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Por:
Edmilson Dias de Freitas
Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP
São Paulo
Agosto de 2009
Prefácio
Estas notas de aula têm como objetivo introduzir alguns conceitos importantes aos
alunos do curso de graduação em meteorologia sobre uma das áreas de maior
importância econômica e social do mundo, a Agrometeorologia. Totalmente ligada à
Agricultura, a Agrometeorologia busca fornecer informações úteis aos profissionais
ligados à área e aos agricultores em geral que possam maximizar a produtividade
agrícola e reduzir as perdas que podem ocorrer por ação do tempo ou do clima ou
mesmo pelo desconhecimento dos mesmos. O material aqui reunido foi selecionado de
várias fontes, tais como livros especializados na área, matérias publicadas em jornais ou
na internet e resultados de alguns artigos científicos, para facilitar o desenvolvimento da
disciplina através de um material único. Entretanto, em grande parte do mesmo, apenas
algumas citações aos assuntos importantes para a área são feitas. Informações mais
detalhadas de alguns assuntos necessitam da complementação dos livros aos quais
foram utilizados como base para a confecção deste material. Como principais fontes
devemos citar:
1.1. Introdução
A agricultura é uma atividade altamente dependente das condições do clima e do
tempo em uma dada região. Com o crescimento acelerado da população mundial, existe
uma grande necessidade de aumento na produção de alimentos. Para isso, é necessário
que as perdas agrícolas e pastoris sejam minimizadas e a eficiência da produção agrícola
melhorada. Entretanto, em muitos locais, o aumento da produção de alimentos vem
sendo feito através da exploração inadequada dos recursos naturais, prejudicando o
ambiente, o solo, a água e o ar. Um exemplo deste tipo de atividade, altamente discutido
atualmente, é o desmatamento da região amazônica.
As plantas dependem, para o seu crescimento e desenvolvimento, da sua
constituição genética e das condições ambientais do solo e do clima. Em geral, os
agricultores conhecem mais sobre o manejo do solo do que como explorar
completamente os recursos climáticos. Embora o homem não seja capaz de mudar o
tempo e o clima, em escalas de tempo apropriadas ou da maneira adequada, ele é capaz
de ajustar as práticas agrícolas aos mesmos.
A Climatologia pode contribuir para solucionar o problema da escolha dos
lugares para uma dada cultura ou de uma dada cultura para um lugar. A previsão de
tempo pode auxiliar em atividades como plantio, colheita, aplicação de defensivos
agrícolas, entre outras. Deste modo, a Meteorologia e a Agricultura estão intimamente
ligadas.
O clima assume significância em quase todas as fases das atividades agrícolas,
desde a seleção de regiões ou lugares para a instalação de culturas e experimentos, até o
planejamento a longo ou curto prazo das atividades agrícolas.
Podemos definir a Agrometeorologia como a ciência que estuda as relações
entre o ambiente e os sistemas agrícolas.
Alguns exemplos de relação entre o ambiente e sistemas agrícolas:
- milho, cana-de-açúcar (típicos de regiões de clima quente)
- maça, trigo (típicos de regiões de clima frio)
produção, mas é possível tirar em torno de 75% da safra do milho e 60% do feijão.”
(Matéria extraída da Revista Globo Rural online, 2004)
Área:
1 Are (A) = 100 m2
1 hectare (ha)= 100 A = 104 m2
1 Acre = 4064 m2
Alqueire é a unidade de medida de superfície agrária. Varia de região para região.
1 alqueire paulista = 24.200 m2 = 2,42 ha (equivalente a 5.000 braças quadradas – São
Paulo)
1 alqueire mineiro ou alqueire goiano = 48.400 m2 4,84 ha (equivalente a 10.000 braças
quadradas – Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás )
1 alqueire baiano = 96.800 m2 = 9,68 ha (equivalente a 20.000 braças quadradas –
Bahia)
1 alqueire do norte = 27.255 m2 = 2,72 ha
divisão do extremo sul da Bahia e norte-nordeste de Minas Gerais. Uma idéia dos
tempos do Império. Nesta região usa-se também a medida de 80 medidas de milho
como 1 “alqueirim” equivalente também a 48.400 m².
Alqueire pode ainda ser unidade de medida de capacidade para secos, equivalente a
36,27 litros ou a quatro “quartas”. E também, no Pará, usa-se como medida de
capacidade correspondente a dois paneiros ou a cerca de 30 quilos.
Tarefa - medida agrária constituída por terras destinadas à cana de açúcar e que no CE
equivale a 3.630 m², em AL e em SE a 3.052 m² e na Bahia a 4.356 m².
Braça quadrada (brasileiro) - medida agrária que se usa em Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul e igual à tarefa, de Alagoas e Sergipe: 3.052m² (1 braça = 2,2 m || 30 braças = 66
m || 30 x 30 braças =4.356m² = braça quadrada).
Tarefa Baiana: Corresponde a uma área de 30 x 30 braças, ou seja, uma braça quadrada.
Portanto, uma tarefa é igual a 4.356 m². Recomenda-se cuidado, pois existem outras
medidas de tarefas em outros estados.
Massa:
1 Arroba = 14,689 kg
1 Quintal = 58,328 kg ≈ 4 arrobas.
Nota: O café possui um período de dormência (stress hídrico). Uva e Maça necessitam
de stress de frio.
Figura 1.1: Ilustração dos períodos que compreendem as diferentes safras agrícolas.
OBS: Cultura de sequeiro: não precisa de irrigação. Só depende das chuvas da natureza.
(a) (b)
Figura 1.2: Em (a) Vista aérea de áreas irrigadas por pivô central. Em (b) Padrões
representativos de cultura irrigada em imagem Landsat (Fonte: Embrapa)
Figura 1.3: Ilustração da relação entre área foliar e comprimento de raízes nas diferentes
fases do desenvolvimento da cultura.
AF
IAF =
área (solo)
As criptógamas são plantas que não produzem sementes. Dentro deste grupo
encontram-se: as plantas briófitas, nas quais o corpo é dividido em caulóide, filóide e
rizóides, são plantas que não possuem vasos condutores. São pequenas e restritas à
locais úmidos (ex. musgos); as plantas pteridófitas, nas quais o corpo é dividido em raiz,
caule e folhas. Este é o primeiro grupo a apresentar vasos condutores (ex. samambaia,
avenca, etc)
As espermatófitas são plantas com sementes. Dentro deste grupo, encontram-se as
giminospermas (plantas com sementes nuas, tais como pinheiros, araucária, sequóia,
etc) e as angiospermas (plantas com sementes localizadas no interior de um óvulo
transformado em fruto, tais como as frutíferas em geral.).
As espermatófitas compreendem, aproximadamente, 250.000 espécies variando em
forma, habitat, tamanho e ciclo vital. Há plantas de milímetros e outras de 100 m de
altura, plantas que duram dias e outras, milênios. Apesar destas diversificações, elas
apresentam um plano estrutural semelhante: a parte aérea consiste em caule e folhas, e
as raízes localizam-se abaixo da superfície do solo; têm sementes, flores e,
eventualmente, frutos. A estrutura vegetativa varia em forma e tamanho para uma
determinada espécie e é afetada pelas condições ambientais. O número de partes florais,
sua posição e seu arranjo na planta são constantes numa dada espécie de planta, o que é
útil para identificação e classificação.
As folhas são os órgãos onde ocorrem a fotossíntese e outros processos
metabólicos, como respiração e síntese de proteínas; as raízes armazenam alimentos,
são suporte e sustentação das plantas e absorvem água e solutos; o caule suporta os
ramos e folhas, que armazenam alimentos e transportam solutos e sintetizados.
Figura 1.4: Esquema de uma planta genérica. As setas indicam alguns fluxos envolvidos
no funcionamento da planta.
1.8. Exercícios
1) Um grande agricultor do centro-oeste do Brasil, após sofrer grandes perdas de
produção, foi aconselhado a contratar um profissional de meteorologia. Entretanto, o
agricultor não está convencido da utilidade e dos benefícios que pode obter com a
contratação deste profissional. Que argumentos você utilizaria para convencê-lo?
Para que estes movimentos ocorram, as plantas utilizam três níveis de transporte.
Um deles envolve a passagem de água e solutos através das membranas celulares. Outro
envolve a passagem célula a célula e por último o movimento entre as partes da planta.
As membranas presentes nas células têm a capacidade de controlar o tipo e a direção do
movimento das substâncias que passam através delas. A Figura 2.1 ilustra de modo
simplificado o contexto em que se encontra uma célula vegetal, por exemplo, da
epiderme de uma folha. De um lado um ambiente rico em água (os tecidos internos) e
do outro lado a atmosfera, cuja umidade relativa é variável.
A água exerce várias funções na vida das plantas. Como exemplo, podemos citar:
1) Fotossíntese
2) Transporte
3) Meio para reações químicas
4) Regulação da temperatura
5) Suporte
6) Crescimento das células.
2.3. Transpiração
Transpiração é a eliminação de água na forma de vapor que ocorre nos vegetais e
animais por uma necessidade fisiológica, sendo controlada por mecanismos físicos,
morfológicos, anatômicos e fisiológicos. Nos vegetais a transpiração ocorre
principalmente através das folhas, que é a principal superfície de contato do vegetal com
o ambiente. O fenômeno da transpiração é fundamental para a vida do vegetal, mas deve
ocorrer de modo a permitir a sobrevivência do mesmo, pois o excesso de perda de água
2.4. Fotossíntese
A fotossíntese (síntese pela luz) é o processo pelo qual as plantas absorvem parte
da energia solar para fixar o dióxido de carbono atmosférico. Excetuando as formas de
energia nuclear, todas as outras formas de energia utilizadas pelo homem foram
originadas a partir do sol. A fotossíntese pode ser considerada como um dos processos
biológicos mais importantes na Terra. Por liberar oxigênio e consumir dióxido de
carbono, a fotossíntese transformou o mundo no ambiente habitável que conhecemos
hoje. De forma direta ou indireta, a fotossíntese supre todas as nossas necessidades
alimentares e nos fornece um grande número de fibras e outros materiais. A energia
armazenada no petróleo, gás natural, carvão e lenha, que são utilizados como
combustível em várias partes do mundo teve sua origem no sol através do processo de
fotossíntese. Uma vez que a fotossíntese afeta a composição atmosférica, o seu
entendimento é essencial para compreendermos como o ciclo do CO2 e outros gases,
que causam o efeito estufa, afetam o clima global do planeta.
Um dos processos mais importantes da fotossíntese é a utilização da energia solar
para converter o dióxido de carbono atmosférico em carboidratos, cujo subproduto é o
oxigênio. Posteriormente, se a planta assim o necessitar, ela pode utilizar a energia
armazenada nos carboidratos para sintetizar outras moléculas. Nós fazemos o mesmo,
todas as vezes que comemos, parte do alimento é oxidado a gás carbônico e água para
aproveitar a energia armazenada nos alimentos. Isso ocorre durante a respiração. Assim,
se não há fotossíntese, não há alimento para a grande maioria das formas de vida
heterotróficas.
Apesar de sua grande importância, o processo fotossintético é relativamente
ineficiente em termos da relação energia incidente e carbono assimilado. Por exemplo, a
eficiência de ganho de carbono em um campo de milho durante a época de crescimento
corresponde apenas cerca de 2% da energia solar incidente. Nos campos não cultivados,
a eficiência é de apenas 0,2 %. A cana-de-açúcar possui uma eficiência de 8%. A maior
fonte de perda da energia solar pelos vegetais é a fotorespiração, processo que será
discutido adiante.
Existe atualmente uma grande discussão em torno do efeito estufa que seria
causado pelo CO2, entre vários outros gases. Como fora dito anteriormente, durante a
fotossíntese o CO2 é convertido em carboidratos e outros compostos, com a produção de
O2. Diariamente, toneladas de combustíveis fósseis são queimadas, tal que todo o CO2
que fora fixado pelo processo de fotossíntese durante milhões de anos está sendo
recolocado na atmosfera.
Sabemos que a fotossíntese consome o CO2 e produz O2, todavia as plantas
respondem de maneira diferente à quantidade de CO2 disponível. Algumas plantas
crescem mais rapidamente em um ambiente rico em CO2 (as chamadas plantas de
metabolismo C3), outras não necessitam de uma concentração elevada de CO2 para o
seu crescimento (as chamadas plantas de metabolismo C4). A compreensão dos efeitos
dos gases que causam o efeito estufa requer um conhecimento maior da interação do
reino vegetal com o CO2.
quando uma vela acesa era colocada no interior de um jarro emborcado, a chama
extinguia-se rapidamente sem que a cera fosse completamente consumida.
Posteriormente ele observou que se um camundongo fosse colocado nas mesmas
condições ele morreria. Ele mostrou então que o ar que fora “viciado” pela vela e pelo
camundongo, poderia ser restaurado por uma planta. Em 1778, Jan Ingenhousz repetiu
os experimentos de Priestly e observou que era a luz a responsável pela restauração do
ar. Observou também que somente as partes verdes da planta tinham essa propriedade.
Em 1796, Jean Senebier mostrou que o CO2 era quem “viciava” o ar e que o mesmo era
fixado pelas plantas durante a fotossíntese. Logo em seguida, Theodore de Saussure
mostrou que o aumento da massa das plantas durante o seu crescimento não poderia ser
devido somente à fixação de CO2, mas também devido à incorporação da água.
Assim a reação básica da fotossíntese foi concluída:
luz
nCO2 + nH 2 O → n(CH 2 O) + nO2 (2.1a)
onde n é o número de mol das espécies moleculares envolvidas.
Verifica-se que para a formação de uma molécula de glicose são necessárias 6
moléculas de CO2. Assim, a equação acima pode ser escrita como:
luz
6CO2 + 6 H 2 O → C 6 H 12 O6 + 6O2 (2.1b)
ou
luz
6CO2 + 12 H 2 O → C 6 H 12 O6 + 6 H 2 O + 6O2 (2.1c)
O aparato fotossintético está localizado em membranas especializadas chamadas
de tilacóides. Nos organismos fotossintetizantes eucariotas os tilacóides situam-se no
interior de uma organela especializada chamada de cloroplasto (Figura 2.3). Nos
vegetais superiores, os cloroplastos estão envoltos por uma dupla membrana, conhecida
como envelope. No seu interior, os tilacóides estão dispostos em regiões de alta
densidade, chamada de grana, e uma outra de baixa densidade, conhecida como lamela.
A matriz que cerca os tilacóides é conhecida como estroma.
A fotossíntese ocorre pela absorção da luz na faixa de 400-700 nm por pigmentos
fotossintéticos, quais sejam, clorofila (vermelho e azul), carotenóides (todo o intervalo
PAR) e, em alguns casos, as bilinas. Esta faixa do espectro, que é utilizada pelos
vegetais como fonte de energia para as suas atividades metabólicas, é comumente
chamada em fisiologia de plantas de Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA ou PAR,
do inglês Photosynthetically Active Radiation). A fotossíntese é um processo ineficiente
na utilização da luz solar, pois somente a porção visível do espectro (PAR) é ativa e
corresponde a cerca de 50% da radiação total.
Figura 2.11: Fotossíntese para soja e milho em vários níveis de potencial de água na
folha (Adaptado de Boyer, 1970).
A Figura 2.11 (Boyer, 1970) ilustra as diferenças na sensitividade de plantas C3 e
C4 ao estresse hídrico. Milho, uma planta C4, mostra um decréscimo mais ou menos
constante na fotossíntese líquida com o potencial de água na folha decrescendo até –1.6
MPa. A fotossíntese líquida na soja, uma planta C3, é quase que insensível ao estresse
hídrico de –0.4 a –1,2 MPa e mostra uma declinação abrupta até –2,0 MPa. Notar que, a
fotossíntese no milho é cerca de 50% maior que a na soja quando o estresse hídrico é
menor. Esta vantagem é perdida com potenciais cerca de –1,2 MPa.
Figura 2.12: Resposta da taxa de fotossíntese à temperatura com radiação solar máxima.
O aumento da temperatura induz em curto prazo:
2.5.1. Conceitos
Biomassa: Peso dos tecidos vivos usualmente medidos por unidade de área em um
intervalo de tempo particular. Pode incluir partes mortas dos organismos tais como,
cabelo, unhas, etc.
Produtores primários: são os organismos que ocupam o primeiro nível na cadeia
alimentar. Estes organismos são autótrofos fotossintéticos, ou seja, um organismo que
produz o seu alimento inorganicamente pela utilização de luz no processo químico da
fotossíntese. As plantas são os autótrofos fotossintéticos dominantes na Terra. Estes
organismos não necessitam de fontes externas de alimento orgânico para sua
sobrevivência.
Os corpos dos organismos vivos dentro de uma unidade de área definem a
biomassa. Mais especificamente, a biomassa pode ser definida como a massa dos
organismos por unidade de área e é usualmente expressa em unidades de energia (ex,
Joules por m2) ou por matéria orgânica seca (ex. toneladas por hectare ou grama por
m2). Boa parte da biomassa em uma comunidade é composta de plantas, as quais são os
produtores primários de biomassa em virtude de sua habilidade em fixar o carbono
Tabela 2.1: Produtividade Primária Líquida média anual dos principais biomas
terrestres.
Produtividade Primária Líquida.
Tipo de Ecossistema
Em MJoules m-2 ano-1 (kcal m-2 ano-1)
Floresta tropical 37,7 (9000)
Figura 2.16: Relação entre PPL em florestas e precipitação. (Adaptado de Lieth, 1973)
Água é uma necessidade principal para a fotossíntese e o principal componente
químico da maior parte das células da planta. Em regiões secas, existe um aumento
linear da PPL com o aumento da disponibilidade de água. Em climas mais úmidos de
florestas, a produtividade da planta começa sob níveis mais elevados de precipitação.
Tabela 2.2: Balanço Global do CO2 (em PgC/ano) baseado em tendências intra-decadais
no CO2 e O2 atmosférico. Valores positivos são fluxos para a atmosfera. Valores
negativos representam sequestro da atmosfera. A emissão por combustíveis fósseis
corresponde à década de 80 (Marland et al., 2000) (FONTE: IPCC)
1980s 1990s
Aumento na Atmosfera 3.3 ± 0.1 3.2 ± 0.1
Emissões (combustíveis fósseis, cimento) 5.4 ± 0.3 6.3 ± 0.4
Fluxo Oceano-atmosfera -1.9 ± 0.6 -1.7 ± 0.5
Fluxo terra-atmosfera* -0.2±0.7 -1.4 ± 0.7
*particionado como se segue
Mudança no uso da terra 1.7 (0.6 a 2.5) NA
Sumidouro terrestre residual -1.9 (-3.8 a 0.3) NA
(Figura 2.17) e são muito maiores que a injeção de CO2 antropogênico. Sendo assim,
um desequilíbrio nestas trocas poderia facilmente levar a uma anomalia de magnitude
comparável à perturbação antropogênica direta. Desta forma, é importante considerar
como estes fluxos podem ser modificados em resposta à atividade humana.
Na Figura 2.17c é apresentado o ciclo de carbono no oceano. CO2 que dissolve no
oceano é encontrado em três formas principais: CO2, CO32− , HCO3− , cuja soma é o CID.
CID é transportado para o oceano por processos físicos e biológicos. Conforme
mencionado em seções anteriores, a Produtividade Primária Bruta (PPB) é a quantidade
total de carbono orgânico produzido pela fotossíntese (Figura 2.17c são apresentadas
estimativas de Bender et al., 1994); A Produtividade Primária Líquida (PPL) é o que
permanece depois do processo de respiração autotrófica, isto é, respiração pelos
organismos fotossintéticos (estimados de Falkowski et al., 1998). Sumidouros de COD
e material particulado orgânico (MPO) de origem biológica resultam num fluxo para as
profundezas do oceano conhecido como “export production” (estimativas de Schlitzer,
2000). Este material orgânico é transportado e respirado pelos organismos não-
fotossintéticos (respiração heterotrófica) e, finalmente, ressurgido e retornado para a
atmosfera. Somente uma fina fração é enterrada nos sedimentos das profundezas do
oceano. Transporte de CaCO3 para as profundezas do oceano é um fluxo menor que o
transporte total do “export production” (0,4 PgC/ano), mas cerca de metade deste
carbono é enterrado como CaCO3 nos sedimentos. A outra metade é dissolvida nas
profundezas e se junta à piscina de CID (Milliman, 1993). Também são mostrados os
fluxos aproximados de curto prazo através do enterrio de carbono orgânico e CaCO3 nos
sedimentos costeiros e a re-dissolução de uma parte do CaCO3 enterrado destes
sedimentos.
A Figura 2.17d apresenta o ciclo do carbono sobre a terra. Em contraste com o
oceano, a maior parte do ciclo do carbono sobre a terra acontece localmente dentro dos
ecossistemas. Cerca da metade da PPB é respirada pelas plantas. O restante (PPL) é
aproximadamente balanceado pela respiração heterotrófica com um componente menor
de oxidação direta em incêndios (combustão). Através da senescência dos tecidos das
plantas, a maior parte da PPL junta-se à piscina de detritos. Alguns detritos se
decompõem rapidamente (isto é, são respirados e retornam para a atmosfera como CO2)
enquanto outros são convertidos a carbono modificado do solo, o qual se decompõe
mais vagarosamente. A pequena fração do carbono modificado do solo que é convertida
total de CO2 que é dissolvido na água da folha está em torno dos 270 PgC/ano. Esta
quantidade corresponde a mais de um terço de todo o CO2 na atmosfera (Farquhar et al.,
1993; Ciais et al., 1997). Esta quantidade é mensurável porque este CO2 tem tempo para
trocar os átomos de oxigênio com a água da folha e é identificado devido à sua
18
assinatura correspondente ao O (Francey & Tans, 1987; Farquhar et al., 1993). A
maior parte deste CO2 é difundida de volta sem participar efetivamente da fotossíntese
(fotorespiração). A quantidade que é fixada da atmosfera, isto é, convertida de CO2 em
carboidratos durante a fotossíntese, é conhecida como produtividade primária bruta
(PPB). O PPB terrestre tem sido estimado como sendo cerca de 120 PgC/ano baseado
18
em medidas de O do CO2 atmosférico (Ciais et al., 1997). Este é também o valor
aproximado necessário para suportar o crescimento observado das plantas, assumindo
que cerca da metade da PPB é incorporada dentro de novos tecidos das plantas tais
como folhas, raízes e madeira, e que a outra metade é convertida novamente a CO2
atmosférico pelo processo de respiração autotrófica (respiração pelos tecidos das
plantas) (Lloyd & Farquhar, 1996; Waring et al., 1998).
O crescimento anual das plantas é a diferença entre a fotossíntese e a respiração
autotrófica e é referenciado como produtividade primária líquida (PPL). A PPL tem sido
medida nos principais tipos de ecossistemas por corte sequencial ou por medidas de
biomassa das plantas (Hall et al., 1993). O PPL global terrestre tem sido estimado estar
em torno de 60 PgC/ano através da integração de medidas de campo (Atjay et al., 1979;
Saugier & Roy, 2001). Estimativas de sensores remotos e dados de CO2 atmosférico
(Ruimy et al., 1994; Knorr & Heimann, 1995) concordam com esse valor, apesar de
existir uma grande incerteza em todos os métodos. Como visto anteriormente,
praticamente todo o carbono fixado na PPL é retornado para a piscina atmosférica de
CO2 através dos processos de respiração heterotrófica (Rh), por decompositores e
herbívoros, e de combustão por incêndios naturais ou provocados pelo homem.
A maior parte da biomassa morta entra nas piscinas de detritos e de matéria
orgânica do solo onde é respirada a uma taxa que depende da composição química dos
tecidos mortos e das condições ambientais (por exemplo, baixa temperatura, condições
de seca e alagamentos diminuem a decomposição). Conceitualmente, várias piscinas de
carbono do solo são distinguidas. A biomassa microbial e dos detritos tem um tempo de
retorno curto (< 10 anos). Carbono modificado do solo tem um tempo de retorno que
varia entre décadas e séculos. Carbono orgânico inerte do solo (estável) é composto de
moléculas mais ou menos resistentes a decomposição. Uma fração muito fina da matéria
Notas de Aula- ACA 0429 – Agrometeorologia. Prof. Edmilson Dias de Freitas 35
2. Fundamentos de ecofisiologia aplicada.
1
Litter é uma palavra inglesa que representa a matéria orgânica que cai da vegetação (folhas em maioria)
e se decompõem no solo. No jargão brasileiro é conhecido como “liteira”.
2.7. Exercícios.
1) Explique sucintamente o processo de fotossíntese. Indique as diferenças entre os
ciclos de fixação de carbono para plantas C3, C4 e CAM. Faça um gráfico
ilustrando o processo de fotossíntese para plantas C3 e C4.