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QOAA-AFN/2022

TURMA REGULAR
CONHECIMENTOS GERAIS
MÓDULO – I
NOVEMBRO – DEZEMBRO
2022

PORTUGUÊS E REDAÇÃO Prof. Rafael Dias


MATEMÁTICA Prof. César Loyola
GEOGRAFIA ECÔNOMICA Prof. Odilon Lugão
HISTÓRIA MILITAR NAVAL Prof. Vagner Souza

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MATERIAL INTERNO DE USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS


Proibida a reprodução total ou parcial

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CURSO www.cursoadsumus.com.br – adsumus@cursoadsumus.com.br - ESTUDE COM QUEM APROVA!
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SUMÁRIO

PORTUGUÊS ......................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1: O TEXTO DISSERTATIVO .................................................................................................................................... 7
CAPÍTULO 2: TEXTOS PARA ANÁLISE E EXERCÍCIOS PRELIMIRARES ...................................................................................... 9
CAPÍTULO 3: COMO MELHORAR A ESCRITA? ...................................................................................................................... 17
CAPÍTULO 4: ESQUEMA BÁSICO TEXTO ARGUMENTATIVO ................................................................................................. 20
GRAMÁTICA – CAPÍTULO 1: ACENTUAÇÃO GRÁFICA .......................................................................................................... 22
GRAMÁTICA – CAPÍTULO 2: USO DO HÍFEN......................................................................................................................... 24
GRAMÁTICA – CAPÍTULO 3: SUBSTANTIVO ......................................................................................................................... 31
MATEMÁTICA ..................................................................................................... 39
1) MÓDULO DE UM NÚMERO REAL..................................................................................................................................... 41
2) PLANO CARTESIANO ........................................................................................................................................................ 42
3) CLASSIFICAÇÃO DOS POLÍGONOS .................................................................................................................................... 43
4) ÁREA DE FIGURAS PLANAS .............................................................................................................................................. 44
5) MATRIZES, DETERMINANTES E SISTEMAS LINEARES ....................................................................................................... 44
6) POLINÔMIOS .................................................................................................................................................................... 50
7) EQUAÇÕES POLINOMIAIS (ALGÉBRICAS) ......................................................................................................................... 54
8) SEMELHANÇA DE TRIÂNGULOS E DE POLÍGONOS ........................................................................................................... 54
9) RELAÇÕES MÉTRICAS NA GEOMETRIA ............................................................................................................................ 55
EXERCÍCIOS........................................................................................................................................................................... 63
GEOGRAFIA ........................................................................................................ 79
1. Revisão de alguns conceitos básicos em Geografia ......................................................................................................... 81
1.1 - Regionalização dos continentes: Europa, Américas, África, Ásia e Oceania ...................................................... 81
1.2 - Há outras formas de regionalização e que todos conhecem ............................................................................. 85
1.3 - Conteúdo político-ideológicos dos mapas: projeções de Mercator e Peters..................................................... 86
1.4 - Atenção aos Estreitos! ........................................................................................................................................ 87
2. O processo de desenvolvimento do capitalismo ............................................................................................................. 91
2.1 - Breve caracterização........................................................................................................................................... 91
2.2 - O capitalismo comercial ..................................................................................................................................... 91
2.3 - O capitalismo industrial ...................................................................................................................................... 91
2.4 - O início do capitalismo financeiro ...................................................................................................................... 92
2.5 - O capitalismo informacional - A revolução informacional ................................................................................. 95
3. Repensando as Visões de Mundo .................................................................................................................................... 97
3.1 - Metrópole e colônia ........................................................................................................................................... 97
3.2 - Primeiro Mundo Segundo Mundo e Terceiro Mundo ........................................................................................ 98
3.3 - Países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento ...................................................................... 99
3.4 - Países do Norte e do Sul ..................................................................................................................................... 99
3.5 - Países centrais, periféricos e emergentes ........................................................................................................ 100
3.6 - O problema das classificações .......................................................................................................................... 100
3.7 - As contradições das classificações nas instituições especializadas .................................................................. 101
4. Globalização e Fragmentação do Mundo Contemporâneo ........................................................................................... 103
4.1 - Do pós-guerra aos dias atuais (Da velha ordem à nova ordem mundial) ........................................................ 103
5. A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS ........................................................................................................................... 112
5.1 - As transformações no espaço ........................................................................................................................... 112
5.2 - Fatores de localização industrial: concentração e desconcentração ............................................................... 115
5.3 - Ciclos tecnológicos da Revolução Industrial ..................................................................................................... 118
Exercícios ........................................................................................................................................................................... 126

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HISTÓRIA .......................................................................................................... 133
Apresentação dos Módulos ................................................................................................................................................ 01
Introdução ao Módulo 1 ..................................................................................................................................................... 04
1) Conceituando História ..................................................................................................................................................... 04
2) Datando a História ........................................................................................................................................................... 04
Capítulo I – A Idade Antiga ................................................................................................................................................. 06
1) A Relação Entre as Primeiras Civilizações e o Mar .......................................................................................................... 06
1.1) As Profissões Marítimas ...................................................................................................................................... 06
1.2) Comparação entre o Navio Mercante e O Navio de Guerra Antigo .................................................................... 07
2) Os Povos da Antiguidade ................................................................................................................................................. 08
2.1) A Civilização Egípcia ............................................................................................................................................. 09
2.2) A Civilização Mesopotâmica ................................................................................................................................ 12
2.3) A Civilização Cretense .......................................................................................................................................... 14
2.4) A Civilização Fenícia ............................................................................................................................................. 14
2.5) A Civilização (Fenícia) Cartaginesa....................................................................................................................... 17
2.6) A Civilização Grega............................................................................................................................................... 19
2.7) A Civilização Romana ........................................................................................................................................... 25
Capítulo II – A Idade Média................................................................................................................................................. 31
1) O que é Idade Média ....................................................................................................................................................... 31
2) O Império Bizantino ......................................................................................................................................................... 32
3) O Império Árabe .............................................................................................................................................................. 33
4) Os Reinos Bárbaros .......................................................................................................................................................... 34
5) O Reino Cristão dos Francos ............................................................................................................................................ 34
6) O Navio de Guerra Medieval ........................................................................................................................................... 35
7) Guerra e Comércio na Idade Média................................................................................................................................. 36
8) A Civilização Viking........................................................................................................................................................... 37
9) A Crise da Idade Média .................................................................................................................................................... 39
10) O Movimento Cruzadista ............................................................................................................................................... 40
11) A Retomada do Comércio .............................................................................................................................................. 42
12) As Repúblicas Marítimas da Península Itálica................................................................................................................ 42
12.1) Pisa .............................................................................................................................................................................. 42
12.2) Gênova ........................................................................................................................................................................ 44
12.3) Veneza ........................................................................................................................................................................ 46
13) As Grandes Invenções .................................................................................................................................................... 48
Capítulo III – A Idade Moderna ........................................................................................................................................... 50
1) A Grande Crise dos Séculos XIV e XV ............................................................................................................................... 50
2) A Revolução Comercial e o Mercantilismo ...................................................................................................................... 50
3) A Transição para a Idade Moderna .................................................................................................................................. 51
4) Os Estados Modernos e o Mercantilismo ........................................................................................................................ 52
5) A Expansão Comercial...................................................................................................................................................... 53
Capítulo IV - As Nações ....................................................................................................................................................... 61
1) Portugal............................................................................................................................................................................ 61
1.1) A Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias ............................................................................................ 67
1.2) Outras Navegações Portuguesas ......................................................................................................................... 70
1.3) O Apogeu de Portugal.......................................................................................................................................... 70
2) Espanha............................................................................................................................................................................ 71
3) França .............................................................................................................................................................................. 75
4) Holanda ............................................................................................................................................................................ 83
Bibliografia .......................................................................................................................................................................... 88

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REDAÇÃO
CAPÍTULO 1: O TEXTO DISSERTATIVO
I. Assunto, tema e título
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, é necessário reconhecer a diferença que existe entre
o assunto, o tema e o título.

Assunto: é a definição da área sobre a qual versará o texto. É uma macroideia.


Ex: A violência (há diversos tipos)

Tema: é uma ideia menor, específica. É um recorte do assunto.


Ex: A violência urbana

Título: é uma referência ao tema que será abordado. Recomenda-se que seja curto e, se possível, demonstre criatividade.
Ex: Dias de incerteza

Observação
Há concursos que não exigem colocação de título. Ainda assim, recomenda-se que sempre seja colocado devido ao seu
caráter funcional de delimitação do tema. Na MB, o título é o próprio tema. Não se deve pular linha entre o título e a
introdução.

II. A dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de um ponto de vista. Ou, então, pelo
questionamento acerca de um determinado assunto. O autor do texto dissertativo trabalha com argumentos, com
fatos, com dados, utilizados por ele para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias.
Para se obter uma exposição clara e ordenada, a dissertação é geralmente organizada em três partes:

1. Introdução – constituída geralmente de um parágrafo, deve conter a ideia principal a ser desenvolvida, ou seja, denotar
os objetivos do texto, o ângulo da análise e hipótese ou a tese a ser defendida. Há diversas e flexíveis maneiras de se
começar uma dissertação. O importante é que o parágrafo da introdução seja sucinto e conciso e que deixe claras as
diretrizes do texto.

2. Desenvolvimento ou argumentação – exposição de elementos que vão fundamentar a ideia principal que pode vir
especificada através da argumentação, de pormenores, de causa e de consequência, definições, dados estatísticos,
ordenação cronológica etc.

3. Conclusão – é a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que
já foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação.

A dissertação objetiva
A dissertação objetiva caracteriza-se pelo texto escrito em terceira pessoa. Embora o autor esteja transmitindo ao
leitor sua visão pessoal a respeito do tema, ele jamais aparece para o leitor como uma pessoa definida.
Nas dissertações objetivas, o autor expõe os argumentos de forma impessoal e objetiva, não se incluindo na
exploração, o que confere ao texto um caráter imparcial, facilitando a aceitação, por parte do leitor, das ideias expostas
(prova da MB).

A dissertação subjetiva
A dissertação subjetiva caracteriza-se pelo texto escrito em primeira ou segunda pessoa. Consequentemente, o
texto perde seu caráter impessoal e assume, de forma explícita, um caráter pessoal.

III. Critérios básicos de avaliação


1. Abordagem do tema
2. Tipo textual
3. Coerência
4. Coesão
5. Modalidade escrita

IV. Modelos dissertativos


1) Expositivo: panorama imparcial de ideias, informações.

2) Argumentativo: defesa de um ponto de vista.


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OBS: texto argumentativo ≠ texto opinativo → Sustentar opinião ≠ parafrasear opinião

V. Qualidades de um bom texto dissertativo-argumentativo


1. Objetividade
* Análises objetivas, mesmo nos temas abstratos.
* Análises científicas, sem uso de argumentos religiosos.
* Análise racional, sem tom emotivo.
* Análise universal, sem uso de experiências pessoais.
* Tom ponderado / seguro: evitar radicalismos.

Obs.: Evitar pontuação expressiva (exclamações, reticências) e expressões radicais (“é um absurdo” / “é ridículo”).

VI. Linguagem impessoal


Usar a terceira pessoa do singular (Sabe-se que...; Reconhece-se que..., É evidente que...)

VII. Uso de fatos e não de opiniões


Pessoal Impessoal

Fato x A Marinha é uma instituição secular


Eu acho a Marinha uma ótima instituição secular. A Marinha é uma ótima instituição
Opinião
secular.
Logo, escrever de forma impessoal é uma forma de expressar opiniões como se elas fossem fatos (impessoalidade ≠
imparcialidade)

* Imparcialidade ≠ impessoalidade
* Objetivo: evitar redundâncias + aumentar credibilidade.

VIII. Exigências da modalidade escrita


* Padrão culto, com simplicidade e clareza
* Ausência de traços de oralidade
- gírias (“desde que o mundo é mundo”)
- contrações (“pra”, “né”)
- “internetês”
- vocabulário impreciso (“coisa”)
- abreviatura
- períodos longos ou curtos demais

IX. Estrutura na prova da MB


* Mínimo: quatro parágrafos
* Máximo: cinco parágrafos
Cada parágrafo deverá conter o mínimo de 2(introdução e conclusão) 3 períodos (desenvolvimento).
Um bom parágrafo deverá ter de cinco a dez linhas.

EXEMPLO DE UMA DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Redação nota 1000 no ENEM


Tema: Os avanços tecnológicos tendem a nos afastar mais uns dos outros ou a nos unir ainda que superficialmente?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ao formular a sua tese “Modernidade Líquida”, na qual expõe a
superficialidade das relações sociais no contexto da Terceira Revolução Industrial, estabeleceu forte conexão com cenário
vigente. A julgar pelo panorama atual, é possível perceber que, infelizmente, os avanços tecnológicos proporcionaram a
fragilidade dos contatos qualitativos. Nesse contexto, tal defasagem revela o caráter social da Modernidade bem como a
perda gradual da argumentação favorecida pela internet. Assim, compreender tais fatores é essencial para combater a
perpetuação desse problema.
Em primeira análise, é fundamental constatar que o advento de novos meios de comunicação está inexoravelmente
associado à fragmentação dos vínculos afáveis. Sob essa ótica, a dinâmica comunicativa estimulada pelos incrementos
tecnológicos relaciona-se intimamente com o postulado do sociólogo Bauman. Tal ligação ocorre, pois o meio virtual, ao
oferecer uma rápida interação entre os indivíduos por meio dos aplicativos de comunicação, promove contatos quantitativos
em detrimento dos qualitativos, o que motiva a ascensão do individualismo na sociedade e dialoga diretamente com o
enunciado do pensador Bauman, uma vez que a liquidez dos laços interpessoais responsáveis pela valorização dos
espaços de atuação e convivência pública impossibilita a consolidação de relações amistosas. Por consequência desse
fato, o ser humano regride ao seu estado primitivo, no qual predomina o egoísmo, haja vista essa polarização de
relacionamentos viabilizar uma visão dessemelhante pelo próximo, o que é incompatível com a vida coletiva, pois se

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caracteriza como uma instituição orgânica baseada na cooperação. Dessa forma, fica claro que os avanços tecnológicos
estão associados ao afastamento interativo da comunidade.
Além disso, é valido observar que a internet está indubitavelmente conexa com redução da capacidade
argumentativa dos seus usuários. Nesse sentido, pode-se concretizar um paralelo entre a atualidade e o surgimento da
Filosofia, porquanto, no passado, o florescimento do pensamento crítico esteve ligado aos conflitos de ideias antagônicas
dos povos gregos em um contexto de expansão comercial e intelectual denominado Helenismo. Já na Contemporaneidade,
a seletividade de contatos e informações, favorecidas pelas redes sociais, possibilita a formação de grupos com as mesmas
virtudes, o que é prejudicial para a oratória do indivíduo, porque o senso crítico é mediado pela discussão sadia de opiniões
opostas. Dessa maneira, o dialogo cibernético diverge do método retórico e filosófico da Antiguidade Grega.
Torna-se evidente, portanto, que o avanço tecnológico está inquestionavelmente atrelado à desintegração das
relações interpessoais, que, por sua vez, é maléfico para a sociedade. Para resolver esse problema, é necessário que o
Ministério da Educação invista em informática educativa, por meio da promoção de palestras abertas para a população,
realizadas nas escolas públicas durante os finais de semana e ministradas por profissionais graduados por Antropologia,
que discutam a moderação no uso de aparatos modernos e a importância dos vínculos afetivos na esfera coletiva.
Consequentemente, tal medida tem a finalidade de promover aos cidadãos um olhar mais crítico acerca da tecnologia e
estimular a cooperação no social. Assim, a comunidade será mais integrada em suas interações.

FICHA DOCUMENTADA DA LEITURA ARGUMENTATIVA

1. Qual é o assunto apresentado no texto?


_______________________________________________________________________________________________

2. Identifique a tese (ponto de vista principal) apresentada pelo autor no texto?


_______________________________________________________________________________________________

3. Identifique os argumentos apresentados sobre o tema.


_______________________________________________________________________________________________

4. Marque, no texto, os elementos que servem de ligação (conectivos).

5. Qual é a sua posição sobre o tema do texto? Concorda com o autor? Por quê? Escreva um parágrafo de 7 a 10 linhas,
com 3 frases, no mínimo, na folha separada de redação do curso.

CAPÍTULO 2: TEXTOS PARA ANÁLISE E EXERCÍCIOS PRELIMIRARES


Texto 1: Guerra contra o novo coronavírus
Marinha atua desde o início da pandemia em todo o País para mitigar os efeitos causados pela Covid-19
Por: Primeiro-Tenente Ana Carolina Freitas de Oliveira

Em meados de fevereiro de 2020, anunciava-se a chegada do novo coronavírus ao País. Seguindo protocolos já
experimentados em outros países, o Brasil abriu diversas frentes de trabalho, envolvendo todas as pastas do Executivo, com
o objetivo de diminuir as consequências da doença. O Ministério da Defesa então deflagrou a Operação “Covid-19”, que uniu
as três Forças Armadas para proteger os brasileiros da devastação causada pelo vírus. Concomitante, a Marinha do Brasil
deu início à Operação “Grande Muralha”: Força-Tarefa comandada pelo Diretor-Geral do Pessoal da Marinha, que utiliza
todos os recursos disponíveis para o enfrentamento dos efeitos da doença.
Desde o início da operação, a Marinha emprega mulheres, homens, meios navais e de fuzileiros navais para
enfrentar a pandemia, realizando ações assertivas, pautada em dois princípios basilares: serenidade e firmeza. A
determinação do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior, é que se trabalhe com tenacidade
e coragem. “É oportuno reiterar os merecidos cumprimentos aos setores de abastecimento, de saúde, material,
desenvolvimento tecnológico, Corpo de Fuzileiros Navais, militares que permanecem, diuturnamente, mantendo nossa plena
capacidade operativa”, disse.

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A OPERAÇÃO “COVID-19”
Foram criados, para a operação, dez comandos conjuntos, compostos por militares das três Forças, que planejam o
emprego coordenado e integrado dos meios de logística, inteligência e comunicações, em apoio aos órgãos de saúde e de
segurança pública. A Marinha é responsável por dois deles: Comando Conjunto da Bahia e do Rio Grande do Norte e
Paraíba.

TECNOLOGIA
Militares e pesquisadores unem forças para buscar soluções para o enfrentamento da pandemia. A Marinha
desenvolveu diversos projetos para mitigar os efeitos do novo coronavírus.

Respiradores
Em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP), foi iniciada, em junho, a produção em escala do ventilador
pulmonar emergencial, batizado de “inspire”. De baixo custo e desenvolvido pela Escola Politécnica da universidade, o
aparelho pode ser produzido em até duas horas, com tecnologia nacional e baixo custo. Sob a supervisão da Diretoria-Geral
de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, a fabricação das estruturas mecânicas conta com a participação do
Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). Tanto a concepção técnica quanto a produção estão a cargo de
engenheiros integrantes do Projeto de Desenvolvimento da Planta Nuclear Embarcada, do primeiro submarino brasileiro com
propulsão nuclear.

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Protetor Biólogico
A Equipe de Resposta Nuclear, Biológica, Química e Radiológica do 2° Batalhão de Operações Ribeirinhas
(2°BtlOpRib), de Belém (PA), desenvolveu um protetor biológico tóraco-facial para evitar o contágio de equipes de saúde
que lidam com pacientes contaminados. De baixo custo, foi projetado com especialistas do Hospital Naval de Belém (HNBe).
O protótipo, que diminui drasticamente o risco de contágio da doença, foi criado pelo Tenente Fuzileiro Naval Hélio Augusto
Corrêa da Silva Junior.
Ele conta que a ideia do protetor surgiu durante um estágio em Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica.
“Pensei em algo que pudesse isolar o paciente e proteger os profissionais durante os procedimentos nas ambulâncias e nas
UTIs, evitando a contaminação e a disseminação do vírus”.

Máscaras de Proteção
O Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN) criou protótipos de máscaras faciais rígidas do tipo
face shield. Em campanha desenvolvida junto ao SOS 3D Covid-19, profissionais civis cederam o projeto inicial da máscara,
que foi aprimorado pelo CTecCFN. Também há a produção de máscaras faciais descartáveis, feitas em TNT. Até junho, já
haviam sido confeccionadas quase 120 mil unidades, com produção diária de cerca de 4,5 mil. Em fase de desenvolvimento
pelo CTecCFN, estão produtos como dois capacetes de pressão positiva – um para ser usado por profissionais de saúde
em ambientes contaminados e outro por pacientes diagnosticados com Covid-19 e que não necessitam de entubação.
Para a tropa, está em desenvolvimento um modelo de máscara operativa, tipo balaclava (“touca ninja”). A produção
será terceirizada, com estimativa de confecção de 10 mil unidades. O CTecCFN também realizou pesquisa sobre o uso de
lâmpadas UV para a descontaminação de ambientes.

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AÇÕES INTERNAS
No âmbito da Operação “Grande Muralha”, o Sistema de Abastecimento da Marinha trabalha para manter a Força
operando a serviço da Pátria em meio à pandemia. São empregados esforços para que sejam fornecidos combustíveis a
viaturas e demais meios operativos. Além disso, estão sendo distribuídos equipamentos de proteção individual, como
máscaras e álcool em gel, às organizações militares.

O Comandante da Marinha também emitiu o Plano de Atividades da Força, que tem o objetivo de orientar a
progressão das ações a serem adotadas para manter a capacidade operacional e garantir a segurança orgânica.
“Trabalhamos a partir de balizas como flexibilidade, transparência e unidade de comando. Superaremos e venceremos a
guerra contra o coronavírus”, declarou o Almirante Ilques.
(Fonte: Marinha em Revista - Ano 10 - Número 14 - setembro 2020

Exercício 1: Escreva um texto com 2 parágrafos, de 5 a 7 linhas cada um, em que você defenda o trabalho da Marinha do
Brasil no combate à COVID-19. Crie uma linha de raciocínio sobre o tema.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.

Texto 2: Primeiro submarino nuclear brasileiro será usado em 2023


Entenda a importância disso para a segurança e a ciência nacionais
Guilherme Rosa
O Brasil possui duas amazônias. A primeira todo mundo conhece: 3,2 milhões de km² de floresta e biodiversidade.
A outra, apesar de ocupar toda a porção leste do país, ainda é quase secreta. É a Amazônia Azul, como a Marinha
convencionou chamar o território submerso na costa brasileira. A área tem 4,4 milhões de km² de água salgada, e importância
econômica incrível — dali é retirado 90% de nosso petróleo e por ali passa 95% de nosso comércio exterior. Escondidos sob
as ondas, somente 5 submarinos patrulham essa imensidão — é como patrulhar as fronteiras da floresta amazônica e deixar
o miolo desprotegido. Com a descoberta do pré-sal, cuidar dessa área se fez mais urgente ainda.
Para isso, a Marinha traçou um plano de longuíssimo prazo: até 2047, o país terá 26 submarinos patrulhando sua
costa. O primeiro passo foi no final de 2008, quando o governo brasileiro firmou um convênio com a França para a
transferência da tecnologia do submarino Scorpène. O segundo foi em julho de 2011, com o início da fabricação das novas
embarcações no estaleiro de Itaguaí, no Rio de Janeiro. A próxima geração de submarinos brasileiros deve chegar aos
mares em 2017. Mais importante que isso, no entanto, são as mudanças que os engenheiros brasileiros planejam fazer no
projeto francês. A ideia é realizar um transplante: sai o motor a diesel, entra um reator nuclear. Começando agora, a Marinha
espera concluir a construção do primeiro submarino movido a propulsão nuclear em 2023.
Com isso, o Brasil entraria para o seleto clube dos países que dominam a tecnologia — China, Estados Unidos,
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França, Inglaterra e Rússia. Para se ter uma noção da importância estratégica desse veículo, esses 5 são justamente os
membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Corpo de aço, coração nuclear
Segundo o almirante-de-esquadra Julio Soares de Moura Neto, atual comandante da Marinha do Brasil, o submarino
é o veículo com o melhor custo/benefício na guerra naval. “Sua vantagem determinante é a capacidade de se ocultar e
surpreender”, diz. Na guerra das Malvinas, por exemplo, foi o elemento surpresa que permitiu a um submarino britânico
realizar o maior ataque do conflito, quando destruiu um navio argentino e matou 368 homens.
No entanto, os submarinos convencionais têm um grande inconveniente: após alguns dias submersos eles precisam
voltar à superfície para literalmente pegar ar e recarregar as baterias — e lá se vai o elemento surpresa. Já o submarino
nuclear, graças à capacidade quase inesgotável do seu reator, pode ficar debaixo d’água por meses e atingir altas
velocidades por tempo ilimitado. “Ele pode chegar a qualquer lugar rapidamente. Para o inimigo, significa estar em todos os
lugares ao mesmo tempo”, diz Moura Neto. Mas homens têm limites: quando o submarino nuclear sobe, é para repor
alimentos e desestressar a tripulação.
Engenheiros brasileiros já estão na França para receber treinamento na montagem do submarino. As peças mais
caras, como o casco de aço, periscópio e sonar, terão de ser importadas de lá. Já a tecnologia nuclear será totalmente
desenvolvida no Brasil, e a Marinha vai usar a técnica nacional de fissão nuclear (para saber o que é fissão, leia a matéria
Não faça você mesmo, nesta edição; para saber como ela move as turbinas, ver infográfico ao lado). Além disso, os
submarinos virão armados com torpedos e mísseis Exocet franceses. Cada embarcação vai custar cerca de US$ 1,5 bilhão.

Tecnologia profunda
Desde os anos 70 os militares brasileiros planejam a construção de um submarino nuclear, mas sofriam com
barreiras impostas pelas potências estrangeiras. A tecnologia teve de ser desenvolvida aqui dentro — em 1982, o país
dominou o ciclo de combustível nuclear. A partir dos anos 90, os recursos minguaram, até a ressurreição recente do projeto.
O próximo passo deve ser a construção de um reator nuclear em solo, para testar o equipamento. Ele está sendo
desenvolvido no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP), e deve ser concluído em 2014.
Uma preocupação que envolve o projeto é a falta de profissionais para lidar com a tecnologia. A Comissão Nacional
de Energia Nuclear, que em 1991 tinha 3.750 servidores, hoje tem somente 2.550 — com idade média de 56 anos. “Há uma
necessidade urgente de reposição e de formação de novos profissionais”, diz José Roberto Piqueira, vice-diretor da Escola
Politécnica da USP. Pensando nisso, a USP irá abrir em 2013 um curso de graduação em Engenharia Nuclear, ao lado do
centro da Marinha em Iperó. Parcerias entre as duas instituições já estão nos planos. Submarinos e engenheiros nucleares:
é o Brasil buscando novos voos — ou melhor, mergulhos.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT275468-17773,00.html
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Exercício 2: Escreva um texto com 2 parágrafos, de 5 a 7 linhas cada um, em que você defenda a construção e o uso do
submarino nuclear pelo Brasil. Crie uma linha de raciocínio sobre o tema.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.

Texto 3: Navios da Marinha chegam a Suape para reforçar o combate ao óleo que atinge o litoral
Fuzileiros integram a operação 'Amazônia Azul, Mar Limpo é Vida', que monta base em Pernambuco a partir desse
domingo (10). Embarcações são as duas maiores da Marinha.
Por G1 PE e TV Globo
10/11/2019 11h21

Navios da Marinha trazem fuzileiros e equipamentos para reforçar combate ao óleo no NE

Os dois maiores navios da Marinha do Brasil chegaram, nesse domingo (10), ao Porto de Suape, no Grande
Recife, para reforçar o combate ao vazamento de óleo no Nordeste. Uma das bases da operação "Amazônia Azul, Mar Limpo
é Vida" fica em Suape. A partir do estado, as tropas, veículos e helicópteros que chegaram com as embarcações serão
distribuídos pela costa nordestina.
"Uma das bases vai ficar aqui [em Suape], mas vamos levar não só os navios, como tropas e veículos, para outros
locais como Fortaleza, Salvador, Ilhéus, que fica perto do Parque de Abrolhos, ou seja, vamos espalhar ao longo da costa
do Norte e Nordeste", afirmou o almirante José Cunha.
Além de Suape, o almirante afirmou que uma base será montada em Tamandaré, no Litoral Sul, de ondem devem
sair equipes para atuar no estado vizinho, Alagoas. Cerca de 700 fuzileiros navais vieram com os dois navios.
As duas embarcações, o navio-doca multipropósito (NDM) Bahia e o porta-helicópteros multipropósito (PHM)
Atlântico, deixaram o Rio de Janeiro no dia 4 de novembro. O óleo já atingiu 427 localidades, segundo o mais recente
balanço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), divulgado na sexta-feira (8).

Fuzileiros navais chegaram ao Porto de Suape, neste domingo (10), em operação para combater o vazamento de óleo no
litoral nordestino — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

O objetivo é monitorar principalmente manguezais, estuários e o lado externo dos arrecifes, sempre em conjunto
com as equipes que já atuam no combate ao desastre ambiental. Os militares foram treinados para fazer a limpeza desses
locais.
"Ontem [sábado, 9], nós recebemos um engenheiro da Petrobras que nos deu palestras sobre como despoluir mangues,
arrecifes e praias, e também como são as precauções de segurança para essa despoluição", detalhou o almirante Cunha.
Os navios e helicópteros seguem sendo utilizados ao longo da costa em busca de manchas de óleo em alto-mar ."Não só
quando eles [equipes da Marinha] detectarem, mas quando também formos acionados, nós vamos ao local e retiramos a
mancha e os pontos de poluição", afirmou Cunha.

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Navios da Marinha do Brasil chegaram ao Porto de Suape, neste domingo (10), com helicópteros e outros veículos para
atuar na costa do Nordeste — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

Além de fuzileiros, os dois navios trouxeram equipes médicas para atuar na questão da saúde. Somente em
Pernambuco, foram notificados 66 casos suspeitos de intoxicação de pessoas que tiveram contato com o óleo nas
praias.
"Um dos nossos trabalhos aqui é fazer uma investigação a respeito das pessoas que tiveram contato com o óleo e
apresentaram algum sintoma. Nós colocaremos em solo diversas equipes móveis de saúde que passarão nas principais
localidades afetadas", adiantou o vice-almirante Paulo Martino Zuccaro, comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra.

Navios que chegaram a Pernambuco neste domingo (10) trouxeram caminhões que podem fazer auxílio na operação contra
óleo nas praias — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

Um protocolo foi montado, com um questionário que deve ser aplicado às pessoas que tiveram contato com a
substância. As equipes vão percorrer as localidades atingidas pelo óleo, entrando em contato com a população.
"Nós construiremos um banco de dados, que será passado para as agências, órgãos de saúde tanto no nível federal,
quanto no nível estadual e municipal, para que eles possam dar acompanhar a evolução do quadro de saúde dessas pessoas
que apresentaram algum tipo de anormalidade", apontou o vice-almirante.
Foram trazidos também cerca de 30 caminhões, 25 viaturas leves, um trator, seis equipamentos de engenharia e 18
embarcações menores pelas equipes que chegaram neste domingo. Segundo os militares da Marinha, não tem data prevista
para a operação terminar.

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Navio da Marinha do Brasil atracou no Porto de Suape neste domingo (10); fuzileiros vão atuar no combate ao óleo
que atinge o Nordeste — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

Óleo em Pernambuco
Neste domingo (10), as equipes da Prefeitura de Ipojuca encontraram pequenos fragmentos de óleo preso a sargaço
Praia de Serrambi. O município informou que era ainda resquício da substância, que ainda é "expulsa" pelo mar. "Toda orla
passa por um pente fino da prefeitura diariamente e os rescaldos que aparecerem serão limpos", disse a assessoria de
comunicação municipal.
Um relatório, divulgado na sexta (8) pelo governo estadual, apontou que 16 praias do litoral pernambucano que
foram atingidas pelas manchas de óleo, em outubro deste ano, estão liberadas para o banho.
De acordo com o documento, foram feitos testes para detectar a presença de hidrocarbonetos, componentes do
petróleo, e de substâncias como benzeno, tolueno, etilobenzeno e xileno. O relatório indicou que não foram constatados
compostos orgânicos encontrados no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Pernambuco, desde 2 setembro, 48 praias e oito rios tiveram
registro de manchas. O boletim da Marinha do sábado (9) apontou que as praias pernambucanas estavam limpas, sem sinais
de novos casos de petróleo.

Fonte: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2019/11/10/navios-da-marinha-chegam-a-suape-para-atuar-no-
combate-ao-vazamento-de-oleo-no-nordeste.ghtml

Exercício 3: Escreva um texto com 4 parágrafos de 5 a 7 linhas cada, sendo


1º parágrafo: apresentação do problema do vazamento de óleo + TESE;
2º parágrafo: explicação do problema do vazamento de óleo;
3º parágrafo: explicação da importância da MB para a preservação ambiental;
4º parágrafo: REAFIRMAÇÃO DA TESE + explicação de soluções da pirataria marítima.
Dica: faça, pelo menos, 3 frases por parágrafo.

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CAPÍTULO 3: COMO MELHORAR A ESCRITA?
1. USO DO GERÚNDIO NO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
1. O gerúndio é uma forma nominal que apresenta o processo verbal em curso. Daí decorrem as seguintes características
(uso correto):
a) valor de modo (Ele saiu chorando. = Ele saiu choroso.)
b) valor de tempo ( Encontramos Pedro estudando.= Encontramos Pedro que estudava.)
c) valor de duração (Permaneceu atendendo. = Permaneceu no atendimento.)
d) valor de causa/explicação (Enfrentando João, Pedro fez sucesso com as meninas. = Por enfrentar João, Pedro fez
sucesso com as meninas. Ou Pedro fez sucesso com as meninas, porque enfrentou João.)

(Percebendo que o ladrão se aproximava, sentiu medo. =Por perceber que o ladrão se aproximava, sentiu medo. Ou
Sentiu medo, pois percebeu que o ladrão se aproximava.)

e) valor de condição ( Sendo decidido assim, cumpra o acordado.= Se for decidido assim, cumpra o acordado.)
f) ação imediatamente anterior à do verbo principal (Recebendo os documentos, encaminhou-os logo à chefia. = Quando
recebeu os documentos, encaminhou-os logo à chefia.)

1.2. Desvios mais comuns no emprego do gerúndio:


a) Quando a ação descrita pela forma no gerúndio e o verbo da oração principal não puderem ser simultâneas.
Exemplo de erro: Chegando, saiu.
Correto: Ele chegou e, logo após, saiu.

b) Quando a ação expressa pelo gerúndio é posterior à do verbo da oração principal.


Exemplo de erro: Pela manhã, a menina não tomou o remédio, passando muito mal durante à tarde.
Correto: Pela manhã, a menina não tomou o remédio, consequentemente passou muito mal durante à tarde.
Pela manhã, a menina não tomou o remédio e passou muito mal durante à tarde.

c) Quando o gerúndio tem valor de adjetivo.


Exemplo de erro: Encontrou uma nota no jornal comemorando o fato.
Correto: Encontrou uma nota comemorativa do fato no jornal.

d) Quando o gerúndio é empregado para generalizações ou conclusões não fundamentadas.


Exemplo de erro: O garoto chorava muito causando medo aos que ali passavam.
Correto: O garoto chorava muito, o que pode ter causado medo aos que ali passavam.

d) Quando o gerúndio é empregado para futuro


Exemplo de erro: Eu vou estar providenciando seu contrato.
Correto: Eu vou providenciar.
Eu providenciarei.

EXERCÍCIOS

1. Verifique se ambas as construções correspondem ao considerado como bom uso do gerúndio. Escolha a que considera
mais aceitável ou mais correta. Justifique sua posição com base nas observações acima.

a) O policial viu o bandido correndo pela praia.


_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

b) O aluno apareceu, sendo recebido pela direção da escola duas semanas depois.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

c) A Marinha do Brasil criou um militar vencendo a competição.


_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

d) O aluno vai estar fazendo a prova dia 5 de novembro.


_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________

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2. As generalizações e as conclusões “precipitadas” devem ser evitadas durante a elaboração de um texto dissertativo-
argumentativo porque constituem uma espécie de vício na escrita. O mau uso do gerúndio pode gerar tais situações. Analise
as situações abaixo e reescreva-as adequadamente:

A) O Brasil passa por um bom momento na economia gerando um futuro de prosperidade e avanço tecnológico.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

b) As autoridades têm investido em novos projetos na área da Educação trazendo a tão esperada arrancada social.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

3. Assinale os períodos em que há uso inadequado de gerúndio e corrija-os:

a) A comunidade internacional vem esforçando-se no sentido de acompanhar, da melhor maneira possível, a crise no mundo
árabe. Observando diariamente o que lá ocorre.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

b) Os pais devem acompanhar a vida escolar de seus filhos. Demonstrando amor e dedicação. Só assim as crianças terão
bom aproveitamento como estudantes.

__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

c) Isso ocorre para fazer barulho e chamar atenção dos demais, tornando o trânsito mais barulhento, aumentando o estresse
e prejudicando a audição de muitos.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

d) O país precisa solucionar o problema do menor abandonado alcançando o desenvolvimento social tão esperado.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________

2. USO DE COLOQUIALISMOS OU EXPRESSÕES DE REGISTRO INFORMAL:


O texto dissertativo-argumentativo deve revelar certa capacidade de expressão formal, elegante, isenta e sem
marcas da linguagem oral. Devem ser evitados os seguintes tipos de construção:
Sem falar que... (É importante mencionar ainda ...);
Não tem nada a ver ... (Não há relação clara entre ...);
Não vale a pena ... (Não é válido ...);
Bom que se diga... (É preciso que se mencione/evidencie/aponte ...).

3. USO DE VOCABULÁRIO INADEQUADO:


A escolha do vocabulário revela a formação e a experiência de vida daquele que escreve ou fala. Usar as
palavras adequadas ao contexto indica preparo e qualificação do autor de um texto. Ter claro o significado de
palavras como etnia, raça, cidadania, sociedade, nação, estado é realmente importante.

Exemplos de uso indevido:


Esse modelo tem desenvolvido diversos campos de trabalho para a sociedade ( população ).
Um bom governo deve priorizar questões básicas para a sobrevivência de sua população (para a qualidade
de vida da população ).
Através dos erros, chegaremos aos acertos ( Por meio dos ...).
É preciso que a humanidade se conscientize da necessidade de ... (que os indivíduos se conscientizem...)
É preciso que a sociedade daquele lugar ... (comunidade)
No caso em tela ... ( Em casos como esses...)

OBS.: a locução usada para qualificar um nome deve manter-se no singular (meios de transporte, meios de
comunicação, pais de família, casos de mortalidade);

OBS.: deve ser evitada a locução expletiva é que ( Na verdade, a política é que fará a mudança . / a política fará )
/Devido à má distribuição de alimentos, é que a fome vem.... ( ...alimentos, a fome vem ...)

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4. FALTA DE CONCISÃO:
A redundância retórica é uma das formas mais comuns da prolixidade.
Observe-se o exemplo (GARCIA,1986): “Conforme a última deliberação unânime de toda a Diretoria, a entrada, a
frequência e a permanência nas dependências deste Clube, tanto quanto a participação nas suas atividades esportivas,
recreativas, sociais e culturais, são exclusivamente privativas dos seus sócios, sendo terminantemente proibida, seja qual
for o pretexto, a entrada de estranhos nas referidas dependências do mesmo.”
Tal aviso poderia ser simplesmente: “É proibida a entrada (ou frequência, ou a permanência) de estranhos” ou “Só
é permitida a entrada de sócios.”
Ao redigir, o autor de um texto deve buscar o equilíbrio entre enfatizar seu ponto de vista e manter a clareza e a
objetividade daquilo que diz.

5. OUTROS CUIDADOS IMPORTANTES:

É preciso revisar o próprio texto com atenção para evitar

a) ausência de oração principal no período:


Isso porque a política ... / Claro que a saúde é importante ... / Interessante destacar que ...
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__________________________________________________________________________________________________

b) ausência de preposição antes do pronome relativo:


Essa é a crise que a imprensa se refere todo dia. / O local onde vai o migrante torna-se sua nova casa. / É comum a mídia
valorizar as falas das celebridades que faz alusão.
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__________________________________________________________________________________________________
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6. PROBLEMAS DE ESTRUTURAÇÃO SINTÁTICA

6.1. USO DE FRASES TRUNCADAS


Frase TRUNCADA é um erro de construção que consiste em pontuar uma oração subordinada (ou uma locução) como se
fosse uma frase completa.

Ex.: O Brasil precisa encarar seus problemas. Com determinação e seriedade. (locução pertencente à frase anterior). Trouxe
sugestões. Que são muitas. (oração subordinada à anterior).

ATENÇÃO: todo enunciado deve ter sujeito e verbo; não deve ser introduzido por conjunção subordinativa,
pronome relativo ou forma nominal (infinitivo, gerúndio e particípio) sem que haja oração principal a que se refira.

Marque com (X) as frases fragmentadas e reescreva-as de forma adequada:

a) ( ) Como o governo quer fazer reformas. O Legislativo parece disposto a ouvi-lo.


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b) ( ) O governo quer fazer reformas. Que visam beneficiar a todos.


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c) ( ) O governo quer fazer reformas. Em curto espaço de tempo.


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d) ( ) Uma vez que o governo quer fazer reformas, o Legislativo parece disposto a começar a colaborar.
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e) ( ) O governo quer fazer reformas. Sob condições específicas e de seu interesse.


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f) ( ) Todos gostariam de acreditar no governo. Cientes da importância das reformas.


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g) ( ) Acreditar no governo e importante. Para ele poder efetuar as reformas pretendidas.


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6.2. USO DE FRASES SIAMESAS
Frase siamesa é um erro de construção que consiste em unir duas frases completas como se fosse uma só.

Ex.: Nosso País precisa resolver o problema da fome, a fome revela um grande desequilíbrio social. Nosso País precisa
resolver o problema da fome, pois ela revela um grande desequilíbrio social.

ATENÇÃO: - para corrigir esse erro, pode-se empregar ponto, ponto e vírgula, conjunção coordenativa ou transformar uma
das frases em oração subordinada.

Reescreva as seguintes frases de modo adequado:


a) Havia muitos interessados na queda do Presidente Collor, lembro-me de ter visto isso nos jornais.
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__________________________________________________________________________________________________

b) As farmácias de manipulação representam um setor em ascensão na economia brasileira, os números das estatísticas
comprovam essa afirmação.
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c) No alto da montanha, há minérios, depois de explorados, renderão muito a nós.


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d) A onça é um animal em extinção, essa é alvo constante de caçadores.


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e) A testemunha negava-se a depor, ela estava com medo do réu.


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CAPÍTULO 4: ESQUEMA BÁSICO TEXTO ARGUMENTATIVO


COMO COMEÇAR
Imagine que você possua um determinado tema sobre o qual deve redigir um texto argumentativo. A sua primeira
providência é reescrever o tema e perguntar POR QUÊ? Ao iniciar sua reflexão sobre o tema proposto e sobre uma possível
resposta para a questão, procure recordar-se do que já leu ou ouviu a respeito dele. É quase certo que você tenha ao menos
uma noção de qualquer tema que lhe vier apresentado. O ideal, para que seu texto explore suficientemente o assunto, é que
você obtenha duas ou três “respostas” para a questão formulada; estas respostas chamam-se argumentos. Veremos um
exemplo.

TEMA: Ao chegar ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos.

Existem populações imersas em completa miséria


POR QUÊ? A paz é interrompida por conflitos internacionais
O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico

Repare que essas respostas são exaustivamente noticiadas pelos meios de comunicação, evidentemente você
encontrará mais respostas para sua pergunta, isso significa mais argumentos para seu texto, mas atente-se para o tamanho
do texto, dependendo do objetivo da redação, o texto não pode ser MUITO longo. Lembre-se também de que cada argumento
será desenvolvido e argumentos demais podem deixar seu texto complexo e extenso.

Uma vez que você estabeleceu o número de argumentos (baseado no número de respostas), você já dispõe do
necessário para iniciar seu texto. Um texto argumentativo (dissertação) deve constar de três partes: INTRODUÇÃO,
DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO. Com os dados acima, você já é capaz de escrever o primeiro parágrafo de seu texto.
Esse parágrafo traz uma visão geral do seu texto, apresenta o tema e os argumentos. Esse parágrafo é a INTRODUÇÃO.

Ao chegar ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a
todos. Nesse contexto, essa situação ocorre, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é
interrompida por conflitos internacionais, além de o meio ambiente encontrar-se ameaçado por sério desequilíbrio
ecológico.

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Note que o TEMA foi acrescido dos TRÊS argumentos com a utilização de CONECTIVOS. Esses conectivos
(geralmente conjunções) tornam o texto COESO. Aprender a utilizar conectivos é importante para a construção de textos, já
que o texto começou com frases isoladas que foram CONECTADAS de forma COESA.
Após a Introdução, você fará a argumentação propriamente dita, ou seja, você irá desenvolver seu texto, de modo a
expandir os argumentos apresentados na Introdução. Essa fase do seu texto é chamada de DESENVOLVIMENTO. Logo o
próximo parágrafo tratará sobre o seu primeiro argumento. Veja o exemplo:

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis, existem legiões de famintos em pontos específicos
da Terra. Nos países chamados subdesenvolvidos, sobretudo em certas regiões da África, há um numeroso
contingente de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. No Brasil, tal questão é visível em diversas regiões,
tanto em zonas rurais do Nordeste quanto nas zonas urbanas em morros e favelas de grandes cidades. É preciso,
por isso, que os líderes mundiais busquem soluções para retroceder esse mal.

Depois disso, você deverá entrar com o segundo argumento. Lembre-se de que, como começará um novo
ARGUMENTO, você deve iniciar um novo parágrafo, mas não se esqueça da CONTINUIDADE do texto, então use um
conectivo para manter a COERÊNCIA do texto. A coerência é a relação lógica das ideias do texto, sem ela, os argumentos
pareceriam fragmentos soltos e sem sentido. Vejamos como ficaria a continuação do texto com a entrada de um novo
argumento.

Além disso, nas últimas décadas, têm sido frequentes os conflitos internacionais. Dois exemplos de tal
situação foram os atentados terroristas contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 e, mais recentemente,
a crise sociopolítica da Líbia e de outros países da África. Há também a crescente violência urbana que tem gerado
sentimentos de pânico e insegurança nos brasileiros, os quais são facilmente notados na ocupação das favelas
ocorridas no Rio de Janeiro.

Note que as ideias apresentadas são bastante atuais, ao utilizar dados da contemporaneidade, você mostra que é
uma pessoa bem informada e preocupada com as questões de seu tempo. Ademais, falar de fatos passados só vale a pena
se forem essenciais a sua argumentação. Repare também que o novo argumento foi iniciado com ALÉM DISSO, que é uma
expressão que dá uma ideia de adição e continuidade. Você deverá apresentar seu último argumento para manter a
continuidade, por isso utilize mais um parágrafo, mas não repita o ALÉM DISSO.

Ademais, outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela utilização desenfreada
dos recursos não renováveis. Essa questão acontece, porquanto há o desmatamento de florestas e a poluição de
rios e mananciais. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente se desgaste mais rápido e diminua seu poder
de autorrenovação. Consequentemente, a natureza tem entrado em estado de desequilíbrio, o que afeta a qualidade
de vida das pessoas e dos animais e plantas.

Você incluiu mais um argumento e note que a expressão que inicia o parágrafo dá essa ideia. Após essa
argumentação, você escreverá a CONCLUSÃO, com base no que foi dito no DESENVOLVIMENTO.

Percebe-se, portanto, que, embora o terceiro milênio seja caracterizado como a época de avanços
tecnológicos, o homem está longe de solucionar os graves problemas que afligem grande parcela da humanidade.
Novas tecnologias são criadas para solucionar problemas novos, entretanto velhas questões como fome, guerras e
devastação ambiental continuam insolúveis. O ideal seria utilizar os avanços de hoje como ferramentas para salvar
o planeta de seu declínio para que as gerações futuras usufruam, pelo menos, de um local suficientemente habitável.

Na conclusão, você reafirmou o tema e deu sua opinião com base nos argumentos. Na maioria das vezes, é
importante construir perguntas e sugerir soluções para os problemas, pelo menos, de forma abrangente. É bom mostrar
preocupação com a persistência do problema e enfatizar que você é capaz de compreender a problemática e propor
soluções. A conclusão deve iniciar com palavras que deem ideia de que você está finalizando o texto como o “portanto”.

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GRAMÁTICA
CAPÍTULO 1: ACENTUAÇÃO GRÁFICA
Regras Gerais (não houve mudanças pelo novo Acordo Ortográfico):
Leva
Terminados em: EXEMPLOS
acento?

Monossílabos -a(s), -e(s), -


Sim
tônicos o(s)

-a(s), -e(s),
Oxítonas Sim
-o(s), -em, -ens

Não *

-a(s), -e(s),
Paroxítonas -o(s), -em, -ens,
-am

Sim
Proparoxítonas Qualquer letra

* Essas terminações não fazem parte de ditongos nem são nasais.


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Regras Especiais (Só houve mudanças na posição paroxítona):
Ditongos Levam acento os ditongos abertos quando oxítonos. (-éi, -éu, -ói)

Hiatos 1ª vogal (em ditongo, acento só nas oxítonas / nas paroxítonas: 1-


com ditongo decrescente, acento proibido; 2- com ditongo crescente,
acento obrigatório) + í(s), ú(s) [sem nh]

Acentos diferenciais a) de timbre: pôde [e fôrma(s), opcionalmente]


b) de tonicidade: pôr
c) de número: ele tem/eles têm, ele vem/eles vêm (e derivados)

Latinismos álibi, fórum, harmônium, memorândum, múndi, superávit e tônus.

Exercícios

01. Assinale a opção que contém erro de acentuação na 07. Assinale a opção que contém erro de acentuação na
série de monossílabos tônicos. série de palavras com hiato.
(a) crás, lá, vá, más; (a) voo, enjoo;
(b) fé, pés, és, Sé; (b) magôa, corôa;
(c) quê, vê-lo, mês, três; (c) creem, leem;
(d) pó, nós, só, cós; (d) perdoa-o, abençoa-a;
(e) pô-lo, pô-la, pôs, côr. (e) deem-me, reveem-nos.

02. Assinale a opção que contém erro de acentuação na 08. Assinale a opção que contém erro de acentuação no i
série de palavras paroxítonas. da série de palavras com hiato.
(a) dândi, beribéri, íbis, Cáli; (a) Icaraí, Jacareí;
(b) ônus, cáctus, lótus, retrovírus; (b) saídas, caístes;
(c) factótum, parabélum, álbuns, fóruns; (c) atraindo, contribuiu;
(d) hífens, plâncton, elétrons; (d) ladainha, coroinha;
(e) bíceps, tríceps, quadríceps. (e) gratuíto, fluído (subst.).

03. Assinale a opção que contém erro de acentuação na 09. Assinale a opção que contém erro de acentuação no
série de palavras paroxítonas. u da série de palavras com hiato.
(a) âmbar, éter, fêmur, sênior; (a) Grajaú, tuiuiú;
(b) cóccix, tórax, ônix, Fênix; (b) reúnem, mundaú;
(c) dólmen, pólen, próton, nêutron; (c) baiúca, feiúra;
(d) incrível, imóvel, míssil, afável; (d) conteúdo, transeunte;
(e) ímã, Cristovão, sótão, órfã. (e) Raul, extrauterino.

04. Assinale a opção que contém erro de acentuação na 10. Assinale a opção que contém apenas acentos
série de palavras paroxítonas terminadas em ditongo. diferenciais (aqueles que não podem ser explicados por
(a) escritório, etérea, série; nenhuma regra ortográfica) de timbre ou de tonicidade.
(b) suspensório, calendário, abstêmios; (a) pôr (verbo), pôde (pret. Perf.) e fôrma (=modelo oco);
(c) ingênuo, anágua, mágoa; (b) dê (verbo), é (verbo), réis (moeda antiga);
(d) bilíngue, anáguas, contíguo; (c) fábrica (subst.), sábia (adjetivo), sabiá (subst.);
(e) distíngues, extínguem, conséguem. (d) bobó (subst.), lã(subst.) camelô (comerciante de
calçada);
05. Assinale a opção que contém erro de acentuação na (e) convidássemos, envolvêssemos, retornássemos.
série de palavras proparoxítonas.
(a) insólito, tétrico, nostálgico; 11. Assinale a opção que contém um par de formas
(b) rúbrica, cosmonáutico, letárgico; verbais que caracteriza o segundo componente como
(c) antropofágico, hiperbólico, ótico; caso de acento diferencial de número (3ª pessoa do
(d) dramático, econômico, hermenêutico; plural).
(e) fétido, hálito, metalúrgico. (a) (ele) intervém & (eles) intervêm;
(b) (ele) relê & (eles) relêem;
06. Assinale a opção que contém erro de acentuação na (c) (ele) entretêm & (eles) entretém;
série de palavras com ditongo. (d) (ele) prevê & (eles) prevêem;
(a) andróide, epopéia, tipóia; (e) (ele) tém & (eles) têm.
(b) pastéis, arranha-céus, corrói;
(c) europeus, colmeia, centopeia;
(d) boi, urubu-rei, apogeu;
(e) Gláuber, Áurea, Cleide.

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12. Assinale a opção cuja série de palavras recebe 16. Assinale a opção que contém palavra acentuada
acento em virtude da mesma regra ortográfica. apenas no plural.
(a) contratá-la, vendê-la, atraí-la, propô-lo; (a) pera (b) urubu;
(b) táxi, pálido, maracujá, hábito; (c) vez; (d) juiz; (e) item.
(c) escarcéu, carretéis, caracóis;
(d) cânion, ômicron, sêmen; 17. Assinale a opção que contém erro de acentuação na
(e) atraísse, faraó, Anhangabaú. série de palavras oxítonas.
(a) sofá, atrás, maracujá, dirá, falarás, encaminhá-la,
13. Assinale a opção que não contém palavra acentuada encontrá-lo-á;
em virtude da mesma regra ortográfica de LUNÁTICA. (b) banzé, pontapés, você, buquê, japonês, obtê-lo,
(a) anômalo; (b) dígrafo; recebê-la-emos;
(c) metáfora; (d) antítese; (c) jiló, avô, avós, gigolô, compôs, paletó, indispô-lo;
(e) clímax. (d) além, alguém, também, ele intervém;
(e) armazéns, parabéns, vinténs, hiféns.
14. Assinale a opção que contém palavra acentuada
tanto no singular como no plural. 18. Assinale a opção que não contém palavra acentuada
(a) (o) inglês; (b) (o) álcool; em virtude da mesma regra ortográfica de FREGUÊS.
(c) (o) convés; (d) (o) cós; (a) carijó; (b) matinês;
(e) (ele) antevê. (c) vatapá; (d) açaí; (e) ioiô

15. Assinale a opção que contém palavra acentuada 19. Assinale a opção cuja série de palavras recebe
apenas no singular. acento em virtude da mesma regra ortográfica de ÍNDIO.
(a) júnior; (b) trenó; (a) estapafúrdia, espécie;
(c) pôster; (d) fôrma; (e) sustém. (b) acessível, caráter;
(c) chimpanzé, tarumã;
(d) Estêvão, Asdrúbal;
(e) intrínseco, rígido;

CAPÍTULO 2: USO DO HÍFEN


Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em
palavras formadas por prefixos ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti,
aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi,
neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice etc.

1. Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h.


Exemplos:

anti-higiênico anti-histórico macro-história

Exceção: Não se emprega hífen com os prefixos des- e in- quando o 2º elemento perde o h inicial: desumano (nesse caso,
a palavra humano perde o h), desumidificar, inábil, inumano etc.

2. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento.
Exemplos:

aeroespacial anteontem
agroindustrial antiaéreo

Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar,
coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

Atenção: o encontro de vogais diferentes tem facilitado o fenômeno da elisão de vogal do 1º e do 2º elemento: eletracústico,
ao lado de eletroacústico, por exemplo. Mais uma vez se recomenda que se evitem essas elisões, ressalvados os casos já
correntes na tradição lexicográfica.

3. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s.
Exemplos:
anteprojeto autopeça
antipedagógico autoproteção

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4. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-
se essas letras.
Exemplos:
antirracismo cosseno
antirreligioso infrassom
antirrugas minissaia
antissocial

5. Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal.
Exemplos:
anti-ibérico contra-atacar
anti-imperialista contra-ataque
auto-observação micro-ondas
contra-almirante

6. Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante
Exemplos:
hiper-requintado inter-regional
inter-racial sub-bibliotecário

Atenção:
• Nos demais casos, não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-
americano etc.
• Quando o 1º elemento está representado pela forma mal e o 2º elemento começa por vogal, h ou l, usa-se hífen: mal-
afortunado, mal-entendido, mal-estar, mal-humorado, mal-limpo etc.; porém, malcriado, malditoso, malgrado,
malnascido, malvisto etc. Exceção: Mal com o significado de “doença” grafa-se com hífen: mal-caduco (epilepsia), mal-
francês (sífilis) etc.
• Com o prefixo não, só se usa hífen nas seguintes palavras: não-me-deixes, não-me-esqueças, não-me-toquense, não-
me-toques, não-te-esqueças, não-te-esqueças-de-mim.
• Com o prefixo bem-, só não se usa hífen com as seguintes palavras: bem de alma, bem de fala, bem te vi (simpatizante
de partido político).

7. Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal.
Exemplos:
hiperacidez interindustrial
interestadual superamigo
interestelar superaquecimento

8. Com os prefixos tônicos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice, vizo, sota, sota, usa-se sempre o hífen.
Exemplos:
além-mar ex-presidente sem-terra
além-túmulo pós-graduação vice-diretor
aquém-mar pré-história sota-almirante
ex-aluno pré-vestibular soto-capitão
ex-diretor pró-europeu vizo-rei
ex-hospedeiro recém-casado
ex-prefeito recém-nascido

9. Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani (normalmente quando a palavra for oxítona): -açu, -guaçu e -
mirim. Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

10. Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente
vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

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11. Emprega-se o hífen nos compostos por justaposição sem termo de ligação quando p 1º elemento, por extenso ou
reduzido, está representado por forma substantiva, adjetiva, numeral ou verbal.
Exemplos:
Afro-asiático Decreto-lei Porta-aviões
Afro-luso-brasileiro Guarda-chuva Porta-retrato
Amor-perfeito Guarda-noturno Primeiro-ministro
Ano-luz João-ninguém Sócio-democracia
Arcebispo-bispo Luso-brasileiro Sul-africano
Arco-íris Má-fé Tio-avô
Conta-gotas Mesa-redonda Vaga-lume

Observação: Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição.
Exemplos:
girassol mandachuva paraquedista
madressilva paraquedas pontapé

Atenção:
• As formas empregadas adjetivamente do tipo afro-, anglo-, euro-, franco-, indo-, luso-, sino- e assemelhadas
continuarão a ser grafadas sem hífen: afrodescendente, afrogenia, afrofilia; eurocêntrico, francofone, lusofonia etc.
• Os outros compostos com a forma verbal para- e manda- seguirão sendo separados por hífen conforme a tradição
lexicográfica: para-brisa(s), para-choque(s), para-lama(s), etc.; manda-lua, manda-tudo.
• O acordo não trata nem exemplifica compostos formados com elementos repetidos, com ou sem alternância vocálica
ou consonântica, do tipo blá-blá-blá, reco-reco, lenga-lenga, zum-zum, zás-trás, zigue-zague, pingue-pongue, tico-
tico, tique-taque, xique-xique etc. O espírito do Acordo sugere que tais compostos entrem na regra geral, ou seja, são
de natureza nominal, não contêm elemento de ligação, constituem unidade sintagmática e semântica e mantêm acento
próprio. Assim também os possíveis derivados: lenga-lengar, zum-zunar.
• Serão escritos com hífen os compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo: cobra-d’água, mestre-
d’armas, mãe-d’água, olho-d’água etc.
• Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo
haver. Exemplo: hei de, hás de, hão de, etc.

12 . Emprega-se o hífen nos topônimos compostos pelas formas grã, grão, ou por forma verbal ou, ainda, naqueles ligados
por artigo.
Exemplos:
Grã-Bretanha Passa-Quatro Baía de Todos-os-Santos
Grão-Pará Quebra-Costas Entre-os-Rios
Abre-Campo Albergaria-a-Velha

Atenção: serão hifenizados os adjetivos gentílicos derivados de topônimos compostos que contenham ou não elementos de
ligação. Exemplos: alto-rio-docense, belo-horizontino, cruzeirense-do-sul, mato-grossense, mato-grossense-do-sul, juiz-
forano etc.

13. Emprega-se o hífen nos compostos que designam espécies botânicas, zoológicas e áreas afins, estejam ou não ligadas
por preposição ou qualquer outro elemento.
Exemplos:
Abóbora-menina Erva-do-chá (mas malmequer)
Coco-da-baía Vassoura-de-bruxa Bem-te-vi
Erva-doce Feijão-verde Formiga-branca
Couve-flor Bem-me-quer

14. Não se emprega o hífen nas locuções, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou
conjuncionais.
Exemplos:
Cão de guarda À parte À toa (adj.)
Fim de semana À vontade Dia a dia(subs.)
Cor de café com leite Abaixo de Deus nos acuda
Ele próprio À parte de Um maria vai com as outras
Quem quer que seja A fim de que

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15. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele
deve ser repetido na linha seguinte.
Exemplos:
Na cidade,
conta-
-se que ele foi viajar.

O diretor recebeu os
ex-
-alunos.

Resumo
Emprega-se o hífen quando:

1º elemento HÍFEN 2º elemento


Prefixo que termina por vogal HÍFEN Iniciado por vogal igual à vogal final do
1º elemento ou iniciado por h
Prefixo quer termina com r (hiper, inter, super) HÍFEN Iniciado por h ou r
Prefixo que termina com b (ab, ob, sob, sub) HÍFEN Iniciado por b, h ou r
Prefixo que termina com d (ad) HÍFEN Iniciado por d, h ou r
Mal HÍFEN Iniciado por vogal, h ou l
Circum, pan HÍFEN Iniciado por vogal, h, m, ou n
co HÍFEN Iniciado por h
Ex, pós, pré, pró, sota, soto, vice, vizo, além, aquém, HÍFEN Qualquer elemento
recém, sem, bem
Elemento normalmente oxítono. HÍFEN -açu, -guaçu, -mirim

Exercícios

1. Assinale a opção que contém erro na grafia de palavras 5. Assinale a opção que contém erro na grafia de palavras
compostas. compostas.
(a) recém-inaugurada, granfino; (a) peça-chave, guarda-civil, salário-hora;
(b) grão-rabino, tambor-mor; (b) bode-expiatório, roupa-de-baixo, camisa-social;
(c) és-nordeste, acácia-negra; (c) camisa de força, guarda-noturno, redator chefe;
(d) bico-de-lacre, girassol; (d) salário-família, baba de moça, meio-tempo;
(e) quarta-feira, rio-grandense-do-sul. (e) à queima-roupa, pão de ló, rosa-cruz

2. Assinale a opção que contém erro na grafia de palavras 6. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
compostas. hífen.
(a) bota-fora, come-e-dorme; (a) Comprei cheiro-verde, amor-perfeito e laranja-
(b) limpa-vidros, vai e vem; -seleta.
(c) canário-da-terra, gato de botas; (b) Plantei batata-inglesa, bem-me-quer e capim-
(d) passa-tempense, pega-varetas; -gordura.
(e) cata-vento, Iaiá me sacode. (c) Encomendei a erva-cidreira, o inhame-roxo e a maria-
sem-vergonha.
3. Assinale a opção que contém erro na grafia de palavras (d) Fotografei a salsa-do-campo, a sempre-viva e a rosa
compostas. dos ventos.
(a) são-paulino, santo-amarense; (e) Pedi a vitamina-de-frutas, a gaiola-torácica e um saco-
(b) santa-cruzense, donquixotismo; de-gatos.
(c) pica-pau, vaivém;
(d) ato-show, novo-horizontino; 7. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
(e) queda de braço, pé de moleque. hífen.
(a) Falarei amanhã na convenção luso-
4. Assinale a opção que contém erro na grafia de palavras -hispanobrasileira.
compostas. (b) Trataremos de questões técnico-industriais.
(a) belo-horizontino, bom-bocado, peixe-boi; (c) O acordo sino-tibetano vai acontecer.
(b) novaiguaçuense, tampouco, peixe-espada; (d) Houve uma perigosa celebração fanático-
(c) beladona, prima-dona, peixe-de-briga; -religiosa.
(d) primo-irmão, tão somente, peixe-japonês; (e) Faremos estudos sintático-semântico-
(e) misto-quente, sanguessuga, peixe-prego. -estilísticos.

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8. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de (e) vice-almirante, vice-liderança, vice-reitor.
hífen.
(a) Fiquei habituado ouvindo apenas cantigas de maldizer 15. Assinale a opção que contém erro na grafia de
(b) Desengonçado e mal-acabado, o negócio ia de mal a palavras derivadas.
pior. (a) adjunto, ad-rogação;
(c) Houve aquele mal estar porque ele é um mal (b) arqui-inimigo, arqui-hiperbólico;
agradecido. (c) co-herdeiro, copiloto;
(d) Apresentaram-me um menino mal-educado e (d) contra-reforma, contra-senha;
malcriado. (e) pericárdio, perissístole.
(e) Meus olhos malferidos revelam que estou mal-
-humorado. 16. Identifique a opção que contém apenas palavras com
erro quanto ao uso de hífen.
9. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de (a) antiácido, antiaéreo, anti-hemorrágico, anti-
hífen. -herói, anti-inflacionário;
(a) Bem-aventurado aquele que é bem-ordenado por seus (b) contracheque, contra-ataque, contradança,
pais. contraespião, contraindicação;
(b) Essas bem-feitorias são atribuídas a criaturas bem- (c) extra-conjugal, extra-curricular, extra-escolar, extra-
ditas. gramatical, extra-judicial;
(c) Fiquei bem-visto no rádio quando perceberam que sou (d) sobrecapa, sobrecoxa, sobre-erguer, sobre-
bem-falante. -humano, sobrevoo.
(d) Meu terno ficou bem-acabado e o preço foi bem barato. (e) ultra-apressado, ultrafecundo, ultra-humano,
(e) Um profissional bem-vestido é sempre bem- ultramarino, ultrarradical.
-vindo.
17. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
10. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de hífen.
hífen. (a) Para interagir comigo, vai ser preciso interconectar
(a) Seu sangue azul é uma questão de ponto de vista. máquinas.
(b) O carro forte bateu num gelo baiano. (b) Nosso interrelacionamento é apenas intersocial.
(c) Consta do livro de bordo que ele é um bom-copo. (c) O ônibus interescolar faz transporte interbairros.
(d) A pedra de toque da economia foram as medidas (d) Li um estudo inter-helênico com abordagem
preventivas do Governo. interdisciplinar.
(e) Mandaram para o olho da rua aquele menino de ouro. (e) Ela fez um exame interocular e intermaxilar.

11. Assinale a opção que contém erro na grafia de 18. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
palavras derivadas. hífen.
(a) caeté-açu, araçá-guaçu, igarapé-miriense; (a) A justaposição não é o mesmo que a contraposição.
(b) curumim-açu, jataí-guaçu, araçá-mirim; (b) O pós-comunismo talvez se assemelhe com o pré-
(c) jataí-açu, maracanã-guaçu, tucu-mirim; apocalipse.
(d) tangará-açu, caroba-guaçu, abelha-mirim; (c) A desumanização das pessoas gera o que se chama
(e) tucumã-açu, mirim-guaçu, araçá-guaçu. inumanidade.
(d) O trans-atlântico naufragou por falta de
12. Assinale a opção que contém erro na grafia de retropropulsores.
palavras derivadas. (e) O exemplo supracitado não é igual ao infraescrito.
(a) extra-atmosférico, extra-ordinário;
(b) metacelulose, meta-histórico; 19. Identifique a frase que contém erro quanto ao uso de
(c) paraolimpíadas, parapsicologia; hífen.
(d) pré-adolescência, pré-nupcial; (a) Vi um sem-terra conversando com um sem-
(e) ultraoceânico, ultrassonografia; -teto.
(b) Entreouviram meu depoimento porque deixaram a
13. Assinale a opção que contém erro na grafia de porta entreaberta.
palavras derivadas. (c) Ela tem hipo-sensibilidade e hiper-atividade.
(a) anteconjugal, anteontem; (d) Faço palestras intramuros e uso meu próprio
(b) antielitista, antiimperialista; retroprojetor.
(c) sobre-exposição, sobressair; (e) As regiões supra-hepática e suprarrenal estão
(d) sublunar, subalpino; normais.
(e) super-realidade, supersafra.
20. “Um acordo entre os dois países facilitará a
14. Assinale a opção que contém erro na grafia de coprodução de filmes”. Caso o prefixo não fosse CO, mas
palavras derivadas. SUPER, como seria grafada a palavra?
(a) circum-adjacente, circum-navegação, circunlabial; (a) super-produção;
(b) ex-atleta, ex-corrupto, ex-patrão; (b) superprodução;
(c) não-conformista, não cumprimento, não- (c) super produção;
-violência; (d) súper-produção;
(d) pós-colonial, pós-pago, pós-socrático; (e) súper produção;
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21. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra 24. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
formada por recomposição. formada por recomposição.
(a) aeroespacial; (a) neoexpressionismo;
(b) agroindustrial; (b) paleomagnético;
(c) cardiorrespiratório; (c) pluriocular;
(d) eletrossiderurgia; (d) poliinsaturado;
(e) lipoigiene. (e) pseudossufixo.

22. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra 25. As combinações tetra + campeonato, penta + sílabo,
formada por recomposição. hexa + valência, hepta + cloro e octo + secular, formadas
(a) macrorregião; por composição, devem ser escritas com ou sem hífen?
(b) mega-operação; (a) Todas elas devem ser escritas com hífen;
(c) micro-hino; (b) Nenhuma delas deve ser escrita com hífen;
(d) mididesvalorização; (c) O hífen é opcional nas cinco palavras;
(e) minimercado. (d) Apenas penta-sílabo e octo-secular recebem hífen;
(e) Apenas tetra-campeonato recebe hífen;
23. Assinale a opção que contém erro na grafia da palavra
formada por recomposição.
(a) maxissaia;
(b) mesofauna;
(c) mono-espécie;
(d) multi-imperialismo;
(e) unissexuado.

Exercícios Complementares
1.

Mantida a norma-padrão da língua portuguesa, a frase que preenche corretamente o segundo balão é:
a) Todos os dragões o tem.
b) Todos os dragões têm isso.
c) Os dragões todos lhe tem.
d) Sempre se encontra dragões com isso.
e) Sofre disso todos os dragões.

2. Em qual alternativa todas as palavras em negrito devem 4. Assinale a alternativa em que as palavras estão
ser acentuadas graficamente? acentuadas graficamente pelas mesmas regras por que
a) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas recebem estão acentuadas, respectivamente, em: "chalé", "céu",
ingressos gratis para o cinema. "existência".
b) É dificil correr atras do prejuizo sozinho. a) atrás, dói, próprio.
c) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendo um grande b) três, caráter, evidência.
problema de saude publica. c) Jaú, caráter, máscara.
d) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis. d) pré-requisitos, ruína, vários.
e) O padrão economico do juiz é elevado.
e) fé, mídia, competência.
3. Quanto à ortografia e à acentuação, assinale a alternativa
5. As palavras que são acentuadas graficamente pelas
CORRETA.
a) Após um gesto de comando, os que ainda estão de pé
mesmas regras de "fácil", "científica" e "Moisés",
sentão-se e fazem silencio para houvir o diretor. respectivamente, são:
b) Mesmo que sofresse-mos uma repreenção por queixa de a) negócio, saída, já.
algum professor mais cioso de suas obrigações, a oférta b) espírito, atribuída, herói.
parecia-nos irrecusável. c) cárter, lógica, atrás.
c) Marta nunca deicha o filho sózinho na cosinha, temerosa d) incluído, século, dólar.
de que ele venha a puchar uma panela sobre sí. e) benefício, saúde, cafés.
d) À excessão de meu primo, que se mostrava um tanto
pretencioso, todos os garotos eram bastante humildes.
e) A perícia analisaria a flecha, em busca de vestígios que
pudessem fornecer indícios sobre sua trajetória.
29
6. Assinale a alternativa em que todas as palavras
mudariam de sentido, caso estivessem sem acento. Gabarito:
a) sóbrio, história, está
b) vários, vítimas, matá-los Resposta da questão 1: [B]
c) é, já, país As alternativas [A], [C], [D] e [E] apresentam desvios à
d) é, está, país norma culta da língua portuguesa. Para que isso não
e) têm, matá-los, sóbrio acontecesse, deviam ser substituídas por:
[A] Todos os dragões o têm.
7. Assinale a alternativa que o texto está acentuado [C] Os dragões todos o têm.
corretamente. [D] Sempre se encontram dragões com isso.
a) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que [E] Sofrem disso todos os dragões.
Virgilia era a perfeição mesma, um conjunto de qualidades Assim, é correta apenas a alternativa [B].
sólidas e finas, amorável, elegante, austera, um modêlo.
b) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que Resposta da questão 2: [A]
Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de qualidades “Através” é oxítona terminada em “es”, “várias” é
sólidas e finas, amorável, elegante, austera, um modelo. paroxítona terminada em ditongo (acompanhado de “s”) e
c) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que “grátis” é paroxítona terminada em “is”. Assim, as três
Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de qualidades palavras devem ser acentuadas.
solidas e finas, amorável, elegante, austera, um modêlo.
d) A principio, metia-me grandes sustos. Achava que Resposta da questão 3: [E]
Virgilia era a perfeição mesma, um conjunto de qualidades Apenas a opção [E] está correta. As demais deveriam ser
sólidas e finas, amorável, elegante, austera, um modelo. substituídas por:
e) A princípio, metia-me grandes sustos. Achava que [A] – após um gesto de comando, os que ainda estão de
Virgília era a perfeição mesma, um conjunto de qualidades pé sentam-se e fazem silêncio para ouvir o diretor;
sólidas e finas, amoravel, elegante, austera, um modelo. [B] – mesmo que sofrêssemos uma repreensão por queixa
de algum professor mais cioso de suas obrigações, a
8. Assinalar a alternativa em que todos os hiatos não oferta parecia-nos irrecusável;
precisam ser acentuados: [C] – Marta nunca deixa o filho sozinho na cozinha,
a) balaústre - saúde - viúvo - baú temerosa de que ele venha a puxar uma panela sobre si;
b) juízes - jesuíta - ateísmo - taínha [D] – à exceção de meu primo, que se mostrava um tanto
c) paúl - atraír - raínha - raíz - juíz pretensioso, todos os garotos eram bastante humildes.
d) baía - contribuír - saída - juízo Resposta da questão 4: [A]
e) faísca - baínha - caída - ataúde Resposta da questão 5: [C]
Resposta da questão 6: [D]
9. Marque a alternativa em que todas as palavras devem Resposta da questão 7: [B]
ser acentuadas: Resposta da questão 8: [C]
a) parabens - tambem - idem - porem Resposta da questão 9: [B]
b) ninguem - holandes - atras - cipo Resposta da questão 10: [A]
c) Parana - nuvem - vezes - fuba Resposta da questão 11: [B]
d) armazen - talvez - atraves - ingles
e) japonesa - marques - ole - apos

10. Em cada série de palavras a seguir, apenas uma deve


ser acentuada. Assinale-a:
a) cedo - biologia - velozes - bau
b) campainha - toda - bolo - companhia
c) dicionario - dificil - editora - tenis
d) anel - trovão - rua - poço

11. Devem ser acentuados todos os vocábulos de:


a) bau, rainha, restituiste
b) construimos, distraido, substituia
c) faisca, gaucho, viuvez
d) saisse, saiu, uisque

30
MORFOLOGIA
CAPÍTULO 3: SUBSTANTIVO
INFORMAÇÕES ESSENCIAIS - Substantivo é a palavra que dá nome aos seres em geral (pessoas, lugares, animais, coisas,
ações ou qualidades). É variável em gênero, número e grau. O substantivo pode ser classificado sob vários critérios:

Comum (generaliza um nome) - Ex.: países, nome, carro.


Próprio (particulariza um nome) – Ex.: Brasil, João, Fusca.

Coletivo (noção de grupo) – Ex.: enxame, matilha, pinacoteca.


Concreto (o nome apresenta existência própria) – Ex.: mesa, ventilador, Saci-Pererê.
Abstrato (o nome depende de algo ou de alguém para existir) – Ex.: amor, beijo, pontapé.

Primitivo (nome que não provém de nenhuma outra palavra) – Ex.: árvore, flor, carta.
Derivado (nome formado a partir de outro) – Ex.: arvoredo, florista, carteiro.

Simples (apresenta um radical) – Ex.: chuva, palma, tempo.


Composto (apresenta dois ou mais radicais) – Ex.: guarda-chuva, palma-de-santa-rita, passatempo.

Obs.: 1. Se for levado em consideração apenas o aspecto semântico, em algumas situações, a identificação contextual de
um substantivo pode ficar mais complexa. Sugere-se antepor à palavra um artigo (definido ou indefinido) ou pronome
(possessivo, demonstrativo ou indefinido). Aceitando a palavra uma dessas determinações, será interpretada como
substantivo. Assim, tem-se:
artigo + substantivo: o dia, os dias, um dia, uns dias.
pronome + substantivo: meu dia, este dia, algum dia.

2. As palavras podem passar a substantivos se receberem a anteposição de um artigo. Exemplo: O amar ainda é
importante. O feio bonito lhe parece. O doce perguntou ao doce qual era o doce mais doce: o doce respondeu ao
doce que o doce mais doce era o doce de batata-doce.

Flexão de Gênero
Os substantivos em português podem pertencer ao gênero masculino ou ao gênero feminino. São masculinos os
substantivos a que se pode antepor o artigo o: o homem, o gato, o mar, o dia, o pôr do sol. São femininos os substantivos
a que se pode antepor o artigo a: a mulher, a menina, a gata, a terra, a semana, a mesa.

Importante: O uso das palavras masculino e feminino costuma provocar confusão entre a categoria gramatical de gênero e
a característica biológica dos sexos. Para evitá-la, observe que se define gênero como um fato relacionado com a
concordância das palavras em seu relacionamento linguístico: pó, por exemplo, é um substantivo masculino pela
concordância que estabelece com o artigo o, e não porque se possa pensar num possível comportamento sexual das
partículas de poeira.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Formação do feminino:
1 – Substantivos biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino.

a) a maior parte dos substantivos terminados em –o átono forma o feminino com –a.
Ex.: menino / menina, gato / gata

b) a maior parte dos substantivos terminados em consoante forma o feminino pelo acréscimo de –a.
Ex.: camponês / camponesa, juiz / juíza, professor / professora.
Obs.: ator/atriz, imperador / imperatriz, embaixador / embaixatriz (esposa do embaixador) ou embaixadora (mulher que ocupa
o cargo), senador / senadora.

c) a maior parte dos substantivos terminados em –ão forma o feminino por –ã ou –ao.
Ex.: anfitrião / anfitriã, cidadão/ cidadã, leão / leoa, leitão / leitoa.
Obs.: nos aumentativos, a substituição é por –ona: sabichão / sabichona, valentão / valentona.
Destaquem-se os pares: sultão/sultana, cão/cadela, ladrão / ladra, perdigão / perdiz, barão/baronesa.

d) alguns substantivos ligados a título de nobreza, ocupações ou dignidades formam feminino em -esa, -essa, -isa.
Ex.: Abade / abadessa, duque / duquesa, poeta/poetisa.

e) alguns substantivos terminados em –e formam o feminino com a substituição desse –e por –a.
Ex.: infante / infanta, monge / monja, governante/governanta, hóspede/hóspeda, parente/parenta, presidente/presidenta,
alfaiate/alfaiata. (OBS.: Também aparecem como uniformes)

f) alguns substantivos apresentam formações irregulares para o feminino.


Ex.: herói / heroína, marajá / marani, rei / rainha.

g) Alguns apresentam radicais diferentes.


Ex.: cavaleiro / amazona, cavalheiro / dama, genro / nora, pai / mãe, bode / cabra, cavalo / égua.

h) os terminados em vogal tônica, -s, -l, -z têm a forma feminina em -a:


guri/guria, peru/perua, freguês/freguesa, oficial/oficiala, zagal/zagala, juiz/juíza

2 – Substantivos Uniformes
a) Comuns de dois gêneros: apresentam uma única forma para os dois gêneros. Nesse caso, a distinção entre a forma
masculina e feminina é feita pela concordância com um artigo ou outro determinante.
Ex.: o/a artista, o/a cliente, o/a colega, o/a gerente.

b) Sobrecomuns: designam seres humanos e são sempre do mesmo gênero.


Ex.: o algoz, o cônjuge, a criança, o indivíduo, a vítima, a criatura, a testemunha.

c) Epicenos: designam animais (e algumas plantas) e são sempre do mesmo gênero.


Ex.: a águia, o jacaré, o besouro, o mamoeiro, a palmeira, a baleia.

Observações sobre gênero:


1. Mudança de gênero e de significado:

o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os o guia (pessoa que guia outras)
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à a guia (documento, pena grande das asas das
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão) aves)
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou
proibição de trânsito) o grama (unidade de peso)
a grama (relva)
o cabeça (chefe)
a cabeça (parte do corpo) o caixa (funcionário da caixa)
a caixa (recipiente, setor de pagamentos)
o cisma (separação religiosa, dissidência)
a cisma (ato de cismar, desconfiança) o lente (professor)
a lente (vidro de aumento)
o cinza (a cor cinzenta)
a cinza (resíduos de combustão) o moral (ânimo)
a moral (honestidade, bons costumes, ética)
o capital (dinheiro)
a capital (cidade) o nascente (lado onde nasce o Sol)
a nascente (a fonte)
o coma (perda dos sentidos)
a coma (cabeleira) o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor)
a maria-fumaça (locomotiva movida a vapor)
o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro)
a coral (cobra venenosa) o pala (poncho)
a pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo)
o crisma (óleo sagrado, usado na administração da
crisma e de outros sacramentos) o rádio (aparelho receptor)
a crisma (sacramento da confirmação) a rádio (estação emissora)

o cura (padre, pastor, curandeiro, médico) o voga (remador)


a cura (ato de curar) a voga (moda, popularidade)

o estepe (pneu sobressalente)


a estepe (vasta planície de vegetação)

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2. Substantivos que apresentam dúvida quanto ao gênero:
MASCULINO: clã, milhar, champanha, dó, eclipse, estratagema, orbe, suéter, telefonema, diadema.

FEMININO: alface, bacanal, preá, cal, cútis, dinamite, gênese, libido, omoplata, síndrome, sentinela.

MASCULINO OU FEMININO: ágape, componente (masculino no Brasil e feminino em Portugal), avestruz, diabetes,
personagem, sabiá, dengue, gambá, hélice, sósia, trama.

Flexão de Número
1. Substantivos Simples
a) Acrescenta-se a desinência –s aos substantivos terminados em vogal, ditongo oral ou ditongo nasal –ãe:
Ex.: casa / casas, herói / heróis, mãe /mães
Obs.: “avôs” (o avô materno e o paterno) e avós (casal formado por avô e avó, ou plural de avó).

b) Acrescenta-se a desinência –s aos substantivos terminados em –m. Essa letra é substituída por –n- na forma do plural.
Ex.: atum / atuns, homem / homens, jardim / jardins

d) A maioria dos substantivos terminados em –ão forma o plural com –ões. (incluem-se os aumentativos)
Ex.: balão / balões, botão / botões, leão / leões.

 Os paroxítonos terminados em –ão e alguns poucos oxítonos e monossílabos formam o plural com –s. Ex.: bênção
/ bênçãos, chão / chãos, cristão / cristãos, irmão / irmãos, órfão / órfãos.
 Alguns substantivos terminados em –ão formam o plural com –ães. Ex.: alemão / alemães, capitão / capitães,
sacristão / sacristães, cão / cães.
 Em alguns casos, há mais do que uma forma aceitável para esses plurais; a tendência da língua portuguesa atual
no Brasil é utilizar a forma de plural em –ões. Ex.: anão / anões / anãos, ancião / anciões / anciães / anciãos, verão
/ verões / verãos, vilão / vilões/ vilães/ vilãos, guardião / guardiões / guardiães, ermitão / ermitões / ermitães/ ermitãos.

e) Os substantivos terminados em –r e –z formam o plural com -es.


Ex.: açúcar / açúcares, cruz / cruzes, hambúrguer / hambúrgueres.
Obs.: Caráter / caracteres, júnior / juniores, sênior / seniores, Júpiter/Jupíteres, Lúcifer/Lucíferes

f) Os substantivos terminados em –s formam o plural com acréscimo de –es; quando paroxítono ou proparoxítonos, são
invariáveis.
Ex.: gás / gases, mês / meses, país / países, o atlas / os atlas, um lápis / dois lápis, o ônibus / os ônibus, o pires / os pires.

g) Os substantivos terminados em –al, -el, -ol e –ul formam o plural em –is.


Ex.: canal / canais, álcool / alcoóis ou álcoois), papel / papéis
Obs.: mal / males, real (antiga moeda) / réis, cônsul / cônsules, gol / gols.

h) Os substantivos oxítonos terminados em –il trocam o –l pelo –s; os paroxítonos trocam essa terminação por –eis.
Ex.: ardil / ardis, fóssil / fósseis, barril / barris, fuzil / fuzis.
Obs.: projétil / projéteis / projetis, réptil / répteis / réptis.

i) Os substantivos paroxítonos terminados em –x são invariáveis; a indicação de número depende da concordância com
algum determinante.
Ex.: um clímax / alguns clímax, o tórax / os tórax

2. Observações sobre número:


2.1. Plural com metafonia (som da letra o fica aberto como em ovos)

abrolho, antolho, caroço, choco, corcovo, coro, corpo, corvo, despojo, destroço, esforço, fogo, forno, foro, fosso, imposto,
jogo, miolo, olho, osso, ovo, poço, porco, posto, povo, reforço, rogo, socorro, tijolo, torto, troço.

2.2. Plural dos diminutivos: põem-se no plural os dois elementos e suprime-se o -s do substantivo como nos exemplos:
animai (-s) zinhos - animaizinhos
leõe (-s) zinhos - leõezinhos
lençoi (-s) zinhos – lençoizinhos

2.3. Plural dos nomes gregos em N:


certâmen – certamens ou certâmenes
dólmen ( dolmem) - dolmens ou dólmenes
gérmen – germens ou gérmenes

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hífen – hifens ou hífenes
pólen (polem) - polens ou pólenes
regímen - regimens ou regímenes

2.4. Nomes empregados só no plural


afazeres , alvíssaras, anais, belas-artes, belas-letras, confins, exéquias, núpcias, trevas, víveres, nomes dos naipes
(ouros, espadas, copas, paus)

2.5. Nomes que não variam:


o tórax – os tórax
o ônix – os ônix
MAS: cós – cós ou coses

2.6. Variações semânticas


Bem (o que é bom) - bens (propriedades)
Féria (produto do trabalho diário) - férias (dias de descanso)

2.7. Plural dos nomes estrangeiros


Campus - campi
Corpus - corpora
Pro labore - pro laboribus
Curriculum - curricula
Memorandum - memoranda
Logos - logoi
Topos - topoi
Lady - ladies
Sportman - sportmen
Blitz – blitze

3. Plural dos substantivos compostos


a) somente o PRIMEIRO elemento vai para o PLURAL
1. nos compostos com preposição clara ou oculta ;
cavalo-vapor – cavalos-vapor
cana-de-açúcar - canas-de-açúcar
jararaca-de-cauda-branca - jararacas-de-cauda-branca

2. quando o segundo exprime a ideia de fim, semelhança, ou delimita o primeiro:


navio-escola - navios-escola
manga-rosa - mangas-rosa
peixe-boi – peixes-boi
salário-família - salários-família
bomba-relógio - bombas-relógio

b) somente o SEGUNDO elemento vai para o PLURAL


1. nos compostos com GRÃO, GRÃ e BEL:
grã-cruz - grã-cruzes
grão-prior - grão-priores
bel-prazer - bel- prazeres

2. nos compostos de tema verbal ou palavra invariável + substantivo ou adjetivo:


furta-cor - furta-cores
beija-flor - beija-flores
abaixo-assinado - abaixo-assinados
alto-falante - alto - falantes
ex-marido - ex-maridos
vice-rei - vice-reis
todo-poderoso - todo-poderosos

3. nos compostos de três ou mais elementos não sendo o segundo preposição:


bem-te-vi - bem-te-vis

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4. nos compostos de emprego onomatopeico com repetição total ou parcial
da primeira unidade:
reco-reco - reco-recos
tique-taque - tique-taques

5. Nos compostos grafados ligadamente:


Fidalgo - fidalgos
Girassol - girassóis
Vaivém – vaivéns
Pontapé - pontapés

c) ambos VARIAM
1. nos compostos de dois substantivos ou substantivo e adjetivo :
terça-feira - terças-feiras
salário-mínimo - salários-mínimos
amor-perfeito - amores-perfeitos
guarda-civil - guardas-civis
guarda-mor - guarda-mores
lugar-comum - lugares-comuns

obs.: lugar-tenente - lugar-tenentes (Bechara) e lugares-tenentes (VOLP).

2. nos compostos de temas verbais repetidos :


corre-corre - corres-corres
ruge-ruge - ruges-ruges
pula-pula - pulas-pulas

OBS.: Há também: corre-corres, ruge-ruges, pula-pulas

ATENÇÃO : ficam invariáveis


a) as frases substantivas:
a estou-fraca - as estou-fraca
o disse me disse - os disse me disse
o bumba meu boi - os bumba meu boi
o fora da lei - os fora da lei

b) os compostos de tema verbal e palavra invariável ;


o ganha pouco – os ganha pouco
o pisa mansinho - os pisa mansinho
o cola tudo - os cola tudo

c) os compostos de dois temas verbais de significado oposto :


o leva e traz - os leva e traz
o vai-volta - os vai-volta

CUIDADO: admitem mais de um plural os compostos


guarda-marinha - guardas-marinha, guardas-marinhas(BECHARA) e guarda-marinhas (VOLP)
padre-nosso - padres-nossos ou padre-nossos
salvo-conduto - salvos-condutos ou salvo-condutos

Grau dos substantivos

Os graus aumentativo e diminutivo dos substantivos podem ser formados por dois processos.

1. Sintético: com acréscimo de sufixos aumentativos ou diminutivos.


Ex.: rato / ratão / ratinho.

2. Analítico: com acréscimo de adjetivo que indica aumento ou diminuição de proporções.


Ex.: rato / rato grande / rato pequeno.

Obs.: No uso efetivo da LP, as formas sintéticas de indicação de grau são normalmente usadas para conferir valores afetivos
aos seres nomeados pelos substantivos. Observe formas como amigão, partidão, bandidaço, mulheraço; livrinho, rapazola,
futebolzinho. Em todas elas, o que interessa é transmitir sentimentos como carinho, admiração, ironia ou desprezo, e não
noções ligadas ao tamanho físico dos seres nomeados.
35
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. Circule os substantivos presentes nas frases:

a) Os cabelos soltos caíam-lhe sobre a testa.


b) João agradeceu o convite.
c) A cada dia eu ficava mais alegre.
d) A festa na casa de Rodrigo foi barulhenta.
e) Fortaleza é uma bela cidade.
f) A tristeza se estampava no seu sorriso.
g) A discussão foi muito animada.
h) Meus tios combinaram a pescaria.
i) O preso denunciou os comparsas.
j) Ele me deu vontade de rir.
k) Sentia angústia com o trânsito.
i) A neve era artificial.
m) Levei um susto com o caminhão.

2. I - O cônjuge se aproximou.
II - O servente veio atender-nos.
III - O gerente chegou cedo.

Não está claro se a frase se refere a homem ou mulher


a) no primeiro período.
b) no segundo período.
c) no terceiro período.
d) no primeiro e no segundo períodos.
e) no segundo e no terceiro períodos.

3. Aponte a frase que não contenha um substantivo empregado no grau diminutivo:


a. Coleciono corpúsculos significativos por princípios óbvios da minha natureza.
b. Faça questiúnculas somente se forem suficientes para a formação de ideias essenciais.
c. Os silvícolas optaram pelo uso da linguagem fundamental em gestos e expressões.
d. O chuvisco contínuo de gracejos sentimentais perturba-me a mente cansada.
e. Esses versículos poderão complicar sua relação com os visitantes de má política.

4. Assinale o período que NÃO contém um substantivo sobrecomum:


a. Ele foi a testemunha ocular do crime naquela polêmica reunião.
b. Aquela jovem ainda conserva a ingenuidade meiga e dócil da criança.
c. A intérprete morreu mantendo-se como um ídolo indestrutível na memória de seus admiradores.
d. As famílias desestruturam-se quando os filhos adolescentes agem sem consciência.
e. A criatura executou com melancolia e suavidade a sinfonia preferida pela platéia.

5. Assinale a opção em que a flexão em gênero não altera o significado da palavra.


a) Em Brasília, morávamos num apartamento voltado para o nascente.
b) Seus problemas estavam estreitamente relacionados ao cura.
c) O caixa havia modificado radicalmente seu comportamento.
d) Saiu do teatro para interpretar um personagem já consagrado na televisão.

6. Use artigos e estabeleça corretamente a concordância de gênero nas frases seguintes:


a) ___ cabeça da rebelião foi decapitad___. ____ cabeça foi expost__ em praça pública.
b) Tod__ ___ capital da empresa está aplicad__ em bancos d__ capital do país.
c) ___ cura confessou-se incapaz de proporcionar remédios para ___ cura dos pacientes.
d) ___ moral dos jogadores era pequen__.
e) Quem sabe consigamos construir ___ moral mais voltad__ para a eliminação das desigualdades sociais?
f) Quant__ gramas de ouro teriam sido espalhad__s pel__ grama?

7. Indique o sentido de cada uma das palavras destacadas nas frases:


a) É um sujeitinho!
b) É um mulherão!
c) É um timaço!
d) É um timeco!
e) Vou passar uns diazinhos na praia.
f) Que gentalha!
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g) Por que você se envolve com essa gentinha?
h) Ele pegou um peixão! Quatro quilos!
i) A namorada dele é um peixão!

8. Somente em uma das frases de cada conjunto a palavra em destaque exerce o papel de substantivo. Identifique-a e
circule-a.

a) I. O homem sempre teve o sonho de explorar o universo infinito.


II. O homem sempre teve o sonho de explorar o infinito.
III. O saber é infinito.

b) I. A velha igreja ficava do lado direito da avenida.


II. O barulho era tanto que não ouvimos direito o que ela disse.
III. Você não tem o direito de prejudicar seus amigos.

c) I. A planta do apartamento não está muito detalhada.


II. O agricultor planta as sementes meses antes da colheita.

9. Forme o plural dos diminutivos:


a) papel:_____________________________________
b) colher: ____________________________________
c) flor:_______________________________________
d) anel: _____________________________________
e) farol:_____________________________________

10. Forme o plural dos compostos:


a) zum-zum: ____________________________________________________________________
b) pé de moleque: ________________________________________________________________
c) banana-maçã: _________________________________________________________________
d) ex-namorado: _________________________________________________________________
e) beija-flor: ____________________________________________________________________
f) navio-aeródromo: ________________________________________________________________
g) navio-aríete: ____________________________________________________________________
h) navio-auxiliar: __________________________________________________________________
i) navio-baleeiro: __________________________________________________________________
j) navio-carvoeiro: _________________________________________________________________
k) navio-cisterna: __________________________________________________________________
l) navio-correio: ___________________________________________________________________
m) navio-escola: ___________________________________________________________________
n) navio-escolta: ___________________________________________________________________
o) navio-farol: ____________________________________________________________________
p) navio-hospital: __________________________________________________________________
q) navio-oficina: ___________________________________________________________________
r) navio-petroleiro: _________________________________________________________________
s) navio-sonda: ____________________________________________________________________
t) navio-tanque: ____________________________________________________________________
u) navio-tênder: ____________________________________________________________________
v) navio-transporte: _________________________________________________________________
w) navio-varredor: __________________________________________________________________

11. Preencha com a palavra adequada:


a) A estátua assenta em ___________________ de granito.( sapato / sapata)
b) Não beba água de ________________. Não pise em _________________d’água. (poço / poça)
c) Adoro-te, ó _______________ da santa cruz! Traze _____________para o fogo. ( lenho / lenha)
d) De um só ______________ pode fazer-se um barco. Esta casa é de __________________.(madeiro / madeira)
e) Era um mármore branco cortado de ___________ verdes. O sangue gelou-se-me nas ___________. (veios /veias)
g) __________________de roseira. _________________de peixe. (espinho / espinha)
h) Uso _____________ de couro. O guerreiro vinha de espada à ____________. (cinto / cinta)
i) ____________florestal. ______________________ com apetitosas alfaces. (horto / horta)
j) O cruzado trazia sobre a armadura ______________escarlate. A jovem gostava de usar __________ verde. (saio / saia)

37
38
M
A
T
E
M
Á
T
I
C
A

39
40
Propriedades do Módulo
Assunto: MATEMÁTICA – MÓDULO I
1) |a| = |-a|, para todo a real
1) MÓDULO DE UM NÚMERO REAL Não é difícil constatar isso. Observe:
Podemos dizer que módulo é o mesmo que distância de um |2| = 2
número real ao número zero, pois o módulo de número real |10| = 10
surgiu da necessidade de medir a distância de um número |-5| = 5
negativo ao zero. |-2| = 2
Ao medirmos a distância de um número negativo qualquer ao |-10| =10
zero percebe-se que a distância fica negativa e como não é |5| = 5
usual dizer que uma distância ou comprimento é negativo foi
criado o módulo de número real que torna o valor positivo ou
nulo. 2) |x²|=|x|² = x², para todo x real

Assim, podemos dizer que o módulo de um número real irá Verifiquemos isso para todas as possibilidades de valores de
seguir duas opções: x: positivo, nulo ou negativo.

 O módulo ou valor absoluto de um número real é o a) para x = 5


próprio número, se ele for positivo. 5² = 25
|5|² = 5² = 25
 O módulo ou valor absoluto de um número real será o |5²|=|25|= 25
seu simétrico, se ele for negativo.

A representação de um módulo ou valor absoluto de um número b) para x = 0


real é feito por duas barras paralelas. 0² = 0
|0|² = 0² = 0
Veja o resumo da definição de módulo de um número real |0²|=|0|= 0
abaixo:
c) para x = -3
|x| = x, se x ≥ 0 e -x, se x < 0 (-3)² = 9
|-3|² = 3² = 9
Veja alguns exemplos de como encontrar o módulo ou valor
|(-3)²|= |9| = 9
absoluto de números reais.

• |+4| = 4
3) |a . b|=|a|.|b|, para quaisquer a e b reais
• |-3| = - (-3) = 3
Veja:
• |10 – 6 | = |+4| = 4
a) a e b positivos
• |-1 – 3| = |-4| = - (-4) = 4 a=3eb=5
|3 . 5|= |15|= 15
• |-1| + |5| - |6| = -(-1) + 5 – 6 = 1 + 5 - 6 = 6 – 6 = 0 |3|.|5|= 3 . 5 = 15

• - | -8| = -[-(-8)] = - 8 b) a e b de sinais opostos


a = -2 e b = 4
Veja alguns exemplos de como encontrar o módulo de valores |-2 . 4| = |-8|= 8
desconhecidos. |-2|.|4| = 2 . 4 = 8
• |x + 2| nesse caso teremos duas opções, pois não sabemos c) a e b negativos
o valor da incógnita x. Assim, seguimos a definição: a = -7 e b = -10
x + 2, se x + 2 ≥ 0, ou seja, x ≥ -2 |-7 . (-10)| = |70| = 70
- (x + 2), se x + 2 < 0, ou seja, x < -2 |-7|.|-10| = 7 . 10 = 70
• |2x – 10|
2x – 10, se 2x – 10 ≥ 0, ou seja, 2x ≥ 10 → x ≥ 5
-(2x – 10), se 2x – 10 < 0, ou seja, 2x < 10 → x < 5 4) |a + b| ≤ |a| + |b|, para quaisquer a e b reais

• |x2 – 9| a) a e b positivos
x 2 – 9, se x2 – 9 ≥ 0 a=6eb=5
x2–9≥0 |6 + 5| = |11 |= 11
x2≥9 |6| + |5|= 6 + 5 = 11
x ≥ 3 ou x ≤ -3 |6 + 5| = |6| + |5|

- (x 2 – 9) , se x2 – 9 < 0 b) a e b de sinais opostos


x2 – 9 < 0 a = -5 e b =1
x2 < 9 |-5 + 1| = |-4| = 4
-3 < x < 3 |-5| + |1|= 5 + 1 = 6
|-5 + 1| < |-5| + |1|
Concluímos que o módulo de um número real é sempre
positivo ou nulo.
c) a e b negativos a) x = | - 1|
a = -8 e b = -3 Resposta: x = 1
|-8 + (-3)| = |-11| = 11
|-8| + |-3| = 8 + 3 = 11 b) |x| = 1
|-8 + (-3)| = |-8| + |-3| Resposta: x = 1 ou x = -1, pois |1| = |-1| = 1

c) |x| = -1
5) ||a|-|b|| ≤ |a - b|, para quaisquer a e b reais Resposta: x não existe, pois não existe um número tal que seu
módulo seja negativo.
a) a e b positivos
d) X² = 36
a=4eb=1
Resposta: x = 6 ou x = -6
||4| - |1|| = |4 - 1| = |3 |= 3
|4 - 1| = |3| = 3
e) |x| = |-2|
||4| - |1|| = |4 - 1|
Resposta: x = -2 ou x = 2, pois |2| = |-2| = 2
b) a e b de sinais opostos
a = -1 e b =9
||-1| - |9|| = |1 - 9| = |-8| = 8 2) PLANO CARTESIANO
|-1 - 9| = |-10| = 10
||-1| - |9|| < |-1 - 9| Muitas vezes, para localizar um ponto num Plano Cartesiano,
utilizamos dois números racionais, numa certa ordem.
c) a e b negativos
a = -10 e b = -3 Denominamos esses números de par ordenado. Exemplos:
||-10| - |-3|| = |10 - 3| = |7| = 7
|-10 - (-3)| = |-7| = 7
||-10| - |-3|| = |-10 - (-3)|

d) a e de sinais opostos
a = 4 e b = -3
||4| - |-3|| = |4 – 3 |= |1|= 1
|4 - (-3)| = |7| = 7
||4| - |-3|| < |4 - (-3)|

Além dessas propriedades, não é difícil verificar que |a - b|=| b


- a|, para quaisquer a e b reais.
Assim:

Exercícios resolvidos
Indicamos por (x, y) o par ordenado formado pelos
1) Calcular: elementos x e y, onde x é o 1º elemento e y é o 2º
elemento.
a) |6| + 1 = 6 + 1 = 7

b) |-5| + 9 = 5 + 9 = 14 Observações
1. De um modo geral, sendo x e y dois números
c) |-10| - 1 = 10 -1 = 9
racionais quaisquer, temos: .
d) |-6| - |-2| = 6 - 2 = 4
Exemplos
e) |0,2 - 0,9| = |-0,7| = 0,7
2. Dois pares ordenados (x, y) e (r, s) são iguais somente
f) |3 - x|, para x = -3 se x = r e y = s.
|3 - x| = |3 - (-3)| = |6| = 6
Representação gráfica de um Par Ordenado

Podemos representar um par ordenado através de um


2) Escrever uma expressão equivalente sem o módulo: ponto em um plano.
Esse ponto é chamado de imagem do par ordenado.
a) | b) |x - 6|, com x > 6
Como x > 6, a expressão de dentro do módulo é positiva.
Logo, nesse caso, |x - 6|= x - 6.
Coordenadas Cartesianas
b) |x - 1| + |x - 3|, com x > 3
Como x > 3, as duas expressões são positivas. Os números do par ordenados são chamados coordenadas
Logo, nesse caso, |x - 1| + |x - 3| = x – 1 + x - 3 = 2x - 4. cartesianas. Exemplos:
A (3, 5) ==> 3 e 5 são as coordenadas do ponto A.
3) Achar os possíveis valores de x, em cada caso:

42
Denominamos de abscissa o 1º número do par ordenado, e
ordenada, o 2º número desse par. Assim:

Plano Cartesiano

Representamo
s um par ordenado
em um plano
cartesiano. 3) CLASSIFICAÇÃO DOS POLÍGONOS
Esse plano é Os nomes dos polígonos dependem do critério que utilizamos
formado por duas para classificá-los. Se usarmos o número de ângulos ou o
retas, x e y, número de lados, teremos a seguinte nomenclatura:
perpendiculares
entre si. NOME DO POLÍGONO
A reta horizontal NÚMERO DE
é o eixo das LADOS EM FUNÇÃO DO EM FUNÇÃO DO
abscissas (eixo x). (OU ÂNGULOS) NÚMERO DE NÚMERO DE
ÂNGULOS LADOS
A reta vertical é
o eixo das
ordenadas (eixo y). 3 triângulo trilátero
O ponto comum 4 quadrângulo quadrilátero
dessas duas retas é
denominado 5 pentágono pentalátero
origem, que 6 hexágono hexalátero
corresponde ao par
ordenado (0, 0). 7 heptágono heptalátero

8 octógono octolátero
9 eneágono enealátero
Localização de um Ponto
10 decágono decalátero
Para localizar um ponto num plano cartesiano,
utilizamos a seqüência prática: 11 undecágono undecalátero

12 dodecágono dodecalátero
 O 1º número do par ordenado deve ser localizado no
eixo das abscissas. 15 pentadecágono pentadecalátero
 O 2º número do par ordenado deve ser localizado no 20 icoságono icosalátero
eixo das ordenadas.

 No encontro das perpendiculares aos eixos x e y, por


esses pontos, determinamos o ponto procurado.
Exemplo:

 Localize o ponto (4, 3).

43
4) ÁREA DE FIGURAS PLANAS 1) se m = n , então dizemos que a matriz é quadrada de ordem
n.

Exemplo:
Quadrado
Retângulo

Triângulo A matriz X é uma matriz quadrada de ordem 3×3, dita


Paralelogramo
simplesmente de ordem 3 .

2) Uma matriz A de ordem m x n , pode ser indicada como A =


(aij )mxn , onde aij é um elemento da linha i e coluna j da matriz.

Assim , por exemplo , na matriz X do exemplo anterior , temos


Trapézio Losango a23 = 2 , a31 = 4 , a33 = 3 , a3,2 = 5 , etc.

3) Matriz Identidade de ordem n : In = ( aij )n x n onde aij = 1 se i =


j e aij = 0 se i ¹ j .

Assim a matriz identidade de 2ª ordem, ou seja, de ordem 2×2


ou simplesmente de ordem 2 é:
Triângulo equilátero

A matriz identidade de 3ª ordem, ou seja, de ordem 3×3 ou


simplesmente de ordem 3 é:

5) MATRIZES, DETERMINANTES E
SISTEMAS LINEARES
4) Transposta de um matriz A : é a matriz At obtida de A
Matrizes e Determinantes I permutando-se as linhas pelas colunas e vice-versa.

Matriz de ordem m x n : Para os nossos propósitos, podemos Exemplo:


considerar uma matriz como sendo uma tabela retangular de
números reais (ou complexos) dispostos em m linhas e n
colunas. Diz-se então que a matriz tem ordem m x n (lê-se:
ordem m por n)

Exemplos:

A = ( 1 0 2 -4 5) - Uma linha e cinco colunas ( matriz de ordem A matriz At é a matriz transposta da matriz A .
1 por 5 ou 1 x 5)
Notas:

4.1) Se A = At , então dizemos que a matriz A é simétrica.

4.2) Se A = – At , dizemos que a matriz A é anti-simétrica.


É óbvio que as matrizes simétricas e anti-simétricas são
quadradas .
B é uma matriz de quatro linhas e uma coluna, portanto de
ordem 4 x 1.
4.3) sendo A uma matriz anti-simétrica , temos que A +
At = 0 (matriz nula) .
Notas:

44
- Produto de matrizes Exemplo:

Para que exista o produto de duas matrizes A e B , o número


de colunas de A , tem de ser igual ao número de linhas de B.

Amxn x Bnxq = Cmxq


Ora, senx.senx + cosx.cosx = sen2x + cos2x = 1 ( Relação
Observe que se a matriz A tem ordem m x n e a matriz B tem Fundamental da Trigonometria ) . Portanto, o determinante da
ordem n x q , a matriz produto C tem ordem m x q . matriz dada é igual à unidade.
Vamos mostrar o produto de matrizes com um exemplo:
Regra para o cálculo de um determinante de 3ª ordem ( Regra
de SARRUS).

Para o cálculo de um determinante de 3ª ordem pela Regra de


Sarrus, proceda da seguinte maneira:

Onde L1C1 é o produto escalar dos elementos da linha 1 da 1ª 1 – Reescreva abaixo da 3ª linha do determinante, a 1ª e 2ª
matriz pelos elementos da coluna1 da segunda matriz, obtido linhas do determinante.
da seguinte forma:
2 – Efetue os produtos em “diagonal”, atribuindo sinais
L1C1 = 3.2 + 1.7 = 13. Analogamente, teríamos para os outros negativos para os resultados à esquerda e sinal positivo para
elementos: os resultados à direita.
L1C2 = 3.0 + 1.5 = 5
L1C3 = 3.3 + 1.8 = 17
3 – Efetue a soma algébrica. O resultado encontrado será o
L2C1 = 2.2 + 0.7 = 4
determinante associado à matriz dada.
L2C2 = 2.0 + 0.5 = 0
L2C3 = 2.3 + 0.8 = 6
L3C1 = 4.2 + 6.7 = 50 Exemplo:
L3C2 = 4.0 + 6.5 = 30
L3C3 = 4.3 + 6.8 = 60, e, portanto, a matriz produto será igual
a:

Portanto, o determinante procurado é o número real negativo. -


77.

Principais propriedades dos determinantes


Observe que o produto de uma matriz de ordem 3×2 por
outra 2×3, resultou na matriz produto P
de ordem 3×3. P1) somente as matrizes quadradas possuem determinantes.
Nota: O produto de matrizes é uma operação não comutativa,
ou seja: A x B ¹ B x A P2) o determinante de uma matriz e de sua transposta são
iguais: det(A) = det( At ).
DETERMINANTES
P3) o determinante que tem todos os elementos de uma fila
iguais a zero, é nulo.
Entenderemos por determinante, como sendo um número ou
Obs: Chama-se FILA de um determinante, qualquer LINHA ou
uma função, associado a uma matriz quadrada , calculado de
COLUNA.
acordo com regras específicas .

P4) se trocarmos de posição duas filas paralelas de um


É importante observar, que só as matrizes quadradas
determinante, ele muda de sinal.
possuem determinante .

P5) o determinante que tem duas filas paralelas iguais ou


Regra para o cálculo de um determinante de 2ª ordem
proporcionais, é nulo.
Dada a matriz quadrada de ordem 2 a seguir:

P6) multiplicando-se (ou dividindo-se) os elementos de uma fila


por um número, o determinante fica multiplicado (ou dividido)
por esse número.

P7) um determinante não se altera quando se substitui uma fila


 O determinante de A será indicado por det(A) e pela soma desta com uma fila paralela, multiplicada por um
calculado da seguinte forma : número real qualquer.
 det (A) = ad – bc

45
P8) determinante da matriz inversa : det( A-1) = 1/det(A) . Matrizes e Determinantes II
Se A-1 é a matriz inversa de A , então A . A-1 = A-1 . A = In , onde
In é a matriz identidade de ordem n . Nestas condições , 1 – Definições:
podemos afirmar que det(A.A-1) = det(In) e portanto igual a 1.
Logo , podemos também escrever det(A) . det(A-1) = 1 ; 1.1 – Chama-se Menor Complementar ( D ij ) de um elemento
logo , concluímos que: det(A-1) = 1 / det(A). aij de uma matriz quadrada A, ao determinante que se obtém
eliminando-se a linha i e a coluna j da matriz.
Nota: se det(A) = 0 , não existe a matriz inversa A -1. Dizemos Assim, dada a matriz quadrada de terceira ordem (3×3) A a
então que a matriz A é SINGULAR ou NÃO INVERSÍVEL. seguir:

P9) Se todos os elementos situados de um mesmo lado da


diagonal principal de uma matriz quadrada de ordem n, forem
nulos (matriz triangular), o determinante é igual ao produto dos
elementos da diagonal principal.

Exemplos:
Podemos escrever:
D23 = menor complementar do elemento a23 = 9 da matriz A .
1) Qual o determinante associado à matriz?
Pela definição, D23 será igual ao determinante que se obtém
de A, eliminando-se a linha 2 e a coluna 3, ou seja:

Da mesma forma determinaríamos D11, D12, D13, D21, D22, D31,


Observe que a 4ª linha da matriz é proporcional à 1ª linha (cada D32 e D33. Faça os cálculos como exercício!
elemento da 4ª linha é obtido multiplicando os elementos da 1ª
linha por 3). Portanto, pela propriedade P5, o determinante da 1.2 – Cofator de um elemento aij de uma matriz : cof ( aij ) = (-
matriz dada é NULO. 1) i+j . Dij .
Assim por exemplo, o cofator do elemento a23 = 9 da matriz do
2) Calcule o determinante: exemplo anterior, seria igual a:
cof(a23) = (-1)2+3 . D23 = (-1)5 . 10 = – 10.

2 – Teorema de Laplace

 O determinante de uma matriz quadrada é igual à


soma dos produtos dos elementos de uma fila
qualquer (linha ou coluna) pelos respectivos cofatores.

Observe que a 2ª coluna é composta por zeros; FILA  Este teorema permite o cálculo do determinante de
NULA Þ DETERMINANTE NULO, conforme propriedade P3 uma matriz de qualquer ordem. Como já conhecemos
acima. Logo, D = 0. as regras práticas para o cálculo dos determinantes de
ordem 2 e de ordem 3, só recorremos à este teorema
3) Calcule o determinante: para o cálculo de determinantes de 4ª ordem em
diante. O uso desse teorema, possibilita abaixar a
ordem do determinante. Assim, para o cálculo de um
determinante de 4ª ordem, a sua aplicação resultará
no cálculo de quatro determinantes de 3ª ordem. O
cálculo de determinantes de 5ª ordem, já justifica o uso
de planilhas eletrônicas, a exemplo do Excel for
Windows, Lótus 1-2-3, entre outros.
Ora, pela propriedade P9 acima, temos: D = 2.5.9 = 90
 Para expandir um determinante pelo teorema de
Laplace, é mais prático escolher a fila (linha ou coluna)
que contenha mais zeros, pois isto vai facilitar e reduzir
o número de cálculos necessários.

3 – Cálculo da inversa de uma matriz.

a) A matriz inversa de uma matriz X, é a matriz X-1 , tal que X .


X1 = X-1. X = In, onde In é a matriz identidade de ordem n.

46
b) Matriz dos cofatores da matriz A: é a matriz obtida As soluções, serão x=1, y=4 e z=0, uma vez que 1+4+0 =5;
substituindo-se cada elemento pelo seu respectivo cofator. x=3, y=7 e z=-5, uma vez que
Símbolo: cof A . 3+7- 5=5; x=10, y=-9 e y=4 (uma vez que 10-9+4=5); … , que
são compostas por 3 elementos, o que nos leva a afirmar que
c) Fórmula para o cálculo da inversa de uma matriz: as soluções são osternos ordenados (1,4,0), (3,7,-5) , (10, -9,
4), … , ou seja, existem infinitas soluções (um número infinito
de ternos ordenados) que satisfazem à equação dada.

De uma forma geral, as soluções de uma equação linear


de duas variáveis, são pares ordenados; de três variáveis,
são ternos ordenados; de quatrovariáveis,
Onde: A-1 = matriz inversa de A; são quadrasordenadas; … .
det A = determinante da matriz A; Se a equação linear possuir n variáveis, dizemos que as
(cof A)T = matriz transposta da matriz dos cofatores de A . soluções são n – uplas (lê-se ênuplas) ordenadas.

Sistemas Lineares I Assim, se a ênupla ordenada (r1, r2, r3 , … , rn) é solução da


equação linear
a1.x1 + a2.x2 + a3.x3 + … + an.xn = b, isto significa que a
1 – Equação linear igualdade é satisfeita para
x1 = r1, x2 = r2 , x3 = r3 , … , xn = rn e poderemos escrever:
Entenderemos por equação linear nas variáveis (incógnitas) a1.r1 + a2.r2 + a3.r3 + … + an.rn = b.
x1, x2, x3, … , xn , como sendo a equação da forma
a1.x1 + a2.x2 + a3.x3 + … + an.xn = b onde a1, a2, a3, … an e b 3 – Exercícios resolvidos:
são números reais ou complexos.
a1, a2, a3, … an são denominados coeficientes e b, termo
independente. 1 – Se o terno ordenado (2, 5, p) é solução da equação linear
6x – 7y + 2z = 5, qual o valor de p?
Nota: se o valor de b for nulo, diz-se que temos uma equação
linear homogênea. Solução: Teremos por simples substituição, observando que x
= 2, y = 5 e z = p,
6.2 -7.5 + 2.p = 5. Logo, 12 – 35 + 2p = 5. Daí vem
Exemplos de equações lineares: imediatamente que 2p = 28 e portanto, p = 14.

2x1+3x2 =7(variáveis ou incógnitas x1 e x2,coeficientes 2 e 3,e 2 – Escreva a solução genérica para a equação linear 5x – 2y
termo independente7) + z = 14, sabendo que o terno ordenado
(a , b , g ) é solução.
3x + 5y = 5 (variáveis ou incógnitas x e y, coeficientes 3 e 5, e
termo independente 5) Solução: Podemos escrever: 5a - 2b + g = 14. Daí, tiramos: g =
14 – 5a + 2b . Portanto, a solução genérica será o terno
2x + 5y + z = 17 (variáveis ou incógnitas x, y e z, coeficientes ordenado (a , b , 14 – 5a+ 2b ).
2,5 e 1 e termo independente 17)
Observe que arbitrando-se os valores para a e b , a terceira
-x1 + 3x2 -7x3 + x4 = 1 (variáveis x1, x2 , x3 e x4, coeficientes -1, variável ficará determinada em função desses valores. Por
3, -7, e 1 e termo independente 1) exemplo, fazendo-se a = 1, b= 3, teremos
g = 14 – 5a + 2b = 14 – 5.1 + 2.3 = 15, ou seja, o terno (1, 3,
2x + 3y + z – 5t = 0 (variáveis ou incógnitas x, y, z e t, e termo 15) é solução, e assim, sucessivamente. Verificamos pois que
independente nulo). existem infinitas soluções para a equação linear dada, sendo o
Logo, este é um exemplo de equação linear homogênea. terno ordenado
(a , b , 14 – 5a + 2b ) a solução genérica.
2 – A solução de uma equação linear
Sistemas Lineares II
Já estamos acostumados a resolver equações lineares de uma
incógnita (variável), que são as equações de primeiro grau. Por 1 – Sistema linear
exemplo: 2x + 8 = 36, nos leva à solução única x = 14. Já, se
tivermos uma equação com duas incógnitas (variáveis), por
exemplo x + y = 10, a solução não é única, já que poderemos É um conjunto de m equações lineares de n incógnitas (x1, x2,
ter um número infinito de pares ordenados que satisfazem à x3,… , xn) do tipo:
equação, ou seja: x=1 e y=9 [par ordenado (1,9)], x =4 e y =6 a11x1 + a12x2 + a13x3 + … + a1nxn = b1
[par ordenado (4,6)], x = 3/2 e y 17/2 [par ordenado (3/2,17/2)], a21x1 + a22x2 + a23x3 + … + a2nxn = b2
… , etc. a31x1 + a32x2 + a33x3 + … + a3nxn = b3
………………………………………………………..
………………………………………………………..
Consideremos agora, uma equação com 3 incógnitas. am1x1 + am2x2 + am3x3 + … + amnxn = bn

Seja por exemplo: x + y + z = 5 Exemplo:


3x + 2y – 5z = -8

47
4x – 3y + 2z = 4 Solução:
7x + 2y – 3z = 2
0x + 0y + z = 3 Como os sistemas são equivalentes, eles possuem a mesma
Temos acima um sistema de 4 equações e 3 incógnitas (ou solução. Vamos resolver o sistema S1:
variáveis). x+y=1
Os termos a11, a12, … , a1n, … , am1, am2, …, amn são x – 2y = -5
denominados coeficientes e b1, b2, … , bn são os termos
independentes. Subtraindo membro a membro, vem: x – x + y - (-2y) = 1 – (-5).
A ênupla (a 1, a 2 , a 3 , … , a n) será solução do sistema linear Logo, 3y = 6 \ y = 2.
se e somente se satisfizer simultaneamente a todas as m Portanto, como x+y = 1, vem, substituindo: x + 2 = 1 \ x = -1.
equações. O conjunto solução é portanto S = {(-1, 2)}.

Exemplo: O terno ordenado (2, 3, 1) é solução do sistema: Como os sistemas são equivalentes, a solução acima é
x + y + 2z = 7 também solução do sistema S2. Logo, substituindo em S2 os
3x + 2y – z = 11 valores de x e y encontrados para o sistema S1, vem:
x + 2z = 4 a(-1) – b(2) = 5 Þ - a – 2b = 5
3x – y – z = 2 a(2) – b (-1) = -1 Þ 2 a + b = -1
pois todas as equações são satisfeitas para x=2, y=3 e z=1. Multiplicando ambos os membros da primeira equação (em
azul) por 2, fica:
Notas: -2 a – 4b = 10
1 – Dois sistemas lineares são EQUIVALENTES quando Somando membro a membro esta equação obtida com a
possuem as mesmas soluções. segunda equação (em vermelho),
Exemplo: Os sistemas lineares fica: -3b = 9 \ b = – 3
Substituindo o valor encontrado para b na equação em
vermelho acima (poderia ser também na outra equação em
2x + 3y = 12 azul), teremos:
S1:
3x – 2y = 5 2 a + (-3) = -1 \ a = 1.
5x – 2y = 11 Portanto, a2 + b2 = 12 + (-3)2 = 1 + 9 = 10.
S2: Portanto a alternativa correta é a letra E.
6x + y = 20

2.2 – Determine o valor de m de modo que o sistema de


são equivalentes, pois ambos admitem o par ordenado (3, 2) equações abaixo,
como solução. Verifique! 2x – my = 10
3x + 5y = 8, seja impossível.
2 – Se um sistema de equações possuir pelo menos uma
solução, dizemos que ele é POSSÍVEL ou COMPATÍVEL. Solução:
3 – Se um sistema de equações não possuir solução, dizemos Teremos, expressando x em função de m, na primeira
que ele é IMPOSSÍVEL ou INCOMPATÍVEL. equação:
4 – Se o sistema de equações é COMPATÍVEL e possui apenas x = (10 + my) / 2
uma solução, dizemos que ele é DETERMINADO. Substituindo o valor de x na segunda equação, vem:
5 – Se o sistema de equações é COMPATÍVEL e possui mais 3[(10+my) / 2] + 5y = 8
de uma solução, dizemos que ele é INDETERMINADO.
6 – Se os termos independentes de todas as equações de um
sistema linear forem todos nulos, ou seja Multiplicando ambos os membros por 2, desenvolvendo e
b1 = b2 = b3 = … = bn = 0, dizemos que temos um sistema linear simplificando, vem:
HOMOGÊNEO. 3(10+my) + 10y = 16
30 + 3my + 10y = 16
(3m + 10)y = -14
Exemplo: y = -14 / (3m + 10)
x + y + 2z = 0
2x – 3y + 5z = 0
5x – 2y + z = 0 Ora, para que não exista o valor de y e, em conseqüência não
exista o valor de x, deveremos ter o denominador igual a zero,
já que , como sabemos,NÃO EXISTE DIVISÃO POR ZERO.
2 – Exercícios Resolvidos
Portanto, 3m + 10 = 0 , de onde conclui-se m = -10/3, para que
2.1 – UEL – 84 (Universidade Estadual de Londrina) o sistema seja impossível, ou seja, não possua solução.
Se os sistemas
x+y=1
S1: Agora, resolva e classifique os seguintes sistemas:
x – 2y = -5
ax – by = 5 a) 2x + 5y .- ..z = 10
S2:
ay – bx = -1 ………….3y + 2z = ..9
…………………3z = 15

são equivalentes, então o valor de a2 + b2 é igual a:


b) 3x – 4y = 13
…..6x – 8y = 26
a) 1 c) 5 e) 10
b) 4 d) 9

48
c) 2x + 5y = 6 Para o cálculo dos determinantes a seguir, é conveniente
….8x + 20y = 18 rever o capítulo Determinantes clicando AQUI. Para retornar,
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Resposta:
a) sistema possível e determinado. S = {(25/3, -1/3, 5)} Teremos:
b) sistema possível e indeterminado. Possui um número
infinito de soluções.
c) sistema impossível. Não admite soluções.

Sistemas Lineares III

Regra de Cramer para a solução de um sistema de equações


lineares com n equações e n incógnitas.
Gabriel Cramer - matemático suíço – 1704/1752.

Consideremos um sistema de equações lineares


com n equações e n incógnitas, na sua forma genérica:

a11x1 + a12x2 + a13x3 + … + a1nxn = b1


a21x1 + a22x2 + a23x3 + … + a2nxn = b2
a31x1 + a32x2 + a33x3 + … + a3nxn = b3
…………………………………………….= …
…………………………………………….= …
an1x1 + an2x2 + an3x3 + … + annxn = bn

onde os coeficientes a11, a12, …, ann são números reais ou


complexos, os termos independentes
b1, b2, … , bn , são números reais ou complexos e x1, x2, … ,
Portanto, pela regra de Cramer, teremos:
xn são as incógnitas do sistema nxn.

x1 = D x1 / D = 120 / 24 = 5
Seja D o determinante da matriz formada pelos coeficientes
x2 = D x2 / D = 48 / 24 = 2
das incógnitas.
x3 = D x3 / D = 96 / 24 = 4

Logo, o conjunto solução do sistema dado é S = { (5, 2, 4) }.

Agora, resolva este:


2 x + 5y + 3z = 20
5 x + 3y – 10z = – 39
Seja D xi o determinante da matriz que se obtém do sistema x+y+z=5
dado, substituindo a coluna dos coeficientes da incógnita
xi ( i = 1, 2, 3, … , n), pelos termos independentes b1, b2, … , Resposta: S = { (-1, 2, 4) }
b n.

A regra de Cramer diz que:


Os valores das incógnitas de um sistema linear de n equações
e n incógnitas são dados por frações cujo denominador é o
determinante D dos coeficientes das incógnitas e o numerador
é o determinante D xi, ou seja:
xi = D x i / D

Exemplo: Resolva o seguinte sistema usando a regra de


Cramer:
x + 3y – 2z = 3
2x – y + z = 12
4x + 3y – 5z = 6

49
6) POLINÔMIOS Resposta:
a) para o polinômio ser do 3º grau, os coeficientes de x2 e x3
 Definição devem ser diferentes de zero. Então:
m2-10 => m21 => m1
Uma função polinomial ou simplesmente m+10 => m-1
polinômio, é toda função definida pela relação P(x)=a nxn Portanto, o polinômio é do 3º grau se m1 e m-1.
+ an-1.xn-1 + an-2.xn-2 + ... + a2x2 + a1x + a0.
Onde: b) para o polinômio ser do 2º grau, o coeficiente de x3 deve ser
an, an-1, an-2, ..., a2, a1, a0 são números reais chamados igual a zero e o coeficiente de x2 diferente de zero. Então:
coeficientes.
m2-1=0 => m2=1 => m=1
n  IN
m+10 => m-1
x  C (nos complexos) é a variável. Portanto, o polinômio é do 2º grau se m=1.

GRAU DE UM POLINÔMIO: c) para o polinômio ser do 1º grau, os coeficientes de x2 e x3


devem ser iguais a zero. Então:
Grau de um polinômio é o expoente máximo que ele m2-1=0 => m2=1 => m=1
possui. Se o coeficiente an0, então o expoente máximo n m+1=0 => m=-1
é dito grau do polinômio e indicamos gr(P)=n. Exemplos: Portanto, o polinômio é do 1º grau se m=-1.
a) P(x)=5 ou P(x)=5.x0 é um polinômio constante, ou seja,
gr(P)=0.
b) P(x)=3x+5 é um polinômio do 1º grau, isto é, gr(P)=1. 3º) Num polinômio P(x), do 3º grau, o coeficiente de x3 é 1. Se
c) P(x)=4x5+7x4 é um polinômio do 5º grau, ou seja, gr(P)=5. P(1)=P(2)=0 e P(3)=30, calcule o valor de P(-1).
Resolução:
Obs: Se P(x)=0, não se define o grau do polinômio. Temos o polinômio: P(x)=x3+ax2+bx+c.
Precisamos encontrar os valores de a,b e c (coeficientes).
Vamos utilizar os dados fornecidos pelo enunciado do
 Valor numérico problema:

O valor numérico de um polinômio P(x) para x=a, é o P(1)=0 => (1)3+a.(1)2+b(1)+c = 0 => 1+a+b+c=0 => a+b+c=-
número que se obtém substituindo x por a e efetuando 1
todas as operações indicadas pela relação que define o P(2)=0 => (2)3+a.(2)2+b(2)+c = 0 => 8+4a+2b+c=0 =>
polinômio. Exemplo: 4a+2b+c=-8
Se P(x)=x3+2x2+x-4, o valor numérico de P(x), para P(3)=30 => (3)3+a.(3)2+b(3)+c = 30 => 27+9a+3b+c=30 =>
x=2, é: 9a+3b+c=3
P(x)= x3+2x2+x-4
P(2)= 23+2.22+2-4 Temos um sistema de três variáveis:
P(2)= 14
Resolvendo esse sistema encontramos as soluções:
Observação: Se P(a)=0, o número a chamado raiz ou a=9, b=-34, c=24
zero de P(x).
Portanto o polinômio em questão é P(x)= x3+9x2-34x+24.
Por exemplo, no polinômio P(x)=x2-3x+2 temos
P(1)=0; logo, 1 é raiz ou zero desse polinômio. O problema pede P(-1):
P(-1)= (-1)3+9(-1)2-34(-1)+24 => P(-1)=-1+9+34+24
P(-1)= 66
Alguns exercícios resolvidos: Resposta: P(-1)= 66

1º) Sabendo-se que –3 é raiz de P(x)=x3+4x2-ax+1, calcular o


valor de a.
Resolução: Se –3 é raiz de P(x), então P(-3)=0.
P(-3)=0 => (-3)3+4(-3)2-a.(-3)+1 = 0
3a = -10 => a=-10/3
Resposta: a=-10/3

2º) Calcular m  IR para que o polinômio


P(x)=(m2-1)x3+(m+1)x2-x+4 seja:
a) do 3ºgrau b) do 2º grau c) do 1º grau

50
 Polinômios iguais Obs: Quando temos R(x)=0 dizemos que a divisão é
exata, ou seja, P(x) é divisível por D(x) ou D(x) é divisor de
P(x).
Dizemos que dois polinômios A(x) e B(x) são iguais ou

Se D(x) é divisor de P(x) 


idênticos (e indicamos A(x)B(x)) quando assumem valores
numéricos iguais para qualquer valor comum atribuído à variável
x4
 x7x
-3
9x
- 1  (x  3x - 2) (x - 2x  1)  (2x  1)
2 2 2
R(x)=0
  
P(x) D(x) Q(x) R(x)
x. A condição para que dois polinômios sejam iguais ou idênticos
é que os coeficientes dos termos correspondentes sejam
iguais. x 4  x3  7 x 2  9 x  1 x 2  3x  2
 x 4  3x3  2 x 2 x 2  2 x  1  Q( x)
Exemplo:
Calcular a,b e c, sabendo-se que x2-2x+1 
 2 x3  5 x 2  9 x  1
a(x2+x+1)+(bx+c)(x+1).  2 x3  6 x 2  4 x
x2  5x  1
Resolução: Eliminando os parênteses e somando os
termos semelhantes do segundo membro temos:  x 2  3x  2
x2-2x+1  ax2+ax+a+bx2+bx+cx+c 2 x  1  R( x)
1x2-2x+1  (a+b)x2+(a+b+c)x+(a+c)
Agora igualamos os coeficientes correspondentes: Exemplo:
Determinar o quociente de P(x)=x4+x3-7x2+9x-1 por
Substituindo a 1ª equação na 2ª: D(x)=x2+3x-2.
1+c = -2 => c=-3. Resolução: Aplicando o método da chave, temos:
Colocando esse valor de c na 3ª equação, temos:
a-3=1 => a=4.
Colocando esse valor de a na 1ª equação, temos: Verificamos que:
4+b=1 => b=-3.
Resposta: a=4, b=-3 e c=-3.
 Divisão de um polinômio por um binômio da forma
a  b  1 ax+b

 a  b  c  2 Vamos calcular o resto da divisão de P(x)=4x2-2x+3
a  c  1
 por D(x)=2x-1.
Utilizando o método da chave temos:
Obs: um polinômio é dito identicamente nulo se tem todos
os seus coeficientes nulos.
Logo: R(x)=3
A raiz do divisor é 2x-1=0 => x=1/2.
 Divisão de polinômios Agora calculamos P(x) para x=1/2.
P(1/2) = 4(1/4) – 2(1/2) + 3
Sejam dois polinômios P(x) e D(x), com D(x) não nulo. P(1/2) = 3
Efetuar a divisão de P por D é determinar dois
polinômios Q(x) e R(x), que satisfaçam as duas condições Observe que R(x) = 3 = P(1/2)
abaixo:
Portanto, mostramos que o resto da divisão de P(x)
por D(x) é igual ao valor numérico de P(x) para x=1/2,
1ª) Q(x).D(x) + R(x) = P(x) isto é, a raiz do divisor.
2ª) gr(R) < gr(D) ou R(x)=0

 Teorema do resto
P( x) D( x )
R( x) Q( x) O resto da divisão de um polinômio P(x)
pelo binômio ax+b é igual a P(-b/a).
Nessa divisão:
P(x) é o dividendo.
D(x) é o divisor. Note que –b/a é a raiz do divisor.
Q(x) é o quociente.
R(x) é o resto da divisão.

51
Exemplo: Calcule o resto da divisão de x2+5x-1 por x=b => P(b) = c(b)+d (eq. 5)
x+1.
Resolução: Achamos a raiz do divisor: Das equações 1, 2, 4 e 5 temos:
x+1=0 => x=-1
Pelo teorema do resto sabemos que o resto é igual a
P(-1): ca  d  r1

cb  d  r2
P(-1)=(-1)2+5.(-1)-1 => P(-1) = -5 = R(x)
Resposta: R(x) = -5.
Resolvendo o sistema obtemos:

 Teorema de D’Alembert Observações:


1ª) Se P(x) for divisível por (x-a) e por (x-b), temos:
Um polinômio P(x) é divisível pelo P(a)= r1 =0
binômio ax+b se P(-b/a)=0 P(b)= r2 =0
Portanto, P(x) é divisível pelo produto (x-a)(x-b), pois:

Exemplo: Determinar o valor de p, para que o polinômio


P(x)=2x3+5x2-px+2 seja divisível por x-2. r1  r2 ar  ar1
R( x)  x 2  00  0
Resolução: Se P(x) é divisível por x-2, então P(2)=0. a b ab
P(2)=0 => 2.8+5.4-2p+2=0 => 16+20-2p+2=0 => 2ª) Generalizando, temos:
p=19
Resposta: p=19. Se P(x) é divisível por n fatores distintos (x-a1), (x-a2),...,
(x-an) então P(x) é divisível pelo produto (x-a1)(x-a2)...(x-an).

 Divisão de um polinômio pelo produto (x- Exemplo:


a)(x-b) Um polinômio P(x) dividido por x dá resto 6 e dividido por
(x-1) dá resto 8. Qual o resto da divisão de P(x) por x(x-1)?
Resolução:
Vamos resolver o seguinte problema: calcular o
resto da divisão do polinômio P(x) pelo produto (x-a)(x- 0 é a raiz do divisor x, portanto P(0)=6 (eq. 1)
b), sabendo-se que os restos da divisão de P(x) por (x-
a) e por (x-b) são, respectivamente, r1 e r2.
1 é a raiz do divisor x-1, portanto P(1)=8 (eq. 2)
Temos:
E para o divisor x(x-1) temos P(x)=x(x-1) Q(x) + R(x)
a é a raiz do divisor x-a, portanto P(a)=r1 (eq. (eq. 3)
1)
b é a raiz do divisor x-b, portanto P(b)=r2 (eq.
O resto da divisão de P(x) por x(x-1) é no máximo do 1º
2)
grau, pois o divisor é do 2º grau; logo:
E para o divisor (x-a)(x-b) temos P(x)=(x-a)(x-b)
R(x)=ax+b
Q(x) + R(x) (eq. 3)

Da eq.3 vem:
O resto da divisão de P(x) por (x-a)(x-b) é no
máximo do 1º grau, pois o divisor é do 2º grau; logo: P(x)=x(x-1) Q(x) + ax + b
R(x) = cx+d Fazendo:
x=0 => P(0) = a(0)+b => P(0) = b (eq. 4)
Da eq.3 vem: x=1 => P(1) = a(1)+b => P(1) = a+b (eq. 5)
P(x) = (x-a)(x-b) Q(x) + cx + d
Fazendo: Das equações 1, 2, 4 e 5 temos:

b  6
COEFICIENTES DE P(x)

 
RAIZ DO DIVISOR    
2 3 5 1 2 
 3.(2)  5 1.(2)  1 3.(2)  2 a  b  8
3
 1
3
 
4

COEFICIENTES DO QUOCIENT EQ(x) REST O Logo, b=6 e a=2.
Agora achamos o resto: R(x) = ax+b = 2x+6
x=a => P(a) = c(a)+d (eq. 4) Resposta: R(x) = 2x+6.

52
 O dispositivo de Briot-Ruffini Exemplos:
1) Fatorar o polinômio P(x)=x2-4.
Serve para efetuar a divisão de um polinômio P(x) por Resolução: Fazendo x2-4=0, obtemos as raízes r1=2 e
um binômio da forma (ax+b). r2=-2.
Logo: x2-4 = (x-2)(x+2).
2) Fatorar o polinômio P(x)=x2-7x+10.
Exemplo: Determinar o quociente e o resto da divisão
do polinômio P(x)=3x3-5x2+x-2 por (x-2). Resolução: Fazendo x2-7x+10=0, obtemos as raízes r1=5 e
r2=2.
Logo: x2-7x+10 = (x-5)(x-2).
Resolução:
Observe que o grau de Q(x) é uma unidade inferior ao
de P(x), pois o divisor é de grau 1.
Resposta: Q(x)=3x2+x+3 e R(x)=4. 2º caso: O polinômio é de grau maior ou igual a 3.
Conhecendo uma das raízes de um polinômio de 3º
grau, podemos decompô-lo num produto de um polinômio
Para a resolução desse problema seguimos os do 1º grau por um polinômio do 2º grau e, se este tiver
seguintes passos: raízes, podemos em seguida decompô-lo também.
1º) Colocamos a raiz do divisor e os coeficientes do
dividendo ordenadamente na parte de cima da
“cerquinha”. Exemplo: Decompor em fatores do 1º grau o polinômio 2x3-
x2-x.
2º) O primeiro coeficiente do dividendo é repetido
abaixo. Resolução:
3º) Multiplicamos a raiz do divisor por esse coeficiente 2x3-x2-x = x.(2x2-x-1)  colocando x em evidência
repetido abaixo e somamos o produto com o 2º coeficiente Fazendo x.(2x2-x-1) = 0 obtemos: x=0 ou 2x2-x-1=0.
do dividendo, colocando o resultado abaixo deste. Uma das raízes já encontramos (x=0).
4º) Multiplicamos a raiz do divisor pelo número As outras duas saem da equação: 2x2-x-1=0 => r1=1
colocado abaixo do 2º coeficiente e somamos o produto e r2=-1/2.
com o 3º coeficiente, colocando o resultado abaixo deste,
e assim sucessivamente. Portanto, o polinômio 2x3-x2-x, na forma fatorada é:
5º) Separamos o último número formado, que é igual 2.x.(x-1).(x+(1/2)).
ao resto da divisão, e os números que ficam à esquerda
deste serão os coeficientes do quociente. Generalizando, se o polinômio P(x)=a nxn+an-1xn-1+...+a1x+a0
admite n raízes r1, r2,..., rn, podemos decompô-lo em fatores
da seguinte forma:
 Decomposição de um polinômio em fatores

anxn+an-1xn-1+...+a1x+a0 =
Vamos analisar dois casos:
an(x-r1)(x-r2)...(x-rn)
1º caso: O polinômio é do 2º grau.
De uma forma geral, o polinômio de 2º grau
P(x)=ax2+bx+c que admite as raízes r1 e r2 pode ser
decomposto em fatores do 1º grau, da seguinte forma:
Observações:
1) Se duas, três ou mais raiz forem iguais, dizemos que são
ax2+bx+c = a(x-r1)(x-r2) 2)
raízes duplas, triplas, etc.
Uma raiz r1 do polinômio P(x) é dita raiz dupla ou de
multiplicidade 2 se P(x) é divisível por (x-r1)2 e não por (x-
r1 )3 .
r1  r2 ar  ar1
c e d 2 , com a  b
ab ab
r r ar  ar1
Logo : R( x)  1 2 x  2 , com a  b
ab ab

53
7) EQUAÇÕES POLINOMIAIS 8) SEMELHANÇA DE TRIÂNGULOS E DE
(ALGÉBRICAS) POLÍGONOS
Quando comparamos duas figuras geralmente queremos saber
quais as semelhanças existentes entre elas. Algumas vezes
Equação polinomial ou algébrica é toda equação da forma elas são iguais, algumas vezes são apenas parecidas e
p(x) = 0, em que p(x) é um polinômio: também existem os casos em que as figuras comparadas são
completamente diferentes. Na matemática, frequentemente as
figuras geométricas são comparadas e os resultados possíveis
p(x) = anxn + an-1xn-1 + ... + a1x + a0 de grau n, com n são: Figuras congruentes, figuras semelhantes e figuras
≥ 1. diferentes. A seguir, discutiremos a semelhança entre polígonos
e os casos de semelhança entre triângulos.
Veja alguns exemplos:
Dois polígonos são semelhantes quando existe
x4 + – 10x + 3 = 0
9x2 proporcionalidade entre seus lados e seus ângulos
10x6 – 2x5 + 6x4 + 12x3 – x2 + x + 7 = 0 correspondentes são todos iguais. Existir uma razão de
x8 – x6 – 6x + 2 = 0 proporcionalidade quer dizer que se dividirmos a medida de um
x10 – 6x2 + 9 = 0 lado da primeira figura pelo valor de um lado da segunda figura
e o resultado for, por exemplo, o número 3, então todas as
As raízes de uma equação polinomial constituem o conjunto divisões entre medidas de lados da primeira figura por medidas
solução da equação. Para as equações em que o grau é 1 dos lados da segunda figura terão 3 como resultado.
ou 2, o método de resolução é simples e prático. Nos casos
em que o grau dos polinômios é 3 ou 4, existem expressões
para a obtenção da solução.

Teorema Fundamental da Álgebra (TFA)

Toda equação polinomial p(x) = 0, de grau n onde n ≥ 1,


admite pelo menos uma raiz complexa.

Exemplo 1

Determine o valor do coeficiente K, sabendo que 2 é a raiz


da equação:
2x4 + kx3 – 5x2 + x – 15 = 0

Se 2 é raiz da equação, então temos: Isso ocorre no caso dos hexágonos da imagem acima. Repare
que a divisão de qualquer lado do primeiro hexágono por
2(2)4 + k(2)3 – 5(2)2 + 2 – 15 = 0 qualquer lado do segundo tem 3 como resultado.
2*16 + k*8 – 5*4 + 2 – 15 = 0
32 + 8k – 20 + 2 – 15 = 0 Para que dois polígonos sejam semelhantes, deve existir
8k + 34 – 35 = 0 proporcionalidade entre seus lados correspondentes, além de
8k – 1 = 0 ângulos correspondentes congruentes.
8k = 1
Voltando ao exemplo dos hexágonos acima, observe que a
k = 1/8 razão entre lados correspondentes é sempre 3:
Temos que o valor do coeficiente k é 1/8.
AB = BC = CD = DE = EF = FA = 3
Exemplo 2
GH HI IJ JK KL LG
Para mostrar que eles são semelhantes, falta apenas mostrar
Determine o valor de m, sabendo que –3 é raiz da equação:
que seus ângulos correspondentes são congruentes. Nesse
mx3 + (m + 2)x2 – 3x – m – 8 = 0.
caso são, por terem sido construídos como polígonos regulares.
Temos que:
Para os triângulos a regra é a mesma. Dois triângulos são
m(–3)3+ (m + 2)( –3)2
– 3(–3) – m – 8 = 0 semelhantes caso três ângulos correspondentes sejam
m(–27) + (m + 2)(9) + 9 – m – 8 = 0 congruentes e 3 lados correspondentes possuam a mesma
–27m + 9m + 18 + 9 – m – 8 = 0 razão de proporcionalidade.
–27m + 9m – m = 8 – 18 – 9 Não pare agora. Tem mais depois da publicidade ;)
– 19m = –19 Porém, é possível verificar a semelhança nos triângulos de
m=1 uma forma mais simples. Basta observar se eles se
enquadram em um dos casos de semelhança de triângulos a
O valor de m é 1. seguir:
1- Caso Ângulo Ângulo (AA): Dois triângulos são semelhantes
se possuírem dois ângulos correspondentes congruentes.
Não é necessário verificar o terceiro ângulo e nenhuma
proporcionalidade entre os lados. Basta que dois ângulos sejam
congruentes e os dois triângulos já podem ser declarados
semelhantes, como no exemplo a seguir:

54
9) RELAÇÕES MÉTRICAS NA GEOMETRIA

Relações Métricas no Triângulo Retângulo

As relações métricas relacionam as medidas dos elementos de


um triângulo retângulo (triângulo com um ângulo de 90º).
Os elementos de um triângulo retângulo estão apresentados
abaixo:

2- Caso Lado Lado Lado (LLL): Se dois triângulos possuem


três lados proporcionais, então esses dois triângulos são
semelhantes. Portanto, não é necessário verificar os ângulos.

Sendo:

a: medida da hipotenusa (lado oposto ao ângulo de 90º)


b: cateto
c: cateto
h: altura relativa à hipotenusa
m: projeção do cateto c sobre a hipotenusa
Na imagem acima, observe que as razões entre lados n: projeção do cateto b sobre a hipotenusa
correspondentes têm o mesmo resultado:
Semelhança e relações métricas
AB = BC = CA = 1 Para encontrar as relações métricas, utilizaremos semelhança
DE EF FD 2 de triângulos. Considere os triângulos semelhantes ABC, HBA
Então, pelo segundo caso de semelhança, esses triângulos são e HAC, representados nas imagens:
semelhantes.

3- Caso Lado Ângulo Lado (LAL): Dois triângulos que


possuem dois lados proporcionais e o ângulo entre eles
congruente são semelhantes. Observe este caso de
semelhança no exemplo:

AB = CA = 1
DE FD 2
Nesse exemplo, o ângulo de 90 graus fica entre os lados
proporcionais. Configurando assim o caso LAL.

55
Como os triângulos ABC e HBA são semelhantes (
), temos as seguintes proporções:

Primeiro calcularemos o valor da hipotenusa, que na figura


está representado por y.
Usando a relação: a = m + n
y=9+3
y = 12
Para encontrar o valor de x, usaremos a relação b2 = a.n,
assim:
Usando que encontramos a proporção: x2 = 12 . 3 = 36

2) A medida da altura relativa à hipotenusa de um triângulo


Da semelhança entre os triângulos HBA e HAC encontramos a retângulo é 12 cm e uma das projeções mede 9 cm. Calcular a
proporção: medida dos catetos desse triângulo.

Primeiro vamos encontrar o valor da outra projeção usando a


relação: h2 = m . n

Temos ainda que a soma das projeções m e n é igual a


hipotenusa, ou seja:

Vamos encontrar o valor da hipotenusa, usando a relação a =


m+n
Teorema de Pitágoras a = 16 + 9 = 25
A mais importante das relações métricas é o Teorema de Agora é possível calcular o valor dos catetos usando as
Pitágoras. Podemos demonstrar o teorema usando a soma de relações b2 = a . n e c2 = a . m
duas relações encontradas anteriormente.

Vamos somar a relação b2 = a . n com c2 = a . m, conforme


mostrado abaixo:

Fórmulas
Como a = m + n, substituindo na expressão anterior, temos: Na tabela abaixo, reunimos as relações métricas no triângulo
retângulo.

Assim, o Teorema de Pitágoras pode ser enunciado como:

A hipotenusa ao quadrado é igual a soma dos quadrados dos


catetos.

Exemplos
1) Encontre o valor de x e de y na figura abaixo:

56
Relações Métricas no Círculo

No estudo das relações métricas no círculo é importante


Exercícios Resolvidos apresentar alguns conceitos básicos como Corda, Raio,
Diâmetro e Tangência entre Reta e Circunferência. Na
sequência, veja as relações existentes no círculo.
1) Num triângulo retângulo, a hipotenusa mede 10 cm e um dos
catetos mede 8 cm. Nessas condições, determine: Para estudar um círculo é essencial compreender os conceitos
básicos desta forma geométrica.
a) a medida da altura relativa à hipotenusa Conceitos básicos:
b) a área do triângulo

Ver Resposta 1. Uma CORDA é todo segmento de reta cujas


a) extremidades pertencem à circunferência.
2. Uma reta que tenha um único ponto em comum com
uma circunferência é uma reta TANGENTE a essa
circunferência.
3. Uma reta que tenha dois pontos em comum com uma
circunferência é uma SECANTE a essa
circunferência.

b)
O círculo possui algumas importantes relações métricas
envolvendo segmentos internos, secantes e tangentes.
Através dessas relações obtemos as medidas procuradas.

Cruzamento entre duas cordas

O cruzamento de duas cordas no círculo gera segmentos


proporcionais, e a multiplicação entre as medidas das duas
partes de uma corda é igual à multiplicação das medidas das
duas partes da outra corda. Observe:
2) Determine a medida das projeções em um triângulo retângulo
cuja hipotenusa mede 13 cm e um dos catetos 5

57
x * (42 + x) = 10 * (30 + 10)
x2 + 42x = 400
x2 + 42x – 400 = 0
AP * PC = BP * PD
Aplicando a forma resolutiva de uma equação do 2º grau:
Exemplo 1

Os resultados obtidos são x’ = 8 e x’’ = – 50. Como estamos


trabalhando com medidas, devemos considerar somente o valor
x * 6 = 24 * 8 positivo x = 8.
6x = 192
x = 192/6
x = 32 Segmento secante e segmento tangente partindo
de um mesmo ponto

Dois segmentos secantes partindo de um Nesse caso, o quadrado da medida do segmento tangente é igual
mesmo ponto à multiplicação da medida do segmento secante pela medida de
sua parte externa.
Em qualquer circunferência, quando traçamos dois segmentos
secantes, partindo de um mesmo ponto, a multiplicação da
medida de um deles pela medida de sua parte externa é igual à
multiplicação da medida do outro segmento pela medida de sua
parte externa. Observe:

(PQ)2 = PS * PR

Exemplo 3

RP * RQ = RT * RS

Exemplo 2

x2 = 6 * (18 + 6)
x2 = 6 * 24
x2 = 144
√x2 = √144
x = 12

58
Relações Métricas no Quadrado Inscrito Demonstração das relações métricas no quadrado inscrito

Para demonstrar essas relações, será necessário observar


As relações métricas no quadrado inscrito são formas de primeiro as seguintes informações:
encontrar a medida de seu lado e apótema a partir do raio da
circunferência que o circunscreve.
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Dizemos que um quadrado é inscrito em 1 – Como o apótema divide o lado do quadrado em
uma circunferência quando todos os seus vértices pertencem a dois segmentos congruentes, podemos dizer que a medida de
ela. Como o quadrado é um polígono regular – que possui cada um deles é igual a l/2.
todos os lados com a mesma medida e ângulos internos 2 – Como se trata de um polígono regular, o apótema e o lado
congruentes –, existem relações que podem ser usadas para com o qual ele se encontra são perpendiculares.
calcular a medida de seu lado e de seu apótema a partir 3 – Como se trata de um polígono regular, o apótema também
apenas do raio da circunferência. Para isso, vale lembrar de é bissetriz do ângulo central que ele corta.
algumas definições básicas do polígono regular inscrito: Observe que cada ângulo central, definido por dois raios
consecutivos em um quadrado inscrito, sempre é reto. Isso
acontece porque todos os ângulos têm de ser iguais, já que o
Elementos básicos do polígono regular inscrito quadrado é um polígono regular. Como são quatro ângulos
centrais, então: 360/4 = 90°. O apótema é bissetriz desse
1 – Centro: O centro de um polígono regular inscrito tem a ângulo, portanto, divide-o em outros dois ângulos de 45°.
mesma localização que o centro da circunferência que o Colocando todas essas informações em uma figura de
circunscreve. um quadrado inscrito, temos:

2 – Raio: O raio de um polígono regular inscrito é a distância


entre seu centro e a borda da circunferência. Como se trata de
um polígono, essa distância só pode ser obtida entre o centro
do polígono e um de seus vértices.

3 – Apótema: É a distância entre o centro de


um polígono regular e o ponto médio de um de seus lados. No
caso do quadrado inscrito, o apótema também forma um ângulo
reto com o lado com o qual faz contato.

A imagem a seguir mostra um exemplo dos elementos citados:

Ao lado, separamos o triângulo OPB formado por um dos raios


e um dos apótemas. Nesse triângulo, podemos calcular o seno
e o cosseno de 45°. Observe:
Sen45° = l/2
r
√2 = l
2 2
r
√2 = l
2 2r
r√2 = l
l = r√2
Relações métricas no quadrado inscrito
Cos45° = a
1 – O lado do quadrado inscrito é igual ao raio multiplicado r
pela raiz de 2. Em outras palavras: √2 = a
2 r
l = r√2
r√2 = a
2 – O apótema do quadrado inscrito é igual à metade da 2
medida do raio, multiplicado pela raiz de 2. Em outras palavras:
a = r√2
a = r√2 2
2

59
Exemplo: A partir dessas informações, observe as relações métricas
no triângulo equilátero inscrito.
Calcule a medida do lado e do apótema de Um triângulo inscrito define três ângulos centrais de 120°
um quadrado inscrito em uma circunferência de raio igual a Para perceber isso, veja que o triângulo equilátero divide
100 cm. a circunferência em três partes iguais, como mostra a figura a
seguir:
Solução: Para obter essas medidas, basta substituir o valor do
raio nas fórmulas do apótema e do lado
do quadrado inscrito na circunferência:

l = r√2

l = 100√2

a = r√2
2

a = 100√2
2

a = 50√2

Sendo assim, cada ângulo interno é a terça parte da


circunferência completa:
1·360 = 120
3
Lado do triângulo inscrito é obtido pela expressão:
l = r√3
Nessa expressão, l é a medida do lado do triângulo e r é a
medida do raio da circunferência na qual essa figura
está inscrita.
Essa expressão é obtida a partir do próprio triângulo, no qual
podem ser demarcados o raio do círculo e o apótema, como
feito na imagem a seguir:

É possível encontrar algumas medidas do quadrado cujos


vértices são pontos de uma circunferência

Relações Métricas no Triângulo Equilátero Inscrito

As relações métricas no triângulo equilátero inscrito são formas


de encontrar medidas dessa figura usando o raio da
circunferência. O apótema é um segmento de reta que parte do centro de um
polígono e vai até o ponto médio de um de seus lados. Como
As relações métricas no triângulo equilátero inscrito esse triângulo é equilátero, o apótema também é bissetriz e
são expressões que podem ser usadas para calcular algumas altura do ângulo central AÔC.
das medidas dessa figura por meio apenas da medida do raio Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
da circunferência. Já sabemos, então, que, no triângulo construído, temos um
Dizemos que um polígono está inscrito em ângulo reto e um ângulo de 60°, como destacado na figura.
uma circunferência quando todos os seus vértices pertencem Além disso, também sabemos que o apótema divide o lado AC
a ela. Um triângulo equilátero é aquele que possui todos os ao meio. Assim, o segmento PC da figura mede l/2.
lados congruentes. Como consequência disso, todos
os ângulos dele também são congruentes e medem 60°.

60
Depois desse procedimento, que também será usado na
próxima relação métrica, observe apenas o triângulo POC, em
destaque na imagem abaixo:

Se calcularmos o seno de 60° nesse triângulo, temos:


sen60° = l/2
r
√3 = l
2 2r
√3 = l
r As relações métricas permitem obter medidas de um triângulo
r√3 = l equilátero inscrito em uma circunferência
l = r√3

Apótema do triângulo equilátero inscrito é dado pela Relações Métricas no Hexágono Regular Inscrito
expressão:
a= r
2
Essa expressão é obtida a partir do cálculo do cosseno de 60° As relações métricas no hexágono regular inscrito são fórmulas
no triângulo POC da relação métrica anterior. Calculando usadas para calcular lado e apótema a partir da medida do raio
cosseno de 60°, temos: de uma circunferência.
cos60° = a Dizemos que um polígono está inscrito quando existe
r uma circunferência que contém todos os seus vértices. Além
1= a disso, um polígono é regular quando ele possui todos os lados
2 r com a mesma medida e seus ângulos internos são
r=a congruentes. Portanto, um hexágono regular inscrito é
2 um polígono que possui seis lados com a mesma medida e
Exemplo: seis ângulos internos congruentes e cujos vértices são todos
Calcule os comprimentos do apótema e do lado de pontos pertencentes a uma circunferência. Veja na figura
um triângulo equilátero inscrito em uma circunferência de abaixo um hexágono regular inscrito:
raio 20 cm.
Solução: Para calcular essas medidas, basta usar as fórmulas
dadas para descobrir o apótema e o lado
do triângulo equilátero, substituindo nelas a medida do raio
da circunferência.
Apótema:

a= r
2
a = 20
2
a = 10 cm

Lado:

l = r√3
As relações métricas no hexágono regular inscrito são
l = 20√3
fórmulas que podem ser usadas para encontrar a medida de
seu lado e a medida de seu apótema a partir apenas do raio
l = 20·1,73 da circunferência na qual ele está inscrito. Essas fórmulas
são:
l = 34,6 cm l=r

61
Em que o raio da circunferência é igual ao lado do hexágono Demostração das relações métricas
e: Primeiramente, sabendo que o triângulo ABP é equilátero, o
a = r√3 lado l do hexágono tem a mesma medida que o raio
2 da circunferência. Assim:
Nessa fórmula, a é o apótema e r é o raio da circunferência. l=r
Construções e elementos no hexágono inscrito Além disso, considere o triângulo OPB da imagem anterior e
Antes de discutir essas fórmulas, convém realizar algumas calcule o cosseno de 30°:
construções no hexágono a fim de que suas demonstrações Cos30° = a
tornem-se mais diretas. r
1º – Escolha dois vértices consecutivos do hexágono e √3 = a
construa os raios da circunferência que se ligam a eles. 2 r
Observe na imagem a seguir que esses raios são os segmentos r√3 = a
OA e OB, os quais, unidos ao segmento AB, formam um 2
triângulo: a = r√3
2
Exemplo: Calcule a medida do lado e do apótema de
um hexágono regular inscrito em uma circunferência de
raio 10 cm.
Lado: como l = r, teremos que l = 10 cm.
Apótema: Usando a fórmula encontrada, teremos:
a = r√3
2
a = 10√3
2
a = 5√3 cm.

2º – Trace o apótema do hexágono, que, na imagem acima, é


o segmento AP. O apótema é um segmento de reta que liga o
centro de um polígono a um de seus lados, formando com ele
um ângulo reto.
3º – Como o polígono é regular, o apótema também é
mediana do lado AB e bissetriz do ângulo AÔB.
4º – Observe que o ângulo AÔB mede 60°. Isso acontece
porque o polígono é regular, então, cada um de seus seis
ângulos centrais é igual a 360°/6 = 60°.

5º – Como os lados AO e BO do triângulo ABO são raios


da circunferência na qual o hexágono está inscrito, então,
eles são congruentes. Isso significa que esse triângulo é
isósceles e que os ângulos da base são iguais. Pela soma dos
ângulos internos do triângulo, concluímos que cada ângulo
interno de ABO mede 60°. Portanto, ele é um triângulo
equilátero.
Dadas essas propriedades, colocaremos todas as medidas
encontradas no triângulo ABO. Observe que, se o lado
do hexágono mede l, então, o segmento PB = l/2.
As relações métricas podem ser usadas para calcular medidas

do hexágono regular inscrito em uma circunferência

62
QUESTÕES DE CONCURSOS 7) Resolva a seguinte equação modular |3x-8 | = 13.
a) – 3 ou 2/3
1) Encontre a solução da equação modular: |x – 3| = 5 b) – 5/3 ou 7
a) 0 ou 6 c) – 2/3 ou 8
b) – 1 ou 8 d) 2 ou 5/2
c) 2 ou 6 e) 2/3 ou 6
d) – 2 ou 8
e) 2 ou 8

8) Encontre o conjunto solução da equação | 3x+2 | = x+1


a) – 3/4 ou – 1/2
b) – 5/3 ou 2/3
2) Resolvendo a equação modular |2x + 3| = 5, temos como c) – 1/3 ou 3/2
solução:
d) 2 ou 3/2
e) 1/3 ou 4
a) – 4 ou - 1
b) – 3 ou – 2
c) – 2 ou 0
d) 0 ou 3
e) 2 ou 4

9) Resolva a equação | 3x+1 | = | x-3 |.


a) – 1/4 ou 1/2
b) – 2 ou 1/2
c) – 2/3 ou 3/2
3) Resolva a equação modular |x + 3| = |2x – 1|. d) 2 ou 5/2
e) 2/3 ou 2
a) – 4 ou 2/3
b) - 2/3 ou 4
c) – 2 ou 3/4
d) 0 ou 3/2
e) 4 ou 8
10) As raízes reais da equação |xl 2 + |x| - 6 = 0 são tais que:

a) a soma delas é – 1.
b) o produto delas é – 6.
c) ambas são positivas.
4) (UFJF) O número de soluções negativas da equação modular d) o produto delas é – 4.
|5x – 6| = x² é: e) n.d.a.
a) 0
b) 1
c) 2
d) 3
e) 4

11) (UCSal) O maior valor assumido pela função y = 2 - ½ x -


2½ é:
5) (PUC SP) O conjunto solução S da equação |2x – 1| = x – 1
é: a) 1
a) S = {0, 2/3} b) 2
b) S = {0, 1/3} c) 3
c) S = Ø d) 4
d) S = {0, -1} e) 5
e) S = {0, 4/3}

6) Resolva a seguinte equação modular | x+3 | = 7.


a) – 6 ou 4
b) – 8 ou 6
c) – 10 ou 4
d) 4 ou 8
e) 6 ou 10

63
12) O gráfico abaixo mostra a produção de copos descartáveis 14) A área da figura abaixo é:
de uma fábrica, no período de 1995 a 2001.

a) 24 cm²
b) 30 cm²
c) 33 cm²
d) 36 cm²
e) 48 cm²

É correto afirmar que:


a) a menor produção da fábrica ocorreu em 1998.
b) de 1997 a 1998 a produção de copos diminuiu.
c) a produção de copos em 2000 foi aproximadamente o dobro 15) A área de uma sala com a forma da figura a seguir é de:
da produção de 1998.
d) em 2001 a produção de copos não sofreu alteração em
relação ao ano anterior.
e) a produção de 2001 apresentou um aumento de 200 milhões
de copos em relação à produção de 1995.

13) “Brasileiros investiram US$ 93 bi no exterior, grande parte


em países com baixa tributação.”
(O Globo 04/11/2005)
O gráfico abaixo mostra os recursos que vão para fora do país:

a) 30 m²
b) 26,5 m²
c) 28 m²
d) 24,5 m²
e) 22,5 m²

16) De uma chapa quadrada de papelão recortam-se 4 discos,


conforme indicado na figura. Se a medida do diâmetro dos
círculos é 10 cm, qual a área (em cm²) não aproveitada da
chapa?

Assinale a alternativa correta.


a) A diferença entre o capital brasileiro investido no exterior em
2001 e 2003 foi de US$ 140,94 bilhões.
b) Em 2002 o total de capital brasileiro investido no exterior foi
de US$ 72 325 000.
c) O investimento de capital brasileiro no exterior em 2004 foi
inferior 32% em relação a 2001.
d) O total de capital brasileiro investido no exterior em 2004 foi
de noventa e três bilhões e duzentos e quarenta e três mil
dólares.
e) Em 2004 houve um investimento de vinte bilhões e a) 40 - 20 π
novecentos e dezoito milhões de dólares a mais que em 2002. b) 400 - 20 π
c) 100 - 100 π
d) 20 - 20 π
e) 400 - 100 π

64
17) A figura adiante mostra a planta baixa da sala de estar de 19) A figura a seguir é formada por 3 quadrados iguais.
um apartamento. Sabe-se que duas paredes contíguas
quaisquer incidem uma na outra perpendicularmente e que AB
= 2,5 m, BC = 1,2 m, EF = 4,0 m, FG = 0,8 m, HG = 3,5 m e AH
= 6,0 m

Podemos afirmar que a área da região mais escura é,


aproximadamente:
a) 5,52 cm²
Qual a área dessa sala em metros quadrados?
b) 22,32 cm²
c) 89,30 cm²
a) 37,2
d) 52,46 cm²
b) 38,2
e) 198,81 cm²
c) 40,2
d) 41,2
e) 42,2

20) As varandas de dois apartamentos A e B, representados


pelas plantas abaixo, têm áreas equivalentes.
18) Na figura abaixo têm-se 4 semicírculos, dois a dois
tangentes entre si e inscritos em um retângulo

A varanda do apartamento A é quadrada e tem 11,6m de


Se o raio de cada semicírculo é 4cm, a área da região
perímetro. A área da varanda do apartamento B é igual a:
sombreada, em centímetros quadrados, é: (Use: π=3,1).
a) 11,6m²
a) 24,8
b) 8,41m²
b) 25,4
c) 7,84m²
c) 26,2
d) 5,8m²
d) 28,8
e) 4,205m²
e) 32,4

65
21) As medidas da área de três superfícies distintas (X, Y e Z) 23) (Enem - 2015) O esquema I mostra a configuração de uma
foram determinadas usando-se unidades de medida diferentes quadra de basquete. Os trapézios em cinza, chamados de
para cada superfície, como indica a tabela abaixo: garrafões, correspondem a áreas restritivas.

Visando atender as orientações do Comitê Central da


Federação Internacional de Basquete (Fiba) em 2010, que
unificou as marcações das diferentes ligas, foi prevista uma
modificação nos garrafões das quadras, que passariam a ser
retângulos, como mostra o Esquema II.

O resultado de cada medição foi o seguinte:


 Área da superfície X: 36 unidades
 Área da superfície Y: 14 unidades
 Área da superfície Z: 18 unidades
Quais destas superfícies têm áreas iguais?

a) X, Y e Z.
b) Apenas X e Y.
c) Apenas X e Z.
d) Apenas Y e Z.
e) As três superfícies têm áreas diferentes.
Após executadas as modificações previstas, houve uma
alteração na área ocupada por cada garrafão, que corresponde
22) Analise a figura a seguir: a um(a)
a) aumento de 5 800 cm2.
b) aumento de 75 400 cm2.
c) aumento de 214 600 cm2.
d) diminuição de 63 800 cm2.
e) diminuição de 272 600 cm2.

Sabendo que EP é o raio da semicircunferência de centro em


E, como mostra a figura acima, determine o valor da área mais
escura e assinale a opção correta. Dado: número π=3
a) 10 cm2
b) 12 cm2
c) 18 cm2
d) 10 cm2
e) 24 cm²

66
24) (CESGRANRIO) Márcia gostaria de dois vasos de madeira 26) Dada a figura a seguir e sabendo-se que os dois quadrados
idênticos para decorar a entrada da sua casa. Por só conseguir possuem lados iguais a 4cm, sendo O o centro de um deles,
comprar um do que mais gostou, ela decidiu contratar um quanto vale a área da parte preenchida?
marceneiro para construir outro vaso com as mesmas
dimensões. O vaso deve ter as quatro faces laterais em forma
de trapézio isósceles e a base é um quadrado.

a) 100
b) 20
c) 5
d) 10
e) 14

Sem levar em consideração a espessura da madeira, quantos


metros quadrados de madeira serão necessários para
reproduzir a peça?
a) 0,2131 m2
27) Na figura seguinte, estão representados um quadrado de
b) 0,1311 m2
lado 4, uma de suas diagonais e uma semicircunferência de raio
c) 0,2113 m²
2. Então a área da região hachurada é:
d) 0,3121 m²
e) 0,4042 m²

25) (SAP SP 2013) Ricardo esteve em um lançamento


imobiliário onde a maquete, referente aos terrenos, obedecia a
a) (π/2) + 2
uma escala de 1:500. Ricardo se interessou por um terreno de
b) π+ 2
esquina, conforme mostra a figura da maquete.
c) π+ 3
d) π+ 4
e) 2π+ 1

28) Na figura abaixo têm-se 4 semicírculos, dois a dois


tangentes entre si e inscritos em um retângulo

A área, em metros quadrados, desse terreno é de

a) 300.
b) 755.
c) 120.
d) 525.
e) 600
Se o raio de cada semicírculo é 4cm, a área da região
sombreada, em centímetros quadrados, é
(Use: π=3,1).

a) 24,8
b) 25,4
c) 26,2
d) 28,8
e) 32,4

67
29) O ponto O é o centro de uma circunferência de raio r, 33) (EsSA – 2019) Seja A uma matriz de ordem 3 tal que Det
conforme a figura. Se r = 4 cm, calcule a área da região (A) = 4. Então Det (2A) vale:
sombreada.
a) 34
b) 32
c) 30
d) 26
e) 22

34) ( EsSA – 2019) Considere as matrizes e

O valor de det (X.Y) é:


a) 4(π – 2) cm²
a) 0
b) 4(π – 3) cm²
b) 1
c) 4(2π – 2) cm²
c) 2
d) 2(π – 3) cm²
d) 3
e) 2(π – 2) cm²
e) 4

30) (EsSA - 2011) O valor de k real, para que o sistema

35) Sejam as matrizes: A = B = e A x B


seja possível e determinado, é:
= . O valor da soma x + y + z é:
a) k ≠ - 1/2
b) k ≠ 1/2 a) 1
c) k ≠ - 1/6 b) 2
d) k ≠ - 3/2 c) 3
e) k ≠ - 7/2 d) 4
e) 5

31) (EsSA – 2015) Sabendo-se que uma matriz quadrada é


invertível se, e somente se, seu determinante é não-nulo e que,
se A e B são duas matrizes quadradas de mesma ordem, então
det (A.B) = (det A).(det B), pode-se concluir que, sob essas
condições: 36) (UFRS) O sistema de equações
a) se A é invertível, então A.B é invertível.
b) se B não é invertível, então A é invertível.
c) se A.B é invertível, então A é invertível e B não é invertível.
d) se A.B não é invertível, então A ou B não é invertível.
e) se A.B é invertível, então B é invertível e A não é invertível.

tem solução se e só se o valor de a é:

a) 6
b) 5
32) (EsSA – 2018) Dadas as matrizes . c) 4
Considerando que a equação matricial A.X = B tem solução d) 2
única, podemos afirmar que: e) zero

a) k ≠ 2
b) k ≠ 3
c)
d) k ≠ 5
e) k ≠ 6

68
40) (Unifor-CE) Sejam as matrizes

37) (Mackenzie) Com relação ao sistema ,k


∈ R, considere as afirmações:

I. É indeterminado para um único valor de k.


II. Sempre admite solução, qualquer que seja k.
III. Tem solução única, para um único valor de k. Se A.B = C, então é verdade que:

Das afirmações acima: a) x = y


b) z = 2y
a) somente I está correta. c) x + y = –1
b) somente I e II estão corretas. d) y + z = 0
c) somente II e III estão corretas. e) x . y = –1
d) nenhuma está correta.
e) todas estão corretas.

41) (UFMS) O sistema obtido da equação matricial

38) (U. Potiguar-RN) A equação

é:

a) Possível e indeterminado.
b) Impossível.
c) Possível e determinado com solução (2, 1, –1).
= 0 tem raízes reais. Logo a soma das raízes é igual a:
d) Possível e determinado com solução (1, 1, 2).
e) Possível e determinado com solução (– 1, 1, 2).
a) 1
b) 6
c) 2
d) –3
e) 4

42) Se A = (aij) é matriz quadrada de ordem 3 tal que aij = i – j


então podemos afirmar que o seu determinante é igual a:
a) 0
b) 1
c) 2
d) 3
e) -4
39) (UEMS) Considere o seguinte sistema linear:

43) Calcule o determinante da matriz:

Assinale a alternativa correta:

a) o sistema é indeterminado;
b) x – y = – 1; a) 10
c) o sistema é impossível; b) 12
d) x + y = 3; c) 13
e) 2x + y = 0. d) 15
e) 20

69
44) (EsSA – 2011) Sabe-se que 1, a e b são raízes do polinômio 49) (EsSA – 2016) O conjunto solução da equação x³ – 2x² –
p(x) = x³ – 11x² + 26x – 16, e que a > b. Nessas condições, o 5x + 6 = 0 é:
valor de é: a) {- 3; - 1; 2}
b) {- 0,5; - 3; 4}
a) 49/3 c) {- 3; 1; 2}
b) 193/3 d) {- 2; 1; 3}
c) 67 e) {0,5; 3; 4}
d) 64
e) 19

50) (EsSA – 2019) Identifique a alternativa que apresenta o


produto das raízes da equação 5.x³ - 4.x² + 7.x – 10 = 0.
45) (EsSA – 2014) Para que o polinômio do segundo grau A(x) a) 2
= 3x² - bx + c, com c > 0 seja o quadrado do polinômio B(x) = b) 1
mx + n, é necessário que: c) 0
d) – 1
a) b² = 4c e) – 2
b) b² = 12c
c) b² = 12
d) b² = 36c
e) b² = 36

51) (EsSA – 2019) Qual a soma dos coeficientes dos termos do


desenvolvimento de ?

a) 68
b) 64
46) (EsSA – 2015) Sendo o polinômio P(x) = x³ + 3x² + ax + b c) 60
um cubo perfeito, então a diferença a – b vale: d) 56
e) 50
a) 3
b) 2
c) 1
d) 0
e) – 1 52) (EsSA -2020) Dado o polinômio
Analise as informações a
seguir:

I. O grau de p(x) é 5.
II. O coeficiente de x³ é zero.
47) (EsSA – 2015) Uma equação polinomial do 3º grau que III. O valor numérico de p(x) para x = - 1 é 9.
admite as raízes – 1, - 1/2 e 2 é: IV. Um polinômio q(x) é igual a p(x) se, e somente se, possui
mesmo grau de p(x) e os coeficientes são iguais. É correto o
a) x³ - 2x² - 5x - 2 = 0 que se afirma em:
b) 2x³ - x² - 5x + 2 = 0
c) 2x³ - x² + 5x - 2 = 0 a) I apenas
d) 2x³ - x² - 2x - 2 = 0 b) I e II apenas
e) 2x³ - x² - 5x - 2 = 0 c) I, II e III apenas
d) II, III e IV apenas
e) I, III e IV apenas

48) (EsSA – 2016) O grau do polinômio (4x – 1).(x² – x – 3).(x +


1) é:

a) 6
b) 5
c) 3
d) 4
e) 2

70
53) (EsSA – 2019) O valor que deve ser somado ao polinômio 57) (Unirio) Numa cidade do interior, à noite, surgiu um objeto
2x³ + 3x² + 8x + 15 para que ele admita 2i como raiz, sendo i a voador não identificado, em forma de disco, que estacionou a
unidade imaginária é: 50 m do solo, aproximadamente. Um helicóptero do exército,
situado a aproximadamente 30 m acima do objeto, iluminou-o
a) – 3 com um holofote, conforme mostra a figura anterior. Sendo
b) – 2 assim, pode-se afirmar que o raio do disco mede, em m,
c) 0 aproximadamente:
d) 1
e) 2

54) Sabendo que 12 é raiz de p(x) = x² – mx + 6, determine o


valor de m.

a) 6
b) 2
c) 1
d) 7/4
e) 25/2

a) 3,0
b) 3,5
c) 4,0
d) 4,5
e) 5,0

55) Fornecido o polinômio p(x) = 2x³ – 6x² + mx + n, se p(2) = 0


e p(–1) = –6, determine os valores de m e n.

a) m = 1 e n = 2
b) m = 2 e n = 4
c) m = 3 e n = 4 58) (Cefet 2015) A ilustração a seguir representa uma mesa de
d) m = 4 e n = 5 sinuca retangular, de largura e comprimento iguais a 1,5 e 2,0
e) m = 4 e n = 6 m, respectivamente. Um jogador deve lançar a bola branca do
ponto B e acertar a preta no ponto P, sem acertar em nenhuma
outra, antes. Como a amarela está no ponto A, esse jogador
lançará a bola branca até o ponto L, de modo que a mesma
possa rebater e colidir com a preta.

56) (Aeronáutica) Seja a equação polinomial x³ + bx² + cx + 18


= 0. Se –2 e 3 são suas raízes, sendo que a raiz 3 tem
multiplicidade 2, o valor de “b” é

a) 8
b) 6
c) -3
d) -4
e) 0

Se o ângulo da trajetória de incidência da bola na lateral da


mesa e o ângulo de rebatimento são iguais, como mostra a
figura, então a distância de P a Q, em cm, é aproximadamente

a) 67
b) 70
c) 74
d) 81
e) 90

71
59) (Enem 2013) O dono de um sítio pretende colocar uma 61) (Puccamp) Os triângulos ABC e AED, representados na
haste de sustentação para melhor firmar dois postes de figura a seguir, são semelhantes, sendo o ângulo ADE
comprimentos iguais a 6 m e 4 m. A figura representa a situação congruente ao ângulo ACB
real na qual os postes são descritos pelos segmentos AC e BD
e a haste é representada pelo segmento EF, todos
perpendiculares ao solo, que é indicado pelo segmento de reta
AB. Os segmentos AD e BC representam cabos de aço que
serão instalados.

Se BC = 16 cm, AC = 20 cm, AD = 10 cm e AE = 10,4 cm, o


perímetro do quadrilátero BCED, em centímetros, é
Qual deve ser o valor do comprimento da haste EF?
a) 32,6
a) 1 m b) 36,4
b) 2 m c) 40,8
c) 2,4 m d) 42,6
d) 3 m e) 44,4
e) 26 m

62) (Mack) No triângulo retângulo em A da figura a seguir, h


60) (Epcar – 2016) Um terreno com formato de um triângulo pode ser:
retângulo será dividido em dois lotes por uma cerca feita na
mediatriz da hipotenusa, conforme mostra figura.

a) 2a/3.
b) 3a/4.
c) 4a/5.
d) 3a/5.
e) 2a/5.

Sabe-se que os lados AB e BC desse terreno medem,


respectivamente, 80 m e 100 m. Assim, a razão entre o
perímetro do lote I e o perímetro do lote II, nessa ordem, é

e) N.R.A

72
63) (UFPE) Na figura abaixo, ABD e BCD são triângulos 65) (USP) Para construir a pipa representada na figura ao lado
retângulos isósceles. Se AD = 4, qual é o comprimento de DC? pelo quadrilátero ABCD, foram utilizadas duas varetas, linha e
papel.

a) 4√2
b) 6
c) 7
d) 8 As varetas estão representadas pelos segmentos AC e BD. A
e) 10 linha utilizada liga as extremidades A, B, C e D das varetas, e o
papel reveste a área total da pipa.

Os segmentos AC e BD são perpendiculares em E, e os ângulos


ABC e ADC são retos. Se os segmentos AE e EC medem,
64) (Enem) respectivamente, 18 cm e 32 cm, determine o comprimento total
da linha, representada por AB + BC + CD + DA.
a) 80 cm
b) 100 cm
c) 120 cm
d) 140 cm

66) Observe os trapézios a seguir e determine o valor de x.

Na figura acima, que representa o projeto de uma escada com


5 degraus de mesma altura, o comprimento total do corrimão é
igual a

a) 1,8 m.
b) 1,9 m.
c) 2,0 m. a) 8
d) 2,1 m. b) 7
e) 2,2 m. c) 6
d) 5
e) 4

73
67) Na figura, as medidas estão em centímetros. Determine x. 70) Qual o valor de x na figura?

a) 6
a) 5 cm b) 8
b) 6 cm c) 10
c) 7 cm d) 12
d) 8 cm e) 14
e) 9 cm

68) Qual o valor de y na figura? As medidas indicadas estão em 71) O valor de x na figura é:
centímetros.
a) 1
b) 4
3
c) x 3
5
20
d) 2 10
3

e) 5

a) 2,5 cm
b) 3,0 cm
c) 3,5 cm
d) 4,0 cm
e) 5,0 cm 72) Num círculo, a corda CD é perpendicular ao diâmetro
AB no ponto E. Se AE  EB  3 , a medida de CD é:

C
a) 3
69) O valor de x na figura é:
b) 3 x
c) 2 3 A E B
d) 3 3 x
D
e) 4

a) 3/5
b) 20/3
c) 4
d) 1
e) 5

74
76) Na figura seguinte, são dados: PC  AB  6cm
73) Duas cordas cortam-se no interior de um círculo. Os
4cm e
segmentos da primeira são expressos por 3x e x  1 e os . A medida do segmento PB, em cm é:
da Segunda por x e 4 x  1 . O comprimento da maior corda,
qualquer que seja a unidade, é expresso pelo número:

a) 17 a) 2 A
b) 19 b) 3
c) 21 c) 1,5 B
d) 30 d) 2,5 P
e) 32 e) 3,5

77) (FATEC-SP) Se os catetos de um triângulo retângulo T,


74) O Valor de x na figura é:
medem, respectivamente, 12 cm e 5 cm, então a altura de T
relativa à hipotenusa é:
a) 3 6
b) 4,8 4
c) 7,5 a) 12/5 m

1 b) 5/13 m
d) 3 5 x c) 12/13 m
3
d) 25/13 m
e) 5
e) 60/13 m

78) Sabe-se que a altura de um triângulo retângulo mede 48


75) Na figura, AB  7m, AD  6m e DE  4m . Então, BC é igual cm e a medida de um dos catetos é igual a 60 cm. A projeção
desse cateto sobre a hipotenusa é:
a:
a) 33
a) 3m E b) 34
c) 35
b) 5m D d) 36
c) 11 m e) 37
A
d) 12 m
e) n. d. a B
C
79) (Cesgranrio-RJ) Num triângulo retângulo em A, a altura
relativa à hipotenusa mede 12, e o menor dos segmentos que
ela determina sobre a hipotenusa, 9. O menor lado do triângulo
mede:

a) 12,5
b) 13
c) 15
d) 16
e) 16,5

75
80) Dois fios, de comprimentos 1,5 m e 1,3 m, estão 82) Calcule o valor de x:
perfeitamente esticados e presos no topo de uma haste,
perpendicular ao solo, conforme mostra a figura.

6 x

8
Sabendo que a espessura da haste é 5 cm, então a distância, a) 24/7
em metros, entre os pontos B e C é b) 13/5
c) 7/4
a) 1,65 d) 5
b) 1,60 e) 4
c) 1,55
d) 1,50
e) 1,45 83) Na figura abaixo a medida de x vale:
A
a) 11,25 10
b) 11,75
c) 12,25 15
d) 12,75 15
81) Calcular x: e) n.r.a x

D B C
20

A 4 E
C x 84) Na figura abaixo, o raio r da circunferência mede 8cm. Se
3 os arcos AB, BC e BD representam semicircunferências, então
o valor da área em negrito, em cm², é:
B

a) 9
b) 8
c) 7
d) 6
e) 5

a) 64
b) 32
c) 24
d) 16
e) 8

76
85) Determine a medida do lado do polígono regular abaixo: 87) Determine as medidas do lado e do apótema do polígono
regular abaixo:

1,5 cm

O O
4

a) 2 a) L =12 e Ap = 2 3
b) 2 2
b) L =10 e Ap = 2 3
c) 3 2
c) L =8 e Ap = 2 3
d) 1,5 2
d) L =12 e Ap = 3 3
e) 2,5 2
e) L =10 e Ap = 3 3

86) Determine as medidas do lado e do apótema do polígono


88) Semicircunferências são traçados sobre os lados de um
regular abaixo: quadrado cujo lado mede 10 cm. Calcular a área das quatro
pétalas pintadas na figura ao lado.

O
8 cm

a) L = 6 e Ap = 3 3 ...
b) L = 6 e Ap = 5 3
a) (20π−80) cm²
c) L = 8 e Ap = 2 3 b) (30π−90) cm²
c) (50π−100) cm²
d) L = 8 e Ap = 3 3 d) (60π−100) cm²
e) L = 8 e Ap = 4 3 e) (60π−120) cm²

GABARITO
1–d 2–a 3–b 4–e 5–a 6–c 7–b 8–a
9 – b 10 – d 11 – b 12 – c 13 – e 14 – b 15 – b
16 – e 17 – e 18 – d 19 – d 20 – b 21 – c 22 – b
23 – a 24 – d 25 – d 26 – e 27 – b 28 – d 29 – a
30 – d 31 – d 32 – c 33 – b 34 – a 35 – c 36 – b
37 – d 38 – a 39 – e 40 – e 41 – e 42 – a 43 – d
44 – c 45 – b 46 – b 47 – e 48 – d 49 – d 50 – a
51 – b 52 – c 53 – a 54 – e 55 – b 56 – d 57 – a
58 – a 59 – c 60 – d 61 – e 62 – e 63 – d 64 – d
65 – d 66 – b 67 – b 68 – d 69 – a 70 – c 71 – c
72 – c 73 – b 74 – a 75 – e 76 – a 77 – e 78 – d
79 – c 80 – e 81 – b 82 – a 83 – a 84 – c 85 – d
86 – e 87 – a 88 – c.

77
78
G
E
O
G
R
A
F
I
A
80
1. REVISÃO DE ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS EM GEOGRAFIA

Argumentos para a revisão conceitual: a abordagem é elementar, isto porque refere-se a conceitos do atual ensino
fundamental e muitos alunos não se lembram ou ainda têm dúvidas. É necessária muita atenção na leitura dos textos e,
principalmente, nas questões durante as provas. Pois, o eixo da questão pode estar na localização do fenômeno
contextualizado.
Estes conceitos não serão comentados individualmente ao longo das aulas, salvo quando manifestado pelo(s) aluno(s).
Logo, não deve(m) deixar passar quaisquer dúvidas durante as aulas. Isto porque a(s) mesma(s) pode(m) se transformar
em dívida(s) na hora da prova!!!!!
Qual será a reação do candidato???

1.1 - Regionalização dos continentes: EUROPA

Mesmo tendo a segunda menor extensão territorial do mundo, o continente europeu possui grandes diversidades
espaciais ao longo da sua área. Formada por muitos países de espaços territoriais pequenos e médios, com exceção da
Rússia (maior país do mundo), a Europa é palco de várias regionalizações caracterizadas pelas diferenças físicas e
socioeconômicas. Com uma grande história sobre as sociedades geradas neste continente, analisar cada nação europeia
requer sempre um trabalho complexo, pois necessitamos conhecer o seu passado para compreender suas questões atuais.
Dessa forma, divide-se a Europa em seis regiões: Europa Nórdica, Europa Central, Península Ibérica, Leste Europeu,
Península dos Bálcãs e Países Bálticos.

Europa Nórdica - Situada no extremo norte da Europa, os países Nórdicos são caracterizados por serem de alto padrão de
vida social e economias estáveis. Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia fazem parte desta região, demonstrando
que problemas sociais não são temas desses países. Com índices de renda per capta entre US$ 19.000 (o valor mais baixo)
até US$ 28.000, essas nações estão a anos-luz da realidade mundial. Particularmente, a Noruega que, segundo o IDH
81
(ONU) tem sido classificado entre os cinco maiores nos últimos 15 anos. O padrão de vida nórdico chega a diferenciar-se do
padrão europeu. Com pouca população e muito dinheiro circulando em seus territórios, esses países distribuem muito bem
suas riquezas. No campo físico, a região é muito conhecida pelos fiordes noruegueses que estão na península Escandinava
(Noruega e Suécia), enquanto a ilha da Islândia, que se situa bem afastada da massa continental europeia, possui grandes
processos vulcânicos por estar numa falha tectônica. Outro fato interessante da Europa Nórdica, é o acontecimento do “sol
da meia-noite” (no verão) e da aurora boreal (no inverno). Isto é possível em virtude de a região estar localizada na
proximidade do Polo Norte (países setentrionais).

Europa Central - Conhecida também como centro geoeconômico da Europa, por agrupar os países mais ricos e influentes
em questões mundiais, essa região é na verdade o coração europeu em todos os sentidos. Esta área é formada por doze
nações que são difundidas em todo o mundo como governantes da União Europeia (UE), pois nesta região está localizada
a sede da UE em Bruxelas, capital da Bélgica. Países como: Alemanha, Reino Unido, França e Itália, são grandes potências
econômicas e também participam como membros do G-7, e Áustria, Bélgica, Irlanda (Eire), Holanda, Luxemburgo,
Liechtenstein, Suíça, Mônaco, San Marino e Vaticano dão suporte econômico para a União Europeia. Os países dessa região
possuem economias estáveis e bons níveis de vida. O território da Europa Central é caracterizado por diferentes formas de
relevo, podemos encontrar desde extensas planícies (como na região dos Países Baixos – Holanda) até grandes montanhas,
onde está localizado o Mont Blanc (Monte Branco) com 4.810 metros de altitude (ponto mais alto da Europa), situado na
região dos Alpes, entre a França e a Itália.

Península Ibérica - São três nações que compõem esta região: Andorra, Espanha e Portugal. Mas nem por isso deixa de
ter significativa importância para a Europa. Esses países (Espanha e Portugal) foram grandes potências na época da
colonização das Américas, sendo que atualmente suas influências estão mais relacionadas com o continente europeu.
Participam da União Europeia desde a sua criação e são grandes produtores agrícolas na Europa por terem suas terras em
latitude mais baixa, o que condiciona um clima mais quente do que outros países do continente. São grandes os atrativos
turísticos da região, tanto suas famosas praias mediterrâneas, como pelas questões históricas. O relevo da região é muito
peculiar, pois se tem áreas de montanhas (Serra Nevada) e extensas planícies e planaltos. O nome Ibérica provém da
península em que se localizam essas nações.

Leste Europeu - Com a maior extensão territorial das divisões regionais da Europa, o Leste Europeu é composto por países
originados com o fim da Guerra Fria e com nações que faziam parte do bloco socialista da Europa. Em consequência deste
fato, a inserção na EU dependeu de muitos investimentos dos vizinhos ocidentais e rigorosos ajustes na economia, que
geraram crises, principalmente na década atual. Alguns deles também se uniram para reunir forças e formaram a CEI (ex-
URSS). Esta região é “liderada” pela Rússia, mas possui outras nações importantes e conhecidas: Polônia, Romênia,
Hungria, República Tcheca, Ucrânia, Eslováquia, Moldávia, Belarus, Geórgia, Armênia e Azerbaidjão. No que se refere ao
relevo local podemos citar os montes Urais, que fazem a divisão da Europa com a Ásia, e extensas planícies que são áreas
agrícolas de suma importância para estes países.

Península dos Balcãs ou Balcânica - Conhecida nos últimos anos como palco da Guerra da Iugoslávia, essa região está
mergulhada em diversos problemas de ordem sociais e econômicos, onde Iugoslávia, Croácia, Bosnia-Herzegovina e
Macedônia levarão anos para se reestruturar internamente. Porém, Grécia, Bulgária, Eslovênia, Albânia e Turquia (parte
europeia), antes da crise econômica e imigratória atual não se encontravam em situação tão precária, vale destacar que a
Grécia é um país-membro da União Europeia desde a sua criação. Em consequência da guerra nos Balcãs, a região
necessitou de ajuda financeira internacional pois teve sérios problemas em sua infraestrutura. Por outro lado, observamos o
turismo grego se destacando no panorama mundial. Caracterizado por regiões montanhosas, os Balcãs possuem um relevo
peculiar ao longo de sua extensão, encontrando planícies somente no norte desta região.

Países Bálticos - Tendo o menor território de todas as regiões da Europa, os Países Bálticos são formados por três nações
provindas do extinto mundo socialista: Estônia, Letônia e Lituânia. Vale lembrar que esta região possui este nome em razão
do mar que banha essas três nações, o Mar Báltico. Estes países conseguiram sua independência com o fim da URSS e
este fato se explica o atraso deles em relação aos vizinhos ocidentais. As empresas de celulose e pesqueiras têm investido
muito na modernização. Desde o fim da URSS se manifestaram a favor da inserção na UE. As três nações se uniram de tal
forma que é muito difícil relacionar uma delas sem pensar na outra, isto pode ser explicado pela proximidade geográfica,
cultural e religiosa que elas possuem. A região é caracterizada por extensas planícies, mas também é composta por
montanhas em seu interior.

82
AMÉRICAS

ÁFRICA
Regionalização do continente africano - Quem tem alguma noção do processo histórico de ocupação e partilha da África
entre as potências europeias, bem como de sua descolonização, regionalizar o continente africano não é uma tarefa nada
fácil, tendo em vista a coexistência de fronteiras artificiais herdadas pela partilha de seu território. As formas de regionalização
mais usuais de dividir a África são baseadas na divisão regional política e/ou na divisão regional étnica.
1. Divisão Regional Política - De acordo com a sua divisão político-administrativa e a localização dos países, o continente
africano se apresenta dividido em 5 regiões. Alguns autores consideram 6 regiões, pois consideram a “África do oceano
Índico” (ou África Indo-Oceânica) como uma região distinta, desarticulando-a da “África Oriental”.
Outras divisões regionais políticas, no entanto, não conferem as mesmas áreas das regiões.
A divisão, aqui, apresentada foi extraída do material didático do curso sobre o Continente Africano oferecido pelo CEDERJ.
E, de acordo com este, politicamente, o continente apresenta-se dividido nas seguintes regiões:

I. África Setentrional ou do Norte:


distribuídos sob 2 sub-regiões: o
Machrsch (leste) e o Magreb (oeste);
II. África Ocidental;
III. África Central;
IV. África Oriental: disposta em duas
sub-regiões, a Norte-Oriental (Chifre da
África) e a Centro-Oriental;
V. África Meridional ou Austral.

83
2. Divisão Regional Étnica - Esta divisão
se baseia na grande diversidade étnico-
cultural do continente africano. E, em linhas
gerais, o continente é dividido em dois
grandes complexos regionais, a saber:
I. África Branca ou Setentrional (Norte):
constituída por 5 países e o território de
Saara Ocidental. Alguns autores, no
entanto, incluem Mauritânia nesta região,
que se caracteriza pelo predomínio da
população branca, de influência árabe e
islâmica. Alguns autores denominam-na
com “África do Norte ou Islâmica”.
Embora todos sejam subdesenvolvidos,
mas comparados com os demais países
africanos, apresentam melhores
indicadores sociais e econômicos.
O deserto do Saara representa um
obstáculo natural da África Branca, se
constituindo em uma área anecúmena, ou seja, de baixa densidade demográfica.
Áreas de difícil acesso e fixação do homem.
II. África Negra ou Subsaariana: esta região é formada por 48 países, sendo predominantemente de população negra.
Esta região é caracterizada por uma grande diversidade étnico-cultural (povos, línguas, religiões etc.), correspondendo a
área do continente africano marcada pelo subdesenvolvimento crônico, pelos conflitos armados, epidemias, Aids, miséria,
desnutrição, fome, entre outros problemas socioeconômicos.

ÁSIA - A Ásia está localizada a leste do meridiano de Greenwich, ou seja, no Oriente, o continente está situado no hemisfério
norte. De todos os continentes existentes, a Ásia é o maior, sua área é de 44 milhões de quilômetros quadrados.
Os limites de fronteira que existem no continente asiático são: ao norte, Oceano Glacial Ártico; ao sul, Oceano Índico; a leste,
Oceano Pacífico; a oeste, Mar Vermelho, que o separa do continente africano, o Mar Mediterrâneo e os Montes Urais que o
separa da Europa.
Além de ser o maior continente do mundo, abriga cinco dos dez países mais populosos do planeta, são eles:
- China (1,402 bilhões habitantes), Índia (1,380 bilhão), Indonésia (234 milhões), Paquistão (180 milhões), Bangladesh (162
milhões), Japão (127 milhões).
O produto da soma de todos os países citados representa, aproximadamente, 60% ou 4,1bilhões do total da população do
planeta.

84
OCEANIA

A Oceania tem 8.923.000 Km², dos quais 85% correspondem à Austrália. É um conjunto de ilhas situadas no Oceano
Pacífico. Dividido em três grupos de ilhas: Melanésia ou “ilhas negras”; de Micronésia, as “pequenas ilhas”; e Polinésia,
compreende o maior número de ilhas.
A Austrália e a Nova
Zelândia localizam-se na
Oceania ou Novíssimo
Continente, são países
desenvolvidos do continente.
Os demais são
economicamente
dependentes. São os únicos
países do chamado Norte
industrializado ou mundo
desenvolvido que se situam ao
sul do Equador.
A Nova Zelândia é um
arquipélago constituído por
duas ilhas principais e outras
menores, localizadas ao sul da
Oceania.
Alguns de seus países procuram desenvolver o turismo ou atrair investimentos estrangeiros com isenção de impostos
e garantia de anonimato, o que os caracteriza como "paraísos fiscais".

1.2 - Há outras formas de regionalização que todos conhecem

85
1.3 - Conteúdo político-ideológicos dos mapas: projeções de Mercator e Peters

A primeira vista você pode estranhar o mapa-múndi apresentado, que pode dar a impressão de estar “invertido” e
“distorcido”. Isso acontece porque estamos acostumados a observar os mapas “normais” centrados na Europa, com o
hemisfério norte acima do sul, e, em geral, com as terras do hemisfério norte desproporcionalmente maiores. Como o nosso
planeta é esférico, podemos representá-lo tendo qualquer ponto como centro. A opção entre diferentes representações
cartográficas não é simplesmente técnica, mas, também, política ou geopolítica. Na verdade, qualquer mapa contém uma
visão de mundo e um conteúdo político-ideológico.

Projeções de Mercator e Peters: Diferentes maneiras de ver o Mundo


Projeção de Mercator:
- Nesta projeção os meridianos e os paralelos são linhas
retas que se cortam em ângulos retos.
- Manteve as formas dos continentes, mas não respeitou
as proporções reais.
- Nela as regiões polares aparecem muito exageradas.
- Favorece as desigualdades econômicas, pois amplia de
maneira desigual, e aumenta mais o Hemisfério Norte.
- Excelente para a navegação.
- Perfeita nos ângulos e formas.
- Coloca a Europa no centro do mapa (Eurocentrismo).

86
Projeção de Peters:
- Alterou as formas em para manter as reais
proporções dos continentes.
- Apesar de deformar a forma dos continentes, esta
projeção mantém a área proporcional dos continentes,
mais próxima do tamanho real.
- Destaque ao continente Africano no centro do mapa.
- Propostas de Peters: Valorização do mundo
subdesenvolvido, mostrando sua área real.

Lembre-se:
"por trás de cada mapa, sempre existe um
conteúdo Político-Ideológico".

1.4 - Atenção aos Estreitos!


Em Geografia, um estreito é um canal de água que une dois corpos aquosos e separa duas massas de terra.
Os estreitos fazem por vezes parte de rotas comerciais importantes e por isso têm relevância estratégica, do
ponto de vista econômico e militar.
Quando os lados dos estreitos estão em países que tenham disputas envolvidas - a relevância, do ponto de
vista geopolítico, é maior ainda!
Nesse Módulo destacaremos os principais. Nem todos representam, no momento, preocupação no ambiente
das relações internacionais.
Não apresentaremos quaisquer textos pormenorizando informações a respeito de qualquer um dos estreitos,
mas sugerimos que você desperte interesse e procure informações a respeito daqueles que exercem papel relevante
na circulação econômica ou que estejam sob disputa entre países.
Durante as aulas serão apresentadas informações pertinentes a relevância de alguns dos estreitos que
citaremos a seguir.

87
88
89
90
2. O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO

2.1 - Breve caracterização


Sistema econômico que se desenvolveu na Europa com a crise do feudalismo e se expandiu econômica e
territorialmente pelo mundo a partir do século XVI e sobrepôs-se a outros sistemas de produção, até se tornar hegemônico.
No capitalismo é caracterizado por um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade
privada e com fins lucrativos; decisões sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investimentos devem ser equilibrada
pelo mercado e não pelo governo como ocorre no socialismo, os lucros são distribuídos para os proprietários que investem
em empresas e pagam salários aos trabalhadores com interesse sempre no lucro.
Desde o século XVI vem se transformando e passou por diversas etapas marcadas por características diferentes no
que tange às relações de produção e de trabalho (1ª, 2ª e 3º R.I.) , às tecnologias empregadas e às doutrinas que orientam
seu funcionamento (mercantilismo, liberalismo, keynesianismo e neoliberalismo).
O capitalismo é também chamado de economia de mercado tem como base o lucro, a propriedade privada e o
pluripartidarismo. Considerando seu processo de desenvolvimento, costuma- se dividir o capitalismo em quatro etapas:
comercial, industrial, financeira e informacional.
Quais são as características mais importantes de cada uma das etapas do processo de desenvolvimento do
capitalismo?
O que diferencia o capitalismo em seu atual momento de expansão das etapas precedentes?
Como as mudanças nesse sistema econômico levam a transformações no espaço geográfico?
É o que veremos a seguir.

2.2 - O capitalismo comercial - Séc. XVI até a primeira metade do séc. XVIII
O capitalismo comercial estendeu-se do fim do século XV até o século XVIII. Durante esse período a produção de
mercadorias era essencialmente artesanal e a maior fonte de riquezas era o comércio. Tudo o que pudesse ser vendido com
muito lucro, como perfumes, sedas tapetes, especiarias e até mesmo seres humanos escravos, transformava-se em
mercadoria nas mãos dos comerciantes europeus.
Essas transações comerciais se intensificaram com a expansão marítima das potências econômicas da Europa
ocidental na época (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Países Baixos) em busca de novas rotas de comércio, sobretudo
para as Índias. Foi o período das Grandes Navegações, descobrimentos de novas terras e povos, das conquistas territoriais
e da escravização e genocídio de milhões de nativos da América e da África. Com as Grandes Navegações, as trocas
comerciais proporcionaram grande acúmulo de capitais por parte dos Estados europeus por isso a primeira etapa desse
sistema econômico é chamada capitalismo comercial. Ou seja, quase todo o lucro acumulado pelos capitalistas
era oriundo do comércio. Tem início o processo de globalização.
Nesse período a riqueza e o poder de um país eram medidos pela quantidade de metais preciosos acumulados, prática
conhecido como Metalismo. Para garantir a acumulação de metais os países europeus, as metrópoles, colonizaram vários
territórios em outros continentes, sendo que no início nas Américas, e o mundo foi dividido entre as potências europeias da
época. O objetivo das metrópoles eram explorar os metais preciosos presentes nas colônias período conhecido como
Colonialismo. As regiões colonizadas no início da expansão marítima formaram o chamado "comércio triangular": produtos
europeus para a África, escravos africanos para as colônias americanas e produtos tropicais americanos para a Europa.
Os metais preciosos eram explorados das colônias e proporcionou grande acúmulo de riquezas nos países europeus,
principalmente à Inglaterra, que emerge como principal potência no final desse período. Esse acúmulo inicial de capitais foi
fundamental para a eclosão da Revolução Industrial, que marcou o começo de uma nova etapa do capitalismo chamado
de Capitalismo industrial, já no século XVIII.

2.2.1 - Doutrina: Mercantilismo


A economia, nessa fase inicial de expansão do capitalismo, funcionava segundo a doutrina mercantilista, que
defendia a intervenção governamental nas relações comerciais, a fim de promover a prosperidade nacional e aumentar o
poder dos Estados. O poder político estava centralizado nas mãos dos monarcas, ou seja do governo.

2.3 - O capitalismo industrial - Segunda metade do séc. XVIII até a segunda metade do séc. XIX
O comércio não era mais a essência do sistema, embora continuasse importante para fechar o ciclo produção-
consumo. Nessa nova fase, o lucro provinha principalmente da produção de mercadorias com auxílio de máquinas, que
tornaram a produção mais rápida, realizada por trabalhadores assalariados que sofria e ainda sofre com a mais-valia. O
lucro se dava com a produção em quantidade de tecidos, máquinas, ferramentas e armas. E com os rápidos avanços nos
transportes, com o surgimento dos trens e dos barcos a vapor, aumentavam os ganhos dos capitalistas.
É com o capitalismo industrial que se consolida um mecanismo da exploração capitalista, definindo como mais-valia.
A mais valia é resultado da grande diferença da remuneração que o trabalhador ganha com o que ele produz. Toda jornada
de trabalho corresponde a uma remuneração, que garantirá a subsistência do trabalhador. No entanto, o trabalhador produz
um valor maior de produtos do que aquele que recebe como salário. Essa quantidade produtos, produzidas pelo trabalho e
que não é pago ao trabalhador, é o lucro que fica com os proprietários das fábricas, fazendas, minas, lojas e outros
empreendimentos. Dessa forma, em todo produto ou serviço está embutido esse valor, que é apropriado pelo dono desses
meios de produção e permite o acúmulo de lucro pela burguesia (a classe dos capitalistas do período).
O regime assalariado é, portanto, a relação de trabalho mais adequada ao capitalismo e se disseminou à medida que
91
o capital se acumulava em grande escala nas mãos dos donos dos meios de produção. O aumento da produção desse
período motivado pelas máquinas provocou uma crescente necessidade de expansão dos mercados consumidores para
consumir a produção em larga escala. Ao mesmo tempo o trabalhador assalariado, além de apresentar maior produtividade
que o escravo, tem renda disponível para o consumo. Por isso a escravidão entrou em decadência e o trabalho assalariado
passou a predominar, embora ainda hoje exista escravidão no mundo, até mesmo no Brasil. A Inglaterra foi o país que mais
incentivou o fim da escravidão com interesse em ampliar o mercado consumidor dos seus produtos industrializados.

2.3.1 - Primeira Revolução Industrial


Nas primeiras décadas do século XVIII, o Reino Unido da Grã-Bretanha (formado em 1707 com a unificação entre a
Inglaterra e a Escócia) comandou a primeira Revolução Industrial que deu início a uma nova fase do capitalismo, o
capitalismo industrial. A revolução motivada principalmente pela inclusão de máquinas nas fábricas, que antes só
funcionavam de forma manual, gerou uma grande transformação no sistema de produção de mercadorias, na
organização das cidades e do campo e nas condições de trabalho.
Essa fase deu início a um grande aumento da capacidade de transformação da natureza, por meio da utilização de
máquinas hidráulicas e a vapor, o que provocou grande aumento no volume de mercadorias produzidas e a consequente
necessidade de ampliação do mercado consumidor em escala mundial. Esse período também foi marcado por uma crescente
aceleração da circulação de pessoas e mercadorias, graças à expansão das redes de transporte terrestre, com o trem (a
locomotiva a vapor foi criada em 1805), e marítimo, com o barco a vapor (criado em 1814), intensificando o processo de
globalização.

2.3.2 - Doutrina: Liberalismo


Ao contrário da doutrina mercantilista, presente no capitalismo comercial, em que o estado interferia na economia, na
nova etapa do capitalismo, industrial, era conveniente para a burguesia que a economia funcionasse segundo a lógica do
mercado, com o Estado interferindo cada vez menos diretamente na produção e no comércio. Essa nova fase do estado
interferindo menos na economia é denominada Liberalismo. A partir de então, caberia ao Estado, nos limites de seu
território, garantir a livre-iniciativa, a concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, e, no comércio
internacional, o apoio às empresas nacionais na concorrência com as de outros países e a proteção do mercado interno
contra a concorrência desleal.
Consolidou-se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo. Essa doutrina afirma que cada um, ao buscar
seu próprio interesse econômico, contribuiria para o interesse coletivo de modo mais eficiente. Por isso é contrário à
intervenção do Estado na economia e defende a "mão invisível" do mercado. Os princípios liberais aplicados às trocas
comerciais internacionais redundaram na defesa do livre-comércio, ou seja, a defesa da redução, e até abolição, das
barreiras tarifárias para a livre circulação de mercadorias, o que servia perfeitamente aos interesses do Reino Unido, país
mais industrializado - a potência da época e interessado em abrir mercados para seus produtos em todo o mundo.
Portanto, o liberalismo permanecia muito mais como ideologia capitalista, porque, na prática, a livre concorrência,
característica da etapa industrial do capitalismo, era bastante limitada. O Reino Unido que estava com sua industrialização
consolidada, enquanto os outros países europeus, que ainda estavam na fase principiante da industrialização, permaneciam
com práticas protecionistas. O Estado, por sua vez, passou a intervir na economia como agente produtor ou empresário,
mas, sobretudo, como planejador e coordenador. Essa atuação intensificou-se, principalmente, após a crise econômica de
1929 que resultou em acentuada queda da produção industrial e do comércio e aumento do desemprego em todo o planeta.

2.4 - O início do capitalismo financeiro - (2ª metade do séc. XIX até a 2ª metade do séc. XX)
Nessa etapa do capitalismo, os bancos assumiram um papel mais importante como financiadores da produção.
Incorporaram indústrias, que, por sua vez, incorporaram ou criaram bancos para lhes dar suporte financeiro. Por esse motivo
tornou-se cada vez mais difícil distinguir o capital industrial (também o agrícola, comercial e de serviços) do capital bancário.
Uma melhor denominação para essa nova organização econômica, bancos fortemente vinculados às indústrias, passou a
ser o capitalismo financeiro.
Uma das características mais importantes do crescimento acelerado da economia capitalista, na segunda metade do
século XIX, foi a formação de grandes empresas industriais e comerciais e o acelerado aumento do número de bancos e
outras empresas financeiras. A concorrência acirrada favoreceu as grandes empresas, levando a fusões e incorporações
que resultaram na formação de monopólios ou oligopólios em muitos setores da economia. Monopólio é quando uma
única empresa domina o mercado e oligopólio é quando um grupo de empresas controla o mercado controlando a oferta
de determinado bem ou serviço. O monopólio é ruim para o mercado, pois acaba com a concorrência. É bom lembrar que,
por ser intrínseco à economia capitalista, esse processo continua acontecendo, e grandes corporações da atualidade foram
fundadas nessa época.
Esse capitalismo foi se consolidando, inicialmente nos Estados Unidos, com um vigoroso mercado de capitais. As
empresas deixaram de ser familiares e se transformaram em sociedades anônimas de capital aberto, isto é, empresas que
negociam suas ações em Bolsas de Valores e os sócios (sociedade) são anônimos em sua maioria. Isso permitiu a formação
das grandes corporações da atualidade, cujas ações estão, em parte, distribuídas entre milhares de acionistas. Em geral,
essas grandes empresas têm um acionista majoritário, que pode ser uma pessoa, uma família, uma fundação, um banco ou
uma holding, ao passo que os pequenos investidores são proprietários do restante, muitas vezes milhões de ações. A
Petrobrás é um exemplo desse tipo de empresa sendo que o maior acionista é o governo. A expansão do mercado de
capitais é uma das marcas do capitalismo financeiro. É nas Bolsas de Valores que se negociam as ações de empresas de

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capital aberto. O mercado passou a ser dominado por grandes corporações através de diferentes formas de organizações
das indústrias e empresas.

2.4.1 - Formas de organização das empresas - Trustes, Cartéis e Conglomerados


Foi no capitalismo financeiro que as empresas começaram a se organizar de forma que pudessem aumentar seus lucros.
As principais formas de organização são os Trustes, Cartéis e Conglomerados.
Trustes - empresa que costumam controlar todas as etapas da produção, desde a extração da matéria-prima da
natureza e sua transformação em produtos até a distribuição das mercadorias. Desde o final do século XIX, em cada
setor da economia - petrolífero, elétrico, siderúrgico, têxtil, ferroviário etc. - passaram a predominar algumas grandes
empresas, que ficaram conhecidas como trustes. O truste resulta de fusões e incorporações ocorridas em determinado
setor de atividade, como aconteceu, sobretudo, com empresas petrolíferas e automobilísticas, que se tornaram gigantescas.
Sendo assim o truste é quando várias empresas (transporte, extração, produção, logística, mercado) se unem, perdem
autonomia e viram uma única empresa.
Conglomerados - vários trustes constituídos no final do século XIX e início do século XX transformaram-se em
conglomerados, ou seja, uma única empresa que atua em diferentes setores da economia (produz desde caneta,
computador e carros). Resultando em um ampliado processo de concentração de capitais e de uma crescente
diversificação dos negócios. Os conglomerados, também chamados grupos ou corporações, visam dominar a oferta de
determinados produtos ou serviços no mercado e são o exemplo mais bem-acabado de empresas do capitalismo
monopolista. Por exemplo: o grupo General Electric, sediado nos Estados Unidos, atua em diversos ramos industriais.
Fabrica uma grande variedade de produtos - lâmpadas elétricas, fogões, geladeiras, equipamentos médicos, motores de
avião, turbinas para hidrelétricas, etc. - e atua nos setores financeiro e de comunicações.
Há, especialmente nos países desenvolvidos, variados exemplos de conglomerados que atuam em diversos
setores da economia: Daimler (Alemanha), Sony (Japão), Fiat (Itália), Nestlé (Suíça), Unilever (Reino Unido e Países Baixos),
mas já há também importantes conglomerados em países emergentes: Sinopec (China), Hyundai (Coreia do Sul), Tata
(Índia), Pemex (México), etc.
No Brasil também há conglomerados importantes, como a Petrobras, maior empresa brasileira, que atua na
distribuição de derivados de petróleo e gás natural, biocombustíveis e energia elétrica e funciona como um truste no ramo
energético, pois realiza desde a exploração, a produção, o refino e a comercialização de petróleo. O exemplo da Petrobras
nos faz entender que uma única empresa pode ser: um conglomerado, um truste e um monopólio. A Itaúsa, o Bradesco, a
Vale, a Ultrapar e a Votorantim também são importantes conglomerados brasileiros.
Ao se transformar em conglomerados, as grandes corporações diversificaram os setores e os mercados de atuação.
Expandindo-se pelo mundo, principalmente após a Segunda Guerra, transformaram-se em empresas transnacionais.
Surgidas da tendência expansionista do capitalismo, essas empresas se caracterizam por desenvolver uma estratégia de
atuação internacional a partir de uma base nacional, onde está sua sede e o controle das filiais espalhadas por outros países.

Cartel - ocorre quando vários trustes, ou mesmo empresas de menor porte, fazem acordos entre si estabelecendo um preço
comum, dividindo os mercados potenciais e, portanto, inviabilizando a livre concorrência em determinado setor da economia.
Formam um oligopólio. Diferentemente do que acontece no truste, no cartel não há a perda de autonomia das empresas
envolvidas, nem tampouco participação acionária entre os participantes. O cartel é consequência de acordos entre empresas,
em geral grandes, com o intuito de compartilhar determinados setores da economia, controlar os preços dos produtos no
mercado e combinar preços em licitações públicas. Esses acordos abusivos entre empresas inibem a competição no setor
em que ocorrem - elevando o preço dos produtos e prejudicando os consumidores - e a concorrência em obras públicas -
elevando seu preço e prejudicando os contribuintes - cidadãos. Por isso na maioria dos países foram criadas leis que proíbem
a cartelização. No Brasil, a lei 12.529, de 30 de novembro de 2011, sobretudo em seu artigo 116, define esse abuso de
poder das empresas como crime contra a ordem econômica.

Holding - Empresas que são controladas por uma outra empresa. Tem como objetivo a manutenção da estabilidade da
empresa controladora, garantindo uma lucratividade média, já que pode haver rentabilidades diferentes em cada setor e,
consequentemente, em cada empresa do grupo. A Petrobras é uma Sociedade Anônima, isto é, uma companhia de capital
aberto cujas ações são negociadas em Bolsa de Valores. O governo brasileiro é seu principal acionista: em 2012 a União
Federal era proprietária de 50% das ações ordinárias. O conglomerado é composto de diversas empresas comandadas
diretamente pela holding Petrobras.

2.4.2 - Segunda Revolução Industrial


No fim do século XIX, e ainda na fase do capitalismo financeiro, mudanças importantes estavam acontecendo dentro
das fábricas: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam rapidamente, devido à introdução de novas máquinas
e fontes de energia mais eficientes, como o petróleo e a eletricidade; aprofundava-se a especialização do trabalhador em
uma única etapa da produção; e crescia a fabricação em série.
Nessa fase a industrialização foi se expandindo para outros países europeus, como a Bélgica, a França, a Alemanha,
a Itália e até para fora da Europa, alcançando os Estados Unidos e, de forma incipiente, o Japão e o Canadá. Esses países
que se industrializaram só na segunda revolução, praticaram medidas protecionistas à sua indústria nascente. Mesmo os
Estados Unidos, país que hoje tem forte tradição liberal, só passou a defender o liberalismo no comércio internacional quando
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já tinham estruturado uma indústria competitiva.
Na Segunda Revolução Industrial ocorre a introdução de novas tecnologias e novas fontes de energia no processo
produtivo e a criação dos primeiros laboratórios de pesquisa das atuais grandes corporações industriais. Tendo como
pioneiros os Estados Unidos e a Alemanha, a ciência passou a ser cada vez mais apropriada pelo capital, ou seja, posta a
serviço das empresas para o desenvolvimento de novos produtos e a melhora de produtos já existentes.
A siderurgia avançou significativamente, assim como a indústria mecânica, graças ao aperfeiçoamento da fabricação
do aço. Na indústria química, com a descoberta de novos elementos e materiais, ampliaram-se as possibilidades para novos
setores, como o petroquímico. A descoberta da eletricidade beneficiou as indústrias e a sociedade como um todo, pois
proporcionou o aumento da produtividade, a melhora nas condições de vida e maior autonomia das indústrias com relação
a definição de suas localizações frente aos demais que influenciam nos custos da produção. O desenvolvimento do motor a
combustão interna e a consequente utilização de combustíveis derivados de petróleo abriram novos horizontes para as
indústrias automobilísticas e aeronáuticas, possibilitando sua expansão e a dinamização dos transportes. Com o crescente
aumento da produção e a industrialização expandindo-se para outros países, acirrou-se a concorrência entre as empresas.
Era cada vez maior a necessidade de garantir novos mercados consumidores e melhores oportunidades de
investimentos lucrativos, além de acesso a novas fontes de energia e de matérias-primas era o início de muitas das atuais
grandes corporações e pela expansão imperialista.

2.4.3 - Imperialismo
Foi nesse contexto do capitalismo que ocorreu a expansão imperialista europeia na África e na Ásia. As potências
imperialistas buscavam ampliar seus territórios, e os empresários, seus lucros na busca por matéria prima e mercado
consumidor. O capitalismo, desde sua origem na Europa, foi ampliando sua área de atuação no planeta. A expansão
imperialista disseminou o sistema para outras partes do mundo.
No Congresso de Berlin (1884-1885), as potências industriais europeias partilharam o continente africano entre elas.
Na Ásia, extensas áreas também foram partilhadas, como a Índia que passou a ser o território colonial britânico mais
importante.
A partilha imperialista estabelecida pelas potências industriais consolidou a divisão internacional do trabalho (DIT),
pela qual as colônias, sobretudo as africanas, especializaram-se em fornecer matérias-primas, especialmente minérios como
o ferro, chumbo e cobre, além de produtos de origem agrícola, como algodão, aos países que então se industrializavam e
exportavam produtos industrializados.
Essa divisão, inicialmente delineada no capitalismo comercial, consolidou-se na etapa do capitalismo industrial.
Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências imperialistas. No fim do
século XIX também emergiram potências industriais fora da Europa, com destaque para o Japão, na Ásia, e principalmente
os Estados Unidos, na América.
A expansão imperialista japonesa, como a europeia, foi marcada pela ocupação e anexação de territórios. Iniciou-se
com a tomada de Formosa (China), após a vitória na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), seguida pela ocupação da
península da Coreia (anexada em 1910) e da Manchúria (China), em 1931, entre outros territórios. O imperialismo norte-
americano sobre a América Latina foi um pouco diferente do europeu sobre a África e a Ásia e do japonês, também sobre a
Ásia.
Enquanto nas colônias africanas e asiáticas as potências imperialistas mantinham controle político e militar direto, os
norte-americanos exerciam controle indireto, patrocinando golpes de Estado, principalmente na América Central e no Caribe,
e apoiando a ascensão de ditadores nacionais, alinhados com os interesses dos EUA. As intervenções militares eram
localizadas e temporárias, como o controle exercido sobre Cuba (1899-1902) e em seguida as intervenções seguiram para
diversos países da região.
Com o fim da Segunda Guerra, já em 1945, agravou-se o processo de decadência das antigas potências europeias,
que já vinha ocorrendo desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Aos poucos, elas foram perdendo seus domínios coloniais
na Ásia e na África e, com a destruição provocada pela Grande Guerra, as colônias conquistaram sua independência num
processo que ficou conhecido como descolonização.
Outra característica específica desse período foi o surgimento de duas formas de organização do trabalho conhecidas
como Taylorismo e Fordismo.

2.4.4 - Formas de organização do trabalho: Taylorismo e Fordismo


Foi nesse contexto de Segunda Revolução Industrial e consolidação de capitalismo financeiro é que surge as primeiras
formas de organização de trabalho padronizadas com o objetivo de aumentar a produtividade através da racionalização do
trabalho. Essas organizações foram criadas nos EUA pais que se destacou nessa fase da industrialização.

Taylorismo - foi a primeira e consistia basicamente em controlar os tempos e os movimentos dos trabalhadores e fracionar
as etapas do processo produtivo de forma que o operário desenvolvesse tarefas ultra especializadas e repetitivas com o
objetivo de aumentar a produtividade no interior das fábricas. Eram novos procedimentos organizacionais aplicados à
indústria. O criador dessa nova forma de trabalho o engenheiro americano Frederick W. Taylor desenvolveu essa teoria a
partir da observação dos trabalhadores nas indústrias e concluiu que para dinamizar a produção era necessário hierarquizar
e sistematizar o trabalhador, monitorar o tempo de trabalho e premiar os que realizam uma tarefa em menor tempo.

Fordismo - é conhecido como uma evolução nos procedimentos de Taylor. O industrial norte-americano Henry Ford inovou
os métodos de produção de Taylor ao introduzir esteiras rolantes na sua linha de montagem de automóveis: as peças
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chegavam até os operários que, parados, executavam sempre as mesmas tarefas referentes à produção de cada parte do
carro. O fordismo distingue-se do taylorismo por apresentar uma visão abrangente da economia, não fica restrito as
mudanças organizacionais no interior das fábricas. Ford percebeu que a produção em grande escala exigia consumo em
massa, o que pressupunha produtos mais baratos e salários mais altos para os trabalhadores. Com isso havia uma economia
em crescimento com salários em ascensão, trabalhadores consumindo, os empresários com grandes lucros e o estado
arrecadando mais impostos.
Contudo, a superprodução nas indústrias devido a linha de produção fordista gerou um grande estoque de produtos
que não estavam sendo absorvidos pelos consumidores. A consequência disso foi a Crise de 1929.

2.4.5 - Doutrina: Keynesianismo


A doutrina que surgiu nessa fase do capitalismo financeiro foi a Keynesiana que criticava o pensamento econômico
clássico e o princípio da "mão invisível", ou seja, criticava o liberalismo e o suposto equilíbrio espontâneo do mercado.
O keynesianismo, que passa a ser valorizada, após a crise de 1929, defendia a intervenção do Estado na economia
para evitar crises de superprodução, como a de 1929. Propunha o aumento dos gastos públicos como mecanismo para
estimular o crescimento econômico e a geração de empregos. Essa crise ocorreu por causa da quebra da Bolsa de Nova
York. A quebra da bolsa ocorreu por causa do excesso de produção das indústrias devido a linha de produção fordista e a
falta de controle sobre a especulação sobre as ações das empresas, principalmente industriais.
Em 1933, Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, pôs em prática um plano de combate à crise que
se estendeu até 1939. Chamado New Deal ('novo plano' ou 'novo acordo), foi um clássico exemplo de intervenção do
Estado na economia. Baseado em um audacioso plano de construção de obras públicas e de estímulos à produção, visando
reduzir o desemprego, o New Deal foi fundamental para a recuperação da economia norte-americana e, posteriormente, do
restante do mundo. Essa política de intervenção estatal numa economia fortemente oligopolizada ficou conhecida como
keynesianismo, por ter sido o economista John Maynard Keynes seu principal teórico e defensor. Representou claramente
uma contraposição ao liberalismo clássico, que até então permanecia como ideologia capitalista dominante.
Superada a crise, com a retomada do crescimento da economia, principalmente após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), começam a se consolidar os grandes conglomerados capitalistas. Ou seja, do ponto de vista econômico, o pós-
Segunda Guerra foi marcado por acentuada mundialização da economia capitalista, sob o comando das transnacionais. Foi
a época de gestação das profundas transformações econômicas pelas quais o mundo vem passando, sobretudo a partir do
fim dos anos 1970, como a Terceira Revolução Industrial e o processo de globalização da economia.

2.5 - O capitalismo informacional - A revolução informacional


Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-Científica ou
Revolução Informacional, o capitalismo, como propõe o sociólogo espanhol Manuel Castells, atingiu seu período
informacional. Essa nova etapa começou a se gestar no pós-Segunda Guerra, mas se desenvolveu, sobretudo a partir dos
anos 1970 e 1980.
A partir daí, empresas, instituições e diversas tecnologias foram responsáveis pelo crescente aumento da
produtividade econômica e pela aceleração dos fluxos materiais e imateriais - de capitais, mercadorias, informações e
pessoas. Nessa etapa do capitalismo, os avanços tecnológicos potencializaram a produção industrial e o sistema financeiro.
As novas tecnologias empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, permitiram grande aumento da
produtividade industrial e da diversificação dos produtos. Além disso, os avanços tecnológicos na informática permitiram
que os fluxos de capitais ocorressem sem a necessidade física do dinheiro, possibilitando um enorme crescimento do setor
financeiro globalizado.
Entretanto, a característica fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a crescente importância do
conhecimento. Os produtos e serviços têm um conjunto cada vez maior de conhecimentos a eles agregados, valorizando-
os. A fabricação de um televisor ou um automóvel, por exemplo, envolve, além do material e da mão de obra (também cada
vez mais qualificada), uma série de conhecimentos específicos. Produtos e serviços têm, portanto, uma nova característica
- seu crescente teor informacional.
Mas o conhecimento também vai se incorporando ao território, constituindo o que o geógrafo Milton Santos chamou
de meio técnico-científico-informacional, que aparece predominantemente nos países desenvolvidos e nas regiões mais
modernas dos países emergentes, e é a base para os fluxos da globalização. Os países na vanguarda da Revolução
Informacional são aqueles que lideram a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com destaque para os EUA, país que mais
investe em P&D em termos absolutos, possui o maior número de pesquisadores, mais publica artigos técnicos e científicos
em revistas especializadas e que obtém as maiores receitas de royalties e taxas de licenciamento sobre novas tecnologias
de produtos e serviços.
As duas revoluções industriais anteriores foram impulsionadas pelo desenvolvimento de novas fontes de energia a
primeira, por carvão, e a segunda, por petróleo e eletricidade. A revolução ora em curso é impulsionada pelo conhecimento,
embora, evidentemente, a energia continue sendo crucial (um computador de última geração não funciona sem energia
elétrica ou bateria).
Durante a expansão imperialista era imprescindível para as indústrias o acesso a fontes de matérias-primas e de
energia para a manutenção do processo produtivo. Hoje, na época da globalização embora o acesso a recursos naturais
continue sendo muito importante, é imprescindível o acesso ao conhecimento, fruto de investimentos em P&D.
Desde os primórdios da espécie humana, as sociedades produzem conhecimentos diversos: uma ferramenta, como
um arado puxado por algum animal, por exemplo, que produziu avanços na agricultura, implica algum conhecimento para
produzi-lo e utilizá-lo.
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O que mudou hoje, então?
Atualmente o conhecimento é o principal responsável pelo desenvolvimento, pela produção e pela utilização dos
produtos e serviços. Por isso, quanto mais avançados forem, mais incorporam conhecimentos, que são a base da atual
Revolução Técnico-Científica e Terceira Revolução Industrial
As primeiras indústrias, da era das chaminés, desenvolveram-se em torno das bacias carboníferas. Atualmente, as
empresas de alta tecnologia estão próximas a universidades e outras instituições de pesquisa, onde se desenvolvem os
parques tecnológicos ou tecnopolos. Nesses centros industriais, há grande concentração de indústrias de informática
(hardware e software), telecomunicações, robótica e biotecnologia, entre outras de alta tecnologia. Os parques
tecnológicos são um exemplo evidente do meio técnico-científico-informacional. Nos países emergentes há pouco
investimentos em pesquisa científica e tecnológica e as que tem são desenvolvidas em sua maioria por instituições
governamentais e universidades. Exemplo no Brasil: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Instituto
Tecnológico de Aeronáutica – (ITA), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre outros. Já nos países desenvolvidos as pesquisas tecnológicas são
desenvolvidas principalmente pelo setor privado. A falta de grandes investimentos nos países emergentes ocorre devido a
falta de interesse, corrupção e graves problemas sociais para serem resolvidos como fome, miséria e desemprego.
Desde a década de 1970, está havendo uma grande revolução nas unidades de produção, nos serviços e nas
residências. Grande parte dessa revolução deve-se a uma aos novos materiais como uma pequena peça de silício
chamada chip, que possibilitou a construção de computadores cada vez mais rápidos, precisos e baratos. O
desenvolvimento de satélites e de cabos de fibra óptica, entre outras tecnologias, tem permitido grandes avanços nas
telecomunicações. As tecnologias da informação e comunicação têm facilitado o gerenciamento de dados e acelerado o
fluxo de capitais, mercadorias e informações em escala mundial por diversos meios, entre os quais se destaca a internet.
Com a aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de globalização. Estrutura-
se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transportes e telecomunicações. Por isso podemos dizer que
vivemos em um capitalismo informacional-global. Entretanto, como veremos no próximo capítulo, a globalização e seus
fluxos abarcam o espaço geográfico de forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados que
outros, e os "comandantes" desse processo estão concentrados em poucos lugares.

2.5.1 - Forma de organização do trabalho: Toyotismo/produção flexível


Com o avanço para a Terceira Revolução Industrial e um capitalismo informacional ocorre também um avanço para novos
métodos de organização de produção chamados de Toyotismo ou produção flexível. O fordismo começa a perder espaço.
Esses novos métodos de organização do trabalho começaram a ser desenvolvidas na fábrica da Toyota Motor Company,
em Toyota City no Japão, após a Segunda Guerra. As principais mudanças foram:
- as grandes fábricas que possibilitavam a produção em série e escala, foram substituídas ou complementadas pela
economia de escopo, desenvolvida em plantas menores e flexíveis, que podem mudar a organização interna;
- substituiu a linha de produção, típica da fábrica fordista, por equipes de trabalho ou células de produção, nas quais cada
equipe fica encarregada de todo o processo produtivo. Essa inovação ficou conhecida como círculos de controle de
qualidade (CCQ) e reduziu significativamente os defeitos de fabricação, pois tal controle passou a ser feito pela própria
equipe ao longo do processo produtivo, e não apenas no final, como na produção fordista;
- o just-in-time ("no momento certo", em inglês) procura estabelecer uma sintonia fina entre a fábrica, seus fornecedores e
consumidores. A organização da produção pressupõe um abastecimento contínuo dos insumos (peças e matérias-primas)
necessários para a fabricação de determinado produto. Dessa forma, eliminam-se ou reduzem-se drasticamente os
estoques. O escoamento da produção também é planejado para ocorrer "no momento certo".
Junto com essa nova organização do trabalho foram surgindo no processo produtivo máquinas cada vez mais
sofisticadas e, finalmente, robôs. No início, eles desempenhavam as tarefas repetitivas ou as mais perigosas e insalubres,
mas, com o passar do tempo, substituíram mais e mais operários. Com a crescente automação das fábricas, muitos operários
passaram a trabalhar em outros setores, particularmente nos serviços. Já outros perderam seus postos de trabalho, que
desapareceram definitivamente, caracterizando o desemprego estrutural. Com essas mudanças, o mercado de trabalho
tem exigido trabalhadores mais qualificados, mais versáteis, com capacidade de aprendizagem permanente e mais
envolvidos com a sua profissão.
Essas inovações implantadas no sistema produtivo, particularmente nos países desenvolvidos, ficaram conhecidas
como produção flexível, em contraposição à rigidez do fordismo, e permitiram nova fase de expansão para muitas
empresas. Entretanto, enquanto o toyotismo ficou mais associado aos métodos organizacionais no interior das fábricas, a
produção flexível se refere ao contexto mais amplo no qual se insere, contemplando, além das formas de organização
produtiva, também as relações de trabalho e as políticas econômicas. O desenvolvimento dessa nova organização da
produção tem gerado novas relações de trabalho, como a terceirização, novos processos de fabricação e novos produtos.
As novas relações de trabalho são caracterizadas pela terceirização, salários mais baixos e direitos trabalhistas mais restritos
ou inexistentes e profissionais com cada vez mais poder de adaptação e estudo. A maior parte desses empregos tem sido
criada nos países em desenvolvimento, onde ainda em grande parte se mantém o método de produção fordista, baseado
na superexploração dos trabalhadores. A terceirização consiste em repassar para outras empresas atividades de suporte,
como limpeza, segurança, manutenção, alimentação etc. A palavra de ordem passa a ser competitividade e, para aumentá-
la, as empresas buscam incessantemente racionalizar a produção, cortando custos e implantando novos processos
produtivos nas indústrias. Tudo isso visando a aumentar seus lucros. Nesta, a produção passa a se descentralizar em escala
nacional e mundial.

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2.5.2 - Doutrina: Neoliberalismo
Doutrina que valoriza a redução da intervenção do estado na economia, baseia-se no liberalismo clássico e acrescenta
novas normas. Se desenvolveu desde o final dos anos 1930, mas só foi colocada em prática já no capitalismo informacional
com os EUA, sob a presidência de Ronald Reagan (1981-1988), e no Reino Unido, sob o governo da primeira-ministra
Margaret Thatcher (1979-1990). Na década de 1990, as políticas neoliberais se disseminaram para os países em
desenvolvimento através de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial através do
Consenso de Washington que ocorreu em 1989 nos EUA. Nessa reunião os EUA “sugeriram” que os esses países
aderissem ao neoliberalismo.
Ao assumir a Presidência dos EUA, Ronald Reagan (Partido Republicano), em seu discurso de posse proferido em
20 de janeiro de 1981, afirmou: "Na atual crise, o governo não é a solução de nossos problemas; o governo é o
problema’’. Ele se referia à crise capitalista dos anos 1970, que evidenciava certo esgotamento das políticas keynesianas
e era agravada pelos choques do petróleo (elevação dos preços do barril em 1973 e 1979). O governo Reagan, baseado na
doutrina neoliberal, foi marcado por redução do papel regulador do Estado na economia, por cortes de impostos -
beneficiando especialmente os mais ricos -, supostamente para estimular o investimento e a produção, e por
imposição da doutrina neoliberal aos países em desenvolvimento, que estavam enormemente necessitados do apoio
do FMI para obterem novos empréstimos externos para minimizarem a crise na balança de pagamentos.
O Brasil, que aderiu a política neoliberal a partir da década de 1990, o Estado funciona como um fiscalizador e
regulador dos serviços prestados pelas empresas privatizadas, através de agências reguladoras. Por exemplo a ANAEL,
ANATEL, ANAC, ANTT entre outras. Houve uma grande quantidade de privatizações de empresas privadas para reduzir o
papel do estado na economia, além da flexibilização das leis trabalhistas com medidas que reduziram os direitos dos
trabalhadores através de novas relações de trabalho como a terceirização e contratos.
O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras aos fluxos globais de mercadorias e
capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiou principalmente os países desenvolvidos e suas corporações
transnacionais.
Entretanto, alguns países emergentes, como a China, a Índia, os Tigres Asiáticos, o México e o Brasil, também se
beneficiaram ao receber muitos investimentos produtivos e ampliar sua participação no comércio mundial. Contudo, há entre
os emergentes, aqueles que continuam dependendo muito da exportação de produtos primários o que faz com que sua
balança comercial não seja favorável.
A ampliação dos fluxos de capitais, principalmente o financeiro, e a falta de controle estatal sobre o mercado -
sobretudo nos Estados Unidos, país de forte tradição liberal - acabou levando o capitalismo a uma grave crise econômica
em 2008/2009.

Consequências do Neoliberalismo para os EUA


Nos EUA, a crise teve seu auge em setembro de 2008 com a falência do Lehman Brothers, centenário banco de
investimento norte-americano. A mais grave crise, desde 1929, originou-se no sistema financeiro norte-americano e em
pouco tempo se espalhou pelo mundo, atingindo também a economia real dos países. Dessa forma, o neoliberalismo foi
posto em xeque, como fica evidente no discurso de posse do presidente dos Estados Unidos Barack Obama (Partido
Democrata), proferido no dia 20 de janeiro de 2009: "Tampouco a pergunta diante de nós é se o mercado é uma força
do bem ou do mal. Seu poder para gerar riqueza e expandir a liberdade não tem igual, mas esta crise nos fez lembrar
que, sem um olhar atento, o mercado pode sair do controle - e que uma nação não pode prosperar por muito tempo
se favorece apenas os prósperos". Trata-se de um discurso muito diferente do feito por Ronald Reagan 28 anos antes.
Como admitiu o então presidente dos Estados Unidos, o principal motivo da crise econômica foi a fiscalização
deficiente do mercado, principalmente financeiro, por parte do Estado. Com o propósito de corrigir essa falha, em junho de
2009 o governo norte-americano lançou um plano de regulação, considerado a maior intervenção do Estado na economia
desde os anos 1930 (pós-crise de 1929). Entre outras medidas, esse plano assegurou amplos poderes ao Federal Reserve
(ou Fed, o Banco Central dos EUA) para regular e supervisionar todo o sistema financeiro do país. Para isso foi criada uma
agência com o intuito de supervisionar os bancos. O governo poderá intervir em empresas "grandes demais para quebrar",
evitando, assim, que possam contaminar o mercado. Também foi criada a Agência de Proteção dos Consumidores, cujo
objetivo é coibir práticas abusivas do setor financeiro, como ocorreu no caso das hipotecas. Num país de forte tradição
liberal, é natural que esse plano encontrasse resistência por parte da oposição, do Partido Republicano e, especialmente,
das empresas financeiras, que não teriam mais total liberdade de atuação no mercado. Um dia antes do lançamento do
plano, Obama já alertava para esse fato: "Vamos ouvir muita conversa de que não precisamos de mais regulação e de que
não queremos as mãos do governo sobre o mercado. Mas não podemos esquecer o desastre em que nos metemos
exatamente pela falta dessa regulamentação mais rigorosa, o que levou a um comportamento irresponsável de alguns".

3. REPENSANDO AS VISÕES DE MUNDO


Estudaremos a origem e as principais características das diferentes classificações dos países ao longo da história, os
estados nacionais passaram por diferentes formas de classificação ou regionalização que segue critérios segundo: o índice
de desenvolvimento humano, social, econômico e tecnológico.

3.1 - Metrópole e colônia


A primeira forma de classificar e regionalizar o mundo dividiu os países em dois grupos de chamados de metrópoles
e colônias. Desde o descobrimento até o começo do século XX, o mundo estava dividido nessas duas áreas distintas:
metrópoles e colônias. As metrópoles eram os países da Europa e dos Estados Unidos que exploravam as colônias e
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retiravam suas riquezas. As colônias eram países da América, África e Ásia.
O colonialismo ocorreu entre o século XVI e início do século XIX com a exploração da América. As principais
metrópoles eram Portugal, Espanha e Inglaterra.
A partir do século XIX com o processo de independência da América teve início o imperialismo ou neocolonialismo.
Foi quando houve uma busca das metrópoles por novas colônias e o alvo passou a ser a África, a Ásia e a Oceania.
Durante a Segunda Guerra Mundial, desencadeou-se o processo de independência política das colônias (África e
Ásia) que até então viviam sob o controle das potências europeias. Esse processo histórico ficou conhecido como
descolonização. Entre as décadas de 1940 e 1960 várias guerras e guerrilhas de libertação nacional eclodiram na África e
na Ásia e houve um generalizado processo de descolonização nesses continentes.
Nessa época surgiram vários novos países independentes todos marcados por profundos problemas
socioeconômicos: altas taxas de natalidade e mortalidade, baixa expectativa de vida, subnutrição, analfabetismo e muitos
outros problemas associados à pobreza extrema. No pós segunda guerra, com vários países independentes, aumentou a
visibilidade desses problemas e levou o mundo a ter maior consciência das desigualdades entre os países e por isso foram
criadas novas classificações.
Os países que foram colônias no passado, hoje, possuem na maioria da sua população, um padrão de vida muito
inferior ao considerado mínimo para atendimento das necessidades básicas de alimentação, moradia, saneamento básico,
saúde, educação e trabalho, segundo estatísticas e avaliações de organismos internacionais, como a ONU e suas agências
e o Banco Mundial. Esses países que foram colônias e que hoje são chamados de países em desenvolvimento ou
subdesenvolvido, apresentam profundas desigualdades sociais e regionais e baixo IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano). Muitos dos Estados africanos e asiáticos (que conquistaram sua independência na segunda metade do século
XX) e das nações latino-americanas (independentes desde o século XIX) têm, além de diversos problemas em sua estrutura
social e política, economias frágeis e dependentes. Grande parte deles não conseguiu diversificar sua economia e continua
exportando produtos primários de origem agropecuária e mineral, como na época do colonialismo.
Com o fim da Segunda Guerra mundial, se consolida, em termos geopolíticos, um mundo bipolar, ou seja, um mundo
dividido em países: capitalistas e socialistas. Os países capitalistas eram influenciados pelos EUA e os socialistas eram
influenciados pela URSS. Com essa nova organização geopolítica do mundo, que recebeu no nome de Guerra Fria, dar se
início a uma nova forma de regionalizar o mundo que classifica os países em Primeiro, Segundo e Terceiro mundo.

3.2 - Primeiro, Segundo e Terceiro mundo.


No período da Guerra Fria (1947-1989) era comum classificar os Estados nacionais em um dos "três mundos": o
Primeiro formado por países capitalistas desenvolvidos e industrializados, são os países ricos, que no período colonial eram
as metrópoles e por isso se transformaram em economias mais diversificadas; o Segundo composto pelos países socialistas
sob a liderança da União Soviética, com economia estatal e planificada e o Terceiro integrado pelos países
subdesenvolvidos capitalistas, na sua maioria, mas também por alguns socialistas não alinhados com a então superpotência
socialista, no período colonial e neocolonial eram as colônias e por isso menos desenvolvidos.
As nações do Terceiro Mundo localizavam-se na Ásia, na África, a maioria recém independente naquele momento, e
na América Latina. As exceções de países que foram colônias e na nova geopolítica da Guerra Fria eram classificados como
primeiro mundo foram os EUA e a Austrália. Ambos colônia de povoamento e não de exploração. A expressão "Terceiro
Mundo" foi criada pelo economista francês Alfred Sauvy (1898-1990), em 1952, para se referir às nações pobres que estavam
à margem do cenário político-econômico internacional naquele momento histórico.

Conferência de Bandung
Em 1955, foi realizada em Bandung na Indonésia, uma conferência que reuniu as nações recém independentes da
Ásia e da África. Nesse encontro, o termo Terceiro Mundo passou a ser identificado como uma terceira via de
desenvolvimento, uma alternativa ao capitalismo norte-americano e ao socialismo soviético. Com isso a Conferência de
Bandung lançou as bases do movimento dos países não alinhados com a URSS e com os EUA.
O objetivo era estabelecer o futuro de uma nova força política global constituída de países do Terceiro Mundo, visando
a promoção da cooperação econômica e cultural afro-asiática, como forma de oposição ao que era considerado
colonialismo ou neocolonialismo, por parte dos Estados Unidos e da União Soviética.
Após a Segunda Guerra mundial, o fato de pertencer ao Terceiro Mundo tinha um significado geopolítico e
socioeconômico e expressava alguma identidade entre os países que pertenciam a esse grupo por isso da organização da
conferência. Essa conferência foi a primeira forma de união entre os países pobres em busca de fortalecimento de seus
interesses. Hoje, com alguns objetivos similares e funcionando de forma mais forte no cenário mundial existe os BRICS, o
G-20 o IBAS, organizações que estudaremos adiante.

Essa classificação do mundo é datada historicamente e pertence ao contexto da Guerra Fria. A regionalização
caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo foi amplamente utilizada durante a Guerra Fria, período
em que prevaleceu a rivalidade entre as duas superpotências EUA e URSS. Assim, embora eventualmente ainda seja usada,
essa classificação, atualmente não faz sentido empregar essas expressões por quê:
- No começo da década de 1990, com a extinção da União Soviética e o enfraquecimento do socialismo, o termo Segundo
Mundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo como realidade político-econômica global. Ou seja, com o
com o fim da União Soviética e, portanto, da Guerra Fria, os países classificados como de segundo mundo deixaram de
existir.

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A partir de então, as preocupações mundiais voltaram-se muito mais para as desigualdades existentes entre os
diversos países no que diz respeito ao acesso às tecnologias, à distribuição de renda e ao nível de vida das populações.
Nesse contexto, foram mais utilizadas novas regionalizações, com o objetivo de expressar com mais exatidão a organização
do espaço mundial contemporâneo. Entre elas, cabe destacar a divisão do mundo em países desenvolvidos,
subdesenvolvidos e em desenvolvimento e a em países centrais, periféricos e emergentes.

3.3 - Países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento


É outro critério de regionalização que leva em conta os aspectos relacionados às desigualdades socioeconômicas
entre as nações e o nível de desenvolvimento socioeconômico. Ou seja, considera o patamar em que se encontra a economia
do país e o padrão de vida de sua população em relação aos demais países do mundo. De acordo com o critério utilizado
para essa regionalização, podemos considerar os:
Países desenvolvidos são aqueles com alto nível de industrialização, diversificado mercado de consumo de bens e de
serviços e cuja população usufrui de um elevado padrão de vida. De maneira geral, a economia dos países desenvolvidos é
vigorosa, e seu crescimento depende, basicamente, de suas forças produtivas internas. Possuem altos investimentos em
tecnologia e pesquisa o que permite exportar produtos com alto valor agregado e ter uma balança comercial favorável. As
características principais são:
Elevada escolaridade e expectativa de vida, exporta tecnologia, baixo crescimento natural da população, baixa concentração
de renda, industrializado e população predominantemente urbana, renda per capita alta, PIB Alto e são países que são sede
das Multinacionais.

Países subdesenvolvidos possuem um nível de industrialização muito baixo ou com economia baseada
predominantemente no setor primário (agropecuária e atividade extrativa), dependentes tecnológica e financeiramente dos
países ricos e cuja população, em sua maioria, apresenta baixo padrão de vida. As principais características desses países
são: baixo escolaridade e expectativa de vida, alto crescimento populacional, alta concentração de renda, dependente dos
países ricos, país exportador de produtos primários, a população rural é predominante, renda per capita baixa, PIB baixo e
voltado predominantemente para produtos primário, poucas multinacionais se instalam nesses países por causa da falta de
infraestrutura.

Países em desenvolvimento países que tem características dos países pobres e dos países ricos. Características que são
dos países pobres são: a população na maioria possuem péssimas condições de vida com muita desigualdade, corrupção e
pobreza, a escolaridade e expectativa de vida em transição, exporta tecnologia e matéria prima, crescimento da população
em transição( redução), alta concentração de renda, dependente dos países ricos, renda per capita em transição, PIB voltado
para produtos primários e o fato de ser nesses países que predomina a localização do processo produtivo das multinacionais.
Contudo esses países possuem reduzidas empresas que podem ser consideradas multinacionais. Já em relação as
características que são dos países ricos podemos mencionar a industrialização e o predomínio da população urbana.
Contudo a industrialização é resultado de investimentos externos, pois esses países não investem em desenvolvimento
tecnológico.
Os conceitos de desenvolvimento e de subdesenvolvimento passaram a ser usados com mais frequência a partir da
década de 1950, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a divulgar periodicamente dados estatísticos
de diferentes nações do mundo, como taxa de mortalidade infantil, expectativa de vida, analfabetismo, crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) e renda per capita. Esses dados revelaram a existência de grandes contrastes entre as nações
desenvolvidas e as menos desenvolvidas economicamente: atualmente, sabe-se que cerca de 50,5% da população mundial
vive em países cuja renda per capita anual é igual ou inferior a mil dólares, o que caracteriza uma situação de
subdesenvolvimento; já uma parcela restrita da população do planeta vive em países considerados desenvolvidos, nos quais
a renda per capita anual é igualou superior a 30 mil dólares.

3.4 - Países do Norte e do Sul


As nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas também são chamadas, respectivamente, de países do Norte e
países do Sul. Essa denominação leva em conta, basicamente, a posição geográfica dessas nações, pois, com exceção da
Austrália e da Nova Zelândia, os países desenvolvidos encontram-se na porção setentrional do hemisfério Norte, enquanto
os subdesenvolvidos situam-se, de maneira geral, ao sul das nações desenvolvidas.

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3.5 - Países centrais, periféricos e emergentes
Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações, com o objetivo de expressar com mais exatidão a organização
do espaço mundial contemporâneo. Entre elas, cabe destacar os:
- Países ricos ou centrais - grupo formado pelas nações mais ricas e industrializadas (como Estados Unidos, Canadá,
Japão, Austrália, Nova Zelândia e países da União Europeia), que se encontram no centro do sistema capitalista, exercendo
forte domínio econômico e tecnológico sobre as nações mais pobres.
- Países pobres ou periféricos - grupo formado pelo restante das nações do mundo, que apresentam desenvolvimento
tecnológico e econômico menor, assim como forte dependência financeira em relação aos países ditos centrais,
estando, por isso, na periferia do sistema capitalista onde a maioria da população apresenta más condições de vida.
- Países emergentes grupo formado por países que se encontram em transição e com industrialização recente. Possui
características dos países ricos e características dos países pobres. Contudo o que predomina são as características dos
países pobres como desigualdade social elevada, carência dos serviços públicos, infraestrutura precária, exportação, em
sua maioria, de produtos primários. Dentre as características dos países ricos está a exportação de produtos
industrializados, apesar de predominar produtos primários, e população urbana.

3.6 - O problema das classificações


Essas classificações são utilizadas por instituições internacionais, como a ONU e o Banco Mundial em seus relatórios.
Contudo, há divergências entre a lista dos países emergentes das instituições internacionais e até mesmo nas listas que são
recorrentes na mídia internacional. Isso ocorre porque na atualidade é inviável qualquer tentativa de agrupar os mais de
duzentos países do mundo em apenas duas ou três categorias, pois há uma grande heterogeneidade entre esses países
do ponto de vista social e econômico, especialmente no interior do grupo considerado países em desenvolvimento ou
também chamados de emergentes. Com o surgimento dos países de industrialização recente, denominados emergentes,
o grupo de países então classificados de Terceiro Mundo ficou muito heterogêneo.
Mesmo no interior dos países desenvolvidos têm aumentado as diferenças econômicas e sociais, pois tem países
ricos em que os índices de desigualdade social, marginalização e pobreza tem aumentado mais do que em outros países
também ricos. Isso especialmente a partir do início da crise financeira nos Estados Unidos em 2008/2009 que posteriormente
atingiu vários países europeus.
A ONU criou os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e usa a expressão "combate à pobreza", e não "ao
subdesenvolvimento". O termo “em desenvolvimento” transmite a ideia de que em algum momento futuro o país irá atingir o
desenvolvimento. Isso é reforçado quando os países pobres são chamados de "países em desenvolvimento" ou de "países
menos desenvolvidos" pelos organismos internacionais. Entretanto, os países desenvolvidos de hoje não foram
considerados subdesenvolvidos no passado.
Desenvolvimento e "subdesenvolvimento" são realidades opostas, porém inseparáveis, resultantes do processo de
mundialização do capitalismo e das formas de explorações. Tanto o subdesenvolvimento quanto o desenvolvimento são
resultados do período colonial e neocolonial quando houve uma grande transferência de riqueza das colônias para as
metrópoles, fruto da exploração colonialista e imperialista, criando as condições para o desenvolvimento econômico, que
com o tempo elevaria as condições de vida da população.
A diferença de renda no mundo não era muito pronunciada no início das Grandes Navegações, mas foi aumentando
ao longo do desenvolvimento desigual do capitalismo e tornou-se muito profunda no período contemporâneo. O
desenvolvimento econômico foi maior no Novo Mundo, sobretudo nos Estados Unidos, no Japão e na Europa ocidental,
onde se encontram os países desenvolvidos. O desenvolvimento foi muito baixo na América Latina, na Ásia (excetuando o
Japão) e principalmente na África, o continente que mais sofreu com o imperialismo europeu e que menos se desenvolveu
economicamente.
Essa situação vem modificando lentamente a partir da década de 1990 com o rápido crescimento econômico que vem
ocorrendo em diversos países em desenvolvimento. Países emergentes como China, Brasil, Rússia, Índia e México, entre
outros são em muitos aspectos como PIB, produção industrial, recursos naturais e potencial do mercado interno são mais
ricos que muitos países classificados como desenvolvidos. Porém, apesar de as elites desses países terem alto padrão de
100
vida o IDH da maioria da população é inferior ao dos países desenvolvidos o que significa um baixo desenvolvimento social.
Além disso, a infraestrutura produtiva (energia, telecomunicações, portos, rodovias, etc.) muitas vezes apresenta problemas.
Exemplos dessa dinâmica são:
- Os países do golfo Pérsico produtores de petróleo como Arábia Saudita e Kuwait, estão no grupo dos países de alta renda
per capita. Entretanto como a riqueza desses países se concentra nas mãos de uma pequena minoria eles não podem ser
considerados desenvolvidos.
- O Brasil país de renda média - alta tem uma das piores distribuições de renda do mundo de acordo com pesquisa do Banco
Mundial. A riqueza está distribuída de forma muito mais desigual nos países em
desenvolvimento.

3.7 - As contradições das classificações nas instituições especializadas


Não há uma classificação consensual sobre quais são os países incluídos na categoria "emergente".
De acordo com o glossário do G-20 (Grupo dos 20), "países emergentes" são aqueles que estão em rápido processo
de crescimento econômico e industrialização; são considerados em transição entre a situação de "países em
desenvolvimento" para a de "países desenvolvidos".
Segundo a Unctad, há os "países emergentes" e os "países menos desenvolvidos". A Unctad lista apenas dez países
como economias emergentes. Para a Unctad, os "países menos desenvolvidos", aqueles que apresentam graves problemas
socioeconômicos e os piores índices de desenvolvimento humano, são os mais vulneráveis e os países mais pobres do
mundo. Estão nessa categoria 49 países: 34 localizados na África, 14 na Ásia/Pacífico e um na América (Haiti). São os
países que despertam mais atenção por parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Essa organização classifica
também alguns dos antigos países socialistas de "economias em transição". A Unctad reconhece que é difícil classificar
os países e faz a seguinte ressalva:
"As designações 'desenvolvido', 'em transição' e 'em desenvolvimento' foram adotadas por conveniência estatística e
não necessariamente expressam um julgamento sobre o estágio alcançado por um país em particular no processo de
desenvolvimento".
Já na mídia especializada em negócios, é comum países como China, Rússia, Índia, Indonésia, Turquia, África do
Sul, Marrocos e Colômbia, entre outros, também serem apontados como economias emergentes.
Entre os diversos exemplos da dificuldade de classificar os países e suas consequentes inconsistências, podemos
destacar:
- a Coréia do Sul, país com um índice de desenvolvimento humano bastante elevado e uma das economias mais modernas
e competitivas do mundo, ainda aparece no grupo das economias emergentes da Unctad, embora a própria ONU já a
classifique como país desenvolvido;
- a Romênia, país do antigo bloco socialista que, embora tenha um Índice de Desenvolvimento Humano elevado, é um dos
mais atrasados da Europa. Por ser membro da União Europeia está no grupo das economias desenvolvidas.
Contudo há divergências entre a lista dos países emergentes da Unctad e a denominação recorrente na mídia
internacional. Os países que eram socialistas, mas que entraram na União Europeia, como o exemplo citado, não foram
classificados como "economias em transição', mas sim como "desenvolvidos". A Rússia, por sua vez, herdeira da União
Soviética, é considerada uma "economia em transição".
No Atlas do desenvolvimento global 2011, o Banco Mundial faz o seguinte comentário: "Economias de baixa e média
renda são muitas vezes definidas como economias em desenvolvimento.” Não se pretende com isso concluir que todas
as economias deste grupo estão vivenciando desenvolvimento similar ou que as outras economias são superiores ou
atingiram o estágio final de desenvolvimento'. Por sua vez, os países de alta renda são em geral definidos como economias
desenvolvidas. Mas há várias exceções, como a Arábia Saudita, um país de alta renda que não é considerado desenvolvido.
Segundo o Banco Mundial mesmo nos países por ele designados "em desenvolvimento" há um elevado percentual
de pobres na população, sobretudo nos do Sul da Ásia e nos da África subsaariana onde está a maioria dos "países menos
desenvolvidos". São pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia portanto abaixo da linha de pobreza internacional
(sobrevivem na pobreza extrema aquelas que têm renda inferior a 1,25 dólar/dia).

3.7.1 - Distribuição da pobreza


A maioria dos países que apresentam elevados percentuais de pobreza em sua população se localiza na África
subsaariana, entretanto o maior contingente de pobres ainda se encontra no Sul da Ásia e sobretudo na Índia: em 2008 eram
862 milhões de indianos vivendo com menos de 2 dólares por dia. Os africanos nessa situação perfaziam 562 milhões de
indivíduos, mas espalhados por 47 países da região ao sul do Saara.
A China ainda possuía 399 milhões de pobres, mas foi o país que mais reduziu a pobreza desde o início da década
de 1980 quando começou seu acelerado crescimento econômico.
Em 2008 apenas três regiões - Leste da Ásia / Pacífico, Sul da Ásia e África subsaariana - concentravam 95% das
pessoas que vivem com menos de 2 dólares/dia.
Entre 1981 e 2008 houve uma redução da pobreza no mundo e quem mais contribuiu para isso foi o Leste da Ásia e
sobretudo a China. A pobreza é muito desigual entre os países, mesmo nas regiões onde há mais concentração de pessoas
pobres.

3.7.2 - Índice de desenvolvimento humano (IDH)


O IDH é uma medida sumária do desenvolvimento humano, que mede as realizações médias de um país em três
dimensões básicas do desenvolvimento: uma vida longa e saudável, o acesso ao conhecimento e um padrão de vida digno.
101
Por isso o IDH permite analisar as condições de vida de uma população, para além dos indicadores econômicos tradicionais
(como renda per capita e PIB), pois são considerados os sociais (expectativa de vida, mortalidade infantil e analfabetismo)
Analisar o desenvolvimento de um país apenas do ponto de vista macroeconômico significa obter uma visão parcial e
limitada da realidade devem ser considerados os aspectos políticos (respeito aos direitos humanos, participação política da
população, entre outros) e a sustentabilidade ambiental.
O economista indiano Amartya Sen, um dos criadores do IDH, define o desenvolvimento como um processo de
expansão das liberdades reais dos seres humanos, o que inclui o acesso a bons serviços de educação e saúde, garantias
de direitos civis, etc. Segundo ele, não podemos encarar o desenvolvimento apenas do prisma dos indicadores econômicos.
Desde 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) calcula e divulga o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de quase todos os países. Esse índice fornece um retrato mais preciso das condições de
vida das populações.
As tradicionais explicações que enfatizam as relações econômicas entre os países ao longo da História, embora não
sejam falsas, consideram apenas uma faceta desse complexo problema. Ao darem destaque à relação Norte-Sul e aos
antagonismos entre os países ricos e os pobres (e muitos nem são tão pobres) como responsáveis pelas desigualdades
sociais, encobrem as contradições internas tanto dos países em desenvolvimento quanto dos países desenvolvidos.

3.7.3 - Entre os motivos da pobreza


Com poucas exceções, os países em desenvolvimento, principalmente os "países menos desenvolvidos", são, ou
foram por longo período, governados por ditaduras ou regimes democráticos pouco consolidados, sob o comando de elites
em geral indiferentes ao bem-estar social do restante da população. Por isso, o Estado deixa de cumprir muitas de suas
atribuições básicas e dedica-se a satisfazer aos interesses da classe social ou do grupo étnico que detém o poder. Essa
apropriação do Estado por um setor da sociedade (clã ou etnia, por exemplo) é mais comum nos países menos
desenvolvidos, sobretudo na África subsaariana, e denominada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells de "Estado
predatório". Em casos extremos, uma pessoa ou uma família chega a comandar um país.
Em países em desenvolvimento que atingiram certo grau de industrialização, como muitos dos emergentes, é
frequente um grupo social ou partido político se apropriar do aparelho de Estado. Nesse caso, é comum a concessão de
subsídios e de generosos incentivos fiscais a diversos grupos econômicos ligados ao poder instituído, muitas vezes em
detrimento de investimentos sociais que poderiam beneficiar a maioria pobre da população. O desvio das funções do
governo, a relação entre o Estado e o capital, o governo e o partido político, a impunidade e o desrespeito à cidadania
acabaram intensificando nos países em desenvolvimento, especialmente nos menos desenvolvidos, outro fenômeno: a
corrupção.
Embora não seja exclusividade desses países, este problema está fortemente arraigado na maioria deles, devido à
falta de transparência e à impunidade, e consome vultosos recursos, que poderiam ser investidos na solução dos graves
problemas sociais que enfrentam. A corrupção é um problema que aparece em todos os países: desenvolvidos, emergentes
e menos desenvolvidos. Entretanto, ela é muito mais séria nos países em desenvolvimento, especialmente nos menos
desenvolvidos, onde o sistema jurídico é frágil e a cidadania, pouco consolidada.

3.7.4 - Paraísos fiscais


Estreitamente ligada ao problema da corrupção está a questão dos "paraísos fiscais". Muitas vezes o dinheiro obtido
em esquemas ilícitos é transferido para paraísos fiscais no exterior, muitos deles localizados em países desenvolvidos ou
em territórios ultramarinos desses países.
É importante salientar que o IPC avalia apenas a corrupção no setor público, portanto, não leva em consideração que
muitos países na lista dos menos corruptos dão suporte financeiro aos criminosos que atuam no mundo, principalmente nos
países mais pobres. Ou seja, alguns países ricos e "altamente limpos" são coniventes com a corrupção. Por exemplo: a
Suíça, um dos países menos corruptos do mundo (IPC 8,8), tem um histórico de abrigar em seu sistema bancário - em
contas secretas - dinheiro oriundo de esquemas de corrupção de países em desenvolvimento. Por isso vem crescendo a
pressão sobre os paraísos fiscais para que seus sistemas financeiros sejam mais transparentes e menos coniventes com a
corrupção internacional.

3.7.5 - A violência e a pobreza


Outro sério problema que várias das nações menos desenvolvidas enfrentam, sobretudo as africanas e asiáticas, são
as guerras civis que as arruínam social e economicamente. De acordo com a publicação lhe State of the World Atlas 2012,
das trinta guerras em andamento em 2010, dezessete ocorriam na Ásia (sendo cinco no Oriente Médio), nove na África (sete
na região subsaariana), três na América Latina e uma na Europa. Essas guerras atingiam principalmente os chamados
"Estados falidos", aqueles países em que a sociedade está em maior ou menor grau mais vulnerável aos conflitos violentos
e à desagregação social e econômica.
Dos quinze Estados com maior índice de falência, dez são da África subsaariana, quatro da Ásia e um do Caribe.
Alguns dos países mais pobres do mundo, muitos dos quais na lista dos "Estados falidos", têm mais despesas públicas
com as forças armadas do que com saúde e educação. É exatamente o oposto do que ocorre nos países mais desenvolvidos.
Entretanto, deve ser lembrado que o percentual gasto com armas nas maiores potências econômicas mundiais, embora
pequeno em termos percentuais, representa muito dinheiro devido ao tamanho de seus PIBs.
Em 2010, os Estados Unidos foram o país que mais gastou, em termos absolutos, com armamentos no mundo. Em
termos relativos está longe da Arábia Saudita, mas como o PIB norte-americano era de 14.587 bilhões de dólares naquele
ano, os 4,8% do orçamento de suas forças armadas corresponderam a 700 bilhões de dólares. Os sauditas comprometeram
102
10,4% de um PIB de 435 bilhões de dólares, o que correspondeu a um gasto total de 45 bilhões de dólares. O valor dos
gastos norte-americanos com armas é quinze vezes maior do que o dos sauditas e corresponde a uma vez e meia o PIB
desse país do Oriente Médio, que é a 23ª economia mundial (os dispêndios armamentistas da maior potência militar do
planeta superam o PIB de mais de 90% dos países-membros da ONU). Note como a situação dos países mais pobres é
perversa: têm um PIB pequeno e gastam proporcionalmente mais com armas, sobrando menos para investimentos sociais.
É importante lembrar também que os países "menos desenvolvidos" não são produtores de armamentos, por isso
importam dos países desenvolvidos (e de alguns "emergentes"), principalmente das grandes potências militares, os maiores
exportadores mundiais de material bélico. Apenas os Estados Unidos são responsáveis por 30% do comércio internacional
de armas.
Enquanto bilhões de dólares são gastos em armas no mundo todo, milhões de pessoas não têm o que comer. Nos
países pobres, principalmente na África subsaariana há adultos, jovens e crianças morrendo em guerras, nas quais se usam
armamentos caros importados dos países ricos, e de fome, porque não têm como produzir alimentos nem comprar comida.
Em muitos "países menos desenvolvidos" e com graves problemas institucionais a falta de perspectivas
socioeconômicas faz com que muitos jovens principalmente do sexo masculino sejam aliciados por grupos armados. A
superação da falta de perspectivas socioeconômicas, do desalento que impera nos países pobres, passa antes de tudo por
romper o círculo vicioso pobreza-guerra-pobreza, principalmente nos chamados "Estados falidos". Contudo, essa não é uma
tarefa fácil, por causa dos interesses envolvidos tanto dos grupos que detêm o poder nesses países quanto dos exportadores
de armas. Mas a tomada de consciência internacional da importância de combater a pobreza e a desesperança mobilizou
os países do mundo em torno dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

3.7.6 - Objetivos de desenvolvimento do milênio


Na Cúpula do Milênio, realizada em 2000 na sede da ONU, em Nova York, foi lançada uma ambiciosa proposta para
reduzir a pobreza mundial e melhorar os indicadores de desenvolvimento humano dos países da África, da Ásia e da América
Latina, onde se encontra a maioria dos pobres do mundo. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) constam
da Declaração do Milênio das Nações Unidas, documento assinado pelos países-membros da ONU (na ocasião eram 189).
Todos os países-membros da organização assumiram oito compromissos, a serem postos em prática até o ano de 2015. 1º
Erradicar a extrema pobreza e a fome, 2º Atingir o ensino básico universal, 3º Promover a igualdade entre os sexos e a
autonomia das mulheres, 4º reduzir a mortalidade infantil, 5º Melhorar a saúde materna, 6º Combater o HIV, a Malária e
outras doenças, 7º Garantir a sustentabilidade ambiental, 8º Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

4. GLOBALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

4.1 - Do pós-guerra aos dias atuais (Da velha ordem à nova ordem mundial)
Para entender as transformações desse período é necessário estudar a ordem internacional, ou seja, o arranjo
geopolítico e econômico que regula as relações entre as nações do mundo nesse momento histórico que vai desde o fim da
Segunda Guerra até os dias de hoje.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo vem passando por importantes mudanças geopolíticas e
econômicas. Com o fim da Segunda Guerra Mundial teve início a Guerra Fria (1947-1991) período marcado pelo
antagonismo geopolítico-ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética, pela bipolarização de poder entre as duas
superpotências e pelo medo da eclosão de uma guerra nuclear. Para compreender esse período vamos entender a Segunda
Guerra Mundial.

4.1.1 -A Segunda Guerra Mundial


Durante a Segunda Guerra Mundial a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), criada em 1922, o
Reino Unido, França e os EUA, grupo dos Aliados, lutaram
do mesmo lado, visando derrotar as forças do Eixo
(Alemanha, Japão e Itália).
A União Soviética sofreu grandes perdas humanas
(mais de 20 milhões de pessoas morreram, a maioria civis) e
prejuízos materiais (grande parte das indústrias, cidades e
fazendas foi destruída) por causa da guerra, por isso
estabeleceu como metas a reconstrução do país e a busca
do equilíbrio bélico com o rival ocidental.
Diferentemente, os EUA, que ingressaram no conflito
somente em 1941, além de perderem relativamente poucos
combatentes, conseguiram manter intactas suas cidades,
indústrias e propriedades agrícolas, e ainda aumentaram a
produtividade industrial e acumularam vultosas reservas.
Emergiam, portanto, duas superpotências no cenário
mundial: a URSS e os EUA.
No final da guerra, em 1945, a derrota dos países do Eixo e, ao mesmo tempo, o enfraquecimento econômico, militar
e político do Reino Unido e da França, levaram o mundo a um período de grandes transformações econômicas e
103
geopolíticas.
As potências europeias perderam importância geopolítica, já que o poder passou para as novas potências que
emergiram. Essas novas transformações deram início a um período conhecido como Guerra Fria causando uma divisão
política e econômica da Europa, principalmente, de acordo com os interesses das duas grandes potências.

4.1.2 - Guerra Fria - A Velha Ordem Mundial


A divergência ideológica entre Estados Unidos, que defendia a expansão do capitalismo pelo mundo, e a União
Soviética, que defendia o socialismo, seguiam linhas político-econômicas diferentes. O capitalismo é um sistema que
defende a economia de mercado, o pluripartidarismo e uma sociedade dividida em classes sociais. Já o socialismo é um
sistema que organiza o território a partir de uma economia planificada, sem divisão de classes sócias, do ponto de vista
teórico, e unipartidária.
O mundo era bipolar, ou seja, havia duas superpotências que comandavam o mundo e essas duas potencias dividiram
a Europa em zonas de influências como mostra o mapa ao lado, a Europa Ocidental também conhecida como países do
oeste e Europa Oriental como países do leste.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial a relação se transformou num confronto indireto.
Confronto indireto porque como definiu bem o cientista político francês Raymond Aron: "Guerra Fria, paz impossível,
guerra improvável". A paz era impossível porque as superpotências apresentavam, em vários aspectos, um antagonismo
insuperável. A guerra era improvável porque, se ocorresse e culminasse num enfrentamento nuclear, não haveria
vencedores, podendo mesmo levar ao fim da humanidade ou ao menos a barbárie. Isso porque as armas de destruição em
massa - mísseis carregados com bombas nucleares - eram construídas pelas duas superpotências.
Como cada uma das superpotências tentava disseminar seus respectivos sistemas econômicos e seus valores político
- ideológicos, a divisão do mundo em dois blocos rivais e a emergência do conflito Leste-Oeste foram marcadas pelo
antagonismo geopolítico-militar e pela propaganda ideológica. Cada uma delas, ao mesmo tempo que fazia esforços para
ampliar sua área de influência, tentava conter a expansão da outra, numa época marcada pela bipolarização de poder
entre os EUA e a URSS, que ficou conhecida como Guerra Fria.
Nesse período as duas superpotências, buscando manter o equilíbrio bélico e a paridade nuclear, mantiveram uma
acirrada corrida armamentista em que as armas eram construídas não para serem usadas, sobretudo os letais mísseis
nucleares, e sim para servir de instrumento para demonstração de força. Nenhum dos lados admitia ficar em posição de
inferioridade. Em suma, o que garantiu a paz durante esse período foi a premissa de que o conflito bélico asseguraria a
mútua destruição por isso imperou uma "paz armada".

Que fato marcou o início da Guerra Fria?


A Guerra Fria teve início a partir do final da Segunda Guerra mundial. Contudo, em 1947, quando os Estados Unidos
lançaram as bases da Doutrina Truman e do Plano Marshall, é considerado um dos marcos do início desse período
histórico.
Nesse ano o presidente Harry S. Truman (que governou o país de 1945 a 1953) incentivou a concessão de créditos
para a Grécia e a Turquia com o objetivo de sustentar governos pró-ocidentais naqueles países. O objetivo geopolítico
fundamental da Doutrina Truman era a contenção do socialismo, isolar a União Soviética e impedir a expansão de sua
área de influência.
Complementando a Doutrina Truman, o então secretário de Estado norte-americano, George C. Marshall, idealizou o
Plano Marshal de ajuda econômica para acelerar a recuperação econômica dos países da Europa Ocidental. Esse
plano tinha como objetivo, além dos já citados acima, o de recuperar mercados para produtos e capitais norte
americanos.
Além do Plano Marshall, direcionado à Europa no início da década de 1950, foi elaborado o Plano Colombo, voltado
para estimular o desenvolvimento de países do Sul e Sudeste da Ásia através de ajuda financeira. O Japão foi
beneficiado por um programa de ajuda bilateral e, entre 1947 e 1950, recebeu US$2,5 bilhões (em valores da época)
diretamente do Tesouro dos Estados Unidos.
Todos esses planos de ajuda econômica possibilitaram o fluxo de produtos e capitais norte-americanos e, junto com
a Doutrina Truman, a contenção do expansionismo soviético. Para administrar e distribuir os recursos do Plano Marshall, em
1948 foi constituída a Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE) que depois passou a se chamar
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

4.1.3 - Alianças militares dos EUA


Com o mesmo objetivo de conter o socialismo, além das ajudas econômicas foram feitas também alianças militares.
No início da Guerra Fria, muitos setores da sociedade norte-americana acreditavam que, se a União Soviética estendesse
sua influência a outros países além do Leste Europeu e da China (que aderiu ao socialismo em 1949), todos os países,
sucessivamente, acabariam caindo nas "garras" do inimigo. Esse pressuposto geopolítico ficou conhecido como efeito
dominó. Para contê-lo, os Estados Unidos criaram várias alianças militares: na Europa Ocidental a Organização do tratado
do Atlântico Norte - Otan, no Sudeste Asiático a Organização do Tratado do Sudeste da Ásia - Otase) e no Oriente Médio o
Pacto de Bagdá. Além de acordos bilaterais com alguns países como o Japão e a Coreia do Sul, estabelecendo um cinturão
de isolamento em torno da superpotência rival, que ficou conhecido como cordão sanitário. A mais importante dessas
organizações militares foi a Otan.

104
Aliança militar Norte Americana - OTAN
A Otan, criada em 1949 e com sede em Bruxelas (Bélgica), para
defender a Europa Ocidental da ameaça soviética. Com a criação da
Otan, os EUA delimitaram sua zona de influência na Europa Ocidental
por meio da construção de uma série de bases militares e da
constituição de um gigantesco mercado de armamentos convencionais
e nucleares para seu complexo industrial-militar e também de seus
aliados.
A Otan foi uma criação norte-americana em represália ao
bloqueio, por terra, feito a Berlim Ocidental pelos soviéticos. Para furar
o bloqueio os aliados capitalistas abasteceram Berlim Ocidental pelo
ar, por meio de uma "ponte aérea", furando o bloqueio terrestre imposto
pela URSS, entre junho de 1948 e maio de 1949, foi uma reação à
implantação do marco, moeda que circulava na parte ocidental da
Alemanha. Depois de onze meses, o bloqueio foi suspenso, mas esse
acontecimento foi a primeira grave crise da Guerra Fria.
Outra consequência importante do bloqueio a Berlim feito pelos
soviéticos foi a criação da República Federal da Alemanha (RFA) ou
Alemanha Ocidental, em maio de 1949, nas zonas ocupadas pelos Estados Unidos, Reino Unido e França. A resposta
soviética veio em outubro daquele mesmo ano com a criação da República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha
Oriental em sua respectiva zona e ocupação.
Atualmente, entre as novas funções constam garantir a paz na Europa e dar apoio em intervenções internacionais,
como no Afeganistão. Ao ampliar sua atuação: fixou-se nas trocas militares de técnicas de segurança com a Europa, nas
intervenções de conflitos e até no combate ao narcotráfico.
Além disso, vem ganhando novos países-membros: em 1999 entraram na organização a Hungria, a Polônia e a
República Tcheca. Durante as negociações para a incorporação de países do Leste na organização, a Rússia posicionou-
se contra essa política expansionista, alegando que isso poria em risco a sua segurança, mas acabou aceitando-a em troca
de sua entrada no G-7, rebatizado de G-8. Finalmente, no início de 2002, com a criação do Conselho Otan-Rússia, esse
país passou a ser considerado um aliado estratégico, encerrando mais um capítulo da história da Guerra Fria. Em 2004,
mais sete países do antigo bloco oriental ingressaram na Otan, e, em 2009, mais dois, elevando para 28 o número de países-
membros. O ingresso de ex-integrantes do Pacto de Varsóvia demonstra como o mundo mudou do ponto de vista geopolítico
desde o fim da Guerra Fria.

4.1.4 - Divisão da Alemanha - socialista e capitalista


A divisão da Alemanha foi uma das consequências do período da Guerra Fria onde o mundo era dividido entre
capitalismo e socialismo. Com o fim da Segunda Guerra a Alemanha foi dividida entre os vencedores: americanos, britânicos,
franceses que ficaram com a Alemanha ocidental e a
URSS com a Alemanha oriental.
O mesmo aconteceu com Berlim, sua antiga
capital que ficou dividida entre a parte oriental socialista
e a ocidental capitalista.
Até a década de 1960 muitos berlinenses deixaram
o setor oriental em busca de melhores oportunidades de
trabalho no setor ocidental. Para acabar com esse
êxodo de trabalhadores e reafirmar a soberania sobre
seu setor da cidade, as autoridades orientais
construíram em 1961 o Muro de Berlim, com extensão
de 159 km, um dos símbolos mais significativos do
mundo bipolar e das tensões da Guerra Fria. Ao dividir
Berlim, com um muro de concreto, materializava-se no território de uma cidade todo o antagonismo dessa época: o conflito
Leste-Oeste, ou socialismo versus capitalismo.

105
4.1.5 - Aliança militar da URSS: Pacto de Varsóvia
Quando a Alemanha Ocidental ingressou na Otan, em 1955, a
resposta soviética veio com a criação de uma aliança militar sob seu
comando: o Pacto de Varsóvia. O Pacto de Varsóvia é uma aliança militar
assinada na capital da Polônia. A União Soviética delimitava, assim, sua
própria zona de influência e seu principal mercado de armas com a
Alemanha Oriental, o que consolidou a divisão da Europa pela "cortina de
ferro" [expressão criada em 1946 por Winston Churchill, então primeiro-
ministro inglês). Os países europeus orientais eram também conhecidos
como "países da cortina de ferro".
Com o fim da Guerra Fria, a importância das alianças militares tem
diminuído, e aquelas que não foram extintas sofreram reestruturação. A
mais importante delas, a OTAN, reduziu seu arsenal militar, ganhou mais
mobilidade, flexibilidade e novas atribuições.

4.1.6 - A Ordem Econômica da Guerra Fria - Instituições internacionais


criadas no período
A seguir faremos uma breve descrição sobre as principais instituições ou organismos internacionais criados no período
da Velha ordem mundial (Guerra Fria) e que ainda estão em funcionamento. Contudo muitas delas ampliaram suas funções
e mudaram de nomes. Vamos entender o funcionamento dessas instituições antes e após a Guerra fria. Essas instituições
permanecem com grande importância no mundo contemporâneo.

Conferência de Bretton Woods - Nos últimos meses, antes do final da Segunda Guerra, norte-americanos e britânicos,
preocupados com a recuperação econômica de um mundo devastado pelo conflito bélico, convocaram a Conferência de
Bretton Woods, em 1944. Os representantes dos 44 países participantes temiam a ocorrência de uma crise econômica,
como a dos anos 1930, e lançaram um plano que visava garantir a reconstrução e a estabilidade da economia mundial após
o término da guerra. Nessa reunião, foi estabelecido um novo padrão monetário - o dólar-ouro, em substituição ao ouro,
padrão vigente até então. Apesar da participação de várias nações, incluindo a União Soviética e o Brasil, quem definia as
regras do plano eram os Estados Unidos e, em menor grau, o Reino Unido.
Durante a Conferência de Bretton Woods foram constituídos dois organismos que até hoje são muito atuantes no cenário
político, econômico e financeiro mundial:
- o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), a instituição mais conhecida do Banco Mundial, e
- o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ambos com sede em Washington, capital dos EUA, já nasceram controladas pela potência hegemônica. Ao Bird
coube, inicialmente o financiamento da reconstrução dos países devastados pela guerra e, atualmente, o financiamento a
longo prazo de projetos visando o desenvolvimento dos países-membros (188 em 2012). Em 1960 foi criada a Associação
Internacional de Desenvolvimento (AID), que hoje concede empréstimos sem juros e assistência técnica aos 81 países
mais pobres do mundo (39 dos quais na África subsaariana).
A AID, o Bird e mais três instituições compõem o Grupo Banco Mundial. Originalmente chamado Banco Internacional
para Reconstrução e Desenvolvimento BIRD, atualmente é mais conhecido como Banco Mundial. A principal atividade do
Banco Mundial é fornecer empréstimos para os países em desenvolvimento em diversos programas de capital.
O que primeiro foi uma motivação para financiar a reconstrução dos países mais prejudicados pela segunda guerra,
quando era mais conhecido como BIRD, com o passar do tempo, se tornou uma possibilidade para dar espaço aos países
mais desfavorecidos em cooperação ao desenvolvimento da sua economia e capacidade produtiva com a constituição do
AID. Através das suas iniciativas como o AID, o Banco Mundial executa programas de redução da pobreza nas regiões mais
críticas a nível mundial, dá apoio a programas de capital, promove iniciativas no âmbito da melhora do meio ambiente
apoiando soluções inovadoras, entre outras.
O Banco Mundial oferece empréstimos para dar impulso a diversas iniciativas destinadas a projetos de melhoria em
áreas como saúde, energia, saneamento, infraestrutura e, a partir deste século, mitigação dos impactos no meio ambiente,
decorrentes dos projetos socioeconômicos.
O FMI foi criado para zelar pela estabilidade financeira mundial através de duas atribuições básicas: garantir
empréstimos aos países que tenham dificuldade para fechar seu balanço de pagamentos e assegurar a estabilidade nas
taxas de câmbio, sempre tendo o dólar como padrão de referência.
Constituído no ano 1944, o Fundo Monetário Internacional é a organização encarregada do controle e monitoramento
do sistema financeiro mundial através da regulação de taxa cambial e balança de pagamentos dos países membros,
prestando assistência técnica e financeira nos casos que for necessário. Objetiva evitar acontecimentos críticos se repetirem,
como a crise do ano 1929 nos Estados Unidos. O FMI concede empréstimos a países credenciados com problemas
financeiros e estabelece rigorosas regras que os países deverão cumprir para atingir as metas impostas pelo organismo.

Conferência Econômica de Havana - Para complementar as medidas econômicas idealizadas em Bretton Woods, foi
constituído, em 1947, na Conferência Econômica de Havana, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt, do inglês
General Agreement on Tariffs and Trade). Com sede em Genebra (Suíça), seu objetivo principal era combater medidas
protecionistas e estimular o comércio mundial. O Gatt, assim como o Bird e o FMI, sempre atuou em cooperação com a
ONU. Desde 1995, quando passou a denominar-se Organização Mundial do Comércio (OMC), tem procurado aumentar
106
sua influência nas questões comerciais mundiais. Durante o GATT foram realizadas sete rodadas de negociações para
estimular o comércio entre seus países membros. Quando se diz estimular o comércio entre os países significa reduzir ou
acabar com as tarifas alfandegárias e estimular o livre comércio, acabar com medidas conhecidas como dumping, reduzir
a presença de medidas não tarifárias como as restrições impostas a produtos através de requisitos sanitários, ambiental e
trabalhistas e hoje se discute muito dos subsídios agrícolas.
As 5 primeiras foram para discutir a redução das tarifas: 1ª Rodada de Genebra em 1947, 2º Rodada Annecy em 1949,
3º Rodada Torquay em 1951, 4º Rodada Genebra em 1956 e a 5º Rodada Dillon em 1960/1961. A sexta Rodada Kennedy
e a sétima Rodada Tóquio além de permanecerem discutindo formas de diminuir as tarifas começou a discutir também
medidas antidumping.
A sétima rodada é tida como a mais importante por ter ampliado ainda mais as discussões e incluído medidas não
protecionistas aos produtos agrícolas, têxtil, serviços. Até então as rodadas se limitavam a privilegiar a liberdade comercial
de produtos industriais, ou seja, produtos dominados pelos países ricos.
A oitava rodada recebeu o nome de Rodada Uruguai, durou até 1994 e foi quando o GATT passou a denominar-se
Organização Mundial do Comércio (OMC). O GATT era apenas um conjunto de acordos, no que se transformou, em OMC
passou a ter o mesmo status do BIRD e do FMI. Por isso teve mais força para fiscalizar o comércio mundial e fortalecer o
multilateralismo.

ONU - A Organização das Nações Unidas foi criada ao final da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de preservar a
paz e a segurança no mundo, além de promover a cooperação internacional para resolver questões econômicas, sociais,
culturais e humanitárias. O principal objetivo era evitar a eclosão de uma nova guerra. Sediada em Nova York, a ONU
substituiu a Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra.
Em 1945, representantes de 51 países, reunidos na Conferência de São Francisco (Estados Unidos), aprovaram uma
Carta de Princípios que deveria orientar as ações da entidade no mundo após a Segunda Guerra. Contudo, durante a Guerra
Fria, num mundo bipolar, a ONU tinha sua capacidade de ação bastante limitada, pois suas decisões ora contrariavam
interesses norte-americanos, ora soviéticos. O lado que se sentia prejudicado vetava a resolução que lhe contrariasse.
A ONU e sua organização - Atualmente, a ONU conta com diversas agências e vários órgãos, dos quais os mais
importantes são a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança (CS).
A Assembleia Geral congrega as delegações dos países membros (193 em 2012). Faz uma reunião por ano (pode haver,
entretanto, sessões de emergência), mas não decide sobre questões de segurança e cooperação internacional, limitando-
se a fazer recomendações.
O Conselho de Segurança é o órgão de maior poder da ONU. É composto de delegados de quinze países-membros,
dos quais cinco são permanentes e dez eleitos a cada dois anos. O poder desse órgão está concentrado nas mãos dos cinco
membros permanentes, que têm poder de veto: qualquer decisão só é posta em prática se houver consenso entre Estados
Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia (que substituiu a extinta União Soviética).
O CS pode investigar disputas e conflitos internacionais ou no interior de um país, propor soluções visando a acordos
de paz e adotar sanções que vão desde o corte das comunicações ou das relações diplomáticas até o bloqueio econômico.
Em último caso, pode autorizar o uso da força militar, como ocorreu em intervenções na Somália (1993), na Guerra de
Kosovo (1999) e na ocupação do Afeganistão (2001), todas sob a liderança dos Estados Unidos.
A alocação das forças de paz da ONU, como a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah),
enviadas àquele país em 2004, sob o comando do Brasil, também passa por aprovação do CS.

A ONU e sua força de decisão ameaçada - Um episódio que pôs a ONU em xeque: na guerra contra o Iraque (2003),
os Estados Unidos, com apoio solitário do Reino Unido, optaram por invadir o território iraquiano sem a autorização do CS,
com o intuito de derrubar o ditador Saddam Hussein (ele foi condenado à morte e executado em 2006). Sabendo que não
teria o apoio necessário dos membros do CS, o governo norte-americano, sob a Presidência de George W Bush (2001-
2009), resolveu apostar no unilateralismo e ignorou o órgão. Tal atitude desgastou a ONU e, por extensão, o
multilateralismo construído desde sua criação, porque fez com que a ONU perdesse a prerrogativa de decidir sobre
intervenções militares. O fato de a ONU estar sediada em Nova York é uma das evidências da influência que os Estados
Unidos tinham quando ela foi criada.
Conselho de segurança da ONU na atualidade - O Conselho de Segurança da ONU continua sendo o órgão mais
importante da ONU. Contudo a sua composição não expressa a correlação de forças do mundo atual, e sim a de quando a
ONU foi criada, resultante do desfecho da Segunda Guerra. Por isso, em 2004, o Brasil, a Alemanha, o Japão e a Índia
formaram um grupo para tentar acelerar sua reforma. Em 2005 esse grupo apresentou à Assembleia Geral um projeto que
previa a expansão do número de membros permanentes. Diante da falta de consenso, o projeto não foi acatado, mas o Brasil
não desistiu de seu propósito. Por ser o maior da América Latina em termos territorial, populacional e econômico, o país é
um candidato natural a uma vaga permanente caso o CS seja ampliado. O governo brasileiro tem feito articulações
diplomáticas no sentido de conquistar um assento permanente no Conselho de segurança. É importante um Conselho mais
representativo e democrático que contemple uma expansão dos assentos permanentes e não permanentes, com países em
desenvolvimento da África, da Ásia e da América Latina. É inaceitável a perpetuação de desequilíbrios contrários ao espírito
do multilateralismo.
Portanto, mesmo os EUA, que têm procurado se manter neutros nesse debate, e os outros membros permanentes
vierem a concordar em ampliar o CS, os postulantes ainda enfrentarão problemas, já que a entrada no CS depende da
aprovação de dois terços dos Estados-membros da ONU.
107
Na América Latina, o México e possivelmente a Argentina, apesar da parceria no Mercosul, poderiam questionar a
entrada do Brasil. Na África, também há outros pretendentes, como o Egito e a Nigéria, que podem concorrer com a África
do Sul. Na Ásia o conflito indo-paquistanês poderia se acirrar porque o Paquistão não se conformaria com a entrada da Índia,
seu inimigo histórico. Ainda na Ásia, a China tende a vetar a entrada do Japão por não querer vê-lo fortalecido política e
militarmente na região. Na Europa a situação da Alemanha não é confortável porque os italianos também são pretendentes
a uma vaga no Conselho e não querem ser preteridos. Cada pretendente terá de angariar o máximo de apoios para conseguir
seu objetivo, principalmente na região em que se localiza. O Brasil já obteve apoio de quase todos os membros permanentes
do CS, com exceção dos EUA, que até 2012 não tinham se posicionado. O apoio da China e da Rússia foi formalizado no
primeiro encontro do Brics.

Da OECE a OCDE - Para administrar e distribuir os recursos do Plano Marshall, em 1948 foi constituída a Organização
Europeia de Cooperação Econômica (Oece). Entre 1948 e 1952 foram transferidos recursos da ordem de US$13 bilhões
a dezoito países europeus ocidentais. Os principais beneficiados pelo programa de recuperação foram: Reino Unido (24%),
França (20%), Alemanha Ocidental (11%) e Itália (10%). Grande parte desse dinheiro foi usada para comprar máquinas e
equipamentos, matérias-primas, fertilizantes e alimentos, entre outros bens, que ajudaram a recuperar a economia europeia,
mas também a estimular a indústria e a agricultura norte-americanas. A maioria dos produtos era adquirida dos Estados
Unidos porque parte desse dinheiro era doação, vinculada à compra de produtos de empresas do país, e outra parte era
empréstimo.

OCDE - Em 1961 a OECE passou a se chamar Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
porque nações não europeias foram admitidas e novos objetivos foram traçados. Os novos países não europeus
desenvolvidos admitidos foram: Japão (1964), Finlândia (1969), Austrália (1971) e Nova Zelândia (1973). Está sediada em
Paris e seus fundadores foram os 18 países beneficiados pelo plano Marshal mais os EUA e o Canadá. Durante décadas a
OCDE foi conhecida como o "clube dos ricos", congregando alguns' dos países mais ricos e industrializados do mundo.
De acordo com a Convenção assinada pelos vinte países fundadores, seus objetivos são:
- alcançar um crescimento econômico vigoroso e sustentável, gerando empregos e melhorando o padrão de vida da
população dos países-membros, enquanto mantém a estabilidade financeira;
- contribuir para a expansão econômica sustentada dos países-membros e não membros e para o desenvolvimento da
economia mundial e
- contribuir para a expansão do comércio mundial com base em acordos multilaterais.

OCDE na atualidade - A partir da década de 1990, com a entrada de México, República Tcheca, Hungria, Polônia, Coreia
do Sul, Eslováquia, Chile, Eslovênia, Estônia e Israel, a OCDE não é mais composta apenas de países desenvolvidos, como
no início. Entre os 34 países que hoje compõem a organização há economias emergentes e países do antigo bloco socialista.
Em contrapartida, Brasil e China, por exemplo, ainda não fazem parte da OCDE, apesar de maiores e mais
industrializados do que muitos membros da organização. Desde 1998 o Brasil vem mantendo um programa de cooperação
com a OCDE em diversas áreas. Por exemplo, tem participado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na
sigla em inglês). Em maio de 2007, o Conselho de Ministros da OCDE adotou uma resolução que iniciou tentativas com o
governo brasileiro visando à sua entrada na organização. Negociações semelhantes foram iniciadas com os governos da
Rússia, China, Índia, Indonésia e África do Sul. Portanto, há forte tendência de a OCDE ampliar o número de seus membros.

OMC - começou a funcionar em 1995 e em 2008 eram 153 membros. A China entrou em 2001. A função dela é servir de
conciliadora em relação a problemas ligados ao comércio mundial. Quando um país se sente prejudicado no comércio
internacional tem o direito de apresentar a OMC um pedido de sanção contra esta nação que está transgredindo as regras
da organização. Cabe o OMC chegar a uma decisão consensual.
Liderada pela OMC aconteceram 4 rodadas chamadas de Conferências Ministeriais da OMC. A primeira em 1996
foi em Cingapura, a segunda em 1998 em Genebra, a terceira em Seattle no EUA, a quarta em 2001 em Doha no Catar e a
quinta em 2003 em Cancún. Nessas reuniões lideradas pela OMC as discussões tinham como objetivo conquistar a total
liberalização do comércio mundial. Contudo, há divergências de interesses entre os países emergentes e os países centrais.
Os países centrais se recusam a diminuir os subsídios agrícolas na sua agricultura e essa política protecionista prejudica os
países emergentes e periféricos.
Foi nesse contexto que foi criado o G-20 comercial que é uma união entre países emergentes (em desenvolvimento)
para pressionar os países ricos a abolir as políticas protecionistas. Mesmo com a articulação desses países emergentes que
tem grande legitimidade por sua capacidade de traduzir os interesses dos países emergentes em propostas concretas e
consistentes a intransigência dos países ricos faz com que o impasse permaneça até os dias de hoje.

O FIM DA GUERRA FRIA


O fim desse período marcante no pós-guerra deve ser entendido como um processo que teve início com a adoção
das políticas da perestroika e glasnot, com a chegada de Mikhail Gorbatchev ao poder na URSS. Nesse primeiro momento
o governo soviético definia que a sua política para o seu exterior próximo, o leste europeu, seria de não intervenção nas
respectivas políticas domésticas – era o início do enfraquecimento do Pacto de Varsóvia. Na sequência, foi dado início a
política de flexibilização que possibilitaria o surgimento de novos partidos e a realização de eleições aos parlamentos das
repúblicas soviéticas - logo o fim da política de partido único.
108
O segundo momento foi a retomada da liberdade política no leste europeu, com a realização de eleições livres e novos
partidos políticos. O fato mais marcante foi a queda do Muro de Berlim em 1989, derrubado por seus cidadãos,
O último advento foi a dissolução da União Soviética em 1991, dando origem a quinze novos países. Com isso chegou
ao fim o arranjo geopolítico e econômico que vigorou no pós-guerra. Com o término da Guerra fria o sistema que prevaleceu
em grande parte dos países foi o capitalismo.
Entretanto, mesmo com o fim da Guerra Fria ainda há resquícios daquele período histórico, como o bloqueio imposto
a Cuba, que desde 2014 vem diminuindo com ações do atual presidente Barack Obama, e a divisão da península da Coréia.
Ambos os países ainda são socialistas.

Países que permaneceram socialistas pós Guerra Fria: Cuba e Coreia do Norte
Cuba - os EUA mantêm um embargo econômico a Cuba desde 1962, ano em que o país caribenho foi expulso da OEA. O embargo e a
expulsão se deram em retaliação ao alinhamento de Cuba com a URSS, após a vitória da revolução de 1959, sob o comando de Fidel
Castro, que depôs o ditador Fulgêncio Batista, então aliado dos EUA. Em 2012, Fidel Castro ainda continuava no poder, mas o Poder
Executivo era exercido efetivamente por seu irmão, Raul Castro. Apesar de algumas concessões do regime, como a permissão de viagens
de cidadãos cubanos ao exterior, o embargo norte-americano vem sofrendo uma redução gradual.

Coreia do Sul e do Norte


Com a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, a Coreia, que havia sido dominada pelo Japão nesse período, foi dividida
entre norte-americanos e soviéticos, com o intuito de provocar a rendição e a desocupação japonesa. Mesmo depois de terminada a
Grande Guerra, a península permaneceu dividida de um lado, a Coreia do Norte, socialista, aliada da URSS (hoje da China), e, de outro,
a Coreia do Sul, capitalista, aliada dos EUA - e foi palco de uma guerra regional no período 1950-1953.
Ampliando o foco de tensão que vem desde o final dessa guerra, a Coreia do Norte tem investido no desenvolvimento de armas
nucleares e se transformou em um dos principais focos de instabilidade do mundo atual. Em 2006, o país fez seu primeiro teste nuclear
subterrâneo e, apesar das sanções internacionais impostas pelo CS da ONU, em 2009 fez uma segunda explosão em local de grande
profundidade, com uma bomba mais potente.
Em 2003, o governo do Japão estimava que as Forças Armadas norte-coreanas dispunham de cerca de cem mísseis com alcance
de 1300 quilômetros, portanto capazes de atingir qualquer ponto do território japonês. Atualmente, a Coreia do Norte já poss ui mísseis
de maior alcance, que podem atingir 3 mil quilômetros. Esses mísseis foram exibidos numa parada militar na capital do país em 2010.

Com o fim do mundo bipolar da Guerra Fria, a tendência era que a ordem internacional fosse multipolar porque o
Japão e a Alemanha se recuperaram da destruição sofrida na Segunda Guerra e despontaram como potências econômicas
e tecnológicas.
A recuperação japonesa foi tão consistente que nos anos 1980 muitos analistas creditavam que o país alcançaria os
EUA e talvez até se transformasse na maior potência econômica do mundo. Paralelamente a isso, a Alemanha e a França
lideraram a formação da União Europeia (integração iniciada na década de 1950, com o objetivo principal de recuperar e
fortalecer as economias de seus membros). Entretanto, com o passar do tempo nenhum deles se mostrou à altura de
desafiar a hegemonia norte-americana e consolidar um mundo multipolar. O mundo multipolar só começou a se consolidar
no século XXI, 10 anos após o fim da Guerra Fria.

4.1.8 - Pós-Guerra Fria: a nova ordem mundial


A Ordem Unipolar - alguns especialistas afirmam que com o fim da Guerra Fria o mundo mudou a ordem geopolítica de
bipolar para unipolar. A unipolaridade ocorre pelo fato de que nenhum país conseguiu superar ou se igualar a superpotência
norte americana. Veja os motivos abaixo:
1 - O Japão, mesmo no auge de seu poder econômico, era uma potência com limitações geopolíticas. Por causa da derrota
na Segunda Guerra e da constituição elaborada no período de ocupação norte-americana, renunciou à posse de armas
nucleares e mesmo de forças armadas com capacidade de intervenção externa. O país possui apenas forças de
autodefesa, e parte de sua segurança está a cargo dos EUA. Além disso, desde meados da década de 1990, o Japão
entrou num período de baixo crescimento econômico alternado com anos de recessão. Em 1985, o PIB japonês
correspondia a 32% do PIB norte-americano; em 1995, essa relação atingiu 71% (maior aproximação); mas, em 2005,
caiu para 36%, voltando aos níveis dos anos 1980.
2 - A Alemanha, embora seja uma grande potência econômica e tecnológica, recuperado sua plena soberania e se fortalecido
economicamente após a reunificação de 1990, também tem limitações geopolíticas: suas forças armadas estão sob o
controle da Otan, organização sempre comandada por um general norte-americano.
3 - A Rússia, apesar de herdeira do poderoso arsenal nuclear soviético, mergulhou em profunda crise econômica nos anos
1990, da qual começou a se recuperar somente na década passada. Porém, tem sido fortemente atingida com a queda
das commodities energéticas no mercado internacional e da forte redução de investimentos externos, em decorrência
da pressão dos governos das potências ocidentais contrários ao envolvimento do governo Putin nos movimentos
separatistas na Ucrânia.
4 - A China, nos anos 1990, apesar de vir crescendo a taxas elevadas desde o início dos anos 1980, antes de almejar se
alçar a potência mundial tinha muitos problemas internos a resolver, como garantir o crescimento econômico sustentado
109
e gerar empregos para sua enorme população. Na metade da década atual tem mostrado dificuldade em manter as
elevadas taxas de crescimento econômico.
Em razão disso, na década de 1990 muitos especialistas em relações internacionais argumentavam que o mundo
bipolar da Guerra Fria tinha sido substituído por um mundo unipolar, onde reinava apenas uma superpotência com poder
geopolítico e militar incontestável e enorme superioridade no campo econômico e tecnológico: os Estados Unidos. A tese da
unipolaridade se fortaleceu com a reafirmação do poder militar norte-americano após a eleição de George W. Bush em
janeiro de 2001 e, sobretudo, após os ataques de 11 de setembro daquele ano.
Esse atentado terrorista levou os Estados Unidos à guerra no Afeganistão, cujo objetivo era capturar Osama bin Laden
e destruir as bases da organização Al Qaeda naquele país. Dois anos depois, à guerra contra o Iraque, cujo intento era depor
Saddam Hussein, que supostamente armazenava armas de destruição em massa. Essa última guerra, na realidade uma
invasão nos moldes do antigo imperialismo, ocorreu sem a legitimação de urna resolução aprovada no CS da ONU,
reforçando o unilateralismo norte-americano.
Essas medidas refletiam a chamada Doutrina Bush, que consistia em desencadear ataques preventivos contra países
que, segundo o Pentágono, poderiam abrigar ou apoiar terroristas e ameaçar a segurança dos Estados Unidos. Além do
Afeganistão e do Iraque, já atacados, desde o governo de George W. Bush constam da lista do Pentágono como ameaças
à segurança dos Estados Unidos o Irã e a Coreia do Norte, países situados, de acordo com o então presidente norte-
americano, em seu linguajar maniqueísta, no chamado eixo do mal. Num de seus discursos, Bush chegou a ameaçar:
"Cada nação e cada religião têm de tomar uma decisão agora. Ou estão conosco ou estão com os terroristas". A
unipolaridade só começa a dar sinais de declínio com a crise dos EUA em 2008. Com a eclosão da crise mundial em 2008,
houve mudanças significativas - políticas, econômicas e consequentemente geopolíticas - no cenário descrito anteriormente.
Com essa crise houve um enfraquecimento da economia norte-americana, embora deva ser lembrado que ela já vinha dando
sinais de que não estava bem desde o início dos anos 2000.

A Ordem Multipolar - com a eleição do democrata Barack Obama, em 2008 (assumiu em janeiro de 2009), em grande parte
ajudado pela crise de 2008, houve uma importante mudança de rumo na política externa norte-americana. Com o novo
governo, os EUA abandonaram o unilateralismo da Doutrina Bush e vêm apostando no multilateralismo, que representa
a valorização da negociação e do diálogo, até mesmo com países antes inseridos no chamado eixo do mal. Também se
reaproximaram de tradicionais aliados, como a França e a Alemanha, cujas relações estavam estremecidas desde a
intervenção no Iraque, ação que esses países não apoiaram. Com a reeleição de Obama, em novembro de 2012, para mais
um mandato de quatro anos, essa política externa teve continuidade.
A tese da unipolaridade foi totalmente superada diante de vários motivos entre eles: a nova postura política e
econômica norte-americana, o fortalecimento econômico da China, considerada à segunda economia mundial (em 2010) e
principal credora dos EUA, à emergência do G-20 financeiro e comercial e do grupo conhecido como Brics. Outro importante
indicador das mudanças na correlação de poder econômico entre as potências atuais é o fato de os Estados Unidos serem
o país mais endividado do mundo e ser justamente a China seu maior credor, superando recentemente o Japão.
Embora os Estados Unidos continuem com mais poder do que os outros países, as relações entre as potências
consolidadas e emergentes caminham para uma situação de maior equilíbrio, de maior simetria e até mesmo de maior
interdependência; enfim, para um mundo multipolar. Previsões são sempre sujeitas à prova de realidade, mas apontam
um cenário de mudanças na correlação de forças em futuro próximo, indicando a emergência de novas potências no mundo.

Mundo multipolar: novas potências - Vários governos de países em desenvolvimento têm se empenhado no
aprofundamento da cooperação entre si e na busca por um mundo mais representativo. Segundo alguns especialistas, essa
cooperação é denominada cooperação Sul-Sul. Com isso visam aumentar a aproximação tecnológica e econômica entre
eles e o poder de negociação com os países desenvolvidos - muitas vezes chamados de países do Norte. Abaixo veremos
grupos que realizam fóruns de discussão para aumentar o poder político e ter maior participação e decisão no cenário
mundial.
Os principais grupos são: BRICS, IBAS e o G20. Todos esses grupos
são compostos na maioria por países emergentes ou periféricos o que
demonstra uma maior organização desses países para lutarem por maior
participação política e decidirem seus destinos.
O grupo Brics não é um bloco econômico, não é uma aliança política nem
militar. Brics é um acrônimo que define um grupo formado por cinco importantes
países emergentes no cenário internacional - Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul (que se juntou ao grupo em 2011). Esse grupo começa a se
destacar no cenário mundial por causa de coleta de dados feita por
especialistas que previram que esses quatro países estarão entre as seis
maiores potências econômicas do mundo em 2050. Os dados coletados que mostram um futuro promissor foram: tamanho
do PlB, taxa de crescimento econômico, renda per capita; tamanho da população, participação no consumo global e
movimentação financeira. O Brasil e Rússia possuem abundância de recursos naturais, enquanto China e Índia, de mão de
obra mercado consumidor é isso que lhes dá esse potencial de crescimento.
Os países do Brics, principalmente a China, são os que têm maior potencial para ocupar uma vaga entre as grandes
potências de um mundo multipolar em construção. Dois membros do Brics - Brasil e Rússia estão entre os maiores
compradores de títulos públicos do governo norte-americano e consequentemente passa a ser credores o que significa uma
interdependência.
110
Fóruns de discussões do BRICS - Há, contudo, apesar de muitas diferenças internas, pontos em comum e interesses
convergentes entre seus membros, e por isso esse grupo acabou realizando fórum de discussões.
Em 16 de junho de 2009, aconteceu na Rússia a primeira reunião dos chefes de Estado e de governo dos quatro países do
grupo (antes do ingresso da África do Sul, que só viria a ocorrer em 2011), e desde então eles se reuniram outras vezes.
O objetivo deles é, antes de tudo:
a) mostrar unidade diante das potências já estabelecidas,
b) discutir estratégias para terem maior participação nas decisões políticas e econômicas que afetam o mundo e
c) obter maior projeção internacional.
Durante a III Cúpula do Bric, realizada em Sanya (China) em 2011, a África do Sul foi convidada a fazer parte do
grupo, que assim ganhou o "S" de South Africa. Apesar de ser a maior economia africana, a África do Sul tem um PlB
pequeno comparado aos outros quatro. No entanto, tem um peso político importante como representante desse continente.

IBAS - O Fórum de Diálogo da Índia-Brasil-África do Sul (IBAS) reúne três grandes sociedades pluralistas, multiculturais e
multirraciais de três continentes, isto é, Ásia, América do Sul e África, como um agrupamento puramente Sul-Sul de países
com ideais compartilhados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável inclusivo, na busca de bem-estar para seus
povos. O que tem de comum entre essas nações que realizam o fórum esta: são potências intermediarias, com forte
influência nas regionais, democracias consolidadas e economias em ascensão. Os problemas em comum são a alta
desigualdade interna o que permite encontrar soluções juntas já que possuem o mesmo desafio.
O grupo tem como objetivo reformas nos mecanismos de tomada de decisões em nível global como exemplo: reforma
no Conselho de Segurança das Nações Unidas e são contra os subsídios dos países ricos aos produtos agrícolas locais. Ou
seja, buscam em suas reuniões estratégias de conseguirem uma ordem multipolar com maior atenção as opiniões dos países
emergentes. O grupo busca atuar de forma coordenada nos fóruns internacionais para aumentar o poder de negociação de
seus membros e, como candidatos a membro permanente do CS da ONU, defendem a reforma desse órgão.

G-20 Financeiro - Com as sucessivas crises que atingiram as


economias emergentes no final da década de 1990, tornou-se
necessária a criação de um novo fórum para discutir formas de
regulação do sistema financeiro internacional. O G-20, criado em 1999,
é composto pelos países do G-8, pela Austrália, pelos dez países
emergentes com maior peso econômico no mundo e, ainda, a União
Europeia. Trata-se do reconhecimento da crescente importância
econômica dos países emergentes, principalmente China, Brasil e Índia,
e da aceitação de que até então eles não tinham uma participação
adequada nos destinos da economia mundial.
A Europa já está super-representada pois além de abrigar
quatro países como representantes individuais - Alemanha, França,
Reino Unido e Itália -, ainda tem a própria União Europeia, que
representa os 27 países do bloco.
Atualmente, o fórum que tem ganhado projeção, especialmente
depois da crise de 2008/2009. É o G-20 (Grupo dos 20), que congrega
também as principais economias emergentes.
O G-20 congrega cerca de dois terços da população do planeta, 90% do PIB mundial e 80% do comércio internacional.
A reunião inaugural do fórum aconteceu em dezembro de 1999, em Berlim (Alemanha) e desde então vêm ocorrendo
reuniões anuais.
A décima reunião regular do G-20 realizou-se em novembro de 2008 em São Paulo, alguns dias depois ocorreu uma
nova reunião em Washington. Só que nessa reunião extraordinária, convocada para buscar saídas para a crise financeira,
os países do G-20 estiveram pela primeira vez representados por seus chefes de Estado e de governo. Foi mais uma
demonstração da crescente importância das economias emergentes as menos atingidas pela crise mundial.
Dando continuidade às negociações os chefes de Estado e de governo do G-20 reuniram-se novamente em abril de
2009 em Londres quando foi lançado um plano com medidas visando à superação da crise financeira global. Em razão do
agravamento da crise houve outra reunião do G-20 ainda em setembro daquele ano em Pittsburgh (Estados Unidos) e mais
duas em 2010: Toronto (Canadá) e Seul (Coreia do Sul).
Em 2012 realizou-se a sétima cúpula do G-20 em Los Cabos (México). Nela foi acordado o "Plano de Ação de Los
Cabos" com medidas voltadas à estabilização financeira e à recuperação da demanda do mercado consumidor para
assegurar a continuidade do crescimento econômico e a recuperação do emprego. Para contribuir para atingir esses
objetivos foi acertado entre os líderes do grupo um aumento da capacidade de empréstimo do FMI com um aporte de novos
recursos da ordem de 456 bilhões de dólares (os Brics se comprometeram com 83 bilhões de dólares).

111
G 20 comercial - Outro exemplo do fortalecimento dos países em
desenvolvimento ocorreu na 5ª Conferência Ministerial da OMC,
realizada em Cancún (México), em setembro de 2003. Nela foi
constituído, mais uma vez sob a iniciativa da diplomacia brasileira e
dos aliados do IBAS, um grupo de países que ficou conhecido como
G-20 (Grupo dos 20) comercial. O G-20 comercial busca defender os
interesses dos países em desenvolvimento nas negociações
comerciais com os países desenvolvidos - outro exemplo de
cooperação Sul-Sul. O objetivo é pressionar os países ricos a reverem
suas medidas protecionistas no setor agrícola.
O G-20 comercial (do qual faziam parte, em 2012, 23 membros)
é composto apenas de países em desenvolvimento: doze da América
Latina, seis da Ásia e cinco da África a Rússia não faz parte do grupo.
Representam 60 % dos habitantes do planeta e 70% de sua população
rural. São responsáveis por 26% das exportações agrícolas. Seu principal objetivo é pressionar os países desenvolvidos a
reduzirem os subsídios no setor agrícola. Esses subsídios são responsáveis pela menor exportação de produtos dos países
pobres para os países ricos.

G-7/G-8 X G-20 - Ainda no período da Guerra Fria, além das organizações econômicas criadas em Bretton Woods e em
Havana, os países mais ricos constituíram um fórum de debates sobre a conjuntura econômica e política mundial, conhecido
durante muito tempo como G-7. Esse grupo é composto por países ricos que organizavam a política econômica de acordo
com seus interesses muitas vezes não levando em consideração os países emergentes e periféricos. Por se caracterizar
como um fórum, o grupo não tem uma sede fixa, e a cada ano o encontro acontece num país-membro, quando são debatidas
as questões mundiais de interesse do grupo.
O G-7 (Grupo dos 7) teve sua origem em um encontro realizado em 1975, no qual se reuniram representantes das
principais potências capitalistas da época: França (o país anfitrião), Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Itália e Japão.
Nasceu, portanto, como G-6.
Em 1977, o Canadá passou a fazer parte do grupo, que se transformou em G-7. Durante anos esse fórum aglutinou
as sete maiores economias do mundo.
Em 1997, num encontro realizado em Denver (Estados Unidos), a Rússia foi admitida como membro do grupo, que
passou a ser chamado de G-8. A entrada da Rússia no grupo dos países mais ricos do mundo é contraditória porque o país
é classificado como emergente. Mas como durante as negociações para a incorporação de países do Leste na OTAN a
Rússia posicionou-se contra, alegando que isso poria em risco a sua segurança, o Grupo do G 7 ofereceu a participação da
Rússia no grupo. A Rússia acabou concordando com a entrada de países do leste europeu na OTAN em troca de sua
entrada no G-7, rebatizado de G-8.
O G-8 está descaracterizado porque não reúne mais as maiores economias do planeta e o cenário econômico mundial
está muito mais complexo do que na época em que foi criado. O grupo não dispõe mais de condições para continuar a ser
o diretor da economia mundial. Muitas de suas atribuições foram transferidas para o G20 financeiro que congrega países
emergentes países centrais na busca do fortalecimento da economia mundial, proporcionando uma estabilidade financeira
no mercado global, garantindo um futuro sustentado para todos os países. Diante disso os emergentes adquiriram um peso
maior nas decisões mundiais.

5. A LÓGICA DOS ESPAÇOS INDUSTRIAIS


5.1 - As transformações no espaço
A geografia das indústrias - A importância da indústria
A atividade industrial é muito importante nas economias dos países desenvolvidos e de muitos países em
desenvolvimento, principalmente dos emergentes. Entretanto, não é simples captar a real contribuição do setor industrial
para a economia de um país. Por exemplo, nos países industrializados mais avançados, a maior contribuição para o PIB
vem do setor de serviços, não do industrial, embora este continue muito importante. Mesmo em muitos países em
desenvolvimento, a maior contribuição para o PIB vem dos serviços. Nos países desenvolvidos os serviços contribuem em
média com aproximadamente 75% do PIB, a indústria com mais ou menos 25% e a agropecuária com 1% ou 2%. Nos
Estados Unidos, por exemplo, em 2009, os serviços contribuíram com 78% do PIB, a mais alta taxa do mundo, a indústria
com 21% e a agropecuária com 1%. Entretanto, sem a indústria não existiriam boa parte dos serviços e menos ainda a
agricultura, que depende de insumos industriais para produzir alimentos e matérias-primas.
Embora haja países extremamente pobres, como a Etiópia, em que o setor industrial tem uma participação muito
reduzida no PIB, há outros, como a Argélia, onde essa participação é muito elevada, bem maior que em alguns países
desenvolvidos. Entretanto, esse percentual não mostra se nesses países a atividade industrial é moderna ou arcaica, se é
diversificada ou dependente de um único setor (como no caso da Argélia, muito dependente do petróleo), se as fábricas
usam máquinas modernas e robôs, e a produtividade é alta, ou se usam muita mão de obra, e a produtividade é baixa.
Em outras palavras, a contribuição da indústria para o PIB, considerada de forma isolada, não é suficiente para mostrar
a importância quantitativa e qualitativa da atividade industrial em um país. Por isso, a Organização de Desenvolvimento
Industrial das Nações Unidas (Unido) elaborou o Índice de Competitividade Industrial, um indicador que mede várias
112
dimensões desse setor de atividade. Com base nele, é possível avaliar de forma mais abrangente a importância da indústria
e seu grau de desenvolvimento tecnológico em diversos países.

Classificação das indústrias


Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do IBGE, todas as atividades desenvolvidas na
economia brasileira estão classificadas em 21 grandes categorias: A – Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e
aquicultura; B – Indústrias extrativas; C – Indústrias de transformação, e por aí vai, até a letra U. Cada uma dessas atividades
é dividida em setores e subsetores. A classificação da CNAE segue padrões internacionais utilizados em levantamentos
estatísticos para permitir comparações entre o Brasil e outros países.
A produção industrial brasileira está, então, classificada em duas grandes categorias: B – indústrias extrativas,
divididas em cinco setores: extração de petróleo e gás natural, extração de minerais metálicos, etc.; e C – indústrias de
transformação, distribuídas em 24 setores: fabricação de produtos alimentícios, têxteis, químicos, de máquinas e
equipamentos, etc.
O que é comumente chamado de indústria da construção civil, o IBGE chamou de construção (item F da lista da
CNAE), categoria que abriga os setores de construção de edifícios e obras de infraestrutura. Há outra classificação, com
base na qual o IBGE coleta dados e divulga os Indicadores da produção industrial por categorias de uso. Nessa classificação,
mais sintética, o órgão do governo federal agrupa todos os setores e subsetores das indústrias de transformação da CNAE
em três categorias, de acordo com os bens produzidos.

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Existem ainda outras formas de classificação das indústrias, como sugere o texto a seguir.
Tipos de indústrias
Segundo a função:
a) indústrias germinativas – são as que geram o aparecimento de outras indústrias. Exemplo: a petroquímica.
b) indústrias de ponta – são as indústrias dinâmicas, que comandam a produção industrial. Exemplo: as indústrias química
e automobilística.
Segundo a tecnologia:
a) indústrias tradicionais – são as que estão ainda ligadas às vantagens oriundas da primeira “revolução” industrial. podem
ser empresas familiares (empresas “clânicas”) e denunciam sua presença pelos seus aspectos internos e externos e por
sua localização. Há empresas brasileiras que são ainda deste tipo.
b) indústrias dinâmicas – são aquelas ligadas ao desenvolvimento recente da química, eletrônica e petroquímica,
principalmente.
Utilizam muito capital e tecnologia e relativamente pouca força de trabalho, possuem uma flexibilidade maior de localização
do que as anteriores e operam em economia de escala.
Segundo a aplicação dos recursos ou fatores:
a) indústrias capitais intensivas – as que aplicam os maiores recursos nos fatores capital e tecnologia.
b) indústrias trabalho intensivas – as que empregam os maiores recursos em força de trabalho.

5.1.1 - Evolução das Indústrias


Indústria é a atividade por meio da qual os seres humanos transformam matéria-prima em produtos semiacabados
(matérias-primas para outros produtos) ou em produtos acabados. Nos dias atuais essa atividade é muito importante, pois
quase tudo o que consumimos e utilizamos é processado ou produzido por ela.
Além de oferecer empregos, a indústria produz capital, desenvolve o comércio, os transportes e os serviços,
dinamizando a economia. Um país industrializado pode suprir muitas de suas necessidades de consumo internas, reduzir as
importações e aumentar as exportações.
Quanto à evolução histórica da indústria, podemos reconhecer três estágios fundamentais: o artesanato, a manufatura
e a maquinofatura.
• Artesanato. Estágio em que o produtor (artesão) era responsável por todas as fases da produção e até mesmo pela
comercialização (em geral, local) do produto. Quase não havia divisão social do trabalho e não se utilizavam máquinas, mas
somente ferramentas simples. O artesanato prevaleceu até por volta do século XVII, porém ainda pode ser encontrado em
todas as partes do mundo, sobretudo nos países e comunidades mais defasados tecnicamente.
• Manufatura. Apesar de a expressão "manufaturado" ser frequentemente empregada para designar os produtos
industrializados, a manufatura corresponde ao estágio intermediário entre o artesanato e a maquinofatura. Nessa fase, já
havia divisão do trabalho (cada operário realizava uma tarefa ou se responsabilizava por parte da produção), mas a produção
ainda dependia fundamentalmente do trabalho manual, embora se empregassem algumas máquinas simples. De modo
geral, nessa fase o artesão deixou de ser o responsável por todas as etapas da produção e se transformou em assalariado.
O capital e os meios de produção já eram propriedades de um patrão. A manufatura caracterizou a fase inicial do capitalismo,
sobretudo nos séculos XVII e XVIII.
• Maquinofatura. É o estágio atual, iniciado no século XVIII, com a Revolução Industrial. Pode ser caracterizado pelo emprego
maciço de máquinas e fontes de energia modernas (carvão mineral, petróleo etc.), produção em larga escala, grande divisão
e especialização do trabalho. Em muitos casos, a divisão do trabalho é tão grande ou específica que o trabalhador perde a
noção do todo ou do produto final. Em outros casos, o processo está tão modernizado que a mão de obra é quase inexistente,
sendo a produção quase totalmente realizada por robôs.
Há muitas diferenças na forma como cada país se integrou ou ainda se integra a esses estágios.

5.1.2 - Classificações da Indústria


As indústrias podem ser classificadas de acordo com vários critérios, como a maneira de produzir, a quantidade de
matéria-prima ou de tecnologia, empregadas na produção, entre outros.
Levando em conta a maneira de produzir: temos as indústrias extrativas, que utilizam meios financeiros e técnicas
modernas para extrair recursos naturais (como, por exemplo, minérios, madeira, pescado); as indústrias de beneficiamento
ou de processamento, que beneficiam ou refinam produtos como o petróleo (petroquímica) e cereais, por exemplo; a indústria
de construção (como a construção civil); e a indústria de transformação (de calçados, de computadores, entre outros), que
transforma ou reelabora a matéria-prima.
Quanto à quantidade de matéria-prima e energia empregadas na produção: podemos falar de indústrias leves, (de
bebidas, de produtos farmacêuticos etc.), que consomem menos energia e matérias-primas e de indústrias pesadas (de
máquinas, navios, veículos), que, por exigirem vultosos investimentos, contaram inicialmente com capital estatal ou
pertencem a grandes grupos empresariais.
Quanto à tecnologia empregada: temos as indústrias tradicionais, características da Primeira Revolução Industrial, que
ainda requerem bastante mão de obra, em regime fordista, e utilizam tecnologia tradicional; e as indústrias dinâmicas, como
a informática, a aeroespacial e outras, que dependem mais de tecnologia moderna e de capital, requerendo menos mão de
obra (porém mais qualificada).
Quanto ao destino dos produtos, podemos dividir as indústrias em dois grandes grupos:
114
• de bens de produção - São aquelas que produzem bens para outras indústrias. Podem ser de dois tipos: as indústrias de
bens intermediários, que produzem matérias-primas que servirão de base para outras indústrias, como, por exemplo, a
extrativa mineral, a petroquímica, a siderúrgica, a metalúrgica, a do cimento e a química de base; e as indústrias de bens
de capital ou de equipamentos, que produzem equipamentos para outras indústrias, ou seja, são responsáveis em parte
pelo funcionamento destas. São exemplos as indústrias que produzem máquinas, motores, outros equipamentos, material
de transporte.
• de bens de consumo - São as indústrias que produzem bens (mercadorias) para uso e consumo da população, como a
indústria têxtil, a alimentícia, a de móveis etc. Geralmente localizam-se nas proximidades dos centros consumidores.
As indústrias de bens de consumo, por sua vez, podem ser divididas em indústrias de bens de consumo duráveis
(automóveis e eletrodomésticos, por exemplo) e de bens de consumo não-duráveis (alimentos, calçados, roupas e remédios,
entre outros).

5.2 - Fatores de localização industrial: concentração e desconcentração


5.2.1 - As transformações na indústria e nos espaços
Dentre outros assuntos, na apostila anterior tratamos das fases da Revolução Industrial, que gerou profundas
transformações socioeconômicas, decorrentes do progresso da técnica aplicada à indústria.
A partir da industrialização, o espaço geográfico também se modificou: cidades e regiões inteiras se formaram e se
organizaram. A função comercial das cidades na Idade Média cedeu lugar à função industrial, o que fortaleceu a divisão
territorial do trabalho não só entre o meio rural e o urbano, mas também entre as cidades. Em alguns lugares, a produção
em larga escala deu origem à sociedade de consumo; em outros, a ampliou.
Num primeiro momento, a industrialização restringiu-se aos países desenvolvidos. Da Inglaterra, onde se originou na
segunda metade do século XVIII, ela se expandiu para os demais países europeus (século XIX), além dos Estados Unidos,
do Japão e da Rússia. A etapa em que ocorreu a industrialização dos atuais países desenvolvidos é conhecida como
industrialização clássica. Durante muito tempo a industrialização foi um privilégio das grandes potências, que fizeram dessa
atividade uma forma de domínio, pois países e colônias dependiam de seus fornecimentos.
Os diagramas abaixo representam diferentes estratégias de localização da indústria siderúrgica, considerando a
localização das matérias-primas e dos mercados de consumo.
A melhor localização é a que possibilita a maior rentabilidade - essa é a regra básica da teoria da localização industrial.
Na etapa inicial da industrialização moderna - ocorrida no século XIX na Europa, Estados Unidos e Japão -, os custos
de transporte eram extremamente elevados.
Como o carvão mineral representava a fonte de energia básica tanto para as indústrias de base que produzem matéria-
prima para outras indústrias como para as indústrias de bens de consumo que produzem para o mercado consumidor, as
bacias carboníferas tornaram-se áreas de concentração fabril. Também ocorreu a concentração industrial em áreas
produtoras de minério de ferro.
Durante a primeira metade do século XX, entretanto, o carvão foi perdendo o domínio que exercia sobre o suprimento
energético industrial. O petróleo, o gás natural e a eletricidade, cujos custos de transporte são muito menores, passaram a
ser amplamente usados como fonte de força motriz ou de energia térmica. Além disso, os meios de transporte obtiveram
desenvolvimento espantoso.
Mesmo assim, as velhas regiões fabris que haviam nascido associadas a jazidas carboníferas ou a reservas minerais
continuaram a responder pela maior parte da produção industrial do mundo. A introdução das linhas de montagens fabris e
a emergência do sistema de produção em série, dirigido para o consumo de massas, reafirmaram as vantagens locacionais
das grandes concentrações industriais. As novas empresas e os setores industriais em ascensão beneficiaram-se do
ambiente industrial criado pelas indústrias já instaladas, mercado consumidor, força de trabalho, das redes ferroviárias e
rodoviárias e serviços.
Essa dinâmica de crescimento é conhecida pela expressão economias de aglomeração. Como vimos, o meio
geográfico típico do regime fordista é o das grandes aglomerações de fábricas, de mercados de consumo e de trabalhadores.
Nas últimas décadas do século XX, com o esgotamento do fordismo e a emergência da revolução tecno científica, os
novos padrões locacionais passaram a apontar no sentido da desconcentração espacial das indústrias, ou seja, da busca
de novas áreas de localização e da emergência de novos polos produtivos, afastados das aglomerações tradicionais.

Os fatores locacionais - são as diversas vantagens que determinado lugar pode oferecer para atrair a instalação de
indústrias. No momento de optar por uma localidade para instalar uma indústria, os empresários levam em consideração os
fatores mais importantes para aumentar a taxa de lucro de seu investimento. Os principais fatores locacionais que atraem
indústrias, de modo geral, são:
• matérias-primas: minerais e agropecuárias;
• energia: petróleo, gás, eletricidade etc.;
• mão de obra: pouco qualificada (baixa remuneração) ou muito qualificada (alta remuneração);
• tecnologia: parques tecnológicos, incubadoras, universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D);
• mercado consumidor: relacionado à quantidade de pessoas e disponibilidade de renda;
• logística: disponibilidade e custos competitivos de transporte e armazenagem;
• rede de telecomunicações: telefonia fixa e móvel, internet etc.;
• complementaridade: proximidade de indústrias afins;
• incentivos fiscais: redução ou isenção de impostos concedida pelo Estado nas três esferas de poder.
Durante a Primeira Revolução Industrial, do final do século XVIII até meados do século XIX, como o carvão era a fonte
115
de energia usada para movimentar as máquinas, e a precariedade dos meios de transporte dificultava seu deslocamento por
longas distâncias, as jazidas de carvão mineral eram um dos fatores mais importantes para a localização das fábricas. Daí
ter ocorrido uma intensa industrialização em torno das principais bacias carboníferas britânicas, alemãs, francesas e norte-
americanas, para citar os exemplos mais relevantes. Com a Segunda Revolução Industrial, na última metade do século XIX,
e a utilização de outras fontes de energia, como o petróleo e a eletricidade, houve modernização dos meios de transporte
de cargas e passageiros, e a proximidade das jazidas de carvão foi cada vez mais perdendo importância como fator
locacional das fábricas.
Os derivados de petróleo, além de serem fonte de energia, constituem matéria-prima essencial na fabricação de
diversos produtos, como plásticos, borrachas, tecidos sintéticos, fertilizantes, tintas, cosméticos etc. Um dos setores que
mais cresceu desde a descoberta dessa nova fonte de energia e matéria-prima foi a indústria petroquímica. Implantadas nas
primeiras décadas do século XX, nessa época as petroquímicas se concentravam perto das reservas de petróleo, mas a
construção de oleodutos e de grandes navios petroleiros levou à sua dispersão espacial.
É importante destacar que os custos com transporte são um dos principais fatores locacionais para as indústrias
pesadas. Por exemplo, a maioria das refinarias de petróleo se localiza próxima aos grandes centros consumidores de seus
produtos, o que nem sempre coincide com as áreas de extração, porque é mais barato transportar o petróleo bruto que seus
derivados – gasolina, nafta, querosene e outros derivados ocupam volume maior que o petróleo bruto, demandando maior
custo de transporte.
Em contrapartida, a proximidade das jazidas de minérios, como ferro, manganês etc., constituem um dos principais
fatores para a localização das indústrias siderúrgicas, como as do Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais), porque é mais
barato transportar as chapas de aço do que o minério bruto.
Como vimos, nas últimas décadas, um fator determinante para a localização de qualquer tipo de indústria é a existência
de uma boa logística de transportes e armazenagem que possibilite o recebimento de matérias-primas e o escoamento das
mercadorias produzidas a custos competitivos. Por isso, muitos centros industriais importantes desenvolveram-se próximos
a portos marítimos ou fluviais ou ainda em entroncamentos rodoviários ou ferroviários. Centros industriais mais modernos –
que produzem bens de alto valor agregado, como os da área de informática – tendem a se localizar perto de aeroportos.
Com a mobilidade do capital e das mercadorias pelo mundo, a logística ganha importância determinante na alocação dos
investimentos produtivos no espaço geográfico.
Com o desenvolvimento tecnológico e o consequente barateamento dos transportes, as indústrias, mesmo as que
utilizam muita matéria-prima, já não precisam se localizar perto das reservas. O Japão, por exemplo, grande produtor de
aço, importa todo o minério de ferro e o carvão utilizados em suas indústrias; o Canadá, grande produtor de alumínio, importa
toda a alumina (óxido de alumínio, resultante do primeiro processamento da bauxita) necessária à sua produção. Tanto as
indústrias siderúrgicas japonesas como as metalúrgicas canadenses localizam-se em áreas onde os navios carregados de
minérios podem atracar. O Japão, contudo, não é grande produtor de alumínio, porque o que mais conta no funcionamento
dessa indústria é a energia elétrica, da qual o Canadá, por sua vez, é grande produtor. A produção de alumínio a partir da
alumina consome muita energia e tende a se localizar em países que têm grande disponibilidade de energia hidrelétrica,
caso do Canadá e também do Brasil.
Antigamente, a disponibilidade de mão de obra e a proximidade do mercado consumidor eram fatores fundamentais
para a localização de muitas indústrias, sobretudo as de bens de consumo, como eletrodomésticos, alimentos e roupas. É
por isso que o fenômeno industrial esteve inicialmente ligado às concentrações urbanas, particularmente às grandes cidades,
como Londres, Paris, Nova York, Tóquio, Munique, São Paulo, Cidade do México e Seul.
Muitas vezes, a instalação de uma indústria ou de um distrito industrial promove o crescimento das cidades em seu
entorno, enquanto em outros casos as cidades atraem indústrias, que por sua vez promovem seu crescimento e as
transformam em polos de atração de novos estabelecimentos industriais. Vê-se, portanto, que as cidades e as indústrias se
influenciaram de maneira recíproca. Isso ocorreu principalmente até meados do século XX, mas já faz tempo que as
indústrias têm saído das grandes cidades.
Além desses fatores, há outro que, cada vez mais, vem ganhando importância na hora da decisão sobre onde
implantar uma nova fábrica: os incentivos fiscais. Interessadas em atrair novas fábricas, diversas esferas de governo
concedem isenções de impostos às empresas que pretendem se instalar em seus territórios. Em geral fazem essas
concessões a indústrias que têm efeito multiplicador, isto é, que atraem outras fábricas que, por sua vez, não terão incentivos,
o que em geral compensa a isenção concedida. Por exemplo, o governo de um estado concede incentivos fiscais para atrair
uma indústria automobilística – como fez o governo da Bahia com a Ford, cuja fábrica foi inaugurada em 2001, no município
de Camaçari –, que atrai várias indústrias de autopeças para seu entorno. Porém, os incentivos fiscais têm de complementar
outros fatores locacionais; isoladamente não conseguem atrair indústrias.
É comum também a cessão de terrenos para a instalação de unidades produtivas, muitas vezes até mesmo com a
infraestrutura básica já implantada. Em qualquer país, quando uma grande empresa anuncia o projeto de uma nova fábrica,
começa uma “guerra” fiscal entre suas unidades políticas internas (estados, províncias, departamentos etc.) e entre
municípios com o objetivo de atraí-la, para aumentar a geração de empregos e a arrecadação de impostos, entre muitos
outros benefícios.

5.2.2 - Concentração Industrial


As indústrias tradicionais (as primeiras a se formar, pouco automatizadas e que empregavam muita mão de obra)
procuravam se instalar em áreas que ofereciam o maior número ou a melhor combinação possível de fatores necessários à
produção (fontes de energia, capitais, mão de obra abundante, transporte eficiente para fornecimento de matéria-prima e
escoamento de mercadorias) e à comercialização dos produtos (mercado consumidor). Procuravam assim obter o menor
116
custo de produção e distribuição possível, para ter o máximo de lucro. Em geral, encontravam essas condições nas
proximidades dos grandes centros urbanos. Durante a Primeira Revolução Industrial (meados do século XVIII e primeira
metade do XIX), inúmeras cidades industriais surgiram nas proximidades de regiões carboníferas (fonte de energia mais
utilizada na época) da Inglaterra (Yorkshire, Lancashire, Midlands), da Alemanha (Vale do Ruhr), da França (Alsácia, Lorena),
da Rússia (Donetz) e da Polônia (Silésia).
Durante a Segunda Revolução Industrial (segunda metade do século XIX), com o desenvolvimento de novos meios
de transporte e o surgimento de novas fontes de energia, como o petróleo e a eletricidade, mais fáceis de transportar, o
carvão foi perdendo importância na localização industrial. Surgiram, assim, novas áreas industriais.
Na segunda metade do século XX, as concentrações de indústrias tradicionais eram importantes polos econômicos,
constituindo verdadeiros complexos, tal sua quantidade e variedade. Alguns exemplos são o manufacturing belt (cinturão
das indústrias) do NE dos EUA e as concentrações industriais da Europa Ocidental e do Japão.

5.2.3 - Desconcentração industrial


Muitas das tradicionais regiões industriais já não são os polos industriais mais importantes. Nos Estados Unidos, por
exemplo, a indústria moderna situa-se nos estados do sul (Texas, Louisiana, Mississipi) e na Califórnia. Na região Sudeste
brasileira, o setor de serviços já ultrapassa o setor industrial. A Europa ocidental e o Japão têm exportado muitas indústrias
para os chamados "países emergentes" da América Latina e da Ásia.
No pós-guerra, empresas transnacionais estadunidenses, europeias e, posteriormente, japonesas estiveram à frente
do processo de estabelecimento de modernas regiões industriais em países dos continentes africano, asiático e latino-
americano. Aproveitando-se da variedade de recursos naturais, da mão de obra e energia baratas e abundantes, dos
incentivos governamentais e da falta ou ineficiência de legislações de proteção ao meio ambiente, as corporações
multiplicaram o número de filiais, modificando as paisagens dessas regiões.
Atualmente essa desconcentração industrial tem-se acentuado e as indústrias abandonam áreas tradicionais (com
custos de produção elevados) em busca de localizações mais vantajosas, principalmente em áreas que ofereçam mão de
obra barata, mercado consumidor expressivo, atuação sindical fraca ou inexistente, isenções de impostos, concessões,
incentivos fiscais etc. A modernização dos meios de comunicação permite vender produtos e serviços com mais facilidade
(via internet, por exemplo) para qualquer parte do mundo, sem estar fisicamente próximo dos grandes centros de consumo
ou das fontes de matérias-primas. As redes de comunicação permitem administrar e controlar, simultaneamente, empresas
em todo o mundo.
A indústria têxtil, a siderúrgica e a de bebidas, por exemplo, têm transferido suas fábricas para os países
subdesenvolvidos, em busca de mão de obra mais barata. Mesmo as indústrias de base, tradicionalmente situadas em locais
ricos em matéria-prima, de modo a reduzir gastos com transporte, nas últimas décadas afastaram-se desses locais e, em
muitos países centrais, aproximaram-se do litoral.
Atualmente, a China é o maior produtor têxtil mundial, mas também a Índia, o Paquistão e a Indonésia vêm
incrementando a produção e as vendas no mercado externo. Por sua vez, as indústrias têxteis dos Estados Unidos e da
União Europeia passaram a investir em novas tecnologias, tais como fibras químicas, tornando-se cada vez mais intensivas
em capital e especializando-se em produtos de maior valor agregado. Além disso, os países ricos e seus estilistas continuam
a ditar os padrões da moda e da elegância, no mundo todo.
Com a modernização das comunicações e dos transportes, matérias-primas provenientes do interior ou de outros
países podem chegar rapidamente aos portos, nas proximidades dos quais se instalam siderúrgicas, petroquímicas etc.
Dessa forma, é possível exportar mercadorias com a mesma facilidade.
Assim, as indústrias já não precisam mais se localizar nos corredores das áreas produtoras, o que dificultava muito o
transporte até o mercado de consumo. Elas se espalham pelos continentes em busca de vantagens.
Na escala global, a tendência de desconcentração é resultante da industrialização de vastas regiões do mundo
subdesenvolvido, em especial no Sudeste Asiático e na América Latina, que ocupam fatias significativas da produção
industrial mundial em muitos setores.
Também no setor automobilístico, o peso das indústrias situadas em países subdesenvolvidos tem aumentado
significativamente. Atraídas pelos menores custos de mão de obra, a Colagenose, a Ford, a Chrysler, a Citröen e a Peugeot
passaram a fabricar motores em suas filiais mexicanas. Além disso, várias fábricas de montagem final de automóveis para
exportação foram implantadas na cidade de Monterrey, enquanto a Volkswagen se instalou em Puebla e a Nissan em Águas
Calientes. Os Estados Unidos são o destino de grande parte dessa produção mexicana.
No contexto da América do Sul, o Brasil é considerado estratégico no mapa das grandes transnacionais do automóvel:
nesse caso, elas são atraídas não só pelos baixos salários, mas também pela grande dimensão do mercado interno.
A Coreia do Sul representa um caso singular: o país desenvolveu uma indústria automobilística própria, que concorre
em muitos mercados com as montadoras sediadas nos países desenvolvidos.
Mesmo os setores considerados de alta tecnologia, como o de informática, passam por uma desconcentração, ainda
que seletiva, no plano internacional. O setor de pesquisa e de concepção de novos produtos e equipamentos permanece
fortemente concentrado nos Estados Unidos, no Japão e na União Europeia; porém, parte da linha de produção dos chips e
microprocessadores, da montagem final dos equipamentos e a produção de alguns tipos de software migraram para países
industrializados semiperiféricos, em especial para a Índia.
Na escala nacional, também ocorre uma tendência à desconcentração. As velhas concentrações industriais dos países
desenvolvidos vêm perdendo terreno para novas regiões produtivas, marcadas pelo uso de tecnologias modernas, pelo baixo
consumo energético e pela forte integração com as universidades e os centros de pesquisa e desenvolvimento.
A maior parte das antigas regiões industriais formadas em torno das bacias carboníferas da Europa e dos Estados
117
Unidos, por exemplo, apresenta diminuição das atividades produtivas, perda de dinamismo e elevadas taxas de desemprego.

5.3 - Ciclos tecnológicos da Revolução Industrial

A Revolução Industrial divide a história das civilizações em duas épocas nitidamente diferentes. Antes dela, a
economia repousava sobre uma base técnica que evoluía apenas muito lentamente. Depois dela, a transformação
tecnológica transformou-se no fundamento da vida econômica. Do ponto de vista social e cultural, as civilizações pré-
industriais norteavam-se pela tradição, enquanto a civilização industrial orienta-se pela mudança.

A economia industrial desenvolve-se, desde o nascimento das primeiras fábricas, através de ciclos longos que
começam com uma fase de rápido crescimento e acumulação de capital, atravessam uma fase de estabilização e, em
seguida, conhecem uma fase descendente caracterizada pela redução do crescimento e dos lucros empresariais. O
economista russo Nikolai Krondatieff, pesquisando na década de 1920 as estatísticas de produção industrial, consumo,
preços, juros e salários da Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, foi o primeiro a registrar esses ciclos longos. Mais tarde,
o economista austríaco Joseph Schumpeter estudou-os em profundidade, conseguindo associá-los à marcha da inovação
tecnológica.

5.3.1 - A "Destruição Criadora"


A “Destruição Criadora” – segundo teoria elaborada pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, nos anos 1930,
a economia mundial se desenvolve por meios de ciclos ou ondas de inovações tecnológicas. (...) Schumpeter estabeleceu
que a economia evolui por meio da “destruição criadora”. Quando um conjunto de novas tecnologias encontra aplicações
produtivas, as tecnologias tradicionais são “destruídas”, deixando de criar produtos capazes de competir no mercado
econômico. Nesse momento as empresas que estão inserindo as inovações tecnológicas obtêm lucros de monopólio. Isto
porque não há concorrentes ou muito pouca concorrência, até o momento em que começa a ocorrer a inflexão no
comportamento dos preços. A economia evolui com a introdução de produtos ou serviços que adotam tecnologias cada vez
mais baratas e que atendem as finalidades das primeiras. A partir desse momento passa a ocorrer a diminuição da
lucratividade devido ao aumento da oferta. A lucratividade diminui de tal forma que a concorrência tira dos mercados as
empresas que não conseguem trabalhar com margem tão pequena de lucros. Ou, então, as empresas financeiramente mais
fortes adquirem (compram) as mais fracas, incorporando suas parcelas nos mercados. Esse momento é chamado de
concentração de capitais e, normalmente, ocorrem na fase final das ondas de inovação e antecedem o, possível, início de
uma nova onda.

5.3.2 - Ondas de inovação tecnológica da economia industrial

A fase inicial de cada onda de inovação é a época de ouro dos empreendedores. Adaptando pioneiramente as
novidades tecnológicas à produção, empreendedores ousados conquistam vastos mercados. Quase do nada, surgem
empresas de grande porte, que se tornam símbolos do seu tempo. Enquanto isso, grandes empresas baseadas em padrões
tecnológicos superados entram em crise e acabam se reformulando ou simplesmente desaparecem. É na fase inicial que
ocorre a "destruição criadora". Quando a onda de inovação atinge a fase de estabilização, as novidades tecnológicas
consistem em aperfeiçoamentos do padrão tecnológico estabelecido. Essa é a época de ouro das grandes empresas, que
dominam mercados já plenamente configurados. Os pequenos empreendedores, que não dispõem de recursos financeiros
vultosos, são incapazes de concorrer com as grandes empresas. Frequentemente, seus empreendimentos e suas inovações
são incorporados pelas empresas dominantes. Outras vezes, tecnologias melhores são rejeitadas, pois um padrão menos
eficiente adquiriu aceitação geral.

118
Na fase descendente da onda de inovação, os mercados estão saturados. A economia registra superprodução.
Inúmeras empresas revelam-se incapazes de sustentar a concorrência, cada vez mais feroz, e são incorporadas por
conglomerados mais poderosos. Essa é a época de ouro da centralização de capitais. Quando, finalmente, uma nova onda
se inicia, surgem mercadorias revolucionárias. Sob o impacto da "destruição criadora", a superprodução é eliminada pois os
consumidores dirigem-se, ansiosamente, para os novos produtos disponíveis. Assim, o ciclo recomeça, em novas bases
tecnológicas.

5.3.3 - Tecnologia e geografia

Os ciclos econômicos longos estão associados às formas de organização do espaço geográfico. A energia hidráulica,
fundamento dos primórdios da industrialização, atraiu as fábricas para as margens dos cursos de água. A máquina a vapor,
desde meados do século XIX, atraiu as fábricas para os depósitos carboníferos. O advento das ferrovias possibilitou a
exploração de novas terras pela agropecuária comercial. A energia elétrica libertou a indústria das localizações tradicionais
e revolucionou a divisão técnica do trabalho no interior das fábricas.

A Inglaterra deu a largada para a Revolução Industrial. Nas últimas décadas do século XVIII, uma série de inovações
na tecnologia de produção (como a máquina de fiar e o tear hidráulico) possibilitou a mecanização do setor têxtil. A
produtividade das indústrias algodoeiras - as primeiras indústrias modernas - cresceu exponencialmente a partir de então.
Produzia-se muito mais e em muito menos tempo.

Ao lado da indústria têxtil, a modernização das fundições de ferro impulsionou o ciclo inicial da industrialização. Há
séculos, o ferro era fundido em fornalhas a lenha. A utilização do carvão mineral em altos-fornos capazes de gerar
temperaturas elevadíssimas inaugurou a siderurgia moderna.

O carvão se tornava cada vez mais importante. A sua utilização, como força motriz, foi iniciada com o aperfeiçoamento
da máquina a vapor, em 1769. Mas apenas em meados do século XIX, na Inglaterra, a máquina a vapor substituiu,
largamente, o tear hidráulico. Na França e nos EUA, a energia hidráulica sobreviveu por mais tempo.

A revolução do carvão expressou-se, fora das fábricas, no setor de transportes. As ferrovias e os barcos a vapor
"encurtaram" as distâncias, reduzindo brutalmente os custos de deslocamento de matérias-primas e alimentos. Na segunda
onda de inovações da Revolução Industrial, as terras das planícies centrais dos Estados Unidos tornaram-se celeiros de
alimentos para as cidades europeias.

Não por acaso, o século XIX ficou conhecido com a "era das ferrovias". Ao mesmo tempo em que serviam para escoar
mais rapidamente os produtos e para unificar os mercados, as ferrovias foram uma excelente opção para os investidores
dos países industrializados. Assim, rapidamente, os trilhos ferroviários ganharam o mundo, barateando os custos de
transportes e aumentando os lucros do comércio.

A segunda onda caracterizou-se, ainda, por um grande salto tecnológico na siderurgia. O forno Bessemer, inventado
em 1855, utilizava rajadas de oxigênio no refino do ferro fundido, permitindo a obtenção de aços de alta qualidade. No oeste
da Alemanha, junto às jazidas carboníferas do vale do rio Ruhr, desenvolveram-se os conglomerados siderúrgicos da maior
concentração industrial europeia.

As cidades industriais típicas do século XIX - tais como Manchester e Liverpool, na Inglaterra, e Colônia, na Alemanha
- eram de tamanho médio, localizadas junto às bacias carboníferas. Elas concentravam a produção siderúrgica e a produção
de têxteis de algodão. O ritmo da produção fabril regulava a vida nesses centros urbanos, onde a maioria da população era
composta de empregados assalariados das indústrias.

A primeira onda da Revolução Industrial restringiu-se, praticamente, à Grã-Bretanha. Na segunda onda, se espraiou
pela Europa, fincando raízes na Bélgica, França, Alemanha, Suécia e, um pouco depois, na Holanda, Itália, Áustria e Rússia.
Do outro lado do Atlântico, a indústria estabelecia-se nas cidades do nordeste dos EUA. No final do século, sob o impulso
da centralização do poder político, o Japão decolava para o industrialismo.

Durante a maior parte do século XIX, a Grã-Bretanha conservou a liderança econômica. A sua frota mercante, a maior
do mundo, havia conquistado o domínio dos mares. A supremacia comercial garantiu a disponibilidade dos capitais
necessários para o investimento industrial e assegurou o controle sobre os mercados fornecedores de matérias-primas.

A Revolução Industrial abriu as portas para a formação da economia mundo, ou seja, para a incorporação de todos
os povos e continentes nos fluxos mercantis e circuitos de investimentos centralizados pelas potências industriais. Nas
últimas décadas do século XIX, navios cargueiros singravam os oceanos transportando mercadorias industriais, matérias-

119
primas minerais e produtos agrícolas. O imperialismo - anexando novas áreas coloniais na África e Ásia e esferas de
influência na América Latina - criou um verdadeiro mercado de dimensões planetárias.

As potências industriais importavam basicamente dois tipos de mercadorias: matérias-primas e produtos agrícolas
tropicais. Para as colônias e áreas de influência, elas exportavam seus produtos industrializados, principalmente os têxteis
e metalúrgicos. A estrutura comercial britânica revela com nitidez a divisão internacional do trabalho gerada pelas ondas
iniciais da Revolução Industrial: no século XIX, alimentos e matérias-primas constituíam 75% das importações; 85% das
exportações eram produtos fabricados.

A borracha das florestas equatoriais da África e do Brasil, o estanho da Bolívia, o cobre do Chile, do Peru e do Congo,
por exemplo, se tornara matéria-prima fundamental para as novas indústrias europeias e norte-americanas. Os navios
mercantes traziam das regiões tropicais enormes quantidades de cacau, açúcar e café, gêneros cujo consumo estava se
popularizando nas cidades da Europa e dos Estados Unidos.

O traçado das ferrovias ilumina uma das características essenciais da geografia produzida pelo imperialismo. Na
França e na Inglaterra, assim como nos demais países industrializados da Europa, foram construídos troncos principais
complementados por uma densa rede de trilhos que se espalham em todas as direções, facilitando o transporte no interior
do território e unificando o mercado interno. Nos Estados Unidos, os grandes ramais ferroviários cortaram transversalmente
o território e ajudaram a integrar o oeste agrícola ao nordeste industrial.

Entretanto, na África - como também na América Latina - as ferrovias nasceram para ligar as regiões produtoras de
matérias-primas aos portos exportadores. Até hoje, o seu traçado serve de espelho da organização do espaço produzida
pelo imperialismo. Nesse caso, o mercado externo funcionava como principal motor da economia. As redes de transporte,
em vez de integrar, fragmentavam os espaços nacionais. Junto com o espaço geográfico de dimensões planetárias, emergia
uma divisão internacional do trabalho que marcaria de forma duradoura as populações de continentes inteiros.

A divisão internacional do trabalho no capitalismo industrial envolvia também fluxos de investimentos diretos das
potências econômicas para as suas esferas de influência. Tais investimentos de capital concentravam-se, essencialmente,
em setores de infraestrutura (eletricidade, iluminação, telefonia) e transportes (ferrovias, portos).

Na última década do século XIX, a economia industrial britânica foi ultrapassada pelos Estados Unidos. Na primeira
década do século XX, era ultrapassada também pela Alemanha. Contudo, a sua duradoura liderança passada continuou,
por algum tempo, a se refletir nos investimentos de capital no exterior. No início da Primeira Guerra Mundial, os capitais
britânicos estabelecidos no estrangeiro representavam mais que o dobro dos investimentos franceses e quase o triplo dos
investimentos alemães

A geografia dos movimentos de capitais refletia, com bastante fidelidade, a influência política das potências. Os
capitais britânicos fluíam para todos os continentes, alimentando negócios no Império, na América e no Oriente. França,
Alemanha e Holanda tinham vultosos investimentos, direcionados para a Europa do leste e as colônias afro-asiáticas. Na
época, os capitais norte-americanos apenas começavam a ganhar o estrangeiro, limitando-se praticamente aos países
vizinhos da América do Norte.

Os países fábricas dominavam o mundo com os seus produtos e seu capital. As economias coloniais e semicoloniais
se especializaram na produção de uns poucos produtos primários, e cada vez mais se tornavam dependentes dos mercados
e investimentos externos.

Os parques tecnológicos
Atualmente, um fator fundamental para a escolha da localização industrial é a existência de mão de obra com alto
nível de qualificação, principalmente para as indústrias de alta tecnologia. Não por acaso, as empresas de semicondutores
(microchips), informática (equipamentos, programas e sistemas), telecomunicações, novos materiais, biotecnologia, entre
outras, se concentram nos parques tecnológicos ou parques científicos, também chamados de tecnopolos. Utilizaremos
esses termos indistintamente ao longo dos próximos capítulos, embora no Brasil a expressão mais utilizada é parque
tecnológico. Leia a definição a seguir.

O que é um parque Científico ou Tecnológico?


De acordo com a Associação de parques Científicos do Reino Unido (UKSpA), um parque científico é um apoio a
empresas e uma iniciativa de transferência de tecnologia que:
• incentiva e apoia a criação e a incubação de empresas inovadoras, de alto crescimento e de base tecnológica.
• oferece um ambiente em que grandes empresas transnacionais podem desenvolver interações estreitas e específicas com
um centro local de produção de conhecimentos, trazendo benefícios mútuos.
• possui ligações formais e operacionais com centros de produção de conhecimentos tais como universidades, institutos de
120
ensino superior e centros de pesquisa.
Fonte: UNESCO – United nations Educational, Scientific and Cultural organization. Science policy and Capacity-Building.
Concept and definition. Disponível em: <www.unesco.org/new/en/natural-sciences/science-technology/universityindustry-
partnerships/unispar-programme/concept-anddefinition>. Acesso em: 15 nov. 2012. (traduzido pelos autores).

Os parques tecnológicos são o exemplo mais acabado da geografia industrial do capitalismo informacional. Esses
novos centros industriais e de serviços têm relação com a Terceira Revolução Industrial, assim como as bacias carboníferas
tinham com a Primeira ou as jazidas petrolíferas com a Segunda. Os tecnopolos constituem os pontos de interconexão da
rede mundial de produção de conhecimentos e os principais centros irradiadores das inovações que caracterizam a revolução
tecnológica que se iniciou nas últimas décadas do século XX. Muitas das empresas inovadoras que existem hoje no mundo
se desenvolveram numa incubadora, no interior de um parque tecnológico.
Os tecnopolos concentram-se especialmente nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão, embora existam
em outros países desenvolvidos e também em alguns países emergentes: no Brics, na Coreia do Sul, em Taiwan, no México,
entre outros.

5.3.4 - O fordismo e o "século americano"

No alvorecer do século XX, um novo conjunto de tecnologias deflagrava a terceira onda da industrialização. O uso do
petróleo como combustível e a invenção do motor a combustão interna originavam a indústria automobilística. Nascia, ao
mesmo tempo, a moderna indústria química. A eletricidade tornava-se a fonte de energia das fábricas. Os motores elétricos
e, com eles, as linhas de montagem propiciavam um salto extraordinário na produtividade do trabalho.

Simultaneamente, a difusão do telex e do telefone revolucionavam as comunicações. "Os últimos serão os primeiros"
- esse provérbio bíblico descreve, com alguma precisão, a evolução do mundo industrial durante a terceira onda. A
maturidade industrial britânica foi atingida muito cedo, em meados do século XIX, cerca de 70 anos depois da decolagem
industrialista. A Alemanha, a França e os Estados Unidos, que só então decolavam para o mundo industrial, não precisaram
sequer de meio século para alcançar a maturidade. Esses países retardatários aproveitaram-se dos avanços tecnológicos
britânicos para queimar etapas e saltar degraus. Na Grã-Bretanha, pelo contrário, a força inercial dos velhos padrões
tecnológicos sabotava o ritmo da inovação.

Os Estados Unidos constituem o exemplo mais notável desse avanço por saltos que caracterizou a industrialização
das potências retardatárias. As suas condições históricas e geográficas específicas - principalmente, a ausência de um
passado feudal e as enormes potencialidades agrícolas do seu território - possibilitaram um surto de desenvolvimento
desconhecido nos demais países industriais.

A etapa do consumo de massa, caracterizada pela incorporação da maior parte da população ao mercado consumidor
de bens industriais, foi atingida pelos Estados Unidos já na década de 1920. Na Europa industrial, inclusive na pioneira Grã-
Bretanha, essa etapa só veio a ser alcançada mais tarde, pouco antes ou logo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-
1945).

121
A “economia mundo” atravessou dois grandes ciclos no século XX. Até a Segunda Guerra Mundial viveu a onda
tecnológica baseada nos motores a combustão interna, no petróleo e na eletricidade. Essa onda propiciou a "idade de ouro"
da década de 1920, caracterizada pelo intenso crescimento que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, abruptamente
interrompida pelo crash da Bolsa de Nova York, em 1929. A Grande Depressão da década de 1930 assinalou,
dolorosamente, a fase descendente do ciclo.

Depois da Segunda Guerra Mundial o crescimento foi retomado sobre novas bases tecnológicas. A indústria eletrônica
criou centenas de novos produtos e conferiu mais um impulso à produção automobilística. O desenvolvimento da
petroquímica gerou a indústria de plásticos e fibras sintéticas. A aeronáutica civil beneficiou-se dos avanços na aviação
militar, produzindo mais uma revolução nos transportes.

A quarta onda industrial reativou a produção e a circulação de mercadorias. Nas décadas do pós-guerra, o crescimento
industrial e a ampliação do comércio mundial atingiram índices maiores que os registrados desde meados do século XIX.

A hegemonia dos Estados Unidos atingiu o seu ápice pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quando a vitalidade
das suas indústrias contrastava com a desorganização geral dos sistemas produtivos dos países europeus e do Japão,
arrasados pelo conflito. O Produto Nacional Bruto (PNB) das cinco potências econômicas europeias e do Japão somados
não atingiam o da potência hegemônica. A quarta onda de inovação desenvolvia-se, em escala ainda mais pronunciada que
a terceira, como uma "onda americana". As novas tecnologias surgiam nas indústrias da América do Norte e os novos
produtos estabeleciam-se, em primeiro lugar, no mercado consumidor dos EUA.

5.3.5 - Adeus ao fordismo

A economia industrial do século XX desenvolveu-se sobre a base da aplicação da eletricidade à produção e da


reorganização das fábricas em torno da linha de montagem. Essas inovações, introduzidas por Henry Ford na sua fábrica
de automóveis, disseminaram-se por todos os setores e permitiram a produção em série de mercadorias estandardizadas
para mercados de massa. O aprofundamento da divisão técnica do trabalho, o emprego de mão de obra numerosa e
semiqualificada e a utilização intensiva de energia são características associadas ao fordismo.

A revolução tecnocientífica e as indústrias de ponta da onda atual de inovações anunciam o esgotamento do fordismo.
O conceito de produção serializada para mercados homogêneos é substituída pela de produção flexível de mercadorias
adaptadas a nichos de mercado com exigências específicas. A meta fordista da redução de preços através da constante
ampliação da escala de produção dá lugar ao contínuo aperfeiçoamento tecnológico dos produtos, com incorporação de
valor a cada nova versão. Os computadores pessoais, por exemplo, custam cada vez mais, mas a sua capacidade de
processamento cresceu muito mais rapidamente que seus preços.

As indústrias de ponta da revolução tecnocientífica não são vorazes consumidoras de energia. Elas se caracterizam
pela intensa aplicação da ciência e do conhecimento na elaboração de novos produtos. As empresas que lideram a inovação
investem pesadamente em pesquisa científica e tecnológica. As universidades e centros de pesquisa constituem elos da
produção industrial e a mão de obra de alta qualificação é disputada pelas corporações da informática, das
telecomunicações, da robótica, da biotecnologia e da química fina.
EMPRESA IBM Samsu Canon Sony Microso Panasoni Toshiba Hon Hai Qualcomm
ng ft c
PATENTE 6.809 4.676 3.825 3.098 2.660 2.601 2.416 2.279 2.103
Fonte: http://epocanegocios.globo.com/inspiracao/Empresa/noticia/2014/01/ibm-lidera-ranking-de-patentes

O meio geográfico típico do fordismo são as concentrações industriais associadas a jazidas carboníferas, reservas
minerais ou metrópoles. Essas concentrações estruturam-se em torno de ferrovias, rodovias ou portos. No seu entorno,
estendem-se cidades ou bairros operários. A atividade sindical é intensa e as relações sociais são marcadas pelos
movimentos reivindicativos de tipo corporativo.

O meio tecnocientífico-informacional é pós-fordista. As corporações estruturam redes de âmbito global, integradas


virtualmente pelas tecnologias da informação. Essas redes abrangem centros de pesquisa e laboratórios, plantas industriais
e uma vasta gama de empresas fornecedoras de produtos e serviços. Muitas vezes, a administração empresarial foi
inteiramente separada das plantas industriais, assim como os centros de pesquisa e laboratórios. A produção em larga
escala realiza-se, frequentemente, em fábricas estabelecidas em países que dispõem de força de trabalho barata. Os
diversos componentes de um produto podem ser fabricados em lugares diferentes do mundo, selecionados em função das
vantagens comparativas de cada país. As operações produtivas repetitivas automatizam-se e a mão de obra semiqualificada
é largamente substituída por robôs industriais.
Texto de autoria de Demétrio Magnoli – Graduado em Jornalismo e Ciências Sociais pela USP e Doutor em Geografia
Humana pela USP

122
5.3.6 - A Terceira Revolução Industrial
Hoje, um fantasma ronda a vida dos trabalhadores: o desemprego. Para muitos estudiosos, trata-se de um
desemprego estrutural, isto é, causado pelas transformações que vêm ocorrendo no padrão ou modelo de desenvolvimento
produtivo e tecnológico que predomina nos países capitalistas avançados. Essas transformações apresentam diferenças
nos países onde ocorrem, mas estão alterando a organização do processo produtivo e do trabalho em todos eles e no resto
do mundo também. E tais mudanças afetam o conjunto do mundo do trabalho.
À primeira vista, os robôs ou as novas tecnologias de produção parecem ser os únicos e mais cruéis causadores
desse desemprego. No entanto, existem outras razões de ordem econômica, social, institucional e geopolítica que,
associadas à tecnologia, formam um conjunto que explica melhor aquilo que, para alguns analistas, significaria até mesmo
o fim de uma sociedade organizada com base no trabalho.
O sistema capitalista sofreu transformações ao longo de sua história. As mudanças podem ser profundas,
acumular tensões sociais e graves problemas econômicos, gerar crises, guerras e revoluções políticas, mas o
sistema permanece basicamente o mesmo, isto é, trata-se de um sistema produtor de mercadorias cuja venda tem
por objetivo o lucro. Por isso o chamamos, indistintamente, de economia de mercado ou economia capitalista.
No entanto, para que as empresas capitalistas produzam mais e mais mercadorias - com maior eficiência e melhores
níveis de produtividade, ganhando em competitividade em relação a outras empresas, e sempre que possível obtendo lucros
crescentes - elas precisam criar e aplicar novas técnicas e novas formas de organização da produção e do trabalho, dividir
funções com outras empresas, negociar salários, estipular taxas de lucros etc.
Mas o capitalismo não se restringe apenas às unidades empresariais e suas dinâmicas internas. Na sociedade como
um todo, existem outros componentes extremamente importantes que precisam ser levados em consideração, pois
interferem na vida das próprias empresas. Tais componentes podem ser as formas institucionalizadas, como as regras do
mercado, a legislação social, a moeda, as redes financeiras, em grande parte estabelecidas pelo Estado, ou ainda, as
disputas pelo poder das nações, o comércio internacional, a renda e o consumo de cada família, a qualidade dos recursos
humanos, as convenções coletivas, as ideias produzidas etc.
Quando esse conjunto de elementos, e muitos outros, é razoavelmente ajustado e aceito pela sociedade (não se trata
de um consenso pleno, pois sempre haverá oposições e tensões), estamos diante de um modelo de desenvolvimento
capitalista dominante, com uma organização territorial correspondente. E esse modelo permanece até que uma nova crise
ocorra e novos rearranjos sejam feitos na sociedade e no espaço.
Após a crise de 1929, o modelo de desenvolvimento que aos poucos passou a dominar nos países de tecnologia
avançada - Estados Unidos, Japão e em boa parte da Europa -, mantidas suas especificidades, levou o nome de fordismo,
pois nesse modelo foram incluídas formas de produção e de trabalho postas em prática pioneiramente nos EUA, nas décadas
de 1910 e 1920, nas fábricas de automóveis do empresário norte-americano Henry Ford.
O fordismo teve seu ápice no período posterior à Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e 1960, que ficou
conhecido na história do capitalismo como “Os Anos Dourados”.
O modelo fordista pós-guerra, dependia da subida constante dos salários para manter o mercado ativo, ou seja, manter
os níveis de produção e de consumo crescentes. Porém, os salários não podiam crescer a ponto de ameaçar os lucros
empresariais; mantiveram-se os níveis salariais e os lucros aumentando os preços dos produtos, o que gerou uma crise
inflacionária.
Nos Estados Unidos, os gastos públicos se agigantaram, tanto interna como externamente - a guerra do Vietnã foi um
exemplo. A moeda americana ficou debilitada. Esse país, que durante todo o período de domínio do fordismo assegurava a
estabilidade da economia mundial com base em sua moeda - o dólar -, viu esse sistema monetário declinar. A competitividade
da Europa e do Japão superavam a dos Estados Unidos. Assistia-se a uma verdadeira guerra comercial, que nunca deixou
de crescer.
A partir da década de 1970, a saída foi investir num novo modelo que rompesse com aquilo que era considerado a
rigidez do modelo fordista. A ordem era flexibilizar, ou seja, golpear a rigidez nos processos de produção, nas formas de
ocupação da força de trabalho, nas garantias trabalhistas e nos mercados de massa, então saturados.
As empresas multinacionais, para restabelecer sua rentabilidade, expandiram espacialmente sua produção por
continentes inteiros. Surgiram novos países industrializados. Os mercados externos cresceram mais que os mercados
internos. O capitalismo internacional reestruturou-se.
Os países de economia avançada precisaram criar internamente condições de competitividade. A saturação dos
mercados acabou gerando uma produção diversificada para atender a consumidores diferenciados. Os contratos de trabalho
passaram a ser mais flexíveis. Diminuiu o número de trabalhadores permanentes e cresceu o número de trabalhadores
temporários. Flexibilizaram-se os salários - cresceram as desigualdades salariais, segundo a qualificação dos empregados
e as especificidades da empresa. Em muitas empresas, juntou-se o que o taylorismo separou: o trabalhador pensa e executa.
Os sindicatos viram reduzidos seu poder de representação e de reivindicação. Ampliou-se o desemprego.
Os compromissos do Estado do bem-estar social foram sendo rompidos pouco a pouco. Eliminaram-se,
gradativamente, as regulamentações do Estado.
As políticas keynesianas - que se revelaram inflacionárias, à medida que as despesas públicas aumentavam e a
capacidade fiscal estagnava - forçaram o enxugamento do Estado.
A transformação do modelo produtivo começou a se apoiar nas tecnologias que já vinham surgindo nas décadas do
pós-guerra (automação e robotização) e nos avanços das novas tecnologias da informação. O método de produção
americano foi substituído pelo método japonês de produção enxuta, que combina máquinas cada vez mais sofisticadas com
uma nova engenharia gerencial e administrativa de produção - a reengenharia, que elimina a organização hierarquizada.
Agora, engenheiros de projetos, programadores de computadores e operários interagem face a face, compartilhando ideias
123
e tomando decisões conjuntas.
O novo método, rotulado por muitos como toyotismo, numa referência à empresa japonesa Toyota, utiliza menos
esforço humano, menos espaço físico, menos investimentos em ferramentas e menos tempo de engenharia para
desenvolver um novo produto. A empresa que possui um inventário computadorizado, juntamente com melhores
comunicações e transportes mais rápidos, não precisa mais manter enormes estoques. É o just in time.
O novo método permite variar a produção de uma hora para outra, atendendo às constantes exigências de mudança
do mercado consumidor e das mudanças aceleradas nas formas e técnicas de produção e de trabalho. A ordem é manter
estoques mínimos, produzindo apenas quando os clientes efetivam uma encomenda.
As grandes empresas começaram a repassar para as pequenas e médias empresas subcontratadas um certo número
de atividades, tais como concepção de produtos, pesquisa e desenvolvimento, produção de componentes, segurança,
alimentação e limpeza. Isso passou a ser conhecido como terceirização. Com ela, as grandes empresas reduziram suas
pesadas e onerosas rotinas burocráticas e suas despesas com encargos sociais, concentrando-se naquilo que é estratégico
para seu funcionamento.
A produção flexível vem transformando espaços e criando geografias, à medida que ocorrem redistribuições dos
investimentos de capital produtivo e especulativo e, consequentemente, redistribuição espacial do trabalho. Numerosas
empresas se transferiram das tradicionais concentrações urbanas e regiões industriais congestionadas, poluídas e
sindicalizadas, para novas áreas nas quais a organização e o poder de luta dos trabalhadores são pouco significativos.
Surgiram novos complexos de produção - os complexos científicos produtivos -, ligados a universidades e centros de
pesquisa onde as inovações são constantes.
Um caso exemplar desses complexos é o do Vale do Silício (Silicon Valley), na Califórnia, cujo modelo se difundiu por
vários países. Nesse complexo, a Universidade de Stanford, juntamente com empresas do ramo da microeletrônica, criou
um parque tecnológico cuja fama cresceu com a produção de semicondutores e o uso do silício como matéria-prima para
sua fabricação. O Vale do Silício faz parte de uma área maior em torno da baía de São Francisco onde se estabeleceram
numerosas indústrias de alta tecnologia.
Esses tecnopolos também são encontrados no interior das tradicionais regiões industriais que vêm se modernizando,
a exemplo da região industrial de Frankfurt, na Alemanha, ou ainda daquelas que procuram sair de uma situação de
estagnação, como no caso da região de Turim, na Itália, ou de Lyon, na França.
O sistema just in time exige também uma reorganização do território. As firmas subcontratadas pelas grandes
empresas se aglomeram em torno da planta terminal de produção, criando um tipo de aglomeração produtiva.
Esse é o caso da fábrica da Volkswagen, instalada em Resende (RJ), que vem atraindo outras empresas que
produzirão, no próprio terreno da fábrica, componentes utilizados na montagem de ônibus e caminhões.
Sem nenhuma dúvida, vivemos hoje mudanças profundas que se refletem no mundo do trabalho. Para os mais
otimistas, a questão do desemprego tecnológico será resolvida pela própria tecnologia avançada que estimulará o
surgimento de novos setores produtivos e de atividades humanas a ela ligados, exigindo, assim, novos trabalhadores. Para
outros, o sonho dos empresários de fábricas sem operários está prestes a ser realizado.
Também nos setores agrícolas e de serviços, as máquinas substituem o trabalho humano. Corporações multinacionais
fazem notar que estão cada vez mais competitivas, e ao mesmo tempo anunciam demissões em massa. A questão que se
coloca neste final de século é a seguinte: para onde vão os trabalhadores?
A resposta dependerá da posição assumida pelas sociedades como um todo.

5.3.7 - A Quarta Revolução Industrial – o que é e como ela deve afetar nossas vidas

Adaptado de Valeria Perasso – BBC - 22 out 2016

No final do século 17 foi a máquina a vapor. Desta vez, serão os robôs integrados em sistemas ciberfísicos os
responsáveis por uma transformação radical. E os economistas têm um nome para isso: a quarta revolução
industrial, marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.

Eles antecipam que a revolução mudará o mundo como o conhecemos. Soa muito radical? É que, se cumpridas as
previsões, assim será. E já está acontecendo, dizem, em larga escala e a toda velocidade.
"Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos,
trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa
que o ser humano tenha experimentado antes", diz Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução Industrial, publicado
em 2016.
Os "novos poderes" da transformação virão da engenharia genética e das neurotecnologias, duas áreas que parecem
misteriosas e distantes para o cidadão comum.
No entanto, as repercussões impactarão em como somos e como nos relacionamos até nos lugares mais distantes
do planeta: a revolução afetará o mercado de trabalho, o futuro do trabalho e a desigualdade de renda. Suas consequências
impactarão a segurança geopolítica e o que é considerado ético.
Então de que se trata essa mudança e por que há quem acredite que se trata de uma revolução?
O importante, destacam os teóricos da ideia, é que não se trata de um desdobramento, mas do encontro desses
desdobramentos. Nesse sentido, representa uma mudança de paradigma e não mais uma etapa do desenvolvimento
tecnológico.

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"A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a
transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)", diz
Schwab, diretor executivo do Fórum Econômico Mundial e um dos principais entusiastas da "revolução".
"Há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma extensão da terceira revolução industrial,
mas a chegada de uma diferente: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. A velocidade dos avanços atuais não
tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países", diz o Fórum.
Também chamada de 4.0, a revolução acontece após três processos históricos transformadores. A primeira marcou
o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e permitiu
a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da
informação e das telecomunicações.
Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das fábricas - seu nome vem, na verdade,
de um projeto de estratégia de alta tecnologia do governo da Alemanha, trabalhado desde 2013 para levar sua produção a
uma total independência da obra humana.
A automatização acontece através de sistemas ciberfísicos, que foram possíveis graças à internet das coisas e à
computação na nuvem.
Os sistemas ciberfísicos, que combinam máquinas com processos digitais, são capazes de tomar decisões
descentralizadas e de cooperar - entre eles e com humanos - mediante a internet das coisas.
O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma "fábrica inteligente". Verdadeiramente inteligente. O princípio básico é que
as empresas poderão criar redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas.
Os números econômicos são impactantes: segundo calculou a consultora Accenture em 2015, uma versão em escala
industrial dessa revolução poderia agregar 14,2 bilhões de dólares à economia mundial nos próximos 15 anos.
No Fórum Mundial de Davos, em janeiro de 2016, houve uma antecipação do que os acadêmicos mais entusiastas
têm na cabeça quando falam de Revolução 4.0: nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial,
biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D.
Mas esses também serão os causadores da parte mais controversa da quarta revolução: ela pode acabar com cinco
milhões de vagas de trabalho nos 15 países mais industrializados do mundo.

Revolução para quem?


Os países mais desenvolvidos adotarão as mudanças com mais rapidez, mas os especialistas destacam que as
economias emergentes são as que mais podem se beneficiar.
A quarta revolução tem o potencial de elevar os níveis globais de rendimento e melhorar a qualidade de vida de
populações inteiras, diz Schwab. São as mesmas populações que se beneficiaram com a chegada do mundo digital - e a
possibilidade de fazer pagamentos, escutar e pedir um táxi a partir de um celular antigo e barato.
Obviamente, o processo de transformação só beneficiará quem for capaz de inovar e se adaptar.
"O futuro do emprego será feito por vagas que não
existem, em indústrias que usam tecnologias novas, em
condições planetárias que nenhum ser humano já
experimentou", diz David Ritter, CEO do Greenpeace
Austrália/Pacífico em uma coluna sobre a quarta
revolução industrial para o jornal britânico The Guardian.
E os empresários parecem entusiasmados - mais
que intimidados - pela magnitude do desafio, uma
pesquisa aponta que 70% têm expectativas positivas
sobre a quarta revolução industrial.
Ao menos esse é o resultado do último Barômetro
Global de Inovação, uma pesquisa que compila opiniões
de mais de 4.000 líderes e pessoas interessadas nas
transformações em 23 países.
Ainda assim, a distribuição regional é desigual e os
mercados emergentes da Ásia são os que estão adotando
as transformações de uma forma mais intensa que os de
economias mais desenvolvidas.
"Ser disruptivo é o padrão modelo para executivos
e cidadãos, mas continua sendo um objetivo complicado
de se colocar em prática", reconhece o estudo.

Os perigos do cibermodelo
Nem todos veem o futuro com otimismo: as pesquisas refletem as preocupações de empresários com o "darwinismo
tecnológico", onde aqueles que não se adaptam não conseguirão sobreviver.
E se isso acontece a toda velocidade, como dizem os entusiastas da quarta revolução, o efeito pode ser mais
devastador que aquele gerado pela terceira revolução.
"No jogo do desenvolvimento tecnológico, sempre há perdedores. E uma das formas de desigualdade que mais me
preocupa é a dos valores. Há um risco real de que a elite tecnocrática veja todos as mudanças que vêm como uma justificativa
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de seus valores", disse à BBC Elizabeth Garbee, pesquisadora da Escola para o Futuro da Inovação na Sociedade da
Universidade Estatal do Arizona (ASU).
"Esse tipo de ideologia limita muito as perspectivas que são trazidas à mesa na hora de tomar decisões (políticas), o
que por sua vez aumenta a desigualdade que vemos no mundo hoje", diz.
"Considerando que manter o status quo não é uma opção, precisamos de um debate fundamental sobre a forma e os
objetivos desta nova economia", diz Ritter, que considera que deve haver um "debate democrático" em relação às mudanças
tecnológicas.
Por um lado, há quem desconfie de que se trata de uma quarta revolução: é certo que as mudanças são muitas e
profundas, mas o conceito foi usado pela primeira vez em 1940 em um documento de uma revista de Harvard intitulado A
Última Oportunidade dos Estados Unidos, que trazia um futuro sombrio para avanço da tecnologia e seu uso representa uma
"preguiça intelectual", diz Garbee.
Outros, mais pragmáticos, alertam que a quarta revolução só aumentará a desigualdade na distribuição de
renda e trará consigo todo tipo de dilemas de segurança geopolítica.
O mesmo Fórum Econômico Mundial, em 2016, reconheceu que "os benefícios da abertura estão em risco" por causa
de medidas protecionistas, especialmente barreiras não tarifárias do comércio mundial que foram exacerbadas desde a crise
financeira de 2007: um desafio que a quarta revolução deverá enfrentar se quiser entregar o que promete.
"O entusiasmo não é infundado, essas tecnologias representam avanços assombrosos. Mas o entusiasmo não é
desculpa para a ingenuidade e a história está infestada de exemplos de como a tecnologia passa por cima dos marcos
sociais, éticos e políticos que precisamos para fazer bom uso dela", diz Garbee.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309. Acesso em 05 nov 2021

EXERCÍCIOS

01. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) do Ministério da Justiça condenou, ontem, as empresas Roche,
Basf e Aventis. Segundo o Cade, essas empresas teriam restringido a oferta e elevado os preços no Brasil das vitaminas A,
B2, B5, C e E, na segunda metade dos anos 90. Elas também teriam impedido a entrada de vitaminas chinesas, a preços
mais baratos, no Brasil. As empresas já haviam sido condenadas por práticas semelhantes na Europa e EUA.
Juliano Basile. Adaptado de Valor Econômico, 12/04/2007
Desde o final do século XIX, tornou-se um aspecto marcante do modo de produção capitalista a formação de grandes
empresas capazes de controlar a maior parte ou mesmo todo o mercado de um ou mais produtos.
A notícia acima expressa a seguinte prática presente nessa realidade centenária, associada à seguinte característica do
atual momento econômico:
(A) holding – fusão de companhias do mesmo setor.
(B) cartel – controle do mercado em escala planetária.
(C) oligopólio – padronização mundial das leis de concorrência.
(D) dumping – protecionismo para produtos de países emergentes.
(E) conglomerados – reunião de empresas nacionais.

02. No fim da década de 80 e início dos anos 90 a bipolaridade mundial declinou; da polaridade ideológica e militar leste/oeste
passou-se para a econômica e política norte/sul. Isto significa dizer que atualmente há oposição entre:
(A) o oeste rico e industrializado e o leste pobre e agrário;
(B) o oeste pobre e agrário e o sul rico e muito industrializado;
(C) o leste pobre e agrário e o norte rico e industrializado;
(D) o sul rico e industrializado e o norte pobre e agrário;
(E) o norte rico e industrializado e o sul pobre e em processo de industrialização.

03. Como resposta à crise do modelo de produção em massa, consumo em massa (fordismo), as empresas passaram a
introduzir equipamentos tecnológicos cada vez mais sofisticados, implementando mudanças nas relações de produção e
trabalho que passaram a constituir a política do neoliberalismo, que propõe o:
(A) estado mínimo, ou seja, que deve atuar o mínimo possível, de preferência como regulador da economia e não como
empresário.
(B) combater à privatização das empresas estatais, fortalecendo o papel do Estado na economia.
(C) Fortalecimento de medidas nacionais frente à concorrência global.
(D) Aumento dos direitos trabalhistas e do poder dos sindicados.
(E) Estímulo à competitividade através do fortalecimento da economia de escala, fim da terceirização dos serviços e incentivo
à política de subsídio fiscais.

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04. O impulso para o ganho, a perseguição do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro não tem, em si
mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se dizer que tem sido comum a toda
sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países, sempre que se tenha apresentada a possibilidade
objetiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa
permanente, capitalista e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente capitalista da sociedade, uma empresa
individual que não tirasse vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à extinção.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001 (adaptado).
O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta como característica fundamental
(A) competitividade decorrente da acumulação de capital.
(B) implementação da flexibilidade produtiva e comercial.
(C) ação calculada e planejada para obter rentabilidade.
(D) socialização das condições de produção.
(E) mercantilização da força de trabalho.

05. “Durante a Guerra Fria, era comum classificar os países do globo em um dos três mundos: o primeiro era composto pelos
países capitalistas desenvolvidos e era liderado pelos Estados Unidos; o segundo, formado pelos países socialistas, sob a
liderança da União Soviética; e o terceiro, integrado pelos países subdesenvolvidos, capitalistas em sua maioria e localizados
na América Latina, na África e na Ásia”.
(MOREIRA, João C. & SENE, Eustáquio de. Geografia para o Ensino Médio, 2002)
Sobre o Terceiro Mundo, pode-se afirmar que:
(A) A luta anticolonial gerou novas nações independentes na Ásia e África que procuravam alterar as regras do comércio
mundial, as quais estavam fundadas nos preços aviltados dos produtos industrializados que exportavam e nos altos
preços dos produtos agrícolas que importavam.
(B) A Conferência de Bandung, de 1955, lançou os princípios políticos do “não-alinhamento”, ou seja, uma posição
diplomática e geopolítica de afastamento das principais superpotências, fortalecendo a partir daí o conceito de conflito
Norte-Sul.
(C) A convergência político-ideológica entre os participantes da Conferência de Bandung, estimulou posições importantes
quanto aos problemas da economia mundial, fato que permitiu o aumento dos preços dos produtos que aqueles países
exportavam.
(D) A Conferência de Bandung consolidou a posição “terceiro-mundista” que procurou definir uma “terceira via” de
desenvolvimento, a qual deveria estar atrelada ao capitalismo norte-americano.
(E) O conceito de Terceiro Mundo está relacionado principalmente ao fator pobreza, o qual é exclusivo da América Latina,
da África e da Ásia.
06. Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais
avançados componentes eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A campanha publicitária
é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo
todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente.
REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Educator, 1994
(adaptado).
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de
(A) linhas de montagem e formação de estoques.
(B) empresas burocráticas e mão de obra barata.
(C) controle estatal e infraestrutura consolidada
(D) organização em rede e tecnologia de informação.
(E) gestão centralizada e protecionismo econômico.

07. O mundo entrou na era do globalismo. Todos estão sendo desafiados pelos dilemas e horizontes que se abrem com a
formação da sociedade global. Um processo de amplas proporções envolvendo nações e nacionalidades, regimes políticos
e projetos nacionais, grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações.
(IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997)
No texto, é feita referência a um momento do desenvolvimento do capitalismo. A expansão do sistema capitalista de produção
nesse momento está fundamentada na:
(A) difusão de práticas mercantilistas.
(B) propagação dos meios de comunicação.
(C) ampliação dos protecionismos alfandegários.
(D) manutenção do papel controlador dos Estados.
(E) conservação das partilhas imperialistas europeias.

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08. Leia o texto.
“No século atual, o eurocentrismo - que predominou durante 300 anos – sofre o impacto do aparecimento de dezenas de
novos países na Ásia e na África. Simultaneamente, os países do Terceiro Mundo iniciam mudanças nas relações entre
ricos e pobres, dominadores e dominados. É neste contexto que o professor Arno Peters publica seu planisfério (1973). Esse
mapa é um bom negócio para os países situados na zona intertropical do planeta, pois corrige a subestimação das áreas do
planisfério de Mercator. Ele representa cartograficamente as reivindicações de igualdade entre os países.”
FONTE: CARVALHO, Sílvia de Faria Pereira. in: Mapas são a linguagem da Geografia. Estado de Minas. Caderno
Gabarito. pág. 6 a 8. Belo Horizonte. 3/3/95.
Com base no texto e em seus conhecimentos sobre o assunto, assinale a alternativa INCORRETA:
(A) A projeção de Mercator é vantajosa para os países do norte, pois aumenta o tamanho dos países localizados entre os
trópicos e os círculos, diminuindo, em contrapartida, os espaços ocupados pelos países intertropicais.
(B) Ao se afirmar como centro de expansão do comércio, das grandes conquistas e de apropriação de terras na América,
África e Ásia, a Europa tornou-se o centro de referência e localização para as outras regiões do globo.
(C) A projeção de Peters, assim como a de Mercator, apresenta distorções, mas representa fielmente os contornos dos
continentes, permitindo que os países da faixa intertropical apareçam em sua verdadeira localização no globo terrestre.
(D) Atualmente, Estados Unidos, Japão e Rússia também se autodefiniram como referência e modelo para a humanidade,
o que só veio reforçar a continuidade de utilização do mapa de Mercator, pois esses países localizam-se em latitudes
equivalentes a da Europa.

09. O IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e é
calculado para diversos países desde 1990. O índice varia de 0 a 1, sendo que quanto mais perto de 1, maior é o
desenvolvimento humano, ou seja, a qualidade de vida medida do país ou do local onde é calculado com base em
indicadores.
Analise as seguintes afirmativas sobre o IDH.
I. O IDH é calculado em função da média de três componentes: fertilidade, educação e renda do chefe do domicílio.
II. O indicador do nível educacional do IDH é medido por uma combinação da taxa de alfabetização de pessoas de 15 anos
ou mais e da taxa bruta de matrículas em relação à população de 7 a 22 anos de idade.
III. O indicador de renda do IDH é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), real per capita em dólares, segundo o critério de
Paridade do Poder de Compra.
IV. O indicador de fertilidade do IDH é medido pelo número médio de filhos por mulher em idade de procriar, ou seja,
considerado dos 15 aos 49 anos de idade.
V. O indicador de longevidade do IDH é medido pela esperança de vida ao nascer.
Marque a opção certa.
(A) I e IV estão corretas.
(B) II, III e V estão corretas.
(C) III e IV estão corretas.
(D) II, IV e V estão corretas.
(E) I, III e IV estão corretas.

10. Ao analisarem-se os indicadores econômicos e sociais entre países, verificam-se disparidades entre eles. Assinale a
opção que explica as desigualdades mundiais.
(A) A capacidade para a produção e trabalho é determinada pelo clima temperado, característica predominante nos países
do Norte.
(B) A superação do Subdesenvolvimento é uma questão de tempo, pois os países ditos desenvolvidos passaram pela mesma
situação no passado.
(C) A economia capitalista é marcada pelas fortes desigualdades socioeconômicas entre as regiões do mundo, apresentando
um desenvolvimento desigual e combinado.
(D) As relações comerciais estão baseadas na deterioração dos termos de trocas, onde os países do Sul especializaram-se
em bens de capital e os do Norte em bens primários.
(E) A fragilidade dos países do Sul deve-se a ausência de blocos econômicos entre eles, fato que impede maior articulação
frente às pressões impostas pelos países do Norte.

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11. Sobre as classificações dos países quanto aos níveis de desenvolvimento, considere as seguintes afirmativas:
I. A pertinência da divisão do mundo em três grupos (Primeiro Mundo, Segundo Mundo, Terceiro Mundo) é hoje bastante
questionada: de um lado, o surgimento dos Países Recentemente Industrializados (Newly Industrialized Countries)
tornou o chamado Terceiro Mundo muito heterogêneo; de outro lado, a crise do bloco socialista fez com que os países
que o integravam passassem a ser, em sua maioria, “economias de transição”, o que desatualizou o conceito de
Segundo Mundo.
II. Atualmente, está sendo amplamente utilizada a seguinte classificação: países desenvolvidos, países em desenvolvimento
e países subdesenvolvidos.
III. Dentre as características dos países desenvolvidos encontram-se as seguintes: alto desenvolvimento tecnológico,
participação expressiva dos setores secundário e terciário na economia, renda per capita elevada, distribuição de renda
relativamente homogênea.
Assinale a alternativa correta:
(A) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
(B) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
(C) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
(D) Todas as afirmativas são verdadeiras.
(E) Nenhuma das afirmativas é verdadeira.

12. “A industrialização ampliou a divisão do trabalho dentro da unidade de produção (a fábrica) e no interior da sociedade de
cada país. Ao mesmo tempo, estabeleceu a Divisão Internacional do Trabalho entre os países industriais e as regiões
fornecedoras de produtos agrícolas e minerais”.
(LUCCI, E. A. et. al. Território e sociedade no mundo globalizado: Geografia Geral e do Brasil. Ensino Médio. Editora
Saraiva, 2005. p.56).
Assinale a alternativa que NÃO expressa uma característica da Divisão Internacional do Trabalho (DIT).
(A) Os países desenvolvidos exportam produtos tecnológicos e os países subdesenvolvidos exportam matérias-primas.
(B) A formação da DIT está relacionada, principalmente, com os eventos ligados ao colonialismo.
(C) Conferências internacionais são anualmente realizadas para se definir qual tipo de produto cada país produzirá no
contexto do comércio internacional.
(D) A Divisão Internacional do Trabalho envolve, entre outras questões, as relações desiguais entre o norte desenvolvido e
o sul subdesenvolvido nos campos político e econômico.

13. Pouco antes do término da Segunda Guerra Mundial, com a criação da Conferência de Bretton Woods, os EUA já se
articulavam para estabelecer novas políticas econômicas, que agilizassem a dinâmica comercial global, fato que acabaria
por condicionar toda uma reorganização da conjuntura internacional inerente aos interesses do capital. A partir dessa
conferência, assinale a opção que apresenta a criação de uma nova articulação nesse sentido.
(A) O padrão-ouro, utilizado para definir o valor das moedas a partir do peso do ouro ou equivalente, foi substituído pelo
padrão dólar-ouro, tornando a moeda norte-americana a nova referência monetária internacional, ao mesmo tempo em
que os EUA se comprometiam a trocar, sempre que necessário, dólares por ouro.
(B) O FMI, com a função de garantir a estabilidade e a recuperação do sistema financeiro global, acabou tornando-se o maior
articulador da recuperação socioeconômica dos países mais pobres, uma vez que os capitais produtivos investidos
nesses territórios são oriundos dessa instituição.
(C) O Banco Mundial, criado em 1950, com a finalidade de financiar a reconstrução dos aliados asiáticos especialmente o
Japão, tornou-se a instituição mais importante para os anseios comerciais dos EUA regionalmente, além de coordenar
e fiscalizar os empréstimos destinados aos investimentos de infraestrutura aos países endividados.
(D) O Gatt, de 1959, cuja finalidade básica foi integrar as tarifas comerciais entre todos os países latino-americanos, exceção
feita a Cuba, acabou sendo estendido a todo o bloco capitalista durante a Guerra Fria, no entanto, com o fim da
bipolarização, acabou sendo substituído pela OMC.
(E) A OCDE, criada na década de 1940, surgiu como um órgão de consulta e coordenação de políticas econômicas e sociais,
cuja finalidade básica foi aproximar a relações comerciais entre os países pobres e ricos, contribuindo, assim, para a
circulação de pessoas, bens e serviços em seus territórios.

14. A lógica da operação das empresas multinacionais ou globais no contexto da Divisão Internacional é:
(A) a inserção dessas no mundo desenvolvido, proporcionando uma maior democratização no acesso às novas tecnologias
em todo o mundo.
(B) a atualização do sistema internacional, quando os países subdesenvolvidos, agora industrializados, também passam a
exportar produtos industrializados.
(C) a ampliação da política do pleno emprego que, a partir da segunda metade do século XX, adquiriu uma dinâmica global.
(D) o fortalecimento das leis ambientais e trabalhistas, principalmente naqueles países onde essas indústrias se instalam,
dinamizando assim o processo de distribuição de renda.

129
15. Nas últimas décadas, muitos países que tinham uma economia voltada basicamente para o setor primário têm recebido
em seus territórios filiais ou subsidiárias de multinacionais, fato que vem modificando profundamente seus perfis econômicos
e suas funções dentro da atual divisão internacional do trabalho (DIT).
Com base nas informações do texto e nos conhecimentos sobre a DIT e suas implicações, é correto afirmar:
(A) A implantação das multinacionais, nos países periféricos, gerou grandes lucros, porque o lucro era reinvestido no seu território,
diversificando o processo produtivo.
(B) A nova DIT não alterou as desigualdades no processo produtivo, mas possibilitou o dinamismo da economia de todos os países
do Terceiro Mundo, devido à interferência estatal.
(C) Os países de industrialização clássica, como o Brasil, o México e a Argentina, saíram mais fortalecidos que os demais países
periféricos, porque os investimentos externos produtivos priorizam esses mercados.
(D) Essa nova Distribuição Internacional do Trabalho caracteriza-se pela mudança do perfil econômico das nações periféricas e
pela diminuição da dependência econômica dessas nações.
(E) Os países centrais, na nova Distribuição Internacional do Trabalho, fornecem produtos e serviços com alto conteúdo tecnológico
e os países periféricos, produtos de primeira e segunda geração industrial.

16. Emergentes deverão responder por 57% do PIB mundial até 2030
A participação dos países emergentes no PIB mundial passou de 38% em 2000 para 49% neste ano e deverá atingir 57%
em 2030, segundo o estudo Perspectivas sobre o Desenvolvimento Mundial 2010 – Deslocamento da Riqueza, publicado
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta quarta-feira (…).
FERNANDES, D. BBC Brasil, 16 jun. 2010. Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/06/100616_relatorioeconomia_df.shtml. Acesso em: 13 mar. 2015.
A expressão países emergentes caracteriza:
(A) o grupo de países que fatalmente se tornarão desenvolvidos em breve.
(B) o conjunto de economias nacionais subdesenvolvidas com relativo grau de crescimento econômico e social.
(C) os Estados que possuem um forte poder de intervenção na economia, mas que ainda precisam desenvolver os seus
níveis de industrialização.
(D) o agrupamento formalmente registrado de nações que possuem territórios com grande potencial para exploração
econômica.

17. As duas grandes marcas do século XX foram as guerras mundiais e o socialismo, ocasiões que geraram um terceiro
grande fenômeno: a Guerra Fria, em que a moldura de uma ordem mundial bipolar se baseava na rivalidade entre os EUA
e a União Soviética. Analise as proposições seguintes sobre as grandes transformações do século XX:
I. A partir de 1945, o mundo esteve dividido, predominantemente, em blocos de países sob influência dos EUA e da União
Soviética, que entraram em confronto de forma direta, o que levou o mundo a temer o deflagrar de uma guerra nuclear
iminente.
II. No Plano Marshall encontra-se a origem da Guerra Fria. Esse Plano representou a resposta americana à crise europeia, por
meio do financiamento americano da reconstrução da Europa.
III - O zênite da Guerra Fria aconteceu quando duas graves crises colocaram à prova a resolução das duas superpotências e
comprovaram o perigo de uma guerra total. Trata-se da crise de Berlim, em 1961, e a crise dos mísseis em Cuba, em 1962.
IV - Por consequência do fim da Guerra Fria e da queda o muro de Berlim, o socialismo definitivamente deixou de existir e de
orientar a política de diversos países.
V - Pode-se concluir que, para o quadro histórico do final do século XX e início deste século, tanto o socialismo quanto o capitalismo
conseguiram consolidar diretrizes para os graves problemas socioeconômicos e políticos que afligem a humanidade.
Após a análise das proposições, assinale a alternativa verdadeira:
(A) Apenas o item III é correto.
(B) Os itens II e III estão errados.
(C) Apenas o item V é correto.
(D) Os itens II e III estão corretos.
(E) Os itens I, II e III estão corretos.

17. A “queda do muro de Berlim”, ocorrida no final de 1989, é um dos marcos do surgimento de uma “nova ordem mundial”,
que pode ser compreendida a partir de duas dimensões: a geopolítica e a econômica.
Quais as mudanças geopolíticas e econômicas decorrentes dessa “nova ordem mundial”.
Marque a opção INCORRETA:
(A) Do ponto de vista geopolítico, a principal mudança foi o fim do período denominado de Guerra Fria e, por conseguinte, da
bipolaridade de poder das superpotências mundiais (União Soviética e Estados Unidos) e dos blocos mundiais por elas
comandados.
(B) Na “nova ordem geopolítica mundial”, denominada “ordem multipolar”, as superpotências se impõem mais em face do seu
poderio econômico do que bélico.
(C) A “nova ordem mundial” é o processo de globalização da economia, com a formação de blocos econômicos regionais, tais
como a União Europeia e o Nafta.
(D) Na “nova ordem”, o poder está vinculado diretamente ao avanço tecnológico, a níveis de produtividade, à disponibilidade de
capitais, à competitividade e à qualificação da mão- de-obra.
(E) Na “nova ordem mundial” ocorreram as maiores guerras e crises econômicas que colocou em questionamento a funcionalidade
e eficiência do capitalismo

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18. A prosperidade induzida pela emergência das máquinas de tear escondia uma acentuada perda de prestígio. Foi nessa
idade de ouro que os artesãos, ou os tecelões temporários, passaram a ser denominados, de modo genérico, tecelões de
teares manuais. Exceto em alguns ramos especializados, os velhos artesãos foram colocados lado a lado com novos
imigrantes, enquanto pequenos fazendeiros-tecelões abandonaram suas pequenas propriedades para se concentrar na
atividade de tecer. Reduzidos à completa dependência dos teares mecanizados ou dos fornecedores de matéria-prima, os
tecelões ficaram expostos a sucessivas reduções dos rendimentos.
THOMPSON, E. P. The making of the english working class. Harmondsworth: Penguin Books, 1979 (adaptado).
Com a mudança tecnológica ocorrida durante a Revolução Industrial, a forma de trabalhar alterou-se porque:
(A) a invenção do tear propiciou o surgimento de novas relações sociais.
(B) os tecelões mais hábeis prevaleceram sobre os inexperientes.
(C) os novos teares exigiam treinamento especializado para serem operados.
(D) os artesãos, no período anterior, combinavam a tecelagem com o cultivo de subsistência.
(E) os trabalhadores não especializados se apropriaram dos lugares dos antigos artesãos nas fábricas.

19. As fábricas inglesas e os usos e significados do relógio


Era exatamente naquelas atividades – fábricas têxteis e oficinas – em que se impunha rigorosamente a nova disciplina do
tempo que a disputa sobre o tempo se tornava mais intensa. No princípio, os piores mestres tentavam expropriar os
trabalhadores e todo conhecimento sobre o tempo. “Eu trabalhava na fábrica do sr. Braid”, declarou uma testemunha: “Ali
trabalhávamos enquanto ainda podíamos enxergar no verão, e não saberia dizer a que horas parávamos de trabalhar.
Ninguém, a não ser o mestre e o filho do mestre, tinha relógio, e nunca sabíamos que horas eram. Havia um homem que
tinha relógio [...]. Foi-lhe tirado e entregue à custódia do mestre, porque ele informava aos homens a hora do dia [...]”.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008, p. 293
Sobre as relações de trabalho e seus movimentos de resistência ao longo da história, é CORRETO afirmar que:
I. como reflexo das alterações nas relações de trabalho decorrentes da Revolução Industrial, originaram-se movimentos de
resistência como o Ludismo, reconhecido pela destruição das máquinas como forma de protesto contra as relações de
trabalho.
II. a publicação da Carta de Obrigações em 1830, resultante do movimento conhecido como Cartismo, foi uma reação
vitoriosa da burguesia industrial britânica contra os movimentos operários que lutavam por melhores condições de
trabalho.
III. no contexto da Revolução Industrial, os industriais recorriam ao trabalho feminino e à exploração da mão de obra infantil
como opção para não aumentar os custos da produção.
(A) I e II estão corretas.
(B) I e III estão corretas.
(C) II e III estão corretas.
(D) Somente I está correta.
(E) Somente III está correta.

20. As transformações desencadeadas pela Revolução Industrial Inglesa foram muito mais sociais que técnicas, tendo em
vista que é nessa fase que se aprofundam as diferenças entre ricos e pobres.
(HOBSBAWM, Eric J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1979).
Sobre o impacto social da industrialização nas relações entre campo e cidade na Inglaterra, considere as afirmativas a seguir.
I. O desenvolvimento agrícola e o cercamento dos campos para a criação de ovelhas expulsaram um número crescente de
trabalhadores do campo para as cidades, constituindo um exército de mão de obra barata de reserva para a indústria.
II. A industrialização encontrou as melhores condições para florescer em Londres, a maior cidade do reino, onde a
monarquia, aliada à burguesia, abriu mão de impostos sobre a terra para favorecer o crescimento econômico.
III. A indústria desencadeou a exploração extensiva e intensiva de recursos naturais, causando a poluição do ar e da água,
com consequências graves, sobretudo, para a qualidade de vida das populações mais pobres.
IV. O aumento da população urbana provocou uma crise de moradia, com o encarecimento dos aluguéis e a ocupação de
lugares insalubres, o que tornou ainda mais precárias as condições de vida da classe operária.
Estão corretas apenas as afirmativas
(A) I e II.
(B) II e III.
(C) I, II e IV.
(D) I, III e IV.
(E) todas estão corretas

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21. Sobre a Segunda Revolução Industrial é INCORRETO afirmar que:
(A) implementou nas indústrias as linhas de montagens, esteiras rolantes e o método de racionalização da produção em
massa, chamado de fordismo.
(B) caracterizou-se pelos avanços ultrarrápidos, que resultaram na obsolescência também veloz especialmente na
microeletrônica, na robótica industrial, na química fina e na biotecnologia.
(C) a utilização da energia elétrica e do petróleo possibilitaram a intensificação do desenvolvimento tecnológico, permitindo
a sua produção em grande escala.
(D) estabeleceu uma nova e acirrada disputa entre as grandes potências industriais que buscavam o aumento de seus lucros
e uma saída para seus excedentes de produção e capitais.
(E) possibilitou o desenvolvimento de grandes indústrias e concentrações econômicas, que culminaram nos "holdings",
trustes e cartéis.
22. Sobre os diferentes tipos de indústrias e a sua dinâmica espacial, assinale o que for correto.
(A) as indústrias de bens de produção ou de base produzem bens para outras indústrias, gastam muita energia e transformam
grandes quantidades de matérias-primas. São exemplos desse tipo de indústrias: petroquímicas, metalúrgicas,
siderúrgicas, entre outras.
(B) as indústrias de bens de capital ou intermediárias produzem máquinas, equipamentos, ferramentas ou autopeças para
outras indústrias, como, por exemplo, as indústrias dos componentes eletrônicos e a de motores para carros ou aviões.
(C) as indústrias de ponta estão ligadas ao emprego de alta tecnologia, elevado capital e de número grande de trabalhadores
qualificados. Elas dependem de inovações constantes para que sejam possíveis modificações rápidas no processo de
produção.
(D) a partir de 1990, intensificou-se no Brasil o processo de desconcentração industrial, ou seja, muitas indústrias deixaram
áreas tradicionais e instalaram unidades fabris em novos espaços na busca de vantagens econômicas, como incentivos
fiscais, menores custos de produção, mão de obra mais barata, mercado consumidor significativo e atuação sindical
fraca.
(E) as indústrias de bens de consumo estão divididas em duráveis e não duráveis. A primeira se refere à indústria de
automóveis, eletrodomésticos e móveis. Já as não duráveis estão ligadas ao setor de vestuário, alimentos, remédios e
calçados.
23. Leia o texto a seguir.
Seguindo uma tendência observada nas empresas europeias e americanas, alguns investidores brasileiros estão migrando
parte de seus negócios da China para o Vietnã. Os setores calçadista e têxtil são os que mais observaram esse tipo de
mudança, com a instalação principalmente de fábricas americanas e europeias no Vietnã. Em estudo divulgado em março,
a Câmara de Comércio Americana de Xangai, a AmCham, apontou que 88% das empresas estrangeiras sondadas optaram
inicialmente por operar na China por causa dos baixos custos, porém, 63% dessas afirmaram que se mudariam ao Vietnã
para cortar ainda mais o preço de produção.
<www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/07/080709_vietannegociosmw.shtml>. adaptado.
Pode ser associada ao conteúdo da notícia a seguinte afirmação:
(A) atualmente, grande parte das empresas multinacionais é originária dos países subdesenvolvidos e aí estão instaladas.
(B) embora seja objeto de investimentos capitalistas, o sistema socialista chinês ainda afugenta as empresas multinacionais.
(C) a globalização facilitou a mobilidade de capitais e empresas, aumentando a competição entre países.
(D) nos países asiáticos, o alto custo da mão de obra é compensado pela abundância de matérias-primas minerais baratas.
(E) a abertura comercial propiciada pela globalização permitiu às empresas brasileiras concorrerem com as dos países
europeus.
24. A globalização que marca a nova fase do desenvolvimento capitalista se caracteriza pela mundialização da produção,
da circulação e do consumo. Processo este que foi viabilizado pelo avanço técnico acelerado.
As transformações rápidas que ocorrem na economia e na sociedade têm hoje a finalidade de intensificar a competitividade,
que é mola propulsora do processo de globalização. Podemos identificar como estratégias competitivas do capitalismo
globalizado:
I. A produção de transgênicos que, embora polêmica, é mais produtiva, aumenta a resistência às pragas e cria a
dependência dos produtores junto às empresas que controlam as sementes geneticamente modificadas.
II. A customização, ou seja, a fabricação de produtos sob encomenda para atender às especificações do consumidor final,
em substituição à produção padronizada em série e com grandes estoques.
III. A flexibilização da produção através da adoção de um mesmo padrão produtivo das linhas de montagem, distribuídas
pelos vários países do mundo, o que reduz custos e retira a identificação de um produto como sendo de uma
nacionalidade.
IV. A adoção do protecionismo às empresas nacionais através dos subsídios e das cotas para dificultar a concorrência dos
produtos estrangeiros dentro dos territórios nacionais.
Estão corretas apenas as alternativas:
(A) I, II e III.
(B) I, III e IV.
(C) I e IV.
(D) II, III e IV.
(E) II e III.
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HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. VAGNER SOUZA

APRESENTAÇÃO

Caro Aluno,

Este Módulo faz parte de um conjunto de elementos didáticos que por ocasião de sua produção visava
dois objetivos: o primeiro deles é oferecer um material de fácil leitura, que possa lhe ajudar a elucidar e
compreender os fatos da história, contribuindo com isso para a aquisição de informações que ajudam não
só na busca dos seus ideais, mas também para toda sua vida. O segundo foi de elaborar um material que
seja resumido sem deixar de descrever todos os dados imprescindíveis para o fim que se destina.

Buscamos elaborar um manual de história centrado na própria história, trazendo à tona informações
dos fatos dentro de uma ótica precisa, a partir do acúmulo de conhecimentos descritos pelas obras citadas
pela Bibliografia do Edital do Concurso para o QOAA/AFN em 2021. No entanto, como prevê os editais
dos concursos anteriores, a bibliografia sugerida serve apenas como base para o estudo da matéria, sem
excluir outras publicações de natureza histórica, fato este que ocorreu, eventualmente, nos últimos anos do
concurso, onde foram utilizadas várias citações de revistas e autores de história não contidos na bibliografia
sugerida. Portanto, este Módulo serve como base de estudo sem excluir para o Candidato a leitura dos livros
sugeridos pela MB e nem outras fontes de História.

O Módulo I é o primeiro de um conjunto de unidades teóricas, sempre revistas, sendo, portanto, um


material aprimorado e atualizado. No entanto, como nosso período letivo inicia-se antes da publicação do
Edital 2022, caso haja alguma alteração, será fornecido material complementar para estudo, assim como
utilizaremos diretamente os livros mais trabalhados em questões dos últimos três concursos.

Alguns concursos anteriores primaram pela utilização de gravuras e mapas como parte do enunciado
das questões das provas. Levando isto em consideração, este Módulo conta com alguns elementos visuais
que buscam auxiliar na localização geográfica ou temporal, facilitando a memorização dos fatos e a possível
integração com as questões por ocasião do concurso. Logo, este Módulo não é apenas uma adaptação das
apostilas anteriores, mas sim um material moderno e inovador.

Não existem fórmulas mirabolantes em educação, o que há é dedicação contínua, tanto por parte de
quem leciona quanto por parte dos alunos. A conjunção destes esforços é, no mínimo, razão suficiente para
a construção de um saber, para aquisição de cultura e para uma melhor qualidade de vida social, tanto para
você quanto para seus familiares.

O sucesso em concursos sempre é traduzido em números, mas o sucesso pessoal, este sim, é medido
pela satisfação plena do dever cumprido e da busca incessante pelos ideais de cada um.

Um abraço e bons estudos,

Prof. Vagner P. de Souza


Curso Adsumus

MÓDULO 1 REGULAR -1- QOA-AA/AFN 2021


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. VAGNER SOUZA

ÍNDICE
Apresentação dos Módulos ................................................................................................................ 01
Introdução ao Módulo 1 ..................................................................................................................... 04
1) Conceituando História ................................................................................................................... 04
2) Datando a História ......................................................................................................................... 04

Capítulo I – A Idade Antiga ............................................................................................................ 06


1) A Relação Entre as Primeiras Civilizações e o Mar ...................................................................... 06
1.1) As Profissões Marítimas ............................................................................................................. 06
1.2) Comparação entre o Navio Mercante e O Navio de Guerra Antigo .......................................... 07
2) Os Povos da Antiguidade .............................................................................................................. 08
2.1) A Civilização Egípcia ................................................................................................................ 09
2.2) A Civilização Mesopotâmica ..................................................................................................... 12
2.3) A Civilização Cretense ............................................................................................................... 14
2.4) A Civilização Fenícia ................................................................................................................. 14
2.5) A Civilização (Fenícia) Cartaginesa .......................................................................................... 17
2.6) A Civilização Grega ................................................................................................................... 19
2.7) A Civilização Romana ............................................................................................................... 25

Capítulo II – A Idade Média ........................................................................................................... 31


1) O que é Idade Média ...................................................................................................................... 31
2) O Império Bizantino ...................................................................................................................... 32
3) O Império Árabe ............................................................................................................................ 33
4) Os Reinos Bárbaros ....................................................................................................................... 34
5) O Reino Cristão dos Francos ......................................................................................................... 34
6) O Navio de Guerra Medieval ........................................................................................................ 35
7) Guerra e Comércio na Idade Média ............................................................................................... 36
8) A Civilização Viking ..................................................................................................................... 37
9) A Crise da Idade Média ................................................................................................................. 39
10) O Movimento Cruzadista ............................................................................................................ 40
11) A Retomada do Comércio ........................................................................................................... 42
12) As Repúblicas Marítimas da Península Itálica ............................................................................ 42
12.1) Pisa ........................................................................................................................................... 42
12.2) Gênova ...................................................................................................................................... 44
12.3) Veneza ...................................................................................................................................... 46
13) As Grandes Invenções ................................................................................................................. 48

Capítulo III – A Idade Moderna .................................................................................................... 50


1) A Grande Crise dos Séculos XIV e XV ........................................................................................ 50
2) A Revolução Comercial e o Mercantilismo ................................................................................. 50
3) A Transição para a Idade Moderna ............................................................................................... 51
4) Os Estados Modernos e o Mercantilismo ...................................................................................... 52
5) A Expansão Comercial .................................................................................................................. 53
MÓDULO 1 REGULAR -2- QOA-AA/AFN 2021
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
Capítulo IV - As Nações ................................................................................................................... 61
1) Portugal .......................................................................................................................................... 61
1.1) A Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias .................................................................... 67
1.2) Outras Navegações Portuguesas ................................................................................................. 70
1.3) O Apogeu de Portugal ................................................................................................................. 70
2) Espanha .......................................................................................................................................... 71
3) França ............................................................................................................................................ 75
4) Holanda .......................................................................................................................................... 83

Bibliografia ........................................................................................................................................ 88

MÓDULO 1 REGULAR -3- QOA-AA/AFN 2021


HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. VAGNER SOUZA

INTRODUÇÃO

1) Conceituando História:
O estudo de História permite ao homem o conhecimento necessário para compreender sua trajetória,
facilitando entender de que forma ele alcançou o estágio atual, onde errou e acertou, possibilitando um
melhor planejamento de suas ações, contribuindo para resultados melhores em seus objetivos.
A História abrange todas as faces da ação humana. Podemos “contar” histórias de cunho social,
político, religioso ou militar, e, independente de “qual” história estivermos falando, ela nunca será isolada
no tempo ou no espaço e sempre terá uma íntima relação de causa e consequência com outro(s) fato(s) que
pode anteceder ou suceder a ele. Tudo o que ocorreu com o homem, e este pôde registrar ou deixar ser
registrado, é parte integrante de sua história.
Nenhuma sociedade chegou a qualquer patamar sem contato com outro grupo social, e o fruto dessas
relações é que fazem parte do estudo que será demonstrado em nossos módulos.

2) Datando a História:
De uma forma geral, a História é dividida em Pré-História e História. O advento da escrita permitiu
grandes avanços aos grupos sociais humanos e é o marco divisório entre uma e outra fase deste
desenvolvimento primário. A partir da escrita o homem pôde descrever por si só sua trajetória.
Em relação à Pré-História, cabe aos estudiosos desvendar os segredos a partir de vestígios deixados
por estas comunidades/sociedades, o que é genericamente denominado de Documento Histórico.
Dividimos a História Ocidental, e por influência cultural e econômica também a Oriental, em antes
e depois do nascimento de Cristo. Apesar desta figura – Jesus Cristo – ser representativa apenas para a Fé
Cristã, o domínio exercido pelos povos seguidores desta filosofia religiosa a outros povos como judeus e
mulçumanos, acabou por influenciar suas culturas. A essa classificação descrevemos como antes de Cristo
(a.C. ou AC) e depois de Cristo (d.C. ou DC). Há também a inscrição AD (Anno Domini – “Ano do Senhor”)
para o período compreendido apenas após o nascimento de Cristo. Só é obrigatório escrever a referência se
ela for antes do nascimento de Cristo, como exemplo, podemos utilizar a Batalha Naval de Salamina, entre
gregos e persas, ocorrida no ano de 480 a.C.

Os judeus se encontram em um calendário que está 3761 anos à frente do calendário cristão e os
mulçumanos começaram a contar seu tempo no ano 622 da era Cristã. Assim, quando nossas aulas
começaram neste ano de 2021, os judeus estavam no ano de 5782.
O primeiro ano do calendário islâmico, ou ano 1, corresponde a 16 de julho de 622 d.C., quando
ocorreu a Hégira ou Hijra, evento histórico do Islã, que se refere à migração do profeta Maomé de Meca
para Medina.
MÓDULO 1 REGULAR -4- QOA-AA/AFN 2021
HISTÓRIA MILITAR-NAVAL Prof. VAGNER SOUZA
O calendário islâmico, também chamado de calendário muçulmano ou ‫( التقويم الهجري‬at-taqwīm al-
hijrī, em árabe) é um calendário lunar, logo, a contagem dos dias é feita de acordo com a observação das
fases da Lua. Em 2020, teve início o ano 1442 que compreende o período entre 20 de agosto de 2020 e 9
de agosto de 2021. Em 10 de agosto de 2021 inicia o ano 1443 e vai até 29 de julho de 2022. Normalmente,
a notação utilizada é 1443 AH, do latim Anno Hegirae ("Ano da Hégira"), copiando à notação cristã AD.
O calendário muçulmano é utilizado oficialmente em muitos países, por exemplo, na Arábia Saudita.
Mas também em muitas regiões com população muçulmana, o calendário é utilizado para marcar as
celebrações religiosas, a exemplo do Ramadã.
Os calendários judaicos e islâmicos são fortemente marcados pelos dogmas religiosos dessas
sociedades, o que determina, por exemplo, que o calendário islâmico seja lunar e não solar. Essas
características fazem com que os anos não sejam de 365 dias.
Existem e existiram também outros calendários que servem e serviram para a contagem do tempo
por diversos povos, com o calendário chinês (Em 2021 teve o início do ano que ocorreu em 12 de fevereiro,
quando começou o Ano do Boi (Búfalo) de Metal, que corresponde ao ano 4719 do calendário chinês, cujo
término acontecerá em 31 de janeiro de 2022) e os antigos calendários Maia e Egípcio, mas nenhum de
interesse para nosso concurso.
O marco histórico “Cristo” permitiu ao homem ocidental datar um calendário que regride do infinito
(∞) até o ano 0 (zero) e progride do ano 0 até os dias atuais. Essa datação é marcada por dia, mês e ano (não
necessariamente nesta ordem para todas as sociedades cristãs) em números arábicos e os séculos em
números romanos. Para comparação entre uma data e seu século basta escrever o número do ano sempre
com quatro dígitos. Caso os dois últimos números da direita terminem em 00 (zero zero), será o número
formado pelos dois dígitos da esquerda. Exemplo: nascimento de Cristo – 0000 – século 0, ou
descobrimento do Brasil – 1500 – século XV (quinze). Caso os dois números da direita terminem diferente
de zero, será o da esquerda mais um (+1). Exemplo: Proclamação da Independência do Brasil – 1822 –
século XIX (dezenove), Primeira Guerra Mundial – 1914 a 1918 – século XX (vinte).
Nosso atual calendário é denominado Gregoriano por ter sido instituído pelo papa Gregório XIII em
1582. O calendário gregoriano foi instituído a partir do calendário de Dionísio, um abade de Roma, que o
fez no ano 525, a partir do calendário romano. Portanto, podem haver algumas discrepâncias em relação à
datação de alguns fatos, principalmente os encontrados na época aC, não comprometendo a história.
Os números romanos são representados pelas letras latinas I, V, X, L, C, D e M, relacionando-os
aos números arábicos são: 1, 5, 10, 50, 100, 500 e 1000. Os conjuntos numéricos se somam caso estejam à
direita de uma unidade numérica e subtraem caso estejam à esquerda. Portanto a data de Proclamação da
Independência do Brasil, em números romanos foi: VII – IX – MDCCCXXII (7-9-1822).
Há diversos marcos históricos. Eles servem para delimitar determinados fatos, épocas ou períodos
sem, no entanto, resumi-los. Conforme já demonstrado, a história não é estática e sim dinâmica e, mesmo
sendo relativa a fatos passados, ela encontra-se em constante evolução devido a novas fontes históricas que
possam surgir ou a uma nova verdade construída a partir de uma nova visão de algum historiador. Mas os
fatos são os fatos e estes não podem ser, e não serão, mudados jamais.

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CAPÍTULO I

A IDADE ANTIGA

Compreende-se como História Antiga o período que vai do início da História, a partir da invenção
da escrita, aproximadamente 4000aC, até 476dC, ano da queda de Roma Ocidental, como capital do Império
Romano do Ocidente. A queda de Roma finaliza a Idade Antiga e inicia o período conhecido como Idade
Média.

1) A Relação Entre as Primeiras Civilizações e o Mar:


Os aspectos geográficos são os mais importantes para a determinação de um povo como sendo de
caráter terrestre ou não. Terras férteis e abundância de matérias-primas que suprissem um povo
obrigatoriamente o fixariam em sua posição geográfica, no entanto, a escassez de alimentos, ou de produtos,
forçosamente o impeliria a sair de suas terras em busca de suas necessidades.
Notadamente, as vias de comércio e transporte fluvial ou marítimo sempre foram – e são – as mais
fáceis e baratas de serem exercidas.
Ao longo da história temos exemplos de povos que saíram de suas terras em busca de áreas mais
férteis e promissoras, e até mesmo de povos denominados nômades, que nunca tiveram uma localidade
fixa. Na maioria das vezes, o que ocorreu para que um povo deixasse seu território foi a busca pelos
produtos que lhes faltavam, no entanto, a ganância econômica, a vontade política ou a influência religiosa
(e cultural) também foram determinantes.
Essa busca ocorreu através da guerra e da dominação física, passando a controlar as áreas produtoras
e seus habitantes, ou através do comércio, principalmente pela troca dos excedentes de produção 1 entre
povos ou regiões, e da influência cultural ou política.
Mas o comércio, ou a necessidade de busca por produtos, não explica por si só a opção de um povo
pelo mar. Temos vários exemplos de que esta opção se deu de modo forçado, pelas próprias necessidades
naturais advindas do progresso social de seus habitantes, pela agressão de outros povos ou pelo contínuo
contato com sociedades de características marítimas.

1.1) As Profissões Marítimas:


A figura do armador, ou seja, do homem que prepara navios para viagens, dotando-o de equipamento
e de tripulação, é muito antiga na História. O armador nem sempre foi o comerciante marítimo ou
proprietário do navio, no entanto, na Antiguidade o mais comum era ser as três coisas ao mesmo tempo.
O comandante do navio, vulgarmente chamado de capitão, era geralmente um experimentado
marinheiro.
O marinheiro, muitas vezes iniciado na profissão à força (costume que chegou até o século XX em
muitos países), era geralmente um homem inculto que só conhecia bem a sua profissão (também isso chegou
até o século XX). A bordo cuidava das velas, dos cabos e fazia um sem-número de funções variadas.
O mestre era um experimentado marinheiro cuja atribuição principal era a manobra do velame e a
supervisão geral do convés.
Havia ainda a figura do piloto, que às vezes era o próprio capitão; seu mister era a navegação e, para
isso, tinha conhecimentos técnicos acima da maioria do pessoal.

1
Entende-se como excedente de produção produtos agrícolas ou fabris que, não tendo mercado interno ou sendo produzido
exclusivamente para o mercado externo, passam a ser dispostos para trocas comerciais.
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Tabela 1: Lista das Principais Funções da Tripulação de um Navio
Capitão Comandante do navio. Responsável pelo cumprimento da missão.
Condestável Oficial diretamente subordinado ao capitão. Responsável pela operação e
manutenção dos canhões de bordo.
Piloto Cuida da navegação.
Sota-piloto Auxilia o piloto.
Mestre Comanda a guarnição, dirige as tarefas de bordo e a manobra de âncoras e velas.
Contramestre Auxilia o mestre. Responsável pelo acondicionamento da carga.
Guardião Auxilia o contramestre.
Barbeiro-cirurgião Possuía alguns conhecimentos para tratar de feridos e algumas doenças.
Carpinteiro Repara o navio e equipamentos de madeira.
Calafate Repara a estanqueidade do navio, mantendo a embarcação capaz de flutuar.
Tanoeiro Responsável por consertar tonéis.
Cozinheiro Prepara as refeições.
Meirinho Executa ordens do capitão referentes à justiça. Controla a pólvora e a munição.
Ninguém manuseia fogo a bordo sem sua permissão, função que mais tarde
passou a ser do capitão do fogo.
Bombardeiro O mesmo que artilheiro.
Escrivão Oficial de fazenda, encarregado de escriturar a receita e despesa de bordo dos
navios de guerra.
Marinheiro Pessoa com experiência no mar e habilidades em marinharia.
Grumete Pessoa sem experiência no mar. Faz atividades pesadas.
Pajem Jovem de pouca idade e subordinado ao guardião. Encarregado das limpezas e
varreduras do navio.
Fonte: Marinhado Brasil: Uma Síntese Histórica. SDM, 2018, p. 35

1.2) Comparação entre o Navio Mercante e o Navio de Guerra Antigo:


Se compararmos os dois tipos básicos de navios na
Antiguidade, vemos que o primeiro era lento e bojudo, ao passo
que o segundo era rápido e esguio, o que se explica pelas suas
finalidades. Enquanto o mercante pretendia transportar o
máximo possível de carga com um mínimo de custo
operacional, o navio de guerra queria chegar o mais rapidamente
junto do inimigo para combatê-lo, pouco importando quanto
custasse isso em termos de dinheiro. Sim, porque, enquanto um
navio mercante tinha uma tripulação pequena, um navio de
combate levava, em média, 200 homens, mesmo considerando
Típico navio mercante da Antiguidade que os remadores não eram pagos pelo seu trabalho (a maioria
era formada de escravos, prisioneiros e condenados), a
necessidade de alimentá-los e mais a despesa com todos os
guerreiros e tripulantes fazia com que o navio de guerra fosse
caro, que só os governos podiam permanentemente manter.
O transporte de riquezas pelo mar deu ensejo ao surgimento da pirataria, tão antiga quanto o próprio
comércio marítimo. Isso suscitou a necessidade de os navios mercantes se defenderem, para o quê se
embarcaram guarnições aguerridas, aptas para o combate de abordagem2. A crescente ameaça ao comércio
marítimo, contudo, só pôde efetivamente ser controlada pela criação de navios especiais, com grande

2
A abordagem era a principal técnica utilizada nos combates navais na Antiguidade.
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capacidade de manobra, cujo fim era a defesa dos poucos “navios redondos”. Assim surgiu o navio de
guerra, a serviço dos navios mercantes e, portanto, da economia de cada nação ou império.
O navio de guerra egípcio, do qual temos a melhor
descrição entre os mais remotos, tinha pouca boca, o que lhe
valeu ser chamado de “navio comprido”, pois, ao contrário
do mercante, era bem mais estreito. Tinha o fundo chato, o
que, juntamente com a característica anterior, fazia com que
oferecesse pouca resistência à água. Sua propulsão principal
era o remo. Havia uma longa fileira de remos de ambos os
bordos, manejados pelos remadores que eram acorrentados
aos bancos para que não tentassem fugir na hora do combate;
obviamente morriam quando o navio afundava.
Os navios de guerra possuíam também velas, cujos
mastros eram arriados na hora da batalha para evitar que sua Típico navio de guerra da Antiguidade
queda atingisse os ocupantes do navio.
As velas eram usadas nas travessias longas, longe do inimigo, a fim de poupar os remadores, e no
caso de haver necessidade de bater em retirada para aumentar a velocidade de fuga; de fato, “içar as velas”
era, no combate, sinônimo de “fugir”.
Por causa do seu fundo chato e de sua pouca resistência aos temporais, os navios de guerra não
fundeavam como os mercantes; eram puxados para terra, ficando em seco. Essa circunstância ocasionou
algumas “batalhas navais” travadas em terra, quando acontecia de um inimigo atacar a esquadra antes que
os navios pudessem ser postos a flutuar. Os principais eventos ocorreram na Batalha de Micale (479aC), na
qual os gregos venceram os persas, e na Batalha de Egos-Pótamos (405aC) em que os espartanos venceram
os atenienses.
Quanto às suas dimensões, sabemos que uma trirreme grega tinha geralmente 25 metros de
comprimento por apenas seis metros de boca. O navio de guerra conduzia a bordo, além do pessoal marítimo
como qualquer navio, os guerreiros e os remadores. Os guerreiros eram soldados terrestres que
simplesmente embarcavam e seus comandantes lideravam a batalha naval. Mais tarde, porém, o combatente
do mar foi se distinguindo do combatente de terra, e o ateniense Formion3 será o primeiro “general do mar”,
ou seja, o primeiro almirante.
A arma principal do navio de guerra não era o soldado que ia a bordo, mas uma protuberância
colocada na proa à linha d’água chamada esporão, aríete ou rostrum, destinada a penetrar profundamente
na nave inimiga e, assim, pô-la a pique; acontecia, porém, muitas vezes, que o esporão se quebrava com o
choque e o navio atacante, com um rombo na proa, também ia a pique. Foram os fenícios os grandes
aperfeiçoadores do esporão, que passou a ser revestido de bronze, o que o tornou ainda mais temível.

2) Os Povos da Antiguidade:
Vários povos participaram do início de nossa jornada na terra. A região compreendida pelo Mar
Mediterrâneo, abrangendo o continente Africano, Asiático e Europeu, foi o cenário para o florescimento
das principais nações que compreenderam este período. A presença do homem é comprovada neste mesmo
período no continente Americano e na Oceania, mas infelizmente não fazem parte de nosso estudo povos
como os astecas (na América) e os aborígines (Oceania), bem como os povos asiáticos da face leste do
continente, banhados pelo oceano Pacífico e dos africanos voltados ao oceano Atlântico Sul ou ao Índico.
O Mediterrâneo (terra do meio) foi a principal via de formação das culturas ocidentais e de várias
asiáticas e africanas. As primeiras civilizações4 surgiram nesse cenário até a região compreendida pela

3
Vencedor dos espartanos e seus aliados em vários combates, principalmente na batalha do golfo de Corinto (429 aC), quando
fez inteligente manobra antes de atacar. É considerado o pai da tática naval, que, depois dele, passou a ser feita pela combinação
de choque e movimento; só no século XIV surgiu o terceiro elemento, o fogo, isto é, o canhão.
4
Civilização: Termo empregado a partir da Revolução Francesa por estudiosos iluministas para classificar uma sociedade pelo
seu estágio de desenvolvimento.
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Mesopotâmia (“Terra entre Rios” – Tigre e Eufrates) denominada de Oriente Próximo.
Portanto, a Antiguidade é dividida em Antiguidade Oriental, a Leste ou ao Oriente, compreendendo
os povos fenícios, hebreus, persas, egípcios e a Mesopotâmia, e Antiguidade Ocidental ou Clássica, a Oeste,
participando povos como os gregos e romanos.

2.1) A Civilização Egípcia:


A natureza especial do solo e do sistema hidrográfico
característico do Egito fez das margens do rio Nilo uma terra
fértil. Desde sua remota origem até a queda da antiga
monarquia, o povo egípcio se dedicou, sobretudo, à agricultura
e teve poucos contatos com os povos vizinhos.
Fatores diversos, porém, fizeram com que, ao lado da
agricultura, conseguisse também a indústria5 alcançar nível
elevado, e por volta do ano 3.300aC, a fabricação de tecidos,
motivada em grande parte pela esplêndida qualidade do linho
daquelas regiões, já alcançava importância.
Instalada no extremo nordeste da África, em região desértica, a civilização egípcia floresceu as
margens do rio Nilo, se beneficiando de seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante
certos meses do ano na nascente do rio, ao sul, nas terras altas do interior do continente africano, provocam
o transbordamento de suas águas e o consequente depósito de húmus, fertilizando suas estreitas margens.
Ao final do período de cheias, o rio volta ao seu leito normal e as margens, naturalmente fertilizadas, tornam
possível uma rica agricultura.
Contudo, diante do aumento populacional que aconteceu durante a
época neolítica, faziam-se necessárias obras hidráulicas, como a
construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudos e
pesquisas arqueológicas e históricas apuraram que a organização do
trabalho às margens do Nilo, a construção de diques e outras obras
hidráulicas coube inicialmente às coletividades locais e regionais,
conhecidas como nomos, que mais tarde foram articuladas a uma
estrutura governamental central mais complexa.
Ao longo da história egípcia, a organização político-social se
estruturou em torno da terra e dos canais de irrigação, tendo o Estado
despótico6 o controle de toda a estrutura econômica, social e
administrativa. Por meio de suas instituições burocráticas, militares,
culturais e religiosas, o Estado subordinava toda a população e garantia
a realização das obras de irrigação.
Juntamente com seus cereais, que em período de escassez eram
solicitados pelos países vizinhos, fornecia o Egito uma série de produtos
artísticos, dando com isso potente estímulo ao comércio.
Como o Nilo era navegável, mesmo no período de seca, e os canais
que sulcavam o país contribuíam para intensificar o tráfego, se explica a existência de um animado tráfego
interior cujo centro foi Pelusio, cidade solidamente fortificada que ficava perto da fronteira oriental. O
tráfego marítimo teve, em compensação, escassa importância durante a época dos faraós. As costas
desprovidas de abrigos e perigosas para a navegação, a falta de madeiras e os preceitos sacerdotais que
predicavam a aversão ao mar, serviram de estímulo para a repulsa que esse povo de agricultores sentia pela
água.

5
A concepção de indústria não pode ser vista aos olhos da atualidade no sentido de fábrica mecanizada. Os produtos eram
rudimentares e o sistema de produção, ou transformação, era primário.
6
Déspota: governo tirano, opressivo ou dominador onde não há liberdade plena para os cidadãos.
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Entretanto, o governo interveio por diversas vezes no comércio por meio de expedições navais em
que o faraó tomava a iniciativa, com o fim de estabelecer relações diretas de troca com os países do Ponto
(Ponto Euxino ou Mar Negro), situados na Arábia Meridional e fornecedoras de incenso, produto então
muito procurado.
Semelhantes expedições, determinadas pelos faraós e organizadas pelo Estado, foram, sobretudo,
frequentes durante as XII e XIII dinastias. Depois da instalação da Nova Monarquia, o tráfego pelo mar
Vermelho, quase completamente interrompido sob a dominação dos Icsos, retornou, graças ao poder real,
com uma força e um arrojo até então desconhecidos. As expedições marítimas se multiplicaram, sobretudo
devido à iniciativa dos faraós da XVIII dinastia, ao mesmo tempo em que aumentavam as trocas com a
Núbia. Esse período foi conhecido como Renascimento Saíta, devido a transferência da capital para a cidade
de Saís. Após as conquistas realizadas nas costas asiáticas, o centro político do Egito se transportou, com
Ramsés II, para o Norte, ou mais exatamente para o delta Oriental. O Egito se abriu então largamente ao
contato com os povos navegadores do Mediterrâneo.
Os últimos faraós se esforçavam
por completar e aperfeiçoar a obra de
organização do comércio egípcio
realizado por seus predecessores.
Psamético fundou numerosos centros de
negócios e uma grande frota mercante.
Necao, mais empreendedor ainda, deu
forte impulso ao comércio arábico com o
fim de colocar nas mãos dos egípcios o
monopólio do tráfego das especiarias7.
A expedição naval mais importante
foi favorecida pelo Faraó Necao no
século VIaC, conhecida como o Périplo
de Hanno, onde navegadores fenícios
fizeram o périplo africano, ou seja,
contornaram todo o continente africano a
partir do mar Mediterrâneo, feito este só
repetido vinte séculos mais tarde por
Vasco da Gama, navegador português, Continente
em 1498, partindo de Lisboa até Calecute
na Índia. Africano
Embora os fenícios tenham sido os principais
navegadores da Antiguidade, a melhor descrição que
temos de um navio mercante provém dos egípcios. O
navio mercante, de um modo geral, apresentava forte
calado e tinha boca relativamente larga; por esta última
característica era chamado “navio redondo”, o que
evidentemente era força de expressão. Seu meio de
propulsão era a vela, embora possuísse alguns remos para
Mapa antigo demonstrando Alexandria no Egito auxiliar a manobra de entrada e saída dos portos, assim
como para o caso de completa calmaria. Essa evolução
veio junto com o desenvolvimento egípcio apoiado no
comércio marítimo fenício.

7
Compreende-se por especiarias todos os produtos que alcançavam grande valor econômico, seja para uso culinário, cosmético,
farmacológico ou de ornamentação. Os produtos de cunho religioso geralmente alcançavam os mais elevados preços, tornando-
se os principais nas relações de troca.
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Conquistado através dos séculos , pelos assírios, persas, e por fim pelos gregos, sob Alexandre “O
8

Grande”, o Egito não perdeu a importância comercial. Bem pelo contrário, com um gesto de vidente, o
conquistador macedônio Alexandre fundou a cidade de Alexandria numa situação incomparável, na costa
vasta e sem refúgios de um país interior, incomensuravelmente rico, na desembocadura do seu único rio de
grande porte, no limite de duas partes do mundo asiático e africano e unido com a Europa pelo mar
Mediterrâneo. Desenvolveu-se Alexandria com inesperada rapidez, se convertendo não só em magnífico
centro de arte e de ciência como também na praça comercial mais grandiosa do mundo antigo. Ela
concentrava ao mesmo tempo os gêneros e os produtos manufaturados do vale do Nilo, os gêneros e as
matérias-primas vindas da Etiópia, da África Oriental, da Arábia e da Índia, os quais, por seu intermédio,
se espalhavam em todo o mundo grego até o Ocidente. Sua população, onde se misturavam gregos, egípcios
e judeus orientais, já se distinguia pela fisionomia cosmopolita que caracteriza hoje os grandes portos do
Levante9.
Não obstante, convém observar que, no Nilo
como no Eufrates, o centro de gravidade da vida
econômica era constituído pela agricultura e que a
indústria e o comércio só secundariamente
ocupavam a vida dos moradores. A principal
atividade do povo egípcio foi sempre a cultura dos
campos e a criação de animais, sendo os principais
produtos o trigo, o algodão, o linho e o papiro,
porquanto o comércio em Alexandria era exercido
em grande parte por judeus e gregos, e o emprego
nas construções públicas de obras hidráulicas,
palácios ou tumbas era feito durante o período de
Mapa da atual Alexandria no Egito
cheia do rio, onde não se podia trabalhar a terra.
As referências feitas por Plutarco, um pensador e filósofo grego, e por outros historiadores ao número
de navios queimados pelos soldados de Júlio César em Alexandria, durante a conquista romana, e às forças
navais de Antônio, na guerra contra Augusto10, mostram não terem sido pequenos os recursos do Egito no
mar, malgrado o caráter terrestre de seu povo.
Em suma, o Egito antigo se caracteriza, sob o ponto de vista marítimo, como uma nação continental
que se desenvolveu inicialmente livre da influência das rotas oceânicas e que, por força do próprio
progresso, foi levada a participar cada vez mais das atividades nos mares. A evolução egípcia exemplifica
também a tendência de povos interiores buscarem a saída livre das rotas marítimas, como decorrência
inevitável do seu desenvolvimento.

8
As invasões constantes tiveram grande efeito sob a cultura egípcia, sobretudo o domínio macedônio de Alexandre que permitiu
a penetração da ideias gregas na sociedade egípcia. Esse domínio instaurou uma dinastia de origem macedônica chamada
ptolomaica ou lágida, à qual pertenceu Cleópatra. Seu filho com o imperador romano Júlio César foi o último faraó ptolomaico,
tendo todo o Egito caído nas mãos dos romanos de modo definitivo. Até o fim da dinastia ptolomaica a dominação romana se
restringia a retirar do Egito apenas os grãos necessários para a subsistência do povo romano em todo o Império.
9
Levante: lado onde o sol nasce, a leste, também chamado de Nascente em contraposição de Poente (onde o sol se põe).
10
O fato mais importante foi a Batalha Naval de Ácio ou Actium, na guerra contra o triunvirato romano.
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2.2) A Civilização Mesopotâmica:
A Mesopotâmia se situa no Oriente Médio entre
os rios Tigre e Eufrates, que ficam no atual Iraque, na
região conhecida como Crescente Fértil. Seu nome vem
do grego (meso = meio e pótamos = água) e significa
"terra entre rios", mostrando a causa da fertilidade dessa
região, embora esteja localizada em meio a montanhas e
desertos.
No que se refere à organização socioeconômica,
existem grandes semelhanças entre a civilização egípcia
e mesopotâmica. No entanto, algumas diferenças de
caráter físico-geográfico podem ser destacadas.
Enquanto o Egito apresentava grande isolamento
geográfico, o que lhe possibilitou longos períodos de
estabilidade política, a Mesopotâmia é, ainda hoje, uma
planície aberta a invasões por todos os lados. Além disso, o regime de cheias do Tigre e do Eufrates não é
tão regular como o do Nilo, não sendo raras violentas inundações e até períodos de seca na região banhada
por eles.
Em termos políticos, o Egito se caracterizou por ter na instituição monárquica, personificada no faraó,
o seu principal fator de unidade, enquanto na Mesopotâmia esse fator era a cidade. Logo, enquanto os
egípcios entendiam-se como parte de algo maior, que incluía aldeias, nomos e o faraó acima de tudo, na
Mesopotâmia a identidade era dada pela cidade à qual os indivíduos pertenciam.
Os primeiros vestígios de sedentarismo humano na Mesopotâmia datam de aproximadamente
10.000aC. O crescimento dos primeiros núcleos urbanos da região se fez acompanhar do desenvolvimento
de um complexo sistema hidráulico, que tornou possível a drenagem de pântanos, a construção de diques e
barragens, para evitar inundações e armazenar água para épocas de seca.
O sucesso dos empreendimentos feitos nas atividades produtivas levou à formação de grandes cidades
com mais de mil habitantes já por volta de 4.000aC, como Uruk. Tais cidades tinham principalmente função
militar, protegendo a população e a riqueza gerada pela agricultura, e tornando possível o controle político.
Participaram da história dessa região principalmente os povos sumérios e acádios. Ao final do Período
Neolítico, diversas cidades já haviam sido criadas na região, todas elas autônomas e habitadas por sumérios,
povo oriundo do vizinho planalto do Irã. Ur, Nipur, Lagash, além da já citada Uruk, foram os principais
cidades desses centros urbanos. Eram governados por patesís, mistura de chefe militar e sacerdote. Eles
controlavam a população, cobrando impostos e administrando as obras hidráulicas junto com numerosos
auxiliares. As terras eram consideradas propriedade dos deuses, cabendo ao homem servi-los, não só com
o trabalho agrícola, mas também com a construção de templos - os zigurates.
Os sumérios chegaram a estabelecer relações comerciais com povos vizinhos, tanto na direção Oeste,
para o mar Mediterrâneo, como na direção Leste, rumo à Índia. Desenvolveram a escrita cuneiforme,
composta de símbolos fonéticos em forma de cunha, fundamentais para registrar as complexas transações
econômicas características desses povos.
Por volta de 2.400aC, o povo acádio, que há algum tempo vinha se introduzindo na região, estabeleceu
sua hegemonia na Mesopotâmia. O rei acádio Sargão I unificou o centro e o sul do vale, submetendo os
sumérios ao mesmo tempo em que incorporava sua cultura, porém, contínuas invasões estrangeiras
inviabilizaram a permanência do Império Acádio, que acabou desaparecendo por volta de 2.100aC.
Logo após foi a vez dos babilônios. Os amoritas vindos do sul do deserto árabe derrubaram os acádios.
Seu principal líder foi Hamurábi, responsável por uma gama de normas sociais conhecidas como Código
de Hamurábi ou Leis de Talião, que determinavam a pena imposta para as transgressões, geralmente de
forma violenta como por mutilações e morte.
Os amoritas foram seguidos por hititas, cassitas e por fim assírios. Foram os assírios que organizaram
militarmente a região, usando carros de guerra e armas de ferro, muito superiores as de cobre utilizadas

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pelos seus vizinhos. Após estes, vieram os caldeus e os medos. Estes foram tão importantes nas guerras
organizadas entre os persas e os gregos, que por tal motivo foram chamadas de Guerras Medas.
Ciro I (559 - 529 aC), rei persa, foi quem dominou a região do Império Babilônico em 539 aC,
submetendo seus vizinhos medos. Com a prática expansionista, os persas logo invadiram a Mesopotâmia,
a Palestina e a Fenícia, chegando ao Ocidente à Ásia Menor e, no Oriente, à Índia.
Ciro, o principal conquistador, foi bastante hábil em se aliar às elites locais dos territórios
conquistados em vez de simplesmente submetê-las, garantindo relativa estabilidade a um vasto império.
Seu filho e sucessor, Cambises, atacou o Egito, conquistando o vale do Nilo após a vitória na batalha de
Pelusa (525 aC). Contrariando as regras de tolerância de seu pai, deu início a um período de centralização
autoritária e de submissão dos povos conquistados.
O período de maior florescimento persa ocorreu no reinado de
Dario I (524 - 484 aC), que dividiu o império em províncias, as satrápias.
Os sátrapas eram encarregados da cobrança e do pagamento de impostos
ao imperador. Foi Xerxes I, sucessor de Dario I, que deu prosseguimento
às invasões a Grécia que acabaram resultando na decadência do Império
Persa e o início do apogeu do povo grego nas Guerras Medas.
Os hebreus foram um caso à parte da história da região. Voltados
diretamente para o Mediterrâneo tiveram vários episódios de contato com
os demais povos mesopotâmicos, ora sendo invadidos por esses ora
sendo os dominadores. Estão os hebreus e os judeus11 diretamente
Mural em alto relevo retratando relacionados às culturas religiosas mais influentes do mundo atual,
as tropas persas e seus aparatos
de guerra. concentrando mais de 90% da população mundial entre cristãos, judeus
e mulçumanos.
Os povos da antiga Mesopotâmia eram politeístas, ou seja, adoravam vários deuses, que
representavam elementos da natureza. Acreditavam que esses deuses – que habitariam os zigurates, templos
em forma de pirâmides – podiam interferir em sua vida, causando o bem e o mal. Ishtar, deusa da chuva,
da primavera e da fertilidade, ganhou muita importância na. Havia também deuses próprios de cada cidade.
Os povos mesopotâmicos destacaram-se na ciência, arquitetura e literatura. Observando o céu, os sacerdotes
desenvolveram os princípios da Astronomia e da Astrologia. Os zigurates, além de morada dos deuses e de
abrigar celeiros e oficinas, eram também verdadeiras torres de observação dos céus. Possibilitaram cálculos
do movimento de planetas e estrelas e a posterior elaboração de sofisticados calendários. Foram os
mesopotâmios que elaboraram o calendário dividindo o ano em doze meses e a semana em sete dias, cada
um dos quais dividido em dois períodos de doze horas.
Os mesopotâmios desenvolveram ainda cálculos algébricos, dividiram o círculo em 360 graus e
calcularam as raízes quadrada e cúbica. Sua arquitetura introduziu o uso de arcos e a decoração em baixo-
relevo. Na literatura, criaram poemas e narrativas épicas, como a epopeia de Gilgamesh. Esse texto,
considerado por alguns estudiosos a narrativa escrita mais antiga de que se tem notícia (c. 2000 aC), conta
as aventuras do lendário rei sumério Gilgamesh, de Uruk, na Mesopotâmia, que teria sido o quinto rei da
primeira dinastia após o dilúvio de Uruk. Um dos episódios traz a referência ao dilúvio, narrativa recorrente
em muitas culturas, estando presente nas narrativas mais antigas do Velho Testamento, que faz parte do
livro sagrado dos judeus e dos cristãos.
No Império Persa, assim como entre outros povos da Antiguidade oriental, a população estava
submetida à servidão coletiva e prestava serviços obrigatórios ao Estado. O comércio era realizado por
povos subjugados, como fenícios, babilônios e hebreus. A burocracia, formada pelos sátrapas e sacerdotes,
tinha grande importância na sustentação do poder imperial.
O poder do imperador era garantido pelo seu numeroso exército, mantido com propósitos
expansionistas. A existência desse exército, porém, não impediu o fracasso dos ataques feitos por Dario I e
seu sucessor, Xerxes I, à Grécia. Durante quase todo o século V a.C., os gregos e os persas se enfrentaram

11
Os judeus são parte do povo hebreu, sendo resultado de uma divisão que ficou conhecida como diáspora, ficando os hebreus
com a capital em Samaria e os judeus na Judéia.
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em conflitos que se tornaram conhecidos como Guerras Médicas – nome que faz referência ao povo medo,
da Pérsia – ou Guerras Greco-Pérsicas. Em seu expansionismo, os persas haviam dominado as cidades
gregas da Anatólia, na atual Turquia, prejudicando o comércio da Grécia com o Oriente. Os gregos lutavam
pela independência dessas cidades.

2.3) A Civilização Cretense:


O povo mais antigo que se constituiu como uma
talassocracia12 é o cretense, que habitava a ilha de Creta,
hoje pertencente à Grécia. Suas origens remontam a
3400aC. Desde cedo, os minuanos (cretenses) se entregaram
a um ativo intercâmbio comercial com os povos da região
do Levante; por volta de 2000aC, suas relações mercantis
com o Egito eram intensas. Os cretenses dominaram todo o
Mediterrâneo Oriental, mas, em 1750aC, um grande
cataclismo arruinou o poderio de Creta e favoreceu a
invasão de um povo continental vindo da Grécia. O poderio
cretense não existia mais em 1400aC. A herança dos
cretenses foi recolhida pelos fenícios, que vieram a dominar
não apenas o Mediterrâneo Oriental, mas todo o referido
mar até o estreito de Gibraltar (as “Colunas de Hércules” na
denominação grega).

2.4) A Civilização Fenícia:


O povo mais antigo que achou na indústria e no comércio seu principal interesse econômico foi o
fenício. A Geografia provê a explicação para esse interesse. A Fenícia, na época mais brilhante de sua
história, não era mais que uma região estreita que, desde Arad até o Monte Carmelo, entendia-se num
comprimento de 50 léguas do 35º ao 33º grau de latitude norte e numa largura, entre o Mediterrâneo e as
escarpas rochosas do Líbano, de 3 a 10 quilômetros. Tal território não podia sustentar seus habitantes, pois
a agricultura oferecia um rendimento mísero pela escassa fecundidade do solo. O país se compunha de
ravinas por onde desciam torrentes de neve fundida.
Compreende-se porque os habitantes consideravam, desde época muito remota, o mar como fonte de
seu sustento. O Monte Líbano não lhes permitia ir para o interior das terras, no entanto fornecia-lhes
madeira de construção naval, como pinheiros, ciprestes e cedros. A costa, por sua vez, oferecia uma série
de portos naturais, nos quais os fenícios construíram as cidades onde se instalou uma população de
pescadores e marinheiros com uma aristocracia13 (talassocracia) de comerciantes.
Depois de terem buscado na pesca a subsistência
que a terra não lhes podia oferecer, eles se fizeram
mercadores e piratas, favorecidos pela posição
geográfica de seu território em frente aos países
fecundos da Bacia Mediterrânea, ao lado dos estados
antigos de maior desenvolvimento cultural e industrial
e colhendo, por meio do comércio, as riquezas do
Levante e distribuindo-as pelas regiões do Oeste. Foram
os fenícios os primeiros a romperem com a tradição do
comércio terrestre.

12
Talassos = mar e cratos = governo, ou seja, literalmente, “governo do mar”; diz-se do governo que é dominado por homens
ligados ao mar, como os do comércio marítimo, da pesca, da marinha de guerra etc.
13
Aristocracia: tipo de organização social e política em que o governo é monopolizado por um número reduzido de pessoas
privilegiadas, não raro por herança como fidalguia, nobreza. Grupo de indivíduos que se distinguem pelo saber.
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Organizavam-se em cidades-estados interdependentes chefiadas pela elite mercantil. Beirute, Aca,
Jaffa e, sobre todas elas, Biblos, Tiro e Sidon, se tornaram os pontos de apoio de uma atividade mercantil
que enlaçava os círculos culturais asiáticos e egípcios, tornando os fenícios depositários de uma vasta
cultura mediterrânea que influenciou a cultura dos gregos e, mais tardiamente, dos romanos.
Os fenícios exploraram sucessivamente as costas do Mediterrâneo Oriental e as ilhas dos
arquipélagos, oferecendo aos gregos, ainda bárbaros, os produtos da indústria egípcia ou asiática. Quando
podiam aprisionavam mulheres e crianças para as venderem como escravos noutro lugar. Com intuição
feliz, andavam e procuravam, nos vários centros, a matéria-prima que escasseava, não só no próprio país,
mas nas regiões e nos estados vizinhos. Souberam se tornar indispensáveis a tal ponto, que obtiveram dos
faraós egípcios o monopólio da grande e pequena cabotagem14 entre os portos daquele Império.
Unindo a audácia aventureira do marinheiro à habilidade do mercador, eles conseguiram rapidamente
estabelecer entre os povos disseminados ao longo do Mediterrâneo e além das Colunas de Hércules (estreito
de Gibraltar) um sistema de trocas intensas.
As invasões egípcias efetuadas sob as dinastias XVII, XIX e XX não parecem ter afetado o
desenvolvimento comercial dos fenícios. Aceitando o domínio dos faraós, em troca obtiveram o monopólio
do comércio egípcio e puderam estender suas relações ao mesmo tempo sobre o Mediterrâneo e o mar
Vermelho. É nessa época que se situa a fundação das primeiras colônias fenícias na costa da Cária e da
Kilídia, em Chipre, em Creta, em várias ilhas dos arquipélagos e do norte da África. Sidon que não tinha
sido na origem senão uma cidade de pescadores herdou a supremacia antes exercida pelas cidades de Arad
e Biblos, tornando-se a metrópole de um vasto império marítimo.
Forçados mais tarde pelos progressos da Marinha grega a se retirarem, pouco a pouco, das ilhas dos
arquipélagos do mar Egeu, os fenícios estabeleceram numerosos empórios na parte ocidental do
Mediterrâneo, na Espanha, Gália, Itália, Sicília, Malta, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares. Entre os séculos
XI e IX a.C., depois da fundação da Utica (na Tunísia) e de Cádiz, antes de Cartago, os fenícios
desenvolveram as trocas comerciais na parte ocidental do Mediterrâneo. Para proteger a rota mercantil de
Gades (Cádiz) e de Malaca (Málaga), criaram estações marítimas na Sicília da mesma forma que na Tunísia,
nos pontos do litoral onde havia os melhores portos naturais. As ilhas vizinhas, Malta, Gozo, Pantelaria e
Lampedusa, foram transformadas em estações marítimas.
Na Sicília, o avanço dos colonos gregos no começo do século VIII aC, provocou a retirada gradual
dos fenícios para o noroeste da ilha onde eles conservaram as cidades de Panormium (mais tarde Palermo),
Motya e Solans, que estavam bem colocadas para curtas travessias à vela em direção a Cartago, esta já uma
cidade florescente.
Provavelmente, os fenícios
estabeleceram também ponto de
apoio no local onde hoje se situa
Lisboa. Alguns historiadores
admitem mesmo que os fenícios
tenham estendido suas expedições
marítimas até as ilhas Canárias, em
pleno Atlântico, e talvez ainda mais
ao sul, às ilhas do Cabo Verde.

14
Cabotagem: termo utilizado para fazer referência às navegações de Cabotto, navegador italiano que percorria a costa de ponto
em ponto para demarcá-la. A navegação de cabotagem é aquela feita de porto em porto de pequena distância, em contraponto a
navegação de longo curso.

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Outros historiadores admitem apenas que navegantes isolados talvez tenham chegado às costas do
mar Vermelho, às ilhas Canárias e às Scilly (Inglaterra); em compensação, a hipótese de uma influência
mercante fenícia na África Meridional e de uma navegação em caráter regular pelo mar Vermelho e pelo
oceano Índico, ou de verdadeiras expedições à Grã-Bretanha e às costas nórdicas, são hoje consideradas
como desprovidas de fundamento. Gades (Cádiz), na parte meridional da península Ibérica, é a colônia
fenícia mais avançada que se conhece com segurança.
As cidades fenícias não se comunicavam facilmente uma com as outras, a não ser por mar, e
conservaram entre si uma autonomia, constituindo mesmo cada centro urbano uma unidade política
independente. Compreende-se que entre elas tenham nascido rivalidades ferozes, chegando algumas a
emprestar esquadras às potências estrangeiras para abater a rival. Ao que consta, Tiro foi obrigada certa vez
a enfrentar navios de Sidon cedidos aos assírios.
Naturalmente as dissensões internas facilitaram a agressividade das nações próximas e, além dos
egípcios, os fenícios sofreram o domínio de vários outros povos no decorrer de sua história. A opressão de
estados mais poderosos talvez tenha concorrido para incrementar a expansão marítima fenícia. A própria
Cartago, ao que parece, foi fundada por imigrantes que fugiam ao domínio estrangeiro ou a lutas internas.
Muitas vezes, porém, favorecidas pela posição de suas cidades, geralmente construídas em ilhas ou em
penínsulas de fácil defesa, os fenícios resistiram ferozmente às invasões. Provavelmente, a posse livre do
mar garantiu o suprimento das cidades sitiadas, pois de outra forma é difícil explicar como Tiro, por
exemplo, só tenha caído em poder dos assírios após cinco anos de assédio, ou tenha resistido por treze anos
ao cerco dos babilônios sob o comando de Nabucodonosor.
Através dos séculos e apesar das múltiplas vicissitudes15, o comércio marítimo ficou sendo sempre a
principal atividade do povo fenício. Por causa dele, tiveram os fenícios que conquistar e conservar o
domínio absoluto do mar, o que conseguiram, graças a instituições particulares. Para conservar o monopólio
do tráfego marítimo, as comunidades fenícias guardavam rigorosamente secretos seus itinerários
comerciais. Aos artigos trazidos de países longínquos associavam lendas de serpentes aladas e gigantescos
pássaros venenosos. Quando preciso, assaltavam os navios de outros povos que ousassem concorrer aos
mesmos mercados e indicavam derrotas16 erradas com o fito de causar a perda dos rivais. Para estenderem
as suas navegações tornaram-se exímios construtores navais. Os seus navios eram quase redondos e de
pouco calado, a fim de poderem navegar junto à praia. Venciam o vento contrário por meio de velas largas
e grandes remos. Para a guerra construíam navios longos e afilados. Ainda foram os fenícios os primeiros
a aproveitarem no mar as observações astronômicas de que os outros povos se serviam para adivinhações.
A superioridade dos fenícios no setor marítimo era reconhecida por todos os demais povos que, ou
recorriam diretamente à utilização de sua Marinha, ou encomendavam a construção de suas frotas nos
estaleiros de Tiro e Sidon. Ao que consta, a frota de Salomão bem como a de Semiramis e a de Sesóstris
foram construídas nos estaleiros daquelas cidades; Assurbanipal valeu-se de uma esquadra fenícia para o
transporte de seus exércitos, Nilo acima, na conquista do Egito e os babilônios recorriam aos navios de
Sidon para o deslocamento de tropas ao longo do rio Eufrates. Também foram em navios fenícios que os
persas procuraram disputar aos gregos o domínio do mar Egeu no decorrer das Guerras Medas.
Embora recente investigação tenha reduzido as exageradas ideias que prevaleciam a respeito da
indústria, do comércio e do tráfego dos fenícios, não pode haver dúvida alguma de que, como mestres na
navegação, deram grande impulso ao tráfego marítimo no Mediterrâneo onde foram os primeiros portadores
da cultura, difundindo as invenções feitas pelo Egito e pela Ásia. Concentraram igualmente em suas mãos
todo o comércio mundial daquela época. Na história dos grandes monopólios mercantis, o procedimento
dos fenícios foi considerado como exemplar pelo espaço de vários séculos.
A potência econômica fenícia foi arruinada pela conquista macedônica e pela fundação de Alexandria
cerca de 332aC. Cartago, a mais importante de suas colônias, que já possuía o comércio do Mediterrâneo
Ocidental, herdou o comércio fenício. Foi, assim, a Fenícia a primeira nação no mundo antigo a se constituir
e evoluir sob a influência contínua e direta do mar.

15
s.f. Mudança das coisas que se sucedem, alternativa, alternância, eventualidade, acaso, azar, revés, instabilidade.
16
Derrota: termo utilizado na marinharia significando rota, caminho ou direção tomada pelos navios.
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2.5) A Civilização (Fenícia) Cartaginesa:
A fundação de Cartago é posterior, cerca de três séculos, ao começo da colonização fenícia no
Oriente. Pode-se datá-la, sem medo de errar, dos fins do século IX a.C.
Graças à sua situação geográfica favorável, no norte da África, do lado ocidental do Mediterrâneo e
de frente à península17 Itálica, e à intensa atividade comercial exercida por seus habitantes, Cartago se
tornou a mais poderosa das colônias fenícias do Ocidente. Ela era o único grande centro africano ao qual
afluíam as caravanas do interior do Continente Negro, de modo que o tráfego incessante a enriqueceu com
singular rapidez.
Depois que Tiro perdeu a primazia comercial e política em consequência do desastroso domínio
assírio, Cartago a substituiu na proteção das colônias fenícias e se converteu no centro de um verdadeiro
império marítimo e comercial. No começo do século VaC, sua preponderância era reconhecida pelas
comunidades que Tiro e Sidon haviam fundado ao longo da costa do Mediterrâneo Ocidental, até além das
“Colunas de Hércules” (Estreito de Gibraltar). Cartago exercia hegemonia na Sicília Ocidental, na
Sardenha, nas ilhas Baleares, nas costas meridionais da Espanha e em toda África do Norte até a Cirenaica.
Tanta riqueza fácil ensoberbeceu a classe dirigente que cedeu à tentação de uma política imperialista, com
dano das terras vizinhas, para usufruir em proveito próprio e monopolizar em sua exclusiva vantagem os
recursos do mundo Mediterrâneo Ocidental. Os territórios submetidos passaram a constituir não somente
pontos de apoio para o imperialismo marítimo cartaginês, mas também zonas de ocupação e barreiras que
abrangiam a Bacia Ocidental do Mediterrâneo. Esse mar formava assim uma espécie de mar fechado,
submetido ao domínio ilimitado e ao controle rigoroso dos cartagineses. Os cartagineses tinham por norma
atacar e afundar os navios estrangeiros surpreendidos nas zonas marítimas reservadas ao seu tráfego.
Para atingirem o império absoluto do comércio do Mediterrâneo, os cartagineses fizeram de sua
cidade um porto privilegiado. Para ele afluíam todos os produtos transportados dos empórios, colônias e
portos estrangeiros. Assim, o porto de Cartago se tornou o
grande mercado do Mediterrâneo Ocidental e o ponto de
cruzamento de todas as vias marítimas pelas quais refluíam
em seguida para a periferia as mercadorias importadas.
Cartago tomou, por outro lado, medidas enérgicas para
guardar no Atlântico, e ao longo de toda a costa mediterrânea
da África do Norte, o monopólio do comércio. Se no mar
Tirreno, nos golfos de Gênova e de Lião e ao longo da
Espanha Oriental ela não pôde afastar os gregos, conseguiu
lhes interditar o acesso a todas as regiões sobre as quais
exercia autoridade política ou hegemonia econômica.
Pode-se dizer que a política cartaginesa do monopólio
do mar deu resultados surpreendentes, considerando que os
gregos no século VaC não se aventuravam no Mediterrâneo
Ocidental.
Toda essa série de medidas e o empenho com que
foram mantidas demonstram que a política geral de Cartago parece ter sido, sobretudo, inspirada por
preocupações comerciais. Ao contrário da Roma Republicana, negociar para o cartaginês era uma grande
honra. A aristocracia não se considerava diminuída, consagrando seus recursos e atividades aos afazeres
comerciais. Muitos nobres eram armadores ou banqueiros. Cartago foi uma das cidades antigas onde o
comércio foi mais poderoso e onde pesou mais pelos destinos da nação. Aníbal, depois da derrota de Zama,
parece ter compreendido isso. Ele se esforçou por medidas enérgicas para tirar o Estado da tirania dos
magnatas financeiros.
Contudo, a intervenção do Estado se mostrou muito eficaz na organização de expedições de fins
comerciais através dos mares ainda inexplorados. A esse respeito, convém notar a viagem marítima
realizada por Hannon ao longo da costa ocidental da África. Os novos itinerários marítimos descobertos

17
Península: Porção de terra cercada de água por três lados e mantendo sua ligação com uma porção de terra maior.
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pelos exploradores cartagineses eram mantidos secretos e cuidadosamente guardados nos arquivos do
Estado (protecionismo)18. A tendência dos cartagineses a reforçarem constantemente seu domínio
comercial, a combaterem toda concorrência estrangeira e a dominarem as rotas marítimas também é
constatada pelo fato de o Estado Púnico possuir uma frota mercante e militar inteiramente nacionais, ao
contrário das forças de terra, que eram constituídas por mercenários. Com isso eles queriam evitar que um
dia surgissem cidades rivais de Cartago, mesmo entre as cidades fenícias confederadas.
Nas vésperas das Guerras Púnicas19, o domínio comercial de Cartago, tanto no Mediterrâneo como
no Atlântico, era considerável. Para explorar esse domínio, Cartago dispunha de um aparelhamento do qual
se conhecem certos elementos. A frota mercante era conhecida pelas dimensões de suas unidades, grandes
galeras que navegavam a vela e, na falta de vento, a remo, pela habilidade das guarnições e dos comandantes
que não se contentavam em seguir o litoral, mas enfrentavam o alto-mar, observando os astros. Essa frota
encontrava escalas, refúgios, pontos de apoio habilmente escolhidos e bem aparelhados. As construções
navais tinham lá lugar importante, empreendidas e dirigidas algumas por armadores e outras pelo próprio
Estado. Políbio, um Geógrafo e Historiador grego, registrou na sua obra Histórias que os cartagineses eram
hábeis nessa indústria. A África lhes fornecia as madeiras e a Espanha o esparto 20 para o aparelho. O
aparelhamento dos portos e a organização dos estaleiros e oficinas especiais progrediram juntamente com
a navegação. Para conservar as comunicações livres e manter as colônias na dependência absoluta, grandes
frotas de guerra impediram o desembarque de rivais ou inimigos.
As forças de Cartago aumentaram mais ainda nas
sucessivas lutas com os etruscos, gregos, massílios e
finalmente com os romanos, e era espantosa a rapidez
com que suas perdas eram substituídas, graças à
padronização dos meios navais. A sua base principal era
a própria Cartago.
No começo, a frota de guerra era constituída
apenas por trirremes21, cujo tamanho foi aumentado no
tempo de Alexandre.

Por ocasião das guerras púnicas, Cartago construiu navios de cinco (quinquirremes) e de sete
(septirremes) fileiras de remos os quais podiam transportar cento e vinte soldados e trezentos marinheiros.
Contra Siracusa, Cartago armou cento e cinquenta e dois navios, e contra Roma muitos mais. Para Xerxes
consta que Cartago forneceu dois mil grandes navios de transporte por ocasião das guerras medas.
A política comercial cartaginesa, se foi nociva para os povos marítimos rivais, como os gregos e
romanos, não o foi menos nociva para as comunidades fenícias confederadas cujos interesses foram
sacrificados aos fins particulares exclusivistas da cidade que as dominava. É fácil compreender como o
princípio do mar livre (mare nostrum), pregado pelos romanos durante a luta com o estado cartaginês
(Guerras Púnicas), atraiu bem cedo o favor e o apoio das populações submetidas ao jugo marítimo de
Cartago, com grande dano para esta.
Assim, Roma, ao destruir o domínio cartaginês sobre os mares, não somente livrou a classe
comerciante italiana de um longo pesadelo, mas abriu as rotas marítimas do Mediterrâneo a todos os povos
que por muito tempo haviam sido oprimidos.

18
Protecionismo: Prática ou doutrina de proteção aos produtores de um país ou região, em geral pela imposição de obstáculos à
importação de produtos concorrentes, por meio de tarifas alfandegárias, etc.
19
Púnico: relativo ou pertencente aos cartagineses ou a Cartago, cidade-estado fundada pelos fenícios em 814 aC, na região
próxima à atual Túnis (Tunísia, N. da África), e que foi destruída pelos romanos em 146 aC e pelos árabes em 698 dC.
20
Esparto: planta medicinal, da família das gramíneas (Stipa tenacissima), cujas folhas se empregam no fabrico de cestas, cordas,
esteiras, etc...
21
Trirremes: embarcações com três ordens de remo de cada lado do costado, armados em três pavimentos e eventualmente com
uma vela redonda. O máximo que se conseguiu produzir foram as embarcações de sete ordens de remo sendo que as mais
utilizadas foram as trirremes e as quinquirremes.
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Qualquer que sejam as lacunas de nosso conhecimento sobre o comércio púnico, não é menos certo
que o tráfego, sobretudo marítimo, foi o elemento mais importante da economia cartaginesa. Foi graças ao
intercâmbio que Cartago teve prosperidade; foi pelo comércio que desempenhou papel proeminente na
história do Mediterrâneo Ocidental, foi o comércio que lhe deu, entre as grandes cidades do Mundo Antigo,
sua fisionomia original.

2.6) A Civilização Grega:


Uma das características físicas fundamentais da Grécia é a
íntima penetração entre o mar e a terra. Enquanto pelos golfos
sumamente ramificados que oferecem admiráveis ancoradouros o mar
penetra profundamente no país montanhoso, a terra firme, por sua vez,
em incontáveis ilhas e penínsulas, avança no elemento líquido. Por
outro lado, a Grécia sempre foi um país de escassa extensão, com solo
pobre e difícil à comunicação interna.

A civilização grega se concentrou no sul da península


Balcânica, nas ilhas do mar Egeu e no litoral da Ásia Menor. A origem
da civilização grega está intimamente ligada à ilha de Creta, no sul do
mar Egeu. O relevo e o isolamento das localidades facilitaram a
organização de cidades-estados autônomas.

No século XVa.C. ocorreu uma onda invasora formada pelos aqueus e, posteriormente, pelos dórios,
eólios e jônios, habitantes do norte da península Balcânica. Esses povos fazem parte do grupo linguístico
indo-europeu que formam esta sociedade. As invasões dórias impuseram um violento domínio, forçando a
população a um processo que ficou conhecido como Primeira Diáspora Grega, retirando grande parte da
população grega do continente para as ilhas, favorecendo o contato marítimo destas comunidades e levando
ao atraso as comunidades continentais, obrigando a deixarem a vida urbana e comercial, dedicando-se às
atividades rurais. A consequência desse fato foi o desenvolvimento marítimo das comunidades insulares e
o atraso para as comunidades peninsulares ou continentais.
O baixo rendimento da agricultura grega tornou na antiguidade a importação de grãos, principalmente
trigo, em muitas cidades, particularmente em Atenas, uma necessidade de primeira ordem. A produção de
cereais do território ateniense representava anualmente cerca de um terço das necessidades de sua

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população. Nos anos de má colheita, ela nem isso atingia. O que faltava era importado quase exclusivamente
por via marítima e provinha do Ponto (Ponto Euxino ou mar Negro), do Egito, da Sicília e da Líbia.
A continuidade da expansão demográfica e a permanente escassez de terras na Grécia fizeram com
que os excedentes populacionais balcânicos e insulares buscassem outras áreas para sua sobrevivência, em
um processo de colonização grega na península balcânica e no mar Negro, saindo das ilhas e passando para
o continente, sendo chamado esse processo de Segunda Diáspora Grega. A consequência desse fato foi a
difusão da cultura grega (helenismo) por todas as áreas do entorno da península e dos conhecimentos
náuticos das populações marítimas que viviam nas ilhas gregas.
Para atender a esse suprimento indispensável, os atenienses trocavam o azeite da Ática pelos cereais
da Cítia. Para colocar o seu azeite no mercado cita, tiveram de envasilhá-lo em ânforas22 e embarcá-lo para
o além-mar. Essas atividades é que deram origem às olarias e à Marinha Mercante da Ática. Face à pobreza
do solo, se compreende também que a pesca tenha assumido um papel importante na vida grega. Ela se
tornou a ocupação habitual de numerosas populações marítimas, não somente na Grécia propriamente dita,
mas no golfo de Taranto e nas costas da Sicília, a Oeste, e nos Dardanelos, na Propôntida e no Bósforo, a
Nordeste.
Ao lado dos alimentos vegetais e das carnes fornecidas pelo pastoreio, o peixe fresco, salgado ou seco
se tornou um dos pratos frequentes e preferidos dos gregos. A insuficiência dos recursos naturais do solo e
as possibilidades agrícolas muito limitadas compeliram o povo ateniense a procurar na indústria e no
comércio marítimo seus principais recursos econômicos. A par da pobreza do solo, outras causas, sem
dúvida, devem ter concorrido para a expansão grega no Mediterrâneo. Tudo indica, porém, ter sido essa a
razão preponderante.
Aproveitando a experiência adquirida na pesca e no tráfego marítimo, do século IX mais ou menos
até o fim do século VIIaC, os gregos se espalharam em todos os sentidos no Mediterrâneo. Fundaram
numerosas colônias no Mediterrâneo Oriental e no Mediterrâneo Central; pelos Dardanelos e o Bósforo,
atingiram o Ponto Euxino (mar Negro); penetraram além do estreito de Messina no Mediterrâneo Ocidental.
A Grécia propriamente dita, antes confinada na parte meridional da península dos Bálcãs, foi acrescentada,
entre outros territórios, a Grécia asiática que se ocupava do litoral ocidental da Ásia Menor, e a Grande
Grécia, cujas cidades se agrupavam no sul da Itália e na maior parte na Sicília. O mar Egeu e o mar Jônio
foram incluídos ao mundo helênico23. Se a penúria da terra, resultado de circunstâncias diversas,
determinou as primeiras partidas de colonos gregos, mais tarde, progressivamente, outros fatores tiveram
papel importante no progresso da expansão helênica. A necessidade no começo, depois a experiência e o
gosto da navegação, encorajaram os gregos para a vida marítima. Então, a função do mar na vida nacional
dos gregos adquiriu toda a sua importância. Era pelo mar, e só por ele, que as colônias se comunicavam
com a mãe pátria. Sua independência, ao mesmo tempo política e econômica, a salvaguarda mesmo de sua
existência, exigiu uma marinha poderosa. Corinto, Cádiz de Eubra, Mileto, Fócida, Rodes, Siracusa,
Taranto e Marselha armavam frotas numerosas de comércio e guerra, bem antes que Atenas se tornasse a
rainha dos mares helênicos.
Assim, os helenos, ao mesmo tempo em que ocupavam fora de seu país de origem, novas terras, quase
todas ricas, criavam em muitas paragens longínquas centros de influência e de negócios e tomavam posse
do mar que separava e ligava simultaneamente todas as partes do mundo grego. Essa supremacia das
esquadras nas rotas marítimas teve por efeito transformar a economia grega superando a sociedade fenícia.
Se antes, nas baías gregas, os fenícios desembarcavam suas mercadorias, que eram trocadas pelos produtos
locais, ao que parece mais seguidamente por gado, depois foram os próprios marinheiros gregos que
levaram ao Egito, à Síria, à Ásia Menor, e aos povos da Europa, alguns civilizados como os etruscos, outros
ainda atrasados como os citas, os gauleses e os iberos, os objetos manufaturados, as obras de arte, tecidos,

22
são vasos antigos de origem grega de forma geralmente ovóide, confeccionados em barro ou terracota e possuidoras de duas
alças, geralmente terminado em sua parte inferior por uma ponta ou um pé estreito, e que servia sobre tudo para o transporte e
armazenamento de gêneros de consumo, sobretudo líquidos, especialmente o vinho. Servia também para conter azeite, frutos
secos, mel, derivados do vinho, cereais ou mesmo água.
23
Em referência a Helena, uma divindade mãe, protetora e geradora de todos os indivíduos dessa sociedade de características
nítidas matriarcais.
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armas, joias e vasos pintados que os bárbaros tinham ânsia de possuir. Paulatinamente, os fenícios, antigos
senhores do tráfego marítimo do Oriente para o Ocidente, foram repelidos pelos gregos para fora do mar
Egeu, do Ponto Euxino e do mar Jônio, não guardando a supremacia naval a não ser na costa da África e
oeste do Grande Syrte e nas paragens das Colunas de Hércules (Cartago).
O mar Tirreno assistiu a luta dos gregos contra os cartagineses e etruscos. A ardente rivalidade das
potências marítimas e coloniais deu então um vivo desenvolvimento à navegação. Depois que os fenícios
foram afastados pelos gregos dos mares e dos mercados do Mediterrâneo, as indústrias helênicas
encontraram saída e clientela. Para se aproveitarem de alguns e satisfazerem a outros, os gregos tiveram
que se desenvolver. Produzia-se então entre a indústria e o comércio, sobretudo marítimo, um duplo efeito
de ação: o comércio tendo necessidade de suprimentos fornecidos pela indústria; a indústria devendo sua
prosperidade ao comércio.
O desenvolvimento do tráfego marítimo acarretou, logicamente, a prosperidade das cidades
portuárias. No século V a.C., a cidade e porto de Pireu havia se transformado no centro de um sistema de
vias marítimas, podendo-se dizer quase de linhas de navegação regular. Para o Nordeste seguiam as linhas
de cabotagem que serviam as colônias da Macedônia, da Calcídia, da costa da Trácia e à grande rota dos
estreitos do Ponto Euxino, de importância capital para Atenas, pois assegurava em grande parte seu
abastecimento de cereais e de peixe seco. Para leste, através do mar Egeu e das Cícladas os navios que
saíam do Pireu ganhavam as ilhas e os principais portos da Ásia Menor. Em direção ao sudeste, os gregos
saíam do mar Egeu entre Creta e Rodes, iam a Chipre, aos portos fenícios e ao empório ativo e próspero de
Neucrates. O mar Jônio e o Mediterrâneo Central não formavam uma bacia menos propícia à expansão
comercial. Depois de dobrarem os pontos meridionais do Peloponeso, os navegantes podiam rumar direto
para oeste em direção à Sicília, ou aproar a Noroeste para atingirem a Grande Grécia, ou penetrarem no
Adriático e avançarem até Hadria e o país das Bocas do Pó24. Mais longe que a Grande Grécia, Marselha e
seus vizinhos, escalonados entre Nice e Rosas, marcavam os pontos extremos do comércio helênico a Oeste.
Tal atividade marítima não se explicaria se a arte de navegar e a organização material dos portos não
tivessem atingido certo desenvolvimento. Os navios gregos dessa época já podiam carregar cerca de 250
toneladas25 e navegavam geralmente à vela, recorrendo aos remos apenas em circunstâncias excepcionais.
A utilização da vela subordinou a navegação ao regime dos ventos, principalmente no mar Egeu.
Para uma frota mercante numerosa e composta de unidades relativamente importantes eram precisos
portos especialmente aparelhados. Docas foram cavadas e molhes construídos a fim de protegerem os
navios ancorados das vagas de alto-mar e facilitar a descarga de mercadorias. Pouco se sabe acerca das
frotas de guerra gregas antes das Guerras Medas. Elas não deveriam ser desprezíveis, pois de outra forma
é difícil explicar a expulsão dos fenícios de regiões importantes do Mediterrâneo e a expansão marítima
helênica numa época de pirataria generalizada. É provável também que a Marinha de Guerra grega não
estivesse em bom estado por ocasião da 1ª Guerra Meda. Com efeito, não se sabe de nenhum engajamento
naval nessa primeira fase da luta, que foi travada em terra, tendo os gregos deixado o exército persa cruzar
impunemente os mares. Entre as duas primeiras Guerras Medas também a Grécia muito sofreu com os
ataques dos piratas eginetas, o que parece indicar a sua fraqueza nos mares. Têm-se referências mais
concretas acerca das frotas de guerra helenas a partir desse período.
A primeira das grandes guerras dos gregos contra os persas – conhecidas como Guerras Médicas ou
Medas, devido ao nome de um dos povos constituintes do Império Persa, os medos – ocorreu em 492aC e
constou do envio de um exército, através do Helesponto (Dardanelos atual) e da Trácia, em direção ao
interior da Grécia, acompanhado por uma esquadra, que o seguiria pelo litoral do mar Egeu, a fim de
garantir-lhe o flanco esquerdo e o apoio logístico26, no entanto, uma boa parte da esquadra persa foi

24
Rio Pó, principal rio da parte oriental da Itália onde floresceu uma das principais comunidades pertencentes a este povo,
fundando a cidade de Veneza, conhecida como La Serenissima.
25
Tonelada em referência a tonel, indicando a quantidade de barris que um navio podia transportar e não a medida de peso
atualmente registrada para 1000Kg.
26
Apoio logístico é o apoio que se dá a uma força militar em operações suprindo-a de materiais, pessoal, conforto etc. para
garantir-lhe os meios necessários ao desempenho de sua missão.
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destruída por mau tempo quando contornava o monte Atos, junto à costa. Sem o apoio naval, essa tentativa
de invasão não chegou a se concretizar.
Em 490aC, os persas liderados por Dario I partiram novamente na tentativa de conquistar os povos
gregos, e chegaram a desembarcar em suas terras, mas foram surpreendidos pelo exército ateniense na
planície de Maratona e, apesar de sua superioridade numérica, foram derrotados pelos gregos. O prestígio
ateniense cresceu tremendamente após essa vitória, e a cidade começou a se destacar entre as demais pólis
gregas. Precavendo-se contra um possível novo ataque persa, após a primeira Guerra Médica, os atenienses
procuraram fortalecer sua marinha de guerra, já que o cenário das lutas seria o mar Egeu.

A terceira ofensiva persa iniciou-se em 480 a.C.,


quando o imperador Xerxes I partiu com
aproximadamente 100 mil homens em direção à Grécia.
Os gregos se uniram contra os invasores, mas, apesar do
sucesso espartano em retardar o avanço do inimigo no
desfiladeiro de Termópilas, os persas conseguiram
invadir e saquear Atenas.
Apesar de vitoriosa, a campanha persa acabou se
enfraquecendo na medida em que suas tropas não eram
facilmente guarnecidas por suprimentos e reforços
(logística).
A derrota na grande Batalha Naval de Salamina, diante de Atenas, selou o destino dos persas, que,
mais uma vez, se retiraram sem terem conseguido tomar a Grécia. Esta Batalha foi a primeira batalha naval
de larga envergadura registrada na história humana.
E provável que a pressão militar exercida
pelos persas estimulou a sociedade helênica a
forjar para sua própria defesa o poderoso
instrumento militar que foi a marinha ateniense.
Um vulto histórico, Temístocles, se distinguiu
então no estabelecimento da supremacia naval
ateniense. Assim se refere Plutarco (Filósofo e
Prosador grego) à época mais decisiva da história
grega: Os atenienses encaravam a derrota dos
bárbaros em Maratona como o fim da guerra, mas
Temístocles pensava, ao contrário, que ela era
apenas o prelúdio de maiores combates.
A Batalha Naval de Salamina
Prevendo de longe os acontecimentos, ele se preparava para assegurar, desde então, a salvação da
Grécia, com o apoio de seus concidadãos. Com esse fito, seu primeiro cuidado foi ousar propor aos
atenienses efetuar a construção de galeras com três ordens de remos, aproveitando as rendas provenientes
das minas de prata de Laurium. Esta nova frota deveria fornecer os meios de resistir aos eginetas que,
senhores dos mares, o cobriam com seus numerosos navios e faziam à Grécia a guerra mais terrível que ela
então sustentara. Construíram-se, com a prata das minas, 100 galeras que combateram posteriormente
contra Xerxes. Desde esse momento, ele fixou a vista dos atenienses sobre o mar e soube induzi-los a formar
uma considerável marinha, lhes mostrando que em terra não estavam em condições de resistir nem mesmo
aos seus vizinhos, mas que, ao contrário, com forças navais poderiam repelir os bárbaros e governar o resto
da Grécia.
Quando, dez anos depois da batalha de Maratona, os persas novamente intentaram a invasão da
Grécia, os navios, por cuja construção Temístocles havia pugnado, saíram a dar combate à numerosa frota
inimiga. Os gregos obtiveram um primeiro sucesso na batalha naval de Artemisium, porém a batalha
decisiva foi o grande encontro naval de Salamina (480aC), que testemunhou a total destruição da

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gigantesca, mas heterogênea armada de Xerxes pela frota dos atenienses e de seus aliados admiravelmente
bem coordenados, embora inferiores em número a menos de um terço de seus adversários.
Foi então que a Grécia se salvou graças ao mar, e seus navios contribuíram para reconstruir Atenas
que havia sido inteiramente destruída.
Apesar de terem vencido a Leônidas, rei de Esparta, a ameaça de perder a segurança de suas
comunicações marítimas obrigou os persas, depois da batalha de Salamina, a baterem em retirada apesar
da enorme superioridade de forças de que dispunham.
Após o término das Guerras Medas, Temístocles fez fortificar o Pireu porque havia reconhecido a
comodidade de seu porto. Nisso seguiu uma política inteiramente oposta à dos antigos reis de Atenas, os
quais tinham tido a intenção de afastarem seus súditos do comércio marítimo e de fazê-los abandonar a
navegação para se dedicarem à agricultura. A história da Grécia foi em seguida grandemente decidida por
seus marinheiros. Sob o comando de Cimom, a frota grega foi primeiramente dirigida contra Chipre e
Bizâncio a fim se perseguir os persas. Chipre foi libertada e Bizâncio tomada. Por fim, todas as colônias
gregas da Ásia Menor recobraram a liberdade. Como Temístocles previra, o império do mar acarretara o da
terra, e os gregos, se bem que divididos e minados por discórdias internas, conservaram sua independência
durante séculos, graças ao poderio marítimo que souberam manter no Mediterrâneo Oriental.
Durante a guerra, as pólis gregas formalizaram uma aliança conhecida como Liga de Delos.
Tratava-se basicamente de uma união militar contra os persas e adquiriu esse nome porque as cidades
membros da Liga pagavam tributos e impostos que eram depositados na ilha de Delos, a fim de sustentar a
frota e os exércitos conjuntos de todas as cidades-estados. Atenas, com seu prestígio e poderio econômico,
logo passou a administrar os recursos de Delos, se tornando líder da Liga.
Dispersa a frota inimiga, obtiveram os gregos a superioridade no mar. Sem possibilidade de receber
o apoio logístico de que precisava, o exército persa viu-se forçado à retirada. Permaneceu no território
helênico apenas uma força terrestre de cerca de 50 mil homens, que foi batida em Platéia, cerca de 60
quilômetros a noroeste de Atenas, em 479 a.C. Na mesma ocasião, em Micale, nas costas da Ásia Menor,
os gregos destruíram o resto da esquadra persa, numa “batalha naval” em terra28.
Após a expulsão dos persas, os gregos perseguiram-nos até a Ásia Menor, libertando diversas cidades
gregas da região, impondo-lhes um tratado de paz (Paz de Cimon, 449 a.C.) e consolidando o domínio
grego sobre todo o Mediterrâneo oriental.
Ao final das guerras contra os persas, os atenienses insistiram na manutenção da Liga de Delos e,
portanto, na cobrança de tributos. Tal iniciativa gerou a insatisfação das demais cidades gregas, que,
todavia, poucos podiam fazer contra o poderio militar ateniense. Chegava ao apogeu o imperialismo
ateniense, ou seja, o período em que Atenas passou a dominar a Grécia Antiga, subordinando a maior parte
das cidades-estado.
Os atenienses passaram a interferir na vida política e social das outras pólis, transferindo o tesouro de
Delos para Atenas e frequentemente utilizando a força para manter a Grécia subjugada. O controle dos
recursos de outras cidades abriu caminho para o apogeu ateniense, e o século VaC, particularmente entre
os anos de 461 a.C. e 429 a.C., ficou conhecido como a Idade de Ouro de Atenas, quando a cidade era
dirigida por Péricles.
A insatisfação contra o domínio ateniense existia não apenas nas cidades da Liga de Delos, mas
também entre as cidades aristocráticas que não se alinhavam com Atenas, tendo Esparta à frente delas.
Estas logo se organizaram em aliança, formando a Liga do Peloponeso ou Liga Espartana.
O fim primitivo da Liga de Delos era a proteção de uma posterior agressão persa. Como a ameaça
persa se desvaneceu, a Liga tendeu a se dissolver, mas Atenas impediu sua desaparição e gradualmente
converteu a confederação num Império Marítimo, império esse mantido em sujeição pelo poderio naval.
Essa transformação conduziu, por fim, à chamada Guerra do Peloponeso entre Atenas, império marítimo,
e Esparta, potência terrestre, cada uma com os respectivos aliados. Enquanto os atenienses conservaram o

27
A Armada de Xerxes era composta pelos navios pertencentes às diversas nações que eles haviam conquistado, como das
cidades-estados fenícias e de localidades gregas da Ásia Menor.
28
Quando navios de guerra guardados em terra firme são destruídos antes de serem postos a flutuar.
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domínio do mar, permaneceram invencíveis. Em 431 a.C., Atenas e Esparta entraram em guerra, arrastando
as demais pólis para o conflito. Atenas tinha o poderio marítimo, enquanto os exércitos de Esparta detinham
o domínio terrestre, devastando os campos da Ática e cercando Atenas. Durante anos espartanos e
atenienses se enfrentaram, encerrando o conflito em 404 a.C., quando Esparta venceu.
Dois grandes desastres: o primeiro foi a perda nas batalhas em Siracusa (413 a.C.) e o segundo em
Egos-Pótamos (405 a.C.) – uma batalha naval travada em terra firme – causaram a desgraça, e o curto
império de Atenas pereceu. Vitoriosos, os espartanos conduziram seus navios ao Pireu e conquistaram
Atenas, assumindo a hegemonia da Grécia. Esparta foi, assim, a primeira potência nitidamente terrestre
cujos guerreiros bem aquilataram29 a importância da Marinha na luta contra o inimigo cuja principal fonte
de recursos residia no mar.

Entre os séculos III e II a.C., a Grécia esteve sob domínio da


Macedônia, caracterizando o que ficou conhecido como período
helenístico.
Inicialmente governados por Felipe II, vencedor de Queronéia, os
macedônios não se limitaram à conquista da Grécia, logo partindo para o
Oriente. O principal responsável por essas grandiosas conquistas foi
Alexandre, o Grande, filho de Felipe II.

Península
Itálica Siracusa – Leste da Sicília

Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou valores da cultura grega e, após sufocar revoltas
internas, partiu para a expansão territorial, tomando a Ásia Menor, a Pérsia e chegando até as margens do
rio Indo, na Índia. Morreu precocemente, aos 33 anos de idade (323 a.C.), e o grande império que
conquistara não sobreviveu ao seu desaparecimento. As divisões políticas e as constantes lutas internas
levaram ao enfraquecimento do Império Macedônico e à posterior ocupação pelos romanos.
Assim como a ruptura das linhas de comunicações marítimas pode implicar a derrota de forças
terrestres, como exposto acima, pode-se neutralizar ou eliminar a ação marítima por operações terrestres
bem orientadas. Claríssimo exemplo disso é a campanha de Alexandre, o Grande, quando saiu para a
Ásia Menor, por via terrestre, para conquistar o império persa. Partindo a princípio diretamente contra os
persas, Alexandre cruzou o Helesponto em 334 a.C. com cerca de 35 mil homens, atingindo vitoriosamente
a cidade de Sardis, na Ásia Menor, que tomou.
Sentindo, entretanto, que os persas ameaçavam sua retaguarda com o poder naval de que dispunham,
Alexandre decidiu voltar-se para o litoral antes de prosseguir pelo interior. É que os persas ameaçavam
desembarcar na Grécia, empregando sua ainda vasta esquadra, ao mesmo tempo que ameaçavam as
comunicações de Alexandre com a Macedônia e impediam os portos, que se submeteram aos gregos, de
exercerem o comércio marítimo.
A estratégia de Alexandre aí foi inversa da de Temístocles em Salamina. Avançou sobre o litoral
persa e dominou as bases da marinha inimiga, impedindo-a de dispor dos recursos que só nesses pontos
encontraria. Afastado esse perigo, pôde Alexandre completar a conquista da Ásia persa, dirigindo-se
para a Mesopotâmia e o planalto do Irã, chegando a atingir a Índia. Veem-se assim dois tipos de ação
claramente distintos com um mesmo fim. Em um deles, o mar usado para desarticular atividades militares
terrestres; noutro, a ação em terra neutralizando o uso do mar. Ambos são aspectos marítimos da defesa
nacional.
A grande obra de Alexandre da Macedônia no plano cultural sobreviveu ao esfacelamento de seu
império territorial. O movimento expansionista promovido por Alexandre foi responsável pela difusão da

29
Apreciar, avaliar, apurar, aperfeiçoar. Aperfeiçoar-se: aquilatar-se na virtude.
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cultura grega pelo Oriente, fundando cidades (várias delas batizadas com o nome de Alexandria) que se
tornaram verdadeiros centros de difusão da cultura grega no Oriente. Entre estas cidades a mais notável e a
que mais se destacou foi Alexandria no Egito, cidade importante para as culturas egípcia, grega e romana,
entre outras. Nesse contexto, elementos gregos acabaram-se fundindo com as culturas locais. Esse processo
foi chamado de helenismo e a cultura grega mesclada a elementos orientais deu origem à cultura helenística,
numa referência ao nome como os gregos chamavam a si mesmos - helenos.
Pelos séculos afora, sob o domínio romano ou constituindo parte do Império Bizantino, os gregos
jamais deixaram seus hábitos marítimo-comerciais. Rodes, Delos e Corinto foram, depois de Atenas,
verdadeiros centros do comércio mundial numa época em que o domínio romano já se estendia por todas
as praias do Mediterrâneo.
Tal como a Fenícia, toda a história grega se acha intimamente ligada aos acontecimentos que se
desenrolaram nas águas do Mediterrâneo.

2.7) A Civilização Romana:


Na segunda metade do século V a.C., Roma era ainda uma república aristocrática de camponeses.
A maior parte das famílias possuía um pequeno campo. Toda a família habitava pequenas cabanas e
cultivavam os campos inteiramente com trigais, deixando uma pequena parte para fazê-lo com parreiras e
oliveiras. Suas habitações eram pequenas e de aspecto pobre, sua alimentação era frugal, as vestimentas
muito simples. Possuíam poucos metais preciosos e faziam quase tudo em casa, inclusive o pão e as
vestimentas para os escravos e as mulheres. Assim, o que Roma comprava no exterior era pouco. Exportava
poucas mercadorias: madeira para a construção de navios e sal.
Reunindo ao seu redor, numa confederação, as pequenas
repúblicas rurais nas quais o povo falava a mesma língua latina,
Roma pôde elevar-se pouco a pouco acima das outras repúblicas da
península Itálica.
Na segunda metade do quinto século e nas primeiras décadas
do quarto século a.C., Roma combateu, à cabeça da confederação
latina, os ossos, volscos e etruscos numa série de guerras que lhe
permitiram estabelecer quatro novas tribos no seu território
aumentado. Fortificada por esses primeiros sucessos, Roma foi em
seguida levada a guerrear durante o fim do quarto século e a
primeira metade do terceiro os sanitas, os etruscos, os sabinos, os
membros rebeldes da confederação latina, os gauleses da costa do
Adriático e as milícias gregas de Pirro vindas de Taranto. Roma
adquiriu, em suma, nessas guerras a alta soberania sobre toda a
Itália. Mais importante, porém, que as consequências políticas
foram as consequências econômicas e sociais dessas guerras.
A posse de uma linha da costa, desenvolvida como a que circunda a península, desde a foz do Arno,
no mar Tirreno, até o litoral de Úmbria, passando pelo estreito de Messina, dobrou a importância do Estado
romano como potência marítima que substituiu os etruscos e os gregos, e que deveria bem cedo entrar em
luta com o Estado de Cartago. Os romanos, a partir de então, passaram a participar do comércio do mundo
e a procurar os refinamentos da civilização helênica melhor conhecida por causa das trocas mais frequentes
com as colônias gregas da Itália meridional.
Os contatos com o mar e a posse de vários portos trouxeram para Roma a necessidade de possuir
uma frota mercante. Datam dessa época vários tratados firmados entre Roma e Cartago e as colônias gregas
acerca das zonas de navegação para os respectivos navios. Os navios romanos já singravam, portanto, o
mar Tirreno e cruzavam o estreito de Messina. Mas esse enriquecimento não enfraqueceu absolutamente as
tradições e não foi seguido imediatamente de uma mudança de costumes. Submetida à proteção de uma
nobreza que defendia os antigos costumes rústicos, a plebe guardou também os hábitos ancestrais,
permanecendo uma plebe valente e fecunda de camponeses.

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No quarto e no terceiro séculos aC, Roma pôde espalhar na Itália não somente sua influência e suas
leis, mas também sua raça e sua língua. A criação de colônias reafirmou o caráter agrícola da política de
Roma. No decorrer desse período o Estado esforçou-se por criar uma base econômica essencialmente
terrestre, fundada na pequena propriedade rural, com o fito de assegurar a existência de uma massa
demográfica de tendências conservadoras das quais, ao mesmo tempo, as necessidades mais imediatas
fossem satisfeitas. A massa camponesa prestava-se tanto às fadigas da vida do campo como às dos deveres
militares. O soldo de guerra e os donativos dos generais após a vitória era para eles um lucro ajuntado ao
da terra, e a guerra, uma indústria complementar da agricultura. Foi com esses camponeses, que eram ao
mesmo tempo soldados, que a nobreza romana pôde vencer uma primeira vez Cartago, a grande potência
mercantil, cuja expansão comercial acabou por vir chocar-se com a expansão militar e agrícola de Roma.
Entretanto, as lutas sociais ganhariam nova dimensão no contexto da expansão territorial, provocando
transformações econômicas profundas, a ponto de abalar de forma decisiva a estabilidade republicana. De
fato, a República romana era agressiva, ou seja, colocava em prática ampla política de expansão territorial.
Entre os séculos V e III a.C., Roma conquistou toda a península Itálica. O apogeu dessas conquistas ocorreu
com as Guerras Púnicas, contra Cartago.
Essa cidade, fundada pelos fenícios, desde a decadência grega controlava praticamente todo o
comércio na bacia do Mediterrâneo. Sua situação geográfica privilegiada, uma vez que estava situada no
norte da África e dominava a ilha da Sicília, contribuiu para o monopólio da ligação do Mediterrâneo
ocidental com o oriental pelos cartagineses.
Já os romanos viam a Sicília como um prolongamento da península e tinham interesse em suas terras
férteis. Dessa forma, o choque de imperialismos entre Roma e Cartago acabou por desencadear a guerra.
Entre 264 e 146 a.C., ocorreram três grandes guerras, que culminaram com a destruição de Cartago e o
controle romano de vastos territórios espalhados por todo o Mediterrâneo.
Vendo a expansão romana, Cartago logo pressionou os gregos da Sicília, produtores de trigo, a fim
de manter essa ilha sob sua tutela, antes que Roma se apoderasse dela. A ameaça cartaginesa, entretanto,
gerou a grande crise que se iniciou em 264 a.C.
Cartago, rica por seu comércio, dispondo de uma frota poderosa e dona das três grandes ilhas itálicas,
foi o inimigo mais terrível que Roma teve em toda a sua história. A primeira guerra Púnica durou cerca de
vinte e três anos (264-241 a.C.) e se desenrolou quase toda na Sicília. Os romanos alcançaram em terra
sucessivos êxitos nos anos iniciais do conflito, ocupando uma série de praças fortes inimigas, como os
cartagineses, donos do mar, reconquistavam facilmente as cidades costeiras, bem cedo os romanos
compreenderam que era impossível conquistar e conservar a Sicília, a costa e as cidades contra a frota
cartaginesa, sem terem navios para se opor.
Sendo uma ilha o pivô da disputa, a guerra a se travar tinha que ser marítima; e Cartago tinha a
vantagem. Com sua poderosa e adestrada marinha, os cartagineses punham sua capital a salvo das investidas
romanas, enquanto interditavam o comércio marítimo de Roma e pilhavam suas costas. Não restava aos
romanos outra alternativa. A serem fragorosamente derrotados por Cartago, tinham que se transformar em
nação marítima! Era o grande e grave desafio que a guerra trazia aos latinos.

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Uma galera cartaginesa naufragada na
costa romana serviu de modelo a copiar30, e as
encostas dos montes Apeninos forneceram a
madeira necessária. Sessenta dias foram
suficientes para serem construído cento e
trinta navios de madeira verde e as guarnições
serem treinadas na manobra.
A fim de neutralizar a habilidade
superior dos adversários, foram inventados os
"corvos", espécie de pontes com grampos que
prendiam um navio ao outro, os quais
reduziam a luta a combates corpo a corpo Galera Romana (Trirreme) com corvo
como em terra firme.
Assim se conta a história miraculosa, mas é mais provável que os romanos também tenham recebido
uma esquadra de Hieron, poderoso no mar e desejoso de conservar seus domínios na Sicília. Seja como for,
o Cônsul Duílio alcançou perto de Lipari a primeira vitória marítima. Feriram-se nos anos seguintes várias
batalhas navais, tais como as de Mile, Cnemo, Trepano e Egatas, em que a vitória favoreceu em geral aos
romanos. Segundo os historiadores antigos, em alguns desses encontros havia mais de trezentos navios
combatendo de cada lado e ambas as facções sofreram perdas prodigiosas. Durante a Primeira Guerra
Púnica – só do lado romano, não menos de setecentas quinquirremes teriam sido afundadas, quer em
batalhas, quer em tempestades.
Com o passar do tempo, a estrutura “corvo” foi abandonada. Levou algum tempo para os romanos
perceberem que o peso agregado a estrutura superior das embarcações criava muita instabilidade, tendo
esta novidade inicialmente feito toda a diferença na disputa entre uma nova sociedade migrando para o mar
contra uma antiga sociedade que já sulcava as ondas do mar Mediterrâneo e além das Colunas de Hércules.
Foi assim que, realizando talvez a melhor obra de toda a sua grandiosa história, o povo romano,
eminentemente ligado a terra, dedicado à agricultura e à vida pastoril, criou uma forca naval, tão bem
organizada, armada e comandada, que conquistou, em pouco tempo, o domínio do mar da Sicília e obrigou
Aníbal (na Segunda Guerra Púnica) a dar a longa volta pela Espanha e pela Gália para chegar à Itália.
No fim da Primeira Guerra Púnica, Roma procurou instalar-se por sua vez no além-mar. A política
econômica do Estado romano afastou-se do seu fim tradicional e adotou novas diretrizes. Com essa guerra
começou uma nova história de Roma e do mundo, sobretudo porque acarretou na Itália o aparecimento da
era mercantil na antiga sociedade agrícola, aristocrática e guerreira. Com a conquista da Sicília, o comércio
dessa ilha, pelo qual muito azeite e cereais eram exportados, passou dos cartagineses para os mercadores
italianos e romanos, lhes aumentado o número e a riqueza.
A aristocracia romana, que não tinha até então desejado possuir senão terras, começou também a
imitar a nobreza cartaginesa que ela havia vencido e que se compunha de negociantes.
Também ela começou a tentar especulações, a colocar no mar pequenas flotilhas, a fazer negócios
com as exportações da Sicília e a viver no luxo. Muitos romanos que tinham visitado os países estrangeiros
como soldados ou fornecedores dos exércitos e que tinham avaliado suas possibilidades, foram induzidos
ao comércio pela abundância de capital, pelo consumo crescente de produtos asiáticos na Itália e pelo poder
de Roma no Mediterrâneo. Muitos deles venderam os campos de seus pais e compraram um navio.
Construíram-se muitos pequenos estaleiros na costa italiana, e as florestas públicas da Sila, de onde se
retirava a resina para os navios, foram alugadas por grandes somas. Não houve membro da nobreza
senatorial que não participasse dos ganhos do comércio marítimo, emprestando aos cidadãos romanos ou
aos libertos os capitais necessários às suas empresas; à expansão militar sucedeu a expansão mercantil.

30
Os navios da Antiguidade eram feitos de peças únicas, como quebra-cabeças. Isso trazia vantagens, como a facilidade em se
padronizar formas e tamanhos, mas também a desvantagem da fragilidade das embarcações e a possibilidade de serem copiadas
pelos inimigos.
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Roma cessou de ser a capital de um povo essencialmente agrícola em que a riqueza era fundada
principalmente na propriedade rural e nos recursos agrícolas. Tornou-se a aglomeração tumultuosa onde a
indústria, o comércio, o tráfico e o dinheiro adquiriram uma importância antes desconhecida. Dessa lenta
decomposição de uma sociedade guerreira, agrícola e aristocrática, que havia começado quando Roma já
tinha conquistado a hegemonia militar no Mediterrâneo, nasceu o que se pode chamar o verdadeiro
imperialismo romano. Essa política foi inaugurada pela terceira declaração de guerra a Cartago (149 a.C.)
e pela conquista da Macedônia e da Grécia. Após uma pérfida declaração de guerra, depois de vergonhosas
derrotas, depois de muitos esforços e de três anos de guerra, Cartago foi incendiada por Cipião Emiliano, e
seu comércio passou para as mãos dos mercadores romanos.
A vitória sobre Cartago fez Roma senhora do Mediterrâneo Ocidental. A conquista da Grécia, a
derrota dos soberanos orientais Antíocus, Mitridate e mais tarde Cleópatra asseguraram sua hegemonia nos
mares orientais. Entrementes, a profunda mudança operada na estrutura social e econômica da Itália colocou
a população na dependência estreita das comunicações marítimas.
Roma, entretanto, não encontrou logo a paz em seus domínios crescentes. O período de 133-31 a.C.
foi acidentado pela guerra civil, que agitou a República com problemas gerados pela sua própria expansão.
As estruturas romanas não resistiam mais às novas condições da imensidão de suas terras e da
multiplicidade de seus habitantes.
A cultura de cereais, a qual durante tanto tempo se tinham, sobretudo, consagrado os camponeses
italianos, caiu cada vez mais em decadência. Não sendo a produção local bastante copiosa para atender a
todas as exigências, foi necessário procurar fora do Lácio 31 o suprimento de farinha indispensável à
alimentação das cidades. A anexação ao Estado romano da Sicília, da Sardenha e, mais tarde, dos territórios
de Cartago, da Ásia Menor, e enfim do Egito favoreceu uma importação considerável de cereais feita
através dos portos da foz do rio Tibre. Calcula-se que nessa época Roma importasse 20 milhões de bushels32
de trigo do Egito e de outras partes da África.
Considerando que a viagem de Alexandria a Óstia levava em média 25 dias e que cada libúrnia
transportava no máximo 250 toneladas (lembrando que são tonéis e não unidades de 1.000Kg), bem se pode
avaliar o número elevado de navios para atender a tal importação. Após a destruição de Cartago Roma pôde
acreditar estar senhora incontestável de toda a extensão do mar Interior e foi apenas a grande república
móvel dos piratas que pôs em atividade os estaleiros navais. O surgimento do poderio dos piratas prova a
que ponto Roma se julgava segura em todas as áreas do Mediterrâneo. Exagerando sua quietude, não vendo
nenhum Estado cuja Marinha a pudesse ameaçar, não tendo a considerar senão os corsários habituais, o
Governo Senatorial de Roma tinha, por incúria, deixado suas frotas ao abandono. Então os bandidos da
Cilícia e da Fenícia entraram em ação, pondo a saque numerosas cidades costeiras, aproveitando as ocasiões
propiciadas por qualquer grave conflito, como o da guerra contra Mitridate. Os piratas dispunham de
arsenais, portos, vigias, remadores e pilotos hábeis, além de navios de todas as espécies, tão bons quanto
temíveis.
O comércio romano experimentou dificuldades crescentes. Em particular, os comboios de trigo, tão
indispensáveis à Itália, foram quase paralisados pela ação dos piratas. Face ao perigo, a Marinha romana
foi restaurada em regime de urgência, e Pompeu teve à sua disposição 500 navios, 120.000 homens, todos
os recursos do tesouro nacional, conforme sua solicitação, e até o Comando de todas as margens até 70 km
para o interior, a fim de combater os piratas nas suas bases. Uma guerra curta, mas violenta, libertou o
Mediterrâneo da ameaça pirata, permanecendo apenas remanescentes dos antigos ladrões dos mares em
regiões afastadas.
Na medida em que a expansão territorial prosseguia jovens generais se destacavam, tanto na arena
política quanto na militar. Em 60 a.C., o Senado elegeu uma verdadeira junta militar. O primeiro triunvirato
era formado pelos generais Júlio César, Pompeu e Crasso, que dividiram entre si os territórios controlados
por Roma. A morte de Crasso rompeu o equilíbrio, levando Pompeu e Júlio César ao choque armado na
disputa pelo poder, que resultou na vitória de César.

31
Em italiano Lazio, a região em torno da cidade de Roma.
32
Cerca de oito galões de medida para produtos secos, como grãos.
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Nos anos que se seguiram, a Marinha romana desempenhou papel saliente nos acontecimentos. Em
todas as guerras civis do fim da República, a vitória pertenceu aos que se deslocavam mais facilmente e
mais rapidamente de um extremo ao outro do Mediterrâneo. Foi essa uma das grandes vantagens com que
contou César. A posse de forças navais importantes permitiu ao Sexto Pompeu realizar operações perigosas
contra o Triunvirato, mesmo próximo à Itália, as quais só não foram decisivas devido à perseverança de
Otávio e aos talentos de Agripa.
Proclamando-se ditador vitalício, centralizando todo o poder político em suas mãos e, portanto,
enfraquecendo o Senado, Júlio César acabou sendo vítima de uma conspiração da elite e foi assassinado
nas escadarias do próprio edifício do Senado. Sua morte causou profunda comoção popular e o retorno das
lutas civis, que só foram acalmadas com o surgimento de um segundo triunvirato. Seus membros, Marco
Antônio, Otávio e Lépido, oficiais do exército, logo também entraram em conflito entre si.
Enfim, a luta suprema que presidiu e fundou o regime imperial foi decidida em uma batalha no mar,
a que se realizou em Ácio ou Actium, entre as esquadras de Otávio, comandadas por Agripa, e de Antônio,
que contava com a participação de Cleópatra e de navios egípcios. Em 31 a.C. Otávio conseguiu derrotar
seus rivais, recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão) e Imperator (o supremo),
arrogando para si o título de Augustus (divino). Concentrando os poderes em suas mãos e realizando uma
série de reformas. Otávio inaugurou o Império Romano.
Augusto não fechou os olhos às lições dos acontecimentos. Logo que outros cuidados o permitiram,
estabeleceu esquadras permanentes, tanto para consolidar seu poder como para garantir os comboios de
trigo necessários à alimentação da Itália. Na época de Augusto, as principais esquadras romanas tinham
base em Ravenna e Misenum. Havia, além do mais, espalhados pelo Império, esquadrões em Fórum Julei,
Bocas do Orontes, Alexandria, Parpathus (entre Creta e Rodes), Aquiléia (mar Adriático), no mar Negro e
na Grã-Bretanha. Flotilhas fluviais estacionavam no Reno, no Danúbio e até no Eufrates. Devido aos
duradouros distúrbios civis, a pirataria tornou-se uma atividade esporádica; muitos desses bandidos,
dálmatas ou sicilianos, alistaram-se no serviço do Império, e a segurança do mar foi restabelecida e não foi
perturbada durante dois séculos, salvo em certas partes do Euxino (mar Negro), onde Roma tinha poucos
interesses.
O controle do Mediterrâneo (Mare Nostrum, como passou a ser chamado pelos romanos após a
abertura feita a partir da destituição de Cartago) permitiu a Roma dispor durante séculos de uma grande
rota central entre suas províncias e, transportando suas legiões por essa via, realizar concentrações de forças,
rápidas para a época, nos pontos mais importantes. As rotas marítimas favoreceram os deslocamentos
estratégicos, que por seu turno asseguravam a grandeza e o poderio de Roma. Foi o período da Pax Romana,
um período em que Roma realmente esteve acima das outras nações.
A partir do século III da era cristã,
a civilização romana entra em crise,
caracterizando assim o Baixo Império.
A expansão territorial, base de toda a
riqueza e estabilidade política e social
do império, foi-se esgotando. Esse
esgotamento ocorreu em virtude, entre
outras coisas, da própria dimensão
territorial alcançada, da pressão dos
povos dominados e vizinhos, e da
distância, custos e inviabilidade de
novas anexações, na medida em que
surgiam obstáculos naturais detendo os
romanos, desde os desertos da África e
do Oriente Médio até as florestas do
Europa Central.
O Império Romano em seu apogeu

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A interrupção da expansão territorial para a manutenção e o fortalecimento das fronteiras levou à
escassez de mão-de-obra. Na medida em que novos escravos não eram capturados, entrou em crise a
economia escravista romana. Ao mesmo tempo os custos das estruturas imperiais, como as militares e
administrativas, continuavam exaurindo o poderio romano, reativando disputas entre chefes militares e
acelerando a crise imperial. Paralelamente, crescia em meio à população cativa a adesão a uma nova crença:
o cristianismo, que surgira durante o governo de Otávio Augusto e logo passou a se expandir dentro das
fronteiras do império.
O espiritualismo cristão, isto é, a crença na vida após a morte, chocava-se com a tradicional religião
romana - inspirada na grega, essencialmente prática e ligada à obtenção de vantagens concretas e imediatas.
Para os escravos, o espiritualismo cristão e seu caráter ético era consolador e carregado de esperanças:
para os bons cristãos, uma vida melhor após a morte (no paraíso) e, para os maus ou para os pagãos, o
contrário (uma vida eterna no inferno). Em última análise, o cristianismo oferecia para os escravos uma
alternativa, ainda que após a morte. Sendo universal, contrária à violência, rejeitando a divindade do
imperador, bem como a estrutura hierarquizada e militarizada do império, a nova religião passou a ter um
caráter subversivo para a estrutura política romana. Na medida em que o colapso econômico rondava o
império criando miséria, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo, que era a única religião
a oferecer vantagens após a morte, diante da falta de perspectivas.
Em meio à decadência, o Estado romano passou a intervir cada vez mais na vida econômica e social,
tratava-se de salvar o Império, e, nesse processo, destacam-se os imperadores:
Diocleciano (284-305): criou o Édito Máximo, fixando os preços das mercadorias e salários, numa
tentativa de combater a crescente inflação. Não teve sucesso, tendo gerado apenas problemas de
abastecimento. Do ponto de vista administrativo, criou a tetrarquia, dividindo o império entre quatro
generais.
Constantino (313-337): por meio do Édito de Milão, declarou a liberdade de culto aos cristãos,
encerrando a violenta perseguição que lhes era impingida. Estabeleceu também uma segunda capital para
o império, em Constantinopla, a leste e junto ao mar Negro, numa parte do império menos atingida pela
crise do escravismo.
Teodósio (378-395): transformou o cristianismo em religião oficial do império (Édito de
Tessalônica), nomeando-se chefe da religião organizada. Dividiu o Império Romano em duas partes: do
Ocidente (com capital em Roma) e do Oriente (com capital em Constantinopla).
No governo de Teodósio, um novo problema agravou a
situação já caótica de Roma: a intensificação da penetração dos
bárbaros. Inicialmente recebidos no império como trabalhadores
agrícolas, muitas vezes arrendando vastas extensões de terras
antes cultivadas por escravos, a entrada dos bárbaros no império
logo se transformou em invasão. De fato, no ano de 476, os
hérulos invadiram e saquearam a cidade de Roma, derrubando o
último imperador, Rômulo Augusto, e decretando o fim do
Império Romano, ao menos em sua parte ocidental.
As invasões bárbaras, contudo, longe de serem a causa única da queda do império, foram mais um
sintoma de sua crescente debilidade. Na realidade, o império, enfraquecido economicamente pela crise do
escravismo, por sua vez acelerada pela expansão do cristianismo, não teve condições de se defender de
ataques externos.
Durante todo o decurso das guerras da República e do Império, a possibilidade de apoio marítimo
constituiu um fator de segurança e de recursos importantes, enquanto as dificuldades eram maiores nas
regiões periféricas afastadas das costas, onde as comunicações eram mais penosas e vulneráveis.
A evolução de Roma tal como a do Egito, mostra a importância crescente do Mediterrâneo na história
de um povo que se desenvolveu originalmente longe dos mares, mas que por fim ficou na estreita
dependência, sob o ponto de vista econômico, militar e político, das rotas marítimas.

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CAPÍTULO II

A IDADE MÉDIA

1) O que é Idade Média:


Médio é uma palavra que usamos para designar algo que está no meio, que exprime uma posição
intermediária entre um ponto e outro. Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, a Idade
Média estaria no meio da história, entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. Assim, o período de
aproximadamente mil anos que vai convencionalmente da queda de Roma (Império Romano do Ocidente),
após a ocupação pelos hérulos em 476, até a tomada de Constantinopla (Império Romano do Oriente) pelos
turco-otomanos em 1453, foi chamado de Idade Média.
Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e
científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período anterior e a recuperação de outros
inspirados na Grécia e Roma antigas. Estes movimentos receberam o nome de Renascimento, exibindo a
ideia embutida de que na Idade Média a ciência e as artes haviam praticamente sucumbido sob a força do
dogmatismo religioso.
Os renascentistas foram geralmente vistos como continuadores dos ideais científicos, artísticos e
estéticos das civilizações clássicas. Era como se houvesse um grande intervalo entre os antigos gregos e
romanos e os renascentistas de então. Esse intervalo, esse "meio", sob o prisma de um único processo de
avanço da humanidade, acabou recebendo o nome de Idade Média.
Da mesma maneira que não se pode considerar aceitável a ideia de que entre 476 e 1453 o mundo
ficou coberto por um manto de trevas culturais, também é distorcida a ideia de que todo o mundo teria
passado pelas mesmas situações que a Europa. É preciso lembrar que a Idade Média é uma periodização
que está circunscrita ao continente europeu e não a toda humanidade.

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2) O Império Bizantino:
O colapso do Império Romano do Ocidente não foi acompanhado no Oriente. Pelo contrário, o
império estabelecido em Constantinopla sobreviveu às invasões bárbaras e perduraria por todo o período
medieval. A partir da cidade de Constantinopla (a antiga Bizâncio dos gregos, hoje Istambul na Turquia) o
império Romano do Oriente desenvolveu um amplo comércio e detinha uma rica agricultura, obtinha lucros
nas suas relações com o Ocidente e foi menos atingido pela crise do escravismo.
Em termos políticos, a autoridade máxima do Império Bizantino era o imperador, ao mesmo tempo
chefe do exército e da Igreja. Era auxiliado por vasta burocracia, elemento central das estruturas políticas
imperiais.
O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565 d.C.), responsável pela temporária
reconquista de grande parte do Império Romano do Ocidente, incluindo a própria cidade de Roma. Seu
maior legado, na verdade, foi a compilação das leis romanas do século II, o Corpus Júris Civilis (Corpo do
Direito Civil), uma revisão e atualização do direito romano que serviu de base para os códigos civis de
diversas nações na atualidade. O Codex Justinianus foi redigido por uma comissão de dez juristas e era
composto das constituições imperiais, da compilação de normas jurídicas (chamada Digesto ou Pandectas),
de um resumo para os estudantes de direito (chamado Institutas) e de novas leis para solucionar
controvérsias jurídicas (chamadas Novelas ou Autênticas).
Além disso, Justiniano procedeu à construção da catedral de Santa Sofia, monumento arquitetônico
no estilo bizantino, voltado para a expressão da fé cristã, com suas abóbadas e mosaicos.
No auge do governo Justiniano, no século VI, seguiu-se um longo período de decadência, com
alguns poucos intervalos de recuperação, culminando, no final, na queda definitiva do Império Bizantino
em 1453, quando os turco-otomanos tomaram Constantinopla. Dos séculos VI ao VIII, sucederam-se
crescentes pressões nas fronteiras orientais do Império Bizantino, bem como sobre seus domínios no
Ocidente, acentuando os gastos com guerras e as dificuldades econômicas e administrativas, num
progressivo encolhimento do território imperial.
Durante a Baixa Idade Média (séculos X ao XV), além das pressões de povos e impérios nas suas
fronteiras orientais e perdas de territórios, o Império Bizantino foi alvo da retomada expansionista ocidental,
a exemplo das Cruzadas (especialmente da quarta cruzada, como veremos). O predomínio econômico das
cidades italianas naquele momento de avanço ocidental ampliou o enfraquecimento bizantino. Com a
expansão dos turco-otomanos no século XIV, tomando os Bálcãs e a Ásia Menor, o império acabou
reduzido à cidade de Constantinopla. Com a queda em 1453, os turcos transformaram-na em sua capital,
passando a chamá-la Istambul, como é conhecida até hoje.
O cristianismo predominou na parte oriental do império, embora tenha se desenvolvido de forma
peculiar em comparação ao Ocidente. Em Istambul, manteve-se muito da estrutura governamental herdada
de Roma e, pouco a pouco, o imperador passou a ser considerado também o principal chefe da Igreja.
Enquanto isso, no Ocidente, em meio à crise final do Baixo Império, o bispo de Roma, com apoio do
imperador, era elevado à chefia de toda a Igreja (455), tornando-se o primeiro papa da cristandade com o
nome de Leão I.
Contudo, apesar de preservar as tradições jurídicas e administrativas romanas, os bizantinos
sofreram clara influência helênica. Adotaram o grego como idioma oficial no século III, mantiveram
contato constante com povos asiáticos, além de vivenciarem a invasão persa e o posterior assédio árabe.
Esses elementos imprimiram-lhes certas características, como o desprezo por imagens - de Cristo,
da Virgem ou de santos, denominados ícones -, que levaria os bizantinos a um movimento de destruição
conhecido por iconoclastia. Questionando os dogmas cristãos pregados pelo clero que seguia o papa de
Roma, deram origem a algumas heresias (correntes doutrinárias discordantes da interpretação cristã
tradicional).
Tal panorama de tensões, alimentadas pelas diferenças entre Oriente e Ocidente, e as inevitáveis
disputas pelo poder entre o papa e o imperador culminaram na divisão da igreja, em 1054, criando uma
cristandade oriental, chefiada pelo imperador e sediada em Constantinopla (Igreja Ortodoxa), e uma
ocidental, sob o comando do papa, sediada em Roma (Igreja Católica Apostólica). Esse episódio recebeu o

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nome de Cisma do Oriente e consolidou as diferenças entre tradições e forma de organização do culto de
cada uma das igrejas.

3) O Império Árabe:
A península Arábica apresenta-se com o uma região desértica e com poucas áreas propícias ao
estabelecimento de núcleos de povoamento permanente (oásis e partes litorâneas). Seus primeiros
habitantes foram tribos de nômades do deserto, os beduínos.
Por volta do século VI, mais de 300 tribos de origem semita habitavam a região, incluindo as tribos
urbanas, que ocupavam a faixa costeira do mar Vermelho e do sul da península, de melhores condições
climáticas e maior fertilidade do solo. Concentravam-se principalmente em Meca, sua principal cidade, e
na cidade de Iatreb.
A importância de Meca era decorrente de seu valor comercial e religioso, uma vez que lá se encontra
a Caaba, santuário em que se depositavam as imagens dos diversos ídolos representando os deuses das
tribos árabes (hoje a Caaba tem outra representação). A tribo dos coraixitas possuía grande poder e prestígio
e controlava a cidade de Meca.
Nascido em 570 e membro da tribo coraixita, apesar de oriundo de família humilde, Maomé passou
a pregar uma nova fé após anos de meditação e peregrinação. Reunindo elementos judaicos e cristãos no
Corão, livro sagrado escrito após a morte do profeta, o islamismo pregava a existência de um deus único,
Alá (aos mesmos moldes do Cristianismo – Deus – e do Judaísmo – Javé).
Maomé condenava a peregrinação das tribos até Meca para idolatrar os vários deuses (politeísmo)
representados na Caaba (tenda central usada como uma espécie de santuário ou altar). Sentindo-se
ameaçados, os coraixitas repudiaram a nova religião e expulsaram Maomé e seus seguidores para a cidade
vizinha de Iatreb (que teve seu nome mudado para Medina, que quer dizer “a cidade do profeta"). Essa fuga
caracterizou a Hégira, em 622, que deu início ao calendário muçulmano.
Bem recebido em Iatreb, o profeta conseguiu o apoio dos comerciantes locais e a ajuda dos beduínos
como soldados para conquistar Meca. Em pouco tempo, todos os povos árabes da península converteram-
se ao islamismo, o que os unificou.
Após a morte do profeta, em 632, a expansão religiosa prosseguiu, agora no contexto da djihad
(guerra santa), visando a conversão dos infiéis, ou seja, daqueles que não seguem o islamismo (corrente
filosófica do Islã). Nesse momento o poder passou para as mãos dos califas, herdeiros de Maomé, agora
chefes religiosos e políticos.
O Império Islâmico que se formava avançou primeiramente sobre os vizinhos territórios bizantinos
e persas. Durante a dinastia Omíada (661-750), contudo, os árabes avançaram também para o Ocidente,
tomando o norte da África e chegando à península Ibérica. O avanço árabe em direção à Europa Ocidental
só foi barrado na batalha de Poitiers (732), quando árabes e francos enfrentaram-se.
Contidos a oeste, não desistiram os árabes de tentar o prosseguimento de sua expansão a leste, onde
um grande obstáculo se opunha a seus propósitos: a cidade de Constantinopla, baluarte do Império Romano
do Oriente. Nas lutas pela conquista de Constantinopla, são vistas grandes campanhas navais decisivas na
sorte da Europa Oriental. Diversas investidas fizeram os maometanos por mar e por terra, até que a invenção
do fogo grego33, aparecido em 677, no quarto ano de sítio que sofria a capital oriental, permitiu ao
Imperador Constantino IV, conhecendo as possibilidades da nova arma, empregá-la com pleno êxito contra
seus inimigos, destruindo a esquadra árabe junto ao mar de Mármara.
Sitiada ainda diversas vezes no correr dos séculos seguintes por árabes e turcos, Constantinopla
sustentou a luta e permaneceu fora do alcance dos estrangeiros que pretendiam dominá-la.

33
O fogo grego era mistura altamente inflamável, que resistia até mesmo à ação da água e que aderia fortemente à madeira
das embarcações em que caía. Sua composição é desconhecida até hoje, mas parece que alcatrão e enxofre dela faziam parte,
assim como salitre, o que agregava oxigênio a mistura, fazendo-a arder até embaixo d’água.
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Ela, contudo, que salvara a civilização cristã do Ocidente, obstando o avanço de seus inimigos, veio
a ser, por ironia da História, pilhada barbaramente pela quarta cruzada (cristã), de 1204. Finalmente, fraca
em terra e no mar, Constantinopla caiu em mãos dos turcos, em 1453.
A unidade do império foi quebrada sob a dinastia Abássida, que substituiu a Omíada em 750,
possibilitando o advento de califados independentes, sediados em grandes cidades como Bagdá (Iraque),
Córdoba (Espanha) e Cairo (Egito).
A perda da unidade política foi acompanhada da desagregação religiosa, com o surgimento de duas
seitas principais: a dos sunitas e a dos xiitas. Os primeiros fundavam sua crença no Suna, livro que continha
os ditos e feitos de Maomé; acreditavam na livre escolha dos chefes políticos pela comunidade de crentes.
Os xiitas, por sua vez, defendiam que o poder político e religioso deveria concentrar-se nas mãos de uma
única pessoa, que descendesse do profeta Maomé, tornando absoluto o poder do Estado.
As ações dos povos árabes tiveram consequências muito além de seu próprio império. A expansão
pela bacia do Mediterrâneo, o controle que obtiveram sobre a região e as constantes incursões realizadas
no litoral sul da Europa intensificou na Europa Ocidental a decadência comercial e a ruralização.

4) Os Reinos Bárbaros:
A queda de Roma em 476 marcou o fim do Império Romano do Ocidente e, para muitos
historiadores europeus e ocidentais, inaugurou a Idade Média. Na Europa Ocidental esse período foi
marcado pela consolidação do modo feudal de produção, em substituição ao escravismo greco-romano.
As invasões bárbaras, que marcaram o final do Império Romano, não se encerraram em 476, pelo
contrário, continuaram ocorrendo durante boa parte da Alta Idade Média. Desde o século VII, foram
seguidas pelas invasões dos árabes no sul e sudoeste, pelos vikings no Norte e outros povos vindos do Leste.
São as invasões e o estado de guerra constante na Europa que nos permitem compreender a estrutura
econômica e social do feudalismo.
O contato da Europa Ocidental com os povos invasores não só foi responsável pela derrubada do
Império Romano como também substituiu a unidade pela diversidade cultural. A fragmentação político-
cultural nos antigos domínios romanos acarretou o surgimento de vários reinos bárbaros, além da
substituição do latim pela mescla com outras línguas.
A ruralização passou a caracterizar a Europa medieval. De fato, desde o final do Império Romano,
as cidades vinham sendo abandonadas devido a invasões e saques. Por outro lado, a falta de mão-de-obra
escrava atraía vastos contingentes de trabalhadores para o campo. Sob a condição de servos nas terras que
lhes eram arrendadas, o movimento dessa população marcava a volta para uma economia rural de
subsistência.
Devido à instabilidade causada pelas guerras, com a concentração da população em comunidades
rurais isoladas, o comércio entrou em franca decadência, assim como a utilização de moedas. Com o intuito
de se protegerem da agressão externa, construíram-se residências fortificadas dos senhores e castelos, tendo
nas proximidades as comunidades rurais.
Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento do cristianismo, pouco a pouco se impondo à nova
sociedade em formação. Vários reinos bárbaros converteram-se à doutrina cristã, destacando-se entre eles
o dos francos.

5) O Reino Cristão dos Francos:


Desde o século II os francos vinham pressionando as fronteiras do Império Romano, até se
estabelecerem na região da Gália, atual França. O domínio sobre toda a Gália foi possível graças à
conversão ao cristianismo de Clóvis, neto do herói franco Meroveu, em 496. Contando com o apoio da
Igreja, Clóvis organizou o reino franco e consolidou a dinastia merovíngia.
A ideia de Estado e bem público desapareceu junto com o Império Romano, passando a terra a ser
distribuída entre o clero e a nobreza, como recompensa por serviços prestados. A figura do rei tornava-se,
assim, bastante frágil entre os francos, submetida ao poder dos proprietários de terra.

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A pouca autoridade dos reis do período valeu-lhes o título de "reis indolentes", que tinham suas
funções normalmente delegadas ao “major domus”, espécie de primeiro-ministro. O mais importante deles
foi Carlos Martel, que comandou os francos na batalha de Poitiers (732), derrotando os árabes e
interrompendo sua expansão em direção ao centro do continente.
Em 751, o filho de Carlos Martel, Pepino “o Breve”, contando com o apoio papal, depôs o último
soberano merovíngio. Iniciou-se uma nova dinastia, a Carolíngia. Pelo apoio recebido, Pepino cedeu ao
papa grande extensão de terra no centro da península Itálica. Passando para a administração direta da Igreja,
sob o nome de Patrimônio de São Pedro, esse território constituiu o embrião do atual Estado do Vaticano.
Carlos Magno, filho de Pepino, assumiu o trono em 768, fundando o Império Carolíngio, período
de maior poder dos francos na Alta Idade Média. Além de doar as terras adquiridas nas guerras de conquista
à nobreza e ao clero, em troca de lealdade, dividiu o território sob seu controle em condados e marcas34.
Os administradores dessas áreas eram nomeados pelo imperador e fiscalizados por um corpo de
funcionários chamados missi dominici (emissários do senhor). Dessa forma, Carlos Magno podia controlar
um vasto território, fazendo valer as suas leis, as chamadas Capitulares, primeiras leis escritas do ocidente
medieval.
O título de imperador do novo Império Romano do Ocidente foi concedido a Carlos Magno pelo
papa Leão III no ano 800. O mandatário da Igreja via na ampliação do reino franco uma possibilidade de
expansão do cristianismo e o retorno à própria concepção de império, desaparecida desde a queda de Roma,
no qual o poder imperial seria o anteparo da Igreja. Carlos Magno foi responsável, portanto, por uma
experiência centralizadora durante a conturbada Alta Idade Média.
O êxito administrativo de Carlos Magno foi acompanhado por significativo desenvolvimento
cultural, estimulado pelo próprio imperador. O latim caíra em desuso com os povos germanos, e a língua
escrita entrara em decadência (Pepino era analfabeto e o próprio Carlos Magno limitava-se a rabiscar seu
nome).
Entretanto, o chamado Renascimento Carolíngio mudou esse quadro, ainda que temporariamente.
Escolas foram fundadas, o ensino estimulado e várias obras da Antiguidade greco-romana preservadas,
graças principalmente à atuação da Igreja, que logo teria quase o monopólio da cultura no continente
europeu.
O Império Carolíngio, porém, não sobreviveu à morte de Carlos Magno, em 814. Hordas invasoras
- vikings da Escandinávia, magiares do Leste europeu e novas incursões árabes a partir do Mediterrâneo,
aliadas às disputas sucessórias - levaram ao fim a efêmera unidade territorial.
Luís, o Piedoso, filho de Carlos Magno, herdou o império e o governou até 841. Seus filhos, pelo
tratado de Verdun (843), fizeram a partilha do império e aceleraram sua derrocada. Condes, marqueses e
outros nobres passaram a ter crescente importância, fortalecendo a tendência à descentralização.
Consolidava-se, nesse contexto, o feudalismo.

6) O Navio de Guerra Medieval:


Todas as lutas no mar durante a Idade Média eram realizadas a bordo de navios a remo. Na Alta
Idade Média35 um tipo de navio comumente empregado foi o drômon, palavra significando “navio rápido”
ou “navio corredor”. Tinha duas ordens de remos, conduzindo uma tripulação de cerca de 300 homens; “no
meio desse navio elevava-se um grande castelo construído com traves e com seteiras para os arqueiros. No
castelo de proa elevava-se uma espécie de pequena torre, talvez giratória, da qual, desde a invenção do fogo
grego, certos tubos, que eram uma espécie de canhões primitivos, lançavam uma substância inflamada sobre
os conveses do adversário. O drômon tinha dois mastros de velas latinas36 e 30 a 40 remos em cada bordo”.
Tanto os cristãos como os árabes combatiam com esse tipo de navio.

34
É desse período que surge os títulos nobiliárquicos de marquês e conde, referentes aos nobres responsáveis pelos territórios
mais extremos do reino, os marcos do território, ou aos condados, regiões politicamente administradas pelo rei.
35
Período que vai do século V ao X, onde todos os meios que caracterizam a Idade Média foram crescentes, como a fragmentação
territorial, social, cultural e econômica, levando ao surgimento de vários pequenos reinos rurais.
36
Velas Latinas, triangulares, diferentes das velas redondas que eram quadrangulares.
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O navio a remos ainda foi amplamente usado no mar Mediterrâneo para fins militares. Depois da
invenção do canhão, este foi adaptado à proa das galeras, de modo a atingir o inimigo pela frente, durante
a aproximação das esquadras. De outra forma não podia ser, aliás, já que os bordos eram tomados pelos
remos, que compunham o aparelho propulsor dos navios.
Por ocasião das disputas entre a cristandade e os mouros, durante o século XVI, no mar
Mediterrâneo, deu-se a última grande ação entre navios de remos na história naval. Foi a Batalha de
Lepanto, travada em 1571, junto à península Helênica, que resultou em vitória para os cristãos, sem,
contudo, grande significação estratégica, já que não foi explorada devidamente. Embora reduzidos em sua
ameaça contra a Europa, os muçulmanos, ainda por muitos anos, mantiveram atividades predatórias que
fustigavam o comércio marítimo mediterrâneo.
O aparecimento da pólvora veio dar novas dimensões à guerra e criou na mente dos homens
pacíficos um grande temor, muito semelhante, guardada as devidas proporções, com o que hoje se observa
em relação às armas nucleares.
A pólvora já era conhecida dos chineses talvez desde a época em que viveu Cristo. Marco Polo
conta que viu belos fogos de artifício na China. Mas sabe-se que, pelo menos uma vez, os chineses
empregaram a pólvora na guerra, sob a forma de foguetes. Foram os árabes que transmitiram aos europeus
a fórmula da pólvora. As primeiras armas chamadas de fogo foram os canhões; só muito depois é que
surgiram as armas portáteis. Os foguetes que, como já vimos, foram anteriores aos canhões, só voltaram a
ter importância no século XX.
A invenção do canhão determinou profundas alterações na História e não apenas de caráter militar.
Contribuiu para o fim do feudalismo, já enfraquecido pelas cruzadas, em benefício do poder dos reis, porque
estes, apoiados pela burguesia, tinham mais recursos financeiros para comprar a nova arma. A arma de fogo
portátil, então, contribuiu sensivelmente para diminuir a desigualdade social, porque permitia que “qualquer
miserável plebeu abatesse o mais nobre dos cavaleiros”, como disse, horrorizado, um cronista da época. De
fato, o plebeu era o homem que lutava a pé e que pouca chance tinha no combate contra o nobre
pesadamente armado a cavalo, até então.
Na marinha, o canhão forçou lentamente o abandono do navio a remos que, embora mais manobreiro
que o navio a vela, não podia conduzir o mesmo número de canhões que este.

7) Guerra e Comércio na Idade Média:


Durante toda a Idade Média, o comércio marítimo intensificou-se no Mediterrâneo, tendo como
principais intermediários as cidades italianas, verdadeiras potências mercantis e financeiras da Europa. Elas
mantinham grandes frotas comerciais, realizando as trocas através de entendimentos com os árabes, já que
as mercadorias orientais, de grande aceitação na Europa, antes de chegarem às margens mediterrâneas
passavam pelas terras do Oriente. Mesmo após a descoberta da rota marítima para o Oriente, contornando
o continente africano, o comércio mediterrâneo se manteve, embora em declínio, constituindo grande
preocupação para Veneza e outras cidades italianas que o monopolizavam.
No Atlântico, os empreendimentos náuticos foram de caráter diverso. Durante a Idade Média já se
realizavam viagens costeiras entre o mar Mediterrâneo e o norte da Europa, com fins comerciais. A Guerra
dos Cem Anos ativou particularmente esse comércio marítimo, em face da conflagração nos territórios
continentais. A Inglaterra, sempre notável pela maneira de resolver seus problemas, apresentou um sistema
interessante para o emprego dos navios. Havia um acordo entre o rei e os armadores, pelo qual estes cediam
seus navios ao governo em caso de necessidade, para que servissem como navios de guerra. Para isso, os
navios mercantes sofriam uma pequena alteração. Na proa e na popa construíam-se armações de madeira,
no formato de torres, destinadas a abrigar os soldados embarcados caso o navio fosse abordado, para que
dali pudessem prosseguir no combate. Isso porque a tática naval da Idade Média, mesmo para navios a
pano, como era o caso dos que navegavam no Atlântico, era a abordagem. As manobras eram no sentido
de aproximar os navios para permitir essa abordagem.
O pouco poder ofensivo dos primitivos canhões impunha que essa arma fosse empregada contra o
homem e não contra o material, já que neste não faria dano considerável. Geralmente, a tripulação vencida

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era jogada pela borda. Sendo fracos em seu poder ofensivo, esses canhões navais primitivos eram chamados
de mens killers, por só causarem dano forte nos homens. Só mais tarde, aperfeiçoando-se os canhões navais
e aumentando-se seus tamanho e poder, eles foram chamados de ship killers, porque danificavam os navios
fortemente. Com o tempo, verificou-se que as tais armações construídas na proa e na popa dos navios
mercantes, para abrigar soldados no caso de abordagem, eram úteis mesmo em tempo de paz, pois
facilitavam a defesa do navio contra piratas. Com isso, os navios mercantes passaram a manter essa
adaptação em caráter permanente. O que deu origem aos castelos de proa e de popa dos navios, que ainda
hoje se veem na arquitetura naval.
Essa integração entre marinha de guerra e marinha mercante foi significativa, pois não podemos
compreendê-las isoladamente. E a Inglaterra, que mais tarde dominou os mares, só organizou sua marinha
de guerra como força militar independente e regular no reinado de Henrique VIII (1509-1547), já no século
XVI. Daí em diante, sempre no interesse da expansão de seu comércio marítimo e de suas atividades
coloniais, os ingleses fizeram crescer proporcionalmente sua Royal Navy, até vê-la a maior e a mais
poderosa do mundo.

8) A Civilização Viking:
Embora viking signifique guerreiro, os vikings eram povos das enseadas abundantes tanto
na Dinamarca, país de planícies arenosas, através das quais se desenhavam tortuosos canais marítimos,
como na Noruega, pátria dos “fiordes” (gargantas escarpadas que levam as ondas até o coração dos montes,
em alguns pontos por centenas de milhas).
Ao longo do curso sinuoso desses fiordes, um pedaço de terra fértil entre o precipício e o estuário
dava lugar a campos de trigo e a um grupo de casinhas de madeira. Próximo, uma encosta alcantilada trazia
a espessa floresta até a borda da água, atraindo o lenhador e o construtor de barcos.
Ao cimo de tudo, os cordões nus das montanhas erguiam-se até os campos gelados e os cumes
glaciais, dividindo os povoados dos fiordes uns dos outros, como pequeninos reinos, atrasando por séculos
a união política da Noruega e lançando os habitantes, intrépidos para o mar, em busca de alimento e de
fortuna.
Traficantes de peles, caçadores de baleias, pescadores, mercadores, piratas e ao mesmo tempo
assíduos cultivadores do solo, os escandinavos sempre foram um povo anfíbio. Desde a ocupação de sua
terra, em data indeterminada da Idade da Pedra, o mar fora sempre o seu caminho de povoado para povoado
e o único meio de comunicação com o mundo exterior. Até o fim do século VIII, a área da pirataria dos
vikings confinara-se principalmente às costas do mar Báltico. Tinham-se contentado eles em se saquearem
reciprocamente e aos vizinhos mais próximos, mas no tempo dos romanos já infestavam as costas da Gália
Belga (Bélgica) e da Bretanha (Inglaterra). Ao que consta, só na época de Carlos Magno começaram a
atravessar o oceano e a atacar os países cristãos do Ocidente. Foram necessários séculos de experiências e
sem dúvida inúmeros naufrágios para que os vikings aprendessem a conhecer as etapas e as épocas mais
favoráveis para a navegação. Pouco a pouco eles aprenderam a passar de ilha em ilha aproveitando o bom
tempo e a construir navios maiores.
Desde o fim do século VIII ou começo do IX, quando seus exércitos e suas frotas aumentaram em
número e em importância, as expedições vikings alongaram-se. Essas expedições regularizaram-se em
seguida, cada burgo fornecendo um número determinado de navios. O sucesso das primeiras expedições de
grande envergadura e o superpovoamento relativo do Norte contribuiu, assim, em grande medida, para
arrancar homens de seus lares, particularmente em certas regiões, como as Ilhas dinamarquesas, onde, por
força de lei, uma parte do povo devia emigrar desde que o superpovoamento se acentuasse.
A fome, depois de uma má colheita nesses climas inóspitos, por vezes, lançava povoados inteiros
em busca de novas terras, pois os homens do Norte sentiam a falta de águas piscosas e de terras abundantes
em caça. O “Caminho dos Cisnes”, como cantavam em suas canções, fornecia-lhes o que recusava a terra
mal cultivada ou estéril ou a pesca insuficiente para remediar a fome. Tornando-se mais audaciosos nas
suas navegações, empreenderam viagens que, mesmo depois da agulha magnética, foram apenas renovadas.

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Foram três as rotas básicas escandinavas de imigração durante a era viking:
- Primeiro, a rota Oriental que penetrou no coração dos territórios eslavos foi seguida
principalmente pelos suecos, até Novgorod e Kiew, fundando o primeiro Estado russo e daí descendo pelo
rio Dnieper abaixo para atravessar o mar Negro e importunar as muralhas de Constantinopla.
As outras duas rotas desenhavam-se ao Ocidente:
- Havia a rota seguida principalmente pelos noruegueses, a qual poderemos chamar de linha exterior
ou Ocidental Externa: levava às mais aventurosas viagens marítimas, ao povoamento da Islândia e da
Groenlândia, à descoberta da América do Norte; conduzia às Orkneys, Caithness, Ross, Galloway e
Dunfries, onde grandes colônias escandinavas trouxeram o primeiro elemento nórdico à vida das Higlands
e do sudoeste da Escócia. Foram ainda os noruegueses que conquistaram as Hébridas, a oeste da Escócia,
e descobriram trinta e cinco ilhas que chamaram de Faroe. O Mainland e as quarenta e cinco ilhas que a
cercaram, ilhas famosas pela pesca do arenque, foram também descobertas pelos vikings. Por essa linha
exterior, vieram se estabelecer importantes colônias norueguesas em Cumberland, Westmoreland,
Lancashire, Cheshire e na costa da Gales do Sul. A Irlanda foi durante algum tempo invadida, e Dublin,
Cork, Limerick, Wicklow e Waterford foram fundadas como cidades dinamarquesas. Enquanto os suecos
dirigiam-se para a Rússia e para a Ásia, os noruegueses descobriam a rota para a Irlanda pelo norte da
Escócia e, mesmo fazendo escala na Groenlândia, foram até a América procurar peles.
- Os dinamarqueses tinham escolhida rota interior ou Ocidental Interna que, mais próxima de seu
país, conduzia às costas da Escócia, da Northumbria e da Neustria.
É em 787 que pela primeira vez a crônica anglo-saxônica descreve a chegada à Inglaterra de três
navios de homens do Norte, vindos do país dos ladrões. A partir do ano de 793, as curtas notas anuais das
crônicas contêm, quase todas, referências a alguma incursão dos pagãos. Ora eles pilhavam um convento e
massacravam os monges, ora as hordas pagãs espalhavam a devastação entre os Northumbrios. Pouco a
pouco a importância das frotas inimigas cresceu. Em 851, pela primeira vez os pagãos passaram o inverno
na ilha de Thanet; no mesmo ano, trezentos de seus barcos vieram à embocadura do Tamisa, e suas
guarnições tomaram de assalto Cantuária e Londres.
Lentamente, durante cinquenta anos ou mais, antes que o movimento atinja seu zênite, toda a
Noruega e toda a Dinamarca despertam para a verdade de que não havia poder marítimo a defender as Ilhas
Britânicas ou o famoso Império Carolíngio, que os anglo-saxões e os francos eram gente terrestre e que os
irlandeses utilizavam pequenos barcos de couro. O mundo estava assim exposto ao poder marítimo viking.
Nos anos seguintes, os pagãos foram chamados por seu nome real, dinamarqueses, e as crônicas
referem-se aos movimentos dos exércitos, fortes, às vezes de dez mil homens. Bem equipados, bem
armados, muito hábeis em construir campos fortificados, obedecendo cegamente aos reis do mar, seus
chefes, os vikings, guarneciam, em grupos de sessenta a setenta homens, os seus navios de guerra de sólida
construção, as drakkas37, e desembarcavam em locais de onde pudessem enfrentar com êxito a reação dos
habitantes do país invadido. Foi assim que Noirmontiers tornou-se sua base no litoral da França, Thanet no
da Inglaterra e a ilha de Man no mar da Irlanda. Os que operavam na França vinham, sobretudo, da
Dinamarca, reunidos em pequenas flotilhas que perlongavam a costa. Subiam os rios, saqueavam as igrejas
e destruíam as cidades, ou para poupar o país, faziam-se pagar um resgate calculado em libras de prata. Os
primeiros bandos haviam aparecido antes dos fins do reinado de Carlos Magno, mas, depois dos meados
do século IX, esses invasores estabeleceram-se com suas famílias em campos entrincheirados junto à
embocadura dos rios, de onde em todas as primaveras partiam para agir no interior. Além da ilha
Noirmontiers, os normandos instalaram-se na foz do rio Sena e subiram o rio Garona, saqueando as cidades.
Até cerca de 860, entretanto, ocuparam na França apenas em pontos da costa e algumas ilhas, fazendo
ocasionalmente expedições de saque pelo interior. Depois, as expedições transformaram-se em verdadeiras
migrações. Nos anos seguintes, os normandos embrenharam-se pelo interior da França, devastando uma
enorme região e chegando mesmo a sitiar Paris em 886.

37
As embarcações vikings de comércio eram conhecidas como Knnors. Durante a história desse povo eles desenvolveram várias
embarcações, com características diferentes e próprias ao emprego a que se destinavam, no entanto, as embarcações clássicas,
as Drakkas ou Drakars, é que foram demonstradas nos épicos difundidos pelos cinemas no mundo.
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Os vikings que seguiam a linha exterior e os que seguiam a linha interior muitas vezes se cruzavam
no caminho. Encontravam-se dinamarqueses e noruegueses na Normandia, no sul da Irlanda e no norte da
Inglaterra, e ambos penetravam indiferentemente na Hispânia, no Mediterrâneo e no Levante.
Toda essa espantosa exploração, que tocou a costa norte-americana cinco séculos antes de Colombo,
esse habitual e quase diário desafio das tempestades da Costa Wratch e das Hébridas, foi levado a cabo em
longos barcos descobertos, impelidos a remos e manobrados pelos próprios guerreiros com o auxílio de
uma única vela.
A coragem e a perícia naval de marinheiros, que se aventuraram em tais barcos a empreender tais
viagens, nunca foram ultrapassadas na história marítima. Muitas vezes pagaram pela sua ousadia. O
Wessex, no tempo do rei Alfredo, salvou-se uma vez graças ao naufrágio de uma esquadra inteira, quando
uma tempestade lançou cento e vinte galés dinamarquesas contra os penhascos de Swanage.
Em quase todas as regiões em que dominaram pelas armas, os vikings acabaram assimilados pelas
populações vencidas. Na Grã-Bretanha, os dinamarqueses e noruegueses ou foram repelidos ou fundiram-
se com os anglo-saxões com o decorrer dos anos. Na Franca, não são bem conhecidas as circunstâncias
segundo as quais o rei dinamarquês Rollon obteve o território que veio a constituir o Ducado da Normandia.
Estabelecidos nos férteis campos da Franca, pouco a pouco os normandos perderam os hábitos violentos é
adotaram a língua e a cultura francesa.
Nos séculos que se seguiram, o espírito aventureiro dos descendentes dos vikings os levou a
participarem de muitas empresas guerreiras, tais como a conquista da Inglaterra em 1066 por Guilherme “o
Conquistador”, a expulsão dos árabes do sul da Itália e da Sicília, e as Cruzadas.
Em poucas gerações, contudo, os normandos mudaram radicalmente seus hábitos antigos, e a
Normandia converteu-se numa região conhecida tanto pela excelência de seus rebanhos e de seus pomares
quanto pela fama de seus marinheiros e pescadores.
Em síntese, a história dos nórdicos é um flagrante exemplo da influência da geografia na evolução
de um povo. Talvez mais ainda que nas histórias grega e fenícia, a natureza especial das regiões
escandinavas explique a epopeia viking.

9) A Crise da Idade Média:


A estrutura econômica, social, política e cultural que predominou na Europa Ocidental durante a
Idade Média, em substituição ao escravismo greco-romano, foi chamada de feudalismo e caracterizou o
modo de produção do período. Lembrando que, dentro de certa visão de história (o materialismo histórico),
modo de produção significa a forma como se organiza a produção de riquezas numa sociedade, o que
implica um conjunto de relações econômicas, mas também sociais, políticas e culturais, intimamente
ligadas entre si e interferindo umas nas outras. Permite também, em linhas gerais, caracterizar um
determinado período histórico em uma dada região.
As transformações ocorridas no Império Romano do Ocidente, como o êxodo urbano e a ruralização
causados pela crise escravista, foram aceleradas com as invasões bárbaras, resultando na queda do império
em 476. A partir daí, e estendendo-se até o século X, sucedeu, então, um período marcado pelo predomínio
da vida rural e ausência ou severa redução do comércio no continente europeu, denominado Alta Idade
Média.
Só a partir do século XI, quando se iniciaram diversas mudanças significativas para a economia
feudal, é que as atividades baseadas no comércio e na vida em cidades, pouco a pouco, ganharam impulso.
Essas mudanças deram início ao período que chamamos de Baixa idade Média, o qual se estendeu até o
século XV. Ele é chamado de Baixa Idade Média por ter sido marcado pelo surgimento dos elementos que
desencadeariam a decadência do feudalismo.
As origens de tais mudanças encontram-se no esgotamento do sistema feudal, progressivamente
abalado pelas transformações em curso na Europa, sendo a principal delas o surto demográfico verificado
a partir dos séculos X e XI. De fato, a diminuição progressiva no ritmo das invasões, que caracterizaram
praticamente toda a Alta Idade Média, ofereceu a contrapartida de condições mais estáveis de vida, o que

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provocou gradativo, mas significativo, aumento de população. Por volta do século X, estima-se que os
índices de natalidade superassem os de mortalidade em toda a Europa.
A expansão demográfica chocava-se com o imobilismo do sistema feudal, baseado em unidades
produtivas autossuficientes, comumente chamadas de feudos. Cada feudo produzia o bastante para o seu
próprio consumo e, devido às limitações técnicas predominantes, não ocorria o aumento de produtividade
necessário para satisfazer à crescente população.
Além da insegurança e das guerras, entre outros fatores, a servidão feudal não era motivadora de
intensa inovação tecnológica, já que aumentar a produção não implicava participar dos frutos (lucros). Na
estrutura feudal o aumento da produtividade quase sempre significava acréscimo na tributação, inibindo o
empenho por uma produtividade maior. Finalmente, o próprio isolamento de cada feudo fazia com que
eventuais progressos técnicos tivessem maior dificuldade de transpor sua própria região.
Alguns setores artesanais, entretanto, sustentaram-se e desenvolveram-se no período, trabalhando
para a nobreza e o alto clero: armeiros, que serviam aos nobres guerreiros, ourives, pintores e construtores,
que trabalhavam na edificação de catedrais e castelos, etc.
Algumas inovações técnicas aplicadas aos trabalhos agrícolas, ainda assim, foram observadas no
período, como a utilização dos arados de ferro no lugar dos de madeira, mais fracos e menos eficientes, e o
aperfeiçoamento de moinhos hidráulicos. Buscou-se ainda expandir as terras cultivadas com o aterramento
de pântanos e a derrubada de florestas. A população, no entanto, continuava a crescer em ritmo mais
acelerado que o da produção.
Na medida em que o sistema como um todo não podia mais sustentar o excedente populacional,
muitos acabaram sendo marginalizados e expulsos dos feudos. A marginalização social atingiu não apenas
servos como também senhores. Nobres sem-terra, vítimas do direito de primogenitura, que dava apenas ao
filho mais velho as terras e os títulos paternos, vagavam pela Europa, como cavaleiros andantes38.
Ofereciam seus préstimos militares a outros senhores em troca de terras ou de rendas, derivadas da cobrança
de pedágios em estradas e pontes, por exemplo.
Muito mais numerosos e igualmente excluídos, os servos buscavam sobreviver ocultando-se em
bosques e reocupando antigos centros urbanos abandonados. Quando encontrados, eram perseguidos pelos
nobres, que não os admitiam em suas terras saturadas.
Nesse contexto, assiste-se na Baixa Idade Média (período que vai do século X ao século XV) a um
crescente expansionismo: o chamado “Drang Nach Osten”, isto é, a expansão germânica em que cavaleiros
alemães (teutônicos), sob o pretexto da propagação do cristianismo, dirigiram-se para o Oriente, para a
atual Rússia, subjugando a região báltica, a reconquista cristã dos territórios tomados pelos árabes na
península Ibérica e o movimento cruzadista, que contou com a participação de inúmeros cavaleiros de toda
a Europa. Era a conquista de novas terras e riquezas para fazer frente ao quadro de dificuldades que marcava
os primeiros séculos da Baixa Idade Média.

10) O Movimento Cruzadista:


As cruzadas foram expedições principalmente militares, organizadas pela Igreja Católica de Roma,
com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano. Houve também
interesses econômicos de cidades-estados como Gênova e Veneza na obtenção de mercados fornecedores
e consumidores dos produtos comercializados pela oligarquia e interesses espirituais de uma imensa massa
de pessoas que realmente acreditavam estar cumprindo as ordens de Deus.
Esse avanço já era desejado pelos imperadores bizantinos, que esperavam o auxílio do Ocidente no
combate a vários povos vizinhos orientais, especialmente os turcos seljúcidas.
Esse povo, organizado pela dinastia turca seljúcida (do fundador Seldjuk), nos séculos XI-XIII,
tinha no islamismo e na união das tribos sua força expansionista. De Bagdá, conquistada em 1055, dirigia-

38
O mito desses cavaleiros é que gerou histórias como de Dom Quixote de La Mancha e Robin Hood, nobres de origem,
mantendo atitudes nobres e puras, mas marginalizados no crime ou na mendicância.
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se para a Ásia Menor, ameaçando o reduto cristão bizantino. No século XIII, ganhou força a nova dinastia
turca dos otomanos que no século XIV lideraria novo processo expansionista na região.
A Igreja católica passou a organizar as expedições militares, com o objetivo, inclusive, de projetar
sua influência no território bizantino, dominado pela Igreja ortodoxa, que era a Igreja bizantina criada com
o Cisma do Oriente, em 1054, e independente do papa de Roma.
Os milhares de indivíduos de alguma maneira excluídos da estrutura social feudal foram
fundamentais na montagem dessas expedições. A espinha dorsal dos exércitos cruzados era formada por
cavaleiros sem-terra, enquanto o grosso das tropas a pé era constituído por antigos servos. Além disso,
milhares de pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, dispunham-se a seguir os cruzados e fazer a
peregrinação aos locais sagrados quando fossem libertados.
Outros interesses em jogo envolviam o comércio, atividade até então secundária, mas crescente em
importância em meio ao surto demográfico a que a Europa assistia. Negociantes italianos passaram a se
interessar por entrepostos e vantagens na busca de produtos orientais e pela possibilidade de abertura do
mar Mediterrâneo ao comércio.
Em 1095, o papa Urbano II pronunciou um inflamado discurso no Concílio de Clermont,
conclamando os cristãos a ingressarem nas expedições cruzadistas rumo ao Oriente. Do século XI ao XIII,
partiram da Europa cristã oito expedições39:
- Primeira cruzada (1096-1099): chamada de Cruzada dos Nobres, chegou a conquistar Jerusalém e
a organizar na região um reino em moldes feudais (Houve uma cruzada anterior a esta que, enquanto os
exércitos se preparam para a jornada, uma horda de pessoas humildes partiu na frente, sendo conhecidos
como cruzada dos mendigos ou dos fiéis, em alusão a crença que a pobreza levaria o crente ao reino dos
céus).
- Segunda cruzada (1147-1149): foi organizada após a reconquista turca de Jerusalém, mas
fracassou.
- Terceira cruzada (1189-1192): chamada Cruzada dos Reis, devido à participação dos monarcas da
Inglaterra (Ricardo Coração de Leão), da França (Filipe Augusto) e do Sacro Império Romano-Germânico
(Frederico Barba-Roxa). Não tendo atingido seus objetivos militares, resultou no estabelecimento de
acordos diplomáticos com os turcos que possibilitaram as peregrinações.
- Quarta cruzada (1202-1204): chamada de Cruzada Comercial por ter sido liderada por
comerciantes de Veneza, potência mediterrânea em grande ascensão. Foi desviada de Jerusalém, alvo
religioso da investida cruzadista, para Constantinopla, que acabou sendo saqueada.
- Quinta, sexta, sétima e oitava cruzadas (1218-1270): secundárias sob todos os aspectos, não
tiveram sucesso.
As expedições cruzadistas não conseguiram resolver as dificuldades europeias decorrentes do
aumento populacional, dos entraves feudais e da ambição por novas terras, e no campo foi preciso aprimorar
a produtividade agrícola para alimentar a crescente população. Algumas cidades, que nunca deixaram de
fazer comércio durante os primeiros séculos da Idade Média, e outras que emergiram ou ganharam impulso
com os fluxos rurais daqueles que eram marginalizados nos feudos tiveram amplas vantagens com as
cruzadas.
Os exemplos mais marcantes são de Gênova e Veneza, porque seus comerciantes enriqueceram
alugando barcos e financiando os cruzados.
O misticismo e a espiritualidade que impregnavam a época medieval são plenamente visíveis na
Cruzada das Crianças (1212), organizada a partir da crença de que somente os “puros" e "inocentes"
poderiam libertar Jerusalém (as crianças foram colocadas nas frentes de batalha como escudos, já que
somente como criança é que o cristão herda o reino dos céus). O mesmo aconteceu no início do movimento
cruzadista, na chamada Cruzada dos Mendigos, organizada em 1096. Ambas foram dizimadas,
principalmente no percurso europeu.

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O número de expedições e a classificação muda conforme o contexto em que são analisadas por um historiador, podendo variar
conforme o foco em que é estudada.
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Não foram somente essas expedições, ocorridas ao longo de quase 200 anos, que levaram ao
renascimento comercial da Europa, mas elas, certamente, contribuíram para sua dinamização. Não
propiciaram, também, enriquecimento aos europeus: pelo contrário, empobreceram-nos, especialmente aos
cavaleiros. Além disso, em vez de unir a cristandade, criaram oportunidade para divergências entre
interesses de algumas regiões (como entre os governantes da terceira cruzada, rivalizando-se por domínios),
enquanto propiciaram muitas violências contra os não cristãos.
As cruzadas tiveram, contudo, um papel significativo na mentalidade europeia. O espírito delas seria
importante na motivação, por exemplo, da reconquista cristã da península Ibérica aos árabes muçulmanos
e das grandes navegações que levaram à descoberta da América.

11) A Retomada do Comércio:


Paralelamente, desde o século XII, organizavam-se no norte da Europa as asas (nome em teutônico
ou alemão) ou associações de mercadores, Na Inglaterra destacava-se a Merchant of the Staple, associação
que controlava a venda de lã (seu mais forte produto) e a importação de produtos oriundos da região
flamenga (Flandres, futura Holanda).
Logo aconteceria a reunião de diversas hansas no norte da atual Alemanha, dando origem à forte
Liga Hanseática, cujas poderosas cidades (Hamburgo, Bremen, Lübeck, Rostock) passaram a controlar todo
o comércio dos mares do Norte e Báltico. Seus comerciantes traziam trigo e pescado, importantes para a
população que continuava a crescer, e madeiras, fundamentais para os crescentes empreendimentos de
construção naval, além de outros produtos.
Dessa forma, consolidavam-se dois polos comerciais na Europa da Baixa Idade Média: um italiano
e outro germânico. A ligação desses dois polos se fazia por rotas terrestres que convergiam para as planícies
da Champanhe, região no centro da França. Lá se realizavam grandes feiras, onde os comerciantes do Norte
encontravam os do Sul, e que funcionavam como verdadeiros centros de articulação do crescente comércio
europeu.
A rota terrestre das feiras apresentava graves inconvenientes como a insegurança. De fato, durante
quase todo o século XIV, a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra praticamente impossibilitou a
utilização desses caminhos, levando ao declínio das feiras. A partir daí surgiram rotas alternativas. A
primeira delas, marítima, contornava a península Ibérica, dinamizando a atividade mercantil em Portugal e
Espanha. A segunda era fluvial e incluía a difícil travessia dos Alpes, seguida da navegação pelo rio Reno
até Flandres, no norte da Europa.
O crescente comércio e as transações financeiras tornaram necessário o retorno da utilização em
larga escala de moedas, o que gerou a introdução de letras de câmbio e o desenvolvimento de atividades
bancárias em geral. A terra deixou de ser a única fonte de riqueza e, nesse contexto, surgiu um novo grupo
social, o dos mercadores, que trabalhavam diretamente no comércio e a dos burgueses, detentores de capital.
O dinheiro, e a acumulação dele, passam a reger as economias, fazendo surgir um novo contexto
econômico em contrapartida do escambo, o Capitalismo.

12) As Repúblicas Marítimas da Península Itálica:

12.1) Pisa:
A posição natural muito propícia, na foz do rio Arno, então navegável até sob os muros da cidade,
fez de Pisa importante centro comercial desde o primeiro século da Idade Média. O estuário do Arno
oferecia então bom abrigo e espaço suficiente, ao passo que a correnteza forte do rio se opunha ao
assoreamento da saída para o mar.
Do lado de terra, não contando com barreira protetora de montanhas como Gênova e limitando-se
com os territórios de Lucas, em fase de expansão, Pisa não possuía possibilidades de engrandecimento. A
cidade voltou assim os olhos para o mar e no século X teve boas ocasiões de satisfazer suas ambições
marítimas. Era o único porto sobre o Tirreno, no interior da Itália Lombarda, e além do mais, nessa ocasião,
Gênova não podia oferecer concorrência, pois toda costa lígure estava presa das devastações sarracenas
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(mouras ou islâmicas) que ameaçavam controlar o mar Tirreno, desde as costas da Tunísia e da Espanha.
Perante a ameaça muçulmana, Pisa e Gênova coligaram-se e realizaram esforços vigorosos e constantes
para expulsarem os infiéis do mar que tinham como próprio.
No fim do século XI, as duas cidades lançaram repetidos ataques contra as principais cidadelas do
poderio árabe. Os árabes foram assim expulsos da Sardenha, onde pisa reservou-se privilégios comerciais.
Na Sicília, a própria Palermo, que era então um grande porto de mar e uma cidade de 300 mil habitantes,
foi atacada pelos pisanos, o que contribuiu para a reconquista da Ilha. Na Tunísia, os pisanos e genoveses
puseram a saque Mehedia, que era sem dúvida a cidade mais poderosa da costa da África e que se havia
convertido num ninho de piratas.
Afastados assim do mar Tirreno, os inimigos dos cristãos, as duas novas repúblicas viram prosperar
seu comércio. Suas frotas, crescentes em força e em número de navios, empreenderam viagens mais longas
e abriram novas rotas.
A expansão marítima e comercial da República Pisana era então guiada pelo governo, que intervinha
mesmo no domínio das atividades particulares, procurando, de uma parte, afastar os obstáculos e entraves
que se opunham ao livre trânsito das mercadorias, e de outra, levar gradualmente a conquista ao Oriente,
principal fonte de lucros.
Do século XI ao século XIII, os núcleos urbanos da península Italiana, e em particular as cidades
marítimas, entraram em rivalidade para a conquista da primazia política e comercial sob a influência de
dois fatores preponderantes: as cruzadas e a criação do Império Latino do Oriente. Ao começarem as
cruzadas, as Repúblicas Italianas não viram apenas uma continuação da luta tantas vezes empreendida
contra os infiéis, mas também uma oportunidade única para obter vantagens econômicas. Pisa, como as
outras grandes repúblicas marítimas italianas, não só participou diretamente da guerra contra os
muçulmanos estabelecidos na Palestina, como também soube cobrar bom preço pelo transporte dos
exércitos cristãos do Oriente. Ao mesmo tempo, a comuna procurou estabelecer nos países recém-
conquistados pelos cruzados proeminência comercial, obtendo concessões especiais para os mercadores
pisanos.
A Primeira Cruzada valeu a Pisa privilégios e feitorias ao longo da costa Síria e da Palestina. A
Segunda lhe favoreceu o comércio ao longo das costas italianas e sicilianas. Em 1108, tendo ajudado com
uma frota a conquista de Laodicéia, obteve em compensação um quarteirão naquela cidade e outro em
Antioquia. Entre 1108 e 1124, Pisa conseguiu quarteirões em Trípoli, em Tiro e em Jerusalém. Ainda nesse
período, ela se fez outorgar um quarteirão em Constantinopla e um cais no Corno de Ouro e, mais tarde,
para contrabalançar a influência genovesa no Tirreno e na costa da Espanha, fez um tratado de comércio
com o Emir de Valência (1150).
A atividade dos pisanos na costa asiática não os impediu de olhar mais adiante, para o Egito, onde
os atraíam dois grandes centros: Alexandria e Cairo. No fim de 1154, um tratado de comércio com o Califa
Fatimita40 abriu aquela região ao comércio pisano, mas em 1157 a captura de uma nave pisana, a venda dos
marinheiros como escravos na Tunísia, a ruptura do tratado, levou Pisa a favorecer o jovem e valoroso rei
de Jerusalém, Almarico, que, nos anos de 1163 a 1169, por cinco vezes levou a guerra ao vacilante califado.
O assédio de Alexandria pela frota pisana em 1167, contudo, terminou em insucesso. Quando em 1171
Saladino assenhoreou-se do Egito, não restou aos pisanos outro recurso senão negociar com o grande
conquistador muçulmano.
Na Terceira Cruzada (1189-1192), os navios pisanos transportaram um exército toscano, sendo
aproveitado o ensejo para a venda, por preço caro, de vitualhas41 e roupas aos companheiros de armas.
A par da expansão longínqua nos mares da África e do Levante, a Comuna Pisana procedia com
igual vigor para concentrar no seu porto o comércio do mar Tirreno, da costa toscana à Sicília. Desde 1137,
ajudada por Lactário e Spplimburgo, Pisa dera o golpe de graça na rival, Amálfi, apoderando-se da Ischia
e de Sorrento.

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Fatimita: uma das ordens dos mulçumanos, como os sunitas e os xiitas. Seguem a Fátima, uma das filhas de Maomé.
41
Vitualhas: conjunto de materiais e equipamentos necessários a manutenção de tropas em ação longe de suas bases.
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O sucesso de Pisa valeu-lhe a animosidade das cidades vizinhas, em particular Gênova, que visava
à supremacia no mar Tirreno, e das cidades do interior como Lucas e Florença, ciumentas de a verem
exercer controle sobre o único escoadouro marítimo da Toscana. Em 1194, Messina foi tomada, e os pisanos
destruíram o empório genovês da cidade. A vitória, porém, foi paga a preço caro: o favor imperial aos
genoveses contribuiu para a perda de treze navios da frota pisana. Dessa época começa a decadência da
potência pisana, sendo no começo quase imperceptível devido às manobras políticas e estratégicas feitas
por Gênova que aguardou o momento certo para atacar e destruir Pisa.
Na longa série de lutas que se seguiu, Pisa se viu atacada por terra e por mar, ressentindo-se de sua
pequena base territorial e da falta de uma fronteira facilmente defensável. Por fim, Gênova conseguiu
destruir o porto e o comércio de Pisa, em 1284, jogando na embocadura do rio Arno enormes blocos de
pedra retirados da ilha vizinha de Capri. Foi construído assim um molhe que, se opondo à obra de limpeza
da corrente, permitiu o acúmulo de sedimentos. A derrota naval de Melória, poucos anos depois, selou a
decadência de Pisa. Na paz estipulada em Gênova em 1299, Pisa teve de ceder uma parte da Sardenha, a
região de São Bonifácio, na Córsega, e obrigou-se a não armar galeras durante quinze anos.

12.2) Gênova:
A origem de Gênova não é menos remota que a pisana e data certamente dos primeiros tempos da
vida marítima no mar Tirreno. O porto de Gênova não era nem o maior nem o melhor dos portos da costa
Lígure, mas era sem dúvida o melhor situado. Gênova ocupa o ponto mais setentrional dessa costa. Os
montes Apeninos, na verdade, elevam-se imediatamente atrás da cidade e a separam do vale do rio Pó, mas
ao mesmo tempo protegem-na muito eficazmente do lado de terra. Embora fossem possíveis culturas
variadas, como trigo, oliveira, vinhas e laranjeiras, o território restrito da República de Gênova, que se
estendia ao longo da costa Lígure, era incapaz de produzir a quantidade suficiente de gêneros alimentícios
para a população e matérias-primas para a indústria.
A pesca, em compensação, era abundante na costa e as florestas dos Apeninos dispunham de boas
madeiras para a construção naval. Foi, portanto, no mar que Gênova procurou suas possibilidades
econômicas. Dessa forma Gênova conseguiu reerguer-se nas vezes em que sofreu as destruições das
invasões sarracenas
Na primeira metade do século X, Gênova, ao conseguir sacudir o jugo feudal do Marquês de
Obertenghi, conquistou ao mesmo tempo sua unidade comercial e um lugar elevado entre as cidades
marítimas da Península. Não muitos anos depois, Gênova, unida a Pisa, na célebre campanha da Sardenha
contra Mogahid, em 1015-16, iniciou naquela ilha o comércio do sal, e na Córsega uma tenaz penetração,
sem temer suas futuras relações com a aliada daqueles dias. Os navios das duas Comunas42 chegaram unidos
à costa da Síria em 1065, depois a Caffa. Em 1087, combateram juntos os árabes de Mehedia, e desse modo,
na segunda metade do século XI a comuna genovesa firmou seu poderio marítimo no sul do Mediterrâneo.
Lá, como em Pisa, os armadores e os navegantes prevalecendo na vida citadina criaram a administração
consular e, ao mesmo tempo, a Campagna. As riquezas acumuladas, o crédito assegurado, uma sucessão de
governos com a mesma orientação, acabaram por constituir uma nobreza de origem mercantil, diferente da
feudal. A nobreza em Gênova não tinha, assim, por base a propriedade imobiliária, mas os estabelecimentos
comerciais e a navegação. Essa nobreza fornecia os governadores das ilhas conquistadas no Levante e os
comandos das forças navais.
A participação de Gênova na Primeira Cruzada (1096-99) permitiu-lhe fundar uma linha de
empórios ao longo da costa da Síria e da Palestina, fato de uma importância comercial considerável, tendo
em conta que esses países eram relativamente povoados e produtivos naquela época. Os bons resultados
alcançados estimulariam os empreendimentos posteriores. As expedições multiplicaram-se, os braços e o
capital da cidade não foram suficientes. No princípio do século XIII (1206) uma nova instituição, o
Consolato del Mare, foi criada. Ocupava-se exclusivamente da parte financeira dos empreendimentos
marítimos, permanecendo dependente do poder central.

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Comuna: associação de mercadores italianos, principalmente de Gênova, podendo ser comparada às cooperativas modernas.
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O incremento da atividade marítima de Gênova acarretou inevitavelmente a rivalidade das outras
cidades italianas com interesses idênticos, e, a partir do começo do século XIII, os três principais centros
marítimos comerciais da Itália sustentaram entre si diferentes lutas que abarcaram quase duzentos anos.
A fim de promover sua expansão marítimo-comercial, os cidadãos de Gênova criaram, na primeira
metade do século XIII, uma associação de caráter militar que tomou o nome de Maona. Era ela constituída
por um núcleo de cidadãos que, com seus navios, procediam às despesas de qualquer expedição naval
empreendida no interesse e sob a direção da Comuna.
A Comuna nomeava o Almirante que comandaria os navios armados por conta dos componentes. O
lucro da empresa e a administração dos lugares eventualmente conquistados revertiam para a Comuna,
depois das despesas da Maona terem sido ressarcidas. A primeira Maona, por ordem cronológica, parece
ter sido a de Ceuta em 1234, quando um grupo de cidadãos armou por conta própria mais de cem navios,
entre galeras e navios de comércio. Outras Maonas importantes foram a de Chios, em 1346, da qual resultou
a captura daquela ilha no mar Egeu, e a de Chipre em 1374, onde foi fundada importante colônia.
Ao começar o século XIV, Gênova estava no apogeu de sua atividade marítimo-comercial. A ajuda
prestada na restauração do Império Romano do Oriente valera-lhe vários empórios estabelecidos em
quarteirões de Constantinopla, Pera e Gaiata. Pera tornou-se o centro da administração colonial genovesa
no Estado Grego, e Caffa o das colônias do mar Negro. Por cerca de 1300, Gênova foi a primeira cidade
mediterrânea a começar a organizar viagens para os portos de Bruges e de Londres.
Na segunda metade do século XIV, as grandes operações de comércio ficaram circunscritas a
Veneza e a Gênova, pois Pisa não mais se ergueu depois da derrota de Melória e da perda da Sardenha. A
Grécia havia perecido sob a cimitarra turca e os navios do Norte apareciam raramente nos portos do Sul.
Os genoveses tinham o comércio de toda a costa Lígure e dominavam desde o Corvo até o Mônaco.
Aprovisionavam de sal a Luquia, frequentavam Civita Vecchia e Corneto, foram sempre em grande número
em Messina e em Palermo. No Adriático, visitavam frequentemente Manfredônia, Ancona e mesmo
Veneza, nos intervalos de paz. Faziam comércio importante com Marselha, Aigues Mortes, Saint Epidius
e Montpelier. Na África, os navegantes genoveses tinham privilégios assegurados pelos maometanos. O
Egito era mais frequentado pelos venezianos. Os genoveses não deixaram, contudo, de aparecer nos
mercados de Alexandria, de Roseta e Damieta e de se estabelecer mesmo no Grande Cairo e de concluir
tratados vantajosos com os sultões. Todavia, a área principal das operações comerciais de Gênova
permaneceu sempre no Levante, isto é, nos países da Ásia e da Europa, submetida aos príncipes gregos,
tártaros, búlgaros e turcos. Seu comércio com o Levante se fazia por meio de uma série de escalas que
atingiam a China de uma parte e as Índias de outra, seguindo as costas do Golfo Arábico.
Havia ainda outros centros em toda a Romênia, na Macedônia e no Arquipélago Grego. Na Anatólia,
Gênova possuía Smirna e as duas Fócidas, ricas em alúmen43. De Chipre retirava madeiras de construção,
cedro, ferro, cereais, açúcar, algodão e azeite, além dos produtos que vinham do Oriente. Outras companhias
genovesas haviam-se estabelecido no litoral do Oceano, nos Países Baixos e na Inglaterra. Além do mais,
Gênova dominava a ilhas da Córsega, Sardenha, Malta e Sicília. Gênova tinha, em resumo, além de uma
parte considerável do comércio europeu, as três grandes vias de comércio da Ásia Central e da Índia: a
primeira, pelo mar Negro, pelo Cáspio e o Volga; a segunda, a Pagolat e a Laiazzo, pelo Golfo Pérsico,
Alepo e a Armênia; e a terceira, a Alexandria, pelo mar Vermelho e o Egito.
Apesar da posição privilegiada alcançada como potência marítimo-comercial na segunda metade do
século XIV, já cinquenta anos depois se notavam os primeiros sinais de decadência de Gênova. As vitórias
navais de Melória e de Curzola haviam constituído o ápice da potência marítima de Gênova, porém haviam
exigido um esforço imenso e produzido um grande consumo de forças. As perdas em vidas nas guerras
eram desastrosas para os genoveses, porque eles não empregavam tropas mercenárias, mas cidadãos, dos
quais dois mil morreram na jornada de Loiera e três mil prisioneiros morreram nos ergástulos (prisões). O
desenvolvimento da Marinha catalã, as dissensões internas cada vez mais graves, a alternância do domínio

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Alúmen é o sulfato duplo de alumínio e potássio, podendo também ser de sódio. É comumente conhecido como predra-ume ou
pedra de alúmem. Tem várias aplicações hoje em dia, mas na Antiguidade era muito comum o uso como desodorante,
adstringente (pós-barba), para curtir couros, para o preparo de pão e purificação de água.
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estrangeiro, a luta persistente contra Veneza, o desastre da Guerra de Chioggia (1378-81), e a dominação
francesa do rei Carlos VI (1396-1409) são as várias etapas de uma gradual decadência. Não conseguiram
impedi-la a administração de Simão Boccanegra nem os triunfos que por vezes a Marinha genovesa
alcançou, perpetuando com honra suas tradições bélicas.

12.3) Veneza:
Durante a era Longobarda, nas ilhas da Laguna Adriática, surgiu a cidade destinada a liderar, na
Idade Média, todas as demais, por riqueza econômica e poderio marítimo: Veneza. A ilha da Laguna,
habitada na Idade Antiga por famílias de pescadores, tornou-se no último século do Império Romano o
lugar de refúgio das populações de terra firme, fugitivos das hordas bárbaras de Alarico, de Átila, de
Ricimero e etc.
As lagunas situadas no interior do Adriático não ofereciam senão magros recursos aos seus
habitantes, apenas pequenas superfícies permaneciam acima das águas, havia poucas terras cultiváveis e
estas eram mal drenadas; a água potável era escassa. Por outro lado, as lagunas ocupavam uma excelente
posição geográfica, considerando que elas se encontravam perto da região plana mais vasta da Itália e num
ponto onde as rotas marítimas do Mediterrâneo penetravam mais profundamente no continente europeu.
As primeiras atividades dos habitantes das lagunas foram condicionadas pelo caráter de seu habitat.
Eles tiveram em primeiro lugar que adaptar as terras às suas necessidades, consolidando o solo, cavando
canais, construindo diques e preparando bacias para os navios, enfim, começaram a cultivar o trigo, a vinha
e a recolher água de chuva em cisternas. É um fato significativo que desde 536 os habitantes das lagunas
sejam descritos como salineiros e piratas marítimos. Veneza chegou a conseguir no norte da Itália o
monopólio virtual do comércio do sal, passando as cidades continentais a depender de Veneza para seu
aprovisionamento. Não havendo possibilidade de outra indústria a não ser a do sal, que era com a pesca e
com os proventos da pirataria o usual nos povos marítimos daquele tempo os únicos artigos de comércio,
os venezianos abriram novos horizontes a ideais mais vastos, de tal modo que, no início do século VI, os
navios dos insulares sulcavam ao largo e ao longo do Adriático, fazendo o tráfego de gêneros diversos com
Bizâncio (Constantinopla) e com as terras do Oriente.
Assim, Veneza, à medida que progredia, tornou-se uma guarda avançada fronteiriça do mercado
grego até aproximadamente o ano 1.000, se bem que usufruindo uma grande independência, permanecendo
como parte do Império Bizantino, situação política que favoreceu sensivelmente seu progresso. Por outro
lado, sua situação e sua superioridade marítimas, que a tornaram de acesso difícil, colocaram as lagunas ao
abrigo da conquista lombarda. Carlos Magno apoderou-se da maioria das ilhas, mas essa conquista foi
efêmera. Também pôde Veneza escapar quase completamente às rivalidades e complicações da Península.
Sob esse prisma, Veneza foi mais favorecida que Gênova. Enfim, pela mesma razão, a situação geográfica
das lagunas estimulou o desenvolvimento de uma comunidade de interesse que encontrou sua expressão na
administração centralizada do Doge. Segundo a tradição, o Ducado de Veneza Marítima constituiu-se em
697 (O Primeiro Duque ou Doge foi Paolucio Anafesto), concentrando numa só mão a atividade múltipla
e dividida dos insulares,
A decadência de outras cidades deixou Veneza livre para explorar o potencial comercial de sua
excelente posição geográfica. Entretanto, a nascente República não estava em condições de alcançar
projeção mundial, por ter ficado ocupada em contínuas lutas contra os piratas eslavos e sarracenos que
infestavam o mar Adriático. Até o fim do século VIII, o Império Bizantino controlou a entrada do Adriático
desde as cidades costeiras de Durazzo e de Brindisi, mas as devastações dos árabes na Itália Meridional
ameaçaram bloquear essa passagem. Ao mesmo tempo, a costa Dálmata, com suas numerosas baías
abrigadas, seus inúmeros canais e suas ilhas, constituía a base da pirataria eslava. Pouco a pouco Veneza
conquistou a supremacia no mar, infligindo derrotas aos árabes. Fundou, cerca do ano 1000, uma série de
empórios ao longo da costa Dálmata, em Zara, Veglia, Arbe, Tran e Spalato.
Desimpedido o mar Adriático da ameaça dos piratas, pôde Veneza enfim beneficiar-se das
vantagens de sua posição, face às correntes mercantis da Idade Média. Com efeito, para o Adriático
convergem cerca de três rotas naturais: uma, a vereda adriática; a segunda, formada pelo vale do Pó; e a
terceira, o escoadouro para o sul dos diversos caminhos alpinos de acesso fácil, ligando o Adriático à
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Alemanha, à França e aos Países Baixos. Noutras palavras, colocada geograficamente quase a meio
caminho das duas extremidades da bacia Mediterrânea e ligada politicamente à grande cidade comercial de
Constantinopla, Veneza tinha toda facilidade para atuar como agente de distribuição em todo esse mar.
Os sucessos no Adriático deram a Veneza não somente acesso às grandes quantidades de madeira
de construção que eram trazidas aos portos da Dalmácia dos altos planaltos da Hinterlândia, mas também
ao trigo e aos vinhos da Itália do Sul. Além do mais, teve acesso livre a campos comerciais de maior
envergadura. Seja como vassalo, aliado ou inimigo vitorioso do Império Bizantino, Veneza jamais perdeu
de vista seus interesses mercantis. Já no século X ela havia adquirido em Constantinopla prioridade sobre
suas concorrentes italianas, Amálfi e Bari. Em 1082, se fez outorgar o direito de comerciar sem pagar
nenhum direito em toda a extensão do Império Bizantino.
Na época da Primeira Cruzada (1096), Veneza, já uma importante potência naval, pôde colocar à
disposição das cruzadas a frota necessária ao transporte de homens, cavalos e víveres para a Terra Santa.
Ao mesmo tempo, mantinha relações comerciais com Alexandria, em poder dos infiéis. Um século depois
(1204), fazendo a Quarta Cruzada servir a seus próprios fins, Veneza se apoderou de Zara, na costa da
Dalmácia, e possibilitou a tomada de Constantinopla pelos cruzados, com a consequente criação do efêmero
Império Latino do Oriente. A Quarta Cruzada acabou totalmente com o predomínio da metrópole do
Bósforo e converteu Veneza em potência normativa. O Império Grego ruiu e na partilha recebeu Veneza
territórios tão vastos que o Doge pôde chamar-se com orgulho Senhor de uma quarta parte e de um oitavo
de todo o Império Romano. A cidade das lagunas, todavia, visava assegurar o
predomínio mercantil de modo incondicional e não ocupar uma extensão territorial de difícil defesa.
Na busca de suas ambições comerciais, Veneza edificou um vasto Império que se compunha,
sobretudo, de territórios úteis ao comércio e que pudessem ser vigiados por sua Marinha. Como colônia de
fato, os venezianos só mantiveram a Ilha de Creta, que era um lugar de repouso e de refúgio no cruzamento
das linhas de navegação mais importantes do que nas culturas do arroz, do algodão e da cana-de-açúcar que
havia lá. Fora disso, Veneza só teve a posse de alguns pequenos portos na costa, vantajosamente colocados
no ponto de vista comercial e de fácil defesa. Mesmo o domínio veneziano na Dalmácia exercia-se apenas
no litoral, onde ela conservava vários portos principais.
Tal como em Pisa e Gênova, a ação do governo fazia-se sentir fortemente em todos os setores
ligados ao comércio marítimo da cidade. No começo da primavera, o Estado procedia à abertura do mar,
pondo em atividade o que se chamava as esquadras do tráfego, que eram formadas por frotas mercantes de
importância diversa e que, por todo o período da navegação, eram alugadas à sociedade de mercadores e
especuladores. Cada ano armavam-se, por conta do Estado, seis esquadras de tráfego compostas de 3.300
navios com cerca de 36 mil homens de guarnição. O tráfego se orientava em três direções principais: para
o Norte da África, para o Leste do Mediterrâneo e pelo sul da Europa, do lado ocidental. Uma das rotas
mercantis conduzia ao Egito; em Alexandria e no Cairo, eram recebidas as mercadorias pelos árabes que
as levavam para o outro lado do mar Vermelho. Para a costa da Síria dirigiam-se suas frotas, para levar
peregrinos aos Santos Lugares e tomar a bordo gêneros do Oriente para a viagem de volta. Também no
noroeste do Mediterrâneo apareciam frequentemente as naves de Veneza e entabulavam benéficas relações
mercantis, apesar dos sangrentos encontros que tiveram com os barcos genoveses. Em Tana, nas
proximidades da desembocadura do rio Don, estabeleceram os venezianos uma colônia onde trocavam peles
russas e mercadorias índias, embora o principal objetivo fosse negociar no mercado de escravos que existia
nessa localidade. Para o oeste, estendeu paulatinamente os venezianos sua influência com os sarracenos da
África Setentrional, da Espanha e com os habitantes do sul da França que estiveram em estreitas relações
mercantis.
Dada a enorme importância da marinha para Veneza e se bem que os estaleiros fossem dirigidos por
empresas privadas, o Estado regulava e dirigia a produção, seguindo leis rigorosas concernentes aos
processos de fabricação dos navios, suas dimensões, seu aparelhamento, enfim, o trabalho dos operários.
Nenhum veneziano podia construir nos limites da República navios que não tivessem as medidas
rigorosamente previstas. Os interesses da defesa militar exigiam, com efeito, que, em caso de necessidade,
os navios mercantes pudessem ser facilmente transformados em navios de guerra. Eis a explicação da
prodigiosa rapidez com que aquela República renovava sua frota,
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A primeira metade do século XV viu o apogeu do poderio marítimo-comercial veneziano. No ano
de 1423, o Doge Tomaz Mocenigo, em relatório apresentado aos conselheiros, estimava serem 3.300 os
mercadores navegantes. Por essa época, nem só no Mediterrâneo e no Oriente aplicava-se a atividade
veneziana. Na França, na Alemanha, no Flandres e na longínqua Inglaterra, durante o último século da
Idade Média, penetraram também os comerciantes e os navegantes da Sereníssima. Com Portugal, a
República teve relações diretas e de alguma intensidade pelo fim do século XV, devido ao tráfego de cana-
de-açúcar que a ilha da Madeira produzia em grande abundância. Cada ano, navios portugueses carregados
de açúcar chegavam a Veneza, porém a amizade entre os dois Estados não durou muito. Em 1498, um navio
português saqueou uma nave veneziana que se dirigia a Salônica e se apoderou de outra de Creta, carregada
de vinho, ao passo que o avanço lusitano, ao longo da costa africana em busca do caminho marítimo para
as Índias, suscitava o receio justo dos dirigentes do Estado.

13) As Grandes Invenções:


O fim da Idade Média é marcado por importantes invenções. Na arte da
navegação, deu-se um acontecimento de grande importância no século XIII, que foi
a introdução da bússola na Europa; esse instrumento já era conhecido pelos
chineses, parecendo mesmo que os mongóis já se orientavam por ela em suas
incursões pela Europa. Coube aos árabes servirem de ligação entre o Oriente e a
Europa, apesar de suas contínuas lutas com os cristãos; na época das cruzadas, os
europeus devem ter tomado conhecimento dessa invenção, que, a princípio, foi
considerada coisa de feiticeiro.

Nos fins do século XIII, no entanto, o uso da bússola já


estava generalizado na Europa, para a navegação. Juntamente
com outros instrumentos da época, o astrolábio e a balhestilha
davam ao navegador um seguro conhecimento de sua latitude.
Quanto à longitude, porém, o único meio de conhecimento era
pelo caminho percorrido, o que se obtinha, com grande margem
de erro, navegando-se até o paralelo desejado e daí rumando para
leste ou oeste até o ponto desejado.

Coube aos portugueses o papel principal do grande


espetáculo dos descobrimentos marítimos. Suas
primeiras navegações foram feitas empregando-se
navios como a Barcha ou Barca e o Barinel.

A partir de 1440, aproximadamente, os


portugueses inventaram, ou melhor, aperfeiçoaram
um novo tipo de navio, que viria a ser o mais
característico dessa época: a caravela, navio mais
alongado que seus antecessores a vela, de borda alta,
empregando velas latinas (triangulares), o que o
tornava apto a navegar quase
contra o vento, a orçar.

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A Caravela:
De origem mourisca, de
armação latina, com
porte aproximadamente
de 50 a 100 tonéis:
“Navio capaz de afrontar
mares tempestuosos e de
lutar contra uma
condição de tempo
atmosférico difícil, a
caravela portuguesa foi,
até os fins do século XV,
triunfalmente, o navio
dos descobrimentos”.

A Nau:
Depois de explorada toda a costa africana do Atlântico,
os portugueses adotaram novo tipo de navio, a nau, bem maior
do que a caravela e capaz de navegar muito longe do litoral,
mesmo com tempo hostil. Foi com esse tipo de navio que
Vasco da Gama fez sua viagem às Índias.

O galeão:

Quando Portugal descobriu o caminho para as Índias,


acabou por desviar a maior parte do comércio europeu,
prejudicando as cidades marítimas italianas. Ao chegar as
Índias, e dominar o comércio local, os portugueses
prejudicaram os dominadores antecessores de Portugal: os
árabes.
Assim, ao concretizar as Grandes Navegações, os
portugueses criaram como inimigos no Atlântico os italianos,
e no Índico, os árabes, passando, portanto, a necessitar de um
navio especificamente para a guerra: o Galeão.

Tanto as caravelas, quanto as naus e os galeões eram artilhados, sendo que as caravelas se utilizavam
apenas de canhões de pequeno calibre, enquanto o Galeão, além de portar canhões de maior calibre,
carregava uma quantidade maior de unidades e dos apetrechos necessários ao seu emprego.

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CAPÍTULO III

IDADE MODERNA

1) A Grande Crise dos Séculos XIV e XV:


A Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra marcou toda a Europa do século XIV. As rotas
comerciais terrestres que cruzavam a França, importantes para a articulação do comercio continental,
ficaram comprometidas pela guerra, tornando necessário o estabelecimento de caminhos alternativos.
Ao mesmo tempo, a peste negra trazida nos porões dos navios que circulavam entre o Oriente e
Ocidente, dentro da bacia do Mediterrâneo, devastou a população europeia em muitas áreas, levando à
violenta retração dos mercados consumidores e, portanto, da atividade comercial. Cerca de um terço da
população europeia foi vitimado pela Peste.
Finalmente, a fome generalizada, provocada pela escassez de víveres no cenário de destruição da
guerra e abandono das cidades afetadas pela doença, completou o contexto do que ficou conhecido como a
crise do século XIV.
A epidemia de peste negra começou a declinar por volta de 1350. As ocorrências de fome, porém,
continuariam ocorrendo esporadicamente até o final do século e a paz entre França e Inglaterra só seria
estabelecida em meados do século seguinte. Entretanto, a entrada do novo século significou o surgimento
de novos problemas.
A diminuição da população europeia criou uma situação na qual a retomada da atividade comercial
se faria de forma lenta, na mesma medida da própria expansão demográfica. O desvio de metais preciosos
para o Oriente, na compra das especiarias e outros artigos de luxo, e o esgotamento das minas destes metais
preciosos, principalmente ouro e prata, no continente europeu, tornavam limitada a oferta de moeda,
estrangulando o comércio.
E, finalmente, o monopólio da lucrativa rota mediterrânea das especiarias, exercido pelas cidades
italianas, notadamente Gênova e Veneza, restringia a possibilidade de lucros de outras cidades europeias.
Foram esses fatores que acabaram por forçar a burguesia europeia a buscar novas alternativas para
expandir o comércio, e a saída evidente era a navegação atlântica. Teve origem aí o processo de expansão
marítima europeia.
A empreitada de enfrentar a desconhecida navegação no oceano Atlântico exigia investimentos de
vulto, que estavam muito além das possibilidades de qualquer cidade europeia isoladamente. Em outras
palavras, era necessária a mobilização ampla de recursos, o que foi feito em escala nacional, tornando a
centralização monárquica um verdadeiro pré-requisito para a expansão marítima.
Pelo fervilhante porto de Gênova passavam mercadorias das regiões mais longínquas do Oriente.
Como vimos, França e Inglaterra estiveram envolvidas na Guerra dos Cem Anos até o século XV,
o que retardou o processo de centralização monárquica nos dois países. A Espanha ainda enfrentava os
muçulmanos, somente expulsos completamente da península Ibérica em 1492. Outros territórios europeus
também se apresentavam fragmentados, inclusive os vastos territórios que faziam parte do Sacro Império
Romano-Germânico. Assim, a unificação precoce de Portugal (em relação às demais monarquias do
continente) contribuiu decisivamente para as primeiras iniciativas na expansão marítima europeia.

2) A Revolução Comercial e o Mercantilismo:


O Antigo Regime dominante em quase toda a Europa durante a Idade Moderna caracterizava-se
pela combinação de elementos tipicamente feudais com outros surgidos do desenvolvimento comercial.
Assim, as seculares tradições políticas, sociais e econômicas remanescentes da velha ordem feudal foram-
se mesclando aos interesses de uma burguesia cada vez mais atuante e promovendo modificações nas
antigas relações.

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Nesse período, os reis tentaram preservar o “status” político da nobreza, ao mesmo tempo em que
acomodavam, na estrutura de poder vigente, os interesses da burguesia comercial, cujas finanças se
mostravam cada vez mais necessárias aos negócios do Estado. Em decorrência, essas mudanças, antes de
significarem uma profunda ruptura com o passado, representaram a permanência das antigas hierarquias,
que mantinham vastos setores da população europeia à margem do poder.

3) A Transição para a Idade Moderna:


Assim como as cruzadas dinamizaram o renascimento das atividades comerciais na Europa, a
expansão marítima provocou uma verdadeira revolução comercial, na medida em que a atividade mercantil
passou a ser exercida em escala mundial. Em meio a esse processo, muitas instituições feudais já não
atendiam às novas necessidades econômicas e à estruturação do poder centralizado, resultando, ao longo
do tempo, em sua decadência enquanto se estruturava uma nova ordem socioeconômica, que alguns
estudiosos denominam capitalismo comercial, chamado por outros de capitalismo mercantil.
Contudo, tal ordem carregava ainda vários elementos sobreviventes do feudalismo, a exemplo do
poder e prestígio advindos de questões hereditárias (títulos de nobreza e clericais) e não do sucesso
econômico. De outro lado, os grupos sociais mais dinâmicos, como aqueles atrelados aos negócios
comerciais e financeiros, aceleravam a acumulação progressiva de riquezas (acumulação primitiva de
capitais), forjando as condições que desembocariam na industrialização dos séculos XVIII e XIX, quando
a ordem capitalista burguesa atingiria sua maturidade e completaria sua formação como sistema
hegemônico e poderoso.
Entre os séculos XV e XVIII, período denominado Idade Moderna ou época do Antigo Regime, o
capitalismo comercial foi se consolidando, abrindo espaços políticos para comerciantes e banqueiros. Entre
as aspirações desses indivíduos constavam, contraditoriamente, os títulos e privilégios da nobreza, a fim de
assegurarem sua supremacia, de resto já garantida pelo poder econômico.
Quanto aos nobres, os novos tempos desafiavam a manutenção dos seus privilégios, adquiridos há
séculos, exigindo-lhes esforços para se adaptarem à nova ordem e garantirem alguns dos seus privilégios e
poderes. Somente no final da Idade Moderna os burgueses romperiam definitivamente com as antigas
tradições e resquícios estamentais, sendo já suficientemente fortes para criar uma estrutura econômica,
social e política à sua própria imagem, de fato capitalista, eliminando os últimos vestígios feudais. Mas
para chegar a isso, predominaram durante o período moderno o rompimento e a combinação de interesses
dos herdeiros da velha ordem e dos nascidos do desenvolvimento comercial e urbano, consistindo na
transição do capitalismo comercial.
A formação dos Estados Centralizados iniciada na Baixa Idade Média e a dinamização comercial e
urbana, tiveram importância fundamental para a expansão mercantil. Em cidades onde já ocorriam as trocas
monetárias e a produção manufatureira, passou a vigorar maior controle da arrecadação de tributos e da
circulação de mercadorias e de dinheiro por parte do rei e seus auxiliares. A produção manufatureira que
ganhava impulso era, então, realizada por trabalhadores assalariados, contratados pelo proprietário que
também era patrão. Consolidavam-se novas relações sociais e produtivas, rompendo barreiras feudais
tradicionais.
No campo, muitas das antigas obrigações feudais que caracterizavam a servidão foram sendo
abolidas ao longo dos séculos, concomitantemente à introdução do trabalho assalariado e à expropriação
das terras comunais.
Durante a Idade Moderna, a sociedade continuava dividida em ordens: clero, nobreza e povo. Tal
divisão refletia ainda a persistência de valores medievais que separavam as pessoas entre "os que rezavam",
"os que combatiam" e "os que trabalhavam". Porém, à medida que se acumulavam riquezas nas mãos de
parcelas desiguais da população, esboçava-se uma sociedade mais dinâmica em que se destacavam classes
de proprietários de terra (clero e nobreza), de burgueses (comerciantes e artesãos) e de trabalhadores
(assalariados, camponeses livres e servos).

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4) Os Estados Modernos e o Mercantilismo:
Os Estados modernos europeus surgiram, a princípio, do processo de aproximação entre monarquia
e burguesia, em busca de crescentes quantidades de recursos monetários. Para tanto, muitos reis europeus
protegeram e estimularam os negócios burgueses, quer desmontando as estruturas feudais que entravavam
o comércio, promovendo e gerenciando a expansão comercial com as grandes navegações (Portugal,
Espanha, França) ou, ainda, incentivando a criação e a manutenção de colônias na América (França,
Inglaterra, Países Baixos).
A atenção dos reis aos negócios mercantis exigia-lhes o fortalecimento de seu poder, imprimindo
um caráter absolutista às monarquias. Modificava-se, assim, o sistema político feudal em que cada vassalo
reinava soberanamente sobre seu feudo. Estimulando a atividade mercantil, o monarca garantia seu próprio
fortalecimento, na medida em que ampliava a base de arrecadação de impostos. Com tais recursos,
sustentava uma poderosa administração estatal com vasta burocracia, verdadeira base de seu poder,
constituída, essencialmente, por membros da nobreza.
Ao convocá-los para exercer novos papéis na sociedade, os reis possibilitavam aos nobres a
manutenção de seus privilégios, contrabalançando a expansão burguesa. Dessa forma, tanto nobres como
burgueses permaneciam dependentes do rei. Juntos e articulados na estrutura do Estado moderno, monarcas,
burgueses e nobres combinavam poderes que garantiam a ordem, a sujeição popular, a dinâmica comercial
e os privilégios, constituindo o chamado Antigo Regime.
Dentre as diversas medidas adotadas pelos reis absolutistas europeus para promover o
fortalecimento financeiro do Estado, encontra-se a adoção de um conjunto de diferentes práticas
econômicas conhecidas como mercantilismo. Embora não tivessem constituído uma teoria econômica, nem
tenham sido aplicadas de maneira homogênea na Europa, as práticas mercantilistas possuíam alguns
elementos comuns.
Elas partiam do ideal metalista44, ou seja, baseavam-se na concepção de que a riqueza de um Estado
dependia da quantidade de metais preciosos existente dentro de suas fronteiras. O metal poderia ser obtido
de forma direta, pela exploração de minas (aliás, como já dito, esgotadas na Europa desde o século XV),
ou do comércio, que possibilitava atrair e acumular moedas. Assim, surgiu o princípio da balança comercial
favorável, que associava a riqueza de uma nação à sua capacidade de exportar mais que importar.
Deste entendimento sobre a formação da riqueza nacional, muitos reis adotaram uma série de
medidas favoráveis à ampliação das exportações. Por meio do estímulo à produção manufatureira e
diminuição das importações, impunham barreiras tarifárias aos produtos estrangeiros, principalmente às
manufaturas que pudessem ser fabricadas dentro das fronteiras de seu Estado (protecionismo). Tais
orientações, revelando um alto grau de intromissão do Estado nas atividades produtivas, caracterizaram o
mercantilismo como uma política econômica fortemente intervencionista.
A adoção das práticas mercantilistas pelos diversos Estados europeus acabou por gerar um impasse
econômico: como realizar o comércio quando todos querem vender (exportar) e ninguém quer comprar
(importar)? Em outras palavras: como tornar a balança comercial mais favorável aos interesses do reino?
Muito desse impasse foi resolvido pelas armas, acreditando-se que o aumento da riqueza de um reino só
seria possível no confronto direto com Estados vizinhos.
A saída foi o estabelecimento de colônias nas terras descobertas na América, em meio à expansão
marítima. Assim, cada nação europeia, na medida do possível, buscou tornar-se metrópole de uma ou mais
colônias, disputando e desbancando Estados rivais no expansionismo. As colônias deveriam se converter
em áreas com as quais as metrópoles iriam estabelecer um comércio desigual, isto é, desequilibrado em
benefício de um dos lados, o que garantiria sua balança comercial favorável (Pacto Colonial). Ao mesmo
tempo, seriam extraídos das colônias os metais preciosos que estavam esgotados na Europa, alcançando-se
assim, por quaisquer vias, os objetivos mercantilistas e o fortalecimento do poder do Estado.
Devido às maiores possibilidades de acumulo de riqueza, a colonização passou a ser o principal
meio pelo qual os Estados europeus tentaram atingir seus objetivos mercantilistas. Portugal e Espanha,

44
No caso específico espanhol é utilizado o termo Bulhonismo, em referência ao nome da moeda espanhola. A Espanha foi a
nação que mais empregou o metalismo em toda a história.
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precoces na expansão marítima e na partilha do mundo que se seguiu, usufruíram de significativos meios
para se enriquecerem: Portugal pôde explorar o mercado de especiarias, ao ter estabelecido rotas
alternativas para as Índias Orientais. A Espanha apoderou-se de imensa riqueza em ouro e prata ao iniciar
o processo de exploração das minas americanas, na primeira metade do século XVI.
As demais nações europeias não reconheceram a partilha do mundo entre as nações ibéricas, e, ao
longo do século XVI, cobiçaram ferozmente a riqueza acumulada pelos reinos ibéricos, dedicando-se
frequentemente a ataques a suas colônias. Países como França e Inglaterra, retardatários no processo de
expansão marítima, pobres em colônias, foram obrigados a enfatizar outros aspectos do mercantilismo,
como o industrialismo.
De certa forma, é irônico observar que a base manufatureira da França e principalmente da Inglaterra
seria fundamental para a futura expansão capitalista desses dois países. Por outro lado, Espanha e Portugal,
com vastas colônias de onde eram capazes de extrair grande volume de metais preciosos, acabaram se
estagnando economicamente, tornaram-se cada vez mais dependentes de suas possessões na América e,
não raro, passaram por violentos surtos inflacionários provocados pelo excesso de metais preciosos. Além
disso, a manutenção de estruturas políticas que beneficiavam a nobreza e o clero foi fundamental para que
as nações ibéricas ficassem aquém do processo de desenvolvimento capitalista que se anunciava.

5) A Expansão Comercial:
Até época relativamente recente a ausência de boas estradas, as vastas extensões desabitadas, as
montanhas e demais acidentes geográficos constituíam empecilhos sérios ao desenvolvimento das trocas
comerciais. O intercâmbio de artigo de pequeno volume e peso ainda era viável nas caravanas de muares
ou camelos, ou em carroças, mas jamais as transações de vulto destinadas a abastecer de gêneros
alimentícios populações numerosas, ou a suprir de matérias-primas indústrias avançadas. Dessa forma, a
vantagem oferecida pela superfície ilimitada do mar para o transporte longínquo e o frete reduzido para os
produtos do solo ou da indústria evidenciaram-se desde a remota Antiguidade.
Na realidade, não foi senão no dia em que a navegação permitiu a países distantes e diferentes entre
si em civilização comunicarem-se, que o comércio propriamente dito nasceu. Por mar, o caminho está feito,
ou antes, não há necessidade de estradas; o elemento líquido suporta indiferentemente qualquer peso e sua
superfície permite o deslocamento livre em qualquer direção. A força motriz mais fraca, força gratuita, se
é empregado o vento, é suficiente para pôr em movimento massas enormes.
Não é, portanto, de ser admirar que o mar tenha sido por todos os tempos o grande caminho do
comércio e que povos separados por mil léguas de mar encontrem-se na realidade mais vizinhos que outros
separados por cem léguas de terra firme. Mesmo agora, com os progressos do transporte por via terrestre,
o transporte pelo mar é ainda menos oneroso, o que significa trabalho e custo menor. O preço do transporte
da tonelada quilométrica não ultrapassa quase nunca de um quinto a um décimo do preço do transporte por
via férrea. Em Marselha, o preço do carvão, que vem por mar da Inglaterra, passando pelo estreito de
Gibraltar e que percorre 3.500 quilômetros, é menor do que o do carvão transportado por estrada de ferro
procedente das minas de La Grande Combe, situadas a 177 quilômetros. Mares de livre navegação, lagos,
rios ou canais navegáveis constituem dádivas da natureza a determinadas regiões.
As vias aquáticas e a posição relativa das grandes regiões produtoras e consumidoras têm orientado
os fluxos comerciais do mundo. Por muitos séculos o Mediterrâneo foi o centro de cruzamento, no Mundo
Ocidental, das mais importantes linhas comercial-marítimas. Hoje é o Atlântico Norte.
Em outras épocas, alguns países beneficiaram-se da situação de proximidade das principais linhas
de deslocamento de mercadorias e das facilidades de acesso ao mar, propiciadas pelos seus litorais, para
assumirem a função lucrativa de intermediários do comércio mundial. A grande importância adquirida na
História Econômica pelo comércio fenício, púnico, holandês, genovês, veneziano ou inglês originou-se
justamente do fato de ter abarcado uma área extensíssima, servindo não apenas a algumas nações ou mesmo
a algum império, mas a vários continentes. As mercadorias que os navios fenícios deixavam ou apanhavam
nos portos desde a Espanha até o mar Negro, não eram, na sua maioria, nem destinadas às cidades sírias
nem delas procedentes. Mais provavelmente os artigos egípcios e babilônicos constituíam maior parte da
carga. Nas viagens de ida e nas viagens de volta, os artigos trazidos eram desembarcados nos portos de
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onde pudessem atingir, depois, os países mais povoados e adiantados da época, sobretudo o Egito, a Assíria
ou a Babilônia.
Também na Idade Média não era o sal, nem as sedas, nem os espelhos produzidos na Cidade dos
Doges que enchiam os milhares de navios venezianos nas viagens de ida para os extremos do Mediterrâneo,
nem ao consumo dos habitantes da cidade, ou da indústria, se destinavam na sua maioria as mercadorias
carregadas no regresso. Chegada a Veneza, parte substancial da carga tomava o caminho da França, da
Alemanha ou da Holanda pelas estradas alpinas. Mais tarde, ainda não foram o queijo, o arenque seco ou
os tecidos holandeses que bastaram para encher os porões dos navios batavos. Era necessário aí acrescentar
os vinhos franceses, as manufaturas e o carvão da Inglaterra, as madeiras dos países do Báltico, as peles
russas, as especiarias orientais e etc.
A prosperidade e a riqueza da Fenícia, de Gênova, de Veneza, da Holanda e mesmo de Portugal
achavam-se de tal modo na dependência dos lucros provenientes dos fretes e da revenda de mercadorias
levadas por seus navios de um ponto para outro das respectivas áreas de atividade mercantil, que aquelas
nações entraram em decadência quando perderam a posição privilegiada de intermediárias comerciais.
Tão grandes e evidentes são as vantagens advindas da exploração das rotas marítimo-comerciais,
que desde a antiguidade observa-se a tendência das nações procurarem obter a exclusividade de sua
utilização sempre que as circunstâncias o permitiam. Se o monopólio dos caminhos marítimos por uma
única potência, nos moldes almejados pelos fenícios e cartagineses ou mesmo pelos genoveses,
venezianos e holandeses, não é hoje viável, nem por isso deixou de existir uma desenfreada competição
internacional pela preponderância nas linhas de navegação mais lucrativas.
A superabundância de produtos agrícolas, manufaturados ou do subsolo, constitui uma segunda
circunstância favorável à criação e ao desenvolvimento do comércio marítimo, pois o extravasamento dos
excessos naturalmente se encaminha pela rota mais fácil, em busca dos mercados deles sequiosos
(necessitados). Sem dúvida alguma, nos Estados Unidos, a prosperidade de grande número de cidades da
costa do Atlântico, do Pacífico e do golfo do México, bem como o desenvolvimento da Marinha Mercante,
têm sido devidos ao volumoso comércio exportador e importador do país. Outro tanto se pode afirmar do
progresso de Hamburgo e de Bremen, cidades que a partir da segunda metade do século passado mais se
têm beneficiado do extraordinário surto do comércio exterior alemão. Nesses dois centros, os estaleiros e
as instalações portuárias e a tonelagem de navios mercantes neles registrados acompanharam o incremento
das transações comerciais da Alemanha. De uma maneira geral, as cidades portuárias que servem de
escoadouro a regiões produtivas, convertem-se em centros de intensa atividade comercial, tendendo ligar
mesmo os países de características continentais aos empreendimentos marítimos.
Algumas cidades como Londres, Nova York e Rotterdam, na atualidade, e Alexandria, na
Antiguidade, situadas sobre rios, no ponto de encontro das navegações marítimas e fluviais, beneficiaram-
se, mais do que quaisquer outras, do movimento mercantil nascido em consequência da situação vantajosa
por elas ocupadas. Por um lado, toda a produção do interior desce pelo caminho natural das águas até
encontrar o grande centro de distribuição representado pelas cidades da foz. Em contrapartida, também é
nesses centros que os produtos importados desembarcam antes de ganhar em sentido inverso os mercados
interiores. Foi assim que Alexandria, recebendo pelo Nilo os artigos agrícolas e industriais produzidos no
Egito, então um dos países mais ricos e adiantados, em contato pelo Mediterrâneo com a maior parte das
nações bárbaras e civilizadas da época, converteu-se numa das principais cidades da Antiguidade.
Rotterdam, na foz do Reno e do Escalda, que permitem a livre passagem de barcaças até bem o
interior da Europa, passando em zonas ricas da Bélgica, Alemanha e França, é o exemplo moderno, dos
mais eloquentes, de um centro de comércio que se beneficia, sobretudo, da posição geográfica. Anualmente,
muitas toneladas são movimentadas nos vinte e poucos quilômetros de cais daquela cidade. Não apenas o
comércio exportador e importador dos Países Baixos, mas também o comércio das nações circunvizinhas
encontra ali um ponto intermediário imprescindível. A fome de matérias-primas do Ruhr é saciada em
grande parte por Rotterdam, mais próxima que os portos alemães do Norte. A gigantesca produção da parte
mais industrial da Alemanha também se serve do seu porto quando destinada aos países do Sul da Europa,
ou de outros continentes.

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Na América do Norte, nenhum centro comercial beneficia-se tanto da situação geográfica quanto
Nova York. Já um dos centros comerciais mais importantes desde os tempos coloniais, graças a seu porto
na foz do rio Hudson, servindo a uma área rica, Nova York agigantou-se com a abertura do canal Eriê em
1818, o qual permitiu a comunicação fácil com toda a vasta e rica região dos Grandes Lagos. Seu
desenvolvimento foi depois acelerado pela prosperidade da indústria americana localizada, em grande parte,
dentro do raio de absorção do seu porto. É hoje Nova York o porto de maior movimento no mundo,
ultrapassando mesmo Londres.
Bem outra era a situação de Lisboa e Sevilha. Não sendo os rios Tejo e Guadalquivir navegáveis
acima daquelas cidades, nem constituindo o interior de Portugal e Espanha importantes regiões produtoras
ou consumidoras, permaneceram os dois portos ibéricos apenas como portos de escala para os produtos
asiáticos e americanos, mas não como verdadeiros centros distribuidores. Coube à Marinha holandesa a
tarefa, negligenciada pelos portugueses, de embarcar em Lisboa os produtos ali acumulados e encaminhá-
los para os mercados do norte da Europa, via Amsterdã ou Rotterdam. Com o fim do Império Colonial
Português nas Índias, os navios batavos passaram a fazer o percurso direto sem mais irem a Lisboa.
Assim, a prosperidade comercial promove a formação de cidades portuárias, de características
semelhantes, tanto nos países marítimos como nos continentais. Até um país eminentemente agrícola, como
a China, viu crescer Xangai desmedidamente por força da intensa atividade comercial ali desenvolvida, no
cruzamento de rotas marítimas e fluviais. Mesmo não levando o resto do país a se ligar aos
empreendimentos oceânicos, não há dúvida de que o nascimento de cidades portuárias importantes, fruto
da expansão comercial, marca um passo decisivo no sentido do desenvolvimento marítimo, pois nelas,
paulatinamente, congregam-se os elementos materiais e humanos indispensáveis à conquista dos caminhos
sobre as ondas e nelas passam a habitar as classes de prestígio com interesses permanentes e vultosos nas
atividades náuticas.
Graças ao florescente comércio e graças às condições geográficas que possibilitaram o
desenvolvimento de alguns de seus portos, nações eminentemente continentais, como o Egito antigo, os
Estados Unidos, a Alemanha e a Rússia foram levadas a participar da História Marítima.
É fato notório que o desenvolvimento econômico impõe, tacitamente, maior entrelaçamento
mercantil entre as nações e, consequentemente, uma maior dependência as comunicações marítimas. Tal
fato é observado desde a Antiguidade, adquirindo ainda maior realce com a Revolução Industrial. No caso
dos Estados Unidos, por exemplo, as cifras são concludentes. Segundo o relatório apresentado em 1952
pela Materiais Policy Comission, a produção americana em 1900 foi superior ao consumo em 15%. Em
1950 o consumo ultrapassou em 9% a produção. A estimativa da época para 1975, considerando o aumento
da população e do padrão de vida, previa um déficit de 20%. Em tais condições, na dependência crescente
de fontes externas, a antiga política isolacionista do agrado dos primeiros estadistas americanos, como
Washington e Jefferson, e ainda sustentada em certas regiões do país, tornou-se impossível. Uma lei de
embargo ao comércio exterior, como a decretada pelo Presidente Jefferson, em 1807, seria hoje rejeitada
como absurda antes de qualquer discussão.
A dependência progressiva da economia germânica às fontes externas é também facilmente
constatada. Basta um rápido confronto entre as situações econômicas enfrentadas pela Alemanha durante
as sucessivas guerras que enfrentou desde o fim do século XIX. Com efeito, durante os conflitos externos
de envergadura, o esforço total exigido coloca à prova não só a estrutura social e política da nação, mas
também põe à mostra todas as suas possibilidades e limitações econômicas. Sem depender grandemente do
exterior, a Alemanha venceu a França em 1870. O armamento de superior qualidade produzido pelo seu
parque industrial em rápida ascensão não necessitava então de matérias-primas procedentes do ultramar ou
mesmo de outros países europeus. Já na guerra de 1914-18, o esforço de guerra alemão foi seriamente
afetado pela dificuldade em conseguir determinados artigos essenciais no exterior. No Segundo Conflito
Mundial, mais uma vez privada das comunicações marítimas com a maior parte do mundo, a economia de
guerra alemã exigiu decisões estratégicas de alta relevância. A Campanha da Noruega, em 1940, assegurou
o suprimento de minério de ferro, cuja interrupção teria feito cair a produção siderúrgica germânica em
50%. Entretanto, a falta de petróleo constituiu sempre um pesadelo para a Alemanha, que, em 1942, foi

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obrigada a orientar sua ofensiva de verão na Rússia em busca dos poços do Cáucaso, abandonando objetivos
de elevada significação como Moscou e Leningrado.
Na verdade, os alemães, e muito menos os americanos, não se dedicam aos afazeres náuticos com
o mesmo vigor e a mesma eficiência dos povos que procuram o mar compelidos pelo ambiente geográfico.
A participação americana no transporte marítimo de suas próprias exportações e importações, por várias
vezes no século XX desceu a percentagens bem baixas. Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, a
Marinha Mercante dos Estados Unidos não tem enfrentado vantajosamente a concorrência inglesa,
norueguesa ou holandesa. Entretanto, o vulto do comércio americano, por si só, é capaz de absorver toda a
capacidade de transporte da frota mercante do país. Mediante algumas poucas leis protecionistas, a frota de
comércio dos Estados Unidos tem podido desenvolver-se, visto estar garantida a demanda de seus serviços.
A expansão comercial, mesmo sem incutir nos povos continentais a noção de dependência
econômica do mar, cria um jogo de interesses que obriga os governos a travarem contato com uma série de
problemas, entre os quais o do desenvolvimento marítimo é fundamental. Tanto na Alemanha como nos
Estados Unidos, bem antes das duas guerras mundiais, a ação estatal se fez sentir na esfera marítima,
visando à salvaguarda de interesses nacionais de primeira magnitude. Com o surto do comércio alemão,
Bismarck, em 1885, iniciou as subvenções a companhias de navegação germânica e posteriormente veio a
interessar-se por colônias. De forma semelhante à política exterior americana, coincidindo com a expansão
mercantil do país, adquiriu caráter até então inédito, assumindo, inclusive, aspecto imperialista no fim do
século XIX e começo do XX. Em ambos os países, essa mudança foi seguida de aumento considerável das
respectivas marinhas de guerra.
A influência do comércio no desenvolvimento das atividades oceânicas implicitamente estabelece
identidade entre os povos de espírito mercantilista e os de espírito marítimo. Essa identificação é flagrante
entre as diversas nações de características marítimas. Com exceção dos vikings, que permaneceram mais
ligados à pesca e à pirataria, os demais povos de acentuadas tendências marinheiras descambaram também
com vigor para a exploração marítimo-comercial. Duas ordens de razões explicam o fato: primeiro, nos
países de solo pobre ou limitado, como acontece na maioria das nações marítimas, uma fração importante
dos habitantes é forçosamente desviada do trabalho da terra para as atividades comerciais e industriais, em
busca de amparo econômico; o comércio assume assim uma relevância dificilmente atingível nas nações
de economia agrária. Segundo, só pela importação podem ser obtidos certos produtos indispensáveis à
alimentação do povo e ao funcionamento da indústria, o que implica, em contrapartida, um esforço para
desenvolver o comércio exportador que equilibre o sistema de trocas.
Viu-se que na Grécia antiga a população de Atenas dependia do suprimento de trigo das regiões do
mar Negro. O azeite, os artigos de cerâmica e os produtos espículas constituíam os elementos com que os
gregos efetuavam as trocas indispensáveis. De forma idêntica, os venezianos, muitos séculos depois, foram
encaminhados para o comércio, visto não haver possibilidade de encontrar no solo da República recursos
suficientes ao abastecimento dos habitantes. O sal, primeiro, e depois os vidros e as sedas permitiram o
desenvolvimento de um comércio capaz de contrabalançar as importações. Também o reconhecido espírito
mercantil do povo holandês provavelmente nasceu da necessidade de comprar fora das fronteiras produtos
agrícolas para a população adensada num território de escassa área.
Dos países do Báltico, da Alemanha e da França procediam grande parte dos alimentos com que,
quotidianamente, cada holandês completava suas refeições de peixe, e da Grã-Bretanha chegava a lã
indispensável ao funcionamento das indústrias têxteis. O arenque seco e o queijo serviram de base inicial à
prosperidade mercantil dos Países Baixos, possibilitando a importação dos variados produtos de que
careciam. Tal vulto atingiu o comércio holandês depois que se converteu na principal preocupação do
Estado.
Semelhantemente, a expansão comercial da Inglaterra, a partir do século XVIII, estabeleceu um
sistema de troca, cuja preservação tem sido até os dias atuais o propósito número um dos estadistas
britânicos. Não tanto para atender aos reclamos básicos da população de um país marítimo, mas
principalmente visando consolidar a posse da fonte de seu poderio, o vasto Império ultramarino, o povo
inglês tem-se dedicado com ardor inigualável aos empreendimentos oceânicos.

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Chega-se aqui ao ponto em que a expansão comercial, o colonialismo e o desenvolvimento marítimo
entrelaçam-se. De uma maneira geral, os povos marítimos são também os povos colonizadores. As mesmas
causas que os fazem procurar o mar, os propelem também a emigrar em busca de amparo econômico noutras
plagas.
O colonialismo, entretanto, nem sempre apresenta a mesma feição. Alguns movimentos
colonizadores foram espontâneos, obedecendo a condições naturais, nascendo da ânsia de conseguir terras
férteis ou as riquezas fáceis representadas pelos minérios nobres. A expansão grega nos séculos IX e X aC
constitui um exemplo típico de uma obra colonial nascida da penúria das terras. As invasões vikings, parte
da obra colonial portuguesa, inglesa, espanhola e mesmo holandesa constituem outros exemplos nos quais
populações se transladaram em massa para outros continentes, levando o sangue, a língua e os costumes,
fundando, em suma, novas pátrias em novos ambientes. Mais comumente, porém, o movimento colonial
tem possuído raízes comerciais. É a ânsia de assegurar o controle das fontes de matéria-prima e de mercados
consumidores que tem determinado a maioria delas.
O caráter comercial da colonização fenícia, cartaginesa, veneziana, genovesa, pisana e holandesa, e
algumas vezes o da inglesa e da lusitana, já foi acentuado. Sobretudo na Ásia e na África, os povos europeus
visaram, antes de tudo, o estabelecimento de pontos de apoio onde pudessem efetuar as trocas mercantis.
Também na América as potências colonizadoras não viram prolongamentos da Mãe-Pátria, mas campos a
serem explorados comercialmente, do que resultou, por fim, a revolta dos habitantes. Tanto a Inglaterra
como a Espanha e Portugal, seguindo o espírito da época, cercearam, com as leis odiosas, o
desenvolvimento econômico das colônias, desde que o mesmo pudesse por alguma forma ferir seus
interesses.
O colonialismo, baseado na posse de mercados produtores de matérias-primas e consumidores de
produtos manufaturados, levou mesmo alguns países continentais, como a França, a Alemanha e a Rússia,
a dele participarem. A obra colonial foi aí mais resultante da ação estatal, tendo sido mínima a participação
direta do povo, com pouca disposição para se deslocar em massa, em caráter definitivo, para ambientes
geográficos inteiramente adversos. Todavia, qualquer que seja sua feição, os impérios coloniais têm
dependido sempre da interligação marítima, impondo, consequentemente, o desenvolvimento dos
empreendimentos oceânicos para sua preservação e para atender ao intenso sistema de trocas.
Com a expansão comercial nos mares e com o colonialismo, devemos considerar outro aspecto da
história do desenvolvimento marítimo: o que se prende às contendas pela supremacia nas rotas oceânicas,
lutas essas que têm condicionado os destinos de muitos povos.
Conforme se verificou, a maioria das evoluções marítimas processou-se sob o império da força.
Raros países lograram atingir preponderância nos negócios marítimos sem terem apelado para a guerra.
Quase nenhuma nação entrou em decadência nos mares que não fosse em consequência de luta armada. Na
antiguidade os fenícios procuraram eliminar todos os possíveis concorrentes nas rotas oceânicas, não
poupando meios para alcançar esse fim. Eles foram suplantados pelos gregos, na porção oriental do
Mediterrâneo, depois de uma luta secular. Na parte ocidental do Mediterrâneo, os cartagineses, que também
eram fenícios de origem, suplantaram os etruscos e rechaçaram as investidas gregas, mas foram, por sua
vez, derrotados pelos romanos nas guerras surgidas em disputa das colônias na Sicília. Durante todo o fim
da Idade Antiga, Roma exerceu um benevolente domínio sobre o Mediterrâneo, no qual foi possível, aos
povos de suas praias comerciarem dentro dos limites que convinham. Ela era Senhora do Mundo Antigo.
Na Idade Média, as cidades marítimas da Itália, tendo provocado a ruína comercial de Bizâncio e
vencedoras dos sarracenos no Mediterrâneo, entraram em luta entre si, quando seus interesses foram
idênticos nas colônias do Oriente. No século XVI Portugal aniquilou a tiros de canhão o comércio egípcio
e árabe na Índia, sendo depois espoliado de suas conquistas pelos ingleses e holandeses. Esses povos do
Norte da Europa já antes se dedicavam com afinco ao assalto do transporte espanhol e por fim se
defrontaram em luta em disputa do bocado todo. No século XVII, a França procurou ascender à categoria
de potência colonial e comercial, ganhando, em consequência, a inimizade da Holanda e, sobretudo, da
Inglaterra, com quem guerreou desde os tempos de Richelieu até Napoleão. Ainda no fim do século XIX a
Inglaterra e a França eram nações rivais, com interesses coloniais antagônicos bem acentuados. Surgiu,
porém, ameaça maior obrigando os dirigentes da França e da Grã-Bretanha a fazerem uma revisão
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fundamental na política exterior. O desenvolvimento marítimo-comercial germânico preocupou não apenas
a Inglaterra, mas também os Estados Unidos, que já haviam eliminado a Espanha como nação influente nas
Antilhas. Duas guerras mundiais aniquilaram as pretensões alemãs nas rotas marítimas.
Os russos chegaram ao mar Báltico lutando contra os suecos e os germânicos, e ao mar Negro,
guerreando contra os turcos. Suas ambições na Manchúria e na Coréia provocaram a agressão japonesa de
1904. O Japão, convertendo-se em importante potência comercial marítima, passou a ser no Oriente o
inimigo potencial da Inglaterra, da Holanda e dos Estados Unidos. A Segunda Guerra Mundial pôs fim às
aspirações nipônicas de domínio naquela parte do mundo.
Não se pode atribuir apenas à rivalidade marítimo-comercial colonial a causa de desencadeamento
de tantas guerras que tão decisivamente influíram nos destinos dos novos, mas, sem dúvida alguma, sua
contribuição não foi pequena, e a repercussão dessas lutas na esfera marítima foi imensa.
Às margens dos conflitos internacionais, desde a remota Antiguidade até pelo menos o século
passado, foram os mares teatro de lutas quase permanentes, pois populações numerosas viveram
consagradas ao assalto das riquezas transportadas pelos navios. Todos os povos do Mediterrâneo, de uma
forma ou de outra, mesmo os mais civilizados, dedicaram-se, com bastante intensidade, à prática do roubo
em alto-mar.
Os habitantes das ilhas do mar Egeu, em particular, faziam da pirataria a indústria nacional por
excelência. Eles já preocupavam os Atenienses na época de Temístocles, cinco séculos aC, sendo
combatidos por César, Pompeu e Augusto, muitas gerações depois, e durante toda a Idade Média, italianos,
bizantinos e sarracenos sofreram seus ataques de rapina.
Os comerciantes pisanos, genoveses e venezianos, por seu turno, também eram corsários quando a
oportunidade surgia. Amálfi, Gênova, Pisa e Veneza eram centros de pirataria organizada. Elas deveram à
pirataria uma boa parte de suas riquezas. Tão normal eram considerados os ataques aos navios de outras
nacionalidades que o termo corsário, empregado nos atos genoveses, nada tinha de reprovável ou
pejorativo. Numerosos foram os mercadores italianos que, tendo dívidas a cobrar de algum grego e não o
podendo fazer, se tornaram corsários a fim de arrancar pela força o que não obteriam de outra forma.
Ainda nos séculos XVI e XVII as companhias inglesas e holandesas, destinadas à exploração
comercial na América e no Oriente, usavam métodos de rapina que mais se assemelhavam aos utilizados
por verdadeiros piratas. Algumas nações, a exemplo dos Estados berberes do Norte da África, tinham
mesmo na pirataria a principal fonte de renda. Até meados do século XIX a concessão de cartas de corso
foi de uso corrente em todos os países envolvidos em guerra, constituindo um meio para bandidos
internacionais ou aventureiros sequiosos de riquezas se aproveitarem das hostilidades. Os corsários foram
alguns dos melhores marinheiros da Grã-Bretanha, como Drake, Hawkin e Releigh, e da França, como Jean
Bart, Duguay-Trouin e Surcout.
A necessidade de proteger o tráfego marítimo dos assaltos das potências inimigas ou dos piratas e a
conveniência em privar o adversário das vantagens das rotas sobre as águas, conduziram à formação, desde
épocas bem remotas, das marinhas de guerra. A necessidade de marinha de guerra, no sentido restritivo da
palavra, surge, portanto, da existência do transporte marítimo e desaparece com ele, exceto no caso de a
nação ter tendências agressivas e manter a marinha mercante como um ramo da organização militar. A
ligação da marinha de guerra ao transporte marítimo é tão íntima que por muito tempo não houve nítida
distinção entre o navio de combate e o navio mercante. Principalmente na Antiguidade, os traficantes
cuidavam, eles próprios, da proteção de suas frotas mercantes, armando os navios, e também dos ataques
ao transporte dos rivais. O comerciante era ao mesmo tempo marinheiro e guerreiro, adotando o
procedimento mais conveniente conforme as circunstâncias.
Assim agiam os fenícios, os cartagineses, os gregos e os italianos cujas Maonas não eram mais do
que expedições marítimo-comerciais apoiadas na força militar. Ainda nos séculos XVI e XVII, os
traficantes portugueses, ingleses, franceses e holandeses resolviam muitas de suas disputas a tiros de
canhão, malgrado a paz reinante entre seus países. Foi da amálgama de corsários, aventureiros,
comerciantes, navios de comércio, navios particulares ou armados pelo Estado, que nasceram as Marinhas
de Guerra inglesa e holandesa. Desde que se constituíram definitivamente as marinhas de guerra sob a égide
do Estado, o apoio das forças navais ao comércio passou a ser reflexo da política adotada pelo governo. Foi
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apoiado nos canhões das marinhas de guerra que as potências europeias, do século XVII ao século XIX,
alargaram seus domínios coloniais e comerciais na Ásia, África e Oceania. Foi devido à presença da
esquadra do Comodoro Perry que o Japão se viu constrangido a reatar relações com o resto do mundo.
Sem dúvida alguma, a interligação das histórias do comércio, da expansão colonial e do poderio
marítimo remonta aos fenícios. Sem o apoio de marinha de guerra, própria ou de potência aliada, nenhuma
nação logrou beneficiar-se por muito tempo do transporte oceânico. O lento trabalho do estabelecimento
de uma rede comercial e a formação de uma frota mercante, devidamente apoiada em terra, servidora dessa
rede mercantil, são obras de alento que exigem décadas de labor continuado em setores múltiplos, por parte
de milhares de indivíduos.
Em caso de guerra, a falta de poder no mar tem representado o fim de toda essa obra em pouco
tempo. Como a eventualidade de um conflito armado nunca pôde ser afastada do espírito de dirigentes
responsáveis, pois a História mostra que os ciclos guerreiros se repetem num intervalo menor do que o
tempo exigido pelo completo desenvolvimento marítimo-comercial de um país, resulta que, quase sempre,
as marinhas militares expandem-se à medida que a esfera do comércio marítimo da nação se amplia. Muitas
vezes, porém, a exiguidade de recursos materiais impede o desenvolvimento da Marinha de Guerra de
acordo com suas responsabilidades, e o país é obrigado a confiar a proteção de seus interesses marítimos a
potências estrangeiras, valendo-se de alianças. Foi para a proteção recíproca do comércio marítimo que as
cidades gregas fundaram as chamadas Ligas Délicas. Foi procurando o apoio do poderio naval britânico,
necessário à preservação de seu Império, que Portugal, enfraquecido no mar, renovou constantemente sua
aliança com a Inglaterra.
Durante as duas guerras mundiais, sem a proteção da Royal Navy e da US Navy, as frotas mercantes,
o comercio e a maior parte das colônias dos demais países aliados teriam sido destruídos ou capturados.
Enquanto a marinha de comércio e as atividades mercantis de países poderosos como a Alemanha, a Itália
e o Japão eram quase totalmente eliminadas dos mares, nações de pequeno poderio naval como a Noruega,
a Holanda e a Grécia encontraram na aliança com as potências anglo-saxônicas a relativa segurança que
preservou de catástrofe total seus interesses marítimos e coloniais.
A expansão do comércio marítimo de uma nação tem o efeito paradoxal de estimular o
desenvolvimento das marinhas de guerra dos inimigos eventuais, pois no exercício do poder marítimo as
potências não visam apenas utilizar a rota oceânica, mas também negar seu uso ao inimigo. Desde que se
torna evidente a dependência de um país às rotas marítimas, é quase certo procurarem as potências rivais
dispor dos meios para, em caso de guerra, atacarem esse elo vital. Foi por essa razão que no século XVII a
Marinha Real inglesa se desenvolveu até ultrapassar a Marinha de Guerra batava, numa época em que os
Países Baixos tinham uma frota mercante quatro vezes superior à britânica, dominando o comércio mundial.
Com as derrotas de sua esquadra e consequente paralisação do comércio, a Holanda se viu obrigada a pedir
a paz, embora nenhum exército inglês ameaçasse seu território metropolitano.
Substituindo a Holanda no tráfego mundial, daí em diante a situação se inverteu para a Grã-Bretanha
e, em todos os conflitos seguintes de que participou, o seu comércio marítimo foi o alvo predileto dos
ataques navais inimigos. Não podendo atacar o território da própria Inglaterra, protegida por poderosa
Marinha de Guerra, os esforços navais das potências que contra ela guerreavam voltaram-se sempre com
fúria para as ligações marítimas na esperança de obter o seu estrangulamento econômico. O assalto ao
comércio marítimo inglês incentivou por quase três séculos os corsários franceses, holandeses e
americanos. Empresas e estaleiros foram fundados com o único fim de proporcionarem recursos a tais
ataques.
Na Primeira Guerra Mundial, a partir de 1917, grande parte do esforço bélico alemão foi orientado
no sentido de eliminar o comércio marítimo aliado, principalmente britânico, última esperança de alcançar
a vitória. Centenas de submarinos foram construídos em série, com a máxima rapidez, na tentativa
desesperada de obter a solução. Antes da Segunda Guerra Mundial a Marinha de Guerra germânica foi
planejada, tendo ainda como fim principal o ataque ao sistema de transportes marítimos dos inimigos
eventuais. Também é a dependência ao comércio marítimo por parte das potências anglo-saxônicas que
determinou a ascensão da Marinha de Guerra russa no século XX.

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Pelas razões acima expostas, pode-se afirmar que a expansão comercial foi um estímulo dos mais
decisivos para o desenvolvimento marítimo, pois hoje como nos últimos três mil anos o transporte sobre as
águas é o mais barato e muitas vezes o único viável. Todavia, enquanto nas evoluções marítimas de
determinados povos o desenvolvimento comercial apareceu como elemento derivado do ambiente
geográfico ao qual ele se somou incrementando ainda mais os empreendimentos oceânicos, nas evoluções
do Egito, Alemanha etc., foi a expansão comercial fator inicial e decisivo da marcha dessas nações para as
aventuras sobre as superfícies líquidas. Não se pode dizer, com efeito, que foi o hábito da navegação que
levou os egípcios antigos, os alemães ou os americanos a se transformarem em traficantes nos mares, mas
sim a necessidade de comerciar que os compeliu a cuidarem das empresas marítimas.
Paralelamente, verifica-se constituir a capacidade de utilizar as vias marítimas em quaisquer
circunstâncias, negando ao mesmo tempo sua utilização às potências inimigas, a expressão última e
almejada do desenvolvimento de uma nação nos oceanos.

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CAPÍTULO IV

AS NAÇÕES

1) Portugal:
Projetada sobre o Oceano Atlântico, a Península Ibérica é a região
mais ocidental da Europa.
Desde épocas pré-históricas, povos lígures e iberos, talvez
provenientes do norte da África, se estabeleceram na região, seguidos dos
celtas, oriundos do centro da Europa, nos fins do século VII aC.
misturaram-se, formando uma população que se convencionou chamar
de celtibero. Fenícios, gregos e cartagineses, povos marítimos e
comerciantes, frequentaram a costa mediterrânea da península,
localizando-se, eventualmente, em trechos dessa costa, fundando
feitorias ao mesmo tempo em que impregnavam os seus costumes nos
habitantes.
A disputa entre Roma e Cartago pela supremacia no Mar Mediterrâneo
salientou a importância estratégica da região. A vitória de Roma abriu as
portas da Ibéria ao seu domínio. Tornou-se célebre a resistência de
Viriato, chefe destemido dos Lusitanos, que enfrentou as legiões romanas
a partir de 147aC, conseguindo um acordo de paz em 141aC. A luta
prosseguiu, terminando com o assassinato de Viriato 139aC por três
traidores. A destruição de Numância 133aC consolidou a conquista
romana. A elevada cultura romana exerceu, então, sobre os povos
mesclados da região, uma forte influência, em especial nos costumes, na
língua (latim vulgar, que era falado pelos comerciantes e soldados) e na
religião, com a assimilação do cristianismo.
Com o enfraquecimento do Império Romano, no século V, povos
bárbaros penetraram em seus domínios, apoderando-se das terras que
lhes apraziam. Em 409, álanos, vândalos e suevos conquistaram a
Península Ibérica sobrepondo-se à população existente e, em parte,
cristianizada.
Nada construíram, antes, guerrearam entre si e não puderam resistir à penetração dos visigodos em
414, chefiados por Ataulfo. Em pouco tempo, os visigodos estenderam o seu poder sobre a península e,
quando, em 586, morreu o Rei Leovigildo, formavam um poderoso reino. Seu filho Recaredo adotou o
cristianismo como religião oficial (587).
Ao mesmo tempo em que a religião cristã impregnava os habitantes da Península Ibérica, outra
religião, recentemente formada por Mafoma (Maomé), espalhava-se entre os povos do norte da África.
Atrair mais elementos, mesmo empregando a Guerra Santa, passou a ser a meta prioritária dos recém-
convertidos.
O Rei visigodo Rodrigo não se mostrou com capacidade para detê-los. Derrotado na batalha
próximo do lago Janda, em julho de 711, reorganizou as forças em Segoyuela, mas, neste local, perdeu o
reino e a vida (713). Rapidamente, os invasores muçulmanos, em sua maioria berberes, ocuparam a região,
impondo seus hábitos à população amedrontada.
Alguns visigodos cristãos não aceitaram a nova soberania. Refugiaram-se nas montanhas das
Astúrias e, dirigidos pelo nobre Pelagio, iniciaram a reconquista, Ao mesmo tempo, os invasores exerciam

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na população (chamada moçárabe ) forte influência, dando início à cultura do arroz e da cana-de-açúcar,
criando a manufatura da seda e da lã, produzindo uma arquitetura de rara beleza, restando muitos exemplos
na região sul da atual Espanha.
Pouco a pouco, os cristãos, espremidos ao norte, organizaram-se e recuperaram territórios aos
mouros (isto é, aqueles que não professavam a fé católica), transformando-os em mudéjares.
Depois da vitória alcançada na batalha de Covadonga, em 718, os cristãos formaram o reino das
Astúrias. Sucessivamente, constituíram os reinos de Leão, Navarra, Aragão e Castela. A luta contra os
mouros excitava os nobres, alguns provenientes de outras terras, ávidos de glórias militares e que nela
divisavam uma verdadeira cruzada. Raimundo, filho do Conde da Borgonha, e seu primo Henrique
ofereceram-se ao Rei de Leão e Castela, Afonso VI, para participarem das lutas.
Os dois jovens francos tão bem se houveram que o rei lhes premiou largamente. Raimundo recebeu
o governo da Galiza e a filha do rei, Urraca, em casamento. D. Henrique ganhou um pequeno condado,
chamado Portucalense, cujo nome deriva de uma antiga povoação romana na foz do Rio Douro e a mão de
outra filha de Afonso VI, Taraja.
O Conde Henrique de Borgonha combateu os mouros com vigor. Seu filho, D. Afonso Henriques,
obteve, em 25 de julho de 1139, uma notável vitória contra os mouros (talvez na região de Beja ou nas
planuras de Ourique), intitulando-se REX nesse mesmo ano, atitude legitimada graças ao amparo dos papas
Lúcio II e Alexandre III em troca da vassalagem oferecida. Em 1143, o Rei Afonso VII confirmou, ao
Conde de Portucale o título de REX (Tratado de Zamora). Estava fundado o Reino de Portugal.
A dinastia de Borgonha começa com D. Afonso Henriques.
Seguiram-se Sancho I, primogênito de D. Afonso Henriques, Afonso
II, Sancho II, deposto pelo Papa Inocêncio IV, com isso acarretando
luta civil em Portugal, terminada com a subida, ao trono, de Afonso
III, D. Dinis, seu filho, em cujo reinado foram criadas as
Universidades (1290), a princípio em Lisboa e depois (1308) sediada
em Coimbra, e a Ordem de Cristo (Bula de João XXII de 15 de março
de 1319), D. Afonso IV, D. Pedro I, que coroou Inês de Castro rainha
depois de morta, e, finalmente, D. Fernando, falecido em 1383.
Entretanto, foi ele quem aumentou o espaço geográfico do reino,
tomando-o, palmo a palmo aos mouros, conquistando também o
reino do Algarve, ao sul.

Esta fase da história portuguesa é caracteristicamente


militar, como consequência da Guerra de Reconquista. A
principal atividade econômica é a agricultura. O rei governava
seus súditos com firmeza, convocando, quando lhe aprazia, uma
assembleia, intitulada Cortes, composta por representantes dos
nobres, clero e povo, Portugal não experimentou um sistema
feudal como ocorria em outras regiões europeias, em
decorrência do poder exercido pela realeza.
Essa política centralizadora só foi possível graças à
criação de vários funcionários incumbidos do sistema fiscal e
judiciário, capazes de transitar no emaranhado de leis que se
encontravam em vigor. A primeira tentativa de ordenar a
Observatório de Sagres, no Cabo São legislação ocorreu no reinado de Afonso III; chamou-se Livro
Vicente, ao Sul do Algarve
das Leis e Posturas.

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Moçárabe: população cristã em territórios dominados pelos islâmicos. Apesar de manterem sua fé cristã, adotaram a língua e
outros costumes árabes durante o período de controle desse povo sobre territórios na península ibérica. Com a retomada do
controle do território pelos cristãos, os islâmicos que ficaram na mesma condição foram chamados de mudéjare.
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Com a morte de D. Fernando, pretendeu o trono D. João, rei de Castela, casado com D. Beatriz,
filha do rei falecido. O povo e pequena parte da nobreza apoiaram a D. João, mestre da Ordem de Cavalaria
de Avis, filho bastardo de D. Pedro I. Na batalha de Aljubarrota (1385), o Mestre de Avis, ajudado pelo
condestável D. Nuno Álvares Pereira, venceu as pretensões dos castelhanos e deu início à Dinastia de Avis.
D. João I instalou-se firmemente no trono, caminhando para o absolutismo monárquico. Ligado à burguesia,
reduziu os direitos dos nobres e do clero, ao mesmo tempo em que se voltou para o alargamento dos
horizontes comerciais, exigidos por essa mesma burguesia, que cobiçava as riquezas das distantes Índias.
Diversas cidades litorâneas transformaram-se em entrepostos comerciais; a pesca se desenvolveu.
D. João I faleceu em 1433, substituído por seu filho D. Duarte, que instituiu a Lei Mental
(08/04/1434) que assim se chamou porque já se achava estruturada na mente de D. João I, possivelmente
com a ajuda do doutor João das Regras. Em síntese, ela proibia que os não primogênitos, mulheres,
ascendentes e colaterais pudessem herdar bens doados pela Coroa. Foi, assim, um duro golpe na nobreza.
No reinado seguinte, de D. Afonso V, as leis de Portugal foram reunidas nas Ordenações Afonsinas
que receberam publicação em 1446.
Depois dos vikings, os portugueses foram os primeiros que lançaram as vistas para a imensidão do
oceano Atlântico. Diversas causas concorreram para dar a esse pequeno povo uma hegemonia mercantil de
caráter colonial. Portugal só aparentemente está ligado ao planalto castelhano, pois o curso alto dos rios
peninsulares não é navegável por causa da estiagem e da irregularidade do fundo do leito. Em compensação,
a navegabilidade do curso baixo dos rios, juntamente com os grandes portos do litoral, deu conexão
econômica às regiões ocidentais, de maneira que Portugal constitui um Estado costeiro com interesses
marítimos perfeitamente definidos. As aspirações nacionais orientaram-se assim necessariamente para o
mar.
Por outro lado, no Portugal primitivo, a produção industrial, excluindo-se a da marinha de sal, mal
bastava às mais elementares necessidades da vida cotidiana. Por escassas que fossem, e de fato o eram, as
aspirações de conforto ou de luxo então existentes, só pelo comércio de importação poderiam ser satisfeitas.
Em contrapartida, havia excedentes quanto a certos produtos agrícolas, pecuários e apícolas e neles se
encontraria natural fundamento de equilibradas trocas comerciais.
Porém só com os progressos da constituição
territorial do País essas trocas se estabeleceram em
acentuado ritmo, criando-se então condições
adequadas e, como, ao tomarem vulto, elas
impunham o uso da via marítima, também só então
verdadeiramente se estabeleceu o contato entre o
Homem e o Mar na orla do ocidente peninsular em
que se instituíra o Estado português.
A conquista de Lisboa (1147), transferindo
para os portugueses a posse de um porto natural de
excepcional valor, abria à expansão comercial
portuguesa por via marítima as mais lisonjeiras
perspectivas; e a posse de Silves, temporária
primeiro (1189-1191), definitiva desde os meados
do século XIII, privando os muçulmanos do último
dos seus grandes portos ocidentais, bases de ação
Antigo mapa de Lisboa, cerca de 1812,
naval depredadora dos litorais cristãos - consolidou
feito pelo inglês Sir Arthur, conde de Wellington,
as condições de segurança necessárias àquela durante as Guerras Napoleônicas.
expansão.
Pode dizer-se que até o fim do século XII não houve marinha da Espanha Ocidental. As lutas de
reconquista eram exclusivamente por terra, e a imperícia marítima dos cristãos, juntamente com os relativos
progressos dos árabes, concorria para tornar difícil a conservação das praças litorâneas conquistadas. Os
primeiros dispunham apenas de pequenas lanchas costeiras, enquanto os outros, tinham navios
regularmente armados e equipados, com que percorriam toda a costa ocidental, refrescando nos seus portos,
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abastecendo-os de munições e gente quando estavam cercados e desembarcando amiúde com o fim de
atacar os campos dos cristãos e cativar os indefesos. Mas, desde meados do século XII o exame das armas
de cruzados, com cujo auxílio Lisboa e depois Alcácer foram tomadas, tinha vindo acrescentar os
conhecimentos, demonstrando ao mesmo tempo que sem o império no mar, jamais poderia levar-se a cabo
a conquista do sul do reino.
A conquista de Constantinopla pelos turcos em 29 de maio de 1453, seguida pouco depois pela da
Ásia Menor e da Península dos Bálcãs, acarretou o dano e, por fim, a supressão do tráfego que as cidades
comerciais da Itália, especialmente Gênova, mantinham com os Portos do Bósforo, do mar Negro e do
Cáspio. A conquista de Constantinopla marcou o início de um crescente movimento de destruição das
vantagens e regalias comerciais que Veneza e Gênova usufruíam há muito tempo. Tornaram-se dia a dia
mais difíceis as relações das colônias italianas estabelecidas no antigo Império Bizantino com as cidades
pátrias, não só pelas dificuldades do intercâmbio, como pelas depredações, confiscos e perdas de foros que
elas próprias sofriam. Por fim, os descobrimentos portugueses no Atlântico deslocaram as correntes
mercantis que cruzavam o Mediterrâneo da Ásia para a Europa. Quando Pedro Pasqualigo, embaixador de
Veneza em Lisboa, comunicou que os portugueses tinham achado uma nova rota para as Índias e oferecido
especiarias mais baratas que os venezianos, esse acontecimento foi considerado um desastre público. Em
consequência, os venezianos fizeram saber ao sultão do Egito que seu país e sua religião estavam em perigo
e ofereceram-lhe armas e braços para exterminar os recém-vindos. A ajuda veneziana aos camorins hindus
não impediu, contudo, o estabelecimento dos portugueses na Índia e noutros pontos do Oriente. Assim,
outra das principais fontes da prosperidade da República mudou de explorador.
Veneza, provida de uma marinha grandiosa, superior a de qualquer outro Estado, pôde conservar
ainda no século XVI um prestígio invejável e uma importância política e comercial incomum. As fontes de
sua prosperidade e de seu poderio se achavam, entretanto, já cortadas, e a decadência processou-se
inexoravelmente daí por diante, até o final do século XVIII, quando Napoleão extinguiu o Estado
Veneziano.
A empresa de Silves, no tempo de Sancho I, já tinha navios portugueses. Essa marinha existiu nos
reinados de Sancho II e de Afonso III, como o provam as expedições marítimas que terminaram pela
conquista definitiva do Algarves e as façanhas do lendário Fuás Roupinho. Havia então já um corpo de
tropas especiais de embarque e nas terceiras navais se construía, sob direção de mestres estrangeiros, navios
de alto bordo para as frotas militares do rei. A frota de navios grossos que ajudara a tomada de Faro, as
fustas, as barcas, as caravelas, as pinaças e as bojudas naus do tempo deviam, em caso de guerra, defender
eficazmente o magnífico estuário do Tejo. No tempo de Afonso III, já o poder marítimo português é de tal
ordem que os navios vão em socorro à Castela, e o Papa convida os lusitanos a acompanhar as gentes do
Norte às cruzadas.
Livre da ameaça árabe, graças à conquista das principais cidades costeiras e sendo propelido para o
mar em virtude de razões já citadas, o comércio português pôde iniciar seus primeiros passos. Já em 1194
há notícias de ter naufragado um navio português que se destinava a Bruges, e os portugueses são
encontrados nos meados do século XII na feira anual de São Demétrio em Tessalônica. Em 1202, João Sem
Terra tomava sob sua proteção os mercadores portugueses que fossem residir nos seus domínios. Em 1290,
as relações comerciais com a França eram já tão importantes que Filipe, o Belo, concedeu aos mercadores
portugueses que frequentavam o porto de Honfleur, importantes privilégios, confirmados depois por vários
monarcas franceses que àquele sucederam. Inversamente, os comerciantes estrangeiros começaram a
interessar-se por Portugal. Os armadores da Normandia, do Flandres e da Inglaterra já no fim do século
XIII demandavam o Tejo para mercadejar.
Com o desenvolvimento do comércio, o da marinha, sua servidora, impulsionou por sua vez a
indústria de construção naval nas margens do Tejo. Em 1237 e 1260, fazem-se referências muito claras ao
arsenal régio e à carreira de construção em Lisboa.
O reinado de D. Diniz marca uma segunda era na história da Marinha nacional. Sendo a Marinha
Mercante e a Militar reciprocamente indispensável, os cuidados do rei administrador dirigiram-se
principalmente a fomentar a primeira, cuja importância o tratado de comércio feito em 1308 com a

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Inglaterra acusa D. Diniz na sua eficiente missão organizadora, tendo criado o serviço de recrutamento nas
povoações marítimas.
As condições de navegação nessa época de pirataria infrene impunham caráter militar à Marinha
Mercante, confundindo-se assim as duas marinhas nacionais, cujo incremento levou D. Diniz a criar, em
1307, para sua superintendência, o cargo de Almirante Maior.
A obra de D. Diniz foi continuada por D. Fernando, que assistiu ao pleno desenvolvimento de uma
potência comercial e marítima. O rei em pessoa era armador e negociante de certos gêneros exclusivos.
Criou o rei bolsas de seguros marítimos mútuos, em Lisboa e no Porto, com o produto de uma taxa especial
lançada sobre o comércio, instituindo o cadastro ou estatística naval. Reduziu à metade os direitos de
importação dos gêneros trazidos por navios nacionais, estabelecendo assim um direito diferencial de
bandeira, a cuja sombra se multiplicou o número dos navios mercantes portugueses. Deu, aos que
desejassem construí-los, a faculdade de cortar as madeiras nas matas reais. Os cuidados do rei em favor da
Marinha Mercante abraçavam também a Marinha de Guerra. A armada que foi bloquear Sevilha (1372) era
no dizer do cronista – formosa campanha de ver – e contava trinta e duas galés e trinta naus redondas. Vinte
e três meses teve bloqueado o Guadalquivir e retirou-se o bloqueio com o decreto de paz. Outra frota quase
tão poderosa como essa foi ainda ao Mediterrâneo, na seguinte guerra de Castela, para sofrer o desastre de
Saltes (1381).
A Marinha foi uma criação da monarquia e um produto da nação. Desde a reunião das esquadras
cruzadas no Tejo para a conquista de Lisboa, desde a introdução dos genoveses, que vieram ensinar a
navegar, vê-se começar a se formar essa nação cosmopolita, destinada à vida comercial, marítima e
colonizadora. Toda a atenção administrativa se aplica para o desenvolvimento da navegação e do comércio
pelo magnífico porto aonde todos os navios, em viagem dos mares do Norte para o Mediterrâneo, vinham
refrescar, desde que Lisboa era cristã.
O desenvolvimento do comércio, da navegação e de outras atividades correlatas, como não podia
deixar de ser, promoveu em Portugal a ascensão da burguesia que até então pouca importância tivera no
quadro social da nação. Esta burguesia comercial, rica, ativa, inteligente, não podia deixar de sentir as
mesmas aspirações das suas congêneres das restantes nações marítimas da Europa. E a sua influência na
gênese da expansão marítima portuguesa não se pode negar. Influência bem poderosa, porquanto é certo
que desde meados do século XIV a sua ação política era progressiva. No século seguinte, os reis portugueses
já dispunham do instrumento marítimo indispensável a obras mais vastas.
Sobre a abertura do mar, o primeiro lugar cabe indiscutivelmente aos portugueses. Foram eles que
durante mais de 200 anos abriram novos caminhos, exploraram novas fontes de riquezas e descobriram
novas terras. A descoberta da América por Colombo, a serviço da Espanha, é um episódio isolado, ao passo
que as navegações portuguesas se desenrolaram com caráter de continuidade e, muitas vezes, com planos
preestabelecidos.
Portugal inicia em 1415, conquistando Ceuta, uma
obra de expansão com um horizonte tão vasto que em menos
de um século realizou todos os objetivos econômicos da
Europa, duplicou os conhecimentos geográficos e feriu de
morte o poder muçulmano no Oriente. Duas ordens de razões
explicam a primazia de Portugal, desde que a expansão
ultramarina perdeu a feição de mero tentame, característico
dos séculos XIII e XIV: por um lado, a incapacidade das
demais nações marítimas; por outro, o grau de aptidão que
Portugal atingira.

Ceuta, hoje território espanhol no Marrocos.

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Veneza, Gênova e Aragão, sobre não disporem de recursos financeiros e militares exigidos por uma nação
completa e demorada, eram potências mediterrâneas, portanto com uma situação geográfica que as colocava
em nível de inferioridade relativamente à expansão por via atlântica.
Castela e França estavam a braços com alarmantes problemas políticos e militares de que dependia
a sua definitiva constituição territorial. Em Portugal, pelo contrário, tudo se congregava no sentido de tornar
viável a obra de expansão com que sonhavam todos os grandes espíritos europeus.
A extensão territorial e a independência nacional eram problemas definitivamente resolvidos;
Portugal podia consagrar todos os seus esforços a outro qualquer empreendimento. Estreita faixa de terra
debruçada sobre o Atlântico, a situação geográfica e uma remota atividade marítima dos habitantes já de
antemão estabeleciam o sentido atlântico da expansão portuguesa. Inicialmente, o objetivo do príncipe D.
Henrique era modesto: explorar as costas da África além do cabo Não46.
Em meio ao primeiro quartel do século XV, a virtual
capacidade portuguesa para a tarefa do descobrimento marítimo foi
valorizada pela clarividente e firme intervenção de um homem o
infante D. Henrique, comumente conhecido pelo epíteto de
Navegador, não porque largamente tivesse navegado, pois não
excederam Marrocos os seus maiores percursos marítimos, mas por
se reconhecer que à sua ação decisiva se deveram o início e os
primeiros êxitos da expansão ultramarina portuguesa. Fundando a
Escola de Navegação e o Observatório, em Sagres, o infante D.
Henrique não só proporcionou aos marinheiros portugueses
elementos para mais arrojadas investidas contra o oceano, como
também sistematizou as expedições marítimas que passaram a serem
organizadas em obediência a diretrizes seguras. A bússola, o
astrolábio e o quadrante já guiavam as expedições marítimas
enviadas anualmente de Sagres pelo Infante a sondar o oceano, ou a
descer a costa para o sul. As ilhas de Porto Santo, Madeira e os
Açores foram por esta forma descobertas.
Com o ano de 1434, abriu-se na história de Portugal um período de sistemáticas explorações
marítimas que, lançadas cadencialmente como vagas contra a costa de todo o sul da África, em sessenta e
quatro anos rasgara o caminho pelo oceano até a Índia. A primeira que se registra é a de Afonso Gonçalves
Balda e de Gil Eanes que, com uma barca e um barinel47, foram para além do Bojador cerca de cinquenta
léguas. Nos anos seguintes, outros exploradores avançaram cada vez mais, para o sul, tendo Nuno Tristão
ultrapassado o cabo Branco. A mais baixa latitude geográfica (10ºN) logrou-a em 1446 Álvaro Fernandes,
sobrinho do Capitão Zarar, que foi para o sul do cabo Verde cento e dez léguas.
Na data da morte do Infante (1460) estavam, por conseguinte, descobertos, reconhecidos, estudados
e explorados cerca de dois mil quilômetros de costa para além do cabo Bojador.
No reinado de Afonso V, as expedições foram em pequeno número. As campanhas marroquinas
desviavam a atenção da conquista do oceano. Todavia, o golfo da Guiné foi reconhecido graças às viagens
empreendidas por iniciativa de Fernão Gomes, cidadão de Lisboa. Destacaram-se as expedições de
Fernando Pó, Lopo Gonçalves, Rui Sequeira, Diogo Cão e Pero de Sintra, que em 1471, segundo consta,
foi o primeiro navegante português a atingir o hemisfério sul.
A empresa iniciada pelo infante D. Henrique prosseguiu nas mãos do rei D. João II que tomou a
peito descobrir os mundos remotos. O seu poder naval era já tão grande, que o Tejo via com pasmo o
famoso galeão de mil tonéis, monstro boiando n'água, eriçado de canhões. Nunca os estaleiros tinham
produzido navio tão grande. Mandou o rei aperfeiçoar as bússolas, desenhar cartas marítimas para

46
O Cabo Não ou Cabo do Não, actual Cabo Chaunar, é um cabo situado na costa atlântica da África, no sul do Marrocos,
entre Tarfaya e Sidi Ifni. Até ao século XV era considerado intransponível por europeus e muçulmanos, de onde se originou o
seu nome.
47
Barca era um navio pequeno de madeira, com uma só coberta e com velas latinas e que podia levar ou não cesto de gávea.
Barinel é uma embarcação pequena que possui vela quadrangular podendo também ser movido utilzando remos.
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orientação das rotas, cometendo esses estudos a uma junta que fez as primeiras tábuas de declinação do
Sol.
As expedições marítimas foram reiniciadas com maiores recursos. Em 1486 Bartolomeu Dias recebe
a missão de descobrir a passagem sul do continente africano, e, em 1488, após ter sido jogado mar afora
por uma violenta tempestade, voltou para leste para retomar o acompanhamento do litoral como vinha
fazendo e teve a surpresa de verificar que não o encontrava mais; voltou então para o norte e reencontrou
o litoral à sua frente (W-E); após prosseguir para leste algum tempo voltou e só então descobriu o extremo
sul da África, que, muito acertadamente, chamou de cabo das Tormentas, rebatizado mais tarde de cabo da
Boa Esperança.

1.1) A Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias:


Portugal não se garantiu apenas por meio de instrumento diplomático na questão da propriedade das
terras descobertas e por descobrir. Usou também o velho e eficiente recurso da união familiar: D. Manuel,
rei de Portugal, pediu a mão de D. Isabel, filha dos Reis católicos Fernando e Isabel, para sua rainha,
realizando-se o casamento em 1497. Somente depois de garantidas para si as terras africanas já
descobertas e afastada durante muito tempo a possibilidade de conflito com a Espanha é que Portugal
reiniciou a sua jornada para as Índias pelo oriente.
No entanto, quando Vasco da Gama parte em 1497, ele segue a rota de todos os navegantes que
demandavam a costa da África até a altura de Serra Leoa e daí, surpreendentemente, guina para alto mar,
afastando-se do golfo da Guiné, região onde as calmarias eram frequentes e onde começava o trecho do
litoral africano em que a corrente de Benguela e os ventos dominantes são contrários ao sentido de
navegação. A corrente Sul-Equatorial e os ventos dominantes o levam para além do meio do Atlântico, a
ponto de ver sinais de terra, do que daria notícia a Cabral, quando este partiu para sua viagem em 1499,
da qual resultaria a descoberta do Brasil. Durante três meses só vê céu e água. Navegando decididamente
no rumo aproximado sul, vai encontrar, na altura do Prata e do sul da África, correntes e ventos favoráveis
que o levam diretamente ao extremo sul da África.
Nos dez anos que
mediaram entre essas duas
viagens e enquanto tantas
coisas importantes aconte-
ciam, como já vimos, é obvio
que alguém andou esquadri-
nhando todo o Atlântico Sul.
Observando o regime dos
ventos, não nos surpreende-
remos tanto com a viagem de
Vasco da Gama, pois na
navegação para o golfo da Representação de Calecute no atlas
Guiné a ida e a volta não se "Civitates orbis terrarum"
faziam pelo mesmo caminho, (Georg Braun e Franz Hogenber, 1572
o que demonstrava perfeito
conhecimento do regime e do
sentido das correntes
marinhas no Atlântico Norte.

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Passado o cabo da Boa Esperança, sobe ele o litoral africano do Índico até encontrar povos que lhe
dão seguras notícias das Índias, pois mantinham com essas regiões um comércio regular; esse comércio era
feito pelos árabes, que desde o século VIII possuíam o domínio do mar no oceano Índico. Contratando, por
bom dinheiro, um excelente piloto árabe, Vasco da Gama segue diretamente para as tão desejadas Índias,
aonde chega às proximidades de Calicute, em 20 de maio de 1498.
Os navios lusitanos, de grande porte em comparação com os dos árabes, não tinham a liberdade de
ação dos navios de guerra inimigos, mas tinham maior poder de fogo. E o mundo estava entrando numa
época de predomínio do fogo sobre movimento e choque. Foi nessa disputa que os portugueses, apesar das
distâncias mas fortemente amparados por um governo resoluto, em poucos anos tomaram dos orientais o
domínio dos mares índicos e passaram a exercer, com exclusividade, o comércio das especiarias e demais
mercadorias do Oriente para a Europa.
Com a chegada de Vasco da Gama a Calicute na Índia, a ligação marítima imediata entre a Europa
e as Índias tinha sido conseguida. O encontro dessa rota marítima foi somente o primeiro passo para o
verdadeiro fim. A questão mais difícil estava ainda de pé: estabelecer nas costas índicas mediante pacíficas
negociações com os chefes indígenas ou por imposição da força, pontos de apoio para o comércio e adquirir
depois, em face dos árabes, uma posição dominante. Os árabes tinham em seu poder, há vários séculos,
toda a navegação comercial pelo mar Vermelho e do golfo Pérsico até Málaca, depósito principal dos
produtos da Ásia Oriental. Era preciso arrebatar aos árabes essa situação de predomínio.
Mal Vasco da Gama regressou com as provas do resultado feliz de sua viagem, treze navios se
fizeram à vela sob o comando de Pedro Álvares Cabral, levando mil e duzentos soldados para vencer os
hindus. Ao demandar o cabo da Boa Esperança, a frota aportou ao litoral brasileiro, acrescendo dessa forma
os domínios do rei de Portugal, tomando posse das terras demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas. Na Índia,
Cabral recebeu por toda parte votos de amizade e voltou para Portugal carregando riquezas nos poucos
navios que haviam escapado às desventuras da expedição. O rei, encorajado por esse primeiro ensaio,
equipou quinze navios de alto bordo, sendo confiado o comando a Vasco da Gama. O almirante português
reduziu vários estados à condição de tributários, destroçou a frota do samorim de Calicute, e a presa enorme
que encontrou nesses navios valeu-lhe uma acolhida entusiástica no regresso.
Em viagem posterior, Francisco de Albuquerque obteve consentimento do rei de Cochin para
construir o Forte de Santiago e a Igreja de São Bartolomeu. Assim foi colocada a primeira pedra do domínio
espiritual e temporal de Portugal no país, domínio que iria durar até 1961. A heróica resistência no Forte
Santiago, com Eduardo Pacheco à frente de um punhado de bravos, contra a investida de dezenas de
milhares de soldados do samorim consolidou a posição portuguesa na Índia. A partir desse momento,
Portugal se considerou senhor dessas paragens. Não satisfeito de retirar ricas mercadorias, enviou Francisco
de Almeida na qualidade de Vice-Rei. A prudência e o valor de Almeida foram coroados do mais feliz
sucesso. Ele submeteu as tribos dos reis de Quiloa, de Mombaça e de outros Estados, construindo também
muitos fortes. Lourenço, seu filho, abordou a ilha de Ceilão. A posição e os portos dessa ilha fazem com
que ele seja o centro do comércio da África e da China. Nenhum porto é comparável, nesses mares, ao de
Trinquernale.
O Plano de domínio português acha-se esboçado na carta que o primeiro Vice-Rei, Francisco de
Almeida, enviou a D. Manuel I. É esse um dos documentos mais importantes da história portuguesa no
Oriente: "Toda a nossa força seja no mar, desistamos de nos apropriar da terra. As tradições antigas de
conquista, o império sobre reinos tão distantes não convém. Destruamos estas gentes novas [árabes,
afegãos, etíopes, turcomanos] e assentemos as velhas e naturais desta terra e costa e depois iremos mais
longe. Com as nossas esquadras teremos seguro o mar e protegidos os indígenas em cujo nome reinaremos
de fato sobre a Índia, e se o que queremos são os produtos dela, o nosso império marítimo assegurará o
monopólio português contra o turco e o veneziano”.

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Perante a ameaça portuguesa e instigado por Veneza, o
sultão do Egito enviou para a Índia, mar Vermelho abaixo, uma
numerosa frota de guerra. Porém em Diu, a 3 de fevereiro de
1509, Francisco de Almeida a destroçou, apesar de os egípcios
contarem com o concurso de artilheiros italianos.
Nos anos seguintes, os portugueses iniciaram uma
política de conquista que, graças aos eminentes dotes militares
de Afonso de Albuquerque, se traduziu numa série de
extraordinários êxitos. Assaltou Goa, na costa de Malabar;
depois ocupou as Molucas e após uma desesperada luta
apoderou-se da rica cidade de Malaca. A notícia das invencíveis
esquadras estrangeiras, estendendo-se ao longo dos países
litorâneos do oceano Índico e de todas as partes, acudiram
embaixadores de reis indígenas para fazer alianças e tratados de
comércio.

Esses acordos permitiram o estabelecimento de feitorias e a


construção de firmes fortalezas para protegerem os comerciantes
portugueses. Desse modo, ficou o Extremo Oriente submetido à
esfera de interesse da Lusitânia. Mas Albuquerque percebeu, com
extraordinária perspicácia que, para aniquilar totalmente a
hegemonia mercantil dos árabes (mouros, como diziam os
portugueses), era preciso obturar a rota de importância mundial até
então, que atravessava o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. Todos
os seus recursos militares fracassaram diante dos muros de Aden,
mas no ano de 1515 conseguiu forçar a cidade de Ormuz e,
levantando nela uma grande fortaleza, cortou ao comércio arábico
a ligação com o Mediterrâneo. Ormuz, Goa e Malaca, os três
pontos cardeais do império fundado por Albuquerque no breve
Península Arábica
período de cinco anos, valiam o domínio em todo o mar das Índias

e a vassalagem de todas as costas, desde Sofala, em África, ao cabo de Jar-Hafum; desde Khor Fakhan, na
Arábia, até o golfo Pérsico; desde o Indo até ao cabo Kumari; daí às bocas do Ganges e, descendo pelo
Arakan e pelo Pegu, até Malaca com as ilhas dispersas de Madagascar e Sokotra, Anjediva, os arquipélagos
de Lakha (Laquedivas) e de Malaca (Maldivas), Sinala (Ceilão) e Sumatra e Java, Bornéu e as Molucas até
os pontos extremos de Banda e Ambon.
Decaídos os árabes de sua privilegiada posição de intermediários entre o Oriente e o Ocidente, a
corrente de produtos orientais, que da Ásia anteriormente ia para a Europa através do Mediterrâneo, foi
encaminhada diretamente para Portugal, seguindo a via marítima.
A expansão portuguesa na Ásia continuou no decorrer de quase todo o século XVI, exigindo
frequentemente o recurso às armas, o que absorvia grande parte dos recursos do reino. Durante esse tempo,
os portugueses mantinham suas pretensões no Marrocos, sustentando diversas guerras, embora de pequena
envergadura. Ao mesmo tempo, seus navegantes descobriram várias ilhas no Atlântico Sul, chegaram às
costas do Canadá e exploraram quase todo o litoral da América do Sul. A partir da terceira década desse
século também foi iniciada a colonização do Brasil, e Portugal soube defender com indomável energia a
posse das novas terras, enfrentando a crescente agressividade de marinheiros ingleses, franceses e
holandeses. Num extremo do mundo, seus marinheiros, comerciantes e religiosos chegaram ao Japão e se
estabeleceram em Macau, na China; no outro, seus pescadores, ao largo da Terra Nova começaram a retirar
dos mares o bacalhau ali encontrado em cardumes imensos e, segundo consta, auxiliaram o navegante
francês Jacques Cartier nas suas primeiras explorações no Canadá. Assim, os portugueses, que não tinham
quarenta mil homens sob armas, faziam tremer o Império de Marrocos, os Berberes da África, os
mamelucos, os árabes e todo o Oriente de Ormuz à China, do cabo da Boa Esperança até Cantão, exercendo
seu domínio sobre mais de quatro mil léguas, por meio de uma cadeia de empórios e fortalezas.
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1.2) Outras Navegações Portuguesas:
Os lusos andaram mesmo, como diz o poema famoso Os Lusíadas, “por mares nunca dantes
navegados”, pelo menos por europeus.
Mesmo antes da descoberta da América por Colombo, já nela teriam estado os portugueses: em
1491, João Vaz Corte Real e Álvaro Martins Homem estiveram na Terra Nova e, no mesmo ano da viagem
de Colombo, João Fernandes Labrador e Pedro de Barcelos descobriram a península que teria até hoje o
nome do primeiro.
Em 1501, Gaspar Corte Real descobriu o estreito de Davis, entre a Groenlândia e o continente norte-
americano e esteve naquela grande ilha.
As navegações lusitanas no Índico levaram à conquista de quase toda a costa da África e à descoberta
de inúmeras ilhas (Ceilão, Maurício, Reunião, Madagascar, Maldivas, Sonda, Sumatra, etc.).
Em 1516, Duarte Coelho atinge a Cochinchina (atual Vietnã) e, em 1525, Luiz Vaz Torres descobre a
Austrália. A Nova Guiné, em 1538, com João Fogaça, e o Japão, em 1541, com Fernão Mendes Pinto e
Antônio da Mota, mostram quão longe chegaram os portugueses para as bandas do Oriente.
Mas, o ponto alto das navegações lusitanas viria com as viagens de João Martins que, em 1588,
descobriu a passagem do noroeste, passando pelo estreito de Davis, mar de Baffin, ilhas Árticas, norte do
Alasca e estreito de Bering, vindo a sair no Pacífico, e de David Melgueiro que, em 1660, descobriu a
passagem do nordeste, partindo do Japão, passando pelo norte da Sibéria e das ilhas Spitzberg e chegando
a Portugal pelo norte do Atlântico.
Desse imenso império colonial pouco restou a Portugal; a decadência começou em 1580 com a
entrega da coroa ao Rei espanhol Felipe II, o que fez com que os holandeses, que estavam em luta com os
espanhóis, passassem a atacar os navios portugueses.

1.3) O Apogeu de Portugal:


Apesar dos sintomas de decomposição, o império comercial português atingiu, no fim do século
XVI, o seu apogeu. As frotas singravam carregadas de preciosidades até os mares do Japão e da China,
requerendo o serviço de mais de quatrocentos navios de alto bordo, além de duas mil caravelas e vasos
menores. Considerada a obra toda do pequeno reino, convém reconhecer a sua grandeza excepcional em
relação às limitações de recursos. Portugal era um pequeno Estado com escassa população e condições
econômicas limitadas. Fundando sua expansão política e econômica no comércio marítimo e no império
colonial viu-se face a face com as grandes potências marítimas que ambicionavam por igual a implantação
de colônias e linhas de comércio oceânicas. Exangue em homens, sem recursos, principalmente devido às
funestas campanhas no Marrocos, e tendo perdido a independência para a Espanha após o desastre de
Alcácer-Kibir48, Portugal não pôde manter a maior parte de seu grandioso império ante a investida cada vez
mais pertinaz das novas potências marítimas surgidas na Europa. Enquanto os Países Baixos solapavam o
poder lusitano nas Índias Orientais, seja por ações diretas, seja fomentando a rebelião dos indígenas já
submetidos, a Inglaterra colaborava na ruína do império português, ajudando em 1622 a Pérsia a
reconquistar Ormuz. A Espanha, que se esforçava para proteger suas colônias na América, deixou em pleno
abandono as possessões portuguesas. No Brasil, onde já havia uma população de origem portuguesa
relativamente numerosa, as investidas holandesas fracassaram, mas na África e no Oriente os empórios e
fortalezas lusitanas, que dispunham de limitadas guarnições e com as comunicações precariamente
mantidas com a metrópole, foram sendo tomadas uma a uma.

48
O desastre de Alcácer-Kibir corresponde ao falecimento do rei de Portugal D. Sebastião, que combatendo no norte da África
os mulçumanos, ainda como parte das guerras de reconquista e das cruzadas, desaparece em batalha. Sua morte gera duas
situações históricas: a primeira é que ele tinha 23 anos de idade à época e ainda não tinha herdeiros. Após sua morte, assumiu o
trono seu tio que era cardeal da Igreja Romana e que ao morrer também não tinha herdeiros, permitindo a tomada do trono de
Portugal pelos espanhóis, correspondendo este período à União Ibérica. A segunda situação é que seu desaparecimento fomentou
histórias de que ele havia sido arrebatado ao reino dos céus e de lá retornaria comandando hordas celestiais para combater os
infiéis mulçumanos. Deste fato surgem os movimentos religiosos conhecidos como sebastianistas, com ações principalmente na
colônia portuguesa do Brasil.
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Em 1640, Portugal conseguiu sacudir o domínio espanhol. D.
João IV, elevado ao trono pelo voto popular, encontrou o reino
arruinado por 61 anos de servidão (União Ibérica), sem exército, sem
navios, sem artilharia. Seguiram-se quase vinte anos de guerras antes
que a independência portuguesa fosse formal e definitivamente
reconhecida pelas demais potências europeias. Os portugueses
recobraram o Brasil, mas perderam as Molucas, Cochim, Ceilão, o cabo
da Boa Esperança e tudo mais de que os holandeses se haviam
apoderado nas Índias Orientais. Por outro lado, já não havia condições
nos séculos XV e XVI para serem recomeçadas as aventuras oceânicas.
O tempo do valor pessoal havia passado. No lugar das navegações
aventurosas estavam estabelecidas linhas de comércio regular
controladas por rivais poderosos. Dessa forma, a Holanda e a Inglaterra
foram as herdeiras do império econômico construído por Portugal.

2) Espanha:

A Espanha, com seu planalto extenso cercado de ásperas


cordilheiras, é um país nitidamente continental. Os rios
caudalosos na época das chuvas e secos no verão, fechados quase
sempre por bancos em sua desembocadura, prestam-se pouco à
navegação. Também não tem a Espanha bons portos, e mesmo o
tráfego pela costa é difícil. Em oposição a Portugal, a Espanha é
um país interior, no qual, ao lado da agricultura, da viticultura e
da criação do bicho-da-seda, teve grande importância a indústria
pastoril. Além disso, o país era bastante extenso para alimentar
devidamente a população, de maneira que esta não sentia
necessidade alguma de arriscar-se em empresas ultramarinas para
aquisição de novas terras.
Embora houvesse ao longo do litoral uma população de arrojados marinheiros, como os de
Barcelona e Valência, os quais enfrentaram na Idade Média lutas porfiadas contra as frotas das cidades
marítimas italianas, os espanhóis não teriam empreendido, possivelmente, o caminho dos descobrimentos,
se um estrangeiro, o genovês Cristóvão Colombo, não lhes tivesse mostrado as rotas do oceano. Além de
apresentar seus planos por duas vezes ao governo espanhol, Colombo tentou conseguir o apoio de Gênova,
Inglaterra, França e Portugal.
Pouco antes de a expansão marítima portuguesa atingir o objetivo de chegar às Índias, a Espanha
acabou por organizar expedições atlânticas, tornando-se a segunda monarquia europeia a fazê-lo. A
primeira viagem espanhola, bastante modesta, foi concebida em 1492 por Cristóvão Colombo. Partiu em
agosto daquele ano, em três pequenas caravelas, com o projeto de atingir as Índias contornando o globo
terrestre, navegando sempre em direção ao Ocidente. Assim, buscava-se uma rota alternativa àquela
controlada pelos portugueses no sul, em torno da África.
A ideia de Colombo era relativamente simples: partindo do pressuposto de que a Terra era redonda,
as Índias poderiam ser atingidas navegando-se para o ocidente em vez do oriente. Como, porém,
a base de sua argumentação (a redondeza da Terra) fosse assunto mais do que discutido, até inaceitável
para a época, Colombo foi muitas vezes ridicularizado; se não tivesse chegado a fazer a viagem que o
imortalizou, seu mérito seria enorme somente pela fé inabalável que tinha na sua teoria; anos de persistência
foram necessários para conseguir convencer alguém que pudesse efetivamente auxiliá-lo. E esse alguém
foi a Rainha da Espanha Isabel.
Mas, antes de ver a sua ideia aceita na Espanha, Colombo havia estado em Lisboa onde sua ideia
também não fora aceita, mas não pelos mesmos motivos que na Espanha, isto é, descrença na ideia daquele
visionário. Não, ao que tudo indica, os sábios portugueses não acharam a ideia absurda e tanto isso é

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verdade, que a levaram ao rei. Mas não interessava a Portugal abandonar uma norma que vinha seguindo
havia meio século, isto é, chegar às Índias passando pelo sul da África, para adotar uma nova conduta que
poderia ser correta, mas também poderia resultar em nada; essa viagem que Colombo imaginava era uma
aventura, sem dúvida, e os portugueses já estavam muito mais adiantados na maneira de encarar o problema.
De qualquer modo, porém, após longas peregrinações e dissabores, Colombo pôde armar a sua
pequena frota de três navios: a Santa Maria, a Pinta e a Niña. A Santa Maria, a maior das três caravelas,
tinha apenas 27 metros de comprimento e deslocava 100 toneladas; a Niña, a menor, deslocava apenas 40
toneladas.
Colombo desconhecia a existência de um vasto continente entre a Europa e as Índias; imaginava a
distância entre a Europa e a Ásia pelo ocidente muito menor do que realmente é. Durante a viagem, teve
que mentir para as guarnições rebeladas, dizendo que ainda não haviam percorrido o caminho previsto.

Colombo chegou ao continente americano, acreditando ter


alcançado as Índias, e morreu acreditando nisso. A descoberta da ilha
de Guanahani, hoje Watling Island, uma das Bahamas, e, logo a
seguir, Cuba e Hispaniola, hoje Haiti, convenceu Colombo de ter
chegado às Índias, ideia essa tanto mais reforçada quando soube
vagamente da existência de um grande império, mais a oeste, onde
havia muitos metais preciosos; os indígenas se referiam ao Império
Asteca, mas para Colombo eram as tão ambicionadas Índias.
Somente em 1504 desfez-se o engano, quando o navegador Américo
Vespúcio confirmou tratar-se de um novo continente.
A essa altura, portugueses e espanhóis, espalhados pelo
Atlântico, detinham o monopólio das expedições oceânicas, sendo
seguidos por outras nações a partir do início do século XVI,
especialmente França e Inglaterra.
Entretanto, os dois reinos ibéricos já haviam decidido a partilha do mundo antes mesmo que outras
nações começassem a se aventurar nos novos territórios: em 1493, as bênçãos do papa Alexandre VI a esse
acordo levou à edição da Bula Intercoetera, substituída no ano seguinte pelo tratado de Tordesilhas. Este
estipulava que todas as terras situadas a oeste do meridiano de Tordesilhas (por sua vez situado 370 léguas
a oeste do arquipélago de Cabo Verde) pertenceriam à Espanha, enquanto as terras situadas a leste seriam
portuguesas. O Acordo anterior previa apenas 100 léguas, mas a insistência por parte dos portugueses se
deu não apenas para garantir as posses de terras já parcialmente conhecidas no litoral da América do Sul,
mas principalmente as terras ocupadas nas Índias, já que a linha imaginária dividia o globo terrestre ao
meio.
A divisão, embora hábil do ponto de vista político, porque tentava evitar um conflito entre duas
importantes nações da cristandade, era frontalmente contrária aos prováveis interesses dos demais estados
(França, Inglaterra, Veneza, Gênova, etc.), que eram sumariamente excluídos da repartição do mundo. Para
Portugal era injusto, porque equiparava todo o longo e paciente trabalho de 70 anos com uma única viagem
dos espanhóis.
Fosse como fosse, a decisão papal era impossível de ser aplicada pelas seguintes razões:
a) não estabelecia qual o meridiano que serviria de ponto de partida para a contagem da longitude;
b) o meridiano de Açores não é o mesmo do arquipélago de Cabo Verde;
c) qualquer que fosse o grupo de ilhas considerado, haveria necessidade de se estabelecer
exatamente qual a ilha e qual o ponto nessa ilha para servir de ponto de partida, pois mesmo uma
pequena diferença pode acarretar longas discussões diplomáticas; e
d) a légua portuguesa não era igual à espanhola e a bula não dizia qual delas deveria ser usada como
medida.
Desse modo, iniciou a Espanha uma política que não correspondia ao seu caráter continental, na
qual, a princípio, o povo não participou de maneira alguma. Não obstante, o recém-fundado Império
Colonial Espanhol conseguiu adquirir um imenso poder, graças à sua favorável situação geral em relação
às novas rotas marítimas. Além disso, os fabulosos êxitos dos primeiros aventureiros excitaram o afã dos
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demais, fazendo com que fossem realizadas verdadeiras façanhas. Sob o comando de chefes da têmpera de
Pinzon, Vespúcio, Cortez, Pizarro, Del Cano, Magalhães, Narvaez, Ayolas, De Soto, Balboa e muitos
outros, os espanhóis, a partir dos primeiros anos do século XVI, transformaram grande parte do mundo em
palco de suas arrojadas expedições de conquista. Embora em pequeno número, esses aventureiros
edificaram o maior império colonial do século, conquistando regiões imensas em meio a dificuldades e
perigos incontáveis.
Sucediam-se as conquistas com tal rapidez, que durante o meio século seguinte quase não passava
um ano sem que o Império Colonial Espanhol ganhasse um grande território. Durante esse período, a
Espanha foi a potência mais importante do mundo. Abarcavam seus territórios o sul da Itália, a Holanda,
a Bélgica, a Espanha, Portugal e partes consideráveis da Franca, toda a América Central e Meridional, a
maior parte dos territórios ocidentais e meridionais dos Estados Unidos, as ilhas Filipinas, Madeira, Açores,
Cabo Verde, a Guiné, o Congo, Angola, Ceilão, Bornéu, Sumatra, Molucas, com numerosos
estabelecimentos em outras terras similares e continentais da Ásia. Nessa época, o exército espanhol era
reputado o melhor da Europa. No mar, o prestígio das armas espanholas foi assegurado pela vitória sobre
os turcos em Lepanto (1571).
Entretanto, a dispersão geográfica dos países submetidos à lei dos Habsburgos foi uma causa de
enfraquecimento para a Espanha, considerando que, para realizar a coesão política de suas possessões
disseminadas pelo mundo inteiro, ela tinha que ser toda poderosa no mar, o que não foi conseguido, se bem
que tentado constantemente. As numerosas guerras que a Espanha sustentou na Europa esgotaram os
tesouros tirados do México e do Peru. Por outro lado, essas guerras impediram-na de consagrar suas
energias e suas riquezas na manutenção do poderio marítimo que lhe asseguraria o controle dos territórios
mais preciosos: os da América e os dos Países Baixos.
A Espanha, depois de anexar Portugal (União Ibérica de 1580 a 1640), estava quase tão em contato
com o mar como a Inglaterra e dispunha, além disso, de uma frota de guerra com tradição naval, mas era
frota de galés, com escravos por remadores, e as suas tradições eram as do Mediterrâneo. A esquadra que
triunfou sobre os turcos em Lepanto, com a tática de Salamina e Actium, não poderia resistir à descarga
simultânea de Drake, não poderia atravessar o Atlântico e de pequena utilidade seria na baía de Biscaia e
no canal da Mancha.
A Espanha possuía, é fato, os seus navios para a navegação oceânica que velejavam ao longo da
costa americana ou atravessavam o Atlântico de Cádiz ao Novo Mundo, serviam para levar imigrantes e
trazer a prata e o ouro, mas, não sendo navios de guerra, caíram como presa fácil nas garras dos piratas
ingleses. Na realidade, a Espanha só começou a construir navios capazes de combater a Inglaterra nas
vésperas da deflagração da guerra regular.
Havida a Reforma na Inglaterra, fundou-se ali a igreja anglicana; reinava lá a Rainha Isabel I, filha
de Henrique VIII, que mantinha presa sua prima Maria Stuart, Rainha da Escócia, que era católica. A
pretexto de vingar a morte de Maria Stuart, finalmente condenada pela soberana inglesa, e reclamando
direitos ao trono inglês, Felipe II, na verdade pressionado pelos problemas econômicos da Espanha e
ansioso para pôr as mãos na Inglaterra pré-industrial, lançou-se à guerra a fim de derrubar Isabel I.
Na verdade, Felipe II tinha grandes motivos para lançar-se numa luta contra os ingleses. Isabel I
encorajara as atividades de corso contra o comércio espanhol. Corsários renomados trafegaram pelos mares
a serviço da economia inglesa na segunda metade do século XVI. Um dos mais famosos, Francis Drake,
atravessou o estreito de Magalhães em 1578 e fustigou intensamente as cidades e povoações espanholas da
costa ocidental da América. Depois de dar a volta ao mundo, retornou à Inglaterra pelo cabo da Boa
Esperança levando ouro, prata e jóias estimadas em meio milhão de libras esterlinas. A Rainha Isabel I
aceitou e aprovou plenamente a empresa de Drake, recebendo boa parte do tesouro trazido e fazendo-o
cavaleiro no convés de seu próprio navio.
O momento mais crítico de toda a história da Espanha chegou quando a Armada que enviara contra
as costas da Inglaterra sofreu irreparável derrota em 1588; cento e sessenta navios, dois mil e seiscentos
canhões, oito mil marinheiros e vinte e dois mil homens de tropas, tal foi a força. Veio o desastre e atrás
dele as extraordinárias aventuras que afligiram o resto da frota: tempestades, fome, enfermidades. Menos
da metade dos navios conseguiu retornar à Espanha.

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Manobrando com superioridade e evitando toda forma a


abordagem, em que levariam desvantagem, empregando ainda
canhões de maior alcance, os ingleses impediram o êxito dos
espanhóis.
Não houve nenhuma grande batalha. Houve diversos
encontros, todos taticamente indecisos, mas que alcançaram um
grande resultado estratégico: os espanhóis não desembarcaram na
Inglaterra. Dando a volta nas ilhas britânicas, já de regresso ao
reino, a Grande Armada perdeu cerca de metade de seus navios,
dispersos por tempestades, afundando no Atlântico ou caindo sobre
rochedos costeiros. Historiadores de tempos posteriores
reconheceram que o catastrófico fracasso da Armada marcou o
início do declínio da Espanha.
Se bem que fosse ainda preciso deixar passar três séculos
para ver consumar-se a perda de suas últimas colônias, o domínio
do seu vasto império colonial achou-se imediatamente abalado por
aquele primeiro golpe na hegemonia marítima. Se bem que a
Espanha houvesse ainda podido manter grandes frotas até as
guerras de Napoleão, nunca mais foi potência verdadeiramente
temível.
Assim, por falta de um comércio próprio para cimentar o
poder marítimo espanhol, apesar de toda a força política e militar
de Felipe e do seu império sobre milhões de indivíduos dispersos
por metade do globo, parte do Império ruiu ante o ataque de um
pequeno Estado insular e de algumas cidades rebeldes das planícies
lamacentas e das dunas da Holanda.
A Espanha possuía o melhor exército da Europa no fim do século XVIII (1588). Felipe II tratou de
embarcar esse exército em navios que mandou preparar, a fim de desembarcar nas ilhas britânicas. A
empresa seria relativamente fácil, se não houvesse o mar pela frente! Os espanhóis tinham magníficos
soldados, mas para o recrutamento indispensável de marinheiros não dispunham da classe numerosa e
enérgica de mercadores e homens do mar particulares, tais como os que eram a riqueza e o orgulho da
Inglaterra.
Em consequência, permanecendo grande potência em terra, não mais foi possível à Espanha
competir no mar com a Holanda e a Inglaterra. Enfraquecida no mar, que serviu de ligação entre as várias
partes do Império durante dois séculos, tornou-se a Espanha inimiga natural de grande número de potências
que se esforçavam em arrancar o pavilhão de Castela das terras conquistadas ou das riquezas extraídas dos
novos territórios. Em todas as colônias de alguma importância, foram os espanhóis obrigados a levantar
fortificações custosas, a fim de garantir uma proteção relativa contra os ataques de piratas e das frotas das
potências inimigas. Embora decadente, a Marinha de Castela não estava, porém, ausente dos mares e soube
por mais de uma vez impor-se a seus contendores, como sucedeu ao largo dos Abrolhos por ocasião das
invasões batavas no Brasil (Jornada dos Vassalos).
A ameaça contra as rotas marítimas, cada vez maior com o
decorrer dos anos, obrigou a Espanha a tomar medidas extremas.
Todo o tráfego era regulado de maneira a encher as máximas
condições possíveis de segurança contra os navios corsários das
nações rivais. Uma vez por ano, dos portos de Cádiz, Sevilha e S.
Lucas partiam dois comboios de navios mercantes escoltados por
navios de guerra. Um desses comboios, chamado Frota, fazia vela
para o México, e o outro chamado Galeão, se dirigia para a América
do Sul. A Frota levava a Vera Cruz as mercadorias destinadas à
Nova Espanha.

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Os galeões destinados ao abastecimento de Caracas, da Nova Granada, do Peru, do Chile,
desembarcavam suas mercadorias em Cartagena e em Porto Bello. Galeão e Frota reuniam-se em Havana
carregados de metais preciosos e dos produtos do México e da América do Sul, e entravam juntos em Cádiz.
Os comboios não seguiam cada ano a mesma rota, a fim de evitar o ataque dos navios corsários e o itinerário
era rigorosamente fixado pelo governo central. Todos os mercadores que quisessem exportar mercadorias
para as colônias ou importar na Espanha produtos coloniais tinham que se servir das duas frotas armadas
pelo Estado.
Paralelamente ao declínio da Marinha espanhola, se processou o esfacelamento do outrora
majestoso Império de Felipe II. Ainda nos séculos XVI e XVII, após o desastre da "Invencível Armada”, a
Espanha perdeu, na Europa, quase todo o território extra-peninsular e algumas ilhas nas Antilhas. No século
XVIII, em consequência da Guerra de Sucessão de Espanha, na qual a frota de Castela sofreu sérias
derrotas, Málaga, Gibraltar e a ilha de Minorca, no próprio território metropolitano, caíram sob os golpes
da Marinha britânica. A ilha de Minorca voltou, anos após, ao poder da Espanha, graças ao apoio da
Marinha francesa, mas Gibraltar até hoje está sob o pavilhão inglês.
Espanha, depois de Portugal, indicara o caminho a seguir, mas os holandeses, na Batalha de Dunes,
em 1639, deram o golpe de misericórdia no poderio naval dos espanhóis e, daí em diante, a luta pela
hegemonia marítima degenerou numa disputa confusa entre as grandes potências da Europa.
O progressivo esfacelamento do Império, de onde provinham os principais recursos para o tesouro
de Madri, as guerras incontáveis e desastrosas aliadas à infeliz situação social e econômica do próprio
território metropolitano, colocaram a Espanha no caminho da decadência. A agricultura ibérica, que na
Idade Média fora a mais adiantada da Europa, entrou em colapso e por volta de 1700 já mal podia alimentar
a população do país. Também as principais indústrias, como a da lã e da seda, minguaram.
O período napoleônico trouxe novas desgraças ao vacilante reino. Com indomável energia e
ferocidade, o povo espanhol enfrentou a invasão francesa, mas enquanto sustentava a luta heróica, a maior
e melhor parte do seu vasto Império Colonial alcançava a liberdade. Em consequência, a população
declinou, e a miséria espalhou-se.
Até a segunda década do século XIX, quase todas as colônias da América Central e do Sul se haviam
separado do Governo de Madri. No decorrer do século XIX, a Espanha deixou de vez de ser uma grande
potência. Sua população pouco havia crescido em confronto com a dos demais países europeus. Desprovida
de recursos naturais, não pôde a nação ibérica acompanhar o ritmo acelerado da revolução industrial
processado noutros países da Europa. Não dispondo de colônias ricas, sem indústria de vulto, sem outros
recursos internos que permitissem o desenvolvimento comercial, dilacerada por graves dissensões internas,
a Espanha era uma sombra do que fora. Em 1898, depois das derrotas navais de Manilha e Santiago, a
Espanha foi obrigada a concluir a infeliz guerra contra os Estados Unidos, perdendo Cuba, Porto Rico e as
Filipinas.

3) França:

A história marítima da França não apresenta, como ocorre com


a da Inglaterra, interesse especial antes do século XVI. Até aquela
época, principalmente durante a Guerra dos Cem Anos, o canal
da Mancha foi teatro de grandes contendas navais entre ingleses,
flamengos, frísios e franceses, sem que dessas pugnas surgisse
uma potência de características eminentemente marítimas,
dominando as rotas oceânicas com suas frotas de guerra e
mercante, como faziam então, no Mediterrâneo, as repúblicas
italianas. As próprias batalhas navais da Guerra dos Cem Anos
foram mais entrechoques de exércitos embarcados que
procuravam cruzar um largo fosso de água salgada.
No século XVI, contudo, nas cidades marítimas da Normandia e da Bretanha, por espírito de
aventura e desejo de lucro, começou-se a armar navios para ousadas expedições que seguiam nas esteiras
das frotas portuguesas e espanholas, as senhoras dos mares da época. Não faltavam nas cidades marítimas

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francesas marinheiros arrojados e hábeis navegantes desde muitos séculos afeitos às aventuras pesqueiras
nas perigosas paragens da Bretanha e do mar do Norte. Certos cronistas franceses mencionam viagens
realizadas por esses intrépidos navegantes ao longo da costa da África, anos antes das expedições
portuguesas terem explorado aquelas regiões. Não há, porém, provas concretas dessas aventuras marítimas.
Se não se pode estabelecer sobre muitos sólidos fundamentos que os franceses precederam aos portugueses
ao longo das costas ocidentais do continente africano, ao menos se sabe, sem dúvida, que eles os seguiram
de bem perto. Suas excursões foram mesmo, desde o começo, um motivo da reclamação dos reis de
Portugal.
Desde 1488, um comandante de nome Cousin frequentava as costas da Guiné, e seis anos, apenas,
após Vasco da Gama ter dobrado o cabo da Boa Esperança para se lançar à conquista das Índias Orientais,
um navegador normando, Birot Paulmier de Gouneville, partiu de Honfleur, no começo de junho de 1503,
para seguir a rota do célebre português. A partir de 1510, a Terra Nova se tornou a meta dos pescadores
bretões e bem depressa a costa da França pululou de corsários que espreitavam a navegação espanhola e
portuguesa no Novo Mundo, procurando deitar mão no ouro e nos produtos americanos.
O primeiro monarca francês que se interessou pelas aventuras ultramarinas foi Francisco I. Ele
determinou em 1523 as viagens à América de Verazzani, florentino a serviço da França. Nos anos seguintes,
os irmãos Parmantier chegaram ao mar das Índias e à Sumatra, e Jacques Cartier e Roberval iniciaram a
exploração do litoral canadense. Ao mesmo tempo, os armadores franceses iniciaram um vigoroso
contrabando de pau-brasil no Atlântico Sul, sendo tenazmente perseguidos pelos lusitanos. Em seguida, por
questões religiosas, os franceses procuraram fundar uma colônia na baía de Guanabara, mas também aí
foram repelidos pelos portugueses.
Nos sessenta anos seguintes, os franceses tentaram ainda fixar-se no Brasil e na América do Norte.
Conseguiram descobrir e colonizar algumas ilhas das Antilhas, (Martinica, São Domingos, Santa Lúcia) e
estabeleceram-se firmemente na Guiana e no Canadá. Quase todos esses empreendimentos foram, porém,
realizados por iniciativa privada dos armadores das cidades do Atlântico, principalmente Saint Malô,
Dieppe, Honfleur e La Rochelle, pois, após Francisco I, por uma razão ou outra, os reis de França
abandonaram de vista as realizações no além-mar.
Com Henri IV, o Estado francês voltou a ocupar-se das atividades marítimas, sendo aplicados
grandes esforços para o ressurgimento da Marinha Mercante e a retomada da política colonial de Francisco
I. Pela convenção de 1606, confirmou o Estado francês a situação privilegiada que disputavam desde muito
tempo os navios franceses no Levante e nos Estados Barbarescos, e assegurou à França a posse da maior
parte do tráfego do Canadá. Paralelamente, a Marinha francesa com sanguinolenta determinação procurou
cercar as correrias dos corsários argelinos e tunisianos.
A atividade desenvolvida por Henri IV no domínio econômico foi continuada, seguindo um
princípio mais centralizado por Richelieu, pois ele representava um incomparável elemento de prestígio,
força e prosperidade. “Aquele que é mestre do mar tem grande poder na terra” disse Richelieu (1558-
1642), quando ministro de Luiz XIII, foi o primeiro a compreender a importância do poder marítimo para
garantir a influência internacional da França.
O regulamento marítimo é o mais característico das diferentes
medidas tomadas por Richelieu, para estimular e proteger eficazmente o
comércio francês. Foi interditada a exportação de mercadorias francesas,
exceção feita do sal, em navios de outras nacionalidades, ficando
estabelecido que a cabotagem deveria ser feita em navios nacionais e sendo
proibido aos franceses se servirem dos navios dos estrangeiros. Além do
mais, foram criados institutos de hidrografia e escolas para pilotos e
carpinteiros. Richelieu favoreceu em seguida a criação das companhias de
comércio, conferindo mesmo títulos de nobreza aos armadores e negociantes
mais eminentes, tudo no sentido de desenvolver poderosamente a Marinha e
o domínio colonial francês por ele considerados essenciais à grandeza da
nação. Em suma, Richelieu antecipou-se mesmo em suas medidas, às que
seriam adotadas na Grã-Bretanha, poucos anos depois, no “Ato de
Navegação”.

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A fim de garantir a expansão da grande obra, Richelieu tomou medidas enérgicas para expandir a
Marinha de Guerra. Para comandá-la e guarnecê-la apelou para os melhores marinheiros da costa, atraindo-
os com soldos elevados. Todo o vasto complexo industrial que serve de base ao desenvolvimento marítimo
foi criado ou desenvolvido. No Havre e em Bronage, fundiam-se os canhões necessários ao armamento dos
navios. Importantes estaleiros de construção foram instalados em Indret, no Loire, ao abrigo dos assaltos
de surpresa. No Levante (Mediterrâneo), o porto principal das galeras ficou sendo Marselha, como era da
tradição, e Toulon, cuja importância começou a crescer, servia de base aos navios a vela. Mas todo esse
progresso foi de qualquer forma artificial, pois não chegou a criar interesses duradouros que afetassem as
camadas numerosas e importantes da população francesa.
A Marinha de Guerra, reaparelhada por Richelieu, distinguiu-se em lutas porfiadas contra ingleses
e espanhóis, no Atlântico e no Mediterrâneo (La Rochelle e Guaretaria), mas o Cardeal morreu em 1642,
deixando inacabado o gigantesco empreendimento. A Marinha de Guerra havia começado a viver, mas sua
estrutura era ainda frágil e poderia desmoronar se não fosse cercada de cuidados inteligentes ou se fosse
negligenciada. A única parte sólida da obra de Richelieu era, aliás, a Marinha de Guerra, mais fácil, mais
rápida e mais necessária, na época, de ser colocada em primeiro plano. As partes referentes ao
desenvolvimento colonial e à Marinha Mercante foram incomparavelmente mais frágeis.
Nos anos seguintes à morte de Richelieu, não sendo mais a Marinha sustentada por uma vontade
possante, corroída pelo terrível flagelo das discórdias internas, declinou lentamente. A Marinha, que é
essencialmente um instrumento de política exterior, deveria mais do que nenhuma outra instituição sofrer
dos conflitos interiores. Daí em diante, ela não recebeu mais dinheiro.
Em 1659, a paz dos Pirineus pôs fim à interminável guerra com a Espanha. A França triunfara em
terra, mas nos mares ela havia caído do lugar brilhante a que fora alçada pela lúcida vontade do grande
Cardeal. Os espanhóis haviam tomado Tortuga em 1653 e os ingleses a Arcádia em 1656. Fato mais grave
e pesado de consequências foi o fato de que a Companhia das Ilhas da América e depois a Companhia da
Nova França haviam sido constrangidas, para escaparem à ruína, a renunciar a seus direitos. Assim,
enquanto as companhias inglesas e holandesas auferiam lucros fantásticos de suas atividades nos oceanos,
integrando cada vez mais um número elevado de habitantes na vida marítimo-comercial, na França ocorria
o inverso.
A depressão econômica e política que a França sofreu durante dezoito anos sob o ministério de
Mazarino, sucedeu um período de grande prosperidade e de novo poderio, consequência da hábil política
econômica de Colbert que ficou no poder de 1661 a 1683. Sua aparição marca o ponto culminante do
mercantilismo e da época mais próspera, mais gloriosa do comércio e do movimento colonial francês. Um
dos atos mais importantes de Colbert foi a publicação em 1673 das "Ordenanças do Comércio". A fim de
que as exportações fossem constantemente superiores às importações, Colbert colocou a indústria e o
comércio em condições favoráveis para o desenvolvimento e os tornaram capazes de resistir vitoriosamente
à concorrência estrangeira. Interditou a exportação das matérias-primas necessárias à indústria, reservou
mais uma vez o comércio de cabotagem aos navios franceses, encorajou a pesca em alto-mar e, enfim,
estimulou, por prêmios, a exportação de produtos manufaturados franceses. Essa política, entretanto, era
entravada pela falta de navios, pois em 1664 os ingleses possuíam quatro mil navios de comércio, os
holandeses dezesseis mil e a França dispunha de apenas duzentos.
Ante essa situação, Colbert ocupou-se particularmente do desenvolvimento e do aumento da
Marinha Mercante, com o fito de centralizar em mãos francesas o comércio dos transportes. Criou arsenais
e estaleiros em Brest, Rochefort: e no Havre, protegeu as florestas de madeiras de lei para obter a matéria
necessária à construção naval, encorajou por meio de prêmios e subvenções o armamento de navios
mercantes, favoreceu a compra de navios construídos e armados no estrangeiro. Ao mesmo tempo, os
navios mercantes pertencentes a outras nações foram submetidos, nos portos franceses, a uma taxa de
cinquenta sous por tonelada, na entrada e na saída. Pela Ordenança Marítima de 1681, criou escolas de
aprendizes, destinadas a formar um corpo numeroso de marinheiros hábeis e de pilotos experimentados.
Por conseguinte, Colbert procurou seguir com maior vigor a política anteriormente adotada por Richelieu,
a mesma, aliás, que a Inglaterra então procurava aplicar.
Paralelamente à expansão da Marinha Mercante e do comércio exterior, Colbert atacou o problema
da reorganização da Marinha de Guerra francesa, pois ele bem compreendia o papel capital da Marinha no
processo global do desenvolvimento marítimo. Na perseguição de seu grande ideal e na realização de seu
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sonho grandioso, Colbert não foi bem entendido, nem bem secundado. Desaparecido ele, ninguém saberia
continuar sua obra, mas, enquanto viveu, soube imprimir um desenvolvimento econômico à França, nunca
antes igualado. Estaleiros, depósitos, hospitais surgiram da terra e se abrigaram atrás de fortificações. O
trabalho desses arsenais foi organizado e regulamentado. Na Holanda, foram procurados os engenheiros
que deveriam servir de iniciadores. Em breve, das carreiras dos arsenais, começaram a sair numerosos
navios de guerra, todos semelhantes nas proporções. Em 1671, eram já 120 os navios de guerra de linha e
70 os brulotes, fragatas e galeras nas costas do Atlântico e de Provença. Em 1677, duzentos navios militares
estavam à disposição do governo. Um amplo recrutamento de marinheiros assegurava 52 mil homens de
guarnição. A Marinha Mercante, enquanto isso sob a administração do grande ministro, superava a cifra de
mil unidades.
Faltou tempo a Colbert para orientar o povo para o mar, ligando-o pecuniariamente à prosperidade
do comércio marítimo. Essa tarefa também ultrapassava as forças de um homem. Só o tempo poderia agir,
mas faltaram continuadores. A Marinha de guerra não se fundou sobre uma frota de comércio poderosa que
por simples jogo de interesse lhe teria assegurado a longevidade. Criação artificial, toda de prestígio, ela
não sobreviveria à vontade que a havia feito ressurgir. Seignelay, plasmado por seu pai, encontraria ainda
esse caráter artificial da Marinha de Guerra que, depois dele, cairia de toda a sua altura. Mas, sob o impulso
fecundo dos dois Colbert, ela iria conhecer um esplendor que não deveria jamais alcançar no decorrer da
sua longa história.
Nas primeiras ações bélicas a que foi chamada a participar, a magnífica frota construída por Colbert
cobriu-se de glórias, derrotando, sob o comando de Tourville e Duquesne, espanhóis, holandeses e ingleses
nas batalhas de Stromboli, Palermo e Beachy Head.
Em aparência, Seignelay, ao morrer, deixou a Marinha poderosa, vitoriosa, florescente. Na
realidade, essa Marinha era um colosso com pés de argila. Ela era o fruto de uma vontade, a de Colbert,
prolongada, mas desvirtuada por seu filho.

Quando pela política ambiciosa de Luiz XIV foram desencadeadas


diversas guerras terrestres, pesaram sobre o Estado francês encargos tão
grandes que para a frota de guerra só houve disponíveis parcos recursos. Por
outro lado, a Inglaterra, Estado puramente naval, pôde aplicar, em
consequência da sua posição insular, todas as suas energias ao cuidado da
frota, relativamente segura contra um ataque por terra. Valendo-se de seus
aliados continentais, a Inglaterra pôde manter, ao mesmo tempo, as forças
terrestres da França empenhadas, impedindo a frota francesa de se
desenvolver. Se, com suas rivais, Inglaterra e Holanda, a frota da França
tivesse, para proteger numerosos e importantes interesses comerciais, o
espírito de nação, não se teria jamais afastado dela. Mas tudo estava para ser
feito nesse sentido, e era necessário mais do que a vontade e a vida de um
homem para obter resultados bem assentes. As deficiências básicas do
desenvolvimento marítimo francês em breve manifestaram-se. Já Tourville
não pôde deixar Brest suficientemente cedo em 1690, devido à falta de
Luiz XIV marinheiros. As guerras em terra absorviam todos os recursos humanos e
materiais da nação.
Mal tinha morrido Seignelay, e um memorial foi apresentado ao rei, propondo suprimir a Marinha,
que custava muito caro e que só servia para guardar as costas, função que, segundo ainda esse documento,
poderia muito bem ser desempenhada por recrutas do exército.
A partir da segunda fase da Guerra do Augsburgo, a Marinha francesa sofreu uma série de reveses,
culminando com o desastre de La Hague. Foi o fim da grandiosa Marinha de Guerra construída por Colbert.
O declínio da Marinha francesa acentuou-se em decorrência da Guerra de Sucessão da Espanha.
Para que ela pudesse renascer, seria preciso dinheiro e vontade. Não havia, porém, nem uma nem outra
coisa. Desencorajados pelas experiências infelizes de quase um século, os comerciantes franceses estavam
menos do que nunca dispostos a arriscar no mar interesses cuja proteção exigia uma forte Marinha. A
extraordinária vitalidade não tardaria a recolocar a França em plena saúde. Seu comércio conheceu novos

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dias de esplendor, mas daí por diante ele se fez, na maior parte, sob pavilhão estrangeiro, mais
especialmente o inglês.
Por conseguinte, nem interesses políticos, nem interesses particulares exigiram a manutenção de
uma frota de guerra. Foi tacitamente admitido que a França devia abandonar definitivamente toda pretensão
ao tridente de Netuno. A Marinha desdenhada e considerada inútil davam-se apenas os créditos necessários
para impedi-la de morrer de vez.
Nas décadas seguintes, nada foi feito de notável para alçar novamente a França à categoria de
potência naval capaz de disputar a hegemonia britânica. No conflito seguinte entre as duas grandes nações
rivais, a Guerra de Sucessão da Áustria, não houve encontros navais de importância. A guerra revestiu-se
do caráter das guerras às comunicações. Os franco-espanhóis perderam 3.400 navios mercantes e os
ingleses 3.200. Se os números foram sensivelmente iguais em valor absoluto, foram incomparavelmente
mais desastrosos em valor relativo para as Marinhas da França e da Espanha, considerando suas fraquezas
numéricas em relação à frota mercante do Reino Unido.
A Guerra dos Sete Anos pouco depois teve características diferentes. A França tentou enfrentar a
Inglaterra nos mares com uma frota inferior em número e qualidade, sofrendo, em consequência, uma série
de derrotas que a privaram das ligações com os territórios ultramarinos. Uma a uma, suas principais
colônias, na Índia e no Canadá, foram ocupadas pelo inimigo. Custou essa guerra à Marinha francesa 37
naus e 56 fragatas. Em 1763, ao ser assinado o Tratado de Paris, pondo fim ao conflito, praticamente não
existia Marinha francesa, e a Marinha Mercante estava reduzida a poucos navios.
O orgulho nacional ferido e a certeza agora dominante nos círculos governamentais de que a perda
das melhores colônias fora fruto da ausência de marinha poderosa levaram a França, a partir de 1770, a
empreender um grande esforço no sentido de reequipar a frota de guerra. Sob a brilhante administração de
Choiseul, os estaleiros franceses do Atlântico e do Mediterrâneo voltaram à atividade. Um grande número
de municipalidades financiou a construção de navios. Os comerciantes e o povo em geral contribuíram, nas
várias províncias, para a construção de uma nova frota de guerra, desejosos de tirarem a desforra dos
ingleses.
Toda uma esquadra renasceu assim da generosidade pública, do patriotismo de uma nação. Mas essa
oferta generosa era também marcada pelo caráter artificial que conservava a Marinha inteira. Ela era fruto
de um elã sentimental, tanto mais efêmero quanto mais violento e não o resultado durável de uma sólida
discussão de interesses comprometidos. Richelieu e Colbert: tinham pelo menos tentado fundar sobre a
rocha sólida de uma Marinha mercante próspera a torre orgulhosa da Marinha de Guerra. A de Choiseul
não iria repousar senão sobre a areia, malgrado a bela aparência que deveria adquirir. Ela estava destinada
a desmoronar, desde que soprasse o vento de uma borrasca.
A guerra recomeçou em 1778, a propósito da independência das colônias inglesas da América do
Norte, estendendo-se rapidamente às Índias, como sucedera durante a Guerra dos Sete Anos.
A nova Armada francesa, sob o comando de Guichen, De Grasse e sobretudo de Suffren, conheceu
novamente dias de glória, desempenhando papel decisivo no desenrolar da guerra. A rendição de Cornwallis
marcou o fim da guerra ativa no continente americano. O desenrolar da luta estava na verdade assegurado
desde o dia em que a França devotou seu poderio marítimo à causa das colônias.
A paz foi assinada em 1783. A França tinha enfim uma bela Marinha,
adquirida ao preço de terríveis provas, mas a paz ia ter uma duração bem curta,
e a Marinha, sustentáculo de tantas esperanças, iria retroceder, ficando reduzida
a quase nada. Sua decadência faria com que, malgrado uma colheita de vitórias
terrestres como o mundo jamais havia presenciado, malgrado o gênio do maior
chefe militar dos tempos modernos, a França sucumbiria finalmente diante do
antigo adversário, forte numa só arma que se mostraria decisiva: uma frota,
senhora dos mares.
Com a Revolução Francesa, recomeçaram os dias negros da Marinha
gaulesa. Esse corpo tão robusto ainda em 1789 iria bem cedo entrar em
decomposição. Pela chaga da emigração, seu sangue mais puro se perdeu. Mais
da metade dos oficiais foram para o estrangeiro. A Marinha não era mais do que
um corpo exangue. A centelha vivificante que havia feito da França a Grande

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Nação não havia tocado sua Marinha. Essa Revolução não trouxe senão sua ruína, sua desorganização, sua
indisciplina, sem lhe comunicar seu entusiasmo, sua fé criadora. A grande agitação acusava, mais
nitidamente que nunca, o divórcio de fato existente entre a Marinha e o país. As razões desse divórcio eram
as mesmas do século XVIII. As longínquas previsões de Colbert confirmaram-se.
Sem Marinha Mercante, sem interesses pecuniários no mar, a França não se poderia interessar senão
superficialmente, passageiramente, pela Marinha. Ela não era carne de sua carne como a Marinha inglesa
o era da Grã-Bretanha.
Mas uma vez caiu a Marinha francesa, agora vítima das dissensões internas e, consequência
desastrosa, levou na sua queda a Marinha do comércio. Quando foi assinada a paz de Amiens (Em1802,
pondo fim as hostilidades entre a França e a Inglaterra causadas pela Revolução Francesa), havia já muitos
anos que nenhum pavilhão de comércio francês tremulava nos mares do globo. Sem elementos para
enfrentar a Marinha inglesa, mais uma vez a França recorreu à guerra de corso. O decreto de 23 thermidor,
do ano III, definiu o fim a atingir: devastar o comércio do inimigo, destruir, aniquilar suas colônias, forçá-
lo a uma bancarrota vergonhosa. Bem cedo, dos portos do Atlântico saíram para o oceano, armados em
corsários, quase todos os navios capazes de navegar e iniciaram o ataque às rotas marítimas britânicas. Face
à devastação crescente exercida no seu comércio, os ingleses se viram obrigados a recorrer ao sistema de
comboios. Frotas imensas (de 500 e mesmo de 1.000 navios) atravessavam as regiões particularmente
perigosas, sob escolta de navios de guerra. Em 1801, os resultados, ao todo, desde o começo da guerra,
eram os seguintes: 5.557 navios mercantes haviam sido capturados; 593 corsários tomados; 41.500
marinheiros franceses feitos prisioneiros.
Ao ser assinada a paz de Amiens, a perda anual média da Marinha
Mercante inglesa era de 500 navios, mas ela contara com 16.728 navios, em
1795 e 17.885, em 1800. A guerra de corso havia, por conseguinte, fracassado
na sua fase inicial.
Paralelamente à guerra de corso, Napoleão procurou aparelhar a
Marinha de Guerra francesa de maneira a, pelo menos, obter uma supremacia
temporária no canal da Mancha, mas a batalha de Trafalgar marcou o fim de
tal intenção. A batalha de Trafalgar, esmagando totalmente a remanescente
Marinha francesa e comprometendo por longo tempo seu futuro, resolveu de
maneira definitiva o grande problema da rivalidade pela hegemonia marítima,
nascida sob Luiz XIV. Como único recurso, a França continuou a guerra de
corso. No total de 11 anos de guerra (1803-14), 5.314 navios mercantes
ingleses foram capturados, mas os britânicos por seu turno destruíram ou
colocaram fora de estado de os atacar, 440 corsários guarnecidos por 27.600
marinheiros. No fim dessa longa guerra, a França não tinha mais que 100
Napoleão Bonaparte
corsários armados.
Na mesma época, perto de 25.000 navios mercantes faziam tremular o pavilhão britânico em todos
os mares do globo. Dos 1.500 navios franceses de longo curso existentes na abertura das hostilidades não
restavam mais de 200 em 1814. A Marinha Mercante da França estava morta ao lado da Marinha de Guerra.
Depois do esboroamento do Império e da última convulsão dos Cem Dias, a França renunciou à marinha.
Com a paz, a Marinha Mercante francesa recuperou-se, graças ao vigor do comércio interno e à existência
de estaleiros eficientes no país. Mais lento foi o renascimento da frota de guerra. Cerca de quarenta anos
durou a convalescença da Marinha de Guerra francesa. Malgrado a ação por ela desenvolvida em várias
demonstrações de força contra o Brasil (1828), Algéria (1830), Portugal (1831), México (1837) e Argentina
(1845), só voltou a ser poderosa de fato durante o Segundo Império, por ocasião da guerra da Criméia.
A política imperialista de Napoleão III e a revolução industrial processada pouco mais ou menos no
mesmo período favoreceram o desenvolvimento da Marinha francesa. Com efeito, depois da Grã-Bretanha,
era a França a maior potência industrial da época, seguida de perto pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
Em 1864, contavam-se 430 altos-fornos em 55 departamentos que produziam 1.213.000 toneladas de ferro.
A França compreendeu que se apresentava uma oportunidade única para alcançar a supremacia marítima,
já que as antigas esquadras de madeira não poderiam subsistir na era do ferro e do vapor. Sob a orientação
de hábeis técnicos, como Depuy de Lome, foi a França em muitos aspectos a vanguardeira da evolução
marítima. De seus estaleiros saiu o primeiro navio encouraçado, o Gloire. Todavia a Grã-Bretanha, nação
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também tecnicamente evoluída, enfrentou a corrida armamentista, conseguindo manter a sua supremacia,
malgrado a ameaça francesa, construindo o HMS Warrior, também encouraçado.
A corrida armamentista anglo-francesa sofreu um hiato com a Guerra Franco-Prussiana em 1870-
71. Poucos serviços relativamente prestou a Marinha francesa nessa guerra, apesar de seu imenso aparato
bélico. A Prússia, nação continental por excelência, dispondo de pequena Marinha, não disputou o domínio
dos mares à sua inimiga. A guerra se decidiu totalmente em terra, e, ante a ameaça cada vez maior dos
exércitos invasores prussianos, os marinheiros franceses muitas vezes desembarcaram de seus magníficos
navios, para lutar em trincheiras na defesa do solo pátrio.
Depois do conflito, uma só questão dominava todas as outras: retomar as províncias perdidas a
revanche. Não se tinha em absoluto necessidade da Marinha para isso e convinha reduzi-la para não
desperdiçar créditos que eram necessários noutros lugares. Como a França não tinha interesses no mar para
justificar a existência da Marinha, uma vez ainda, conforme a frase de seu ministro, o Almirante Pothuan,
a Marinha deveria sacrificar-se no altar da pátria. De novo desabava a grandeza da Marinha, grandeza toda
artificial, criada por um regime de prestígio e ligada à sorte deste. O programa de 1872 fixou os destinos
da Marinha Republicana. Dos 400 navios do Império, foram conservados apenas 217. A Marinha foi,
portanto, sacrificada no altar da pátria. Thiers reduziu brutalmente seu orçamento, qualificando-a de arma
de luxo. O próprio Ministro da Marinha, Almirante Pothuan, declarou do alto da tribuna: “Todos os esforços
devem ser feitos do lado da terra. De que nos serviria agora uma marinha?".
A partir da oitava década do século XIX, a França começou a perder a sua posição privilegiada de
grande potência econômica. Foi ultrapassada em produção industrial e desenvolvimento comercial, pela
Alemanha e pelos Estados Unidos. As causas desse fenômeno eram a paralisação, acusada desde vários
anos, do processo demográfico, assim como da falta de suficientes reservas carboníferas, circunstâncias
que dificultavam o crescimento da grande indústria. O tráfego ultramarino francês mostrou crescente
empenho em se servir das companhias de navegação de outros países, mas baratas e rápidas, em vez de
navegar sob o pavilhão nacional. Foi essa a causa da navegação na França não participar do florescimento
da frota mundial. De 1866 a 1900, ela permaneceu quase estacionária em um milhão de toneladas, e a
construção naval chegou quase à paralisação durante o último decênio anterior à Primeira Grande Guerra.
Em oposição, a França retornou aos empreendimentos coloniais paralisados desde a conquista da
Algéria e da aventura no México. A primeira das grandes operações coloniais foi à conquista da Tunísia
em 1881. Seguiu-se a da Indochina em 1884-85 e a de Madagascar em 1893, sem falar noutras menores
levadas a cabo em vários pontos da África e da Oceania. Em todos esses empreendimentos, a Marinha de
Guerra francesa teve atuação de primeira plana, ou destruindo as forças navais inimigas, ou reduzindo as
fortificações terrestres, ou, enfim, apoiando as tropas de desembarque.
Data também do final do século XIX o movimento chamado de “Jovem Escola” o qual causou não
pequenos prejuízos ao desenvolvimento da Marinha de Guerra francesa. A Jovem Escola defendia a
construção de uma esquadra numerosa de pequenos navios, sobretudo torpedeiros. A aparição do torpedo
e da mina perturbou os espíritos e o debate veio a público. Bem menos que por uma reforma administrativa
das instituições, uma opinião incompetente mal esclarecida apaixonou-se por uma reforma de concepções
da guerra naval. Uma grave crise de idéias se declarou e em consequência a Marinha francesa viu sua força
profundamente abalada. Agradava ao espírito francês mal avisado das realidades navais desprezar uma
força que achava brutal, substituindo-a pelos recursos de um espírito inovador e fecundo. A França que
nunca antes se tinha interessado pela Marinha ficou com febre. Dessa falta de uniformidade de vistas e das
contínuas mudanças de governo resultou uma armada numerosa, mas heterogênea. Malgrado os sacrifícios
consentidos pelo país, a Marinha francesa, nas vésperas da Primeira Grande Guerra, havia caído para o
quinto lugar, se bem que seu Império Colonial fosse o segundo do mundo. A razão básica dessa queda devia
de novo ser procurada na fraqueza da Marinha Mercante que, malgrado todos os esforços frequentemente
grandes do Governo, não conseguiu acordar de seu longo sono.
Tivesse tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses
no mar, não haveria lugar para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses
ameaçados faria prevalecer a verdadeira doutrina de que, numa questão de força como a guerra, deve-se ter
poder. Mas a Marinha Mercante francesa em 1914 era menos da metade da alemã e apenas um décimo da
britânica. Tendo perdido cerca de 920 mil toneladas durante a guerra, graças ao tratado de paz, a Marinha
Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada, alcançando, em 1921, a 2 milhões e trezentas mil
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toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, pouco progresso realizou. Enquanto a Inglaterra voltava a ter
nos mares mais de 20 milhões de toneladas de navios mercantes e a Alemanha, partindo novamente do
zero, ultrapassava os cinco milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua Marinha de comércio de 2
milhões e trezentas mil para dois milhões e setecentas mil toneladas.
A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se
beneficiando da longa continuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na
tonelagem. As forças navais francesas perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material
ganhou reputação. Todavia, quase toda sua magnífica obra de mais de vinte anos desapareceu com a
Segunda Guerra Mundial.
No início da Segunda Grande Guerra o domínio alemão na
Europa fica patente com a expulsão dos ingleses de Dunquerque
e os armistícios assinados pela França com a Itália e Alemanha,
em junho de 1940, que dividem o território francês em duas
partes. Os alemães visavam contornar as poderosas fortificações
francesas da Linha Maginot, construídas anos antes na fronteira
da França com a Alemanha. Com os britânicos e franceses
julgando que se repetiria a guerra de trincheiras da 1ª GM, e
graças à combinação de ofensivas de paraquedistas com rápidas
manobras de blindados em combinação com rápidos
deslocamentos de infantaria motorizada (a chamada "guerra-
relâmpago" - Blitzkrieg, em alemão), os alemães derrotaram sem
grande dificuldade as forças franco-britânicas, destacadas para a
defesa da França. Nesse momento, a Alemanha nazista controla a
Áustria, Tchecoslováquia, Dinamarca, Noruega e a maior parte
da França. Toda a costa ocidental da Europa pertence ao III Reich
e não resta nenhuma tropa inglesa no continente. Os ingleses,
violentamente bombardeados, dia e noite, resistem aos nazistas.
Na Batalha da Inglaterra, no verão de 1940, a aviação inglesa,
RAF (Royal Air Force), consegue rechaçar os ataques da
Luftwaffe (aviação alemã).
Com a divisão da França, o primeiro-ministro francês, marechal Henri Phillipe Pétain, assume poderes
ditatoriais em 1940 e transfere a capital para Vichy, uma vez que Paris está ocupada pelas tropas alemãs.
O governo de Vichy é antirrepublicano, conservador, e colabora estreitamente com os nazistas, sobretudo
de janeiro de 1941 até a ocupação alemã, em novembro de 1942.
Enquanto isso, um grupo de franceses, sob a liderança de Charles De Gaulle, retira-se para Londres e
apresenta-se como governo alternativo a Vichy. O movimento, chamado "França Livre", entra em contato
com as organizações de resistência aos alemães na França ocupada, a "Resistência", em busca de apoio nas
colônias francesas da África.
No Mediterrâneo Oriental a situação era melhor. A Turquia, ao contrário do que acontecera em 1914,
era francamente favorável aos Aliados e, em 19 de outubro, foi assinado um tratado entre a Turquia, a
França e a Grã-Bretanha, dando garantias à Grécia e à Romênia, o que foi seguido por contatos entre os
estados-maiores. Assim, todas as costas do Mediterrâneo estavam neutras ou se encontravam sob o domínio
da França ou da Grã-Bretanha. A guerra começava nesse teatro nas condições mais favoráveis, apesar da
necessidade de que tinham as duas potências de manter aí forças de segurança.
Durante muitos anos os estados-maiores franceses haviam tido no primeiro plano de suas
preocupações o transporte rápido de tropas da África do Norte para a metrópole. A Marinha, a quem cabia
grande responsabilidade, havia estudado a questão em todas as suas formas e previsto todas as
eventualidades. As turmas da Escola de Guerra Naval estavam todas dedicadas a este problema e uma
grande parte dos exercícios da Esquadra tinha como motivo o tema da passagem. Tudo se tornou fácil pela
neutralidade da Itália e a impotência das forças navais alemãs no mar.
As forças de superfície alemãs não podiam penetrar no Mediterrâneo devido a sua inferioridade e os
submarinos tinham muito que fazer no Atlântico. Além do mais, em 7 de setembro, Hitler ordenava aos
submarinos alemães que não empreendessem nenhuma ação ofensiva contra os navios franceses. Ele
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esperava, então, que a França, após a derrota da Polônia, aceitasse uma paz de compromisso. Tal ordem foi
revogada em 23 de setembro, mas a Marinha alemã não enviou submarinos ao Mediterrâneo. Somente no
verão de 1941 os primeiros U-Boates transporão Gibraltar.
A princípio, a França após o armistício ficou em uma situação complicada. De um lado os Alemães
os haviam presos ao tratado, do outro, os Aliados queriam uma reação francesa. O governo de Sua
Majestade ordenou a Royal Navy para empregar a força que se fizer necessária para impedir que os navios
caíssem nas mãos dos alemães ou dos italianos. Depois de ter contato com a Marinha em Vichy, o Almirante
Gensoul rejeitou o ultimato. É difícil aceitar uma exigência estrangeira sob ameaça de força. Tal
consideração, contudo, devia ser relevada. Aceitando o ultimato, o almirante salvava a esquadra e a
reservava para o futuro. Mas isso violava o armistício, o que podia acarretar consequências desastrosas,
talvez o reinício da luta e a ocupação da África.
Em Mers El Kebir, parecendo esgotadas todas as possibilidades de se chegar a um acordo, a esquadra
britânica abriu fogo. Não era uma batalha, mas uma execução. Os navios franceses não tinham nenhuma
liberdade de manobra, pois estavam reunidos em um lugar restrito. O Almirante Gensoul havia revidado o
fogo com seus canhões, mas não pudera suspender, uma vez que fora informado desde o início que qualquer
movimento poria fim às negociações. Os navios ingleses beneficiavam-se da observação aérea, enquanto
que os aviões franceses não estavam em condições de intervir imediatamente. O bombardeio britânico não
durou mais do que um quarto de hora, tendo resposta dos navios franceses, que tentavam suspender
Em Alexandria as coisas não eram tão difíceis já que a esquadra francesa encontrava-se em conjunto
com as forças britânicas. As opções eram manter-se com a esquadra britânica, desarmar-se no porto ou
afundar-se. As duas primeiras colocariam a França em agravo com a Alemanha e a princípio seriam
afundados os navios, mas quando as notícias de Mers El Kebir chegaram, pensaram os franceses em
combater os ingleses, mas se evitou o pior aceitando o desarmamento da esquadra no porto de Alexandria.
A vitória dos aliados garantiu a soberania da França, principalmente por parte dos ingleses que
acolheram o governo livre francês e lutaram pela libertação da França.
Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas
mesmo assim conserva-se entre as mais importantes potências navais do mundo. Entretanto, da mesma
forma que a sua antiga rival, a Grã-Bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar-se ao mesmo
tempo em que desaparecia seu antigo Império Colonial.

4) Holanda:
Os estuários dos rios flamengos ofereciam na Idade Média
portos naturais ideais, pois penetravam profundamente nas terras e
eram acessíveis aos grandes navios da época, permitindo, ao
mesmo tempo, aos pequenos barcos avançar bem longe no interior.
As condições naturais do país eram, portanto, propícias ao
desenvolvimento das cidades comerciais, e já durante o reino de
Carlos Magno, sob a influência de uma situação política estável,
podia-se prever o incremento que tomariam mais tarde nos Países
Baixos as manufaturas e o comércio de lã. A criação do Império de
Carlos Magno e sua extensão até o rio Elba mudaram a posição
geográfica relativa dos Países Baixos e os tornaram eminentemente
próprios ao comércio. As regiões em torno dos rios Reno, Mosa e
Escalda ocupavam daí por diante não mais uma posição terminal
ou fronteiriça como haviam ocupado sob os romanos, mas uma
posição central, no interior do Império Carolíngio.
O desenvolvimento econômico precoce dos Países Baixos foi
paralisado pelas invasões normandas (vikings) e pelo
esboroamento do Império Carolíngio. Os rios que facilitavam o
tráfego facilitavam também a entrada dos normandos que no
decorrer do século IX destruíram numerosas cidades e levaram suas
devastações ao Sul, até o Artois e a Picardia.

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Depois de cessadas as incursões dos homens do Norte, as cidades dos Países Baixos desenvolveram
as indústrias têxteis, e a população do país adensou-se. A prosperidade das cidades dos Países Baixos foi
incrementada no decorrer do século XV por um estranho fenômeno. Com efeito, entre 1417 e 1425 os
cardumes de arenque desapareceram do Sund. Por razões ainda desconhecidas, os arenques cessaram de
fugir do mar do Norte. Qualquer que tenha sido a razão dessa mutação, ela teve efeitos marcantes, pois
constituiu perda sensível para as cidades hanseáticas, principalmente para Lübeck, e foi um ganho notável
para os holandeses.
A luta vitoriosa para a libertação do jugo
espanhol favoreceu a criação de um Estado forte e
consciente da importância do mar na vida nacional. Se
já antes, pelo ocaso do poder mundial espanhol, os
holandeses eram vizinhos incômodos, converteram-se
depois da Guerra da Independência em adversários
triunfantes que, protegidos pela forca política de seu
Estado naval, orientavam todos os esforços no sentido
de conseguirem a máxima grandeza para seu
comércio. Não se contentaram eles em abalar
totalmente o comércio hanseático para o Ocidente,
mas com singular atrevimento avançaram para o
verdadeiro domínio da Hansa, o Mar Báltico,
reduzindo nele, cada vez mais, a influência das
cidades alemãs. Principais rotas marítimas das Ligas Hanseáticas

Mais tarde, favorecidos por uma posição geográfica intermediária entre o Báltico, a França, o
Mediterrâneo e a foz dos rios alemães, os holandeses absorveram rapidamente quase todo o tráfego
comercial europeu, e, no fim do século XVI, Espanha e Portugal, não menos que Veneza e as Cidades
Hanseáticas, viram-se despojadas da maior parte de seus transportes marítimos pelos atrevidos marinheiros
e comerciantes batavos.
A Holanda procurou em primeiro lugar satisfazer as necessidades dos países marítimos mais
próximos situados a leste e a oeste, trocando madeiras e cereais que produziam uns, por sal e vinhos que
produziam outros. O arenque seco, os mercadores batavos transportavam para as embocaduras de todos os
rios vindos do Sul, desde o Vístula até o Sena, e ao longo do Reno, do Mosa, do Escalda. Seus navios iam
procurar lã em Chipre, seda em Nápoles e, da Noruega, traziam uma grande parte da madeira necessária à
construção de seus barcos. Das planícies da Prússia e da Polônia e mesmo da Rússia, eles traziam o linho
e, sobretudo, os gêneros alimentícios que constituíam um artigo de importância indispensável, visto o solo
da Holanda só poder então, segundo uma autoridade competente da época, alimentar um oitavo de seus
habitantes.
Se bem que os holandeses se tivessem assenhoreado de uma grande parte do comércio europeu, não
tiraram menor proveito e o melhor de suas glórias nas suas relações com as Índias Orientais. A indiferença
dos portugueses em primeiro lugar e em seguida a dos espanhóis pelo transporte e venda das especiarias
nos mercados europeus, permitiu aos mercadores flamengos e holandeses dele se apoderarem. As medidas
proibitivas adotadas por Felipe II (da Espanha) para aniquilar a navegação e o comércio das Províncias do
Norte e em particular da Holanda, que tinha sido colocada à frente da nova Confederação Republicana
(1609), longe de enfraquecer o inimigo, estimularam-lhe a resistência e a agressividade. A interdição feita
pela Espanha aos navios holandeses de entrarem seus portos colocou os mercadores da nova confederação
em situação precária, visto a interdição impedi-los de se aprovisionarem de especiarias e de produtos
coloniais. A Holanda foi, portanto, obrigada a enfrentar contra a Espanha uma luta de morte. De todos os
atos hostis que a Holanda dirigiu contra a Espanha, a empresa nas Índias foi a que mais assustou o rei e a
nação, e a que feriu mais fundo, imprimindo por outro lado, poderoso desenvolvimento aos Países Baixos.
Os primeiros mercadores holandeses que no declinar do século XVI atingiram Java e as Molucas,
depois de terem violado por intermédio de Cornelius Hontmann o segredo da rota marítima, limitaram-se
a obter dos príncipes locais, em troca de produtos mais baratos do que os vendidos pelos portugueses, as
reduções dos direitos alfandegários e a concessão ao longo da costa, para instalar depósitos, representações
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e etc., com o fim de criar uma corrente de atividade comercial baseada na troca de produtos nacionais ou
importados pelos mais procurados do Oriente. Nessa época, a autoridade governamental não interveio
suficientemente nesse setor, e o tráfego marítimo foi confiado a numerosas companhias privadas que se
tinham constituído nos diversos portos da Holanda e que armavam frotas de comércio e de guerra contra os
portugueses na Índia. Para eliminar os perigos da concorrência recíproca e para resistir energicamente aos
espanhóis e portugueses, procedeu-se a fusão das diversas sociedades numa só companhia, constituída em
1602, sob o nome de Companhia Holandesa das Índias Orientais, com o capital inicial de cerca de sete
milhões de florins. A Companhia recebeu do Estado o privilégio, para um período de vinte anos, do pleno
controle sobre a navegação e o tráfego com o Oriente, por seu lado, ela se dedicou a armar os navios, a
combater os inimigos, a contratar aventureiros para o serviço, a redigir tratados, a criar empórios e
estabelecimentos financeiros nas Índias. Na época de maior atividade bélica contra os portugueses e
espanhóis, a Sociedade chegou a ter uma esquadra de cento e oitenta navios de trinta a sessenta canhões,
guarnecidos por doze a treze mil homens.
Depois da criação da Companhia das Índias
Orientais, a atividade comercial holandesa se fez cada vez mais
eficiente. O Almirante Warwick, verdadeiro fundador das colônias
holandesas no Oriente, fazendo-se a vela com quatorze navios para
aquelas paragens onde a frota portuguesa não o podia enfrentar,
fortificou no território do rei de Johor, em Java, um empório que
dispunha de uma baía abrigada, e fez aliança com vários príncipes
de Bengala.
Novos empórios foram criados nas costas do Malabar, em
Sumatra e Amboina, o que permitiu aos holandeses tornar mais
efetiva a concorrência dirigida contra portugueses e espanhóis. Os Henry Hudson, entre 1610-11 navegando
pelo rio que hoje tem seu nome nos EUA,
antigos estabelecimentos e os primeiros empórios transformavam- entre Nova York e os grandes lagos.
se, pouco a pouco, em núcleos de ocupação militar. Foi procedida
depois a conquista direta dos territórios.

O socorro prestado pelos holandeses ao imperador de Mata valeu-lhes pouco a pouco a posse de
toda a ilha de Java, e, em 1641, a aliança com o rei de Atch serviu para tomar os portugueses Malaca e as
mais importantes ilhas de especiarias. A luta se prolongou na costa de Malabar onde os portugueses tinham
raízes mais fortes, mas os holandeses acabaram por triunfar e se apoderaram de Cochin, de Cananor e de
Ceilão (1656). Já nos meados do século XVII, as costas e ilhas do oceano Índico achavam-se praticamente
submetidas ao pavilhão holandês. Assim, a Companhia das Índias Orientais, depois de se ter enriquecido
com os despojos do Império Colonial Português, estendeu suas conquistas até o arquipélago de Sunda,
estabelecendo o centro de seu domínio entre a Ásia e a Austrália. A ilha de Java, e em particular o porto de
Batávia, se encontrava na confluência das rotas marítimas do Oriente. Quase todo o tráfego exercido pelos
árabes, hindus e chineses ficou assim submetido ao controle holandês.
Os comerciantes holandeses penetraram com facilidade no Japão, onde foram bem acolhidos e
substituíram os portugueses já ali estabelecidos havia várias décadas. Também na ilha de Formosa se
estabeleceram os ousados traficantes batavos.
Com a ocupação do cabo da Boa Esperança (1652), transformado em ponto de apoio e em escala
para as frotas comerciais e de guerra em caminho das colônias da Ásia e Austrália, os holandeses tornaram-
se senhores absolutos das rotas marítimas do Oriente, conseguindo centralizar em suas mãos quase todo o
monopólio do tráfego de especiarias.
As expedições holandesas na América não foram coroadas de tão brilhante sucesso, entretanto, elas
voltavam sempre com rico saque feito sobre espanhóis ou portugueses. O maior triunfo no gênero foi a
captura por Pieter Hein em 1628 de uma frota de galeões espanhóis procedentes do México e carregados
de prata e ouro. Esse fato se deu logo após a primeira invasão holandesa no nordeste brasileiro, na Bahia,
quando os holandeses, após serem expulsos do Brasil, deram com o carregamento em sua viagem de volta.
O apresamento desta carga financiou a formação de uma frota mais equipada e poderosa que voltou ao
Brasil e invadiu o nordeste em Recife e Olinda.

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De forma semelhante à sua congênere das Índias Orientais, a Companhia das Índias Ocidentais,
formada em 1611, para responder às necessidades de guerra e da luta comercial contra a Espanha, conseguiu
conquistar algumas ilhas nas Antilhas e os portos de Recife e Olinda na costa brasileira. No Brasil, contudo,
a Companhia enfrentou uma guerra quase perene em face da hostilidade dos habitantes de língua
portuguesa, o que lhe consumiu grande parte dos lucros. A resistência brasileira obrigou a Companhia a
abandonar o solo sul-americano depois de menos de vinte e cinco anos de precário domínio.
A principal fonte de renda da Companhia das Índias Ocidentais ficou sendo o ataque à navegação
espanhola e portuguesa. Ela despendeu entre 1623 e 1636 quatro milhões e quinhentos mil libras para
equipar oitocentos navios, mas aprisionou quinhentos e quarenta navios cuja carga valia cerca de seis
milhões de libras. A essa soma cumpre juntar três milhões resultantes da pilhagem e saque contra os
portugueses. Também na América do Norte, procuravam os batavos se estabelecer e, ao longo do território
atualmente compreendido entre Nova York e Nova Jersey, surgiram numerosas colônias holandesas que
tiveram por centro comercial a cidade de Nova Amsterdã (atual Nova York).
Dessa forma, no fim do século XVI e no começo da segunda metade do século XVII, a Holanda,
graças às conquistas de suas principais companhias, formou um vasto domínio colonial que lhe permitiu
controlar as rotas marítimas do oceano Indico e do Atlântico. Foi o apogeu da Holanda.
A Holanda tornara-se a Fenícia dos tempos modernos. As manufaturas de fazendas, tecidos de linho
etc., que empregavam seiscentas mil almas, abriram novas fontes de ganho ao povo, anteriormente limitado
ao comércio do queijo e do peixe. A pesca apenas já os havia enriquecido. O arenque salgado alimentava
cerca de um terço da população da Holanda, sendo sua produção de trezentas mil toneladas de peixe salgado
que rendiam mais de oito milhões de francos anualmente. O poderio naval e comercial da República
desenvolvera-se rapidamente. Só a frota mercante da Holanda tinha dez mil velas com cento e sessenta e
oito mil marinheiros e sustentava duzentos e sessenta mil habitantes.
Os portos, os golfos, os braços de mar holandeses estavam cobertos de navios, e todos os canais do
interior do país pululavam de embarcações. Dizia-se, exagerando, que havia na Holanda tanta gente
habitando sobre as águas como sobre terra firme. Contavam-se duzentos grandes e trezentos médios navios,
tendo por porto principal Amsterdã. Uma floresta sombria e espessa de mastros avançava até a cidade.
Nessas condições, Amsterdã tinha alcançado, com efeito, uma importância extraordinária. No espaço de
trinta anos, a cidade experimentou por duas vezes aumentos consideráveis. Uma viagem às Índias era coisa
corrente. Aprendia-se a navegar com qualquer vento. Cada casa era uma escola de navegação; por toda
parte havia cartas náuticas. Entretanto, situadas entre a França e a Inglaterra, foram as Províncias Unidas,
depois que se libertaram da Espanha, constantemente envolvidas em guerras, ora contra uma, ora contra
outra. Essas guerras exauriram suas finanças, aniquilaram sua Marinha e causaram o rápido declínio de seu
tráfego, das manufaturas e do comércio. Primeiramente a Holanda se viu envolvida numa série de guerras
contra a Inglaterra. Desde muito tempo a prosperidade britânica nos oceanos fazia prever um conflito entre
as duas potências marítimas. O “Ato de Navegação” de Cromwell tornou o conflito inevitável. Com esse
Ato a Inglaterra procurou obter o monopólio do transporte marítimo para a América, Ásia e África, só
permitindo às demais nações usar seus navios nessas rotas marítimas para a condução de seus próprios
produtos, sob pena de confisco e captura. A Holanda não podia aceitar essa medida sem protestar, pois era
ela a grande intermediária no comércio de especiarias orientais. Estalou imediatamente a guerra.
A primeira guerra, embora desfavorável aos Países Baixos, não foi decisiva. Como resultado dela,
que durou justamente um ano e onze meses (1653-54), os ingleses afirmam ter sido vitoriosos em cinco
ações gerais e ter capturado mil e setecentos navios avaliados em seis milhões de libras, enquanto os
holandeses capturaram apenas um quarto desse total.
A excessiva dependência às rotas marítimas foi desastrosa para os holandeses. O alimento, as
vestimentas, o material para confecção de suas manufaturas, muita madeira e cânhamo com que construíam
e equipavam seus navios eram importados exclusivamente por via marítima. Ao atingir a guerra dezoito
meses, os negócios marítimos tinham cessado.
As principais fontes de recursos do Estado, como a pesca e o comércio, nada rendiam. As oficinas
pararam, e o trabalho foi suspenso. O Zuyder-Zee tornou-se uma floresta de mastros, o país se encheu de
ruínas, e o capim cresceu nas ruas de Amsterdã. Era a consequência inevitável da perda do domínio do mar.

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Os mais brilhantes almirantes batavos e ingleses do século


surgiram nessa guerra: Tromp e de Ruyter de um lado; Blake e Monk de
outro.
Dez anos de paz restabelecera, em parte, a prosperidade holandesa,
e por conseguinte as razões de atrito com a Inglaterra. Em breve, rompeu
a Segunda Guerra Anglo-Holandesa que, como a precedente foi
exclusivamente marítima e teve as mesmas características gerais. Três
grandes batalhas foram travadas: a primeira, ao largo de Lowestoft
(03/06/1665), na qual ambas as Esquadras adversárias se mantiveram em
longas colunas, chamadas linhas de batalha, o que serviu de modelo para
os encontros navais durante mais de um século; a segunda, conhecida
como Batalha dos Quatro Dias (1 a 5/06/1666, no Estreito de Dover; a
terceira, ao largo de North Foreland. Na primeira e na última delas, os
ingleses conseguiram um sucesso decisivo; na segunda, a vantagem
ficou com os holandeses.
Apesar da Segunda Guerra Anglo-Holandesa marcar
mais uma etapa de ascensão marítima da Grã-Bretanha em
detrimento dos Países Baixos, não significou a desaparição nos
oceanos dos navios batavos. Em 1666, a tonelagem mundial da
Marinha Mercante orçava por dois milhões de toneladas, das
quais 900 mil cabiam à Holanda, 500 mil à Grã-Bretanha, 250
mil a Hamburgo, Dinamarca, Suécia e Dantzig e 250 mil à
Espanha, Portugal e Itália. O comércio europeu não podia ficar,
dessa forma, privado repentinamente dos navios batavos.
Após uma trégua de sete anos, a guerra recomeçou, tendo a Holanda que enfrentar o poderio
combinado anglo-francês durante dois anos (1672-74). De Ruyter alcançou então a vitória de Solebay. Três
batalhas navais tiveram lugar em 1673, todas próximas à costa das Províncias Unidas: as duas primeiras,
ao largo de Schoneveld, e a terceira que ficou conhecida como a batalha de Texel. Nenhuma delas foi
decisiva. A batalha de Texel, fechando a série de guerras em que os holandeses e ingleses lutaram de igual
para igual pela posse dos mares, viu a Marinha holandesa na mais alta eficiência, e seu maior expoente, de
Ruyter, no cume de sua glória. Mas o poder, sendo relativo, mostrava por outro lado que a balança estava
pendendo pouco a pouco para o lado britânico.
Com notável perspicácia os estadistas ingleses perceberam a mudança de pesos nos pratos da
balança do poder. A Holanda já não era o fator de maior peso, mas sim a sombra crescente da França, unida,
populosa e sob a administração eficiente de Colbert e a ambição de Luiz XIV. Os ingleses, com realismo,
firmaram a paz com os Países Baixos, paz essa que não mais foi perturbada. A retirada da Inglaterra, que
ficou neutra durante os remanescentes quatro anos de guerra, necessariamente tornou o conflito menos
marítimo. O teatro de operações navais transferiu-se para o Mediterrâneo, onde os holandeses, dessa feita
aliados aos antigos inimigos espanhóis, enfrentaram o recém-criado poderio marítimo da França. Contudo,
a esquadra francesa, sob o comando de Duquesne, foi vitoriosa em Stromboli e em Agosta. Na última dessas
batalhas, de Ruyter encontrou a morte.
No decorrer dessa guerra o comércio marítimo holandês, depredado pelos piratas franceses, sofreu
pesadamente, perdendo, inclusive, indiretamente, a preferência dos países estrangeiros que passaram a dar
preferência ao transporte feito por pavilhões neutros. Quando, finalmente, os ataques de Luiz XIV forçaram
a Holanda a consagrar a sua riqueza e energia à defesa do próprio solo, essa nação decaiu gradualmente
perante a Inglaterra, na corrida pela hegemonia comercial.
A guerra de Sucessão da Espanha (1702-13) virtualmente eliminou as Províncias Neerlandesas da
esfera de alta política. Em verdade elas eram aliadas da Grã-Bretanha e, portanto, do lado vitorioso na
guerra. Entretanto, os esforços que haviam sido obrigados a despender, quer em terra como no mar,

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exauriram-nas completamente. Suas contribuições em navios, homens e dinheiro declinaram
continuamente até a paz de Utrecht, quando então só dispunham de pouca influência. Os ganhos nesse
tratado foram quase nulos. Mas se o visível declínio das Províncias Unidas data da paz de Utrecht, o declínio
real começara antes. A Holanda deixou de ser citada entre as grandes potências da Europa. Sua Marinha
não seria no futuro um fator militar na diplomacia, e seu comércio também acompanhou a decadência geral
do Estado.
Até o final do século XVIII, a Marinha Mercante dos Países Baixos ainda se manteve como a maior
em tonelagem da Europa, mas pouco a pouco foi cedendo lugar à britânica, que era amparada pela política
segura do Governo de Sua Majestade e pelos canhões do Royal Navy. Assim, como a Holanda fora a
herdeira do comércio marítimo hanseático, português e espanhol, a Grã-Bretanha foi a herdeira do comércio
batavo.

BIBLIOGRAFIA
- ALBUQUERQUE, Antonio L. P. & SILVA, Leo F. Fatos da História Naval - 2.ed. – Rio de Janeiro:
Serviço de Documentação da Marinha, 2006.
- CAMINHA, Vice-Almirante João Carlos. História Marítima. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército
(BibliEx), Coleção General Benício, 1980.
- HART, B. H. Liddell, As Grandes Guerras da História. 3ª ed. São Paulo: IBRASA, 1982.
- MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2009.
- VEYNE, Paul. O Império Greco-Romano. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2009.
- VICENTINO, Cláudio & DORIGO, Gianpaolo. História para o ensino médio – História Geral e do
Brasil. São Paulo: Scipione. 2002. vol. único.
- VIDIGAL, Armando & ALMEIDA, Francisco E. A. Guerra no Mar: Batalhas e Campanhas
Navais que Mudaram a História. Rio de Janeiro: Record, 2009

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