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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO -UPE

ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO-POLI


BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

LUÍS EDUARDO VASCONCELLOS BROL


MARIA CECÍLIA SOUZA XAVIER
MARIA EDUARDA DE SOUZA EBRAHIM GOMES
MARIA FERNANDA MARTINS DA SILVA

BARRAGENS
FUNÇÕES, CLASSIFICAÇÃO E CORRELAÇÃO COM A GEOLOGIA

RECIFE
2023
LUÍS EDUARDO VASCONCELLOS BROL
MARIA CECÍLIA SOUZA XAVIER
MARIA EDUARDA DE SOUZA EBRAHIM GOMES
MARIA FERNANDA MARTINS DA SILVA

BARRAGENS
FUNÇÕES, CLASSIFICAÇÃO E CORRELAÇÃO COM A GEOLOGIA

Trabalho apresentado na cadeira de Geologia


como requisito de composição de nota do 2ºEE

Professora: Profª Kalinny Laffayete

RECIFE
2023
SUMÁRIO

1. Barragens: ........................................................................................................... 5

1.1. Conceitos introdutórios ..................................................................................... 5

1.1.1. Fatores ligados a obra .............................................................................. 5

1.1.2. Fatores ligados ao ambiente .................................................................... 6

1.2. Objetivos e sua importância no Projeto ............................................................ 6

1.2.1. Barragens de regularização..................................................................... 7

1.2.2. Barragens de contenção ........................................................................... 8

1.3. Incidência dos objetivos no planejamento da obra ........................................... 9

1.3.1. Barragens para Abastecimento: ............................................................. 9

1.3.2. Barragens para Hidrelétricas: ................................................................ 9

1.3.3. Barragens para Navegação: .................................................................... 9

1.3.4. Barragens para Turismo: ........................................................................ 9

1.3.5. Barragens para Piscicultura: ................................................................ 10

1.3.6. Barragens para Controle de Enchentes: .............................................. 10

1.3.7. Barragens de Contenção: ...................................................................... 10

1.4. Principais componentes de barragens ............................................................. 11

1.5. Tipos de barragens .......................................................................................... 14

1.5.1. Barragens Convencionais: ..................................................................... 14

1.5.2. Barragens não-convencionais................................................................ 22

2. Fases nos estudos de barragens ....................................................................... 23

2.1. Levantamento e análise topográfica ............................................................... 23

2.2. Dados hidrológicos ......................................................................................... 24

2.3. Mapeamento geológico ................................................................................... 24

2.4. Planejamento e Dimensionamento.................................................................. 24

2.5. ORÇAMENTO: .............................................................................................. 25

3. Etapas na vida de uma barragem ................................................................... 26


3.1. fase de Estudos prévios e Projeto ................................................................... 26

3.1.1. Plano Diretor .......................................................................................... 26

3.1.2. Análise de Viabilidade ........................................................................... 26

3.1.3. Projeto Básico ......................................................................................... 26

3.1.4. Projeto Executivo ................................................................................... 27

3.2. fase construtiva ............................................................................................... 27

3.3. fase de manutenção e monitoramento ............................................................. 27

4. Investigações geológico-geotécnicas em barragens........................................ 28

4.1. Prospecção direta ............................................................................................ 28

4.2. Prospecção indireta ......................................................................................... 29

4.3. Prospecção semidireta ..................................................................................... 30

5. Principais Problemas correlacionados ao estudo geológico .......................... 30

5.1. Assoreamento .................................................................................................. 31

5.2. Interação Rocha-água ..................................................................................... 31

6. Monitoramento ................................................................................................. 33

6.1. Inspeção visual ................................................................................................ 33

6.2. topografia ........................................................................................................ 34

6.3. instrumentação ................................................................................................ 34

6.3.1. Medição do Nível de Pressão ................................................................. 35

6.3.2. Medição da Pressão Neutra: ................................................................. 36

6.3.3. Medição do Deslocamento ..................................................................... 37

7. Impactos de uma barragem ............................................................................. 38

7.1. Aspectos ambientais ....................................................................................... 38

7.2. Risco ............................................................................................................... 39

7.3. Análise de impactos nas etapas de uma obra .................................................. 40

7.4. Exemplos práticos de impactos ambientais: ................................................... 41

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 42
ESTUDO DE CASO ................................................................................................... 44

1. Foco do estudo: ................................................................................................. 44

2. Metodologia: ..................................................................................................... 44

3. Resultados e discussões .................................................................................... 46

4. Conclusão .......................................................................................................... 48

artigo ............................................................................................................................ 49
5

1. BARRAGENS:

1.1.CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Uma barragem pode ser definida como uma estrtura feita para reter água para algum uso
posterior, possuindo diversas classificações, e diversos aspectos relacionados a seu
desenvolvimento e aplicação. Seu projeto é complexo e abrange uma variedade de fatores
considerando tanto os detalhes da construção quanto o ambiente no qual a barragem será
implantada. Estes parâmetros são chamados de críterios de proejto e podem relacionados à obra,
inclindo a concepção, dimensionamento e outros elementos essenciais, ou ao ambiente,
referindo-se às condições naturais do local (COSTA, 2012).

1.1.1. Fatores ligados a obra

• Objetivo da obra: Define-se o propósito da barragem, como fornecer água


potável, gerar energia hidrelétrica ou regular o fluxo de água.
• Tipo de barragem: Determina-se o modelo de barragem mais adequado às
necessidades, como barragens de gravidade, arco, aterro etc.
• Arranjo de obras: Define-se como os diferentes componentes da barragem serão
organizados para atingir os objetivos do projeto.
• Dimensionamento da barragem: Calculam-se as dimensões considerando
características como deformabilidade, estabilidade e estanqueidade, garantindo sua
integridade.
• Dimensionamento das obras complementares: Define-se o dimensionamento de
estruturas como vertedouros, canais, túneis e casa de força, seguindo critérios de projeto
e segurança.
• Metodologia de construção: Decide-se como a barragem e suas estruturas serão
construídas, considerando os materiais, equipamentos e processos necessários.
• Cronograma e custos: Estabelecem-se os prazos e os custos associados à
construção da barragem e suas estruturas auxiliares.
• Monitoramento das obras projetadas: Planeja-se a monitorização contínua
durante a construção para garantir a conformidade com o projeto e a segurança.
6

• Critérios operacionais: Define-se como a barragem será operada após a


conclusão, levando em conta os diferentes cenários possíveis.

1.1.2. Fatores ligados ao ambiente

• Climatologia e recursos hídricos: Analisa-se o clima e a disponibilidade de


recursos hídricos na área, que afetam o fluxo de água no reservatório.
• Morfologia: Compreende-se a topografia da área, o que influencia o arranjo da
barragem e suas estruturas associadas.
• Geologia e Geotecnia: Avalia-se a composição geológica do local, bem como a
capacidade do solo de suportar a barragem e suas cargas.
• Impactos ambientais: São estudados os efeitos da construção da barragem sobre
o ecossistema local, incluindo a flora, fauna e os recursos naturais.

A interdependência entre os fatores da obra e do ambiente é essencial para a concepção


da barragem. A viabilidade da obra depende da consideração desses fatores essenciais. Além
disso, os fatores relacionados ao dimensionamento afetam a construção, os custos e a segurança
operacional da barragem (CHIOSSI, 2013).

1.2.OBJETIVOS E SUA IMPORTÂNCIA NO PROJETO

As barragens são construídas com objetivos específicos que influenciam todo o processo
de planejamento. Esses objetivos podem ser classificados em dois grupos principais:
regularização e retenção (COSTA, 2012).
7

1.2.1. Barragens de regularização

Barragens de regularização têm como propósito ajustar o regime hidrológico de um rio.


Isso é alcançado armazenando água durante os períodos de alta afluência (quando há mais água
fluindo no rio do que sendo utilizada) para depois liberá-la nos períodos de baixa afluência,
quando a demanda por água é maior do que a quantidade disponível naturalmente. A ideia é
reduzir as flutuações extremas nas vazões naturais do rio.

Imagem A1.1 – Esquema de regulação hidrológica

Fonte: Assis (2003)

Dependendo da finalidade específica da regularização, a barragem pode buscar


diferentes objetivos. Esses incluem:
• Aumento de Volume: Essa é a meta de barragens que têm como foco o
fornecimento de água para abastecimento doméstico, industrial e irrigação. Ao
armazenar água excedente, a barragem assegura um suprimento contínuo durante
períodos de escassez.
• Elevação do Nível: Barragens que almejam gerar energia elétrica aproveitam a
energia potencial hidráulica criada pela queda d'água. Elevar o nível da água ajuda a
aumentar essa queda, tornando a geração de energia mais eficiente. Também pode
melhorar a navegação fluvial, afogando corredeiras e cachoeiras que atrapalham o fluxo.
8

• Criação de Lago: Algumas barragens são criadas simplesmente para formar um


lago, muitas vezes para fins turísticos ou recreativos.
Além desses objetivos principais, as barragens de regularização também podem ter
impactos positivos na piscicultura, beneficiando tanto o reservatório quanto a área a jusante do
rio.

1.2.2. Barragens de contenção

As barragens de contenção têm como objetivo principal reter água temporariamente ou


acumular diversos tipos de materiais, como sedimentos, resíduos industriais ou rejeitos de
mineração. Quando se trata de retenção de água, essas barragens são construídas para amortecer
o impacto das enchentes, evitando inundações rio abaixo.
Além disso, as barragens de contenção que retêm carga sólida ou uma mistura de
materiais têm a finalidade de evitar que esses materiais causem danos ao leito dos cursos d'água
a jusante. Isso pode ocorrer tanto de maneira física, através do assoreamento do leito do rio,
quanto quimicamente, quando esses materiais contêm substâncias tóxicas ou poluentes.

Imagem A1.2 – Esquema de Amortecimento de Cheia

Fonte: Assis (2003)

Em resumo, as barragens de contenção são projetadas para reter água temporariamente,


bem como para acumular e gerenciar diversos tipos de materiais, visando mitigar enchentes,
evitar danos ao leito dos rios e controlar a dispersão de substâncias tóxicas ou poluentes.
9

1.3. INCIDÊNCIA DOS OBJETIVOS NO PLANEJAMENTO DA OBRA

A escolha do local ideal para construir uma barragem e o tipo de estrutura mais
adequado são influenciados significativamente pelo propósito que a barragem irá atender. Essa
influência é evidente ao considerar as características exigidas para os diversos objetivos das
barragens, conforme descritos anteriormente, e pode ser resumida da seguinte maneira (COSTA,
2012):

1.3.1. Barragens para Abastecimento:

Abastecimento Doméstico: Requer águas com baixa salinização, proteção contra


poluentes químicos tóxicos na área de alimentação e proibição de atividades recreativas no lago.
Abastecimento Industrial: Requer águas com restrições de salinização, levando em
conta o tipo de indústria, e evita águas duras (carbonatadas).
Abastecimento para Irrigação: Necessita de águas com restrições de salinização,
considerando o tipo de cultura e as características do solo a ser irrigado.

1.3.2. Barragens para Hidrelétricas:

Deve priorizar desníveis no perfil longitudinal do rio onde o potencial hidráulico é maior.
O regime hidrológico é importante para evitar grandes esgotamentos do reservatório.

1.3.3. Barragens para Navegação:

Requer construção de eclusas para permitir a passagem de embarcações.


Deve garantir um nível de regularização do rio compatível com o calado das
embarcações planejadas.

1.3.4. Barragens para Turismo:

Deve formar lagos extensos com margens suavemente inclinadas para instalação de
infraestruturas como píeres e ancoradouros.
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O reservatório não deve sofrer reduções significativas, e condições favoráveis ao


assoreamento devem ser evitadas.

1.3.5. Barragens para Piscicultura:

O reservatório deve considerar a qualidade da água, características dos fundos e margens,


profundidade e iluminação, evitando a eutrofização que prejudicaria os peixes.

1.3.6. Barragens para Controle de Enchentes:

Além de armazenar água para conter ondas de enchentes, deve minimizar danos a áreas
a montante temporariamente inundadas.

1.3.7. Barragens de Contenção:

Deve garantir máxima segurança para evitar vazamentos de produtos tóxicos


armazenados, tanto na superfície quanto por infiltração, para prevenir a poluição de águas
subterrâneas.

É notável que as exigências específicas de cada objetivo afetam a seleção do local e o


tipo de barragem a ser construída. Além disso, é desafiador conciliar múltiplos objetivos em
uma única barragem, devido às possíveis incompatibilidades. Portanto, aproveitamentos
múltiplos devem ser precedidos por uma análise hidrológica rigorosa para equilibrar as
demandas de água para cada finalidade.
11

1.4.PRINCIPAIS COMPONENTES DE BARRAGENS

Segundo Marangon (2004), as barragens de terra possuem elementos básicos que as


constituem como um todo, sendo eles: talude jusante, crista, talude montante, maciço, base e
fundação. Estes elementos também são comuns à maioria dos tipos de barragens.

Imagem A.1.3 – Principais Estruturas de uma barragem

Fonte: Adaptado de Marangon (2004)


12

Dentro do processo construtivo, existe um elemento que é responsável pelo desvio dos
cursos d’água. Este elemento é chamado de ensecadeira

Imagem A.1.4. – Esquemática de Ensecadeira

Fonte: Adaptado de Marangon (2004)

Podem-se citar também os túneis de desvio, que possuem função similar à ensecadeira,
porém diferenciam-se pelo fato de serem usualmente empregados nas construções em vales
íngremes (MARANGON, 2004). Canais de desvio são construídos temporariamente para
redirecionar o fluxo do rio durante a construção ou manutenção da barragem. Isso possibilita o
trabalho em áreas onde a água normalmente estaria presente.
13

Imagem A.1.5 – Esquemática de Túnel de Desvio

Fonte: Adaptado de Marangon (2004)

Além destes elementos, devem-se citar os vertedouros, que funcionam como


dispositivos que regulam a água, quando seu regime ameaça a estabilidade da barragem
(MARANGON, 2004).

Imagem A.1.6 – Vertedouro da Barragem de Itaipu

Fonte: Carmago (2014)


14

Outros exemplos de estruturas auxiliares são:


• Tomadas de Água: são aberturas controladas nas barragens para captação de
água para diversos fins, como abastecimento de água, geração de energia ou irrigação.
São essenciais para direcionar a água conforme as necessidades.
• Sistemas de Drenagem: Canais e tubulações compõem sistemas de drenagem,
permitindo a retirada controlada da água a montante da barragem. Esses sistemas
ajudam a gerenciar o nível da água na represa e a reduzir a pressão na estrutura.
• Eclusas: são dispositivos que permitem a passagem de embarcações através da
barragem, superando diferenças de nível da água. Elas são essenciais em barragens
navegáveis para o transporte fluvial.
• Sistemas de Monitoramento e Controle: Esses sistemas incluem instrumentos e
tecnologias para monitorar continuamente as condições da barragem, como níveis de
água e movimentos estruturais. A detecção precoce de problemas ajuda a evitar falhas.
• Pontes e Estradas: Algumas barragens incluem pontes ou estradas que
atravessam sua extensão. Isso facilita o tráfego rodoviário ou pedestre, proporcionando
uma passagem segura sobre a represa.
• Sistemas de Tratamento de Água: Em barragens voltadas para o abastecimento
de água potável, sistemas de tratamento podem ser integrados para garantir que a água
captada esteja em conformidade com padrões de qualidade.
• Instalações de Geração de Energia: Barragens hidrelétricas podem incluir usinas
de geração de energia, turbinas e sistemas de distribuição elétrica. Essas instalações
convertem a energia da água em eletricidade.

1.5.TIPOS DE BARRAGENS

Ao longo da história, a tecnologia das barragens evoluiu consideravelmente, desde suas


formas mais rudimentares até as mais avançadas. Hoje, existem tipos convencionais e não
convencionais de barragens.

1.5.1. Barragens Convencionais:

Essas barragens são as mais comuns e são amplamente discutidas na literatura


especializada. Elas podem ser divididas em subcategorias:
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1.5.1.1.Barragens de Terra

Segundo Quintas (2002), são consideradas barragens de terra aquelas cuja estrutura é
constituída fundamentalmente por terra. Neste caso, é adequado, quando possível, utilizar o
solo da área de implantação da barragem.
Um exemplo de barragem de terra é a Barragem de Rosana, na divisa entre São Paulo e
Paraná.

Imagem A.1.7 – Barragem de Rosana

Fonte: Azevedo (2005)

Estas barragens se comportam de maneira razoável em praticamente todos os tipos de


fundação, pois os esforços transmitidos à fundação são menores, que as barragens de concreto,
por unidade de área. Outro fator positivo, é que por serem compostas de material que tem fácil
adaptabilidade, as barragens de terra são menos propensas a ter sua estrutura comprometida por
assentamentos, que são verificados durante e após a construção (ALMEIDA, 2010)
16

Existem duas divisões nas barragens de terra:


• Homogêneas: consistem predominantemente em um único tipo de material.
Embora possam ter elementos diferentes, como filtros e rip-rap, o material principal é
uniforme.

Imagem A.1.8 – Barragem do Vigário

Fonte: Cruz (2005)

• Zonadas: Essas barragens possuem uma divisão de materiais terrosos com base
em suas características ou permeabilidade. Diferentes zonas são projetadas para
diferentes funções, otimizando o desempenho da barragem.

Imagem A.1.9 – Seção de uma barragem de terra zonada

Fonte: Costa (2012)


17

1.5.1.2. Barragens de Enroncamento

Barragens de enrocamento são barragens em que se faz o emprego de blocos de rocha


de vários tamanhos juntamente com uma membrana impermeável sobre a face de montante do
talude construído ou um núcleo impermeável. Geralmente, esse empreendimento é viável em
regiões com altos custos para obtenção de concreto, terra e fácil obtenção de rochas. O tipo de
rocha de fundação que tolera uma obra de barragem de enrocamento, nem sempre tolera obras
de concreto (MARANGON, 2004).

Imagem A.1.10 – Usina Hidrelétrica de Campos Novos (2014)

Fonte: Camargo (2014)


18

• Com Núcleo Impermeável: Nestas barragens, o material rochoso é predominante,


mas a vedação da água é alcançada através de um núcleo argiloso. O núcleo é separado
do enrocamento por zonas de transição para evitar o movimento de material fino para o
enrocamento.

Imagem A.1.11 - Seção de barragem de enrocamento de núcleo centrado e núcleo


inclinado

Fonte: Costa (2012)

• Com Face Impermeável: Nesse tipo, a vedação da água é conseguida pela


impermeabilização da face de montante da barragem. Isso pode ser feito com camadas
de asfalto, placas de concreto ou chapas de aço.

Imagem A.1.12 - Seção de barragem de enrocamento com face de concreto e


chapa de aço

Fonte: Costa (2012)


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1.5.1.3. Barragens de Concreto

Barragens de concreto são as constituídas basicamente de materiais granulares


produzidos artificialmente aos quais se acrescentam cimento e aditivos químicos
(MARANGON, 2004). Por este motivo, são as barragens que tem o maior custo de produção.

Imagem A.1.13- Alguns tipos de barragens de concreto

Fonte: Costa (2012)

Existem diferentes tipos de barragens de concreto, cada uma com suas características
distintas:
• Gravidade: Essas barragens são maciças, construídas principalmente de concreto,
com pouca armação. Sua estrutura trabalha principalmente sob compressão. Podem ser
retas (crista) ou curvas (em arco).
• Gravidade Aliviada: Essa estrutura é mais leve que a gravidade convencional e
possui partes vazadas para reduzir a pressão nas fundações ou economizar concreto. Ela
apresenta esforços de tração, o que exige mais armação do que a gravidade pura.
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• Contraforte: Semelhante à gravidade aliviada, mas ainda mais leve. Concentra


os esforços em uma pequena área da fundação e, portanto, exige mais armação.

Imagem A.1.14 - Barragem em contraforte Buttress Dam

Fonte: Camargo (2014)

• De Concreto Rolado ou Compactado: O concreto é espalhado por tratores de


esteira e compactado. A estanqueidade é garantida por uma camada de concreto
convencional no lado de montante.
Imagem A.1.15 – Hidrelétrica de Mauá

Fonte: Camargo (2014)


21

• Abóbada: Essas barragens possuem uma curvatura dupla, tanto horizontal


quanto vertical. São chamadas de barragens de dupla curvatura. Podem ter arcos simples
ou múltiplos. Parte das pressões hidráulicas é transmitida às ombreiras pelo efeito de
arco.

Imagem A.1.16 - Barragem em arco Glen Canyon Dam

Fonte: Camargo (2014)

1.5.1.4.Barragens Mistas

As barragens mistas podem ser constituídas por diferentes materiais ou ter diferentes
tipos de seções transversais:
• Barragem de Seção Mista: É composta por diferentes materiais ao longo da seção
transversal. Pode ser terra/enrocamento, terra/concreto ou enrocamento/concreto.
22

• Barragem de Traçado Misto: Envolve a utilização de diferentes tipos de


materiais ao longo do traçado da barragem. Isso não se aplica quando o corpo principal
é de terra ou enrocamento e o vertedouro é de concreto, a menos que haja uma
continuidade de traçado.

Imagem A.1.17 – Barragens Mistas

Fonte: Costa (2012)

1.5.2. Barragens não-convencionais

1.5.2.1. Barragens de Gabião

Essas barragens são projetadas para obras de pequeno porte, geralmente com altura
inferior a 10 metros, e são planejadas para serem parcial ou totalmente vertedoras. São
constituídas por uma parede de gabião (gaiolas preenchidas com pedras) que se estende jusante,
formando uma bacia de dissipação, e são aterradas a montante com material argiloso. Para evitar
o carreamento de finos, uma manta de bidim é usada entre a argila e o gabião. Uma placa de
concreto é colocada na parte de vertedouro para proteger o topo da barragem em situações de
grandes vazões.

1.5.2.2. Barragens de Madeira

Essas barragens requerem madeira de alta qualidade e são revestidas com chapas de aço
para garantir a vedação. As caixas formadas pela armação de madeira são preenchidas com
rochas para evitar o deslocamento causado pela pressão hidrostática.
23

1.5.2.3. Barragens de Alvenaria de Pedra

Este tipo de barragem é uma variação das barragens de gravidade, onde o concreto é
substituído por alvenaria de pedra que é rejuntada manualmente com cimento. Não requer o uso
de armação ou formas como nas barragens de concreto.

2. FASES NOS ESTUDOS DE BARRAGENS

Antes da implantação da estrutura de uma barragem em um determinado curso d'água


existe uma sequência natural de trabalho que deve seguir algumas etapas. Chiossi (2013) define
estas tapas como sendo: levantamento e análise topográfica; obtenção de dados hidrológicos;
mapeamento geológico; planejamento e dimensionamento e orçamento.

2.1. LEVANTAMENTO E ANÁLISE TOPOGRÁFICA

Consiste na avaliação das características geográficas e topográficas do curso d'água. A


função desse levantamento é para criação de plantas topográficas que possam verificar as
melhores seções transversais para uma barragem, calcular a área que será inundada pelas seções
escolhidas e obter o perfil longitudinal ao longo do escoamento.
24

2.2.DADOS HIDROLÓGICOS

Somando às análises topográficas, deve-se haver coleta das informações sobre o caudal
(vazão de água) no trecho estudado. Estes consistem em cálculos das médias diárias, mensais e
anuais da vazão, valores que são usados para determinar o potencial hídrico a ser contido pela
barragem. Esta etapa do estudo é realizada por um grupo de técnicos especializados para definir
as características hidrológicas da bacia hidrográfica do curso d'água.

Tabela A.2.1 – Exemplos de vazões de água, de exemplo

: Fonte: Chiossi (2013)

2.3.MAPEAMENTO GEOLÓGICO

Utilizando métodos de prospecção e análises direta e indireta do subsolo (vide capítulo


4) combinados aos dados topográficos, faz-se um esquema que mostra a distribuição do tipo de
rocha e solo da área, ajuda a identificar fraturas, dobras e entre outras estruturas assim como
determinar a resistência do solo em diversas regiões de trabalho (Vital para a determinação do
tipo de fundação, por exemplo).

2.4.PLANEJAMENTO E DIMENSIONAMENTO

As informações obtidas irão permitir o planejamento da barragem, assim sendo


determinados seu tipo, suas dimensões e todos os serviços a serem executados antes e após as
etapas de obra.
Uma boa forma de dar ênfase à importância do planejamento e dimensionamento é
através de um exemplo contrário, onde há despreocupação com esta etapa. A barragem de
Balbina, localizada no rio Uatumã, na região amazônica, fica a 180km da capital de manaus,
com um lago de barragem que inundou 2,6 mil km2 de florestas, sua potência, atualmente é de
25

120/130 MW (KEMENES, 2006). Ao ser comparada com a barragem de Itaipu, nota-se uma
descrepância: o lago de Itaipu possui uma área de inundação de 1,3 mil km2, que representa
metade da área inundada por Balbina, mas ainda assim apresenta potencia instalada de 14.000
MW, notando-se o mal aproveitamento do potencial elétrico do curso de água. Outro problema
de planejamento notável da barragem em questão, foco principal do estudo de Kemenes (2006),
consiste na negligência de serviços preliminares simples como a limpeza da matéria vegetal
localizada na área inundada. A decomposição da matéria vegetal orgânica recoberta pela água,
começou a emitir gases do efeito estufa (CO2 e CH4) na atmosfera, na proporção de 3,3
toneladas para cada MW/h gerado pela usina, isso representa uma importante pauta no quesito
climático, causada por mal planejamento das obras da estrutura.

Imagem A.2.1 – Lago da Barragem de Balbina

Fonte: INPA (2006)

2.5.ORÇAMENTO:

Depois do planejamento, será avaliado o orçamento. Consiste na estimativa de custos


dos materiais de construção, escavações, rochas a serem utilizadas, indenizações das
propriedades e de terras a serem inundadas. É possível calcular o custo por quilowatt (kW) a
ser obtido a partir da barragem. Esta representa a etapa final para decisçao de aprovacão ou não
dos projetos sugeridos (CHIOSSI, 2013).
26

3. ETAPAS NA VIDA DE UMA BARRAGEM

Os estudos prévios caracterizam apenas parte da vida de uma barragem, que passa por
diversas outras etapas (ou fases) ao longo de sua existência, cada uma dessas, desempenhando
um papel fundamental em sua construção, função e segurança (COSTA, 2012; CHIOSSI, 2013)

3.1.FASE DE ESTUDOS PRÉVIOS E PROJETO

O começo se dá com estudos prévios da região, nos quais há o planejamento detalhado


e o desenvolvimento do projeto (vide Capítulo 2). Neste são definidos objetivos como
fornecimento de água, energia ou controle de enchentes. Projetualmente falando, estes estudos
são definidos em: plano diretor, viabilidade, projeto básico e projeto executivo

3.1.1. Plano Diretor

Na etapa de inventário ou plano diretor, ocorre o planejamento para identificar locais


adequados para construção de barragens em uma bacia hidrográfica específica. Isso envolve a
avaliação de várias opções e a classificação destas de acordo com prioridades baseadas nos
objetivos pretendidos e nas características naturais de cada local (vide secção 2.2-2.4).

3.1.2. Análise de Viabilidade

Enquanto na fase de viabilidade, são realizados estudos detalhados para uma alternativa
específica de barragem, onde determinam a posição precisa da barragem, o tipo mais adequado,
opções de arranjo das estruturas e avaliam se o projeto é viável tecnicamente e economicamente.
(vide secção 2.4-2.5)

3.1.3. Projeto Básico

Para o projeto básico, serão analisados todos os estudos para a licitação e construção,
nessa fase também faz se aparente o custo de aparelhos, a escolha e a metodologia do projeto.
(vide secção 2.4-2.5)
27

3.1.4. Projeto Executivo

No projeto executivo, realizado durante a obra, tem como objetivo complementar o


projeto básico com informações recebidas durante a construção: como escavações, problemas
no decorrer da execução e pormenores construtivos ausentes no projeto básico. Diferentemente
das demais etapas projetuais, o projeto executivo se destaca por abrangir o período de
construção, indo além dos estudos prévios e adentrando a etapa construtiva.

3.2.FASE CONSTRUTIVA

Definida de maneira simples e direta, define tudo eu vai do começo ao final da


construção, na qual ocorre a criação de estruturas sólidas, instalação de equipamentos e o
gradual enchimento do reservatório.

3.3.FASE DE MANUTENÇÃO E MONITORAMENTO

Após estas etapas iniciais, no decorrer da execução do seu papel (geração de energia,
abastecimento, etc), a manutenção rotineira garantirá seu desempenho ideal ao longo dos anos,
enquanto o monitoramento constante avalia sua integridade e comportamento hidráulico,
garantindo a segurança de áreas ao redor (S.I.H, 2002). Essas duas etapas finais, que
normalmente antecedem uma a outra, serão repetidas e perpeatuadas por toda a vida útil da
barragem (vide Capítulo 6 e Estudo de Caso).
Imagem A.3.1 – Engenheiros em inspeção rotineira de barragem

Fonte: MJCM (2021)


28

4. INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS EM BARRAGENS

Investigações para obras de barragens são procedimentos essenciais para compreender


as características geológicas, hidrológicas e geotécnicas de um local onde uma barragem será
construída, o porte da obra e riscos envolvidos. Essas investigações são as ferramentas eu
fornecem informações cruciais para o os estudos prévios e, consequentemente, projeto,
construção e operação segura da barragem. Podendo ser feitas por prospecção direta, indireta,
semidireta (COSTA, 2012).

4.1.PROSPECÇÃO DIRETA

Na prospecção direta, o investigador tem um contato direto com o material investigado


por perfurações ou escavações, permitindo que colete amostras reais do solo e da rocha. Por
exemplo:
• Sondagem Rotativa: Usa uma broca para perfurar o solo ou a rocha coletando
materiais.
• Sondagem de Percussão (SPT): Usa-se uma ferramenta de percussão para criar
uma abertura no solo, medindo a resistência e coletando amostras.
• Cone Penetration Test (CPT): Um cone é empurrado no solo, mede a resistência
e obtém dados de penetração no solo.
• Sondagem a Trado: O solo é perfurado manual ou mecanicamente e retiram
amostras.
29

Imagem A.4.1 – Sondagem à Trado

Fonte: MTWS (2022)

4.2.PROSPECÇÃO INDIRETA

Na prospecção indireta, há a coleta informações sobre o subsolo por meio da análise de


propriedades físicas ou medições feitas na superfície. Consistem em técnicas mais rápidas e
menos intrusivas. Por exemplo:
• Geofísica: Utiliza-se medições de propriedades físicas, como resistência elétrica,
densidade e propagação de ondas sísmicas, para inferir a composição do subsolo.
• Levantamento Sísmico: Usa ondas sísmicas para criar imagens das camadas
geológicas subsuperficiais.
• Radar de Penetração no Solo (GPR): Usa ondas de radar para mapear camadas
geológicas
30

Imagem A.4.2 – Georadar sendo aplicado em campo

Fonte: Geoanalysis (2022)

4.3.PROSPECÇÃO SEMIDIRETA

A última categoria, da prospecção semidireta, combina as técnicas anteriores, havendo


emprego de ambas modalidades de exploração. Um exemplo é o CPTu (Cone Penetration Test
with pore pressure measurement), que além de medir a resistência do solo, também mede a
pressão de poros durante a sondagem.
Estes poucos métodos exemplificam apenas uma pequena fração da ampla gama de
meio de exploração subterrânea, sendo apenas alguns dos mais utilizados quando trata-se do
assunto de barragens.
É importante ressaltar que não existe um método perfeito que forneça todas as
informações disponívies sobre o solo, cada qual possui suas vantagens e desvantagens. O
engenheiro deverá escolher um método baseando-se nas característica do terreno e outras
informações que forem necessárias e relevantes para o processo de execução do projeto
(COSTA, 2012).

5. PRINCIPAIS PROBLEMAS CORRELACIONADOS AO ESTUDO GEOLÓGICO

Sobre as questões técnicas que envolvem o estudo geológico de áreas onde há barragens,
deve levar-se em conta duas pautas principais: a movimentação de sedimentos e a interação
entre a rocha e a água, pois estas podem acarretar em sérios problemas para a estrutura
(CHIOSSI, 2013).
31

5.1.ASSOREAMENTO

Para tratar do assoreamento é importante saber o potencial de transporte de sedimentos


dos rios que desembocam em uma bacia e a rapidez que esses trechos de rios podem ser
preenchidos por esses materiais. Nos Estados Unidos, por exemplo, barragens nas Montanhas
Rochosas foram preenchidas com sedimentos em duas ou três décadas, perdendo sua função.
Isso também ocorreu com o reservatório de Austin, localizado no Texas, que ficou mais de 95%
cheio de sedimentos em cerca de dez anos. Já em lugares como Canadá ou certas partes dos
EUA, onde há ambientes glaciais, os rios carregam poucos sedimentos. Assim observa-se
grande variedade na velocidade que se dá o transporte e a deposição de sedimentos
(rapidamente e lentamente) em diferentes locais , o que justifica uma variadade na abordagem
da construção de barragens.

Imagem A.5.1. – Assoreamento em Barragem no Rio Jaguari

Fonte: RBA (2019)

5.2.INTERAÇÃO ROCHA-ÁGUA

Já sobre as condições do subsolo e em relação à fuga d’água dos reservatórios, o estudo


geológico deverá ter foco em duas etapas. A primeira foca na resistência da rocha, sua
permeabilidade e como ela reage à pressão da água, enquanto o segundo trata da
32

impermeabilidade da área do reservatório e está relacionado com a água subterrânea. Sendo


estes os principais definidores do posicionamento correto do eixo da barragem.
Com base nisso, os métodos de investigação do subsolo acabam por ser vitais para
estudar recursos das águas subterrâneas, evitando assim falhas catatróficas nas estruturas que
poderiam acarretar, por exemplo, no ressecamento de um reservatório no qual o projetista
falhou em considerar a porosidade das rochas do terreno.
33

6. MONITORAMENTO

Após todas as fases citadas, as barragens necessitam de monitoramento para assim


serem feitas manutenções com intuito de perpetuar a sua atuação de forma saudável. Nas obras
de barragens o monitoramento ocorre durante a fase construtiva e na operacional da obra e são
feitos pelos seguintes processos: Inspeção visual, topografia e instrumentação (COSTA, 2012;
S.I.H, 2002)

6.1.INSPEÇÃO VISUAL

Nesse modelo o profissional deve observar a barragens procurando certos indícios de


anomalias como: trincas no corpo da barragem, abatimentos localizados, surgência d’água,
deslocamentos do rip-rap e deslizamentos localizados no espaldar de jusante

Imagem A.6.1- Exemplos de fissuras

Fonte: Fonseca (2021)


34

6.2.TOPOGRAFIA

A topografia é utilizada para garantir mais precisão à inspeção visual. As principais


formas de monitoramento são: Deslocamentos no corpo da barragem, assoreamento do
reservatório, Deslocamentos das paredes em escavações subterrâneas

6.3.INSTRUMENTAÇÃO

Essa metodologia utiliza diversos instrumentos, instalados já na construção da obra. Os


instrumentos devem seguir diversos critérios de escolha e instalação, para assim serem de fato
seguros para o monitoramento da barragem. Alguns dos critérios de escolha são: confiabilidade,
alta durabilidade, robustez, alta sensibilidade, baixo custo, etc. Além disso, deve ser atentar a
instalação do material, pois qualquer falha pode levar a erros na medição ou à obtenção de
valores discrepantes que podem acarretar riscos como: assumir o instrumento como defeituoso
e descartar as informações por ele fornecidas levando a eventuais consequências negativas; ou
aceitar as informações como verdadeiras, o que pode modificar totalmente a interpretação sobre
o comportamento da obra. As principais medições na instrumentação são:
35

6.3.1. Medição do Nível de Pressão

A medição do nível d'água tem como objetivo definir a cota do nível freático, seja no
corpo da barragem ou nas suas fundações (COSTA, 2012)

Imagem A.6.2. Medidor de N. de pressão Imagem A.6.3. Piezômetro de


Furo Aberto

Fonte: Maxwell (2007)


Fonte: Costa (2012)
36

6.3.2. Medição da Pressão Neutra:

: Realizada por meio do piezômetro, e visa determinar essa pressão nos maciços de terra
ou na rocha, bem como as subpressões em contato com estruturas de concreto. A função dos
piezômetros é fornecer a carga de pressão no ponto em que foi instalado

Imagem A.6.4. – Piezômetro de Corda Vibrante

Fonte: Costa (2012)

Imagem A.6.5 - Piezômetro Hidráulico de Tubo Duplo ou Aberto:

Fonte: Costa (2012)


37

6.3.3. Medição do Deslocamento

Existem dois tipos:


Deslocamento horizontal medida por meio de um inclinômetro
E recalque, também chamado de deslocamento vertical, pode ocorrer no corpo da
barragem ou nas suas fundações. O medidor mais utilizado é o de tubos telescópicos

Imagem A.6.7. - medidor de tubos


telescópicos
Imagem A.6.6. - Inclinômetro

Fonte: Costa (2012)

Fonte: Costa (2012)

Sobre a indústria e o mercado da engenharia no monitoramento de barragens, em uma


intrevista sobre o tema de monitoramento de barragens com a revista conexão UFRJ, associando
a temática ao desastre de Brumadinho em 2019, o pesquisador Mario Antônio Braga faz a
seguinte colocação:
“A grande maioria das barragens é monitorada por piezômetros (para medir a
poropressão da estrutura) e Indicadores de Nível de Água (INA). Esse tipo de
instrumento é corriqueiro e encontrado na maioria das barragens de todo o mundo [...]
porém foi identificado que hoje em dia diversas empresas estão elaborando sistemas
mais eficazes para o monitoramento das barragens.” (BRAGA, 2019)
38

O pesquisador também ressalta que apesar do reconhecimento da necessidade de


atualização dos métodos de monitoramento e das pesquisas mais recentes estarem
desenvolvendo metodologias mais eficientes, ainda deve levar tempo para que essas passem a
integrar o dia a dia de obras e projetos.

7. IMPACTOS DE UMA BARRAGEM

Considerando a magnitude da estrutura de uma barragem, torna-se de extrema


importância, além da análise do meio ambiente, uma projeção dos danos e impactos que a
mesma causará no ambinete natural e social da região. O autor Costa (2012) trás como critério
de categorização de riscos para âmbito de estudo a norma ISO 4000, com o seguinte trecho:
[citação direta]
"[Se referindo ao item 4.3.1 da norma]’A organização deve estabelecer e manter
procedimentos para identificar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos e
serviços que possam por ela ser controlados e sobre os quais se presume que ela tenha
influência, a fim de determinar aqueles que tenham ou possam ter impactos
significativos sobre o meio ambiente. A organização deve assegurar que os aspectos
relacionados a esses impactos significativos sejam considerados na definição de seus
objetivos ambientais’" (COSTA, 2012)

7.1.ASPECTOS AMBIENTAIS

Cada aspecto ambiental do projeto estudado por ser dividido em alguns fatores chaves:
Escopo, Incidência, Classe, Reversibilidade, Interferência e Duração. Costa (2012) desevolve
cada um desses.
• Escopo: Definido como a magnitude de um aspecto, fator que dita a capacidade
de causar impactos ambientais
• Incidência: Define o nível de controle que uma empresa tem sobre suas ações
internas em relação a um aspecto, podendo ser direto (controle e influência plena), ou
indireto (controle e influência diminuidos e afetados por terceiros)
• Classe: Varia ente B (Benéfico) para um aspecto com impacto positivo e A
(Adverso) para um aspecto de impacto negativo
• Reversibilidade: Varia entre R (Reversível), quando o aspecto causa um impacto
que cessa com a fonte, e I (Irreversível) quando o impacto em questão perdura.
39

• Interferência: Refere-se a extensão (local X regional)


• Duração: Refere-se ao tempo de decorrência do impacto, podendo ser
temporário (perdura mas eventualmente normaliza), cíclico (repete-se
periódicamente) ou permanente (caso os efeitos durem indefinidamente)

7.2. RISCO

Após compreendidos os aspectos ambientais do projeto, devem-se analisar os riscos de


ocorrer impacto, havendo 2 fatores principais: Probabilidade de Ocorrência e Gravidade do
Impacto
O primeiro refere-se a chance que um risco venha a ocorrer, variando nos padrões I
(Improvável) PP (Pouco Provável) e P (Provável).
O segundo diz diretamente a magnitude do efeitos causados pelo impacto, podendo
variar entre EP (Extremamente prejudicial), P (Prejudicial) e LP (Levemente Prejudicial
A interação entre esses fatores é chamada de risco e será o definidor da intensidade de
resposta a ser tomada. Um risco pode ser trivial, quando não é necessário tomar providência ou
precauções, e conforme sua gravidade e ocorrência aumentam, mais ações precisam ser tomada
a seu respeito, podendo chegar a ser intolerável, nesse ponto não está permitido que nenhuma
obra seja executada a menos que o risco seja reduzido, e caso seja impossível reduzida, a obra
é dada como inviável sem mais estudos.
Essa interação fica ilustrada na seguinte tabela:

Tabela A.7.1 – Risco (Ocorrência X Gravidade)

Fonte: Costa (2012)


40

7.3. ANÁLISE DE IMPACTOS NAS ETAPAS DE UMA OBRA

Costa (2012), divide 6 momentos cada qual com alguns dos principais impactos
observados para análise de risco em uma obra de barragens:
• ETAPA 1: Projeto; (P)
• ETAPA 2: Instalação do canteiro, acampamento e acessos; (I)
• ETAPA 3: Construção e preparação do reservatório; (C)
• ETAPA 4: Enchimento do reservatório; (E)
• ETAPA 5: Desmobilização do canteiro e do acampamento; (D)
• ETAPA 6: Operação.
Na seguinte tabela ficam separados as etapas de vida relacionadas a seus respectivos
riscos. O objetivo é apenas ilustrar as inúmeras possibilidades que devem ser consideradas antes
da execução de um projeto.
Tabela A.7.2 – ilustração dos Impactos decorrentos da Etapa P
ETAPA ATIVIDADE IMPACTO
P Abertura de Acessos Retirada da Vegetação
Compactação do Solo
Instabilidade de Taludes
Erosão e Assoreamento
Execução de Sondagens Abertura de Praças de Trabalho
Geração de pó e poeira
Geração de ruído
Geração de fluxos d’água concentrados
Abertura de túneis Desmate e decapeamento de solos
Geração de ruído
Geração de pó e poeira
Depósito de agregados:
Expectativas sociais Valoração das propriedades
Incremento do desmatamento
Invasões de propriedades
Lavras clandestinas
Caça predatória
Fonte: Autoral (2023)
41

Apesar de seres muitas as possibilidades, as únicas que devem ser analisadas, a título de
expediência e rapidez de execução do projeto, devem ser aquelas que são pertinentes a situação
em questão, como no seguinte trecho:
"Embora no item anterior tenham sido citados alguns dos impactos passíveis de
ocorrer na fase de operação de uma barragem, consideram-se como estudos
ambientais apenas aqueles necessários ao licenciamento ambiental do
empreendimento." (grifo nosso, COSTA, 2012)

Por Licenciamento Ambiental o autor refere-se a todos os quesitos legais


(documentações, dados e projeções) que devem ser encaminhados para o Orgão Ambiental
vigente, para que assim a obra possa ser viabilizada.

7.4. EXEMPLOS PRÁTICOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS:

Em retrospectiva, é possível observar o quanto a obra de uma barragem, (LUZ e


MOUTINHO, 2020)até mesmo em seus estágios iniciais afetará o ambiente, não deixando até
mesmo o próprio ser humano assentado na região de sua influência isento de consequências.
Dois exemplos notáveis podem ser mencionados como forma de fixação dessas noções:
• A Barragem de Balbina, Amazonas (KEMENES, 2006)
O descaso com o preparo tornou a barragem em uma emissora de gases do efeito
estufa, fato que poderia ter sido evitado caso tivesse sido dada a atenção correta ao
planejamento.
• A Barragem de Itaparica, Paulo Afonso (MELO, 2011; MELO, 2007)
Houve a movimentação de mais de 40.000 pessoas eu viviam no local que viria a ser
o reservatório da Usina de Itaparica, dentre essas 1200 eram de origem indígena Tuxá
que habitavam apenas a região alagada. Toda a herança cultural que não podia ser
despropriada (locais sagrados e culturalmente significantes) foi completamente perdida
na enchente. Nós dias atuais o suprimento de água da barragem, tem sido comprometido
pelo uso de fertilizantes em plantações ilegais nas margens do perímetro do reservatório.
42

REFERÊNCIAS
.
ALMEIDA, M. M. Estudo tensão deformação de barragem de terra e enrocamento.
Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2010.
ASSIS, A. P. Apostila de Barragens. Brasília, DF: Universidade de Brasília, v. Único,
2003.
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São Paulo: Universidade de Anhembi Morumbi, 2005.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância Ambiental. [S.l.]: [s.n.], 2017.
CAMARGO, W. D. P. D. Estudo de Acontecimentos Históricos de Ruptura de
Barragens. Campo Mourão: Universidade Técnologica Federal do Paraná, 2014.
CANCIO, J. A. Inserção das questões de saúde no estudo do impacto ambiental.
Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008.
CHIOSSI, N. J. Geologia de Engenharia. 3ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos, v. Único,
2013.
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CRUZ, P. T. D. 100 Barragens Brasileiras. 2ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos, v.
Único, 2005.
FONSECA, M. E. Análise de deformação vertical de uma barragem de terra para
diferentes fases do enchimento do reservatório: estudo de caso da Barragem Piaus.
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. 2021.
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HÍDRICA, SECRETARIA DE INFRA-ESTRUTURA. MANUAL DE SEGURANÇA
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KEMENES, A. Estimativa das Emissões de Gases de Efeito Estufa (CO2 e CH4)
pela Hidrelétrica de Balbina, Amazônia Central, Brasil. Instituto Nacional de Pesquisas do
Amazônia, Universidade Federal do Amazonas. Manaus. 2006.
LUZ, M. D. S. L.; MOUTINHO, F. F. B. ANÁLISE DA INSERÇÃO DA SAÚDE NOS
ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL DOS LICENCIAMENTOS DAS BARRAGENS
43

DE REJEITO DA SAMARCO, COMPLEXO DE GERMANO, MARIANA, MINAS GERAIS.


Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, 14 Maio 2020.
MARANGON, M. Tópicos em Geotecnia e Obras de Terra. Juiz de Fora:
Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004.
MAXWELL. Monitoramento de Barragens: Capítulo 4 - Instrumentação. Rio de
Janeiro: PUC, 2007.
MELO, G. L. D. Estudo da qualidade da água no reservatório de Itaparica
localizado na Bacia do Rio São Francisco. Recife: Universidade Federal de Pernambuco,
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MELO, R. M. C. ÍNDIOS E BARRAGENS: O CASO TUXÁ EM ITAPARICA.
Recife: Cadernos De Estudos Sociais, v. 4º, 2011.
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RIJO, M. ESTRUTURAS HIDRÁULICAS, Barragens. Universidade de Évora.
Évora. 2007.
44

ESTUDO DE CASO

Artigo: Análise da inserção da saúde nos estudos de impacto ambiental dos


licenciamentos das barragens de rejeito da samarco, complexo de germano, Mariana, Minas
Gerais
Qualis: A01
Ano de publicação: 2020

1. FOCO DO ESTUDO:

A pesquisa tem como foco entender como o estudo de impacto ambiental (EIA)
realizado para licenciar as barragens de mineração contém fragilidades na participação do setor
de saúde. A avaliação de impactos e o licenciamento ambiental de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras são instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente.
Os estudos para a mineração identificam pontos de impactados negativos das barragens
de rejeito em relação ao ambiente e à saúde, porém o artigo traz argumentos mostrando o quanto
esse estudo tem sido ineficaz, visto que os aspectos de saúde não são abordados em primeiro
plano, mas como consequência indireta dos impactos ambientais.
Atualmente, quando solicitado pelo órgão ambiental responsável pelo licenciamento
ambiental, o setor saúde insere suas recomendações em um formato já padronizado que busca
propor medidas preventivas, de promoção e proteção à saúde, e consequentemente a redução
dos impactos na saúde humana.
O artigo tem como foco, estudar o rompimento da barragem de Mariana em 2015,
considerada o maior desastre socioambiental envolvendo o setor de mineração, com o
rompimento o rio doce foi afetado em diversas localidades dos estados de Minas Gerais e
Espírito Santo. Após o desastre, a empresa optou pela utilização da barragem já existente
denominada Alegria Sul e com isso o artigo realiza estudo para entender se os impactos
ambientais foram levados em conta quando toda a produção foi repassada para a barragem
Alegria Sul.

2. METODOLOGIA:

O artigo utiliza a metodologia qualitativa tendo como base a análise documental, o


material estudado é os estudos de impacto ambiental desenvolvidos para o licenciamento prévio
45

da Barragem de Rejeito de Germano, de 2005, e para o Sistema de Disposição de Rejeito


Alegria Sul, de 2016. Foram selecionados, então, os capítulos de Descrição do Projeto, de
Diagnóstico do Meio Socioeconômico e de Avaliação de Impactos Ambientais.
No capítulo Descrição do Projeto foram consideradas a presença de profissionais da área
da saúde na equipe de desenvolvimento do EIA, a existência de inventário de substâncias
químicas e os riscos advindos dessas substâncias e, por fim, as estimativas de aplicação de
recursos na área da saúde.
No capítulo Diagnóstico Socioeconômico foi analisada a existência de dados
demográficos da população da área de influência do projeto, tais como, densidade populacional,
tamanho, taxa de natalidade, divisão por sexo e idade, taxa de mortalidade e tendências
demográficas. Analisou-se, também, a dinâmica de ocupação e uso do solo, os deslocamentos
da população, a situação das habitações, transportes, emprego, acesso a serviços públicos,
assistência social, existência e acesso a serviços de saúde, perfil epidemiológico e indicadores
comportamentais (atividade física, tabagismo, dieta, uso de álcool, dentre outros).
Além disso, foi analisado a presença de dados sore a qualidade da água, do ar e do solo,
bem como sobre a participação popular e foi avaliado a percepção da população. No capítulo
Avaliação de Impacto Ambiental considerou-se dados referentes a impactos e riscos à saúde da
população, dos trabalhadores, a indicadores ambientais (qualidade de solo, água e ar), a
indicadores de saúde (morbimortalidade, atendimentos ambulatoriais e hospitalares, dentre
outros), e a indicadores socioeconômicos (escolaridade, emprego, renda, produto interno bruto,
dentre outros)
46

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para análise dos dados, foi elaborada uma matriz de análise, adaptadas de outras
avaliações similares, nela foi condensa os resultados obtidos na análise, demonstrando a
existência, inexistência ou a existência parcial das categorias avaliadas nos EIA analisados.

Tabela B.3.1 – Resultados da Matriz de análise das questões de saúde nos estudos de
impacto ambiental de Samarco para a barragem do Fundão (2006) e para o Sistema de
Disposição de Rejeito – Alegria Sul (2016)

Fonte: Luz e Moutinho (2020)


47

Após análise dos resultados, foi possível concluir que não ouve a participação de
profissionais de saúde constantes do elenco oficial desses profissionais, com exceção dos
biólogos na elaboração de nenhum dos EIA, havia apenas profissionais de biologia, engenharia
e geologia. Também não foram caracterizadas detalhadamente as substâncias químicas
envolvidas e nem informadas suas periculosidades, classes, subclasses e quantidades totais.
De acordo com Cancio (2008), o inventário das substâncias químicas é importante no
sentido de identificar os possíveis riscos delas advindos. Somente o EIA referente à Alegria Sul
apresentou as estimativas de aplicação de recursos financeiros na melhoria da saúde, ao
demonstrar as despesas referentes à saúde nos municípios da área de influência do
empreendimento. O diagnóstico do meio socioeconômico é fundamental permitir o
conhecimento da realidade dos municípios que integram a área de influência do
empreendimento.
A partir dele pode-se chegar a um prognóstico sobre os possíveis impactos decorrentes
da implantação e operação de uma atividade em relação às realidades sociais e econômicas de
um dado território. Ambos os estudos traziam dados geográficos, demográficos, sociais,
econômicos e de infraestrutura dos municípios integrantes das áreas de influência das atividades,
com graus diferentes de detalhamento. Os diagnósticos utilizaram dados secundários oriundos
de instituições de ensino e pesquisa, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Complementarmente foram incluídos dados primários resultantes de pesquisas de
percepção dos principais atores sociais residentes nas áreas de atuação dos empreendimentos,
ambas realizadas pela Samarco.
No que diz respeito às características gerais da população, dinâmica de ocupação e uso
do solo, condições de habitação, empregabilidade, estrutura de transporte, assistência social,
acesso e condições dos serviços públicos e acesso à rede de serviços de saúde houve
apresentação parcial no EIA da barragem de Fundão, com presença de análise quantitativa
envolvendo dados estatísticos, em números absolutos e relativos, com detalhamento e discussão
técnica superficial.
Já no EIA para o sistema de Alegria-Sul, tais informações foram apresentadas também
de maneira insuficiente, mas acompanhadas por análises mais detalhadas que no EIA de Fundão.
No EIA de Fundão identificou-se somente a indicação de dados secundários quantitativos em
tabelas referentes aos estabelecimentos de saúde (total, públicos e privados) existentes em
Mariana e Ouro Preto, Minas Gerais, municípios da área de influência do empreendimento, já
o EIA de Alegria-Sul trouxe informações mais detalhadas sobre a infraestrutura dos serviços
48

de saúde dos municípios de Mariana e Ouro Preto, sendo apresentadas informações


quantitativas sobre os estabelecimentos prestadores de serviços nos referidos municípios, a
oferta de profissionais de saúde e leitos hospitalares e a disponibilidade de meios de transporte
de pacientes.
Os dois EIA analisados contemplaram informações acerca das condições ambientais
envolvendo qualidade do ar, água e solo, bem como a presença de áreas contaminadas. Apesar
disso, não apresentaram análises abrangentes em relação aos fatores ambientais e sua possível
interferência na saúde humana. É muito importante uma análise ambiental abrangente desses
quesitos, em consonância com o preconizado pela Vigilância em Saúde Ambiental (VSA) que
busca compreender a relação da questão ambiental com a saúde, por intermédio da vigilância
dos fatores de risco ambientais que possam interferir na saúde (BRASIL, 2017)
Nos capítulos referentes à Avaliação de Impactos Ambientais nenhum dos estudos
previu adequadamente os impactos e riscos à saúde humana, seja dos trabalhadores, seja dos
residentes no entorno do empreendimento e também não apresentaram prognósticos sobre os
impactos dos empreendimentos em relação aos indicadores de saúde. Considerando que
trabalhadores da própria Samarco e, também, de empresas terceirizadas prestadoras de serviços
foram vitimados no rompimento da barragem de Fundão, e que se tratou de um evento agudo
que causou lesões corporais, sequelas irreversíveis, efeitos crônicos, sofrimento psíquico e
mortes, a adoção de mecanismos de investigação dos impactos à saúde e o amadurecimento das
preocupações envolvendo as condições de trabalho, saúde e ambiente são fundamentais e,
mesmo, esperados.
O estudo identificou que o EIA de alegria sul abordou mais o tema saúde, mas ainda
assim não chegou ao modelo ideal de análise mais profunda sobre os efeitos potenciais, com
isso a falta de previsão dos possíveis impactos ambientais dificulta que sejam propostas
medidas de prevenção, controle e mitigação desses impactos.

4. CONCLUSÃO

Com os dados obtidos, pode-se identificar que os EIA não identificam de forma clara os
possíveis impactos à saúde da população e suas implicações sobre os indicadores
socioeconômicos e ambientais da região. O artigo proproem uma avaliação multidisciplinar,
que considere os impactos da modificação do meio ambiente sobre a saúde da população,
especialmente, durante a implantação de projetos de desenvolvimento potencialmente
poluidores, ainda é incipiente
49

ARTIGO
HYGEIA, ISSN: 1980-1726
Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde - http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia

ANÁLISE DA INSERÇÃO DA SAÚDE NOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL DOS


LICENCIAMENTOS DAS BARRAGENS DE REJEITO DA SAMARCO, COMPLEXO DE GERMANO,
MARIANA, MINAS GERAIS1

ANALYSIS OF THE INCLUSION OF HEALTH MATTERS IN THE ENVIRONMENTAL


IMPACT STUDIES CARRIED OUT FOR LICENSES TO THE TAILINGS DAMS OPERATED
BY SAMARCO, IN GERMANO COMPLEX, MARIANA, MINAS GERAIS

Mariana dos Santos Lima Luz


Geógrafa e Bacharel em Gestão Ambiental
marianaluz@hotmail.com

Flavio Fernando Batista Moutinho


UFF e Fundação Municipal de Saúde de Niterói
flaviomoutinho@id.uff.br

RESUMO
A mineração é uma atividade que necessita de licença ambiental para funcionar. Apesar da
legislação vigente prever que aspectos de saúde sejam contemplados nos Estudos de
Impacto Ambiental (EIA) no âmbito do licenciamento ambiental, isso ainda é muito
incipiente. O presente artigo teve como objetivo analisar como os aspectos relacionados à
saúde humana foram contemplados nos EIA referentes aos licenciamentos das barragens
de rejeitos de mineração da empresa Samarco, Complexo de Germano, município de
Mariana, estado de Minas Gerais, que passou por um grave desastre ambiental em 2015.
Para tanto, foram analisados o EIA elaborado visando o licenciamento da barragem de
rejeitos de minério de ferro de Fundão, rompida em 2015, e o EIA para instalação do
sistema de contenção de rejeitos Alegria Sul, que veio substituir o anterior. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa de análise documental onde foi utilizada uma matriz de análise
desenvolvida especificamente para esse fim. O estudo comparativo entre os dois EIA
permitiu concluir que a inserção das questões de saúde nos dois estudos ofereceu
resultados sobre a inserção da saúde similares e incipientes, com leve superioridade do EIA
de Alegria Sul. A pesquisa ajudou a compreender as fragilidades que existem na
participação do setor de saúde no licenciamento ambiental de barragens de rejeitos de
mineração.
Palavras-chave: Licenciamento ambiental. Saúde ambiental. Mineração.

ABSTRACT
Mining is an activity requiring an environmental license in order to be carried out. Although
the law in force provides for the inclusion of health concerns in the Environmental Impact
Studies (EIS) in the scope of environmental licenses, this practice is still very insipient. This
article aims at analyzing how human health related aspects were contemplated in the EIS
regarding the licenses issued for the mining tailings dams operated by the company
Samarco, in Germano Complex, located in the city of Mariana, state of Minas Gerais, which
suffered a serious environmental disaster in 2015. Therefore, we analyzed the EIS prepared
for the licensing of the iron ore tailings dam of Fundão, collapsed in 2015, and the EIS for
the installation of the Alegria Sul’s tailings containment system, which replaced the previous
one. This is a documental analysis qualitative research, where an analysis matrix specifically
developed for that purpose was used. The comparative study between both EIS allowed us
to conclude that the inclusion of health matters in both studies provided similar and incipient
results as regards said inclusion, the Alegria Sul’s EIS being slightly superior. This research
helped us understand the weaknesses existing in the health sector stake for environmental
licenses granted to mining tailings dams.
Keywords: Environmental licenses. Environmental health. Mining.

Recebido em: 09/12/2019


Aceito para publicação em: 14/05/2020.

DOI:http://dx.doi.org/10.14393/Hygeia16051932 Hygeia v.16 p. 94 - 104, 2020 página 94


Análise da inserção da saúde nos estudos de impacto ambiental
Mariana dos Santos Lima Luz
dos licenciamentos das barragens de rejeito da Samarco,
Flavio Fernando Batista Moutinho
complexo de germano, Mariana, Minas Gerais

INTRODUÇÃO
A avaliação de impactos e o licenciamento ambiental de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras são instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981). No caso da
mineração, acredita-se que os estudos de impacto ambiental devam ser capazes de fornecer um
prognóstico sobre os impactos negativos das barragens de rejeito em relação ao ambiente e à saúde
potencialmente afetada pelo empreendimento minerador mas, como destacado por Mansur et al.
(2016), os estudos e avaliações de impacto dos processos de licenciamento ambiental têm sido
ineficazes.
Ainda que a definição de impacto ambiental da Resolução Conama nº 001/1986 faça referência aos
aspectos de saúde e que a Resolução Conama nº 237/97 estabeleça direitos ao órgão ambiental de
suspender ou cancelar uma licença em caso de ocorrência de graves riscos ambientais e de saúde,
na prática, os estudos e relatórios ainda apresentam o tema de forma simplificada, pouco
aprofundada, com carência de informações relevantes. Em geral, os aspectos de saúde não são
abordados em primeiro plano, mas como consequência indireta dos impactos ambientais (BARBOSA
et al., 2010).
Não existe uma ferramenta de avaliação de impacto na saúde específica para os processos de
licenciamento ambiental, sendo as questões relativas à saúde humana consideradas como um
subcomponente no capítulo de Diagnóstico do Meio Socioeconômico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2014). Quando solicitado pelo órgão ambiental responsável pelo licenciamento ambiental, o setor
saúde insere suas recomendações dentro de um formato já padronizado que busca propor medidas
preventivas, de promoção e proteção à saúde, e consequentemente a redução dos impactos na
saúde humana (SILVEIRA; ARAÚJO NETO, 2013).
Rompimento de barragem de mineração geralmente ocorrem com a ruptura da estrutura ocasionados
por fatores como manutenção inadequada do sistema de drenagem, uso de metodologias obsoletas
no processo construtivo, falhas de monitoramento, sobrecarga, dentre outros (RICO et al, 2008). A
dinâmica econômica do setor é outro fator que pode influenciar na ocorrência de tais desastres
(MANSUR et al., 2016), já que a demanda da indústria siderúrgica e a alta internacional nos preços
dos minerais leva à intensificação da produção (MILANEZ et al., 2016). De acordo com Porto (2016) a
ocorrência de rompimentos é comum nessas ocasiões de aumento da produção já que há o
consequente aumento da quantidade de rejeitos gerados.
O método obsoleto de construção de barragens de rejeitos pelo alteamento a montante, de mais
barata instalação, está relacionado à maioria dos casos de ruptura dessas estruturas. Práticas mais
sustentáveis, como a empilhagem a seco ou a separação eletromagnética, poderiam restringir ou até
mesmo eliminar a existência das barragens, entretanto, o que se observa é a viabilização de enormes
quantidades de áreas mineradas que ampliam a quantidade de rejeitos gerados e utilizam essas
técnicas obsoletas para construção de barragens de contenção de rejeitos em detrimento alternativas
mais seguras (PORTO, 2016).
Os desastres com rompimento de barragens de rejeitos de mineração são comuns no Brasil,
especialmente em Minas Gerais, onde o primeiro registro data de 1986, episódio que vitimou
fatalmente sete pessoas (LACAZ et al., 2017). Além desse, houve em Nova Lima, em 2001, em Miraí,
em 2007, em Congonhas, em 2008 e em Itabirito, em 2014 (LACAZ et al., 2017). Posteriormente, em
2019, foi registrado mais um grave desastre, no município de Brumadinho, também em Minas Gerais,
que vitimou fatalmente mais de 200 pessoas, deixando dezenas de desaparecidos (GMG, 2019).
O desastre ocorrido em Mariana, em 2015, com o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora
Samarco, denominada Fundão, no Complexo de Germano, é considerado o maior desastre
socioambiental envolvendo o setor de mineração, tendo lançado no ambiente cerca de 45 milhões de
metros cúbicos de rejeito (IBAMA, 2016), afetando o rio Doce e diversas localidades dos estados de
Minas Gerais e Espírito Santo (BORGES, 2018). Cabe destacar que o rejeito possui partículas em
suspensão e dissolvidas e pode ser altamente tóxico, com presença de reagentes e metais pesados
(LOZANO, 2006)
Com o desastre, para que a atividade voltasse a funcionar, havia a necessidade de um novo local
para dispor os rejeitos. Assim, a empresa optou pela utilização da barragem já existente denominada
Alegria Sul (ARCADIS,2016).
Pode-se considerar que a possibilidade de ocorrência de desastres é motivo de preocupação no que

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dos licenciamentos das barragens de rejeito da Samarco,
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tange à Saúde Pública já que eles podem ter potencial de causar graves impactos de curto, médio e
longo prazos à saúde das populações atingidas (FREITAS; AMORIM, 2001). O potencial de
repercussão sobre o setor saúde dos desastres envolvendo a mineração, por exemplo, é muito
grande. Fatores como o atendimento às necessidades imediatas das vítimas pós desastre,
elaboração de programas de gestão de riscos e realização de melhorias estruturais na rede de
serviços de saúde danificadas ou destruídas devem ser considerados (FREITAS, 2018).
Assim sendo, o presente artigo objetivou analisar como os aspectos relacionados à saúde humana
foram contemplados nos Estudos de Impacto Ambiental referentes aos licenciamentos das barragens
de rejeitos de mineração da empresa Samarco, Complexo de Germano, Mariana, Minas Gerais. Para
tanto, foram analisados o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) elaborado objetivando à obtenção da
Licença Ambiental Prévia da barragem de rejeitos de minério de ferro de Fundão e o EIA apresentado
pela empresa visando o licenciamento ambiental do sistema de disposição de rejeitos Alegria Sul.

METODOLOGIA
Para o alcance dos objetivos almejados optou-se por uma pesquisa com metodologia qualitativa
tendo como base a análise documental. Qualitativa por buscar descrever e compreender um
fenômeno que não pode ser quantificado, que envolve valores, atitudes, motivos e significados
(MINAYO, 2001). A estratégia da análise documental tem nos documentos o objeto de investigação,
documentes estes de onde se pode obter as informações para esclarecer os fenômenos em estudo
(FIGUEIREDO,2007).
Nesse contexto, os documentos que serviram de base para a análise foram os estudos de impacto
ambiental desenvolvidos para o licenciamento prévio da Barragem de Rejeito de Germano, de 2005,
e para o Sistema de Disposição de Rejeito Alegria Sul, de 2016 (SIAM,2019). A partir dos
documentos elencados foi realizada a chamada leitura flutuante (BARDIN, 1977), visando estabelecer
um primeiro contato com os documentos citados para conhecer seus conteúdos e selecionar os de
interesse da pesquisa. Foram selecionados, então, os capítulos de Descrição do Projeto, de
Diagnóstico do Meio Socioeconômico e de Avaliação de Impactos Ambientais.
No capítulo Descrição do Projeto foram consideradas a presença de profissionais da área da saúde
na equipe de desenvolvimento do EIA, a existência de inventário de substâncias químicas e os riscos
advindos dessas substâncias e, por fim, as estimativas de aplicação de recursos na área da saúde.
No capítulo Diagnóstico Socioeconômico foi analisada a existência de dados demográficos da
população da área de influência do projeto, tais como, densidade populacional, tamanho, taxa de
natalidade, divisão por sexo e idade, taxa de mortalidade e tendências demográficas. Analisou-se,
também, a dinâmica de ocupação e uso do solo, os deslocamentos da população, a situação das
habitações, transportes, emprego, acesso a serviços públicos, assistência social, existência e acesso
a serviços de saúde, perfil epidemiológico e indicadores comportamentais (atividade física,
tabagismo, dieta, uso de álcool, dentre outros).
Por fim, analisou-se a presença de dados sobre a qualidade da água, do ar e do solo, bem como
sobre a participação popular. Além disso, buscou-se avaliar a percepção da população sobre os
possíveis impactos à saúde e as medidas que envolvem a garantia de investimentos na saúde e a
segurança, visando perceber a dimensão da geração de insegurança e expectativas.
No capítulo Avaliação de Impacto Ambiental considerou-se dados referentes a impactos e riscos à
saúde da população, dos trabalhadores, a indicadores ambientais (qualidade de solo, água e ar), a
indicadores de saúde (morbimortalidade, atendimentos ambulatoriais e hospitalares, dentre outros), e
a indicadores socioeconômicos (escolaridade, emprego, renda, produto interno bruto, dentre outros).
Para avaliação foi desenvolvida uma matriz de análise (Quadro 1), adaptada de outras avaliações
similares desenvolvidas no âmbito do licenciamento ambiental de atividades diversas da mineração,
como os setores hidrelétrico e de petróleo (SORDIA; DIAZ, 1999; CANCIO, 2008; BARBOSA et al.,
2012; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

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dos licenciamentos das barragens de rejeito da Samarco,
Flavio Fernando Batista Moutinho
complexo de germano, Mariana, Minas Gerais

Quadro 1 – Matriz de análise das questões de saúde nos estudos de impacto ambiental da Samarco
para a barragem do Fundão (2005) e para o Sistema de Disposição de Rejeito – Alegria Sul (2016)
Categoria Operacional Explicitação do conteúdo no EIA
Inexistente Parcialmente Existente
Existente
DESCRIÇÃO DO PROJETO
Participação de profissionais com perfil específico da
área de saúde
Inventário das substâncias químicas relacionadas ao
empreendimento e os riscos à saúde associados
Estimativas de aplicação de recursos financeiros,
direta ou indiretamente, na melhoria da saúde
DIAGNÓSTICO DO MEIO SOCIOECONÔMICO
Características gerais da população (tamanho,
densidade, distribuição, idade e sexo e tendências
demográficas)
Dinâmica de ocupação e uso do território, migrações e
deslocamentos populacionais
Condições de habitação, situação de emprego,
infraestrutura de transportes, assistência social e
condições e acesso a serviços públicos
Acesso a serviços e estabelecimentos de saúde e a
capacidade de suporte (infraestrutura, número de
leitos, profissionais de saúde, etc.)
Perfil epidemiológico da população (difusão e
propagação de doenças, sua frequência, seu modo de
distribuição, sua evolução, etc.)
Indicadores comportamentais, incluindo a dieta, o
tabagismo, a atividade física e o uso de álcool
Condições ambientais como a qualidade do ar, água e
solo, a presença de áreas contaminadas
Geração de insegurança - Percepção da população
sobre os efeitos na saúde decorrentes dos impactos
ambientais do empreendimento
Geração de expectativa - Percepção da população
sobre as medidas de segurança e garantias de
investimentos na saúde
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Identificação dos impactos à saúde dos trabalhadores
e da população residente no entorno do
empreendimento
Impactos sobre indicadores de saúde (morbidade,
mortalidade, atendimentos ambulatorial e hospitalar,
etc.)
Alteração na qualidade do solo, na qualidade da água
e do ar
Impactos sobre indicadores sociais e econômicos (PIB,
escolaridade, saneamento, emprego e renda, etc.)

Para cada categoria avaliada pode-se defini-lo como existente, inexistente ou parcialmente existente.
Nas colunas de Explicitação do conteúdo do EIA quando foi assinalado o número 1 significa que um
dos EIA recebeu aquela classificação, número 2 quando em dois EIA recebeu aquela classificação, e
0 quando não foi identificada em nenhum EIA.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A matriz apresentada na Tabela 1 condensa os resultados obtidos na análise, demonstrando a
existência, inexistência ou a existência parcial das categorias avaliadas nos EIA analisados.

Tabela 1 – Resultados da Matriz de análise das questões de saúde nos estudos de impacto ambiental
da Samarco para a barragem do Fundão (2005) e para o Sistema de Disposição de Rejeito – Alegria
Sul (2016)
Categoria Operacional Explicitação do conteúdo no EIA
Inexistente Parcialmente Existente
Existente
DESCRIÇÃO DO PROJETO
Participação de profissionais com perfil específico da
2
área de saúde
Inventário das substâncias químicas relacionadas ao
2
empreendimento e os riscos à saúde associados
Estimativas de aplicação de recursos financeiros,
1 1
direta ou indiretamente, na melhoria da saúde
DIAGNÓSTICO DO MEIO SOCIOECONÔMICO
Características gerais da população (tamanho,
densidade, distribuição, idade e sexo, e tendências 1 1
demográficas)
‘Dinâmica de ocupação e uso do território, migrações
1 1
e deslocamentos populacionais
Condições de habitação, situação de emprego,
infraestrutura de transportes, assistência social e 1 1
condições e acesso a serviços públicos
Acesso a serviços e estabelecimentos de saúde e a
capacidade de suporte (infraestrutura, número de 1 1
leitos, profissionais de saúde, etc.)
Perfil epidemiológico da população (difusão e
propagação de doenças, sua frequência, seu modo de 2
distribuição, sua evolução, etc.)
Indicadores comportamentais, incluindo a dieta, o
2
tabagismo, a atividade física e o uso de álcool
Condições ambientais como a qualidade do ar, água e
2
solo, a presença de áreas contaminadas
Geração de insegurança - Percepção da população
sobre os efeitos na saúde decorrentes dos impactos 2
ambientais do empreendimento
Geração de expectativa - Percepção da população
sobre as medidas de segurança e garantias de 1 1
investimentos na saúde
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Identificação dos impactos à saúde dos trabalhadores
e da população residente no entorno do 2
empreendimento
Impactos sobre indicadores de saúde (morbidade,
mortalidade, atendimentos ambulatorial e hospitalar, 2
etc.)
Alteração na qualidade do solo, na qualidade da água
2
e do ar
Impactos sobre indicadores sociais e econômicos
(PIB, escolaridade, saneamento, emprego e renda, 2
etc.)

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No que diz respeito à Descrição do Projeto, não foi identificada a participação de profissionais de
saúde constantes do elenco oficial desses profissionais, com exceção dos biólogos na elaboração de
nenhum dos EIA. De acordo com o Ministério da Saúde, são considerados profissionais de saúde de
nível superior os graduados nas seguintes profissões: assistentes sociais, biólogos, biomédicos,
profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas; fonoaudiólogos,
médicos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais
(BRASIL,1998) Havia somente uma equipe multidisciplinar habilitada, com registro profissional
regulamentado por lei, características essas previstas na legislação (BRASIL,1986), mas com
predomínio de profissionais de biologia, engenharia e geologia.
A apresentação das emissões, efluentes líquidos e resíduos gerados foi breve sem tampouco
relaciona-los aos possíveis danos e agravos à saúde. Também não foram caracterizadas
detalhadamente as substâncias químicas envolvidas e nem informadas suas periculosidades,
classes, subclasses e quantidades totais. De acordo com Cancio (2008), o inventário das substâncias
químicas é importante no sentido de identificar os possíveis riscos delas advindos.
Somente o EIA referente à Alegria Sul apresentou as estimativas de aplicação de recursos
financeiros na melhoria da saúde, ao demonstrar as despesas referentes à saúde nos municípios da
área de influência do empreendimento.
O diagnóstico do meio socioeconômico é fundamental permitir o conhecimento da realidade dos
municípios que integram a área de influência do empreendimento. A partir dele pode-se chegar a um
prognóstico sobre os possíveis impactos decorrentes da implantação e operação de uma atividade
em relação às realidades sociais e econômicas de um dado território. Ambos os estudos traziam
dados geográficos, demográficos, sociais, econômicos e de infraestrutura dos municípios integrantes
das áreas de influência das atividades, com graus diferentes de detalhamento. Os diagnósticos
utilizaram dados secundários oriundos de instituições de ensino e pesquisa, como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Complementarmente foram incluídos dados primários
resultantes de pesquisas de percepção dos principais atores sociais residentes nas áreas de atuação
dos empreendimentos, ambas realizadas pela Samarco.
No que diz respeito às características gerais da população, dinâmica de ocupação e uso do solo,
condições de habitação, empregabilidade, estrutura de transporte, assistência social, acesso e
condições dos serviços públicos e acesso à rede de serviços de saúde houve apresentação parcial
no EIA da barragem de Fundão, com presença de análise quantitativa envolvendo dados estatísticos,
em números absolutos e relativos, com detalhamento e discussão técnica superficial. Já no EIA para
o sistema de Alegria-Sul, tais informações foram apresentadas também de maneira insuficiente mas
acompanhadas por análises mais detalhadas que no EIA de Fundão.
No EIA de Fundão identificou-se somente a indicação de dados secundários quantitativos em tabelas
referentes aos estabelecimentos de saúde (total, públicos e privados) existentes em Mariana e Ouro
Preto, Minas Gerais, municípios da área de influência do empreendimento. Não há nenhum tipo de
argumentação, comparação ou análise pormenorizada. Não foi discutida a questão dos fatores
determinantes e condicionantes de saúde, tendo sido apresentados somente dados estatísticos
secundários em uma tabela contendo o quantitativo de domicílios atendidos por esgotamento
sanitário, abastecimento de água e destino dos resíduos sólidos coletados.
Já o EIA de Alegria-Sul trouxe informações mais detalhadas sobre a infraestrutura dos serviços de
saúde dos municípios de Mariana e Ouro Preto, sendo apresentadas informações quantitativas sobre
os estabelecimentos prestadores de serviços nos referidos municípios, a oferta de profissionais de
saúde e leitos hospitalares e a disponibilidade de meios de transporte de pacientes. A maior parte das
informações quantitativas estavam acompanhadas de análises contextualizadas que, ainda que
superficiais e incompletas, aproximavam os dados apresentados da realidade vivida nos municípios
da área de influência do empreendimento. Além disso, o estudo discutiu questões relacionadas ao
repasse de verbas para o setor saúde, as condições de saneamento locais e, de maneira sucinta, a
análise da percepção de gestores públicos em relação à qualidade dos serviços prestados. O EIA
explicitava, também, uma análise de dados sobre as principais causas de morbimortalidade da
população de modo geral e da mortalidade infantil na área de influência.
Conforme colocado por Valencio (2019) em cenários de crise surge uma onda inesperada de
atendimentos prioritários de saúde devido aos agravos que ocorrem imediatamente após a ocorrência
dos desastres (atendimento de vítimas de afogamentos, escoriações, cortes, choques, etc.), todos

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considerados atendimentos adicionais que não estavam previstos na rotina de atendimentos das
unidades de saúde. Além disso há uma sobrecarga que ocorre em função dos danos às
infraestruturas físicas de atendimento. Pacientes que eram atendidos em unidades de saúde dos
territórios atingidos pela lama são direcionados para outras localidades devido à inviabilização do
atendimento na área destruída.
Nenhum dos estudos contemplou adequadamente informações do perfil epidemiológico da população
e tampouco análises e discussões técnicas sobre indicadores comportamentais. Cabe destacar que
informações secundárias sobre o perfil epidemiológico da população estão disponíveis em dados
secundários de livre acesso nos sistemas do Ministério da Saúde, como o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) e no Departamento de Informática do SUS (Datasus).
Os dois EIA analisados contemplaram informações acerca das condições ambientais envolvendo
qualidade do ar, água e solo, bem como a presença de áreas contaminadas. Apesar disso, não
apresentaram análises abrangentes em relação aos fatores ambientais e sua possível interferência
na saúde humana. É muito importante uma análise ambiental abrangente desses quesitos, em
consonância com o preconizado pela Vigilância em Saúde Ambiental (VSA) que busca compreender
a relação da questão ambiental com a saúde, por intermédio da vigilância dos fatores de risco
ambientais que possam interferir na saúde (BRASIL, 2017).
As análises de percepção da população sobre geração de insegurança e de expectativa foram
obtidas por intermédio de entrevistas com atores sociais locais realizadas pela própria Samarco na
área de influência dos empreendimentos. Como esses estudos foram desenvolvidos em momentos
distintos, um antes do desastre e outro após o desastre, foram identificadas variações nessas
percepções. Após o desastre ficou clara a sensação de anseio e insegurança da população residente
na área de influência da barragem, tendo havido relatos envolvendo mudanças no estilo de vida,
perda da qualidade da água, perda de laços comunitários, mortandade de animais e proliferação de
insetos (ARCADIS, 2016). Apesar de ter havido coleta de dados acerca da geração de insegurança
nos dois EIA, em nenhum deles foi contemplada uma análise específica de percepção relacionando
as atividades da mineradora e seus possíveis impactos sobre a saúde humana. No que tange à
percepção da população acerca das medidas de segurança, somente no EIA de Alegria Sul houve
análise, sem no entanto, abordar informações sobre investimentos na área de saúde.
Os impactos à saúde da população não se limitam à situação imediata do rompimento da barragem,
mas se desdobram em processos duradouros de crise social, frequentemente intensificada pelos
encaminhamentos institucionais que lhe são dirigidos, ao crescente cansaço provocado pelos
processos burocráticos e pela sensação de insegurança em relação à retomada de suas vidas
comunitárias (ZHOURI et al., 2018).
Nos capítulos referentes à Avaliação de Impactos Ambientais nenhum dos estudos previu
adequadamente os impactos e riscos à saúde humana, seja dos trabalhadores, seja dos residentes
no entorno do empreendimento. Pode-se observar avaliações superficiais com ausência parcial ou
total de análises associadas. Tais informações, por apresentadas fora de um contexto social não
foram capazes de demonstrar de forma sistemática as possíveis interferências do empreendimento
na realidade vivida pela população, o alcance espacial dos danos socioambientais, e de que forma
estes impactos poderiam causar danos à saúde humana. Apresentados dessa forma, o conteúdo
sobre saúde dos estudos analisados difere dos pressupostos de Vigilância em Saúde Ambiental
(VSA) conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).
Os capítulos de Avaliação de Impactos Ambientais de ambos os EIA também não apresentaram
prognósticos sobre os impactos dos empreendimentos em relação aos indicadores de saúde.
Considerando que trabalhadores da própria Samarco e, também, de empresas terceirizadas
prestadoras de serviços foram vitimados no rompimento da barragem de Fundão, e que tratou-se de
um evento agudo que causou lesões corporais, sequelas irreversíveis, efeitos crônicos, sofrimento
psíquico e mortes, a adoção de mecanismos de investigação dos impactos à saúde e o
amadurecimento das preocupações envolvendo as condições de trabalho, saúde e ambiente são
fundamentais e, mesmo, esperados.
O rompimento de uma barragem de contenção de rejeitos de mineração pode levar a contaminação e
sedimentação de cursos d’água, à contaminação do ar e do solo, à alteração dos ciclos de
hospedeiros, reservatórios e vetores de enfermidades, a danos às habitações e à infraestrutura e a
uma diversidade de impactos socioeconômicos. Tais fatos podem desencadear uma série de agravos

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Análise da inserção da saúde nos estudos de impacto ambiental
Mariana dos Santos Lima Luz
dos licenciamentos das barragens de rejeito da Samarco,
Flavio Fernando Batista Moutinho
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e enfermidades, dentre os quais pode-se destacar transtornos de saúde mental, dermatites,


parasitoses, zoonoses, arboviroses, problemas respiratórios, dentre outros (FREITAS et al., 2019).
O rompimento alterou completamente a rotina das comunidades, o funcionamento dos municípios e
das regiões afetadas, criando uma sensação de medo e insegurança em função da situação de
penúria à qual ficaram submetidas as populações atingidas. Diante desse cenário de sofrimento
social, a saúde mental e o bem-estar psicossocial dos atingidos são pontos prioritários a serem
acompanhados, sendo necessárias ações coordenadas entre os atores de órgãos governamentais e
não governamentais envolvidos (SANTOS et al., 2019).
A avaliação de impacto dos empreendimentos na qualidade do ar, solo, água e indicadores
socioeconômicos foi parcialmente contemplada nos dois EIA analisados, mas o ideal seria uma
análise ampliada, principalmente com maior foco na epidemiologia.
Do ponto de vista metodológico da avaliação de impactos, os estudos analisados evidenciaram a
insuficiência dos métodos adotados para realizar um prognóstico sobre os impactos à saúde da
população e suas implicações e desdobramentos sobre os indicadores ambientais e
socioeconômicos. Além disso, ainda que o EIA de Alegria-Sul tenha abordado o tema saúde de
maneira mais detalhada quando comparado ao EIA de Fundão, não foi efetuada uma análise
aprofundada sobre os efeitos potenciais das intervenções a serem realizadas pelo empreendimento
sobre a saúde das pessoas residentes na área de influência. A falta de previsão dos possíveis
impactos ambientais dificulta que sejam propostas medidas de prevenção, controle e mitigação
desses impactos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do exposto pode-se perceber que os EIA não possibilitaram que fosse efetuado um
prognóstico eficiente sobre os possíveis impactos à saúde da população bem como sobre as
implicações sobre os indicadores socioeconômicos e ambientais da região.
A apresentação de dados e as discussões foram superficiais e insuficientes, desprezando a presença
de categorias de profissionais de saúde, sem tomar como base a realidade epidemiológica local e
sem considerar possíveis fatores determinantes e condicionantes de saúde.
O presente estudo permitiu observar o desafio que é a inserção da saúde no processo de
licenciamento ambiental. A este desafio soma-se os retrocessos institucionais que o Brasil vem
vivenciando, com destaque para o desmantelamento dos sistemas de regulação ambiental e a
tentativa de desmobilização, criminalização e retirada de direitos dos grupos engajados na resistência
à mineração. Isso inclui tentativas de mudanças na legislação vigente visando simplificar e tornar
mais célere o processo de licenciamento ambiental. E isso tudo vem ocorrendo a despeito da
multiplicação de desastres ambientais causados pelo rompimento de barragens (ZHOURI, 2018).
Na verdade, o que se observa, de maneira geral, é a grande fragilidade nos processos de
licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente poluidores, com falta de estrutura
técnica, financeira e política nos órgãos ambientais oficiais para a análise de riscos, para o
questionamento dos relatórios produzidos pelas empresas e para exigir melhores soluções para a
proteção ambiental, a saúde dos trabalhadores e das populações (LACAZ et al., 2017).
Especificamente no caso da mineração, além dessas fragilidades do processo de licenciamento,
devem ser considerados a manutenção do método obsoleto e perigoso de construção de barragens
por alteamento a montante, a debilidade na fiscalização destas estruturas e a baixa capacidade de
preparação e resposta ao rompimento de barragens pelos municípios vulneráveis a esse risco
(FREITAS et al., 2019).
O rompimento da barragem em Mariana, MG, comprometeu o auto sustento e a renda familiar das
pessoas, levou à perda de laços afetivos, gerou um clima de tensão e incertezas em relação à
reparação dos danos, causou mortes e danos não letais à saúde, inclusive com comprometimento
psicológico.
Com o rompimento da barragem, 40 municípios foram afetados em dois estados, Minas Gerais e
Espírito Santo, totalizando 663 quilômetros de corpos hídricos diretamente impactados (VORMITTAG
et al, 2018). Portanto, o rompimento traz em si uma dimensão complexa que mobiliza quase toda a
estrutura do setor de Saúde Pública (FREITAS, 2018), o que requer a implementação de estratégias

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dos licenciamentos das barragens de rejeito da Samarco,
Flavio Fernando Batista Moutinho
complexo de germano, Mariana, Minas Gerais

de monitoramento e acompanhamento de longo prazo em todos os níveis de atenção à saúde


(PINHEIRO; SILVA, 2019).
As discussões sobre a possibilidade de uma avaliação multidisciplinar, que considere os impactos da
modificação do meio ambiente sobre a saúde da população, especialmente, durante a implantação de
projetos de desenvolvimento potencialmente poluidores, ainda é incipiente (SILVEIRA; ARAÚJO,
2014). Assim, urge a necessidade de estabelecimento de um novo marco regulatório que leve ao
aumento e fortalecimento da participação da temática saúde no processo de licenciamento ambiental.
Muito foi discutido sobre os temas saúde e ambiente após a ocorrência dos desastres nas cidades de
Mariana e Brumadinho. Um futuro seguro e sustentável exige atenção e aprendizagem, entretanto,
não se reduz a atitudes puramente reflexivas sobre as “lições aprendidas para a catástrofe não se
repetir”. O histórico dos desastres industriais mostra que a capitalização dos ensinamentos de
acidentes não ocorre, pelo menos, completamente, e que em geral, estas lições são esquecidas
(LLORY; MONTMAIEUIL, 2014). É imprescindível a busca ativa por mudanças por parte das
empresas e dos órgãos governamentais. Não se deve limitar apenas a relatar os desastres e suas
repercussões, são necessárias propostas concretas de modificação do atual modelo de
desenvolvimento, licenciamento ambiental e fiscalização das barragens de mineração para que
desastres como estes não voltem a ocorrer.
O estudo comparativo entre os dois EIA permitiu concluir que a inserção das questões de saúde nos
dois estudos ofereceu resultados sobre a inserção da saúde similares e incipientes, com leve
superioridade do EIA de Alegria Sul. A pesquisa ajudou a compreender as fragilidades que existem
na participação do setor de saúde no licenciamento ambiental de barragens de rejeitos de mineração.

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