de água torna-se necessário conhecer as características das tubulações e seus
acessórios.
A relação “perda de energia e fatores inerentes a cada tipo de material utilizado na
fabricação”. Importância da eficiência da condução:
Internas (pressão e velocidade);
Externas (cargas, intempéries).
Tubulações são tubo ou peça, normalmente cilíndrica, de comprimento limitado pelo
fabricante ou conduto constituído de vários tubos.

2.8.2. Tubulações

A tubulação pode ser definida como o conjunto de tubos, acessórios, válvulas e


dispositivos empregados para viabilizar a irrigação. Os tubos, também conhecidos
popularmente como canos, por onde se movimenta a água a ser transportada e distribuída
nos sistemas hidráulicos. Quando conectados, os tubos se transformam em uma rede ou
sistema de tubos, também denominados de tubulações ou encanamentos. As tubulações
podem ser classificadas de acordo com o tipo de função que elas têm dentro do sistema.

Tubulações de transporte: promove o transporte da água entre a captação e as


tubulações de distribuição de um sistema. Também são denominadas de adutoras,
compreendendo desde a tubulação de sucção até a linha de recalque. Além dessas
tubulações, podem ser incluídos nessa classificação os drenos tubulares enterrados, quando
existem sistemas de drenagem associados ao de irrigação.
Tubulações de distribuição: constituída pelas tubulações ou ramais responsáveis
pela distribuição da água na área. Como exemplo desse tipo de tubulação, têm-se as linhas
32

laterais de irrigação por aspersão ou localizada e também a linha de distribuição de um pivô


central.

Figura 25 - Esquema de uma tubulação em pivô central, identificando os tipos de tubulações nesse sistema
de irrigação com as correspondentes terminologias.

Uma rede de tubulações deve suportar todas as demandas hidráulicas do sistema,


permitindo a distribuição adequada da água ao longo da área, no volume e na pressão
desejada.
A integridade do dimensionamento de um projeto de irrigação pode rapidamente ser
comprometida pela escolha do material a ser utilizado e na qualidade de sua instalação.
Tabela 8 - Principais materiais de fabricação para tubos

Material Classificação Tubos


Aço-carbono
Ferrosos (ligas de ferro e
Aço inoxidável
carbono)
Ferro fundido
Métalico
Não ferrosos (Metais ou
ligas sem ferro ou em Alumínio
baixa quantidade)

Não Cloreto de polivinila (PVC)


Plásticos
metálico Polietileno (PE)
(Adaptado de SENAI/CST, 1996).
Para fins de selecionamento correto da tubulação a ser utilizada em sistemas de
irrigação, é preciso ter bom conhecimento dos materiais construtivos dessas tubulações e
suas características físicas, químicas e mecânicas.
33

2.8.3. Especificações de tubos

As Normas Brasileiras requerem que, dependendo do tipo de material de fabricação,


todo tubo deve ser designado por um número denominado diâmetro nominal (DN) ou
diâmetro de referência (DR), que não tem correspondência com dimensões físicas do tubo;
é usado somente como forma de classificar em dimensões (tubos, juntas, conexões e
acessórios) e para indicar ou especificar o material para comercialização, correspondendo
aproximadamente, ao diâmetro interno dos tubos em milímetros.
Basicamente, as dimensões características de um tubo são: diâmetro externo (de);
diâmetro interno (di); sua espessura (e) (Figura 8).

Figura 26 – Dimensões características de um tubo.

O diâmetro externo (de) em milímetro (mm) é utilizado para classificar em dimensões


as tubulações, juntas, conexões e acessórios. A espessura de parede (e) é a menor
espessura, em milímetros, medida no perímetro em uma seção qualquer do tubo. O diâmetro
interno (di) é utilizado nos cálculos hidráulicos de perda de pressão dos tubos, sendo igual
à subtração do dobro da espessura do diâmetro externo, de acordo com a Equação 1:
di = de - (2 x e)
Sendo:
de = diâmetro externo (mm)
di = diâmetro interno (mm)
e = espessura de parede (mm)
Além das dimensões, os tubos comercializados no Brasil devem ser identificados pela
sua classe de pressão caracterizada pelo valor da pressão nominal (PN), que corresponde
à máxima pressão que o fluido dentro da tubulação pode exercer continuamente sem que
as paredes da tubulação venham a se romper.
34

Esse parâmetro, definido por norma, é considerado como a máxima pressão de água
que os tubos, conexões e respectivas juntas podem ser submetidos em serviço contínuo,
nas condições de temperatura de operação de até 25 °C.
Pelas normas brasileiras, o número da pressão nominal de um tubo, significa sua
máxima pressão admissível nas unidades de m.c.a. (metros de coluna de água). Por
exemplo, um tubo identificado como PN 40 a máxima pressão admissível é de 40 mca ou de
4,0 kgf.cm-2.
Para cada material de fabricação, um tubo com mesmo diâmetro nominal (DN) pode
ter comercialmente diferentes pressões nominais (PN) em função da espessura da parede.
Por exemplo, um tubo de PVC com PN 40 tem a espessura de 1,2 mm, enquanto outro de
PN 80 possui 1,9 mm de espessura. Ou seja, quanto maior a PN para o mesmo diâmetro,
maior é a espessura do tubo.
O valor da PN é correspondente ao valor da pressão hidrostática interna quando a
tensão circunferencial (σ) assume o valor da máxima tensão admissível de tração, na direção
circunferencial, para o material do tubo, sem ocorrer a ruptura de sua parede. O valor da
tensão circunferencial admissível máxima é determinado experimentalmente para os
diferentes materiais de fabricação de tubos. Dessa forma, a Pressão Nominal pode ser
calculada pela Equação, readequando a equação anterior para:

2𝑥𝜎𝑥𝑒
𝑃𝑁 =
(𝑑𝑒 − 𝑒)

Onde:
σ = tensão circunferencial em MPa
P = pressão interna em MPa
de = diâmetro externo médio (mm)
e = espessura mínima de parede (mm)

Como exemplo de aplicação dessa equação, pode-se considerar um tubo de PVC


com DN 50 (diâmetro nominal), diâmetro externo de 50,5mm e 1,9 mm de espessura de
parede. Assumindo um valor de tensão circunferencial admissível (σ) para o PVC de 100 kgf
cm-2 ou 9,8 MPa, o valor da Pressão Nominal desse tubo é de:
35

2 𝑥 9,8 𝑥 1,9 37,24


𝑃𝑁 = = = 0,77 𝑀𝑃𝑎 = 7,9 𝑘𝑔𝑓/𝑐𝑚−2 ≃ 80 𝑘𝑔𝑓
(50,5 − 1,9) 48,6

Portanto, esse tubo de PVC com DN50 com essas dimensões deve ser identificado
como tendo uma pressão nominal de 80 (PN80).

2.8.4. Processo de fabricação


As tubulações são divididas em dois grupos – sem costura e com costura. A diferença
entre eles está no processo de fabricação e nas aplicações adequadas para cada material.

Critérios seleção do material:


➢ Diâmetro;
➢ Custo;
➢ Fluido, tipo (gás ou líquido), presença de impurezas, sólidos suspensos, pH,
concentração;
➢ Nível de tensão a que estará submetida à tubulação (dilatação Térmica, peso da
tubulação);
➢ Esforços mecânicos: compressão, flexão, vibração;
➢ Segurança;
➢ Facilidade de obtenção (compra), reposição;
➢ Tempo de vida (compatível com o tempo de vida útil da instalação);
➢ Velocidade do fluido;
➢ Perda de carga;
➢ Acabamento interno;
➢ Facilidade de montagem – custo de reposição e tempo de parada.
36

➢ Tubos com costura:


Os tubos com costura são fabricados por solda e possuem duas formas de aplicação:
longitudinal e espiral.
O processo longitudinal é o mais utilizado na maioria dos casos, e é feito ao longo de
uma geratriz do tubo.

Figura 27 – Solda Longitudinal: Ao longo de uma geratriz do tubo.

Na solda em espiral, a matéria-prima é sempre uma bobina (para fabricação


contínua), para todos os diâmetros, desde tubos pequenos a tubulações de grande porte.

Figura 28 – Solda em espiral.

➢ Tubos sem costura: Laminação, extrusão, fundição ou forjagem.


Os tubos sem costura são usados como componentes de transmissão e cilindros
hidráulicos em aplicações onde não pode haver solda, como oleodutos e ferramentas de
perfuração.

✓ Laminação:
É o mais importante, consiste em passar um lingote de aço aquecido a 1200°C num
laminador. O lingote, ao passar entre os rolos do laminador, é prensado fortemente, ao
mesmo tempo que um mandril abre um furo, transformando-o em tubo. Tubos de aço-
carbono, aços–liga e aços inoxidáveis. De 80 até 650 mm de diâmetro.
37

Figura 29 – Processo de laminação de tubos, etapas.

✓ Extrusão:
Tarugo maciço do material em estado pastoso: aço (abaixo de 8 cm de diâmetro),
alumínio, cobre, latão, chumbo e materiais plásticos

Figura 30 – Processo de extrusão, etapas.


✓ Fundição:
Vazado dentro de moldes (material no estado líquido).
Tubos de ferro fundido, vidro, porcelana, cimento, borracha, PVC.
38

Material líquido despejado em moldes especiais.


Ferro fundido, cimento amianto, concreto, borrachas.

Figura 31 – Processo de fundição.

✓ Forjagem
Para tubos de parede grossa ( p/ pressões muito elevadas).
O lingote é furado a frio, e o pré-tubo é conformado sob aquecimento e recebe
pancadas contra o mandril até atingir a espessura desejada.

Figura 32 – Processo de forjagem.

2.8.5. Classificação dos Tubos


De acordo com a norma ABNT, a classificação de tubos de PE é realizada pelo
diâmetro nominal e pela pressão nominal. A pressão nominal (PN) é utilizada para se calcular
a pressão de serviço (PS), definida como a máxima pressão (incluindo as variações
dinâmicas) que os tubos podem suportar em serviço contínuo, conduzindo água em
determinada temperatura.
Além disso, outro fator importante na classificação dos tubos são ó material utilizado
em sua confecção.
39

➢ Tubos metálicos
Metálicos ferrosos: aço-carbono, aço-liga, ferro fundido, ferro forjado, ferro-ligado,
ferro nodular.

Figura 33 – Tubos de ferro forjado


➢ Tubos não metálicos
Plásticos: cloreto de polivinil (PVC), plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV),
polietileno, acrílicos, acetato de celulose, epóxi, fenólicos.
Outros: cimento amianto, concreto armado, vidro, cerâmica, porcelana, barro vidrado.

Figura 34 – Tubos de vidro


➢ Tubos de aço carbono
Tubos pretos e tubos galvanizados. Baixo custo, facilidade de solda, resistentes de
pressões elevadas. Variam de 2” a 8” e suportam até 20 kgf cm -2.

Figura 35 – Tubo de aço carbono


40

➢ Tubos de ferro fundido


Diâmetro de 50 a 1200 mm.
K7 – 6 a 2,5 MPa – 600 mca a 250 mca (Pressão).
K9 – 7,7 a 3,4 Mpa.

Figura 36 – Tubo de ferro fundido

➢ Tubos de pvc
Resistência a temperatura > 60ºC.
Fabricado pelo processo de extrusão.
Baixo peso, facilidade de manuseio, superfície interna lisa, não é inflamado, não
oxida, isolante térmico, boa durabilidade (20 anos).
✓ Classe 25 (12,5 kgf cm-2);
✓ Classe 20 (10 kgf cm-2);
✓ Classe 15 (7,5 kgf cm-2);
✓ Classe 12 (6 kgf cm-2);
Outra classificação dos tubos é baseada na pressão de serviço ou pressão nominal
(PN). Ex. PN 40 (40 Bar x10,2 = 407,9 metros de coluna de água).
Pelas normas brasileiras, o número da pressão nominal de um tubo, significa sua
máxima pressão admissível nas unidades de m.c.a. (metros de coluna de água). Por
exemplo, um tubo identificado como PN 40 a máxima pressão admissível é de 40 mca ou de
4,0 kgf cm-2.
41

Figura 37 – Representação dos tubos de PVC

➢ Tubos de polietileno
É mais leve e o mais barato dos materiais.
Utilizados na construção civil, instalações industriais, irrigação, drenagem, etc.
No Brasil são fabricados de ½” a 4”.
Pressão 2,5 a 10 kgf cm-2.

Figura 38 – Tubos de polietileno

2.8.6. Classificação das conexões de tubulações

Fazer mudanças de direção


Fazer ligações de tubos entre si
em tubulações:
✓ Curvas de raio longo; ✓ Luvas;
✓ Curvas de raio curto; ✓ Uniões;
✓ Curvas de redução; ✓ Flanges;
✓ Joelhos; ✓ Niples;
42

✓ Joelhos de redução. ✓ Virolas (Uso em flanges soltos).


Fazer derivações em Fazer mudanças de diâmetro
tubulações: em tubulações:
✓ Tes normais (90°); ✓ Reduções concêntricas;
✓ Tes de 45°; ✓ Reduções excêntricas;
✓ Tes de redução; ✓ Redução bucha.
✓ Peças de Y; Fazer o fechamento da
✓ Cruzetas; extremidade do tubo:
✓ Cruzetas de redução; ✓ Tampões;
✓ Selas; ✓ Bujões;
✓ Colares; ✓ Flange cego.
✓ Derivação soldadas;

2.9. Válvulas: tipos e características

Entre os acessórios, destacam-se as válvulas que podem ter diferentes funções.


As válvulas são acessórios desenvolvidos para estabelecer, controlar e interromper o
escoamento de água em uma tubulação, imprescindíveis para que os sistemas de irrigação
atinjam suas funções.

➢ Partes das válvulas:


✓ Corpo - parte principal da carcaça, onde estão o orifício de passagem do fluido e
as extremidades (flanges, roscas, etc.) para ligação às tubulações;
✓ Castelo - parte superior da carcaça, que se desmonta para acesso ao interior da
válvula.

Figura 39 – Detalhes e descrição das partes de uma válvula de bloqueio.(Fonte: JEFFERSON, 2015)
43

2.9.1. Tipos de válvulas

A grande variedade de tipos de válvulas existentes no mercado determina a existência


de variados critérios de classificação.

➢ Válvulas de bloqueio

São válvulas com a função de estabelecer ou interromper o escoamento de líquidos


no interior de uma tubulação ou sua mudança de direção, operando, desta forma,
completamente abertas ou completamente fechadas.
As válvulas de bloqueio costumam ser sempre do mesmo diâmetro nominal da
tubulação para ter uma abertura de passagem de fluido com secção transversal comparável
com a da própria tubulação, permitindo assim uma passagem totalmente desimpedida
quando totalmente aberta e menor perda de pressão.
Os modelos mais conhecidos de válvulas de bloqueio utilizados em irrigação são:
gaveta, esfera, borboleta, guilhotina.

Válvula gaveta Válvula esfera

Válvulas borboleta Válvula comporta ou guilhotina


Figura 40 – Tipos de Válvulas.

➢ Válvulas de regulagem
44

As válvulas de regulagem presentes em uma linha pressurizada têm a função de


controlar ou regular algum parâmetro dinâmico do escoamento, podendo por
Os modelos mais conhecidos de válvulas de regulagem são: globo, agulha, borboleta
(descrita no tópico anterior), diafragma, de controle.

Válvula globo Válvula agulha comercial

Válvula de diafragma Válvula de controle automático

Figura 41 – Tipos de válvulas de Regulagem.


➢ Outras válvulas utilizadas em irrigação

Além das válvulas já descritas neste documento, existem outras que são de uso
comum em sistemas de irrigação e serão discutidas a seguir: válvula de retenção, válvulas
de pé, válvulas de drenagem de linha.

➢ Válvulas de retenção ou retorno

São válvulas unidirecionais projetadas para permitir o escoamento de fluidos somente


em uma direção, precisando assim se fechar automaticamente para evitar escoamento na
direção oposta (contra escoamento).
45

Figura 42 – Esquema de duas válvulas de retorno


➢ Válvulas de pé

Para que as bombas centrífugas possam funcionar, é preciso garantir que sua
carcaça e a tubulação de sucção estejam completamente preenchidas de água sem a
existência de bolhas de ar no seu interior.

Figura 43 – Válvula de pé

➢ Válvulas de Descarga ou de drenagem

Para minimizar o risco de entupimento na irrigação por gotejamento ou microaspersão


devido à baixa qualidade da água, é essencial fazer a limpeza das linhas de irrigação ao
longo do tempo.
46

Figura 44 – Detalhe de uma válvula de drenagem de final de linha


47

3. HIDRODINÂMICA
A Hidrodinâmica é a ciência que estuda a água em movimento.
Iremos abordar aspectos importantes da Hidrodinâmica para a Hidráulica Agrícola,
tais como:
➢ Vazão,
➢ Regime de escoamento,
➢ Equação de continuidade e o;
➢ Teorema de Bernoulli.

3.1. VAZÃO

Vazão é o volume e/ou massa de determinado fluido que passa por uma determinada
seção de um conduto livre ou forçado, por unidade de tempo.
Ou seja, vazão é a rapidez com a qual um volume e/ou massa escoa.
A vazão corresponde à taxa de escoamento, quantidade de material transportado
através de conduto livre ou forçado, por unidade de tempo.

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒
𝑄= → 𝑄 = 𝐴 .𝑉
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜

Sendo:
Q – vazão;
A – área da seção do tubo;
V – velocidade da água no tubo.
Obs: Equação muito utilizada para o dimensionamento de tubos com base na
velocidade da água.
48

3.2. REGIME DE ESCOAMENTO

➢ Classificação do escoamento dos fluidos:

➢ Trajetória do fluido (Osborne Reynolds – 1883)

Laminar
As partículas do fluido percorrem trajetórias paralelas. O escoamento laminar é
também conhecido como lamelar, tranquilo ou de Poiseuille.

Figura 45 – Escoamento laminar

Em canais, pois se começar a ser turbulento causa erosão.

Turbulento
As partículas do fluido percorrem trajetórias curvilíneas e irregulares. As trajetórias
são errantes, cuja previsão de traçado é impossível. É o regime que mais ocorre.

Figura 46 – Regime turbulento

A experiências de Reynolds mostra que ao abrir a torneira, aumenta-se a turbulência


dentro do tubo, o filete torna-se sinuoso e difunde-se na água.
49

➢ Variação no tempo: (permanente e não permanente)

Permanente
O escoamento é permanente quando a velocidade e a pressão, em determinado
ponto, não variam com o tempo.

Figura 47 – Variação no tempo permanente

Não Permanente
A velocidade e a pressão, em determinado ponto, variam com o tempo.
É também chamado de variável (ou transitório).

Figura 48 – Variação no tempo não permanente


Ex: esvaziamento de um recipiente através de um bocal.

➢ Variação na trajetória (uniforme e variado)

Escoamento Uniforme
Todos os pontos de uma mesma trajetória têm a mesma velocidade. É um caso
particular do regime permanente.
50

Figura 49 – Escoamento uniforme


Ex: Líquidos sob pressão em tubulações longas, de diâmetro constante.

Escoamento Variado
Pontos da mesma trajetória não apresentam velocidade constante no intervalo de
tempo considerado.

Figura 50 – Escoamento variado


➢ Movimento de rotação: (rotacional e irrotacional)

Rotacional
Num fluido em escoamento, a maioria de suas partículas desloca-se animada de certa
velocidade angular em torno de seu centro de massa.

Irrotacional
O movimento rotacional de escoamento é desprezado, considerando-o como
irrotacional, pois as partículas não se deformam.

3.3. NÚMERO DE REYNOLDS (ADIMENSIONAL)

O número de Reynolds (abreviado como Re) é um número adimensional usado em


mecânica dos fluidos para o cálculo do regime de escoamento de determinado fluido dentro
de um tubo ou sobre uma superfície.
51

É utilizado em projetos de tubulações e asas de aviões.


O seu significado físico é um quociente entre as forças de inércia e as forças de
viscosidade.
𝑉. 𝐷
𝑁𝑅 =
𝑣

Sendo:
NR – Nº de Reynolds (adimensional)
V – velocidade (m/s);
D – diâmetro (m);
ν - viscosidade cinemática (m2/s)

Regime Laminar: NR ≤ 2.000


Regime Turbulento: NR ≥ 4.000
Transição: 2.000 < NR < 4.000

3.4. EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

A massa de um fluido não varia durante seu escoamento.


Isso leva a uma relação importante chamada de equação da continuidade.

Figura 51 – Representação da equação da continuidade


Considere um tubo de escoamento delimitado por duas seções retas estacionárias de
áreas A1 e A2.
Nessas seções retas as velocidades do fluido são v1 e v2 respectivamente.
52

Considerando-se um mesmo fluido tem-se: A1.V1 = A2.V2 = A3.V3

3.5. TEOREMA DE BERNOULLI PARA UM FLUIDO PERFEITO

No escoamento de um fluido perfeito incompressível em um regime permanente, a


energia total do fluido por unidade de peso permanece constante.
É necessário considerarmos os fluidos como perfeitos ou ideais, ou seja, que não
possuem viscosidade, coesão e elasticidade.

Figura 52 – Teorema de Bernoulli fluido perfeito


“A variação da energia cinética de um sistema é igual ao trabalho por todas as forças do
sistema”
𝑑𝐹
Forças: Devido a pressão 𝑑𝐹 = 𝜌 × 𝑑 × 𝐴, 𝑙𝑜𝑔𝑜, 𝜌 = 𝑑𝐴
𝑤
Devido ao peso 𝑤 = 𝛾 × 𝑣𝑜𝑙, 𝑙𝑜𝑔𝑜, 𝛾 = 𝑣𝑜𝑙

𝐸𝑐2 − 𝑒𝑐1 = 𝑑𝐹1 × 𝑑𝑆1 − 𝑑𝐹2 × 𝑑𝑆2 + 𝑤 (𝑧1 − 𝑧2)


1⁄ 𝑚 × 𝑉 2 − 1⁄ 𝑚 × 𝑉 2 = (𝑃1𝑑𝐴1 × 𝑑𝑆1) − (𝑃2𝑑𝐴2 × 𝑑𝑆2) + ( 𝛾 × 𝑣𝑜𝑙 ) × (𝑧1 − 𝑧2)
2 2 2 2 1 1

1⁄ 𝑚 × 𝑉 2 – 1⁄ 𝑚 × 𝑉 2 = 𝑃1 × 𝑣𝑜𝑙 − 𝑃2 + 𝛾 × 𝑣𝑜𝑙 (𝑧1 − 𝑧2)


2 2 2 2 1 1
53

𝑚 𝜌
𝜌= , 𝑙𝑜𝑔𝑜, 𝑚 =
𝑣𝑜𝑙 𝑣𝑜𝑙
1⁄ 𝜌 × 𝑉 2 − 1⁄ 𝜌 × 𝑉 2 = 𝑃1 × 𝑣𝑜𝑙 − 𝑃2 × 𝑣𝑜𝑙 + 𝛾 × 𝑣𝑜𝑙 (𝑧1 − 𝑧2)
2 𝑣𝑜𝑙 2 2 𝑣𝑜𝑙 1

𝑉𝑜𝑙
1⁄ 𝜌 × 𝑉 2 − 1⁄ 𝜌 × 𝑉 2 = 𝑃1 − 𝑃2 + 𝛾 (𝑧1 − 𝑧2)
2 2 2 1

𝛾
𝑆𝑒𝑛𝑑𝑜 𝜌 =
𝑔
1⁄ 𝛾 ⁄𝑔 × 𝑉 2 − 1⁄ 𝛾 ⁄𝑔 × 𝑉 2 = 𝑃1 − 𝑃2 + (𝑧1 − 𝑧2)
2 2 2 1
𝛾

1⁄ 𝑉 2 ⁄𝑔 − 1⁄ 𝑉 2 ⁄𝑔 = 𝑃1 − 𝑃2 + (𝑧1 − 𝑧2)
2 2 2 1 𝛾 𝛾
𝑉12 𝑃1 𝑉22 𝑃2
+ + 𝑧1 = + + 𝑧2 = 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾
Onde:
𝑉²
= carga cinética ou taquicarga;
2𝑔
𝑃
= carga de pressão ou piezométrica;
𝛾
Z = carga de posição ou altimétrica.

Obs: Os três termos do Teorema de Bernoulli possuem a dimensão de comprimento. Desta


forma, é possível representar graficamente (geometricamente) essa equação. Veja a figura.
54

Exemplo:
Sabendo que: P1 = 1,5 kgf.cm-2, V1= 0,6 m.s-1, D1 = 250 mm, D2 = 200 mm. Fluido perfeito
e diferença de altura entre 1 e 2 é de 10 m. Determine:
a) A vazão na tubulação
b) A pressão no ponto 2

Resolução:
Dados: Transformar pressão para Pascal: P1 = 147.15
P1=1,5 kgf.cm-2 → P1=147.150Pa 𝛾 = 9.810 N/m³

1 kgf.cm-2 ------------- 98.066,52


1,5 kgf.cm-2 ---------- X
X = 147.150 Pa

a) A vazão da tubulação:
Q=AxV
𝜋 . 0,25²
𝑄= 𝑥 0,6
4
Q = 0,02945 m³.s-1

b) Calcular a pressão no ponto 2


0,02945
𝜋 . 0, 22
𝑉2 =
4
𝑉2 = 0,937 𝑚. 𝑠 −1
𝑃1 𝑉12 𝑃2 𝑉22
+ + 𝑍1 = + + 𝑍2
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
147150 0, 62 𝑃2 0,9372
+ + 10 = + +0
9810 2 . 9,81 9810 2 . 9,81
𝑃2 = 244.955,7 𝑃𝑎
55

3.6. EQUAÇÃO DE BERNOULLI PARA FLUIDOS REAIS


Considerando o fluido real, parte da energia dissipa em forma de calor e nos turbilhões
da corrente fluida. Parte da energia é utilizada para vencer as resistências (viscosidade e
atrito do fluido com as paredes do conduto), ou seja, há perda de energia (perda de carga).

Figura 53 – Teorema de Bernoulli fluido real


Teorema de perda de carga:
𝑃1 𝑉12 𝑃2 𝑉22
+ + 𝑍1 = + + 𝑍2 + 𝐻𝑓1−2
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
Onde:
Hf1-2 = perda de carga que ocorre entre os pontos 1 e 2.

Uma bomba que leva o fluido de um ponto 1 para um ponto 2, entre os quais há uma perda
de carga hf, tem-se:

𝑃1 𝑉1² 𝑉2²
[ +
𝛾 2𝑔
+ 𝑍1]+ HB = [ 𝑃2𝛾 + 2𝑔
+ 𝑍2]+ hf
Onde:
HB = energia cedida pela bomba ao fluido.

Exemplo:
Calcular a perda de carga que ocorre entre os pontos 1 e 2 do esquema a seguir:
56

Ponto 1 Ponto 2
P1 = 0 P2 = 0
4𝑄 4 𝑥 0,004
V1 = 0 V2 = 𝑄 = = = 2,04 m.s-1
𝑆 2 𝜋 𝐷² 𝜋 𝑥 0,05²

h1 = 12 m h2 = 0

Aplicação do teorema de Bernoulli:


𝑃1 𝑉12 𝑃2 𝑉22
+ + 𝑍1 = + + 𝑍2 + 𝐻𝑓1−2
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
2,042
0 + 0 + 12 = 0 + + 0 + 𝐻𝑓1−2
2 . 9,81
𝐻𝑓1−2 = 12 − 0,2 = 11,8 𝑚𝑐𝑎
57

4. CONDUTOS FORÇADOS

São canalizações em que o escoamento ocorre a uma pressão diferente da pressão


atmosférica. As seções desses condutos são sempre fechadas e, o líquido escoa enchendo-
se totalmente; são em geral de seção circular, porém, em casos especiais como nas galerias
das centrais hidrelétricas ou nos grandes aquedutos, são utilizadas outras formas.

Figura 54 - Conduto forçado

4.1. PERDA DE CARGA


Perda de carga é a perda de energia ocorrida no escoamento interno das tubulações.
As partículas em contato com a parede adquirem a velocidade da parede, ou seja,
velocidade nula, e passam a influir nas partículas vizinhas através da viscosidade e da
turbulência, dissipando energia que provoca um abaixamento da pressão total do fluido ao
longo do escoamento.

Figura 55 – Representação da perda de carga

Pode ser classificada:


➢ Perda de carga contínua: ocorre ao longo de um conduto uniforme;
➢ Perda de carga localizada: ocorre em singularidade (acessórios);
58

4.2. PERDA DE CARGA CONTÍNUA


Considerando o escoamento permanente e uniforme em uma tubulação cilíndrica,
a velocidade de escoamento será, consequentemente, constante ao longo de todo o
conduto. Assim, as linhas de energia e piezométrica serão paralelas e distanciadas entre
si de um valor correspondente à própria carga cinética.

Figura 56 – Representação gráfica de perda de carga contínua


Aplicando Bernoulli entre duas seções quaisquer tem-se:
𝑃1 𝑉1² 𝑃2 𝑉2²
+ + 𝑍1 = + + ℎ𝑓
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
𝑃1 𝑃2
Mas, diâmetro constante → 𝑉1 = 𝑉2 → ℎ𝑓 = ( 𝑔 + 𝑍1) − ( 𝛾 + 𝑍2)
59

➢ Representação esquemática de um prisma AB


Considere o prisma AB de transversal A e comprimento L e com movimento uniforme.
Nestas condições, as forças atuantes são: gravidade e pressão P1 e P2. Estas forças são
equilibradas pela resistência:
𝛾. 𝐴 . 𝐿 . 𝑠𝑒𝑛𝛼 + (𝑃1 − 𝑃2) . 𝐴 = 𝜏 . 𝑋 . 𝐿

Onde:
𝛾 . 𝐴 . 𝐿 . 𝑠𝑒𝑛𝛼 = 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜 𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜

(𝑃1 − 𝑃2) . 𝐴 = 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠õ𝑒𝑠


𝜏 . 𝑋 . 𝐿 = 𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑒 𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜

Em que:
𝜏 = resistência oferecida pela parede do conduto;
X = perímetro do conduto;
L = comprimento do conduto;
A = área transversal do conduto;
P = pressão
𝛾= peso específico do fluido

Dividindo a equação por 𝛾 . 𝐴, sabendo que 𝐿 . 𝑠𝑒𝑛𝛼 = 𝑧1 − 𝑧2 e, desenvolvendo,


resulta em:
𝑃1 𝑃2 𝜏 𝑋
(𝑧1 − 𝑧2 ) + ( − ) = . .𝐿
𝛾 𝛾 𝛾 𝐴
𝑃1 𝑃2
Mas, (𝑧1 − 𝑧2 ) + ( − ) = ℎ𝑓
𝛾 𝛾

𝜏 𝑋
ℎ𝑓 = . . 𝐿 → Fazendo (onde 𝜃(𝑣) é uma função da velocidade que engloba
𝛾 𝐴

efeitos da rugosidade da parede e natureza do fluido), tem-se:

𝑋
ℎ𝑓 = 𝐴 . 𝐿 . 𝜃(𝑣) → Que é a expressão geral da perda de carga.

De acordo com a expressão geral da perda de carga, tem-se:


- Independente da pressão sob a qual o líquido escoa
- Independente da posição da tubulação e do sentido de escoamento.
- A perda de carga é proporcional ao perímetro do conduto (X);
60

- Proporcional ao comprimento do conduto (L);


- Inversamente proporcional à área da seção (A);
- Proporcional a uma função da velocidade (𝜃(𝑣)), na qual estão incluídas a
natureza do líquido e influência das paredes do conduto.

De acordo com muitas observações →

𝜃(𝑣) → Proporciona a v² e a uma coeficiencia “b” (natureza do líquido e rugosidade), então,


𝑋 𝐴
ℎ𝑓 = 𝑏. (𝑣²). 𝐴 . 𝐿 → Fazendo 𝑋 = 𝑅, onde R é o raio hidráulico

𝑣² 𝐷
ℎ𝑓 = 𝑏. 𝑅 . 𝐿 → Para condutos circulares → 𝑅 = , substituindo:
4

4.𝑏.𝑣² 𝑓
ℎ𝑓 = . 𝐿 →fazendo 𝑏 = , tem-se:
𝐷 8.𝑔

𝑳 𝒗²
𝒉𝒇 = 𝒇 . . → 𝑭ó𝒓𝒎𝒖𝒍𝒂 𝒅𝒆 𝑫𝒂𝒓𝒄𝒚 − 𝑾𝒆𝒊𝒔𝒔𝒃𝒂𝒄𝒉
𝑫 𝟐.𝒈

A perda de carga unitária é o quociente da perda total pelo comprimento do conduto:


ℎ𝑓
𝐽=
𝐿

No movimento uniforme a perda de carga unitária é igual à inclinação da linha


de energia e da linha piezométrica.

4.2.1. Camada limite:


Durante o escoamento há a formação de uma camada de fluido junto à parede do
conduto. A partir da extremidade inicial do conduto, esta camada limite vai aumentando até
atingir um ponto crítico. A partir desse ponto, a estabilidade é rompida e a espessura do filme
laminar é bruscamente reduzido para um valor "𝛿", que se mantém aproximadamente:
𝛿 → 𝐸spessura do filme laminar;
61

0 → T, espessura da camada limite;


A partir de T → Ocorre a zona de turbulência.

Figura 57 - Formação de camada limite e filme laminar.

4.2.2. Número de Reynolds (Osborne Reynolds - 1883):


A resistência que os líquidos oferecem ao escoamento é um fenômeno de inércia
viscosidade e é caracterizada pelo número de Reynolds (Re), que exprime a relação entre
as forças de inércia e de atrito interno (forças de cisalhamento) durante o escoamento.

𝑉. 𝐷
𝑅𝑒 =
𝑣
Sendo:
Re = número de Reynolds;
V = velocidade de escoamento, m.s-1;
D = diâmetro do conduto, m;

𝑣 = viscosidade cinemática, m².s-1.

Tabela 9 – Temperatura em relação a viscosidade da água

Água
Temperatura °C Viscosidade (µ) N – s/m2 Viscosidade Cinemática (v) m2/s
62

0 1,781 x 10-3 1,785 x 10-6


5 1,518 x 10-3 1,519 x 10-6
10 1,307 x 10-3 1,306 x 10-6
15 1,139 x 10-3 1,139 x 10-6
20 1,002 x 10-3 1,003 x 10-6
25 0,890 x 10-3 0,893 x 10-6
30 0,798 x 10-3 0,800 x 10-6
40 0,653 x 10-3 0,658 x 10-6
50 0,547 x 10-3 0,553 x 10-6
60 0,466 x 10-3 0,474 x 10-6
70 0,404 x 10-3 0,413 x 10-6
80 0,354 x 10-3 0,364 x 10-6
90 0,315 x 10-3 0,326 x 10-6
100 0,282 x 10-3 0,294 x 10-6

Quanto maior o número de Reynolds, maior a influência das forças de inércia e maior
a tendência do regime ser turbulento.

De acordo com o número de Reynolds o escoamento permanente pode ser


classificado em:

- Laminar: Re < 2000;


- Transição ou zona crítica: 2000 < Re < 4000;
- Turbulento: Re > 4000.

O número de Reynolds (Re) serve para caracterizar as condições de semelhança de


escoamento em condutos sob pressão. Dois escoamentos são semelhantes quando
possuem o mesmo número de Reynolds (mesmo grau de turbulência).

𝑉1 . 𝐷1 𝑉2 . 𝐷2
𝑅𝑒 = =
𝑣 𝑣

Se o fluido for o mesmo, então: V1 . D1 = V2 . D2


Na prática, a maioria dos escoamentos são em regime turbulentos.
63

Exemplo:
Calcular o número de Reynolds e classificar o tipo de escoamento tendo os seguintes dados:

a) Tubulação de diâmetro de 50mm, conduzindo a água a uma temperatura de 20° C, a


uma velocidade média de 1 m/s (viscosidade cinemática = 10−6 m²/s):

𝑉. 𝐷 1𝑚/𝑠 . 0,05𝑚
𝑅𝑒 = = = 50.000
𝑣 0,000001 𝑚²/𝑠

b) Considerando a mesma tubulação e velocidade de item anterior, mas conduzindo óleo


a 33° C (viscosidade cinemática = 7,7 𝑥 10−5 𝑚²/𝑠):

𝑉. 𝐷 1 𝑚/𝑠 .0,05𝑚
𝑅𝑒 = = ≈ 649
𝑣 0,000077𝑚²/𝑠

4.2.3. Perda de carga no regime laminar:


No regime laminar, a perda de carga (hf) em condutos forçados é dada pela fórmula
de Hagen-Poiseulle:

128 𝑄
ℎ𝑓 = . 𝑣. 𝐿. 4
𝜋.𝑔 𝐷

Onde:
L = distância entre duas seções consideradas, m;
v = viscosidade cinemática, m²/s;
Q = vazão, m³/s;
D = diâmetro, m;
g = aceleração da gravidade, m².s-1.

Igualando a equação de Hagen-Poiseulle com a equação de Darcy, tem-se:

128 𝑄 𝐿 𝑉² 𝜋. 𝐷². 𝑉
. 𝑣. 𝐿. 4 = 𝑓. . → 𝑆𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑄 =
𝜋 .𝑔 𝐷 𝐷 2. 𝑔 4
256 𝜋 . 𝐷² . 𝑉 𝐿 64 . 𝑣
. 𝑣. 𝐿. 4
= 𝑓. . 𝑉² → = 𝑓 .𝑉
𝜋 4 .𝐷 𝐷 𝐷
64

64 . 𝑣 64
𝑓= → 𝑒𝑛𝑡ã𝑜, 𝑓 =
𝑉 .𝐷 𝑅𝑒

A perda por atrito é independente da rugosidade das paredes dos tubos. Depende
apenas das características do fluido, ou seja, viscosidade, peso específico e da velocidade.

Exemplos de ocorrência de regime laminar: escoamento de líquidos bastante


viscosos, tubos capilares, entre outros.

No regime laminar a espessura da camada limite é superior ao raio do conduto. Desta


forma, o escoamento laminar propaga-se ao longo de toda a tubulação.

Figura 57 – Representação da camada limite e filme laminar no regime laminar

4.2.4. Perda de carga no regime turbulento:


No regime turbulento, a perda de carga é devido à viscosidade e ao material da
tubulação (rugosidade). A rugosidade absoluta representa a altura média das asperezas
(k), ou, rugosidade equivalente.

Figura 58 – Fluido no regime turbulento

Corte longitudinal de um conduto mostrando as asperezas.


São apresentados valores da rugosidade absoluta (k) para diversos tipos de materiais.
65

Tabela 10 - Rugosidade absoluta (k) em mm, para diversos tipos de materiais

Tipo de material k (mm) Tipo de material k (mm)


Aço comercial novo 0,045 Ferro fundido incrustado 1,5 a 3
Aço soldado novo 0,05 a 0,10 Ferro fundido novo 0,25 a 0,50
Aço rebitado novo 1a3 Ferro fundido centrifugado 0,05
Aço galvanizado com costura 0,15 a 0,20 Cimento amianto novo 0,025
Aço galvanizado sem costura 0,06 a 0,15 Concreto centrifugado novo 0,16
Ferro fundido enferrujado 1 a 1,5 Cobre, PVC, plásticos 0,0015 a 0,01

- Espessura do filme laminar (Prandtl) → Junto às paredes internas do tubo, forma-


se uma película de fluido com escoamento laminar. A espessura desta camada
(𝛿 )é dada pela equação:

32,5 . 𝐷
𝛿=
𝑅𝑒 . √𝑓

Sendo,
𝛿 = espessura de camada laminar;

𝑓 = coeficiente de atrito;
𝐷 = diâmetro da tubulação.

Figura 59 – Representação do filme laminar

➢ Conduto lisos
As irregularidades (k) ficam totalmente cobertas pela camada laminar.
66

𝛿
𝑘< 𝑜𝑢 𝑘 < (1000 . 𝑣/𝑉)
3
Tabela 11 – Equações para estimativa do coeficiente de atrito (f) para o regime turbulento
em condutos lisos

➢ Conduto rugoso
O valor de “K” influencia a turbulência. Podendo ser:
Conduto rugoso com regime turbulento de transição;
Conduto rugoso com turbulência plena.

✓ Turbulento de transição:
𝛿
< 𝑘 < 8𝛿
3

Neste caso de regime e conduto, o valor de “f” depende da natureza do fluido e da


rugosidade relativa (k/D).

Apenas uma parte das asperezas atravessa a camada laminar, contribuindo para a
turbulência.

Tabela 12 – Equações para estimativa do coeficiente de atrito (f) para o regime turbulento
de transição
67

✓ Turbulência plena
As irregularidades da parede do conduto perfuram, totalmente, a camada laminar, e
concorrem para o aumento e a manutenção da turbulência.

𝑘 > 8𝛿

Neste sentido, “f” depende da rugosidade relativa (k/D), e independe do número de Reynolds
(Re).

Nikuradse:

1 2.𝑘 𝑅𝑒.√𝑓
= 1,74 − 2. 𝑙𝑜𝑔. ( 𝐷 ) ≥ 200
√𝑓 (𝐷/𝑘)

➢ Ábaco de Moody
O uso de fórmulas para estimativa do coeficiente “f” apresenta alguns inconvenientes, tais
como:

➔ Algumas servem para condutos lisos, outras para condutos rugosos;


➔ Campo limitado de aplicação (valores de Re);
➔ O valor de f está implícito em algumas fórmulas;
➔ Envolve muitas operações matemáticas (cálculos demorados).
O ábaco Moody é genérico, servindo para escoamento laminar e turbulento, e, para
condutos lisos e rugosos.
68

Figura 60 – Ábaco de Moody

Exemplo:
Determine hf, sabendo que: Q = 221,76 m³/h; L = 100m; D = 200mm; Tubulação de
ferro fundido (k = 0,25 mm); Água à 20°C - v = 10−6 𝑚²/𝑠.
Resolução:
221,76
𝑄 3600
𝑉=
𝐴
→ 𝑉= 𝜋.0,2² → 𝑉 = 1,96 𝑚/𝑠
4
𝑉.𝐷 1,96 .0,2
𝑅𝑒 = → 𝑅𝑒 = → 𝑅𝑒 = 3,92 . 105
𝑣 0,000001

𝜀 0,25
→ → 0,00125
𝐷 200
100 1,962
ℎ𝑓 = 0,021 . . → ℎ𝑓 = 2 𝑚𝑐𝑎
0,2 2 . 9,81
69

4.2.5. Fórmulas práticas:

➢ Fórmula Universal ou Darcy- Weisbach

𝐿 𝑣²
ℎ𝑓 = 𝑓. .
𝐷 2. 𝑔
Onde:
hf = perda de carga, m;
f = coeficiente de atrito;
L = comprimento da tubulação, m;
D = diâmetro da tubulação, m;
g = aceleração da gravidade, m²/s.

Tabela 13 - Valores do coeficiente de atrito (f) da fórmula de Darcy, para tubos novos de
ferro fundido e aço conduzindo água fria.

Velocidade média (m/s)

Diâmetro (mm) 0,20 0,4 0,6 0,8 1 1,5 2 3


13 0,041 0,037 0,034 0,032 0,031 0,029 0,028 0,027
19 0,040 0,036 0,033 0,031 0,03 0,028 0,027 0,026
25 0,039 0,034 0,032 0,03 0,029 0,027 0,026 0,025
38 0,037 0,033 0,031 0,029 0,029 0,027 0,026 0,025
50 0,035 0,031 0,03 0,028 0,027 0,026 0,026 0,024
75 0,034 0,03 0,029 0,027 0,026 0,025 0,025 0,024
100 0,033 0,029 0,028 0,026 0,026 0,025 0,025 0,023
150 0,031 0,028 0,026 0,025 0,025 0,024 0,024 0,022
200 0,030 0,027 0,025 0,024 0,024 0,023 0,023 0,021
250 0,028 0,026 0,024 0,02 0,023 0,022 0,022 0,02
300 0,027 0,025 0,023 0,022 0,022 0,021 0,021 0,019
350 0,026 0,024 0,022 0,022 0,022 0,021 0,021 0,018
400 0,024 0,023 0,022 0,021 0,021 0,02 0,02 0,018
450 0,024 0,022 0,021 0,02 0,02 0,02 0,02 0,017
500 0,023 0,022 0,02 0,02 0,019 0,019 0,019 0,017
550 0,023 0,021 0,019 0,019 0,018 0,018 0,018 0,016
600 0,022 0,02 0,019 0,018 0,018 0,017 0,017 0,015
70

Tabela 14 – Valores do coeficiente de atrito (f) da fórmula de Darcy, para tubos usados de
ferro fundido e aço e de tubos de concreto, conduzindo água fria.
Aço e ferro fundido com 10 anos de uso Concreto novo e velho
Velocidade média (m/s)

Diâmetro (mm) 0,5 1 1,5 3 > 3,0 0,5 1 1,5


25 0,054 0,053 0,052 0,051 0,071 - - -
50 0,048 0,047 0,046 0,045 0,059 0,048 0,046 0,043
75 0,044 0,043 0,042 0,041 0,054 0,042 0,039 0,036
100 0,041 0,04 0,039 0,038 0,05 0,039 0,037 0,034
150 0,037 0,036 0,035 0,034 0,047 0,035 0,034 0,032
200 0,035 0,034 0,033 0,032 0,044 0,033 0,032 0,03
250 0,033 0,032 0,031 0,03 0,043 0,031 0,03 0,028
300 0,031 0,031 0,03 0,029 0,042 0,03 0,029 0,027
350 0,03 0,03 0,029 0,028 0,041 0,028 0,027 0,026
400 0,029 0,029 0,028 0,027 0,04 0,027 0,026 0,025
450 0,028 0,028 0,027 0,026 0,038 0,026 0,025 0,024
500 0,027 0,027 0,026 0,025 0,037 0,025 0,024 0,023
550 0,026 0,026 0,025 0,024 0,035 0,025 0,023 0,022
600 0,025 0,024 0,023 0,022 0,032 0,024 0,022 0,021

➢ Fórmula de Hazen-Williams:

𝐿 𝑄 1,852
ℎ𝑓 = 10,643. 4,87 . ( )
𝐷 𝐶
Onde,
hf = perda de carga, m ou mca;
L = comprimento da tubulação, m;
D = diâmetro da tubulação, m;
Q = vazão, m³/s;
C = coeficiente de atrito

Na tabela 15 são apresentados valores do coeficiente “C” para diversos tipos de tubos.
71

Tipos de tubo C Tipos de tubo C


Concreto (acabamento
Aço corrugado 60 120
comum)
Aço galvanizado 125 Ferro fundido novo 130
Aço rebitado novo 110 Fofo após 15 - 20 anos 100
Aço soldado novo 130 Fofo usado 90
Cimento amianto 140 Fofo revestido com cimento 130
Cobre 150 Vidro 140
Concreto (bom acabamento) 130 Tubos PVC/CPVC 150

Adaptado: Adaptado de Azevedo Netto e Fernández (2015).

➢ Fórmula de Flamant

𝑄1,75
ℎ𝑓 = 𝑘 . 4,75 . 𝐿
𝐷
Onde,
Tabela 16 – Valores do coeficiente “ke” para diversos materiais

Ferro fundido e aço Ferro fundido e Cimento


PVC Chumbo
novos aço usados amianto
0,0008 0,001133 0,0014 0,00095 0,00086

Exemplo: Determine o diâmetro, sabendo que: Q = 42,12 m³/h; L = 100m; Tubulação de PVC
(C = 150); Perda de carga admissível = 2 mca.

Resolução:

𝑄 1,852 𝐿
ℎ𝑓 = 10,643 . ( ) . 4,87
𝐶 𝐷
42,12 1,852
100
ℎ𝑓 = 10,643 . ( 3600 ) . 4,87
150 𝐷

𝐷 = 0,999𝑚 𝑜𝑢 = 99𝑚𝑚
𝐷𝐶𝑜𝑚𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑙 = 100𝑚𝑚
72

4.3. PERDA DE CARGA LOCALIZADA

Existe perda de carga localizada toda vez que houver alterações na forma, direção ou seção
de escoamento do conduto. Normalmente são desprezíveis em casos em que:

➢ A velocidade média de escoamento for menor que 1 m.s-1;


➢ O comprimento for maior ou igual a 4000 vezes o seu diâmetro;
➢ Poucas peças especiais.

Em um projeto real as perdas de carga localizada devem ser somadas à perdas de


carga distribuída (contínua).

Pode ser dividida em dois métodos de cálculos:

➢ Método direto ou teorema de Borda;


➢ Método do comprimento equivalente.

4.3.1. Método dos coeficientes (Teorema de Borda)


A perda de carga localizada causada por uma peça especial pode ser calculada pela
expressão geral:

𝑉²
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 𝐾
2𝑔

Sendo:
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = Perda de carga causada por uma peça especial, em mca;
K = Coeficiente para cada acessório;
V = Velocidade média da água, m/s e,
g = Aceleração da gravidade, m²/s.

O valor de K depende do regime de escoamento. Segundo Borda, o escoamento


plenamente turbulento, número de Reynolds maior que 50.000, o valor de k para as peças
especiais é praticamente constante.
73

Tabela 17 - Valores aproximados de “K”:

PEÇA K PEÇA K
Ampliação gradual 0,30* Junção 0,4
Bocais 2,75 Medidor venturi 2,50**
Comporta aberta 1 Redução gradual 0,15*
Controlador de vazão 2,5 Registro de ângulo aberto 5
Cotovelo de 90° 0,9 Registro de gaveta aberto 0,2
Cotovelo de 45° 0,4 Registro de globo aberto 10
Crivo 0,75 Saída de canalização 1
Curva de 90° 0,4 Tê com passagem direta 0,6
Curva de 45° 0,2 Tê com saída de lado 1,3
Curva de 22,5 0,1 Tê com saída bilateral 1,8
Entrada normal em canalização 0,5 Válvula de pé 1,75
Entrada de borda 1 Válvula de retenção 2,5
Existência de pequena derivação 0,03 Velocidade 1
* com base na velocidade maior (seção menor)
** relativa a velocidade na canalização
Fonte: Adaptado Azevedo Netto

4.3.2. Método de comprimento equivalente


Consiste em substituir as peças por comprimentos retos de tubulações que com a
mesma vazão e diâmetros das peças, provocam a mesma perda de carga. Esses
comprimentos retos de tubulações são denominados comprimentos equivalentes.

Figura 61 – Comprimento equivalente

A perda de localizada pode ser calculada pela expressão de Borda e a perda de carga
distribuída no comprimento equivalente pela equação de Darcy-Weisbach.

𝑘 .𝑉² 𝑉² .𝐿𝑒
=𝑓
2 .𝑔 2 .𝑔 .𝐷
𝑘 .𝐷
𝐿𝑒 =
𝑓
O comprimento virtual corresponde a um comprimento maior de canalização sem
acidentes do mesmo diâmetro e transportando mesma vazão está sujeita a mesma perda
74

de carga. Portanto, o comprimento virtual é a soma dos comprimentos equivalentes com o


comprimento real.

𝐿𝑣 = 𝐿𝑟 + 𝛴𝐿𝑒
Tabela 18 - Comprimento equivalente em número de diâmetro da tubulação

Peça Diâmetros Peça Diâmetros


Ampliação gradual 12 Registro de gaveta, aberto 8
Cotovelo de 90° 45 Registro de globo, aberto 350
Cotovelo de 45° 20 Registro de ângulo, aberto 170
Curva de 90° 30 Saída de canalização 35
Curva de 45° 15 Tê com passagem direta 20
Entrada normal em canalização 17 Tê com saída de lado 50
Entrada de borda 35 Tê com saída bilateral 65
Junção 30 Válvula de pé e crivo 250
Redução gradual 6 Válvula de retenção 100
Fonte: Adaptado Azevedo Netto

Tabela 19 – Comprimento equivalente a perdas localizadas, em metros de canalização


retilínea de PVC rígido
75

Tabela 20 – Comprimento equivalente a perdas localizadas, em metros de


canalização retilínea de ferro fundido e aço.

Exemplo:

Uma estação de bombeamento eleva 144 m³/h de água para um reservatório de acumulação
através de uma tubulação de Ferro Fundido (C = 130) com 2000 m de comprimento e 200
mm de diâmetro. Determine a perda de carga total (Contínua + localizada). Utilize ambos os
métodos de determinação da perda de carga localizada.

Peças especiais
Quantidade
no recalque
Registro de gaveta 1
Válvula de
1
retenção
Curva de 90° 2
Curva de 45° 3

Resolução:
Perda de carga contínua

0,04 1,852 2000


𝐻𝑓 = 10,643 . ( ) . = 16,91 𝑚𝑐𝑎
130 0,24,87
Perda localizada (Método dos coeficientes)
76

Peças Quantidades K Total


Registro de gaveta 1 0,2 0,2
Válvula de retenção 1 2,5 2,5
Curva de 90° 2 0,4 0,8
Curva de 45° 3 0,2 0,6
𝛴𝐾 = 4,1
𝑄 0,04
𝑉= = = 1,27 𝑚/𝑠
𝐴 𝜋 . 0,2²
4
1,27²
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 4,1 . = 0,33 𝑚𝑐𝑎
2 . 9,81
Perda localizada (Comprimentos equivalentes)

Peças Quantidades K Total


Registro de gaveta 1 1,4 1,4
Válvula de
1 16 16
retenção
Curva de 90° 2 2,4 4,8
Curva de 45° 3 1,5 4,5
𝛴𝐶. 𝐸𝑞. = 26,7 𝑚

𝑄 1,852 𝐿
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 10,643 . ( ) . 4,87
𝐶 𝐷
0,04 1,852 26,7
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 10,643 . ( ) . 4,87 = 0,23 𝑚𝑐𝑎
130 0,2
Perda de carga total
Método dos coeficientes: 𝐻𝑓𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 16,91 + 0,33 = 17,24 𝑚𝑐𝑎
Método dos comp. equivalentes: 𝐻𝑓𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 16,91 + 0,23 = 17,14 𝑚𝑐𝑎
77

4.4. TEOREMA DE BERNOULLI PARA FLUÍDOS REAIS E PERDA DE


CARGA
2 2
𝑃1 𝑉1 𝑃1 𝑉2
𝛾 + 2𝑔 + 𝑍1 = 𝛾 + 2𝑔 + 𝑍2 + 𝐻𝑓
Onde:
𝑃1 𝑒 𝑃2 = pressão;
𝛾= peso específico da água;

V = velocidade da água;
g = aceleração da gravidade;
Z = energia de posição;
Hf = perda de carga.
Exemplo:
Determinar a vazão que circula do reservatório A para o reservatório B: D = 100 mm; L =
1000 m; Tubulação de PVC (C = 150).

Resolução:
Teorema de Bernoulli

𝑃1 𝑉21 𝑃1 𝑉22
+ + 𝑍1 = + + 𝑍2 + 𝐻𝑓
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
0 + 0 + 𝑍1 = 0 + 0 + 𝑍2 + 𝐻𝑓
𝐻𝑓 = 𝑍1 + 𝑍2 = 10 𝑚
Perda localizada

𝑄 1,852 𝐿
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 10,643 . ( ) . 4,87
𝐶 𝐷
𝑄 1,852 1000
𝐻𝑓𝑙𝑜𝑐 = 10,643 . ( ) . 4,87
150 0,1
𝑄 = 0,008166 𝑚³/𝑠
𝑄 = 29,4 𝑚³/ℎ
78

5. BOMBAS HIDRÁULICAS
São máquinas que recebem energia potencial e transformam parte desta potência em
energia cinética e energia de pressão, cedendo estas duas energias ao fluido bombeado, de
forma a transportá-lo de um ponto a outro.

O uso de bombas hidráulicas ocorre sempre que há a necessidade de aumentar a


pressão de trabalho de uma substância líquida contida em um sistema, a velocidade de
escoamento, ou ambas.

Segundo a forma de transferência de energia ao fluido, essas máquinas são


classificadas em dois grandes grupos:

- Bombas de deslocamento positivo ou volumétricas;


- Turbobombas ou dinâmica.

5.1. BOMBAS DE DESLOCAMENTO POSITIVO OU VOLUMÉTRICAS


Comunica energia ao fluido já na forma de pressão. A movimentação do fluido é
causada diretamente pela ação do órgão de impulsão da bomba que obriga o fluido a
executar o mesmo movimento a que está sujeito este impulso. Dá-se o nome de volumétrica
porque o fluido, de forma sucessiva, ocupa e desocupa espaços no interior da bomba, com
volumes conhecidos, sendo que o movimento geral deste fluido dá-se na mesma direção
das forças a ele transmitidas, por isso a chamamos de deslocamento positivo.

Dentre as características deste tipo de bomba, destacam-se:

- As forças transmitidas ao líquido têm a mesma direção do movimento geral do fluido;


- Considerando constante a velocidade de acionamento, a vazão média praticamente
não varia, fazendo com o que apresente o mesmo valor independentemente do
sistema em que estas bombas estão instaladas,
- A energia é transmitida sob a forma de pressão;
- Podem iniciar seu funcionamento com a presença de ar na bomba e no sistema de
sucção.

De acordo com o movimento do órgão propulsor, podem ser classificadas:


79

5.1.1. Bombas alternativas:


O órgão responsável pela transferência de energia apresenta movimento alternativo,
podendo ser de pistão, engrenagens ou diafragma. São indicadas para situações onde se
requer vazão reduzida e alta pressão.

Pistão: abastecimento doméstico (manual e roda d’água);

Figura 62 – Exemplo de pistão

Engrenagens: fluidos de alta viscosidade;

Figura 63 – Exemplo de engrenagem

Diafragma: produtos químicos e materiais abrasivos;

Figura 64 – Exemplo de diafragma


80

5.1.2. Bombas rotativas:


O líquido recebe a ação das forças provenientes de uma ou mais peças dotadas de
movimento de rotação no interior da carcaça da bomba, provocando seu deslocamento.

São indicadas para situações onde se requer vazão mais elevada que as bombas
alternativas.

Existe uma grande variedade de bombas, entre elas: bombas de engrenagens,


lóbulos, palhetas, e de parafusos (Figura 65)

Figura 65 – Exemplo de bombas

5.2. TURBOBOMBAS
São máquinas nas quais a transferência de energia, da bomba para o fluido, é feita
pela ação da rotação de um rotor com certo número de pás especiais, desenvolvendo, na
massa fluida, forças responsáveis pelo escoamento. A ação do rotor orienta a trajetória das
partículas dentro do corpo da bomba, desde a seção de entrada até a saída. De acordo com
a forma com que rotor cede energia ao fluido e também com a direção de escoamento, as
turbobombas podem ser classificadas em:

5.2.1. Classificação

➢ Bombas centrífugas ou radiais:


O fluido penetra na bomba por uma entrada junto ao centro do rotor e sai em direção
radial, devido à força centrífuga gerada pelo rotor em movimento.
81

Figura 66 – Bombas centrífuga

São destinadas a vencer grandes cargas com vazões relativamente baixas.

➢ Bombas de fluxo misto ou diagonal:


O líquido entra axialmente e sai em uma direção diagonal, média entre axial e radial.
Combinam os princípios de bombas radiais ou centrífugas e axiais.

Figura 67 – Fluxo misto ou semi-axial

São indicadas para cargas médias, e o acréscimo de pressão é devido, em parte, à


força centrífuga e, em parte, à ação de sucção das pás.

➢ Bombas axiais:
O fluido é movimentado na direção do eixo de acionamento do rotor e sai em
movimento helicoidal em direção ao eixo, praticamente axial.

Figura 68 – Bombas axiais


82

São indicadas para o bombeamento de grandes vazões e pequenas alturas de


elevação.

As turbobombas são as mais utilizadas no meio agrícola (irrigação) e abastecimento,


especialmente as bombas radiais ou centrífugas. Atendem uma ampla faixa de vazões e
pressões.

5.2.2. Partes componentes de uma turbobomba


Principais partes (do ponto de vista hidráulico): rotor e difusor;

Partes complementares: eixo, anéis de desgaste, caixa de gaxetas, selo mecânico,


rolamentos, acoplamentos, e base da bomba.

Figura 69 - Corte de uma bomba centrífuga onde são mostrados os seus componentes

5.2.3. Partes principais

✓ Rotor
83

Os rotores são componentes giratórios dotados de pás que giram no interior da


bomba, fazendo com que todo o fluido se movimente, criando um fluxo no sistema. Sendo
dividido em:

- Abertos, semiabertos ou fechados.

Figura 70 – Topos de rotores

✓ Número de rotores:
Apenas um rotor (monoestágio); ou
Vários rotores (multiestágios).

✓ Sucção:
Simples sucção (o rotor tem uma única boca de sucção); ou
Dupla sucção (líquido penetra no rotor pelos dois lados - duas bocas de sucção).
84

Figura 71 – Exemplo de Rotores

➢ Tipos de rotores

✓ Difusor
É a parte componente da bomba que:
- Transformar a energia cinética do líquido em energia de pressão;
- Coletar o líquido expelido pelo rotor e encaminhá-lo à tubulação de recalque.
85

• Tipos de difusores:
Difusor de caixa espiral ou voluta (simples ou dupla):
É, via de regra, o próprio invólucro ou carcaça da bomba, formando um canal de
área de secção transversal crescente na periferia do rotor.

Simples

Duplo
Figura 72 – Difusor Simples e Duplo

Difusor de palhetas diretrizes:

É o tipo de difusor comumente empregado em bombas multicelulares onde, além de


transformar a energia cinética em energia de pressão, tem a incumbência de direcionar o
fluido para que o mesmo não se choque perpendicularmente com a carcaça.

Figura 73 – Bomba unicelular com difusor de palheta diretriz


86

Difusores tronco-cônicos:

É o tipo empregado nas bombas verticais constituindo-se de palhetas fundidas na


própria carcaça da bomba. Pode-se considerar também como difusor tronco-cônico o trecho
final das caixas espirais, através do qual estas se acoplam à linha de recalque.

Figura 74 – Difusor Tronco-cônico

5.2.4. Partes complementares

➢ Eixo
- Transmite potência do motor para o rotor da bomba;
- Suportar o peso do rotor e cargas axiais e radiais.

Figura 75 - Eixo

➢ Anéis de desgaste
- Constituem juntas de vedação econômica, ou seja, de fácil substituição;
- São montadas na carcaça ou no rotor, ou em ambos.
- Minimizar a recirculação entre regiões de altas e baixas pressões.
87

Figura 76 – Anéis de desgaste

➢ Caixa de gaxetas
- Sistema de selagem que visa impedir o vazamento do líquido para o exterior
(quando a pressão no interior da bomba é maior que a atmosférica);
- Evitar a entrada de ar (quando a pressão no interior da bomba for inferior à pressão
atmosférica).

➢ Selo Mecânico
- Sistema de vedação utilizado quando o líquido bombeado não pode vazar para o
meio externo (líquido tóxico, inflamável, etc) e, também, em situações em que é
necessário evitar uma possível contaminação do líquido bombeado;
- Quando o selo é novo o vazamento é desprezível.

Figura 77 – Selo mecânico

Rolamento
- Manter o eixo e rotor em alinhamento com as partes estacionárias; impedindo o seu
movimento na direção radial ou na direção axial;
- Sua lubrificação varia de acordo com o fabricante e horas de trabalho.
88

Figura 78 - Rolamento

Acoplamentos
- Monobloco;
- Rígido (principalmente em bombas verticais);
- Flexíveis (tolera pequenos deslocamentos angulares paralelos ou combinação dos
dois na transmissão do torque).

Figura 79 - Acoplamento

5.2.5. Terminologia
➢ Sucção:
- HgS – altura geométrica de sucção
- hfS – perda de carga na sucção
- HmS – altura manométrica de sucção
- HmS = HgS + hfS
➢ Recalque:
- HgR – altura geométrica de recalque
- hfR – perda de carga no recalque
- HmR – altura manométrica de recalque
- HmR = HgR + hfR
➢ Sistema de bombeamento
HmT - altura manométrica total
- HmT = HmS + HmR
89

Figura 80 – Sistema de bombeamento

Exemplo:
Determine: HgR,HgS,HgT,HmR,HmS,HmT

Resolução:
26m,4m,30m,34m,6m,40m

5.2.6. Energia cedida ao líquido

➢ Altura de elevação ou manométrica


Quantidade de energia específica (potência útil por unidade de peso do
fluido em escoamento) que a bomba transfere ao fluido de trabalho.

➢ Altura Estáticas
✓ Altura Estática de Sucção - hs
90

Altura medida entre a superfície livre do tanque e o centro da sucção da bomba.

✓ Altura Estática de Recalque - hr


Altura medida entre a sucção da bomba até o fluido é abandonada ao sair pela
tubulação de recalque.
Altura medida do centro da bomba até o ponto mais alto da tubulação

✓ Altura Estática Total de Elevação - he


Altura medida entre os níveis em que o fluido é abandonado, ao sair pelo tubo de
recalque, e o nível livre no reservatório de captação. Também chamada de altura
topográfica ou geométrica.

➢ Altura Dinâmicas

- Altura Total de Sucção ou Manométrica de Sucção - Hs


- Altura Total de Recalque ou Manométrica de Recalque - Hr

5.2.7. Sucção

➢ Sucção positiva (bombas situadas acima do nível D’água)

A sucção é positiva quando o nível de água do reservatório de sucção estiver abaixo


do eixo da bomba.

Figura 81 – Sucção positiva

➢ Sucção negativa (bomba afogada)


91

O nível da água do reservatório de sucção se encontra acima do nível do eixo da


bomba.

Figura 82 – Sucção negativa

A energia cedida ao líquido (𝐻𝑚𝑎𝑛 ), nos dois casos, é dada pela soma das alturas
dinâmicas de sucção e de recalque.

𝐻𝑚𝑎𝑛 = 𝐻𝑠 + 𝐻𝑟

5.2.8. Potência

É a quantidade de energia por unidade de tempo consumida pela bomba hidráulica.


Durante o processo de transformação de energia elétrica em energia hidráulica o motor
elétrico entrega potência ao sistema (eixo), uma parte da potência é perdida como perdas
mecânicas e o restante é entregue ao rotor, que transfere energia para o fluido. Nesse
momento, a potência também é reduzida devido às perdas volumétricas e perdas
mecânicas.
92

Figura 83 – Fórmulas para a potencia

5.2.9. Curvas características


A escolha de uma bomba se baseia no recalque de determinada vazão para uma
determinada altura manométrica.
Existem grandezas que caracterizam seu funcionamento, como:
➢ Vazão;
➢ Pressão;
➢ Potência;
➢ Rendimento para cada diâmetro de rotor.
➢ Campos de aplicação devem ser levados em consideração:
➢ Gráficos de seleção (pré seleção), ou
➢ Gráficos de aplicação.
As curvas características retratam o comportamento da bomba, mostrando o
comportamento de independência existente entre as grandezas que determina o seu
funcionamento.
➢ Principais curvas:
✓ Curva vazão x pressão (Q x Hman)
Várias opções de rotores (diâmetros variados), no qual, cada rotor tem sua própria
curva.
93

Figura 84 – Variação da altura manométrica em função da vazão

✓ Curva vazão x potência (Q x Pot)


Junto com a curva Q x b, é utilizada para calcular o consumo de energia e escolher o
motor da bomba

Figura 85 – Variação da potência no eixo em função da vazão

✓ Curva Vazão x Rendimento (Q x 𝜼𝒃 ) -

Capacidade de conversão de energia motriz (motor) em hidráulica (bomba).


94

Figura 86 – Variação do rendimento em função da vazão

✓ Curva Vazão x NPSHr


Limite de pressão de sucção no qual o desempenho em perda de carga total da
bomba é reduzido em 3%, devido à cavitação.

Figura 87 – Variação do NPSH em função da vazão

✓ Ponto de operação e sua variação


O ponto de operação é caracterizado quando, à medida que se abre o registro, a água
começa a escoar, introduzindo perdas da carga a altura manométrica. A pressão vai
progressivamente diminuindo até atingir o equilíbrio, ou seja, o ponto em que as curvas
características da bomba e do sistema se cruzam.
95

A modificação do ponto de operação pode ser feita de várias formas:

- Modificando a curva do sistema através da abertura ou fechamento parcial


do registro de gaveta, ou ainda, mudando o diâmetro e/ou o comprimento
da tubulação (variação da perda de carga);
- Modificando a curva característica da bomba através da alteração da
velocidade de rotação da mesma, ou ainda, alterando o diâmetro do rotor.

5.2.10. Cavitação
A cavitação constitui a rápida vaporização e condensação de um líquido. O processo
é semelhante ao da ebulição. Na ebulição, cavidades de vapor são formadas a partir de
bolhas menores (núcleos) existentes no meio líquido, com o aumento da temperatura e a
pressão é mantida constante. A cavitação normalmente ocorre quando o líquido, a uma
temperatura constante, é submetido à pressão de vapor, seja por meio estático ou dinâmico.

➢ Ocorrência

Quando próximo à entrada da bomba ocorrer uma pressão menor que a pressão de
vapor, a uma determinada temperatura, resultará no aparecimento de bolhas de vapor. Se
esse processo ocorrer em toda a seção transversal, poderá ocorrer a interrupção do fluxo.
Caso essa depressão ocorra de forma localizada, as bolhas de vapor poderão ser arrastadas
para a saída do rotor (região de maior pressão, Pe > Pv). Assim ocasiona três processos:

✓ Condensação (implosão);
✓ Aceleração centrípeta; e
✓ Sobrepressão golpeando as paredes do rotor e carcaça.

Figura 88 – Processo de cavitação


96

➢ Efeitos

✓ Corrosão, com remoção e destruição de pedaços da parede de rotores e


carcaça;
✓ Aumento da potência no eixo (potência requerida);
✓ Trepidação, vibração, desbalanceamento;
✓ Ruído, martelamento (implosão das bolhas).

Os efeitos poderão ser mais destrutivos dependendo do acabamento interno da


bomba. As presenças de cavidades, trincas e ranhuras, facilitam e reforçam o ataque e a
corrosão. Por isso, a importância do acabamento superficial interno da bomba.

➢ Altura de instalações

Aplicando a equação da energia (Bernoulli) entre o nível de água (reservatório de


captação) e a entrada da bomba (figura 15.2), tem-se:

𝑃𝑎𝑡𝑚 𝑣2 𝑃1 𝑣2
𝛾
+ 2.𝑔𝐴 + 0 = 𝛾
+ 2.𝑔1 + ℎ𝑠 + ℎ𝑓

𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃1 2 2
𝑣𝐴 − 𝑣12
ℎ𝑠 = + − ℎ𝑓
𝛾 2.𝑔

Considerando:
- Variação de energia cinética = 0;
- Perda de carga = , temos:
𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃1
ℎ𝑠 =
𝛾
97

Teoricamente, a maior altura de sucção seria obtida quando a pressão criada no


interior (entrada da bomba) fosse igual ao vácuo absoluto.

Porém na prática, tanto a variação da energia cinética quanto a perda de carga são
diferentes de zero. Além disso, logo a pressão interna abaixa, atingindo a pressão de vapor
à temperatura de bombeamento, ocorrendo a vaporização, consequentemente, ocasiona a
presença da cavitação com prejuízos ao funcionamento normal da bomba. Para que a
cavitação não ocorra é necessário que, em todos os pontos do percurso da água, a pressão
seja sempre maior que a pressão de vapor, à temperatura de operação.

Concluindo que:

𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃1 2 𝑣2𝐴 − 𝑣21


ℎ𝑠 ≤ + − ℎ𝑓
𝛾 2. 𝑔

A pressão atmosférica varia com a altitude, equação:

𝑃𝑎𝑡𝑚
= 10 − 0,0012 . 𝐴
𝛾

Onde,

𝑃𝑎𝑡𝑚
𝛾
= dado em m;

A = altitude, m;

𝑣21 − 𝑣2𝐴
A variação da energia cinética ( 2.𝑔
)é praticamente desprezível em relação às

outras parcelas.

A pressão de vapor (𝑃𝑣 )varia de acordo com a temperatura (Tabela 21).

Temperatura Pressão de Temperatura Pressão de Temperatura Pressão de


(°C) Vapor (°C) Vapor (°C) Vapor
0 0,622 40 0,75 80 4,828
5 0,088 45 0,974 85 5,894
10 0,124 50 1,255 90 7,149
15 0,172 55 1,602 95 8,62
20 0,238 60 2,028 100 10,333
25 0,322 65 2,547 105 12,32
30 0,429 70 3,175 115 17,26
35 0,572 75 3,929 120 20,27
98

𝑣²
Quanto a menor menor a perda de carga. O recomendado é utilizar maiores
2.𝑔

diâmetros na tubulação de sucção e v ≤2 m/s.

➢ NPSH disponível (𝑵𝑷𝑺𝑯𝒅 ) e NPSH (𝑵𝑷𝑺𝑯𝒓 ) pela bomba

Dentro da expressão para cálculo da altura de sucção (ℎ𝑠 )as perdas ocasionais no
interior da bomba devem ser lavada em consideração, decorrente das depressões locais,
como:

𝑃𝑎𝑡 𝑃𝑣 𝑣12 − 𝑣𝐴2


Hs = − − − ℎ𝑓 − 𝛥ℎ𝐵
𝛾 𝛾 2 .𝑔

𝑃𝑎𝑡𝑚 𝑃𝑣 𝑣2 − 𝑣2𝐴
± ℎ𝑠 − − ℎ𝑓 ≥ 1 + 𝛥ℎ𝐵
𝛾 𝛾 2. 𝑔

No primeiro membro as grandezas dependem das condições locais. A soma dos


termos do primeiro membro representa a carga líquida positiva disponível 𝑁𝑃𝑆𝐻𝑑 , pode ser
modificado pelo projetista.

No segundo membro as grandezas dependem das características de entrada na


bomba, o que se refere a carga líquida requerida pela bomba 𝑁𝑃𝑆𝐻𝑟 , é fornecido pelo
fabricante de bombas.

Condição para funcionamento da bomba sem cavitação

𝑁𝑃𝑆𝐻𝑑 ≥ 𝑁𝑃𝑆𝐻𝑟

Como segurança, a altura de sucção deve ser bem menor que a calculada.

Na prática: Folga mínima: 0,5 m ou 20% (melhor acima 1,5 m ou 35%)


99

Figura 89 – Representação do NPSH

➢ Medidas destinadas a minimizar o aparecimento de cavitação

✓ Trabalhar sempre com líquidos frios (<T ⇒<pv);


✓ Tornar a linha de sucção a mais curta e reta possível, para diminuir a perda de
carga;
✓ Selecionar o diâmetro da tubulação de sucção de modo que a velocidade não
ultrapasse 2 m/s;
✓ Usar redução excêntrica na entrada da bomba para evitar a formação de
bolsas de ar;
✓ Instalar a válvula de pé de forma a evitar a sucção de ar.

Exemplo:

Calcular a máxima altura estática de aspiração de uma bomba para elevar 80 l/s de água a
uma altura manométrica de 20 m. Sabe-se também que: para esta vazão o NPSHR é de
1,69 m;, temperatura da água = 200 C; altitude local de 175 m; rotação da bomba = 1150
rpm; perda de carga na sucção = 1,3 m.

Resolução:

𝑃𝑎𝑡𝑚
= 10 − 0,0012 . 𝐴
𝛾
100

𝑃𝑎𝑡𝑚
= 10 − 0,0012 . 175 = 9,79𝑚
𝛾

𝑃𝑎𝑡𝑚 𝑃𝑣
ℎ𝑠 ≤ − − ℎ𝑓 − 𝑁𝑃𝑆𝐻
𝛾 𝛾

ℎ𝑠 = 9,79 − 0,238 − 1,3 − 1,69 = 6,56 𝑚

5.2.11. Associação de bombas


Indicada para situações onde haja a necessidade de variação da vazão e da altura
manométrica em magnitude tal que tornaria impossível (difícil economicamente) o
atendimento com uma única bomba. Temo então à associação de duas ou mais bombas em
série ou paralelo.

➢ Associação em paralelo

Junção de bombas de forma que as vazões de cada uma das unidades afluam por
uma mesma tubulação simultaneamente.

Figura 90 – Associação em paralelo

✓ Finalidade:
101

• Aumentar a vazão e dar ao sistema maior flexibilidade;


• Permitir a manutenção de unidades de bombeamento;
• Aumento da demanda ou consumo variável.

✓ Associação em paralelo - Bombas iguais:

Caso mais comum e mais recomendado. Procedimento para obtenção da curva da


associação.

No gráfico, para cada valor da altura manométrica é o dobro da vazão de uma bomba:

Figura 91 – Gráfico de associação de bombas iguais

Onde:

P1 = ponto de funcionamento de uma bomba operando isoladamente;

P2 = ponto de funcionamento da associação.

Quando a bomba é operada isoladamente → Vazão Qi e altura manométrica


Hi

Associação → Vazão total QT e altura manométrica HA, no qual, cada bomba


fornece uma vazão QA e uma altura manométrica HA.
102

Qi é maior que QA, dessa maneira, maior será a potência quando a bomba
operar isoladamente. Assim também, o NPS requerido será maior para o
funcionamento da bomba isoladamente.

As bombas deverão ser iguais para que não ocorram correntes secundárias
das bombas de maior potência para a de menor potência.

A associação em paralelo não apresenta vantagens significativas no aumento


da vazão, se a curva da bomba (H x Q) for pouco inclinada e a curva da tubulação
apresentar apreciável perda de carga (muito inclinada). Além disso, cada bomba
poderá trabalhar com vazão muito abaixo de seu valor normal, redundando em
aquecimento excessivo, baixo rendimento e cavitação (Figura 92).

Figura 92 – Inclinação e curva da tubulação

Dessa forma, a associação em paralelo deve ser feita com bombas que apresentam
curvas características (H x Q) com inclinações bem acentuadas e curva da tubulação com
menor curvatura, ou seja, tubulações com diâmetros grandes, com menores perdas de
carga.
103

Figura 93 – Inclinação e curva da tubulação

✓ Associação em paralelo - Bombas diferentes

Essa associação pode ser feita, porém, sempre que for possível, deve ser evitada
devido aos problemas que elas podem ocasionar.

Sistema 1

Figura 94 – Associação em paralelo em bombas diferentes

Onde:
104

Qi1 = vazão da bomba 1 operando isoladamente, com altura manométrica Hi1;

Qi2 = vazão da bomba 2 operando isoladamente, com altura manométrica Hi2.

QA1 = vazão da bomba 1 na associação, com altura manométrica HA;

QA2 = vazão da bomba 2 na associação, com altura manométrica HA;

QT = vazão total da associação (QT = QA1 + QA2) e altura manométrica HA.

Sistema 2

Figura 95 – Associação (paralelo) mal projetada bombas diferentes

Sendo o sistema 2 o ponto de referência, temos:

Em alturas manométricas maiores que 𝐻𝐵 a bomba “1” passará a operar com vazão
nula (Q = 0) →Ponto de “shutoff”, situação em que toda a potência vai aquecer a quantidade
de líquido contido dentro da carcaça da bomba.

A bomba “2”, caso esteja funcionando sozinha com vazão menor ou igual a Q 2, ao ser
ligada a bomba 1 não terá condições de fornecer qualquer descarga ao sistema e acontecerá
o mesmo que o caso anterior.

✓ Recomendações

- As bombas devem ser iguais e com curvas estáveis;


- A altura manométrica máxima do sistema nunca deverá ser maior que aquela
fornecida por uma das bombas com vazão nula;
105

- Os motores deverão ser selecionados de modo a suportar as variações de carga


quando há retirada ou adição de unidades de serviço em paralelo;
- As bombas devem possuir 𝑁𝑃𝑆𝐻𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 > 𝑁𝑃𝑆𝐻𝑟𝑒𝑞𝑢𝑒𝑟𝑖𝑑𝑜 para quaisquer valores de
carga.

✓ Rendimento

Bomba 1 → 𝑄1 , 𝑃𝑜𝑡1 𝑒 𝜂1

Bomba 2 → 𝑄2 , 𝑃𝑜𝑡2 𝑒 𝜂2

Em associação:

𝑄𝑇 = 𝑄1 + 𝑄2

𝐻 = 𝐻1 = 𝐻2

𝛾 .𝑄1 .𝐻1 𝛾 .𝑄2 .𝐻2


𝑃𝑜𝑡1 = e 𝑃𝑜𝑡2 =
𝜂1 𝜂2

𝑃𝑜𝑡1 + 𝑃𝑜𝑡2 = 𝑃𝑜𝑡𝑇

𝛾 . 𝐻 . 𝑄𝑡
𝑃𝑜𝑡1 + 𝑃𝑜𝑡2 =
𝜂

𝛾 .𝐻 .𝑄1 𝛾 .𝐻 .𝑄2 𝛾 .𝐻 .(𝑄𝑡 + 𝑄2 )


+ =
𝜂1 𝜂2 𝜂

𝑄1 𝑄2 (𝑄𝑡 + 𝑄2 )
+ =
𝜂1 𝜂2 𝜂

𝜂1 .𝜂2 .(𝑄𝑡 + 𝑄2)


𝜂= 𝜂1 .𝑄2 + 𝜂2 .𝑄1
→ Generalizando

𝑛
𝑄𝑖 ∑𝑛𝑖=1 𝑄𝑖
∑ =
𝜂𝑖 𝜂𝑇
𝑖=1
106

Figura 96 – Rendimento da associação em paralelo

➢ Associação em série
Muito utilizada em instalações com alturas manométricas elevadas. Pode ser feita
dentro da própria carcaça da bomba (múltiplos estágios) ou com unidades independentes.
Vence grandes alturas manométricas.

Figura 97 – Representação de uma associação em série

No caso de bombas próximas, a pressão desenvolvida no início da tubulação seria


muito alta. Em casos de bombas distantes, o inconveniente é a necessidade de mais
instalações com maior custo.
107

Em terrenos acidentados é recomendado colocar bombas dispostas de modo a


impedir pressões negativas, normalmente, colocando bombas intermediárias antes de
pontos mais elevados.

✓ Obtenção da curva característica


Para cada vazão é somada às alturas manométricas de cada bomba
𝐻𝑇 = 𝐻1 + 𝐻2

Figura 98 – Representação gráfica da associação em série

Observação:
Associação na mesma carcaça apresenta vantagem de menor gasto com instalações,
acionamento e operação;

Na associação em série é imprescindível verificar se o flange da bomba subsequente


suporta a pressão de descarga desenvolvida pela bomba anterior.

A potência consumida por uma bomba, na associação em série, é maior do que


quando a mesma estiver operando isoladamente.

Rendimento
𝑄𝑇 = 𝑄1 = 𝑄2
𝐻𝑇 = 𝐻1 + 𝐻2
𝑃𝑜𝑡𝑇 = 𝑃𝑜𝑡1 + 𝑃𝑜𝑡2
108

𝛾 .𝑄 .𝐻1 𝛾 .𝑄 .𝐻2
𝑃𝑜𝑡1 = e 𝑃𝑜𝑡2 =
270 .𝜂1 270 .𝜂2

𝛾 . 𝑄 . 𝐻1 𝛾 . 𝑄 . 𝐻2
𝑃𝑜𝑡𝑇 = +
270 . 𝜂1 270 . 𝜂2
𝛾 . 𝑄 𝜂2 . 𝐻1 + 𝜂𝑡 . 𝐻2
𝑃𝑜𝑡𝑇 = .( )
270 𝜂1 . 𝜂2
𝛾 .𝑄 .𝐻
Como 𝑃𝑜𝑡𝑇 = , podemos igualar com a equação anterior:
270 .𝜂𝑇

𝜂2 . 𝐻1 + 𝜂𝑡 . 𝐻2 𝐻𝑇
=
𝜂1 . 𝜂2 𝜂𝑇
𝜂2 . 𝐻1 + 𝜂𝑡 . 𝐻2 𝐻1 + 𝐻2
=
𝜂1 . 𝜂2 𝜂𝑇
𝜂1 . 𝜂2 . (𝐻1 + 𝐻2 )
𝜂=
𝜂1 . 𝐻2 + 𝜂2 . 𝐻1

5.2.12. Exemplo de dimensionamento


Projeto de um sistema de recalque
- Dados:
- Cota de nível da água na captação = 96 m
- Cota do nível da água no reservatório = 134 m
- Altitude da casa de bombas = 500 m
- Cota de eixo da bomba = 100m
- Comprimento da tubulação de sucção = 10m
- Comprimento da tubulação de recalque = 300m
- Vazão a ser bombeada = 35 m³/h
- Material da Tubulação = PVC
- Acessório:
- Sucção: 1 Válvula de pé com crivo, 1 Redução e 1 Curva 90º
- Recalque: 1 Ampliação, 1 Válvula de retenção, 1 Registro de gaveta e 3
Curvas 90º
109

Resolução:
Diâmetro do recalque:
Sendo V = 1,5 m/s
𝑉
𝑄=
𝐴

𝑉
𝑄=
𝜋 . 𝐷²
4
4𝑄
𝐷=√
𝜋𝑉

35
4 3600
𝐷= √
𝜋 . 1,5
𝐷 = 0,09 𝑚 = 90 𝑚𝑚 − 𝐷𝑎𝑑𝑜𝑡𝑎𝑑𝑜 = 100 𝑚𝑚

Hf do recalque:
Comp. Equivalente por peça
Acessório Quantidade (m)
Ampliação 1 1,3 x 1
Válvula de retenção 1 12,9 x 1
Registro de gaveta 1 0,7 x 1
Curva 90° 3 1,3 x 3
Total = 18,8 m
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐿 + 𝐿𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 = 300 + 18,8 = 318,8

Calcular Hf com Hazen Wilians utilizando: 𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 318,8 𝑚; 𝑄 = 35 𝑚³/𝑠; 𝐷 =


100 𝑚𝑚 𝑒 𝐶 = 150.
110

𝑄 1,852 𝐿
𝐻𝑓𝑅 = 10,643 . ( ) . 4,87
𝐶 𝐷
35 1,852
318,8
𝐻𝑓𝑅 = 10,643 . ( 3600 ) .
150 0,14,87

𝐻𝑓𝑅 = 4,4 𝑚𝑐𝑎

Altura manométrica de recalque:


HmR = HgR + HfR
HmR = 34 + 4,4
HmR = 38,4 m

Diâmetro da sucção:
Diâmetro da sucção ≥ diâmetro do recalque
𝐷𝑠 = 125 𝑚𝑚

Hf na sucção:
Comp. Equivalente por peça
Acessório Quantidade (m)
Válvula de pé com crivo 1 30 x 1
Curva 90° 1 1,6 x 1
Redução 1 0,8 x 1
Total = 32,4
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐿 + 𝐿𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 = 10 + 32,4

𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 10 + 32,4
𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 42,4 m
Calcular Hf com Hazen Willians utilizando: 𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 42,4 m; Q = 35 m³/h; D =
125 mm e C = 150.

𝑄 1,852 𝐿
𝐻𝑓𝑅 = 10,643 . ( ) . 4,87
𝐶 𝐷
35 1,852
42,4
𝐻𝑓𝑅 = 10,643 . ( 3600 ) .
150 0,1254,87

𝐻𝑓𝑅 = 0,20 𝑚𝑐𝑎


111

Altura manométrica de sucção:


HmS = HgS + HfS
HmS = 4 + 0,20
HmS = 4,20 m

Altura manométrica total:


HmT = HmS + HmR
HmT = 4,20 + 38,4
HmT = 42,6 mca

Escolha da bomba:
HmT = 42,6 mca
Dados:
Q = 35 m³/h

Bomba escolhida:
112

KSB ETA 50-33/3;

𝜑 = 220 𝑚𝑚;

𝜂 = 69%;

Pot = 10 cv

Escolha do motor (caso não seja moto-bomba)


Folga para motores eletricos
Potência da bomba Potência do motor
Até 2 cv 50%
2 a 5 cv 30%
5 a 10 cv 20%
10 a 20 cv 15%
Acima de 20 cv 10%

Lista de materiais:
Material Quantidade Preço unitário Preço total
Tubo PVC 125 mm 2 barras
Válvula de pé c/crivo (125 mm) 1 un
Curva 90° (125 mm) 1 un
Redução 125 mm x 2” 1 un
KSB ETA 50-33/3; Pot = 10 cv 𝜑 220 𝑚𝑚; 𝜂 69% 1 un
Tbu PVC 100 mm 52 barras
Redução 100 mm x 2” 1 un
Válvula de retenção (100) 1 un
Registro da gaveta (100) 1 un
Curva 90° (100 mm) 1 un
113

6. CONDUTOS LIVRES

6.1. INTRODUÇÃO
Denominam-se condutos livres ou canais, os condutos onde o escoamento é
caracterizado por apresentar uma superfície livre na qual reina a pressão atmosférica. Neste
contexto, os cursos d’água naturais constituem o melhor exemplo de condutos livres. Além
dos rios, funcionam como condutos livres os canais artificiais de irrigação e drenagem, os
aquedutos abertos, e de um modo geral, as canalizações onde o líquido não preenche
totalmente a seção do canal.

Figura 99 – Representação condutos livres

Os escoamentos em condutos livres diferem dos que ocorrem em condutos forçados


porque o gradiente de pressão não é relevante. Nesses condutos, os escoamentos são mais
complexos e com resolução mais sofisticada, pois as variáveis são interdependentes com
variação no tempo e espaço.
Uma importante característica da hidráulica dos canais além da superfície livre, é a
deformidade desta. Nos condutos livres, ao contrário do que ocorre nos forçados, a veia
líquida tem liberdade de se modificar para que seja mantido o equilíbrio dinâmico. Dessa
forma a deformidade da superfície livre dá origem a fenômenos desconhecidos nos
condutores forçados, como ressalto hidráulico, remanso, entre outros.
114

.
Figura 100 – Representação dos condutos

6.2. ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DE UM CANAL


Os canais são projetados usualmente em uma das quatro formas geométricas seguintes:
Retangular, trapezoidal, triangular e semicircular, sendo a forma trapezoidal a mais utilizada
(Figura 101).
Os elementos geométricos constituem propriedades da secção transversal do canal, as
quais podem ser caracterizadas pela forma geométrica e pela altura de água.

Figura 101 – Seção transversal de um canal trapezoidal

Estes elementos são indispensáveis ao dimensionamento hidráulico. No caso de


secções simples e regulares, os elementos hidráulicos são expressos e relacionados entre
si matematicamente em função da altura de água no canal. No entanto, no caso de secções
mais complexas e não-uniformes como são os canais naturais, não há uma equação simples
que possa relacioná-los, uma vez que são variáveis.
115

6.2.1. Principais elementos geométricos são:


Seção transversal: é a seção plana do conduto, normal a direção do escoamento;

Figura 102 – Representação da seção transversal

Área molhada (S): é a parte da seção transversal do canal em contato direto com o líquido;

Figura 103 - área molhada representada pela cor azul

Perímetro molhado (P): comprimento da linha de contato entre a água, as paredes e o


fundo do canal.

Figura 104 - Perímetro molhado representado pela linha vermelha.

Para se calcular a área e o perímetro dos canais, deve se utilizar os conhecimentos


básicos das figuras geométricas representadas abaixo:

Figura 105 - Representação das figuras geométricas


116

Profundidade (h): altura do líquido acima do fundo do canal;


Largura superficial (B): largura da superfície em contato com a atmosfera;

Figura 106 – Representação da profundidade e largura superficial

Raio hidráulico: é a razão entre a seção molhada e o perímetro molhado

Tabela 22 – Elementos de geométricos de canais

Obs.: 2.arccos (12.h/D), onde deve ser calculado em radianos.


117

6.2.2. Formas geométricas dos canais


A maioria dos condutos livres apresentam seção trapezoidal, retangular ou circular.

➔ Seção trapezoidal

Área: 𝐴 = ℎ (𝑏 + 𝑚. ℎ)

Perímetro: 𝑃 = 𝑏 + 2. ℎ√1 + 𝑚²
𝐴
Raio hidráulico: 𝑅 =
𝑃

➔ Seção retangular

Área: 𝐴 = 𝑏 . ℎ
Perímetro: 𝑃 = 𝑏 + 2. ℎ
𝐴
Raio hidráulico: 𝑅 =
𝑃

➔ Seção circular (50%)

Largura da superfície:
𝜋.𝐷²
Área: 𝐴 =
8
118

𝜋.𝐷
Perímetro: 𝑃 =
2
𝐴 𝐷
Raio hidráulico: 𝑅 = =
𝑃 4

Exemplo:
Calcular a seção, o perímetro molhado e o raio hidráulico para o canal esquematizado a
seguir (talude = 1 : 0,58)

Resolução:
Área:
𝐴 = ℎ (𝑏 + 𝑚. ℎ)
𝐴 = 2 (1 + 0,58.2)
𝐴 = 4,32 𝑚²

Perímetro:

𝑃 = 𝑏 + 2. ℎ√1 + 𝑚²

𝑃 = 1 + 2.2√1 + 0,58²
𝑃 = 5,62 𝑚

Raio hidráulico:
𝐴
𝑅=
𝑃
4,32
𝑅=
5,62
𝑅 = 0,77 𝑚
119

6.3. DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO


Permanente Uniforme

(Numa determinada seção a (Seção uniforme, profundidad e


vazão permanece constante) velocidade constantes)
Escoameto
Variado Gradualmente
Não permanente (Acelerado ou retardado) Bruscamente
(Vazão variável)

6.3.1. Escoamento Permanente Uniforme nos canais


Em condições normais, ocorre nos canais um movimento uniforme, ou seja, a velocidade
média da água é constante ao longo do canal.

No caso da equação da continuidade:

𝑸 = 𝑨 .𝑽

Onde:

Q = vazão (m³/s);

A = Área da seção molhada (m²);

V = velocidade de escoamento (m/s).

A área é determinada geometricamente e a velocidade pode ser medida no local ou,


na maioria dos casos, determinada através de equações. Há várias equações para o cálculo
da velocidade média da água em um canal, porém as mais usadas são as de Chezy, Strickler
e Manning.

A fórmula de Manning é a mais utilizada, pois alia a simplicidade de aplicações com


excelentes resultados práticos. e escrita da seguinte forma:

1 2 1
𝑄 = 𝐴 . . 𝑅3 . 𝑖 2
𝑛
Sendo:

Q = vazão transportada pelo canal (m³.s-1);


R = raio hidráulico (m);
120

i = declividade do canal (m.m-1);


= coeficiente de manning
Tabela 23 – Coeficiente de Manning
Natureza da parede Conservação
Excelente Bom Regular Ruim
Canal revestido com concreto 0,012 0,014 0,016 0,018
Canal não revestido escavado em terra, reto e uniforme 0,017 0,02 0,023 0,025
Geanini Peres (1996)

Exemplo:

Determinar a velocidade de escoamento e a vazão de um canal trapezoidal com as seguintes


características: inclinação do talude – 1:1,5; declividade do canal 0,00067 m/m, largura do
fundo = 3,5 m e profundidade de escoamento = 1,2 m. Considera um canal com paredes de
terra, reto e uniforme.

Resolução
𝐴 = 1,2 . (3,5 + 1,5 𝑥 1,2)
𝐴 = 6,36 𝑚²

𝑃 = 3,5 + 2 𝑥 1,2 √1 + 1, 52
𝑃 = 7,83 𝑚
𝐴
𝑅=
𝑝
6,36
𝑅=
7,83
𝑅 = 0,81 𝑚
Canal de terra, reto e uniforme: n = 0,02
1 2 1
𝑄 = 𝐴 . . 𝑅3. 𝑖 2
𝑛
1 2 1
𝑄 = 6,36 . . 0,813 . 0,000672
0,02
𝑄 = 7,15 𝑚³/𝑠

𝑄
𝑉=
𝐴
121

7,15
𝑉=
6,36
𝑉 = 1,13 𝑚/𝑠

➢ Fórmula de Manning para condutos circulares parcialmente cheios


A fórmula de Manning também é bastante utilizada para o dimensionamento de drenos e
bueiros. Neste caso utiliza-se a equação abaixo:

0,375
𝑄 .𝑛
𝐷=( 1)
𝑘 . 𝑖2
Tabela 24 – Valores de K

h/D 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1


K 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3

➢ Velocidade Médias mínimas para evitar depósitos:

- Águas com suspensões finas: 0,30 m/s


- Água transportando areias finas: 0,45 m/s
- Águas residuais (Esgoto): 0,60 m/s

- Velocidades práticas:

- Canais de navegação sem revestimento: até 0,50 m/s


- Aquedutos de água potável: 0,60m/s a 1,30 m/s.
- Coletores e emissários de esgoto: 0,60 a 1,50 m/s.

6.3.2. Movimento Permanente Variado nos canais

6.3.2.1. Movimento Permanente Variado Gradualmente


São aqueles em que as profundidades variam, gradual e lentamente, ao longo do canal.
122

Em cada seção há movimentos permanentes, ou seja, as grandezas interferem no


escoamento, em cada seção, não sem o edificando com o tempo, e a distribuição das
pressões obedece a Lei da Hidrostática.

O movimento gradualmente variado pode ocorrer de forma acelerada, como nos trechos
iniciais dos condutos de seção constantes, nos quais o movimento uniforme subsequente se
realiza em regime supercrítico.

6.3.2.2. Movimento Permanente Variado Bruscamente


As linhas de corrente apresentam curvatura acentuada, sendo que em razão disto, não
podemos admitir a distribuição hidrostática das pressões nas seções do canal.

Esses movimentos ocorrem em trechos de pequenas extensões, de modo que o atrito da


água com as paredes do contorno tem pequeno valor, podendo ser desprezado na maioria
dos casos.

As equações de movimento uniforme não se aplicam nesses casos. Ex: Vertedores


(crista delgada e arredondada).

Figura 107 - Representação do fluxo permanentemente uniforme e variado

6.3.3. Velocidade de escoamento em canais


O custo de um canal é diretamente proporcional às suas dimensões e será tanto menor
quanto maior for a velocidade de escoamento.

O atrito entre a superfície livre, o ar, a resistência oferecida pelas paredes e pelo fundo,
originam diferenças de velocidades, tendo um valor mínimo, junto ao fundo do canal, e
123

máximo, próximo à superfície livre da água, conforme a tabela 24. Devido a essa variação
da velocidade com a profundidade, trabalha-se com a velocidade média.

Tabela 24 – Valores mínimos recomendáveis para velocidade média no canal.

Material Velocidade (m/s)


Agua com suspensão fina 0,3 m/s
Agua com areia fina 0,45 m/s
Agua de esgoto 0,60 m/s
Agua pluvial 0,75 m/s

6.4. DECLIVIDADES RECOMENDADAS PARA CANAIS


Quanto maior a declividade do canal maior será a velocidade de escoamento, o que pode
provocar erosão dos canais. As declividades recomendadas seguem na tabela abaixo.

Tabela 25 – Tipos de canais e suas declividades

Tipo de canal Declividade (m/m)


Canal de irrigação pequeno 0,0006 0,0008
Canal de irrigação grande 0,0002 0,0005

6.4.1. Inclinações Recomendadas para os taludes dos canais


A inclinação dos taludes depende principalmente da natureza das paredes.

Tabela 26 – inclinação em relação a natureza das paredes

Natureza das paredes m


Canais em terra sem revestimento 2,5 - 5
Terra compacta sem revestimento 1,5
Concreto 0
Fonte: Silvestre

6.4.2. Borda livre para canais


A borda de um canal corresponde à distância vertical entre o nível máximo de água no
canal e o seu topo.

Em canais abertos e fechados, recomenda-se por medidas de segurança uma folga de


20 a 30% de sua altura, ou 30 cm para pequenos canais e 60 a 120 cm para grandes canais,
acima do nível d’água máximo do projeto. Este acréscimo representa uma margem de
124

segurança contra possíveis elevações do nível d' água acima do calculado, o que poderia
causar transbordamento. A figura 108, apresenta um exemplo de borda livre.

Figura 108 – Representação borda livre


125

7. HIDROMETRIA

7.1. INTRODUÇÃO

7.1.1. Definição
É uma das partes mais importantes da hidráulica, cuida das questões tais como, medidas
de profundidade, de variação de nível de água, das seções de escoamento, das pressões,
das velocidades das vazões, ensaio de bombas, etc.

Figura 109 – Representação de um canal

7.1.2. Importância
Quantificar a vazão disponível para projetos de irrigação;
Controlar a vazão (volume) de água de irrigação a ser aplicada em projetos (racionalizar
o uso da água);
Quantificar a vazão disponível para acionar uma roda d’água ou carneiro hidráulico;
Sistemas de abastecimento de água e lançamento de esgoto; Instalações hidrelétricas.

7.1.2.1. A escolha do método depende:


➢ Do volume do fluxo de água;
➢ Das condições locais;
➢ Do custo (existem equipamentos caros e outros simples e baratos);
➢ Da precisão desejada.
126

7.2. Medição de vazão em canais

7.2.1. Método direto


Neste método mede-se o tempo gasto para encher um recipiente de volume conhecido.
A vazão é determinada quando é dividido o volume do recipiente pelo tempo necessário
para o seu enchimento.

É recomendado que o tempo mínimo para o enchimento do recipiente seja de 20


segundos. Este processo é aplicado a pequenas vazões, como as que ocorrem em riachos
e canais de pequeno porte.

7.2.2. Método da velocidade


Este método envolve a determinação da velocidade e da seção transversal do canal cuja
vazão é medida.

𝑄 = 𝐴.𝑉
Onde:
Q = vazão;
A = área da seção do canal;
V = velocidade da água no canal.

7.2.2.1. Determinação da velocidade de escoamento:


Em canais de grandes portes e que apresentam seção irregular, como os rios por
exemplo, a seção de fluxo é obtida quando é dividido a seção transversal em segmentos, a
área de cada segmento é obtida multiplicando-se sua largura pela profundidade média da
seção.

A soma das áreas fornece a área total da seção de escoamento.

Por ocorrerem variações significativas na sua intensidade dentro da seção de


escoamento, torna a média de escoamento dificultosa.

➢ A velocidade média é medida através de dois processos que se baseiam na


precisão:
➢ O método flutuador; e
➢ O molinete.
127

7.2.2. Método flutuador


Este método se aplica a trechos retilíneos de canal e que tenham seção transversal
uniforme. As medidas devem ser feitas em dias sem vento, de forma a se evitar sua
influência no caminhamento do flutuador. Para facilitar a medida, devem ser esticados fios
no início no meio e no final do trecho onde se pretende medir a velocidade. O flutuador deve
ser solto ao montante, a uma distância suficiente para adquirir a velocidade da corrente,
antes dele cruzar a seção inicial do trecho de teste. Com a distância percorrida e o tempo,
determina-se a velocidade média do flutuador através da fórmula:

𝐸𝑠𝑝𝑎ç𝑜
𝑉=
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜

Figura 110 – Representação do método flutuador

Como existe uma variação vertical da velocidade da água no canal, é utilizado uma
tabela para determinar a velocidade média da água em todo o perfil o que corresponde a
equação → 𝑉𝑚é𝑑𝑖𝑎 = 𝑉𝑓𝑙𝑢𝑡𝑢𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑥 𝐾.

Tabela 27 - Fator de correção da velocidade.

Profundidade média do canal (m) Fator de correção (K)


0,3 - 0,9 0,68
0,9 - 1,5 0,72
>1,5 0,78

Exemplo:
128

Pretende-se medir a vazão de um rio através do método do flutuador. Para tanto, foi
delimitado um trecho de 15 m, que foi percorrido pelo flutuador em 30, 28 e 32 s. A
seção transversal representativa do trecho está na figura. Determine:

a) a seção de escoamento;
b) a velocidade média do flutuador;
c) a velocidade média do rio;
d) a vazão do rio.

Resolução:
Área da seção
0,5 𝑥 1
𝐴1 = = 0,25 𝑚²
2
1 + 1,2
𝐴2 = 𝑥 0,8 = 0,88 𝑚²
2
1,2 + 2,1
𝐴3 = 𝑥 0,5 = ,825 𝑚²
2
𝐴4 = 2,1 𝑥 1,5 = 3,15 𝑚²
2,1 + 1
𝐴5 = 𝑥 1 = 1,55 𝑚²
2
1,1 𝑥 1
𝐴6 = = 0,55 𝑚²
2
𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 7,2 𝑚²

Velocidade de flutuador
129

30 + 28 + 32
𝛥𝑡 = = 30𝑠
3
Espaço = 15 m
15
𝑉= = 0,5 𝑚/𝑠
30

Velocidade média do rio


Média de profundidade = 1,48 m
Pela tabela K = 0,72
𝑉𝑚é𝑑𝑖𝑎 = 0,72 𝑥 0,5
𝑉𝑚é𝑑𝑖𝑎 = 0,36 𝑚/𝑠

Vazão do rio
𝑄 = 𝐴.𝑉
𝑄 = 7,2 𝑥 0,36
𝑄 = 2,59 𝑚³/𝑠

➢ Molinete
São aparelhos constituídos de uma parte móvel (palhetas ou conchas), que gira com a
passagem do fluido, dando um número de rotações da hélice proporcional à velocidade de
escoamento.

Figura 111 – Representação do molinete

Principais tipos:
- eixo horizontal (Europa);
130

- eixo vertical (origem norte-americana)


Quando o molinete é imerso no canal, as suas hélices adquirem uma velocidade que
é proporcional à velocidade da água. Nesta última é determinada medindo-se o tempo gasto
para um certo número de revoluções e utilizando-se a curva de calibração do molinete, que
relaciona a velocidade de rotação do molinete à velocidade da água no canal.

Os molinetes são utilizados para medir a velocidade da água a diversas


profundidades e posições em uma seção transversal do canal, ou rio. As medições de
velocidade podem ser feitas em múltiplas profundidades, duas profundidades ou em uma
única profundidade.

Método das múltiplas profundidades: Consiste na medição da velocidade em diversos


pontos, desde o fundo do canal até a superfície da água. Se a velocidade for medida em
posições uniformemente espaçadas, a velocidade média aproxima-se da média das
velocidades medidas.

Método das duas profundidades: A velocidade é medida a 20 e 80% da profundidade


de cada segmento, começando a partir da superfície da água. A velocidade média de
escoamento é dada pela média das duas velocidades.

Método da profundidade única: A velocidade é determinada a 60% da profundidade do canal.


Este método é utilizado para canais com profundidades inferiores a 30 cm.

7.2.3. Vertedouros
Vertedores são estruturas (simples abertura) dispostas transversalmente ao canal e
sobre a qual a água escoa. Sua principal utilização se dá na medição e controle da vazão
em canais.
131

Figura 112 – Representação de um vertedouro retangular

➢ Cuidados na instalação do vertedor:


- A carga hidráulica (H) não deve ser inferior e nem superior a 60 cm;
- A carga hidráulica (H) deve ser medida a uma distância do vertedor equivalente a 4H.
Na prática adota-se uma distância de 1,5 m;
- A distância do fundo do canal à soleira do vertedor deve ser no mínimo, 2H;
- O nível de água à jusante deve ficar, no mínimo, 10 cm abaixo da soleira do vertedor .

Os vertedores apresentam vantagens e desvantagens:

Vantagens: simplicidade construtiva e operacional, precisão adequada quando operado


dentro das recomendações (erro < 5%) e durabilidade.

Desvantagens: elevada perda de carga e elevação do nível d’água a montante, decantação


de material em suspensão ao montante, com alteração das condições de escoamento e
erosão a sua jusante, pela queda da lâmina vertente.

7.2.3.1. Classificação dos vertedores

➢ Forma
✓ Simples
Retangulares, triangulares, trapezoidais, entre outros.

Figura 113 – Representação de vertedores simples

✓ Composta
Seções combinadas
132

Figura 114 – Representação de vertedores compostos


➢ Altura relativa da soleira

Completas ou livres (P > P’)


Incompletas ou afogadas (P < P’)

Figura 115 – Representação da altura da soleira

➢ Natureza da parede

Parede delgada (chapa metálica ou madeira chanfrada) - a lâmina vertente toca um


único ponto da soleira.

Parede espessa (e > 0,66 H)

Figura 116 – Representação do vertedor pela natureza


133

➢ Largura relativa

Sem contração (L = B)
Com contrações (L < B) com 1 ou 2 contrações

Figura 117 – Representação da largura do vertedor

7.2.3.2. Cálculo da vazão através dos vertedores


Equações para orifícios de grandes dimensões:
3 3
2
𝑄 = . 𝐶𝑑. 𝐿√2𝑔. (𝐻2 − 𝐻12)
2
3
Vertedor →orifício sem o bordo superior → 𝐻1 = 0 𝑒 𝐻2 = 𝐻
2
𝑄= . 𝐶𝑑. 𝐿 √2𝑔
3
Existem diversas fórmulas para o cálculo da vazão em vertedores retangulares. A mais
usada é a de Francis 𝐶𝑑 = 0,62:

𝑄 = 1,838. 𝐿. √𝐻³ → 𝑠𝑒𝑚 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜


Onde:
Q = vazão, m³/s;
L = largura da soleira, m;
H = carga sobre o vertedor, m.

𝑄 = 1,383. [(𝐿 − 0,1. 𝐻). √𝐻³] → 𝑐𝑜𝑚 1 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜

𝑄 = 1,383. [(𝐿 − 0,2. 𝐻). √𝐻³] → 𝑐𝑜𝑚 2 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜


134

7.2.3.3. Vertedor retangular


Os vertedores retangulares são muito utilizados para medir e controlar a vazão de
canais de irrigação. Os vertedores podem ser divididos em duas categorias: sem o com
contração lateral.

Figura 118 – Representação do vertedor retangular

➢ Influência da forma da veia líquida


Na veia de lâmina livre a pressão sob a lâmina é igual à pressão atmosférica.

Nas lâminas deprimida e aderida o ar é arrastado pela água, provocando o aparecimento


de uma pressão negativa sob a lâmina, o que modifica a forma da mesma.

Figura 119 – Representação da veia líquida


135

7.2.3.4. Vertedores afogados


Quando o nível da água a jusante é superior ao da soleira (Figura 120).

Figura 120 – Representação do vertedor afogado

Neste caso, a vazão diminui à medida que aumenta a submergência. A vazão é


calculada com base nas fórmulas para vertedores livres, aplicando-se um coeficiente de
redução (Tabela 28).

Tabela 28 - Coeficientes de redução da vazão em função da submergência (h/H)


h/H 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,7 0,8 0,9
Coeficiente 1 1 1 1 1 0,9 0,9 0,78 0,62

Equações para orifícios de grandes dimensões:


3 3
2
𝑄 = . 𝐶𝑑. 𝐿√2𝑔. (𝐻2 − 𝐻12 )
2
3
Vertedor →orifício sem o bordo superior → 𝐻1 = 0 𝑒 𝐻2 = 𝐻
2
𝑄= . 𝐶𝑑. 𝐿 √2𝑔
3
Existem diversas fórmulas para o cálculo da vazão em vertedores retangulares. A
mais usada é a de Francis 𝐶𝑑 = 0,62.

Para determinar a vazão sem contração lateral, utiliza-se a fórmula:


3
𝑄 = 1,838 . 𝐿 . 𝐻2
Onde:
Q = vazão (m³/s);
H = carga hidráulica (m);
136

L = largura da soleira (m).

Para determinar a vazão com a contração lateral utiliza-se a fórmula:


3
𝑄 = 1,838 (𝐿 − 0,1) 𝐻 2 → 1 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜
3
𝑄 = 1,838 (𝐿 − 0,2) 𝐻 2 → 2 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎çõ𝑒𝑠
Exemplo:
Determine a vazão do canal sabendo que a soleira do vertedor retangular (sem contração
lateral) tem 2 m e a carga hidráulica é de 35 cm.

Resolução:
3
𝑄 = 1,838 . 𝐿 . 𝐻 2
3
𝑄 = 1,838 . 2 . 0,352
𝑄 = 0,761 𝑚³/𝑠

Determine a vazão do canal sabendo que a soleira do vertedor retangular (com contração
lateral) tem 2 m e a carga hidráulica é de 35 cm

3
𝑄 = 1,838 (𝐿 − 0,2) 𝐻 2
3
𝑄 = 1,838 (2 − 0,2 𝑥 0,35) 0,352
𝑄 = 0,735 𝑚³/𝑠
7.2.3.5. Vertedor triangular de parede delgada
Os vertedores triangulares são precisos para medir pequenas vazões (Q < 30 L/s).

Figura 121 – Representação do vertedor triangular de parede delgada


137

Os vertedores empregados, na prática, são somente os que têm forma isósceles, com
ângulo = 90°.

Figura 122 – Vertedor triangular


Para determinar a vazão é utilizada a fórmula de Thomson:

𝟓
𝑸 = 𝟏, 𝟒 . 𝑯𝟐
Onde:
Q= vazão (m³/s)
H = carga hidráulica (m).

Exemplo:
Determine a vazão do canal sabendo que o vertedor triangular tem um ângulo de 90º
e a carga hidráulica é de 20 cm.

Resolução:
5
𝑄 = 1,4 . 𝐻 2
5
𝑄 = 1,4 . 0,22
𝑄 = 0,025 𝑚³/𝑠

7.2.3.6. Vertedor trapezoidal parede delgada


Os vertedores trapezoidais são considerados como sendo formado por um vertedor
retangular e um triangular, de ângulo 𝜃.
138

O trapézio é utilizado para compensar o decréscimo de vazão que se observa devido


às contrações.

𝑄 = 𝑄2 + 2. 𝑄1
2 3 8 𝜃 5
𝑄= 𝐶𝑑 𝐿√2𝑔𝐻 2 + 𝐶𝑑 √2𝑔 𝑡𝑔 ( )𝐻 2
3 15 2

Figura 123 – Vertedor trapezoidal

O vertedor trapezoidal de Cipoletti é um tipo especial, onde as faces são inclinadas


de 1:4 (h:v) , resultando na tg(𝜃/2)= 1/4

A declividade de 1:4 compensa a diminuição da largura devido a contração lateral, de


forma que a equação usada seja a do vertedor retangular de parede delgada com duas
contrações.

2 2𝐻 3
𝑄= 𝐶𝑑 𝐿 (1 − ) √2𝑔𝐻 2
3 10
Cipolleti propôs que 𝐶𝑑 = 0,63e que os limites seguintes fossem respeitados:
0,05 < h < 0,60 m
H < L/3
Largura do canal (B) > 30 a 60 H
Fórmula para determinar a vazão:
3
𝑄 = 1,86. 𝐿. 𝐻 2

Exemplo:
Determine qual deve ser a largura da soleira em um vertedor trapezoidal para medir uma
vazão de 1700 L/s com uma carga hidráulica de 50 cm.
139

Resolução:
3
𝑄 = 1,86. 𝐿. 𝐻 2
3
1,7 = 1,86. 𝐿. 0,52
1,7
𝐿= 3
1,86. 0,52
𝐿 = 2,59 𝑚

7.3. Calha
Uma calha é um equipamento de medição, construído ou instalado em um canal, que
permite a determinação da sua descarga através de uma relação cota-vazão. Ela apresenta
uma seção inicial convergente, que serve para direcionar o fluxo para uma seção contraída,
que funciona como uma transição entre o canal e a garganta. Após a garganta, se inicia uma
divergente, cuja função é retornar o fluxo de água ao canal. A garganta atua como uma
seção de controle, onde ocorrem velocidade e altura de escoamento críticas, que permitem
a determinação da vazão com precisão com uma única leitura do nível de água na seção
convergente da calha. Muitos são os tipos de calhas disponíveis, porém os mais utilizados
são:

- Medidor “Parshall” e calhas “WSC”.

7.4.1. Medidor Parshall


A calha Parshall tem uma conformação especial que lhe dá a propriedade de executar
a função de medir a vazão e/ou propiciar a mistura dos produtos químicos.

Normalmente montada em canal aberto e por gravidade, pode ser construída com:

- Concreto;
- Alvenaria; ou
- Em fibra de vidro.

É utilizada, principalmente, para medir a vazão em canais, em cursos d’águas e em


estações de tratamento de água e esgoto. É utilizada, também, como misturador de produtos
químicos.

Essas calhas são compostas de três partes:

➢ Seção convergente com fundo nivelado;


140

➢ Seção estrangulada (garganta) com fundo em declive e paredes paralelas; e


➢ Seção divergente com aclive no fundo.

Figura 124 – Esquema de calha Parshall e calha em fibra de vidro

O fluido é tranquilizado em sua seção convergente, na qual os efeitos da velocidade


são praticamente eliminados, fazendo com que sua precisão seja de ± 3%. Seu
dimensionamento é feito por meio da largura da seção estrangulada, chamada de garganta
(W) e das vazões mínima e máxima a que a mesma será submetida (Tabela 29).

Tabela 29 - Vazões máximas e mínimas para calha Parshall em função da largura da


garganta.

Largura
da
garaganta
(W)
1" 2" 3" 6" 9" 12" 18"
Vazão máxima (L/s) 5,67 14,17 53,8 110,4 252 455,9 696,6
Vazão mínima (L/s) 0,11 0,28 0,8 1,4 2,55 3,1 4,2

Por meio de experiências, comprovou-se que a vazão obtida nesses medidores pode ser
representada pela equação:

𝑄 = 𝐾. 𝐻𝑛
Onde:
Q = vazão, m³/s;
141

H = carga, m;
K e n = coeficientes para cada medidor.

As calhas Parshall apresentam vantagens como:


- Facilidade de realização;
- Baixo custo de execução;
- Não há sobrelevação do fundo;
- Uma só medição para a obtenção da vazão;
- Não há formação de depósito de materiais em suspensão;
- Pode ser construído de diversos materiais.

7.4.2 Calhas WSC Flume


Esses medidores se adaptam bem para a medição de vazão em sulcos ou canais.
Podem ser construídos de folhas de metal e também de cimento ou madeira; apresentam
três tamanhos básicos: pequeno (A), indicado para a medição de vazão em sulcos; médio
(B), para a medição de vazão em sulcos e pequenos canais e grande (C) para medição de
vazão em canais.

Na Figura 125 observam-se as partes componentes do WSC Flume. Consiste,


basicamente, em quatro seções: seção de entrada, seção convergente, seção contraída e
seção divergente.

Figura 125 – Calha WSC Flume

Deve ser instalado de modo que o seu fundo permaneça na horizontal, tanto no
sentido longitudinal quanto no sentido transversal. Seu fundo deve ficar no mesmo nível do
fundo do sulco. A altura da água na entrada deve ser maior que a altura desta na saída do
medidor.
142

Estará corretamente instalado quando a altura d’água na saída for menor que na
entrada, o que normalmente acontece. Para a medição de vazão, somente uma leitura na
régua graduada em milímetro é necessária. Esta régua deve estar encostada na parede
lateral de entrada. Mediante calibração prévia, os valores de carga hidráulica (cm) são
convertidos em vazão (L 𝑠 −1 ).

No Manual de Irrigação, de autoria do Prof. Salassier Bernardo, são encontradas


tabelas para o cálculo das vazões com estes medidores.

As características de funcionamento da calha WSC Flume, em que a altura da água


na entrada (y1) é maior que na saída (y2), são mostradas na figura 126.

Figura 126 – Detalhe de instalação da calha WSC Flume

7.4. Medidores de vazão em tubulações

7.5.1. Hidrômetros
Hidrômetros são aparelhos utilizados para a determinação da vazão em tubos.
O mais comum é o hidrômetro de volume. Esse hidrômetro possui um compartimento
que enche e esvazia continuamente, determinando assim o volume que escoa em
um certo intervalo de tempo.

Figura 127 – Representação de hidrômetros


143

7.4.3. Tubo de Venturi


O tubo venturi é um dispositivo de redução da seção de escoamento da tubulação,
graças ao qual a carga piezométrica é transformada em carga de velocidade.

Figura 128 – Representação do tubo de Venturi

Medindo-se esta queda de pressão pode-se calcular a velocidade de escoamento e,


consequentemente, a vazão. A queda de pressão que se verifica entre a entrada do
venturímetro e a garganta pode ser relacionada à vazão através da expressão:
𝑃 −𝑃
2𝑔 1 2
𝛾
𝑄 = 𝐶𝑣 . 𝐴𝑔 . √ 𝐴𝑔 2
1−( )
𝐴𝑒

Onde:
Q = vazão, m³/s;
𝐶𝑣 = coeficiente de vazão, normalmente 𝐶𝑣 = 0,98;
𝐴𝑔 = área da garganta, m²;

𝐴𝑒 = área de entrada, m²;


𝑃1 −𝑃2
= diferença de pressão entre a entrada e a garganta, mca.
𝛾

7.4.4. Diafragma (Orifício)


O diafragma consiste em uma placa com um orifício instalada em uma
tubulação. O funcionamento é semelhante ao ventrímetro. O aumento da velocidade
de escoamento através do orifício implica em uma queda de pressão entre as faces
de montante e jusante da placa. A equação do ventrímetro para determinação da
vazão pode ser utilizada para o diafragma, sendo adotado um Cv médio de 0,62.
𝑃 −𝑃
2𝑔 1 2
𝛾
𝑄 = 𝐶𝑣 . 𝐴𝑔 . √ 𝐴𝑔 2
1−( )
𝐴𝑒
144

Figura 129 – Representação de um diafragma

8. BARRAGENS DE TERRA

8.1. Introdução
Barragens são estruturas construídas com o objetivo de proporcionar o represamento
da água para finalidades diversas, no qual destacam-se irrigação, abastecimento d’água,
aproveitamento hidrelétrico, navegação e regularização do curso d’água.
Barragens de terra são simplesmente estruturas compactadas que dependem da sua
massa para resistir ao deslizamento e tombamento. São constituídas por muros de retenção
de água suficientemente impermeáveis, construídos de terra e materiais rochosos locais,
segundo mistura e proporção adequados.
Por questão de segurança é aconselhado, nas barragens simples, uma altura de 25m.
No meio rural há um predomínio devido à facilidade de construção e ao custo.
Também se destacando-se por uma série de finalidades, tais como:
➢ Irrigação;
➢ Abastecimento da propriedade;
➢ Criação de peixes;
➢ Recreação;
➢ Bombeamento; e
➢ Bebedouros.
145

Figura 130 – Representação esquemática dos elementos básicos de uma pequena barragem de terra

8.2. Principais elementos de uma barragem de terra


Conceitos básicos sobre as principais partes das barragens de terra.
Aterro - também conhecido por dique ou maciço. É a parte encarregada de reter a
água; é a própria estrutura da barragem.
Altura - é a distância vertical entre a superfície do terreno (parte mais funda) e a parte
superior do aterro (crista).
Borda livre ou folga - distância vertical entre o nível da água, quando a represa estiver
cheia, e a crista do aterro.
Taludes - são as faces laterais e inclinadas, paralelas ao eixo do aterro, sendo, talude
de montante o lado que fica em contato com a água e, de jusante, o lado de baixo (lado
seco).
Crista do aterro - é a parte superior do aterro; geralmente usada como estrada
Espelho d’água - superfície d'água acumulada no reservatório.
Base ou saia do aterro - consiste na projeção dos taludes de montante e jusante sobre
a superfície do terreno; é a área do terreno sobre a qual se coloca o aterro.
Cut-off - trincheira, alicerce ou fundação; construído no eixo da barragem.
Núcleo - muitas vezes, para efeito de segurança e com o objetivo de diminuir a
infiltração, usa-se colocar no centro do aterro um núcleo (miolo) de terra boa (argilosa), como
146

se fosse um muro ou uma parede; esse núcleo diminui o caminhamento da água no corpo
de aterro.
Extravasor ou sangradouro - estrutura construída para dar escoamento ao excesso
de água ou enxurrada durante e após a ocorrência de chuvas. Também denominado de
vertedouro e ladrão.
Dreno de pé - construído na projeção do talude de jusante para drenar a água do
aterro.

Figura 131 – Representação dos elementos básicos de uma barragem de terra

8.2. Tipos de barragens


A construção deste tipo de barragem requer grande volume de terra que deve estar
disponível próximo ao local da obra. O tipo de construção está condicionado, portanto, à
qualidade e quantidade do material disponível. É importante otimizar os recursos locais que
podem variar entre os permeáveis (pedras soltas e areias) e os impermeáveis (argilas).

8.3.1. Barragens simples:

Figura 131 – Barragem de terra simples com corpo homogêneo.


147

Figura 132 – Barragem de terra simples com corpo heterogêneo.

8.2.3. Barragem com núcleo

Figura 133 – Barragem de terra com núcleo central

Figura 134 – Barragem de terra com núcleo externo

Figura 135 – Barragem de terra com núcleo misto


148

8.2.4. Barragens de aterro homogêneo


De uma maneira geral, barragens homogêneas deverão ter taludes/vertentes
relativamente planos (1:3 a montante e 1:2 a jusante) como segurança contra possível
instabilidade. Um talude menos inclinado a montante, obrigatório para todas as barragens
de terra, permite que a secção saturada abaixo do nível de água resista ao abatimento.
Também, o peso da água armazenada acima deste exerce uma pressão de cima para baixo
que, quando combinada com o peso da barragem, iguala ou excede a pressão horizontal
exercida pela altura da água contra o aterro.

Não se deve permitir que os níveis de água desçam ou subam demasiado rápido,
principalmente se o material do aterro é impermeável. Este cuidado é necessário já que uma
rápida descida do nível do reservatório pode causar o abatimento da face de montante ou,
se se permitir que a parede seque, uma rápida subida de nível pode causar erosão através
de rachaduras e fissuras. Ambas podem eventualmente resultar em erosão, perda de
material e, no pior dos casos, numa ruptura/rompimento.

8.2.5. Barragem zonada


Esta é a melhor alternativa, particularmente para barragens maiores que facilmente
permitem a utilização de maquinaria de construção. Com este tipo de barragem, possíveis
perigos de infiltração são reduzidos ao mínimo. Comparadas com barragens de aterro
homogéneo, os custos são susceptíveis de ser mais altos, principalmente porque o material
de terraplanagem é dividido em três categorias: permeável para a face jusante, impermeável
para o núcleo e semi-impermeável para a secção a montante, sendo todas elas escavadas
de áreas de empréstimo diferentes (de preferência dentro da área do reservatório), logo
aumentando os custos de escavação e transporte. Os taludes, no entanto, podem ser
reduzidos para à volta de 1:2 a montante e 1:1,75 a jusante (ou 1:2,25 a montante e 1:2 a
jusante para locais onde apenas estão disponíveis materiais de relativa má qualidade) e o
material escavado na construção do núcleo pode ser utilizado no aterro, economizando
assim em terraplanagens.

Materiais impermeáveis artificiais, tais como película de plástico grosso, têm sido
usados com sucesso em muitas partes do Mundo como alternativa a núcleos de argila.
material de termiteiras, frequentemente usado pelo seu alto teor de argila, está a perder
preferência devido aos seus indesejados constituintes orgânicos e minerais; a sua
variabilidade dentro duma pequena área e, uma vez usados, à sua continuada acção de
149

atração para térmitas (cupim, salalé, muchém) .Onde material adequado para o núcleo não
esteja disponível a preços acessíveis, estes materiais poderão ter que ser usados, mas, se
possível, terão de ser analisados; bem “mortos” antes de escavados e tratados na altura da
instalação

Figura 136 – Corte de uma barragem zonada típica

Figura 137 – Pormenores do enrocamento de pedra (stone pitching detail)

É preciso ter cuidado na utilização de inseticidas que possam contaminar cursos de


água quando absorvidos pela percolação ou outra água.

8.3. Trincheiras de vedação e núcleo


Uma trincheira de vedação reduz percolação e melhora a estabilidade.
150

Quando argila estabilizada, ou outro material, é usado, a trincheira de vedação deverá


ser escavada a uma profundidade que minimize toda a possível percolação. Idealmente, a
trincheira de vedação deverá ser escavada até à rocha sólida que se prolonga para grandes
profundidades. Se a rocha subjacente estiver fissurada ou irregular, poderá ser limpa e
betonada de forma a oferecer uma boa superfície sobre a qual poderá ser colocada a argila.
Para maiores irregularidades ou fendas, deverá ser usada uma calda de cimento, que é uma
pasta espessa, mistura de cimento e água, que é despejada e varrida para dentro das fendas
maiores e fissuras antes do betão ser espalhado para encher as restantes irregularidades e
para oferecer uma superfície quase plana. Para superfícies mais regulares com fendas
menores, uma aguada de cimento (uma mistura fraca de cimento e água para formar uma
textura cremosa) pode ser escovada ao longo de uma superfície para selá-la e, de novo,
oferecer uma superfície quase plana.

O material da trincheira de vedação deverá ser colocado em camadas com um


máximo de 50-75 mm de espessura com uma largura mínima de 1 m para pequenas
barragens (i.e. núcleos assentados à mão) e camadas de 75-150 mm de espessura e 2-3 m
de largura para barragens maiores (i.e. material colocado com pá carregadora ou pá de
arrasto e compactado com maquinaria).

Cada camada deverá ser bem compactada e se todo o comprimento da barragem


não poder ser acabado duma só vez, cada secção deverá ser bem introduzida e ligada à
secção seguinte dado que a trincheira de vedação e núcleo são projectados como uma
unidade homogénea para evitar percolação e problemas estruturais. A compactação deverá
ser feita à mão (calcando o material com maças de 100-150 mm de diâmetro) ou com
maquinaria (rolos ou vibradores), ou uma combinação dos dois. Se forem usados tractores
agrícolas, os pneus podem ser cheios com água e, se for seguido um itinerário irregular
através da largura da trincheira de vedação na altura de fazer o aterro, poder-se-á poupar
muito tempo na compactação. Uma rega ligeira na área de empréstimo algumas horas antes
da escavação, pode ajudar na remoção e carregamento do material, desde que não esteja
demasiado molhado.

A chuva pode causar problemas e uma argila demasiado molhada torna-se muito
difícil de compactar. Neste caso, será melhor esperar para que o solo seque antes de
continuar a construção.
151

É aconselhado uma contínua, ou pelo menos frequente monitorização da qualidade


do material do núcleo, teor de umidade e procedimentos de assentamento das camadas,
principalmente quando se emprega pessoal inexperiente.

8.4. Características hidrológicas


É importante se ter informações importantes como as características da bacia de
contribuição, o regime do curso d'água e a intensidade de precipitação para que sejam
levadas em consideração no direcionamento.

8.5.1. Bacia de contribuição


Toda a área onde as águas de chuva descarregam ou são drenadas para uma seção
do curso d’água”. Além da delimitação da bacia é importante que se conheçam as suas
características (relevo, solo e cobertura vegetal).

Figura 138 – Bacias de contribuição

8.4.3. Regime dos recursos d'água


A preocupação principal no estudo do regime de um curso d’água é a obtenção das
vazões máximas que podem ocorrer. Esse excesso de água é proveniente do escoamento
superficial.

8.4.3.3. Conjunto de suas características hidrológicas (vazão em função do tempo):

EFÊMEROS: ocorre durante e imediatamente após as precipitações;


INTERMITENTES: duração coincidente com a época de chuvas ;
PERENES: fluem todo o tempo
Existem diversos métodos para a determinação da vazão máxima, dentre eles destacam-se:
o método estatístico e a fórmula racional.
152

8.4.4. Método para determinação da vazão máxima:


Fórmula racional: Através da fórmula racional pode-se estimar a vazão em função de
dados de precipitação. É o método mais utilizado, devido à facilidade de uso e também por
falta de dados para o uso de outros métodos. Esta fórmula considera que a precipitação
ocorre com a intensidade uniforme durante um período igual ou superior ao tempo de
concentração e que seja também uniforme em toda a área da bacia. Devido a estas
considerações, a fórmula racional só deve ser utilizada em áreas pequenas (menores que
60 ha).

𝐶. 𝐼. 𝐴
𝑄=
360
Onde:

Q – vazão máxima (m3/s);

C – Coeficiente de escoamento superficial;

I – Intensidade máxima de chuva durante o tempo de concentração, capaz de ocorrer


com a freqüência do tempo de retorno desejado (5, 10, 25 anos), mm/h;

A - Área da bacia (ha);

8.4.5. Coeficiente de escoamento superficial:


Fração da chuva que escorre até atingir o fim da área, dado em função da topografia,
cobertura e tipo de solo.

Tabela 30 – Coeficiente de escoamento superficial

Solos
Declividade (%) Arenosos Textura Média Solos Argilosos
Mata
0 - 2,5% 0,15 0,13 0,12
2,5 - 5% 0,18 0,15 0,14
5 - 10% 0,2 0,18 0,16
10 - 20% 0,22 0,2 0,18
20 - 40% 0,25 0,22 0,2
Pastagens
0 - 2,5% 0,31 0,27 0,25
2,5 - 5% 0,38 0,32 0,3
5 - 10% 0,43 0,37 0,34
10 - 20% 0,48 0,41 0,38
20 - 40% 0,53 0,45 0,42
153

Culturas Perenes
0 - 2,5% 0,4 0,34 0,31
2,5 - 5% 0,48 0,41 0,38
5 - 10% 0,54 0,46 0,43
10 - 20% 0,61 0,52 0,48
20 - 40% 0,67 0,56 0,53

8.4.6. Tempo de Concentração


Tempo necessário para que toda a bacia esteja contribuindo para o escoamento
superficial.

Tabela 31 – Tempos de concentração, baseados na extensão da área, para bacias


que possuam um comprimento aproximadamente o dobro da largura média e de topografia
ondulada (5% de declividade média).

Area (há) Tempo de concentração (min)


1 2,7
50 19
500 96

√𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
Correção p/ declividade: ÷ 0,22

Correção p/ a forma da bacia:

Comprimento/largura 1:1 2:1 3:1 4:1


Fator de correção 0.71 1 1,22 1,41

8.4.7. Intensidade de precipitação:


O valor da precipitação a ser utilizado na determinação da vazão máxima, deve ser
de acordo com o tempo de concentração da bacia de contribuição (Tc) e o tempo de retorno
da precipitação (TR). A determinação da intensidade de precipitação é realizada através do
estudo das séries históricas locais, ou quando disponível, através de equações que
relacionam intensidade de precipitação com Tempo de Concentração e Tempo de Retorno
para a localidade em estudo.

508,84.𝑇𝑟 0,219
Lavras/MG - 𝐼𝑚𝑎𝑥 =
(𝑇𝑐 + 7)0,66
154

Belém/PA - P = 𝑇𝑅 0,122 [0,4. 𝑇𝑐 + 31. 𝑙𝑜𝑔 (1 + 20. 𝑇𝑐)]

8.4.8. Tempo de retorno:


Período que leva para uma precipitação ser igualada ou superada pelo menos uma
vez. A fixação do tempo de retorno baseia-se em critérios econômicos. Em geral, leva-se em
consideração a vida útil da obra, a facilidade de reparos e o perigo oferecido à vida humana.
Normalmente para projetos agrícolas de drenagem e construção de barragens adota-se um
tempo de retorno entre 10 e 25 anos.

8.5. Projeto de uma pequena barragem:


Dentre os fatores que afetam o projeto de uma pequena barragem de terra, serão
discutidos apenas os mais importantes:

➢ Bacia de contribuição;
➢ Regime do rio ou riacho;
➢ Escolha do local;
➢ Levantamento plani-altimétrico;
➢ Volume da água armazenada;
➢ Altura da barragem;
➢ Largura da crista;
➢ Comprimento da projeção dos taludes;
➢ Cálculo do volume de terra;
➢ Vertedouro;
➢ Esvaziamento de represa;
➢ Tomada d’água
155

8.6.1. Bacia de contribuição:

Figura 139 – Croqui de bacias: A) de contribuição e B) de acumulação

8.5.3. Regime do rio ou riacho


Os cursos de água são classificados em: perenes, intermitentes e efêmeros.

8.5.3.3. Perenes
As fontes ou nascentes mantêm, durante todo o ano, o curso de água. Portanto, os
lençóis subterrâneos são os responsáveis pelo escoamento contínuo dos rios.

8.5.3.4. Intermitentes
As fontes ou nascentes, neste caso, são insuficientes para manter o curso de água
durante todo o ano.

8.5.3.5. Efêmeros
Ocorrem, em geral, grandes vazões durante as estações chuvosas, e o escoamento
fluvial cessa nas estações secas. Neste caso, o nível do lençol freático, durante as chuvas,
permanece acima do nível do escoamento fluvial e durante estações secas, abaixo do leito
do rio (Figura 140).
156

Figura 140 – Croqui de seção de cursos de água: A) Perene, B) Intermitente e C) Efêmero

8.5.4. Escolha do local:


➢ - Possuir solo estável;
➢ - Não apresentar afloramentos rochosos;
➢ - Ser um estreitamento ou uma garganta do curso d'água
➢ - Possuir pequena declividade a montante
➢ - Ter a montante mais espraiada possível
➢ - Não possuir nascentes
➢ - Não possuir estratificações salinas no leito da represa
➢ - Possibilitar o uso de água por gravidade
➢ - Estar próximo do ponto de extração da terra usada no aterro

8.5.5. Levantamento plani-altimétrico


O levantamento tem por objetivo um melhor conhecimento da área onde se vai
construir a barragem. Normalmente utiliza-se o levantamento do eixo da barragem e de
seções intermediárias transversais ao eixo, com levantamento de curvas de nível
(normalmente de metro por metro) em toda a área a ser inundada pela represa.
157

Figura 141 – Planta topográfica

8.5.6. Volume de água armazenada


O volume de água a armazenar depende das necessidades a serem atendidas.

Figura 142 – Croqui da bacia de acumulação

O cálculo do volume acumulado pode ser obtido pela equação:


𝑆0 + 𝑆𝑛
𝑉=( + 𝑆𝑛−1 ) . ℎ
2

Onde:
V = volume acumulado (m³)
158

𝑆0 = área da curva de nível de ordem 0 (m²)


𝑆𝑛 = área da curva nível de ordem n (m²)
H = diferença de cota entre duas curvas de nível (m)

Figura 143 – Planta topográfica com curvas de nível

8.5.7. Altura da barragem


A altura da barragem depende do volume total de água a ser acumulado. Para
determinação da altura da barragem leva-se em consideração a altura normal de água (Hn),
a altura de água no ladrão (HL) e a folga total. A folga total é obtida com a soma do valor da
tabela abaixo com a altura das possíveis ondas que poderão se formar.

𝐻 = 𝐻𝑛 + 𝐻𝐿 + 𝐹𝑜𝑙𝑔𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐹𝑜𝑙𝑔𝑎 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝐹𝑜𝑙𝑔𝑎 + 𝑂𝑛𝑑𝑎
Tabela 32 – Valores mínimos da folga

4
𝐻𝑜𝑛𝑑𝑎 = 0,36 . √𝐿 + 0,76 − 0,27 . √𝐿

L = maior dimensão da represa a partir da barragem (km)


159

8.5.8. Largura da crista


Deve ser maior que 3 m, normalmente, utiliza-se o aterro como estrada.
Segue sugestão de valores da crista em função da altura da barragem.
Tabela 33 – Valores da largura da crista

Altura da barragem (m) 4 6 8 10 > 12


Largura mínima da crista (m) 3 3,5 4 5 6
Fonte: Daker

8.5.9. Comprimento da projeção de taludes


As inclinações dos taludes, são geralmente, valores próximos.
Tabela 34 – Inclinação dos taludes

Todavia há uma tendência de se adotar a relação 2,5 a 3:1 para o talude de montante
e 2:1 para o de jusante, pois são mais práticos.

Pode-se, também, adotar mais de uma inclinação para o mesmo talude, observando
que as menores inclinações ficarão na parte inferior do talude.

8.5.10. Cálculo do volume de terra


É importante um conhecimento do volume total de aterro da barragem, pois o custo
da obra se baseia, principalmente, em gastos com horas-máquinas que são utilizadas na
escavação, transporte, movimentação e compactação da terra que será utilizada na
construção da barragem. Um método bastante utilizado é o método expedito.

8.5.10.3. Método expedito:


Através desse método é calculada a largura média transversal do aterro que se
multiplica pela área da seção do local onde será construído o aterro.
160

Figura 144 – Vista frontal e lateral do aterro

8.5.10.4. Volume total:


𝐵 + 𝑐
𝑉𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = .𝐴
2
Onde:
B = largura da projeção da base;
C = largura da crista;
A = área da seção.

8.6.10. Extravasor
É um dispositivo de segurança, que tem a finalidade de eliminar o excesso de água
quando a vazão assume valores que tornem perigosa a estabilidade da barragem ou impedir
que o nível de água suba acima de uma certa cota.

Deve ter capacidade suficiente para permitir o escoamento máximo que pode ocorrer na
seção considerada. A vazão de dimensionamento deve ser igual à máxima vazão do curso
de água, o que ocorre por ocasião das cheias. Os passos para o dimensionamento do
extravasor são:

➢ Delimitar a bacia de contribuição;


➢ Determinar o coeficiente de escoamento superficial;
➢ Com base no tempo de retorno e no tempo de concentração da bacia, determinar a
intensidade de precipitação;
➢ Pela fórmula racional, calcular a vazão máxima de escoamento superficial;
➢ Determinar as dimensões do extravasor para transportar a vazão máxima.

Na determinação das dimensões do extravasor não esquecer dos limites da velocidade


de escoamento.

Tabela 35 – Velocidade limite da água em função do material do canal


161

Tipo de canal Velocidade (m/s)


Canal em areia muito fina 0,2 a 0,3
Canal emareia grossa pouco compactada 0,3 a 0,5
Canal em terreno arenoso comum 0,6 a 0,8
Canal em terreno sílico-arenoso 0,7 a 0,8
Canal em terreno argiloso compactado 0,8 a 1,2
Canal em rocha 2,0 a 4,0
Canal em concreto 4,0 a 10,0

Figura 145 – Aterro com canal extravasor

Figura 146 – Vista de perfil da bacia hidráulica, do desarenador e respectiva tubulação vertical e do
extravasor lateral

8.6.11. Esvaziamento da represa


Tem o objetivo de esvaziar a represa e eliminar o material decantado. O material de
desarenador deve ser impermeável e resistente à pressão do aterro. É a primeira estrutura
construída na implantação do projeto, pois, após a sua construção, o curso d’água será
desviado para o seu interior, facilitando os trabalhos de elevação da barragem.
162

A dimensão do desarenador é determinada com base no tempo que se deseja


esvaziar a represa. No dimensionamento, consideramos o desarenador como um tubo.
Através das fórmulas de perda de carga determina-se qual deve ser o diâmetro. A perda de
carga irá corresponder à carga hidráulica sobre o tubo. No caso do desarenador, como a
carga é variável, tira-se a média da carga hidráulica inicial com a final. A vazão é determinada
com a seguinte fórmula:

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜
𝑄𝑒𝑠𝑣𝑎𝑧𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = + 𝑄𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜
Onde:
𝑄𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 = vazão normal do rio
T = tempo para o esvaziamento

8.6.12. Tomada d’água


É a estrutura para captação da água represada. Pode apresentar diversas formas,
entretanto, as mais comuns são aquelas construídas diretamente no corpo da barragem ou
por meio de torres de tomada inseridas na represa. No dimensionamento da tubulação da
tomada de água pode-se utilizar a mesma fórmula para condutos forçados (equação de
Hazen-Willians) utilizada no dimensionamento do desarenador. Com base na vazão
desejada, comprimento da tubulação e do tipo de tubo a utilizar calcula-se o diâmetro
necessário.

Figura 147 – Tomada d’água e desarenador

8.7. Exemplos de dimensionamento


a) PLANTA TOPOGRÁFICA:
163

b) BACIA DE CONTRIBUIÇÃO: A = 56 ha; 46,5% - Pastagem; 30% - Cultura Perene; e


23,5% - Mata
c) SOLO: Arenoso
d) DECLIVIDADE MÉDIA DO TERRENO: 8%
e) VAZÃO NORMAL DO CURSO D ́ÁGUA: 5 L/s
f) TOMADA D’ÁGUA: A tomada d á ́ gua deve ser instalada em cota superior a 103 m, com
Vazão de 10 L/s, durante 8 horas por dia. O comprimento da tomada d á́ gua é de 50 m
g) CRISTA: No mínimo a largura de um carro
h) NÍVEL DA BARRAGEM: Cota = 106 m
i) RELAÇÃO COMPRIMENTO/LARGURA DA BACIA = 1,5/1/
j) CANAL EXTRAVASOR: h = 1 m; V = 1m/s; i = 0,0015 m/m; n = 0,03; Talude=2:1;
Folga=20%; Folga na borda do canal = 1/4.h
l) DESARENADOR: Tubo de concreto (C=120); Esvaziamento = 3 dias; L = 45 m.
m) DADOS DA BACIA:
Cota Área Cota Área
Curva de nível (m) (m²) Curva de nível (m) (m)
S0 100 38 S5 105 5.789
S1 101 167 S6 106 8.987
S2 102 779 S7 107 10.008
S3 103 1.239 S8 108 12.578
S4 104 3.565 S9 109 16.342

8.7.1. Volume total acumulado


- Volume total = 𝑆0 − 𝑆6
164

- Volume útil = 𝑆3 − 𝑆6

38 + 8987
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ( + 167 + 779 + 1239 + 3565 + 5789) . 1
2
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (4512,5 + 167 + 779 + 1239 + 3565 + 5789). 1
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 16.051,5 𝑚³

1239 + 8987
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ( + 3565 + 5789) . 1
2
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (5113 + 3565 + 5789). 1
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 14,467 𝑚³

8.7.2. Altura da barragem


Dados:
- Cota do nível da água: 106 m
- Espelho d’água: 300 m
- Tabela: Folga = 0,75 m
- Onda: H = 0,75 m
- Altura d’água no extravasor = 1,0 m
- Folga total = 0,75 + 0,75 = 1,5 m

Altura da barragem = 6 + 1 + 1,5 = 8,5

8.7.3. Largura da crista


De acordo com a tabela, a altura da barragem sendo 8,5, a largura da crista deve
ser de 4,5 m.

Comprimento da base e dimensões da seção


Talude recomendado: 2,5:1 - 2:1
165

8.7.4. Canal extravasor

8.7.4.1. Coeficiente de escoamento superficial


Mata, i = 8%, arenoso: C = 0,18
Pastagem, i = 8%, arenoso: C = 0,46
O coeficiente médio é obtido através de uma média ponderada com base nas
porcentagens de ocupação:
(46,5% 𝑥 0,7) + (30% 𝑥 46) + (23,5% 𝑥 0,18)
𝐶𝑚é𝑑𝑖𝑜 = = 0,352
100

8.7.4.2. Tempo de concentração

Tabela 36 - Tempos de concentração, baseados na extensão da área, para bacias que


possuam um comprimento aproximadamente o dobro da largura média e de topografia
ondulada (5% de declividade média)

Área (há) Tempo de concentração (min)


1 2 7
50 19
500 96

Com base na tabela acima, Tc = 20 min


Considerando uma relação comprimento/largura de 1,5/1 : Tc = 20 x 0,86
17,2
Correção para declividade: Tc = √0,08
= 13,38 min
0,22
166

8.7.4.3. Determinação da precipitação

Para um TR = 10 anos de duração (d) = 13,38 m, considerando a equação de Pfastetter:


𝐵𝑒𝑙é𝑚: 𝑃 = 𝑇𝑅0,122 [0,4 . 𝑑 + 31 . 𝑙𝑜𝑔(1 + 20 . 𝑑)]
= 100,122 [0,4 .0,22 + 31 . 𝑙𝑜𝑔(1 + 20 . 0,22)] = 30 𝑚
Sendo:
P = precipitação total (mm);
TR = tempo de retorno (anos);
d = duração (h).

Então:
30 𝑚𝑚
𝐼=
13,38 𝑚𝑖𝑛
𝐼 = 134,5 𝑚𝑚/ℎ
I = intensidade de precipitação

8.7.4.4. Fórmula racional


0,352 𝑥 134,5 𝑥 56
𝑄=
360
𝑄 = 7,36 𝑚³/𝑠

8.7.4.5. Dimensões do canal


1
Fórmula de Manning: 𝑄 = 𝐴 . 𝑛. 𝑅2/3 . 𝑖 1/2

𝑅2/3 .𝑖 1/2
𝑄 = 𝑛

𝑅2/3 .𝑖 1/2
𝑉= 𝑛

Onde:
V = velocidade de escoamento (m/s)
R = Raio hidráulico do canal (m);
i = declive do canal (m/m);
n = coeficiente de Manning
167

𝑅2/3 . 0,00151/2
1= → 𝑅 = 0,6817 𝑚
0,03
ℎ .(𝑏 + 𝑚 .ℎ) 1 (𝑏 + 2.1)
Como 𝑅 = →𝑅=
𝑏 + 2𝑛 √1 + 𝑚² 𝑏 + 2.1√1 + 2²

b = 3,3 m

Considerando uma folga de 20%: b = 4 m

Figura 148 – Dimensões do extravasor

8.7.5. Desarenador
16.051,5
𝑄𝑒𝑠𝑣𝑎𝑧𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = + 0,005 = 0,0669 𝑚³/𝑠
3 𝑥 86.400
Para a obtenção do diâmetro é utilizado a fórmula de Hazen Willians com:
HF = 6/2 = 3 m;
L = 45 m;
C = 120, e
Q = 0,0669 m³/s
D = 164 mm (150 ou 200 mm)

8.7.6. Tomada d’água


Fórmula de Hazen Willians para a obtenção do diâmetro:
HF = 3 m
L = 50 m
C = 150, e
Q = 0,01 m³/s
168

D = 74 mm (75 mm)

8.7.7. Volume do aterro

8.7.7.1. Método expedito

8.7.7.2. Volume total será dado por:


42,7 + 4,5
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = . 187 = 4.413,2 m³
2
169

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO NETO, M. F. Fernandez, R. Araujo, A. E. Ito. Manual de Hidráulica. São Paulo,


Edigar Blucher, 1998 8ª ed. 669p.

BERNARDO, S. Manual de Irrigação. 6ª edição. Viçosa, Imprensa Universitária da UFV,


1995. 627 p.

CARVALHO, J. A. OLIVEIRA, L. F. C. Instalações de bombeamento para Irrigação. Ed.


UFLA. Lavras, MG. 2014. 354 p.

CARVALHO, J. A. Dinâmica dos fluidos e hidráulica. Departamento de Engenharia.


Lavras: UFLA, s/d.

PERES, J. G. Hidráulica Agrícola. 1ª ed, São Carlos: UFSCar, 2015.

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