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QOAA-AFN/2022

TURMA REGULAR
CONHECIMENTOS GERAIS
MÓDULO – IV
MAIO - JUNHO
2022

PORTUGUÊS E REDAÇÃO Prof. Rafael Dias


MATEMÁTICA Prof. César Loyola
GEOGRAFIA ECÔNOMICA Prof. Odilon Lugão
HISTÓRIA MILITAR NAVAL (*) Prof. Vagner Souza
* Será abordado o Livro “Marinha do Brasil - Uma Síntese Histórica” – Não incluso neste módulo.

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MATERIAL INTERNO DE USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS


Proibida a reprodução total ou parcial

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Sumário
PORTUGUÊS .................................................................................................................... 5
REDAÇÃO ................................................................................................................................................................... 7
PARALELISMO ........................................................................................................................................................... 7
PONTUAÇÃO ............................................................................................................................................................ 18
TIPOS TEXTUAIS .................................................................................................................................................... 48
OUTROS TIPOS TEXTUAIS .................................................................................................................................. 50
OS GÊNEROS TEXTUAIS ....................................................................................................................................... 50
GRAMÁTICA ............................................................................................................................................................ 57
CONJUNÇÃO ........................................................................................................................................................... 57
SÍNTAXE .................................................................................................................................................................. 73
TERMOS DA ORAÇÃO ........................................................................................................................................... 73
PERÍODO COMPOSTO – ESTUDO DAS ORAÇÕES ............................................................................................ 78
ORAÇÕES COORDENADAS .................................................................................................................................. 78
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS ............................................................................................................ 79
ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS ...................................................................................................... 81
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS .............................................................................................................. 82
ORAÇÕES REDUZIDAS ......................................................................................................................................... 83
SEMÂNTICA ............................................................................................................................................................ 85
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO ................................................................................................................................ 86

MATEMÁTICA ................................................................................................................ 87
ÂNGULOS ................................................................................................................................................................ 89
TRIÂNGULOS .......................................................................................................................................................... 89
TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO ............................................................................................... 89
LEI DOS SENOS E DOS COSSENOS .................................................................................................................... 89
ÁREA DAS PRINCIPAIS FIGURAS PLANAS ......................................................................................................... 89
ARCO TRIGONOMÉTRICO .................................................................................................................................... 90
FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ........................................................................................................................... 91
EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS ............................................................................................ 93
NÚMEROS COMPLEXOS ..................................................................................................................................... 110

GEOGRAFIA ................................................................................................................. 119


16 - A ECOLOGIA DAS METRÓPOLES. ............................................................................................................... 121
16.1 - O processo de urbanização ......................................................................................................................... 121
16.2 - Aglomerações urbanas. ............................................................................................................................... 121
16.3 - Os problemas sociais urbanos ..................................................................................................................... 122
16.4 - Redes e hierarquia urbana ......................................................................................................................... 124
17 - BRASIL - O ESPAÇO DAS CIDADES ............................................................................................................ 125
17.1 - As cidades e a urbanização brasileira ......................................................................................................... 125
17.2 - População urbana e rural ............................................................................................................................. 127
17.3 - A rede urbana brasileira ............................................................................................................................... 127
17.4 - As regiões metropolitanas brasileiras .......................................................................................................... 128
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17.5 - Hierarquia e influência dos centros urbanos no Brasil ................................................................................ 129
17.6 - Plano Diretor e Estatuto da Cidade ............................................................................................................. 129
18 - GLOBALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO ................................................. 131
18.1 - Globalização econômica .............................................................................................................................. 131
18.2 - O Estado na economia globalizada ............................................................................................................. 132
18.3 - Os Blocos econômicos supranacionais ....................................................................................................... 134
18.3.1 - Benelux ..................................................................................................................................................... 134
18.3.2 - União Europeia - trajetórias, expansões e contradições .......................................................................... 135
18.3.3 - USMCA X Nafta ........................................................................................................................................ 143
18.3.4 - Mercado Comum do Sul - Mercosul ......................................................................................................... 145
18.3.5 - Comunidade dos Estados Independentes - CEI ....................................................................................... 148
18.3.6 - ASEAN e APEC ........................................................................................................................................ 149
18.3.7 - Comunidade de Desenvolvimento da África Austral - SADC ................................................................... 149
18.3.8 - Acordo da Zona de Livre Comércio da África Continental (ZLCAC) ......................................................... 150
18.3.9 - Unasul ....................................................................................................................................................... 151
18.3.10 - Área de Livre Comércio das Américas - ALCA ....................................................................................... 151
18.3.11 - Acordo de Associação Transpacífico (TPP) ........................................................................................... 152
18.3.12 - Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica ( CPTPP ) - TPP11 ou TPP-11 ................ 153
18.3.13 - Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) ................................................................................ 153
19 - POLÍTICA E CULTURA - FRONTEIRAS ........................................................................................................ 154
19.1 - Nações e nacionalismos .............................................................................................................................. 154
19.2 - Globalização e fragmentação ...................................................................................................................... 155
19.3 - Conflitos étnico-nacionalistas na Europa ..................................................................................................... 155
19.4 - Conflitos étnicos na África ........................................................................................................................... 160
19.5 - Conflitos étnico-nacionalistas na Ásia ......................................................................................................... 161
19.5.1 - Conflitos no Oriente Médio ....................................................................................................................... 163
19.6 - A Primavera Árabe ....................................................................................................................................... 169
15.5 - EXERCÍCIOS. .............................................................................................................................................. 172

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O
R
T
U
G
U
Ê
S
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REDAÇÃO

PARALELISMO
1. PARALELISMO SEMÂNTICO: é propriedade de uma construção que obedece a uma simetria na natureza ou no tipo das palavras
empregadas .

Exemplos de falta de paralelismo semântico :


a) Há grande diferença entre os candidatos a professor e as vagas nas escolas.
b) Enquanto os canadenses desfrutam de boas condições de vida, o México sofre com antigos problemas urbanos.
c) É nele que surge a maior demanda de postos de trabalho nas diversas áreas, como hotelaria, metalúrgica, restaurantes e etc.
d) Eles estabelecem uma meta a ser seguida com empenho, honestidade, respeitando o povo.
e) Não estava na escola nem no pátio.

CORREÇÃO:

a) ________________________________________________________________________________________________________

b) ________________________________________________________________________________________________________

c) ________________________________________________________________________________________________________

d) ________________________________________________________________________________________________________

e) ________________________________________________________________________________________________________

2. PARALELISMO SINTÁTICO: é a propriedade de uma construção que obedece a uma simetria nos termos de mesma função
sintática.

FALTA DE PARALELISMO SINTÁTICO


Paralelismo sintático é uma qualidade do texto que consiste em apresentar ideias similares em uma forma gramatical idêntica.
Quando ocorre erro por falta de paralelismo sintático, a clareza da frase fica comprometida.

Exemplo de erro: A democracia manda eleger os governantes e que respeitam os eleitos ( infinitivo + verbo no presente)
Exemplo de acerto: A democracia manda eleger os governantes e respeitar os eleitos. (todos verbos)

Exemplo de erro: O brasileiro demonstra respeitabilidade, ser confiante, honestidade e ser amigo. (substantivo + verbo e substantivo
+ verbo + substantivo)
Exemplo de acerto: O brasileiro demonstra respeitabilidade, confiabilidade, honestidade, amizade. (todos substantivos)

Exemplo de erro: O trabalhador deve demonstrar probidade, competência e não faltar ao trabalho. (substantivo + substantivo + verbo
Exemplo de acerto: O trabalhador deve demonstrar probidade, competência e assiduidade ao trabalho. (todos substantivos)

Casos especiais de falso paralelismo

a) As correlações não só ... mas também ( como também), tanto ...quanto ( como), nem ...nem, ou...ou devem ser empregados
exatamente assim.

Ex.: O País precisa atacar não só o problema da fome como também as causas profundas dos males.

Exemplo de erro: O País precisa não só atacar o problema da fome como também as causas profundas dos males.

b) A expressão e que deve ser empregada com cuidado. Deve-se evitar o vício de empregá-la sem simetria, ou seja, só deve ser
empregada se houver que na oração anterior.

Exemplo de erro: É um homem de muita experiência e que tem grande popularidade.

CORREÇÃO: É um homem de muita experiência e de grande popularidade.


É um homem de muita experiência que tem grande popularidade.

Exemplos de falta de paralelismo sintático:


a) ... medidas para diminuir a evasão escolar e buscando possíveis soluções ...
b) É necessário conhecer as dificuldades da comunidade, interesses, as propostas inovadoras, pessoas de lá que poderão fazer a
diferença.
c) Seja trabalhando, ou estudando, o jovem deve fazer a sua parte.
d) Todos demonstraram responsabilidade, experiência e que eram corajosos.
e) Passamos dias junto à nossa família e revendo velhos amigos.

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CORREÇÃO:

a) ________________________________________________________________________________________________________

b) ________________________________________________________________________________________________________

c) ________________________________________________________________________________________________________

d) ________________________________________________________________________________________________________

e) ________________________________________________________________________________________________________

Exercícios
1. As frases a seguir contêm erros de paralelismo. Reescreva-as de modo adequado:
a) Visitou a China, os hindus, os japoneses e a comida tailandesa.

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b) Os brasileiros ainda acham importantes a honestidade, lealdade e que sejam corajosos.


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c) É importante verificar a origem do problema e como ele se expandiu na última década.

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d) Quando foi ao Chile, conheceu as cidades do litoral, as montanhas e um parente de seu pai.

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e) Getúlio Vargas era dono de muito carisma e que tinha popularidade entre os brasileiros.

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Exercícios de Paralelismo

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O DISCURSO

Natividade é que não teve distrações de espécie alguma. Toda ela estava nos filhos, e agora especialmente na carta e no
discurso. Começou por não dar resposta às 1efusões políticas de Paulo; foi um dos conselhos do conselheiro. Quando o filho tornou
pelas férias tinha esquecido a carta que escrevera.
O discurso é que ele não esqueceu, mas quem é que esquece os discursos que faz? Se são bons, a memória os grava em
bronze; se ruins, deixam tal ou qual amargor que dura muito. 2O melhor dos remédios, no segundo caso, é supô-los excelentes, e, se
a razão não aceita esta imaginação, consultar pessoas que a aceitem, e crer nelas. A opinião é um velho óleo incorruptível.
Paulo tinha talento. O discurso naquele dia podia pecar aqui ou ali por alguma ênfase, e uma ou outra ideia vulgar e exausta.
Tinha talento Paulo. Em suma, o discurso era bom. Santos achou-o excelente, leu-o aos amigos e resolveu transcrevê-lo nos jornais.
3
Natividade não se opôs, mas entendia que algumas palavras deviam ser cortadas.
– Cortadas, por quê? perguntou Santos, e ficou esperando a resposta.
– Pois você não vê, Agostinho; estas palavras têm sentido republicano, explicou ela relendo a frase que a afligira.
Santos ouvia-as ler, leu-as para si, e não deixou de lhe achar razão. Entretanto, não havia de as suprimir.
– Pois não se transcreve o discurso.
– Ah! isso não! O discurso é magnífico, e não há de morrer em S. Paulo; é preciso que a Corte o leia, e as províncias também,
e até não se me daria fazê-lo traduzir em francês. Em francês, pode ser que fique ainda melhor.
– Mas, Agostinho, isto pode fazer mal à carreira do rapaz; o imperador pode ser que não goste...
-8-
Pedro, que assistia desde alguns instantes ao debate, interveio docemente para dizer que os receios da mãe não tinham
base; era bom pôr a frase toda, e, a rigor, não diferia muito do que os liberais diziam em 1848.
– Um monarquista liberal pode muito bem assinar esse trecho, concluiu ele depois de reler as palavras do irmão.
– Justamente! 4assentiu o pai.
5
Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer Paulo.
Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia trechos
do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais novas, cantando as mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo com
tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão do discurso foi resolvida. Também se tirou uma edição em folheto, e o
pai mandou encadernar ricamente sete exemplares, que levou aos ministros, e um ainda mais rico para a Regente.
MACHADO DE ASSIS
Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
1efusão − manifestação expansiva de sentimentos
4assentir− concordar
1. O melhor dos remédios, no segundo caso, é supô-los excelentes, e, se a razão não aceita esta imaginação, consultar pessoas
que a aceitem, e crer nelas. (ref. 2)

A conjunção sublinhada e estabelece paralelismo sintático entre duas orações. Identifique-as. Reescreva o trecho acima, substituindo

a conjunção e por outra conjunção coordenativa, mantendo o mesmo sentido e a mesma estrutura do período original.

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2. Avalie a redação das seguintes frases:

I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto culturalmente como econômico e político.


II. Os clubes buscam a expansão do número de associados bem como reduzir gastos com publicidade.
III. Doravante tais fatos, fica claro que o futebol exerce uma grande influência no cotidiano do brasileiro.
IV. O técnico declarou aos jornalistas que, para o próximo jogo, ele tem uma carta na manga do colete.

a) Reescreva as frases I e II, corrigindo a falta de paralelismo nelas presente.

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b) Reescreva as frases III e IV, eliminando a inadequação vocabular que elas apresentam.

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3. Nas frases a seguir, há falta de paralelismo sintático. Reescreva-as, mantendo seu sentido e fazendo apenas as alterações
necessárias para que se estabeleça o paralelismo.

a) Funcionários cogitam uma nova greve e isolar o governador.

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b) Essa reforma agrária, por um lado, fixa o homem no campo, mas não lhe fornece os meios de subsistência e de produzir.

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4. Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que ficam a cada dia mais raros. A dificuldade aparece
também na hora de trocar a agulha, ou de levar o toca-discos para o conserto. ("Jornal da Tarde", 22/10/98, p. 1C)
a) Tendo em vista que no texto acima falta paralelismo sintático, reescreva-o em um só período, mantendo o mesmo sentido e fazendo
as alterações necessárias para que o paralelismo se estabeleça.

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b) Justifique as alterações efetuadas.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

UM CÃO, APENAS

01 Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim - plantas em flor de cada lado; borboletas
incertas; salpicos de luz no granito -, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um
cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as
mechas brancas do pelo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um
grande esforço acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono.
Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais
devem esquecer, enquanto dormem...
02 Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente,
o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem
oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento...
Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente inábil, como envergonhado de se
achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.
03 Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre
poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.
04 Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se
fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas
incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo,
desapareceu.
05 Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto,
uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance; talvez tivesse fome e sede; e eu
nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim humilhado, e tão
digno, no entanto, como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era seu.
06 Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa, e a escada
que descemos, e a dignidade final da solidão.(MEIRELES, Cecília. ILUSÕES DO MUNDO: CRÔNICAS. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982, p. 16-17)

5. Os períodos a seguir apresentam problemas de paralelismo gramatical. Reescreva-os, fazendo as devidas correções.

a) Pensei estar, um dia, como aquele cãozinho e que também descerei a escada.

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b) Lamentei não ter feito nada pelo cãozinho e que ele saísse tão humilhado.

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c) Senti-o entristecer e que precisava de socorro.

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6. Leia o trecho a seguir:“Como é gratificante, ainda que melancólico, repassar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta
gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos [...].”
Os termos destacados servem para estabelecer o processo de coesão denominado

a) elipse.
b) sequenciação.
c) substituição.
d) referenciação.
e) paralelismo.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

7. Em “Inventar arranjos/Recompor famílias/Desregrar as regras [...]”, pode-se afirmar que existe um(a)

I. Paralelismo ocasionado pela recorrência de termos, acrescidos de itens lexicais diferentes que acrescentam novas instruções de
sentidos.
II. Encadeamento de termos que permitem estabelecer relações discursivas na sequenciação do texto.
III. Procedimento de progressão textual com manutenção temática garantida pelo uso de termos do mesmo campo lexical.

Analise as proposições e marque a alternativa que apresenta, apenas, a(s) correta(s).

a) I b) II e III c) I e III d) I e II e) III

8. Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não
tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir todas as cortinas. E,
porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o
ar, esquece a amplidão. COLASANTI, M. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro, Rocco, 1996.

A progressão é garantida nos textos por determinados recursos linguísticos, e pela conexão entre esses recursos e as ideias que eles
expressam. Na crônica, a continuidade textual é construída, predominantemente, por meio

a) do emprego de vocabulário rebuscado, possibilitando a elegância do raciocínio.


b) da repetição de estruturas, garantindo o paralelismo sintático e de ideias.
c) da apresentação de argumentos lógicos, constituindo blocos textuais independentes.
d) da ordenação de orações justapostas, dispondo as informações de modo paralelo.
e) da estruturação de frases ambíguas, construindo efeitos de sentido apostos.

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9.

A alternativa que corrige a falha de paralelismo gramatical existente na manchete, mantendo o mesmo sentido, é:

a) Presidente do UFC prevê abertura de escritório no Brasil e fazer evento na Rocinha.


b) Presidente do UFC prevê que escritório seja aberto no Brasil e evento na Rocinha.
c) Presidente do UFC prevê que abertura de escritório no Brasil crie evento na Rocinha.
d) Presidente do UFC prevê abrir escritório no Brasil e realizar evento na Rocinha.
e) Presidente do UFC prevê escritório no Brasil ou evento na Rocinha.

10. Assinale a alternativa em que o paralelismo sintático está adequadamente estabelecido, como em grande "esmola fazia / tirando
aquela donzela / da pobreza em que vivia / e trazendo as outras duas / para a sua companhia"

a) Após acender o candeeiro e benzido o caçula, partiu.


b) Os romances a faziam esquecer as dores e sonhar novas primaveras.
c) Os exploradores vinham com espírito aventureiro e ansiando fortuna.
d) Grande amor demonstrava tirando sua mãe da miséria e por dela cuidar.
e) Em respeito à memória do pai e por gostar muito da mãe, aceita aquela vil união.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCNs
Na perspectiva de uma didática voltada para a produção e interpretação de textos, a atividade metalinguística deve ser
instrumento de apoio para a discussão dos aspectos da língua que o professor seleciona e ordena no curso do ensino-aprendizagem.
Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem. É o caso, por exemplo, da
gramática que, ensinada de forma descontextualizada, tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só
serve para ir bem na prova e passar de ano - uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação,
exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso, discute-se se há ou não necessidade de ensinar
gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.
Deve-se ter claro, na seleção dos conteúdos de análise linguística, que a referência não pode ser a gramática tradicional. A
preocupação não é reconstruir com os alunos o quadro descritivo constante dos manuais de gramática escolar (por exemplo, o estudo
ordenado das classes de palavras com suas múltiplas subdivisões, a construção de paradigmas morfológicos, como as conjugações
verbais estudadas de um fôlego em todas as suas formas temporais e modais, ou de pontos de gramática, como todas as regras de
concordância, com suas exceções reconhecidas).
O que deve ser ensinado não responde às imposições de organização clássica de conteúdos na gramática escolar, mas aos
aspectos que precisam ser tematizados em função das necessidades apresentadas pelos alunos nas atividades de produção, leitura
e escuta de textos.
O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica metodologia de definição, classificação e exercitação, mas
corresponde a uma prática que parte da reflexão produzida pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia simples e se
aproxima, progressivamente, pela mediação do professor, do conhecimento gramatical produzido. Isso implica, muitas vezes, chegar
a resultados diferentes daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja descrição, em muitos aspectos, não corresponde aos usos
atuais da linguagem, o que coloca a necessidade de busca de apoio em outros materiais e fontes.
[...] não se pode mais insistir na ideia de que o modelo de correção estabelecido pela gramática tradicional seja o nível padrão
de língua ou que corresponda à variedade linguística de prestígio. Há, isso sim, muito preconceito decorrente do valor atribuído às
variedades padrão e ao estigma associado às variedades não-padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática. Essas
diferenças não são imediatamente reconhecidas e, quando são, não são objeto de avaliação negativa.
Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o de que existe
uma forma "correta" de falar, o de que a fala de uma região é melhor do que a de outras, o de que a fala "correta" é a que se aproxima
da língua escrita, o de que o brasileiro fala mal o português, o de que o português é uma língua difícil, o de que é preciso "consertar"
a fala do aluno para evitar que ele escreva errado.
Essas crenças insustentáveis produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a fala que identifica o
aluno a sua comunidade, como se esta fosse formada de incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não
corresponde a nenhuma de suas variedades, por mais prestígio que uma delas possa ter. Ainda se ignora um princípio elementar
relativo ao desenvolvimento da linguagem: o domínio de outras modalidades de fala e dos padrões de escrita (e mesmo de outras
línguas) não se faz por substituição, mas por extensão da competência linguística e pela construção ativa de subsistemas gramaticais
sobre o sistema já adquirido.
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No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar certo, mas
permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é
saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar
satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção
enunciativa - dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de adequação às
circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem.(BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares
nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. Fragmentos, p. 28, 29 e 31.)

11. Assinale a alternativa em que há quebra do paralelismo gramatical:

a) Os PCNs negam ser o modelo estabelecido pela gramática tradicional à língua padrão e que corresponda a ele a variedade
linguística de prestígio.
b) Os PCNs negam ser o modelo estabelecido pela gramática tradicional à língua padrão e corresponder a ele a variedade linguística
de prestígio.
c) Os PCNs negam que seja o modelo estabelecido pela gramática tradicional à língua padrão e que corresponda a ele a variedade
linguística de prestígio.
d) Os PCNs dizem não se poder mais afirmar ser o modelo estabelecido pela gramática tradicional à língua padrão e corresponder a
ele a variedade linguística de prestígio.
e) Os PCNs dizem não se poder mais afirmar que seja o modelo estabelecido pela gramática tradicional à língua padrão e que
corresponda a ele a variedade linguística de prestígio.

12. Assinale a alternativa em que há quebra do paralelismo rítmico:

a) Para os viciados, a dedicação da família; para os traficantes, a eficiência da polícia; para os cartéis, a vontade política: resolve-se
o problema das drogas!
b) Uma solução para o problema das drogas: para os cartéis, a vontade política; para os traficantes, a eficiência da polícia; para os
viciados, a dedicação da família.
c) Resolve-se o problema das drogas: para os cartéis, a vontade política; para os traficantes, a eficiência da polícia; para os viciados,
a dedicação da família.
d) Para os cartéis, a vontade política; para os traficantes, a eficiência da polícia; para os viciados, a dedicação da família: resolve-se
o problema das drogas!
e) Solução para o problema das drogas: uma vontade política; uma eficiência da polícia; uma dedicação maior de todas as famílias
na orientação dos seus filhos.

13. Assinale a alternativa em que há quebra do paralelismo gramatical:

a) Porque há convenções internacionais em contrário e o exemplo da Holanda foi catastrófico, a descriminação do uso de drogas é
desaconselhável.
b) A descriminação do uso de drogas é desaconselhável, por haver convenções internacionais em contrário e porque o exemplo da
Holanda foi catastrófico.
c) A descriminação do uso de drogas é desaconselhável, porque há convenções internacionais em contrário e o exemplo da Holanda
foi catastrófico.
d) A descriminação do uso de drogas é desaconselhável, por haver convenções internacionais em contrário e o exemplo da Holanda
ter sido catastrófico.
e) Por haver convenções internacionais em contrário e o exemplo da Holanda ter sido catastrófico, a descriminação do uso de drogas
é desaconselhável.

14. Assinale a alternativa em que há quebra do paralelismo semântico:

a) Em Recife e Vitória, por exemplo, o problema da droga é muito menos grave do que no Rio de Janeiro e em São Paulo.
b) O problema da droga é muito mais grave no Rio de Janeiro e em São Paulo do que, por exemplo, em Belo Horizonte e Brasília.
c) É muito mais grave o problema da droga no Rio de Janeiro e em São Paulo do que, por exemplo, em Brasília e Salvador.
d) No Rio de Janeiro e em São Paulo, o problema da droga é muito mais grave do que, por exemplo, em Salvador e Recife.
e) O problema da droga é muito mais grave no Rio de Janeiro e São Paulo do que, por exemplo, em Belo Horizonte e Santa Catarina.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Amor ao Saber
1 Que me deem uma boa razão para que os jovens se apaixonem pela Ciência. Para isto seria necessário que os cientistas
fossem também contadores de estórias, inventores de mitos, presenças mágicas em torno das quais se ajuntassem crianças e
adolescentes, à semelhança do "flautista de Hamelin", feiticeiro que tocava sua flauta encantada e os meninos o seguiam...
2 Todo início contém um evento mágico, um encontro de amor, um deslumbramento no olhar... É aí que nascem as grandes
paixões, a dedicação às causas, a disciplina que põe asas na imaginação e faz os corpos voarem. Olho para os nossos estudantes,
e não me parece que seja este o seu caso. E eles me dizem que os mitos não puderam ser ouvidos. O ruído da guerra e o barulho
das moedas era forte demais. Quanto à flauta, parece que estava desafinada. O mais provável é que o flautista se tivesse esquecido
da melodia...
3 Não, não se espantem. Mitos e magia não são coisas de mundos defuntos. E os mais lúcidos sabem disto, porque não se
esqueceram de sonhar. Em 1932, Freud escreveu uma carta a Einstein que fazia uma estranha pergunta/afirmação: "Não será verdade
que toda Ciência contém, em seus fundamentos, uma mitologia?" Dirão os senhores que não pode ser assim. Que mitologia é coisa
da fantasia, de falsa consciência, de cabeça desregulada. Já a Ciência é fala de gente séria, pés no chão, olhos nas coisas, imaginação
escrava da observação...
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4 Pode ser. Mas muita gente pensa diferente. Primeiro amar, depois conhecer. Conhecer para poder amar. Porque, se se ama,
os olhos e os pensamentos envolvem o objeto, como se fossem mãos, para colhê-lo. Pensamento a serviço do corpo, Ciência como
genitais do desejo, para penetrar no objeto, para se dar ao objeto, para experimentar união, para o gozo. Lembram-se de Nietzche?
Pensamento, pequena razão, instrumento e brinquedo da grande razão, o corpo.
5 Sei que tais pensamentos são insólitos. E me perguntarão onde foi que os aprendi. Direi baixinho, por medo de anátema,
que foi na leitura de minha Bíblia, coisa que ainda faço, hábitos de outrora. E naquele mundo estranho e de cabeça para baixo, como
Pinóquio às avessas ou nas inversões do espelho das aventuras de Alice, conhecimento não é coisa de cabeça e nem de pensamento.
É coisa do corpo inteiro, dos rins, do coração, dos genitais. E diz lá, numa candura que tomamos por eufemismo, que "Adão conheceu
sua mulher. E ela concebeu e pariu um filho". Conhecimento é coisa erótica, que engravida. Mas é preciso que o desejo faça o corpo
se mover para o amor. Caso contrário, permanecem os olhos, impotentes e inúteis... Para conhecer é preciso primeiro amar.
6 E é esta a pergunta que estou fazendo: que mágico, dentre nós, será capaz de conduzir o fogo do amor pela Ciência? Que
estórias contamos para explicar a nossa dedicação? Que mitos celebramos que mostrem aos jovens o futuro que desejamos?
7 Ah! É isto. Parece que as utopias se foram. Ciência e cientistas já não sabem mais falar sobre esperanças. Só lhes resta
mergulhar nos detalhes do projeto de pesquisa, financiamentos, organização - porque as visões que despertam o amor e os símbolos
que fazem sonhar desapareceram no ar, como bolhas de sabão. Especialistas que conhecem cada vez mais, de cada vez menos têm
medo de falar sobre mundos que só existem no desejo.
8 Claro que não foi sempre assim. Houve tempo em que o cientista era ser alado, imaginação selvagem, que explicava às
crianças e aos jovens os gestos de suas mãos e os movimentos do seu pensamento, apontando para um novo mundo que se
anunciava no horizonte. Terra sem males, a natureza a serviço dos homens, o fim da dor, a expansão da compreensão, o domínio da
justiça. Claro, o saber iria tornar os homens mais tolerantes. Compreenderiam o absurdo da violência. Deixariam de lado o instrumento
de tortura pela persuasão suave do ensino. Os campos ficariam mais gordos e perfumados. As máquinas libertariam os corpos para
o brinquedo e o amor. E os exércitos progressivamente seriam desativados, porque mais vale o saber que o poder. As espadas seriam
transformadas em arados e as lanças em podadeiras. Realização do sonho do profeta Isaías, de harmonia entre bichos, coisas e
pessoas.
9 Interessante. Estes eram mitos que diziam de amor, harmonia, felicidade, estas coisas que fazem bem à vida e invocam
sorrisos. Quem não se alistaria como sacerdote de tão bela esperança?
10 Foram-se os mitos do amor.
11 Restaram os mitos do poder.
12 As guerras entre os mundos, os holocaustos nucleares, os super-heróis de cara feia, punhos cerrados e poder imbatível. Ah!
Quem poderia pensar num deles jogando bolinha de gude, ou soprando bolhas de sabão, ou fazendo amor? Certamente que bolas,
bolhas e corpos se estraçalhariam ante o impacto do poder. Não é por acidente que isto aconteceu. É que a Ciência, de realizadora
do desejo, se metamorfoseou em aliada da espada e do dinheiro. Os cientistas protestarão, é claro, lavando suas mãos de sangue ou
de lucro. E com razão. Mas, este não é o problema. É que a Ciência é coisa cara demais e o desejo pobre demais. E, na vida real, as
princesas caras não se casam com plebeus sem dinheiro. A Ciência mudou de lugar. E, com isto, mudaram-se também os mitos.
13 Que estórias contaremos para fazer nossas crianças e nossos jovens amar o futuro que a Ciência lhes oferece?
14 Falaremos sobre o fascínio das usinas nucleares?
15 Quem sabe os levaremos a visitar Cubatão. Protestarão de novo, dizendo que não é Ciência. Como não? Cubatão não será
filha, ainda que bastarda, da Química, da Física, da Tecnologia, em seu casamento com a Política e a Economia?
16 Poderemos fazer um passeio de barco no Tietê. Sei que não foi intenção da Ciência, sei que não foi planejado pelos cientistas.
Mas ele é um sinal, aperitivo, amostra, do mundo do futuro. De fato, o futuro será chocante. Só que não da forma como Toffler pensa.
17 Parece que só nos resta o recurso ao embuste e à mentira, dos mitos da Terceira Onda. Mas como levar a sério um mito
sorridente que não chora ante a ameaça da guerra? "Se um cego guiar outro cego, cairão ambos na cova..."
18 Que me deem uma boa razão para que os jovens se apaixonem pela Ciência. Sem isto, a parafernália educacional
permanecerá flácida e impotente. Porque sem uma grande paixão não existe conhecimento.
(ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar, o fim dos vestibulares. São Paulo: Ars Poética, 1995. p.95-99)

15. Assinale a alternativa em que há quebra de paralelismo GRAMATICAL:

a) A motivação é importante por ser daí que nascem as grandes paixões e porque é daí que vem a disciplina.
b) Para tal, seria necessário que os cientistas igualmente fossem contadores de estórias, inventores de mitos, presenças mágicas.
c) O flautista de Hamelin atraía crianças e adolescentes porque era feiticeiro e sua flauta era encantada.
d) As coisas não acontecem por acaso: toda iniciação contém uma magia, um encontro de amor, um deslumbramento no olhar...
e) É preciso que os jovens encontrem um motivo especial para se apaixonarem pela ciência.

16. Graças ao material de que é feito e seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis e demonstrando estar apto a outras explorações.
Os erros de paralelismo gramatical existentes na frase anterior estão corrigidos em:

a) Graças ao material de que é feito e a seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis e demonstrou estar apto a outras explorações.
b) Graças ao material de que é feito e a seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis e que demonstrou estar apto a outras explorações.
c) Graças ao material de que é feito e seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis e demonstrou estar apto a outras explorações.
d) Graças ao material de que é feito e seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis e demonstrava que estava apto a outras explorações.
e) Graças ao material de que é feito e pelos seus equipamentos altamente sofisticados, o robô permitiu a obtenção de informações
inestimáveis, e a demonstrar que está apto a outras explorações.

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17. O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática
o que viu na teoria e que ele se comporta criteriosamente, ou não, diante das situações em que é solicitado a atuar.

A alternativa que corrige o erro de paralelismo gramatical existente na frase anterior é:

a) O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática o
que viu na teoria e onde se comporta, ou não, criteriosamente diante das situações em que é solicitado a atuar.
b) O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transmitir para a prática o
que viu na teoria e quando ele se comporta criteriosamente diante das situações em que é solicitado a atuar.
c) O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê a observação de sua capacidade de transferir para a prática o
que viu na teoria e de como ele se comporta criteriosamente diante das situações em que é solicitado a atuar.
d) O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê não só a observação de sua capacidade de transferir para a
prática o que viu na teoria como também a de seu comportamento, se é criterioso, ou não, diante das situações em que é solicitado
em atuar.
e) O acompanhamento do trabalho desenvolvido pelo estagiário prevê não só a observação de sua capacidade de transferir para a
prática o que viu na teoria e também avaliar como ele se comporta - mais, ou menos, criteriosamente - diante das situações em
que é solicitado a atuar.

Exercícios

1) Os parágrafos a seguir foram retirados de redações de alunos e apresentam as mais diversas inadequações. Leia-os com
atenção e tente propor soluções específicas, as quais poderiam ter sido utilizadas pelos autores dos fragmentos.

Parágrafo 1
É fato que muitas pessoas por estarem sem emprego e não terem o que fazer, resolvem produzir filhos. Na realidade, a

intenção não é esta, mas a falta de informação e conhecimento promovem tal acontecimento. Isso porque é uma das principais

características dos países subdesenvolvidos: a explosão demográfica.

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Parágrafo 2
A falta de qualidade, higiene, entre outras coisas é o que mais arrisca a vida das mulheres em clínicas clandestinas, que

tendo alguma complicação terão que ser socorridas em hospitais, aumentando as despesas das mesmas. Convém ressaltar que essas

mulheres engravidaram por imaturidade, pensando que isso nunca iria acontecer com ela, ou irresponsabilidade, não tomando

medidas preventivas eficazes.

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Parágrafo 3
Nesse sentido, é notória ainda a impossibilidade para o Estado em arcar com uma política abortiva: não há recursos

econômicos que viabilizem um esquema desse tipo. Relacionando a essa questão, devemos também considerar a inexistência de

instalações hospitalares adequadamente preparadas para realizar uma operação em massa, o que, em última circunstância, poderá

comprometer a vida das pessoas que se submeteriam ao aborto.

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Parágrafo 4
Uma educação pública de melhor qualidade seria um ótimo começo para reverter essa situação. Se a melhor educação

continuar concentrada nas escolas particulares, obviamente nada mudará, já que o grande diferencial no mercado de trabalho é um

diploma de curso superior, atingido apenas com uma boa base educacional inicial. Um erro seria tentar nivelar a população e a

distribuição de renda racionalmente, ao garantir vagas para negros nas universidades públicas, porque isto só aumenta o preconceito.

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Parágrafo 5
Além disso, com o falho sistema jurídico que temos, esses jovens que deveriam ficar pelo menos três anos presos, saem

muito antes disso, o que os “incentiva” a cometer novos crimes e outros bandidos, maiores de idade, a recrutar seus serviços, e com

isso, a criminalidade só tende a aumentar.

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2) A seguir, apresentam-se parágrafos que contêm períodos corretos, porém muito longos. Divida-os em mais períodos,
fazendo as adaptações necessárias. Se for necessário, sugira correções para outros problemas.

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Fragmento 1
A Revolução Científica, porém, assume um caráter maniqueísta. Se, por um lado, há os países centrais que capitaneiam tal
processo e as elites mundiais que conseguem acompanhá-lo, do outro, existe uma leva de “tecno-excluídos”, que não conseguem se
inserir nesse processo e acabam sendo engolidos pelo mercado de trabalho, pois nesse concorrido meio não há espaço para os
“atrasados”.

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Fragmento 2
A ideologia de que só se é jovem uma vez, muito difundida hoje, não só pelos próprios jovens, é uma das principais causas
da contradição, pois a pessoa sabe que está errado, mas aquilo que dará prazer e, em vez de adiar o prazer ele faz, pois ele acha
que deve viver o momento.

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Fragmento3
A falta de informação há tempos já caiu de moda, por vezes tenta-se entender o porque das atitudes e das transgressões
cometidas por grande parte dos humanos numa determinada faixa etária, causada pela sensação do onipotência da força física
somado a necessidade de experimentar sensações e prazeres muitas vezes proibidos sem medir as consequências.

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Fragmento 4
Um dos fatores que tornam legítima a responsabilização penal de maiores de dezesseis anos é o fato de que, nessa idade,
esses indivíduos já são suficientemente maduros, pois existe neles uma maturidade que vai muito além da posse da noção de certo
e errado, comum à grande maioria das pessoas desde a infância, permitindo analisar as consequências de cada atitude.

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Fragmento 5
Tal mudança pode acarretar na indignação de muitos, que falam em decadência para estigmatizar mudanças de que
discordam, mas não há fundamentos para tal reflexão, visto que a família não pressupõe dependência, e, sim, ajuda mútua, como,
por exemplo, no caso do Betinho, que se reergueu e lutou por outros.

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PONTUAÇÃO
Sempre que for redigir, o aluno deve estar atento às normas de pontuação.

Os sinais de pontuação, ei-los:

Vírgula---------------------- ,
Aspas------------------------ " "
Ponto de interrogação----- ?
Ponto de exclamação----- !
Ponto final------------------ .
Dois pontos----------------- :
Travessão------------------- -
Parênteses------------------ ( )
Reticências----------------- ...
Ponto e virgula------------ ;

EMPREGO DA VÍRGULA

Emprega-se a vírgula:

1. Para separar os termos da mesma função sintática, se não estiverem ligados por "e".
Exemplo:
"O mar, o céu, as estrelas, tudo apregoa a glória de Deus."
Pedro, Antônio, José e eu somos amigos.

2 - Para isolar o vocativo.


Exemplo:
Menino, estude!
Deixe-me, senhora, sentar aqui.
"D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no Seminário?"
(Machado de Assis)

3 - Para isolar o aposto.


Exemplo:
“Iracema, a virgem dos lábios de mel, tinha..."
“Salomão, filho de Davi, foi um rei sábio."
"O aluno mais velho, de rugas nas faces, foi reprovado."
"Todo ele, olhos e pensamento, estava no camarote de Guiomar (M.A.)"

4 - Para separar o adjunto adverbial, quando expresso por várias palavras e em ordem inversa.
Exemplo:
"Naquela longínqua região, habitava o pedreiro."
"Eis que, aos poucos, lá para as bandas do Oriente, clareia um cantinho do céu."
"Por impulso instantâneo, todo o alojamento se pôs de pé."
"Durante o jantar, o assunto foi só esse." (Mário Palmério)

OBS.: BECHARA afirma que, se o adjunto adverbial for de pequena extensão, as vírgulas são facultativas.
Exemplo:
Hoje a Marinha do Brasil é uma instituição de excelência.
Hoje, a Marinha do Brasil é uma instituição de excelência.

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5 - Nas datas ou para separar o local da data.
Exemplo:
Vitória, 25 de junho de 2015
Brasília, 2 de julho de 2015

6 - Entre as orações coordenadas assindéticas (sem conjunções).


Exemplo:
Ela salta, ri, canta e chora.
Vim, vi e venci.
"A máquina calou-se, dobraram-se as portas, o juiz levantou-se."(Graciliano Ramos)

OBS.: Antes das conjunções coordenadas sindéticas adversativas, alternativas, explicativas e conclusivas quando estiverem no início
das suas respectivas orações.
Exemplo:
Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
Ora chove, ora faz sol.
A rua está vazia, porque a noite está muito escura.
Ele fez um ótimo trabalho, portanto merece um prêmio.

Agora, se as conjunções (adversativas e conclusivas) estiverem deslocadas para o interior de suas orações, as vírgulas serão
obrigatórias.
Exemplo:
Ele estudou muito; não passou, entretanto, na prova.
Ele estudou muito; não passou na prova, entretanto.
Ele fez um ótimo trabalho; merece, pois, um prêmio.
Ele fez um ótimo trabalho; merece um prêmio, pois.

Lembre-se de que o “pois” anteposto ao seu verbo é explicativo e, posposto, ele é conclusivo.
7 - Entre as orações coordenadas ligadas pela conjunção "e " com sujeitos diferentes, a vírgula é facultativa.
Exemplo:
Veio a noite, e o rapaz saiu.
Pedro estuda física, e eu, português.
OBS.: A vírgula também é facultativa quando o “e” vier repetido.
Exemplo:
“Comigo, o mundo canta, e cisma, e chora, se reza,
E sonha o que eu sonhar.”
(Teixeira de Pascoaes)
8 - Para indicar as orações subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo:
"O sol, que é uma estrela, é o centro do sistema planetário."
"O homem, o qual é mortal, julga-se às vezes eterno."
"O homem, que é mortal, tem alma imortal."
9 - Para isolar as orações subordinadas adverbiais antepostas, a vírgula é obrigatória. Se as orações adverbiais estiverem
pospostas, a vírgula é facultativa. Entretanto deixará de haver vírgula, quando a conjunção estiver entre dois verbos
aproximados.
Exemplo:
Ele ficou pálido, quando viu o policial. (Facultativa)
Se não chover, iremos à fazenda. (Obrigatória)
"Embora me proíba, não deixarei de continuar estudando." (Obrigatória)
"Logo que eles chegaram, o estranho se retirou. " (Obrigatória)
Irei se puder. (Verbos aproximados)
Eu irei à fazenda de meu tio, se eu puder sair cedo do trabalho. (Facultativa)
"Quando tio Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um periquito." (Obrigatória)
(Graciliano Ramos)
10 - Para isolar as orações reduzidas de gerúndio, de particípio ou de infinitivo, quando subordinadas adverbiais, a vírgula é
facultativa.
Exemplo:
Sendo pobre, ele ainda auxiliava os outros.
Afastado o perigo, partimos.
Ele chorou ao ver o pai.
"Hoje, pensando melhor, acho que servi de alívio.
(M.A)
"Acabada a festa, retiraram-se os convidados.
"Ao dizer estas palavras, saiu da sala."
Terminada a aula, os alunos se retiraram.
"Chegando a primavera, comprarei roupa de linho."
"Querendo tu escrever-lhe, escreve."
"Terminada a conferência, requintou o Governo Alemão nas suas cortesias para com o Brasil.".
(Gilberto Amado)
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11 - Para isolar os termos enfáticos ou orações intercaladas.
Exemplo
O rapaz, coitado, morreu.
"A mocidade, disse José de Alencar, é uma sublime impaciência."
"Venha, acudiu ele, venha o grande homem."(MA)

12 - Para marcar a supressão ou omissão do verbo.


Exemplo:
"A moral legisla para o homem; o direito, para o cidadão."
"Pedro estuda francês, e Jorge, inglês."
"Uma flor, o Quincas Borba."
"Uma parte dos homens age sem pensar, a outra, pensa sem agir. "
"Nem ele entende a nós, nem nós, a ele. "

13 - Para isolar certas palavras e expressões explicativas ou corretivas (aliás, digo, minto, isto é, por exemplo, ou antes, ou
melhor, corrijo, a saber, além disso, com efeito).
Exemplo:
Li quatro capítulos, digo, parágrafos.
"O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos, tem seu princípio em Deus."
"Sairá amanhã, corrijo, depois de amanhã."
"Hoje, a saber, domamos os ventos, as ondas, as correntes."

14 - Para evitar a ambiguidade:


Exemplo
Matar o rei, não, é crime.
Matar o rei não é crime.
"A grita se levanta ao céu, da gente." (Camões)
A grita se levanta ao céu da gente.
Pedro machucou a amiga, e a empregada saiu.
Pedro machucou a amiga e a empregada saiu.

15 - Para separar os elementos paralelos de um provérbio.


Exemplo:
"Mocidade ociosa, velhice vergonhosa. "
"Quem mente, vergonha não sente."
"Muito riso, pouco siso."
" Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso."
"O velho a estirar, o diabo a arrugar.

OBSERVAÇÃO:
Não se coloca a vírgula entre sujeito e predicado.
Não se coloca a vírgula entre predicado e sujeito

EMPREGO DAS ASPAS

1 - Usam-se aspas antes e depois das citações ou diálogo, isto é, no início e no fim.
Disse Jesus: "Amai-vos uns aos outros. ".
"Aí temos a lei”, dizia Florentino.
Um sábio disse "agir na paixão é embarcar durante a tempestade".

2 - Antes de palavras ou expressão ainda não aportuguesadas, gírias ou a que se quer dar realce:
"Querer é poder " deve ser o nosso lema.
Ele tem "humor".
Pedro vive num verdadeiro "dolce far niente".
Esse famoso “jeitinho” brasileiro é horrível.
Obs.: Às vezes usamos o "grifo" ou sublinhamos a palavra para chamar a atenção: neste caso dispensamos as aspas.

3. Nos trabalhos científicos sobre línguas, as aspas simples referem-se a significados ou sentidos.
Exemplo:
Amare, lat. ‘amar’ port.

4. Usam-se aspas para indicar a significação de uma palavra ou de uma frase, em geral de língua estrangeira.
Exemplo:
No Alentejo, fazenda significa “rebanho de gado macho”.(Leite de Vasconcelos)
Comentando largamente a definição de Banville, começa Gide pelos vocábulos “magia” e “sortilégio”.
(Manuel Bandeira)

5. Usam-se aspas para indicar o título de uma obra.


Exemplo: Belinha acaba de ler “Elzira, a Morta Virgem”.(Érico Verissimo)

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EMPREGO DO DOIS PONTOS

Usam-se os dois pontos:

1 - Antes de uma citação (geralmente depois de verbo):


Exemplo:
Jesus disse:
—Amai-vos uns aos outros.

Aristóteles dizia a seus discípulos:


—Meus amigos, não há amigos.

2 - Para indicar uma enumeração ou enunciação, quer venham os objetos enumerados, quer a coisa enunciada depois do
verbo.
Exemplo:
Comprei três coisas: livro, caderno, lápis.
“À sua volta, tudo lhe parece chorar: as árvores, o capim, os insetos.”(Ribas)

3 - Antes de uma pergunta ou resposta:


Exemplo:
Perguntei-lhe: “sabes estudar?”. O aluno respondeu: “sim!”.

4 - Antes de uma reflexão, uma observação, um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência:
Exemplo:
Não caçoe do menino: ele está apaixonado.
“A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a de outros homens.”(M. Assis)
“E a felicidade traduz-se por isto: criarem-se hábitos.”
(Augusto Abeilaira)

5 - Depois de expressões como: "a saber", "por exemplo", ou vocativo de cartas, requerimentos e outras:
Exemplo:
Conheci dois deputados a saber: Pedro Leal e Paulo Hartung.
Por exemplo: cabeça, tronco e membros são as partes do corpo humano.
Prezado Senhor:

EMPREGO DO PONTO DE INTERROGAÇÃO

É o sinal que se coloca no final de uma oração para indicar uma pergunta direta.
Exemplo:
Que fez ele?
Onde estou?
Quem são eles?

OBS.:
Às vezes, o ponto de interrogação não indica o fim de período.
Exemplo:
Que fez ele? perguntou o repórter.

EMPREGO DO PONTO DE EXCLAMAÇÃO

1 - O ponto de exclamação usa-se depois de verbo no imperativo ou das interjeições, como oh ! arre ! chi!
Ou depois de orações que designam espanto, admiração, surpresa:
Exemplo:
Quanta beleza! Que surpresa! Você está linda!
Por essa eu não esperava! Não vá!

2 - Empregamos, às vezes, dois sinais, o interrogativo e o exclamativo, para denotar ao mesmo tempo dois sentimentos, o
da pergunta e o da admiração.
Exemplo:
A paz?!
Já?!
Eu entregar-me?!
Quê?!

OBS.:
O ponto de exclamação, às vezes, não indica o fim de período.
Exemplo:
"Meu filho! exclama a pobre mãe."

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EMPREGO DO PONTO FINAL.

O ponto final indica a conclusão do período gramatical. Indica uma pausa mais longa, ao encerrar um período de sentido completo.
Exemplo:
"Ele trocou a toga pela espada."
"Você é imprudente."
"Dá-me teu carinho, dar-te-ei minha própria vida. "
"O maior épico português foi Camões. "
"Os amigos são mais necessários do que dinheiro. "

OBS.:
Para os alunos que abusam dos períodos longos, excessivamente longos, nunca é demais lembrar: abusem do ponto-final, mas não
devemos levar ao exagero a multiplicação dos períodos.

EMPREGO DAS RETICÊNCIAS

1 - Indicam a suspensão de sentido, interrupções de pensamento, hesitações.


Exemplo:
Se ela fosse...
Realmente, não sei...
"Nestes paços eu ficarei segura... Depois...
Se tu soubesses..."
"Quem conta um conto... "
"Se ele é bom, ela ..."
“Eu... eu... queria... um agasalho.”

EMPREGO DO PONTO E VÍRGULA

PONTO E VÍRGULA é definido como uma pausa que se faz menor que a do ponto final e maior que a da vírgula.

1 - Emprega-se o ponto e a vírgula para separar vários grupos de orações coordenadas.


Exemplo:
"Estes edificam, aqueles destroem; estes sobem pelos degraus da honra; aqueles descem."
"Das graças que há no mundo, as mais sedutoras são as da beleza; as mais picantes, as do espírito; as mais comoventes, as do
coração."
Nota: Sendo as orações independentes de pouca extensão, basta a vírgula para separá-las: "os povos dividiram-se, as raças
combateram-se, os colossos dissolveram e a unidade moral não se obteve senão pela aliança da igreja."

2 - Para separar as partes principais de uma frase cujas partes subalternas têm de ser separadas por vírgulas:
"Santos, Campinas, Recife são do Brasil; Madri, Sevilha, Barcelona, da Espanha; Lisboa, Porto, Coimbra, de Portugal."

3 - Para separar os itens (com exceção do último) que constituem o preâmbulo de um decreto, portaria, sentença, acórdão
ou documento análogo.
Considerando que o recorrente, velando o seu olival, usou do direito de tapagem que lhe conferia o artigo 234 § 6 do código civil;
Considerando, porém, que no uso deste direito deixou de observar o artigo 84 do código de postura;
Considerando...

4. Para separar, deslocadas ou não, as conjunções adversativas ou conclusivas.


Ele estudou muito, todavia não passou na prova. Ou Ele estudou muito; todavia não passou na prova.
Ele estudou muito; não passou, todavia, na prova.
Ele estudou muito; não passou na prova, todavia.

EMPREGO DO TRAVESSÃO

1 - Indica mudança de interlocutor:


Exemplo:
"—A senhora não sabe, então, que é uma simples agulha?"
—Sei
—E não sabe que, sendo agulha, é mulher?
—Sei."
(Humberto de Campos)

2 - Dá maior relevo de evidência à palavra ou à frase, equivalendo à virgula ou ao parêntese:


Exemplo:
"O homem — diga-se de passagem — é egoísta."
"Aquela palavra — liberdade — ecoou no ouvido de todos."
A Marinha do Brasil — instituição secular —, nos dias atuais, continua soberana.

- 22 -
EMPREGO DOS PARÊNTESES

1.Usam-se para separa orações intercaladas, um comentário à margem do que se afirma, uma nota emocional:
Exemplo:
"Um dia (que linda manhã fazia!) ela saiu
a passear."
"Estava Mário em sua casa (nenhum prazer sentia fora dela!), quando ouviu baterem..."
ATENÇÃO:
Na leitura, a frase que vem entre parênteses deve ser proferida em tom mais baixo.

OBSERVAÇÃO:
Quando a frase intercalada é curta, os parênteses são geralmente substituídos por vírgulas.

2. Usam-se parênteses para indicar referências a datas, indicações bibliográficas, citação textual de uma palavra ou frase traduzida.
Exemplo:
“Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.”
(Castro Alves, Espumas Fuctuantes. Poesias. Bahia, 1870, p.71.)

Parece que o duunviarato jurisdicional (duunviri ou quatuorviri juridicundu), já muito cerceada a sua jurisdição nos últimos tempos do
império, deixou de existir.

3. Usam-se parênteses para indicar as indicações cênicas (numa peça de teatro):


Exemplo:
Pastorinho - (Sorridente.) Prometeu.

Exercícios

1. Pontue adequadamente.

01. Neguei-o eu e ele o negou. (Rui Barbosa)

02. O amor por exemplo é um sacerdócio. (Machado de Assis)

03. Misael tirou Maria Elvira da vida instalou-a num sobrado no Estácio pagou médico dentista manicura. (Manuel Bandeira)

04. Por onde fordes ela irá convosco. (Carlos Drummond de Andrade)

05. Além da conversa das mulheres são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. (José Saramago)

06. A política não é uma ciência mas uma arte. (Otto von Bismarck)

07. Não tenha pressa mas não perca tempo. (José Saramago)

08. Se a montanha não vem a Maomé Maomé vai à montanha. (Maomé)

09. Assim é se lhe parece. (Luigi Pirandello)

10. Para morrer com estilo viver em Barroco. (Umberto Eco)

11. Eras muito eras todos e nunca eras ninguém. (Fernando Pessoa)

12. O experimento nunca erra somente erram vossos juízos. (Leonardo da Vinci)

13. Penso logo existo. (René Descartes)

14. Säo Paulo dá café Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba. (Noel Rosa)

15. Em se plantando tudo dá. (Pero Vaz de Caminha)

16. Ou afundar ou nadar. (W. Shakespeare)

17. Vim vi e venci! (Júlio César)

18. Eu não sou ministro eu estou ministro. (Eduardo Matos Portela)

19. Livre nasci livre vivo livre morrerei. (Pietro Aretino)

20. Não lamento morrer mas deixar de viver (François Mitterrand)

21. Enquanto se ameaça descansa o ameaçado. (Miguel de Cervantes)

- 23 -
22. Amai amai que tudo mais é nada. (La Fontaine)

23. Quem possui a faculdade de ver beleza não envelhece. (Kafka)

24. Pisado o menor verme se revira. (W. Shakespeare)

25. Nós as mulheres não somos tão fáceis de conhecer! (Santa Teresa de Ávila)

26. O sertanejo é antes de tudo um forte. (Euclides da Cunha)

27. Eu levo a primeira parte porque me chamo leão. (Fedro)

28. Onde é necessário vencer convém ceder. (Quintiliano)

29. Se todos fossem humoristas não tinha graça nenhuma. (Renato Pereira)

30. Se deves julgar investiga. Se deves reinar manda. (Sêneca)

31. O que eu gostaria de ter feito e não fiz é 20 anos ontem. (L. Veríssimo)

32. Já se ouve cantar o negro pela agreste imensidão. (Cecília Meireles)

33. Eles mandam e vós servis eles dormem e vós velais eles descansam e vós trabalhais eles gozam o fruto de vossos trabalhos e o
que vós colheis deles é um trabalho sobre outro. (Antônio Vieira)

34. A burrice é contagiosa o talento não é. (Agripino Grieco)

Pontue as frases se necessário

35. Brasília Capital da República foi fundada em 1960

36 - O homem que é mortal tem a alma imortal.

37 - Haveremos um dia brancos e pretos de nos unir.

38. A poesia a dança a escultura a música tudo é forma de expressão

39. Minha casa tem dois dormitórios dois banheiros uma cozinha uma sala e um pequeno quintal

40. A poluição ambiental meus senhores tem sido um grave problema

41. O senhor Carlos chefe da empresa adiou a decisão

42. Maria o chefe da firma vai promover você e eu

43. Naquele dia ninguém se manifestou porém

44. No inverno ela me deixou Felizmente tudo acabou bem

45. Quero que você volte ou melhor fique comigo para sempre

46. O lobo com cautela caça

47. Não tenho tudo que amo mas amo tudo que tenho

48. O programa quando é bom não trava a operação da máquina

49. São Paulo 25 de janeiro de 2000

50. Eu vou mas volto Ficarei aqui até Lídia a orgulhosa resolver olhar para mim

51. O deputado disse o presidente é um safado

52. Minha vaca é igual às outras tem dois chifres tem quatro patas tem um rabo abaixo dos olhos um focinho dá leite e muge

53- José venha cá.

54 - Amely a mais moça da família é mais esperta.

- 24 -
55 - Ao acabar as aulas os alunos se retiraram.

56 - Os professores os alunos o diretor e os funcionários saíram.

57 - Vitória 22 de maio de 2000

58 - Estudemos muito e a faculdade nos aceitará.

59 - O candidato estudou e fez ótima prova.

60 - O Brasil espera que cada um cumpra com seu dever.

61 - Que cada um cumpra com seu dever o Brasil espera.

62 - Logo que eles chegaram o secretário começou a falar.

63 - Se puder irei visitá-lo.

64 - Levantar uma pedra de 500 kg uma andorinha só não faz verão.

65 - José estuda física e eu português.

66 - Os dois irmãos os simpáticos Cosme e Damião saíram...

67 - Antonieta e Antônia as duas irmãs são lindas.

68 - Pergunto que disse ele

69 - Cristo disse amai-vos uns aos outros.

70 - Aborrecimentos tristezas nada incomoda.

Destas redações exemplares, foram retiradas as vírgulas. Sua missão é pontuá-las adequadamente.

Redação 1:Iniciativa, cooperação, tenacidade e fidelidade (Flávio F. Ferreira)

Grande é a importância de certas qualidades para o bom desempenho das tarefas de responsabilidade na Marinha do
Brasil(MB). Nesse contexto a função dos atributos - iniciativa cooperação tenacidade fidelidade - da Rosa das Virtudes é essencial
para que o militar cumpra de maneira exemplar seus deveres perante a Instituição.
A iniciativa e a cooperação são fundamentais para que um combatente destaque-se entre seus pares. Tal afirmação pode
ser observada naqueles que buscam expor voluntariamente suas ideias e planos a fim de contribuir para melhor execução das tarefas
recebidas. Ademais a iniciativa quando bem aplicada pode gerar a cooperação entre os companheiros haja vista a ação conjunta ser
normalmente a que leva ao sucesso no cumprimento do dever. Ambas são logo virtudes no desempenho das funções.
A tenacidade é também primordial para que o militar logre sucesso na profissão. Na carreira das armas o indivíduo deve
manter a força de vontade para superar as adversidades seja no campo de batalha seja em tempos de paz. Cabe destacar ainda o
ânimo que deve apresentar para aprimorar-se profissionalmente por meios de cursos e leitura com o objetivo de manter-se atualizado
e de conduzir seus homens de maneira correta. Dessa forma a tenacidade é uma qualidade a ser valorizada na MB.
Nesse mesmo sentido a fidelidade é precípua em uma Organização Militar(OM). O combatente deve ser fiel às leis e normas
da Instituição e deve buscar a execução de suas tarefas com presteza e dedicação. Além do mais os que possuem essa característica
não se deixam abater por ordens que por exemplo possam contrariar seus interesses pessoais. Assim a fidelidade é essencial para
se conservar firme e leal à Força.
Iniciativa cooperação tenacidade e fidelidade são portanto virtudes importantes na condução das tarefas inerentes à Marinha
do Brasil. Nessa direção pela junção desses atributos os militares têm contribuído para que a Instituição continue a cumprir com
excelência a missão constitucional: garantir a soberania do Brasil.

- 25 -
Redação 2: Lealdade e Disciplina (Helio Augusto C. S. Júnior)

Nobres sentimentos são, muitas vezes, encontrados nos seres humanos. Com efeito, a lealdade e a disciplina são vertentes
ímpares que materializam tais atributos em uma referência a ser seguida por uma sociedade. Esses valores ratificam por conseguinte
o quão importantes são para qualquer cidadão que detenha consigo essas pedras angulares forjadoras da honra e da dignidade.
A lealdade é consubstanciada pelo exemplo e pela dedicação que uma pessoa apresenta ao cumprir ordens obrigações ou
pela imposição do seu caráter. É importante salientar nesse contexto a heroica vitória do Almirante Barroso – Comandante da
Esquadra do Brasil na Guerra do Paraguai – na Batalha do Riachuelo uma vez que mesmo com um número menor de navios esse
bravo guerreiro com garra e destemor não recuou no ardor do combate e aniquilou as forças paraguaias do ditador Solano Lópes.
Desse modo ficou evidenciado o amor incondicional que esse brasileiro sentia por seu País ao deixar um legado de orgulho e
admiração para os seus patriotas.
Também a disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis ou de uma meta a ser cumprida. Esse atributo
é observado principalmente na vida castrense. Os militares em suas missões ou no cumprimento de suas atribuições são os maiores
responsáveis pela manutenção da ordem e pela garantia da defesa do seu território. No Brasil por exemplo caso haja um estado de
beligerância com a outra nação ou inimigo qualquer são esses seguidores da carreira das armas que terão a iniciativa das ações para
repelir possíveis ameaças. Eles garantirão assim a Soberania Nacional pela tenacidade e pelo vigor e manter-se-ão fidedignos ao
País pela consolidação da obediência.
É salutar compreender que a lealdade e a disciplina são portanto vertentes ímpares que agrupam muitas outras virtudes.
Tais valores conduzem os seres humanos a uma vida baseada no exemplo no esforço e na dedicação: atributos para a construção
de uma sociedade justa e digna.

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O FIM DO LIVRO DE PAPEL

Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam cada um o preço
de uma casa. Isso foi 3 décadas antes de a Bíblia de Gutenberg chegar às ruas. Depois dela, os livros deixaram de ser obras artesanais
exclusivas de milionários e viraram o que viraram. Graças a uma novidade: a prensa de tipos móveis, que era capaz de fazer milhares
de cópias no tempo que um monge levava para terminar um manuscrito.
Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá. Só que uma revolução que já acabou. Há 10 anos, pelo menos.
Quando a internet começou a crescer para valer, ficou claro que ela passaria uma borracha na história do papel impresso e começaria
outra.
Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava: nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as vendas dos livros.
Muito pelo contrário. O 2o negócio online que mais deu certo (depois do Google) é uma livraria, a Amazon. Se um extraterrestre
pousasse na Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por que o livro não morreu? Como uma plataforma que, se comparada à
internet, é tão arcaica quanto folhas de pergaminho ou tábuas de argila continua firme?
Você sabe por quê. Ler um livro inteiro no computador é insuportável. A melhor tecnologia para uma leitura profunda e
demorada continua sendo tinta preta em papel branco. Tudo embalado num pacote portátil e fácil de manusear. Igual à Bíblia de
Gutenberg. Isso sem falar em outro ingrediente: quem gosta de ler sente um afeto físico pelos livros. Curte tocar neles, sentir o fluxo
das páginas, exibir a estante cheia. Uma relação de fetiche. Amor até.
Mas esse amor só dura porque ainda não apareceu nada melhor que um livro para a atividade de ler um livro. Se aparecer…
Se aparecer, não: quando aparecer. Depois do CD, que já morreu, e do DVD, que está respirando com a ajuda de aparelhos, o livro
impresso é o próximo da lista. VERSIGNASSI, Alexandre.

1. A pontuação não interfere apenas nos aspectos sintáticos do texto, mas também nos semânticos. Sobre os efeitos de sentido
decorrentes do uso da pontuação no texto, marque a única afirmação CORRETA.

a) Em “Se aparecer… Se aparecer, não: quando aparecer” (5º parágrafo), a utilização dos sinais de pontuação tem como efeito de
sentido introduzir marcas de oralidade na escrita.
b) Em “Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam cada um o preço
de uma casa.” (1º parágrafo), os pontos finais foram utilizados para construir períodos curtos, criando um efeito de morosidade na
narrativa.
c) Em “Por que o livro não morreu? Como uma plataforma que, se comparada à internet, é tão arcaica quanto folhas de pergaminho
ou tábuas de argila continua firme?” (3º parágrafo), as interrogações são responsáveis pelo estabelecimento de possíveis certezas
acerca de pensamentos metafóricos.
d) Em “Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá” (2º parágrafo), os uso das vírgulas tem como efeito de sentido a criação
de uma figura de linguagem: a sinestesia.
e) Em “Graças a uma novidade: a prensa de tipos móveis” (1º parágrafo) os dois-pontos foram utilizados para antecipar uma
informação, provocando, como efeito, a ironia.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: PAI CONTRA MÃE

A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns
aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-
de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver,
um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque
geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a
honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez
o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou
à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que
fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia
ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia
alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação,
porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. [...]
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os
sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha
a quantia, vinha promessa: "gratificar-se-á generosamente", -- ou "receberá uma boa gratificação". [...] Protestava-se com todo o rigor
da lei contra quem o acoutasse. [...] Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas, por ser instrumento
da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. ASSIS, Machado de.
Pai contra mãe. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000245.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2017.

2. As proposições a seguir são considerações acerca de aspectos linguístico-gramaticais do texto. Analise-as.

I. No primeiro parágrafo, encontra-se o substantivo “folha-de-flandres”, o qual passou a ser grafado sem hífen após a instituição do
último acordo ortográfico.
II. Em “Há meio século, os escravos fugiam com frequência” (3º parágrafo), o uso da vírgula é obrigatório porque a expressão
destacada cumpre função adverbial e está deslocada, iniciando o período.
III. Em “Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico...” (4º parágrafo), a vírgula, no
trecho grifado, poderia ser substituída por dois-pontos sem prejuízo gramatical e sem alteração de sentido.
IV. Em “Quando não vinha a quantia, vinha promessa: ‘gratificar-se-á generosamente’...” (4º parágrafo), a conjunção destacada
introduz ideia de tempo no período, podendo ser substituída pelas locuções conjuntivas “assim que” ou “tão logo”.
V. Em “por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade...” (4º parágrafo), o verbo grifado tem como sujeito a
expressão “instrumento da força”, sendo assim, para com ela estabelecer concordância, está corretamente grafado com acento
circunflexo.

Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas

a) II e IV. b) I, II e III. c) I, III e V. d) III e IV. e) I, II e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Economia comportamental leva o Nobel

Norte-americano Richard H. Thaler diz que ‘para fazer uma boa análise em economia deve-se ter em mente que as pessoas são
humanas’

Richard H. Thaler recebeu o Prêmio Nobel de Economia pelas suas contribuições no campo da economia comportamental.
O professor Thaler, nascido em 1945, em East Orange, New Jersey (EUA), trabalha na Faculdade de Administração da Universidade
Booth de Chicago. Segundo o comitê do Nobel, ao anunciar o prêmio em Estocolmo, Thaler é pioneiro na aplicação da psicologia ao
comportamento em economia e em explicar como as pessoas tomam decisões econômicas, às vezes, rejeitando a racionalidade.
Sua pesquisa, disse o comitê, levou o campo comportamental em economia, de um papel secundário, para a corrente
principal da pesquisa acadêmica e mostrou que o fator tinha importantes implicações para a política econômica.
Thaler disse, nesta segunda-feira, 9, que a premissa básica de suas teorias é a seguinte: “Para fazer uma boa análise em
economia deve-se ter em mente que as pessoas são humanas”. Quando lhe perguntaram como gastaria o dinheiro (cerca de US$ 1,1
milhão) do prêmio, respondeu: “Esta é uma pergunta bem divertida”. E acrescentou: “Tentarei gastá-lo da forma mais irracional
possível”
O prêmio de Economia foi criado em 1968 em memória de Alfred Nobel e é concedido pela Academia Real de Ciências da
Suécia.
As linhas principais de estudos econômicos em grande parte do século 20 basearam-se na hipótese simplificada de que as
pessoas se comportavam racionalmente. Os economistas entendiam que isso não era literalmente real, mas argumentaram que estava
bem próximo disso.
O professor Thaler desempenhou um papel central ao se distanciar desse pressuposto. Ele não só defendeu que os seres
humanos são irracionais, o que é algo óbvio, mas também de pouca ajuda. Em vez disso, ele mostrou que as pessoas saem da
racionalidade de maneiras coerentes, portanto seu comportamento ainda pode ser antecipado.
O comitê do Nobel descreveu como a teoria de Thaler sobre “contabilidade mental” explica de que forma as pessoas
simplificam as decisões financeiras, concentrando-se no impacto limitado de cada decisão e não no seu efeito mais geral. Ele também
mostrou como a aversão a uma perda pode explicar por que as pessoas valorizam muito mais o mesmo item quando são proprietárias
do que quando não o são, fenômeno chamado “efeito de doação”.

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As teorias de Thaler explicam, ainda, porque as resoluções de ano-novo podem ser difíceis de se manter e analisam a tensão
entre o planejamento de longo prazo e a ação no curto prazo. Sucumbir à tentação de curto prazo é uma razão importante pela q ual
muitas pessoas fracassam em seus planos de poupar para quando forem idosas, ou fazer escolhas de estilo de vida mais saudáveis,
de acordo com a pesquisa de Thaler. Ele também demonstrou o quanto mudanças aparentemente pequenas na forma como os
sistemas funcionam, ou como um “empurrãozinho” (“nudging”) – termo que ele inventou – pode ajudar as pessoas a exercer melhor o
autocontrole quando, por exemplo, estão economizando para a aposentadoria.
O professor Thaler teve uma rápida participação no filme A Grande Aposta, ao lado da atriz e cantora Selena Gomez, no qual
ele usou a economia comportamental para ajudar a explicar as causas da crise financeira. Quando perguntaram a ele sobre sua “curta
carreira em Hollywood”, brincou se dizendo desapontado pelo fato de suas façanhas como ator não terem sido mencionadas no
resumo de suas realizações quando o prêmio foi anunciado.
Por que o trabalho de Thaler foi importante? Seu trabalho forçou os economistas a lidarem com as limitações da análise
tradicional com base no pressuposto de que as pessoas são atores racionais. Ele também tem sido excepcionalmente bem-sucedido
ao influenciar diretamente políticas públicas. Uma das contribuições mais importantes é a sua influência sobre a mudança dos planos
de aposentadoria nos quais os funcionários se inscrevem automaticamente e nas apólices que oferecem aos funcionários a opção de
aumentar as contribuições ao longo do tempo. Ambos refletem a visão de Thaler de que a inércia pode ser usada para moldar
resultados benéficos sem impor limites à escolha humana.APPELBAUM, Binyamin. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,nobel-de-economia-2017-vai-para-um-dos-fundadores-da-economia-
comportamental,7000203479>. Acesso em: 11 out. 2017. Adaptado.

3. As aspas são amplamente utilizadas no texto, mas não pelas mesmas razões. Analise o uso das aspas nas passagens abaixo e
assinale o caso em que tal uso indica ironia.

a) Thaler disse [...] que a premissa básica de suas teorias é a seguinte: “Para fazer uma boa análise em economia deve-se ter em
mente que as pessoas são humanas”. (3º parágrafo).
b) Quando lhe perguntaram como gastaria o dinheiro (cerca de US$ 1,1 milhão) do prêmio, respondeu: “Esta é uma pergunta bem
divertida”. (3º parágrafo).
c) Quando perguntaram a ele sobre sua “curta carreira em Hollywood”, brincou se dizendo desapontado pelo fato de suas façanhas
como ator não terem sido mencionadas no resumo de suas realizações quando o prêmio foi anunciado. (9º parágrafo).
d) [...] (“nudging”) – termo que ele inventou – pode ajudar as pessoas a exercer melhor o autocontrole quando, por exemplo, estão
economizando para a aposentadoria. (8º parágrafo).
e) O comitê do Nobel descreveu como a teoria de Thaler sobre “contabilidade mental” explica de que forma as pessoas simplificam
as decisões financeiras, concentrando-se no impacto limitado de cada decisão e não no seu efeito mais geral. (7º parágrafo).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Saudade de escrever


Apesar da concorrência (internet, celular), a carta continua firme e forte. Basta uma folha de papel, selo, caneta e envelope
para que uma pessoa do Rio Grande do Norte, por exemplo, fique por dentro das fofocas registradas por um amigo em São Paulo,
dois dias depois. “Adoro receber cartas, fico super ansiosa para descobrir o que está escrito”, conta Lívia Maria, de 9 anos. Mas ela
admite que faz tempo que não escreve nenhuma cartinha. “As últimas foram para a Angélica e para um dos programas do Gugu.”
Isabela, de 9 anos, lembra que, quando morava em Curitiba, no Paraná, trocava correspondência com sua amiga Raquel,
que vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Eu ficava sabendo das novidades e não gastava dinheiro com telefonemas.”
Já Amanda, de 10 anos, também gosta de receber cartinhas, mas prefere enviar e-mails. “Atualmente estou conversando
com meu primo que está nos Estados Unidos via computador, já que a mensagem chega mais rápido e não pago interurbano.”
TOURRUCCO, Juliana. Saudade de escrever. O Estado de São Paulo, p.5, 25 jul.1998. Suplemento infantil.

4. O adjunto adverbial vem, normalmente, no final da frase, mas ele pode aparecer em outra posição, basta que se indique esse
deslocamento com a vírgula. A colocação inadequada do adjunto adverbial, porém, poderá prejudicar a compreensão da frase. É o
que acontece na fala da Amanda, no texto. Das cinco reestruturações apresentadas nas alternativas a seguir, uma continua com
problema. Marque-a.

a) Atualmente, via computador, estou conversando com meu primo que está nos Estados Unidos.
b) Atualmente estou, via computador, conversando com meu primo que está nos Estados Unidos.
c) Atualmente estou conversando, via computador, com meu primo que está nos Estados Unidos.
d) Atualmente estou conversando com meu primo, via computador, que está nos Estados Unidos.
e) Via computador, atualmente estou conversando com meu primo que está nos Estados Unidos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Texto


Proibido para menores de 50 anos. Nos últimos meses, em meio ao debate sobre as reformas na Previdência, um ponto acabou
despertando a atenção. Afinal, existem empregos para quem tem mais de 50 anos? Pendurar as chuteiras nem sempre é fácil. Às
vezes, pode significar uma quebra tão grande na rotina que afeta até mesmo o emocional. Foi a partir de uma experiência familiar
nesta linha que o paulistano Mórris Litvak criou a startup MaturiJobs. Trata-se de uma agência virtual de empregos, especializada em
profissionais com mais de 50 anos. (Revista Isto é Dinheiro. Mercado de Trabalho. Maio/2017. p. 6.)

5. “Nos últimos meses, em meio ao debate sobre as reformas na Previdência, um ponto acabou despertando a atenção.” Na frase
transcrita, as vírgulas foram utilizadas para
a) realçar a escrita formal em contraste à escrita informal.
b) separar um termo complementar da oração principal.
c) marcar a sobreposição de várias informações intercaladas.
d) indicar o deslocamento da informação secundária em relação à principal.
e) antecipar o tempo e o espaço físico da informação principal.
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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Mais velho, poucos amigos?

Um curioso estudo divulgado na última semana mostrou que a redução do número de amigos com a idade, tão comum entre
os humanos, pode não ser exclusivo da nossa espécie. 1Aparentemente, macacos também passariam por processo semelhante em
suas redes de contatos sociais, o que poderia sugerir um caráter evolutivo desse fenômeno.
2No trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa com Primatas em Göttingen, Alemanha, se identificou uma redução de

grooming (tempo dedicado ao cuidado com outros indivíduos, como limpar o pelo e catar piolhos) entre os macacos mais velhos da
espécie Macaca sylvanus. 3Além disso, eles praticavam grooming em um número menor de “amigos” ou parentes.
4Fazer grooming está para os macacos mais ou menos como o “papo” para nós. 5Da mesma forma que o “carinho” humano,

ele parece provocar a liberação de endorfinas. 6Geram-se, dessa forma, sensações de bem-estar tanto em homens como em outros
animais.
Na pesquisa, publicada pelo periódico New Scientist, os cientistas perceberam que macacos de 25 anos tiveram uma redução
de até 30% do tempo de grooming quando comparados com adultos de cinco anos. 7Se esse fenômeno acontece em outros primatas,
ele também pode ter chegado a nós ao longo do caminho de formação da nossa espécie. 8Se chegou, qual teria sido a vantagem
evolutiva?
9Durante muito tempo se especulou que esse “encolhimento” social em humanos seria, na verdade, resultado de um processo

de envelhecimento, em que depressão, morte de amigos, limitações físicas, vergonha da aparência e menos dinheiro poderiam limitar
as novas conexões. 10Mas, pesquisando os idosos, se percebeu que ter menos amigos era muito mais uma escolha pessoal do que
uma consequência do envelhecer.
Uma linha de investigação explica que essa redução dos amigos seria, na verdade, uma seleção dos mais velhos de como
usar melhor o tempo. Mas outros especialistas defendem a ideia de que os mais velhos teriam menos recursos e defesas para lidar
com estresse e ameaças e, assim, 11escolheriam com mais cautela as pessoas com quem se sentem mais seguros (os amigos) para
passar seu tempo.BOUER, J. Jornal O Estado de São Paulo, caderno Metrópole, domingo, 26 jun. 2016, p. A23. Adaptado.

6. Um dos objetivos do título de um texto é atrair a atenção do leitor e levá-lo a refletir sobre as ideias nele desenvolvidas.

No texto apresentado, o título é uma pergunta retórica constituída por duas expressões separadas por uma vírgula, que tem a função
de sugerir a relação lógica de

a) causalidade
b) alternância
c) comparação
d) explicação
e) finalidade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências de Cármen Lúcia em seu discurso
de posse

POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00


Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal nesta
segunda-feira (12), citou trechos de canções de Caetano Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, Carlos Drummond de
Andrade, Paulo Mendes Campos e fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de Guimarães Rosa e
uma das mais. A escolha das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua visão acerca do atual momento sociopolítico.
Citando o cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão – que interpretou em voz e violão o hino nacional – Cármen Lúcia
concordou que "alguma coisa está fora da ordem".
"Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural concluem em uníssono: alguma coisa está fora de ordem, fora da nova
ordem mundial", disse a ministra. "O que nos cumpre, a nós servidores públicos em especial, é questionar e achar resposta: de qual
ordem está tudo fora...", acrescentou.
O cantor já se posicionou contra o governo do presidente Michel Temer, nos bastidores da cerimônia de abertura das
Olimpíadas de 2016.
A nova presidente do STF também citou a música "Comida", da banda Titãs. "Cumpre-nos dedicar-nos de forma intransigente
e integral a dar cobro ao que nos é determinado pela Constituição da República e que de nós é esperado pelo cidadão brasileiro, o
qual quer saúde, educação, trabalho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país e trilhas livres para poder sonhar além
do mais. Que, como na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer só comida, quer também diversão e arte".
Um dos compositores da canção citada é Arnaldo Antunes, que também se posicionou contra o impeachment de Dilma
Rousseff nas redes sociais.
Versos
Cármen Lúcia também citou versos da escritora Cecília Meireles, ao dizer que "liberdade é um sonho que o mundo inteiro
alimenta" – da obra Romanceiro da Inconfidência, lançada em 1953.
"Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, parece-me ser a Justiça um
sentimento, que a humanidade inteira acalenta", discursou a ministra.
Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez menção a um personagem do livro Grande Sertão: Veredas, do escritor
mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa. "Riobaldo afirmava que 'natureza da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas parece-
me que a natureza da gente não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a Justiça que se pede e que se
espera do Estado", disse a nova presidente do STF.
Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por Cármen Lúcia. "Em tempos cujo nome é tumulto escrito em pedra, como
diria Drummond, os desafios são maiores. Ser difícil não significa ser impossível. De resto, não acho que para o ser humano exista,
na vida, o impossível", disse a ministra, em referência ao poema "Nosso tempo", do escritor mineiro.

- 29 -
A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o discurso citando um terceiro escritor mineiro: Paulo Mendes Campos. "O
Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se
multiplicarem também as esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos", disse Cármen Lúcia, em referência "Poema
Didático", de Paulo Mendes Campos.
Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas-referencias-de-carmen-
lucia-em-seu-discurso-de-posse/.
Acesso em: 26 set.2016. [Adaptado]

7. "Riobaldo afirmava que 'natureza da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas parece-me que a natureza da gente não se
aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a Justiça que se pede e que se espera do Estado".
Nesse trecho do terceiro parágrafo da parte Versos, Luma Poletti emprega as aspas simples dentro das aspas duplas para
a) identificar com as simples o texto de Guimarães Rosa e as duplas a fala de Riobaldo.
b) evidenciar com as simples o discurso de Cármen Lúcia e com as duplas pensamento de Riobaldo.
c) assinalar com as simples o dizer de Riobaldo e com as duplas o discurso da ministra.
d) indicar com as simples a natureza da gente e com as duplas o discurso de Cármen Lúcia.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ACHADO NÃO É ROUBADO


Fabrício Carpinejar
Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. Eu me virava como dava. Recebia casa, comida e roupa lavada e não havia
como miar, latir e __________ mais nada aos pais, só agradecer.
As minhas fontes de renda eram praticamente duas: procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para que deixasse alguma
nota na pressa da troca dos acessórios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros.
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e caminhava por duas horas,
com a cabeça apontada ao meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os pés e cortava o mato com canivete. Fui voluntário
remoto do Departamento Municipal de Limpeza Urbana.
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro Petrópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do viaduto da Conceição
e reiniciava a minha arqueologia monetária no outro lado da rua.
Levava um saquinho para colher as moedas. Cada tarde rendia o equivalente a três reais. Encontrar correntinhas, colares e
__________ salvava o dia. Poderia revender no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em jujubas, bolo inglês e guaraná.
Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência o Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava a levantar a pesada
e lacrada tampa de metal. Eu ficava com a responsabilidade de descer __________ profundezas do lodo. Tirava toda a roupa – a mãe
não perdoaria o petróleo do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginando
as recompensas. Repartia os lucros com os colegas que me acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto Alegre. Lembro
que compramos uma bola de futebol com a arrecadação de duas semanas.
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os professores paravam no meu colégio, acreditava na greve dos objetos: moedas
e anéis rolavam e cédulas voavam dos bolsos para protestar por melhores condições.
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia dinheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é também trabalhar duro.
Disponível em: < http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/achado-nao-e-roubado.html > Acesso em: 22 jun. 2016.
8. Quanto à pontuação do texto, são feitas as seguintes afirmações:
I. O emprego da vírgula em “Recebia casa, comida e roupa lavada e...” apresenta a mesma justificativa do que o usado em “Convidava
com frequência o Liquinho, vulgo Ricardo”.
II. Os travessões empregados em ”Tirava toda a roupa – a mãe não perdoaria o petróleo do esgoto – e pulava de cueca” poderiam
ser substituídos por parênteses sem acarretar prejuízo semântico.
III. O uso dos dois-pontos em “As minhas fontes de renda eram praticamente duas: procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe...” se
justifica pelo mesmo motivo empregado em “acreditava na greve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam dos
bolsos para protestar por melhores condições”.
Está(ão) INCORRETA(S) apenas a(s) afirmativa(s)
a) I. b) II. c) I e III. d) II e III.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A doença do amor
Luiz Felipe Pondé
Existe de fato amor romântico? Esta é uma pergunta que ouço quando, em sala de aula, estamos a discutir questões como literatura
romântica dos séculos 18 e 19. 1Quando o público é composto de pessoas mais maduras, a tendência é um certo ceticismo, muitas
vezes elegante, apesar de trazer nele a marca eterna do desencanto.
Quando o público é mais 2jovem há uma tendência maior de crença no amor romântico. 3Alguns diriam que 4essa crença é típica da
idade jovem e inexperiente, assim como crianças creem em Papai Noel.
Mas, em matéria de amor romântico, melhor ainda do que ir em busca da literatura dos séculos 18 e 19 é ir 5à fonte primária 6: a
literatura europeia medieval, verdadeira fonte do amor romântico. A literatura conhecida como amor cortês.
Especialistas no assunto, como o suíço Denis de Rougemont, suspeitavam que a literatura medieval criou uma verdadeira expectativa
neurótica no Ocidente sobre o que seria o amor romântico em nossas vidas concretas, fazendo com que 7sonhássemos com algo que,
na verdade, nunca existiu como experiência universal. 8Dos castelos da Provence francesa do século 12 ao cinema de Hollywood,
teríamos perdido o verdadeiro sentido do amor medieval, que seria uma doença da qual devemos fugir como o diabo da cruz.
Para além dos céticos e crentes, a literatura medieval de amor cortês é marcante pela sua descrição do que seria esse pathos amoroso.
Uma doença, uma verdadeira desgraça para quem fosse atingindo em seu coração por tamanha tristeza. André Capelão, autor da
época (Tratado do Amor Cortês, ed. Martins Fontes), sintetiza esse amor como sendo uma 9"doença do pensamento". Doença essa
que podemos descrever como uma forma de obsessão em saber o que ela está pensando, o que ela está fazendo nessa exata hora
em que penso nela, com o que ela sonha à noite, como é seu corpo por baixo da roupa que a veste, o desejo incontrolável de ouvir
sua voz, de sentir seu perfume. Mas a doença avança: sentir o gosto da sua boca, beijá-10la por horas a fio.
- 30 -
11Mas, quando em público, jamais deixe ninguém saber que se amam. Capelão chega a supor que desmaios femininos poderiam ser
indicativos de que a infeliz estaria em presença de seu desgraçado objeto de amor inconfessável. A inveja dos outros pelos amantes,
apesar de 12condenados a 13tristeza pela interdição sempre presente nas narrativas (casados com outras pessoas, detentores de
responsabilidades públicas e privadas), se dá pelo fato que se trata de uma doença encantadora quando correspondida.
Nada é mais forte do que o desejo de estar com alguém a quem você se sente ligado, mesmo que a milhares de quilômetros de
distância, sem poder trocar um único olhar ou toque com ela.
O erro dos modernos românticos teria sido a ilusão de que esses medievais imaginariam o amor romântico numa escala universal e
capaz de 14conviver com um apartamento de dois quartos, pago em cem anos.
Não, o amor cortês seria algo que deveríamos temer justamente por seu caráter intempestivo e avassalador. Sempre fora do
casamento, teria contra ele a condenação da norma social ou religiosa que, aos poucos, 15levaria as suas vítimas à destruição,
psicológica ou física.
Para os medievais, um homem arrebatado por esse amor tomaria decisões que destruiriam seu patrimônio. A mulher perderia sua
reputação. Ambos viriam, necessariamente, a morrer por conta desse amor, fosse ele em batalha, por obrigação de guerreiro, fosse
fugindo do horror de trair seu melhor amigo com sua até então fiel esposa. Ela morreria eventualmente de tristeza, vergonha e solidão
num convento, buscando a paz de espírito há muito perdida. A distância física, social ou moral, proibindo a realização plena desse
desejo incessante como tortura cotidiana.
O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou alguns textos ao tema, entendia que a literatura medieval descrevia o embate
entre virtude e desejo, sendo a desgraça dos apaixonados a maldição de ter que 16pôr medida nesse desejo 17(nesse amor fora do
lugar), em meio à insuportável culpa de estar doente de amor.
Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de 2016 na Folha de S. Paulo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/05/1771569-a-doenca-do-amor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016.

9. No que diz respeito ao emprego dos sinais de pontuação, é correto afirmar que

a) falta uma vírgula depois de jovem (ref. 2) para separar a oração subordinada adverbial anteposta à principal.
b) os dois-pontos presentes na referência 6 têm por finalidade sinalizar uma enumeração de itens.
c) as aspas utilizadas na expressão doença do pensamento (ref. 9) indicam ironia.
d) os parênteses presentes na referência 17 isolam um exemplo de desejo pelo amado.

10. Leia o período a seguir: “Mas a mulher também guarda seus erros sociais, monumentais, passíveis de distrato na igreja e no
cartório. E o maior deles, que envergonha a classe dos namorados e o sindicato dos maridos, é a polaina, adereço que não deixa
nenhuma beldade bonita e atraente, somente engraçada.”

Sobre esse período, são feitas as seguintes afirmativas:

I. Os vocábulos “mas” e “somente” poderiam ser substituídos, sem perda de valor semântico, por “Entretanto e apenas”,
respectivamente.
II. O uso das vírgulas isolando a oração “que envergonha a classe dos namorados e o sindicato dos maridos” está em desacordo com
a norma culta da língua portuguesa.
III. A expressão “maior deles” retoma a expressão “erros sociais”.

Estão corretas as afirmativas

a) I, II, III. b) I e II apenas. c) I e III apenas. d) II e III apenas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

11. O uso dos pontos de exclamação nas falas da charge indicam:


a) ênfase, pois marcam o tom das falas.
b) dúvida, pois não há certeza sobre o que vai acontecer no futuro.
c) negação, pois o que se evidencia na cena é a ironia.
d) pedido, pois implicitamente busca-se por socorro.
e) humor, pois destoam do contexto da imagem.

- 31 -
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Não faz muito que 1temos esta nova TV com controle remoto, 2mas devo dizer que se trata agora de um instrumento sem 3o
qual eu não saberia viver. Passo os dias sentado na velha poltrona, mudando de um canal para o outro – uma tarefa que antes exigia
certa movimentação, 4mas que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto – 5zap, mudo para outro. 6Eu 7gostaria de ganhar
em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe. 8Trata-se de uma pretensão fantasiosa,
9mas pelo menos 10indica 11disposição para o humor, admirável nessa mulher.
12Sofre minha mãe. Sempre 13sofreu14: infância carente, pai cruel, etc. Mas o seu sofrimento aumentou muito quando meu

pai a deixou. Já faz tempo; foi logo depois que eu nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em que se vê muita televisão, e
em que se muda de canal constantemente, ainda que minha mãe ache 15isso um absurdo. Da tela, uma moça sorridente pergunta se
o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. 16Não conheço nem quero conhecer, de modo que – 17zap – mudo de canal.
“Não me abandone, Mariana, não me abandone 18!”. Abandono, sim. Não tenho o menor 19remorso, e agora é um desenho, que eu já
vi duzentas vezes, e – 20zap – um homem 21falando. Um homem, abraçado _____1_____ guitarra elétrica, fala _____2_____ uma
entrevistadora. É um roqueiro. É meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.
É sobre mim que 22ele fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e ele, meio 23constrangido – situação
pouco admissível para um roqueiro de verdade –, diz que sim, que tem um filho só que não vê há muito tempo. Hesita um pouco e
acrescenta: você sabe, eu tinha que fazer uma opção, era a família ou o rock. A entrevistadora, porém, insiste ( 24é chata, ela): mas o
seu filho gosta de rock25? Que você saiba, seu filho gosta de rock26?
Ele se mexe na cadeira; o microfone, preso _____3_____ desbotada camisa, roça-27lhe o peito, produzindo um desagradável
e bem audível rascar. Sua angústia é compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência – e ainda tem de passar
pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder. E então ele me olha. 28Vocês dirão que não, que é para
a câmera que ele olha; aparentemente é isso; mas na realidade é a mim que ele olha, sabe que, em algum lugar, diante de uma tevê,
estou a fitar seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura a resposta _____4_____ pergunta
da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim? Você me perdoa? – mas aí comete um engano mortal29: insensivelmente,
automaticamente, seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho roqueiro. Seu rosto se ilumina e 30ele vai
dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse momento – 31zap – aciono o controle remoto e ele some. 32Em
seu lugar, uma bela e sorridente jovem que está – à exceção do pequeno relógio que usa no pulso – nua, completamente nua.Adaptado
de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í. (Org.) Os cem melhores contos brasileiros.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548.

12. Associe cada ocorrência de sinal de pontuação, primeira coluna, com o sentido, segunda coluna, que tal sinal ajuda a expressar
no contexto em que ocorre.
( ) Dois-pontos (ref. 14 e 29)
( ) Exclamação (ref. 18)
( ) Interrogação (ref. 25 e 26)
1. Assinala exemplificação
2. Anuncia explicações
3. Incita resposta
4. Enfatiza pedido
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) 1 – 3 – 2. b) 1 – 4 – 3. c) 2 – 3 – 1. d) 2 – 4 – 1. e) 2 – 4 – 3.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: CELULAR ROUBADO? COMO BLOQUEAR O IMEI DE SEU APARELHO NA OPERADORA.
1. Seu celular foi roubado? Aprenda a fazer o bloqueio do IMEI do aparelho junto à operadora. Isso desestimula o roubo de
smartphones, já que seu celular não se conectará mais a nenhuma operadora, tornando o crime inútil: na maioria dos casos, o
ladrão rouba o aparelho para revendê-lo posteriormente.
2. Para descobrir o IMEI do seu aparelho, digite *#06# no telefone, como se você fosse efetuar uma ligação – o código, com 15 dígitos,
será imediatamente exibido na tela. Caso você não tenha mais acesso ao celular, procure o IMEI na embalagem do produto, que
estará próximo a um código de barras.

3. Se você não tem mais o aparelho e nem a caixa, ainda há salvação para os usuários de Android. Acesse o Google Dashboard e
expanda o menu Android. Uma lista de todos os aparelhos atrelados ao seu Google Play serão exibidos, acompanhados dos
respectivos códigos IMEI. Então, para bloquear o IMEI de um celular por roubo ou furto, entre em contato com a sua operadora.
Celular roubado? Como bloquear o IMEI de seu aparelho na operadora.
Disponível em: <https://tecnoblog.net/189729/celular-roubado-como-bloquear-imei-operadora/>.
Acesso: 09 nov. 2016. (Adaptado).

- 32 -
13. A partir da análise da pontuação do texto “Celular roubado? Como bloquear o IMEI de seu aparelho na operadora”, avalie as
proposições a seguir.

I. A vírgula depois de “celular”, em “Caso você não tenha mais acesso ao celular, procure o IMEI...”, no segundo parágrafo, foi utilizada
de maneira equivocada, uma vez que está separando o sujeito do predicado.
II. No trecho “o código, com 15 dígitos, será imediatamente exibido na tela.”, no segundo parágrafo, as duas vírgulas que isolam a
expressão “com 15 dígitos” poderiam ser retiradas sem que isso provocasse nenhum prejuízo semântico ao período.
III. A vírgula no trecho “procure o IMEI na embalagem do produto, que estará próximo a um código de barras.”, no segundo parágrafo,
foi utilizada de maneira correta, pois está separando uma oração subordinada adjetiva explicativa.
IV. A vírgula depois de “Se você não tem mais o aparelho e nem a caixa, ainda há salvação...” início do terceiro parágrafo, poderia ser
retirada, já que se trata de um caso facultativo.
V. Os dois pontos em “já que seu celular não se conectará mais a nenhuma operadora, tornando o crime inútil: na maioria dos casos...”,
no primeiro parágrafo, foram utilizados para introduzir uma enumeração de fatores.
Estão CORRETAS apenas as proposições
a) III e IV. b) I e II. c) II e III. d) I, III e IV. e) II e V.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: AÇÚCAR, O NOVO CIGARRO


1. Há um setor que vende um produto que faz mal à saúde do homem. Uma geração atrás, esse era o setor fumageiro, e o produto
era o cigarro. Hoje, é o setor alimentício e o produto é o açúcar. O açúcar adicionado – não o açúcar natural que existe em frutas
e legumes – está em tudo. Uma das maiores fontes são bebidas como refrigerantes, energéticos e sucos, mas um passeio pelo
supermercado mostra que há açúcar adicionado a pães, iogurtes, sopas, vinhos, salsichas – na verdade, a quase todos os alimentos
industrializados.
2. Esse “açúcar invisível” recebe muitos nomes. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o consumidor pode encontrar até 83
nomes diferentes para o açúcar adicionado. Sobre esse assunto, Helen Bond, nutricionista da Associação Dietética Britânica, diz:
“É um marketing inteligente: palavras como ‘frutose’ fazem pensar que estamos reduzindo o açúcar adicionado, mas o fato é que
estamos polvilhando açúcar branco sobre a comida.” Outros especialistas afirmam, ainda, que esse açúcar a mais é completamente
desnecessário, pois, ao contrário do que a indústria alimentícia quer que acreditemos, o organismo não precisa da energia de
nenhum açúcar adicionado.
3. No Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o açúcar adicionado representa 19% da ingestão total de açúcar
do brasileiro. Ainda segundo o Ministério, o excesso de açúcar na dieta é fator de risco para o desenvolvimento da obesidade,
embora o perigo para a saúde não seja só o desenvolvimento desse mal: há indícios que ligam o açúcar a doenças hepáticas,
diabetes tipo 2, cardiopatias e cáries. Ainda assim, o setor de bebidas e alimentos continua a promover o açúcar, com muita
publicidade de seus produtos açucarados. Grandes quantias também são empregadas para se opor à rotulagem mais explícita dos
produtos e combater o aumento da tributação de alimentos e bebidas açucarados.
4. Os defensores da saúde pública levantam a ideia de que duas abordagens bem-sucedidas na redução do hábito de fumar são
necessárias no combate ao consumo excessivo de açúcar: a educação do consumidor e a tributação. Em janeiro de 2014, o México
criou um imposto de 10% sobre bebidas açucaradas, e sua venda caiu 12% no primeiro ano. Na França, um imposto sobre
refrigerantes criado em 2012 resultou no declínio gradual do consumo. A Noruega tributa alimentos e bebidas açucarados e divulga
informações há muitos anos, com bons resultados. Em março deste ano, o chanceler britânico George Osborne anunciou a criação
de um imposto sobre bebidas açucaradas a ser cobrado de produtores e importadores de refrigerantes.
5. Embora tenha havido algum sucesso com a tributação, o setor de alimentos e bebidas continua a fazer pressão contra informar
sobre o açúcar adicionado ao consumidor – mais uma vez, exatamente como fizeram as empresas fumageiras ao combaterem as
tentativas do governo de pôr nas embalagens de cigarros mensagens alertando para o perigo de fumar (medida adotada também
no Brasil). Na esteira das preocupações em relação ao açúcar, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias da
Alimentação (ABIA) anunciaram recentemente que estudam um acordo para reduzir a quantidade de açúcar nos alimentos
processados, semelhante ao que é feito com o sal. A primeira etapa deve começar em 2017, com análise das principais fontes de
açúcar na dieta dos brasileiros.

ECENGARGER, William. AIKINS, Mary S. Açúcar, o novo cigarro (adaptado). Revista Seleções.
Disponível em: <http://www.selecoes.com.br/acucar-o-novo-cigarro>. Acesso: 01 out. 2016.

14. Quanto à pontuação utilizada no texto, analise as proposições a seguir.

I. Em “Hoje, é o setor alimentício e o produto é o açúcar.” (1º parágrafo), a vírgula, por ser unicamente discursiva, poderia não ter sido
utilizada, e essa alteração não prejudicaria a correção gramatical do período.
II. No trecho “O açúcar adicionado – não o açúcar natural que existe em frutas e legumes – está em tudo.” (1º parágrafo), se
colocássemos uma vírgula após o termo destacado, não haveria alteração no sentido do trecho.
III. Em: Esse “açúcar invisível” recebe muitos nomes (2º parágrafo); assim como em: “É um marketing inteligente (...) sobre a comida”
(2º parágrafo), as aspas foram utilizadas pela mesma razão, isto é, para ressaltar uma expressão no contexto.
IV. No trecho “combate ao consumo excessivo de açúcar: a educação do consumidor e a tributação.” (4º parágrafo), os dois pontos
foram utilizados para anunciar uma enumeração, ou seja, para listar as duas abordagens bem-sucedidas na redução do hábito de
fumar.
V. No fragmento “informar sobre o açúcar adicionado ao consumidor – mais uma vez, exatamente como fizeram as empresas
fumageiras (...)” (5º parágrafo), o sinal de travessão poderia ser substituído por uma vírgula sem que houvesse alteração de sentido.

Estão CORRETAS apenas as afirmações constantes nos itens

a) IV e V. b) I e II. c) II e III. d) III e IV. e) I e V.


- 33 -
15. Emprega-se a vírgula para indicar, às vezes, a elipse do verbo: “Ele sai agora: eu, logo mais.”
Evanildo Bechara. Moderna gramática portuguesa, 2009. Adaptado.

Verifica-se a ocorrência de vírgula para indicar a elipse do verbo no seguinte trecho:

a) “Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma
pequena joia [...]” (8º parágrafo)
b) “[...] em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar.” (8º parágrafo)
c) “[...] a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma
só pessoa à cultura humana.” (5º parágrafo)
d) “[...] Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera.” (9º parágrafo)
e) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener [...]” (10º parágrafo)

Outros Exercícios Complementares

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

“De repente chegou o dia dos meus setenta anos.


Fiquei entre surpresa e divertida, setenta, eu? Mas tudo parece ter sido ontem! No século em que a maioria quer ter vinte
anos (trinta a gente ainda aguenta), eu estava fazendo setenta. Pior: duvidando disso, pois ainda escutava em mim as risadas da
menina que queria correr nas lajes do pátio quando chovia, que pescava lambaris com o pai no laguinho, que chorava em filme do
Gordo e Magro, quando a mãe a levava à matinê. (Eu chorava alto com pena dos dois, a mãe ficava furiosa.)
A menina que levava castigo na escola porque ria fora de hora, porque se distraía olhando o céu e nuvens pela janela em
lugar de prestar atenção, porque devagarinho empurrava o estojo de lápis até a beira da mesa, e deixava cair com estrondo sabendo
que os meninos, mais que as meninas, se botariam de quatro catando lápis, canetas, borracha – as tediosas regras de ordem e
quietude seriam rompidas mais uma vez.
Fazendo a toda hora perguntas loucas, ela aborrecia os professores e divertia a turma: apenas porque não queria ser
diferente, queria ser amada, queria ser natural, não queria que soubessem que ela, doze anos, além de histórias em quadrinhos e
novelinhas açucaradas, lia teatro grego – sem entender – e achava emocionante.
(E até do futuro namorado, aos quinze anos, esconderia isso.)
O meu aniversário: primeiro pensei numa grande celebração, eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem
pequenos. Mas pensei, setenta vale a pena! Afinal já é bastante tempo! Logo me dei conta de que hoje setenta é quase banal, muita
gente com oitenta ainda está ativo e presente.
Decidi apenas reunir filhos e amigos mais chegados (tarefa difícil, escolher), e deixar aquela festona para outra década.”
LUFT, 2014, p.104-105

1. Assinale a alternativa que contém uma afirmação adequada em relação ao texto.

a) Os parênteses foram empregados toda vez que a locutora queria se dirigir diretamente ao seu interlocutor, ou seja, o leitor do texto.
b) Em todas as ocorrências, as palavras no diminutivo apresentam o mesmo valor semântico: demonstrar depreciação em relação ao
que se diz.
c) Em “O meu aniversário: primeiro pensei numa celebração...” os dois pontos podem ser substituídos por uma vírgula sem que haja
alteração sintática e/ou semântica.
d) A linguagem empregada se aproxima do registro coloquial, o que se comprova pelo emprego das palavras botariam, badalações,
mais chegados e festonas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


4À porta do Grande Hotel, pelas duas da tarde, 14Chagas e Silva 6postava-se de palito à boca, como 19se tivesse descido do
restaurante lá de cima. Poderia parecer, pela estampa, que somente ali se comesse bem em Porto Alegre. 8Longe 21disso! A Rua da
Praia que 23o diga, ou 22melhor, que o dissesse. 24O faz de conta do 7inefável personagem 5ligava-se mais à 25importância, à moldura
que aquele portal lhe conferia. 15Ele, que tanto marcou a rua, tinha 27franco acesso às poltronas do saguão em que se refestelavam
os importantes. Andava 28dentro de um velho fraque, usava gravata, chapéu, bengala sob o braço, barba curta, polainas e 10uns
olhinhos apertados na 1_________ bronzeada. O charuto apagado na boca, para durar bastante, 29era o 9toque final dessa composição
de pardavasco vindo das Alagoas.
Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em 1928. 16Fixou-20se na Rua da Praia, que percorria com passos lentos, carregando
um ar de 12indecifrável importância, tão ao jeito dos grandes de então. 17Os estudantes tomaram conta dele. Improvisaram comícios
na praça, carregando-o nos braços e 11fazendo-o discursar. Dava discretas mordidas 33e consentia em que lhe pagassem o cafezinho.
Mandava imprimir sonetos, que "trocava" por dinheiro.
Não era de meu propósito 31ocupar-me do "doutor" Chagas 34e, sim, de como se comia bem na Rua da Praia de antigamente.
Mas ele como que me puxou pela manga e levou-me a visitar casas por onde sua imaginação de longe esvoaçava.
Porto Alegre, sortida por tradicionais armazéns de especialidades, 30dispunha da melhor matéria-prima para as casas de
pasto. 18Essas casas punham ao alcance dos gourmets virtuosíssimos "secos e molhados" vindos de Portugal, da Itália, da França e
da Alemanha. Daí um longo e 2________ período de boa comida, para regalo dos homens de espírito e dos que eram mais estômago
que outra coisa.
Na arte de comer bem, talvez a 26dificuldade fosse a da escolha. Para qualquer lado que o passante se virasse, encontraria
salões ornamentados 3_________ maiores ou menores, tabernas 35ou simples tascas. A Cidade 32divertia-se também 13pela barriga.
Adaptado de: RUSCHEl, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: Editora da Cidade, 2009. p. 110-111.

- 34 -
2. Considere as possibilidades de reescrita apresentadas abaixo para a seguinte passagem do texto.
Dentro de alguma centena de anos, neste mesmo lugar, outro viajante pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter
visto e que me escapou. (ref. 33)

I. Neste mesmo lugar, outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter vis to e
que me escapou.
II. Outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento neste mesmo lugar do que eu poderia ter visto e
que me escapou.
III. Neste mesmo lugar, outro viajante, dentro de alguma centena de anos, pranteará o desaparecimento que eu poderia ter visto e o
que me escapou.

Quais estão corretas e preservam o sentido da frase original?

a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

1
Hoje os conhecimentos se estruturam de modo 3fragmentado, 4separado, 5compartimentado nas disciplinas. 8Essa situação
impede uma visão global, uma visão fundamental e uma visão complexa. 13"Complexidade" vem da palavra latina complexus, que
significa a compreensão dos elementos no seu conjunto.
As disciplinas costumam excluir tudo o que se encontra fora do 9seu campo de especialização. A literatura, no entanto, é uma
área que se situa na inclusão de todas as dimensões humanas. Nada do humano 10lhe é estranho, 6estrangeiro.
A literatura e o teatro são desenvolvidos como meios de expressão, meios de conhecimento, meios de compreensão da
14complexidade humana. Assim, podemos ver o primeiro modo de inclusão da literatura: a inclusão da 15complexidade humana. E

vamos ver ainda outras inclusões: a inclusão da personalidade humana, a inclusão da subjetividade humana, e, também, muito
importante, a inclusão; do estrangeiro, do marginalizado, do infeliz, de todos que ignoramos e desprezamos na vida cotidiana.
A inclusão da 16complexidade humana é necessária porque recebemos uma visão mutilada do humano. 11Essa visão, a de
homo sapiens, é uma 17definição do homem pela razão; de homo faber20, do homem como trabalhador; de homo economicus21, movido
por lucros econômicos. Em resumo, trata-se de uma visão prosaica, mutilada, 12que esquece o principal22: a relação do
sapiens/demens, da razão com a demência, com a loucura.
Na literatura, encontra-se a inclusão dos problemas humanos mais terríveis, coisas 18insuportáveis que nela se tornam
suportáveis. Harold Bloom escreve: 24"Todas as 25grandes obras revelam a universalidade humana através de destinos singulares, de
situações singulares, de épocas singulares". É essa a razão por que as 19obras-primas atravessam 7séculos, sociedades e nações.
2
Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão do outro para a compreensão humana. A compreensão nos
torna mais generosos com relação ao outro 23, e o criminoso não é unicamente mais visto como criminoso, 26como o Raskolnikov de
Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla.
A literatura, o teatro e o cinema são os melhores meios de compreensão e de inclusão do outro. Mas a compreensão se torna
provisória, esquecemo-nos depois da leitura, da peça e do filme. Então essa compreensão é que deveria ser introduzida e
desenvolvida em nossa vida pessoal e social, porque serviria para melhorar as relações humanas, para melhorar a vida social.

Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura. In: RÕSING, Tânia et ai. Edgar Morin: religando fronteiras. Passo
Fundo: UPF, 2004. p.13-18

3. Associe cada ocorrência de sinal de pontuação à esquerda com a função, à direita, que tal sinal auxilia a expressar no contexto
em que ocorre.

( ) Vírgulas (refs. 20 e 21) 1. Assinalar elipse.


2. Assinalar a presença de enumeração no texto.
( ) Dois pontos (ref. 22) 3. Assinalar a adição de um período, que apresenta
sujeito diferente do período anterior.
( ) Vírgula 4. Assinalar uma síntese do dito e a inserção de um
(ref. 23) argumento que se destaca em relação aos
anteriores.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 - 4 - 3. b) 1 - 3 - 4. c) 2 - 4 - 1. d) 2 - 3 - 4. e) 4 - 2 - 3.

4. Considere as seguintes afirmações sobre os sentidos de passagens no texto.

I. A passagem entre aspas (ref. 24) atesta, no texto, a presença de uma citação em discurso indireto.
II. As expressões grandes obras (ref. 25) e obras-primas (ref. 19) estão referencialmente relacionadas.
III. A passagem como o Raskolnikov de Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla (ref. 26) atesta a presença de personagens
criminosos na literatura, em torno da qual o autor defende a necessidade de se compreender a criminalidade na sociedade.

Quais estão corretas?

a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e Il. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

- 35 -
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O que você faz com o seu tempo?


Estudo mostra que 35% dos brasileiros se dizem escravos das rotinas. Novas tecnologias e acúmulo de tarefas dão a
sensação de mais velocidade. O estudo analisou, pela primeira vez, como os brasileiros fazem uso e como se relacionam com o
tempo, destacando diferenças regionais e determinando perfis com base nas entrevistas.
Foram identificados dois tipos de pessoas: aquelas que se relacionam com o tempo observando a passagem na vida e outros
que interagem diretamente com o cotidiano.
“A pessoa que se sente escrava é aquela que está sempre correndo atrás do tempo perdido. Geralmente, acumula muitas
tarefas sem conseguir se planejar para a execução”, explica Silvia Cervellini, diretora executiva de negócios do Ibope Inteligência.
Mas o tempo está passando mais rápido hoje do que na época de nossos avós? O que mudou, diz Lauro Luiz Samojeden,
chefe do Departamento de Física da UFPR, é que, com a celeridade das informações e o acúmulo de tarefas, a sensação é de que
o tempo está passando com mais velocidade.
Foram as máquinas e as novas tecnologias que deram um novo ritmo ao uso do tempo pelos homens, explica o professor
de Filosofia da PUCPR, Jelson Oliveira. Para ele, as máquinas surgiram com a promessa de abreviar o tempo de produção, mas essa
estratégia deu mais tempo para que fossem acumuladas novas tarefas – a pesquisa mostra que 22% dos brasileiros dizem realizar
atividades simultâneas, índice que na Região Sul é de 43,5%.
“A tecnologia abreviou o tempo, mas fez com que as pessoas estejam conectadas sempre, ampliando a sensação de mais
tarefas e menos tempo. Esse novo ritmo está moldando as relações humanas, incluindo nos relacionamentos uma desculpa pronta: a
falta de tempo”, acrescenta Oliveira.Fonte: Ibope Inteligência. Infografia: Fabiane Lima/Gazeta do Povo (acessado em 23.03.2014)

5. Em relação ao texto, considere as seguintes afirmativas sobre a pontuação:

I. No segundo parágrafo, os dois pontos (:) foram usados para introduzir uma explicação.
II. No terceiro parágrafo, as aspas são empregadas para indicar uma citação.
III. No quarto parágrafo, o ponto de interrogação pode ser substituído pelo ponto de exclamação sem prejuízo para o sentido do texto.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

6. Leia o trecho a seguir.


E assim ia correndo o domingo no cortiço até às três da tarde, horas em que chegou mestre Firmo, acompanhado pelo seu
amigo Porfiro […].
[Firmo] Era oficial de torneiro, oficial perito e vadio; ganhava uma semana para gastar num dia; às vezes, porém, os dados
ou a roleta multiplicavam-lhe o dinheiro, e então ele fazia como naqueles últimos três meses: afogava-se numa boa pândega com a
Rita Baiana. A Rita ou outra. “O que não faltava por aí eram saias para ajudar um homem a cuspir o cobre na boca do
diabo!”AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 20. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 62.
As aspas são um recurso gráfico que dão destaque a determinada parte de um texto. No trecho transcrito de O cortiço, elas realçam
a) um pensamento do narrador, que exemplifica a reputação de desregrado atribuída a Firmo.
b) uma fala de Firmo, que comprova seu relacionamento pândego com Rita Baiana.
c) um pensamento dos moradores do cortiço sobre Firmo, que concorda com sua imagem de mulato vadio.
d) uma fala de Rita Baiana, que reafirma a ideia do narrador a respeito da fama de mulherengo de Firmo.
e) uma fala de Porfiro, que valida a perspectiva determinista de ociosidade do elemento mestiço.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Jovem escritora “quase” famosa
Catarinense de 21 anos é a verdadeira autora de texto que correu mundo como se fosse de Luis Fernando Verissimo
Felipe Lenhart
Quem usa o correio eletrônico com frequência já pode ter recebido um texto que começa com a frase “Ainda pior que a
convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase” e é assinado por um certo Luis Fernando Verissimo. Os erros
de ortografia e acentuação no nome do cronista denunciam a falsa autoria. De fato, quem redigiu a crônica Quase, que rodou o mundo
com o “selo de qualidade” do escritor gaúcho e acabou em uma antologia de prosa e versos brasileiros traduzidos para o francês, foi
a florianopolitana Sarah Westphal Batista da Silva, 21.
A garota, que foi publicada em um livro na França em meio a textos de Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira e outros craques, só que com o nome de Verissimo, mora na Capital, estuda Medicina em Blumenau e gostaria
mesmo é de passar o resto da vida escrevendo.
– Não sou muito de ler, não. Como também não vejo televisão, fico meio alienada. Mas o tipo de literatura de que gosto é
bem o do Verissimo, como em As Mentiras que os Homens Contam – afirma.
O périplo de seu texto começou em abril de 2002, numa sala de aula em Florianópolis. E a “inspiração” para a escrita não foi
das melhores: “um grande fora” de um rapaz com quem ficava havia três semanas. No dia seguinte à separação, durante uma aula
de Português no cursinho, a professora escreveu no quadro a transcrição fonética da palavra quase: /kwaze/.
– Na hora em que olhei aquilo escrito no quadro-negro pensei: “meu Deus! eu odeio esta palavra!” – afirma.
Um segundo depois, pôs-se a escrever a crônica “Quase”, como um desabafo e para expurgar a palavra maldita. Afinal,
quase houvera um namoro, quase tudo dera certo. Terminado o texto, Sarah passou o caderno às amigas, que leram e gostaram. Um
mês depois, encorajada por elogios, deu o mesmo caderno para o professor de redação ler a crônica em voz alta para a turma. Foi
um sucesso. As pessoas começaram a pedir o texto. Sarah o enviou por e-mail. A partir daí, não se sabe mais nada.
- 36 -
– O que eu sei é que um ano depois, mais ou menos, uma amiga apareceu lá em casa com o texto com a assinatura do
Verissimo! Achei aquilo esquisitíssimo. Em seguida, um monte de gente veio dizer que tinha recebido um e-mail com o “Quase”
assinado pelo Verissimo – afirma.
Sarah conta que ficou envergonhada, pois, depois de um certo tempo, já não gostava mais do texto e não o achava digno de
um escritor do talento de Luis Fernando Verissimo. Hoje, mantém a opinião, com arroubos de autocrítica, apesar do elogio que o
próprio cronista fez à redação na coluna do dia 24 de março.
– Acho o texto primário, previsível e o fim é meio brega. O português é muito caseiro, breguinha. Mas, quando o escrevi, fez
muito sentido para mim. Era muito bonito – diz Sarah.
Certo dia, entrou na comunidade do escritor gaúcho no Orkut e viu o relato de uma leitora. A internauta dizia que só passara
a acompanhar Verissimo na imprensa depois de ter lido o “Quase”. Sarah respondeu ao comentário afirmando ser ela a autora do
texto. A maioria não acreditou.
O fato é que ela já nem liga mais por não receber os elogios do famoso texto. Há poucos meses, caiu-lhe em mãos o diploma
de formatura de 2004 do antigo colégio, o mesmo em que tempos atrás escrevera “Quase”. A crônica estava impressa no diploma,
com a assinatura de Verissimo.
– O pior é que continuo encalhada. Eu já poderia ter escrito uma Bíblia sobre os foras que já recebi – brinca.

7. As aspas foram empregadas para separar trecho em discurso direto na passagem transcrita em:

a) ... pensei: “meu Deus! eu odeio esta palavra!”


b) E a “inspiração” para a escrita não foi das melhores...
c) “um grande fora” de um rapaz com quem ficava havia três semanas.
d) ... que rodou o mundo com o “selo de qualidade” do escritor gaúcho...

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


As câmeras de vigilância estão em todos os lugares. No começo, a novidade incomodava, evocava um mundo 13controlado,
totalitário. Mas logo nos demos conta de que elas inibem e esclarecem crimes, ajudam em coisas 1prosaicas, como controlar o trânsito.
É uma vigilância barata, segura, muitas mais virão.
Porém, a presença de 4câmeras na 5escola coloca outras questões. O objetivo seria o 12mesmo, proteger e prevenir. As
intenções são louváveis, mas não se pode ignorar um fator fundamental: a escola é a primeira socialização não controlada pelos pais
e é necessário que assim seja. Com o olhar vigilante e 2onipresente da família não se cresce. Crescemos quando resolvemos sozinhos
nossos 6problemas, quando administramos entre os colegas as querelas nem sempre fáceis. Entre as crianças, inúmeras rusgas se
resolvem sozinhas, os pais nem ficam sabendo, e é ótimo que assim seja.
O 7bullying deve ser combatido, mas não dessa forma. O preço a pagar pela suposta segurança compromete a essência de
uma das funções da 14escola, que é aprender a viver em sociedade sem os pais e a sua 8proteção, evocada pela presença da câmera.
Na 9sala de aula e no pátio da escola cada um vale por si. É preciso aprender a respeitar e ser respeitado. Nós todos já
passamos por isso e sabemos como era difícil. Não existe outra 16forma, é isso ou a 10infantilização perpétua. A transição da casa
para a escola nunca vai ser 3amena.
Essa proposta de vigilância não se ancora em razões pedagógicas, e sim na angústia dos pais em controlar seus filhos. Não
creio que seja 15a escola que reivindica câmeras, mas quem a paga. São os pais inseguros que querem estender seu olhar para onde
não devem. Existe uma correlação forte entre pais controladores e filhos imaturos, adolescentes eternos que demoram para assumir
responsabilidades. É possível cuidar dos nossos filhos mesmo permitindo a eles experiências longe dos nossos 11olhos. A escola é
17deles, esse é o seu espaço e seu desafio.CORSO, Mário. Câmeras na escola. Zero Hora, 05/06/2013. (fragmento adaptado)

8. Em relação à pontuação do texto, afirma-se:


I. O uso de dois pontos em lugar da vírgula, na referência 12, reforçaria a coesão entre as ideias.
II. O uso de vírgulas ao invés de “e”, nas referências 13 e 6, denota que a enumeração de tópicos pode conter outros elementos.
III. Seria correto eliminar a vírgula que segue “escola”, na referência 14, pois ela é opcional.
IV. Seria correto e conveniente colocar uma vírgula após “a escola”, na referência 15, para assinalar uma informação intercalada.
V. As vírgulas das referências 16 e 17 poderiam ser substituídas por ponto seguido de letra maiúscula, o que daria mais ênfase às
ideias apresentadas.
Estão corretas apenas as afirmativas
a) I e III. b) II e IV. c) III e V. d) I, II e V. e) III, IV e V.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O que havia de tão revolucionário na Revolução Francesa? Soberania popular, liberdade civil, igualdade perante a lei – 1as
palavras hoje são ditas com tanta facilidade que somos incapazes de imaginar seu caráter explosivo em 1789. Para os franceses do
Antigo Regime, 6os homens eram 8desiguais, e a desigualdade era uma boa coisa, adequada à ordem hierárquica que 2fora posta na
natureza pela própria obra de Deus. A liberdade significava privilégio – isto é, literalmente, 12“lei privada”, uma prerrogativa 13especial
para fazer algo negado a outras pessoas. O rei, como fonte de toda a lei, distribuía privilégios, 3pois havia sido 19ungido como 16o
agente de Deus na terra.
Durante todo 17o século XVIII, os filósofos do Iluminismo questionaram esses 9pressupostos, e os panfletistas profissionais
conseguiram 14empanar 20a aura sagrada da coroa. Contudo, a desmontagem do quadro mental do Antigo Regime demandou violência
iconoclasta, destruidora do mundo, revolucionária.
7Seria ótimo se pudéssemos associar 18a Revolução exclusivamente à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,

mas ela nasceu na violência e imprimiu seus princípios em um mundo violento. Os conquistadores da Bastilha 24não se limitaram a
destruir 21um símbolo do despotismo real. 4Entre eles, 150 foram mortos ou feridos no assalto à prisão e, quando os sobreviventes
apanharam o diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na por 25Paris 22na ponta de uma lança.
- 37 -
Como podemos captar esses momentos de loucura, quando tudo parecia possível e o mundo se afigurava como uma tábula
rasa, apagada por uma onda de comoção popular e pronta para ser redesenhada? Parece incrível que um povo inteiro fosse capaz
de se levantar e transformar as condições da vida cotidiana. Duzentos anos de experiências com admiráveis mundos 26novos
tornaram-nos 15céticos quanto ao 10planejamento social. 27Retrospectivamente, a Revolução pode parecer um 23prelúdio ao
11totalitarismo.

Pode ser. Mas um excesso de visão 28histórica retrospectiva pode distorcer o panorama de 1789. Os revolucionários
franceses não eram nossos contemporâneos. E eram um conjunto de pessoas não excepcionais em circunstâncias excepcionais.
Quando as coisas se 29desintegraram, eles reagiram a uma necessidade imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando a sociedade
segundo novos princípios. Esses princípios ainda permanecem como uma denúncia da tirania e da injustiça. 5Afinal, em que estava
empenhada a Revolução Francesa? Liberdade, igualdade, fraternidade.

Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São
Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.

9. A separação de alguns adjuntos adverbiais antecipados é opcional em português, e, em alguns casos, é realizada para dar-lhes
destaque. Considere, nessa perspectiva, as seguintes sugestões de alteração de emprego de vírgula com relação ao texto.

1. Inserção de vírgula imediatamente após novos (ref. 26).


2. Retirada da vírgula que ocorre imediatamente após Retrospectivamente (ref. 27).
3. Inserção de vírgula imediatamente após histórica (ref. 28).
4. Retirada da vírgula que ocorre imediatamente após desintegraram (ref 29).

Quais preservariam a correção em termos de pontuação?

a) Apenas 1. b) Apenas 2. c) Apenas 1 e 4. d) Apenas 2 e 4. e) Apenas 3 e 4.

A(s) questão(ões) aborda(m) um fragmento de um artigo de Mônica Fantin sobre o uso dos tablets no ensino, postado na seção de
blogues do jornal Gazeta do Povo em 16.05.2013:

Tablets nas escolas


Ou seja, não é suficiente entregar equipamentos tecnológicos cada vez mais modernos sem uma perspectiva de formação
de qualidade e significativa, e sem avaliar os programas anteriores. O risco é de cometer os mesmos equívocos e não potencializar
as boas práticas, pois muda a tecnologia, mas as práticas continuam quase as mesmas.
Com isso, podemos nos perguntar pelos desafios da didática diante da cultura digital: o tablet na sala de aula modifica a
prática dos professores e o cotidiano escolar? Em que medida ele modifica as condições de aprendizagem dos estudantes?
Evidentemente isso pode se desdobrar em inúmeras outras questões sobre a convergência de tecnologias e linguagens, sobre o
acesso às redes na sala de aula e sobre a necessidade de mediações na perspectiva dos novos letramentos e alfabetismos nas
múltiplas linguagens.
Outra questão que é preciso pensar diz respeito aos conteúdos digitais. Os conteúdos que estão sendo produzidos para os
tablets realmente oferecem a potencialidade do meio e sua arquitetura multimídia ou apenas estão servindo como leitores de textos
com os mesmos conteúdos dos livros didáticos? Quem está produzindo tais conteúdos digitais? De que forma são escolhidos e
compartilhados?
Ou seja, pensar na potencialidade que o tablet oferece na escola — acessar e produzir imagens, vídeos, textos na diversidade
de formas e conteúdos digitais — implica em repensar a didática e as possibilidades de experiências e práticas educativas, midiáticas
e culturais na escola ao lado de questões econômicas e sociais mais amplas. E isso necessariamente envolve a reflexão crítica sobre
os saberes e fazeres que estamos produzindo e compartilhando na cultura digital.
(Tablets nas escolas. www.gazetadopovo.com.br. Adaptado.)

10. No último parágrafo, os travessões

a) deixam o período principal menos longo.


b) acrescentam dados desnecessários ao parágrafo.
c) especificam virtualidades dos tablets.
d) sugerem que o leitor deve prestar mais atenção ao argumento.
e) sinalizam a necessidade de reflexão crítica.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O menino sentado à minha frente é meu irmão, assim me disseram; e bem pode ser verdade, ele regula pelos dezessete
anos, justamente o tempo em que estive solto no mundo, sem contato 5nem notícia.
A princípio quero tratá-lo como intruso, mostrar-lhe 1__________ minha hostilidade, não abertamente para não chocá-lo,
11mas de maneira a não lhe deixar dúvida, como se lhe 6perguntasse com todas as letras 18: que direito tem você de estar aqui na

intimidade de minha família, entrando nos nossos segredos mais íntimos, dormindo na cama onde eu dormi, lendo meus velhos livros,
talvez sorrindo das minhas anotações à margem, tratando meu pai com intimidade, talvez discutindo a minha conduta, talvez até
criticando-a? 12Mas depois vou notando que ele não é totalmente estranho. De repente fere-me 2__________ ideia de que o intruso
talvez 7seja eu, que ele 8tenha mais direito de hostilizar-me do que eu a ele 19, que vive nesta casa há dezessete anos. O intruso sou
eu, não ele.
Ao pensar nisso vem-me o desejo urgente de entendê-lo e de ficar amigo. Faço-lhe 21perguntas e noto a sua avidez em
respondê-las, 13mas logo vejo a inutilidade de prosseguir nesse caminho, 22as perguntas parecem-me formais e 23as respostas
forçadas e complacentes.
- 38 -
Tenho tanta coisa a dizer, mas não sei como começar, até a minha voz parece ter perdido a naturalidade. Ele me olha 20, e
vejo que está me examinando, procurando decidir se devo ser tratado como irmão ou como estranho, e imagino que as suas
dificuldades não devem ser menores do que as minhas. 24Ele me pergunta se eu moro em uma casa grande, com muitos quartos, e
antes de responder procuro descobrir o motivo da pergunta. 25Por que falar em casa? 14E qual a importância de 9muitos quartos?
Causarei inveja nele se responder que sim? 26Não, não tenho casa, há 10muitos anos que tenho morado em hotel. Ele me olha, parece
que fascinado, diz que deve ser bom viver em hotel, 15e conta que, toda vez que faz reparos 3__________ comida, mamãe diz que
ele deve ir para um hotel, onde pode reclamar e exigir. De repente o fascínio se transforma em alarme, 16e ele observa que se eu vivo
em hotel não posso ter um cão em minha companhia, o jornal disse uma vez que um homem foi processado por ter um cão em um
quarto de hotel. Confirmo 4__________ proibição. Ele suspira 17e diz que então não viveria em um hotel nem de graça.

11. Associe cada ocorrência de sinal de pontuação à esquerda com a função, à direita, que tal sinal auxilia a expressar no contexto
em que ocorre.

( ) dois pontos (ref. 18) 1. Assinala explicação do narrador-personagem.


2. Assinala sujeitos distintos em período coordenado.
( ) vírgula (ref. 19) 3. Assinala a introdução de uma pergunta, em forma direta,
suposta pelo narrador-personagem.
( ) vírgula (ref. 20) 4. Assinala enumeração de ações do irmão do narrador-
personagem.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 3 – 1 – 2. b) 3 – 2 – 1. c) 2 – 1 – 4. d) 1 – 4 – 2. e) 1 – 2 – 3.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Para responder à(s) questão(ões), leia o texto a seguir.

Sujinho e saudável
Pesquisas confirmam que não se deve levar a extremos os cuidados com a higiene das crianças, sob pena de expô-las a alergias e
infecções.

Uma série de pesquisas feitas desde o fim dos anos 80 leva os cientistas a acreditarem que [...] o exagero do esforço de manter as
crianças afastadas das 10bactérias com que 8elas 1se deparam no 6seu dia a dia pode minar as resistências do organismo e abrir
caminho para as 11doenças 9que 2se quer evitar. A mais recente dessas pesquisas, desenvolvida pela Universidade da Califórnia e
divulgada há três semanas, conclui que as bactérias Staphylococcus epidermidis, presentes na superfície da pele humana, agem
sobre as células da epiderme para bloquear os processos inflamatórios. Essa ação evita que pequenos ferimentos infeccionem. Ocorre
que essas bactérias são destruídas por desinfetantes, 5detergentes e sabões.
A secretária gaúcha Andreia Garcia acredita que as mães de hoje são excessivamente preocupadas com a higiene das crianças. 7Seu
filho Guilherme, de 4 anos, adora andar descalço e brincar na terra até ficar encardido, mas nunca leva bronca. “Acho que um pouco
de vitamina S, 3de Sujeira, reforça as defesas do organismo”, ela diz. A pesquisa americana confirma a teoria batizada pelos cientistas
de hipótese da higiene. Segundo ela, até os 5 anos de idade, quando o sistema imunológico da criança está em fase de
amadurecimento, o contato com bactérias traz dois benefícios: prepara o corpo contra alergias e previne doenças autoimunes. [...].
“Nosso organismo precisa treinar a tolerância aos agentes externos”, diz o imunologista Victor Nudelman, do Hospital Albert Einstein,
de São Paulo. A técnica em radiologia Marília Mercer, de Londrina, atribui à saúde dos filhos Mateus, 4de 10 anos, e Gabriel, de 2, à
liberdade que têm para brincar na terra. “Deixo as crianças livres. Se elas caem ou ingerem algo que não devem, não me desespero”,
ela diz.
BUTTI, Nathália. “Sujinho e saudável”. Veja, Saúde, 16 dez. 2009. p. 122-123.

12. Considere as seguintes afirmações:


I. A indeterminação do sujeito agente nas estruturas “se deparam” (ref. 1) e “se quer evitar” (ref. 2) sugere que o enunciado é produto
de um saber coletivo.
II. São usados argumentos de autoridade e exemplificação de experiência cotidiana como estratégias para confirmar a validade da
hipótese da higiene.
III. O emprego das vírgulas que intercalam as expressões “de Sujeira” (ref. 3) e “de dez anos” (ref. 4) justifica-se pela mesma regra
que determina o emprego da vírgula antecedente a “detergentes” (ref. 5).

Está(ão) correta(s)

a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e III. d) apenas III. e) apenas II e III.

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TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

INSTRUÇÃO: A(s) questão(ões) refere(m)-se ao texto abaixo.

Mulheres...
2__________ 5alguns dias, percorrendo 3__________ salas 6dum ministério para tratar de 7certo negócio terrivelmente

embrulhado, desses que dão aneurismas e cabelos brancos, eu e 8um amigo encontramos numerosas funcionárias bonitas. Uma
delas forneceu-nos informações bastante vagas: deu-nos dois ou três números e, com os olhos redondos e úmidos, que um ligeiro
estrabismo entortava, pareceu indicar a direção do lugar 4__________ os nossos papéis deviam estar.
Corremos a outro ministério e vimos várias 9senhoras difíceis entregues a trabalhos incompreensíveis. Não achamos os
nossos papéis, é claro. Andamos em departamentos diferentes, voltamos ao primeiro ministério, ao segundo, tornamos a voltar,
percorremos infinitos 13canais competentes 12– e em toda a parte esbarramos com 14senhoras atarefadas, que executavam operações
estranhas, usavam uma linguagem desesperadamente confusa e recebiam indiferentes as nossas queixas e os nossos 15rogos.
Com o 10coração grosso e indignado, resolvi abandonar esse negócio infeliz e fui 11deitar uma carta ao correio. Tomei lugar
na fila, mas antes que chegasse a minha vez a mulher que vendia selos deixou o guichê. Esperei uma 16eternidade a volta dela e fui-
me aproximando devagar, na fila. A carta foi pesada, o selo comprado e uma moeda falsa recebida no troco.
20Marchei para o guichê dos registrados, onde uma espécie de 27mulher 17portadora de óculos e bastante idade se mexia

como uma 28figura de câmara lenta.


21Enquanto me arrastava seguindo os desgraçados que ali estavam sofrendo como eu, pensei nas deputadas, nas

telefonistas, na professora primária que me atormentava e nos versos de 29certa poetisa que em vão tento esquecer. 23Evidentemente
nenhuma dessas pessoas, deputadas, telefonistas, professora e poetisa, tinha culpa de haverem corrido mal meus negócios nos
ministérios, nenhuma me dera moeda falsa, e era estupidez responsabilizá-las pela preguiça da 26mulher do 18registrado. 22Mas
relacionei todas e julguei perceber os motivos de certos hábitos novos.
Antigamente, quando uma senhora entrava num 19carro cheio, havia sempre sujeitos que se levantavam. Hoje, nos trens da
Central, elas viajam espremidas como numa lata de sardinhas.
Ninguém fumava nos primeiros bancos dos bondes. Ainda existe a proibição num aviso gasto e metrificado, que tem o mesmo
valor dos alexandrinos1: ninguém o lê. A autoridade do condutor ficou muito reduzida, e o letreiro proibitivo tornou-se lei como as
outras, artigo de regulamento.
Há pouco tempo 30uma senhora declarou num romance que as mulheres são diferentes dos homens. É claro. Mas, 24apesar
da diferença, elas se tornaram nossas concorrentes, e concorrentes temíveis. Eu queria ver um examinador que tivesse a coragem
de reprovar aquela moça de olhos redondos, úmidos e ligeiramente estrábicos, que encontrei um dia destes no corredor do ministério.
Só se ele fosse cego.
O Sr. Plínio Salgado quer acabar com os banhos de mar, porque as pernas das mulheres se descobrem neles. Não vale a
pena. São pernas de concorrentes, para bem dizer nem são pernas. Pensa que temos lá tempo de pensar nessas coisas? Tinha graça
que, nos banhos de mar, fôssemos espiar as canelas da moça de olhos estrábicos ou as da mulher que nos impingiu uma moeda
falsa. Não olhamos. Se elas chegarem perto do estribo do bonde cheio, ficaremos sentados porque pagamos passagem e temos o
direito de ficar sentados. Isto. Somos pouco mais ou menos iguais, apesar da afirmação da 25mulher do romance. Vão no estribo, se
quiserem, de pingente. Ou fiquem junto ao poste. Vão para o diabo. É isto. Concorrentes, inimigas. Ou amigas. Dá tudo no mesmo.
RAMOS, Graciliano. Garranchos. Organização de Thiago Mio Salla. Rio de Janeiro: Record, 2012. p. 160-2. (Adaptado)

1. O termo alexandrinos refere-se à poesia produzida em estrutura arcaica, com versos de 12 sílabas.

13. O travessão usado na referência 12 do texto tem a função de


a) opor canais competentes (ref. 13) a senhoras atarefadas (ref. 14).
b) introduzir o objeto direto da oração anterior.
c) condicionar a execução da atividade.
d) enfatizar a informação que o segue.
e) comparar as informações antecedentes às subsequentes.

14. Segundo o texto, é correto afirmar que

a) os banhos de mar devem ser incentivados.


b) um aviso de não fumar é como um poema antigo.
c) os poemas alexandrinos são lidos pelos passageiros.
d) uma proibição é como dinheiro falso.
e) um examinador resolve problemas nos corredores públicos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo para responder às questões.
27Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por muito tempo. 37São tantos os estímulos
e tanta a pressão para que o entorno seja completamente desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo
tempo. 34Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade?
41Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. 4Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à

velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, 6às
informações de 29alguma emissora de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito 9várias vezes do trajeto
20que deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.
35Quando me vejo em tal situação, 19eu me lembro que 14dirigir, 45após um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já foi uma

atividade prazerosa e desestressante.

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18O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não 23mais observamos os detalhes, 1por causa de
nossa ganância em relação a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei em frente ao computador 44para buscar textos
sobre um tema 38e, de repente, 24me dei conta de que estava em 39temas 15que em nada se relacionavam com meu tema primeiro.
Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. 16Sofremos de uma tentação permanente de
43pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto. O problema é que 22alguns textos exigem a leitura atenta de

palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido. 5Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido
e beleza a um texto?
3Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. 2Elas já nasceram neste mundo de
8profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo;

elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc.


46Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as crianças prestem atenção em uma única

coisa por muito tempo. 36E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam
portadoras de síndromes que exigem tratamento etc.
42A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos,
10brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos detalhes e, se deixarmos, 21passam horas em uma única atividade

de que gostam.
17Mas, nos estudos, queremos que elas prestem 26atenção no que é preciso, e não no que gostam. 28E isso, caro leitor, exige a árdua

aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.


32As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, 31boa parte desse trabalho é nosso, e não

delas.
12Não basta mandarmos que elas prestem atenção: 33isso de nada as ajuda. 13O que pode ajudar, por exemplo, é 40analisarmos o

contexto em que estão 7quando precisam focar a atenção 25e organizá-lo para que seja favorável a tal exigência. 11E é preciso lembrar
que não se pode esperar toda a atenção delas por muito tempo: 30o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e
gradual.
SAYÃO, Rosely. “Profusão de estímulos”. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 – adaptado.

15. Em “Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada as ajuda.” (ref. 12), os dois-pontos podem ser substituídos,
sem que haja alteração de sentido, por

a) não obstante. b) contanto. c) quando. d) porque. e) todavia.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Texto II
[...] 8Na testa de Fabiano o suor secava, 10misturando-se à poeira que enchia as rugas fundas, embebendo-se na correia do
chapéu. 12A tontura desaparecera, o estômago sossegara. Quando partissem, a cabaça não envergaria o espinhaço de sinhá Vitória.
Instintivamente procurou no descampado indício de fonte. 14Um friozinho agudo arrepiou-o. Mostrou os dentes sujos num riso infantil.
Como podia ter frio com semelhante calor? 17Ficou um instante assim besta, olhando os filhos, a mulher e a bagagem pesada. 16O
menino mais velho esbrugava um osso com apetite. [...]
RAMOS, G. Vidas Secas. RJ/SP: Record, 2013, p. 124.

16. A sentença do texto II “Ficou um instante assim besta, olhando os filhos, a mulher e a bagagem pesada.” (ref. 17) foi reescrita
alterando-se a colocação dos termos e a pontuação.
A sentença alterada que mantém o sentido da original é:

a) Assim, ficou besta, olhando um instante os filhos, a mulher e a bagagem pesada.


b) Ficou um instante assim, olhando os filhos, a mulher besta e a bagagem pesada.
c) Um instante assim besta, ficou olhando os filhos, a mulher pesada e a bagagem.
d) Besta, ficou um instante, olhando os filhos; assim, a mulher e a bagagem pesada.
e) Ficou besta um instante assim, olhando os filhos, a mulher e a bagagem pesada.

17. Uma língua é um sistema social reconhecível em diferentes variedades e nos muitos usos que as pessoas fazem dela em
múltiplas situações de comunicação. O texto que se apresenta na variedade padrão formal da língua é

a) Quando você quis eu não quis


Qdo eu quis você ñ quis
Pensando mal quase q fui
Feliz (Cacaso)

b) — Aonde é que você vai, rapaz?!


— Tá louco, bicho, vou cair fora!
— Mas, qual é, rapaz?! Uma simples operação de
apendicite! (Ziraldo)

c) Eu, hoje, acordei mais cedo


e, azul, tive uma ideia clara.
Só existe um segredo.
Tudo está na cara. (Paulo Leminski)

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d) Com deus mi deito com deus mi levanto
comigo eu calo comigo eu canto
eu bato um papo eu bato um ponto
eu tomo um drink eu fico tonto. (Chacal)

e) O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.(Henriqueta Lisboa)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Revista de maior circulação no mundo, a Time mostrou como ficaram 1tênues os limites entre a ciência e a ficção. Em
reportagem de capa, intitulada “Jovem para sempre”, não 11descarta 19nas entrelinhas a chance de que um dia, quem sabe, 3se
12descubra não a cura das doenças, 8mas a cura da morte.
4Menos sutilmente, estimula a esperança de que talvez o ser humano 13possa chegar aos 300 anos. A revista ancora o sonho

em moscas e minhocas que, 5tratadas em laboratórios, passaram a viver muitas vezes mais. A suspeita é de 20que, em algum lugar,
seria possível 14desmontar um 21relógio que determina o aparecimento de rugas, seios caídos, pernas flácidas, queda de cabelo.
6Ao tentar 15separar fantasias e bom senso, a reportagem estabelece como hipótese realista que, 9a partir das descobertas

médicas das próximas três décadas, a expectativa de vida suba para 120 anos. Seria a continuação do impacto provocado pelo inglês
Alexander Fleming, que descobriu o primeiro antibiótico.
Traduzindo: as crianças de hoje se lembrariam de seus pais – 10ou seja, nós – como pessoas que 16morreram jovens porque
não completaram 80 22anos. 11Assim como achamos que nossos tataravós morriam cedo porque não 18completavam 60 anos de
17

idade.
Os novos mitos nutridos pela tecnologia reforçam o absurdo brasileiro. Dezenas de milhares de crianças que não completam
2parcos 12 meses de vida morrem anualmente, 7porque simplesmente não têm comida ou bebem água contaminada.

DIMENSTEIN, Gilberto. Expectativa de vida. In: _____. Aprendiz do futuro. São Paulo: Ática: 2004. (fragmento)

18. Analise as seguintes propostas de alteração da pontuação do texto.


1. Inserir vírgulas antes e depois da expressão “nas entrelinhas” (ref. 19).
2. Substituir por dois-pontos a vírgula que segue o primeiro “que” (ref. 20).
3. Inserir uma vírgula após “relógio” (ref. 21).
4. Substituir o ponto após “anos” (ref. 22) por vírgula seguida de letra minúscula.
As alterações que manteriam o sentido, a coerência e a correção do texto são:
a) 1 e 2, apenas. b) 1 e 4, apenas. c) 2 e 3, apenas. d) 3 e 4, apenas. e) 1, 2, 3 e 4.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça de homens que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam em
bandos por todo o seu território. Gente inquieta e andarilha, deles afirmou Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer o 1........ das
nuvens ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da sua invasão. Uns risonhos despreocupados: passavam a vida esquecidos do
passado e descuidados do futuro. Cada novo dia era uma nova aventura em busca do escasso alimento para os manter naquela
jornada. Trajo? No mais completo 2........4: 3........ sujos e 7puídos cobriam-lhes os corpos queimados do sol. Nômades, aventureiros,
despreocupados – eram os boêmios.
Assim nasceu a semântica da palavra 13boêmio. O nome gentílico de 9Boêmia passou a aplicar-se ao 8indivíduo
despreocupado, de existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao 11deus-dará, à toa, na vagabundagem alegre. 12Daí também
o substantivo boêmia. Na definição de Antenor Nascentes5: vida despreocupada e alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem.
14Aplicou-se depois o termo, especializadamente, à vida desordenada e sem preocupações de artistas e escritores mais dados aos

prazeres da noite que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se chama degenerescência semântica. De limpo gentílico
– natural ou habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas essas conotações desfavoráveis.
A respeito do substantivo 15boêmia, vale dizer que a forma de uso, ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é
natural que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime condição, estado, ocupação. Conferir 6: 16alegria, 18anarquia,
barbaria, 17rebeldia, tropelia, 20pirataria... Penso que sobretudo palavras como folia e 19orgia devem ter influído na fixação da tonicidade
de boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. Além do mais, a prosódia boêmia estava prejudicada na origem pelo nome
10próprio Boêmia: esses boêmios não são os que vivem na Boêmia...

Adaptado de: LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31.

19. Associe cada ocorrência de sinal de pontuação, acima, com a noção que expressa no contexto em que ocorre, abaixo.
( ) dois-pontos (ref. 4)
( ) dois-pontos (ref. 5)
( ) dois-pontos (ref. 6)
1. definição 2. conformidade
3. explicação 4. exemplificação

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 3. b) 1 – 3 – 4. c) 2 – 3 – 4. d) 3 – 2 – 4. e) 4 – 1 – 2.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O som da época - Luís Fernando Veríssimo


21Desconfio de que ainda nos lembraremos 2destes anos como 5a época em que vivemos com o acompanhamento dos

alarmes de carro. Os alarmes de carro são a trilha sonora do nosso tempo8: o som da paranoia justificada.
O alarme é o grito da nossa propriedade de que alguém está querendo tirá-la de nós. É o som 15mais desesperado que um
ser humano pode produzir – a palavra “socorro!” –, mecanizado, padronizado e a todo volume. É 10“socorro!” acrescentado ao
vocabulário das coisas, como a buzina, a campainha, a música de elevador, o 11“ping” que 22avisa que o assado está pronto e todos
os “pings” do computador. Também é um som típico porque tenta compensar a carência mais típica 3da época9, a de segurança. 7Os
carros pedem socorro porque a sua defesa natural 12– polícia por perto, boas fechaduras ou respeito de todo o mundo pelo que é dos
outros – não funciona 16mais. 17Só 6lhes resta gritar.
Também é o som da época porque é o som da intimidação. Sua função principal é espantar e substituir todas as outras
formas de dissuasão pelo simples terror do barulho. O som da época em que 1os decibéis substituíram a razão.
Como os ouvidos são13, de todos os canais dos sentidos, os mais difíceis de proteger, foram os escolhidos pela
insensibilidade moderna para atacar nosso cérebro e apressar nossa imbecilização. Pois são tempos literalmente do barulho.
O alarme contra roubo de carro também é próprio da época porque, 18frequentemente, não funciona. 14Ou funciona quando
não deve. 23Ouvem-se tantos alarmes a qualquer hora do dia ou da noite porque, 19talvez influenciados pela paranoia generalizada,
eles disparam sozinhos. 24Basta alguém se aproximar do carro com uma cara suspeita e eles começam a berrar.
20Decididamente, o som 4do nosso tempo.

VERISSIMO, Luís Fernando. O som da época. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 29 set. 2011.

20. Assinale a única alternativa correta em relação ao emprego de sinais de pontuação no texto.

a) Os dois pontos da ref. 8 e a vírgula da ref. 9 isolam, respectivamente, um aposto e um adjunto adverbial.
b) As palavras “socorro!” (ref. 10) e “ping” (ref. 11) são destaca das com aspas por terem, no texto, o papel de interjeições.
c) Os travessões da ref. 12 poderiam ser substituídos por vírgulas sem acarretar prejuízo ao sentido do texto nem infração às normas
de pontuação.
d) A primeira e a segunda vírgulas da ref. 13 são facultativas, pois a expressão intercalada não provoca a ruptura da ordem direta da
frase.
e) Seria gramaticalmente adequada a supressão do ponto final antes da conjunção “Ou” (ref. 14), grafando-se esse articulador com
inicial minúscula, mas não prevaleceria o relevo atribuído à sequência textual que a conjunção introduz.

Gabarito:

Resposta da questão 1: [D]

[A] Os parênteses cumprem o papel de um quase cochicho com o leitor, são pormenores que só interessaria aos mais íntimos. É um
artifício para aumentar a cumplicidade com o leitor.
[B] O diminutivo está sempre ligado a gostosas lembranças da infância.
[C] Embora sintaticamente os dois pontos e a vírgula possam ser substituídos sem alterações, semanticamente há uma diferença, a
pausa criada pela locutora aumenta a relevância do que será colocado depois dos dois pontos, ou seja, trocasse pela vírgula, a
informação posterior não teria o destaque que se quis ao optar pelos dois pontos. Haja vista, que depois dos dois pontos ela fala
do tema que norteará todo o conto, o dia do aniversário de setenta anos.
[D] Correta. A linguagem empregada no conto é coloquial, informal, por ser uma reflexão pessoal, quase um desabafo.

Resposta da questão 2: [A]

[I] Verdadeira. Apenas a ordem dos termos está invertida, como a locução adverbial de lugar (“neste mesmo lugar”), e a de tempo
(“dentro de alguma centena de anos”), ambas marcadas corretamente pelo uso de vírgulas.
[II] Falsa. A locução adverbial de lugar (“neste mesmo lugar”) precisaria ser redigida entre vírgulas, uma vez que não está ao final do
período.
[III] Falsa. O trecho “pranteará o desaparecimento que eu poderia ter visto” está incorreto, pois o substantivo “desaparecimento” requer
o emprego da preposição “de”.

Resposta da questão 3: [A]

Em relação às referências 20 e 21 (“Essa visão, a de homo sapiens, é uma definição do homem pela razão; de homo faber20, do
homem como trabalhador; de homo economicus21, movido por lucros econômicos”), as vírgulas marcam a elipse (figura de sintaxe
segundo a qual não se repete uma palavra ou expressão, marcando o local com vírgula) da expressão “é uma definição”.

Em relação à referência 22 (“Em resumo, trata-se de uma visão prosaica, mutilada, que esquece o principal 22: a relação do
sapiens/demens, da razão com a demência, com a loucura”), o contexto indica um resumo e inserção de um argumento (“a relação
do sapiens/demens”).

Em relação à referência 23 (“A compreensão nos torna mais generosos com relação ao outro 23, e o criminoso não é unicamente mais
visto como criminoso, como o Raskolnikov de Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla”), a vírgula une dois períodos com o sentido
de adição; nesse caso, tal pontuação torna-se obrigatória, pois o sujeito de cada um deles (respectivamente “a compreensão” e “o
criminoso”) é diferente.
- 43 -
Resposta da questão 4: [B]

[I] Incorreta. Na referência 24 (‘Harold Bloom escreve: 24"Todas as grandes obras revelam a universalidade humana através de
destinos singulares, de situações singulares, de épocas singulares".’), as aspas indicam uma citação literal de Harold Bloom.
[II] Correta. Nas referências 25 e 19 (Harold Bloom escreve: "Todas as 25grandes obras revelam a universalidade humana através de
destinos singulares, de situações singulares, de épocas singulares". É essa a razão por que as 19obras-primas atravessam séculos,
sociedades e nações.), as expressões “grandes obras” e “obras-primas”, de acordo com o contexto, são empregadas como
sinônimas.
[III] Incorreta. Ao reler a passagem na qual está inserida a referência 26 ( “Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão
do outro para a compreensão humana. A compreensão nos torna mais generosos com relação ao outro, e o criminoso não é
unicamente mais visto como criminoso, 26como o Raskolnikov de Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla”), percebe-se que o autor
do texto defende a literatura como um elemento que amplia o horizonte de compreensão humana, inclusive a ponto de “o criminoso
não é unicamente mais visto como criminoso”; em seguida, cita-se a referência 26 como exemplos pertinentes a tal pensamento.

Resposta da questão 5: [D]

[I] Correta. Os dois pontos foram utilizados para uma explicação, no caso, para identificar dois tipos de pessoas levantadas pela
pesquisa: aquelas que se relacionam com o tempo observando a passagem na vida e outros que interagem diretamente com o
cotidiano.
[II] Correta. No terceiro parágrafo, as aspas foram utilizadas para indicar uma citação de Silvia Cervellini, diretora executiva de
negócios do Ibope Inteligência.
[III] Incorreto. No quarto parágrafo, o ponto de exclamação foi utilizado para indicar uma pergunta, não podendo ser substituído por
um ponto de exclamação.

Resposta da questão 6: [B]

Este trecho é bastante expressivo em sua concepção gráfica: lê-se a introdução de um personagem através de um colchete em início
de parágrafo. Conceito original, portanto, passível de interpretações. A alternativa [A] seria totalmente viável, não fosse o personagem
de Firmo ser introduzido desta maneira na narrativa. A alternativa [C] também seria viável, caso o narrador fizesse alguma menção a
respeito do pessoal morador do cortiço. A alternativa [D] está errada por outro motivo, talvez para manter a verossimilhança necessária:
dificilmente uma mulher falaria assim de seu amante. A alternativa [E] também está errada porque a fala trata de uma visão moral,
independentemente do determinismo permear por todas as tramas da narrativa. A alternativa [B] é a correta, pelo fato do personagem
estar implicitamente presente na narrativa através dos colchetes, fazendo parecer um narrador, em segundo plano. A fala metafórica,
quase proverbial, endossa a visão popular e estereotipada da mulher que gosta de dinheiro que aguenta tudo ao lado do fanfarrão,
indicado pelas metonímias: saia e cobres e pela metáfora composta pela boca do diabo. No discurso, o narrador emprega a fala típica
do malandro que estava se formando nos morros cariocas.

Resposta da questão 7: [A]

Em [A], as aspas indicam a fala da jovem autora.


Em [B], as aspas apontam que a palavra “inspiração” não era o termo ideal a ser empregado, uma vez que seu uso, normalmente,
indica um estímulo positivo – o que não corresponde ao relacionamento da autora.
Em [C], as aspas indicam o uso de gírias.
Em [D], as aspas novamente apontam para o uso de palavras fora de seu contexto ideal.

Resposta da questão 8: [D]

Os itens [III] e [IV] são incorretos, pois


[III] a vírgula indica que a oração seguinte é adjetiva explicativa e, se fosse suprimida, haveria alteração de sentido, transformando-a
em restritiva;
[IV] no excerto “Não creio que seja a escola que reivindica câmeras” não existe informação intercalada.
Assim, é correta apenas a alternativa [D].

Resposta da questão 9: [B]

Apenas em [2] seria possível a correção, pois nos excertos:


[1] “Duzentos anos de experiências com admiráveis mundos novos tornaram-nos céticos”, a vírgula não pode separar sujeito de
predicado;
[3] “um excesso de visão histórica retrospectiva pode distorcer”, seria incorreto usar a vírgula para separar o adjunto adnominal;
[4] “Quando as coisas se desintegraram, eles reagiram...”, a vírgula é obrigatória para separar a oração subordinada adverbial
deslocada da oração principal.
Assim, é correta a alternativa [B].

- 44 -
Resposta da questão 10: [C]

É correta a alternativa [C], pois, no último parágrafo, os travessões exercem a função de um aposto explicativo do substantivo
“potencialidade”, especificando as suas virtualidades.

Resposta da questão 11: [A]

No trecho “que direito tem você de estar aqui na intimidade de minha família, entrando nos nossos segredos mais íntimos, dormindo
na cama onde eu dormi, lendo meus velhos livros, talvez sorrindo das minhas anotações à margem, tratando meu pai com intimidade,
talvez discutindo a minha conduta, talvez até criticando-a?”, os dois pontos assinalam a introdução de uma pergunta: (3).
No segmento “que ele tenha mais direito de hostilizar-me do que eu a ele, que vive nesta casa há dezessete anos”, a vírgula serve
para assinalar explicação através de uma oração subordinada adjetiva: (1).
Em “Ele me olha, e vejo que está me examinando”, a vírgula assinala a presença de sujeitos distintos em período coordenado, “ele” e
“eu” na primeira e segunda orações, respectivamente (2).
Assim, é correta a alternativa [A].

Resposta da questão 12: [B]

Os itens [I] e [III] são incorretos, pois


[I] a indeterminação do sujeito acontece apenas na estrutura “se quer evitar”, já que a expressão verbal “se deparam” possui sujeito
simples (“elas”), o que invalida a afirmação que o enunciado é produto de um saber coletivo.
[III] O emprego das vírgulas que intercalam as expressões “de Sujeira” (ref. 3) e “de dez anos” (ref. 4) justifica-se por regra diferente
da que determina o emprego da vírgula antecedente a “detergentes” (ref. 5). No primeiro caso, trata-se de isolar aposto explicativo,
no último, de separar elementos que exercem a mesma função sintática (núcleos do agente da passiva).
Assim, a única alternativa correta é [B].

Resposta da questão 13: [D]

[A] Um travessão é um sinal gráfico se usado corretamente jamais será usado para indicar oposição.
[B] O travessão é um sinal gráfico, não um elemento sintático na oração.
[C] O travessão, por ser um sinal gráfico, não pode nem poderá expressar condição na frase.
[D] Correta. O papel do travessão, neste contexto, é o de dar ênfase ao elevado número de mulheres atarefadas pela burocracia e
indiferentes aos problemas das pessoas que precisam de algum documento oficial.
[E] Não há a intenção do autor em fazer comparações às informações, mas sim enfatizá-las.

Resposta da questão 14: [B]

[A] O autor faz uma referência ao moralismo de Plínio Salgado por querer proibir o uso de trajes de banhos que mostrassem demais
as pernas das senhoras.
[B] Correta. O autor faz referência ao aviso que havia nos bondes de antigamente: Fu/ mar/ ao/ vo/lan/te/ é/ pe/ri/go/ cons/tan/te.
Anúncio em que se contam doze sílabas poéticas, tal qual na poesia clássica grega.
[C] Os passageiros apenas liam um anúncio de proibição que, eventualmente, contava com doze sílabas poéticas, portanto, não eram
poemas, mas anúncios.
[D] Não há paralelos entre a proibição e o dinheiro falso.
[E] Ninguém consegue resolver nada nos corredores públicos, segundo o narrador.

Resposta da questão 15: [D]

O uso dos dois-pontos equivale à explicação da oração anterior (“prestem atenção”), por isso é possível substituí-los, sem alteração
de sentido, por conjunção de igual sentido. As demais conjunções são [A] e [B] concessivas, [C] temporal, [E] adversativa.

Resposta da questão 16: [E]

[A] Assim, ficou besta (...) Esta construção transforma a palavra assim em uma conjunção conclusiva, alterando a ideia original.
[B] A palavra besta deixa de pertencer à locução adjetiva, um instante assim besta, para ser o adjetivo de mulher, desvirtuando o
sentido original.
[C] A mudança do adjetivo: bagagem pesada para mulher pesada altera totalmente o sentido.
[D] Besta no início da oração e acompanhada de vírgula transforma o vocábulo em um vocativo, alterando o sentido original.
[E] Correta. A alteração do vocábulo besta na locução mantém inalterado o sentido do exemplo proposto pela questão.

Resposta da questão 17: [E]

A única alternativa que contempla todos os requisitos da norma culta é a estrofe de Henriqueta Lisboa, uma vez que:
Em [A], ocorrem abreviaturas próprias à linguagem empregada nos meios virtuais;
Em [B], há gírias, como “bicho” e “cair fora”, e expressões de cunho popular, como “tá louco”;
Em [C], “Tudo está na cara” é uma expressão popular correspondente a algo explícito;
Em [D], além de desvios relacionados à Ortografia, como “deus” e “mi”, o uso da pontuação não seguiu a norma culta.

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Resposta da questão 18: [B]

[1] CORRETA. Não afetaria a correção gramatical, mas daria um realce na expressão: não descarta, nas entrelinhas, a chance (...).
[2] Vejamos o exemplo: A suspeita é de que: em algum lugar, seria possível (...) o erro consiste em separar com dois pontos o verbo
de seus complementos, sem necessariamente tratar-se de uma enumeração de ideias.
[3] Ao pensar no exemplo: desmontar um relógio, que determina o aparecimento de rugas (...) tem-se que nas orações adjetivas
restritivas não se separam por vírgulas.
[4] CORRETA. Em completaram 80 anos, assim como achamos (...) percebe-se que esta substituição em nada muda o sentido nem
confere erro gramatical à oração.

Resposta da questão 19: [D]

Em “Trajo? No mais completo desleixo: molambos sujos e puídos cobriam-lhes os corpos”, o uso dos dois-pontos marca o início da
explicação da afirmação anterior. Em “Na definição de Antenor Nascentes: vida despreocupada e alegre”, os dois-pontos introduzem
um raciocínio que está em conformidade com o que fora proposto pelo estudioso citado. No trecho “Conferir: alegria, anarquia”, os
dois-pontos antecedem exemplos citados pelo autor, que corroboram a sua argumentação. Portanto, a ordem correta é: 3 – 2 – 4.

Resposta da questão 20: [E]

A alternativa [A] está incorreta porque a vírgula da ref. 9 não isola um adjunto adverbial, e sim um aposto.
A afirmação [B] está errada porque apenas a palavra “socorro!” (ref. 10) desempenha o papel de interjeição, “ping” (ref. 11) é uma
onomatopeia.
É incorreta também a afirmativa [C], pois a substituição dos travessões da ref. 12 por vírgulas geraria ambiguidade na frase.
Em [D] também há incorreção. A primeira e a segunda vírgulas da ref. 13 são obrigatórias. A expressão intercalada deve ser isolada
por vírgulas porque a frase está na ordem indireta.
Assim, a única alternativa correta é a [E].

REDAÇÃO
Redações exemplares para colocar vírgula

Redação Exemplar 1
Nome: Fábio Charlesson
Tema: A importância da liderança no cotidiano militar

A liderança é um processo que consiste em influenciar pessoas para que ajam voluntariamente em prol dos objetivos do líder
do grupo ou da instituição à qual pertencem. No contexto militar tal procedimento é norteado por valores úteis à motivação dos
liderados bem como à instalação do doutrinamento por meio da disciplina e da ética marcial. Essa conduta torna, de fato, o exercício
da liderança uma prática fundamental no cotidiano do profissional armífero.
No âmbito militar a condução de grupos é necessária ao cumprimento das missões. Tal atribuição é geralmente confiada aos
militares com maior capacidade de liderar com plenos valores inerentes à profissão – honra dignidade e honestidade – os quais
motivam os seus seguidores. Nesse sentido a elevação do moral o respeito aos subordinados e o reconhecimento oportuno são
fatores motivacionais que diariamente os líderes militares cultivam em seus subordinados. A motivação é desse modo requisito crucial
ao exercício da liderança na rotina militar.
Também no cotidiano da profissão armífera a capacidade de influenciar é útil para enfatizar a virtude basilar das corporações
marciais: a disciplina. Tal atributo é obtido mediante o acatamento e o respeito às regras às normas e às condutas que são inerentes
aos hábitos militares. Um grupo com elevados níveis de disciplina estará por conseguinte apto a alcançar os melhores resultados para
a Organização à qual pertence.
Por último no cotidiano militar é imprescindível que o líder se oriente pela relação existente entre a liderança e a ética militar.
Esta reúne os valores que norteiam aquela; não há o exercício corrente daquela sem o conjunto de princípios oferecidos por esta. Tal
correlação é parâmetro fundamental a ser seguido frequentemente pelos líderes militares nas suas esferas de ação. Com efeito a
correção de atitudes imposta pela obediência à ética exprime então a importância desse atributo à liderança militar diária.
A liderança é importante no cotidiano militar porque promove o cultivo de valores e virtudes que dão consistência à credibilidade
da profissão portanto. Por intermédio dessa prática os militares buscam a perfeição na execução das suas tarefas e dos seus deveres.
De fato o pleno comando aplicado na rotina militar permite que os elementos do grupo afastem-se de condutas de hábitos e de
comportamentos incompatíveis com a postura e com o modo de agir dos profissionais das armas.

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Redação Exemplar 2
Nome: Fábio Charlesson
Tema: A Marinha do Brasil: passado, presente e futuro
A Marinha do Brasil foi formada com propósito de contribuir com a formação do Estado brasileiro no século XIX. Hoje a Força
desempenha funções mais abrangentes: participação em operações internacionais e o desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto
o início dessa estrutura naval remonta à presença da Armada nas guerras da Independência envolve as ações conjuntas com outras
Marinhas em Organismos internacionais e estende-se ao estudo atual da obtenção de propulsão atômica. Por meio de tal processo a
Esquadra busca assim a evolução dos seus meios.
Na segunda década do século XIX o Brasil separou-se do exploratório domínio português. Esse acontecimento motivou
movimentos separatistas no Norte no Nordeste e no Sul do território e para conter as rebeliões era preciso enviar tropas aos locais
insurretos mas as comunicações terrestres não eram transitáveis. A solução encontrada pelo recente Império foi a tendência
privilegiada e natural da ex-colônia: o mar. Por meio de apresamento de navios estrangeiros de subscrição popular – contribuição
financeira da população – e de aquisições no exterior foi então criada a primeira Esquadra brasileira.
Apesar dessa carente formação inicial a Marinha do Brasil é hoje constituída por navios modernos. Tais meios são
capacitados a realizar Operações combinadas com outras nações como por exemplo a liderança brasileira na Força Interina das
Nações Unidas no Líbano cujo comando é exercido por um meio naval brasileiro. A Armada no presente atende às demandas da
política externa brasileira bem como colabora desse modo com a inserção do País no grupo de Estados com Forças Navais aptas a
garantir a manutenção da paz mundial.
Por último desde a Segunda Guerra Mundial as assimetrias de poder do planeta são restritivas aos países com domínio de
tecnologia nuclear. Tal situação provoca constantemente relações diplomáticas tensas entre Nações de diferentes continentes –
Estados Unidos Irã Coreia do Norte. Sob consciência defensiva a Marinha do Brasil empenha-se no Programa de Desenvolvimento
do Submarino com propulsão nuclear a fim de projetar-se-á no seleto grupo de Forças Navais que detêm esse conhecimento. Tal ação
prontificará por conseguinte a Esquadra a enfrentar situações cuja defesa exija dissuasão atômica.
A Marinha do Brasil busca adequar-se aos processos evolutivos inerentes a uma Força Naval portanto. Tal crescimento
acontece à medida que a situação política do País exige mudanças e atividades como foi no passado é no presente e provavelmente
será no futuro. A Marinha manteve desde a sua criação o compromisso de aperfeiçoar-se continuamente de modo a contribuir para a
prontidão do cumprimento da sua missão constitucional: a defesa da Pátria.

Redação Exemplar 3
Nome: Luciana Silva Freitas
Tema: Operações Navais no Século XXI: tarefas básicas do Poder Naval para a proteção da Amazônia Azul.
A inevitável vocação marítima brasileira demanda uma adequada sintonia com os diferentes conceitos históricos. O século
XXI que já iniciou com muitas expectativas acerca dos usos das diferentes tecnologias tem colocado novos desafios ao Poder Naval
no que se refere à proteção da Amazônia Azul. Nesse contexto apesar do auxílio dos equipamentos de monitoramento remoto as
ações diplomáticas empreendidas no âmbito militar são tão importantes quanto as outras.
O que de mais desafiador o século atual traz são a multiplicidade de usos dos equipamentos de comunicação e a
disseminação de conhecimentos. Tais aspectos colocam o aparato militar em relativa desvantagem quando se consideram a
portabilidade e as ações de monitoramento e controle para conter ações irregulares nas Águas Jurisdicionais Brasileiras(AJB). Desse
modo a capacidade de dissuasão dos meios navais continua como um importante instrumento mas essa aptidão depende de uma
constante atualização e da integração com diferentes órgãos da Administração Pública. O lado inovador das Operações Navais deve
considerar assim a inclusão de atividades que transcendam o campo bélico.
Nesse sentido as ações diplomáticas realizadas com navios a ostentar a Bandeira Nacional podem ser importantes formas
de demonstrar força. O efeito psicológico que a presença física provoca ante as possibilidades de agressão sempre foi um componente
incluído nos preparativos para a guerra ou nos procedimentos para evitá-la. Mostrar a bandeira é de fato um tipo de posicionamento
que tanto atende aos anseios político-administrativos quanto implica estratégias de defesa. Cabe lembrar então que a chamada paz
armada já foi praticada por romanos britânicos e estadunidenses em diferentes épocas.
A Amazônia Azul depende portanto da capacidade de mobilização e da demonstração de preocupação com sua proteção. A
conciliação dos interesses burocráticos com os de conotação militarista passa inevitavelmente pelo manuseio criativo das diferentes
formas humanas de expressão. Tal articulação aponta os sinais de criatividade de uma nação e simultaneamente indica que
determinados insultos serão prontamente respondidos.
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Redação exemplar 4
Nome: Luciana Silva Freitas
Tema: A Perspectivas do Oficialato
Estabilidade. Reconhecimento. Disciplina. A Marinha do Brasil (MB) – instituição nacional permanente e regular – cujo objetivo
principal é a defesa da Nação certamente valoriza atributos os quais enaltecem a carreira de seus militares devido às perspectivas
geradas por causa das peculiaridades do Oficialato. Nesse contexto para entender tal fato cabe considerar aspectos como a
importância da liderança do reconhecimento social e da ascensão profissional.
Ressalta-se em primeiro lugar que a liderança é um dos requisitos mais relevantes para a Armada. Esse preceito conceitua-se
como a arte de influenciar pessoas para agirem voluntariamente em prol dos objetivos da Força por isso o Oficial precisa conduzir
seus subordinados de maneira eficaz e eficiente além de ser um verdadeiro líder em suas atribuições cotidianas. Dessa forma tal
militar estará preparado para superar todas as adversidades encontradas no dia a dia da caserna.
Também o Oficialato desperta inúmeros sentimentos engrandecedores na sociedade civil. Nessa direção observa-se que o
reconhecimento social é uma característica marcante na vida militar devido ao comprometimento e à coragem: esta representa a
superação do medo para enfrentar qualquer perigo em prol do cumprimento da missão; aquele está relacionado com os princípios da
ética e da ordem. Os civis indubitavelmente admiram tais atributos.
Por último deve-se mencionar como aspecto relevante nas Forças Armadas em geral a ascensão profissional. Tal área é
promissora de fato por valorizar seus integrantes com um plano de carreira que proporciona reconhecimento profissional e valorização
financeira. O objetivo da MB é capacitar o militar graduado por meio de cursos e treinamentos para que este possa assim crescer na
Instituição.
Muitas são portanto as perspectivas que giram em torno do Oficialato. Com certeza poder exercer a liderança obter reconhecimento
social perante a sociedade e ascender profissionalmente são características enaltecedoras que fazem dessa carreira não só uma
profissão mas também um estilo de vida.
TIPOS TEXTUAIS
Segundo Marcuschi (2002), é um termo que deve ser usado para designar uma espécie de sequência teoricamente definida
pela natureza linguística de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias narração, argumentação, exposição,
descrição e injunção. Segundo ele, o termo tipologia textual é usado “para designar uma espécie de sequência teoricamente definida
pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Tipos textuais segundo Werlich (1973):
Observe a tabela de Werlich (1973) a seguir, a qual propõe uma matriz de critérios, partindo de estruturas linguísticas típicas dos
enunciados que formam a base do texto. Werlich toma a base temática do texto representada ou pelo título ou pelo início do texto
como adequada à formulação da tipologia. Assim, são desenvolvidas as cinco bases temáticas textuais típicas que darão origem aos
tipos textuais:

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1) A NARRAÇÃO trabalha com figuras, termos concretos para criar as personagens e fazê-las agir em determinados lugares.
Focaliza as transformações de estado, pois marca temporalmente essas ações, numa relação de anterioridade e posterioridade,
responsável pela causalidade. É a exteriorização de um fato, acontecimento por meio de formas verbais que denotam ações
continuadas. Nas estruturas narrativas, fica subentendida a ideia de ação, de acontecimento.

CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DA TIPOLOGIA NARRATIVA:


1. FOCO em ações que acontecem numa relação de causa e consequência;
2. FOCO em figuras (elementos concretos para criar as personagens e fazê-las agir em determinados lugares.);
3. FOCO nas transformações de estado; pois marca temporalmente essas ações, numa relação de anterioridade e
posterioridade, responsável pela causalidade;
4. O fator causalidade não permite a mudança ou inversão dos segmentos linguísticos formadores do texto sem que se altere
o seu sentido;
5. FOCO na progressão de acontecimentos (ideias) que se desenrolam no tempo;
O FOCO do texto narrativo é relatar o modo como se desenrolou um acontecimento, nas suas várias etapas.

2) A DESCRIÇÃO focaliza estados e não, ações. Serve para caracterizar seres sensíveis, isto é, que podem ser apreendidos pelos
órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Como não há temporalidade, descreve-se o que existe em um
dado momento da realidade (presente ou passada), por isso seus elementos não mantêm relação de anterioridade e
posterioridade. Não existindo a causalidade, pode-se mudar ou inverter a ordem dos elementos do texto sem alterar seu sentido.
É um retrato (foto) do referente (assunto). O objetivo desse tipo de texto é a descrição dos traços mais particulares do objeto em
questão, a imagem.

CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DA TIPOLOGIA DESCRITIVA:


1. O FOCO está em estados e não em ações;
2. As qualidades dos objetos são da ordem do sensorial (tato, visão, audição, olfato, paladar). Dessa maneira, o texto
descritivo convida o leitor a construir o objeto até compor o conjunto da figura, numa espécie de construção de um quadro;
3. Não há temporalidade, logo os elementos desse tipo de texto não mantêm relação de anterioridade e posterioridade;
4. Não há a ideia da causalidade;
5. A ordem dos eventos no texto é livre, logo há simultaneidade dos fatos ou dos eventos;

3) A DISSERTAÇÃO trabalha com ideias, por isso é temático e não, figurativo. Como seu objetivo é defender um ponto de vista,
argumentar em defesa de uma tese, opera, predominantemente, com palavras abstratas. As afirmações estabelecem relações
de causa, consequência, condição, concessão, tempo, etc., por isso não se pode alterar a ordem do texto. Estabelece-se um
raciocínio que supõe uma organização do pensamento e, para chegar à conclusão que se deseja, há de haver uma ordem de
ideias, a que denominamos progressividade. É uma disposição organizada de ideias a respeito de um tema (exteriorização de
reflexões de maneira impessoal), no qual o autor defende sua tese por meio de argumentos colocados em progressão. Para
efeito didático, podem distinguir-se dois tipos de textos dissertativos: os expositivos e os argumentativos.

3.1) Dissertação expositiva – é a simples apresentação por alguém de um saber próprio ou de uma opinião, sem a intenção
de influenciar e formar a opinião do receptor da mensagem.
3.2) Dissertação argumentativa – é a apresentação por alguém de um saber próprio ou de uma opinião, com a intenção de
influenciar e formar a opinião do receptor da mensagem.

CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DA TIPOLOGIA DISSERTATIVA:


1. Trabalha com ideias, por isso é temático e não, figurativo;
2. Opera, predominantemente, com palavras abstratas;
3. A função da linguagem predominante é a referencial;
4. No texto dissertativo, predomina o presente atemporal, ou seja, as formas verbais não se restringem a um momento;
5. Texto construído para tecer comentários gerais sobre um dado assunto.
6. Apresenta uma construção ideológica gradativa.

4) A INJUNÇÃO
O tipo injuntivo, também conhecido como instrucional, tem a função de explicar e expor métodos, maneiras e instruções a fim
de demonstrar como uma ação deve ser realizada. De forma direta, é o tipo de texto que enuncia o procedimento para executar um
determinado ato. É um tipo textual que embasa receitas de cozinha, bulas de medicamentos, manuais de instruções, editais de
concursos e, até mesmo, algumas publicidades.
Por não ser um tipo argumentativo, não busca o convencimento do leitor, mas tão somente instruí-lo de forma detalhada
sobre a realização de um procedimento, transmitindo-lhe informações precisas e comandos para a efetivação do ato.
Dessa forma, é um tipo que apresenta a necessidade de um interlocutor ao qual o discurso se dirige e tem como principal
objetivo a realização de alguma ação por parte dele, modificando de alguma maneira o seu comportamento, na medida em que fornece
instruções e indicações para a execução de uma tarefa ou mesmo a recomendação sobre a forma de uso de um determinado objeto.
Alguns estudiosos enxergam no tipo injuntivo uma divisão, separando da categoria os textos chamados “prescritivos”.
Enquanto o texto injuntivo forneceria instruções sem buscar evidenciar uma imposição ao leitor – tornando-se mera instrução, como
em manuais ou receitas –, o texto prescritivo estabelece uma atitude coercitiva, proibindo comportamentos ou indicando a única
maneira de realizar algo, a qual deve submeter-se o interlocutor – como seria o caso de editais de concursos, regulamentos e leis em
geral.
A linguagem utilizada no tipo é normalmente simples, clara, direta e objetiva. É característica, por conta da necessidade de
um interlocutor, a existência de verbos no imperativo, indicando as ações que devem ser realizadas por meio de “ordens” para sua
realização. É comum que esse tipo texto também se utilize de descrições sobre objetos, ou ações, de modo a informar o leitor com
precisão para que ele possa realizar as ações indicadas.
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OUTROS TIPOS TEXTUAIS
TEXTO PREDITIVO
O texto preditivo prediz, ou seja, diz antes. De fato, o entendimento do termo é a exata compreensão de seu contexto. O tipo
preditivo é aquele cujo discursos serve para indicar uma previsão, dar uma informação sobre o futuro, de forma a antecipar os eventos
que, segundo o enunciador, deverão ocorrer.
É um tipo que abarca textos como previsões do tempo, horóscopo, profecias e mesmo alguns provérbios. Como principal
característica, apresenta seus verbos no futuro do presente e, por vezes, o presente do indicativo. É comum o uso de expressões com
valor de futuro, além da existência de interlocução.
Na atualidade, reconhece-se o texto preditivo ligado às novas tecnologias. Pode-se afirmar sua presença como resultado de
algoritmos de sites de busca ou mesmo dos próprios aplicativos de celulares. Nesses casos, há a criação de uma espécie de banco
de dados de termos mais procurados ou palavras mais digitadas pelos usuários e, durante o preenchimento das primeiras letras de
um termo, o aplicativo ou site “prediz”, em forma de sugestão, um termo ou expressão que corresponderia à busca realizada.

TEXTO DIALOGAL
O texto dialogal é baseado na construção de um diálogo e, portanto, necessita de, no mínimo, dois interlocutores, criando
uma espécie de texto “cogerido”, construído à base da integração de turnos entre esses interlocutores.
Evidentemente, cada sentença de um enunciador relaciona-se com aquilo que seu interlocutor enunciou e vice-versa,
fazendo, assim, com que a trama do texto estabeleça-se por meio do diálogo que vai sendo construído, uma vez que esses
interlocutores concordam, discordam, concluem, generalizam, particularizam, justificam, exemplificam etc.
É um tipo que se percebe em diversos textos, como as entrevistas jornalísticas, os debates, as reuniões de trabalho,
conversas telefônicas, bate-papos em aplicativos e sites de mensagens diretas etc.

OS GÊNEROS TEXTUAIS
Para Porto (2009) os gêneros textuais são “modelos” de textos que circulam, socialmente e que estabelecem formas
próprias de organização do discurso. Segundo Bakhtin (1997, p.179), são caracterizados pelo conteúdo temático, pelo estilo e pela
construção composicional, que numa esfera de utilização apresentam tipos relativamente estáveis de enunciados, tais como o conto,
o relato, o texto de opinião, a entrevista, o artigo, o resumo, a receita, a conta de luz, os manuais, entre outros. A escolha do gênero
depende do contexto imediato e, consequentemente, da finalidade a que se destina, dos destinatários e do conteúdo.
Segundo Marcuschi (2002), os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e
social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. São
entidades sóciodiscursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. Hoje contamos com uma
diversidade infinita de gêneros. (...) os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se
como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos”.
Em nossas práticas comunicativas, fazemos uso de inúmeros gêneros textuais, considerando-se o contexto, o tema, a relação
entre os interlocutores, etc. São exemplos de gêneros textuais: diálogo face a face, bilhete, carta (pessoal, comercial, etc.), receita
culinária, horóscopo, artigo, romance, conto, novela, cardápio de restaurante, lista de compras, aula virtual, piada, resenha, inquérito
policial, ofício, requerimento, ata, relatório, o bate-papo on-line (MSN), blog, twitter (micro blog), Facebook, mensagens SMS (celular),
Whatsapp, etc.
Bakhtin evidencia inúmeras maneiras de interação entre a humanidade, nas mais variadas atividades sociais: vendendo,
comprando, trabalhando, brincando, se divertindo, etc. O gêneros são instrumentos dessas práticas. Ele classifica os gêneros em:
 Primários: são simples e procedem da comunicação verbal espontânea (diálogos, cartas);
 Secundários: frutos de uma comunicação cultural mais evoluída e mais complexa: romance, discurso científico,
teatro, etc.

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EXERCÍCIOS

Questão (1) Analise os períodos abaixo.


• “A prestação do carro está vencendo, a crise roeu suas economias e o computador travou de vez (...).”
• “...o estresse representa um sinal de que estamos saudáveis. (...) é uma carga de ansiedade que todos recebemos para evoluir na
vida.”
• “...o cortisol, conhecido como hormônio do estresse e liberado pelo cérebro em situações de pressão.”
Eles exemplificam, respectivamente, os seguintes tipos de textos:

(A) argumentação - argumentação - descrição.


(B) argumentação - descrição - narração.
(C) descrição - narração - argumentação.
(D) narração - descrição - descrição.
(E) narração - descrição - argumentação.

Texto I – questão 2.
A sua vez
Você já é grandinho o suficiente para saber que brincadeira é para a vida toda
1 Boa parte das brincadeiras infantis são um ensaio para a vida adulta. Criança brinca de ser
mãe, pai, cozinheiro, motorista, polícia, ladrão (e isso, você sabe, não implica nenhum tipo de
3 propensão ao crime). E, ah, quando não há ninguém por perto, brinca de médico também. É uma
forma de viver todas as vidas possíveis antes de fazer uma escolha ou descoberta. Talvez seja por
5 isso que a gente pare de brincar aos poucos – como se tudo isso perdesse o sentido quando viramos
adultos de verdade. E tudo agora é para valer. Mas será que parar de brincar é, de fato, uma decisão
7 madura?
Atividades de recreação e lazer estimulam o imaginário e a criatividade, facilitam a
9 socialização e nos ajudam a combater o estresse. Mas, se tudo isso for o objetivo, perde a graça,
deixa de ser brincadeira. Vira mais uma atividade produtiva a cumprir na agenda. Você só brinca de
11 verdade (ainda que de mentirinha) pelo prazer de brincar. E só. Como escreveu Rubem Alves, quem
brinca não quer chegar a lugar nenhum – já chegou.
13 QUINTANILHA, Leandro
Disponível em: http://www.vidasimples.abril.com.br/edicoes/073/pe_no_chao/conteudo_399675.shtml
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Questão (2) Quanto à tipologia, o Texto I classifica-se como

(A) injuntivo.
(B) narrativo.
(C) descritivo.
(D) expositivo.
(E) argumentativo.

Texto II – questão 3.
A angústia de cada dia
O angustiado é aquele que ficará a vida toda na alternativa, na escolha, mas sem escolher.
Por que não se decide? Será possível uma revolução íntima?
1
Sem alternativa
3
Infelizmente, não há saída nem pela direita nem pela esquerda. De um lado, a
angústia foi aceita como regra, sobretudo nas religiões que veneram o sofrimento. De
5 outro, todo o esforço da ciência e da tecnologia se erigiu como combate à angústia. Morrer,
perecer, sofrer são momentos importantes da vida. Melhor viver sem eles, pensam os que
7 combatem a angústia. Travam uma espécie de combate do otimismo contra o pessimismo,
como se essa oposição tivesse necessariamente que ter um vencedor. Um combate que
9 já nasce fraco, pois não há remédio contra a angústia. A angústia nossa de cada dia cresce
como grama que é preciso aparar, torna-se gigantesca e pode até nos engolir de vez,
11 deixar a casa debaixo do matagal. Debaixo da grama selvagem, com paciência, um
jardineiro, no entanto, constrói seu jardim.
TIBURI, Márcia. Revista vida simples. 73. ed. p. 64-65, dez. 2008. (Fragmento)

Questão (3) Quanto à tipologia, classifica-se o Texto II como

(A) expositivo.
(B) injuntivo.
(C) argumentativo.
(D) narrativo.
(E) descritivo.

Texto I – questão 4.
Constituição política e convivência
1 Vivemos uma cultura que valida a competição e a luta, e frequentemente dizemos
que a democracia é a livre disputa pelo poder. Isto é um erro, se o que queremos é uma
3 convivência na qual não surjam a pobreza, o abuso e a opressão como modos legítimos de vida.
Não existem a competição sadia nem a disputa fraterna. Se o que queremos é uma convivência
5 em que não surjam a pobreza e o abuso como instituições legítimas do viver nacional, nossa
tarefa é fazer da democracia uma oportunidade para colaborar na criação cotidiana de uma
7 convivência fundada no respeito que reconhece a legitimidade do outro num projeto comum, na
realização do qual a pobreza e o abuso são erros e podem e devem ser corrigidos.
9 Façamos da democracia um espaço político para a cooperação na criação de um
mundo de convivência no qual nem a pobreza, nem o abuso, nem a tirania surjam como modos
11 legítimos de vida. A democracia é uma obra de arte político-cotidiana que exige atuar no saber
que ninguém é dono da verdade, e que o outro é tão legítimo quanto qualquer um. Além disso,
13 tal obra exige a reflexão e a aceitação do outro e, sobretudo, a audácia de aceitar que as
diferentes ideologias políticas devem operar como diferentes modos de ver os espaços de
15 convivência, que permitem descobrir diferentes tipos de erros na tarefa comum de criar um
mundo de convivência, no qual a pobreza e o abuso são erros que se quer corrigir. Isto é uma
17 coisa diferente da luta pelo poder.

(Maturana, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na


política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.pp. 75-76.)

Questão (4) Quanto à tipologia do texto, é correto afirmar que se trata de

(A) uma narração.


(B) uma paródia.
(C) um artigo jornalístico.
(D) um texto dissertativo-argumentativo.
(E) uma descrição de circunstâncias.

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Texto II – questão 5.
1 O projeto original do Metrô/DF é composto por 29 estações, das quais 21 estão em
funcionamento. Possui, atualmente, uma frota de 20 trens, e transporta uma média de 150 mil
3 passageiros ao dia — de segunda a sexta-feira, das 6h às 23h30, e aos sábados, domingos e
feriados, das 7h às 19h.
5
As linhas do Metrô/DF possuem a forma da letra Y. Dos 42,38 Km de extensão, 19, 19
7 Km interligam a estação Central — localizada na rodoviária do plano piloto de Brasília — à Estação
Águas Claras. Outros 14,31 Km compreendem o ramal que parte da estação Águas Claras,
9 percorrendo Taguatinga Centro e Norte, até Ceilândia. Por fim, 8,8 Km abrangem o trecho que liga
a estação Águas Claras, via Taguatinga Sul, até Samambaia.
11 A linha principal é subterrânea na Asa Sul. As estações operacionais da região
possuem passagens subterrâneas que dão acesso às superquadras 100 e 200, e aos pontos de
13 ônibus dos Eixos W e L Sul, nos dois sentidos. Em seguida passa pelo Setor Policial Sul, onde se
localiza a Estação Asa Sul, também chamada de terminal Asa Sul, em razão de integração com o
15
sistema de transporte rodoviário. A linha atravessa a via EPIA, Guará, Setor de Mansões Park
17 Way, até chegar a Águas Claras. Nesse percurso, há trechos de linha em superfície e também em
trincheira — área subterrânea sem cobertura. Ainda nesse trecho, será construído o novo terminal
19 rodoviário interestadual de Brasília, ao lado da estação Shopping.
É na estação Águas Claras que a linha principal se divide em dois ramais. O ramal com
21 destino a Samambaia passa por Taguatinga Sul, cruzando a via EPTC — Pistão Sul, até chegar
ao centro de Samambaia. Esse trecho é percorrido em superfície e possui quatro estações.
23 Poderão ser construídos mais oito terminais rodoviários junto às estações do Metro/DF
para contribuir com a implantação do Programa Brasília Integrada que prevê a integração entre os
sistemas rodoviário, metroferroviário, incluindo o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Internet: <http://www.metro.df.gov.br/>. (com adaptações). Acesso em 4/5/09.

Questão (5) O texto apresentado tem como característica principal a

(A) narração de fatos geradores da história do metrô no DF.


(B) descrição de elementos da estrutura do metrô no DF.
(C) exposição de um ponto de vista acerca do metrô do DF.
(D) defesa da implantação de novos trechos do metrô no DF.
(E) descrição de um projeto de expansão do metrô no DF.

Texto III – questão 6


Projeto Brasil das Águas

1 A segunda campanha do Projeto Brasil das Águas foi realizada pela região Centro-
Oeste em novembro. Testemunhamos que muitos rios sofrem de sérios problemas de
3 assoreamento, rios outrora cristalinos agora são rios de areia. Mas também encontramos muitos
outros ainda transparentes, como o Juruena e o Arraias, e visitamos uma raridade, o rio Cristalino,
5 perto de Alta Floresta (MT), ainda intacto do começo (na Serra do Cachimbo) ao fim (desemboca
no rio Teles Pires).
7 Cientes da preocupação dos índios do Parque Indígena do Xingu quanto à
qualidade da água que bebem, várias coletas foram feitas nos rios e em lagos do parque. Ouvimos
9 os comentários ansiosos dos caciques Aritana (Yawalapiti) e Kotoky (Kamayurá) a respeito do
assoreamento e da deterioração dessas águas, algo que percebem pela diminuição da
11 quantidade de peixes. Nobre é a preocupação demonstrada por eles, visando ao bem-estar das
futuras gerações; não pensando apenas na geração presente.
13 No oeste do estado de Mato Grosso, descobrimos rios belíssimos, como o
Juruena, Papagaio e Buriti, faixas azuis atravessando matas e cerrados intactos, descendo das
15 nascentes em áreas ainda não tomadas pela soja, na Chapada dos Parecis. Brilhavam pequenas
praias convidativas. Bancos de areia submersa traçando desenhos ondulados por baixo das
17 águas transparentes. Corredeiras alegres, cachoeiras escondidas e uma vegetação nativa ainda
intacta. No dia em que voamos de Alta Floresta para Vilhena (RO), a tentação era grande demais.
19 Fizemos pit stop para almoçar em uma praia deserta colada a uma ilha verde em pleno Juruena.
Só nós dois e, na areia, as pegadas das capivaras.
21 Decolando de Cuiabá no dia 16 de novembro, rumo ao Araguaia, houve um
incidente que deixou o Talha-mar na Chapada dos Guimarães. Ele vai ficar alguns meses fora de
23 serviço, mas o projeto não parou. O Brasil das Águas continua. Já adotamos e adaptamos o
Talha-marzinho.
25 Felizmente, nenhuma gota das amostras colhidas durante a viagem perdeu-se
durante o incidente da Chapada: tudo foi entregue aos cientistas-parceiros para análise. Hoje,
27 podemos anunciar que 17% do projeto já está realizado!

29 Gerard e Margi Moss. Internet: <http://www.brasildas


aguas.com.br/brasil_das_aguas/centro_oeste>. (com adaptações).

- 53 -
Questão (6) De acordo com as ideias apresentadas no texto I, assinale a alternativa correta.

(A) Pelo contexto é possível concluir que Talha-mar é o nome da embarcação marítima utilizada como transporte no dia 16
de novembro.
(B) Percebe-se no texto a intenção dos autores em narrar os acontecimentos.
(C) No trecho “Ouvimos os comentários ansiosos dos caciques” (linha 9), os índios descrevem a situação para evidenciar a
preocupação com as águas.
(D) A evidência de faixas azuis atravessando matas e cerrados é relacionada a cordões de isolamento para a proteção de
áreas já depredadas.
(E) Os cordões azuis são encontrados com mais frequência em regiões onde há rios.

Texto IV — questão 7.
1 É a partir de marcas que a maioria das pessoas não consegue enxergar que um sistema
de identificação simples, fácil, rápido, econômico e extremamente preciso tem início. Com ampla
3 aplicação nas áreas civil e criminal, que pode ajudar na pesquisa de patologias e comportamento
humano, como também identificar crianças desaparecidas e colocar criminosos na cadeia, o
5
papiloscopista trata da identificação humana através das papilas dérmicas, utilizando-se do estudo das
7 impressões digitais (a datiloscopia), e que está completando 104 anos de função no Brasil. Apesar de
regulamentada no País desde 5 de fevereiro de 1903, a profissão aqui não é popular. Em Mossoró há
9 apenas um profissional habilitado, que é lotado na delegacia da Polícia Federal. Preferindo não se
identificar, por questão de segurança, o papiloscopista federal atuante na cidade teve o trabalho
11 amplamente divulgado nas últimas semanas, após ser o responsável pela apresentação do exame que
incriminou Kleyton Alves da Silva como autor do homicídio da jovem Iziana Paula, ocorrido no dia 27
13 de novembro de 2007. O perito disse que, para se especializar na área, ele primeiramente prestou
concurso público para o cargo e, em seguida, foi submetido a curso rigoroso e eliminatório na
15
Academia Nacional de Polícia, com duração de cerca de quatro meses. “Trabalho com papiloscopia
17 desde 2004, quando fiz o curso da Polícia Federal. De lá para cá, tenho sempre buscado me reciclar
indo para Natal participar de ações da equipe da capital para estar sempre em contado com o serviço”,
19 ressaltou.
A importância da profissão reside no fato de que é responsabilidade dos que nela atuam
21 organizar toda a base civil de impressões digitais, isto é, guardar e arquivar todas as impressões dos dez
dedos de cada cidadão que, por algum motivo, precise da PF, seja para adquirir um passaporte ou mesmo
23 após ser arrolado como participante de investigações. Ao trabalhar com a identificação humana,
normalmente por meio das digitais, é possível se identificar qualquer pessoa pelos dedos e palma da
25
mão e pelas marcas dos pés. É uma mão-de-obra altamente qualificada. Na PF, o cargo de
27 papiloscopista é visto como uma função extremamente necessária como conclusão de investigações
diversas. Para se obter o êxito hoje apresentado, os profissionais foram qualificados em cursos na França
29 e nos Estados Unidos, junto ao FBI. Para unir as informações dos peritos em todo país, em 2003, o
Departamento de Polícia Federal (DPF) implantou o Sistema Automatizado de Impressões Digitais (Afis),
32 a mais cara aquisição do departamento. O Sistema Afis faz a análise de impressões digitais e tem
aplicação funcional junto a estrangeiros e também relatos criminais. Seja na identificação de civis
33 (estrangeiros) ou criminalmente; seja elaborando laudos periciais papiloscópicos ou participando de
projetos de pesquisa em áreas como a genética, o papiloscopista tem se revelado um profissional
35
imprescindível para o futuro da segurança pública. Assim, sempre que necessário, para solucionar
37 crimes, designar a real identidade de pessoas, pode ser consultado este arquivo.
Internet. <http://www2.uol.com.br/omossoroense/mudanca/conteudo/policia.html> (com adaptações).

Questão (7) Com base no texto , assinale a alternativa correta.

(A) Trata-se de texto dissertativo-argumentativo em que o autor defende a tese de que os papiloscopistas veem mais do que uma
pessoa comum.
(B) Trata-se de texto dissertativo-expositivo com predomínio da exemplificação.
(C) Trata-se de texto dissertativo-expositivo com predomínio da descrição.
(D) Trata-se de texto literário em que se destaca a visão artística de uma profissão.
(E) Trata-se de texto dissertativo-argumentativo em que se destaca a confrontação de ideias antagônicas.

- 54 -
Texto V - para os itens de 1 a 6.

Brasil e África do Sul assinam acordo de cooperação

1
O Ministério da Educação do Brasil e o da África do Sul assinaram no início de julho um
3 acordo de cooperação internacional na área da educação superior. Além de apoiar o ensino universitário e
prever a promoção conjunta de eventos científicos e técnicos, o acordo contempla o intercâmbio de materiais
5 educacionais e de pesquisa e o incentivo à mobilidade acadêmica e estudantil entre instituições de ensino
superior, institutos de pesquisa e escolas técnicas.
7 Para incentivar a mobilidade, além de projetos conjuntos de pesquisa, os dois países
devem promover a implantação de programas de intercâmbio acadêmico, com a concessão de bolsas, tanto a
9 brasileiros na África do Sul quanto a sul-africanos no Brasil, para professores e alunos de doutorado e pós-
doutorado. Ainda nessa área, a cooperação também prevê a criação de um programa de fomento a publicações
11 científicas associadas entre representantes dos dois países.
Segundo o ministro da Educação brasileiro, Fernando Haddad, as equipes de ambos os
13 ministérios da Educação trabalham há tempos na construção de um acordo para incrementar a cooperação
entre os dois países. “Brasil e África do Sul têm uma grande similaridade de pensamento, oportunidades e
15 desafios. Esperávamos há tempos a formatação de um acordo sólido”.
Internet: <portal.mec.gov.br> (com adaptações).

QUESTÃO 8: Julgue os itens a seguir quanto à compreensão do texto e à tipologia textual.

1) A ideia central do texto está resumida no primeiro período do primeiro parágrafo.


2) Depreende-se do texto que o acordo foi assinado de modo intempestivo, o que surpreendeu as autoridades brasileiras da área da educação
superior.
3) O ministro da Educação brasileiro pronunciou-se favoravelmente ao acordo, assinalando os pontos em comum existentes entre os dois
países.
4) Quanto à tipologia, o texto caracteriza-se como expositivo.

Tomando como parâmetro a norma padrão do português escrito, julgue os itens seguintes, relativos às estruturas linguísticas do texto.

5) Uma forma de evitar a repetição da expressão “dois países” é substituí-la por ambos países na última ocorrência.
6) No último parágrafo, as aspas estão empregadas para indicar que o trecho isolado por elas constitui citação da fala de outrem; no caso,
do ministro da Educação brasileiro.

Texto VI - para os itens de 7 a 12.


1 Certamente você já se perguntou por que algumas pessoas têm tanto e
outras tão pouco. Talvez a resposta não seja tão complicada quanto se pensa. (...)
3 O principal obstáculo para a prosperidade financeira ou para se lidar com dinheiro
é a ausência de educação financeira. Passamos grande parte de nossa vida nos
5 bancos escolares e nunca ou muito raramente recebemos orientação sobre
finanças.
7 Educar-se financeiramente é a condição básica para entender como o
dinheiro deve ser administrado. Um cidadão educado financeiramente sabe o valor
9 do dinheiro, o quanto é difícil ganhá-lo e a importância de conservá-lo, respeitá-lo
e fazê-lo render.
11 E você, é um cidadão educado financeiramente? Saberia o que fazer para
ganhar, preservar e aumentar sua riqueza? Quando você encontra uma moeda de
13 dez centavos, como reage? Há pessoas que desperdiçam muito dinheiro. Olham
uma moeda de R$ 1 e não veem valor significativo nela. Pode ser que R$ 1 já não
15 compre muita coisa isoladamente. Mas R$ 1 por dia são R$ 30 mensais. Você
saberia dizer quanto o desperdício de R$ 1 por dia daria em um ano? E em 10
17 anos? E em 20 ou 30 ou 22 40 anos?
O que uma pessoa que desconhece os segredos do dinheiro faria se
19 ganhasse R$ 500 mil em um programa de televisão? A grande maioria apresenta
20 uma lista imensa de “prioridades” como: ajudar um parente ou amigo, comprar uma
21 casa nova, comprar um carro, uma fazenda, fazer lipoaspiração, mudar de visual,
trocar todo o guarda-roupa etc. A lista apresenta-se como uma infinidade de itens
23 a serem adquiridos.
Este é o grande problema: não podemos ter um dinheirinho a mais e
25 queremos comprar. Compramos os chamados “passivos”. É considerado “passivo”
tudo aquilo que, além de tirar nosso dinheiro do bolso, gera mais despesas para o
27 nosso orçamento. Uma casa maior, por exemplo, traz consigo novas e maiores
28 despesas. Um carro novo perde 25% do seu valor ao sair da concessionária, além
29 de trazer um aumento de gastos com seguros e impostos. Portanto, toda aquisição
30 deve ser rigorosamente estudada no que diz respeito à sua viabilidade e
31 necessidade. A falta de conhecimento causa problemas como esses.
32 Comprar dívidas é o maior sinal de ausência de educação financeira.

G. Santos e C. Santos. Rico ou pobre: uma questão de educação.


Campinas: Armazém do Ipê, 2005, p. 4-7 (com adaptações).

- 55 -
QUESTÃO 9: Acerca da compreensão, da interpretação e da tipologia do texto apresentado, julgue os próximos itens.

7) O segmento a seguir poderia figurar no espaço marcado com (...), sem prejudicar a organização das ideias do primeiro
parágrafo: As pessoas educadas financeiramente sabem como fazer para preservar e aumentar sua riqueza.
8) Os autores do texto censuram as pessoas que desperdiçam tempo recolhendo moedas de pouco valor, em vez de tentarem
ganhar meio milhão em programas de televisão.
9) Segundo o texto, é uma virtude viver sob o lema: Mais vale um gosto que dinheiro no bolso.
10) Depreende-se do texto a recomendação dos autores a favor da aquisição de “passivos” à vista, caso se tenha um dinheiro a
mais sobrando, já que “Comprar dívidas” (L.32) é coisa de quem não possui educação financeira.
11) Quanto à tipologia, o texto caracteriza-se como um diálogo, em virtude das perguntas feitas diretamente ao leitor.
12) As aspas estão empregadas nas linhas 20 e 25 pelo mesmo motivo: indicar que as palavras por elas destacadas pertencem
a linguagem técnico-científica.

Texto VII – item 1.


1 Grupo Móvel — O Sr. se lembra quando o Grupo esteve aqui antes?
Jacaré — Hum! Olha, acho que faz uns oito anos...
3 Grupo Móvel — Saiu um monte de gente, por que o Sr. não saiu?
Jacaré — É, saiu um monte de gente, mas o patrão pediu para ficar e eu fiquei.
5 Grupo Móvel — O que o Sr. fez com o dinheiro da indenização que recebeu na época?
Jacaré — Construí um barraquinho... Comprei umas 10 vaquinhas...
7 Grupo Móvel — Depois disso, o Sr. recebeu mais alguma coisa?
Jacaré — Não, não recebi mais nada, além de comida. Ele disse que eu teria de pagar pelo dinheiro que recebi.
9 Grupo Móvel — Mais nada?
Companheira de Jacaré — Ele diz que a gente ainda está devendo e não deixa tirar nossas vacas, diz que são
11 dele. Até as leitoas que pegamos no mato ele diz que são dele.
Grupo Móvel — Por que o Sr. continua trabalhando?
13 Companheira de Jacaré — Porque ele não quer ir embora sem receber nada. Nem as vacas ele deixa a gente
levar.
15 Grupo Móvel — Quantos anos o Sr. tem?
Jacaré — Tenho 64 anos.
17 Grupo Móvel — E trabalha para ele há quantos anos?
Jacaré — Faz uns 30 anos.
19 Grupo Móvel — O Sr. pede dinheiro para ele?
Jacaré — Não, não peço. Precisa pedir? Se a gente trabalha, não precisa pedir.
21
O dilema de Eduardo Silva, conhecido como Jacaré, enfim, foi resolvido. Ele foi retirado da
fazenda em Xinguara, no Pará. O Grupo Especial Móvel de Combate ao Trabalho Escravo do MTE abriu para
23 ele uma caderneta de poupança, onde foi depositado o valor das verbas indenizatórias devidas, cerca de R$
100 mil.
25 Revista Trabalho. Brasília: MTE, ago./set./out./2008, p. 43 (com adaptações).

QUESTÃO 10: Acerca dos aspectos estruturais e linguísticos e dos sentidos do texto ao lado, julgue o item a seguir.

1) Por suas características estruturais, é correto afirmar que o texto em análise é uma descrição.

TEXTO VIII – questão 11.

Desaparecidos
No Brasil não existem dados oficiais que determinem a quantidade de crianças e adolescentes desaparecidos anualmente; contudo,
dos casos registrados, um percentual de 10 a 15% permanecem sem solução por um longo período de tempo, e, às vezes, jamais são
resolvidos. Visando a dar visibilidade a essa problemática, a Secretária Especial de Direitos Humanos, desde 2002, constituiu uma
rede nacional de identificação e localização de crianças e adolescentes desaparecidos, com o objetivo de criar e articular serviços
especializados de atendimento ao público e coordenar um esforço coletivo e de âmbito nacional para busca e localização dos
desaparecidos. Hoje temos cadastrados no site da ReDesap 1.247 casos de crianças e adolescentes desaparecidos no País. Desde
a sua criação já foram solucionados 725 casos, sendo que se constatou que umas das causas mais comuns de desaparecimento é a
fuga do lar por conflito familiar. (...). (Fonte:http://www.desaparecidos.mj.gov.br/Desaparecidos/).

Questão (11) O texto I é, predominantemente,

A) narrativo.
B) argumentativo.
C) injuntivo.
D) expositivo.
E) dialogado.

- 56 -
Questão (12) No gênero narrativo, adota-se normalmente a ordem da sucessão dos fatos. Não se deve, assim relatar “antes” o que
ocorre “depois”, salvo se se pretende conseguir o que, nos romances policiais e seus similares, se chama de “suspense”, em que o
interesse da narrativa decorre muitas vezes da escamoteação provisória de certos incidentes ou episódios ou da antecipação de
outros. (Othon M. Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, 2004). A opção que mostra uma sucessão de fatos típica de um
texto narrativo, como está explicado acima é

A) Estava parada na Rua da Quitanda, próximo à da Assembléia, uma linda vitória, puxada por soberbos cavalos do Cabo. Dentro
do carro havia duas moças; uma delas, alta e esbelta, tinha uma presença encantadora; a outra, de pequena estatura, muito
delicada de talhe, era talvez mais linda que sua companheira.
B) Por esse tempo veio um grave desgosto à casa: a tia Fanny morreu, duma pneumonia, nos frios de março; e isto enegreceu mais
a melancolia de Maria Eduarda, que a amava muito também — por ser irlandesa e católica. Para a distrair, Afonso levou-a para
a Itália, para uma deliciosa vila ao pé de Roma.
C) As traduções são muito mais complexas do que se imagina. Não me refiro a locuções, expressões idiomáticas, palavras de gíria,
flexões verbais, declinações e coisas assim. Refiro-me à impossibilidade de encontrar equivalências entre palavras
aparentemente sinônimas, unívocas e univalentes.
D) No ano seguinte, o Ateneu revelou-se-me noutro aspecto. Conhecera-o interessante, com as seduções do que é novo, com as
projeções obscuras de perspectiva, desafiando curiosidade e receio; conhecera-o insípido e banal como os mistérios resolvidos,
caiado de tédio; conhecia-o agora intolerável como um cárcere, murado de desejos e privações.
E) Essas milhas interessantes viagens hão de ser uma obra prima, erudita, brilhante, de pensamentos novos, uma coisa digna do
século. Preciso de o dizer ao leitor, para que ele esteja prevenido: não cuide que são quaisquer dessas rabiscaduras da moda
que, com o título de Impressões de Viagem, fatigam as imprensas da Europa.

GRAMÁTICA

CONJUNÇÃO
Conjunção é o elemento que liga orações ou, dentro da mesma oração, vocábulos que tenham o mesmo valor ou função. Ex.1:
"Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.” A palavra e liga vocábulos de mesmo valor e função. Ex.: 2: "Estava na rua e
assistiu à cena.” A palavra e liga orações independentes, ou seja, cada oração possui os seus próprios termos. Uma não é termo de
outra. Este é o papel das conjunções coordenativas. Ex.3:"Quando chegou à rua, assistiu à cena". A primeira oração é termo da
segunda: atua como adjunto adverbial de tempo da oração principal. O "quando" é uma conjunção subordinativa, nesse exemplo.

2.1. Conjunções Coordenativas

a) Aditivas (valor de acréscimo, adição); e, nem (antecedida de não), não só... mas também, não apenas...como também
b) Adversativas (valor de oposição): mas, porém, contudo, todavia, entretanto
c) Alternativas (com valor de alternância, sempre aos pares): seja...seja, ora...ora, ou...ou, quer...quer. A conjunção ou pode
aparecer sozinha e indicar alternância ou exclusão. Ex.: Pedro ou João casará com ela. Pedro ou João pode fazer o trabalho.
d) Explicativas: que, pois, porque (inicia oração que justifica a ideia contida na oração anterior). Ex.: Vamos sair depressa que
está ameaçando chuva forte. Deve ter chovido forte, pois as calçadas estão com muita lama.
e) Conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, por isso, assim, logo (esse nunca no início da oração e sempre entre vírgulas)

2.2. Conjunções Subordinativas


Podem ter natureza essencial à formação do período (é o caso das integrantes que dão origem às orações sub. substantivas)
ou ter natureza circunstancial (é o caso das que dão origem às orações sub. adverbiais)

Integrantes: que, se (É bom que venham logo. Queria saber se virão logo.)
Causais: porque, já que, visto que, como, visto que, pois
Concessivas: embora, ainda que, mesmo que, posto que, apesar de que, por mais que, se bem que
Condicionais: se, caso, contanto que, salvo se, a menos que
Consecutivas: (tanto/ tal/tamanho)...que, de maneira que, de modo que
Comparativas: (mais/menos/maior/menor/melhor/pior)...que
Conformativas: conforme, como, segundo, consoante
Finais: para que, a fim de que
Temporais: quando, sempre que, depois que, logo que, apenas, mal
Proporcionais: à medida que, à proporção que, quanto mais...tanto mais

CONJUNÇÕES QUE PODEM TER MAIS DE UM VALOR SEMÂNTICO

1. A conjunção pois
a) coordenativa explicativa: sempre no início da oração; antecedida geralmente de oração com verbo no imperativo ou de
oração que expresse uma suposição.
Ex.: Saia, pois quero fechar a sala. Ela deve ter saído, pois a sala está fechada.

b) coordenativa conclusiva: nunca no início da oração; equivale a portanto.


Ex.: Devemos sair imediatamente daqui; feche, pois, a porta e não discuta.

c) subordinativa causal: dá ideia de causa; pode ser substituída por porque.


Ex.: Fez tudo corretamente, pois tinha medo do chefe.

- 57 -
2. A conjunção como
a) subordinativa causal: equivalente a porque .
Ex.: Como teve fome, foi à cozinha.

b) subordinativa comparativa: equivalente a quanto.


Ex.: Esforçou-se tanto como nós na ocasião.

c) subordinativa conformativa: equivalente a conforme (de acordo com).


Ex.: Fez tudo como lhe ensinamos.

ATENÇÃO: Eu o tenho como um irmão. (preposição)


Quero saber o porquê e o como de tudo. (substantivo)

3. A conjunção se
a) subordinativa condicional: equivale a caso.
Ex.: Se chover, não iremos à praia.

b) subordinativa integrante: inicia uma oração com valor de objeto direto.


Ex.: Perguntou se iríamos à praia com chuva.

4. A conjunção e
a) Coordenada aditiva:
Ex.: Joãozinho estudou e passou na prova.

b) Coordenada Adversativa: equivale a mas, porém.


Ex.: Joãozinho estudou, e não passou na prova. (a vírgula é facultativa).

c) Subordinada Consecutiva: equivale a consequentemente.


Ex.: Joãozinho estudou muito e passou na prova.

5. A conjunção que
1. conjunção coordenada explicativa: quando introduzir oração coordenada explicativa. Equivale a “pois”;
Venha depressa que já é tarde.

2. conjunção coordenada aditiva: quando introduzir oração coordenada aditiva. Equivale a “e”;
Marina dança que dança. Ele chora que chora.

3. conjunção coordenada adversativa: quando introduzir oração coordenada adversativa. Equivale a “mas”;
Acuse-os, que não a mim.

4. conjunção coordenada alternativa: quando introduzir oração coordenada alternativa. Equivale a “ou...ou...”;
Que ele venha, que não venha, partiremos hoje!

5. conjunção subordinativa temporal: quando introduzir oração subordinada temporal. Equivale a “desde que”, “quando”:
Faz dez anos que me formei.

6. conjunção subordinativa integrante: quando introduzir oração subordinada substantiva. Equivale a “isso”, “disso”:
Espero que todos compareçam.

7. conjunção subordinativa final: quando introduzir oração subordinada final. Equivale a “para que”:
Ela fez um sinal que ficássemos calados.

8. conjunção subordinativa consecutiva: quando introduzir oração subordinada consecutiva. Equivale a


“consequentemente”:
É tão delicada que a todos encanta. Tamanha era a certeza, que apostou tudo.

9. conjunção subordinativa concessiva: quando introduzir oração subordinada concessiva. Equivale a “embora”, “ainda
que”:
Cruel que me julgassem, não cederia a seus rogos. (=ainda que). Longe que fosse a casa dela, iria até lá. (=embora)

10. conjunção subordinativa comparativa: quando introduzir oração subordinada comparativa. Equivale a “como”, “tanto...
quanto”:
Sou mais alto que meu irmão.

11. conjunção subordinativa causal: quando introduzir oração subordinada causal. Equivale a “porque”
Saio daqui a pouco, que parou de chover. Irei à praia mais tarde que parou de chover.

- 58 -
Exercícios Complementares de Conjunção (Gabarito no final)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: APELO


Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar
tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a
imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão,
ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de
fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença e todas as
aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que
fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para
casa, Senhora, por favor.(TREVISAN, Dalton. "II - Os Mistérios de Coritiba", In: OS DESASTRES DO AMOR - Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1968)

1. "As suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham."

Observando o período acima, responda:

a) Que tipo de relação se estabelece entre as duas orações através da conjunção "E"?
b) Como pode ser justificado o emprego do segundo verbo do período no presente, enquanto o primeiro apresenta-se no pretérito?

2. Identifique a conjunção e classifique-a:

a) Se a televisão não apresentasse tanto filme enlatado, o seu nível seria melhor.
b) Quando ela acordou, os lençóis estavam molhados por causa da febre.
c) Tamanho era o medo, que a mulher teve de fazer queixa contra o marido.
d) Quanto mais a criança chorava, mais o pai ia perdendo a paciência.
e) O coração envelhece como os outros músculos.

3. Observando a ideia expressa pela oração, classifique o QUE em conjunção subordinativa consecutiva, comparativa, final:

a) Fiz-lhe sinal QUE começasse o discurso.


b) Era um pacote tão grande QUE não cabia no porta-malas.
c) Tratava-se de uma criança mais inteligente QUE estudiosa.
d) Falou tanto QUE acabou rouco.

4. Observando a ideia expressa pela oração, classifique DESDE QUE em conjunção subordinativa temporal, causal ou condicional.

a) DESDE QUE você não concorde, nada posso fazer.


b) DESDE QUE você concorde, tudo dará certo.
c) DESDE QUE a criança acordou, o cachorro ficou mudo.
d) Compro-lhe a blusa, DESDE QUE você a use de verdade.

5. Identifique a conjunção e classifique-a:

a) Segundo noticiou o jornal, aquele ilustre homem não pagará pelo crime cometido.
b) Você gaguejou tanto que não explicou nada.
c) O filho é maior que o pai.
d) O único terno do rapaz rasgou, de modo que não pôde ir ao baile.
e) A empregada foi atendida porque o deputado exigiu.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O texto a seguir está publicado em obra dedicada "aos milhares de famílias de brasileiros sem terra".
Levantados do chão

Como então? Desgarrados da terra?


Como assim? Levantados do chão?
Como embaixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão?

Como em sonho correr numa estrada?


Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da Terra tombar?

Como então? Desgarrados da terra?


Como assim? Levantados do chão?
Ou na planta dos pés uma terra
Como água na palma da mão?
- 59 -
Habitar uma lama sem fundo?
Como em cama de pó se deitar?
Num balanço de rede sem rede
Ver o mundo de pernas pro ar?

Como assim? Levitante colono?


Pasto aéreo? Celeste curral?
Um rebanho nas nuvens? Mas como?
Boi alado? Alazão sideral?

Que esquisita lavoura! Mas como?


Um arado no espaço? Será?
Choverá que laranja? Que pomo?
Gomo? Sumo? Granizo? Maná?
(HOLLANDA, Chico Buarque de. ln: SALGADO, Sebastião. TERRA. SP: Companhia das Letras, 1997.)

Atenção - vocabulário:
pomo (penúltimo verso) - fruto
maná (último verso) - alimento divino, alimento caído do céu

6. No texto, o eu-lírico constrói progressivamente sua visão da realidade: nas estrofes 1, 2, 3, tenta decifrar o significado da imagem
"levantados do chão"; nas estrofes 4, 5, 6, vai reforçando sua opinião crítica sobre a realidade.

Releia:
"Um rebanho nas nuvens? Mas como?" (verso 19)
"Um arado no espaço? Será?" (verso 22)

Nos versos acima, a conjunção adversativa "mas" e o futuro do presente do indicativo são utilizados para enfatizar esse
posicionamento crítico.
Explique por quê.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minh'alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
(Camões, ed. A. J. da Costa Pimpão)

7. A conjunção MAS, que aparece no início do primeiro terceto, é usada para

a) apresentar uma síntese das ideias contidas nos quartetos, que funcionam como tese e antítese.
b) opor à satisfação expressa nos quartetos a insatisfação trazida por uma ideia incompleta e pelo conformismo.
c) substituir o conectivo E, assumindo valor aditivo, já que não há oposição entre os quartetos e os tercetos.
d) iniciar um pensamento conclusivo, podendo ser substituído pelo conectivo PORTANTO.
e) introduzir uma ressalva em relação às ideias que foram expressas nos quartetos.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


"O desenvolvimento científico e tecnológico, 1embora traga inegáveis benefícios (pensemos nos avanços da medicina e dos
meios de comunicação, nas facilidades proporcionadas pelos modernos meios de transporte e pelos inúmeros aparelhos
eletrodomésticos que fazem parte de nosso cotidiano), criou também novos e graves problemas. Chaplin denunciou a desumanização
do trabalho no filme "Tempos Modernos"; alguns anos depois, a humanidade assistia atônita ao holocausto nuclear em Hiroshima e
Nagasaki. Descobriu-se que a ciência nem sempre é benéfica ao homem: tudo depende de como ela é usada.
Pode-se dizer que o avanço científico e tecnológico propõe hoje três grandes desafios para o século XXI: antes de mais nada,
a degradação do meio ambiente demonstra a necessidade de pesquisar novas formas de produção, de transporte e de geração de
energia não agressivas à natureza. Em segundo lugar, temos de encontrar alternativas ao avanço da mecanização industrial, que
representa uma ameaça ao emprego de trabalhadores no mundo inteiro. Por fim, as recentes descobertas no campo da engenharia
genética levantam sérias questões de ordem moral: as experiências com genes humanos não nos levariam a repetir em maior escala
as atrocidades cometidas durante a 2ª Grande Guerra nos laboratórios de Hitler? É impossível esquecer as profecias de Aldous Huxley
em seu "Admirável Mundo Novo".
O século XX criou as bombas atômicas e os computadores; esperemos que no próximo aprendamos a utilizar a tecnologia
para o bem-estar e a paz entre os homens".(Carlo Roberto)

- 60 -
8. A conjunção "embora" (ref. 1) poderia ser substituída por:

a) mas
b) talvez
c) todavia
d) sem que
e) ainda que

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


ANO NOVO, UMA VIDA NOVA
1 Hoje estamos ingressando em 1998. Chegamos mais perto do fim do século XX e do início do terceiro milênio. Estaremos
chegando mais perto de nós mesmos?
2 Há uma abissal distância entre o que somos e o que queremos ser. Um apetite do Absoluto e a consciência aguda de nossa
finitude. Olhamos para trás: a infância que resta na memória com sabor de paraíso perdido, a adolescência tecida em sonhos e
utopias, os propósitos altruístas. Agora, nas atuais circunstâncias, o salário exíguo num país tão caro; os filhos, sem projeto, apegados
à casa; os apetrechos eletrônicos que perenizam a criança que ainda existe em nós.
3 Em volta, a violência da paisagem urbana e nossa dificuldade de conectar efeitos e causas. Dentro do coração o medo de
quem vive numa cidade que lhe é hostil. Como se meninos de rua fossem cogumelos espontâneos e não frutos do darwinismo
econômico que segrega a maioria pobre e favorece a minoria abastada. O mesmo executivo que teme o sequestro e brada contra os
bandidos, abastece o crime ao consumir drogas.
4 Ano Novo, vida nova. A começar pelo "réveillon". Há o jeito velho de empanturrar-se de carnes e doces, encharcando-se de
bebidas alcoólicas, como se a alegria saísse do forno e a felicidade viesse engarrafada. 1Ou a opção de um momento de silêncio, um
gesto litúrgico, uma oração, a efusão de espíritos em abraços afetuosos.
5 No fundo da garganta, um travo. Vontade de remar contra a corrente e, enquanto tantos celebram a pós-modernidade, pedir
colo a Deus e resgatar boas coisas: uma oração em família, a leitura espiritual, a solidão entre matas, o gesto solidário que ameniza
a dor de um enfermo. Reencontrar, o ano que se inicia, a própria humanidade. Despir-nos do lobo voraz que na arena competitiva do
mercado nos faz estranhos a nós mesmos. Por que acelerar tanto, se teremos de parar no próximo sinal vermelho? Por que não
escrever ao patrocinador do programa de violência e de pornografia na TV, e comunicar nossa disposição de cancelar o consumo de
seus produtos? Por que não competir mais conosco em busca de melhores índices de virtudes e de valores morais, em vez de competir
com o próximo?
6 Ano novo de eleições. Olhemos a cidade. As obras que beneficiam certas empresas trazem proveito à maioria da população?
Melhoraram o transporte público, o serviço de saúde, a rede educacional, os sacolões? Nosso bairro tem um bom sistema sanitário,
as ruas são limpas, há áreas de lazer? Participamos do debate sobre o uso de verbas públicas? O político em quem votamos teve
desempenho satisfatório? Prestou contas de seu mandato?
7 Em política, tolerância é cumplicidade com maracutaias. Voto é delegação e, na verdadeira democracia, governa o povo
através de seus representantes e de mobilizações diretas junto ao poder público. Quanto mais cidadania, mais democracia.
8 Ano de nova qualidade de vida. De menos ansiedade e mais profundidade. Ano de comemorar 50 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. De celebrar dez anos, em janeiro, da ressurreição de Henfil e, em dezembro, de Chico Mendes.
9 Aceitar a proposta de Jesus a Nicodemos: nascer de novo. Mergulhar em nós, abrir espaço à presença do Inefável. Braços
e corações abertos também ao semelhante. Recriar-nos e reapropriar-nos da realidade circundante, livre de pasteurização que nos
massifica na mediocridade bovina de quem rumina hábitos mesquinhos, como se a vida fosse uma janela da qual contemplamos,
noite após noite, a realidade desfilar nos ilusórios devaneios de uma telenovela.
10 Feliz homem novo. Feliz mulher nova.
(Frei Beto. O Globo, 01 de janeiro de 1998. p.7.)

9. A conjunção "ou" (ref. 1) estabelece entre as duas últimas frases uma relação semântica de

a) exclusão.
b) adição.
c) explicação.
d) oposição.
e) conclusão.

10. MESMO SEM VER quem está do outro lado da linha, os fãs dos bate-papos virtuais viram amigos, namoram e alguns chegam
até a casar. ("Época", n0. 1, 25/05/98)

a) O segmento destacado constitui uma oração reduzida. Substitua-a por uma oração desenvolvida (introduzida por conjunção e com
o verbo no modo indicativo ou subjuntivo), sem produzir alteração do sentido.
b) Reescreva a oração "os fãs dos bate-papos virtuais viram amigos" sem mudar-lhe o sentido e sem provocar incorreção, apenas
substituindo o verbo.

11. Ao se discutirem as ideias expostas na assembleia, chegou-se à seguinte conclusão: pôr em confronto ESSAS IDEIAS com
outras menos polêmicas seria avaliar melhor o peso DESSAS IDEIAS, à luz do princípio geral que vem regendo AS MESMAS IDEIAS.

a) Transcreva o texto, substituindo as expressões destacadas por PRONOMES PESSOAIS que lhes sejam correspondentes e
efetuando as alterações necessárias.

b) Reescreva a oração AO SE DISCUTIREM AS IDEIAS EXPOSTAS NA ASSEMBLEIA, introduzindo-a pela conjunção adequada e
mantendo a correlação entre os tempos verbais.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar,
e cultivá-los é fácil:
simples questão de plantar;
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar;
as estiagens e as pragas
fazem-nos mais prosperar,
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita: recebe-se
na hora mesma de semear.
(João Cabral de Melo Neto, MORTE E VIDA SEVERINA)

12. Substituindo-se os dois-pontos por uma conjunção, em "(...) pela colheita: recebe-se (...)", mantém-se o sentido do texto APENAS
em "(...) pela colheita,

a) embora se receba (...)".


b) ou se recebe (...)".
c) ainda que se receba (...)".
d) já que se recebe (...)".
e) portanto se recebe (...)".

13. Considerando-se a relação lógica existente entre os dois segmentos dos provérbios adiante citados, o espaço pontilhado NÃO
poderá ser corretamente preenchido pela conjunção MAS, apenas em:

a) Morre o homem, (...) fica a fama.


b) Reino com novo rei (...) povo com nova lei.
c) Por fora bela viola, (...) por dentro pão bolorento.
d) Amigos, amigos! (...) negócios à parte.
e) A palavra é de prata, (...) o silêncio é de ouro.

14. Assinale a alternativa em que a mudança da posição da conjunção acarreta alteração semântica:

a) Está tudo bem com o jovem, contudo não tem o apoio da família. / Está tudo bem com o jovem; não tem, contudo, o apoio da
família.
b) Está tudo bem com o jovem, todavia não tem o apoio da família. / Está tudo bem com o jovem; não tem, todavia, o apoio da família.
c) Está tudo bem com o jovem, porém não tem o apoio da família. / Está tudo bem com o jovem; não tem, porém, o apoio da família.
d) Está tudo bem com o jovem, entretanto não tem o apoio da família. / Está tudo bem com o jovem; não tem, entretanto, o apoio da
família.
e) Está tudo bem com o jovem, pois tem o apoio da família. / Está tudo bem com o jovem; tem, pois, o apoio da família.

15. O mundo é grande

O mundo é grande e cabe


Nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
Na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
No breve espaço de beijar

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro. Nova Aguilar 1983.

Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e expressões linguísticas, como o uso
da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido
de

a) oposição.
b) comparação.
c) conclusão.
d) alternância.
e) finalidade.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Inicialmente, deve-se estudar a sociedade no seu aspecto exterior. Considerada sob esse ângulo, aparece como formada
por uma massa de população, com uma certa densidade, distribuída de uma certa maneira sobre o terreno, dispersada na zona rural
ou concentrada nas cidades etc.; ocupa um território mais ou menos extenso, situado de tal ou qual maneira com referência aos
oceanos e aos territórios dos povos vizinhos, cortado mais ou menos intensamente por cursos de água, por vias de comunicação de
todos os tipos, que estabelecem uma relação mais frouxa ou mais íntima entre os habitantes. Este território, suas dimensões, sua
configuração, a composição da população que se desloca sobre sua superfície são fatores naturalmente importantes da vida social;
este é o substrato e, tal como no indivíduo a vida psíquica varia segundo a composição anatômica do cérebro que a sustém, os
fenômenos coletivos variam segundo a constituição do substrato social. Existe portanto um lugar para uma ciência social que faça
essa anatomia; e visto que esta ciência tem por objeto a forma exterior e material da sociedade, propomos chamá-la de MORFOLOGIA
SOCIAL.
(DURKHEIM, p. 42. Organizador: José Albertino Rodrigues. Coordenador: Florestan Fernandes. São Paulo: Ática, 1993.)

16. Observe o seguinte fragmento do texto:

"Existe portanto um lugar para uma ciência social que faça essa anatomia...".

Nele, há uma conjunção conclusiva que:

a) Por estar intercalada na oração, deveria ter-se apresentado entre vírgulas.


b) Por estar no início da oração, deveria ter-se apresentado entre vírgulas.
c) Deveria ter sido antecedida apenas de uma vírgula.
d) Deveria ter sido seguida apenas de uma vírgula.
e) Não deveria mesmo ter sido antecedida nem seguida de vírgula.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


MARCELO BERABA - Desejo de matar

1 RIO DE JANEIRO - A TV Globo estreou mais uma série importada que enaltece os 3grupos de 14extermínio. Esta agora
chama-se "Angel" e conta a história de um vampiro bom que sai pela cidade eliminando vampiros maus. Para isso, o herói vampiro
conta com a ajuda de três pessoas, uma delas 7delegada de polícia.
2 Parece que esta série é apenas um 9tapa-buraco na programação da emissora, que nem fez muito alarde com o filme. Mas
não é a primeira vez que a TV explora o tema. Teve uma, "Justiça Cega", em que um juiz, inconformado com as amarras da lei, fazia
justiça com as próprias mãos.
3 O justiceiro passava o dia de toga examinando processos e à noite montava numa moto e saía matando os 8bandidos que
tinha sido obrigado a inocentar por falta de provas.
4 A mensagem desses filmes é sempre a mesma. Não é 13possível combater o 1crime com os instrumentos que a sociedade
coloca à disposição da 2Justiça e das polícias. É preciso montar polícias e 11justiças paralelas, que usem as mesmas armas e recursos
imorais dos criminosos.
5 "Angel" e seus vampiros permitem várias interpretações. Uma delas é simples: o combate ao crime já não é tarefa para
homens comuns. Os criminosos estão cada vez mais sofisticados. São seres mutantes. 5Juízes e policiais comuns, por mais bem
preparados que estejam, não dão conta do recado.
6 A série é 10lixo e não tem a menor importância. O problema é na vida real, quando as empresas acham normal buscar formas
de convivência com o 4narcotráfico. Quando o Estado acha normal que o 6crime organizado monte banquinhas de apostas no meio
das calçadas. E quando o 12sistema penitenciário ajuda a organização dos presos para evitar rebeliões.
7 Pensando bem, não 15há por que se espantar com "Angel" e similares se as deformações que procuram legitimar fazem parte
do nosso cotidiano.
(Folha de São Paulo, 9 de março de 2001.)

17. Analise as afirmações que são feitas a respeito do fragmento:

"E quando o sistema penitenciário ajuda a organização dos presos para evitar rebeliões".

I. A conjunção coordenativa acrescenta mais uma oração que está relacionada a "O problema é na vida real"
II. Se a palavra "ajuda" fosse substituída por PRESTA AJUDA, ocorreria um caso de crase antes de "organização".
III. Se a preposição "para" fosse substituída por uma locução prepositiva, poderia assumir a forma de A FIM DE.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) I, II e III.

- 63 -
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Palmada fora-da-lei
A maioria das pessoas encara com naturalidade o gesto de bater nos filhos, como se a violência física fosse um instrumento
legítimo (e até necessário) para a educação das crianças. É um hábito 1tão arraigado em nossa cultura 2que não é raro ouvirmos o
argumento de que "os filhos já não respeitam mais seu pais 3porque não apanham". 4Mas essa agressão não deveria ser vista com
tanta naturalidade, 5já que é uma violência proibida por lei em países como Finlândia, Suécia, Dinamarca, Chipre, Letônia, Áustria,
Croácia e Noruega. E eles não são uma exceção. Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Itália, Irlanda, Escócia, Israel e Bulgária estão
caminhando na mesma direção, criando leis para proibir os pais de bater em seus filhos.
No Brasil, antes da chegada dos portugueses, os índios não tinham o costume de castigar fisicamente as crianças. Diversos
relatos de padres no início da colonização revelam que, entre os índios, nem pai nem mãe agrediam seus filhos. Foram os jesuítas e
os capuchinhos que introduziram o castigo físico como forma de "disciplinar" as crianças no Brasil. Durante esses 500 anos, os
menores sofreram surras aplicadas com os mais inóspitos instrumentos: varas de marmelo e de açaí, rabo de tatu, chicote, cintos,
tamancos, chinelos, palmatórias e as próprias mãos paternas e maternas, cocres na cabeça, puxões de orelha, palmadas...
Além da covardia que está presente no ato de bater em alguém mais fraco, a violência não é, definitivamente, um bom
instrumento de disciplina. Ela perde o seu efeito a longo prazo e a criança, aos poucos, teme menos a agressão física. Com o tempo,
a tendência dos pais é ainda bater mais, na busca dos efeitos que haviam conseguido anteriormente. O resultado desse aumento da
violência pode trazer sequelas físicas e psicológicas permanentes para as crianças. Os filhos também vão se afastando gradualmente
de seus pais, pois a agressão física, em vez de fazer a criança pensar no que fez, desperta-lhe a raiva contra aquele que a agrediu.
Ao ser punida fisicamente, a criança tem a sua autoestima comprometida - passa a se enxergar como alguém que não tem
valor. Esse sentimento pode comprometer a imagem que faz de si pelo resto da vida, influenciando negativamente sua atitude durante
a adolescência até a vida profissional. Como a criança pode se sentir tranquila quando sua segurança depende de uma pessoa que
facilmente perde o controle e a agride? Ela também passa a omitir dos pais os seus erros, com medo da punição, e sente-se como se
tivesse pago por seu erro - e acredita que por isso pode cometê-lo novamente.
Enfim, não é preciso enumerar todos os problemas que são causados pela violência familiar. Bater nos filhos é um atestado
de fracasso dos pais, uma prova de que perderam o controle da situação. Por mais inofensiva que possa parecer uma "pequena
palmada", é importante saber que a força física empregada pelo adulto é necessariamente desproporcional. É verdade que os castigos
imoderados e cruéis estão proibidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990. Mas como definir
claramente o que é castigo imoderado? Há vários casos de crianças que morreram depois de ter sido castigadas "cruelmente". Embora
um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os dois tipos de atitude é exatamente o mesmo: utilização da força
e do poder.
Por trás da violência física está a ideia implícita de que os pais têm total direito sobre a vida e a integridade física da criança.
A maioria dos adultos com que tenho contato foram educados com surras e palmadas e reproduzem esse modelo, pois acreditam que
o tapa tem a capacidade de modificar comportamentos. A meu ver, a proibição por lei de qualquer castigo físico eliminaria a violência
familiar e ajudaria a formar pessoas melhores. A lei não precisa ter caráter punitivo (os pais não deveriam ser presos depois de uma
palmada, a história mostra que não se deve tratar violência com violência). Mas eles deveriam ser advertidos caso fossem reincidentes,
podendo até perder a posse da criança. Seriam obrigados a participar de um programa de educação, semelhante aos que já existem
na legislação de trânsito. Estamos conscientes de que a lei, sozinha, não seria suficiente para impedir o comportamento violento dos
pais. Somente um trabalho educativo poderia trazer a consciência de que o amor e o carinho são fundamentais para formarmos
cidadãos capazes, seres humanos de verdade.
(PARANHOS, C. Palmada fora-da-lei. Superinteressante, São Paulo, ano 15, n. 2, p. 90, fev. 2001.)

18. EMBORA um tapa e um espancamento sejam diferentes, o princípio que rege os dois tipos de atitude é exatamente o mesmo.
(50. parágrafo)

O sentido da frase acima permanecerá inalterado, mesmo se substituirmos a conjunção EMBORA pela locução conjuntiva
a) contanto que. b) desde que. c) uma vez que. d) por mais que.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


1É bastante comum a percepção cotidiana do luxo com um assunto leviano, supérfluo, símbolo de ostentação e poder de

uma sociedade perversa, em desvario e "desbussolada". O que é bastante curioso é que, por muitos milênios, o luxo foi percebido de
uma maneira bem diferente. Desde a era paleontológica até a Idade Moderna, o luxo tem servido de elemento para acalmar o homem.
Existem registros da época do homem das cavernas que apontam o luxo como sinal de identidade, da relação do homem com algo
maior do que ele, incompreensível e inapreensível, e que, mais tarde, muitos viriam a chamar de Deus.
7Nas festas primitivas, a diminuição das riquezas de uma tribo em função de oferendas a Deus SIGNIFICAVA ASSEGURAR

um novo ciclo de vida, um rejuvenescimento, uma recriação do mundo. 13No período medieval, quando uma cidade QUERIA
ADQUIRIR status, ERA EDIFICADA uma catedral a custo de muitas privações dos cidadãos. No início da Era Clássica, as classes
privilegiadas DOAVAM por testamento suas riquezas à Igreja, a fim de preparar a salvação eterna. 3Sacrifícios como esses ERAM
FEITOS em louvor a Deus, pois 15o luxo ERA a marca da aliança, a maneira que o homem encontrou de não se perder. O luxo
SITUAVA o homem em relação a Deus ou aos deuses.
16O luxo carregou um significado sagrado até a Revolução Francesa, quando se degenerou em batalha pela hierarquia social.

O luxo passou de Deus para âmbito da pura exibição burguesa, algo necessário para o confronto com o outro em uma base do "quem
pode mais". No entanto, se é inegável que as condutas de luxo são indissociáveis dos afrontamentos simbólicos entre os homens,
existem razões para acreditarmos que, diante de um mundo globalizado e da evaporação da hierarquia social em favor da multiplicação
em pequenos mundos, 11estamos recuperando o antigo sentido divino do luxo.
17Em um tempo de individualismo galopante, é inegável a necessidade que o indivíduo tem de se destacar da massa, de não

ser como o outro, de se sentir exceção. 4Como dizia Nietzsche, em "Além do Bem e do Mal", existe um prazer de se saber diferente.
8No entanto, a despeito da sobrevivência das motivações elitistas, tais motivações não são mais fundadas na ostentação social. 9Agora

fundam-se no sentimento da distância em relação ao outro, na diferença que se busca por obtenção de coisas raras, singulares, que
fazem um furo no comum e que definem uma pessoalidade singular, alheia às formas e aos padrões convencionais. Hoje, o luxo está
mais a serviço da promoção de uma imagem singular do que de uma imagem de classe.
- 64 -
O luxo está em via de "desinstitucionalização", paralelamente ao que está ocorrendo nas esferas da família, da sexualidade,
da religião, da moda e da política. A emergência de uma relação mais afetiva, mais sensível aos bens de luxo tem despertado novas
formas de consumo dispendioso. Tais formas estão mais no regime das emoções e das sensações pessoais do que em estratégias
distintivas de classe social. 14Hoje em dia, por exemplo, vendem-se mais cremes antirrugas do que maquiagem. O luxo passou a ser
outra coisa.
5O luxo continua sendo uma raridade. O que é raro nos dias de hoje? 2Segundo o sociólogo Domenico de Mais, primeiro, o

tempo. Nossa maior riqueza é o tempo. Segundo, a autonomia; terceiro, o silêncio; quarto, a beleza; e, quinto, o espaço. São esses
os cinco elementos do luxo. Ele acrescenta dizendo que o grande luxo é gostar de comer pêssegos e damascos sabendo que
12pêssegos e damascos são originários da China - e da China quando o Japão a invade e os rouba, levando-os para a Pérsia, que os

difunde por toda a Europa. Ao saber disso, a pessoa percebe um sabor inédito ao colocar um pêssego ou um damasco na boca.
Muito menos ligadas nas vias do olhar do outro, hoje em dia as práticas do luxo são muito mais dominadas pela busca de
saúde, do experencial, do sensitivo, do bem-estar emocional. Teatro das aparências, o luxo se põe a serviço do indivíduo em sua vida
íntima e em suas sensações subjetivas. 6Na nossa sociedade, o luxo é aquilo capaz de ressuscitar uma aura do sagrado e da tradição
formal, que fornece tonalidade cerimonial ao universo das coisas e que reinscreve a ritualidade no mundo desencantado,
"massimediatizado" da consumação.
10Nossa relação com o luxo é nossa necessidade, nesse momento, de nos subtrair à inconsistência do efêmero, e de tocar

em solo firme, sedimentado, em que o presente esteja carregado de uma referência durável. Por aí há uma surda necessidade
espiritual. Alguma coisa que paire sempre sobre os nossos desejos de gozar, como os deuses, das coisas mais raras e belas que
existem. Cada vez mais, haverá um luxo para cada um.
Jorge Forbes. Folha de S. Paulo, 23 de fevereiro de 2004.

19. Em: "... pêssegos e damascos são originários da China - E da China quando o Japão a invade e os rouba..." (ref. 12)
a conjunção E tem valor
a) adversativo.
b) aditivo.
c) conclusivo.
d) explicativo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara escutava à
porta da tenda, que estava atrás dele.
E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres.
Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já
velho? (...)
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha
falado.(www.bibliaonline.com.br, Gn 18, 10-12; 21, 2.)

20. Em
- Assim, POIS, riu-se Sara consigo...
- ... que Deus LHE tinha falado.
a conjunção POIS tem valor ........... e o pronome LHE refere-se ao termo ............
Os espaços devem ser preenchidos, respectivamente, com
a) conclusivo e Abraão.
b) explicativo e Sara.
c) causal e Sara.
d) explicativo e Abraão.
e) condicional e Abraão.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


TEXTO
(...) ANTES DE CONCLUIR ESTE CAPÍTULO, FUI À JANELA INDAGAR DA NOITE POR QUE RAZÃO OS SONHOS
HAVIAM DE SER ASSIM TÃO TÊNUES QUE SE ESGARÇAVAM AO MENOR ABRIR DE OLHOS OU VOLTAR DE CORPO, E NÃO
CONTINUAVAM MAIS. A NOITE NÃO ME RESPONDEU LOGO. ESTAVA DELICIOSAMENTE BELA, OS MORROS PALEJAVAM*
DE LUAR E O ESPAÇO MORRIA DE SILÊNCIO. COMO EU INSISTISSE, DECLAROU-ME QUE OS SONHOS JÁ NÃO
PERTENCIAM À SUA JURISDIÇÃO. Quando eles moravam na ilha que Luciano** lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os
fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram
aposentados, e os modernos moram no cérebro das pessoas. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a
ilha dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa
e dos Estados Unidos.
Era uma alusão às Filipinas. Pois que não amo a política, e ainda menos a política internacional, fechei a janela e vim acabar
este capítulo para ir dormir.
(Machado de Assis, Dom Casmurro. Adaptado)

* palejar = tornar-se pálido, empalidecer.


** Luciano= escritor grego, criador do diálogo satírico.

- 65 -
21. Com relação às classes de palavras, aponte o valor que:
a) a preposição DE assume no contexto das frases:
I. "... os morros palejavam de luar..."
II. "De manhã, com a fresca..."

b) a conjunção COMO assume no contexto das frases:


III. "Como eu insistisse..."
IV. "... como a dos amores..."

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia os títulos e subtítulos a seguir.

TEXTO I
Energias renováveis: o vento tem a resposta
As usinas eólicas são as que mais crescem no mundo – mas
falta ainda torná-las baratas.
No Brasil, o potencial é de dez Itaipus.
Revista Veja. 30 dez. 2009

TEXTO II
Propaganda: vende-se mobilização
Chocar com anúncios vale para divulgar uma marca, mas
serve também de ativismo em nome das boas causas
ambientais.
Revista Veja. 30 dez. 2009

22. Dadas as afirmações seguintes sobre os títulos e os subtítulos, qual opção está correta?

I. As informações, as quais o redator pretende destacar, estão após a conjunção “mas”.


II. O “mas”, como marcador de oposição é empregado porque o redator pretende chamar a atenção para a informação que contesta
a primeira.
III. Caso alterássemos a ordem das informações dos subtítulos (“Falta tornar as usinas eólicas as mais baratas, mas elas são as que
mais crescem no mundo.” / “Chocar com anuncio serve de ativismo em nome das boas causas ambientais, mas também vale para
divulgar uma marca.”), a informação que tem menos destaque passa a ser a principal.
IV. Os dois títulos e subtítulos apresentam em comum a linguagem, que é organizada em função do referencial.

a) I, II e IV. b) I, III e IV. c) I, II e III. d) III e IV. e) I, II, III e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Um dos maiores problemas das cidades grandes é a solidão. 1Quanto maior a cidade, 2maior o isolamento das 3pessoas de
todas as idades, principalmente as idosas, 4cujos filhos ou parentes partiram em busca de suas 5próprias 6vidas. Os filhos casam, os
parceiros viajam antes do tempo normal, 7ocorrem divórcios e 8separações 9pelo desgaste dos relacionamentos, e assim por diante.
Percebendo ou não, sofrendo ou não, um dia 10a gente se surpreende morando só.
Todos conhecem as vantagens e desvantagens da solidão. A liberdade, o direito de escolher o livro, o programa de televisão,
o filme, o que fazer nas horas vagas, sem o inconveniente de outras pessoas exercendo também o mesmo direito, num mesmo
ambiente, atrapalhando nosso desfrute. As desvantagens são incontáveis, talvez em maior número. Não ter com quem dividir os
sentimentos é o mais premente.
Uma colega de trabalho me relatou que o maior sonho de sua vida 11seria 12alugar alguns filmes e passar uns três dias em
casa. Marido e filha não permitem. Fiz a experiência, 13ou melhor, tentei. Uma coisa é ver um filme no cinema, em casa não tem graça.
E quando tentei a solidão experimental, permanecendo um fim de semana em casa, foi também a pior experiência. Caiu de vez a
14tese 15que tentava defender que a gente pode viver bem, sem depender de ninguém. Na verdade, a solidão é boa em algumas

circunstâncias, ruim em outras. Num determinado momento pode ser conveniente, 16mas já me convenci de que não deve ser adotada
como estilo de vida.

TINÉ, Flávio. Solidão experimental. Disponível em: <http://blogdotine.blogspot.com.br/2014/ 12/solidao-experimental.html>. Acesso


em: 25 ago. 2015. Adaptado.

23. Considerando-se os elementos que garantem a progressão textual, é correto afirmar:


a) O conectivo presente em “Quanto maior a cidade” (ref. 1) introduz uma ideia de comparação, que será concluída no fragmento
“maior o isolamento das pessoas de todas as idades.” (ref. 2).
b) O pronome relativo “cujos”, em “cujos filhos” (ref. 4), retoma a expressão “pessoas de todas as idades” (ref. 3), estabelecendo uma
ideia de posse.
c) A expressão “ou melhor” (ref. 13) dá progressão temática ao texto, indicando uma justificativa do que foi declarado anteriormente.
d) O elemento coesivo “que”, nas duas ocorrências, em “que tentava defender que a gente pode viver bem” (ref. 15), é um termo que
apresenta diferentes funções, na medida em que o primeiro retoma o substantivo “tese” (ref. 14), e o segundo introduz um
complemento verbal, permitindo concluir que as classes gramaticais a que um e outro pertencem são distintas.
e) A conjunção “mas” (ref. 16) introduz uma informação contrária, rejeitando a afirmação anterior sobre a importância da solidão no
cotidiano das pessoas que vivem na cidade grande.
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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Para que ninguém a quisesse Marina Colasanti
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar.
Antes disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos altos. Dos
armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à
passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquivava-se como
um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada
com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que
tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que
restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido numa gaveta,
esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
Do livro: Contos de Amor Rasgado

24. “E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.”
Assinale a alternativa em que a conjunção “ainda assim” é alterada por uma outra, alterando-lhe o sentido:

a) Mesmo assim b) No entanto c) Apesar disso d) Não obstante e) Por essa razão

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Responda à(s) questão(ões) com base no texto abaixo.
Uma revisão de dados recentes sobre a morte de línguas
Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século — uma taxa de
extinção que supera as estimativas mais pessimistas quanto à extinção de espécies biológicas. (...)
Segundo a Unesco, 96% da população mundial falam só 4% das línguas existentes. E apenas 4% da humanidade partilha
o restante dos idiomas, metade dos quais se encontra em perigo de extinção. Entre 20 e 30 idiomas desaparecem por ano — uma
média de uma língua a cada duas semanas. (...)
A perda de línguas raras é lamentável por várias razões. Em primeiro lugar, pelo interesse científico que despertam: algumas
questões básicas da linguística estão longe de estar inteiramente resolvidas. E essas línguas ajudam a saber quais elementos da
gramática e do vocabulário são realmente universais, isto é, resultantes das características do próprio cérebro humano.
A ciência também tenta reconstruir o percurso de antigas migrações, fazendo um levantamento de palavras emprestadas,
que ocorrem em línguas sem qualquer parentesco. Afinal, se línguas não aparentadas partilham palavras, então seus povos estiveram
em contato em algum momento.
Um comunicado do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz que "o desaparecimento de uma língua
e de seu contexto cultural equivale a queimar um livro único sobre a natureza". Afinal, cada povo tem um modo único de ver a vida.
Por exemplo, a palavra russa mir significa igualmente "aldeia", "mundo" e "paz". É que, como os aldeões russos da Idade Média tinham
de fugir para a floresta em tempos de guerra, a aldeia era para eles o próprio mundo, ao menos enquanto houvesse paz. Disponível
em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a-morte-anunciada-355517-1.asp> acesso em 28 set. 2015.

25. Na frase “Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século”, que aparece
no início do texto, o vocábulo “que” funciona como
a) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de predicativo do sujeito.
b) pronome relativo e estabelece uma ligação entre o verbo e a palavra “metade”.
c) conjunção integrante e introduz uma nova oração com valor de sujeito.
d) pronome e estabelece uma relação entre “linguistas” e o que sucede o pronome.
e) conjunção integrante e introduz uma oração com valor de objeto direto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Armas demais
A disparada da taxa de homicídios em Porto Alegre não deixa dúvida de que o descontrole da posse e do porte de armas é
um dos fatores preponderantes nas tragédias urbanas. Repete-se sempre em momentos como este o argumento de que não são as
armas que matam, mas as pessoas que as manipulam 1− essas pessoas, 2porém, têm suas ações facilitadas pelo porte legal ou ilegal
desses equipamentos. É 3evidente que o setor de segurança tem falhado, em todo o Brasil, em relação ao cumprimento das restrições
para que alguém seja proprietário de uma arma de fogo e, mais ainda, que possa portá-la sem constrangimentos.
Falham também as leis e a Justiça, quando pessoas armadas, flagradas nas ruas, não se submetem a punições mais
drásticas e voltam a desafiar as autoridades e a atormentar as comunidades. Constata-se que essa é uma realidade nacional, a partir
das estatísticas da violência. 4É assustador que, a cada meia hora, uma pessoa seja assassinada 5nas capitais brasileiras, 6que
concentram os piores índices de criminalidade. E não há mais dúvida de que as vítimas não são apenas delinquentes eliminados por
outros marginais, o que já seria uma barbárie, mas também pessoas comuns, muitas das quais atingidas por balas perdidas.
O debate sobre a desproteção da sociedade faz com que ressurja a hipótese de assegurar o amplo direito de defesa de todos
pelo acesso a armamentos. A solução, no entanto, 7certamente está muito mais em aprimorar as políticas e as ações de segurança e
exercer controle rigoroso sobre o uso ilegal e banalizado de armas, com repressão e punição, do que em transmitir ao cidadão a
sensação controversa de que sua defesa depende do arsenal particular que tiver em casa. Texto publicado no jornal Zero Hora, em
01 out. 2015. Disponível em http://zh.clicrbs.com.br/rs/ noticias/opiniao/noticia/2015/10/armas-demais-4859707.html. Acesso em 01
out. 2015. Adaptação.
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26. Analise as seguintes afirmações relativas ao emprego de alguns recursos linguísticos no texto.

I. A conjunção “porém” (referência 2) é empregada numa afirmação que tem força argumentativa maior do que a afirmação que
precede o travessão da referência 1.
II. Com o emprego do adjetivo “evidente” (referência 3) e do advérbio “certamente” (referência 7), o editorialista engaja-se fortemente
em seu discurso, fazendo afirmações categóricas.
III. A oração “que concentram os piores índices de criminalidade” (referência 6) é separada por vírgula da oração anterior, porque
restringe o referente “(n)as capitais brasileiras” (referência 5).

Sobre as proposições acima, pode-se afirmar que

a) apenas I está correta.


b) apenas II está correta.
c) apenas III está correta.
d) apenas I e II estão corretas.
e) apenas II e III estão corretas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


REFLETINDO SOBRE APROPRIAÇÃO CULTURAL
Os efeitos desta supervalorização da cultura europeia é a existência de uma hierarquia cultural

Já há algum tempo, acompanho esse debate sobre apropriação cultural e, lendo os artigos produzidos (a favor ou contra),
percebi que a maioria não consegue articular este debate com questões mais amplas: racismo e capitalismo.
É preciso aceitar que há apropriação cultural. E que esta apropriação não é resultado de uma troca cultural. E por quê? A
cultura predominante em nosso país é a ocidental que nos obriga a digerir a cultura europeia. Isso é bem problemático numa sociedade
marcada pela diversidade étnico-cultural. Os efeitos desta supervalorização da cultura europeia é a existência de uma hierarquia
cultural. E é aqui que racismo e capitalismo se articulam na apropriação da cultura do outro.
Ninguém no Brasil é proibido de usar um turbante, uma guia ou de pertencer a alguma religião de matriz africana. Porém, há
um olhar diferenciado quando negros ou negras usam um turbante, uma guia que os identificam com o candomblé em espaço público.
Diferente de brancos. Os primeiros são logo tachados de macumbeiros e os segundos, na moda, estilo e tendência étnica.
O cerne da questão se dá quando a cultura africana e afro-brasileira é apropriada por empresas e os protagonistas são
excluídos do processo. Outro problema da assimilação cultural é seu retorno. Esta retorna na forma de mercadoria esvaziada de
sentido. A filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro faz a provocação: “A etnia Maasai não quer ser reparada pelo mundo da moda
por apropriação, porque lucraram com sua cultura sem que eles recebessem por isso.” A relação entre capitalismo e racismo se
manifesta desta forma.
O debate sobre apropriação cultural propõe refletir sobre o uso da cultura africana e afro-brasileira por empresas sem a
presença e um retorno aos protagonistas. Para os que fazem este debate de forma ampla, há uma compreensão de que não é justo
atingir pessoas. Estas não possuem um conhecimento sobre tal problemática. É preciso atacar as empresas que usam e abusam da
cultura desses povos e a transformam em simples mercadoria.
Chamo atenção (finalizando) para o fato de alguns artigos que, sem entender ou por pura desonestidade intelectual,
procuram, ao combater os argumentos daqueles que escrevem sobre a apropriação cultural, desqualificar toda uma produção de
conhecimento forjada a partir de uma longa experiência no combate ao racismo. Penso que todo debate é válido, porém, sejamos
éticos. FERREIRA, H. Refletindo sobre apropriação cultural. Disponível em: < http://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/02/hilario-
ferreira-refletindo-sobre-apropriacao-cultural.html>. Acesso em: 09 maio 2017 (adaptado).

27. Com base nas estratégias lógico-discursivas mobilizadas no texto, considere as seguintes afirmativas.

I. No trecho “lendo os artigos produzidos (a favor ou contra), percebi que a maioria não consegue articular este debate” (parágrafo 1),
o verbo grifado institui uma oração subordinada reduzida de gerúndio e estabelece, com a oração seguinte, uma relação de
alternância.
II. Em “Porém, há um olhar diferenciado” (parágrafo 3), a conjunção destacada introduz uma ideia de oposição com relação ao período
anterior.
III. Em “O cerne da questão se dá quando a cultura africana e afro-brasileira é apropriada por empresas” (parágrafo 4), a conjunção
grifada introduz uma circunstância de tempo.
IV. No trecho “A etnia Maasai não quer ser reparada pelo mundo da moda por apropriação, porque lucraram com sua cultura sem que
eles recebessem por isso” (parágrafo 4), a expressão em destaque introduz a consequência do lucro do mundo da moda com a
cultura Maasai.
V. Em “Chamo atenção (finalizando) para o fato de alguns artigos que [...] procuram, ao combater os argumentos daqueles que
escrevem sobre a apropriação cultural, desqualificar toda uma produção de conhecimento forjada” (parágrafo 6), a expressão verbal
grifada introduz uma oração reduzida de infinitivo que estabelece uma relação de conformidade com a oração anterior.

Estão CORRETAS apenas as assertivas

a) I e III.
b) II e III.
c) III e V.
d) III, IV e V.
e) I, II e IV.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto a seguir para responder à(s) questão(ões).

O acesso 1à Educação é o ponto de partida


Mozart Neves
A Educação tem resultados profundos e abrangentes no desenvolvimento de uma sociedade: contribui para o crescimento
econômico do país, para a promoção da igualdade e bem-estar social, e também tem impactos decisivos na vida de cada um. Um
deles, por exemplo, é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita __________ alguns anos pelo economista Marcelo Neri
mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasileiro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo também mostrou que quem
completou o Ensino Fundamental tem 35% a mais de chances de ocupação que um analfabeto. Esse número sobe para 122% na
comparação com alguém que tenha o Ensino Médio e 387% com Ensino Superior.
Diante disso, o direito do acesso 2à Educação é o ponto de partida na formação de uma pessoa e, consequentemente, no
desenvolvimento e prosperidade de uma nação. 3Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil nas duas últimas décadas4, 5ainda
6há 7importantes desafios a superarmos no que tange esse direito. Se 8por um lado conseguimos universalizar o atendimento escolar

no Ensino Fundamental, temos 9ainda, por outro lado, 2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola. Isso corresponde
______ um país do tamanho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos)
e do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos).
Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam e nem trabalham,
a chamada 11“geração nem-nem”, para trazê-12los de volta __________ escola e, posteriormente, 13incluí-los no mundo do trabalho.
Isso é essencial para um país que passa por um bônus demográfico que se completará, 14segundo os especialistas, em 2025. O país,
para seu crescimento econômico e sua sustentabilidade, não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens.
No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matriculados nesse nível
de ensino. Em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE), o país precisará dobrar esse percentual nos próximos dez
anos, ou seja, chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da complexidade dessa meta, esse era o percentual previsto no PNE
que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que haja perda de qualidade com essa expansão – que a educação básica melhore
significativamente, tanto em acesso como em qualidade, tomando como referência os atuais índices de aprendizagem escolar.
O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir
decisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo seu Produto
Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mundial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu Índice de Desenvolvimento Humano
– IDH (o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quando o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do
ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça, não se conhece nada
melhor do que a Educação.Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacao-e-o-ponto-de-partida/>.Acesso em: 20 mar. 2017)

28. A locução conjuntiva não obstante (referência 3) e a conjunção portanto (referência 17) introduzem no texto, respectivamente,
uma ideia de caráter

a) concessivo e explicativo.
b) opositivo e explicativo.
c) concessivo e conclusivo.
d) explicativo e conclusivo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho do conto “A igreja do Diabo”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões) a seguir:

Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a 1cogula beneditina, como hábito de boa fama,
e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus
discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para
retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
– Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo
verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e
airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu 2desdouro, fazei dele um troféu e um 3lábaro,
e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao
pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito
de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a
luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a
diferença que a mãe era robusta, e a filha uma 4esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de
Aquiles, não haveria a Ilíada: “Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu”... [...] Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha
do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das
mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude
preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloquência, toda a nova ordem de
coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o
braço direito era a força; e concluía: Muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era
exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém,
mais rigorosa e profunda, foi a da 5venalidade. Um 6casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A
venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu

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sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não
podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência,
isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem
vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um
privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as
vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício
de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.
(Contos: uma antologia, 1998.)
1cogula: espécie de túnica larga, sem mangas, usada por certos religiosos.
2desdouro: descrédito, desonra.
3lábaro: estandarte, bandeira.
4esgalgado: comprido e estreito.
5venalidade: condição ou qualidade do que pode ser vendido.
6casuísta: pessoa que pratica o casuísmo (argumento fundamentado em raciocínio enganador ou falso).

29. “Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava
a suprir todas as outras, e ao próprio talento.” (4º parágrafo)

Os termos em destaque constituem, respectivamente,

a) um pronome e um artigo.
b) uma conjunção e um artigo.
c) um artigo e uma preposição.
d) um pronome e uma preposição.
e) um artigo e uma conjunção.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O FIM DO LIVRO DE PAPEL


Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam cada um o preço
de uma casa. Isso foi 3 décadas antes de a Bíblia de Gutenberg chegar às ruas. Depois dela, os livros deixaram de ser obras artesanais
exclusivas de milionários e viraram o que viraram. Graças a uma novidade: a prensa de tipos móveis, que era capaz de fazer milhares
de cópias no tempo que um monge levava para terminar um manuscrito.
Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá. Só que uma revolução que já acabou. Há 10 anos, pelo menos.
Quando a internet começou a crescer para valer, ficou claro que ela passaria uma borracha na história do papel impresso e começaria
outra.
Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava: nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as vendas dos livros.
Muito pelo contrário. O 2o negócio online que mais deu certo (depois do Google) é uma livraria, a Amazon. Se um extraterrestre
pousasse na Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por que o livro não morreu? Como uma plataforma que, se comparada à
internet, é tão arcaica quanto folhas de pergaminho ou tábuas de argila continua firme?
Você sabe por quê. Ler um livro inteiro no computador é insuportável. A melhor tecnologia para uma leitura profunda e
demorada continua sendo tinta preta em papel branco. Tudo embalado num pacote portátil e fácil de manusear. Igual à Bíblia de
Gutenberg. Isso sem falar em outro ingrediente: quem gosta de ler sente um afeto físico pelos livros. Curte tocar neles, sentir o fluxo
das páginas, exibir a estante cheia. Uma relação de fetiche. Amor até.
Mas esse amor só dura porque ainda não apareceu nada melhor que um livro para a atividade de ler um livro. Se aparecer…
Se aparecer, não: quando aparecer. Depois do CD, que já morreu, e do DVD, que está respirando com a ajuda de aparelhos, o livro
impresso é o próximo da lista.
VERSIGNASSI, Alexandre. O fim do livro de papel. Disponível em: <https://super.abril.com.br/tecnologia/o-fim-do-livro-de-papel/>.
Acesso em: 06 out. 2017.

30. Para estabelecer unidade de sentido, os textos são construídos com recursos que permitem articulação entre suas partes. Quanto
à ligação entre os parágrafos do texto, analise as afirmativas abaixo.
I. A relação entre o segundo e o primeiro parágrafos se estabelece por meio da elipse, pois o verbo “ser” em “Foi uma revolução sem
igual na história” retoma a criação da prensa de tipos móveis descrita no primeiro parágrafo.
II. O terceiro parágrafo é iniciado pela conjunção “mas”, que introduz uma ideia oposta à construída no parágrafo anterior: a superação
do papel impresso pelo crescimento da internet, sendo assim, há uma quebra de expectativa.
III. Com a afirmação “Você sabe por quê”, que inicia o quarto parágrafo, o autor mantém a continuidade textual por meio da resposta
às questões retóricas que finalizaram o terceiro parágrafo.
IV. Em “Mas esse amor só dura porque”, a conjunção grifada adiciona uma informação sobre o amor que as pessoas em geral têm
pelo livro de papel, introduzindo uma relação temporal entre o quarto e o quinto parágrafo.
V. A coesão entre os parágrafos do texto constituiu-se por meio de conjunções adversativas e temporais, estabelecendo relações de
oposição, de causa e consequência e de tempo.

Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas


a) I, III e V.
b) II, III e IV.
c) I, II e III.
d) II, III e V.
e) I, IV e V.
- 70 -
Gabarito:
Resposta da questão 1:
a) De oposição.
b) A ação de colocar água já se esgotou, mas a ação de murchar persiste no presente.

Resposta da questão 2:
a) se: subordinativa condicional
b) quando: subordinativa temporal
c) que: subordinativa consecutiva
d) quanto mais ... mais: subordinativa proporcional
e) como: subordinativa comparativa

Resposta da questão 3:
a) final
b) consecutiva
c) comparativa
d) consecutiva

Resposta da questão 4:
a) condicional
b) condicional
c) temporal
d) condicional

Resposta da questão 5:
a) segundo: subordinativa conformativa
b) que: subordinativa consecutiva
c) que: subordinativa comparativa
d) de modo que: subordinativa consecutiva
e) porque: subordinativa causal

Resposta da questão 6:
Tanto a conjunção adversativa "mas" quanto o futuro do presente do indicativo "Será" enfatizam a dúvida e o questionamento quanto
àquilo que as imagens "rebanho das nuvens" e "arado do espaço" expressam.
ou
A conjunção adversativa "mas" indica a oposição do eu-lírico à ideia expressa pela imagem formulada anteriormente, no verso 19. E
o futuro do presente do indicativo "Será" é empregado para marcar a dúvida quanto àquilo que a imagem apresentada no verso 22
representa.

Resposta da questão 7:[E]


Resposta da questão 8:[E]
Resposta da questão 9:[A]

Resposta da questão 10:


a) "EMBORA (AINDA QUE) NÃO VEJAM quem está do outro lado da linha..."
b) "...os fãs dos bate-papos virtuais TORNAM-SE amigos.

Resposta da questão 11:


a) pô-LAS em confronto

avaliar melhor o SEU peso ou


avaliar melhor o peso DELAS

que AS VEM regendo ou


que vem regendo-AS ou
que vem regendo A ELAS.

b) ASSIM QUE se discutiram ou


LOGO QUE se discutiram

Resposta da questão 12: [D]


Resposta da questão 13: [B]
Resposta da questão 14:[E]

Resposta da questão 15:[A]


Ao incluir termos de grande âmbito significativo (“mundo”, “mar” e “amor”) em espaços reduzidos (“janela”, “cama”, “colchão” e ação
de beijar) o poeta usa a conjunção coordenativa “e” com valor adversativo, estabelecendo oposição entre as orações.

Resposta da questão 16:[A]


Resposta da questão 17:[E]
- 71 -
Resposta da questão 18: [D]
Resposta da questão 19:[A]
Resposta da questão 20:[A]

Resposta da questão 21:


a) I. Em "...os morros palejavam de luar...", a preposição de tem valor causal.
II. Em "De manhã, com a fresca...", a preposição de indica tempo.

b) III. Em "como eu insistisse...", como é conjunção subordinativa causal, equivalente a porque, porquanto e introdutora de uma oração
subordinada adverbial causal.
IV. Em "...como a dos amores...", integra uma oração comparativa, sendo conjunção subordinativa comparativa.

Resposta da questão 22:[E]


Todas as alternativas estão corretas.
[I], [II] e [III]: a conjunção “mas” traz maior enfoque à oposição que constrói depois da oração principal. Dessa forma, as informações
que o redator pretende destacar encontram-se após o “mas”.
[IV]: os dois títulos e subtítulos apelam para uma função referencial da linguagem, isto é, que privilegia a informação transmitida. Esse
tipo de linguagem é típica do jornalismo, uma vez que o objetivo desse texto é informar.

Resposta da questão 23:[D]


[A] Incorreta: o conectivo introduz a ideia de proporção.
[B] Incorreta: o pronome “cujos” retoma, na verdade, “as idosas” e, assim, faz referência aos filhos das pessoas idosas, estabelecendo
uma relação de posse.
[C] Incorreta: a expressão “ou melhor” aparece no texto como um mecanismo para corrigir algo que foi dito anteriormente. Assim,
quando o autor diz que fez a experiência e utiliza o “ou melhor” para depois dizer que “tentou”, ele está corrigindo-se, mostrando
que, na verdade, não conseguiu realizar a experiência, mas tentou.
[E] Incorreta: a conjunção “mas” estabelece uma relação de oposição de ideias. No caso, o autor afirma que a solidão é boa em alguns
casos, MAS/NO ENTANTO, ele está convencido que não deve ser adotada como estilo de vida. Assim, ele coloca que embora a
solidão possa fazer parte da vida das pessoas em alguns casos específicos, ele acredita que não deve ser sempre presente.

Resposta da questão 24:[E]


As conjunções “ainda assim”, “mesmo assim”, “no entanto”, “apesar disso”, “não obstante” têm sentido de adversidade, oposição, ao
passo que a conjunção “por essa razão” tem sentido de causa.

Resposta da questão 25:[E]


A conjunção integrante, diferentemente do pronome relativo, não substitui um nome, mas introduz uma oração subordinada. No caso
da oração destacada, tem-se uma estrutura de Sujeito (linguistas) – Verbo (preveem) – conjunção integrante (que) – Oração
subordinada (metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século). O verbo “preveem” exige um objeto
direto, uma vez que quem prevê, prevê alguma coisa. É a oração subordinada que cumprirá essa função. Tem-se, portanto, uma
oração subordinada objetiva direta, introduzida pela conjunção integrante “que”.

Resposta da questão 26:[D]


É incorreta a afirmação [III]: a oração “que concentram os piores índices de criminalidade” (referência 6) é separada por vírgula da
oração anterior por ser uma oração subordinada adjetiva explicativa.

Resposta da questão 27:[B]


[I] Incorreta: trata-se de uma oração subordinada adverbial reduzida de gerúndio, que estabelece uma relação causal.
[IV] Incorreta: a expressão destacada introduz uma explicação do por que a etnia Maasai não quer ser reparada pelo mundo da moda
por apropriação.
[V] Incorreta: a expressão verbal grifada introduz uma oração subordinada adverbial reduzida de infinitivo, estabelecendo uma relação
temporal.

Resposta da questão 28:[C]


A locução conjuntiva “não obstante” pode ser substituída por “embora”, tendo um significado de concessão. Já a conjunção “portanto”
é conclusiva, podendo ser substituída por “dessa forma”, “por isso”, “logo”.

Resposta da questão 29:[C]


É correta a opção [C], pois, na primeira ocorrência, o termo “a” exerce função morfológica de artigo definido por designar um
substantivo (“virtude”) e na segunda, preposição, exigida pela regência do verbo “chegar”.

Resposta da questão 30:[C]


[IV] Incorreta. A conjunção “mas” é responsável por introduzir uma ideia que vai em direção oposta à apresentada anteriormente.
Assim, apresenta um contraponto ao amor mencionado anteriormente, mostrando que sua duração pode acabar em breve.
[V] Incorreta. Entre os parágrafos só vemos o uso de conjunções adversativas.

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SINTAXE

TERMOS DA ORAÇÃO
Termos essenciais
1. SUJEITO – o ser sobre o qual se faz uma declaração e concorda com o verbo.
Classificação dos Sujeitos:
a) Simples – quando o sujeito tem um só núcleo.
Ex.: “O Sertão está em toda parte.” (Guimarães Rosa)

b) Composto – quando há mais de um núcleo.


Ex.: Você e eu sabíamos daquela situação.
Estavam na sala a menina e o rapaz loiro.

c) Oculto (desinencial) – é aquele que não está materialmente expresso, mas pode ser identificado pela desinência verbal.
Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.” (Chico Buarque)

d) Indeterminado – quando não podemos ou não queremos determinar o ser sobre o qual se fala. Existem dois modos de
indeterminar o sujeito – colocando-o na 3ª pessoa do plural sem o referente ou verbo(VTT, VL ou VI) na 3 ª pessoa do singular
com o se(índice de indeterminação do sujeito).
Ex.: Contaram segredos para mim.
Precisa-se de empregados.
Vive-se bem em Paris.
Era-se feliz aqui.

e) Oração sem sujeito – quando só nos interessa o processo verbal em si, pois não o atribuímos a nenhum ser (com Verbos
Impessoais). Os casos de oração sem sujeito são:
 com verbos ou expressões que denotem fenômenos da natureza:
Ex.: Faz frio.
 com o verbo haver no sentido de existir:
Ex.: “Ainda há jasmins, ainda há rosas.” (Ribeiro Couto)
 com os verbos haver, fazer, ir, estar e ser indicando tempo decorrido ou clima;
Ex.: “Foi há muito tempo.” (Manuel Bandeira)
Está frio aqui.
São duas horas da manhã.
 com o verbo TRATAR + SE:
Trata-se de assuntos sérios.

2. PREDICADO – é tudo aquilo que se diz do sujeito.


Classificação do Predicado:
a) Nominal – formado por um verbo de ligação + um predicativo do sujeito. A importância recai não no verbo, mas no
predicativo.
Ex.: “Eu sou a tua sombra.” (N. Piñon)
O menino permaneceu calado.

b) Verbal – tem como núcleo o verbo, pois sobre ele recai a importância do que se declara. (Verbo forte e sem predicativo)
Ex.: Vou ficar em casa.
Célia entregou o presente a seu irmão.

c) Verbo-Nominal – quando há dois núcleos significativos no predicado. (Verbo forte e predicativo)


Ex.: “Paulo riu despreocupado.” (A. Peixoto)
O juiz julgou o réu culpado.

Termos Integrantes
3. ADJUNTO ADNOMINAL – termo de valor adjetivo que especifica, qualifica, determina ou quantifica um substantivo,
qualquer que seja a função deste.
As seguintes classes geralmente exercem função de adjunto:

 Artigo (definido ou indefinido):


Ex.: “O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida.” (Clarice Lispector)
 Adjetivo:
Ex.: O maior benefício é a vida.
 Pronome adjetivo:
Ex.: Minha namorada está na janela.
 Numeral adjetivo:
Ex.: Duas meninas chegaram atrasadas.

OBS.: O adjunto pode também ser representado por uma oração adjetiva:
Ex.: Era uma menina que tinha os cabelos loiros.
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4. COMPLEMENTO NOMINAL – são os termos que complementam o nome (Substantivo abstrato passivo, adjetivo ou
advérbio). O complemento vem sempre acompanhado de preposição.
Ex.: Estou fazendo a leitura do texto.
Ela tinha necessidade de comida.
Eu estou atento aos seus informes.
Moro perto da farmácia.

OBS: Para diferenciar o complemento do adjunto adnominal:


- o adjunto estabelece função ativa em relação ao nome, enquanto o complemento estabelece uma relação de passividade;
- o adjunto pode, na maioria das vezes, ser substituído por um adjetivo;
- o complemento não aparece depois de substantivos concretos:

 A natureza é uma esplêndida criação de Deus. (criação divina (Deus cria - ativo) - adjunto adnominal)
 A criação do jardim se deu de forma equivocada. (complemento nominal(jardim é criado - passivo))

5. AGENTE DA PASSIVA – é o termo que designa o ser que pratica a ação sofrida pelo sujeito. Normalmente vem introduzido
pela preposição por ou de.
Ex.: “Um jornal é lido por muita gente.” (Carlos Drummond)
O homem foi mordido pelo cachorro.
“Ele dela é ignorado.” (Fernando Pessoa)

6. COMPLEMENTO VERBAL – são os termos que acompanham o verbo. Podem ser de dois tipos:
Objeto Direto - quando o verbo for transitivo direto, ou seja, quando não está acompanhado de preposição.
Ex.: “Não quero dinheiro.” (Tim Maia)
“Os jornais nada publicaram.” (Carlos Drummond)
OBS.: Qualquer classe gramatical pode exercer a função de objeto, passando então a ser considerada um substantivo
formado por derivação imprópria.
Ex.: “Eu só quero amar.” (Tim Maia)
amar – verbo substantivado por exercer função de objeto

“O outrora compúnhamos.” (Fernando Pessoa)


outrora – advérbio substantivado por exercer função de objeto

Objeto direto preposicionado


Completa o sentido de um verbo transitivo direto, com o uso de uma preposição não regida pelo verbo. Alguns casos deste emprego
são indicados pela gramática:
 com as formas tônicas dos pronomes pessoais - Ele conquistou a mim com sabedoria.
 com o pronome quem com antecedente expresso - Perdi meu pai a quem muito amava.
 com o nome Deus - Ame a Deus.
 quando se coordenam pronome pessoal átono e substantivo - Ele o esperava e aos convidados.
 com verbo trans. direto usado impessoalmente + se - Aos pais ama-se com carinho
 para evitar ambiguidade - "Vence o mal ao remédio" (A. Ferreira)
 com função partitiva – Comi do bolo.

Objeto Indireto – quando o verbo for transitivo indireto, ou seja, quando está acompanhado de proposição.
Ex.: Preciso de você amanhã.
“Precisava de um amigo (...)” (Carlos Drummond)

OBS.: Alguns verbos podem ter dupla transitividade.


Ex.: Ela deu um presente (objeto direto) à sua mãe (objeto indireto).

OBS.: Há também os objetos pleonásticos.


Ex.: Sua carta, releio-a sempre com prazer. (objeto direto pleonástico)
Aos amigos, dedica-lhes o melhor de si. (objeto indireto pleonástico)

OBS.: Há também os objetos internos.


Ex.: Dancei uma dança maravilhosa.
Combati o bom combate.

7. PREDICATIVO DO OBJETO – termo que modifica o objeto direto ou indireto.


Ex.: “Uns a nomeiam primavera.” (Carlos Drummond)
a – objeto direto
primavera – predicativo do objeto

OBS.: Para não confundir com o adjunto adnominal:


Ele julgou o menino muito novo para tanta responsabilidade.
muito novo - predicativo do objeto (característica momentânea com verbo de ligação oculto)
Ele julgou o menino loiro.
loiro – adjunto adnominal (adjetivo que qualifica um estado permanente do objeto)
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Termos acessórios
8. APOSTO – termo de caráter nominal que amplia, desenvolve, resume, especifica ou explica um outro termo.
 Explicativo: Eles, os pobres desesperados, tinham uma euforia de fantoches. (F. Namora)
 Enumerativo: Suas reivindicações incluíam muitas coisas: melhor salário, melhores condições de trabalho e assistência
médica extensiva a familiares.
 Resumitivo ou recapitulativo: Vida digna, cidadania plena, igualdade de oportunidades - tudo isso está na base de um
país melhor.
 Especificativo: O rio Tietê atravessa o Estado de São Paulo.

9. VOCATIVO – termo que serve para invocar, chamar ou nomear alguém ou alguma coisa.
Ex.: “Dizei-me vós, Senhor Deus!” (Castro Alves)

10. ADJUNTO ADVERBIAL – termo de valor adverbial que denota circunstância do fato expresso pelo verbo.
Ex.: Aqui não passa ninguém. Ela estava em casa.

EXERCÍCIOS
1- No texto “Na verdade, todo tipo de texto, em maior ou menor grau, contém o elemento persuasivo”, o sujeito classifica-se como:

a) Composto
b) indeterminado
c) simples
d) inexistente

2. O termo sublinhado não é sujeito em:

a) Se o leitor conhece um homem forte, mas muito forte mesmo, imagine uma pessoa duas vezes mais forte.
b) ... e encaminha-lo ao hotel, onde lhe fora reservado um apartamento.
c) Que o Santa Cruz me perdoe, mas era um caso de vida ou de morte.
d) Ora, se meu amigo de fato era meio ruivo, seu jeitão era mineiro.
e) Ninguém está com relógio nesta casa.

3. “Será que apenas os hermetismos pascoais / Os tons, mil tons e seus dons geniais / Nos salvam, nos salvarão dessas trevas / E
nada mais?”
É correto afirmar que, no texto acima, há em relação ao verbo salvar:

a) sujeito simples (os hermetismos pascoais – referindo-se a Hermeto Pascoal) acompanhado de uma sequencia de apostos.
b) sujeito composto (hermetismos pascoais – e mil tons – referindo-se o último a Milton Nascimento) acompanhado de uma sequência
de apostos.
c) sujeito composto expresso nos dois primeiros versos
d) sujeito elíptico representado na desinência de 3ª pessoa do plural (salvam)

4 - Marque a alternativa em que o pronome oblíquo destacado exerce função sintática de objeto indireto.

a) Minhas ideias revolucionárias te incomodam bastante.


b) Ele passou a enxergar-se como o culpado de tudo.
c) Faltou-nos seriedade no momento em que fazíamos o trabalho
d) Ouçam-me com atenção, que tenho informações importantes a dar.

5. Há complemento nominal em:

a) Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.


b) É certa a sua possibilidade de perda da vida.
c) Ela estava na janela do edifício.
d) ... sem saber ao certo se gostávamos dele.
e) Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho de cinema.

6. Diz-se impessoal o verbo que não tem sujeito. Ocorre verbo impessoal em:

a) Em São Paulo, nasceu também uma criança assim.


b) Vamos supor que tenha nascido às cinco da tarde.
c) Há esperança de bonde em todos os postes.
d) Ainda estou dentro do quarto fechado.

7. É adjunto adnominal o termo sublinhado em:

a) Lá em baixo todo o mundo carrega o coração dentro do peito.


b) Tinha o coração fora do peito, como se fora um coração postiço.
c) Menino do coração fora do peito, você devia cá fora receber o beijo da madrugada.
d) Se ele ficar fora do peito é logo ferido e morto.
e) O anjinho está no céu.
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8. Considerando a predicação verbal, relacione as colunas e assinale a alternativa com a numeração em sequencia correta.

(1) nominal (2)verbal (3)verbo-nominal

( ) “Os garimpeiros assistiam à cena em silêncio”


( ) Tia Quiquinha continua de cama há alguns meses
( ) Durante a reunião, todos lhe chamaram de charlatão.

a) 1 – 3 – 2
b) 2 – 1 – 3
c) 2 – 2 – 1
d )1 – 2 – 3

9. Assinale a alternativa em que há vocativo:

a) “Uniu-se à melhor das noivas, a Igreja, e oxalá vocês se amem tanto.”


b) Um dia, meu caro colega, não serás mais injustiçado.
c) Continuem sendo lidos os poemas de Carlos Drummond de Andrade, ilustre poeta brasileiro.
d) Meu maior sonho, uma casa nas montanhas, evaporou-se com a crise econômica.

10. “E esta reflexão – uma das mais profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas – me consolou do malefício, e me
reconciliação comigo mesmo...”
Os termos sublinhados, no texto acima, exercem, respectivamente, a função de:

a) complemento nominal e objeto indireto


b) objeto indireto e objeto indireto
c) adjunto adnominal e objeto indireto
d) complemento nominal e adjunto adnominal

11. Assinale a alternativa em que o termo ou expressão em destaque exerce a função de agente da passiva.

a) O poema é composto de dizeres populares


b) Discutiram-se quase todos os assuntos esta semana
c) Dou-me o direito de silenciar neste momento
d) O sindicato havia convocado uma greve este mês

12. I – Exaustos, os alunos marchavam ao cair da tarde


II – Os alunos exaustos marchavam ao cair da tarde
Os termos sublinhados acima exercem a função, respectivamente de:

a) predicativo do sujeito e adjunto adnominal


b) adjunto adnominal e predicativo do sujeito
c) adjunto adverbial e predicativo do sujeito
d) predicativo do sujeito e predicativo do sujeito

13. Identifique a alternativa que não contém predicativo do sujeito.

a) Encantada, afastou-se a garota, suavemente.


b) A encantada garota, suavemente, afastou-se.
c) Afastou-se suavemente, encantada, a garota.
d) Suavemente, encantada, afastou-se a garota.

14. O termo destacado em “O empresário julgou inadequadas as propostas dos funcionários.” classifica-se gramaticalmente como:

a) Sujeito
b) predicativo do sujeito
c) predicativo do objeto
d) complemento nominal

15. Nas frases abaixo, os predicados classificam-se, respectivamente, como:

I – O político nomeou seu filho secretário de finanças.


II – Mário, sua prova está exemplar.
III – Valdirene ficou em Brasília nas férias do ano passado.

a) verbo-nominal – verbal – nominal


b) verbo-nominal – nominal – verbal
c) nominal – verbo-nominal – verbal
d)verbal – nominal – verbo-nominal

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16. Numa oração, o predicado pode ser:
1)nominal, 2)verbal, 3)verbo-nominal
Use esse código nos parênteses e assinale a série obtida.
( ) Para mim esta sua ideia é novidade.
( ) Ele quer tornar a língua portuguesa odiosa.
( ) A recepção do Aston vivia sempre cheia de gente.
( ) As palavras significam pouco.
( ) Alguém já me escreveu.

a) 1 – 3 – 1 – 2 – 1
b) 3 – 1 – 1 – 2 – 2
c) 1 – 3 – 1 – 2 – 2
d) 2 – 3 – 1 – 1 – 2
e) 3 – 2 – 1 – 1 – 2

17. Nas orações: “O pavão é um arco-íris de plumas.” e


“De água e luz ele fez seu esplendor.”
temos, respectivamente:

(A) dois predicados nominais, cujos predicativos dos sujeitos são “arco-íris” e “esplendor”.
(B) um predicado nominal, cujo predicativo do sujeito é “arco-íris”, e um predicado verbo-nominal, cujo predicativo do objeto é
“esplendor”.
(C) um predicado nominal, cujo predicativo do sujeito é “arco-íris” e um predicado verbal, cujo objeto direto é “esplendor”.
(D) dois predicados verbais, cujos objetos diretos são “arco-íris” e “esplendor”.
(E) um predicado nominal, cujo verbo é de ligação, e um predicado verbal, cujo verbo é intransitivo.

18. Em “As águias e os astros amam esta região azul, vivem nesta região azul, palpitam nesta região azul.” , há:

(A) um predicado verbal e dois verbo-nominais, havendo, nos dois últimos, o complemento e o predicativo do objeto.
(B) três predicados verbais, sendo que, no primeiro, o complemento é o objeto direto e, nos dois últimos, o objeto indireto.
(C) três predicados verbo-nominais, havendo, no último, o complemento e o predicativo do objeto.
(D) três predicados verbais, havendo, em apenas um deles, o complemento objeto direto.
(E) três predicados verbais formados por verbos intransitivos.

19. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas


De um povo heroico o brado retumbante...”
O sujeito com que se inicia o Hino Nacional é:

(A) indeterminado
(B) um povo heroico;
(C) as margens plácidas
(D) do Ipiranga
(E) o brado retumbante

20. Não está corretamente analisado o seguinte termo em destaque:

(A) "Ser livre é ampliar a órbita da vida." (adjunto adnominal)


(B) "Por ela se tem até morrido com alegria e felicidade." (adjunto adverbial)
(C) "Ser livre é renunciar à própria condição humana." (objeto indireto)
(D) "Deve existir nos homens um sentimento profundo." (objeto direto)
(E) "Ser livre - como dizia o famoso conselheiro - é não ser escravo." (sujeito)

21. Assinale a alternativa que contenha, respectivamente, um pronome pessoal do caso reto funcionando como sujeito e um pronome
pessoal do caso oblíquo funcionando como objeto direto.

(A) Eu comecei a reforma da Natureza por este passarinho.


(B) E mais uma vez me convenci da "tortura" destas coisas.
(C) Todos a ensinavam a respeitar a Natureza.
(D) Ela os ensina a fazer os ninhos nas árvores.
(E) Ela não convencia ninguém disso.

22. "Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada


E triste, e triste e fatigado eu vinha." (Olavo Bilac)
Na passagem acima, os termos destacados exercem função sintática de:

(A) predicativo do sujeito acompanhando um predicado verbo-nominal


(B) predicativo do sujeito acompanhando um predicado verbal
(C) predicativo do sujeito acompanhando um predicado nominal
(D) sujeito do verbo da oração principal
(E) adjunto adnominal do sujeito “eu”

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23. Observar as seguintes orações:
I. Rosária continua preocupada como preço da carne.
II. Zoraide andava, andava e andava pelas alamedas.
III. Encontrei-a dormindo.
Respectivamente, os predicados são:

(A) nominal, verbo-nominal, verbal.


(B) nominal, verbal, verbo-nominal.
(C) verbo-nominal, verbal, nominal.
(D) verbo-nominal, nominal, verbal.
(E) verbal, verbo-nominal, nominal.

24.
I. Coloquem os móveis no lugar.
II. Enviamos cartas a vocês.
III. Refez a lição que estava errada?
Substituindo as palavras destacadas por pronomes, teremos:

(A) I. Coloquem-nos; II. Enviamos-lhes; III. Refê-la.


(B) I. Coloquem-nos; II. Enviamo-lhes; III. Refê-la.
(C) I. Coloquem-os; II. Enviamo-las; III. Refez-lhe.
(D) I. Coloquem-os; II. Enviamos-lhes; III. Refi-la.
(E) I. Coloque-os; II. Enviamo-los; III. Refez-lhe.
25. Nas seguintes orações:
"Pede-se silêncio."
"A caverna anoitecia aos poucos."
"Fazia um calor tremendo naquela tarde."
o sujeito se classifica respectivamente como:
(A) indeterminado, inexistente, simples.
(B) oculto, simples, inexistente.
(C) inexistente, inexistente, inexistente.
(D) oculto, inexistente, simples.
(E) simples, simples, inexistente.

26. Assinale a alternativa em que aparece um predicado verbo-nominal.


(A) Os viajantes chegaram cedo ao destino.
(B) Demitiram o secretário da instituição.
(C) Nomearam as novas ruas da cidade.
(D) Compareceram todos atrasados à reunião.
(E) Estava irritado com as brincadeiras.

PERÍODO COMPOSTO – ESTUDO DAS ORAÇÕES

ORAÇÕES COORDENADAS
Dois são os processos de estruturação fraseológica, ou seja, as orações se relacionam umas com as outras e se interligam
num período através dos mecanismos coordenativos ou subordinativos. A oração coordenada é aquela que se liga a outra oração
da mesma natureza sintática. Num período composto por coordenação, as orações são independentes. Elas podem ser sindéticas
(quando a outras se prendem por conjunções), ou assindéticas (quando não se prendem a outras por conectivo).

Or. Coord.
Função Exemplos
Sindética

Aditiva Expressa ligação ou adição de afirmações Levantou-se e saiu.

Estabelece uma oposição ao que foi afirmado na Eu gostaria de ajudar, mas não sei como.
Adversativa oração anterior Ela é inteligente, porém falta-lhe humor.

Estabelece uma alternância ou alternativa em Ou vai, ou racha!


Alternativa relação à oração anterior Ora chove, ora faz sol.
Vai sair, quer queira, quer não.

Indica uma conclusão a partir do conteúdo da Penso, logo existo.


Conclusiva primeira oração É o mais rápido, portanto vai à frente.

Explica ou justificam o conteúdo da primeira oração Acende uma luz, que não se vê nada.
Explicativa O cão deve ter parado, pois o vi mais.

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EXERCÍCIOS

1. Relacione as orações coordenadas por meio de conjunções:

a) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram.


b) Não durma sem cobertor. A noite está fria.
c) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.

2. (Univ. Fed. Santa Maria – RS) – Assinale a sequência de conjunções que estabelecem, entre as orações de cada item, uma correta
relação de sentido.

1. Correu demais, ... caiu.


2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.
3. A matéria perece, ... a alma é imortal.
4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com detalhes.
5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.

a) porque, todavia, portanto, logo, entretanto


b) por isso, porque, mas, portanto, que
c) logo, porém, pois, porque, mas
d) porém, pois, logo, todavia, porque
e) entretanto, que, porque, pois, portanto

3. Reúna as três orações em um período composto por coordenação, usando conjunções adequadas.
Os dias já eram quentes.
A água do mar ainda estava fria.
As praias permaneciam desertas.

4. CLASSIFIQUE AS ORAÇÕES DESTACADAS:

a) Espere um pouco, pois tenho um recado para você. ___________________________________________________________

b) Ele fez um ótimo trabalho; merece, pois, uma boa recompensa. __________________________________________________

c) Entre logo na sala, pois o filme está começando. ______________________________________________________________

d) Fique tranquilo que eu cuido desse problema. ________________________________________________________________

e) Não falte à reunião, pois preciso falar com você. _______________________________________________________________

f) Anoitece, o frio aumenta e nós vamos para casa. ______________________________________________________________

g) Estude seriamente ou desista do curso. _____________________________________________________________________

h) Desesperado, o rapaz ajoelhou-se e pediu perdão. ____________________________________________________________

i) Abri o livro, mas não consegui concentrar-me na leitura.________________________________________________________

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS


As orações adverbiais expressam circunstâncias: finalidade, conformidade ou modo, comparação, proporção, tempo,
condição, concessão, causa, consequência. Exercem, assim, a função de adjunto adverbial. São introduzidas por conjunções
subordinativas.
Classificam-se como orações subordinadas adverbiais:

FINAIS (= finalidade : a fim de que, para que, porque, que, a fim de ...)
ex.: Parei-o a fim de que me desse notícias do irmão.

CONFORMATIVAS (= conformidade : conforme, segundo, consoante, como = conforme...)


ex.: Houve um eclipse conforme previra o astrônomo.

PROPORCIONAIS ( = proporcionalidade : à medida que, à proporção que, (quanto mais) ...tanto mais, ao passo que ...)
ex.: O ruído aumentava à proporção que entrávamos na mata.

COMPARATIVAS (= comparação : como, (tal)...qual, (tanto)...quanto, (mais)...que, (menos)...que, etc)


ex.: Eles voavam como pássaros.

TEMPORAIS (= tempo : quando, logo que, assim que, depois que, enquanto, apenas, antes que, até que, desde que, etc)
ex.: Eles dormiam enquanto nós trabalhávamos.
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CONDICIONAIS (= condição : se, desde que, caso, salvo se, exceto se, contanto que, sem que, a menos que, etc.)
ex.: Mariana irá à festa se seus pais permitirem.

CONCESSIVAS (= concessão : embora, ainda que, mesmo que, por mais que, por menos que, conquanto, apesar de que, se bem
que, etc.)
ex.: O gerente não autorizou a viagem embora soubesse da sua necessidade.

CAUSAIS (= causa : porque, visto que, já que, uma vez que, porquanto, como = porque, etc.)
ex.: Não foi à praia porque estava chovendo.

CONSECUTIVAS (= consequência : (tanto)...que, (tão) ... que, (tal)... que, (tamanho) ...que, etc.)
ex.:A criança gritou tanto que ficou rouco.

COMPLETE AS LACUNAS COM A CONJUNÇÃO QUE EXPRESSE NEXO LÓGICO ENTRE AS ORAÇÕES, CLASSIFICANDO-AS:

1. Os novos candidatos seriam admitidos, _______________________________não tivessem encaminhado os documentos exigidos


para a inscrição.
2. ________________________________ seja complexa e trabalhosa a pesquisa, não desanimaremos.
3. O novo carro passou por todos os testes ________________________________ fosse colocado imediatamente no mercado.
4. ________________________________ temos tempo, façamos o bem.
5. Não pudemos concluir nenhum acordo, ________________________________ os demais herdeiros pretendiam ludibriar-nos.
6. ________________________________ os problemas se agravaram, recorremos aos serviços de um perito que nos ajudasse.
7. __________________________ as vendas aumentavam, o otimismo tomava conta dos criadores do novo esquema de promoção.
8. ________________________________ ainda não se delineou nenhum plano concreto, convém aguardar por algum tempo.

CLASSIFIQUE AS ORAÇÕES DESTACADAS:

1. “Ficou ali , até que as sombras foram tomando conta das coisas”. _______________________________________________

2. “Ama – o mais do que o amaste até aqui”. ___________________________________________________________________

3. “Como falavam muito alto, as pessoas se entendiam facilmente”. _________________________________________________

4. “Continuaria a sustentar a Mocinha, contanto que ela procedesse direito, vivesse calma na gaiola e na moral.” (G. Ramos)
_________________________________________________________________________________________________________

5. À proporção que a escavação descia, a unidade ia-se acabando aos poucos._______________________________________

6. Como não sabia falar direito, ia balbuciando expressões complicadas. ___________________________________________

7. Fez-lhe sinal que se calasse. _____________________________________________________________________________

8. Como estava triste, isolou-se do grupo. _____________________________________________________________________

9. Tudo saiu conforme havíamos previsto. ___________________________________________________________________

10. O lavrador volta para casa quando o sol se põe. ____________________________________________________________

11. O investigador foi mais esperto que o ladrão. _______________________________________________________________

12. Mentiram para mim, como pude constatar. ________________________________________________________________

13. Semeie hoje para que colha bons frutos no amanhã. _______________________________________________________

14. Mal nascemos, começamos a sofrer. ____________________________________________________________________

15. Embora fosse bonita, era arrogante. _____________________________________________________________________

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ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
As orações subordinadas substantivas exercem funções específicas do substantivo: sujeito, objeto, predicativo...
As orações subordinadas substantivas podem ser:

1- Orações subordinadas substantivas objetivas diretas


Exercem a função de objeto direto do verbo da oração principal.
Ex.: Paulo José observa que o anti-heroísmo é uma característica forte dos personagens da cultura latino-americana.

2- Orações subordinadas substantivas objetivas indiretas


Exercem a função de objeto indireto do verbo da oração principal.
Ex.: A nova máquina necessitava de que os funcionários supervisionassem mais o trabalho.

3- Orações subordinadas substantivas predicativas


Exercem a função de predicativo do sujeito da oração principal.
Ex.: Meu consolo era que o trabalho estava no fim.

4- Orações subordinadas substantivas subjetivas


Exercem a função de sujeito da oração principal.
Ex.: É difícil que ele venha.
Consta que ele é fez o dever.

O verbo da oração principal sempre estará na 3ª pessoa do singular quando houve oração subordinada substantiva subjetiva.

5- Orações subordinadas substantivas completivas nominais


Exercem a função de complemento nominal da oração principal.
Ex.: Nós temos a necessidade de que os alunos aprendam com facilidade.

6- Orações subordinadas substantivas apositivas


Exercem a função de aposto de algum nome da oração principal.
Ex.:Há nas escolas uma norma: que os alunos são respeitados.

A oração apositiva sempre estará pontuada, ou entre vírgulas ou depois de dois pontos.

Nos períodos abaixo, classifique as orações subordinadas substantivas:

1. “Acontece que não sei mais amar.” (Cartola)


__________________________________________________________________________________________________________

2. “O importante é que a nossa emoção sobreviva.” (Eduardo Gudin e Paulo Pinheiro)


__________________________________________________________________________________________________________

3. “Já conheço os passos dessa estrada


Sei que não vai dar em nada...” (Tom Jobim e Chico Buarque de Holanda)
__________________________________________________________________________________________________________

4. “É provável que o tempo faça a ilusão recuar.” (Eduardo Gudin e Paulo Pinheiro)
______________________________________________________________________________________________________________________

5. Contam que ele nunca saía de casa.


______________________________________________________________________________________________________________________

6. Conta-se que ele nunca saía de casa.


______________________________________________________________________________________________________________________

7. Lembre-se de que tudo passa neste mundo.


______________________________________________________________________________________________________________________

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8. Todos tinham noção de que as causas eram desconhecidas.
______________________________________________________________________________________________________________________

9. Desejo-lhe sinceramente isto: que se recupere logo.


______________________________________________________________________________________________________________________

10. Convém-nos que ela intervenha na discussão.


______________________________________________________________________________________________________________________

11. É necessário que todos se esforcem.


______________________________________________________________________________________________________________________

12. Todos perceberam que João Fanhoso dera rebate falso.


______________________________________________________________________________________________________________________

13. Estou seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar semelhante medida.
______________________________________________________________________________________________________________________

14. Eles estão certos de que você não faltará.


______________________________________________________________________________________________________________________

15. A causa da derrota foi que lhes faltou comando.


______________________________________________________________________________________________________________________

16. Será necessário que todos compareçam.


______________________________________________________________________________________________________________________

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS


Orações subordinadas adjetivas: fazem o papel de um adjetivo, ou seja, restringem ou explicam o sentido de um substantivo
ou de um pronome da oração principal. Ex.: Pedro é um jovem que estuda muito. “Que estuda muito” modifica o substantivo jovem
e equivale ao adjetivo estudioso.
As adjetivas são introduzidas por pronomes relativos: que(=qual), qual, quem, cujo, onde e quanto. Dividem – se em:

1. ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RESTRITIVA: contribui para definir, apontar, individualizar um nome ou pronome
expresso anteriormente. Não vem separada por vírgulas.
Ex.: O livro que comprei é uma gramática.

2. ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA EXPLICATIVA: revela outra intenção por parte do autor: a de acrescentar mais uma
ideia, merecedora de realce.
Ex.: A inteligência, que nos distingue dos irracionais, tem um valor inestimável.

EXERCÍCIOS:

1. Reescreva as frases abaixo, criando orações adjetivas introduzidas pelo pronome relativo que:

a) Ele é um homem cumpridor de seus deveres.


_______________________________________________________________________________________________________

b) Essa menina tem um sorriso cativante.


_______________________________________________________________________________________________________

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c) Essa é uma associação protetora de animais.
_______________________________________________________________________________________________________

d) Evite comentários ofensivos.


_______________________________________________________________________________________________________

e) Li uma notícia surpreendente.


_______________________________________________________________________________________________________

2. CLASSIFIQUE AS ORAÇÕES ADJETIVAS DESTACADAS:

a) A estrada que desce para o litoral foi interditada.


____________________________________________________________________________________________________

b) O filme a que me refiro não está em cartaz.


___________________________________________________________________________________________________

c) Os professores, que se reuniram hoje, vão divulgar as notas.


____________________________________________________________________________________________________

d) São poucos os amigos em quem confiamos de verdade.


____________________________________________________________________________________________________

e) Vi uma mulher cujo rosto não me é estranho.


____________________________________________________________________________________________________

f) Esse escritor, que mora na Bahia, lançou um novo livro.


____________________________________________________________________________________________________

3. Use (E) para orações adjetivas explicativas ou (R) para restritivas:

a. ( ) Aqui há brinquedos que fascinam.


b. ( ) Aplaudimos o cantor que foi premiado.
c. ( ) A casa onde nasci é foi reformada.
d. ( ) O pianista , que era francês, chegou ao Brasil cedo.
e. ( ) A rua onde caí vive deserta.
f. ( ) Deixei-o em sua tristeza, que parecia incurável.
g. ( ) Pedro, que é muito agitado, derrubou a jarra.

ORAÇÕES REDUZIDAS
Orações reduzidas são orações introduzidas por formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e que não são acompanhadas
por conjunção ou pronome relativo.

Orações reduzidas

de infinitivo de gerúndio de particípio

Mesmo atrasando o treino, ele disse que Mesmo atrasado, ele disse que viria ao
É provável ele atrasar o treino.
viria. treino.

- 83 -
Orações reduzidas de infinitivo (terminação em -r)

Oração subordinada substantiva subjetiva


 É recomendável beber muita água.
 Desenvolvida: É recomendável que todos bebam muita água.

Oração subordinada substantiva predicativa


 O meu sonho é viajar pelo mundo.
 Desenvolvida: O meu sonho é que eu viaje pelo mundo.

Oração subordinada substantiva completiva nominal


 Tenho esperança de tirarem boas notas.
 Desenvolvida: Tenho esperança de que tirem boas notas.

Oração subordinada substantiva objetiva direta


 Desejo passar na prova.
 Desenvolvida: Desejo que eu passe na prova.

Oração subordinada substantiva objetiva indireta


 O professor insistiu em fazermos o trabalho em grupo.
 Desenvolvida: O professor insistiu em que fizéssemos o trabalho em grupo.

Oração subordinada substantiva apositiva


 Deu a seguinte ordem: fazer o dever de casa.
 Desenvolvida: Deu a seguinte ordem: que eu faça o dever de casa.

Oração subordinada adjetiva restritiva


 Foi o único a lembrar do aniversário do professor.
 Desenvolvida: Foi o único que lembrou do aniversário do professor.

Oração subordinada adjetiva explicativa


 O cão, a ladrar de madrugada, é do síndico.
 Desenvolvida: O cão, que ladrou de madrugada, é do síndico.

Oração subordinada adverbial causal


 Por estar a chover, assistiremos a um filme em casa.
 Desenvolvida: Assistiremos a um filme em casa, porque está chovendo.

Oração subordinada adverbial concessiva


 Apesar de saber a resposta, perguntou se podia ir.
 Desenvolvida: Apesar de que sabia a resposta, perguntou se podia ir.

Oração subordinada adverbial condicional


 Sem se esforçar, não chegará a lado nenhum.
 Desenvolvida: Caso não se esforce, não chegará a lado nenhum.

Oração subordinada adverbial consecutiva


 Gritou tanto até ficar sem voz.
 Desenvolvida: Gritou tanto até que ficou sem voz.

Oração subordinada adverbial final


 Para trabalhar, pega três ônibus.
 Desenvolvida: Para que vá trabalhar, pega três ônibus.

Oração subordinada adverbial temporal


 Ao chegar a casa, tomou banho.
 Desenvolvida: Quando chegou a casa, tomou banho.

Orações reduzidas de gerúndio (terminação em -ndo)

Oração subordinada adjetiva restritiva


 Comprando na padaria de costume, conseguimos servir deliciosos bolos frescos a quem vem nos visitar.
 Desenvolvida: A quem vem nos visitar, conseguimos servir deliciosos bolos frescos que compramos na padaria de
costume.

- 84 -
Oração subordinada adjetiva explicativa
 O cão, ladrando de madrugada, era do síndico.
 Desenvolvida: O cão, que ladrou de madrugada, era do síndico.

Oração subordinada adverbial causal


 Por estar chovendo, assistiremos a um filme em casa.
 Desenvolvida: Uma vez que está chovendo, assistiremos a um filme em casa.

Oração subordinada adverbial concessiva


 Mesmo sabendo a resposta, perguntou.
 Desenvolvida: Embora soubesse a resposta, perguntou.

Oração subordinada adverbial condicional


 Esforçando-se, chegarão aonde quiserem.
 Desenvolvida: Desde que se esforcem, chegarão aonde quiserem.

Oração subordinada adverbial temporal


 Vivendo aqui por dois anos, fui muito feliz.
 Desenvolvida: Quando vivi aqui por dois anos, fui muito feliz.

Orações reduzidas de particípio (terminação em -do)

Oração subordinada adjetiva restritiva


 Servimos deliciosos bolos frescos comprados na padaria de costume.
 Desenvolvida: Servimos deliciosos bolos frescos que compramos na padaria de costume.

Oração subordinada adjetiva explicativa


 Fui acordada pelo vizinho, assustado na porta de casa.
 Desenvolvida: Fui acordada pelo vizinho, que estava assustado na porta de casa.

Oração subordinada adverbial causal


 Por ter chovido, assistiram a um filme em casa.
 Desenvolvida: Assistiram a um filme em casa, uma vez que o dia estava chuvoso.

Oração subordinada adverbial concessiva


 Sabida a resposta, perguntou mais uma vez se podia ir.
 Desenvolvida: Por mais que soubesse a resposta, perguntou mais uma vez se podia ir.

Oração subordinada adverbial condicional


 Esforçados, chegarão aonde quiserem.
 Desenvolvida: Contanto que se esforcem, chegarão aonde quiserem.

Oração subordinada adverbial temporal


 Após dois anos vividos nesta casa, sentia-se muito feliz.
 Desenvolvida: Depois de que viveu dois anos nesta casa, sentia-se muito feliz.

SEMÂNTICA
SEMÂNTICA é o estudo da significação das palavras.
1. SINÔNIMOS são palavras de sentido igual ou aproximado.
Ex.: brado e grito; proibir e impedir; metamorfose e transformação.

2. ANTÔNIMOS são palavras de significação oposta.


Ex.: alto x baixo; subir x descer; concórdia x discórdia.

3. POLISSEMIA consiste no fato linguístico de uma palavra ter mais de uma significação.
A polissemia ocorre devido a vários motivos: o uso de linguagem com sentido figurado, como metáforas e metonímias; tradução de
linguagem específica para linguagem corrente. Influência de estrangeirismos e neologismo.
pena romper
Arranquei uma pena da galinha. (= pluma) Rompeu a roupa no arame farpado.
Escrevia com a pena que lhe dei. (= rasgou)
(= peça de metal para escrever) Romper um segredo. (= revelar)
Cumpriu a pena até o fim. (= punição) Romperam as músicas! (=principiaram)
Tenho pena do seu estado. (= dó) Rompeu com o noivo.
(=brigou, desligou-se)
- 85 -
Palavra 1º significado 2º significado
Letra Símbolo de escrita Documento substitutivo de dinheiro
Dama Senhora da nobreza Peça de jogos
Cabeça Parte do corpo humano Líder de um grupo
Banco Assento Local de operações financeiras
Gato Animal Pessoa atraente

DENOTAÇÃO e CONOTAÇÃO
A) Denotação: sentido usual, básico, próprio, referencial.
B) Conotação: sentido especial: propicia o aparecimento da linguagem figurada.

DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO
a) O sol é uma estrela de quinta grandeza. a) Ela é o sol da minha vida.
b) A chuva caiu de repente sobre a cidade. b) A chuva fina machucava minha alma.
c) Ele sempre gostou de viver sobre um palco. c) “A minha vida era um palco iluminado.”
d) Tinha uma pedra no meio do caminho. (relatório de um engenheiro). d) “Tinha uma pedra no meio da caminho.”

MARQUE: DENOTATIVO (1) ou CONOTATIVO (2):


(_____) Meu pai é meu espelho
(_____) Quebrei o espelho do banheiro
(_____) Essa menina tem um coração de ouro.
(_____) A Praça da Sé fica no coração de São Paulo.
(_____) Fez um transplante de coração.
(_____) Você é mesmo mau: tem um coração de pedra.
(_____) Para vencer a guerra era preciso alcançar o coração do país.
(_____) Completou vinte primaveras.
(_____) Na primavera os campos florescem.
(_____) O leão procurou o gerente da Metro.
(_____) O metro é uma unidade de comprimento.
(_____) Estava tudo em pé de guerra.
(_____) Ela estava com os pés inchados.
(_____) É órfão de afeto.
(_____) Muito cedo ele ficou órfão de pai.
(_____) Caíram da escada.
(_____) O leão caiu num sono profundo.
(____) Feriu-se na boca.
(____) Vem o Flamengo apontando a boca do túnel.
(____) O alpinista conseguiu escalar a montanha.
(____) Ela disse uma montanha de absurdos.
(____) Este cavalo venceu a corrida.
(____) Você foi um cavalo durante a partida.
(____) Nosso goleiro engoliu um frango naquele jogo.
(____) Correu muito, mas não apanhou o frango carijó.
(____) A tempestade já conspirava no ar.
(____) Os cascos do animal tiravam fogo dos seixos do caminho.
(____) O pescador vinha chegando.
(____) O chão era uma confusão desolada de galhos.
(____) A casa estava no meio de um vale que o sol beijava.
(____) A varanda corria ao longo da face norte da casa.
(____) Havia outros cães.
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M
A
T
E
M
Á
T
I
C
A
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- 88 -
Assunto: Matemática Módulo IV – QOAM Teorema de Pitágoras

1) ÂNGULOS

Definição: é a região compreendida formada na abertura Síntese de Claraut


entre dois segmentos de reta.

Ângulos Complementares: são aqueles ângulos que somam


um ângulo reto (90°).

Ângulos Suplementares: são aqueles ângulos que somam


um ângulo raso (180°).

Sistema de Medidas:
Sexagesimal: uma volta completa tem 360º (graus)
3) TRIGONOMETRIA NO TRIÂNGULO RETÂNGULO
Radianos: uma volta completa tem 2 rad (radianos)
Grados: uma volta completa tem 400 gr (grados)

Comprimento da Circunferência:
Circunferência é a linha que tem a propriedade de equidistar
do centro.

ou C D
Arco de uma Circunferência:
2 r
Ângulo (  ) medido em graus: Carco 
360º
Ângulo (  ) medido em radianos: Carco r 4) LEI DOS SENOS E DOS COSSENOS

Lei dos Senos

2) TRIÂNGULOS

Definição: Figura geométrica formada por três segmentos de


reta.
Obs.: a Lei dos Senos é utilizada quando temos pelo menos
Teorema de Tales – Soma angular: Em todo triângulo a dois ângulos envolvidos.
soma de seus ângulos internos é igual a 180°.

Lei dos Cossenos


Classificação dos triângulos

a) Quanto aos lados

- Triângulo Escaleno: Nenhum dos lados congruentes entre Obs.: a Lei dos Cossenos é utilizada quando temos apenas
si, ou seja, os três lados distintos. um ângulo envolvido.

- Triângulo Isósceles: Apenas dois de seus lados


congruentes entre si.
5) ÁREA DAS PRINCIPAIS FIGURAS PLANAS
- Triângulo Eqüilátero: Todos os lados congruentes entre si.
a) Retângulo ou paralelogramo
b) Quanto aos ângulos

- Triângulo Acutângulo: Todos os ângulos internos são


agudos, ou seja, os três ângulos menores que 90°. b) Quadrado
- Triângulo Retângulo: Um dos três ângulos internos é o
ângulo reto, ou seja, igual a 90°.

- Triângulo Obtusângulo: Um dos três ângulos internos é o


c) Trapézio
ângulo obtuso, ou seja, maior que 90° e menor que 180°.

- 89 -
d) Triângulo I) Relações Principais: Localização e sinal do seno e cosseno.

- Fórmula básica:

- Quando temos um ângulo envolvido:

- Quando conhecemos os três lados:


II) Redução ao primeiro quadrante: Dividindo o ângulo por
360º descobrimos seu “ponto de parada”. Para isso basta
seguir as quatro relações de equivalência acima
apresentadas.

e) Círculo a) Redução do II Quadrante para o I Quadrante: 180º 


 D2 b) Redução do III Quadrante para o I Quadrante:   180º
A r 2
ou A
4 c) Redução do IV Quadrante para o I Quadrante: 360º 

Ângulos Complementares no Triângulo Retângulo III) M.D.P (Menor Determinação Positiva): Redução a primeira
Sabemos que os ângulos agudos de um triângulo retângulo volta, ou seja, todo ângulo deverá ser representado na
são complementares, ou seja,     90º . primeira volta.

Então podemos formular a seguinte lei: O cosseno de um


ângulo é igual ao seno do seu complemento (donde o nome
cosseno) e, reciprocamente, o seno é igual ao cosseno do
complemento.
R.F.T (Relações Fundamentais da Trigonometria)
Abreviadamente:
sen  cos  90º   e cos   sen  90º   1º) sen2 ( x)  cos 2 ( x)  1

6) ARCO TRIGONOMÉTRICO sen( x) 1


2º) tg ( x)  
Estudamos até aqui relações trigonométricas só para os cos( x) cot g ( x)
ângulos agudos. Para um estudo mais generalizado da
trigonometria devemos, inicialmente, substituir a noção de 1 1
ângulo pela noção correspondente de arco. 3º) sec( x)  ou cos( x) 
cos( x) sec( x)
Uma circunferência pode ser orientada em dois sentidos:
horário (o mesmo dos ponteiros do relógio) ou anti-horário.
1 1
Em trigonometria adota-se como sentido positivo o sentido 4º) cos sec( x)  ou sen( x) 
anti-horário. s en( x) cos sec( x)
Arco Trigonométrico: Circunferência orientada possuindo
1 cos( x)
raio unitário e eixos coordenados que o dividem em quatro 5º) cot g ( x)  
quadrantes. tg ( x) sen( x )

6º) sec2 ( x)  1  tg 2 ( x)

7º) cos sec2 ( x)  1  cot g 2 ( x)

Soma de arcos

sen(a  b)  sen(a).cos(b)  cos(a).sen(b)

sen(a  b)  sen(a).cos(b)  cos(a).sen(b)

cos(a  b)  cos(a).cos(b)  sen(a).sen(b)

cos(a  b)  cos(a).cos(b)  sen(a).sen(b)


- 90 -
tg (a )  tg (b)
tg (a  b) 
1  tg (a).tg (b)
tg (a )  tg (b)
tg (a  b) 
1  tg (a).tg (b)

Arcos Duplos

sen(2a)  2sen(a) cos(a)

cos(2a)  cos 2 (a)  sen 2 (a)

2.tg (a )
tg (2a ) 
1  tg 2 (a )
7) FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Fórmulas de transformação em produto As funções trigonométricas, também chamadas de funções


circulares, estão relacionadas com as demais voltas no ciclo
As fórmulas de transformação de soma em produto ou trigonométrico.
fórmulas de prostaférese (transformação) são de grande
utilidade na fatoração de expressões como sen x + sen y, cos
As principais funções trigonométricas são:
x – cos y, sen x + cos x e outras. Para obtenção das
transformações em produto, utilizaremos algumas fórmulas já
conhecidas.  Função Seno
 Função Cosseno
 Função Tangente
- Fórmulas de transformação para senos:
No círculo trigonométrico temos que cada número real está
associado a um ponto da circunferência.

- Fórmulas de transformação para cossenos

Ex.: Transforme em produto a expressão S = sen 37o + sen


23o.

Solução: Temos que a = 37o e b = 23o. Logo,

Figura do Círculo Trigonométrico dos ângulos expressos em


graus e radianos

Funções Periódicas

As funções periódicas são funções que possuem um


Assim, comportamento periódico. Ou seja, que ocorrem em
determinados intervalos de tempo.

O período corresponde ao menor intervalo de tempo em que


acontece a repetição de determinado fenômeno.
- 91 -
FUNÇÃO COSSENO (COSSENOIDE)
Uma função f: A → B é periódica se existir um número real
positivo p tal que A função cosseno é uma função periódica e seu período é 2π.
Ela é expressa por:
f(x) = f (x+p), ∀ x ∈ A
função f(x) = cos x
O menor valor positivo de p é chamado de período de f.
No círculo trigonométrico, o sinal da função cosseno é
Note que as funções trigonométricas são exemplos de positivo quando x pertence ao primeiro e quarto quadrantes.
funções periódicas visto que apresentam certos fenômenos Já no segundo e terceiro quadrantes, o sinal é negativo.
periódicos.

FUNÇÃO SENO (SENOIDE)

A função seno é uma função periódica e seu período é 2π.


Ela é expressa por:

função f(x) = sen x

No círculo trigonométrico, o sinal da função seno é positivo


quando x pertence ao primeiro e segundo quadrantes. Já no
terceiro e quarto quadrantes, o sinal é negativo.
Além disso, no primeiro e segundo quadrantes a função f é
decrescente. Já no terceiro e quarto quadrantes a função f é
crescente.

O domínio e o contradomínio da função cosseno são iguais


a R. Ou seja, ela está definida para todos os valores reais:
Dom(cos)=R.

Já o conjunto da imagem da função cosseno corresponde ao


intervalo real [-1, 1]: -1 cos x 1.

Em relação à simetria, a função cosseno é uma função par:


Além disso, no primeiro e quarto quadrantes a função f é cos(-x) = cos(x).
crescente. Já no segundo e terceiro quadrantes a função f é
decrescente.
O gráfico da função cosseno f(x) = cos x é uma curva chamada
de cossenoide:
O domínio e o contradomínio da função seno são iguais a
R. Ou seja, ela está definida para todos os valores reais:
Dom(sen)=R.

Já o conjunto da imagem da função seno corresponde ao


intervalo real [-1, 1]: -1 sen x 1.

Em relação à simetria, a função seno é uma função ímpar:


sen(-x) = -sen(x).

O gráfico da função seno f(x) = sen x é uma curva chamada


de senoide:
Gráfico da função cosseno

FUNÇÃO TANGENTE (TANGENTOIDE)

A função tangente é uma função periódica e seu período é π.


Ela é expressa por:

Gráfico da função seno função f(x) = tg x

- 92 -
No círculo trigonométrico, o sinal da função tangente é De maneira geral, a solução para esse tipo de equação é
positivo quando x pertence ao primeiro e terceiro quadrantes. dada por:
Já no segundo e quarto quadrantes, o sinal é negativo.

Vejamos alguns exemplos

Exemplo 1. Resolva a equação

Além disso, a função f definida por f(x) = tg x é sempre


crescente em todos os quadrantes do círculo trigonométrico.

O domínio da função tangente é: Dom(tan)={x ∈ R│x ≠ de π/2


+ kπ; K ∈ Z}. Assim, não definimos tg x, se x = π/2 + kπ.

Já o conjunto da imagem da função tangente corresponde a


R, ou seja, o conjunto dos números reais.

Em relação à simetria, a função tangente é uma função


ímpar: tg(-x) = -tg(-x).

O gráfico da função tangente f(x) = tg x é uma curva chamada


de tangentoide:

Gráfico da função tangente

8) EQUAÇÕES E INEQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Equações trigonométricas do tipo sen x = sen y e cos x = cos y

Toda equação trigonométrica, por mais complicada que


pareça, pode ser reduzida em uma equação do tipo:

sen x = sen y
cos x = cos y
tg x = tg y

com x sendo a incógnita e y um arco de medida conhecida.

As equações descritas acima são conhecidas como as três


equações fundamentais.

1. Equações do tipo sen x = sen y.

Com relação ao arco y, existem duas possibilidades para x:

i) x é congruente a k → x = y + 2kπ
ii) x é congruente a π-a → x = (π – a) + 2kπ

- 93 -
Equações trigonométricas do tipo tg x = tg y Vejamos os seis tipos de inequações trigonométricas
fundamentais:
Equações do tipo tg x = tg y, onde x é a incógnita e y é um
arco de medida conhecida. 1° tipo) sen x > n (sen x ≥ n)

Com relação ao arco y, existe apenas uma possibilidade


Seja n o seno de um arco y qualquer, tal que 0 ≤ n < 1. Se
para x:
sen x > n, então todo x entre y e π – y é solução da
inequação, assim como podemos ver na parte destacada de
azul na figura a seguir:

De uma maneira geral, a solução para esse tipo de equação


é dada por:

Representação da solução da inequação trigonométrica do


tipo sen x > n
Exemplo 2. Resolva a equação tg x=1
A solução dessa inequação pode ser dada na primeira volta
Solução: Sabemos que um arco que possui a tangente igual
do ciclo trigonométrico como S = { x | y < x < π – y}.
a 1 é o arco de 45o ou π/4
Para estender essa solução para o conjunto dos reais,
podemos afirmar que S = { x | y + 2kπ < x < π – y +
2kπ, k } ou S = { x | y + 2kπ < x < (2k + 1)π – y,
k }

2° tipo) sen x < n (sen x ≤ n)

Se sen x < n, então a solução é dada por dois intervalos. A


figura a seguir representa essa situação:

Inequação trigonométrica

Uma inequação trigonométrica é aquela em que ao menos um


lado da desigualdade contém uma função trigonométrica. Representação da solução da inequação trigonométrica do
tipo sen x < n
Semelhantemente ao que ocorre com as equações
trigonométricas do tipo sen x = sen y e cos x = cos y ou com Na primeira volta do ciclo, a solução pode ser dada como S =
equações trigonométricas do tipo tg x = tg y, uma inequação
é dita inequação trigonométrica quando é verificada a {x | 0 ≤ x ≤ y ou π – y ≤ x ≤ 2π} . No conjunto dos
ocorrência de alguma função trigonométrica em pelo menos reais, podemos afirmar que S = { x | 2kπ ≤ x < y + 2kπ
um dos lados da desigualdade. Ao trabalhar com esse tipo de ou π – y + 2kπ ≤ x ≤ (k + 1).2π, k }.
inequação, normalmente é possível reduzi-la a alguma
inequação conhecida, que é chamada de inequação
trigonométrica fundamental.

- 94 -
3° tipo) cos x > n (cos x ≥ n) 5° tipo) tg x > n (tg x ≥ n)

Seja n o cosseno de um arco y, tal que – 1 < n < 1. A solução Seja n a tangente de um arco y qualquer, tal que n > 0. Se tg
deve ser dada a partir de dois intervalos: 0 ≤ n < 1 ou – 1 < n x > n, há duas soluções como podemos ver na figura:
≤ 0. Veja a figura a seguir:

Representação da solução da inequação trigonométrica do


tipo cos x > n

Para que a solução dessa inequação esteja na primeira volta


do ciclo trigonométrico, devemos apresentar S = { x |
0 ≤ x < y ou 2π – y ≤ x < 2π }. Para estender essa solução Representação da solução da inequação trigonométrica do
para o conjunto dos reais, podemos dizer que S = { x | tipo tg x > n
2kπ ≤ x < π + 2kπ ou 2π – y + 2kπ < x < (k + 1).2π, k }.
A solução dessa inequação pode ser dada no conjunto dos
reais como S = { x | y + 2kπ < x < π/2 + 2kπ ou y + π
+ 2kπ < x < 3π/2 + 2kπ}. Na primeira volta do ciclo, temos: S
4° tipo) cos x < n (cos x ≤ n) ={x | y < x < π/2 ou y + π < x < 3π/2, k }.

Nesses casos, há apenas um intervalo e uma única solução.


Observe a figura a seguir:
6° tipo) tg x < n (tg x ≤ n)

Esse caso é semelhante ao anterior. Se n > 0, temos:

Representação da solução da inequação trigonométrica do


tipo cos x < n

Na primeira volta do ciclo, a solução é S = { x |y<x<


2π – y}. No conjunto dos reais, a solução é S = { x |y Representação da solução da inequação trigonométrica do
tipo tg x < n
+ 2kπ < x < 2π – y + 2kπ, k }.
Na primeira volta do ciclo, temos como solução: S = { x
| 0 ≤ x < y ou π/2 < x < y + π ou 3π/
2 < x < 2π}. No
conjunto dos reais a solução é S = { x | kπ ≤ x < y +
kπ ou π/2 + kπ < x < (k + 1).π, k }.

- 95 -
QUESTÕES DE CONCURSOS 4) Para determinar a altura de um edifício um observador
coloca-se a 30 m de distância e assim o observa segundo um
ângulo de 30°, conforme mostra a figura. Calcule a altura do
1) Um avião levanta vôo em um ângulo de 30° em relação a
pista. Qual será a altura do avião quando estiver percorrendo edifício a partir do solo. Considere
4.000 m em linha reta?

a) 1.800 m a) 16 m
b) 1.900 m b) 17 m
c) 2.000 m c) 18 m
d) 2.100 m d) 19 m
e) 2.200 m e) 20 m

5) Qual era a altura desse pinheiro?

2) Segundo a figura abaixo, qual a altura do prédio? Use

a) 10 3
a) 32 b) 7 3
b) 34
c) 35 c) 5 3
d) 36 d) 2 3
e) 38
e) 3

6) (FCC) Uma escada apoiada em uma parede, num ponto


3) Pela figura abaixo, calcule x e y. que dista 4 m do solo forma com essa parede um ângulo de
60°. O comprimento da escada, em metros, é:

a) x = 5 e y = 3
b) x = 5 e y = 4
c) x = 6 e y = 3
d) x = 6 e y = 4 a) 2
e) x = 7 e y = 5 b) 4
c) 8
d) 12
e) 18

- 96 -
7) Uma pessoa está distante 80 m da base de um prédio e vê 12) Um navio, situado exatamente a leste de um ponto A, está
o ponto mais alto do prédio sob um ângulo de 16° em relação distante 10 milhas desse ponto. Um observador, situado
ao eixo horizontal. Qual era a altura do prédio? (Dados sen exatamente ao sul do navio vê o ponto A sob um ângulo de
16° = 0,27; cos 16° = 0,96 e tg 16° = 0,28). 40°. Calcule a distância entre o observador e o navio. (Dados:
sen 40° = 0,64; cos 40° = 0,76 e tg 40° = 0,83).
a) 18,7 m
b) 19,8 m a) 11,82 milhas
c) 21,2 m b) 12,05 milhas
d) 22,4 m c) 12,84 milhas
e) 23,9 m d) 13,08 milhas
e) 13,96 milhas

13) Um caminhão sobe uma rampa inclinada de 10° em


8) Um avião levanta vôo em B e sobe fazendo um ângulo relação ao plano horizontal. Se a rampa tem 30 m de
constante de 15° com uma horizontal. A que altura estará igual comprimento, a quantos metros o caminhão se eleva,
à distância percorrida quando alcançar a vertical que passa verticalmente, após percorrer toda a rampa? (Dados: sen 10°
por uma igreja situada a 2 km do ponto de partida? (Dados: = 0,17; cos 10° = 0,98 e tg 10° = 0,18).
sen 15° = 0,25; cos 15° = 0,96 e tg 15° = 0,26).
a) 3,8 m
a) 480 m b) 4,2 m
b) 496 m c) 4,8 m
c) 500 m d) 5,1 m
d) 512 m e) 5,6 m
e) 520 m

14) Para determinar a altura de uma torre, um topógrafo


coloca o teodolito (equipamento de topografia) a 100 m da
9) Um guarda florestal, postado numa torre de 20 m no topo base e obtém um ângulo de 30°. Sabendo que a luneta do
de uma colina de 500 m de altura, vê o início de um incêndio teodolito está a 1,7 m do solo, qual é aproximadamente a
numa direção do que forma com a horizontal um ângulo de altura da torre? (Dados sen 30° = 0,5; cos 30° = 0,87 e tg 30°
17°. A que distância aproximada da colina está o fogo? = 0,58).
Considerar tg 17º = 0,306.
a) 59,7 m
a) 1.500 m b) 61,2 m
b) 1.550 m c) 63,4 m
c) 1.600 m d) 65,3 m
d) 1.650 m e) 77,5 m
e) 1.700 m

15) Em um exercício de tiro, o alvo se encontra numa parede


e sua base está situada a 20 m do atirador. Sabendo que o
atirador vê o alvo sob um ângulo de 10° em relação ao
10) Uma rampa lisa de 10 m de comprimento faz ângulo de horizontal, calcule a que distância a mosca do alvo se
30° com o plano horizontal. Uma pessoa que sobe essa rampa encontra do chão. (Dados: sen 10° = 0,17; cos 10° = 0,98 e tg
inteira eleva-se quantos metros verticalmente? 10° = 0,18)

a) 4 m a) 3,2 m
b) 5 m b) 3,4 m
c) 6 m c) 3,6 m
d) 7 m d) 3,8 m
e) 8 m e) 4,0 m

16) Do alto de uma torre de 50 m de altura, localizada em uma


11) O ângulo de elevação do pé de uma árvore, a 50 m da ilha, avista-se um ponto da praia sob um ângulo de depressão
base de uma encosta, ao topo da encosta é de 60°. Que de 30°. Qual é a distância da torre até esse ponto?
medida deve ter um cabo para ligar o pé da árvore ao topo da
encosta?
a) 50 3
a) 80 m b) 30 3
b) 90 m
c) 100 m c) 15 3
d) 110 m
e) 120 m d) 10 3
e) 5 3
- 97 -
17) (Cesep-PE) Do alto de uma torre de 50 m de altura, 20) (FAAP) Um arame de 18 metros de comprimento é
localizada numa ilha, avista-se a praia sob um ângulo de 45° esticado do nível do solo (suposto horizontal) ao topo de um
em relação ao plano horizontal. Para transportar material da poste vertical. Sabendo que o ângulo formado pelo arame
praia até a ilha, um barqueiro cobra R$ 0,20 por metro com o solo é de 30°, calcule a altura do poste.
navegado. Quanto ele recebe em cada transporte que faz?

a) R$ 9,50
b) R$ 10,00
c) R$ 10,50
d) R$ 11,00
e) R$ 11,50

a) 9 m
b) 18 m
c) 3,6 m
d) 4,5m
18) (Unificado) Uma escada de 2 metros de comprimento está e) 6 m
apoiado no chão e em uma parede vertical. Se a escada faz
30° com a horizontal, a distância do topo da escada ao chão
é de:

a) 0,5 m 21) (PUC) Em uma rua plana, uma torre AT é vista por dois
b) 1,0 m observadores X e Y sob ângulos de 30° e 60° com a
c) 1,5 m horizontal, como mostra a figura abaixo:
d) 1,7 m
e) 2,0 m

19) (UNESP) Três cidades A, B e C, são interligadas por


estradas, conforme mostra a figura.

Se a distância entre os observadores é de 40 m, qual é


aproximadamente a altura da torre? (Se necessário, utilize
).

a) 30 m
b) 32 m
c) 34 m
d) 36 m
e) 38 m

As estradas AC e AB são asfaltadas. A estrada CB é de terra


e será asfaltada. Sabendo-se que AC tem 30 km, que o ângulo
entre AC e AB é de 30°, e que o triângulo ABC é retângulo em
C, a quantidade de quilômetros da estrada que será asfaltada 22) Na figura abaixo o seno do ângulo B vale:
é:

a) 30 3
b) 10 3
10 3
c)
3
d) 8 3

3 3
e) a) 20/21
2 b) 20/29
c) 21/29
d) 29/20
e) 25/29

- 98 -
23) Determine o valor de x no triângulo abaixo: 27) (Furg RS) Analise a ilustração e responda à questão
abaixo.

A área do triângulo é igual a:


a) 3 2
b) 6 2 3 3
a) cm²
c) 10 2 2
d) 2 3 1 3
b) cm²
e) 5 3 2
c) (2  3) cm²

24) Para o triângulo abaixo, calcule o valor de x: d) (3  3) cm²

3
e) cm²
2

28) (UFRGS) Numa esquina cujas ruas se cruzam, formando


um ângulo de 120°, está situado um terreno triangular com
a) 2 3 frentes de 20 m e 45 m para essas ruas, conforme
representado na figura abaixo.
b) 5 3
c) 10 3

d) 5 2
e) 6 6

25) Qual é o valor da variável x para o triângulo abaixo.

A área desse terreno, em m², é:


a) 225
b) 225 2
c) 225 3
d) 450 2
a) 2
b) 3 e) 450 3
c) 4
d) 5
e) 6 29) (FCC) Considerando o triângulo ABC com as dimensões
a = 7,5 m, b = 4,5 m e c = 6 m, calcular o valor da tg x.

26) Na figura abaixo calcule o valor de x:

a) 1 a) 1/2
b) 2 b) 1/3
c) 3 c) 2/3
d) 4 d) 3/4
e) 5 e) 3/5

- 99 -
30) (Mackenzie) Num retângulo de lados 1 cm e 3 cm, o seno 34) (UFU) Um observador em uma planície vê o topo de uma
do menor ângulo formado pelas diagonais é: montanha segundo um ângulo de 15°. Após caminhar uma
distância d em direção à montanha, ele passa a vê-lo segundo
a) 4/5 um ângulo de 30°. Qual é a altura H da montanha?
b) 3/5
c) 1/5
d) 1/3
e) 2/3

31) (FUVEST) Calcular x indicado na figura.

3
a) d
2
b) d
c) 2 d
d) d/2
2
a) 3 2 e) d
2
b) 5 2
15 2
c)
2
d) 50 3
3 1
7 5 35) Sabendo que cos   e que sen  , podemos
e) 2 2
2
   
afirmar corretamente que cos      sen     é
32) (Mackenzie) Três ilhas A, B e C aparecem num mapa, em  2  2
escala 1:10000, como na figura. Das alternativas, a que igual a:
melhor aproxima a distância entre as ilhas A e B é:
a) 0
3 1
b)  
2 2
3 1
c) 
2 2
3 1
d) 
2 2
a) 2,3 km 3 1
b) 2,1 km e)  
c) 1,9 km 2 2
d) 1,4 km
e) 1,7 km

36) (UEMG) Deseja-se plantar árvores em volta de uma praça


33) (Unificado-RJ) Uma escada de 2 m de comprimento está circular com 68 metros de raio. As árvores deverão estar a
apoiada no chão e em uma parede vertical. Se a escada faz uma distância aproximada de 7 metros uma da outra. O
30° com a horizontal, a distância do topo da escada ao chão número máximo de árvores a serem plantadas nesta praça é
é de: igual a:

a) 0,5 m a) 61
b) 1 m b) 45
c) 1,5 m c) 72
d) 1,7 m d) 80
e) 2 m e) 86

- 100 -
37) (FATEC) Em um motor há duas polias ligadas por uma 42) Um arco de medida 3 radianos em um círculo de raio 6
correia, de acordo com o esquema abaixo. metros mede:

a) 12 m
b) 2  m
c) 9 m
d) 9  m
e) 18 m
Se cada polia tem raio de 10 cm e a distância entre seus
centros é 30 cm, qual das medidas abaixo mais se aproxima
do comprimento da correia?

a) 122,8 cm
b) 102,4 cm
c) 92,8 cm
43) (UFPB) Os senos de 210°, - 45° e 120°, são
d) 50 cm
respectivamente:
e) 32,4 cm

a)

38) (UFPB) Enquanto conversavam sobre matemática,


Vicente perguntou ao Ronaldo: “Se meu carro tem rodas de b)
0,35 m de raio, quantas voltas dará uma delas num percurso
de 70  m?”. A resposta correta será:
c)
a) 100
b) 101
c) 112
d)
d) 125
e) 198

e)

39) (UFMG) A medida em graus, de um ângulo que mede 4,5


radianos é:

a) 4,5/  44) (UEL) Se y = cos 2280° então y é igual a:


b) 4,5 
a) – cos 12°
c) 810/ 
b) – cos 30°
d) 810 c) – cos 60°
e) 810  d) cos 12°
e) cos 60°

40) (CPCAR) O diâmetro dos pneus das rodas de um carro


mede, aproximadamente, 50 cm. O número de voltas dadas
pelas rodas desse carro, ao percorrer uma estrada de 300 km,
está mais próximo de: (utilize  = 3,14)

a)
b)
c) 45) (UEL) O valor da expressão é:
d)
e)
a)

41) (FUVEST) Um arco de circunferência mede 300°, e seu b)


comprimento é 2 km. Qual é o número inteiro mais próximo da
medida do raio, em metros? c)
a) 157 d)
b) 284
c) 382 e)
d) 628
e) 764
- 101 -
46) (UEL) O valor da expressão cos 2  /3 + sen 3  /2 + tg
5  /4 é:
50) (UEL) A igualdade é verdadeira para
todo x real se, e somente se:
a)
a)
b)
b) – 1/2
c) 0 c)
d) 1/2
d)
e)
e)

47) (UFPB) Se e x está no segundo quadrante,


então:

51) (FUVEST) O menor valor de com x real, é:


a)
a) 1/6
b) 1/4
b)
c) 1/2
d) 1
c) e) 3

d)
e) n.r.a

52) (UFPB) Se e , calcular o valor de

48) (UNAERP) Sendo sen x = 1/2; x pertence ao primeiro .


quadrante, o valor da expressão cos²x.sec²x + 2.sen x é: a) 4
b) 5
a) zero c) 6
b) 1 d) 7
c) 3/2 e) 8
d) 2
e) 3

53) (UFRN) A expressão (sec x – tg x)(sec x + tg x) é


49) (UNEB) Se x pertence ao intervalo e tg x = 2, equivalente a:
então cos x vale:
a) – 2
b) – 1
c) 0
a) d) 1
e) 2

b)

c) 54) (UECE) Para valores de x tais que , a


expressão sec²x – tg²x é igual a:

d) a) 0
b) 1
c) sen²x
e) d) cos²x
e) 2

- 102 -
55) (UFPA) Qual das expressões abaixo é idêntica a 59) (FUVEST) O valor de (sen 22°30’ + cos 22°30’)² é:

a) 3/2
?

a) sen x b)
b) cos x
c) tg x c)
d) cossec x d) 1
e) cotg x e) 2

56) (MACK) Com relação ao ângulo da figura, podemos


afirmar que vale:

60) (MACK) Se sec x = 4, com , então tg(2x) é igual


a:

a)
a)
b) 1
b)
c)

d)
c)
e)
d)

57) (FATEC) Em uma região plana de um parque estadual, e)


um guarda florestal trabalha no alto de uma torre cilíndrica de
madeira de 10 m de altura. Em um dado momento, o guarda,
em pé no centro de seu posto de observação, vê um foco de
incêndio próximo à torre, no plano do chão, sob um ângulo de
15° em relação à horizontal. Se a altura do guarda é 1,70 m,
a distância do foco ao centro da base da torre, em metros, é

aproximadamente: (Obs: use ) 61) (MACK) Se sen x = 4/5 e , então tg 2x vale:

a) 31 a) 24/7
b) 33 b) – 24/7
c) 35 c) – 8/3
d) 37 d) 8/3
e) 42 e) – 4/3

58) (MACK) No triângulo da figura, vale:

62) (CESGRANRIO) Se sen x – cos x = 1/2, o valor de


sen x . cos x é igual:

a) – 3/16
b) – 3/8
c) 3/8
d) 3/4
e) 3/2
a) 2/9
b) 1/9
c) – 7/9
d) – 8/9
e) 5/9
- 103 -
63) (UNIFESP) Se x é a medida de um arco do primeiro 67) Determine o conjunto solução da equação 2.sen 2x – 1 = 0.
quadrante e se sen x = 3.cos x, então sen(2x) é igual a:
a) π/12 + kπ ou 5π/12 + k π
b) π/6 + kπ ou 5π/12 + k π
c) π/12 + kπ ou 6π/13 + k π
a) d) π/3 + kπ ou 3π/12 + k π
e) π/4 + kπ ou 3π/12 + k π
b)

c)

d)
68) Determine o conjunto verdade da equação tg 2x – 1 = 0.

a) π/12 + kπ
e) b) π/12 + kπ/2
c) π/6 + kπ/2
d) π/8 + kπ
e) π/8 + kπ/2

64) (FUVEST) A tangente de um ângulo 2x é dada em função


da tangente de x pela seguinte fórmula:

69) Determine o conjunto verdade da equação 2.cos 2x – 1 = 0.


Calcule um valor aproximado para a tangente do ângulo
a) π/12 + kπ ou 5π/6 + kπ
22°30’.
b) π/3 + kπ ou 5π/6 + kπ
c) π/6 + kπ ou 5π/6 + kπ
a) 0,22
d) π/4 + kπ ou 2π/3 + kπ
b) 0,41
e) π/2 + kπ ou 2π/3 + kπ
c) 0,50
d) 0,72
e) 1,00

70) Determine o conjunto verdade das equações 2.sen²x +


sen x – 1 = 0 para x pertencente ao intervalo [0,2π].
65) (MACK – SP) Qual o valor simplificado da expressão y =
cos 80º + cos 40º – cos 20º ?
a) π/2, 5π/7 e 3π/2
b) π/3, 5π/6 e 2π/3
a) – 1/2
c) π/3, 5π/6 e 2π/3
b) 0
d) π/6, 5π/6 e 3π/2
c) 1/2
e) π/6, 5π/6 e 2π/3

d)

e)

71) Se x é um número real, tal que sen²x – 3.sen x = – 2 para


x pertencente ao intervalo [0,π], então x é igual a:
66) A soma de todas as soluções da equação sen x + sen 2x
= 0, no intervalo 0 ≤ x < 2π, é igual a a) π/2
b) 3π/2
a) π c) 3π/4
b) 5π/3 d) π
c) 2π e) 2π/3
d) 3π
e) 5π

- 104 -
72) Resolver a inequação trigonométrica cos x < 1/2 para x 3) (QOAM) Deseja-se construir uma rampa reta para se
pertencente ao intervalo [0,2π[, acessar uma plataforma que tem quatro metros de altura.
Qual deverá ser o comprimento, em metros, dessa rampa, a
a) π/2 < x < 5π/7 fim de que forme com o solo um ângulo de 30º?
b) π/3 < x < 5π/6
c) π/3 < x < 5π/6
a) 4 6
d) π/6 < x < 5π/6
e) π/3 < x < 5π/3 b) 8
c) 4 3
d) 4 2
e) 4,5
73) Resolver a inequação trigonométrica sen x > 1/2 para x
pertencente ao intervalo [0,2π[,

a) π/2 < x < 5π/3


b) π/3 < x < 5π/6
c) π/3 < x < 5π/4
d) π/6 < x < 5π/6
e) π/3 < x < 5π/3
4) (QOAM) Qual dever ser o raio mínimo, expresso em metros
por um número inteiro, de uma pista circular, para que nela se
possa percorrer 200 metros sem ser necessário caminhar
mais do que uma volta?
74) Obter o período da função y = sen 2x. a) 30
b) 32
a) p = π/2 c) 34
b) p = 2π/3 d) 36
c) p = π e) 38
d) p = 3π/2
e) p = 2π

QUESTÕES DO CONCURSO QOAM 5) (QOAM) Para se determinar a distância de um ponto P,


situado na margem esquerda de um rio, até um ponto A,
1) (QOAM) Dispondo-se de uma tabela, onde estão situado na margem direita desse mesmo rio, uma pessoa
relacionados os senos dos arcos expressos em graus por caminhou em linha reta 10 metros do ponto A até um ponto E,
números inteiros de zero a quarenta e cinco, pode-se nessa mesma margem. Depois mediu os ângulos PÂE = 35º
determinar tg 67° através do cálculo da expressão: e AÊP = 85º. Logo, a distância a ser determinada é o resultado
de:
a)
10sen85º
a)
b) sen60º
10sen85º
b)
c) sen35º
10sen35º
d) c)
sen60º
e) 10sen60º
d)
sen85º
10sen35º
e)
sen85º
2) (QOAM) Se cos(x) = 0,8 e , qual é o valor de
sen(2x)?

a) 0,36
b) 0,49
c) 0,6
d) 0,8
e) 0,96

- 105 -
6) (QOAM) 9) (QOAM – 2008) A extremidade final do arco de 10 radianos
pertence:

a) a um dos eixos coordenados


b) ao primeiro quadrante
c) ao segundo quadrante
d) ao terceiro quadrante
e) ao quarto quadrante

Um candidato ao Corpo de Fuzileiros Navais tentou atirar em


um alvo que está 100 metros à sua frente, mas acertou em um
ponto localizado 52 metros à esquerda desse alvo. Sendo x o
ângulo de desvio para a esquerda do alvo, com base na tabela
acima, pode-se afirmar que:
10) (QOAM – 2009) Num triângulo isósceles ABC, cujo os
a) lados iguais AB e AC medem 6 10 cm cada um, sabe-
b) 3
se que a altura relativa ao vértice A vale do lado BC . Qual
c) 2
d) será a área desse triângulo em cm²?

e) a) 198 cm²
b) 168 cm²
c) 148 cm²
d) 128 cm²
e) 108 cm²

7) (QOAM) Qual é a área do triângulo acutângulo, de menor


perímetro, cujos lados são expressos por números inteiros
consecutivos?

15 7 11) (QOAM – 2009) Sabendo que x – y = 30º, qual o valor de


a)
4 (sen x + cos y)² + (cos x – sen y)²?
15 5 a) 6
b)
4 b) 5
c) 4
15 3 d) 3
c) e) 1
4
13 7
d)
4
13 5
e)
4

12) (QOAM – 2010) Sendo , o valor da


2  sen ² x
expressão  tg ² x é:
cos ² x
8) (QOAM – 2007) No momento em que a incidência dos raios a) 2
solares ocorre segundo um ângulo de 30º, a partir da linha do b) 1
horizonte, a sombra projetada no solo (horizonte) por um c) 0
poste tem comprimento X. No momento em que a incidência d) – 1
ocorre segundo um ângulo de 60º, o comprimento da sombra e) – 2
é Y, qual é a altura do poste, sabendo-se que X – Y = 2? Use,
se necessário, 3  1, 7 .
a) 1,7
b) 2
c) 3,4
d) 4
e) 5,1

- 106 -
13) (QOAM – 2010) Na instalação de 3 lâmpadas em uma 16) (QOAM – 2012) Observe a figura a seguir.
praça, uma equipe técnica necessitou calcular corretamente a
distância entre elas, e para isso esboçou um triângulo
colocando as lâmpadas nos vértices A, B e C desse triângulo.
Sabe-se que o ângulo A mede 135º e o ângulo B mede 30º.
Se a lâmpada A está a 50 metros da lâmpada C, a distância
correta entre as lâmpadas B e C será:

50 6
a) m
3
b) 50 6 m Em uma certa cidade, um helicóptero de inspeção de trânsito
levanta voo de uma base A rumo a oeste. Após um tempo,
c) 25 2 m estando ele no ponto B, o piloto recebe instrução para se
deslocar para o ponto C, 30 km ao norte da base A. O piloto
d) 50 3 m
corrige a rota no ponto B, fazendo um giro de 120º à direita,
e) 50 2 m de modo que os trajetos formam um triângulo retângulo ABC,
como mostra a figura acima. Com base na figura e nos dados
apresentados, a distância total, em km, que o helicóptero
percorreu do ponto A até o ponto C, passando por B, é igual
a:

a) 30 3
14) (QOAM – 2011) No intervalo  0, 2  , quais são os dois b) 40 3
possíveis valores para (x + y) obtidos através da igualdade
c) 60 3
1
cos x.cos y  senx.seny  ? d) 80 3
2
 11 e) 90 3
a) e
6 6
 2
b) e
6 3
 5
c) e
17) (QOAM – 2013) Calcule o valor de
3 3
cos ec30º  cos ec60º  cos ec90º
4 11 , e assinale a opção
d) e sec 0º  sec30º  sec 60º
3 6 correta.
 
e) e a) 2
3 6 b) 1
c) 0
d) - 1
e) – 2

15) (QOAM – 2011) Considere o triângulo ABC, no qual o


ângulo A = 30º, AB = 6 cm e AC = 8 cm. É correto afirmar que
a área do triângulo ABC, em cm², vale:
18) (QOAM – 2014) Analise as afirmativas abaixo.
a) 9
b) 12 (I) cos 215º  cos 225º
c) 15
5 5
d) 21 (II) tg  sen
e) 24 12 12
(III) sen172º  sen160º

Assinale a opção correta:

a) Apenas a afirmativa I é verdadeira


b) Apenas a afirmativa II é verdadeira
c) Apenas a afirmativa III é verdadeira
d) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras
e) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras

- 107 -
19) (QOAM – 2014) As medidas dos arcos x, y e z, em graus, 22) (QOAM – 2016) Simplificando a expressão

são tais que x  y  z  13º , x  2 y  z  rad e
9

x  y  2z  rad . Sabendo-se que   2 x  z  5 y , , , obtêm-se:
12
o valor de sen é: a) a
b) b
1 c) 1
a) d) a - b
2 e) (a + b)²
b) 2
c) 3
2
d)
2
3
e)
2
23) (QOAM – 2017) Analise a figura a seguir.

20) (QOAM – 2015) Em uma praça foi construída uma


pequena pista para caminhadas, no formato de um triângulo
retângulo. Nessa pista triangular, a medida do cateto oposto
ao ângulo de 30º é igual a 10 3 m. Sendo assim, assinale a
opção que apresenta o perímetro dessa pista.

a) 24 3m
b) 
12 1  3 m 
c) 20  3  3m

d) 10 1  3m

e) 30 1  3m

A figura acima representa um cubo de aresta 1 m. O ponto I é


médio do segmento HB. Sendo assim, é correto afirmar que o
valor do seno do ângulo AIB é:

10 3 
21) (QOAM – 2015) Seja x ,
 9 2 
, tal que

2cos x  cot gx  0 . A quantidade de valores de x que


verifica a sentença é igual a:

a) 0
b) 1
c) 2
d) 3
e) 4

- 108 -
26) (QOAM – 2019) Considere o triângulo ABC, na figura
24) (QOAM – 2017) São dados o ângulo , em abaixo, em que M é o ponto médio de BA. Sabendo que BA é
radianos, e o número inteiro , de modo que igual a 20 cm, AC é igual a 25 cm e  é 60º, assinale a opção
que apresenta o valor que mais se aproxima de CM.
a expressão assume o maior valor
possível. Sendo assim, é correto afirmar que o valor de E será:

a) 21,7 cm
b) 23,4 cm
c) 24,9 cm
d) 24,3 cm
e) 25,2 cm
25) (QOAM – 2017) Analise a figura a seguir.

27) (QOAM – 2019) Simplifique a expressão abaixo,

considerando , e
assinale a opção correta.

Considere que no triângulo ABC acima, as medidas dos três


lados são iguais, D é ponto médio de BC, DE é perpendicular
a AC, EF é perpendicular a AB, e BF mede 6 unidades de
comprimento. Sendo assim, é correto afirmar que o perímetro
do triângulo ABC, nas mesmas unidades de comprimento, 28) (QOAM – 2020) Se a e b são arcos complementares da
mede:

primeira volta positiva, e o valor de

é:

- 109 -
29) (QOAM – 2020) Observe a figura a seguir. 9) NÚMEROS COMPLEXOS

No conjunto dos números reais ( )a é igual a 5, mas


qual é a ?

Como sabemos, não existe a raiz quadrada real de um


radicando negativo com índice par. No conjunto dos números
reais o máximo que podemos fazer é simplificar o radical desta
forma:

Ela esboça um teste para camuflar uma embarcação tática em


exercício noturno. No teste, um helicóptero é impedido de Ainda assim o fator não é um número real, pois o
localizar com seu feixe cônico de luz, a embarcação. Para radicando -1 é um número negativo.
isso, um drone em formato de disco circular de 1 metro de
raio, voa paralelamente à base do cono luminoso e impede Para maiores informações sobre como retiramos o número 5
totalmente a visão da embarcação, exibindo uma imagem de do radical, você pode consultar o nosso artigo sobre a
mar noturno para a aeronave e interrompendo o trajeto da luz. radiciação e suas propriedades.
Dado que a 400 m de altura o feixe ilumina um círculo de
diâmetro 50 m na superfície da água, a que altura da
Unidade Imaginária
superfície da água, no mínimo, deve ficar o drone, para o
sucesso do exercício?
A solução para este tipo problema surgiu com a criação dos
a) 392 m números imaginários, cuja unidade imaginária representada
b) 384 m pela letra i, é igual a .
c) 350 m
d) 336 m Utilizando-se do conceito de número imaginário podemos
e) 160 m dizer que a é igual a 5i, pois:
30) (QOAM – 2021) Sejam a e b os catetos de um triângulo
de hipotenusa c. Seja r o raio da circunferência inscrita nesse
triângulo. Desse modo, assinale a opção que apresenta o
valor do raio r em função de a, b e c. Agora vamos solucionar a equação do segundo grau abaixo:

abc
a)
2
b)
a  b  c O primeiro passo é calcularmos o seu discriminante:
2
abc
c)
2
Como o discriminante é negativo, a equação não possui
d)
a bc raízes reais:
2
a  b  c
e)
2
GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS Mas possui raízes imaginárias ao substituirmos por i:

1–c 2–b 3–a 4–e 5–a 6–c 7–d 8–e Nos dois exemplos acima, e , temos um radicando
9 – e 10 – b 11 – c 12 – b 13 – d 14 – a 15 – c 16 – que é o valor simétrico de um quadrado perfeito, ou seja, o
a 17 – b 18 – b 19 – b 20 – a 21 – c 22 – b 23 – b
oposto de 25 e de 16, que são quadrados perfeitos, mas
24 – e 25 – d 26 – b 27 – a 28 – c 29 – d 30 – b
31 – d 32 – e 33 – b 34 – d 35 – d 36 – a 37 – a mesmo que não o fossem, ainda assim poderíamos trabalhar
38 – a 39 – c 40 – b 41 – c 42 – e 43 – b 44 – c com o conceito de números imaginários.
45 – a 46 – b 47 – c 48 – d 49 – d 50 – c 51 – b
52 – e 53 – d 54 – b 55 – b 56 – c 57 – e 58 – c
Vejamos o exemplo do número :
59 – c 60 – e 61 – a 62 – c 63 – b 64 – b 65 – b
66 – d 67 – a 68 – e 69 – c 70 – d 71 – a 72 – e
73 – d 74 – c.

GABARITO – QUESTÕES DO CONCURSO QOAM


Observe que não eliminamos o radical, pois o número 13 não
é um quadrado perfeito, mas agora temos um radicando
1–a 2–e 3–b 4–b 5–a 6–c 7–a 8–a
9–d 10 – e 11 – d 12 – a 13 – e 14 – c 15 – b positivo.
16 – a 17 – b 18 – d 19 – d 20 – e 21 – c 22 – c
23 – c 24 – c 25 – e 26 – a 27 – a 28 – c 29 – b Quadrado perfeito é qualquer número inteiro maior ou igual a
30 – c. zero, que podemos representar pelo quadrado de um número
também inteiro, por exemplo, 144 é um quadrado perfeito,
pois: 144 = 122
- 110 -
Há casos em que alguns fatores do número saem do radical Exemplos de Números Reais
e outros fatores não. Veja o exemplo do número :
Para a ≠ 0 e b = 0 temos um número real:
Números Complexos

Ao estudarmos os conjuntos numéricos fundamentais vimos


que os números racionais podem ser expressos na forma de
uma fração, com numerador e denominador inteiros e com
denominador diferente de zero:

Números reais não possuem a parte imaginária.

De forma semelhante os números complexos podem ser


Conjugado de um Número Complexo
representados por meio de uma expressão algébrica:

O conjugado de um número complexo éo


número complexo .

Sendo a e b números reais e i a unidade imaginária.


Observe que tanto z, quanto o seu conjugado possuem a
mesma parte real, mas as partes imaginárias são opostas.
a é a parte real do número complexo z e bi é a sua parte Quando ambas as partes, real e imaginária, são iguais, os
imaginária. números também o são. A igualdade só ocorre nestas
condições.
Definimos o conjunto dos números complexos como:
As raízes imaginárias x1 e x2 da equação x2 + 2x + 5 = 0,
solucionada mais acima, são conjugadas uma da outra:

O conjunto dos números reais ( ) e o conjunto dos números


imaginários ( ) são subconjuntos do conjunto dos números
complexos ( ). Em função disto um número complexo
pode ser imaginário, imaginário puro ou real.

Exemplos de Números Complexos e seu Conjugado


Exemplos de Números Imaginários

Para a ≠ 0 e b ≠ 0 temos um número imaginário:

Conjuntos Numéricos em Diagrama

No diagrama abaixo observamos que o conjunto dos números


reais ( ) é um subconjunto do conjunto dos números
Como podemos observar um número imaginário possui uma
complexos ( ).
parte real e outra imaginária.

Exemplos de Números Imaginários Puros

Para a = 0 e b ≠ 0 temos um número imaginário puro:

Números imaginários puros possuem apenas a parte


imaginária. Através deste diagrama podemos concluir que todo número
real é complexo, mas nem todo número complexo é real, pois
um número complexo pode possuir uma parte imaginária, mas
os números reais não a possuem.

- 111 -
Operações com números complexos na forma algébrica Agrupando os termos semelhantes, obtemos:

Exemplo:

a) (5+8i)∙(1+2i) = (5∙1-8∙2)+(5∙2+1∙8)i
(5+8i)∙(1+2i) = (5-16) + (10+8)i = -11+18i

b) (1+2i)∙(2-3i) = [1∙2 - 2∙(-3)] + [1∙(-3) + 2∙2]i


(1+2i)∙(2-3i) = (2+6) + (-3+4)i = 8 + i

4. Divisão

Representação gráfica de z Para realizar a divisão de dois números complexos


precisamos introduzir o conceito de conjugado de um
Número complexo é um par ordenado de números reais (a, b). número complexo. Seja z = a + bi, o conjugado de z é z̅ = a -
Assim, o conjunto dos números complexos é uma extensão bi. Agora podemos definir a operação de divisão para
do conjunto dos números reais. Todo número complexo pode números complexos.
ser escrito na forma a + bi, chamada de forma algébrica ou
forma normal, onde a é chamado de parte real e bi, de parte
imaginária. As operações de adição, subtração, multiplicação
e divisão estão bem definidas para o conjunto dos complexos,
assim como para os números reais.
Exemplo:

Considere dois números complexos z1 = a + bi e z2 = c + di.


a)
Vamos analisar como se dá cada uma das operações
citadas para os elementos desse conjunto.

1. Adição

z1 + z2 = (a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i


Vamos fazer os cálculos do numerador e do denominador
Observe que basta somar a parte real de um com a parte separadamente:
real do outro e proceder da mesma forma com a parte
imaginária.
(5 + 8i)(1 - 2i) = [5∙1 - 8(-2)] + [5∙(-2) + 1∙8]i = 21 - 2i
Exemplo: Dados os números complexos z1 = 5 + 8i, z2 = 1 +
2i e z3 = 2 – 3i, calcule:

a) z1 + z2 = (5 + 8i) + (1 + 2i) = (5 + 1) + (8 + 2)i = 6 + 10i


Na multiplicação dos denominadores basta aplicar a seguinte
b) z2 + z3 = (1 + 2i) + (2 – 3i) = (1 + 2) + (2 – 3)i = 3 – i propriedade:
z ∙ z̅ = (a + bi) (a - bi) = a2 + b2
2. Subtração
Assim,
A subtração é feita de forma análoga. Observe: (1 + 2i)(1 - 2i) = 12 + 22 = 5
z1 – z2 = (a + bi) – (c + di) = (a – c) + (b – d)i

Exemplo:
Logo,
a) (5 + 8i) – (1 + 2i) = (5 – 1) + (8 – 2)i = 4 + 6i
b) (1 + 2i) – (2 – 3i) = (1 – 2) + [2 – (– 3)]i = – 1 + 5i

3. Multiplicação

b)

Como sabemos, i2 = – 1.

Logo,

- 112 -
Forma Trigonométrica de um Número Complexo QUESTÕES DE CONCURSOS

1) (EsSA – 2014) Com relação aos números complexos


Sabemos que um número complexo possui forma
geométrica igual a z = a + bi, onde a recebe a denominação e , onde i é a unidade imaginária, é
de parte real e b parte imaginária de z. Por exemplo, para o correto afirmar:
número complexo z = 3 + 5i, temos a = 3 e b = 5 ou Re(z) =
3 e Im(z) = 5. Os números complexos também possuem uma a)
forma trigonométrica ou polar, que será demonstrada com
base no argumento de z (para z ≠ 0). b)
Considere o número complexo z = a + bi, em que z ≠ 0,
c)
dessa forma temos que: cosӨ = a/p e senӨ = b/p. Essa
relações podem ser escritas de outra forma, acompanhe: d)
e)
cosӨ = a/p → a = p.cosӨ

senӨ = b/p → b = p.senӨ

Vamos substituir os valores de a e b no complexo z = a + bi. 2) (EsSA – 2015) O número complexo , onde i representa
a unidade imaginária,
z = p.cosӨ + p.senӨi → z = p.( cosӨ + i*senӨ)
a) é positivo.
Essa forma trigonométrica é de grande utilidade nos cálculos b) é imaginário puro.
envolvendo potenciações e radiciações. c) é real.
d) está na forma trigonométrica.
Exemplo 1 e) está na forma algébrica.
Represente o número complexo z = 1 + i na forma
trigonométrica.
Resolução:
Temos que a = 1 e b = 1
3) (EsSA – 2018) Considere o número complexo z = 2 + 2i.
Dessa forma, .

a)
b) – 2i
c) 2i
d) – 1 + 3i
e) 2

4) (EsSA – 2019) Para que seja um imaginário


A forma trigonométrica do complexo z = 1 + i é z = puro, o valor de a deve ser:
√2.(cos45º + sen45º . i).
Exemplo 2 a) a = 1/3
Represente trigonometricamente o complexo z = –√3 + i. b) a = 2/5
Resolução: c) a = 3/5
a = –√3 e b = 1 d) a = 2
e) a = 3

5) Qual o resultado obtido com a realização da soma e da


subtração, respectivamente, dos números complexos z1 = 3 +
i e z2 = 1 + 2i?

a) 2 + 3i e 1 – i
b) 3 + 2i e -4 – i
c) 4 + 3i e 2 – i
d) 1 + 2i e -3 – i
A forma trigonométrica do complexo z = –√3 + i é z = e) 1 + 3i e -2 – i
2.(cos150º + sen150º *.i).

- 113 -
6) Qual a forma algébrica de z no caso 3z = z - (- 8 + 6i)?
12) (FURG) Se u = 1 – 2i é um número complexo e , seu
a) z = 4 – 2i conjugado, então z = u2 + 3 é igual a:
b) z = 4 – 3i
c) z = 2 – 2i a) – 6 – 2i
d) z = 1 – 2i b) 2i
e) z = 1 - 3i c) – 6
d) 8 + 2i
e) – 6 + 2i

13) (Unesp-SP) Se z = (2 + i) ∙ (1 + i) ∙ i, então z, o conjugado


7) O valor de z8, para z = 2 - 2i, é: (Lembre-se que i2 = -1) de z, será dado por:

a) 3024 a) −3 − i
b) 4096 b) 1 − 3i
c) 5082 c) 3 − i
d) 1294 d) −3 + i
e) 2784 e) 3 + i

14) Dados os números complexos:

8) Quais os valores de x que resolvem a equação do 2º grau z = 5 + 2i


x2 + 4x + 5? (Lembre-se que i2 = -1). w = 2 + 4i
k = 1 + 2i
a) -2 + i e -2 – i
b) -1 + i e -1 – i Qual é a solução da expressão a seguir?
c) -2 + i e -1 + i zw
d) -1 + 2i e -1 + i k
e) -3 – 2i e -2 + i a) 10 + 4i
b) 25 + 10i
c) 50 + 10i
d) 50 + 20i
e) 10 + 20i
9) Quais os valores de x para que o número complexo z = x +
(x2 - 1)i seja um número real?

a) x = 1 15) Dados os números complexos z = a + bi e w = c + di,


b) x = 3 assinale a alternativa correta entre as afirmações a seguir.
c) x = 4
d) x = 2 a) zw = ac + bdi
e) x = 0
b) z/w = ac + bdi
ac
c) z/w = ac + adi + bci – bd
a–b
10) Qual o resultado da divisão ? (Lembre-se que i2 = d) zw = abcdi
-1).
e) z/w = ac – adi + bci + bd
a) 2 – 4i c+d
b) 3 – 5i
c) 5 – 2i
d) 2 – i
e) – 2i

16) Considerando o produto entre dois números complexos z


= 2 + 3i e w= 10 - 5i, qual é o número complexo w?

11) (UFBA) Sendo a = -4 + 3i, b = 5 - 6i e c = 4 - 3i, calcule o a) 5 – 4i


valor de a.c + b.
b) 5 – 40i
a) 1 + 2i 13
b) – 1 + 6i c) 35 – 40i
c) – 2 + 8i 13
d) – 2 + 18i d) 35i
e) 2i 13
e) i

- 114 -
17) (UFRS) Qual é a forma a + bi do número complexo a 23)
seguir?
1 + 2i
1–i
a) 1 + 3i
2
b) – 1 + 3i
2
c) – 1 + 2i
2 3
d) – 1 – 2i
2 3
e) 1 – 3i No período da “Revolução Científica”, a humanidade assiste
2 a uma das maiores invenções da Matemática que irá
revolucionar o conceito de número: o número complexo.
Rafael Bombelli (1526 – 1572), matemático italiano, foi o
primeiro a escrever as regras de adição e multiplicação para
a  5i
18) Se a é um número real e o número complexo é real, os números complexos.
5i
qual o valor de a? Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que indica
uma afirmação incorreta.
a) 15
b) 20 a) o conjugado de (1 + i) é (1 i)
c) 25
b) 1  i  2
d) 28
e) 30 c) (1 + i) é raiz da equação z 2  2z  2  0
d) (1 + i)–1 = (1– i)
e) (1 + i)2 = 2i

19) O valor de (3 3 i15+i16+i2)2 é:

a) 9i
b) –9
c) 27i
d) –27
e) –i 24) Sendo i   1 a unidade imaginária do conjunto dos
números complexos, o valor da expressão (1  i ) 6  (1  i) 6 é:
1 i
20) Se y = 2x, sendo x  e i   1 , o valor de (x + y)2 é a) 0
1 i
b) 16
c) -16
a) 9i
d) 16i
b) –9 + i
e) -16i
c) –9
d) 9
e) 9 – i

6  8i 123
25) O valor da expressão ( 2  3i )( 4  2i )  i é igual
21) Sendo i a unidade imaginária, então (1 + i) 20 – (1 – i)20 é 1 i
igual a a:

a) –1024. a) 13 – 14i
b) –1024i. b) 14 + 13i
c) 0. c) 13 + 14i
d) 1024. d) 14 – 13i
e) 1024i. e) i

22) Considere os números complexos z = i  (5 + 2i) e w = 3 +


i, onde i2 = –1. Sendo z o conjugado complexo de z, é
i13  i14
CORRETO afirmar que a parte real de z  w 2 é: 26) Se i é a unidade imaginária, então é igual a:
i15  i16
a) 3 a) i
b) 4 b) – i
c) 5 c) 0
d) 6 d) 1
e) 7 e) – 1

- 115 -
27) O número complexo z que verifica a equação
iz  2 z  (1  i)  0 é: 1
31) Dados Z  5i e W  3  2i , então W é:
a) z = 1 + i Z
1
b) z   i
83 51
3
a)  i
1 i 26 26
c) z 
3 b) 8i
i
d) z  1  1 39
3 c)  i
e) z = 1 – i 29 29
5 2
d)  i
13 13
e) n. d. a

10
28) Dados os números complexos z  3  i e w  , se w
3i 32) (ITA) Se S100 é a soma dos cem primeiros termos da
é o complexo conjugado de w, então,
P.A de primeiro termo  99  i e razão 1 i , então
a) z  w . S100
é igual a:
b) z  w .  99  101.i
c) z  w .
d) z  w . a) 100.i
e) N.R.A b) 1
c) 50
d) 100
e) i

29) Qual é o valor de m para que o produto


2  m.i . 3  i  seja um imaginário puro ? 33) (Fuvest) O primeiro termo de uma P.G de razão i, de
4.n  3 termos e de último termo 1  i é:
a) 5
b) 6 a) 1  i
c) 7
d) 8
b) 1  i
e) 10 c) 1 i
d) 1 i
e) 1

1  3i
30) O conjugado do número complexo é:
2i i 99  i 75
34) O número complexo é igual a:
 1  7i 1 i
a)
5
a) 1 i
1 i
b) b) 1  i
5 c) 1 i
1  2i d) 1  i
c)
7 e) n. d. a
 1  7i
d)
5
1 i
e)
5

- 116 -
35) (Fuvest) O número complexo 2  2i , na forma
39) (Aman) Sejam os complexos
trigonométrica, é:
Z1  4(Cos60  i.Sen60 ) e
 

   1
a) 2. Cos  i.Sen  Z 2  (Cos90  i.Sen90 ) . A forma algébrica do
 6 6 2
   complexo Z  Z1.Z 2 é:
b) 2. Cos  i.Sen 
 4 4
  3 1
 a)   i
c) 2. Cos  i.Sen  2 2
 3 3
3 3  3 1
 b)   i
d) 2. Cos  i.Sen  2 2
 4 4 
5 5  c)  3 i

e) 2. Cos  i.Sen  d)  3 i
 4 4 
e)  2 3  2i

36) (Cesgranrio) Seja o número complexo Z, tal que


Z  Z  2  4i  2 Z .i . A imagem de Z no plano de
Argand-Gauss é um ponto pertencente ao:

a) Eixo Real
b) Eixo Imaginário
c) Segundo Quadrante
40) (Fuvest) O módulo do número complexo Z tal que
d) Terceiro Quadrante
e) Quarto Quadrante 3.Z  i.Z  2  2i  0 é:

a) 6
37) (Fuvest) Se o módulo de um número complexo é igual a
b) 5
5 c) 4
2 e seu argumento é igual a , a expressão algébrica
4 d) 3
deste número é:
e) 2
a) 1 i
b) 2.i
c) 1 i
d) i
e) 1  i
GABARITO – QUESTÕES DE CONCURSOS

1–d 2–c 3–a 4–b 5–c 6–b 7–b 8–a


9 – a 10 – b 11 – d 12 – b 13 – a 14 – a 15 – e
38) (UFF) Sejam Z1 e Z2 os números complexos 16 – b 17 – b 18 – c 19 – d 20 – c 21 – c


Z1  3. Cos30  i.Sen30

e 22 – d 23 – d 24 – e 25 – c 26 – b 27 – e 28 – c
29 – b 30 – a 31 – a 32 – c 33 – d 34 – c 35 – b

 5.Cos 45  i.Sen45 . O produto de


  36 – d 37 – e 38 – e 39 – d 40 – e.
Z2 Z1 pôr Z2
é o número complexo:

a) 
15. Cos1350   i.Sen1350  
b) 
8. Cos75  i.Sen75

 

c) 8.Cos1350  i.Sen1350 
 

d) 15.Cos15  i.Sen15 
 

e) 15.Cos75  i.Sen75 
 

- 117 -
- 118 -
G
E
O
G
R
A
F
I
A
- 119 -
- 120 -
16. A ECOLOGIA DAS METRÓPOLES.
16.1 - O processo de urbanização
Chamamos de processo de urbanização a transformação de espaços naturais e rurais em espaços urbanos,
concomitantemente à transferência da população do campo para a cidade – que quando acontece em larga escala é chamada de
êxodo rural.
As cidades vêm sendo erguidas desde a Antiguidade: Ur e Babilônia foram construídas há cerca de 5 mil anos, na Mesopotâmia,
planície drenada pelos rios Tigre e Eufrates, hoje no Iraque. Elas eram centros de poder e de negócios, e a maioria da população vivia
no campo. Mesmo quando algumas cidades alcançaram grande dimensão populacional (como Roma, que em seu apogeu, no início
da era cristã, tinha cerca de 1 milhão de habitantes), as taxas de urbanização continuaram muito baixas, porque a atividade agrícola
era predominante e ocupava muita mão de obra.
Durante a Idade Média, sob o feudalismo, as cidades perderam importância devido à descentralização político-econômica
característica desse sistema econômico e à consequente redução das trocas comerciais. Já com o desenvolvimento do capitalismo
comercial, as cidades passaram a ganhar cada vez mais importância porque voltaram a ser o centro dos negócios. Mas foi sobretudo
a partir do capitalismo industrial que se iniciou um contínuo processo de urbanização.
Embora tenha se acelerado com as revoluções industriais, a urbanização foi, até meados do século XX, um fenômeno
relativamente lento e circunscrito aos países pioneiros no processo de industrialização. Mesmo o Reino Unido tornou-se
predominantemente urbano somente por volta de 1900.
Historicamente, dois fatores condicionaram o processo de urbanização: os atrativos, que estimulam as pessoas a ir para as
cidades, e os repulsivos, que as impulsionam a sair do campo.
Os fatores atrativos são predominantes em países desenvolvidos e em regiões modernas dos emergentes. Estão associados
ao processo de industrialização, ou seja, às transformações provocadas na cidade pela indústria, notadamente quanto à geração de
empregos no próprio setor industrial e no de serviços. Além disso, a modernização da agropecuária, principalmente por causa da
mecanização da agricultura, aumentou a produtividade agrícola e possibilitou a transferência de pessoas do campo para a cidade ao
longo da História.
Nos séculos XVIII e XIX, durante a Revolução Industrial, as principais cidades dos atuais países desenvolvidos europeus
tiveram um crescimento muito rápido, com a consequente deterioração da qualidade de vida. Os trabalhadores moravam em cortiços
e eram frequentes as doenças e epidemias pela falta de saneamento básico e de higiene. Também não havia legislação trabalhista e
o nível geral de renda era muito baixo. Ao longo do tempo passou a haver um lento crescimento dos salários, paralelamente à luta
pela conquista de alguns direitos fundamentais, como a redução da jornada de trabalho, férias e descanso semanal remunerado. Os
governos passaram a intervir nas cidades, melhorando as condições gerais de saneamento, habitação e transporte. Nessa época, a
circulação de mercadorias e de pessoas e a desconcentração da produção industrial ocasionaram o desenvolvimento de outras
cidades, que com o tempo formaram uma densa e articulada rede urbana.
Os fatores repulsivos são típicos de alguns países em desenvolvimento, qualquer que seja seu nível de industrialização. Estão
associados às péssimas condições de vida existentes na zona rural, por causa da estrutura fundiária bastante concentrada, dos baixos
salários, da falta de apoio aos pequenos agricultores e do arcaísmo das técnicas de cultivo. O resultado é o êxodo rural, ou seja, uma
grande transferência da população do campo para as cidades, notadamente para as grandes metrópoles, provocando agravamento
dos problemas urbanos.
Após a Segunda Guerra, com a expansão das empresas transnacionais e o impulso à industrialização em países em
desenvolvimento, a urbanização se acelerou em muitos deles até então agrícolas, notadamente na América Latina. Em contrapartida,
a África e a Ásia, apesar da aceleração recente, ainda são continentes pouco urbanizados (reveja a tabela da abertura deste capítulo).
Nos países desenvolvidos e em alguns emergentes tem havido um processo de transferência de indústrias das grandes para
as médias e pequenas cidades, promovendo uma desconcentração urbano-industrial. O setor que mais tem crescido, principalmente
nas grandes cidades, é o de serviços. Com essas transformações nas regiões do mundo consideradas modernas, já não se pode
estabelecer a clássica separação entre campo e cidade, uma vez que atividades antes exclusivamente urbanas se disseminaram no
meio rural.
Ao longo da História e até os dias atuais, muitas cidades se especializaram em determinadas funções, o que lhes dá
características particulares, enquanto outras são multifuncionais.

16.2 - Aglomerações urbana


Segundo a Divisão de População da ONU, aglomeração urbana “refere-se à população contida no interior de um território
contíguo, habitado em níveis variáveis de densidade, sem levar em conta os limites administrativos das cidades”. Noutras palavras, é
um conjunto de cidades em grande parte conurbadas, isto é, interligadas pela expansão periférica da malha urbana de cada uma
delas ou pela integração socioeconômica comandada pelo processo de industrialização e, cada vez mais, pelo desenvolvimento dos
serviços.
No Brasil, as maiores aglomerações urbanas têm sido legalmente reconhecidas como regiões metropolitanas, que também
costumam ser chamadas de metrópoles. Nelas, há sempre um município-núcleo, com maior capacidade polarizadora e que lhe dá
nome, como, por exemplo, Grande São Paulo, Grande Salvador,
Grande Curitiba, Grande Belém, etc. As regiões metropolitanas foram criadas por lei para facilitar o planejamento urbano dos
municípios que as compõem. Essa planificação geralmente é executada por órgãos especialmente criados para esse fim, como a
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (Emplasa), encarregada do planejamento urbano das regiões metropolitanas
de São Paulo, de Campinas, da Baixada Santista, do Vale do Paraíba e do Litoral Norte que, juntas com as aglomerações urbanas de
Jundiaí, Piracicaba e Sorocaba, formam a macrometrópole paulista, na terminologia dessa empresa.
Uma megalópole se forma quando os fluxos de pessoas, capitais, informações, mercadorias e serviços entre duas ou mais
metrópoles estão fortemente integrados por modernas redes de transportes e telecomunicações, mesmo que existam espaços
agrícolas entre elas. Portanto, não é necessário que todas as cidades estejam conurbadas em uma megalópole.
A primeira megalópole a se estruturar no mundo, denominada informalmente de Boswash, abrange um cordão de cidades no
nordeste dos Estados Unidos que se estende de Boston até Washington, tendo Nova York como a cidade mais importante (observe
o mapa). Ainda nos Estados Unidos, encontramos San-San, que se estende de San Francisco a San Diego, passando por Los Angeles,
na Califórnia; e Chipitts (também conhecida como megalópole dos Grandes Lagos), que vai de Chicago a Pittsburgh e se estende até
o Canadá por cidades como Toronto, a maior daquele país. A megalópole japonesa situa-se no sudeste da Ilha de Honshu, no eixo
que se estende de Tóquio até o norte da Ilha de Kyushu, passando por Osaka e Kobe. Na Europa, a megalópole se desenvolveu no
noroeste, abarcando as aglomerações do Reno-Ruhr, na Alemanha, da Grande Paris, na França, e da Grande Londres, no Reino

- 121 -
Unido, e é, portanto, transnacional. No Brasil, a megalópole nacional é formada pelas duas maiores metrópoles do país: abrange a
macrometrópole paulista, cuja cidade mais importante é São Paulo, e, passando pelo Vale do Paraíba e Litoral Norte, estende-se até
a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Com a entrada do capitalismo em sua atual fase informacional, houve uma descentralização mundial do poder econômico,
político, cultural e financeiro. Nesse contexto, muitos centros urbanos, metrópoles ou não, elevaram-se à condição de cidades globais
pelo importante papel que passaram a desempenhar na rede urbana mundial. Com a intensificação da globalização, essas cidades
globais, localizadas principalmente nos países desenvolvidos, assumiram importância primordial na rede mundial de fluxos.
Embora as zonas urbanas concentrem um percentual cada vez maior da população mundial, a proporção de pessoas que
vivem nas grandes aglomerações urbanas continua pequena. Embora as aglomerações de mais de 10 milhões de habitantes venham
ganhando cada vez mais população, a maioria dos moradores urbanos ainda se concentra em pequenas e médias cidades, situadas
na faixa de menos de 500 mil habitantes.
A taxa de urbanização varia muito de um país para outro. A maioria dos países desenvolvidos, assim como alguns emergentes,
apresenta altas taxas de urbanização. Isso ocorre porque o fenômeno industrial, sobretudo em seu início, não se desvincula do urbano.
Com exceção da China e da Índia, com as maiores populações do planeta e de industrialização recente, todos os países
industrializados apresentam taxas de urbanização relativamente elevadas. O contrário, porém, não é verdadeiro. Há países que
apresentam índices muito baixos de industrialização e outros que praticamente não dispõem de um parque industrial, mas que, mesmo
assim, são fortemente urbanizados. Finalmente, há países muito pobres que ainda são predominantemente rurais.
16.3 - Os problemas sociais urbanos
Desigualdades e segregação socioespacial
Em qualquer grande cidade do mundo, o espaço urbano é fragmentado. Sua estrutura assemelha-se a um quebra-cabeça em
que as peças, embora façam parte de um todo, têm cada uma sua própria forma e função. As grandes cidades apresentam centros
comerciais, financeiros, industriais, residenciais e de lazer. Entretanto, é comum que funções diferentes coexistam num mesmo bairro.
Por isso, essas mesmas cidades são policêntricas. Em cada zona ou distrito, o bairro mais importante possui seu próprio centro, suas
ruas principais, que sediam o comércio e os serviços e servem de polos de atração ao fluxo de pessoas dos bairros próximos.
Essa fragmentação, quase sempre associada a um intenso crescimento urbano, impede os cidadãos de vivenciar a cidade
como um todo, atendo-se, em vez disso, apenas aos fragmentos que fazem parte do seu dia a dia. O local de moradia, de trabalho,
de estudo ou de lazer é onde são estabelecidas as relações pessoais e sociais. Entretanto, em uma metrópole esses locais tendem a
não ser coincidentes, o que provoca grandes deslocamentos e aumento dos congestionamentos. Pode-se dizer, então, que a grande
cidade não é um lugar, mas um conjunto de lugares, e que as pessoas a vivenciam parcialmente.
As desigualdades sociais se materializam na paisagem urbana. Quanto mais acentuadas forem as disparidades de renda entre
os diferentes grupos e classes sociais, maiores são as desigualdades de moradia, de acesso aos serviços públicos e de oportunidades.
Consequentemente, são maiores também a segregação espacial e os problemas urbanos. Por isso, como afirma o geógrafo Horacio
Capel na epígrafe, muitos dos problemas considerados urbanos são, na realidade, problemas da sociedade. Porém, mesmo num
bairro de população pobre, a qualidade de vida pode ser melhorada caso os serviços públicos de educação, saúde, transporte coletivo,
saneamento básico, entre outros, passem a funcionar de forma satisfatória. Essas mudanças positivas têm maiores chances de se
concretizar quando a comunidade se organiza para melhorar o seu cotidiano e reivindicar os seus direitos. Quando isso não acontece,
as desigualdades e a exclusão socioespacial tendem a se manter e, muitas vezes, a aumentar.
O medo da violência urbana vem impulsionando a criação de condomínios fechados, especialmente nas metrópoles, mas
também em médias e até em pequenas cidades. Buscando segurança e tranquilidade, muitas pessoas de alto e médio poder
aquisitivo vêm se mudando para esse tipo de conjunto residencial, que se multiplicou nos últimos anos. Embora seja legítimo o
indivíduo buscar maior segurança para si e sua família, esse fenômeno acentua a exclusão social e reduz os espaços urbanos
públicos, uma vez que propicia o crescimento de espaços privados e de circulação restrita. Isso só tem aumentado a segregação
socioespacial. Além disso, muitos bairros, ao perderem população, acabam sofrendo um processo de deterioração urbana, caso de
algumas áreas do centro de grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e muitas outras que atualmente
tentam recuperá-las.
Moradias precárias
As maiores cidades dos países em desenvolvimento não tiveram capacidade de absorver a grande quantidade de pessoas que
em pouco tempo migraram da zona rural e de cidades pequenas e médias; por isso aumentou o número de desempregados. Para
sobreviver, muitas pessoas acabaram se resignando ao subemprego, à economia informal. Como os rendimentos, mesmo para os
trabalhadores da economia formal, em geral são baixos, muitos não têm condições de comprar nem de alugar um imóvel em bairros
com infraestrutura adequada (rede de esgoto, de eletricidade, água encanada, etc), pois são itens que tornam o imóvel mais caro. Por
causa disso, formaram-se favelas em várias cidades, principalmente nas maiores. Essa é a face mais visível do crescimento
desordenado das cidades e da segregação espacial urbana.
- 122 -
Os governos de muitos países em desenvolvimento têm grande parcela de responsabilidade nesse processo, porque não
implantaram políticas públicas adequadas, especialmente no campo habitacional, para enfrentar o problema. Não investiram o
suficiente em políticas que estimulassem o crescimento econômico e a geração de empregos, em infraestrutura urbana e em melhoria
da qualidade de vida da população. Particularmente, não investiram o suficiente na construção de moradias populares. Nos países
em que as políticas públicas foram adequadas, paralelamente ao aumento da oferta de empregos e à elevação da renda, o que
possibilitou uma melhoria das condições de vida, as submoradias foram bastante reduzidas ou até mesmo erradicadas.
Um dos melhores exemplos disso aconteceu em Cingapura. De acordo com o Banco Mundial, em 1965, quando o país se
tornou independente, 70% de sua população vivia em submoradias, em condições muito precárias: a renda per capita era de 2 700
dólares ao ano, e o desemprego atingia 14% da população economicamente ativa (PEA). Quatro décadas depois, graças a maciços
investimentos públicos não apenas em habitação, mas em infraestrutura urbana e em serviços públicos de qualidade, houve rápido
crescimento econômico, elevação e melhor distribuição da renda per capita e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida da
população.
Em 2011, segundo o FMI, Cingapura tinha uma renda per capita de 49 270 dólares, e o desemprego atingia 2% da PEA. O
governo do país, então, investiu pesadamente em habitação e as submoradias foram erradicadas.
A carência de habitações seguras e confortáveis é um problema existente no mundo todo, mas é muito mais grave nos países
em desenvolvimento, especialmente nos mais pobres, notadamente da África Subsaariana. Segundo o Programa das Nações Unidas
para Assentamentos Humanos (agência da ONU sediada em Nairobi, Quênia, mais conhecida como UN-Habitat), em 2010 havia 820
milhões de pessoas vivendo em favelas, o que representava 32,6% da população urbana dos países em desenvolvimento. Não há
um conceito único de favela; a publicação Slums of the World da UN-Habitat apresenta descrições e definições para trinta cidades
espalhadas pelo mundo. A própria agência da ONU reconhece que o termo inglês “slum” é utilizado para definir uma grande
diversidade de tipos de assentamentos urbanos espalhados por vários países (para o português do Brasil esse termo pode ser
traduzido como favela). De acordo com a UN-Habitat, uma ou mais das seguintes características define esse tipo de moradia precária:
condições inseguras de habitação, acesso inadequado a saneamento básico (não há água tratada nem coleta de esgoto e de lixo),
baixa qualidade estrutural das construções e moradias apertadas e superlotadas. Outra característica da favela é que, em geral, se
trata de uma ocupação irregular, isto é, as pessoas ocupam terrenos dos quais não possuem título de propriedade.
Rio de Janeiro e São Paulo, as duas cidades brasileiras com maior número de pessoas vivendo em favelas, aparecem entre
as trinta cidades da lista da UN-Habitat e em ambas constam a definição dada pelo IBGE: “Aglomerado subnormal: grupo de cinquenta
ou mais moradias, construídas de maneira adensada e desordenada, em terreno pertencente a terceiros, e carente de infraestrutura
e serviços públicos”.
Historicamente, as favelas proliferaram onde havia terrenos disponíveis nos interstícios das cidades, muitas vezes em áreas
inadequadas para ocupação, como morros e margens de rios e córregos. Em muitas cidades, especialmente nas maiores, à medida
que a urbanização vai se adensando e a terra se valorizando, a tendência é que novas ocupações irregulares ocorram na periferia,
em áreas distantes das zonas centrais onde estão as maiores ofertas de trabalho. Isso cria muitas dificuldades para a população se
deslocar devido ao trânsito e ao alto custo do transporte público. Por isso, muita gente decide morar em cortiços nas regiões centrais
em vez de ir para a periferia distante. Assim, é para que as pessoas continuem morando perto do trabalho e da escola do filho que as
políticas públicas de erradicação de favelas procuram manter os moradores em prédios construídos no mesmo local em que estava a
moradia precária.
China e Índia, embora estejam, devido ao seu rápido crescimento econômico, reduzindo significativamente a pobreza e o
número de pessoas vivendo em habitações precárias, ainda são, de longe, os países com maior número absoluto de pessoas vivendo
em favelas.
Na tentativa de encaminhar soluções para o problema das moradias precárias, aconteceu em Istambul, na Turquia, em 1996,
a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos – Habitat II (a primeira reunião, Habitat I, realizou-se em Vancouver,
Canadá, em 1976). No encontro, que reuniu chefes de Estado e de governo dos países-membros da ONU e representantes de diversas
ONGs, entre outros problemas urbanos, foi discutida a questão da moradia. Ficou decidido que os governos deveriam criar condições
para que fosse universalizado o acesso à moradia segura, habitável, salubre e sustentável. Entretanto, a redação do relatório final
ficou ambígua, porque diversos governos, entre os quais o brasileiro, foram contra a proposta de que a habitação fosse considerada
um direito universal do cidadão e que, portanto, deveria ser garantida pelo Estado. Os Estados Unidos, um dos países mais
veementemente contrário ao relatório, tinham receio de que os sem-teto (homeless, em inglês) entrassem com ações judiciais contra
o governo.
Em diversas cidades do mundo, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, os sem-teto vêm se
organizando para lutar pelo direito à moradia urbana adequada e por melhores condições de vida. Uma ou outra dessas organizações
tem atuação nacional, como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), no Brasil, mas a maioria delas tem atuação local,
seja no âmbito da cidade, seja no do bairro em que seus filiados vivem. Há também organizações com atuação internacional, como a
TETO (ou TECHO, em espanhol, ONG criada no Chile em 1997), que atua em quase toda a América Latina. Boa parte das pessoas
que trabalha nessas organizações é voluntária, mostrando que a solidariedade coletiva é um caminho para a ocupação mais justa do
solo urbano e a superação da pobreza. Somente a TETO possui cerca de 500 mil voluntários em 17 países da América Latina e dois
do Caribe.
Violência urbana
A violência - roubos, assaltos, sequestros, homicídios, etc. - atinge milhões de pessoas no mundo inteiro, fazendo muitas
vítimas e gerando medo e insegurança. O indicador mundialmente considerado para medir a violência é o homicídio. Isso porque além
de ser a maior agressão contra a pessoa, porque lhe tira a vida, quase todos os casos são relatados e, portanto, contabilizados nas
estatísticas.
A violência contra a pessoa não está necessariamente associada à pobreza, como muitas vezes se pensa. Por exemplo, há
países mais pobres que o Brasil, como a Índia e o Egito, que apresentam índices significativamente menores de violência. Ela é mais
grave em países marcados por acentuada desigualdade socioeconômica, entre os quais o Brasil, o México, a África do Sul, a Colômbia
e vários países da América Central. A violência também é muito associada às grandes cidades, mas essa associação nem sempre é
verdadeira. Como mostram os dados da tabela, Mumbai, sétima maior metrópole do mundo, e especialmente Tóquio, a maior delas,
apresentam índices de violência baixíssimos, e as taxas de homicídio das grandes cidades da maioria dos países são mais baixas do
que a média nacional. Nos países desenvolvidos, o nível de violência é desigual: como vimos na tabela, os Estados Unidos apresentam
índices de violência mais elevados do que países de igual nível de desenvolvimento e mesmo do que países bem mais pobres. Isso
ocorre porque o país tem os maiores níveis de desigualdade no mundo desenvolvido, permite a livre comercialização de armas de
fogo e nele impera uma cultura belicista em diversos setores da população.
- 123 -
Dentro de qualquer país, a violência também é desigual do ponto de vista social e territorial. Na maioria dos países, inclusive
no Brasil, as maiores vítimas de homicídio são jovens de 15 a 24 anos do sexo masculino. Em termos territoriais, há estados,
municípios e bairros mais violentos que outros. Em nosso país, a violência contra a vida é maior nas regiões metropolitanas, onde
vive grande parcela da população e a desigualdade social é mais acentuada. Por exemplo, os municípios da região metropolitana
comandada pela capital do estado de São Paulo são mais violentos do que grande parte das pequenas cidades brasileiras. No entanto,
como vimos, seria um erro concluir que as metrópoles são sempre mais violentas e as pequenas cidades sempre tranquilas. Entre
2008 e 2010, a cidade mais violenta do Brasil, em termos relativos, foi Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (BA). Naquele
período, esse município de 116 mil habitantes registrou uma média de 170 assassinatos, o que resultou numa taxa média de 146
homicídios por 100 mil habitantes.
A maior incidência de homicídios em termos absolutos se concentra naturalmente nas maiores cidades. São Paulo, a maior
cidade do país, com 11 milhões de habitantes, embora tenha o terceiro maior número absoluto de assassinatos do país, apresentou,
em 2010, uma taxa de 13 homicídios por 100 mil habitantes (em 2011 caiu para 9/100 mil), a menor dentre todas as capitais brasileiras.
No interior de uma metrópole, o índice de violência também é desigual, e mesmo dentro de um município há bairros com
diferentes graus de violência. Os bairros mais bem equipados com infraestrutura urbana e mais bem policiados, em geral os mais
centrais, tendem a ter um índice menor de violência do que os bairros malservidos, em sua maioria localizados na periferia. Por
exemplo, em 2008, o Jardim Paulista, um bairro central da cidade de São Paulo, teve um índice de homicídio de 1,3 por 100 mil
habitantes; no outro extremo, Marsilac, localizado na periferia distante da Zona Sul da cidade, o índice foi de 40,6 por 100 mil. Isso é
verdadeiro mesmo para cidades globais muito ricas e, no geral, mais bem equipadas, como Nova York.
Na discussão sobre as causas da violência, os especialistas salientam, cada vez mais, a importância das redes de solidariedade
de uma comunidade – família, escola, igrejas, associações de bairro, centros de esporte e lazer, etc. Quando essas redes são amplas
e bem articuladas, as pessoas sentem-se amparadas, socialmente inseridas e há pouca propensão às ações criminais. Entretanto,
quando essas redes são pouco articuladas, as pessoas ficam sem perspectivas, e muitas acabam sendo cooptadas por organizações
criminosas, como acontece em muitas favelas, cortiços e bairros periféricos das cidades brasileiras.

16.4 - Rede e hierarquia urbana


A rede urbana é formada pelo sistema de cidades – de um mesmo país ou de países vizinhos –, que se interligam umas às
outras por meio de sistemas de transportes e de telecomunicações, através dos quais ocorrem os fluxos de pessoas, mercadorias,
informações e capitais. As redes urbanas dos países desenvolvidos são mais densas e articuladas por causa dos altos índices de
industrialização e de urbanização, da economia diversificada e dinâmica, dos mercados internos com alta capacidade de consumo e
dos grandes investimentos em sistemas de transportes e telecomunicação. De forma geral, quanto mais complexa a economia de um
país ou de uma região, maiores são sua taxa de urbanização e a quantidade de cidades, mais densa é a sua rede urbana e maiores
são os fluxos que as interligam. As redes urbanas de muitos países em desenvolvimento, particularmente daqueles de baixo nível de
industrialização e urbanização, são bastante desarticuladas, e as cidades estão dispersas no território, muitas vezes sem formar
propriamente uma rede.
As redes de cidades mais densas e articuladas se desenvolveram nas regiões do planeta onde se encontram as megalópoles:
nordeste e costa oeste dos Estados Unidos, porção ocidental da Europa e sudeste da ilha de Honshu, no Japão, embora haja
importantes redes em outras regiões, como aquelas polarizadas pela Cidade do México, por São Paulo e por Buenos Aires.
Com a entrada do capitalismo em sua etapa informacional, o avanço da globalização e a consequente aceleração de fluxos no
espaço geográfico planetário, já se pode falar numa rede urbana mundial, cujos nós ou pontos de interconexão são as chamadas
cidades globais.
Desde o final do século XIX, muitos autores passaram a utilizar o conceito de rede urbana para se referir à crescente articulação
existente entre as cidades resultantes da expansão do processo de industrialização-urbanização. No mesmo período, na tentativa de
apreender as relações que se estabelecem entre as cidades no interior de uma rede, a noção de hierarquia urbana também passou a
ser utilizada. Esse conceito foi tomado do jargão militar: refere-se a uma rígida hierarquia, na qual cada subordinado se reporta ao
seu superior imediato. No exército, por exemplo, o soldado reporta-se ao cabo, que se reporta ao sargento que se reporta ao tenente,
e assim sucessivamente até chegar ao general.
Fazendo uma analogia, a vila seria um soldado e a metrópole completa, um general, a posição mais alta. Logo, a metrópole
seria o nível máximo de poder e influência econômica, e a vila, o nível mais baixo, que sofreria influência de todas as outras. Desde o
final do século XIX até meados da década de 1970, foi essa a concepção de hierarquia urbana utilizada, como se pode observar no
esquema abaixo, à esquerda.
Ocorre que essa concepção tradicional de hierarquia urbana já não oferece uma boa descrição das relações estabelecidas
entre as cidades no interior da rede urbana. Com os avanços da revolução técnico-científica, a acelerada modernização dos sistemas
de transportes e de telecomunicações, o barateamento e a maior facilidade de obtenção de energia, a disseminação de aviões, trens
rápidos e automóveis, enfim, com a redução do tempo e das distâncias, as relações entre as cidades já não respeitam o “esquema
militar”, pelo qual era necessário “galgar postos” dentro da hierarquia das cidades. No atual estágio informacional do capitalismo,
estruturou- se uma nova hierarquia urbana, dentro da qual a relação da vila ou da cidade local pode se dar com o centro regional, com
a metrópole regional ou até mesmo diretamente com a metrópole nacional. O esquema da direita mostra a inter-relação das cidades
no interior da rede urbana de uma forma mais próxima da realidade atual.
Hoje, uma pessoa com boa renda pode residir numa chácara ou num sítio, na zona rural, ou numa pequena cidade, em lugares
distantes de um grande centro, e estar mais integrada à vida urbana do que outra pessoa pobre que resida nesse mesmo centro. Se
a pessoa vive, por exemplo, numa chácara a quilômetros da grande cidade, mas tem à sua disposição telefone, computador, conexão
com a internet, antena parabólica e automóvel, está mais integrada do que outra que mora na cidade, mas num cortiço ou numa favela
e não tem acesso a todos esses bens e serviços. Portanto, o que define a integração ou não das pessoas à moderna sociedade
capitalista é a maior ou menor disponibilidade de renda - e, consequentemente, a possibilidade de acesso às novas tecnologias, aos
novos conhecimentos, aos novos bens e serviços -, e não mais as distâncias que as separam dos lugares.

As cidades na economia global


No século XVI, a viagem da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral demorou 43 dias para atravessar o oceano
Atlântico desde Lisboa até o litoral brasileiro, nos arredores de onde hoje está Porto Seguro (BA). Atualmente, de avião, o mesmo
percurso é feito em cerca de oito horas. A famosa carta de Pero Vaz de Caminha que descrevia suas impressões sobre a nova terra,
teve de fazer a travessia do oceano, a bordo de um navio que retornou à Europa, até chegar às mãos do rei de Portugal semanas
depois. Podemos dizer que durante longo período da história humana a informação circulava à mesma velocidade das pessoas e das

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mercadorias, ou seja, a comunicação dependia dos meios de transporte e só começou a se separar deles a partir da invenção do
telégrafo, no século XIX. Hoje, o avanço tecnológico, além de acelerar todas as modalidades de circulação, diferenciou definitivamente
o tempo necessário ao transporte da informação (veiculada, por exemplo, na forma de bits) do tempo do transporte da matéria.
Atualmente, as informações viajam praticamente à velocidade da luz. Se fosse hoje, Caminha enviaria sua carta por e-mail. Ela
chegaria ao destino quase que imediatamente ou, como se diz, em “tempo real”.
Avanços tecnológicos como esses são a base da globalização, que, por sua vez, tem favorecido a dispersão da produção
pelos lugares que oferecem maiores possibilidades de lucro às empresas e maior integração dos mercados, das finanças e das Bolsas
de Valores. Tudo isso contribui para a expansão da infraestrutura urbana e da rede global de cidades, assim como para reforçar o
papel de comando de algumas delas na fase histórica atual.
A desconcentração das indústrias, que rumam para cidades médias, pequenas e até mesmo para a zona rural, ao contrário
do que muitos pensam, tem contribuído para reforçar o papel de comando de muitas das grandes cidades, e mesmo de algumas
médias. Essas cidades comandantes são importantes centros de serviços especializados de apoio à produção – universidades e
centros de pesquisa, escritórios de advocacia e contabilidade, agências de publicidade e marketing, bancos e bolsas de valores, hotéis
e centros de eventos e exposições, etc. Um dos exemplos mais ilustrativos é São Paulo, que se consolidou como o principal centro
de serviços e de negócios não só do Brasil, mas da América Latina.
As cidades globais, como vimos, são os nós da rede urbana mundial, e as megacidades, o que são? De acordo com a ONU,
são aglomerações urbanas (regiões metropolitanas) com 10 ou mais milhões de habitantes. Assim, as cidades globais, uma definição
qualitativa, não coincidem necessariamente com as megacidades, definidas por um critério quantitativo. Por exemplo, de acordo com
a publicação World Urbanization Prospects (ONU), Zurique, na Suíça, que em 2011 tinha 1,2 milhão de habitantes, não é uma
megacidade, mas é uma cidade global pelo papel de comando que desempenha na rede urbana mundial. É sede de importantes
empresas, oferece variados serviços globais – financeiros, administrativos, turísticos, etc. – e apresenta densa infraestrutura de
transportes e telecomunicações conectando-a aos fluxos globalizados. Há poucas pessoas marginalizadas e desconectadas nessa
cidade. Segundo o mesmo documento, a região metropolitana de Daca, em Bangladesh, tinha 15,4 milhões de habitantes em 2011,
sendo classificada como megacidade; porém, não é uma cidade global, devido à limitação de sua infraestrutura e à sua reduzida oferta
de serviços globais. Além disso, uma grande parcela da população de Daca está marginalizada, desconectada dos fluxos globais.
Ainda que, segundo a ONU, somente 10% da população urbana mundial vivesse em megacidades em 2011, elas estão
crescendo e ganhando importância, sobretudo nos países em desenvolvimento. Das 23 megacidades existentes no mundo em 2011,
17 estavam em países pobres ou emergentes. A maioria delas apresenta elevado crescimento populacional, com destaque para Lagos
(Nigéria), Daca (Bangladesh), Shenzen (China), Karachi (Paquistão), Délhi (Índia) e Pequim (China). Compare a evolução do
crescimento delas com a das metrópoles dos países desenvolvidos. Embora Tóquio deva permanecer como a maior aglomeração
urbana por alguns anos, seu crescimento será o mais baixo do período 2011-2025, e as outras cidades dos países ricos também
crescerão muito pouco. Segundo projeções da ONU, em 2025 haverá 37 megacidades, das quais trinta localizados em países em
desenvolvimento. Exceto Tóquio, as outras cidades dos países desenvolvidos que aparecem na lista têm perdido posições. Em 2025,
a segunda maior cidade do mundo será Délhi, na Índia, e Nova York cairá para a sexta posição.
Segundo classificação desenvolvida pela Globalization and World Cities (GaWC), rede de pesquisas da globalização e das
cidades globais sediada no Departamento de Geografia da Universidade de Loughborough (Reino Unido), em 2010 havia 178 cidades
globais. Essa pesquisa classificou-as em três níveis (alfa, beta e gama), com seus subníveis de acordo com a densidade e a qualidade
de sua infraestrutura, a oferta de bens e serviços e, consequentemente, a capacidade de polarização de cada uma delas sobre os
fluxos regionais e mundiais.
As duas cidades mais influentes, que mais polarizam os fluxos de pessoas, investimentos, informações, etc. – as principais
comandantes da globalização – são Nova York e Londres (cidades alfa ++). Em seguida, também com alto grau de integração, porém
complementares às duas primeiras, vêm oito cidades: Hong Kong, Paris, Cingapura, Tóquio, Xangai, Chicago, Dubai e Sydney (alfa +). Ainda
fortemente conectadas, mas num patamar inferior a essas primeiras, vêm 18 cidades alfa, entre as quais está São Paulo, e 19 alfa –.
As 64 seguintes foram classificadas na hierarquia como cidades globais beta, onde aparece o Rio de Janeiro (beta –). As 67
do último grupo, cujos fluxos e oferta de serviços são bem menores em comparação com os dois primeiros, foram definidas como
cidades globais gama, entre as quais aparecem Porto Alegre e Curitiba (ambas gama –).
Como vimos, mesmo nas cidades mais bem equipadas nem todos têm igual acesso aos bens e serviços, o que é mais
acentuado em aglomerações urbanas que apresentam grande desigualdade social, como as megacidades dos países em
desenvolvimento: São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México, Buenos Aires, Mumbai, Karachi, etc. O que limita o acesso aos bens
e serviços é sobretudo a disponibilidade desigual de renda. No capitalismo, os investimentos são concentrados em certos lugares e
voltados para os setores econômicos e sociais nos quais o lucro é maior. Assim, se não forem realizados investimentos públicos para
garantir o desenvolvimento de todos os lugares, as pessoas mais pobres tendem a permanecer marginalizadas.
Há outras classificações para as cidades globais, entre as quais a da instituição de pesquisa The Mori Memorial Foundation,
sediada em Tóquio (Japão). Para elaborar uma lista de 35 cidades globais, seus pesquisadores levaram em conta mais de vinte
indicadores distribuídos por seis categorias: ambiente econômico, capacidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D), opções culturais,
qualidade de vida, ecologia e meio ambiente, facilidade de acesso. Quanto maior a pontuação nesses indicadores, melhor a posição
da cidade na rede urbana mundial.

17. BRASIL - O ESPAÇO DAS CIDADES


17.1 - As cidades e a urbanização brasileira
Até meados dos anos 1960 a população brasileira era predominantemente rural. Entre as décadas de 1950 e 1980, milhões
de pessoas migraram para as regiões metropolitanas e capitais de estados. Esse processo provocou inchaço, segregação espacial e
aumento das desigualdades nas grandes cidades, mas também melhoria em vários indicadores sociais, como redução da natalidade
e dos índices de mortalidade infantil, além do aumento na expectativa de vida e nas taxas de escolarização.
A fundação de Brasília (1960) e a abertura de rodovias integrando a nova capital ao restante do país provocaram significativas
alterações nos fluxos migratórios e na urbanização brasileira. As novas possibilidades de ocupação do território das regiões Centro-
Oeste e Norte por meio da criação de gado e do cultivo de grãos, entre outras atividades, promoveram a integração de novas regiões
agrícolas à dinâmica econômica comandada pelo Sudeste e Sul. Houve crescimento das cidades que já existiam, inauguração de
outras e, consequentemente, refl exos na rede urbana brasileira.
Nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul também ocorreu a estruturação de novas redes urbanas comandadas por cidades médias
que se modernizaram, provocando alteração no destino de muitos migrantes e redução dos movimentos de população em direção às
grandes metrópoles.

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O que consideramos cidade?
Como vimos, no mundo atualmente há cidades de diferentes tamanhos e densidades demográficas, de diversas condições
socioeconômicas. Em algumas destaca-se apenas uma função urbana, enquanto outras desenvolvem múltiplas atividades. Muitas se
estruturaram há séculos, já outras começaram a se desenvolver há poucos anos ou décadas. Há ainda cidades que apresentam
grande desigualdade social e aquelas nas quais as desigualdades são menos acentuadas. Todos esses aspectos refletem na
organização do espaço urbano e são visíveis em suas paisagens.
Dependendo do país ou da região em que se localiza, uma pequena aglomeração de alguns milhares de habitantes pode
apresentar grande diversidade de funções urbanas ou, simplesmente, constituir uma concentração de residências rurais. Por exemplo,
na periferia da Amazônia, onde a densidade demográfica é muito baixa, um pequeno povoado pode contar com diversos serviços,
como posto de saúde, escola e serviço bancário, enquanto no interior do estado de São Paulo, onde a rede urbana é bastante densa,
o distrito de um município de médio porte pode se constituir apenas como local de moradia de trabalhadores rurais, com comércio de
produtos básicos, sem apresentar outras funções urbanas. Quanto à população, uma cidade localizada em regiões pioneiras pode ter
muito menos habitantes que uma simples vila rural de um município muito populoso localizado em região de ocupação mais antiga.
Na maioria dos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, a classificação de uma aglomeração humana como
zona urbana ou cidade costuma levar em consideração algumas variáveis básicas: densidade demográfica, número de habitantes,
localização e existência de equipamentos urbanos, como comércio variado, escolas, atendimento médico, correio e serviços bancários.
No Brasil, o IBGE considera população urbana as pessoas que residem no interior do perímetro urbano de cada município e
população rural as que residem fora desse perímetro.
Entretanto, as autoridades administrativas de alguns municípios recorrem a um subterfúgio para aumentar sua arrecadação:
utilizando as atribuições que a lei lhes garante, determinam um perímetro urbano bem mais amplo do que a área efetivamente
urbanizada. Dessa forma, muitas chácaras, sítios ou fazendas, inegavelmente áreas rurais, acabam registradas como parte do
perímetro urbano e são taxadas com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e não com o Imposto Territorial Rural (ITR). Com
o IPTU, os municípios obtêm uma arrecadação muito superior à que obteriam com o ITR.

Como reconhecer uma cidade


Saborosa nota intitulada “Urbano ou Rural?” foi destaque da coluna Radar, assinada por Lauro Jardim na revista Veja. Ela
apresenta o caso extremo de União da Serra (RS), município de 1900 habitantes, dos quais 286 são considerados urbanos por
residirem na sede do município, ou nas sedes de seus dois distritos. A investigação da revista apontou as seguintes evidências: a) “a
totalidade dos moradores sobrevive de rendimentos associados à agropecuária”; b) “a ‘população’ de galinhas e bois é 200 vezes
maior que a de pessoas”; c) “nenhuma residência é atendida por rede de esgoto”; d) “não há agência bancária”.
Os comentários não poderiam ser melhores. Demonstram que o bom senso sempre dá preferência aos critérios funcionais, em
vez de estruturais, quando a questão é determinar se parte de um município como União da Serra pode ser considerada urbana. Ao
fazer perguntas sobre a base das atividades econômicas dos moradores e sobre a existência de esgoto ou de agência bancária, a
reportagem revela que não é razoável o critério estrutural em vigor segundo o qual urbano é todo habitante que reside no interior dos
perímetros delineados pelas Câmaras Municipais em torno de toda e qualquer sede de município ou de distrito. Infelizmente é assim
que o Brasil conta a sua população urbana desde o auge do Estado Novo, quando Getúlio Vargas baixou o Decreto Lei 311/38. Até
tribos indígenas foram consideradas urbanas pelos censos demográficos realizados entre 1940 e 2000.
Outra prova de que o bom-senso dá preferência a critérios funcionais é o contraste entre o que ocorre aqui e no exterior. Para
explicar como costuma ser feita a classificação territorial das populações no resto do mundo, o exemplo mais próximo é o da nação
que colonizou este imenso país. Por lei aprovada há vinte anos pela Assembleia da República de Portugal, uma povoação só pode
ser elevada à categoria de vila se possuir pelo menos metade de oito equipamentos coletivos:
a) posto de assistência médica;
b) farmácia;
c) centro cultural;
d) transportes públicos coletivos;
e) estação dos correios e telégrafos;
f) estabelecimentos comerciais e de hotelaria;
g) estabelecimento que ministre escolaridade obrigatória;
h) agência bancária.
Pela mesma lei, uma vila só pode ser elevada à categoria de cidade se possuir, pelo menos, metade de dez equipamentos
coletivos:
a) instalações hospitalares com serviço de permanência;
b) farmácias;
c) corporação de bombeiros;
d) casa de espetáculos e centro cultural;
e) museu e biblioteca;
f) instalações de hotelaria;
g) estabelecimento de ensino preparatório e secundário;
h) estabelecimento de ensino pré-primário e infantários;
i) transportes públicos, urbanos e suburbanos;
j) parques ou jardins públicos.
Além desses critérios funcionais, há uma preliminar eliminatória: para que seja vila a povoação deve contar com mais de 3 mil
eleitores em aglomerado populacional contínuo. E para ser elevada à categoria de cidade a exigência mínima é de 8 mil eleitores.
São poucos os municípios brasileiros nos quais se podem encontrar 8 mil eleitores em aglomerado populacional contínuo. E
mais raros ainda são os aglomerados populacionais que possuem alguns dos dez equipamentos coletivos que definem as cidades
portuguesas.
[...]
VEIGA, José Eli da. Como reconhecer uma cidade?
Disponível em: <www.zeeli.pro.br/wp-content/uploads/2012/06/134_17-06-02-Como-reconhecer-uma-cidadeo.pdf>. Acesso em: 22
jan. 2013.
José Eli da Veiga é professor titular da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo.

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Já que municípios de qualquer extensão territorial e número de população têm, obrigatoriamente, zona estabelecida como
urbana, algumas aglomerações cercadas por florestas, pastagens e áreas de cultivo são classificadas como regiões “urbanas”.
Segundo esse critério, o estado do Amapá e o de Mato Grosso têm índices de urbanização equivalentes ao da região Sudeste.
Portanto, como não há um critério uniforme, a comparação dos dados estatísticos de população urbana e rural entre o Brasil e outros
países fica comprometida.
Segundo o IBGE, em 2011, o Brasil tinha 87% de população urbana e 13%
de população rural. Considerando o texto citado, podemos inferir que o número de
pessoas que vivem integradas ao modo de vida rural, mas são classificadas como
moradores urbanos, é maior do que aquele dos índices oficiais. Segundo estimativas
do autor do texto, caso se utilizassem critérios mais rígidos de classificação, o
percentual de população rural no Brasil seria de cerca de 33%.
A tese de doutorado “O rural e o urbano: é possível uma tipologia?”,
defendida por Eduardo Girardi, aplicou a metodologia da Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aos dados obtidos no Censo
2000 do IBGE e chegou a uma taxa de urbanização de apenas 40,2%, índice que
sobe para 56,9% quando se consideram urbanas regiões que a OCDE classifica
como intermediárias. Após ampliar sua análise, apresenta outra proposta em que a
população urbana brasileira, em 2000, seria de 73% e a rural, 27%.
Em 2010 quase 90% dos municípios brasileiros tinham até 50 mil habitantes
e abrigavam cerca de 34% da população do país, nos quais as diversas atividades
rurais ocupavam grande parte dos trabalhadores e comandavam o modo de vida
das pessoas.

17.2 - População urbana e rural


Como vimos, a metodologia utilizada na definição das populações urbana e rural resulta em distorções. É inquestionável,
entretanto, que os índices de população urbana vêm aumentando em quase todo o país em razão da migração rural-urbana, embora
atualmente esta seja menos intensa que nas décadas anteriores. Segundo dados do IBGE, a região Nordeste, a menos urbanizada
do país, apresentou em 2010 o índice de 73,1% de população urbana, contra 26,4% em 1950.
Como a metodologia de coleta de dados ao longo do período 1950-2010 foi a mesma, o incremento urbano é evidente. O
Centro-Oeste apresenta o segundo maior índice de urbanização entre as regiões brasileiras.
Isso se explica por dois fatores: toda a população do Distrito Federal (cerca de 2,5 milhões de habitantes em 2010) mora dentro
do perímetro urbano de Brasília, que é o único aglomerado urbano dessa Unidade da Federação; e a abertura de rodovias e a
expansão das fronteiras agrícolas com pecuária e agricultura mecanizada (que usam pouca mão de obra), o que promoveu o
crescimento urbano nas cidades já existentes e o surgimento de outras.
Atualmente a distinção entre população urbana e rural tornou-se mais complexa, pois é considerável o número de pessoas que
trabalham em atividades rurais e residem nas cidades, assim como de moradores da área rural que trabalham no meio urbano. São
inúmeras as cidades que nasceram e cresceram em regiões do país que têm a agroindústria como mola propulsora das atividades
econômicas secundárias e terciárias. Ao mesmo tempo, vem aumentando e se diversificando o número de atividades econômicas
secundárias e terciárias instaladas na zona rural, que, assim, se torna cada vez mais integrada à cidade.

17.3 - A rede urbana brasileira


Nas primeiras décadas da colonização foram fundadas várias vilas no Brasil: Igaraçu e Olinda em Pernambuco; Vila do Pereira,
Ilhéus e Porto Seguro na Bahia; e São Vicente, Cananeia e Santos em São Paulo. Em 1549, foi fundada Salvador, a capital do Brasil
até 1763, quando essa função foi transferida para o Rio de Janeiro. As demais vilas da Colônia, assim que atingiam certo nível de
desenvolvimento, recebiam o título de cidade. A partir da República, as vilas passaram a ser chamadas de cidades, e seu território
(tanto urbano quanto rural) passou a ser designado município.
Ao longo da História da ocupação do território brasileiro, houve grande concentração de cidades na faixa litorânea. Esse
fenômeno está associado ao processo de colonização do tipo agrário-exportador, que concentrou nessa porção do território as
atividades econômicas, os portos, as fortificações e outras atividades que deram origem às primeiras cidades. Durante o período em
que a mineração teve grande importância para o desenvolvimento econômico brasileiro, ocorreu um intenso processo de urbanização
e uma efervescência cultural em Minas Gerais, além da ocupação de Goiás e Mato Grosso. Mas, com a decadência da mineração,
essas regiões, mais distantes do litoral, acabaram se esvaziando. A forte migração para a então província de São Paulo, onde se
iniciava a cafeicultura, possibilitou o desenvolvimento de várias cidades, como Taubaté, Bragança Paulista e Campinas.
Em 1953 havia 2 273 municípios no Brasil. Em 1980 esse número passou para 3 991, e apenas duas décadas depois, em
2000, o Brasil passou a ter 5 561 pequenos, médios e grandes municípios, representando um aumento de quase 40%. Em 2010 o
número de municípios passou para 5565. A maioria surgiu da emancipação de antigos distritos e muitos não têm arrecadação
suficiente para manter as despesas inerentes a um município, como prefeitura, câmara municipal e serviços públicos.
Considerando a viabilidade financeira desses novos municípios, ou seja, a relação entre receitas (impostos, taxas e repasses
de verbas estaduais e federais) e despesas (manutenção de escolas, ruas, estradas e abastecimento de água, além dos investimentos
nas instalações administrativas – prefeitura, secretarias, câmara), conclui-se que nem sempre há condições para sua “sobrevivência”
autônoma. Assim, muitos municípios acabam deficitários, dependentes de auxílio estadual e federal, o que, em última análise, contribui
para o aumento do déficit público nas três esferas de governo, um dos grandes responsáveis pela adoção de medidas que limitam o
crescimento da economia (principalmente a redução no nível de investimentos em serviços públicos e infraestrutura).
Entretanto, para a população local, a criação de um novo município costuma parecer uma grande conquista. Em geral, a
população dos distritos, principalmente os mais distantes da sede municipal, sente-se marginalizada e reivindica mais atenção e
investimentos – por isso apoia a criação do município. A partir de 2001, essas emancipações diminuíram muito porque a Lei de
Responsabilidade Fiscal estabeleceu certa autonomia econômica aos distritos e regulamentou as condições de repasse de verbas
entre as esferas de governo (municipal, estadual e federal).

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Podemos dividir o processo de urbanização e estruturação da rede urbana brasileira em quatro etapas:
• Até a década de 1930, as migrações e o processo de urbanização se organizavam predominantemente em escala regional, com as
respectivas metrópoles funcionando como polos de atividades secundárias e terciárias. As atividades econômicas, que impulsionam
a urbanização, desenvolviam-se de forma independente e esparsa pelo território nacional. A integração econômica entre São Paulo
(região cafeeira), Zona da Mata nordestina (cana-de-açúcar, cacau e tabaco), Meio-Norte (algodão, pecuária e extrativismo vegetal)
e região Sul (pecuária e policultura) era muito restrita. Com a modernização da economia, as regiões Sul e Sudeste formaram um
mercado único que, posteriormente, incorporou o Nordeste e, mais tarde, o Norte e o Centro-Oeste.
• A partir da década de 1930, à medida que a infraestrutura de transportes e telecomunicações se expandia pelo país, o mercado se
unificava, mas a tendência à concentração das atividades urbano-industriais na região Sudeste fez com que a atração populacional
ultrapassasse a escala regional, alcançando o país como um todo. Os dois grandes polos industriais do Sudeste, São Paulo e Rio
de Janeiro, passaram a atrair um enorme contingente de mão de obra das regiões que não acompanharam o mesmo ritmo de
crescimento econômico e se tornaram metrópoles nacionais. Foi particularmente intenso o afluxo de mineiros e nordestinos para as
duas metrópoles, que, por não atenderem às demandas de investimento em infraestrutura, tornaram-se centros urbanos com
diversos problemas em setores como moradia e transportes.
• Entre as décadas de 1950 e 1980, ocorreu intenso êxodo rural e migração inter-regional, com forte aumento da população
metropolitana no Sudeste, Nordeste e Sul. Nesse período, o aspecto mais marcante da estruturação da rede urbana brasileira foi a
concentração progressiva e acentuada da população em grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais que
cresciam velozmente.
• Da década de 1980 aos dias atuais, observa-se que o maior crescimento tende a ocorrer nas metrópoles regionais e cidades médias,
com predomínio da migração urbana-urbana – deslocamento de população das cidades pequenas para as médias e retorno de
moradores das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro para as cidades médias, tanto dentro da região metropolitana quanto para
outras mais distantes, até de outros estados. Os municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes foram os que tiveram
maior crescimento entre 2000 e 2012. Já os municípios com população abaixo de 100 mil habitantes tiveram reduzidas taxas de
crescimento, com muitos deles apresentando taxas de crescimento negativas ou próximas de zero.
Essa mudança na direção dos fluxos migratórios e na estrutura da rede urbana é resultado de uma contínua e crescente
reestruturação e integração dos espaços urbano e rural. Isso resulta da dispersão espacial das atividades econômicas, intensificada
a partir dos anos 1980, e da formação de novos centros regionais, que alteraram o padrão hegemônico das metrópoles na rede urbana
do país. As metrópoles não perderam a sua primazia, mas os centros urbanos regionais não metropolitanos assumiram algumas
funções até então desempenhadas apenas por elas.
E com essas novas funções muitos desses centros urbanos geraram vários dos problemas da maioria das grandes cidades que
cresceram sem planejamento. Em um mundo cada vez mais globalizado há um reforço do comando de algumas cidades globais na rede
urbana mundial, como é o caso de São Paulo. A metrópole paulistana é um importante centro de serviços especializados de apoio a atividades
produtivas. A influência da cidade atinge não apenas o território brasileiro, mas também a América do Sul. A dispersão espacial das atividades
econômicas reforça a centralidade de cidades mais bem equipadas em serviços especializados e que contam com mão de obra de alta
qualificação.
Como vimos, foi a partir da década de 1930, com a industrialização e a instalação de ferrovias, rodovias e novos portos integrando o
território e o mercado, que se estruturou uma rede urbana em escala nacional. Até então, o Brasil era formado por “arquipélagos regionais”
polarizados por suas metrópoles e capitais regionais, isto é, as redes urbanas estavam estruturadas apenas em escala regional, sendo tênues
os fluxos inter-regionais.
Havia forte tendência à concentração urbana em escala regional, o que deu origem a importantes polos de crescimento urbano e
econômico, com influência em grandes extensões do território. É o caso de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo,
Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, capitais de estados que, posteriormente, constituíram regiões metropolitanas que abrigavam
aproximadamente 18% da população do país em 1950, cerca de 25% em 1970 e mais de 30% em 2010.
Da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, até meados da década de 1970, o Governo Federal concentrou
investimentos em infraestrutura industrial (produção de energia e sistema de transportes) na região Sudeste, que, em consequência, tornou-
se o grande centro de atração populacional do país. Sobretudo a partir da década de 1950, em virtude da modernização e diversificação de
atividades desenvolvidas no campo e da atração exercida pela cidade, com suas indústrias e serviços, ocorreu uma crescente migração da
população do campo.
Os migrantes que a região recebeu eram, em sua maioria, trabalhadores com baixa qualificação profissional e mal-remunerados, que
foram se instalando na periferia das grandes cidades, em locais desprovidos de infraestrutura urbana adequada, instalando-se em casas de
autoconstrução e muitas vezes em favelas.

17.4 - As regiões metropolitanas brasileiras


As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional em 1973, que as definiu como “um
conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infraestrutura
comum”, que deveriam ser reconhecidas pelo IBGE.
A Constituição de 1988 permitiu a estadualização do reconhecimento legal das metrópoles, conforme o artigo 25, parágrafo
3o: Os estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas
de interesse comum.
As Regiões Integradas de
desenvolvimento (Ride) também são
regiões metropolitanas, mas os
municípios que as compõem se situam
em mais de um estado e, por causa
disso, são criadas por Lei Federal.
Em 2010 o Brasil possuía 36
regiões metropolitanas e três Regiões
Integradas de Desenvolvimento, sendo
que as quinze maiores regiões
metropolitanas (incluindo a Ride do
Distrito Federal) abrigavam mais de 71
milhões de habitantes, aproximadamente
37% da população do país.
- 128 -
À medida que as cidades vão se expandindo horizontalmente, ocorre a conurbação, ou seja, elas se tornam contínuas e
integradas. Embora com administrações diferentes, espacialmente é como se fossem uma única cidade. Portanto, os problemas de
infraestrutura urbana passam a ser comuns ao conjunto de municípios que formam a região metropolitana.
Das 36 regiões metropolitanas existentes em 2010, duas – São Paulo e Rio de Janeiro – são consideradas nacionais, pelo fato
de polarizarem o país inteiro. Como vimos no capítulo anterior, ambas também são consideradas cidades globais por estarem mais
fortemente integradas aos fluxos mundiais. É nessas cidades, sobretudo em São Paulo, que estão as sedes dos grandes bancos e
das indústrias do país, alguns dos centros de pesquisa mais avançados, as Bolsas de Valores e mercadorias, os grandes grupos de
comunicação, os hospitais de referência, etc. As demais regiões metropolitanas e Rides são consideradas regionais. A classificação
está associada à escala geográfica de sua polarização no território nacional.
O eixo Rio de Janeiro-São Paulo, com a Baixada Fluminense (RJ), a Baixada Santista, a região de Campinas e o Vale do
Paraíba (SP), forma uma enorme concentração urbana integrada, constituindo uma megalópole.

17.5 - Hierarquia e influência dos centros urbanos no Brasil


Dentro da rede urbana, as cidades são os nós dos sistemas de produção e distribuição de mercadorias e prestação de serviços
diversos, que se organizam segundo níveis hierárquicos distribuídos de forma desigual pelo território. Por exemplo, o Centro-Sul do
país possui uma rede urbana articulada com grande número de metrópoles, capitais regionais e centros sub-regionais bastante
articulados entre si. Já na Amazônia, as cidades são esparsas e bem menos articuladas, o que leva centros menores a exercerem o
mesmo nível de importância na hierarquia urbana regional que outros maiores localizados no Centro-Sul.
Outro fator importante que devemos considerar ao analisar os fluxos no interior de uma rede urbana é a condição de acesso
proporcionada pelos diferentes níveis de renda da população. Um morador rico de uma cidade pequena consegue estabelecer muito
mais conexões econômicas e socioculturais que um morador pobre de uma grande metrópole. Como a mobilidade das pessoas entre
as cidades da rede urbana depende de seu nível de renda, os pobres que procuram e não encontram o bem ou o serviço de que
necessitam no município onde moram acabam, muitas vezes, ficando sem ele.
Segundo o IBGE, as regiões de influência das cidades brasileiras são delimitadas principalmente pelo fluxo de consumidores
que utilizam o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede urbana. Ao realizar o levantamento, foi investigada a
organização dos meios de transporte entre os municípios e os principais destinos das pessoas que buscam produtos e serviços
(mercadorias diversas, serviços de saúde e educação, aeroportos, compra e venda de insumos e produtos agropecuários e outros).
A disseminação do acesso ao sistema de telefonia, o aumento no número de pessoas conectadas à internet, a modernização
do sistema de transportes e a ocupação de novas fronteiras econômicas vêm modificando substancialmente a dinâmica dos fluxos de
pessoas, mercadorias, capitais, serviços e informações pelo território nacional.
Para a elaboração do mapa, o IBGE classificou as cidades em cinco níveis:
1. Metrópoles – os doze principais centros urbanos do país, divididos em três subníveis, segundo o tamanho e o poder de polarização:
a. Grande metrópole nacional – São Paulo, a maior metrópole do país (19,9 milhões de habitantes, em 2012), com poder de polarização
em escala nacional;
b. Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília (11,8 milhões e 3,8 milhões de habitantes, respectivamente, em 2012), que também
estendem seu poder de polarização em escala nacional, mas com um nível de influência menor que o de São Paulo;
c. Metrópole – Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre e Belo Horizonte, com população variando de 2,2
(Manaus) a 5,5 milhões de habitantes (Belo Horizonte), são regiões metropolitanas que têm poder de polarização em escala regional.
2. Capital regional – neste nível de polarização existem setenta municípios com influência regional. É
subdividido em três níveis:
a. Capital regional A – engloba onze cidades, com média de 955 mil habitantes;
b. Capital regional B – vinte cidades, com média de 435 mil habitantes;
c. Capital regional C – 39 cidades, com média de 250 mil habitantes.
3. Centro sub-regional – abarca 169 municípios com serviços menos complexos e área de polarização mais reduzida, são subdivididos em:
a. Centro sub-regional A – 85 cidades, com média de 95 mil habitantes;
b. Centro sub-regional B – 79 cidades, com média de 71 mil habitantes.
4. Centro de zona – são 556 cidades de menor porte que dispõem apenas de serviços elementares e estendem seu poder de
polarização somente nas cidades vizinhas. Subdivide-se em: a. Centro de zona A – 192 cidades, com média de 45 mil habitantes;
b. Centro de zona B – 364 cidades, com média de 23 mil habitantes.
5. Centro local – as demais 4 473 cidades brasileiras, com média de 8133 habitantes e cujos serviços atendem somente à população
local, não polarizam nenhum município, só são polarizados por outros.
É importante destacar que o mapa mostra as regiões de influência econômica das cidades sem se preocupar com a
classificação das regiões metropolitanas legalmente reconhecidas. Ele é importante para os governos (federal, estaduais e municipais)
e a iniciativa privada planejarem a distribuição espacial dos serviços oferecidos à população.

17.6 - Plano Diretor e Estatuto da Cidade


A partir de outubro de 2001, com a aprovação da Lei n. 10 257, que ficou conhecida como Estatuto da Cidade, houve a
regulamentação dos artigos de política urbana que constam da Constituição de 1988. O estatuto fornece as principais diretrizes a
serem aplicadas nos municípios, por exemplo: regularização da posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em áreas de risco que tiveram
ocupação irregular; organização das relações entre a cidade e o campo; garantia de preservação e recuperação ambiental, entre
outras.
Segundo o Estatuto da Cidade, é obrigatório que determinados municípios elaborem um Plano Diretor, que é um conjunto de
leis que estabelece as diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico e a preservação ambiental, regulamentando o uso e a
ocupação do território municipal, especialmente o solo urbano. O Plano Diretor é obrigatório para municípios que apresentam uma ou
mais das seguintes características:
• abriga mais de 20 mil habitantes;
• integra regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
• integra áreas de especial interesse turístico;
• insere-se na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou
nacional;
• o poder público municipal quer exigir o aproveitamento adequado do solo urbano sob pena de parcelamento, desapropriação ou
progressividade do Imposto Predial e Territorial Urbano.

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Os planos são elaborados pelo governo municipal – por uma equipe de profissionais qualificados, como geógrafos, arquitetos,
urbanistas, engenheiros, advogados e outros. Geralmente se iniciam com um perfil geográfico e socioeconômico do município. Em
seguida, é apresentada a proposta de desenvolvimento adotada, com atenção especial para o meio ambiente.
A parte final, e mais extensa, detalha as diretrizes definidas para cada setor da administração pública – habitação, transporte,
educação, saúde, saneamento básico, etc. –, assim como as normas técnicas para ocupação e uso do solo, conhecidas como Lei de
Zoneamento.

Aplicações do plano diretor


Cada Plano Diretor trata de realidades particulares dos diversos municípios, mas a maioria deles apresenta as seguintes
aplicações práticas:
• Lei do Perímetro Urbano – Estabelece os limites da área considerada perímetro urbano, em cujo interior é arrecadado o IPTU.
• Lei do Parcelamento do Solo Urbano – A principal atribuição dessa lei é estabelecer o tamanho mínimo dos lotes urbanos, o que
acaba determinando o grau de adensamento de um bairro ou zona da cidade. Por exemplo, num bairro onde o lote mínimo tenha
área de 200 m2, a ocupação será mais densa que em outro onde ele tenha 500 m2.
• Lei de Zoneamento (uso e ocupação do solo urbano) – Estabelece as zonas do município nas quais a ocupação será estritamente
residencial ou mista (residencial e comercial), as áreas em que ficará o distrito industrial, quais serão as condições de funcionamento
de casas noturnas e muitas outras especificações que podem manter ou alterar profundamente as características dos bairros. Por
exemplo, se em um bairro era proibida a verticalização e uma nova Lei de Zoneamento passa a permitir que se construam trinta
vezes a área do terreno, uma casa poderá dar lugar a um edifício no qual o número de pessoas morando ou circulando será muito
maior. Essa alteração tem reflexos no abastecimento de água, coleta de esgoto, produção de lixo, circulação de automóveis, ônibus
e muitas outras variáveis que alteram a paisagem urbana e o modo de vida dessa zona da cidade.
• Código de Edificações – Estabelece as áreas de recuo nos terrenos (quantos metros do terreno deverão ficar desocupados na sua
parte frontal, nos fundos e nas laterais), normas de segurança (contra incêndio, largura das escadarias, etc.) e outras
regulamentações criadas por tipo de construção e finalidade de uso – escola, estádio, residência, comércio, etc.
• Leis Ambientais – Regulamentam a forma de coleta e destino final do lixo residencial, industrial e hospitalar e a preservação das
áreas verdes: controlam a emissão de poluentes atmosféricos e normatizam ações voltadas para a preservação ambiental.
• Plano do Sistema Viário e dos Transportes Coletivos – Regulamenta o trajeto das linhas de ônibus e estabelece estratégias que
facilitem ao máximo o fluxo de pessoas pela cidade por meio da abertura de novas avenidas, corredores de ônibus, investimentos
em trens urbanos e metrô, etc.
Assim, o Plano Diretor pode alterar ou manter a forma dominante de organização espacial e, portanto, interfere no dia a dia de
todos os cidadãos. Por exemplo, uma alteração na Lei de Zoneamento pode valorizar ou desvalorizar os imóveis e alterar a qualidade
de vida em determinado bairro, especificar em qual direção a cidade deve crescer, em que local será permitida a instalação de
indústrias ou casas noturnas, em qual haverá moradia para a população de baixa renda ou alta renda, em quais ruas e avenidas será
permitida a circulação de ônibus, qual será o destino final do lixo e muitas outras regulamentações sobre a ocupação urbana.
Outro interessante exemplo prático de planejamento urbano constante no Plano Diretor é o controle dos polos geradores de
tráfego, uma vez que os congestionamentos de trânsito são um sério problema para os moradores das grandes e médias cidades. Os
polos geradores de tráfego são construções que atraem grande quantidade de veículos transportando pessoas e cargas (escolas,
shopping centers, corredores comerciais, pavilhões de exposições, etc.). O controle de sua localização por intermédio da Lei de
Zoneamento permite diminuir os impactos que provocam sobre o transporte público e o trânsito de automóveis.
Para intervir adequadamente no planejamento urbano, é fundamental dispor de dados confiáveis e atualizados sobre as muitas
variáveis que compõem o complexo funcionamento de uma cidade. Isso é importante para tornar a cidade mais organizada e melhorar
as condições de vida de seus habitantes. Para isso, tem colaborado bastante a recente difusão dos Sistemas de Informações
Geográficas (SIG).
Fruto dos avanços tecnológicos na área de informática, os SIGs permitem coletar, armazenar e processar com grande rapidez
uma infinidade de dados georreferenciados fundamentais e mostrá-los por meio de plantas e mapas, gráficos e tabelas, o que facilita
muito a intervenção dos profissionais envolvidos com o planejamento urbano.
Antes de ser elaborado pela Prefeitura (Poder Executivo) e aprovado pela Câmara Municipal (Poder Legislativo), o Plano Diretor
deve contar com a “cooperação das associações representativas no planejamento municipal”. A participação da comunidade na
elaboração desse documento passou a ser uma exigência constitucional que prevê, ainda, projetos de iniciativa popular (geralmente
na forma de abaixo-assinado), que podem ser apresentados desde que contem com participação de 5% do eleitorado, conforme inciso
XIII do artigo 29 da Constituição.
Entretanto, o planejamento das ações governamentais e a sua execução demandam um processo composto por várias fases,
e algumas (como preparar uma licitação ou aprovar o orçamento no Legislativo) dificilmente podem ser organizadas pela população.
A seguir são apresentadas fases do processo de planejamento urbano:
1. delimitação do problema a ser enfrentado (por exemplo, coleta e destino final do lixo urbano);
2. fixação dos objetivos que se pretende atingir (a coleta será ou não seletiva, quantas coletas serão realizadas por semana na porta
das residências, qual será o destino final do lixo, etc.);
3. pesquisa e coleta de dados sobre o que está sendo analisado (quantos quilos de lixo são produzidos
diariamente, qual a participação dos domicílios, indústrias e hospitais, qual a composição do lixo, etc.);
4. interpretação dos dados e estruturação do plano de ação;
5. levantamento dos custos;
6. programação das etapas de execução;
7. aprovação do plano e do orçamento nos Poderes Executivo e Legislativo;
8. licitação para compra de material e contratação de empresas;
9. execução.
Como o encaminhamento dessas fases exige uma ação administrativa complexa, na prática a participação popular no
planejamento e na execução de intervenções urbanas só se concretiza quando a pressão popular e a vontade dos governantes
convergem nessa direção.

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18. GLOBALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
18.1 - Globalização econômica
Desde sua origem, o capitalismo integrou diferentes regiões, a princípio por meio do comércio desenvolvido entre regiões da
Europa. Ao longo da história, as relações entre os diversos pontos do planeta ampliaram-se cada vez mais, graças ao desenvolvimento
dos meios de transporte e dos sistemas de comunicação.
O período posterior à Segunda Guerra Mundial caracterizou-se pela expansão das multinacionais (empresa que possui sede em
determinado país e distribui suas atividades em filiais por todo o planeta. A coordenação dessas atividades é feita por meio de ampla
rede de comunicações e informações. As multinacionais são responsáveis por boa parte da exportação de produtos e serviços) e dos
investimentos de alguns países, hoje chamados de desenvolvidos, em diversas partes do globo. O capitalismo encontrava novas
formas de expansão e de acumulação de capital. As grandes indústrias não se preocupavam apenas em exportar seus produtos, mas
também em se instalar em diversos países, driblando tarifas alfandegárias, eliminando taxas de fretes e contando com isenção de
impostos, com custos mais baixos de mão de obra e matérias-primas.
Além disso, o avanço dos meios de transporte e de comunicações permitiu a organização do comércio, da produção e dos
investimentos em escala mundial. Hoje, um produto pode chegar a qualquer destino em curto intervalo de tempo, assim como uma
mercadoria pode ser produzida com componentes fabricados em diversos países. Da mesma forma - e com maior agilidade -, os
investimentos nas bolsas de valores são realizados on-line, por computadores conectados aos sistemas de telecomunicações, 24
horas por dia. Esses são traços gerais dos aspectos econômicos da globalização, que têm influência direta nos diversos campos da
vida social, cultural e política.
A globalização econômica é um fenômeno típico da intensificação das transformações tecnológicas e de sua expansão por
diversas regiões do globo, a partir da década de 1970. Essas transformações são caracterizadas pela automação - com a introdução
de robôs no processo de produção - e pela disseminação do uso da informática e dos diversos meios de comunicação associados
tanto à atividade produtiva (industrial e agropecuária) como a outras atividades econômicas (financeiras, comerciais, de lazer e
entretenimento).
Essa nova fase de desenvolvimento tecnológico passou a ser classificada por muitos pesquisadores como Revolução técnico-
científica, em razão do aumento da capacidade de pesquisas das empresas, das redes de infraestrutura (energia e telecomunicações,
em particular) e da presença de sistemas informatizados nas mais variadas atividades econômicas e na vida cotidiana das pessoas.
Podemos também constatá-la, por exemplo, na proliferação de caixas eletrônicos, telefones celulares, computadores, cabos de fibra
óptica, câmeras de vídeo, códigos de barra e sensores antifurto, câmeras de vigilância, centros de pesquisa universitários e
empresariais, sistemas de produção robotizados etc. Daí o geógrafo Milton Santos ter afirmado que a sociedade atual vive num meio
técnico-científico-informacional pois os espaços estão fortemente carregados de ciência, técnica e informação.
O desenvolvimento da técnica, da ciência e da informação, no entanto, está desigualmente distribuído pelo espaço geográfico
mundial. Há lugares em que sua presença é grande, notadamente nos países desenvolvidos; em outros é bastante irregular, como
nos países subdesenvolvidos industrializados; em outros, ainda, é muito escasso, como nos países subdesenvolvidos.
Os meios de comunicação eletrônica criaram também sistemas administrativos nas empresas, refletindo-se numa nova forma
de organização espacial. As grandes multinacionais passaram a fabricar componentes de seus produtos em diferentes locais do
planeta, formando uma verdadeira rede global de produção.
O capital passou a circular com menos restrições de um país para outro, para o comércio de mercadorias, instalação de
empresas ou aplicações financeiras. Nesse processo, ocorreu maior difusão de hábitos de consumo e do modo de vida dos países
desenvolvidos, com suas marcas mundialmente conhecidas, redes de fast-food, supermercados etc.

Fluxo de informações
A ampliação do fluxo de informações foi considerável, principalmente a partir dos anos 1980, devido ao avanço das
telecomunicações - produção e utilização de satélites artificiais, centrais telefônicas, cabos de fibra óptica, telefones celulares - e da
informática.
A internet e o acesso a dados por meio de computadores, como os que existem em caixas eletrônicos de bancos, são exemplos
do avanço da telemática. Ela possibilita maior volume e rapidez na transmissão de dados, voz, texto e imagem em escala planetária.
O acesso à rede mundial de computadores, no entanto, é desigual e privilégio de uma parcela restrita da população. Menos de
1% dos usuários da rede está na África: todo o continente africano possui menos linhas telefônicas do que a cidade de Tóquio, no
Japão. Esse quadro gera a exclusão digital, em que ficam fora do processo digital as pessoas que não têm acesso aos meios físicos
necessários para a informatização (computador, energia elétrica e linha telefônica), o que leva também, por consequência, à exclusão
social e econômica no contexto do mundo globalizado.
A internet, em particular, e a telemática, de modo geral, vêm, cada vez mais, revolucionando as formas de armazenar e
disseminar informações, além de provocar efeitos significativos em diversos setores econômicos,
Com isso, até a forma de conceber as distâncias e a própria noção de tempo se modificam, São exemplos as seguintes
situações: ensino a distância; compras, pesquisas, conversas, consultas bancárias, transmissão de relatórios, imagens e dados via
internet em nível global; conexão com a internet via telefone celular; acompanhamento da cotação de ações de empresas em todas
as bolsas de valores do mundo; controle do espaço aéreo e terrestre; cirurgias realizadas remotamente, com a ajuda de robôs;
teleconferências.
É preciso mencionar, ainda, que a internet vem sendo utilizada para organizar e facilitar atividades ilegais, como redes de
prostituição (que envolvem até mesmo crianças); tráfico de drogas, envio de capitais para o exterior, por empresas ou pessoas, sem
controle dos bancos centrais dos países; e atividades terroristas.
A invasão de sistemas de empresas para obter dados sigilosos, como informações sobre produtos e serviços, cadastros, dados
sobre cartões de crédito e contas bancárias, incluindo senhas, é uma modalidade de crime que surgiu depois da ampliação da rede
mundial de computadores.

Fluxo de capitais
A circulação de capitais entre os países decorre, principalmente, de investimentos estrangeiros, remessas de lucros de
empresas multinacionais, empréstimos, pagamentos de juros de dívidas externas e envio de rendimentos de trabalhadores que vivem
fora de seu país.
Os investimentos estrangeiros são formados por aplicações financeiras (na compra de títulos públicos, de ações de empresas
ou de moedas) e atividade produtiva (compra e instalação ou ampliação de empresas).

- 131 -
As bolsas de valores, os bancos e as grandes corretoras de todo o mundo estão hoje interligados por uma vasta rede de
computadores, por meio da qual os grandes negócios do mundo são realizados. Dessa forma, os meios eletrônicos tornaram mais
rápida a velocidade das transações, possibilitando aos investidores manipular instantaneamente suas aplicações financeiras. Muitas
delas são transações puramente especulativas, pelas quais os investidores não criam empresas ou negócios, mas apostam naqueles
já existentes – que podem gerar lucro imediato - ou em títulos do governo - que oferecem elevadas taxas de juros. Dependendo da
modalidade do investimento, os capitais aplicados podem ser resgatados imediatamente e transferidos para outros países de forma
instantânea.
A facilidade de transferir investimentos de um país para outro acarreta sérios riscos para o sistema capitalista mundial,
aumentado a instabilidade, principalmente dos chamados países emergentes, que, dentre os semiperiféricos, são os que atraem maior
volume de investimentos internacionais de capital especulativo devido, por exemplo, à elevada taxa de juros oferecida aos investidores.
As movimentações financeiras oriundas do exterior podem levar à valorização excessiva da moeda nacional dos países
receptores de capital especulativo, a ponto de provocar a elevação do preço de seus produtos de exportação no mercado mundial,
tornar as mercadorias importadas mais baratas e, nesse sentido, acarretar perda de competitividade.
A situação inversa, ou seja, a retirada de grande quantidade de capital de um país, por motivos de ordem política e econômica
ou pela manipulação de especuladores que lidam com volumosos investimentos internacionais, também pode alterar a taxa de câmbio
e afetar toda a economia. A debandada em massa de divisas em dólares - ou outra moeda utilizada em transações comerciais
internacionais, como o euro e o iene - compromete as reservas cambiais e pode inviabilizar a importação de mercadorias, muitas delas
essenciais às atividades produtivas, como petróleo, máquinas e equipamentos, uma vez que a moeda nacional não é aceita fora do
país.
Apesar de terem crescido os investimentos estrangeiros diretos (produtivos) nos países subdesenvolvidos (em
especial os emergentes), o principal destino desses investimentos continua sendo os países desenvolvidos, embora tenha
sido registrada queda nos últimos anos.

Espaço geográfico e redes


A organização do espaço geográfico por meio de redes eliminou a necessidade de fixar as atividades econômicas em
determinado lugar. O centro financeiro e administrativo das empresas e os departamentos de desenvolvimento de novas tecnologias
(aplicadas ao desenvolvimento de novos produtos e ao aperfeiçoamento dos já existentes) estão sediados nos países de origem. De
lá, elas transferem a produção, ou parte dela, para outros países. Dividida em várias etapas, as empresas localizadas nos diferentes
países fabricam uma ou mais partes do produto, fazem a montagem e a distribuição no mercado mundial, e outras, sob a coordenação
da sede, realizam a publicidade e a difusão da marca.
Nesse contexto, em que a produção e a distribuição de mercadorias se estruturam em redes, é possível, por exemplo, comprar
uma bola de futebol com a marca de uma empresa alemã, produzida numa fábrica do Paquistão (onde a mão de obra é muito barata),
exportada para o Brasil por uma empresa de comércio exterior com sede nos Estados Unidos e transportada por uma multinacional
de outro país.
Ao implantar sistemas de produção que interligam países, as empresas multinacionais buscam aumentar seus lucros. No
mesmo exemplo, se ocorrerem melhorias nas condições de vida dos trabalhadores do Paquistão e a mão de obra tornar-se cara, a
empresa alemã irá contratar uma nova fábrica para a produção de suas bolas, em um país com mão de obra mais barata. O mesmo
acontece em relação a determinadas atividades do setor dos serviços. O mesmo acontece em relação a determinadas atividades do
setor dos serviços.

As multinacionais
No contexto da economia mundial globalizada, a disputa econômica entre as empresas tem como palco o mercado mundial.
Vivemos rodeados por produtos das mais diversas origens, fabricados por empresas multinacionais bastante conhecidas. Estas
ampliam seus mercados, vendem produtos em praticamente todos os países, aumentam o número de filiais em todo o globo e
compram muitas empresas em vários países, principalmente nos subdesenvolvidos.
Cerca de 90% das sedes das maiores corporações industriais, financeiras e comerciais estão situadas nos países ou blocos
desenvolvidos: Estados Unidos (responsáveis por mais de 40%), União Europeia e Japão. Empresas da China, país que há quatro
décadas vem ostentando os maiores índices de crescimento econômico no mundo, e da Coreia do Sul vêm se destacando cada vez
mais entre as maiores transnacionais do globo.
Multinacionais de vários setores - comércio, indústria, telecomunicações, bancos, entretenimento etc. - ampliaram sua presença
no mundo inteiro. Mas o destino dos lucros transferidos pelas filiais, as grandes decisões sobre investimentos, marketing e localização
dos centros de pesquisas para desenvolvimento de tecnologia, por exemplo, permanecem concentrados nas sedes dessas empresas,
situadas nos países desenvolvidos. Muitas delas controlam recursos naturais, terras e jazidas minerais de vários países do mundo.
Assim, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, e no início do século XXI, o processo de concentração do capital, por meio de
fusões e aquisições, intensificou-se, levando à formação de oligopólios mundiais.
Atualmente, um pequeno número de grandes corporações multinacionais ou transnacionais domina mercados importantes,
como os de comercialização de produtos de alta tecnologia (computadores, equipamentos de telecomunicações, aviões, softwares),
de automóveis, de produtos farmacêuticos e os setores ligados aos serviços (bancos, telefonia, entretenimento).
Algumas empresas movimentam anualmente um capital superior à economia de vários países reunidos. Em conjunto, são
responsáveis por cerca de 70% do comércio mundial de mercadorias. Os países escolhidos para os investimentos dessas empresas
são aqueles que oferecem maiores vantagens: mão de obra barata e qualificada, matéria-prima abundante, mercado consumidor,
baixo custo para a instalação das empresas e incentivos fiscais (isenção ou redução de impostos).

18.2 - O Estado na economia globalizada


No sistema capitalista, o Estado sempre desempenhou funções fundamentais à manutenção desse sistema: manter a lei e a
ordem, preservar a propriedade privada, resolver conflitos entre grupos sociais e econômicos, defender as fronteiras do país,
determinar e controlar as regras comerciais e econômicas, estabelecer relações políticas e comerciais com outros Estados. Com
algumas variações de país para país, o Estado foi agregando uma série de outras funções:
• instalação de empresas estatais, principalmente no setor de infraestrutura, como o siderúrgico e o petroquímico;
• construção e manutenção de rodovias, ferrovias, viadutos, portos, aeroportos, usinas e redes de distribuição de energia elétrica;
• participação acionária em empresas dos mais variados setores;
• investimento em educação, saúde, moradia e pesquisa;

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• criação do sistema de aposentadorias, pensões e seguro-desemprego;
• controle da circulação da moeda;
• realização de empréstimos a juros baixos e isenção de impostos para determinados grupos econômicos ou sociais (subsídios);
• estabelecimento da taxa de juros, que serve de base para as atividades financeiras, inclusive as bancárias.
Na década de 1980, abriu-se uma nova discussão sobre o papel do Estado, por causa das crises econômico-financeiras
existentes em vários países subdesenvolvidos e dos elevados déficits públicos de muitos países. Para os teóricos das organizações
financeiras internacionais (Banco Mundial e FMI) e o governo dos Estados Unidos, a crise e a nova economia globalizada exigiam um
Estado que não interferisse no livre-comércio, facilitasse a atuação das grandes empresas, cobrasse menos impostos e reduzisse
seus gastos, inclusive nos setores sociais (saúde, educação, moradia, previdência). Essas ideias e propostas foram chamadas de
neoliberais.
Na concepção neoliberal:
• o Estado deve intervir pouco na economia, procurando eliminar barreiras ao comércio internacional, atrair investimentos
estrangeiros, privatizar as empresas públicas, manter o equilíbrio fiscal e controlar a inflação.
• não é papel do Estado extrair petróleo ou minérios, administrar refinarias e siderúrgicas nem participar de qualquer outro tipo de
atividade econômica. A produção de mercadorias é papel das empresas particulares.
• cabe ao Estado estimular a pesquisa tecnológica para apoiar a iniciativa privada, assegurar a estabilidade econômica e facilitar o
livre funcionamento do mercado.
• os direitos trabalhistas devem ser revistos (e restringidos), pois acabam inibindo a contratação por parte das empresas. Gastos
elevados com mão de obra acabam sendo repassados para o preço dos produtos, que perdem competitividade no mercado
internacional.
• o sistema de proteção social (seguro-desemprego, aposentadorias e outros) deve ser reestruturado de modo a contribuir para a
redução do déficit público (situação em que o Estado gasta mais do que arrecada).
• as despesas do Estado nos setores sociais (saúde e educação, por exemplo) não devem ser muito altas, para que os impostos
cobrados das empresas e da sociedade como um todo também não sejam elevados.
A adoção das práticas neoliberais levou vários Estados a enfraquecer os mecanismos de controle da economia e das fronteiras
comerciais, tornando os países subdesenvolvidos vulneráveis à atuação das grandes corporações multinacionais.
Estas empresas, em sua maioria, eram originárias de países desenvolvidos. Com isso, ampliaram-se as desigualdades sociais
e econômicas entre os países, visto que o neoliberalismo e a livre-concorrência atendem melhor aos países desenvolvidos, que têm
grande capacidade de investimento, tecnologia mais avançada e maior capacidade de atuação no mercado mundial.
Países como a Índia e sobretudo a China, que vêm apresentando crescimento econômico expressivo desde os anos 1980, não
promoveram uma liberalização profunda, como fizeram, por exemplo, Argentina e Brasil. Chineses e indianos optaram por uma
abertura mais controlada e um processo de privatização mais gradual, procurando manter, por meio de cotas e impostos elevados,
proteção a alguns setores econômicos nos quais são menos competitivos. Ao mesmo tempo, investem nesses setores para ampliar o
seu nível de competitividade.
Isso demonstra que existem diferentes possibilidades de se integrar à economia mundial, sem, necessariamente, abrir totalmente a
economia e aproveitando-se de vantagens que um país pode ter em relação aos demais, sobretudo no caso dos emergentes.

A crise financeira e econômica de 2008


Em 2008, o mundo capitalista conheceu uma séria crise financeira e econômica. Iniciada nos Estados Unidos, em 2007, a crise foi
classificada por analistas econômicos como a de maior gravidade desde a intensificação do processo de globalização, a partir dos anos 1970.
As causas da crise estavam relacionadas à expressiva expansão dos financiamentos para a compra de imóveis nos Estados
Unidos, em razão dos juros baixos que o governo vinha mantendo desde o início do século. A forte valorização no preço dos imóveis
estimulou os que tomavam financiamentos (mutuários) a refinanciar suas dívidas, recebendo uma diferença em dinheiro, em geral
utilizada para consumir bens, enquanto o nível de poupança caía acentuadamente. Diversos bancos criaram títulos que tinham como
garantia os financiamentos para compra de imóveis (títulos garantidos com hipotecas). Investidores que adquiriram esses títulos
emitiam, por sua vez, outros títulos que tinham como garantia os primeiros. Isso se espalhou por todo o sistema financeiro.
Com o consumo em alta, a inflação aumentou. Para frear a inflação, o governo norte-americano aumentou os juros, elevando
as mensalidades dos imóveis. Assim, centenas de milhares de proprietários deixaram de pagar os financiamentos, os preços dos
imóveis despencaram e os títulos se desvalorizaram acentuadamente.
Em decorrência, houve quebra de bancos, cortes de empregos, desvalorização de empresas e redução da oferta de crédito,
afetando toda a cadeia de consumo – com menos financiamentos para a compra de bens, muitos consumidores ficaram sem recursos
para a compra de mercadorias. Com a redução das vendas, muitas empresas ficaram com capacidade de produção ociosa e passaram
a demitir; outras demitiam sob o pretexto de se preparar para a crise. Com as demissões, houve perda de renda dos assalariados e
diminuição do consumo. Nessa situação, os que estão empregados preferem poupar, e com isso a crise se intensifica.
Em razão da forte integração entre as economias nacionais no contexto da globalização e pelo fato de a crise ter surgido e
afetado os Estados Unidos, país que gera cerca de um quarto do PIB mundial, seus efeitos rapidamente foram sentidos em todo o
mundo, em maior ou menor grau.
Diversas estratégias de socorro a bancos e empresas foram elaboradas. Os governos norte-americano e de outros países
desenvolvidos disponibilizaram vultosos recursos financeiros para salvar bancos e grandes empresas, visando conter a crise.
Reunidos em Londres, em abril de 2009, para discutir essa crise, dirigentes dos países do G-20, grupo que, à época, respondia
por 88,7% do PIB mundial, salientaram a necessidade de o Estado fiscalizar mais intensamente o sistema financeiro, ampliar os
recursos do FMI para atender os países com mais dificuldades e possibilitar participação mais ativa das chamadas economias
emergentes, especialmente da China, nas reuniões e decisões tomadas no âmbito das grandes potências mundiais. Também
prometeram punir os paraísos fiscais que não dessem informações sobre as contas de bancos e clientes e regular as agências
responsáveis por avaliar a qualidade do crédito dos países, como Moody's, Fitch e Standard&Poors.
Com o crescente aumento do volume de dinheiro aplicado nos bancos e nas bolsas de valores de todo o planeta', em busca
dos melhores juros e lucros, as possibilidades de especulação intensa, riscos e crises são maiores. Em 1980, o PIB mundial era de
USS10 trilhões e o volume aplicado no mercado financeiro e de ações era de USS12 trilhões; em 2007, enquanto o PIB era de USS48
trilhões, os investimentos em títulos e ações atingiam USS167 trilhões. A partir da crise, a desregulamentação do sistema financeiro
internacional, um dos pilares do neoliberalismo, passou a ser fortemente questionada. A necessidade de fiscalização e de controle
mais rigoroso por parte dos governos, inclusive com cobrança de impostos mais elevados, mostrou-se necessária não só internamente,
mas entre os países. A cobrança de impostos mais elevados dos investidores faria com que os governos tivessem mais recursos para
direcionar a setores como saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico.
- 133 -
Por uma outra globalização
Diversos movimentos surgiram em todo o mundo para se opor às consequências negativas da globalização, as quais atingiram
todos os países, inclusive os desenvolvidos, como se viu na crise iniciada em 2007 nos Estados Unidos. Esses movimentos
questionam o poder conquistado pelas multinacionais, que estão moldando o mundo segundo seus interesses econômicos. Quando
defendem seus interesses, os países desenvolvidos estão garantindo, sobretudo, espaço para a expansão das corporações
multinacionais. Já os países subdesenvolvidos disputam seus investimentos, abrindo seus mercados para atrair a instalação de filiais
desses conglomerados.
Os movimentos contra os rumos da globalização se tornaram mais conhecidos no final do século XX, quando a Organização
Mundial do Comércio (OMC) organizou em Seattle (EUA) a Rodada do Milênio, a fim de discutir com representantes do governo de
130 países as perspectivas do comércio internacional para o século XXI. Em relação ao evento, diversas organizações da sociedade
civil, como ONGs, sindicatos, ambientalistas e estudantes, promoveram uma grande manifestação. O protesto, no entanto, foi
reprimido pela polícia. A partir de então, sempre que os encontros da OMC ou dos países ricos se realizam, integrantes dos
movimentos contrários aos rumos da globalização também se reúnem.
Os grupos de oposição têm propostas e preocupações muito diferentes e até divergentes. São ambientalistas voltados para os
grandes problemas ecológicos mundiais; reformistas que lutam por uma globalização mais humana; sindicalistas preocupados com
os direitos dos trabalhadores; nacionalistas que querem maior defesa do mercado nacional; minorias negras, indígenas e de outros
grupos que combatem a discriminação; entidades como o MST, que defende a reforma agrária; enfim, grupos que se posicionam a
favor de uma globalização solidária e não excludente.
O Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2001, marcou a presença do Brasil na luta por uma globalização mais justa. "Um
outro mundo é possível" foi seu principal slogan e caracterizou a primeira tentativa de discussão de propostas voltadas para a melhoria
da qualidade de vida da sociedade globalizada e a elaboração de estratégias comuns dos diversos movimentos contrários à
globalização do capital que privilegia os interesses das grandes corporações multinacionais.

18.3 - Os Blocos econômicos supranacionais


Muitos países estão abdicando de parte de sua soberania para fazer parte de blocos econômicos regionais. Por que será que
isso vem acontecendo?
Como vimos, desde o final da Segunda Guerra muitos países têm procurado diminuir as barreiras impostas pelas fronteiras
nacionais aos fluxos de mercadorias, capitais, serviços, e mesmo de mão de obra, na tentativa de aumentar os lucros das empresas,
os empregos dos trabalhadores e seus respectivos PIB’s.
Os países podem se organizar em diferentes tipos de blocos regionais: zonas de livre‑comercio, uniões aduaneiras, mercados
comuns e uniões econômicas e monetárias.
Numa zona de livre-comércio, como o acordo Norte-americano de Livre Comercio (Nafta), que reúne os três países da
América do Norte, o objetivo não e muito ambicioso. Busca-se apenas a gradativa liberalização do fluxo de mercadorias e de capitais
dentro dos limites do bloco.
Na união aduaneira, um estágio intermediário entre a zona de livre ‑comercio e o mercado comum, além da abolição das
tarifas alfandegárias nas relações comerciais no interior do bloco, e definida uma tarifa Externa Comum, que e aplicada aos países de
fora da união. Assim, quando os integrantes do bloco negociam com outros países do mundo, embora haja exceções, utilizam uma
tarifa de importação padronizada, igual para todos eles. O Mercosul e um exemplo de união aduaneira, ainda que incompleta.
No mercado comum, como a União Europeia (caso único até 2016), a integração e mais ambiciosa. Busca-se a padronização
da legislação econômica, fiscal, trabalhista, ambiental, etc., entre os 28 países que compõem o bloco regional. Entre os resultados,
estão a eliminação das barreiras alfandegárias internas, a uniformização das tarifas de comercio exterior e a liberalização da circulação
de capitais, mercadorias, serviços e pessoas no interior do bloco. No caso da União Europeia, o auge da integração deu‑se com a
implantação da moeda única, o que exigiu a criação do Banco Central Europeu e a convergência das políticas macroeconômicas.
Assim, o bloco atingiu a condição de união econômica e monetária, único exemplo no mundo ate o momento, embora continue também
funcionando como mercado comum e o estágio mais avançado não abarque todos os países ‑membros, como veremos a seguir.
Paralelamente a constituição de blocos econômicos, como os mencionados, tem sido estabelecidos acordos bilaterais de
livre‑comercio que integram países isoladamente ou que pertencem a algum bloco. Por exemplo, o México, que pertence ao Nafta,
firmou um acordo com a União Europeia e outro com o Chile, que por sua vez e associado ao Mercosul e tem acordos bilaterais com
os Estados Unidos (do Nafta), a China, o Japão, etc. Até 15 de janeiro de 2012, o Gatt/OMC recebeu a notificação de 511 acordos de
livre circulação de mercadorias e serviços, incluindo a formação de blocos econômicos regionais e arranjos bilaterais, dos quais 319
permaneciam em vigor naquela data.
O processo de globalização e os acordos regionais de comércio tem acentuado a tendência de concentração de capitais, já
que as grandes corporações passam a ter uma mobilidade espacial e uma capacidade de competição sem precedentes. Nas últimas
décadas tem havido muitas fusões de empresas, tanto em escala nacional quanto global, o que as fortalece nas negociações
comerciais e amplia sua influência política em muitos países.
Após a Segunda Guerra as empresas transnacionais têm se movimentado com mais facilidade entre diversos países, tanto
desenvolvidos como em desenvolvimento. No entanto, as fronteiras, os limites territoriais entre os países, com suas normas e impostos
aduaneiros, ainda impõem muitas barreiras a circulação de mercadorias, principalmente produtos agrícolas, serviços, capitais e
sobretudo pessoas. A busca por reduzi-las de forma multilateral vem desde a criação do Gatt, mas ainda esbarra em muitos conflitos
de interesse, como vimos. Os acordos regionais também não resolvem o problema porque embora reduzam as barreiras no interior
de um bloco ainda mantém muitas delas para os países que são de fora, ou seja, desviam comércio e investimentos. Por isso muitos
defendem que o melhor estímulo para a expansão do comercio internacional são os acordos multilaterais no âmbito da OMC. Mas,
apesar de suas limitações, após a Segunda Guerra houve uma grande expansão de blocos regionais de comercio.

18.3.1 - BENELUX
Durante a Segunda Guerra Mundial os governos da Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo concordaram em cooperar mais
estreitamente, resultando, em um acordo firmado em Londres, em 1944, para a criação do Benelux, que foi constituído inicialmente
como uma união aduaneira. Os três parceiros deram logo os primeiros passos para a integração europeia, e em 1958, a união
aduaneira deu lugar a um tratado que instituía a União Econômica Benelux, que implicava em um alargamento e aprofundamento da
cooperação econômica.

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18.3.2 - UNIÃO EUROPEIA - trajetórias, expansões e contradições
O Estado-nação e a particularidade
A Europa foi o berço do Estado-nação contemporâneo. O Estado-nação é o poder centralizado que expressa a
singularidade histórica e cultural de um povo - ou seja, sua diferença em relação aos demais povos. O Estado nacional não
almeja a universalidade, mas afirma a particularidade. Na Europa, ele surgiu em oposição aos impérios, como fruto dos projetos
nacionalistas de soberania.
A Paz da Vestefália, firmada em 1648, no fim da Guerra dos Trinta Anos, representou o primeiro "contrato entre Estados" na
história. Naquele contrato, os soberanos se comprometiam a respeitar a soberania dos demais, criando assim a "Europa dos Estados'.
Mas o projeto de restauração de um poder universal ressurgiu sob a forma do Império Frances de Napoleão Bonaparte.
As Guerras Napoleônicas, na passagem do século XVIII para o XIX, traduziram o conflito entre o princípio da soberania dos
Estados e o princípio do império universal. A vitória dos Estados coligados contra Napoleão Bonaparte significou a derrota do
projeto de unir a Europa pela força.
No Congresso de Viena, em 1815, os Estados europeus reafirmaram o contrato firmado na Paz da Vestefália. A nova
paz geral durou um século, mas o sistema de Estados da Europa desabou numa orgia de destruição e sangue nas duas grandes
guerras do século XX. O Tratado de Roma é filho dessas guerras.

Um continente arruinado
As duas guerras mundiais do século XX expressaram a radicalização dos nacionalismos europeus e, em especial, a
rivalidade entre Alemanha e França.
A guerra Franco-Prussiana (1870-1871), que concluiu a unificação alemã, sinalizou a crise do sistema europeu de
Estados. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a França conseguiu sua revanche contra a Alemanha, recuperando as
províncias perdidas da Alsácia e da Lorena e humilhando os alemães no Tratado de Versalhes (1919).
As sementes envenenadas da guerra deram origem à árvore do nazismo. A Alemanha de Hitler adotou o programa do
expansionismo: o III Reich restaurou a ideia do império e da unificação da Europa pela força. No fim, Hitler foi derrotado, mas a
"Europa dos Estados” jamais poderia recobrar sua glória. Quando o conflito mais sangrento da história terminou, a Europa estava
arruinada. O projeto da unificação europeia pela diplomacia foi uma resposta àquele estado de coisas.

Um tratado de reconciliação
As origens do projeto europeu inscrevem-se na moldura da Guerra Fria. A estratégia norte-americana de isolamento da URSS
e de seu bloco de Estados-satélites da Europa oriental dependia da reconstrução e do fortalecimento da Europa ocidental. Mas a
Europa ocidental não poderia constituir um bloco geopolítico sem a reconciliação entre França e Alemanha.
Por meio do Plano Marshall, os Estados Unidos engajaram-se na reconstrução europeia, que incluía a revitalização industrial
da RFA. Os temores franceses de ressurgimento da Alemanha como potência industrial foram reforçados pela criação da Otan, em
1949. Com a Otan, a Alemanha voltaria a ter um exército - e essa perspectiva assustava a França.
O Plano Schumann, anunciado em maio de 1950 pelo ministro das Relações Exteriores da França,
representou uma saída para o duplo impasse. Sua estratégia era estabelecer uma base de cooperação
duradoura entre a França e a RFA, integrando a Alemanha ocidental no "concerto da Europa".
A ideia básica do plano era integrar a siderurgia alemã à francesa sob controle de uma autoridade comum, a fim de que as
duas nações compartilhassem as riquezas de carvão e minério de ferro de Ruhr e Sarre, na RF A, e de Alsácia e Lorena, na França.
Desse modo, seria possível dissolver a rivalidade histórica, substituindo-a por uma aliança política e econômica.
Em junho de 1950, a Itália e os países do Benelux (organização de cooperação econômica formada por Bélgica, Holanda e
Luxemburgo) aderiram ao Plano Schumann. No ano seguinte, esses países firmaram o tratado da Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço (Ceca). Nascia a Europa dos seis.
A Ceca pode ser considerada a origem da integração europeia, pois se estruturava em torno do conceito de mercado comum
e estabelecia uma nova base para o relacionamento entre os Estados europeus. A noção de soberania compartilhada começava a
ganhar corpo na parte ocidental do continente, dissolvendo os antigos nacionalismos e pavimentando o caminho para iniciativas mais
ousadas.
A UE é o bloco econômico regional que mais aprofundou na integração entre os seus membros e em número de participantes
desde a sua criação, representando um dos principais centros da economia mundial contemporânea. A UE começou a surgir logo
após a Segunda Guerra Mundial, quando a Europa se encontrava dilacerada e grande parte de seu setor produtivo estava destruído.
Os objetivos políticos e econômicos iniciais do bloco eram: recuperar a economia dos países-membros, enfraquecidos econômica e
politicamente por causa da guerra, espantar o fantasma do comunismo e, simultaneamente, impedir o crescente avanço da influência
econômica dos Estados Unidos.
Nessa época, seis países europeus, entre eles França, Alemanha Ocidental,Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, assinaram
em 1951 o Tratado de Paris, no qual foi estabelecida a livre circulação de carvão, ferro e aço entre os países-membros, como forma
de dinamizar o crescimento de seus respectivos parques industriais e afastar o sentimento de revanche entre os alemães e franceses,
em torno das áreas limítrofes entre as duas nações e ricas em recursos minerais, fundamentais ao estágio da industrialização que a
Europa vivia. Surgia, então, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca).
Em 25 de março de 1957, a Ceca transformou-se em Comunidade Econômica Europeia (CEE) por ocasião do Tratado de
Roma, que só entrou em vigor em 01º de janeiro de 1958. Com essa transformação estabeleceu-se a livre circulação de pessoas,
mercadorias (com pagamento de imposto único), serviços e capitais entre os países-membros.
Esses objetivos, muito abrangentes, foram alcançados gradativamente. Embora a supressão de tarifas aduaneiras date de
1968, continuou vigente uma série de barreiras que impediam a implantação de um mercado comum propriamente dito. Este só se
delineou em 1986 com a assinatura do Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma. Esse. documento definiu objetivos
precisos para a integração: o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas, a ser atingido
até 1993. De fato, nesse ano começou a funcionar o Mercado Comum Europeu e os três primeiros objetivos foram postos em prática.
A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de Schengen (acordo que prevê a
supressão gradativa de controle fronteiriço entre os países signatários).
Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht (cidade dos Países Baixos),
por meio do qual definiram os passos seguintes da integração e mudaram a denominação do bloco para União Europeia. Nesse
mesmo tratado os integrantes do bloco também decidiram utilizar uma moeda única, o euro, que começou a circular em 1º de janeiro
de 2002 - exceto no Reino Unido, na Dinamarca e na Suécia. Assim, a UE tornou-se uma união econômica e monetária, com controle
cambial e monetário exercido pelo Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha).
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Em 2000, o Tratado de Nice introduziu, entre outros avanços, a Carta de Direitos Fundamentais, que definiu os direitos de
cidadania em todos os países da UE. Em 2009, entrou em vigor o Tratado de Lisboa, que substituiu todos os anteriores e deu mais
poderes ao Parlamento Europeu, alçado ao mesmo patamar decisório da Comissão Europeia (braço executivo do bloco).
A Política Externa e de Segurança Comum vem sendo delineada desde o Tratado de Maastricht. Com ela, os europeus
pretendem, gradativamente, consolidar um sistema de defesa comum, provavelmente tendo como base a União da Europa Ocidental
(UEO). Essa entidade foi criada no período pós-Segunda Guerra como uma aliança de assistência mútua exclusivamente europeia,
mas sempre esteve à sombra da Otan. Com o fim da Guerra Fria e a política de aprofundamento do processo de integração, os
europeus estão empenhados em fortalecer a UEO e ao mesmo tempo manter a cooperação com a Otan, evitando atritos com os
norte-americanos.
Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, houve um gradativo fortalecimento do Parlamento Europeu, cuja sede fica em
Estrasburgo (França). Esse órgão representa os cidadãos dos países-membros: seus parlamentares são eleitos diretamente e tomam
decisões que afetam toda a DE. O número de representantes é proporcional à população de cada país. A Alemanha, o país mais
populoso, tem direito a 99 deputados, e Malta, o de menor população, tem direito a 5, de um total de 736 deputados (analise a tabela
da página seguinte).
A União Europeia é, de longe, o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios está a maior potência exportadora do
mundo, a Alemanha, além de mais cinco países da lista dos 10 principais países comerciantes; mas há também pequenas economias
com um comércio externo reduzido, como a Letônia. Em 2008, segundo a OMC, as exportações do conjunto dos 27 países da UE
atingiram 5,9 trilhões de dólares (37,5% do total mundial), e as importações, 6,3 trilhões (38,9%). Entretanto, a maior parte desse
comércio é intrabloco. No mesmo ano, as exportações extra UE somaram 1,9 trilhões de dólares, e as importações de países de fora
do bloco, 2,3 trilhões.
O Conselho da União Europeia representa cada um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de decisões no
âmbito do bloco.
A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que, por representar o interesse comum do bloco, é
independente dos governos nacionais e tem como principal função pôr em prática as decisões tomadas pelo Conselho e pelo
Parlamento, ou seja, é o órgão executivo por excelência. Sua sede fica em Bruxelas (Bélgica), considerada a capital da UE.
Atualmente, a UE é composta de 27 países, totalizando um PIB de aproximadamente 18 trilhões de dólares anuais e
consolidando a posição de mais importante bloco econômico do mundo.
O bloco econômico europeu, por ser o mais antigo, serviu de modelo para a formação dos demais blocos econômicos que hoje
atuam no cenário geopolítico mundial, como o Nafta, o Mercosul e a Apec. Entretanto, suas características diferem bastante daquelas
apresentadas pelos demais blocos econômicos, principalmente, em virtude de sua integração encontrar-se em um estágio bem mais
avançado. Prova disso é que a UE é composta de um conjunto de instituições com poderes próprios, cujas decisões devem ser
seguidas pelos governos, empresas e cidadãos de todos os países-membros. Portanto, a legitimidade legada a essas instituições
confere à UE uma espécie de poder supranacional. Além das instituições mencionadas acima, outras que regem o bloco são o Tribunal
de Justiça, o Tribunal de Contas, o Comitê Econômico e Social e o Parlamento Europeu.
Mesmo com a existência dessa estrutura institucional, os Estados-membros ainda são soberanos para determinar suas
políticas econômicas e sociais internas. Às instituições da UE cabem decisões mais amplas, que devem atender aos seguintes setores:
econômico, social, ambiental e militar.
Todavia, a realização de ações comuns nesses setores tem sido uma tarefa extremamente árdua, na medida em que as
propostas de mudanças nem sempre coincidem com os interesses de todos os países-membros.
Apesar disso, a expressividade econômica alcançada pela UE no mundo demonstra que a integração entre os Estados-
membros tem sido bem-sucedida. Além de levar a Europa a uma condição de destaque no quadro econômico mundial, com um PIB
que se equipara ao dos Estados Unidos, a consolidação da UE é responsável por uma nova configuração no panorama geopolítico
atual.
Mesmo com todo esse sucesso, a
desigualdade econômica entre os países-
membros tem sido um dos principais
problemas enfrentados pelo bloco.
Enquanto alguns países, como Alemanha,
Bélgica e França, são altamente
industrializados e servidos por uma
moderna rede de transportes, outros, como
Portugal, Grécia e os recentes integrantes
ex socialistas do Leste Europeu, são pouco
articulados à rede viária europeia e mantêm
nas atividades primárias e terciárias boa
parte de suas fontes de divisas. Há,
portanto, contrastes regionais entre os
países pertencentes à UE.

Além das diferenças econômicas, há


os problemas de ordem política e social, que
vêm sendo bastante discutidos nas reuniões
entre os dirigentes europeus. Em nível
político, a atuação de grupos terroristas
separatistas e a ascensão de partidos
xenófobos ao poder têm colocado em risco
a democracia em alguns países da UE. No
que se refere aos problemas sociais, o
crescimento das taxas de desemprego e da
pobreza entre os países-membros vem
gerando sérias preocupações.

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Calcula-se que, hoje, a taxa média de desemprego na UE seja de
7% do total da População Economicamente Ativa (PEA), o que representa
aproximadamente 16,7 milhões de trabalhadores sem emprego.
A modernização dos setores industrial e de serviços, a
transferência de empresas europeias para os países subdesenvolvidos e
a entrada de grandes contingentes de imigrantes têm contribuído para
uma significativa diminuição dos postos de trabalho e dos valores dos
salários pagos pelas empresas. Como consequência, os governos dos
países-membros são obrigados a destinar mais recursos para dar
assistência à população pobre, que cresce de forma contínua.
Separatismo e xenofobia, desemprego, pobreza e desigualdades
regionais são alguns dos desafios que se colocam diante dos dirigentes
europeus e que deverão ser resolvidos habilmente neste início de século
para que não ponham em risco a consolidação do projeto de uma Europa
totalmente integrada, sem barreiras econômicas e unida em torno dos
mesmos ideais políticos e sociais.

O desafio turco
"A União Europeia terá de provar que não é um clube cristão." Com essas palavras, o ministro do Exterior turco, Abdullah Gul, forçou a retirada
do veto austríaco para o início das negociações de admissão da Turquia na União Europeia, no final de 2005.
O desafio de Gul tem amplos significados políticos e históricos. Para incorporar o populoso país muçulmano que se estende pelo e xtremo
sudeste europeu e pelo Oriente Médio, a União Europeia deve reinterpretar a identidade da Europa.
A Turquia tem inegável valor estratégico. É uma ponte geográfica e política entre a Europa e o Oriente Médio. Além disso, é um Estado laico e
democrático no mundo muçulmano. Nestes tempos de terror e "guerra ao terror'; funciona como exemplo de moderação política.

O projeto da política externa comum


No Tratado de Maastricht firmou-se o compromisso de elaboração de uma política externa e de defesa comum. Essa meta
envolve significativas dificuldades, em virtude da necessidade de conciliar os interesses nacionais dos países-membros e os
compromissos estratégicos que ligam a Europa aos Estados Unidos.
No pós-Guerra Fria, tornou-se evidente a carência de um programa comum de política externa. Durante as guerras na antiga
Iugoslávia, as intervenções externas na Bósnia (1995) e em Kosovo (1999) decorreram de iniciativas dos Estados Unidos e basearam-
se nas forças da Otan.
Depois, na Guerra do Iraque (2003), os países europeus se dividiram em relação à decisão norte-americana de invadir o país
árabe. A Grã-Bretanha, contrariando a posição de franceses e alemães, figurou como principal parceira dos Estados Unidos na
coalizão militar.
O passo mais importante no rumo da política externa comum foi a criação da figura do ministro europeu para Relações
Exteriores, em 2003. O ministro é designado pelo Conselho Europeu e deve ser aprovado pelo Parlamento Europeu. Em tese, ele
responde pelas relações políticas externas do bloco, assim como o representante comercial é responsável pelas relações comerciais
externas. Contudo, como a União Europeia não é um superestado, os governos nacionais conservam sua soberania nas questões
estratégicas.
Como reação ao fracasso europeu nas guerras na antiga Iugoslávia, a União Europeia decidiu criar uma estrutura militar
comum. Essa estrutura é autônoma em relação à Otan, mas deve atuar em cooperação com ela.
Os tratados para o estabelecimento de forças militares europeias designaram suas tarefas e levaram ao comprometimento de
100 mil soldados, que podem ser convocados em situações de emergência para missões de combate ou de manutenção da paz em
zonas de conflito.

A Europa das desigualdades


A Europa foi o berço das primeiras grandes aglomerações industriais do mundo, em geral baseadas em complexos
siderúrgicos. Na pioneira Grã-Bretanha, a siderurgia assentou-se sobre as reservas de carvão mineral de Birmingham, do País de
Gales e do sul da Escócia. Na Alemanha, o vale do Ruhr tornou-se a maior região siderúrgica da Europa.
O carvão do Ruhr e das reservas menores na Bélgica abastecia também as indústrias francesas, por meio do sistema fluvial
do rio Reno e dos seus afluentes. Essa integração industrial franco-alemã transformou as ricas regiões da fronteira em foco de disputas
geopolíticas e militares, que se estenderam do século XIX à Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, a Ceca transformou a disputa
em cooperação, unificando fretes e tarifas em toda a bacia do rio Reno.
A lógica das economias nacionais presidiu a implantação da atividade industrial no continente. Cada país tinha seu mercado,
delimitado por uma moeda nacional, no interior do qual as empresas traçavam suas estratégias de localização. Assim, as indústrias
desenvolveram estruturas nacionais paralelas. Não existe, por exemplo, uma indústria automobilística europeia, mas sim indústrias
automobilísticas francesas, alemãs e italianas.
A localização das unidades produtivas dessas empresas foi escolhida em razão de fatores internos a cada país. Por isso, há
nítido contraste entre a geografia industrial da União Europeia e a dos Estados Unidos: a organização do espaço industrial norte-
americano foi estabelecida no interior de um único mercado nacional.
Na Alemanha, principal potência econômica da União Europeia, o complexo industrial do Reno-Ruhr continua a ocupar lugar
de destaque, mas existem muitos outros pelos industriais importantes, comandados principalmente pelas indústrias mecânicas,
químicas e eletrônicas. Na França, os principais centros industriais desses mesmos setores se espalham no centro-norte do país,
destacando-se a região parisiense, a Alsácia- Lorena e a região da cidade de Lyon.
Na Grã-Bretanha, grande parte dos novos investimentos se direciona para a região de Londres, que concentra indústrias
químicas e mecânicas. As velhas regiões industriais carboníferas, por sua vez, há décadas enfrentam um quadro de crise econômica
e social generalizada. Na Itália, os centros industriais mais importantes, ligados principalmente à siderurgia e às indústrias mecânicas,
situam-se em Turim, Milão e Gênova, no norte do país.
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O aprofundamento da integração econômica entre os países da União Europeia abriu caminho para uma profunda
reorganização espacial da indústria do continente. Atualmente, as empresas traçam estratégias de localização visando ao conjunto
do mercado europeu. Os processos de fusão entre empresas, eliminação de unidades produtivas redundantes e relocalização de
fábricas que estão em curso refletem as necessidades geradas pela concorrência em escala europeia.
A integração também é o caminho seguido pela indústria de alta tecnologia. Mediante a criação de grandes consórcios de
pesquisa e desenvolvimento, as empresas europeias buscam enfrentar a concorrência com o Japão e com os Estados Unidos. O
melhor exemplo é a Airbus, conglomerado aeronáutico europeu nascido de um consórcio entre empresas da França, Alemanha, Grã-
Bretanha e Espanha, que se tornou o principal competidor da norte-americana Boeing no mercado global de aviação civil.

Núcleo e periferias da União Europeia


O núcleo econômico da União Europeia está na Europa ocidental. Mas, mesmo no interior desse núcleo, as desigualdades de
renda e de salários são significativas.
Na Europa ocidental, verifica-se significativa disparidade de renda entre os países e regiões do norte do bloco e os países e
regiões da Europa mediterrânea. Em contraste com o elevado PIB per capita e a poderosa base industrial dos demais, a porção
mediterrânea apresenta-se comparativamente pobre e dependente das atividades agropecuárias. Grécia, Portugal, regiões da
Espanha e o sul da Itália ilustram essa singularidade meridional.
A periferia da União Europeia é constituída
pelos novos membros da Europa centro-oriental.
Todos eles apresentam níveis de renda
significativamente inferiores aos da Europa
mediterrânea. Do ponto de vista socioeconômico,
essa periferia é heterogênea. Em seu extremo
superior, encontram-se República Checa,
Eslováquia e Hungria, além do pequeno Chipre.
Esses países apresentam níveis de PIB per capita
não muito distantes daqueles da Europa
mediterrânea. No extremo inferior, Romênia e
Bulgária exibem níveis de renda muito baixos e
economia carente de dinamismo.
A União Europeia dividiu o bloco em
regiões, que se singularizam por suas estruturas
produtivas e seus níveis de renda per capita. A
política regional europeia destina às regiões
menos desenvolvidas seus "fundos estruturais':
que financiam reformas voltadas para a
modernização econômica.

Os imigrantes e a questão islâmica


No século XIX, a Europa constituiu a principal zona de emigração do mundo e, até as primeiras décadas do século XX,
imigrantes europeus estabeleceram- se na América, na Oceania, na Ásia e na África. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, os fluxos
inverteram- se: as regiões industrializadas da Europa ocidental e central tornaram-se polos de atração de populações provenientes
das antigas colônias europeias, do mundo muçulmano e da Europa oriental.
Do Magreb formaram-se fluxos de migrantes para a França. Na Grã-Bretanha, instalaram-se indianos, paquistaneses e
jamaicanos. Da África subsaariana originaram-se imigrantes que se estabeleceram na França, na Grã-Bretanha, na Bélgica e, mais
recentemente, na Itália e na Espanha. A Alemanha passou a receber imigrantes da Turquia, dos Bálcãs, da Polônia e da Rússia.
O impacto demográfico da imigração é realçado pelas baixas taxas de crescimento vegetativo na Europa. Entre 1994 e 2000,
o crescimento populacional da União Europeia ficou abaixo de 1 % ao ano. O crescimento vegetativo oscilou em torno de 0,3% anual,
enquanto o saldo migratório oscilou ao redor de 0,6% anual. Entre 2000 e 2004, a disparidade aumentou: as taxas de crescimento
vegetativo permaneceram estagnadas, mas o saldo migratório elevou-se para taxas entre 1% e 2% ao ano.
Do ponto de vista econômico, o fluxo de imigrantes tem impactos positivos, amenizando o processo de envelhecimento da
população e oferecendo mão-de-obra barata para a construção civil e o setor de comércio e serviços. Os imigrantes ocupam os
empregos rejeitados pelos trabalhadores europeus, equilibrando o mercado de trabalho da União Europeia. Os saldos migratórios na
Europa apresentam nítida tendência de crescimento. Desde 2001, os saldos anuais ultrapassaram um milhão de pessoas, com um
recorde histórico de quase 2 milhões em 2003. Entre 1994 e 2004, o principal receptor de imigrantes foi a Espanha, com saldo
migratório total superior a 3,4 milhões. As posições seguintes ficaram com Alemanha (2,2 milhões), Itália (1,9 milhão), Grã-Bretanha
(1,3 milhão) e França (617 mil).
Atualmente, o fluxo de imigração para a União Europeia é tão intenso quanto o fluxo para os Estados Unidos. A
expansão da imigração tem impactos políticos complexos, funcionando como pretexto para campanhas de xenofobia (aversão
a estrangeiros) que adquirem fortes tons racistas.
Na França, a Frente Nacional, grande partido de extrema direita, faz do combate à imigração sua principal bandeira. Na
Alemanha, na Grã-Bretanha e na Holanda, pequenos grupos neonazistas organizam agressões contra imigrantes. Na Espanha,
uma pesquisa de opinião, de 2002, revelou que 60% da população tende a relacionar a imigração à criminalidade.
A integração dos imigrantes árabes, africanos, asiáticos e antilhanos às sociedades europeias é tortuosa e sempre
incompleta. Como regra, formam-se guetos étnicos nas áreas centrais das cidades ou em conjuntos habitacionais periféricos.
A discriminação, aberta ou velada, reforça as diferenças religiosas e culturais. Desde os atentados terroristas em Nova York e
Washington, em 11 de setembro de 2001, a questão da imigração muçulmana na Europa as sumiu os contornos de uma
questão de relevância estratégica. As principais comunidades muçulmanas na União Europeia encontram -se na França, em
virtude da imigração magrebina, na Grã-Bretanha, em decorrência da imigração paquistanesa e indiana, e na Alemanh a, foco
da imigração turca. Mais recentemente, com o aumento da entrada de imigrantes da África do Norte na Espanha, formou -se
uma significativa comunidade muçulmana no país.

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A presença de ativistas de grupos islâmicos fundamentalistas nessas comunidades, que se articulam por trás de
instituições religiosas ou culturais, tornou-se um tema de segurança nacional, além de um novo pretexto para investidas das
correntes políticas xenófobas.
Os atentados terroristas em Madri, no início de 2004, e em Londres, em julho de 2005, foram cometidos por fanáticos
residentes na Europa, organizados em células ligadas à Al-Qaeda. Depois daqueles eventos, as atividades religiosas e
culturais das comunidades muçulmanas se tornaram alvo de vigilância permanente dos serviços de inteligência.
O novo desafio não se resume ao tema da segurança e não pode ser resolvido apenas por meio de ações policiais e de
inteligência. No plano político e social, envolve o combate à difusão do extremismo fundamentalista entre os muçulmanos
estabelecidos na Europa. Diante desse problema, os governos oscilam entre políticas voltadas para a integração das comunidades
muçulmanas aos valores europeus e políticas multiculturalistas, destinadas a assegurar a singularidade cultural das populações de
origem estrangeira. O multiculturalismo é a opção preferida na Grã-Bretanha. Já a França tende a conduzir políticas integracionistas.

Possíveis consequências da saída do RU da UE:


1. Crise política e institucional
Se o Reino Unido (RU) votar pela saída da União Europeia (UE), é provável que o país sofra com uma crise política e
institucional sem precedentes em sua história recente. Responsável pela convocação do referendo e líder da campanha pela
permanência na UE, o primeiro-ministro britânico David Cameron deverá renunciar ao cargo, levando a uma disputa interna no Partido
Conservador para a nomeação de um sucessor.
O desencontro entre os resultados do referendo na Inglaterra e nos outros países do Reino Unido também pode causar conflitos
internos. As pesquisas apontam que na Escócia e na Irlanda do Norte a campanha pela permanência na UE deve prosperar. Se essas
previsões se confirmarem, esses países podem pedir por uma nova votação em caso de vitória da saída e passar a questionar a
constitucionalidade e legalidade do processo do referendo. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, apoiada por uma maioria
dos escoceses favorável à permanência do Reino Unido na UE, já inclusive ameaçou voltar a convocar um referendo sobre a
independência da Escócia se o resto do Reino Unido votar pela saída.

2. Efeito dominó
A saída do RU da UE pode dar início a um efeito dominó entre os países do bloco e enfraquecer o atual modelo europeu. Os
pedidos de referendo para sair do bloco podem se multiplicar em caso de Brexit e ecoar nos países nórdicos, muito afetados pela onda
nacionalista que também atinge a nação britânica. Os países escandinavos, importantes contribuintes para o orçamento da UE, temem
que as sucessivas crises europeias acabem afetando sua prosperidade. O ministro das Finanças italiano, Pier Carlo Padoan, afirmou
em entrevista ao jornal britânico The Guardian que a saída do Reino Unido do bloco poderia influenciar também campanhas por um
referendo na França, nas eleições presidenciais de 2017. "Já estamos vendo um efeito dominó, com os partidos anti-Europa ganhando
um monte de apoio, começando na França”, afirmou Padoan.

3. Imigração
Até que fique claro qual será o acordo que substituirá os atuais termos de associação da UE no caso da saída do RU do bloco,
é difícil dizer qual será a política de imigração adotada. Muitos especialistas acreditam que, com a adesão do Reino Unido aos acordos
de livre comércio, o compromisso de livre circulação entre os países europeus também será legitimado, assim como acontece
atualmente com a Noruega ou a Suíça.
No entanto, até que esse novo acordo seja estabelecido, é possível que a imigração para o país seja regulada inteiramente
pela lei nacional britânica. Nesse caso, imigrar para o RU se tornaria ainda mais difícil do que já é: os cidadãos da UE enfrentariam
longas filas e checagens de documentos. Uma diminuição acentuada da imigração de trabalhadores poderia levar a falta de mão-de-
obra na área da construção civil e outros serviços.
Os britânicos também teriam de solicitar vistos para viajar pelo resto do continente e cidadãos ingleses vivendo em países
como Espanha podem ter de cumprir regras de integração bastante rígidas, como a obrigação de falar a língua oficial da nação, antes
de ganharem o visto de residência.

4. Perda de influência do RU
O RU perdeu boa parte de sua influência dentro da UE na última década e mais recentemente por não atuar de forma ativa na
busca por soluções para a crise de refugiados e a crise do euro. Caso a nação decida mesmo sair do bloco, é provável que seu
prestígio na Europa e no cenário mundial diminua ainda mais.
Grande parte da influência global do país está ligada ao seu poder de veto no Conselho e no Parlamento Europeu, assim como
da sua influência informal na Comissão Europeia e na formação de alianças com outras nações. Fora da UE, o RU perderá créditos
na hora de assinar acordos bilaterais ou fazer grandes transações econômicas e verá seu peso diplomático ser reduzido. O país
provavelmente continuará a ser um parceiro militar significativo para os Estados Unidos, mas pode encontrar dificuldades para
concretizar objetivos internacionais ou não ser a primeira escolha dos EUA para parcerias não militares.

5. Consequências para a UE
É consenso que a saída do RU da UE poderia diminuir o poder do bloco no cenário mundial. Ao lado da Alemanha e da França,
o RU é uma das principais potências europeias e sua ausência na UE significaria, além da perda de influência na política externa, uma
carência em termos militares, já que os britânicos são responsáveis pelo quinto maior gasto militar do mundo e os primeiros no bloco.
A nação também agrega a UE toda sua vasta rede diplomática, historicamente beneficiada pelo enorme poderio do Império Britânico,
que tinha colônias e protetorados em todos os continentes do mundo. A inteligência britânica, capitaneada pelo serviço secreto MI6 e
pelo Escritório Central de Comunicação do Governo (GCHQ, na sigla em inglês), também é um trunfo que a União Europeia pode
perder.

6. Balanço de poder na UE
Se o RU deixar a UE, o balanço de poder no bloco terá de se ajustar. A Alemanha, por exemplo, sofrerá pressão para assumir
um papel mais ativo na Política Externa e de Segurança Comum da União Europeia, um dos pilares da UE e que procura preservar a
paz e segurança nos países membros.
No final do mês de jun 2016, a população do Reino Unido (RU) decidiu, em plebiscito, pela saída do país da União Europeia
(UE).

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A maior concentração de votos pela saída foi no interior da Inglaterra e do País de Gales, e em cidades com mais dificuldades
econômicas.
Londres, Escócia e Irlanda do Norte votaram pela permanência.
O resultado pode ser relacionado:
- a persistência da estagnação econômica da Europa; e
- as novas e velhas tensões, como a defesa da soberania nacional, o orgulho pela identidade britânica, a desconfiança com a
burocracia de Bruxelas, o controle de fronteiras e questões de segurança interna e defesa.
A UE é um mercado único com 28 países-membros, com livre circulação de mercadorias e de pessoas, inclusive trabalhadores.
Quase metade das exportações britânicas tem como destino a UE.
A exclusão do país significaria que todas as leis europeias que são hoje aplicadas ao RU não seriam mais válidas, como por
exemplo acordos de comércio e algumas regulações trabalhistas e ambientais.
O Parlamento deverá negociar os acordos internacionais que foram assinados em nome da UE e refazer todas as leis onde
eram aplicadas as leis europeias.
Como consequência imediata do Brexit, o câmbio da libra contra o dólar sofreu a maior desvalorização desde 1985 (um grande
impacto inicial e um retorno posterior para um nível ainda desvalorizado) e a inflação deverá ter um pico de alta com os efeitos da
desvalorização. O Banco da Inglaterra já anunciou que manterá as taxas de juros baixos, efetivamente ignorando este pico de inflação,
com o diagnóstico de que ele é temporário e que será mais importante sustentar a atividade econômica. Estes dois fatores em conjunto
(desvalorização e juros baixos) podem atenuar, pelo menos parcialmente, o efeito redutor do PIB advindo da queda dos investimentos
(causada pela maior incerteza). Estes efeitos serão predominantes nos primeiros anos enquanto nenhum acordo for fechado.

7. Brexit: 6 mudanças na relação entre Reino Unido e União Europeia trazidas pelo novo acordo – 25 dez 2020
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55449363 Acesso em 09 jun 2021
Quase um ano após a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, os dois lados fecharam um acordo
para definir as novas regras na relação entre eles.
As implicações do acordo são muitas, tanto para a vida cotidiana quanto para o relacionamento futuro do Reino Unidos com
os outros países da Europa.
O acordo completo — com mais de 1.200 páginas — ainda não foi publicado oficialmente, mas muitos detalhes foram
apresentados pelo governo do Reino Unido e pela UE.
Veja quais serão as principais mudanças em 6 áreas.

Comércio
. Não haverá encargos adicionais (tarifas) sobre os bens ou limites sobre a quantidade que pode ser negociada (cotas) entre o Reino
Unido e a UE a partir de 1 de janeiro.
. No entanto, haverá controles adicionais nas fronteiras, como controles de segurança e declarações aduaneiras. Então as empresas
que dependem do transporte de mercadorias da UE ou para lá terão que se preparar.
. Para serviços, incluindo serviços financeiros — algo muito importante para a economia do Reino Unido — a situação ainda é um
pouco obscura. Os serviços perderão seu direito automático de acesso, mas o Reino Unido disse que o acordo "congela" o atual
nível de acesso ao mercado "em praticamente todos os setores".
. Não haverá mais reconhecimento automático de qualificações profissionais, como médicos, enfermeiras e arquitetos. Britânicos
dessas profissões que quiserem atuar na Europa e vice-versa terão que tirar documentos de equivalência de seus certificados
profissionais.

Viagens
. Cidadãos do Reino Unido precisarão de visto para estadias superiores a 90 dias na UE.
. Haverá controles extras de fronteira para viajantes do Reino Unido.
. Passaportes de animais de estimação da UE não serão mais válidos no Reino Unido
. Os viajantes britânicos ainda terão acesso a cuidados de saúde de emergência na União Europeia por algum tempo. Os cartões
europeus de seguro saúde (EHIC) permanecerão válidos até a data de expiração. De acordo com o governo do Reino Unido, eles
terão que ser substituídos por um cartão de seguro saúde global.
. O Reino Unido e a UE irão cooperar em "taxas justas e transparentes para roaming internacional móvel", ou seja, para tarifas de
roaming em ligações telefônicas. Mas não há nada que impeça os viajantes britânicos de serem cobrados pelo uso de seus telefones
na UE e vice-versa.

Pesca
. O Reino Unido se torna um estado costeiro independente e pode decidir sobre o acesso às suas águas e áreas de pesca.
. Mas os barcos da UE terão permissão para pescar nas águas do Reino Unido por pelo menos mais alguns anos.
. Os barcos da UE terão que dar ao Reino Unido 25% do valor de sua capturas, mas haverá um período de transição de cinco anos e
meio em que isso será implementado.
. Após o período de transição, o Reino Unido e a UE vão negociar regularmente o acesso às suas respectivas áreas costeiras e
marítimas.

Justiça
. O Reino Unido não estará mais vinculado às decisões do Tribunal de Justiça Europeu, disse o primeiro-ministro britânico Boris
Johnson.
Educação
. O Reino Unido não participará mais do programa de intercâmbio Erasmus, um programa da Europa que ajuda os alunos a estudar
em outros países.
. Em seu lugar estará em vigor um novo programa com o nome do matemático Alan Turing
. Os alunos das universidades da Irlanda do Norte continuarão a participar do Erasmus, como parte de um acordo com o governo
irlandês.

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8. Brexit: 3 efeitos da saída da União Europeia que os britânicos já sentem – 31 mai 2021
fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57057331 Acesso em 09 jun 2021

Em 24 de dezembro, Reino Unido e a União Europeia chegaram a um acordo para definir sua relação.
Já se passaram mais de 150 dias desde que o Brexit entrou em vigor, mas, segundo especialistas, ainda é difícil medir
os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia.
De acordo com Paula Surridge, professora da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e vice-diretora da organização UK in a
Changing Europe, do Conselho de Pesquisa em Ciências Econômicas e Sociais britânico, muitos cidadãos ainda não sentiram as
diferenças.
. Por que Londres está perdendo população num êxodo sem precedentes
. Jersey, o pequeno paraíso fiscal no Canal da Mancha que gerou uma disputa naval entre a França e o Reino Unido
"Um dos principais motivos para isso é que muitas das atividades em que o público em geral veria o impacto do Brexit não
estão ocorrendo no momento devido à pandemia, como, por exemplo, viajar de férias pela Europa", diz Surridge.
"Se alguém vai ao supermercado e nota que está faltando alguma fruta, legume ou verdura, não saberá se é efeito da pandemia
ou do Brexit."
Nas próximas semanas, segundo ela, quando a economia e a sociedade começarem a se abrir um pouco mais, após
três lockdowns, é possível que os britânicos possam ver com mais clareza algum impacto em suas vidas da saída do bloco europeu,
que foi concluída e formalizada em 31 de dezembro de 2020.
Outros especialistas concordam: por conta da pandemia, a maioria dos britânicos ainda não vivenciou as principais mudanças
do Brexit. No entanto, determinados consumidores e empresas já começaram a sentir alguns efeitos.
Leia abaixo sobre três desses efeitos que já podem ser sentidos pelos britânicos:

1. Compras pela internet procedentes da UE mais caras


Algumas pessoas perceberam que as compras online feitas em lojas da União Europeia ficaram mais caras.
O jornalista da BBC Tom Edgington ressalta que isso acontece porque nem todas as taxas estão cobertas pelo acordo comercial
do Brexit que foi estabelecido entre o Reino Unido e a União Europeia.
O Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que incide sobre vendas, sempre foi exigido para produtos da União Europeia, mas
desde o Brexit, a forma como é aplicado mudou, conforme Edgington explica a seguir:
"Anteriormente, o consumidor pagava a taxa local do IVA."
"Por exemplo, se você comprasse um suéter em uma loja na Suécia, você pagaria o IVA sueco. Agora você tem que pagar o
britânico, que é de 20%."
"Para qualquer produto abaixo de 135 libras (cerca de R$ 1.000), o IVA deveria ser automaticamente incluído no preço final
pago na transação online."
"A maioria dos produtos que custam mais de 135 libras agora exigem que o IVA do Reino Unido seja pago no local de entrega,
pois não está mais incluído no pagamento online."
"Por isso, se você comprar um suéter muito caro de um vendedor da União Europeia, a empresa transportadora solicitará que
você pague o IVA antes de o produto ser entregue."
"E pode ser um choque se o varejista não deixar isso claro antes de você efetuar a compra."
"No caso de comprar em um mercado online, os pequenos vendedores agora são obrigados a cobrar o IVA do Reino Unido
quando disponibilizam seus artigos em sites como Amazon, eBay ou Etsy."
"Por isso, o custo pode aumentar quando você insere um endereço de entrega localizado no Reino Unido."
As tarifas alfandegárias também se aplicam a mercadorias com valor superior a 135 libras.
"Não é necessário pagar taxas alfandegárias se o suéter foi fabricado inteiramente na União Europeia."
"Mas é possível que você tenha que pagar se o vendedor da União Europeia importou originalmente de um país que não
pertence à União Europeia."
"E a mesma taxa pode ser aplicada se uma determinada porcentagem dos materiais usados para fazer a roupa vier de fora da
União Europeia (no que é conhecido como regras de origem)."
"Os consumidores podem entrar em contato com o varejista antes de efetuar a compra para verificar se terão que pagar algum
imposto aduaneiro."
"Há diferentes tarifas dependendo do que é comprado, e alguns bens não têm taxas alfandegárias."
"Antes do Brexit, o imposto teria sido pago por quem primeiro o importou para a União Europeia e, em seguida, poderia ser
transportado para outros países da União Europeia, incluindo o Reino Unido, sem mais encargos."
Edgington explica que qualquer presente procedente da União Europeia no valor de mais de 39 libras (R$ 290) está sujeito a
IVA.
Se um amigo comprar um presente diretamente de um varejista alemão e solicitar que seja entregue a alguém no Reino Unido,
é provável que o entregador solicite ao destinatário o pagamento do IVA ou dos direitos alfandegários devidos.
Mas a pessoa que envia o presente pode perguntar ao vendedor ou à transportadora se pode pagar antecipadamente, o que
é conhecido como entrega com direitos pagos, para evitar o possível constrangimento de o destinatário ter de pagar para receber o
presente.

2. Fim do 'imposto sobre absorvente'


A eliminação do IVA sobre absorventes higiênicos foi "o primeiro 'dividendo' do Brexit, anunciado pelo chanceler Rishi Sunak
em 1º de janeiro, um dia após o fim do período de transição", observa o jornalista da BBC Adam Fleming.
Os defensores dos direitos das mulheres lutavam há anos pelo fim do imposto, que representava um aumento de 5% no preço
desses produtos.
Era uma lei controversa porque o IVA aplicado a estes artigos sanitários fazia com que fossem classificados como "artigos de
luxo", algo que muitos consideravam "sexista".
"Estou orgulhoso por hoje estarmos cumprindo nossa promessa de eliminar o imposto sobre os absorventes. Os produtos
sanitários são essenciais, por isso é correto que não cobremos IVA", declarou Sunak.
O governo indicou que foi capaz de tomar a medida porque não estava mais sujeito às regras da União Europeia sobre produtos
sanitários graças ao Brexit.

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3. Mais 'papelada': o ponto de vista dos empresários
"A nova relação comercial do Reino Unido com a União Europeia pode ter apenas alguns meses. Mas algumas empresas estão lutando
para se adaptar ao novo cenário comercial fora da união aduaneira e do mercado único", diz Lora Jones, jornalista de negócios da BBC.
Jones conversou com três empresários britânicos de diferentes setores.
Ben Taylor e Alice Liptrot fundaram a Country of Origin, uma empresa de artigos têxteis que emprega quatro pessoas e vende
roupas no atacado para lojas independentes e clientes online.
De acordo com Ben, cerca de um terço das vendas são feitas para clientes na União Europeia.
"Mas desde o fim de janeiro, (o negócio) reduziu."
Ben conta que a empresa se viu em meio a uma "emboscada administrativa" — e que em cerca de 80% dos pedidos enviados
para o bloco europeu, após o Brexit, os clientes tiveram que pagar taxas adicionais.
Um cliente da Holanda foi solicitado a pagar 100 euros (R$ 635) adicionais em seu pedido, de acordo com Ben, devido a "tarifas
governamentais", sem maiores explicações por parte dos agentes alfandegários.
Steve Howell e sua empresa Foodlynx vendem salsicha, bacon e pão britânicos para hotéis e restaurantes da União Europeia.
Normalmente, ele enviava um ou dois caminhões por semana — e até seis durante a alta temporada no verão.
Mas a empresa sofreu um atraso de três dias no único envio feito desde o Brexit.
O caminhão foi retido no porto de Le Havre, na França, quando funcionários da alfândega questionaram se os certificados de
alguns produtos de origem animal haviam sido preenchidos corretamente.
E foi transferido para uma unidade de armazenamento refrigerado próxima enquanto o problema era resolvido.
Cobraram 3.914 euros (R$ 24.930) a Steve por gastos administrativos e de armazenamento.
Embora estatísticas recentes mostrem que as exportações do Reino Unido para a União Europeia caíram significativamente
em janeiro, Steve acredita que há outros fatores envolvidos.
"A demanda diminuiu devido à covid no ano passado e, além disso, assim como muitos outros (empresários), aconselhamos
nossos clientes a estocar antes do Natal para evitar esse tipo de atraso."
"Agora os clientes estão ficando sem estoque e ainda estamos lutando com a papelada, as novas regulamentações de rótulo
e o cumprimento (das regras)."
"O objetivo (do Brexit) era retomar o controle do nosso país", diz Steve. "Fomos bem-sucedidos em fazer exatamente o
contrário, porque os exportadores britânicos estão completamente derrotados."
Martyn Wilson criou seu negócio de peças de reposição para automóveis clássicos há 12 anos — e cerca de 60% dos pedidos
são enviados para a União Europeia.
A Citroen Classic Car Parts normalmente despacha 130 itens por mês, mas as dificuldades logo apareceram.
"Para os serviços de entrega, tenho que fornecer os dados de contato dos clientes e, muitas vezes, preciso escrever para eles
em francês e alemão para conseguir, o que é um drama com o qual nunca tivemos que lidar antes", diz Wilson.
Algumas mercadorias enviadas para a Itália, por exemplo, nunca chegaram, e outras foram devolvidas porque os clientes não
pagaram as taxas adicionais.
"Certamente nos impactou do ponto de vista mental. É muito estresse adicional, e você fica constantemente tentando cumprir
os prazos, tentando obter boas avaliações dos clientes e garantir que os produtos sejam entregues."
"Vou seguir adiante da melhor maneira possível e talvez isso me leve a pensar um pouco fora da caixa."
"Pode ser bom para nós no longo prazo, mas estamos atravessando o limiar da dor."

O que dizem os números?


Em 12 de abril, as Câmaras de Comércio do Reino Unido divulgaram uma pesquisa realizada com 2,9 mil exportadores
britânicos, mostrando que 41% das empresas haviam registrado queda nas vendas de exportação no primeiro trimestre.
Os entrevistados citaram o Brexit e o impacto da covid-19 como as principais causas dos problemas comerciais.
"Pedimos ao Reino Unido e à União Europeia que voltem à mesa (de negociação) e apresentem soluções que reduzam as
barreiras comerciais e deem aos exportadores uma chance de ganhar", afirmou a codiretora executiva da organização, Hannah Essex,
em um comunicado.
"As dificuldades que os exportadores enfrentam não são apenas 'problemas iniciais'. São questões estruturais que, se deixadas
sem solução, podem levar a um enfraquecimento de longo prazo e potencialmente irreversível do setor de exportação do Reino Unido",
acrescentou.
Um mês antes, em 12 de março, o Escritório Nacional de Estatísticas havia informado que as exportações de mercadorias do
Reino Unido para a União Europeia haviam caído 40,7% em janeiro, enquanto as importações baixaram 28,8%.
A organização indicou que isso provavelmente se devia a fatores temporários, acrescentando que os dados mostravam que as
coisas haviam começado a melhorar.
O fato é que é difícil determinar quanto dessa queda foi em decorrência do Brexit e da pandemia.
"Parte da queda tanto nas importações quanto nas exportações pode ser atribuída ao fato de que as empresas de ambos os
lados do Canal (da Mancha) haviam estocado produtos antes do fim do período de transição do Brexit, de modo que não precisaram
movimentar tantas mercadorias em janeiro", observou o jornalista da BBC Andy Verity em março.
"Outra parte também se deve à pandemia e, em alguns setores, é difícil separar a queda de qualquer efeito do Brexit."
"Mas, como ressaltam os economistas, não se trata de amenizar uma queda de 40,7% nas exportações de mercadorias para a União
Europeia em janeiro, nosso primeiro mês sob o novo acordo comercial negociado por Boris Johnson e assinado na véspera do Natal."

'Voltaram aos níveis normais'


Um porta-voz do governo declarou: "Uma combinação única de fatores, incluindo a acumulação de estoque no ano passado,
os lockdowns por covid na Europa e as empresas que estão se ajustando à nossa nova relação comercial, tornaram inevitável que as
exportações para a União Europeia fossem mais baixas em janeiro deste ano do que no passado".
"Esses dados não refletem a relação comercial geral entre a União Europeia e o Reino Unido após o Brexit e, graças ao trabalho
árduo das transportadoras e comerciantes, os volumes gerais de carregamentos entre o Reino Unido e a União Europeia voltaram a
seus níveis normais desde o início de fevereiro."
É verdade, o comércio entre o Reino Unido e a União Europeia se recuperou naquele mês, mas parcialmente.
Os números oficiais mostram que as exportações para o bloco europeu aumentaram 46,6%
Mas o Escritório Nacional de Estatísticas informou que ainda estavam abaixo dos níveis do ano passado e que as importações
da União Europeia apresentaram uma recuperação mais fraca.
- 142 -
Espaço Shengen
(Fonte: http://www.france.fr/pt/vir-para-franca/o-que-e-o-espaco-schengen.html - site oficial do governo francês)
• Autorizando a livre circulação de pessoas entre os Estados signatários, garantindo a harmonização dos controles nas fronteiras
exteriores, o espaço Schengen permite a 400 milhões de cidadãos europeus circular, munidos de um simples cartão de
identificação.
• Agrupa 22 Estados-membros da União Europeia (UE) e quatro países associados: a Islândia, a Noruega, a Suíça e o Liechtenstein.
• Os cidadãos desses Estados estão dispensados de apresentar um visto para entrar em qualquer país do grupo.
• Na origem, o que era o espaço Schengen?
A 14 de junho de 1985, a França, a Alemanha, a Bélgica, o Luxemburgo e os Países-Baixos assinam em Schengen
(Luxemburgo) um acordo relativo à supressão gradual dos controles nas fronteiras comuns, instaurando um espaço – "o espaço
Schengen" – de livre circulação de pessoas, independentemente da sua nacionalidade.
• A 19 de junho de 1990, os cinco Estados-membros assinam a Convenção de aplicação dos acordos de Schengen - prevê medidas
compensatórias visando garantir, no seguimento da supressão dos controles nas fronteiras internas, um espaço único de
segurança e de justiça. Estas medidas centram-se, nomeadamente, sobre a cooperação entre os sistemas judiciários, a polícia e
os serviços administrativos. São estabelecidas medidas de luta contra o terrorismo, os tráficos ilícitos e a grande criminalidade.
• Quem faz parte do espaço Schengen?
- Após a assinatura da Convenção pela França, o Benelux e a Alemanha, o espaço Schengen alarga-se à Itália (1990), à Espanha
e a Portugal (1991), à Grécia (1992), à Áustria (1995), depois à Dinamarca, à Finlândia e à Suécia (1996). Como membros
associados, dois Estados não pertencentes à UE, a Noruega e a Islândia, aderem, em seguida, à Convenção. Incluídos no tratado
de Amsterdã (1 de maio de 1999), eles fazem parte integrante do direito comunitário (exceto para a tomada de decisão).
- A 21 de dezembro de 2007, 09 novos Estados-membros da UE entram no espaço Schengen: a Estônia, a Letônia, a Lituânia, a
Hungria, a Polônia, a República Checa, a Eslovênia, a Eslováquia e Malta. Estado não membro, a Suíça entra, por sua vez, no
espaço Schengen (12 /12/2008), seguida do Liechtenstein (7 /03/2011), 26º país e quarto Estado não membro a integrá-lo.
O Chipre está, atualmente, excluído, assim como a Romênia e a Bulgária, que aderiram à UE em 2007. Esses três Estados estão,
no entanto, isentos de vistos, por pertencerem à União Europeia.
• Em que consiste o controle das fronteiras do espaço Schengen?
Este controle consiste, nomeadamente, na:
- Supressão dos controles nas fronteiras internas, garantindo a harmonização dos controles nas fronteiras exteriores;
- Harmonização das condições de entrada e de vistos para as estadias curtas (3 meses): qualquer visto emitido por um Estado-
membro dos acordos de Schengen é válido para todo o território Schengen;
- Obrigação, para qualquer cidadão de um país terceiro que circule de um Estado-membro para outro do território Schengen, de
fazer uma declaração às autoridades;
- Adaptação dos portos e aeroportos para a separação física dos fluxos de passageiros intra e extra Schengen;
- Implementação de uma coordenação entre administrações nacionais para vigiar as fronteiras e para o reforço da cooperação
judiciária;
- Restabelecimento possível, por um ou mais Estados-membros, dos controles nas fronteiras por um período limitado, em caso de
ameaça da ordem pública ou da segurança nacional (cláusula de salvaguarda);
- Criação do Sistema de Informação Schengen (SIS).

18.3.3. - USMCA X Nafta


O Nafta (do inglês North Amerícan Free Trade
Agreement) - área de livre-comércio que constitui o
bloco econômico regional mais importante das
Américas. Ele começou a se configurar em meados de
1988, ano em que estadunidenses e canadenses
firmaram um acordo comercial. Em 1992, esse acordo
foi ampliado com a inclusão do México, sendo
formalizado em 1º de janeiro de 1994.
O objetivo principal do Nafta é promover a livre
circulação de mercadorias e serviços entre
os três países por meio da eliminação gradativa das
barreiras legais e das tarifas alfandegárias.
Com isso, pretendia-se não só ampliar consideravelmente as relações comerciais entre as nações do bloco, maximizando a
produtividade interna de cada uma, como também fomentar o crescimento econômico do Nafta para fazer frente à concorrência
representada pela economia japonesa, chinesa e pela UE.
O Nafta é um dos blocos econômicos regionais mais representativos do mundo, pois abriga uma população aproximada de 447
milhões de habitantes e possui um PIB superior a 16 trilhões de dólares. Apesar de ser economicamente forte e competitivo, o Nafta
apresenta disparidades internas consideráveis (o PIB dos Estados Unidos é cerca de sete vezes maior que o do Canadá e do México
juntos, e a nação mexicana tem a renda per capita mais baixa da América do Norte); por isso, a existência do Nafta tem gerado
polêmica. É fato que houve um grande crescimento do comércio regional, o que favoreceu bastante a economia mexicana e ajudou o
país a enfrentar a concorrência representada pela UE, pelo Japão e pela China.
Grande parte da indústria manufatureira canadense desenvolveu-se a partir da relocalização de fábricas norte-americanas,
que produzem peças e componentes para cadeias produtivas baseadas nos Estados Unidos.
Graças a um acordo automotivo de 1965, que eliminou tarifas de importação, o estado de Ontário, no Canadá, produz
atualmente mais veículos que o estado de Michigan, onde se situa Detroit. Os custos menores da força de trabalho canadense
funcionaram como fator decisivo para esse processo de transferência de unidades produtivas.
O comércio exterior evidencia a natureza das relações entre os dois países. O Canadá é o maior parceiro comercial dos Estados
Unidos, que absorvem cerca de 85% de suas exportações. O Canadá desempenha a função estratégica de maior fornecedor de
energia para os Estados Unidos, exportando petróleo, gás natural, urânio e eletricidade de fonte hídrica.

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O México apresenta profundas desigualdades sociais e intensa pressão emigratória. A corrente migratória de mexicanos para
os Estados Unidos foi um fator decisivo para a criação do Nafta. Mediante o acordo comercial, os Estados Unidos estimulam o
intercâmbio e os investimentos industriais no vizinho latino-americano, procurando reduzir a pressão migratória.
A supressão de numerosas tarifas e a redução de muitas outras resultaram em ampliação acelerada da histórica dependência
comercial do México em relação à hiperpotência do norte. Hoje, mais de três quartos das exportações mexicanas se destinam aos
Estados Unidos.
O Nafta estimulou os investimentos
estrangeiros no México, possibilitando a
decolagem do Programa de Industrialização da
Fronteira, criado em 1965 pelo governo mexicano.
As fábricas instaladas no extremo norte do
México, conhecidas como maquiladoras, utilizam a
mão-de-obra barata nacional, importam
componentes e geram produtos-finais para o
mercado de consumo norte-americano,
beneficiando-se das regras de livre comércio.
Atualmente, cerca de 3 mil maquiladoras
empregam mais de 1 milhão de trabalhadores e
são responsáveis por quase metade das
exportações mexicanas. O surto de investimentos
estrangeiros que originou essas fábricas
aprofundou as históricas desigualdades entre o
norte industrial e o sul agrário do México.
O ex-presidente norte-americano, Donald
Trump, durante a sua campanha presidencial
acenou com o compromisso de concluir a
construção do muro que dificulta a passagem de
imigrantes provenientes do vizinho ao sul, o
México. Já como presidente retomou esse
discurso e ampliou para a adoção de medidas que
criem restrições às empresas norte-americanas
que investiram no México, objetivando aproveitar
as regras de integração comercial. O intuito do
presidente é o retorno daquelas empresas, com
seus investimentos e empregos, a economia
norte-americana.
Estados Unidos – México – Canadá, que
substitui o Tratado Norte-Americano de Livre
Comércio, o Nafta, que movimenta trilhão de
dólares a cada ano. Esse acordo comercial é
também conhecido como “Nafta 2.0” e foi
assinado em 2018, depois de uma negociação
iniciada em 2017.
O que é esse acordo?

O USMCA corresponde a um tratado de


livre comércio entre Estados Unidos, Canadá
e México que moderniza o antigo acordo,
chamado Nafta, que vigorava desde 1994. A
renovação do acordo foi oficializada pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; o presidente do México, Enrique Peña
Nieto; e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, durante a Cúpula do G20, em Buenos Aires, na Argentina.
O acordo foi fechado primeiramente de forma bilateral entre Estados Unidos e México. Após longas negociações, o Canadá,
por meio de seu primeiro-ministro, mostrou satisfação com as mudanças propostas e decidiu participar do acordo.

Motivação e objetivo do USMCA


A renovação do acordo comercial entre as três nações foi um pedido de Donald Trump, que alegava enxergar prejuízos para
os setores econômicos dos Estados Unidos. Esses prejuízos teriam sido gerados por déficits no comércio entre os Estados Unidos e
o México e isso provocou a perda de milhões de empregos no território estadunidense.
Acreditando que o Nafta fez com que o comércio dos Estados Unidos se tornasse menos competitivo, fazendo com que o país
perdesse indústrias para os demais, Trump, ao propor a renovação, pretendia proteger o mercado estadunidense e liberalizar os
demais. Assim, o principal objetivo da substituição do acordo pauta-se no protecionismo dos Estados Unidos, propondo um
mercado “mais livre”, um comércio mais seguro que favoreça o crescimento econômico.
O Nafta, acordo comercial da América do Norte, representou, durante vinte e quatro anos, um tratado que representava o
livre comércio entre Estados Unidos, Canadá, México e o Chile, como país associado. Ratificado em 1993, esse acordo tinha como
objetivo facilitar o comércio entre os países que o aderiram, removendo algumas restrições comerciais sem atropelar as leis internas
de cada nação.
Ao contrário de alguns outros acordos, como a União Europeia, o Nafta não permitia a livre circulação de pessoas, mas
sim de bens e produtos, findando as barreiras comerciais entre os países e unindo seus interesses a fim de ampliar o mercado e
aumentar a produtividade.

- 144 -
Os principais objetivos do Nafta eram:
 Reduzir as barreiras alfandegárias, no que tangem às
taxas cobradas em relação aos produtos importados;
 Favorecer a circulação dos bens e serviços entre os
países;
 Promover o aumento das oportunidades de investimento
entre os países;
 Proteger a propriedade intelectual dentro de cada
território;
 Oferecer condições justas para uma competição na área
de livre comércio.
O Nafta, em todo o período em que esteve em
vigor, sofreu diversas críticas apesar de movimentar a
economia entre seus países-membros. É bom ressaltar
que há uma enorme disparidade econômica entre esses
países. A economia mexicana é bastante dependente da
economia estadunidense e muitos acreditavam que esse
acordo intensificava ainda mais essa dependência.
Outro problema refere-se à questão
das uniões trabalhistas do México, que são contra o
acordo por acreditarem que os Estados Unidos ficam em
vantagem quanto aos preços dos produtos agrícolas
produzidos no México.
Por outro lado, os Estados Unidos acreditavam
que sua economia estava sendo prejudicada, visto que
muitas indústrias se deslocaram para o Canadá e para o
México devido aos atrativos econômicos em relação aos
baixos impostos cobrados nessas áreas e a mão de obra
mais barata. Os canadenses, por fim, criticavam o fato de
que a parceria comercial com os Estados Unidos por vezes limitava o comércio com outros países.
O que muda?
O presidente Donald Trump propôs algumas mudanças em relação ao acordo comercial, estabelecendo regras para o
comércio entre os países que, segundo ele, revolucionará as três nações, garantindo inovação e prosperidade. As principais
mudanças ocorridas em relação ao antigo acordo, o Nafta, agora então renovado pelo USMCA estão no quadro ao lado.

18.3.4 - MERCADO COMUM DO SUL - Mercosul


Ao assinar esse tratado, os países-membros estabeleceram o Mercosul, bloco econômico mais importante da América do Sul,
representa cerca de 70% do território sul-americano, aproximadamente, 64% de sua população. Ele é composto de quatro países
(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), e começou a se configurar por volta de 1985, quando Brasil e Argentina iniciaram uma
aproximação econômica, demonstrando vontade de estabelecer uma integração bilateral. A aproximação entre os dois maiores e mais
populosos países sul-americanos desencadeou um processo de integração na região, o que possibilitou a criação do Mercosul em 26
de março de 1991. Nessa data, Paraguai e Uruguai uniram-se a Brasil e Argentina e assinaram o Tratado de Assunção, iniciando o
processo de formação do Mercado Comum do Sul.
Ao assinar esse tratado, os países-membros estabeleceram basicamente quatro objetivos com a formação do bloco: maior
abertura da economia dos países-membros para uma inserção mais competitiva no mercado mundial; favorecimento da economia de
escala; o estímulo dos fluxos de comércio com o resto do mundo por meio de acordos multilaterais e bilaterais; o desenvolvimento
progressivo da integração da América do Sul.
Além dos Estados-membros, no Mercosul há países associados, como Bolívia e Chile, que assinaram acordos de livre-comércio
com o bloco em 1996, Peru, que adquiriu esse status em 2003, e Colômbia e Equador, que se associaram em 2004 e a Venezuela
em 2006.
Inicialmente, o Mercosul surgiu como uma área de livre-comércio entre os Estados-membros; contudo, passou a ser uma união
aduaneira depois do Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994. Nesse protocolo, foi fixada a Tarifa Externa
Comum (TEC), que, apesar de não ser aplicada a todos os produtos, significou um passo importante em direção à integração
econômica regional.
Além desse passo, projetou-se outra transformação no Mercosul: a de torná-la um mercado comum. Para contribuir com essa
meta e garantir o funcionamento do bloco econômico, no Protocolo de Ouro Preto foi estabelecida uma estrutura institucional composta
do Conselho do Mercado Comum e da Comissão de Comércio do Mercosul, entre outros órgãos.
A integração econômica completa, visando à formalização efetiva de um mercado comum entre esses países, está em
andamento. A velocidade com que se vai alcançar essa integração econômica relaciona-se diretamente com a superação das grandes
diferenças socioeconômicas existentes no interior do bloco.
Os países-membros precisam definir políticas que os levem ao controle inflacionário, à adequação de suas legislações
trabalhistas, à definição de uma política salarial comum, entre outras medidas que necessitam certo tempo para ser efetivadas.
Seguindo uma tendência mundial, o Mercosul representa não só uma tentativa de integração econômica regional entre seus
países-membros, mas também um projeto de aproximação e fortalecimento político das nações da América do Sul. Com isso, cada
país integrante ganha poder nas negociações internacionais, comercializando não mais individualmente, mas como bloco, com outras
nações ou blocos econômicos.
As perspectivas do Mercosul são muito amplas, pois envolvem um mercado consumidor com mais de 246 milhões de habitantes
e um PIB de aproximadamente 2,5 trilhões de dólares, o que o coloca entre os grandes blocos mundiais. Por essa razão, o Mercosul
tem se transformado em um dos principais polos de atração de investimentos do mundo. Além disso, esse bloco tem sido uma forte
arma contra a influência dos Estados Unidos na região, país que tenta assegurar seus interesses comerciais por meio da formação
da Alca e de tratados bilaterais.
- 145 -
Os resultados já obtidos desde a formação do Mercosul melhoraram consideravelmente. Atualmente, o volume de exportações
entre os países do bloco é cerca de cinco vezes maior do que aquele verificado antes do acordo. Outro aspecto positivo é a ampliação
das relações diplomáticas entre os países-membros, favorecendo o fortalecimento da democracia na região. Há até mesmo uma
cláusula nesse tratado que exclui do acordo qualquer país que não eleja os seus representantes por meio do voto popular. Além da
integração econômica, o Mercosul tem promovido uma aproximação cultural entre os povos dos países-membros. É o caso da
Venezuela que desde 2010 espera a aprovação dos congressos dos membros efetivos aprovarem a sua participação como membro
efetivo. No decorrer de 2012, a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo, sob rápido julgamento quanto as suas ações
políticas internas, levou a suspensão do Paraguai pelos demais membros em participar das votações do Mercosul. Como aquele país
era o único em que congresso ainda não havia ratificado a entrada da Venezuela, os demais membros aproveitaram e aprovaram a
entrada como membro definitivo do país do presidente Hugo Chaves, considerando que os seus respectivos congressos já haviam
ratificado a decisão anterior de seus chefes de Estado.
Compare, na tabela abaixo, os contrastes socioeconômicos existentes entre esses países.

O processo de adesão da Venezuela ao Mercosul foi concluído por meio da Decisão CMC 27/12, que concedeu a esse país a
condição de Estado Parte, desde 12/08/2012 e o direito de participar plenamente no Mercosul.
A Venezuela incorporou a NCM e adotou a Tarifa Externa Comum (TEC) desde 05/04/2016.
Contudo, os acontecimentos políticos na Venezuela levaram os demais países membros do Mercosul a suspender os direitos
e obrigações da Venezuela como Estado Parte do Mercosul. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai julgaram que houve a quebra
do Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul, Bolívia e Chile. Desta forma, a Venezuela está
suspensa do Mercosul desde 05 de agosto de 2017, conforme constante da “Decisão sobre a suspensão da Venezuela no
MERCOSUL”.

Mercosul chega a acordo para marginalizar Venezuela


Os quatro sócios fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) decidiram nesta terça-feira (13) marginalizar
a Venezuela e criar uma presidência colegiada do bloco até o dia 1º de dezembro de 2016.
É esse também o prazo para que a Venezuela cumpra todos os compromissos que assumiu há quatro anos, ao ser admitida
no conglomerado. Se não o fizer, será suspensa.
O Itamaraty trabalha com a certeza de que o país, mergulhado em uma crise de proporções inéditas, não terá condições de
incorporar à sua legislação interna todas as regras impostas aos membros do bloco.
Se essa expectativa se comprovar na prática, a marginalização da Venezuela será completa.
A decisão desta terça-feira não foi unânime: Argentina, Brasil e Paraguai votaram a favor de uma presidência colegiada, mas
o Uruguai preferiu abster-se. Acontece que, no minueto diplomático, o consenso se dá também quando há uma abstenção, em vez
de um voto contrário.
Consenso é a regra de ouro para a tomada de decisões no Mercosul.
A proposta de presidência colegiada foi inicialmente lançada pela Argentina e logo encampada por Brasil e Paraguai, assim
que o Uruguai abandonou a presidência de turno do Mercosul, no final de julho.
A presidente seguinte deveria ser a Venezuela, pela ordem alfabética, mas Argentina, Brasil e Paraguai se opuseram à
transferência, usando o pretexto de que a Venezuela não havia adotado, no prazo de quatro anos que venceu no dia 12 de agosto,
todas as regras do bloco a que se comprometera.

REGRAS DEMOCRÁTICAS
Na verdade, a oposição dos três sócios não era tanto técnica como política: alegam que a Venezuela não respeita as regras
democráticas e viola os direitos humanos.
"País que tem presos políticos não é democrático", repetia sempre o chanceler brasileiro, José Serra. Aliás, Serra emitiu nota,
também nesta terça, expressando preocupação pela nova onda de "prisões arbitrárias" ocorridas na Venezuela, citando
especificamente o jornalista chileno Braulio Jatar.
O Uruguai, pela boca do chanceler Rodolfo Nin Novoa, chegou a admitir que a Venezuela era uma "democracia autoritária",
uma contradição em termos. Mas, mesmo assim, insistia em transferir a presidência para Caracas.
O governo uruguaio está nas mãos da Frente Ampla, uma coligação de diferentes grupos de esquerda. Um deles, o Movimento
de Participação Popular, é formado principalmente pelos antigos guerrilheiros "tupamaros" e apoia o governo da Venezuela.
A abstenção uruguaia é uma maneira de atender à pressão de seus sócios no Mercosul sem votar contra um governo aliado
de um de seus grupos internos.
O efeito, no entanto, é o mesmo de um voto a favor da presidência colegiada: a Venezuela fica marginalizada temporariamente
e ainda ameaçada de suspensão.
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Como a notícia do acordo entre os quatro só foi conhecida depois de 21h, até as 21h50 não havia reação da Venezuela, mas
é óbvio que será dura.
A presidência colegiada permite que o Mercosul volte a funcionar, inclusive para dar andamento a negociações comerciais com
outros países/blocos, em especial a União Europeia.
Jornal Folha de São Paulo, 13/09/2016.
Classificação dos países que fazem parte do Mercosul
. Países-membros: são os países que fundaram o Mercosul ou aqueles que ingressaram após a criação do bloco. São eles:
Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa).
. Países associados: países que assinaram tratados de livre comércio com o Mercosul a fim de estimular suas economias e trocas
comerciais, mas não possuem as mesmas vantagens que os membros, como a Tarifa Externa Comum (TEC). Nesse grupo,
enquadram-se Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.
. Países observadores: países autorizados a apenas acompanhar as reuniões. Esses países participam de eventos para ver o
andamento das negociações, mas não possuem direito a veto ou de opinar em alguma cláusula. México e Nova Zelândia são esses
países.

Acordos do Mercosul
Acordo Mercosul-Chile (ACE-35) - assinado em jun 1996
Mercosul-Bolívia (ACE-36) - firmado em dez 1996
Mercosul-México (ACE-54) - assinada em jul 2002
Mercosul-Peru (ACE-58) - assinado em nov 2005
Mercosul Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59)
Mercosul-Cuba (ACE-62) - 02 jul 2007
Mercosul-Colômbia (ACE-72) - firmado em dez 2017
Mercosul-Cuba (ACE-62) - jul 2007
Mercosul-Colômbia (ACE-72) - firmado em jul 2017
Mercosul-Índia - vigente desde jun 2009
Mercosul-Israel - vigente desde abr 2010
Mercosul-SACU (União Aduaneira da África Austral) - vigente desde abr 2016
Mercosul-Egito – vigente desde set 2017
Mercosul-Palestina (ainda sem vigência)
Mercosul-União Europeia (ainda sem vigência)

Exportações e Importações do Mercosul


Vamos saber mais sobre o comércio internacional entre o Brasil e os países do Mercosul. Vamos analisar abaixo, os dados
referentes as exportações brasileiras para os membros do Mercosul, bem como as importações brasileiras dentro do Bloco Econômico.
Em 2019, o Mercosul exportou em produtos um total de US$ 14,7 bilhões, sendo que o principal destino destas exportações
foi a Argentina. No mesmo ano, as importações de produtos dentro do Mercosul foram de US$ 13 bilhões.
Já em 2020, as exportações chegaram no período de janeiro a junho a um valor total de US$ 5,4 bilhões, valor inferior
ao mesmo período de 2019, quando chegou a US$ 7,6 bilhões. Ou seja, em 2020 apresentou uma queda de 28,7%. Do mesmo
modo, as importações neste ano (até Junho-2020) totalizaram US$ 4,7 bilhões, portanto também apresentaram queda quando
comparado ao mesmo período de 2019, quando foram importados US$ 6,5 bilhões. Obviamente a queda dos números em 2020
refletem o resultado econômico da pandemia do Covid-19.
Em 2019, as exportações brasileiras para o Bloco representaram 6,54% das Exportações Brasileiras Totais.

Principais produtos exportados pelo Brasil para o Mercosul


Confira os principais produtos exportados para os países membros do Mercosul no ano de 2019.

Fonte: Comex Stat, período de jan-jun 2020

Exportações por País do Mercado Comum do Sul


Do total de US$ 5,4 Bilhões que o Brasil Exportou para o Mercosul (no período de de Janeiro a Junho de 2020), os destinos das
exportações foram dessa forma:
Argentina: 68%
Paraguai: 17%
Uruguai: 15%

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Principais produtos importados do Mercosul
Confira os principais produtos importados pelo Brasil, originados dos países membros do Mercosul no ano de 2019.

Fonte: Comex Stat, período de jan-jun 2020

Importações Brasileiras: Origem por País do Mercosul


Na importação, a Argentina também é o nosso principal parceiro comercial dentro do Mercosul. Veja a lista completa das principais
origens das Importações Brasileiras no Bloco:
Argentina: 79%
Paraguai: 12%
Uruguai: 8,9%

18.3.5 – COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES - CEI


A CEI é o bloco econômico regional que se formou após a desagregação da União Soviética. No dia 21 de dezembro de 1991,
os líderes de 12 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma Ata, no Cazaquistão, para instituir o bloco e decretar o fim da
URSS. Entre os 15 países que se tornaram independentes da União Soviética, três não aderiram à CEI: Lituânia, Letônia e Estônia,
as chamadas Repúblicas Bálticas.
A CEI constitui uma confederação de estados soberanos, cujo intuito é fortalecer as relações políticas e comerciais entre os
países-membros. Diante do desafio de integrar essa região, a CEI vem enfrentando muitos problemas econômicos e sociais,
decorrentes da transição de uma economia planificada e estatizada para uma economia globalizada e cada vez mais competitiva. À
medida que o Estado deixou de ditar todas as regras que controlavam o funcionamento da economia, passando parte delas para a
iniciativa privada, houve uma crise generalizada, que envolveu a diminuição na oferta de empregos, o aumento excessivo dos índices
inflacionários, a queda da renda per capita, o endividamento externo, a queda da produção e a consequente recessão da economia.
Todos esses problemas propiciaram um acentuado aumento nas desigualdades sociais, uma das características das
economias capitalistas. Na maioria dos países da CEI, a concentração de renda, associada ao empobrecimento de uma parcela
significativa da população, intensificou-se.
Veja os gráficos e tabela abaixo, os dados que revelam as diferenças econômicas no interior do bloco regional.

- 148 -
18.3.6 - ASEAN e APEC
Há mais de duas décadas a Ásia vem apresentando os maiores índices de crescimento econômico do mundo e seu comércio
intrarregional tem aumentado mais do que as trocas com outras regiões.
Apesar disso, é o continente em que menos avançou o processo de formação de blocos regionais de co-
mércio. As rivalidades e desconfianças históricas entre os países asiáticos, sobretudo entre Japão, China, Índia e Coreia do Sul, suas
maiores economias, têm dificultado uma integração regional mais aprofundada. Assim, ao contrário das outras potências econômicas
mundiais - Estados Unidos e Alemanha -, o Japão e a China não lideram nenhum bloco regional de comércio. Nenhum dos dois faz
parte do mais importante bloco comercial da região, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Integram a
Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), mas esse fórum composto por diversos países dos três continentes banhados
pela bacia do Pacífico - Ásia, América e Oceania - ainda não constitui uma zona de livre comércio.
A Asean (do inglês Association of South East Asian Nations) foi visando aprofundar a integração econômica, política e cultural
entre seus países- membros.
Criada para desenvolver o Sudeste Asiático e aumentar a estabilidade política e econômica da região. Foi estabelecida em
1967 em Bangcoc (Tailândia) pelos cinco membros fundadores: Indonésia, Malaísia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. Em 1997, no
30.0 aniversário da associação, foi lançada a Asean Visão 2020, ambicioso plano para criar a Comunidade Asean.
Observe, na tabela abaixo, as disparidades econômicas que existem entre os membros da Apec.
Em 2009, o bloco contava com dez países. Além dos fundadores também compunham o bloco: Brunei, Vietnã, Laos, Camboja
e Myanmar (excetuando os três últimos, os outros sete também são membros da Apec; observe seus indicadores em destaque na
tabela ao lado). Os dez países da Asean dispõem de um amplo mercado consumidor. Segundo dados da entidade, em 2008 sua
população era de 584 milhões de habitantes e seu PIB conjunto, de 1,5 trilhão de dólares. De acordo com a OMC, em 2008 os países
do bloco exportaram 990 bilhões de dólares e importaram 936 bilhões.
A Apec (do inglês Asia Pacific Economic Cooperation) foi fundada em 1989. Com sede em Cingapura, é composta de vinte
países da bacia do Pacífico e por Hong Kong (região administrativa especial chinesa). Por enquanto é apenas um fórum, mas com o
tempo pretende implantar uma zona de livre comércio entre seus membros. Entretanto, para que isso aconteça terão de superar
muitos problemas ligados às suas profundas disparidades socioeconômicas, como se pode observar na tabela. A Apec tem como
membro a maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos, e um dos países mais pobres, o Vietnã. A renda per capita do
primeiro é 60 vezes maior que a do segundo.

Há também problemas político-econômicos a serem superados. Apesar da crescente interdependência econômica dos países
da bacia do Pacífico, é muito difícil estabelecer uma integração semelhante à da União Europeia, ou mesmo à do Nafta, por causa
das disputas comerciais entre as três principais potências - Estados Unidos, Japão e China - e da característica fortemente nacionalista
dos projetos de desenvolvimento implantados pelos Estados da região, especialmente do Leste e Sudeste Asiático.
Se a Apec se constituísse como um bloco econômico seria o maior do mundo, superando a União Europeia. Em 2008, segundo
dados da entidade, sua população correspondia a 40,5% dos habitantes do planeta; seu PIB, a 54,2% da produção bruta mundial; e
suas exportações/importações, a 43,7% do comércio internacional.

18.3.7 - Comunidade de Desenvolvimento da África Austral - SADC


A SADC (do inglês Southern African Development Community) é o mais importante bloco econômico do continente africano.
A Comunidade surgiu em 1992 para estimular as relações comerciais entre 15 nações da região meridional da África, objetivando,
com o passar do tempo, tornar-se um mercado comum entre os países-membros, a exemplo de outros blocos importantes, como a
UE e o Mercosul.
Além da SADC, há na África outros blocos econômicos regionais, como a Comunidade Econômica e Monetária da África
Central (EMCCA) e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS).

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Além de incitar o comércio entre as nações-membros, a Comunidade busca desempenhar um papel preponderante no
processo de estabelecimento da paz e da segurança na região. Entre as nações que fazem parte da SADC, a África do Sul é a mais
importante, pois corresponde economicamente a cerca de 60% da produção total do bloco.

A existência de vários blocos não traduz uma integração econômica do continente africano,
pois a tentativa de integrar os países em blocos regionais depara-se com grandes obstáculos: carência de infraestrutura, baixo nível
de industrialização, dependência econômica, pobreza, fome, epidemias, guerras civis etc.

18.3.8 – Acordo da Zona de Livre Comércio da África Continental (ZLCAC)


African Continental Free Trade Area – AfCFTA - é um acordo de comércio internacional entre 54 países do continente africano
e foi oficialmente assinado em março de 2018.
O mapa ao lado mostra os países que
fazem parte desse acordo. O acordo entrou em
vigor, de fato, em maio de 2019.
Por envolver quase todos os países da
África, esse acordo criou a maior área de livre
comércio do mundo e compreende cerca de 1,3
bilhões de pessoas e um PIB combinado de
cerca de US$ 3,4 trilhões. O acordo tem como
objetivo imediato reduzir as barreiras ao
comércio entre os países membros, que
possuíam tarifas relativamente altas,
principalmente em alguns setores, como os de
bens primários. Outro ponto que o acordo
considera são as barreiras não-tarifárias. A
maioria dos países africanos possuem
problemas de infraestrutura que dificultam o
fluxo de bens. Além disso, muitos países não
possuem órgãos adequados para gerenciar o
comércio internacional, como alfândega e
órgãos de fiscalização (World Bank, 2020).
Para o comércio de bens e serviços, o
ZLCAC pressupõe a eliminação das tarifas em
produtos que respondem por 97%do comércio
entre os membros, em um horizonte de 5 anos
contados a partir de 2020, englobando cerca de
90% das importações entre os países da África.
A eliminação completa seria alcançada considerando um período posterior de mais 5 anos. A tarifa média praticada no comércio entre
os países da África é de cerca de 6%, mas a dispersão tarifária é alta entre países e setores. Logo, apesar da tarifa média baixa, pode
existir bastante protecionismo no comércio intra-África. De fato, o comércio intra-africano é altamente concentrado, tal que apenas 1%
das linhas tarifárias correspondem por 74% das importações (World Bank, 2020).
Espera-se também que o acordo possa contribuir para lidar com problemas estruturais graves em muitos países do continente,
como a elevada taxa de pobreza. Existe o potencial de que o comércio entre os países membros aumente de forma substancial, uma
vez que muitos países da África não têm como principais parceiros outros países da África. Tal acordo poderá incentivar relações de
comércio mais vantajosas dentro da região.
Fonte:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/pubpreliminar/211118_nt_efeitos_economicos_de_acordo_livre.pdf

- 150 -
18.3.9 – UNASUL
A grande pretensão do governo brasileiro, desde a década de 1960,
é fortalecer a integração da América do Sul em acordos que reúnam todos
os países do subcontinente, projeto que vem sendo impulsionado com a
letargia do Mercosul. Um importante passo foi dado nessa direção durante
a III Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada em Cuzco (Peru)
em 8 de dezembro de 2004, quando foi estabelecida a Comunidade Sul-
Americana de Nações. A Declaração de Cuzco, documento fundador
desse fórum, reafirma em sua introdução a convergência entre os países
sul-americanos: ''A história compartilhada e solidária de nossas nações, que
desde as façanhas da independência têm enfrentado desafios internos e
externos comuns, demonstra que nossos países possuem potencialidades
ainda não aproveitadas tanto para utilizar melhor suas aptidões regionais
quanto para fortalecer as capacidades de negociação e projeção
internacionais.
Em 2007, em reunião ocorrida na Venezuela, o nome dessa entidade
foi mudado para União das Nações Sul-Americanas (Unasul), cujo
objetivo é criar um espaço sul-americano integrado no âmbito político,
social, econômico, ambiental e infraestrutural. A base para isso será a
criação de uma zona de livre comércio que integre os países do Mercosul,
da Comunidade Andina, o Chile, a Guiana e o Suriname.
Em uma reunião de representantes dos 12 países sul-americanos ocorrida em Brasília, em 23 de maio de 2008, a Unasul foi
oficialmente formalizada, ganhando status jurídico-político próprio, isto é, se transformou num organismo internacional. Com isso
deixou de ser apenas um fórum e passou a ter a possibilidade de adotar medidas conjuntas como a integração das infraestruturas -
transportes, energia, telecomunicações
etc.- visando à aproximação dos países-
membros. Além disso, foi proposta a
criação de um Conselho de Defesa para
resolver pendências e possíveis conflitos
entre os países do subcontinente.
Em agosto de 2000 na reunião de
Cúpula de Brasília os presidentes sul-
americanos acertaram o
desenvolvimento de uma iniciativa para a
Integração da Infra-Estrutura Regional da
América do Sul (IIRSA), com participação
do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). As propostas
expressas através da IIRSA visam
romper os obstáculos fronteiriços e
formar um espaço econômico ampliado,
por meio de obras e articulações nas
áreas de transportes, energia e
comunicações. O Brasil é o país que mais
projetos têm a serem executados e em
execução com os seus pares no
continente.
Mais tarde esta iniciativa de
integração foi incorporada pela UNASUL
como o seu maior esforço de integração
física.

18.3.10 - Área de Livre Comércio das Américas - ALCA


Como podemos notar, o comércio mundial vem se estruturando em grande parte por meio de blocos econômicos regionais.
Nesse contexto, o Mercosul ganhou força - não obstante as crises econômicas enfrentadas pelos países-membros - com a adesão
do Chile, da Bolívia e do Peru em caráter de países associados.
De certa forma, tal articulação regional em torno do Mercosul tem posto em xeque a influência dos Estados Unidos na América
do Sul, sobretudo no que diz respeito às intenções de Washington de criar uma área de livre-comércio para todo o continente
americano, a Alca.
De acordo com vários especialistas, a criação da Alca traria grandes problemas econômicos à região, principalmente ao Brasil,
pois nos Estados Unidos há empresas que dispõem de tecnologia, organização, escala de produção, redes de comercialização,
marcas, etc., consideravelmente superiores às brasileiras. Essa superioridade afetaria, provavelmente, o sistema produtivo brasileiro
de forma negativa, especialmente nos setores em que as empresas estadunidenses estão na vanguarda, como o de bens de capital,
o de componentes eletrônicos, o de software e o de informática. A economia brasileira estaria fadada à condição de economia agrícola
ou agroindustrial e produtora de bens industriais leves ou tradicionais.
Apesar das limitações e das desvantagens que a Alca pode trazer para o Brasil, há quem defenda a adesão do país a esse
acordo, argumentando que, se o Brasil não participar desse bloco econômico regional, ficará isolado e perderá poder de negociação
com outros mercados internacionais. Esse pressuposto, todavia, não procede, pois, uma área de livre-comércio pode favorecer as
trocas comerciais, mas não é o único responsável pela expansão do comércio internacional. Potências econômicas, como os Estados
Unidos, a UE, a China e o Japão, não estão vinculadas a acordos de livre-comércio, mas mantêm fortes e crescentes trocas
comerciais.

- 151 -
Os EUA após a não conclusão do processo tem proposto acordos bilaterais a vários países da América Central e do Sul.
Além das discussões em torno do fortalecimento ou do enfraquecimento da economia brasileira, alguns estudiosos destacam
outros pontos que seriam afetados negativamente pela criação da Alca, como o meio ambiente. Um exemplo disso é a floresta
Amazônica, que poderia ter a exploração de sua biodiversidade monopolizada por empresas estadunidenses.
A Alca é considerada por muitos como uma necessidade da economia estadunidense de monopolizar as Américas, e há quem
diga que, caso ela seja instituída diminuirá expressivamente a autonomia do Brasil e da maioria dos países americanos na condução
de aspectos essenciais da política econômica. A Alca representa, portanto, uma forte ameaça à soberania de cada país.
A viabilização do projeto de implantação da Alca está suspensa há cerca de meia década, em razão da forte crise econômica
pela qual vem passando os Estados Unidos desde o ano de 2007, a qual se propagou, principalmente, sobre a economia dos países
desenvolvidos. Entenda, por meio do texto a seguir, como e por que se desencadeou tal crise.

18.3.11 - Acordo de Associação Transpacífico - TPP


Acordo que tem como objetivo a criação de uma Área de Livre-comércio entre 12 países da Ásia (Japão, Brunei, Malásia,
Cingapura e Vietnã), Oceania (Austrália e Nova Zelândia), América do Norte (Nafta) e América do Sul (Peru e Chile).
Reúne três grandes potências mundiais (EUA, Japão e Canadá), que possuem economias abertas, flexíveis e muito inseridas
no comércio mundial, como alguns dos Tigres Asiáticos (Malásia e Cingapura) e países emergentes da América Latina, como o Chile
e o México.
Em razão da grande magnitude econômica desse acordo, tem sido considerado por muitos governantes e estudiosos como o
maior acordo comercial do mundo no século XXI.
Poderá alterar profundamente o desenvolvimento do comércio mundial, já que mais do que um simples acordo de cooperação
comercial - objetiva garantir:
. integração econômica - eliminação ou redução de tarifas e outras barreiras à circ. de bens, serviços e investimentos;
. regras comuns de propr. intelectual de prod. e tecnol. que protejam as inovações tecn. dos países-membros sem comprometer o
desenvolvimento científico de outros países;
. padronização das leis trab. - garantindo uma elevação dos padrões de trab. nos países asiáticos para evitar a migração em massa
de empresas atraídas por mão de obra barata;
. desenvolvimento de ações ambientais comuns que garantam o desenvolvimento sustentável das economias envolvidas nesse bloco
econômico e
. aumento dos investimentos internacionais do bloco que favoreça o desenvolvimento econômico dos países e aumente a integração
econômica.

HISTÓRICO - atinge vários setores da economia dos países envolvidos, foram necessários quase dez anos de negociações secretas
entre os países do bloco para que se chegasse ao documento que o legitimou, assinado no dia 04 de fevereiro de 2016. Considerado
um dos grandes feitos na política externa do governo Obama.
O conceito de um bloco que integrasse as economias do Pacífico surgiu em 2005 com a criação do Trans-pacific Strategic
Economic Partnership (TPSEP) ou Pacific Four (P4) pela Nova Zelândia, Chile, Cingapura e Brunei.
Em 2008 os EUA sinalizaram interesse em iniciar as negociações para se associar ao grupo. Com isso, o bloco conseguiu
maior representatividade internacional e outros quatro países ingressaram nas negociações: Austrália, Malásia, Peru e Vietnã.
Em dezembro de 2011, durante a Reunião Ministerial da Apec, foi divulgado um documento com os objetivos gerais do acordo
para sistematizar as negociações até aquele momento, assim, outros dois países juntaram-se às negociações: Canadá e México. O
Japão, em virtude da falta de apoio para a participação no bloco, só passou a fazer parte da negociação em 2013.
Vários entraves dificultaram a aprovação do documento final para a criação desse bloco econômico, desde interesses
individuais de cada país até a aprovação do documento pelo Congresso dos países envolvidos, principalmente dos EUA, que se
encontravam divididos em relação à criação desse bloco econômico. Assim, o acordo só foi se efetivar em 2016, foi estabelecido uma
área de livre-comércio e uma série de ajustes e metas para a efetivação do tratado.

Perspectivas - é muito cedo para determinar quais serão as consequências dele para os países envolvidos e para o comércio mundial.
Apesar disso, as perspectivas econômicas para os países-membros são bastante otimistas. Acredita-se que, juntos, eles somam 40%
de toda a economia mundial, 1/3 de todas as exportações mundiais, mercado consumidor de cerca de 800 milhões de habitantes e
movimentarão, até 2025, cerca de US$223 bilhões anuais.
Para os demais países é vista com certa
preocupação em face da grande representatividade
econômica internacional de seus membros. Uma possível
consequência seria a diminuição das relações comerciais
com os países que não fazem parte do bloco, pois, em
virtude da eliminação de tarifas e barreiras para a
circulação de mercadorias proposta pelo TPP, será mais
vantajoso realizar negócios entre os países do acordo.
A criação do bloco pode prejudicar também a
recuperação econômica dos países europeus. Isso
porque, com a criação do TPP, os seus países-membros
acabam estreitando as relações entre eles e diminuindo
as relações com os demais países do mundo, inclusive
com os países europeus que dependem de uma maior
interação econômica com os EUA e com os países do SE
asiático para superar a crise econômica mundial, que teve
consequências mais graves nesse continente. Além disso,
o TPP é visto por muitos estudiosos como uma reação ao
crescimento econômico chinês. Se o TPP obtiver sucesso,
deverá limitar a influência da China na Ásia e diminuir a
dominação dos produtos chineses no mercado global.

- 152 -
Gerou diversas manifestações contrárias. Pois, apresenta pontos que podem atingir diretamente a qualidade de vida dos países
integrantes, principalmente dos países desenvolvidos, como os EUA, Canadá e Japão - acordos sobre patentes, serviços prestados
na internet e a padronização das leis trabalhistas, o que pode afetar tanto a oferta e a qualidade dos empregos quanto o valor dos
salários. As demais nações do mundo devem dinamizar a sua economia e fortalecer os laços econômicos entre si, buscando acordos
econômicos multilaterais ou entre os países que desenvolvem algum tipo de atividade.
Já a população dos países-membros desse acordo precisa pressionar os seus respectivos governos para evitar que os ajustes
econômicos necessários para essa integração econômica resultem em queda na qualidade de vida da população ou dos seus direitos
individuais.
Em 23 de janeiro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva para iniciar a saída do Acordo
TPP. Durante a campanha o então candidato, denunciou com veemência o que chamou de acordo “terrível”, que “viola” os interesses
dos trabalhadores norte-americanos. "Temos falado muito disso durante muito tempo", disse Trump enquanto assinava a ordem
executiva no Salão Oval da Casa Branca. "O que acabamos de fazer é uma grande coisa para os trabalhadores americanos",
acrescentou.

18.3.12 - Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica - CPTPP - TPP-11


O Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (Comprehensive and Progressive Agreement for Trans-
Pacific Partnership – CPTPP) é um acordo de comércio internacional firmado por Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia,
México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietnã. O acordo foi oficialmente assinado em março de 2018 com início efetivo em
dezembro desse mesmo ano. A oficialização do acordo teve alguns atrasos. Um dos principais motivos foi a desistência dos Estados
Unidos em fazer parte do acordo. Essa desistência ocorreu devido à eleição do presidente Donald Trump, que era contra a entrada
dos Estados Unidos.
Os membros do CPTPP
conjuntamente representaram, em
2017, cerca de 13,5% do PIB mundial,
com um mercado de 500 milhões de
consumidores e volume de comércio
de 356 bilhões de dólares (LI;
WHALLEY, 2021; Government of
Canada, 2020).
O acordo possui grande
abrangência espacial em termos
globais, tendo presença nas Américas
do Norte e do Sul, Ásia e Oceania.
O mapa, na página anterior,
mostra os países que fazem parte
desse acordo. Em vista do potencial
desse acordo, alguns países e regiões
têm demonstrado interesse em aderir
ao acordo, como Reino Unido,
Taiwan, China, Filipinas e Coreia.
O processo para a entrada do
Reino Unido é o mais avançado, tendo
entrado formalmente com o pedido de
adesão ao bloco em fevereiro de
2021. Em junho de 2021 o CPTPP
Commission concordou em iniciar as
negociações de comércio com o
Reino Unido (Australian Government,
2021).
Para o comércio de bens e serviços, o CPTPP prevê eliminar tarifas e reduzir barreiras para 98% das exportações entre os
membros. Um dos principais pontos considerados no acordo é com relação à questão alfandegária e facilitação de comércio, em que
os países membros se comprometem em manter procedimentos alfandegários simples, eficazes, claros e previsíveis para reduzir o
tempo de processamento na fronteira e facilitar a movimentação de mercadorias. Outro ponto específico de destaque previsto no
acordo é a cooperação regulatória e avaliação de conformidades que tem como objetivo reduzir os entraves devido a diferentes
normas sanitárias, por exemplo, principalmente com relação ao comércio com os países asiáticos.
Fonte:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/pubpreliminar/211118_nt_efeitos_economicos_de_acordo_livre.pdf

18.3.13 - Parceria Econômica Regional Abrangente - RCEP


Após uma década em construção, o maior acordo comercial do mundo aconteceu em 15 de novembro de 2020, em Hanói,
com a presença de líderes asiáticos.
O mega tratado que inclui os dez membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), China, Japão, Coreia do
Sul, Austrália e Nova Zelândia, será maior que a UE e o Acordo Estados Unidos-México-Canadá, somando quase um terço da
população mundial e 29% PIB global.
A Índia fez parte das negociações, mas desistiu em 2019 temendo prejuízo aos seus produtores por conta da redução de
tarifas.
Eliminará tarifas de importação pelos próximos 20 anos, incluindo dispositivos sobre propriedade intelectual, telecomunicações,
serviços financeiros, comércio eletrônico e serviços profissionais.
Os componentes de qualquer país membro serão tratados da mesma forma, o que poderá dar às empresas nos países do
RCEP um incentivo para fazer parceria com fornecedores da nova aliança regional.

- 153 -
Importância geopolítica - nasceu em 2012 e vista como uma forma de a
China, maior importadora e exportadora da região, se opor à influência
que os EUA vinham exercendo ali durante o governo de Barack Obama
que promoveu a TPP. No início do governo Trump (“American first”) os
EUA se retiraram da TPP, o que serviu de estímulo para acelerar as
negociações em direção ao RCEP.
A China, principal fonte de importações e principal destino das
exportações da maioria dos membros do RCEP, parece ser o principal
beneficiário e bem-posicionado para influenciar as regras comerciais e
expandir sua influência na Ásia-Pacífico, algo que Obama queria evitar,
então.
No decorrer dos próximos meses devem ser procuradas as
respostas para duas importantes questões:
Biden mudará alguma coisa?
O Brasil e o Mercosul perderão espaço?

19. POLÍTICA E CULTURA - FRONTEIRAS


19.1 - Nações e nacionalismos
O Estado é o ator mais importante das relações internacionais.
Para os seguidores da corrente teórica realista, o Estado é, na verdade, o
único ator internacional válido, uma vez que compete exclusivamente a
ele a decisão capital das relações internacionais de fazer a guerra e
promover a paz. Para os que orientam a análise conforme as teorias
pluralistas, o Estado, não obstante a importância que tem, atua nas
relações internacionais lado a lado com outros atores internacionais igualmente importantes, como as organizações
intergovernamentais, as ONGs, as corporações multinacionais, as igrejas, entre outros.
O Estado é uma entidade jurídica abstrata que se caracteriza pela soma de seus elementos constitutivos. De acordo com a
cláusula I da Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados (1933), que trata do Estado como pessoa de direito
internacional, esses elementos constitutivos são quatro:
(1) população permanente;
(2) território definido;
(3) governo; e
(4) capacidade de estabelecer relações com outros Estados.
Os Estados modernos, diferentemente dos Estados antigos, caracterizam-se basicamente por sua condição de Estados
territoriais. Nos Estados antigos não havia nenhuma preocupação com a rigorosa delimitação do traçado das fronteiras. Neles, a
extensão territorial ia até onde as autoridades fossem capazes de exercer o poder político, jurídico e econômico. Isto é, os limites do
Estado estendiam-se até onde se exercia a autoridade do poder central. No mundo moderno, os Estados existem como partes do
sistema de Estados. Entre eles não há descontinuidades. Daí por que a rigorosa definição do espaço territorial se configura como
fundamental, constituindo-se no mais das vezes em motivo de numerosos conflitos entre Estados. Em vista disso, pelo fato de não
disporem de extensão territorial definida, algumas populações homogêneas, autoreferenciadas e com governo organizado, como é o
caso atual de curdos e palestinos, não têm Estado. Elas vivem, portanto, em Estados que não consideram seus.
O Estado é um produto do processo histórico. Os Estados modernos são uma criação europeia que, com o passar do tempo,
foram surgindo também nos demais continentes, e continuam a ser recriados. No início dos anos 1990, como consequência da queda
do Muro de Berlim e da desintegração da União Soviética, quinze novos Estados surgiram, tendo o mesmo acontecido na Iugoslávia,
que se dividiu em cinco novos Estados. E, em outras partes do mundo, como no Canadá, na Espanha, na Itália, na Índia e no
continente africano, vários povos lutam contra a direção "do Estado sob o qual vivem, para construir eles mesmos novos Estados.
As origens do Estado são remotas; não é possível asseverar-se quando exatamente seu processo formativo teve início.
Historiadores e juristas estão de acordo, no entanto, que foi com os Tratados de Westfalia (1648), que puseram fim aos trinta anos
de guerras religiosas entre os nascentes Estados europeus, que o moderno sistema de Estados se tornou realidade. As cláusulas
básicas desses tratados eram aquelas que determinavam que a religião passava a ser questão interna dos Estados e que o
monarca, por sua vez, teria reconhecido seu poder como soberano do território sob seu controle. Em virtude de seu caráter
histórico, o Estado está sempre em processo de mudança, não podendo nunca ser considerado definitivamente concluído. Desde
que se formou como realidade jurídico-política até os dias que correm, o Estado passou por muitas transformações. Porém, como
tem conservado seu fundamental atributo de exercer independência absoluta diante de qualquer outra vontade decisória universal, o
Estado permanece essencialmente o mesmo.
É esse atributo da soberania, que se traduz na ideia de monopólio da violência legítima, que faz com que os Estados sejam
considerados entidades jurídicas iguais, embora eles sejam muito diferentes na extensão territorial, na capacidade produtiva, no
poder militar, na organização política e na capacidade de realização cultural.
- 154 -
Na Organização das Nações Unidas, o mais representativo e inclusivo dos organismos internacionais, a igualdade jurídica dos
Estados é reconhecida na Assembleia Geral. Nesse órgão, cada Estado tem direito a um voto, independentemente das diferenças
que os separam. Por outro lado, no Conselho de Segurança da ONU, a horizontalidade dá lugar à verticalidade nas relações entre
eles, como claro reconhecimento das diferenças que lhes são próprias, isso porque seus cinco membros permanentes detêm o poder
de decidir pela intervenção armada quando julgam que algum conflito pode trazer ameaça à paz mundial.
Ao longo dos anos 1990, foi largamente difundida a ideia de que a globalização tinha levado os Estados a entrar num processo
de descaracterização que tornava seu futuro incerto, sendo o desaparecimento o resultado mais provável. Argumentava-se que a
lógica territorial do Estado estava sendo desafiada pelos fluxos de mercadorias, de serviços, de capitais, de informação e de cultura,
que obedeciam à lógica do mercado planetário. A liberalização das trocas e dos movimentos de capitais havia alcançado um grau
tão elevado que os Estados já não conseguiam mais exercer o controle sobre eles. Em vista disso, as funções ordenadoras do Estado
estavam sendo progressivamente transferidas para organismos multilaterais. Ao ser restringido em sua capacidade de decidir
autonomamente a respeito das políticas fiscal, monetária e orçamentária, o Estado estava sendo corroído e, portanto, tornando-se
incapacitado para formular as políticas macroeconômicas. Argumentava-se, enfim, que essa drástica redução em sua capacidade de
exercer efetivo controle sobre a economia somava-se à debilitação que se observava em outros setores, como resultado direto do
fortalecimento dos novos atores que representavam os interesses e os anseios da sociedade civil. A conclusão era que a formação
do mercado planetário e a ação das ONGs estavam levando o Estado à obsolescência.
A partir do início do novo século a realidade mudou e essas teses relativas ao inexorável desaparecimento do Estado caíram
no esquecimento. De um lado, a abertura comercial que vinha sendo conduzida pela OMC foi paralisada. Em grande medida a
paralisação deveu-se à resistência dos países menos desenvolvidos em continuar a abrir seus mercados sem a devida contrapartida
dos países mais desenvolvidos, principalmente na área agrícola. Ela também foi devida ao forte crescimento dos movimentos
antiglobalização que passaram a mobilizar grande contingente de manifestantes e, com isso, criaram dificuldades para os
negociadores dos países desenvolvidos, identificados com os interesses globalizadores. De outro lado, os ataques terroristas aos
Estados Unidos, que levaram o governo desse país a estabelecer o combate ao terrorismo internacional como prioridade de política
internacional, trouxeram de volta às relações internacionais o cálculo estratégico-militar como problemática principal.
Esses dois processos vieram demonstrar que a globalização, na realidade, somente acontecia ao nível dos mercados e nunca
chegou a ameaçar a existência do Estado. Os próprios efeitos econômicos da abertura dos mercados e o surgimento de grupos que,
por meio de ações terroristas, ameaçavam a segurança de vários Estados, determinaram sua revalorização como ator internacional
de fundamental importância, que, longe de desaparecer, se apresenta tão forte quanto antes.

19.2 - Globalização e fragmentação


Nas últimas décadas do século XX, ao mesmo tempo em que se intensificava o processo de globalização, ampliavam-se os
conflitos étnico-nacionalistas, muitos deles relacionados a movimentos separatistas. A ampliação desses conflitos revela uma situação
aparentemente contraditória. Ao mesmo tempo em que a reprodução da modernidade, em nível global, tende a homogeneizar hábitos
- por meio do consumo e da indústria cultural- e a integrar mercados - por meio das organizações supranacionais -, diversos povos
reforçaram sua identidade étnica, lutando e conquistando a autonomia nacional, fragmentando o mundo num número cada vez maior
de países.
Os conflitos étnico-nacionalistas estão relacionados, de modo geral, à formação de países que abrigam diversas nações
(multinacionais ou multiétnicos). As razões desses conflitos não são novas, não tendo sido geradas, portanto, pela nova ordem
mundial. São conflitos históricos, de origens diversas, que, em alguns casos, se aguçaram com o final da Guerra Fria e o
enfraquecimento do bloco socialista, como foi o caso dos países do Leste europeu, após a desintegração da ex-União Soviética e a
perda de sua área de influência.
Os principais fatores que motivam as lutas separatistas de cunho nacionalista são a não aceitação das diferenças étnicas e
culturais, a existência de privilégios impostos pela supremacia de um grupo sobre outro, os interesses econômicos de determinados
grupos sociais e o desejo das nações de constituírem seus próprios Estados.
Visões nacionalistas extremistas pregam o uso da força para defender seus interesses e consideram o outro, em função das
diferenças étnicas, como inimigo e adversário. Nessa concepção, o nacionalismo confunde-se com o racismo e a xenofobia. Foi essa
concepção de nacionalismo que Hitler colocou em prática na Alemanha nazista de 1933 a 1945.

19.3 - Conflitos étnico-nacionalistas na Europa


Os conflitos étnico-nacionalistas na Europa, que se multiplicaram no final do século XX, só podem ser compreendidos dentro
dos diferentes contextos histórico-geográficos em que se desenvolveram. Alguns existem há séculos e se relacionam aos processos
de incorporação dos territórios de outros grupos, como é o caso da dominação inglesa sobre os irlandeses e da espanhola sobre os
bascos.
Os conflitos mais violentos nas duas últimas décadas estiveram relacionados ao fim dos governos socialistas de cunho
centralizador, implantados em diversos países europeus após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a origem das hostilidades
étnicas nesses países remonta à época da expansão dos impérios Russo, Otomano e Austro- Húngaro e da decomposição desses
dois últimos, entre o final do século XIX e o início do século XX. Esses impérios controlavam diversas nações - praticamente as
mesmas que foram submetidas aos regimes comunistas do pós-guerra - e foram os responsáveis pela instabilidade nas fronteiras
dessa região da Europa.

- Conflitos nos Bálcãs: o esfacelamento da Iugoslávia


Já no século XV, quando foi ocupada pelo Império Turco Otomano, a região da península balcânica era alvo de disputas. No
final do século XIX, foi a vez de o Império Austro-Húngaro conquistar boa parte das terras que posteriormente formariam a Iugoslávia.
- 155 -
Após a Primeira Guerra Mundial, praticamente toda a região ficou sob o controle da Sérvia, com o nome de Reino dos Sérvios,
Croatas e Eslovenos. Somente em 1929 o país passou a se chamar Iugoslávia, que significa "eslavos do sul'.
Os conflitos entre as diferentes nações que formavam a Iugoslávia eram frequentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, as
diferenças foram amenizadas devido à ocupação nazista da região. Para combater a invasão, formou-se um movimento de resistência
que uniu os eslavos do sul. Ao final da guerra, em 1945, foi instaurada a República Popular da Iugoslávia, sob a liderança do chefe
do Partido Comunista e da resistência, Josef Bros, conhecido como Tito. Em 1963, passou a se chamar República Socialista
Federativa da Iugoslávia.
Graças a sua liderança incontestável e habilidade política, Tito conseguiu controlar os conflitos e manter a unidade do país até
sua morte, em 1980. Mas não foi tarefa fácil. A população iugoslava compunha-se de várias nações e algumas delas encontravam-se
espalhadas por praticamente todas as seis repúblicas que formavam o país: Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina,
Sérvia e Montenegro. Além disso, no país predominavam três religiões (a muçulmana, a cristã ortodoxa e a católica romana) e falavam-
se cinco idiomas (o sérvio-croata, o esloveno, o albanês, o húngaro e o macedônio).
Com a morte de Tito e as transformações ocorridas no Leste europeu após o fim da URSS, as várias regiões que haviam sido
integradas à República Iugoslava passaram a reivindicar autonomia. O governo central da República, composto majoritariamente por
sérvios, se opôs à separação e usou o poderio militar da federação iugoslava para tentar impedir a independência dessas repúblicas.
Apesar disso, em junho de 1991, a Eslovênia e a Croácia declararam a independência, que foi reconhecida pelo governo central
após breve período de violentos conflitos. A Macedônia seguiu o mesmo caminho alguns meses depois. Nesse caso, não houve
guerra. Em abril de 1992, a Bósnia-Herzegovina também declarou independência, dando origem ao mais violento e intenso conflito
da região balcânica. Finalmente, em 1995 conquistou sua independência.
Em fevereiro de 2003, num claro sinal de que a solução para os problemas étnicos era bastante complexa, o Parlamento da
Iugoslávia, com o acompanhamento da União Europeia, aprovou a constituição do novo Estado da Sérvia e Montenegro. Esse novo
Estado foi desmembrado novamente em 2006, com a constituição de duas repúblicas. Montenegro foi reconhecido internacionalmente,
inclusive pela Sérvia, e tornou-se o 192Q membro da ONU.
Bósnia-Herzegovina era a república iugoslava etnicamente mais heterogênea, composta por 39,5% de muçulmanos, 32% de
sérvios e 18,4% de croatas. Após ter sua independência reconhecida por diversos países europeus, pelos Estados Unidos e pela
ONU, croatas, muçulmanos e sérvios passaram a disputar fatias do território bósnio. Essas disputas deram origem a uma guerra civil
entre os anos de 1992 a 1995, cujo saldo foi de 200 mil mortos e 2 milhões de refugiados muçulmanos.
O conflito na Bósnia foi marcado pela limpeza étnica dos não sérvios, prática incentivada pelo governo da ex-Iugoslávia,
comandado, naquela época, pelo presidente Slobodan Milosevic. Após sua deposição, Milosevic foi preso pelas autoridades da antiga
Iugoslávia e entregue, em 2002, para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por genocídio e crimes de guerra na Croácia
(1991-1995), na Bósnia-Herzegovina (1992-1995) e em Kosovo (1998-1999). Devido a problemas de saúde, em 2006 Slobodan
Milosevic morreu na prisão antes da definição da sentença.
Em 1995, o Tratado de Dayton selou o fim da guerra na Bósnia. Por esse acordo, a Bósnia-Herzegovina continua existindo
como Estado, mas internamente foi dividida na Federação da Bósnia (muçulmano-croata), com 51 % do território, e na República
Sérvia da Bósnia (República Srpska), com 49%, além do distrito neutro de Brcko, sob supervisão internacional o governo central é
formado por uma presidência colegiada, e o Parlamento por representantes de bósnios, sérvios e croatas. No entanto, a permanência
no mesmo país de povos inimigos históricos, com ambições territoriais e nacionalistas, e as dificuldades de uma administração
conjunta tornam a região bastante instável.

- Guerra de Kosovo
A partir de 1998, os conflitos passaram a se desenrolar na região de Kosovo, habitada predominantemente - cerca de 90% -
por população de origem albanesa. Insatisfeitos com a perda, desde 1989, de parte da autonomia em relação ao poder central
iugoslavo - como o direito ao ensino em língua albanesa e a uma polícia própria -, os albaneses passaram a pleitear sua independência.
Para fazer frente ao crescente movimento separatista armado, liderado pelo Exército de Libertação de Kosovo (ELK), o então
presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic contra-atacou com violência. Alegando combater os separatistas e defender a integridade
do país, promoveu um massacre da população civil de Kosovo. Em 1999, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) negociou
com a Iugoslávia (constituída basicamente pela Sérvia e por Montenegro) o fim do conflito e a volta da autonomia de Kosovo. Diante
da recusa, as tropas da Otan lançaram intenso ataque ao país, sem consultar a ONU ou outro organismo internacional.
A Guerra de Kosovo terminou após 78 dias de bombardeios liderados pelos Estados Unidos. Essa ação, classificada pelo
governo norte-americano como "defesa humanitária', não foi decidida no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, constituindo,
portanto, um desrespeito às normas internacionais. Diante da ofensiva e da destruição provocada, Milosevic retirou, ainda em 1999,
as suas tropas de Kosovo.

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A região reconquistou a autonomia', mas não a independência. Uma força de paz da ONU foi enviada para controlar a
animosidade ainda existente entre kosovares e sérvios. Em 2008, o parlamento de Kosovo declarou independência. No entanto, em
2009, o reconhecimento de Kosovo como Estado soberano contava com pouco mais de meia centena de países - entre eles
Montenegro -, sofrendo ainda forte oposição da Rússia, que considerava a declaração unilateral de independência ilegal e imoral. A
formalização da independência de Kosovo ' pela ONU era barrada pelos vetos tanto da Rússia como da China no Conselho de
Segurança.

- Conflitos no Cáucaso
A região montanhosa do Cáucaso, situada
entre o mar Negro e o Cáspio (entre Europa e Ásia),
é, historicamente, um polo de conflitos. Ali convivem
cerca de 50 etnias, com histórias e culturas próprias.
A parte russa do Cáucaso é formada por várias
repúblicas que em muitos casos não possuem
identidade entre si nem com o restante da Federação
Russa. Apesar disso, a Rússia luta para mantê-las
unidas à Federação, pois essa região, próxima ao
Oriente Médio, possui grandes reservas e
plataformas de exploração de petróleo e ocupa
posição estratégica no contexto geopolítico. Além
disso, é através do Daguestão no norte do Cáucaso
que a Rússia tem sua principal ligação com o mar
Cáspio. A importância da região caucasiana também
está relacionada ao controle dos vales férteis.

. Armênia e Azerbaijão: Entenda as raízes e os impactos do conflito


O conflito geopolítico gira em torno do controle sobre Nagorno-Karabakh, e envolve interesses de países aliados, divergências
étnico-religiosas e movimentos separatistas.

As origens da disputa

Historicamente, a origem dos conflitos na região fronteiriça de Nagorno-Karabakh remonta ao Império Persa. Sim, muito tempo
atrás. Ao longo da história, a população que ocupa a região, que fica no Cáucaso, entre Ásia e Europa, briga por independência e
autonomia, e os conflitos quase sempre estiveram marcados por questões étnico-religiosas.
No entanto, um bom marco para começar a entender o conflito na idade contemporânea é a Revolução Russa, em 1917.
Poucos anos antes dela, tanto Armênia quanto Azerbaijão eram países jovens, recém- independentes do Império Romano. Mas, a
partir 1923, viram-se anexados pela União Soviética e tornaram-se repúblicas socialistas associadas ao bloco. Sobre a região de
Nagorno-Karabakh, a decisão à época foi anexá-la como uma região autônoma, mas dentro do território Azerbaijão. O problema? A
maioria da população local é de cristãos armênios, que nunca aceitaram bem a anexação ao Azerbaijão (de maioria muçulmana).
Demorou poucas décadas para que um conflito entre separatistas armênios (apoiados pela Armênia) e azeris fosse deflagrado.
De 1988 a 1994, estima-se que 30 mil pessoas morreram na chamada Guerra de Nagorno-Karabakh.
Em meio ao conflito, a União Soviética acabou se dissolvendo e, em 1991, os armênios separatistas do Nagorno-Karabakh
(que é chamado por eles de Artsaque) realizaram um referendo para votar a independência da região, e a maioria esmagadora voto
pelo sim.
Um fato importante, no entanto, é que os azeris que habitam a região optaram por boicotar o referendo. Em janeiro de 1992, a
região autodeclarou-se independente do Azerbaijão, mas nenhum país do mundo reconheceu a independência.

Acordo de paz – e o fim dele


Em 1994, um cessar-fogo foi finalmente acordado entre Armênia (e separatistas do Nagorno-Karabakh) e o Azerbaijão. Apesar
de pequenos conflitos com trocas de tiros continuarem a acontecer ao longo dos anos seguintes, os governos de ambos os países
reafirmavam frequentemente o acordo de paz. Até que, em 2016, as coisas voltaram a ficar instáveis. Naquele ano, os governos de
ambos os países voltaram a trocar farpas e algumas ameaças se consolidaram com uso de tanques e outras peças de artilharia.

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Ainda assim, naquele momento, as desavenças não haviam ficado tão intensas a ponto de ameaçar uma segunda guerra pelo
controle da região, como parece estar acontecendo desde julho deste ano. No primeiro mês de tensão, o balanço oficial contabilizou
a morte de 17 pessoas, azeris e armênios. As ameaças subiram de petróleo, e o Azerbaijão chegou a dizer que bombardearia a única
central nuclear Armênia. Depois de dois meses de tensões ameaçando sair de controle, o conflito parece ter estourado de vez nesta
última semana de setembro.

Quem apoia quem?


Desde 1990, o Grupo de Minsk, formado por Rússia, Estados Unidos e França tem como tarefa intermediar as discussões
entre os dois países para buscar uma resolução para o conflito. Foram eles que ajudaram na formulação do acordo de paz nos anos
90, mas não foram capazes de construir um consenso sobre o assunto – já que, no fim das contas, apesar da relativa autonomia, a
região continua sob controle do Azerbaijão.
Para piorar, o Azerbaijão sempre se ressentiu com o grupo por acreditar que a Rússia se posiciona a favor da Armênia. Os
temores do país, afinal, podem mesmo se consolidar se as coisas seguirem como estão. Isso porque a Turquia, que faz fronteira com
o Azerbaijão em uma curta faixa ao noroeste do país, tem tendido a apoiar o país de maioria étnica semelhante a sua. Um porta-voz
do governo turco chegou a afirmar que “a Armênia está brincando com fogo e colocando a paz regional em risco”. E russos e turcos,
como bem se sabe por conta do conflito da Síria, tendem a apoiar lados opostos em conflitos internacionais.
O fato de a Rússia possuir bases militares na Armênia também é um fator de peso, assim como seu compromisso militar em
proteger esse país, por ambos fazerem parte da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, que abarca algumas ex-repúblicas
soviéticas.
No mais, outros países ao redor do mundo como Irã e Estados Unidos (que também estão em lados opostos em outros conflitos)
pedem paz e o fim dos ataques mútuos na região Nagorno-Karabakh.

. Guerras da Chechênia
A Chechênia foi incorporada ao Império Russo no início do século XIX. Durante o regime soviético, a população,
majoritariamente muçulmana, foi alvo de perseguições. Com o fim da URSS, em 1991, os chechenos constituíram uma República,
separando-se da Inguchétia, declarando sua independência e se recusando a participar da Federação Russa. Os inguches também
formaram sua própria república, mas aderiram à Rússia. Em 1994, a Rússia tentou retomar o controle sobre o Cáucaso e reagiu com
violência aos movimentos separatistas, dando origem à primeira guerra da Chechênia. Conquistou a capital, Grózny, e intensificou
suas ações militares na região. A persistência das ações dos rebeldes forçou a assinatura de um tratado de paz entre chechenos e
russos e adiou para o início deste milênio a definição do futuro político da Chechênia.
No entanto, em 1999, os rebeldes chechenos retomaram os combates, realizando ataques terroristas a Moscou e a outras
cidades russas. Invadiram o Daguestão, com o objetivo declarado de criar um Estado Islâmico independente na região do Cáucaso.
Essas ações armadas deflagraram a segunda guerra da Chechênia, cuja ofensiva militar reduziu a cidade de Grózny a escombros e
dizimou parte expressiva da população civil do país. Os russos assumiram o controle da situação no início do ano 2000, mas os
combates continuaram.
Em 2003, o governo de Moscou fez alianças com alguns líderes chechenos. Utilizou a tática de dividir o movimento rebelde
cooptando parte dos seus integrantes e de sua liderança", constituindo um governo pró-russo e investindo na recuperação da
infraestrutura do país.
Os conflitos na região vitimaram mais de 50 mil pessoas. Segundo informações de diversas organizações internacionais,
ocorreram diversos registros de violação dos direitos humanos na Chechênia. Em 2009, a Chechênia foi declarada zona livre de
terrorismo pelo Comitê Nacional Antiterrorista da Rússia (NKA) e foi determinado o fim da campanha militar.

. A separação da Ossétia do Sul e da Abkázia


Outro movimento separatista, ocorrido no compasso da instabilidade econômica e política que levou ao colapso da União
Soviética, foi na Ossétia do Sul.
Apesar de situada no território da Geórgia, a Ossétia do Sul mantinha relações de identidade com a Ossétia do Norte, com a
qual compartilha raízes étnicas e culturais comuns; já os georgianos da Ossétia do Sul representavam menos de um terço da
população. A guerra separatista foi desencadeada no início de 1990 e se estendeu por mais de um ano.
A Geórgia abrigava ainda outra república autônoma, a Abkházia. Várias tentativas separatistas provocaram uma guerra civil
em 1992. O governo georgiano tentou negociar maior autonomia com as lideranças separatistas ossetianas e abriu diversas
possibilidades de diálogo que não questionassem o limite da existência do Estado único da Geórgia.
A tensão entre as repúblicas separatistas e a Geórgia aguçaram-se com a eleição de Mikhail Saakashvili, em 2004. A política
externa do presidente Saakashvilli esteve direcionada a integrar a Geórgia à União Europeia e à Otan. Essa política pró-ocidente
aproximou ainda mais o governo russo dos separatistas, tanto da Ossétia do Sul como da Abkházia.
O conflito chegou ao ápice em 2008, quando o governo georgiano lançou um cerco à Ossétia do Sul, para debelar com violência
o movimento separatista. A Geórgia contava com o apoio do ocidente, mas acabou isolada diante do confronto direto com a Rússia.
O exército russo deslocou seus tanques e aviões, bombardeou e expulsou as tropas georgianas da Ossétia do Sul, atacou portos e
bases aéreas e avançou em direção a Tbilisi, capital da Geórgia. Em tais circunstâncias a Ossétia do Sul e a Abkházia conquistaram
a independência.
A Rússia, com isso, sinalizou claramente que estará disposta a deslocar suas tropas e a fazer uso da força militar sempre que
seus interesses forem ameaçados na região. Apesar das disputas econômicas com as outras potências pelos recursos econômicos e
naturais das regiões do Caucáso e do mar Cáspio, os interesses e a presença ostensiva da Rússia deverão prevalecer por longo
tempo.

. Outros conflito étnico-nacionalistas na Europa


Outros conflitos atingem o continente europeu. Dentre eles, destacam-se as questões basca e irlandesa. Esses conflitos, que
vêm ocorrendo há décadas, foram responsáveis pela morte de milhares de pessoas.

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A questão basca
Os bascos habitam a região norte da Espanha e sul da França há mais de 5 mil anos. São cerca de 2,5 milhões de pessoas
que possuem identidade, idioma e cultura próprias, constituindo-se numa verdadeira nação no interior desses países.

Na França, a convivência é relativamente pacífica. Porém, na Espanha, durante a ditadura de Francisco Franco os bascos
foram impedidos de se expressar em seu próprio idioma, comemorar suas festas nacionais e manifestar sua cultura. A repressão de
Franco forjou um forte movimento nacionalista e a formação de grupos de resistência política. Alguns desses grupos fazem o uso de
armas e de ações terroristas. Terminado o período da ditadura franquista (1939-1975), os bascos reconquistaram relativa autonomia,
consolidada pela criação da Região Autônoma do País Basco, com sistema de impostos e Parlamento próprios.
No entanto, a organização terrorista Euskadi Ta Azkatasuna (ETA), que significa "Pátria Basca e Liberdade", criada durante a
ditadura de Franco, realiza atentados desde o final dos anos 1960, com o objetivo de pressionar o governo espanhol a reconhecer a
independência total do País Basco.
Hoje, a maioria basca, apesar de almejar a independência e a constituição de um Estado soberano, não apoia o terrorismo,
não só pela aversão a esse método de luta, mas também pela autonomia conquistada e pelo elevado desenvolvimento econômico
que garante boa qualidade de vida à população dessa região do país.

A questão irlandesa
A ilha da Irlanda foi dominada pela Inglaterra no século XII e, desde então, começou a receber grande quantidade de imigrantes
ingleses e escoceses. Em 1800, por decreto da coroa inglesa, a Irlanda passou a pertencer ao Reino Unido, provocando a ira dos
nacionalistas que reagiram organizando a luta pela independência.
Foi no início do século XX, entretanto, que os conflitos entre a Irlanda e o Reino Unido ganharam maiores proporções, com a
criação do Sinn Féin ("Nós Próprios"), partido político representante dos separatistas irlandeses, e do Exército Republicano Irlandês
(IRA), que organizou a luta armada contra o domínio britânico.
Os conflitos obrigaram o Reino Unido a assinar, em 1921, o Tratado Anglo-Irlandês. Pelo tratado, os condados do Sul, com
uma população majoritariamente católica e de origem irlandesa, formaram o Estado Livre da Irlanda; os condados do Norte (Ulster),
de maioria protestante e origem britânica, permaneceram ligados ao Reino Unido. Esse processo de independência encerrou-se
somente em 1937, quando foi constituído o novo país, denominado República do Eire (Irlanda), reconhecido pelo Reino Unido apenas
em 1949. A Irlanda do Norte permaneceu ligada ao Reino Unido.
Na segunda metade do século XX, a ação violenta do IRA intensificou-se na Irlanda do Norte, com a realização de vários
atentados contra autoridades e instituições britânicas. O apoio dado pelos protestantes ao Reino Unido fez o IRA também agir contra
a população civil. A situação agravou-se em 1969, quando o exército inglês passou a intervir no conflito, atacando também de forma
violenta os irlandeses católicos (que apoiavam a independência).
Depois de anos de luta armada e cerca de 3600 mortos, os dois lados do conflito entraram em negociação. Em 1998, assinaram
um acordo de paz que determinou a deposição das armas pelo IRA (que, segundo a Comissão Internacional de Desarmamento, foi
concluída em 2005) e pelos grupos paramilitares protestantes e a libertação de presos políticos.
Em 2007, formou-se um governo de coalizão, reunindo o Partido Unionista Democrático (DUP) e o Sinn Féin, garantindo à
Irlanda do Norte o retorno à autonomia regional. Nesse mesmo ano, o exército britânico encerrou uma intervenção militar de quase
quatro décadas na Irlanda do Norte e instalou um governo compartilhado entre católicos e protestantes.

Questão da Crimeia
As tensões na Crimeia envolvem as transformações políticas na Ucrânia e os interesses de União Europeia, Estados Unidos e
Rússia.
As tensões na Crimeia – província semiautônoma da Ucrânia, localizada em uma península no sul do país – revelam as
relações existentes entre os ucranianos e os russos desde a extinção da União Soviética. A população dessa região, em sua ampla
maioria, utiliza o idioma russo e mantém-se mais vinculada a Moscou do que propriamente a Kiev. Assim, com as recentes
transformações que marcaram a política do país, a província em questão passou a tornar-se palco de extrema instabilidade política.
Os problemas internos da Ucrânia encontraram o seu ápice quando o então presidente Viktor Yanukovich refugou de um acordo
que se comprometera a realizar com a União Europeia, o que ampliaria as relações do país com o bloco vizinho. Essa decisão foi
diretamente influenciada pela Rússia, que não via com bons olhos esse acordo, uma vez que a Ucrânia é um dos seus principais
parceiros comerciais no continente europeu.

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Nesse momento, os grupos opositores ao governo constituídos majoritariamente pela população que utiliza o idioma ucraniano
e que habita a porção central e oeste do país iniciaram uma onda de protestos pelas ruas das principais cidades. Os líderes desse
movimento são políticos ligados ao governo anterior a Yanukovich e a partidos e movimentos de direita e de extrema-direita, com
destaque para o Udar (soco), o Svoboda (liberdade) e o Setor Direito.
Diante disso, alguns meses sucederam-se com o agravamento das tensões, em que prédios públicos foram ocupados, as ruas
incendiadas e a repressão aos manifestantes intensificada. Em janeiro de 2014, o então primeiro-ministro Mykola Azarov renunciou
ao cargo e, no mês seguinte, o presidente Yanukovich fugiu para a Rússia após a ocupação da sede do governo pelos grupos
opositores.
As regiões leste e sul, as mais industrializadas e povoadas do país, possuíam uma grande quantidade de habitantes russos,
que obviamente se opuseram aos manifestantes pró-Europa. Nessas regiões, foi a província da Crimeia que conheceu, então, os
níveis maiores de tensão e instabilidade política, principalmente com a atitude do novo governo de revogar uma lei que garantia o
russo como idioma oficial local.
Com isso, grupos militares pró-Rússia assumiram o controle político da província e estabeleceram ali uma zona de resistência ao novo
governo ucraniano, nomeando Sergei Axionov como primeiro-ministro do parlamento local. Sob esse panorama, o presidente da Rússia,
Vladimir Putin, teve aprovado no parlamento de seu país o pedido de envio de tropas para Ucrânia. Com isso, os países da União Europeia,
além dos Estados Unidos, anunciaram o descontentamento com a decisão, iniciando uma política de articulação de um provável bloqueio
econômico e/ou comercial à Rússia.
No entanto, sob a argumentação de que era necessário defender os direitos humanos da população russa na Crimeia, foram
enviadas tropas que rapidamente ocuparam aeroportos e bases militares na província, com alguns poucos focos de resistência. Os
militares ucranianos da região, em sua ampla maioria, aliaram-se a Moscou ou abandonaram a Crimeia. Em resposta, os
estadunidenses e os europeus prometeram agir no sentido de punir a Rússia pela ação realizada, considerada ilegítima pelos governos
ocidentais.
De toda forma, é preciso também salientar que o que motivou a ação militar da Rússia foi o interesse na região da Crimeia,
que foi anexada pela Ucrânia em 1954, quando o então líder soviético Nikita Khrushchev – de origem ucraniana – cedeu-a em caráter
amistoso. Essa península possui uma importância econômica e outra estratégica, configurando-se como importante via de ligação
entre o Mar Negro e o Mar de Arzov, servindo também de entreposto comercial para a Europa, além de ser uma grande produtora de
grãos e alimentos industrializados. Por outro lado, a Europa e os Estados Unidos objetivam diminuir a influência russa na zona formada
pelas ex-repúblicas da antiga União Soviética.
19.4 - Conflitos étnicos na África
A origem dos conflitos étnicos na África está ligada à partilha do continente feita no final do século XIX pelos colonizadores
europeus, que criaram fronteiras "artificiais': Grande parte dessas fronteiras foi mantida após os processos de independência dos
países africanos. São chamadas "artificiais" pelo fato de diversos grupos étnicos, muitas vezes rivais, terem sido aglutinados num
mesmo território colonial, enquanto outros, de uma mesma etnia ou de convivência pacífica, foram separados. Isso gerou inúmeros
conflitos étnicos pela disputa de poder no interior dos novos Estados africanos após sua independência.
Contribuem para a multiplicação dos conflitos na África o baixíssimo nível socioeconômico da maioria dos países, a inexistência
de governos democráticos em muitos deles, as disputas por territórios e pelo controle de recursos minerais - em particular, diamantes
e outras pedras preciosas. Além disso, a disputa política pelo continente na época da Guerra Fria levou os Estados Unidos e a ex-
URSS a darem armas e apoio financeiro a grupos étnicos rivais dentro de um mesmo país, estimulando os conflitos e sustentando
durante décadas governos ditatoriais.

Ruanda
Ruanda, no sudeste do continente africano, foi colônia belga desde o final da Primeira Guerra Mundial até o início da década
de 1960, quando se tornou independente. Durante esse período, os belgas fomentaram a rivalidade entre os dois grupos étnicos que
ocupavam essa região africana - tutsis e hutus - como estratégia para manter o domínio sobre Ruanda. Os tutsis tinham privilégios na
administração belga, tornaram-se funcionários públicos, membros do exército colonial e conquistaram inclusive cargos importantes.
Em 1962, após a conquista da independência, sob a liderança dos hutus, os tutsis passaram a ser perseguidos. Exilados nos países
vizinhos, formaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), retomando a Ruanda em 1990 e dando início a uma guerra civil que arrasou o país
e produziu mais de 800 mil mortes e cerca de 2 milhões de refugiados.
Em abril de 1994, o presidente Juvenal Habyarimana, de etnia hutu, morreu num acidente aéreo. Habyarimana retomava da
Tanzânia, onde realizou uma negociação de paz com os rebeldes tutsis da FPR, que controlavam uma parte do norte de Ruanda. A
explosão do avião sobre a capital Kigali desencadeou a fase mais violenta e dramática da guerra civil ruandesa. As principais vítimas
foram os tutsis, incluindo mulheres e crianças, mortas a facões, foices e pauladas.
Em 1995, nova investida da FPR (tutsi) tomou Kigali e apoiou a presidência de um hutu (Pasteur Bizimungu), que se opunha
ao massacre no país e realizou uma política de reconciliação entre as duas etnias. Mas os conflitos entre tutsis e hutus ultrapassaram
as fronteiras de Ruanda, chegando aos campos de refugiados na República Democrática do Congo (antigo Zaire), no Burundi e na
Tanzânia.
Em 2000, Paul Kagame tornou-se o primeiro tutsi a assumir a presidência do país. No entanto, os problemas entre os dois
grupos étnicos, amenizados neste início de século, estão longe da solução definitiva, dada a violência da guerra. Ruanda sofre, ainda,
pressões dos países vizinhos, principalmente da República Democrática do Congo, para que faça o repatriamento dos refugiados.
Darfur
Darfur é uma região situada a oeste do país mais extenso da África, o Sudão. A terça parte da população é de origem árabe e s e
dedica principalmente ao pastoreio nômade. Os não árabes, como os grupos Massalit, os Zaghawa e os Fur, são sobretudo agricultores. O
fato de os dois grupos terem a terra como base de suas economias provocou vários conflitos sobre o direito ao uso da terra.
No entanto, os problemas são mais amplos. Há décadas, a região de Darfur tem sido abandonada à própria sorte pelo governo
sudanês, que negligenciou os investimentos sociais e econômicos essenciais nessa região semiárida. As poucas intervenções
positivas do Estado em Darfur privilegiaram os árabes em detrimento dos outros grupos, contribuindo para agravar a hostilidade étnica
já existente. A população não árabe de Darfur tem um forte sentimento de oposição ao governo, o que estimula a luta pela autonomia
e pelo fim da discriminação.
Em 2002, rebeldes da aldeia Fur em aliança com os Zaghawa formaram o Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA).
Armados e supostamente apoiados pelo vizinho Chade, eles atacaram instalações do governo em 2003. A retaliação foi imediata e
brutal. O governo, apoiado pela milícia árabe Janjaweed, promoveu um massacre cujo saldo atingiu mais de 300 mil mortes e mais
de 2 milhões de refugiados, em apenas 5 anos de conflito.
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Desde 2004, governo, rebeldes e organizações internacionais como a União Africana (UA) tentam estabelecer um cessar-fogo.
No entanto, apesar dos esforços da Missão da União Africana no Sudão (Amis), criada pela União Africana, das organizações
humanitárias e das ONGs para estabelecer a paz, todos os acordos assinados entre as partes foram violados por ambos os lados do
conflito.
O presidente Omar al Bashir, no poder desde 1989, após golpe militar, é considerado o grande responsável pelos massacres
e por omissão à situação dramática de Darfur. Em 2009, teve a prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes
de guerra em Darfur. Bashir se tornou o primeiro presidente, no cargo, a ser indiciado por um tribunal internacional.

19.5 - Conflitos étnico-nacionalistas na Ásia


O continente asiático abriga cerca de 60% da população mundial e milhares de etnias. Nas duas últimas décadas do século
XX, alguns conflitos étnico-nacionalistas destacaram-se pelo grande número de pessoas envolvidas e a violência empregada.

Índia
A tensão entre hindus (82% da população da
índia) e muçulmanos (12%) iniciou-se com a chegada
dos árabes à região, no século VII, responsáveis pela
difusão do islamismo no país. Essa religião conquistou
muitos adeptos nas camadas mais pobres da sociedade
na Índia, que viam nela um caminho para se desvencilhar
do sistema de castas da religião hindu (hinduísmo), que
estrutura a sociedade indiana.
A região da Caxemira, situada entre o norte da
índia, o nordeste do Paquistão e o sudoeste da China
ocupa um extenso vale fértil, habitado principalmente
pela população muçulmana. Além da localização
estratégica, junto à fronteira da China, o controle da
Caxemira significa dispor das águas do curso médio do
rio Indo. A maior parte da região está sob domínio da
Índia, mas os paquistaneses e a guerrilha muçulmana
separatista querem anexá-la integralmente ao
Paquistão.
Desde 1947, quando esses dois países conquistaram a independência da Inglaterra, já ocorreram algumas guerras envolvendo
a disputa pela Caxemira. Essa disputa territorial tem preocupado o mundo, pois tanto o Paquistão quanto a Índia possuem armas
nucleares.
Na região do Punjab, norte da Índia, conflitos étnico-religiosos violentos têm marcado a história do país nas últimas décadas.
O conflito opõe os sikhs, minoria étnica, seguidora de uma seita própria que difunde elementos do islamismo e hinduísmo, aos hindus.
Os sikhs lutam pela independência e pela formação do Estado do Kalistan, idealizado pelos separatistas. A perseguição aos sikhs
intensificou-se em 1984, após a morte da primeira-ministra indiana Indira Gandhi, assassinada por membros de sua guarda pessoal
e adeptos da seita sikh. Um mês antes, Indira Gandhi havia ordenado a invasão do Templo Dourado de Amritsar -local sagrado para
os sikhs, onde se reunia a cúpula do movimento separatista.
Além da repressão aos sikhs, grupos nacionalistas ligados ao Partido Bharatiya [anata (BJP), que defendem a supremacia
hindu, têm promovido massacres de muçulmanos e cristãos em outras regiões do país. Vários missionários cristãos foram alvos de
atentados, principalmente em Goa, colonizada pelos portugueses.

China

Dos cerca de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes da


China, mais de 90% pertencem à etnia han. No entanto, outras 55
etnias que representam menos de 10% da população total do país
ocupam mais da metade do território, especialmente em regiões
que atingem grandes dimensões nas áreas desérticas e
montanhosas do oeste e norte do país. Em algumas províncias
dessa região, a população original e majoritária considera o povo
chinês um ocupante ilegítimo e luta por sua independência e
autonomia.

CHINA – GRANDES REGIÕES GEOGRÁFICAS

Tibet
O Tibet é uma vasta região situada a sudoeste do território da China. Apesar de ter constituído um Estado independente entre
1911 e 1950, a China alega que o Tibet faz parte do seu território desde o século XIII. Os tibetanos afirmam que o domínio chinês na
região não foi constante nem contínuo.
No ano posterior à Revolução Socialista de 1949, o Tibet foi novamente anexado pela China Popular. Antes institucionalizado
como Estado teocrático, o Tibet, sob o domínio chinês, passou por grandes transformações, como a supressão do poder da
aristocracia religiosa e civil, a abolição da servidão rural e da escravidão doméstica e a redistribuição de terras. Além disso, o planalto
tibetano e a cidade de Lhasa, capital dessa província autônoma, receberam um grande contingente de migrantes chineses de origem
han.

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A reação diante da anexação, durante a década de 1950, colocou em confronto as forças de ocupação e parte da população
tibetana separatista, organizada no Exército de Defesa da Religião, que atacou a todos que apoiavam a incorporação do Tibet à China
Popular. No entanto, essa reação foi esmagada pelo exército vermelho de Mao-Tse-Tung. O líder espiritual do Tibet, o Dalai Lama,
exilou-se, em 1959, na cidade indiana de Dharamsala, onde vive até hoje.
Em 1989, uma onda de movimentos pela democratização do regime chinês foi acompanhada por uma nova revolta separatista
de monges budistas e de civis. O governo chinês, além de impor a lei marcial, restringiu a relativa autonomia religiosa e cultural ainda
presente no Tibet.
Em 2008, novas manifestações levaram monges e jovens separatistas às ruas em Lhasa, Drepung, Sera, Gansu e Gamden,
locais onde se situam importantes monastérios. Apesar da recomendação do Dalai Lama para que empregassem uma estratégia de
luta apoiada na não violência e centrassem suas reivindicações na autonomia, os rebeldes tibetanos insistiram em sinalizar sua luta
pela independência com ataques a cidadãos civis de origem chinesa e a autoridades alinhadas com o governo de Pequim. Mais uma
vez, o Estado chinês reprimiu os manifestantes com violência. Na ocasião, a atenção mundial estava focada na China, em função da
Olimpíada ali realizada, fato que ampliou negativamente a repercussão dos acontecimentos e da repressão ocorridos nessa região
autônoma.

Xinjiang
A província autônoma de Xinjiang está situada ao norte do Tibet e a noroeste do território chinês. Ocupada originalmente por
muçulmanos da etnia uigure, foi anexada pela China no século XIX, e hoje corresponde a 15% do seu território. A terra dos uigures
passou a ter importância econômica estratégica com a descoberta de grandes reservas de petróleo, correspondendo à terça parte
das reservas existentes em toda a China.
O partido comunista utilizou em Xinjiang a mesma política de ocupação empregada no Tibet: estimulou a migração de colonos
chineses para que estes suplantassem numericamente os uigures. Em 1949, a etnia han representava apenas 6% do total dos
tibetanos. Em 2009, os chineses dessa etnia representavam 40% da população, proporcionalmente pouco menos da metade da
população uigure. Em Urumqi, capital da província, a população majoritária é han.
O objetivo dessa política migratória foi assegurar o controle do território e inibir qualquer iniciativa separatista, pois os uigures
são mais ligados cultural e etnicamente à Ásia Central do que à China. No entanto, o movimento separatista ganhou força após a
independência das ex-repúblicas soviéticas em 1990, situadas em sua fronteira: o Casaquistão, o Tajiquistão e o Quirguistão. Na
última década, o movimento separatista promoveu uma série de ataques às tropas de ocupação chinesas, aos serviços públicos e à
população civil han.
As ações do governo chinês em relação à população uigure são responsáveis pelo recrudescimento dos conflitos étnicos locais
e pelo crescimento dos adeptos do separatismo. Dentre as mais desaprovadas estão a discriminação contra os habitantes originais,
os privilégios dos han nos empregos públicos e o boicote às práticas culturais e religiosas da população uigure.

A questão curda
Os curdos, cuja população se encontra distribuída por seis países, constituem a maior nação do
mundo sem Estado, somando mais de 23 milhões de pessoas, das quais 14 milhões vivem na Turquia.
Os curdos têm raízes muito remotas no Oriente Médio, na antiga Mesopotâmia. Apesar de serem um povo islâmico, mantêm
suas próprias tradições e costumes e habitaram a região do Curdistão há mais de 2600 anos. O movimento separatista curdo sofreu
e sofre repressão no Iraque e na Turquia.
O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (1937-2006) ordenou a matança de milhares de curdos e autorizou, nesse massacre,
o uso de armas químicas, após a guerra do Golfo de 1991. Na guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, os curdos colaboraram
com a coalizão na luta contra as tropas iraquianas e conquistaram relativa autonomia nas terras que ocupam, situadas ao norte do
Iraque.
Na Turquia, o ensino da língua curda nas escolas é proibido, assim como a comemoração de suas datas nacionais. A luta pela
formação de um Curdistão independente sempre foi duramente reprimida pelos sucessivos governos turcos. Por outro lado, grupos
guerrilheiros ligados ao Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) promoveram uma série de atentados com o objetivo de desestabilizar
o governo e conquistar a independência.

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19.5.1 - Conflitos no Oriente Médio
O domínio que o Império Turco-Otomano exercia sobre boa parte do Oriente Médio, o qual prevaleceu até a Primeira Guerra
Mundial, foi praticamente substituído pela ocupação inglesa e francesa, que se prolongou até a década de 1940. Durante esse último
período, ocorreu um processo de grande fragmentação territorial dessa região. Após essa década, os ingleses e franceses foram afastados
do Oriente Médio, consolidando o processo de independência de vários países e favorecendo a criação do Estado de Israel, em 1948.
A independência desses países não significou o fim dos conflitos na região. Ao contrário, após a Segunda Guerra Mundial, o
Oriente Médio transformou-se no principal foco de tensão mundial em função da criação do Estado de Israel; dos interesses
econômicos e estratégicos das grandes potências pelo controle das jazidas de petróleo; das disputas internas pelo poder numa região
marcada por regimes autoritários; dos conflitos religiosos; e das más condições de vida da maioria da população.
A herança da Guerra Fria é outro importante fator de instabilidade e de intensificação dos conflitos. Durante esse período, os
Estados Unidos e a URSS armaram exércitos e grupos de oposição, fortalecendo ditaduras e grupos terroristas. Atualmente, parcela
significativa das vendas de armamentos dos Estados Unidos destina-se a países do Oriente Médio.

Guerras entre Israel e os países árabes


A região da Palestina é o território histórico de dois povos: judeus e palestinos.
Os judeus ocuparam a região há mais de 4 mil anos, mas se espalharam pelo mundo devido à repressão sofrida durante o
Império Romano. Os palestinos são formados por uma mistura de povos, como filisteus (que ocupavam a faixa de Gaza), cananeus
(que habitavam a Cisjordânia) e árabes, os quais impuseram sua cultura, tradição e a religião islâmica. Os palestinos habitaram a
região por um período contínuo de cerca de 2 mil anos.
A partir do final do século XIX, com a criação da Organização Sionista Mundial (1897), cuja sede fica na Suíça, o movimento
sionista começou a organizar a migração de judeus à Palestina, visando a formação de uma pátria judaica. Na primeira metade do
século XX, o aumento da população judaica na região, estimulado pela compra de terras e pelo estabelecimento de diversas colônias,
foi contínuo e relativamente pacífico.
No entanto, depois da Primeira Guerra Mundial, quando os britânicos, que passaram a controlar a região, cogitaram a criação
de um Estado judaico (Declaração Balfour), essa migração tornou -se bastante conflituosa. O secretário de relações exteriores
britânico, Arthur Balfour, encorajava a colonização da Palestina por judeus e apoiava o estabelecimento de um "lar nacional judaico
na Palestina", o qual teria proteção britânica.
A perseguição e o massacre impostos aos judeus pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial, foi fundamental para o apoio
internacional à formação do Estado de Israel, em 1948. A divisão do território da Palestina entre judeus e palestinos já fazia parte de
acordos firmados entre Estados Unidos, Reino Unido e URSS. Em 1947, a ONU aprovou o plano de partilha da região da Palestina e
a criação do Estado de Israel, que ocupava 57% daquele território.
A formação de um Estado judaico no Oriente Médio provocou a reação contrária dos países árabes. Ainda em 1948, Egito,
Jordânia, Líbano e Síria invadiram Israel, dando início à Primeira Guerra Árabe-Israelenses (1948-1949).
Em 1949, foi estabelecido um armistício, que retirou totalmente dos palestinos as decisões sobre os seus tradicionais
territórios, inclusive dos que tinham sido delimitados pela ONU, em 1947. O acordo de paz estabeleceu que o Estado Árabe da
Palestina seria dividido entre Israel (que conquistara a Galileia e o deserto de Neguev); Transjordânia, que incorporaria a Cisjordânia
(a oeste do rio Jordão), e Egito, que ocuparia a faixa de Gaza. Após o armistício, os conflitos não cessaram. Diversas questões
opuseram árabes e israelenses. Os palestinos reagiram à ocupação de suas terras organizando atos terroristas contra os judeus.
Em 1967, a Síria tentou desviar o fluxo de água do rio Jordão mediante a construção de uma grande represa, nas colinas de
Golã. Com o apoio da Jordânia e do Egito, a Síria bloqueou o golfo de Ácaba - utilizado pelos navios israelenses para chegar ao mar
Vermelho. O crescimento das tensões colocou em alerta as tropas de todos os países envolvidos.
Entre 5 e 10 de junho daquele ano, os israelenses iniciaram um fulminante ataque ao Egito, Jordânia e à Síria, que imobilizaram
totalmente as tropas árabes numa das guerras mais curtas da história, denominada Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-
Israelense. Nesse terceiro conflito, os israelenses anexaram a península do Sinai e a faixa de Gaza, pertencentes aos egípcios; as
colinas de Golã, que pertenciam à Síria; e a Cisjordânia, que fazia parte da Jordânia.
Em 1973, na tentativa de reaver os territórios ocupados, Egito e Síria atacaram Israel de surpresa, dando início à Quarta Guerra
Árabe- Israelense - Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). A princípio, conquistaram algumas posições, mas foram obrigados a
recuar com a forte reação do exército israelense, que conseguiu mobilizar e organizar as suas tropas rapidamente. A guerra durou
três semanas, e Israel manteve sob seu domínio as conquistas da Guerra dos Seis Dias. Em 1979, Israel concordou em devolver ao
Egito a península do Sinai, mediante o Acordo de Camp David, intermediado pelos Estados Unidos.

A questão palestina
Nos conflitos ocorridos após a criação do Estado de Israel, os palestinos foram bastante prejudicados. Na partilha estabelecida
pela ONU, eles ficaram com 43% das terras da região. Após a Primeira Guerra Árabe- Israelense, transformaram-se em uma nação
sem território.
As guerras envolvendo árabes e israelenses expulsaram milhares de palestinos de suas terras, que se refugiaram em
acampamentos no Líbano, na Síria, no Egito e na Jordânia,
Desorganizados, espalhados por diversos países e enfraquecidos militarmente, os palestinos criaram várias organizações terroristas
para lutar contra o Estado de Israel, entre elas a AI Fatah, em 1959, e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964.
No final da década de 1960, a OLP foi reconhecida pela ONU como única e legítima organização representante dos interesses
do povo palestino. Em 1969, Yasser Arafat, palestino nascido no Egito, assumiu a presidência da organização. Até 1987, Arafat
utilizava métodos extremistas - atos de terrorismo - para alcançar seus objetivos. Em 14 de dezembro de 1988, o líder da OLP
apresentou um plano de paz na Assembleia Geral da ONU, no qual reconhecia o Estado de Israel.
Esse acontecimento marcou o início de uma nova fase para a OLP, que conquistou mais espaço no campo diplomático,
passando a negociar com os Estados Unidos e, posteriormente, com Israel. No dia 13 de setembro de 1993, após dois meses de
negociações secretas mediadas pelo governo da Noruega, Arafat e o primeiro- ministro israelense, Yitzak Rabin, assinaram um acordo
de paz na Casa Branca, Estados Unidos, que ficou conhecido como Acordo de Oslo.
Por esse acordo, a faixa de Gaza e parte da Cisjordânia - incorporadas por Israel, em 1967, na Guerra dos Seis Dias - foram
devolvidas aos palestinos e se tornaram regiões autônomas. Foi criada, também, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), entidade
liderada por Arafat, com sede em Ramallah, na Cisjordânia. A ANP passou a ser a representação legal dos palestinos e responsável
pela administração dos seus territórios. Em setembro de 1995, um novo acordo estendeu a autonomia a outras 456 cidades da
Cisjordânia.
- 163 -
Retomada e intensificação dos conflitos
No final da década de 1990, as negociações entre Israel e a ANP tornaram-se extremamente difíceis. Em 2000, Ariel Sharon,
que no ano seguinte seria escolhido primeiro-ministro de Israel, visitou a Esplanada das Mesquitas (local mais sagrado para os
muçulmanos em Jerusalém), provocando a segunda Intifada.
A partir desse acontecimento, instaurou-se uma espiral de violência: de um lado, atentados suicidas fomentados por grupos
radicais palestinos" contra israelenses; de outro, retaliações a essas agressões, com ações militares promovidas pelo exército
israelense. Israel colocou o exército dentro do território da ANP e passou a retaliar todos os suspeitos de integrar grupos terroristas,
promovendo, ao mesmo tempo, ataques à população civil palestina.

Quarteto de Madri e Mapa do Caminho


Em 2003, contando com o apoio da ONU, da União Europeia, dos Estados Unidos e da Rússia (Quarteto de Madri), líderes
palestinos e judeus reuniram -se na capital espanhola para estabelecer os primeiros passos na consolidação de um acordo de paz
proposto pelos Estados Unidos. Chamado de Mapa do Caminho, objetivava amenizar o sentimento antiamericano e demonstrar o
interesse do governo Bush em buscar uma solução negociada para a crise no Oriente Médio.
O acordo previa, entre outras medidas, a constituição de um Estado palestino em 2005, cujas fronteiras seriam aquelas
existentes até a Guerra dos Seis Dias. Segundo a proposta original, várias etapas deveriam ser cumpridas por judeus e palestinos
até 2005, entre elas, na sequência:
 fim das ações terroristas de organizações palestinas, retirada das tropas israelenses e remoção dos assentamentos judaicos dos
territórios palestinos;
 convocação de eleições e elaboração de uma Constituição democrática para o novo Estado palestino, bem como a delimitação
de suas fronteiras;
 fortalecimento político e econômico do novo Estado, apoiado por toda a comunidade internacional.

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As metas previstas pelo Mapa do Caminho não tiveram o encaminhamento esperado devido à forte oposição de grupos radicais
(judeus e palestinos) e dos obstáculos impostos pelos Estados Unidos e pelo governo israelense, que alegavam que Yasser Arafat
era um interlocutor pouco confiável e pouco empenhado em controlar as ações de grupos terroristas.
Com a morte de Arafat em 2004, a ANP passou a ser presidida por Mahmoud Abbas, conhecido por Abbu Mazen, eleito num
processo livre e democrático, no início de 2005. As ações de Abbas foram pautadas pelas negociações com o governo de Israel e
com os grupos radicais palestinos com o objetivo de retomar e avançar as questões traçadas pelo Mapa do Caminho. Essas
negociações levaram à retirada dos assentamentos judaicos da faixa de Gaza e de uma pequena parte da Cisjordânia.
Apesar disso, o governo de Israel insistiu em dar continuidade à construção de um muro que
separa Israel da parte da Cisjordânia controlada pelos palestinos. Iniciada em 2002, a imensa muralha tem postos de vigilância de
entrada e saída. Uma extensa região (dentro e fora do muro) controlada pelo exército israelense, chamada zona tampão, isola a
comunidade palestina em seu próprio território. Além disso, o muro incorpora terras palestinas (negociadas pelo Acordo de Oslo) ao
território israelense.
O muro inviabiliza a demarcação das fronteiras acertadas pelo Mapa do Caminho: confisca cerca de 50% das terras situadas
na Cisjordânia e anexa a Israel os assentamentos judaicos construídos nos territórios ocupados. Além disso, Israel incorporou todo o
vale do rio Jordão, a única fonte de abastecimento de água da região (situado na zona tampão, junto à fronteira com a Jordânia e
controlada por Israel).

Limites às negociações de paz


Israel declara a cidade de Jerusalém como capital indivisível do país; já os palestinos não abrem mão de incorporá-la a um
futuro Estado da Palestina. O extremismo de grupos judeus e palestinos, contrários a qualquer processo de negociação, constituem
outro obstáculo à paz na região.
Em 2006, o Hamas conquistou legitimamente o poder e manteve a posição de não reconhecimento do Estado de Israel e a
oposição a qualquer negociação de paz. Essas circunstâncias isolaram internacionalmente a ANP e determinaram o corte da ajuda
financeira proveniente da União Europeia e dos Estados Unidos, quantia correspondente, na época, a cerca da metade de toda a
receita da ANP. Além disso, essa situação de crise colocou em confronto direto os dois principais grupos palestinos da atualidade: o
Hamas (que controla a faixa de Gaza) e o Fatah, de Mahmoud Abbas (que controla as terras palestinas da Cisjordânia).
Em 2009, o governo de Binyamin Netanyahu entravou as negociações com a ANP ao permitir a ampliação dos assentamentos
judaicos na Cisjordânia, o que inviabilizaria a formação de um território palestino contínuo. Israel passou a admitir a existência de um
Estado Palestino desmilitarizado, sem a possibilidade de controle de suas fronteiras, de seu espaço aéreo e sem capacidade de
defesa. O governo da Barack Obama posicionou-se contrário às ações de Netanyahu e, pela primeira vez, os Estados Unidos
endossaram a posição palestina nas negociações de paz, no que diz respeito à interrupção dos assentamentos judaicos.

Os nacionalismos judeu e palestino


Quando dos primeiros confrontos entre judeus e árabes na Palestina, há pouco mais de um século, a grande maioria dos judeus a inda vivia na
Europa oriental, dentro do Império Russo, a "prisão dos povos". Ao contrário do que ocorria em outros países mais desenvolvidos da Europa central e ocidental,
a emancipação e assimilação dos judeus não existia ali como opção. Os judeus eram o bode expiatório do regime dos czares: com as discriminações e
perseguições antissemitas, desviavam a insatisfação popular. Essa atitude provocou várias respostas das vítimas: muitos judeu s emigraram para o Ocidente,
outros juntaram-se à luta revolucionária dos socialistas e alguns optaram por uma solução nacionalista para o então chamado "problema judeu".
Dentro dessa linha nacionalista, o movimento sionista defendia a concentração territorial dos judeus na Palestina
como precondição para sua segurança física. Além de uma solução política, era um projeto eminentemente secular, que interpretava a situação dos judeus
no mundo de maneira não religiosa (propondo assim uma solução "neste mundo"). A ideia não atraiu judeus religiosos (a maioria , em uma sociedade ainda não
secularizada): os ortodoxos rejeitaram como blasfêmia a ideia de uma "volta na História" para restituir a terra prometida ao povo disperso "como punição por
seus pecados" - tal papel só caberia ao Messias.

- 165 -
O sionismo mobilizou em primeiro lugar jovens judeus já secularizados, muitos influenciados pelo socialismo, que almejavam ocupar - através de
kibutz e outras instituições de inspiração esquerdista - uma terra pensada como vazia. Em paralelo, estadistas sionistas tentavam, pela via diplomática, obter
apoio internacional à causa de um "lar nacional judeu" na Palestina, o que só foi alcançado após uma geração de esforços, com a Dec laração Balfour (do
ministro do Exterior britânico, Arthur J. Balfour, em nome do rei George V, em novembro de 19l7), que preparou o terreno para o mandato britânico sobre um
canto negligenciado do Império Otomano, a Palestina, concedido em 1920 pela então Liga das Nações.
As colônias sionistas que se instalaram na Palestina constituiriam o substrato do futuro Estado judeu, e os árab es deslocados das terras que os
sionistas compraram formariam o núcleo da futura resistência palestina. A proteção imperial oferecida pelo governo britânico (por motivos que misturavam
sentimentos protestantes bíblicos com interesses estratégicos imperiais) garantiria a presença de uma ínfima minoria sionista contra uma (de início) esmagadora
maioria árabe ali nascida. Essa população logo quis sua independência, recusando ser minoria e ter sua terra transformada em "lar nacional" de outra população
cuja vitimização ela via como um problema europeu.
DEMANT, Peter. Ciência Hoje. v. 30, n. 177. Rio de Janeiro. SBPC, novo 2001. p. 23-24.

A QUESTÃO PALESTINA EM 2021 A PARTIR DE REPORTAGENS


Israel e Hamas: entenda o que aconteceu nos 11 dias de conflito em Gaza
Fonte: https://exame.com/mundo/israel-e-hamas-entenda-o-que-aconteceu-nos-11-dias-de-conflito-em-gaza/ 20 mai 2021
Israel e o Hamas chegaram a um cessar-fogo nesta quinta-feira, 20, depois de 11 dias de confronto na Faixa de Gaza. A
trégua ocorre depois de forte pressão internacional, liderada pelos Estados Unidos.
Desde a segunda-feira, 10, ao menos 232 pessoas morreram do lado palestino. Os ataques com foguetes lançados pelos
militantes palestinos mataram ao menos 12 israelenses.

Da origem da tensão ao ápice da violência


As raízes do atual confronto em Gaza estão numa série de incidentes ocorridos no entorno da mesquita de Al-Aqsa, em
Jerusalém, entre abril e maio. A combinação de operações policiais, ordem de despejo em um bairro palestino de Jerusalém Oriental
e uma marcha da extrema direita israelense rumo ao Monte do Templo levou à violência na Cidade Santa em 10 de maio.
No mesmo dia, o Hamas decidiu disparar foguetes contra Israel. Ao contrário dos confrontos anteriores, no entanto, as armas
do grupo palestino desta vez pareciam causar mais danos aos israelenses. Alguns foguetes conseguiam driblar o Domo de Ferro, o
poderoso sistema de defesa do país, e chegar até Tel-Aviv, antes um alvo impensável. O jornalista Roberto Godoy detalhou o avanço
militar do Hamas.

Israel, então, revidou, com pesados ataques à Faixa de Gaza. entre os alvos, a estrutura militar do Hamas e os líderes do
grupo palestino. A violência aumentou gradativamente e, no fim de semana, teve seu dia mais sangrento, com 44 mortes. Um prédio
que abrigava escritórios da Associated Press e da rede de TV Al-Jazeera foi derrubado após um bombardeio.
Diferentemente de outras crises entre israelenses e palestinos, a atual foi marcada pela tensão em comunidades do país onde
árabes e israelenses conviviam em relativa tranquilidade. Saques linchamentos e ataques com armas brancas tornaram-se comuns,
principalmente em Lod, antes considerada um exemplo de civilidade entre os dois povos.

Os dois lados do conflito


Ao longo da semana, a tensão crescia, assim como o número de vítimas. Do lado palestino, o guia turístico Hassan Muamer
disse ao Estadão que o atual conflito traz elementos novos à tensão histórica com Israel.
Do outro lado, onde a principal preocupação era a defesa da população contra os foguetes de Israel, os militares estavam de
prontidão. Era o caso do brasileiro Henry Tkacz, que recebeu uma ligação do das Forças de Defesa de Israel (IDF), informando que
sua presença poderia ser requisitada.

O impacto político
Com o cessar-fogo, que ainda não está definido a duração, os dois lados fazem cálculos políticos, como explicou o colunista
Lourival Sant'Anna, e este artigo da Revista Economist. O Hamas conseguiu recuperar parte da credibilidade que havia perdido após
anos comandando o enclave. Em Israel, Netanyahu conseguiu mais uma sobrevida política após ter tido sua chance de formar uma
coalizão reduzida a zero.

Conflito entre Israel e palestinos: 'Conflito foi ignorado pelo mundo', diz historiador
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57131385 15 mai 2021
Após alguns anos de relativa calma, Jerusalém Oriental mais uma vez se tornou o foco das tensões entre israelenses e
palestinos.
O que começou com motins contra os planos de despejo de famílias palestinas pelo exército israelense assumiu a forma de
confrontos violentos que se multiplicaram em Gaza e em várias cidades israelenses. Até a tarde deste sábado (15/05), cerca de 145
palestinos e 9 israelenses morreram no conflito.
A ONU alertou que os acontecimentos podem levar a "uma guerra em grande escala".
Em entrevista à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, o historiador francês Vincent Lemire afirmou que também
pensa dessa forma.
Especialista em Oriente Médio, especificamente em Jerusalém, ele garante que a cidade vive um momento de violência que
não era visto desde a segunda intifada, quando, no início do século, os palestinos se insurgiram contra a política de ocupação territorial
empreendida por Israel.
Naquela época, e na verdade por muito tempo, Jerusalém era um assunto delicado para ambos os povos.
Para Israel, a cidade inteira é sua capital e isso é inegociável, enquanto os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a
capital da nação que aspiram ter um dia.
No entanto, a cidade mudou muito demograficamente e isso teve um impacto no conflito israelense-palestino.
Vincent Lemire é autor do livro Jerusalém, Histoire d'une ville-monde (Jerusalém, história de uma cidade-mundo, sem edição
no Brasil). Falando diretamente da cidade, ele analisa os motivos que levaram o local ao posto de centro de um conflito que parece
não ter solução.
Segundo o historiador Vincent Lemire, o mundo optou por ignorar o conflito israelense-palestino, ao invés de tentar encontrar
uma solução.

- 166 -
Leia a entrevista abaixo.
BBC - Como você descreve a atual escalada da violência em Jerusalém?
Vincent Lemire - Em termos de intensidade, não víamos esse nível de violência desde a última guerra em Gaza, em 2014. E em
termos de agitação urbana, isso não acontecia desde a segunda intifada, no início dos anos 2000.
Esta crise intensa começou no Sheikh Jarrah (bairro palestino em Jerusalém Oriental) e na Esplanada das Mesquitas, após uma
mobilização organizada por jovens palestinos tentando repelir os agentes de segurança israelenses na Cidade Velha na segunda-
feira.
Mas às 18h, a crise mudou completamente quando o Hamas disparou uma enxurrada de mísseis e Israel respondeu.
De um lado temos Jerusalém, que está sob uma mobilização sem precedentes e surpreendente, do outro temos Gaza, e depois temos
as cidades mistas, onde há muitos israelenses e palestinos. Há revoltas em grande escala e confrontos em comunidades.
Isso não era visto desde a segunda intifada.

BBC - A crise atual se assemelha à de 2014?


Lemire - Em 2014, foi uma guerra limitada a Gaza. O Hamas estava lançando mísseis muito menos sofisticados do que os que vemos
hoje, e o exército israelense reagiu.
Houve pequenas mobilizações e ataques fora de Gaza, mas Gaza foi o epicentro.
Hoje acontece o contrário. As mobilizações começaram em Jerusalém em diferentes pontos, e Gaza finalmente aderiu mais tarde.
Gaza e o Hamas ficaram fora de foco por semanas, mas tentaram se envolver e tiveram sucesso.

BBC - Quais são os problemas atuais em Jerusalém Oriental e por que a região se tornou novamente o epicentro do conflito?
Lemire - Jerusalém representa o retorno dos reprimidos. Estava um pouco fora da mesa de negociações do processo de paz de Oslo
(série de acordos assinados entre Israel e a Palestina, nos anos 1990), porque era muito complicado e pensava-se que não tinha
solução.
ara o especialista Vicent Lemire, um nível tão alto de violência não era visto desde 2014 na região
Em Oslo, falava-se principalmente de refugiados, colônias, fronteiras etc.
Agora que o processo de Oslo acabou, que esse parêntese oficialmente chegou ao fim, Jerusalém volta ao centro do conflito e recupera
essa posição central, como o coração do nacionalismo palestino e também da identidade judaica.

BBC - A demografia da cidade também mudou bastante nas últimas décadas…


Lemire - Totalmente. Hoje, 40% da população de Jerusalém é palestina. Há 300 mil palestinos dentro das fronteiras do município de
Jerusalém.
A porcentagem de palestinos em Jerusalém mal chegava a 25% após a Guerra dos Seis Dias (em 1967).
Portanto, vemos uma curva demográfica ascendente em Jerusalém Oriental do lado palestino.
Isso desempenha um papel importante, porque atualmente a extrema direita israelense está ganhando terreno em Israel.
Incomoda o supremacista de extrema direita ver como Jerusalém escapa da soberania israelense, que 40% da população da cidade
é palestina e 90% da Cidade Velha é palestina. Isso cria tensões.
Vimos isso nas últimas semanas com as manifestações da extrema direita israelense no Portão Damasco, na cidade velha.
Lá, eles se viram diante de uma população palestina que geralmente tentam ignorar, mas com o Ramadã e as mobilizações dos
palestinos isso se tornou impossível.

BBC - Como você resume o conflito atual entre israelenses e palestinos?


Lemire - Podemos responder com uma pergunta: isso que estamos vendo é uma terceira intifada.
Estamos vivendo uma nova guerra em Gaza que não vai acabar imediatamente, isso é certo. Mas estamos vendo uma terceira
intifada?
Há anos, acredito que a terceira intifada já esteja em andamento. Está funcionando desde pelo menos 2016 ou 2017, especialmente
em Jerusalém.
Em julho de 2017, a juventude palestina se rebelou em Jerusalém contra a instalação de portões de segurança na Esplanada.
Agora estamos em uma situação semelhante: a defesa do espaço público da Cidade Velha.
Intifada significa revolta em árabe. É uma revolta? Sim, existem distúrbios.
É muito menos estruturado que a segunda intifada e há menos militarização.
É mais uma mobilização da sociedade civil, da juventude, com a ajuda das redes sociais e com demandas muito concretas e
pragmáticas.

BBC - Governos em todo o mundo pedem moderação a ambos os lados. O que mais eles podem fazer? E, em sua opinião, o
que a comunidade internacional fez de certo e de errado?
Lemire - Não sou o único que pensa que a pressão internacional não funciona. Ela só tem impacto sobre o governo israelense, seus
governos de direita e a opinião pública israelense.
Prova disso é o que aconteceu na segunda-feira.
Após pressões da ONU, da Europa, mas principalmente dos Estados Unidos, que retomou uma posição clássica, a mesma do governo
Donald Trump, o governo israelense deu sinais de que queria uma desaceleração.
Entre eles estava o da Suprema Corte que teve de decidir sobre a expulsão de famílias palestinas de Sheikh Jarrah, a proibição de ir
à Esplanada das Mesquitas para judeus israelenses, etc.
Sabemos que o Catar tem um poder significativo e todos precisam que ele sirva como intermediário entre o Hamas e o governo
israelense quando houver um cessar-fogo.
O atual conflito israelense-palestino é um retorno ao que está reprimido na agenda diplomática mundial: a situação foi ignorada pelo
mundo.
A era Trump desfocou os olhos dos observadores, que acabaram acreditando que o conflito israelense-palestino poderia terminar sem
ser resolvido.
Até que o conflito seja resolvido, ele continuará a ressurgir periodicamente, de maneiras diferentes e inesperadamente.

- 167 -
BBC - Ainda existe algum desejo das partes de solucionar esse problema com dois Estados?
Lemire - A solução de dois estados nacionais (um israelense e outro palestino) morreu há muito tempo, especialmente com os 650
mil colonos israelenses assentados na Cisjordânia.
Mas, acima de tudo, ele morreu no espírito dos jovens palestinos. Não está em sua agenda nem eles pensam sobre isso.
Eles lutam por seus direitos, por seus espaços públicos, suas condições de vida e uma forma de igualdade com seus vizinhos
israelenses.
E o mesmo vale para os árabes que vivem em Israel.
Do lado israelense, verifica-se que, devido ao surgimento da direita e da extrema direita, grande parte do corpo político e do cidadão
comum defendem a anexação total e completa de grande parte da Cisjordânia.
De certa forma, já existe um estado binacional. Em todo aquele território há um único exército em ação, uma moeda, o shekel, e uma
única fronteira, a israelense.
O estado binacional israelense-palestino já existe, mas é um estado onde coexistem indivíduos que não têm os mesmos direitos.
A solução dos dois estados está se distanciando cada vez mais e quase ninguém fala mais sobre isso.

BBC - Como o conflito deve evoluir nos próximos dias?


Lemire - Até a última segunda-feira, eu teria dito que uma rápida desaceleração era possível, porque finalmente os jovens palestinos
de Jerusalém conseguiram a vitória que desejavam, conseguiram defender a Esplanada das Mesquitas, impedindo que israelenses
nacionalistas entrassem na Cidade Velha.
Então isso poderia ter terminado aí.
Mas depois do que aconteceu na noite de segunda-feira, o lançamento de mísseis pelo Hamas e a resposta israelense, entramos em
outra fase.
Há duas partes interessadas em que o conflito continue e que seja forte.
Na segunda-feira, às 18h, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, era um chefe de governo humilhado, que passou o dia
recuando das demandas palestinas em Jerusalém.
Ele foi criticado duramente por toda a imprensa israelense, de direita, de centro, de esquerda.
Duas horas depois, ele foi colocado de volta na posição de que mais gosta: o chefe guerreiro.
Não vejo uma redução rápida da escalada. Pelo contrário, provavelmente veremos uma intensificação do conflito nos próximos dias.

BBC - E a longo prazo?


Lemire - Não tenho previsões específicas. Mas posso dizer que a solução de dois Estados não existe mais, nem mesmo teoricamente.
Estamos caminhando para um estado binacional de fato, com combates esporádicos e específicos dos palestinos para obter os
mesmos direitos dos israelenses.

Observe como ficou difícil a entrega da Cisjordânia

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19.6 - A Primavera Árabe
Onda de protestos iniciados em dezembro na Tunísia que:
- em duas semanas levaram à queda do ditador Zine al-Abidjne Ben Ali, a 24 anos no poder;
- na metade de fevereiro derrubaram o governo do Egito, onde Hosni Mubarak encontrava-se a 30 anos no poder; e
- acabaram por provocar uma onda revolucionária que espalhou-se pelo Mundo Árabe, do Norte da África ao Oriente Médio, atingindo
países que, durante décadas, viveram sob ditaduras – muitas das quais apoiadas pelo Ocidente, embora acusadas de violações
constantes dos direitos humanos e de impor severas restrições da liberdade de expressão. Além disso, as populações desses países
têm convivido com altos índices de desemprego e pobreza, apesar de as elites dirigentes acumularem fortunas.

Como começou?
Quando Mohamed Bouazizi colocou fogo em si mesmo, no dia 17 de dezembro de 2010, na pequena cidade de Sidi Bouzid
como um ato de desespero depois de ter suas mercadorias confiscadas pelas autoridades policiais da Tunísia, ele não teria como
imaginar o que se seguiria. O ato do jovem vendedor de rua serviu de gatilho para a Primavera Árabe.

As origens do movimento
A ebulição atual dos países árabes tem raízes numa grande frustração histórica.
No pós-II Guerra Mundial formulou-se a utopia do renascimento de uma nação árabe que, unificada, e livre da dominação
estrangeira, seria capaz de construir uma modernidade própria, alternativa às propostas colonial-liberais: estado laico,
desenvolvimento econômico, justiça social e soberania nacional.
Maior expressão dessa esperança - a revolução egípcia, liderada por Gamal Abdel Nasser, em 1952.
A Carta Nacional divulgada por Gamal Abdel Nasser em 1962 definia a doutrina do pan-arabismo, que deveria destruir as
fronteiras interestatais criadas pelas potências europeias e propiciar a "restauração da ordem natural de uma única nação". O Egito
de Nasser figuraria assim como uma entidade transitória: o instrumento para a edificação da "nação árabe".
Em 1969, o jovem Kadafi, formado na academia militar nos anos áureos do nasserismo, liderou o golpe antimonárquico para
inscrever a Líbia na moldura da revolução anunciada pelo Egito.
Nasser morreu em 1970, mas o nasserismo prosseguiu, sob Anwar Sadat, ainda por alguns anos e uma nova guerra árabe-
israelense.
A primeira morte do nasserismo se deu pela ruptura do Egito com a URSS e o subsequente tratado de paz com Israel.
Na década seguinte, enquanto no Egito a herança doutrinária de Nasser se dissolvia num antissemitismo caricato, a Líbia de
Kadafi, o "cachorro louco", proclamava guerra ao "imperialismo" e organizava atos de terror contra interesses ocidentais ao redor do
mundo. Agora, quando o tirano desaba, fecha-se de vez o ciclo inaugurado pela revolução pan-arabista.
O fim de Kadafi assinala a desmoralização das tiranias personalistas que derivam de sistemas de partido único e acabam por
lhes tomar o lugar. O modelo do regime de partido-Estado ancora-se no conceito de que o partido dirigente coagula uma verdade
histórica superior. No mundo árabe, os regimes de partido único apresentavam-se como condutores de uma caravana que avançava
rumo ao oásis da unidade pan-árabe. Invariavelmente, o modelo evoluía para ditaduras pessoais: Joseph Stalin, Mao Tsé-tung, Fidel
Castro, Gamal Abdel Nasser, Hafez Al-Assad, Saddam Hussein.
A ditadura nasserista no Egito, como as ditaduras baathistas implantadas na Síria, em 1963, e no Iraque, em 1968, reclamavam
uma legitimidade derivada da luta contra o imperialismo ocidental e sua suposta cabeça de ponte no mundo árabe, o Estado de Israel.
A supressão dos partidos de oposição, a repressão à dissidência interna, a interdição do debate político era justificada pelo imperativo
da unidade árabe.
As liberdades, no contexto dos nacionalismos emergentes, foram, porém, subestimadas, quando não, desprezadas. Era
preciso, argumentava-se, um movimento único, um partido só, uma única liderança, sem fraturas, para poder enfrentar com êxito os
inimigos externos. Os resultados, quase meio século depois, não poderiam ser mais decepcionantes.
Em vez da nação árabe unificada, um processo de fragmentação autofágico. No lugar das utopias nacionalistas, ditaduras
apoiadas nas forças armadas.
Nesta perspectiva, a onda atual é a cobrança de uma enorme dívida que se acumulou. Dívida social, expressa nas
reivindicações econômicas. Moral e nacional, na denúncia da corrupção e da submissão em relação às grandes potências. Mas
também dívida política, e eis aí um notável dado novo: as liberdades democráticas adquirem agora importância singular.
A nova revolução árabe não segue estandartes antiocidentais. O seu objetivo é a liberdade, a instituição do império da lei, o
fim da corrupção governamental e a redução das dificuldades econômicas, não a utopia geopolítica da "nação única".

A surpresa do Ocidente
De um lado, fortes preconceitos e de outro grandes interesses. Ou seja, tínhamos uma combinação complexa de fatores
que impediam o Ocidente de "ler" a realidade.

Os preconceitos
Os cientistas e acadêmicos ocidentais, seguidos apressadamente pela mídia, sempre declararam a inexistência de uma
"opinião pública" no Mundo Árabe. Mesmo no Egito, onde uma poderosa elite e uma importante classe média bem-educada, muitos
falantes de inglês, possuem raízes profundas, era negada qualquer possibilidade de existência de uma "sociedade civil". O mesmo se
aplicaria ao caso da Tunísia e da Líbia e demais países árabes. Os últimos acontecimentos no Egito, bem como com a eclosão da
revolta na Líbia, colocam por terra algumas teses tradicionais das ciências políticas e da percepção política e social do Mundo Árabe
pela opinião pública ocidental.
A tese, velha da Guerra Fria, sobre a pretensa "excepcionalidade árabe", da sua incapacidade para a democracia e, portanto,
a aceitação quase acrítica, pelo Ocidente, de todo tipo de ditadura pós-colonial (claro, sendo pró-ocidental) decorreu largamente dos
fortes sentimentos pós-coloniais sobre a incapacidade dos povos de passado colonial em organizarem-se de forma aberta, pacífica e
democrática. Assim, explicar-se-ia a ausência de democracia no Mundo Árabe em razão da ausência de uma sociedade civil
organizada e autônoma.
Claro, que o olhar dirigido pelo Ocidente ao Mundo Árabe era (e ainda é) baseado na sua própria história, nas experiências
vividas nas margens do Atlântico Norte, tais como a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789). Em face do fato de
que a história do Egito (bem como da Índia ou da China) não possuírem, pretensamente, experiências similares, concluía-se pela
impossibilidade da democracia ser implantada nos antigos países "coloniais". Assim, o Egito (e os demais países não-europeus) estaria

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condenado a viver regimes autoritários, a única forma de garantir a ordem e o progresso em face de massas atrasadas e, normalmente,
fanatizadas pelo Islã ou outra religião não cristã. Para os interesses ocidentais os regimes autoritários sendo "modernos" seriam
preferíveis a ascensão de regimes populares fanatizados. O próprio conceito de "opinião pública" foi, para os analistas ocidentais como
ressaltamos acima -, substituído pela ideia de "rua árabe". Apenas a rua, as praças e o bazar seriam locais de reunião e de troca de
opinião, em substituição precária e esporádica da noção ocidental de "opinião pública", incapaz de se constituir em virtude da pretensa
inexistência de uma "sociedade civil" árabe.
Um outro preconceito, aceito sem debates no Ocidente, é a certeza de que os movimentos sociais no Mundo Árabe, quando
movimentos de massa, são sempre islâmicos radicais. O que vemos hoje apesar do claro processo de re-islamização das sociedades
árabes pós-coloniais é uma explosão de ideais e projetos de futuro, em busca de uma vida melhor, adequando islamismo e bem-estar
social. A "onda islamizante", dominante entre os anos 80 e 90 do século XX, já passou. Os jovens que protestam no Cairo são irmãos,
daqueles que protestam em Teerã contra a ditadura dos aiatolás. Embora tenhamos assistido durante os anos de 1970 e de 1980 um
forte movimento de re-islamização das sociedades árabes, incluindo aí o Egito, a ideia de um Islã político de militante perdeu força e
a maioria da população prefere abandonar o integrismo dos anos iniciais dos movimentos de cunho salafita, wahabita ou mesmo da
Irmandade Muçulmana por uma distinção clara entre religião e política. Na Praça Tahrir, em Túnis ou Bengazi não se viam cartazes
ou slogans pedindo o estabelecimento da Shari´a, a extinção de Israel ou de ódio aos Estados Unidos. As palavras de ordem e as
exigências foram todas em duas direções: de um lado a liberdade política e participação e, de outro, a crítica às condições sociais e a
corrupção. Neste sentido os protestos em Túnis, Cairo, Bengazi ou Sanaa são extremamente modernos e em nada diferem dos
protestos que derrubaram as ditaduras europeias nos anos de 1970 ou as ditaduras latino-americanas na década seguinte,
inaugurando sistemas políticos modernos nestas regiões. As repetitivas falas de líderes como Kadafi de que o movimento popular de
revolta é conduzido ou manipulado pelos fundamentalistas ou mesmo pela Al-Qaeda é apenas uma forma de assustar o Ocidente e
as camadas sociais mais progressistas árabes para que se conformem com as brutais ditaduras existentes. Mesmo a Irmandade
Muçulmana, no Egito, levou vários dias para manifestar seu apoio aos revoltosos, com a mesma preocupação dos setores
conservadores da "ulemá" (o clero), posto que revolta afastaria, ainda mais, a "umma" - o conjunto dos fiéis - do ideal do Estado
islâmico regido pela Shari´a. A geração islamita radical não está no Cairo e sim em Kandahar, no Afeganistão.

Os interesses
Os Estados Unidos mantiveram até a vigésima quinta hora sua portentosa ajuda militar a Hosni Mubarak (Egito) e mesmo no
limite de tolerável sustentaram uma "transição com Mubarak", como modelo de democratização local. A França, ex-potência colonial
na Tunísia (domínio francês entre 1881 e 1956), manteve até o final o apoio ao ditador Ben Ali, a ministra da defesa francesa não só
passou férias no país enquanto a ditadura começava a repressão, como ainda ofereceu ajuda "antimotins" e acabou comprando uma
casa de veraneio de uma empresa do ditador Ben Ali (no poder em Túnis desde 1987). A Itália, por sua vez, mantinha fortes interesses
representados por um convênio da empresa ENI no petróleo líbio.

As questões estratégicas e securitárias


A manutenção e controle do livre acesso entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico através do Canal de Suez – esta via
básica do comércio e da segurança regional, reaberta ao tráfego internacional e operada pelo Egito desde os Acordos de Camp David
(em 1978), garante o fluxo de energia para a Europa, as operações de combate contra a ”nova pirataria” (Iêmen, Somália) e as
operações de controle e segurança entre a frota americana nos dois mares da região, o Mediterrâneo e o Golfo Pérsico, através do
Mar Vermelho.

A questão da migração
O controle de imigração para a Europa, em especial para a Itália (líbios, tunisianos), França e Bélgica (tunisianos) Grécia
(egípcios e tunisianos) e Inglaterra (egípcios e líbios) é uma das preocupações maiores da União Europeia. A possibilidade de vagas
de imigrantes pobres do Maghreb – bem ao contrário dos ricos membros da cleptocracia tunisiana e egípcia assíduos em Roma, Paris,
Londres e nas praias espanholas – seria uma tragédia para a União Europeia, colocando em risco o chamado Espaço de Schengen,
instituto que garantiria a livre circulação de pessoas no interior da UE. Cabe ressaltar que vários governos conservadores da UE, como
Berlusconi na Itália e Sarkozy na França, trataram a migração árabe, desde o início de seus mandatos, como um problema securitário
da comunidade, associando migrantes com desemprego e criminalidade.

A segurança de Israel
A preocupação com a segurança de Israel foi, no caso dos Estados Unidos, um foco inicial bastante relevante de
posicionamento frente a Revolta Árabe, com os anseios populares árabes subordinados às questões securitárias ligadas à aliança
Washington-Tel Aviv. A diplomacia israelense pressionou fortemente Washington para manter o apoio a Mubarak e afastar-se de um
processo de democratização do Maghreb, chegando a gerar intenso debate entre o posicionamento de Hillary Clinton e Susan Rice
(embaixadora na ONU), do vice-presidente Joe Biden - que chegou a defender a permanência de Mubarak em plena revolta - e do
próprio Obama, inclinado a apoiar, sem intervenção militar, a revolta popular.
Somente depois do inevitável desfecho é que Israel, através de seu presidente Shimon Peres – uma voz pregando no deserto!
– fez um largo elogio ao movimento popular árabe. Aqui reside uma questão-chave: eleições livres e representativas no Egito e na
Tunísia (assim como seria na Síria e Jordânia) devem forjar maiorias tão críticas a Israel quanto o AKP na Turquia do premier Erdogan.
O caso da Turquia é um paradigma ainda insuperável: a ascensão ao poder em Ankara, em 2002, do Partido da Justiça e do
Desenvolvimento/AKP, islamista conservador e democrático, resultou na quebra da colaboração turco-israelense e no surgimento,
para Israel, de uma nova frente de críticas e de graves crises internacionais culminando no ataque israelense contra a flotilha turca de
ajuda aos palestinos em 2010.
De qualquer forma, no médio prazo, as revoltas árabes são um grave risco para Israel. A propaganda política mais comum –
“Israel, a única democracia do Oriente Médio” – e muito sensível na Europa e Estados Unidos, irá por água abaixo. Por outro lado, a
insistência numa visão de Israel como um acampamento militar cercado por inimigos será duramente criticada, inclusive internamente.
A existência de regimes representativos no Cairo, em Tunis, em Beirute e quiçá em Damasco e, num futuro, em Teerã terá um desfecho
certo sobre os palestinos. Novas eleições gerais darão, sem dúvida, uma maioria às forças mais moderadas e que buscam uma
solução negociada e definitiva. Assim, a direita nacionalista no poder em Tel Aviv ficará cada vez mais isolada e sem programas.

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A questão do petróleo
O Egito e a Tunísia não são grandes produtores de petróleo, sendo sua produção residual em relação aos vizinhos. Contudo,
o impacto da revolta egípcia se faz claramente sobre o fluxo de comércio mundial – incluindo aí petróleo – através do Canal de Suez
e, ao mesmo tempo, sobre o risco de fechamento da via por generalização de conflitos internos ou antipatia com o Estado de Israel.
Estas possibilidades, mesmo remotas, já influíram visivelmente na cotação do barril no início da rebelião popular egípcia.
O efeito dominó do aumento dos preços do petróleo deverá incidir, por sua vez, fortemente sobre commodities agrícolas,
impulsionando ainda mais a inflação mundial e gerando “bolhas” especulativas setoriais.
Entretanto, o caso da Líbia é bastante diferente – as reservas líbias de petróleo alcançam 47 bilhões de barris, enquanto as
egípcias somam apenas 4,3 bilhões de barris. Sua produção é parte integrante da produção mundial do sistema de cotas da OPEP e
a paralisação, mesmo parcial, incidiu já fortemente sobre a cotação do petróleo. O aumento da produção da Arábia Saudita, e
suplementarmente do Qatar e a Nigéria, para preencher o fornecimento líbio foi, desde 27/02/2011, uma medida emergencial para
evitar maiores sobressaltos no mercado.
Embora os Estados Unidos não sejam grandes compradores na região, suas empresas são grandes operadoras e estão
diretamente envolvidas na crise. O principal prejudicado no caso são as economias europeias, já duramente atingidas pela crise
financeira comunitária, pela vaga de migrantes, e agora pelo preço da energia. Caso a crise perdure ou alastra-se para a Argélia –
grande exportador de gás natural com reservas de 59.67 bilhões de metros cúbicos, o que a faz o quarto exportador mundial, mormente
para a França e Espanha – a segurança energética global será duramente afetada.

O futuro do mundo árabe


Como sempre, é mais fácil derrubar uma autocracia do que construir e consolidar um regime democrático. Quando o comunismo
desmoronou na Europa Oriental, seus velhos sistemas, apesar de algumas diferenças óbvias, tinham as mesmas características: eram
ditaduras de partido único com controle estatal sobre a economia, o sistema educacional e a mídia. Hoje, eles são muito diferentes
uns dos outros. A Polônia, a República Tcheca e a Hungria, por exemplo, conseguiram uma transição bem sucedida para a democracia
e para uma economia de mercado funcional. A Rússia reverteu a um sistema neo-autoritário. As ex-repúblicas soviéticas da Ásia
Central desenvolveram, todas, diferentes formas "sultanísticas" de governo.
A razão para essas diferenças é simples: transição democrática exige não apenas eleições, mas também de várias
precondições - uma sociedade civil vibrante; tradições anteriores, sejam reais ou recordadas, de representatividade, pluralismo,
tolerância e individualismo; um papel limitado da religião e um quadro institucional eficaz para um sistema multipartidário. Se essas
condições existirem, uma transição para a democracia pode ser bem sucedida, onde elas estão ausentes, as chances - como na
Rússia - de uma transição bem sucedida para uma democracia consolidada são escassas.
A evolução dos acontecimentos no Egito é crucial, não apenas porque é o maior país árabe, mas também porque algumas das
precondições necessárias parecem ter presença mais forte lá do que no resto da região. No entanto, mesmo no Egito, os desafios são
enormes. Com eleições antecipadas convocadas para setembro, existem sérias dúvidas sobre se os grupos de oposição terão tempo,
meios e experiência para organizar partidos políticos eficazes.
No momento, apenas o Exército - que efetivamente governou o país desde 1952 - e a Irmandade Muçulmana, que tem a maior
das redes sociais, parecem capazes de atuação consequente. O Exército, cujo monopólio do poder, paradoxalmente, é legitimado
pelas manifestações maciças que derrubaram Mubarak, está disposto a abandonar a influência política e econômica que acumulou ao
longo de décadas?
Comenta-se sobre um modus vivendi possível entre o Exército e a Irmandade Muçulmana. De fato, alguns militantes já estão
de volta à praça Tahrir manifestando-se contra tal aliança incongruente, embora possível. Na Líbia, se Gadafi cair, poderá um país tão
tribalizado possuir os elementos construtivos necessários para o funcionamento de uma democracia?
A questão, devemos enfatizar, não é o Islã em si mesmo: na Europa, a Igreja Católica foi durante muito tempo o maior inimigo
da democracia e do liberalismo. Mas os partidos Democratas Cristãos são hoje um dos pilares da democracia europeia. Como as
igrejas cristãs, o Islã também pode mudar, e a Indonésia e a Turquia poderão muito bem ser exemplos de tal possibilidade. Mas um
contexto em que um grupo de fundamentalistas islâmicos, como a Irmandade Muçulmana, é a mais forte organização na sociedade,
com escassos poderes antagônicos efetivos, cria graves problemas. O fim de Kadafi joga mais um facho de luz sobre a facilidade com
que o Ocidente imola posições de princípio no altar das conveniências geopolíticas circunstanciais. O tirano operou como elo de
articulação logística de variados grupos terroristas, ordenou a explosão do voo da Pan Am em Lockerbie, financiou milícias de
mercenários no Chade e no Sudão, ajudou a montar as máquinas genocidas de Idi Amin, em Uganda, e Mengistu Mariam, na Etiópia,
treinou o sanguinário exército de Charles Taylor na Serra Leoa. Nada disso evitou uma ignóbil "reabilitação", negociada pela CIA em
2003, na moldura da "guerra ao terror", e conduzida por Washington, Londres e Roma.
O que se disputa hoje nas cidades árabes é o futuro. A conciliação entre Islã e democracia, lançando por terra prateleiras
inteiras de "saber ocidental", encontra-se hoje, no Cairo, com seu próprio destino. Trata-se de desmentir, de um lado, a tradição
ocidental baseada no pretenso exotismo do Oriente, e, de outro, das versões integristas do próprio Islã. A novidade surgiu das ruas.
Conforme a proclamação do Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito, busca-se hoje a construção de um sistema "em que a
liberdade do ser humano, o império da lei, a fé no valor da igualdade, a democracia plural, a justiça social e a erradicação da corrupção
constituam as bases da legitimidade de qualquer sistema de governo que dirija o país".

O caso da Síria
A conquista da maior parte da capital da Líbia, Trípoli, por rebeldes marcou um avanço histórico para os movimentos
revolucionários no Oriente Médio, mas a extensão do impacto depende de como o sucesso dos líbios influenciará uma rebelião que
pode ser até mais importante, na Síria.
Embora os rebeldes ainda enfrentem resistência, sua marcha na capital da Líbia provavelmente será vista na região como uma
lição de que nem mesmo a brutalidade desmedida do governo pode deter cidadãos cansados com décadas de abusos de regimes
autoritários.
Isso é um mau presságio para o presidente da Síria, Bashar al-Assad, que tem bombardeado cidades rebeldes, numa tentativa
de acabar com um levante parecido e que já dura seis meses. Já há sinais de que a Líbia está inspirando os rebeldes que tentam
derrubá-lo.

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Manifestantes sírios tomaram as ruas cantando "Gadafi hoje, Bashar amanhã". Rami Nakhle, um ativista que integra as
Comissões Locais de Coordenação da oposição síria, disse que se sentiu motivado quando viu na TV via satélite o comício dos líderes
rebeldes vitoriosos na praça central de Trípoli - especialmente quando os líbios cantaram marchas em solidariedade aos manifestantes
pró-democracia da Síria.
Há diferenças cruciais entre Líbia e Síria, e o modelo da Líbia será difícil de reproduzir em Damasco. Os rebeldes líbios
conseguiram vencer apenas graças a uma ampla intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Esse tipo de envolvimento
militar parece altamente improvável no caso da Síria, um país com um exército mais apto, mais aliados e que pode desencadear um
conflito regional atraindo Israel para uma guerra.
Além disso, o ataque ao líder líbio Muamar Gadafi, bem como o destino desastroso dos líderes depostos Hosni Mubarak, no
Egito, e Zine el-Abidine Ben Ali, na Tunísia, pode persuadir Assad a simplesmente se entrincheirar ainda mais para salvar a própria
pele. No fim das contas, os acontecimentos na Líbia podem apenas aprofundar o conflito na Síria: incentivando os dissidentes ao
mesmo tempo em que fortalecem a disposição de Assad de resistir no poder.
Diferentemente da Líbia, que fica geográfica e politicamente na fronteira do mundo árabe e que tem sido comandada por um
líder errático que vive à margem da política árabe, a Síria está no coração do Oriente Médio. Seu destino é crucial não apenas para a
luta entre israelenses e palestinos, mas também para o poder do Irã, um país que a Síria sempre apoiou totalmente mesmo diante da
desaprovação de outros países árabes.
A chave para conseguir derrubar o regime da Síria - uma meta que o presidente americano, Barack Obama, abraçou na semana
passada - provavelmente reside na pressão diplomática e econômica, e não na pressão militar externa, dizem muitos analistas.
Sanções impostas semana passada contra as exportações sírias de petróleo podem ter o maior impacto. Calcula-se que o regime de
Assad obtenha cerca de um terço de sua receita com a venda de petróleo para a Europa.
Alguns observadores acreditam que a combinação de pressões políticas e econômicas como essas e o exemplo da Líbia podem
selar o destino de Assad de qualquer jeito.
Além da Síria, a nova dose de entusiasmo criada pelo levante líbio pode repercutir na região. As autoridades americanas
anseiam especialmente que ajude a revigorar os protestos no Irã contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Há 30 anos que a Síria é o aliado estratégico mais próximo do Irã no Oriente Médio. O desafio crescente ao regime de Assad,
acreditam autoridades americanas, pode motivar as forças democráticas no Irã.
Ver a queda do regime de Gadafi, se isso de fato ocorrer, também pode reacender os levantes no Bahrein e no Iêmen, dizem
analistas e diplomatas, e talvez até incentivar novos levantes em países relativamente intocados pela turbulência na região, como
Argélia, Marrocos e Jordânia.
A violência que irrompeu na Líbia em fevereiro encerrou o que inicialmente parecia uma onda de levantes pacíficos por
democracia na região. Na vizinha Tunísia e no Egito, os Exércitos locais se negaram a seguir ordens de atirar em manifestantes
desarmados, em janeiro, o que levou à queda dos presidentes Zine el-Abidine Ban Ali e de Hosni Mubarak.
Mas na Síria, e também na Líbia, os soldados não tiveram o mesmo pudor. Calcula-se que o regime de Assad já tenha matado
2 mil pessoas. Em Bahrein, uma intervenção militar liderada pela Arábia Saudita ajudou a acabar com os protestos em março. O
presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, até agora tem resistido à pressão para deixar o poder e empurrou seu país para o limiar de
uma guerra civil.
A força militar da Otan criou um caminho diferente para os rebeldes na Líbia, mesmo enquanto os insurgentes sofriam no
restante da região. Um bombardeio aéreo da Otan em março impediu que os soldados de Gadafi conquistassem Bengasi, a capital
rebelde. Depois disso, aviões da Otan praticamente se tornaram a força aérea dos rebeldes, coordenando ataques com as forças
terrestres dos insurgentes. Enquanto isso, navios da Otan mantiveram o trânsito marítimo aberto para a cidade sitiada de Misrata.
A esta altura, pelo menos, tal intervenção ocidental não está nos planos para a Síria, um país com uma população três vezes
maior que a da Líbia, uma mistura volátil de religiões e etnias, e um conflito não resolvido com o vizinho Israel.
Assad não tem só inimigos. Ele conta com o apoio da minoria alauíta, uma ramificação do islamismo xiita a que ele e grande
parte da elite síria pertencem, e seu regime ainda mantém uma certa lealdade da classe empresarial sunita e de minorias religiosas
como os cristãos e os drusos.
Ao contrário do coronel Gadafi, geralmente isolado, Assad também conta com poderosos aliados regionais. Além do Irã, o
governo sírio tem amigos na milícia xiita do Hizbollah, que desempenha um papel importante no governo do Líbano, e mesmo dentro
do governo dominado pelos xiitas do Iraque, diz Abdallah Bou Habib, ex-embaixador libanês para Washington e diretor do centro de
pesquisa Issam Fares, de Beirute.

EXERCÍCIOS

01. Embora não haja, nos dias atuais, os conflitos do contexto bipolar da Guerra Fria, vários conflitos e estados de tensão cobrem o
espaço geográfico mundial.

Sobre esses conflitos e situações de tensão NÃO está correto afirmar que:

(A) a Rússia enfrenta, desde os anos 90, movimentos separatistas, como o da Chechênia, localizada no Cáucaso, uma das regiões
mais conflituosas do mundo por causa da enorme diversidade étnico-religiosa;
(B) o Iraque, em consequência da invasão liderada por tropas norte-americanas, em 2003, vive um clima de guerra civil que levou à
dissolução do exército iraquiano e ao atual colapso da capacidade administrativa do Estado;
(C) os palestinos lutam pela formação de um Estado nacional enfrentando o Estado de Israel em disputas por território como as da
faixa de Gaza;
(D) o Irã desenvolve um programa nuclear para conquistar uma posição de potência regional, apesar das ameaças do Ocidente e das
sansões econômicas que lhe foram impostas pela ONU;
(E) o Afeganistão enfrenta uma guerra civil tentando se libertar do grupo radical Talibã, que ocupa o poder após o longo período de
domínio do país pela ex-União Soviética.

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02. Na América do Sul, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) lutam, há décadas, para impor um regime de
inspiração marxista no país. Hoje, são acusadas de envolvimento com o narcotráfico, o qual supostamente financia suas ações, que
incluem ataques diversos, assassinatos e sequestros. Na Ásia, a Al-Qaeda, criada por Osama bin Laden, defende o fundamentalismo
islâmico e vê nos Estados Unidos da América (EUA) e em Israel inimigos poderosos, os quais deve combater sem trégua. A mais
conhecida de suas ações terroristas ocorreu em 2001, quando foram atingidos o Pentágono e as torres do World Trade Center.

A partir das informações acima, conclui-se que:

(A) as ações guerrilheiras e terroristas no mundo contemporâneo usam métodos idênticos para alcançar os mesmos propósitos.
(B) o apoio internacional recebido pelas Farc decorre do desconhecimento, pela maioria das nações, das práticas violentas dessa
organização.
(C) os EUA, mesmo sendo a maior potência do planeta, foram surpreendidos com ataques terroristas que atingiram alvos de grande
importância simbólica.
(D) as organizações mencionadas identificam-se quanto aos princípios religiosos que defendem.
(E) tanto as Farc quanto a Al-Qaeda restringem sua atuação à área geográfica em que se localizam, respectivamente, América do Sul
e Ásia.

03. Em 1947, a Organização das Nações unidas (ONU) aprovou um plano de partilha da Palestina que previa a criação de dois
estados: um judeu e outro palestino. A recusa árabe em aceitar a decisão conduziu ao primeiro conflito entre Israel e países árabes.
A segunda guerra (Suez, 1956) decorreu da decisão egípcia de nacionalizar o canal, ato que atingia interesses anglo-franceses e
israelenses. Vitorioso, Israel passou a controlar a península do Sinai. O terceiro conflito árabe-israelense (1967) ficou conhecido como
Guerra dos seis Dias, tal a rapidez da vitória de Israel. Em 6 de outubro de 1973, quando os judeus comemoravam o Yom Kippur (Dia
do Perdão), forças egípcias e sírias atacaram de surpresa Israel, que revidou de forma arrasadora. A intervenção americano-soviética
impôs o cessar-fogo, concluído em 22 de outubro.

A partir do texto acima, assinale a opção correta.

(A) A primeira guerra árabe-israelense foi determinada pela ação bélica de tradicionais potências europeias no Oriente Médio.
(B) Na segunda metade dos anos 1960, quando explodiu a terceira guerra árabe-israelense, Israel obteve rápida vitória.
(C) A guerra do Yom Kippur ocorreu no momento em que, a partir de decisão da ONU, foi oficialmente instalado o estado de Israel.
(D) A ação dos governos de Washington e de Moscou foi decisiva para o cessar-fogo que pôs fim ao primeiro conflito árabe-israelense.
(E) Apesar das sucessivas vitórias militares, Israel mantém suas dimensões territoriais tal como estabelecido pela resolução de 1947
aprovada pela ONU.

04. Subindo morros, margeando córregos ou penduradas em palafitas, as favelas fazem parte da paisagem de um terço dos municípios
do país, abrigando mais de 10 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível em: <www.revistaescola.abril.com.br>. Acesso em: 31 jul. 2010.
A situação das favelas no país reporta a graves problemas de desordenamento territorial. Nesse sentido, uma característica comum
a esses espaços tem sido:

(A) o planejamento para a implantação de infraestruturas urbanas necessárias para atender às necessidades básicas dos moradores.
(B) a organização de associações de moradores interessadas na melhoria do espaço urbano e financiadas pelo poder público.
(C) a presença de ações referentes à educação ambiental com consequente preservação dos espaços naturais circundantes.
(D) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes ou desmoronamentos com consequentes perdas materiais e humanas.
(E) o isolamento socioeconômico dos moradores ocupantes desses espaços com a resultante multiplicação de políticas que tentam
reverter esse quadro.

05. O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente receptivo aos novos fenômenos da urbanização, já que era praticamente
virgem, não possuindo infraestrutura de monta, nem outros investimentos fixos vindos do passado. Pôde, assim, receber uma
infraestrutura nova, totalmente a serviço de uma economia moderna.
Adaptado de: SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2005.

O texto trata da ocupação de uma parcela do território brasileiro. O processo econômico diretamente as sociado a essa ocupação foi
o avanço da:

(A) industrialização voltada para o setor de base.


(B) economia da borracha no sul da Amazônia.
(C) fronteira agropecuária que degradou parte do Cerrado.
(D) exploração mineral na Chapada dos Guimarães.
(E) extrativismo na região pantaneira.

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06. O crescimento rápido das cidades nem sempre é acompanhado, no mesmo ritmo, pelo atendimento de infraestrutura para a
melhoria da qualidade de vida. A deficiência de redes de água tratada, de coleta e tratamento de esgoto, de pavimentação de ruas,
de galerias de águas pluviais, de áreas de lazer, de áreas verdes, de núcleos de formação educacional e profssional, de núcleos de
atendimento médico-sanitário é comum nessas cidades.
Adaptado de: ROSS, J. L.S. (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009.

Sabendo que o acelerado crescimento populacional urbano está articulado com a escassez de recursos financeiros e a dificuldade de
implementação de leis de proteção ao meio ambiente, pode-se estabelecer o estímulo a uma relação sustentável entre conservação
e produção a partir:

(A) do aumento do consumo, pela população mais pobre, de produtos industrializados para o equilíbrio da capacidade de consumo
entre as classes.
(B) da seleção e recuperação do lixo urbano, que já é uma prática rotineira nos grandes centros urbanos dos países em
desenvolvimento.
(C) da diminuição acelerada do uso de recursos naturais, ainda que isso represente perda da qualidade de vida de milhões de pessoas.
(D) da fabricação de produtos reutilizáveis e biodegradáveis, evitando-se substituições e descartes, como medidas para a redução da
degradação ambiental.
(E) da transferência dos aterros sanitários para as partes mais periféricas das grandes cidades, visando-se à preservação dos
ambientes naturais.

07.. Em um debate sobre o futuro do setor de transporte de uma grande cidade brasileira com trânsito intenso, foi apresentado um
conjunto de propostas. Entre as propostas reproduzidas abaixo, aquela que atende, ao mesmo tempo, a implicações sociais e
ambientais presentes nesse setor é:

(A) proibir o uso de combustíveis produzidos a partir de recursos naturais.


(B) promover a substituição de veículos a diesel por veículos a gasolina.
(C) incentivar a substituição do transporte individual por transportes coletivos.
(D) aumentar a importação de diesel para substituir os veículos a álcool.
(E) diminuir o uso de combustíveis voláteis devido ao perigo que representam.

08. A metrópole industrial do passado integrava no espaço urbano diversos processos produtivos, ocorrendo uma concentração
espacial das plantas de fábrica, da infraestrutura e dos trabalhadores. Na metrópole contemporânea predomina uma dispersão
territorial das atividades econômicas e da força de trabalho. Nesta, a produção fabril tende a se instalar na periferia ou nos arredores
do perímetro urbano, enquanto as atividades associadas ao poder financeiro, político e econômico concentram-se na área urbana
mais adensada.
Adaptado de: MATOS, Carlos de. Redes, nodos e cidades: transformação da metrópole latino-americana. In: RIBEIRO, Luiz Cesar
de Queiroz (Org.). Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito. São Paulo: Perseu Abramo; Rio de
Janeiro: Fase, 2004. 157-196.
Como principal característica da metrópole contemporânea, destaca-se:

(A) a concentração da atividade industrial e das funções administrativas das empresas no mesmo local.
(B) o aumento da densidade demográfica nas áreas do antigo centro histórico da metrópole.
(C) a concentração do poder decisório da administração pública e das empresas em uma única área da metrópole.
(D) a diversificação das atividades comerciais e de serviços na área do perímetro urbano.

09. A cidade tem sido sempre o lugar da liberdade, um lugar de refúgio para os pobres e desenraizados. E para minorias de todos os
tipos, que encontraram proteção na cidade […] A diversidade de origem é uma constante da população das cidades. A cidade tem
sido com frequência o espaço da coexistência e da mestiçagem. Isso não foi produzido sem dor e dificuldades. Porém, tem gerado
sempre consequências positivas para as áreas urbanas e para o desenvolvimento da cultura em geral. Sempre nas cidades essa
diversidade tem sido maior que nas áreas rurais e, maior nas grandes cidades do que nas pequenas. E tudo isso em todas as épocas,
países e culturas.
CAPEL, Horacio. Los inmigrantes en la ciudad. Crecimiento económico, innovación y conflicto social [Os imigrantes na cidade.
Crescimento econômico, inovação e conflito social]. Scripta Nova. revista electrónica de Geografía y Ciencias sociales. Barcelona:
universidad de Barcelona, n. 3, 1 de mayo de 1997. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn-3.htm>. Acesso em: 11 out. 2011.

Considerando o texto, é correto afirmar que

(A) é da natureza das grandes cidades a diversidade cultural e étnica, visto que não há grandes populações urbanas homogêneas, já
que as cidades, em razão de suas múltiplas atividades e possibilidades, têm um poder de atração bastante abrangente.
(B) grandes cidades, quanto mais desenvolvidas, notabilizam-se por terem populações homogêneas do ponto de vista étnico e cultural,
isso porque há dificuldades para o desenvolvimento, quando se depende de relações entre pessoas muito diferentes.
(C) a generosidade na recepção de imigrantes é uma condição que as cidades modernas perderam, na Europa, e também no Brasil,
em vista dos encargos que os imigrantes impõem, sem retorno econômico equivalente.
(D) as inevitáveis dificuldades de convivência nas cidades entre os imigrantes e os nativos agravam-se quando a imigração é
estrangeira, pois se nacional ela é recebida sem preconceitos, como ocorre na metrópole de São Paulo.
(E) o fenômeno migratório gerou nas cidades modernas muita riqueza econômica e cultural, mas atualmente isso não mais ocorre,
pois a fase original de povoamento das grandes cidades já foi completada e atualmente elas não comportam novos contingentes
populacionais.

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10. A urbanização – o aumento da parcela urbana na população total – é inevitável e pode ser positiva. A atual concentração da
pobreza, o crescimento das favelas e a ruptura social nas cidades compõem, de fato, um quadro ameaçador. Contudo, nenhum país
na era industrial conseguiu atingir um crescimento econômico significativo sem a urbanização. As cidades concentram a pobreza, mas
também representam a melhor oportunidade de se escapar dela.
Situação da população Mundial 2007: desencadeando o potencial de crescimento urbano. Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA), 2007. p. 1.
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação coerente com os argumentos do texto:

(A) no mundo contemporâneo, os governos devem substituir políticas públicas voltadas ao meio rural por políticas destinadas ao meio
urbano.
(B) A urbanização só terá efeitos positivos nas economias mais pobres se for controlada pelos governos, por meio de políticas de
restrição ao êxodo rural.
(C) A concentração populacional em grandes cidades é uma das principais causas da disseminação da pobreza nas sociedades
contemporâneas.
(D) nos países mais pobres, o processo de urbanização é responsável pelo aprofundamento do ciclo vicioso da exclusão econômica
e social.
(E) Os benefícios da urbanização não são automáticos, pois há necessidade da contribuição das políticas públicas para que eles se
realizem.

11. Com a acelerada urbanização da humanidade e o advento de gigantescas aglomerações urbanas, os especialistas no tema e as
organizações internacionais logo criaram novos conceitos para dar conta dessas realidades. Dentre eles, existem os conceitos de
“megalópole”, “megacidade” e “cidade global”. A respeito desses conceitos, seria correto afirmar que:

I. Megalópole é uma gigantesca aglomeração urbana, com mais de 10 milhões de habitantes e onde há conurbação de inúmeras
cidades vizinhas.
II. Cidade global é uma imensa área urbana com uma população de, no mínimo, 10 milhões de habitantes.
III. Megacidade é uma gigantesca aglomeração urbana com, no mínimo, 10 milhões de habitantes.
IV. Megalópole é uma região superurbanizada onde, numa pequena extensão de um território nacional, se concentram várias cidades
milionárias, que possuem uma vida econômica bastante interligada.

São verdadeiras as afirmativas:

(A) Apenas I e II.


(B) Apenas II e III.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e IV.
(E) I, II, III e IV.

12. O Brasil experimentou, na segunda metade do século 20, uma das mais rápidas transições urbanas da história mundial. Ela
transformou rapidamente um país rural e agrícola em um país urbano e metropolitano, no qual grande parte da população passou a
morar em cidades grandes. Hoje, quase dois quintos da população total residem em uma cidadede pelo menos um milhão de
habitantes.
Adaptado de: MARTINE, George; MCGRANAHAN, Gordon. A transição urbana brasileira: trajetória, dificuldades e lições aprendidas.
In: BAENINGER, Rosana (Org.). População e cidades: subsídios para o planejamento e para as políticas sociais. Campinas:
Nepo/Brasília: UNFPA, 2010. p. 11.
Considerando o trecho acima, as sinale a alternativa correta.

(A) A partir de 1930, a ocupação das fronteiras agrícolas (na Amazônia, no Centro-Oeste, no Paraná) foi o fator gerador de
deslocamentos de população no Brasil.
(B) uma das características mais marcantes da urbanização no período 1930-1980 foi a distribuição da população urbana em cidades
de diferentes tamanhos, em especial nas cidades médias.
(C) Os últimos censos têm mostrado que as grandes cidades (mais de 500 mil habitantes) têm tido crescimento relativo mais acelerado
em comparação com as médias e as pequenas.
(D) Com a crise de 1929, o Brasil voltou-se para o desenvolvimento do mercado interno através de uma industrialização por
substituição de importações, o que demandou mão de obra urbana numerosa.

13. Artigo 25, parágrafo 3º – Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução
de funções públicas de interesse comum.
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <www.planalto.gov.br>.
O Brasil possui atualmente três regiões integradas de Desenvolvimento − ride, um tipo especial de região metropolitana que só pode
ser ins tituída por legislação federal. Esta característica é explicada pelo fato de a integração decorrente das Ride estar associada a:

(A) unidades estaduais diferentes.


(B) áreas de fronteira internacional.
(C) espaços de preservação ambiental.
(D) complexos industriais estratégicos.

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14. Até 1970, a região metropolitana de São Paulo foi a “Pasárgada” brasileira: ali se instalaram as principais indústrias, com os
melhores empregos. Com a crise de 1980 e a interrupção do ciclo de expansão econômica do país, ocorreu uma reestruturação do
mercado de trabalho, e o mapa migratório brasileiro começou a apontar para novas direções.
Adaptado de: JUTTEL, L. P. Rotas migratórias: norte e Centro-Oeste, novos polos de migração. Ciência e Cultura, v. 59, n. 4, 2007.

Com relação ao assunto tratado no texto acima, julgue os itens subsequentes.

(A) Verifica-se, na reestruturação da rede urbana brasileira, motivada por fluxos migratórios, o crescimento de cidades de porte médio
que aumentam seu raio de influência.
(B) Apesar de ter representado, no passado, um estímulo à interiorização da população brasileira, o Distrito Federal chegou ao século
XXI sem que tivesse sido consolidada uma região metropolitana na região Centro-Oeste.
(C) O fluxo de sulistas em direção à região Norte, em consonância com o avanço da fronteira agrícola, contribuiu para o crescimento
da população no campo e, ao mesmo tempo, retardou o processo de urbanização da região.
(D) em 1973, a crise do petróleo, em decorrência de mais um conflito árabe-israelense, interferiu no ritmo do denominado milagre
brasileiro, o que abriu espaço a ação oposicionista mais contundente.
(E) entre as novas rotas de fluxo populacional, inclui-se a chamada migração de retorno, caracterizada pela saída dos centros urbanos
e volta ao campo.

15. O índice de urbanização no Brasil é muito elevado, cerca de 80% de toda a população reside em ambientes urbanos. A cidade
tornou-se palco das diferenças sociais, onde uma parte das áreas periféricas (aquelas que não são ocupadas pelos condomínios
horizontais fechados, por exemplo) sofre com a falta de infraestrutura e serviços básicos. Não bastando isso, a ocupação de áreas irr
gulares coloca a população de baixo poder aquisitivo em uma efetiva situação de risco, tornando-a vulnerável a situações de desastres,
como a que aconteceu no morro do Bumba, em Niterói, no Rio de Janeiro, no início do mês de abril de 2010.

Sobre esse assunto, analise as alternativas a seguir e assinale a INCORRETA.

(A) A expansão urbana baseia-se em dois tipos principais de ocupação habitacional: os loteamentos regulares, com projeto aprovado
pelas administrações municipais, e as ocupações irregulares (invasões) de terrenos privados e públicos. As ocupações
irregulares têm ocorrido especialmente nas encostas de grande declividade, com a implantação de arruamento precário, sem
proteção e moradias precárias.
(B) A segunda metade do século XX marcou a aceleração do processo de urbanização no Brasil e, entre as consequências deste
processo, destacam-se a formação de regiões metropolitanas, a verticalização e adensamento das áreas já urbanizadas e a
expansão urbana para as áreas periféricas.
(C) Os processos de expansão urbana, periferização e periurbanização têm fortes impactos socioambientais, dentre eles: o aumento
das jornadas entre o centro e as áreas periféricas, ocasionando o aumento do trânsito e da poluição do ar; a ausência de
saneamento básico e um forte processo de desmatamento e degradação ambiental.
(D) A ocupação e a expansão das periferias urbanas são estimuladas pela retenção especulativa de terrenos em áreas mais bem
localizadas, cujo acesso é para todos, devido ao alto valor a ser pago pelas infraestruturas instaladas. No processo de
segregação espacial, o solo urbano torna-se uma mercadoria disputada por diferentes agentes sociais e econômicos urbanos,
que utilizam de estratégias mercantis para valorizar todas as áreas do espaço urbano.

16. Quinta-feira, 14 de novembro de 1991 Para os chechenos, russos impõem “terror real” O presidente da Checheno-Ingusheia
(Cáucaso, sul da Rússia) declarou ontem que a Rússia prepara uma campanha desestabilizadora contra seu país. O Parlamento
russo exigiu uma “solução pacífica” e o envio de um grupo de deputados para a negociação.
Segunda-feira, 18 de novembro de 1991 Sérvios derrotam croatas em Vukovar Croácia admite a perda da cidade para o Exército
iugoslavo, que a sitiava há 86 dias. A Croácia admitiu ter perdido militarmente para o Exército iugoslavo a cidade sitiada de Vukovar.
A queda de Vukovar é uma das piores derrotas sofridas pela Croácia.
Segunda-feira, 16 de maio de 1994 Combate se intensifica na Bósnia. Sérvios e muçulmanos ignoram apelo internacional por diálogo;
denunciadas novas atrocidades. Tropas muçulmanas e sérvias intensificaram os combates na região de Tuzla, nordeste da Bósnia,
ameaçando jogar por terra o esforço por novas conversações de paz. Os novos combates indicam que sérvios e muçulmanos não
estão dispostos a aceitar os apelos internacionais por novas conversações.
(https://acervo.folha.com.br. Adaptado.)

Essas notícias têm em comum conflitos que envolvem questões

(A) imperialistas, relacionadas ao controle do Estado, decorrentes da adoção de medidas baseadas em diferenças culturais entre
adversários políticos.
(B) geopolíticas, relacionadas à dissolução do Pacto de Varsóvia, que tinha como objetivo a formação de uma aliança militar entre os
países do Leste Europeu.
(C) territoriais, relacionadas ao estabelecimento de novas fronteiras, cujos limites refletem a conjuntura multilateral de formação de
blocos econômicos.
(D) supranacionais, relacionadas ao esfacelamento do bloco socialista, cujo esgotamento econômico deveu-se à estrutura
centralizadora da Rússia.
(E) étnico-nacionalistas, relacionadas à constituição de novos Estados, devido a hostilidades que remontam às expansões dos
impérios Russo, Otomano e Austro-Húngaro.

- 176 -
Leia o texto para responder às questões 17 e 18.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se viram numa situação privilegiada, como a mais forte, coesa e
próspera economia mundial. O governo americano coordenou um vasto plano de apoio para recuperar as economias capitalistas da
Europa Ocidental, já no contexto da Guerra Fria. As agitações revolucionárias na Ásia, África e América Latina forçariam
desdobramentos dos investimentos americanos também para essas áreas. O resultado desse conjunto de medidas foi um crescimento
econômico sem precedentes das economias industriais. Entre 1953 e 1975 a taxa de produção industrial cresceu na escala
extraordinária de seis por cento ao ano. O crescimento da riqueza foi de cerca de quatro por cento per capita em todo esse pe ríodo.
Mesmo com a crise do petróleo, que atingiu e abateu os mercados entre 1973 e 1980, o crescimento continuou, embora reduzido a
cerca de dois e meio por cento ao ano, o que ainda era uma escala notável.
(Nicolau Sevcenko. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa, 2001. Adaptado.)

17. No contexto descrito,

(A) a industrialização no Ocidente expandiu-se 12% no período de 1973 a 1980, o que refletiu a plena independência da indústria
ocidental em relação ao petróleo produzido e exportado pelo Oriente Médio.
(B) o crescimento da riqueza foi menor no período de 1973 a 1980, em relação às décadas anteriores, demonstrando o impacto da
crise do petróleo na economia norte-americana e na do Ocidente europeu.
(C) a taxa de produção industrial cresceu 132% no período de 1953 a 1975, o que fortaleceu a economia norte-americana e permitiu
investimentos nos países do Ocidente europeu.
(D) a produção industrial norte-americana manteve-se estável no período de 1953 a 1975, o que impediu que os Estados Unidos
abalassem a liderança econômica mundial da China e da União Soviética.
(E) a riqueza per capita sofreu redução de 2,5% no período de 1973 a 1980, o que fragilizou a posição norte-americana na disputa
pelos mercados dos países do Ocidente europeu.

18. O apoio à recuperação das economias capitalistas da Europa Ocidental e os investimentos na Ásia, na África e na América Latina,
mencionados no texto, correspondem à atuação dos Estados Unidos

(A) na defesa de posições políticas e ideológicas de caráter globalista e multicultural, após a onda nacionalista trazida pela Segunda
Guerra.
(B) na disputa pelos mercados internos dos países do centro e oriente da Europa e dos países do Hemisfério Sul.
(C) no cenário geopolítico do pós-Segunda Guerra, em meio às disputas de caráter econômico, militar e ideológico com o bloco
socialista.
(D) na constituição de uma hegemonia mundial unilateral, favorecida pelo declínio econômico e militar dos países do centro e do
ocidente europeus.
(E) no esforço de reconstrução dos países afetados diretamente pelos bombardeios e pelas invasões territoriais durante a Segunda
Guerra.

19. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças
locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido,
tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isto, o culto ao consumo é estimulado. Milton
Santos. Por uma outra globalização. (Record, Rio de Janeiro, 2000.)

Segundo o autor:

(A) o neoliberalismo acentua as diferenças locais.


(B) a globalização é uma força motriz de padronização social.
(C) o consumo deveria ser estimulado para que todos pudessem ter acesso ao mercado e aos atores hegemônicos.
(D) as diferenças sociais minimizaram com o avanço da globalização e a partir da homogeneidade verificada no mundo com o fim da
Guerra Fria.
(E) a homogeneização do planeta é uma consequência da retração global imposta pelo neoliberalismo.

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20. A crise econômica mundial aumentou a pobreza infantil em mais da metade dos países desenvolvidos. Um relatório do centro de
pesquisas do Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (UNICEF) comparou os níveis de pobreza infantil em 2008
e 2012 nos 41 países mais prósperos do planeta: países membros da União Europeia e o da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mais de 6,6 milhões de crianças entraram na pobreza em quatro anos, contra 4 milhões que
saíram dessa situação. Segundo o UNICEF, ainda 76,5 milhões de crianças vivem na pobreza nos países mais ricos.
(Fonte: Acesso em 14 nov. 2014 – adaptado)

As desigualdades no interior das sociedades humanas e entre os diferentes povos ou nações existem desde a Antiguidade. Mas, em
geral, essas desigualdades eram relativamente pequenas em comparação com as de hoje.

Analise as afirmativas, considerando os padrões de desenvolvimento, de produção de riquezas e o nível socioeconômico da


população, para assinalar (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.

( ) Nos países árabes exportadores de petróleo com altíssimas rendas médias, grande parte da população é formada por mão de
obra estrangeira, que possui todos os direitos sociais dos cidadãos garantidos pelas leis locais.
( ) O aumento da pobreza no mundo é explicado pela deterioração constante da situação das famílias, sobretudo a perda do emprego
ou os cortes realizados nos serviços públicos.
( ) Em mais da metade dos países ricos, uma em cada cinco crianças vive na pobreza. A Grécia é um dos países mais afetados pelo
aumento da pobreza infantil, em decorrência da crise econômica.
( ) As políticas sociais implementadas pelo governo chileno revelaram bons resultados, apresentando redução no índice de pobreza
infantil, entre os países latinos.
( ) Países mediterrâneos como a Itália, a Suíça e a Áustria, em decorrência da adoção de cortes no orçamento, lançaram sobre as
crianças um impacto negativo, prejudicando o seu bem-estar.

A sequência CORRETA está contida em:

(A) V V F V F.
(B) F V V V F.
(C) F F F V F.
(D) V F V F V.
(E) F V F F V.

GABARITO DOS EXERCÍCIOS


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
C C B D C D C D A E C D A A D E C C A B

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